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avaliação no ciclo de alfabetização: mitos e fatos - TV Brasil

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EDIÇÃO ESPECIAL<br />

ISSN 1982 - 0283<br />

AVALIAÇÃO NO CICLO<br />

DE ALFABETIZAÇÃO:<br />

MITOS E FATOS<br />

A<strong>no</strong> XXII - Boletim 9 - Novembro 2012


Edição EspEcial:<br />

AVALIAÇÃO NO CICLO DE ALFABETIZAÇÃO: MITOS E<br />

FATOS<br />

SUMÁRIO<br />

Avaliação e escola <strong>de</strong> Ensi<strong>no</strong> Fundamental: relações e possibilida<strong>de</strong>s.................................... 3<br />

Claudia Fernan<strong>de</strong>s


Edição EspEcial<br />

AVALIAÇÃO NO CICLO DE ALFABETIZAÇÃO:<br />

MITOS E FATOS<br />

<strong>avaliação</strong> E Escola dE Ensi<strong>no</strong> FundamEntal:<br />

rElaçõEs E possibilidadEs<br />

Debater <strong>avaliação</strong> e <strong>alfabetização</strong> implica,<br />

inicialmente, pensar <strong>no</strong> papel social da edu-<br />

cação. Alfabetizar e avaliar estão estreita-<br />

mente relacionados com a visão <strong>de</strong> mundo<br />

que cada um <strong>de</strong> nós tem. Essa maneira <strong>de</strong><br />

ver o mundo, que está imbricada na ação<br />

do(a) professor(a), traz para <strong>no</strong>ssas práticas<br />

reflexos <strong>de</strong> <strong>no</strong>ssa cultura e <strong>de</strong> <strong>no</strong>ssas vivên-<br />

cias, que ainda estão muito impregnadas<br />

pela lógica da classificação e da seleção, <strong>no</strong><br />

que tange à <strong>avaliação</strong> escolar. Para que va-<br />

mos à escola? Por que apren<strong>de</strong>mos isso ou<br />

aquilo? Por que avaliamos isso e não aquilo?<br />

O pa<strong>no</strong> <strong>de</strong> fundo do <strong>de</strong>bate é, em primeira e<br />

última instância: que projeto <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong><br />

nós temos? De que educação estamos falan-<br />

do? De que escola estamos falando? De que<br />

professor(a) estamos falando? Que papel a<br />

<strong>avaliação</strong> po<strong>de</strong> ter <strong>no</strong> processo das aprendi-<br />

zagens realizadas pelas crianças?<br />

Claudia Fernan<strong>de</strong>s 1<br />

Avaliar é parte integrante do ensinar e do<br />

apren<strong>de</strong>r. Ou seja, a <strong>avaliação</strong> <strong>de</strong>ve ser com-<br />

preendida como mais um ingrediente dos<br />

processos <strong>de</strong> aprendizagem e não como uma<br />

etapa final <strong>de</strong> um percurso.<br />

Alguns princípios estão intimamente rela-<br />

cionados. Para que se possa ter auto<strong>no</strong>mia,<br />

postura tão necessária <strong>de</strong> ser construída por<br />

uma criança em processo <strong>de</strong> <strong>alfabetização</strong>,<br />

é preciso ter espírito crítico. Como fazer<br />

isso com crianças <strong>de</strong> 6 a 8 a<strong>no</strong>s? Uma prá-<br />

tica cotidiana <strong>de</strong> auto<strong>avaliação</strong> possibilita,<br />

sobremaneira, tal construção. É necessário,<br />

também, problematizar e <strong>de</strong>bater acerca do<br />

Ciclo <strong>de</strong> Alfabetização. Conceitos amplos<br />

como <strong>alfabetização</strong> e <strong>ciclo</strong> precisam ser<br />

mais bem <strong>de</strong>talhados.<br />

Os <strong>ciclo</strong>s não são um método <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong>,<br />

tampouco um sistema <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong>. Os <strong>ciclo</strong>s<br />

1 Professora da Escola <strong>de</strong> Educação da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro (UNIRIO).<br />

