18.04.2013 Views

Qualidade de Vida, Mobilidade e Segurança nas Cidades_ Vol. 1

Qualidade de Vida, Mobilidade e Segurança nas Cidades_ Vol. 1

Qualidade de Vida, Mobilidade e Segurança nas Cidades_ Vol. 1

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

ISBN 978-85-237-0630-2


UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA<br />

Reitora<br />

MARGARETH DE FÁTIMA FORMIGA MELO DINIZ<br />

Vice-reitor<br />

EDUARDO RAMALHO RABENHORST<br />

Diretor do Centro <strong>de</strong> Ciências Exatas e da Natureza<br />

IERECE MARIA DE LUCENA ROSA<br />

Chefe do Departamento <strong>de</strong> Geociências<br />

ANIERES BARBOSA DA SILVA<br />

EDITORA UNIVERSITÁRIA<br />

Diretor<br />

IZABEL FRANÇA DE LIMA<br />

Vice-diretor<br />

JOSÉ AUGUSTO DOS SANTOS FILHO<br />

Supervisor <strong>de</strong> Editoração<br />

ALMIR CORREIA DE VASCONCELLOS JUNIOR<br />

Editoração e Capa<br />

CRISTIANE DE MELO NEVES


Giovanni Seabra<br />

(organizador)<br />

TERRA<br />

<strong>Qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Vida</strong>, Mobilida<strong>de</strong><br />

e <strong>Segurança</strong> <strong>nas</strong> Cida<strong>de</strong>s<br />

Editora Universitária da UFPB<br />

João Pessoa, Paraíba<br />

2013<br />

3


COMISSÃO CIENTÍFICA<br />

Prof. Dr. Giovanni Seabra – UFPB<br />

Prof. Dr. Antônio Carlos Brasil Pinto – UFSC<br />

Prof. Dr. An<strong>de</strong>rson Portuguêz – UFU<br />

Prof. Dr. Khosrow Ghavami – UNICAP – RJ<br />

Prof. Dr. José Mateo Rodriguez – Universidad <strong>de</strong> Habana<br />

Profª. Drª. Al<strong>de</strong>mir Barboza – UFPE<br />

Prof. Dr. Geraldo Moura – UFRPE<br />

Prof. Dr. Normando Perazzo Barbosa – UFPB<br />

Profª. Drª Vanice Selva – UFPE<br />

Prof. Dr. Luis Tomás Domingos – Universida<strong>de</strong> da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB)<br />

Prof. Dr. Edson Vicente da Silva – UFC<br />

Prof. Dr. Jacques Ribemboim – UFRPE<br />

Profª. Drª. Edvânia Tôrres Aguiar Gomes – UFPE<br />

Profª. Drª. Andrea Pacheco Pacifico – UEPB<br />

Prof. Dr. Fernando Luiz Araújo Sobrinho – UNB<br />

T323<br />

UFPB/BC<br />

Terra: [livro eletrônico]: <strong>Qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Vida</strong>, Mobilida<strong>de</strong> e <strong>Segurança</strong> <strong>nas</strong><br />

Cida<strong>de</strong>s / Giovanni Seabra (organizador). – João Pessoa: Editora<br />

Universitária da UFPB, 2013.<br />

25.377kb /pdf.<br />

V 1<br />

1.473 pag<br />

ISBN 978-85-237-0630-2<br />

1. Meio Ambiente 2. Biodiversida<strong>de</strong>. 3. Mudanças Climáticas. 4.<br />

Agroecologia. 5. Recursos Hídricos. 6. Degradação Ambiental. I. Seabra,<br />

Giovanni.<br />

CDU: 504<br />

Nota:<br />

Este livro é resultado do Fórum Internacional do Meio Ambiente - A Conferência da Terra, uma realização da<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Paraíba e GS Consultoria, cujo tema central - <strong>Qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Vida</strong>, Mobilida<strong>de</strong> e <strong>Segurança</strong><br />

<strong>nas</strong> Cida<strong>de</strong>s, proporcionou amplo <strong>de</strong>bate durante as conferências, palestras e grupos <strong>de</strong> trabalhos.<br />

As opiniões externadas nesta obra são <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> exclusiva dos seus autores.<br />

Todos os direitos <strong>de</strong>sta edição reservados à GS Consultoria Ambiental e Planejamento do Turismo Ltda.<br />

E-mail:gs_consultoria@yahoo.com.br<br />

4


<strong>Qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Vida</strong>, Mobilida<strong>de</strong> e <strong>Segurança</strong> <strong>nas</strong> Cida<strong>de</strong>s<br />

O Desenvolvimento Sustentável do Planeta é um compromisso assumido por 170 países no<br />

Protocolo A Cúpula da Terra, assinado durante a realização da Rio–92, no Rio <strong>de</strong> Janeiro. Para<br />

aten<strong>de</strong>r as aspirações das nações presentes, a Rio-92 aprovou a Agenda 21, documento contendo<br />

uma série <strong>de</strong> intenções acordadas pelos países signatários. Inúmeros problemas urbanos seriam<br />

solucionados, caso as cláusulas da Agenda 21 fossem obe<strong>de</strong>cidas. Contudo, o cumprimento dos<br />

objetivos da Agenda 21 <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da inversão <strong>de</strong> capitais na execução <strong>de</strong> programas <strong>de</strong>stinados à<br />

melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida da população dos países sub<strong>de</strong>senvolvidos e em <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

Após 20 anos <strong>de</strong> sua concepção, o gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio da Agenda 21persiste: tornar as cida<strong>de</strong>s<br />

sustentáveis e humanamente habitáveis.<br />

APRESENTAÇÃO<br />

O livro Terra: qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, mobilida<strong>de</strong> e segurança <strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s contém 530<br />

capítulos, editados em cinco volumes, contendo os trabalhos acadêmicos e científicos apresentados<br />

durante a realização da A Conferência da Terra – Fórum Internacional do Meio Ambiente.<br />

Realizada no período <strong>de</strong> 20 a 23 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2012, em sua terceira edição, A Conferência da<br />

Terra foi sediada na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa, reunindo 1500 participantes do País e do exterior.<br />

O tema geral do colóquio <strong>Qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Vida</strong>, Mobilida<strong>de</strong> e <strong>Segurança</strong> <strong>nas</strong> Cida<strong>de</strong>s, título<br />

<strong>de</strong>ste livro, é pautado em 17 eixos temáticos. Os eixos balizaram os trabalhos teóricos,<br />

metodológicos e técnicos, <strong>de</strong>senvolvidos nos diferentes campos da ciência, aplicados em situações e<br />

cenários ambientais diversos, e publicados na forma <strong>de</strong> capítulos.<br />

A riqueza e excelência do conteúdo <strong>de</strong>ste livro constituem uma singular fonte <strong>de</strong><br />

informação e <strong>de</strong> pesquisa a todos aqueles que se interessam pelas questões ambientais em suas<br />

dimensões ecológicas, naturais, sociais, econômicas, culturais e éticas.<br />

Com a edição <strong>de</strong>sta obra, A Conferência da Terra confirma o seu objetivo primordial <strong>de</strong><br />

sensibilizar, mobilizar e conscientizar os diversos setores da socieda<strong>de</strong> para a tomada <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

modo a assegurar uma agenda ambiental comprometida com a conservação da biodiversida<strong>de</strong> e o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento ecologicamente e socialmente equilibrado.<br />

Giovanni Seabra<br />

5


SUMÁRIO<br />

1 - Habitat Urbano e a <strong>Qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Vida</strong> ................................................................................. 12<br />

Principais Problemas Causados pelas Panificadoras que Utilizam Ma<strong>de</strong>ira ou Lenha como<br />

Fonte <strong>de</strong> Energia no Bairro <strong>de</strong> Mangabeira.<br />

Desafios para a Compreensão da Metropolização e Industrialização no Contexto da Terceira<br />

13<br />

Mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> Urbana 25<br />

Enchentes na Perspectiva da Territorialização do Espaço Urbano <strong>de</strong> São João Del-Rei – MG<br />

Águas Urba<strong>nas</strong> e Produção do Espaço em Aracaju/SE: uma proposta <strong>de</strong> percurso<br />

37<br />

metodológico 48<br />

<strong>Qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Vida</strong> e Desenvolvimento: uma relação necessária<br />

A Sustentabilia<strong>de</strong> na Cultura do Barro: relatos da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> artesãos do Alto do<br />

58<br />

Moura, Caruaru - PE 68<br />

Os Condomínios Resi<strong>de</strong>nciais Fechados <strong>de</strong> Bananeiras - PB: uma reflexão 81<br />

Transformações do Espaço Urbano: Mário Andreazza – Bayeux /PB<br />

A Re<strong>de</strong>finição do Espaço Urbano <strong>de</strong> Natal a partir da Influência <strong>de</strong> Seu Setor Terciário: uma<br />

90<br />

análise das Avenidas Bernardo Vieira e Engenheiro Roberto Freire<br />

<strong>Qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Vida</strong> no Distrito <strong>de</strong> Joaquim Egídio, Campi<strong>nas</strong> - SP, Através do Imaginário<br />

100<br />

Rural e Urbano 109<br />

Topofilia e Capacida<strong>de</strong> Adaptativa: população exposta a riscos <strong>de</strong> inundações<br />

O Espaço Urbano como Mercadoria: reflexões sobre o Shopping Rio Mar e o Projeto Novo<br />

119<br />

Recife 130<br />

Espécies Arbóreas Indicadas para Plantio em Calçadas em Serra Talhada – PE<br />

Representações <strong>de</strong> <strong>Qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Vida</strong> e Saú<strong>de</strong>: reflexões a cerca das relações ambientais em<br />

142<br />

universitários<br />

Reflexos da Expansão Urbana sobre o Meio Ambiente e <strong>Qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Vida</strong> em Fortaleza-<br />

153<br />

CE<br />

Conforto Acústico: avaliação do <strong>de</strong>sempenho acústico <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>s divisórias entre<br />

162<br />

apartamentos 174<br />

Sustentabilida<strong>de</strong> e <strong>Qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Vida</strong>: dimensões para o <strong>de</strong>senvolvimento urbano<br />

A Percepção Ambiental da População Autóctone a cerca da Erosão Costeira em Caiçara do<br />

184<br />

Norte - RN – Brasil 197<br />

João Pessoa: qualida<strong>de</strong> vida reconstruída com a Mata do Buraquinho 211<br />

Percepção e Valoração Econômica Ambiental da Praça do Ferreira, Fortaleza – CE 221<br />

Condições Sócio-Sanitárias do Mercado Público <strong>de</strong> Ernesto Geisel, João Pessoa-PB 234<br />

Especulação Imobiliária em Pedreiras - MA: impactos econômicos e socioambientais<br />

Prevalência dos Diferentes Tipos <strong>de</strong> Hepatites Virais no Município <strong>de</strong> São Luís nos Últimos<br />

240<br />

Cinco Anos 251<br />

Vulnerabilida<strong>de</strong> Socioambiental no Município <strong>de</strong> Mossoró/ RN 256<br />

6


Integração Temporal e Mobilida<strong>de</strong> Intra-Urbana: o caso do Mercado Central <strong>de</strong> João<br />

Pessoa-PB<br />

Fatores <strong>de</strong> Degradação Ambiental Pelo Uso Não Sustentável dos Recursos Naturais da<br />

266<br />

Bacia do Rio Doce – RN 277<br />

Poluição do Ar e Efeitos Adversos á Saú<strong>de</strong> Humana 289<br />

Natureza Humana e Movimento: uma reflexão ecofilosófica sobre o meio ambiente urbano<br />

Formas <strong>de</strong> Resistência Praticadas pelos Grupos Sociais Excluídos nos Espaços <strong>de</strong> Risco: a<br />

301<br />

ocupação da Favela São José, na planície <strong>de</strong> inundação do Rio Jaguaribe, João Pessoa (PB)<br />

Condições Ambientais e <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> na Comunida<strong>de</strong> Atendida Pela USF Mandacaru IX, João<br />

313<br />

Pessoa - PB 326<br />

Os Condomínios Fechados e a Re<strong>de</strong>finição das Relações Socioespaciais no Espaço Urbano<br />

<strong>Qualida<strong>de</strong></strong> Ambiental nos Municípios Médios Paulistas: uma análise comparativa através do<br />

338<br />

Índice <strong>de</strong> Avaliação Ambiental – IAA 350<br />

Os Problemas Existentes na Infraestrutura <strong>de</strong> uma Periferia Urbana: uma análise das Ruas<br />

do Sol e Chã do Cajá em Alagoinha/PB<br />

363<br />

Cuidado Ambiental: como o representam os que dizem que o praticam? 373<br />

Situação da Acessibilida<strong>de</strong> no Transporte Público <strong>de</strong> João Pessoa, PB 385<br />

Os Impactos da Poluição Ambiental sobre as Famílias da Comunida<strong>de</strong> Ilha <strong>de</strong> Deus em<br />

Recife, PE: estudo <strong>de</strong> caso<br />

Entre o Possível e o Desejável: o panorama do Centro Histórico na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Luís<br />

394<br />

mediante a acessibilida<strong>de</strong> para o ca<strong>de</strong>irante<br />

Nível do Desenvolvimento Sustentável do Município <strong>de</strong> Bom Jesus - RN: aplicação do<br />

método, índice <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável municipal com a participação <strong>de</strong> atores<br />

408<br />

sociais e institucionais 422<br />

Geração e Análise do Índice <strong>de</strong> Conforto Térmico para a Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa/PB<br />

Problemas Ambientais e Urbanos na Comunida<strong>de</strong> Bela Vista no Bairro do Cristo, João<br />

435<br />

Pessoa, Brasil<br />

Percepção Socioambiental dos Comerciantes e Frequentadores do Mercado Público da<br />

446<br />

Madalena – Recife - PE 455<br />

Mobilida<strong>de</strong> Insustentável nos Centros Urbanos Brasileiros<br />

Cartografia dos Índices Hidrodinâmicos <strong>de</strong> Poços Tubulares da Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa,<br />

469<br />

Paraíba, Brasil 473<br />

Agrupamentos Humanos e <strong>Qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Vida</strong> na Cida<strong>de</strong> João Pessoa, PB<br />

A <strong>Qualida<strong>de</strong></strong> Ambiental Urbana <strong>de</strong> São Luís: um retrato das praias da capital maranhense<br />

485<br />

em seu quarto centenário 496<br />

2 – Educação Ambiental na Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Consumo ................................................................ 507<br />

Educação Socioambiental como Estratégia <strong>de</strong> Melhoria do Bem-Estar Animal 508<br />

Educação, Capital e Trabalho: reflexões sobre o papel da educação ambiental na<br />

transformação social 517<br />

Educação Ambiental e a Construção <strong>de</strong> uma Nova Racionalida<strong>de</strong> 529<br />

7


Refletindo Sobre Concepções Ambientais <strong>de</strong> Educandos e Educados <strong>de</strong> uma Escola Pública<br />

da Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>, Paraíba 537<br />

Desenvolvimento Sustentável – Pon<strong>de</strong>ração a Partir da Educação e da Economia 550<br />

O Espaço Urbano como Mercadoria: reflexões sobre o Shopping Riomar e o Projeto Novo<br />

Recife 562<br />

Crise Ambiental, Capitalismo e a Educação Ambiental Crítica 575<br />

Os Conceitos <strong>de</strong> Solidarieda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> Consumismo sob as Lentes da Complexida<strong>de</strong> 585<br />

Educação Ambiental: uma experiência no contexto do Semiárido Paraibano 595<br />

Diagnóstico Contábil dos Benefícios Ambientais e Sociais no SESI - DR - PB 606<br />

Plantando a Semente 619<br />

Oficina <strong>de</strong> Reciclagem: estratégias e recursos didáticos para a prática em educação<br />

ambiental 626<br />

Educação para o Consumo Consciente: racionalida<strong>de</strong>, emotivida<strong>de</strong> e a metafísica do<br />

consumir 635<br />

Prática <strong>de</strong> Educação Ambiental em Escola Pública <strong>de</strong> Ensino Fundamental no Município <strong>de</strong><br />

Russas – CE 648<br />

A Educação Ambiental para o Consumo Consciente: práticas lúdicas na formação <strong>de</strong><br />

cidadãos biocêntricos 653<br />

A Inclusão da Educação Ambiental <strong>nas</strong> Escolas Municipais do Município <strong>de</strong> Aurora, Ceará 660<br />

Percepção Ambiental <strong>de</strong> Moradores Ribeirinhos do Mangue <strong>de</strong> Bayeux – PB 669<br />

A Prática Pedagógica do Ensino da Educação Ambiental como Formadora da Consciência<br />

Ambiental dos Alunos da Re<strong>de</strong> Pública do Município <strong>de</strong> Cabaceiras, PB 677<br />

Educação Ambiental no Brasil: histórico e perspectivas 688<br />

Educação Ambiental: o <strong>de</strong>safio da construção <strong>de</strong> um pensamento crítico e consciente - ONG<br />

Guajiru - Intermares - PB 699<br />

A Construção do Conhecimento Científico Com o Uso <strong>de</strong> Mo<strong>de</strong>los Didáticos no Ensino <strong>de</strong><br />

Biologia Celular e Molecular 703<br />

Uma Análise do Consumo Consciente, Percepção <strong>de</strong> Educação Ambiental e Destino dos<br />

Resíduos Sólidos dos Moradores do Bairro <strong>de</strong> Mangabeira VIII em João Pessoa - PB 713<br />

A Educação Ambiental como Ferramenta para o Uso Sustentável das Águas <strong>de</strong> Cister<strong>nas</strong> no<br />

Semiárido Paraibano 722<br />

A (Re) Construção <strong>de</strong> Valores Ambientais através da Ecopedagogia no Ensino Fundamental<br />

I 732<br />

Educação Ambiental na Ong ―Centro <strong>de</strong> Cultura da Vila <strong>de</strong> Ponta Negra‖: um enfoque na<br />

poluição marinha como modo <strong>de</strong> sensibilização <strong>de</strong> crianças e adolescentes 743<br />

Educação Ambiental: uma proposta metodológica para incentivo ao consumo <strong>de</strong> alimentos<br />

orgânicos 749<br />

A Política dos 3 R‘s da Sustentabilida<strong>de</strong> diante da Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Consumo: percepção <strong>de</strong><br />

alunos da UFRPE 760<br />

A Prática Pedagógica do Ensino da Educação Ambiental como Formadora da Consciência<br />

Ambiental dos Alunos da Re<strong>de</strong> Pública do Município <strong>de</strong> Cabaceiras, PB 773<br />

Proposta <strong>de</strong> Educação Ambiental Com Ênfase em Recursos Hídricos: a partir da<br />

problemática da Lagoa do Apodi-RN 784<br />

Determinação da Pegada Hídrica <strong>de</strong> Alunos do Ensino Médio do Município <strong>de</strong> Pombal – PB 793<br />

8


A Educação Ambiental e a Construção da Conscientização Ambiental 802<br />

Prática Pedagógica Sobre Reciclagem: experiência no Semiárido Pernambucano 811<br />

Trilha Ecológica como Estratégia <strong>de</strong> Educação Ambiental: um relato <strong>de</strong> experiência no<br />

Horto Florestal do Olho D‘água da Bica, Cuité, PB 822<br />

Iniciativas Glocais <strong>de</strong> Mudanças Climáticas para Educandos do Ensino Fundamental II 832<br />

Educação Ambiental e Coleta Seletiva <strong>de</strong> Lixo: experiências no Município <strong>de</strong> Monteiro –<br />

PB 843<br />

Psicologia e Educação Ambiental: interfaces possíveis 852<br />

Educação Ambiental e Letramento: os gêneros textuais como via <strong>de</strong> sensibilização <strong>nas</strong><br />

escolas públicas 862<br />

Percepção Ambiental dos Educadores <strong>de</strong> Duas Escolas no Município <strong>de</strong> Mossoró/RN 869<br />

Projeto Retrato: um novo olhar sobre os resíduos sólidos 875<br />

Educação Ambiental: questões ambientais envolvidas com a utilização <strong>de</strong> combustíveis<br />

fósseis, uma nova abordagem no ensino <strong>de</strong> biologia 885<br />

Percepção Referente a Problemas Ambientais Pelos Alunos do 5° Ano da Escola Municipal<br />

Magalhães Bastos, Recife/ Pernambuco. 897<br />

Educação Ambiental em Escolas do Semiárido Pernambucano: como instituir essa<br />

realida<strong>de</strong>? 905<br />

Educação Ambiental <strong>nas</strong> Escolas Munícipais <strong>de</strong> Patos-PB Programa I<strong>de</strong>a - Informação,<br />

Desenvolvimento <strong>de</strong> Meios Sustentáveis 916<br />

Horta Medicinal e Aromática na Escola: uma ação socioambiental 923<br />

Educação Ambiental: a universida<strong>de</strong> na formação <strong>de</strong> educadores 931<br />

Percepção Ambiental <strong>de</strong> Estudantes do Ensino Médio Através da Metodologia do Discurso<br />

do Sujeito Coletivo, Semiárido Potiguar 942<br />

Sala Ver<strong>de</strong> Água Viva: educação ambiental para a sustentabilida<strong>de</strong> Socioambiental 952<br />

Concepção Ambiental <strong>nas</strong> Escolas Públicas do Seridó Potiguar a Concepção Ambiental 963<br />

Breves Relações: Conferências Ambientais Mundiais, Educação Ambiental e<br />

Desenvolvimento Sustentável 972<br />

Por uma Educação com Ênfase na Alimentação Saudável numa Perspectiva Ambiental 981<br />

3 – Planejamento, Programas e Ações Ambientais .................................................................. 993<br />

A Indissociabilida<strong>de</strong> do Ensino, Pesquisa e Extensão em Ações <strong>de</strong> Educação Ambiental<br />

Planejamento Urbano e Ambiental: discussão sobre a gestão <strong>de</strong> resíduos sólidos urbanos no<br />

Brasil<br />

Análise Socioambiental dos Impactos Provocados pelo Projeto <strong>de</strong> Educação Ambiental<br />

―Mata Viva do Belém‖ na Comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião do Belém - ES, a partir da<br />

percepção dos seus sujeitos<br />

Políticas Públicas, Programas e Ações que Permeiam a Agricultura Familiar no Contexto da<br />

Sustentabilida<strong>de</strong><br />

Do Local ao Global: governança participativa <strong>de</strong> bens comuns - a experiência do Comitê<br />

Facilitador da Socieda<strong>de</strong> Civil Catarinense para a Rio+20<br />

994<br />

1006<br />

1019<br />

1031<br />

1043<br />

9


O Uso da Norma como Ferramenta <strong>de</strong> Controle Ambiental: um estudo <strong>de</strong> caso dos buffets<br />

<strong>de</strong> Mossoró / RN<br />

O Diálogo Cientifico como Instrumento <strong>de</strong> Percepção Ambiental Hídrica: socialização <strong>de</strong><br />

uma experiência realizada na Região da Zona da Mata – RO<br />

Gestão Ambiental Compartilhada na Paraíba: um <strong>de</strong>safio para a sustentabilida<strong>de</strong> ambiental<br />

no Estado e Municípios<br />

Notas Sobre a Gênese das Áreas <strong>de</strong> Proteção Ambiental Cearense: contexto histórico<br />

jurídico-institucional<br />

Educação Ambiental: uma proposta articulada na Re<strong>de</strong> Pública Municipal em áreas <strong>de</strong><br />

<strong>nas</strong>centes do Rio Mamanguape<br />

Empresas da Construção Civil <strong>de</strong> Mossoró - RN: i<strong>de</strong>ntificação das ações voltadas à gestão<br />

ambiental<br />

Movimento <strong>de</strong> Massa como Agentes Causais dos Desequilíbrios dos Talu<strong>de</strong>s da BR-101<br />

Norte / PE<br />

Agenda 21 Local: o caso do Núcleo <strong>de</strong> Educação Ambiental da Colônia <strong>de</strong> Pelotas<br />

Dinâmica Migratória e o Processo <strong>de</strong> Desflorestamento da Bacia do Igarapé D´Alincuort -<br />

RO<br />

A Cida<strong>de</strong> Industrial São Bento do Sul: topografia, imigração, colonização, acessos e<br />

arruamento<br />

Educação Ambiental em Escolas Públicas: um estudo <strong>de</strong> caso no Estado da Paraíba 1166<br />

Interligação Rural-Urbana: fragmentos da construção <strong>de</strong> uma crise anunciada e possíveis<br />

perspectivas<br />

1178<br />

As Representações Socioambientais dos Agentes Ambientais Acerca do Trabalho<br />

1187<br />

Estudo sobre A Importância da Geomorfologia para o Planejamento Urbano o Plano Diretor<br />

Participativo da Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Macaíba-RN<br />

1201<br />

Os Municípios <strong>de</strong> Origem dos Alunos Matriculados no Cefet Curvelo na Perspectiva <strong>de</strong><br />

Planejamento, Programas e Ações Ambientais<br />

1210<br />

Meio Ambiente, Ocupação Urbana e Turismo: o caso da Ponta do Seixas, ponto mais<br />

oriental das Américas<br />

1222<br />

Bases Motivacionais para o Cuidado Ambiental: um exame da literatura em psicologia 1234<br />

Ecotrilhas: um instrumento para a promoção da educação ambiental<br />

Ações <strong>de</strong> Educação Ambiental Desenvolvidas pelo Programa ―Novos Talentos‖ em uma<br />

1245<br />

Escola Pública <strong>de</strong> Mossoró/RN<br />

Projeto Museu <strong>de</strong> Ciências Ambientais Mundo Livre: ações <strong>de</strong> educação ambiental em<br />

1255<br />

escolas públicas e comunida<strong>de</strong>s da Região Metropolitana <strong>de</strong> Fortaleza - Ceará<br />

Educação Alimentar e Ambiental na Dinamização do Currículo Escolar por Meio <strong>de</strong> Hortas,<br />

1265<br />

Areia/PB<br />

Educação Ambiental em Escolas da Periferia do Município <strong>de</strong> Serra Talhada, Pernambuco,<br />

1278<br />

Brasil<br />

A Agenda 21 Escolar como Potencializadora das Práticas Ecopedagógicas: promovendo<br />

1288<br />

espaços <strong>de</strong> autonomia para a construção da cidadania planetária<br />

Determinação da <strong>Qualida<strong>de</strong></strong> da Água Armazenada em Cister<strong>nas</strong> por Meio <strong>de</strong> Parâmetros<br />

1297<br />

Físicos, Químicos e Microbiológicos 1309<br />

Proposta Metodológica <strong>de</strong> Gestão Ambiental em Ambientes Acadêmicos 1318<br />

PAA e PNAE Fomentando a Agricultura Familiar do Agreste Meridional <strong>de</strong> Pernambuco 1331<br />

Ações Extensionistas no Litoral do Iguape – Aquiraz/Ce: a educação ambiental como 1343<br />

1056<br />

1067<br />

1076<br />

1086<br />

1098<br />

1109<br />

1118<br />

1130<br />

1141<br />

1154<br />

10


subsídio para a conservação e preservação dos recursos naturais<br />

Apresentando o PET Mata Atlântica: conservação e <strong>de</strong>senvolvimento 1355<br />

Planejamento e Ações Ambientais no Parque Estadual Marinho <strong>de</strong> Areia Vermelha,<br />

Cabe<strong>de</strong>lo, PB 1366<br />

Desenvolvendo a Educação Patrimonial no Centro Histórico <strong>de</strong> João Pessoa Através do<br />

Projeto ―O Futuro Visita O Passado 1374<br />

Município <strong>de</strong> Grossos - RN: uma proposta <strong>de</strong> plano <strong>de</strong> ação para uma gestão participativa 1381<br />

Análise da Gestão Ambiental Pública dos Municípios Brasileiros 1391<br />

Caracterização das Condições <strong>de</strong> Saneamento Básico em Comunida<strong>de</strong>s Rurais no Município<br />

<strong>de</strong> Mossoró e Região, Rio Gran<strong>de</strong> do Norte 1401<br />

Articulações entre o Percurso <strong>de</strong> Um Projeto <strong>de</strong> Educação Ambiental e a Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Consumo 1414<br />

Potencialida<strong>de</strong> e Economia Solidária: entrelaçamentos para o <strong>de</strong>senvolvimento local<br />

sustentável 1424<br />

A<strong>de</strong>quação Ambiental no Sítio Çarakura como Ferramenta <strong>de</strong> Potencialização da Educação<br />

Ambiental 1437<br />

Desafios na Re<strong>de</strong>finição dos Limites Municipais <strong>de</strong> São Luís e São José De Ribamar /<br />

Maranhão 1447<br />

<strong>Qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Vida</strong> e Sensibilização Ambiental Através dos Esportes <strong>de</strong> Aventura: uma<br />

interação homem, animal e natureza 1459<br />

Percepção Entomológica por Discentes do 8º e 9º Ano na Re<strong>de</strong> Pública no Município <strong>de</strong><br />

Areia – PB 1466<br />

11


1 - Habitat urbano e a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

vida<br />

12


PRINCIPAIS PROBLEMAS CAUSADOS PELAS PANIFICADORAS QUE UTILIZAM<br />

MADEIRA OU LENHA COMO FONTE DE ENERGIA NO BAIRRO DE MANGABEIRA<br />

Resumo<br />

.<br />

Ana Maria Ferreira COSME (CCEN/UFPB) – anamariageografia@yahoo.com.br<br />

Ana Claudia Ferreira COSME (CCAE/UFPB) – hotelaria10@r7.com<br />

Rabá Sousa da SILVA (CCJ/UFPB) – rabgeo@yahoo.com.br<br />

A vegetação nativa (ma<strong>de</strong>ira) foi a princípio a única fonte <strong>de</strong> energia necessária ao <strong>de</strong>senvolvimento<br />

das ativida<strong>de</strong>s produtivas e <strong>de</strong> subsistência no Brasil. A utilização da ma<strong>de</strong>ira como fonte energética<br />

traz consigo diversos problemas no qual um <strong>de</strong>les trata-se da poluição do ar, o que gera diversos<br />

transtornos à população que resi<strong>de</strong> <strong>nas</strong> suas proximida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sses estabelecimentos. Diante disso, o<br />

objetivo do trabalho foi i<strong>de</strong>ntificar os principais problemas causados pelas panificadoras que<br />

utilizam ma<strong>de</strong>ira ou lenha como fonte <strong>de</strong> energia no bairro Mangabeira. Para tanto,foi realizado um<br />

levantamento bibliográfico do assunto em pauta, como também realizações <strong>de</strong> visitas in loco para a<br />

observação das padarias. Foram aplicados 20 questionários com 5 perguntas fechadas para as<br />

pessoas que resi<strong>de</strong>m próximo às padarias. Também foram realizadas entrevistas com alguns<br />

proprietários das panificadoras e com o presi<strong>de</strong>nte do Sindipan/PB (Sindicato dos panificadores da<br />

Paraíba) para a obtenção <strong>de</strong> dados quantitativos e qualitativos a respeito da ma<strong>de</strong>ira ou lenha<br />

utilizada e das ações dos sindicatos das panificadoras da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa. Verificou-se que os<br />

transtornos causados à população que resi<strong>de</strong> próximo a estes estabelecimentos são muitos e com<br />

poucas chances <strong>de</strong> serem resolvidos em curto prazo, tendo em vista que as panificadoras não são<br />

licenciadas. Épreciso que o órgão ambiental fiscalize essas panificadoras para regularização, bem<br />

como que juntamente com o SEBRAE realize um fórum para orientar os proprietários nessa<br />

regularização.<br />

Palavras chaves:Panificadoras, Fontes <strong>de</strong> Energia, Poluição do ar.<br />

Abstract<br />

The native vegetation (wood) was initially the only source of energy for the <strong>de</strong>velopment of<br />

productive activities and livelihoods in Brazil. Using wood as an energy source brings with it many<br />

problems in which one of them it is the pollution of air, which causes different disor<strong>de</strong>rs to the<br />

13


population residing in the vicinity of such establishments. Therefore, the objective was to i<strong>de</strong>ntify<br />

the main problems caused by bakeries that use wood or wood as energy source in the Mangabeira<br />

neighborhood. To that end, we carried out a literature of the subject matter, as well as achievements<br />

of on-site visits to observe the bakeries. 20 questionnaires were administered with 5 closed<br />

questions for people who live near the bakery. Also interviews with some owners of bakeries and<br />

the presi<strong>de</strong>nt of Sindipan / PB (bakers' Union of Paraíba) to obtain quantitative and qualitative data<br />

about the wood or wood used and the actions of the unions of bakeries in the city of João person. It<br />

was found that the inconvenience caused to the population residing near these establishments are<br />

many and with little chance of being solved in the short term, given that the bakeries are not<br />

licensed. We need the EPA to enforce these bakeries regularization, and that along with SEBRAE<br />

hold a forum to gui<strong>de</strong> the owners in this regularization.<br />

Key Word: Breadmaker, Energy Sources, Air Pollution.<br />

Introdução<br />

De acordo com a história, a vegetação nativa foi a princípio a única fonte <strong>de</strong> energia<br />

necessária ao <strong>de</strong>senvolvimento das ativida<strong>de</strong>s produtivas e <strong>de</strong> subsistência no Brasil,<br />

principalmente, no Nor<strong>de</strong>ste. Des<strong>de</strong> o período colonial, a Mata Atlântica começou a ser <strong>de</strong>rrubada<br />

para dar lugar ao cultivo da cana-<strong>de</strong>-açúcar. Posteriormente, com a ampliação da colonização com o<br />

ciclo do gado,se a<strong>de</strong>ntrou o território <strong>de</strong>vastando gran<strong>de</strong>s áreas, sendo posteriormente acrescido<br />

com o ciclo do Ouro e do café, seguido do ciclo da industrialização até os dias atuais.<br />

Uma das regiões que mais sofrem com retirada <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira atualmente é o semiárido, on<strong>de</strong> a<br />

vegetação <strong>de</strong> caatinga é muito utilizada como fonte <strong>de</strong> energia, tanto em forma <strong>de</strong> lenha com em<br />

forma <strong>de</strong> carvão vegetal. A exploração <strong>de</strong>sse recurso energético ocorre sem o menor critério, o que<br />

compromete o equilíbrio ambiental e a oferta <strong>de</strong>sses produtos florestais.<br />

Ainda é muito lento o processo <strong>de</strong> substituição do uso da lenha por outras fontes <strong>de</strong> energia<br />

levando-se em conta a questão econômica, pois em relação às outras fontes <strong>de</strong> energia a lenha ou a<br />

ma<strong>de</strong>ira apresentam um valor mais acessível.<br />

No Brasil existem muitas indústrias que utilizam a ma<strong>de</strong>ira no processo <strong>de</strong> fabricação <strong>de</strong> seus<br />

produtos como, por exemplo: as olarias e indústrias <strong>de</strong> cerâmica que necessitam da ma<strong>de</strong>ira para o<br />

cozimento da argila; a construção civil que utiliza ma<strong>de</strong>ira para construção <strong>de</strong> escoras, andaimes,<br />

pisos e foras; a indústria <strong>de</strong> celulose e moveleira; peque<strong>nas</strong> usi<strong>nas</strong> <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar que faz uso da<br />

ma<strong>de</strong>ira em seus fornos e finalmente algumas indústrias <strong>de</strong> alimentos como pizzarias e<br />

panificadoras.<br />

14


As panificadoras vêm substituindo o uso <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira e lenha em seus fornos por outras<br />

alternativas energéticas. Entretanto, em João Pessoa muitas panificadoras ainda utilizam ma<strong>de</strong>ira e<br />

lenha como fonte <strong>de</strong> energia. Nesse sentido, surgiu o interesse em pesquisar a temática sobre os<br />

problemas <strong>de</strong>correntes do uso <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira e lenha em panificadoras.<br />

Como não podia ser diferente a área pesquisada encontra-se localizada no Estado da Paraíba,<br />

Mesorregião da Mata Paraibana e na Microrregião <strong>de</strong> João Pessoa, especificamente no Bairro <strong>de</strong><br />

Mangabeira, zona sul da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa. O bairro <strong>de</strong> Mangabeira é subdividido em oito<br />

partes que são enumeradas <strong>de</strong> um a oito. Tomando como base o funcionamento das padarias é que<br />

procuramos, o objetivo <strong>de</strong>sse trabalho foi i<strong>de</strong>ntificar os principais problemas causados pelas<br />

panificadoras que utilizam ma<strong>de</strong>ira ou lenha como fonte <strong>de</strong> energia.<br />

As panificadoras e as fontes <strong>de</strong> energias utilizadas<br />

O segmento <strong>de</strong> panificação 1 é um dos mais antigos e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua criação, mas segundo o site<br />

Vitoppan 2 (2012).<br />

Atualmente o Brasil ainda consome pouco pão em relação a outros países, mas o<br />

brasileiro tem apresentando um crescimento no consumo. Existem gran<strong>de</strong>s<br />

diferenças regionais no consumo <strong>de</strong> pão, pois algumas regiões no Leste e Sul<br />

consomem cerca <strong>de</strong> 35 kg, enquanto no Nor<strong>de</strong>ste atinge os 10kg.<br />

Evi<strong>de</strong>nciado-se que os produtos fabricados pelas panificadoras tem o seu consumo<br />

diferenciado conforme a região ao qual se encontra localizado, observa-se que necessitam <strong>de</strong> vários<br />

tipos <strong>de</strong> matérias primas e <strong>de</strong> fonte energética para o processamento tal como a ma<strong>de</strong>ira 3 ou lenha 4<br />

que são utilizadas para o cozimento dos pães. Santos & Gomes (2009, p. 156) ressaltam que ―As<br />

padarias <strong>de</strong>senvolvem ativida<strong>de</strong>s comerciais e semi-industriais on<strong>de</strong> a lenha po<strong>de</strong> ser uma das<br />

principais fontes energéticas‖. Nesse sentido, observa-se que essa ativida<strong>de</strong>, em muitas localida<strong>de</strong>s,<br />

ainda continua utilizando esse tipo <strong>de</strong> matriz energética.<br />

Há pouco tempo observamos algumas modificações em relação ao tipo <strong>de</strong> energia e fornos<br />

utilizados para fabricação dos pães, os quais vêm sendo adaptados para utilização <strong>de</strong> outros tipos <strong>de</strong><br />

energia, <strong>de</strong>ntre estes, as adaptações são para uso da energia elétrica e do GLP ( Gás Liquefeito <strong>de</strong><br />

Petróleo). Estas novas fontes <strong>de</strong> energia são <strong>de</strong> essencial importância para o <strong>de</strong>senvolvimento e<br />

ampliação do setor <strong>de</strong> panificação, <strong>de</strong> forma a minimizar os danos ambientais gerados pela queima<br />

<strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira ou lenha. Segundo a Revista Ma<strong>de</strong>ira 5 , (2003).<br />

1<br />

Panificação: fabricação <strong>de</strong> pão e <strong>de</strong>rivados<br />

2<br />

http://www.vitoppan.com.br/historiadapanificacao.html; acessado em 28/04/2012.<br />

3<br />

Ma<strong>de</strong>ira; carne <strong>de</strong> árvore, constituído pelo lenho morto.<br />

4<br />

Lenha; porção <strong>de</strong> achas usadas como combustível.<br />

5<br />

http://www.rema<strong>de</strong>.com.br/br/revistadama<strong>de</strong>ira_materia.php?num=467&subject=Res%EDduos&title=Gest%E3o%20d<br />

e%20res%EDduos%20s%F3lidos%20na%20ind%FAstria%20ma<strong>de</strong>ireira acessado em 25/04/2012.<br />

15


A utilização da lenha tem larga tradição no Brasil. Em 1952, quase meta<strong>de</strong> do total<br />

<strong>de</strong> energia consumida no país era proveniente da biomassa. Em 1969, esta<br />

percentual se reduziu para 33,7% e em 1979 para 17,4%, consi<strong>de</strong>rando como lenha<br />

o consumo tradicional e histórico <strong>de</strong>ssa biomassa no Brasil, incluindo a utilização<br />

doméstica, fornos <strong>de</strong> padarias, cerâmicas e olarias.<br />

Essas fontes, após serem submetidas a um processo <strong>de</strong> transformação, proporcionam energia<br />

para o homem cozinhar seus alimentos, aquecer, iluminar o ambiente e modificara paisagem. Hoje<br />

os tipos <strong>de</strong> energia mais utilizados pelas panificadoras são: a energia elétrica, a ma<strong>de</strong>ira, o GLP (gás<br />

liquefeito <strong>de</strong> petróleo),conforme o site 6 . Po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>stacar também as mais novas fontes energia<br />

utilizadas <strong>nas</strong> panificadoras como: vapor d‘água, energia solar e a utilização <strong>de</strong> Briquetes 7 . Contudo<br />

ainda existem inúmeras panificadoras que ainda possuem fornos movidos à lenha e ma<strong>de</strong>ira.<br />

Riegelhaupt (2004 Apud SANTOS & GOMES, 2009 p. 157) afirma que:<br />

existe uma média tendência a provável redução, por parte das padarias, na<br />

utilização <strong>de</strong> produtos energéticos florestais e que tal redução <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá da<br />

disponibilida<strong>de</strong> e/ou viabilida<strong>de</strong> econômica da substituição <strong>de</strong> produtos energéticos<br />

florestais por outras fontes <strong>de</strong> energia.<br />

A ma<strong>de</strong>ira e a lenha que são utilizadas na fabricação dos pães e <strong>de</strong>rivados da panificação são <strong>de</strong><br />

origens diversas, na sua maioria são retiradas das regiões circunvizinhas às panificadoras, ou do<br />

interior do Estado, principalmente, <strong>de</strong> regiões que apresentam vegetação <strong>de</strong> pequeno porte.<br />

Também são utilizam ma<strong>de</strong>iras oriundas da construção civil e, raramente, ma<strong>de</strong>iras legalizadas. Isso<br />

<strong>de</strong>vido ao aumento nos custos com impostos cobrados sobre o produto.<br />

A utilização <strong>de</strong> lenha ou ma<strong>de</strong>ira <strong>nas</strong> panificadoras traz benefícios, mas também traz<br />

transtornos aos proprietários. Os benefícios são: o baixo custo da lenha, uma menor manutenção<br />

com o forno, o não pagamento <strong>de</strong> impostos sobre a ma<strong>de</strong>ira. Quanto aos transtornos, esses são<br />

muitos, principalmente, para os funcionários e moradores próximos às padarias.Atualmente os<br />

proprietários estão sendo punidos através da aplicação <strong>de</strong> leis ambientais que tem como propósito<br />

reduzir a utilização dos fornos a lenha ou ma<strong>de</strong>ira.<br />

Poluição do ar pelas panificadoras<br />

Ao falarmos <strong>de</strong> poluição temos várias <strong>de</strong>finições, pois seu significado é bastante amplo por que<br />

engloba vários outros tipos <strong>de</strong> poluição a serem <strong>de</strong>finidos. Por este motivo estas <strong>de</strong>finições acabam<br />

se misturando, dando ênfase a outros tipos <strong>de</strong> poluição. Po<strong>de</strong>-se dizer que ―Poluição é toda<br />

alteração das proprieda<strong>de</strong>s naturais do meio ambiente que seja prejudicial à saú<strong>de</strong>, à segurança ou<br />

6<br />

http://www.sodinheiro.info/i<strong>de</strong>ias-<strong>de</strong>-novos-negocios/i<strong>de</strong>ias-<strong>de</strong>-novos-negocios_padaria.phpacessado em 13/06/2012.<br />

7<br />

BRIQUETES é produzido a partir da serragem e <strong>de</strong>mais resíduos resultantes do processo <strong>de</strong> beneficiamento <strong>de</strong><br />

qualquer tipo <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira ou resíduo agroindustriais .<br />

16


ao bem estar da população sujeita aos seus efeitos, causada por agentes <strong>de</strong> qualquer espécie‖.<br />

(MANO, 2005, p. 41).<br />

Compreen<strong>de</strong>ndo-se que entre os diversos tipos <strong>de</strong> poluição que tanto agri<strong>de</strong>m o meio ambiente,<br />

<strong>de</strong>stacaremos a poluição do ar, por estar envolvida no assunto em questão. Conforme Assunção,<br />

(2004, p.107 apud JR et al 2004). ―A poluição do ar ocorre quando a alteração da composição<br />

qualitativa ou quantitativa da atmosfera resulta em danos reais ou potenciais‖. Sabe-se que a partir<br />

<strong>de</strong>ssas alterações acima citadas que vem a causar a poluição do ar, uma das principais vilãs são as<br />

queimadas que ocorrem <strong>de</strong> forma controlada ou não, causando diversos impactos ao meio ambiente<br />

e inúmeros transtornos, principalmente ao ser humano que faz uso <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>.<br />

O setor <strong>de</strong> panificação é um dos que contribuem para o aumento da poluição do ar, pois ainda<br />

existem vários estabelecimentos <strong>de</strong>ste setor que utilizam fornos movidos a biomassa 8 ,<br />

especificamente, lenha ou ma<strong>de</strong>ira e que durante a sua combustão emite uma gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

gases poluentes na atmosfera levando a vários problemas ambientais e <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

Então notou-se que a emissão <strong>de</strong> gases poluentes oriundos da combustão prejudicam a saú<strong>de</strong><br />

publica e o bem-estar da população.<br />

Legislação ambiental aplicável a panificadoras<br />

A principal lei ambiental que norteará a ativida<strong>de</strong> das panificadoras é a Lei 6938/81 que<br />

dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos <strong>de</strong> formulação e<br />

aplicação. Essa lei <strong>de</strong>fine a poluição e o poluidor. Nesse caso observa-se que essas informações são<br />

aplicadas ao licenciamento ambiental <strong>de</strong> panificadoras.<br />

Enten<strong>de</strong>-se a poluição como a <strong>de</strong>gradação da qualida<strong>de</strong> ambiental que é resultante <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong>s que direta ou indiretamente prejudique a saú<strong>de</strong>, a segurança e o bem estar da população;<br />

criem condições adversas às ativida<strong>de</strong>s sociais e econômicas; e lancem matérias ou energia em<br />

<strong>de</strong>sacordo com os padrões ambientais estabelecidos.<br />

Sendo assim, a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> panificação tem como maior não conformida<strong>de</strong> ambiental a<br />

poluição atmosférica. O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) instituiu a resolução<br />

CONAMA Nº 005/89. O objetivo <strong>de</strong>ssa resolução é estabelecer estratégia para controle,<br />

preservação e recuperação do ar. Através <strong>de</strong>ssa resolução foi instituído o Programa Nacional <strong>de</strong><br />

Controle da <strong>Qualida<strong>de</strong></strong> do Ar (PRONAR), que se configura como um instrumento básico <strong>de</strong> gestão<br />

ambiental para ativida<strong>de</strong>s que poluem o ar.<br />

8 BIOMASSA: é uma termo genérico que se refere o conjunto <strong>de</strong> recursos biologicamente renováveis, originados <strong>de</strong><br />

material vegetal, susceptível <strong>de</strong> transformação em energia útil, tal como o calor, a eletricida<strong>de</strong> e a força motriz.<br />

17


A resolução Nº 003/90 do CONAMA estabelece as concentrações máximas para partículas<br />

em suspensão <strong>de</strong> CO2 e CO. Essa resolução traz o conceito <strong>de</strong> fontes poluidora do ar móvel, que é o<br />

caso <strong>de</strong> carros e a fonte poluidora fixa que é o caso das panificadoras.<br />

O Código Florestal estabelece a fiscalização do Documento <strong>de</strong> Origem Florestal (DOF), esse<br />

documento garante ao cliente (dono <strong>de</strong> panificadora, olaria, pizzaria e ao consumidor final) que a<br />

ma<strong>de</strong>ira utilizada nos estabelecimentos tem procedência do reflorestamento. Entretanto, sabe-se que<br />

a fiscalização, na maioria das vezes, é realizada ape<strong>nas</strong> no Licenciamento Ambiental.<br />

Em João Pessoa o Licenciamento Ambiental das Panificadoras é realizado pela SEMAM<br />

(Secretaria do Meio Ambiente da Prefeitura <strong>de</strong> João Pessoa), enquanto que <strong>nas</strong> <strong>de</strong>mais cida<strong>de</strong>s<br />

paraiba<strong>nas</strong> o órgão que licencia as panificadoras é a SUDEMA (Superintendência <strong>de</strong> Administração<br />

do Meio Ambiente do Estado da Paraíba). Optou-se por <strong>de</strong>talhar o processo <strong>de</strong> Licenciamento das<br />

Panificadoras licenciadas pela SEMAM.<br />

Nota-se que as exigências no Licenciamento Ambiental são muitas, logo, um<br />

empreendimento <strong>de</strong> panificação po<strong>de</strong> <strong>de</strong>morar um bom tempo para ser <strong>de</strong>finitivamente licenciado.<br />

Tal exigência e o alto custo para o cumprimento <strong>de</strong> tantas etapas que são fundamentais, muitas<br />

vezes levam os pequenos empresários à clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong>. Os empreendimentos clan<strong>de</strong>stinos passam<br />

anos funcionando sem haver nenhuma fiscalização.<br />

A fiscalização ambiental é vista como um custo pelo po<strong>de</strong>r público. Essa visão favorece a<br />

clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong> e prejudica o <strong>de</strong>senvolvimento social, econômico e ambiental local. Uma<br />

alternativa seria uma força tarefa para legalizar ou fechar as panificadoras clan<strong>de</strong>sti<strong>nas</strong>, mas para<br />

isso a SEMAM em parceria com o SEBRAE 9 po<strong>de</strong>ria organizar um fórum para orientação <strong>de</strong>sses<br />

pequenos empresários, on<strong>de</strong> constaria também um corpo técnico (engenheiros, geógrafos,<br />

advogados etc.) para prestar serviço <strong>de</strong> consultoria ambiental, com custo acessível, para que os<br />

microempresários que vivem na clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong>, possam se regularizar.<br />

Metodologia<br />

Ao iniciarmos esta pesquisa, buscamos realizar um levantamento bibliográfico para fins <strong>de</strong><br />

aprofundamento do assunto em pauta. Como também realizações <strong>de</strong> visitas in loco para a<br />

observação das padarias e da fumaça emitida, além <strong>de</strong> verificar externamente se as mesmas<br />

possuem filtros <strong>nas</strong> chaminés para reduzir a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> poluentes emitidos pelas mesmas.<br />

Aplicamos 20 questionários com 5 perguntas fechadas para as pessoas que resi<strong>de</strong>m próximo<br />

às padarias com o intuito <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar os possíveis transtornos causados pela combustão da<br />

ma<strong>de</strong>ira ou lenha utilizada.<br />

9 SEBRAE (Serviço <strong>de</strong> Apoio às Micro e Peque<strong>nas</strong> Empresas)<br />

18


Realizamos entrevista com alguns proprietários das panificadoras, como também com o<br />

vice-presi<strong>de</strong>nte do Sindipam/PB (Sindicato dos panificadores da Paraíba) para a obtenção <strong>de</strong> dados<br />

quantitativos e qualitativos a respeito da ma<strong>de</strong>ira ou lenha utilizada. Alem da utilização <strong>de</strong> câmeras<br />

fotográficas para visualização das ma<strong>de</strong>iras e lenhas utilizadas <strong>nas</strong> panificadoras.<br />

Resultados e discussões<br />

Partiremos <strong>de</strong> um recorte espacial da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa, no qual <strong>de</strong>stacamos o bairro <strong>de</strong><br />

Mangabeira conforme. No qual se realizou o presente estudo, referente às padarias que utilizam<br />

ma<strong>de</strong>ira para o cozimento dos pães.<br />

I<strong>de</strong>ntificação dos tipos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira ou lenha utilizada nos fornos das panificadoras<br />

Em um total <strong>de</strong> 12 padarias visitadas, se questionou a procedência da ma<strong>de</strong>ira utilizada para<br />

a fabricação dos pães. Alguns dos proprietários respon<strong>de</strong>ram que utilizam ma<strong>de</strong>ira e lenha e outros<br />

respon<strong>de</strong>ram utilizar lenha e outras fontes <strong>de</strong> energia como o gás e a energia elétrica, conforme o<br />

gráfico 1.<br />

Gráfico 1: Gráfico mostrando a utilização das fontes <strong>de</strong> energia.<br />

Fonte : COSME, 2012<br />

A ma<strong>de</strong>ira ao quais os proprietários se referem são as toras e tábuas. Já a lenha é composta<br />

por pequenos pedaços <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira e galhos retorcidos. É muito importante lembrar que no que se<br />

refere aos 50% também está incluída ma<strong>de</strong>iras oriundas da construção civil.<br />

O licenciamento ambiental das padarias<br />

Durante as visita as panificadoras, questionou-se os proprietários a respeito da legislação<br />

aplicada, tanto às panificadoras quanto à lei aplicada a questão da poluição do ar. Dos 12<br />

proprietários só 10 prestaram algumas informações, afirmando que tem conhecimento das leis<br />

aplicadas, mas ape<strong>nas</strong> 3 dos 12 afirmam aplicar as leis exigidas pelo Estado e Município.<br />

19


Os <strong>de</strong>mais proprietários respon<strong>de</strong>ram que não tem o conhecimento <strong>de</strong> todas as leis aplicadas<br />

a este tipo <strong>de</strong> segmento comercial, pois estes estabelecimentos já funcionam há muito<br />

tempo.Questionou-se se já teria recebido a visita <strong>de</strong> algum órgão responsável pela regulamentação<br />

do estabelecimento e ele respon<strong>de</strong>u que só recebeu a vigilância sanitária e um fiscal da prefeitura,<br />

quando foi para renovar o alvará <strong>de</strong> funcionamento.<br />

E também se observou, <strong>de</strong> forma externa que ape<strong>nas</strong> 4 dos 12 estabelecimentos possuem<br />

filtros <strong>nas</strong> chaminés e obe<strong>de</strong>cem a altura aconselhada pelos órgãos licenciadores que é <strong>de</strong> 7 metros e<br />

meio. Em contrapartida encontramos várias chaminés com altura inferior a 3 metros.<br />

Buscamos outras fontes <strong>de</strong> dados para um melhor esclarecimento, sobre este setor do<br />

comércio que vem crescendo consi<strong>de</strong>ravelmente a cada ano. A SUDEMA disponibiliza em seu site<br />

a quantida<strong>de</strong> e especificação das licenças expedidas em cada ano, então realizamos um<br />

levantamento referente ao ano <strong>de</strong> 2008 até junho <strong>de</strong> 2011, evi<strong>de</strong>nciando ape<strong>nas</strong> os comércios que<br />

trabalham com os produtos <strong>de</strong>rivados da panificação.<br />

De acordo com a SUDEMA (2004, s/p Apud COSTA et al 2006, p. 04) no setor industrial<br />

um dos maiores consumidores <strong>de</strong> lenha na Paraíba são as panificadoras. As indústrias cerâmicas<br />

(empresas <strong>de</strong> pequeno e médio porte) aparecem em segundo lugar com cerca <strong>de</strong> 15%. O número <strong>de</strong><br />

empresas consumidoras <strong>de</strong> lenha no Estado é bastante significativo, com 1.927 estabelecimentos.<br />

Ainda <strong>de</strong> acordo com a SUDEMA os maiores consumidores <strong>de</strong> lenha no Estado da Paraíba são as<br />

padarias (gráfico 2), seguido <strong>de</strong> restaurantes, matadouros entre outros consumidores.<br />

Gráfico 2: Uso <strong>de</strong> lenha por setor produtivo na Paraíba em 2004.<br />

Fonte: COSTA, 2006.<br />

20


As ações do sindicato das panificadoras da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa<br />

Já no Estado da Paraíba no dia 08 <strong>de</strong> julho, o Sindicato das Indústrias <strong>de</strong> Panificação do<br />

Estado da Paraíba – Sindipan/PB celebrou o Dia do Panificador com muito otimismo, pois <strong>de</strong><br />

acordo com o presi<strong>de</strong>nte do Sindicato, Romualdo Farias, o setor emprega formalmente mais <strong>de</strong> 15<br />

mil pessoas na Paraíba. O Estado atualmente possui cerca <strong>de</strong> 1200 panificadoras, dados <strong>de</strong> 2008.<br />

Conforme a entrevista realizada com o presi<strong>de</strong>nte do SINDIPAN-PB Romualdo F.Arasujo,<br />

no dia 30 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 2012, na qual esclarecemos algumas questões sobre as panificadoras da<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa.<br />

As respostas às questões foram respondidas <strong>de</strong> forma bem sucinta pelo presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>ste<br />

sindicato. O SINDIPAN-PB atua em João Pessoa <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1944 e nestes 68 anos <strong>de</strong> atuação ele conta<br />

com 92 empresas associadas e 4 <strong>de</strong>stas empresas encontram-se situadas no bairro <strong>de</strong> Mangabeira.<br />

Durante a entrevista foi questionado a respeito das fontes <strong>de</strong> energias utilizadas pelas<br />

panificadoras e segundo o presi<strong>de</strong>nte do SINDIPAN-PB ele não soube informar quais a<br />

panificadoras que utilizam ma<strong>de</strong>ira ou lenha como fonte <strong>de</strong> energia. Segundo o presi<strong>de</strong>nte ―quem<br />

<strong>de</strong>ve ter estes dados sobre as panificadoras que utilizam este tipo <strong>de</strong> energia é o IBAMA (Instituto<br />

Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) só o IBAMA tem o cadastro<br />

<strong>de</strong>ssas empresas‖.<br />

Também questionamos a respeito das execuções das Leis e se o SINDIPAN-PB fornecia<br />

esclarecimento e orientação aos associados. Segundo o presi<strong>de</strong>nte ―Quando necessário, ou<br />

solicitado, era esclarecido através <strong>de</strong> work shop, palestra e etc.‖<br />

Questionamos sobre as panificadoras que utilizam ma<strong>de</strong>ira ou lenha como fonte <strong>de</strong> energia,<br />

em relação ao uso ou não do filtro <strong>nas</strong> chaminés para conter a fuligem e a redução da fumaça e o<br />

Senhor Romualdo F. Arasujo, respon<strong>de</strong>: ―Sim, utilizam, pois é obrigatório para obterem a licença<br />

ambiental.‖ Entretanto, mesmo dando esta resposta ele afirma não saber quantas e quais são as<br />

panificadoras que utilizam ma<strong>de</strong>ira ou lenha.<br />

Ainda batendo nesta mesma tecla perguntamos se o SINDIPAN-PB recomenda aos<br />

proprietários <strong>de</strong> panificadoras a substituírem a ma<strong>de</strong>ira ou lenha por outro tipo <strong>de</strong> energia o senhor<br />

Romualdo F. Arasujo respon<strong>de</strong>u ―que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do caso‖, então perguntamos qual seria o caso, mais<br />

ficamos sem resposta.<br />

21


Transtornos causados aos moradores que resi<strong>de</strong>m próximos das panificadoras que utilizam a<br />

ma<strong>de</strong>ira ou lenha como fonte <strong>de</strong> energia.<br />

Conforme entrevistas realizadas no dia 23 <strong>de</strong> Maio do corrente ano, com os moradores que<br />

resi<strong>de</strong>m próximos às panificadoras que utilizam ma<strong>de</strong>ira como fonte <strong>de</strong> energia. Obtivemos os<br />

seguintes resultados: dos entrevistados 90% <strong>de</strong>le respon<strong>de</strong>ram que a panificadora causa vários<br />

problemas como: barulho, fumaça, fuligem e proliferação <strong>de</strong> insetos e roedores. E a pe<strong>nas</strong> 10%<br />

afirmam não ter nenhum tipo <strong>de</strong> problema com as panificadoras, ressaltando que estas pessoas<br />

resi<strong>de</strong>m há no máximo 150 metros da mesma.<br />

Por este motivo também questionei os moradores para saber, se eles gostariam que esta<br />

panificadora <strong>de</strong>ixasse <strong>de</strong> queimar ma<strong>de</strong>ira. A esse questionamento 80% dos entrevistados<br />

respon<strong>de</strong>ram que sim, pois diminuíram a maioria dos problemas como a fumaça, no qual 20%<br />

respon<strong>de</strong>ram que não porque se a panificadora passar a usar o gás o pão po<strong>de</strong> custar mais caro para<br />

o consumidor.<br />

Durante a entrevista questionei aos moradores se eles já conversaram com o proprietário da<br />

panificadora sobre os problemas causados? Observamos que 70% dos entrevistados já haviam<br />

conversado com o proprietário, que afirmou tomar algumas providências que os moradores esperam<br />

até hoje sem solução.E ape<strong>nas</strong> 30% disseram não ter conversado com o proprietário porque acham<br />

que não irá resolver o problema.<br />

Em uma outra questão foi perguntou-se, você já pensou em residir em outro local por causa<br />

dos problemas causados pela panificadora?.No qual 95%respon<strong>de</strong>ram que sim e ape<strong>nas</strong> 5%<br />

respon<strong>de</strong>ram que não mudariam <strong>de</strong> en<strong>de</strong>reço, pois dizem não serem afetados por nem um problema<br />

causado pela panificadoras.<br />

A última questão questionou-se na opinião do morador o que <strong>de</strong>veria ser feito para<br />

solucionar os problemas causados pela panificadora?. As soluções apresentadas pelos entrevistados<br />

foram expostas da seguinte maneira, 45% dos entrevistados disse que a solução é <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> queimar<br />

a ma<strong>de</strong>ira, já 30% afirma que para resolver o problema é substituir a ma<strong>de</strong>ira por gás, mas 20%<br />

falam que uma solução é fabricar os pães em outro local e ape<strong>nas</strong> 5% diz que a solução é que eles<br />

passem a residir em outro local.<br />

Consi<strong>de</strong>rações finais<br />

Este trabalho vem mostrar que a utilização <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira ou lenha como fonte <strong>de</strong> energia<br />

utilizada pela indústria <strong>de</strong> panificação ainda é algo que está longe <strong>de</strong> ser substituído por novas<br />

fontes <strong>de</strong> energia com o menor potencial poluidor.<br />

22


Isto é atribuído a diversos fatores que contribuem para a permanência da utilização <strong>de</strong>ste<br />

tipo <strong>de</strong> matriz energética. Há pouca fiscalização por parte dos órgãos responsáveis, pois, das<br />

panificadoras visitadas neste trabalho, ape<strong>nas</strong> 4 possuem filtros <strong>nas</strong> chaminés e obe<strong>de</strong>cem a altura<br />

recomendada pelo órgão licenciador.<br />

Há também uma falta <strong>de</strong> interesse por parte do sindicato, que segundo seu representante, não<br />

é <strong>de</strong> interesse do sindicato saber qual o tipo <strong>de</strong> matriz energética utilizada pelas panificadoras<br />

associadas ao mesmo, assim ampliando a falta <strong>de</strong> interesse com as questões ambientais atreladas a<br />

este segmento industrial.<br />

Diante do exposto po<strong>de</strong>-se observar que os transtornos causados à população que resi<strong>de</strong><br />

próximo a estes estabelecimentos são muitos e com poucas chances <strong>de</strong> serem resolvidos a curto<br />

prazo. Porém, existem leis que são aplicadas a este tipo <strong>de</strong> indústria, mas o que ocorre é que a<br />

cida<strong>de</strong> amplia a sua área constantemente e com isto aumenta a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r a população,<br />

fazendo com que dificulte o trabalho <strong>de</strong> fiscalização dos órgãos responsáveis em realizar as<br />

fiscalizações para que a lei assim seja <strong>de</strong>vidamente cumprida.<br />

Mas para isso também e preciso que a população contribua, através <strong>de</strong> conversa com os<br />

proprietários dos estabelecimentos, como também através <strong>de</strong> <strong>de</strong>núncias feitas os órgãos<br />

responsáveis como a SEMAM e a SUDEMA que tomaram as providências cabíveis.<br />

Uma alternativa a ser utilizada seria uma força tarefa para legalizar ou fechar as<br />

panificadoras clan<strong>de</strong>sti<strong>nas</strong>, mas para isso a SEMAM em parceria com o SEBRAE po<strong>de</strong>ria organizar<br />

um fórum para orientação <strong>de</strong>sses pequenos empresários, on<strong>de</strong> constaria também um corpo técnico<br />

(engenheiros, geógrafos, advogados etc.) para prestar serviço <strong>de</strong> consultoria ambiental, com custo<br />

acessível, para que os microempresários que vivem na clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong>, possam se regularizar,<br />

evitando assim problemas econômicos, sociais e ambientais.<br />

REFERÊNCIAS<br />

BRASIL. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis Conselho<br />

Nacional do Meio Ambiente. Resoluções do Conama: resoluções vigentes publicadas entre julho <strong>de</strong><br />

1984 e novembro <strong>de</strong> 2008 – 2. ed. / Conselho Nacional do Meio Ambiente. – Conama Brasília,<br />

2008.<br />

BRASIL.O Código Florestal e a Ciência: construções para o diálogo.São Paulo: Aca<strong>de</strong>mia<br />

Brasileira <strong>de</strong> Ciências. SBPC, 2011.<br />

CASTRO,H. A. et al. Efeitos da poluição do ar na função respiratória <strong>de</strong> escolares, Rio <strong>de</strong><br />

Janeira,RJ; Revista <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> Pública,v. 43, n.1, p.27, fevereiro. São Paulo, 2009.<br />

COSTA, I, ; TORRES, A. T. G.; CANDIDO, G. A. Novos instrumentos para difusão e<br />

implementação <strong>de</strong> tecnologias limpas: O caso do Centro <strong>de</strong> Produção Industrial Sustentável<br />

(CEPIS) na Paraíba. In: SIMPÓSIO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 13., 2006, são Paulo.<br />

Anais. Bauru, UNESP, 2006.<br />

JR. A. P. et al, Curso <strong>de</strong> gestão ambiental. Barueri –São Paulo: Editora Manole, 2004.<br />

23


MANO, E. B et al. Meio ambiente, poluição e reciclagem. São Paulo:Editora Edgard Blücher,<br />

2005.<br />

SANTOS, S. C. <strong>de</strong> J. & GOMES, L. J. Consumo e procedências <strong>de</strong> lenha pelos estabelecimentos<br />

comerciais <strong>de</strong> Aracaju – SE. Revista da Fapese, v.5, n. 1, p. 155-164, jan./jun. Sergipe, 2009.<br />

___________Consumo e procedências <strong>de</strong> lenha pelos estabelecimentos comerciais <strong>de</strong> Aracaju –<br />

SE; Revista da Fapese, v.5, n. 1, p. 155-164, jan./jun. Sergipe, 2009.<br />

SITES:<br />

A utilização da lenha, Revista Ma<strong>de</strong>ira, 2003:extraída da Revista da Ma<strong>de</strong>ira- Edição nº 77-<br />

Novembro <strong>de</strong> 2003;<br />

http://www.rema<strong>de</strong>.com.br/br/revistadama<strong>de</strong>ira_materia.php?num=467&subject=Res%EDduos&tit<br />

le=Gest%E3o%20<strong>de</strong>%20res%EDduos%20s%F3lidos%20na%20ind%FAstria%20ma<strong>de</strong>ireira<br />

acessado em 25/04/2012.<br />

Consumo <strong>de</strong> pão no Brasil, Vitoppan, 2012;<br />

http://www.vitoppan.com.br/historiadapanificacao.html; acessado em 28/04/2012.<br />

24


DESAFIOS PARA A COMPREENSÃO DA METROPOLIZAÇÃO E INDUSTRIALIZAÇÃO NO<br />

CONTEXTO DA TERCEIRA MODERNIDADE URBANA<br />

RESUMO<br />

Arlindo COSTA – arlindo.costa@u<strong>de</strong>sc.br 10<br />

Oto Roberto BORMANN – oto.bormann@u<strong>de</strong>sc.br 11<br />

Este artigo traz como objeto <strong>de</strong> estudo a terceira mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, em os novos princípios do<br />

urbanismo através <strong>de</strong> uma revisão <strong>de</strong> literatura, ancorada por autores que versam sobre o referido<br />

tema. Preten<strong>de</strong>-se a partir <strong>de</strong>sse viés dialético, projetar uma mo<strong>de</strong>lagem urbanística, que preconize<br />

uma nova configuração humana. Entre os objetivos <strong>de</strong>ste artigo, po<strong>de</strong>m-se apontar alguns dos<br />

aspectos envolvidos e comprometidos com as novas divisões territoriais e econômicas, advindas da<br />

globalização e <strong>de</strong> novos paradigmas laborais, sendo que os econômicos fazem parte <strong>de</strong> estratégias<br />

geoeconômicas no concernente à ocupação <strong>de</strong> espaços para as empresas e ou governos. Nesse viés<br />

<strong>de</strong> análise, procurou-se ressaltar as transformações das cida<strong>de</strong>s entre a Ida<strong>de</strong> Média e a atualida<strong>de</strong>.<br />

Objetivou-se, entre outros objetivos <strong>de</strong>bater sobre as razões <strong>de</strong>stas mudanças, através <strong>de</strong> citações <strong>de</strong><br />

diferentes. No bojo do trabalho, direta e, indiretamente procurou-se um conceito para Mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong><br />

e Pós-Mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, incluindo neste <strong>de</strong>bate os reflexos sobre a evolução urbana contemporânea.<br />

Palavras-chave: metropolização; urbanismo; espaços geográficos, <strong>de</strong>senvolvimento, extrativismo,<br />

colonialismo,<br />

ABSTRACT<br />

This article has as object of study the third mo<strong>de</strong>rnity in the new urbanism principles through a<br />

literature review, anchored by authors who <strong>de</strong>al with the said topic. It is inten<strong>de</strong>d from this<br />

dialectical bias, mo<strong>de</strong>ling urban <strong>de</strong>sign, which would inclu<strong>de</strong> a new human configuration. Among<br />

the objectives of this article, one can point out some of the issues involved and committed to the<br />

new territorial divisions and economic, resulting from globalization and new paradigms of labor,<br />

and the economic part of the geo-economic strategies concerning the occupation of spaces for and<br />

companies or governments. In this bias analysis, we tried to emphasize the transformation of cities<br />

between the Middle Ages and today. Aimed, among other objectives discuss the reasons for these<br />

changes through different quotes. Amid labor directly and indirectly sought a concept for Mo<strong>de</strong>rnity<br />

and Post-Mo<strong>de</strong>rnity, including this <strong>de</strong>bate reflections on contemporary urban <strong>de</strong>velopments.<br />

INTRODUÇÃO<br />

Nas novas configurações das cida<strong>de</strong>s que se expan<strong>de</strong>m geograficamente e economicamente<br />

formando as regiões metropolita<strong>nas</strong>, criam-se circunstâncias com <strong>de</strong>safios e oportunida<strong>de</strong>s que<br />

po<strong>de</strong>m ser absorvidas com até alguma naturalida<strong>de</strong> ou não pelos seus habitantes tradicionais assim<br />

10 Aluno ―especial ― do Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação <strong>de</strong> Geografia (Doutorado) - UFPR<br />

11 Professor efetivo da Universida<strong>de</strong> do Estado <strong>de</strong> Santa Catarina – UDESC-CEPLAN, doutorando do Programa <strong>de</strong> Pós-<br />

Graduação <strong>de</strong> Geografia (Doutorado) - UFPR<br />

25


como daqueles que a elas se <strong>de</strong>slocam para usufruir o que oferecem em termos <strong>de</strong> serviços e ou<br />

produtos, como também <strong>de</strong> ímpares oportunida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>ntre elas, <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r habitá-las.<br />

As novas configurações urba<strong>nas</strong> ao se <strong>de</strong>senvolveram com mo<strong>de</strong>rnos serviços oferecidos à<br />

população, quer local quer distante, crescendo para além <strong>de</strong> uma população <strong>de</strong> um ou mais milhões<br />

<strong>de</strong> habitantes, recebem a qualificação <strong>de</strong> Metrópoles. Este conceito se encontra em Olga<br />

Firkowski 12 , que será citado a seguir:<br />

O conceito <strong>de</strong> metrópole, apesar <strong>de</strong> antigo, assume um novo conteúdo na atualida<strong>de</strong>, conteúdo cada<br />

vez mais alterado pelo processo <strong>de</strong> globalização. Tal conceito está cada vez mais associado a uma<br />

gran<strong>de</strong> cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> serviços, a uma cida<strong>de</strong> que abriga as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> comando e <strong>de</strong>sempenha um papel<br />

<strong>de</strong> centro para um território exterior mais ou menos vasto. Paralelamente emergem as ―funções<br />

metropolita<strong>nas</strong>‖ que já não englobam só, como nos anos sessenta, os serviços à população, mas dizem<br />

respeito principalmente aos serviços às empresas tanto a montante (pesquisa, concepção, inovação...)<br />

como a jusante (marketing, comercialização,comunicação...) (MERENNE-SCHOUMAKER, 1998,<br />

p.6).<br />

Ipso facto passar-se-á a apontar alguns dos aspectos envolvidos e comprometidos com as<br />

novas divisões territoriais e econômicas, advindas da globalização e <strong>de</strong> novos paradigmas laborais,<br />

sendo que os econômicos fazem parte <strong>de</strong> estratégias geoeconômicas no concernente à ocupação <strong>de</strong><br />

espaços para as empresas e ou governos.<br />

Isto significa, salvo melhor juízo, que ocupará o espaço disponível quem tiver visão<br />

estratégica <strong>de</strong> futuro, competência, capacida<strong>de</strong> econômica e logística para tal, po<strong>de</strong>ndo ser empresas<br />

com tecnologia <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valor agregado, ou empreendimentos <strong>de</strong> baixa tecnologiaou até agro-<br />

pecuária <strong>de</strong> baixo investimento em conhecimento e tecnologia, por muitos eventualmente saudada<br />

como ambientalmente corretos mas arcaicos e <strong>de</strong> baixa rentabilida<strong>de</strong>, provendo remuneração ape<strong>nas</strong><br />

<strong>de</strong> subsistência aos seus colaboradores, com suas administrações e forças econômicas dominantes ¨<br />

as elites ¨ praticando uma mentalida<strong>de</strong> empeçadora <strong>de</strong> investimentos mo<strong>de</strong>rnizantes, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> infra-<br />

estrutura a<strong>de</strong>quada à locomoção eficaz até meios <strong>de</strong> comunicação eletrônica atualizada e não<br />

saturada ou lenta.<br />

REVISANDO A GLOBALIZAÇÃO<br />

O que hodiernamente se nomina globalização, já existe há muitos séculos, vi<strong>de</strong> a época dos<br />

<strong>de</strong>scobrimentos das Américas, Oceania, Austrália, Nova Zelândia, etc., regiões que foram<br />

incorporadas aos mapas e ao comércio após sua <strong>de</strong>scoberta e tomada <strong>de</strong> posse, o que aconteceu já<br />

no século XVI e, por último a Austrália, no século XVIII, uma das tardias regiões, mas nem por isso<br />

a mais atrasada. Estas <strong>de</strong>scobertas, planejadas, não foram, salvo melhor juízo, fruto <strong>de</strong> ócio<br />

12 INTERNACIONALIZAÇÃO E NOVOS CONTEÚDOS DE CURITIBA, Olga Lúcia Castreghini <strong>de</strong>Freitas<br />

Firkowski, *Geógrafa, mestre em Geografia pela Universida<strong>de</strong> Estadual Paulista (Unesp), doutora em Geografia pela<br />

Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo (USP), professora do Departamento <strong>de</strong> Geografia da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná<br />

(UFPR)<br />

26


obnubilante, mas tinham objetivos geoeconômicos e culturais, muitas vezes até envoltos numa<br />

cortina prestidigitadora <strong>de</strong> levar a ¨religião verda<strong>de</strong>ira¨ aos povos pagãos, mas principalmente <strong>de</strong><br />

divulgar ou impor a cultura do <strong>de</strong>scobridor e tomador <strong>de</strong> posse, a religião, e ainda por razões<br />

geoestratégicas e econômicas, criando também novas divisões territoriais, escravizando nativos,<br />

abrigando <strong>de</strong>sterrados, v.g., pessoas in<strong>de</strong>sejáveis mas controladas por autorida<strong>de</strong>s encarregadas <strong>de</strong><br />

manter a disciplina tanto social quanto econômica e produtiva quanto fiscal, levando consigo ou<br />

possibilitando que nos novos locais se estabelecessem manufaturas, ofici<strong>nas</strong>, instituições diversas<br />

como escolas que foram as sementes geradoras <strong>de</strong> empreendimentos e tecnologia, com objetivos <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento (vi<strong>de</strong> Austrália, Nova Zelândia, Canadá, Estados Unidos), e não só <strong>de</strong> bel-<br />

letrismo, contemplações religiosas e espoliação <strong>de</strong> produtos naturais (vi<strong>de</strong> América Latina, África).<br />

Insere-se nessa discussão, outro caso sui generis, que foi o da <strong>de</strong>scoberta do Canadá, feita<br />

por ingleses, franceses e portugueses 13 , principalmente quando <strong>de</strong> suas procuras a pesca <strong>de</strong><br />

bacalhau, sendo que aos portugueses salgavam o peixe nos próprios navios e assim o levavam para<br />

Europa, ao passo que os ingleses e franceses montavam ―barracões‖ próximos a foz do rio São<br />

Lourenço, on<strong>de</strong> preparavam o peixe, levando-o já com valor agregado para seus países, além <strong>de</strong><br />

iniciar uma colonização com uma ¨indústria local¨, mesmo que artesanal e rudimentar.<br />

Estas observações não preten<strong>de</strong>m ser exaustivas, mas apresentam os paradigmas <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los<br />

geo-centrais que procuravam e procuram manter as situações confortáveis em seus centros <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />

e <strong>de</strong>cisão, cada um com metas iguais ou assemelhadas <strong>de</strong> manter e aumentar o seu po<strong>de</strong>r e prestígio,<br />

mas seguindo caminhos diversos, tais como, um dos mo<strong>de</strong>los investindo produtivamente nos novos<br />

domínios <strong>de</strong>scobertos e conquistados, possibilitando o seu <strong>de</strong>senvolvimento, enquanto outros<br />

procurando ape<strong>nas</strong> se locupletar extraindo o máximo que conseguiam, evitando inclusive que os<br />

novos locais <strong>de</strong>senvolvam suas potencialida<strong>de</strong>s.<br />

No <strong>de</strong>correr dos tempos (séculos) os po<strong>de</strong>res centrais que tinham e continuam tendo por<br />

meta resultados tangíveis através objetivos pragmáticos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento. Impõem <strong>de</strong> uma ou<br />

outra forma os seus mo<strong>de</strong>los e paradigmas, quer políticos, quer <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento econômico,<br />

social, a configuração e/ou reconfiguração <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s, regiões, quer metropolita<strong>nas</strong> ou singulares,<br />

seus consuetudinários aos que optaram por comodismo ou falta <strong>de</strong> visão <strong>de</strong> futuro, por não investir<br />

no <strong>de</strong>senvolvimento que se tem por mo<strong>de</strong>rno.<br />

Reportando-nos ao importante trabalho <strong>de</strong> Claudia Tomadonino concernente à<br />

metropolização e glocal<strong>de</strong>pendência da Região Metropolitana <strong>de</strong> Córdoba, é fundamental ter-se um<br />

olhar para o que levou a região e o País a optar por receber como opção <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento as<br />

27


multinacionais com seus ônus sociais e bônus econômicos. Neste sentido é oportuno fazer uma<br />

digressão à obra <strong>de</strong> Francis Fukuyama 4 (FUKUYAMA, 2010, p. 211), pois há que se procurar <strong>nas</strong><br />

raizes históricas os problemas e bonanças atuais:<br />

O conjunto <strong>de</strong> instituições econômicas que emergiu <strong>nas</strong> principais colonias espanholas beneficiou<br />

gran<strong>de</strong>mente a Coroa espanhola* e a elite dos colonizadores espanhóis, mas não promoveu a<br />

prosperida<strong>de</strong> da América Latina. A gran<strong>de</strong> maioria da população não tinha direitos <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong><br />

garantidos e carecia <strong>de</strong> incentivos ou opotunida<strong>de</strong>s para entrar em ocupações socialmente <strong>de</strong>sejáveis<br />

ou para investir. Essas instituições econômicas foram criadas e sustentadas no contexto <strong>de</strong> instituições<br />

políticas específicas e <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado equilíbrio <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r político. Os europeus mantinham<br />

regimes coercitivos sobre os mesmos (a menos que fossem impostas por seus países natais da<br />

Europa). Essas instituições políticas geraram a estrutura e os incentivos que garantiram sua própria<br />

continuida<strong>de</strong> e a permanência <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> instituições econômicas que não ofereciam bons<br />

incentivos econômicos para a gran<strong>de</strong> maioria da socieda<strong>de</strong>.<br />

Com a digressão acima referida, po<strong>de</strong>-se ter um vislumbre da situação em Regiões<br />

Metropolita<strong>nas</strong> on<strong>de</strong> empresas Multinacionais ou Nacionais <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte ou importância<br />

estratégica passam a ocupar os espaços sociais e econômicos, alterando tomadas <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões fora da<br />

Região em apreço.<br />

Tal fato é também observado com a inserção <strong>de</strong> mega-empresas nacionais em alguma região<br />

metroplitana, v.g., Petrobrás, Embraer, e outras, quer públicas ou privadas, aportando novas<br />

condições <strong>de</strong> afluência econômica, dado que seus executivos e funcionários graduados têm<br />

notoriamente condições altamente diferenciadas em termos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> consumo e trânsito <strong>nas</strong> altas<br />

esferas sociais, consumindo dos mais mo<strong>de</strong>rnos e diferenciados produtos em supermercados da<br />

região, influindo na possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> novos instrumentos <strong>de</strong> lazer, como também em novos padrões<br />

<strong>de</strong> moradias, quer individuais, quer condomínios exclusivos quer edifícios com arquitetura que lhes<br />

seja mais afim.<br />

Tais movimentos econômicos po<strong>de</strong>riam se dar <strong>de</strong> maneira mais transparente e harmônica,<br />

houvesse a administração das regiões afetadas se ocupado <strong>de</strong>cidamente no <strong>de</strong>senvolvimento da<br />

própria região, o que no entanto implica na existência prévia <strong>de</strong> cultura <strong>de</strong> progresso, i.e.,<br />

tcnológica, científica, e não ape<strong>nas</strong> diletante..<br />

METRÓPLE<br />

É oportuno ter em mente o que significa metrópole e consequente metropolização, dado que<br />

metrópole não po<strong>de</strong> ser confundida nem ser sinônimo <strong>de</strong> mera cida<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> A metrópole apresenta<br />

características próprias que a distinguem <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s meramente inchadas ou gran<strong>de</strong>s.<br />

28


Conforme Jarlusa Bottini Requia 14 Batista <strong>de</strong> Oliveira 15 , em O Desenvolvimento das<br />

Metrópoles: O Caso da Gran<strong>de</strong> Curitiba, A metrópole ou cida<strong>de</strong>-região está inserida em um território<br />

cujos limites com as cida<strong>de</strong>s vizinhas estão tão próximos, que se tornam ―invisíveis‖.<br />

A metrópole nacional (e também estadual ou provincial) é entendida ou vista como sendo a<br />

cida<strong>de</strong> que <strong>de</strong>vido às suas ofertas <strong>de</strong> serviços e ou recursos (em inglês facilities) e oportunida<strong>de</strong>s<br />

diferenciadas exerce influência e tem po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> atração sobre outras cida<strong>de</strong>s e suas populações,<br />

servindo <strong>de</strong> paradigma para as outras, que também po<strong>de</strong>m ser metrópoles.<br />

Há também as metrópoles que literalmente se agigantaram e continuam crescendo, como é o<br />

caso <strong>de</strong> São Paulo, Rio <strong>de</strong> Janeiro e outras do Brasil, (não se ocupará neste trabalho das mega-<br />

metrópoles como Nova York, cida<strong>de</strong> do México, Tókio, Hong Kong, e outras) que em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> já<br />

serem centros <strong>de</strong> referência na geração <strong>de</strong> produtos e ou serviços, com larga tradição, atraindo<br />

<strong>de</strong>starte empreendimentos multinacionais ou transnacionais. Nestes casos cria-se um situação em<br />

princípio estranha, pois o que fornecem em termos <strong>de</strong> produtos ou serviços <strong>de</strong> conhecimento é<br />

<strong>de</strong>finido além das fronteiras nacionais, em função <strong>de</strong> fatores i<strong>de</strong>ntificados a partir <strong>de</strong> suas matrizes,<br />

suprindo <strong>de</strong>mandas <strong>de</strong> um comércio globalizado, no qual se fornecem produtos e serviços <strong>de</strong> alto<br />

grau agregado <strong>de</strong> conhecimentos técnicos. A ativida<strong>de</strong> econômica, tanto no contexto da geração <strong>de</strong><br />

produtos físicos como peças, veículos, medicamentos, bebidas, alimentos, produtos <strong>de</strong> higiene,<br />

limpeza, artigos <strong>de</strong> toucador e toalete, como na criação <strong>de</strong> bens <strong>de</strong> conhecimento v.g., programas e<br />

sistemas <strong>de</strong> computador, peças artísticas das mais diversas esferas das artes cênicas, do comércio<br />

em geral e <strong>de</strong> serviços do mais amplo espectro ocupacional, apresentam uma forte tendência a<br />

<strong>de</strong>nominada flexibilização da jornada, caracterizada pela remuneração enquanto o trabalhador <strong>de</strong><br />

qualquer nível <strong>de</strong> conhecimento quer tácito ou formal, só é ou será remunerado pelo tempo em que<br />

estiver efetivamente produtivo.<br />

Tal direcionamento cria novas situações <strong>nas</strong> quais o trabalhador <strong>de</strong>verá assumir as<br />

responsabilida<strong>de</strong>s antes assumidas pelo empregador, levando-o a ter que proce<strong>de</strong>r sua programação<br />

financeira com suporte para as horas inicialmente ociosas (talvez possa transformá-las em ócio<br />

produtivo), antes suportadas pelo empregador já referido. Tal situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconforto ou até pasmo<br />

inicial terá que ser administrada pelo trabalhador também já referido, o que implicará em ter<br />

possibilida<strong>de</strong> e empenho em se atualizar sistematicamente para po<strong>de</strong>r ser <strong>de</strong>mandado em novas<br />

tarefas, pois ao que se tem observado, com a evolução da ciência e da tecnologia, trabalho não<br />

faltará, mas o trabalho no formato <strong>de</strong> emprego ten<strong>de</strong> a minguar, em função <strong>de</strong> vários fatores, tais<br />

14 Acadêmica do curso <strong>de</strong> ciências Econômicas da UNIFAE – Centro Universitário jarlusa@googlemail.com<br />

15 Professor da UNIFAE – Centro Universitário gilsono@fae.edu<br />

29


como o alto custo das folhas <strong>de</strong> salários com os respectivos encargos, que chegam a dobrar os<br />

custos do empregado, sendo que as empresas não po<strong>de</strong>m ou não querem mais bancar tais custos.<br />

Isto posto, há a oportunida<strong>de</strong> e necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aproveitar a nova realida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>ixa a<br />

comodida<strong>de</strong> do emprego fixo ou formal, passando-se do perigo inicial, e ele existe, pois nem todos<br />

estão ou estarão preparados para os <strong>de</strong>safios e também, nem sempre querem ou po<strong>de</strong>m ou têm<br />

acesso à atualização nos pré-requisitos exigidos para tais <strong>de</strong>safios, que soem acontecer ou se fazer<br />

presentes sem aviso prévio, não permitindo assim ao trabalhador estar já preparado e pronto quando<br />

as oportunida<strong>de</strong>s se anunciam e os profissionais sendo solicitados, criando-se um vácuo entre a<br />

procura e a oferta <strong>de</strong> trabalhadores aptos para as oportunida<strong>de</strong>s, e por outro lado uma legião <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sempregados ou subempregados.<br />

Tal cenário cria novas condições quer <strong>nas</strong> metrópoles, quer inclusive no campo, sendo que<br />

neste, a própria capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conduzir produtivamente equipamentos agrícolas implica em<br />

conhecimentos <strong>de</strong> informática, <strong>de</strong> georeferenciamento, quando anteriormente bastava saber<br />

conduzir equinos, muares, or<strong>de</strong>nhar vacas, capinar com uma enxada, dirigir um trator ou<br />

colheita<strong>de</strong>ira com conhecimentos mecânico-operacionais tácitos e Escola <strong>de</strong> ensino fundamental.<br />

Ipso facto, assombram-se <strong>de</strong>safios que <strong>de</strong>mandam constantes aperfeiçoamentos <strong>de</strong><br />

competências, como também e não menos importante, pró-ativida<strong>de</strong> na direção <strong>de</strong> estar pari passu<br />

aos novos <strong>de</strong>senvolvimentos das ciências, quer exatas, quer sociais, quer da saú<strong>de</strong>, quer agro-<br />

veterinárias, quer da Previdência Social, dos transportes, das comunicações, da produção <strong>de</strong><br />

energias limpas, para po<strong>de</strong>r pertencer, atuar e se beneficiar <strong>de</strong>stas novas condições e não ser por<br />

elas conduzido ou, pior, atropelado e alijado (Non duccor, ducco!).<br />

Ainda há outros aspectos relevantes com a vinda e transformação das regiões on<strong>de</strong> se<br />

instalam as gran<strong>de</strong>s empresas, ou multinacionais, dado que estas soem trazer consigo uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

fornecedores que já lhes são conhecidas pois, já foram por elas <strong>de</strong>senvolvidos, i.e., ou já produziam<br />

o que tais empresas necessita por já serem <strong>de</strong>tentoras <strong>de</strong> tecnologias importantes e estratégicas para<br />

as que se instalam ou instalarão.<br />

No entanto, não se po<strong>de</strong> simplesmente <strong>de</strong>monizar os atores <strong>de</strong> tal cenário, dado que as<br />

recém-chegadas empresas na condição pós-fordista também procuram fornecedores locais,<br />

<strong>de</strong>senvolvendo-os para lhes aten<strong>de</strong>r, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que haja interesse e empenho em se a<strong>de</strong>quar às<br />

exigências das ditas, o que nem sempre é uma tarefa transparente e confortável, <strong>de</strong>vido<br />

principalmente à <strong>de</strong>fasagens diversas tais como, lacu<strong>nas</strong> <strong>de</strong> conhecimentos técnicos, qualida<strong>de</strong> dos<br />

produtos ou serviços, agilida<strong>de</strong> no atendimento e outros aspectos.<br />

Não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar também <strong>de</strong> mencionar as <strong>de</strong>mandas por serviços públicos que tais<br />

empresas ensejam v.g., fornecimento firme <strong>de</strong> energia elétrica, água tratada, esgoto, re<strong>de</strong> <strong>de</strong> águas<br />

pluviais, hotéis e habitações mo<strong>de</strong>rnos, estradas mo<strong>de</strong>r<strong>nas</strong>, serviços mo<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> telecomunicações,<br />

30


aeroportos mo<strong>de</strong>rnos, portos marítimos e /ou fluviais realmente eficientes, expeditos serviços<br />

aduaneiros, competitivida<strong>de</strong> logística, garantias jurídicas efetivas, leis trabalhistas claras, e assim<br />

por diante.<br />

Ou seja, tudo o que a maioria das cida<strong>de</strong>s ou regiões metropolita<strong>nas</strong> ou pretendidas, costuma<br />

oferecer trefegamente, gerando então para o Po<strong>de</strong>r Público um enorme esforço e dispêndio com a<br />

<strong>de</strong>manda <strong>de</strong> ter que se preocupar com aquilo que lhes eram problemas pouco interessantes <strong>de</strong>vido à<br />

falta <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> prover o <strong>de</strong>vido planejamento e execução sem comprometer os orçamentos<br />

dos municípios da região em consi<strong>de</strong>ração, passando-se então à acomodação e <strong>de</strong>sta ao caos, já que<br />

o planejamento soe ser uma tarefa árdua, pois envolve mais do que uma carta <strong>de</strong> boas intenções,<br />

contrapondo-se a muitos interesses já bem acomodados.<br />

Esta nova socieda<strong>de</strong> da tecnologia, tanto a <strong>de</strong> baixo conteúdo <strong>de</strong> conhecimento indo até a<br />

dita <strong>de</strong> tecnologia ou dita <strong>de</strong> ponta, atrai vários tipos humanos, mormente <strong>de</strong>sejosos <strong>de</strong><br />

honestamente participar <strong>de</strong>sse cenário.<br />

No entanto, atrai também os oportunistas mal intencionados, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> meros meliantes até<br />

criminosos <strong>de</strong> alta periculosida<strong>de</strong>, que sabedores da pouca capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ação pró-ativa das forças<br />

policiais das regiões metropolita<strong>nas</strong> em franco <strong>de</strong>senvolvimento, usufruem <strong>de</strong>sse cenário para<br />

praticar seus crimes, quer pequenos <strong>de</strong>litos até crimes hediondos, muitas vezes convictos da alta<br />

improbabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> punições severas, haja vista uma atitu<strong>de</strong> que salvo melhor juízo po<strong>de</strong> ser vista<br />

ou sentida como leniência das autorida<strong>de</strong>s, que preten<strong>de</strong>m combater o crime como se esse fosse<br />

uma entida<strong>de</strong> auto-existente, e não têm atuação <strong>de</strong>cisiva com os praticantes, pois são os criminosos<br />

que praticam os crimes e, não os crimes que se auto-praticam. Este é um cenário bastante comum<br />

em nossas regiões metropolita<strong>nas</strong> a ser resolvido pragmaticamente e não ape<strong>nas</strong> repensado e<br />

discutido (já o foi por muito tempo), e o cidadão que veio ―para fazer a vida‖ honestamente acaba<br />

por ser vitimado por criminosos que se movem com a <strong>de</strong>senvoltura dos bravos e plenos <strong>de</strong> direitos.<br />

É também oportuno lembrar que, no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento ou crescimento das<br />

cida<strong>de</strong>s, mesmo antes <strong>de</strong> se transformarem em metrópoles, há o natural e legítimo ímpeto <strong>de</strong><br />

cidadãos <strong>de</strong> diversos preparos intelectuais ou <strong>de</strong> meros conhecimentos tácitos (também úteis) <strong>de</strong> se<br />

mudar para as cida<strong>de</strong>s em <strong>de</strong>senvolvimento, com já citado.<br />

O meio urbano é cada vez mais um meio artificial, fabricado com restos da natureza primitiva<br />

crescentemente encoberta pelas obras dos homens. A paisagem cultural substitui a paisagem natural e<br />

os artefatos tomam, sobre a superfície da terra, um lugar cada vez mais amplo (SANTOS, 1991, p.<br />

42).<br />

31


No entanto, tal vetor tem sido utilizado por mandraços e espertalhões que, sob a capa <strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>ologias anacrônicas, prenhes <strong>de</strong> paradigmas estéreis, se aproveitam da incapacida<strong>de</strong> do Po<strong>de</strong>r<br />

Público, mesmo este tendo Ministérios e Secretarias diversas para aten<strong>de</strong>r a <strong>de</strong>manda por espaços<br />

habitacionais e habitações, não ter a dinâmica a<strong>de</strong>quada para suprir a <strong>de</strong>manda, <strong>de</strong>manda esta<br />

forçada pelos espertalhões citados que, sob uma capa <strong>de</strong> movimento social esbulham imóveis para<br />

ocupação. Tal aspecto está se tornando comum na nova realida<strong>de</strong> territorial brasileira, sem solução<br />

e vista com simpatia ou complacência pelas autorida<strong>de</strong>s e até passivida<strong>de</strong> bovina <strong>de</strong> parte da<br />

população, obnubilada por informações manipuladas <strong>nas</strong> quais se mostram efeitos sem as causas.<br />

Observe-se que nem todos estão dispostos aos sacrifícios da educação continuada, que é<br />

uma realida<strong>de</strong> e uma necessida<strong>de</strong> nesta era em apreço, o que <strong>de</strong>monstra ou aponta para uma<br />

racionalida<strong>de</strong> que ten<strong>de</strong>rá a levar a exclusão <strong>de</strong> qualquer oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> manutenção ou ainda, <strong>de</strong><br />

ascensão social. Outro aspecto importante é o da enorme amplitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> oferta <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s para<br />

as quais os cidadãos, urbanos, suburbanos ou rurais, não têm necessariamente condições <strong>de</strong><br />

racionalizar, dado que são recentes <strong>de</strong>mais, muitas vezes po<strong>de</strong>ndo ter títulos ou <strong>de</strong>signações pouco<br />

significativas, ou ocultando, mesmo não propositadamente, conhecimentos formais e ou tácitos<br />

prévios ou ainda <strong>de</strong>mandas em tempo real para as quais não estão preparados nem terão tempo <strong>de</strong> se<br />

preparar, e seus conhecimentos <strong>de</strong> qualquer âmbito ou amplitu<strong>de</strong> ou profundida<strong>de</strong> não serão<br />

suficientes ou pior, inúteis.<br />

Neste sentido, citar-se-á um (não se preten<strong>de</strong> ser exaustivo nem <strong>de</strong>finitivo nem dogmático<br />

neste exemplo) sendo ape<strong>nas</strong> ilustrativo, tendo em vista a situação social real <strong>de</strong> um cidadão ou uma<br />

cidadã à procura <strong>de</strong> se inserir num contexto mo<strong>de</strong>rno ou, usando o dialeto atual, pós-mo<strong>de</strong>rno, sem<br />

citar sua formação formal ou tácita ou ambas, o tema: Gestão do Conhecimento. Parte-se da<br />

etimologia da palavra conhecimento (po<strong>de</strong>r-se-ia consultar Wittgentstein 16 para iniciar o<br />

esclarecimento sobre o significado <strong>de</strong> CONHECIMENTO ou também Karl Popper 17 ) para enten<strong>de</strong>r<br />

o significado <strong>de</strong> ciência ou pseudociência e, tentar etimológica e epistemologicamente enten<strong>de</strong>r o<br />

que se <strong>de</strong>veria esperar <strong>de</strong> tal ou outros saberes, e aí, com conhecimento formal e também o tácito ou<br />

seu tirocínio, <strong>de</strong>cidir seu futuro empenho em tal ou outra área.<br />

16 Wittgenstein, citado na Revista da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Letras LÍNGUAS E LITERATURAS, Porto (Portugal)XIV- 1997, PP 205-219:em<br />

QUESTÕES SOBRE O NO PENSAMENTO DA LINGUAGEM DO SÉCULO XX ...Wittgenstein assume a<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> do mundo cognoscível com os limites da linguagem, ao mesmo tempo que chama à atenção paraa necessida<strong>de</strong> filosófica<br />

<strong>de</strong> uma revisão urgente das relações entre os conceitos e a linguagem, <strong>de</strong> modo a evitar especulações metafísicas sem fundamento<br />

epistemológico a<strong>de</strong>quado. FONTE: http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/2757.pdf(14.03.2011)<br />

17 Karl Popper, citado emA DOUTRINA DO FALSEAMENTO EM POPPER, por Alexandre Marques,<br />

http://www.cfh.ufsc.br/~wfil/popper5.htm , (14.03.2011). Para Popper, o problema central da filosofia da ciência reduz-se em gran<strong>de</strong><br />

parte àquilo que ele <strong>de</strong>signa do problema da <strong>de</strong>marcação, isto é, a tentativa <strong>de</strong> estabelecer um critério que permita distinguir as<br />

teorias científicas da metafísica e/ou da pseudo-ciência.<br />

32


A MODERNIDADE NO PLANO URBANO<br />

A Mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> é o fator prepon<strong>de</strong>rante na construção <strong>de</strong> um novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> urbanização,<br />

produzido <strong>nas</strong> últimas décadas.<br />

A busca por uma <strong>de</strong>finição da origem e <strong>de</strong>finição da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> tem suscitado inúmeros<br />

embates entre pesquisadores <strong>de</strong> diferentes áreas do conhecimento. A interface entre o que é antigo e<br />

mo<strong>de</strong>rno faz parte dos embates que são travados na socieda<strong>de</strong> ao longo dos tempos.<br />

No enten<strong>de</strong>r <strong>de</strong> Paz (1984, p.43-4) ―... a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> é um conceito exclusivamente<br />

oci<strong>de</strong>ntal e não aparece em nenhuma outra civilização‖.<br />

No outro sentido, iniciada no final do século XX, a pós-mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finida<br />

como uma categoria histórica, o período <strong>de</strong> superação da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> (ou rompimento com esta),<br />

quando ocorrem ao mesmo tempo uma gran<strong>de</strong> evolução <strong>nas</strong> tecnologias, na cultura e na ciência e<br />

mudanças no modo <strong>de</strong> se pensar a socieda<strong>de</strong> e suas instituições – uma mudança na sensibilida<strong>de</strong>,<br />

resultado da reação à assimilação da estética mo<strong>de</strong>rnista pelas esferas política e corporativa, o que<br />

fez com que o mo<strong>de</strong>rnismo per<strong>de</strong>sse cada vez mais a sua atraente característica <strong>de</strong> revolucionário.<br />

No resgate do termo "pós-mo<strong>de</strong>rnismo", é necessário contextualizá-lo historicamente. Dessa<br />

forma,surgiu pela primeira vez no mundo hispânico, na década <strong>de</strong> 1930, uma geração antes <strong>de</strong> seu<br />

aparecimento na Inglaterra ou nos EUA. Perry An<strong>de</strong>rson, conhecido pelos seus estudos dos<br />

fenômenos culturais e políticos contemporâneos, em "As Origens da Pós-Mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>" (1999),<br />

conta que foi um amigo <strong>de</strong> Unamuno e Ortega, Fre<strong>de</strong>rico <strong>de</strong> Onís, que imprimiu o termo pela<br />

primeira vez, embora <strong>de</strong>screvendo um refluxo conservador <strong>de</strong>ntro do próprio mo<strong>de</strong>rnismo. Mas<br />

coube ao filósofo francês Jean-François Lyotard, com a publicação "A Condição Pós-Mo<strong>de</strong>rna"<br />

(1979), a expansão do uso do conceito.<br />

A Mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, por sua vez,contempla um corolário <strong>de</strong> modificações <strong>nas</strong> estruturas<br />

econômicas, sociais e políticas que abalaram o mundo oci<strong>de</strong>ntal, a partir do século XVII. Estas<br />

gran<strong>de</strong>s transformações estruturais foram produzidas através da conjunção <strong>de</strong> vários movimentos,<br />

que atingiram o continente europeu a partir do final da Ida<strong>de</strong> Média.<br />

O parágrafo supracitado vem <strong>de</strong> encontro ao que preconiza Berman (1986, p. 16):<br />

[...]a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> é compreendida como um conjunto <strong>de</strong> experiências compartilhadas por várias<br />

pessoas que vivem num ambiente que é ao mesmo tempo movido pela mudança e pela aventura, pela<br />

<strong>de</strong>sconfiança e pela insegurança. Um sentimento que vem sendo experimentado pela socieda<strong>de</strong> há<br />

cerca <strong>de</strong> cinco séculos. O ―turbilhão da vida mo<strong>de</strong>rna‖ tem sido alimentado por uma série <strong>de</strong><br />

processos sociais.<br />

33


O que Berman procura esclarecer é que para ele, a mo<strong>de</strong>rnização contempla na sua acepção,<br />

as <strong>de</strong>scobertas científicas, a industrialização da produção, a explosão <strong>de</strong>mográfica, o crescimento<br />

urbano, Estados nacionais mais fortes e, enfim, um mercado capitalista mundial.<br />

Entre os postulados da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>-se afirmar que esta também se materializa na<br />

concepção <strong>de</strong> progresso, criando cenários imagéticos antes <strong>de</strong>sconhecidos.<br />

Ascher afirma que a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> não é um estado, mas um processo constante <strong>de</strong><br />

transformações da socieda<strong>de</strong>, condição que a diferencia das <strong>de</strong>mais socieda<strong>de</strong>s on<strong>de</strong> a mudança não<br />

é o principio essencial.<br />

Ascher <strong>de</strong>staca em especial a falta <strong>de</strong> sincronia entre a mutação cada vez mais rápida da<br />

socieda<strong>de</strong> contemporânea e o processo mais lento <strong>de</strong> transformações do quadro construído. No<br />

contexto brasileiro, tal constatação preocupante, pois, ao lidar com esta dupla temporalida<strong>de</strong>,<br />

teremos que enfrentar os novos <strong>de</strong>safios da contemporaneida<strong>de</strong>, sem abandonar as <strong>de</strong>mandas não<br />

resolvidas das nossas cida<strong>de</strong>s.<br />

Numa perspectiva histórica, no <strong>de</strong>correr do século XIX, registrou-se na Europa e Estados<br />

Unidos um forte processo <strong>de</strong> mudança no quadro econômico e social urbano, como consequência da<br />

Revolução Industrial.<br />

urbana.<br />

É mistér afirmar que a Revolução Industrial trouxe como consequência uma revolução<br />

Nas <strong>de</strong>finições <strong>de</strong> ―cida<strong>de</strong>‖ no plano da Geografia, constata-se um hiato com o mo<strong>de</strong>lo da<br />

polis grega que representava o local do encontro, do <strong>de</strong>bate cívico e da vida política ou da urbs<br />

romana, que simbolizava um valor estético e a opulência do po<strong>de</strong>r da época e mesmo da cida<strong>de</strong><br />

medieval que constituía o lugar da troca e do artesanato.<br />

Nunca é tar<strong>de</strong> buscar em Calvino uma reflexão:<br />

A cida<strong>de</strong> se embebe como uma esponja <strong>de</strong>ssa onda que reflui das recordações e se dilata. Uma<br />

<strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> [...] como é atualmente <strong>de</strong>veria conter todo o passado <strong>de</strong> [...] Mas a cida<strong>de</strong> não conta o<br />

seu passado, ela o contém como as linhas da mão, escrito nos ângulos das ruas, <strong>nas</strong> gra<strong>de</strong>s das janelas,<br />

nos corrimãos das escadas, <strong>nas</strong> ante<strong>nas</strong> dos pára-raios, nos mastros das ban<strong>de</strong>iras, cada segmento<br />

riscado por arranhões, serra<strong>de</strong>las, entalhes, esfoladuras (CALVINO, 1990, p. 14-15.O<br />

Ela é, hoje, um re<strong>de</strong>senho da cida<strong>de</strong> industrial do início da era mo<strong>de</strong>rna, quando se<br />

<strong>de</strong>senvolvem as relações entre o Estado, a economia e a socieda<strong>de</strong>, não só em âmbito local, mas<br />

também em dimensão nacional e internacional, tornando-se olocus da vida contemporânea em<br />

gran<strong>de</strong> parte do mundo.<br />

No que se refere às mudanças paradigmáticas na forma <strong>de</strong> pensar as cida<strong>de</strong>s e suas<br />

<strong>de</strong>nominações ancoradas em conceitos no prisma do planejamento urbano, <strong>de</strong>ve-se ressaltar que as<br />

34


as ―reformas urba<strong>nas</strong>‖ realizadas no final do XIX e <strong>nas</strong> primeiras décadas do século XX po<strong>de</strong>m ser<br />

caracterizadas, por fim, como operações radicais <strong>de</strong> superação da forma urbana colonial e <strong>de</strong><br />

produção da forma urbana capitalista <strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s brasileiras, ou ainda como mais um exemplo <strong>de</strong><br />

imposição autoritária da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, como já havia ocorrido em outras cida<strong>de</strong>s mundiais .<br />

Para Soja, Los Angeles é a cida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> todos os espaços, todas as historicida<strong>de</strong>s se<br />

confrontam, <strong>de</strong>monstrando um gran<strong>de</strong> caleidoscópio, no qual transformou-se a gran<strong>de</strong> cida<strong>de</strong> dos<br />

dias atuais.<br />

A Pós-Mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> constituiu-se em uma série <strong>de</strong> <strong>de</strong>sprendimentos, produzidos por<br />

rupturas <strong>nas</strong> estruturas do conhecimento mo<strong>de</strong>rno.<br />

Surge, pois, a utopia urbana da cida<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna, planejada, funcional e racional, e buscavam<br />

dar corpo a esse projeto <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> voltado para o futuro, mas que fincava suas raízes no<br />

presente.<br />

Em relação ao pós-mo<strong>de</strong>rno, Gid<strong>de</strong>ns (1991) assevera que ainda uma possibilida<strong>de</strong> no<br />

horizonte da socieda<strong>de</strong> humana. Conseguimos observar ape<strong>nas</strong> alguns relances, <strong>de</strong> seus possíveis<br />

pressupostos. Vivemos o que ele próprio <strong>de</strong>nomina <strong>de</strong> ―alta Mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>‖, on<strong>de</strong> suas características<br />

se radicalizaram. Define também a Mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> como um período on<strong>de</strong> ocorreu o <strong>de</strong>sencaixe<br />

tempo e espaço. O tempo <strong>de</strong>svinculou-se do lugar. Vários espaços simultâneos surgiram na vida do<br />

homem e o tempo <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> vincular-se a natureza. O Mo<strong>de</strong>rno, produzido a partir do século XVII<br />

atinge seu ápice na atualida<strong>de</strong>.<br />

CONCLUSÃO<br />

Os estudos sobre as cida<strong>de</strong>s, no campo da Geografia, têm sido alvo <strong>de</strong> mudanças sensíveis<br />

no que toca especialmente as perspectivas teóricas e o tratamento do objeto.<br />

A cida<strong>de</strong> efetivamente passa por transformações, mas tal processo é permeado pela forte<br />

permanência <strong>de</strong> paisagens, práticas e características que remetem a épocas passadas.<br />

Consi<strong>de</strong>ra-se que todas as práticas espaciais e temporais <strong>de</strong> toda a socieda<strong>de</strong> são abundantes<br />

em sutilezas e complexida<strong>de</strong> e que todo e qualquer projetam <strong>de</strong> transformação da socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve<br />

apreen<strong>de</strong>r a complexa estrutura da transformação das concepções e práticas espaciais e temporais.<br />

A urbanização da humanida<strong>de</strong> implica na coexistência, em espaços <strong>de</strong>nsos, <strong>de</strong> diferentes<br />

realida<strong>de</strong>s, que caracterizam o modo <strong>de</strong> vida urbano nos dias <strong>de</strong> hoje.<br />

O processo <strong>de</strong> urbanização se iniciou com a cida<strong>de</strong> industrial, quando concentrou em seu<br />

espaço a população consumidora, os trabalhadores e as condições gerais <strong>de</strong> produção.<br />

Outrossim, na era dita Pós-Mo<strong>de</strong>rna ou da tecnologia, segundo Ascher, as pessoas se tornam<br />

mais racionais, o que não <strong>de</strong>ve ser entendido como mais éticas ou mais conscientes socialmente.<br />

35


Isto posto, observa-se <strong>nas</strong> pessoas uma procura mais racional, mais pensada em custo versus<br />

benefício <strong>de</strong> morar em tal ou outra cida<strong>de</strong>, bairro ou região, ou país, levando em conta<br />

oportunida<strong>de</strong>s, risco sociais (revoluções, direitos e <strong>de</strong>veres, riscos s ambientais inclusive os gerados<br />

pela dinâmica da natureza on<strong>de</strong> o fato gerador não é antrópico) e benefícios atuais e futuros. Como<br />

a dinâmica - não só a tendência, é a da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ciência e tecnologia geradora <strong>de</strong> resultados<br />

(<strong>de</strong> pouco adianta uma ciência médica que não produza possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> curas e se perca em<br />

obnubilações e sofismas, quer biológicos quer filosóficos), os cidadãos <strong>de</strong>vem ter a oferta<br />

acessível <strong>de</strong> preparo intelectual formal e prático para se manter atualizados e não se tornar<br />

competências <strong>de</strong>scartadas.<br />

Isso posto, é inevitável que o espaço urbano ao longo das décadas vem ser tornando um<br />

gran<strong>de</strong> palco <strong>de</strong> conflito das estruturas da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> com suas próprias certezas: mudam-se os<br />

modos <strong>de</strong> estar na cida<strong>de</strong> e as maneiras <strong>de</strong> se produzir sentido sobre ela.<br />

Nesse século, assevera-se que a pós-mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> faz parte da mo<strong>de</strong>rnização por apropriação<br />

<strong>de</strong> territórios e valores locais pelos conglomerados globais. Essa tendência dupla, à mundialização e<br />

a micro-territorialização se amplia e se <strong>de</strong>sdobra em formas específicas <strong>de</strong> produção do espaço<br />

físico e em formas alternativas <strong>de</strong> organização territorial, <strong>de</strong>senho e gestão. Nesse processo são<br />

ainda consi<strong>de</strong>radas novas formas <strong>de</strong> articulação, como consórcios, re<strong>de</strong>s e fóruns, inclusive virtuais.<br />

.<br />

4 REFERÊNCIAS<br />

ASCHER, François. Novos princípios <strong>de</strong> urbanismo. São Paulo: Romano Guerra, 2009.<br />

BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido <strong>de</strong>smancha no ar: a aventura da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. São Paulo:<br />

Companhia das Letras, 1986.<br />

CALVINO, Í. As cida<strong>de</strong>s invisíveis. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.<br />

FUKUYAMA, Francis. Ficando para trás. Rio <strong>de</strong> Janeiro 2010, Editora Rocco.<br />

GIDDENS, A. As consequências da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. São Paulo: UNESP, 2002.<br />

LYNCH, Kevin. A imagem da cida<strong>de</strong>. São Paulo 2006. 3ª Edição.Editora Martins fontes<br />

LYOTARD, Jean-François. A condição pós-mo<strong>de</strong>rna. 5. Ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: José Olympio, 2004.<br />

SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 3. ed. São Paulo:<br />

SOJA, Edward W. Geografias pós-mo<strong>de</strong>r<strong>nas</strong>. A reafirmação do espaço na teoria socialcrítica. Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro: Zahar, 1993.<br />

36


ENCHENTES NA PERSPECTIVA DA TERRITORIALIZAÇÃO DO ESPAÇO URBANO DE<br />

SÃO JOÃO DEL-REI – MG<br />

Resumo<br />

Vicente <strong>de</strong> Paula LEÃO (DEGEO/UFSJ) - leao@ufsj.edu.br<br />

Carla Juscélia <strong>de</strong> Oliveira SOUZA (DEGEO/UFSJ) - carlaju@uol.com.br<br />

Inêz A. <strong>de</strong> Carvalho LEÃO (Escola Estadual Dr. Garcia <strong>de</strong> Lima) - iacl@bol.com.br<br />

O texto discute o problema das enchentes em cida<strong>de</strong>s, como reflexo da apropriação ina<strong>de</strong>quada do<br />

solo, do relevo urbano e do <strong>de</strong>srespeito à dinâmica fluvial. Essa discussão consi<strong>de</strong>ra a noção <strong>de</strong><br />

globalização e territorialização dos espaços. Em São João <strong>de</strong>l-Rei, por falta <strong>de</strong> informação ou por<br />

omissão, o processo <strong>de</strong> ocupação do entorno do Rio das Mortes e do Córrego do Lenheiro ocorreu<br />

sem planejamento necessário e em <strong>de</strong>srespeito ao caminho das águas superficiais no meio urbano.<br />

Nessa discussão é consi<strong>de</strong>rada a importância <strong>de</strong> se pensar as enchentes na perspectiva da interação<br />

socieda<strong>de</strong>-natureza pelas abordagens político-econômica. E, também, as relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r que<br />

<strong>de</strong>finem a ocupação do espaço e como territorialida<strong>de</strong>s se chocam com a natureza.<br />

Palavras-chave:Espaço urbano, territorialida<strong>de</strong>, enchentes, dinâmica fluvial.<br />

Abstract<br />

The paper discusses the problem of flooding in cities, reflecting the misappropriation of soil, relief<br />

in urban and disrespect to the river dynamics. This discussion consi<strong>de</strong>rs the notion of globalization<br />

and regionalization of spaces. In São João <strong>de</strong>l-Rei occupation process surrounding the Rio das<br />

Mortes and stream Lenheiro occurred without the necessary planning and in contravention of<br />

surface water in the urban environment. This may be due to lack of information or omission. In the<br />

discussion is consi<strong>de</strong>red the importance of thinking about the floods in nature-society interaction by<br />

political-economic perspective. And also, the power relations that <strong>de</strong>fine the space occupation and<br />

how territorialities clash with nature.<br />

Keywords: Urban space, territoriality, floods, river dynamics<br />

37


Introdução<br />

Este texto aborda o problema das enchentes em São João <strong>de</strong>l-Rei, consi<strong>de</strong>rando os impactos<br />

ambientais presentes em alguns pontos da bacia hidrográfica, como sendo possíveis contribuintes<br />

para a elevação do nível das águas do Rio das Mortes e do Córrego do Lenheiro. Além da discussão<br />

dos impactos ambientais negativos, o <strong>de</strong>bate sobre enchentes consi<strong>de</strong>ra as relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r que<br />

<strong>de</strong>finem a ocupação do espaço e como territorialida<strong>de</strong>s se chocam com os limites da natureza.<br />

Por falta <strong>de</strong> informação ou por omissão, o processo <strong>de</strong> ocupação da planície fluvial e do<br />

entorno do Rio das Mortes e <strong>de</strong> seus afluentes, notadamente do Córrego do Lenheiro que atravessa<br />

a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São João <strong>de</strong>l-Rei/MG, ocorreu sem o planejamento necessário. A planície <strong>de</strong> inundação<br />

do Rio das Mortes foi ocupada influenciada pelo incentivo do po<strong>de</strong>r público, que promoveu a<br />

doação <strong>de</strong> lotes. Bairros inteiros foram construídos ao longo do referido rio e <strong>de</strong> seu afluente -<br />

Córrego do Lenheiro. A visão parcial dos fenômenos impe<strong>de</strong> uma ação mais eficaz do po<strong>de</strong>r<br />

público e da socieda<strong>de</strong> em prol da construção <strong>de</strong> uma nova territorialida<strong>de</strong> urbana. Por isso, a<br />

importância <strong>de</strong> se apropriar dos fatos cotidianos da cida<strong>de</strong>, como objeto <strong>de</strong> estudo, <strong>de</strong> discussão e <strong>de</strong><br />

socialização tanto no âmbito acadêmico quanto no da socieda<strong>de</strong>.<br />

1. Espaço urbano e as águas superficiais<br />

O espaço urbano se constrói a partir das relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r entre aqueles que habitam ou se<br />

apropriam dos espaços da cida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>nominados por Corrêa (1993) como agentes construtores do<br />

espaço urbano. Esses compreen<strong>de</strong>m <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os proprietários dos meios <strong>de</strong> produção, os proprietários<br />

fundiários, os promotores imobiliários, o Estado e até os grupos sociais e excluídos. Esses agentes,<br />

<strong>de</strong> maneira direta ou indireta, po<strong>de</strong>m ser influenciados na escala local pelos interesses <strong>de</strong> outros, em<br />

escala global. Os mecanismos da globalização têm influenciado cada vez mais na produção do<br />

espaço urbano, quando áreas são ocupadas com fins específicos <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r <strong>de</strong>mandas <strong>de</strong> origem<br />

externa como, por exemplo, o fornecimento <strong>de</strong> bens <strong>de</strong> produção para diversas ativida<strong>de</strong>s<br />

industriais situadas em outros territórios. Ou ainda, como a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> extração mineral que<br />

aten<strong>de</strong> a <strong>de</strong>manda nacional e internacional. Logo, as territorialida<strong>de</strong>s urba<strong>nas</strong> são <strong>de</strong>finidas por<br />

agentes que não vivem o cotidiano da cida<strong>de</strong>, mas que precisam dotar o espaço com os aparelhos<br />

técnicos para a produção do capital. Conforme Benjamin (1991 p.32) ―os novos paradigmas<br />

estabelecidos pelo industrialismo, favorece o surgimento <strong>de</strong> uma nova relação entre espaço e tempo,<br />

substituindo as produções pautadas pelas relações sociais <strong>de</strong> contexto locais <strong>de</strong> interação‖. Para<br />

Gid<strong>de</strong>ns (1991, p.29), essas relações <strong>de</strong> interação local são substituídas,<br />

38


[...] por relações abstratas, dissociando produção, consumo e mercado, cada um<br />

passando a obe<strong>de</strong>cer as suas próprias lógicas, seus próprios relacionamentos, como<br />

forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocar os vínculos sociais, antes holísticos, para uma relação impessoal<br />

mediada pelas mercadorias.<br />

As paisagens urba<strong>nas</strong> assumem funções e revelam as estruturas <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e os processos<br />

históricos que as originaram. Sua constituição, na maioria das vezes, se dá sem respeito aos limites<br />

da natureza e seu movimento contínuo. A incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> a humanida<strong>de</strong> perceber e/ou aceitar esse<br />

movimento contribui para que o espaço seja ocupado <strong>de</strong> forma irregular.<br />

Em diferentes tempos e lugares, as paisagens revelam a inter<strong>de</strong>pendência dos elementos da<br />

natureza e sua inter-relação com as ativida<strong>de</strong>s huma<strong>nas</strong>. Essa relação constitui um instrumento<br />

valioso para enten<strong>de</strong>r como os espaços se organizam. As formas criadas pelo homem resultam <strong>de</strong><br />

processos históricos nos quais convivem, dialeticamente, uma cultura homogeneizadora, construída<br />

a partir <strong>de</strong> parâmetros globais, e uma cultura local, resultante <strong>de</strong> valores e costumes remanescentes.<br />

É justamente essa territorialida<strong>de</strong> construída para a produção do capital que se choca com os limites<br />

da natureza. Na maioria das cida<strong>de</strong>s brasileiras a ocupação da planície <strong>de</strong> inundação provoca<br />

enchentes e <strong>de</strong>struição <strong>de</strong> bens materiais e, atenta, contra a vida. Nas palavras <strong>de</strong> Hissa (2002, p. 22)<br />

[...] a planície é o rio. Ela não existe sem sua presença recortante, líquida e<br />

paciente. Em seu trabalho secular, o rio é veículo <strong>de</strong> transporte. Carrega partículas<br />

menores <strong>nas</strong> estações secas; abandona as maiores <strong>nas</strong> curvas mais lentas do<br />

conjunto <strong>de</strong> seus meandros [...] quando chega o verão chuvoso, o rio solidário<br />

acolhe a tempesta<strong>de</strong> e transforma-se nela.<br />

As palavras do autor revelam a dinâmica natural do rio em seus três leitos: vazante, leito<br />

menor e leito maior. De acordo com a estação do ano, o rio extrapola sua calha, que contém o leito<br />

vazante e o leito menor e passa, então, a drenar o leito maior. Este constitui a área da planície,<br />

também conhecida como várzea e planície fluvial. O seu aspecto topográfico plano, po<strong>de</strong>ndo ser<br />

largo ou estreito, contínuo ou <strong>de</strong>scontínuo, estimula a ocupação do solo e <strong>de</strong> uma parte do relevo<br />

que adquire status <strong>de</strong> terreno, proprieda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> lugar.<br />

O transbordamento do leito menor para o leito maior po<strong>de</strong> ser agravado pelos tipos <strong>de</strong> uso e<br />

ocupação que ocorrem em toda a bacia. A retirada da mata ciliar para facilitar o acesso e ocupação<br />

das margens, favorece o <strong>de</strong>sbarrancamento <strong>de</strong>ssas, assim como a pavimentação do solo contribui<br />

39


para o maior e mais rápido escoamento superficial, dificultando a infiltração <strong>de</strong> parte da água<br />

superficial pluvial. A ausência <strong>de</strong> cobertura vegetal <strong>nas</strong> vertentes e margens, combinada com a<br />

exposição do solo nu, contribui para a liberação <strong>de</strong> material que será transportado e <strong>de</strong>positado no<br />

leito menor. A relação entre quantida<strong>de</strong> material retirado e a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transporte fluvial do rio<br />

leva ao assoreamento do mesmo, quando o volume fluvial não é suficiente para carrear toda a carga<br />

<strong>de</strong> sedimentos que chega ao leito menor durante o ano. Essa situação, <strong>de</strong> ocupação das planícies<br />

fluviais e a geração <strong>de</strong> obstáculos para a infiltração das águas superficiais e para os caminhos<br />

preferenciais para escoamento pluvial, é observada em diferentes trechos do sítio urbano <strong>de</strong> São<br />

João <strong>de</strong>l-Rei.<br />

O processo <strong>de</strong> ocupação da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São João <strong>de</strong>l-Rei – MG, inicia-se em função da<br />

exploração do ouro. Com o fim <strong>de</strong>ssa riqueza várias cida<strong>de</strong>s coloniais passaram por um período <strong>de</strong><br />

dificulda<strong>de</strong>s econômicas. O belíssimo patrimônio arquitetônico construído nos períodos áureos não<br />

possuía nenhum valor econômico com o fim do ciclo do ouro, chegando a ser renegado com o<br />

advento da República, visto que as cida<strong>de</strong>s coloniais representavam a lembrança material da<br />

presença do colonizador europeu. Tal fato contribuiu para a <strong>de</strong>gradação <strong>de</strong> parte <strong>de</strong>sse patrimônio.<br />

Na segunda meta<strong>de</strong> do século XX, com o <strong>de</strong>senvolvimento do turismo <strong>de</strong> massa, São João <strong>de</strong>l-Rei<br />

<strong>de</strong>scobriria sua atual vocação. No período entre o fim do ciclo do ouro e o turismo <strong>de</strong> massas,o Rio<br />

das Mortes e seus afluentes garantiram a continuida<strong>de</strong> da ocupação <strong>de</strong>ssa área, marcada pela<br />

ativida<strong>de</strong> agropecuária.<br />

A construção na planície fluvial permitiu que a população, que até então se <strong>de</strong>dicava à<br />

extração mineral, pu<strong>de</strong>sse se <strong>de</strong>senvolver. Além <strong>de</strong> sedimentar e fertilizar o solo, permitindo as<br />

ativida<strong>de</strong>s agrícolas, o barro do Rio das Mortes e seus afluentes permitiram o surgimento <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong>s ligadas ao artesanato. Porém, essa natureza pouco alterada sucumbiu ao avanço da<br />

tecnologia, durante o período intitulado técnico-científico-informacional, quando equipamentos <strong>de</strong><br />

mineração e fábricas foram introduzidos na cida<strong>de</strong>. Conforme Cunha e Guerra (2000, p. 337)<br />

O final do século passado e início <strong>de</strong>ste século, <strong>de</strong>nominado como o novo período<br />

técnico-científico-informacional, segundo Santos e Silveira (2001), é caracterizado<br />

por uma socieda<strong>de</strong> cada vez mais <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> tecnologias e produtos que passam<br />

a impor um novo ritmo <strong>de</strong> vida, <strong>de</strong> exploração dos recursos naturais e,<br />

consequentemente, repercutindo nos processos geomorfológicos. Nesse sentido o<br />

homem passa a ser consi<strong>de</strong>rado como um importantíssimo agente geomorfológico<br />

que cria/recria novos processos ou, em gran<strong>de</strong> parte dos casos, intensifica os<br />

processos já existentes, levando a <strong>de</strong>gradação ambiental.<br />

40


Em São João <strong>de</strong>l-Rei, o uso do meio para a extração <strong>de</strong> minério, para abastecer o mercado<br />

fora do município, resultou em riquezas para uns, inclusive para o po<strong>de</strong>r público local e em prejuízo<br />

para muitos, inclusive para o ambiente por meio <strong>de</strong> impactos negativos diretos na bacia do Rio das<br />

Mortes, conforme mostrado na figura 1.<br />

Figura 1 – Assoreamento do Rio das Mortes provocado pela perda e <strong>de</strong>gradação do solo das vertentes<br />

Fonte: Google Earth.<br />

O solo <strong>de</strong>sprotegido permitiu o transporte <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sedimentos para o leito<br />

do rio, diminuindo sua calha e, consequentemente, aumentando os riscos <strong>de</strong> enchentes <strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s<br />

que se encontram no seu entorno.<br />

Para Santos (1996, p.199),<br />

Os lugares se especializam, em função <strong>de</strong> suas virtualida<strong>de</strong>s naturais, <strong>de</strong> sua<br />

realida<strong>de</strong> técnica, <strong>de</strong> suas vantagens <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m social. Isso respon<strong>de</strong> à exigência <strong>de</strong><br />

maior segurança e rentabilida<strong>de</strong> para capitais obrigados a uma competitivida<strong>de</strong><br />

sempre crescente. [...] Na medida em que as possibilida<strong>de</strong>s dos lugares são hoje<br />

mais facilmente conhecidas à escala do mundo, sua escolha para o exercício <strong>de</strong>ssa<br />

ou daquela ativida<strong>de</strong> torna-se mais precisa. Disso, aliás, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> o sucesso dos<br />

empresários. É <strong>de</strong>sse modo que os lugares se tornam competitivos. O dogma da<br />

competitivida<strong>de</strong> não se impõe ape<strong>nas</strong> à economia, mas também à geografia.<br />

41


As novas exigências <strong>de</strong> um território pensado e construído para facilitar os fluxos <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias,<br />

mercadorias e capitais mudaram as relações entre as diferentes localida<strong>de</strong>s. Para Rafestini (1993, p.<br />

152-153),<br />

Do Estado ao indivíduo, passando por todas as organizações peque<strong>nas</strong> ou gran<strong>de</strong>s,<br />

encontram-se atores que ‗produzem‘ o território. De fato, o Estado está sempre<br />

organizando o território nacional [...] O mesmo se passa com as empresas e outras<br />

organizações [...]. O mesmo acontece com o indivíduo que constrói uma casa [...].<br />

Essa produção <strong>de</strong> território se inscreve perfeitamente no campo <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> nossa<br />

problemática relacional. Todos nós elaboramos estratégias <strong>de</strong> produção, que se<br />

choca com outras estratégias em diversas relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r.<br />

Essas estratégias <strong>de</strong> organização do espaço são o produto da ativida<strong>de</strong> humana sobre a<br />

superfície terrestre. É a partir do conflito <strong>de</strong> interesses entre a socieda<strong>de</strong> e o capital que a cida<strong>de</strong> se<br />

constrói. A figura 2 mostra parte da bacia hidrográfica do rio das Mortes, ocupada pelas cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

São João <strong>de</strong>l-Rei (à esquerda do rio) e Santa Cruz <strong>de</strong> Mi<strong>nas</strong> (à direita).<br />

Figura 2 – Áreas urba<strong>nas</strong> <strong>de</strong> São João <strong>de</strong>l-Rei-MG e Santa Cruz. Ocupação da planície<br />

do Rio das Mortes e seu córrego do Lenheiro.<br />

Fonte: Google Earth, 2012.<br />

Ambas as cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolveram-se em trechos pertencentes à planície fluvial do Rio das<br />

Mortes, <strong>de</strong>srespeitando seus limites e seu movimento natural. No trecho entre as áreas urba<strong>nas</strong> e a<br />

canal do rio é possível perceber ausência <strong>de</strong> vegetação arbórea, arbustiva e a presença <strong>de</strong> vegetação<br />

rasteira. Gran<strong>de</strong> parte da vegetação natural foi retirada para o uso agrícola e pastoril décadas atrás.<br />

Mais tar<strong>de</strong>, muito <strong>de</strong>ssas áreas foram loteadas e hoje transformadas em bairros, com o incentivo do<br />

po<strong>de</strong>r público local.<br />

42


Figura 3 - <strong>de</strong>struição da mata ciliar e a ocupação irracional da planície <strong>de</strong> inundação<br />

Fonte: Google Earth<br />

A figura 3 mostra um trecho do Rio das Mortes, próximo da av. Leite <strong>de</strong> Castro, on<strong>de</strong> é<br />

possível perceber a parte côncava do rio próxima à área <strong>de</strong> galpões e <strong>de</strong> residências. Em sua<br />

dinâmica natural, o fluxo do canal realiza processo <strong>de</strong> retirada <strong>de</strong> material na porção côncava e o<br />

<strong>de</strong>pósito na convexa. Com o passar do tempo, o canal do rio ten<strong>de</strong> a avançar sobre as áreas dos<br />

galpões e das resi<strong>de</strong>ncias, pois o processo erosivo, nesse trecho, é mais ativo e faz com que o rio se<br />

aproxime da área ocupada. Assim, à medida que o rio avança sobre essas ocupações, parte da<br />

população tenta proteger-se aterrando o mesmo, o que contribui para criar novos pontos <strong>de</strong> enchente<br />

na parte montante do rio. Essas intervenções constituem impactos negativos sobre a dinâmica<br />

fluvial, logo sobre o ambiente como um todo. Nas palavras <strong>de</strong> Sobral (1996, p. 16)<br />

As cida<strong>de</strong>s são as maiores propulsoras dos impactos que o homem causa à natureza<br />

e on<strong>de</strong> mais se alteram os recursos naturais: terra, água, ar e organismos. Através<br />

da urbanização, o homem criou novos ambientes nos quais há complexas<br />

interações entre os grupos humanos, seus trabalhos e a natureza. Conforme<br />

aumenta o tamanho das cida<strong>de</strong>s, aumenta essa complexida<strong>de</strong>. Observa-se que as<br />

construções <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> [...] estão também sujeitas aos processos físicos que<br />

operam na natureza, mas com uma dinâmica diferente. É importante que se<br />

compreenda melhor a dinâmica <strong>de</strong>ssas relações <strong>nas</strong> áreas urbanizadas.<br />

A citação <strong>de</strong> Sobral (1996) <strong>de</strong>staca e reforça a importância <strong>de</strong> se conhecer a dinâmica e os<br />

processos naturais, assim como a relação dos processos sociais com os naturais.<br />

2. São João <strong>de</strong>l-Rei no caminho das águas superficiais<br />

A cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São João <strong>de</strong>l-Rei-MG, principalmente o seu centro histórico, é drenada pelo<br />

Córrego do Lenheiro. Esse córrego recebe, em dias <strong>de</strong> chuva, gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> água<br />

43


<strong>de</strong>corrente: a) do aumento natural do índice pluviométrico, b) da ineficiência do sistema <strong>de</strong><br />

drenagem subterrânea da água pluvial; c) do acúmulo <strong>de</strong> lixo que entope as ―bocas-<strong>de</strong>-lobo‖<br />

(bueiros) e impe<strong>de</strong> a drenagem subterrânea e d) da impermeabilização do solo urbano pelo asfalto,<br />

impedindo o processo <strong>de</strong> infiltração das águas. A impermeabilização provocada pelo asfalto e a<br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lixo transportado pelo Córrego do Lenheiro até o Rio das Mortes, combinados com o<br />

volume <strong>de</strong> material particulado carreado para o leito menor, contribuíram para o transbordamento<br />

do córrego do Lenheiro durante o verão, como ocorreu em janeiro <strong>de</strong> 2012.<br />

Medidas para conter o processo <strong>de</strong> transbordamento do rio, no trecho central da cida<strong>de</strong>,<br />

compreen<strong>de</strong>ram há anos: a retificação do canal, a ampliação do leito menor com o alargamento da<br />

calha e retificação do leito vazante modificado (Figura 4). Apesar disso, quando ocorrem chuvas<br />

excepcionais, verifica-se a incapacida<strong>de</strong> do Córrego do Lenheiro <strong>de</strong> reter e dar vazão à gran<strong>de</strong><br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> água e sedimento transportados em período <strong>de</strong> chuva. Em poucas horas o córrego<br />

extrapola o seu leito vazante e sua calha e passa a ocupar todo o leito menor (Figura 5), provocando<br />

enchentes nos trechos à jusante.<br />

Além do fenômeno <strong>de</strong> transbordamento, as águas superficiais que drenam São João <strong>de</strong>l-Rei,<br />

encontram-se também poluídas e contaminadas. Essa má qualida<strong>de</strong> das águas favorece a<br />

proliferação <strong>de</strong> doenças entre a população ribeirinha e a presença <strong>de</strong> animais peçonhentos. A<br />

contaminação se <strong>de</strong>ve ao lançamento direto do esgoto da cida<strong>de</strong>, sem tratamento prévio.<br />

Todos esses fatores <strong>de</strong>scritos atuando em conjunto revelam um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> ocupação do<br />

entorno do Córrego do Lenheiro que não consi<strong>de</strong>rou o caminho natural das águas.<br />

Figura 4 - Córrego do Lenheiro antes da chuva.Fonte: Fotos dos autores<br />

44


Figura 5 – Córrego do Lenheiro <strong>de</strong>pois da chuva.Fonte: fotos dos autores<br />

Po<strong>de</strong>-se dizer que, as catástrofes que são atribuídas às chuvas ou ―trombas-d‘água‖ são, na<br />

verda<strong>de</strong>, resultado da ocupação ina<strong>de</strong>quada no espaço pelo homem. Em São João <strong>de</strong>l-Rei/MG,<br />

assim como <strong>nas</strong> principais cida<strong>de</strong>s do país, as enchentes são resultado da falta <strong>de</strong> planejamento das<br />

cida<strong>de</strong>s que não respeitam os limites na natureza e o caminho percorrido pelas águas.<br />

As tragédias provocadas pelas enchentes causam dor e indignação. O <strong>de</strong>poimento <strong>de</strong> um<br />

morador que teve seu bairro invadido pelas águas do rio é revelador da percepção reducionista<br />

sobre o fenômeno das enchentes. Nas palavras <strong>de</strong>sse morador: ―Isso é coisa <strong>de</strong> Deus‖ (2012). As<br />

palavras <strong>de</strong>sse cidadão refletem o sentimento <strong>de</strong> boa parte da população que culpa as margens do<br />

rio. Resignados, imaginavam que Deus, por algum motivo, quisera castigar seus filhos enviando a<br />

enchente. Os responsáveis pela ocupação irracional do espaço são absorvidos visto que, diante da<br />

―fúria <strong>de</strong> Deus‖, só resta a resignação. Essa perspectiva <strong>de</strong> entendimento da relação<br />

socieda<strong>de</strong>/natureza é i<strong>de</strong>ntificada por Nunes (2009) como <strong>de</strong> Perspectiva <strong>de</strong> Submissão. Esta se<br />

verifica entre grupos, povos que integram as catástrofes e/ou <strong>de</strong>sastres naturais em suas crenças e<br />

mitos – como no caso dos povos da Mesopotâmia, Grécia Antiga, Astecas e hoje no Havaí,<br />

Austrália, China, Malásia, Índia e algumas nações indíge<strong>nas</strong> brasileiras (NUNES, 2009). Nessa<br />

perspectiva a presença da passivida<strong>de</strong>, do conformismo das pessoas diante o fato gera a falta <strong>de</strong><br />

ações intensivas e <strong>de</strong> medidas técnicas e científicas para evitar os maiores danos sociais. Nessa<br />

perspectiva, governantes se beneficiam das crenças e mitos <strong>de</strong> seu povo, <strong>de</strong> sua população.<br />

Além <strong>de</strong>ssa perspectiva, Nunes (2009) aborda a do ―Combate‖ e a da Interação.A primeiraé<br />

pautada na i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> ―revanche ou vingança‖ da natureza, a qual, nessa perspectiva, vem nos últimos<br />

séculos sendo intensamente <strong>de</strong>struída e modificada, principalmente com o advento técnico-<br />

científico. Essa visão autocentrista, pela qual tudo seria controlado pelo ser humano, simplifica o<br />

sistema complexo, que são os fenômenos naturais, atribuindo uma causalida<strong>de</strong> aos fenômenos,<br />

quando na realida<strong>de</strong> não o é. Nessa perspectiva, po<strong>de</strong>m-se apontar culpados, po<strong>de</strong>m-se fazer<br />

pressões políticas e econômicas sobre um culpado em <strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> outros <strong>de</strong> acordo com os<br />

45


interesses econômicos e políticos. Ou seja, por causa da ação <strong>de</strong> um interesse econômico, como o<br />

do sistema capitalista, ações sobre os elementos fizeram com que essa natureza se ―rebelasse‖, e<br />

voltasse-se contra os homens. Nessa lógica, os processos e sistemas da natureza existem e são<br />

reconhecidos, mas são pensados como sistema isolado dos sociais.<br />

A perspectiva <strong>de</strong> Entendimento e Interaçãopauta-se naleitura dos <strong>de</strong>sastres como sendo<br />

resultado da interação <strong>de</strong> diferentes aspectos sociais, econômicos, políticos (sociais) e físicos<br />

(naturais). Nessa interação revelam-se as formas <strong>de</strong> ocupação do território, o empobrecimento <strong>de</strong><br />

parcelas da população, a falta <strong>de</strong> infraestrutura a<strong>de</strong>quada e a ineficiência dos sistemas<br />

organizacionais e políticos perante as necessida<strong>de</strong>s da socieda<strong>de</strong> (NUNES, 2009) e às condições dos<br />

<strong>de</strong>mais componentes do espaço, como o relevo.<br />

Ao consi<strong>de</strong>rar no estudo do espaço urbano a questão das áreas <strong>de</strong> riscos socioambientais,<br />

como áreas ribeirinhas e encostas, <strong>de</strong>ve-se fazer a Geografia que consi<strong>de</strong>re o Entendimento e a<br />

Interação entre processos naturais, como os físicos-naturais e os sociais, como o processo <strong>de</strong><br />

produção e consumo do espaço, entre outros (SOUZA, 2010).<br />

Para Leão (2005, p.13), ―O ato <strong>de</strong> conhecer exige múltiplos olhares, ver a mesma coisa <strong>de</strong><br />

forma diferente e criar, assim, um espaço para se atribuir um novo significado ao que chega aos<br />

nossos olhos‖. O caminho percorrido pelas águas urba<strong>nas</strong>, talvez seja o mais perfeito e conflituoso<br />

momento <strong>de</strong> encontro do meio técnico com a natureza, e, por consequência, exige o rompimento<br />

das fronteiras intradisciplinares entre a Geografia Física e a Geografia Humana.<br />

O espaço é o mediador dos conflitos <strong>de</strong> interesses que constroem as territorialida<strong>de</strong>s. Cabe a<br />

todos assumirem responsabilida<strong>de</strong>s e não serem indiferentes ao que acontece na cida<strong>de</strong>.<br />

3. Consi<strong>de</strong>rações finais<br />

As enchentes em espaços urbanos como uma questão socioambiental é também questão<br />

política, economia, cultural e <strong>de</strong> entendimento das formas e processo <strong>de</strong> apropriação do espaço e da<br />

criação <strong>de</strong> territórios. Perceber esses territórios, por aqueles que vivem a cida<strong>de</strong> é necessário.<br />

Portanto, é importante observar e refletir sobre o espaço geográfico urbano, atento à dinâmica dos<br />

fluxos - <strong>de</strong> pessoas, <strong>de</strong> carros, <strong>de</strong> capital, <strong>de</strong> comunicação, <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias, das águas pluviais e fluviais,<br />

bem como estar atento à presença e construção <strong>de</strong> novos fixos. Estes compreen<strong>de</strong>m edificações,<br />

espaços privados, centros e ruas comerciais, indústrias, loteamentos – que continuamente<br />

promovem alterações no espaço e na dinâmica dos elementos da natureza. O ritmo do trabalho e da<br />

vida cotidiana impe<strong>de</strong>, muitas vezes, <strong>de</strong> se observar esses fixos e fluxos e <strong>de</strong> se projetar seus<br />

possíveis efeitos na vida urbana, como a ocorrência <strong>de</strong> enchentes. Portanto, torna-se fundamental<br />

apropriar-se dos fatos ocorridos nos espaços urbanos como objetos <strong>de</strong> discussão e instrumentos <strong>de</strong><br />

formação cidadã, na socieda<strong>de</strong> hodierna, em prol da busca da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<br />

46


Referências<br />

BENJAMIN, W. Paris: capital do século XIX. In: Sociologia. São Paulo: Editora Ática, 1991.<br />

CORRÊA, Roberto L. O espaço urbano. 2. ed. São Paulo: Editora Ática. 1993.<br />

CUNHA, Sandra B.; GUERRA, Antonio J. T. Degradacao ambiental. In: CUNHA, S.B.;<br />

GUERRA, A.J.T. (orgs.). Geomorfologia e Meio Ambiente. 4a ed., Rio <strong>de</strong> Janeiro: Bertrand Brasil,<br />

2000.<br />

GIDDENS. Anthony. As conseqüências da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. São Paulo: UNESP, 1991.<br />

HISSA, C.E.V. A Mobilida<strong>de</strong> das Fronteiras: Inserções da Geografia na Crise da Mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>.<br />

Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2002.<br />

LEÃO, Vicente <strong>de</strong> Paula. A Geografia e as diferentes formas <strong>de</strong> ver o Mundo. Texto apresentado no<br />

8º ENPEG – Encontro Nacional <strong>de</strong> Prática <strong>de</strong> Ensino <strong>de</strong> Geografia. Dourados-MS. 2005<br />

NUNES, Luci Hidalgo.Compreensões e Ações frente aos padrões espaciais e temporais <strong>de</strong> riscos e<br />

<strong>de</strong>sastres. Coimbra: Territorium, n.16; 2009<br />

RAFESTIN, C. Por uma geografia do po<strong>de</strong>r. São Paulo: Ática. 1993.<br />

SANTOS, Milton. A natureza do espaço:técnica e tempo; razão e emoção. São Paulo: Hucitec,<br />

1996.<br />

SOBRAL, H. R. O meio ambiente e a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo. São Paulo: Makron Books, 1996.<br />

SOUZA, Carla J. O. Dinâmica do relevo no estudo geográfico urbano: discussão teórica e prática. V<br />

Simpósio Ibero Latino Americano <strong>de</strong> Geografia Física. Coimbra, Portugal, 2010.<br />

47


ÁGUAS URBANAS E PRODUÇÃO DO ESPAÇO EM ARACAJU/SE: UMA PROPOSTA DE<br />

PERCURSO METODOLÓGICO 18<br />

Resumo<br />

Daniel Almeida da SILVA (DGEI/UFS) – laruzosergipe@gmail.com<br />

O método adotado em qualquer pesquisa <strong>de</strong>lineia a compreensão e leitura <strong>de</strong> mundo do<br />

pesquisador, além <strong>de</strong> refletir diretamente o contexto histórico e os paradigmas filosóficos que<br />

ampararão os resultados finais. Assim, procurar-se-á neste artigo apresentar uma reflexão <strong>de</strong><br />

mo<strong>de</strong>lo que responda a uma pesquisa que tem como base estudos ambientais urbanos. Em<br />

específico, apresenta uma proposta <strong>de</strong> metodologia que analise as questões ambientais urba<strong>nas</strong> do<br />

município <strong>de</strong> Aracaju – SE, sobre o viés da questão hídrica, entendido aqui como Águas Urba<strong>nas</strong>.<br />

Problemas ambientais urbanos dizem respeito tanto aos processos <strong>de</strong> construção da cida<strong>de</strong> e,<br />

portanto, às diferentes opções políticas e econômicas que influenciam as configurações do espaço,<br />

quanto às condições <strong>de</strong> vida urbana e aos aspectos culturais que informam os modos <strong>de</strong> vida e as<br />

relações interclasses. Os processos <strong>de</strong> expansão e transformação urbana proporcionam baixa<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida a parcelas significativas da população. Desse modo, configura-se como um<br />

trabalho <strong>de</strong> assaz importância para os estudos geográficos, uma vez que observa-se um hiato em<br />

pesquisas <strong>de</strong>ssa categoria em âmbito acadêmico. E justifica-se a partir do momento em que os<br />

problemas <strong>de</strong> escoamento <strong>de</strong> águas pluviais e fluviais, a distribuição, o acesso e a qualida<strong>de</strong> dos<br />

recursos hídricos se caracterizam em problemas atuais e <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> monta na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Aracaju, que<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua fundação nega a sua vocação <strong>de</strong> cida<strong>de</strong> das águas.<br />

Palavras-chave: Meio Ambiente; Águas Urba<strong>nas</strong>; Produção do Espaço; Método.<br />

Abstract<br />

The method adopted in any research expresses the un<strong>de</strong>rstanding and reading of the world of the<br />

researcher, and directly reflect the historical and philosophical paradigms that will confirm the final<br />

results. Thus, this paper will present a mo<strong>de</strong>l that responds reflection of a survey that is based urban<br />

environmental studies. In particular, proposes a methodology to analyze the urban environmental<br />

18 Este artigo faz parte <strong>de</strong> uma pesquisa <strong>de</strong> Doutorado sobre Águas Urba<strong>nas</strong> em Aracaju, <strong>de</strong>senvolvido no Núcleo <strong>de</strong><br />

Pós-graduação em Geografia – NPGEO da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Sergipe – UFS.<br />

48


issues of the city of Aracaju - SE, on the optics of the water issue, un<strong>de</strong>rstood here as Urban Waters.<br />

Urban environmental problems relate both to the construction of the city and therefore the different<br />

policy options and settings that influence economic space, as the conditions of urban life and<br />

cultural aspects that inform the ways of life and interclass relations. The processes of urban<br />

transformation and expansion provi<strong>de</strong> lower quality of life to a significant portion of the population.<br />

Therefore, this study is of great importance for geographic studies, since there is a gap in research<br />

of this caliber in the aca<strong>de</strong>mic study This is justified because there are problems of stormwater<br />

runoff and river transport, distribution, access and quality of water resources are characterized in<br />

current problems in the city of Aracaju, which since its founding <strong>de</strong>nies his vocation as a city of<br />

waters.<br />

Keywords: Environment, Urban Waters; Production of Space; Method.<br />

Introdução<br />

Problemas ambientais urbanos dizem respeito tanto aos processos <strong>de</strong> construção da cida<strong>de</strong><br />

e, portanto, às diferentes opções políticas e econômicas que influenciam as configurações do<br />

espaço, quanto às condições <strong>de</strong> vida urbana e aos aspectos culturais que informam os modos <strong>de</strong> vida<br />

e as relações interclasses. Os processos <strong>de</strong> expansão e transformação urbana proporcionam baixa<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida a parcelas significativas da população. Há ainda que se consi<strong>de</strong>rar o contexto<br />

atual. Desse modo, sobre a importância do tema FRANÇA, salienta que:<br />

Ao longo do século XX o fenômeno da urbanização se acentua em todo o mundo, variando<br />

<strong>de</strong> intensida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> formas, em <strong>de</strong>corrência das peculiarida<strong>de</strong>s locais e das diversas relações<br />

que se processam com outras áreas, assumindo novas dinâmicas a partir dos diversos<br />

estágios do <strong>de</strong>senvolvimento capitalista. Assim as questões urba<strong>nas</strong> ganham relevância<br />

diante da comunida<strong>de</strong>, exigindo seu acompanhamento e, por conseguinte, seu estudo.<br />

(2000, p. 133)<br />

No município <strong>de</strong> Aracaju isso não é diferente, pois que também há falta <strong>de</strong> políticas<br />

integradas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento urbano e <strong>de</strong> ações articuladas, que seriam próprias <strong>de</strong> uma gestão<br />

compartilhada, e também pela a ausência histórica <strong>de</strong> procedimentos <strong>de</strong>sse tipo, agravaram-se as<br />

ina<strong>de</strong>quações no uso e ocupação do solo com impactos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m ambiental.<br />

Nesse contexto, o crescimento urbano <strong>de</strong> Aracaju sobre um terreno em que os fatores<br />

hidrológicos se apresentavam e se apresentam como um enclave ao seu espraiamento e, isto aliado a<br />

uma falta <strong>de</strong> planejamento, acarretou problemas que carecem <strong>de</strong> respostas rápidas e ações<br />

mitigadoras. E a aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong>ve se propor a estudos e discussões <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m pragmática!<br />

49


Autores como Mota (1997) e Wilken (1978) alertavam para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que os<br />

projetos urbanísticos e os projetos <strong>de</strong> drenagem urbana <strong>de</strong>vessem integrar políticas únicas <strong>de</strong> gestão.<br />

O ciclo hidrológico <strong>de</strong>veria ser conservado com a utilização <strong>de</strong> técnicas <strong>de</strong> conservação da água e<br />

do solo. A ocupação do solo <strong>de</strong>veria garantir as condições mínimas para a preservação das águas. O<br />

saneamento básico <strong>de</strong>veria incorporar as políticas <strong>de</strong> resíduos sólidos e as águas pluviais.<br />

Tais preocupações, no entanto, não têm sido capazes <strong>de</strong> evitar que, ainda nos dias <strong>de</strong> hoje,<br />

poucas mudanças tenham ocorrido na metodologia <strong>de</strong> elaboração dos projetos <strong>de</strong> drenagem das<br />

águas pluviais das cida<strong>de</strong>s. A elaboração dos arranjos e as premissas básicas <strong>de</strong> projeto têm sido as<br />

mesmas <strong>nas</strong> últimas décadas, apesar <strong>de</strong> tímidas ações para a implementação <strong>de</strong> alternativas que<br />

pu<strong>de</strong>ssem viabilizar alguns dos i<strong>de</strong>ais da Agenda 21, como por exemplo, a proposta <strong>de</strong> implantação<br />

das taxas <strong>de</strong> permeabilida<strong>de</strong> e a <strong>de</strong>tenção das águas pluviais protegendo os cursos receptores.<br />

Assim, analisando a cida<strong>de</strong> como resultado do processo <strong>de</strong> construção social, é necessário<br />

também que lancemos um olhar sobre as condições das bases físicas que a compõe. Sobre essa<br />

temática, chama-nos a atenção MENDONÇA, quando salienta que, ―[...] a cida<strong>de</strong>, não é somente<br />

uma construção humana; ela é esta construção somada a todo um suporte que a prece<strong>de</strong>u – Natureza<br />

– mais as ativida<strong>de</strong>s huma<strong>nas</strong>‖ ( 2004).<br />

Águas Urba<strong>nas</strong> e Produção do Espaço em Aracaju<br />

O método adotado em qualquer pesquisa <strong>de</strong>lineia a compreensão e leitura <strong>de</strong> mundo do<br />

pesquisador, além <strong>de</strong> refletir diretamente o contexto histórico e os paradigmas filosóficos que<br />

ampararão os resultados finais. Assim, procurar-se-á apresentar uma reflexão <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo que<br />

respondam uma pesquisa que tem como base estudos ambientais urbanos. Em específico, apresenta<br />

um estudo sobre a malha urbana do município <strong>de</strong> Aracaju – SE, sobre o viés da questão hídrica.<br />

Serão consi<strong>de</strong>radas três vias <strong>de</strong> análise para a construção proposta: i) análise da dimensão histórica,<br />

associando assim o crescimento urbano com a ocupação <strong>de</strong> áreas alagadas, inumação e retificação<br />

<strong>de</strong> canais fluviais; ii) avaliação da dimensão ambiental, em que se buscará fazer um mapeamento da<br />

hidrologia urbana assim como os impactos negativos atuais <strong>de</strong>correntes do mesmo e; iii) análise<br />

integrada e conclusiva da dimensão social, política e jurídica sobre as condições hídricas atuais da<br />

capital.<br />

Assim, a reflexão que se preten<strong>de</strong> sobre os estudos arrolados neste intento <strong>de</strong> pesquisa,<br />

encontra rebatimentos na análise <strong>de</strong> estudos socioambientais, a em especial sobre os impactos, e<br />

remete, portanto, a compreensão dos processos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m político-econômico-institucionais, dos<br />

quais são resultantes.<br />

50


Desse modo, o cerne <strong>de</strong> toda ciência pauta-se no conjunto <strong>de</strong> conhecimento racional,<br />

sistemático, exato, on<strong>de</strong> se possa fazer uma verificação dos resultados obtidos. Logo, este estudo<br />

envolverá uma série <strong>de</strong> condições e operações que serão <strong>de</strong>senvolvidas por etapas.<br />

A partir do momento que é <strong>de</strong>finido e <strong>de</strong>limitado o objeto <strong>de</strong>sta pesquisa, tomar-se-á um<br />

procedimento metodológico amparado no viés da ciência, em que:<br />

―[...] os métodos constituem os instrumentos básicos que or<strong>de</strong>nam <strong>de</strong> início o pensamento<br />

em sistemas, traçam <strong>de</strong> modo or<strong>de</strong>nada a forma <strong>de</strong> proce<strong>de</strong>r do cientista ao longo <strong>de</strong> um<br />

percurso para alcançar um objeto pré-estabelecido‖ (FERRARI, 1974, p. 24).<br />

Desse modo, buscar-se-á aqui utilizar três métodos que respondam, <strong>de</strong> maneira coerente, as<br />

questões <strong>de</strong> pesquisa e que vali<strong>de</strong>m ou não as hipóteses, são eles: O Geossistema-Território-<br />

Paisagem GTP, proposto por Bertrand (2007), a Fisiologia da Paisagem <strong>de</strong> Ab‘Saber (1969) e a<br />

Análise da Sócio-Espacialida<strong>de</strong> (1977) miltoniana. Ressalte-se que a opção da bricolagem <strong>de</strong>sses<br />

três métodos não invalida e nem torna os resultados antagônicos, pois, cada mo<strong>de</strong>lo se adéqua <strong>de</strong><br />

forma a dar uma resposta <strong>de</strong> totalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> análise síntese. É pensar a união <strong>de</strong>sses três paradigmas a<br />

proposta <strong>de</strong> se fazer um estudo que ambicione <strong>de</strong>sfazer ou atenuar a clivagem entre os estudos<br />

físicos e humanos e propor, portanto, uma visão integrativa da relação socieda<strong>de</strong>/natureza.<br />

O mo<strong>de</strong>lo do sistema tría<strong>de</strong> <strong>de</strong> BERTRAND, o GTP, foi <strong>de</strong>senvolvido a partir da<br />

observação da complexida<strong>de</strong> que existe no dinamismo das paisagens. Em 1997, durante o VII<br />

