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MEMÓRIAS DE UM SARGENTO DE MILÍCIAS - ELPI Ensino

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INTRODUÇÃO<br />

<strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UM</strong> <strong>SARGENTO</strong> <strong>DE</strong> <strong>MILÍCIAS</strong><br />

(Manuel Antônio de Almeida )<br />

Nascido no Rio de Janeiro em 1831, Manuel Antônio de Almeida teve existência meteórica, pois morre<br />

tragicamente, em 1861, com apenas 30 anos de idade, vitimado por um naufrágio na costa fluminense, ao viajar<br />

num vapor com destino a Canipós, no Estado do Rio.<br />

Memórias de um Sargento de Milícias, sua única obra, foi publicado inicialmente, sob anonimato, na forma<br />

de folhetins, no suplemento dominical ―A Pacotilha‖ do ―Correio Mercantil‖, em 1852, jornal carioca onde<br />

trabalhava. Pouco tempo depois, a novela saia publicada na forma de livro, em dois volumes, respectivamente<br />

em 1854 e 1855, assinada com o pseudônimo ―Um Brasileiro‖.<br />

Novela de costumes em que se sente a influência do teatro de Martins Pena com suas comédias<br />

costumbristas, o livro de Manuel Antônio inova pela linguagem realista e galhofeira, que não correspondia<br />

muito ao gosto da época, motivo por que não teve muita aceitação e parecia mesmo que estava fadado ao<br />

naufrágio, como, alias, aconteceu com o autor. o tempo, entretanto, encarregou-se de valorizar a obra, e, se não<br />

chegou a explodir, continua viva pelos anos afora e apreciada pelos cultores de uma boa leitura.<br />

A NOVELA COMO ESPÉCIE LITERÁRIA<br />

Como espécie literária, a novela não se distingue do romance, evidentemente, pelo critério quantitativo, mas<br />

pelo essencial e estrutural.<br />

Tradicionalmente, a novela é uma modalidade literária que se caracteriza pela linearidade dos caracteres e<br />

acontecimentos, pela sucessividade episódica e pelo gosto das peripécias.<br />

Diferente do romance, a novela não tem a complexidade dessa espécie literária, pois não se detém na análise<br />

minuciosa e detalhada dos fatos e personagens. A novela condensa os elementos do romance: os diálogos são<br />

rápidos e a narrativa é direta, sem muitas divagações. Nesse sentido, muita coisa que chamamos de romance não<br />

passa de novela.<br />

E interessante observar, como revela o critico Massaud Moisés, em Pequeno Dicionário de Literatura<br />

Brasileira, que ―as primeiras manifestações de nossa prosa de ficção seriam novelas, ou, pelo menos, estariam<br />

contagiadas por sua estrutura fundamental, visto ainda o romance estar apenas aparecendo, na Inglaterra.<br />

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Tão forte era o influxo e a tradição da novela que nossa ficção romântica não conseguiu desprender-se de<br />

todo: as pecas que hoje classificamos de romance, segundo critérios muito discutíveis, obedecem a um sistema<br />

de composição próprio da novela. Basta lembrar as narrativas de Alencar, notadamente as históricas, indianistas<br />

e regionalistas de Bernardo Guimarães, de Joaquim Manuel de Macedo, de Franklin Távora, ate culminar nas<br />

Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida, uma acabada novela de cunho<br />

picaresco. Alterou-se a fisionomia social, mudaram os costumes, os tempos são outros, mas a estrutura guarda<br />

incontestável sujeição à da novela.‖<br />

RES<strong>UM</strong>O DO LIVRO<br />

Em síntese, o enredo de Memórias de um Sargento de Milícias, ―tecido, como observa Antônio Soares<br />

Amora no já citado Pequeno Dicionário de Literatura Brasileira, com muitas peripécias e intrigas, que não<br />

deixam, ainda hoje, de entreter e prender o leitor, pode resumir-se na história da vida de Leonardo, filho de dois<br />

imigrantes portugueses, a sabia Maria da Hortaliça e Leonardo, ―algibebe‖ em Lisboa e depois meirinho no Rio<br />

do tempo do Rei D. João VI: nascimento do ―herói‖, sua infância de endiabrado, suas desditas de filho<br />

abandonado mas sempre salvo de dificuldades pelos padrinhos (a parteira e um barbeiro); sua juventude de<br />

valdevinos; seus amores com a dengosa mulatinha Vidinha; suas malandrices com o truculento Major Vidigal,<br />

chefe de polícia; seu namoro com Luisinha; sua prisão pelo major; seu engajamento, por punição, no corpo de<br />

tropa do mesmo major; finalmente, porque os fados acabaram por lhe ser propícios e não lhe faltou a proteção<br />

da madrinha, tudo tem ―conclusão feliz‖: promoção a sargento de milícias e casamento com Luisinha‖.<br />

Para que se tenha uma idéia mais precisa do conteúdo do livro no que se refere ao enredo, vamos transcrever<br />

aqui o resumo elaborado pelo Prof. José Rodrigues Gameiro em estudo sobre Memórias de um Sargento de<br />

Milícias, no qual o presente trabalho está apoiado.<br />

A obra é dividida em duas partes: a primeira com vinte e três capítulos e a segunda com vinte e cinco.<br />

PRIMEIRA PARTE<br />

I - Origem, Nascimento e Batizado. A novela se abre com a frase ―Era no tempo do rei‖, que situa a estória<br />

no século XIX, no Rio de Janeiro. Narra a vinda de Leonardo-Pataca para o Brasil. Ainda no navio, namora<br />

com uma patrícia, Maria da Hortaliça, sabia portuguesa. Daí resultou o casamento e... ―sete meses depois teve a<br />