Coor<strong>de</strong>nadora <strong>de</strong> Pós-Graduação em Educação (UNIRIO). Pesquisadora nas áreas <strong>de</strong> Avaliação e Currículo. Consultora<br />

da edição especial.<br />

3


dizem respeito à forma <strong>de</strong> distribuição/or-<br />

ganização/partição dos a<strong>no</strong>s que os alu<strong>no</strong>s<br />

passam na escola. Po<strong>de</strong>mos organizar esse<br />

tempo dividido a<strong>no</strong> a a<strong>no</strong> (séries / organi-<br />

zação seriada), como po<strong>de</strong>mos organizar/<br />

dividir esse tempo <strong>de</strong> dois em dois a<strong>no</strong>s,<br />

três em três a<strong>no</strong>s, quatro em quatro a<strong>no</strong>s<br />

(<strong>ciclo</strong>s / organização em <strong>ciclo</strong>s). Entretanto,<br />

tal distribuição diferenciada (por <strong>ciclo</strong>s) traz<br />

implicações profundas não só na forma <strong>de</strong><br />

avaliar, como também na forma <strong>de</strong> se or-<br />

ganizar o conhecimento escolar ao longo<br />

do tempo, na relação professor-alu<strong>no</strong>, nas<br />

relações família/escola, na cultura escolar.<br />

Po<strong>de</strong>mos, então, dizer que os <strong>ciclo</strong>s afetam<br />

sobremaneira a organização escolar, sendo,<br />

portanto, uma lógica diferente <strong>de</strong> se pensar<br />

a educação escolar e a escola em si.<br />

A construção dos <strong>ciclo</strong>s data das décadas <strong>de</strong><br />

1960/1970 <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e tem um crescimento<br />

<strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1980 nas séries iniciais do Ensi<strong>no</strong><br />

Fundamental (os Ciclos Básicos <strong>de</strong> Alfabeti-<br />

zação), tendo se ampliado para as <strong>de</strong>mais sé-<br />

ries ao longo dos a<strong>no</strong>s 1990. Essa construção<br />

histórica foi tecida por educadores especia-<br />

listas, professores que participaram <strong>de</strong> con-<br />

gressos, fóruns e não somente por técnicos<br />

<strong>de</strong> secretarias <strong>de</strong> educação. A forma como<br />

a experiência aconteceu em cada região do<br />

país foi diferenciada e fez parte da constru-<br />

ção histórica e das condições <strong>de</strong> produção<br />

<strong>de</strong> cada comunida<strong>de</strong> educativa.<br />

Ainda em 1983, na re<strong>de</strong> estadual <strong>de</strong> São Pau-<br />

lo, instituiu-se o Ciclo Básico <strong>de</strong> Alfabetiza-<br />

ção para todas as escolas, com o objetivo <strong>de</strong><br />

reorganizar gradativamente a escola pública<br />

<strong>de</strong> 1° grau, tendo como marca principal al-<br />

terar o sistema <strong>de</strong> seriação: as duas séries<br />

iniciais foram transformadas em um <strong>ciclo</strong><br />

<strong>de</strong> dois a<strong>no</strong>s e o alu<strong>no</strong> não po<strong>de</strong>ria ser re-<br />

provado <strong>no</strong> primeiro a<strong>no</strong> <strong>de</strong> escolarização.<br />

Em Minas Gerais, o Ciclo Básico <strong>de</strong> Alfabeti-<br />

zação foi implantado em toda a re<strong>de</strong> estadu-<br />

al a partir <strong>de</strong> 1985, em caráter experimental,<br />

e em 1990 tomou caráter oficial. No Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro implantou-se nas escolas públicas <strong>de</strong><br />

1º grau, ainda ao final da década <strong>de</strong> 1970 e<br />

início dos a<strong>no</strong>s 1980, o Bloco Único: dois pri-<br />

meiros a<strong>no</strong>s da <strong>alfabetização</strong> como um úni-<br />

co <strong>ciclo</strong> e sem reprovação. Santa Catarina<br />

também teve experiência semelhante ainda<br />

na década <strong>de</strong> 1980. No Paraná, o Ciclo Básico<br />

foi implantado em 1988/1989, e em 1990 atin-<br />

giu todas as escolas estaduais.<br />

No Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro, em mapeamen-<br />

to realizado em 2007 e em 2011, mais <strong>de</strong> 50%<br />

dos municípios já possuíam <strong>ciclo</strong>s <strong>de</strong> alfa-<br />

betização antes da recomendação do CNE e<br />

das Diretrizes Curriculares Nacionais (FER-<br />

NANDES, 2012).<br />

O histórico da implantação dos <strong>ciclo</strong>s bá-<br />

sicos <strong>de</strong> <strong>alfabetização</strong> <strong>no</strong> país <strong>no</strong>s permite<br />

compreen<strong>de</strong>r a recomendação existente nas<br />

Novas Diretrizes Curriculares Nacionais so-<br />

bre a adoção do Ciclo <strong>de</strong> Alfabetização para<br />

os três primeiros a<strong>no</strong>s do Ensi<strong>no</strong> Fundamen-<br />