Simpósio Nacional <strong>de</strong> Geografia Física Aplicada, ele apresentou um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> análise pautada em<br />

três entradas ou vias metodológicas, a saber, fonte-recurso-aprisionamento, e são alicerçadas em<br />

critérios <strong>de</strong> antropização, artificialização e artialização.<br />

Para esta pesquisa, a adoção do mo<strong>de</strong>lo renovado Bertrandiano do GTP justifica-se e<br />

aplica-se a partir do momento que servirá <strong>de</strong> método a<strong>de</strong>quado para respon<strong>de</strong>r ao viés da tese em<br />

que pese a análise a dimensão dos aspectos <strong>de</strong> da interação das condições físicas, entrada<br />

Geossistema, suas repercussões através dos impactos, entrada Território e entrada Paisagem,<br />

voltado mais para os aspectos culturais. O objetivo, portanto, é analisar o funcionamento do espaço<br />

geográfico Aracaju em sua totalida<strong>de</strong>. Portanto, conforme PISSINATI e ARCHELA:<br />

―[...] a metodologia do GTP serve não só para a <strong>de</strong>limitação e representação cartográfica<br />

das áreas, mas principalmente para a <strong>de</strong>tecção dos problemas existentes no local e o grau <strong>de</strong><br />

responsabilida<strong>de</strong> da ação antrópica sobre os mesmos, assim como o planejamento <strong>de</strong><br />

estratégias para conter, reverter ou amenizar os impactos já causados‖ (2009).<br />

Ressalte-se que este método propõe aten<strong>de</strong>r a um dos vieses da pesquisa, ou seja, a análise<br />

da histórico/territorial sob o ponto <strong>de</strong> vista do entendimento dos condicionantes físicos –<br />

51


Geossistema – e suas retroalimentações com a ocupação – território – e impactos – paisagem.<br />

Destarte, contribuirá para o mapeamento e diagnósticos da/na hidrologia urbana <strong>de</strong>correntes da<br />

apropriação da/na natureza.<br />

A Fisiologia da Paisagem é um método <strong>de</strong>senvolvido por Ab‘Saber (1969) o qual foi<br />

adaptado e utilizado por outros autores, a exemplo <strong>de</strong> Casseti (2005) e, também por aqueles que<br />

abordam mais os aspectos geomorfológicos. A Fisiologia representa o terceiro nível <strong>de</strong> análise dos<br />

estudos, posterior ao primeiro nível que é a compartimentação topográfica regional e, o segundo<br />

nível que é a estrutura superficial da paisagem.<br />

É neste terceiro nível que se procura enten<strong>de</strong>r as interferências promovidas pelo homem no<br />

meio natural e mais especificamente <strong>nas</strong> formas <strong>de</strong> relevo. O autor argumenta que:<br />

Evi<strong>de</strong>ntemente, variações sutis <strong>de</strong> fisiologia po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>terminadas por ações antrópicas<br />

predatórias, as quais na maior parte dos casos são irreversíveis ao ―metabolismo‖ primário<br />

do meio natural. Na verda<strong>de</strong>, a intervenção humana nos solos respon<strong>de</strong> por complexas e<br />

sutis variações na fisiologia <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada paisagem, imitando até certo ponto os<br />

acontecimentos <strong>de</strong> maior extensivida<strong>de</strong>, relacionados às variações climáticas quaternárias<br />

(Ab`Sàber 1969, p.2).<br />

Conti (2001) ao resgatar a metodologia da fisiologia da paisagem em artigo publicado na<br />

revista do Departamento <strong>de</strong> Geografia, inferiu os objetivos propostos na extinta disciplina do<br />

currículo <strong>de</strong> bacharelado em Geografia da USP:<br />

Levar à compreensão da organização, do funcionamento e da dinâmica das<br />

paisagens, especialmente as tropicais.<br />

Enfatizar o estudo e a análise integrada dos elementos constituintes das paisagens.<br />

Compreen<strong>de</strong>r e discutir conceitos, leis e influências das ações antrópicas.<br />

Dessa forma, a fisiologia da paisagem é compreendida como uma abordagem<br />

metodológica, que procura em seus três níveis <strong>de</strong> tratamento, compreen<strong>de</strong>r a dinâmica estabelecida<br />

no metabolismo primário natural, bem como <strong>nas</strong> interferências antrópicas registradas, como por<br />

exemplo, na configuração <strong>de</strong> um metabolismo urbano.<br />

Referente à formação sócioespacial das áreas <strong>de</strong> risco, Santos (1977) afirma que a<br />

formação social, totalida<strong>de</strong> abstrata, não se realiza na totalida<strong>de</strong> concreta senão por uma<br />

metamorfose on<strong>de</strong> o espaço representa o primeiro papel, ou seja, é <strong>de</strong> formações sócio-espaciais<br />

que se trata. Isto é, há uma peculiarida<strong>de</strong>, a cida<strong>de</strong> não é construída homogeneamente.<br />

Para a consecução prática da pesquisa, po<strong>de</strong>-se utilizar como procedimentos<br />

metodológicos, primeiramente uma reflexão sobre a realida<strong>de</strong> que se revela sobre os aspectos<br />

52


hidrológicos da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Aracaju, procurando <strong>de</strong>sse modo, situar o tema a ser pesquisado. A seguir<br />

realizam-se leituras <strong>de</strong> diferentes autores, enfatizando aqueles que abordam o conceito <strong>de</strong> produção<br />

do espaço, da historiografia, assim como aqueles que trabalham com gestão dos recursos hídricos e<br />

gestão <strong>de</strong> territórios. Saliente-se que essas leituras objetivam alargar e apoiar a discussão dos<br />

conceitos e i<strong>de</strong>ias que embasarão a tese, não obstante, terá como conceitos-chave a paisagem e o<br />

território, entendidos enquanto resultados <strong>de</strong> ações produtivas da socieda<strong>de</strong> e materializados por<br />

meio da existência social nos lugares <strong>de</strong> sistemas objetivos produzidos pela ação <strong>de</strong>ssa socieda<strong>de</strong>.<br />

Ainda, no tocante as leituras arroladas, buscar-se-á compreen<strong>de</strong>r o papel do Estado<br />

enquanto gestor do território e, consequentemente das formações sócio-espaciais. Também será<br />

necessário analisar a historiografia regional, para se enten<strong>de</strong>r o que aconteceu na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Aracaju<br />

a partir dastransformações sócio-espaciais. E, por fim, torna-se necessário a leitura <strong>de</strong> obras ligadas<br />

às Políticas <strong>de</strong> Gestão <strong>de</strong> Recursos Hídricos.<br />

Para os procedimentos metodológicos alguns dados <strong>de</strong>vem ser levantados e atualizadas<br />

através <strong>de</strong> informações obtidas na re<strong>de</strong> mundial <strong>de</strong> computadores e nos sites da Secretaria <strong>de</strong> Estado<br />

<strong>de</strong> Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMARH) e do Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e<br />

Estatística (IBGE), as quais serão <strong>de</strong>vidamente referenciadas.<br />

Serão realizadas investigações documentais em materiais bibliográficos nos arquivos do<br />

Instituto Histórico e Geográfico <strong>de</strong> Sergipe (IHGSE), incluindo, por exemplo, atas e or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong><br />

execução <strong>de</strong> obras públicas ligadas à hidrogeografia urbana <strong>de</strong> Aracaju. Esses procedimentos<br />

propiciarão fazer uma reconstrução da história urbanística da área estudada, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua fundação,<br />

em 1855, até os dias atuais; possibilitará também uma visão geral do processo que envolve a gestão<br />

das águas urba<strong>nas</strong>. Também, serão feitos levantamentos <strong>de</strong> dados secundários referentes aos<br />

aspectos fisiográficos, em especial, os que tecem sobre geologia, geomorfologia, hidrografia e<br />

climatologia, no intuito <strong>de</strong> subsidiar a fisiologia da paisagem e as análises preconizadas no mo<strong>de</strong>lo<br />

GTP Bertrandiano.<br />

Os dados referentes aos projetos mais atuais e ligados às questões como obras urba<strong>nas</strong> e<br />

ocupação imobiliária serão coletadas junto aos órgãos estaduais e principalmente municipais, a<br />

saber, Empresa Municipal <strong>de</strong> Obras e Urbanização – EMURB – e na Empresa Municipal <strong>de</strong><br />

Serviços Urbanos – EMSURB –, neste ponto, abrangerá os projetos concluídos e os projetos em<br />

execução. Estes dados serão catalogados, sistematizados e analisados, servindo <strong>de</strong> valiosa fonte <strong>de</strong><br />

informação para o enriquecimento da pesquisa.<br />

Além <strong>de</strong>stes, os dados ligados aos impactos naturais e sociais po<strong>de</strong>m ser conseguidos na<br />

Defesa Civil, atrelada à Secretaria <strong>de</strong> Estado <strong>de</strong> Inclusão Social e Assistência. Esses dados,<br />

juntamente com as entrevistas e visitas à campo, contribuirão na análise da sócio-espacialida<strong>de</strong> e<br />

53


aten<strong>de</strong> ao terceiro viés da tese que é análise integrada e conclusiva da dimensão social, política e<br />

jurídica sobre as condições hídricas atuais da capital.<br />

O trabalho <strong>de</strong> campo constituir-se-á <strong>de</strong> participação em algumas reuniões <strong>nas</strong> assembleias<br />

<strong>de</strong> associação <strong>de</strong> bairros. A efetivida<strong>de</strong> da participação nestes encontros com vistas à realização <strong>de</strong><br />

observação das reinvindicações das comunida<strong>de</strong>s quando a pauta trouxer à tona discussões sobre<br />

aspectos que estejam atrelados direta ou indiretamente aos conflitos envolvendo a questão hídrica,<br />

proporcionará o compartilhamento da vivência dos sujeitos pesquisados, além da participação, <strong>de</strong><br />

forma sistemática e permanente, ao longo do tempo da pesquisa, das suas ativida<strong>de</strong>s. De acordo<br />

com Severino (2007, p. 120) ―o pesquisador coloca-se numa postura <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação com os<br />

pesquisados. Passa a interagir com eles em todas as situações, acompanhando todas as ações<br />

praticadas pelos sujeitos‖.<br />

Dessa forma, a partir da observação das manifestações dos sujeitos, bem como as situações<br />

vividas, registram-se todos os elementos observados assim como as análises e consi<strong>de</strong>rações que<br />

fizer ao longo <strong>de</strong>ssa participação (SEVERINO, 2007).<br />

Ainda nesta etapa da pesquisa <strong>de</strong> campo, são realizadas várias entrevistas com<br />

preenchimento <strong>de</strong> formulários, junto aos atores envolvidos, além da coleta <strong>de</strong> <strong>de</strong>poimentos verbais<br />

nos intervalos das reuniões. A conversa restrita ao campo da informalida<strong>de</strong> com alguns atores,<br />

representantes, principalmente da socieda<strong>de</strong> civil, agregará valiosas contribuições à construção e<br />

consolidação do pensamento crítico-reflexivo. Tais informações <strong>de</strong>vem ser sistematizadas e<br />

<strong>de</strong>vidamente referenciadas convergindo para a sustentação ou refutação da proposta inicial contida<br />

nos objetivos específicos. Po<strong>de</strong>-se também selecionar alguns projetos para serem visitados in loco.<br />

Neste caso em específico, será dada preferência aos projetos <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> galerias <strong>de</strong> águas<br />

pluviais.<br />

Nas visitas realizadas a algumas das comunida<strong>de</strong>s serão realizadas entrevistas com os<br />

moradores do entorno das obras, através do uso <strong>de</strong> formulários, elaborado com perguntas abertas e<br />

fechadas (dicotômicas).<br />

Será feita a opção pelo uso do formulário por se tratar <strong>de</strong> instrumento essencial ―para a<br />

investigação social, cujo sistema <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> dados consiste em obter informações diretamente do<br />

entrevistado‖, caracterizado pelo contato face a face entre pesquisador e informante, além <strong>de</strong> ser o<br />

roteiro <strong>de</strong> perguntas preenchido pelo entrevistador, no momento da entrevista (LAKATOS &<br />

MARCONI, 2005, p. 214).<br />

54


NATUREZA E SOCIEDADE: UM ESTUDO DAS<br />

ÁGUAS URBANAS EM ARACAJU<br />

(Percurso Metodológico)<br />

Dimensão Histórico/Territorial Dimensão Ambiental Dimensão Sócio-espacial<br />

GTP<br />

(Bertrand)<br />

Levantamento<br />

Bibliográfico<br />

Geografia Urbana<br />

Legislação Ambiental /<br />

Riscos, Vulnerabilida<strong>de</strong>s<br />

Recursos Hídricos<br />

Métodos da Geografia<br />

Natureza<br />

FISIOLOGIA DA PAISAGEM<br />

(Ab’Saber)<br />

TOTALIDADE<br />

PROCEDIMENTOS<br />

Investigações<br />

Documentais<br />

IHGSE<br />

DEFESA CIVIL<br />

EMURB, EMSURB<br />

SEMARH<br />

IBGE<br />

Aplicação <strong>de</strong><br />

Questionários e<br />

Entrevistas<br />

PRODUÇÃO DO ESPAÇO<br />

RELAÇÃO SOCIEDADE/NATUREZA<br />

SÓCIO-ESPACIALIDADE<br />

(Milton Santos)<br />

Levantamento <strong>de</strong><br />

Campo<br />

Canais Hidrográficos<br />

Associações <strong>de</strong><br />

Moradores<br />

Sítio Urbano<br />

Áreas <strong>de</strong> Risco<br />

Organização / Tratamento<br />

Estatístico / Análises<br />

Figura 01: Esboço metodológico para estudos geográficos sobre Espaços Urbanos e Recursos Hídricos.<br />

55


Finalmente, os dados primários e secundários coletados através das entrevistas,<br />

formulários, visitas e levantamentos bibliográficos serão tratados e analisados. A seguir, segue uma<br />

apresentação gráfica do percurso metodológico.<br />

Consi<strong>de</strong>rações Finais<br />

Os estudos ambientais urbanos assumem na atualida<strong>de</strong> um papel <strong>de</strong> assaz importância no<br />

planejamento, e re(or<strong>de</strong>namento) territorial das cida<strong>de</strong>s. Cabe à Geografia, portanto, analisar,<br />

<strong>de</strong>svendar, diagnosticar e propor ações mitigadoras em busca da qualida<strong>de</strong> ambiental, que por sua<br />

vez, reflete diretamente na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<br />

Do mesmo modo, o espaço urbano é traduzido através das contradições oriundas das<br />

<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s que marcam o estágio atual do sistema capitalista. A crise estrutural do capital<br />

plasma-se <strong>nas</strong> diferentes paisagens presentes <strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s. Estudar essas contradições, por vezes,<br />

esbarra-se em um problema metodológico que é próprio da geografia, e não é nos estudos<br />

ambientais urbanos: a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> métodos.<br />

Procurou-se aqui, mostrar que na atualida<strong>de</strong> é <strong>de</strong>ver do pesquisador lançar mão <strong>de</strong> pré-<br />

conceitos e i<strong>de</strong>ologias ingessantes e, sob a luz <strong>de</strong> uma análise epistemológica acurada criar através<br />

da bricolagem um método ou um conjunto <strong>de</strong>les, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que não se contraditem, que propicie uma<br />

análise coerente e profunda sobre os problemas ambientais urbanos e consiga assim, contribuir para<br />

o crescimento da ciência e melhoria <strong>nas</strong> condições das socieda<strong>de</strong>s.<br />

Referências<br />

AB`SÁBER, A.N. Um Conceito <strong>de</strong> Geomorfologia a Serviço das Pesquisas sobre o Quaternário.<br />

São Paulo, Geomorfologia,n. 18, p.1-23, 1969.<br />

BERTRAND, Georges; BERTRAND, Clau<strong>de</strong>. Uma geografia transversal e <strong>de</strong> travessias: o meio<br />

ambiente através dos territórios e das temporalida<strong>de</strong>s. Maringá: Ed. Masón, 2007.<br />

CONTI, J.B. Resgatando a “Fisiologia da Paisagem‖. São Paulo, Revista do<br />

Departamento <strong>de</strong> Geografia, n. 14, p.59-68, 2001.<br />

FERRARI, Alfonso Trijillo. Metodologia da ciência. 3 ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Kennedy, 1974.<br />

FRANÇA, Vera Lúcia Alves. Aracaju: Estado & Metropolização. São Cristóvão: Editora UFS,<br />

1999.<br />

MARCONI, Marina <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos da metodologia<br />

científica. 6 ed. São Paulo: Atlas, 2005.<br />

56


MENDONÇA, Francisco. Sistema ambiental urbano: Uma abordagem dos problemas<br />

sócioambientais da cida<strong>de</strong>. In: MENDONÇA, Francisco. (org.). Impactos sócioambientais urbanos.<br />

Curitiba: Ed. UFPR, 2004, pp. 185-208.<br />

MOTA, S. Preservação e conservação dos recursos hídricos. 2. Ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: ABES, 1997.<br />

PISSINATI, C. P; ARCHELA, R. S. Geossistema território e paisagem– método <strong>de</strong> estudo da<br />

paisagem rural sob a ótica bertrandiana. Revista <strong>de</strong> Geografia da UEL. v. 18. n. 1. Londrina:<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Londrina, 2009.<br />

57


QUALIDADE DE VIDA E DESENVOLVIMENTO: UMA RELAÇÃO NECESSÁRIA<br />

Resumo<br />

Dênis Decussatti – <strong>de</strong>cussatti@hotmail.com<br />

Laboratório <strong>de</strong> Estudos sobre Cultura, Turismo e Desenvolvimento - LATURD/UEPB/CNPQ<br />

Maria Dilma Simões Brasileiro– dsbrasileiro@gmail.com<br />

Laboratório <strong>de</strong> Estudos sobre Cultura, Turismo e Desenvolvimento - LATURD/UEPB/CNPQ<br />

Historicamente o <strong>de</strong>senvolvimento foi associado à i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> crescimento econômico. Esta associação<br />

não se traduziu em oportunida<strong>de</strong>s igualitárias <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, prejudicando os países menos<br />

<strong>de</strong>senvolvidos. As <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais <strong>de</strong>stes países acentuaram-se, revelando-se como um dos<br />

principais entraves <strong>nas</strong> políticas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento. Entretanto, superar as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />

faz parte da construção <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento mais justo e equilibrado. A<br />

sustentabilida<strong>de</strong> social, bastante prejudicada por um mo<strong>de</strong>lo exclu<strong>de</strong>nte, é componente essencial à<br />

construção do <strong>de</strong>senvolvimento sustentável. Esta atenção relacionada às questões sociais fez<br />

emergir no discurso do <strong>de</strong>senvolvimento, um olhar mais criterioso para as condições <strong>de</strong> vida das<br />

populações locais. O <strong>de</strong>spertar <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento atento às questões sociais,<br />

influencia na expansão dos estudos sobre esta problemática, emergindo assim, preocupações<br />

relacionadas à qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida. A partir <strong>de</strong>sta perspectiva, o <strong>de</strong>senvolvimento assume a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />

conservação ambiental, cuidados quanto ao consumo consciente ou <strong>de</strong>mais medidas essencialmente<br />

ambientais e qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida para a população local. Neste sentido, a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida passa a<br />

ser compreendida <strong>de</strong> forma mais ampla, consi<strong>de</strong>rando as percepções, os <strong>de</strong>sejos e anseios <strong>de</strong> cada<br />

comunida<strong>de</strong>. A percepção que a população possui sobre qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida tem sido útil,<br />

principalmente quando utilizada como fonte <strong>de</strong> informação relevante para <strong>de</strong>terminar as metas e<br />

estratégias do <strong>de</strong>senvolvimento sustentável.<br />

Palavras-chave: Desenvolvimento; Desenvolvimento Social; <strong>Qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Vida</strong>.<br />

Abstract<br />

Historically the <strong>de</strong>velopment was associated with the i<strong>de</strong>a of economic growth. This association has<br />

not translated into equal opportunities for <strong>de</strong>velopment, un<strong>de</strong>rmining the LDCs. Social inequalities<br />

58


in these countries have wi<strong>de</strong>ned, revealing itself as a major constraint on <strong>de</strong>velopment policies.<br />

However, overcoming social inequalities is part of building a <strong>de</strong>velopment mo<strong>de</strong>l more fair and<br />

balanced. Social sustainability, greatly hin<strong>de</strong>red by an excluding, the building is an essential<br />

component of sustainable <strong>de</strong>velopment. This attention related to social issues did emerge in the<br />

discourse of <strong>de</strong>velopment, a more careful look to the living conditions of local populations. The<br />

awakening of a <strong>de</strong>velopment mo<strong>de</strong>l attentive to social issues, influences the expansion of studies on<br />

this issue, thus emerging, concerns related to quality of life. From this perspective, the <strong>de</strong>velopment<br />

takes the i<strong>de</strong>a of environmental conservation, care about conscious consumption or other measures<br />

essentially environmental and quality of life for local people. In this sense, the quality of life<br />

becomes more wi<strong>de</strong>ly un<strong>de</strong>rstood, consi<strong>de</strong>ring the perceptions, <strong>de</strong>sires and aspirations of each<br />

community. The perception that people have about quality of life has been useful, especially when<br />

used as a source of information relevant to <strong>de</strong>termining the goals and strategies of sustainable<br />

<strong>de</strong>velopment.Keywords: Development, Social Development, Quality of Life<br />

INTRODUÇÃO<br />

Durante décadas, os países ao buscarem o seu <strong>de</strong>senvolvimento optavam por utilizar a<br />

estratégia do crescimento econômico. Esta perspectiva <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento tem como base a crença<br />

<strong>de</strong> que os países alçariam melhores índices <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento ao elevar seu po<strong>de</strong>r econômico. O<br />

enriquecimento dos países indica ser o caminho mais sólido e garantido na realização dos anseios<br />

das nações em tornarem-se mais <strong>de</strong>senvolvidas. A valorização da dimensão econômica é, segundo<br />

este mo<strong>de</strong>lo, o mais apropriado e confiável, pois enriquecer tem o mesmo sentido <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver-<br />

se. Com base nesta perspectiva, <strong>de</strong>senvolvimento e crescimento teriam a mesma finalida<strong>de</strong>, ou seja,<br />

encontrar nos recursos econômicos para a solução das dificulda<strong>de</strong>s vividas pelos países.<br />

Segundo Becker e Wittmann (2008), esta relação entre crescimento econômico e<br />

<strong>de</strong>senvolvimento é consequência da forte influência do processo <strong>de</strong> industrialização. Esse era um<br />

dos caminhos mais rápido e eficiente para o acúmulo <strong>de</strong> capital, favorecendo assim o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento. Os países industrializados eram consi<strong>de</strong>rados os mais propícios a tornarem-se<br />

futuras nações <strong>de</strong>senvolvidas. Diante <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> valorização da dimensão econômica, os<br />

países industrializados são os mais promissores, já que estes são os mais prósperos financeiramente<br />

e, portanto, propícios ao <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

Mesmo valendo-se da capacida<strong>de</strong> industrial como meio <strong>de</strong> enriquecimento, atribuir o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento dos países ao crescimento econômico sugere controvérsias. A política <strong>de</strong> acúmulo<br />

<strong>de</strong> capital a qualquer custo não resultou necessariamente em países mais <strong>de</strong>senvolvidos.<br />

Transformar os países em nações mais ricas não tem gerado os resultados almejados. Muito pelo<br />

59


contrário, observou-se que o intenso crescimento econômico não se traduziu necessariamente em<br />

maior acesso as oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento (VEIGA, 2008). O mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

com base no crescimento econômico começa a ser questionado, por não oportunizar a todos os<br />

países esta possibilida<strong>de</strong>. Evi<strong>de</strong>ncia-se uma distribuição <strong>de</strong>sigual das oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento, agravando assim as antigas <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s já existentes.<br />

Sen e Kliksberg (2010) apontam que a distribuição não equitativa dos benefícios do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento, gera um distanciamento ainda maior entre os países. Para os autores, a questão<br />

não é se os países mais pobres recebem algum benefício com o mo<strong>de</strong>lo vigente, mas se eles po<strong>de</strong>m<br />

participar <strong>de</strong> forma igualitária, com oportunida<strong>de</strong>s justas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento. Esses <strong>de</strong>sequilíbrios<br />

<strong>nas</strong> oportunida<strong>de</strong>s têm como consequência a disparida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> nações menos <strong>de</strong>senvolvidas não<br />

po<strong>de</strong>m obter o mesmo êxito que outras favorecidas por esse mo<strong>de</strong>lo.<br />

A supervalorização da dimensão econômica agravou as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s entre os países,<br />

prejudicando o progresso dos menos <strong>de</strong>senvolvidos. Esta supervalorização da dimensão econômica<br />

resultou não ape<strong>nas</strong> em uma acentuação da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> entre os países, mas em uma disparida<strong>de</strong><br />

interna ainda maior. Sen e Kliksberg (2010) comparam entre a distância existente entre os 10%<br />

mais ricos e os 10% mais pobres da população <strong>de</strong> alguns países. Para os autores, quanto menor for<br />

esta distância, menor são as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s do país. Países como Finlândia, Noruega e Suécia, a<br />

distância entre os mais ricos aos mais pobres não superam 7 vezes. No Brasil, país <strong>de</strong>sfavorecido no<br />

mo<strong>de</strong>lo economicista <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, esta distancia é <strong>de</strong> 51,3 vezes.<br />

Este distanciamento aponta o quanto países menos <strong>de</strong>senvolvidos, como no caso o Brasil,<br />

foram <strong>de</strong>sfavorecidos com a adoção <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo exclu<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento. Crescer<br />

economicamente não gerou índices satisfatórios <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento para estes países e resultaram<br />

em uma espécie <strong>de</strong> visão míope as questões sociais. Ainda segundo Sen e Kliksberg (2010), inserir-<br />

se neste mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, tornou o Brasil uma das economias mais <strong>de</strong>senvolvidas do<br />

mundo, mas com o <strong>de</strong>senvolvimento humano comparado aos estados mais pobres da Índia. Este<br />

<strong>de</strong>scaso com as questões sociais tornou-se um entrave ao <strong>de</strong>senvolvimento do país.<br />

Superar as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais faz parte da construção <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

mais justo e equilibrado. Entretanto, os países menos <strong>de</strong>senvolvidos, possuem dificulda<strong>de</strong>s em<br />

reverter essa <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social, <strong>de</strong>vido a uma pressão sofrida pelos países mais <strong>de</strong>senvolvidos.<br />

Países <strong>de</strong>senvolvidos como Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos exercem uma pressão sobre<br />

aqueles em processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, para que estes países adotem medidas <strong>de</strong> precaução em<br />

relação as suas estratégias <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento. Entretanto, caso os países <strong>de</strong>senvolvidos tivessem<br />

cumprido as exigências impostas por eles mesmos, dificilmente teriam alcançado os mesmos<br />

índices <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento que possuem nos dias atuais (CHANG, 2004).<br />

60


A reflexão trazida por Chang (2004), não está sobre a adoção ou não adoção <strong>de</strong>stas medidas<br />

<strong>de</strong> precaução. Em um mundo on<strong>de</strong> as nações buscam <strong>de</strong>senvolver-se a qualquer custo, certamente é<br />

cabível uma maior cautela relacionada às políticas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e suas consequências. A<br />

questão está no quanto os países foram e ainda são prejudicados por um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento marcado pelo mo<strong>de</strong>lo econômico. Para Chang (2004), esta preocupação dos países<br />

<strong>de</strong>senvolvidos em regular as metas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> outros países, revela muito mais uma<br />

estratégia política para garantir sua situação favorável, evitando que outros países se <strong>de</strong>senvolvam,<br />

do que uma preocupação verda<strong>de</strong>ira com as consequências que as políticas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

possam gerar.<br />

Nesta perspectiva, Sachs (2008) aponta que a situação dos países menos <strong>de</strong>senvolvidos<br />

torna-se ainda mais <strong>de</strong>sfavorável, quando é analisada a gran<strong>de</strong> parcela do tempo <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong>stino<br />

a ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> subsistência, a fraca capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> poupança <strong>de</strong>sses países <strong>de</strong>vido às altas dívidas<br />

exter<strong>nas</strong> e a vulnerabilida<strong>de</strong> a importações, por esses países não possuírem uma produção industrial<br />

significativa. Nesta visão, estes países que foram historicamente prejudicados por um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento exclu<strong>de</strong>nte, continuam <strong>de</strong>sfavorecidos nos dias atuais. Estas <strong>de</strong>svantagens torna<br />

ainda mais difíceis o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento dos países menos <strong>de</strong>senvolvidos, mantendo-os<br />

mais distantes da superação <strong>de</strong> suas problemáticas, como a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social.<br />

O DESPERTAR PARA A RELEVÂNCIA SOCIAL<br />

A <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social apresenta-se, portanto, como uma das principais limitações ao<br />

<strong>de</strong>senvolvimento dos países. Vlek (2003) ressalta que esta <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social nos países menos<br />

<strong>de</strong>senvolvidos é acentuada por uma exacerbação dos interesses individuais, colocando em risco a<br />

sustentabilida<strong>de</strong> social. Para o autor, os interesses estão sendo direcionados às questões individuais,<br />

enquanto os assuntos coletivos, como a questão da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social, estão sendo esquecidos e<br />

ignorados. Entretanto, são os interesses nos assuntos coletivos que estimulam ações <strong>de</strong> cidadania e<br />

contribui para a sustentabilida<strong>de</strong> social.<br />

Para Moura (2010), analisando a sustentabilida<strong>de</strong> com base em Bourdieu, ressalta que a<br />

sustentabilida<strong>de</strong> social esta vinculada a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> hábitos primários. Para o autor, hábitos<br />

primários é o padrão mínimo <strong>de</strong> participação na esfera social, que confere a dignida<strong>de</strong> e as<br />

condições mínimas <strong>de</strong> reconhecimento e respeito social. Sendo assim, a sustentabilida<strong>de</strong> social<br />

também está vinculada a generalização <strong>de</strong>sses hábitos primários, ou seja, no aumento dos índices <strong>de</strong><br />

participação sociais com dignida<strong>de</strong>.<br />

Mesmo com as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> superação das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s, a sustentabilida<strong>de</strong> social<br />

gradativamente <strong>de</strong>sperta interesse junto às estratégias <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, especialmente nos países<br />

61


menos <strong>de</strong>senvolvidos. Elegê-la como uma das priorida<strong>de</strong>s, transforma o homem em um dos<br />

principais beneficiários do <strong>de</strong>senvolvimento. Coriolano (2001) ressalta a importância da<br />

centralida<strong>de</strong> do <strong>de</strong>senvolvimento no humano, afirmando que promover o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

direcionado as questões sociais é o maior <strong>de</strong>safio da atualida<strong>de</strong>. Enten<strong>de</strong>r o ser humano como centro<br />

da ação e assegurar uma vida digna e igualitária é o principal objetivo <strong>de</strong> uma estratégia <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento humanizada.<br />

Corroborando com Coriolano (2001), Cruz (2008) afirma que o pressuposto do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento tem <strong>de</strong> ser humano e social. Essa concepção <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento assegura a<br />

sociabilida<strong>de</strong> e o direito a uma vida digna a todos os cidadãos, restaurando as falhas <strong>de</strong> um processo<br />

exclu<strong>de</strong>nte. Estas são as adaptações <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo amadurecido, na busca <strong>de</strong> firmar a relevância <strong>de</strong><br />

uma socieda<strong>de</strong> historicamente ignorada.<br />

Sachs (2008) argumenta que a sustentabilida<strong>de</strong> social, ambicionada por políticas <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento, é um componente essencial do <strong>de</strong>senvolvimento sustentável. Para o autor, o<br />

verda<strong>de</strong>iro <strong>de</strong>senvolvimento sustentável <strong>de</strong>ve englobar preocupações sobre questões sociais. Nesta<br />

visão, o estabelecimento <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo exclu<strong>de</strong>nte acentuou as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais, prejudicando<br />

a possibilida<strong>de</strong> dos países <strong>de</strong> adotarem um <strong>de</strong>senvolvimento verda<strong>de</strong>iramente sustentável.<br />

O <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, evi<strong>de</strong>nciado por suas ações <strong>de</strong> preservação ambiental,<br />

consi<strong>de</strong>ra fatores importantes direcionados as questões sociais. Confirmando esta tendência, Sachs<br />

(2008) aponta que os pilares que qualificam o <strong>de</strong>senvolvimento como sustentável são a viabilida<strong>de</strong><br />

econômica, a prudência ecológica e a relevância social. Na perspectiva do autor, a sustentabilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ve ser observada por vários ambitos e dimensões. O discurso da prudência ecológica e <strong>de</strong><br />

viabilida<strong>de</strong> econômica, presença garantida em discussões que envolvam o tema, constituem ape<strong>nas</strong><br />

dois dos três pilares essenciais à sustentabilida<strong>de</strong>. O outro pilar essencial é a relevância social, e<br />

consi<strong>de</strong>rá-la é igualmente importante na <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> metas e estratégias <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento sustentável.<br />

Nesta emergente perspectiva <strong>de</strong> valorização as questões sociais, Sachs (2009) aponta que a<br />

relevância social <strong>de</strong>ve ser entendida como priorida<strong>de</strong>, por constituir-se a própria finalida<strong>de</strong> do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento. Para o autor, a finalida<strong>de</strong> do <strong>de</strong>senvolvimento sustentável é proporcionar<br />

melhores condições <strong>de</strong> vida ao ser humano, e por isso, a relevância social <strong>de</strong>ve ser entendida<br />

sempre como uma priorida<strong>de</strong>, pois <strong>de</strong> fato, ela representa o <strong>de</strong>senvolvimento. O ser humano<br />

gradativamente conquista seu espaço diante das políticas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, que por sua vez,<br />

confirmam as preocupações em proporcionar melhores condições <strong>de</strong> vida aos cidadãos (SACHS,<br />

2008).<br />

O <strong>de</strong>senvolvimento sustentável possui preocupações sobre as condições <strong>de</strong> vida das pessoas,<br />

tendo por finalida<strong>de</strong> melhorá-las. Para Sen (2000), abre-se caminho para uma perspectiva mais<br />

62


ampla <strong>de</strong>ntro da discussão do <strong>de</strong>senvolvimento, a qual consi<strong>de</strong>ra o nível <strong>de</strong> vida das pessoas,<br />

comoum indicativo <strong>de</strong>ste novo paradigma. Emerge uma preocupação em expandir as oportunida<strong>de</strong>s<br />

sociais, favorecendo uma maior liberda<strong>de</strong> à população, traduzindo-se em melhores condições <strong>de</strong><br />

vida aos cidadãos. Uma população com maior liberda<strong>de</strong>, como a <strong>de</strong> possuir uma boa saú<strong>de</strong> e uma<br />

educação básica, influencia na possibilida<strong>de</strong> do ser humano viver melhor.<br />

Entretanto, é preciso estar atento para que as ações que promovam liberda<strong>de</strong> e melhores<br />

condições <strong>de</strong> vida para a geração atual, não influenciem negativamente as gerações que estão por<br />

vir. Preservar e expandir as liberda<strong>de</strong>s substantivas <strong>de</strong> que as pessoas hoje <strong>de</strong>sfrutam sem<br />

comprometer a capacida<strong>de</strong> das futuras gerações <strong>de</strong>sfrutarem <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> semelhante é <strong>de</strong><br />

responsabilida<strong>de</strong> da nossa espécie (SEN, 2000). O <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, na busca por<br />

melhores condições <strong>de</strong> vida para geração atual, necessita permanecer em estado <strong>de</strong> vigilância <strong>nas</strong><br />

consequências do <strong>de</strong>senvolvimento por ele estimuladas, <strong>de</strong>senvolvendo uma espécie <strong>de</strong><br />

solidarieda<strong>de</strong> com as futuras gerações (VEIGA, 2005). Neste contexto <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> entre as<br />

gerações, cresce a preocupação com a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida da população.<br />

A QUALIDADE DE VIDA COMO FINALIDADE<br />

A partir do compromisso solidário entre as gerações, o discurso do <strong>de</strong>senvolvimento<br />

sustentável fez emergir, portanto, um olhar mais criterioso para as condições <strong>de</strong> vida das<br />

populações. Na década <strong>de</strong> 80, o <strong>de</strong>spertar <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento atento às questões<br />

sociais, influenciou na expansão dos estudos sobre essas problemáticas, emergindo assim,<br />

preocupações relacionadas à qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida (JANNUZZI et all, 2002). Des<strong>de</strong> então, consi<strong>de</strong>rar a<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida dos cidadãos, transformou-se em condição primordial na <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> objetivos a<br />

serem alcançados ou preservados pelas políticas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável.<br />

Teixeira (2005) consi<strong>de</strong>ra que a premissa do <strong>de</strong>senvolvimento sustentável está em<br />

proporcionar maior qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida ao ser humano. Para o autor, não faz sentido ignorar a<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida que as pessoas <strong>de</strong>sfrutam, em virtu<strong>de</strong> da supervalorização <strong>de</strong> outras dimensões,<br />

como exemplo, as questões ambientais. A preocupação excessiva as problemáticas ambientais po<strong>de</strong><br />

acabar gerando uma espécie <strong>de</strong> miopia as <strong>de</strong>mais dimensões da vida humana. Muitas vezes, o<br />

discurso do <strong>de</strong>senvolvimento sustentável é encarado, como se a solução dos problemas ambientais<br />

implicassem automaticamente na resolução dos problemas sociais. Embora os impactos ambientais<br />

gerem consequências à qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida da socieda<strong>de</strong>, as problemáticas sociais são diferentes das<br />

ambientais.<br />

Atento as problemáticas sociais, Buarque (2008) aponta a conservação ambiental e a<br />

eficiência econômica como objetivos do <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, mas <strong>de</strong>staca principalmente,<br />

63


a equida<strong>de</strong> social e a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida das populações. Na perspectiva do autor, emerge uma<br />

preocupação não ape<strong>nas</strong> com as condições simples e objetivas em que a população vive, mas com a<br />

qualida<strong>de</strong> da vida que as populações usufruem. Neste contexto, adquiri relevância no discurso do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento sustentável, preocupações relacionadas aos aspectos qualitativos da vida humana.<br />

Segundo Sachs (2008), o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável vai muito mais além da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />

conservação ambiental, cuidados quanto ao consumo consciente ou <strong>de</strong>mais medidas essencialmente<br />

ambientais. O seu verda<strong>de</strong>iro sentido esta relacionado à possibilida<strong>de</strong> das pessoas alcançarem uma<br />

vida melhor, mais feliz e completa para todos. As condições em que as pessoas vivem e suas<br />

percepções quanto a estas mesmas condições, começam a ser <strong>de</strong>terminantes <strong>nas</strong> políticas <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento. Para o autor, o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável faz sentido quando po<strong>de</strong> contribuir<br />

<strong>de</strong> forma significativa a vidas das pessoas, fortalecendo os aspectos valorizados pela própria<br />

comunida<strong>de</strong>.<br />

Nessa visão, o <strong>de</strong>bate sobre <strong>de</strong>senvolvimento sustentável e qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida <strong>de</strong>sperta para<br />

uma maior amplitu<strong>de</strong>, envolvendo vários fatores, ganhando qualida<strong>de</strong> em seu discurso. Para Rocha<br />

et al (2000) ressalta que a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida está relacionada, além da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um olhar mais<br />

criterioso para as questões ambientais e econômicas, a uma ampliação <strong>nas</strong> escolhas pessoais tais<br />

como, moradia, alimentação, meio ambiente, lazer e cultura. Esta visão macroscópica representa<br />

uma tendência <strong>de</strong> agregar outros valores essenciais à vida do ser humano, proporcionando assim,<br />

um maior bem estar em função das suas relações sociais.<br />

Neste sentido, a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida passa a ser observada <strong>de</strong> forma mais ampla, na tentativa<br />

<strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r as percepções, os <strong>de</strong>sejos e anseios <strong>de</strong> cada comunida<strong>de</strong>. Esta compreensão é<br />

importante para o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, no sentido <strong>de</strong> facilitar o entendimento do<br />

significado que cada local possui sobre qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida. Karruz et all (2002), a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida<br />

é um conceito construído socialmente, e por cada comunida<strong>de</strong> específica. A subjetivida<strong>de</strong> própria<br />

ao tema enfatiza a importância <strong>de</strong> relevar as percepções que cada comunida<strong>de</strong> possui sobre a<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida que almeja.<br />

Para Pontual (2002), enten<strong>de</strong>r a percepção da população, é fundamental para gerar novos<br />

significados sobre a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> uma população. A percepção <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida varia<br />

<strong>de</strong> acordo com aspectos históricos e culturais <strong>de</strong> cada local. Devido a esta variação, para o autor, a<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida requer elementos ligados à subjetivida<strong>de</strong>, agregando o diagnóstico <strong>de</strong> elementos<br />

vinculados aos <strong>de</strong>sejos, aos medos e aos sonhos da população. A valorização <strong>de</strong>sta visão subjetiva<br />

confirma a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r a percepção que os indivíduos possuem da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida<br />

própria <strong>de</strong> cada local.<br />

A percepção que a população possui sobre qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida tem sido útil, principalmente<br />

quando utilizada como fonte <strong>de</strong> informação relevante para <strong>de</strong>terminar as estratégias <strong>de</strong> garantir esta<br />

64


mesma qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida para a população (KARRUZ et all, 2002). Cada comunida<strong>de</strong> possui uma<br />

visão específica dos valores que simbolizam seus <strong>de</strong>sejos e anseios na construção e valoração da<br />

vida. Estes <strong>de</strong>sejos variam <strong>de</strong> acordo com a cultura <strong>de</strong> cada região e, por isso, necessitam ser<br />

consi<strong>de</strong>rados <strong>nas</strong> estratégias <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> cada local.<br />

A partir <strong>de</strong>sta compreensão dos significados, os governos ten<strong>de</strong>m a buscar a melhoria da<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida da população a partir do incentivo à participação popular. A inserção social <strong>nas</strong><br />

políticas <strong>de</strong> governo, fortalecendo o diálogo entre comunida<strong>de</strong> e governantes, é essencial, por<br />

enten<strong>de</strong>r que a própria população é conhecedora dos seus problemas e entraves do seu<br />

<strong>de</strong>senvolvimento. Contudo, a população ciente da sua realida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> suas necessida<strong>de</strong>s, auxilia na<br />

tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões e <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> metas futuras, com o intuito <strong>de</strong> maximizar a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e<br />

conquistar melhores índices no <strong>de</strong>senvolvimento sustentável (WESTPHAL, 2000).<br />

O Programa Nacional <strong>de</strong> Desenvolvimento Regional (PNDR) tem esta preocupação em<br />

reacen<strong>de</strong>r a participação social em sua política. Às ações coletivas é parte integrante dos objetivos<br />

da política <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento nacional. Segundo o PNDR (2007), seus objetivos são promover a<br />

inserção social da população, a capacitação dos recursos humanos e a melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida<br />

da população envolvida. Portanto, a política <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento do país enten<strong>de</strong> que a participação<br />

ativa dos cidadãos, são as respostas para reacen<strong>de</strong>r os interesses coletivos, que irá promover uma<br />

melhoria na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida da população, gerando assim, resultados mais satisfatórios<br />

relacionados ao <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

REFERÊNCIAS<br />

BECKER, D. F. e WITTMANN, M. L. Desenvolvimento Regional: Abordagens interdisciplinares.<br />

Santa Cruz do Sul: EDUNISC 2008.<br />

BUARQUE. S. C. Construindo o <strong>de</strong>senvolvimento local sustentável. 4º Edição. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Garamond, 2008.<br />

CHANG, H.Chutando a Escada: a estratégia do <strong>de</strong>senvolvimento em perspectiva histórica. São<br />

Paulo: Editora UNESP, 2004.<br />

CORIOLANO, L. N. Os Limites do Desenvolvimento e do Turismo. Boletim Goianao <strong>de</strong> Geografia.<br />

21 (2): 25 – 45. jun/<strong>de</strong>z. 2001.<br />

65


CRUZ, R. C. A. Turismo, Produccion <strong>de</strong>l Espacio y Desarrollo Desigual: Para Pensar La<br />

Realida<strong>de</strong> Brasilera. Aportes y Transferências. II Simpósio Latinoamericano. Turismo y<br />

Desarrollo. 2008.<br />

JANNUZZI, P. M. Repensando a pratica do uso <strong>de</strong> indicadores sociais na formulação e avaliação <strong>de</strong><br />

políticas públicas municipais. In: <strong>Qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> vida: observatórios, experiências e metodologias.<br />

São Paulo. Annablume. Fapesp. 2002.<br />

KARRUZ, A. P; CEZAR KEINERT, R; MEZZOMMO KEINERT, T. M. O processo <strong>de</strong> construção<br />

do Observatório <strong>de</strong> <strong>Qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Vida</strong> <strong>de</strong> Snato André: i<strong>de</strong>ntificação e superação <strong>de</strong> <strong>de</strong>safios. In:<br />

<strong>Qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> vida: observatórios, experiências e metodologias. São Paulo. Annablume. Fapesp.<br />

2002.<br />

MOURA, C. D. Subcidadania, Desigualda<strong>de</strong> e Desenvolvimento Social no Brasil do Século XXI.<br />

Planejamento e Políticas Públicas. N.34. 2010.<br />

PONTUAL, P. C. <strong>Qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> vida, participação e percepção da população. In: <strong>Qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong><br />

vida: observatórios, experiências e metodologias. São Paulo. Annablume. Fapesp. 2002.<br />

PNDR. Política Nacional Desenvolvimento Regional. Ministério da Integração Nacional. 2007.<br />

ROCHA, A. D; OKABE, I; MARTINS, M. E. A; MACHADO, P. H. B; MELLO, T. C. <strong>Qualida<strong>de</strong></strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Vida</strong>, ponto <strong>de</strong> partida ou resultado final? Ciência & Saú<strong>de</strong> Coletiva. 2000.<br />

SACHS, I. Desenvolvimento: inclu<strong>de</strong>nte, sustentável, sustentado. Rio <strong>de</strong> Janeiro. Garamond. 2008.<br />

SACHS, I. Caminhos para o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável. Organização: Paula Yone Stroh. Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro. Garamond. 2009.<br />

SEN, A. Desenvolvimento como liberda<strong>de</strong>. São Paulo. Cia das letras. 2000.<br />

SEN, A; KLIKSBERG, B. As pessoas em primeiro lugar: a ética do <strong>de</strong>senvolvimento e os<br />

problemas do mundo globalizado. São Paulo. Cia das letras. 2010.<br />

TEIXEIRA, Cristina. O <strong>de</strong>senvolvimento sustentável em unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conservação: a<br />

“naturalização” social.RBCS <strong>Vol</strong>. 20 nº. 59 outubro/2005.<br />

WESTPHAL, M. F. O Movimento Cida<strong>de</strong>s/Municípios Saudáveis: Um Compromisso com a<br />

<strong>Qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Vida</strong>. Ciência & Saú<strong>de</strong> Coletiva. 2000<br />

VEIGA, J. E. O Prelúdio do Desenvolvimento Sustentável. In: CAVC, Economia Brasileira:<br />

Perspectivas do Desenvolvimento, pp. 243-266. 2005<br />

66


VEIGA, J. E. Desenvolvimento Sustentável: O <strong>de</strong>safio do Século XXI. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Garamond.<br />

2008.<br />

VLEK, C. Globalização, dilemas dos comuns e qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida sustentável: do que precisamos,<br />

o que po<strong>de</strong>mos fazer, o que po<strong>de</strong>mos conseguir? Estudos <strong>de</strong> Psicologia. 2003.<br />

67


A SUSTENTABILIADE NA CULTURA DO BARRO: RELATOS DA COMUNIDADE DE<br />

ARTESÃOS DO ALTO DO MOURA, CARUARU-PE<br />

Resumo<br />

Edclei<strong>de</strong> Maria da SILVA (MGP/UFPE) – edclei<strong>de</strong>silva@yahoo.com.br<br />

Laura Maria Brito <strong>de</strong> MEDEIROS (MGP/UFPE) – lauramariamei<strong>de</strong>iros@yahoo.com.br<br />

Thaysa Danyella Lira MARQUES (PROPAD/UFPE) – tahud@hotmail.com<br />

Ianara Alves <strong>de</strong> ALMEIDA (MGP/UFPE) – ianara.almeida@bol.com.br<br />

As relações entre as comunida<strong>de</strong>s locais e seu entorno têm adquirido importância no <strong>de</strong>bate da<br />

sustentabilida<strong>de</strong>, sobretudo, quando se busca um olhar para a diversida<strong>de</strong> cultural que supere a i<strong>de</strong>ia<br />

<strong>de</strong> cultura hegemônica. Nesses termos, elegeu-se como campo empírico a comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> artesãos<br />

do Alto do Moura, situada em Caruaru-PE, região banhada pelas águas do rio Ipojuca, o que, a<br />

princípio, favoreceria a cultura agrícola. Contudo, as dificulda<strong>de</strong>s impostas pelo clima semiárido,<br />

somadas à tradição da produção ceramista herdada do povo cariri, conduziram a comunida<strong>de</strong> a<br />

enxergar o rio para além <strong>de</strong> suas águas. Assim, o barro tornou-se matéria-prima essencial para a<br />

subsistência das famílias. Contudo, a exploração <strong>de</strong>sorganizada dos recursos naturais provocou a<br />

exaustão das jazidas <strong>de</strong> argila. Em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas transformações, discute-se a sustentabilida<strong>de</strong> a<br />

partir da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> local, usando como corte epistêmico o paradigma da complexida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Morin,<br />

por reconhecer a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> culturas e saberes. Como procedimento metodológico, adotou-se o<br />

estudo narrativo com enfoque no resgate da história oral. Evi<strong>de</strong>nciou-se nos relatos uma relação<br />

simbiótica entre a comunida<strong>de</strong> e o ambiente, sendo o rio e a argila <strong>de</strong>terminantes na configuração<br />

da comunida<strong>de</strong>, ao mesmo tempo sendo a comunida<strong>de</strong> agente modificador <strong>de</strong>sses recursos naturais.<br />

Palavras-chave:Cultura do barro, sustentabilida<strong>de</strong>, diversida<strong>de</strong>.<br />

Abstract<br />

The relationship among the local communities and their surroundings has gained importance in the<br />

sustainability <strong>de</strong>bate, mainly when it is observed the cultural diversity that overcomes the<br />

hegemonic culture i<strong>de</strong>a. It was chosen as empirical field the artisans‘ community of Alto do Moura,<br />

located in Caruaru-PE, a region watered by Ipojuca River, what, at first, favored the agriculture.<br />

However, the difficulties imposed by the semiarid climate, besi<strong>de</strong>s the ceramist production tradition<br />

68


inherited by the cariri people, led the community to seeing the river beyond its water. Thus, the clay<br />

became an essential stuff for family subsistence. However, the natural resources disorganized<br />

exploration caused the clay <strong>de</strong>posits exhaustion. Due to these transformations, it is discussed<br />

sustainability consi<strong>de</strong>ring the local i<strong>de</strong>ntity, using as epistemic approach Morin‘s complexity<br />

paradigm, for consi<strong>de</strong>ring culture and knowledge diversity. As methodological procedure, it was<br />

used the narrative study focused on the oral history recovery. The reports evi<strong>de</strong>nced a symbiotic<br />

relation between community and environment, being the river and the clay <strong>de</strong>terminant for<br />

community configuration, at the same time the community is a modifier agent of these natural<br />

resources.<br />

Keywords:Clay culture, sustainability, diversity.<br />

1. Introdução<br />

O conceito <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> tem perpassado por polifônicos posicionamentos teóricos que<br />

compõem um guarda-chuva conceitual, sob o qual esse campo é vislumbrado por diversos cortes<br />

epistemológicos, a tal sorte que, como aponta Limonad (2004), temos várias concepções,<br />

representações, sobre o que é sustentabilida<strong>de</strong> no imaginário social. Essas representações são<br />

manifestas sobre os mais distintos significados, todas na tentativa <strong>de</strong> coadunar <strong>de</strong>senvolvimento e<br />

sustentabilida<strong>de</strong>.<br />

Nesses termos, qualquer discussão mais aprofundada sobre essa temática <strong>de</strong>ve vincular o<br />

meio ambiente à esfera das ações, ambições e necessida<strong>de</strong>s huma<strong>nas</strong> (VEIGA, 1998), <strong>de</strong> modo<br />

contrário essa tarefa se torna inócua, tendo em vista o processo simbiótico homem-natureza, sendo<br />

o espaço natural produto do espaço social e vice-versa. Assim, uma compreensão mais crítica sobre<br />

esse campo perpassará, naturalmente, por um questionamento da homogeneização cultural e <strong>de</strong> uma<br />

urgência no reconhecimento das i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s locais. ―Há, juntamente com o impacto global, um<br />

novo interesse pelo local.‖ (HALL, 2001).<br />

Assim, elegeu-se <strong>de</strong>bater a sustentabilida<strong>de</strong> sob o corte epistemológico do pensamento<br />

complexo (MORIN, 2008a), tendo em vista que esse paradigma consi<strong>de</strong>ra a sustentabilida<strong>de</strong> como<br />

disciplina transdisciplinar, entendida em uma complexa totalida<strong>de</strong> física, biológica e social,<br />

rejuntando o ser humano ao meio on<strong>de</strong> vive, reconhecendo a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada uma <strong>de</strong>ssas<br />

relações.<br />

Nessa acepção, a sustentabilida<strong>de</strong> dá-se através <strong>de</strong> um entendimento global, centrado em<br />

uma esfera local. Portanto, ao compreen<strong>de</strong>r-se que toda discussão sobre sustentabilida<strong>de</strong> é um<br />

<strong>de</strong>bate mais sobre a preservação <strong>de</strong> uma or<strong>de</strong>m social particular do que um <strong>de</strong>bate sobre a<br />

69


preservação per se (HARVEY, 1996), elegeu-se como campo empírico a comunida<strong>de</strong> do Alto do<br />

Moura, em Caruaru-PE, mais especificamente a relação <strong>de</strong>ssa comunida<strong>de</strong> com o rio Ipojuca, a<br />

extração <strong>de</strong> argila e a produção do artesanato figurativo.<br />

2. O barro <strong>de</strong>finindo o espaço local: a construção da comunida<strong>de</strong> do Alto do Moura<br />

A comunida<strong>de</strong> do Alto do Moura situa-se a 7km do centro da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Caruaru, no agreste<br />

pernambucano. O processo <strong>de</strong> formação <strong>de</strong>ssa comunida<strong>de</strong> é indissociável da constituição da cida<strong>de</strong><br />

e, sobretudo, da bacia hidrográfica do Ipojuca que transpassa mais 387,62km 2 <strong>de</strong>sse município. O<br />

Ipojuca é fonte <strong>de</strong> calcário, feldspato e rochas cristali<strong>nas</strong>, ornamentais e britais (CONDEPE, 2005).<br />

Contudo, foi a argila, extraída <strong>de</strong> suas margens, o elemento <strong>de</strong>finidor na constituição <strong>de</strong>ssa<br />

comunida<strong>de</strong> (SIQUEIRA, 2006).<br />

A cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Caruaru origina-se a partir <strong>de</strong> 1681, ocupando um privilegiado espaço<br />

geográfico por situar-se no agreste pernambucano, que serve como ponto <strong>de</strong> convergência entre a<br />

capital e o sertão do estado. Por ser banhada pelas águas do rio Ipojuca, acreditava-se na vocação<br />

agrícola da região. Entretanto, as dificulda<strong>de</strong>s impostas pelo clima semiárido conduziu a cida<strong>de</strong> a<br />

encontrar outra fonte <strong>de</strong> sobrevivência. A produção <strong>de</strong> peças utilitárias, confeccionadas a partir da<br />

argila, muito consumidas pelas classes mais populares como opção aos utilitários <strong>de</strong> porcelana<br />

importados <strong>de</strong> Portugal, foi uma das alternativas viáveis para a promoção <strong>de</strong> renda.<br />

Em linhas gerais, a produção dos utensílios <strong>de</strong> barro era atribuída às mulheres e crianças das<br />

comunida<strong>de</strong>s ribeirinhas do Vale do Ipojuca. Essa prática era percebida como uma ativida<strong>de</strong><br />

doméstica. As louceiras produziam panelas, moringas, potes e jarras <strong>de</strong>stinados ao uso doméstico.<br />

Ape<strong>nas</strong> o exce<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> produção era disponibilizado para o comércio (LIMA, 2001).<br />

O processo <strong>de</strong> confecção <strong>de</strong>sses artigos permaneceu inalterado por muitos anos e até hoje se<br />

verifica ape<strong>nas</strong> discretas transformações. As mulheres eram responsáveis pela extração <strong>de</strong> argila das<br />

margens mais secas do rio. Posteriormente, o material era trabalhado a fim <strong>de</strong> se retirar as<br />

impurezas e transformá-lo em uma substância fina comparável ao grão da areia (LONZA, 2009).<br />

Mais tar<strong>de</strong>, o barro era misturado à água até obter-se um material homogêneo e maleável que<br />

garantia a <strong>de</strong>finição das peças. Após esculpidas, secavam à sombra por vários dias e só <strong>de</strong>pois<br />

estavam prontas para o processo <strong>de</strong> queima.<br />

Lima (2001) aponta aspectos que influenciaram a tradição ceramista nessa região. O<br />

primeiro é prática da cerâmica cariri – povo que habitou esse espaço geográfico até a chegada dos<br />

colonizadores e que trabalhava o barro para fins utilitários como cozer e armazenar os alimentos.<br />

Para a autora, os métodos <strong>de</strong> extração e manipulação da argila são típicos <strong>de</strong>ssa comunida<strong>de</strong>. A<br />

segunda influência seria recebida dos negros e colonizadores portugueses, após expulsão dos<br />

70


holan<strong>de</strong>ses, através do processo da queima dos utensílios em alta temperatura e por um longo<br />

período <strong>de</strong> exposição.<br />

Acredita-se que essa prática foi sendo transmitida <strong>de</strong> geração a geração através da<br />

observação direta e relatos orais que aos poucos se incorporaram nos costumes dos moradores da<br />

região (LONZA, 2009). Nesse sentido, há uma personagem que colaborou para a transformação da<br />

prática ceramista do interior pernambucano, o Mestre Vitalino Pereira dos Santos, que <strong>nas</strong>ceu em<br />

1907, filho <strong>de</strong> um agricultor e <strong>de</strong> uma louceira, que quando criança i<strong>de</strong>alizou sua primeira escultura<br />

batizada <strong>de</strong> ―um caçador <strong>de</strong> gato maracajá‖ (RIBEIRO, 1972). Com os anos, sua habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

transformar o barro do rio Ipojuca em peças que retratavam costumes, crenças e hábitos típicos do<br />

agreste pernambucano cativaram um número cada vez maior <strong>de</strong> pessoas (BARBALHO, 1984).<br />

Essa repercussão positiva fez crescer a <strong>de</strong>manda por suas peças, obrigando-o a acelerar o<br />

ritmo <strong>de</strong> produção. Com a intenção <strong>de</strong> facilitar a confecção <strong>de</strong> suas peças, o Mestre se transfere para<br />

o Alto do Moura, espaço que possui uma área composta <strong>de</strong> barro <strong>de</strong> ótima qualida<strong>de</strong> e que, por isso,<br />

já continha um certo número <strong>de</strong> louceiras.<br />

Lima (2001, p.75) afirma que a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> Vitalino <strong>de</strong> se mudar para o distrito do Alto do<br />

Moura ―foi o processo <strong>de</strong> transformação <strong>de</strong>ssa comunida<strong>de</strong> num núcleo artesanal <strong>de</strong> cerâmica<br />

figurativa‖. Aos poucos, a produção dos ―bonecos <strong>de</strong> Vitalino‖ absorve o trabalho <strong>de</strong> toda<br />

comunida<strong>de</strong>, que abandona a agricultura como ativida<strong>de</strong> principal e passa a <strong>de</strong>dicar-se às esculturas<br />

em barro como meio <strong>de</strong> subsistência, promovendo suas residências-ofici<strong>nas</strong> como pontos <strong>de</strong> vendas,<br />

configurando o centro <strong>de</strong> artes figurativas do Alto do Moura.<br />

Atualmente, a comunida<strong>de</strong>, que na época <strong>de</strong> Vitalino possuía pouco mais <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>zena <strong>de</strong><br />

casas, tem cerca <strong>de</strong> seis mil habitantes. Na mesma velocida<strong>de</strong> que cresciam a população e produção<br />

<strong>de</strong> barro, exauriam-se as jazidas <strong>de</strong> argila, <strong>de</strong> forma que as áreas <strong>de</strong> 2.732m 2 e 3.073m 2 doadas em<br />

1981 e 1985, respectivamente, pelo governo do estado, foram completamente esgotadas. Sendo<br />

necessária, em 2007, a doação <strong>de</strong> uma reserva que, hoje, é administrada pela associação <strong>de</strong><br />

moradores ABMAAM. Seria o fim do artesanato <strong>de</strong> Vitalino? (SILVA, 2010).<br />

Em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas transformações, escolheu-se a comunida<strong>de</strong> do Alto do Moura como<br />

objeto empírico para discutir a sustentabilida<strong>de</strong> do <strong>de</strong>senvolvimento a partir da sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

local. Como corte epistêmico, adotou-se o paradigma da complexida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Morin (2008a), por<br />

atrelar, a partir da transdisciplinarida<strong>de</strong>, o reconhecimento da diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> culturas e saberes.<br />

3. Sustentabilida<strong>de</strong> e diversida<strong>de</strong> à luz do pensamento complexo<br />

Na obra Saberes globais e saberes locais, Edgar Morin (2008a) discorre que a concepção <strong>de</strong><br />

sustentabilida<strong>de</strong>não significa, tão somente, um ajuste no mo<strong>de</strong>lo racional <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento atual,<br />

já que no cerne da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> está o princípio <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong>, que por sua vez é<br />

71


antagônico ao princípio <strong>de</strong> maximização do ganho, <strong>de</strong> viés individualista e competitivo,<br />

característico do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento capitalista (OLIVEIRA, 2006). Morin (2008a) chama<br />

a atenção para a dimensão complexa da crise <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong>, pois envolve aspectos<br />

inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes como o ecológico, político, social, humano, ético, moral, étnico e religioso,<br />

exigindo o entendimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento para além do mo<strong>de</strong>lo racional <strong>de</strong> industrialização.<br />

Nesse sentido, o <strong>de</strong>senvolvimento perpassa pela compreensão <strong>de</strong> que os valores <strong>de</strong><br />

cidadania, solidarieda<strong>de</strong> e cooperação <strong>de</strong>vem sobrepor-se aos interesses individualistas, quando<br />

então perceberemos que o saber indígena e das comunida<strong>de</strong>s locais <strong>de</strong>ve ser tratado não nos mol<strong>de</strong>s<br />

colonialistas <strong>de</strong> apropriação e sim como um saber que po<strong>de</strong> beneficiar a humanida<strong>de</strong>.<br />

Não menos importante é a construção do conceito <strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> em meio a essa crise <strong>de</strong><br />

paradigmas, consi<strong>de</strong>rado como fundamental para o diálogo cultural e entre os saberes, assim como<br />

para a construção <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> sustentável (FERIOTTI; CAMARGO, 2008).<br />

A concepção <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> do <strong>de</strong>senvolvimento po<strong>de</strong> então ser traduzida no simples e<br />

completo entendimento que o lí<strong>de</strong>r indígena Marcos Terena apresentou em diálogo com Edgar<br />

Morin: ―Tudo o que construirmos hoje vai recair sobre os seres humanos futuros‖ (MORIN, 2008a,<br />

p. 22). De fato, essa compreensão, aparentemente óbvia, ainda não adquiriu substância como guia<br />

norteador da ação humana, pois que o interesse particularista continua a pesar na balança.<br />

Consequentemente, incorporar na socieda<strong>de</strong> esse anseio <strong>de</strong> preservar o ambiente para as<br />

gerações futuras torna a sustentabilida<strong>de</strong> uma questão ética, significando uma ecologização do<br />

pensamento como propôs Edgar Morin, <strong>de</strong> modo a estabelecer um espaço <strong>de</strong> reflexão acerca da<br />

evolução conjunta do homem e do planeta (SACHS, 2008).<br />

Sachs (2008) também explica que o <strong>de</strong>senvolvimento dos povos significa o processo <strong>de</strong><br />

apropriação <strong>de</strong> direitos individuais e coletivos, como o direito ao meio ambiente, harmonizando-se<br />

com a concepção <strong>de</strong> Morin (2008a) sobre sustentabilida<strong>de</strong> para além <strong>de</strong> ambiental, avançando para<br />

uma visão mais ampla que se refere, por exemplo, ao potencial <strong>de</strong> manter a paz.<br />

Soma-se a essa visão, o entendimento <strong>de</strong> que o respeito à diversida<strong>de</strong> cultural é um aspecto<br />

crucial à manutenção <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> sustentável, por significar a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> enxergar o valor<br />

do outro e <strong>de</strong> não <strong>de</strong>sejar controlá-lo (SHIVA, 2001), abrindo passagem para as relações solidárias,<br />

sem se sobrepor ao outro, numa configuração que segundo Hall (2011), articule o global e o local.<br />

Diante <strong>de</strong>ssa multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aspectos relacionados ao conceito <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong>, Sachs<br />

(2008) aponta o eco<strong>de</strong>senvolvimento como mecanismo <strong>de</strong> conservação da biodiversida<strong>de</strong>, através<br />

da gestão negociada e contratual do uso e dos benefícios da biodiversida<strong>de</strong> entre comunida<strong>de</strong> e<br />

governo locais. Esse mecanismo não é novida<strong>de</strong> no sentido amplo, entretanto chama atenção pela<br />

inserção do planejamento local e participativo que reconheça as necessida<strong>de</strong>s da comunida<strong>de</strong><br />

(agente ativo do processo), combinando saber local à ciência mo<strong>de</strong>rna.<br />

72


Nesse sentido, <strong>de</strong>staca-se que a ciência mo<strong>de</strong>rna trouxe avanços permitindo aten<strong>de</strong>r às<br />

necessida<strong>de</strong>s sociais <strong>de</strong> modo elucidativo e triunfante até certo ponto. Essa ciência tida como<br />

libertadora também <strong>de</strong>termina o conhecimento e o comportamento da socieda<strong>de</strong>, com possibilida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> subjugação. E o seu arranjo em discipli<strong>nas</strong> tanto traz a vantagem da divisão do trabalho como<br />

fragmenta e enclausura o saber, que ao separar o espírito e a cultura das ciências da natureza, nos<br />

remete a crer que estamos vivenciando um neo-obscurantismo generalizado (MORIN, 2008b).<br />

O pensamento complexo oferece assim uma visão alternativa da realida<strong>de</strong>, que incentiva o<br />

pensamento inovador, indo <strong>de</strong> encontro à simplificação, concebendo a articulação dos diferentes<br />

aspectos dos fenômenos sociais, aspirando a multidimensionalida<strong>de</strong> do conhecimento, dando conta<br />

das ―[...] articulações <strong>de</strong>spedaçadas entre discipli<strong>nas</strong>, entre categorias cognitivas e entre tipos <strong>de</strong><br />

conhecimento.‖ (MORIN, 2008b, p. 176-177). Por conseguinte, nos auxilia na compreensão dos<br />

<strong>de</strong>safios constante na relação homem-natureza, consubstanciado na construção <strong>de</strong> um saber<br />

transdisciplinar, ou seja, englobando a diversida<strong>de</strong> cultural que nada mais é que a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

saberes e fazeres.<br />

Ao mesmo tempo, emerge <strong>de</strong>sse contexto <strong>de</strong> transformação, fruto da crise do conhecimento<br />

da década <strong>de</strong> 1960, o que Leff (2010) <strong>de</strong>nomina <strong>de</strong> saber ambiental, que ao <strong>de</strong>slocar-se do<br />

conhecimento positivista – universal e objetivo – situa-se para fora das certezas dos raciocínios<br />

fechados que excluem o ambiente, <strong>de</strong>slocando-se para um pensamento integrador do real que<br />

almeja a sustentabilida<strong>de</strong> da vida. O autor <strong>de</strong>staca a impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se configurar a dimensão<br />

ambiental numa proposta interdisciplinar holística, já que toda disciplina é constituída por estruturas<br />

teóricas e paradigmas que não se transformam num saber holístico com base no pensamento da<br />

complexida<strong>de</strong>. Assim, o problema da interdisciplinarida<strong>de</strong> se <strong>de</strong>sloca para o entendimento das<br />

estratégias <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r contidas no saber que a concepção <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável se<br />

confronta, avançando para um necessário diálogo entre saberes.<br />

Por conseguinte, guiado por essa congruência entre saberes, necessária ao <strong>de</strong>senvolvimento<br />

sustentável, este estudo passará, <strong>nas</strong> seções sequentes, à análise da sustentabilida<strong>de</strong> da relação da<br />

comunida<strong>de</strong> Alto do Moura com o seu entorno, dado que, como já observado, sua principal fonte <strong>de</strong><br />

renda advém do uso dos recursos naturais, sem per<strong>de</strong>r <strong>de</strong> vista a questão da diversida<strong>de</strong> cultural.<br />

4. Abordagem e procedimentos metodológicos<br />

As concepções metodológicas que nortearam esse estudo são <strong>de</strong> caráter qualitativo, visto<br />

que sua intenção é compreen<strong>de</strong>r o significado atribuído a um dado fenômeno a partir da percepção<br />

dos indivíduos (GODOY, 1995). Nesse aspecto, consi<strong>de</strong>ra-se que o estudo qualitativo possibilita a<br />

visão e <strong>de</strong>codificação <strong>de</strong> componentes <strong>de</strong> um sistema complexo <strong>de</strong> significados (MAANEN, 1979).<br />

73


Para Creswell (2007), a pesquisa qualitativa constrói um quadro complexo e holístico ao<br />

analisar palavras e visões dos informantes, utilizando-se <strong>de</strong> cinco tradições metodológicas, das<br />

quais se incluem os estudos narrativos ou biográficos. A pesquisa biográfica caracteriza-se pelo<br />

estudo <strong>de</strong> <strong>de</strong>poimentos, a partir <strong>de</strong> documentos e/ou material arquivado, <strong>de</strong>stacando os momentos<br />

significativos da vida <strong>de</strong> um indivíduo, através <strong>de</strong> documentos vitais (CRESWELL, 2007). Nesses<br />

termos, a opção por essa abordagem apresentou-se como mais a<strong>de</strong>quada à finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste estudo,<br />

uma vez que seu objetivo é compreen<strong>de</strong>r como se dá a relação sustentável entre a comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

artesãos do Alto do Moura e seu entorno.<br />

Com o fim <strong>de</strong> refinar o procedimento metodológico, a pesquisa se consubstanciou <strong>de</strong>ntro<br />

dos estudos narrativos com foco na história oral. De acordo com Portelli (1977), a história oral é ao<br />

mesmo tempo a ciência e a arte do indivíduo, uma vez que padrões culturais, estruturas sociais e<br />

processos históricos são expostos por meio <strong>de</strong> conversas com pessoas acerca <strong>de</strong> suas experiências e<br />

memórias.<br />

A fim <strong>de</strong> selecionar os sujeitos mais significativos para os objetivos do estudo, realizou-se,<br />

como etapa inicial, uma entrevista com o presi<strong>de</strong>nte da Associação <strong>de</strong> Bairro dos Moradores do<br />

Alto do Moura (ABMAAM). A associação possui mais <strong>de</strong> 200 associados, entretanto, parte <strong>de</strong>les<br />

não mais se <strong>de</strong>dica à produção <strong>de</strong> cerâmica, trabalhando ape<strong>nas</strong> na comercialização das peças. Essa<br />

fase permitiu obter a informação <strong>de</strong> que gran<strong>de</strong> parte dos indivíduos pertence a um mesmo grupo<br />

familiar, no qual o trabalho é realizado <strong>de</strong> forma cooperativa, o que restringiu a pesquisa a 15<br />

ofici<strong>nas</strong>-ateliês.<br />

I<strong>de</strong>ntificadas essas ofici<strong>nas</strong>, foram realizadas visitas a fim <strong>de</strong> selecionar mestres artesãos que<br />

se disponibilizassem a participar do estudo. Após explicar o objetivo e o procedimento da pesquisa,<br />

sete artesãos participaram do estudo, os quais, com o objetivo <strong>de</strong> preservar suas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s, serão<br />

doravante reconhecidos como A1, A2, A3, A4, A5, A6 e A7.<br />

No que se refere à coleta <strong>de</strong> dados, Flick (2009) aponta que os dados verbais representam<br />

uma das principais abordagens metodológicas da pesquisa qualitativa. Para o autor, a palavra falada<br />

e os dados que produzem são centrais para os estudos qualitativos. Portelli (1977, p.15), por sua<br />

vez, situa bem a importância da coleta <strong>de</strong> dados quando enfatiza que, ―[...] apesar do trabalho <strong>de</strong><br />

campo ser importante para todas as ciências sociais, a História Oral é, por <strong>de</strong>finição, impossível sem<br />

ele‖.<br />

Nesse contexto, optou-se por utilizar dados multifocais a partir das entrevistas, <strong>de</strong>bruçando-<br />

se sobre as narrativas dos indivíduos coadunadas ao diário <strong>de</strong> campo contendo impressões do<br />

pesquisador acerca do comportamento dos indivíduos. As narrativas foram gravadas com o auxílio<br />

<strong>de</strong> aparelho mp3. Posteriormente, os dados foram tratados utilizando-se a técnica da análise<br />

temática ou categorial. Para Chizzotti (2006, p. 98), ―o objetivo da análise <strong>de</strong> conteúdo é<br />

74


compreen<strong>de</strong>r criticamente o sentido das comunicações, seu conteúdo manifesto ou latente, as<br />

significações explícitas ou ocultas‖.<br />

5. Discussão dos Dados<br />

A utilização das margens do rio Ipojuca como fonte <strong>de</strong> extração <strong>de</strong> argila remete-se à<br />

própria origem da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Caruaru, como aponta Siqueira (2006), provavelmente nenhum outro<br />

munícipio nor<strong>de</strong>stino possui sua imagem tão associada a um bem mineral. Contudo, se a argila<br />

inicialmente foi a via mais sustentável para utilização do rio que não possuía vazão necessária para<br />

o cultivo agrícola, hoje é a própria argila que ten<strong>de</strong> a se tornar um bem escasso.<br />

Caruaru possuía na década <strong>de</strong> 1980 cerca <strong>de</strong> 1.383.000 toneladas <strong>de</strong> reservas <strong>de</strong> argila<br />

(DANTAS, 1980), hoje gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong> suas jazidas, sobretudo as situadas no rio Ipojuca,<br />

encontram-se praticamente esgotadas. ―Os <strong>de</strong>pósitos <strong>de</strong> argilas do rio Ipojuca foram explorados ao<br />

longo dos anos sem estudos prévios ou mínimos critérios <strong>de</strong> lavra, sendo exauridos<br />

predatoriamente‖ (SIQUEIRA, 2006) e gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>sse material foi utilizada pelas olarias da<br />

região na fabricação <strong>de</strong> tijolos e telhas.<br />

Nesse contexto, a comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> artesãos do Alto do Moura começa a vivenciar uma nova<br />

realida<strong>de</strong>, na qual a relação com seu entorno passa a ser reformatada. Assim, a partir das narrativas<br />

dos artesãos, discutiu-se o que se enten<strong>de</strong> por sustentabilida<strong>de</strong> e como se dá a compreensão <strong>de</strong>sses<br />

indivíduos quanto à exiguida<strong>de</strong> dos recursos naturais.<br />

5.1 Sustentabilida<strong>de</strong>: aspectos inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e interpenetrantes<br />

Na concepção <strong>de</strong> Morin (2008b), não po<strong>de</strong>mos conceber a sustentabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> forma<br />

estanque ou reduzi-la a um aspecto puramente ambiental. Para o autor, a sustentabilida<strong>de</strong> do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento carrega uma estrutura para além das concepções convencionais capitalistas. Os<br />

processos sustentáveis <strong>de</strong>vem ser analisados em sua estrutura <strong>de</strong> produção coadunados aos fatores<br />

ecológico, político, social, humano, ético, moral, étnico e religioso.<br />

Pautado nesse conceito <strong>de</strong> Morin (2008a), buscou-se reconstruir, a partir das narrativas, o<br />

início do processo <strong>de</strong> produção ceramista e, por conseguinte, o processo <strong>de</strong> extração <strong>de</strong> argila na<br />

bacia do Ipojuca.<br />

Nesse aspecto, verifica-se que a tradição na produção <strong>de</strong> artefatos cerâmicos sempre esteve<br />

presente na região do Alto do Moura, antes conhecida como região <strong>de</strong> Taquara. Contudo, é a vinda<br />

do mestre Vitalino que re<strong>de</strong>fine o padrão das peças produzidas, ocorrendo um predomínio do<br />

artesanato figurativo. O processo <strong>de</strong> extração e refinamento da argila era realizado rusticamente<br />

como aponta o extrato <strong>de</strong> fala:<br />

75


A5: Aqui no Alto do Moura na época <strong>de</strong> Vitalino os primeiros artesãos<br />

traziam o barro bruto no carro <strong>de</strong> mão ou nos animais. Chegava em casa<br />

colocava pouca água e ficava apurado em dois ou três dias o barro <strong>de</strong>pois<br />

pilava com o pilão ou com os pés.<br />

Atualmente, o uso <strong>de</strong> alguns equipamentos tem auxiliado nesse processo. Entretanto, ao<br />

mesmo tempo em que esses instrumentos dão maior agilida<strong>de</strong> à produção, seu uso indiscriminado<br />

também contribui na exaustão das jazidas.<br />

A5: Tirar o barro na enxada é serviço pesado. Agora não tem trator para<br />

tirar. E <strong>de</strong>pois que era preciso amassar tudo com o pé. Agora passa tudo na<br />

máquina forrageira e facilitou <strong>de</strong>mais. Hoje tem máquina para tudo.<br />

A2: Se agente não tivesse a área do governo que a associação administra<br />

agente corria o risco <strong>de</strong> ficar sem barro. Até Vitalino dizia que o artesão<br />

podia se atrapalhar e ficar sem barro para trabalhar, ele já via que a<br />

comunida<strong>de</strong> tava crescendo.<br />

O processo <strong>de</strong> extração do barro no Alto do Moura <strong>de</strong>u-se <strong>de</strong> maneira pouco organizada, <strong>de</strong><br />

forma que a primeira área <strong>de</strong> extração cedida pelo governo do estado foi invadida por habitações e a<br />

parte restante foi exaurida, sendo necessária uma segunda doação que, atualmente, é administrada<br />

pela associação. Sachs (2008) contribui com sua visão no entendimento <strong>de</strong>sse fenômeno,<br />

configurado na dicotomia <strong>de</strong>senvolvimento versus sustentabilida<strong>de</strong>, ao <strong>de</strong>finir que qualquer<br />

<strong>de</strong>senvolvimento que se direcione a aspectos puramente instrumentais, que não se paute na<br />

preservação dos direitos individuais e coletivos dificilmente preservará o patrimônio da<br />

humanida<strong>de</strong>.<br />

Em face <strong>de</strong>ssa problemática, buscou-se um aprofundamento sobre a percepção <strong>de</strong>sses<br />

indivíduos em relação ao seu entorno, na tentativa <strong>de</strong> conhecer os significados atribuídos ao uso e<br />

preservação dos recursos e espaços daquela comunida<strong>de</strong>. Os artesãos foram indagados sobre como<br />

enxergam sua comunida<strong>de</strong> e os recursos e qual a importância <strong>de</strong>sses elementos em sua vida.<br />

A1: Eu não me vejo morando em outro lugar, <strong>nas</strong>ci aqui, tive filho, <strong>de</strong>ixei<br />

que eles escolhessem se queria trabalhar comigo com o artesanato ou fazer<br />

outra coisa. Eles ficaram aqui porque trabalho com barro é bom <strong>de</strong>mais.<br />

A3: O Alto do Moura, no meu entendimento, é uma riqueza. Um lugar<br />

tranquilo, que me <strong>de</strong>u meu ofício. Por que se eu não tivesse aqui, e aí? Vem<br />

76


sempre gente aqui ver o meu trabalho, querer saber como faz, é gente do país<br />

todo. Então, agente fica feliz, né?<br />

Dada a importância atribuída a esse espaço, os artesãos foram perguntados sobre como são<br />

utilizados os recursos disponíveis na comunida<strong>de</strong> e se, ao longo dos anos, existiu alguma mudança<br />

nesse uso. Muitos artesãos remeteram-se, nostalgicamente, ao período em que o rio Ipojuca era<br />

melhor utilizado pela comunida<strong>de</strong>, ao mesmo tempo em que indicaram que com o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

da comunida<strong>de</strong> muitas pessoas se distanciaram cada vez mais do recursos naturais, passando a<br />

percebê-los como algo longínquo do seu cotidiano, mesmo a comunida<strong>de</strong> tendo sua gênese e<br />

<strong>de</strong>senvolvimento imbricados na proximida<strong>de</strong> com esses recursos. Nesse aspecto, os apontamentos<br />

dos artesãos muito se aproximam da concepção teórica <strong>de</strong> Leff (2010), quando este <strong>de</strong>staca que<br />

ainda há um predomínio <strong>de</strong> uma concepção <strong>de</strong> natureza como insumo, na qual as relações entre o<br />

ser humano e seu ambiente foram <strong>de</strong>snaturalizadas. Os extratos <strong>de</strong> fala abaixo expressam <strong>de</strong> forma<br />

mais clara esse processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>snaturalização.<br />

A7- A sujeira já vem lá <strong>de</strong> cima, aí o povo vê sujo e pronto pensa que é<br />

assim.<br />

A4: Foi invadido o rio, antes o rio era rio. Minha mãe falava que na época<br />

que quando ela era garota, hoje ela tem 84 anos, as mulheres usavam o rio<br />

pra tudo, lavavam louça, roupa, levava para cozinhar... a água era bem<br />

limpinha. Como não tinha água (encanada) agente usava o rio para tudo.<br />

Agora <strong>de</strong>pois que chegou água (sistema saneamento) o povo não se preocupa<br />

tanto com o rio, porque acha que não precisa mais.<br />

A6: O pessoal lá na cida<strong>de</strong> polui o rio e agente vê o resultado aqui. Mas veja<br />

só, Vitalino já sabia que as coisas estavam mudando, ele mesmo dizia que<br />

tinha que ter um lugar só para artesão usar para tirar barro porque se acabar o<br />

barro acaba o trabalho, digo assim <strong>de</strong> quase 90% do povo daqui.<br />

Evi<strong>de</strong>ncia-se que esse processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>snaturalização é fruto do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>senvolvimentista<br />

antropocêntrico e economicista, no qual o progresso emana da exploração dos recursos naturais<br />

percebidos como fontes infinitas <strong>de</strong> crescimento econômico (BECKER, 1994). Com efeito, houve<br />

uma ruptura na relação harmônica da população com seu ambiente, que passa a ser visto como um<br />

elemento distante que pouco interfere na dinâmica <strong>de</strong> seu cotidiano. Entretanto, o ambiente tem<br />

respondido rapidamente a esse processo <strong>de</strong> exploração, como aponta Leff (2001), ao visualizar um<br />

futuro <strong>de</strong> escassez generalizada que gera questionamentos acerca dos paradigmas clássicos, o que<br />

77


levou a socieda<strong>de</strong> a refletir sobre a racionalida<strong>de</strong> do nosso sistema <strong>de</strong> produção, bem como acerca<br />

dos valores e conhecimentos que o sustentam.<br />

Convergente a essa perspectiva, os artesãos percebem muitos equívocos no uso dos recursos<br />

ambientais por parte da comunida<strong>de</strong>, tanto na extração do barro que antes era obtido <strong>de</strong> forma<br />

menos predatória quanto no processo <strong>de</strong> queima das peças que antes era realizado ape<strong>nas</strong> com um<br />

tipo <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira <strong>de</strong>nominada por eles <strong>de</strong> garoba, uma espécie <strong>de</strong> graveto, que por não ter proveito<br />

algum era utilizado como lenha para os fornos artesanais.<br />

Por fim, todos os entrevistados apontaram para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma mudança <strong>de</strong> hábitos<br />

que promova uma relação mais harmônica do uso dos recursos e a ca<strong>de</strong>ia produtiva do artesanato,<br />

assim como entre comunida<strong>de</strong> e a preservação das áreas naturais. O extrato <strong>de</strong> fala abaixo sintetiza<br />

a clareza com que os artesãos enxergam seu entorno, bem como o processo simbiótico comunida<strong>de</strong>-<br />

ambiente e ambiente-comunida<strong>de</strong>.<br />

6. Conclusões e implicações em torno da sustentabilida<strong>de</strong><br />

A2: Isso daqui (o artesão apontando para a direção do rio) é a vida da<br />

comunida<strong>de</strong>, se o povo não cuida o que vai ser da população do Alto do<br />

Moura que vive do barro. Porque o que tá acontecendo é que o rio hoje<br />

aterrou tanto que quando dá cheia até a praça aqui enche. E aí o que<br />

acontece? O rio fica com muita areia e vai jogar para cima do barro. Agora,<br />

isso é o caminho <strong>de</strong> direito do rio, as pessoas que não estão sabendo cuidar...<br />

Eu penso pra mim, quando agente trabalha, mesmo sem estudo, agente passa<br />

a enten<strong>de</strong>r a matéria-prima que a gente trabalha, agente sabe das coisas que<br />

agente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>. Tem que ter responsabilida<strong>de</strong>, né? Agente vive disso.<br />

Evi<strong>de</strong>nciou-se que a reflexão acerca da sustentabilida<strong>de</strong> do <strong>de</strong>senvolvimento relacionada à<br />

estratégia do pensamento complexo permitiu compreen<strong>de</strong>r as diversas dimensões do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento sustentável, que requer um saber ambiental que pense e critique os mo<strong>de</strong>los atuais<br />

<strong>de</strong> conhecimento e <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento em crise. O pensamento da complexida<strong>de</strong>, pelas suas<br />

origens e por sua inovadora forma <strong>de</strong> pensar a complexida<strong>de</strong> do ambiente e do conhecimento,<br />

ofereceu as bases para analisar a relação dos artesãos do Alto do Moura com o seu ambiente,<br />

fornecendo um olhar não redutor para os aspectos distintos <strong>de</strong>ssa relação.<br />

A partir do método da história oral foi possível reconstruir a relação <strong>de</strong>ssa comunida<strong>de</strong> com<br />

o seu entorno, evi<strong>de</strong>nciando a existência <strong>de</strong> uma relação simbiótica entre eles, convergente à<br />

perspectiva do paradigma da complexida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Morin (2008b). Entretanto, esse entendimento<br />

passou por um longo processo <strong>de</strong> maturação, haja vista que no processo histórico <strong>de</strong>ssa comunida<strong>de</strong><br />

esteve presente, por vezes, o uso ina<strong>de</strong>quado dos recursos (exaustão das jazidas <strong>de</strong> argila).<br />

78


Outra questão importante é que, apesar <strong>de</strong> estar presente no imaginário da comunida<strong>de</strong> uma<br />

consciência sustentável acerca da relação homem-natureza, <strong>de</strong>staca-se a insipiência das ações<br />

voltadas para o eco<strong>de</strong>senvolvimento, com base numa gestão negociada e contratual do uso e dos<br />

benefícios dos recursos naturais entre comunida<strong>de</strong> e governo locais, que é um mecanismo<br />

alternativo para a condução <strong>de</strong> estratégias sustentáveis, como bem menciona Sachs (2008). Um dos<br />

motivos que po<strong>de</strong>m explicar essa escassez <strong>de</strong> ações é a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> se construir um diálogo<br />

constante entre esses dois atores. No dizer <strong>de</strong> Feriotti e Camargo (2008), um diálogo que possibilite<br />

uma interação criativa e solidária sem aniquilar a diversida<strong>de</strong> cultural, que promova novas<br />

possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> construção da realida<strong>de</strong>.<br />

Não menos importante, o estudo da relação comunida<strong>de</strong>/entorno <strong>de</strong>ve ser visto como uma<br />

iniciativa para que se compreenda que os limites históricos (diálogo insipiente entre comunida<strong>de</strong> e<br />

governo) po<strong>de</strong>m ser vencidos pelo <strong>de</strong>svelar das necessida<strong>de</strong>s e dos sofrimentos vivenciados por<br />

essa comunida<strong>de</strong> (FERIOTTI; CAMARGO, 2008), mas sem per<strong>de</strong>r <strong>de</strong> vista a diversida<strong>de</strong> nessa<br />

busca pela verda<strong>de</strong>. Por fim, ao explorar sinteticamente o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável a partir da<br />

abordagem do paradigma da complexida<strong>de</strong>, tendo por espaço empírico uma comunida<strong>de</strong> local,<br />

almeja-se <strong>de</strong>spertar o interesse <strong>de</strong> pesquisadores em aprofundarem essa temática, <strong>de</strong> modo que<br />

impulsione ações sustentáveis envolvendo a multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> saberes <strong>de</strong> modo transdisciplinar.<br />

Referências<br />

BARBALHO, N. País <strong>de</strong> Caruaru. Subsídios para a história do agreste. Caruaru, FAFICA, 1984.<br />

BECKER, B. K. A Amazônia pós-ECO-92: por um <strong>de</strong>senvolvimento regional sustentável. In:<br />

BURSZTYN, M. (Org).Para pensar o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável. São Paulo: Brasiliense,1994.<br />

CONDEPE. Agência Estadual <strong>de</strong> Planejamento e Pesquisas <strong>de</strong> Pernambuco. Bacia Hidrográfica do<br />

Rio Ipojuca. (Série Bacias Hidrográficas <strong>de</strong> Pernambuco, n. 1) Recife, 2005.<br />

CRESWELL, J.W. Qualitative inquiry and research <strong>de</strong>sign: choosing among five approaches. 2 ed.<br />

Thousand Oaks: Sage Publications, 2007.<br />

DANTAS, J. R. A. Mapa geológico do Estado <strong>de</strong> Pernambuco. Brasil DNPM, p. 51, 1980.<br />

FERIOTTI, M. L.; CAMARGO, D. M. P. Diversida<strong>de</strong>, educação, cultura e sustentabilida<strong>de</strong>:<br />

relacionando conceitos. O Mundo da Saú<strong>de</strong>, São Paulo, v. 32, n. 3, jul./set., 2008.<br />

FLICK, U. Introdução à pesquisa qualitativa. 3 ed. Porto Alegre: Bookman/Artmed, 2009.<br />

GODOY, A. S. Introdução à pesquisa qualitativa e suas possibilida<strong>de</strong>s. Revista <strong>de</strong> Administração<br />

<strong>de</strong> Empresas, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 35, n. 2, p. 57-63, mar./abr., 1995.<br />

HALL, S. A i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cultural na pós-mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. 11 ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: DP&A, 2011.<br />

79


HARVEY, D. Justice, Nature & the Geography of Difference. Oxford UK: Blackwell, 1996.<br />

LEFF, E. Saber ambiental: sustentabilida<strong>de</strong>, racionalida<strong>de</strong>, complexida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>r. 2 ed. Petrópolis,<br />

RJ: Vozes, 2001.<br />

LEFF, E. Epistemologia ambiental. 5 ed. São Paulo: Cortez, 2010.<br />

LIMA, S. F. Invenção e Tradição: um olhar plural sobre a arte figurativa do Alto do Moura.<br />

Dissertação (Mestrado em Multimeios). Campi<strong>nas</strong>, Unicamp, 2000.<br />

LIMONAD, E. Questões ambientais contemporâneas, uma contribuição ao <strong>de</strong>bate. In: II ANPPAS,<br />

2004, Indaiatuba - SP. Anais da II ANPPAS. Campi<strong>nas</strong>: ANPPAS, 2004.<br />

LONZA, F. Arte popular em natura. Rio <strong>de</strong> Janeiro. Editora Réptil. 2009.<br />

MAANEN, J. V. Reclaiming qualitative methods for organizational research: a preface.<br />

Administrative Science Quarterly, v. 24, n. 4, December 1979.<br />

MORIN, E. Saberes globais e saberes locais: o olhar transdisciplinar. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Garamond,<br />

2008a.<br />

MORIN, E. Ciência com consciência. 12 ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Bertrand Brasil, 2008b.<br />

OLIVEIRA, M. O. Desmercantilizar a tecnociência. In: SANTOS, Boaventura <strong>de</strong> Sousa (Org.).<br />

Conhecimento pru<strong>de</strong>nte para uma vida <strong>de</strong>cente: um discurso sobre as ciências revisitado. 2 ed. São<br />

Paulo: Cortez, 2006, p. 241-265.<br />

PORTELLI, A. Tentando apren<strong>de</strong>r um pouquinho. Algumas reflexões sobre a ética na História<br />

Oral. Revista Projeto História, São Paulo, n. 15, abr., 1997.<br />

RIBEIRO, R. Vitalino. Um ceramista popular do nor<strong>de</strong>ste. Recife: FUNDAJ, 2 ed., 1972.<br />

SACHS, I. Caminhos para o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Garamond, 2008.<br />

SHIVA, V. Biopirataria: a pilhagem da natureza e do conhecimento. Petrópolis: Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Vozes, 2001.<br />

SILVA, L. P. Esgotamento das jazidas no Alto do Moura – Caruaru- PE. Fim do artesanato <strong>de</strong><br />

Vitalino? Encontro Nacional <strong>de</strong> geógrafos. AGB. Porto Alegre, 2010.<br />

SIQUEIRA, L. M. P. S. Consi<strong>de</strong>rações sobre a argila e materiais argilosos do município <strong>de</strong><br />

Caruaru- PE e sua importância socioeconômica. Revista Estudos geológicos, v. 16, n. 1, 2006.<br />

VEIGA, J. E. Desenvolvimento Sustentável e o Desafio do Século XXI. São Paulo: Garamond,<br />

1998.<br />

80


OS CONDOMÍNIOS RESIDENCIAIS FECHADOS DE BANANEIRAS-PB: UMA REFLEXÃO<br />

RESUMO<br />

Edinilza Barbosa dos SANTOS<br />

Professora - IFPB Campus Cabe<strong>de</strong>lo (edinilza@yahoo.com.br)<br />

Maria Roméria Ramiro da SILVA<br />

Licenciada em Geografia – UEPB (julialuna06@hotmail.com)<br />

Este trabalho é resultante <strong>de</strong> parte <strong>de</strong> uma pesquisa realizada para a elaboração <strong>de</strong> um trabalho <strong>de</strong><br />

conclusão do curso <strong>de</strong> licenciatura em Geografia, na Universida<strong>de</strong> Estadual da Paraíba, Centro <strong>de</strong><br />

Humanida<strong>de</strong>, no campus <strong>de</strong> Guarabira. O mesmo teve como objetivo, fazer uma reflexão sobre o<br />

impacto com a implantação <strong>de</strong>sse novo tipo <strong>de</strong> moradia para o município e sua população, levando<br />

em consi<strong>de</strong>ração alguns aspectos, como a cultura local e a geografia do município. Para melhor<br />

compreensão da temática em questão foi realizado além <strong>de</strong> levantamento bibliográfico, pesquisa <strong>de</strong><br />

campo, com observações in locu, aplicação <strong>de</strong> questionários com os comerciantes da cida<strong>de</strong> e com<br />

moradores <strong>de</strong> condomínios fechados. Após a análise <strong>de</strong> todo material levantado e nossas<br />

observações, percebemos o quanto os ―novos‖ empreendimentos <strong>de</strong> moradia e <strong>de</strong> lazer têm<br />

modificado a paisagem local do município <strong>de</strong> Bananeiras, com <strong>de</strong>smatamentos e construções <strong>de</strong><br />

prédios e estradas; tais empreendimentos <strong>de</strong>mandam uma necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> mais água,<br />

mais energia elétrica e maior produção <strong>de</strong> esgoto e lixo; e, <strong>de</strong>ntre outras questões, <strong>de</strong>stacamos<br />

também o impacto cultural, com outras necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> consumo, outros hábitos diferentes<br />

daqueles da população local, na qual constituem um elemento <strong>de</strong> segregação. Percebemos, portanto,<br />

que muitas questões precisam ser avaliadas antes da aprovação <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s empreendimentos <strong>de</strong><br />

moradia e <strong>de</strong> lazer para uma cida<strong>de</strong> pequena como Bananeiras.<br />

PALAVRAS-CHAVE: Condomínios Resi<strong>de</strong>nciais. Segregação Espacial. Transformação.<br />

ABSTRACT<br />

This work is a result of part of a research realized for the elaboration of an essay for the conclusion<br />

of the Geography Major in The State University of ―Paraíba‖ (a Brazilian State), Humanity Center,<br />

in ―Guarabira‖ Campus. It aims at reflecting about the impact of the implantation of a new kind of<br />

housing and leisure en<strong>de</strong>avor for ―Bananeiras‖ town and its population. This study consi<strong>de</strong>red some<br />

cultural local aspects as well as the geographical characteristics of the place. For a better<br />

un<strong>de</strong>rstanding of the theme of this study, a collection of data was realized together with field<br />

81


esearch, in locus observation and applied questionnaires with local tra<strong>de</strong>rs and resi<strong>de</strong>nts of the<br />

closed condominiums. After the analysis of all the material collected, consi<strong>de</strong>ring our observations,<br />

we realized how the ―new‖ housing and leisure modality has modified the natural landscape of the<br />

town of ―Bananeiras‖ with the <strong>de</strong>forestation and the construction of buildings and roads. Such<br />

business ventures <strong>de</strong>mand a great necessity of water consumption, energy and also cause a greater<br />

production of waste and sewage. And, among other issues, we point out the cultural impact caused<br />

by these new habitants concerning consumption needs and different habits from the local<br />

population, which, from our point of view, constitutes a segregation element. We, therefore,<br />

perceived that many issues need to be evaluated before the approval of great housing and leisure<br />

en<strong>de</strong>avors in such a small town like ―Bananeiras‖.<br />

KEY WORDS: Resi<strong>de</strong>ntial Condominiums. Spatial Segregation.Transformation.<br />

INTRODUÇÃO<br />

Este texto é resultante <strong>de</strong> parte <strong>de</strong> uma pesquisa realizada para a elaboração <strong>de</strong> um trabalho<br />

<strong>de</strong> conclusão do curso <strong>de</strong> licenciatura em Geografia, na UEPB, Centro <strong>de</strong> Humanida<strong>de</strong>, no<br />

município <strong>de</strong> Guarabira. O mesmo teve como objetivo, fazer uma reflexão sobre o impacto com a<br />

implantação <strong>de</strong>sse novo tipo <strong>de</strong> moradia para o município, levando em consi<strong>de</strong>ração alguns<br />

aspectos, como: estamos tratando <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pequeno porte (21.851 habitantes, segundo o<br />

IBGE, 2010) do interior do estado da Paraíba; é uma cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> clima mais ameno (frio úmido) em<br />

relação a maioria dos municípios da mesorregião do Agreste Paraibano e Microrregião do Brejo<br />

Paraibano, <strong>de</strong>vido sua altitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> 526 metros, localizada no planalto da Borborema.<br />

Continuando esta breve apresentação da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Bananeiras, a mesma se <strong>de</strong>senvolveu<br />

por "traz" da igreja matriz Nossa Senhora do Livramento, em virtu<strong>de</strong> do rio Bananeiras que se<br />

localiza na área mais baixa da cida<strong>de</strong>, e também em razão do relevo mo<strong>de</strong>radamente ondulado. Já a<br />

colonização do Município <strong>de</strong> Bananeiras iniciou-se na segunda ou terceira década do século XVII.<br />

A cida<strong>de</strong> foi ocupada em 1624 por donatários que usavam terras para criar gado e também para a<br />

implantação <strong>de</strong> engenhos movidos a água (IBGE, 2010).<br />

No centro da cida<strong>de</strong> estão construídos vários prédios antigos, esse patrimônio histórico -<br />

resultado da opulência histórica vivida pela aristocracia local - é fruto <strong>de</strong> um tempo muito<br />

importante para a cida<strong>de</strong>, final do século XVIII, on<strong>de</strong> o municipio foi o maior produtor <strong>de</strong> café do<br />

estado da Paraíba e também o segundo da região nor<strong>de</strong>ste, fortalecendo assim sua economia local<br />

(GOUVÊA, 2006). O café produzido em Bananeiras era <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong> que rivalizava com o café<br />

<strong>de</strong> São Paulo, mas a dificulda<strong>de</strong> com o transporte tornava difícil a sua comercialização. Hoje o<br />

82


município vem investindono turismo e consequentemente em empreendimentos imobiliários, na<br />

qual os gestores públicos consi<strong>de</strong>ram que há boas perspectivas <strong>de</strong> mudanças econômicas.<br />

A cida<strong>de</strong> foi crescendo gradativamente e se espraiando em outras direções, como a parte<br />

mais alta da cida<strong>de</strong>, logo chamada <strong>de</strong> cida<strong>de</strong> alta. Por este crescimento, por sua cultura, seu<br />

potencial natural e arquitetônico a cida<strong>de</strong> vem sendo reconhecida como uma cida<strong>de</strong> turística, o que<br />

está chamando a atenção <strong>de</strong> empresários que estão investindo massissamente em empreendimentos<br />

que venham a atenter os visitantes <strong>de</strong> outras regiões, estados e até mesmo <strong>de</strong> outros paises.<br />

Para melhor compreensão da temática em questão foi realizado além <strong>de</strong> levantamento<br />

bibliográfico, pesquisa <strong>de</strong> campo, com observações in locu, aplicação <strong>de</strong> questionários com os<br />

comerciantes da cida<strong>de</strong> (a on<strong>de</strong> foram aplicados 23 questionários) e com moradores <strong>de</strong> condomínios<br />

fechados, na qual foi possível aplicar ape<strong>nas</strong> 4 questionários, haja vista a dificulda<strong>de</strong> para colher<br />

informações <strong>de</strong>ste seguimento da população.<br />

O SURGIMENTO DOS CONDOMÍNIOS FECHADOS<br />

São visíveis as mudanças pelas quais passa o espaço, especificamente o espaço urbano e<br />

isso é <strong>de</strong> suma importância para a vida humana. O crescimento das cida<strong>de</strong>s é uma característica que<br />

marca o processo <strong>de</strong> ocupação e produção do indivíduo na busca por melhores condições <strong>de</strong> vida. E<br />

como enfatiza Santos (2008, p. 09), "A cida<strong>de</strong>, enquanto construção humana, é um produto<br />

histórico-social e nesta dimensão aparece como trabalho materializado, acumulado ao longo do<br />

processo histórico <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> gerações‖.<br />

Nesta perspectiva os condomínios resi<strong>de</strong>nciais e <strong>de</strong> lazer, atualmente vêm, <strong>de</strong> certa forma,<br />

transformando cida<strong>de</strong>s, para aten<strong>de</strong>r às necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> produção da socieda<strong>de</strong>. Sejam eles <strong>de</strong> lazer,<br />

resi<strong>de</strong>nciais, horizontais ou verticais constituemuma nova forma <strong>de</strong> moradia que tem conquistado<br />

muitas pessoas, mas, pessoas que po<strong>de</strong>m pagar o valor diferenciado <strong>de</strong>sse espaço, em razão <strong>de</strong> uma<br />

segurança, ou falsa segurança, que po<strong>de</strong>m proporcionar aos condôminos. Murados, tranquilos, com<br />

um número reduzido <strong>de</strong> pessoas, carros, torna-se uma ―forma saudável‖ <strong>de</strong> se viver. Aliás,<br />

acreditamos que o elemento violência é um dos fatores que mais influencia uma pessoa a procurar<br />

este tipo <strong>de</strong> moradia, como, <strong>de</strong> fato foi apontado na nossa pesquisa, além <strong>de</strong> um contato mais direto<br />

com a natureza e o sossego que este po<strong>de</strong> proporcionar, especificamente no caso <strong>de</strong> Bananeiras.<br />

Os condomínios resi<strong>de</strong>nciais são bastante comuns em todo o mundo. No Brasil, essa<br />

prática, inicialmente realizada nos arredores das gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s, principalmente em São Paulo e no<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro, vem tomando um enorme <strong>de</strong>staque e fazem parte da paisagem urbana em várias<br />

regiões do país, inclusive no Estado da Paraíba.Segundo Carlos (2003),empresários imobiliários<br />

83


vêm investindo nesse mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> moradia, estando certos <strong>de</strong> que o espaço é resultado da ação social<br />

e que torna o processo <strong>de</strong> acumulação, ativida<strong>de</strong> indispensável da socieda<strong>de</strong> capitalista.<br />

Os empresários do setor imobiliário e do setor civil têm apostado em um novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

espaço resi<strong>de</strong>ncial, constituídos numa gran<strong>de</strong> área com localizações privilegiadas para aten<strong>de</strong>r os<br />

estratos sociais mais abastados. Segundo Carlos (2003), este comportamento justifica-se ―pelo<br />

atendimento que o espaço como meio é resultado da ação social e torna o processo <strong>de</strong> acumulação<br />

como ativida<strong>de</strong> supra da socieda<strong>de</strong> capitalista‖ (CARLOS, 2003 apud BARROS, 2010, p.21).<br />

Esse novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> habitação que vem fazendo parte da estrutura urbana do município <strong>de</strong><br />

Bananeiras, com condomínios resi<strong>de</strong>nciais e lazer, vem causando uma gran<strong>de</strong> modificação espacial<br />

e econômica, com a criação <strong>de</strong> diversos empregos diretos e indiretos, isto implica no<br />

aprimoramento da mão <strong>de</strong> obra, comércio e prestação <strong>de</strong> serviços, para melhor aten<strong>de</strong>r a <strong>de</strong>manda<br />

gerada pelos moradores e visitantes.<br />

Esse novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> moradia recebe incentivos locais <strong>de</strong> 10 anos <strong>de</strong> isenção <strong>de</strong> IPTU,<br />

porém, há uma lei municipal que obriga os empresários a utilizarem pelo menos 70% da mão <strong>de</strong><br />

obra local <strong>nas</strong> construções (CORREIO DA PARAÍBA, 2007).<br />

O município veio a enquadra-se nos pré-requisitos <strong>de</strong> avaliação <strong>de</strong> áreas mais a<strong>de</strong>quadas<br />

para o novo empreendimento, por três fatores, como: a capitalização e retorno seguro nosetor<br />

condominial; o valor do mercadofundiário no município, pois até o ano <strong>de</strong> 2005 era baixo, <strong>de</strong>vido<br />

àlocalização dos terrenos em áreas <strong>de</strong> relevo elevado e por estar distante do centro da cida<strong>de</strong>, oque<br />

<strong>de</strong>svalorizava o preço da terra; eo ambiente natural e topográfico foi o terceiro fator a ser<br />

observado. Estas áreas <strong>de</strong> segregação espacial estão localizadas <strong>nas</strong> partes mais afastadas da cida<strong>de</strong><br />

e mais próximas do ver<strong>de</strong> da paisagem rural.<br />

O Condomínio Caminhos da SerraHaras e Clube foi o primeiro empreendimento<br />

construído em Bananeiras. Foi <strong>de</strong>senvolvido para residências e lazer. Teve início no ano <strong>de</strong> 2006,<br />

on<strong>de</strong> 20% <strong>de</strong> sua área é <strong>de</strong>stinada para o lazer e os 80% restantes, para residências e vias. No total<br />

são 198 lotes. O condomínio dispõe <strong>de</strong> um salão <strong>de</strong> festas, uma piscina térmica, <strong>de</strong> haras, quadra <strong>de</strong><br />

tênis, <strong>de</strong> uma churrascaria e <strong>de</strong> um campo <strong>de</strong> futebol, tudo isso distribuído em uma área <strong>de</strong><br />

40.000m 2 . Suas obras encerraram-se em 2008 (BARROS, 2010, p. 33).<br />

Outro condomínio, o ―Águas da Serra Haras e Golfe‖,foi o segundo a ser implantado em<br />

Bananeiras. Nele está o primeiro campo <strong>de</strong> golfe do estado da Paraíba. Também foi programado<br />

para residências e lazer. São 660 lotes, alguns <strong>de</strong>stinados para peque<strong>nas</strong> chácaras (BARROS, 2010,<br />

p. 34). O mesmo, também conta com um heliporto.<br />

No ano <strong>de</strong> 2007iniciaram-se a obras dos condomínios Serra Nevada I e II, próximos a<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Paraíba- Campus III. Os mesmos foram planejados para residência e lazer.<br />

Porém este se diferencia dos outros condomínios, porque ao invés <strong>de</strong> residências convencionais<br />

84


foram construídos 52 chalés duplex. Um outro condomínio, o Yes Banana, projetado ape<strong>nas</strong> para<br />

residências, ainda não foi concluído; e há rumores <strong>de</strong> novos projetos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte para esta<br />

cida<strong>de</strong>.<br />

A partir das <strong>de</strong>scrições <strong>de</strong> todos esses condomínios solidifica o que havíamos comentado<br />

anteriormente, sobre a nova tendência do mercado imobiliário no município <strong>de</strong> Bananeiras, pois se<br />

ven<strong>de</strong> o ver<strong>de</strong>, o clima, a água, enfim uma paisagem natural e constroem-se equipamentos<br />

resi<strong>de</strong>nciais e <strong>de</strong> lazer voltados para um público consumidor seleto.<br />

Neste sentido, Carlos (2007) também enten<strong>de</strong> que ―o espaço surge enquanto nível<br />

<strong>de</strong>terminante que esclarece o vivido, na medida em que a socieda<strong>de</strong> o produz, e nesta condição<br />

apropria-se <strong>de</strong>le e domina-o‖. Sendo assim, o espaço é modificado cada vez que a socieda<strong>de</strong> sente a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mudança, <strong>de</strong> melhores condições <strong>de</strong> vida. E assim tem sido <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a antiguida<strong>de</strong>. O<br />

homem, os animais, enfim, os seres vivos moldam os espaços para sua sobrevivência. Isso faz parte<br />

do cotidiano <strong>de</strong> todos.<br />

A INFLUÊNCIA DOS CONDOMÍNIOS RESIDENCIAIS NO COTIDIANO DA CIDADE<br />

No espaço urbano e rural do município <strong>de</strong> Bananeiras, o capital precisa ser produzido e<br />

reproduzido <strong>de</strong> qualquer forma, e para que isso aconteça os diversos agentes encontram novos<br />

espaços, novas ativida<strong>de</strong>s e novos elementos para serem explorados, a exemplo da beleza<br />

paisagística e do clima ameno da região. Santos (2008) ressalta a importância do espaço nos dias<br />

atuais, e como o mesmo está ligado às necessida<strong>de</strong>s do processo <strong>de</strong> produção, e <strong>de</strong>staca que,<br />

―quando todos os lugares forem atingidos, <strong>de</strong> maneira direta ou indireta, pelas necessida<strong>de</strong>s do<br />

processo produtivo, criam-se, paralelamente, seletivida<strong>de</strong> e hierarquias <strong>de</strong> utilização, com a<br />

concorrência ativa ou passiva entre os diversos agentes‖ (SANTOS, 2008, p. 29).<br />

Portanto, o espaço é modificado cada vez que a socieda<strong>de</strong> sente a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mudança,<br />

<strong>de</strong> melhores condições <strong>de</strong> vida. E assim tem sido <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a antiguida<strong>de</strong>. O homem, os animais, enfim,<br />

os seres vivos moldam os espaços para sua sobrevivência. Isso faz parte do cotidiano <strong>de</strong> todos. Isto<br />

po<strong>de</strong> ser percebido no município <strong>de</strong> Bananeiras, com todas as transformações atuais no seu espaço,<br />

que implicaram em:<br />

- A maior parte dos comerciantes pesquisadossentiu a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> modificar seu espaço<br />

comercial para melhor aten<strong>de</strong>r essa nova clientela;<br />

- Mais <strong>de</strong> 50% dos comerciantes não sentiu a pressão da <strong>de</strong>manda por produtos <strong>de</strong> maior<br />

qualida<strong>de</strong>, por consi<strong>de</strong>rarem que já ofereciam bons produtos para todos os extratos sociais;<br />

85


- Quando os comerciantes foram questionados sobre a influência que os condomínios<br />

tiveram para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> seu comércio, a maioria concordou que aumentou o fluxo <strong>de</strong><br />

pessoas(turistas) e consequentemente aumentaram as vendas;<br />

- Verificou-se também a mudança <strong>de</strong> comportamento <strong>de</strong>sses consumidores, pois os<br />

mesmos e principalmente os turistascompram produtos mais mo<strong>de</strong>rnos e pe<strong>de</strong>m sempre a nota<br />

fiscal, diferentemente dos moradores locais, que não fazem questão pela referida nota;<br />

- Conforme os comerciantes, a presença dos condomínios resi<strong>de</strong>nciais fechados ajudou na<br />

divulgação da cida<strong>de</strong> e na geração <strong>de</strong> renda e <strong>de</strong> empregos diretos e indiretos, beneficiando pessoas<br />

da localida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s vizinhas; e<br />

- Estes empreendimentos incentivaram muitos moradores a adquirir ―novida<strong>de</strong>s‖ que<br />

pu<strong>de</strong>ssem atrair os olhares mais apurados e exigentes, influenciando a construção <strong>de</strong> novos<br />

estabelecimentos;<br />

Vale <strong>de</strong>stacar que a maioria <strong>de</strong>sses estabelecimentos tem mais <strong>de</strong> 10 anos <strong>de</strong><br />

funcionamento e alguns têm mais <strong>de</strong> 40 anos. Já no que se refere aos condôminos, apesar do<br />

número reduzido pesquisado, foi possível traçar o perfil <strong>de</strong>stes ―novos‖ moradores, que são os<br />

moradores dos condomínios resi<strong>de</strong>nciais fechados. Mas, <strong>de</strong>stacamos as informações que<br />

consi<strong>de</strong>ramos mais relevantes, como:<br />

- As famílias que moram nos condomínios fechados são formadas por poucos membros,<br />

predominando o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> família nuclear com 01 ou 02 filhos;<br />

- Estas famílias vivem com uma renda mensal entre5 e 10 salários mínimos, ou seja, são<br />

pessoas com um bom po<strong>de</strong>r aquisitivo para os padrões da cida<strong>de</strong>;<br />

- As pessoas procuraram este lugar para morar <strong>de</strong>vido ao clima ameno da cida<strong>de</strong>, a<br />

aparente segurança que esse tipo <strong>de</strong> moradia proporciona, bem como, a tranquilida<strong>de</strong> tão <strong>de</strong>sejada;<br />

- Tal tranquilida<strong>de</strong> foi um dos pontos positivos apontados pelos condôminos em morar<br />

neste local, acrescido <strong>de</strong> uma melhor qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, espaço para lazer e ―receber amigos sem<br />

precisar abrir as portas da sua casa‖;<br />

- Em relação aos pontos negativos, foram citados: a distância do centro da cida<strong>de</strong>, havendo<br />

a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> possuir um automóvel para <strong>de</strong>sloca-se a um supermercado, farmácia, quitanda, e<br />

outros lugares essenciais do cotidiano, e principalmente a falta <strong>de</strong> assistência médica em casos<br />

emergenciais, pois a cida<strong>de</strong> não dispõe <strong>de</strong>ste serviço com boa qualida<strong>de</strong>.<br />

86


Em resumo, temos muitos aspectos positivos quanto a implantação dos gran<strong>de</strong>s<br />

empreendimentos imobiliários, conforme os comerciantes e os condôminos ora em <strong>de</strong>staque, mas,<br />

conforme observações in locu e <strong>de</strong>poimentos do população, outras questões precisam ser<br />

consi<strong>de</strong>radas;<br />

- Pois, os gestores, comerciantes e moradores <strong>de</strong> condomínios fechados ignoram os<br />

impactos ambientais causados com a implantação dos gran<strong>de</strong>s empreendimentos imobiliários, na<br />

qual se tem o <strong>de</strong>smatamento <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s áreas ―rururba<strong>nas</strong>‖, <strong>de</strong> relevo mo<strong>de</strong>radamente ondulado, o<br />

que acelera a erosão, ameaça a fauna local e compromete a flora; além da abertura e construção <strong>de</strong><br />

estradas para dar acesso aos empreendimentos construídos; limitações com a <strong>de</strong>stinação do lixo e<br />

esgoto produzidos em maior quantida<strong>de</strong>; maior consumo <strong>de</strong> água, que po<strong>de</strong> comprometer os<br />

mananciais e reservatórios, além <strong>de</strong> outros aspectos ambientais que po<strong>de</strong>riam ser levantados.<br />

Quanto aos aspectos socioculturais, causa preocupação o choque cultural entre a população<br />

já existente e os novos moradores e turistas que visitam a cida<strong>de</strong>. São novos costumes, novos<br />

sotaques, convívio com pessoas <strong>de</strong> maior po<strong>de</strong>r aquisitivo, o que implica na elevação do custo <strong>de</strong><br />

vida, que vai atingir todas as faixas sociais. O impacto com tantas mudanças no cotidiano da<br />

população po<strong>de</strong> ocasionar uma transformação cultural da população natural <strong>de</strong> Bananeiras, o que<br />

po<strong>de</strong>rá causar até mesmo conflitos com a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma população.<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Mediante os dados da pesquisa foi possível perceber que os condomínios construídos já<br />

influenciam muito a economia e o cotidiano da população do município <strong>de</strong> Bananeiras, haja vista<br />

que,as vendas aumentaram;os comerciantes tiveram que ampliar ou modificar seus<br />

estabelecimentos para aten<strong>de</strong>r as novas exigências dos clientes;houve mudanças também na<br />

qualida<strong>de</strong> dos produtos e na busca por novida<strong>de</strong>s; surgindo também empregos diretos e indiretos.<br />

Todas estas modificações aconteceram ape<strong>nas</strong> com o funcionamento <strong>de</strong> três condomínios<br />

resi<strong>de</strong>nciais,imaginemos então as mudanças que ainda estão por vir com a construção dos outros<br />

condomínios e loteamentos programados.<br />

Conforme as observações realizadas e as informações dos próprios comerciantes e condôminos<br />

pesquisados, a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Bananeiras registrou um significado aumento do valor do solo urbano e<br />

rural, e portanto, alta especulação imobiliária, em virtu<strong>de</strong> dos empreendimentos imobiliários, assim<br />

como, o espaço urbano sendo totalmente ocupado e avançando o que antes era ape<strong>nas</strong> ―espaço<br />

natural‖. Além <strong>de</strong>sses condomínios, estão sendo construídos muitos loteamentos que vêm<br />

87


transformando o ―espaço natural‖ muito rápido.Denominamos espaço natural por este ser<br />

constituído predominantemente por elementos da paisagem natural, como a vegetação, rio, etc.<br />

Po<strong>de</strong>-se dizer que o espaço (urbano e rural) <strong>de</strong> Bananeiras ora trans(formado) absorve as<br />

tendências e os novos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> rearranjo do espaço social e que em nome do mo<strong>de</strong>rno, da<br />

segurança, da tranquilida<strong>de</strong> o capital encontra novas formas <strong>de</strong> (re)produzir e gerar outras<br />

necessida<strong>de</strong>s para a socieda<strong>de</strong>, como tem acontecido em Bananeiras.<br />

Por outro lado, ignora-se os impactos socioculturais e ambientais que tais<br />

empreendimentos causam no espaço geográfico e na vida da população já existente. O gran<strong>de</strong><br />

capital não encontra barreiras para (re)produzir, mesmo que isto implique em aniquilamento <strong>de</strong> uma<br />

cultura ou até mesmo gran<strong>de</strong>s transformações <strong>de</strong> paisagens, com extinção <strong>de</strong> elementos da fauna e<br />

da flora, além <strong>de</strong> comprometer mananciais e reservatórios <strong>de</strong> água, com o mau uso.<br />

Esta breve reflexão traz elementos que po<strong>de</strong>rão ser aprofundados num momento posterior e<br />

suscita novos questionamentos. A nossa pretensão não foi ape<strong>nas</strong> trazer resultados, mas instigar a<br />

curiosida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estudantes e profissionais, para que explorem cientificamente o espaço em discussão<br />

e que possam contribuir <strong>de</strong> alguma forma, com a preservação cultural e ambiental do município.<br />

REFERÊNCIAS<br />

BARROS, Marina Carla Cassimiro. Fatores <strong>de</strong>terminantes do investimento imobiliário e<br />

perspectivas socioeconômicas: estudo <strong>de</strong> caso no município <strong>de</strong> Bananeiras - PB. 69 p. Monografia<br />

(trabalho <strong>de</strong> conclusão <strong>de</strong> curso). Bananeiras/PB - Campus III daUFPB, 2010.<br />

BENI, Mário Carlos. Análise estrutural do Turismo. 2.ed. São Paulo: SENAC, 1998.<br />

BREJO DAS BANANEIRAS- Destino do sol- Jornalismo <strong>de</strong> Turismo _Brasil. Disponível em:<br />

Acesso em: 24/05/2010<br />

CARLOS, Ana Fani Alessandri. Espaço-tempo na metrópole. São Paulo: Contexto, 2003, 368p.<br />

_______. A cida<strong>de</strong>. Coleção Repensando a Geografia. 8.ed. 1ª reimpressão. São Paulo: Contexto,<br />

2007. 98p.<br />

CORDEIRO, Renata <strong>de</strong> Souza. Processos morfodinâmicos em área <strong>de</strong> encostas e platôs <strong>de</strong><br />

Bananeiras/PB. 2010. Disponível em: <br />

Acesso em 18/08/2011.<br />

CORREIO DA PARAÍBA, 21/05/2007. Condomínio Caminho da Serra. Disponível<br />

em: Acesso : 20/05/2010.<br />

CUNHA, José Marcos Pinto da.Migração e urbanização no Brasil: alguns <strong>de</strong>safios metodológicos<br />

para análise. São Paulo Perspec. Dez 2005, vol.19, no.4, p.3-20. ISSN 0102-8839<br />

88


GOUVÊA, Hilton. Bem vindos a Bananeiras. Turismo In A União. João Pessoa, 11 e 12 <strong>de</strong><br />

fevereiro. 2006. Edição especial.<br />

IBGE Cida<strong>de</strong>s. Disponível em: Acesso em:<br />

25/05/2010.<br />

PREFEITURA MUNICIPAL DE BANANEIRAS. Nossa história. Disponível em<br />

: Acesso em: 17/out/2011.<br />

SANTOS, Milton. Metamorfoses do espaço habitado:fundamentos teóricos e metodológicos da<br />

Geografia.6 ed. São Paulo: Ed. Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, 2008. 132 p<br />

SILVA, Manoel Luiz.Apanhados históricos. João Pessoa: Sal da terra Editora, 2007.<br />

WAHAB, Salah-Eldin Ab<strong>de</strong>l. Introdução à administração do turismo. São Paulo: Pioneira, 1991.<br />

VASCONCELOS, José Romeu <strong>de</strong>. JÚNIOR, José Oswaldo Cândido. O Problema Habitacional no<br />

Brasil:déficit, financiamento e perspectivas. IPEA: Instituto <strong>de</strong> Pesquisa Econômica Aplicada.<br />

1996. Disponível em: . Acesso em 24/08/11.<br />

89


TRANSFORMAÇÕES DO ESPAÇO URBANO: MÁRIO ANDREAZZA – BAYEUX/PB<br />

Fransuelda Vieira <strong>de</strong> FARIAS - Geógrafa(UFPB)-francegualbert@gmail.com<br />

Francisco Vieira <strong>de</strong> ASSIS - Jurista Popular – Fundação Margarida Maria Alves<br />

Ivonaldo Lacerda da SILVA – Geógrafo (UFPB)-ivojpa@gmail.com<br />

Ítalo Ramon Valentim da SILVA – Graduando em Geografia (UFPB) -italoramon1@hotmail.com<br />

Resumo<br />

O presente trabalho <strong>de</strong> pesquisa tem por objetivo apresentar um estudo realizado no bairro Mário<br />

Andreazza em Bayeux sobre a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> moradia e qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, além da formação do<br />

espaço urbano do bairro Mário Andreazza, que a população acabou chamando <strong>de</strong> Mutirão. A<br />

pesquisa levou-nos ao resgatedo passado histórico <strong>de</strong> lutapela água, que marcou a história <strong>de</strong> um<br />

bairro que <strong>nas</strong>ceu <strong>de</strong>vido à pressão do movimento <strong>de</strong> populares do entorno da Gran<strong>de</strong> João Pessoa,<br />

construído em regime <strong>de</strong> Mutirão que dá sentido ao seu nome, com a força <strong>de</strong> trabalho dos seus<br />

futuros moradores, consi<strong>de</strong>rando o sobre trabalho, já que a autoconstrução foi a base do processo <strong>de</strong><br />

construção.<br />

Palavras chave: espaço urbano, bairro, autoconstrução, <strong>de</strong>gradação, qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida<br />

Abstract<br />

This research work aims to present a study conducted in the district in Mário Andreazza Bayeux on<br />

the need for housing and quality of life, besi<strong>de</strong>s the formation of urban space in the neighborhood<br />

Mario Andreazza, we prefer to call Mutirão, research-led in the rescue of the historic past of<br />

struggle for water, which marked the history of a neighborhood that was born due to the pressure of<br />

the popular movement around the Great João Pessoa, built in Mutirão scheme that gives meaning to<br />

its name, with the strength of work of its future resi<strong>de</strong>nts, consi<strong>de</strong>ring about work, since the self was<br />

the basis of the construction process.<br />

Keywords: Urban Space, Neighborhood, self, Environmental Degradation, Quality of Life<br />

90


Introdução<br />

Des<strong>de</strong> os primórdios o homem retira da natureza o que precisa para sobreviver, garantindo a<br />

perpetuação da espécie. Na pré-história, o homem nôma<strong>de</strong> vivia ape<strong>nas</strong> do extrativismo, quando<br />

acabavam as sementes e alimentos <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada área, partia com seu grupo para procurar<br />

outro lugar que fosse propício à sua existência. Após esse período o homem passou a morar em um<br />

lugar fixo, plantando e colhendo para se alimentar, passou a <strong>de</strong>senvolver técnicas para apropriação e<br />

transformação da natureza, antes ele fazia parte <strong>de</strong>sta natureza, suas ativida<strong>de</strong>s não impactavam o<br />

meio.<br />

O espaço natural, com o <strong>de</strong>senvolvimento da humanida<strong>de</strong> e aperfeiçoamento das<br />

ferramentas <strong>de</strong> trabalho, torna-se espaço social, socialmente produzido, ―No plano abstrato <strong>de</strong> que<br />

estamos falando o processo do trabalho passa-se como sendo a transformação da primeira natureza<br />

em segunda, isto é, sua socialização‖. (MOREIRA, 2000, p.79). O que antes era natural passa a ser<br />

social, produzido para aten<strong>de</strong>r em um primeiro momento as necessida<strong>de</strong>s do homem e <strong>de</strong>pois para<br />

aten<strong>de</strong>r aos interesses do capital.<br />

A partir da revolução industrial, ápice do <strong>de</strong>senvolvimento do capitalismo, o espaço passa a<br />

ser produzido segundo a lógica do capital, visando o acúmulo <strong>de</strong> riqueza. O homem passa a ven<strong>de</strong>r<br />

sua mão-<strong>de</strong>-obra em troca <strong>de</strong> um salário sendo explorado pelos proprietários dos meios <strong>de</strong><br />

produção e a natureza, nesse processo, torna-se mercadoria, não só a natureza como também a<br />

socieda<strong>de</strong>, como consequência <strong>de</strong>ssa evolução temos: urbanização, crescimento da população,<br />

geração <strong>de</strong> riqueza para alguns e empobrecimento <strong>de</strong> muitos, ou seja, <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social.<br />

Com isso surgem inúmeros problemas sociais e ambientais urbanos que se apresentam<br />

como resultante do <strong>de</strong>senvolvimento do capitalismo, tanto nos países <strong>de</strong>senvolvidos quanto nos<br />

países sub<strong>de</strong>senvolvidos.<br />

A industrialização gerou inchaço populacional <strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s, segregação resi<strong>de</strong>ncial com o<br />

afastamento da população empobrecida para áreas <strong>de</strong> periferia distantes dos locais <strong>de</strong> trabalho e em<br />

áreas sem nenhuma infra-estrutura, implicando em <strong>de</strong>gradação do meio ambiente.<br />

À pobreza urbana e à segregação resi<strong>de</strong>ncial po<strong>de</strong>m ser acrescentados outros<br />

problemas, não raro intimamente associado com elas duas. Um <strong>de</strong>les é a<br />

<strong>de</strong>gradação ambiental, em relação à qual, aliás, se percebe, em cida<strong>de</strong>s como as<br />

brasileiras uma interação entre problemas sociais e impactos ambientais <strong>de</strong> tal<br />

maneira que irão causar tragédias sociais (como <strong>de</strong>smoronamento e <strong>de</strong>slizamentos<br />

em encostas, enchentes e poluição atmosférica), têm origem em problemas sociais<br />

ou pelo menos são agravados por eles. (SOUZA, 2003, p.84).<br />

91


O crescimento da população urbana acarreta muitos problemas, como a falta <strong>de</strong> lazer,<br />

redução <strong>de</strong> áreas ver<strong>de</strong>s, ocupação <strong>de</strong> terras reservadas à agricultura e à preservação <strong>de</strong> florestas<br />

por loteamentos e por construção <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s-projetos como shoppings e hotéis. O processo <strong>de</strong><br />

construção da cida<strong>de</strong> revela os antagonismos e disparida<strong>de</strong>s existentes na socieda<strong>de</strong> e no meio<br />

urbano, a <strong>de</strong>svalorização do centro da cida<strong>de</strong>, a ocupação <strong>de</strong> novas áreas dotadas <strong>de</strong> infraestrutura e<br />

serviços, com bairros <strong>de</strong> médio e alto padrão e a segregação resi<strong>de</strong>ncial, empurrando os<br />

trabalhadores para áreas periféricas <strong>de</strong>sprovidas <strong>de</strong> qualquer tipo <strong>de</strong> bem-feitoria.<br />

Assim ficam caracterizados muitos bairros das diversas cida<strong>de</strong>s que compõem a Gran<strong>de</strong><br />

João Pessoa que surgiram <strong>de</strong>sse processo. A necessida<strong>de</strong> da população e os interesses do capital<br />

<strong>de</strong>terminam a produção e a diferenciação <strong>de</strong> áreas no espaço urbano, os diferentes modos <strong>de</strong><br />

produção <strong>de</strong>ixaram impressos na paisagem da cida<strong>de</strong> suas marcas ou rugosida<strong>de</strong>s que os<br />

caracterizam. ―Como os interesses e as necessida<strong>de</strong>s dos indivíduos são contraditórios, a ocupação<br />

do espaço não se fará sem contradições e, portanto sem luta‖. (CARLOS, 1992, p.42).<br />

Como os interesses do trabalhador são diferentes dos interesses do capital, os trabalhadores<br />

<strong>de</strong>sejam melhores condições <strong>de</strong> vida e na luta pela sobrevivência dão forma, vida e movimento às<br />

áreas on<strong>de</strong> moram, apesar da distância entre tais áreas e o centro, ou entre as zo<strong>nas</strong> <strong>de</strong> serviços<br />

especializados e das dificulda<strong>de</strong>s existentes pela falta <strong>de</strong> equipamentos urbanos, os habitantes sem<br />

condições econômicas e sem opção <strong>de</strong> moradia permanecem nesses locais, não <strong>de</strong> maneira estática,<br />

mas transformando e construindo novos espaços através do esforço, da organização <strong>de</strong> movimentos<br />

e lutas sociais, reivindicando os seus direitos.<br />

Por outro lado, os que mais precisam usufruir <strong>de</strong> uma ―cida<strong>de</strong> com serviços e<br />

equipamentos públicos‖ – aqueles que têm baixos salários – compram lotes/casas<br />

em áreas distantes, on<strong>de</strong> o preço é mais baixo. Gastam um tempo elevado – <strong>de</strong> duas<br />

a três horas – em <strong>de</strong>slocamentos casa/trabalho/casa. Além do custo com transporte,<br />

constroem suas casas, em geral, nos fins-<strong>de</strong>-semana, organizam-se para obter<br />

―melhorias serviços públicos necessários à sobrevivência e assim, através do seu<br />

trabalho, conseguem obter ―melhorias‖ para estes bairros, aumentando ao mesmo<br />

tempo o preço da terra, que beneficiará os proprietários <strong>de</strong> terras vazias‖. Não<br />

pu<strong>de</strong>ram pagar por estes serviços, lutaram para consegui-los, inclusive até<br />

per<strong>de</strong>ndo vários dias <strong>de</strong> trabalho remunerado, e eleva o preço da terra, que será<br />

apropriada por outros. (RODRIGUES,1989, p.22).<br />

A autoconstrução é à saída <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> parte da classe trabalhadora que não dispõe <strong>de</strong><br />

recursos para construir a casa própria ou para recorrer à indústria da construção civil, a luta é para<br />

92


obter um local digno para morar com toda família. Geralmente ocorre em bairros periféricos <strong>de</strong><br />

baixo padrão sem nenhuma regularização fundiária, a construção da casa acontece sempre nos finais<br />

<strong>de</strong> semana com a ajuda <strong>de</strong> amigos, vizinhos e familiares, sem a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> contratar mão-<strong>de</strong>-<br />

obra.<br />

A solidarieda<strong>de</strong> é a base <strong>de</strong>sse processo tão importante na produção do bairro e da cida<strong>de</strong> na<br />

periferia. O anseio por um lugar para se abrigar com a família faz com que muitas pessoas<br />

enxerguem na autoconstrução a esperança da casa própria, <strong>de</strong> ter um lar, um ambiente que<br />

represente proteção. ―Não menos, talvez, a caverna <strong>de</strong>u ao homem antigo sua primeira concepção<br />

<strong>de</strong> espaço arquitetônico, seu primeiro vislumbre da faculda<strong>de</strong> que tem um espaço emparedado <strong>de</strong><br />

intensificar a receptivida<strong>de</strong> espiritual e a exaltação emocional‖(MUNFORD,1998, p.11).<br />

Assim a cida<strong>de</strong> cria suas formas e <strong>de</strong>senhos que vão influenciar na paisagem, o<br />

trabalhadorpara aten<strong>de</strong>r suas necessida<strong>de</strong>s produz a cida<strong>de</strong>, o bairro, transforma a realida<strong>de</strong> em que<br />

vive, pequenos espaços são aproveitados e passam a servir <strong>de</strong> moradia, áreas muitas vezes<br />

impróprias, públicas e <strong>de</strong> uso coletivo são ocupadas por famílias. Vários bairros da gran<strong>de</strong> João<br />

Pessoa surgiram com esse intuito a exemplo do Mário Andreazza em Bayeux.<br />

Dessa forma ―A cida<strong>de</strong> Mário Andreazza‖, assim chamada no documento <strong>de</strong> doação do<br />

Governo do Estado, surgiu <strong>de</strong> uma área que foi <strong>de</strong>sapropriada pela lei 4.437 <strong>de</strong> 05 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong><br />

1982, na Gestão do então Governador Clóvis Bezerra. O terreno foi doado para fins resi<strong>de</strong>nciais,<br />

seriam construídas casas populares para abrigar famílias carentes, resi<strong>de</strong>ntes na periferia <strong>de</strong> João<br />

Pessoa e do próprio município <strong>de</strong> Bayeux. Na figura abaixo po<strong>de</strong>mos observar a localização do<br />

bairro.<br />

Fig. 01 – Localização do município <strong>de</strong> Bayeux e do bairro Mário Andreazza. Fonte: Google Earth<br />

93


De acordo com Silva (1994), após alguns meses <strong>de</strong> espera sem que as obras começassem, o<br />

povo resolveu ocupar a área, quando então foi <strong>de</strong>signada uma equipe da FUNSAT (Fundação Social<br />

do Trabalho) para trabalhar no cadastramento das famílias e dar início às obras. Aequipe social da<br />

FUNSAT fez, reuniões, cadastramento e discutiu com as pessoas o regime <strong>de</strong> trabalho, Para ter<br />

acesso a moradia as pessoas trabalhariam com horas computadas e cada família teria que completar<br />

780 horas para ter direito a sua casa, trabalhando em regime comunitário em qualquer área das<br />

obras que estavam, aliás se erguendo sob a orientação <strong>de</strong> apontadores (funcionários do Estado).<br />

Deu-se então o início dos trabalhos, o conjunto Habitacional começou a ser construído em<br />

regime <strong>de</strong> mutirão, foi por esse motivo que o bairro ficou assim popularmente conhecido(Mutirão<br />

<strong>de</strong> Bayeux), a proposta do governo na negociação com as famílias que ocuparam a área era a<br />

construção <strong>de</strong> 4.464 unida<strong>de</strong>s habitacionais, sendo uma primeira etapa do conjunto.<br />

Nesse processo <strong>de</strong> construção a participação da comunida<strong>de</strong> foi imprescindível, pois<br />

implicou diretamente no barateamento das obras, moradia <strong>de</strong> baixo padrão construtivo e com baixo<br />

preço, os trabalhadores eram os futuros moradores. Em alguns municípios brasileiros o regime <strong>de</strong><br />

mutirão foi uma alternativa encontrada para o problema da moradia na periferia. O Conjunto Mário<br />

Andreazza no ano <strong>de</strong> 1983 começou a ser construído no regime <strong>de</strong> mutirão com a participação e<br />

trabalho das pessoas cadastradas pelo Estado.<br />

Para conseguir a tão sonhada moradia, homens e mulheres, pais e mães <strong>de</strong> famílias se<br />

transformaram em trabalhadores da construção civil e contribuíam na obra com a força <strong>de</strong> trabalho,<br />

já que o material <strong>de</strong> construção era da responsabilida<strong>de</strong> do Governo. Muitos concluíam a carga<br />

horária exigida e permaneciam no local trabalhando para ajudar outras famílias. De acordo com<br />

Silva (1994), o trabalho na construção levou muitos trabalhadores a exaustão, vários aci<strong>de</strong>ntes<br />

foram registrados, <strong>de</strong>smaios, mulheres grávidas <strong>de</strong>ixavam a obra passando mal e vários abortos<br />

ocorreram por causa do excesso <strong>de</strong> trabalho.<br />

Outros projetos foram criados para integração da comunida<strong>de</strong>, os chamados grupos <strong>de</strong><br />

produção, para dar assistência aos moradores do Mário Andreazza: a horta comunitária, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> por<br />

alguns anos muitas famílias retiraram o seu sustento, cultivando legumes e hortaliças, com<br />

orientação <strong>de</strong> técnicos e agrônomos da EMATER (Empresa <strong>de</strong> Assistência Técnica e Extensão<br />

Rural da Paraíba), a fábrica <strong>de</strong> móveis, on<strong>de</strong> também eram oferecidos cursos <strong>de</strong> marcenaria, fábrica<br />

<strong>de</strong> doce, fábrica <strong>de</strong> costura e um aviário que funcionou por pouco tempo.<br />

Nos anos seguintes a entrega da primeira etapa do conjunto, ocorreu um intenso processo <strong>de</strong><br />

expansão urbana, novas etapas foram sendo construídas e entregues aos moradores, e o Mário<br />

Andreazza ficou dividido em conjunto velho e conjunto novo, se diferenciando pela estrutura<br />

arquitetônica das unida<strong>de</strong>s habitacionais, compreen<strong>de</strong>ndo a área que vai da Escola Antônio Gomes<br />

até a comunida<strong>de</strong> Jesus <strong>de</strong> Nazaré. Após esse trecho construído pelo Governo do Estado toda área<br />

94


que hoje correspon<strong>de</strong> ao Portal da Vitória foi doado pela FAC (Fundação <strong>de</strong> Ação Comunitária) e<br />

muitas famílias construíram suas casas, a doação se <strong>de</strong>u como resultado das lutas por moradia.<br />

Apesar do a<strong>de</strong>nsamento populacional e expansão do Conjunto Mário Andreazza, seu povo<br />

por muitos anos sofreu e ainda passa por muitos problemas, como por exemplo a falta <strong>de</strong><br />

equipamentos urbanos, a população numerosa passou muito tempo sendo assistida por ape<strong>nas</strong> um<br />

posto médico localizado ao lado da Creche Mãe Manda, e como tornou-se um estereótipo <strong>de</strong> bairro<br />

violento, pelo preconceito <strong>de</strong> muitos que não conheciam o local, alguns profissionais tinham medo<br />

<strong>de</strong> trabalhar no Conjunto. Na área da educação a Escola Antônio Gomes foi a primeira construída<br />

no Mário Andreazza, funcionava antes da construção do prédio atual no centro comunitário, com<br />

várias turmas, teve papel imprescindível no trabalho <strong>de</strong> alfabetização <strong>de</strong> crianças e jovens.<br />

Movimentos e grupos organizados atuantes que marcaram a história do Mário Andreazza.<br />

Des<strong>de</strong> a fundação do bairro muitos problemas marcaram a vida e o cotidiano das pessoas ali<br />

resi<strong>de</strong>ntes, o espaço vivido, tornou-se espaço das lutas sociais, da reivindicação por melhores<br />

condições <strong>de</strong> vida, da realida<strong>de</strong> difícil <strong>de</strong> um bairro <strong>de</strong>sprovido <strong>de</strong> qualquer tipo <strong>de</strong> infraestrutura,<br />

da falta <strong>de</strong> água, <strong>de</strong> saneamento básico, <strong>de</strong> moradia ainda para muitos, <strong>de</strong> equipamentos urbanos<br />

para servir a sua população como unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, escolas, creches.<br />

Diante <strong>de</strong>sse cenário, vários grupos começaram a se organizar, moradores que sonhavam<br />

com dias melhores se juntavam para reivindicar junto ao Estado, Prefeitura e Órgãos competentes,<br />

melhorias para o Bairro, a associação <strong>de</strong> moradores na época muito atuante, juntamente com a<br />

Igreja Católica - Área Pastoral São João Batista, animada pelo espírito das CEB´s (Comunida<strong>de</strong>s<br />

Eclesiais <strong>de</strong> Base), fundamentada no Evangelho e na opção pelos pobres a Teologia da Libertação.<br />

A luta pela água ainda hoje é lembrada no bairro por muitos militantes, pois a água <strong>nas</strong> torneiras das<br />

casas hoje representa uma gran<strong>de</strong> conquista do povo organizado e com um único objetivo o bem<br />

comum. As fotos abaixo mostram a dificulda<strong>de</strong> para se conseguir água e a luta dos moradores por<br />

melhores condições <strong>de</strong> vida e infraestrutura para o bairro.<br />

95


Fig.02 -Correio da Paraíba, 1999. Realida<strong>de</strong> vivida pelos<br />

moradores durante 16 anos.<br />

Fig.03 - Associações <strong>de</strong> Moradores,1999.<br />

Grito dos excluídos na Avenida liberda<strong>de</strong>.<br />

Por <strong>de</strong>zesseis anos a falta d‘água no Mutirão representou um gran<strong>de</strong> sofrimento para o povo,<br />

como também ricos a saú<strong>de</strong>, filas <strong>de</strong> latas vazias compunham a paisagem do bairro, os moradores<br />

eram obrigados a cavar buracos profundos <strong>nas</strong> ruas, serrar a tubulação para coletar a água e acordar<br />

<strong>de</strong> madrugada, para não correr o risco <strong>de</strong> ficar sem água o dia todo, essa era a penitência todos os<br />

dias do povo do Mutirão.<br />

Inúmeras vezes os moradores <strong>de</strong>sceram a la<strong>de</strong>ira em direção a BR-101, bloquearam a<br />

passagem dos veículos, queimaram pneus e seguiram em marcha para a se<strong>de</strong> da CAGEPA, on<strong>de</strong><br />

foram recebidos pela cavalaria da polícia militar, queriam ape<strong>nas</strong> água para matar a se<strong>de</strong> e para<br />

tomar banho, água <strong>nas</strong> torneiras das suas casas, água que é vida.<br />

Fig.04 – Moradores reivindicando água. 10 <strong>de</strong><br />

Novembro <strong>de</strong> 1999. Jornal Dia a Dia<br />

Fig.05 – Chegada dos manifestantes na Cagepa. 10<br />

<strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 1999. Jornal Dia a Dia.<br />

96


Outros momentos relevantes po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>stacar, como a luta por moradia, as caminhadas<br />

pela PAZ, luta pelas passarelas na BR – 101 por causa dos inúmeros aci<strong>de</strong>ntes com vitimas fatais,<br />

as reivindicações por segurança no bairro, instalação <strong>de</strong> posto policial, melhoria na qualida<strong>de</strong> da<br />

educação, saneamento básico, calçamento, e pela preservação do meio ambiente.<br />

Problemas sociais e ambientais que caracterizam o espaço urbano no bairro.<br />

Sendo uma das zo<strong>nas</strong> <strong>de</strong> expansão urbana do município, ou seja, que apresenta possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> crescimento da mancha urbana, o bairro localiza-se entre o Parque Estadual Mata do Xem-Xém,<br />

ao sul, que foi <strong>de</strong>cretada unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conservação Estadual da Mata do Xem-Xém em 28 <strong>de</strong> agosto<br />

<strong>de</strong> 2000, pelo <strong>de</strong>creto Estadual nº 21.252 e o Bairro Comercial Norte a leste, limita-se ao norte com<br />

a BR-101, a oeste com o Bairro Rio do Meio.<br />

A população economicamente ativa encontra-se dividida nos setores secundário e terciário<br />

da economia, secretárias do lar, empregados do comércio, da indústria, trabalhadores do comércio<br />

informal, prestadores <strong>de</strong> serviços, funcionários da Prefeitura: Professores, motoristas, Agentes <strong>de</strong><br />

Saú<strong>de</strong>, agente <strong>de</strong> limpeza urbana, serviços gerais, <strong>de</strong>ntre outros. Um gran<strong>de</strong> problema que atinge os<br />

moradores ainda é o <strong>de</strong>semprego, algumas famílias sobrevivem ape<strong>nas</strong> com o benefício do Governo<br />

Fe<strong>de</strong>ral (Bolsa Família), outros moram em habitações sub-huma<strong>nas</strong>, construídas em assentamentos<br />

irregulares e com material reaproveitado: plástico, lona, papelão, sem piso e sem nenhum<br />

revestimento.<br />

O surgimento <strong>de</strong> áreas ocupadas com fins resi<strong>de</strong>nciais e sem o mínimo <strong>de</strong> infraestrutura tem<br />

contribuido com o aumentado da produção <strong>de</strong> lixo;Nas áreas <strong>de</strong> ocupação,o surgimento <strong>de</strong> ruas<br />

estreitas e tortuosas impe<strong>de</strong> a passagem do carro do serviço <strong>de</strong> limpeza urbana, dificultando a<br />

coleta, <strong>de</strong>ssa forma os moradores acumulam o lixo, <strong>de</strong>ixando as ruas sujas, ou levam até o final da<br />

rua para que o carro possa coletar, na maioria das vezes não é isso que ocorre, <strong>de</strong>vido a<br />

proximida<strong>de</strong> com a mata os <strong>de</strong>tritos são jogados no interior da mesma, a imagem da<br />

<strong>de</strong>gradação,mau cheiro e a presença <strong>de</strong> insetos é bem comum.<br />

97


Fig.06- Juristas Populares –2007. Esgoto jorrando <strong>nas</strong><br />

ruas do Mário Andreazza.<br />

Fig.07- Juristas Populares, 2007 – Muro da<br />

Empresa Jonildo Brito, crianças brincam no lixo.<br />

A falta <strong>de</strong> infraestrutura é um problema que já <strong>nas</strong>ceu com o bairro, é comum encontrarmos<br />

no lugar, lixo espalhado pelas ruas, esgoto escoando a céu aberto, tornando-se foco para vetores<br />

disseminadores <strong>de</strong> doenças. O não tratamento dos resíduos líquidos vem ocasionando ao longo dos<br />

29 anos <strong>de</strong> fundação do bairro inúmeros problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. A falta <strong>de</strong> cuidado com o ambiente é<br />

perceptível, ao caminharmos pelo bairro.<br />

Consi<strong>de</strong>rações Finais<br />

Em toda história da configuração territorial do bairro Mário Andreazza, sentimos a<br />

participação popular, a materialização <strong>de</strong> momentos em que os moradores conscientes partiram em<br />

busca <strong>de</strong> melhores condições <strong>de</strong> vida para a coletivida<strong>de</strong>, a vida que pulsa no bairro e que <strong>de</strong>fine as<br />

relações existentes como também a paisagem e o espaço geográfico do mesmo.<br />

Percebemos também que toda melhoria realizada, só ocorreu após muita luta e sofrimento<br />

das pessoas, após doze anos da chegada da água tão sonhada, sentidos que ainda falta muito,<br />

quando se refere a salubrida<strong>de</strong> ambiental, que é <strong>de</strong>ver do estado e direito <strong>de</strong> todo cidadão, ter um<br />

lugar seguro e propício a moradia para acolher as gerações futuras com respeito e responsabilida<strong>de</strong>.<br />

Uma transformação no meio urbano se faz necessário, saneamento básico, pavimentação <strong>de</strong><br />

ruas, coleta <strong>de</strong> lixo e educação ambiental, para que as pessoas possam viver com dignida<strong>de</strong>,<br />

cuidando do lugar em que vive e tal cuidado sendo refletido na sua saú<strong>de</strong> das pessoas.<br />

Portanto, percebemos que só com os grupos e entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> representação popular, população<br />

unida exercendo seu papel <strong>de</strong> forma consciente através do controle social será possível uma reforma<br />

urbana, com um <strong>de</strong>vido planejamento, melhorando áreas <strong>de</strong>terioradas como os assentamentos<br />

urbanos subnormais existentes e implantação em Bayeux <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> Habitação <strong>de</strong><br />

Interesse Social.<br />

98


Referências Bibliográficas<br />

SOUZA, Marcelo Lopes <strong>de</strong>. ABC do Desenvolvimento Urbano. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Bertrand Brasil,<br />

2003.<br />

CARLOS, Ana Fani Alexandre. A Cida<strong>de</strong>. São Paulo: Contexto,1992.<br />

MUNFORD, Lewis. A cida<strong>de</strong> na História: suas origens, transformações e perspectivas. São Paulo:<br />

Martins Fontes, 1998.<br />

MOREIRA, Ruy. O que é Geografia. São Paulo: Brasiliense,2000.<br />

SILVA, Maria Rizolena Miranda da. História da Fundação do Bairro Mário Andreazza: incluindo a<br />

História da Escola Antônio Gomes e a Biografia do Autor. Bayeux: Mímeo, 1994.<br />

RODRIGUES, Arlete Moysés. Moradia <strong>nas</strong> Cida<strong>de</strong>s Brasileiras. São Paulo: Contexto,1989.<br />

JORNAL DIA A DIA, João Pessoa, quarta feira, 10 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 1999. Clóvis Roberto –<br />

Repórter.<br />

CORREIO DA PARAÍBA , quarta feira, 02 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 2001.<br />

GOOGLE EARTH. Disponível em: Acesso em 10 out.<br />

2012.<br />

99


A REDEFINIÇÃO DO ESPAÇO URBANO DE NATAL A PARTIR DA INFLUÊNCIA DE SEU<br />

SETOR TERCIÁRIO: UMA ANÁLISE DAS AVENIDAS BERNARDO VIEIRA E<br />

ENGENHEIRO ROBERTO FREIRE<br />

Resumo<br />

NASCIMENTO, Gerson Gomes do.<br />

PONTES, Beatriz Maria Soares Pontes (orientadora).<br />

Este trabalho analisou a influência do terciário <strong>de</strong> Natal/RN na reprodução e/ou reconfiguração <strong>de</strong><br />

seu espaço urbano, notadamente <strong>nas</strong> avenidas Engenheiro Roberto Freire e Bernardo Vieira, uma<br />

vez que, na atualida<strong>de</strong>, são estas as avenidas que mais têm recebido investimentos tanto privados<br />

como públicos na cida<strong>de</strong>, ou seja, são as que mais têm atraído investimentos comerciais e <strong>de</strong><br />

serviços e, consequentemente, têm sofrido transformações urba<strong>nas</strong> no que se refere aos<br />

investimentos em infraestrutura por parte do Estado em suas esferas estadual e municipal, via<br />

políticas públicas urba<strong>nas</strong>. Neste sentido, levamos em consi<strong>de</strong>ração as relações entre políticas<br />

públicas urba<strong>nas</strong>, espaço urbano e crescimento do setor <strong>de</strong> serviços, <strong>de</strong>stacando o turismo como<br />

fator primordial, principalmente, na análise da Avenida Engenheiro Roberto Freire. Aplicamos<br />

formulários com questões abertas e fechadas em todos os serviços existentes nessas avenidas a fim<br />

<strong>de</strong> caracterizá-las, consultas à bibliografia pertinente às temáticas, visitas aos órgãos municipal e<br />

estadual entre outros aspectos. Concluímos que as duas avenidas apesar <strong>de</strong> apresentarem serviços<br />

diferenciados apresentam problemas semelhantes tais como: falta <strong>de</strong> estacionamento, poluição<br />

sonora, roubos e assaltos frequentes, prostituição etc. Desta forma, acreditamos que se faz<br />

necessário à implementação <strong>de</strong> políticas públicas urba<strong>nas</strong> que contemplem a socieda<strong>de</strong> a fim <strong>de</strong><br />

amenizar tais problemas ali verificados.<br />

Palavras-Chaves: Setor Terciário; Políticas Públicas Urba<strong>nas</strong>; Espaço Urbano.<br />

Abstract<br />

This study examined the influence of tertiary Natal/RN reproduction and/or reconfiguration of its<br />

urban space, especially in the avenues Engineer Roberto Freire and Bernardo Vieira, since, at<br />

present, these are the avenues that have received more investments both private as public in the city,<br />

are the ones that have tra<strong>de</strong> in services and, consequently, have suffered urban transformations in<br />

the case of infrastructure investments by the state and municipal levels, and urban public policies.<br />

In this sense, we consi<strong>de</strong>r the relationship between urban public policy, urban space and growth of<br />

the service sector, highlighting tourism as a key factor, especially in the analysis of Avenue<br />

Engineer Roberto Freire. We apply forms with open and closed questions in all existing services in<br />

these avenues to characterize them, the related bibliographical thematic visits to municipal and state<br />

agencies among others. We conclu<strong>de</strong> that the two avenues <strong>de</strong>spite showing differentiated services<br />

100


have the same problems such as lack of parking, noise pollution, frequent robberies and assaults,<br />

prostitution etc. Thus, we believe that it is necessary to implement public policies that address urban<br />

society in or<strong>de</strong>r to minimize such problems there checked.<br />

Key-Words: Tertiary Sector; Urban Public Policy; Urban Space.<br />

Introdução<br />

Este trabalho analisou a influência do setor terciário <strong>de</strong> Natal/RN na reprodução e/ou<br />

reconfiguração 19 <strong>de</strong> seu espaço urbano, notadamente <strong>nas</strong> avenidas Engenheiro Roberto Freire e<br />

Bernardo Vieira, uma vez que, na atualida<strong>de</strong>, são estas as avenidas que mais têm recebido<br />

investimentos tanto privados como públicos na cida<strong>de</strong>, ou seja, são as que mais têm atraído<br />

investimentos comerciais e <strong>de</strong> serviços e, consequentemente, têm sofrido transformações urba<strong>nas</strong><br />

no que se refere aos investimentos em infraestrutura por parte do Estado em suas esferas estadual e<br />

municipal.<br />

Neste sentido, levamos em consi<strong>de</strong>ração as relações entre políticas públicas urba<strong>nas</strong>, espaço<br />

urbano e crescimento do setor <strong>de</strong> serviços, <strong>de</strong>stacando o turismo como fator primordial na análise<br />

da Avenida Engenheiro Roberto Freire. Entretanto, <strong>de</strong>vemos consi<strong>de</strong>rar que a ênfase dada ao<br />

turismo nesta avenida em particular, se justifica pelo fato <strong>de</strong> que, nesta área, o espaço urbano se<br />

reproduz, sendo, <strong>de</strong> certa forma, preparado para ser visto e fotografado pelos turistas, se esten<strong>de</strong>ndo<br />

para além do olhar do visitante, ou seja, aos bairros <strong>de</strong> status que ali se localizam, sem, contudo,<br />

<strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar a noção do todo que compõe a cida<strong>de</strong>.<br />

Vinculados a tais propósitos, encontram-se os processos <strong>de</strong> mudanças relativos a espaços<br />

específicos na cida<strong>de</strong>, nos quais é notório que o po<strong>de</strong>r público aparece como protagonista na<br />

promoção e crescimento do po<strong>de</strong>r econômico, ao consi<strong>de</strong>rar o setor <strong>de</strong> serviços como fonte <strong>de</strong><br />

interesse econômico nos mais diversos seguimentos sociais, concorrendo como produto suscitador<br />

para a formação bem como incorporação <strong>de</strong> novos valores, costumes e hábitos, do ponto <strong>de</strong> vista<br />

econômico, social e cultural. Desse modo, como uma prática social configuradora <strong>de</strong> um conjunto<br />

<strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s econômicas, cabe afirmar que, o setor terciário da economia reproduz, como qualquer<br />

outro setor, as contradições do sistema.<br />

Enten<strong>de</strong>mos que, para a realização <strong>de</strong> qualquer ativida<strong>de</strong> capitalista que seja se faz<br />

necessário à produção <strong>de</strong> um espaço que esteja em gran<strong>de</strong> conformida<strong>de</strong> com ela. No caso do setor<br />

19 Concordamos com Corrêa (1995, p. 38), quando nos mostra que a expressão organização espacial é sinônimo <strong>de</strong><br />

estrutura territorial, configuração espacial, formação espacial, arranjo espacial, espaço geográfico, espaço social, espaço<br />

socialmente produzido ou, simplesmente espaço.<br />

101


terciário da economia, especificamente, tais transformações se tornam mais presentes e efetivas,<br />

tendo em vista a necessida<strong>de</strong> da produção/reprodução <strong>de</strong> um espaço que seja agradável aos olhos<br />

daqueles potenciais consumidores em um apelo constante ao próprio consumo, uma vez que, esse<br />

setor po<strong>de</strong>, em <strong>de</strong>terminados momentos, <strong>de</strong>mandar investimentos em infraestrutura e, em outros,<br />

apropriar-se daquelas já existentes.<br />

Nesse contexto, essa possibilida<strong>de</strong> contribuirá para a construção <strong>de</strong> novos espaços que<br />

surgirão sempre que as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> consumo tiverem <strong>de</strong>manda. Nestes, não caberão situações<br />

nem cenários <strong>de</strong>sconectados com o marketing <strong>de</strong> interesse do mercado, que sempre <strong>de</strong>sperta o<br />

<strong>de</strong>sejo pelo consumo, quaisquer que seja ele, através <strong>de</strong> novas centralida<strong>de</strong>s que surgem com o<br />

passar do tempo na cida<strong>de</strong>. Percebemos, então, que as alterações que acontecem nesses espaços<br />

afetam paradoxalmente a população ali resi<strong>de</strong>nte uma vez que esse setor é um potencial gerador <strong>de</strong><br />

postos <strong>de</strong> trabalho e conseqüente ativador da economia.<br />

Neste sentido, este trabalho procurou <strong>de</strong>svendar os caminhos pelos quais a ativida<strong>de</strong><br />

terciária vem procurando se consolidar bem como se reproduzir como parte do sistema capitalista,<br />

dando ênfase <strong>de</strong> como ela vem se consolidando em artérias e/ou corredores principais da cida<strong>de</strong>.<br />

Nesse sentido, levantamos a hipótese <strong>de</strong> que as políticas públicas urba<strong>nas</strong>, algumas <strong>de</strong>las associadas<br />

ao turismo, induzem as transformações socioespaciais em Natal, privilegiando o capital privado,<br />

contribuindo, <strong>de</strong>ssa forma, para reeditar ativida<strong>de</strong>s tradicionais (mo<strong>de</strong>rnizadas) animadas pela<br />

economia do setor terciário.<br />

O espaço urbano e sua relação/apropriação pelo setor terciário da economia<br />

O setor secundário da economia era consi<strong>de</strong>rado, até meados dos anos <strong>de</strong> 1970, o mais<br />

importante setor da economia. Todo país bastante industrializado possui, ou chegou a possuir, um<br />

mínimo <strong>de</strong> 30% <strong>de</strong> sua população economicamente ativa nesse setor. Contudo, a maior parte das<br />

economias já industrializadas, especialmente os lí<strong>de</strong>res da Terceira Revolução Industrial: Estados<br />

Unidos, Japão e Alemanha entre outros, vêm apresentando, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os anos <strong>de</strong> 1970, uma rápida<br />

diminuição do número <strong>de</strong> operários, causada principalmente pela intensa diminuição do número <strong>de</strong><br />

operários, advinda da gran<strong>de</strong> automatização ou robotização das tarefas (UNDP, 2001).<br />

Nesse contexto, o único setor em que, atualmente se registra um sensível crescimento <strong>de</strong><br />

empregos e <strong>de</strong> novas ativida<strong>de</strong>s é o setor terciário, que se estima, será o gran<strong>de</strong> empregador do<br />

século XXI, pois os outros dois gran<strong>de</strong>s setores, irão ocupar juntos, no máximo, 20% da força <strong>de</strong><br />

trabalho nos países industrializados. Em virtu<strong>de</strong> da mecanização do campo e da urbanização,<br />

processos iniciados <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o advento da Revolução Industrial, a percentagem da população ocupada<br />

no setor primário ten<strong>de</strong> a diminuir no mundo inteiro, até atingir uma média <strong>de</strong> 5% a 6% da<br />

população ativa. Há, porém, segundo dados da UNDP (Human Development Report) (2001),<br />

102


percentagens ainda menores, como nos Estados Unidos (2,7%), na Bélgica (2,4%) e no Reino<br />

Unido (1,8%) (UNDP, 2001).<br />

Pelo contrário, graças aos avanços recentes na globalização associada à revolução técnico-<br />

científico-informacional, uma série <strong>de</strong> novas ativida<strong>de</strong>s e/ou empregos está surgindo no setor<br />

terciário. Novos tipos <strong>de</strong> comércio, expansão do turismo, da informática, das telecomunicações, das<br />

pesquisas científicas e tecnológicas entre outras dão a tônica do contexto atual <strong>de</strong>sse setor. Esse<br />

crescimento, no entanto, não ocorre em todas as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sse setor, mas ape<strong>nas</strong> em algumas<br />

<strong>de</strong>las, pois existem inúmeros empregos <strong>de</strong>ssa ativida<strong>de</strong> que também estão sendo esvaziados pela<br />

automatização das suas tarefas tais como; alguns setores bancários, funcionários <strong>de</strong> escritórios,<br />

datilógrafos, arquivistas, recepcionistas entre outros.<br />

Diante do exposto, tentaremos resgatar a importância e o significado, bem como o<br />

crescimento <strong>de</strong>ssa ativida<strong>de</strong>, fazendo uma relação com o espaço urbano ao longo do tempo,<br />

evi<strong>de</strong>nciando a evolução histórica <strong>de</strong>sse espaço até os dias atuais, procurando em seguida,<br />

apresentar uma tipologia <strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s, quando <strong>de</strong> sua apreensão com o espaço urbano<br />

contemporâneo e o mercado <strong>de</strong> trabalho em sua totalida<strong>de</strong> uma vez que ―a importância do terciário<br />

para o dinamismo dos espaços urbanos não constitui um fato recente na história da humanida<strong>de</strong>,<br />

visto que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os seus primórdios, muitas cida<strong>de</strong>s tiveram nestas ativida<strong>de</strong>s, o fator <strong>de</strong> sua<br />

formação histórica e do seu dinamismo sócio- econômico e espacial, ao longo <strong>de</strong> vários momentos<br />

do seu acontecer como cida<strong>de</strong>‖ (CASTILHO, 1998).<br />

As mudanças da atual organização econômica mundial, do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> produção às formas <strong>de</strong><br />

circulação, das mentalida<strong>de</strong>s e dos estilos <strong>de</strong> vida, inerentes à atual fase do capitalismo (a<br />

globalização), estão a produzir uma nova cida<strong>de</strong>, que em termos <strong>de</strong> forma e funcionamento, poucas<br />

semelhanças aparentam com as do passado. Esta cida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>scentrada, reticulada, constituída por um<br />

conjunto <strong>de</strong> enclaves, <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s áreas comerciais unidos por artérias e passagens <strong>de</strong>sniveladas,<br />

começou a <strong>de</strong>senhar os seus contornos com o forte processo <strong>de</strong> suburbanização das populações, que<br />

veio a se consolidar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os anos <strong>de</strong> 1950, sobretudo, nos países do centro.<br />

Entretanto, a partir dos anos <strong>de</strong> 1970, como o <strong>de</strong>senho <strong>de</strong> um novo mapa <strong>de</strong> acessibilida<strong>de</strong>s<br />

e mobilida<strong>de</strong>s bem como das novas lógicas empresariais, é que, <strong>de</strong>finitivamente, se acelera a sua<br />

produção. Em termos <strong>de</strong> estrutura, essa ―nova‖ cida<strong>de</strong> é policêntrica e fragmentada. O<br />

policentrismo, no essencial, se refere ao <strong>de</strong>clínio da organização hierárquica hegemonizada pelo<br />

tradicional centro comercial, financeiro e <strong>de</strong> serviços, e ao surgimento <strong>de</strong> uma multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

centros, uns especializados e outros mistos, tanto na cida<strong>de</strong> como <strong>nas</strong> periferias, na criação do qual<br />

o setor terciário tem um papel fundamental.<br />

Por sua vez, a fragmentação está relacionada como o modo como a cida<strong>de</strong> vem sendo<br />

produzida/reproduzida, segundo uma lógica <strong>de</strong> enclave, em que há contigüida<strong>de</strong> física sem,<br />

103


contudo, contiguida<strong>de</strong> social nem funcional. Muitas vezes esses enclaves são edifícios singulares ou<br />

megacomplexos cenográficos e espetaculares <strong>de</strong> residência, condomínios fechados, shopping-<br />

centers, áreas comerciais e <strong>de</strong> serviços, dissonantes, muitas vezes, do conjunto e localizados <strong>de</strong><br />

forma aparentemente aleatória, simples consequência do jogo dos atores imobiliários <strong>de</strong> valorização<br />

e <strong>de</strong>svalorização que atuam no espaço urbano.<br />

Assim, na base da construção/reconstrução da forma urbana na atualida<strong>de</strong>, encontramos<br />

também profundas mudanças na economia. Neste domínio, entre outros aspectos, assumem<br />

particular importância à transição da base econômica da indústria para o setor <strong>de</strong> serviços bem<br />

como às mudanças no modo <strong>de</strong> organização inerentes à passagem do mo<strong>de</strong>lo fordista-keynesiano,<br />

como já comentado, para o <strong>de</strong> acumulação flexível.<br />

Apoiada na flexibilida<strong>de</strong> dos processos <strong>de</strong> trabalho, dos produtos e dos padrões <strong>de</strong> consumo,<br />

a acumulação flexível permite que o consumo se liberte dos grilhões da padronização rígida e da<br />

estabilida<strong>de</strong>, celebrando a diferença, a efemerida<strong>de</strong>, o espetáculo, a moda e a mercantilização das<br />

formas culturais. Tudo isso se reflete diretamente no espaço urbano.<br />

2.1 Natal: o contexto do urbano e sua relação com o terciário<br />

Nesse contexto, a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Natal não constitui uma exceção, ou seja, é uma cida<strong>de</strong> que se<br />

afigura verda<strong>de</strong>iramente como um repositório <strong>de</strong>sses espaços, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua inserção na logística <strong>de</strong><br />

apoio aos americanos na Segunda Guerra Mundial, até os dias atuais com a crescente expansão das<br />

ativida<strong>de</strong>s terciárias que vem produzindo/reproduzindo e/ou reconfigurando novos espaços e, <strong>de</strong>ssa<br />

forma, re<strong>de</strong>finindo e/ou reconfigurando sua paisagem urbana, notadamente aquelas <strong>de</strong>stinadas ao<br />

setor <strong>de</strong> serviços.<br />

Dessa forma, acreditamos que as escolas tiveram (e tem) sua importância por analisar as<br />

cida<strong>de</strong>s em diferentes contextos históricos no seu processo evolutivo, entretanto, as médias e<br />

gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s que se incorporam aos diversos circuitos/re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> produção passam a expressar<br />

essas análises, consi<strong>de</strong>rando a diversificação das relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r que se estabeleceram na<br />

hierarquia <strong>de</strong>ssas múltiplas re<strong>de</strong>s e circuitos.<br />

Essa hierarquia que tece re<strong>de</strong>s <strong>de</strong>corre da forte dinâmica <strong>de</strong> alguns espaços urbanos que<br />

apresentam aceleradas transformações no seu interior. Essa dinamicida<strong>de</strong> é explicada por um<br />

refazer constante do arranjo sócio-econômico-espacial da cida<strong>de</strong>, caracterizado por um<br />

<strong>de</strong>slocamento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s e pela migração interna <strong>de</strong> sua população num processo <strong>de</strong><br />

valorização/<strong>de</strong>svalorização do solo urbano, tendo muitas vezes, o setor terciário como mo<strong>de</strong>lador da<br />

reconfiguração urbana numa dada área da cida<strong>de</strong> e/ou em várias áreas ainda que <strong>de</strong> forma e<br />

intensida<strong>de</strong> variadas.<br />

104


O espaço urbano representa, portanto, a construção coletiva da socieda<strong>de</strong> num processo<br />

cumulativo <strong>de</strong> sua cultura, sua economia, seus sonhos e suas realizações, ou seja, a expressão da<br />

condição humana. As várias feições <strong>de</strong>ssa condição apresentam-se <strong>de</strong> forma espacializada, cuja<br />

arquitetura e distribuição <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong>terminam à classe econômica dos moradores nos diferentes<br />

espaços. Assim, a construção <strong>de</strong>sse espaço urbano é produto do entendimento com a socieda<strong>de</strong>, mas<br />

também, e principalmente, <strong>de</strong> imposições do po<strong>de</strong>r econômico no contexto da relação público e<br />

privado cuja relação vai <strong>de</strong> encontro a interesses majoritários muitas vezes corroborados pelo<br />

Estado (FURTADO, 2006).<br />

Nesse sentido, os lugares para trocas <strong>de</strong> produtos sempre implicaram em situações<br />

estratégicas do ponto <strong>de</strong> vista socioespacial. No caso do comércio e serviços esse fator se torna<br />

fundamental. Quando se trata da reprodução <strong>de</strong> um pequeno capital, é óbvio que o fato <strong>de</strong> estar<br />

instalada numa área on<strong>de</strong> os consumidores possam afluir numa rua e/ou avenida comercial<br />

importante, por exemplo, permite a acumulação e a concentração <strong>de</strong> capital mais rapidamente do<br />

que num lugar on<strong>de</strong> essas condições não se verifiquem.<br />

A lógica da apropriação dos espaços é marcada e <strong>de</strong>marcada por alterações na estrutura<br />

socioeconômica como fator <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, cujo significado oscila entre o que se per<strong>de</strong> (aqui<br />

entendido como <strong>de</strong>scaracterização/<strong>de</strong>sapropriação <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s) e o que se ganha (a exemplo das<br />

ampliações realizadas por novos empreendimentos, principalmente na infraestrutura, criada e<br />

exigida pelo setor terciário). Em Natal, são as avenidas Engenheiro Roberto Freire e Bernardo<br />

Vieira que, ao longo dos últimos anos, vem se reconfigurando como áreas promissoras ao setor do<br />

comércio varejista e serviços, se refletindo no contexto do urbano. São estas que, na atualida<strong>de</strong>,<br />

mais recebem investimentos públicos e privados <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um contexto das políticas públicas<br />

urba<strong>nas</strong> da capital potiguar.<br />

Entretanto, esse processo <strong>de</strong> expansão urbana e terciária na cida<strong>de</strong>, fez-se sentir,<br />

principalmente a partir das décadas <strong>de</strong> 1970 e 1980, quando da política <strong>de</strong> expansão <strong>de</strong> habitação<br />

<strong>de</strong>senvolvida pelo Estado brasileiro via BNH (Banco Nacional <strong>de</strong> Habitação), possibilitando, <strong>de</strong>ssa<br />

forma, à aquisição da casa própria, aten<strong>de</strong>ndo em boa parte, às diversas classes sociais, viabilizando<br />

uma infraestrutura urbana que, gradativamente, faz <strong>de</strong>slocar as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sse setor para outras<br />

áreas da cida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>scentralizando e expandindo os empreendimentos <strong>de</strong>sse setor. Sobre esta<br />

questão, Gomes, Silva e Silva (2000, p. 74), evi<strong>de</strong>nciam que essa<br />

[...] <strong>de</strong>scentralização proporcionou um processo <strong>de</strong> reestruturação do espaço<br />

terciário fazendo emergir uma nova espacialização em Natal, que, <strong>de</strong>ssa vez<br />

‗optou‘ (grifo do autor) pela ocupação <strong>de</strong> longas avenidas que cortam a<br />

cida<strong>de</strong>, aqui <strong>de</strong>nominadas <strong>de</strong> vias expressas <strong>de</strong> circulação. É o caso das<br />

avenidas Hermes da Fonseca, Engenheiro Roberto Freire, Tomas Landim,<br />

105


Pru<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Moraes, Airton Sena, Bernardo Vieira e, mais recentemente, a<br />

Romualdo Galvão, a Jaguarari e o trecho urbano da BR 101. Essas vias<br />

expressas <strong>de</strong> circulação constituem, na atualida<strong>de</strong>, o espaço preferencial da<br />

ativida<strong>de</strong> terciária, visto que nelas se encontram os gran<strong>de</strong>s investimentos<br />

<strong>de</strong>sse setor. Houve, então, um processo combinado <strong>de</strong> reestruturação viária e<br />

relocalização do terciário.<br />

Assim, essa nova espacialida<strong>de</strong> que vem se mostrando <strong>nas</strong> últimas décadas em Natal, não<br />

vem ocorrendo <strong>de</strong> modo espontâneo e/ou mesmo casual. Observamos que os investimentos,<br />

principalmente os privados, são instalados nessas novas vias, uma vez que no entorno <strong>de</strong>stas, existe<br />

um gran<strong>de</strong> e importante contingente populacional, ou seja, consumidores em potencial e que se<br />

tornou consumidor nessas áreas e <strong>de</strong>ssas ativida<strong>de</strong>s terciárias, garantindo, <strong>de</strong>ssa forma, a<br />

reprodução do capital. Além disso, torna-se relevante <strong>de</strong>stacar aqui que, essas novas vias são<br />

facilitadoras do fluxo <strong>de</strong> população para diversos recantos da cida<strong>de</strong>.<br />

Cabe esclarecer, ainda que, nesse processo <strong>de</strong> re<strong>de</strong>finição comercial e <strong>de</strong> serviços pelo qual<br />

a cida<strong>de</strong> vem passando, as áreas tradicionais <strong>de</strong> comércio da cida<strong>de</strong> não foram extintas. Estas, aos<br />

poucos, vêm sendo incorporadas às novas espacialida<strong>de</strong>s constituídas, embora sua importância no<br />

conjunto da cida<strong>de</strong> tenha diminuído consi<strong>de</strong>ravelmente, em razão do surgimento <strong>de</strong>ssas novas áreas<br />

emergentes que, normalmente, são bem mais estruturadas. Assim, o bairro da Ribeira que per<strong>de</strong>u,<br />

ao longo do tempo, o papel importante que <strong>de</strong>sempenhou no comércio e nos serviços na cida<strong>de</strong> e<br />

que, <strong>de</strong> certa forma, vem passando o comércio da Cida<strong>de</strong> Alta, passam por um processo, ainda que<br />

<strong>de</strong> forma muito tímida, <strong>de</strong> reorganização e reutilização socioespacial, logo, <strong>de</strong> reconfiguração<br />

socioespacial na cida<strong>de</strong>.<br />

Consi<strong>de</strong>rações Finais<br />

Há fortes evidências empíricas que apoiam a existência <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> terceirização das<br />

economias capitalistas. As mais eloquentes são aquelas que apontam o persistente e significativo<br />

crescimento da participação do emprego do setor terciário no conjunto dos ocupados, em particular,<br />

<strong>nas</strong> economias <strong>de</strong>senvolvidas, a partir do pós-guerra. Em economias <strong>de</strong> industrialização tardia e<br />

periférica, como é o caso da brasileira, o <strong>de</strong>bate sobre o crescimento <strong>de</strong>sse setor e sua relação com o<br />

espaço urbano, incorpora uma questão adicional, além da dificulda<strong>de</strong> em <strong>de</strong>finir positivamente as<br />

ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas nesse setor.<br />

Os recortes temporais e/ou as fases do crescimento que representam os diversos momentos<br />

da história da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Natal, estão fundamentadas numa literatura específica sobre a cida<strong>de</strong> bem<br />

como em dados levantados junto a órgãos oficiais. São esses fatores que nos ajudarão na<br />

compreensão <strong>de</strong>ssa parte do trabalho. A utilização <strong>de</strong>sses autores se faz <strong>de</strong> extrema importância<br />

106


para a compreensão <strong>de</strong> uma periodização sem que se <strong>de</strong>ixe <strong>de</strong> observar as contradições existentes<br />

no espaço urbano <strong>de</strong> Natal e que fazem parte da gênese do organismo urbano, se manifestando <strong>de</strong><br />

forma mais intensa na atualida<strong>de</strong>. Assim, ainda que as ativida<strong>de</strong>s ditas menos organizadas tenham<br />

seu espaço econômico subordinado ao comportamento das ativida<strong>de</strong>s ditas dinâmicas, seu<br />

<strong>de</strong>sempenho, especialmente em momentos <strong>de</strong> <strong>de</strong>saceleração e/ou crise econômica, não <strong>de</strong>ve ser<br />

<strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rado da análise do processo <strong>de</strong> terceirização e, principalmente da relação <strong>de</strong>ste com o<br />

espaço urbano, na qual vem transformando a paisagem urbana <strong>de</strong> muitas cida<strong>de</strong>s do país, fato que<br />

em Natal não se mostra <strong>de</strong> forma diferente.<br />

Assim, como expressão concreta <strong>de</strong>ssa afirmação, po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>stacar que na área objeto<br />

<strong>de</strong>sse estudo, notadamente na Avenida Engenheiro Roberto Freire que tem ligação direta com o<br />

bairro <strong>de</strong> Ponta Negra, percebemos uma incidência frequente nos empreendimentos <strong>de</strong> lazer,<br />

gastronômicos, <strong>de</strong> hospedagens e <strong>de</strong> compras tais como: bares, restaurantes, shopping-centers,<br />

superrmercados, hipermercados, hotéis, pousadas entre outros. Todavia, <strong>de</strong>ve-se <strong>de</strong>stacar que este<br />

fato é corroborado pelo importante papel turístico que a cida<strong>de</strong> vem <strong>de</strong>senvolvendo nos últimos<br />

anos a nível regional, nacional e internacional.<br />

Portanto, o setor terciário da economia, enquanto eixo econômico das socieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

consumo, tem sido <strong>de</strong> muita importância no processo <strong>de</strong> ocupação dos espaços urbanos em Natal,<br />

uma vez que, à medida que reproduzir o capital na cida<strong>de</strong>, também reproduz o seu espaço urbano.<br />

Além disso, esse setor apresenta-se como uma das alternativas para a força <strong>de</strong> trabalho que migra<br />

do campo para a cida<strong>de</strong> e/ou das peque<strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s do interior do estado. Todavia, não po<strong>de</strong>mos<br />

<strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ressaltar, também, a gran<strong>de</strong> complexibilida<strong>de</strong> apresentada por este setor, o qual se<br />

materializa no espaço urbano, refletindo diretamente no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento econômico da<br />

cida<strong>de</strong>.<br />

Referências<br />

CASTILHO, C. J. <strong>de</strong> M. As Ativida<strong>de</strong>s dos serviços, sua história e seu papel na organização do<br />

espaço urbano: uma ―nova‖ perspectiva para a análise geográfica? Revista <strong>de</strong> Geografia, Recife, v.<br />

14, n. 1/2, p.29-89, jan./<strong>de</strong>z. 1989. Versão revisitada.<br />

CORRÊA, R. L. O Espaço Urbano. Ática. São Paulo: 1995.<br />

FURTADO, Edna Maria. A “onda” do turismo na Cida<strong>de</strong> do Sol: a reconfiguração urbana <strong>de</strong><br />

Natal. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) UFRN. PPCS, Natal, 2006.<br />

107


GOMES, R. <strong>de</strong> C. da C.; SILVA, A. B.; VALDENILDO, P. da S. O Setor Terciário em Natal. In:<br />

VALENÇA, Márcio Moraes; GOMES, Rita <strong>de</strong> Cássia da Conceição (Org.). Globalização e<br />

Desigualda<strong>de</strong>. Natal: A.S. Editores, 2002. P. 289-310.<br />

UNDP, Human Development Report, 2001.<br />

108


QUALIDADE DE VIDA NO DISTRITO DE JOAQUIM EGÍDIO, CAMPINAS-SP, ATRAVÉS<br />

DO IMAGINÁRIO RURAL E URBANO<br />

RESUMO<br />

MALDONADE, Iris Rodrigues 20<br />

PARK, Margareth Brandini 21<br />

PARK, Kil Jin 22<br />

A História do município <strong>de</strong> Campi<strong>nas</strong>-SP é marcada pela agricultura <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua origem. Hoje, além<br />

<strong>de</strong>ssa vocação, é referência tecnológica e industrial. O distrito <strong>de</strong> Joaquim Egídio torna-se<br />

importante por ser a maior área territorial do município, por pertencera Área <strong>de</strong> Proteção<br />

Ambiental, e por garantir áreas ver<strong>de</strong>s e o abastecimento da região. Através da História Oral, o<br />

artigo traz relatos <strong>de</strong> pessoas que participam do cotidiano do distrito e fazem apontamentos para<br />

que Campi<strong>nas</strong> e o distrito não entrem na vulnerabilida<strong>de</strong> social, ambiental e cultural.<br />

PALAVRAS CHAVES: Campi<strong>nas</strong>, Joaquim Egídio, <strong>de</strong>senvolvimento, sustentabilida<strong>de</strong>, história<br />

oral.<br />

ABSTRACT<br />

The history of Campi<strong>nas</strong>-SP is marked by agriculture since its origin. Today, besi<strong>de</strong>s this aspect, it<br />

is a technological and industrial reference. The District of Joaquim Egídio becomes important<br />

because it is the largest land area of the city, belonging to an Environmental Protection Area and<br />

also it safeguards green areas and water supplies to region. Through oral history, this article brings<br />

reports of people who participle in the everyday life of the district, signalizing how both the<br />

District and Campi<strong>nas</strong> has managed not to enter the environmental, social and cultural<br />

vulnerability.<br />

KEYWORDS: Campi<strong>nas</strong>, Joaquim Egídio, <strong>de</strong>velopment, sustainability, oral history<br />

Da Campi<strong>nas</strong> das campi<strong>nas</strong> à Campi<strong>nas</strong> dos fragmentos<br />

20<br />

Orientadora Pedagógica da Re<strong>de</strong> Municipal <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Campi<strong>nas</strong>-SP, mestre em Engenharia Agrícola -<br />

FEAGRI-UNICAMP, irismaldona<strong>de</strong>@gmail.com<br />

21<br />

Pesquisadora do Centro <strong>de</strong> Memória da UNICAMP doutora em Educação-Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Educação - FE/UNICAMP,<br />

margareth.park@gmail.com<br />

22<br />

Pesquisadora do Centro <strong>de</strong> Memória da UNICAMP doutora em Educação-Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Educação - FE/UNICAMP,<br />

margareth.park@gmail.com<br />

109


A cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campi<strong>nas</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua emancipação enquanto município ocupa uma<br />

localização geográfica que tem influenciado toda a história <strong>de</strong> seu <strong>de</strong>senvolvimento urbano,<br />

político, econômico e agrícola, conduzindo a um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> distribuição populacional que a coloca<br />

em situação <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> sócio-ambiental.<br />

Foi <strong>de</strong>scoberta no início do século XVIII como rota dos ban<strong>de</strong>irantes que iam <strong>de</strong> São Paulo<br />

para explorar as terras <strong>de</strong> Goiás e Mi<strong>nas</strong> Gerais, abrindo caminhos que, aos poucos, levavam a<br />

formações <strong>de</strong> Sesmarias e seus povoados.<br />

A fama da fertilida<strong>de</strong> da região com qualida<strong>de</strong> agrícola do solo e clima favorável estimula o<br />

povoamento, fornecendo repouso aos tropeiros e cavalos que seguiam pelo ―Caminho dos Goiases‖,<br />

levando produtos agrícolas como feijão, milho, mandioca, tabaco. Em 1721, formaram-se três<br />

povoados entre as vilas <strong>de</strong> Jundiaí e Mogi-Mirim, conhecida como ―Campi<strong>nas</strong> do Mato Grosso‖,<br />

<strong>de</strong>vido à predominância da vegetação-campi<strong>nas</strong>.<br />

Em 1842, a cida<strong>de</strong> foi batizada com o nome <strong>de</strong> ―Campi<strong>nas</strong>‖ confirmando o nome sugerido<br />

no final do século XVIII. Nesse momento, inicia-se a cultura <strong>de</strong> café. Em 1860, a cida<strong>de</strong> torna-se a<br />

maior produtora do estado <strong>de</strong> São Paulo.<br />

A região vive o apogeu do ―Ouro Ver<strong>de</strong>‖ (café) até 1929, quando a crise econômica<br />

internacional,registrada pela queda da bolsa <strong>de</strong> valores dos Estados Unidos, a atinge, marcando a<br />

transição da economia agrícola brasileira para a industrialização. Ela começa a ser abandonada<br />

pelos trabalhadores e fazen<strong>de</strong>iros ocasionando o êxodo rural e dando início ao processo <strong>de</strong><br />

urbanização da cida<strong>de</strong>.<br />

―Para se ter uma idéia do efeito daquela crise sobre a produção rural do município <strong>de</strong><br />

Campi<strong>nas</strong>, basta dizer que a população <strong>de</strong> Sousas, que em 1929 era constituída por cerca <strong>de</strong> 25.000<br />

pessoas, teve no período subsequente seu contingente reduzido a 5.000 habitantes, segundo dados<br />

da Monografia Histórica e Estatística do Distrito <strong>de</strong> Sousas” (CAMPINAS- Plano <strong>de</strong> Gestão da<br />

APA, 1996, p. 28).<br />

De 1930 a 1960, o processo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização do país influencia o município em sua<br />

estrutura econômica com a crescente ativida<strong>de</strong> industrial. A partir da década <strong>de</strong> 60, o município<br />

<strong>de</strong>senvolve-se na área educacional e científica com a criação da Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong><br />

Campi<strong>nas</strong> (UNICAMP) em 1966. Na área técnica, com a fundação da CATI (Coor<strong>de</strong>nadoria <strong>de</strong><br />

Assistência Técnica Integral) em 1967 e o Instituto <strong>de</strong> Tecnologia <strong>de</strong> Alimentos (ITAL) em 1969.<br />

Ambos os órgãos da Secretaria <strong>de</strong> Agricultura e Abastecimento do Governo do Estado <strong>de</strong> São<br />

Paulo.<br />

Segundo CUNHA e OLIVEIRA, A. (2001),na década <strong>de</strong> 70, o crescimento industrial foi<br />

elevado com o intenso processo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização agrícola, tornando a região um importante pólo<br />

regional.<br />

110


A política do Estado em <strong>de</strong>sconectar as ativida<strong>de</strong>s produtivas em direção ao interior paulista,<br />

processo <strong>de</strong> interiorização, impulsiona um gran<strong>de</strong> fluxo migratório ao interior paulista.<br />

―... os investimentos governamentais realizados através da oferta <strong>de</strong> incentivos e <strong>de</strong><br />

infraestrutura, somaram-se à existência <strong>de</strong> uma base agrícola mo<strong>de</strong>rna fortemente articulada ao setor<br />

industrial, e à existência <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> urbana bem estruturada‖(CUNHA e OLIVEIRA, A., 2001, p.<br />

354).<br />

Campi<strong>nas</strong>, por estar situada em ponto geográfica estratégico no Estado <strong>de</strong> São Paulo, recebe<br />

muitos imigrantes do referido Estado, bem como <strong>de</strong> outros. ―No <strong>de</strong>correr <strong>de</strong>stes anos, embora a<br />

instalação <strong>de</strong> indústrias, serviços e população tivessem se concentrado na capital e nos municípios<br />

<strong>de</strong> seu entorno, Campi<strong>nas</strong> atraiu em escala consi<strong>de</strong>rável novas indústrias‖ (CUNHA e OLIVEIRA,<br />

A. 2001, p. 353).<br />

Entretanto, o crescimento traz uma configuração da ocupação do território <strong>de</strong> maneira não<br />

homogênea, distribuindo a população <strong>de</strong> acordo com o po<strong>de</strong>r aquisitivo, em regiões diferentes.<br />

O Distrito <strong>de</strong> Joaquim Egídio<br />

Por volta <strong>de</strong> 1842, surge o povoado do atual Distrito <strong>de</strong> Joaquim Egídio, à leste do<br />

município <strong>de</strong> Campi<strong>nas</strong>, com ocupações <strong>nas</strong> imediações do ribeirão das Cabras. Passa a ser<br />

conhecido como bairro <strong>de</strong> Luciano Teixeira ou bairro <strong>de</strong> Laranjal, <strong>de</strong>nominação do proprietário da<br />

Fazenda, produtor <strong>de</strong> café e laranja.<br />

As histórias dos Distritos <strong>de</strong> Sousas e Joaquim Egídio se fun<strong>de</strong>m <strong>de</strong>vido aos sucessivos<br />

<strong>de</strong>smembramentos das sesmarias e, posteriormente, das fazendas. Dessa forma, surgem as <strong>de</strong>mais<br />

sendo que o nome do bairro rural <strong>de</strong> Campi<strong>nas</strong> é dado por Joaquim Egídio <strong>de</strong> Sousa Aranha,<br />

produtor <strong>de</strong> café. Por volta <strong>de</strong> 1846, as ocupações se intensificam <strong>nas</strong> extensões do ribeirão das<br />

Cabras, <strong>de</strong> forma linear acompanhando a rua principal, intitulada Heitor Penteado e a vila da<br />

Estação.<br />

Em 1958, o bairro é elevado à categoria <strong>de</strong> Distrito <strong>de</strong> Campi<strong>nas</strong> permanecendo, até hoje,<br />

como uma região extremamente diferenciada da paisagem característica <strong>de</strong> Campi<strong>nas</strong>, em função <strong>de</strong><br />

seu relevo aci<strong>de</strong>ntado <strong>de</strong> morros, serras alongadas, mananciais hídricos <strong>de</strong> abastecimento do<br />

município (os rios Jaguari e Atibaia são alimentados por alguns afluentes, como o ribeirão das<br />

Cabras), e permanência <strong>de</strong> remanescentes da Mata Atlântica, com cachoeiras, <strong>nas</strong>centes e clima<br />

propício à cultura agrícola.<br />

O relevo aci<strong>de</strong>ntado, <strong>de</strong> certa forma, contribui para a preservação dos recursos naturais, o<br />

que muito provavelmente possibilitou a transformação da área em Área <strong>de</strong> Proteção Ambiental <strong>de</strong><br />

Campi<strong>nas</strong>, afastando as pessoas <strong>de</strong> ali residirem.<br />

111


Entretanto tal fato, nos dias atuais, <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado como um entrave para ser<br />

atrativo <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida junto à natureza, ambiente prazeroso dando sensação <strong>de</strong> refúgio<br />

seguro e tranquilo.<br />

Até a promulgação da Lei que regulamenta essa região em Área <strong>de</strong> Proteção Ambiental, em<br />

2001, vários foram os empreendimentos imobiliários que impulsionaram a urbanização, porém <strong>de</strong><br />

maneira <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada. Com a crise econômica do café, a característica <strong>de</strong>ssa região foi sendo<br />

alterada, principalmente, pelas divisões das proprieda<strong>de</strong>s e pelo êxodo rural <strong>de</strong>ixando muitas<br />

fazendas abandonadas até a década <strong>de</strong> 1950.<br />

A partir <strong>de</strong>ssa década:<br />

―(...) com o novo impulso da economia rural, atrelado à intensificação da industrialização no<br />

município, instaurou-se um novo processo <strong>de</strong> urbanização na região, caracterizado pela implantação<br />

dos primeiros loteamentos e pelo surgimento <strong>de</strong> algumas indústrias. Mais notadamente, a partir <strong>de</strong><br />

então, a urbanização <strong>de</strong> Sousas se distinguirá <strong>de</strong> Joaquim Egídio pela sua dimensão e dinamismo‖<br />

(CAMPINAS- Plano <strong>de</strong> Gestão da APA, 1996, p.36).<br />

Nas décadas subsequentes, os Distritos passam por um processo intenso <strong>de</strong> loteamento das<br />

áreas para moradia, e, a partir da década <strong>de</strong> 1980, os condomínios fechados passam a ser a nova<br />

forma <strong>de</strong> moradia, trazendo consequências drásticas ao meio ambiente pela alteração da paisagem,<br />

da fauna, do consumo e tratamento <strong>de</strong> água, bem como problemas <strong>de</strong> erosão e <strong>de</strong> assoreamento.<br />

―Vários fatores, entretanto, indicam que a urbanização <strong>de</strong> áreas rurais da APA po<strong>de</strong> gerar<br />

consequências ainda mais graves, <strong>de</strong>vido à falta <strong>de</strong> infra-estrutura, predominância <strong>de</strong> <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong>s<br />

acentuadas e solos suscetíveis à erosão, hidrografia <strong>de</strong>nsa, presença <strong>de</strong> matas naturais, sendo que cerca<br />

<strong>de</strong> 70% da área remanescentes florestais nativos do Município <strong>de</strong> Campi<strong>nas</strong> se encontra na<br />

APA‖(CAMPINAS- Plano <strong>de</strong> Gestão da APA, 1996, p.79).<br />

A respeito dos problemas <strong>de</strong> especulação imobiliária e das consequências ambientais para a<br />

região, o Plano Gestor afirma que ―... o controle efetivo das pressões urbanizadoras só se dará, se<br />

forem encontradas alternativas econômicas que tornem interessante a manutenção do uso rural das<br />

terras, em comparação com a atrativida<strong>de</strong> dos parcelamentos‖.(CAMPINAS-Plano <strong>de</strong> Gestão da<br />

APA,1996, p.79)<br />

Pensando na sustentabilida<strong>de</strong> ambiental da APA, esse mesmo Plano i<strong>de</strong>ntifica ativida<strong>de</strong>s<br />

agro-silvo-pastoris, turísticas e minerais como sendo as alternativas <strong>de</strong> aproveitamento econômico.<br />

Para compreen<strong>de</strong>r como a sustentabilida<strong>de</strong> da região po<strong>de</strong> ser concretizada, não somente<br />

através da intenção trazida sob a forma da Legislação e dos estudos do Plano Gestor, mas,<br />

principalmente, ouvindo os <strong>de</strong>poimentos das pessoas que participam do cotidiano <strong>de</strong> Joaquim<br />

Egídio, é que se propõe esse estudo como forma <strong>de</strong> evi<strong>de</strong>nciar os apontamentos <strong>de</strong> ações sugeridas<br />

112


pelos integrantes <strong>de</strong>ssa comunida<strong>de</strong>, bem como a compreensão do imaginário rural necessário no<br />

<strong>de</strong>senvolvimento local sustentável.<br />

Metodologia<br />

Esse estudo tem o enfoque nos aspectos qualitativos por se propor a compreen<strong>de</strong>r o objeto<br />

<strong>de</strong> estudo analisando as relações estabelecidas entre comunida<strong>de</strong> e agricultores, na busca da<br />

sustentabilida<strong>de</strong> local, no caso o Distrito <strong>de</strong> Joaquim Egídio.<br />

A pesquisa está voltada para enten<strong>de</strong>r e compreen<strong>de</strong>r o que os pesquisados falam sobre a<br />

região, como se estabelecem as relações sociais e como se constroem as parcerias entre Po<strong>de</strong>r<br />

Público e Privado para po<strong>de</strong>r contribuir no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da comunida<strong>de</strong> local.<br />

A observação participante foi utilizada em diversos momentos <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s no próprio<br />

Distrito. Essa subsidiou a análise da comunida<strong>de</strong> como um todo, bem como indicou a alteração dos<br />

instrumentos <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> dados.<br />

A escolha pelo uso da entrevista oral se <strong>de</strong>u por possibilitar uma maior aproximação entre<br />

pesquisador e entrevistado, e, também, por permitir que o entrevistado use <strong>de</strong> seu conhecimento e<br />

sua história <strong>de</strong> vida selecionando momentos e episódios que acredita serem relevantes para esse<br />

estudo.<br />

Segundo GUEDES PINTO e PARK (2001, p.97) ―O fato <strong>de</strong> a história oral <strong>de</strong>linear-se<br />

nesse diálogo entre as diversas áreas/ fontes <strong>de</strong> conhecimento termina por permitir um olhar<br />

diferente a essas populações, buscando tornar visível as múltiplas facetas que compõem essa<br />

realida<strong>de</strong> focalizada‖.<br />

Foram entrevistados cinco tipos <strong>de</strong> estabelecimentos significativos e distintos, a saber:<br />

dono <strong>de</strong> restaurante, dono da escola <strong>de</strong> equitação, comerciante <strong>de</strong> produtos agrícolas que são<br />

vendidos fora do Distrito, produtor <strong>de</strong> produtos orgânicose pequeno comerciante <strong>de</strong> hortaliças.<br />

Esses foram escolhidos <strong>de</strong>vido a forte inserção que possuem no distrito.<br />

Apontamentos dos entrevistados - Imaginário Rural e Urbano<br />

Apesar <strong>de</strong> localizar-se <strong>de</strong>ntro da Área <strong>de</strong> Proteção Ambiental, a população <strong>de</strong> Joaquim<br />

Egídio procura forma <strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolver economicamente com ações associadas às suas<br />

características originais.<br />

―O setor turístico aposta em ativida<strong>de</strong>s esportivas que valorizem e respeitem a área <strong>de</strong><br />

proteção ambiental capturando a<strong>de</strong>ptos, principalmente, aos finais <strong>de</strong> semana. As ―comidas caipiras‖<br />

são oferecidas pelos vários restaurantes, cada vez mais lotados, com longas filas <strong>de</strong> espera,<br />

113


acompanhadas <strong>de</strong> músicas <strong>de</strong> raiz cantada/tocada por duplas <strong>de</strong> músicos que ajudam a configurar esse<br />

cenário bucólico‖ (PARK,2005,p.24).<br />

É nesse cenário, moradores da região e pessoas que vêm <strong>de</strong> outras localida<strong>de</strong>s em busca <strong>de</strong><br />

tranquilida<strong>de</strong> e qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, que se tenta manter as tradições da região e o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

econômico fortalecendo o imaginário rural local.<br />

―O imaginário social <strong>de</strong>sses lugares representa um amálgama dos resquícios da vida em<br />

fazendas e peque<strong>nas</strong> vilas, valorizando um universo rural repleto <strong>de</strong> costumes religiosos, festas<br />

típicas e comidas rememoradas <strong>de</strong> antigos fogões à lenha‖ (PARK, 2005, p.24).<br />

A escolha do local para moradia <strong>nas</strong> falas dos entrevistados está atrelada à busca pela<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida. Entretanto, as pessoas que migraram <strong>de</strong> outras regiões para essa área possuem<br />

uma representação do rural diferente, dos que nela resi<strong>de</strong>m há mais <strong>de</strong> 30 anos e/ ou <strong>nas</strong>ceram na<br />

região.<br />

A qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida para aqueles que vieram <strong>de</strong> outras regiões está vinculada às questões<br />

estéticas como presença <strong>de</strong> matas, rio – riachos e cachoeiras, ar <strong>de</strong>spoluído, temperatura agradável<br />

e animais. Apesar do objetivo comum, ou seja, encontrar outro lugar para morar, os motivos<br />

<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>adores para essa mudança variam conforme cada entrevistado.<br />

A entrevistada, bióloga e comerciante <strong>de</strong> ervas medicinais e aromáticas, procura um espaço<br />

para plantar e cultivar suas ervas. Entretanto, seu comércio localiza-se na região central <strong>de</strong><br />

Campi<strong>nas</strong> em um dos bairros mais nobres <strong>de</strong> Campi<strong>nas</strong>, <strong>de</strong>nominado Cambuí.<br />

―(...) <strong>de</strong>pois que eu montei a chácara com as ervas medicinais e aromáticas eu achei que <strong>de</strong>veria<br />

ter um ponto pra comercialização <strong>de</strong>ssas ervas, aí eu escolhi o Cambuí por ser uma região aon<strong>de</strong> só<br />

tem muitos prédios, poucas casas com quintais e resolvi montar um espaço on<strong>de</strong> eu tenho muito<br />

ver<strong>de</strong>, pra trazer um pouquinho o ver<strong>de</strong> <strong>de</strong> Sousas‖.<br />

O comerciante <strong>de</strong> produtos orgânicos resi<strong>de</strong> na região <strong>de</strong> Joaquim Egídio há 10 anos. Veio<br />

passear no país e conheceu sua esposa, que era <strong>nas</strong>cida nessa região. Participa dos encontros <strong>de</strong><br />

agricultores <strong>de</strong> Campi<strong>nas</strong>, dos momentos políticos e festivos do Distrito <strong>de</strong> Joaquim Egídio.<br />

Buscou ajuda para introduzir a permacultura e, como salienta, sua proprieda<strong>de</strong> é consi<strong>de</strong>rada a<br />

única com o referido sistema em Campi<strong>nas</strong>. A permacultura é um sistema <strong>de</strong> produção orgânica<br />

que planeja a proprieda<strong>de</strong> rural para a produção <strong>de</strong> suas culturas, utilizando suas próprias matérias<br />

orgânicas para compostagem e adubação <strong>de</strong> maneira a completar o ciclo produtivo <strong>de</strong>ntro da<br />

proprieda<strong>de</strong>. Valoriza a composição da vegetação, fauna e flora local, conciliando-a com sua<br />

produção. Baseia-se no ―<strong>de</strong>sign‖ para a criação <strong>de</strong> ambientes através da observação <strong>de</strong> sistemas<br />

naturais, na sabedoria contida em sistemas produtivos tradicionais e no conhecimento mo<strong>de</strong>rno,<br />

científico e tecnológico.<br />

114


O sistema orgânico é o terceiro princípio valendo para todo o território da APA <strong>de</strong><br />

Campi<strong>nas</strong>, segundo a Lei nº 10.850inciso II –―serão incentivados cultivos sob os critérios da<br />

agricultura orgânica‖<br />

Porém, esse sistema agrícola é pouco utilizado na região da APA e, menos ainda, é a<br />

utilização da permacultura como uma das formas <strong>de</strong>sse sistema no município. ―Campi<strong>nas</strong> tem um<br />

milhão <strong>de</strong> habitantes, e os produtores orgânicos cabem nos <strong>de</strong>z <strong>de</strong>dos da minha mão‖ (<strong>de</strong>poimento<br />

do comerciante <strong>de</strong> produtos orgânicos).<br />

Apesar da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida também estar no discurso daqueles que <strong>nas</strong>ceram e/ou estão há<br />

mais <strong>de</strong> 30 anos morando nessa região, os novos moradores acrescentam um diferencial que agrega<br />

outros valores correspon<strong>de</strong>ntes ao vínculo das pessoas com a região, permitindo a constatação <strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e um sentimento <strong>de</strong> pertencimento.<br />

Nesse trabalho, pertencimento é entendido conforme Gonçalves: ―Pertencer a uma cida<strong>de</strong>,<br />

vila ou bairro, não é ape<strong>nas</strong> viver nela, mas participar ativamente <strong>de</strong> seu cotidiano, <strong>de</strong> seus ritos e<br />

costumes‖(GONÇALVES, 2003, p. 123).<br />

O proprietário <strong>de</strong> escola <strong>de</strong> equitação, <strong>nas</strong>cido em Sousas, fala da característica peculiar da<br />

região que é a cultura caipira, a qual i<strong>de</strong>ntifica com o tipo <strong>de</strong> trabalho que realiza: domador,<br />

a<strong>de</strong>strador e instrutor <strong>de</strong> equitação.<br />

Vale salientar que a cultura caipira é um marco da vida no campo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a época da<br />

colonização do Brasil, e que se intensificou no Estado <strong>de</strong> São Paulo com o movimento <strong>de</strong><br />

urbanização das cida<strong>de</strong>s.<br />

Oliveira, J. T. (2000) contribui com seu estudo, nesse momento, para que se possa<br />

compreen<strong>de</strong>r o que o dono da escola <strong>de</strong> equitação diz sobre a cultura caipira na região <strong>de</strong> Joaquim<br />

Egídio e Sousas.<br />

A autora baseia seus pressupostos em dois autores que estudaram o campesinato no Brasil,<br />

Antonio Candido e Maria Isaura Pereira <strong>de</strong> Queiroz. Queiroz, citada pela autora, mostra que no<br />

período da escravatura, existia uma nítida divisão social representada pelos senhores e os escravos.<br />

Essa separação permanece após a abolição da escravatura representada pelos fazen<strong>de</strong>iros e seus<br />

parceiros. Somente a partir do final do século XIX, com o <strong>de</strong>senvolvimento da vida urbana, é que<br />

aparece uma camada intermediária entre as duas. Entretanto, essa nova divisão fica restrita à vida na<br />

cida<strong>de</strong>, ficando o campo com a divisão anterior.<br />

As populações camponesas, cujas características gerais são universais, representam no<br />

Brasil o caipira e o sitiante. Porém, apresentam especificida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> acordo com a história <strong>de</strong> cada<br />

região.<br />

―O camponês, em qualquer região do planeta, é um trabalhador rural cujo produto tem como<br />

<strong>de</strong>stino primordial o sustento da família, po<strong>de</strong>ndo ou não ven<strong>de</strong>r o exce<strong>de</strong>nte da produção. Em geral, é<br />

115


um policultor, praticando uma agricultura rudimentar a partir <strong>de</strong> um conhecimento transmitido através<br />

<strong>de</strong> gerações‖ (OLIVEIRA J.T, 2000, p.11).<br />

Em Cândido, também citado pela autora, o conceito do o caipira, além <strong>de</strong> indicar uma<br />

localização geográfica rural, traz ―(...) o sentido <strong>de</strong> cultura, <strong>de</strong> organização social, semelhante ao<br />

conceito <strong>de</strong> cultura camponesa, exprimindo ―sempre um modo <strong>de</strong> ser, um tipo <strong>de</strong> vida‖ típico da<br />

história paulista‖ (OLIVEIRA J.T, 2000, p.12).<br />

Park, ao estudar a gênese da figura do Jeca Tatu por Monteiro Lobato, aponta que o autor<br />

vem a público <strong>de</strong>sculpar-se pelo tipo que criou para representar o caipira brasileiro. Desculpa-se,<br />

mas não consegue redimir a criatura, que não convence quando supera suas mazelas. Segundo a<br />

autora, ―O Jeca circula na socieda<strong>de</strong> brasileira pela re<strong>de</strong> que perpassa o imaginário social. Andou e<br />

anda por aí, livremente a mostrar uma marginalida<strong>de</strong> que se nos apresenta incorporada, consciente<br />

ou inconsciente...‖ (PARK, 1999, p.128).<br />

Muitos autores utilizaram a imprensa para criticar Lobato como, por exemplo, Rocha Pombo<br />

que cria o Jeca-Leão, matuto esperto e forte, para contrapor-se ao Jeca <strong>de</strong> Lobato. O entrevistado,<br />

comerciante <strong>de</strong> hortaliças, aproxima-se <strong>de</strong>sse pensamento quando verbaliza que é um caipira, mas<br />

esperto, matuto, curioso, trabalhador e aprendiz.<br />

Nesse sentido, outro entrevistado, comerciante que <strong>nas</strong>ceu na região, reforça esse conceito<br />

positivo, quando acrescenta outro diferencial para a área rural: lócus do caipira. Fala da<br />

tranquilida<strong>de</strong>, do prazer em saborear a comida, da dose <strong>de</strong> paciência por causa da morosida<strong>de</strong> do<br />

local. A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se manter as fachadas dos estabelecimentos comerciais e <strong>de</strong> moradia, no<br />

centro do Distrito, se faz presente como uma questão patrimonial e histórica da região, que são as<br />

características do ―rural <strong>de</strong> Campi<strong>nas</strong>‖.<br />

Proprietário <strong>de</strong> dois restaurantes muito procurados na região oferece esses espaços, enquanto<br />

―slow food”. Relata que, nos restaurantes as pessoas precisam estar à vonta<strong>de</strong>, assim como os<br />

garçons, pois tudo é preparado na hora. Não há uma linha <strong>de</strong> produção e nem utilização <strong>de</strong> produtos<br />

pré-cozidos. Além <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> atendimento, ele reconstitui seus estabelecimentos na arquitetura<br />

original acrescida <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhes característicos às práticas culturais próprias das antigas gerações<br />

como, por exemplo, o hábito <strong>de</strong> alimentar animais com frutas e verduras <strong>nas</strong> árvores existentes,<br />

propiciando a sensação <strong>de</strong> reviver a história local.<br />

―Sousas e Joaquim Egídio hoje é um quintal, você vem pra passear, curtir, vem pra<br />

conhecer, pra caminhar no meio do mato e também tem que <strong>de</strong>sfrutar das comidas que tem no<br />

restaurante, <strong>de</strong> tudo‖. (<strong>de</strong>poimento do dono <strong>de</strong> restaurante)<br />

O imaginário rural <strong>de</strong>sses dois Distritos está sendo reconstituído com a presença <strong>de</strong>sses<br />

dois públicos distintos: os que estão chegando e aqueles que já possuem uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> local. A<br />

cultura caipira está sofrendo fortes influências advindas do processo <strong>de</strong> urbanização local e dos<br />

116


diferentes interesses das pessoas que estão convivendo nesses Distritos. Po<strong>de</strong>-se enten<strong>de</strong>r esse<br />

processo <strong>de</strong> urbanização a partir da caracterização que Candido, citado por Oliveira, faz sobre o<br />

modo <strong>de</strong> vida do caipira.<br />

―(...) o modo <strong>de</strong> vida do caipira, a partir da premissa que todo grupo social pressupõe a<br />

obtenção <strong>de</strong> um equilíbrio relativo entre as suas necessida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> caráter natural (requerimentos<br />

nutricionais) e social (<strong>de</strong>terminado pelos requisitos culturais e <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong>), e os recursos do meio<br />

físico disponíveis e manejáveis segundo as próprias condições do grupo social‖(OLIVEIRA J.T, 2000,<br />

p.12).<br />

As interferências no processo <strong>de</strong> urbanização das cida<strong>de</strong>s, principalmente a partir dos anos<br />

70, influenciam no conceito sobre o caipira paulista. A partir <strong>de</strong>sse momento, o caipira apresenta-se<br />

diferente, <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> utilizar a agricultura, exclusivamente para a subsistência. Ao contrário, ele a<br />

utiliza preocupado em mo<strong>de</strong>rnizar seus equipamentos e organizar seu trabalho, visando lucro. Além<br />

disso, o vínculo com o bairro rural <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser a subsistência, passando a cida<strong>de</strong> ser o local que<br />

supre suas necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> alimentação, vestimenta, compras <strong>de</strong> insumos, enfim <strong>de</strong> diversos<br />

produtos.<br />

Nesse sentido, Joaquim Egídio vem sendo reconfigurado em seu espaço geográfico, bem<br />

como em suas relações sociais. Esse novo modo <strong>de</strong> conceber o Distrito traz preocupações quanto à<br />

utilização ina<strong>de</strong>quada das áreas rurais na transformação em áreas urba<strong>nas</strong>, trazendo sérias<br />

consequências quanto ao uso e tratamento da água, <strong>de</strong> Campi<strong>nas</strong>, e assoreamento dos ribeirões e<br />

rios, causados, principalmente, pela intensificação da especulação imobiliária no Distrito.<br />

Sendo assim, as áreas rurais dos Distritos estão se reconfigurando constantemente com a<br />

introdução das novas culturas trazidas pelos novos moradores. Entretanto, a cultura caipira do local<br />

está sendo veiculada e explorada comercialmente como o modo <strong>de</strong> vida local agregado ao<br />

pensamento da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida na atualida<strong>de</strong>.<br />

Consi<strong>de</strong>rações<br />

A área rural é representada como um lugar bonito, exótico e com qualida<strong>de</strong>s favoráveis a<br />

saú<strong>de</strong> e vida humana, sendo a urbanização uma possível ameaça colocando em risco um meio<br />

ambiente saudável e acolhedor. Porém, se houver um planejamento envolvendo o Po<strong>de</strong>r Público e<br />

a comunida<strong>de</strong> local, torna-se possível preservar e manter a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida na cida<strong>de</strong> e no<br />

distrito.<br />

Os <strong>de</strong>poimentos e as fontes consultadas apontaram sugestões visando conciliar a<br />

urbanização do Distrito com as suas práticas culturais.<br />

117


São elas:<br />

Bibliografia<br />

Estruturação <strong>de</strong> cursos para crianças e jovens sobre técnicas agropecuárias, doma <strong>de</strong><br />

animais e cuidados com o meio ambiente;<br />

Estruturação <strong>de</strong> cursos para agricultores, proprietários, moradores e comerciantes sobre a<br />

APA <strong>de</strong> Campi<strong>nas</strong>, contendo as suas divisões, orientações sobre o uso do solo, bem como seus<br />

aspectos legais com os objetivos <strong>de</strong>orientação para ações na região;<br />

Desenvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s na escola vinculadas ao cotidiano do Distrito;<br />

Estruturação <strong>de</strong> cursos específicos <strong>de</strong> agropecuária para os trabalhadores rurais,<br />

administradores e proprietários.<br />

CAMPINAS, Prefeitura Municipal <strong>de</strong>. Secretaria Municipal <strong>de</strong> Planejamento e Meio Ambiente.<br />

Plano <strong>de</strong> Gestão da Área <strong>de</strong> Proteção Ambiental <strong>de</strong> Sousas e Joaquim Egídio. APA Municipal.<br />

Campi<strong>nas</strong>, 1996.<br />

________,Prefeitura Municipal <strong>de</strong>. CIPO: Cadastro Intermunicipal <strong>de</strong> Produtos Orgânicos.<br />

Campi<strong>nas</strong>, setembro, 2002<br />

________,Prefeitura Municipal <strong>de</strong>. Diário Oficial do Município <strong>de</strong> Campi<strong>nas</strong>. Lei n° 10.850.<br />

Campi<strong>nas</strong>, 08 <strong>de</strong> junho, 2001.<br />

CUNHA, José Pinto da; OLIVEIRA, Antonio Augusto Bitencourt <strong>de</strong>. População e Espaço intraurbano<br />

em Campi<strong>nas</strong>. In: HOGAN, Daniel Joseph; BAENINGER, Rosana; CUNHA, José Marcos<br />

Pinto da; CARMO, Roberto Luiz do (orgs.). Migração e Ambiente <strong>nas</strong> Aglomerações Urba<strong>nas</strong>.<br />

Campi<strong>nas</strong>: PRONEX/FINEP/CNPq/NEPO - Núcleo <strong>de</strong> Estudo <strong>de</strong> População/UNICAMP, 2001, (p.<br />

353/354), 516p.<br />

GONÇALVES, José Roberto. Memória e pertencimento: a Vila Castelo Branco no espaço urbano<br />

<strong>de</strong> Campi<strong>nas</strong>. RESGATE - Revista <strong>de</strong> cultura. Campi<strong>nas</strong>: Área <strong>de</strong> publicações CMU/UNICAMP, n.<br />

12, 2003.<br />

GUEDES PINTO, Ana Lúcia; PARK, Margareth Brandini. Ética e História Oral: subsídios para<br />

um trabalho com populações em situação <strong>de</strong> risco. In: VON SIMON, Olga Rodrigues <strong>de</strong> Moraes;<br />

PARK, Margareth Brandini; FERNANDES, Renata Sieiro.(orgs.). Educação não-formal: cenários<br />

da criação .Campi<strong>nas</strong>, SP: Editora da UNICAMP/ Centro <strong>de</strong> Memória, 2001. 313 p.<br />

MALDONADE, Íris R. Práticas Educativas Ambientais no Distrito <strong>de</strong> Joaquim Egídio, Campi<strong>nas</strong>-<br />

SP: em busca da sustentabilida<strong>de</strong> local. Campi<strong>nas</strong>, FEAGRI-UNICAMP. Dissertação <strong>de</strong> Mestrado,<br />

2006. 180 p.<br />

OLIVEIRA, Julieta Teresa Aier <strong>de</strong>. Lógicas produtivas e impactos ambientais: Estudo<br />

Comparativo <strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong> produção. Campi<strong>nas</strong>, FEAGRI, UNICAMP. Tese (doutorado), 2000.<br />

284 p<br />

PARK, Margareth Brandini, Histórias e Leituras <strong>de</strong> Almanaques no Brasil. Campi<strong>nas</strong>, Mercado <strong>de</strong><br />

Letras/ ALB/ FAPESP, 1999. 216 p.<br />

_______,Margareth Brandini; IÓRIO, Suely Ap.; FERREIRA, Flávia <strong>de</strong> Barros,; PENA, Monica<br />

Eduarda <strong>de</strong> Almeida.; BASSETO, Luciana. Educação Infantil – Arte, Memória e Meio Ambiente.<br />

Jundiaí-SP: Árvore do Saber - Edições e Centro <strong>de</strong> Estudos Pedagógicos, 2005. 104 p.<br />

118


TOPOFILIA E CAPACIDADE ADAPTATIVA: POPULAÇÃO EXPOSTA A RISCOS DE<br />

INUNDAÇÕES<br />

Resumo<br />

Juliana da Silva IBIAPINA CAVALCANTE (PRODEMA/UFRN) –<br />

juliana.ibiapina@hotmail.com<br />

Magdi Ahmed Ibrahim ALOUFA (DBEZ/UFRN) –<br />

magdi-aloufa@bol.com.br<br />

O processo <strong>de</strong> urbanização brasileiro tem se caracterizado por problemas recorrentes que envolvem<br />

situações <strong>de</strong> risco. Esse padrão <strong>de</strong> insustentabilida<strong>de</strong> urbana acaba gerando <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s<br />

ambientais que afetam indivíduos e grupos sociais <strong>de</strong> maneira diferenciada. Para enten<strong>de</strong>r como se<br />

dá a relação <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong>mográficos expostos a riscos e o ambiente no qual estão inseridos a<br />

percepção ambiental mostra-se um instrumento <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valia no contexto <strong>de</strong> estudos <strong>de</strong><br />

população e ambiente. Além disso, é <strong>de</strong> extrema importância a compreensão da topofilia, ou nível<br />

<strong>de</strong> envolvimento e afetivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> populações com seus locais <strong>de</strong> moradia. Desta forma, objetivou-se<br />

i<strong>de</strong>ntificar e analisar situações <strong>de</strong> topofilia e estratégias <strong>de</strong> adaptação da população do Complexo<br />

Passo da Pátria em Natal-RN diante da alta vulnerabilida<strong>de</strong> e riscos <strong>de</strong> inundações a qual está<br />

exposta. Através <strong>de</strong> um estudo qualitativo, com a aplicação <strong>de</strong> questionários analisados por meio da<br />

análise <strong>de</strong> conteúdo foi possível concluir que a população em questão, apesar <strong>de</strong> todos os<br />

inconvenientes advindos da exposição aos riscos <strong>de</strong> inundações nutre um forte sentimento <strong>de</strong><br />

pertencimento e envolvimento com a localida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>senvolvendo estratégias <strong>de</strong> convivência com o<br />

risco.<br />

Palavras-chave: Topofilia, envolvimento, adaptação, vulnerabilida<strong>de</strong>.<br />

Abstract<br />

The urbanization process in Brazil has been characterized by recurring problems that involve risk<br />

situations.This pattern ends up generating unsustainable urban environmental inequalities that affect<br />

individuals and social groups differently.To un<strong>de</strong>rstand how is the relationship of <strong>de</strong>mographic<br />

groups at risk and the environment in which they are inserted to environmental perception proves to<br />

be a valuable tool in the context of studies of population and environment. Moreover, it is extremely<br />

important to un<strong>de</strong>rstand the topophilia, or level of involvement and affection of people with their<br />

homes.Thus, the objective was to i<strong>de</strong>ntify and analyze situations topophilia and adaptation<br />

strategies of the population of Passo da Pátria Complex in Natal-RN before the high vulnerability<br />

and flood risks to which it is exposed. Through a qualitative study with questionnaires analyzed<br />

using content analysis it was conclu<strong>de</strong>d that the population in question,<strong>de</strong>spite all the<br />

inconveniences arising from exposure to flood risks nurtures a strong sense of belonging and<br />

engagement with the locale, <strong>de</strong>veloping strategies for coping with risk.<br />

Keywords:Topophilia, involvement, adaptation, vulnerability.<br />

Introdução<br />

No meio urbano é extremamente perceptível a existência <strong>de</strong> inúmeros problemas <strong>de</strong>correntes<br />

do processo <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nado <strong>de</strong> urbanização. Dessa forma, esse padrão <strong>de</strong> insustentabilida<strong>de</strong> urbana<br />

119


traz um cenário <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s ambientais on<strong>de</strong>, segundo Alves (2007), se po<strong>de</strong> verificar a<br />

exposição diferenciada <strong>de</strong> indivíduos e grupos sociais a amenida<strong>de</strong>s e riscos ambientais. Sendo<br />

assim, no contexto dos estudos <strong>de</strong> população e ambiente é importante enten<strong>de</strong>r como se dá a relação<br />

entre grupos <strong>de</strong>mográficos expostos a riscos e o ambiente no qual estão inseridos.<br />

A percepção ambiental, <strong>de</strong> modo geral, vem chamando a atenção para um diagnóstico mais<br />

profundo através da análise <strong>de</strong> como a comunida<strong>de</strong> interpreta o ambiente em que vive (Barreto,<br />

2008). Para essa compreensão, é <strong>de</strong> extrema importância a abordagem da topofilia. Segundo Tuan<br />

(1980) a topofilia se configura como o elo afetivo e <strong>de</strong> envolvimento entre as pessoas e o seu<br />

ambiente. Para Marandola Jr.; Hogan (2009), em situações em que há uma fraca a<strong>de</strong>rência ou<br />

relação <strong>de</strong> afetivida<strong>de</strong> entre as pessoas e o lugar as condições <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m ser<br />

potencializadas, <strong>de</strong> acordo com essa percepção.<br />

Neste contexto, essa pesquisa constatou que o Complexo Passo da Pátria, zona leste <strong>de</strong><br />

Natal-RN caracteriza-se como um ambiente <strong>de</strong> alta exposição a riscos <strong>de</strong> inundações. Por localizar-<br />

se em área imprópria para ocupações, às margens do rio Potengi, e apresentar sérias carências<br />

estruturais, com <strong>de</strong>staque para a falta <strong>de</strong> saneamento básico, o fenômeno das inundações apresenta<br />

frequência e recorrência elevada. Esses eventos <strong>de</strong> inundações têm trazido diversos prejuízos<br />

humanos e materiais para esta comunida<strong>de</strong>.<br />

Portanto, este estudo tem como objetivo compreen<strong>de</strong>r como a população do Complexo<br />

Passo da Pátria, zona leste <strong>de</strong> Natal-RN interpreta o ambiente em que vive, i<strong>de</strong>ntificando e<br />

analisando as situações <strong>de</strong> afetivida<strong>de</strong> (topofilia) <strong>de</strong>ssa população com seu espaço <strong>de</strong> convivência.<br />

Metodologia<br />

RN.<br />

Caracterização da Área<br />

O complexo Passo da Pátria situa-se no bairro Cida<strong>de</strong> Alta, zona leste da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Natal-<br />

Figura 01- Localização do Complexo Passo da Pátria<br />

120


As primeiras habitações do Complexo foram construídas em áreas aterradas das margens do<br />

Rio Potengi constituídas por habitações irregulares que se <strong>de</strong>senvolveram com a total ausência <strong>de</strong><br />

saneamento básico. O Complexo Passo da Pátria é <strong>de</strong>nominado como uma localida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

assentamentos precários e conta com 535 domicílios e 2.142 habitantes <strong>de</strong> acordo com Natal<br />

(2010).<br />

Procedimentos Metodológicos<br />

Utilizou-se como instrumento <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> dados um questionário adaptado <strong>de</strong> outros<br />

estudos sobre percepção <strong>de</strong> riscos ambientais.<br />

O questionário apresenta a seguinte estrutura: a primeira parte se refere a dados pessoais do<br />

entrevistado para a i<strong>de</strong>ntificação do perfil socioeconômico. A segunda parte se constitui <strong>de</strong> questões<br />

referentes à percepção, experiência do entrevistado com relação ao fenômeno estudado como<br />

também a i<strong>de</strong>ntificação da percepção do sujeito quanto à causalida<strong>de</strong> e responsabilida<strong>de</strong>s pelas<br />

inundações. A terceira parte do questionário tem a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r a avaliação e a<br />

escolha dos moradores pelo local <strong>de</strong> moradia, consi<strong>de</strong>rando sua percepção sobre a realida<strong>de</strong> local. O<br />

quarto grupo <strong>de</strong> perguntas objetiva conhecer a conduta do sujeito em caso <strong>de</strong> serem atingidos por<br />

inundações, além <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar possíveis situações indutoras <strong>de</strong> intolerância por parte dos<br />

moradores. O quinto grupo <strong>de</strong> questões se refere aos ajustamentos realizados pelos entrevistados e<br />

pela prefeitura quanto aos riscos <strong>de</strong> inundação. Por fim, o último grupo <strong>de</strong> perguntas permite avaliar<br />

como os moradores atuam e participam das problemáticas da sua comunida<strong>de</strong>.<br />

Neste trabalho, será dada ênfase ape<strong>nas</strong> às questões referentes à topofilia e à capacida<strong>de</strong><br />

adaptativa da população diante das situações <strong>de</strong> risco.<br />

Foram realizadas 20 entrevistas com moradores do Complexo Passo da Pátria. É importante<br />

ressaltar que a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> entrevistados não é i<strong>de</strong>al do ponto <strong>de</strong> vista estatístico, porém, por se<br />

tratar <strong>de</strong> uma pesquisa qualitativa este número <strong>de</strong> entrevistados aten<strong>de</strong> aos objetivos propostos.<br />

Desta maneira, a abordagem qualitativa aqui realizada é a forma mais a<strong>de</strong>quada para enten<strong>de</strong>r a<br />

natureza do fenômeno estudado.<br />

Além disso, <strong>de</strong>vido às características da localida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estudo, a abordagem qualitativa é a<br />

que melhor se adéqua <strong>de</strong>vido às dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> acessibilida<strong>de</strong> na área. A área <strong>de</strong> estudo se<br />

caracteriza por situações <strong>de</strong> insegurança como venda/uso <strong>de</strong> drogas, assaltos, homicídios, entre<br />

outros. Devido a isso, os indivíduos abordados foram os que se encontravam mais acessíveis e<br />

disponíveis no momento. As visitas ao Complexo Passo da Pátria foram realizadas na presença <strong>de</strong><br />

um lí<strong>de</strong>r comunitário, o qual facilitou o acesso da pesquisadora à área na tentativa <strong>de</strong> minimizar<br />

121


qualquer possível conflito causado por uma pessoa estranha à comunida<strong>de</strong> e conferir uma maior<br />

segurança à pesquisadora.<br />

As entrevistas foram realizadas com a utilização <strong>de</strong> gravador <strong>de</strong> voz. Posteriormente, todas<br />

as entrevistas foram transcritas para se efetuar a análise <strong>de</strong> conteúdo que se <strong>de</strong>u através da análise<br />

temática ou categórica. Esta análise foi <strong>de</strong>scrita por Bardin (2006) como a <strong>de</strong>composição dos textos<br />

em unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> análise seguindo-se <strong>de</strong> suas classificações por agrupamento ou categorização,<br />

estabelecendo-se relações entre as unida<strong>de</strong>s rumo ao entendimento do todo e, finalmente, chegando-<br />

se à compreensão do conteúdo das falas dos entrevistados.<br />

Resultados e Discussões<br />

O grupo alvo da pesquisa foi composto <strong>de</strong> 20 pessoas, resi<strong>de</strong>ntes do Complexo Passo da<br />

Pátria. Foram entrevistadas 11 pessoas do sexo masculino e 9 pessoas do sexo feminino. A média<br />

<strong>de</strong> ida<strong>de</strong> dos entrevistados é <strong>de</strong> 37 anos. A faixa etária com maior número <strong>de</strong> pessoas é a faixa dos<br />

27 a 35 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> com o correspon<strong>de</strong>nte a 50% dos entrevistados. A tabela 01 abaixo mostra a<br />

distribuição dos sujeitos por sexo e por ida<strong>de</strong>:<br />

Tabela 01 – Distribuição da população por sexo e ida<strong>de</strong><br />

IDADE (Anos)<br />

SEXO 18 a 26<br />

anos<br />

27 a 35<br />

anos<br />

36 a 44<br />

anos<br />

45 a 54<br />

anos<br />

Mais <strong>de</strong><br />

55 anos<br />

TOTAL<br />

Masculino - 7 1 3 - 11<br />

Feminino 2 3 1 2 1 9<br />

TOTAL 2 10 2 5 1 20<br />

Na tabela 02 a seguir encontra-se a distribuição da população por sexo e escolarida<strong>de</strong>.<br />

Tabela 02 – Distribuição da população por sexo e escolarida<strong>de</strong><br />

GRAU DE ESCOLARIDADE<br />

SEXO Nenhum Fund. Fund. Médio Médio TOTAL<br />

incompleto completo incompleto completo<br />

Masculino 1 6 3 - 1 11<br />

Feminino 1 3 2 1 2 9<br />

TOTAL 2 9 5 1 3 20<br />

É possível observar que as pessoas sem nenhum grau <strong>de</strong> alfabetização juntamente com<br />

aqueles que possuem o ensino fundamental incompleto representam mais da meta<strong>de</strong> dos<br />

entrevistados, o que indica um baixo nível <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>. Para Torres et.al. (2003) essa baixa<br />

escolarida<strong>de</strong> implica em dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> acesso a bons empregos, <strong>de</strong>ixando-os na informalida<strong>de</strong> e<br />

no <strong>de</strong>semprego. Entre esse grupo <strong>de</strong> baixa escolarida<strong>de</strong> (analfabeto e fundamental incompleto) tem-<br />

122


se uma maioria <strong>de</strong> homens. Porém, entre os que tiverem mais tempo <strong>de</strong> estudo tem-se,<br />

proporcionalmente, uma maioria feminina. Esse resultado <strong>de</strong>ve-se ao fato <strong>de</strong> os homens, como<br />

chefes <strong>de</strong> família, sentirem-se na obrigação <strong>de</strong> ter um emprego para sustentar sua família, o que leva<br />

a esses indivíduos abandonarem os estudos. Além disso, Lavi<strong>nas</strong> (1996) afirma que os homens<br />

trabalham, em sua maioria, em tempo integral o que reduz o tempo <strong>de</strong>dicado aos estudos.<br />

Em relação aos rendimentos familiares tem-se que a maior parte dos entrevistados, o que<br />

correspon<strong>de</strong> à 14 moradores, possui renda familiar <strong>de</strong> até 01 salário mínimo, 06 possuem renda <strong>de</strong><br />

até 02 salários mínimos e nenhuma família apresentou renda superior a 02 salários mínimos. Com<br />

essa renda as famílias precisam sustentar uma média <strong>de</strong> 04 pessoas por família. Para Torres et.al<br />

(2003) essa renda torna-se insuficiente para a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pessoas que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong>la para a<br />

sobrevivência, pois um alto número <strong>de</strong> pessoas por domicílio significa que mais pessoas necessitam<br />

partilhar os recursos comuns, trazendo consequências para a saú<strong>de</strong>, nutrição e educação. A baixa<br />

renda é um fator importante <strong>nas</strong> questões referentes à exposição <strong>de</strong>ssa população à condições <strong>de</strong><br />

risco ambiental. Isso porque, para Torres (2000), as áreas <strong>de</strong> risco ambiental, muitas vezes, são as<br />

únicas acessíveis às populações <strong>de</strong> baixa renda.<br />

De acordo com esses resultados, po<strong>de</strong>-se afirmar que os baixos índices apresentados em<br />

termos <strong>de</strong> renda e escolarida<strong>de</strong> contribuem para as situações <strong>de</strong> alta vulnerabilida<strong>de</strong> socioambiental<br />

a que estas pessoas estão expostas. Sobre isso, Alves; Torres (2006) afirmam que essas áreas<br />

po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>nominadas <strong>de</strong> ―favelas em áreas <strong>de</strong> risco‖ que se caracteriza como grupos<br />

populacionais particularmente marginalizados que seriam também afetados pelo risco ambiental.<br />

Nesse sentido, para Alves (2007), assim como a renda e o acesso aos serviços públicos os riscos<br />

ambientais também são distribuídos <strong>de</strong>sigualmente entre os grupos sociais. Dessa forma, a<br />

exposição aos riscos evi<strong>de</strong>ncia uma situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> ambiental originada por uma<br />

<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social uma vez que os grupos sociais diversos possuem acesso diferenciado aos bens<br />

<strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> ambiental. Alves (2007) também já evi<strong>de</strong>nciou que em regiões pobres, on<strong>de</strong> a renda da<br />

maioria das famílias é <strong>de</strong> até 01 salário mínimo, a proporção <strong>de</strong> pessoas vivendo em áreas <strong>de</strong> risco é<br />

bem maior que em regiões <strong>de</strong> classe média e alta.<br />

Com relação ao tempo <strong>de</strong> moradia da população entrevistada, é possível observar na figura<br />

02 abaixo que 14 entrevistados já se encontram residindo na área há mais <strong>de</strong> 20 anos e, ape<strong>nas</strong> 06<br />

famílias encontram-se na localida<strong>de</strong> há menos <strong>de</strong> 05 anos. Além disso, todos os entrevistados<br />

afirmaram que suas moradias são próprias. Isso se <strong>de</strong>ve ao fato <strong>de</strong> os moradores terem recebido<br />

<strong>de</strong>finitivamente a posse <strong>de</strong> suas residências <strong>de</strong>vido ao Projeto <strong>de</strong> Urbanização realizado pela<br />

prefeitura em 2002. Segundo Souza (2007), nesse projeto foi realizada a regularização fundiária e<br />

construção <strong>de</strong> diversas unida<strong>de</strong>s habitacionais, legalizando, assim, as ocupações.<br />

123


Figura 02 – Tempo <strong>de</strong> moradia no local<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

14<br />

20 anos<br />

ou mais<br />

2<br />

5 anos<br />

ou<br />

menos<br />

3<br />

<strong>de</strong> 6 a 10<br />

anos<br />

1<br />

<strong>de</strong> 10 a<br />

19 anos<br />

Os entrevistados foram indagados à respeito dos motivos pelos quais escolheu-se o<br />

Complexo Passo da Pátria para se viver. As respostas po<strong>de</strong>m ser visualizadas na tabela 03 abaixo:<br />

Tabela 03- Motivos para escolha da área<br />

SUBUNIDADES<br />

DE CONTEXTO<br />

CITAÇÕES<br />

Herança<br />

Porque minha mãe morava aqui, aí ela faleceu e eu vim pra<br />

cá.<br />

Falta <strong>de</strong> opção<br />

Foi aqui que eu consegui um lugar pra morar. Não tinha<br />

como ir pra outro canto, né?<br />

Topofilia Aqui é um bairro bom.<br />

Porque eu não tinha uma casa ainda né. Não tinha<br />

Casa doada condições <strong>de</strong> aluguel. Eu agra<strong>de</strong>ço a ajuda que me <strong>de</strong>ram<br />

essa casinha.<br />

Proximida<strong>de</strong> do<br />

trabalho<br />

Eu vim pra Natal, e o cara que me trouxe trabalhava ali na<br />

base naval, aí comecei a trabalhar e me instalei aqui que é<br />

perto.<br />

Percebe-se então, que <strong>de</strong>ntre os motivos mais citados estão aqueles que já <strong>nas</strong>ceram na área<br />

e acabaram herdando a moradia dos pais, ou até mesmo ter vindo para a comunida<strong>de</strong> quando ainda<br />

criança. Entre aqueles que disseram morar na área por falta <strong>de</strong> opção estão os que disseram ter<br />

recebido a casa da prefeitura e não ter condições <strong>de</strong> pagar aluguel em lugares melhores. Há ainda os<br />

que afirmaram ter escolhido a comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong>vido à proximida<strong>de</strong> do trabalho e <strong>de</strong> outras áreas <strong>de</strong><br />

concentração <strong>de</strong> serviços. No entanto, qualquer que tenha sido o motivo <strong>de</strong> escolha pelo local,<br />

percebe-se em gran<strong>de</strong> parte das respostas aquilo que Tuan (1983) chamou <strong>de</strong> topofilia, ou<br />

sentimento <strong>de</strong> pertencimento e afetivida<strong>de</strong> do local <strong>de</strong> moradia. Verifica-se, portanto, que esse<br />

sentimento <strong>de</strong> afetivida<strong>de</strong> é até contraditório quando se analisa que essa população reconhece os<br />

problemas e perigos da sua comunida<strong>de</strong>, porém esse sentimento <strong>de</strong> pertencimento e afetivida<strong>de</strong><br />

acaba se sobrepondo aos problemas que <strong>de</strong> certa forma são passíveis <strong>de</strong> resolução. Para Tuan<br />

124


(1980), o espaço em que vivemos resulta da soma entre experiências vividas e compartilhadas e isso<br />

nem sempre gera reflexão. Buttimer (1982) citado por Ribas et.al (2010) afirma que na vida<br />

cotidiana as pessoas não refletem e nem analisam criticamente sobre as perspectivas futuras o que<br />

explica o fato <strong>de</strong> algumas problemáticas locais não serem <strong>de</strong>vidamente valorizadas e levadas em<br />

consi<strong>de</strong>ração.<br />

Além disso, foi perguntado aos entrevistados que atitu<strong>de</strong>s seriam adotadas por eles caso<br />

ocorresse alguma inundação que trouxesse prejuízos materiais ou prejuízos à integrida<strong>de</strong> física <strong>de</strong><br />

algum morador <strong>de</strong> sua residência. I<strong>de</strong>ntificou-se, portanto, dois grupos <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> contexto,<br />

como as atitu<strong>de</strong>s tolerantes e atitu<strong>de</strong>s intolerantes, como se po<strong>de</strong> observar na tabela 04.<br />

Tabela 04 - Atitu<strong>de</strong>s a serem tomadas em caso <strong>de</strong> prejuízos materiais ou à integrida<strong>de</strong> física e saú<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> membros da família em <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong> inundações<br />

UNIDADES DE<br />

CONTEXTO<br />

Tolerância<br />

SUBUNIDADES DE<br />

CONTEXTO<br />

Nada<br />

Aquisição <strong>de</strong> novos<br />

bens materiais<br />

Levar ao hospital<br />

Procurar a<br />

prefeitura/justiça<br />

CITAÇÕES<br />

Não tem o que fazer, não po<strong>de</strong> abandonar a<br />

casa.<br />

Começava a comprar as coisas <strong>de</strong> novo.<br />

Aí eu teria que ver aí. Levava pro hospital e<br />

<strong>de</strong>pois procurava a prefeitura pra saber o que<br />

po<strong>de</strong>ria fazer em relação ao cidadão, né?<br />

A gente procuraria a prefeitura, mas mesmo<br />

assim ela não dá jeito.<br />

Procurar na justiça né? Buscar meus direitos.<br />

Intolerância Deixar o local Claro que a gente sai, né? Não vai ficar.<br />

No grupo das atitu<strong>de</strong>s tolerantes, é importante ressaltar que, a mais frequente foi não tomar<br />

nenhuma atitu<strong>de</strong> (08 entrevistados). Essas respostas evi<strong>de</strong>nciam tanto a falta <strong>de</strong> confiança nos<br />

órgãos responsáveis, como a prefeitura, quanto à passivida<strong>de</strong>, acomodação e aceitação das pessoas<br />

diante das situações contínuas <strong>de</strong> risco a que estão expostos no Complexo Passo da Pátria. Com<br />

menos frequência <strong>de</strong> respostas neste grupo encontram-se ape<strong>nas</strong> 02 pessoas que afirmaram que<br />

buscariam seus direitos junto à prefeitura e à justiça o que <strong>de</strong>monstra que a comunida<strong>de</strong> ainda<br />

possui baixa capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reivindicação dos seus direitos. Todas essas respostas mostram, <strong>de</strong><br />

maneira geral, que perdas materiais ou huma<strong>nas</strong> <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> episódios <strong>de</strong> inundações na<br />

comunida<strong>de</strong> não são suficientes para fazer essa população atingir seu limiar segurança. Portanto,<br />

essa população continuaria vivendo na localida<strong>de</strong>, principalmente, <strong>de</strong>vido às condições financeiras<br />

das famílias que não possibilita buscar alternativas mais seguras <strong>de</strong> moradias. Além disso, segundo<br />

Heemann; Heemann (2003), múltiplas valorações da natureza sempre conviveram lado a lado <strong>nas</strong><br />

comunida<strong>de</strong>s em função do contexto sociocultural e da história das pessoas. Estas diferenças<br />

125


acabam por influenciar o valor que damos aos fatos, inclusive aqueles que se configuram um<br />

problema.<br />

Já no grupo das atitu<strong>de</strong>s intolerantes encontram-se ape<strong>nas</strong> 02 pessoas que afirmam que<br />

<strong>de</strong>ixaria a comunida<strong>de</strong> caso ocorresse episódios <strong>de</strong> inundação que trouxesse prejuízos <strong>de</strong> qualquer<br />

or<strong>de</strong>m à sua família, sendo este motivo o suficiente para que atingissem seu limiar segurança<br />

levando-os a procurar alternativas <strong>de</strong> moradias mais seguras. O limiar <strong>de</strong> segurança, <strong>de</strong> acordo com<br />

Souza; Zanella (2009) é influenciado pelo grau <strong>de</strong> perigo percebido além do valor material e afetivo<br />

daquilo que se per<strong>de</strong> em caso <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes. A cerca da percepção do perigo e limiar <strong>de</strong> segurança,<br />

Ribas et.al. (2010) afirma que o cérebro interpreta os estímulos baseado em experiências vividas<br />

estabelece uma hierarquia <strong>de</strong> modo a que cada estímulo seja interpretado com base em experiências<br />

vividas, estabelecendo hierarquias. Dessa forma, as pessoas se acostumam com certas situações não<br />

<strong>de</strong>senvolvendo atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> repulsa ou <strong>de</strong> proteção. Além disso, mesmo que esse limiar seja atingido<br />

isso não implica, necessariamente, a mudança <strong>de</strong> comportamento, pois a mudança do local <strong>de</strong><br />

moradia, por exemplo, exige a disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recursos financeiros.<br />

Embora tenha se i<strong>de</strong>ntificado um pequeno grupo que atingiria seu limiar <strong>de</strong> intolerância<br />

<strong>de</strong>vido aos problemas da comunida<strong>de</strong> Passo da Pátria levando-os a procurar moradias mais seguras,<br />

os entrevistados foram perguntados sobre quais motivos po<strong>de</strong>riam os levar a mudarem-se do local,<br />

como <strong>de</strong>monstrado na figura 03 abaixo:<br />

Figura 03- ―O que levaria você a mudar-se do Complexo Passo da Pátria?‖<br />

O motivo mais citado foi o da violência, fato que se observa em Natal, com maior ênfase,<br />

especialmente, <strong>nas</strong> áreas mais pobres da cida<strong>de</strong>. Como afirma Jacobi (2006), as áreas periféricas<br />

agregam inúmeras situações <strong>de</strong> risco, inclusive a problemática da violência relacionada à<br />

homicídios, tráfico <strong>de</strong> drogas, policiamento insuficiente e alta concentração <strong>de</strong> população <strong>de</strong> baixa<br />

renda. Essa problemática também é observada em outras capitais brasileiras a exemplo do estudo <strong>de</strong><br />

126


Souza; Zanela (2009) na capital do estado do Ceará que apontou para resultados similares. Nessa<br />

problemática, segundo os entrevistados estão a ocorrência <strong>de</strong> uso <strong>de</strong> drogas, principalmente por<br />

jovens e adolescentes, além <strong>de</strong> roubos, furtos e homicídios na comunida<strong>de</strong>. Em seguida, apontaram-<br />

se os problemas relacionados às inundações e alagamentos que ocorrem frequentemente no local.<br />

Outro motivo seria a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> terem um lugar melhor para se viver o que na maioria dos<br />

casos não é possível <strong>de</strong>vido às condições financeiras da população da comunida<strong>de</strong>. Para 01<br />

entrevistado, a presença <strong>de</strong> ratos, baratas, mosquitos e outros vetores <strong>de</strong> doenças seria o motivo que<br />

os levaria a mudar do local. Para 02 pessoas nada os faria mudar da comunida<strong>de</strong>, apesar <strong>de</strong> todos os<br />

problemas presentes na área. De acordo com Firey (2006) citado por Marandola Jr; Hogan (2009)<br />

em situações como essa não somente os aspectos racionais <strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>rados como também<br />

os simbolismos e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s construídas em torno dos lugares, que mesmo apresentando<br />

características <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação social, econômica ou ambiental, mantém sua capacida<strong>de</strong> aglutinadora<br />

e atratora para a população.<br />

Os entrevistados foram, também, interrogados sobre o que já fizeram em sua residência para<br />

reduzir o risco <strong>de</strong> inundação, ilustrado na figura 04 abaixo.<br />

Figura 04-―O que você já fez em sua moradia para reduzir o risco <strong>de</strong> inundação?‖<br />

Portanto, observa-se que a maioria dos entrevistados respon<strong>de</strong>u que não realizou nenhuma<br />

obra pra reduzir o risco <strong>de</strong> inundação. Esse fato se <strong>de</strong>ve à carência <strong>de</strong> recursos para a realização<br />

<strong>de</strong>ssas obras. Entre aqueles que, <strong>de</strong>ntro das suas possibilida<strong>de</strong>s efetuaram medidas para a<br />

minimização dos prejuízos tem-se a colocação <strong>de</strong> barreiras fixas <strong>nas</strong> portas das casas, para evitar a<br />

entrada da água em caso <strong>de</strong> inundação; a realização <strong>de</strong> obras que <strong>de</strong>ixaram as casas mais altas, e; a<br />

troca das tubulações <strong>de</strong> esgoto das residências que dificultem a entrada da água <strong>de</strong> inundação por<br />

essas tubulações. Embora não haja garantias da eficácia <strong>de</strong>ssas ações essas condutas contribuem<br />

para minimizar a entrada da água <strong>nas</strong> residências e os prejuízos causados por esses eventos.<br />

127


Consi<strong>de</strong>rações Finais<br />

Através <strong>de</strong>ste estudo po<strong>de</strong>-se concluir que apesar <strong>de</strong> todos os riscos e perigos a que a<br />

população do Complexo Passo da Pátria está exposta, <strong>de</strong> maneira geral, essa população <strong>de</strong>senvolveu<br />

um sentimento <strong>de</strong> afetivida<strong>de</strong> com a localida<strong>de</strong> o que, somado à carência financeira os fariam<br />

continuar a viver na área, apesar <strong>de</strong> todos os problemas e perigos reconhecidos pelos entrevistados.<br />

Para tanto, essa população <strong>de</strong>senvolveu algumas estratégias para convivência com os riscos<br />

iminentes <strong>de</strong> inundações.<br />

Portanto, a avaliação <strong>de</strong> riscos com ênfase na abordagem perceptiva confirma essa<br />

investigação como um instrumento <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valia nos estudos sobre riscos ambientais. Isso<br />

porque, através <strong>de</strong>ssa abordagem é possível ter um maior entendimento das relações entre homem e<br />

meio ambiente além <strong>de</strong> se ter uma análise mais complexa <strong>de</strong> como a comunida<strong>de</strong> interpreta o<br />

ambiente em que vive e <strong>de</strong> como ela se comporta diante <strong>de</strong> situações <strong>de</strong> riscos. Dessa forma é<br />

possível oferecer subsídios ao planejamento e gestão urbana na implantação <strong>de</strong> medidas preventivas<br />

eficazes e compatíveis com os anseios da população.<br />

Referências<br />

ALVES, H. P. F. Desigualda<strong>de</strong> ambiental no município <strong>de</strong> São Paulo: análise da exposição<br />

diferenciada <strong>de</strong> grupos sociais a situações <strong>de</strong> risco ambiental através do uso <strong>de</strong> metodologias <strong>de</strong><br />

geoprocessamento. Rev. bras. estud. popul. vol. 24, n. 2, p. 301-316, 2007.<br />

ALVES, H. P. F.; TORRES, H. G. Vulnerabilida<strong>de</strong> socioambiental na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo: uma<br />

análise <strong>de</strong> famílias e domicílios em situação <strong>de</strong> pobreza e risco ambiental. São Paulo em<br />

Perspectiva, São Paulo, Fundação Sea<strong>de</strong>, v. 20, n. 1, p. 44-60, jan./mar. 2006.<br />

BARDIN, L. Análise do conteúdo. Lisboa: Edições 70 LDA, 2006.<br />

BARRETO, K. F. B. Impactos da intervenção do projeto “Doces Matas” em comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Mata<br />

Atlântica: perspectiva <strong>de</strong> um estudo <strong>de</strong> percepção ambiental. Sergipe, 2008, f. 132. Dissertação<br />

(Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente) – Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em<br />

Desenvolvimento e Meio Ambiente-PRODEMA, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Sergipe, Sergipe, 2008.<br />

BUTTIMER, A. Apreen<strong>de</strong>ndo o dinamismo do mundo vivido. In: Perspectivas da Geografia. São<br />

Paulo: Difusão, 1982.<br />

FIREY, W. Sentimentos e simbolismo como variáveis ecológicas. In: CORRÊA, R. L.;<br />

ROSENDAHL, Z. (Orgs.). Cultura, espaço e o urbano. Rio <strong>de</strong> Janeiro: EdUERJ, 2006.<br />

HEEMANN, A.; HEEMANN, N. Natureza e percepção <strong>de</strong> valores. Desenvolvimento e Meio<br />

Ambiente, v. 7, 2003.<br />

JACOBI, P. R. Dilemas socioambientais na gestão metropolitana: do risco à busca da<br />

sustentabilida<strong>de</strong> urbana. Política e Trabalho, Revista <strong>de</strong> Ciências Sociais, n. 25. p. 115-134, 2006.<br />

128


LAVINAS, L. As mulheres no universo da pobreza. O caso brasileiro. Rev. <strong>de</strong> estudos feministas. n.<br />

2, p. 464-479, 1996.<br />

MARANDOLA JR., E. HOGAN, D. J. Vulnerabilida<strong>de</strong> do lugar vs. Vulnerabilida<strong>de</strong><br />

socio<strong>de</strong>mográfica: implicações metodológicas <strong>de</strong> uma velha questão. Rev. bras.Est. Pop. v. 26,<br />

n.2.p 161-181, 2009.<br />

PREFEITURA DO NATAL. Anuário Natal 2010. Secretaria Municipal <strong>de</strong> Meio Ambiente e<br />

Urbanismo (SEMURB). Natal, 2010.<br />

RIBAS, A.; SCHMID, A.; RONCONI, E. Topofilia, conforto ambiental e o ruído urbano como<br />

risco ambiental: a percepção <strong>de</strong> moradores dos Setores Especiais Estruturais da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Curitiba.Desenvolvimento e Meio Ambiente, n. 21, p. 183-199, jan./jun. 2010. Editora UFPR<br />

SOUZA, D. M. <strong>de</strong>. Da Pedra do Rosário ao Pantanal: espaço e urbanização no Passo da Pátria<br />

(Natal-RN). Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais). UFRN. PPCS, Natal, 2007.<br />

SOUZA, L. B.; ZANELLA, M. E. Percepção <strong>de</strong> Riscos Ambientais: Teoria e Aplicações. Fortaleza:<br />

Edições UFC, 2009.<br />

TORRES, H. A <strong>de</strong>mografia do risco ambiental. In: TORRES, H.;COSTA, H. (Org). População e<br />

Meio Ambiente: <strong>de</strong>bates e <strong>de</strong>safios. São Paulo: Senac. p. 53-73, 2000.<br />

TORRES, H. G.; MARQUES, E.; FERREIRA, M. P.; BITAR, S. Pobreza e espaço: padrões <strong>de</strong><br />

segregação em São Paulo.Estud. av. v. 17, n. 47, p. 97-128, 2003.<br />

TUAN, Y.F. Topofilia: um estudo da percepção, atitu<strong>de</strong>s e valores do meio ambiente. São Paulo:<br />

Difel, 1980.<br />

__________. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. São Paulo: DIFEL, 1983.<br />

129


O ESPAÇO URBANO COMO MERCADORIA: REFLEXÕES SOBREO SHOPPING RIOMAR E<br />

O PROJETO NOVO RECIFE 23<br />

Kelly Regina Santos da SILVA – Mestranda do Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Desenvolvimento<br />

e Meio Ambiente (PRODEMA/UFPE) – kellyregi<strong>nas</strong>@gmail.com.<br />

Edvânia Tôrres Aguiar GOMES – Orientadora e Professora do Departamento <strong>de</strong> Geografia e do<br />

PRODEMA/UFPE - torres@ufpe.br.<br />

Sueny Carla da SILVA – Mestranda do Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio<br />

Ambiente (PRODEMA/UFPE) - yuens@bol.com.br.<br />

Resumo<br />

O atual contexto da cida<strong>de</strong> do Recife tem sido marcado por gran<strong>de</strong>s obras, incluindo obras viárias,<br />

empreendimentos comerciais e imobiliários, todas tem em comum o retorno da i<strong>de</strong>ologia da<br />

mo<strong>de</strong>rnização da cida<strong>de</strong>. Nesse processo, observa-se a parceria existente entre o Estado e o mercado<br />

em prol <strong>de</strong> uma ―nova cida<strong>de</strong>‖ que em larga medida aponta a continuida<strong>de</strong> do paradigma da<br />

higienização social, posto que, o espaço urbano transformado em mercadoria, só vem a aten<strong>de</strong>r os<br />

interesses do mercado, tendo como principais resultados a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> e injustiça sócioespacial. A<br />

presente proposta <strong>de</strong> reflexão parte da hipótese <strong>de</strong> que, o sistema capitalista não toma o lugar do<br />

Estado, mas, o Estado é um dos seus protagonistas e facilitador dos interesses dos grupos<br />

econômicos. Até mesmo <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um discurso <strong>de</strong> inclusão e garantia <strong>de</strong> direitos, prevalece à lógica<br />

do capital sobre as <strong>de</strong>cisões políticas. Esse contexto tem <strong>de</strong>monstrado a cada dia a valorização<br />

econômica, <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> lado os outros aspectos e necessida<strong>de</strong>s da vida comunitária, o que <strong>de</strong>ságua<br />

em um dilema histórico entre dois conceitos, o <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e o <strong>de</strong> crescimento econômico.<br />

Á luz do materialismo histórico e das teorias sobre o direito à cida<strong>de</strong> e espaço urbano remete alguns<br />

apontamentos e problematização sobre a visão <strong>de</strong> mundo em que predomina o espaço urbano como<br />

mercadoria, que tem como principal consequência à negação do que se possa parecer arcaico e<br />

<strong>de</strong>sinteressante ao capital.<br />

Palavras-chaves: mo<strong>de</strong>rnização – espaço urbano – mercadoria – capitalismo.<br />

23 Pesquisa <strong>de</strong>senvolvida no Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA/UFPE),<br />

sob orientação da Profa. Dra. Edvânia Tôrres Aguiar Gomes. Conta com o apoio financeiro da Coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong><br />

Aperfeiçoamento <strong>de</strong> Pessoal <strong>de</strong> Nível Superior – CAPES.<br />

130


Abstract<br />

The current context of the city of Recife has been marked by major works including road<br />

construction as well as commercial and real estate ventures, all of which relate back to the i<strong>de</strong>ology<br />

of urban mo<strong>de</strong>rnization. In this process, the partnership between State and Market becomes self-<br />

evi<strong>de</strong>nt in favor of a "new city" largely gueared towards continuity of the paradigm of social<br />

hygiene, as urban space, transformed into a commodity, meets only market interests, resulting<br />

mainly in socio-spatial inequality and injustice. The analysis here proposed assumes as basis that<br />

the capitalist system does not take the State's place, however the State is one of its main players,<br />

facilitating the interests of economic groups. Even within a discourse of inclusion and guaranteeing<br />

rights, capitalist logic prevails over political <strong>de</strong>cisions. In this context, the financial value of urban<br />

space increases daily, setting asi<strong>de</strong> other aspects and needs of community life and feeding into the<br />

historical dilemma between two concepts: <strong>de</strong>velopment and economic growth. In light of historical<br />

materialism and theories on the right to the city and urban space, several points and concerns<br />

regarding the aforementioned worldview that sees urban space mainly as a commodity resulting in<br />

the <strong>de</strong>nial of anything that within it may seem archaic or unattractive to finance, shall be touched<br />

on.<br />

Keywords:mo<strong>de</strong>rnization - urban space - merchandise - capitalism.<br />

1. A mo<strong>de</strong>rnização do espaço urbano: um fruto da i<strong>de</strong>ologia capitalista<br />

Ao tratar do presente tema vale a pena ressaltar que outras análises já foram realizadas em<br />

contexto semelhante ao vivenciado hoje na cida<strong>de</strong> do Recife. Outras cida<strong>de</strong>s como São Paulo 24 e<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro, protagonizaram ao longo da história momentos <strong>de</strong> tamanha inserção da i<strong>de</strong>ologia da<br />

mo<strong>de</strong>rnização na constituição do espaço urbanizado. Nesta ocasião, se <strong>de</strong>staca a conjuntura<br />

vivenciada no século XIX em Recife (GOMES, 2007), em que, mudanças estruturais tomaram<br />

conta do Recife Antigo que guardada as <strong>de</strong>vidas proporções em relação às cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>stacadas acima<br />

ocasionou dilemas e questionamentos, alguns pautados na questão da conservação histórica do<br />

bairro antigo, outros visando a real possibilida<strong>de</strong> do Recife tornar-se uma cida<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna, aos<br />

mol<strong>de</strong>s dos interesses internacionais e capitalistas.<br />

No tempo presente, três gran<strong>de</strong>s obras tomam conta do centro e da zona sul da cida<strong>de</strong>; a<br />

primeira, e já quase em fase <strong>de</strong> conclusão, é o Shopping RioMar (Figura 1); a segunda é a<br />

construção da Via Mangue, com a pretensão <strong>de</strong> melhorar a mobilida<strong>de</strong> viária em toda a cida<strong>de</strong>, e<br />

24 Destacamos o trabalho realizado por Mariana Fix: FIX, M. Parceiros da exclusão: duas histórias da construção <strong>de</strong> uma<br />

―nova cida<strong>de</strong>‖ em São Paulo: Faria Lima e Água Espraiada. São Paulo: Boitempo, 2001.<br />

131


por último, o mais recente projeto intitulado: ―Novo Recife‖ (Figura 1), que preten<strong>de</strong> instalar em<br />

uma região histórica da cida<strong>de</strong> um complexo formado por centros empresarial, flats e resi<strong>de</strong>nciais,<br />

totalizando 16 torres. A área em que preten<strong>de</strong> ser construído o Projeto Novo Recife localiza-se na<br />

região portuária da cida<strong>de</strong>, no bairro do Recife Antigo. Apesar <strong>de</strong> não ser uma região <strong>de</strong> moradia, a<br />

perspectiva <strong>de</strong> construção <strong>de</strong>sse gran<strong>de</strong> complexo <strong>de</strong> torres coloca a discussão sobre a construção <strong>de</strong><br />

outra cida<strong>de</strong>, que só vem favorecer os processos <strong>de</strong> exclusão social embenefício dos interesses<br />

privados.Uma vez que se, configura como um projeto maior com uma visão <strong>de</strong> mundo ainda<br />

pautada nos i<strong>de</strong>ais da i<strong>de</strong>ologia da mo<strong>de</strong>rnização.<br />

Esse caminho atual leva a reflexão sobre o processo <strong>de</strong> gentrificação, encontrado <strong>nas</strong><br />

reflexões <strong>de</strong> Otília Arantes (ARANTES; VAINER; MARICATO, 2002), concernente ao retorno<br />

burguês à localização central da cida<strong>de</strong>. Mesmo não sendo colocados a partir <strong>de</strong>ssa categoria <strong>de</strong><br />

análise, os projetos <strong>de</strong>: requalificação, revitalização, revalorização, seria dizer a mesma coisa dos<br />

espaços urbanos aburguesados e com consequente afastamento das comunida<strong>de</strong>s do entorno. São<br />

projetos que, pelas forças i<strong>de</strong>ológicas, fabricam consensos e aparecem como salvação do que<br />

outrora enfeavam a cida<strong>de</strong>.<br />

Figura 1 – Vista panorâmica do local <strong>de</strong> construção dos empreendimentos<br />

Shopping RioMar e Projeto Novo Recife.<br />

Fonte: Google Maps<br />

132


No caso da construção do Shopping RioMar, <strong>de</strong>ve-se levantar a questão <strong>de</strong> que, assim como<br />

se observa <strong>de</strong> forma ampla a cida<strong>de</strong> segregada, alguns bairros também são marcados pelas<br />

discrepâncias econômicas e sociais. A região do bairro do Pina é uma <strong>de</strong>las, sendo possível falar em<br />

―dois‖ bairros do Pina com indicadores urbanísticos, condições econômicas e sociais bem<br />

diferentes. Em um breve histórico da comunida<strong>de</strong>, nota-se o contexto colonial marcado por<br />

violações e por formas <strong>de</strong> resistência que até hoje permanecem. Como exemplo tem a representação<br />

bastante forte das religiões <strong>de</strong> matriz africana nos terreiros, sendo o bairro do Pina apontado por<br />

algumas pessoas como um quilombo urbano.<br />

À luz das reflexões da professora e urbanista Ermínia Maricato (ARANTES; VAINER;<br />

MARICATO, 2002), o que predomina no planejamento urbano é a ótica da ―mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>‖ ou<br />

mo<strong>de</strong>rnismo, resultado da importação dos padrões <strong>de</strong> planejamento urbano dos países do centro do<br />

capitalismo que funcionou na manutenção das discrepâncias sociais, garantindo a chegada da<br />

mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> ape<strong>nas</strong> para uma parte da população. Mo<strong>de</strong>lo esse que vem funcionando como um<br />

instrumento eficaz <strong>de</strong> dominação resultando sempre em cida<strong>de</strong>s segregadas, cujo resultado final se<br />

expressa em várias cida<strong>de</strong>s sendo essas oficial, formal, legal ou marginalizada por não representar a<br />

mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. Esse processo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização das cida<strong>de</strong>s é incompleto e exclu<strong>de</strong>nte, <strong>de</strong> um lado, a<br />

cida<strong>de</strong> tem garantida a urbanização, saneamento, pavimentação, infraestrutura, segurança; por outro<br />

lado, uma cida<strong>de</strong> precária, sem condições básicas <strong>de</strong> existência, ressente da garantia e efetivação do<br />

direito à cida<strong>de</strong>. Desse modo, não seria equivocado dizer que todas as cida<strong>de</strong>s permanecem com<br />

suas ―Casas Gran<strong>de</strong>s‖ e suas ―Senzalas‖ contemporâneas, correspon<strong>de</strong>ndo a uma situação <strong>de</strong><br />

exclusão territorial.<br />

Nesse sentido, o dilema do antigo e do novo tem uma relação intrínseca ao se tratar <strong>de</strong><br />

planejamento urbano. Logo <strong>de</strong> início, se observa que as comunida<strong>de</strong>s periféricas não são<br />

categorizadas como mo<strong>de</strong>r<strong>nas</strong> tampouco, são encontrados meios <strong>de</strong> garantir o Direito à Cida<strong>de</strong> para<br />

essa população. Tendo em vista que representam, o olhar sobre o que esteticamente é feio e não<br />

prospero, evi<strong>de</strong>nciando a necessida<strong>de</strong>, observada em vários momentos da história, <strong>de</strong> ocultar as<br />

periferias, populações, grupos que não dialogam com os padrões <strong>de</strong> vida trazidos pelo i<strong>de</strong>al<br />

mo<strong>de</strong>rnizante <strong>de</strong> mundo. Na luta dualista, contudo, <strong>de</strong> tamanha complexida<strong>de</strong>, o Estado tem seu<br />

campo <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa bem <strong>de</strong>finido, mostrando cada vez mais quenão é coletivo, e sim privado,<br />

encontrando-se a serviço do mercado, da lógica neoliberal e do capitalismo, fazendo parte <strong>de</strong> uma<br />

gran<strong>de</strong> fábrica <strong>de</strong> consensos (ARANTES; VAINER; MARICATO, 2002).<br />

É sob esse aspecto que pautamos a nossa análise sobre dois conceitos chaves para se pensar<br />

a ―i<strong>de</strong>ologia da mo<strong>de</strong>rnização‖ no contexto contemporâneo, tendo em visa à própria dinâmica <strong>de</strong><br />

construções <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s empreendimentos comerciais e empresariais, principalmente em regiões<br />

vulnerabilizadas da cida<strong>de</strong>. Desse modo, torna-se necessário trabalhar com as categorias <strong>de</strong> análise:<br />

133


a i<strong>de</strong>ologia e o fetichismo. São perspectivas que caminham juntas e mutuamente fortalecem a<br />

permanecia dos i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização, que tem como um <strong>de</strong> seus resultados o espaço dividido e<br />

transformado em mercadoria entre quem po<strong>de</strong> e quem não po<strong>de</strong> acessar.<br />

A i<strong>de</strong>ologia, esta entendida como, ―[...] um conjunto <strong>de</strong> representações pelas quais os<br />

homens se relacionam com suas condições <strong>de</strong> existência.‖ (GARCIA, 2006, p. 24), tem um papel<br />

fundamental na manutenção dos padrões sociais já estabelecidos, bem como, na dominação dos<br />

sentidos. No contexto <strong>de</strong> mercado, a i<strong>de</strong>ologia garante a disseminação das i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> esperança,<br />

prosperida<strong>de</strong>, liberda<strong>de</strong>, igualda<strong>de</strong>, todas associadas à relação <strong>de</strong> compra. A i<strong>de</strong>ologia da<br />

mo<strong>de</strong>rnização aliada com o elemento da prosperida<strong>de</strong> proporciona o funcionamento do plano <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento meramente econômico da cida<strong>de</strong>.<br />

Tim Jackson 25 é enfático ao dizer que, nesse mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> crescimento econômico que estamos<br />

assistindo, caímos em uma ironia, uma vez que ―ven<strong>de</strong>mos a prosperida<strong>de</strong> quase literalmente em<br />

termos <strong>de</strong> dinheiro e crescimento econômico‖, isso porque, no sistema capitalista tudo se<br />

transforma em mercadoria e faz parte <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> fluxo <strong>de</strong> consumo. Nesse caminho os<br />

investimentos realizados, são pautados na busca pela novida<strong>de</strong> uma produção <strong>de</strong> consumoque por<br />

sua vez, estimula o crescimento econômico, ou melhor, garante o seu pleno funcionamento, através<br />

da produção e reprodução da novida<strong>de</strong>, é uma nova cida<strong>de</strong>, um novo espaço urbano em<br />

contraposição ao antigo que não representa mais uma cida<strong>de</strong> prospera.<br />

No contexto <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização <strong>de</strong>sse espaço urbano que envolve aspectos políticos<br />

econômicos, o discurso i<strong>de</strong>ológico é extremamente bem trabalhado para que todas as pessoas se<br />

sintam <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse processo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização, principalmente pelo discurso competente realizado<br />

pelo Estado e pelo mercado, sendo este discurso, aquele ―[...] que preten<strong>de</strong> coincidir com as coisas,<br />

anular a diferença entre o pensar, o dizer e o ser e, <strong>de</strong>starte, engendrar uma lógica da i<strong>de</strong>ntificação<br />

que unifique pensamento, linguagem e realida<strong>de</strong> [...]‖ (CHAUI, p. 3),apaziguando as tensões por<br />

meio <strong>de</strong> políticas inter<strong>nas</strong> compensatórias, voltadas para o consumo básico das populações que<br />

estão fora do circuito econômico hegemônico.<br />

Concordando com Gohn (2006), quando diz que são ações que garantem a adaptação dos<br />

Estados Nacionais às <strong>de</strong>terminações do capital internacional, como a permanente relação <strong>de</strong><br />

subordinação econômica e social, fortalecendo as diversas formas <strong>de</strong> colonização interna,<br />

compreen<strong>de</strong>ndo que o discurso do crescimento econômico, ora tratado como <strong>de</strong>senvolvimento,<br />

ganha força e legitimida<strong>de</strong>. Dentro <strong>de</strong>s<strong>de</strong> contexto o geógrafo Milton Santos observa:<br />

25 Ver ví<strong>de</strong>o: Tim Jackson's economic reality check – Disponível em: . Acesso em: 10 out. 2012.<br />

134


[…] a i<strong>de</strong>ologia do crescimento entra como uma parte importante <strong>nas</strong> <strong>de</strong>cisões <strong>de</strong><br />

investimentos dos po<strong>de</strong>res públicos. A necessida<strong>de</strong> sentida por uma equipe<br />

governamental <strong>de</strong> 'preparar o terreno' para a chegada <strong>de</strong> novas indústrias é, no<br />

final, aceito pelo povo como um comportamento inteiramente razoável. Sobretudo<br />

porque maior parte das pessoas são tranquilizadas pelos famosos índices <strong>de</strong><br />

aumento do produto nacional. (SANTOS, 2004, p. 172).<br />

Esta confirmação do crescimento econômico como o gran<strong>de</strong> salvador da cida<strong>de</strong> aparece<br />

claramente no discurso realizado pelo prefeito da cida<strong>de</strong> do Recife ao visitar as obras do<br />

empreendimento comercial Shopping RioMar, diz ele: ―Vamos gerar riquezas e elas terão que ser<br />

gastas em algum lugar. O empresário está se antecipando e será benéfico para a cida<strong>de</strong> também.‖<br />

(JOÃO da Costa..., 2010). Além <strong>de</strong> reforçar a parceria feita entre Estado e mercado, esse discurso é<br />

percebido com muita legitimida<strong>de</strong>, uma vez que é competente,<br />

[…] confun<strong>de</strong>-se, pois, com a linguagem institucionalmente permitida ou<br />

autorizada, isto é, com um discurso no qual os interlocutores já foram previamente<br />

reconhecidos como tendo o direito <strong>de</strong> falar e ouvir, no qual os lugares e as<br />

circunstâncias já foram pre<strong>de</strong>terminados para que seja permitido falar e ouvir e,<br />

enfim, no qual o conteúdo e a forma já foram autorizados segundo os cânones da<br />

esfera <strong>de</strong> sua própria competência. (CHAUI, p. 7)<br />

Somando-se a esses discursos, também encontramos outros aparelhos i<strong>de</strong>ológicos que<br />

colaboram com a permanência <strong>de</strong>sse discurso hegemônico, chamando atenção para a mídia que a<br />

todo tempo tem trabalhado para mostrar a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um novo momento da cida<strong>de</strong>, bem<br />

como, as peças publicitárias que agregam outros valores a este espaço urbanizado que é o centro das<br />

atenções e a gran<strong>de</strong> moeda <strong>de</strong> troca entre Estado e mercado.<br />

Para a<strong>de</strong>ntrar a nossa segunda categoria <strong>de</strong> análise, o fetichismo, <strong>de</strong>stacamos alguns<br />

aspectos dos dois projetos em foco, observando que, longe <strong>de</strong> serem construções <strong>de</strong>sconectadas<br />

esses dois projetos dialogam diretamente com o novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> cida<strong>de</strong> protagonizado pelo<br />

mercado, em aliança clara com o Estado. Trata-se <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s empreendimentos que buscam colocar<br />

a cida<strong>de</strong> no cenário <strong>de</strong> disputa nacional e internacional, sem que sejam percebidos os <strong>de</strong>vidos<br />

impactos sociais, econômicos e ambientais. Desse modo, o que está em jogo, não é a garantia do<br />

Direito à Cida<strong>de</strong>, mas, o interesse do capital sobre a cida<strong>de</strong>, ou seja, ―a i<strong>de</strong>ologia dominante<br />

preserva a situação vigente e os interesses da classe dominante‖ (GARCIA, 2006, p. 24).<br />

Ainda em Garcia (2006), encontramos as reflexões sobre o fetichismo, tratando diretamente<br />

sobre a questão do espaço urbanizado como uma mercadoria feitichizada pelo capitalismo. À luz da<br />

135


experiência em curso, observa principalmente <strong>nas</strong> peças publicitárias dos projetos algo que provoca<br />

estranhamento, e só nos fortalece na i<strong>de</strong>ia do fetiche que envolve esta discussão política e<br />

econômica. São as ausências e o distanciamento do real e os seus respectivos fetiches.<br />

A partir do fetichismo, observamos a transformação <strong>de</strong>sse espaço como algo bastante atrativo,<br />

agregando a garantia <strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong> social, tranquilida<strong>de</strong>, comodida<strong>de</strong> e até mesmo a liberda<strong>de</strong>,<br />

felicida<strong>de</strong> eprosperida<strong>de</strong>. Nesse caminho, o espaço urbano é uma mercadoria valiosa e com lucros<br />

financeiros garantidos pelo fetiche, que ocorre ―[...] porque a beleza e a sofisticação das<br />

mercadorias agradam os consumidores. As mercadorias são belas e excitam no observador o <strong>de</strong>sejo<br />

<strong>de</strong> posse motivando-o à compra” (GARCIA, 2006, p. 29), sendo assim, o fetiche também é um<br />

fenômeno da i<strong>de</strong>ologia burguesa capitalista.<br />

3. O espaço urbano como mercadoria e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma educação para além do capital<br />

Depois <strong>de</strong> observar as perspectivas sobre o espaço urbano, que envolve uma complexa<br />

relação entre o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento em curso, os interesses econômicos, o direito à cida<strong>de</strong>,<br />

aprofundar-se um pouco mais a sua análise como mercadoria. O po<strong>de</strong>r econômico <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> seus<br />

rumos e consequentemente quem <strong>de</strong>ve acessar esse espaço urbano, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte dos mecanismos<br />

<strong>de</strong> regulação e <strong>de</strong>bates já realizados entre Estado e movimentos sociais diversos, principalmente os<br />

que atuam na luta pelo direito à cida<strong>de</strong>.<br />

A hipótese colocada é que, diante <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo econômico capitalista, a lógica estabelecida<br />

entre o po<strong>de</strong>r público e o mercado pauta-se, em alguma medida, na venda ou troca do espaço<br />

urbano, agregando, <strong>de</strong>sse modo, os interesses das duas partes. Até agora, foi observado que, o<br />

contexto <strong>de</strong> constituição <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong> tem como parâmetro o crescimento econômico que<br />

apresenta como a única forma possível <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento a prevalência dos interesses capitalistas<br />

sobre o espaço.<br />

O paradigma <strong>de</strong> consumo instalado no contexto do crescimento econômico percebe tudo à<br />

sua volta como potencial mercadoria para suprir as necessida<strong>de</strong>s criadas pelo capital, muito embora<br />

as contestações observadas neste paradigma – ética do progresso e da mo<strong>de</strong>rnização – está a serviço<br />

<strong>de</strong> uma lógica maior, que é a visão capitalista sobre o mundo; é a racionalida<strong>de</strong> empresarial ditando<br />

seu mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> cida<strong>de</strong> para todas as pessoas e, consequentemente, indicando o lugar que é permitido<br />

a <strong>de</strong>terminadas localida<strong>de</strong>s e grupos sociais. Nesse momento, essa racionalida<strong>de</strong> empresarial, que<br />

não se distancia <strong>de</strong> uma visão instrumental <strong>de</strong> mundo, promove suas colonizações contemporâneas,<br />

ditando também seus padrões estéticos <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>, a exemplo da excessiva verticalização, vista como<br />

a única saída possível.<br />

Chama-se a atenção para o fato <strong>de</strong> que, nessa lógica capitalista, o espaço urbano é um<br />

instrumento <strong>de</strong> troca entre pares; <strong>de</strong> um lado, o Estado e do outro o mercado, contudo, essa troca se<br />

136


dá pela necessida<strong>de</strong> criada <strong>de</strong> mudança estética e social do espaço. O que traz a lembrança do<br />

passado é logo compreendido como ultrapassado, sendo apresentadas opções <strong>de</strong> substituição ou <strong>de</strong><br />

inovação local, tornando essa nova cida<strong>de</strong>, objeto <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo, uma mercadoria a ser consumida por<br />

quem tem o po<strong>de</strong>r do capital para pagar por ela.<br />

A ocupação e o uso do espaço ao longo da história, principalmente nos países que passaram<br />

por processos <strong>de</strong> colonização, a exemplo do Brasil, foram configurando-se conforme os interesses<br />

capitalistas. Assim, produziram os centros e as localida<strong>de</strong>s periféricas da cida<strong>de</strong>, sendo o espaço<br />

urbanizado sempre mais privilegiado. Desse modo, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> um ―Novo<br />

Recife‖ (gran<strong>de</strong>s empreendimentos comerciais e excessiva verticalização), com padrões estéticos e<br />

arquitetônicos que não dialogam com as comunida<strong>de</strong>s do entorno nem com toda a construção<br />

histórica da cida<strong>de</strong>, só leva à reflexão <strong>de</strong> que o ―antigo‖, assim referido, precisa ser substituído pelo<br />

novo. Com essa compreensão, o espaço urbano, ganha um sentido <strong>de</strong> mercadoria, que, em po<strong>de</strong>r do<br />

mercado, vai realizando substituições em parceria com o Estado.<br />

Esse espaço, tornando-se mercadoria, <strong>de</strong>ve ter uma estética que provoque aceitação; por<br />

outro lado, apresenta uma necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mudança periódica. Esses aspectos <strong>de</strong> mudança é<br />

observado pelos discursos <strong>de</strong> negação do passado e da mo<strong>de</strong>rnização, por meio dos quais se po<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>duzir como a inevitável inovação estética <strong>de</strong>sse espaço, que venha a aten<strong>de</strong>r às necessida<strong>de</strong>s<br />

criadas pelo capitalismo, chegando à segunda resposta, a inevitável substituição. Contudo, não se<br />

trata <strong>de</strong> um olhar conservador sobre o espaço dizendo que tudo <strong>de</strong>ve permanecer intocável, mas sim<br />

<strong>de</strong> ampliar o olhar percebendo como se tem dado a apropriação das categorias <strong>de</strong> mudança para a<br />

manutenção das relações sociais <strong>de</strong>siguais.<br />

Em outras palavras, é pertinente enten<strong>de</strong>r como o sociometabolismo do capital<br />

(MÉSZÁROS, 2008) funciona, com seu processo <strong>de</strong> acumulação e das formas encontradas para<br />

permanecer funcionando, mudando até mesmo seu discurso para se manter hegemônico. É uma<br />

totalida<strong>de</strong> reguladora. O que está em evidência, ao se observar o contexto, não é simplesmente ―[...]<br />

o bem-estar do comprador, [...] o argumento é o bem-estar do empresário, ou seja, segundo a<br />

perspectiva do valor <strong>de</strong> troca, visando à reiteração da procura.‖ (HAUG, 1997, p. 54).<br />

Mais uma vez, entra-se em uma perspectiva dualista em que o ―novo‖ se apresenta como o<br />

único paradigma possível, restando saber quem vivenciará isso e, principalmente, os custos<br />

políticos <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> crescimento econômico, camuflado pelo nome <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento. É a<br />

pressão feita pelo esquecimento do ―velho‖, entendido como aquilo que <strong>de</strong>ve ser velado pelo<br />

―novo‖, percebido como uma gran<strong>de</strong> promessa <strong>de</strong> inovação estética, esta assim entendida:<br />

137


[...] portadora da função <strong>de</strong> reavivar a procura torna-se uma instância <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e <strong>de</strong><br />

conseqüências antropológicas, isto é, ela modifica continuamente a espécie humana em sua<br />

organização sensível; em sua organização concreta e em sua vida material, como também<br />

no tocante à percepção, à estruturação e à satisfação das necessida<strong>de</strong>s. (HAUG, 1997, p.<br />

57).<br />

Nesse sentido, a cida<strong>de</strong> colocada à venda pelo Estado é comprada pelo mercado, e retorna<br />

para o consumo <strong>de</strong> seu público – que tem o po<strong>de</strong>r do capital, como uma forma estética que garante<br />

não só uma nova cida<strong>de</strong> para viver, mas um espaço cheio <strong>de</strong> fantasias e <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ologias <strong>de</strong><br />

superiorida<strong>de</strong>. Isso porque, para que um projeto <strong>de</strong> uma nova cida<strong>de</strong> tenha êxito, faz-se necessário<br />

prevalecer às aparências, que se po<strong>de</strong> visualizar nos discursos <strong>de</strong> que a cida<strong>de</strong> está crescendo, <strong>nas</strong><br />

promessas <strong>de</strong> garantia <strong>de</strong> emprego, renda e moradia para os que não po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>sfrutar do novo<br />

espaço, ou seja, para moradores das comunida<strong>de</strong>s que têm <strong>de</strong> sair do caminho para o ―novo‖ passar.<br />

Sendo assim, não se po<strong>de</strong> esquecer a i<strong>de</strong>ologia dominante que perpassa todo esse processo e é tão<br />

bem difundida pelos aparelhos i<strong>de</strong>ológicos, por meio dos quais são disseminadas as intencionais<br />

verda<strong>de</strong>s.<br />

Os discursos i<strong>de</strong>ológicos responsáveis pela venda <strong>de</strong>sse novo espaço <strong>de</strong> compras e moradias,<br />

que, além disso, significam espaços <strong>de</strong> satisfações até mesmo subjetivas. Ao comprar o espaço<br />

urbanizado, compra-se também a vista para o mar, para o rio, na promessa <strong>de</strong> ligação entre o<br />

mo<strong>de</strong>rno e a natureza, como se esta última fosse algo separada, transformando a mesma em mais<br />

um atrativo <strong>de</strong>ssa mercadoria chamada espaço urbanizado. Quanto a isso, chama-se a atenção para<br />

outro aspecto i<strong>de</strong>ológico que tem total relação nessa conjuntura <strong>de</strong> venda <strong>de</strong> um espaço urbano que<br />

garante tudo e mais um pouco; trata-se do que tem sido chamado <strong>de</strong> construções sustentáveis, que<br />

na lógica capitalista, só serve para agrega mais valor ao seu produto final.<br />

De forma geral, quem vai usufruir aquele espaço compreen<strong>de</strong> que também está ajudando na<br />

melhoria da relação socieda<strong>de</strong>-natureza, na verda<strong>de</strong>, esse ―selo <strong>de</strong> respeito ao meio ambiente‖ na<br />

conjuntura atual, torna-se uma mercadoria i<strong>de</strong>ológica. Quanto a isso, chama-se a atenção para a<br />

construção do Shopping RioMar que, em maio <strong>de</strong> 2012, recebeu a Certificação Aqua (Alta<br />

<strong>Qualida<strong>de</strong></strong> Ambiental), concebida pela Fundação Vanzolini. Contudo, algumas perguntas surgem:<br />

Sustentabilida<strong>de</strong> ambiental <strong>de</strong> quem? Para quem? De que natureza está falando?<br />

Ao falar sobre o certificado, o diretor <strong>de</strong> Divisão Imobiliária do Grupo João Carlos Paes<br />

Mendonça (JCPM), Francisco Bacelar, <strong>de</strong>staca que o projeto do shopping é ―mo<strong>de</strong>rno‖ e já <strong>nas</strong>ce<br />

com uma concepção <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong>, enfatizando:<br />

Pensamos os aspectos econômicos, sociais e ambientais do projeto. Uma das ações<br />

foi o relacionamento com as comunida<strong>de</strong>s localizadas no entorno do<br />

empreendimento, a qualificação para 2.021 moradores, em cursos <strong>nas</strong> áreas <strong>de</strong><br />

138


construção civil, varejo, informática básica, aceleração <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> e jovens<br />

aprendizes. Desse total, 420 alunos trabalham hoje na obra. (RIOMAR..., 2012,<br />

grifos nossos).<br />

Essa perspectiva <strong>de</strong> empreendimentos sustentáveis funciona como apaziguadora dos reais<br />

problemas, sendo em alguma medida uma das formas <strong>de</strong> o sistema capitalista se metabolizar e se<br />

manter em funcionamento, agora sob o argumento <strong>de</strong> que é possível crescer economicamente<br />

―preservando o meio ambiente, a natureza‖ e agregando às obras a comunida<strong>de</strong> local, por meio <strong>de</strong><br />

uma educação para o capital.<br />

À luz <strong>de</strong> István Mészáros, observa-se que o capital é irreformável, qualquer tentativa <strong>de</strong><br />

reforma remediaria ape<strong>nas</strong> os efeitos, mas não alteraria o essencial nos fundamentos causais, a<br />

exemplo os selos <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> que enfraquecem a perspectiva <strong>de</strong> uma mudança na estrutura<br />

capitalista. Concorda-se com o autor, que afirma:<br />

As mudanças sob tais limitações, apriorísticas e prejulgadas, são admissíveis<br />

ape<strong>nas</strong> com o único e legítimo objetivo <strong>de</strong> corrigir algum <strong>de</strong>talhe <strong>de</strong>feituoso da<br />

or<strong>de</strong>m estabelecida, <strong>de</strong> forma que sejam mantidas intactas as <strong>de</strong>terminações<br />

estruturais fundamentais da socieda<strong>de</strong> como um todo, em conformida<strong>de</strong> com as<br />

exigências inalteráveis da lógica global <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado sistema <strong>de</strong> reprodução.<br />

(MÉSZÁROS, 2008, p. 25, grifos nossos).<br />

O <strong>de</strong>safio posto situa-se no olhar sobre as formas <strong>de</strong> apropriação realizadas pelo capitalismo<br />

para estabelecer suas relações. Segundo Mészáros, mais do que um processo educacional para<br />

provocar mudanças qualitativas na socieda<strong>de</strong>, é pertinente uma ―educação para além do capital‖;<br />

compreen<strong>de</strong>ndo a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mudança na estrutura social como um todo <strong>de</strong> forma dialética:<br />

transformação social – transformação educacional, para que seja possível compreen<strong>de</strong>r as dinâmicas<br />

e, especialmente, as formas <strong>de</strong> manipulação/dominação do capital.<br />

Nesse sentido, é preciso refletir que, ainda não é possível falar em uma mudança social<br />

qualitativa e substancial, porque se muda a forma, e não a essência, uma vez que o próprio discurso<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa do meio ambiente e <strong>de</strong> garantia <strong>de</strong> direitos é apropriado pelo capital. Trata-se não só <strong>de</strong><br />

negar o capital, mas <strong>de</strong> empreen<strong>de</strong>r uma nova or<strong>de</strong>m social metabólica que rompa com todas as<br />

formas <strong>de</strong> segregação e <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s.<br />

Muito embora o autor proponha uma revolução no processo educacional para que se possa<br />

vivenciar uma socieda<strong>de</strong> transformada, evi<strong>de</strong>ncia-se as possíveis microrrevoluções que po<strong>de</strong>m ser<br />

realizadas no âmbito da vida humana; uma <strong>de</strong>las é o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scapitalização e <strong>de</strong>scolonização.<br />

É preciso olhar o mundo possível sem a transformação <strong>de</strong> tudo em mercadoria e sem privatização<br />

do bem comum; também é preciso <strong>de</strong>sconstruir o olhar <strong>de</strong> dominação que, ao longo da história, foi<br />

configurando-se mediante a dominação <strong>de</strong> pessoas e <strong>de</strong> espaços, resultando em uma estrutura<br />

po<strong>de</strong>rosa <strong>de</strong> colonialida<strong>de</strong> do po<strong>de</strong>r.<br />

139


Referências<br />

ARANTES, O. B F. VAINER, C. B.; MARICATO, E. A cida<strong>de</strong> do pensamento<br />

único: <strong>de</strong>smanchando consensos. 3. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.<br />

CARTA Mundial pelo Direito à Cida<strong>de</strong>. In: FÓRUM SOCIAL MUNDIAL, 5., 2005, Porto Alegre.<br />

2005. Disponível em: . Acesso em: 2 nov. 2010.<br />

CHAUÍ, M. Cultura e <strong>de</strong>mocracia: o discurso competente e outras falas. 7. ed. São Paulo: Cortez,<br />

1997.<br />

FIX, M. Parceiros da exclusão: duas histórias da construção <strong>de</strong> uma ―nova cida<strong>de</strong>‖ em São Paulo:<br />

Faria Lima e Água Espraiada. São Paulo: Boitempo, 2001.<br />

GARCIA, M. C. As mercadorias como objetos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo: insanida<strong>de</strong> capitalista. São Paulo:<br />

EDICON, 2006.<br />

GOHN, M. G.. Políticas públicas e processos <strong>de</strong> emancipação da globalização econômica na<br />

realida<strong>de</strong> brasileira. In: MILANI, Carlos R. S. (Org.). Dossiê: or<strong>de</strong>m mundial e contestação política.<br />

Ca<strong>de</strong>rno CRH, Salvador, v. 19, n. 48, p. 537-549, set.-<strong>de</strong>z. 2006.<br />

HAUG, W. F. Crítica da estética da mercadoria. São Paulo: Unesp, 1997.<br />

JOÃO Carlos diz que shopping Rio Mar é o empreendimento dos seus sonhos e vai elevar estima<br />

dos recifenses. Blog <strong>de</strong> Jamildo, 18 mar. 2010. Disponível em: . Acesso em: 30<br />

maio 2012.<br />

JOÃO da Costa apoia obra no Cais José Estelita. Jornal do Commercio, Recife, 17 abr. 2012.<br />

Disponível em: . Acesso<br />

em: 30 maio 2012.<br />

JOÃO da Costa diz que Shopping Rio Mar é exemplo <strong>de</strong> um Pernambuco que pensa gran<strong>de</strong>. Blog<br />

<strong>de</strong> Jamildo, 18 mar. 2010. Disponível em:<br />

. Acesso em: 30 maio<br />

2012.<br />

JOÃO da Costa visita obras do RioMar Shopping. A Prefeitura, 31 ago. 2011a. Disponível em:<br />

. Acesso em: 1.º jun. 2012.<br />

JOÃO da Costa visita obras do RioMar Shopping. Blog <strong>de</strong> Jamildo, 31 ago. 2011b. Disponível em:<br />

. Acesso em: 30 maio 2012.<br />

140


OBRAS do RioMar recebem visita <strong>de</strong> João da Costa. Blog <strong>de</strong> Jamildo, 8 fev. 2011. Disponível em:<br />

. Acesso em: 30 maio 2012.<br />

QUIJANO, A. Colonialida<strong>de</strong> do po<strong>de</strong>r, eurocentrismo e América Latina. In: LANDER, E. (Org.). A<br />

colonialida<strong>de</strong> do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Buenos Aires: Consejo Latinoamericano<br />

<strong>de</strong> Ciências Sociales (CLACSO), 2005. p. 227-278. Disponível em:<br />

. Acesso em: 10 maio 2012.<br />

RIOMAR ganha selo <strong>de</strong> valor internacional. Jornal do Commercio, Recife, 15 maio 2012.<br />

Economia. Disponível em:<br />

.<br />

Acesso em: 1.º jun. 2012.<br />

SANTOS, M. O espaço dividido: os dois circuitos da economia urbana dos países<br />

sub<strong>de</strong>senvolvidos. 2. ed. São Paulo: Ed. da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, 2004.<br />

141


RESUMO<br />

ESPÉCIES ARBÓREAS INDICADAS PARA PLANTIO EM CALÇADAS EM SERRA<br />

TALHADA – PE<br />

Gésica Silva e SOUZA (Bióloga) - gss.gesica@gmail.com<br />

Luzia Ferreira da SILVA (UAST/UFRPE) – luzia@uast.ufrpe.br<br />

As cida<strong>de</strong>s inseridas no Nor<strong>de</strong>ste utilizam árvores exóticas para arborizar suas calçadas,<br />

pois, as espécies nativas são preteridas. Para reverter à situação, o presente trabalho evidência a<br />

importância da participação da população na arborização urbana e o uso <strong>de</strong> espécies arbóreas<br />

nativas dos biomas presentes no Nor<strong>de</strong>ste. Com o intuito <strong>de</strong> promover estes conceitos em Serra<br />

Talhada – PE foram exibidas aos moradores do centro da cida<strong>de</strong>, várias fotos <strong>de</strong> espécies em<br />

pranchas, previamente escolhidas e apresentadas aos moradores, que não continham árvores <strong>nas</strong><br />

calçadas e com possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> plantio. O total <strong>de</strong> 869 moradores apresentavam essas condições e<br />

446 moradores foram consultados. Para aumentar o índice <strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> foi utilizado o critério <strong>de</strong><br />

Santamuor Júnior, <strong>de</strong>sse modo <strong>nas</strong> ruas menores que 400m foram sugeridas duas espécies; ruas <strong>de</strong><br />

400 a 800m indicadas 3 espécies; acima <strong>de</strong> 800m sugeridas 4 espécies. Dentre as espécies indicadas<br />

as mais votadas foram: Casearia sylvestris Sw.(Salicaceae), Allophyllus edulis (A. St.-Hil., A. Juss.<br />

& Cambess) Radlk, Pseudobombax simplicifolium A. Robyns,Cordia oncocalyx Allemão<br />

(Boraginaceae), Erytrhina velutiva Willd (Fabaceae), Paquira aquatica Aubl. (Bombacaceae)e<br />

Hibiscus pernambucensis Arruda (Malvaceae).Diante da escassez das espécies da Caatinga, torna-<br />

senecessário estudosmais aprofundados, que enfoquem o comportamento <strong>de</strong>las no ambiente urbano.<br />

Palavras - chaves:Arborização Urbana, espécies da Caatinga, Nor<strong>de</strong>ste.<br />

ABSTRACT<br />

The cities inclu<strong>de</strong>d in the Northeast exotic trees to forest use their si<strong>de</strong>walks because native<br />

species are crow<strong>de</strong>d out. To reverse this situation the present work highlights the importance<br />

of popular participation in urban forestry and the use of native species of biomes present in<br />

the Northeast. In or<strong>de</strong>r to promote these concepts in Serra Talhada - PE were shown to the<br />

resi<strong>de</strong>nts photos of variousspecies in boards, previously chosen and were presented to resi<strong>de</strong>nts<br />

without trees and with the possibility of planting in their si<strong>de</strong>walks. A total of 869 resi<strong>de</strong>nts in<br />

the had these conditions and 446 resi<strong>de</strong>nts were consulted. To increase the diversity in<strong>de</strong>x was used<br />

criterion Santamour Junior, thereby streets less than 400mwere suggested two species; streets from<br />

400 to 800 were listed three species and over 800m have been for species. Among the species<br />

142


listed were the most voted:Casearia sylvestris Sw.(Salicaceae), Allophyllus edulis (A. St.-Hil., A.<br />

Juss. & Cambess) Radlk, Cordia oncocalyx Allemão (Boraginaceae), Erytrhina velutiva Willd<br />

(Fabaceae), Paquira aquatica Aubl. (Bombacaceae)e Hibiscus pernambucensis Arruda<br />

(Malvaceae). Against theshortage the species of Caatinga becomes necessary studies more <strong>de</strong>pth<br />

that focus the behavior their in urban environment.<br />

Key – words: Urban Forestry; Caatinga; Northeast.<br />

INTRODUÇÃO<br />

Os biomas presentes no Nor<strong>de</strong>ste, em especial, a Caatinga e a Mata Atlântica,<br />

sofreram diversas ações antrópicas, o que resultou na <strong>de</strong>vastação <strong>de</strong>sses ecossistemas. A ocupação<br />

<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada; o <strong>de</strong>smatamento;as práticas agrícolas, <strong>de</strong> cunho exclusivamente extrativista e<br />

exploratório ocasionaram abandono e consequente <strong>de</strong>gradação da fauna e da flora (CARVALHO,<br />

2005; LYRA et al.,2009).<br />

Como acontece na maioria dos ecossistemas, as plantas da Caatinga e da Mata Atlântica<br />

po<strong>de</strong>m apresentar limitações em seu estabelecimento, pois o relevo e o regime <strong>de</strong> chuvas<br />

influenciam a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses ambientes. O estudo das variações <strong>de</strong> fatores abióticos locais é<br />

importante para o entendimento das estratégias <strong>de</strong> vida das plantas em diferentes habitats, pois esses<br />

servem <strong>de</strong> parâmetros para futuro manejo e conservação das espécies (GÜTSCHOW – BENTO et<br />

al., 2010).<br />

A Caatinga sempre foi associada à pobreza <strong>de</strong> diversida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>vido a pouca exuberância das<br />

espécies. Ela sempre foi alvo <strong>de</strong> negligência por parte <strong>de</strong> muitos agricultores, em consequência, a<br />

sua área original foi perdida (LEAL et al., 2005). Apesar dos problemas provenientes da<br />

<strong>de</strong>gradação, a Caatinga tem gran<strong>de</strong> potencial para arborização urbana (ALVES, 1998; TROVÃO et<br />

al., 2004; SILVA et al., 2007; ALVES et al., 2008; CORDULA et al., 2008; ZAPPI, 2008; LIMA,<br />

2010).<br />

A Mata Atlântica possui gran<strong>de</strong> biodiversida<strong>de</strong> e en<strong>de</strong>mismo. No Brasil, em algumas<br />

regiões do Nor<strong>de</strong>ste, o índice <strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> plantas lenhosas é um dos maiores do mundo.<br />

Contudo, a preservação <strong>de</strong>ste bioma enfrenta sérios <strong>de</strong>safios, pois cerca <strong>de</strong> 70% da população está<br />

concentrada nele. A presença do homem nessa área a torna vulnerável à <strong>de</strong>gradação e à exploração<br />

<strong>de</strong> seus recursos (MMA, 2002).<br />

Um modo <strong>de</strong> incentivar o uso e a conservação das espécies vegetais nativas e,<br />

consequentemente, a sua fauna associada, é por meio da arborização urbana.<br />

143


Na arborização urbana da região Nor<strong>de</strong>ste existe poucas cida<strong>de</strong>s com planejamento urbano<br />

que empregam espécies nativas <strong>nas</strong> áreas ver<strong>de</strong>s. Embora existam locais que contenham os biomas<br />

Caatinga e Mata Atlântica, constata-se o predomínio <strong>de</strong> espécies exóticas plantadas <strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s. Tal<br />

fato <strong>de</strong>corre da ausência <strong>de</strong> conhecimento, tanto dos técnicos quanto da população local, sobre quais<br />

plantas po<strong>de</strong>riam ser utilizadas na arborização, <strong>de</strong>ssa forma as espécies da Caatinga não têm<br />

oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> plantio.<br />

As espécies usadas na arborização <strong>de</strong> ruas <strong>de</strong>vem ser indicadas <strong>de</strong> acordo com a presença ou<br />

ausência <strong>de</strong> características botânicas como: floração, frutificação, abscisão foliar, cor, odor,<br />

presença <strong>de</strong> espinhos ou acúleos e toxi<strong>nas</strong>, exsudação, arquitetura, textura da casca, porte e<br />

crescimento. O espaço do local on<strong>de</strong> será realizado o plantio necessita ser a<strong>de</strong>quado para o vegetal.<br />

O tamanho das ruas, calçadas e canteiros <strong>de</strong>ve estar <strong>de</strong> acordo com o porte da árvore, propiciar<br />

também o <strong>de</strong>senvolvimento da planta, a areação e a permeabilida<strong>de</strong> do solo, <strong>de</strong>sse modo as raízes<br />

não causarão danos às ruas, às calçadas e aos encanamentos. Quando houver a presença <strong>de</strong> re<strong>de</strong><br />

elétrica é necessário realizar poda <strong>de</strong> condução para não danificar os fios. Se levados em<br />

consi<strong>de</strong>ração esses fatores, os problemas gerados pelo mau planejamento da arborização urbana<br />

serão evitados (SANTANA; SANTOS, 1999; CARVALHO, 2005; ALMEIDA; RODON NETO,<br />

2010).<br />

Na literatura há poucas obras que tratam <strong>de</strong> espécies nativas da caatinga utilizadas na<br />

arborização ou que <strong>de</strong>screvam sua fenologia e <strong>de</strong>ndrologia, o que torna a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espécies<br />

para plantio limitada (GUIA DE ARBORIZAÇAO URBANA, 2002; LIMA, 2007, 2010; DANTAS<br />

et al., 2010; LACERDA et al., 2011), por isso <strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s que estão inseridas no bioma Caatinga é<br />

comum incluir espécies que ocorram em outros biomas no nor<strong>de</strong>ste.<br />

A finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste trabalho é indicar espécies arbóreas nativas do Nor<strong>de</strong>ste para a<br />

arborização urbana da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Serra Talhada – PE.<br />

MATERIAL E MÉTODOS<br />

Inventário arbóreo<br />

Para analisar quais espécies seriam recomendadas para a arborização das ruas do centro da<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Serra Talhada – PE foi imprescindível obter informações sobre os diversos parâmetros<br />

necessários para o planejamento da arborização da cida<strong>de</strong>. Desta forma, foi consultado o inventário<br />

e cadastro <strong>de</strong> árvores para analisar o número das casas que apresentavam possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> plantio,<br />

média da largura das ruas e calçadas (NASCIMENTO, 2011). O centro foi alvo <strong>de</strong> estudo por ser<br />

um dos bairros mais populosos, ter sua área bem <strong>de</strong>limitada e concentrar a maior parte das ruas<br />

asfaltadas.<br />

144


Caracterização da área <strong>de</strong> estudo<br />

A cida<strong>de</strong> localiza-se na microrregião do Pajeú (07º59´31S, 38º17‘54‖W) e alcança 429<br />

metros <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong>. Quanto à fitogeografia, ela encontra-se no domínio intertropical da região<br />

semiárida do nor<strong>de</strong>ste brasileiro, com vegetação predominante do bioma Caatinga. O clima é do<br />

tipo Tropical Semiárido. A estação <strong>de</strong> chuva ocorre no inverno, excepcionalmente no nor<strong>de</strong>ste,<br />

ocasionada por chuvas advectivas, com precipitação média anual <strong>de</strong> 700mm e <strong>de</strong> temperatura <strong>de</strong><br />

26°C (SUDENE, 1990).<br />

Por meio do mapa da cida<strong>de</strong>, fornecido pela Secretaria Municipal <strong>de</strong> Obras e Urbanismo, foi<br />

possível verificar e <strong>de</strong>limitar a quantida<strong>de</strong> e a extensão <strong>de</strong> cada rua do centro, <strong>de</strong>nominado Nossa<br />

Senhora da Penha. Foram analisadas 32 ruas que possuíam, em média, dois metros <strong>de</strong> largura e o<br />

comprimento foi dividido em ruas <strong>de</strong> até 400m, entre 400 a 800m e acima <strong>de</strong> 800m. Cerca <strong>de</strong> 869<br />

casas apresentavam 1.202 possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> plantio e somente duas ruas não apresentaram.<br />

Indicação <strong>de</strong> Espécies<br />

Diante dos dados obtidos, foi realizado um estudo com as espécies que po<strong>de</strong>riam ser<br />

indicadas para plantio nos locais vazios, conforme características fenológicas (abscição foliar,<br />

época <strong>de</strong> floração e frutificação) e local <strong>de</strong> origem. As informações foram obtidas <strong>de</strong> livros, artigos<br />

145


e periódicos (GUIA DE ARBORIZAÇAO URBANA, 2002; CARVALHO, 2005; LIMA, 2007,<br />

2010; LORENZI, 2008, 2009a, 2009b; DANTAS et al., 2010; LACERDA et al., 2011), como<br />

também o porte:árvores <strong>de</strong> pequeno (3 - 6 metros), médio (6 – 10 metros) e gran<strong>de</strong> porte (acima <strong>de</strong><br />

10 metros) (SÃO PAULO, 2005).<br />

Para que não houvesse o uso exacerbado <strong>de</strong> uma única espécie, gênero ou família e a<br />

diversida<strong>de</strong> não fosse prejudicada, foi observado o critério sugerido por Santamour Junior (1990).<br />

O autor sugere que não se <strong>de</strong>ve usar mais que 10% <strong>de</strong> uma espécie, 20% do gênero e 30% da<br />

família.<br />

Dentre as espécies escolhidas, algumas como Tabebuia aurea (Silva Manso) Benth & Hook.<br />

f. ex S. Moore, Pachira aquatica Aubl., Hibiscus pernambucensis Arruda, Senna spectabilis (DC.)<br />

H.S. Irwin & Barneby, Caesalpinia echinata Lam. já estavam presentes no contexto urbano e<br />

possuíam características favoráveis à arborização urbana, <strong>de</strong>sse modo, foram inclusas na lista <strong>de</strong><br />

espécies indicadas para as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> plantio.<br />

Para apresentar aos moradores as espécies nativas do Nor<strong>de</strong>ste e incentivar o aceite da<br />

arborização urbana foram exibidas fotos coloridas das espécies em pranchas em que ocorriam no<br />

Nor<strong>de</strong>ste. As pranchas continham as fotos das espécies indicadas para cada rua; o nome da rua e o<br />

nome científico e popular <strong>de</strong> cada espécie; os dados sobre o comprimento da rua, sua largura e da<br />

calçada correspon<strong>de</strong>nte; o bairro; o potencial <strong>de</strong> plantio e a presença ou não <strong>de</strong> fiação elétrica. As<br />

fotos das espécies indicadas possuíam o mesmo tamanho e padrão para não haver influência na<br />

escolha do morador, que escolhia uma espécie das opções que lhe eram propostas (Figura 1). As<br />

espécies que eram caducifólias geralmente estavam sem folhas <strong>nas</strong> fotos.<br />

Fonte: Lorenzi (2008, 2009a,b)<br />

146


Talhada – PE.<br />

Figura 1 - Prancha com fotos das espécies sugeridas aos moradores do centro da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Serra<br />

Nas ruas menores que 400 metros, eram indicados aos moradores duas espécies, a mais<br />

votada era selecionada para possível plantio; <strong>nas</strong> ruas <strong>de</strong> 400 a 800 metros, foram indicadas três<br />

espécies e selecionadas as duas mais votadas para o possível plantio; <strong>nas</strong> ruas maiores que 800<br />

metros, houve indicação <strong>de</strong> quatro espécies e foram selecionadas as três mais votadas para provável<br />

plantio, <strong>de</strong> acordo com a metodologia adaptada <strong>de</strong> Silva (2005). Aos moradores consultados foi<br />

esclarecido que a prefeitura é o órgão responsável pela arborização urbana, <strong>de</strong>ssa forma o plantio só<br />

seria efetuado caso a<strong>de</strong>risse às sugestões propostas neste trabalho.<br />

RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

Durante os meses <strong>de</strong> março e abril <strong>de</strong> 2011, foi exibido aos moradores o catálogo <strong>de</strong> fotos<br />

coloridas das espécies previamente escolhidas, conforme as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> plantio <strong>nas</strong> calçadas<br />

<strong>de</strong> suas residências. Dos 869 moradores do centro (Nossa Senhora da Penha), foram consultadas<br />

446 pessoas que não possuíam árvores <strong>nas</strong> calçadas e apresentavam possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> plantio. A<br />

maior parte das ruas (13) tinha extensão entre 400 e 800 metros, seguida da extensão menor <strong>de</strong> 400<br />

metros (12) e maior <strong>de</strong> 800 metros (5).<br />

As espécies indicadas estavam compreendidas em Mata Atlântica (16), Caatinga (14) e<br />

adaptadas ao semiárido (13), previamente estudadas para cada local conforme a extensão da rua e<br />

calçada, a altura da fiação elétrica, o porte e a sincronização <strong>de</strong> floração. A maioria dos votos foi<br />

para as espécies da Mata Atlântica, que contabilizou seis espécies (Tabela 1). A escolha <strong>de</strong> espécies<br />

<strong>de</strong>ste bioma ocorreu porque no verão, a temperatura é muito alta e as folhas das espécies da<br />

Caatinga caem para proteger da perda <strong>de</strong> água pela evapotranspiração, enquanto que da Mata<br />

Atlântica permanecem perenifólias, como é verificado na Tabela 1 e somente duas semicaducas.<br />

Espécies com atéseis metros <strong>de</strong> altura são consi<strong>de</strong>radas <strong>de</strong> pequeno porte, e são<br />

frequentemente recomendadas por muitos trabalhos para a arborização <strong>de</strong> calçadas (SÃO PAULO,<br />

2005; PINTO; CORRÊA, 2010; OLIVEIRA; CARVALHO, 2010), entretanto, as árvores <strong>de</strong><br />

pequeno porte não facilitam a passagem <strong>de</strong> pe<strong>de</strong>stres e carros; produzem menos sombra e são mais<br />

frágeis a ataques mecânicos e químicos.<br />

A cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Serra Talhada possui clima seco e quente, a introdução <strong>de</strong> árvores <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

porte po<strong>de</strong> elevar a taxa <strong>de</strong> evapotranspiração e, consequentemente diminuir a temperatura do<br />

ambiente e as ilhas <strong>de</strong> calor, reter a poeira em suspensão gerada pelo trânsito <strong>de</strong> carros em atrito<br />

com o solo e pelo vento e atenuar o barulho (GREY; DENEKE, 1978; ARMSON et al., 2012;<br />

FANG; LING, 2003, 2005). Entre outras vantagens das árvores <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte é a maior área <strong>de</strong><br />

147


copa, que favorece a preservação do asfalto <strong>de</strong>vido à durabilida<strong>de</strong> e a redução do custo <strong>de</strong><br />

manutenção; a interceptação da chuva pelas copas, com redução do escoamento superficial e a<br />

formação <strong>de</strong> corredores ecológicos (DWYER et al., 1992; MCPHERSON; MUCHNICK, 2005;<br />

PIRES et al., 2007). Em calçadas estreitas, o fuste único <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte permite a livre<br />

circulação das pessoas (AGUIRRE JUNIOR; LIMA, 2007).<br />

Tabela 01 – Espécies mais votadas pelos moradores <strong>nas</strong> ruas acima <strong>de</strong> até 400 metros, entre<br />

400 metros e 800 metros eacima <strong>de</strong> 800 metros no centro da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Serra Talhada – PE (2011).<br />

Nome científico Porte<br />

(m)<br />

Abscisão<br />

Foliar<br />

Floração<br />

Frutificação<br />

Local <strong>de</strong><br />

origem<br />

N o . Votos<br />

Casearia sylvestris Sw. 4-6 P Jun – Ago Set – Nov MA 31<br />

Allophylus edulis (A. St.-Hil.,<br />

A. Juss. & Cambess.) Radlk.<br />

6-20 SC Set – Nov Nov – Dez MA 29<br />

Pachira aquaticaAubl. 6-14 P Set – Nov Abr – Jun AS 29<br />

Cordia oncocalyx Allemão 5-8 C Jan – Mar Jul – Ago CT 27<br />

Sapindus saponaria L. 5-10 P Abr – Jun Set – Out MA 24<br />

Pseudobombax simplicifolium<br />

A. Robyns<br />

4-7 C Mai – Ago Jul – Set AS 24<br />

Erythrina velutina Willd 8-12 C Ago – Dez Jan – Fev CT 21<br />

Hibiscus pernambucensis<br />

Arruda<br />

Tibouchina granulosa(Desr.)<br />

Cogn.<br />

3-6 P Ago – Jan Fev – Abr AS 18<br />

8-12 P Jun – Ago Abr – Mai MA 18<br />

Caesalpinia ferrea var. ferrea 10-15 C Nov – Jan Jul – Ago CT 17<br />

Byrsonima sericea DC. 6-16 SC Set – Nov Mar – Abr MA 14<br />

Schinopsis brasiliensis Engl. 10-12 C Jun – Set Out – Nov CT 12<br />

Peltophorum dubium (Spreng.)<br />

Taub.<br />

15-25 C Dez – Fev Mar – Abr AS 12<br />

Tapirira guianensis Aubl. 8-13 P Ago – Dez Jan- Mar MA 12<br />

P- perenifólia, SC – semicaducifólia e C- caducifólia; MA – Mata Atlântica, CT – Caatinga e AD –<br />

Adaptadas ao semiárido<br />

148


O conhecimento da floração e frutificação inseridas no meio urbano é fundamental, porém<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> das condições climáticas <strong>de</strong> cada região, o que po<strong>de</strong> retardar a floração e, conseqüente a<br />

frutificação ou po<strong>de</strong> ser mais expressiva em um local do que em outro, além da estrutura urbana e<br />

condições <strong>de</strong> plantio (BIONDI; LIMA NETO, 2011).<br />

Os moradores preferiram espécies que apresentavam copa <strong>de</strong>nsa ou floração aparente, outra<br />

constatação, é que, as espécies introduzidas atualmente na arborização <strong>de</strong> Serra Talhada têm a<br />

floração discreta ou não aparente. A presença <strong>de</strong> árvores com flores vistosas e com cores<br />

diversificadas proporciona a sensação <strong>de</strong> bem estar, cada cor reflete um efeito diferente em nosso<br />

cérebro (FARINA, 1987). O uso <strong>de</strong> muitas espécies nativas na arborização com variações na<br />

floração, na frutificação e na forma da copa, contribui para a conservação da biodiversida<strong>de</strong> da<br />

região e i<strong>de</strong>ntifica a flora do bioma em que a cida<strong>de</strong> está inserida. A heterogeneida<strong>de</strong> da vegetação<br />

torna a arborização urbana complexa, pois mantém o equilíbrio dinâmico entre os sistemas naturais<br />

que conserva as relações ecológicas entre as árvores e a fauna (SILVA et al., 2007). Ao ampliar o<br />

uso e a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espécies arbóreas nativas, o índice <strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> ten<strong>de</strong> a aumentar, assim<br />

como a presença <strong>de</strong> animais polinizadores como pássaros, borboletas, morcegos, entre outros.<br />