Maria um filho, formidável menino de quase três palmos de comprido, gordo e vermelho, cabeludo, espemeador<br />

e chorão; o qual, logo depois que nasceu, mamou duas horas seguidas sem deixar o peito‖.<br />

Esse menino é o Leonardo, futuro ―sargento de milícias‖ e o ―herói‖ do livro.<br />

O capitulo termina com o batizado do garoto, tendo a ―Comadre‖ por madrinha e o. barbeiro ou<br />

―Compadre‖ por padrinho, personagens importantes da estória.<br />

II - Primeiros Infortúnios. Leonardo-Pataca descobre que Maria da Hortaliça, sua mulher, o traía com<br />

vários homens; dá-lhe uma surra e ela foge com um capitão de navio para Portugal.<br />

O filho, depois de levar um pontapé no traseiro, é abandonado e o padrinho se encarrega dele.<br />

III - Despedida às Travessuras. O padrinho, já velho, e sem ter a quem dedicar sua afeição, ficou caído<br />

pelo garoto, concentrando todos os seus esforços no futuro de Leonardo e desculpando todas as suas<br />

travessuras.<br />

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Depois de muito pensar, resolveu que ele seria padre.<br />

IV - Fortuna. Leonardo-Pataca apaixonou-se por uma cigana que também o abandona. Para atraí-la<br />

novamente, recorre a feitiçarias de um caboclo velho e imundo que morava num mangue. Na última prova, à<br />

noite, quando estava nu e coberto com o manto do caboclo, aparece o Major Vidigal...<br />

V - O Vidigal. Este capítulo descreve o Major - ―um homem alto, não muito gordo, com ares de moleirão;<br />

tinha o olhar sempre baixo, os movimentos lentos, e a voz descansada e adocicada‖. Era a polícia e a justiça da<br />

época, na cidade.<br />

Depois de obrigar todos que se achavam na casa do caboclo a dançar, até não agüentarem mais, chicoteia-os<br />

e leva Leonardo para a ―Casa da Guarda‖, espécie de depósito de presos. Depois de visto pelos curiosos, é<br />

transferido para a cadeia.<br />

VI - Primeira Noite Fora de Casa. Leonardo filho vai acompanhar uma ―Via Sacra‖ de rua, muito comum<br />

naquela época, e junta-se a outros moleques. Acabam passando a noite num acampamento de ciganos.<br />

Descreve-se a festa e a dança do fado. De manhã, Leonardo pede para voltar para casa.<br />

VII - A Comadre. Era a madrinha de Leonardo - ―uma mulher baixa, excessivamente gorda, bonachona,<br />

ingênua ou tola até um certo ponto, e finória até outro; vivia do oficio de parteira, que adotara por curiosidade e<br />

benzia de quebranto...‖. Gostava de ir à missa e ouvir o cochicho das beatas. Viu a vizinha do barbeiro e logo<br />

quis saber do que é que ela falava.<br />

VIII - O Pátio dos Bichos. Assim era chamada a sala onde ficavam os velhos oficiais a serviço de El-Rei,<br />

esperando qualquer ordem.<br />

No meio deles, estava um Tenente-Coronel a quem a Comadre vai pedir para interceder junto a El-Rei para<br />

soltar Leonardo-Pataca.<br />

IX - O Arranjei-me do Compadre. O autor conta-nos como o barbeiro conseguiu arranjar-se na vida,<br />

apesar de sua profissão pouco rentável: improvisou-se de médico, ou melhor, ―sangrador‖, a bordo de um navio<br />

que vinha para o Brasil. O Capitão moribundo, entregou-lhe todas as economias para que as levasse à sua filha<br />

(do Capitão). Quando chegou a terra, ficou com tudo e nunca procurou a herdeira.<br />

X - Explicações. O Tenente-Coronel interessara-se pelo Leonardo porque, de certa forma, ele o havia<br />

livrado de certa obrigação: seu filho, um desmiolado, é que havia infelicitado a tal de Mariazinha, a Maria da<br />

Hortaliça, ex-mulher de Leonardo. Por isso empenha-se e, por meio de um outro amigo, consegue que El-Rei<br />

solte Leonardo.<br />

XI - Progresso e Atraso. Este capítulo é dedicado às dificuldades que o padrinho encontra para ensinar as<br />

primeiras letras ao afilhado e às implicâncias da vizinha. A seguir vem um bate-boca entre os dois, com o<br />

menino arremedando a velha, e com grande satisfação para o barbeiro que se julga ―vingado‖.<br />

XII - Entrada para a Escola. É uma descrição das escolas da época. Aborda a importância da palmatória e<br />

nos conta como o novo e endiabrado aluno leva bolos de manhã e à tarde.<br />

XIII - Mudança de Vida. Depois de muito esforço e paciência, o padrinho convence ao afilhado de voltar<br />

para a escola, mas ele foge habitualmente e faz amizade com o coroinha da Igreja. Pede ao padrinho, e este<br />

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acede, para também ser coroinha. Pensava assim o barbeiro que seria meio caminho andado para se tomar<br />

padre. Como coroinha, aproveitou-se dessa função para jogar fumaça de incenso na cara da vizinha e derramarlhe<br />

cera na mantilha. Vingava-se assim dela.<br />

XIV - Nova Vingança e Seu Resultado. Neste capitulo, aparece o ―Padre Mestre de Cerimônias‖, que,<br />

embora de um exterior austero, mantinha relações com a cigana, a mesma que abandonara Leonardo-Pataca e<br />

fora causa de sua função. No dia da festa da Igreja da Sé, o Mestre de Cerimônia prepara-se orgulhosamente<br />

para proferir seu sermão.<br />

O menino Leonardo, encarregado de avisar-lhe a hora do sermão, informa-lhe que será às 10 horas, quando<br />

na verdade devia ser às 9.<br />

Um capuchinho italiano, para cooperar, e porque o pregador não chegava, começou a homilia.<br />