4


tal em todas as escolas, a partir da imple-<br />

mentação do Ensi<strong>no</strong> Fundamental <strong>de</strong> <strong>no</strong>ve<br />

a<strong>no</strong>s <strong>no</strong> país.<br />

“(...) mesmo quando o sistema <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong><br />

ou a escola fizerem opção pelo regime<br />

seriado, será necessário consi<strong>de</strong>rar os<br />

três a<strong>no</strong>s iniciais do ensi<strong>no</strong> fundamental<br />

como um bloco pedagógico ou um <strong>ciclo</strong><br />

sequencial não passível <strong>de</strong> interrupção,<br />

voltado para ampliar a todos os alu<strong>no</strong>s<br />

as oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sistematização e<br />

aprofundamento das aprendizagens<br />

básicas. Pesquisas já <strong>de</strong>tectaram que a<br />

repetência durante esse período escolar<br />

não garante a <strong>alfabetização</strong> e po<strong>de</strong> pre-<br />

judicar o rendimento escolar da criança<br />

<strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> fundamental como um todo<br />

e, particularmente, na passagem do pri-<br />

meiro para o segundo a<strong>no</strong> <strong>de</strong> escolarida-<br />

<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ste para o terceiro 2 .”<br />

Por fim, a questão que se coloca polêmica<br />

em relação à <strong>avaliação</strong> <strong>no</strong> Ciclo <strong>de</strong> Alfabeti-<br />

zação é a não reprovação ao longo do <strong>ciclo</strong>.<br />

Tal ação é recomendada em diversos docu-<br />

mentos oficiais e não oficiais (Parecer CNE/<br />

CEB n. 200208; LDB n. 9394/96; MEC, 2007;<br />

Diretrizes Curriculares Nacionais).<br />

A estreita relação entre <strong>ciclo</strong>s e não reprova-<br />

ção existe, uma vez que a implantação dos<br />

<strong>ciclo</strong>s acaba, em princípio, com a reprova-<br />

ção, na medida em que um <strong>ciclo</strong> pressupõe<br />

a ruptura com a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> uma programação<br />

ou planejamento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s curriculares<br />

anuais, sob a qual todos os estudantes <strong>de</strong>ve-<br />

riam “dar conta” ao final <strong>de</strong> um único a<strong>no</strong> e<br />

<strong>de</strong> forma mais ou me<strong>no</strong>s homogênea. Prin-<br />

cípios como o da diferença, da heterogenei-<br />

da<strong>de</strong>, da auto<strong>no</strong>mia, dos diferentes tempos<br />

e ritmos <strong>de</strong> aprendizagem, do trabalho em<br />

equipe, do conhecimento construído e par-<br />

tilhado e da verda<strong>de</strong> provisória sustentam,<br />

teoricamente, essa <strong>no</strong>va lógica <strong>de</strong> se pensar<br />

e organizar a escola, que pressupõe, por-<br />

tanto, um alargamento <strong>de</strong>sse tempo anual,<br />

levando em consi<strong>de</strong>ração as diferenças <strong>de</strong><br />

ritmo dos estudantes e, da mesma forma,<br />

perseguindo ou não um ponto <strong>de</strong> chegada<br />

comum àquela geração escolar.<br />

A adoção <strong>de</strong> um regime <strong>de</strong> promoção conti-<br />

nuada dos alu<strong>no</strong>s <strong>no</strong> <strong>ciclo</strong>, sem reprovação,<br />

traz mudanças profundas para a dinâmica,<br />

a organização escolar e as relações que fa-<br />

zem parte da cultura escolar, posto que a<br />

<strong>no</strong>ssa escola vive a “cultura da repetência”,<br />

como se a reprovação fosse a re<strong>de</strong>ntora dos<br />

problemas que não foram resolvidos, ao lon-<br />

go <strong>de</strong> um a<strong>no</strong> letivo, acerca dos processos<br />