As outras espécies foram ofertadas com o intuito <strong>de</strong> ressaltar o potencial das árvores do<br />

Nor<strong>de</strong>ste para o sistema viário, visto que as espécies usadas na arborização do município <strong>de</strong> Serra<br />

Talhada são exóticas e, recentemente, tais espécies acarretaram sérios problemas por conta <strong>de</strong><br />

pragas, como exemplo temos a Singhiellla simplex (Singh.), popular mosca branca, que dizimou<br />

várias plantas <strong>de</strong> Ficus benjamina L. e outras mais próximas.<br />

CONCLUSÃO<br />

Há dificulda<strong>de</strong> em encontrar estudos que enfoquem aspectos botânicos e <strong>de</strong>scritivos <strong>de</strong><br />

espécies arbóreas do Nor<strong>de</strong>ste que po<strong>de</strong>riam ser empregadas na arborização, o que torna seu uso<br />

pouco empregado e <strong>de</strong> maneira a<strong>de</strong>quada. Tal fato remete para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> maior atenção dos<br />

pesquisadores às espécies <strong>de</strong>sta região, para que a partir do conhecimento aumente a introdução na<br />

arborização. As duas espécies mais votadas da Mata Atlântica foram Casearia sylvestris e<br />

Allophyllus edulis; referentes ao bioma Caatinga foram Cordia oncocalyx e Erythrina velutina e as<br />

espécies mais votadas que se adaptaram no Nor<strong>de</strong>ste como um todo foram Paquira aquatica e<br />

Hibiscus pernambucensis. Além dos fatos já apontados acima, é importante mais uma vez ressaltar<br />

para o cerne da questão: o uso <strong>de</strong> espécies nativas promove a preservação das espécies e dos biomas<br />

do Nor<strong>de</strong>ste.<br />

149


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA<br />

AGUIRRE JUNIOR, J. H.; LIMA, A. M. L. P. Uso <strong>de</strong> árvores e arbustos em cida<strong>de</strong>s brasileiras.<br />

Revista da Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Arborização Urbana, Piracicaba, v.2, n.4, p. 50-66, 2007.<br />

ALVES, M. V. Checklist das espécies <strong>de</strong> Euphorbiaceae Juss. ocorrentes no semi – árido<br />

Pernambucano. BrasilActa Botânica Brasilica, v. 12, n. 3, p. 485-495, 1998.<br />

ALVES, J. J. A.; ARAÚJO, M. A.; NASCIMENTO, S. S. Degradação da caatinga: uma<br />

investigação ecogeográfrica.Caminhos <strong>de</strong> Geografia Uberlândia, v. 9, n. 27, p. 143-155, 2008.<br />

ALMEIDA, D. N.; RONDON NETO, R., M. Analise da arborização urbana <strong>de</strong> duas cida<strong>de</strong>s da<br />

região do estado <strong>de</strong> Mato Grosso. Revista Árvore, Viçosa-MG, v. 34, n. 5, p. 899-906, 2010.<br />

ARMSON, D.; STRINGER, P.; ENNOS, A. R.The effect of tree sha<strong>de</strong> and grass on surface and<br />

globe temperatures in an urban area.Urban Forestry and Urban Greening, Horsholm, v.11, p. 245-<br />

255, 2012.<br />

BIONDI, D.; LIMA NETO, E.M. Pesquisa em arborização <strong>de</strong> ruas. Curitiba: o autor, 2011, 150p.<br />

CARVALHO, M. F. A. Espécies nativas da mata atlântica em Pernambuco com potencial para<br />

arborização urbana. 2005. 74 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Florestais) – Universida<strong>de</strong><br />

Fe<strong>de</strong>ral Rural <strong>de</strong> Pernambuco, 2005.<br />

CORDULA, E.; QUEIROZ, L. P.; ALVES, M. Checklist da flora <strong>de</strong> Mirandiba: Legumi<strong>nas</strong>ae.<br />

Rodriguésia, Pernambuco, v.59, n. 3, p. 597-602, 2008.<br />

DANTAS, I. C.; FELISMINO, D. C., SILVA, S. M.; CHAVES, T. P. Manual <strong>de</strong> arborização<br />

urbana.Campina Gran<strong>de</strong>: EDUEPB, 2010. 96 p. il.<br />

DWYER, F.; McPHERSON, E. G.; SCHOEDER, H. W.; ROWNTREE, R. A. Assessing the<br />

benefits and costs of the urban forest.Journal of Arboriculture, Illinois, v. 18, n.5, p. 227-234, Sept.<br />

1992.<br />

FANG, C.; LING, D. Investigation of the noise reduction provi<strong>de</strong>d by tree belts.Landscape<br />

andUrban Planning, Amsterdam, v.63, p. 187-195, 2003.<br />

_______. Guidance for noise reduction provi<strong>de</strong>d by tree belts.Landscape and Urban<br />

Planning,Amsterdam, v.71, p. 29-34, 2005.<br />

FARINA, M. Psicodinâmica das Cores em Comunicação.São Paulo: Edgar Blücher, 1987 p.26.<br />

GREY, G. W.; DENEKE, F. J. Urban Forestry. New York: John Wiley, 1978. p. 122-131.<br />

GUIA DE ARBORIZAÇÃO URBANA. 2002. Disponível em: <<br />

http://www.grupore<strong>de</strong>.com.br/media/1086038/guia_net-2010.pdf > Acesso em: 15 jun. 2011.<br />

GÜTSCHOW - BENTO, L. H.; CASTELLANI, T. T.; LOPES, B. C.; GODINHOS, P. S.<br />

Estratégias <strong>de</strong> crescimento clonal e fenologia <strong>de</strong> Syngonanthus chrysanthus Ruhland<br />

(Eriocaulaceae) <strong>nas</strong> baixadas entre du<strong>nas</strong> daPraia da Joaquina, Florianópolis, SC, Brasil. Acta<br />

Botânica Brasil. v. 1, n. 24, p. 205-213, 2010.<br />

150


LACERDA, R. M. A.; LIRA FILHO, J. A. SANTOS, R. V. Indicação <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> porte arbóreo<br />

para a arborização urbana no semi – árido paraibano. Revista da Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong><br />

Arborização Urbana, Piracicaba – SP, v. 6, n. 1, p. 51-68, 2011.<br />

LIMA, A.L.A. Padrões fenológicos <strong>de</strong> espécies lenhosas e cactáceas em uma área do semi – árido<br />

da nor<strong>de</strong>ste do Brasil. 2007. 71 f. Dissertação (Mestrado em Botânica) – Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral<br />

Rural <strong>de</strong> Pernambuco, 2007.<br />

LIMA, A.L.A. Tipos funcionais fenológicos em espécies lenhosas da caatinga, nor<strong>de</strong>ste do Brasil.<br />

2010. 116 f. Tese (Doutorado em Botânica) – Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Rural <strong>de</strong> Pernambuco, 2010.<br />

LEAL, I. R.; SILVA, J. M. C.; TABARELLI, M.; LACHER JUNIOR,T. Mudando o curso da<br />

conservação da biodiversida<strong>de</strong> na Caatinga do Nor<strong>de</strong>ste do Brasil. Megadiversida<strong>de</strong>, v. 1, n. 1, p.<br />

139-146, 2005.<br />

LORENZI, H. Árvores brasileiras:manual <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação e cultivo <strong>de</strong> plantas arbóreas nativas do<br />

Brasil. 5.ed. Nova O<strong>de</strong>ssa: Instituto Plantarum, 2008. v.1, 384p.<br />

LORENZI, H. Árvores brasileiras:manual <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação e cultivo <strong>de</strong> plantas arbóreas nativas do<br />

Brasil. 3.ed. Nova O<strong>de</strong>ssa: Instituto Plantarum, 2009a. v.2, 384p.<br />

LORENZI, H. Árvores brasileiras:manual <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação e cultivo <strong>de</strong> plantas arbóreas nativas do<br />

Brasil. 1.ed. Nova O<strong>de</strong>ssa: Instituto Plantarum, 2009b. v.3, 384p.<br />

LYRA, L. H. B.; LIMA D. L.; SILVA, S. S.; XAVIER, T. S.; LIMA, V. C. A questão do semi –<br />

árido e o bioma Caatinga. 2009. Disponível em:<br />

Acesso<br />

em: 21 jun. 2011.<br />

MMA (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE). Biodiversida<strong>de</strong> brasileira: avaliação e<br />

i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> áreas e ações prioritárias para a conservação, utilização sustentável e repartição dos<br />

benefícios da biodiversida<strong>de</strong> nos biomas brasileiros. Secretaria <strong>de</strong> Biodiversida<strong>de</strong> e Florestas,<br />

MMA, Brasília, 2002.<br />

McPHERSON, E. G.; MUCHNICK, J. Effects of street tree sha<strong>de</strong> on asphalt concrete pavement<br />

performance.Journal of Arboriculture, Illinois, v. 31, n.6, nov., 2005.<br />

NASCIMENTO, L. R. Cadastro e inventário das árvores em três bairros da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Serra<br />

Talhada /PE. 2011. 50 f. Monografia – Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Rural <strong>de</strong> Serra Talhada/ Unida<strong>de</strong><br />

Acadêmica <strong>de</strong> Serra Talhada, 2011.<br />

SÃO PAULO, Secretaria Municipal do Ver<strong>de</strong> e do Meio Ambiente. Manual Técnico <strong>de</strong><br />

Arborização. São Paulo, 2005, 45 p.<br />

PINTO, L. V. A.; CORRÊA, R. F. M. Arborização <strong>de</strong> vias públicas <strong>de</strong> Inconfi<strong>de</strong>ntes, MG,<br />

empregando a educação ambiental. In: I Congresso Brasileiro <strong>de</strong> Gestão Ambiental, 2010, Baúru -<br />

SP. Anais eletrônicos... Baúru-SP: 2010. p.1-5. Disponível em:<br />

Acesso em: 13 mai 2011.<br />

PIRES, R. K.; DIAS, M. B.; BRITO, J. O conflito: arborização urbana x energia eletrica, no bairro<br />

vermelha, em Teresina – PI. In: CONGRESSO DE PESQUISA E INOVAÇÃO DA REDE NORTE<br />

NORDESTE DE EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA, 2., 2007, João Pessoa. Anais eletrônicos... João<br />

151


Pessoa:2007. Disponível em:<br />

<br />

OLIVEIRA, A. C.; CARVALHO, S. M. C. Arborização <strong>de</strong> vias e aspectos sócios econômicos <strong>de</strong><br />

três vilas <strong>de</strong> Ponta Grossa, PR. Revista da Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Arborização Urbana, Piracicaba<br />

– SP, v.5, n.3, p. 42-58, 2010.<br />

SANTAMOUR JÚNIOR, F.S. Trees for urban planting: diversity uniformity, and common sense.<br />

In: METRIA Conference, 7., 1990, Lisle. Anais... Lisle: 1990. p.57-66.<br />

SANTANA, J. R.F.; SANTOS, G. M. M. Arborização do campus da UEFS: exemplo a ser seguido<br />

ou um gran<strong>de</strong> equívoco? Nota cientifica. Sitientibus, Feira <strong>de</strong> Santana. n. 20, p. 103-107, jan/ jun,<br />

1999.<br />

SILVA, L. F. Situação da arborização viária e proposta <strong>de</strong> espécies para os bairros <strong>de</strong> Antonio<br />

Zanaga I e II da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Americana – SP. 2005. 80 f. Dissertação (Mestrado em Agronomia) –<br />

Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo. Escola Superior <strong>de</strong> Agricultura Luiz <strong>de</strong> Queiroz.<br />

SILVA, E. A. E. S.; GUEDES, R. S. A.; SANTOS, A. M. M.; TABARELLI, M. Distrubuição <strong>de</strong><br />

plantas da Caatinga nos brejos <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> continentalida<strong>de</strong>. In: VIII Congresso <strong>de</strong> Ecologia do<br />

Brasil, 2007, Caxambu-MG. Anais eletrônicos... Caxambu-MG: 2007. Disponível em: <br />

Acesso em: 19 mai 2011.<br />

SUPERINTENDÊNCIA DO DESENVOLVIMENTO DO NORDESTE. Dados pluviométricos<br />

mensais do Nor<strong>de</strong>ste - Estado <strong>de</strong> Pernambuco. Recife, 1990. 363p.<br />

TROVÃO, D. M. B. M.; FERNANDES, P. D.; ANDRADE, L. A.; DANTAS NETO, J.;<br />

OLIVEIRA, A. B.; QUEIROZ, J. A. Avaliação do potencial hídrico <strong>de</strong> espécies da Caatinga sob<br />

diferentes níveis <strong>de</strong> umida<strong>de</strong> no solo. Revista <strong>de</strong> Biologia e Ciencias da Terra, v. 4, n. 2, 2004, não<br />

paginado.<br />

ZAPPI, D. Fitofisionomia da Caatinga associada à Ca<strong>de</strong>ia do Espinhaço. Megadiversida<strong>de</strong>, v. 4, n.<br />

1-2, p. 34 – 38, 2008.<br />

152


REPRESENTAÇÕES DE QUALIDADE DE VIDA E SAÚDE: REFLEXÕES ACERCA DAS<br />

RELAÇÕES AMBIENTAIS EM UNIVERSITÁRIOS<br />

Resumo<br />

Marília Pinto Ferreira MURATA<br />

Docente da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná e<br />

Doutoranda pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> São Carlos<br />

mariliamurata@ufpr.br<br />

Afonso Takao MURATA<br />

Docente da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná<br />

afonsomurata@ufpr.br<br />

Atualmente saú<strong>de</strong> não tem sido somente articulada aspectos físicos e biomédicos. O conceito <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong> foi ampliado e tem sido vinculado a diversos fatores, nos âmbitos biopsicossociais. A partir<br />

<strong>de</strong>ssa concepção ampliada <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> tem se verificado a contribuição da saú<strong>de</strong> para a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

vida <strong>de</strong> pessoas ou populações. Da mesma forma que se verificam fatores <strong>de</strong> diversos âmbitos<br />

constituindo e influenciando a saú<strong>de</strong> das pessoas, a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida também é um constructo<br />

multifatorial. Além do acesso ao serviço médico <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> é necessário se levar em conta<br />

<strong>de</strong>terminantes <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mais amplos. No presente artigo são avaliadas as concepções apresentadas<br />

por estudantes universitários <strong>de</strong> graduação na área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> (Fisioterapia e Saú<strong>de</strong> Coletiva), no<br />

início do curso, em relação à saú<strong>de</strong> e qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida. Os resultados evi<strong>de</strong>nciam representações<br />

sociais <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e saú<strong>de</strong> relacionadas ao mo<strong>de</strong>lo biomédico<strong>de</strong> atenção à saú<strong>de</strong>, sem<br />

contemplar outras dimensões <strong>de</strong>ssas temáticas, como aspectos ambientais. Revelam a necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> trabalho integrado entre as ações <strong>de</strong> educação ambiental e educação em saú<strong>de</strong>. Além disso, a<br />

amplitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> aspectos relacionados tanto à saú<strong>de</strong>, como à qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, implica e requer<br />

políticas públicas intersetoriais e trabalho <strong>de</strong> educação e promoção da saú<strong>de</strong> que contemple a<br />

concepção ampliada <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Fazem-se necessárias ainda, estratégias promocionais que<br />

contemplem a formação e a proposição <strong>de</strong> ações que incluam formação social no sentido do<br />

incremento da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e inovações na gestão pública para o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável.<br />

Palavras-chaves: qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, saú<strong>de</strong>, representações sociais.<br />

Abstract<br />

At present health has not been articulated only physical and biomedical. The health concept has<br />

been linked to several factors in the the biopsychosocial areas. From this expan<strong>de</strong>d concept of<br />

health has verified the contribution of health in the life quality of people or populations. Likewise<br />

153


various factors constituting and influencing people's health, life quality also have a multifactorial<br />

construct. Besi<strong>de</strong>s access to quality medical service is necessary to take into account the broa<strong>de</strong>r<br />

<strong>de</strong>terminants of health. In this article are analyzed the concepts presented by graduate stu<strong>de</strong>nts<br />

about health (physiotherapy and Public Health), and in relation to health and life quality. The results<br />

show social representations of health and life quality related to the medical health care mo<strong>de</strong>l,<br />

without consi<strong>de</strong>ring other dimensions of these issues, such as environmental aspects. Reveal the<br />

necessity of cooperation between environmental education and health education. Moreover, the<br />

breadth of issues related to both health and life quality implies and requires intersectional public<br />

policies, and labor education, and health promotion that addresses the expan<strong>de</strong>d health concept. It<br />

was necessary yet, promotional strategies that inclu<strong>de</strong> training and propose actions that inclu<strong>de</strong><br />

social formation towards improving the quality of life and innovations in governance for sustainable<br />

<strong>de</strong>velopment.<br />

Keywords: Life quality, health and social representations.<br />

É incontestável que, <strong>nas</strong> últimas décadas, têm ocorrido melhora contínua em relação às<br />

condições <strong>de</strong> vida e saú<strong>de</strong> da população, na maioria dos países. Apesar disso, ainda se verificam<br />

gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais e em relação à essas condições <strong>de</strong> vida e saú<strong>de</strong> (OPAS, 1998).<br />

Segundo Buss (2000) em alguns setores, como o <strong>de</strong> doenças infectoparasitárias e ligadas a<br />

condições <strong>de</strong> infraestrutura urbana básica, os problemas já estão resolvidos em diversos locais e<br />

populações, no entanto, em outros setores tem se observado um aumento <strong>de</strong> problemas como<br />

doenças crônicas não infecciosas ou o aparecimento <strong>de</strong> outros como a AIDS, abuso <strong>de</strong> drogas,<br />

violência, estresse. Apesar <strong>de</strong> se ter verificado anteriormente que a melhora <strong>nas</strong> condições <strong>de</strong> vida<br />

foram os principais responsáveis pelos avanços mencionados, a resposta social para estes problemas<br />

emergentes tem sido investimentos crescentes em assistência médica curativa e individual (BUSS,<br />

2000).<br />

A priorização das tecnologias na área médica e o foco das atenções no risco individual e <strong>nas</strong><br />

condições <strong>de</strong> reabilitação da doença, caracteriza o que se convencionou chamar <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo<br />

biomédico.<br />

A carta <strong>de</strong> Ottawa (BRASIL, 2001), aponta a limitação do mo<strong>de</strong>lo biomédico, indicando-o<br />

como necessário, no entanto insuficiente para a promoção da saú<strong>de</strong>, afirmando que se faz necessária<br />

a ação coor<strong>de</strong>nada <strong>de</strong> todos os implicados, sendo responsabilida<strong>de</strong> dos grupos sociais e<br />

profissionais atuar como mediadores entre interesses antagônicos e a favor da saú<strong>de</strong>.<br />

154


Com base na insuficiência <strong>de</strong>ste mo<strong>de</strong>lo adotou-se a concepção ampliada <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, que<br />

ressalta a idéia <strong>de</strong> processo saú<strong>de</strong>-doença. Marcon<strong>de</strong>s (2004) afirma que a idéia <strong>de</strong> processo diz<br />

respeito a uma relação dinâmica entre saú<strong>de</strong> e doença, em que elementos internos e externos ao<br />

organismo interagem constantemente, em uma permanente instabilida<strong>de</strong> que <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ia novos<br />

ajustes.<br />

Assim, a saú<strong>de</strong> não se constitui em oposto da doença, mas estão em constante interação,<br />

sendo que esta relação abrange tanto as condições inter<strong>nas</strong> do organismo, como as relações sociais e<br />

ambientais (OPAS, 1996). Marcon<strong>de</strong>s (2004) acrescenta que não se po<strong>de</strong> per<strong>de</strong>r <strong>de</strong> vista que a<br />

saú<strong>de</strong>, além do setor médico, envolve os <strong>de</strong>mais setores da socieda<strong>de</strong> e profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

Há muito tem sido questionado o papel da medicina e do setor <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> no enfrentamento<br />

das causas mais amplas dos problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, que não são o objeto principal do médico (BUSS,<br />

2000). A influência mútua entre saú<strong>de</strong> e as condições e qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida tem sido amplamente<br />

estudada. Buss (2000) afirma que no panorama mundial têm sido <strong>de</strong>monstradas as relações entre<br />

saú<strong>de</strong> e condições∕qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida. Segundo este autor, no Brasil, em pesquisa <strong>de</strong> cunho teórico-<br />

conceitual, realizada por Paim (1997), também são <strong>de</strong>stacados vários estudos que <strong>de</strong>monstram as<br />

referidas relações.<br />

No Brasil e na América Latina têm sido elencados alguns fatores (condições <strong>de</strong> vida) <strong>de</strong><br />

or<strong>de</strong>m socioeconômica, que se relacionam e influenciam diretamente as tendências nos indicadores<br />

básicos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ntre eles se <strong>de</strong>stacam: grau <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>, condições <strong>de</strong> moradia, renda e<br />

ambiente (OPAS, 1998; BUSS, 2000).<br />

Tendo em vista as consi<strong>de</strong>rações acima, a resolução dos problemas relacionados à saú<strong>de</strong> e a<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da articulação <strong>de</strong> diversos saberes e ações interdisciplinares e<br />

correlacionadas e está ligado ao conceito <strong>de</strong> promoção da saú<strong>de</strong>. A respeito da promoção da saú<strong>de</strong>,<br />

Buss (2000) refere que:<br />

―Partindo da concepção ampliada <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do processo saú<strong>de</strong>-doença e <strong>de</strong> seus<br />

<strong>de</strong>terminantes propõe a articulação <strong>de</strong> saberes técnicos e populares, e a mobilização <strong>de</strong> recursos<br />

institucionais, comunitários, públicos e privados, para seu enfrentamento e resolução‖ (BUSS,<br />

2000).<br />

A Carta <strong>de</strong> Otawa (WHO, 1986), que se constitui em um documento <strong>de</strong> referência para a<br />

área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong>fine promoção <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> como um processo <strong>de</strong> capacitação da comunida<strong>de</strong> para<br />

atuar na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e saú<strong>de</strong> e, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a saú<strong>de</strong> como uma dimensão da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida,<br />

que se constitui um recurso fundamental para a vida cotidiana. Este documento aponta múltiplos<br />

<strong>de</strong>terminantes <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, transcen<strong>de</strong>ndo a idéia <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> relacionada unicamente a formas sadias <strong>de</strong><br />

vida, acrescentando dimensões como paz, educação, habitação, alimentação, renda, ecossistema,<br />

recursos sustentáveis, equida<strong>de</strong> e justiça social.<br />

155


De acordo com a Carta <strong>de</strong> Otawa, as ações relacionadas à promoção da saú<strong>de</strong> envolvem<br />

cinco campos principais: elaboração e implementação <strong>de</strong> políticas públicas saudáveis, criação <strong>de</strong><br />

ambientes favoráveis à saú<strong>de</strong>, reforço envolvimento e ação comunitária, <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

habilida<strong>de</strong>s pessoais e reorientação do sistema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

Das consi<strong>de</strong>rações acima, apreen<strong>de</strong>-se que o ambiente tem relação direta com a saú<strong>de</strong> e a<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida dos indivíduos e das populações e ainda, que a promoção da saú<strong>de</strong> se constitui em<br />

alternativa <strong>de</strong> ação neste sentido. As diretrizes para a promoção da saú<strong>de</strong> e a concepção ampliada <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong> que a embasa localizam as questões ambientes como importantes fatores a serem levados em<br />

consi<strong>de</strong>ração quando o assunto é saú<strong>de</strong> e qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<br />

Desta forma, e tendo em vista a formação dos profissionais da área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> para estas<br />

questões, o presente trabalho busca analisar as representações <strong>de</strong> estudantes universitários em<br />

relação à qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e saú<strong>de</strong>, ao iniciarem cursos <strong>de</strong> graduação relacionados à área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,<br />

e ainda, se estas concepções abarcam questões ambientais.<br />

Métodos<br />

Participantes<br />

O presente estudo contou com a colaboração <strong>de</strong> 70 estudantes <strong>de</strong> graduação em Saú<strong>de</strong><br />

Coletiva e Fisioterapia, matriculados no primeiro semestre <strong>de</strong> seus respectivos cursos. A coleta <strong>de</strong><br />

dados junto aos estudantes foi realizada antes <strong>de</strong>les completarem 15 dias <strong>de</strong> aula. A média <strong>de</strong> ida<strong>de</strong><br />

dos estudantes participantes foi <strong>de</strong> 23 anos, sendo que 29% <strong>de</strong>les eram do sexo masculino e 71%<br />

feminino.<br />

Instrumento<br />

Para a coleta <strong>de</strong> dados foi utilizado um questionário autoadiministrado, contendo 5<br />

perguntas, sendo três para caracterização (ida<strong>de</strong>, sexo e curso) e duas perguntas abertas específicas<br />

para levantar as representações sobre qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e saú<strong>de</strong>, em que era solicitado que os<br />

participantes emitissem opiniões pessoais acerca <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> (O que é saú<strong>de</strong> para você?) e qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> vida (O que você enten<strong>de</strong> por qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida?)<br />

Procedimentos<br />

Os questionários foram entregues em sala <strong>de</strong> aula, <strong>de</strong> forma coletiva, com autorização do<br />

professor, e com preenchimento <strong>de</strong> caráter voluntário.<br />

A análise dos dados foi realizada quantitativamente, por meio <strong>de</strong> análise <strong>de</strong> frequência e,<br />

qualitativamente através da técnica <strong>de</strong> análise <strong>de</strong> conteúdo (Bardin, 1977).<br />

156


Resultados e Discussões<br />

As respostas às questões referentes às representações sociais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida<br />

foram categorizadas e são apresentadas segundo a seguir.<br />

Com relação à questão específica sobre o que os estudantes enten<strong>de</strong>m <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> foi possível<br />

observar que os participantes <strong>de</strong>ste estudo <strong>de</strong>finem saú<strong>de</strong> segundo <strong>nas</strong> categorias apresentadas na<br />

Tabela 1.<br />

Categoria Frequência<br />

Saú<strong>de</strong> como ausência <strong>de</strong> doença 42%<br />

Saú<strong>de</strong> como saú<strong>de</strong> física 35%<br />

Saú<strong>de</strong> como equilíbrio corpo e mente 18%<br />

Concepção ampliada <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> 5%<br />

Tabela 1: Percentual <strong>de</strong> respostas segundo categorias relativas as representações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

Os maiores percentuais <strong>de</strong> respostas evi<strong>de</strong>nciam o entendimento <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> como ausência <strong>de</strong><br />

doença e <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> relacionada, principalmente ao âmbito físico, expressam as representações<br />

vigentes em nossa socieda<strong>de</strong>, em que a saú<strong>de</strong> é vista <strong>de</strong> maneira utilitarista e imediatista.<br />

Em pesquisa realizada por Brito; Camargo (2011) fatores relacionados à saú<strong>de</strong> física também foram<br />

os mais frequentes, sendo a alimentação saudável e à prática <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> física regular os mais<br />

referidos relacionados à saú<strong>de</strong>.<br />

Resultados semelhantes foram encontrados por Andra<strong>de</strong> Jr., Souza, Brochier (2004) em que<br />

as categorias <strong>de</strong> ausência <strong>de</strong> doença e saú<strong>de</strong> relacionada ao âmbito físico também foram as mais<br />

frequentes em relação as representações <strong>de</strong> educação em saú<strong>de</strong> entre universitários. Estes autores<br />

levantam a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>stas concepções estarem relacionadas ao crescimento dos planos <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong> e a constatação <strong>de</strong> ineficiência do sistema público, e ainda, aos escândalos envolvendo<br />

falsificação <strong>de</strong> remédios e a utilização <strong>de</strong> genéricos, que po<strong>de</strong>m estar favorecendo a associação da<br />

educação em saú<strong>de</strong> à cura.<br />

A priorização do profissional médico <strong>nas</strong> unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> se conseguir<br />

atendimento com outros profissionais e a supervalorização das terapias medicamentosas em<br />

<strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> outros tipos <strong>de</strong> práticas, também po<strong>de</strong>m ser fatores que contribuem para a<br />

continuida<strong>de</strong> da hegemonia do mo<strong>de</strong>lo biomédico.<br />

Além disso, outros fatores que po<strong>de</strong>m estar relacionados à predominância <strong>de</strong> respostas<br />

relacionadas ao corpo e ao físico po<strong>de</strong>m estar incluir a supervalorização do corpo e da beleza, as<br />

intensas propagandas relacionadas à estética e a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> aceitar e valorizar o envelhecimento.<br />

157


Estas concepções, que priorizam o corpo e a saú<strong>de</strong> física po<strong>de</strong>m estar dificultando a adoção <strong>de</strong><br />

comportamentos preventivos por parte da população e a disseminação <strong>de</strong> conhecimentos em relação<br />

à concepção ampliada <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, tendo em vista que outros aspectos são <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rados ou<br />

<strong>de</strong>svalorizados. Outra consequência <strong>de</strong>stas atitu<strong>de</strong>s é a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> incorporação <strong>de</strong> outros<br />

profissionais nos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

As respostas em relação à <strong>de</strong>finição e os fatores que po<strong>de</strong>m interferir na saú<strong>de</strong> revelam<br />

predominância <strong>de</strong> respostas que se enquadram no mo<strong>de</strong>lo biomédico <strong>de</strong> concepção <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, tendo<br />

em vista que levam em consi<strong>de</strong>ração, principalmente aspectos relacionados à saú<strong>de</strong> física, e<br />

ausência <strong>de</strong> doenças, sem consi<strong>de</strong>rar outros fatores como: sociais, ambientais, culturais, emocionais,<br />

ambientais, entre outros.<br />

Quando questionados sobre ―O que você enten<strong>de</strong> por qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida?‖, as respostas mais<br />

frequentes foram categorizadas e são ilustradas a seguir:<br />

Categoria Frequência<br />

<strong>Qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> vida como saú<strong>de</strong> 37%<br />

<strong>Qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> vida relacionada ao bem-estar (físico) 29%<br />

<strong>Qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> vida como estabilida<strong>de</strong> financeira 13%<br />

<strong>Qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> vida como diversão 9%<br />

<strong>Qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> vida relacionada bons relacionamentos 8%<br />

<strong>Qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> vida como capacida<strong>de</strong> para trabalho e<br />

ativida<strong>de</strong>s diárias<br />

Tabela2: Percentual <strong>de</strong> respostas segundo categorias relativas as representações <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

vida.<br />

Para a maior parte dos entrevistados qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida está relacionada principalmente ao<br />

bem-estar, seja ele físico ou financeiro, aparecendo respostas relacionadas ao conforto material e ao<br />

bem-estar geral, incluindo os relacionamentos em geral. O conforto material apareceu vinculado<br />

também à possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> investimentos em diversão e cuidados com a saú<strong>de</strong>, alimentação,<br />

práticas <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s físicas e acesso ao atendimento em saú<strong>de</strong> privada. Também é frequente a<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida relaciona à (boa) saú<strong>de</strong>.<br />

Assim, as respostas estão predominantemente relacionadas ao bem-estar e conforto em áreas<br />

relacionadas à saú<strong>de</strong> e aos relacionamentos. As representações sociais <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida<br />

apresentadas evi<strong>de</strong>nciam que para a maior parte dos estudantes, há uma correspondência entre<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e saú<strong>de</strong> ou bem-estar físico.<br />

4%<br />

158


Assim, para as representações sociais <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida repetem-se as concepções<br />

relacionadas à ausência <strong>de</strong> doença e o bem estar físico como pontos principais, assim como <strong>nas</strong><br />

representações sociais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, evi<strong>de</strong>nciando respostas que não contemplam o conceito ampliado<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

Somente foram acrescentados aspectos relativos aos relacionamentos interpessoais, mas <strong>de</strong><br />

maneira restrita, pois não implicam ações sociais, mas sim aspectos da vida individual em relação<br />

às pessoas que os ro<strong>de</strong>iam. Nesta mesma perspectiva aparecem o trabalho e a diversão, que não<br />

incluem a visão <strong>de</strong> participação coletiva.<br />

As representações sociais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida apresentadas pelos estudantes não<br />

evi<strong>de</strong>nciam aspectos relacionados ao ambiente, nem uma visão integrada do ser humano ao meio<br />

ambiente, aspectos importantes para a concepção ampliada <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, que por sua vez é essencial<br />

para os profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

Essa visão <strong>de</strong> integração do homem ao meio ambiente é <strong>de</strong>scrita na Lei 9.795, que dispõe<br />

sobre a Educação Ambiental, e que em seu Art. 1 o , <strong>de</strong>termina que a educação ambiental <strong>de</strong>ve ser<br />

construída, a partir <strong>de</strong> um enfoque holístico, <strong>de</strong>mocrático e participativo, além disso a lei <strong>de</strong>fine<br />

educação ambiental:<br />

―Enten<strong>de</strong>m-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a<br />

coletivida<strong>de</strong> constroem valores sociais, conhecimentos, habilida<strong>de</strong>s, atitu<strong>de</strong>s e competências<br />

voltadas para a conservação do meio ambiente, bem <strong>de</strong> uso comum do povo, essencial à sadia<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e sua sustentabilida<strong>de</strong>‖ (BRASIL, 1999)<br />

Já a educação em saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong> acordo com Andra<strong>de</strong> Jr., Souza, Brochier (2004):<br />

―Focaliza o engajamento das pessoas para que adotem e mantenham padrões <strong>de</strong> vida sadios,<br />

usando <strong>de</strong> forma a<strong>de</strong>quada os serviços colocados à sua disposição e tomando suas próprias<br />

<strong>de</strong>cisões, no nível individual e coletivo, com vistas a aprimorar condições <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e <strong>de</strong> meio<br />

ambiente.‖ (ANDRADE JR., SOUZA, BROCHIER, 2004)<br />

Neste sentido, a educação ambiental po<strong>de</strong>ria estar integrada à educação em saú<strong>de</strong>, a partir <strong>de</strong><br />

uma visão ecocêntrica. Segundo Andra<strong>de</strong> Jr., Souza, Brochier (2004) a inserção <strong>de</strong> uma dimensão<br />

ambiental na educação representa um esforço formador e integrador. Para estes autores, entida<strong>de</strong>s<br />

governamentais e não governamentais que visem relativas a educação ambiental e a educação em<br />

saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong>vem priorizar as relações entre tais temas, pois o entendimento das relações entre saú<strong>de</strong> e<br />

ambiente favorece a visão ecocêntrica em relação ao ambiente e uma ótica mais ampla em questões<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> coletiva.<br />

159


Consi<strong>de</strong>rações Finais<br />

Os resultados do presente estudo <strong>de</strong>monstram representações sociais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

vida dos estudantes participantes relacionadas, principalmente à aspectos do mo<strong>de</strong>lo biomédico <strong>de</strong><br />

atenção e atuação em saú<strong>de</strong>, não contemplando dimensões do conceito ampliado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

Questões pertinentes ao meio ambiente não são contemplados <strong>de</strong> maneira a contemplar a<br />

necessária integração homem e ambiente, necessária a compreensão integral do ser humano e<br />

biopsicossocial <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, inerentes ao conceito ampliado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

Esta situação po<strong>de</strong> estar relacionada ao fato <strong>de</strong> ainda termos em nossa socieda<strong>de</strong> concepções<br />

<strong>de</strong> ambiente e <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que focam estes temas como fatores <strong>de</strong> consumo, refletindo a i<strong>de</strong>ologia<br />

subjacente, amplamente divulgada em nossos meios <strong>de</strong> comunicação.<br />

Assim, se torna evi<strong>de</strong>nte a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se implementar, em cursos da área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, ações<br />

voltadas para a educação ambiental integrada com a educação em saú<strong>de</strong>, como forma <strong>de</strong> refletir e<br />

promover mudanças <strong>de</strong> concepção e atitu<strong>de</strong>s relacionadas à sua inserção e integração do homem ao<br />

meio ambiente, bem como <strong>de</strong> sua participação ativa em relação à saú<strong>de</strong>, qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e<br />

ambiente, <strong>de</strong> forma sustentável.<br />

Outro aspecto a ressaltar é a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que as políticas públicas <strong>de</strong> promoção da saú<strong>de</strong><br />

e da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida contemplem a intersetorialida<strong>de</strong> e interdisciplinarida<strong>de</strong>, e mudanças na<br />

gestão pública, tendo em vista que ambos os constructos possuem causas e consequências<br />

multifatoriais integradas.<br />

Também fica evi<strong>de</strong>nte a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> políticas públicas que viabilizem a ampliação da<br />

educação ambiental e da educação em saú<strong>de</strong> para toda a população, tendo em vista que as<br />

representações dos estudantes refletem as concepções vigentes na comunida<strong>de</strong> e como a revisão <strong>de</strong><br />

literatura <strong>de</strong>ixa evi<strong>de</strong>nte, temos tido problemas relacionados à saú<strong>de</strong> e ao ambiente, que estão<br />

relacionados aos estilos <strong>de</strong> vida adotados e, que para sua resolução, necessitam <strong>de</strong> mudanças <strong>de</strong><br />

atitu<strong>de</strong>s.<br />

Referências Bibliográficas<br />

ANDRADE JR., H.; SOUZA, M.A.; BOCHIER, J.I. Representação Social da Educação Ambiental<br />

e da Educação em Saú<strong>de</strong> em Universitários. Psicologia: Reflexão e Crítica, v.17, n.1, 2004, pp. 43-<br />

50.<br />

BARDIN, L. Análise <strong>de</strong> conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977. 226p.<br />

160


BRASIL. Lei n o 9795, <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1999. Política Nacional <strong>de</strong> Educação Ambiental. 1999.<br />

BRASIL. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Promoção da saú<strong>de</strong>, Declaração <strong>de</strong> Alma-Ata, Carta <strong>de</strong> Ottawa,<br />

Declaração<strong>de</strong> A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong>, Declaração <strong>de</strong> Sundsvall, Declaração<strong>de</strong> Santafé <strong>de</strong> Bogotá, Declaração<br />

<strong>de</strong> Jacarta,Re<strong>de</strong> dos Megapaíses, Declaração do México. Brasília, DF, 2001. 54 p.<br />

BRITO, A.M.M.; CAMARGO, B.V.Representações sociais, crenças e comportamentos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>:<br />

um estudo comparativo entre homens e mulheres. Temas psicol., vol.19, n.1, Ribeirão<br />

Preto, jun. 2011, p.283-303.<br />

BUSS, P.M. Promoção da saú<strong>de</strong> e qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida. Ciência & Saú<strong>de</strong> Coletiva, v.5, n.1, p.163-<br />

177, 2000.<br />

MARCONDES, W.B. A convergência <strong>de</strong> referências na Promoção da Saú<strong>de</strong>. Saú<strong>de</strong> e<br />

Socieda<strong>de</strong>.v.13, n.1, p.5-13, jan-abr 2004.<br />

ORGANIZAÇÃO PANAMERICANA DA SAÚDE (OPAS). Promoción <strong>de</strong> la salud: una<br />

antología. Washington, 1996. 364 p. (Publ. Cient. 557).<br />

ORGANIZAÇÃO PANAMERICANA DE SAÚDE (OPAS). La Salud en las Américas, vol. 1,<br />

OPAS,Washington, 1998. 368 pp.<br />

161


REFLEXOS DA EXPANSÂO URBANA SOBRE O MEIO AMBIENTE E QUALIDADE DE<br />

VIDA EM FORTALEZA- CE<br />

Resumo<br />

Nubelia Moreira da SILVA (Doutoranda em Geografia/UFC) nubeliamoreira@yahoo.com.br<br />

Camila Campos LOPES (Doutoranda em Geografia/UFC) camila.npc@hotmail.com<br />

Maria Rita <strong>Vida</strong>l (Doutoranda em Geografia/UFC) mritavidal@yahoo.com.br<br />

Raimundo Freitas ARAGÃO (Doutorando em Geografia/UFC) ararageo2007@yahoo.com.br<br />

O artigo <strong>de</strong>senvolve uma reflexão sobre o estado atual da expansão urbana na região su<strong>de</strong>ste da<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Fortaleza, Capital do Ceará, mostrando as implicações <strong>de</strong>sse processo sobre os<br />

componentes ambientais da área e seus reflexos sobre a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida da população. O objetivo<br />

é discutir as transformações socioespaciais e ambientais nesta área. O <strong>de</strong>senvolvimento do trabalho<br />

obe<strong>de</strong>ce ao mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> pesquisa qualitativa e exploratória. Diante da carência <strong>de</strong> informações, o<br />

trabalho procura contribuir com a ampliação e divulgação do conhecimento da realida<strong>de</strong> e da<br />

dinâmica socioespacial da área em tela, a fim <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r os <strong>de</strong>safios e as perspectivas da<br />

sustentabilida<strong>de</strong> socioambiental e fornecer subsídios para o <strong>de</strong>bate e o planejamento urbano mais<br />

eficiente.<br />

Palavras-chave: Expansão urbana; Planejamento urbano; Meio ambiente; <strong>Qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> vida.<br />

Abstract<br />

The article reflects on the current state of urban expansion in the southeastern city of Fortaleza,<br />

capital of Ceará. It shows the implications of this process on the environmental components of the<br />

area and its impact on quality of life. The aim is to discuss about its environmental and socio-spatial<br />

transformation. The <strong>de</strong>velopment of the article follows the qualitative and exploratory research<br />

methods. Given the i<strong>de</strong>ntification of the lack of information, the study intends to contribute to the<br />

expansion and dissemination of the reality and the socio-spatial dynamics of the area, in or<strong>de</strong>r to<br />

un<strong>de</strong>rstand the challenges and prospects of environmental sustainability and provi<strong>de</strong> input to the<br />

<strong>de</strong>bate of a more efficient urban planning.<br />

Key-words: Urban sprawl; Urban planning; Environment; Quality of life<br />

162


Introdução<br />

A socieda<strong>de</strong> contemporânea, caracterizada, segundo Beck (2003),como ―a socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

risco‖, está diante <strong>de</strong> problemas que são, ao mesmo tempo, preocupantes e <strong>de</strong>safiadores. De acordo<br />

com o referido autor, a humanida<strong>de</strong> vive a incerteza diante das consequências sociais, ambientais e<br />

econômicas advindas do paradigma que domina as relações econômicas, culturais, políticas e<br />

ambientais estabelecidas no cerne da socieda<strong>de</strong> do mundo mo<strong>de</strong>rno, a ―mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> reflexiva‖.<br />

Entre os gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>safios da socieda<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna po<strong>de</strong>-se mencionar a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

compatibilizar as práticas sociais com a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suporte do território e <strong>de</strong> recomposição dos<br />

bens e recursos ambientais que caracterizam os sistemas naturais.<br />

Tal dificulda<strong>de</strong> revela-se mais intensa em se tratando <strong>de</strong> territórios urbanos, especialmente<br />

quando estes se encontram em sítio litorâneo posto que esta é a área <strong>de</strong> intensa e contínua<br />

urbanização. Fortaleza uma metrópole litorânea exemplifica bem essa realida<strong>de</strong>; no <strong>de</strong>correr da<br />

construção <strong>de</strong> sua configuração espacial, a ineficiência e a ausência <strong>de</strong> instrumentos legais que<br />

tencionam a salvaguarda da qualida<strong>de</strong> ambiental urbana e, consequentemente a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida<br />

contribuíram e ainda contribuem para a <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada ocupação do território municipal.<br />

A ―impotência‖ da gestão pública e da própria socieda<strong>de</strong> frente a esse complexo <strong>de</strong>safio<br />

sustenta-se na ausência <strong>de</strong> políticas públicas para a gestão do espaço e, principalmente, no<br />

<strong>de</strong>srespeito aos instrumentos legais essenciais ao disciplinamento do território, por não serem<br />

regulamentados (Plano Diretor 2008, por exemplo) ou por não serem observados com o <strong>de</strong>vido<br />

rigor <strong>de</strong>mandado pelo processo <strong>de</strong> planejamento e or<strong>de</strong>namento do uso e ocupação do solo.<br />

Essa realida<strong>de</strong> não é exclusiva <strong>de</strong> Fortaleza, mas aqui, como dito anteriormente, se assiste à<br />

expansão do tecido urbano sem o controle requerido para o que se preten<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong><br />

sustentável. Na atualida<strong>de</strong>, a ilustração mais clara <strong>de</strong>sse fenômeno acontece na região su<strong>de</strong>ste do<br />

município (carente <strong>de</strong> serviços essenciais à sustentabilida<strong>de</strong> territorial, como o saneamento básico, e<br />

repleta <strong>de</strong> áreas ambientais importantes para prestação <strong>de</strong> serviços ambientais fundamentais para a<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida não ape<strong>nas</strong> dos que ali resi<strong>de</strong>m, mas também <strong>de</strong> toda a cida<strong>de</strong>). Nessa área da<br />

cida<strong>de</strong>, a especulação imobiliária para fins resi<strong>de</strong>nciais (<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início dos anos 1990) e comerciais<br />

(atualmente) avança sem prece<strong>de</strong>ntes, agredindo a paisagem indiscriminadamente e modificando a<br />

organização territorial, socioespacial e ambiental original.<br />

Nesse sentido, sendo essa problemática resultado <strong>de</strong> práticas econômicas, <strong>de</strong> escolhas <strong>de</strong><br />

gestão, <strong>de</strong> opções ou da ausência <strong>de</strong> políticas <strong>de</strong> or<strong>de</strong>namento territorial, há que se encontrar uma<br />

forma <strong>de</strong> atenuar os problemas gerados na interface das relações entre a socieda<strong>de</strong> e a natureza,<br />

buscando alcançar um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> socioambiental capaz <strong>de</strong> compatibilizar o uso e a<br />

163


ocupação do território com a manutenção da qualida<strong>de</strong> ambiental dos componentes (humanos ou<br />

naturais) que compõem a paisagem.<br />

Esse <strong>de</strong>safio, que, a partir dos anos 1960, passou a ser <strong>de</strong>nominado <strong>de</strong> questão ambiental,<br />

traz em si as contradições da própria humanida<strong>de</strong>. De acordo com Leff (2006; 2009), a crise<br />

ambiental é, antes <strong>de</strong> tudo, crise da socieda<strong>de</strong>, na medida em que o padrão <strong>de</strong> vida vigente institui a<br />

problemática socioambiental, característica do mo<strong>de</strong>lo econômico oci<strong>de</strong>ntal <strong>de</strong> apropriação<br />

econômico-tecnológica da natureza.<br />

Entretanto, o fortalecimento do movimento ambientalista e a comprovação por estudos<br />

científicos <strong>de</strong> que o ritmo <strong>de</strong> vida das socieda<strong>de</strong>s alcançou um nível não compatível com o uso<br />

sustentável dos recursos e bens ambientais no planeta serviram <strong>de</strong> base para a busca <strong>de</strong> alternativas<br />

que tentam aliar os interesses sociais e econômicos ao uso sustentável dos territórios.<br />

Nesse contexto, o conhecimento do território e da dinâmica das relações sociais que nele se<br />

estabelecem e que lhe dão ―vida‖ emerge como um instrumento e, ao mesmo tempo, uma estratégia<br />

para respon<strong>de</strong>r aos <strong>de</strong>safios que se impõem a um novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento que se preten<strong>de</strong><br />

sustentável.<br />

Ao longo da história humana, os espaços urbanos assumiram um importante papel na<br />

ocupação e organização dos territórios. Sabe-se que essas áreas apresentam uma dinâmica própria,<br />

que as configuram como ambientes em constantes transformações. Essa dinâmica, reveladora das<br />

mudanças que a socieda<strong>de</strong> vivencia a cada momento histórico, traduz o permanente refazer das<br />

configurações espaciais, ou seja, a cida<strong>de</strong> é ―construída‖, ―<strong>de</strong>struída‖ e ―reconstruída‖ em um<br />

processo contínuo.<br />

Ao mesmo tempo, as formas <strong>de</strong> apropriação dos espaços citadinos e, principalmente, os<br />

tipos <strong>de</strong> uso e ocupação que se fazem <strong>de</strong>les aceleram mudanças e <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>iam problemas<br />

ambientais difíceis <strong>de</strong> ser solucionados.<br />

A interface entre o crescimento dos espaços urbanos e a problemática socioambiental,<br />

produto <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sregrado processo <strong>de</strong> organização socioespacial cujas origens estão na base da<br />

organização social vigente, revela a contradição entre os interesses, os conflitos e as expectativas<br />

dos sujeitos responsáveis pela produção do espaço urbano. O resultado disso tudo é a dilapidação<br />

dos sistemas sociais tradicionais e naturais que compõem a paisagem, resultando em uma<br />

<strong>de</strong>sestruturação daquilo que os agentes produtores do espaço urbano buscam: a qualida<strong>de</strong> ambiental<br />

como um dos elementos promotores da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<br />

A qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida garantida pela qualida<strong>de</strong> ambiental é o que esperam os consumidores<br />

imobiliários que afluem para a região su<strong>de</strong>ste <strong>de</strong> Fortaleza, principalmente para os bairros<br />

Cambeba, Alagadiço Novo, Lagoa Redonda e Sabiaguaba (figura 01). A expectativa <strong>de</strong> lucros<br />

garantidos por meio da incorporação <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s glebas é o que esperam e encontram nessa área os<br />

164


incorporadores imobiliários que, em ritmo acelerado, transformam áreas ver<strong>de</strong>s e antigos sítios em<br />

monumentos <strong>de</strong> concreto.<br />

Figura 01 – Localização da área em estudo.<br />

Fonte: Prefeitura Municipal <strong>de</strong> Fortaleza. Adaptado.<br />

Nesse cenário, o po<strong>de</strong>r público assume relevante participação à medida que permite a avi<strong>de</strong>z<br />

da indústria imobiliária avançar <strong>de</strong>smedidamente sobre recursos hídricos, áreas ver<strong>de</strong>s, áreas <strong>de</strong><br />

preservação permanente e, o mais grave, contribuir para a <strong>de</strong>gradação <strong>de</strong>sses recursos e bens<br />

ambientais. A instalação <strong>de</strong> infraestrutura <strong>de</strong> vias, a exemplo da duplicação da CE 025, que liga<br />

essa região <strong>de</strong> Fortaleza ao Porto das Du<strong>nas</strong>, em Aquiraz, e a construção da ponte sobre o rio Cocó,<br />

na Sabiaguaba, com igual função, <strong>de</strong>monstram a parceria entre po<strong>de</strong>r público, capital imobiliário e<br />

turístico nessa região.<br />

Entretanto, investimentos em equipamentos <strong>de</strong> infraestrutura básica, como saneamento<br />

ambiental, drenagem e a instalação <strong>de</strong> equipamentos urbanos essenciais à qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida dos<br />

resi<strong>de</strong>ntes nesses bairros, não são percebidos. A combinação da ausência <strong>de</strong> saneamento básico com<br />

a permissão da especulação imobiliária nessa região constitui um vetor <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação ambiental<br />

165


sem prece<strong>de</strong>ntes. Tal fato invalida, a nosso ver, no futuro, o que buscam hoje os promotores e<br />

consumidores imobiliários nessa área: a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<br />

Para o <strong>de</strong>senvolvimento do trabalho, adota-se uma postura <strong>de</strong> investigação pautada na<br />

pesquisa <strong>de</strong> teor predominantemente qualitativo e exploratório. Priorizou-se o levantamento <strong>de</strong><br />

dados e informações em fontes já constituídas, porém a maior parte do conhecimento a ser<br />

apreendido resultará <strong>de</strong> um intenso e efetivo envolvimento nosso com as comunida<strong>de</strong>s locais e com<br />

todos os envolvidos no processo a que esta pesquisa busca explicar.<br />

A metodologia segue três fases basicamente, adotando as seguintes etapas: a busca das bases<br />

teóricas e basilares para a pesquisa; o estudo <strong>de</strong> campo, essencial para a aproximação e a<br />

compreensão das dinâmicas sociais, econômicas e ambientais presentes no território a ser analisado;<br />

a análise da documentação, das informações e dos dados disponíveis a respeito do objeto <strong>de</strong> estudo<br />

e suas múltiplas faces. Complementa a metodologia a observação in loco.<br />

Região su<strong>de</strong>ste <strong>de</strong> Fortaleza: reflexos do crescimento urbano na dinâmica socioambiental<br />

O su<strong>de</strong>ste fortalezense constitui na atualida<strong>de</strong> a área da cida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> se encontram as maiores<br />

reservar <strong>de</strong> áreas ver<strong>de</strong>s e importantes espaços lacustres e fluviais. Por sua localização periférica e,<br />

ocupação predominantemente formada por gran<strong>de</strong>s sítios (chácaras) tornou-se uma importante<br />

reserva <strong>de</strong> mercado <strong>de</strong> terras para o setor imobiliário.<br />

Entretanto, a corrida imobiliária para os bairros <strong>de</strong>sta região da capital não se dá unicamente<br />

pela disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> terras, mas por seus atributos ambientais, proximida<strong>de</strong> do mar e a<br />

tranquilida<strong>de</strong> (baixo índice <strong>de</strong> criminalida<strong>de</strong>) difícil <strong>de</strong> ser encontrada em outros lugares da<br />

metrópole. Trata-se, portanto, <strong>de</strong> uma periferia privilegiada apropriada pelo seguimento imobiliário<br />

voltado para a construção <strong>de</strong> produtos imobiliários <strong>de</strong>stinados às classes sociais mais abastadas.<br />

Frente ao acelerado processo <strong>de</strong> expansão urbana, os sistemas naturais presentes nessa área<br />

estão sendo dilapidados. Aquilo a que se assiste nesse espaço é a <strong>de</strong>struição da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

prestar os relevantes serviços ambientais que os sistemas naturais constituídos por abundantes<br />

recursos hídricos (lagoas, riachos diversos) que integram a bacia do Rio Cocó e por inúmeras áreas<br />

ver<strong>de</strong>s que constituem uma bela paisagem e amenizam as condições climáticas.<br />

Outro aspecto relevante a ser mencionado é a proteção ambiental do bairro Sabiaguaba<br />

instituída oficialmente em fevereiro <strong>de</strong> 2006 - garantida pela legislação municipal – o qual abriga<br />

atualmente a Área <strong>de</strong> Proteção Ambiental <strong>de</strong> Sabiaguaba (Decreto nº 11.987) e o Parque Natural<br />

Municipal das Du<strong>nas</strong> da Sabiaguaba (Decreto nº 11.986). Esse é um importante exemplo <strong>de</strong><br />

intervenção positiva do po<strong>de</strong>r público na gestão ambiental urbana, porém a não regulamentação da<br />

lei máxima que orienta a ocupação do espaço urbano, o Plano Diretor, aliada à aparente não<br />

observação da correta aplicação da Lei <strong>de</strong> Uso e Ocupação do Solo, do Código <strong>de</strong> Obras e das<br />

166


<strong>de</strong>mais legislações ambientais específicas, abre prece<strong>de</strong>ntes para a apropriação e ocupação do<br />

espaço sem controle nessa área, ameaçando inclusive a sustentabilida<strong>de</strong> e a conservação pretendida<br />

para a Sabiaguaba.<br />

Em um cenário <strong>de</strong> escassas informações atualizadas, há a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se conhecer melhor<br />

a dinâmica social, econômica, ambiental e política característica da área, portanto se faz urgente<br />

empreen<strong>de</strong>r esforços para colaborar com um apropriado planejamento e gestão <strong>de</strong>ssa porção da<br />

unida<strong>de</strong> territorial urbana. Assim, é fundamental compreen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> que forma os sujeitos produtores<br />

do espaço urbano se relacionam com esse território e, principalmente, como é feita a apropriação e<br />

exploração dos diversos recursos naturais e dos bens ambientais presentes nesse espaço a fim <strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>ntificar os aspectos e os impactos ambientais advindos <strong>de</strong>sse processo e suas consequências na<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida da população resi<strong>de</strong>nte.<br />

Certo é que, i<strong>de</strong>ntifica-se nos bairros constituintes da região su<strong>de</strong>ste da capital cearense uma<br />

diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sujeitos sociais que estabelecem com o território diferentes relações no que se refere<br />

ao uso <strong>de</strong>sse espaço e dos recursos e bens ambientais aí disponíveis. Ao mesmo tempo, esse recorte<br />

territorial do município é alvo <strong>de</strong> inúmeras pressões: seus corpos hídricos recebem <strong>de</strong>scarga <strong>de</strong><br />

efluentes domésticos, resíduos sólidos <strong>de</strong> toda sorte, agroquímicos; ocupação irregular <strong>de</strong> suas<br />

margens; há o assoreamento, entre outros. As áreas ver<strong>de</strong>s naturais ou plantadas, preservadas nos<br />

imensos sítios da região, sofrem o <strong>de</strong>smatamento indiscriminado interferindo na dinâmica da fauna<br />

e do clima local; as práticas tradicionais que marcaram a história original da ocupação da área são<br />

substituídas gradativamente por outros usos.<br />

Tais problemas advindos das ativida<strong>de</strong>s que se <strong>de</strong>senvolvem em sua área <strong>de</strong> influência direta<br />

e indireta têm o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> afetar a qualida<strong>de</strong> ambiental dos ecossistemas como um todo e <strong>de</strong> alterar a<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida das populações que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m direta ou indiretamente dos mesmos. Aqui resi<strong>de</strong><br />

uma das mais significativas dificulda<strong>de</strong>s no gerenciamento <strong>de</strong>sses territórios, a qual remete ao<br />

primeiro e principal <strong>de</strong>safio para a gestão territorial urbana: como compatibilizar a sustentabilida<strong>de</strong><br />

socioambiental com os diferentes interesses socioeconômicos materializados no território por meio<br />

dos usos que se fazem no espaço em estudo?<br />

As formas <strong>de</strong> relação que os sujeitos sociais (empresas imobiliárias, populações, a gestão<br />

pública em todas as esferas governamentais, principalmente a municipal) mantêm com o território<br />

se revelam mediante a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> interesses e conflitos que, porventura, acontecem nesse<br />

cenário. E, ao se revelarem, evi<strong>de</strong>nciadas pelas territorialida<strong>de</strong>s, mesmo que efemeramente, expõem<br />

também os reais <strong>de</strong>safios a serem superados na instituição dos planos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento local e <strong>de</strong><br />

conservação ambiental na área.<br />

Cabe, então, outro questionamento: <strong>de</strong> que forma se po<strong>de</strong> compatibilizar os objetivos do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento sustentável local com as ativida<strong>de</strong>s econômicas já estabelecidas e as pretendidas<br />

167


na área em tela as quais po<strong>de</strong>m ameaçar a conservação e, consequentemente, a prestação dos<br />

serviços ambientais que os bens e recursos ambientais <strong>de</strong> suas paisagens proporcionam à cida<strong>de</strong>?<br />

Por fim, mas tão importante quanto às questões anteriores, na tentativa <strong>de</strong> <strong>de</strong>svendar a<br />

interface entre população, território, apropriação <strong>de</strong> recursos naturais e sustentabilida<strong>de</strong>, não se<br />

po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sprezar a importância dos cidadãos no processo <strong>de</strong> compreensão do fenômeno que nos<br />

propomos investigar. São os cidadãos que criam e recriam essas paisagens construindo e<br />

reconstruindo o território, por isso, são os principais sujeitos promotores e condutores <strong>de</strong>sse<br />

processo. Por essa razão é imprescindível refletir: como os sujeitos sociais diretamente envolvidos<br />

com esse território se apropriam dos seus bens ambientais e recursos naturais e se relacionam com<br />

eles? O que pensam sobre o lugar on<strong>de</strong> vivem? Quais as suas percepções sobre a dialética entre a<br />

sustentabilida<strong>de</strong>, o uso e a ocupação do lugar em que vivem?<br />

A compreensão das dinâmicas sociais, econômicas e ambientais nessa área é fundamental.<br />

Os interesses diversos dos inúmeros grupos sociais ali estabelecidos influenciam diretamente as<br />

propostas <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong>sse espaço. Trata-se <strong>de</strong> uma temática pouco explorada nessa região, e, por se<br />

tratar <strong>de</strong> uma área que está vivenciando um processo intenso <strong>de</strong> ocupação urbana e que ainda<br />

mantém preservados muitos espaços naturais, acredita-se que esse território encerra em si respostas<br />

que subsidiarão mo<strong>de</strong>los sustentáveis <strong>de</strong> gestão ambiental urbana.<br />

Lamentavelmente as respostas a tais <strong>de</strong>safios estão longe <strong>de</strong> serem dadas. Isso porque a<br />

―impotência‖ da gestão pública e da própria socieda<strong>de</strong> frente a esse complexo problema sustenta-se<br />

na ausência <strong>de</strong> políticas públicas para a gestão do espaço. Excetuando a duplicação da CE 025,<br />

importante via <strong>de</strong> circulação (<strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> do po<strong>de</strong>r Estadual), cujo objetivo primordial é<br />

facilitar o acesso ao complexo turístico Porto das Du<strong>nas</strong>, o su<strong>de</strong>ste <strong>de</strong> Fortaleza e toda a<br />

problemática socioambiental aí instaurada permanece invisível aos olhos do po<strong>de</strong>r público,<br />

especialmente o municipal.<br />

É importante <strong>de</strong>stacar que não se tem aqui a intenção <strong>de</strong> promover um discurso gratuito<br />

contra a expansão urbana nos bairros em análise, pois esta é inevitável; preten<strong>de</strong>-se, contudo,<br />

comprovar os serviços ambientais que os recursos e bens naturais presentes nessa área fornecem à<br />

cida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>monstrar que há uma incompatibilida<strong>de</strong> entre o atual processo <strong>de</strong> uso e ocupação do<br />

espaço e a conservação da qualida<strong>de</strong> ambiental, portanto é imperativa a adoção <strong>de</strong> políticas públicas<br />

que promovam a conservação <strong>de</strong>sses bens ambientais como forma <strong>de</strong> resguardar sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

proporcionar benefícios ambientais para toda a cida<strong>de</strong>.<br />

168


O planejamento urbano como instrumento <strong>de</strong> proteção da qualida<strong>de</strong> ambiental e <strong>de</strong> vida<br />

A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> or<strong>de</strong>namento territorial tem sido admitida por diversos setores da gestão pública,<br />

por pesquisadores e aceita pela socieda<strong>de</strong> como uma estratégia capaz <strong>de</strong> solucionar os problemas<br />

ecológicos e ambientais que ameaçam a eficiência funcional do território.<br />

Sánchez (2009, p. VII), afirma:<br />

La crisis ecológico-ambiental se enquadra em um hecho central: com suma<br />

frecuencia el processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sarrolho há soslayado el más indispensable <strong>de</strong> los<br />

conocmientos: conocer y manejar a<strong>de</strong>quadamente la complejidad <strong>de</strong> los sistemas<br />

ecológicos, pues es em ellos don<strong>de</strong> se estruturan y dilucidan las relaciones<br />

funcionales entre la natureza y el <strong>de</strong>sarrollo humano.<br />

Apesar do reconhecimento <strong>de</strong> que é necessário consi<strong>de</strong>rar o território como uma unida<strong>de</strong><br />

fundamental para se pensar o planejamento e a gestão, Sánchez (2009) chama atenção para o fato <strong>de</strong><br />

que existem ainda poucos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong>ssa gestão.<br />

Essa observação parece representar bem a carência <strong>de</strong> estudos aprofundados e <strong>de</strong> planos <strong>de</strong><br />

gestão territorial na zona su<strong>de</strong>ste <strong>de</strong> Fortaleza. Por isso, a principal motivação para as reflexões aqui<br />

colocadas é a concepção <strong>de</strong> que as estratégias <strong>de</strong> planejamento e gestão territorial <strong>de</strong>vem envolver o<br />

conhecimento profundo das características ecológicas, sociais, culturais, políticas e econômicas e,<br />

principalmente, das dinâmicas, dos interesses e dos conflitos presentes nessa unida<strong>de</strong> do espaço.<br />

Sánchez (2009) é categórico ao afirmar que a gestão e o planejamento territorial <strong>de</strong>vem<br />

incluir o homem como elemento indissociável do sistema ambiental. Da mesma forma, Santos<br />

(2008), <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que na contemporaneida<strong>de</strong>, natureza e socieda<strong>de</strong> requerem uma explicação<br />

conjunta. O referido autor esclarece que o espaço geográfico é um híbrido, pois não se separa sua<br />

forma da ação que o produziu, e, da mesma forma que Sánchez, Santos afirma que não é possível<br />

mais tratar a natureza e a socieda<strong>de</strong> como objetos e relações que existem isoladamente.<br />

Leff (2006) <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que, no território, se expressam os <strong>de</strong>sejos, as <strong>de</strong>mandas e reclamos da<br />

população que tem como motivação a reconstrução <strong>de</strong> seus mundos <strong>de</strong> vida e a reconfiguração <strong>de</strong><br />

suas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s. O resultado <strong>de</strong>ssa reconstrução, reconfiguração socioterritorial, se materializa <strong>nas</strong><br />

diversida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> formas culturais <strong>de</strong> valorização dos recursos ambientais e <strong>de</strong> novas estratégias <strong>de</strong><br />

reapropriação da natureza. Ainda segundo o referido autor, ―no espaço local são forjadas novas<br />

territorialida<strong>de</strong>s e emergem as sinergias positivas da racionalida<strong>de</strong> ambiental para construir um<br />

novo paradigma <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> ecotecnocultural‖ (LEFF, op cit, p. 157-158).<br />

169


É possível associar o <strong>de</strong>bate sobre o território à sustentabilida<strong>de</strong>, pois esses dois conceitos<br />

estão imbricados. Em relação a isso, Leff (2006, p. 157) esclarece:<br />

A sustentabilida<strong>de</strong> está enraizada em bases ecológicas, em i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s<br />

culturais e em territórios <strong>de</strong> vida; <strong>de</strong>sdobra-se no espaço social, on<strong>de</strong> os<br />

atores sociais exercem seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> controle da <strong>de</strong>gradação ambiental e<br />

mobilizam potenciais ambientais em projetos autogerenciados para<br />

satisfazer as necessida<strong>de</strong>s e aspirações que a globalização econômica não<br />

po<strong>de</strong> cumprir.<br />

Diante das reflexões expostas, é possível inferir que é justamente no território que resi<strong>de</strong> o<br />

locus da sustentabilida<strong>de</strong>. Por essa razão, é imprescindível discuti-los conjuntamente.<br />

Quando nos referimos ao potencial natural <strong>de</strong> um território, é importante diferenciar dois<br />

componentes ambientais que, <strong>de</strong> forma diferenciada, são incorporados pelo capital, na ânsia <strong>de</strong><br />

geração <strong>de</strong> lucro – os recursos naturais e os bens ambientais.<br />

Moraes (1999, p.14) esclarece a diferença entre recursos naturais e bens ambientais. De<br />

acordo com o autor, os primeiros correspon<strong>de</strong>m a ―produtos‖ que se incorporam às ativida<strong>de</strong>s<br />

econômicas e são passíveis <strong>de</strong> ser quantificados, ou seja, <strong>de</strong> ter seus estoques <strong>de</strong>finidos e, portanto,<br />

o valor <strong>de</strong>stes é estabelecido <strong>de</strong> acordo com o mercado. Já os recursos ambientais são condições,<br />

não produtos, não se me<strong>de</strong>m pelo estoque. Entre eles, estão a beleza cênica, o ar puro, o patrimônio<br />

geológico e arqueológico etc. Como estabelecer preço para essas condições? Major (2002, p. 45)<br />

comenta que é muito complicado ―atribuir valor a qualquer coisa que seja natural. O valor <strong>de</strong> uma<br />

árvore, não é somente o valor da ma<strong>de</strong>ira, mas precisamos consi<strong>de</strong>rar a sua função na natureza,<br />

como parte do ecossistema [...]. A valorização <strong>de</strong> um ecossistema é mais complicada e mais difícil‖.<br />

Por isso, a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> elementos e paisagens precisa ser conservada, pois sua utilização<br />

não racional implica em uma perda inimaginável, não ape<strong>nas</strong> para as comunida<strong>de</strong>s locais, mas<br />

também para todo o conjunto da cida<strong>de</strong>.<br />

Portanto, o estudo integrado sobre a distribuição dos ecossistemas no espaço (a or<strong>de</strong>nação<br />

ecológica) e das formas <strong>de</strong> ocupação dos mesmos, a racionalida<strong>de</strong> das intervenções huma<strong>nas</strong> e os<br />

impactos do processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento (or<strong>de</strong>namento ambiental) constituem a base do sucesso<br />

das estratégias do <strong>de</strong>senvolvimento territorial e, consequentemente, da sustentabilida<strong>de</strong><br />

socioambiental na qual a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida se insere.<br />

Uma breve leitura da paisagem que se revela nos bairros selecionados para o presente estudo<br />

leva ao entendimento <strong>de</strong> que a qualida<strong>de</strong> ambiental e ecológica <strong>de</strong>ssa área, objeto <strong>de</strong> cobiça <strong>de</strong><br />

classes sociais <strong>de</strong> elevado po<strong>de</strong>r econômico, está seriamente comprometida.<br />

170


A <strong>de</strong>gradação ambiental dos recursos hídricos está sendo causada por pressões em suas áreas<br />

marginais; essas pressões estão sobrecarregando a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suporte dos referidos corpos<br />

hídricos e sua qualida<strong>de</strong> ambiental. Tal aspecto resulta da ausência <strong>de</strong> controle público sobre o<br />

espaço da cida<strong>de</strong> e pela ausência <strong>de</strong> investimentos locais em infraestrutura <strong>de</strong> saneamento<br />

ambiental. Novos empreendimentos são autorizados a cada dia sem que as condições estruturais<br />

sejam dadas.<br />

Nesse sentido, as lagoas, recursos hídricos ainda abundantes nessa parte da cida<strong>de</strong>, recebem<br />

toda a carga <strong>de</strong> esgotamento doméstico, comercial e industrial e, como integram a bacia do rio<br />

Cocó, são carreados para a Área <strong>de</strong> Proteção Ambiental e o Parque Natural Municipal das Du<strong>nas</strong> da<br />

Sabiaguaba (atualmente o único campo <strong>de</strong> du<strong>nas</strong> na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Fortaleza). Por essa razão,<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>mos que, apesar da relevância da instituição <strong>de</strong>stas unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação, o <strong>de</strong>scuido<br />

com as áreas circunvizinhas po<strong>de</strong> afetar negativamente a qualida<strong>de</strong> ambiental <strong>nas</strong> mesmas. Isso<br />

porque as unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação <strong>de</strong>scritas acima constituem uma importante reserva <strong>de</strong> água<br />

doce para a cida<strong>de</strong>, tendo importância direta no funcionamento das lagoas e do ecossistema<br />

manguezal.<br />

É comum o uso dos recursos lacustres para a prática da pesca artesanal e utilização da água<br />

para irrigação das ativida<strong>de</strong>s horticultoras, ativida<strong>de</strong> ainda bastante expressiva nessa região. A<br />

qualida<strong>de</strong> da água comprometida afeta diretamente a população que consume os produtos<br />

originados <strong>de</strong>stas ativida<strong>de</strong>s.<br />

Em se tratando da oferta <strong>de</strong> espaços <strong>de</strong> lazer, essenciais à qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida urbana,<br />

praticamente inexistem. As poucas praças estão <strong>de</strong>gradadas <strong>de</strong>vido a longos períodos <strong>de</strong> tempo sem<br />

manutenção. As lagoas, espaços <strong>de</strong> incrível beleza cênica, i<strong>de</strong>ais para receberem pólos <strong>de</strong> lazer para<br />

a prática <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s esportivas e culturais diversas, não são contempladas em projetos <strong>de</strong>sta<br />

natureza.<br />

A supressão total da vegetação presente <strong>nas</strong> glebas ocupadas por tais empreendimentos é<br />

talvez o elemento mais visível das transformações da paisagem. Sabe-se dos inúmeros benefícios<br />

que a vegetação promove aos <strong>de</strong>mais recursos e bens naturais e à socieda<strong>de</strong>. Mesmo existindo<br />

instrumentos legais que regulam o <strong>de</strong>sflorestamento e garantem a responsabilida<strong>de</strong> do po<strong>de</strong>r público<br />

sobre este elemento natural, o que se observa no momento da implantação dos empreendimentos é a<br />

prática da terra arrasada. Toda a vegetação do terreno é suprimida e, se ocorre o cumprimento do<br />

reflorestamento exigido no licenciamento ambiental, não há controle se a compensação ocorre.<br />

Certo mesmo é que este reflorestamento não acontece nos bairros em questão.<br />

A ocupação irregular <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> proteção permanente (APPs) é constante nessa parte da<br />

cida<strong>de</strong>. Em virtu<strong>de</strong> da presença <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>nsa re<strong>de</strong> hídrica, é comum os empreendimentos ocuparem<br />

171


áreas <strong>de</strong> APPs no entorno das lagoas e riachos. Outro problema ambiental constante é o aterramento<br />

<strong>de</strong> lagoas para construção ou expansão <strong>de</strong> equipamentos imobiliários (condomínios e loteamentos).<br />

Frente a este breve e não completo relato das condições em que ocorre a apropriação e a<br />

expansão do tecido urbano <strong>de</strong> Fortaleza, confirma-se a trajetória <strong>de</strong> perda da qualida<strong>de</strong> ambiental e,<br />

certamente da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, proporcionada pela supressão e agressão aos bens ambientais<br />

disponíveis no recorte espacial que subsidia esta reflexão.<br />

Em suma, falta um planejamento territorial que seja capaz <strong>de</strong> promover a utilização racional<br />

e a fiscalização dos recursos naturais presentes na área, isso impe<strong>de</strong> a utilização plena dos<br />

potenciais social, econômico, ecológico e ambiental disponíveis nessa unida<strong>de</strong> espacial e a<br />

superação dos fatores restritivos ao uso <strong>de</strong>ssas potencialida<strong>de</strong>s para que se efetive a sustentabilida<strong>de</strong><br />

socioambiental.<br />

Consi<strong>de</strong>rações finais<br />

Pensar um projeto <strong>de</strong> or<strong>de</strong>namento urbano no setor su<strong>de</strong>ste <strong>de</strong> Fortaleza<strong>de</strong>manda<br />

compreen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> que forma os sujeitos produtores do espaço urbano se relacionam com esse<br />

território e, principalmente, como é feito o acesso à terra, a exploração dos diversos recursos e bens<br />

ambientais presentes nesse espaço, a fim <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar os aspectos advindos <strong>de</strong>sse processo e suas<br />

consequências na (re)configuração espacial em curso.<br />

Uma breve leitura da paisagem dos bairros estudados leva ao entendimento <strong>de</strong> que a<br />

qualida<strong>de</strong> ambiental e ecológica <strong>de</strong>ssa área está seriamente comprometida. Essa realida<strong>de</strong> suscita<br />

uma questão prepon<strong>de</strong>rante: Se são conhecidas as consequências nefastas <strong>de</strong>sse mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

organização do espaço urbano <strong>nas</strong> <strong>de</strong>mais áreas da cida<strong>de</strong>, por que insistir na reprodução do<br />

mesmo? Sendo essa região uma porção do município que ainda resguarda importantes ecossistemas<br />

naturais que prestam serviços ambientais a toda a cida<strong>de</strong>, por que não or<strong>de</strong>nar essa ―corrida‖<br />

imobiliária? Estamos repetindo os erros <strong>de</strong> sempre em nome da avi<strong>de</strong>z do capital incorporador e<br />

imobiliário.<br />

Algumas das respostas a literatura especializada já nos revela, mas há algo mais acontecendo<br />

em Fortaleza, algo que diferencia o processo neste território e, mesmo com suas especificida<strong>de</strong>s,<br />

respon<strong>de</strong> aos imperativos da reprodução do capital como em qualquer outro lugar. Esse diferencial<br />

é marcado pela total inércia do po<strong>de</strong>r público frente aos problemas socioambientais da área e pela<br />

ação seletiva que salvaguarda áreas importantes num ponto da região e enquanto nega ações <strong>de</strong><br />

conservação no resto do território. Parece tratar-se <strong>de</strong> um posicionamento dicotômico do po<strong>de</strong>r<br />

público que protege uma parte do território dos imperativos da expansão urbana <strong>de</strong>sregrada e<br />

entrega outra à plena <strong>de</strong>gradação e ao <strong>de</strong>leite dos agentes produtores do espaço urbano.<br />

172


Portanto, sendo a problemática da expansão e configuração do tecido urbano resultado <strong>de</strong><br />

práticas econômicas, <strong>de</strong> escolhas <strong>de</strong> gestão, <strong>de</strong> opções ou da ausência <strong>de</strong> políticas <strong>de</strong> or<strong>de</strong>namento<br />

territorial, há <strong>de</strong> se criar projetos capazes <strong>de</strong> fazer frente ao processo hegemônico do capital na<br />

produção das cida<strong>de</strong>s.<br />

Esse é, então, o ponto <strong>de</strong> partida para o entendimento <strong>de</strong>sses processos e tem como<br />

perspectiva <strong>de</strong> chegada a visualização <strong>de</strong> um projeto para enfrentar a hegemonia do capital e das<br />

ações <strong>de</strong> gestão pública e questionar a inércia do po<strong>de</strong>r público municipal e da própria socieda<strong>de</strong><br />

local frente aos problemas socioambientais que se acumulam nesse espaço urbano.<br />

Referências<br />

BECK, Ulrich. La Société du Risque – Sur la voie d‟une autre mo<strong>de</strong>rnité. Flammarion : Champus,<br />

2003.<br />

LEFF, Enrique. Ecologia, capital e cultura: territorialização da racionalida<strong>de</strong> ambiental.<br />

Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.<br />

____ Racionalida<strong>de</strong> ambiental:a reapropriação social da natureza. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Civilização<br />

Brasileira, 2006.<br />

MAJOR, István.Manguezal.Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2002.<br />

MORAES, Antônio Carlos Robert. Contribuições para a gestão da zona costeira do<br />

Brasil:elementos para a geografia do litoral brasileiro. São Paulo: Hucitec; Edusp, 1999.<br />

SÁNCHEZ, Roberto. Or<strong>de</strong>namento territorial:Bases y Estratégia Metodológica para la<br />

Or<strong>de</strong>nación Ecológica y Ambiental <strong>de</strong> Tierras. 1ª ed. Buenos Aires: Orientación Gráfica Editora,<br />

2009.<br />

SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo. razão e emoção. 5 ed. São Paulo: Edusp,<br />

2008.<br />

173


CONFORTO ACÚSTICO: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO ACÚSTICO DE PAREDES<br />

DIVISÓRIAS ENTRE APARTAMENTOS<br />

Resumo<br />

Otávio Joaquim da Silva JÚNIOR (CTG/UFPE) - otaviojsjunior@gmail.com<br />

José Jeferson do Rego SILVA – (CTG/UFPE) - jjrs@ufpe.br<br />

Jairo Colaço MARIZ – (POLI/UPE) – jairomariz@gmail.com<br />

Pedro <strong>de</strong> Freitas GOIS – (TECOMAT) – pedro@tecomat.com.br<br />

O presente trabalho avaliou o <strong>de</strong>sempenho acústico, quanto à isolação sonora, promovida por<br />

pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong> geminação das edificações, ou seja, o quanto <strong>de</strong> ruído é atenuado pelas pare<strong>de</strong>s que<br />

divi<strong>de</strong>m dois apartamentos distintos. Foram avaliadas 4 tipos diferentes <strong>de</strong> divisórias: pare<strong>de</strong>s em<br />

tijolo cerâmico convencional <strong>de</strong> 9cm, em bloco <strong>de</strong> concreto <strong>de</strong> 9cm, em bloco cerâmico <strong>de</strong> 9cm e<br />

em bloco cerâmico <strong>de</strong> 12cm. A avaliação consistiu em <strong>de</strong>terminar a diferença padronizada <strong>de</strong> nível<br />

pon<strong>de</strong>rada (DnT,w), entre ambientes (vedações verticais inter<strong>nas</strong>) e posterior análise e comparação<br />

com as especificações <strong>de</strong>scritas na norma <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho NBR 15575 (ABNT, 2012). Os<br />

procedimentos utilizados nos ensaios seguiram as especificações da norma internacional ISO 140-4<br />

(1998), conforme especificado na norma <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho. As vedações avaliadas apresentaram<br />

resultados que não aten<strong>de</strong>ram ao <strong>de</strong>sempenho mínimo especificado na NBR 15575, no entanto, com<br />

valores significativamente próximos da obtenção <strong>de</strong> tal <strong>de</strong>sempenho. Por fim, são discutidos os<br />

possíveis pontos <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> acústica das vedações e proposto melhorias que possam<br />

proporcionar um maior <strong>de</strong>sempenho acústico das vedações verticais inter<strong>nas</strong> entre ambientes. A<br />

avaliação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho acústico das edificações ainda não é prática comum na indústria da<br />

construção, porém <strong>de</strong>verá proporcionar novos padrões <strong>de</strong> projeto, garantindo uma melhor qualida<strong>de</strong><br />

aos imóveis e consequentemente uma maior qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida a seus ocupantes.<br />

Palavras-chaves: Desempenho Acústico. Pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> Geminação. Isolação Sonora.<br />

Abstract<br />

This study evaluated the acoustic performance, as the sound insulation, promoted by twinning walls<br />

of buildings, ie, how much noise is attenuated by walls that divi<strong>de</strong> two different apartments. We<br />

evaluated 4 different divisions: brick walls conventional ceramic 9cm in concrete block 9cm in<br />

ceramic block 9cm and 12cm ceramic block. The evaluation was to <strong>de</strong>termine the difference<br />

weighted standardized level (DnT, w) between environments (internal vertical seals) and subsequent<br />

174


analysis and comparison with the specifications outlined in the performance standard NBR 15575<br />

(ABNT, 2012). The procedures used in the tests followed the specifications of the international<br />

standard ISO 140-4 (1998) as specified in the standard of performance. The seals evaluated results<br />

showed that performance did not meet the minimum specified in NBR 15575, however, with values<br />

significantly closer to achieving such performance. Finally, we discuss the possible vulnerability<br />

points acoustic seals and proposed improvements that could provi<strong>de</strong> greater acoustic performance<br />

of vertical seals between internal environments. The evaluation of acoustic performance of<br />

buildings is not yet common practice in the construction industry, but should provi<strong>de</strong> new standards<br />

of <strong>de</strong>sign, ensuring a better quality of the buildings and consequently a higher quality of life for its<br />

occupants.<br />

Keywords: Acoustic Performance. Wall Twinning.Sound Insulation.<br />

Introdução<br />

É notória a busca por uma melhor qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida nos dias atuais, tema que está<br />

diretamente ligado ao ambiente on<strong>de</strong> se vive.<br />

Segundo Vilarta (2010, p. 9),<br />

A qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida po<strong>de</strong> ser compreendida pela análise <strong>de</strong> suas partes, em<br />

aspectos estruturados por domínios e facetas que dizem respeito aos componentes<br />

físico, emocional, do ambiente e das relações sociais.<br />

Dentre os ambientes que o individuo frequenta, sua residência é a que <strong>de</strong>ve promover maior<br />

sensação <strong>de</strong> bem estar, no entanto, nem sempre esta afirmação é verda<strong>de</strong>ira, uma vez que a maior<br />

parte das edificações não são projetadas para promover aos seus habitantes o conforto necessário à<br />

tranquilida<strong>de</strong>.<br />

O ruído po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado um dos principais incômodos sentidos no interior das<br />

edificações, uma vez que promove uma sensação sonora que não possui um conteúdo estético ou<br />

informativo para o ouvinte. O <strong>de</strong>sconforto causado pelo aumento excessivo <strong>de</strong> ruído po<strong>de</strong> provocar<br />

alterações psicológicas como diminuição da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> concentração e stress, além <strong>de</strong> outros<br />

problemas à saú<strong>de</strong> como alteração do ritmo cardíaco e respiratório (Almeida, 2006).<br />

De acordo com Losso e Viveiros citados por Winck e Schmid (2011, p. 7), as edificações<br />

brasileiras, em sua maioria, não são construídas a<strong>de</strong>quadamente em se tratando da proteção ao ruído<br />

intrusivo.<br />

Dentre as causas do <strong>de</strong>sconforto causado pelo ruído estão o crescimento <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nado dos<br />

núcleos urbanos, o advento das novas tecnologias <strong>de</strong> construção civil, questões <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m cultural,<br />

175


etc. (Carvalho, 2010), o que atrelado ao emprego <strong>de</strong> novas tecnologias e <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>s e lajes mais<br />

esbeltas tem contribuído negativamente no <strong>de</strong>sempenho acústico das edificações.<br />

A norma brasileira NBR 15575 (Edifícios habitacionais <strong>de</strong> até cinco pavimentos –<br />

Desempenho) tem como objetivo garantir a qualida<strong>de</strong> técnica dos imóveis habitacionais,<br />

estabelecendo critérios e requisitos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho.<br />

Segundo Michalski (2009, p. 14),<br />

A avaliação do <strong>de</strong>sempenho exige o domínio <strong>de</strong> conhecimentos sobre cada aspecto<br />

funcional da edificação, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> materiais e técnicas <strong>de</strong> construção, até as diferentes<br />

exigências dos usuários <strong>nas</strong> diversas condições <strong>de</strong> uso.<br />

Visando abordar <strong>de</strong> forma mais clara cada componente da edificação, a norma <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sempenho, NBR 15575, foi dividida em cinco partes: na parte 1 estão os requisitos gerais, na<br />

parte 2 os requisitos para os sistemas estruturais, na parte 3 os requisitos para os sistemas <strong>de</strong> pisos<br />

internos, na parte 4 sistemas <strong>de</strong> vedações verticais exter<strong>nas</strong> e inter<strong>nas</strong> e na parte 5 os requisitos para<br />

sistemas <strong>de</strong> coberturas exter<strong>nas</strong> e inter<strong>nas</strong>. Na norma são avaliados os itens <strong>de</strong> segurança estrutural,<br />

segurança contra incêndio, uso e operação, estanqueida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>sempenho térmico, <strong>de</strong>sempenho<br />

acústico, <strong>de</strong>sempenho luminítico, durabilida<strong>de</strong> e manutenabilida<strong>de</strong>, saú<strong>de</strong>, funcionalida<strong>de</strong>, conforto<br />

antropodinâmico e a<strong>de</strong>quação ambiental. A NBR 15575 permite ainda classificar o sistema avaliado<br />

em níveis <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do valor obtido em cada avaliação, o sistema po<strong>de</strong> ser<br />

classificado em nível mínimo, intermediário ou superior.<br />

A norma <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho NBR 15575 é importante tanto para o consumidor como para a<br />

indústria da construção civil, uma vez que o consumidor estará confiante <strong>de</strong> que o produto que está<br />

adquirindo tem a qualida<strong>de</strong> mínima especificada por normas técnicas e pelo Código <strong>de</strong> Defesa do<br />

Consumidor e a indústria da construção civil terá a base para po<strong>de</strong>r colocar no mercado um produto<br />

com a qualida<strong>de</strong> mínima para habitabilida<strong>de</strong> e uso, obtida com o respeito às normas técnicas (Neto<br />

e Bertoli, 2011).<br />

Os critérios e requisitos para avaliação acústica entre ambientes estão <strong>de</strong>scritos na parte 4 da<br />

NBR 15575. As vedações avaliadas na norma são: pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong> salas e cozinhas entre uma unida<strong>de</strong><br />

habitacional e áreas comuns <strong>de</strong> trânsito eventual, como corredores halls e escadarias nos<br />

pavimentos-tipo; pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong> dormitórios entre uma unida<strong>de</strong> habitacional e corredores, halls e<br />

escadarias nos pavimentos-tipo; pare<strong>de</strong> entre uma unida<strong>de</strong> habitacional e áreas comuns <strong>de</strong><br />

permanência <strong>de</strong> pessoas, ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> laser e ativida<strong>de</strong>s esportivas, como home theater, salas <strong>de</strong><br />

ginástica, salão <strong>de</strong> festas, salão <strong>de</strong> jogos, banheiros e vestiários coletivos, cozinhas e lavan<strong>de</strong>rias<br />

176


coletivas; e pare<strong>de</strong> entre unida<strong>de</strong>s habitacionais autônomas (pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> geminação). Neste trabalho<br />

foram abordadas exclusivamente as pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong> geminação entre apartamentos.<br />

As alvenarias <strong>de</strong> vedação são as principais responsáveis pela isolação sonora entre<br />

ambientes, no entanto, essa característica é muitas vezes <strong>de</strong>sprezada e até mesmo esquecida. Os<br />

principais materiais utilizados <strong>nas</strong> vedações verticais inter<strong>nas</strong> pela construção civil são o tijolo ou<br />

bloco, po<strong>de</strong>ndo o bloco ser cerâmico ou <strong>de</strong> concreto. As alvenarias po<strong>de</strong>m ainda ser simples,<br />

quando constituídas por um pano <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> ou duplas, quando constituídas por dois panos <strong>de</strong><br />

pare<strong>de</strong>. As espessuras e características das alvenarias <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da necessida<strong>de</strong> estrutural ou<br />

arquitetônica. As vedações possuem ainda uma camada <strong>de</strong> revestimento conhecido como emboço,<br />

atualmente a construção civil tem utilizado revestimentos em pasta <strong>de</strong> gesso, argamassa e massa<br />

única com espessura em torno <strong>de</strong> 1,5cm <strong>de</strong> cada lado da pare<strong>de</strong>.<br />

Neste trabalho foi avaliada a isolação sonora entre ambientes promovida por 4 vedações<br />

distintas: a primeira vedação ensaiada (vedação 1) é constituída por tijolo cerâmico com 9cm <strong>de</strong><br />

espessura e revestimento <strong>de</strong> 1,5cm em pasta <strong>de</strong> gesso em ambos os lados, atribuindo à pare<strong>de</strong> uma<br />

espessura total <strong>de</strong> 12cm; a segunda vedação ensaiada (vedação 2) é constituída por bloco <strong>de</strong><br />

concreto com 9cm <strong>de</strong> espessura e revestimento <strong>de</strong> 1,5cm em argamassa em ambos os lados,<br />

atribuindo à pare<strong>de</strong> uma espessura total <strong>de</strong> 12cm; a terceira vedação ensaiada (vedação 3) é<br />

constituída por bloco cerâmico com 9cm <strong>de</strong> espessura e revestimento <strong>de</strong> 1,5cm em massa única em<br />

ambos os lados, atribuindo à pare<strong>de</strong> uma espessura total <strong>de</strong> 12cm; e a quarta vedação ensaiada<br />

(vedação 4) é constituída por bloco cerâmico com 12cm <strong>de</strong> espessura e revestimento <strong>de</strong> 1,5cm em<br />

pasta <strong>de</strong> gesso em ambos os lados, atribuindo à pare<strong>de</strong> uma espessura total <strong>de</strong> 15cm.<br />

Materiais<br />

equipamentos:<br />

Para realização dos ensaios <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho acústico foram utilizados os seguintes<br />

Medidor <strong>de</strong> nível <strong>de</strong> pressão sonora (sonômetro) – equipamento utilizado para medir<br />

o nível <strong>de</strong> pressão sonora equivalente em <strong>de</strong>cibel pon<strong>de</strong>rado em ―A‖ (LAeq).<br />

Calibrador acústico classe I – equipamento utilizado para verificar o valor indicado<br />

no medidor <strong>de</strong> nível <strong>de</strong> pressão sonora antes <strong>de</strong> cada medição, visto que seu<br />

microfone po<strong>de</strong> sofrer peque<strong>nas</strong> variações com o tempo.<br />

Fonte emissora <strong>de</strong> ruído – equipamento composto por um do<strong>de</strong>caedro Omni 12 e um<br />

amplificador, este equipamento é utilizado para reprodução <strong>de</strong> ruídos.<br />

177


Software dBBati – a compilação dos resultados obtidos nos ensaios é realizada por<br />

Especificações normativas<br />

softwares do próprio fabricante do medidor <strong>de</strong> nível <strong>de</strong> pressão sonora.<br />

A isolação sonora entre ambientes promovida por uma vedação po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>terminada em<br />

ensaio <strong>de</strong> campo ou laboratório, sendo o resultado obtido em laboratório chamado <strong>de</strong> Índice <strong>de</strong><br />

Redução Sonora Pon<strong>de</strong>rada (Rw) e o resultado obtido em campo <strong>de</strong> Diferença Padronizada <strong>de</strong> Nível<br />

Pon<strong>de</strong>rada (DnT,w). Os valores <strong>de</strong> Rw e DnT,w são diferentes, uma vez que os ensaios são realizados<br />

<strong>de</strong> formas distintas. Neste trabalho foram avaliados ape<strong>nas</strong> os resultados <strong>de</strong> DnT,w uma vez que os<br />

ensaios foram realizados em campo.<br />

A NBR 15575 estabelece níveis <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho mínimo, intermediário e superior para as<br />

habitações avaliadas, sendo o nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong>terminado pelo resultado obtido no ensaio.<br />

A tabela 01 apresenta os valores da Diferença Padronizada <strong>de</strong> Nível Pon<strong>de</strong>rada para pare<strong>de</strong><br />

entre unida<strong>de</strong>s habitacionais autônomas (pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> geminação), situação avaliada neste trabalho,<br />

estabelecida pela NBR 155757 para cada nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho.<br />

Tabela 01 – Diferença Padronizada <strong>de</strong> Nível Pon<strong>de</strong>rada entre ambientes (DnT,w) para ensaios <strong>de</strong><br />

campo<br />

Elemento DnT,w (dB)<br />

Pare<strong>de</strong> entre unida<strong>de</strong>s habitacionais autônomas<br />

(pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> geminação)<br />

Fonte: NBR 15575-4 (ABNT, 2012).<br />

Caracterização dos ambientes<br />

Nível <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sempenho<br />

40 a 44 Mínimo (M)<br />

45 a 49 Intermediário (I)<br />

≥ 50 Superior (S)<br />

Foram avaliadas quatro vedações <strong>de</strong> quatro empreendimentos resi<strong>de</strong>nciais <strong>de</strong> 3 bairros<br />

distintos, localizados na Região Metropolitana do Recife - RMR. Os empreendimentos são <strong>de</strong><br />

padrão variado, com plantas que variam <strong>de</strong> 44 m² à 180 m².<br />

O empreendimento da vedação 1 é composto por 13 torres – 6 torres <strong>de</strong> 8 pavimentos e 7<br />

torres <strong>de</strong> 16 pavimentos. Cada torre possui 4 apartamentos por andar com área <strong>de</strong> 63m². O sistema<br />

<strong>de</strong> vedação vertical interno entre unida<strong>de</strong>s é constituído por tijolos cerâmicos com 9cm <strong>de</strong><br />

178


espessura, dotados <strong>de</strong> 8 furos horizontais, e revestimento em pasta <strong>de</strong> gesso com 1,5cm, atribuindo<br />

à pare<strong>de</strong> uma espessura final <strong>de</strong> 12cm.<br />

O empreendimento da vedação 2, é composto por 5 blocos com 7 pavimentos-tipo sendo 2<br />

apartamentos por andar. Os apartamentos apresentam área <strong>de</strong> 140m². No sistema <strong>de</strong> vedação<br />

vertical interno são empregados blocos <strong>de</strong> concreto com 9cm <strong>de</strong> espessura e revestimento em<br />

argamassa, obtendo-se a espessura final <strong>de</strong> 12cm.<br />

O empreendimento da vedação 3, é composto por 30 (trinta) pavimentos tipo, sendo 2<br />

apartamentos por andar. Os apartamentos possuem área <strong>de</strong> aproximadamente 180m². No sistema <strong>de</strong><br />

vedação vertical interno são empregados blocos cerâmicos com 9cm <strong>de</strong> espessura. O revestimento é<br />

realizado em pasta <strong>de</strong> gesso, para o pavimento avaliado. A espessura final da pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> vedação<br />

entre as unida<strong>de</strong>s é <strong>de</strong> 12cm.<br />

O empreendimento da vedação 4, é composto por 7 pavimentos-tipo sendo 2 apartamentos<br />

por andar. Os apartamentos apresentam área <strong>de</strong> 123m². O sistema <strong>de</strong> vedação vertical interno entre<br />

unida<strong>de</strong>s (pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> geminação) é constituído por blocos cerâmicos com 12cm <strong>de</strong> espessura,<br />

dotados <strong>de</strong> 8 furos horizontais, e revestimento em pasta <strong>de</strong> gesso com 1,5cm, atribuindo à pare<strong>de</strong><br />

uma espessura final <strong>de</strong> 15cm.<br />

A edificação da vedação 1 está localizada na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Paulista e as outras três edificações<br />

na cida<strong>de</strong> do recife, estando a edificação da vedação 2, no bairro do Poço da Panela, a edificação 3<br />

no bairro das Graças e a edificação da vedação 4 no bairro do Poço da Panela, todos na Região<br />

Metropolitana do Recife - RMR.<br />

Procedimentos <strong>de</strong> ensaio<br />

Os ensaios seguiram as especificações da NBR 15575, que indica normas internacionais<br />

específicas para a realização dos ensaios <strong>de</strong> avaliação <strong>de</strong> isolação acústica, as normas ISO 140-4,<br />

ISO 717-1 e ISO 340. A NBR 15575 apresenta também os níveis <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho que <strong>de</strong>vem ser<br />

atendidos pela indústria da construção civil, em nível nacional, para enquadramento dos<br />

empreendimentos.<br />

Os ruídos analisados nesta série <strong>de</strong> ensaios são provenientes <strong>de</strong> fontes aéreas, ou seja,<br />

originam-se da conversação humana, do uso <strong>de</strong> equipamentos <strong>de</strong> áudio/TV, <strong>de</strong> instrumentos<br />

musicais, entre outros e propagam-se pelo ar, atingindo estruturas e elementos da edificação, sendo<br />

transmitidos <strong>de</strong> um ambiente ao outro, tanto por meio aéreo, quanto estrutural, contudo sua análise<br />

foi efetuada por meio aéreo. O <strong>de</strong>sempenho acústico das edificações foi avaliado para estes ruídos,<br />

baseando-se nos procedimentos <strong>de</strong>scritos <strong>nas</strong> normas supracitadas.<br />

179


O objetivo da análise foi avaliar a isolação sonora promovida pela vedação vertical interna,<br />

pare<strong>de</strong> entre unida<strong>de</strong>s habitacionais, para sons aéreos. Nesse processo, foram realizados ensaios<br />

entre apartamentos vizinhos <strong>de</strong> um mesmo pavimento que possuíam, em todos os casos, pare<strong>de</strong>s das<br />

salas dividindo-os em unida<strong>de</strong>s in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, ou seja, a pare<strong>de</strong> da sala sendo a pare<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

geminação. Através dos ensaios, foi caracterizada então, a diferença padronizada <strong>de</strong> nível<br />

pon<strong>de</strong>rada – DnT,w, que representa o valor do isolamento do ruído aéreo entre ambientes, obtidos<br />

através <strong>de</strong> ensaios <strong>de</strong> campo, utilizando o método <strong>de</strong> engenharia, disposto na ISO 140-4.<br />

As unida<strong>de</strong>s ensaiadas encontravam-se <strong>de</strong>socupadas e com todos os sistemas <strong>de</strong> vedações<br />

(pare<strong>de</strong>s, lajes, revestimentos, esquadrias, etc.) instalados. Para a realização dos ensaios, foram<br />

utilizados os seguintes equipamentos: Medidor <strong>de</strong> Nível <strong>de</strong> Pressão Sonora (sonômetro) –<br />

equipamento <strong>de</strong>stinado à medição do nível <strong>de</strong> pressão sonora e suas respectivas pon<strong>de</strong>rações; Fonte<br />

Omnidirecional (do<strong>de</strong>caedro) e amplificador e gerador <strong>de</strong> sinal– utilizados na geração do ruído.<br />

O ensaio consistiu na geração <strong>de</strong> ruído com pressão sonora constante por banda <strong>de</strong><br />

frequência, ruído rosa, gerado a partir da fonte omnidirecional. Este ruído foi mantido constante<br />

com potência sonora <strong>de</strong> aproximadamente 90 dB e produzido no centro da sala <strong>de</strong> um dos<br />

apartamentos (sala <strong>de</strong> emissão) escolhidos. Uma vez produzido o ruído, este foi medido através do<br />

sonômetro e o registro sonoro (intensida<strong>de</strong> e distribuição <strong>de</strong> frequências) realizado no próprio<br />

equipamento <strong>de</strong> medição para posterior análise computacional. Mantendo-se a fonte <strong>nas</strong> mesmas<br />

condições, foram realizadas as medições e registros na sala do apartamento vizinho (sala <strong>de</strong><br />

recepção), em um movimento circular, mantendo a distância mínima <strong>de</strong> 1m das pare<strong>de</strong>s da sala, o<br />

que permitiu avaliar a energia sonora que atravessava o sistema <strong>de</strong> vedação. Desta forma, se pô<strong>de</strong><br />

efetuar a análise <strong>de</strong> quanto um sistema <strong>de</strong> vedação vertical, no caso a pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> geminação em<br />

estudo, isola em termos <strong>de</strong> ruído aéreo, tendo sido registrados os ruídos <strong>de</strong> emissão e recepção.<br />

Outra informação importante a ser obtida, além do ruído <strong>nas</strong> salas <strong>de</strong> emissão e recepção, é o<br />

tempo <strong>de</strong> reverberação da sala <strong>de</strong> recepção, visto que esta informa é utilizada na pon<strong>de</strong>ração da<br />

isolação sonora. O tempo <strong>de</strong> reverberação foi medido em 6 pontos da sala <strong>de</strong> recepção, utilizando-<br />

se a fonte omnidirecional e o sonômetro.<br />

A análise foi realizada <strong>de</strong>sta forma em todos os empreendimentos em questão, observando<br />

que todos apresentavam como pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> geminação a pare<strong>de</strong> das salas dos apartamentos.<br />

Resultados e discussões<br />

A avaliação do <strong>de</strong>sempenho acústico promovido pelo sistema <strong>de</strong> vedação vertical interno<br />

(pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> geminação), foi <strong>de</strong>terminada a partir do valor da diferença padronizada <strong>de</strong> nível<br />

180


pon<strong>de</strong>rada (DnT,w), obtida em ensaio <strong>de</strong> campo e compilada em software específico do fabricando<br />

do medidor <strong>de</strong> nível <strong>de</strong> pressão sonora (sonômetro). A tabela 02 apresenta os valores <strong>de</strong> referência<br />

<strong>de</strong>scritos na NBR 15575-4 e o valor obtido em ensaio <strong>de</strong> campo <strong>nas</strong> vedações avaliadas.<br />

Tabela 02 – Critério da NBR 15575-4 e valores obtidos em ensaios <strong>de</strong> campo da Diferença<br />

Elemento<br />

Pare<strong>de</strong> entre unida<strong>de</strong>s<br />

habitacionais autônomas<br />

(pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> geminação)<br />

Padronizada <strong>de</strong> Nível Pon<strong>de</strong>rada (DnT,w)<br />

Requisito NBR<br />

15575-4<br />

Nível <strong>de</strong><br />

Critéri<br />

<strong>de</strong>sempen<br />

o<br />

ho<br />

M 40 a 44<br />

I 45 a 49<br />

S ≥ 50<br />

DnT,w<br />

Valores obtidos em ensaio <strong>de</strong> campo<br />

Vedaçã<br />

o 1<br />

Vedaçã<br />

o 2<br />

Vedaçã<br />

o 3<br />

Vedaçã<br />

o 4<br />

36 39 39 39<br />

Conforme resultados apresentados na tabela 02, nenhum dos empreendimentos avaliados<br />

aten<strong>de</strong> ao nível Mínimo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho no tocante ao isolamento <strong>de</strong> ruído aéreo promovido pela<br />

vedação vertical interna (pare<strong>de</strong> entre unida<strong>de</strong>s habitacionais autônomas – pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> geminação),<br />

requerida na NBR 15575-4 (ABNT, 2012). No entanto, os resultados obtidos <strong>nas</strong> vedações 2, 3 e 4<br />

encontram-se na eminência <strong>de</strong> atendimento ao nível mínimo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho.<br />

O Gráfico 01 ilustra o comportamento dos resultados obtidos em campo em comparação<br />

com os níveis <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho especificados na NBR 15575. Fica notório nesta imagem o melhor<br />

<strong>de</strong>sempenho das vedações que utilizam bloco como vedação.<br />

Gráfico 01: Comparação das referências normativas com os resultados obtidos em ensaio <strong>de</strong> campo<br />

181


Conclusões<br />

Neste trabalho foram apresentados e comparados com a norma <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho, NBR 15575,<br />

os resultados da avaliação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho acústico <strong>de</strong> vedações verticais inter<strong>nas</strong> entre ambientes<br />

mais utilizadas pela construção civil atualmente. Verificou-se, entretanto, que nenhuma das<br />

vedações ensaiadas atingiu <strong>de</strong>sempenho acústico satisfatório para atendimento ao critério mínimo<br />

<strong>de</strong> isolação sonora promovida pela vedação vertical interna (pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> geminação) especificado na<br />

NBR 15575-4.<br />

A medição realizada em campo não tem como único elemento <strong>de</strong> influencia a pare<strong>de</strong>, uma<br />

vez que as portas <strong>de</strong> entrada dos apartamentos estão localizadas normalmente lado a lado no hall<br />

social, e possuem frestas que contribuem negativamente na avaliação acústica, facilitando a<br />

transmissão sonora. Outro ponto vulnerável à transmissão do ruído entre ambientes são as<br />

esquadrias das varandas, que, quando instaladas <strong>de</strong> forma ina<strong>de</strong>quada ou quando apresentam índice<br />

<strong>de</strong> redução sonora insuficiente, comprometem a isolação sonora.<br />

Os resultados obtidos nos ensaios e apresentados neste trabalho encontram-se próximo do<br />

atendimento à norma <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho, logo, peque<strong>nas</strong> intervenções no sistema <strong>de</strong> vedação vertical<br />

interna po<strong>de</strong>m promover uma maior isolação sonora e consequentemente o atendimento à NBR<br />

15575. Dentre as intervenções possíveis estão: o uso <strong>de</strong> borrachas <strong>de</strong> vedação na esquadria das<br />

portas, o emprego <strong>de</strong> esquadrias da varanda com índice <strong>de</strong> redução sonora a<strong>de</strong>quada, o aumento na<br />

espessura do revestimento e etc.<br />

É importante <strong>de</strong>stacar que nenhuma das edificações avaliadas possuía projeto acústico.<br />

Sabe-se que sem projeto, a busca por aten<strong>de</strong>r requisitos mínimos se torna uma questão muito mais<br />

difícil e <strong>de</strong> pouco controle. Portanto, não parece coerente procurar aten<strong>de</strong>r critérios <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong><br />

acústica após a construção da edificação, sem que antes o sistema seja projetado para obtenção do<br />

<strong>de</strong>sempenho almejado. Os resultados obtidos com esta iniciativa, porém, <strong>de</strong>verão fornecer dados<br />

para a concepção <strong>de</strong> novos projetos arquitetônicos, mais consistentes quanto ao <strong>de</strong>sempenho<br />

acústico.<br />

Agra<strong>de</strong>cimentos<br />

Os autores agra<strong>de</strong>cem à UFPE pelo apoio bibliográfico e científico, à TECOMAT –<br />

Tecnologia da Construção e Materiais pelo apoio na realização dos ensaios.<br />

Referências<br />

ALMEIDA, Manuela; SILVA, Sandra; FERREIRA, Tiago. FÍSICA DAS CONSTRUÇÕES:<br />

Acústica Ambiental e <strong>de</strong> Edifícios. Departamento <strong>de</strong> engenharia civil da Universida<strong>de</strong> do Minho,<br />

Guimarães, 2006/2007.<br />

182


ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15575-4: Edifícios habitacionais<br />

<strong>de</strong> até cinco pavimentos – Desempenho. Parte 4: Sistemas <strong>de</strong> vedações verticais exter<strong>nas</strong> e inter<strong>nas</strong>.<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro: ABNT, 2012.<br />

CARVALHO, Régio Paniago. Acústica arquitetônica. Brasília: Thesaurus, 2ª edição, 2010.<br />

INTERNATIONAL STANDARD. ISO 140-4: Acoustic – Measurement of sound insulation in<br />

buildings and of building elements. Part 4: Field measurement of airborne sound insulation between<br />

rooms. Genève: ISO, 1998.<br />

LOSSO, Marco Aurélio Faria; VIVEIROS, Elvira. Acoustics versus natural ventilation in southern<br />

Brazilian educational buildings.In: WINCK, Scheila Simone; SCHMID, Aloisio Leoni. Atenuação<br />

<strong>de</strong> ruído na ventilação forçada em residências: análise experimental <strong>de</strong> um protótipo inovado.<br />

Revista da Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Acústica – SOBRAC, 43ª Edição, pp. 07 -12, Santa Maria, 2011.<br />

MICHALSKI, Ranny Loureiro Xavier Nascimento. Um resumo do <strong>de</strong>sempenho acústico em<br />

edifícios habitacionais conforme a norma brasileira ABNT NBR 15575. Revista da Socieda<strong>de</strong><br />

Brasileira <strong>de</strong> Acústica – SOBRAC. 41ª Edição, pp. 13 -20, Santa Maria, 2010.<br />

NETO, Maria <strong>de</strong> Fatima Ferreira; BERTOLI, Stelamaris Rolla. Critérios <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho acústico<br />

em edifícios resi<strong>de</strong>nciais. Revista da Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Acústica – SOBRAC. 43ª Edição, pp.<br />

19 -29, Santa Maria, 2011<br />

VILARTA, Roberto; GUTIERREZ, Gustavo Luis; MONTEIRO, Maria Inês. <strong>Qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> vida.<br />

Campi<strong>nas</strong>: IPES, 2010.<br />

183


SUSTENTABILIDADE E QUALIDADE DE VIDA: DIMENSÕES PARA O<br />

DESENVOLVIMENTO URBANO 26<br />

Rafael Alves ORSI<br />

Professor Assistente Doutor. Depto. <strong>de</strong> Antropologia, Política e Filosofia, Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências e<br />

Letras, Universida<strong>de</strong> Estadual Paulista – UNESP – Campus Araraquara. r.orsi@fclar.unesp.br<br />

Resumo<br />

Pensar o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> forma ampla envolve múltiplos fatores. Tais fatores po<strong>de</strong>m ser<br />

agrupados, <strong>de</strong> acordo com suas características, em diferentes dimensões – social, econômica e<br />

natural. Articular essas dimensões <strong>de</strong> modo a formar uma estrutura sustentável na qual a melhora na<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida da população é o resultado esperado constitui um <strong>de</strong>safio para a socieda<strong>de</strong><br />

hodierna. Comumente, <strong>de</strong>stacam-se os elementos vinculados à dimensão econômica, ao passo que a<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida é tratada <strong>de</strong> forma secundária, não havendo a preocupação em compreen<strong>de</strong>r as<br />

subjetivida<strong>de</strong>s envolvidas em um processo que aparentemente <strong>de</strong>manda ape<strong>nas</strong> ações objetivas.<br />

Com o intuito <strong>de</strong> discutir essa problemática e seus <strong>de</strong>sdobramentos, este artigo trata <strong>de</strong> apresentar<br />

elementos que colocam a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida no centro do processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento urbano e que<br />

buscam a sustentabilida<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rando o ser humano <strong>de</strong> forma integral.<br />

Palavras Chaves: Desenvolvimento urbano; qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida; meio ambiente<br />

Abstract<br />

Multiple factors are involved in conceiving <strong>de</strong>velopment in all its extent. Such factors can be<br />

grouped, according to their characteristics, into different dimensions – social, economic, and<br />

natural. A challenge to mo<strong>de</strong>rn society is to articulate those dimensions in such a way as to establish<br />

a sustainable structure in which life quality improvement is the inten<strong>de</strong>d outcome. As a rule,<br />

elements related to the economic dimension are highlighted, whereas life quality is treated as<br />

secondary, without concern for un<strong>de</strong>rstanding the subjectivities involved in a process that<br />

26 Este texto tem como base parte da tese <strong>de</strong> doutorado intitulada ―Reflexões sobre o <strong>de</strong>senvolvimento e a<br />

sustentabilida<strong>de</strong>: o que o IDH e o IDHM po<strong>de</strong>m nos mostrar?‖, <strong>de</strong>fendida em 2009 junto ao Programa <strong>de</strong> Pós-<br />

Graduação em Geografia da Universida<strong>de</strong> Estadual Paulista – UNESP - Campus Rio Claro-SP.<br />

184


apparently only <strong>de</strong>mands objective actions. In or<strong>de</strong>r to discuss that issue and its ramifications, this<br />

paper presents some elements that put life quality in the center of the urban <strong>de</strong>velopment process<br />

and search for sustainability consi<strong>de</strong>ring the human being as a whole.<br />

Key Words: Urban Development; Quality of Life ; Environment.<br />

Introdução<br />

A sustentabilida<strong>de</strong> somente po<strong>de</strong>rá ser alcançada a partir do equilíbrio dinâmico entre a<br />

manutenção dos elementos naturais, uma socieda<strong>de</strong> mais igualitária e o fortalecimento das relações<br />

econômicas. No entanto, esse equilíbrio dinâmico entre essas três esferas – natureza, socieda<strong>de</strong> e<br />

economia – a qual po<strong>de</strong>rá permitir a sustentabilida<strong>de</strong>, só será aceitável se for possível não ape<strong>nas</strong> a<br />

manutenção <strong>de</strong> um sistema, mas proporcionar qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida às mais diversas populações.<br />

Apesar da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> equilíbrio entre essas três esferas não ser nova, pensamos que alguns<br />

questionamentos ainda sejam básicos. Talvez o primeiro <strong>de</strong>les siga na direção <strong>de</strong> buscar a<br />

compreensão do que se enten<strong>de</strong> por qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida. Será que existe um mo<strong>de</strong>lo único ou um<br />

padrão mínimo para que possamos consi<strong>de</strong>rar que uma comunida<strong>de</strong> possui um nível aceitável <strong>de</strong><br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, ou os padrões po<strong>de</strong>m ser tão diferentes quanto o número <strong>de</strong> grupos humanos que<br />

forem analisados? Outro questionamento vincula-se à própria i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong>. O que<br />

realmente buscamos sustentar será um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> relação socioeconômica <strong>de</strong>ntro dos padrões já<br />

estabelecidos ou a sustentabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>verá buscar novas formas <strong>de</strong> relações? Neste caso, sobre quais<br />

padrões e estruturas sociais? Um terceiro questionamento gira em torno da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suporte do<br />

planeta. A questão do meio ambiente torna-se um novo eixo estruturador <strong>de</strong> outras formas <strong>de</strong> pensar<br />

a socieda<strong>de</strong>, ou é ape<strong>nas</strong> mais uma variável secundária a ser consi<strong>de</strong>rada, tornando-se uma<br />

problematização necessária para a continuida<strong>de</strong> do sistema vigente, sem gran<strong>de</strong>s alterações no<br />

status quo da socieda<strong>de</strong>? Acreditamos que esses três pontos sejam fundamentais para a nossa<br />

discussão, já que, apesar <strong>de</strong> bastante <strong>de</strong>batidos, parecem <strong>de</strong>ixar algumas questões abertas. Não basta<br />

reproduzir a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável chamando as dimensões sociais, econômicas e<br />

naturais para sustentar o discurso, quando na verda<strong>de</strong> não se tem clareza sobre qual socieda<strong>de</strong><br />

queremos construir <strong>de</strong> fato.<br />

Acreditamos que todos os povos prezem pela vida e pela manutenção <strong>de</strong> suas socieda<strong>de</strong>s, o<br />

que implica algumas condições que julgamos realmente importantes, como possuir alimentos o<br />

suficiente para saciar a fome dos seus habitantes, gozar <strong>de</strong> boa saú<strong>de</strong> e ser livre para <strong>de</strong>senvolver<br />

sua cultura da forma como quiser. No entanto, consi<strong>de</strong>ramos que possa haver um empobrecimento<br />

185


do que se enten<strong>de</strong> por <strong>de</strong>senvolvimento, sustentabilida<strong>de</strong> e qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida quando se busca a<br />

homogeneização dos padrões analisados, comparando realida<strong>de</strong>s muito diferentes.<br />

No entanto, toda socieda<strong>de</strong> necessita <strong>de</strong> um ambiente natural equilibrado para que, sobre ele,<br />

e através <strong>de</strong>le, ela possa se <strong>de</strong>senvolver. A relação entre o meio natural e o social se dá <strong>de</strong> maneira<br />

indissociável, ora com ligações mais fortes, ora com ligações mais fracas, porém em todos os casos<br />

com reflexos diretos no bem-estar e na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida da população. Guimarães (2005), ao tratar<br />

da qualida<strong>de</strong> ambiental e da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, <strong>de</strong>staca que é possível se ter qualida<strong>de</strong> ambiental<br />

sem qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, já que inúmeros fatores como a inclusão social, participação na vida política<br />

e satisfação po<strong>de</strong>m não se fazer presentes em uma comunida<strong>de</strong>, mesmo que a qualida<strong>de</strong> ambiental<br />

seja elevada. Porém, sem qualida<strong>de</strong> ambiental é impossível que se tenha qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<br />

Concordamos com a autora supracitada e pensamos que esse binômio qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e qualida<strong>de</strong><br />

ambiental <strong>de</strong>va ser a parte principal da tônica <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, que possa ser<br />

classificado como tal.<br />

A <strong>Qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Vida</strong> em Questão<br />

Encontrar uma significação precisa sobre o que é qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida leva-nos a um caminho<br />

tortuoso, cheio <strong>de</strong> in<strong>de</strong>finições e que, muitas vezes, após um longo percurso, <strong>de</strong>ixa-nos no mesmo<br />

lugar. A percepção do mundo e da socieda<strong>de</strong> que nos ro<strong>de</strong>ia não é igual para todas as pessoas,<br />

po<strong>de</strong>ndo variar <strong>de</strong> acordo com uma série <strong>de</strong> características singulares, como gênero, classe social,<br />

ida<strong>de</strong>, i<strong>de</strong>ologias, entre outros fatores. Sendo assim, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma mesma comunida<strong>de</strong> e com<br />

níveis socioeconômicos semelhantes, diferentes pessoas po<strong>de</strong>m avaliar sua qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida <strong>de</strong><br />

maneira distinta umas das outras. Como aponta Vitte (2009), vários aspectos subjetivos fazem parte<br />

da análise da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, os quais vão muito além das necessida<strong>de</strong>s básicas <strong>de</strong> cada um.<br />

No entanto, a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida não po<strong>de</strong> ser tratada unicamente como relativa. Mesmo com<br />

a existência <strong>de</strong> pontos <strong>de</strong> vista diferentes, alguns elementos são básicos para pensarmos a qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> vida, mesmo que esses elementos sejam pon<strong>de</strong>rados com graus <strong>de</strong> importância diferenciados <strong>de</strong><br />

acordo com as inclinações individuais. Scanlon (1997), ao discutir a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, nos traz três<br />

perguntas importantes: i) quais circunstâncias proporcionam boas condições para a vida?;ii) o que<br />

faz a vida ser boa para a pessoa que a vive?; eiii) o que faz a vida ter valor? O autor acredita que,<br />

para a discussão sobre a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, a segunda questão constitui-se em um ponto<br />

fundamental para aprimorar a discussão, pois ―[...] estas questões ganham priorida<strong>de</strong> à medida que<br />

vemos aumentar a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida das pessoas como moral e politicamente importantes por conta<br />

dos benefícios trazidos para eles (SCANLON, 1997, p. 185 – grifos do autor – tradução livre).<br />

186


Para discutir essa temática, o autor tenta afastar análises subjetivas sobre a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida<br />

e pontos <strong>de</strong> vistas singulares sobre a questão. Assim, o hedonismo e os <strong>de</strong>sejos, como ―estados<br />

mentais‖, não <strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>rados como elementos importantes na análise da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<br />

Scanlon (1997) sugere a consi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> alguns elementos substantivos para tornar a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

vida boa, o que não <strong>de</strong>scarta um certo grau <strong>de</strong> subjetivida<strong>de</strong>.<br />

Este posicionamento assemelha-se ao que Sen (2000) <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> quando <strong>de</strong>staca a questão das<br />

liberda<strong>de</strong>s substantivas das pessoas. O autor traz essa questão da seguinte forma:<br />

Venho procurando <strong>de</strong>monstrar já há algum tempo que, para muitas finalida<strong>de</strong>s<br />

avaliatórias, o ‗espaço‘ apropriado não é o das utilida<strong>de</strong>s (como querem os<br />

‗welferistas‘) nem o dos bens primários (como exigidos por Rawls), mas o das<br />

liberda<strong>de</strong>s substantivas – as capacida<strong>de</strong>s – <strong>de</strong> escolher uma vida que se tem razão<br />

para valorizar. Se o objetivo é concentrar-se na oportunida<strong>de</strong> real <strong>de</strong> o indivíduo<br />

promover seus objetivos (como Rawls recomenda explicitamente), então será<br />

preciso levar em conta não ape<strong>nas</strong> os bens primários que as pessoas possuem, mas<br />

também as características pessoais relevantes que governam a conversão<strong>de</strong> bens<br />

primários na capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> a pessoa promover seus objetivos (SEN, 2000, p. 94-95<br />

– grifo do autor).<br />

Percebemos que Sen, ao mesmo tempo consi<strong>de</strong>ra a questão da subjetivida<strong>de</strong> quando <strong>de</strong>staca<br />

as escolhas que as pessoas julgam ser as melhores para suas vidas, mas não <strong>de</strong>scarta a necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> bens primários para a realização <strong>de</strong>ssas pessoas. Esses são pontos importantes que o autor<br />

discute e que nos leva à reflexão sobre se existe a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um padrão para se analisar a<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida. Sen (2000, p. 96), ainda <strong>de</strong>staca que:<br />

O ‗conjunto capacitário‘ consistiria nos vetores <strong>de</strong> funcionamento alternativos<br />

<strong>de</strong>ntre os quais a pessoa po<strong>de</strong> escolher. Enquanto a combinação dos<br />

funcionamentos <strong>de</strong> uma pessoa reflete suas realizaçõesefetivas, o conjunto<br />

capacitário representa a liberda<strong>de</strong> para realizar as combinações alternativas <strong>de</strong><br />

funcionamentos <strong>de</strong>ntre as quais a pessoa po<strong>de</strong> escolher (grifos do autor).<br />

Parece-nos bastante claro que se um elemento chave em Sen (2000) são as escolhas das<br />

pessoas, o outro elemento é o ‗universo‘ em que as pessoas estão inseridas e quais as possibilida<strong>de</strong>s<br />

disponíveis para estas pessoas <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> seu meio. Se existe uma variável subjetiva, como as<br />

escolhas das pessoas <strong>de</strong> acordo com aquilo que elas valorizam, estas escolhas acontecem <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />

um conjunto <strong>de</strong> variáveis objetivas disponíveis. Consi<strong>de</strong>rando o <strong>de</strong>senvolvimento como a ampliação<br />

187


<strong>de</strong>sse conjunto <strong>de</strong> variáveis disponíveis, po<strong>de</strong>ríamos dizer que a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida po<strong>de</strong> aumentar à<br />

medida que se amplia o <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

Porém, não conseguimos escapar à subjetivida<strong>de</strong>, já que <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um meio on<strong>de</strong> as<br />

possibilida<strong>de</strong>s são múltiplas, porém não universalizadas, alguém po<strong>de</strong> julgar-se inferiorizado ou<br />

criar expectativas, uma vez que o meio permite, incapazes <strong>de</strong> realização <strong>de</strong>ntro das possibilida<strong>de</strong>s<br />

individuais existentes. Por outro lado, em um universo <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s e expectativas mais<br />

restritas, as pessoas po<strong>de</strong>m julgar-se com boa qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida. Vemos, portanto, que a qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> vida inclui uma autoavaliação, a qual não condiz necessariamente com um consenso <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />

um grupo ou menos ainda entre grupos diferentes. Como assevera Guimarães (2005), os níveis<br />

perceptivos e interpretativos são distintos nos diferentes grupos e envolvem múltiplas variáveis<br />

individuais e coletivas e suas ressignificações. Assim, referenciais egocentrados e exocentrados são<br />

fundamentais nesta avaliação sobre a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<br />

Uma <strong>de</strong>finição internacionalmente reconhecida é a proposta pela Organização Mundial da<br />

Saú<strong>de</strong> (OMS), a qual traz que a ―qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida é <strong>de</strong>finida como percepções individuais <strong>de</strong> sua<br />

posição na vida em um contexto <strong>de</strong> um sistema cultural e <strong>de</strong> valores no qual se vive e em relação<br />

aos objetivos, expectativas, padrões e preocupações‖(WHO, 1996, p. 05 – tradução livre).<br />

De fato, como <strong>de</strong>stacam Seidl e Zannon (2004), ao estudarem o conceito <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

vida relacionado à saú<strong>de</strong>, a subjetivida<strong>de</strong> constitui-se em um aspecto importante, porém não se po<strong>de</strong><br />

esquecer da multidimensionalida<strong>de</strong> que este conceito nos traz. Herculano (1998) faz menção<br />

semelhante ao <strong>de</strong>stacar duas formas <strong>de</strong> mensuração e avaliação da qualida<strong>de</strong> vida: por um lado a<br />

disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recursos e a capacida<strong>de</strong> efetiva <strong>de</strong> satisfação <strong>de</strong> suas necessida<strong>de</strong>s e por outro<br />

lado, os graus <strong>de</strong> satisfação da população a partir dos patamares <strong>de</strong>sejados.<br />

Em relação a este segundo aspecto, Herculano (1998) problematiza a questão da<br />

subjetivida<strong>de</strong>, já que um grupo po<strong>de</strong> viver em condições ruins, porém ser resignado, aceitando essa<br />

condição e julgando-se com uma qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida boa. Por outro lado, um grupo cujas condições<br />

se encontram em um padrão elevado, mas rendido ao consumismo <strong>de</strong>senfreado, almeja mais <strong>de</strong> sua<br />

própria vida e da socieda<strong>de</strong>, apresentando assim um grau <strong>de</strong> satisfação com sua qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida<br />

que não condiz com suas reais condições, já que dispõe <strong>de</strong> estruturas que po<strong>de</strong>m oferecer-lhe<br />

<strong>de</strong>terminados confortos, liberda<strong>de</strong> e facilida<strong>de</strong>s que tornam sua vida melhor.<br />

Consi<strong>de</strong>rando esta problematização e as características consumistas da socieda<strong>de</strong><br />

contemporânea apresentada por Baudrillard (2007) e Bauman (2008), acreditamos que a análise da<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida a partir das satisfações dos <strong>de</strong>sejos seja algo problemático, já que vemos a<br />

expansão constante do <strong>de</strong>sejo e a estruturação <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>s virtuais sobre a população <strong>de</strong> uma<br />

maneira geral. Não negamos <strong>de</strong> forma alguma a importância das consi<strong>de</strong>rações feitas a partir do<br />

ponto <strong>de</strong> vista das próprias pessoas inseridas em contextos específicos. Por certo que estes<br />

188


posicionamentos possuem gran<strong>de</strong> valida<strong>de</strong> na análise <strong>de</strong> expectativas não atendidas <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um<br />

dado quadro social. O espaço que as pessoas vivem e as formas como elas percebem e se<br />

relacionam com ele, é fundamental para compreensão da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida. Como <strong>de</strong>staca Vitte<br />

(2009, p. 98), ―<strong>de</strong>vido à diversida<strong>de</strong> humana, há percepções diferenciadas da cida<strong>de</strong>: há uma<br />

dimensão subjetiva na qual há a interferência <strong>de</strong> fatores socioculturais. Há também uma percepção<br />

coletiva. O coletivo atribui ao espaço ocupado o seu sentido‖.<br />

Não temos dúvidas sobre esta importância da subjetivida<strong>de</strong> e da percepção na valorização do<br />

espaço, da vida comunitária e na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida vista <strong>de</strong> forma singularizada. Porém,<br />

acreditamos que alguns pontos mais objetivos que fogem da pura percepção sejam fundamentais<br />

para a análise da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e na orientação das políticas públicas. A violência urbana, por<br />

exemplo, po<strong>de</strong> ser percebida <strong>de</strong> várias formas diferentes pelos diversos grupos que vivem <strong>nas</strong><br />

cida<strong>de</strong>s, no entanto, elevados índices <strong>de</strong> homicídios e assaltos são fatores que causam queda na<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, uma vez que, o aumento na probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se per<strong>de</strong>r a vida <strong>de</strong> forma precoce<br />

em um <strong>de</strong>sses eventos ou a concretização <strong>de</strong>ssa possibilida<strong>de</strong> não se constituem como algo<br />

subjetivo. A morte é um dado objetivo, mesmo que encarada por diferentes prismas. Po<strong>de</strong>ríamos<br />

citar diferentes exemplos <strong>de</strong> caráter material como: a existência <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> esgoto, <strong>de</strong> asfaltamento,<br />

<strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água, <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> lixo, <strong>de</strong> participação política, entre outros fatores. Os<br />

indivíduos, <strong>de</strong> forma subjetiva, po<strong>de</strong>m não se importar ou ter a percepção <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados<br />

problemas, como morar próximo a um lixão, mas nem por isso o problema <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> existir e<br />

prejudicar sua vida.<br />

A partir <strong>de</strong>sses pressupostos, buscamos inserir os recursos ambientais <strong>de</strong> forma objetiva na<br />

questão da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> forma geral. Acreditamos ser imprescindível<br />

uma natureza equilibrada e respeitada em seus limites para que exista uma boa qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<br />

Esse fato não nos remete ape<strong>nas</strong> à natureza percebida, mas realmente à manutenção dos ―serviços‖<br />

que ela nos proporciona. Encontramo-nos em meio a uma discussão ampla e pouco consensual,<br />

sobretudo quando partimos para o campo das práticas sociais e da ação pública. Neste ponto,<br />

reforçamos nossa i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que o <strong>de</strong>senvolvimento só po<strong>de</strong> ser aceitável se for capaz <strong>de</strong> elevar a<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e, para tanto, <strong>de</strong>ve ser equilibrado respeitando os limites impostos pelos sistemas<br />

naturais, assim como não gerar <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais e ser economicamente viável.<br />

O Espaço Urbano no Contexto<br />

Conceitos como <strong>de</strong>senvolvimento, qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e sustentabilida<strong>de</strong> ao funcionarem<br />

como balizadores <strong>de</strong> ações que produzem e reproduzem o espaço, po<strong>de</strong>m resultar em variados<br />

problemas socioambientais quando são mal interpretados. Uma política que se volta para<br />

189


<strong>de</strong>senvolvimento territorial, não sem propósito, estabelece priorida<strong>de</strong>s e cria mo<strong>de</strong>los para<br />

operacionalizar suas ações. Porém, se esta política <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento não estiver estruturada em<br />

bases conceituais sólidas, a melhora <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados aspectos po<strong>de</strong> ser diametralmente oposta a<br />

outros pontos também importantes. Um exemplo brasileiro bastante elucidativo e conhecido <strong>de</strong>ssas<br />

discrepâncias entre as priorida<strong>de</strong>s estabelecidas pelas ações políticas, talvez seja a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Cubatão, no litoral paulista, que conheceu um rápido crescimento industrial <strong>nas</strong> décadas <strong>de</strong> 1970 e<br />

1980, mas com fortes impactos socioambientais em seu território, como discutem Gol<strong>de</strong>nstein e<br />

Carvalhaes (1986), chegando a ser consi<strong>de</strong>rada uma das cida<strong>de</strong>s mais poluídas do mundo, naquele<br />

momento. Certamente, questões como as apresentadas em Cubatão não se constituem em ações<br />

isoladas no tempo e no espaço. As políticas colocadas em práticas encontram-se contextualizadas<br />

por um momento histórico e um espaço específico, mas não in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> outras escalas.<br />

Assim, somos levados a encarar o <strong>de</strong>senvolvimento, a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e a sustentabilida<strong>de</strong> em<br />

diferentes escalas espaço-temporais, no entanto, sem consi<strong>de</strong>rá-las <strong>de</strong> forma isolada e<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes umas das outras.<br />

<strong>Vol</strong>tando-nos à escala do local, não po<strong>de</strong>mos nos esquecer <strong>de</strong> que cada um <strong>de</strong>sses territórios<br />

apresenta singularida<strong>de</strong>s que, na relação com os fatores externos a ele, vão forjar-se <strong>de</strong> maneira<br />

específica. Obviamente, muitos territórios apresentam características históricas, socioeconômicas,<br />

culturais e naturais muito parecidas, logo com estruturas semelhantes, mas não idênticos. Assim,<br />

questionamo-nos a respeito do <strong>de</strong>senvolvimento como um padrão único ou da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida<br />

como uma categoria universal que possa ser vista da mesma forma em todos os municípios.<br />

Quando pensamos o <strong>de</strong>senvolvimento em nível local, uma série <strong>de</strong> tensões e conflitos nos é<br />

colocada. Torna-se imperativo para a discussão a respeito do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sse e nesse espaço,<br />

o reconhecimento <strong>de</strong>sses conflitos e as formas pelas quais ele constrói e reconstrói os espaços.<br />

Assim, a apropriação/expropriação estruturam as formas, os conteúdos, cria e recria tensões.<br />

Diferentes classes sociais e grupos <strong>de</strong> interesses (industriais, ambientalistas, operários, tribos<br />

urba<strong>nas</strong>, entre outros) disputam o controle e o acesso sobre o espaço, o que torna os<br />

relacionamentos complexos e conflituosos. No entanto, as diferentes classes sociais não se<br />

encontram em uma situação <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> na disputa pelo território. Os instrumentos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r são<br />

distintos em cada classe social e suas representações, criando relações <strong>de</strong>siguais e a imposição da<br />

vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> uns sobre os outros. Dessa forma, a estruturação do espaço materializa tanto essas<br />

disputas como as relações assimétricas entre os diferentes grupos ao longo do tempo. Condomínios<br />

<strong>de</strong> luxo e ocupações irregulares são reflexos <strong>de</strong>ssas <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s que marcam o território.<br />

Acselrad (2006), ao tratar <strong>de</strong> problemas socioambientais <strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s e sua manutenção,<br />

explicita dois pontos importantes neste sentido, que consistem na: i) apropriação <strong>de</strong>sigual dos<br />

190


enefícios urbanos e ii) correlação da classe social com a distribuição locacional <strong>de</strong> fatores <strong>de</strong> risco.<br />

Para o autor supracitado,<br />

Na primeira linha explicativa, um processo dito <strong>de</strong> causação circular ten<strong>de</strong>ria a se<br />

instaurar e a aumentar a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social na cida<strong>de</strong> pelo fato das regiões que<br />

contêm maior concentração <strong>de</strong> benefícios reais serem aquelas que abrigam os<br />

segmentos <strong>de</strong> maior renda monetária, fazendo com que a proprieda<strong>de</strong> privada da<br />

terra permita aos grupos <strong>de</strong> maior renda monetária o controle exclu<strong>de</strong>nte das áreas<br />

melhor dotadas e mais valorizadas. [...] Na segunda linha <strong>de</strong> análise, é o diferencial<br />

<strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong> ou a segmentação dos espaços <strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ricos e pobres que<br />

faria com que os grupos <strong>de</strong> menor renda encontrem-se, ao mesmo tempo, sob<br />

maior risco no trabalho e em casa, enquanto os mais ricos permanecem<br />

relativamente protegidos em ambos os lugares (ACSELRAD, 2006, p. 118).<br />

O mesmo autor ainda <strong>de</strong>staca que os dois processos estão interligados, o que resulta em uma<br />

superposição <strong>de</strong> carências para os mais pobres e uma superposição <strong>de</strong> benefícios para os mais ricos,<br />

fortalecendo as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s presentes nos territórios.<br />

Focando especificamente as cida<strong>de</strong>s, Maricato (2002) discute a urbanização exclu<strong>de</strong>nte<br />

ocorrida no Brasil e como o mercado imobiliário nunca esteve voltado para a população <strong>de</strong> baixa<br />

renda, o que gera uma cida<strong>de</strong> ilegal, levando à exclusão <strong>de</strong> parte da população do acesso à estrutura<br />

urbana legalizada, sobretudo no que se refere à moradia. Semelhante constatação também é feita por<br />

Grostein (2001) ao tratar do crescimento das metrópoles e o processo <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> espaços<br />

exclu<strong>de</strong>ntes e <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong> ilegal geradora <strong>de</strong> sérios impactos socioambientais. Nesta relação<br />

cida<strong>de</strong> legal – cida<strong>de</strong> ilegal, é na primeira que se concentram os investimentos privados, públicos e<br />

as ações <strong>de</strong> planejamento, <strong>de</strong>ixando as pessoas que vivem na cida<strong>de</strong> ilegal a sua própria sorte.<br />

Logo, vemos que o consumo do espaço é <strong>de</strong>sigual, pois existe um privilégio neste consumo<br />

por parte <strong>de</strong> segmentos sociais que dispõem <strong>de</strong> recursos financeiros para a efetivação <strong>de</strong> seu uso ou<br />

recebem benefícios diretos e/ou indiretos <strong>de</strong> investimentos do Estado em infraestruturas no<br />

território, conforme salienta Rodrigues (1998) e Carlos (2004). Os investimentos públicos e<br />

privados, ao privilegiarem ape<strong>nas</strong> algumas áreas das cida<strong>de</strong>s, reproduzem e aprofundam as<br />

<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s, fortalecendo a superposição <strong>de</strong> privilégios e carências.<br />

No processo <strong>de</strong> expansão e estruturação das cida<strong>de</strong>s, a ocupação <strong>de</strong> encostas <strong>de</strong> morros,<br />

várzeas <strong>de</strong> rios, áreas <strong>de</strong> proteção ambiental são ações comuns, o que aproxima os problemas<br />

ambientais dos socioeconômicos. Maricato (2002, p. 39) <strong>de</strong>staca que ―[...] o processo <strong>de</strong><br />

urbanização [brasileira] se apresenta como uma máquina <strong>de</strong> produzir favelas e agredir o meio<br />

191


ambiente‖. Certamente, os problemas ambientais não são exclusivos da cida<strong>de</strong> ilegal, aparecendo <strong>de</strong><br />

maneira evi<strong>de</strong>nte também na cida<strong>de</strong> legal, remetendo-nos ao reconhecimento <strong>de</strong> estruturas e níveis<br />

diferentes dos problemas, mas que não acontecem <strong>de</strong> maneira isolada e necessitam ser pensados em<br />

conjunto.<br />

Parece-nos bastante evi<strong>de</strong>nte que a discussão sobre o <strong>de</strong>senvolvimento, a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida<br />

e a sustentabilida<strong>de</strong> ambiental passa pela análise <strong>de</strong> diferentes escalas espaciais, como um campo <strong>de</strong><br />

forças em constante interação, mas é em escalas menores que esses conceitos ficam mais evi<strong>de</strong>ntes<br />

e materializam-se. Falta <strong>de</strong> acessibilida<strong>de</strong> para <strong>de</strong>ficientes físicos, submoradia, saneamento básico<br />

precários, violência, <strong>de</strong>semprego, excesso <strong>de</strong> lixo, falta <strong>de</strong> áreas ver<strong>de</strong>s, etc. não são abstrações<br />

numéricas gerais, elas acontecem no cotidiano das pessoas. <strong>Vol</strong>tamo-nos, então, às cida<strong>de</strong>s, lócus<br />

da concentração das pessoas e espaço <strong>de</strong> sua vivência cotidiana. Aqui se insere um questionamento<br />

importante: como discutir o <strong>de</strong>senvolvimento, a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e a sustentabilida<strong>de</strong> em um<br />

espaço marcado por contradições extremas, sejam socioeconômicas ou culturais, por interesses<br />

distintos e sujeitos a inúmeras pressões exter<strong>nas</strong>?<br />

Ribeiro (2005, p. 60) argumenta que ―[...] o que <strong>de</strong>ve ser sustentável não é a cida<strong>de</strong>, mas o<br />

estilo <strong>de</strong> vida urbano, que tem <strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s mais uma forma <strong>de</strong> manifestação‖. Consi<strong>de</strong>rando que a<br />

cida<strong>de</strong> é a expressão <strong>de</strong>sse estilo <strong>de</strong> vida urbano, questionamo-nos até que ponto o estilo <strong>de</strong> vida<br />

urbano po<strong>de</strong> gerar qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, <strong>de</strong>senvolvimento e ser sustentável.<br />

Ao discutir a sustentabilida<strong>de</strong>, Acselrad (2001; 1999) apresenta-nos algumas matrizes<br />

discursivas que conduzem os <strong>de</strong>bates a respeito da sustentabilida<strong>de</strong>. Assim, é <strong>de</strong>stacada,<br />

[...] a matriz da eficiência, que preten<strong>de</strong> combater o <strong>de</strong>sperdício da base material do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento, esten<strong>de</strong>ndo a racionalida<strong>de</strong> econômico ao ―espaço não-mercantil<br />

planetário‖; da escala, que propugna um limite quantitativo ao crescimento<br />

econômico e à pressão que ele exerce sobre os ―recursos ambientais‖; da equida<strong>de</strong>,<br />

que articula analiticamente princípios <strong>de</strong> justiça e ecologia; da autosuficiência, que<br />

prega a <strong>de</strong>svinculação <strong>de</strong> economias nacionais e socieda<strong>de</strong>s tradicionais dos fluxos<br />

do mercado mundial como estratégia apropriada a assegurar a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> auto-<br />

regulação comunitária das condições <strong>de</strong> reprodução da base material do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento; da ética, que inscreve a apropriação social do mundo material em<br />

um <strong>de</strong>bate sobre os valores <strong>de</strong> Bem e <strong>de</strong> Mal, evi<strong>de</strong>nciando as interações da base<br />

material do <strong>de</strong>senvolvimento com as condições <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> da vida do planeta<br />

(ACSELRAD, 2001, p. 27 – grifos do autor).<br />

Todas essas matrizes discursivas, <strong>de</strong> certa forma, encontram-se presentes no <strong>de</strong>bate que<br />

permeia a questão da sustentabilida<strong>de</strong> do espaço urbano. Pelo lado da eficiência busca-se elaborar<br />

192


planos e medidas que se traduzam em melhor alocação <strong>de</strong> recursos <strong>de</strong>ntro das cida<strong>de</strong>s. A eficiência<br />

volta-se para tentativas <strong>de</strong> economizar matéria e energia através <strong>de</strong> um maior aparato tecnológico e<br />

novas formas <strong>de</strong> organização, capaz <strong>de</strong> manter a reprodução contínua <strong>de</strong> suas estruturas.<br />

Em relação à escala, questionam-se, ao mesmo tempo, as relações <strong>de</strong>siguais intraurba<strong>nas</strong> e<br />

entre as próprias cida<strong>de</strong>s, já que os excessos <strong>de</strong> uma po<strong>de</strong>m resultar em sérios problemas para outra.<br />

Ao se tratar da equida<strong>de</strong>, vinculam-se questões sobre as injustiças socioespaciais presentes no<br />

espaço urbano com os problemas ambientais, <strong>de</strong> forma a reconhecer as situações <strong>de</strong> carências, <strong>de</strong><br />

vulnerabilida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> riscos em que as populações mais pobres se encontram. Associam-se,<br />

inclusive essas questões <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s e injustiças ambientais a questões étnico-raciais, como<br />

vemos em Bullard (2004) e Pellow (2006).<br />

Já pelo lado da autosuficiência, mesmo com o reconhecimento <strong>de</strong> que as cida<strong>de</strong>s funcionam<br />

como sistemas abertos, <strong>de</strong> acordo com Troppmair (2004), necessitando <strong>de</strong> entradas e resultando<br />

saídas, sejam <strong>de</strong>sejáveis ou in<strong>de</strong>sejáveis, essa questão ainda paira em alguns discursos, muito mais<br />

como uma i<strong>de</strong>ologia do que uma proposta concisa e factível. Pensando-se sobre a ética, percebemos<br />

pon<strong>de</strong>rações que estão difusas em outras matrizes discursivas, mas que <strong>de</strong> uma forma ou <strong>de</strong> outra<br />

erigem uma crítica ao uso intensivo dos recursos naturais que provocam impactos em todo o planeta<br />

e colocam em risco elevados contingentes <strong>de</strong> pessoas no mundo todo e às gerações vindouras.<br />

De fato, julgamos importante a existência da articulação e a pon<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> cada uma <strong>de</strong>ssas<br />

matrizes discursivas sobre o espaço das cida<strong>de</strong>s. Enten<strong>de</strong>mos que a sustentabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>va remeter-<br />

nos a uma qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida que possa ser compartilhada por toda socieda<strong>de</strong>. É importante<br />

<strong>de</strong>ixarmos claro o conceito <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> no qual nos baseamos. Ao mesmo tempo em que<br />

reconhece a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> modificações <strong>nas</strong> relações sociais e na relação socieda<strong>de</strong>-<br />

natureza,rechaça posicionamentos extremistas que veem uma volta ingênua à natureza. Deparamo-<br />

nos, então, novamente com a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida. Ou seja, no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento urbano a<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida <strong>de</strong>ve ser central, enten<strong>de</strong>ndo-se a sustentabilida<strong>de</strong> como forma <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento que tenha como fim a melhora substantiva no cotidiano das pessoas, calcadas em<br />

elementos concretos, mas sem <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rar as subjetivas das relações e as singularida<strong>de</strong>s dos<br />

diferentes grupos humanos.<br />

Consi<strong>de</strong>rações Finais<br />

Da mesma forma como argumenta Steinberger (2001), pensamos que a reflexão sobre o<br />

espaço urbano <strong>de</strong>veria ser estruturada no sentido <strong>de</strong> não contrapor o urbano ao meio natural, uma<br />

vez que esse pensamento limita a envergadura das análises e, ao mesmo tempo, impe<strong>de</strong> uma<br />

discussão mais ampla, no sentido <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r o espaço urbano dotado <strong>de</strong> potencialida<strong>de</strong>s para o<br />

193


<strong>de</strong>senvolvimento, sem necessariamente <strong>de</strong>struir o meio natural. Como é apontado por Steinberger<br />

(2001, p. 14),<br />

[...] sugere-se que tais mitos [do urbano insustentável] precisam ser <strong>de</strong>sconstruídos,<br />

porque são os responsáveis por gerar a oposição entre o meio ambiente e urbano e,<br />

assim, ―engessar‖ o espaço urbano à i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> uma insustentabilida<strong>de</strong> permanente.<br />

Essa i<strong>de</strong>ia se baseia na premissa <strong>de</strong> que o homem urbano, ao <strong>de</strong>srespeitar os limites<br />

da natureza, sempre cria um espaço urbano <strong>de</strong>sequilibrado, pois as soluções<br />

tecnológicas e mo<strong>de</strong>rnistas não dão conta <strong>de</strong> reverter esse quadro ou o fazem <strong>de</strong><br />

maneira paliativa.<br />

De fato, a face que a socieda<strong>de</strong> nos mostra atualmente parece corroborar a tese da<br />

insustentabilida<strong>de</strong> urbana, porém será mesmo que não há uma alternativa possível? A produção<br />

social do e no espaço urbano não po<strong>de</strong> ganhar novos contornos e se traduzir em justiça social e<br />

menores impactos sobre o meio natural? Essas são questões importantes e certamente as respostas<br />

não serão singulares.<br />

A sustentabilida<strong>de</strong> ou a insustentabilida<strong>de</strong> do espaço urbano assume diferentes aspectos,<br />

figurando, por um lado, questões gerais que nos levam à reflexão sobre o estilo <strong>de</strong> vida urbano e os<br />

seus impactos, o que se mostra muito mais amplo do que a cida<strong>de</strong> propriamente dita. Por outro lado,<br />

erigem-se discussões sobre o planejamento e gestão das cida<strong>de</strong>s, com o intuito <strong>de</strong> se estabelecerem<br />

mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s sustentáveis. Dentro <strong>de</strong>ssas estruturas po<strong>de</strong> haver inúmeros <strong>de</strong>sdobramentos,<br />

mais ou menos críticos em relação à participação da população, da importância dos instrumentos<br />

econômicos, dos mo<strong>de</strong>los políticos, do uso da tecnologia, entre outros aspectos. Para refletir sobre o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento e sua sustentabilida<strong>de</strong>, é imprescindível não dissociar as variáveis sociais das<br />

econômicas, e essas, do meio natural. E, ainda, buscar formas <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r como elas articulam-<br />

se e <strong>de</strong>terminam a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida da população. Ou seja, o <strong>de</strong>senvolvimento e a sustentabilida<strong>de</strong><br />

acontecem em um jogo complexo entre a qualida<strong>de</strong> ambiental e a dinâmica social e econômica, no<br />

qual todos os fatores exercem influências uns sobre os outros.<br />

Uma dada cida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> tornar-se mais rica em termos <strong>de</strong> capitais circulantes e investimentos<br />

no território, mas à custa <strong>de</strong> impactos socioambientais difusos em diversas áreas e em seu próprio<br />

território. Consi<strong>de</strong>rando uma <strong>de</strong>finição dada por Souza (2008) é preciso enten<strong>de</strong>r o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento como algo amplo, extrapolando qualquer reducionismo, sejam <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m<br />

econômica, social e ambiental. Para o autor supracitado,<br />

[...] o <strong>de</strong>senvolvimento é entendido como uma mudança social positiva. [e] O<br />

conteúdo <strong>de</strong>ssa mudança, todavia, é tido como não <strong>de</strong>vendo ser <strong>de</strong>finido a priori, à<br />

194


evelia dos <strong>de</strong>sejos e expectativas dos grupos sociais concretos, com seus valores<br />

culturais próprios e suas particularida<strong>de</strong>s histórico-geográficas. Desenvolvimento é<br />

mudança, <strong>de</strong>certo: uma mudança para melhor. Um ―<strong>de</strong>senvolvimento‖ que traga<br />

efeitos colaterais sérios não é legítimo e, portanto, não merece ser chamado como<br />

tal (p. 60-61 - grifos do autor).<br />

Rodrigues (1998 e 2001) <strong>de</strong>staca que o modo <strong>de</strong> produção ou a mo<strong>de</strong>rnização traz como<br />

reflexos a criação <strong>de</strong> problemas da e na cida<strong>de</strong>, do e no urbano, do e no ambiente. As diferentes<br />

maneiras <strong>de</strong> como esses problemas po<strong>de</strong>m combinar-se, certamente configuram formas, as quais<br />

inci<strong>de</strong>m sobre a população criando ou agravando as situações <strong>de</strong> exclusão social e os impactos<br />

socioambientais. Portanto, os ―efeitos colaterais‖ <strong>de</strong> um processo não po<strong>de</strong>m refletir negativamente<br />

em outros, como vemos nos processos <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ados exclusivamente para o crescimento<br />

econômico que geram concentração <strong>de</strong> renda, <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais e impactos sobre a natureza.<br />

Reiteramos, então, o pensamento sobre o <strong>de</strong>senvolvimento e a sustentabilida<strong>de</strong> a partir da qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> vida e assim tentamos afastar segmentações que não consi<strong>de</strong>rem o ser humano <strong>de</strong> forma integral<br />

e como centro do processo.<br />

Referências<br />

ACSELRAD, H. Tecnologias sociais e sistemas locais <strong>de</strong> poluição. Horizontes Antropológicos,<br />

Porto Alegre, n. 25, p. 117-138, jan/jun. 2006. Disponível<br />

em:. Acesso em: 10 jun. 2008.<br />

ACSELRAD, H. Sentidos da sustentabilida<strong>de</strong> urbana. In: ACSELRAD, H. (Org.) A duração das<br />

cida<strong>de</strong>s: sustentabilida<strong>de</strong> e riscos <strong>nas</strong> políticas urba<strong>nas</strong>. Rio <strong>de</strong> Janeiro: DP&A, 2001. p. 27-55.<br />

ACSELRAD, H. Discursos da sustentabilida<strong>de</strong> urbana. Revista Brasileira <strong>de</strong> Estudos Urbanos e<br />

Regionais. Recife, n. 01, p. 79-89, mai. 1999.<br />

BAUDRILLARD, J. A socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> consumo. Lisboa: Ed. Edições 70, 2007.<br />

BAUMAN, Z. <strong>Vida</strong> para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ed.<br />

Jorge Zahar, 2008.<br />

BULLARD, R. Enfrentando o racismo ambiental no século XXI. In: ACSELRAD, H.;<br />

HERCULANO, S.; PÁDUA, J. A. (Orgs.) Justiça ambiental e cidadania. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ed.<br />

Relume Dumará, 2004. p. 41-68.<br />

CARLOS, A. F. A. O espaço urbano: novos escritos sobre a cida<strong>de</strong>. São Paulo: Ed. Contexto, 2004.<br />

GROSTEIN, M. D. Metrópoles e expansão urbana: a persistência <strong>de</strong> processos insustentáveis. São<br />

Paulo em Perspectiva, v. 01, n. 15, p. 13-19, 2001.<br />

GUIMARÃES, S. T. <strong>de</strong> L. Nas trilhas da qualida<strong>de</strong>: algumas idéias, visões e conceitos sobre<br />

qualida<strong>de</strong> ambiental e <strong>de</strong> vida. Revista Geosul. Florianópolis, v. 20, n. 40, p. 07-26, jul./<strong>de</strong>z. 2005.<br />

195


GOLDENSTEIN, L.; CARVALHAES, S. G. Industry and the human and ecological tragedy of<br />

Cubatão (São Paulo, Brazil). In: HAMILTON, I.F.E. Industrialization in <strong>de</strong>veloping and peripheral<br />

regions. London: Croon Helm, 1986. p. 266-282.<br />

HERCULANO, S. C. <strong>Qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> vida e seus indicadores. Ambiente e Socieda<strong>de</strong>, n. 02, p. 77-99,<br />

jan./jun. 1998.<br />

MARICATO, E. Brasil, cida<strong>de</strong>s: alternativas para a crise urbana. Petrópolis: Vozes, 2002.<br />

PELLOW, D. N. Social inequalities and environmental conflict.Horizontes Antropológicos. Porto<br />

Alegre, ano 12, n. 25, p. 15-29, jan./jun. 2006.<br />

RIBEIRO, W. C. Cida<strong>de</strong>s ou socieda<strong>de</strong>s sustentáveis. In: CARLOS, A. F.; CARRERAS, C. (Orgs.)<br />

Urbanização e mundialização: estudos sobre a metrópole. São Paulo: Contexto, 2005. p. 60-69.<br />

RODRIGUES, A. M. Produção do ambiente e espaço urbano. In: SPOSITO, M. E. B. (Org.)<br />

Urbanização e cida<strong>de</strong>s: perspectives geográficas. Presi<strong>de</strong>nte Pru<strong>de</strong>nte: Ed. Unesp, 2001. p. 211-<br />

230.<br />

RODRIGUES, A. M. Produção e consumo do e no espaço: problemática ambiental urbana. São<br />

Paulo: Hucitec, 1998.<br />

SCANLON, T. Value, <strong>de</strong>sire and quality of life. In: NUSSBAUM, M.; SEN, A. (Orgs.) The quality<br />

of life. Oxford: Clarendon Press/Oxford, 1997. p. 185-200.<br />

SEIDL, E. M. F.; ZANNON, C. M. L. da C. <strong>Qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> vida e saú<strong>de</strong>: aspectos conceituais e<br />

metodológicos. Ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública, n. 20, v. 02, p. 580-588, mar./abr. 2004.<br />

SEN, A. Desenvolvimento como liberda<strong>de</strong>. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.<br />

SOUZA, M. L. <strong>de</strong>. Mudar a cida<strong>de</strong>: uma introdução crítica ao planejamento e à gestão urbanos. Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro: Bertrand Brasil, 2008.<br />

STEINBERGER, M. A (re) construção <strong>de</strong> mitos sobre a (in) sustentabilida<strong>de</strong> do (no) espaço<br />

urbano. Revista brasileira <strong>de</strong> estudos urbanos e regionais. Recife, n. 04, p. 09-32, mai. 2001.<br />

TROPPMAIR, H. Biogeografia e meio ambiente. Rio Claro: Divisa, 2005.<br />

VITTE, C. <strong>de</strong> C. S. A qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida urbana e sua dimensão subjetiva: uma contribuição ao<br />

<strong>de</strong>bate sobre políticas públicas e sobre a cida<strong>de</strong>. In: VITTE, C. <strong>de</strong> C. S.; KEINERT, T. M. M.<br />

(Orgs.) <strong>Qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> vida, planejamento e gestão urbana: discussões teórico-metodológicas. Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro: Ed. Bertrand Brasil, 2009. p. 89-109.<br />