Depois de algum tempo, chega o Mestre, furioso, e corre para o púlpito também. Após um bate-papo com o<br />

religioso, toma o lugar dele e continua o sermão. O resultado foi o sacristão ser despedido.<br />

XV - Estralada. Leonardo-Pataca, sabendo que o Mestre de Cerimônias é que lhe tirara a cigana e que este<br />

iria ao aniversário dela, contratou Chico-Juca para criar confusão na festa. Avisou antecipadamente o Major<br />

Vidigal, que prende todo mundo, inclusive o Padre, e os leva para a ―Casa da Guarda‖.<br />

XVI - Sucesso do Plano. O Mestre de Cerimônias, com o escândalo, foi obrigado a deixar a cigana,<br />

voltando para Leonardo, que recebe as censuras da Comadre.<br />

XVII - D. Maria. O capitulo é dedicado a D. Maria, ―uma mulher velha, muito gorda; devia ter sido muito<br />

formosa no seu tempo, porém dessa formosura só lhe restaram o rosado das faces e a alvura dos dentes...‖;<br />

―...tinha bom coração e era benfazeja, devota e amiga dos pobres, porém, em compensação destas virtudes,<br />

tinha um dos piores vícios daquele tempo e daqueles costumes; era a mania das demandas...‖<br />

Em sua casa, estavam reunidos, por causa da ―Procissão dos Ourives‖, o Compadre e o menino, a Comadre<br />

e a vizinha O assunto gira em tomo das peripécias do garoto, que aproveita a ocasião e pisa a saia da vizinha,<br />

rasgando-a.<br />

A seguir, todos discutem o futuro do rapaz. Depois de cada um dar o palpite, D. Maria sugere que ele seja<br />

―Procurador de Causas...‖<br />

XVIII - Amores. Leonardo não correspondeu a nenhum dos desejos do padrinho: não foi para Coimbra, não<br />

se fez padre, não trabalhou em cartório algum e não foi para a Conceição. Tomou-se um vadio. Um vadio<br />

comum, que simplesmente não pensa em nada, vai-se deixando levar pelos acontecimentos sem tirar proveito<br />

pessoal de nenhum.<br />

Enquanto isso, Leonardo-Pataca acaba casando-se com a sobrinha da Comadre.<br />

Por sua vez, D. Maria ganha a demanda para ser tutora de uma sobrinha órfã e começa a receber a visita<br />

freqüente do Compadre com o afilhado. A sobrinha de D. Maria era já bem desenvolvida, mas muito<br />

desajeitada: tinha perdido a graça da menina e não adquirira ainda a beleza da moça.<br />

Leonardo saiu rindo dela, mas não a esqueceu jamais.<br />

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XIX - Domingos do Espírito Santo. Na ―Festa do Divino‖, o Compadre vai com D. Maria e Leonardo ao<br />

Campo para ver o fogo. Leonardo começa a apaixonar-se pela sobrinha de D. Maria.<br />

XX - O Fogo no Campo. Terminada a ―Festa do Divino‖ com foguetes e fogos de artifício, Leonardo e<br />

Luisinha, sobrinha de D. Maria, tomam-se íntimos.<br />

XXI - Contrariedades. Luisinha voltou ao seu silêncio interior e um novo personagem aparece: é o José<br />

Manuel. Muito experiente na vida, passa a cortejar D. Maria, mas interessado na sobrinha e principalmente na<br />

herança dela.<br />

XXII - Aliança. O Padrinho e a Comadre aliam-se num só plano contra José Manuel.<br />

XXIII - Declaração. Numa cena ridícula, todo desajeitado, depois de muitas tentativas e retrocessos,<br />

Leonardo consegue declarar-se a Luisinha.<br />

SEGUNDA PARTE<br />

I - A Comadre em Exercício. Aqui, o autor narra o nascimento da filha de Leonardo-Pataca e de<br />

Chiquinha. A Comadre faz o parto, e o autor aproveita para fazer interessante descrição dos costumes da época.<br />

II - Trama. A Comadre, numa aliança com o sobrinho e o Compadre contra José Manuel, inventa para D.<br />

Maria que este fora o raptor da moça na porta da Igreja (um caso policial da época).<br />

III - Derrota. José Manuel põe-se em campo para saber quem é seu adversário e quem tinha feito a intriga<br />

perante D. Maria.<br />

IV - O Mestre de Reza. Os mestres de reza da época eram geralmente cegos que ensinavam às crianças as<br />

primeiras rezas e o catecismo. Faziam-no á base da palmatória. O Mestre de Reza encarregou-se de descobrir,<br />

para José Manuel, quem era o intrigante.<br />

V - Transtorno. O Compadre morre e deixa Leonardo como seu herdeiro. Segue-se a cerimônia de luto e o<br />

enterro. Leonardo volta para a casa do pai. A Comadre, que também mora com a filha, faz agora as vezes do<br />

Compadre. Leonardo não se entende com a madrasta, Chiquinha.<br />

VI - Pior Transtorno. Leonardo, ao voltar da casa de Luisinha, aborrecido por não a ter visto, briga com<br />

Chiquinha. O pai intervém de espada, e Leonardo foge de casa.<br />

A Comadre censura os dois e vai procurar o afilhado, enquanto os vizinhos comentam as ocorrências...<br />

VII - Remédio dos Males. Ao fugir de casa, Leonardo encontra o antigo colega, o Sacristão da Sé, num<br />

pique-nique em companhia de moças e rapazes, o qual o convida para ficar; ele aceita e enche-se de amores por<br />