<strong>de</strong> ensinar e apren<strong>de</strong>r. A reprovação passa<br />

a ser, em <strong>no</strong>ssa escola, uma estratégia pe-<br />

dagógica tão po<strong>de</strong>rosa <strong>de</strong> solução para as<br />

não aprendizagens, que outras possibilida-<br />

<strong>de</strong>s ficam ofuscadas e sem legitimida<strong>de</strong> <strong>no</strong>s<br />

2 Disponível em: http://portal.mec.gov.br/in<strong>de</strong>x.php?option=com_content&view=article&id=16166<br />

5


projetos e planejamentos escolares. A ava-<br />

liação <strong>no</strong> meio escolar é um processo que<br />

envolve muito mais do que somente apro-<br />

vação ou reprovação. Não se avalia apenas<br />

para aprovar ou reprovar os alu<strong>no</strong>s. A ado-<br />

ção <strong>de</strong> um <strong>ciclo</strong> e a consequente promoção<br />

dos alu<strong>no</strong>s <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>le traz como princípio<br />

a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que todos os alu<strong>no</strong>s são capazes<br />

<strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r e que os processos <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r<br />

não <strong>de</strong>vem ser interrompidos a<strong>no</strong> a a<strong>no</strong>, da<br />

mesma forma que uma criança não é repro-<br />

vada pelo simples fato <strong>de</strong> não ter aprendido<br />

a andar aos 12 meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Portanto, a<br />

promoção continuada mantém uma coerên-<br />

cia com os princípios teóricos dos <strong>ciclo</strong>s, em<br />

especial, dos <strong>ciclo</strong>s <strong>de</strong> <strong>alfabetização</strong>.<br />

Um equívoco importante <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>svelado<br />

é o entendimento comum <strong>de</strong> que se os alu-<br />

<strong>no</strong>s não serão aprovados ou reprovados, isso<br />

significa que eles não foram avaliados. Con-<br />

fundir <strong>avaliação</strong> com medida e com uma<br />

concepção classificatória faz parte mesmo<br />

do senso comum. Mas, afinal, para que ava-<br />

liamos os alu<strong>no</strong>s que têm o direito constitu-<br />

cional <strong>de</strong> frequentar o Ensi<strong>no</strong> Fundamental<br />

e <strong>de</strong> se alfabetizarem?<br />

A estreita relação entre a <strong>avaliação</strong>, o papel<br />

social da escola e ser professor(a) remete-<br />

<strong>no</strong>s a alguns princípios <strong>no</strong>rteadores da ação<br />

pedagógica que orientam as práticas e as<br />

<strong>no</strong>ssas crenças acerca do papel da escola na<br />

vida das crianças, <strong>de</strong> suas famílias e da so-<br />

cieda<strong>de</strong>.<br />

Princípios como o olhar observador, a pro-<br />

moção das crianças e <strong>de</strong> suas aprendizagens,<br />

a valorização das experiências culturais das<br />

crianças, o <strong>de</strong>senvolvimento da auto<strong>no</strong>mia,<br />

a inclusão, o diálogo, a preservação da au-<br />

toestima favorável ao crescimento, o com-<br />

prometimento da escola e do(a)professor(a)<br />

com o social, o caráter formativo da avalia-<br />

ção, a auto<strong>avaliação</strong>, a participação, a cons-<br />

trução da responsabilida<strong>de</strong> com o coletivo<br />

<strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>rados para uma prática<br />

transformadora da <strong>avaliação</strong> (FERNANDES,<br />

2006).<br />

Uma mudança na escola, em direção a prá-<br />

ticas mais <strong>de</strong>mocráticas <strong>de</strong> <strong>avaliação</strong> e, por-<br />

tanto, não classificatórias ou segregadoras,<br />

não passa, inicialmente, por didáticas ou<br />

por mudanças <strong>de</strong> métodos mais contem-<br />

porâneas. Uma mudança profunda implica<br />

uma reflexão acerca dos princípios que re-<br />

gem <strong>no</strong>ssa ação pedagógica e que <strong>no</strong>s darão<br />

a base para a construção <strong>de</strong> <strong>no</strong>sso projeto<br />

pedagógico e para os processos <strong>de</strong> <strong>avaliação</strong><br />

que estiverem aí inseridos. A clareza e a reti-<br />

dão <strong>de</strong> princípios po<strong>de</strong>rão <strong>no</strong>rtear uma prá-<br />

tica coerente e própria a uma escola <strong>de</strong>mo-<br />

crática, compromissada com o crescimento<br />

e a valorização das crianças, estudantes,<br />

professores, educadores, funcionários.<br />

Muitos autores já conceituaram a <strong>avaliação</strong><br />

em relação à sua funcionalida<strong>de</strong>, <strong>no</strong> que<br />

tange aos processos <strong>de</strong> ensinar e apren<strong>de</strong>r.<br />