WORLD HEALTH ORGANIZATION.WHO.Introduction, administration, scoring and generic<br />

version of the assessment, 1996.Disponível em: <<br />

http://www.who.int/mental_health/media/en/76.pdf> Acesso em: 20 mar. 2009.<br />

196


A PERCEPÇÃO AMBIENTAL DA POPULAÇÃO AUTÓCTONE A CERCA DA EROSÃO<br />

COSTEIRA EM CAIÇARA DO NORTE - RN – BRASIL 27<br />

Resumo<br />

An<strong>de</strong>rson <strong>de</strong> Souza FERREIRA (DGC/UFRN) – an<strong>de</strong>rsonparelhas@hotmail.com<br />

Girleany Kelly Macedo <strong>de</strong> MARIA (DGC/UFRN) - girleanekelly@hotmail.com<br />

(Orientador) Marco Túlio Mendonça DINIZ (DGC/UFRN) - tuliogeografia@gmail.com<br />

A erosão costeira é um sério problema ambiental que afeta cida<strong>de</strong>s litorâneas. Este, sem dúvida, é<br />

um dos maiores problemas enfrentados pelos gestores na atualida<strong>de</strong> em diversas cida<strong>de</strong>s costeiras<br />

mundo afora. Na perspectiva <strong>de</strong> obter informações sobre a percepção ambiental da população<br />

autóctone do Município <strong>de</strong> Caiçara do Norte/RN a cerca da erosão costeira, foi utilizado como<br />

metodologia à aplicação <strong>de</strong> questionários semi-estruturados. Fazendo uso dos métodos, indutivo e<br />

Análise do Discurso do Sujeito Coletivo, a análise dos dados obtidos se <strong>de</strong>u <strong>de</strong> forma quantitativa e<br />

qualitativa. Além disso, foi realizada como suporte teórico metodológico a leitura bibliográfica para<br />

a compreensão do processo erosivo no referido município bem como a abordagem dos conceitos <strong>de</strong><br />

percepção ambiental. Os resultados mostram que os moradores percebem a erosão costeira como<br />

problema, porém quando questionados se eles seriam capazes <strong>de</strong> mudar para um lugar mais seguro<br />

e distante da praia as respostas se dividiram, mostrando a dúvida entre a população quanto a este<br />

fato. Os métodos utilizados na pesquisa se mostraram importantes para a compreensão da percepção<br />

ambiental da população, nos <strong>de</strong>ixando a conclusão que, trabalhos que visem a Educação Ambiental,<br />

são armas <strong>de</strong> suma importância para o planejamento e auxílio na tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão quando o<br />

assunto é a Gestão Integrada <strong>de</strong> Zo<strong>nas</strong> Costeiras.<br />

Palavras-chave: Discurso do Sujeito Coletivo, Educação ambiental, Gestão Integrada <strong>de</strong> Zo<strong>nas</strong><br />

Costeiras.<br />

Abstract<br />

The coastal erosion is a serious environmental matter that affects coastal cities. This, undoubtedly,<br />

is one of the biggest problems faced by managers today in many coastal cities around the world. In<br />

the perspective of obtaining information about the environmental perception of the autochthonous<br />

population of the municipal district of Caiçara do Norte/RN about of coastal erosion, was used as a<br />

methodology the application of semi-structured questionnaires. Making use of the methods,<br />

27 Agra<strong>de</strong>cimentos ao Centro <strong>de</strong> Ensino Superior do Sérido pelo financiamento da pesquisa<br />

197


inductive and Collective Subject Discourse, the data analysis occurred both quantitatively and<br />

qualitatively. Besi<strong>de</strong>s, was performed with theoretical support methodological reading literature for<br />

un<strong>de</strong>rstanding the erosion process in the municipality as well as the approach of the concepts of<br />

environmental perception. The results show that resi<strong>de</strong>nts perceive as coastal erosion problem,<br />

however when asked if they would be able to move to a safer place away from the beach and the<br />

responses were divi<strong>de</strong>d, showing doubt among the population as to this fact.The methods used in<br />

the research were important for un<strong>de</strong>rstanding the environmental perception of the population,<br />

leaving us to conclu<strong>de</strong> that, studies aimed at Environmental education, weapons are of great<br />

importance for planning and aid in <strong>de</strong>cision making when it comes to Integrated Coastal Zone<br />

Management.<br />

Keywords: Collective Subject Discourse, Environmental education, Integrated Coastal Zone<br />

Management<br />

INTRODUÇÃO<br />

Há alguns anos as modificações sofridas na paisagem e uma série <strong>de</strong> catástrofes naturais fez<br />

com que se chamasse atenção da socieda<strong>de</strong> para a problemática ambiental, o que tem gerado<br />

polêmicas e especulações. Mesmo não sendo unanimida<strong>de</strong> no meio científico o Aquecimento<br />

Global, já é um assunto presente no livro didático <strong>de</strong> jovens e crianças, o que po<strong>de</strong> vir a ―criar‖<br />

conceitos, ou melhor, pré-conceitos, que são atribuídos à realida<strong>de</strong> sem ao menos atentar para os<br />

verda<strong>de</strong>iros problemas. Visto isso, não po<strong>de</strong>m passar <strong>de</strong>spercebidos os problemas <strong>de</strong>correntes da<br />

erosão costeira, que por muitas vezes são tratados como consequência do aquecimento global, fato<br />

que ―intimida‖ populações, e exige habilida<strong>de</strong> dos gestores quanto ao planejamento <strong>de</strong>ssas áreas.<br />

Apesar dos vários discursos sobre a proteção dos ambientes costeiros ―os constantes<br />

problemas resultantes <strong>de</strong> interferência, direta e indireta, no balanço <strong>de</strong> sedimentos costeiros e do<br />

avanço da urbanização sobre áreas que <strong>de</strong>veriam ser preservadas mostram que ainda é longo o<br />

caminho entre intenção e realização‖ (MUEHE, 2007, p. 253). Segundo Rocha e Diniz (2011) os<br />

problemas <strong>de</strong> erosão são cada vez mais frequentes <strong>nas</strong> orlas <strong>de</strong> urbanização consolidadas, por se<br />

tratarem <strong>de</strong> ambientes que possuem uma dinâmica intensa, são vulneráveis, e, portanto, as menores<br />

alterações po<strong>de</strong>m ter gran<strong>de</strong>s consequências, intensificando processos e <strong>de</strong>senvolvendo sérios<br />

problemas. De acordo com Tessler e Goya (2005, P. 19). ―as intervenções mais frequentes<br />

encontradas no litoral brasileiro estão relacionadas ao uso e ocupação do solo ou, mais diretamente,<br />

à construção <strong>de</strong> infra-estrutura urbana, como ruas, calçadas e mesmo residências em regiões ainda<br />

sob ação do mar em períodos <strong>de</strong> tempesta<strong>de</strong>s‖. Tais fatos são refletidos em nosso ambiente <strong>de</strong><br />

198


estudo, a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Caiçara do Norte foi edificada na praia, se colocando assim, a mercê das<br />

intempéries advindas da vulnerabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse local.<br />

Localizada no litoral Setentrional do Estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte a área <strong>de</strong> estudo está<br />

situada na Mesorregião Central Potiguar e faz parte da zona <strong>de</strong> influencia da Microrregião Macau,<br />

se tratando mais especificamente do Município <strong>de</strong> Caiçara do Norte (Figura 01).<br />

Fig. 01: Croqui <strong>de</strong> localização<br />

Fonte: Acervo dos autores<br />

Segundo dados do Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística (IBGE) a população do<br />

Município <strong>de</strong> Caiçara do Norte em 2010, com base no censo <strong>de</strong>mográfico realizado neste mesmo<br />

ano, era <strong>de</strong> 6.016, ocupando uma área <strong>de</strong> 189,548 Km², apresentando uma <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong>mográfica<br />

<strong>de</strong> 31,74 hab/km² (IBGE, online). Este município historicamente vem sofrendo por uma série <strong>de</strong><br />

problemas naturais, ora resultantes do avanço das águas oceânicas que acabam por <strong>de</strong>struir casas e<br />

ruas completas, ora pelo soterramento <strong>de</strong> casas pelas du<strong>nas</strong>, comprovando assim o que<br />

anteriormente foi afirmado a respeito da instabilida<strong>de</strong> pela qual este ambiente passa. Ao se referir a<br />

Caiçara do Norte em um período próximo <strong>de</strong> 1915, Cascudo (1984, p. 354) diz: ―o núcleo da<br />

população estava na praia atlântica, Caiçara, a velha, soterrada pelos morros‖, indicando que o<br />

povoado <strong>de</strong> Caiçara do Norte, havia sido soterrado pelas du<strong>nas</strong> já nesse período. Ao pesquisarmos<br />

sobre o histórico do Município <strong>de</strong> Caiçara do Norte, no site do IBGE, temos a confirmação daquilo<br />

que Cascudo (1984) afirmara, ―Caiçara teve sua vida normal e em <strong>de</strong>senvolvimento até o ano <strong>de</strong> 1912,<br />

quando sofreu a invasão das areias das du<strong>nas</strong>, ficando praticamente soterrada‖ (IBGE online).<br />

Noel (2007) em um artigo intitulado, ―Ameaça marítima: Aquecimento Global acelera<br />

erosão na costa brasileira‖, cita o caso da erosão costeira em Caiçara do Norte.<br />

o adiantado processo <strong>de</strong> erosão na orla do município potiguar <strong>de</strong> Caiçara do Norte<br />

ilustra como o homem acaba ajudando a modificar o litoral. Nos últimos 50 anos, a<br />

cida<strong>de</strong> teve três ruas tragadas pelas águas, que avançaram 300 metros sobre a terra –<br />

uma média <strong>de</strong> seis metros por ano. A situação tornou-se crítica em 1997, quando a<br />

prefeitura <strong>de</strong>cretou estado <strong>de</strong> calamida<strong>de</strong> pública e obteve recursos fe<strong>de</strong>rais para a<br />

199


construção <strong>de</strong> oito estruturas <strong>de</strong> concreto armado (espigões) perpendiculares à praia.<br />

A obra não produziu o efeito esperado, e a erosão seguiu em frente. Com 6 mil<br />

moradores, a 149 quilômetros <strong>de</strong> Natal, Caiçara do Norte continua per<strong>de</strong>ndo terreno<br />

para o oceano (NOEL, 2007).<br />

Mas, nos cabe perguntar como a população percebe essa erosão. Conforme pu<strong>de</strong>mos<br />

observar na citação <strong>de</strong> Noel (2007) ele intitula seu artigo como, ―Aquecimento global acelera a<br />

erosão na costa brasileira‖, será mesmo o aquecimento global o responsável pela erosão em Caiçara<br />

do Norte? Será que é <strong>de</strong>ssa forma que a população autóctone encara o problema da erosão costeira?<br />

Ou talvez elas percebam que esta é uma área vulnerável aos efeitos erosivos? Essas e outras tantas<br />

perguntas po<strong>de</strong>m passar por nossa cabeça ao analisarmos o caso <strong>de</strong> Caiçara do Norte. Assim, é<br />

preciso conhecer para po<strong>de</strong>r agir, e é nessa perspectiva que surge a percepção ambiental, como uma<br />

forma <strong>de</strong> analisar a maneira com a qual a população autóctone enxerga a vulnerabilida<strong>de</strong> costeira e<br />

as ações do po<strong>de</strong>r público para sanar eventuais ―problemas‖. Seguindo essa i<strong>de</strong>ologia, este trabalho<br />

se objetiva em analisar a percepção ambiental da população autóctone do Município <strong>de</strong> Caiçara do<br />

Norte/RN a cerca da erosão costeira, visando diagnosticar medidas que auxiliem na tomada <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>cisão e implantação <strong>de</strong> políticas efetivas <strong>de</strong> educação ambiental, caso necessário. É através dos<br />

estudos sobre a percepção ambiental que será possível i<strong>de</strong>ntificar formas em que ―a educação<br />

ambiental po<strong>de</strong>rá sensibilizar, conscientizar e trabalhar conjuntamente as dificulda<strong>de</strong>s ou dúvidas<br />

que os sujeitos-atores possam vir a ter quando discutidas e apresentadas às questões ambientais‖<br />

(OLIVEIRA & CORONA, 2008, P. 65). Pois, ―a relação harmônica do homem com a natureza<br />

exige mudanças comportamentais e tomadas <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s para manutenção do meio ambiente mais<br />

equilibrado‖ (SEABRA, 2009, p. 15).<br />

MATERIAIS E MÉTODOS<br />

Na perspectiva <strong>de</strong> obter informações a cerca da percepção ambiental da população, foi<br />

utilizado como metodologia à aplicação <strong>de</strong> questionários semi-estruturados, fazendo uso dos<br />

métodos indutivo e o Discurso do Sujeito Coletivo. Os dados foram coletados e tratados em<br />

gabinete no software Excel 2007, na confecção <strong>de</strong> gráficos, para melhor obter clareza na<br />

apresentação dos resultados, a análise dos dados obtidos se <strong>de</strong>u <strong>de</strong> forma quantitativa e qualitativa.<br />

Além disso, foram realizadas, como suporte teórico metodológico, leituras bibliográficas para a<br />

compreensão do processo erosivo no município <strong>de</strong> Caiçara do Norte-RN bem como a abordagem<br />

dos conceitos <strong>de</strong> percepção ambiental. A Análise do Discurso do Sujeito Coletivo (ADSC) se<br />

mostrou arma <strong>de</strong> suma importância, para o esclarecimento <strong>de</strong> uma questão, na qual os dados se<br />

200


apresentaram sumariamente concisos e pouco explicativos. De acordo com Diniz et al (2011, p. 02 -<br />

03)<br />

PERCEPÇÃO AMBIENTAL<br />

o Discurso do sujeito coletivo constitui-se uma técnica <strong>de</strong> redigir um único discurso,<br />

em primeira pessoa do singular, com informações obtidas <strong>de</strong> diversos <strong>de</strong>poimentos<br />

coletados em pesquisas empíricas <strong>de</strong> opinião por meio <strong>de</strong> questões abertas. O efeito<br />

do produto final é o <strong>de</strong> proporcionar ao receptor uma opinião coletiva.<br />

Os estudos <strong>de</strong> percepção ambiental, ―vêm cada vez mais adquirindo uma importância<br />

fundamental no sentido <strong>de</strong> possibilitar e melhorar a compreensão das inter-relações entre o homem<br />

e o meio ambiente‖ (COSTA, 2011, p. 156 - 157). Segundo Amorim Filho (1987) apud Costa<br />

(2011, p. 156), ―a percepção, como nova abordagem <strong>de</strong>ntro da ciência geográfica, veio a se<br />

consolidar na segunda meta<strong>de</strong> do século XX, embora, ao longo dos tempos, já venha sendo<br />

estudada direta ou indiretamente por muitos pesquisadores‖.<br />

Foi a partir da década <strong>de</strong> setenta que passaram a se multiplicar os encontros nacionais e<br />

internacionais sobre a percepção ambiental como citam Oliveira e Machado (2011, p. 135)<br />

o precursor po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado o Expert Panel on Project 13: Perception of<br />

Environment Quality, organizado como parte integrante do Programme on Man and<br />

the Biosphere (MAB), em Paris, em março <strong>de</strong> 1973, coor<strong>de</strong>nado por Ian Burton.<br />

Essa publicação tornou-se um verda<strong>de</strong>iro va<strong>de</strong> mecum para aqueles que se iniciavam<br />

nesse novo campo interdisciplinar que se abria para os geógrafos, arquitetos,<br />

biólogos, urbanistas, educadores, psicólogos, sanitaristas, engenheiros e muitos<br />

outros mais.<br />

Oliveira e Machado (2011, p. 136) enfatizam que ―um marco, no Brasil, foi a publicação do<br />

livro Percepção Ambiental: a Experiência Brasileira, organizado por Vicente Del Rio e Lívia <strong>de</strong><br />

Oliveira‖.<br />

Este ramo da ciência vem exigindo da socieda<strong>de</strong> reflexões mais profundas e um<br />

equacionamento teórico, prático e fatual sobre as questões ligadas ao meio ambiente (OLIVEIRA &<br />

MACHADO, 2011). Cada indivíduo percebe, reage e respon<strong>de</strong> diferentemente às ações sobre o<br />

ambiente em que vive. Costa (2011, p. 157) afirma que a inteligência do homem faz com que ele<br />

interligue ―o meio ambiente à percepção que o indivíduo tem do mesmo, pois a primeira questão<br />

que se coloca é <strong>de</strong> como o homem sente e percebe o mundo que o ro<strong>de</strong>ia‖.<br />

201


É preciso se compreen<strong>de</strong>r que ―não há soluções distintas para as relações socieda<strong>de</strong>/natureza<br />

e para as relações entre os homens, pois estes dois problemas se constituem num só‖<br />

(BERNARDES & FERREIRA, 2009, p 40). Então não se po<strong>de</strong> mais encarar a Terra como<br />

dissociada da civilização humana; somos parte do todo, e olhar para o ambiente significa, em última<br />

análise, olhar para nós mesmos. E <strong>de</strong>ssa forma, po<strong>de</strong>-se dizer que ―o processo <strong>de</strong> formulação <strong>de</strong><br />

políticas públicas, num <strong>de</strong>terminado contexto social e histórico, é gran<strong>de</strong>mente influenciado pela<br />

percepção que os indivíduos têm da realida<strong>de</strong>‖. (CUNHA & COELHO, 2009,). Pois é a partir <strong>de</strong><br />

estudos sobre a percepção ambiental que se po<strong>de</strong> evi<strong>de</strong>nciar como as características do meio<br />

geográfico ―po<strong>de</strong>m influenciar os indivíduos em conjunto com suas emoções e sentidos, fornecendo<br />

assim, elementos para mensurar e avaliar situações, e a partir daí, direcionar suas ativida<strong>de</strong>s e seu<br />

modo <strong>de</strong> vida‖ (COSTA, 2011, p. 157).<br />

A EROSÃO EM CAIÇARA DO NORTE<br />

A área em estudo está inserida no que Muehe (1998) <strong>de</strong>nomina <strong>de</strong> Costa Semiárida Sul, em<br />

uma linha <strong>de</strong> costa submetida à ação contínua dos ventos alísios, que sopram, segundo Ramos et al<br />

(2009), predominantemente <strong>de</strong> direção E e SE. Dentre os agentes climáticos o vento tem se<br />

<strong>de</strong>stacado como um dos principais componentes a interferir na dinâmica costeira nos Municípios <strong>de</strong><br />

São Bento do Norte - RN e Caiçara do Norte - RN, pois, ―o transporte litorâneo é orientado para<br />

oeste, em virtu<strong>de</strong> da direção dos ventos e das ondas‖ (MELO, 2006, p. 330). Dessa forma, o vento<br />

atua <strong>de</strong> duas formas importantes ora ―gerando o mecanismo da <strong>de</strong>riva litorânea, responsável pelo<br />

transporte das areias do litoral <strong>de</strong> leste para oeste‖ ora ―transportando as areias da face da praia para<br />

a formação <strong>de</strong> du<strong>nas</strong> costeiras‖ (Tabosa, 2006, p. 48). Algumas <strong>de</strong>stas du<strong>nas</strong> migram <strong>de</strong>vido à<br />

contínua intensida<strong>de</strong> dos ventos, no segundo semestre do ano impulsionando-as para o interior,<br />

avançando assim, sobre a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Bento do Norte, causando a falta <strong>de</strong> sedimentos na praia <strong>de</strong><br />

Caiçara, refletidos na forma <strong>de</strong> erosão (Tabosa, 2006).<br />

RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

Foram entrevistados 41 indivíduos no dia 12 <strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong> 2012 no Município <strong>de</strong> Caiçara<br />

do Norte - RN. Destes, 23 era do sexo masculino e 18 do sexo feminino. Apresentavam uma faixa<br />

etária entre 15 e 72 anos, faixa etária esta que representa 72% da população total do município<br />

(4.305 habitantes), <strong>de</strong>ssa forma, este trabalho realizou entrevistas com aproximadamente 1% da<br />

população total <strong>de</strong> Caiçara do Norte. A maioria dos entrevistados possui ida<strong>de</strong> entre 40 e 72 anos,<br />

estes correspon<strong>de</strong>m a 56% (23 dos entrevistados), e, resi<strong>de</strong>m no município a mais <strong>de</strong> 39 anos,<br />

202


portanto, supõe-se que tiveram oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> presenciar, muitas vezes, o avanço das águas<br />

oceânicas ao continente, e também ações realizadas para mitigar tais efeitos.<br />

Na pesquisa foram entrevistadas pessoas que apresentaram nível <strong>de</strong> instrução formal entre o<br />

ensino fundamental incompleto 59% (24 dos entrevistados), ensino médio incompleto 17% (7 dos<br />

entrevistados), ensino médio completo 12% (5 dos entrevistados) e superior 12% (5 dos<br />

entrevistados). Portanto, foi necessário a<strong>de</strong>quar as perguntas segundo o grau <strong>de</strong> instrução <strong>de</strong> cada<br />

indivíduo entrevistado, para assim obter uma maior compreensão do que se estava sendo<br />

perguntado, e, consequentemente, maior êxito no resultado da pesquisa. Dentre os entrevistados do<br />

sexo masculino (23 homens entrevistados), ape<strong>nas</strong> quatro concluíram o ensino médio, entre estes<br />

quatro, ape<strong>nas</strong> um possui ensino superior, os <strong>de</strong>mais (19 homens entrevistados) não concluíram o<br />

ensino médio, sendo que a maioria (16) sequer concluiu o ensino fundamental.<br />

A faixa etária dos entrevistados, citada anteriormente, foi agrupada em dois grupos<br />

generalizantes, um <strong>de</strong> entrevistados com ida<strong>de</strong> entre 15-39 anos (18 entrevistados) e outro <strong>de</strong><br />

entrevistados com ida<strong>de</strong> entre 40-72 anos (23 entrevistados). No entanto a análise consi<strong>de</strong>rando<br />

estes grupos só foi realizada <strong>nas</strong> questões que apresentaram respostas mais distantes da<br />

unanimida<strong>de</strong>, <strong>nas</strong> questões que apresentaram respostas mais próximas à unanimida<strong>de</strong> a análise foi<br />

feita em um só grupo. Os questionários aplicados eram compostos por perguntas fechadas <strong>de</strong><br />

múltipla escolha, havendo em ape<strong>nas</strong> uma <strong>de</strong>las, espaço para resposta aberta. As justificativas<br />

respondidas nesta pergunta serão analisadas aqui, fazendo uso do Discurso do Sujeito Coletivo.<br />

Quando questionados se eles consi<strong>de</strong>ravam a erosão costeira um problema, 36 dos<br />

entrevistados respon<strong>de</strong>ram que ―Sim‖, três respon<strong>de</strong>ram que ―Não‖ e dois respon<strong>de</strong>ram ―Em parte‖<br />

conforme po<strong>de</strong>mos observar em porcentagem no gráfico 01.<br />

Gráfico 1: Porcentagem da percepção sobre a erosão costeira<br />

Fonte: Acervo dos autores<br />

203


Como se po<strong>de</strong> observar no gráfico acima, gran<strong>de</strong> parcela das pessoas entrevistadas consi<strong>de</strong>ra<br />

a erosão costeira um problema. Mas, cabe-nos aqui questionar, problema para quem? De acordo<br />

com Dominguez (1995) apud Tabosa (2006) a erosão costeira é um problema <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m antrópica,<br />

pois se o homem não vivesse em ambientes costeiros a erosão não seria problema algum.<br />

foi o seguinte:<br />

Quando questionados se conhecem algum projeto que vise à proteção da praia o resultado<br />

Respostas Sim Não<br />

Não sabe/não<br />

respon<strong>de</strong>u<br />

Total 33 7 1<br />

Porcentagem 81% 17% 2%<br />

Tabela 1: Respostas dos moradores <strong>de</strong> Caiçara do Norte quanto ao conhecimento <strong>de</strong> projetos que<br />

visem à proteção da praia.<br />

Conforme vimos na tabela 1 os moradores conhecem algum projeto realizado para a<br />

proteção da praia, segundo os mesmos entrevistados este projeto então mencionado foi<br />

<strong>de</strong>senvolvido pela Prefeitura Municipal <strong>de</strong> Caiçara do Norte-RN e se trata da construção <strong>de</strong><br />

espigões paralelos à linha <strong>de</strong> praia.<br />

Gráfico 2: Percepção sobre a existência do aquecimento global<br />

Fonte: Acervo dos Autores<br />

O gráfico 2 representa bem que os entrevistados acreditam na existência <strong>de</strong> um suposto<br />

aquecimento global, o que nos mostra o quanto esse assunto é propagado pelos meios <strong>de</strong><br />

comunicação (televisão, rádio, revistas, jornais), bem como escolas e pessoas no dia a dia. Mas será<br />

que a população relaciona tal aquecimento com o avanço da água do mar em Caiçara do Norte?<br />

Quando questionados sobre qual a causa da erosão costeira em Caiçara do Norte-RN, na opinião<br />

<strong>de</strong>les, 56% (23 dos entrevistados) respon<strong>de</strong>ram que seria <strong>de</strong>vido um fator natural, 35% (14 dos<br />

entrevistados) respon<strong>de</strong>ram que a erosão em Caiçara do Norte era <strong>de</strong>vido ao aquecimento global,<br />

204


2% (1 entrevistado) afirmou que supostamente seria <strong>de</strong>vido a construção <strong>de</strong> casas na praia, e 2% (1<br />

entrevistado) respon<strong>de</strong>u que seria <strong>de</strong>vido a construção dos espigões, e outras duas pessoas (5%)<br />

respon<strong>de</strong>ram que seria <strong>de</strong>vido a um outro fator, uma <strong>de</strong>las afirmou que a erosão em Caiçara do<br />

Norte não seria natural e a outra que seria <strong>de</strong>vido a ação dos homens. A tabela 2 nos permite<br />

analisar minuciosamente este caso (Tabela 02).<br />

Respostas Fator<br />

natural<br />

Entrevistados<br />

com ida<strong>de</strong> entre<br />

15 e 39 anos<br />

Aquecimento<br />

global<br />

Construção<br />

<strong>de</strong> casas na<br />

praia<br />

Construção<br />

dos espigões<br />

Outro<br />

5 10 1 1 1<br />

Entrevistados<br />

com ida<strong>de</strong> entre<br />

40 e 72 anos<br />

18 4 0 0 1<br />

Total 23 14 1 1 2<br />

Porcentagem 56% 35% 2% 2% 5%<br />

Tabela 2: Opinião, sobre qual a causa da erosão no Município <strong>de</strong> Caiçara do Norte<br />

Conforme observado na tabela 2, apesar da maioria total (56% dos entrevistados) ter<br />

respondido que a causa da erosão seja <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> um fator natural, po<strong>de</strong>mos notar que a maioria<br />

que respon<strong>de</strong>u ser um fator natural, pertence ao grupo dos entrevistados que possuem ida<strong>de</strong> entre 40<br />

e 72 anos (18 entrevistados), enquanto que, a maioria do grupo que possui ida<strong>de</strong> entre 15 e 39 anos,<br />

respon<strong>de</strong>u que a causa da erosão seria <strong>de</strong>vido ao aquecimento global. Ao que parece, os mais jovens<br />

se <strong>de</strong>ixam influenciar pelos meios <strong>de</strong> comunicação e pela educação formal on<strong>de</strong> tem sido propagado<br />

o aquecimento global fato dado, enquanto que, os mais velhos, por terem presenciado evento <strong>de</strong><br />

erosão costeira em Caiçara do Norte antes mesmo <strong>de</strong> se falar sobre um suposto aquecimento global,<br />

não acreditam, pois o problema já existia antes. Dessa forma, a experiência <strong>de</strong> vida dos<br />

entrevistados do grupo com ida<strong>de</strong> entre 40 e 72, os faz acreditar ser o problema da erosão em<br />

Caiçara do Norte, um problema <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m natural.<br />

Visto a instabilida<strong>de</strong> pela qual a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Caiçara do Norte passa, <strong>de</strong>vido à erosão costeira e<br />

o avanço das du<strong>nas</strong> sobre as casas, foi perguntado aos moradores, se caso tivessem a oportunida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> se mudar para um lugar mais seguro, afastado da praia, se eles iriam. Dentre os entrevistados 20<br />

(49%) respon<strong>de</strong>ram que sim, 20 (49%) respon<strong>de</strong>ram que não, e ape<strong>nas</strong> 1 (2%) respon<strong>de</strong>u que talvez<br />

se mudaria. Assim como no caso anterior, analisaremos as repostas pela faixa etária, no entanto,<br />

tivemos que analisar as repostas também <strong>de</strong> acordo com outro parâmetro, além do agrupamento por<br />

205


faixa etária, tivemos subdividir este grupo por gênero, para obter resultados mais acurados (Tabela<br />

03).<br />

Respostas Sim Não Talvez Não sabe/Não<br />

respon<strong>de</strong>u<br />

Homens com<br />

ida<strong>de</strong> entre 15 e<br />

39 anos<br />

5 5 0 0<br />

Mulheres com<br />

ida<strong>de</strong> entre 15 e<br />

39 anos<br />

4 4 0 0<br />

Entrevistados<br />

com ida<strong>de</strong> entre<br />

15 e 39 anos<br />

9 9 0 0<br />

Homens com<br />

ida<strong>de</strong> entre 40 e<br />

72 anos<br />

4 8 1 0<br />

Mulheres com<br />

ida<strong>de</strong> entre 40 e<br />

72 anos<br />

7 3 0 0<br />

Entrevistados<br />

com ida<strong>de</strong> entre<br />

40 e 72 anos<br />

11 11 1 0<br />

Total 20 20 1 0<br />

Porcentagem 49% 49% 2% 0<br />

Tabela 3: Respostas a cerca da opinião da população em relação a mudar para um lugar mais<br />

seguro afastado da praia.<br />

Po<strong>de</strong>mos observar que no grupo <strong>de</strong> entrevistados com ida<strong>de</strong> menor que 40 anos há um<br />

equilíbrio <strong>nas</strong> respostas entre homens e mulheres, no entanto, ao analisarmos as respostas dos<br />

entrevistados com ida<strong>de</strong> superior a 39 anos, po<strong>de</strong>mos notar que, embora o resultado geral <strong>de</strong>sse<br />

agrupamento tenha sido equilibrado, quando observamos as respostas dos homens e das mulheres<br />

notamos que a maioria dos homens com ida<strong>de</strong> superior a 39 anos não se mudariam da cida<strong>de</strong>, já a<br />

maioria das mulheres com ida<strong>de</strong> superior a 39 anos sim. Fato que nos supostamente nos faria<br />

acreditar que os moradores do sexo masculino com ida<strong>de</strong> superior a 39 anos, provavelmente por<br />

retirarem sua renda mensal através da ativida<strong>de</strong> pesqueira, se recusariam a mudar-se para um lugar<br />

mais distante da praia. Mas, para melhor compreen<strong>de</strong>rmos o motivo que motivaria os entrevistados<br />

a mudarem ou não, para um lugar mais seguro, foi perguntado aos moradores o ―porque‖ <strong>de</strong> sua<br />

resposta anterior. Apesar <strong>de</strong> muitos dos entrevistados não terem justificado o ―porque‖, as respostas<br />

obtidas foram analisadas fazendo o uso do método ADSC. Nos questionários aplicados se obteve 4<br />

justificativas para a resposta ―Sim‖, que foram agrupadas em duas categorias: temos que mudar e;<br />

mais seguro. Os ADSC‘s para essa pergunta são:<br />

206


(Temos que mudar) Temos que mudar mesmo, em breve a água do mar vai chegar às<br />

casas.<br />

(Mais seguro) É mais seguro mudarmos, aqui é um perigo para nós.<br />

Neste caso po<strong>de</strong>-se notar que parte dos entrevistados aparenta ter medo <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r suas casas<br />

<strong>de</strong>vido ao avanço do mar, embora este tenha sido parcialmente contido pela construção dos<br />

espigões. Os entrevistados afirmam que os espigões construídos não são suficientes para proteger a<br />

praia, provavelmente por essa razão optariam por morar em um lugar mais afastado da praia. Nas 6<br />

entrevistas que justificaram a resposta ―Não‖ foram agrupadas em 2 categorias: estou acostumado e;<br />

não há riscos. Para esta pergunta as ADSC‘s foram:<br />

(Estou acostumado) Eu sempre morei aqui, gosto da cida<strong>de</strong> e já estou acostumado<br />

com a situação.<br />

(Não há riscos) Esse problema não me afeta, porque on<strong>de</strong> eu moro o mar vai<br />

<strong>de</strong>morar a chegar. Além disso, agora tem os espigões, não há mais risco.<br />

As ADSC‘s acima nos mostra que parte da população já se distanciou um pouco da praia,<br />

fato que po<strong>de</strong> indicar uma característica <strong>de</strong> crescimento da cida<strong>de</strong> para lugares supostamente<br />

seguros, mas também nos mostra que parte da população já se acostumou com o problema. Além<br />

<strong>de</strong>ssas respostas, uma pessoa ainda respon<strong>de</strong>u que ―Talvez‖ mudaria para um lugar mais seguro,<br />

nesse caso, transcrevemos a resposta literalmente. O entrevistado respon<strong>de</strong>u que talvez se mudasse,<br />

mas ―só se houvesse um perigo muito gran<strong>de</strong>‖.<br />

Quando perguntados sobre qual ativida<strong>de</strong> econômica era a mais importante no município <strong>de</strong><br />

Caiçara do Norte-RN, 98% (40 dos entrevistados) respon<strong>de</strong>ram ser a pesca a ativida<strong>de</strong> econômica<br />

mais importante para a economia do município. Isto po<strong>de</strong> se configurar em mais um motivo para<br />

que a população tenha dúvidas quanto a mudar-se da praia, pois ir para um lugar mais seguro seria,<br />

consequentemente, afastar-se do seu ―ganha pão‖.<br />

Na última pergunta, baseado em Diniz et al (2011), os moradores foram questionados se eles<br />

acreditavam que, caso houvesse assembleias públicas para discutir e encontrar soluções a situação<br />

melhoraria, o resultado foi o seguinte:<br />

Respostas Sim Não Em parte<br />

Total 30 9 2<br />

Porcentagem 73% 22% 5%<br />

Tabela 4: Respostas dos entrevistados quanto a realização <strong>de</strong> audiências públicas.<br />

207


De acordo com o resultado acima representado, 73% (30 entrevistados) respon<strong>de</strong>ram ―Sim‖<br />

22% (9 entrevistados) respon<strong>de</strong>ram ―Não‖ e 5% (2 entrevistados) respon<strong>de</strong>ram ―Em parte‖. Diante<br />

disso, conclui-se que é <strong>de</strong> interesse da maioria dos entrevistados a participação da população em<br />

políticas públicas, para que, juntamente com os gestores se elaborem estratégias e projetos para a<br />

mitigação dos impactos socioambientais em Caiçara do Norte.<br />

CONCLUSÕES<br />

Os métodos utilizados na pesquisa se mostraram importantes para a compreensão da<br />

percepção ambiental dos moradores da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Caiçara do Norte-RN, principalmente sobre a<br />

visão <strong>de</strong>les a cerca da causa da erosão e a opinião sobre mudar-se para um lugar mais seguro.<br />

Pu<strong>de</strong>mos observar que os moradores conhecem e convivem com o problema da erosão costeira;<br />

reconhecem que tal fato seja <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> um fator natural, porém a maioria dos entrevistados com<br />

ida<strong>de</strong> entre 15 e 39 anos afirmou acreditar que o motivo da intensificação do processo <strong>de</strong> erosão em<br />

Caiçara do Norte seja <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> um aquecimento global, fato que mostra a influência que a<br />

população mais jovem tem em relação aos meios <strong>de</strong> comunicação que propagam tal tipo <strong>de</strong><br />

informação. Tais dados nos mostram também que, <strong>de</strong>vido às suas experiências vida, a maioria dos<br />

entrevistados do grupo com ida<strong>de</strong> entre 40 e 72 anos, afirma ser o problema da erosão costeira em<br />

Caiçara do Norte, <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> um fator natural, pois há muitos anos eles presenciam esse<br />

problema e não ape<strong>nas</strong> agora, com os <strong>de</strong>bates sobre o aquecimento global.<br />

Portanto, po<strong>de</strong>mos concluir que através dos estudos sobre percepção ambiental foi possível<br />

i<strong>de</strong>ntificar que a implantação <strong>de</strong> projetos pautados na Educação Ambiental, será <strong>de</strong> extrema<br />

importância para uma possível reor<strong>de</strong>nação territorial. A população reconhece e convive com o<br />

problema, porém necessita <strong>de</strong> se ―sentir útil‖ e participar na Gestão Integrada da Zona Costeira,<br />

para em conjunto com os gestores em audiências públicas, articular talvez, medidas preventivas,<br />

<strong>de</strong>limitar zo<strong>nas</strong> <strong>de</strong> não edificação, realocar as pessoas que se encontram em situação <strong>de</strong> risco,<br />

enfim, fazer com que a comunida<strong>de</strong> não ape<strong>nas</strong> perceba o problema, mas interaja com ele e busque<br />

suas próprias soluções.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

BERNARDES, J. A.; FERREIRA, F. P. M. Socieda<strong>de</strong> e natureza. In: CUNHA, S. B.; GUERRA,<br />

A. J. T. (Orgs). A questão ambiental: diferentes abordagens. 5 ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Bertrand Brasil,<br />

2009.<br />

CASCUDO, L. C. A história do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte. 2 ed, Natal: Achiamé, 1984, p. 349 – 357.<br />

208


COSTA, N. B. R. Impactos sócio-ambientais do turismo em áreas litorâneas: um estudo <strong>de</strong><br />

percepção ambiental nos balneários <strong>de</strong> Praia <strong>de</strong> Leste, Santa Teresinha e Ipanema – Paraná. <strong>Vol</strong>. 06,<br />

n. 02. Curitiba: Revista Geografar, 2011, p. 155 – 181.<br />

CUNHA, L. H.; COELHO, M. C. N. Política e gestão ambiental. In: CUNHA, S. B.; GUERRA, A.<br />

J. T. (Orgs). A questão ambiental: diferentes abordagens. 5 ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Bertrand Brasil,<br />

2009.<br />

DINIZ, M. T. M.; VASCONCELOS, F. P.; MAIA VASCONCELOS, S. M.; ROCHA, G. C.<br />

Utilização <strong>de</strong> entrevistas semi-estruturadas na gestão integrada <strong>de</strong> zo<strong>nas</strong> costeiras: o discurso do<br />

sujeito coletivo como técnica auxiliar.vol. 07, n. 01. Scientia Plena, 2011.<br />

IBGE. Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística. Cida<strong>de</strong>s@: Caiçara do Norte. Disponível em:<br />

http://www.ibge.gov.br/cida<strong>de</strong>sat/topwindow.htm?1. Página visitada em: 16 <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 2012.<br />

MELO, J. B. Ocupação urbana e impactos ambientais <strong>de</strong> empreendimentos construídos na zona<br />

costeira <strong>de</strong> Fortaleza-CE. In: SILVA, J. B.; DANTAS, E. W. C.; ZANELLA, M. E.; MEIRELES,<br />

A. J. A. (Orgs). Litoral e sertão: natureza e socieda<strong>de</strong> no nor<strong>de</strong>ste brasileiro. Fortaleza: Expressão<br />

Gráfica, 2006.<br />

MUEHE, D. Geomorfologia costeira. In: GUERRA, A. J. T.; CUNHA, S. B. Geomorfologia: uma<br />

atualização <strong>de</strong> bases e conceitos. 7 ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Bertrand Brasil, 2007, p. 253 – 308.<br />

MUEHE, D. O litoral brasileiro e sua compartimentação. In: CUNHA, S. B.; GUERRA. A. J. T<br />

(Orgs). Geomorfologia do Brasil. Rio <strong>de</strong> Janeiro – RJ: Bertrand Brasil, 1998, p. 273 – 350.<br />

NOEL, F. L. Ameaça marítima: Aquecimento global acelera erosão na costa brasileira. nº 384:<br />

Problemas Brasileiros, 2007. Disponível em:<br />

http://www.sescsp.org.br/sesc/revistas_sesc/pb/artigo.cfm?Edicao_Id=292&Artigo_ID=4584&IDC<br />

ategoria=5221&reftype=1. Página visitada em: 16 <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 2012.<br />

OLIVEIRA, L.; MACHADO, L. M. C. P. Percepção, cognição, dimensão ambiental e<br />

<strong>de</strong>senvolvimento com sustentabilida<strong>de</strong>. In: VITTE, A. C.; GUERRA, A. J. T (Orgs). Reflexões<br />

sobre a geografia física no Brasil. 5 ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.<br />

OLIVEIRA, K. A.; CORONA, H. M. P. A percepção ambiental como ferramenta <strong>de</strong> propostas<br />

educativas e <strong>de</strong> políticas ambientais. Ano 01, nº 01: Anap Brasil, 2008.<br />

RAMOS, A. M.; SANTOS, L. A. R.; FORTES, L. T. G. (orgs). Normais climatológicas do Brasil.<br />

Brasília: INMET, 2009.<br />

209


ROCHA, G. D.; DINIZ, M. T. M. Implicações da Erosão Costeira em Ativida<strong>de</strong>s Econômicas na<br />

Praia da Caponga – Cascavel – Ceará. <strong>Vol</strong> 7: Scientia Plena, 2011.<br />

SEABRA, G. Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> consumo e risco. In: ___________ (Org.) Educação ambiental. João<br />

Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2009, p. 11-24.<br />

TABOSA, W. F. Monitoramento costeiro das praias <strong>de</strong> São Bento do Norte e Caiçara do Norte-<br />

RN: implicações para o polo petrolífero <strong>de</strong> Guamaré. 2006. 147 f. Dissertação (Mestrado em<br />

Geodinâmica e Geofísica) Centro <strong>de</strong> Ciências Exatas e da Terra, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio<br />

Gran<strong>de</strong> do Norte, Natal, 2006.<br />

TESSLER, M. G.; GOYA, S. C. Processos costeiros condicionantes do litoral brasileiro. <strong>Vol</strong> 17:<br />

Revista do Departamento <strong>de</strong> Geografia, 2005.<br />

210


JOÃO PESSOA: QUALIDADE VIDA RECONSTRUÍDA COM A MATA DO BURAQUINHO<br />

Resumo<br />

Erika Pereira <strong>de</strong> CARVALHO (IFPB) - erikaa_<strong>de</strong>carvalho@hotmail.com - graduação<br />

Dr. Boaz Antonio <strong>de</strong> Vasconcelos LOPES – lopes40@bol.com.br - profissional<br />

O artigo faz uma análise crítica da visão turística recorrente, mediante uma exposição da evolução<br />

histórica da Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa no contexto <strong>de</strong> conservação da Mata do Buraquinho. Esta cida<strong>de</strong>,<br />

quase sempre, <strong>de</strong>ixa aos visitantes <strong>de</strong> passagem algumas das impressões mais emblemáticas,<br />

principalmente, a respeito da boa qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida urbana que ela proporciona, por ser bastante<br />

arborizada e <strong>de</strong> curtas distancias. Mediante uma abordagem com viés <strong>de</strong> <strong>de</strong>sbravamento histórico,<br />

são enumeradas as várias possíveis razões concretas e imaginárias que fazem da Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João<br />

Pessoa um espaço urbano <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<br />

Palavras-chave: <strong>Qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> vida urbana; João Pessoa Cida<strong>de</strong> Ver<strong>de</strong>; Mata do Buraquinho; Mata<br />

Atlântica.<br />

Abstract<br />

The article makes a critical analysis of the vision tourist applicant, by an exposition of the historical<br />

evolution of the city of João Pessoa in the context of conservation of the Forest of the Mata do<br />

Buraquinho. This city almost always leaves visitors crossing some of the most iconic prints, mainly<br />

about the quality of urban life it offers, to be quite woo<strong>de</strong>d and short distances. Through an<br />

approach of biased clearing history, listing the many possible reasons that are real and imaginary of<br />

the city of João Pessoa a good quality of urban life.<br />

Keywords: Quality of urban life; João Pessoa City Green, Mata do Buraquinho; Atlantic forest.<br />

INTRODUÇÃO<br />

Temos uma imagem a ser vendida a respeito da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa: ela é uma das<br />

cida<strong>de</strong>s mais ver<strong>de</strong>s do Brasil e, também, a "Porta do Sol", uma vez que nela está localizada a<br />

Ponta do Seixas: o ponto mais oriental das Américas, o que faz a cida<strong>de</strong> ser conhecida como o lugar<br />

"on<strong>de</strong> o sol <strong>nas</strong>ce primeiro <strong>nas</strong> Américas".<br />

Para quem conhece bem o que é viver em uma cida<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>, a imagem que se tem a<br />

respeito da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida é que não se assemelha à vida no interior. No entanto, mesmo para<br />

aqueles que passam pouco tempo em João Pessoa, logo <strong>de</strong>scobre que, em geral, ela foge aos<br />

211


padrões <strong>de</strong> urbanida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cida<strong>de</strong> como São Paulo, Rio <strong>de</strong> Janeiro ou mesmo Recife, esta a poucas<br />

horas <strong>de</strong> distância. Mas, será que ao estarmos na Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa, permanecemos, também,<br />

no interior <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> centro?<br />

Uma das linhas possíveis para respon<strong>de</strong>rmos ou compreen<strong>de</strong>rmos o fenômeno da qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> vida da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa é nos <strong>de</strong>bruçarmos sobre três fundamentos que bem caracterizam<br />

as condições <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> centro urbano:<br />

O econômico: a evolução econômica <strong>de</strong> João Pessoa, por exemplo, não foi<br />

equivalente à Recife;<br />

O ambiental: por alguma razão histórica, João Pessoa conseguiu conservar parte <strong>de</strong><br />

sua Mata Atlântica;<br />

O social: os arranjos socioeconômicos <strong>de</strong> João Pessoa não alcançaram à pujança e<br />

complexida<strong>de</strong> <strong>de</strong> capitais mais próximas, como Recife, Salvador ou mesmo Natal;<br />

aliviando-a das possíveis pressões sociais ao seu legado patrimonial.<br />

Um bom conhecedor da História <strong>de</strong> vida da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa sabe que muito do que ela<br />

proporciona aos menos avisados foi fruto das opções administrativas que seus governantes foram<br />

fazendo ao longo <strong>de</strong> seu processo <strong>de</strong> urbanização.<br />

O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO DE JOÃO PESSOA<br />

Em 1856 a área atual da Mata Atlântica (conhecida popularmente como a Mata do<br />

Buraquinho), on<strong>de</strong> está inserido o Jardim Botânico <strong>de</strong> João Pessoa, era conhecida como Sítio<br />

Jaguaricumbe. Este aparece, a primeira vez, no registro <strong>de</strong> terras possuídas, com os limites que iam<br />

do litoral até o atual centro da cida<strong>de</strong>, chegando aos arredores da antiga Lagoa, on<strong>de</strong> fica hoje o<br />

Parque Solon <strong>de</strong> Lucena (SEMARH, 2001).<br />

O Sítio Jaguaricumbe, que confina <strong>de</strong> norte a sul pelas duas estradas dos macacos e<br />

Jaguaribe, pelo <strong>nas</strong>cente com o Rio Jaguaribe, e pelo poente com a rua do collegio<br />

Principiano na antiga arrobação, on<strong>de</strong> houve um marco perto do lugar da forca,<br />

d‘ahi para o norte até com outro marco <strong>de</strong>fronte da torre do collegio e dahi a lagoa<br />

[...] (MADRUGA, 2002, p. 6).<br />

O fragmento anterior diz respeito a um dos documentos, relativas às origens da Mata do<br />

Buraquinho, mais abrangentes que nos foram disponibilizados. Esse, contido <strong>de</strong> uma vertente<br />

historicista, faz um resgate dos primórdios <strong>de</strong>ssa reserva ambiental, começando <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o período<br />

212


colonial até hoje; além <strong>de</strong> citar trechos originais dos documentos da época. Sua linha <strong>de</strong> construção<br />

se centra na tese <strong>de</strong> que existe um equivoco histórico sobre o assunto:<br />

Há um conceito hoje, errôneo, porém genérico <strong>de</strong> que a Mata do Buraquinho nos<br />

limites entre a margem esquerda do Rio Jaguaribe e a rua D. Pedro II, é resultado<br />

do Sítio Jaguaribe <strong>de</strong> Baixo, o que na realida<strong>de</strong> não representa a exatidão <strong>de</strong>ssa<br />

interpretação, pois, para dirimir essas dúvidas, necessário se torna que recorramos<br />

ao renomado compilador <strong>de</strong> Sesmarias dos tempos coloniais [...] (MADRUGA,<br />

2002, p. 1).<br />

Pelas nossas leituras documentais foi possível visualizar uma linha evolutiva da Mata <strong>de</strong><br />

Buraquinho em que ficaram evi<strong>de</strong>ntes quatro acontecimentos marcantes ou marcos históricos que<br />

<strong>de</strong>ram vida à reserva atual: a fase colonial, o início do serviço <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água da cida<strong>de</strong>,<br />

o início da <strong>de</strong>vastação da mata e a formação político-estrutural do jardim botânico.<br />

Para Madruga (2002), da primeira fase (a colonial) <strong>de</strong>stacam-se os seguintes marcos<br />

históricos que compuseram o ambiente da Mata do Buraquinho da época: Rio Jaguaribe: este rio<br />

começava ao SO da capital, no lugar <strong>de</strong> Alagoa Gran<strong>de</strong>, tomava a direção NE e <strong>de</strong>spejava, após 12<br />

km, no mar da Praia do Bessa, formando a enseada do mesmo nome. Foi nessa região que<br />

<strong>de</strong>sembarcou o exército holandês em 4 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1634, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter <strong>de</strong>rrotado um pequeno<br />

contingente local, para sitiar o forte <strong>de</strong> Santa Catarina; perto havia a estrada do Jaguaribe, hoje<br />

conhecida como Rua Marechal Almeida Barreto.<br />

Estrada dos Macacos: localizava-se a 3 km da capital e era regada pelo Rio Jaguaribe. De<br />

seus mananciais foram edificados os primeiros poços <strong>de</strong> capitação e as primeiras usi<strong>nas</strong> para<br />

o abastecimento <strong>de</strong> água da capital. Dessa estrada surgiu a então Rua da Palmeira, a que<br />

conhecemos hoje como Avenida D. Pedro II.<br />

Capela <strong>de</strong> São Gonçalo: também era conhecida como Igreja da Conceição, assim como o<br />

colégio, e a residência dos jesuítas, era formada por um conjunto arquitetônico seiscentista,<br />

pois teve sua construção feita pelos jesuítas que vieram com Martim Leitão. Essa iniciada ao<br />

mesmo tempo em que começou a fundação da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa. A Igreja da Conceição<br />

foi <strong>de</strong>molida mais recentemente, no Governo <strong>de</strong> João Pessoa, sendo edificada no local uma<br />

capela com idêntico orago, na Rua São Miguel.<br />

213


Necessário se torna que se esclareça, já que o Cônego Florentino, faz referência ao<br />

liceu, que o mesmo foi fundado e ali instalado no dia 24 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1838, pela<br />

Assembléia Provincial da Paraíba, <strong>de</strong> acordo com a lei nº 11. O Liceu Paraibano<br />

funcionou inicialmente com as ca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> Latim, Francês, Retórica, Filosofia e<br />

Matemática (MADRUGA, 2002, p. 7).<br />

Rua do Collégio: atual rua Duque <strong>de</strong> Caxias, era dividida em três secções: primeiro a Rua<br />

Direita – trecho entre o Campo Cel. Luiz Inácio (atual Largo <strong>de</strong> São Francisco) até o Beco<br />

do Hospital (hoje Avenida Miguel Couto); segundo, Rua da Baixa – da Igreja da<br />

Misericórdia à esquina do Caminho das Cacimbas (atual Avenida Gue<strong>de</strong>s Pereira) e terceiro,<br />

a Rua São Gonçalo ou do Collégio.<br />

Casa da Pólvora: a cida<strong>de</strong> possuiu três casas das pólvoras e dos armamentos; <strong>de</strong>las, ape<strong>nas</strong><br />

uma subsiste – a da la<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> São Francisco, construída no alvorecer da era setecentista e<br />

que, ultimamente, foi reestruturada; a mais antiga ficava na Rua Nova (avenida General<br />

Osório); a outra ficava em um sítio que se chamava Passeio Geral, hoje Rodrigues Chaves<br />

(essa arruinada por completo).<br />

Alagoa: a antiga lagoa, hoje Parque Sólon <strong>de</strong> Lucena, a que os visitantes chamavam <strong>de</strong><br />

―Lagoa dos Irerês‖ em virtu<strong>de</strong> do gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> macacos que nadavam em suas águas,<br />

formava um aprazível logradouro, conhecido como Alagoa:<br />

Para ser mais fiel transcreveremos trechos <strong>de</strong> Sampaio on<strong>de</strong> melhor se faça<br />

interpretar o ambiente e os fatos que o Prefeito Gue<strong>de</strong>s Pereira transformou em<br />

<strong>de</strong>coração principal do Parque Sólon <strong>de</strong> Lucena, <strong>de</strong>u nome à Chácara que o<br />

comerciante português Vitorino Pereira Maia construiu ao lado oriental da velha<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Paraíba (MADRUGA, 2002, p. 11-12).<br />

Esses pontos principais são ape<strong>nas</strong> alguns dos <strong>de</strong>staques que i<strong>de</strong>ntificavam os arredores que<br />

formavam o que se apresenta hoje como a Mata do Buraquinho. Na época em que foi concedida a<br />

possessão das sesmarias, existia na área ape<strong>nas</strong> o Sítio Jaguaricumbe, como confirmado a seguir:<br />

O que nos encoraja a afirmar que o SITIO JAGUARICUMBE ou MATA DO<br />

BURAQUINHO, tinha os seus limites pelo poente, vis à vis ao atual Palácio da<br />

Re<strong>de</strong>nção. E parte <strong>de</strong> seus domínios atingia, também, boa parte dos arredores do<br />

Parque Sólon <strong>de</strong> Lucena, mais precisamente, on<strong>de</strong> atualmente se localiza o Cassino<br />

214


da Lagoa até confluir-se com a atual Avenida Dom Pedro II (MADRUGA, 2002, p.<br />

15-16).<br />

A cida<strong>de</strong> da Parahyba (antigo nome da capital paraibana) já apresentava alguns progressos,<br />

contava com ruas abertas e alargadas para dar passagem aos veículos e pessoal, luz instalada e o<br />

sistema <strong>de</strong> transporte público sob tração animal, já fora substituído pelos meios elétricos, no<br />

entanto, não existia ainda o sistema <strong>de</strong> água encanada e <strong>de</strong> saneamento básico.<br />

[...] na cida<strong>de</strong> ainda se mantinha os hábitos <strong>de</strong> tomar banho <strong>de</strong> rio e retirar das<br />

cacimbas a água para beber e preparar os alimentos. Adicionado a isso, era comum<br />

a água usada correr a céu aberto, <strong>de</strong>nunciando a igual necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> esgoto e<br />

saneamento (CHAGAS, 2004, p. 12).<br />

Em relação ao começo do serviço <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água da cida<strong>de</strong>, o então governador<br />

Valfredo Leal, nos anos <strong>de</strong> 1900, em face da terrível seca que assolou o Estado na época, mandou<br />

iniciar os estudos para canalização <strong>de</strong> água utilizando os mananciais adquiridos pela empresa<br />

inglesa aqui sediada, chamada Paraíba Water Company, que vinha, havia algum tempo,<br />

<strong>de</strong>senvolvendo projeto nesse sentido. Esse empreendimento envolveu a compra, por cinco contos <strong>de</strong><br />

reis a Antonio Furtado da Mota, do Sítio Jaguaricumbe (SEMARH, 2001).<br />

O empreendimento anterior atesta que <strong>de</strong> fato o Sítio Jaguaricumbe foi a atual Mata do<br />

Buraquinho, uma vez que o Sítio Jaguaribe <strong>de</strong> Baixo ficava anexo àquela proprieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>scrita da<br />

seguinte forma:<br />

O Sítio Jaguaricumbe, cujas águas do seu riacho são captadas para o atual<br />

abastecimento da capital, foi dado, em sesmaria, a Manuel Caetano Veloso e sua<br />

esposa Sofia da Franca Veloso, tendo pertencido <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 1856, a vários outros<br />

até que em 1907 o seu dono, nesse tempo Antonio Furtado da Mota, ven<strong>de</strong>u-o à<br />

Fazenda pública, por cinco contos <strong>de</strong> reis (MADRUGA, 2002, p. 15-16).<br />

O início da execução <strong>de</strong>sse projeto data <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1909, com recurso próprio do<br />

Estado, que passou a ser conhecido como os serviços <strong>de</strong> saneamento da Bacia do Jaguaricumbe,<br />

uma vez que, até então, a cida<strong>de</strong> era <strong>de</strong>sprovida, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua fundação, <strong>de</strong> serviço público <strong>de</strong> limpeza<br />

e escoamento das águas que se acumulavam nos arredores em quase estado <strong>de</strong> estagnação, o que<br />

representou a construção do primeiro poço <strong>de</strong> água da capital.<br />

215


A MATA QUE SE TORNOU URBANA<br />

No dia 21 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1912, sob responsabilida<strong>de</strong> dos engenheiros Victor<br />

Komenacker e Willian Game, entravam em funcionamento as duas cal<strong>de</strong>iras a<br />

vapor, que vinham da área conhecida como Mangabeira, que acionam as duas<br />

bombas Worthingon (LEMOS, 2005, p. 5).<br />

Na altura dos anos 90, o que existia <strong>de</strong> Mata Atlântica já tinha sido reduzido a 50% <strong>de</strong> sua<br />

extensão. Essa sistemática redução da área <strong>de</strong> mata fez gerar, já na época, a percepção da<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se pensar em conservá-la, uma vez que já se viam algumas preocupações com os<br />

limites para on<strong>de</strong> a cida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>ria se expandir, como visto a seguir:<br />

No oficio <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1923 ao Exmo Sr. Dr. Solon <strong>de</strong> Lucena, refiro-me<br />

a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> prontas e <strong>de</strong>cisivas providências para que não prosseguisse a<br />

extensão da cida<strong>de</strong> para a vertente do Jaguaribe, invadindo-se a zona <strong>de</strong> proteção<br />

das águas subterrâneas (MADRUGA, 2002, p. 20).<br />

Com o processo <strong>de</strong> expansão da cida<strong>de</strong>, no entanto, a Mata do Buraquinho foi sendo<br />

ocupada por invasões e projetos <strong>de</strong> urbanização, ampliando-se a fase <strong>de</strong> <strong>de</strong>vastação da reserva.<br />

Bem conhecida Avenida João Machado <strong>de</strong> hoje, era chamada Travessa do Jaguaribe,<br />

posteriormente do Bom Jesus, ia das Trincheiras até se confluir com a já citada estrada do<br />

Jaguaribe, passava por on<strong>de</strong> é hoje a Rua Alberto <strong>de</strong> Brito, até a margem esquerda do Rio<br />

Jaguaribe, região que em 1912, o então Governador Dr. João Lopes Machado, que ce<strong>de</strong>u seu nome<br />

à rua em questão, abriu o manancial do Buraquinho, justamente para receber a tubulação do novo<br />

sistema que conduzia água até on<strong>de</strong> se situa o prédio das voluntárias e a <strong>de</strong>spejava numa caixa <strong>de</strong><br />

água confeccionada em chapas <strong>de</strong> aço.<br />

Com o advento da Avenida João Machado e a implantação do abastecimento <strong>de</strong> água da<br />

cida<strong>de</strong>, essa artéria passou a ter seus terrenos cobiçados por interesses diversos, entre os quais a<br />

implantação <strong>de</strong> várias edificações públicas e privadas; corresponsáveis pela ocupação <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada<br />

da antiga Mata do Buraquinho e a diminuição <strong>de</strong> seu tamanho para as atuais medidas. Ao longo da<br />

João Machado foram sendo construídas históricas edificações que <strong>de</strong>ram forma aos primeiros<br />

contornos urbanos da cida<strong>de</strong>, entre as quais:<br />

Colônia Juliano Moreira: foi o primeiro prédio a ser instalado na área. Especialistas<br />

escolhidos pelo então Governador Solon <strong>de</strong> Lucena, em 1924, foram ao Rio <strong>de</strong> Janeiro e a São<br />

Paulo estudar o problema da assistência a alienados para, na Paraíba, orientar técnicos na<br />

216


construção do atual hospital-Colônia. Este ficou localizado no espaço que ia da D. Pedro II até a<br />

Rua 12 <strong>de</strong> Outubro.<br />

Escola <strong>de</strong> aprendiz marinheiro: on<strong>de</strong> se localiza o prédio do Bom Pastor; funcionou durante<br />

muitos anos esta escola. O então governo doou um vasto terreno situado na Avenida João<br />

Machado on<strong>de</strong> passou a funcionar a escola que, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> vários anos <strong>de</strong> funcionamento,<br />

teve suas ativida<strong>de</strong>s encerradas:<br />

A Parahyba, que fora o berço <strong>nas</strong>cedouro, da revolução <strong>de</strong> 1930, recebeu um golpe<br />

tremendo, com o encerramento das ativida<strong>de</strong>s da Escola <strong>de</strong> Aprendiz <strong>de</strong><br />

Marinheiro. Funcionando, há anos, na Avenida João Machadado, foi transformada,<br />

muitos anos <strong>de</strong>pois, no Presídio Feminino Bom Pastor. Tinha também seus<br />

domínios da Avenida João Machado a Rua 12 <strong>de</strong> Outubro (MADRUGA, 2002, p.<br />

23).<br />

Maternida<strong>de</strong> Cândida Vargas: também se inclui neste rol <strong>de</strong> construções <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte, foi<br />

ela concebida na Gestão do interventor Ruy Carneiro, no ano <strong>de</strong> 1943.<br />

Hospital e Casa <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> São Vicente <strong>de</strong> Paula: em 1912, sob a orientação do Dr. Walfredo<br />

Gue<strong>de</strong>s Pereira, recebeu uma faixa <strong>de</strong> mata do Estado para, após <strong>de</strong>vastá-la, construir esse,<br />

hoje, conhecido hospital.<br />

Com essa mesma linha <strong>de</strong> ocupação da Mata do Buraquinho levantou-se a construção da<br />

Companhia <strong>de</strong> Desenvolvimento da Paraíba (CINEP); na área, eram inúmeras as fruteiras <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

porte, que foram <strong>de</strong>rrubadas para dar lugar ao prédio da administração daquele órgão. O mesmo<br />

ocorrendo com a área externa da Companhia <strong>de</strong> Água e Esgoto da Paraíba (CAGEPA Central). A<br />

<strong>de</strong>vastação da mata para a construção <strong>de</strong> vários órgãos públicos sempre foi avante, com a<br />

justificativa da chegada do progresso.<br />

Este foi o segundo gran<strong>de</strong> golpe sofrido pela exuberante Mata Atlântica. O<br />

primeiro foi quando da <strong>de</strong>claração das sesmarias, até a venda <strong>de</strong>finitiva para os<br />

domínios do Estado, já estava resumida em uns 50% mais ou menos.<br />

(MADRUGA, 2002, p. 24) (grifo nosso).<br />

217


Em 13 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1955 foi passada a Escritura Pública <strong>de</strong> doação <strong>de</strong> terra extensiva ao<br />

Buraquinho, feita pelo Estado da Paraíba à Companhia Hidroelétrica do São Francisco (CHESF),<br />

como i<strong>de</strong>ntifica o termo seguinte:<br />

Que a Lei Estadual n º 1267, <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1955, adiante transcrito,<br />

autorizou o outorgante doar, como <strong>de</strong> fato doado tem, por bem <strong>de</strong>sta escritura à<br />

outorgada, uma área <strong>de</strong> terreno medindo <strong>de</strong>z mil (10.000) metros quadrados, a ser<br />

<strong>de</strong>smembrada da proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>scrita na cláusula anterior, área esta, cujo<br />

perímetro se inicia por um marco <strong>de</strong> cimento, situado ao lado direta da Avenida D.<br />

Pedro II […] (MADRUGA, 2002, p. 29).<br />

Uma das primeiras tentativas <strong>de</strong> formulação <strong>de</strong> um jardim remete ao ano <strong>de</strong> 1951, no<br />

Governo <strong>de</strong> José Américo <strong>de</strong> Almeida, em que foi executado o Acordo Florestal da Paraíba entre o<br />

Serviço Florestal e o Governo da Paraíba, em que estava prevista a criação do Jardim Botânico, cuja<br />

finalida<strong>de</strong> era a produção <strong>de</strong> mudas e essências florestais. A inauguração ocorreu ape<strong>nas</strong> em 1953.<br />

Em 1957, o Estado doou, à União, 166 hectares da área da Mata do Buraquinho para a implantação<br />

<strong>de</strong> um horto florestal. (SEMARH, 2001)<br />

A partir da década <strong>de</strong> 1940, o sistema <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água através <strong>de</strong> poços<br />

foi sendo gradativamente extinto. Assim, foram elaboradas novas propostas <strong>de</strong><br />

"aproveitamento" e exploração da Mata do Buraquinho, como a tentativa <strong>de</strong><br />

criação <strong>de</strong> um Jardim Botânico e hortos florestais. Tais projetos nunca foram<br />

implementados completamente (OLIVEIRA e MELO, 2009, p. 119).<br />

Outro marco importante <strong>de</strong>sse processo evolutivo <strong>de</strong> formação do jardim diz respeito à<br />

construção do Campus I da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Paraíba (UFPB). Na década <strong>de</strong> 70 a mata tinha<br />

sido reduzida a 565 hectares, além do mais ainda foi <strong>de</strong>smembrada para a construção <strong>de</strong>sse<br />

conhecido órgão fe<strong>de</strong>ral.<br />

Um dos primeiros processos <strong>de</strong> agregação formal da área aconteceu com o Decreto Fe<strong>de</strong>ral<br />

nº 98.181, em 1989, em que 471 hectares <strong>de</strong>sse espaço foram <strong>de</strong>clarados Área <strong>de</strong> Preservação<br />

Permanente (APP), ficando sob a responsabilida<strong>de</strong> do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos<br />

Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Assim como, também, ficaram sob a jurisdição da<br />

Companhia <strong>de</strong> Água e Esgotos da Paraíba (CAGEPA) outros 305 hectares.<br />

218


CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Aliada a todo esse processo <strong>de</strong> redução física da Mata Atlântica, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os anos 90, a reserva,<br />

também, tem passado pelos processos <strong>de</strong> antropia urbana, fato comum às gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s que ainda<br />

possuem alguma reserva ambiental. Já hoje, a região passa por forte influência <strong>de</strong> agentes<br />

econômicos especulativos que visam à construção <strong>de</strong> vastos empreendimentos ao redor da mata,<br />

além das antigas invasões e ocupações <strong>de</strong> terras feitas por comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> diversas origens, em<br />

busca <strong>de</strong> moradia improvisada ao seu redor.<br />

Ao mesmo tempo em que aconteciam os <strong>de</strong>smatamentos citados, houve vários ambientais e<br />

iniciativas organizacionais para que fosse criado, formalmente, um jardim botânico <strong>de</strong>ntro da Mata<br />

do Buraquinho, principalmente, para que esse meio ambiente passasse a exercer sua função social.<br />

Fato este que teve diversos momentos <strong>de</strong> tensões e <strong>de</strong> esperança por parte daqueles que,<br />

sistematicamente, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ram a preservação e a criação <strong>de</strong> uma política <strong>de</strong> gestão sustentável para<br />

esse espaço ambiental privilegiado, po<strong>de</strong>mos citar, por exemplo, a APAN (Associação Paraibana<br />

dos Amigos da Natureza), com especial <strong>de</strong>staque à pessoa do conhecido e renomado botânico da<br />

Paraíba, que teve seu nome sempre ligado à <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong>ssa reserva ambiental, Lauro Pires Xavier.<br />

Uma ida até ao Jardim Botânico <strong>de</strong> João Pessoa, um dos atrativos turístico da cida<strong>de</strong>, é<br />

possível constatar que o pouco do que restou da exuberante Mata Atlântica original vive hoje mal<br />

cercada nesse espaço <strong>de</strong> conservação.<br />

A real ou aparente qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida oferecida pela Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa e normalmente<br />

percebida pelos visitantes tem, necessariamente, uma relação intrínseca com o quanto <strong>de</strong> espaço<br />

ver<strong>de</strong> que ainda se conserva em meio à dinâmica urbana da capital do Estado da Paraíba. No caso<br />

<strong>de</strong> João Pessoa, muito do discurso sobre o estado <strong>de</strong> conservação <strong>de</strong> seu meio ambiente, nem<br />

sempre, é reflito no cotidiano mais duradouro da administração <strong>de</strong> suas reservas ambientais, com<br />

<strong>de</strong>staque para a Mata do Buraquinho on<strong>de</strong> se encontra o Jardim Botânico <strong>de</strong> João Pessoa, referência<br />

turística da cida<strong>de</strong>.<br />

REFERÊNCIAS<br />

CHAGAS, Wal<strong>de</strong>ci Ferreira. As singularida<strong>de</strong>s da mo<strong>de</strong>rnização da Cida<strong>de</strong> da Parahyba, <strong>nas</strong><br />

décadas <strong>de</strong> 1910 a 1930. 2004. 218f. Dissertação (Mestrado em História) - Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong><br />

Pernambuco, Recife.<br />

LEMOS, Niedja <strong>de</strong> Almeida Brito. Bacia Hidrográfica urbana e <strong>de</strong>gradação ambiental: o alto vale<br />

do Rio Jaguaribe. 2005. 76f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente) -<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Paraíba. João Pessoa.<br />

219


MADRUGA, João B. César. Sítio Jaguaricumbe – Mata do Buraquinho: berço do abastecimento<br />

d‘água <strong>de</strong> João Pessoa. João Pessoa: JBBM, 2002.<br />

MELO, Gutemberg <strong>de</strong> Pádua. Projeto <strong>de</strong> educação ambiental para as comunida<strong>de</strong>s que vivem em<br />

torno <strong>de</strong> unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conservação. João Pessoa: IBAMA, 1995.<br />

MENDOSA, Carlos O. Lopes. O Jardim Botânico <strong>de</strong> João Pessoa: uma pequena <strong>de</strong>scrição. João<br />

Pessoa, IPÊ, UNIPÊ, MATHB, 1997.<br />

MORAES, Antonio Carlos Robert Meio ambiente e ciências huma<strong>nas</strong>. São Paulo: Hucitec, 20008.<br />

MORAES, A. Carlos <strong>de</strong>; BARONE, Radamés. O <strong>de</strong>senvolvimento sustentável e as novas<br />

articulações econômica, ambiental e social. PESQUISA & DEBATE, SP, v. 12, n. 2, p.119-140,<br />

2001. Disponível em: < http://www.pucsp.br/pos/ecopol /downloads/edicoes<br />

/(20)antonio_moraes.pdf> Acesso em: 10 fev. 2012.<br />

OLIVEIRA, Suênia. C. C.; MELO, Rodrigo. S. As trilhas do Jardim Botânico Benjamim<br />

Maranhão (João Pessoa - PB) como recurso para interpretação ambiental. Ca<strong>de</strong>rno virtual <strong>de</strong><br />

turismo, v. 9, n.2, p. 113-125, 2009.<br />

SEMAM - Secretaria Municipal <strong>de</strong> Meio Ambiente Diagnóstico geoambiental rápido da área <strong>de</strong><br />

baixo curso do rio Jaguaribe: trecho localizado no limite territorial dos municípios <strong>de</strong> João Pessoa e<br />

Cabe<strong>de</strong>lo PB. João Pessoa, 2009.<br />

220


PERCEPÇÃO E VALORAÇÃO ECONÔMICA AMBIENTAL DA PRAÇA DO FERREIRA,<br />

Resumo<br />

FORTALEZA – CE<br />

Juliana Barbosa do NASCIMENTO<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Ceará<br />

E-mail: ambientais.juliana@gmail.com<br />

Graduação em Ciências Ambientais<br />

Dafne Torelly PEREIRA<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Ceará<br />

E-mail: dafne.torelly@gmail.com<br />

Graduação em Ciências Ambientais<br />

Sara <strong>de</strong> Oliveira LIMA<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Ceará<br />

E-mail: sara_hias@hotmail.com<br />

Graduação em Ciências Ambientais<br />

Kamila Vieira <strong>de</strong> MENDONÇA<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Ceará<br />

E-mail: kamilavm@terra.com.br<br />

Professora Labomar - UFC<br />

Doutoranda em Economia – CAEN – UFC<br />

O presente trabalho constitui uma aplicação da percepção ambiental e valoração econômica,<br />

visando estimar o valor ambiental e monetário da Praça do Ferreira, localizada em Fortaleza-Ceará,<br />

consi<strong>de</strong>rada Marco Histórico e Patrimonial, sendo referência para o público, além do comércio<br />

influente que existe no local e dos importantes fatos históricos e políticos que marcaram a Praça na<br />

história da cida<strong>de</strong>. Por meio da percepção ambiental po<strong>de</strong>-se observar a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver<br />

perante o público, conceitos acerca do meio natural <strong>de</strong> forma a envolver os diversos elementos que<br />

cercam a Praça, como cultura, história, lazer, comércio, estética, entre outros, pois essa interação<br />

fortalece a conscientização ambiental e estimula a conservação do bem natural. Baseado nos<br />

benefícios que a Praça gera para seus frequentadores, estimou-se a disposição a pagar dos<br />

indivíduos pela melhoria e posterior conservação do local, por meio do Método <strong>de</strong> Valoração<br />

Contingente (MVC). Dado um número total <strong>de</strong> visitantes diários no Centro da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 300 mil<br />

pessoas, tem-se uma disposição a pagar estimada em R$ 3.025.239,00. Unir os conceitos <strong>de</strong><br />

221


percepção ambiental e valoração econômica são fundamentais para o <strong>de</strong>senvolvimento saudável <strong>de</strong><br />

ambientes aliados ao meio natural, como as praças, conscientizando para o zelo por parte <strong>de</strong> todos e<br />

incentivando para que iniciativas públicas venham a ser aplicadas <strong>de</strong> forma a priorizar a<br />

conservação <strong>de</strong>sses ambientes.<br />

Palavras-Chave: Praça do Ferreira. Valoração econômica ambiental. Percepção ambiental.<br />

Abstract<br />

The present study represents an application of economic valuation and environmental perception, to<br />

estimate the monetary value of environmental and Ferreira Square, located in Fortaleza, Ceará,<br />

consi<strong>de</strong>red Historic Landmark and Heritage, with reference to the public, and influential tra<strong>de</strong> that<br />

exists in local and important historical and political facts that marked the Square in the city's<br />

history. Through environmental perception can observe the need to <strong>de</strong>velop before the public,<br />

concepts about the natural environment in or<strong>de</strong>r to involve the various elements surrounding the<br />

Square, as culture, history, leisure, commerce, aesthetics, among others, for this interaction<br />

strengthens environmental awareness and encourages the conservation of natural good. Based on<br />

the Square generates benefits for its patrons, estimated the willingness to pay of individuals for the<br />

improvement and conservation of the site later, through the Contingent Valuation Method (CVM).<br />

Given a total number of daily visitors center in the city of 300,000 people, has a willingness to pay<br />

an estimated R $ 3,025,239.00. Joining the concepts of environmental awareness and economic<br />

valuation are critical to the healthy <strong>de</strong>velopment environments coupled with the natural<br />

environment, such as squares, zeal for acquiring knowledge by all and to encourage public<br />

initiatives that will be implemented to prioritize conservation these environments.<br />

Keywords: Ferreira Square. Environmental economic valuation. Environmental perception.<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

Teve o nome <strong>de</strong> Feira-Nova, Pedro II e Praça da Municipalida<strong>de</strong> para finalmente em 1871 ser<br />

nomeada <strong>de</strong> Praça do Ferreira. A Praça está localizada no bairro Centro da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Fortaleza<br />

ocupando uma área <strong>de</strong> 7.603 m 2 , situada entre as ruas Floriano Peixoto e Major Facundo e as<br />

travessas Pará e Pedro Borges. Em 1843, na gestão do Presi<strong>de</strong>nte da Câmara Antônio Rodrigues<br />

Ferreira, mais conhecido como Boticário Ferreira (1843-1859), foi instituído oficialmente o espaço<br />

como uma praça e esta veio a ser um marco na história da cida<strong>de</strong> (SILVA, 2006).<br />

222


Segundo PONTES (2005), o Centro da cida<strong>de</strong> polarizava a maioria das ativida<strong>de</strong>s, sendo a<br />

Praça do Ferreira o coração pulsante, por on<strong>de</strong> transitavam as pessoas e para on<strong>de</strong> convergia a<br />

sociabilida<strong>de</strong> da população. Ali se concentravam o comércio, os cinemas, os cafés e o burburinho<br />

da cida<strong>de</strong>. A Praça do Ferreira ao longo dos anos passou por uma série <strong>de</strong> transformações, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />

final do século XIX até a meta<strong>de</strong> do século XX, on<strong>de</strong> se aglutinaram gran<strong>de</strong>s empreendimentos e<br />

gran<strong>de</strong>s eventos da socieda<strong>de</strong> e da cultura fortalezense provocando o <strong>de</strong>senvolvimento do local.<br />

Des<strong>de</strong> 2001, após pesquisa popular, a Praça do Ferreira foi oficialmente <strong>de</strong>clarada Marco Histórico<br />

e Patrimonial <strong>de</strong> Fortaleza pela Lei Municipal 8.605 <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2001.<br />

Segundo SILVA (2006), a cida<strong>de</strong> foi se mo<strong>de</strong>rnizando <strong>de</strong>vido às influências estrangeiras e<br />

com isso, novos espaços foram surgindo, como os cafés. Em um <strong>de</strong>les, o Café Java, o primeiro a ser<br />

construído e o predileto da maioria dos intelectuais, foi marcado o <strong>nas</strong>cimento do movimento<br />

literário mais importante da capital, i<strong>de</strong>alizado por Antônio Sales, a Padaria Espiritual (1892-1898).<br />

No <strong>de</strong>correr dos anos, a Praça Passou por reformas e aformoseamentos realizados por nomes<br />

como Guilherme Rocha, Godofredo Maciel, Raimundo Girão, Acrísio da Rocha, Juraci Magalhães,<br />

<strong>de</strong>ntre outros, que influenciaram bastante na Praça por meio da construção <strong>de</strong> espaços, jardins,<br />

coretos e monumentos, <strong>de</strong>stacando a coluna da hora, inaugurada aos fins do ano <strong>de</strong> 1933 e início <strong>de</strong><br />

1934 e consi<strong>de</strong>rada símbolo marcante e representante da Praça. A instalação do relógio era uma<br />

forma <strong>de</strong> garantir a ―coor<strong>de</strong>nação das ativida<strong>de</strong>s urba<strong>nas</strong>‖ dos citadinos. Nenhum outro espaço<br />

público <strong>de</strong>tinha tanto prestígio, agregando no seu entorno a partida <strong>de</strong> várias linhas <strong>de</strong> bon<strong>de</strong>s e os<br />

principais cinemas, restaurantes, lojas <strong>de</strong> moda e casas comerciais. As mais importantes<br />

manifestações culturais e políticas da cida<strong>de</strong> tinham naquele logradouro seu foco irradiador.<br />

(SILVA FILHO, 2004, p. 81).<br />

Durante o século XX a socieda<strong>de</strong> já não se reunia ape<strong>nas</strong> em cafés, restaurantes, confeitarias e<br />

<strong>de</strong>mais estabelecimentos do gênero. Os bancos das praças também eram pontos <strong>de</strong> reuniões <strong>de</strong><br />

pessoas representativas dos setores econômico, político e cultural. Segundo os cronistas da época<br />

que retrataram o assunto, reunir-se em torno dos bancos no Centro <strong>de</strong> Fortaleza tornou-se um hábito<br />

(SILVA, 2006). Importante ressaltar que durante as reformas que a Praça passou, por muitas vezes<br />

houve o <strong>de</strong>scontentamento do público que aos poucos passou a <strong>de</strong>saparecer do local.<br />

O Hotel Excelsior, consi<strong>de</strong>rado o primeiro ―arranha-céu‖ da cida<strong>de</strong>, o cinema São Luiz, o<br />

abrigo central e o prédio da Farmácia Oswaldo Cruz, fundado em 1934, foram construções que se<br />

<strong>de</strong>stacaram. O único <strong>de</strong>stes que ainda mantêm as suas ativida<strong>de</strong>s é a farmácia Oswaldo Cruz que foi<br />

a primeira farmácia <strong>de</strong> manipulação da cida<strong>de</strong>, consi<strong>de</strong>rado o mais antigo estabelecimento do<br />

entorno da Praça do Ferreira e embora tenha essa importância, nos últimos anos vêm enfrentado<br />

riscos <strong>de</strong> fechamento.<br />

223


Nos dias atuais vem sendo utilizada como local para eventos culturais e variadas campanhas e<br />

ainda é o local preferencial para manifestações políticas (SILVA, 2006). Importante ressaltar que<br />

outras formas <strong>de</strong> uso também acontecem, como exemplo, o uso para aqueles que trabalham<br />

informalmente e repouso daqueles que circulam pelo Centro.<br />

O presente artigo avalia a importância da Praça por meio da percepção ambiental e também<br />

estima um valor <strong>de</strong> mercado para a Praça do Ferreira utilizando o Método <strong>de</strong> Valoração<br />

Contingente (MVC), pois se faz necessária a análise dos dados perceptivos que auxiliam no<br />

estabelecimento <strong>de</strong> relações harmoniosas do indivíduo com o ambiente, assim como, saber quanto<br />

vale esse espaço <strong>de</strong> valor econômico, estético, histórico, social e cultural. Sendo assim, a<br />

caracterização socioeconômica dos visitantes da Praça do Ferreira contribui com informações<br />

importantes para <strong>de</strong>finir o contexto em que se encontra o bem ambiental, <strong>de</strong> forma que se possam<br />

estabelecer os atores e compreen<strong>de</strong>r as suas relações com o ambiente.<br />

O objetivo da percepção ambiental é o entendimento sobre as ações, as necessida<strong>de</strong>s e os<br />

<strong>de</strong>sejos dos indivíduos com respeito ao ambiente da Praça. Em seguida, ao organizar e analisar os<br />

principais aspectos influenciadores no uso <strong>de</strong>la é possível discernir os aspectos que agradam e<br />

<strong>de</strong>sagradam os frequentadores.<br />

Com relação à valoração, um dos objetivos <strong>de</strong> seus métodos é estimar os valores econômicos<br />

<strong>de</strong> um bem ambiental (bem público), para mensurar as preferências dos indivíduos sobre as<br />

alterações em tal ambiente. Esse resultado é útil para o processo <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão, necessária<br />

para a elaboração <strong>de</strong> priorida<strong>de</strong>s para políticas públicas, como conservação e/ou preservação, além<br />

<strong>de</strong> servir como parâmetro para a <strong>de</strong>terminação do valor <strong>de</strong> taxas ou multas por danos ambientais.<br />

O valor do recurso ambiental será <strong>de</strong>finido por uma função <strong>de</strong> seus atributos relacionados à<br />

existência do recurso, configurando os valores <strong>de</strong> não uso, além dos valores <strong>de</strong> uso (MERICO,<br />

1996). Segundo MOTTA (2006), o Método <strong>de</strong> Valoração Contingente é o único capaz <strong>de</strong> captar<br />

valores <strong>de</strong> existência <strong>de</strong> bens e serviços ambientais, daí a escolha <strong>de</strong>ste método para a valoração<br />

ambiental do presente estudo.<br />

2. PERCEPÇÃO AMBIENTAL<br />

O estudo sobre a percepção ambiental é um meio <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r como os sujeitos da<br />

socieda<strong>de</strong> adquirem seus conceitos e valores, bem como, como compreen<strong>de</strong>m suas ações e se<br />

sensibilizam com a crise socioambiental. A Educação ambiental tendo conhecimento dos valores e<br />

ações que os sujeitos possuem frente ao meio ambiente será capaz <strong>de</strong> elaborar propostas que<br />

venham a atingir gran<strong>de</strong> parte da socieda<strong>de</strong>, visando provocar mudanças mais efetiva que<br />

contribuam para a sustentabilida<strong>de</strong> socioambiental.<br />

224


Segundo Rapoport (1978), citado por Oliveira e Corona (2008), para analisar as interações<br />

existentes entre os seres humanos e o meio é necessário que três áreas sejam conhecidas e são elas:<br />

a cognição (processos <strong>de</strong> perceber, conhecer e pensar); afetivida<strong>de</strong> (que está relacionada aos<br />

sentimentos, sensações e emoções) e a conexão entre a ação humana sobre o meio, como resposta a<br />

cognição e afetivida<strong>de</strong>. Ainda <strong>de</strong> acordo com os autores, existem várias formas <strong>de</strong> se apreen<strong>de</strong>r o<br />

ambiente, e isso cada indivíduo o faz <strong>de</strong> forma particular e <strong>de</strong>pois ocorre um consenso coletivo<br />

sobre a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse ambiente relacionado com o meio natural e o espaço construído.<br />

Muito se tem falado acerca <strong>de</strong> meio ambiente, sustentabilida<strong>de</strong> e preservação ambiental. A<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um meio saudável, como as praças, para o usufruto dos indivíduos é um direito <strong>de</strong><br />

todos, mas para que isso aconteça é preciso que ações sejam efetivadas. Frente ao rumo que a<br />

socieda<strong>de</strong> tem tomado perante aos aspectos ambientais Devall (2001) e Novo (2002), citados por<br />

Hoeffel et. al. (2008), afirmam que estes novos rumos têm conduzido ao que se é conhecido como<br />

―crise ambiental‖, e segundo os autores isso tem estimulado o questionamento dos valores da<br />

socieda<strong>de</strong> contemporânea, e, além disso, uma reorientação dos modos da socieda<strong>de</strong> se relacionar<br />

com a natureza.<br />

As socieda<strong>de</strong>s mo<strong>de</strong>r<strong>nas</strong> chegaram a um ponto em que são obrigadas a refletir sobre si<br />

mesmas e, ao mesmo tempo, <strong>de</strong>senvolvem a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> refletir retrospectivamente <strong>de</strong>ssa<br />

maneira. Há estímulo para uma nova percepção ambiental, que se sente obrigada a refletir sua<br />

situação e seu <strong>de</strong>senvolvimento, tendo agora uma missão <strong>de</strong> formular questões do presente e do<br />

futuro (OLIVEIRA, K. A.; CORONA, H. M. P, 2008).<br />

O conceito <strong>de</strong> percepção ambiental, segundo Faggionato (2012), consiste em uma tomada <strong>de</strong><br />

consciência do ambiente pelo indivíduo, isto é, perceber o ambiente no qual está inserido,<br />

apren<strong>de</strong>ndo a proteger e cuidar. Porém, cada indivíduo percebe <strong>de</strong> forma diferente, <strong>de</strong>sta forma, o<br />

estudo da percepção ambiental torna-se importante para que seja possível compreen<strong>de</strong>r as inter-<br />

relações entre o homem e o meio ambiente. O reconhecimento <strong>de</strong> distintas percepções sobre o meio<br />

ambiente, estruturadas a partir <strong>de</strong> diferentes referenciais, torna-se relevante para a elaboração e<br />

aplicação <strong>de</strong> diagnósticos, planejamentos, projetos e programas <strong>de</strong> educação ambiental, que venham<br />

colaborar na resolução <strong>de</strong> conflitos e problemas ambientais, estimulando a participação dos diversos<br />

atores sociais por uma melhor qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e pela justiça social (HOEFFEL e FADINI, 2007).<br />

A percepção ambiental po<strong>de</strong> ser utilizada para avaliar a importância <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada região,<br />

como o caso da Praça do Ferreira em Fortaleza. A análise dos dados perceptivos permite <strong>de</strong>stacar a<br />

relevância da referida praça, evi<strong>de</strong>nciando o <strong>de</strong>staque dos órgãos públicos encarregados da<br />

manutenção e preservação da mesma por meio da gestão ambiental que, segundo Albuquerque<br />

(2009), as vantagens da gestão ambiental <strong>de</strong>correm <strong>de</strong> regras e práticas administrativas<br />

225


preestabelecidas. Além disso, po<strong>de</strong>m ser estabelecidas relações do indivíduo com o ambiente pela<br />

formação <strong>de</strong> laços afetivos.<br />

O processo <strong>de</strong> gestão ambiental é um processo contínuo <strong>de</strong> análise composto por <strong>de</strong>cisão,<br />

controle e avaliação <strong>de</strong> resultados com o objetivo <strong>de</strong> formulação e implementação <strong>de</strong> políticas<br />

(MORANDI, GIL, 1999 apud BOLDRIN, 2012). Desta forma, a correta administração dos<br />

recursos, além da consciência em preservar o bem ambiental são fatores importantes a serem<br />

consi<strong>de</strong>rados pelos gestores públicos.<br />

3. VALORAÇÃO ECONÔMICA AMBIENTAL<br />

Valorar a natureza constitui uma importante ferramenta <strong>de</strong> análise <strong>de</strong> projetos e <strong>de</strong><br />

organização <strong>de</strong> políticas públicas <strong>de</strong> acordo com os preceitos do <strong>de</strong>senvolvimento sustentável 28 . Na<br />

falta <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> valores que possibilite ao gestor o conhecimento das preferências da<br />

socieda<strong>de</strong>, torna-se difícil tomar <strong>de</strong>cisões.<br />

A partir do conhecimento dos preços dos bens e serviços ambientais, é possível a<br />

formulação <strong>de</strong> leis mais eficientes, bem como <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> multas, controle, taxações,<br />

cobrança pelo uso, entre outros, que reflitam os <strong>de</strong>sejos da população. Esse conhecimento também é<br />

útil para impedir a exploração abusiva dos recursos naturais por meio da instituição do princípio<br />

―poluidor-pagador‖ 29 (ALBUQUERQUE, 2009). Sendo assim, as instituições públicas têm o <strong>de</strong>ver<br />

<strong>de</strong> evitar que o lucro privado se sobreponha ao interesse coletivo e que as falhas <strong>de</strong> mercado<br />

comprometam o ótimo social.<br />

O valor econômico relacionado ao ambiente natural é dado pelo valor <strong>de</strong> uso e valor<br />

intrínseco (valor <strong>de</strong> não uso). O valor <strong>de</strong> uso origina-se do uso que se faz do bem ambiental, como a<br />

extração <strong>de</strong> recursos ou a observação <strong>de</strong> pássaros. O valor intrínseco abrange os valores do bem<br />

sem interesse <strong>de</strong> uso por parte dos seres humanos, como uma <strong>de</strong>terminada espécie da planta ou<br />

inseto (MERICO, 1996).<br />

Assim, o valor econômico total (VET) <strong>de</strong> um bem consiste em seu valor <strong>de</strong> uso (VU) e valor<br />

<strong>de</strong> não uso (VNU). O valor <strong>de</strong> uso ainda po<strong>de</strong> ser subdividido em valor <strong>de</strong> uso direto (VUD), valor<br />

<strong>de</strong> uso indireto (VUI) e valor <strong>de</strong> opção ou <strong>de</strong> uso potencial (VO). O valor <strong>de</strong> não uso po<strong>de</strong> ser<br />

representado pelo valor <strong>de</strong> existência (VE).<br />

O valor <strong>de</strong> uso direto é aquele atribuído pelo consumo direto do bem ou serviço ambiental,<br />

enquanto o valor <strong>de</strong> uso indireto é aquele <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> funções indiretas, tais como funções<br />

28 ―... o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável é aquele que aten<strong>de</strong> às necessida<strong>de</strong>s das gerações presentes sem comprometer a<br />

possibilida<strong>de</strong> das gerações futuras aten<strong>de</strong>rem suas próprias necessida<strong>de</strong>s‖ (WORLD COMMISSION ON<br />

ENVIRONMENT AND DEVELOPMENT, 1987).<br />

29 Segundo o princípio do poluidor-pagador, aquele que gera a poluição (produtor ou consumidor) <strong>de</strong>ve pagar pelos<br />

danos, em vez <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar que toda a socieda<strong>de</strong> pague por isso (MORAES, 2009).<br />

226


ecossistêmicas (contenção <strong>de</strong> erosão e reprodução <strong>de</strong> espécies pela conservação <strong>de</strong> florestas, por<br />

exemplo).<br />

O valor <strong>de</strong> opção é o valor que o indivíduo atribui em preservar recursos que po<strong>de</strong>m estar<br />

ameaçados, para usos direto e indireto no futuro. Por sua vez, o valor <strong>de</strong> existência (ou <strong>de</strong> não uso),<br />

não está associado ao uso, porém reflete questões morais, culturais, éticas ou altruísticas, como o<br />

<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> que as espécies sejam preservadas, <strong>de</strong> que as florestas não sejam <strong>de</strong>struídas, entre outros.<br />

No que se refere ao ambiente natural, não existe uma medida comum <strong>de</strong> valor, mediante a<br />

qual se possa classificar, ape<strong>nas</strong> <strong>de</strong> uma forma, os bens avaliados. Várias técnicas po<strong>de</strong>m ser<br />

utilizadas para quantificar os conceitos <strong>de</strong> valor citados, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo dos propósitos dos autores.<br />

Sendo assim, os métodos <strong>de</strong> valoração po<strong>de</strong>m ser classificados em métodos diretos e indiretos.<br />

Os métodos <strong>de</strong> valoração direta estão relacionados aos preços <strong>de</strong> mercado ou produtivida<strong>de</strong>,<br />

enquanto que os métodos indiretos são empregados quando o recurso ambiental não po<strong>de</strong> ser<br />

valorado diretamente pelo comportamento do mercado. Nesse caso, uma das opções consiste em se<br />

construírem mercados hipotéticos, questionando-se diretamente a uma amostra <strong>de</strong> pessoas quanto<br />

elas estariam dispostas a pagar pelo recurso, ou pela preservação do bem ambiental.<br />

Os principais métodos <strong>de</strong> valoração que foram <strong>de</strong>senvolvidos <strong>nas</strong> últimas décadas com o<br />

objetivo <strong>de</strong> obter os preços dos bens e serviços ambientais são os seguintes: produtivida<strong>de</strong> marginal,<br />

mercado <strong>de</strong> bens substitutos, custo <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>, preços hedônicos, custo <strong>de</strong> viagem, custo <strong>de</strong><br />

reposição e valoração contingente.<br />

Os métodos <strong>de</strong> valoração ambiental precisam ser interpretados com cautela, pois,<br />

geralmente, os valores encontrados são subestimados <strong>de</strong>vido ao comportamento estratégico dos<br />

indivíduos que procuram assegurar ganhos com suas respostas. Os vários tipos <strong>de</strong> metodologia<br />

possuem limitações e restrições <strong>de</strong> aplicabilida<strong>de</strong>, além <strong>de</strong> serem onerosos e <strong>de</strong>morados. Dessa<br />

forma, recomenda-se que, sempre que possível, seja aplicado mais <strong>de</strong> um método para a mesma<br />

avaliação, <strong>de</strong> forma a se compararem os resultados obtidos.<br />

4. METODOLOGIA<br />

Para a realização <strong>de</strong>ste trabalho foi utilizado o Método <strong>de</strong> Valoração Contingente, que<br />

consiste em estimar os valores <strong>de</strong> uso e não uso <strong>de</strong> bens públicos para os quais não existe mercado.<br />

Esse método é utilizado para elementos da natureza, áreas <strong>de</strong> proteção, áreas <strong>de</strong> lazer, patrimônio<br />

paisagístico, entre outros, nos quais não existam valores <strong>de</strong> mercado.<br />

Para isso, são aplicados questionários a uma amostra da população a fim <strong>de</strong> elucidar a<br />

percepção ambiental dos frequentadores da praça e o quanto os respon<strong>de</strong>ntes estão dispostos a pagar<br />

(DAP – disposição a pagar) para fazer uso <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado bem, ou o quanto eles estão dispostos a<br />

receber (DAR – disposição a receber) como compensação para aceitar uma alteração na provisão do<br />

227


em em questão. Com isso, preten<strong>de</strong>-se que as pessoas revelem as suas preferências pelo bem<br />

público ou ambiental. Nesse sentido, o método será tanto mais preciso quanto mais próximo do real<br />

for o mercado hipotético criado, que é simulado por intermédio <strong>de</strong> pesquisas <strong>de</strong> campo.<br />

O cálculo e a estimação dos benefícios <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da forma <strong>de</strong> obtenção do valor. Para<br />

lances livres ou open-en<strong>de</strong>d é gerada uma variável contínua <strong>de</strong> lances, com isso, o valor da DAP ou<br />

DAR é estimado diretamente por técnicas estatísticas. Por meio da média ou mediana das DAP‘s ou<br />

DAR‘s, multiplicada pelo total da população, tem-se o valor econômico total do recurso ambiental<br />

(MOTTA, 2006).<br />

Apesar <strong>de</strong> esse método ser bastante utilizado para atribuir valores aos recursos naturais,<br />

existem alguns problemas <strong>de</strong> mensuração associados ao seu uso, porém isso não quer dizer que os<br />

resultados alcançados pelo MVC não serão confiáveis ou não po<strong>de</strong>rão ser usados. Em muitas<br />

ocasiões, essa é a única forma disponível para estimar valores <strong>de</strong> recursos ambientais. Além disso, a<br />

metodologia <strong>de</strong> valoração contingente veio ganhando mais a<strong>de</strong>ptos à medida que novos estudos a<br />

utilizaram e, por sua vez, aprimoraram a técnica, fornecendo assim, base para validação dos<br />

resultados.<br />

Para o estudo, foram aplicados questionários pilotos em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2011 com 30<br />

indivíduos, <strong>de</strong> modo a testar a confiabilida<strong>de</strong> das questões. Depois <strong>de</strong> revistos, foram aplicados<br />

novamente e, então, se <strong>de</strong>terminou o tamanho da amostra com número mínimo <strong>de</strong> 267 elementos.<br />

Esse valor foi obtido consi<strong>de</strong>rando-se um erro amostral <strong>de</strong> 6% e a população estimada que visita o<br />

Centro da cida<strong>de</strong> diariamente, <strong>de</strong> 300.000 pessoas (ASCEFORT, 2012). Foram aplicados 281<br />

questionários contendo, cada um, quinze questões que objetivam a coleta <strong>de</strong> variáveis<br />

socioeconômicas e ambientais dos indivíduos amostrados, bem como <strong>de</strong> opiniões pessoais sobre a<br />

disposição a pagar. A aplicação dos questionários foi dividida entre todos os membros da equipe<br />

executora do trabalho, e ocorreu entre os meses <strong>de</strong> junho e julho (<strong>de</strong> 26/06/12 a 03/07/12) em<br />

diversos horários, no período da manhã e da tar<strong>de</strong>, sendo a maior parte realizada <strong>de</strong> forma direta na<br />

própria Praça do Ferreira 30 .<br />

A percepção ambiental relata como os pracianos reconhecem o ambiente em que a praça está<br />

inserida e que tipos <strong>de</strong> relações mantêm com ela, já o valor econômico da Praça, dado pelo valor <strong>de</strong><br />

opção, é a quantia que os consumidores estão dispostos a pagar por bens e serviços ambientais para<br />

usos direto e indireto a serem apropriados no futuro.<br />

De acordo com Motta (2006), a estimativa do valor <strong>de</strong> opção (DAPT), realizada por meio da<br />

forma aberta <strong>de</strong> eliciação, po<strong>de</strong> ser obtida multiplicando-se a disposição a pagar média pela<br />

população encontrada na área no período da pesquisa. Essa proporção é calculada com base na<br />

30 O período da noite foi <strong>de</strong>scartado para o estudo <strong>de</strong>vido aos riscos oferecidos à segurança dos pesquisadores.<br />

228


porcentagem <strong>de</strong> entrevistados dispostos a pagar uma quantia <strong>de</strong>ntro do intervalo correspon<strong>de</strong>nte à<br />

disposição a pagar média.<br />

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES<br />

A partir da distribuição da amostra verificou-se que com relação às características<br />

socioeconômicas dos 281 entrevistados, a participação dos homens (52,3%) é superior a das<br />

mulheres no total da amostra. A maior parte das pessoas é casada, têm filhos (em média, dois<br />

filhos), possuem situação ocupacional no trabalho formal, com renda entre um e três salários<br />

mínimos, têm ensino médio completo (33,8%) e têm ida<strong>de</strong> média <strong>de</strong> 40 anos.<br />

Para analisar as percepções dos indivíduos sobre a Praça perguntou-se aos entrevistados a<br />

frequência <strong>de</strong> visitas ao local do estudo. A maior frequência ocorre mensalmente (33,5%) seguida<br />

<strong>de</strong> semanalmente (31%).<br />

Quanto às questões <strong>de</strong> uso da Praça do Ferreira, foram apresentadas ao público cinco<br />

opções: lazer, passagem, trabalho, ponto <strong>de</strong> encontro e outros. Ao ser perguntado sobre a utilização<br />

da Praça a maior parte dos entrevistados respon<strong>de</strong>u que ape<strong>nas</strong> passam pela Praça (47%), seguido<br />

pela utilização para lazer (32%) e ponto <strong>de</strong> encontro (12,8%). Com esses resultados é possível<br />

verificar que as pessoas que respon<strong>de</strong>ram aos questionários não possuem um vínculo vitalício, pois<br />

se acredita que as oportunida<strong>de</strong>s e experiências realizadas em contato com o bem ambiental,<br />

favorecem e estimulam sentimentos para com a natureza.<br />

No período da tar<strong>de</strong> o número <strong>de</strong> frequentadores é maior <strong>de</strong>vido ao clima proporcionado<br />

pela arborização do local, tornando o ambiente da Praça i<strong>de</strong>al para o lazer. O aspecto em questão<br />

refere-se: às leituras principalmente <strong>de</strong> jornal e revistas <strong>de</strong>vido às bancas existentes na área, também<br />

às ―rodas <strong>de</strong> conversa‖ on<strong>de</strong> o público se encontra para <strong>de</strong>bater os mais variados tipos <strong>de</strong> assuntos,<br />

aos eventos que concentram um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> indivíduos na Praça e ao momento <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso<br />

para aqueles que <strong>de</strong>sempenham, seja rotineiramente ou não, suas ativida<strong>de</strong>s no Centro da cida<strong>de</strong>.<br />

Importante ressaltar que os diferentes usos não acontecem exclusivamente separados uns dos<br />

outros.<br />

A gran<strong>de</strong> maioria das pessoas (98,6%) consi<strong>de</strong>ra que a Praça é importante para a cida<strong>de</strong> com<br />

nota máxima (5) em 40,9% dos entrevistados. Também foi indagado aos entrevistados que nota eles<br />

dariam, <strong>de</strong> um a cinco, on<strong>de</strong> um representa um cenário ruim e cinco um cenário bom, nos aspectos<br />

relacionados à limpeza, infraestrutura, segurança, manutenção, eventos e comércio. A nota com<br />

maior frequência para a limpeza da Praça foi três o que <strong>de</strong>monstra o <strong>de</strong>scontentamento dos<br />

cidadãos. Para manter um ambiente <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, a presença <strong>de</strong> latas <strong>de</strong> lixo, já influenciam no<br />

comportamento humano e por sua vez, na percepção.<br />

229


Para a infraestrutura da Praça, a nota mais frequente também foi três (32,7%). Com relação à<br />

segurança, 26,7% das pessoas <strong>de</strong>ram nota três e 26,3% nota um, revelando neste quesito, elevada<br />

<strong>de</strong>ficiência e a <strong>de</strong>manda por segurança. Segundo alguns dos entrevistados, os mesmos não<br />

frequentam a Praça por mais vezes <strong>de</strong>vido à falta <strong>de</strong> segurança, principalmente no período da noite.<br />

Com isso, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vivenciar a experiência do contato com a natureza torna-se cada vez<br />

mais distante, pondo <strong>de</strong> lado as simples emoções do dia-a-dia, como sentar-se no banco da praça.<br />

A manutenção da Praça também recebeu nota três com maior frequência (32,4%), seguida<br />

da nota dois (23,8%) e um (14,9%). Para arborização a nota mais frequente foi quatro,<br />

<strong>de</strong>monstrando a satisfação dos entrevistados. Quanto aos eventos que ocorrem na Praça, como<br />

shows, feiras, serviços <strong>de</strong> utilida<strong>de</strong> pública, entre outros, a nota cinco obteve o maior percentual<br />

(48%) e para o comércio, 60,9% das pessoas estão muito satisfeitas.<br />

Para verificar a opinião do cidadão em relação ao papel dos órgãos governamentais<br />

questionou-se a respeito do responsável pela conservação da Praça e a maioria das pessoas (64,4%)<br />

respon<strong>de</strong>ram que cabe a todos, prefeitura, comerciantes do local e frequentadores.<br />

Com relação ao grau <strong>de</strong> interesse das pessoas em temas relacionados ao meio ambiente,<br />

56,6% têm muito interesse pelo tema. Ao realizar uma análise bivariada entre ida<strong>de</strong> e grau <strong>de</strong><br />

interesse pelo meio ambiente, os indivíduos com ida<strong>de</strong> acima <strong>de</strong> 41 anos têm maior interesse em<br />

preservar o meio ambiente, seguidos das pessoas entre 21 e 40 anos. Este resultado evi<strong>de</strong>ncia a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ações voltadas para educação e conscientização ambiental entre os mais jovens (até<br />

20 anos).<br />

Com relação à disposição a pagar pela Praça do Ferreira, dos entrevistados, 44,8% não têm<br />

disposição a pagar pela melhoria e posterior conservação da Praça o que já era esperado <strong>de</strong>vido ao<br />

formato do questionamento sobre a DAP (formato aberto), em que o entrevistado foi apresentado a<br />

uma situação nova e provavelmente teve dificulda<strong>de</strong>s para atribuir um valor sem qualquer tipo <strong>de</strong><br />

assistência.<br />

De acordo com os dados da pesquisa, a estimativa do valor <strong>de</strong> opção da Praça do Ferreira<br />

está em torno <strong>de</strong> R$ 3.025.239,00 por mês. Esse valor po<strong>de</strong> estar relacionado com o valor <strong>de</strong> uso, já<br />

que o questionário foi aplicado em indivíduos que efetivamente usufruem do recurso.<br />

6. CONCLUSÃO<br />

O ambiente da Praça do Ferreira é consi<strong>de</strong>rado aconchegante, servindo <strong>de</strong> refúgio para os<br />

passantes e área <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso para quem exerce alguma ativida<strong>de</strong> nos arredores. Mesmo que a<br />

maioria a utilize só <strong>de</strong> passagem e usufrua <strong>de</strong>la casualmente, existem grupos <strong>de</strong> frequentadores<br />

assíduos que a utilizam como forma <strong>de</strong> socialização. De acordo com a percepção ambiental dos<br />

frequentadores, po<strong>de</strong>-se notar que manutenção, infraestrutura, limpeza e segurança obtiveram nota<br />

230


aixa, <strong>de</strong>notando a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que haja maiores investimentos governamentais e conservação<br />

<strong>de</strong>sse espaço, embora tenhamos um público consciente em conservar o ambiente da Praça.<br />

Os pracianos percebem que embora a praça seja <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> estima e importância na cida<strong>de</strong>,<br />

ainda necessita <strong>de</strong> maiores cuidados para que esse local continue um espaço útil em meio ao centro<br />

<strong>de</strong> Fortaleza e assim não venha a se <strong>de</strong>teriorar causando o abandono por parte dos frequentadores.<br />

Conservar ambientes como a Praça do Ferreira, estimula a conservação <strong>de</strong> outras praças da cida<strong>de</strong> e<br />

<strong>de</strong>monstra o interesse da população perante aos órgãos públicos responsáveis por essas áreas. Por<br />

meio da percepção ambiental o público adquire uma nova concepção <strong>de</strong> meio natural, pois apren<strong>de</strong><br />

que a socieda<strong>de</strong> po<strong>de</strong> usufruir do ambiente <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que não lhe cause danos, pois estes direta ou<br />

indiretamente chegam a afetar a todos.<br />

O valor econômico estimado para a Praça do Ferreira foi <strong>de</strong> R$ 3.025.239,00 por mês. Dada à<br />

forma <strong>de</strong> eliciação (questão aberta), o resultado estimado pelo método <strong>de</strong> valoração contingente<br />

po<strong>de</strong> ser ten<strong>de</strong>ncioso, pois o comportamento do indivíduo diante da pergunta aberta e direta po<strong>de</strong> ir<br />

além <strong>de</strong> sua real disposição a pagar pelo bem ambiental. É comum a superestimação ou<br />

subestimação no processo <strong>de</strong> avaliação <strong>de</strong>vido a fatores como: <strong>de</strong>scrença <strong>de</strong> que a DAP corresponda<br />

a pagamentos reais, comportamento oportunista e sentimento <strong>de</strong> generosida<strong>de</strong> às causas<br />

ambientais/culturais.<br />

O valor encontrado – mais <strong>de</strong> três milhões <strong>de</strong> reais, por mês – mostrou-se bastante<br />

significativo e juntamente com a percepção dos frequentadores converge para que haja maiores<br />

investimentos públicos na Praça do Ferreira contribuindo para a sua melhoria e posterior<br />

preservação. Trabalhos como esse são imprescindíveis para o zelo <strong>de</strong>ste bem público e também para<br />

que possamos compreen<strong>de</strong>r melhor as inter-relações entre o homem e o ambiente, possibilitando o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> programas <strong>de</strong> educação ambiental dirigidos aos problemas do ambiente urbano<br />

no Município <strong>de</strong> Fortaleza, caso estes venham a ser executados.<br />

7. AGRADECIMENTOS<br />

Agra<strong>de</strong>cemos a colaboração dos estudantes <strong>de</strong> graduação Ícaro Silva, Lívia Dias e Ilana Araújo pelo<br />

esforço e <strong>de</strong>dicação na execução <strong>de</strong>sse estudo.<br />

8. REFERÊNCIAS<br />

ALBUQUERQUE, J. L. Gestão ambiental e responsabilida<strong>de</strong> social: conceitos, ferramentas e<br />

aplicações. São Paulo: Atlas, 2009.<br />

ASCEFORT. Associação dos Empresários <strong>de</strong> Fortaleza. Disponível em:<br />

. Acesso em 11 maio 2012.<br />

231


BOLDRIN, V. P.; BOLDRIN, M. S. T.; BARBIERI, J. C. Gestão ambiental e economia<br />

sustentável: um estudo <strong>de</strong> caso da <strong>de</strong>stilaria pioneiros S.A. Estudo <strong>de</strong> Caso Gestão Socioambiental.<br />

Disponível em:<br />

. Acesso em: 11 <strong>de</strong> julho 2012.<br />

FAGGIONATO, S. Percepção Ambiental. .<br />

Acesso em: 12 <strong>de</strong> junho 2012.<br />

HOEFFEL, J. L.; FADINI, A. A. B. Percepção Ambiental. IN: FERRARO JÚNIOR, L. A. (Org.).<br />

Encontros e Caminhos: formação <strong>de</strong> educadoras (es) ambientais e coletivos educadores. Brasília:<br />

MMA, Departamento <strong>de</strong> Educação Ambiental. v. 2, 2007.<br />

______; SORRENTINO, M.; MACHADO, M. K. Concepções sobre a natureza e sustentabilida<strong>de</strong><br />

um estudo sobre percepção ambiental na bacia hidrográfica do Rio Atibainha – Nazaré<br />

Paulista/SP. Disponível em:<br />

Acesso em: 22 <strong>de</strong><br />

julho 2008.<br />

MERICO, L. F. K. Introdução à economia ecológica. Blumenau: Editora da Furb, 1996. 159p.<br />

(Coleção Socieda<strong>de</strong> e ambiente, 1).<br />

MORAES, O. J. Economia ambiental: instrumentos econômicos para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

sustentável. São Paulo: Centauro, 2009.<br />

MOTTA, R. S. Economia ambiental. Editora FGV. Rio <strong>de</strong> Janeiro, 2006. 228p.<br />

OLIVEIRA, K. A.; CORONA, H. M. P. A percepção ambiental como ferramenta <strong>de</strong> propostas<br />

educativas e <strong>de</strong> políticas ambientais. Revista Científica ANAP Brasil. Ano 1, n. 1, p. 53-72, julho<br />

2008.<br />

PONTES, Albertina Mirtes <strong>de</strong> Freitas. A cida<strong>de</strong> dos clubes: mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> e “glamour” na<br />

Fortaleza <strong>de</strong> 1950-1970. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2005.<br />

SILVA, Elizete Américo. As praças do ferreira, José <strong>de</strong> Alencar e o passeio público. 2006.<br />

Dissertação (Mestrado em Geografia) – Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Ceará, Fortaleza.<br />

SILVA FILHO, Antônio Luiz Macedo. Fortaleza Imagem da Cida<strong>de</strong>. Fortaleza: Museu do<br />

Ceará/Secretaria da Cultura e Desporto do Estado do Ceará, 2004.<br />

232


WCED. World Commission on Environment and Development. Our common future. Oxford:<br />

Oxford University Press, 1987.<br />

233


CONDIÇÕES SÓCIO-SANITÁRIAS DO MERCADO PÚBLICO DE ERNESTO GEISEL, JOÃO<br />

Resumo<br />

PESSOA-PB 31 .<br />

Thais Lima <strong>de</strong> MENEZES (CNEC) – t_ha_mezeses@hotmail.com<br />

Mylena Ferreira MORAIS (CNEC) - mylena.morais@gmail.com<br />

Renata Gomes BARRETO (CNEC) -renata.peu@gmail.com<br />

Andréa Amorim LEITE 32 (CNEC) - andreaamorim.bio@gmail.com<br />

As feiras livres são importantes po<strong>de</strong>m contribuir para a concorrência do mercado e além <strong>de</strong> ser<br />

consi<strong>de</strong>rada como uma fonte <strong>de</strong> lazer. O objetivo do presente trabalho foi i<strong>de</strong>ntificar as condições<br />

sócio-sanitárias do Mercado Público <strong>de</strong> Ernesto Geisel. Para a realização do presente trabalho foram<br />

feitas visitas periódicas ao ambiente <strong>de</strong> estudo, a fim <strong>de</strong> observar possíveis alterações <strong>nas</strong> condições<br />

sócio-sanitárias <strong>de</strong>ntro do mercado público. Posteriormente foram feitas entrevistas do tipo semi-<br />

estruturada, com objetivo e elencar os principais problemas no mercado público na percepção dos<br />

comerciantes. Mais da meta<strong>de</strong> dos entrevistados são homens. Os principais produtos<br />

comercializados são <strong>de</strong> origem alimentícia. Um dos principais problemas encontrado foi o não<br />

gerenciamento <strong>de</strong> resíduos. Estes eram lançados em caçambas ou no solo. Esses resíduos atuariam<br />

moscas, baratas, cachorros e gatos, que comprometiam a saú<strong>de</strong> dos frequentadores. Outro ponto<br />

observado foi a infraestrutura e a falta <strong>de</strong> segurança ou policiamento. A estrutura física do mercado<br />

encontra-se muito <strong>de</strong>teriorada, servindo <strong>de</strong> ponto <strong>de</strong> encontro para o uso <strong>de</strong> drogas. Isso<br />

consequentemente influencia na segurança da comunida<strong>de</strong> em geral. Fica evi<strong>de</strong>nte a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

medidas que visem resolver esses problemas, proporcionado uma ambiente mais agravável e seguro<br />

para os frequentadores do mercado público do Ernesto Geisel.<br />

Palavras chaves: Feiras livres; saú<strong>de</strong>; infraestrutura.<br />

Abstract<br />

The fairs are important can contribute to market competition and besi<strong>de</strong>s being consi<strong>de</strong>red as a<br />

source of pleasure. The aim of this study was to i<strong>de</strong>ntify the socio-sanitary Public Market Ernesto<br />

Geisel. For the realization of this work were ma<strong>de</strong> periodic visits to the learning environment in<br />

31 O mercado público faz parte do cotidiano das pessoas. Durante muito tempo foi observado às condições do mercado<br />

público do Ernesto Geisel. A partir disso, <strong>nas</strong>ceu a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se realizar o presente trabalho.<br />

32 Professora <strong>de</strong> Biologia da Escola Cenecista João Régis Amorim e orientadora do trabalho.<br />

234


or<strong>de</strong>r to observe possible changes in socio-sanitary conditions insi<strong>de</strong> the public market. Later<br />

interviews were ma<strong>de</strong> of semi-structured, with a goal and list the major problems in public<br />

perception of the market tra<strong>de</strong>rs. More than half of respon<strong>de</strong>nts are men. The main products are<br />

marketed food source. A major problem found was not a waste management. These were thrown in<br />

dumpsters or on the ground. These residues would act flies, cockroaches, dogs and cats, which<br />

compromised the health of patrons. Another point noted was the intra-structure and lack of security<br />

or policing. The physical structure of the market is very <strong>de</strong>teriorated, serving as a meeting place for<br />

drug use. This consequently influences the safety of the community at large. It is evi<strong>de</strong>nt the need<br />

for measures to solve these problems, providing a safe environment and to aggravate goers Public<br />

Market Ernesto Geisel.<br />

Keywords: Free Tra<strong>de</strong>, Health, Infrastructure.<br />

INTRODUÇÃO<br />

As feiras livres são <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância pela varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> produtos e <strong>de</strong> preços que são<br />

ofertados aos consumidores. Centralizar os comerciantes em um único local gera o impacto positivo<br />

da concorrência (COUTINHO, et al [2007?]).<br />

Conforme Santos (2005), as feiras livres oferecem ao consumidor a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

comparar preços entre os comerciantes, sem que para isso precise se <strong>de</strong>scolar a uma gran<strong>de</strong><br />

distância. Além do mais, as feiras livres são locais <strong>de</strong> encontro entre vizinhos e são até mesmo<br />

locais <strong>de</strong> lazer (DOLZANI e JESUS, 2004).<br />

Porém, com o passar do tempo as feiras livres vêm apresentando cada vez mais problemas.<br />

Esses problemas são basicamente as precárias condições <strong>de</strong> higiene, falta <strong>de</strong> segurança e<br />

<strong>de</strong>sorganização. Esses problemas citados po<strong>de</strong>m comprometer a segurança e a saú<strong>de</strong> das pessoas<br />

que utilizam as feiras livres. Sendo <strong>de</strong> fundamental importância a preocupação com esse ambiente,<br />

uma vez que o mesmo faz parte do dia a dia das comunida<strong>de</strong>s.<br />

OBJETIVO<br />

O objetivo do presente trabalho foi i<strong>de</strong>ntificar as condições sócio-sanitárias do Mercado<br />

Público <strong>de</strong> Ernesto Geisel.<br />

METODOLOGIA<br />

Para a realização do presente trabalho foram feitas visitas periódicas ao ambiente <strong>de</strong> estudo,<br />

a fim <strong>de</strong> observar possíveis alterações <strong>nas</strong> condições sócio-sanitárias <strong>de</strong>ntro do mercado público.<br />

235


Posteriormente foram feitas entrevistas do tipo semi-estruturada, com objetivo e elencar os<br />

principais problemas no mercado público na percepção dos comerciantes.<br />

RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

A partir da entrevista foi possível observar, como mostra no gráfico 1, que entre os<br />

comerciantes mais da meta<strong>de</strong> são do sexo masculino.<br />

Gráfico 1. Sexo dos comerciantes do mercado público do Ernesto Geisel<br />

Quando foi perguntado há quanto tempo o comerciante tinha seu estabelecimento no<br />

Mercado público do Ernesto Geisel, as respostas variaram entre 3 e 28 anos. Essa informação foi <strong>de</strong><br />

extrema importância, pois comerciantes mais antigos relataram as transformações que ocorrem no<br />

mercado público a respeito da infra-estrutura.<br />

Posteriormente foi perguntado que tipo <strong>de</strong> produto era comercializado, gráfico 2. Dos 20<br />

comerciantes que participaram da pesquisa, 14 comercializavam produtos alimentícios, 3 com<br />

roupas, 2 com material <strong>de</strong> construção e 2 com outros produtos.<br />

236


Gráfico 2. Tipo <strong>de</strong> produto comercializado.<br />

Essa pergunta mostrou à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se trabalhar as condições sanitárias do mercado<br />

público, uma vez que mais da meta<strong>de</strong> dor comerciantes trabalham com produtos para fins<br />

alimentícios.<br />

Depois foi perguntado o que o comerciante achava que <strong>de</strong>veria ser melhorado no mercado<br />

público. Os principais pontos abordados formam: segurança, coleta <strong>de</strong> resíduos e infra-estrutura.<br />

Segundo os relatos <strong>de</strong> alguns comerciantes, não há nenhum tipo <strong>de</strong> gerenciamento <strong>de</strong><br />

resíduos sólidos. Todo o lixo é colocado <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> caçambas in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da sua origem, ou seja,<br />

há mistura <strong>de</strong> restos orgânicos (restos <strong>de</strong> comida, pe<strong>nas</strong> <strong>de</strong> galinha e etc.) com materiais recicláveis.<br />

Também foi observado o esgoto a céu aberto. Esse fato foi comprovado em visitas periódicas, como<br />

mostra a imagem 1.<br />

Imagem 1. Caçambas on<strong>de</strong> são jogados os resíduos do mercado público do<br />

Ernesto Geisel.<br />

237


Porém, é notável conforme mostra a imagem 2, que ainda com a presença <strong>de</strong> caçambas, os<br />

resíduos são colocados fora <strong>de</strong>las, facilitando o espalhamento e consequentemente poluindo ainda<br />

mais o ambiente. Esse fato mostra à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se trabalhar a educação ambiental com os<br />

comerciantes.<br />

É notável que as condições sócio-sanitárias estão piores do que foi encontrado por<br />

Nascimento (2010). Pois a respeito dos resíduos sólidos fica evi<strong>de</strong>nte que não a menor separação<br />

<strong>de</strong>sses resíduos, e a coleta também se faz <strong>de</strong> forma irregular. O acúmulo <strong>de</strong> resíduos acaba<br />

prejudicando a qualida<strong>de</strong> dos produtos vendidos, principalmente das carnes.<br />

Imagem 2. Resíduos jogados a céu aberto no Mercado Público do Ernesto Geisel<br />

Os comerciantes também relataram que <strong>de</strong>vido à <strong>de</strong>mora da Empresa Municipal <strong>de</strong> Limpeza<br />

Urbana (EMLUR) e a falta <strong>de</strong> consciência dos próprios comerciantes que jogam o lixo fora das<br />

caçambas tem-se uma serie <strong>de</strong> problemas, tais como mau cheiro, que consequentemente acaba<br />

afastando a freguesia; a proliferação <strong>de</strong> insetos como moscas e baratas; e atrai ostros animais como<br />

gatos e cachorros. Ainda segundo os comerciantes, esses animais geralmente são doentes,<br />

proporcionando um risco para a saú<strong>de</strong> dos freqüentadores do mercado.<br />

Outro ponto relevante é a respeito da infra-estrutura (imagens 3 e 4). Atualmente, o mercado<br />

encontra-se em condições precárias, tais condições influenciam no número <strong>de</strong> assaltos e uso <strong>de</strong><br />

drogas <strong>de</strong>ntro do mercado público colocando em risco a vida das pessoas. Muitos dos boxes<br />

encontram-se <strong>de</strong>struídos sendo alvos <strong>de</strong> usuários <strong>de</strong> drogas. Esse fato ainda é agravado pela falta <strong>de</strong><br />

segurança do local. Nascimento (2010) encontrou resultado semelhante sobre a infra-estrutura e<br />

segurança do mercado público no Ernesto Geisel.<br />

238


CONCLUSÃO<br />

Imagens 3 e 4. Condições <strong>de</strong> infra-estrutura do mercado público do Ernesto Geisel.<br />

Conforme apresentado no presente trabalho, fica evi<strong>de</strong>nte a importância das feiras livres na<br />

vida da comunida<strong>de</strong>. Porém, é preciso essas feiras sejam constantemente fiscalizadas a respeito das<br />

condições sócio-sanitárias. Vários temas <strong>de</strong>vem ser fiscalizados, tais como gerenciamento <strong>de</strong><br />

resíduos, condições <strong>de</strong> higiene, segurança e infra-estrutura. Se assim não for, o que <strong>de</strong>veria ser um<br />

auxílio para população, acaba trazendo vários problemas tanto sociais como uso <strong>de</strong> drogas constante<br />

<strong>de</strong> <strong>nas</strong> feiras livres, aumento do número <strong>de</strong> assaltos; como também sanitários, colocando em risco a<br />

saú<strong>de</strong> das pessoas.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

COUTINHO, E. P. et al. Condições <strong>de</strong> higiene das feiras livres dos municípios <strong>de</strong> bananeiras,<br />

Solânea e Guarabira. [2007?].<br />

DOLZANI, M. & JESUS, G. M. O direito a Cidadania: cem anos <strong>de</strong> feira livre na cida<strong>de</strong> do Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro. Disponível em: . Acesso em: .<br />

NASCIMENTO, E. C. Mercados públicos <strong>de</strong> João Pessoa. Monografia apresentada ao Centro <strong>de</strong><br />

Ciências Exatas e da Natureza. UFPB. João Pessoa. 2010.<br />

SANTOS, A. R. A feira livre da Avenida Saul Elkind em Londrina-PR. GEOGRAFIA: Revista<br />

do Departamento <strong>de</strong> Geociências v. 14, n. 1, jan./jun. 2005. Disponível em .<br />

239


ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA EM PEDREIRAS-MA: IMPACTOS ECONÔMICOS E<br />

SOCIOAMBIENTAIS.<br />

Alan Marcos da Silva SALES<br />

Graduado do Curso <strong>de</strong> Licenciatura em Geografia da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Educação São Francisco –<br />

FAESF (alangamesmss@hotmail.com)<br />

Daniel César Menezes <strong>de</strong> CARVALHO<br />

Orientador, coor<strong>de</strong>nador do Curso <strong>de</strong> Licenciatura em Geografia da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Educação São<br />

Francisco – FAESF (danielcmc@ymail.com)<br />

Resumo<br />

Otacílio Tavares FERNANDES<br />

Graduando do curso <strong>de</strong> Ciências contábeis da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Educação São Francisco-FAESF<br />

(otaciliocmp@hotmail.com)<br />

Rosilda Costa <strong>de</strong> ALMEIDA<br />

Graduanda no Curso <strong>de</strong> Licenciatura em Geografia da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Educação São Francisco –<br />

FAESF (rosildagilr@hotmail.com)<br />

O trabalho é um estudo sobre a supervalorização imobiliária do centro <strong>de</strong> Pedreiras-MA, que tem<br />

como característica principal os valores acima da tabela em relação a cida<strong>de</strong>s maranhense <strong>de</strong><br />

mesmo porte. Tendo esta pesquisa o objetivo <strong>de</strong> analisar a valorização imobiliária e i<strong>de</strong>ntificar<br />

quais impactos esta causa na economia e no ambiente. Para isso foi realizado um estudo<br />

bibliográfico sobre o tema proposto, assim também como estudo exploratório que proporcionou<br />

uma proximida<strong>de</strong> maior com o assunto em questão, além <strong>de</strong> realizar um estudo in loco. Para tanto<br />

foram observados alguns elementos que contribui para o crescimento econômico, em contraponto<br />

existem fatores como a segregação e o surgimento <strong>de</strong> novos focos <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s suburba<strong>nas</strong> em<br />

área <strong>de</strong> risco que passam a configurar um novo cenário <strong>de</strong> marginalização e diminuição na<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida dos cidadãos menos favorecidos economicamente.<br />

Palavras chaves: valorização imobiliária. Impactos econômicos. Marginalização.<br />

Abstract<br />

The workisa study ona supervalorização estate center Pedreiras-MA-, whose main characteristic<br />

valuesabove the table compared to cities of similar size Maranhão. Takingthis researchto analyze<br />

the real estate valuation and i<strong>de</strong>ntify that this impacts to the economy and the environment. For this<br />

we conducted abiblio graphic study on the proposed topic, so as exploratory study that provi<strong>de</strong>d a<br />

240


closer relationship with the subject matter, in addition to conducting a study spot. Therefore, we<br />

observed some elements that contribute to economic growth, in contrast there are factors such as<br />

segregation and the emergence of new centers of suburban communities in the area of risk that<br />

resetting up anew scenario of marginalization and <strong>de</strong>creased quality of life of citizens less<br />

economically advantaged.<br />

Keywords: real estate valuation. Speculation. Economic impacts. Marginalization.<br />

INTRODUÇÃO<br />

Nas últimas décadas observou-se que o espaço habitado pelo homem passou a ser utilizado<br />

<strong>de</strong> forma mais heterogênea, dividindo e caracterizando tais espaços como zo<strong>nas</strong> urba<strong>nas</strong> e rurais,<br />

por conta <strong>de</strong> uma valorização diferenciada.<br />

Dentro <strong>de</strong> uma região heterogênea, novas áreas vão sendo criados, até mesmo direcionados<br />

<strong>de</strong> forma que <strong>de</strong>ntro da socieda<strong>de</strong> dirigem-se ao acúmulo <strong>de</strong> valores, que <strong>de</strong> fato acaba interferindo<br />

no habitat da população que ali resi<strong>de</strong>m. Nesse âmbito, entra o contexto pedreirense, que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua<br />

formação vem passando por significativas mudanças tanto no contexto social, como no econômico e<br />

natural.<br />

Diante disso o objetivo <strong>de</strong>sse estudo foi analisar a especulação imobiliária <strong>de</strong> Pedreiras e<br />

seus impactos socioeconômico e ambiental, assim também como verificar porque a cida<strong>de</strong> está com<br />

um nível <strong>de</strong> inflação muito alto, e que elementos favoreceram a esse crescimento <strong>de</strong>sproporcional<br />

nos valores dos imóveis, uma vez que a média salarial do município não proporciona uma<br />

valorização grandiosa como essa, e muito menos o setor comercial que vive simplesmente dos<br />

serviços terceirizados, mas é o que comanda toda cida<strong>de</strong>.<br />

Através <strong>de</strong>sse contexto surgiu a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar com o centro <strong>de</strong> Pedreiras mais<br />

precisamente na Avenida Rio Branco, on<strong>de</strong> há uma concentração <strong>de</strong> prédios com um maior valor<br />

comercial, e também por se tratar da região mais estruturada <strong>de</strong>ssa cida<strong>de</strong>. Em contrapartida foram<br />

trabalhadas algumas regiões <strong>de</strong> Pedreiras que falta estrutura, no qual os impactos ambientais são<br />

mais assíduos, e que, contudo, a valorização do centro reflete nessas regiões.<br />

Para isso foi realizado um estudo <strong>de</strong> campo através <strong>de</strong> entrevista e questionário aos gran<strong>de</strong>s<br />

empresários e proprietários dos imóveis, com o intuito <strong>de</strong> buscar mais informações sobre os<br />

impactos gerado na economia pela especulação imobiliária, mostrando como essa afeta<br />

ambientalmente o município. Também foi utilizada pesquisa bibliográfica buscando maior clareza<br />

e coerências, além <strong>de</strong> dar enfoque qualitativo com as informações obtidas.<br />

241


Mediante essa situação faz-se necessário o conhecimento dos reais motivos para esses<br />

fenômenos <strong>de</strong> valorização <strong>de</strong>sse setor, e como este po<strong>de</strong> afetar sua população, uma vez que a renda<br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> parte da população não é proporcional ao que é exigido neste setor.<br />

PROCESSO HISTORICO E FORMAÇÃO DO ESPAÇO URBANO<br />

Em meados do século XIX, o espaço urbano <strong>de</strong> Pedreiras começou a ser alterado<br />

principalmente pela ocupação <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada, e seguida <strong>de</strong> um complexo sistema <strong>de</strong> produção que<br />

<strong>de</strong>sviou a agricultura <strong>de</strong>ixando-a <strong>de</strong>svalorizada, ressaltado que o processo histórico da cida<strong>de</strong><br />

iniciou com a produção agrícola sendo uma das maiores no nor<strong>de</strong>ste inclusive na produção <strong>de</strong><br />

algodão e arroz.<br />

Neste período o crescimento foi acelerado, em relação a urbanização, com o comércio em<br />

acessão foram construídos os inúmeros imóveis na então vila <strong>de</strong> Pedreiras, o que a colocou<br />

rapidamente em uma posição superior a São Luís Gonzaga, que na época era a ce<strong>de</strong> da promissora<br />

vila.<br />

Figura 01: Representação do espaço urbano <strong>de</strong> Pedreiras<br />

Fonte: Departamento <strong>de</strong> fiscalização urbanística e controle <strong>de</strong> trânsito - DEFUCT<br />

Em meio á produção, o setor imobiliário pedreirense expandiu-se significativamente e <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

o inicio do século XXI,tal crescimento vem se <strong>de</strong>senrolando <strong>de</strong> forma tão rápida que a socieda<strong>de</strong><br />

está passando por sérios problemas com relação a moradia, ocasionado principalmente pelo:<br />

[...] processo <strong>de</strong> industrialização que se realizou e gerou uma urbanização profundamente<br />

<strong>de</strong>sigual, criando separações entre o centro e a periferia como particularida<strong>de</strong> da metrópole<br />

em constituição. Com isso localizou uma massa expressiva <strong>de</strong> trabalhadores em áreas sem<br />

equipamento e moradias precárias. (CARLOS, 2009, p. 1)<br />

Não se po<strong>de</strong> negar que o processo <strong>de</strong> industrialização trouxe gran<strong>de</strong>s avanços e<br />

<strong>de</strong>senvolvimento para o espaço urbano, mais isso provocou sérios danos a socieda<strong>de</strong>. Na sua real<br />

construção <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>sigual, a urbanização ligada a industrialização, que formam unicamente uma<br />

visão <strong>de</strong> lucro, que se sobrepõe aos direitos da maioria da comunida<strong>de</strong>. Esse fenômeno que se<br />

242


instala perante a organização da socieda<strong>de</strong> está preocupado não com bem estar populacional mais<br />

sim com o crescimento do capital, que inegavelmente <strong>de</strong>senvolve a economia, mas não oferece<br />

vantagens a maioria.<br />

Ao se tratar <strong>de</strong>ssa questão <strong>de</strong>ntro da perspectiva geográfica, <strong>de</strong>ve-se consi<strong>de</strong>rar que todo o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento urbanístico está diretamente relacionado com os interesses econômicos, sociais e<br />

políticos que caracteriza a produção socioespacial <strong>de</strong> um lugar geográfico. Sobre esse aspecto,<br />

Miele (2008, n/p) relata que ―o fenômeno urbano diz respeito às ativida<strong>de</strong>s exercidas pelo homem‖,<br />

on<strong>de</strong> necessita <strong>de</strong> uma visão que ofereça as dimensões para as relações sociais <strong>de</strong>senvolvidas na<br />

mesma.<br />

As dinâmicas locais que variam <strong>de</strong> lugar para lugar exercem sobre a produção do espaço<br />

seus conceitos e suas tendências, cujo sua formação exige adaptação para o <strong>de</strong>senvolvimento do<br />

crescimento capital relativamente ao que é exigido pelas diversas formas <strong>de</strong> produção que<br />

<strong>de</strong>termina esse espaço.<br />

Contudo, esse gran<strong>de</strong> crescimento nos diversos setores da economia, <strong>de</strong>ntre eles o setor<br />

imobiliário, faz com que a haja um incremento no <strong>de</strong>senvolvimento da cida<strong>de</strong> culminando com um<br />

maior lucro para gran<strong>de</strong>s empresários, o que <strong>de</strong> fato suce<strong>de</strong> na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pedreiras.<br />

EXPANSÃO IMOBILIÁRIA EM PEDREIRAS: VALORIZAÇÃO E SEGREGAÇÃO<br />

DESENVOLVIMENTISTA<br />

Ao referir sobre a expansão imobiliária em uma perspectiva histórica, remete-se<br />

primeiramente a ocupação <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado lugar, que cresce <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> uma ocupação, seja<br />

ela or<strong>de</strong>nada ou não. Esse crescimento ocupacional do espaço suce<strong>de</strong>u pela economia<br />

<strong>de</strong>senvolvimentista que vem <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a constituição do solo urbano que teve gran<strong>de</strong> valorização no<br />

período feudal e no capitalismo, o que na época era a mercadoria <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valor economicamente.<br />

Não é só a segregação que provoca disparida<strong>de</strong>, o mercado imobiliário também dispõe<br />

<strong>de</strong>ssas diferenças no setor urbano, primeiramente porque aumentam inflacionando o preço dos<br />

espaços propício a construção. Isso é refletido em Pedreiras, que ao longo <strong>de</strong> sua produção e<br />

formação espacial, houve e há conflitos pela localização <strong>de</strong> setores no centro da mesma, em que<br />

predomina todo o fluxo econômico <strong>de</strong> produção que concebe toda renda local da cida<strong>de</strong>.<br />

Como todo e qualquer lugar guarda resquício <strong>de</strong> sua composição cultural, a cida<strong>de</strong><br />

pesquisada também guarda esses vestígios que na verda<strong>de</strong> são esses imóveis, hoje supervalorizados<br />

que foram construídos em meados do século XX, mais não se po<strong>de</strong> jamais <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> elencar que<br />

neste mesmo século houve gran<strong>de</strong>s construções irregulares que por falta <strong>de</strong>sses espaços propícios a<br />

construções, os interessados passam a danificar ambientalmente os espaços da cida<strong>de</strong>.<br />

Isso chama atenção para o setor imobiliário que segundo (PAIXÃO, 2008, p.4) a ―ativida<strong>de</strong><br />

imobiliária molda o espaço urbano a partir da ação dos empreen<strong>de</strong>dores urbanos‖. Essa moldação<br />

243


da ativida<strong>de</strong> é o processo que vem suce<strong>de</strong>ndo em Pedreiras-MA, no qual seu espaço urbano passa<br />

por constantes mudanças na sua dinâmica socioeconômica.<br />

De fato, o espaço passou a ser moldado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> seu processo <strong>de</strong> formação, com os inúmeros<br />

índices <strong>de</strong> crescimento urbano que expandiu-se <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>senfreada por todo país, e isso<br />

proporcionou uma parcela enorme <strong>de</strong> pessoas <strong>nas</strong> aglomerações urba<strong>nas</strong>, e ao mesmo tempo a<br />

<strong>de</strong>sconcentração <strong>de</strong> um nível médio para as cida<strong>de</strong>s que são menores tanto em uma abrangência<br />

regional como na local. Isso é percebido por Lefebvre (1999) e Monte-mor (2001) quando ressaltam<br />

que as principais mudanças da contradição se instalam no interior do fenômeno urbano estando<br />

entre a centralida<strong>de</strong> do po<strong>de</strong>r e entre o centro da riqueza, integração e segregação.<br />

Nessa visão, po<strong>de</strong>-se incluir as mudanças no espaço <strong>de</strong> pedreiras, no que se refere a<br />

valorização imobiliária e consequente a segregação, <strong>de</strong>vido a centralização do po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> uma<br />

pequena classe empresarial, que empiricamente ditam as regras da organização da cida<strong>de</strong>.<br />

A cida<strong>de</strong> como um todo tem seu valor econômico voltado para o comercio em que toda<br />

renda é basicamente provinda <strong>de</strong>ste. Como mostra a figura 02<br />

Como é observado, o centro <strong>de</strong> Pedreiras possui quase toda sua re<strong>de</strong> comercial concentrada<br />

em uma única área, o que causa maior valorização imobiliária, ocasionada pela estratégica<br />

localização do centro pedreirense, que é rota para outros centros urbanos, como o do município <strong>de</strong><br />

Trizi<strong>de</strong>la do Vale.<br />

Figura 02: Avenida Rio Branco, região central <strong>de</strong> Pedreiras.<br />

Fonte: Os autores, 2012<br />

Figura 03: Pedreiras na parte superir da imagem, e Trizi<strong>de</strong>la do Vale, na parte inferior.<br />

Fonte: Joycce Alencar. Disponível em: http://www.citybrazil.com.br/ma/pedreiras/galeriafotos.php<br />

244


Além disso, Pedreiras configura-se como uma das principais cida<strong>de</strong>s do interior do<br />

Maranhão, por conta da forma em que a mesma foi <strong>de</strong>senvolvida. A cida<strong>de</strong> caracteriza-se<br />

por ser polo sub-regional que abrange uma área gran<strong>de</strong>, contendo15municípios praticamente<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> Pedreiras. Assim, o foco do <strong>de</strong>senvolvimento fica restrito a cida<strong>de</strong>, exemplo disso, é<br />

a <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> gás natural em cida<strong>de</strong>s vizinhas, porém o crescimento é praticamente todo<br />

direcionado a Pedreiras.<br />

PROBLEMAS ESTRUTURAIS E AMBIENTAIS DA EXPANSÃO IMOBILIÁRIA<br />

Em Pedreiras, a organização do espaço é moldada a partir <strong>de</strong> uma classe dominante, e a<br />

partir <strong>de</strong>sse controle há facilitação <strong>de</strong> acúmulo <strong>de</strong> riquezas. Desse modo, gran<strong>de</strong> parte do patrimônio<br />

imobiliário fica retido e facilmente controlado <strong>de</strong>ntro dos interesses <strong>de</strong>sses grupos. Esse fenômeno<br />

que não é exclusivo <strong>de</strong> Pedreiras é explicado por Cilicia Santos (2008, p.181) quando diz que:<br />

A produção do espaço urbano está intimamente ligada ao jogo <strong>de</strong> interesses entre os seus<br />

agentes e partícipes, fruto das relações simbólicas e contraditórias do capitalismo em<br />

suas múltiplas facetas (...)em seguida manipulado numa teia <strong>de</strong> ações sociais, on<strong>de</strong> as<br />

relações entre os atores envolvidos nem sempre resultarão na aplicabilida<strong>de</strong> das<br />

soluções que visem os anseios da maioria.<br />

Assim, a manipulação da teia econômica por parte <strong>de</strong>sses grupos causam fenômenos como o<br />

crescimento vertiginoso dos preços dos alugueis, que chegou a marca <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 50% <strong>de</strong> aumento<br />

no período <strong>de</strong> um ano havendo exemplo <strong>de</strong> prédios que sofreu aumento <strong>de</strong> quase 200% num<br />

período dois anos, subindo <strong>de</strong> um salário mínimo para três salários, que segundo alguns<br />

proprietários, o argumento é que “após a <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> petróleo em algumas das cida<strong>de</strong>s vizinhas a<br />

Pedreiras, os valores dos imóveis subiram, pois o solo se valorizou‖.<br />

Esse aumento po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado abusivo no momento em que se observa que a mesmo<br />

está acima da inflação, sendo que hoje, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pedreiras, um trabalhador assalariado padrão<br />

não tem mais condições <strong>de</strong> adquirir uma residência na cida<strong>de</strong>, uma vez que até mesmo as casas <strong>de</strong><br />

pequeno porte, consi<strong>de</strong>radas ruins, em bairros periféricos, mas que tenha condições mínimas <strong>de</strong><br />

moradia, não é encontrada com um valor abaixo <strong>de</strong> 50,0% <strong>de</strong> um salário mínimo.<br />

Por esses motivos, algumas famílias são obrigadas a procurar alternativas para conseguir um<br />

teto pra viver, e uma das principais estratégias encontradas foi a ocupação irregular <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong><br />

risco sem nenhuma condição estrutural para uma qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida digna, como po<strong>de</strong> ser observado<br />

na imagem 04.<br />

245


A questão da ocupação da área <strong>de</strong> risco é um problema que só se agrava no município. O<br />

planejamento mal elaborado, ou mesmo a inexistência do mesmo, unidos com a falta <strong>de</strong><br />

oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> algumas classes sociais faz com que a ocupação <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> morros e encostas<br />

seja um fato comum na cida<strong>de</strong>, mesmo sendo <strong>de</strong> conhecimento <strong>de</strong> todos os eventuais <strong>de</strong>sastres que<br />

isso po<strong>de</strong> causar. O solo <strong>de</strong> Pedreiras é antigo e esta em processo <strong>de</strong> sedimentação, por isso se<br />

caracterizam por sua instabilida<strong>de</strong>.<br />

Outro problema que <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rados em relação ás ocupações irregulares é a falta <strong>de</strong><br />

expectativas <strong>de</strong> melhorias para essas ruas recém-formadas sem nenhum planejamento, pois <strong>de</strong> um<br />

lado estão as dificulda<strong>de</strong>s por motivos burocráticos, já que teoricamente essas ruas sequer existem,<br />

e por outro lado está às questões <strong>de</strong> priorida<strong>de</strong>s do po<strong>de</strong>r público, que quase sempre tem o interesse<br />

<strong>de</strong> aplicar recursos <strong>nas</strong> áreas nobres da cida<strong>de</strong> pra só então observar as regiões periféricas que<br />

acomoda as classes pobres da socieda<strong>de</strong>.<br />

Figura 04: Loteamento Parque Henrique Oliveira.<br />

Fonte: Os autores,2012<br />

[...] o capital jamais realiza as suas tendências expansivas, não chega a constituir<br />

permanentemente sua efetivida<strong>de</strong> em sentido pleno. Bem, como por outro lado, ele também<br />

nunca realiza <strong>de</strong>finitivamente sua tendência a crise, na forma <strong>de</strong> um colapso inevitável ou<br />

<strong>de</strong> uma progressiva estagnação até um estado <strong>de</strong> <strong>de</strong>svalorização crônica e insuperável.<br />

(CRUZ, 2006, p.43).<br />

Devido a economia <strong>de</strong> pedreiras ser praticamente toda voltada ao comercio, a valorização da<br />

zona comercial da cida<strong>de</strong> faz com que inúmeros proprietários que ainda possuem estabelecimentos<br />

nessa área sejam obrigados a procurar residências <strong>nas</strong> regiões mais periféricas,no entanto, os<br />

mesmos não se instalam em localida<strong>de</strong>s semelhantes das <strong>de</strong>mais áreas periféricas das classes<br />

pobres, já que a maiorias <strong>de</strong>sses são influentes perante o po<strong>de</strong>r público e facilmente conseguem<br />

246


contemplar-se comas melhorias necessárias para seu bem estar, o que atrai <strong>de</strong>senvolvimento e<br />

valoriza a área,<strong>de</strong>ixando-as nobres em uma perspectiva socioeconômica.<br />

A dificulda<strong>de</strong> da população <strong>de</strong> baixa renda fica maior na medida em que as classes<br />

dominantes passam a procurar áreas mais afastadas do centro, pois esse fenômeno tem o efeito <strong>de</strong><br />

empurrar os grupos sem gran<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r aquisitivos para setores sem qualquer infraestrutura, ou até<br />

mesmo em áreas <strong>de</strong> risco.<br />

QUESTÕES ECONÔMICAS E A VALORIZAÇÃO IMOBILIÁRIA<br />

A supervalorização do espaço pedreirense também causa impactos sociais que advém da<br />

expulsão dos moradores <strong>de</strong> classes intermediárias para áreas mais periféricas e não estruturadas,<br />

empurrando ainda mais os moradores menos privilegiados economicamente para zo<strong>nas</strong> antes não<br />

habitáveis, como morros e encostas, disseminando a favelização e precarizando ainda mais a<br />

situação habitacional da cida<strong>de</strong>.<br />

Além dos impactos sociais também existe os crimes ambientais provocados pela ocupação<br />

<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada do espaço como o rebaixamento <strong>de</strong> morros acima <strong>de</strong> 40º e bastante comum em várias<br />

localida<strong>de</strong>s recém-ocupadas, assim também como aterramentos <strong>de</strong> córregos e lagos o que provoca<br />

impactos significativos em praticamente toda a cida<strong>de</strong>, até mesmo <strong>nas</strong> áreas valorizadas, esses<br />

impactos ,assim como a negligências por parte do po<strong>de</strong>r fiscalizador, provocam gran<strong>de</strong>s enxurradas<br />

em pedreiras, que ironicamente atinge com mais intensida<strong>de</strong> o centro mais valorizado da mesma.<br />

Outro gran<strong>de</strong> problema comum é a existência cada vez mais abundante <strong>de</strong> casas feitas em<br />

áreas <strong>de</strong> risco como encostas, como é ocaso do Pão <strong>de</strong> Açúcar que se trata <strong>de</strong> um morro localizado<br />

<strong>nas</strong> margens do Rio Mearim, localida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> já houve vários <strong>de</strong>smoronamentos e o risco iminente<br />

<strong>de</strong> que aconteça a qualquer momento.<br />

É importante frisar que esses são ape<strong>nas</strong> algumas das inúmeras ações da ocupação mal<br />

planejada que danificam o ambiente natural, outros fatores corriqueiros são as <strong>de</strong>vastações das<br />

matas e florestas dos cocais para implantação <strong>de</strong> loteamentos irregulares, assim como aterramento<br />

<strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> vazante do rio Mearim, o que prejudica ainda mais a cida<strong>de</strong> vizinha <strong>de</strong> Trizi<strong>de</strong>la do<br />

vale.<br />

No final da primeira década do século XXI, com a solidificação da Faesf passou a ser<br />

construída uma série <strong>de</strong> loteamentos sem regularização, e quase todos carregado <strong>de</strong> irregularida<strong>de</strong>s<br />

ambientais (a maioria irreversível), sendo alguns <strong>de</strong>stes empreendimentos embargados, multados, e<br />

até mesmo com seus responsáveis processados criminalmente pela Secretária <strong>de</strong> Meio Ambiente da<br />

cida<strong>de</strong>.<br />

Todos os fatores que foram mencionados são reflexos do gran<strong>de</strong> crescimento imobiliário<br />

que elevaram os preços dos espaços no Centro da cida<strong>de</strong> e que tem dois motivos específicos: o<br />

primeiro é a implantação <strong>de</strong> empresas, faculda<strong>de</strong>s, e bancos, que atraiu um número significativo <strong>de</strong><br />

247


pessoas, fato que elevou o preço do imóvel localizado próximo ao Centro, e o segundo fator é a<br />

ineficácia dos órgãos estaduais e municipais reguladores.<br />

Em relação á economia, os impactos caminham em duas direções distintas, <strong>de</strong> um lado os<br />

proprietários superfaturando os alugueis, e <strong>de</strong> outro trabalhadores do ramo do comercio sendo<br />

obrigados a se retirarem do principal centro da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>vido a incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pagar pelo ponto.<br />

O interesse dos comerciantes por localida<strong>de</strong>s mais próximas do mercado central da cida<strong>de</strong><br />

faz com que, até mesmo os menores pontos comerciais tenham preços elevados, <strong>de</strong> modo que um<br />

comerciante com menor po<strong>de</strong>r aquisitivo não tenha condições <strong>de</strong> disputar espaço com comerciante<br />

que há tempos estão instalados nesses setores privilegiados, ainda mais por serem eles, os dirigentes<br />

lojistas da cida<strong>de</strong> os proprietários <strong>de</strong> mais da meta<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses imóveis, sendo que os mesmos, com<br />

estratégias semelhantes a cartel, <strong>de</strong>terminam os valores imobiliários em relação aos pontos<br />

comerciais para assim manipular a máquina comercial <strong>de</strong> Pedreiras.<br />

As instalações comerciais <strong>nas</strong> regiões periféricas não tem o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver aquelas<br />

áreas, ou seja, o fenômeno é exatamente o contrário, por motivos culturais, os consumidores<br />

preferem procurar seus produtos necessários nos comércios do centro da cida<strong>de</strong>, o que compromete<br />

os localizados <strong>nas</strong> proximida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> suas residências, causando assim a falência e fechamento dos<br />

mesmos, o que <strong>de</strong>svaloriza ainda mais esses setores periféricos e eleva a o preço do m² do centro,<br />

pois dá a enten<strong>de</strong>r que somente essa região é propicia ao comércio, o que aumenta a <strong>de</strong>manda nesse<br />

setor.<br />

EXPANSÃO IMOBILIARIA DE PEDREIRAS<br />

A cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pedreiras, localizada a 277 km da capital do Estado, São Luís, que se encontra,<br />

no centro da cida<strong>de</strong>, a Avenida Rio Branco, que a partir da década <strong>de</strong> 1960 passou a sofrer intenso<br />

processo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização que alterou <strong>de</strong> forma significativa a paisagem cultural <strong>de</strong>ssa cida<strong>de</strong>.<br />

É válido ressaltar que é fundamental reportar-se à evolução histórica da construção <strong>de</strong>sses<br />

espaços para um melhor entendimento <strong>de</strong>sse processo. Atribui-se que o nome <strong>de</strong> Pedreiras é<br />

oriundo do gran<strong>de</strong> bloco <strong>de</strong> pedras existentes na margem esquerda do Rio Mearim, distante<br />

aproximadamente três quilômetros da zona urbana da cida<strong>de</strong>.<br />

Pedreiras teve sua primeira constituição imobiliária durante a produção <strong>de</strong> arroz e algodão, o<br />

que levou a um <strong>de</strong>senvolvimento significativo da cida<strong>de</strong>, tornando-a maior se<strong>de</strong> agrícola da região,<br />

antes mesmo <strong>de</strong> sua emancipação política no dia 27 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1920.<br />

Com essa força econômica que a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pedreiras apresentava a colocou em uma posição<br />

privilegiada no estado, sendo a terceira maior cida<strong>de</strong>, no entanto, hoje não está entre as <strong>de</strong> maior<br />

território nem tão pouco <strong>de</strong>ntre as mais populosas do Maranhão. Segundo o Censo <strong>de</strong> 2010,<br />

Pedreiras se apresentava com uma população inferior a 50 mil habitantes, contendo ape<strong>nas</strong><br />

39.448mil pessoas naquele ano, ocupando assim o mo<strong>de</strong>sto 39º lugar do estado, por outro lado, o<br />

crescimento populacional da cida<strong>de</strong> se intensificou vertiginosamente nos anos <strong>de</strong> 2011 e 2012, algo<br />

248


que po<strong>de</strong> ser notado com o gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> apartamentos (aparte hotéis), condomínios e<br />

loteamentos, enfim, nos anos mencionados a cida<strong>de</strong> praticamente passa por um processo <strong>de</strong><br />

reconstrução, no qual a verticalização é a mais disseminada.<br />

Segundo os dados do plano <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento territorial integrado da região, 21% da<br />

população <strong>de</strong> pedreiras utilizam os aluguéis como forma <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> comercial e fonte <strong>de</strong> renda.<br />

Porém, necessita-se <strong>de</strong> novas pesquisas que retratem sobre o tema, uma vez que está<br />

realizada em 2008, mesmo sendo a mais atual, torna-se ineficiente já que o crescimento imobiliário<br />

<strong>de</strong> Pedreiras teve um aumento significativo exatamente após esse período, tendo o ápice <strong>de</strong>sse<br />

processo no ano <strong>de</strong> 2012, e mantendo-se constantemente nesse processo.<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

O <strong>de</strong>senvolvimento urbano da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pedreiras trouxe para ela riquezas que a<br />

mantém como uma espécie <strong>de</strong> ilha econômica em meio a região que ela se encontra, sua população<br />

conta com facilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> acesso <strong>de</strong> tudo aquilo que é oferecido pelo capitalismo.<br />

Por ser entendida como um polo que atrai gran<strong>de</strong> parte dos recursos <strong>de</strong> todos os<br />

municípios circunvizinhos, o modo em que a cida<strong>de</strong> vem <strong>de</strong>sempenhando esse papel também é o<br />

que leva a esse <strong>de</strong>senvolvimento, quando observa-se que em todo o centro comercial fica<br />

concentrado o centro econômico regional, faz com que haja ali a maior valorização <strong>de</strong> todo esse<br />

território, atraindo todo o capital, mas que nitidamente fica retido <strong>nas</strong> mãos <strong>de</strong> um pequeno grupo<br />

organizado <strong>de</strong> empresários que juntos são proprietários <strong>de</strong> mais da meta<strong>de</strong> <strong>de</strong> todos os bens<br />

imobiliários do setor mais valorizado da cida<strong>de</strong>. E por ter po<strong>de</strong>r influência sobre os mais altos<br />

cargos da administração pública, esse grupo consegue <strong>de</strong>terminar os valores impostos sobre os<br />

imóveis, assim superfaturando-os.<br />

Sobre a questão da valorização espacial, não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sprezar a importância <strong>de</strong>ste fato<br />

para o aquecimento da economia, e a atração <strong>de</strong> políticas publicas para valorizar as áreas<br />

adjacentes, porém, faz-se necessário que haja fiscalização <strong>de</strong> algum órgão mo<strong>de</strong>rador, para que<br />

através <strong>de</strong> uma análise profissional, seja <strong>de</strong>terminado os valores reais dos imóveis no município,<br />

assim evitando os abusos e proporcionado melhor acesso <strong>de</strong> moradia digna às famílias <strong>de</strong> renda<br />

média e baixa.<br />

REFERENCIAS<br />

CRUZ, M. M. N. Estado, espaço e acumulação na crise contemporânea. Dissertação <strong>de</strong> Mestrado<br />

em Geografia Humana da USP. São Paulo, 2006. Disponível<br />

em:.<br />

249


MIELE. Sávio Augusto <strong>de</strong> Freitas. O Movimento da Economia Financeira na Dinâmica Imobiliária<br />

<strong>de</strong> São Paulo. 1ªed.FFLCH ,São Paulo 2008. Disponível<br />

em:.<br />

PAIXÃO. Luiz Andrés. Os vetores <strong>de</strong> expansão da ativida<strong>de</strong> imobiliária em Belo Horizonte – 1994-<br />