Vidinha, cantora de modinhas, que tocava viola.<br />

―Vidinha era uma mulatinha de dezoito a vinte anos, de altura regular. ombros largos, peito alteado, cintura<br />

fina e pés pequeninos; tinha os olhos muito pretos e muito vivos, os lábios grossos e úmidos, os dentes<br />

alvíssimos. a fala era um pouco descansada, doce e afinada.‖<br />

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VIII - Novos Amores. Este capitulo faz a descrição da nova família que acolhe Leonardo. Era composta de<br />

duas irmãs viúvas, uma com três filhos e a outra com três filhas. Passavam dos quarenta anos e eram muito<br />

gordas e parecidas. Os três filhos da primeira tinham mais de 20 anos e eram empregados no trem. As moças,<br />

mais ou menos da idade dos rapazes, eram bonitas, cada uma a seu modo. Uma delas era Vidinha.<br />

IX - José Manuel Triunfa. A Comadre procurou Leonardo por toda parte e, não o encontrando, foi à casa<br />

de D. Maria, que a repreendeu por ―ter cometido um grande...‖<br />

Ela logo entendeu e percebeu que José Manuel estava regenerado aos olhos de D. Maria; e também chegou<br />

à conclusão de que o cego Mestre de Reza é que tinha desvendado tudo.<br />

A Comadre desculpa-se e toma conhecimento do interesse de José Manuel por Luisinha.<br />

X - O Agregado. Leonardo fica agregado na nova família, como era costume naquela época. Dois irmãos<br />

pretendentes a Vidinha unem-se contra Leonardo, que estava gostando dela.<br />

Vidinha e as Velhas tomam o partido de Leonardo. Houve briga e confusões.<br />

Leonardo decidiu sair da casa, mas as velhas não consentem. Chega a Comadre.<br />

XI - Malsinação. Depois de conferências entre as velhas e a Comadre, Leonardo fica, para alegria de<br />

Vidinha.<br />

Os primos vencidos, combinam um modo de vingar-se<br />

Fizeram uma patuscada semelhante à que haviam feito quando conheceram Leonardo e avisaram o Major<br />

Vidigal... Este chega no meio da farra e prende Leonardo.<br />

XII - Triunfo Completo de José Manuel. José Manuel ganha uma causa forense para D. Maria e, com<br />

isso, consegue o consentimento para casar-se com Luisinha, que Leonardo já havia esquecido; ela aceita com<br />

indiferença o novo pretendente. Há festa e casamento em carruagens - ―destroços da arca de Noé‖.<br />

XIII - Escápula. A caminho da prisão, Leonardo procura um jeito de fugir. O Major adivinha o pensamento<br />

do moço e presta atenção a todos os seus movimentos. Entretanto, na hora em que surgiu um pequeno tumulto<br />

na rua, e o Major desviou a atenção do prisioneiro, Leonardo escapuliu e foi para a casa de Vidinha.<br />

O Major, pasmado com o acontecido, procura-o por toda parte, com os granadeiros.<br />

XIV - O Vidigal Desapontado. Vidigal, com o orgulho ferido, sobretudo devido às zombarias do povo,<br />

jurou vingar-se. A Comadre, entretanto, que não sabia da fuga, procura o Major e, ajoelhada a seus pés, chora e<br />

suplica pelo afilhado.<br />

Os granadeiros riam dela cada vez que gritava - solte, solte!<br />

XV - Caldo Entornado. Tendo sabido da fuga de Leonardo, a Comadre dirigiu-se à casa das velhas e<br />

pregou um sermão ao afilhado, concitando-o a que abandonasse a vadiagem e procurasse um emprego. Ela<br />

mesma consegue para ele uma ocupação na ―Ucharia Real‖.<br />

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O Major não gostou disso porque assim não poderia prendê-la Ucharia, morava um tal de Toma-Largura,<br />

assim chamado pela sua estampa grotesca, em companhia de uma mulher bonita Leonardo começa a demorar<br />

cada vez mais no trabalho e a esquecer Vidinha.<br />

Um dia, Toma-Largura surpreendeu-o tomando sopa com sua mulher e corre atrás dele escorraçando-o de<br />

casa. No dia seguinte, Leonardo é despedido do emprego.<br />

XVI - Ciúmes. Vidinha, extremamente ciumenta, quando soube do acontecido, foi tomar satisfação com a<br />

mulher do Toma-Largura, depois de gritar, chorar e ameaçar.<br />

Leonardo vai atrás e se encontra com o Major Vidigal, que o prende.<br />

XVII - Fogo de Palha. Vidinha começa a xingar Toma-Largura e a mulher. Como não houvesse reação dos<br />

dois, ficou desconcertada, tomou a mantilha e saiu. Toma-Largura, encantado com Vidinha, resolveu conquistar<br />

nem que fosse uma diminuta parcela de seu amor, porque assim se vingaria de Leonardo e satisfaria seu desejo<br />

de conquista amorosa. Desse modo, acompanhou a moça para saber onde ela morava.<br />

XVIII - Represálias. Quando Vidinha chegou a casa, deram também por falta de Leonardo. Mandam-no<br />

procurar por toda parte e nada. Suspeitam do Major, mas não o encontram na Casa da Guarda.<br />

A Comadre, avisada, põe-se em campo à procura do afilhado, mas também não o encontra. A família que<br />

hospedava Leonardo começou a odiá-lo, julgando que ele se havia ocultado propositalmente.<br />