Po<strong>de</strong>mos, nesse texto, utilizar o termo ava-<br />

liação formativa para <strong>no</strong>s referirmos àque-<br />

6


la <strong>avaliação</strong> em que o(a) professor(a) está<br />

atento(a) para os processos e aprendizagens<br />

<strong>de</strong> suas crianças. O(a) professor(a) não avalia<br />

com o propósito <strong>de</strong> dar uma <strong>no</strong>ta. A avalia-<br />

ção acontece, pois se enten<strong>de</strong> que ela é es-<br />

sencial para dar prosseguimento aos percur-<br />

sos <strong>de</strong> aprendizagem. Continuamente, ela<br />

faz parte do cotidia<strong>no</strong> das tarefas propostas,<br />

das observações atentas do(a) professor(a),<br />

das práticas <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula. Portanto, po<strong>de</strong>-<br />

mos dizer que <strong>avaliação</strong> formativa é aque-<br />

la que orienta as crianças para a realização<br />

<strong>de</strong> seus trabalhos e <strong>de</strong> suas aprendizagens,<br />

ajudando-as a localizar suas dificulda<strong>de</strong>s e<br />

suas potencialida<strong>de</strong>s, redirecionando-as em<br />

seus percursos. Perre<strong>no</strong>ud (1999, p.143) <strong>de</strong>-<br />

fine a <strong>avaliação</strong> formativa como uma ava-<br />

liação que ajuda o(a) alu<strong>no</strong>(a) a apren<strong>de</strong>r e<br />

o(a) professor(a) a ensinar. Para o autor, “a<br />

<strong>avaliação</strong> não passa, <strong>no</strong> final das contas, <strong>de</strong><br />

um dos componentes <strong>de</strong> um dispositivo <strong>de</strong><br />

individualização dos percursos <strong>de</strong> formação<br />

e <strong>de</strong> diferenciação das intervenções e dos<br />

enquadramentos pedagógicos.”<br />

Consi<strong>de</strong>rando que a construção da auto-<br />

<strong>no</strong>mia é um dos princípios que orientam a<br />

organização em <strong>ciclo</strong>s – cujo foco dos pro-<br />

cessos <strong>de</strong> aprendizagem sai da figura do<br />

professor, como era antes na escola seria-<br />

da/mo<strong>de</strong>rna/<strong>de</strong> massa, e passa a se dar na<br />

interação alu<strong>no</strong>/professor/conhecimento<br />

– apontamos que um aspecto fundamental<br />

<strong>de</strong> uma <strong>avaliação</strong> formativa diz respeito à<br />

construção do princípio da auto<strong>no</strong>mia por<br />

parte da criança, na medida em que lhe é<br />

solicitado um papel ativo em seu processo<br />

<strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r. Ou seja, a <strong>avaliação</strong> formativa,<br />

tendo como foco o processo <strong>de</strong> aprendiza-<br />

gem, numa perspectiva <strong>de</strong> interação e <strong>de</strong><br />

diálogo, coloca também na criança e não<br />

apenas <strong>no</strong>(a) professor(a), como ocorre tra-<br />

dicionalmente, a responsabilida<strong>de</strong> por seus<br />

avanços e suas necessida<strong>de</strong>s.<br />

Em outro texto (FERNANDES, 2006), escre-<br />

vi que instaurar uma cultura avaliativa, <strong>no</strong><br />

sentido <strong>de</strong> uma <strong>avaliação</strong> entendida como<br />

parte inerente do processo e não <strong>de</strong>svin-<br />

culada para uma atribuição <strong>de</strong> <strong>no</strong>ta, não é<br />

tarefa muito fácil. Contudo, sabemos que<br />

muitos(as) professores(as) realizam uma<br />

<strong>avaliação</strong> muito próxima da formativa, uma<br />

vez que exercem uma <strong>avaliação</strong> mais con-<br />

tínua dos processos das crianças, <strong>de</strong>svincu-<br />

lada da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pontuá-la com indi-<br />