2003. Coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> Serviços e Comércio/IBGE. 2008. Disponível em:<br />

SANTOS. Cilicia dias dos. A formação e produção do espaço urbano: discussões preliminares<br />

acerca da importância das cida<strong>de</strong>s médias para o crescimento da re<strong>de</strong> urbana brasileira. IN: Revista<br />

Brasileira <strong>de</strong> Gestão e Desenvolvimento Regional, Taubaté, SP, v. 5, n. 1, p. 177-190, jan-abr/2009.<br />

Disponível em: Acesso em: 25 <strong>de</strong> jun, 2012<br />

MONTE-MÓR, Roberto Luís <strong>de</strong>Melo. New UrbanFrontiers: Contemporary Ten<strong>de</strong>ncies In<br />

Brazil‘s Urbanization Ce<strong>de</strong>plar/Face/Ufmg Belo Horizonte 2001.Disponível<br />

em:http://www.ce<strong>de</strong>plar.ufmg.br/pesquisas/td/TD%20165.pdf.<br />

CARLOS, Ana Fani Alessandri. A metrópole <strong>de</strong> São Paulo no contexto da urbanização<br />

contemporânea. Estud. Av. São Paulo, v. 23, n. 66, 2009<br />

LOJKINE, Jean. O Estado capitalista e a questão urbana. São Paulo, Livraria Martins Fontes<br />

Editora Ltda., 1981.<br />

250


PREVALÊNCIA DOS DIFERENTES TIPOS DE HEPATITES VIRAIS NO MUNICÍPIO DE<br />

Resumo<br />

SÃO LUÍS NOS ÚLTIMOS CINCO ANOS 33<br />

Ana Beatriz Rocha RODRIGUES (COLUN/UFMA) – ana_rodrigues.abrr@hotmail.com<br />

José Ângelo Cor<strong>de</strong>iro MENDONÇA – Orientador (COLUN/UFMA) – jfangelo@uol.com.br<br />

As hepatites virais são atualmente um grave problema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública no mundo e no Brasil.<br />

Bilhões <strong>de</strong> pessoas já tiveram contato com vírus das hepatites e milhões são portadores crônicos.<br />

São doenças provocadas por diferentes agentes etiológicos e sua distribuição é universal. No Brasil<br />

há gran<strong>de</strong> variação regional na prevalência <strong>de</strong> cada um dos agentes etiológicos. O objetivo <strong>de</strong>sse<br />

trabalho é fazer um estudo a respeito do número <strong>de</strong> casos das diferentes hepatites no município <strong>de</strong><br />

São Luís para mostrar o comportamento <strong>de</strong>sta doença nos últimos cinco anos e esclarecer a<br />

comunida<strong>de</strong> escolar sobre os meios <strong>de</strong> prevenção e tratamento contra essas doenças infecciosas. Os<br />

dados usados na pesquisa são coletados através das Secretarias Municipais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, hospitais que<br />

tratam da doença (como o Hospital Universitário) e <strong>de</strong> fontes <strong>de</strong> órgãos públicos que trabalhem com<br />

dados estatísticos como o IBGE, além <strong>de</strong> sites <strong>de</strong> confiança que tragam subsídios à pesquisa. Esses<br />

dados, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> coletados, estão sendo analisados e comparados para que se tirem conclusões à<br />

cerca da evolução da doença nos diferentes municípios e seu comportamento nos últimos cinco.<br />

Palavras-chave: Doenças infecciosas, hepatites virais, prevalência.<br />

Abstract<br />

Viral hepatitis is currently a serious public health problem worldwi<strong>de</strong> and in Brazil. Billions of<br />

people have had contact with the virus and hepatitis million are chronic carriers. These diseases are<br />

caused by different etiological agents and their distribution is universal. In Brazil there is great<br />

regional variation in the prevalence of each of the etiologic agents. The aim of this work is to make<br />

a study about the number of cases of different hepatitis in São José <strong>de</strong> Ribamar, in greater São Luís,<br />

to show the behavior of this disease in the last five years in the region and clarify the school<br />

community about the means the prevention and treatment of these infectious diseases. The data<br />

used in the study are being collected through the Municipal health, hospitals that treat the disease<br />

(such as University Hospital) and sources of public agencies who work with statistical data as to the<br />

IBGE, as well as sites that bring confi<strong>de</strong>nce to the research grants. These data, once collected, are<br />

33 A Pesquisa está sendo <strong>de</strong>senvolvida no Colégio Universitário/UFMA com o apoio do grupo ―Biodiversida<strong>de</strong> e<br />

Conservação‖ do Departamento <strong>de</strong> Ciências Biológicas da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Maranhão. Conta com apoio<br />

financeiro do Conselho Nacional <strong>de</strong> Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)<br />

251


eing analyzed and compared to the conclusions to be drawn about the evolution of the disease in<br />

the region.<br />

Keywords: Infectious diseases, viral hepatitis prevalence.<br />

Introdução<br />

Segundo o Ministério da Saú<strong>de</strong> as en<strong>de</strong>mias são enfermida<strong>de</strong>s geralmente infecciosas que<br />

reinam constantemente em certo país ou região por influência <strong>de</strong> causa local. No Brasil, as<br />

principais doenças endêmicas são a malária, as leishmanioses, a esquistossomose, a febre amarela, a<br />

<strong>de</strong>ngue, o tracoma, a doença <strong>de</strong> Chagas, a hanseníase, a tuberculose, a gripe A e as diferentes<br />

formas <strong>de</strong> hepatites virais (Maia, 2012).<br />

As hepatites virais têm gran<strong>de</strong> importância pelo número <strong>de</strong> indivíduos atingidos e pela<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> complicações das formas agudas e crônicas, por isso, torna-se <strong>de</strong> fundamental<br />

importância o conhecimento pela socieda<strong>de</strong> do comportamento <strong>de</strong>stas doenças <strong>nas</strong> populações,<br />

assim como das medidas <strong>de</strong> prevenção e tratamento existentes em relação às tais enfermida<strong>de</strong>s.<br />

Assim consi<strong>de</strong>rando, o objetivo <strong>de</strong>sse trabalho é fazer um estudo a respeito do número <strong>de</strong> casos das<br />

diferentes hepatites virais no município <strong>de</strong> São Luís para mostrar o comportamento <strong>de</strong>sta doença<br />

nos últimos cinco anos. Para a metodologia recolhemos dados sobre as hepatites, que foram<br />

analisados e comparados e tiramos conclusões à cerca da evolução da doença no município <strong>de</strong> São<br />

Luís e o seu comportamento nos últimos cinco anos.<br />

A cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Luís, capital do Maranhão, formou-se na península que avança obre o<br />

estuário dos rios Anil e Bacanga, estando a 2° 31‘ 47‘‘ <strong>de</strong> latitu<strong>de</strong>, 44° 18‘ 10‘‘ longitu<strong>de</strong>, e a uma<br />

altitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> 24,391m. Limita-se com o Oceano Atlântico, ao Norte; com o Estreito dos Mosquitos,<br />

ao Sul; com a Baía <strong>de</strong> São Marcos, a oeste (IBGE).<br />

Fonte: Acta Amazonica<br />

Figura 1 – Mapa da Ilha <strong>de</strong> São Luís<br />

252


As Hepatites<br />

A hepatite viral ocorre quando um vírus causa inflamação e infecção do fígado. Os vírus que<br />

causam a hepatite viral são <strong>de</strong>nominados vírus A, B,C ,D e E. Todos esses vírus causam a hepatite<br />

viral aguda, porém os vírus B, C e D po<strong>de</strong>m cronificar, ou seja, permanecer pelo resto da vida no<br />

organismo. A cronificação <strong>de</strong>sses vírus po<strong>de</strong> causar cirrose, CA <strong>de</strong> fígado e insuficiência hepática<br />

(mau funcionamento do fígado). Os sintomas da hepatite são: cansaço, fadiga, dor abdominal,<br />

colúria (urina escura), hipocolia fecal (fezes esbranquiçadas), febre, diarréia, náuseas, vômitos, etc.<br />

A hepatite A tem contágio por via fecal-oral, inter-humano ou através <strong>de</strong> água e alimentos<br />

contaminados. Po<strong>de</strong> ocorrer também transmissão parental, mas é rara. Sua disseminação é<br />

relacionada ao nível socioeconômico da população. Pessoas que já tiveram hepatite A continuam<br />

susceptíveis as outras hepatites.<br />

A hepatite B é uma doença sexualmente transmissível (DST), mas a transmissão também<br />

po<strong>de</strong> ocorrer <strong>de</strong> forma parental ou vertical. O risco <strong>de</strong> que haja uma evolução no caso em recém-<br />

<strong>nas</strong>cidos <strong>de</strong> gestantes com hepatite B é alto.<br />

O vírus da hepatite C (HCV) é transmitido principalmente por via parenteral.<br />

De acordo com a cartilha ―Hepatites Virais: O Brasil está Atento‖ (2005, p. 10),<br />

A cronificação ocorre em 70 a 85% dos casos, sendo que, em média, um quarto a um<br />

terço <strong>de</strong>les evolui para formas histológicas graves no período <strong>de</strong> 20 anos. O restante<br />

evolui <strong>de</strong> forma mais lenta e talvez nunca <strong>de</strong>senvolva hepatopatia grave. É importante<br />

<strong>de</strong>stacar que o HCV já é o maior responsável por cirrose e transplante hepático no<br />

Mundo Oci<strong>de</strong>ntal.<br />

Causada pelo vírus da hepatite <strong>de</strong>lta, a hepatite D po<strong>de</strong> ser transmitida via parenteral, por<br />

relações sexuais, entre outros. A infecção po<strong>de</strong> ser apresentada <strong>de</strong> forma assintomática, sintomática<br />

ou até com formas mais graves.<br />

A hepatite E é transmitida por via fecal-oral e sua transmissão interpessoal não é comum.<br />

O Maranhão, no momento, possui ape<strong>nas</strong> 01 Centro <strong>de</strong> Referência para o tratamento dos<br />

portadores das Hepatites B e C que é o Núcleo do Fígado (Hospital Universitário) e 01 Pólo <strong>de</strong><br />

Dispensação e Aplicação dos medicamentos específicos para o tratamento que é a Farmácia<br />

Estadual <strong>de</strong> Medicamentos Especializados (FEME), localizado no Reviver, ao lado do Shopping do<br />

Cidadão, em São Luís.<br />

253


Dados e discussões preliminares sobre a hepatite em São Luís<br />

A pesquisa ainda não está concluída, pois nem todos os dados necessários para a conclusão<br />

foram obtidos. No entanto, o que se po<strong>de</strong> observar é que o número <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> hepatite A entre<br />

2007 e 2012 diminuiu, enquanto que o <strong>de</strong> hepatite B e C oscilaram durante os cinco anos e tiveram<br />

elevados números no ano <strong>de</strong> 2011.<br />

Fonte: Secretária Estadual <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Maranhão, 2012.<br />

Tabela 1 – Notificações <strong>de</strong> Hepatites A, B e Centre 2007 e 2012 em São Luís.<br />

Como a transmissão <strong>de</strong> hepatite A está diretamente ligada ao saneamento básico e a higiene<br />

pessoal, a razão para a diminuição das notificações para esse tipo <strong>de</strong> hepatite po<strong>de</strong> está relacionada<br />

à melhoria socioeconômica da população, que lhes proporcionou uma melhor condição <strong>de</strong> vida e<br />

também a programas do governo ligados a saú<strong>de</strong>. Mas, são necessários mais dados para que isso<br />

seja comprovado.<br />

Já para a oscilação no número <strong>de</strong> notificações das hepatites B e C, a razão po<strong>de</strong> está ligada<br />

ao fato <strong>de</strong> que uma das formas <strong>de</strong> transmissão é parenteral, ou seja, contado com seringas<br />

contaminadas, transfusão ou transplante a partir <strong>de</strong> doador infectado, hemodiálise (anos <strong>de</strong><br />

tratamento), aci<strong>de</strong>nte com material perfuro cortante, uso <strong>de</strong> drogas injetáveis, entre outros. A falta<br />

<strong>de</strong> conhecimento da maioria da população sobre esse risco e também a falta <strong>de</strong> campanhas do<br />

governo que alertem para isso, po<strong>de</strong>m ter gerado esses números elevados. O fato <strong>de</strong> que o vírus<br />

também po<strong>de</strong> ser transmitido via relação sexual também po<strong>de</strong> ser levado em conta, porém não <strong>de</strong>ve<br />

ser um dos fatores mais relevantes para os altos números, se for levado em conta que já existe uma<br />

254


preocupação da população em relação à proteção durante o ato sexual. Porém, ainda é necessária<br />

uma análise mais profunda sobre os dados e a comparação com outros.<br />

Contudo, po<strong>de</strong>-se perceber previamente, que existe no município <strong>de</strong> São Luís uma falta <strong>de</strong><br />

informação da população em relação às formas <strong>de</strong> prevenção e os sintomas da hepatite. Sendo<br />

necessária assim, a criação <strong>de</strong> programas e campanhas que alcancem toda a população para que se<br />

tenha uma diminuição do número <strong>de</strong> notificações.<br />

Referências<br />

Atlas do Brasil. Disponível em . Acesso em 22 mar 2012.<br />

Acta Amazonica. Comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> morcegos em hábitats <strong>de</strong> uma Mata Amazônica remanescente na<br />

Ilha <strong>de</strong> São Luís, Maranhão. Disponível em Acesso em 09 <strong>de</strong> out <strong>de</strong> 2012.<br />

Informações pessoais da Secretaria Estadual da Saú<strong>de</strong>.<br />

IBGE. Disponível em< http://www.ibge.gov.br/cida<strong>de</strong>sat/topwindow.htm?1> Acesso em 10 <strong>de</strong> out<br />

<strong>de</strong> 2012.<br />

Maia, N. A. Principais doenças endêmicas do Brasil. Disponível em www.artigos.etc.br. Acesso<br />

em 15 mar. 2012.<br />

Ministério da Saú<strong>de</strong>. Secretaria <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica. Hepatites virais: o Brasil está<br />

atento. Brasília, 2005.<br />

255


Resumo<br />

VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL NO MUNICÍPIO DE MOSSORÓ/RN<br />

Ana Paula <strong>de</strong> Sousa ENÉAS<br />

Graduanda em Gestão Ambiental - Universida<strong>de</strong> do Estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte – UERN<br />

E-mail: yanlapaula@hotmail.com<br />

Hozana Raquel <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros GARCIA<br />

Graduanda em Gestão Ambiental – UERN/Universitat <strong>de</strong> Barcelona-UB<br />

E-mail: hozana_raquel@hotmail.com<br />

Márcia Regina Farias da SILVA<br />

Drª. em Ecologia Aplicada, pela Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo – USP.<br />

Prof a . do Departamento <strong>de</strong> Gestão Ambiental/FACEM/UERN.<br />

E-mail: marciaregina@uern.br<br />

Zorai<strong>de</strong> Souza PESSOA<br />

Drª.em Ambiente e Socieda<strong>de</strong>, pela Unicamp.<br />

Prof a . do Departamento <strong>de</strong> Gestão Ambiental/FACEM/UERN.<br />

E-mail: zorai<strong>de</strong>sp@uern.br<br />

A presente pesquisa propõe discutir os fatores que levam a vulnerabilida<strong>de</strong> socioambiental no<br />

município <strong>de</strong> Mossoró/RN, e que busca, <strong>de</strong>ntre outros objetivos, i<strong>de</strong>ntificar quais bairros do<br />

município estão sobrecondições ina<strong>de</strong>quadas <strong>de</strong> moradias do ponto <strong>de</strong> vista sanitário e,analisar as<br />

condições financeiras das mesmas. Como procedimento metodológico a pesquisa foi dividida em<br />

dois momentos: revisão <strong>de</strong> literatura e organização dos dados secundários dos Resultados do<br />

Universo – retirados do Censo Demográfico do Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística –<br />

IBGE (2000). Constatou-se a partir <strong>de</strong>sta pesquisa, que há uma acentuada inconformida<strong>de</strong><br />

habitacional verificada no município, em que suas variáveis acrescidas <strong>de</strong> algumas informações<br />

sobre o rendimento dos responsáveis pelos domicílios, serviram <strong>de</strong> analise para a vulnerabilida<strong>de</strong><br />

socioambiental da cida<strong>de</strong>. Em suma, os resultados obtidos apontam para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se pensar<br />

em um planejamento urbano mais eficaz e integrado, através da aplicação <strong>de</strong> políticas<br />

públicas,visando à mitigação dos problemas nos âmbitos social e ambiental, que proporcione a<br />

população uma melhor qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<br />

Palavras-chaves: Vulnerabilida<strong>de</strong> socioambiental; <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social; inconformida<strong>de</strong><br />

habitacional.<br />

256


Abstract<br />

This research proposes to discuss the factors that lead to environmental vulnerability in<br />

Mossoró/RN, and seeks, among other objectives, i<strong>de</strong>ntify which city neighborhoods are un<strong>de</strong>r<br />

ina<strong>de</strong>quacies of housing by health point of view, and analyze the financial conditions of the same.<br />

As a methodological procedure there search was divi<strong>de</strong>d into two phases: literature review and<br />

secondary data organization Earnings Universe –taken from the Census of the Brazilian Institute of<br />

Geography and Statistics - IBGE (2000). It was found from this research, there is a marked<br />

unconformity housing verified in the city, where your variables plus some information about the<br />

income of househol<strong>de</strong>rs, served for the analysis of environmental vulnerability of the city. In short,<br />

the results point to the need of thinks in a more effective and integrated urban planning, through the<br />

implementation of public policies aimed the mitigating of the problems in the social and<br />

environmental scopes, providing to the population a better quality of life.<br />

Keys Word: environmental vulnerability; social inequality; unconformity housing.<br />

INTRODUÇÃO<br />

O mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento econômico e político capitalista, observado na maior parte<br />

dos países do mundo, estimulou uma distribuição <strong>de</strong>sigual <strong>de</strong> renda entre a população, uma vez que,<br />

para estar inserido nesse contexto, é necessária a acumulação <strong>de</strong> recursos financeiros, na qual os<br />

que possuem mais se sobressaem com relação aos <strong>de</strong>mais.<br />

Ao partir <strong>de</strong>sse pressuposto, o Brasil que é um país emergente que está inserido nesse<br />

mo<strong>de</strong>lo econômico – capitalista, – possui uma disparida<strong>de</strong> econômica entre sua população, tendo<br />

em vista que enquanto muitos possuem recursos acumulados outros não possui nem o mínimo para<br />

sobreviver.<br />

Nesse aspecto, se tem observado que nos gran<strong>de</strong>s centros urbanos essa população<br />

<strong>de</strong>sprovida <strong>de</strong> recursos financeiros buscam setores <strong>de</strong> moradia em áreas vulneráveis, e sem<br />

quaisquer infraestruturas sanitárias e ambientais. A ausência tais <strong>de</strong> condições a<strong>de</strong>quadas como<br />

saneamento, acesso ao lazer, à educação e a trabalhos dignos, constituem um indicadores que<br />

representam uma má qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e, sobretudo <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong>vendo ser essa uma das priorida<strong>de</strong>s<br />

do po<strong>de</strong>r público.<br />

Com o intuito <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>ra problemática ora apresentada, essa pesquisa propõe discutir os<br />

fatores que levam a vulnerabilida<strong>de</strong> socioambiental no município <strong>de</strong> Mossoró/RN. Na qual, esse<br />

termos e <strong>de</strong>fine como a ocupação <strong>de</strong> áreas que são passíveis <strong>de</strong> ocorrerem <strong>de</strong>sastres naturais e<br />

sociais, em que sua população possui uma fragilida<strong>de</strong> para respon<strong>de</strong>r <strong>de</strong> forma positiva a<br />

257


adversida<strong>de</strong> sofrida, por motivos da não obtenção os recursos necessários que permita a ocupação<br />

<strong>de</strong> setores mais seguros.<br />

Nessa perspectiva, este trabalho está integrado a um projeto maior intitulado ―Mapa Social:<br />

Território e Desigualda<strong>de</strong> - FASE II‖, financiada pela FAPERN/CNPq – edital: 04/2007,<br />

<strong>de</strong>senvolvido por pesquisadores do Núcleo <strong>de</strong> Estudos Socioambientais e Territoriais da<br />

Universida<strong>de</strong> do Estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte (NESAT/UERN), em parceria com a Universida<strong>de</strong><br />

Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte (UFRN) e a Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica (PUC/SP).<br />

A proposta <strong>de</strong>sta investigação busca <strong>de</strong>ntre outros objetivos, i<strong>de</strong>ntificar quais bairros do<br />

Município <strong>de</strong> Mossoró/RN estão sobre condições ina<strong>de</strong>quações <strong>de</strong> moradias do ponto <strong>de</strong> vista<br />

sanitário e, bem como, analisar as condições financeiras das mesmas, com o intuito <strong>de</strong> verificar se<br />

que no referido município a ocupação <strong>de</strong>ssas áreas vulnerabilida<strong>de</strong>s socioambientais ocorrem <strong>de</strong><br />

acordo com o seu rendimento, hipótese (a), ou in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m do rendimento e sim <strong>de</strong> outros fatores<br />

como, por exemplo, paisagístico, hipótese (b).<br />

Cabe ressaltar, que para respon<strong>de</strong>r tal objetivo fazem-se necessários i<strong>de</strong>ntificar os principais<br />

problemas socioambientais <strong>de</strong> Mossoró/RN e <strong>de</strong>finir uma metodologia que permita a avaliação<br />

socioambiental no município, visando i<strong>de</strong>ntificar as áreas que necessitam <strong>de</strong> atenção especial, para<br />

se propor medidas que venham a mitigar as consequências da problemática socioambiental e<br />

fornecer subsídios para o planejamento, a gestão territorial e a formulação <strong>de</strong> políticas públicas no<br />

âmbito social e ambiental.<br />

Risco e Vulnerabilida<strong>de</strong><br />

Na perspectiva <strong>de</strong> discutir a fundo o tema da pesquisa que aborda sobre a vulnerabilida<strong>de</strong> no<br />

município <strong>de</strong> Mossoró, faz-se necessário esclarecer alguns aspectos <strong>de</strong> fundamentação teórica, a<br />

saber, a distinção entre os conceitos <strong>de</strong> risco e vulnerabilida<strong>de</strong>, comumente, tratada em algumas<br />

pesquisas como sinônimos. Assim, o objetivo <strong>de</strong>sse tópico é <strong>de</strong>finir a que cada termo se reporta,<br />

sem entrar no mérito da discursão <strong>de</strong>ssa tipologia em metodologias.<br />

Ao corroborar com essa discussão Souza e Zanella (2010) <strong>de</strong>stacam que o conceito <strong>de</strong> risco,<br />

ameaças e vulnerabilida<strong>de</strong> tem sido empregado por diversas áreas <strong>de</strong> conhecimento e isso tem<br />

dificultado um consenso quanto às i<strong>de</strong>ias que possam representar, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> haver inúmeras<br />

interpretações em torno <strong>de</strong>sses temas. Eles observam também que <strong>de</strong>vido essa pluralida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

conceitos e, em alguns casos, a ausência <strong>de</strong> rigor conceitual, tem comprometido as investigações<br />

dos riscos ambientais e que, portanto, dificulta o diálogo entre os diferentes saberes envolvidos.<br />

De acordo com Veyret e Richemond (2007) risco é a percepção <strong>de</strong> um perigo, mais ou<br />

menos previsível por um grupo social ou individuo que tenha sido exposto a ele, e nesse contexto o<br />

risco é uma construção social. Já a vulnerabilida<strong>de</strong> é a magnitu<strong>de</strong> do impacto previsível <strong>de</strong> um<br />

258


acontecimento possível sobre os alvos que po<strong>de</strong>m ser: pessoas, bens, equipamentos e meio<br />

ambiente.<br />

De acordo com Chaves e Lopes (2008) a vulnerabilida<strong>de</strong> representa o grau <strong>de</strong> fragilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

uma área e/ou população, assim como a sua possível capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resposta diante da concretização<br />

<strong>de</strong> um episódio danoso. Além disso, as autoras acrescentam que a vulnerabilida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> servi como<br />

auxílio aos estudos e as formas <strong>de</strong> planejamento <strong>de</strong> áreas em situações vulneráveis.<br />

Na concepção do IBGE (2002) para reduzir a vulnerabilida<strong>de</strong> é necessário que haja um bom<br />

gerenciamento do ecossistema, que também irá contribuir para a redução <strong>de</strong> impactos e promover o<br />

bem-estar da população. No entanto, muitas pessoas e lugares são afetados por essa mudança nos<br />

ecossistemas e estão altamente vulneráveis aos seus efeitos. Por outro lado, eles afirmam que o<br />

aumento da pobreza e da exclusão social leva a população a ocupar locais com alta probabilida<strong>de</strong><br />

natural à ocorrência <strong>de</strong> eventos tais como: inundações, enchentes, <strong>de</strong>slizamentos <strong>de</strong> terra, corridas<br />

<strong>de</strong> lama, secas severas etc.<br />

MATERIAL E MÉTODOS<br />

A cida<strong>de</strong><strong>de</strong> Mossoró, unida<strong>de</strong> empírica <strong>de</strong> referência da presente pesquisa localiza-se no<br />

estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte/RN possui 259.886 habitantes e uma área territorial <strong>de</strong> 2.099 km²<br />

(IBGE, 2010). É consi<strong>de</strong>rada cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> médio porte, apontada como a segunda maior do Estado, a<br />

sua economia tem por base à agropecuária, a indústria, a prestação <strong>de</strong> serviços, impostos advindos<br />

da produção <strong>de</strong> petróleo, que geram para o município um Produto Interno Bruto (PIB) <strong>de</strong> R$<br />

2.127.077.000,00 e um PIB per capita <strong>de</strong> R$ 9.257,00, <strong>de</strong> acordo com os dados do Estado do Rio<br />

Gran<strong>de</strong> do Norte (2010).<br />

A pesquisa se caracteriza segundo a sua finalida<strong>de</strong> como básica e <strong>de</strong>scritiva, com abordagem<br />

quali-quantitativa (APPOLINÁRIO, 2006). Com base nos procedimentos técnicos e metodológicos<br />

i<strong>de</strong>ntificados por Diehl e Tatim (2004) esta investigação é <strong>de</strong> cunho bibliográfico e documental. Ao<br />

consi<strong>de</strong>rar as técnicas para coleta <strong>de</strong> dado essa análise irá se restringir a fontes secundárias extraídas<br />

dos dados disponibilizados pelo IBGE (2000). Os dados secundários retirados do IBGE servirão<br />

como base <strong>de</strong> informações macros <strong>de</strong> Mossoró, com o propósito <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar os dados referentes à<br />

vulnerabilida<strong>de</strong> socioambiental e sua relação com a distribuição <strong>de</strong> renda da população.<br />

O estudo foi <strong>de</strong>senvolvido no período <strong>de</strong> 2011 a 2012, a saber, dividido em dois momentos:<br />

(i) revisão <strong>de</strong> literatura com a proposta <strong>de</strong> discutir a ocupação <strong>de</strong> áreas vulneráveis em uma<br />

perspectiva <strong>de</strong> enfatizar esses problemas como <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m não ape<strong>nas</strong> social, mas, sobretudo<br />

ambiental, em que essa problemática po<strong>de</strong> ser agravada pela distribuição <strong>de</strong>sigual <strong>de</strong> renda; e (ii)<br />

Organização dos dados secundários do Censo Demográfico do IBGE (2000) retirados dos<br />

Resultados do Universo, que são dados que encontra-se organizados em temas, cada tema<br />

259


apresentando um conjunto <strong>de</strong> tabelas, que estão disponíveis para os níveis territoriais, tais dados<br />

serviram para analisar os indicadores tanto da distribuição <strong>de</strong> renda como da vulnerabilida<strong>de</strong><br />

socioambiental <strong>de</strong> Mossoró.<br />

Faz-se necessário esclarecer, que para a avaliação da vulnerabilida<strong>de</strong> socioambiental foi<br />

consi<strong>de</strong>rada a metodologia adotada por Deschamps (2009), na qual é consi<strong>de</strong>rada como indicador a<br />

ausência <strong>de</strong> saneamento básico a<strong>de</strong>quado, sendo que, quanto maior o número <strong>de</strong> domicílios nesta<br />

condição, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> cada Área <strong>de</strong> Expansão (AED), maior o ―risco‖. No entanto, nesta pesquisa<br />

essa termologia será substituída por vulnerabilida<strong>de</strong> ambiental, ao consi<strong>de</strong>rar que esse termo<br />

representa melhor a proposta, e a nível territorial <strong>de</strong> estudo os bairros supracitados.<br />

Por fim, para respon<strong>de</strong>r aos objetivos e i<strong>de</strong>ntificar qual hipótese correspon<strong>de</strong> à realida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Mossoró, no que se refere ao ano <strong>de</strong> 2000, a pesquisa coletou e organizou os dados referentes ao<br />

rendimento em salários mínimos dos responsáveis pelos domicílios distribuídos nos bairros do<br />

município, estando dividido <strong>nas</strong> seguintes variáveis: população que recebem até dois Salários<br />

Mínimos – SM, <strong>de</strong> dois a cinco, <strong>de</strong> cinco a <strong>de</strong>z, <strong>de</strong> <strong>de</strong>z a vinte, mais <strong>de</strong> vinte SM e sem rendimento.<br />

Com posse nessa base <strong>de</strong> dados analisou-se em que situação <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> socioambiental se<br />

encontravam os bairros com maior e menor rendimento, para a partir <strong>de</strong>sse pressuposto i<strong>de</strong>ntificar<br />

se a população com menos po<strong>de</strong>r aquisitivo estão ou não em áreas vulneráveis no aspecto <strong>de</strong><br />

infraestrutura sanitária.<br />

RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

A problemática socioambiental que se instalou na zona urbana do município <strong>de</strong> Mossoró é<br />

proveniente <strong>de</strong> um crescimento <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nado e sem qualquer planejamento urbano que <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ou:<br />

a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social acentuada, a <strong>de</strong>gradação ambiental eminente e, portanto, as más qualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

vida, na perspectiva <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r quais fatores encaminharam para esse cenário atual será<br />

analisado e apresentado nos próximos tópicos às discussões dos dados gerais do município referente<br />

ao ano 2000, com ênfase aos bairros <strong>de</strong> Mossoró/RN.<br />

Vulnerabilida<strong>de</strong> Socioambiental<br />

Como já <strong>de</strong>scrito anteriormente, na avaliação da vulnerabilida<strong>de</strong> ambiental foi consi<strong>de</strong>rada a<br />

metodologia <strong>de</strong>senvolvida Deschamps (2009), em que o mesmo consi<strong>de</strong>ra domicílio com<br />

ina<strong>de</strong>quação geral: aquele que há ausência <strong>de</strong> água canalizada em pelo menos um cômodo, ou seja,<br />

aquele domicílio servido por re<strong>de</strong> geral, mas canalizada só na proprieda<strong>de</strong> ou terreno, servido por<br />

poço, <strong>nas</strong>cente ou outra forma; o domicílio cujo escoamento se dava por fossa rudimentar, vala, rio,<br />

lago, mar e outro escoadouro; e o domicílio que não fosse atendido por serviços <strong>de</strong> limpeza; a essa<br />

metodologia acrescentou-se a variável banheiro para aqueles domicílios que não tivessem banheiro.<br />

260


Os dados coletados que serviram para fornecer tais informações foi à inconformida<strong>de</strong><br />

habitacional pelos bairros <strong>de</strong> Mossoró estudados na pesquisa, retirados do IBGE - Resultados do<br />

Universo extraídos do Censo Demográfico 2000. Os dados da Tabela 01 permitem analisar a<br />

inconformida<strong>de</strong> habitacional por bairros em Mossoró no ano <strong>de</strong> 2000, na perspectiva <strong>de</strong> fornecer<br />

indicadores para a avaliação da vulnerabilida<strong>de</strong> socioambiental do município em questão.<br />

261


Tabela 1. Inconformida<strong>de</strong> Habitacional – Mossoró/RN, 2000.<br />

BAIRROS ÁGUA % ESCOAMENTO % BANHEIRO % LIXO % TOTAL %<br />

Abolição 305 6,04 2506 49,63 233 4,61 344 6,81 5050 100<br />

Aeroporto 1119 38,98 2306 80,32 573 19,96 326 11,35 2871 100<br />

Alagados 8 17,39 32 69,56 5 10,87 42 91,30 46 100<br />

Alto da Conceição 48 3,38 802 56,40 105 7,38 28 1,97 1422 100<br />

Alto <strong>de</strong> São Manoel 496 11,29 1923 43,76 506 11,51 351 7,98 4395 100<br />

Alto do Sumaré 151 17,18 210 23,89 123 13,99 103 11,72 879 100<br />

Barrocas 2470 59,17 2687 64,36 1748 41,87 403 9,66 4175 100<br />

Belo Horizonte 552 30,46 526 29,04 532 29,36 210 11,60 1812 100<br />

Boa Vista 373 21,05 298 16,82 212 11,96 4 0,23 1772 100<br />

Bom Jardim 497 18,99 943 36,03 217 8,29 6 0,23 2617 100<br />

Bom Jesus 95 30,16 287 91,11 54 17,14 146 46,35 315 100<br />

Centro 9 1,26 164 22,84 1 0,14 3 0,42 718 100<br />

DixSept Rosado 228 99,57 175 76,42 201 87,77 224 97,82 229 100<br />

Dom Jaime Câmara 407 18,64 1287 58,95 202 9,25 438 20,07 2183 100<br />

Doze Anos 114 9,21 129 10,42 61 4,93 3 0,24 1238 100<br />

Ilha <strong>de</strong> Santa Luzia 148 22,32 454 68,47 156 23,53 35 5,28 663 100<br />

Itapetinga 11 84,61 5 38,46 8 61,54 13 100 13 100<br />

Lagoa do Mato 1068 33,57 1384 43,49 508 15,96 86 2,70 3182 100<br />

Nova Betânia 151 11,14 418 30,84 105 7,75 67 4,94 1355 100<br />

Paredões 139 6,80 281 13,73 140 6,84 10 0,49 2047 100<br />

Pintos 203 41,18 428 86,82 161 32,66 142 28,80 493 100<br />

Planalto Treze <strong>de</strong> Maio 96 7,91 602 49,54 54 4,44 118 9,71 1215 100<br />

Presi<strong>de</strong>nte Costa e Silva 164 16,69 391 39,82 188 19,14 126 12,83 982 100<br />

Re<strong>de</strong>nção 59 10,22 234 40,55 44 7,63 54 9,36 577 100<br />

Rincão 149 8,44 74 4,20 94 5,33 175 9,92 1763 100<br />

Santa Delmira 269 9,70 448 16,14 155 5,58 396 14,26 2776 100<br />

Santo Antônio 1794 45,34 1807 45,66 633 16,00 382 9,65 3957 100<br />

Zona Rural 3114 92,24 1562 46,27 1899 56,25 2827 83,74 3376 100<br />

Fonte: IBGE – Censo Demográfico, 2000.<br />

262


De acordo com os dados da Tabela 1, verifica-se que o bairro DixSept Rosado apresenta o<br />

maior percentual <strong>de</strong> inconformida<strong>de</strong> habitacional no que se refere ao indicador <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong><br />

água.Pois apresenta um percentual <strong>de</strong> 99,57%, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> valor estão os domicílios atendidos por<br />

poço ou <strong>nas</strong>cente na proprieda<strong>de</strong> que não são canalizados e os que possuem outras formas <strong>de</strong><br />

abastecimentos que estão canalizados em ape<strong>nas</strong> um cômodo e os que não estão canalizados.<br />

No que se refere à renda no bairro DixSept Rosado, constatou-se que ele possui o menor<br />

percentual com relação aos <strong>de</strong>mais bairros <strong>de</strong> Mossoró (0,87%), dos responsáveis pelos domicílios<br />

recebendo <strong>de</strong> cinco a <strong>de</strong>z Salários Mínimos – SM, no ano <strong>de</strong> 2000. Em uma analise mais <strong>de</strong>talhada<br />

do rendimento verifica-se que a maior parte dos responsáveis pelos domicílios nesse bairro recebe<br />

até dois SM(72,92%), após esse percentual verifica-se que sem rendimento é 15,28, e com dois a<br />

cinco SM é 10,92%.<br />

Verifica-se (Tabela 1.)que o bairro que apresentou o menor percentual <strong>de</strong> inconformida<strong>de</strong><br />

habitacional – no requisito água foi o Centro com 1,26% dos domicílios atendido por re<strong>de</strong> geral,<br />

mas com água canalizada na proprieda<strong>de</strong> ou terreno, atendido por poço ou <strong>nas</strong>cente na proprieda<strong>de</strong><br />

e com outras formas <strong>de</strong> abastecimento.<br />

No Centro observou-se que com relação aos outros bairros da cida<strong>de</strong>, ele <strong>de</strong>tém o maior<br />

percentual (17,97%) <strong>de</strong> seus responsáveis pelos domicílios com rendimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>z a vinte SM. A<br />

nível isolado <strong>de</strong> bairro i<strong>de</strong>ntifica-se que o seu maior percentual <strong>de</strong> responsáveis se encontram na<br />

situação financeira <strong>de</strong> cinco a <strong>de</strong>z (29,39%), em seguida vem dois a cinco SM (22,56%), até dois<br />

SM (16,85%), mais <strong>de</strong> vinte SM (11,28%), e sem rendimento com 1,95%, vale ressaltar que esses<br />

dados são referentes ao Censo Demográfico do ano <strong>de</strong> 2000.<br />

Seguindo na analise da Tabela 1, constata-se que o bairro Bom Jesus possui o maior<br />

percentual <strong>de</strong> seus domicílios com ina<strong>de</strong>quação habitacional em seu sistema <strong>de</strong> esgotamento, pois<br />

apresenta 91,11% <strong>de</strong> seus domicílios cujo esgotamento sanitário se dava por fossa rudimentar e<br />

outros escoadouros, no ano <strong>de</strong> 2000.<br />

No ano <strong>de</strong> 2000 o bairro Bom Jesus não possuía nenhum responsável pelo domicílio com<br />

rendimento <strong>de</strong> cinco a <strong>de</strong>z SM e <strong>de</strong>z a vinte SM, com mais <strong>de</strong> vinte tinha 0,32%, com até dois SM o<br />

maior percentual <strong>de</strong> seus responsáveis com 71,42%, com dois a cinco SM 7,94%, e superando esse<br />

valor 20,32% sem rendimento.<br />

Ao retornar para a analise (Tabela 1.) observa-se que o Rincão com 4,20% é o menor<br />

percentual <strong>de</strong> domicílios com ina<strong>de</strong>quação em seu esgotamento sanitário. Em termos <strong>de</strong> rendimento<br />

salarial verifica-se que o Rincão é o bairro que possui maior percentual do município em que<br />

responsáveis pelos domicílios recebem <strong>de</strong> dois a cinco SM (36,81%).<br />

Ao analisar a variável banheiro observa-se que novamente o bairro Dix Sept Rosado se<br />

<strong>de</strong>staca como o <strong>de</strong> maior percentual <strong>de</strong> domicílios <strong>de</strong>sprovidos <strong>de</strong>ssa estrutura sanitária (87,77%), já<br />

263


o Centro da cida<strong>de</strong> também se encontra com o menor valor <strong>de</strong> domicílios sem banheiros (0,14%),<br />

observando assim, que o bairro Dix Sept Rosado e Centro se encontram em duas variáveis <strong>de</strong><br />

inconformida<strong>de</strong> habitacional com condições oposta, ou seja, um com apresentando <strong>de</strong>ficiência e<br />

outra sem, do ponto <strong>de</strong> vista significativo <strong>de</strong> valores.<br />

Por fim, a última analise realizada diz respeito ao atendimento dos serviços <strong>de</strong> limpeza<br />

pública, em que se i<strong>de</strong>ntificam dois bairros com o menor percentual da ausência <strong>de</strong>sse serviço que<br />

são: Bom Jardim (0,23%) e Boa Vista (0,23%), com relação ao maior percentual esse foi constatado<br />

no Itapetinga com 100%, esse valor significativo po<strong>de</strong> está relacionado a essa área ser <strong>de</strong> um setor<br />

industrial, on<strong>de</strong> está localiza a indústria <strong>de</strong> cimento da cida<strong>de</strong>. No que se referem aos rendimentos<br />

dos responsáveis pelos domicílios não se observou nenhum percentual <strong>de</strong> maior e <strong>de</strong> menor dos<br />

<strong>de</strong>mais bairros que compõem o município.<br />

CONCLUSÃO<br />

A pesquisa proporcionou uma reflexão acerca da inconformida<strong>de</strong> habitacional dos bairros <strong>de</strong><br />

Mossoró/RN, em que suas variáveis acrescidas <strong>de</strong> algumas informações sobre o rendimento dos<br />

responsáveis pelos domicílios serviram <strong>de</strong> analise para a vulnerabilida<strong>de</strong> socioambiental da cida<strong>de</strong>.<br />

De acordo com os dados do Censo Demográfico <strong>de</strong> 2000, os bairros que merecem uma atenção<br />

especial em relação às condições sanitária e <strong>de</strong> rendimento foram o Dix Sept Rosado, Bom Jesus e<br />

Itapetinga, sendo o primeiro o que merece um <strong>de</strong>staque maior, pois foi i<strong>de</strong>ntificado com o maior<br />

percentual <strong>de</strong> inconformida<strong>de</strong> em duas variáveis (água e banheiro), on<strong>de</strong> um fator exerce uma<br />

influencia sobre o outro. Ao consi<strong>de</strong>rar que a falta <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água servido por re<strong>de</strong> geral<br />

e canalizado em pelo menos um cômodo é um requisito fundamental para a utilização <strong>de</strong> um<br />

banheiro quer seja sua forma <strong>de</strong> escoamento (fossa séptica ou rudimentar).<br />

Nessa perspectiva, os resultados ora apresentados nessa pesquisa apontam para a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se pensar em um planejamento urbano mais eficaz e integrado, através da aplicação<br />

<strong>de</strong> políticas públicas, em vigor, e da formulação <strong>de</strong> novas políticas públicas, visando à mitigação<br />

dos problemas nos âmbitos social e ambiental, que proporcione a população uma melhor qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> vida.<br />

REFERÊNCIAS<br />

APPOLINÁRIO, Fabio. Metodologia da ciência: filosofia e prática da pesquisa. São Paulo:<br />

Pioneira Thomson Learning, 2006. p. 59-70.<br />

264


CHAVES, Sammya Vanessa Vieira; LOPES, Wilza Gomes Reis. Riscos, perigo e vulnerabilida<strong>de</strong><br />

em áreas urba<strong>nas</strong>: uma discussão conceitual. In.: Encontro Nacional da ANPPAS. 4.; 2008,<br />

Brasília. Anais... Distrito Fe<strong>de</strong>ral: 2008.<br />

DESCHAMPS, Marley Vanice. Vulnerabilida<strong>de</strong> socioambiental das Regiões metropolita<strong>nas</strong><br />

brasileiras.Rio <strong>de</strong> Janeiro: Observatório das Metrópoles – IPPUR/FASE, 2009.<br />

DIEHL, Astor Antônio; TATIM, Denise Carvalho. Pesquisa em ciências sociais aplicadas:métodos<br />

e técnicas. São Paulo: Prentice Hall, 2004. P. 43-87.<br />

ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE. IDEMA.Anuário do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte.2. ed. Natal:<br />

Editora: TV Ponta Negra: 2010.<br />

IBGE – Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística. Pesquisa <strong>de</strong> Informações Básicas Municipais.<br />

Perfil dos municípios brasileiros: meio ambiente 2002. Rio <strong>de</strong> Janeiro: 2005.<br />

IBGE – Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística. Censo Demográfico 2000. Resultados do<br />

Universo. Disponível em: . Acessado<br />

em: 29 mar. 2011.<br />

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Cida<strong>de</strong>s:Mossoró/RN<br />

2010. Disponível em:. Acessado em: 29 <strong>de</strong><br />

mar. 2011.<br />

SOUZA, Lucas e Barbosa; ZANELLA, Maria Elisa. Percepção <strong>de</strong> riscos ambientais: teoria e<br />

aplicações. 2. ed. Fortaleza: Edições UFC, 2010.<br />

VEYRET, Yvett; RICHEMOND, Nancy Meschinet.O risco, os riscos. In.: VEYRET, Yvett (org.).<br />

Os riscos: o homem como agressor e vítima do meio ambiente. 1. ed. São Paulo: Contexto, 2007.<br />

Cap. 1. P. 23-24.<br />

265


INTEGRAÇÃO TEMPORAL E MOBILIDADE INTRA-URBANA: O CASO DO MERCADO<br />

CENTRAL DE JOÃO PESSOA-PB 34<br />

Resumo<br />

Danilo Coutinho da SILVA (Graduando – DGEOC/UFPB) – danilogeog@hotmail.com<br />

Loester Figueirôa <strong>de</strong> FRANÇA FILHO (Graduando – DGEOC/UFPB) – loesterf3@gmail.com<br />

Paulo Vitor N. <strong>de</strong> FREITAS (Graduando – DGEOC/UFPB) – paulogeo5@gmail.com<br />

Em todo o país a questão do sistema <strong>de</strong> transporte urbano e do trânsito tem <strong>de</strong>mandado muitos<br />

<strong>de</strong>bates. As cida<strong>de</strong>s crescem, e com ela a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> transportes mo<strong>de</strong>rno, eficaz<br />

e eficiente também. Assim, o presente artigo tem como objetivo avaliar o mecanismo <strong>de</strong><br />

―Integração Temporal‖ como forma <strong>de</strong> bal<strong>de</strong>ação entre as diversas localida<strong>de</strong>s da Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João<br />

Pessoa – PB, utilizando como recorte espacial as paradas localizadas no entorno do Mercado<br />

Público Central. Concluiu-se que o sistema beneficia principalmente a classe estudantil e<br />

trabalhadora e o Mercado Central representa um importante eixo na malha urbana da capital. Juntos,<br />

o sistema <strong>de</strong> integração temporal e os pontos <strong>de</strong> ônibus do Mercado Central tem sido responsáveis<br />

por uma mudança nos circuitos <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamento da cida<strong>de</strong>, mas, sobretudo, por uma melhoria na<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida nos seus usuários.<br />

Palavras-chaves: Integração Temporal; Mobilida<strong>de</strong> Intra-Urbana; João Pessoa.<br />

Abstract<br />

Across the country the issue of urban transport system and traffic has sued many <strong>de</strong>bates. Cities<br />

grow, and with it the need for a mo<strong>de</strong>rn transport system, effective and efficient as well. Thus, this<br />

article aims to evaluate the mechanism of "Temporal Integration" as a way of transshipment<br />

between different localities of the city of João Pessoa - PB, using spatial area as the bus stops<br />

located around the Central Market. It was conclu<strong>de</strong>d that the system mainly benefits the stu<strong>de</strong>nt and<br />

working class and the Central Market is an important axis in the urban fabric of the capital.<br />

Together, the system integration time and the bus stops from the Central Market has been<br />

34 Este trabalho é resultado <strong>de</strong> um projeto <strong>de</strong> pesquisa <strong>de</strong>senvolvido no âmbito da disciplina <strong>de</strong> Geografia Urbana do<br />

curso <strong>de</strong> Geografia na UFPB, tendo como orientadora a Profª. Dra. Doralice Sátyro Maia – DGEOC/UFPB.<br />

266


esponsible for a shift change in the circuits of the city, but mainly by an improvement in the quality<br />

of life of its users.<br />

Keywords: Temporal Integration, Intra-Urban Mobility; João Pessoa.<br />

INTRODUÇÃO<br />

Em todo o país a questão do sistema <strong>de</strong> transporte urbano e do trânsito tem <strong>de</strong>mandado<br />

muitos <strong>de</strong>bates. As cida<strong>de</strong>s crescem, e com ela a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> transportes<br />

mo<strong>de</strong>rno, eficaz e eficiente também.<br />

No caso <strong>de</strong> João Pessoa, os ônibus <strong>de</strong>sempenham, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que substituíram em <strong>de</strong>finitivo os<br />

bon<strong>de</strong>s em 1961, um importante meio <strong>de</strong> se locomover pelos diferentes espaços da cida<strong>de</strong>, sendo<br />

utilizado principalmente pelas classes <strong>de</strong> mais baixa renda. São também um meio <strong>de</strong> se evitar<br />

congestionamentos na cida<strong>de</strong>, pois são transportes coletivos que transportam gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

pessoas, ao contrários dos automóveis próprios que, à medida que crescem <strong>de</strong> número, ten<strong>de</strong>m a<br />

trazer mais problemas <strong>de</strong> tráfego na cida<strong>de</strong>, principalmente quando esta não acompanha o ritmo <strong>de</strong><br />

tal aumento.<br />

Em que pese à viabilida<strong>de</strong> ou não dos transportes sobre rodas em <strong>de</strong>trimento do transporte<br />

sobre trilhos (SOUZA, 2010), o fato é que, em nome da or<strong>de</strong>m e para evitar que a cida<strong>de</strong> ―pare‖, é<br />

necessário pensar cada vez mais alternativas <strong>de</strong> transportes que dêem conta da população que na<br />

cida<strong>de</strong> resi<strong>de</strong> e/ou que nela trafega. É nesse sentido que as ações das mais diversas esferas do<br />

governo têm <strong>de</strong> ser encaminhadas, sobretudo quando se pensa o que po<strong>de</strong> acarretar as possíveis<br />

(maiores) conseqüências <strong>de</strong> uma não (ou má) execução do que se foi planejado para o sistema <strong>de</strong><br />

transportes urbano.<br />

Assim, o presente artigo tem como objeto <strong>de</strong> estudo o mecanismo <strong>de</strong> Integração Temporal<br />

implantado em 2008 pela Prefeitura <strong>de</strong> João Pessoa (PMJP) por meio da Superintendência <strong>de</strong><br />

Transporte e Trânsito (STTrans), atualmente Superintendência Executiva da Mobilida<strong>de</strong> Urbana<br />

(Semob). Delimitou-se como recorte espacial <strong>de</strong> estudo o Mercado Público Central <strong>de</strong> João Pessoa<br />

e suas imediações, localizado no bairro do Centro (Mapa 01), por dois motivos: pelo fato <strong>de</strong>ste local<br />

se constituir em um espaço que faz parte do cotidiano dos autores <strong>de</strong>ste trabalho, que fazem uso<br />

rotineiro em seus <strong>de</strong>slocamentos diários; e pelo fato dos mesmos terem percebido que o fluxo <strong>de</strong><br />

pessoas que circulam pelo local aumentou com a implantação do mecanismo <strong>de</strong> integração<br />

temporal.<br />

267


Mapa 01: Localização Geográfica da Área <strong>de</strong> Estudo<br />

Fonte: Google Earth, 2011.<br />

Segundo Arruda (2011, p.53), mobilida<strong>de</strong> urbana ―é a condição em que se realizam os<br />

<strong>de</strong>slocamentos <strong>de</strong> pessoas e cargas no espaço urbano‖ 35 . Logo, mobilida<strong>de</strong> intra-urbana,<br />

posicionando-se em um nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>finição menos abstrato, vem a ser, a nosso ver, a realização <strong>de</strong><br />

tais <strong>de</strong>slocamentos no espaço <strong>de</strong> uma mesma cida<strong>de</strong> ou área metropolitana. Pensando no direito <strong>de</strong><br />

ir e vir nos espaços da cida<strong>de</strong>, a questão da mobilida<strong>de</strong> ganha veemência.<br />

A Mobilida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser inclusiva, sustentável social e ambientalmente, mo<strong>de</strong>rna e<br />

inteligente, <strong>de</strong> forma a melhorar a circulação <strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s e a vida dos que nela vivem,<br />

atraindo mais investimentos e melhorias. Sua gestão po<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve ser compartilhada,<br />

participativa e <strong>de</strong>mocrática, integrada às <strong>de</strong>mais políticas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento urbano.<br />

(Movimento Nacional Pelo Direito Ao Transporte Público De <strong>Qualida<strong>de</strong></strong> Para Todos,<br />

2009, p.11)<br />

Borges (2006, p. 3) oferece uma <strong>de</strong>finição operacional para transporte coletivo urbano,<br />

admitindo não ter encontrado uma <strong>de</strong>finição legal específica para o termo. Segundo ele, essa<br />

<strong>de</strong>finição operacional abrangeria ―o transporte público não individual, realizado em áreas urba<strong>nas</strong>,<br />

com características <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamento diário <strong>de</strong> cidadãos‖. No entanto, nossa pesquisa restringe-se<br />

ape<strong>nas</strong> ao transporte coletivo urbano realizado por meio <strong>de</strong> ônibus. Mesmo assim, tal <strong>de</strong>finição,<br />

35<br />

Segundo o mesmo autor, este conceito, o <strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong> urbana, é uma novida<strong>de</strong>, bem como um avanço na maneira<br />

<strong>de</strong> tratar o trânsito das cida<strong>de</strong>s, também significando ―o conjunto <strong>de</strong> ações a serem adotadas pelos responsáveis na área<br />

<strong>de</strong> transporte das cida<strong>de</strong>s‖ (2011, p. 53)<br />

268


mais abstrata, serve como parâmetro para essa pesquisa, principalmente por admitir a função <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>slocamento diário <strong>de</strong> seus usuários.<br />

OBJETIVOS<br />

a) Objetivo Geral<br />

Avaliar o mecanismo <strong>de</strong> ―Integração Temporal‖ como forma <strong>de</strong> bal<strong>de</strong>ação entre as diversas<br />

localida<strong>de</strong>s da Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa – PB, utilizando como recorte espacial as paradas localizadas<br />

no entorno do Mercado Público Central.<br />

b) Objetivos Específicos<br />

Verificar as melhorias causadas no que diz respeito à relação espaço-tempo da mobilida<strong>de</strong><br />

intra-urbana;<br />

Analisar os pontos negativos e positivos do mecanismo.<br />

Verificar, através da realização <strong>de</strong> entrevistas <strong>nas</strong> paradas <strong>de</strong> ônibus compreendidas pelo<br />

Mercado Central, a <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> usuários e o nível <strong>de</strong> satisfação dos mesmos com relação ao<br />

uso do serviço.<br />

METODOLOGIA<br />

Este trabalho possui um caráter <strong>de</strong>scritivo-reflexivo, tendo como referência o método<br />

dialético. Inicialmente, foi realizada uma pesquisa bibliográfica e documental buscando um<br />

aprofundamento teórico maior no tema da pesquisa (transporte coletivo, mobilida<strong>de</strong> intra-urbana,<br />

integração temporal, etc).<br />

Tendo já um conhecimento bem embasado, elaboramos instrumentos <strong>de</strong> pesquisa:<br />

questionários subjetivos e objetivos. Em pesquisa <strong>de</strong> campo, foram realizadas entrevistas nos dias<br />

13, 14 e 15 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro com usuários do sistema <strong>de</strong> integração temporal em pontos <strong>de</strong> ônibus no<br />

mercado, tentando melhor compreen<strong>de</strong>r a importância e o papel do mecanismo aqui estudado, assim<br />

como do local investigado. As entrevistas dos dias 13 e 14 (foram aplicados 20 questionários), ao<br />

contrário das do dia 15, tiveram um caráter subjetivo e não objetivo, por isso as informações<br />

adquiridas são <strong>de</strong> natureza qualitativa, não quantitativa, enquanto que as do dia 15 (28<br />

questionários) são, essas sim, <strong>de</strong> natureza quantitativa. Também procuramos informações na<br />

internet, em sites como o da Prefeitura Municipal <strong>de</strong> João Pessoa e o do PasseLegal.com.br. Em<br />

fase final todos os dados foram analisados, trabalhados e transformados em gráficos e tabelas, on<strong>de</strong>,<br />

269


a partir <strong>de</strong> uma relação <strong>de</strong>stes com o referencial teórico, tiveram como produto textos que<br />

compuseram este artigo.<br />

RESULTADOS E DISCUSSÕES<br />

É notável que João Pessoa, assim como muitas outras cida<strong>de</strong>s, conhece atualmente vários<br />

subcentros <strong>de</strong> comércio e serviços, o que sugere um processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scentralização espacial,<br />

conjuntamente com o enfraquecimento da centralida<strong>de</strong> da Área Central. A necessida<strong>de</strong> do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> alternativas <strong>nas</strong> rotas <strong>de</strong> viagem dos usuários do sistema <strong>de</strong> transporte urbano<br />

por ônibus em João Pessoa parte <strong>de</strong>ssa premissa, ou seja, não é mais conveniente que um usuário <strong>de</strong><br />

tal sistema passe necessariamente pelo Terminal <strong>de</strong> Integração do Varadouro para chegar até seu<br />

<strong>de</strong>stino final localizado, por exemplo, em um dos subcentros da cida<strong>de</strong>. É nesse sentido que,<br />

acompanhando o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scentralização espacial, estão surgindo terminais <strong>de</strong> integração<br />

secundários em João Pessoa – ―subterminais‖ – a exemplo dos Terminais <strong>de</strong> Integração do Coli<strong>nas</strong><br />

do Sul e do Valentina. São verda<strong>de</strong>iros eixos na malha urbana da capital.<br />

Para além disso, o sistema <strong>de</strong> integração temporal tem permitido a multiplicação <strong>de</strong>sses<br />

eixos. Na realida<strong>de</strong>, hoje, cada ponto <strong>de</strong> ônibus em João Pessoa po<strong>de</strong> ser um pequeno terminal <strong>de</strong><br />

integração, guardada as <strong>de</strong>vidas proporções.<br />

A integração temporal é um mecanismo que tem como função transformar cada ponto <strong>de</strong><br />

ônibus num verda<strong>de</strong>iro ―mini terminal <strong>de</strong> integração‖. Com ele, um usuário <strong>de</strong> transporte coletivo<br />

po<strong>de</strong> se transferir <strong>de</strong> uma linha para outra (<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> certos limites <strong>de</strong> tempo e <strong>de</strong> linhas) sem pagar<br />

outra passagem. Tem, no mínimo, 30 minutos 36 para se transferir para outra linha e não po<strong>de</strong><br />

realizar a integração entre as mesmas linhas, e nem entre linhas ―circulares‖; o usuário também<br />

precisa ficar atento para não tentar integrar com alguma linha que passe ou vá para o terminal <strong>de</strong><br />

bairro da primeira linha e pelo mesmo corredor (Prefeitura Municipal <strong>de</strong> João Pessoa, 2008). Claro<br />

que, por sua natureza eletrônica, ele precisa <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> bilhetagem eletrônica para ser<br />

realizado, substituindo os convencionais Vale-transporte e Passe Estudantil. A integração tarifária<br />

utilizando sistemas <strong>de</strong> bilhetagem com limite <strong>de</strong> tempo (integração temporal) é uma prática recente<br />

<strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s brasileiras, iniciada a partir do ano 2000 e, a maior parte dos projetos, executados a<br />

partir <strong>de</strong> 2004 (OLIVEIRA apud NTU, 2006).<br />

36<br />

Muitas pessoas fazem confusão acerca do tempo limite para integração. Isso acontece porque ele varia <strong>de</strong> linha para<br />

linha. Segundo notícia publicada no site da Prefeitura Municipal <strong>de</strong> João Pessoa em 2008, ―o tempo para integração<br />

temporal é o que o ônibus gasta do ponto <strong>de</strong> embarque do usuário até o Terminal <strong>de</strong> Integração (tempo variável) e mais<br />

30 minutos‖.<br />

270


O Mercado Público Central <strong>de</strong> João Pessoa se constitui num importante local <strong>de</strong> mercado no<br />

centro da cida<strong>de</strong>. Foi construído no início da década <strong>de</strong> 1940 e está em processo final <strong>de</strong><br />

revitalização, numa obra que foi iniciada em 2006 e tem data <strong>de</strong> término prevista para 2011 (Blog<br />

Solocar, 2010). Mas, além <strong>de</strong> ser um local <strong>de</strong> mercado, ele também é, hoje, um importante ponto <strong>de</strong><br />

integração entre muitos distritos da capital paraibana. Basta pensar, por exemplo, na sua expressiva<br />

utilida<strong>de</strong> para um cidadão que mora no bairro do Cristo Re<strong>de</strong>ntor e precisa do transporte coletivo<br />

para se <strong>de</strong>slocar até seu local <strong>de</strong> trabalho localizado no bairro <strong>de</strong> Mangabeira: ele <strong>de</strong>sce no Mercado<br />

Central, vai em direção à Av. D. Pedro II e pega uma das várias linhas <strong>de</strong> ônibus que passam em<br />

frente ao Mercado Central e vão para Mangabeira. Assim esse ponto <strong>de</strong> bal<strong>de</strong>ação compreendido<br />

pelo Mercado Central e seu entorno tem hoje uma gran<strong>de</strong> importância no que diz respeito à<br />

mobilida<strong>de</strong> intra-urbana na/da capital.<br />

O atual prefeito do município <strong>de</strong> João Pessoa, Luciano Agra, em sua dissertação <strong>de</strong><br />

mestrado, já i<strong>de</strong>ntificava, através <strong>de</strong> relatório do Grupo Executivo <strong>de</strong> Integração da Política <strong>de</strong><br />

Transportes (GEIPOT) – hoje em inventariança – feito em 1983 com o Estudo <strong>de</strong> Transportes<br />

Urbanos <strong>de</strong> João Pessoa, que a Av. Dom Pedro II (Centro/Cida<strong>de</strong> Universitária/Bancários) e a Av.<br />

Epitácio Pessoa eram dois dos principais corredores <strong>de</strong> transportes do aglomerado urbano <strong>de</strong> João<br />

Pessoa (Oliveira, 2006). Esses são, justamente, os dois corredores que os usuários do mecanismo <strong>de</strong><br />

integração temporal que ―cortam caminho‖ pelo Mercado Central parecem fazer mais uso,<br />

atualmente.<br />

Além disso, sabe-se que a parcela da população mais beneficiada com o mecanismo é a <strong>de</strong><br />

baixa renda, isso porque é ela quem mais faz uso dos transportes coletivos.<br />

A integração dos transportes públicos é consi<strong>de</strong>rada por muitos autores uma das ações mais<br />

eficazes para ampliar a mobilida<strong>de</strong> sustentável, no contexto sócio-econômico da área<br />

urbana, visando proporcionar acesso aos bens e serviços <strong>de</strong> uma forma eficiente para todos<br />

os habitantes, especialmente para as camadas menos favorecidas da população (OLIVEIRA<br />

et al, 2010).<br />

Conforme o explicitado pelo MDT (Movimento Nacional Pelo Direito Ao Transporte<br />

Público De <strong>Qualida<strong>de</strong></strong> Para Todos) junto ao Fórum Nacional <strong>de</strong> Reforma Urbana por meio da<br />

publicação da cartilha Mobilida<strong>de</strong> Urbana e Inclusão Social <strong>de</strong> 2009, ―o processo <strong>de</strong> urbanização<br />

das cida<strong>de</strong>s brasileiras caracteriza-se pela segregação territorial‖, empurrando a população para as<br />

periferias e concentrando os serviços públicos e empregos no centro, fazendo com que a <strong>de</strong>manda<br />

por transporte público aumente e os mais pobres tenham a sua mobilida<strong>de</strong> limitada, provocando a<br />

segregação sócio-espacial <strong>de</strong>ssas pessoas. ―Em gran<strong>de</strong> parte das cida<strong>de</strong>s, estes tipos <strong>de</strong> transporte<br />

não são integrados o que gera dificulda<strong>de</strong>s para as pessoas se locomoverem, e obriga o pagamento<br />

271


<strong>de</strong> duas ou mais tarifas (Movimento Nacional Pelo Direito Ao Transporte Público De <strong>Qualida<strong>de</strong></strong><br />

Para Todos, 2009, p.32)‖.<br />

As distâncias percorridas pelas linhas <strong>de</strong> transporte público ten<strong>de</strong>m a aumentar com a<br />

expansão territorial das cida<strong>de</strong>s, fazendo com que o intervalo <strong>de</strong> tempo entre as viagens aumente<br />

consi<strong>de</strong>ravelmente, dificultando o acesso da população ao transporte coletivo. Uma conseqüência<br />

disso é a exclusão e a segregação das pessoas <strong>de</strong> baixa renda, agravadas pelo valor das tarifas <strong>de</strong><br />

ônibus, impedindo muitas vezes o acesso <strong>de</strong>las aos serviços oferecidos pela cida<strong>de</strong>.<br />

Segundo Hutchinson (1979, p. 334), os impactos <strong>de</strong> investimentos em algum sistema <strong>de</strong><br />

transporte que dizem respeito às variações no custo operacional, segurança e tempo da viagem<br />

normalmente são percebidos por seus usuários. Nesse sentido, boa parte dos usuários entrevistados<br />

relatou ter havido uma enorme melhoria no que diz respeito à diminuição no tempo gasto na<br />

viagem, pois o mecanismo <strong>de</strong> bilhetagem eletrônica conjuntamente com o <strong>de</strong> integração temporal<br />

criou uma espécie <strong>de</strong> ―atalho‖, ao fazerem com que não fosse mais necessário ir até a integração do<br />

Varadouro para po<strong>de</strong>r pegar sua outra condução. É aí que entra a importância do espaço escolhido<br />

para investigação – o mercado central – pois ele é um <strong>de</strong>sses ―atalhos‖, na medida em que, como já<br />

foi dito, é utilizado por inúmeros usuários <strong>de</strong> transporte urbano em João Pessoa como maneira <strong>de</strong><br />

―encurtar‖ as distâncias. Para exemplificar tal importância, elaboramos uma ilustração (figura 01),<br />

no qual fica espacialmente <strong>de</strong>finida a inconveniência (em certos casos) <strong>de</strong> se <strong>de</strong>slocar até o<br />

Varadouro para efetuar a integração.<br />

Figura 01: Exemplo <strong>de</strong> percurso feito utilizando o Terminal <strong>de</strong> Integração do Varadouro.<br />

Fonte: Google Maps. Elaboração: Loester Figueirôa.<br />

272


Com essa ilustração po<strong>de</strong>mos ver que, antes da implantação do sistema <strong>de</strong> integração<br />

temporal, o percurso se tornava <strong>de</strong>masiadamente longo, fazendo com que os usuários per<strong>de</strong>ssem<br />

muito tempo em seus <strong>de</strong>slocamentos, o que implicava em impactos negativos na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida<br />

dos mesmos.<br />

Uma boa parcela dos entrevistados também <strong>de</strong>clarou que outro benefício <strong>de</strong>sse mecanismo é<br />

o da melhoria no que diz respeito ao custo financeiro <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamento: paga-se ape<strong>nas</strong> uma<br />

passagem por duas conduções (um dos impactos apontados por Hutchinson). Mesmo essa já sendo a<br />

função do Terminal <strong>de</strong> Integração do Varadouro, mais antigo, tal melhoria apontada po<strong>de</strong> ser<br />

justificada pelo fato <strong>de</strong> que, a nosso ver, alguns usuários, em certos casos, preferiam (antes da<br />

integração temporal) não fazer uso <strong>de</strong>sse terminal (preferindo utilizar linhas circulares ou até<br />

mesmo pagar pela outra condução) por que, assim, não seriam ―obrigados‖ a o freqüentar, o que<br />

seria uma perda <strong>de</strong> tempo em seu <strong>de</strong>slocamento.<br />

No entanto, também foram apontados problemas no mecanismo, muitos <strong>de</strong> natureza<br />

normativa. Em outras palavras, a maioria dos problemas diz respeito aos próprios limites e regras<br />

estabelecidas para o funcionamento do sistema. Por exemplo, foi comum escutar <strong>de</strong>clarações<br />

relativas ao tempo limite para ser efetuada a integração que, como já foi dito, varia <strong>de</strong> acordo com a<br />

linha. Associado a isso está outra <strong>de</strong>ficiência apontada pelos entrevistados que diz respeito não ao<br />

mecanismo, mas à baixa ―freqüência‖ <strong>de</strong> ônibus <strong>de</strong> algumas linhas. Juntos, esses dois problemas (o<br />

do relativo baixo tempo limite para integração e o gran<strong>de</strong> tempo que algumas linhas levam para<br />

passar pelo mercado central) causam um <strong>de</strong>scontentamento em alguns usuários, que muitas vezes<br />

acabam pagando pela segunda condução por ultrapassar o tempo limite graças à incipiente<br />

disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> certas linhas.<br />

Outro problema diz respeito às restrições <strong>de</strong> linhas que estão integradas entre si, on<strong>de</strong> não é<br />

raro ocorrer a tentativa <strong>de</strong> integração entre linhas não integradas por parte <strong>de</strong> usuários<br />

<strong>de</strong>sinformados.<br />

Graças a esses pontos negativos, algumas pessoas não se mostraram satisfeitas com o<br />

mecanismo, no entanto, foram poucas (11%), como po<strong>de</strong> ser observado na Figura 02. Na verda<strong>de</strong>,<br />

houve uma expressiva aprovação do sistema <strong>de</strong> integração temporal por parte dos usuários<br />

entrevistados, on<strong>de</strong> a maioria respon<strong>de</strong>u que avaliava o mecanismo como ―bom‖ (39%), e outro<br />

bom montante como ―ótimo‖ (25%). Logo, é possível perceber que o mecanismo tem tido uma<br />

aceitação, até por que esses problemas não parecem ser encarados pela população como aspectos<br />

que o tornam inviável <strong>de</strong> ser aplicado. Trocando a miúdos, o sistema só melhorou a mobilida<strong>de</strong><br />

intra-urbana, ape<strong>nas</strong> precisa ser, na opinião dos entrevistados, aperfeiçoado, melhorado e<br />

contextualizado.<br />

273


25%<br />

11%<br />

0% 11%<br />

39%<br />

14%<br />

Péssimo<br />

Ruim<br />

Regular<br />

Bom<br />

Ótimo<br />

Excelente<br />

Figura 02: Nível <strong>de</strong> satisfação dos usuários entrevistados<br />

Fonte: pesquisa <strong>de</strong> campo, <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2011.<br />

Durante as entrevistas, notamos que há uma enorme diversida<strong>de</strong> no que diz respeito ao<br />

percurso dos usuários do mecanismo. No entanto, alguns bairros se sobressaíram: como local <strong>de</strong><br />

origem houve pessoas que vinham <strong>de</strong> Cruz das Armas, Cristo, Costa e Silva, Jaguaribe, Geisel,<br />

Centro, Funcionários, Jardim Veneza, Bairro das Indústrias, <strong>de</strong>ntre outros; como local <strong>de</strong> <strong>de</strong>stino o<br />

Campus I da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Paraíba foi o local mais citado (incluindo-se aí o Hospital<br />

Universitário), mas também houve casos <strong>de</strong> pessoas que se dirigiam para Manaíra, Mangabeira,<br />

Bessa, Bancários, etc.<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Como pô<strong>de</strong> ser visto neste artigo, o mecanismo <strong>de</strong> integração temporal tem tido uma gran<strong>de</strong><br />

utilida<strong>de</strong> na perspectiva da melhoria da mobilida<strong>de</strong> intra-urbana na capital, principalmente para a<br />

população mais pobre que é a que mais precisa <strong>de</strong> um transporte público <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>. É essa a<br />

população que mais tem percebido o impacto social do sistema que, mesmo não sendo perfeito e<br />

precisando <strong>de</strong> um aperfeiçoamento contextualizado (pensando nos diversos percursos e casos<br />

possíveis), tem provocado uma melhor qualificação do sistema <strong>de</strong> transporte urbano na capital.<br />

O sistema beneficia principalmente a classe estudantil e a trabalhadora. Com o mecanismo<br />

há, além <strong>de</strong> uma economia <strong>de</strong> tempo (seja na migração casa/trabalho ou casa/escola ou<br />

casa/trabalho/escola), uma economia <strong>de</strong> gastos financeiros, uma vez que com ape<strong>nas</strong> uma passagem<br />

uma pessoa po<strong>de</strong> pegar, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo das linhas que preten<strong>de</strong> integrar, dois ônibus.<br />

Quanto ao recorte espacial <strong>de</strong> estudo – o mercado central – este revelou representar um<br />

importante eixo no tecido urbano da capital. É não só um local <strong>de</strong> mercado, mas um ponto on<strong>de</strong> as<br />

distâncias são encurtadas e o tempo gasto no <strong>de</strong>slocamento diário dos cidadãos é diminuído. Juntos,<br />

274


o sistema <strong>de</strong> integração temporal e os pontos <strong>de</strong> ônibus do Mercado Central tem sido responsáveis<br />

por uma mudança nos circuitos <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamento da cida<strong>de</strong>, mas, sobretudo, por uma melhoria na<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida nos seus usuários.<br />

O transporte público constitui um importante instrumento <strong>de</strong> justiça social, na medida em<br />

que po<strong>de</strong> conduzir <strong>de</strong> modo mais racional o crescimento das cida<strong>de</strong>s e das aglomerações<br />

urba<strong>nas</strong>, ou seja, torna possível uma acessibilida<strong>de</strong> mais equitativa à cida<strong>de</strong> e às suas<br />

possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> emprego, <strong>de</strong> cultura e <strong>de</strong> lazer (Cocco & Silveira, 2011, p.555).<br />

Por fim, cabe registrar que os resultados obtidos foram satisfatórios, principalmente se<br />

consi<strong>de</strong>rarmos que o tempo <strong>de</strong>stinado à realização da pesquisa foi curto.<br />

REFERÊNCIAS<br />

OLIVEIRA, Gilmar. BALASSIANO, Ronaldo. SANTOS, Márcio P. S. Critérios e procedimentos<br />

para implantação da integração tarifária temporal em sistemas <strong>de</strong> transporte público por ônibus. VII<br />

Rio <strong>de</strong> Transportes, 2010. Disponível em: Acessado em: 29 <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2011.<br />

SOUZA, Marcelo Lopes <strong>de</strong>, 1963 - ABC do <strong>de</strong>senvolvimento urbano / Marcelo Lopes <strong>de</strong> Souza –<br />

5ª ed. – Rio <strong>de</strong> Janeiro: Bertrand Brasil, 2010.<br />

BORGES, Rodrigo César Neiva. Definição <strong>de</strong> Transporte Coletivo Urbano. Biblioteca Digital da<br />

Câmara dos Deputados, 2006. Disponível em:<br />

Acessado em: 1 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2011.<br />

COCCO, Rodrigo Giraldi; SILVEIRA, Márcio Rogério. Transporte e público coletivo:<br />

acessibilida<strong>de</strong> e crise <strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s do interior paulista. In: SILVEIRA, Márcio Rogério (org.).<br />

Circulação, transportes e logística: diferentes perspectivas. São Paulo: Outras Expressões, 2011.<br />

GIRALDI, Rodrigo Cocco. Transporte público, planejamento e mobilida<strong>de</strong> intra-urbana da força <strong>de</strong><br />

trabalho: a imobilida<strong>de</strong> como fator restritivo do <strong>de</strong>senvolvimento e da integração espacial. La<br />

planificación territorial y el urbanismo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> el diálogo y la participación. Actas <strong>de</strong>l XI Coloquio<br />

Internacional <strong>de</strong> Geocrítica, Universidad <strong>de</strong> Buenos Aires, 2-7 <strong>de</strong> mayo <strong>de</strong> 2010. Disponível em:<br />

Acessado<br />

em: 1 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2011.<br />

275


PREFEITURA MUNICIPAL DE JOÃO PESSOA. Notícias: João Pessoa inicia segunda-feira<br />

sistema <strong>de</strong> integração plena do transporte coletivo, 2008. Disponível em:<br />

Acessado em: 28 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 2011.<br />

HUTCHINSON, B. G. Princípios <strong>de</strong> Planejamento dos Sistemas <strong>de</strong> Transporte Urbano. Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro: Editora Guanabara Dois, 1979.<br />

ARRUDA, Rafael <strong>de</strong> Mendonça. Bus Rapid Transit: uma alternativa <strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong> urbana para a<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa. João Pessoa: UFPB, 2011. (Monografia apresentada ao curso <strong>de</strong> Geografia<br />

da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Paraíba).<br />

OLIVEIRA, José Luciano Agra <strong>de</strong>. Uma contribuição aos estudos sobre a relação transportes e<br />

crescimento urbano: o caso <strong>de</strong> João Pessoa-PB / José Luciano Agra <strong>de</strong> Oliveira. João Pessoa, 2006.<br />

(Dissertação apresentada ao curso <strong>de</strong> Engenharia Urbana da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Paraíba).<br />

MOVIMENTO NACIONAL PELO DIREITO AO TRANSPORTE PÚBLICO DE QUALIDADE<br />

PARA TODOS. Mobilida<strong>de</strong> Urbana e inclusão social. Brasília: MDT, 2009. Disponível em:<br />

Acesso em: 14 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2011.<br />

Acesso em: 28 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 2011.<br />

Acesso em: 28 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 2011.<br />

276


Resumo<br />

FATORES DE DEGRADAÇÃO AMBIENTAL PELO USO NÃO SUSTENTÁVEL DOS<br />

RECURSOS NATURAIS DA BACIA DO RIO DOCE – RN<br />

Élida Thalita Silva <strong>de</strong> CARVALHO<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte<br />

elidathalita@hotmail.com<br />

Graduanda em Geografia<br />

Miquéias Rildo <strong>de</strong> Souza SILVA<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte<br />

miqueiasrildo@hotmail.com<br />

Graduando em Geografia<br />

Aline Berto FAUSTINO<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte<br />

alineberto@cchla.ufrn.br<br />

Graduanda em Geografia<br />

Sebastião Milton Pinheiro da SILVA<br />

Departamento <strong>de</strong> Geografia da UFRN - Orientador<br />

smpsilva@cchla.ufrn.br<br />

O processo <strong>de</strong> urbanização nos últimos anos vem crescendo em ritmo acelerado e junto com esse<br />

processo acontecem os fenômenos da migração e da expansão <strong>de</strong>mográfica, os quais contribuem<br />

cada vez mais para o caos dos centros urbanos. Estes, por sua vez, não conseguem respon<strong>de</strong>r com a<br />

infraestrutura <strong>de</strong> serviços básicos necessários para proporcionar qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida aos contingentes<br />

<strong>de</strong> novos moradores. Isto se <strong>de</strong>ve, principalmente pela insuficiência do número <strong>de</strong> moradias<br />

construídas para abrigar essa nova população resi<strong>de</strong>nte que, pela sua condição socioeconômica<br />

ainda precária, acaba por se fixar em zo<strong>nas</strong> periféricas ou em áreas irregulares. O crescimento<br />

urbano acelerado, <strong>de</strong>sacompanhado <strong>de</strong> um planejamento prévio sobre o uso e ocupação dos solos,<br />

acaba gerando sérios problemas socioambientais. Assim, consi<strong>de</strong>rando a bacia hidrográfica como<br />

uma unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> planejamento ambiental essencial para a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida da população nela<br />

resi<strong>de</strong>nte, é fundamental i<strong>de</strong>ntificar os elementos que a compõem e as interações existentes,<br />

buscando solucionar possíveis problemas socioambientais. Neste artigo são apresentados os<br />

resultados preliminares do trabalho em <strong>de</strong>senvolvimento na Bacia Hidrográfica do Rio Doce – RN,<br />

localizada na Região Metropolitana <strong>de</strong> Natal, que vem sofrendo impactos socioambientais <strong>de</strong>vidos<br />

ao mau uso dos solos e dos recursos hídricos resultantes da expansão e da urbanização <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada<br />

da região.<br />

Palavras-chaves: Planejamento, urbanização, questões sociais e ambientais; Bacia do Rio Doce.<br />

277


Abstract<br />

The urbanization process in recent years has been growing at a rapid pace and along with this<br />

process happen the phenomena of migration and population growth, which increasingly contribute<br />

to the chaos of urban centers. These, in turn, can not respond with the necessary basic infrastructure<br />

services to provi<strong>de</strong> quality of life to the quotas of new resi<strong>de</strong>nts. This is mainly due to the<br />

insufficient number of dwellings built to house this new population, which by their socioeconomic<br />

status still precarious, eventually settling in outlying areas or uneven areas. The rapid urban growth,<br />

unaccompanied by prior planning on the use and occupation of the soil, eventually causing serious<br />

environmental problems. Thus, consi<strong>de</strong>ring the river basin as a unit of environmental planning<br />

essential to the quality of life of people living in it, it is essential to i<strong>de</strong>ntify the elements that<br />

compose it and the interactions, seeking to solve possible environmental problems. This article<br />

presents the preliminary results of work in progress at Doce River Basin - RN, located in the<br />

metropolitan area of Natal, which has suffered environmental impacts due to the misuse of land and<br />

water resources resulting from unplanned urbanization and expansion of region.<br />

Keywords: Planning, urbanization, social and environmental issues; Doce River Basin.<br />

Introdução<br />

A população brasileira vem se expandindo <strong>de</strong> forma vertiginosa <strong>nas</strong> últimas décadas.<br />

Paralelo a esse crescimento acelerado, tem-se propiciado a rápida expansão dos centros urbanos<br />

com diversos efeitos negativos, principalmente, quanto às questões socioambientais. A expansão <strong>de</strong><br />

centros urbanos não planejados tem ocasionado transtornos em uma ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> serviços básicos e <strong>de</strong><br />

qualida<strong>de</strong> para a população que se fixa no território, para os quais, Coelho (2001), afirma que:<br />

―O senso comum tem construído alguns pressupostos a cerca da <strong>de</strong>gradação<br />

ambiental em áreas urba<strong>nas</strong>. Acredita-se que os seres humanos, ao se concentrarem<br />

num <strong>de</strong>terminado espaço físico, aceleram inexoravelmente os processos <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>gradação ambiental, que cresce na proporção que a concentração populacional<br />

aumenta. Desta forma, cida<strong>de</strong>s e problemas ambientais teriam entre si uma relação<br />

<strong>de</strong> causa-efeito rígida.‖<br />

A expansão da Zona Norte <strong>de</strong> Natal é uma <strong>de</strong>ssas situações bem característica. Ela se <strong>de</strong>u a<br />

partir da década <strong>de</strong> 70, como afirma Araújo (2004). A zona norte surgiu como suporte ao processo<br />

<strong>de</strong> crescimento da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Natal, que <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ou a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se criar novos locais <strong>de</strong><br />

habitação. Esta zona administrativa da cida<strong>de</strong>, que até então mantinha suas características originais<br />

<strong>de</strong> vegetação nativa, solos e águas protegidos, recebeu um gran<strong>de</strong> aporte populacional,<br />

278


principalmente, <strong>de</strong> mão <strong>de</strong> obra para ativida<strong>de</strong>s agrícolas, que ainda se fazem presentes em diversos<br />

locais. Com a expansão urbana da região metropolitana <strong>de</strong> Natal, a paisagem da Zona Norte da<br />

capital potiguar, e <strong>de</strong> seus municípios vizinhos, foram se transformando rapidamente e, atrelados a<br />

essas transformações, os recursos naturais foram sendo modificados, <strong>de</strong> modo <strong>de</strong>sfavorável à<br />

preservação ambiental e à sustentabilida<strong>de</strong>. A Zona Norte, como é comumente alcunhada, é a mais<br />

populosa e a que mais cresceu. Segundo o censo <strong>de</strong> 2000 a população <strong>de</strong>sta zona administrativa era<br />

<strong>de</strong> 244.743 habitantes, enquanto que no último censo <strong>de</strong> 2010, a população resi<strong>de</strong>nte, até então, era <strong>de</strong><br />

303.453 habitantes. É <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse contexto do crescimento populacional acelerado que a Bacia do<br />

Rio Doce, e, principalmente, o rio que dá nome á mesma, está inserida num quadro <strong>de</strong> ocupação<br />

<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada, <strong>de</strong> ausência <strong>de</strong> planejamento territorial, e distante dos olhos das leis e das autorida<strong>de</strong>s<br />

ambientais.<br />

A agressão ao rio é constante e <strong>de</strong>senfreada. O ambiente bastante fragilizado vive sob essa<br />

condição, principalmente, pela falta <strong>de</strong> racionalização da água, pelo uso <strong>de</strong> agrotóxicos na<br />

agricultura, pelos <strong>de</strong>jetos industriais e ainda pela própria população ao jogar lixo e outros rejeitos no<br />

terreno. Dessa forma, o ecossistema natural tem sido amplamente impactado pelas ativida<strong>de</strong>s<br />

antrópicas. A bacia hidrográfica percebida como uma unida<strong>de</strong> básica <strong>de</strong> análise, planejamento e<br />

gestão ambiental permite conhecer e avaliar seus diversos elementos, seus processos e as interações<br />

que nela ocorrem (Botelho & Silva, 2011). A i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> possíveis fatores <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação pelo<br />

uso não sustentável dos recursos naturais da Bacia do Rio Doce – RN assume, portanto, extrema<br />

relevância para o planejamento ambiental <strong>de</strong>sta bacia.<br />

Assim sendo, o objetivo <strong>de</strong>ste estudo é i<strong>de</strong>ntificar os locais, os fatores e as consequências<br />

do mau uso dos recursos naturais da bacia do Rio Doce, tendo em vista que a acelerada agressão<br />

causada pelas ativida<strong>de</strong>s antrópicas, vem ocasionando sérios problemas socioambientais.<br />

Para atingir os objetivos, utilizou-se uma metodologia dividida em três fases distintas.<br />

Inicialmente, foi realizada uma revisão bibliográfica sobre a Bacia Hidrográfica do Rio Doce, on<strong>de</strong><br />

foi consultado o material bibliográfico produzido (relatórios técnicos, reportagens, artigos e teses)<br />

com informações diversas sobre esse ecossistema, além das características socioambientais e sobre<br />

o uso e ocupação dos solos. Além da pesquisa bibliográfica, foi feita uma pesquisa <strong>de</strong> dados<br />

espaciais, on<strong>de</strong> foram utilizados os dados disponibilizados pela CPRM (Serviço Geológico do<br />

Brasil), pelo IBGE (Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística) e imagens <strong>de</strong> satélite da área <strong>de</strong><br />

estudo. Esses materiais foram usados na elaboração dos mapas e na criação do banco <strong>de</strong> dados<br />

geográfico com as características da Bacia. A segunda fase do trabalho foi referente à ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

campo, on<strong>de</strong> foram feitos registros fotográficos <strong>de</strong> alguns pontos do Rio Doce, para observar<br />

possíveis pontos <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação e poluição do rio. Por fim, na terceira fase, os dados espaciais<br />

coletados e os pontos geográficos adquiridos no trabalho <strong>de</strong> campo foram processados no SPRING<br />

279


(Sistema <strong>de</strong> Processamento <strong>de</strong> Informações Georreferenciadas) que é um SIG (Sistema <strong>de</strong><br />

Informação Geográfica) <strong>de</strong> uso livre, <strong>de</strong>senvolvido pelo INPE (Instituto Nacional <strong>de</strong> Pesquisas<br />

Espaciais). Os mapas foram produzidos no SCarta, programa complementar da plataforma SPRING.<br />

Localização e caracterização da área <strong>de</strong> estudo<br />

A Bacia Hidrográfica do Rio Doce está localizada no estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte (RN)<br />

como mostrado no mapa da Figura I, compreen<strong>de</strong>ndo os Municípios <strong>de</strong> Taipu, Ielmo Marinho,<br />

Ceará-Mirim, São Gonçalo do Amarante, Extremoz e Natal, compondo gran<strong>de</strong> parte da Região<br />

Metropolitana <strong>de</strong> Natal (RMN). Esta bacia hidrográfica também está inserida na Zona <strong>de</strong> Proteção<br />

Ambiental 9 (ZPA 09), que compreen<strong>de</strong> o ecossistema <strong>de</strong> lagoas e du<strong>nas</strong> ao longo do Rio Doce.<br />

Esta área é <strong>de</strong>finida no artigo 17 do Plano Diretor da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Natal 2007 da Lei Complementar Nº<br />

82 como:<br />

―Art. 17 - Consi<strong>de</strong>ra-se Zona <strong>de</strong> Proteção Ambiental a área na qual as<br />

características do meio físico restringem o uso e ocupação, visando à proteção,<br />

manutenção e recuperação dos aspectos ambientais, ecológicos, paisagísticos,<br />

históricos, arqueológicos, turísticos, culturais, arquitetônicos e científicos.―<br />

Figura I - Mapa <strong>de</strong> localização da Bacia do Rio Doce - RN<br />

A bacia do Rio Doce se esten<strong>de</strong> por uma área <strong>de</strong> 387,80 km 2 , que <strong>de</strong> acordo com o relatório<br />

elaborado pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM) (BRASIL, 2005) apresenta cursos d‘água <strong>de</strong><br />

280


2ª or<strong>de</strong>m e padrão <strong>de</strong> drenagem <strong>de</strong>ndrítico típico <strong>de</strong> relevo sedimentar. Em geral, os rios são<br />

classificados como consequentes, isto é, quando o curso do rio é <strong>de</strong>terminado pela <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong> do<br />

terreno, neste caso, possuindo estrutura sedimentar. Quanto ao escoamento global tem-se a forma<br />

exorréica. Segundo o plano estadual <strong>de</strong> recursos hídricos (SEMARH, 2009) o Rio Doce é o<br />

principal rio da bacia e tem como principais afluentes o Rio Guajiru e o Riacho do Mudo. A bacia é<br />

composta também por um sistema hídrico subterrâneo com os Aquíferos Jandaíra, Cristalino e<br />

Du<strong>nas</strong>-Barreiras. Ao longo do seu curso o Rio Doce cruza os municípios <strong>de</strong> Natal e Extremoz<br />

dividindo esses dois territórios e termina sua viagem ao <strong>de</strong>sembocar no estuário do Rio Potengi. O<br />

Rio Doce, que se concentra no baixo curso da bacia, forma um sistema fluvio-lacustre, pois a ele<br />

estão interligadas às Lagoas Azul, Dendê, Gramoré, Extremoz, Pajuçara e Lagoa do Sapo.<br />

(AZEVEDO, 2010).<br />

A região da bacia apresenta tipo climático ―As‖, seguindo a classificação <strong>de</strong> Köppen, que se<br />

caracteriza pelo clima tropical com estação seca, com predomínio das características quente e<br />

úmido (SEMARH, 2009).<br />

O aspecto geomorfológico revela terrenos <strong>de</strong> origem sedimentar, composto basicamente por<br />

du<strong>nas</strong> fixas e móveis, além da ocorrência <strong>de</strong> vales. Os campos dunares pertencem à Formação<br />

Barreiras, com grãos que variam <strong>de</strong> finos a médios <strong>de</strong> coloração branca, amarela e vermelha,<br />

classificadas como areias quartzosas. Essa formação permite uma rápida infiltração das águas<br />

pluviais e boa disposição ao armazenamento subterrâneo. O vale possui altimetria mais baixa em<br />

relação à área da bacia, e por este motivo o escoamento superficial é diminuto, mais reduzido e<br />

ten<strong>de</strong> acumular água em superfície. A formação vegetal é composta por Tabuleiros e manguezal. Os<br />

tabuleiros são um complexo florístico característico <strong>de</strong> áreas antropizada, encontrado sob as du<strong>nas</strong> é<br />

composto principalmente por vegetação rasteira que realiza importante função ao impedir o<br />

movimento dos grãos <strong>de</strong> areia diante da ação eólica no litoral. O manguezal é uma vegetação <strong>de</strong><br />

contato entre as águas continentais e oceânicas, que tem o papel <strong>de</strong> barrar a força das águas do<br />

oceano sobre o continente, além <strong>de</strong> constituir o berçário natural da vida marinha. Esse tipo <strong>de</strong><br />

vegetação se adapta facilmente às condições <strong>de</strong> salinida<strong>de</strong> e inundação do ambiente flúvio-costeiro<br />

(NUNES, 2006).<br />

Uso e ocupação do entorno da Bacia do Rio Doce<br />

A Lagoa <strong>de</strong> Extremoz surge como componente importante no contexto da bacia. Esta está<br />

diretamente relacionada à origem do Rio Doce, já que este <strong>nas</strong>ce junto à foz da lagoa. Das 16 bacias<br />

hidrográficas que o estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte possui 14 são as mais importantes (SEMARH,<br />

2009). A bacia do Rio Doce encontra-se inserida, nesta classificação pela importância em termos <strong>de</strong><br />

281


abastecimento doméstico e uso agrícola. Segundo a Companhia <strong>de</strong> Águas e Esgotos do RN<br />

(CAERN), o abastecimento <strong>de</strong> água à população da Zona Norte <strong>de</strong> Natal é realizado através da<br />

exploração <strong>de</strong> poços tubulares, sendo que aproximadamente 38% são provenientes do manancial da<br />

Lagoa <strong>de</strong> Extremoz, enquanto que os outros 62% advém do Rio Doce.<br />

Atualmente, o reservatório da Lagoa <strong>de</strong> Extremoz está com sua capacida<strong>de</strong> máxima <strong>de</strong><br />

armazenamento, comportando um volume <strong>de</strong> 11.019.525,00 m³, com dados atualizados em<br />

31/07/2012 (CAERN, 2012). Porém, a falta <strong>de</strong> infraestrutura básica na área faz emergir problemas<br />

que não conseguem ser absorvidos pela disponibilida<strong>de</strong> dos recursos oferecidos e não são<br />

solucionados pelos gestores do município, causando assim <strong>de</strong>gradação e poluição <strong>de</strong>ste recurso<br />

hídrico.<br />

Em Natal, especificamente na zona administrativa Norte, a expansão urbana <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada<br />

tem produzido efeitos negativos e diversos impactos no ecossistema têm sido alavancados e<br />

apontados como resultado da falta <strong>de</strong> planejamento e <strong>de</strong> ações voltadas para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

sustentável <strong>de</strong>sta localida<strong>de</strong>. De acordo com Américo (2006), a Zona Norte tem características<br />

morfológicas constituída por cordões dunares <strong>de</strong> alta permeabilida<strong>de</strong> e porosida<strong>de</strong> o que contribui<br />

<strong>de</strong> forma direta para a <strong>de</strong>gradação do aquífero. Aliados a este processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação dos aquíferos<br />

estão também o crescimento <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s sem infraestrutura básica para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

populacional, o agravamento do <strong>de</strong>smatamento da mata ciliar das margens do rio para práticas <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong>s econômicas, a erosão dos solos, a impermeabilização do terreno, a ocupação irregular <strong>nas</strong><br />

du<strong>nas</strong> e o assoreamento dos rios.<br />

Diante <strong>de</strong>ste contexto, e ao se observar a bacia do Rio Doce, percebe-se que os manejos<br />

ina<strong>de</strong>quados dos recursos naturais estão impactando <strong>de</strong> forma acelerada e direta toda a bacia<br />

hidrográfica. As ações antropicas ao longo do Rio Doce estão, possivelmente, prejudicando a<br />

qualida<strong>de</strong> da água usada para irrigar a produção <strong>de</strong> hortaliças que são consumidas pela população,<br />

além do papel fundamental no abastecimento do estuário do Rio Potengi.<br />

Os habitantes que vivem próximos ao Rio Doce não conseguem observar que múltiplos usos<br />

irregulares dos solos e dos recursos da bacia e, principalmente, <strong>de</strong>ste rio, estão contribuindo para<br />

uma poluição difusa e <strong>de</strong> difícil controle, pois a partir do momento em que no rio são diretamente<br />

<strong>de</strong>spejados os resíduos produzidos, estes se espalham e atingem um nível alto <strong>de</strong> efeitos<br />

impactantes negativos, que propiciará uma perda <strong>de</strong> atendimento hídrico <strong>de</strong> <strong>de</strong>mandas futuras. Ao<br />

longo do rio principal da bacia do Rio Doce, observamos alguns pontos <strong>de</strong> contaminação e <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>gradação do ambiente (Figura II).<br />

282


Figura II - Pontos Observados ao longo do Rio Doce<br />

A presença das comunida<strong>de</strong>s e as ativida<strong>de</strong>s por elas executadas próximas ao rio, indicam os<br />

fatores <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação, como sendo resultantes da poluição, da erosão e do assoreamento do rio. A<br />

ausência <strong>de</strong> re<strong>de</strong> <strong>de</strong> esgoto e, consequentemente, a falta <strong>de</strong> saneamento básico, e <strong>de</strong> disposição local<br />

para <strong>de</strong>spejos <strong>de</strong> efluentes, também contribuem para elevadas taxas <strong>de</strong> infiltração pluvial, que<br />

posteriormente, acaba por elevar o nível <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> para a contaminação das águas<br />

subterrâneas. Além <strong>de</strong> todos os riscos <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação, ainda é verificada a poluição em massa com<br />

latas, garrafas e sacolas plásticas que são encontradas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua <strong>nas</strong>cente (Figura III). Isto é<br />

consequência direta da expansão urbana, e da falta <strong>de</strong> consciência e <strong>de</strong> educação ambiental <strong>de</strong> uma<br />

minoria da população resi<strong>de</strong>nte que já alcança as margens do rio. Logo após a <strong>nas</strong>cente, o rio já se<br />

expan<strong>de</strong> e ganha força ao longo do seu curso, que passa por diversos bairros e comunida<strong>de</strong>s. Nestas<br />

localida<strong>de</strong>s, o uso e o manejo dos solos e dos recursos hídricos são diversificados, que vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

moradia para população ribeirinha até local para banho <strong>de</strong> animais.<br />

283


Figura III- Poluição observada na <strong>nas</strong>cente do Rio Doce (P1)<br />

Ao longo do percurso do rio po<strong>de</strong>m ser observados diversos pontos <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação. Um dos<br />

principais pontos <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação é observado em comunida<strong>de</strong>s localizadas entre os bairros <strong>de</strong> Lagoa<br />

Azul e Pajuçara, on<strong>de</strong> se encontram ativida<strong>de</strong>s econômicas, como plantação e cultivo <strong>de</strong> hortaliças,<br />

praticadas pela população ribeirinha como meio <strong>de</strong> subsistência. Esses pequenos agricultores<br />

habitam e praticam a ativida<strong>de</strong> há vários anos, produzindo, principalmente, tomate, coentro, banana<br />

e cebolinha com a água do Rio Doce utilizada para irrigação. Um fator <strong>de</strong> risco latente é a<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que estes agricultores, utilizando fertilizantes e <strong>de</strong>fensivos agrícolas <strong>nas</strong><br />

plantações, venham a contaminar os solos e o rio afetando a qualida<strong>de</strong> da água. Segundo Botelho &<br />

Silva (2011), o uso <strong>de</strong> produtos químicos (fertilizantes, pesticidas) associados ao aumento da<br />

erosão, causada principalmente pela retirada da vegetação ciliar para a implantação das plantações,<br />

―po<strong>de</strong> ter consequências graves para a bacia hidrográfica‖.<br />

Sendo assim, esta população <strong>de</strong> agente da <strong>de</strong>gradação, torna-se vítima das suas ações. Outro<br />

fator impactante é o <strong>de</strong>smatamento da mata ciliar para a plantação, e os <strong>de</strong>svios da água, o que<br />

contribui <strong>de</strong> forma direta para o assoreamento do rio.<br />

Apesar do Rio Doce não atrair turistas para o local, ele, ainda assim, é muito utilizado como<br />

local <strong>de</strong> lazer por pessoas que frequentam bares instalados próximos ao rio e pela população local<br />

(Figuras IV e V). Estas, inclusive, utilizam o rio para afazeres domésticos como lavar roupa, louça,<br />

284


anhar animais e outras utilida<strong>de</strong>s. Esse tipo <strong>de</strong> uso representa um agravante para a <strong>de</strong>gradação<br />

ambiental, pois esse tipo <strong>de</strong> serventia da água torna-a um verda<strong>de</strong>iro transmissor <strong>de</strong> doenças.<br />

Figura IV – Pessoas se banhando (P2) Figura V - Bares as margens do Rio Doce<br />

Próximo ao a<strong>de</strong>nsamento urbano, após passar por todas as proprieda<strong>de</strong>s rurais, o Rio Doce,<br />

que continua próximo a Avenida João Me<strong>de</strong>iros Filho, carrega todo o lixo comum da cida<strong>de</strong>, como<br />

latas e plásticos, <strong>de</strong>sembocando no rio Potengi, que é outro rio, que está sofrendo um alto processo<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação, poluição e contaminação (Figura VI).<br />

Figura VI - Tubulação on<strong>de</strong> o Rio Doce atravessa a Av. João Me<strong>de</strong>iros<br />

Filho (P3) até chegar ao Rio Potengi.<br />

Indicadores <strong>de</strong> Degradação na bacia do Rio Doce<br />

Para caracterizar e indicar fatores e locais <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação e <strong>de</strong> poluição ambiental foi feito<br />

um trabalho <strong>de</strong> campo para contribuir <strong>de</strong> forma direta para o estudo e para validar e buscar<br />

285


medidas mitigadoras que minimizem esses e outros problemas emergentes na bacia. Destaca-se a<br />

importância <strong>de</strong> se preservar e monitorar o manejo e o uso dos recursos naturais para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento sustentável da bacia hidrográfica do rio Doce. Segundo Dias (2009) ―o<br />

comportamento dos recursos naturais existentes em cada região precisa ser diagnosticado para<br />

que o or<strong>de</strong>namento urbano possa ser ajustado às potencialida<strong>de</strong>s e às fragilida<strong>de</strong>s existentes no<br />

local‖.<br />

As situações <strong>de</strong>tectadas no Rio Doce, como a poluição, o assoreamento e a intensa presença<br />

do lixo urbano apresentam-se como processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>terioração que ten<strong>de</strong>m a diminuir cada vez mais<br />

a qualida<strong>de</strong> da água e dos solos, além <strong>de</strong> comprometer, seriamente, a <strong>de</strong>manda futura. Tudo isto,<br />

resultante da ocupação <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada e do uso da terra sem controles. As comunida<strong>de</strong>s que margeiam<br />

o curso do rio são <strong>de</strong>sprovidas <strong>de</strong> uma infraestrutura básica, que agrava as condições ambientais,<br />

tendo em vista que a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> esgoto passa a ser lançada diretamente no rio como uma forma <strong>de</strong><br />

resolver um ―problema‖, contrariando e fazendo emergir outro.<br />

A falta <strong>de</strong> fiscalização e <strong>de</strong> políticas públicas para a conservação dos recursos naturais<br />

agrava a situação observada no Rio Doce. Muitos instrumentos legais como Código Florestal e/ou<br />

Plano Diretor não são respeitados, pois a retirada da mata ciliar e o <strong>de</strong>spejo <strong>de</strong> <strong>de</strong>jetos no rio po<strong>de</strong>m<br />

ser observados em vários pontos ao longo do seu percurso. Além <strong>de</strong>stes instrumentos legais, seria<br />

aconselhável também promover uma educação ambiental para produtores e as populações locais,<br />

apresentando a importância <strong>de</strong>ste recurso para a socieda<strong>de</strong> a fim <strong>de</strong> traduzir uma forma <strong>de</strong><br />

conservação e o uso sustentável <strong>de</strong>ste.<br />

Consi<strong>de</strong>rações finais<br />

A bacia hidrográfica <strong>de</strong>ve ser pensada no âmbito <strong>de</strong> um planejamento urbano, ou seja,<br />

pensada para fins produtivos <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e ambiental, respeitando o limite máximo da área<br />

e pensando numa geração futura. Porém o que se percebe ao longo do trabalho em <strong>de</strong>senvolvimento<br />

é a falta <strong>de</strong> um planejamento unificado, que unisse as necessida<strong>de</strong>s da população às <strong>de</strong>mandas<br />

naturais da bacia. Os problemas observados na Bacia do Rio Doce nos remetem à visão <strong>de</strong> que não<br />

houve um planejamento urbano necessário para o uso sustentável dos recursos naturais,<br />

principalmente na Zona Norte <strong>de</strong> Natal, on<strong>de</strong> o Rio Doce se encontra bastante <strong>de</strong>gradado. A falta <strong>de</strong><br />

um or<strong>de</strong>namento territorial tem consequências não ape<strong>nas</strong> no meio físico, mas também no âmbito<br />

social, pois o mau uso do solo provoca problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública, construções irregulares em<br />

áreas <strong>de</strong> risco, <strong>de</strong>ntre outros. Portanto, é necessário que o uso dos recursos naturais respeite as<br />

286


limitações ambientais <strong>de</strong> cada espaço e que a gestão <strong>de</strong>ste espaço seja feita <strong>de</strong> forma sustentável,<br />

procurando minimizar os impactos causados pelo seu uso.<br />

Referências<br />

ARAÚJO, Josélia Carvalho <strong>de</strong>. Outra Leitura do “Outro Lado”: o espaço da Zona Norte em<br />

questão. Dissertação (Mestrado em Geografia). UFRN. CCHLA. PPGe. Natal/RN, 2004.<br />

AMÉRICO, Maria Conceição Oliveira. Processos socioambientais relacionados às situações <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>gradação na região do Rio Doce, Natal/RN. Dissertação (Mestrado). UFRN. PRODEMA.<br />

Natal/RN, 2006.<br />

AZEVEDO, Pablo Guimarães. Vulnerabilida<strong>de</strong>s socioambientais na Zona <strong>de</strong> Proteção Ambiental-<br />

9, Natal/RN. Natal, RN: 2010. Dissertação (Mestrado) -Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> do<br />

Norte. Centro <strong>de</strong> Ciências Huma<strong>nas</strong>, Letras e Artes. Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Geografia.<br />

BOTELHO, Rosangela Garrido Machado; SILVA, Antônio Soares Da. Bacia Hidrográfica e<br />

<strong>Qualida<strong>de</strong></strong> Ambiental. In: VITTE, Antonio Carlos; GUERRA, Antonio José Teixeira (Org.).<br />

Reflexões Sobre a Geografia Física no Brasil. 5ª ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Bertrand Brasil, 2011. P. 153 –<br />

188.<br />

BRASIL. MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA. Secretaria <strong>de</strong> Geologia, Mineração e<br />

Transformação Mineral. CPRM - Serviço Geológico do Brasil. Projeto Cadastro <strong>de</strong> Fontes <strong>de</strong><br />

Abastecimento por Água Subterrânea - Diagnóstico do Município <strong>de</strong> Extremoz. 2005. Disponível<br />

em: < www.cprm.gov.br/rehi/atlas/rgnorte/relatorios/EXTR041.PDF.>. Acesso em 15 Set. 1012.<br />

CAERN – Companhia <strong>de</strong> Águas e Esgotos do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte. Relatório anual 2012 –<br />

<strong>Qualida<strong>de</strong></strong> da água. Natal/RN - Zona Norte.<br />

CPRM, Serviço Geológico do Brasil. Geobank. Disponível em: <br />

Acesso em: 10/08/2012.<br />

COELHO, M.C.N. Impactos Ambientais em Áreas Urba<strong>nas</strong>: Teorias, Conceitos e Métodos <strong>de</strong><br />

Pesquisa. In. GUERRA, A.J.T. C; CUNHA, S.B (org). Impactos ambientais urbanos no Brasil<br />

Central. Bertrand Brasil, 2001. 414p.<br />

DIAS, Gilka da Mata. Cida<strong>de</strong> sustentável – fundamentos legais, política urbana, meio ambiente,<br />

saneamento básico. Natal: Ed. do Autor, 2009.<br />

IBGE, Instituto Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte. Geociências. Disponível em:<br />

Acessado em: 20/08/2012.<br />

LIRA, ISAAC. O Rio Doce sofre com a poluição. Tribuna do Norte. Natal/ RN, Janeiro 2011.<br />

Disponível em: < http://tribunadonorte.com.br/noticia/o-rio-doce-sofre-com-a-poluicao/169124>.<br />

Acesso em 02/09/2012.<br />

287


MEDEIROS, L. C. Caracterização socioambiental das bacias hidrográficas do Estado <strong>de</strong> Goiás e<br />

Distrito Fe<strong>de</strong>ral. Dissertação (mestrado) – Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás, Instituto <strong>de</strong> Estudos<br />

Socioambientais, 2009.<br />

NATAL. Câmara Municipal. Lei Complementar nº 082, <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2007. Dispõe<br />

sobre o Plano Diretor <strong>de</strong> Natal e dá outras providências. Natal, 2007.<br />

NUNES, Elias. Geografia física do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte. 1. Ed. Natal RN: Imagem Gráfica, 2006.<br />

114 p.<br />

SEMARH/RN. Secretaria <strong>de</strong> Meio Ambiente e Recursos Hídricos. Plano Estadual <strong>de</strong> Recursos<br />

Hídricos. Rio Gran<strong>de</strong> do Norte, 2009. Disponível em . Acessado em<br />

20/09/2012.<br />

288


Resumo<br />

POLUIÇÃO DO AR E EFEITOS ADVERSOS À SAÚDE HUMANA<br />

Géssica Pereira SANTANA (UESB) – gessica_cr@hotmail.com<br />

Flávia Mariani BARROS (DEBI/UESB) – mariamariani@yahoo.com.br<br />

DaniloPaulucio da SILVA (DEBI/UESB) – danilopaulucio@gmail.com<br />

MayanaSilva Bessa LEITE (PPGCA/UESB) – mayanabessa@hotmail.com<br />

O presente trabalho teve como objetivo <strong>de</strong>monstrar <strong>de</strong> que forma a poluição do ar afeta<br />

negativamente a saú<strong>de</strong> humana. O foco <strong>de</strong>ste estudo engloba informações não somente das doenças<br />

mais corriqueiras, ou dos órgãos e sistemas afetados com maior frequência, mas também a origem<br />

do problema, i<strong>de</strong>ntificando os poluentes responsáveis por estes danos, bem como suas fontes<br />

emissoras.A associação entre poluentes atmosféricos e à morbida<strong>de</strong> e mortalida<strong>de</strong> humana se<br />

apresenta <strong>de</strong> formas adversas, e têm papel fundamental no que diz respeito à saú<strong>de</strong> pública. Nos<br />

centros urbanos, sobretudo, esta relação tem se mostrado extremamente prejudicial e cada vez mais<br />

emergente. Os olhos e os sistemas respiratório e cardiovascular são as regiões do corpo humano<br />

mais afetadas, <strong>de</strong>vido principalmente ao contato direto dos poluentes com estas áreas, fator que<br />

po<strong>de</strong> ser agravado em grupos <strong>de</strong> pessoas mais suscetíveis. A exposição ubíqua ao ar poluído<br />

também tem impulsionado o aparecimento <strong>de</strong> doenças crônicas e <strong>de</strong>generativas. A asma, bronquite<br />

e câncer, no trato respiratório, e a aterosclerose coronariana no sistema cardiovascular po<strong>de</strong>m ser<br />

citados como exemplos. Esses efeitos são <strong>de</strong> elevado nível <strong>de</strong> interesse <strong>de</strong>ntro das comunida<strong>de</strong>s<br />

científica, regulamentadora e pública. Mesmo concentrações <strong>de</strong> poluentes abaixo do nível permitido<br />

pela legislação têm afetado <strong>de</strong> forma significativa a saú<strong>de</strong> humana. Desta maneira, a compreensão<br />

<strong>de</strong> tais informações possibilita avaliar e especular sobre ações que possam ser usadas <strong>de</strong> forma<br />

eficaz para atenuar estes problemas.<br />

Palavras-chaves: Poluição do Ar; Saú<strong>de</strong> Humana; Morbida<strong>de</strong>.<br />

Abstract<br />

The present work aimed to <strong>de</strong>monstrate how air pollution adversely affects human health. The focus<br />

of this study inclu<strong>de</strong>s information not just from most ordinary diseases, or organ systems most<br />

frequently affected, but also the cause of the problem, i<strong>de</strong>ntifying the pollutants responsible for<br />

these damages, as well as their emission sources. The association between air pollution and<br />

morbidity and mortality presents itself in adverse ways, and has a key role regarding to public<br />

289


health. In urban centers, especially, this relationship has proved extremely damaging and<br />

increasingly emerging. Eyes and the respiratory and cardiovascular systems are the areas of the<br />

human body most affected, mainly due to the direct contact of the pollutants with these organs, a<br />

factor that may be increased in groups of people most susceptible. The continuous exposure to<br />

polluted air has also driven the <strong>de</strong>velopment of chronic and <strong>de</strong>generative diseases. Asthma,<br />

bronchitis and cancer, of the respiratory tract, and coronary atherosclerosis in the cardiovascular<br />

system could be mentioned as examples. These effects are the high level of interest within the<br />

scientific, regulatory, and public communities. Even pollutant concentrations below the level<br />

allowed by the law have significantly affected human health. Thus, the un<strong>de</strong>rstanding of such<br />

information enables evaluate and speculate about actions that can be used effectively to mitigate<br />

these problems.<br />

Keywords: Air Pollution; Human Health; Morbidity.<br />

Introdução<br />

Os mais diversos poluentes atmosféricos, advindos <strong>de</strong> fontes naturais ou antrópicas, tem<br />

atingido concentrações que afetam a capacida<strong>de</strong> dos sistemas naturais em manter sua estrutura e<br />

funcionamento.A poluição atmosférica gerada pelo homem, impulsionada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Revolução<br />

Industrial,é consi<strong>de</strong>rada <strong>de</strong>ntre os poluentes ambientais a que acarreta maiores impactos à saú<strong>de</strong><br />

(HABERMANN; GOUVEIA, 2012), sendo <strong>nas</strong> últimas décadas gran<strong>de</strong> e crescente ameaça à<br />

manutenção da vida nesses sistemas.<br />

Enten<strong>de</strong>-se como poluição do ar qualquer forma <strong>de</strong> matéria ou energia que modifique a<br />

composição do ar <strong>de</strong>ixando-a em <strong>de</strong>sacordo com os níveis estabelecidos, <strong>de</strong> forma que possam<br />

tornar o ar impróprio, nocivo ou ofensivo à saú<strong>de</strong> e ao bem-estar público; danoso aos materiais, à<br />

fauna e a flora;prejudicial à segurança, ao uso e gozo da proprieda<strong>de</strong>, e às ativida<strong>de</strong>s normais da<br />

comunida<strong>de</strong>(CONAMA,1990).<br />

Consi<strong>de</strong>rável parte dos poluentes emitidos para a atmosfera se mistura originando<br />

incontáveis novas substâncias, que tem sua ação, muitas vezes, <strong>de</strong>sconhecida. Esses poluentes,<br />

classificados entre compostos sulfurosos, compostos nitrogenados, compostos orgânicos, óxidos <strong>de</strong><br />

carbono, oxidantes fotoquímicos e material particulado (BRANCO; MURGEL, 2004), são emitidos<br />

em gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>vido à intensa ativida<strong>de</strong> industrial e a queima <strong>de</strong> combustíveis (fósseis e<br />

recicláveis) nos gran<strong>de</strong>s centros urbanos, uma das razões pelas quais essas áreas tem sido o foco da<br />

maioria dos estudos que associam a poluição do ar aos impactos à saú<strong>de</strong> humana.<br />

290


Gran<strong>de</strong> parte das ativida<strong>de</strong>s do dia-a-dia <strong>nas</strong> gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s gera poluição do ar<br />

(BRANCO; MURGEL, 2004), e a presença <strong>de</strong> poluentes, mesmo com valores abaixo do nível<br />

permitido pela legislação, tem afetado <strong>de</strong> forma significativa a saú<strong>de</strong> pública (MARTINSet al.,<br />

2002).As pessoas, e <strong>de</strong>mais seres vivos, precisam respirar contínua e ininterruptamente, e não<br />

po<strong>de</strong>m escolher o ar que respiram ou tratá-lo antes <strong>de</strong> utilizá-lo (BRANCO; MURGEL, 2004),<br />

nessas condições, a poluição atmosféricas se torna assunto <strong>de</strong> ampla importância, estando associada<br />

a um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> moléstias, sobretudo quando consi<strong>de</strong>rada sua relação com doenças<br />

<strong>de</strong>generativas e crônicas.<br />

Esta relação po<strong>de</strong> ser analisada na forma diferente com que as pessoas reagem às mesmas<br />

substâncias, observando a existência <strong>de</strong> grupos que são mais suscetíveis. Sub populações<br />

consi<strong>de</strong>radas pela Organização Mundial da Saú<strong>de</strong> (OMS) como vulneráveis à poluição do ar<br />

incluem crianças peque<strong>nas</strong>, idosos, pessoas com certas doenças subjacentes, fetos, pessoas expostas<br />

a outras substâncias tóxicas que contribuem ou interagem com os poluentes atmosféricos, entre<br />

outras (WHO, 2004). Além disso, Bell et al.(2002) i<strong>de</strong>ntificou como potencialmente vulneráveis,<br />

àqueles sujeitos a exposição ocupacional, grupos étnicos e econômicos com alta prevalência <strong>de</strong><br />

doenças crônicas, e fatores associados aos gêneros, além <strong>de</strong> exposições isoladas como ativida<strong>de</strong> ao<br />

ar livre, localização resi<strong>de</strong>ncial, e status socioeconômicos(MAKRI; STILIANAKIS, 2008).<br />

Lisboa (2007) cita alguns dos malefícios causados pelos poluentes, como as dores <strong>de</strong> cabeça,<br />

<strong>de</strong>sconforto, palpitações no coração e vertigem (monóxido <strong>de</strong> carbono, que em concentrações<br />

elevadas, po<strong>de</strong> conduzir a morte).<br />

Vários distúrbios po<strong>de</strong>m estar relacionados às vias respiratórias, como irritação do nariz;<br />

garganta e pulmões (óxidos <strong>de</strong> nitrogênio); ou infiltração <strong>de</strong> partículas nos pulmões formando<br />

ácidos sulfúricos (óxidos <strong>de</strong> enxofre); asma aguda e crônica, bronquite e enfisema (dióxido <strong>de</strong><br />

enxofre); câncer (hidrocarbonetos); <strong>de</strong>struição <strong>de</strong> enzimas e proteí<strong>nas</strong> (ozônio); <strong>de</strong>generação do<br />

sistema nervoso central e doenças nos ossos, principalmente em crianças(chumbo);além da irritação<br />

e entupimento dos alvéolos pulmonares (material particulado) (LISBOA, 2007).<br />

Os efeitos dos poluentes do ar são <strong>de</strong> elevado nível <strong>de</strong> interesse <strong>de</strong>ntro das comunida<strong>de</strong>s<br />

científica, regulamentadora e pública. Isto acontece <strong>de</strong>vido à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tratar lacu<strong>nas</strong> críticas<br />

na compreensão <strong>de</strong> como a poluição do ar contribui para problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> humana e como se<br />

po<strong>de</strong> usar tal compreensão eficazmente par atenuar os problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> (YANG; OMAYE,<br />

2009).<br />

Vista essa necessida<strong>de</strong>, o objetivo <strong>de</strong>ste trabalho é fazer uma revisão sobre os principais<br />

poluentes atmosféricos, bem como sua relação com a saú<strong>de</strong> humana, focando principalmente <strong>nas</strong><br />

doenças mais corriqueiras, e nos órgãos e sistemas afetados com maior frequência.<br />

291


Fontes <strong>de</strong> poluição atmosférica<br />

A seguir serão <strong>de</strong>scritas as origens das principais substâncias químicas que compõem a<br />

atmosfera das localida<strong>de</strong>s que apresentam fontes poluidoras significantes, a exemplo <strong>de</strong> intensa<br />

ativida<strong>de</strong> industrial e circulação <strong>de</strong> veículos automotores, além dos efeitos que a poluição do ar tem<br />

ocasionado, fundamentalmente, à saú<strong>de</strong> humana.<br />

Monóxido <strong>de</strong> carbono (CO)<br />

O monóxido <strong>de</strong> carbono é gerado, sobretudo, como produto da combustão incompleta <strong>de</strong><br />

qualquer combustível orgânico, como a ma<strong>de</strong>ira, carvão mineral ou petróleo. Sua principal fonte<br />

são os motores <strong>de</strong> veículos em ativida<strong>de</strong>. É um dos mais perigosos tóxicos respiratórios, sendo um<br />

dos poluentes gasosos mais comumente encontrados <strong>nas</strong> gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s (BRANCO; MURGEL,<br />

2004).<br />

Ozônio (O3)<br />

Na estratosfera o ozônio <strong>de</strong>sempenha um papel vital em bloquear a luz ultravioleta<br />

prejudicial do sol, mas ao nível do solo é tóxico para os seres humanos. O ozônio po<strong>de</strong> ser gerado<br />

por inúmeros processos, tais como raios (GODISH, 2003), por reações atmosféricas que envolvem<br />

químicos orgânicos voláteis, óxidos <strong>de</strong> nitrogênio e luz solar (CURTIS et al., 2006).<br />

Compostos sulfurosos<br />

Os compostos que contêm enxofre, po<strong>de</strong>m ser originados pela queima <strong>de</strong> combustíveis<br />

fósseis, como o dióxido <strong>de</strong> enxofre (SO2),gerado pela queima <strong>de</strong> carvão, emissões dos veículos e <strong>de</strong><br />

campos e refinarias <strong>de</strong> petróleo/gás. Sulfetos <strong>de</strong> hidrogênio são produzidos por muitos processos<br />

industriais e pela <strong>de</strong>composição <strong>de</strong> óleo ou <strong>de</strong> vegetação morta. Já outros compostos contendo<br />

enxofre, como as mercapta<strong>nas</strong>, são gerados em fabricas <strong>de</strong> papel, indústrias <strong>de</strong> fornos <strong>de</strong> coque, e<br />

emissões vulcânicas (GODISH, 2003).<br />

Óxidos <strong>de</strong> nitrogênio<br />

Os óxidos <strong>de</strong> nitrogênio (NO eNO2) são formados pelas reações <strong>de</strong> combustão em alta<br />

temperatura, geralmente em motores <strong>de</strong> combustão interna. Outra classe <strong>de</strong> compostos nitrogenados<br />

que frequentemente contamina a atmosfera das cida<strong>de</strong>s é a amônia (NH3), bem como seus<br />

<strong>de</strong>rivados. Ela po<strong>de</strong> ser obtida por ação biológica <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição ou por processos da indústria<br />

química e <strong>de</strong> fertilizantes (BRANCO; MURGEL, 2004).<br />

292


Compostos orgânicos<br />

Este grupo compreen<strong>de</strong> os hidrocarbonetos, alcoóis, al<strong>de</strong>ídos, ácidos orgânicos e muitas<br />

outras substâncias que possuem carbono como elemento básico <strong>de</strong> suas moléculas, e que são<br />

facilmente volatilizados para o ar(BRANCO; MURGEL, 2004). As principais fontes incluem refino<br />

<strong>de</strong> petróleo, petroquímica, escape <strong>de</strong> veículos, campos <strong>de</strong> gás natural e linhas <strong>de</strong> distribuição;<br />

armazenamento <strong>de</strong> combustíveis e resíduos, produtos domésticos, pesticidas, combustão, indústrias<br />

e emissões <strong>de</strong> voláteis <strong>de</strong> florestas <strong>de</strong> coníferas (GODISH, 2003;LERDAU et al., 1997 ).<br />

O metano é o gás hidrocarboneto mais comum no ar ambiente exterior, compreen<strong>de</strong>ndo<br />

cerca <strong>de</strong> 1,8 ppm da baixa atmosfera (EUA EPA, 2005). Cerca <strong>de</strong> 60% do metano atmosférico é<br />

produzido por fontes antropogênicas, incluindo aterros, queima <strong>de</strong> biomassa, pela mineração,<br />

distribuição e consumo <strong>de</strong> gás natural, petróleo e carvão, e pelo sistema digestivo dos bovinos e<br />

outros animais domésticos (BREAS et al., 2001 apud CURTIS et al., 2006). Cerca <strong>de</strong> 40% do<br />

metano é produzido por zo<strong>nas</strong> úmidas, vegetação em <strong>de</strong>composição, cupins e oceanos (EUA EPA,<br />

2005).<br />

Material particulado<br />

A queima <strong>de</strong> combustíveis fósseis gera gran<strong>de</strong>s volumes <strong>de</strong> partículas <strong>de</strong> carbono, que<br />

po<strong>de</strong>m ou não carregar consigo outros elementos: hidrocarbonetos, metais, entre outros (BRANCO;<br />

MURGEL, 2004). À exemplo do chumbo, mercúrio, arsênio, cádmio e outros metais tóxicos que<br />

são libertados para o ambiente por vários processos, incluindo estes a disposição <strong>de</strong> resíduos,<br />

queima do carvão, mineração e fundição, outros processos industriais, e emissões vulcânicas (LEE<br />

et al., 2002.; GODISH, 2003).<br />

Existem também os bioaerossóis, partículas em suspensão (sementes, esporos, pelos, entre<br />

outros) produzidas por organismos vivos. Essa categoria inclui pólen,sementes, bactérias que<br />

possuem endotoxi<strong>nas</strong>, fungos, algas, protozoários, entre outros. Alguns bioaerossóis são perigosos,<br />

uma vez que são infecciosos e/ou produzem alérgenos e toxi<strong>nas</strong> (CURTIS et al., 2006).<br />

Relação entre poluição do ar e a saú<strong>de</strong> humana<br />

A poluição do ar não é um problema atual, existindo muitas provas <strong>de</strong> que já na pré-história<br />

era provocada por erupções vulcânicas (LISBOA, 2007). Entretanto, somente passou a ser<br />

consi<strong>de</strong>rada um problema pertinente a saú<strong>de</strong> pública a partir da Revolução Industrial, on<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s<br />

quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> carvão, lenha e, posteriormente, óleo combustível foram queimadas (BRANCO;<br />

MURGEL, 2004).<br />

293


No ano <strong>de</strong> 1952, no mês <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, ocorreu em Londres um dos primeiros gran<strong>de</strong>s<br />

episódios da poluição do ar do mundo mo<strong>de</strong>rno. Com consequências dramáticas para a saú<strong>de</strong> da<br />

população, entre elas um aumento enorme na mortalida<strong>de</strong>, a cida<strong>de</strong> foi encoberta por partículas em<br />

suspensão <strong>de</strong> dióxido <strong>de</strong> enxofre, produzindo o que ficou conhecido como ―Névoa Negra‖. As taxas<br />

<strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong>para oepisódio <strong>de</strong>poluiçãoa partir <strong>de</strong><strong>de</strong>zembro 1952a fevereiro <strong>de</strong>1953 foram <strong>de</strong>50 a<br />

300% superior ao ano anterior, com cerca <strong>de</strong> 12.000mortes a maispara o mesmo período (BELL;<br />

DAVIS, 2001)<br />

Posterior a essa constatação, diversos estudos foram, e têm sido <strong>de</strong>senvolvidos objetivando<br />

<strong>de</strong>monstrar a relação entre os poluentes do arem diferentes concentrações, à morbida<strong>de</strong> e<br />

mortalida<strong>de</strong>. Tais estudos têm contribuído para <strong>de</strong>finir padrões <strong>de</strong> aceitabilida<strong>de</strong> nos níveis <strong>de</strong><br />

concentração dos contaminantes mais comuns (CASTRO et al., 2003).<br />

A concentração dos poluentes atmosféricos, em qualquer local, é diferente e sofre mudanças<br />

durante o dia, os meses e as estações do ano. O risco ou gravida<strong>de</strong> associado à exposição à poluição<br />

do ar não é uniforme <strong>de</strong>ntro das populações. Desta forma, estudos epi<strong>de</strong>miológicos consi<strong>de</strong>ram<br />

frequentemente resultados diferentes para faixas etárias ou condições <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> subjacentes, bem<br />

como fatores socioeconômicos. As diferenças nos comportamentos da população, ativida<strong>de</strong>s que<br />

exercem, e os ambientes que frequentam também são levados em consi<strong>de</strong>ração (MAKRI;<br />

STILIANAKIS, 2007).<br />

Os poluentes atmosféricos compreen<strong>de</strong>m uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> substâncias classificadas entre<br />

gases e partículas, originados das mais diversas ativida<strong>de</strong>s. O material particulado, gerado,<br />

sobretudo por fontes antrópicas, merece <strong>de</strong>staque. As associações <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> e morbida<strong>de</strong> a<br />

níveis <strong>de</strong> material particulado sugerem que uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> tecidos po<strong>de</strong> ser afetada,<br />

principalmente, por partículas com diâmetros menores que 10μm consi<strong>de</strong>rando a facilida<strong>de</strong> com<br />

essas partículas penetram os alvéolos pulmonares (CURTIS et al., 2006).<br />

Impactos da poluição atmosférica à saú<strong>de</strong> humana<br />

Godish (2003) coloca os efeitos dos poluentes como normalmente manifestados em órgãos<br />

alvo específicos. Sendo <strong>de</strong> forma direta, ou seja, os poluentes entram em contato com o órgão<br />

afetado, tal é o caso dos olhos e do sistema respiratório. Ou <strong>de</strong> forma indireta,como os poluentes<br />

que conseguem entrar na corrente sanguínea a partir dos pulmões, ou sistema gastrointestinal por<br />

<strong>de</strong>puração respiratória.<br />

Na maioria dos casos, os principais órgãos ou sistemas <strong>de</strong> órgãos afetados são os olhos e os<br />

sistemas respiratório e cardiovascular (GODISH, 2003). O último, além <strong>de</strong> ser afetado pela<br />

presença <strong>de</strong> poluentes no sangue, sofre ainda <strong>de</strong>vido ao estresse da relação <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte que mantém<br />

294


com o sistema respiratório quando este é afetado (LISBOA, 2007). Como veremos posteriormente,<br />

os danos causados a estas três regiões do corpo humano serão foco <strong>de</strong>ste trabalho, visto que são os<br />

alvos das enfermida<strong>de</strong>s com maior incidência, e também por isso, maior significância.<br />

Irritação dos olhos<br />

Uma das manifestações maisprevalecentes doefeitodos poluentesno corpo humanoé a<br />

irritação e sensação <strong>de</strong> secura <strong>nas</strong> membra<strong>nas</strong> dos olhos (GODISH, 2003; ANDRADE et al., 2002;<br />

BRICKUS; NETO, 1998). E é mais freqüentementeassociada à exposiçãoaos al<strong>de</strong>ídose<br />

oxidantesfotoquímicos (GODISH, 2003).<br />

Efeitos no Sistema Respiratório<br />

Asma brônquica<br />

A asma tem sido fortemente relacionada com a exposição à alérgenos encontrados no ar. Em<br />

exposições controladas, foi observado que o SO2 causa ataques <strong>de</strong> asma, e inúmero <strong>de</strong> estudos<br />

epi<strong>de</strong>miológicos ligaram admissões em salas <strong>de</strong> emergência, para o tratamento <strong>de</strong> sintomas<br />

asmáticos, aos dias com alta poluição <strong>de</strong> O3. Estudos recentes indicam que as exposições <strong>de</strong> O3 não<br />

só dão início a ataques <strong>de</strong> asma, mas também contribuem para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sta doença<br />

(GODISH, 2003).<br />

Infecções do Sistema Respiratório<br />

Estudos <strong>de</strong> exposição humana e estudos epi<strong>de</strong>miológicos <strong>de</strong> episódios <strong>de</strong> poluição do ar<br />

sugerem fortemente que os membros jovens e idosos <strong>de</strong> uma população exposta estão em maior<br />

risco <strong>de</strong> infecção, principalmente do trato respiratório superior. Evidências epi<strong>de</strong>miológicas e<br />

toxicológicas sugerem que a exposição a longo prazo <strong>de</strong> uma população para uma combinação <strong>de</strong><br />

poluentes ambientais, tais como material particulado e SO2 po<strong>de</strong>m contribuir para o início <strong>de</strong><br />

bronquite crônica (GODISH, 2003).<br />

Martins et al. (2002) também mostra uma associação entre SO2e O3 e atendimentos no<br />

pronto-socorro por pneumonia e gripe em idosos, porém na análise conjunta verificou-se que seu<br />

efeito não é in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte.<br />

Câncer do pulmão<br />

295


Uma função <strong>de</strong> causa, entre a poluição do ar no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> alguns cânceres do<br />

pulmão é sugerido a partir <strong>de</strong> vários tipos <strong>de</strong> investigações epi<strong>de</strong>miológicas. A evidência mais forte<br />

para uma ligação entre a poluição atmosférica e o câncer <strong>de</strong> pulmão vem <strong>de</strong> uma análise empírica,<br />

baseada em dados coletados pela AmericaCancerSociety (ACS) como parte do<br />

CancerPreventionStudy II (CPS-II), um estudo em curso, da mortalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 1,2 milhões <strong>de</strong> adultos.<br />

Os participantes resi<strong>de</strong>m em todos os 50 estados e o Distrito <strong>de</strong> Columbia nos Estados Unidos, e em<br />

Porto Rico, e foram inscritos pelo ACS voluntários no outono <strong>de</strong> 1982.Baseado em uma análise<br />

epi<strong>de</strong>miológica dos fatores <strong>de</strong> risco <strong>de</strong> 500.000 <strong>de</strong>sses adultos, a mortalida<strong>de</strong> por câncer <strong>de</strong> pulmão<br />

mostrou-se significativamente relacionada com exposição a partículas fi<strong>nas</strong> (MP2,5), com um<br />

aumento <strong>de</strong> 8% na mortalida<strong>de</strong> para o aumento <strong>de</strong> 10 mg/m 3 em MP2,5(POPE III et al., 2002;<br />

GODISH, 2003).<br />

Enfisema pulmonar<br />

Evidências epi<strong>de</strong>miológicas consi<strong>de</strong>ram poluentes do ar como um fator que contribui para a<br />

iniciação e <strong>de</strong>senvolvimento do enfisema pulmonar (ARBEX et al., 2004).Os indivíduos que<br />

sofrem <strong>de</strong> enfisema geralmente <strong>de</strong>senvolvem hipertensão pulmonar, além da elevação da pressão<br />

arterial (GODISH, 2003), e <strong>de</strong> acordo com Zamboni (2002), seis vezes mais propensão ao<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> câncer. Po<strong>de</strong> também ser acompanhado pela falta <strong>de</strong> ar e outras dificulda<strong>de</strong>s<br />

respiratórias (GODISH, 2003).<br />

Efeitos no Sistema Cardiovascular<br />

Existe uma associação próxima entre o sistema respiratório e o sistema circulatório. Se o<br />

sistema respiratório é afetado por uma doença e não po<strong>de</strong> trocar gases no sangue <strong>de</strong> forma eficiente,<br />

o coração precisa trabalhar mais intensamente para bombear sangue suficiente para repor as perdas<br />

<strong>de</strong> oxigênio. Como resultado, o coração e os vasos sanguíneos estarão sob estresse e po<strong>de</strong>rão surgir<br />

algumas mudanças como, por exemplo, o aumento do tamanho do coração (LISBOA, 2007).<br />

Trombose<br />

Nanopartículas lançadas na atmosfera po<strong>de</strong>riam resultar na formação <strong>de</strong> trombos, como<br />

analisado por microscópios eletrônicos <strong>de</strong> varredura em alguns estudos (GATTI; MONTANARI,<br />

2006). E verificou-se que a exposição prolongada à poluição do ar, na forma particulada, está<br />

associada com a alteração da coagulação e risco <strong>de</strong> trombose venosa profunda (SHREY et al.,<br />

2010).<br />

296


Infarto do miocárdio<br />

Um estudo <strong>de</strong> caso conduzido em 691 pacientes alemães que <strong>de</strong>senvolveram infarto agudo<br />

do miocárdio (IAM) <strong>de</strong>scobriu que o tempo gasto nos carros, nos transportes públicos, motocicletas<br />

ou bicicletas foi consistentemente associado ao aparecimento <strong>de</strong> sintomas, sugerindo que a<br />

exposição ao tráfego rodoviário é um fator <strong>de</strong> risco para IAM (PETERS et al., 2004). Em um estudo<br />

<strong>de</strong> caso cruzado, um aumento <strong>de</strong> 25μg∙m -3 na MP2.5 foi associada com um risco 48% aumentado <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolver uma IAM (PETERS et al., 2001).<br />

Distúrbio da frequência e ritmo cardíaco<br />

O material particulado tem sido sugerido como indutor <strong>de</strong> distúrbios no controle do ritmo e<br />

frequência cardíaca. Uma diminuição da variabilida<strong>de</strong> da frequência cardíaca global é observada na<br />

exposição a partículas ambiente, conduzindo assim a arritmia (SHREY et al., 2010). Brooket<br />

al.(2004) também tem proposto que <strong>de</strong>terminados receptores se irritam <strong>nas</strong> vias aéreas, estimulados<br />

por partículas <strong>de</strong> poluentes, e ativam o sistema nervoso influenciando a frequência cardíaca.<br />

Aterosclerose coronariana<br />

Vários estudos <strong>de</strong> coorte suportam o fato <strong>de</strong> que a exposição à poluição do tráfego está<br />

associada com aterosclerose coronária. Hoffmann et al. (2007)encontrou uma relação positiva entre<br />

exposição-resposta para a exposição crescente ao tráfego, e resultados semelhantes in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes<br />

do estado da doença cardíaca coronariana. Também encontrou evidências sugestivas <strong>de</strong> uma<br />

associação entre MP2,5 e calcificação da artéria coronária, embora a variação <strong>de</strong> MP2,5 tenha sido<br />

pequena no estudo. No entanto, a magnitu<strong>de</strong> do efeito para MP2,5 foi substancial.<br />

Conclusão<br />

É bem documentado que altos níveis <strong>de</strong> poluentes po<strong>de</strong>m afetar vários sistemas do corpo<br />

humano, incluindo o sistema respiratório, cardiovascular, reprodutivo e nervoso, bem como no<br />

aumento <strong>de</strong> infecções, câncer e mortalida<strong>de</strong> (CURTIS et al., 2006). Porém, somente os malefícios<br />

causados aos olhos e aos sistemas respiratório e cardiovascular humanos foram os objetivos <strong>de</strong>sse<br />

estudo, sendo apontados por Godish (2003) como as partes mais afetadas.<br />

Os poluentes e seus efeitos se apresentam <strong>de</strong> formas adversas. Essa variação <strong>de</strong> causa-efeito<br />

tem origem <strong>nas</strong> diferentes maneiras que as pessoas reagem a cada poluente, algumas <strong>de</strong>las po<strong>de</strong>ndo<br />

se apresentar mais vulneráveis. Isto ficou evi<strong>de</strong>nciado neste trabalho, a exemplo das populações<br />

mais suscetíveis, como crianças, idosos e pessoas com doenças subjacentes.<br />

297


Foi possível observar uma gran<strong>de</strong> influência das elevadas concentrações <strong>de</strong> material<br />

particulado fino (MP2.5), sendo principal agente causador <strong>de</strong> danos a saú<strong>de</strong>, originando sete dos<br />

nove distúrbios citados, em ambos os sistemas, respiratório e cardiovascular. O caráter cumulativo<br />

que estas partículas po<strong>de</strong>m adquirir no organismo humano, e exposição ubíqua ao ar poluído se<br />

assumem também na prevalência <strong>de</strong> doenças crônicas como a asma, bronquite, câncer e enfisema,<br />

no trato respiratório, e a aterosclerose coronariana no sistema cardiovascular.<br />

Fica evi<strong>de</strong>nte que os efeitos causados por esses poluentes tem um papel fundamental no que<br />

diz respeito à saú<strong>de</strong> humana, sobretudo nos centros urbanos, on<strong>de</strong> foi possível se observar que esta<br />

associação tem se mostrado extremamente prejudicial, e po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada uma situação cada<br />

vez mais emergente.Esta consi<strong>de</strong>ração foi feita, principalmente, pela gran<strong>de</strong> porcentagem <strong>de</strong><br />

poluentes gerada nesses locais por ativida<strong>de</strong>s huma<strong>nas</strong>, a exemplo da ativida<strong>de</strong> industrial e queima<br />

<strong>de</strong> combustíveis fósseis.<br />

A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecer e compreen<strong>de</strong>r os efeitos dos poluentes tanto para a comunida<strong>de</strong><br />

científica, como a regulamentadora e pública é importante. Neste contexto, as informações reunidas<br />

neste trabalho servem para agregar conhecimento, e <strong>de</strong>sta forma sensibilizar e mobilizar essas<br />

entida<strong>de</strong>s para aplicações <strong>de</strong> medidas que atenuem os problemas relacionados à saú<strong>de</strong>.<br />

Referências<br />

ANDRADE et al. Compostos carbonílicos atmosféricos: fontes, reativida<strong>de</strong>, níveis <strong>de</strong><br />

concentração e efeitos toxicológicos. Química Nova, v. 25, n. 6B, 2002.<br />

ARBEX et al. Queima <strong>de</strong> biomassa e efeitos sobre a saú<strong>de</strong>.J BrasPneumol, v. 30, n. 2, 2004.<br />

BELL et al. International expert workshop on the analysis of the economic and public health<br />

impacts of air pollution: workshop summary.Environmental Health Perspectives, v. 110, n. 11,<br />

2002.<br />

BELL, Michelle L.; DAVIS, Devra Lee.Reassessment of the lethal London fog of 1952: novel<br />

indicators of acute and chronic consequences of acute exposure to air pollution. Environmental<br />

Health Perspectives, v. 109, n. 3, 2001.<br />

BRANCO, Samuel Murgel; MURGEL, Eduardo. Poluição do ar. Mo<strong>de</strong>rna, 2004.<br />

BREAS et al. The global methane cycle: isotopes and mixing ratios, sources and sinks. In: CURTIS<br />

et al. Adverse health effects of outdoor air pollutants. EnvironmentInternational, v. 32, n. 6, 2006.<br />

BRICKUS, Leila S. R.; AQUINO NETO, Francisco R. <strong>de</strong>. A qualida<strong>de</strong> do ar <strong>de</strong> interiores e a<br />

química.Química Nova, v. 22, n. 1, 1999.<br />

298


BROOK et al.Particulate matter air pollution and cardiovascular disease: an update to the<br />

scientificstatement from the American Heart Association. Circulation, v. 121, n. 21, 2010.<br />

CASTRO et al. Questões metodológicas para a investigação dos efeitos da poluição do ar na<br />

saú<strong>de</strong>. Revista Brasileira <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, v. 6, n.2, 2003<br />

CONAMA - Conselho Nacional Do Meio Ambiente.Resolução Conama N.º 003 <strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong><br />

1990. Disponível em:.<br />

Acessoem: 21 ago. 2012.<br />

CURTIS et al. Adverse health effects of outdoor air pollutants. Environment International, v. 32, n.<br />

6, 2006.<br />

EPA - Environmental Protection Agency.Inventory of U.S. greenhouse gas emissions and sinks:<br />

1990 – 2003.Washington, DC, 2005<br />

GATTI, A. M.; MONTANARI, S. Retrieval analysis of clinical explanted vena cava filters.Wiley<br />

InterScience, v. 77B, n. 2, 2006.<br />

GODISH, Thad.Air Quality.Lewis Publishers, 2003<br />

HABERMANN, Mateus; GOUVEIA, Nelson. Tráfego veicular e mortalida<strong>de</strong> por doenças do<br />

aparelho circulatório em homens adultos. Rev Saú<strong>de</strong>Pública, v. 46, n. 1, 2012.<br />

HOFFMANN et al. Resi<strong>de</strong>ntial exposure to traffic is associated with coronary<br />

atherosclerosis.Circulation, v. 116, n. 5, 2007.<br />

LEE et al.Air pollution and asthma among children in Seoul, Korea.Epi<strong>de</strong>miology, v. 13, n. 4,<br />

2002.<br />

LERDAU et al. Controls over monoterpene emissions from boreal forest conifers. TreePhysiology,<br />

v. 17, n. 8-9, 1997.<br />

LISBOA, Henrique <strong>de</strong> Melo. Controle da poluição atmosférica. Florianópolis, 2008.<br />

PETERS et al. Exposure to traffic and the onset of myocardial infarction.The New England Journal<br />

of Medicine, v. 351, n. 17, 2004.<br />

PETERS et al. Increased particulate air pollution and the triggering of myocardial<br />

infarction.Circulation, v. 103, n. 23, 2001.<br />

MAKRI, Anna; STILIANAKIS, Nikolaos I.Vulnerability to air pollution health<br />

effects.International Journal of Hygiene and Environmental Health, v. 211, n. 3-4, 2008.<br />

299


MARTINSet al. Poluição atmosférica e atendimentos por pneumonia e gripe em São Paulo, Brasil.<br />

Rev Saú<strong>de</strong> Pública, v. 36, n. 1, 2002.<br />

POPE III et al. Lung câncer, cardiopulmorary mortality, and long-term exposure to fine particulate<br />

air pollution.Journal of the American Medical Association, v. 287, n. 9, 2002.<br />

SHREYet al. Air pollutants: the key stages in the pathway towards the <strong>de</strong>velopment of<br />

cardiovascular disor<strong>de</strong>rs. Environmental Toxicology and Pharmacology, v. 32, n.1, 2011.<br />

WHO - World Health Organization.Health aspects of air pollution: results from the WHO project<br />

“systematic review of health aspects of air pollution in europe”. Copenhague, 2004.<br />

YANG, Wei; OMAYE, Stanley T. Air pollutants, oxidative stress and human<br />

health.MutationResearch, v. 674, n.6, 2009.<br />

ZAMBONI, Mauro. Epi<strong>de</strong>miologia do câncer do pulmão. J Pneumol, v. 28, n.1, 2002.<br />

300


NATUREZA HUMANA E MOVIMENTO: UMA REFLEXÃO ECOFILOSÓFICA SOBRE O<br />

MEIO AMBIENTE URBANO<br />

Resumo<br />

Jaina Nahema Souza PRIMO (UEAP) – jaina.primo@hotmail.com<br />

Murilo Rocha SEABRA (UEAP) – muriloseabra@yahoo.co.uk<br />

Pedro Rocha IMBROISI (UnB) – pedroimbroisi@gmail.com<br />

O presente texto parte <strong>de</strong> uma experiência cotidiana simples e familiar para tecer uma série <strong>de</strong><br />

reflexões sobre a natureza humana e o meio ambiente, especialmente o meio ambiente urbano. O<br />

objetivo é explorar conceitualmente e valorizar positivamente o lado animal dos seres humanos,<br />

que, via <strong>de</strong> regra, recebe um tratamento negativo por parte da cultura oci<strong>de</strong>ntal. Defen<strong>de</strong>-se que a<br />

interação corporal imediata com o meio proporciona um pilar mais firme para o ambientalismo do<br />

que os discursos aprendidos <strong>de</strong> fora para <strong>de</strong>ntro, e que pequenos gestos po<strong>de</strong>m expressar gran<strong>de</strong>s<br />

projetos históricos e sociais. O estilo <strong>de</strong> escrita é leve, <strong>de</strong>scontraído e <strong>de</strong>spretensioso, trazendo um<br />

pouco <strong>de</strong> biodiversida<strong>de</strong> literária ao tom geralmente árido dos trabalhos acadêmicos.<br />

Palavras-chave: Ecofilosofia; Natureza Humana; Meio Ambiente Urbano.<br />

Abstract<br />

This text begins with a simple and familiar everyday experience to weave a series of reflections on<br />

human nature and the environment, especially the urban environment. The goal is to explore<br />

conceptually and value positively the animal si<strong>de</strong> of human beings, that, as a rule, receives a<br />

negative treatment on the part of Western culture. It is argued that the immediate bodily interaction<br />

with the environment provi<strong>de</strong>s a stronger pillar for environmentalism than the speeches learned<br />

from the outsi<strong>de</strong> and that small gestures can express large historical and social projects. The writing<br />

style is soft, relaxed and unpretentious, bringing some literary biodiversity to the generally arid tone<br />

of aca<strong>de</strong>mic work.<br />

Keywords: Ecophilosophy; Human Nature; Urban Environment.<br />

Introdução<br />

Outro dia, voltando para casa à pé, <strong>de</strong>scobri ao meu lado uma saborosa cerca <strong>de</strong> placas <strong>de</strong><br />

alumínio onduladas. Imediatamente, estendi a mão, e <strong>de</strong>ixei, sem acelerar nem diminuir o passo,<br />

301


que meus <strong>de</strong>dos percorressem as suas saliências e reentrâncias, produzindo um agradável e inocente<br />

som percussivo. Uma gravação em câmera lenta revelaria mais ou menos o seguinte: o meu<br />

indicador, ocasionalmente seguido do <strong>de</strong>do médio e do anular, chocava-se contra uma elevação da<br />

cerca, gerando um estalo grave; em seguida, arrastava-se por toda a sua curta extensão, per<strong>de</strong>ndo<br />

velocida<strong>de</strong> e ficando para trás por causa do atrito, e sendo assim submetido a um gentil e gostoso<br />

alongamento; finalmente, quando a saliência cedia lugar à reentrância, era catapultado para a<br />

próxima elevação, gerando mais um estalo.<br />

Impulsionada ou não pela minha microbrinca<strong>de</strong>ira, bem discreta aliás, uma criança que<br />

também passava, acompanhada pela mãe, ao lado da cerca, esticou a sua mão para usufruir <strong>de</strong>ssa<br />

mesma pequena diversão. Um estalo, dois estalos, três estalos... E a mãe <strong>de</strong>la tratou <strong>de</strong> afastá-la. Por<br />

meio <strong>de</strong> um gesto rápido, preciso e também curioso. Vale a pena examiná-lo com uma lente <strong>de</strong><br />

aumento. Estavam <strong>de</strong> mãos dadas. A mãe <strong>de</strong>la não fez mais do que puxar levemente a criança para<br />

si. A mo<strong>de</strong>sta força que ela imprimiu em seu movimento certamente não bastou para afastar da<br />

cerca a mão da criança mecanicamente. Aquilo a que assisti não foi uma relação <strong>de</strong> causa e efeito.<br />

Pelo contrário, o leve gesto da mãe foi um sinal, um signo, uma espécie <strong>de</strong> frase muda e abreviada<br />

maximamente: ―Não brinque com a cerca!‖. Por meio do seu gesto, ela se comunicou com a<br />

criança, que, por sua vez, obe<strong>de</strong>ceu prontamente, dispensando a mãe <strong>de</strong> recorrer a admonições mais<br />

explícitas ou à força. Com efeito, há em nossa cultura uma camada <strong>de</strong> transações comunicativas não<br />

propriamente linguísticas, não propriamente verbais. Ela é o locus <strong>de</strong> uma tradição gestual ou<br />

microcinética que não necessariamente encontra expressão linguística, sendo transmitida <strong>de</strong> geração<br />

em geração <strong>de</strong> maneira persistente, eficiente e implacável, mas silenciosa.<br />

Quantos gestos semelhantes cerceiam diariamente a movimentação das crianças? Talvez<br />

haja algo em comum entre os comandos ―Não brinque com a cerca!‖, ―Não brinque com a porta da<br />

gela<strong>de</strong>ira!‖, ―Não sente no chão!‖ e ―Não suba no sofá!‖. Talvez o que todos eles estejam dizendo<br />

seja: ―Não saia dos trilhos! Não saia dos trilhos da civilização!‖. O que as mães – e também os pais<br />

– querem é que as crianças comportem-se <strong>de</strong> maneira civilizada. E não estou <strong>de</strong> modo algum<br />

<strong>de</strong>screvendo a atitu<strong>de</strong> educativa <strong>de</strong>las <strong>de</strong> uma forma que elas não reconheceriam. Pelo contrário,<br />

elas mesmas usam o vocábulo ‗civilização‘ e seus cognatos. Ter bons modos, ser bem comportado,<br />

ser educado é ser civilizado.<br />

Eu me lembro muito bem do tom elegante e persuasivo que a minha avó usava para me<br />

educar, para me civilizar. As suas palavras e os seus olhares às vezes acompanhados pelo<br />

retesamento dos seus membros me pareciam realmente um convite a participar do projeto<br />

civilizador, não uma expressão gratuita e arbitrária <strong>de</strong> autoritarismo. Ela me amava, tenho certeza.<br />

Eu também a amava, e ainda amo, e acho que esse laço afetivo <strong>de</strong> fundo ajudou bastante a tornar o<br />

302


processo <strong>de</strong> aprendizado dos bons modos menos traumatizante para mim. Com a sua brandura e o<br />

seu carinho sempre abundantes, ela conquistou a minha boa vonta<strong>de</strong> e meu espírito <strong>de</strong> colaboração.<br />

Acabei, sem dúvida, pagando um preço por me anular contínua e sistematicamente para agradá-la,<br />

isto é, para me socializar, para me endoculturar, ainda que, talvez, por conta da atual estrutura da<br />

nossa socieda<strong>de</strong>, esse preço teria sido mais alto caso ela e os <strong>de</strong>mais adultos não tivessem garantido<br />

o meu ingresso no modo <strong>de</strong> ser da civilização.<br />

Todos nós pagamos um preço ao nos adaptarmos ao mundo urbano. Os nossos pais e<br />

responsáveis nos submetem a um paulatino processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sanimalização sem que o percebamos.<br />

Mas como os seres humanos não são robôs nem almas <strong>de</strong>sencarnadas e sim animais<br />

(PLUMWOOD, 1993), isto é, forças biologicamente encorpadas, o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sanimalização<br />

vem a ser também um processo <strong>de</strong> autoanulação e mesmo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sumanização. Desanimalizar-se<br />

consiste em <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser aquilo que se é. Ou pelo menos em tentar <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser aquilo que se é.<br />

Até mais, na verda<strong>de</strong>. Como sugerem os intricados galhos da árvore etimológica <strong>de</strong> animus, dar as<br />

costas para o nosso lado animal significa dar as costas para a nossa própria alma, o nosso próprio<br />

princípio vital. Significa dar as costas para o nosso ânimo, para aquilo que nos anima.<br />

Comportamento cinético e paisagem urbana<br />

As crianças apren<strong>de</strong>m <strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo o austero comportamento cinético dos adultos, tornando-<br />

se, com o passar dos anos, seres cada vez mais <strong>de</strong>sanimados. Trata-se <strong>de</strong> um comportamento que<br />

possivelmente <strong>de</strong>ve muito à cultura corporal militar. Ao passearmos pelas ruas, nós não corremos<br />

pelo simples prazer <strong>de</strong> correr, não escalamos as árvores, as casas e os prédios por mais suculentos<br />

que possam nos parecer, não pulamos alegre e erraticamente e também não ziguezagueamos para lá<br />

e para cá como fariam as crianças e os animais se tivessem liberda<strong>de</strong> para tanto. Pelo contrário,<br />

invariavelmente andamos; aliás, praticamente marchamos. Aquela liberda<strong>de</strong> que nos é tirada em<br />

nome do bom comportamento. O nosso andar não tem a graça e vivacida<strong>de</strong> dos movimentos dos<br />

animais não civilizados. O nosso andar é econômico, contido e refreado; aliás, a julgar pela<br />

educação motora que as crianças recebem, ele é literalmente refreado. O nosso andar tem a<br />

continência e a reserva cinética das marchas militares.<br />

De fato, trata-se <strong>de</strong> um caminhar que afasta os seres humanos dos seus parentes mais<br />

próximos, os primatas. Trata-se <strong>de</strong> um caminhar que, ao limitar o nosso amplo espectro <strong>de</strong><br />

movimentos, ao anular as nossas riquíssimas possibilida<strong>de</strong>s motoras, preconizando e impondo as<br />

linhas retas, gera a impressão <strong>de</strong> que somos realmente únicos e <strong>de</strong> que estamos naturalmente<br />

afastados do mundo animal. O caminhar em linha reta indica que temos metas, que temos planos e<br />

que os seguimos <strong>de</strong> maneira conscienciosa. O caminhar em linha reta indica que não ape<strong>nas</strong><br />

303


vivemos, que não ape<strong>nas</strong> vivemos por viver, mas que temos compromissos, que precisamos cumprir<br />

horários, que vivemos em função <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados fins. Se não é possível separar os humanos dos<br />

outros animais em termos genéticos, é possível ao menos separá-los em termos cinéticos.<br />

Minimizando o uso das nossas potencialida<strong>de</strong>s corporais, enfatizamos que somos seres pensantes.<br />

Talvez não sejamos animais com algo a mais e sim com algo a menos.<br />

As cida<strong>de</strong>s não são construídas para exercemos nossas potencialida<strong>de</strong>s corporais. As cida<strong>de</strong>s<br />

são construídas para reforçar a nossa <strong>de</strong>sanimalização, a nossa <strong>de</strong>sprimatação (WESTON, 1999). E<br />

isso vale tanto para os espaços interiores quanto para os exteriores. Eu lembro que, quando era<br />

criança, eu gostava <strong>de</strong> escalar os corredores <strong>de</strong> casa. Eu apoiava uma mão na pare<strong>de</strong> esquerda,<br />

<strong>de</strong>pois a outra na pare<strong>de</strong> direita, em seguida um pé na pare<strong>de</strong> esquerda e o outro na pare<strong>de</strong> direita, e<br />

com a ajuda do atrito eu me suspendia até encostar a cabeça no teto. No entanto, à medida em que<br />

crescemos, os corredores e os portais tornam-se mais estreitos, dificultando progressivamente a<br />

escalada. Nós crescemos e eles continuam do mesmo tamanho, o que faz com que a proporção i<strong>de</strong>al<br />

para a escalada se dissolva no passado. No fim das contas, até mesmo porque a cultura simiesca não<br />

é incentivada, a brinca<strong>de</strong>ira per<strong>de</strong> a graça.<br />