Enquanto isso, o Toma-Largura começa a rodear a casa de Vidinha para cumprimentá-la. Mal imagina ele o<br />

que lhes estão preparando...<br />

Recebido em casa, resolvem comemorar a aproximação com uma patuscada nos ―Cajueiros‖, no mesmo<br />

lugar onde Leonardo conhecera a família. E claro que o Toma-Largura lá estava. E como gosta de beber, acabou<br />

provocando uma grande confusão na festa. Inesperadamente chega o Vidigal com um grupo de granadeiros e dá<br />

ordem a um deles para levar o Toma-Largura preso. Este granadeiro era Leonardo.<br />

XIX - O Granadeiro. Depois de preso, o Toma-Largura foi abandonado na calçada porque estava<br />

completamente bêbado e sem condições de andar. A seguir, o autor conta como Leonardo fora transformado em<br />

granadeiro: depois de preso foi escondido por Vidigal e levado para sentar praça no Regimento Novo. A seguir,<br />

foi requisitado para ajudar o Major nas tarefas policiais. Era a maneira de o Vidigal se vingar.<br />

Leonardo mostrou-se bom de serviço, mas participou de uma ―diabrura‖ quando, em missão, representou<br />

Vidigal, defunto, numa cena para ridicularizá-lo.<br />

XX - Novas Diabruras. O Major decide prender Teotônio, um grande animador de festas, onde tocava e<br />

cantava modinhas e mostrava outras habilidades, como banqueiro de jogo.<br />

Teotônio, na festa de batizado do filho de Leonardo-Pataca com a filha da Comadre, fez caretas e mímicas<br />

imitando o Major, que estava presente, para risada geral do público. O Major sai correndo e incumbe Leonardo<br />

de prender Teotônio.<br />

Leonardo, muito bem recebido na casa, revela a missão de que estava incumbido e, de comum acordo com<br />

Teotônio, concebe um plano para lograr o Major.<br />

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XXI - Descoberta. Leonardo foi cumprimentado por um amigo indiscreto, na frente do Major, pela façanha,<br />

e este o prende imediatamente.<br />

Enquanto isso, o José Manuel, depois da lua-de-mel com Luisinha, começou a mostrar que não era lá grande<br />

coisa. Isso fez com que D. Maria se aliasse à Comadre para soltar Leonardo.<br />

XXII - Empenhos. Depois de uma tentativa frustrada junto ao Major, a Comadre pede os préstimos de D.<br />

Maria que, por sua vez, recorre a Maria Regalada. Chamava-se assim por ser muito alegre, ria-se de tudo.<br />

Morava na Prainha, e, quando mais nova, era uma ―mocetona de truz‖. Já era conhecida do Major, com quem há<br />

tempos tivera encontros amorosos.<br />

XXIII - As Três em Comissâo. As três vão ao Major pedir-lhe para soltar Leonardo. Ele mostra-se<br />

inicialmente inflexível como o cargo e o lugar exigiam. Como as três rompessem em prantos, ele não se conteve<br />

e chorou também, feito um bobo. Depois recompôs-se e ficou novamente durão.<br />

Entretanto, Maria Regalada cochichou-lhe qualquer coisa ao ouvido, e ele logo promete não somente soltar<br />

Leonardo como alguma coisa mais.<br />

XXIV - A Morte é Juiz. José Manuel, com a ação que lhe moveu a sogra, tem um ataque de apoplexia e<br />

morre.<br />

Leonardo, libertado, chega à noitinha e a primeira coisa que procura é Luisinha. Tinha sido promovido a<br />

sargento. A admiração um pelo outro é recíproca.<br />

XXV - Conclusão Feliz. Depois do luto, Leonardo e Luisinha recomeçam o namoro. Os dois querem casarse,<br />

mas há uma dificuldade: Leonardo era soldado, e soldado não podia casar. Levaram o problema ao Major,<br />

que vivia com Maria Regalada. Esse fora o preço pela soltura do Leonardo.<br />

Por influência da mulher, o Vidigal logo arranjou um jeito: dar baixa em Leonardo como tropa de linha e<br />

nomeá-lo ―Sargento de Milícias‖.<br />

Leonardo pai entrega ao filho a herança que lhe deixara o padrinho barbeiro. Leonardo e Luisinha casam-se.<br />

E agora aparece ―o reverso da medalha‖:<br />

―Seguiu-se a morte de D. Maria, a do Leonardo-Pataca, e uma enfiada de acontecimentos tristes que<br />

pouparemos aos leitores, fazendo aqui ponto .final.‖<br />

ORGANIZAÇÃO ESTRUTURAL<br />

1) A novela está dividida em duas partes bem distintas: a primeira com 23 capítulos e a segunda com 25.<br />

2) Os episódios são quase autônomos, só ligados pela presença de Leonardo, dando à obra uma estrutura<br />

mais de novela que de romance, como já ficou observado.<br />

3) O leitor acompanha o crescimento do herói com sua infância rica em travessuras, a adolescência com as<br />

primeiras ilusões amorosas e aventuras, e o adulto, que, com o senso de responsabilidade, que essa idade exige,<br />

vai-se enquadrando na sociedade, o que culmina com o casamento.<br />

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4) Para Mário de Andrade, trata-se de uma novela picaresca de influência hispânica.<br />

Manuel Bandeira, em uma de suas crônicas, conta que o grande escritor espanhol Francisco Ayala leu a<br />

novela e, de tão encantado, traduziu-a para o espanhol e escreveu no prefácio a palavra que melhor lhe pareceu<br />

qualificá-la: obra-prima, acrescentando que As Memórias se inserem na linhagem dos romances picarescos. E<br />

olhe que Ayala é da terra da ficção picaresca. Ninguém, pois, melhor qualificado para conferir a láurea.<br />