cadores numéricos ou <strong>de</strong> outra or<strong>de</strong>m, para<br />

fins <strong>de</strong> aprovação. Tais práticas avaliativas<br />

primam pela lógica da inclusão das crianças,<br />

com vistas à sua permanência e continuida-<br />

<strong>de</strong> nas escolas. Dessa forma, po<strong>de</strong>mos con-<br />

cluir reafirmando que:<br />

1. É fundamental transformar a prática<br />

avaliativa em prática <strong>de</strong> aprendiza-<br />

gem.<br />

2. Avaliar é necessário e condição para a<br />

mudança <strong>de</strong> prática e continuida<strong>de</strong> do<br />

conhecimento.<br />

7


3.Avaliar faz parte do processo <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong> e<br />

<strong>de</strong> aprendizagem: não ensinamos sem<br />

avaliar, não apren<strong>de</strong>mos sem avaliar.<br />

Dessa forma, rompe-se com a falsa<br />

dicotomia entre ensi<strong>no</strong> e <strong>avaliação</strong>,<br />

como se esta fosse apenas o final <strong>de</strong><br />

um processo.<br />

EDIÇÃO ESPECIAL: AVALIAÇÃO NO CICLO DE ALFABETIZAÇÃO:<br />

MITOS E FATOS<br />

A <strong>avaliação</strong> é uma das ativida<strong>de</strong>s do processo pedagógico inserida <strong>no</strong> projeto pedagógico da<br />

escola. Em especial, <strong>no</strong> <strong>ciclo</strong> <strong>de</strong> <strong>alfabetização</strong>, não é só a aprendizagem dos alu<strong>no</strong>s que está em<br />

foco, mas a instituição como um todo e o próprio sistema escolar. O que é mito e o que é fato<br />

na concepção do <strong>ciclo</strong> <strong>de</strong> <strong>alfabetização</strong>? Por que a <strong>avaliação</strong> é tão significativa na perspectiva<br />

<strong>de</strong> promoção continuada nesse <strong>ciclo</strong>? Esses são alguns dos pontos que estarão em foco <strong>no</strong><br />

<strong>de</strong>bate <strong>de</strong>sta edição especial do Salto para o Futuro/ <strong>TV</strong> Escola, com veiculação <strong>no</strong> dia 23 <strong>de</strong><br />

<strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 2012.<br />

REFERÊNCIAS<br />

BRASIL, MEC/SEB. Ensi<strong>no</strong> fundamental <strong>de</strong><br />

<strong>no</strong>ve a<strong>no</strong>s - Orientações para a inclusão da<br />

criança <strong>de</strong> seis a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. 2007, 136p.<br />

FERNANDES, Claudia <strong>de</strong> O. Relatório <strong>de</strong> pes-<br />

quisa CNPQ, 2012.<br />

___________. Avaliação sempre envolve uma<br />

concepção <strong>de</strong> mundo. Revista Criança, MEC,<br />

v.3, n. 41, 2006, p. 8-11.<br />

PERRENOUD, P. Avaliação: da excelência à re-<br />

gulação das aprendizagens, entre duas lógicas.<br />

Porto Alegre: Artmed Editora 1999.<br />

8


Presidência da República<br />

Ministério da Educação<br />

Secretaria <strong>de</strong> Educação Básica<br />

<strong>TV</strong> ESCOLA/ SALTO PARA O FUTURO<br />

Supervisão Pedagógica<br />

Rosa Helena Mendonça<br />

Acompanhamento pedagógico<br />

Soraia Bru<strong>no</strong><br />

Coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> Utilização e Avaliação<br />

Mônica Mufarrej<br />

Fernanda Braga<br />

Copi<strong>de</strong>sque e Revisão<br />

Magda Frediani Martins<br />

Diagramação e Editoração<br />

Equipe do Núcleo <strong>de</strong> Produção Gráfica <strong>de</strong> Mídia Impressa – <strong>TV</strong> <strong>Brasil</strong><br />

Gerência <strong>de</strong> Criação e Produção <strong>de</strong> Arte<br />

Consultora especialmente convidada<br />

Claudia Fernan<strong>de</strong>s<br />

E-mail: salto@mec.gov.br<br />

Home page: www.tvbrasil.org.br/salto<br />

Rua da Relação, 18, 4o andar – Centro.<br />

CEP: 20231-110 – Rio <strong>de</strong> Janeiro (RJ)<br />

Novembro 2012<br />

9

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