Os espaços artificiais que construímos ao nosso redor não reconhecem que somos primatas<br />

nem que somos capazes <strong>de</strong> muito mais proezas biocinéticas do que imagina a nossa vã filosofia. O<br />

fato <strong>de</strong> que as crianças às vezes se servem das pare<strong>de</strong>s paralelas para exercerem suas potências<br />

motoras naturais é uma mera contingência, um mero aci<strong>de</strong>nte. Elas não foram construídas com esse<br />

propósito. Mas por um mero acaso possuem características que facilitam a vazão do modo <strong>de</strong> ser<br />

propriamente humano, isto é, do modo <strong>de</strong> ser propriamente animal, propriamente primata das<br />

crianças, que ainda não abriram mão <strong>de</strong> sua condição <strong>de</strong> força encarnada. As pare<strong>de</strong>s não existem<br />

para nós e sim contra nós. Elas não servem para acolher as nossas potências e sim para controlá-las<br />

e mantê-las quietas. Isso vale especialmente para as cercas e os muros exteriores. Por que são tão<br />

altos? Por que diariamente aumenta o número <strong>de</strong> muros eletrificados? Porque é fato notório que<br />

nós, seres humanos, somos capazes <strong>de</strong> escalá-los. Eles ao mesmo tempo reconhecem e tolhem a<br />

habilida<strong>de</strong> extraordinária da nossa espécie. Quem se atrever a escalar um muro, quem se atrever a<br />

fazer aquilo que, ao longo <strong>de</strong> milhares e milhares <strong>de</strong> gerações, foi lentamente preparado para fazer,<br />

enfrentará, sem dúvida, uma série <strong>de</strong> problemas, e o pastor alemão do outro lado do muro será<br />

talvez o menor <strong>de</strong>les. Exercer toda a nossa potência animal <strong>de</strong> maneira livre e espontânea é crime.<br />

Existem lugares e horários específicos para escalarmos.<br />

Desse ponto <strong>de</strong> vista, realmente vivemos em cárceres. As nossas casas estão para nós assim<br />

como as gaiolas estão para os pássaros. Aquilo que as gaiolas fazem é proporcionar um ambiente<br />

ina<strong>de</strong>quado para os pássaros, que são seres voadores. Por mais espaçosas que sejam, elas impe<strong>de</strong>m<br />

304


que exerçam o seu modo <strong>de</strong> ser, elas impe<strong>de</strong>m que experimentem o que realmente significa ser um<br />

pássaro. As nossas casas <strong>de</strong>sempenham um papel semelhante em relação a nós. Não somos seres<br />

voadores, mas somos seres profundamente cinéticos, profundamente motores. Po<strong>de</strong>mos correr,<br />

po<strong>de</strong>mos escalar, po<strong>de</strong>mos saltar, po<strong>de</strong>mos ficar pendurados e nos balançar. Temos a força e a<br />

disposição necessária para tanto. As nossas casas, porém, nos permitem ape<strong>nas</strong> andar. Elas nos<br />

permitem ser ape<strong>nas</strong> uma pequena parte do que po<strong>de</strong>mos ser. Todo o nosso extraordinário<br />

equipamento biomotor permanece em <strong>de</strong>suso.<br />

O que vale para os espaços interiores, vale também para os espaços exteriores. As cida<strong>de</strong>s<br />

são gran<strong>de</strong>s jaulas, gran<strong>de</strong>s prisões, gran<strong>de</strong>s zoológicos que limitam os nossos movimentos, e,<br />

portanto, limitam também a expressão da nossa essência. O que se espera é que transitemos por suas<br />

ruas e calçadas <strong>de</strong> forma bem comportada, <strong>de</strong> forma civilizada, sem sequer, por exemplo, passarmos<br />

os <strong>de</strong>dos pelas cercas e gra<strong>de</strong>s em busca <strong>de</strong> um discreto entretenimento percussivo, e muito menos,<br />

é claro, saltando, correndo e escalando livremente. Como sempre acontece, a coerção é<br />

progressivamente internalizada, <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> agir <strong>de</strong> fora para <strong>de</strong>ntro e passando a agir <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro<br />

para fora. Ela se mistura à nossa subjetivida<strong>de</strong>, ela se cristaliza em nossos músculos, e <strong>de</strong> maneira<br />

tão eficiente que rapidamente assume a aparência <strong>de</strong> livre expressão da nossa autonomia.<br />

O problema não é exatamente o fato <strong>de</strong> não po<strong>de</strong>rmos correr <strong>nas</strong> ruas ao irmos à padaria, por<br />

exemplo. Porque, na verda<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>mos, sim, correr. Não há leis formais nos proibindo<br />

explicitamente <strong>de</strong> usar as nossas per<strong>nas</strong> da forma que bem enten<strong>de</strong>rmos, há ape<strong>nas</strong> uma série <strong>de</strong><br />

antipatias aos movimentos livres e espontâneos que introjetamos e às quais nos curvamos. Não é<br />

que não possamos correr. Ape<strong>nas</strong> não po<strong>de</strong>mos correr sem sermos olhados com espanto pelos<br />

<strong>de</strong>mais transeuntes – e sem que olhemos para nós mesmos com espanto. Assim, ninguém precisa,<br />

via <strong>de</strong> regra, chamar-nos no canto para dizer que não <strong>de</strong>vemos correr <strong>de</strong>spudorada e<br />

incivilizadamente em público. Trata-se <strong>de</strong> uma advertência que antecipamos e que realizamos pelos<br />

outros.<br />

Para corrermos sem que nos olhemos ou sem que nos olhem com espanto – ou mesmo<br />

suspeita, como tivéssemos acabado <strong>de</strong> roubar uma carteira –, precisamos estar a<strong>de</strong>quadamente<br />

trajados, isto é, informando aos <strong>de</strong>mais, por meio das nossas vestes, que reservamos essa seção<br />

específica do fluxo cotidiano para correr. E corremos não pelo puro e simples prazer <strong>de</strong> correr, não<br />

para <strong>de</strong>sfrutarmos do estado <strong>de</strong> ativação que a movimentação dos nossos corpos nos proporciona,<br />

mas para nos mantermos em forma, para cultivarmos a nossa saú<strong>de</strong> física e talvez mental. A<br />

ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> correr não é vista como um exercício da nossa essência, como uma expressão vital,<br />

livre e espontânea do nosso ser, mas como uma ativida<strong>de</strong> sem qualquer conexão íntima com a nossa<br />

verda<strong>de</strong>ira natureza, a nossa natureza animal (NAESS, 2008). Ela é vista ape<strong>nas</strong> como uma<br />

305


ativida<strong>de</strong> que traz benefícios para a saú<strong>de</strong> e particularmente para a aparência, <strong>de</strong>vendo, apesar <strong>de</strong><br />

ser enfadonha e maçante, ser praticada por esses motivos estritamente funcionais.<br />

Os trajes para corrida são trajes especiais. Isso significa que a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> correr é uma<br />

ativida<strong>de</strong> especial. Ou seja, não <strong>de</strong>vemos exercer essa capacida<strong>de</strong> a não ser em ocasiões especiais –<br />

e <strong>de</strong>vemos estar preferencialmente uniformizados, isto é, vestidos com a sinalização a<strong>de</strong>quada,<br />

proporcionando-nos uma espécie <strong>de</strong> licença temporária para usarmos nossa potência animal. Existe<br />

uma seção específica do tempo, uma seção específica do espaço e também uma seção específica do<br />

nosso guarda-roupas que <strong>de</strong>vem ser sincronicamente acionadas para neutralizar a estranheza da<br />

ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> correr. Pois em nossa socieda<strong>de</strong>, por conta do afastamento radical da nossa verda<strong>de</strong>ira<br />

natureza, o correr <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser uma expressão da nossa ontologia para ser uma prescrição da<br />

medicina.<br />

Interações com o meio ambiente<br />

Mas será que o cultivo <strong>de</strong> um modo <strong>de</strong> viver mais ecológico não passa também pelo<br />

reconhecimento pleno <strong>de</strong> que somos animais, <strong>de</strong> que somos primatas? Será que já não está na hora<br />

<strong>de</strong> pararmos <strong>de</strong> nos cercear e <strong>de</strong> nos permitirmos fazer aquilo que somos capazes <strong>de</strong> fazer e que<br />

inclusive fomos talhados para fazer ao longo <strong>de</strong> milhares e milhares <strong>de</strong> anos? Será que já não está<br />

na hora <strong>de</strong> repensarmos as paisagens urba<strong>nas</strong> e <strong>de</strong> pararmos insistentemente <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quá-las ao Homo<br />

sapiens sapiens que i<strong>de</strong>alizamos, permitindo antes que abracem o Homo sapiens sapiens que somos<br />

(MATHEWS, 2005)? Para que elas possam aten<strong>de</strong>r as nossas profundas <strong>de</strong>mandas motoras e ser<br />

lugares on<strong>de</strong> realmente nos sintamos à vonta<strong>de</strong>?<br />

A natureza não é simplesmente um meio amorfo além dos limites urbanos que precisa ser<br />

protegido da poluição. A cida<strong>de</strong>, sim, tem um exterior; porém, não a natureza. Ela não tem um<br />

exterior. Não é possível sair <strong>de</strong>la, não mais do que é possível sair da esfera do ser (NAESS, 2008).<br />

Por maior que seja o número <strong>de</strong> próteses metálicas ou <strong>de</strong> silicone que enfiarmos em nossos corpos,<br />

o fato <strong>de</strong> que somos seres naturais, <strong>de</strong> que somos manifestações da natureza, <strong>de</strong> que somos<br />

instâncias da natureza, continuará firme e indissolúvel. Não emergimos da natureza como pneus<br />

cheios <strong>de</strong> musgo às vezes emergem na superfície dos lagos, isto é, sem carregar, em nossa própria<br />

substância, os traços da nossa matriz. Pelo contrário, emergimos da natureza assim como as<br />

montanhas emergem do solo. Somos feitos da mesma matéria, somos feitos da mesma carne. A<br />

construção coletiva <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s inapropriadas para os animais que somos constitui um crime contra a<br />

natureza tão grave quanto o aprisionamento <strong>de</strong> pássaros em gaiolas ou <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s mamíferos em<br />

áreas menores do que os campos <strong>de</strong> futebol, às vezes menores do que as quadras <strong>de</strong> tênis. Nos dois<br />

306


casos, estamos cerceando a natureza, impedindo a sua livre movimentação e portanto a sua livre<br />

expressão. Mas limitar a expressão natural do ser é também limitar o próprio ser.<br />

Já está bem sedimentada em nossas consciências a importância das ativida<strong>de</strong>s físicas para a<br />

saú<strong>de</strong> dos seres humanos, tanto do ponto <strong>de</strong> vista estritamente corporal quanto do ponto <strong>de</strong> vista<br />

mental. Contudo, talvez o motivo pelo qual as ativida<strong>de</strong>s físicas são importantes não esteja ainda<br />

suficientemente claro. Mas in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da forma que a explicação científica da sua<br />

importância assumir no fim das contas, é bastante provável que ela fará referência ao fato <strong>de</strong> que os<br />

seres humanos são animais, e animais essencialmente cinéticos, pouco afeitos ao se<strong>de</strong>ntarismo.<br />

Como já se disse numa das tentativas <strong>de</strong> explicitar os fundamentos e as implicações filosóficas do<br />

parkour, que está menos para um esporte do que para um movimento <strong>de</strong> resgate da natureza<br />

humana e do livre uso do espaço urbano público: ―Os seres humanos foram feitos para movimentar-<br />

se, para interagir com o ambiente (...).‖ (TRAN, 2012, p.1)<br />

A força do parkour e do freerunning para cultivar sentimentos profundos em relação ao<br />

meio ambiente não <strong>de</strong>ve ser subestimada. Embora não pareçam, do ponto <strong>de</strong> vista estritamente<br />

discursivo, ter afinida<strong>de</strong> com o ativismo ambientalista, eles fomentam uma relação corporal efetiva<br />

com o espaço imediato, uma relação <strong>de</strong> carne e osso (algumas vezes literalmente!), que, portanto,<br />

não se encerra nem se limita ao plano das palavras, ao plano da linguagem. Além do mais, os toques<br />

são ativadores <strong>de</strong> afetos tanto quanto as palavras, talvez até <strong>de</strong> afetos mais prementes e<br />

inegociáveis. Ainda que não possuam o mesmo nível <strong>de</strong> articulação verbal e consciência das ações<br />

incitadas pelas palavras, as ações incitadas pelo afeto do contato possuem a vantagem <strong>de</strong> calcarem-<br />

se não em discursos impessoais externos, mas em sentimentos pessoais internos. A unida<strong>de</strong> e a<br />

coerência da ação prática surge, no primeiro caso, <strong>de</strong> uma elaborada concatenação lógica artificial;<br />

no segundo caso, da irradiação que pulsa a partir <strong>de</strong> um núcleo sensual afetivo comum. Existe uma<br />

gran<strong>de</strong> diferença entre a maneira como um discurso nos força a agir e a maneira como uma ligação<br />

afetiva nos força a agir. Trata-se precisamente da diferença entre obe<strong>de</strong>cer uma voz externa e<br />

obe<strong>de</strong>cer uma voz interna. Não po<strong>de</strong>mos virar as costas para as ações exigidas por afetos sem criar<br />

gran<strong>de</strong>s prejuízos para a consciência, assim como po<strong>de</strong>mos fazer com as ações exigidas por<br />

discursos (MATHEWS, 2005).<br />

Pense na diferença entre a pessoa que você cumprimenta com um recatado aperto <strong>de</strong> mão e a<br />

pessoa que você beija e abraça, a pessoa com a qual você se entrelaça. Resta alguma dúvida sobre a<br />

modéstia da troca afetiva com a primeira e a fartura da troca afetiva com a segunda? A mesma coisa<br />

vale mutatis mutandis para as relações mantidas com a paisagem urbana e com o meio ambiente <strong>de</strong><br />

forma geral. Todo o seu ser reage contra aqueles que ferem ou ameaçam ferir as pessoas, as coisas e<br />

os lugares com os quais você se sente entrelaçado. Os seus ossos, os seus músculos e as suas<br />

307


entranhas intervêm automática e imediatamente para <strong>de</strong>fendê-los, antes mesmo que os seus<br />

pensamentos se manifestem. Da mesma forma, o afeto que sentimos pela terra está em função das<br />

nossas interações com ela. As interações superficiais caminham junto com afetos superficiais, que,<br />

por sua vez, caminham junto com ações superficiais, <strong>de</strong> curto alcance. As interações profundas<br />

caminham junto com afetos profundos, que, por sua vez, caminham junto com ações profundas, <strong>de</strong><br />

longo alcance.<br />

Algumas pessoas expressam o seu afeto pelo ambiente única e exclusivamente por meio da<br />

palavra, por meio da linguagem, além, é claro, <strong>de</strong> peque<strong>nas</strong> ações ambientalistas que, do ponto <strong>de</strong><br />

vista estatístico, <strong>de</strong>vem, sim, ter lá a sua importância. Mas outras pessoas expressam o seu afeto<br />

pelo ambiente por meio do toque, do contato, do carinho, do beijo, da lambida, mantendo, portanto,<br />

uma relação sensual com o ambiente, não ape<strong>nas</strong> racional, não ape<strong>nas</strong> intelectual, não ape<strong>nas</strong><br />

discursiva. E sabemos muito bem como o afeto verbal é diferente do afeto sensual. Sabemos muito<br />

bem como possuem forças diferentes, urgências diferentes. Os religiosos que esforçam-se para<br />

controlar a todo custo a força da carne não experimentam gran<strong>de</strong>s tormentos? E também não levam,<br />

com frequência, outras pessoas, transformadas em válvulas <strong>de</strong> escape das pressões telúricas dos<br />

seus instintos reprimidos, a experimentarem gran<strong>de</strong>s tormentos? O que temos aqui é um exemplo<br />

claro da colossal força da natureza, dos afetos e dos impulsos frente à risível força dos discursos.<br />

Será que mais <strong>de</strong> dois milênios <strong>de</strong> sofrimentos auto e heteroinfligidos não foram suficientes para<br />

mostrar que é incomensuravelmente mais saudável a<strong>de</strong>quar as nossas concepções<br />

antropometafísicas à biorrealida<strong>de</strong> ao invés <strong>de</strong> forçá-la a se a<strong>de</strong>quar às nossas concepções<br />

antropometafísicas? É muito mais fácil controlar os impulsos discursivos do que os impulsos<br />

biopsíquicos. Por que insistir no caminho mais difícil? Esse é <strong>de</strong> fato o caminho mais rápido para o<br />

fracasso, o que, nesse caso específico, significa sentimento <strong>de</strong> culpa, tortura interior e mortificação<br />

psicológica. Quando os nossos preceitos discursivos querem uma coisa, mas os nossos impulsos<br />

biológicos e naturais querem outra, o que costuma acontecer é que os primeiros, uma vez que suas<br />

raízes não penetram tão fundo em nosso ser, mínguam e arrefecem frente às <strong>de</strong>mandas dos<br />

segundos. Eles dispõem <strong>de</strong> argumentos, <strong>de</strong> palavras, <strong>de</strong> razões. Mas não <strong>de</strong> energia, <strong>de</strong> seiva, <strong>de</strong><br />

ânimo para sustentar uma ação contínua (MATHEWS, 2005). É somente esvaziando os segundos<br />

energeticamente que eles conseguem se impor. Contudo, o esvaziamento energético é<br />

manifestamente uma zumbificação. Os zumbis agem, mas não têm vida.<br />

Se você expressa o seu afeto pelo ambiente por meio da palavra, talvez seja porque você<br />

apren<strong>de</strong>u a amá-lo também por meio da palavra. Se você expressa o seu afeto pelo ambiente por<br />

meio da interação, talvez seja porque você apren<strong>de</strong>u a amá-lo justamente por meio da interação. O<br />

afeto que origina-se da palavra, expressa-se na palavra. O afeto que origina-se da interação,<br />

308


expressa-se na interação. Talvez seja hora, portanto, <strong>de</strong> olhar com <strong>de</strong>sconfiança o longo e árduo<br />

processo <strong>de</strong> entronização e fetichização da linguagem conduzido por gran<strong>de</strong> parte dos pensadores<br />

do século XX. Ela foi consi<strong>de</strong>rada a chave <strong>de</strong> compreensão da realida<strong>de</strong>. Ela foi consi<strong>de</strong>rada<br />

inclusive a base da realida<strong>de</strong>. No entanto, longe <strong>de</strong> ser a morada do ser, ela é no máximo a morada<br />

do ser urbano, que mantém relações empáticas e afetivas quase exclusivamente com seus pares (que<br />

falam). De certa forma, o tão alar<strong>de</strong>ado pragmatic turn na filosofia da linguagem do XX expressa<br />

um tímido passo rumo ao reconhecimento <strong>de</strong> que a linguagem ancora-se no mundo e não o<br />

contrário, <strong>de</strong> que a palavra ancora-se na interação e não o contrário. Talvez num futuro distante os<br />

filósofos da linguagem resolvam apren<strong>de</strong>r parkour.<br />

Microgestos e gran<strong>de</strong>s configurações sociais<br />

Mas o gesto da mãe não po<strong>de</strong> ter sido um gesto totalmente inocente? Não po<strong>de</strong> ter sido<br />

simplesmente um gesto <strong>de</strong> afastar a criança da cerca <strong>de</strong> alumínio por motivos perfeitamente<br />

mundanos e perfeitamente legítimos? Não po<strong>de</strong> ter sido um gesto inteiramente alheio ao movimento<br />

geral <strong>de</strong> <strong>de</strong>sumanização dos humanos? Não po<strong>de</strong> ter sido um gesto <strong>de</strong>sprovido <strong>de</strong> toda intenção <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sanimalizar e civilizar a criança? A questão aqui é precisamente como enxergar os microgestos.<br />

Eles encerram-se em si mesmos? Ou po<strong>de</strong>m ser talvez instâncias <strong>de</strong> uma mentalida<strong>de</strong> que os<br />

perpassa e os ultrapassa? Analogamente, as mães e os pais usam, sim, o verbo ‗civilizar‘ ao<br />

<strong>de</strong>screver os seus esforços para educar os filhos. Mas não é possível que a civilização mencionada<br />

aqui seja ape<strong>nas</strong> uma inocente referência ao comportamento a<strong>de</strong>quado à vida em socieda<strong>de</strong>? Em<br />

que medida os usos cotidianos do termo ‗civilização‘ e seus cognatos reportam-se ao longo projeto<br />

histórico <strong>de</strong> apartamento da natureza e <strong>de</strong> pretensa autonomização dos seres humanos?<br />

Então, o que está em jogo aqui é precisamente como encarar os pequenos gestos. Eles<br />

<strong>de</strong>vem ser vistos como pequenos movimentos que, somados e tomados em seu conjunto, conduzem<br />

a socieda<strong>de</strong> numa certa direção? Isto é, como pequenos movimentos convergentes que lenta e<br />

paulatinamente reconfiguram a socieda<strong>de</strong> em gran<strong>de</strong> escala? Ou <strong>de</strong>vem ser eles vistos como<br />

movimentos literalmente pequenos, como movimentos insignificantes, <strong>de</strong> efeitos negligenciáveis<br />

tanto individual quanto coletivamente? Mas talvez a magnitu<strong>de</strong> e o tamanho dos gestos não sejam<br />

fixos e absolutos, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo antes das lentes através das quais nos colocamos a examiná-los.<br />

Tomemos as formas <strong>de</strong> sentar dos homens e das mulheres, por exemplo. O que po<strong>de</strong> ser mais<br />

insignificante e irrelevante do que a forma como alguém se senta? Mas existem formas <strong>de</strong> sentar<br />

proibidas aos homens e formas <strong>de</strong> sentar proibidas às mulheres, proibidas, é claro, não no sentido <strong>de</strong><br />

haver uma legislação formal regulamentando as posições lícitas <strong>de</strong> repouso, mas no sentido <strong>de</strong> que<br />

violar essas normas não escritas causa espanto. Os homens não <strong>de</strong>vem colocar um joelho sobre o<br />

outro, sob pena <strong>de</strong> se verem consi<strong>de</strong>rados afeminados. As mulheres, por sua vez, não <strong>de</strong>vem colocar<br />

309


o tornozelo sobre o joelho, sob pena <strong>de</strong> verem ao seu redor expressões e olhares <strong>de</strong> reprovação<br />

discretos, mas incisivos. Existe uma série <strong>de</strong> micromovimentos e microgestos que os homens<br />

precisam seguir para não pisarem fora do paradigma masculino e que as mulheres precisam seguir<br />

para não pisarem fora do paradigma feminino.<br />

E o que vale para a forma <strong>de</strong> sentar, vale também, por exemplo, para o corte das unhas. Mas<br />

o que po<strong>de</strong> ser mais insignificante do que a forma como alguém corta as unhas? Mais uma vez,<br />

porém, os homens <strong>de</strong>vem mantê-las curtas e as mulheres <strong>de</strong>vem mantê-las um pouco mais<br />

compridas. O fato <strong>de</strong> que os primeiros pertencem ao gênero masculino e as segundas ao gênero<br />

feminino <strong>de</strong>ve ser estampado inclusive no corte das suas unhas. A tenacida<strong>de</strong> com que a cultura<br />

regula os mínimos <strong>de</strong>talhes das nossas vidas parece sugerir que aquilo que permite ser modificado e<br />

legislado, acaba sempre por ser modificado e legislado. On<strong>de</strong> houver uma brecha na qual a cultura<br />

possa esgueirar-se e infiltrar-se, ela tratará <strong>de</strong> fazê-lo. Os nossos comportamentos e aspectos<br />

corporais são monitorados e controlados tanto nos macro quanto nos microníveis.<br />

Então, parece evi<strong>de</strong>nte que vivemos em uma cultura corporal meticulosamente regrada. E se<br />

no plano verbal assistimos a uma <strong>de</strong>svalorização sistemática dos instintos em favor da razão, do<br />

coração em favor do cérebro e da natureza em favor da civilização, por que a nossa cultura corporal<br />

não apontaria na mesma direção? Sem dúvida, se essa cultura traz embutida também uma política é<br />

algo que merece ser extensamente discutido. Mas também cabe notar que a <strong>de</strong>spolitização dos<br />

pequenos gestos talvez expresse um compromisso tácito, não elaborado <strong>de</strong> maneira plenamente<br />

consciente, com o projeto <strong>de</strong> civilização que eles carregam e sustentam (NORBERG-HODGE,<br />

2009). Aquilo que os exemplos da forma <strong>de</strong> sentar e da forma <strong>de</strong> cortar as unhas sugerem – e talvez<br />

também do gesto da mãe <strong>de</strong> afastar a criança da cerca ondulada <strong>de</strong> alumínio – é que tendências<br />

históricas po<strong>de</strong>m, sim, realizar-se em pequena escala. Aliás, talvez os pilares das gran<strong>de</strong>s<br />

configurações sociais sejam exatamente esses microcontroles que se encontram pulverizados por<br />

todos os cantos. Elas começam a <strong>de</strong>smoronar quando os seus infinitos pequenos fundamentos<br />

balançam.<br />

Consi<strong>de</strong>rações finais<br />

Essas reflexões talvez aju<strong>de</strong>m a mostrar que a questão ambiental não é ape<strong>nas</strong> uma questão<br />

ambiental. Ela é também uma questão cultural. Ela é também uma questão social. Ela é também<br />

uma questão urbana. Ela é também uma questão humana. Pois ela coloca em primeiro plano não<br />

ape<strong>nas</strong> a forma como tratamos a bioesfera em geral, mas também a forma como tratamos a nós<br />

mesmos. Seria, aliás, bastante <strong>de</strong>sastroso se a questão ambiental fosse entendida como uma questão<br />

puramente ambiental. As reflexões ecofilosóficas <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>adas <strong>nas</strong> últimas décadas em função da<br />

310


nossa atual crise ecológica continuariam a ser profundamente interessantes – e inclusive<br />

emergenciais – mesmo que não houvesse crise ambiental alguma em curso. Como a nossa atual<br />

crise ambiental propiciou uma revisão geral da forma como nós – que temos um pé firmemente<br />

cravado no mundo oci<strong>de</strong>ntal mo<strong>de</strong>rno – somos e ocupamos o mundo, as reflexões advindas <strong>de</strong>ssas<br />

questões ambientais mais imediatas adquiriram uma relevância que extrapola em muito o problema<br />

da poluição, do aquecimento global ou do aumento progressivo do número <strong>de</strong> espécies ameaçadas<br />

<strong>de</strong> extinção. Elas dizem respeito ao nosso próprio ser. Elas dizem respeito às bases ontológicas mais<br />

fundamentais da existência humana. Elas dizem respeito a quem somos e ao que estamos fazendo<br />

com nós mesmos – não ape<strong>nas</strong> indiretamente através da <strong>de</strong>gradação do meio ambiente e do efeito<br />

estufa, mas também diretamente através da construção <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s e habitações que não permitem a<br />

livre expressão da nossa essência animal.<br />

Embora tenhamos citado muito pouco aqui, as nossas reflexões inspiraram-se nos escritos <strong>de</strong><br />

uma gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> autores, especialmente Val Plumwood (1993), Anthony Weston (1999),<br />

Freya Mathews (2005), Arne Naess (2008) e Helena Norberg-Hodge (2009). Se tivéssemos<br />

insistido em citar todos eles, teríamos produzido uma colcha <strong>de</strong> retalhos com pouca coerência<br />

interna, e, sobretudo, <strong>de</strong>sagradável tanto <strong>de</strong> escrever quanto <strong>de</strong> ler. Assim, resolvemos escrever da<br />

forma mais natural possível, simplesmente seguindo o fluxo do pensamento. Isso teve um efeito<br />

curioso, mas muito bem-vindo. As nossas concepções ecológicas acabaram por se fazer presentes<br />

não ape<strong>nas</strong> <strong>nas</strong> opiniões que expressamos, mas na própria forma como conduzimos a nossa escrita.<br />

Referências<br />

MATHEWS, Freya. Reinhabiting reality: towards a recovery of future. Sydney: UNSW Press,<br />

2005.<br />

NAESS, Arne. The ecology of wisdom: writings by Arne Naess. Berkeley: Counterpoint, 2008.<br />

NORBERG-HODGE, Helena. Ancient futures: lessons from Ladakh for a globalizing world. San<br />

Francisco: Sierra Club Books, 2009.<br />

PLUMWOOD, Val. Feminism and the mastery of nature. New York: Routledge, 1993.<br />

WESTON, Anthony. ―Is it too late?‖ In: An invitation to environmental philosophy. Oxford: Oxford<br />

University Press, 1999.<br />

311


TRAN, An. ―Two theories on parkour philosophy‖. Disponível em:<br />

. Acesso em: 15 set.<br />

2012.<br />

312


FORMAS DE RESISTÊNCIA PRATICADAS PELOS GRUPOS SOCIAIS EXCLUÍDOS NOS<br />

Resumo<br />

ESPAÇOS DE RISCO: A OCUPAÇÃO DA FAVELA SÃO JOSÉ, NA PLANÍCIE DE<br />

INUNDAÇÃO DO RIO JAGUARIBE, JOÃO PESSOA (PB)<br />

Jocélio A. dos SANTOS (Graduando UFPB) – joceliopb@hotmail.com<br />

Shirley R. ANDRADE (Graduanda IFPB/P. Isabel - PB) – shirley_rkm@hotmail.com<br />

Dalva D. E. da SILVA (Graduanda IFPB/P. Isabel - PB) – dalvaestevamifpb@gmail.com<br />

Dr. Pedro Costa Gue<strong>de</strong>s Vianna (Orientador/UFPB) – pedrovianna18@hotmail.com<br />

O tema <strong>de</strong>ste trabalho é o enfrentamento aos eventos extremo <strong>de</strong> tempo pelos grupos sociais<br />

excluídos, moradores da favela São José, localizada em um trecho da planície <strong>de</strong> inundação do rio<br />

Jaguaribe, João Pessoa (PB), Da mesma forma apresenta e analisa as formas <strong>de</strong> resistência<br />

praticadas pela população no enfrentamento das situações <strong>de</strong> risco ambiental. Para atingir o objetivo<br />

proposto, os procedimentos metodológicos foram: levantamento do material bibliográfico e<br />

cartográfico, leitura e interpretação <strong>de</strong> fotografias áreas em escala 1:6.000 do ano <strong>de</strong> 1976, 1:8.000<br />

do ano <strong>de</strong> 1998, ortofocartas em escala 1:2000 do ano <strong>de</strong> 2.000, planta baixa da favela escala<br />

1:5.000. Na realização do trabalho <strong>de</strong> campo foram utilizados: planta da favela na escala 1:5.000,<br />

fotografias aéreas e fotografias oblíquas <strong>de</strong> baixa altitu<strong>de</strong>. Os resultados apontam que o cenário<br />

susceptível ao <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>amento <strong>de</strong> inundações provocadas pelas cheias do rio Jaguaribe na favela<br />

São José, face ao risco iminente é <strong>de</strong> natureza pouco <strong>de</strong>strutiva. As chuvas intensas que provocaram<br />

inundações, acompanhadas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s transtornos, foram registrados além do ano <strong>de</strong> 1984 com<br />

total pluviométrico <strong>de</strong> 1.878mm, os anos <strong>de</strong> 1985 (3.241,22mm), 1994 (2.804mm), 1996<br />

(2.223mm), 2000 (2.445mm), 2003 (2.041 mm), 2004 (2,257mm) e 2007 (2,010mm). As<br />

inundações acontecem com baixa energia cinética e baixo po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>strutivo. Por outro lado,<br />

observamos que elas atingem moradias <strong>de</strong> bom e baixo padrão construtivo a exemplo das<br />

construídas em alvenaria e também as que utilizam ma<strong>de</strong>ira/zinco. Observamos que a ―cultura <strong>de</strong><br />

cheias‖ é presente na morfologia das casas localizadas ao longo do leito do rio, e se utilizam<br />

permanentemente <strong>de</strong> dispositivos <strong>de</strong> proteção simples, o que vem corroborar com nossa conclusão.<br />

Palavras-chave: Agentes Sociais, Favela, Inundações, João Pessoa (PB), São José<br />

313


Abstract<br />

The focus of this research is the study of environmental risks in a slum area located to the margins<br />

of the river Jaguaribe, in the city of João Pessoa (PB), and it also subjects the floods risks hillslopes<br />

and landsli<strong>de</strong>s. In the same way, it contemplates resistance measures of controlling the<br />

environmental risks executed <strong>de</strong>veloped by the population facing the risky situations and in the<br />

critical events and finally it analyzes the cartography of the sceneries of the slum São José that<br />

floods. To reach the proposed objective, the methodological procedures were: revision of the<br />

bibliographical and cartographic material, reading and interpretation of aerial photographies in scale<br />

1:6.000 of the year of 1976, 1:8.000 of the year of 1998, orthophotos in scale 1:2000 of the year of<br />

2.000, plans of the slum São José in the scale 1:5.000. To the accomplishment of the fieldwork they<br />

were used: plans of the slum São José in the scale 1:5.000, aerial photographies and oblique<br />

photographs of low altitu<strong>de</strong>. The results point that the scenery susceptible to provoke floods caused<br />

by the full of the river Jaguaribe in the slum São José, face to the imminent risk is not very<br />

<strong>de</strong>structive. The heavy rains that caused flooding, accompanied by major disruptions were reported<br />

beyond the year 1984 with total rainfall of 1.878mm, the years 1985 (3241.22 mm), 1994<br />

(2.804mm), 1996 (2.223mm). 2000 (2.445mm), 2003 (2.041 mm), 2004 (2.257mm) and 2007<br />

(2.010mm). The floods happen with low kinetic energy and low <strong>de</strong>structive power. On the other<br />

hand, we observed that they reach dwellings of good and low constructive standard bass, e.g. those<br />

built in masonry and the ones that also use wood/zinc. We observed that the "flood culture" is<br />

present in the morphology of the houses located along the si<strong>de</strong>s of the river, and the inhabitants use<br />

constantly <strong>de</strong>vices of simple protection, which corroborates our conclusion.<br />

Keywords: Floods, João Pessoa (PB), Resistance, Social Agents, Slum,<br />

Introdução<br />

O intenso processo <strong>de</strong> industrialização e urbanização, principalmente nos fins da década <strong>de</strong><br />

1940 e início da década 1950 do século passado, até os dias atuais, tem proporcionado fatores<br />

negativos ao ambiente como <strong>de</strong>smatamento, poluição da água e do ar, ocupação <strong>de</strong> áreas<br />

ambientalmente frágeis – beira dos córregos, encostas instáveis, planícies <strong>de</strong> inundações, áreas <strong>de</strong><br />

proteção dos mananciais, Áreas <strong>de</strong> Preservação Permantentes-APPs, entre outros, já que os hábitos<br />

urbanos e rurais foram severamente modificados com o processo <strong>de</strong> industrialização.<br />

Conseqüentemente, ano após ano, foram aumentando os problemas, relacionados ao inchaço<br />

populacional. O acesso a uma moradia <strong>de</strong>cente é um <strong>de</strong>les, já que os não <strong>de</strong>tentores dos meios <strong>de</strong><br />

produção, sem emprego, ou até com subemprego, <strong>de</strong>vido às suas condições <strong>de</strong> renda tiveram como<br />

314


possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso à moradia no interior da urbe, os espaços insalubres, com topografia<br />

aci<strong>de</strong>ntada e <strong>de</strong> difícil acesso, tais como: manguezais, margens <strong>de</strong> córregos, áreas com <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong><br />

média e alta (com freqüentes <strong>de</strong>slizamentos) e áreas sujeitas às freqüentes inundações 37 , conhecidos<br />

como áreas <strong>de</strong> risco 38 .<br />

O presente artigo focaliza a problemática das inundações em áreas ribeirinhas, apresentando<br />

algumas consi<strong>de</strong>rações sobre a ocorrência e seus efeitos numa área <strong>de</strong> ocupação irregular,<br />

localizada em um trecho da Bacia Hidrográfica do Rio Jaguaribe mais precisamente no seu baixo<br />

curso, on<strong>de</strong> está assentada a favela São José, no município <strong>de</strong> João Pessoa (PB).<br />

Para atingir o objetivo proposto, os procedimentos metodológicos foram: levantamento do<br />

material bibliográfico e cartográfico, leitura e interpretação <strong>de</strong> fotografias áreas em escala 1:6.000<br />

do ano <strong>de</strong> 1976, 1:8.000 do ano <strong>de</strong> 1998, ortofocartas em escala 1:2000 do ano <strong>de</strong> 2.000, planta<br />

baixa da favela escala 1:5.000. Na realização do trabalho <strong>de</strong> campo foram utilizados: planta da<br />

favela na escala 1:5.000, fotografias aéreas e fotografias oblíquas <strong>de</strong> baixa altitu<strong>de</strong>.<br />

Localização e algumas características da área <strong>de</strong> estudo<br />

O município <strong>de</strong> João Pessoa localiza-se a Leste do Estado da Paraíba, entre as coor<strong>de</strong>nadas<br />

7º 06' 54'' <strong>de</strong> Latitu<strong>de</strong> Sul e 34º 51' 47'' <strong>de</strong> Longitu<strong>de</strong> Oeste, com altitu<strong>de</strong>s variando <strong>de</strong> 2 a 50<br />

metros, abrangendo uma área <strong>de</strong> 211 Km 2 . Segundo dados do IBGE (2012), sua população é <strong>de</strong><br />

723,515 habitantes. Está inserida na Mesorregião da Mata paraibana e Microrregião <strong>de</strong> João Pessoa.<br />

Por apresentar esta localização, João Pessoa é uma cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque para o estado, por ser o<br />

principal centro da re<strong>de</strong> urbana estadual. Às margens do Rio Jaguaribe, já no seu baixo curso, entre<br />

o sopé da falésia morta e a estreita faixa ocupada dos terraços do vale do rio Jaguaribe e próxima a<br />

uma antiga zona <strong>de</strong> habitações <strong>de</strong> veraneio da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa, surge a favela São José em<br />

meados da década <strong>de</strong> 1960, em uma área <strong>de</strong> aproximadamente 327.492m 2 (Figura 1). Os ocupantes<br />

preferiram iniciar as construções das moradias nos terrenos <strong>de</strong> maior salubrida<strong>de</strong>, menor<br />

proximida<strong>de</strong> do rio, locais que se prestavam melhor para o plantio <strong>de</strong> roças ou criação <strong>de</strong> animais.<br />

A área possuía outras vantagens: ma<strong>de</strong>ira, retirada do próprio manguezal; bem como o barro<br />

extraído da encosta, para a construção das primeiras moradias.<br />

37<br />

Fenômeno <strong>de</strong> extravasamento das águas do canal <strong>de</strong> drenagem para as áreas marginais (planície <strong>de</strong> inundação, várzea<br />

ou leito maior do rio) quando a enchente atinge cota acima do nível máximo da calha principal do rio. (Ministério das<br />

Cida<strong>de</strong>s, 2004).<br />

38<br />

Área passível <strong>de</strong> ser atingida por processos naturais e/ou induzidos que causem efeito adverso. As pessoas que<br />

habitam essas áreas estão sujeitas a danos à integrida<strong>de</strong> física, habitacionais <strong>de</strong> baixa renda (assentamentos precários).<br />

(Ministério das Cida<strong>de</strong>s, 2004).<br />

315


Figura 1 – Mapa <strong>de</strong> localização da favela São José<br />

A favela São José primeiramente recebeu o nome <strong>de</strong> favela Beira Rio, já que as primeiras<br />

casas foram construídas ao longo do rio Jaguaribe. Somente em meados da década <strong>de</strong> 1980, durante<br />

o governo <strong>de</strong> Wilson Braga, com a compra e a <strong>de</strong>sapropriação da terra, seguida pela realização <strong>de</strong><br />

obras <strong>de</strong> urbanização, a área passou a se chamar favela São José. No governo <strong>de</strong> Cícero Lucena, em<br />

seu primeiro mandato 1997/2000, foram feitas obras <strong>de</strong> urbanização <strong>nas</strong> favelas existentes na cida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> João Pessoa, chegando algumas a serem beneficiadas com re<strong>de</strong> <strong>de</strong> esgoto, elevando assim seu<br />

status por parte do po<strong>de</strong>r público, que passou as <strong>de</strong>nomina-las <strong>de</strong> ―Bairros‖. A favela São José não<br />

ficou <strong>de</strong> fora: a via principal foi asfaltada, ligações <strong>de</strong> água e energia foram feitas, resultando na<br />

passagem <strong>de</strong> favela para bairro São José por iniciativa do po<strong>de</strong>r público, para aten<strong>de</strong>r aos <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong><br />

mudança <strong>de</strong> valor do espaço, aos olhos dos moradores dos bairros vizinhos, Tambaú e Manaíra.<br />

Os moradores são <strong>de</strong> origens diversas, alguns <strong>de</strong> outros bairros ou favelas da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João<br />

Pessoa, outros <strong>de</strong> áreas um pouco mais distantes, dos municípios que compõem as mesorregiões<br />

Agreste, Borborema e Sertão, expulsos pela seca, pela falta <strong>de</strong> emprego e com um sonho <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />

si: a conquista <strong>de</strong> trabalho e <strong>de</strong> moradia na cida<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>.<br />

Moradores que sobrevivem em sua gran<strong>de</strong> maioria com menos <strong>de</strong> um salário mínimo,<br />

<strong>de</strong>senvolvendo ativida<strong>de</strong>s <strong>nas</strong> residências dos bairros <strong>de</strong> Manaíra, Tambaú e Cabo Branco como<br />

cozinheiras, lava<strong>de</strong>iras, porteiros, pedreiros, serventes e zeladores ou na própria favela com<br />

pequenos negócios informais tais como padarias, mercadinhos, fiteiros <strong>de</strong> guloseimas, ateliês <strong>de</strong><br />

316


costura e salões <strong>de</strong> beleza, entre outros. Estes últimos localizam-se preferencialmente na via<br />

principal da favela por razões óbvias, já que é a principal via <strong>de</strong> acesso e circulação da favela.<br />

No ano <strong>de</strong> 2006, já possuía uma população <strong>de</strong> 13.000 habitantes, dados do censo<br />

<strong>de</strong>mográfico do IBGE, sendo 52,0% constituída por mulheres e on<strong>de</strong> predomina a faixa <strong>de</strong><br />

escolarida<strong>de</strong> do ensino fundamental incompleto.<br />

Na favela encontram–se 03 postos do Programa Saú<strong>de</strong> da Família –PSF mantidos pela<br />

Prefeitura Municipal, 3 Igrejas, sendo 1 Católica e 2 Protestantes (Igreja Assembléia <strong>de</strong> Deus e<br />

Igreja Betel Brasileiro), que <strong>de</strong>senvolvem programas sociais.<br />

Caracterização climática da área urbana<br />

O município João Pessoa está inserido na faixa <strong>de</strong>scrita por Molion e Bernardo (2002, p. 6),<br />

―como costeira do ENE (até 300 Km do litoral) esten<strong>de</strong>ndo-se do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte ao Sul da<br />

Bahia, também conhecida como Zona da Mata, e apresenta clima quente e úmido com totais<br />

pluviométricos anuais variando <strong>de</strong> 600 a 3.000mm‖.<br />

De acordo com Melo e Heckendorff (2001) para a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa, as temperaturas<br />

médias anuais, pela proximida<strong>de</strong> do oceano e pela latitu<strong>de</strong>, nunca são excessivas: 23ºC é a média<br />

das mínimas e 28ºC a das máximas; a amplitu<strong>de</strong> térmica anual é <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 5ºC, o que é bem<br />

característico dos climas tropicais oceânicos. As temperaturas mais elevadas ocorrem na primavera,<br />

quando se verificam as mais fortes <strong>de</strong>ficiências pluviométricas, assim como uma acentuada<br />

evapotranspiração. Ela coinci<strong>de</strong> também com a estação ecologicamente seca. A redução dos valores<br />

térmicos, durante os meses <strong>de</strong> inverno (junho-julho-agosto), é muito pouco significativa: média <strong>de</strong><br />

23 o C. As temperaturas diur<strong>nas</strong> ultrapassando 33 o C são raras. Por outro lado, na série histórica <strong>de</strong><br />

1961 a 1990 a média foi <strong>de</strong> 26ºC (Figura 2). A insolação, é <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 2.995 horas, sendo que,<br />

durante a primavera, os valores são, sem dúvida, maiores.<br />

Segundo a classificação climática <strong>de</strong> Köppen, o clima regional é As‟, ou seja, tropical quente<br />

e úmido com chuvas <strong>de</strong> outono-inverno. Sua extensão está ligada ao mecanismo da atmosfera, ao<br />

relevo, que modifica a trajetória e à incidência dos ventos e proximida<strong>de</strong> do oceano (OLIVEIRA,<br />

2001, p. 30).<br />

De modo geral, as médias pluviométricas estão em torno <strong>de</strong> 1.750mm, embora esse total<br />

varie <strong>de</strong> ano para ano. O período mais chuvoso ocorre nos meses <strong>de</strong> abril-maio-junho, po<strong>de</strong>ndo as<br />

chuvas começar em fevereiro e se prolongarem até agosto. Outrossim, o município <strong>de</strong> João Pessoa<br />

evi<strong>de</strong>nciou um total <strong>de</strong> precipitação (mm) <strong>de</strong> 2.064mm, na série histórica <strong>de</strong> 1961 a 1990 (Figura<br />

3). O período seco se esten<strong>de</strong> <strong>de</strong> setembro até janeiro, ou mesmo até fevereiro, sendo que os meses<br />

<strong>de</strong> outubro, novembro e <strong>de</strong>zembro englobam o período ecologicamente seco no qual se verificam os<br />

317


maiores déficits pluviométricos sendo outubro o mês mais seco dos três (MELO &<br />

HECKENDORFF, op. cit., p.19).<br />

A umida<strong>de</strong> é relativamente elevada: 80 a 85%. Esse total elevado resulta da combinação<br />

entre a forte evaporação e inversão da camada superior dos alísios que acentuam a tensão do vapor<br />

d‘água. Esse quadro geral apresenta, no entanto, variações, durante os meses <strong>de</strong> inverno, quando os<br />

índices se elevam <strong>de</strong> 80 para 90%, e durante a estação seca, quando esses índices caem para 70%,<br />

na área do litoral, sem dúvida, <strong>de</strong>vido ao albedo dos solos arenosos e <strong>de</strong> cor branca e pela ação dos<br />

ventos. A área do litoral está submetida a dois regimes <strong>de</strong> ventos: no período que vai do final <strong>de</strong><br />

março até o início <strong>de</strong> maio, sopram os alísios <strong>de</strong> Nor<strong>de</strong>ste, <strong>de</strong> menor importância do que os alísios<br />

<strong>de</strong> SE-E, que atuam no período compreendido entre maio e março, sendo os meses mais ventosos<br />

agosto, setembro, outubro e novembro (MELO & HECKENDORFF, op. cit., p. 23).<br />

28<br />

27<br />

27<br />

26<br />

26<br />

ºC<br />

25<br />

25<br />

24<br />

24<br />

23<br />

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez<br />

Meses<br />

Figura 2 - Médias das temperaturas mensais do<br />

município <strong>de</strong> João Pessoa-PB, série histórica do<br />

período <strong>de</strong> 1961 a 1990. Elaborado por Jocélio Araújo<br />

dos Santos. Fonte: Estação Meteorológica <strong>de</strong> João<br />

Pessoa/Instituto Nacional <strong>de</strong> Meteorologia-INMET<br />

Histórico dos riscos ambientais na Favela São José<br />

Figura 3 - Médias pluviométricas mensais do município<br />

<strong>de</strong> João Pessoa-PB, série histórica do período <strong>de</strong> 1961 a<br />

1990. Elaborado por Jocélio Araújo dos Santos. Fonte:<br />

Estação Meteorológica <strong>de</strong> João Pessoa/Instituto<br />

Nacional <strong>de</strong> Meteorologia-INMET.<br />

As ocorrências <strong>de</strong> enchentes 39 no município <strong>de</strong> João Pessoa, em especial <strong>nas</strong> áreas <strong>de</strong> risco<br />

da cida<strong>de</strong>, estão atrelado ao crescimento urbano caótico e mal planejado. Nos últimos anos a<br />

população favelada cresceu <strong>de</strong> tal forma que se distribuiu por toda a cida<strong>de</strong>, atingindo todas as<br />

camadas sociais. Na década <strong>de</strong> 80, João Pessoa contava com 31 favelas com uma população <strong>de</strong><br />

39 Elevação temporária do nível d´água em um canal <strong>de</strong> drenagem <strong>de</strong>vida ao aumento da vazão ou <strong>de</strong>scarga (Ministério<br />

das Cida<strong>de</strong>s, 2004)<br />

318


73.791 habitantes, vivendo em 14.865 domicílios. No entanto, a realida<strong>de</strong> atual é alarmante e<br />

preocupante, passaram-se 27 anos, e os números cresceram <strong>de</strong> maneira que atingiu um total <strong>de</strong> 109<br />

favelas, correspon<strong>de</strong>ndo a 24.735 domicílios.<br />

Conforme a Tab. 1, a população da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa teve um incremento <strong>de</strong> 108.396<br />

habitantes da década <strong>de</strong> 70 para a <strong>de</strong> 80. Foi neste período, expressivamente nos anos 80, quando<br />

ocorreu a explosão das favelas no município, <strong>de</strong>vido a diversos fatores, tais como, migração campo-<br />

cida<strong>de</strong>, crise do emprego e <strong>de</strong>terioração das condições <strong>de</strong> vida da população.<br />

Ano do<br />

Censo<br />

População<br />

Urbana<br />

População Rural Total da População<br />

1940 79.300 15.033 94.333<br />

1950 89.517 29.809 119.326<br />

1960 137.788 17.329 155.117<br />

1970 213.569 7.977 221.546<br />

1980 326.589 3.360 328.942<br />

1991 497.600 0 497.600<br />

2000 597.934 0 597.934<br />

2010 723.515 0 723.515<br />

Tabela 1 – População urbana e rural <strong>de</strong> João Pessoa – 1940 a 2010<br />

Fonte: IBGE<br />

Não obstante, as aspirações das pessoas <strong>de</strong> baixa renda não se configuraram satisfatórias,<br />

pois muitos <strong>de</strong>les ocuparam espaços vazios na cida<strong>de</strong>, que os fizeram pessoas marginalizadas e<br />

segregadas. Posteriormente, passaram a ter problemas com a infra-estrutura, on<strong>de</strong> fixaram suas<br />

moradias, pois tratavam <strong>de</strong> áreas sujeitas as inundações sazonais e <strong>de</strong>slizamentos a cada inverno<br />

rigoroso na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa.<br />

As condições <strong>de</strong> drenagem da capital paraibana é um gran<strong>de</strong> problema a ser resolvido, pois<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua fundação poucos foram os bairros beneficiados com infra-estrutura.<br />

Sendo assim, o processo histórico <strong>de</strong> ocupação do espaço urbano da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa<br />

criou sérios problemas espacialmente diferenciados e a favela São José é um exemplo <strong>de</strong>sta<br />

diferenciação, on<strong>de</strong> 120 moradias estão localizadas no sopé <strong>de</strong> uma falésia morta e nos terraços do<br />

Rio Jaguaribe encontram-se cerca <strong>de</strong> 260 moradias, totalizando aproximadamente 380 casas <strong>nas</strong><br />

duas zo<strong>nas</strong> <strong>de</strong> risco, correspon<strong>de</strong>ndo a uma população <strong>de</strong> 1.900 pessoas, com uma média <strong>de</strong> 5<br />

pessoas por famílias.<br />

As famílias amargam sobreviver num espaço inóspito com constantes cheias e<br />

<strong>de</strong>slizamentos <strong>de</strong> barreira no período chuvoso. Por outro lado, João Pessoa não evi<strong>de</strong>ncia gran<strong>de</strong>s<br />

temporais como os que ocorrem <strong>nas</strong> metrópoles nacionais São Paulo e Rio <strong>de</strong> Janeiro, porém a cada<br />

319


inverno rigoroso na cida<strong>de</strong> alguns moradores são relocados para locais seguros, longe das<br />

inundações e dos <strong>de</strong>slizamentos.<br />

Oliveira (2001, pág.35) relata que no ano <strong>de</strong> 1984 a favela São José viveu momento <strong>de</strong><br />

pânico com as cheias do rio Jaguaribe e também os <strong>de</strong>slizes <strong>de</strong> encosta, em especial nos meses <strong>de</strong><br />

abril, maio e julho, chamando a nossa atenção para o registro 532,3 mm <strong>de</strong> chuvas só no mês <strong>de</strong><br />

abril.<br />

Outrossim, neste período foi registrado 06 óbitos <strong>de</strong> pessoas que residiam em áreas <strong>de</strong> risco<br />

da cida<strong>de</strong>, sendo uma <strong>de</strong>las na favela São José. Oliveira, relata ainda os sérios problemas<br />

acarretados pelo forte temporal, como as perdas materiais que foram bastante significativas on<strong>de</strong><br />

alguns moradores per<strong>de</strong>ram além <strong>de</strong> utensílios domésticos a sua própria moradia.<br />

Evi<strong>de</strong>ncias <strong>de</strong> chuvas intensas que provocaram inundações, acompanhadas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s<br />

transtornos, foram registrados além do ano <strong>de</strong> 1984 com total pluviométrico <strong>de</strong> 1.878mm, os anos<br />

<strong>de</strong> 1985 (3.241,22mm), 1994 (2.804mm), 1996 (2.223mm), 2000 (2.445mm), 2003 (2.041 mm),<br />

2004 (2,257mm) e 2007 (2,010mm). Não obstante, as fortes chuvas que caíram no município nestes<br />

anos, foram concentradas basicamente nos meses <strong>de</strong> abril e maio, com chuvas intensas no mês <strong>de</strong><br />

maio, sendo registrado ape<strong>nas</strong> as perdas materiais e <strong>de</strong> moradias.<br />

Estas perdas só não são mais danosas pelo fato da favela localiza-se no baixo curso do rio<br />

Jaguaribe pelo motivo que o rio em sua trajetória <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a montante sofre várias modificações em<br />

seu curso ora sendo canalizado, ora quase que <strong>de</strong>saparecendo por completo tomando feição <strong>de</strong> um<br />

simples córrego, cortando diversos bairros da cida<strong>de</strong> acarretando, estas particularida<strong>de</strong>s contribuem<br />

para a diminuição da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> absorção das águas e diminuindo o seu potencial hídrico,<br />

amenizando assim a chegada das águas na favela, que não chegam a formar gran<strong>de</strong>s e assustadoras<br />

enxurradas.<br />

O ano <strong>de</strong> 2003, também foi bastante característico no tocante aos índices pluvimométricos<br />

em todo o estado da Paraíba, do litoral ao sertão, on<strong>de</strong> fortes chuvas modificaram a paisagem<br />

urbana e rural e acarretaram gran<strong>de</strong>s prejuízos, no litoral conforme dados da Defesa Civil Municipal<br />

<strong>de</strong> João Pessoa, com uma precipitação pluviométrica <strong>de</strong> 101,8mm no dia 23/02/2003 foi suficiente<br />

para <strong>de</strong>salojar 20 famílias e <strong>de</strong>struir 09 casas, a favela São José foi notificada com 21 ocorrências <strong>de</strong><br />

moradias com risco <strong>de</strong>sabamento.<br />

No período típico chuvoso (abril-maio-junho) do ano <strong>de</strong> 2003, a Defesa Civil Municipal<br />

registrou o transbordamento do rio Jaguaribe no trecho da favela São José, com as fortes chuvas que<br />

caíram entre os dias 13 e 21 <strong>de</strong> junho com precipitação total <strong>de</strong> 359mm nos 09 dias do intervalo<br />

acima, resultando no <strong>de</strong>salojamento <strong>de</strong> 350 moradores que ocupam as margens do rio, já que 70<br />

casas foram atingidas pela inundação.<br />

320


Santos (2007) estima que 1.300 pessoas, estejam morando na zona consi<strong>de</strong>rada <strong>de</strong> alta<br />

susceptibilida<strong>de</strong> às inundações, <strong>de</strong>vido à proximida<strong>de</strong> do canal, já que as vazões em momentos <strong>de</strong><br />

chuvas intensas atingem tal magnitu<strong>de</strong> que po<strong>de</strong>m superar a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>scarga da calha do<br />

curso d´água e extravasar suas águas para áreas marginais.<br />

Nesta situação encontram uma área com intensa urbanização, que resulta na<br />

impermeabilização do solo e alterações do curso d´água natural. Consequentemente, como resultado<br />

tem-se a presença da água tomando parte das casas.<br />

O fator que causa maiores problemas relacionados às inundações na favela São José são as<br />

chuvas intensas e <strong>de</strong> curta duração, como a que ocorreu no dia 13 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2007, quando<br />

choveu cerca <strong>de</strong> 80mm, resultando no transbordamento do rio Jaguaribe ocupando toda a planície<br />

<strong>de</strong> inundação, inundando ruas e residências. Dentre as principais áreas atingidas foram: a rua<br />

Edmundo Filho, a rua do Rio e algumas vielas, que po<strong>de</strong>m ser observadas na Figuras 4 e 5.<br />

Figura 4 – Registro da inundação na rua Edmundo Filho,<br />

episódio pluvial intenso no dia 13/02/2007. Favela São<br />

José. Foto: Jocélio Araújo dos Santos, fevereiro <strong>de</strong> 2007.<br />

Formas <strong>de</strong> resistência praticadas pelos Grupos Sociais Excluídos<br />

Figura 5 – É necessário somente chover acima da média<br />

para que a Rua Edmundo Filho na favela São José se<br />

transforme em cenário <strong>de</strong> caos para os moradores. Foto:<br />

Jocélio Araújo dos Santos, fevereiro <strong>de</strong> 2007.<br />

Santos (op. cit), observou que os moradores da favela São José que ocupam toda a margem<br />

do rio praticam medidas preventivas para o enfrentamento das situações <strong>de</strong> risco. Denominam-se<br />

<strong>de</strong> ―medidas populares‖ as construções <strong>de</strong> dispositivos que impe<strong>de</strong>m a entrada <strong>de</strong> água <strong>nas</strong><br />

moradias. O dispositivo <strong>de</strong> maior evidência encontrado durante a sua pesquisa foi o tradicional<br />

321


atente, construído em alvenaria e revestido com cimento que o impermeabiliza, impedindo a<br />

entrada da água na casa (Figura 6).<br />

No entanto, são medidas <strong>de</strong> resistência ao lugar, que visam a melhor convivência da<br />

população com as inundações e são <strong>de</strong> caráter preventivo e <strong>de</strong> alcance muito limitado. Observa-se<br />

na Figura 6, a marca d´água na meta<strong>de</strong> do batente, que seguem um mesmo padrão possuindo no<br />

geral 50cm <strong>de</strong> altura. Fazem parte <strong>de</strong> uma cultura <strong>de</strong> cheia, uma vez que sua presença é<br />

generalizada em quase todas as residências próximas ao leito do rio.<br />

Os moradores novatos, ao tomarem conhecimento do problema, mudam um pouco a forma<br />

da construção da moradia principalmente no tocante ao alicerce, construindo um pouco mais alto<br />

(Figura 7) e assim evitando a entrada d´água na residência. Neste sentido po<strong>de</strong>-se imaginar que as<br />

residências ficaram tomadas pelas águas em período <strong>de</strong> cheias.<br />

Figura 6 – Presença <strong>de</strong> dispositivos <strong>de</strong> proteção <strong>de</strong><br />

portas <strong>nas</strong> residências localizadas próximas ao rio<br />

Jaguaribe, favela São José. Foto: Jocélio Araújo dos<br />

Santos, fevereiro <strong>de</strong> 2007.<br />

Figura 7 – Alicerce <strong>de</strong> aproximadamente 60cm <strong>de</strong> altura<br />

Forma encontrada pelos moradores para fixarem as<br />

moradias próximas ao rio, favela São José. Foto: Jocélio<br />

Araújo dos Santos, fevereiro <strong>de</strong> 2007.<br />

A partir <strong>de</strong>sses dispositivos encontrados na área constatou como os moradores da área<br />

próxima ao leito do rio Jaguaribe se <strong>de</strong>sdobram para habitar o espaço que for encontrado livre e<br />

<strong>de</strong>socupado, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte on<strong>de</strong> esteja – próximo ou até mesmo <strong>de</strong>ntro do rio (Figuras 8 e 9). A<br />

água po<strong>de</strong> até atingir as casas e fazer com que os moradores evacuem a área atingida, mas eles logo<br />

retornam por causa do apego ao lugar e também <strong>de</strong>vido a outros problemas como a falta <strong>de</strong><br />

emprego, distância do local <strong>de</strong> trabalho, entre outros.<br />

322


Figura 8 – Margem esquerda – vigas em ma<strong>de</strong>ira dando<br />

sustentação a parte da casa e possibilitando a<br />

permanência do morador na área. Foto: Jocélio Araújo<br />

dos Santos, fevereiro <strong>de</strong> 2007.<br />

Figura 9 – Margem direita – vigas em concreto armado<br />

dando sustentação a uma moradia construída em<br />

alvenaria e possibilitando a permanência do morador na<br />

área. Foto: Jocélio Araújo dos Santos, fevereiro <strong>de</strong><br />

2007.<br />

Assim percorreu-se toda a margem do rio Jaguaribe em busca <strong>de</strong> respostas para as<br />

indagações que <strong>de</strong> antemão já eram claras. Porém, não sabíamos como os moradores praticavam as<br />

medidas <strong>de</strong> resistências, visando possibilitar a sua permanência e convivência com as enchentes e<br />

inundações que a cada chuva <strong>de</strong> forte intensida<strong>de</strong> são trazidas à tona, literalmente.<br />

Consi<strong>de</strong>rações Finais<br />

Neste artigo, apresentamos o cenário susceptível ao <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>amento <strong>de</strong> inundações<br />

provocadas pelas cheias do rio Jaguaribe na favela São José. Face ao risco iminente <strong>de</strong> inundação,<br />

é <strong>de</strong> natureza pouco <strong>de</strong>strutiva. As inundações acontecem com baixa energia cinética e baixo po<strong>de</strong>r<br />

<strong>de</strong>strutivo. Por outro lado, observamos que elas atingem moradias <strong>de</strong> bom e baixo padrão<br />

construtivo, a exemplos, das construídas em alvenaria e também as que utilizam ma<strong>de</strong>ira/zinco.<br />

Observamos que a ―cultura <strong>de</strong> cheias‖ é presente na morfologia das casas localizadas ao longo do<br />

leito do rio, e se utilizam permanentemente <strong>de</strong> dispositivos <strong>de</strong> proteção simples, o que vem<br />

corroborar com nossa conclusão (Figuras 10 e 11).<br />

323


Figura 10 – Em primeiro plano os casebres da favela<br />

São José ocupando a margem direita do rio Jaguaribe e<br />

ao fundo os edifícios dos bairros <strong>de</strong> classe média<br />

Manaíra e Bessa. O rio serve <strong>de</strong> <strong>de</strong>pósito para os<br />

efluentes domésticos e os resíduos sólidos <strong>de</strong>stes<br />

estratos sociais. As matas ciliares no caso, foram<br />

substituídas por construções precárias Foto: Jocélio<br />

Araújo dos Santos, fevereiro <strong>de</strong> 2007.<br />

Figura 11 – Casa ocupando a margem direita do rio<br />

Jaguaribe já na área do leito maior estando vulnerável à<br />

inundação, favela São José. Foto: Jocélio Araújo dos<br />

Santos, fevereiro <strong>de</strong> 2007.<br />

Por outro lado, enfrenta com maior gravida<strong>de</strong> os problemas <strong>de</strong> <strong>de</strong>slizamentos e inundações<br />

nos meses <strong>de</strong> inverno (abril-maio-junho), característicos por apresentarem os maiores índices<br />

pluviométricos do ano, <strong>de</strong> 1964 a 2001 a média foi <strong>de</strong> 251mm (abril), 288mm (maio) e 352mm<br />

(junho), sendo as máximas <strong>de</strong> 622mm (abril), 686mm (maio) e 787mm (junho). Já as chuvas que<br />

ocorrem nos meses <strong>de</strong> verão não apresentaram impactos significativos a favela.<br />

No dia 13 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2007, Santos (op. cit) registrou in loco e com informações<br />

fornecidas por moradores a marca da inundação, posteriormente traçou a marcar da cota <strong>de</strong><br />

inundação (4,333 m). Observou que a mancha chega a atingir principalmente as casas ao longo da<br />

planície <strong>de</strong> inundação próximas ao leito do rio Jaguaribe causando os transtornos já apresentados<br />

aos 1300 moradores, que ocupam a área <strong>de</strong> vazão do rio. Essas áreas são consi<strong>de</strong>radas <strong>de</strong> risco a<br />

enchente, por se localizarem na planície com altitu<strong>de</strong>s inferiores aos 5m (cinco metros), <strong>de</strong>vido a<br />

existência <strong>de</strong> fatores condicionantes a ocorrência das enchentes no local, como a intensa<br />

urbanização causando a impermeabilização do solo e alterações no curso do rio Jaguaribe.<br />

Escolheu-se a cota <strong>de</strong> cinco metros, por ser a primeira cota cheia acima do valor medido em campo<br />

4,333m (Santos op. cit).<br />

Esta cartografia produzida po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> utilida<strong>de</strong> como instrumento <strong>de</strong> comunicação e<br />

ajudar os moradores da favela São José no tocante à prevenção. Por outro lado, é preciso que seja<br />

adaptada ao público em questão, que sua visibilida<strong>de</strong> seja apropriada e <strong>de</strong> alcance <strong>de</strong> todos.<br />

Por outro lado, aliados aos problemas <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m meteorológica os moradores do bairro São<br />

José, convive com uma insalubrida<strong>de</strong> produzida pelos seus costumes e a não presença <strong>de</strong> uma<br />

política pública eficaz, ao invés <strong>de</strong> paliativa, por parte do po<strong>de</strong>r público. Para conviverem com as<br />

324


freqüentes cheias do Jaguaribe os moradores acabam utilizando-se construções rudimentares para<br />

evitarem que as águas entrem <strong>nas</strong> residências e acarretem algum prejuízo. Outrossim, são<br />

constantes as construções <strong>de</strong> residências na área <strong>de</strong>stinada a acolher as cheias do rio, tornando o<br />

solo <strong>de</strong> várzea cada vez mais impermeabilizado e susceptível ao <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>amento <strong>de</strong> inundações.<br />

Referências<br />

MELO, A. S. T.; HECKENDORFF, W. D. O Ambiente Climático. In: M, A. S. T. (Coord.)<br />

Aglomerados subnormais dos vales do Jaguaribe e do Timbó: Análise geo-ambiental e qualida<strong>de</strong> do<br />

meio ambiente. Departamento <strong>de</strong> Geografia <strong>de</strong> História, Universida<strong>de</strong> Institutos Paraibano <strong>de</strong><br />

Educação, João Pessoa, Relatório, 2001.<br />

Ministério das Cida<strong>de</strong>s; Instituto <strong>de</strong> Pesquisas Tecnológicas. Treinamento <strong>de</strong> Técnicos Municipais<br />

para o Mapeamento e Gerenciamento <strong>de</strong> Áreas Urba<strong>nas</strong> com Risco <strong>de</strong> Escorregamentos, Enchentes<br />

e Inundações. Brasília-DF, MD/IPT, 2004.<br />

MOLION, L. C. B.; BERNARDO, S. O. Uma Revisão da Dinâmica das Chuvas no Nor<strong>de</strong>ste<br />

Brasileiro. Revista Brasileira <strong>de</strong> Meteorologia, Brasília-DF, v. 17, n. 1, 2002, p. 1-10.<br />

OLIVEIRA, F. B.. Degradação do meio físico e implicações ambientais na Bacia do Rio Jaguaribe.<br />

2001. 93 f. Dissertação (Mestrado em Geociências) – Centro <strong>de</strong> Tecnologia e Geociências,<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Pernambuco, Recife.<br />

SANTOS, J. A.. Análise dos riscos ambientais relacionados às enchentes e <strong>de</strong>slizamentos na favela<br />

São José, João Pessoa-PB, 2007.. 112 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Programa <strong>de</strong> Pós<br />

Graduação em Geografia, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Paraíba, João Pessoa, 2007.<br />

325


CONDIÇÕES AMBIENTAIS E DE SAÚDE NA COMUNIDADE ATENDIDA PELA USF<br />

Resumo<br />

MANDACARU IX, JOÃO PESSOA-PB<br />

Maria <strong>de</strong> Fátima D. PEREIRA 40<br />

José A. Novaes da SILVA 41.<br />

Conhecer as condições ambientais pertinentes à saú<strong>de</strong>, como o tipo <strong>de</strong> moradia e a sua localização,<br />

saneamento básico, além da predisposição genética <strong>de</strong>corrente da ancestralida<strong>de</strong>, é <strong>de</strong> suma<br />

importância para se estabelecer medidas <strong>de</strong> promoção da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida dos indivíduos. Nesse<br />

trabalho objetivou-se avaliar a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida dos moradores, como também montar um quadro<br />

relativo à hipertensão arterial da comunida<strong>de</strong> adstrita pela Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Família Mandacaru<br />

IX, no bairro <strong>de</strong> Mandacaru, João Pessoa-PB. As fontes <strong>de</strong> pesquisas utilizadas foram as Fichas A,<br />

questionário individual e o WHOQOL-BREF, aplicados a 21,16% dos moradores. A comunida<strong>de</strong> é<br />

predominante negra e apresenta um percentual mais elevado <strong>de</strong> mulheres, pois é formada por<br />

aproximadamente 501 pessoas, das quais 75,5% são negros, quanto ao sexo 53,7% são mulheres e<br />

46,3% homens. Conforme avaliação dos resultados percebe-se que a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida da<br />

comunida<strong>de</strong> é baixa, pois se localiza em área insalubre, com saneamento básico ineficiente,<br />

problemas <strong>de</strong> infraestrutura e graves problemas sociais como, a baixa escolarização, faltam <strong>de</strong><br />

qualificação profissional e baixos rendimentos, aumentando o risco <strong>de</strong> agravos à saú<strong>de</strong>,<br />

especialmente a hipertensão arterial, que prevalece na população negra.<br />

Palavras-chave: 1. Condições ambientais. 2. Saú<strong>de</strong>. 3. População negra. 4. Hipertensão arterial. 5.<br />

Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Família Mandacaru IX.<br />

Abstract<br />

Knowing the environmental conditions relevant to health, such as the type of property and its<br />

location, sanitation, besi<strong>de</strong>s genetic predisposition due to ancestry, it is extremely important to<br />

40 Estudante do Curso <strong>de</strong> Licenciatura em Ciências Biológicas - CCEN – UFPB; E-mail: fattima_danttas@hotmail.com<br />

41 Professor do DBM – CCEN – UFPB; E-mail: baruty@gmail.com<br />

326


establish measures to promote the quality of life of individuals. This work aimed to evaluate the<br />

quality of life of resi<strong>de</strong>nts, but also set up a table for hypertension in the community enrolled for<br />

Unity Family Health Mandacaru IX in the neighborhood of Mandacaru, João Pessoa. The sources<br />

used were research Chips A, individual questionnaire and the WHOQOL-BREF, applied to 21.16%<br />

of the resi<strong>de</strong>nts. The community is predominantly black and has a higher percentage of women, it is<br />

comprised of approximately 501 people, of whom 75.5% are black, and according to sex 53.7% are<br />

women and 46.3% men. As evaluation of the results it is clear that the quality of life of the<br />

community is low because it is located in an area unhealthy, inefficient with sanitation,<br />

infrastructure problems and serious social problems such as, low education, lack of professional<br />

qualification and low income increasing the risk of health problems, especially hypertension,<br />

prevalent in the black population.<br />

Keywords: 1. Environmental conditions. 2. Health. 3. Black population. 4. Hypertension.<br />

5. Unity Family Health Mandacaru IX.<br />

Introdução<br />

O bairro <strong>de</strong> Mandacaru localiza-se na região Norte no Município <strong>de</strong> João Pessoa, nele foi<br />

realizado um trabalho com um grupo <strong>de</strong> moradores resi<strong>de</strong>ntes na microárea 03 da Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />

da Família Mandacaru IX (USF IX), para diagnosticar as condições ambientais, socioeconômicas e<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, como também avaliar a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida <strong>de</strong>ssas pessoas. Segundo Barbosa (2001), na<br />

década <strong>de</strong> 60, o bairro era formado por diversos sítios pertencentes às famílias Machado, Paiva,<br />

Brito e Moreira. Passou a ser povoado a partir da migração das famílias vindas do interior para a<br />

capital, <strong>de</strong>vido à mo<strong>de</strong>rnização na agricultura. A ocupação geográfica iniciou-se com o Porto no<br />

Rio Paraíba e a estrada <strong>de</strong> ferro que corta o bairro, dividindo-o em Mandacaru <strong>de</strong> cima, a parte que<br />

se localiza antes da linha do trem e Mandacaru <strong>de</strong> baixo, conhecido até hoje como alto do Céu.<br />

Anteriormente era conhecido como o Bairro <strong>de</strong> Iaiá Paiva e abrangia a área correspon<strong>de</strong>nte ao<br />

bairro dos Estados, 13 <strong>de</strong> Maio, bairro dos Ipês e Padre Zé, os quais hoje fazem parte <strong>de</strong> suas<br />

divisas, além do Roger e a cida<strong>de</strong> portuária <strong>de</strong> Cabe<strong>de</strong>lo.<br />

Mandacaru é caracterizado por apresentar em seus espaços geográficos aglomerados<br />

urbanos, diversas casas em um mesmo terreno, construídas e cobertas com materiais <strong>de</strong> baixa<br />

qualida<strong>de</strong>, tamanhos dos cômodos impróprios, mal acabados, sem espaço a<strong>de</strong>quado para diversões<br />

das crianças, calçadas irregulares e la<strong>de</strong>iras que oferecem riscos aos idosos e ca<strong>de</strong>irantes. A<br />

acessibilida<strong>de</strong> das pessoas em geral também é prejudicada. Apresenta condições precárias <strong>de</strong><br />

saneamento básico e convive com graves problemas sociais, como <strong>de</strong>semprego, drogas, violência<br />

327


urbana, baixa renda que afeta <strong>de</strong> forma direta/e ou indireta a população no que se refere aos<br />

<strong>de</strong>terminantes <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, especialmente a hipertensão arterial que se mostra predominante na<br />

população negra. (OLIVEIRA, 2003).<br />

A Constituição (1946) com a criação da Organização Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (OMS) passou a<br />

reconhecer a saú<strong>de</strong> perante a lei como um direito do ser humano e a <strong>de</strong>finiu como o estado <strong>de</strong><br />

completo bem-estar físico, mental e social e não ape<strong>nas</strong> ausência <strong>de</strong> enfermida<strong>de</strong>s. (DALLARI,<br />

2008). Portanto, saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> simultaneamente <strong>de</strong> características individuais, físicas e<br />

psicológicas, como também, do ambiente social e econômico, tanto das pessoas mais próximas<br />

como familiares e comunida<strong>de</strong>, quanto daqueles que fazem parte do Estado. Ninguém é<br />

individualmente responsável por sua saú<strong>de</strong>, pois, é preciso ter-se uma boa alimentação, moradia<br />

a<strong>de</strong>quada, boas condições <strong>de</strong> emprego e renda, nível <strong>de</strong> instrução, corpo e mente saudável, uma boa<br />

convivência familiar e social, acessibilida<strong>de</strong> aos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública que respeite as diferenças<br />

<strong>de</strong> cada indivíduo.<br />

Em resposta as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais o Ministério da Saú<strong>de</strong> (MS) através do Conselho<br />

Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (CNS) aprovou em 2006 a Política Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Integral da População<br />

Negra (PNSIPN), em 2008 a Política Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Integral <strong>de</strong> Lésbicas, Gays, Bissexuais,<br />

Travestis e Transexuais, e a Política Nacional <strong>de</strong> Atenção Integral à Saú<strong>de</strong> do Homem. Devido à<br />

preocupação com os grupos mais vulneráveis e específicos em relações a doenças que compõe a<br />

nossa população. O que prejudica estas políticas é a falta <strong>de</strong> planos <strong>de</strong> ação, os quais <strong>de</strong>mandam<br />

verbas, além da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pessoas preparadas para ministrarem cursos e formações com a<br />

finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> preparar os profissionais da saú<strong>de</strong> nos estados e municípios, com isso, o que se<br />

preconiza não acontece <strong>de</strong> fato Barboza; Rocha (2010) e Figueiredo; Peixoto (2010).<br />

A sensibilização do Ministério da Saú<strong>de</strong> é <strong>de</strong>vido aos grupos historicamente excluídos, que<br />

ainda nos dias atuais vivenciam situações adversas, e lutam para conquistar seus direitos, com isso,<br />

vem crescendo a ―política <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s‖ (SILVA, 2009). Po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>stacar entre eles<br />

os Movimentos Sociais Negros, que conhecendo a existência <strong>de</strong> doenças e agravantes que<br />

acometem a população negra como, por exemplo: a doença falciforme, o câncer <strong>de</strong> próstata,<br />

miomas uterinos, diabetes mellitus tipo II e a hipertensão arterial, passaram a cobrar uma maior<br />

atenção para as mesmas, a partir da Conferência <strong>de</strong> Durban em agosto <strong>de</strong> 2001 (BRASIL, 2005).<br />

Objetivo<br />

O objetivo <strong>de</strong>sse trabalho é mostrar um diagnóstico sobre as condições ambientais,<br />

socioeconômicas e <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, como também avaliar a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida dos moradores cadastrados<br />

328


pela USF Mandacaru IX. As futuras ações educativas em saú<strong>de</strong> po<strong>de</strong>rão utilizar-se <strong>de</strong>sses<br />

resultados.<br />

Metodologia<br />

Este trabalho foi baseado <strong>nas</strong> seguintes fontes <strong>de</strong> pesquisa: as Fichas A, que são utilizadas<br />

para coleta <strong>de</strong> informações sobre o número <strong>de</strong> pessoas por moradias, ida<strong>de</strong>, sexo, ocupação,<br />

doenças, situação da moradia e saneamento, além <strong>de</strong> outras questões relacionadas à saú<strong>de</strong>, são<br />

produzidas pela secretaria municipal <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> para o cadastro das famílias junto ao Sistema <strong>de</strong><br />

Informação <strong>de</strong> Atenção Básica (SIAB) Barbosa; Forster (2010); O questionário individual e o<br />

WHOQOL-BREF, aplicados a 21,16% dos moradores da microárea 03 da área 175 filiada a<br />

Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Família Mandacaru IX (USF IX), para a coleta <strong>de</strong> dados sobre a religião, e o<br />

pertencimento etnicorracial e a coleta <strong>de</strong> dados referente à qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida respectivamente. O<br />

último trata-se <strong>de</strong> um instrumento aprovado pela Organização Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (FLECK, et al.,<br />

2000).<br />

Os questionários foram aplicados nos domicílios com o consentimento dos participantes, no<br />

período <strong>de</strong> julho a setembro <strong>de</strong> 2012. Os dados obtidos foram digitados e filtrados por meio do<br />

programa Excel usando-se o método da triangulação (MINAYO, et al., 2006).<br />

Resultados e discussão<br />

A comunida<strong>de</strong> é formada por 168 domicílios dos quais 150 estão ocupados e os <strong>de</strong>mais se<br />

encontram vagos, totalizando 501 pessoas. Com relação aos dados da população estudada por sexo<br />

e faixa etária com base <strong>nas</strong> Fichas A, é possível constatar que a mesma é formada por 53,7% do<br />

sexo feminino e 46,3% do masculino, havendo uma pequena predominância feminina. O que se<br />

justifica <strong>de</strong>vido à violência urbana, bem como ao fato dos homens procurarem menos os serviços <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong> (BRASIL, 2010). Deste universo 21,16% das pessoas respon<strong>de</strong>ram ao questionário<br />

individual, no qual consi<strong>de</strong>rando auto<strong>de</strong>claração <strong>de</strong> ―raça/cor‖ das pessoas resi<strong>de</strong>ntes, se<br />

autoclassificaram como pretas 10,38%, mulatas 0,94%, pardas 32,08%, more<strong>nas</strong> 32,1%. Amarelos,<br />

brancos e indíge<strong>nas</strong> representaram, respectivamente, 1,9%; 21,7% e 0,9%. O somatório <strong>de</strong> mulatos,<br />

pretos, pardos e morenos que é <strong>de</strong> 75,5% correspon<strong>de</strong> à população negra resi<strong>de</strong>nte. Com base no<br />

pertencimento etnicorracial percebe-se assimetrias em saú<strong>de</strong>, que na maioria das vezes são<br />

mascaradas e quando percebida é trabalhada vagamente, daí a gran<strong>de</strong> importância <strong>de</strong> pensar a<br />

população nesse contexto.<br />

329


O gráfico 01 mostra a comparação do pertencimento etnicorracial da população do<br />

município <strong>de</strong> João Pessoa <strong>de</strong> acordo com o censo do IBGE do ano 2000, com a autoclassificação<br />

dos moradores da microárea estudada. Constata-se que essa microárea é formada majoritariamente<br />

por negros. Trabalho apresentado por Silva; Fonseca (2010) sobre as mulheres moradoras <strong>de</strong> bairros<br />

populares da Gran<strong>de</strong> João Pessoa confirmam esses resultados.<br />

Gráfico 01. Pertencimento etnicorracial dos moradores da comunida<strong>de</strong>.<br />

A ativida<strong>de</strong> produtiva <strong>de</strong> 501 pessoas, conforme a coleta <strong>de</strong> dados a partir das Fichas A, nos<br />

mostram que (46,32%) dos moradores (homens e mulheres) não pratica nenhum tipo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong><br />

que gere renda, os aposentados representam um grupo <strong>de</strong> (6,39%) e os <strong>de</strong>mais habitantes<br />

simbolizam um grupo <strong>de</strong> (47,29%), que realizam alguma ativida<strong>de</strong> produtiva. A falta <strong>de</strong><br />

qualificação profissional e o tempo <strong>de</strong> permanência na escola reflete na remuneração, o que justifica<br />

os baixos rendimentos. Desse total <strong>de</strong> pessoas 21,16% também respon<strong>de</strong>ram ao questionário sobre<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, o qual nos mostra que os rendimentos mensais são muito inferiores frente às<br />

<strong>de</strong>spesas mensais para 0,9% <strong>de</strong> homens brancos e 2,8% <strong>de</strong> negros. Entre as mulheres ocorre o<br />

mesmo 3% <strong>de</strong> mulheres brancas e 7,3% <strong>de</strong> negras. As autoclassificadas indíge<strong>nas</strong> e amarelas<br />

representam 0,3% e 0,5%. Entre negros e brancos existe uma discrepância muito gran<strong>de</strong> no que se<br />

refere à renda familiar, pois, ―ao longo das duas últimas décadas do século 20, a renda per capita<br />

dos negros representou ape<strong>nas</strong> 40% da dos brancos. Os brancos em 1980 ainda teriam uma renda<br />

per capita 110% maior que a dos negros <strong>de</strong> 2000‖ (PNUD, 2005, p. 16).<br />

330


Quanto à escolarização, as Fichas A não fornecem informações a respeito das séries<br />

frequentadas, ape<strong>nas</strong> sobres às matrículas das crianças e jovens, tornando impossível uma análise<br />

sobre as discrepâncias que existem entre a série e ida<strong>de</strong> ou evasão escolar. Conforme os dados<br />

coletados, das 154 crianças e jovens <strong>de</strong> ambos os sexos, (74,03%) frequentam a escola. Dos 36<br />

jovens na faixa etária entre 15 e 18 anos <strong>de</strong> ambos os sexos, (75 %) frequentam a escola. Por ser<br />

uma comunida<strong>de</strong> urbana, isso se torna sério, fato esse que gera <strong>de</strong>semprego, baixa renda, além <strong>de</strong><br />

aumentar as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sócias e problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> (ALMEIDA, et al., 2009).<br />

Condições <strong>de</strong> habitação e saneamento<br />

Na comunida<strong>de</strong> estudada, as casas foram construídas com tijolos, dispostas <strong>de</strong> uma forma<br />

que se apresentam várias casas em um mesmo terreno, o que caracteriza aglomerados urbanos, os<br />

materiais utilizados na construção e na cobertura são <strong>de</strong> baixa qualida<strong>de</strong>, os tamanhos dos cômodos<br />

impróprios, mal acabados, sem espaços apropriados para as crianças brincarem, além <strong>de</strong> o espaço<br />

geográfico apresentar la<strong>de</strong>iras, calçadas irregulares, que oferecem riscos aos idosos e ca<strong>de</strong>irantes, e<br />

dificulta a acessibilida<strong>de</strong> das pessoas em geral. Dos domicílios habitados 28,66% possuem entre 2 a<br />

4 cômodos; 62,67% são formadas por 5 a 7 compartimentos e ape<strong>nas</strong> 8,68% das moradias<br />

apresentam entre 8 a 11 cômodos.<br />

Conforme a microárea estudada todas as residências ocupadas são cobertas pelos serviços <strong>de</strong><br />

abastecimento <strong>de</strong> água, <strong>de</strong> energia e coleta <strong>de</strong> lixo. Em relação ao consumo <strong>de</strong> água (64%) dos<br />

moradores, consomem água clorada, tratamento executado pela Companhia <strong>de</strong> Água e Esgoto da<br />

Paraíba (CAGEPA), (33,33%) consomem água filtrada e (2,67%) água fervida. Em relação ao<br />

<strong>de</strong>stino das fezes e uri<strong>nas</strong> (83,33%), utilizam o sistema <strong>de</strong> esgoto da CAGEPA e as <strong>de</strong>mais fossas<br />

seca. O saneamento básico é ineficiente com galerias pluviais para a drenagem e escoamento das<br />

águas da chuva a céu aberto, o que facilita a proliferação da <strong>de</strong>ngue, que é transmitida pelo o<br />

mosquito Ae<strong>de</strong>s aegypti, que nesse caso encontra-se em período e ambiente propício para seu<br />

<strong>de</strong>senvolvimento, além <strong>de</strong> outros vetores como, ratos, baratas, moscas entre outros. Também<br />

existem ruas com esgotamento sanitário, mas sem pavimentação ou com pavimentação, mas sem<br />

esgotamento sanitário, o que interfere mesmo <strong>de</strong> forma indireta na saú<strong>de</strong> população, aumentando os<br />

riscos <strong>de</strong> infecções respiratórias aguda, verminoses, diarreias, problemas <strong>de</strong>rmatológicos<br />

(MENDONÇA, et al., 2009).<br />

331


As condições <strong>de</strong> moradia, ocupação e renda familiar, o acesso ou não a uma educação <strong>de</strong><br />

qualida<strong>de</strong>, os hábitos alimentares, comportamentos nocivos ou saudáveis são fatores que<br />

influenciam indiretamente no processo saú<strong>de</strong>/doença, consequentemente, po<strong>de</strong> reduzir ou aumentar<br />

a expectativa <strong>de</strong> vida do indivíduo. Já a limitação ou acesso aos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> por parte das<br />

instituições e profissionais <strong>de</strong>sta área, consi<strong>de</strong>rando a classe social, gênero, raça/cor, orientação<br />

sexual, ida<strong>de</strong>, religião, interfere <strong>de</strong> forma direta nesse processo, além das predisposições genéticas.<br />

Com isso, a Organização Pan-americana <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> tem se preocupado em abordar a equida<strong>de</strong> em<br />

saú<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rando a perspectiva étnica, o que é muito importante, pois as políticas atuais nem<br />

sempre estão compassivas a essas variáveis, e os recursos precisam ser direcionados <strong>de</strong> forma a<br />

diminuir as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais, visto que em áreas insalubres, encontram em maioria esses<br />

grupos que apresentam maior vulnerabilida<strong>de</strong> e especificida<strong>de</strong> em relações as doenças.<br />

(OLIVEIRA, 2003).<br />

A<br />

C<br />

Figura 01. (A) Aglomeramento <strong>de</strong> casas. (B) Vista panorâmica <strong>de</strong> uma das la<strong>de</strong>iras. (C) Galeria pluvial a céu aberto. (D)<br />

Rua sem pavimentação.<br />

O perfil da moradia é um fator que interfere na saú<strong>de</strong> da população, pois seus habitantes<br />

interagem com o ambiente. Consi<strong>de</strong>rando o espaço geográfico e os aspectos sociais, políticos e<br />

B<br />

D<br />

332


culturais, além dos materiais utilizados para a construção, acabamento e coberturas das moradias e a<br />

qualida<strong>de</strong> dos mesmos, como foi edificada, o número e tamanho dos cômodos, pose-se dizer que<br />

para uma habitação <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> é necessário combinação entre todos esses elementos, além <strong>de</strong> um<br />

local seguro. A habitação é o lugar on<strong>de</strong> acontecem as interações familiares, fato esse <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

importância para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> pessoas saudáveis, seguras e felizes. (AZEREDO, et al.,<br />

2007).<br />

O bairro do Mandacaru no que se refere à infraestrutura, conta com nove Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />

da Família (USF), Centro <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, templos católicos, evangélicos, bem como <strong>de</strong> umbanda e<br />

candomblé.<br />

Hipertensão arterial: prevalência e incidência<br />

Da população resi<strong>de</strong>nte a hipertensão arterial acomete (8,0%) das mulheres e (4,2%) dos<br />

homens, além <strong>de</strong> atingir ape<strong>nas</strong> as pessoas acima dos trinta anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, conforme as informações<br />

coletadas <strong>nas</strong> Fichas A. As informações ao serem cruzadas no que se refere ao pertencimento<br />

etnicorracial e a pressão alta percebe-se que esta doença atinge 9,0% e 3,8% das mulheres negras e<br />

homens negros respectivamente. Mostrando-se mais prevalente e inci<strong>de</strong>nte no sexo feminino e na<br />

fase adulta, como também na população negra. Em relação a sua <strong>de</strong>tecção na fase adulta nossos<br />

resultados ratificam os obtidos por Aranha et al (2006) que trabalharam com um comunida<strong>de</strong><br />

carente da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo. Os dados aqui apresentados corroboram os apresentados por Silva<br />

(2007) que trabalhou com a comunida<strong>de</strong> quilombola <strong>de</strong> Caiana dos Crioulos, lá i<strong>de</strong>ntificando uma<br />

maior ocorrência da hipertensão entre as mulheres <strong>de</strong>sta Comunida<strong>de</strong> Quilombola. Segundo estudos<br />

epi<strong>de</strong>miológicos a hipertensão arterial afeta um número elevado dos negros americanos, Lessa e<br />

colaboradores (2006) também <strong>de</strong>tectaram que a população negra <strong>de</strong> Salvador apresenta um<br />

percentual mais elevado em relação à hipertensão arterial, e <strong>de</strong>stacaram a maior prevalência entre as<br />

mulheres. Segundo Cooper et al. (1999) a prevalência <strong>de</strong>ssa doença não está inteiramente<br />

relacionada a predisposição genética ligada a ancestralida<strong>de</strong> negra, pois estudos <strong>de</strong>monstraram que<br />

os negros da zona rural da Nigéria sofrem menos que os da zo<strong>nas</strong> urba<strong>nas</strong> da Jamaica e os norte-<br />

americanos. Isso sugere a interferência dos fatores ambientais, culturais e socioeconômicos. Na<br />

comunida<strong>de</strong> as pessoas se queixam com maior frequência da doença em momentos <strong>de</strong> maior<br />

estresse psicológico, tais como na perda <strong>de</strong> parentes e problemas familiares e nestes momentos os<br />

sintomas, tais como dores na nuca e <strong>de</strong> cabeça voltam a ser relatados. Por se cuidarem mais,<br />

frequentemente procurarem os serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, justifica os estudos i<strong>de</strong>ntificarem níveis pressórios<br />

mais elevados da hipertensão em mulheres (NOBLAT, et al., 2004). Apesar <strong>de</strong> estudos relatarem<br />

que as mulheres tem um maior cuidado com a saú<strong>de</strong> Sampaio (2011) trabalhou com um grupo <strong>de</strong> 15<br />

333


mulheres hipertensas, das quais 08 resistiram ao tratamento, só <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> uma crise resolveram<br />

procurar atendimento.<br />

As diversas formas <strong>de</strong> discriminação que as mulheres negras venham a sofrer po<strong>de</strong>m<br />

comprometer a sua saú<strong>de</strong>, assim aumentando os casos <strong>de</strong> hipertensão nessa população. O Ministério<br />

da Saú<strong>de</strong> no Brasil reconhece a existência <strong>de</strong> grupos vulneráveis e específicos às patologias<br />

<strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> práticas discriminatórias. As mulheres negras ao sofrerem práticas <strong>de</strong> exclusão <strong>de</strong><br />

raça, gênero e classe social, apresenta dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> construir sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, comprometendo sua<br />

autoaceitação e autoestima, impedindo <strong>de</strong> buscarem meios para enfrentar esses problemas,<br />

comprometendo a sua saú<strong>de</strong>, aumentando os riscos <strong>de</strong> complicações (CORDEIRO; FERREIRA,<br />

2009).<br />

A doença crônica do mundo mo<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> maior prevalência é a hipertensão arterial<br />

(BRASIL, 2006), observando-se uma predominância na mulher negra relacionados aos aspectos<br />

raciais e <strong>de</strong> gênero, portanto, na saú<strong>de</strong> é um dos exemplos <strong>de</strong> assimetria. O sal consumido em<br />

excesso não é o único responsável pelo <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ssa doença, mas juntamente com outros<br />

problemas sociais crônicos, como o caso da hostilida<strong>de</strong>, miséria, racismo e a baixa escolarização,<br />

fatos estes usados para justificar as gran<strong>de</strong>s divergências existentes <strong>de</strong> prevalência entre os negros<br />

americanos referentes à hipertensão (Lessa, 1998). Araújo (1994) <strong>de</strong>monstrava que provavelmente<br />

(9%) das mulheres negras apresentava uma maior incidência para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ssa doença,<br />

além <strong>de</strong> advertir para o cuidado com essas mulheres durante o período <strong>de</strong> gestação, que é muito<br />

<strong>de</strong>licado, <strong>de</strong>vido à hipertensão arterial provocar a morte materna por toxemia. Paixão; Carvano<br />

(2008, p. 49) a população negra apresenta uma menor expectativa <strong>de</strong> vida, pois o número <strong>de</strong> mortes<br />

é muito gran<strong>de</strong> entre os negros. Segundo os autores, entre os anos 1999 e 2005 ―a mortalida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

pretos e pardos por hipertensão cresceu 81,6%, ao passo, que entre brancos, 67,8%‖ em relação às<br />

mulheres, entre os anos <strong>de</strong> 2000 e 2005 a mortalida<strong>de</strong> por ―hipertensão das pretas e pardas cresceu<br />

mais (70,1%) do que a das brancas (58,1%)‖. Portanto, existem semelhanças entre o quadro <strong>de</strong><br />

hipertensão arterial das mulheres negras da comunida<strong>de</strong> estudada e o quadro <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> da<br />

doença em âmbito nacional.<br />

Consi<strong>de</strong>rações finais<br />

Neste estudo, dos resultados encontrados <strong>de</strong>staca-se a gran<strong>de</strong> discrepância existente entre<br />

negros e brancos no que se refere à renda e prevalência da hipertensão. Na microárea analisada a<br />

população é predominante negra, portanto apresenta piores indicadores <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, vive<br />

em áreas insalubres, com saneamento básico ineficiente, além <strong>de</strong> conviver com graves problemas<br />

334


sociais como, baixa escolarização, consequentemente a falta <strong>de</strong> qualificação profissional,<br />

<strong>de</strong>semprego, baixa renda, sendo também um grupo que mostrou uma maior prevalência em relação<br />

à hipertensão arterial, com maior incidência no sexo feminino. Diante <strong>de</strong>sse quadro seria necessário<br />

que as secretarias trabalhassem em conjunto, para encontrar meio a solucionar os problemas<br />

existentes na comunida<strong>de</strong> da USF Mandacaru IX. Um ponto crucial seria a implantação <strong>de</strong> políticas<br />

públicas para grupos específicos para melhorar a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida <strong>de</strong>sses moradores.<br />

REFERÊNCIAS<br />

ALMEIDA, J. R. et al. Efeito da ida<strong>de</strong> sobre a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e saú<strong>de</strong> dos catadores <strong>de</strong> materiais<br />

recicláveis <strong>de</strong> uma associação em Governador Valadares. Ciências & saú<strong>de</strong> Coletiva. Governador<br />

Valadares, v. 14, n. 6, p. 2169-2180, <strong>de</strong>z. 2009.<br />

ARANHA, Sylvia Carolina. et al. Condições ambientais como fator <strong>de</strong> risco para doenças em<br />

comunida<strong>de</strong> carente na zona sul <strong>de</strong> São Paulo. Revista APS. São Paulo, v. 9, n. 1, p. 20-28, jan./jun.<br />

2006.<br />

ARAUJO, T L. <strong>de</strong>. Medida indireta da pressão arterial: caracterização do conhecimento do<br />

enfermeiro. In: _____. Escola <strong>de</strong> Enfermagem. São Paulo: Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, 1994. Tese<br />

(Doutorado).<br />

AZEREDO, C. M. et al. Avaliação das condições <strong>de</strong> habitação e saneamento:<br />

a importância da visita domiciliar no contexto do Programa <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Família. Ciências & saú<strong>de</strong><br />

Coletiva. Viçosa, v. 12, n. 3, p. 743-753, nov. 2007.<br />

BARBOSA, Débora Cristina Mo<strong>de</strong>sto; FORSTER, Aldaísa Cassanho. Sistemas <strong>de</strong> informação em<br />

saú<strong>de</strong>: a perspectiva e a avaliação dos profissionais envolvidos na atenção primária à saú<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Ribeirão Preto, São Paulo. Cad. Saú<strong>de</strong> Colet. Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 18, n. 3, p. 424-33, mar. 2010.<br />

BARBOSA, Maria do Socorro Borges. Lições das lutas. In: _____. Lições das Lutas dos<br />

Trabalhadores e Trabalhadoras <strong>de</strong> Mandacaru João Pessoa/PB – 1976-90. João Pessoa: UFPB,<br />

2001. p. 121. cap. 8. Dissertação (Mestrado).<br />

________. Uma breve história <strong>de</strong> Mandacaru. In: _____. Lições das Lutas dos Trabalhadores e<br />

Trabalhadoras <strong>de</strong> Mandacaru João Pessoa/PB – 1976-90. João Pessoa: UFPB, 2001. p. 69. cap. 5.<br />

Dissertação (Mestrado).<br />

335


BARBOZA, Renato; ROCHA, Ane Talita da Silva. Acesso da população masculina aos serviços <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong>: alguns caminhos para o enfrentamento <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong>s. Boletim do Instituto <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>.<br />

São Paulo, v. 12, n. 2, p. 192-195, ago. 2010.<br />

BRASIL. Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística. Censo 2000: características da população<br />

(resultados do universo). IBGE: João Pessoa, 2000.<br />

BRASIL. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Política Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Integral da População Negra: uma<br />

política do SUS. Editora MS, Brasília, DF, 2010.<br />

BRASIL. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Hipertensão arterial sistêmica para o Sistema Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>.<br />

Brasília: Ministério da Saú<strong>de</strong>, 2006.<br />

CONFERÊNCIA NACIONAL DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL, 1. Relatório final...<br />

Brasília, 2005.<br />

COOPER, R. S.; ROTIMI, C. N.; WARD, R. The puzzle of hypertension in African-Americans.<br />

Scientific American, New York, v. 280, n. 2, p. 56-63, 1999.<br />

CORDEIRO, Rosa Cândida; FERREIRA, Silvia Lúcia. Discriminação racial e <strong>de</strong> gênero em<br />

discursos <strong>de</strong> mulheres negras com anemia falciforme. Esc. Anna Nery, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 13, n.<br />

2, p. 352-358, jun. 2009.<br />

CUNHA, Eglaísa Micheline Pontes. Aspectos do vestibular e <strong>de</strong> sua evolução histórica: seletivida<strong>de</strong><br />

social x <strong>de</strong>mocratização do ensino. In: _____. Sistema Universal e Sistema <strong>de</strong> Cotas para Negros<br />

na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília: um estudo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho. Brasília: UNB, 2006. Dissertação<br />

(Mestrado).<br />

DALLARI, Sueli Gandolfi. A Construção do direito a saú<strong>de</strong> no Brasil. Revista <strong>de</strong> Direito Sanitário.<br />

São Paulo, v. 9, n.3, p. 9-34, nov. 2008 /fev. 2009.<br />

FIGUEIREDO, Regina; PEIXOTO, Marcelo. Profissionais do sexo e vulnerabilida<strong>de</strong>. Boletim do<br />

Instituto <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>. São Paulo, v. 12, n. 2, p. 196-201, ago. 2010.<br />

FLECK, MPA. et al. Aplicação da versão em português do instrumento abreviado <strong>de</strong> avaliação da<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida ―WHOQOL-bref‖. Rev. Saú<strong>de</strong> Pública. Porto Alegre, v. 34, n. 2, p. 178-83, abr.<br />

2000.<br />

336


LESSA, Ínes. Epi<strong>de</strong>miologia da hipertensão arterial sistêmica e da insuficiência cardíaca no Brasil.<br />

Rev. Bras. Hipertens., Salvador, v. 8, n. 4, p. 383-392, out. /<strong>de</strong>z. 2001.<br />

LESSA, Ínes. et al. Hipertensão Arterial na População Adulta <strong>de</strong> Salvador (BA) - Brasil. Socieda<strong>de</strong><br />

brasileira <strong>de</strong> cardiologia. Salvador, v. 87, n. 6, p. 747-756, maio. 2006.<br />

LESSA, Ínes. et al. O adulto brasileiro e as doenças da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>: epi<strong>de</strong>miologia das doenças<br />

crônicas não transmissíveis. São Paulo: Hucitec, 1998.<br />

MENDONÇA, Francisco <strong>de</strong> Assis. et al. Saú<strong>de</strong> pública, urbanização e <strong>de</strong>ngue no Brasil. Socieda<strong>de</strong><br />

& Natureza, Uberlândia, v. 21, n. 3, p. 257-269, <strong>de</strong>z. 2009.<br />

MINAYO, Maria Cecília <strong>de</strong> Souza. et al. Avaliação por triangulação <strong>de</strong> métodos. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Editora Fiocruz, 2006.<br />

NOBLAT, Antonio Carlos Beisl. et al . Complicações da hipertensão arterial em homens e<br />

mulheres atendidos em um ambulatório <strong>de</strong> referência. Arquivos Brasileiro <strong>de</strong><br />

Cardiologia, Salvador, v. 83, n. 4, p. 308-313, out. 2004.<br />

OLIVEIRA, Fatima. Saú<strong>de</strong> da população negra: Brasil ano 2001. Brasília: Organização Pan-<br />

Americana da Saú<strong>de</strong>, 2003.<br />

PAIXAO, Marcelo; CARVANO, Luiz M. Relatório das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s raciais no Brasil; 2007-<br />

2008. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Garamond, 2008.<br />

SAMPAIO, Adriana S. et al. Ecos da hipertensão: vivências <strong>de</strong> mulheres negras. In: ____.<br />

Relações raciais no Brasil: pesquisas contemporâneas. São Paulo: Contexto, 2011.<br />

SILVA, José Antônio Novaes da. Condições Sanitárias e <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> em Caiana dos Crioulos, uma<br />

Comunida<strong>de</strong> Quilombola do Estado da Paraíba. Saú<strong>de</strong> Soc., João Pessoa, v. 16, n. 2, p. 111-124, [ ]<br />

2007.<br />

SILVA, José Antonio Novaes da; FONSECA, Ivonil<strong>de</strong>s da Silva. Gestantes negras:<br />

vulnerabilida<strong>de</strong>, percepções <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e tratamento no pré-natal na Gran<strong>de</strong> João Pessoa (Paraíba).<br />

João Pessoa: I<strong>de</strong>ia, 2010.<br />

SILVA, José Antônio Novaes da.; LIMA Junior, Luiz. Homens jovens na seara da saú<strong>de</strong><br />

reprodutiva. In: ____. Olhares Inusitados: sexualida<strong>de</strong> meio ambiente e educação. João Pessoa:<br />

UFPB, 2009.<br />

337


OS CONDOMÍNIOS FECHADOS E A REDEFINIÇÃO DAS<br />

RELAÇÕES SOCIOESPACIAIS NO ESPAÇO URBANO 42<br />

Amanda Pires Alexandre DOVAL (EGN/UnP) - amandapires.a@hotmail.com<br />

Gabriela Fernan<strong>de</strong>s N. Luciano <strong>de</strong> AZEVEDO (DARQ/UFRN) – bibizinhazevedo@hotmail.com<br />

Resumo<br />

Produto <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> urbanização complexo e cheio <strong>de</strong> contradições, o espaço urbano sofre<br />

constantes transformações, fruto <strong>de</strong> tensões sociais e jogo <strong>de</strong> interesses entre classes, a ocupação<br />

<strong>de</strong>sigual é uma das características instrínsecas a cida<strong>de</strong>, que reflete espacialmente uma segmentação<br />

social na urbe, a segregação existe <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primórdios, porém vem se modificando ao longo dos<br />

anos, e atualmete apresenta novas configurações, com a crescente implementação <strong>de</strong> novas<br />

tipologias chamadas ―enclaves fortificados‖, <strong>de</strong>ntre estes empreendimentos <strong>de</strong>staca-se os<br />

condomínios fechados. Este artigo tem como objetivo caracterizar o padrão <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong> que se<br />

estabelece entre os condomínios fechados e o seu entorno, mais especificamente para aqueles<br />

instalados <strong>nas</strong> proximida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> áreas consolidadas <strong>de</strong> bairros populares, visando i<strong>de</strong>ntificar o<br />

processo <strong>de</strong> ruptura e segregação que se estabelece nesta relação, processo que contribui para a<br />

negação e <strong>de</strong>gradação do espaço público, reconceitualizando o exercício da cidadania.<br />

Palavras chave: Segregação Socioespacial, Condomínio Fechado, Cidadania, Sociabilida<strong>de</strong>,<br />

Configurações Socioespaciais.<br />

Abstract<br />

Product of a complex and full of contradictions urbanization process, the urban space un<strong>de</strong>rgoes in<br />

a constant transformation, as result of social tensions and conflicts of interests between classes, the<br />

unequal occupation is a inherent characteristic of the city, which reflexes spatially the social<br />

segmentation in the metropolis, segregation exists since the beginning, but it has been changing<br />

over the years, and it is currently presenting new configurations, with the increasing <strong>de</strong>ployment of<br />

new typologies known as "urban enclave", among these projects stands gated communities. This<br />

article aims to characterize the pattern of sociability established between gated communities and<br />

their environment, specifically for those installed near areas of consolidated poor neighborhoods, to<br />

42 Maria Dulce Picanco Bentes SOBRINHA – (DARQ/UFRN) - dulcebentes@uol.com.br<br />

338


i<strong>de</strong>ntify the rupture process and segregation that is established in this relationship, those contributes<br />

to the <strong>de</strong>gradation and <strong>de</strong>nial of public space, reconceptualizing the exercise of citizenship.<br />

Key words: Socio-Spatial Segregation, Gated Community, Citizenship, Sociability, socio-spatial<br />

configurations.<br />

Introdução<br />

A urbanização das cida<strong>de</strong>s brasileiras, processo que aconteceu <strong>de</strong> forma mais intensificada<br />

no século XX, estruturou a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> forma a aten<strong>de</strong>r a <strong>de</strong>manda populacional urbana crescente na<br />

época, porém a infra-estrutura necessária para satisfazer as necessida<strong>de</strong>s básicas <strong>de</strong>ssa população<br />

nunca foi provida, <strong>de</strong>vido a este crescimento <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nado juntamente com as aglomerações urba<strong>nas</strong><br />

cresciam também os problemas das cida<strong>de</strong>s.<br />

Nesta época muitas cida<strong>de</strong>s foram criadas, enquanto outras já existentes cresceram para<br />

aten<strong>de</strong>r as crescentes <strong>de</strong>mandas da urbanização/industrialização, tendo em vista o complexo jogo <strong>de</strong><br />

interesses que influencia a dinâmica espacial <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong> em pleno <strong>de</strong>senvolvimento, é sabido<br />

que a distribuição <strong>de</strong> recursos e benefícios <strong>nas</strong> diversas áreas da cida<strong>de</strong> é injusto é <strong>de</strong>sigual e<br />

injusta, sendo resultante da atuação privilegiada <strong>de</strong> agentes produtores do espaço urbano.<br />

Produto <strong>de</strong>ste processo resultou cida<strong>de</strong>s marcadas pela disparida<strong>de</strong>, tendo como<br />

característica a segregação, que sempre esteve presente <strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s, e cronologicamente po<strong>de</strong><br />

classificada em três momentos diferentes, sendo o primeiro no século XIX quando a mesma se dava<br />

pela variação das tipologias arquitetônicas, uma vez que as cida<strong>de</strong>s ainda reduzida fisicamente, a<br />

partir dos anos 1940 a segunda fase passa a predominar, com a configuração da dicotomia centro-<br />

periferia, esta forma ainda po<strong>de</strong> ser percebida até hoje porém <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os anos 80 sobrepõe-se uma<br />

terceira fase à anterior, sendo marcada pela inserção <strong>de</strong> ―enclaves fortificados‖ <strong>nas</strong> periferias,<br />

quando grupos sociais diferentes se aproximam na mesma medida em que se isolam através <strong>de</strong><br />

barreiras físicas e tecnológicas.<br />

O terceiro momento introduzido acima é marcado pela construção <strong>de</strong> espaços privatizados,<br />

que justificados pelo medo do crime e pela busca <strong>de</strong> status vêm sendo reproduzidos em larga escala<br />

<strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s médias e gran<strong>de</strong>s do Brasil, tipologia que introduz uma segregação socio-espacial<br />

complexa que será abordada neste estudo.<br />

Com a globalização do urbano, o espaço se modifica, algumas fronteiras são<br />

quebradas e outras acabam surgindo, como forma <strong>de</strong> separar ou selecionar<br />

uma parcela da população que é beneficiada pelo <strong>de</strong>senvolvimento<br />

econômico. (LEVY, 2010. Pág 97)<br />

339


Sabendo-se que é acelerado o processo <strong>de</strong> reprodução dos condomínios fechados <strong>nas</strong><br />

cida<strong>de</strong>s médias e gran<strong>de</strong>s brasileiras, e que os estudos acerca <strong>de</strong>ssa tipologia é recorrente, porém a<br />

abordagem se <strong>de</strong>tém ao entendimento dos empreendimentos internamente, faz-se relevante um<br />

estudo para investigar os impactos <strong>de</strong>stes condomínios em seu entorno imediato, espacial e<br />

socialmente falando, para que discussões fundamentadas acerca do assunto sejam travadas, a fim <strong>de</strong><br />

conhecer melhor e teorizar sobre as transformações sociais e espaciais relacionadas a estes<br />

empreendimentos.<br />

Os novos espaços seguem uma lógica do capital, em que os agentes modificadores do<br />

espaço urbano se apropriam <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s glebas remanescentes, e as modificam visando o lucro<br />

máximo, através do marketing do medo e da promessa <strong>de</strong> um ―novo estilo <strong>de</strong> vida‖. Essas áreas<br />

disponíveis estão em sua maioria em áreas afastadas dos gran<strong>de</strong>s centros, ou mesmo em regiões<br />

consolidadas da cida<strong>de</strong>, porém com algumas características específicas, serem duplamente<br />

<strong>de</strong>svalorizadas, <strong>de</strong>vido a sua fragilida<strong>de</strong> ambiental e/ou ainda pela proximida<strong>de</strong> com áreas mais<br />

pobres, portanto através da negação do entorno e a releitura e enclausuramento o capital imobiliário,<br />

consegue transfomar áreas anteriormente <strong>de</strong>svalorizadas em produtos para classes mais elitizadas.<br />

A pouca disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s glebas disponíveis na área urbana<br />

e consequente encarecimento do solo levam cada vez mais<br />

empreendimentos habitacionais <strong>de</strong> luxo, na forma <strong>de</strong> condomínios<br />

fechados – verticais e/ou horizontais – a buscarem áreas mais baratas,<br />

inicialmente <strong>nas</strong> periferias urba<strong>nas</strong>, passando posteriormente a ocupar<br />

também os interstícios <strong>de</strong> bairros populares. Há, portanto, uma<br />

dinâmica combinada, mobilida<strong>de</strong> tanto <strong>de</strong> fora para <strong>de</strong>ntro, quanto <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ntro para fora, na criação e expansão das moradias para pobres e<br />

ricos. O resultado se traduz em bolsões valorizados <strong>de</strong>nro <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong><br />

pobreza, seja internamente, na área consolidadada cida<strong>de</strong>, seja <strong>nas</strong><br />

periferias urba<strong>nas</strong>, dado que a reprodução da classe menos favorecida<br />

sobrepuja o crescimento da mais abastada. (SOUZA E SILVA, 2004.<br />

P. 97)<br />

De forma geral, a propagação dos condomínios é motivada pela disposição para o medo,<br />

preocupação exacerbada com o segurança associado a valorização <strong>de</strong>masiada do indivíduo e <strong>de</strong>sejo<br />

<strong>de</strong> vivência ape<strong>nas</strong> entre iguais (homogeneida<strong>de</strong> social), e busca <strong>de</strong> afirmação <strong>de</strong> status, realida<strong>de</strong><br />

que acaba por reduzir a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tolerar a diferença entre os indvíduos levando-os a uma<br />

340


elação superficial com a cida<strong>de</strong>, prevalecendo portanto a dimensão privada como estilo <strong>de</strong> vida <strong>de</strong><br />

acordo com Levy (2010).<br />

Os Condomínios fechados e a fragmentação urbana<br />

A tipologia dos condomínios horizontais e suas estratégias projetuais se constituem como<br />

barreiras físicas e imateriais para o estabelecimento <strong>de</strong> relações socioespaciais com seu entorno<br />

imediato, recriando uma comunida<strong>de</strong> ―artificial‖ e com a aspiração <strong>de</strong> ser totalitária, visando o<br />

cumprimento <strong>de</strong> funções básicas e apartando-se <strong>de</strong> seu entorno. Este tipo <strong>de</strong> empreendimento é a<br />

materialização <strong>de</strong> um estilo <strong>de</strong> vida articulado por grupos sociais socioeconomicamente<br />

privilegiados, marcado pela mobilida<strong>de</strong> urbana e permanência preferencial em espaços privatizados.<br />

O avanço da mercantilização e da racionalização da vida social reiterados por<br />

empreendimentos como os condomínios fechados sinalizam e acentuam a segregação no meio<br />

urbano, tanto em áreas afastadas dos centros urbanos, como em ainda maior intensida<strong>de</strong> em áreas<br />

consolidadas, especialmente em bairros populares, <strong>de</strong>sta maneira existe uma ruptura entre estes<br />

empreendimentos o entorno e das dinâmicas <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong> entre as diferentes tipologias.<br />

Aquilo que vem sendo chamado do "novo" padrão <strong>de</strong> segregação sócio-<br />

espacial tem atraído a atenção <strong>de</strong> estudiosos para a estrutura urbana das<br />

cida<strong>de</strong>s. Este novo padrão se sobrepõe ao conhecido padrão centro-periferia<br />

e se caracteriza, <strong>de</strong>ntre outras coisas, pelo <strong>de</strong>slocamento das camadas <strong>de</strong> alta<br />

renda do centro para a periferia, gerando espaços nos quais os diferentes<br />

grupos sociais estão muitas vezes próximos, porém separados por muros e<br />

tecnologias <strong>de</strong> segurança. Para viabilizar tal condição os "enclaves<br />

fortificados" são o principal instrumento <strong>de</strong>sse novo padrão <strong>de</strong> segregação,<br />

<strong>de</strong>finido como espaços privatizados, fechados e monitorados para residência,<br />

consumo, lazer e trabalho, cuja principal justificativa é o medo do crime<br />

violento. (CARMO JÚNIOR, 2010 p. 1)<br />

Explorando o vínculo entre o espaço construído e a vida social na cida<strong>de</strong> contemporânea se<br />

faz necessário refletir sobre a proliferação <strong>de</strong>sta tipologia e os impactos provenientes <strong>de</strong>sse<br />

processo, para melhor compreensão das relações sociais e <strong>de</strong> produção estabelecidas dos mesmos<br />

com o entorno imediao, assim como para a cida<strong>de</strong> como um todo. Pois apesar do <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> negação<br />

e a representação do isolamente perceptíveis inclusive na arquitetura <strong>de</strong>sses empreendimentos<br />

existem relações estabelecidas entre o condomínio e seu entorno imediato, seja através das<br />

<strong>de</strong>marcações <strong>de</strong> distinção ou mesmo pela re<strong>de</strong>finição da noção <strong>de</strong> espaço público gerando uma<br />

341


utilização exclu<strong>de</strong>nte e seletiva da cida<strong>de</strong>, através da criação <strong>de</strong> diversos ―enclaves‖ dissociados da<br />

cida<strong>de</strong> real.<br />

Esses ―mundos cerrados‖ se articulam e se relacionam, mesmo que<br />

indiretamente. In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da forma segmentada <strong>de</strong> apropriação<br />

física, em vários âmbitos: <strong>nas</strong> vivências do cotidiano, nos mecanismos <strong>de</strong><br />

distinção simbólica, <strong>nas</strong> formas <strong>de</strong> subsunção implícitas às relações <strong>de</strong><br />

trabalho, <strong>nas</strong> relações sociais <strong>de</strong> convívio, no usufruto das áreas públicas da<br />

cida<strong>de</strong>, na circulação e no fluxo das mercadorias dos quais a moradia e os<br />

bens <strong>de</strong> consumo são parte. Assim, ao invés da imagem <strong>de</strong> harmonia, que<br />

po<strong>de</strong> estar implícita nos novos padrões <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong> cotidiana analisados,<br />

o conflito é uma condição intrínseca entre os ―muros‖. (IVO, 2012. Pág<br />

143.)<br />

Devem ser portanto avaliados os impactos sociais, econômicos, morfológicos e estéticos<br />

provocados no entorno <strong>de</strong>ste empreendimento a fim <strong>de</strong> verificar se existe ou não influência da sua<br />

implantação e comercialização para a transformação da paisagem do entorno <strong>de</strong>stes redutos.<br />

fortificados, com enfoque urbanístico socioespacial, a fim <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r as relações estabelecidas e<br />

influências mútuas entre essas duas tipologias e seus moradores.<br />

Refletindo sobre a segregação urbana e suas consequências<br />

O processo <strong>de</strong> urbanização é complexo e cheio <strong>de</strong> contradições, marcado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> seu início<br />

pelas tensões sociais e jogo <strong>de</strong> interesses entre as classes, a ocupação <strong>de</strong>sigual da cida<strong>de</strong> reflete<br />

espacialmente uma segmentação social na urbe, esta segregação socioespacial sempre esteve<br />

presente <strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s, segundo Andra<strong>de</strong> (ANDRADE, 2011. P. 2), tendo contudo se materializado<br />

<strong>de</strong> maneiras diferentes durante a história da humanida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> acordo com a realida<strong>de</strong> social <strong>de</strong> cada<br />

época, porém Social e politicamente, as estratégias <strong>de</strong> classe (inconscientes ou conscientes) visam<br />

à segregação (LEFEBVRE, 1969, p.90).<br />

A separação e a segregação rompem a relação. Constituem, por si sós, uma<br />

or<strong>de</strong>m totalitária, que tem por objetivo estratégico quebrar a totalida<strong>de</strong><br />

concreta, espedaçar o urbano. A segregação complica e <strong>de</strong>strói a<br />

complexida<strong>de</strong>. (LEFEBVRE, 2004, p. 124).<br />

Contemporaneamente novas formas <strong>de</strong> habitat urbano se propõe a configurar áreas <strong>de</strong><br />

homogeneida<strong>de</strong> socioeconômica, os ―enclaves fortificados‖, ou ―condomínios fechados‖<br />

342


possibilitam o antigo sonho da ―convivência entre iguais‖, através <strong>de</strong> mecanismos <strong>de</strong> segurança e<br />

distinção simbólica espacial.<br />

Na cida<strong>de</strong> contemporânea, ela [a segregação socioespacial] vem<br />

(re)assumindo características cada vez mais rígidas. A conjunção dos<br />

problemas urbanos atuais – <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais abissais, informalida<strong>de</strong> e<br />

irregularida<strong>de</strong> fundiária, precarieda<strong>de</strong> e déficit habitacional, dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

acessibilida<strong>de</strong> e mobilida<strong>de</strong> urbana, prevalência do automóvel particular<br />

como meio <strong>de</strong> transporte, crescimento <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nado e espraiamento das<br />

cida<strong>de</strong>s, gran<strong>de</strong>s distâncias e vazios urbanos, <strong>de</strong>gradação e abandono <strong>de</strong><br />

regiões centrais - levam a uma fragmentação da urbe, construindo uma<br />

atmosfera <strong>de</strong> insegurança e violência que se reflete em disposições espaciais<br />

que promovem isolamento, controle e privatização dos hábitos cotidianos.<br />

(ANDRADE,11. p. 3)<br />

Inseridos em um contexto <strong>de</strong> crescimento <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nado da cida<strong>de</strong>, em que a cida<strong>de</strong> dual e<br />

sua concentração <strong>de</strong> renda e <strong>de</strong>mais problemas sociais se refletem na violência e <strong>de</strong>cadência <strong>de</strong><br />

espaços públicos, os condomínios são justificados pelo medo da criminalida<strong>de</strong> urbana, que é<br />

utilzada pelos agentes (re)produtores do espaço para tornar estes empreendimentos cada vez mais<br />

populares, gerando lucros e se tornando um fenômeno urbano con<strong>de</strong>nsador <strong>de</strong> transformações<br />

sociais e espaciais que se fazem presentes em diversas cida<strong>de</strong>s brasileiras.<br />

Os condomínios fechados horizontais já fazem parte da realida<strong>de</strong> da cida<strong>de</strong><br />

(...) se constituindo em um novo tipo <strong>de</strong> prática socioespacial que ten<strong>de</strong> a<br />

proporcionar significativas transformações no tecido urbano das cida<strong>de</strong>s.<br />

Estas transformações estão relacionadas não só ao plano da configuração<br />

espacial, mas também no que diz respeito ao <strong>de</strong>senvolvimento das interações<br />

e relações entre os diversos grupos sociais. (TAVARES, 2008. p. 16)<br />

Nesse contexto <strong>de</strong> rápido crescimento urbano e emergência <strong>de</strong> novas formas <strong>de</strong> produção do<br />

espaço faz-se necessário refletir sobre as novas práticas socioespaciais que surgem a partir da<br />

disseminação <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> moradia, e quais seriam as consequências para as cida<strong>de</strong>s reais, uma<br />

vez que este tipo <strong>de</strong> simulacro nega a cida<strong>de</strong> habitada e traz ativida<strong>de</strong>s antes realizadas em espaços<br />

públicos para esses espaços privatizados, <strong>de</strong>safiando assim a noção <strong>de</strong> bens públicos e <strong>de</strong> domínio<br />

público.<br />

A segregação – tanto social quanto espacial - é uma característica importante<br />

das cida<strong>de</strong>s. As regras que organizam o espaço urbano são basicamente<br />

343


padrões <strong>de</strong> diferenciação social e <strong>de</strong> separação. Essas regras variam cultural<br />

e historicamente , revelam os princípios que estruturam a vida pública e<br />

indicam como os grupos sociais se inter-relacionam no espaço da cida<strong>de</strong>.<br />

(CALDEIRA, 2000. p. 211)<br />

Para melhor entendimento das novas práticas sociais engrendradas é necessário conhecer os<br />

elementos <strong>de</strong> distinção utilizados pelos incorporadores, na medida em que impõem uma<br />

espacialização que ignora o entorno e rompe com a contunuida<strong>de</strong> da paisagem (MOURA, 2008.<br />

P.132) e ainda as formas imaterias que se estabelecem nesse contexto, que corroboram para a<br />

ruptura estabelecida entre a cida<strong>de</strong> e os condomínios fechados, seria mesmo possível negar <strong>de</strong><br />

forma <strong>de</strong>cisiva a cida<strong>de</strong> como a imagem vendida pela publicida<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvida para este tipo <strong>de</strong><br />

empreendimento:<br />

A versão resi<strong>de</strong>ncial (...) <strong>de</strong>les [enclaves fortificados] estão mudando<br />

consi<strong>de</strong>ravelmente a maneira como as pessoas das classes média e alta<br />

vivem, consomem, trabalham e gastam seu tempo <strong>de</strong> lazer. Eles estão<br />

mudando o panorama da cida<strong>de</strong>, seu padrão <strong>de</strong> segregação espacial e o<br />

caráter do espaço público e das interações públicas entre as classes.<br />

CALDEIRA (2000, p. 258)<br />

Neste sentido a leitura espacial e prátias sociais estabelecidas entre o entorno e o<br />

condomínio fechado são fortemente impactadas pela sua configuração trazendo influências<br />

relevantes para a própria cida<strong>de</strong> e sociabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma maneira geral, uma vez que se <strong>de</strong>svincula as<br />

relações sociais interiores das exteriores nesse tipo <strong>de</strong> empreendimento, constituindo-se como<br />

bolhas, rompendo assim o intercâmbio entre os diferentes grupos sociais e provocando assim a<br />

fragmentação social do tecido urbano. (LEFEBVRE, 2004)<br />

Esta segregação implica em uma série <strong>de</strong> consequências, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as <strong>de</strong> cunho<br />

sócio-cultural-econômico, isto é, relacionada com a sociabilida<strong>de</strong> e questões<br />

<strong>de</strong> estratos sociais, até a naturalização dos espaços fechados como parte da<br />

paisagem natural e, ainda, aspectos infra-estruturais (a forma como se<br />

constitui a cida<strong>de</strong>: periferia versus bairro nobre). Nesse sentido, os<br />

condomínios horizontais fechados interferem na vida dos resi<strong>de</strong>ntes, bem<br />

como na constituição da cida<strong>de</strong>. (ASSIS, 2011. p1.)<br />

O espaço urbano tem a função <strong>de</strong> mesclar as pessoas, assim como diversificar as ativida<strong>de</strong>s,<br />

a vivência da urbe tradicionalmente se dá essencialmente neste espaço, porém com a consolidação<br />

344


do novo estilo <strong>de</strong> vida introduzido neste artigo, e as mudanças introduzidas por ele na configuração<br />

do espaço urbano, associado a crescente violência e abandono por parte dos gestores públicos dos<br />

espaços públicos, temos a <strong>de</strong>sertificação <strong>de</strong> áreas que <strong>de</strong>veriam ser ple<strong>nas</strong> <strong>de</strong> interações sociais e<br />

diversida<strong>de</strong>.<br />

O espaço público <strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s torna-se vazio, comportando uma massa <strong>de</strong><br />

estranhos entre si, isso porque a vida no urbano apresenta-se inteiramente<br />

fragmentada, on<strong>de</strong> as pessoas se isolam, em espaços privados, como os<br />

condomínios fechados. Nesse sentido, há uma forte perda da sociabilida<strong>de</strong><br />

no espaço público enquanto centros da vida urbana. Assim, o estranhamento<br />

ea imprevisibilida<strong>de</strong> se tornam predominantes (Frúgoli Jr.. 1995). (LEVY,<br />

2012. Pág 101)<br />

Este quadro <strong>de</strong> re<strong>de</strong>finição nos quadros da vida social coletiva exposto por GOMES (2002),<br />

<strong>de</strong>nominado <strong>de</strong> ―recuo da cidadania‖ modifica as práticas sociais <strong>de</strong> forma geral no mundo<br />

contemporâneo, favorecendo o confinamento social, diminuição das relações entre as diferentes<br />

classes, fazendo com que o espaço público tenha a sua importância diminuída, uma vez que per<strong>de</strong><br />

sua característica fundamental <strong>de</strong> terreno da convivência, passando a ser temido e evitado, com isso<br />

da-se a <strong>de</strong>svalorização do espaço público, e consequente crescimento <strong>de</strong> práticas como apropriação<br />

privada recorrente <strong>de</strong> espaços comuns, progressão <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s territoriais com atores ou grupos<br />

sociais que se territorializam, o emuralhamento da vida social, e o crescimento <strong>de</strong> ilhas utópicas,<br />

sendo a via utilizada cada vez mais ape<strong>nas</strong> para o seu uso primário, a circulação e a tendência ao<br />

isolamento e diminuição da vivência do espaço da cida<strong>de</strong>.<br />

Para compreensão do processo segregatório<br />

Diante dos conceitos trazido neste artigo será exposto a seguir algumas variáveis que <strong>de</strong>vem<br />

ser levadas em conta em um estudo empírico a cerca do assunto, a fim <strong>de</strong> analisar como se dá a<br />

articulação entre as tipologias <strong>de</strong> bairro populares e condomínios fechados, do ponto <strong>de</strong> vista<br />

espacial e social, para tanto é preciso compreen<strong>de</strong>r as ―Sete Funções da Arquitetura‖ <strong>de</strong> Fre<strong>de</strong>rico<br />

Holanda, analisando-as juntamente com <strong>de</strong>mais dimensões objetivas e subjetivas dos atores sociais<br />

envolvidos, refletindo portanto em um contexto social os efeitos das estratégias projetuais <strong>de</strong>sses<br />

condomínios.<br />

Destaca-se nesse sentido a metodologia <strong>de</strong> análise proposta por MOURA, 2008, em que<br />

<strong>de</strong>senvolve parâmetros <strong>de</strong> análise dos condomínios horizontais/loteamentos fechados baseada na<br />

Dimensão Subjetiva e Objetiva <strong>de</strong>sses empreendimentos e <strong>de</strong> seu entorno.<br />

345


A abordagem subjetiva busca o entendimento dos moradores do condomínio e dos<br />

moradores e comerciantes do seu entorno do imediato, para compreen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> que forma eles<br />

percebem o empreendimento, soma-se a esta abordagem a análise e compreensão das funções do<br />

espaço arquitetônico caracterizados por Holanda, conhecido como mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> sete funções.<br />

Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> sete funções, ou como talvez fosse melhor dizer, um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

sete aspectos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho do espaço arquitetônico: aspectos funcionais,<br />

aspectos da co-presença, aspectos bioclimáticos, aspectos econômicos,<br />

aspectos topoceptivos, aspectos emocionais e aspectos simbólicos.<br />

(HOLANDA, 2002. p. 78)<br />

Portanto aliadas as análises das percepções dos próprios moradores <strong>de</strong>verá ser feita ainda<br />

uma análise das dimensões <strong>de</strong>sejadas pelo projeto, que por vezes po<strong>de</strong>m passar <strong>de</strong>spercebidas pelo<br />

usuário mas são importantes para perceber as relações estabelecidas entre as tipologias díspares<br />

abordadas no exercício acadêmico em questão.<br />

Avaliar in totum a manifestação arquitetônica requer consi<strong>de</strong>rarmos todas as<br />

dimensões. (...) A<strong>de</strong>satenção a esse caráter multidimensional das<br />

manifestações arquitetônicas po<strong>de</strong> levar (in)voluntariamente a pontos <strong>de</strong><br />

vista pelos quais se minimizam ou negam qualida<strong>de</strong>s e se maximizam<br />

problemas. (HOLANDA, 2003. p.21)<br />

Para estabelecer a área <strong>de</strong> influência do empreendimento aconselha-se a <strong>de</strong>limitação<br />

uma área correspon<strong>de</strong>nte a 500m <strong>de</strong> distância <strong>de</strong> cada ponto do condomínio horizontal fechado a ser<br />

estudado, com base na <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> Estudo <strong>de</strong> Impacto <strong>de</strong> vizinhança <strong>de</strong>senvolvido por Farret<br />

(1984) e utilizado por Moura (2008).<br />

A partir da dimensão objetiva po<strong>de</strong>-se elencar algumas variáveis para construir parâmetros<br />

<strong>de</strong> análise, a localização do empreendimento em relação a cida<strong>de</strong> e ao bairro, a escala <strong>de</strong>ste,<br />

características relativas ao mercado e agentes imobiliários, questões <strong>de</strong> áreas ver<strong>de</strong>s e impactos<br />

ambientais, análise cronológica quanto a ampliação ou não da infra-estrutura e equipamentos<br />

urbanos assim como a qualida<strong>de</strong> construtiva e padrões <strong>de</strong> moradia.<br />

Preten<strong>de</strong>-se com esta abordagem sugerida estudar portanto dois grupos <strong>de</strong> moradores, os<br />

moradores dos condomíos fechados e também aqueles que moram em seu entorno imediato, assim<br />

como comerciantes das proximida<strong>de</strong>s e funcionários dos condomínios.<br />

Este tópico sobre metodologia <strong>de</strong> pesquisa não preten<strong>de</strong> concluir quais os melhores<br />

elementos a serem utilizados neste tipo <strong>de</strong> exercício, porém ape<strong>nas</strong> <strong>de</strong>ixar indicativos para que<br />

346


novas pesquisas possam ser realizadas sobre essa temática, sendo esta uma mo<strong>de</strong>sta contribuição<br />

para o entendimento da dinâmica intra-urbana.<br />

Consi<strong>de</strong>rações Finais<br />

Os processos <strong>de</strong> constante recriação do espaço urbano das médias e gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s<br />

brasileiras, espelho <strong>de</strong> um <strong>de</strong>senvolvimento econômico <strong>de</strong>sigual e incessante a<strong>de</strong>quação do meio<br />

ambiente aos interesses humanos, especialmente dos <strong>de</strong>tentores do capital, é fomentado por um<br />

contexto <strong>de</strong> globalização e consequente acentuação das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais e da violência, e tem<br />

como resultado a modificação do espaço urbano tradicional <strong>de</strong> forma anti-<strong>de</strong>mocrática e<br />

perversamente <strong>de</strong>sigual, com transformações que refletem espacialmente a fragmentação<br />

socioeconômica vivida nos dias <strong>de</strong> hoje.<br />

É certo que a dimensão do conflito é um elemento instrínseco à constituição das cida<strong>de</strong>s,<br />

tendo em vista que as diferenças socioculturais <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> multicultural <strong>de</strong>manda um<br />

citadino ativo e capaz <strong>de</strong> lidar com as diferenças no seu cotidiano para buscar soluções eficazes no<br />

enfrentamento <strong>de</strong>ssas tensões sociais, características do espaço urbano complexo e plural, porém a<br />

segregação urbana e os novos modos <strong>de</strong> vida implementam estruturas que visam negar a<br />

complexida<strong>de</strong> urbana e promover a fragmentação baseada na diferenciação entre classes,<br />

implementando a homogeneida<strong>de</strong> como melhor solução, processo exclu<strong>de</strong>nte e prejudicial a cida<strong>de</strong>.<br />

Decorrente das mudanças abordadas acontece a <strong>de</strong>svitalização dos lugares públicos e das<br />

interações sociais, com empobrecimento da vivência da cida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>svalorização dos ambientes<br />

públicos, que sofrem um processo <strong>de</strong> abandono e crescente <strong>de</strong>sertificação, ao passo em que<br />

ambientes privatizados como ―enclaves fortificados‖ se popularizam, como solução para a violência<br />

e a falência da cida<strong>de</strong>, contudo são espaços exclu<strong>de</strong>ntes e segregatórios, sem a intenção nem<br />

capacida<strong>de</strong> para abarcar a todos os grupos sociais.<br />

Referências Bibliográficas<br />

ANDRADE, Patrícia Alonso <strong>de</strong>. Quando o <strong>de</strong>sign exclui o Outro: Dispositivos espaciais <strong>de</strong><br />

segregação e suas manifestações em João Pessoa PB. NUTAU 2010 8º Seminário Internacional.<br />

São Paulo-SP: FAU-USP, 2010. Disponível em:<br />

. Acesso em: 26/08/2012.<br />

ASSIS Thayanne Erica Torres <strong>de</strong>, BATISTA Ozaias Antonio, VIDAL Soraia Maria do Socorro<br />

Carlos e LIMA, Pollyanna Christina Sarmento <strong>de</strong>. Segregação Sócio-espacial na Região<br />

Metropolitana <strong>de</strong> Natal: estudando os condomínios horizontais fechados, 62a. Reunião Anual da<br />

347


SBPC, 2011, Resumo. Disponível em:<br />

. Acesso em: 28/08/2012.<br />

CALDEIRA, Teresa Pires do Rio. Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> muros: Crime, segregação e cidadania em São Paulo.<br />

Tradução <strong>de</strong> Frank <strong>de</strong> Oliveira e Henrique Monteiro. 34 ed. São Paulo: Edusp, 2000. 400p.<br />

CASTELLO, Iara Regina (Org.). Bairros Loteamentos e Condominios: Elementos para Projeto <strong>de</strong><br />

novos Territorios Habitacionais. UFRGS Editora: Porto Alegre, 2008.<br />

GOMES, Paulo Cesar da Costa. (2002). A condição urbana. Ensaios <strong>de</strong> geopolítica da cida<strong>de</strong>. Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro, Bertrand Brasil.<br />

HARVEY, David. A produção capitalista do espaço. São Paulo: Annablume, 2006.<br />

HOLANDA, Fre<strong>de</strong>rico <strong>de</strong> (org.). Arquitetura & Urbanida<strong>de</strong>. 2a Edição. Brasília. FRBH, 2011.<br />

_________. O Espaço <strong>de</strong> Exceção. Brasília: Editora da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília, 2002.<br />

IVO, Any Brito Leal. Jardins do É<strong>de</strong>n: Salvador, uma cida<strong>de</strong> global-dual. Ca<strong>de</strong>rnos CRH[online].<br />

2012, vol.25, n.64, pp. 131-146. ISSN 0103-4979. Disponível em:<br />

. Acesso em: 30/08/2012.<br />

JÚNIOR CARMO, João Batista. A forma da segregação: condomínios fechados, renda e<br />

acessibilida<strong>de</strong> urbana. 62º Reunião Anual da SBPC, 2010. Resumo. Disponível em:<br />

. Acesso em: 01/09/2012.<br />

LEFEBVRE, Henri. A revolução Urbana. Tradução <strong>de</strong> Sergio Martins. 2ª ed. Belo Horizonte: Ed.<br />

UFMG, 2004.<br />

________________.O direito a cida<strong>de</strong>. São Paulo –Urupês, 1969.<br />

LEVY, Dan Rodrigues. Os condomínios resi<strong>de</strong>nciais fechados e a reconceitualização do exercício<br />

da cidadania nos espaços urbanos. Ponto-e-vírgula, 7: 95-108, 2010. Disponível em:<br />

. Acesso em: 03/09/2012.<br />

MOURA, Gerusa Gonçalves. Condomínios Horizontais/Loteamentos Fechados e a Vizinhança<br />

(In)Desejada: um estudo em Uberlândia/MG. Uberlândia, 2008.<br />

SOUZA E SILVA, Maria Floresia Pessoa <strong>de</strong>. Condomínios fechados: a produção habitacional<br />

contemporânea e auto-exclusão dos ricos no espaço urbano <strong>de</strong> Natal-RN (1995-2003). Natal. 2004.<br />

368 p.<br />

VILLAÇA, Flávio. Espaço intra-urbano no Brasil. São Paulo: NOBEL, 1998.<br />

TAVARES, Matheus Augusto Avelino; A produção do espaço urbano e a autosegregação em<br />

Natal/RN: uma reflexão sobre os condomínios <strong>de</strong> Green Village e Green Woods. Monografia<br />

348


(Licenciatura em Geografia) – CEFETRN, Natal, 2007.<br />

TAVARES, Matheus Augusto Avelino; ARAÚJO, Maria Cristina Cavalcanti. Os Condomínios<br />

Green Village e Green Woods e as transformações no espaço Urbano <strong>de</strong> Natal. Natal, 2008.<br />

TAVARES, Matheus Augusto Avelino; COSTA, A<strong>de</strong>mir Araújo da. Condomínios Horizontais<br />

Fechados e Transformaçoes Socioespaciais na Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Natal/RN. Mercator - Revista <strong>de</strong><br />

Geografia da UFC, vol. 8, núm. 16, 2009, pp. 61-75: Fortaleza.<br />

TAVARES, Matheus Augusto Avelino; COSTA, A<strong>de</strong>mir Araújo da. Dinâmica Urbana e<br />

condomínios horizontais fechados na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Natal Geotextos vol. 6, n 2 <strong>de</strong>z. 2010 pag 83 – 113.<br />

349


QUALIDADE AMBIENTAL NOS MUNICÍPIOS MÉDIOS PAULISTAS: UMA ANÁLISE<br />

COMPARATIVA ATRAVÉS DO ÍNDICE DE AVALIAÇÃO AMBIENTAL – IAA 43<br />

Nathalie Ferreira EZIQUIEL<br />

Graduanda <strong>de</strong> Ciências Sociais. Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências e Letras, Universida<strong>de</strong> Estadual Paulista –<br />

UNESP – Campus Araraquara. n.ferreira88@hotmail.com<br />

Rafael Alves ORSI<br />

Professor Assistente Doutor. Depto. <strong>de</strong> Antropologia, Política e Filosofia, Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências e<br />

Letras, Universida<strong>de</strong> Estadual Paulista – UNESP – Campus Araraquara. r.orsi@fclar.unesp.br<br />

Resumo<br />

O <strong>de</strong>bate estabelecido em torno da qualida<strong>de</strong> ambiental e suas consequências para qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida<br />

têm ampliado suas bases <strong>nas</strong> últimas duas décadas. Tal expansão mostra a preocupação da<br />

socieda<strong>de</strong> com a <strong>de</strong>terioração da qualida<strong>de</strong> ambiental e, consequentemente, <strong>de</strong> suas condições <strong>de</strong><br />

vida. A partir <strong>de</strong>ssa preocupação, o presente trabalho tem por objetivo avaliar a qualida<strong>de</strong> ambiental<br />

<strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s médias paulistas, vinculando-a a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> forma ampla. Utilizando como<br />

referência o Índice <strong>de</strong> Avaliação Ambiental – IAA – do Programa Estadual ―Município Ver<strong>de</strong>Azul‖<br />

do Estado <strong>de</strong> São Paulo, fizemos uma análise comparativa das cida<strong>de</strong>s médias com cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

pequeno e gran<strong>de</strong> porte. Consi<strong>de</strong>rando-se no estudo um universo <strong>de</strong> 57 cida<strong>de</strong>s, buscamos averiguar<br />

se a qualida<strong>de</strong> ambiental e, consequentemente, <strong>de</strong> vida é melhor <strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s médias em comparação<br />

às cida<strong>de</strong>s gran<strong>de</strong>s e peque<strong>nas</strong>. A investigação se <strong>de</strong>u <strong>de</strong> forma quali-quantitativa através <strong>de</strong>sse<br />

índice sintético e po<strong>de</strong> discutir a qualida<strong>de</strong> ambiental das cida<strong>de</strong>s médias <strong>de</strong> forma relacional.<br />

Palavras-chave: <strong>Qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Vida</strong>; <strong>Qualida<strong>de</strong></strong> Ambiental; Políticas Públicas; Cida<strong>de</strong>s Médias.<br />

Abstract<br />

The discussion established around the environmental quality and their consequences for quality of<br />

life has expan<strong>de</strong>d their bases in the last two <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>s. This expansion shows the society's<br />

preoccupation about the <strong>de</strong>terioration of the environmental quality. Starting this preoccupations that<br />

presented work has the objective of analyzing the environmental quality in the medium-size paulista<br />

cities linking the quality of life wi<strong>de</strong>ly. Using as a reference the EEI (Environemntal Evaluation<br />

In<strong>de</strong>x) of the Programa Estadual Município Ver<strong>de</strong>Azul of the São Paulo State we ma<strong>de</strong> a<br />

43 Pesquisa conta com apoio financeiro da Pró-reitoria <strong>de</strong> Pesquisa da Unesp<br />

350


comparative analyze of the median cities with small and big cities. Consi<strong>de</strong>ring in the study a<br />

universe of 57 cities, seeking to ascertain if the environmental quality and consequently of life is<br />

better in the medium-size cities comparing with the big and small cities. The investigation took the<br />

form of qualitative and quantitative through the synthetic in<strong>de</strong>x and could discuss the environmental<br />

quality of the medium-size cities in a relational form.<br />

Keyword: Quality of Life; Environmental Quality; Public Policies; Medium-size Cities.<br />

Introdução<br />

A preocupação com a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e com a qualida<strong>de</strong> ambiental não é algo recente e<br />

que se restringe ao período atual. De acordo com Guimarães (2005), esta preocupação data dos<br />

períodos mais antigos da história da humanida<strong>de</strong>. Vestígios arqueológicos, passagens bíblicas,<br />

relatos <strong>de</strong> filósofos como Platão e Plínio na Antiguida<strong>de</strong>, são testemunhas da busca por uma<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e consciência da relação homem-meio ambiente. Por certo que, após dois séculos <strong>de</strong><br />

intensas transformações no planeta, essas preocupações sofrem mudanças e, <strong>nas</strong> últimas décadas,<br />

entra <strong>de</strong> vez na agenda dos mais diferentes setores da socieda<strong>de</strong>. No processo <strong>de</strong> estruturação da<br />

socieda<strong>de</strong> urbano-industrial diferentes problemas se estabelecem e marcam relação socieda<strong>de</strong> -<br />

natureza com profundos impactos ambientais e sociais. Diferentes tipos <strong>de</strong> poluição, transformações<br />

climáticas, <strong>de</strong>smatamento, extrativismo predatório, miséria, condições <strong>de</strong>gradantes <strong>de</strong> trabalho,<br />

tudo parece nos mostrar, como <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> Beck (1997), a passagem para uma socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> risco. Não<br />

há dúvidas que neste esteio houve profundas mudanças na vida dos indivíduos, no meio natural e,<br />

consequentemente, na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida dos diferentes grupos humanos.<br />

Mas, o que é qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, afinal? E qualida<strong>de</strong> ambiental? Para algumas <strong>de</strong>ssas<br />

<strong>de</strong>finições, <strong>de</strong>vemos levar em conta tanto aspectos objetivos e como subjetivos <strong>de</strong> cada uma <strong>de</strong>las.<br />

Para além <strong>de</strong>ssas <strong>de</strong>finições é necessário compreen<strong>de</strong>r também como essas duas dimensões se inter-<br />

relacionam. A qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida abrange diversos aspectos e a dimensão ambiental mostra-se como<br />

um <strong>de</strong>les, ora mais, ora menos evi<strong>de</strong>nte.<br />

Tendo em vista as inter-relações entre o meio social e ambiental e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>scentralização política na gestão dos recursos naturais, assim como no processo <strong>de</strong> intervenção<br />

direta no local, o Programa Município Ver<strong>de</strong>Azul aparece como uma nova política pública que<br />

busca induzir as municipalida<strong>de</strong>s a ações ambientalmente corretas através <strong>de</strong> incentivos, sobretudo<br />

financeiros, àquelas que implementarem ações previstas no programa. Com isso almeja-se maior<br />

eficiência na gestão ambiental na escala local. Devido a gran<strong>de</strong> a<strong>de</strong>são dos municípios a este<br />

351


programa, é possível, através <strong>de</strong>le, estabelecer comparações entre os diferentes municípios no que<br />

tange a gestão e qualida<strong>de</strong> ambiental a partir <strong>de</strong> suas variáveis.<br />

Esta pesquisa traz como preocupação central uma investigação sobre a proposição, bastante<br />

veiculada pela mídia e assimilado pelo senso comum, <strong>de</strong> que as cida<strong>de</strong>s médias têm melhor<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida quando comparadas às cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pequeno e médio porte. Especificamente nossa<br />

preocupação voltou-se para qualida<strong>de</strong> ambiental, enten<strong>de</strong>ndo esta como uma dimensão da qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> vida. Tal preocupação norteia todo o trabalho, que faz uma breve discussão sobre a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

vida e a qualida<strong>de</strong> ambiental, passando pelo uso do IAA como um índice passível <strong>de</strong> uso para<br />

estabelecer comparações e, por fim, compara e analisa as condições das cida<strong>de</strong>s conforme seu<br />

tamanho populacional. As cida<strong>de</strong>s médias são o foco <strong>de</strong>ssa análise, pois figuram no cenário do<br />

estado <strong>de</strong> São Paulo como as que mais crescem em número <strong>de</strong> habitantes e possuem gran<strong>de</strong><br />

dinamismo econômico. Isso nos leva a colocá-las no centro da discussão sobre qualida<strong>de</strong> ambiental<br />

e <strong>de</strong> vida.<br />

<strong>Qualida<strong>de</strong></strong> ambiental e qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida<br />

Para pensar a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e o bem-estar se faz necessária a reflexão sobre diferentes<br />

aspectos tais como segurança, qualida<strong>de</strong> ambiental, saú<strong>de</strong>, transporte público, nível <strong>de</strong> renda, acesso<br />

à ativida<strong>de</strong>s e espaços <strong>de</strong> lazer, entre outros. E todo esse conjunto <strong>de</strong> elementos po<strong>de</strong> ser mais ou<br />

menos valorizado a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r dos traços culturais <strong>de</strong> um grupo, o que po<strong>de</strong> ser extremamente<br />

variável no espaço e no tempo. Como é notório, estamos falando tanto em aspectos objetivos como<br />

subjetivos que envolvem a noção <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida. O primeiro está relacionado aos recursos<br />

disponíveis e à capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> satisfação <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong> primárias, básicas para a sobrevivência do<br />

ser humano. Já o segundo, liga-se ao grau <strong>de</strong> satisfação, que po<strong>de</strong> sofrer variações extremas, a<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> variáveis sociais, econômicas, ambientais, históricas que imprimem<br />

nos indivíduos graus <strong>de</strong> satisfação distintos apesar <strong>de</strong> inseridos em um mesmo contexto. Esses<br />

elementos tornam a análise da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida a partir <strong>de</strong> elementos subjetivos bastante<br />

complexa. É fato que, diferentes eventos po<strong>de</strong>m ser encarados <strong>de</strong> forma distintas por grupos<br />

específicos, porém como aponta Orsi (2009), apesar <strong>de</strong> haver graus <strong>de</strong> ressignificações em torno <strong>de</strong><br />

um evento, necessida<strong>de</strong>s primárias afetam <strong>de</strong> forma direta a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> maneira objetiva.<br />

In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> um indivíduo se sensibilizar em uma área <strong>de</strong> manancial preservada, <strong>de</strong> fato ele<br />

necessita <strong>de</strong> água para sobreviver, goste ou não dos aspectos estéticos <strong>de</strong> uma área <strong>de</strong> preservação<br />

ou e áreas ver<strong>de</strong>s <strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s, a qualida<strong>de</strong> do ar irá melhorar com a presença <strong>de</strong>sses espaços. Isso<br />

irá refletir <strong>de</strong> forma objetiva no bem-estar e irá compor uma melhor qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<br />

Herculano (2000), <strong>de</strong>fine qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida:<br />

352


[...] a soma das condições econômicas, ambientais, científico-culturais e políticas<br />

coletivamente construídas e postas à disposição dos indivíduos para que estes<br />

possam realizar suas potencialida<strong>de</strong>s: inclui a acessibilida<strong>de</strong> à produção e ao<br />

consumo, aos meios para produzir cultura, ciência e arte, bem como pressupõe a<br />

existência <strong>de</strong> mecanismos <strong>de</strong> comunicação, <strong>de</strong> informação, <strong>de</strong> participação e <strong>de</strong><br />

influência nos <strong>de</strong>stinos coletivos, através da gestão territorial que assegure água e<br />

ar limpos, higi<strong>de</strong>z ambiental, equipamentos coletivos urbanos, alimentos saudáveis<br />

e a disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espaços naturais amenos urbanos, bem como da preservação<br />

<strong>de</strong> ecossistemas naturais.<br />

Para a autora supracitada, a busca do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ve perpassar o ponto <strong>de</strong> vista ético,<br />

ambiental e <strong>de</strong> plenitu<strong>de</strong> humana, através <strong>de</strong> indicadores que integrem bem-estar individual,<br />

equilíbrio ambiental e <strong>de</strong>senvolvimento econômico. A qualida<strong>de</strong> ambiental e a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida<br />

andam lado a lado neste processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, e tal qual aponta Scanlon (1997), <strong>de</strong>vemos<br />

buscar a compreensão <strong>de</strong> quais elementos substantivos estão presentes neste processo.<br />

É importante salientar que qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e qualida<strong>de</strong> ambiental não são sinônimos.<br />

Segundo Guimarães (2005, p.19),<br />

<strong>Qualida<strong>de</strong></strong> ambiental é um conceito mais amplo, tendo em vista que o meio<br />

ambiente, consi<strong>de</strong>radas as suas dimensões materiais e imateriais, po<strong>de</strong> ser<br />

analisado como substrato e mediador <strong>de</strong> todas as formas <strong>de</strong> vida, permitindo o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento dos processos vitais, das relações ecológicas, da evolução dos<br />

ecossistemas naturais e construídos do planeta, da construção/<strong>de</strong>struição, ou seja,<br />

da evolução das paisagens exter<strong>nas</strong> e inter<strong>nas</strong>.<br />

A qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida compreen<strong>de</strong> diversas variáveis, <strong>de</strong>ntre eles os aspectos ambientais, ou<br />

seja, para um lugar ter boa qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida obrigatoriamente <strong>de</strong>verá ter qualida<strong>de</strong> ambiental.<br />

Porém, o inverso não é verda<strong>de</strong>iro: seguir as diretrizes <strong>de</strong> uma qualida<strong>de</strong> ambiental ótima não<br />

significa ter boa qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, já que outras variáveis, tais como educação, saú<strong>de</strong>, segurança e<br />

transporte público, po<strong>de</strong>m apresentar sérias <strong>de</strong>ficiências, mesmo sendo interpretados <strong>de</strong> forma<br />

distinta pelos diferentes segmentos da população.<br />

Se os <strong>de</strong>safios analíticos são gran<strong>de</strong>s para a leitura <strong>de</strong> elementos subjetivos, aqueles<br />

vinculados a dados concretos, também apresentam gran<strong>de</strong>s complexida<strong>de</strong>s na sua organização e<br />

interpretação. Hierarquizar os dados é um primeiro <strong>de</strong>safio. Como <strong>de</strong>vemos hierarquizar elementos<br />

que fazem parte do cotidiano <strong>de</strong> indivíduos muito distintos? A segurança <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rada mais<br />

importante que a saú<strong>de</strong>? O transporte público, menos relevante em comparação ao metro quadrado<br />

<strong>de</strong> área ver<strong>de</strong> por habitante? In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>ssa hierarquização, a qual não faz parte <strong>de</strong> nossos<br />

353


objetivos neste trabalho, o fato é que vemos no Brasil uma escala <strong>de</strong> todos esses problemas, que vão<br />

da violência à ocupação <strong>de</strong> encostas íngremes, do transito caótico à falta <strong>de</strong> saneamento básico.<br />

Dentro <strong>de</strong>sta teia que é a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, a qualida<strong>de</strong> ambiental torna-se um dos<br />

elementos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância. No Brasil, esta temática apareceu tardiamente em relação à<br />

regiões mais <strong>de</strong>senvolvidas do planeta, como Estados Unidos e Europa, as quais já apresentavam<br />

esta preocupação na década <strong>de</strong> 70. Segundo Alonso e Costa (2002) esta questão ganha corpo no<br />

Brasil quando militantes <strong>de</strong> esquerda, que estavam exilados em países da Europa, voltaram para o<br />

país durante o processo <strong>de</strong> re<strong>de</strong>mocratização com ―preocupações ecológicas dos novos movimentos<br />

sociais europeus‖.<br />

Devemos ter em vista que a questão ambiental não é um problema ambiental, no sentido<br />

físico-natural stricto senso, pois por envolver diversos aspectos socioeconômicos e políticos, <strong>de</strong>ve<br />

ser consi<strong>de</strong>rado um problema fundamentalmente social. Orsi e Berríos (2008), apresentam<br />

diferentes dimensões da problemática ambiental, a qual envolve aspectos ecológicos, políticos,<br />

sociais, econômicos, i<strong>de</strong>ológicos/culturais e tecnológicos. Neste sentido, segundo Rodrigues (2001),<br />

a questão ambiental <strong>de</strong>ve ser tratada com cuidado, porque sendo ape<strong>nas</strong> modismo maquiará os<br />

problemas que estão por trás <strong>de</strong>la, como a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social, fortemente presente <strong>nas</strong> áreas<br />

urba<strong>nas</strong> no Brasil.<br />

O processo <strong>de</strong> urbanização no Brasil foi intenso principalmente durante a segunda meta<strong>de</strong><br />

do século XX, sendo que a população urbana em 1940 era <strong>de</strong> 26,3% e em 2000 passou a ser <strong>de</strong><br />

81,2% (MARICATO, 2011). Esse processo <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>veria trazer a satisfação <strong>de</strong><br />

necessida<strong>de</strong>s básicas para toda a população, tais como trabalho, abastecimento, transporte, energia,<br />