Não obstante, o nosso pícaro tem características próprias, que o afastam do modelo espanhol, como ressalta<br />

o critico Antônio Cândido, m ―Dialética da Malandragem‖: ―Digamos então que Leonardo não é um pícaro<br />

saído da tradição espanhola, mas sim o primeiro grande malandro que entra na novelística brasileira, vindo de<br />

uma tradição folclórica e correspondendo, mais do que se costuma dizer, a certa atmosfera cómica e<br />

popularesca de seu tempo, no Brasil.<br />

5) Freqüentemente identificadas por suas profissões e caracteres fisicos, as personagens se enquadram na<br />

categoria de planas, não apresentando, portanto, traços psicológicos densos e profundos. O protagonista da<br />

estória (Leonardo), que foge completamente aos padrões de herói romântico, é igualmente uma personagem<br />

plana, sem traços psicológicos profundos que marquem a sua personalidade.<br />

Assim, pois, predomina sempre o sentido visual e não a percepção psicológica. Os personagens distinguemse<br />

pelo físico de absoluta nitidez, não falam, e algumas figuras ficam mudas quase todo o tempo, como acontece<br />

com Luisinha e o próprio Leonardo.<br />

6) Na construção da obra, muitas vezes há falhas que se explicam devido ao fato de o livro ter sido escrito<br />

em meio à algazarra de uma república de estudantes, como testemunha o biógrafo de Manuel Antônio, Marques<br />

Rebelo:<br />

a) A amante de Leonardo pai, na primeira parte, figura como sobrinha da parteira; na segunda, aparece<br />

como filha desta.<br />

b) Por outro lado, os primos de Vidinha inicialmente eram três e no final só aparecem dois.<br />

c) A moça cujo rapto foi atribuído a José Manuel aparece como filha de uma viúva, mas, pouco depois, o<br />

mesmo José Manuel foi salvo graças ao pai da rapariga.<br />

d) Ao contrário do que ocorre nas obras de ―memórias‖, aqui a narrativa não é feita em primeira pessoa<br />

como acontece geralmente com esse gênero literário, mas em terceira pessoa; talvez porque não se trata<br />

realmente de um livro de memórias.<br />

e) Para Paulo Rónai, que traduziu a obra para o francês, o título deveria ser: ―Como se Faz um Sargento de<br />

Milícias , pois, segundo confessa, teve tentação de colocar, como titulo, na tradução francesa -―Comment on<br />

devi ent un Sargent de la Mi/ice ‗. Já para Olívio Montenegro, o título poderia ser: ―Cenas da Vida Carioca‖.<br />

ESTILO <strong>DE</strong> ÉPOCA<br />

Tendo surgido em pleno Romantismo, Memórias de um Sargento de Milícias apresenta uma narrativa<br />

desembaraçada, com conversações colhidas ao vivo e uma multidão de personagens vivos, extraídos da gente<br />

do povo, primando pela originalidade.<br />

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Entretanto, podem-se detectar, na obra, aspectos que traem não só o Romantismo como o Realismo:<br />

1) Não parece ser muito apropriado considerar o livro como obra precursora do Realismo no Brasil, embora<br />

seu autor haja revelado conhecer a ―Comédia Humana‖, de Balzac, e ter recebido influências dela.<br />

Falta-lhe, sem dúvida, a intenção realista, apesar da presença de muitos elementos denunciadores desse<br />

estilo de época, como ressalta José Verissimo: ―o autor pratica, no romance brasileiro, o que já é licito chamar<br />

obra psicológica e de meio: a descrição pontual, a representação realista das coisas, mas fugindo às cruezas.<br />

2) Ao contrário do que ocorre no Romantismo, o cenário não é o dos palácios reais com festas e diversões<br />

ao gosto dos nobres, nem a natureza; são as ruas cheias de gente, por onde desfilam meirinhos, parteiras,<br />

devotas, granadeiros, sacristães, vadios, brancos, pardos e pretos: gente do povo, de todas as raças e profissões.<br />

Povo sem nome, simplesmente designado por mestre de reza, parteira, barbeiro, toma largura, etc. Assim,<br />

existe, no livro, uma preocupação documental bem ao gosto realista.<br />

3)-Além disso, destacam-se na obra o sentimento anti-religioso e anticlericalista, o horror aos padres e o<br />

desprezo pelas beatas, a caricatura e a ironia, que são ingredientes sabidamente caracterizadores do estilo<br />

realista:<br />

- ‘O Divino Espírito Santo<br />

E um grande folião,<br />

Amigo de muita carne.<br />

Muito vinho e muito pão.<br />

A cena do clérigo, mestre de cerimônias, no quarto de uma cigana prostituta, em noite de festa e nos trajes<br />

em que o autor o coloca é digna de mestres do Realismo, como Eça de Queiroz, por exemplo.<br />

Por outro lado, a presença do Romantismo também é notória na obra:<br />

1) A busca do passado, que é uma fixação comum no estilo romântico, serve de ponto de partida para o<br />

autor, como se vê na abertura do livro: ―Era no tempo do rei‖.<br />

Conforme ressalta Paulo Rónai, ―orgulha-se o autor de não participar dos exageros românticos, mas,<br />

saudoso do passado, explica o interesse pelos tempos antigos com a alegação de querer mostrar que os costumes<br />

de outrora não eram superiores aos de seu tempo. Só mero pretexto: ele só não admitia os excessos dos ultraromânticos.‖<br />

2) Como é freqüente no Romantismo, que tem, ao lado de uma certa tendência para finais tétricos,<br />

propensão para as conclusões açucaradas, todos os capítulos e a própria novela terminam num ―happy end ‗, ou<br />

final feliz.<br />

3) A despreocupação com a correção gramatical e o aproveitamento da fala e de expressões populares<br />

mostram bem a tendência para a liberalização da expressão, que é outra conquista do Romantismo, forjada na<br />

esteira do liberalismo da época, como revelam os exemplos abaixo:<br />

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A vista disto nada havia a duvidar: o pobre homem perdeu. como se costuma dizer, as estribeiras,...‖<br />

"Quando amanheceu, acordou sarapantado...."<br />

"— Olá, Leonardo! Por que carga d ‗água vieste parar a estas alturas? Pensei que te tinha já o diabo lambido<br />

os ossos, pois depois daquele maldito dia em que nos vimos em pancadaria, por causa do mestre-de-cerimônias,<br />

nunca mais te pus a vista em cima.‖<br />

"— Escorropicha essa garrafa que ai resta, disse-lhe o amigo...<br />

―— Fui para casa de meu pai... e de repente, hoje mesmo. brigo lá com a cuja dele...‖<br />

Na onda dessa liberalização, há verdadeiras incorreções gramaticais, conforme atestam estes exemplos:<br />

"Naquela família haviam três primos.‖<br />

―Nas causas de sua imensa alçada não haviam testemunhas...‖<br />

"...ele expôs-me certas coisas... e que eu enfim não quis dar crédito.‖<br />

"... Fazia o mestre em voz alta o pelo-sinal. pausada e vagarosamente, no que o acompanhava em coro todos<br />

os discípulos.‖<br />

4) Como é comum no Romantismo, algumas situações são criadas artificialmente. Revela-o sobretudo o fato<br />

de Leonardo transformado em granadeiro e posteriormente em Sargento de Milícias.<br />

Assim, embora apresente características que lembram os estilos realista e romântico, Memórias de um<br />

Sargento de Milícias se destaca por sua originalidade, afastando-se dos padrões da época, como observou Mário<br />

de Andrade, que considerava essa novela uma obra isolada.<br />

LINGUAGEM<br />

1) A linguagem utilizada pelo autor em toda a novela, embora de cunho popular e com bastantes<br />

incorreções, tem muito do linguajar tipicamente português, o que revela, sem dúvida, a marcante presença da<br />

gente lusitana em nossa terra no ―tempo do rei‖:<br />

"Não quero cá saber de nada...‖<br />

"— Pois estoure, com trezentos diabos!‖<br />

"... há de ser um clérigo de truz.‖<br />

"... regulando-se a ouvir modinhas...‖<br />

"— E a noiva?.., respondia a outra: arrenego também da lambisgoia...<br />

E outras expressões como tira-te lá, tranco-te essa boca a socos; mais pequena, com a cuja dele, etc.<br />

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2) Outras vezes prima por usar construções bem clássicas:<br />

"... o que o distinguia era ver-se-lhe constantemente ./ora de um dos bolsos, o cabo de uma tremenda<br />

palmatória,..."<br />

―Coimbra era a sua idéia fixa, e nada /ha arrancava da cabeça."<br />

"... e quando tiver 12 ou 14 anos há de me entrar para a escola.<br />

"... e isto era natural a um bom português, que o era ele.‖<br />

3) A ironia e o gosto pela gozação acompanham a obra do começo ao fim.<br />

"A carruagem era um formidável, um monstruoso maquinismo de couro, balançando-se pesadamente sobre<br />

quatro desmesuradas rodas. Não parecia coisa muito nova; e com mais de dez anos de vida poderia muito bem<br />

entrar no número dos restos infelizes do terremoto, de que fala o poeta.<br />

―Luisinha, conduzida por D. Maria, que lhe ia servir de madrinha, embarcou num dos destroços da arca de<br />

Noé. a que chamamos carruagem; "<br />

―Entre os honestos cidadãos que nisto se ocupavam, havia, na época desta história um certo Chico-Juca.<br />

afamadíssimo e temível.‖<br />

―Eis aqui como se explica o arranjei-me, e como se explicam muitos outros que vão ai pelo mundo.‖<br />

ASPECTOS TEMÁTICOS MARCANTES<br />

1) Para Antônio Soares Amora, ―a intenção do autor, ao escrever seu romance de folhetins para a<br />

―Pacotilha‖, não é difícil perceber; oferecer ao leitor, de um lado, um romance engraçado, pelos tipos que nele<br />

entravam, pelas suas expressões, pelas suas atitudes e ações; de outro, um romance de costumes populares, de<br />

um Rio que deixara de existir, com a modernização da vida carioca, iniciada no decênio de 1830; um Rio do<br />

começo do século, ronceiro e roceiro, mas bem mais pitoresco e alegre, pelas despreocupações de sua gente e<br />

pelas festas populares (procissões, folias do Divino, fogos no Campo de Santana, as súcias), e por isso um Rio<br />

de que os mais velhos, nos anos de 1850, se recordavam com nostalgia.‖<br />

2) Além desses aspectos citados, que configuram bem a ―época do Rei‖ (início do século XIX, quando D.<br />

João VI esteve no Brasil fugido de Napoleão), destaca-se também no livro o anticlericalismo típico da época,<br />

em que se expõem as safadezas de padres e outros podres da Igreja de Roma.<br />

"— Olá, Leonardo! Por que carga d ‗água vieste parar a estas alturas? Pensei que te tinha já o diabo lambido<br />

os ossos, pois depois daquele maldito dia em que nos vimos em pancadaria, por causa do mestre-de-cerimônias,<br />

nunca mais te pus a vista em cima.‖<br />

"— Escorropicha essa garrafa que ai resta, disse-lhe o amigo...<br />

―— Fui para casa de meu pai... e de repente, hoje mesmo. brigo lá com a cuja dele...‖<br />

Na onda dessa liberalização, há verdadeiras incorreções gramaticais, conforme atestam estes exemplos:<br />

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"Naquela família haviam três primos.‖<br />

―Nas causas de sua imensa alçada não haviam testemunhas...‖<br />

"...ele expôs-me certas coisas... e que eu enfim não quis dar crédito.‖<br />

"... Fazia o mestre em voz alta o pelo-sinal. pausada e vagarosamente, no que o acompanhava em coro todos<br />

os discípulos.‖<br />

4) Como é comum no Romantismo, algumas situações são criadas artificialmente. Revela-o sobretudo o fato<br />

de Leonardo transformado em granadeiro e posteriormente em Sargento de Milícias.<br />

Assim, embora apresente características que lembram os estilos realista e romântico, Memórias de um<br />

Sargento de Milícias se destaca por sua originalidade, afastando-se dos padrões da época, como observou Mário<br />

de Andrade, que considerava essa novela uma obra isolada.<br />

LINGUAGEM<br />

1) A linguagem utilizada pelo autor em toda a novela, embora de cunho popular e com bastantes<br />

incorreções, tem muito do linguajar tipicamente português, o que revela, sem dúvida, a marcante presença da<br />

gente lusitana em nossa terra no ―tempo do rei‖:<br />

"Não quero cá saber de nada...‖<br />

"— Pois estoure, com trezentos diabos!‖<br />

"... há de ser um clérigo de truz.‖<br />

"... regulando-se a ouvir modinhas...‖<br />

"— E a noiva?.., respondia a outra: arrenego também da lambisgoia...<br />

E outras expressões como tira-te lá, tranco-te essa boca a socos; mais pequena, com a cuja dele, etc.<br />

2) Outras vezes prima por usar construções bem clássicas:<br />

"... o que o distinguia era ver-se-lhe constantemente ./ora de um dos bolsos, o cabo de uma tremenda<br />

palmatória,..."<br />

―Coimbra era a sua idéia fixa, e nada /ha arrancava da cabeça."<br />

"... e quando tiver 12 ou 14 anos há de me entrar para a escola.<br />

"... e isto era natural a um bom português, que o era ele.‖<br />

3) A ironia e o gosto pela gozação acompanham a obra do começo ao fim.<br />

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"A carruagem era um formidável, um monstruoso maquinismo de couro, balançando-se pesadamente sobre<br />

quatro desmesuradas rodas. Não parecia coisa muito nova; e com mais de dez anos de vida poderia muito bem<br />

entrar no número dos restos infelizes do terremoto, de que fala o poeta.<br />

―Luisinha, conduzida por D. Maria, que lhe ia servir de madrinha, embarcou num dos destroços da arca de<br />

Noé. a que chamamos carruagem; "<br />

―Entre os honestos cidadãos que nisto se ocupavam, havia, na época desta história um certo Chico-Juca.<br />

afamadíssimo e temível.‖<br />

―Eis aqui como se explica o arranjei-me, e como se explicam muitos outros que vão ai pelo mundo.‖<br />

ASPECTOS TEMÁTICOS MARCANTES<br />

1) Para Antônio Soares Amora, ―a intenção do autor, ao escrever seu romance de folhetins para a<br />

―Pacotilha‖, não é difícil perceber; oferecer ao leitor, de um lado, um romance engraçado, pelos tipos que nele<br />

entravam, pelas suas expressões, pelas suas atitudes e ações; de outro, um romance de costumes populares, de<br />

um Rio que deixara de existir, com a modernização da vida carioca, iniciada no decênio de 1830; um Rio do<br />

começo do século, ronceiro e roceiro, mas bem mais pitoresco e alegre, pelas despreocupações de sua gente e<br />

pelas festas populares (procissões, folias do Divino, fogos no Campo de Santana, as súcias), e por isso um Rio<br />

de que os mais velhos, nos anos de 1850, se recordavam com nostalgia.‖<br />

2) Além desses aspectos citados, que configuram bem a ―época do Rei‖ (início do século XIX, quando D.<br />

João VI esteve no Brasil fugido de Napoleão), destaca-se também no livro o anticlericalismo típico da época,<br />

em que se expõem as safadezas de padres e outros podres da Igreja de Roma.<br />

3) Ao traçar o perfil de Leonardo, protagonista da novela, o autor retrata um tipo genuinamente brasileiro,<br />

com sua malandragem bem carioca e sua propensão ao ―dolce far niente‖ (= não fazer nada, ócio), numa<br />

aversão ao trabalho, que antecipa, em quase um século, o celebrado ―herói sem nenhum caráter‖ e modelo de<br />

nossa gente, Macunaíma, do modernista Mário de Andrade.<br />

4) Apresentando um perfil pautado pela retidão e pelo senso de responsabilidade, que o aproxima mais do<br />

herói tradicional que Leonardo, o major Vidigal é bem a encarnação do poder constituído e da ordem<br />

estabelecida. Com sua implacabilidade à cata de malandros, o major representa, sem dúvida, o guardião de<br />

normas sociais que padronizam comportamentos e enquadram tipos rebeldes que ousam transgredi-las.<br />

5) Simbolicamente, dada a liberdade que me permite a teoria da obra aberta, pode-se ver, nessas<br />

―memórias‖ de Leonardo, a trajetória existencial de qualquer ser humano, desde o nascimento, quase sempre<br />

fruto de um amor que brota com uma ―pisada no pé‖ (que varia conforme o costume da época...), até o<br />

enquadramento social, que se concretiza com o casamento e sobretudo com a investidura da camisa de força<br />

imposta pelo major Vidigal. Sem dúvida, o ―happy end‖ da conclusão é um final irônico, em que o ser humano<br />

dá adeus às travessuras e às ilusões para se enjaular nos limites estreitos de uma vidinha miúda e besta, pautada<br />

pelo bom comportamento de um sargento de milícias<br />

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