água, etc., mas não foi o que ocorreu. As reformas urba<strong>nas</strong> ocorridas entre o final do século XIX e<br />

início do século XX realizaram obras <strong>de</strong> saneamento básico para eliminar epi<strong>de</strong>mias, além <strong>de</strong><br />

preocupar-se com o embelezamento das cida<strong>de</strong>s e com o mercado imobiliário, sempre atuando <strong>de</strong><br />

acordo com o modo <strong>de</strong> produção capitalista. Dessa forma, a as transformações no espaço urbano<br />

expulsa para áreas periurba<strong>nas</strong> a população excluída <strong>de</strong>sse processo, o que caracterizou uma<br />

segregação territorial intensa e como <strong>de</strong>sdobramento agrava os problemas sociais e ambientais das<br />

cida<strong>de</strong>s brasileiras.<br />

Tendo em vista todo esse processo <strong>de</strong>sigual da produção e reprodução do espaço, a<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida ligada ao espaço urbano é ambígua, pois traz uma relação <strong>de</strong> libertação, no que<br />

tange ao domínio sobre a natureza através das conquistas tecnológicas e, ao mesmo tempo, oprime<br />

aqueles que estão à margem <strong>de</strong>ste processo, que não têm satisfeitas nem mesmo suas necessida<strong>de</strong>s<br />

básicas.<br />

354


É com uma análise histórica que conseguimos compreen<strong>de</strong>r todas as mudanças ocorridas e<br />

<strong>de</strong>linear os problemas. O processo <strong>de</strong> urbanização <strong>de</strong>senfreada apresentou-nos esta nova<br />

problemática: o aumento populacional <strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s, a industrialização, o consumo excessivo, enfim,<br />

o atual sistema econômico mundial, colabora com a exacerbação <strong>de</strong> problemas ambientais, que vão<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o aumento do lixo ao aquecimento global. Consolidado o sucesso do modo <strong>de</strong> produção<br />

capitalista, <strong>de</strong>vemos enten<strong>de</strong>r o problema ambiental como resultado <strong>de</strong>sse próprio sucesso. Segundo<br />

Rodrigues (2010), é esse modo <strong>de</strong> produção capitalista que provoca os problemas ambientais e<br />

sociais. O erro é culpar o consumo e os consumidores pela origem do problema, causando uma<br />

manutenção do paradigma, que busca manter as condições <strong>de</strong> reprodução e funcionamento<br />

capitalistas.<br />

As novas matrizes discursivas, ao mesmo tempo em que ocultam os verda<strong>de</strong>iros<br />

responsáveis pelos problemas – aqueles que se apropriam e são proprietários dos<br />

meios <strong>de</strong> produção, da terra, das riquezas – e atribuem a responsabilida<strong>de</strong> aos<br />

―consumidores‖ e aos pobres que ocupam as piores áreas, que não interessam ao<br />

setor imobiliário, obscurecendo a essência da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> e da segregação<br />

socioespacial, ocultando a importância do território, do espaço e da socieda<strong>de</strong>.<br />

(RODRIGUES, 2010, p.211)<br />

A análise da qualida<strong>de</strong> ambiental <strong>de</strong>ve ser cuidadosa, dada a importância que ela tem para a<br />

população e <strong>de</strong> tudo que está camuflado nessa temática, muitas vezes dissimulado por discursos<br />

enviesados, o que mostra a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> atenção e cuidado para <strong>de</strong>svendar tudo o que está<br />

por trás da questão. Um ambiente insalubre, com excesso <strong>de</strong> veículos, indústrias, construções<br />

verticalizadas, falta <strong>de</strong> áreas com vegetação e tantos outros aspectos não po<strong>de</strong> proporcionar bem-<br />

estar tão menos uma boa qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida. Restabelecer a qualida<strong>de</strong> ambiental é fator fundamental<br />

para restabelecer a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<br />

Sobre a importância da questão ambiental para a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida Oliveira (1983 apud<br />

Gomes e Soares 2004, p.23) coloca que<br />

[...] a qualida<strong>de</strong> ambiental está intimamente ligada à qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, pois vida e<br />

meio ambiente são inseparáveis, o que não significa que o meio ambiente<br />

<strong>de</strong>termina as várias formas e ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida ou que a vida <strong>de</strong>termina o meio<br />

ambiente. Na verda<strong>de</strong>, o que há é uma interação e um equilíbrio entre ambos que<br />

variam <strong>de</strong> escala em tempo e lugar.<br />

Segundo Gomes e Soares (2004), a qualida<strong>de</strong> ambiental apresenta ―uma questão <strong>de</strong><br />

funcionalida<strong>de</strong> que passa necessariamente pela organicida<strong>de</strong> do espaço urbano‖ (p.27). Ainda para<br />

355


os autores supracitados, ―a salubrida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada lugar não po<strong>de</strong> ser percebida nem tão pouco<br />

compreendida se não se pensar que aquele lugar está sendo produzido pelo homem e para o<br />

homem‖ (p.28). Deste ponto <strong>de</strong> vista, o homem <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser aquele que <strong>de</strong>grada o ambiente e<br />

tornar-se aquele que <strong>de</strong>ve reestruturar a relação homem-meio. Acreditamos que antes disso <strong>de</strong>ve-se,<br />

<strong>de</strong> fato, pensar uma reestruturação da relação homem-homem, ou seja, buscar uma nova<br />

racionalida<strong>de</strong> das relações sociais, como apresenta Leff (2007), ao <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a racionalida<strong>de</strong><br />

ambiental. Neste sentido, conhecer as condições da qualida<strong>de</strong> ambiental e compreen<strong>de</strong>r sua<br />

dinâmica social mostra-se fundamental para uma agenda <strong>de</strong> ações.<br />

O Programa Município Ver<strong>de</strong>Azul<br />

Para compreen<strong>de</strong>r o urbano é necessário pensá-lo como um espaço repleto <strong>de</strong> contradições,<br />

construído socialmente e que, portanto, tem sua or<strong>de</strong>m estabelecida pelos diferentes agentes sociais<br />

e que disputam esse espaço. Ele é produzido através <strong>de</strong> relações sociais, do cotidiano das pessoas,<br />

da dinâmica econômica das empresas, dos interesses políticos e <strong>de</strong> como cada um <strong>de</strong>sses agentes<br />

<strong>de</strong> apropriam do espaço. Consi<strong>de</strong>rando que essa inter-relação entre os agentes é tensa, a intervenção<br />

do po<strong>de</strong>r público mostra-se fundamental. De acordo com Carvalho (2009, p.24),<br />

[...] a política <strong>de</strong> planejamento urbano é sempre um instrumento público <strong>de</strong><br />

controle das relações sociais, que se realiza mediante medidas e procedimentos <strong>de</strong><br />

disciplinamento e regulamentação da ação dos agentes públicos e privados no<br />

processo <strong>de</strong> produção do espaço urbano.<br />

Ainda segundo Carvalho (2009), ―a política <strong>de</strong> planejamento urbano é, por <strong>de</strong>finição, <strong>de</strong><br />

natureza regulatória, em função <strong>de</strong> seu impacto ou expectativa <strong>de</strong> impacto sobre a socieda<strong>de</strong>‖ (p.24<br />

– grifo do autor). Essa expectativa po<strong>de</strong> ser em diferentes escalas, partido local até atingir outras<br />

mais amplas como a regional ou nacional. De qualquer maneira, as ações locais vinculam-se<br />

estreitamente com as outras escalas. Consi<strong>de</strong>rando, a Constituição Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> 1988, a qual conce<strong>de</strong>u<br />

maior autonomia aos estados e município brasileiros, <strong>de</strong>legando funções <strong>de</strong> planejamento e<br />

execução em diferentes áreas, estimular a gestão ambiental a partir do próprio local, está em<br />

consonância com um plano político <strong>de</strong> <strong>de</strong>scentralização <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões e maior autonomia para as<br />

municipalida<strong>de</strong>s.<br />

Ao consi<strong>de</strong>rarmos o controle ambiental como ―[...] o ato <strong>de</strong> influenciar as ativida<strong>de</strong>s<br />

huma<strong>nas</strong> que afetem a qualida<strong>de</strong> do meio físico do homem, especialmente o ar, a água e<br />

características terrestres‖ (SWELL, 1978 apud GOMES e SOARES, 2004, p. 28), julgamos que a<br />

ação do po<strong>de</strong>r público através <strong>de</strong> suas políticas, seja <strong>de</strong> natureza punitiva/repressiva ou indutiva, são<br />

356


fundamentais. Foi com essa finalida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> <strong>de</strong>scentralizar ações e aumentar a eficiência da gestão<br />

municipal sobre seus recursos naturais, que a Secretaria <strong>de</strong> Meio Ambiente do Estado <strong>de</strong> São Paulo<br />

<strong>de</strong>senvolveu o Programa Município Ver<strong>de</strong>Azul. De natureza indutiva, o compromisso <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são ao<br />

programa é voluntário para cada prefeitura municipal.<br />

Lançado em 2007, o programa estabelece um ranking anual dos municípios que a<strong>de</strong>riram<br />

ao programa, através do Índice <strong>de</strong> Avaliação Ambiental – IAA. Este índice é composto por 10<br />

Diretivas fixas, que orientam o plano <strong>de</strong> ações da área ambiental municipal, com questões<br />

ambientais prioritárias. Porém, os critérios para avaliação são modificados a cada ano, sendo<br />

<strong>de</strong>finidos pela Secretaria <strong>de</strong> Estado do Meio Ambiente. As Diretivas são: 1- esgoto tratado; 2- lixo<br />

mínimo; 3- recuperação da mata ciliar; 4- arborização urbana; 5- educação ambiental; 6- habitação<br />

sustentável; 7- uso da água; 8- poluição do ar; 9- estrutura ambiental; 10- conselho <strong>de</strong> meio<br />

ambiente. Cada diretiva tem um peso diferente na nota final, sendo que o esgoto tratado e o lixo<br />

mínimo têm peso maior. A partir <strong>de</strong>ssas diretivas é possível aos municípios construírem uma<br />

agenda ambiental local, tanto no sentido <strong>de</strong> melhorar a qualida<strong>de</strong> ambiental como para pleitear<br />

repasses <strong>de</strong> verbas estaduais.<br />

Esta política busca satisfazer uma <strong>de</strong>manda que data da década <strong>de</strong> 1970, quando, segundo<br />

Guimarães (1984), inicia-se no Brasil uma preocupação com a <strong>de</strong>terioração <strong>de</strong> ambientes urbanos,<br />

necessitando <strong>de</strong> novas políticas públicas. Esta <strong>de</strong>manda é resultado do processo intenso <strong>de</strong><br />

urbanização ocorrido no país na década <strong>de</strong> 50 e a alta taxa <strong>de</strong> migração campo-cida<strong>de</strong>, o que<br />

acarretou novos problemas ligados ao meio ambiente. A urbanização brasileira foi feita, em gran<strong>de</strong><br />

parte, sem recursos técnicos e financeiros suficientes, levando à construção <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s carentes em<br />

diversos aspectos: saneamento básico, asfalto, transporte público, dificultando a mobilida<strong>de</strong><br />

espacial, além <strong>de</strong> habitações construídas em áreas <strong>de</strong> risco e sem infraestrutura para educação e<br />

saú<strong>de</strong>. A forma como foi difundida a industrialização no país também contribuiu para esse cenário:<br />

segundo Maricato (2011), ela foi baseada em baixos salários para os trabalhadores, que não<br />

acompanhou as novas necessida<strong>de</strong>s. Dessa maneira, foram construídas casas em lugares ilegais e<br />

sem os recursos básicos necessários para a salubrida<strong>de</strong> da área. Ainda hoje, <strong>nas</strong> áreas mais pobres,<br />

serviços básicos como re<strong>de</strong> <strong>de</strong> esgoto, água tratada e coleta regular <strong>de</strong> lixo mostram <strong>de</strong> forma<br />

precária. Quando não, ainda pior, são essas as áreas <strong>de</strong> <strong>de</strong>posição <strong>de</strong> resíduos coletados em outras<br />

partes da cida<strong>de</strong>. Essa dinâmica quase sempre seguindo uma lógica capitalista <strong>de</strong>ntro do processo<br />

<strong>de</strong> constituição urbana. Esse quadro <strong>de</strong>monstra o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>terioração da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e<br />

ambiental no espaço urbano. Através dos instrumentos políticos presentes no Programa MVA,<br />

busca-se transformações <strong>de</strong>sse quadro para todas as cida<strong>de</strong>s do Estado.<br />

357


Refletindo sobre os resultados <strong>de</strong>sse programa, colocamos as cida<strong>de</strong>s médias no centro <strong>de</strong><br />

nossa análise, buscando a compreensão se, do ponto <strong>de</strong> vista ambiental adotando os critérios do<br />

IAA, elas apresentam melhor qualida<strong>de</strong> ambiental e <strong>de</strong> vida.<br />

Análise comparativa dos municípios selecionados<br />

Classificando os municípios como pequenos, médios e gran<strong>de</strong>s, tomando o tamanho <strong>de</strong> sua<br />

população como referência, selecionamos 57 municípios paulistas e averiguamos seus respectivo<br />

IAA's para nossa análise. Selecionamos <strong>de</strong> forma aleatória 14 municípios pequenos (população<br />

abaixo <strong>de</strong> 100 mil habitantes), todos os 34 municípios médios (população entre 100 e 500 mil<br />

habitantes) fora <strong>de</strong> regiões metropolita<strong>nas</strong> e todos os municípios gran<strong>de</strong>s (acima <strong>de</strong> 500 mil<br />

habitantes).<br />

Verificada a importância da qualida<strong>de</strong> ambiental para a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, a análise<br />

comparativa entre os municípios <strong>de</strong> diferentes portes (pequeno, médio, gran<strong>de</strong>) mostra-se<br />

importante para distingui-los e trazer repostas a pergunta central <strong>de</strong>sse trabalho, ou seja, até que<br />

ponto os municípios <strong>de</strong> porte médio apresentam melhor qualida<strong>de</strong> ambiental (e <strong>de</strong> vida) que os<br />

<strong>de</strong>mais. Para isso, criamos faixas classificatórias a partir do ranking do Programa Município<br />

Ver<strong>de</strong>Azul – 2011. São elas: faixa 1- acima <strong>de</strong> 80 pontos; faixa 2- entre 79,9 e 50 pontos; faixa 3-<br />

abaixo <strong>de</strong> 49,9 pontos.<br />

Adotamos estas três faixas classificatórias, pois acreditamos que elas possam indicar como o<br />

município se encontra <strong>de</strong>ntro do Programa, no sentido <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r os requisitos para a obtenção do<br />

selo ―Município Ver<strong>de</strong>‖ - acima <strong>de</strong> 80 pontos – e para além disso qual o estado geral da gestão<br />

ambiental municipal <strong>de</strong> acordo com as diretivas estabelecidas. Assim cada uma das faixas indica<br />

que:<br />

Faixa 1 – os municípios seguem <strong>de</strong> forma rígida a política ambiental <strong>de</strong>finida pelo Estado <strong>de</strong> São<br />

Paulo. Implementaram diferentes ações <strong>de</strong> forma eficiente o que lhes confere portanto o selo<br />

―Município Ver<strong>de</strong>Azul‖, tendo priorida<strong>de</strong>s em alguns repasses <strong>de</strong> verbas estaduais;<br />

Faixa 2 – apesar <strong>de</strong> não alcançarem a certificação ―Município Ver<strong>de</strong>Azul‖ possuem gran<strong>de</strong><br />

probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se a<strong>de</strong>quarem à política estadual e atingirem os 80 pontos. Embora possam<br />

apresentar <strong>de</strong>ficiências existem ações <strong>de</strong> planejamento e gestão ambiental local em<br />

<strong>de</strong>senvolvimento;<br />

Faixa 3 – figuram na pior posição <strong>de</strong>ssa classificação. Estão distante da a<strong>de</strong>quação à política ou as<br />

ações implementadas não são bem sucedidas necessitando <strong>de</strong> diferentes rearranjos para o<br />

planejamento e gestão ambiental serem eficientes.<br />

Consi<strong>de</strong>rando o recorte proposto em três faixas classificatórias, os melhores resultados<br />

foram encontrados nos municípios gran<strong>de</strong>s. Dos 9 municípios gran<strong>de</strong>s do Estado <strong>de</strong> São Paulo,<br />

358


44,44% encontram-se na faixa 1, assim se <strong>de</strong>stacam em relação aos <strong>de</strong>mais. Já entre os municípios<br />

pequenos (14 municípios analisados), 35,71% <strong>de</strong>les estão acima dos 80 pontos. E ape<strong>nas</strong> 26,47%<br />

dos municípios médios, dos 34 analisados, também receberam a certificação ―Município<br />

Ver<strong>de</strong>Azul‖. Isso nos mostra que, no que tange à questão ambiental, as cida<strong>de</strong>s médias<br />

percentualmente estão em último lugar na análise comparativa com os outros municípios. Logo, no<br />

quesito qualida<strong>de</strong> ambiental não po<strong>de</strong>mos afirmar, a partir do IAA, que estas cida<strong>de</strong>s apresentam<br />

uma qualida<strong>de</strong> superior.<br />

Porém, ao analisarmos a faixa 2, verifica-se uma outra distribuição <strong>de</strong>sses municípios. Nesta<br />

faixa os municípios médios se <strong>de</strong>stacam. Do total <strong>de</strong> municípios analisados, 47% <strong>de</strong>les encontram-<br />

se na faixa 2. Logo após aparecem os municípios gran<strong>de</strong>s, com 33,33%. É uma porcentagem<br />

consi<strong>de</strong>rável, visto que estas cida<strong>de</strong>s são consi<strong>de</strong>radas como as ―vilãs‖ no quesito qualida<strong>de</strong><br />

ambiental, pela poluição que é gerada nestes locais. Somando-se as duas primeiras faixas,<br />

consi<strong>de</strong>radas como boas, 80% dos municípios <strong>de</strong> porte gran<strong>de</strong> aparecem nessas classificações.<br />

Restringindo-nos novamente à faixa 2, em último lugar estão os municípios pequenos, com 7,14%.<br />

A faixa 3, que configura aqueles municípios com ―pior‖ qualida<strong>de</strong> ambiental e com menor<br />

probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> serem certificados pelo Programa, é li<strong>de</strong>rada pelos municípios pequenos, 57,14%<br />

do total <strong>de</strong>sses municípios encontram-se nesta faixa. Em seguida estão os médios, com 26,47% e os<br />

gran<strong>de</strong>s, com 22,22%. É possível ver uma síntese <strong>de</strong>sses dados no Gráfico 1:<br />

Fonte: Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística, 2010. Secretaria <strong>de</strong> Meio Ambiente do Estado <strong>de</strong> São<br />

Paulo, 2012. Elaboração: Nathalie Ferreira Eziquiel.<br />

Gráfico 01 – Comparação dos municípios por faixa <strong>de</strong> classificação<br />

359


A partir do comportamento <strong>de</strong>sses dados, embora não faça parte dos objetivos <strong>de</strong>sse texto, é<br />

imperativo um questionamento: quais fatores levam a esta dinâmica? Os dados não corroboram a<br />

proposição <strong>de</strong> que os municípios médios apresentam melhor qualida<strong>de</strong> ambiental. Pelo contrário, se<br />

tomarmos uma perspectiva ampla, os piores resultados apareceram nos municípios pequenos e os<br />

melhores nos municípios gran<strong>de</strong>s. É possível especular com alguns pontos, como: até que ponto as<br />

diretivas do programa refletem realmente a qualida<strong>de</strong> ambiental; as cida<strong>de</strong>s maiores – e neste caso<br />

as médias em menor medida – por possuírem um corpo técnico melhor formado tem maior<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> implementação <strong>de</strong> projetos; a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recursos disponíveis para os centros<br />

maiores facilita o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> projetos; contato com universida<strong>de</strong>s e centros <strong>de</strong> pesquisas<br />

po<strong>de</strong>m auxiliar na i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> problemas e propostas <strong>de</strong> equacionamento. São vários os pontos<br />

que po<strong>de</strong>mos explorar para explicar o quadro apresentado. Neste diagnóstico nos restringimos a<br />

ape<strong>nas</strong> essa i<strong>de</strong>ntificação, conscientes na necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> agregar outros elementos.<br />

Consi<strong>de</strong>rações Finais<br />

Tendo em vista a proposição que norteou todo o trabalho, os resultados da pesquisa<br />

contradiz afirmações, muitas vezes reproduzidas pela mídia e assimiladas pelo senso comum, no<br />

que tange a qualida<strong>de</strong> ambiental dos municípios paulistas. A partir do IAA, as cida<strong>de</strong>s gran<strong>de</strong>s<br />

obtiveram os melhores resultados e as peque<strong>nas</strong> os piores. Já as cida<strong>de</strong>s médias apareceram<br />

posicionadas <strong>de</strong> forma intermediária. Consi<strong>de</strong>rando esses resultados, não é a<strong>de</strong>quado afirmar que as<br />

cida<strong>de</strong>s médias têm melhor qualida<strong>de</strong> ambiental, quando comparada, sobretudo com as gran<strong>de</strong>s.<br />

Isso certamente refletirá <strong>de</strong> forma direta em sua qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<br />

As cida<strong>de</strong>s médias, <strong>de</strong>ssa maneira, vêem seus status <strong>de</strong> <strong>de</strong>tentoras <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong><br />

ambiental e <strong>de</strong> vida serem colocados em xeque, porém não <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> ser aquelas que têm<br />

<strong>de</strong>spendido esforços no sentido <strong>de</strong> alcançar tal patamar.<br />

No entanto, o quadro <strong>de</strong> uma maneira geral mostra-se preocupante, já que nenhum grupo se<br />

<strong>de</strong>stacou na faixa 1 com resultados que ultrapasse os 50% dos municípios analisados <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ssa<br />

faixa. Na verda<strong>de</strong>, da maneira que se apresenta, o espaço urbano (em diferentes dimensões) mostra-<br />

se como o <strong>de</strong>safio ambiental. Este fato nos indica que todos os grupos <strong>de</strong> municípios, sejam<br />

gran<strong>de</strong>s, médios ou pequenos necessitam <strong>de</strong> políticas pró-ativas em favor <strong>de</strong> um planejamento e<br />

gestão que atendam a princípios <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> ambiental e melhorem <strong>de</strong> maneira substancial a<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> sua população.<br />

360


Referências<br />

ALONSO, A.; COSTA, V. Ciências Sociais e Meio Ambiente no Brasil: um balanço bibliográfico.‖<br />

In: BIB – Revista Brasileira <strong>de</strong> Informações Bibliográficas em Ciências Sociais, ANPOCS. N° 53,<br />

1° semestre <strong>de</strong> 2002, PP. 35-78.<br />

BECK, U. A reinvenção da política: rumo a uma teoria da mo<strong>de</strong>rnização reflexiva. In: GIDDENS,<br />

A.; BECK, U.; LASH, S. Mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> reflexiva: política, tradição e estética na or<strong>de</strong>m social<br />

mo<strong>de</strong>rna. São Paulo: Editora Unesp, 1997. p. 11-71.<br />

CARVALHO, S. N. Condicionantes e possibilida<strong>de</strong>s políticas do planejamento urbano. In: VITTE,<br />

C. C. S.; KEINERT, T. M. M. <strong>Qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> vida, planejamento e gestão urbana: discussões<br />

teórico-metodológicas. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Bertrand Brasil, 2009, p. 21-67.<br />

GOMES, M. A. S.; SOARES, B. R. Reflexões sobre qualida<strong>de</strong> ambiental urbana. In: Estudos<br />

Geográficos, Rio Claro, 2(2): 21-30, jul-<strong>de</strong>z – 2004.<br />

GUIMARÃES, R. P. Ecopolítica em áreas urba<strong>nas</strong>: a dimensão política dos indicadores <strong>de</strong><br />

qualida<strong>de</strong> ambiental. In: SOUZA, A. (Org.) <strong>Qualida<strong>de</strong></strong> da vida urbana. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Zahar,<br />

1984.<br />

GUIMARÃES, S. T. L. Nas trilhas da qualida<strong>de</strong>: algumas idéias, visões e conceitos sobre qualida<strong>de</strong><br />

ambiental e <strong>de</strong> vida... In: Geosul, Florianópolis, v.20, n.40, p.7-26, jul./<strong>de</strong>z. 2005.<br />

HERCULANO, S. C. A qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e seus indicadores. In: HERCULANO, S. et al (Org.)<br />

<strong>Qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> vida e riscos ambientais. Niterói: Eduff, 2000. n.p.<br />

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. IBGE. Primeiros resultados do<br />

Censo 2010, 2010. Disponível em:<br />

. Acesso em: 09 Ago. 2012.<br />

LEFF, E. Epistemologia ambiental. São Paulo: Ed. Cortez, 2007.<br />

MARICATO, E. Brasil, cida<strong>de</strong>s: alternativas para a crise urbana. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.<br />

ORSI, R. A. Reflexões sobre o <strong>de</strong>senvolvimento e a sustentabilida<strong>de</strong>: o que o IDH e o IDHM<br />

po<strong>de</strong>m nos mostrar? Rio Claro: [s.n], 2009. (Tese <strong>de</strong> Doutorado).<br />

361


ORSI, R. A.; BERRÍOS, M. R. Gestão participativa dos resíduos sólidos urbanos. In: GERARDI, L.<br />

H. <strong>de</strong> O.; FERREIRA, E. R. (Orgs.) Saberes e fazeres geográficos. Rio Claro/SP: UNESP/IGCE:<br />

AGETEO, 2008. p. 319-333.<br />

RODRIGUES, A. M. A matriz discursiva sobre ―meio ambiente‖: produção do espaço urbano –<br />

agentes, escalas, conflitos. In: CARLOS, A. F.; SOUZA, M. L.; SPOSITO, M. E. B. (Orgs.) A<br />

produção do espaço urbano: agentes e processos, escalas e <strong>de</strong>safios. São Paulo: Contexto, 2012, p.<br />

207-230.<br />

RODRIGUES, A. M. Produção do espaço e ambiente urbano. In: SPOSITO, M. E. B. (Org.)<br />

Urbanização e cida<strong>de</strong>s: perspectivas geográficas. Presi<strong>de</strong>nte Pru<strong>de</strong>nte: Ed. Unesp, 2001.<br />

SCANLON, T. Value, <strong>de</strong>sire and quality of life. In: NUSSBAUM, M.; SEN, A. (Orgs.) The quality<br />

of life. Oxford: Clarendon Press/Oxford, 1997. p. 185-200.<br />

SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO. Município Ver<strong>de</strong> e Azul:<br />

ranking 2011. Disponível em:<br />

. Acesso em: 30 <strong>de</strong> mai.<br />

2012.<br />

362


OS PROBLEMAS EXISTENTES NA INFRAESTRUTURA DE UMA PERIFERIA URBANA:<br />

Resumo<br />

UMA ANÁLISE DAS RUAS DO SOL E CHÃ DO CAJÁ EM ALAGOINHA/PB<br />

Patrícia Soares <strong>de</strong> MEIRELES<br />

Graduanda-UEPB - patricia-act@hotmail.com<br />

Maria Juciara Ferreira SILVA<br />

Graduanda - UEPB- juciaramktb@hotmail.com<br />

Prof. Msc. Hélio <strong>de</strong> França GONDIM<br />

Professor-UEPB - mestrelio@hotmail.com<br />

O presente trabalho é o resultado <strong>de</strong> uma pesquisa que vêm sendo realizada em uma área periférica<br />

da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Alagoinha- PB, especificamente <strong>nas</strong> Ruas do Sol e Chã do Cajá on<strong>de</strong> a infraestrutura<br />

<strong>de</strong>ixa muito a <strong>de</strong>sejar. Tais ruas, assim como as outras áreas periféricas pobres das cida<strong>de</strong>s<br />

brasileiras, apresentam aspectos que retratam <strong>de</strong>ntro do espaço urbano a pobreza e a separação <strong>de</strong><br />

classes. Enquanto os pobres moram em áreas precárias da cida<strong>de</strong>, a elite vive em locais que tem<br />

uma infraestrutura a<strong>de</strong>quada.<br />

Palavras-chaves:Alagoinha, periferia pobre, infraestrutura.<br />

Abstract<br />

This work is the result of research that have been conducted in a peripheral area of the city of<br />

Alagoinha-PB, specifically in the Streets of the Sun and the Tea Caja where infrastructure leaves<br />

much to be <strong>de</strong>sired. These streets, like other poor peripheral areas of Brazilian cities, have aspects<br />

that portray urban space within the poverty and segregation of classes. While the poor live in poor<br />

areas of the city, the elite live in places that have a<strong>de</strong>quate infrastructure.<br />

Keywords: Alagoinha, periphery poor, infrastructure.<br />

Introdução<br />

Uma das maneiras <strong>de</strong> se compreen<strong>de</strong>r o espaço urbano é através <strong>de</strong> sua divisão em centro e<br />

periferia, e no segundo caso observa-se a existência <strong>de</strong> uma tipologia que se caracteriza pela<br />

363


ocupação <strong>de</strong> uma classe trabalhadora, geralmente pobres ou da elite. O presente trabalho tem o<br />

objetivo geral <strong>de</strong> analisar a área afastada do centro da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Alagoinha-PB, especificamente as<br />

Ruas do Sol e Chã do Cajá. Os objetivos específicos foram observar algumas características<br />

socioeconômicas da população que resi<strong>de</strong> nessa área; avaliar as condições das moradias; examinar<br />

os problemas sociais causados pela falta <strong>de</strong> infraestrutura; i<strong>de</strong>ntificar a presença ou ausência <strong>de</strong><br />

saneamento básico <strong>nas</strong> duas ruas.<br />

O estudo da infraestrutura e <strong>de</strong> características socioeconômicas das Ruas do Sol e Chã do<br />

Cajá teve como procedimento metodológico, levantamentos bibliográficos, trabalho <strong>de</strong> campo on<strong>de</strong><br />

foi realizado; a coleta <strong>de</strong> dados com as agentes <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> das áreas; registro fotográfico;<br />

quantificação dos dados coletados em campo e na pesquisa <strong>de</strong> gabinete; observação <strong>de</strong> forma crítica<br />

da paisagem urbana, na qual foram visualizados vários problemas relacionados à infraestrutura que<br />

afetam diariamente a vida da população resi<strong>de</strong>nte nessas localida<strong>de</strong>s. Esse exercício <strong>de</strong> observação<br />

da paisagem:<br />

[...] expressa o fato <strong>de</strong> que o espaço se produz <strong>de</strong>sigualmente. Desigualda<strong>de</strong>s estas<br />

que po<strong>de</strong>m ser apreendidas pela diferenciação: <strong>nas</strong> cores que vão da predominância<br />

do ver<strong>de</strong> nos bairros arborizados on<strong>de</strong> resi<strong>de</strong> a população <strong>de</strong> alto po<strong>de</strong>r aquisitivo,<br />

ao vermelho das ruas sem asfalto, misturada à cor do tijolo das casas inacabadas<br />

feitas sob o sistema <strong>de</strong> autoconstrução, passando pelo cinza do concreto. Em<br />

muitos edifícios mo<strong>de</strong>rnos a cida<strong>de</strong> se reflete na imensidão dos vidros fumês<br />

(CARLOS, 2009, p.43).<br />

O município <strong>de</strong> Alagoinha está localizado na Mesorregião do Agreste paraibano, mais<br />

precisamente na Microrregião <strong>de</strong> Guarabira-PB. Segundo o IBGE–Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia<br />

e Estatística, sua população está estimada em 13.577 habitantes, sendo que 9.033 resi<strong>de</strong>m no<br />

perímetro urbano e 4.544 na zona rural. Nas áreas estudadas <strong>de</strong> acordo com as agentes <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

moram em média 858 pessoas que correspon<strong>de</strong> a 9,49% da população urbana já em relação à<br />

população do município são 6,31%. Na figura 1 po<strong>de</strong> ser observado o território da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Alagoinha em <strong>de</strong>staque na cor vermelha isso <strong>de</strong>ntro do território paraibano.<br />

364


Figura 1: Localização <strong>de</strong> Alagoinha.<br />

Fonte:<br />

http://www.cida<strong>de</strong>s.com.br/cida<strong>de</strong>/alagoinha/002324.ht<br />

ml, adaptada <strong>de</strong> MEIRELES, 2012.<br />

No Brasil, cida<strong>de</strong>s são <strong>de</strong>finidas pelos perímetros das se<strong>de</strong>s municipais, e territórios e<br />

populações consi<strong>de</strong>radas urbanizadas incluem os perímetros das vilas, se<strong>de</strong>s dos distritos<br />

municipais (MONTE-MÓR,2006, p.6). Em nosso país não é levado em conta o número <strong>de</strong><br />

habitantes, como em outros países, para <strong>de</strong>terminar se uma <strong>de</strong>terminada localida<strong>de</strong> é uma cida<strong>de</strong>.<br />

Segundo Locatelin Perinelli Neto et al (2010), no Japão por exemplo, para que uma área seja<br />

consi<strong>de</strong>rada urbana tem que ter no mínimo 30 mil habitantes. É importante evi<strong>de</strong>nciar que:<br />

A cida<strong>de</strong> não é um fenômeno recente, tendo já quase sete milênios. No entanto,<br />

suas transformações mais profundas estão relacionadas à Revolução Industrial, a<br />

partir do século XVIII. Des<strong>de</strong> então surgiram novas formas urba<strong>nas</strong>, novos<br />

conceitos sociais e modos <strong>de</strong> vida, novas tipologias e tecidos urbanos, além <strong>de</strong><br />

outras inovações que na configuração das áreas urba<strong>nas</strong>, como a acentuação das<br />

tecnologias da informação e da comunicação. No entanto, como todo fenômeno,<br />

isso não se esten<strong>de</strong> da mesma forma a todos os países e nem mesmo a todas as<br />

regiões <strong>de</strong> um mesmo país (LOCATEL IN: PERINELLI NETO et al, 2010, p.118).<br />

Toda cida<strong>de</strong> tem o seu espaço dividido em centro e periferia. De acordo com Carlos (2009),<br />

atualmente as áreas centrais das cida<strong>de</strong>s peque<strong>nas</strong> não apresentam tantos aspectos negativos como<br />

<strong>nas</strong> metrópoles on<strong>de</strong> nesses locais afloram aspectos negativos como a poluição e o barulho.<br />

Po<strong>de</strong>mos ver que o centro das cida<strong>de</strong>s peque<strong>nas</strong> é um bom lugar para morar, já o das gran<strong>de</strong>s<br />

cida<strong>de</strong>s é péssimo.Já as periferias:<br />

Alagoinha<br />

João Pessoa<br />

[...] são caracterizadas cada vez mais por outros contextos, não aqueles<br />

mensuráveis simplesmente por quilometragem ou marcação <strong>de</strong> anéis, coroas<br />

365


ou outro qualquer representativo geométrico, contextos esses alicerçados<br />

<strong>nas</strong> condições e contradições econômico-sociais dos seus moradores, pelas<br />

infraestruturas existentes, pelas territorialida<strong>de</strong>s estabelecidas e<br />

reestabelecidas, enfim, pelas suas espacialida<strong>de</strong>s (RITTER e FIRKOWSKI,<br />

2009).<br />

Segundo o censo do Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística - IBGE, realizado em<br />

2010, foram i<strong>de</strong>ntificados no Brasil, 6.329 aglomerados subnormais. Essa pesquisa foi realizada<br />

ape<strong>nas</strong> em 323 municípios dos 5.565 existentes. Nessas áreas moram mais <strong>de</strong> 11 milhões <strong>de</strong><br />

pessoas, ou seja, o equivalente a 6% da população, sendo que a maioria resi<strong>de</strong> na região Su<strong>de</strong>ste e a<br />

minoria na Centro-Oeste. De acordo com o mesmo instituto as <strong>de</strong>z maiores favelas do nosso país<br />

estão distribuídas em sete estados (Amazo<strong>nas</strong>, Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco, Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />

São Paulo) e no Distrito Fe<strong>de</strong>ral. A maior favela brasileira é a Rocinha (Rio Janeiro/RJ) que tem um<br />

total <strong>de</strong> 69.161 mil habitantes. Sua população não é formada ape<strong>nas</strong> por fluminenses mais também<br />

por pessoas <strong>de</strong> outros estados.<br />

Muitos paraibanos vivem em aglomerados subnormais, seja no nosso estado ou em outros<br />

como o Rio <strong>de</strong> Janeiro e São Paulo. Para o Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística (IBGE,<br />

2010), a Paraíba está localizada na região nor<strong>de</strong>ste, que é a segunda região com o maior número <strong>de</strong><br />

edifícios particulares <strong>nas</strong> periferias urba<strong>nas</strong>. Essas áreas no nosso estado apresentam, em relação<br />

aos domicílios: uma média <strong>de</strong> 3,6 pessoas por residência; 95,2% da coleta do lixo é a<strong>de</strong>quada;<br />

63,3% dos esgotos sanitários são apropriados; 98,5% tem abastecimento <strong>de</strong> água; e 84,6%<br />

apresenta energia elétrica a<strong>de</strong>quada. Para o mesmo instituto, o percentual <strong>de</strong> esgotos apropriados<br />

no centro das cida<strong>de</strong>s paraiba<strong>nas</strong> é <strong>de</strong> 63,3% o que correspon<strong>de</strong> a 7,6% a mais que <strong>nas</strong> periferias<br />

pobres.<br />

Nas cida<strong>de</strong>s peque<strong>nas</strong>, a tendência é <strong>de</strong> melhora da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, com o atendimento da<br />

população em infraestrutura urbana: luz, água, esgoto e asfalto (SPÓSITO, 2010, p.79). Porématé<br />

mesmo <strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s peque<strong>nas</strong>, que é bem mais fácil <strong>de</strong> resolver os problemas relacionados à<br />

infraestrutura, as áreas mais afastadas do centro apresentam vários problemas na infraestrutura.<br />

Po<strong>de</strong>mos observar isto <strong>nas</strong> Ruas do Sol, e Chã do Cajá localizadas no município <strong>de</strong> Alagoinha/PB.<br />

Em ambas as ruas as crianças brincam em meio ao esgoto a céu aberto. Na Chã do Cajá não tem<br />

calçamento e muitas <strong>de</strong> suas casas são peque<strong>nas</strong> e <strong>de</strong> taipa. De acordo com o IBGE (2000), a<br />

incidência <strong>de</strong> pobreza do município <strong>de</strong> Alagoinha é <strong>de</strong> 61,18%.<br />

Para o Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística (IBGE, 2010), os aglomerados<br />

subnormais são áreas constituídas <strong>de</strong>, no mínimo, 51 unida<strong>de</strong>s habitacionais carentes. As Ruas do<br />

Sol e Chã do Cajá são aglomerados subnormais, pois a primeira tem 139 residências e a segunda<br />

tem 103 residências. Ambas as ruas em pleno século XXI ainda apresentam casas <strong>de</strong> taipa. De<br />

366


acordo com Ferreira (2001), essas casas têm suas pare<strong>de</strong>s feitas <strong>de</strong> barro com estacas e ripas. As<br />

duas ruas possuem em média 242 casas sendo que 27 <strong>de</strong>las são <strong>de</strong> taipa e 215 <strong>de</strong> alvenaria, ou seja,<br />

11,1% <strong>de</strong>ssas casas são <strong>de</strong> taipa e 88,8% são <strong>de</strong> alvenaria. Na figura 2 observa-se algumas das 27<br />

casas <strong>de</strong> taipa existentes na área estudada.<br />

Figura 2: Casas <strong>de</strong> taipa na Rua Chã do Cajá.<br />

Fonte: Fotografia realizada pela autora em 26 <strong>de</strong><br />

setembro <strong>de</strong> 2012.<br />

De acordo com Carlos (2009), por volta <strong>de</strong> 9000 a.C. o homem torna-se mais se<strong>de</strong>ntário<br />

com isso troca as barracas por casas <strong>de</strong> barro. Como po<strong>de</strong>mos ver as casas <strong>de</strong> taipa é um modo <strong>de</strong><br />

construção bem antigo. Esse tipo <strong>de</strong> moradia existe <strong>nas</strong> ruas do Sol e Chã do Cajá não pelo fato <strong>de</strong><br />

serem monumentos históricos e sim por serem mais baratas do que as residências <strong>de</strong> alvenaria. A<br />

partir <strong>de</strong> um olhar capitalista as casas <strong>de</strong> taipas existentes nessas ruas retratam a pobreza da<br />

população que ali resi<strong>de</strong>. Na área estudada as residências <strong>de</strong> taipa custam em média 3.000 reais já as<br />

<strong>de</strong> alvenaria variam entre 10.000 e 15.200 reais já no centro da nossa cida<strong>de</strong> uma residência <strong>de</strong><br />

alvenaria custa entre 70.000 a 100.000 reais. São alguns fatores que <strong>de</strong>terminam a formação do<br />

preço <strong>de</strong> uma residência ou terreno:<br />

[...] vinculam-se principalmente á inserção <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada parcela no espaço<br />

urbano global, tendo como ponto <strong>de</strong> partida a localização do terreno (por exemplo,<br />

no bairro), acesso aos lugares ditos privilegiados (escolas, shopping, centros <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong> serviços, lazer, áreas ver<strong>de</strong>s, etc.), à infraestrutura (água, luz, esgoto,<br />

asfalto, telefone, vias <strong>de</strong> circulação, transporte), á privacida<strong>de</strong>; e, secundariamente,<br />

os fatores vinculados ao relevo que se refletem <strong>nas</strong> possibilida<strong>de</strong>s e custos da<br />

construção. Finalmente, um fato importante: o processo <strong>de</strong> valorização espacial<br />

(CARLOS, 2009, p.48).<br />

367


Morar <strong>nas</strong> periferias pobres é a única opção que a maioria das pessoas <strong>de</strong> baixa renda<br />

encontram pra ter um lugar para morar <strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s, pois <strong>nas</strong> outras áreas das cida<strong>de</strong>s os terrenos, as<br />

casas e os aluguéis não são acessíveis a essa parte da população. Muitas vezes vivem mais <strong>de</strong> uma<br />

família em uma mesma residência pequena e em péssimo estado <strong>de</strong> conservação. Estima-se que o<br />

déficit <strong>de</strong> moradias no Brasil seja <strong>de</strong> <strong>de</strong>z milhões <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s o que correspon<strong>de</strong> a 10% do déficit<br />

mundial (RODRIGUES, 2003, sp). Na Rua do Sol em uma <strong>de</strong>terminada casa vivem 16 pessoas, isso<br />

foge do padrão <strong>de</strong> pessoas por residência que julgamos ser o normal. Esse número é o máximo,já o<br />

mínimo é dois indivíduos por casa.<br />

De acordo com George (1983), as construções das periferias são feitas com materiais<br />

obtidos, ao acaso. Se essas casas fossem construídas no campo não apresentaria os aspectos tristes e<br />

os riscos <strong>de</strong> insalubrida<strong>de</strong> existentes nos aglomerados subnormais. Essas áreas têm um amontoado<br />

<strong>de</strong> moradias rudimentares em que varias pessoas vivem num mesmo cômodo, a promiscuida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

milhares <strong>de</strong> pessoas, que vivem no meio das nuvens <strong>de</strong> pernilongos e moscas, dos maus cheiros <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>pósitos <strong>de</strong> lixo.<br />

Conforme Themelis e Ulloa (2007), a produção mundial dos resíduos sólidos urbanos<br />

chegou a um valor aproximado <strong>de</strong> 1,8 bilhões <strong>de</strong> toneladas produzidas por ano. As cida<strong>de</strong>s são<br />

locais on<strong>de</strong> ocorre uma gran<strong>de</strong> concentração <strong>de</strong> pessoas e <strong>de</strong>vido a isso produzem uma quantida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> lixo superior ao campo on<strong>de</strong> vive poucas pessoas. Todos os produtos que são comprados no<br />

supermercado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os materiais <strong>de</strong> limpeza aos produtos alimentícios todos têm uma embalagem<br />

<strong>de</strong>scartável que é jogada no lixo. O ser humano em todos os dias <strong>de</strong> sua vida produz resíduos<br />

sólidos muitos <strong>de</strong>sses resíduos duram mais do que o próprio homem.<br />

O Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística (IBGE, 2010), mostra que a Unida<strong>de</strong><br />

Fe<strong>de</strong>rativa brasileira com melhor percentual <strong>de</strong> domicílios em aglomerados subnormais com coleta<br />

<strong>de</strong> lixo a<strong>de</strong>quada é o Paraná com 99,0%, já o pior percentual é o <strong>de</strong> Roraima que é 31,5%. De<br />

acordo com o mesmo instituto 95,2% da coleta do lixo dos aglomerados subnormais da Paraíba é<br />

a<strong>de</strong>quada. Isso é muito bom para as pessoas do nosso estado que vive <strong>nas</strong> periferias, pois o lixo<br />

causa vários problemas à saú<strong>de</strong> da população e danos ao meio ambiente. Segundo Rocha et al in:<br />

Silva e Zaidan (2011), a <strong>de</strong>composição do lixo produz o chorume, que é um líquido <strong>de</strong> cor escura,<br />

odor <strong>de</strong>sagradável e tem um gran<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> poluição do solo e das águas subterrâneas.<br />

Nas Ruas do Sol e Chã do Cajá (Alagoinha/PB), ocorre a coleta do lixo três vezes por<br />

semana. Mesmo com a coleta, as pessoas por não ter consciência dos problemas que o lixo po<strong>de</strong><br />

causar a elas e ao meio ambiente, o jogam em locais impróprios como próximos <strong>de</strong> suas casas. Com<br />

isso são atraídos para as residências insetos transmissores <strong>de</strong> doenças como os ratos (que transmite<br />

a leptospirose) e os mosquitos Ae<strong>de</strong>sAegypti (que transmite à <strong>de</strong>ngue). Após coletar o lixo a<br />

prefeitura o queima em uma área que fica afastada da cida<strong>de</strong>, isso evita alguns problemas para<br />

socieda<strong>de</strong> como as doenças transmitidas por insetos, mas não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> prejudicar o pobre do meio<br />

368


ambiente, com os gases poluentes lançado na atmosfera.<br />

O Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística (IBGE, 2010), mostra que Mi<strong>nas</strong> Gerais<br />

com 87,2% é a Unida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>rativa com melhor percentual <strong>de</strong> domicílios em aglomerados<br />

subnormais com esgotamento sanitário a<strong>de</strong>quado, já o estado com pior percentagem é o Tocantins<br />

com 0,9%. De acordo com o mesmo instituto a Paraíba tem um percentual on<strong>de</strong> mais da meta<strong>de</strong> dos<br />

esgotamentos sanitário das periferias são a<strong>de</strong>quados, ou seja, 63,3%. Os esgotos das Ruas do Sol e<br />

Chã do Cajá (Alagoinha/PB) não se enquadram nesse percentual positivo, pois seus esgotos são a<br />

céu aberto, por isso encaixam-se nos 36,7% dos esgotos não a<strong>de</strong>quados.<br />

Nas Ruas do Sol e Chã do Cajá o esgoto a céu aberto causa vários problemas ao meio<br />

ambiente como a poluição do solo. Já os moradores além <strong>de</strong> sofrer com o odor insuportável <strong>de</strong>sses<br />

esgotos, o contato direto que é algo inevitável, principalmente das crianças causa doenças como as<br />

relacionadas à verminose. As crianças por não terem um lugar a<strong>de</strong>quado para brincar, como em<br />

uma praça, se divertem em meio à sujeira e o mau cheiro dos esgotos. Na figura 3 po<strong>de</strong> ser<br />

visualizado o esgoto a céu aberto da área estudada que escorre próximo das residências.<br />

Figura 3: Esgoto a céu aberto na Rua do Sol.<br />

Fonte: Fotografia realizada pela autora em 26 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong><br />

2012.<br />

A Rua Chã do Cajá além <strong>de</strong> apresentar esgotos a céu aberto, ela também não tem<br />

calçamento. Com isso ocorrem alguns problemas que atinge as pessoas resi<strong>de</strong>ntes e não resi<strong>de</strong>ntes,<br />

tanto no inverno como no verão. No período das chuvas a rua fica repleta <strong>de</strong> lama e <strong>de</strong> buracos que<br />

dificulta a locomoção dos moradores e das pessoas da Zona Rural e <strong>de</strong> outros municípios (Mulungu<br />

e Gurinhém) que passam por esta rua com <strong>de</strong>stino a nossa cida<strong>de</strong> (Alagoinha/PB) ou a outras<br />

cida<strong>de</strong>s como Cuitegi, Alagoa Gran<strong>de</strong> e Guarabira. Já no período do verão os moradores sofrem<br />

369


com a poeira. Na figura 3 po<strong>de</strong> observar-se a ausência <strong>de</strong> calçamento na Rua Chã do Cajá.<br />

Consi<strong>de</strong>rações finais<br />

Figura 4: ausência <strong>de</strong> calçamento na Rua Chã do Cajá<br />

Fonte: Fotografia realizada pela autora em 26 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2012.<br />

Em todas as cida<strong>de</strong>s do nosso país po<strong>de</strong>mos encontrar periferias pobres em Alagoinha não<br />

po<strong>de</strong>ria ser diferente. Por ser uma cida<strong>de</strong> pequena existem poucas áreas periféricas. As Ruas do Sol<br />

e Chã do Cajá fazem parte das áreas menos favorecidas em relação à infraestrutura da nossa cida<strong>de</strong>.<br />

A população <strong>de</strong> ambas as ruas sofrem com os problemas causados pelo esgoto a céu aberto, pela<br />

falta <strong>de</strong> calçamento entre outros problemas.<br />

Os moradores das periferias pobres <strong>de</strong> certa forma são obrigados a viver nestas áreas, pois a<br />

sua condição financeira não lhes permitem morar em uma periferia bem estruturada ou nos centros<br />

urbanos, isso é, nos que ainda são locais bons para morar. De acordo com Carlos (2009), atualmente<br />

as áreas centrais das cida<strong>de</strong>s peque<strong>nas</strong> não apresentam tantos aspectos negativos como <strong>nas</strong><br />

metrópoles on<strong>de</strong> nesses locais afloram aspectos negativos como a poluição e o barulho.<br />

O centro <strong>de</strong> Alagoinha/PB assim como o da maioria das cida<strong>de</strong>s peque<strong>nas</strong>, é ocupado pelo<br />

comércio e por residências. Diferente das cida<strong>de</strong>s metropolita<strong>nas</strong> como São Paulo, o seu centro<br />

ainda é um bom lugar para morar. Atualmente o seu centro oferece uma condição <strong>de</strong> vida melhor<br />

para seus moradores, diferente das suas periferias pobres como a Ruas do Sol e Chã do Cajá que<br />

apresentam vários aspectos negativos em relação à infraestrutura.<br />

O homem vive on<strong>de</strong> ele po<strong>de</strong> morar e isso será <strong>de</strong>terminado por sua renda e pelos sacrifícios<br />

que po<strong>de</strong>m fazer (CARLOS, 2009, p.79). Geralmente as pessoas que resi<strong>de</strong>m <strong>nas</strong> periferias não têm<br />

empregos que são bem remunerados, um exemplo disso são os moradores das Ruas do Sol e Chã do<br />

Cajá on<strong>de</strong> a maioria trabalha no campo principalmente no corte da cana-<strong>de</strong>-açúcar e em roçados. Os<br />

370


moradores das periferias quando melhoram sua condição financeira geralmente buscam migrar para<br />

outra área da cida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> haja saneamento básico e as casas sejam bem mais confortáveis do que a<br />

das periferias.<br />

O modo <strong>de</strong> produção capitalista em todas as cida<strong>de</strong>s brasileiras <strong>de</strong>termina on<strong>de</strong> uma pessoa<br />

po<strong>de</strong> morar ou não <strong>de</strong>ntro do espaço urbano, com isso o pobre trabalhador é obrigado a morar em<br />

locais on<strong>de</strong> a infraestrutura é precária, já a elite é privilegiada, pois po<strong>de</strong>m residir em locais que<br />

oferecem uma boa condição <strong>de</strong> vida. Não há como pensar em uma cida<strong>de</strong> igualitária para todos a<br />

partir do modo <strong>de</strong> produção capitalista, os problemas apresentados nesta pesquisa são problemas <strong>de</strong><br />

várias outras cida<strong>de</strong>s do nosso país. Para que sejam minimizados os problemas citados no presente<br />

trabalho é necessário que haja uma intervenção política e para que isso ocorra à população tem que<br />

reivindicar por melhores condições <strong>de</strong> vida na periferia urbana.<br />

Referências Bibliográficas<br />

CARLOS, Ana Fani A. A cida<strong>de</strong>. 8ª edição. São Paulo: Contexto, 2009. 98p.<br />

FERREIRA, Aurélio Buarque <strong>de</strong> Holanda. Miniaurélio Século XXI Escolar: O minidicionário da<br />

língua portuguesa. 4ª edição. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 2001. 790p.<br />

GEORGE, Pierre. Geografia Urbana. São Paulo: Difel, 1983. 236p.<br />

LOCATEL, Celso Donizete. O urbano e o rural no nor<strong>de</strong>ste paulista. IN: PERINELLI NETO,<br />

Humberto; NARDOQUE, Se<strong>de</strong>val; MOREIRA, Vagner José (Orgs.). Nas margens da boia<strong>de</strong>ira:<br />

territorialida<strong>de</strong>s, espacialida<strong>de</strong>s, técnicas e produção no noroeste paulista. 1ª edição. São Paulo:<br />

Expressão Popular, 2010. P. 117-140.<br />

Instituto Brasileiro Geografia e Estatística (IBGE), Censo Demográfico 2000 e Pesquisa <strong>de</strong><br />

Orçamentos Familiares – POF 2002/2003.<br />

______. (IBGE), Censo Demográfico 2010.<br />

MONTE-MÓR, Roberto Luís <strong>de</strong> Melo. O que é urbano, no mundo contemporâneo. Belo Horizonte:<br />

UFMG/Ce<strong>de</strong>plar, 2006. p. 3-14<br />

RITTER, Carlos; FIRKOWSKI, Olga Lúcia C. <strong>de</strong> F. Novo conceitual para as periferias urba<strong>nas</strong>.<br />

Revista Geografar. Curitiba: 2009<br />

371


ROCHA, Cézar Henrique Barra; FILHO, Fernan<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Brito; SILVA, Jorge Xavier da.<br />

Geoprocessamento aplicado à seleção <strong>de</strong> locais para a implantação <strong>de</strong> aterros sanitários: o caso<br />

<strong>de</strong> Mangaratiba-RJ. IN: SILVA, Jorge Xavier da; ZAIDAN, Ricardo Tavares<br />

(Orgs.).Geoprocessamento & análise ambiental. 5ª edição. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Bertrand Brasil, 2011. p.<br />

259-298.<br />

RODRIGUES, Arlete Moysés. Moradia <strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s brasileiras. 10ª edição. São Paulo: Contexto,<br />

2003.72p.<br />

SPÓSITO, Eliseu Savério. A vida <strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s. 5ª edição. São Paulo: Contexto, 2010. 85p.<br />

THEMELIS, N. J.; ULLOA, P. A. Methane generation in landfill. Renewable Energy 32, 2007.<br />

1243-1257 p.<br />

Site Consultado: http://www.cida<strong>de</strong>s.com.br/cida<strong>de</strong>/alagoinha/002324.html<br />

372


CUIDADO AMBIENTAL: COMO O REPRESENTAM OS QUE DIZEM QUE O PRATICAM?<br />

Resumo<br />

Raul Bezerra DAMASCENO (UFRN) – raulbdamasceno@gmail.com<br />

Rafael Fernan<strong>de</strong>s BEZERRA (UFPE) – rafaelpsic@yahoo.com<br />

José Q. PINHEIRO (UFRN) – pinheiro@cchla.ufrn.br<br />

A palavra cuidado é amplamente utilizada no senso comum referindo-se ao zelo que é preciso ter<br />

por algo ou alguém. Ela também po<strong>de</strong> ser utilizada para falar do cuidado com o ambiente por meio<br />

do termo cuidado ambiental, empregado quando se faz referência às relações humano-ambientais.<br />

Porém, ele é utilizado na literatura <strong>de</strong> várias áreas do conhecimento <strong>de</strong> tal maneira que sua<br />

aceitação e entendimento não pe<strong>de</strong>m por <strong>de</strong>finições específicas do mesmo. Também, não se sabe<br />

ainda o tipo <strong>de</strong> representação que as pessoas têm do cuidado ambiental. Para verificar tal<br />

representação, foi realizado o levantamento e análise dos dados <strong>de</strong> estudos que fizeram uso <strong>de</strong> uma<br />

questão dicotômica <strong>de</strong> auto-relato sobre as práticas <strong>de</strong> cuidado ambiental <strong>de</strong> seus participantes<br />

(Link, 2006; Pessoa, 2008; Gurgel, 2009; Diniz, 2010). As respostas foram categorizadas com base<br />

<strong>nas</strong> tipologias <strong>de</strong> práticas <strong>de</strong> comportamento pró-ambiental propostas por Corral-Verdugo (2001;<br />

2010) e alocadas <strong>nas</strong> macrocategorias propostas por Diniz (2010). Com base na média da<br />

frequência <strong>de</strong> respostas dos estudos, notou-se que o cuidado com o lixo é a ação mais praticada<br />

(43%) pelos participantes, seguido <strong>de</strong> conscientização (22%), consumo (18%), preservação (8%) e<br />

formação (7%). O manejo do lixo po<strong>de</strong> ter sido representado como principal ação <strong>de</strong> cuidado<br />

<strong>de</strong>vido à quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> informações disponibilizadas sobre o assunto, bem como à <strong>de</strong>sejabilida<strong>de</strong><br />

social envolvida. Utilizar o termo cuidado ambiental facilita o acesso do pesquisador ao conteúdo<br />

subjetivo dos participantes.<br />

Palavras-chave: Cuidado ambiental; cuidadores; comportamento pró-ecológico; lixo.<br />

Abstract<br />

The word care is largely used in common sense referring to the zeal it takes for something or<br />

someone. It can also be used to talk about the care with the environment through the term<br />

environmental care, employed when referring to human-environmental relations. However, it is<br />

used in the literature of various areas of knowledge, such that its acceptance and un<strong>de</strong>rstanding do<br />

not ask for specific <strong>de</strong>finitions. It is not known either the kind of representation people have of<br />

environmental care. Aiming to verify that representation, we conducted a survey and analysis of<br />

373


studies (Link, 2006; Pessoa, 2008; Gurgel, 2009; Diniz, 2010) that have used a dichotomic self-<br />

report question about the practice of environmental care of its participants. The responses were<br />

categorized according to the typology of pro-environmental behavior practices proposed by Corral-<br />

Verdugo (2001, 2010) and allocated in major categories proposed by Diniz (2010). Based on the<br />

mean of the frequency of answers in the studies, we noted that garbage handling is the most<br />

practiced action (43%) by participants, followed by awareness (22%), consumption (18%),<br />

preservation (8%) and education (7%). Garbage handling may have been represented as the main<br />

action of care due to the amount of information available on the subject, as well as social<br />

<strong>de</strong>sirability influence. Using the term environmental care facilitates the researcher access to<br />

participants' subjective content.<br />

Keywords: environmental care, caregivers, pro-ecological behavior, garbage<br />

Introdução<br />

A palavra ―cuidado‖ – cotidianamente empregada no senso comum – apresenta algumas<br />

acepções mais comuns: zelo, interesse, <strong>de</strong>dicação a algo ou alguém; incumbência, responsabilida<strong>de</strong>,<br />

ou ainda cautela, precaução. É utilizada no âmbito das relações interpessoais, ao <strong>de</strong>screver, por<br />

exemplo, o tratamento que a mãe <strong>de</strong>dica ao seu filho, ou que a enfermeira <strong>de</strong>dica ao enfermo. De<br />

fato, profissionais da saú<strong>de</strong> fazem amplo uso do termo, especialmente quando o intuito é transmitir<br />

informações à população, como ao falar sobre higiene pessoal, alimentação e outras medidas<br />

preventivas.<br />

Entretanto, a noção <strong>de</strong> cuidado não se limita à área da saú<strong>de</strong> e tampouco à esfera<br />

exclusivamente humana, estando também voltada para relações entre seres vivos e o ambiente.<br />

Importantes documentos relativos à <strong>de</strong>fesa e preservação ambiental trazem implícita a noção <strong>de</strong><br />

cuidado, como o Artigo 225 da Constituição Fe<strong>de</strong>ral Brasileira, que trata da responsabilida<strong>de</strong>, por<br />

parte do Po<strong>de</strong>r Público e da coletivida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> manter o meio ambiente ecologicamente equilibrado.<br />

Os termos ―cuidar‖ e ―cuidado‖ aparecem em redações <strong>de</strong> documentos, como, por exemplo,<br />

a Carta da Terra (2000). Esta <strong>de</strong>claração universal, traduzida para 40 línguas, subscrita por 4.600<br />

organizações e que representa os interesses <strong>de</strong> cente<strong>nas</strong> <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> pessoas, traz como primeiro<br />

princípio: ―Respeitar e cuidar da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida‖.<br />

O ―cuidado ambiental‖ é abordado em diferentes áreas relacionadas com o meio ambiente,<br />

como a educação ambiental e a ecologia, em alusão a práticas que favorecem a conservação do<br />

meio ambiente e a sustentabilida<strong>de</strong>. São exemplos <strong>de</strong>stas práticas o manejo <strong>de</strong> resíduos (controle do<br />

lixo), o consumo consciente, a diminuição do consumo <strong>de</strong> água e energia elétrica, o plantio <strong>de</strong><br />

374


mudas, entre outras. Seu entendimento ocorre, por vezes, <strong>de</strong> maneira tão intuitiva que os textos<br />

sobre o assunto não costumam apresentar explicações conceituais acerca do termo.<br />

Consi<strong>de</strong>rando as dificulda<strong>de</strong>s conceituais e práticas dos estudos sobre compromisso pró-<br />

ecológico, especialmente quando à luz da noção da sustentabilida<strong>de</strong>, convém contornar possíveis<br />

vieses metodológicos, adotando uma postura multimetodológica, menos restritiva (Günther, Elali, &<br />

Pinheiro, 2008). É importante dar voz e iniciativa ao respon<strong>de</strong>nte, utilizando abordagens<br />

apropriadas, como entrevista ou questões abertas, e coerentes com uma pesquisa <strong>de</strong> tipo<br />

exploratória. Neste tipo <strong>de</strong> pesquisa, em que pouco se sabe (ou se assume) a priori sobre o<br />

fenômeno em estudo, abre-se espaço para que o respon<strong>de</strong>nte nos informe a respeito <strong>de</strong>le (a exemplo<br />

<strong>de</strong> Chawla, 1999).<br />

Embora facilmente compreendida e comumente utilizada, a noção <strong>de</strong> cuidado ambiental não<br />

figura com tanta frequência no âmbito da pesquisa científica em ciências sociais e huma<strong>nas</strong>. Tendo<br />

em vista o potencial facilitador <strong>de</strong>ste termo para a comunicação interdisciplinar, faz-se necessário<br />

rever este posicionamento, a fim <strong>de</strong> diminuir lacu<strong>nas</strong> existentes entre o conhecimento técnico e o<br />

senso comum.<br />

Em estudos anteriores do Grupo <strong>de</strong> Estudos Inter-Ações Pessoa-Ambiente (GEPA),<br />

constatou-se que as pessoas que se alegam praticantes <strong>de</strong> cuidado com o meio ambiente são também<br />

as que apresentaram os mais elevados escores em escalas que ―me<strong>de</strong>m‖ o compromisso pró-<br />

ecológico (Pinheiro & Pinheiro, 2007). As justificativas (para a prática do cuidado) apresentadas<br />

pelos respon<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>ssas pesquisas, no entanto, foram pouco exploradas.<br />

Objetivos<br />

O objetivo principal <strong>de</strong>ste estudo foi verificar como o cuidado com o meio ambiente está<br />

sendo representado por participantes <strong>de</strong> realida<strong>de</strong>s distintas, bem como observar possíveis<br />

influências contextuais em tais representações. Também buscamos analisar as categorias <strong>de</strong> cuidado<br />

ambiental que foram utilizadas <strong>nas</strong> pesquisas do nosso grupo <strong>de</strong> estudos, nos últimos anos. Além<br />

disso, procurou-se estabelecer possíveis questionamentos acerca das diferenças entre os grupos <strong>de</strong><br />

pessoas consi<strong>de</strong>radas cuidadoras e o das consi<strong>de</strong>radas não cuidadoras.<br />

Metodologia<br />

O material utilizado para esta pesquisa foi levantado a partir das dissertações <strong>de</strong> mestrado e<br />

teses <strong>de</strong> doutorado <strong>de</strong> membros do Grupo <strong>de</strong> Estudos inter-Ações Pessoa-Ambiente (GEPA) da<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte (UFRN). As autoras dos trabalhos analisados<br />

perguntaram aos respectivos participantes sobre suas práticas <strong>de</strong> cuidado ambiental por via <strong>de</strong> uma<br />

375


questão dicotômica (se as praticavam ou não), solicitando também livre <strong>de</strong>scrição das mesmas, em<br />

caso <strong>de</strong> resposta afirmativa. Em todos os estudos, as respostas relacionadas ao cuidado ambiental<br />

permitiram a divisão entre cuidadores e não-cuidadores. Foi feita a leitura integral <strong>de</strong> todos os<br />

trabalhos, e estes fichados para uma melhor análise do conteúdo, focando as partes em que o<br />

cuidado foi tratado <strong>de</strong> maneira específica.<br />

A análise realizada foi <strong>de</strong> cunho quantitativo-qualitativo; os dados coletados em cada um<br />

dos estudos foram dispostos em uma tabela para melhor visualização. A partir <strong>de</strong>sta organização,<br />

foi possível uni-los em macro categorias, conforme o realizado por Diniz (2010). A análise se<br />

baseou <strong>nas</strong> tipologias <strong>de</strong> comportamento pró-ecológico propostas por Corral-Verdugo (2001; 2010)<br />

acrescidas <strong>de</strong> outras práticas <strong>de</strong> cuidado ambiental, que não constavam na tipologia original.<br />

Algumas das tipologias também foram modificadas, <strong>de</strong> acordo com as conclusões dos estudos<br />

analisados, em que <strong>de</strong>terminadas práticas <strong>de</strong> cuidado foram associadas ao seu contexto <strong>de</strong><br />

realização (Link, 2006; Gurgel, 2009). Assim, foi possível estabelecer médias gerais <strong>de</strong> acordo com<br />

as frequências dos tipos <strong>de</strong> cuidado ambiental pontuados pelos participantes nos estudos analisados.<br />

Resultados<br />

Em estudo sobre a eficácia <strong>de</strong> um programa <strong>de</strong> educação ambiental implantado por pousadas<br />

do Arquipélago <strong>de</strong> Fernando <strong>de</strong> Noronha (PE), tendo como público alvo os funcionários <strong>de</strong>stas,<br />

Link (2006) investigou a percepção dos participantes acerca dos recursos naturais da ilha em que<br />

trabalhavam. A autora constatou que o programa <strong>de</strong> capacitação esteve bastante associado ao modo<br />

como os sujeitos percebiam seu ambiente <strong>de</strong> trabalho, bem como às suas ações <strong>de</strong> cuidado<br />

ambiental.<br />

As categorias <strong>de</strong> cuidado ambiental obtidas a partir dos relatos feitos pelos participantes no<br />

estudo <strong>de</strong> Link (2006) contemplaram práticas relativas ao tratamento do lixo, sistema <strong>de</strong> gestão<br />

ambiental, economia <strong>de</strong> água, economia <strong>de</strong> energia elétrica, reciclagem e educação ambiental. Estas<br />

foram <strong>de</strong>finidas a partir da tipologia <strong>de</strong> comportamento pró-ecológico estabelecida por Corral-<br />

Verdugo (2001; 2010). A autora i<strong>de</strong>ntificou, também, perfis <strong>de</strong> cuidadores e não cuidadores do<br />

meio ambiente. Dos 58 participantes, 41 (70%) afirmou praticar cuidado ambiental e, <strong>de</strong>stes<br />

cuidadores, 33 <strong>de</strong>screveram o tipo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s que <strong>de</strong>sempenhavam, concentrando suas respostas<br />

na categoria controle do lixo. Isto comprova a importância do tema (lixo), o que talvez se <strong>de</strong>va à<br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> informações disponibilizadas no local.<br />

O estudo realizado por Pessoa (2008) teve como objetivo compreen<strong>de</strong>r como 191 estudantes<br />

universitários representavam o termo ―energia do vento‖ a partir da técnica <strong>de</strong> auto-relato conhecida<br />

como Re<strong>de</strong>s Semânticas Naturais (RSN). Esta estratégia favoreceu o acesso empírico à organização<br />

376


cognitiva do conhecimento sobre a referida temática. Com a RSN foi possível explorar, por via da<br />

linguagem escrita, informações organizadas sobre termos que, por sua vez, resultavam em<br />

conhecimentos que alimentam opiniões, motivos, atitu<strong>de</strong>s e comportamentos (Pessoa & Pinheiro,<br />

2010). O estudo também contemplou a questão sobre o auto-relato <strong>de</strong> práticas <strong>de</strong> cuidado<br />

ambiental.<br />

No estudo <strong>de</strong> Pessoa, o grupo <strong>de</strong> cuidadores foi formado por 129 pessoas, 67% do total <strong>de</strong><br />

participantes. Suas respostas estiveram mais frequentemente concentradas <strong>nas</strong> categorias Coleta<br />

Seletiva e Cuidados Gerais Com o Lixo, agrupadas em Controle do Lixo, tal como em outros<br />

estudos (Link, 2006; Gurgel, 2009; Diniz, 2010), correspon<strong>de</strong>ndo a 76% das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cuidado<br />

ambiental relatadas pelo grupo. As <strong>de</strong>mais se referiam ao consumo consciente, educação ou<br />

conscientização ambiental e preservação <strong>de</strong> ecossistemas.<br />

Quanto à associação entre cuidado ambiental e RSN sobre energia eólica, o grupo <strong>de</strong><br />

cuidadores associou o termo ―energia do vento‖ às palavras: limpa, importante, força, economia,<br />

natureza, vento, meio ambiente, alternativa, renovável e cata-vento. Já o grupo <strong>de</strong> não-cuidadores<br />

associou o termo às palavras: importante, vento, economia, força, limpa, renovável, natureza,<br />

eólica, cata-vento e alternativa. Embora tenha sido evi<strong>de</strong>nte a emergência <strong>de</strong> palavras semelhantes<br />

em ambos os grupos, a frequência <strong>de</strong> evocação das palavras difere em função dos grupos. A autora<br />

observou a presença da palavra ―meio-ambiente‖ ape<strong>nas</strong> para os cuidadores, diferentemente dos<br />

não-cuidadores, que não fizeram esta associação e incluíram a palavra ―eólica‖, que representa uma<br />

redundância para o termo ―energia do vento‖. Tal indício sugere que cuidadores possuem um<br />

diferencial em sua cognição no que diz respeito à representação do meio ambiente se comparados a<br />

pessoas que não cuidam do meio ambiente.<br />

Em outro estudo, Gurgel (2009) observou a participação <strong>de</strong> moradores no programa <strong>de</strong><br />

coleta seletiva <strong>de</strong> resíduos em três bairros resi<strong>de</strong>nciais na cida<strong>de</strong> do Natal/RN e analisou a<br />

associação entre essa participação e o compromisso pró-ecológico. A autora empregou estratégias<br />

como observação, aplicação <strong>de</strong> questionários e entrevistas com catadores (que avaliaram a<br />

participação dos moradores) e alguns moradores. Embora o programa <strong>de</strong> coleta seletiva <strong>de</strong> resíduos<br />

na cida<strong>de</strong> do Natal tenha caráter primariamente social e econômico, com o objetivo <strong>de</strong> gerar renda<br />

para os catadores que integram o programa, a autora constatou que os moradores perceberam<br />

também o benefício ambiental que o mesmo proporciona, no que diz respeito ao cuidado com o<br />

meio ambiente, participando do programa e reconhecendo sua importância.<br />

Quanto à associação entre prática <strong>de</strong> cuidado ambiental e participação no programa <strong>de</strong> coleta<br />

seletiva, Gurgel (2009) observou que, dos 68 entrevistados, 28 (40%) participavam do programa e<br />

relataram práticas <strong>de</strong> cuidado ambiental. Outros 33 que participavam do programa, porém, não<br />

377


praticavam o cuidado ambiental. Quando indagados sobre o tipo <strong>de</strong> cuidado que <strong>de</strong>sempenhavam, a<br />

categoria relativa ao Controle do Lixo foi predominante, o que reflete a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> outros estudos,<br />

com populações diferentes (Link, 2006; Pinheiro & Pinheiro, 2007). De todos os estudos, ape<strong>nas</strong><br />

um dos respon<strong>de</strong>ntes citou a compostagem, como forma <strong>de</strong> tratar o lixo produzido.<br />

Por sua vez, Diniz (2010) investigou a noção <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> a partir da associação entre<br />

o compromisso pró-ecológico, as visões ecológicas <strong>de</strong> mundo e a perspectiva temporal <strong>de</strong> futuro.<br />

380 estudantes universitários dos cursos <strong>de</strong> biologia, ecologia, enfermagem, geografia e serviço<br />

social avaliaram o grau <strong>de</strong> influências recebidas por parte <strong>de</strong> diferentes experiências e contextos <strong>de</strong><br />

vida para a prática <strong>de</strong> cuidado ambiental. A autora observou que cuidadores apresentaram maior<br />

grau <strong>de</strong> influência recebida pela re<strong>de</strong> social e pelo contato direto com a natureza do que os não<br />

cuidadores.<br />

Sobre o relato das práticas <strong>de</strong> cuidado ambiental, 294 participantes (78%) afirmaram praticar<br />

o cuidado ambiental; as práticas <strong>de</strong>scritas pelos respon<strong>de</strong>ntes foram classificadas <strong>de</strong> acordo com as<br />

categorias <strong>de</strong> comportamento pró-ecológico propostas por Corral-Verdugo (2001; 2010). Os tipos<br />

<strong>de</strong> cuidado ambiental foram agrupados <strong>nas</strong> macrocategorias Manejo <strong>de</strong> Resíduos, Conscientização,<br />

Consumo, Preservação e Formação. Tal como em estudos já citados (Link, 2006; Pessoa, 2008;<br />

Gurgel, 2009), as respostas mais frequentes fizeram parte da categoria referente ao tratamento do<br />

lixo. O grupo <strong>de</strong> cuidadores e não cuidadores também se diferenciou quanto às relações entre suas<br />

práticas <strong>de</strong> cuidado ambiental e os <strong>de</strong>mais indicadores utilizados no estudo. Os cuidadores<br />

apresentaram maiores escores <strong>de</strong> ambientalismo <strong>de</strong> base ecocêntrica, <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong><br />

consequências futuras (pensar no futuro como influência para o comportamento presente) e uma<br />

visão <strong>de</strong> mundo mais igualitária. Já os não cuidadores apresentaram maiores índices <strong>de</strong><br />

ambientalismo antropocêntrico e apatia ambiental (indiferença pelas questões ambientais), e visão<br />

ecológica <strong>de</strong> mundo mais individualista.<br />

As freqüências das respostas dos estudos <strong>de</strong>scritos foram colocadas em uma tabela para sua<br />

melhor visualização e, a partir daí, foi possível observar a predominância dos tipos <strong>de</strong><br />

comportamento que os cuidadores direcionam para o meio ambiente. Constatou-se, a partir da<br />

média aritmética entre as freqüências das respostas encontradas, que a maior parte (43%) dos<br />

comportamentos, nos estudos analisados, se concentra na macrocategoria Manejo <strong>de</strong> Resíduos, que<br />

abarca as práticas <strong>de</strong> Controle <strong>de</strong> Lixo e Estética Ambiental, Separação <strong>de</strong> Lixo e Coleta Seletiva,<br />

Prática <strong>de</strong> Reciclagem e Reuso <strong>de</strong> Produtos. A macrocategoria Conscientização ficou logo abaixo<br />

(22,2%), e envolveu as práticas voltadas para a Participação em Eventos/Projetos Ambientais e<br />

Persuasão Pró-Ecológica. Consumo, que envolve a Economia <strong>de</strong> Água, Economia <strong>de</strong> Energia<br />

Elétrica, Diminuição <strong>de</strong> Consumo e Consumo Consciente, obteve a média <strong>de</strong> 18,5% na freqüência<br />

378


<strong>de</strong> cuidados auto-relatados, seguido da macrocategoria Preservação (7,7%). Esta envolve práticas<br />

como o Cultivo <strong>de</strong> Árvores e/ou Mudas e Cuidado com Animais e Preservação do Ecossistema. A<br />

macrocategoria Formação, que envolve Pesquisa em Meio Ambiente, Curso na Área <strong>de</strong> Meio<br />

Ambiente e Sistema <strong>de</strong> Gestão Ambiental (acrescentado em meio às práticas <strong>de</strong> cuidado ambiental<br />

<strong>de</strong>vido ao estudo <strong>de</strong> Link, 2006, em que os participantes apontaram o sistema <strong>de</strong> gestão do local<br />

on<strong>de</strong> trabalhavam como sendo uma prática importante <strong>de</strong> cuidado), obteve média <strong>de</strong> 6,4%. Sobre a<br />

classificação entre cuidadores e não cuidadores, a frequência média foi maior para os cuidadores<br />

(63,9%).<br />

Discussões<br />

Como esperado, o manejo <strong>de</strong> resíduos é a forma mais comum <strong>de</strong> os participantes<br />

representarem para si a noção <strong>de</strong> cuidado ambiental. Inúmeras são as possibilida<strong>de</strong>s que po<strong>de</strong>m<br />

culminar neste fato. Culturalmente, o lixo vem sendo tratado como aquilo que não possui mais<br />

função, que é inútil, que possibilita o surgimento <strong>de</strong> doenças, e que é preciso se livrar <strong>de</strong>le (Gurgel,<br />

2009). Vivemos em uma socieda<strong>de</strong> em que a noção higiene é extremamente valorizada e<br />

universalmente difundida. Por isso, as práticas a ela ligada são imbuídas <strong>de</strong> um alto grau <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sejabilida<strong>de</strong> social. Além disso, a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> informações disponibilizadas sobre o assunto é<br />

extremamente abundante e bem difundida – a máxima ―jogue o lixo no lixo‖ é bastante<br />

representativa disso.<br />

A <strong>de</strong>stinação a<strong>de</strong>quada <strong>de</strong> resíduos não exige uma mudança radical no comportamento<br />

humano. Portanto o ato <strong>de</strong> ―jogar o lixo no lixo‖ não possui o caráter proativo i<strong>de</strong>al às ações<br />

voltadas para o meio ambiente, e po<strong>de</strong> estar associado à idéia que comumente se tem <strong>de</strong> que quando<br />

os resíduos produzidos estão no local <strong>de</strong>stinado a eles, a responsabilida<strong>de</strong> não é mais <strong>de</strong> quem o<br />

produziu. O lixo some do campo <strong>de</strong> atuação <strong>de</strong> seu produtor.<br />

Desta forma, ações <strong>de</strong> cuidado com o meio ambiente voltadas para o tratamento do lixo e<br />

estética ambiental tornam-se comuns, e os dados encontrados pelos estudos analisados corroboram<br />

tal fato. No entanto, esta não é a única forma pela qual o cuidado com o lixo po<strong>de</strong> ser observado.<br />

Como apresentado nos dados <strong>de</strong>scritos em seções anteriores, a reciclagem também faz parte da<br />

representação do cuidado ambiental que está associada ao tratamento do lixo. Ela refere-se à<br />

reutilização do material reciclável com o objetivo <strong>de</strong> diminuir os impactos ambientais <strong>de</strong>correntes<br />

da ativida<strong>de</strong>. Programas <strong>de</strong> coleta seletiva têm sido implantados pelas prefeituras <strong>de</strong> vários<br />

municípios brasileiros com esse intuito. Porém, como constatado por Gurgel (2009), a participação<br />

em programas <strong>de</strong> coleta seletiva po<strong>de</strong> ser tomada como uma forma passiva, e não ativa, <strong>de</strong> cuidado<br />

com o meio ambiente. Ela não envolve uma atitu<strong>de</strong> radical por parte <strong>de</strong> quem integra o programa,<br />

379


pois outra pessoa é que busca o material reciclável, previamente separado. O participante do<br />

programa ape<strong>nas</strong> tem <strong>de</strong> realizar a separação do lixo em sua própria residência.<br />

Não obstante, o tratamento <strong>de</strong> resíduos po<strong>de</strong> ter um caráter proativo. Por exemplo, ainda em<br />

Gurgel, uma das respostas relacionadas ao lixo fazia referência à compostagem, que consiste em<br />

separar o lixo orgânico e colocá-lo em um ambiente para que sua <strong>de</strong>composição natural ocorra,<br />

gerando um material rico em nutrientes para o solo. Em termos qualitativos, a pessoa que relatou tal<br />

prática <strong>de</strong>staca-se gritantemente das outras, pois a compostagem vai <strong>de</strong> encontro à i<strong>de</strong>ia<br />

culturalmente estabelecida que se tem do ―lixo‖: ela envolve o acúmulo <strong>de</strong> <strong>de</strong>tritos orgânicos em<br />

<strong>de</strong>composição, principal atrativo <strong>de</strong> animais in<strong>de</strong>sejados, e tem odor potencialmente <strong>de</strong>sagradável.<br />

Isto indica que a prática <strong>de</strong> compostagem envolve algum grau <strong>de</strong> proativida<strong>de</strong>, qualida<strong>de</strong> i<strong>de</strong>al em<br />

ações <strong>de</strong> cuidado ambiental. Porém, o que se verificou foi que a maioria das respostas nos estudos<br />

analisados não possui tal caráter.<br />

A conscientização é outra prática que envolve diretamente a proativida<strong>de</strong>. Seus praticantes<br />

relataram estar envolvidos em ações ou projetos voltados para o cuidado ao meio ambiente, o que<br />

aponta um comportamento <strong>de</strong>liberado. A média entre as freqüências das respostas encontradas nos<br />

estudos apontou que cerca <strong>de</strong> 22% <strong>de</strong>las po<strong>de</strong>m ser classificadas na categoria conscientização, o<br />

que é positivo, mas não é i<strong>de</strong>al, se comparada à média <strong>de</strong> respostas relacionadas ao manejo <strong>de</strong><br />

resíduos. A partir dos resultados encontrados, é possível pensar sobre a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> haver uma<br />

maior promoção da conscientização acerca das necessida<strong>de</strong>s do meio ambiente, mas que esteja<br />

associada à prática do cuidado, pois é i<strong>de</strong>al que elas tenham o caráter proativo que está relacionado<br />

à categoria conscientização. Tal conscientização po<strong>de</strong>ria ser feita através <strong>de</strong> programas <strong>de</strong><br />

sensibilização ou, até mesmo, <strong>de</strong> mutirões comunitários direcionados às ações pró-ecológicas.<br />

As categorias Consumo e Preservação também envolvem a proativida<strong>de</strong>, porém <strong>de</strong> uma<br />

maneira mais direcionada ao âmbito do indivíduo e ao seu contexto social. Em locais on<strong>de</strong> há<br />

disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> solo para o plantio ou a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> racionar os recursos, como no caso<br />

abordado por Link (2006), os atos <strong>de</strong> plantar e racionar po<strong>de</strong>m ser encontrados. O plantio <strong>de</strong> mudas<br />

e o consumo consciente são práticas <strong>de</strong> cuidado que po<strong>de</strong>m, ou não, estar relacionadas ao<br />

compromisso pró-ecológico do indivíduo, que envolve a intencionalida<strong>de</strong> do comportamento da<br />

pessoa que o pratica. Por exemplo, a economia <strong>de</strong> água ou energia po<strong>de</strong> não estar relacionada à<br />

economia <strong>de</strong> recursos naturais, mas à economia <strong>de</strong> recursos financeiros, sendo a economia daqueles<br />

conseqüência secundária. O mesmo po<strong>de</strong> ocorrer com o plantio <strong>de</strong> mudas; o objetivo <strong>de</strong> tal prática<br />

po<strong>de</strong> ser a estética ambiental. Isso po<strong>de</strong> apontar uma diferença importante entre o comportamento<br />

<strong>de</strong> cuidadores e não cuidadores. Porém, não há dados que confirmem tal hipótese, apesar <strong>de</strong><br />

resultados como os <strong>de</strong> Pessoa (2008) e Gurgel (2009) indicarem a existência <strong>de</strong> uma diferença<br />

380


cognitiva sutil no que se refere à representação do meio ambiente entre cuidadores e não<br />

cuidadores. Tais respostas classificadas nestas categorias, assim como às relacionadas ao Manejo <strong>de</strong><br />

Resíduos, po<strong>de</strong>m ter sido obtidas em virtu<strong>de</strong> da <strong>de</strong>sejabilida<strong>de</strong> social.<br />

A categoria Formação obteve média mais baixa, o que po<strong>de</strong> ser atribuído ao fato <strong>de</strong> a<br />

formação dos participantes em si não ser compreendida como uma prática pró-ecológica. Ela não<br />

trata do envolvimento direto com a natureza, mas da aquisição <strong>de</strong> conhecimentos que possibilitam a<br />

prática do cuidado. Sendo assim, ela po<strong>de</strong> ter sido vista pelas autoras como uma ferramenta <strong>de</strong><br />

promoção do cuidado que os participantes das pesquisas analisadas associaram às suas práticas.<br />

Sobre a diferenciação entre cuidadores e não cuidadores, o estudo <strong>de</strong> Pessoa (2008) permite<br />

que isso seja observado com clareza. Nele, os cuidadores reconheciam o conceito <strong>de</strong> ―meio<br />

ambiente‖ em sua re<strong>de</strong> semântica quando pensavam sobre o termo energia do vento. Em contraste,<br />

os não cuidadores não o reconheciam. Além disto, os termos representantes do conceito (meio<br />

ambiente) para estes estavam bastante associadas a uma visão <strong>de</strong> mundo antropocêntrica. Em<br />

Gurgel, 2009, os cuidadores também pu<strong>de</strong>ram ser diferenciados dos não cuidadores quanto à<br />

possível motivação <strong>de</strong> participação em um programa <strong>de</strong> coleta seletiva. Ao investigar a relação<br />

entre participação no programa <strong>de</strong> coleta seletiva e prática <strong>de</strong> cuidado ambiental, a autora observou<br />

que esta se apresenta da maneira que esperava: quando há cuidado ambiental, há também<br />

participação. Ela <strong>de</strong>stacou os 27 participantes que afirmaram cuidar do ambiente, pois os mesmos<br />

27 participam da coleta seletiva. Mas, nem todos que participam do programa cuidam. Assim, ser<br />

cuidador parece ser suficiente para ter engajamento no programa, pois há um maior compromisso<br />

com questões ecológicas. Ape<strong>nas</strong> 08 do total <strong>de</strong> participantes afirmaram não cuidar e não participar<br />

do programa, contrastando fortemente com o fato <strong>de</strong> não haverem participantes que,<br />

simultaneamente, cuidam do meio ambiente e não participam do programa <strong>de</strong> coleta seletiva. Ser<br />

cuidador parece motivação suficiente para participar da coleta seletiva, tendo-se uma visão<br />

ambiental mais ampla que aqueles que ape<strong>nas</strong> participam do programa (Gurgel, 2009). Os 33 que<br />

afirmaram participar, mas que não cuidavam do meio ambiente, po<strong>de</strong>m não ter motivação pró-<br />

ecológica, para eles estar na coleta seletiva po<strong>de</strong> ser uma resposta à <strong>de</strong>sejabilida<strong>de</strong> social, além <strong>de</strong><br />

sua participação não exigir gran<strong>de</strong> esforço, pois a coleta ocorre em domicílio. Os resultados<br />

apontados pela autora sugerem que o controle do lixo po<strong>de</strong> estar mais frequentemente relacionado<br />

com o que é esperado socialmente (<strong>de</strong>sejabilida<strong>de</strong> social) que com a ocorrência <strong>de</strong> compromisso<br />

pró-ecológico.<br />

A análise dos não-cuidadores não havia sido intencionalizada pelas autoras, pois, a<br />

princípio, o foco dos estudos analisados, bem como o da presente pesquisa, era ape<strong>nas</strong> observar, nos<br />

participantes, os tipos <strong>de</strong> representações associadas à realização do cuidado. Não obstante, a<br />

381


importância das respostas das pessoas que não se reconhecem enquanto cuidadoras do meio<br />

ambiente são <strong>de</strong> extrema importância do ponto <strong>de</strong> vista qualitativo, pois elas po<strong>de</strong>m carregar<br />

consigo um ponto <strong>de</strong> vista mais exigente no que se refere à representação que têm do que seja<br />

cuidado ambiental. Ou seja, muitas <strong>de</strong> suas práticas pró-ecológicas não teriam sido relatadas por<br />

estes como tal, pois suas concepções <strong>de</strong> ―cuidado‖ estariam além <strong>de</strong> sua possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

concretização.<br />

Ainda, o uso do termo ―cuidado ambiental‖ po<strong>de</strong> se mostrar como uma ferramenta<br />

metodológica, fundamental na superação da falta comunicação entre a aca<strong>de</strong>mia e o público geral,<br />

não acadêmico, problema com o qual se <strong>de</strong>param os pesquisadores que estudam as interações entre<br />

pessoa e ambiente, bem como <strong>de</strong> outras áreas da psicologia (Sommer & Sommer, 1997). Quando os<br />

pesquisadores se utilizam <strong>de</strong> instrumentos com itens que tratam <strong>de</strong> um conceito mais amplo, cuja<br />

pretensão é medir, em termos psicométricos, uma idéia complexa, submetem o participante a<br />

conteúdos tidos pelo elaborador do instrumento, a priori, como relacionados ao que se preten<strong>de</strong><br />

medir. Diferentemente, ao se usar o conceito <strong>de</strong> ―cuidado‖ (a partir <strong>de</strong> questão disparadora, como<br />

nos estudos aqui relatados), o participante evoca informações que carrega consigo sem a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> utilização <strong>de</strong> um instrumento mais elaborado, que po<strong>de</strong> vir a contaminar o conteúdo<br />

que o indivíduo já possui e influenciar na forma como ele encara o que está lhe sendo solicitado.<br />

A utilização <strong>de</strong> uma questão sobre a prática do cuidado pró-ecológico não visa captar uma<br />

<strong>de</strong>finição do termo para o pesquisador, mas, convidar o participante a refletir sobre o que consi<strong>de</strong>ra,<br />

para si, como ―cuidado ambiental‖. Em suma, o termo permite a simplificação <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias complexas,<br />

tornando mais concretas i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> âmbito abstrato.<br />

Assim, mostra-se eficaz perguntar para as pessoas sobre o cuidado ambiental. Como o termo<br />

já é difundido no senso comum, cabe aos estudos que lidam com as interações pessoa-ambiente<br />

utilizá-lo como um facilitador no acesso ao conhecimento que os indivíduos já carregam consigo, e,<br />

também, no sentido <strong>de</strong> comunicar-se com outras áreas do conhecimento que fazem uso do mesmo<br />

termo.<br />

Conclusões<br />

A classificação dos participantes dos estudos entre cuidadores e não-cuidadores se mostrou<br />

conveniente, pois permitiu às autoras dos estudos diferenciar o que iria ser seu foco <strong>de</strong> trabalho,<br />

<strong>de</strong>limitando suas análises. Focar as análises nos cuidadores possibilitou que fossem estabelecidas<br />

algumas distinções importantes acerca das diferenças que estes têm <strong>de</strong> indivíduos que se alegam<br />

não cuidadores do meio ambiente.<br />

382


É importante <strong>de</strong>stacar o fato <strong>de</strong> o número <strong>de</strong> cuidadores ser maior que o <strong>de</strong> não cuidadores<br />

em três dos quatro estudos analisados, o que é positivo, consi<strong>de</strong>rando o fato <strong>de</strong> que o mundo está<br />

vivenciando uma crise ambiental generalizada (Pinheiro & Pinheiro, 2007). Tal posicionamento dos<br />

participantes das pesquisas po<strong>de</strong> estar associado à quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> informações disponibilizadas<br />

acerca da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> preservação do meio ambiente. A disponibilização <strong>de</strong> informações po<strong>de</strong><br />

ser uma ferramenta importante no que se refere ao cuidado ambiental, pois ela orienta como as<br />

pessoas <strong>de</strong>vem proce<strong>de</strong>r para que a natureza seja preservada.<br />

As hipóteses iniciais sobre a utilização do termo cuidado ambiental na pesquisa acadêmica<br />

se confirmaram. Com sua utilização foi possível estabelecer um grau <strong>de</strong> diferenciação entre os tipos<br />

<strong>de</strong> cuidado manifestados em grupos <strong>de</strong> participantes distintos. Assim, é possível refletir sobre as<br />

práticas ambientais que tais grupos consi<strong>de</strong>ram como cuidado, mas que não necessariamente se<br />

aproximam do i<strong>de</strong>al.<br />

O conceito <strong>de</strong> cuidado ambiental tem estado presente nos estudos realizados pelo nosso<br />

grupo <strong>de</strong> pesquisa nos últimos anos, mostrando-se uma ferramenta metodológica útil no que se<br />

refere à coleta <strong>de</strong> dados sobre compromisso pró-ecológico, e sobre as práticas <strong>de</strong> cuidado<br />

direcionadas ao meio ambiente. Porém, mesmo com sua utilização constante, este conceito ainda é<br />

explorado <strong>de</strong> forma incipiente. Assim, com o intuito <strong>de</strong> refinar tal ferramenta, preten<strong>de</strong>mos<br />

continuar a trabalhar nela, aprofundando a discussão das categorias <strong>de</strong> cuidado e seus respectivos<br />

conteúdos associados.<br />

Referências<br />

Chawla, L. (1999). Life paths into effective environmental action. The Journal of Environmental<br />

Education, 31(1), 15-26.<br />

Corral-Verdugo, V. (2001). Comportamiento proambiental. La Laguna, Tenerife: Resma.<br />

Corral-Verdugo, V. (2010). Psicología <strong>de</strong> la Sustentabilidad: un análisis <strong>de</strong> lo que nos hace pro-<br />

ecológicos y pro-sociales. Cida<strong>de</strong> do México: Trillas.<br />

Diniz, R. F. (2010). Comportamento pró-ambiental e perspectiva temporal <strong>de</strong> futuro como<br />

dimensões da conduta sustentável. Dissertação <strong>de</strong> mestrado não-publicada, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do<br />

Rio Gran<strong>de</strong> do Norte, Natal.<br />

Gurgel, F. F. (2009). Participação <strong>de</strong> moradores no Programa <strong>de</strong> Coleta Seletiva em três bairros<br />

<strong>de</strong> Natal/RN: explorando <strong>de</strong>terminantes socioambientais. Tese <strong>de</strong> doutorado não-publicada,<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte, Natal.<br />

383


Link, M. O. (2006). Um enfoque psicológico da Educação Ambiental no contexto da gestão: uma<br />

experiência em Fernando <strong>de</strong> Noronha. Dissertação <strong>de</strong> mestrado não-publicada, Universida<strong>de</strong><br />

Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte, Natal.<br />

Pessoa, V. S. (2008). Conhecimento sobre energia eólica: um estudo exploratório a partir <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s<br />

semânticas naturais <strong>de</strong> estudantes da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Natal, RN. Dissertação <strong>de</strong> mestrado não-publicada,<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte, Natal.<br />

Pessoa, V. S., & Pinheiro, J. Q. (2010). Do que você lembra quando pensa em energia do vento?<br />

Um estudo sobre o conhecimento da energia eólica. Revista Interamericana <strong>de</strong><br />

Psicología/Interamerican Journal of Psychology, 44(2), 361-367.<br />

Pinheiro J. Q., & Pinheiro, T. F. (2007). Cuidado ambiental: ponte entre psicologia e educação<br />

ambiental? Psico, 38(1), 25-34.<br />

Sommer, R, & Sommer, B. B. (1997) A Practical Gui<strong>de</strong> to Behavioral Research: tools and<br />

techniques. New York: Oxford University Press.<br />

384


SITUAÇÃO DA ACESSIBILIDADE NO TRANSPORTE PÚBLICO DE JOÃO PESSOA, PB<br />

Resumo<br />

Thais Gomes MACHADO (UEPB) – thais_gmachado@hotmail.com<br />

Aluna <strong>de</strong> graduação do Curso <strong>de</strong> Ciências Biológicas<br />

Vancar<strong>de</strong>r BRITO (UEPB) – vancar<strong>de</strong>r@hotmail.com<br />

Professor do Curso <strong>de</strong> Ciências Biológicas (orientador)<br />

O trânsito compreen<strong>de</strong> o <strong>de</strong>slocamento <strong>de</strong> pessoas, veículos ou animais na cida<strong>de</strong>, em <strong>de</strong>corrência<br />

das condições físicas e econômicas. Acessibilida<strong>de</strong> se trata da possibilida<strong>de</strong> e condição <strong>de</strong> alcance<br />

para uso dos espaços, das edificações, dos transportes e dos meios <strong>de</strong> comunicação por pessoas com<br />

<strong>de</strong>ficiência ou mobilida<strong>de</strong> reduzida. A união <strong>de</strong>stes dois temas acarreta na melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

vida das pessoas que necessitam se utilizar <strong>de</strong>stes meios, principalmente dos ônibus acessíveis,<br />

garantindo seu direito <strong>de</strong> ir e vir. O presente trabalho visa mostrar a eficiência <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong><br />

transporte público e se os mesmos estão sendo bem utilizados na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa, Paraíba.<br />

PALAVRAS-CHAVE: acessibilida<strong>de</strong>, trânsito, ônibus acessíveis.<br />

Abstract<br />

The traffic inclu<strong>de</strong>s moving people, vehicles or animals in the city, due to the physical and<br />

economic conditions. Accessibility is the possibility and scope condition for use of spaces,<br />

buildings, transport and means of communication for people with disabilities or reduced mobility.<br />

The union of these two themes entails improving the quality of life for people who need to use these<br />

media, especially the accessible buses, ensuring their right to come and go. This paper aims to show<br />

the efficiency of this type of public transportation and whether they are being well used in the city<br />

of João Pessoa, Paraíba.<br />

KEY-WORDS: accessibility; traffic; accessible bus.<br />

Introdução<br />

De acordo com o Código <strong>de</strong> Trânsito Brasileiro – CTB, Lei nº. 9.503, <strong>de</strong> 23 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong><br />

1997, Artigo 1º, § 2º, a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> trânsito é a utilização das vias por pessoas, veículos e animais,<br />

isolados ou em grupos, conduzidos ou não, para fins <strong>de</strong> circulação, parada, estacionamento e<br />

385


operações <strong>de</strong> carga ou <strong>de</strong>scarga. Outra <strong>de</strong>finição consi<strong>de</strong>ra o trânsito como um ―conjunto <strong>de</strong> todos<br />

os <strong>de</strong>slocamentos diários, feitos pelas calçadas e vias da cida<strong>de</strong>, e que aparece na rua na forma da<br />

movimentação geral <strong>de</strong> pe<strong>de</strong>stres e veículos‖ (VASCONCELOS, 1985).<br />

Na visão tradicional, ela é tida simplesmente como a habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> movimentar-se, em<br />

<strong>de</strong>corrência <strong>de</strong> condições físicas e econômicas. Neste sentido, as pessoas pobres, idosas ou com<br />

limitações físicas estariam <strong>nas</strong> faixas inferiores <strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong> em relação às pessoas <strong>de</strong> renda mais<br />

alta ou sem problemas físicos <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamento (VASCONCELOS, 2001).<br />

Em muitos países, os problemas causados pelo trânsito são enquadrados tanto na perspectiva<br />

do meio ambiente quanto na da saú<strong>de</strong> pública, tamanho é o seu impacto na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida das<br />

pessoas (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2000; ARAÚJO et al., 2011).<br />

Acessibilida<strong>de</strong> é a possibilida<strong>de</strong> e a condição <strong>de</strong> alcance para utilização, com segurança e<br />

autonomia, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos transportes e dos<br />

sistemas e meios <strong>de</strong> comunicação, por pessoas portadoras <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência ou com mobilida<strong>de</strong><br />

reduzida. A acessibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve estar presente <strong>nas</strong> edificações, no meio urbano, nos transportes e<br />

<strong>nas</strong> suas mútuas interações, conforme exigência constitucional (GODOY et al, 2000).<br />

O objetivo da acessibilida<strong>de</strong> é consentir um ganho <strong>de</strong> autonomia e <strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong> a um<br />

número maior <strong>de</strong> pessoas, até mesmo àquelas com mobilida<strong>de</strong> reduzida ou dificulda<strong>de</strong> em se<br />

comunicar, para que usufruam dos espaços com mais segurança, confiança e comodida<strong>de</strong><br />

(ONOFRE et al., 2010).<br />

De acordo com dados internacionais, existem cerca <strong>de</strong> 600 milhões <strong>de</strong> habitantes, o que<br />

significa mais <strong>de</strong> 10% da população mundial que possuem algum tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência física.<br />

Segundo Organização Mundial da Saú<strong>de</strong> (OMS), 80% <strong>de</strong>ssas pessoas vivem nos países pobres ou<br />

em <strong>de</strong>senvolvimento. De acordo com dados da Contagem da População realizada pelo IBGE no ano<br />

<strong>de</strong> 2010, a população da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa estimava-se em cerca 723.515 habitantes. Cerca <strong>de</strong><br />

118.113 pessoenses (26% da população) são portadores <strong>de</strong> algum tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência (OLIVEIRA,<br />

2010; IBGE, 2010).<br />

Tendo em vista o que já foi abordado, se faz necessária a utilização <strong>de</strong> ônibus acessíveis no<br />

trânsito <strong>de</strong> João Pessoa, pois estes são adaptados com elevadores, para permitir o fácil acesso a<br />

ca<strong>de</strong>irantes. As portas são mais largas (me<strong>de</strong>m um metro e 10 centímetros, enquanto que os ônibus<br />

convencionais têm ape<strong>nas</strong> 90 centímetros), contam com ca<strong>de</strong>iras diferenciadas, mais largas,<br />

<strong>de</strong>stinadas a mulheres grávidas e pessoas obesas, corrimãos especiais para <strong>de</strong>ficientes visuais, sinal<br />

<strong>de</strong> parada com escrita em Braile e um dispositivo que só possibilita a partida após as portas estarem<br />

completamente fechadas. Todos os ônibus acessíveis possuem o selo <strong>de</strong> acessibilida<strong>de</strong>, afixado na<br />

386


frente e <strong>nas</strong> laterais do veiculo, como forma <strong>de</strong> visualização a acessibilida<strong>de</strong> às pessoas com<br />

<strong>de</strong>ficiência ou mobilida<strong>de</strong> reduzida (OLIVEIRA, 2010).<br />

Essas dificulda<strong>de</strong>s enfrentadas por pessoas com <strong>de</strong>ficiência acabam por causar uma queda<br />

na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida. A acessibilida<strong>de</strong> não se trata <strong>de</strong> eliminar barreiras para um grupo específico<br />

<strong>de</strong> pessoas, mas <strong>de</strong> incluir as especificida<strong>de</strong>s no universo <strong>de</strong> pessoas no <strong>de</strong>senho urbano e <strong>de</strong><br />

produtos. Esta po<strong>de</strong> ser entendida como equiparação das oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> acesso ao que a vida<br />

oferece: estudo, trabalho, lazer, bem estar social e econômico, entre outros, tudo que diz razão aos<br />

direitos universais (ALVES; RAIA Jr, S/D). Sendo assim, ela está diretamente relacionada à<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida dos cidadãos e ten<strong>de</strong> a traduzir a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> as pessoas participarem <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong>s do seu interesse (ARAÚJO et al., 2011).<br />

A qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida está intrinsecamente associada a mobilida<strong>de</strong> e acessibilida<strong>de</strong>, pois são<br />

elas que garantem à autonomia ao cidadão, que se tornam presentes no movimento <strong>de</strong> ir e vir, seja<br />

ao <strong>de</strong>slocar-se para o emprego, seja na busca <strong>de</strong> uma forma alternativa <strong>de</strong> entretenimento fora <strong>de</strong><br />

seu bairro. É indispensável promovê-las com autonomia e segurança, melhorando a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

vida <strong>de</strong> todos os usuários do espaço urbano e garantindo o exercício <strong>de</strong> uma real cidadania<br />

(MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2004).<br />

O presente trabalho tem por objetivo <strong>de</strong>monstrar qual a real eficiência dos transportes<br />

coletivos acessíveis e se os mesmos estão sendo utilizados <strong>de</strong>vidamente na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa,<br />

Paraíba.<br />

Metodologia<br />

Foram realizadas 30 entrevistas em forma <strong>de</strong> questionário (em anexo) a pessoas portadoras<br />

<strong>de</strong> algum tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência física, usuários da Fundação <strong>de</strong> Apoio ao Deficiente (FUNAD)<br />

resi<strong>de</strong>ntes em João Pessoa e em cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> seu entorno (Santa Rita, Bayeux, Alhandra, Cabe<strong>de</strong>lo,<br />

Sapé, Gurinhém, Pitimbu, Mata Redonda, Araçagi e Cruz do Espírito Santo), que se utilizam <strong>de</strong><br />

transporte público adaptado (eficiente). Foram abordados seus conhecimentos sobre o tema<br />

Acessibilida<strong>de</strong>, bem como aspectos acerca dos transportes públicos adaptados disponíveis em João<br />

Pessoa, tais como tempo <strong>de</strong> espera do ônibus, preparo dos motoristas e cobradores em auxiliá-los e<br />

como cada um consi<strong>de</strong>ra o nível <strong>de</strong> acessibilida<strong>de</strong> nos meios <strong>de</strong> transporte presentes em João<br />

Pessoa, Paraíba.<br />

Resultados e Discussão<br />

A frota <strong>de</strong> ônibus coletivos da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa atualmente apresenta 445 veículos que<br />

prestam serviço à população pessoense através <strong>de</strong> 85 linhas convencionais mais três opcionais que<br />

387


circulam pelos diversos bairros do município. Em 2005, existiam ape<strong>nas</strong> 7 ônibus acessíveis, o que<br />

significava ape<strong>nas</strong> 1,7% da frota <strong>de</strong> ônibus <strong>de</strong> João Pessoa no qual possuía adaptações para o<br />

atendimento das pessoas portadoras <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>s especiais. Atualmente, a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa<br />

possui 179 ônibus acessíveis o que representa aproximadamente 40% <strong>de</strong> toda a frota <strong>de</strong> veículos<br />

coletivos da capital paraibana, enquanto que em Curitiba (Paraná) dita como uma das cida<strong>de</strong>s em<br />

que mais se utiliza a acessibilida<strong>de</strong>, das 395 linhas da RIT (Re<strong>de</strong> Integrada <strong>de</strong> Transporte), 316 já<br />

têm ônibus com adaptação para pessoas com <strong>de</strong>ficiência. O índice <strong>de</strong> acessibilida<strong>de</strong> no sistema <strong>de</strong><br />

transporte coletivo <strong>de</strong> Curitiba aumentou <strong>de</strong> 44% para 86% no percentual <strong>de</strong> ônibus equipados para<br />

atendimento a pessoas com dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> locomoção, garantindo melhor mobilida<strong>de</strong> a 2,4 milhões<br />

<strong>de</strong> passageiros/dia. A Lei <strong>de</strong> Trânsito exige que ape<strong>nas</strong> 3% da frota <strong>de</strong> João Pessoa possuam<br />

adaptações para pessoas portadoras <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>s especiais ou mobilida<strong>de</strong> reduzida, porém com o<br />

número expressivo da frota pessoense verifica-se que a capital paraibana está acima da meta<br />

estabelecida (OLIVEIRA, 2010; SEMOB, 2012; URBS, S/D; LEAL, 2010).<br />

Des<strong>de</strong> 2005 só entram na frota curitibana <strong>de</strong> transporte, veículos com todos os acessórios e<br />

equipamentos <strong>de</strong> acessibilida<strong>de</strong>, o que inclui espaço a<strong>de</strong>quado para ca<strong>de</strong>irantes com lugar para<br />

acompanhante, balaústres (na cor amarela para atrair atenção das pessoas com baixa acuida<strong>de</strong><br />

visual) e elevadores. Também para melhorar o atendimento a idosos, gestantes, mulheres com<br />

crianças <strong>de</strong> colo e <strong>de</strong>ficientes físicos, os ônibus <strong>de</strong> Curitiba passaram a ter 20% do total <strong>de</strong> assentos<br />

<strong>de</strong>stinados a estes passageiros. (LEAL, 2010).<br />

Embora seja dito que João Pessoa possua uma frota consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong> veículos acessíveis, há<br />

reclamações por parte <strong>de</strong> seus usuários como mostrado em entrevista com os ca<strong>de</strong>irantes Gilvan<br />

Andra<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lima e Edson Soares dos Santos ao Jornal O Norte (realizada em 19 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2010),<br />

no qual relataram a insuficiência <strong>de</strong> ônibus adaptados, eles moveram uma ação pública para terem<br />

assegurados seus direitos <strong>de</strong> ir e vir <strong>de</strong> maneira plena. A juíza Maria <strong>de</strong> Fátima Lúcia Ramalho, da<br />

5ª Vara da Fazenda Pública <strong>de</strong> João Pessoa <strong>de</strong>feriu liminar obrigando o Departamento Estadual <strong>de</strong><br />

Trânsito (DETRAN – PB), a Superintendência <strong>de</strong> Transportes e Trânsito <strong>de</strong> João Pessoa<br />

(STTRANS) e o Departamento <strong>de</strong> Estradas e Rodagens (DER) a proverem adaptações na estrutura<br />

dos transportes públicos sob pena <strong>de</strong> multa. Em resposta a <strong>de</strong>núncia realizada, o diretor da<br />

Associação <strong>de</strong> Empresas <strong>de</strong> Transportes Coletivos Urbanos <strong>de</strong> João Pessoa (AETC-JP) afirmou que<br />

a <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> usuários é muito pequena e que ―ape<strong>nas</strong> 0,004% das pessoas que utilizam os serviços<br />

<strong>de</strong> transporte coletivo são ca<strong>de</strong>irantes, o que significa uma média <strong>de</strong> 120 viagens em um universo<br />

<strong>de</strong> 30 mil viagens/dia que esses ônibus fazem na cida<strong>de</strong>‖ (FURTADO, 2010).<br />

Com base nos dados coletados pô<strong>de</strong> ser observado que dos 30 entrevistados 15 (50%)<br />

possuíam conhecimento sobre o termo Acessibilida<strong>de</strong>; 9 (30%) consi<strong>de</strong>ram João Pessoa como uma<br />

388


cida<strong>de</strong> que emprega a acessibilida<strong>de</strong> mas não totalmente, 16 (53,3%) afirmam a presença <strong>de</strong><br />

acessibilida<strong>de</strong>, enquanto 5 (16,7%) pessoas não acham que exista acessibilida<strong>de</strong> na cida<strong>de</strong> (Gráfico<br />

01), mostrando o quanto este tema precisa ser implantado ao conhecimento da população; 15 (50%)<br />

afirmam que o transporte público não possui acessibilida<strong>de</strong> e 15 (50%) que a média <strong>de</strong> duração <strong>de</strong><br />

espera dos ônibus adaptados são <strong>de</strong> 1 hora ou mais (Gráfico 02), expondo o <strong>de</strong>scaso com as pessoas<br />

que só po<strong>de</strong>m se utilizar <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> transporte; 23 (76,7%) asseguram que os<br />

motoristas/cobradores não estão preparados para a utilização dos meios <strong>de</strong> acessibilida<strong>de</strong> presentes<br />

nos ônibus, portanto se faz necessária a reciclagem <strong>de</strong>stes trabalhadores para que possam auxiliar as<br />

pessoas com <strong>de</strong>ficiência, evitando assim, possíveis constrangimentos e 25 (83,3%) expõem que a<br />

acessibilida<strong>de</strong> nos meios <strong>de</strong> transporte público em João Pessoa é consi<strong>de</strong>rada Regular, 3 (10%)<br />

consi<strong>de</strong>ram Boa e 2 (6,7%) Ruim (Gráfico 03), entretanto, 12 <strong>de</strong>stas resi<strong>de</strong>m em João Pessoa e as<br />

<strong>de</strong>mais em Bayeux (5), Santa Rita (3), Alhandra (2), Sapé (2), Pitimbu (1), Mata Redonda (1),<br />

Araçagi (1), Gurinhém (1), Cabe<strong>de</strong>lo (1) e Cruz do Espírito Santo (1).<br />

Gráfico 01 - Resposta dos entrevistados frente a pergunta: ―João Pessoa po<strong>de</strong> ser<br />

consi<strong>de</strong>rada como uma cida<strong>de</strong> que utiliza acessibilida<strong>de</strong>?‖, 30% afirmam que utilizam<br />

a acessibilida<strong>de</strong> Em parte; 53,3% Sim e 16,7% Não.<br />

389


60%<br />

50%<br />

40%<br />

30%<br />

20%<br />

10%<br />

0%<br />

Consi<strong>de</strong>rações Finais<br />

Tempo <strong>de</strong> duração da espera dos<br />

ônibus eficientes<br />

10%<br />

26,7%<br />

13,3%<br />

50%<br />

15 minutos 30 minutos 45 minutos 1 hora ou<br />

mais<br />

15 minutos<br />

30 minutos<br />

45 minutos<br />

1 hora ou mais<br />

Gráfico 02 - Resposta dos entrevistados frente a pergunta: ―Em média, qual o tempo<br />

estipulado para que o ônibus que você pega dito como ―eficiente‖ passe?‖, nos quais<br />

50% afirmaram que <strong>de</strong>moram 1 hora ou mais; 26,7% 30 minutos; 13,3% 45 minutos<br />

e 10% 15 minutos.<br />

Gráfico 03 - Resposta dos entrevistados frente a pergunta: ―Como você consi<strong>de</strong>ra a<br />

acessibilida<strong>de</strong> nos meios <strong>de</strong> transporte presentes em João Pessoa?‖, na qual 83,3%<br />

consi<strong>de</strong>ram Regular; 10% consi<strong>de</strong>ram Bom; 6,7% Ruim, e ninguém respon<strong>de</strong>u<br />

Excelente ou Ótimo.<br />

Ao <strong>de</strong>correr do trabalho foi possível notar que a acessibilida<strong>de</strong> está intrinsecamente ligada<br />

tanto ao trânsito quanto à qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida dos que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong>sta. Devido a este fato são<br />

utilizados meios <strong>de</strong> transporte públicos adaptados chamados <strong>de</strong> eficientes visando o benefício da<br />

população em geral, bem como dos que possuem algum tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência física, visando sua<br />

autonomia.<br />

390


João Pessoa possui sua frota <strong>de</strong> ônibus eficientes atualizada e com uma quantida<strong>de</strong><br />

relativamente elevada <strong>de</strong> acordo com a <strong>de</strong>manda necessária, porém ainda não po<strong>de</strong> ser dita como<br />

satisfatória <strong>de</strong>vido aos <strong>de</strong>scasos principalmente com relação ao <strong>de</strong>spreparo das pessoas responsáveis<br />

no auxílio ao embarque dos cidadãos <strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong> reduzida, como também com relação ao atraso<br />

<strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> transporte, mostrando assim, que ainda há a necessida<strong>de</strong> da melhoria da acessibilida<strong>de</strong><br />

no trânsito.<br />

Referências<br />

ALVES, P.; RAIA Jr., A. A. Mobilida<strong>de</strong> e Acessibilida<strong>de</strong> Urba<strong>nas</strong> Sustentável: A gestão da<br />

mobilida<strong>de</strong> no Brasil. Programa <strong>de</strong> Pós-graduação em Engenharia Urbana – PPGEU – UFSCar. São<br />

Carlos. S/D.<br />

ARAÚJO, M. M.; SILVA, F. S.; OLIVEIRA, J. M.; LIMA, K. M. C.; SANTOS, P. A. C.;<br />

MENEZES, R.; LIMA, T. C. Transporte público coletivo: discutindo acessibilida<strong>de</strong>, mobilida<strong>de</strong> e<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida. Revista Psicologia & Socieda<strong>de</strong>; vol. 23, nº3, 2011.<br />

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA (CFP). Ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> psicologia do trânsito e<br />

compromisso social. Brasília: CFP, 2000. 32p.<br />

FURTADO, V. Dia-a-dia. Jornal O Norte. João Pessoa. 2010. Disponível em:<br />

. Acesso em: 07 jun 2012.<br />

GODOY, A. et al. Cartilha da Inclusão. 2000. Disponível em<br />

. Acesso em: 14 mai 2012.<br />

IBGE Cida<strong>de</strong>s. Disponível em: . Acesso em:<br />

23 jun 2012.<br />

LEAL, C. Curitiba dobra índice <strong>de</strong> acessibilida<strong>de</strong> no transporte. 2010. Disponível em: <<br />

http://meutransporte.blogspot.com.br/2010/03/curitiba-dobra-indice-<strong>de</strong>-acessibilida<strong>de</strong>.html>.<br />

Acesso em: 23 jun 2012.<br />

MINISTÉRIO DAS CIDADES/Secretaria Nacional <strong>de</strong> Transporte e da Mobilida<strong>de</strong><br />

Urbana. Diretrizes para a Política Nacional <strong>de</strong> Mobilida<strong>de</strong> Urbana Sustentável.<br />

Brasília: Programa Brasileiro <strong>de</strong> Acessibilida<strong>de</strong> Urbana, 2004.<br />

391


ONOFRE, T. C. F; MENEZES, P. D. L; MELO, S. C. S. Acessibilida<strong>de</strong>: uma análise dos<br />

ambientes turísticos da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa. VII Seminário da Associação Nacional Pesquisa e<br />

Pós-Graduação em Turismo. São Paulo, 2010.<br />

SEMOB - SUPERINTENDÊNCIA DE MOBILIDADE URBANA. Prefeitura Municipal <strong>de</strong> João<br />

Pessoa. João Pessoa. 2012. Disponível em:<br />

. Acesso em: 07 jun 2012.<br />

OLIVEIRA, T. F. Acessibilida<strong>de</strong> do Transporte Público <strong>de</strong> João Pessoa para as pessoas portadoras<br />

<strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>s especiais. Portal da Administração, 2010.<br />

URBS - Urbanização <strong>de</strong> Curitiba S/A. S/D. Disponível em: <<br />

http://www.urbs.curitiba.pr.gov.br/PORTAL/acessibilida<strong>de</strong>.php>. Acesso em: 24 jun 2012.<br />

VASCONCELOS, E.A. Transporte urbano, espaço e equida<strong>de</strong>: análise das políticaspúblicas. São<br />

Paulo: Annablume, 2001. 218p.<br />

VASCONCELOS, E.A. O que é o trânsito. São Paulo: Brasiliense, 1985. 92p.(Primeiros Passos).<br />

392


ANEXO<br />

Questionário – Acessibilida<strong>de</strong> no transporte público em João Pessoa<br />

1) O termo acessibilida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser conceituado como a possibilida<strong>de</strong> e condição <strong>de</strong> utilização,<br />

com segurança e in<strong>de</strong>pendência, dos espaços, das edificações, dos transportes e dos sistemas<br />

e meios <strong>de</strong> comunicação, por qualquer pessoa portadora <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>s especiais e com<br />

mobilida<strong>de</strong> reduzida. Com base nesta <strong>de</strong>finição, você já ouviu falar sobre o assunto?<br />

( ) Sim ( ) Não<br />

2) Qual a cida<strong>de</strong> que você mora?<br />

( ) João Pessoa ( ) Bayeux ( ) Santa Rita ( ) Outra<br />

No caso <strong>de</strong> marcar a opção Outra, qual? _______________________________<br />

3) João Pessoa po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada como uma cida<strong>de</strong> que utiliza acessibilida<strong>de</strong>?<br />

( ) Sim ( ) Não ( ) Em parte<br />

4) Você utiliza regularmente o transporte público?<br />

( ) Sim ( ) Não<br />

5) O transporte público possui acessibilida<strong>de</strong>?<br />

( ) Sim ( ) Não<br />

6) Em média, qual o tempo estipulado para que o ônibus que você pega dito como ―eficiente‖<br />

passe?<br />

( ) 15 minutos ( ) 30 minutos ( ) 45 minutos ( ) 1 hora ou mais<br />

7) Os motoristas/cobradores estão preparados com a utilização dos meios <strong>de</strong> acessibilida<strong>de</strong><br />

presentes nos ônibus e em como auxiliar os portadores <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>s especiais?<br />

( ) Sim ( ) Não<br />

8) Como você consi<strong>de</strong>ra a acessibilida<strong>de</strong> nos meios <strong>de</strong> transporte presentes em João Pessoa?<br />

( ) Excelente ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim<br />

393


OS IMPACTOS DA POLUIÇÃO AMBIENTAL SOBRE AS FAMÍLIAS DA COMUNIDADE<br />

ILHA DE DEUS EM RECIFE, PE: ESTUDO DE CASO 44<br />

Resumo<br />

Vilane Gonçalves SALES (DLCH/UFRPE) - vilane.g.sales@gmail.com 45<br />

Esta pesquisa tem como tema central <strong>de</strong> estudo os impactos da poluição ambiental sobre a<br />

população da Ilha <strong>de</strong> Deus, em Recife/PE. Os impactos ambientais serão <strong>de</strong>tectados através <strong>de</strong><br />

estudos dos efeitos da poluição sobre a qualida<strong>de</strong> da água, a disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alimentos, a<br />

contaminação das espécies e a preservação do ecossistema. No fechamento <strong>de</strong>ste trabalho<br />

evi<strong>de</strong>nciou-se que as contribuições teóricas <strong>de</strong>sta pesquisa <strong>de</strong> campo e os resultados dos dados<br />

estatísticos e amostras provenientes da análise <strong>de</strong> campo i<strong>de</strong>ntificaram que a qualida<strong>de</strong> da água se<br />

encontra em péssimo estado, provocando <strong>nas</strong> famílias doenças e prejudicando as ativida<strong>de</strong>s<br />

econômicas ligadas aos recursos hídricos.<br />

Palavras-chave: poluição ambiental, impacto ambiental, ecossistema manguezal<br />

Abstract<br />

This research is focused on the study of the impacts of environmental pollution on the population of<br />

Ilha <strong>de</strong> Deus in Recife / PE. The environmental impacts will be <strong>de</strong>tected by studying the effects of<br />

pollution on water quality, food availability, contamination of species and ecosystem preservation.<br />

To conclu<strong>de</strong> this study showed that the theoretical contributions of this field research and the results<br />

of statistical data and samples from the field analysis i<strong>de</strong>ntified that the water quality is in poor<br />

condition, causing diseases in families and harming economic activities linked to the water<br />

resources.<br />

Keywords: environmental pollution, environmental impact, mangrove ecosystem<br />

44 Artigo resultado <strong>de</strong> pesquisa <strong>de</strong> iniciação científica PIBIC/CNPQ/UFRPE;<br />

45 Professor orientador: Phd.José Ferreira Irmao - UFRPE<br />

394


1. INTRODUÇÃO<br />

Des<strong>de</strong> o início do processo <strong>de</strong> colonização no país, a maior parte da concentração urbana<br />

brasileira se localiza na zona costeira já que este espaço se mostra a<strong>de</strong>quado à implantação e<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s, portos, plantações e outros tipos <strong>de</strong> intervenções. Contudo, essa<br />

ocupação contribuiu e, ainda contribui para a <strong>de</strong>gradação dos ecossistemas que formam a paisagem<br />

litorânea, <strong>de</strong>ntre elas, as áreas dos manguezais.<br />

Nessas áreas, o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> um <strong>de</strong>senvolvimento sustentável 46 está em como conciliar essa<br />

expansão urbana com a conservação e o uso sustentável e, consequentemente, na problemática da<br />

poluição que muito tem afetado o ambiente e as comunida<strong>de</strong>s que usufruem dos mangues. No<br />

tocante ao ambiente, tem-se a poluição do solo e da água alterando o equilíbrio do sistema da<br />

natureza (FERREIRA, 2011).<br />

Numa perspectiva socioeconômica, a zona costeira brasileira apresenta particularida<strong>de</strong>s,<br />

envolvendo o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> ocupação territorial 47 , a concentração populacional, predominância <strong>de</strong><br />

complexos industriais e portuários e a varieda<strong>de</strong> dos recursos naturais, fauna e flora, o que <strong>de</strong>manda<br />

uma aplicação <strong>de</strong> instrumentos legais e a implantação <strong>de</strong> programas <strong>de</strong> gestão ambiental, com<br />

intuito <strong>de</strong> preservar estes recursos, atingidos por impactos ambientais com características<br />

específicas.<br />

Dentro <strong>de</strong>sse contexto, encontra-se a Ilha <strong>de</strong> Deus que é uma área localizada na bacia<br />

hidrográfica do Pina que reúne os rios Jordão, Tejipió e Sto. Antônio, uma região <strong>de</strong> mangues e<br />

espaço natural estuarino no Recife/PE. A ocupação populacional na área em estudo se iniciou em<br />

meados dos anos 1950, quando o ambiente local era sadio e as condições <strong>de</strong> saneamento eram<br />

favoráveis à pesca <strong>de</strong> peixes e crustáceos, o que lhes garantia a subsistência e o acesso à<br />

alimentação a<strong>de</strong>quada. A partir dos anos oitenta até os dias atuais, a poluição local e em seu entorno<br />

tornou-se crônica, afetando intensamente o pouco que existe <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida dos moradores, os<br />

quais sobrevivem direta ou indiretamente da pesca.<br />

Reconhecendo <strong>de</strong>ssa forma que o ecossistema manguezal é uma área <strong>de</strong> interesse social,<br />

econômico, ecológico e turístico, faz-se necessário um estudo aprofundado do ecossistema,<br />

possibilitando uma melhoria na condição <strong>de</strong> vida da população que habita nesta área, e ainda,<br />

servindo <strong>de</strong> base como indicativo para o fomento <strong>de</strong> políticas públicas voltadas para a preservação e<br />

46<br />

Desenvolvimento este que <strong>de</strong>ve ser promovido <strong>de</strong> forma a garantir as necessida<strong>de</strong>s das presentes e futuras gerações<br />

(Princípio 3 da Declaração do Rio92 sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento). Ignacy Sachs (1993) afirma que <strong>de</strong>ve<br />

consi<strong>de</strong>rar cinco dimensões <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong>: social, cultural, espacial, econômico e ecológico.<br />

47<br />

Aqui enumerados os mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> ocupação territorial retratado em duas concepções distintas. Uma, predominante,<br />

baseada numa visão externa ao território, que afirma a soberania privilegiando as relações com a metrópole; ou seja, um<br />

mo<strong>de</strong>lo exógeno. A outra, baseada numa visão interna do território, fruto do contato com os habitantes locais e<br />

privilegiando o crescimento endógeno e a autonomia local (BECKER, 2001).<br />

395


conservação dos mangues. A partir <strong>de</strong>sta concepção, escolheu-se investigar as causas e<br />

consequências dos efeitos da poluição sobre o meio ambiente no tocante à saú<strong>de</strong> do ecossistema e<br />

da população que vive na comunida<strong>de</strong> da área em estudo, tendo como objetivo geral investigar os<br />

impactos da poluição sobre a comunida<strong>de</strong> costeira da Ilha <strong>de</strong> Deus no tocante aos poluidores físicos,<br />

químicos e biológicos da água que afetam a saú<strong>de</strong> ambiental da área em estudo por meio <strong>de</strong> um<br />

índice referenciado.<br />

2. MATERIAIS E MÉTODOS<br />

Para obtenção do material necessário à comprovação e efetivação da teoria revista escolheu-<br />

se analisar primeiramente o estado atual da qualida<strong>de</strong> da água na bacia hidrográfica do Pina afim <strong>de</strong><br />

encontrar os possíveis poluidores daquele bioma através dos resultados colhidos da amostra. Em<br />

seguida, com base nos resultados da amostra, gerar questionários semi-estruturados para observar o<br />

comportamento do poluidor perante a sua ação antrópica e evi<strong>de</strong>nciar se este possui uma percepção<br />

ambiental acerca do bioma manguezal.<br />

Para recolher a amostra, buscou-se distanciar da margem do rio em três metros e uma<br />

profundida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um metro e vinte centímetros. As amostras retiradas seguiram as instruções e<br />

orientações fornecidas pelo laboratório responsável pela análise.<br />

Para verificar as condições <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> da água o Índice <strong>de</strong> Proteção da <strong>Vida</strong> Aquática -<br />

IVA, utilizado pela CETESB <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2002 no monitoramento das águas superficiais. A metodologia<br />

para o cálculo do IVA é a seguinte:<br />

Sendo,<br />

IVA = (IPMCA x 1,2) + IET EQ. 1<br />

IPMCA: Índice <strong>de</strong> Parâmetros Mínimos para a Preservação da <strong>Vida</strong> Aquática<br />

IET: Índice <strong>de</strong> Estado Trófico<br />

O IVA, apesar <strong>de</strong> se <strong>de</strong>compor em outros dois índices, consiste em avaliar, por pon<strong>de</strong>ração,<br />

se o ambiente aquático está em condições viáveis. Conforme se observa no quadro:<br />

CATEGORIA PONDERAÇÃO<br />

QUALIDADE ÓTIMA IVA ≤ 2,5<br />

QUALIDADE BOA 2,6 ≤ IVA ≤ 3,3<br />

QUALIDADE REGULAR 3,4 ≤ IVA ≤ 4,5<br />

QUALIDADE RUIM 4,6 ≤ IVA ≤ 6,7<br />

QUALIDADE PÉSSIMA IVA ≥ 6,8<br />

Quadro 1 - Classes do IVA. Fonte: CETESB, 2012.<br />

396


Com o resultado obtido das amostras po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>linear os perfis dos poluidores:<br />

Comunida<strong>de</strong>s (Q1), Comércio e Indústrias (Q2) e Carcinicultores (Q3). Assim, gerou-se três tipos<br />

<strong>de</strong> questionários com direcionamentos diferenciados pela ação antrópica.<br />

Para <strong>de</strong>terminar o tamanho mínimo da amostra <strong>de</strong> questionários a serem respondidos pelos<br />

indivíduos da comunida<strong>de</strong> (Q1), utilizou-se uma estimativa <strong>de</strong> amostragem probabilística aleatória<br />

simples sobre variáveis categóricas sendo estas, as variáveis medidas em uma escala nominal<br />

(SANTOS, 2012).<br />

Então, a amostra foi obtida através da equação abaixo:<br />

On<strong>de</strong>:<br />

n - amostra calculada;<br />

N - população;<br />

Z - variável normal padronizada associada ao nível <strong>de</strong> confiança;<br />

p - verda<strong>de</strong>ira probabilida<strong>de</strong> do evento;<br />

e - erro amostral.<br />

EQ. 2<br />

Para calcular a amostra (n) foram utilizados os dados z = 1,64, consi<strong>de</strong>rando uma<br />

probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 90%, e = 10%; p = 85% e N = 320.<br />

Assim, o tamanho da amostra válida seria <strong>de</strong> 32 entrevistas, sem per<strong>de</strong>r o nível <strong>de</strong> confiança<br />

estatístico assumido. Adotou-se aquele universo populacional consi<strong>de</strong>rando ape<strong>nas</strong> a população<br />

economicamente ativa da Ilha <strong>de</strong> Deus. Então, esse número <strong>de</strong> indivíduos para respon<strong>de</strong>r o<br />

questionário (Q1) representa uma proporção <strong>de</strong> exatamente 10% dos que moram na Ilha, o que<br />

garante os níveis <strong>de</strong> confiança a<strong>de</strong>quados para o levantamento <strong>de</strong> informações <strong>de</strong> campo.<br />

Para entrevistar os produtores <strong>de</strong> camarão (Q2) e o comércio (Q3), teve-se que adotar o total<br />

do universo dos produtores, <strong>de</strong>vido ao número dos mesmos ser inferior a 30. Dessa forma, a<br />

distribuição não po<strong>de</strong> ser dada como normal e o tamanho da amostra é composto pelo tamanho da<br />

população finita.<br />

3. RECURSOS HÍDRICOS: ASPECTOS GERAIS E INDICADORES<br />

A água é um componente essencial à vida no planeta Terra, e se constitui parte<br />

indispensável para a manutenção <strong>de</strong> todos os ecossistemas. No entanto, a água vem se tornando<br />

397


escassa em qualida<strong>de</strong> e quantida<strong>de</strong>. Apesar <strong>de</strong> ser um recurso renovável, sua capacida<strong>de</strong> tem fim.<br />

Portanto, a água <strong>de</strong>ve ser utilizada <strong>de</strong> forma racional e a sua conservação <strong>de</strong>ve ser constante, seja no<br />

meio rural ou urbano (SANTOS, 2005).<br />

Atualmente, os recursos hídricos estão associados à qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong>senvolvimento,<br />

uma vez que uma cida<strong>de</strong> i<strong>de</strong>al é aquela que dispõem <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água, <strong>de</strong><br />

saneamento básico e disposição <strong>de</strong> resíduos sólidos. A qualida<strong>de</strong> da água representa, então, um dos<br />

principais problemas ambientais do Brasil. Dentro do conceito mais amplo <strong>de</strong> gestão da qualida<strong>de</strong><br />

da água, o saneamento representa o setor que mais claramente está vinculado à agenda ambiental,<br />

sendo certamente o principal em termos <strong>de</strong> impactos sociais e ambientais (LIMA, 2006).<br />

3.1 QUALIDADE DA ÁGUA<br />

A qualida<strong>de</strong> da água é um termo que não se restringe à <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> sua pureza, mas às<br />

suas características <strong>de</strong>sejadas para os seus diversos usos. Tanto as características físicas, químicas<br />

como as biológicas da água po<strong>de</strong>m ser alteradas e, na maioria das vezes, essas alterações são<br />

causadas por ações antrópicas. Aterros, <strong>de</strong>spejo <strong>de</strong> resíduos sólidos, efluentes resi<strong>de</strong>nciais, agrícolas<br />

e industriais e super exploração dos recursos pesqueiros são as principais alterações.<br />

Um dos ambientes que mais estão <strong>de</strong>gradando seus recursos hídricos e naturais, <strong>de</strong> uma<br />

forma geral, são os ambientes costeiros. Devido a sua localização, as zo<strong>nas</strong> costeiras são<br />

prejudicadas por inúmeros contaminantes resultantes das ações huma<strong>nas</strong>. Pela sua gran<strong>de</strong><br />

importância, em diversos aspectos, é necessária a implementação <strong>de</strong> meios <strong>de</strong> avaliação que<br />

quantifiquem e qualifiquem os problemas costeiros.<br />

Os índices e indicadores <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> da água funcionam como boas ferramentas acessíveis<br />

a técnicos ou público em geral na análise e monitoramento ambiental. Os índices <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong><br />

levam em conta o enquadramento dos corpos d'água, não necessariamente o atual, mas sim aquele<br />

que assegura as necessida<strong>de</strong>s para o bem-estar humano e ambiental.<br />

No Brasil, os índices <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> da água foram primeiramente utilizados por Horton<br />

(1965) e vêm sendo adotados pela Companhia <strong>de</strong> Tecnologia <strong>de</strong> Saneamento Ambiental (CETESB)<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1974, chamando-o <strong>de</strong> IQACETESB (índice <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> água <strong>de</strong>senvolvido pela<br />

CETESB, para o consumo humano e uso primário) (NORONHA, 2004).<br />

Pasini (2010) afirma que a partir da década <strong>de</strong> 90, começaram a ser incluídos parâmetros<br />

visando a qualida<strong>de</strong> em usos que não somente o abastecimento doméstico (IQA). Assim, <strong>de</strong>u início<br />

à i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> criação do índice com parâmetros que fornecessem uma relação da água superficial e seus<br />

efeitos no meio ambiente. Este índice foi nomeado IVA (Índice <strong>de</strong> Proteção da <strong>Vida</strong> Aquática), e<br />

398


vem sendo utilizado pela CETESB <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2002 no monitoramento das águas superficiais <strong>de</strong> São<br />

Paulo.<br />

O IVA avalia a qualida<strong>de</strong> da água <strong>de</strong> forma diferenciada <strong>de</strong> outros índices para o consumo<br />

humano e contato primário. Leva-se em consi<strong>de</strong>ração a presença e concentração <strong>de</strong> contaminantes e<br />

seus efeitos (toxida<strong>de</strong>). O resultado do índice é expresso em categorias <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>: ótima, boa,<br />

regular e péssima.<br />

Não existe um índice estabelecido para o estuário 48 . No Brasil, as regulamentações e normas<br />

são um pouco confusas ou inexistentes. Como não existe nada específico, o que se faz é recorrer a<br />

diversos meios, como índices aproximados e parâmetros complementares 49 .O índice IVA apresenta<br />

a flexibilida<strong>de</strong> na sua metodologia em se retirar ou adicionar parâmetros, <strong>de</strong> acordo com a área<br />

analisada <strong>de</strong> modo a se adaptar melhor ao ambiente a ser estudado (CETESB, 2012).<br />

Para o estuário da Bacia do Pina ainda não existe enquadramento, contudo como são<br />

realizadas diversas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesca e o objetivo é preservar as comunida<strong>de</strong>s aquáticas, os<br />

valores referenciados neste estudo são aqueles da classe 1, seção III, do segundo capítulo, como<br />

<strong>de</strong>fendido pela Resolução CONAMA Nº357/2005 50 . Para esta classe são <strong>de</strong>terminadas as seguintes<br />

recomendações e limites. A par do conceito e das modificações necessárias, o IVA se torna o índice<br />

utilizado na pesquisa, com o intuito <strong>de</strong> auxiliar no diagnóstico dos impactos ambientais referente à<br />

área em estudo, o ecossistema manguezal.<br />

4. ECOSSISTEMA MANGUEZAL<br />

Os mangues correspon<strong>de</strong>m a um tipo <strong>de</strong> vegetação arbóreo-arbustiva, que se <strong>de</strong>senvolve<br />

principalmente nos solos lamosos dos rios tropicais e subtropicais ao longo da zona <strong>de</strong> influência<br />

das marés, tanto para <strong>de</strong>ntro do estuário, on<strong>de</strong> as variações <strong>de</strong> marés impulsionam as águas salgadas<br />

do mar para <strong>de</strong>ntro do continente através do canal fluvial, como para as laterais dos rios em zo<strong>nas</strong><br />

sujeitas a inundações ao longo dos estuários.<br />

Os manguezais são caracterizados por uma baixa diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espécies arbóreas<br />

resistentes às condições halófilas das águas estuari<strong>nas</strong> ou regiões costeiras com influências <strong>de</strong> águas<br />

marinhas. É um ambiente propício à produção <strong>de</strong> matéria orgânica, o que garante alimento e<br />

proteção natural para a reprodução <strong>de</strong> diversas espécies marinhas e estuari<strong>nas</strong>.<br />

48<br />

Um estuário é um corpo d´água semicercado pelo continente, que apresenta uma conexão livre com o oceano aberto e no qual a<br />

água do mar é mensuravelmente diluída com a água doce <strong>de</strong>rivada da drenagem continental, neste ambiente se inclui os mangues<br />

como parte <strong>de</strong> um ecossistema maior.<br />

49<br />

Na avaliação da qualida<strong>de</strong> da água em sistemas costeiros po<strong>de</strong>m ser utilizados indicadores estéticos (como a visualização <strong>de</strong><br />

espumas) e indicadores biológicos, contudo estes não <strong>de</strong>monstram claramente a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> substâncias que interagem no estuário<br />

e <strong>de</strong>terminam a qualida<strong>de</strong> da água (PASINI,2010).<br />

50<br />

Disponível em: http://www.cetesb.sp.gov.br/Agua/praias/res_conama_357_05.pdf.<br />

399


A vegetação do tipo mangue é reconhecida pela legislação ambiental nacional como Área <strong>de</strong><br />

Preservação Permanente pelo Art. 2º da lei 4771/65 51 , que a consi<strong>de</strong>ra como florestas e <strong>de</strong>mais<br />

formas <strong>de</strong> vegetação natural. A presença <strong>de</strong> manguezais ao nível global restringe-se a zona<br />

intertropical entre as latitu<strong>de</strong>s 30º N e 30º S. São limitados pela isoterma <strong>de</strong> 20ºC <strong>de</strong> temperatura da<br />

água do mar, que por sua vez é controlada pelas correntes marinhas e que po<strong>de</strong> oscilar entre o<br />

inverno e o verão. Colonizam as costas tropicais e subtropicais, estando presentes <strong>nas</strong> Américas,<br />

África, Ásia e Oceania.<br />

Por sua vez, os mangues brasileiros possuem cerca <strong>de</strong> 25 mil km² <strong>de</strong> extensão, iniciando<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o Cabo Orange, no Amapá, até o município <strong>de</strong> Laguna, em Santa Catarina e, <strong>de</strong>vido a este<br />

fator, o país tem uma das maiores extensões <strong>de</strong> manguezais do mundo, aproximadamente 12% do<br />

manguezal do planeta. O órgão que é responsável pelo acompanhamento e monitoramento das áreas<br />

litorâneas, incluindo a preservação, conservação e manejo do ecossistema é o Instituto Brasileiro do<br />

Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA.<br />

De acordo com Farias (2007), os manguezais são importantes ecossistemas costeiros e<br />

facilitadores <strong>de</strong> uma intensa área <strong>de</strong> <strong>de</strong>posição, como estuários, fundos <strong>de</strong> baía e foz <strong>de</strong> rios. É um<br />

ambiente <strong>de</strong> transição entre os ambientes terrestre e marinho, característico <strong>de</strong> regiões tropicais e<br />

subtropicais, sujeito ao regime <strong>de</strong> marés.<br />

Sabe-se que até as primeiras décadas do século XX, os manguezais eram explorados <strong>de</strong><br />

maneira pouco intensa pela pesca, construção <strong>de</strong> viveiros para aqüicultura extensiva, extração para<br />

construções caiçaras e marambaias e construção civil. Nesse período, extensas áreas <strong>de</strong> manguezais<br />

no Nor<strong>de</strong>ste começaram a ser substituídas por sali<strong>nas</strong>. A partir da década <strong>de</strong> 50 este ecossistema<br />

começou a ser submetido à intensa pressão ambiental oriunda da expansão imobiliária e industrial.<br />

Gran<strong>de</strong>s superfícies foram <strong>de</strong>gradadas para facilitar a construção <strong>de</strong> polígonos mínero-metalúrgicos<br />

e industriais, como o caso <strong>de</strong> São Luís (MA), Belém (PA), Aracajú (SE) e Suape (PE).<br />

A partir da década <strong>de</strong> 70 a queda do preço do sal fez com que as áreas com menores<br />

produções fossem abandonadas, e com o passar dos anos alcançou a maior parte dos<br />

empreendimentos existentes no nor<strong>de</strong>ste, particularmente nos estado do Ceará e Rio Gran<strong>de</strong> do<br />

Norte. Ainda nesta década, as áreas abandonadas e que já estavam preparadas foram<br />

prioritariamente ocupadas pela ativida<strong>de</strong> da carcinicultura, que se iniciou no Rio Gran<strong>de</strong> do Norte.<br />

Outros estados como Pernambuco, Ceará, Paraíba e Bahia implantaram viveiros para cultivos <strong>de</strong><br />

51 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4771.htm.<br />

400


camarões marinhos, predominantemente da espécie exótica Litopennaeus vannamei, no mesmo<br />

período 52 .<br />

Hoje, os principais fatores que causam alterações <strong>nas</strong> proprieda<strong>de</strong>s físicas, químicas e<br />

biológicas do manguezal são: aterro e <strong>de</strong>smatamento, queimadas, <strong>de</strong>posição <strong>de</strong> lixo, lançamento <strong>de</strong><br />

esgoto, lançamentos <strong>de</strong> efluentes industriais, dragagens, construções <strong>de</strong> mari<strong>nas</strong> e a pesca<br />

predatória. Por outro lado, constata-se também num estudo feito para a comparação do mapeamento<br />

dos mangues no litoral do nor<strong>de</strong>ste brasileiro entre os anos 1978-2004 que houve um aumento <strong>de</strong><br />

cerca <strong>de</strong> 36% das áreas <strong>de</strong> mangue, em especial na cida<strong>de</strong> do Recife, um incremento <strong>de</strong> 0,69km²,<br />

passando <strong>de</strong> 2,25km² em 1978 (HERZ, 1991) para 2,94km².<br />

Observa-se ainda que muitas ativida<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>senvolvidas nesse ambiente sem causar<br />

prejuízos ou danos ao mesmo. Neste intuito se <strong>de</strong>stacam a pesca esportiva e <strong>de</strong> subsistência,<br />

evitando a sobre-pesca (a pesca <strong>de</strong> pós - larva, juvenis e <strong>de</strong> fêmeas ovadas) cultivo <strong>de</strong> ostras; cultivo<br />

<strong>de</strong> plantas ornamentais (orquí<strong>de</strong>as e bromélias); <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s turístico-recreativas,<br />

educacionais e pesquisa científica (FERREIRA, 2011).<br />

5. A COMUNIDADE DA ILHA DE DEUS: LOCALIZAÇÃO E HISTÓRICO<br />

A área em estudo faz parte da Bacia do Pina, on<strong>de</strong> encontra-se o Parque dos Manguezais 53 .<br />

Este consi<strong>de</strong>rado a maior área <strong>de</strong> manguezal urbano do país com uma extensão <strong>de</strong><br />

aproximadamente 212ha (SECTMA, 2007). A área do parque dos Manguezais apresenta interesses<br />

<strong>de</strong> or<strong>de</strong>m social, econômica, ecológica, imobiliária, viário, sanitário, e turístico. A pressão<br />

imobiliária local tem contribuído com o aterramento e <strong>de</strong>smatamento do manguezal para ocupação<br />

por famílias <strong>de</strong> baixa renda – como é o caso dos moradores da Ilha <strong>de</strong> Deus e também <strong>de</strong><br />

empreendimentos circunvizinhos.<br />

Decorrente, <strong>de</strong>ntre outros fatores, da expansão imobiliária <strong>de</strong>sorganizada, a área tem sofrido<br />

com a poluição da água através do <strong>de</strong>spejo dos efluentes domésticos na Bacia Hidrográfica do Pina.<br />

Resultados <strong>de</strong> pesquisas realizadas no local para o ano <strong>de</strong> 2011 (CF. FERREIRA, 2011), apontam<br />

52<br />

O censo realizado pela Associação Brasileira dos Criadores <strong>de</strong> Camarão (ABCC) em 2004, para a carcinicultura<br />

brasileira, mostra que na atualida<strong>de</strong> existem 16.598 hectares (165,98 Km²) <strong>de</strong> áreas cultivadas no país, sendo cerca <strong>de</strong><br />

75% localizadas em 5 estados da regiãoNor<strong>de</strong>ste: 6.281 ha (no Rio Gran<strong>de</strong> do Norte); 3.804 ha (no Ceará); 1.108 ha (no<br />

Pernambuco); 751 ha (no Piauí); e 630 ha (na Paraíba).<br />

53<br />

Tendo como base o Código Florestal Brasileiro – Lei nº 4.771, a área do Parque é consi<strong>de</strong>rada <strong>de</strong> preservação<br />

permanente <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1965, passando a ser reconhecida em 1996 como Zona Especial <strong>de</strong> Preservação Ambiental (ZEPA)<br />

através da Lei <strong>de</strong> Uso e Ocupação do Solo (LUOS) do Município <strong>de</strong> Recife. O Parque dos Manguezais sofre influência<br />

dos rios Jordão, Pina, Tejipió e Capibaribe (Braga et al., 2008).<br />

401


concentrações alteradas <strong>de</strong> nitrito, nitrato e fosfato, indicando contaminação por esgotos domésticos<br />

e efluentes ricos em nutrientes e a presença <strong>de</strong> resíduos sólidos <strong>de</strong> diversos tipos (sacolas plásticas,<br />

embalagens <strong>de</strong> alimentos, embalagens pet), em meio à vegetação.<br />

A comunida<strong>de</strong> da Ilha <strong>de</strong> Deus está localizada entre os rios Jordão e Pina e a <strong>de</strong>sembocadura<br />

do rio Tejipió. A ilha está ro<strong>de</strong>ada por tanques <strong>de</strong> engorda <strong>de</strong> camarão, inicialmente utilizados em<br />

meados dos anos setenta, recebendo incrementos na década <strong>de</strong> 90. Em <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong>ste fato, a<br />

comunida<strong>de</strong> da Ilha <strong>de</strong> Deus não se expandiu; do total dos moradores, 70% vive da pesca ou da<br />

carcinicultura (PRODEMA, 2008).<br />

Figura 1- Carcinicultura na Ilha <strong>de</strong> Deus<br />

Atualmente, a comunida<strong>de</strong> da Ilha <strong>de</strong> Deus apresenta mudanças significativas. O processo<br />

<strong>de</strong> urbanização na comunida<strong>de</strong> foi iniciado em maio <strong>de</strong> 2008. A obra está dividida espacialmente<br />

em três etapas (Área piloto, Área 1 e Área 2), essa divisão se estabeleceu para que houvesse uma<br />

otimização e uma harmonia no processo <strong>de</strong> urbanização. A primeira etapa das moradas já foi<br />

entregue, são 27 casas 54 todas providas <strong>de</strong> sistema <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água e esgotamento<br />

sanitário.As especulações eram que até o fim do ano <strong>de</strong> 2011 o processo <strong>de</strong> urbanização viesse a ser<br />

concluído, mas <strong>de</strong>vido a atrasos provocados por diversos fatores, a obra não foi entregue, mas já é<br />

possível observar uma nova relação <strong>de</strong> vida que se estabeleceu com a "Nova" Ilha <strong>de</strong> Deus.<br />

Do ponto <strong>de</strong> vista ambiental, a comunida<strong>de</strong> da Ilha <strong>de</strong> Deus tem sido capacitada por<br />

organizações não governamentais e o governo do estado para a conscientização do uso dos<br />

banheiros domésticos e a coleta seletiva. Apesar dos esforços por parte das capacitações e<br />

instruções dadas, os moradores ainda relutam em fazer o uso dos dois tipos <strong>de</strong> serviços. Quanto ao<br />

ecossistema, este ainda continua com aspecto visivelmente poluído. A comunida<strong>de</strong> ainda <strong>de</strong>posita<br />

lixo na margens da bacia hidrográfica e <strong>de</strong>spejam efluentes <strong>nas</strong> margens da mesma. Em última<br />

visita a comunida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>-se constatar o excesso <strong>de</strong> entulho e objetos <strong>nas</strong> margens do rio.<br />

54<br />

Está em fase <strong>de</strong> andamento um conjunto habitacional, que está sendo construindo na Vila da Imbiribeira, ou seja, fora<br />

da Ilha <strong>de</strong> Deus, que tem por objetivo <strong>de</strong>safogar o aglomerado que se estabelecia na Ilha <strong>de</strong> Deus (COSTA, 2011)<br />

402


6. RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

Os resultados obtidos embasam o objetivo geral do estudo dos impactos da poluição<br />

ambiental sobre a população da Ilha <strong>de</strong> Deus, em Recife/PE. O estudo presente consistiu em<br />

investigar, diagnosticar e, por fim, trazer alternativas econômicas, sociais e ambientais para o que<br />

ocorre no cotidiano da comunida<strong>de</strong> Ilha <strong>de</strong> Deus. Constata-se também que mesmo a pesquisa<br />

concentrando seus esforços em analisar os impactos ambientais da poluição <strong>de</strong> acordo com o tipo <strong>de</strong><br />

fonte <strong>de</strong> poluição difusa e no ponto <strong>de</strong> vista do emissor, os resultados expressos corroboram para o<br />

estado crítico em que se encontra a comunida<strong>de</strong> da Ilha <strong>de</strong> Deus atualmente.<br />

Inicialmente, a revisão bibliográfica abrangeu temas relacionados ao meio ambiente e<br />

diversos conceitos inseridos no mesmo. A economia, por sua vez, também se concentra no viés<br />

ecológico e as contribuições finais se baseiam nestas duas premissas técnicas.<br />

Dentro <strong>de</strong>sse contexto, os estudos dos efeitos da poluição sobre a qualida<strong>de</strong> da água através<br />

dos parâmetros físicos, químicos e biológicos revelaram que existe uma tendência ao ambiente<br />

anaeróbico, com quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> metais pesados e crescentes níveis <strong>de</strong> nitrogênio, fósforo e<br />

surfactantes. Devido a presença <strong>de</strong>stas substâncias, a bacia pesquisada e, principalmente o rio que<br />

corta a comunida<strong>de</strong>, encontra-se em processo <strong>de</strong> eutrofização, dificultando a ativida<strong>de</strong> e o habitat<br />

dos seres que no rio vivem. Em função <strong>de</strong>ste fenômeno, nota-se que a disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alimentos<br />

para o consumo e para a pesca - sururu, camarão - tem diminuído ao longo dos anos, segundo<br />

relatam os moradores da comunida<strong>de</strong>. A contaminação das espécies ocorre tanto em seu habitat<br />

natural como nos viveiros <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> camarão, com a morte das lavas pelos tanques apresentarem<br />

ambientes anaeróbios.<br />

A preservação do ecossistema manguezal se encontra ameaçada. Seja pela ativida<strong>de</strong><br />

antrópica ou pelo ambiente que tem se tornado inóspito <strong>de</strong>vido ao grau <strong>de</strong> poluição apresentado. O<br />

reflorestamento do mangue e da mata ciliar não tem sido uma ativida<strong>de</strong> prioritária por parte do<br />

po<strong>de</strong>r público e <strong>de</strong> toda a comunida<strong>de</strong>.<br />

O resultado do Índice <strong>de</strong> Proteção a <strong>Vida</strong> Aquática - IVA para a amostra recolhida<br />

apresentou o seguinte índice:<br />

IPMCA = 3 x 2<br />

IVA = (6 x 1,2) + 3<br />

IVA = 10,2<br />

O resultado do IVA prova que a qualida<strong>de</strong> da água para proteção da vida aquática é péssima,<br />

sendo imprescindível uma intervenção na ativida<strong>de</strong> poluidora. A comunida<strong>de</strong> é responsável<br />

403


parcialmente pelos problemas ambientais que são enxergados no cotidiano da Bacia Hidrográfica do<br />

Pina. Por este trabalho se tratar <strong>de</strong> uma análise <strong>de</strong> poluição pontual, não cabe aqui ten<strong>de</strong>r a<br />

responsabilida<strong>de</strong> ao ambiente macro, mas as indústrias vizinhas, o comércio e os empreendimentos<br />

construídos são parcelas consi<strong>de</strong>ráveis para se ter uma qualida<strong>de</strong> péssima e ten<strong>de</strong>nte a extinção do<br />

bioma.<br />

Com as respostas dos questionários 55 , po<strong>de</strong> obter o perfil do morador da Ilha <strong>de</strong> Deus sendo<br />

que quanto mais velho mais ten<strong>de</strong> a ter casa própria, ten<strong>de</strong> a ter um pequeno grau <strong>de</strong> instrução, a<br />

não ter conhecimento sobre o que seria uma Bacia Hidrográfica, porém saber o nome do rio que<br />

corta a comunida<strong>de</strong>. Além disso, o morador mais velho possui uma facilida<strong>de</strong> em perceber os<br />

problemas ambientais que ocorrem na ilha e participam mais ativamente <strong>nas</strong> reuniões em que o<br />

tema central seja <strong>de</strong>bater sobre o meio ambiente, contudo não enxergam nenhuma ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

educação ambiental na comunida<strong>de</strong>, o mo<strong>de</strong>lo também infere que existe uma tendência percentual<br />

<strong>de</strong> haver mais mulheres do que homens na ilha. A análise então dos questionários não foge da<br />

realida<strong>de</strong> observada na comunida<strong>de</strong> da Ilha <strong>de</strong> Deus, e a regressão linear corrobora para o<br />

embasamento <strong>de</strong> políticas públicas focadas no fiel perfil do morador da ilha.<br />

Observando a comunida<strong>de</strong> e a ativida<strong>de</strong> antrópica vê-se que se encontra em transformação.<br />

Des<strong>de</strong> <strong>de</strong> 2008 ela vem passando por um processo <strong>de</strong> urbanização, mas além disto, a comunida<strong>de</strong><br />

tem vivido momentos prósperos jamais vistos anteriormente. Com a estruturação da nova ilha, e<br />

com a facilitação <strong>de</strong> seu acesso, os moradores têm observado uma transformação social, sanitária e<br />

principalmente, inclusiva. As casas entregues trouxeram, para os domiciliados, um sentimento <strong>de</strong><br />

pertencimento e <strong>de</strong> inclusão na socieda<strong>de</strong> que po<strong>de</strong> ser visto nitidamente no relato <strong>de</strong> cada morador.<br />

Novamente, no prospecto ecológico, o po<strong>de</strong>r público necessita voltar atenção para o que<br />

ocorre com o bioma manguezal naquela comunida<strong>de</strong> e ao longo <strong>de</strong> toda a Bacia Hidrográfica do<br />

Pina. A criação da camarão, mesmo artesanal, traz impactos ao meio ambiente 56 , Além da<br />

<strong>de</strong>rrubada dos manguezais para construção <strong>de</strong> viveiros, existem outras interações adversas, tais<br />

como: as alterações hidrológicas causadas pela construção dos diques (tanques e berçários) que<br />

modificam o fluxo e o padrão <strong>de</strong> circulação <strong>de</strong> água no estuário; as alterações da salinida<strong>de</strong> pelos<br />

efluentes dos viveiros (normalmente mais salgados <strong>de</strong>vido a evaporação); a sedimentação dos<br />

55 Até o presente momento não houve resposta do questionário (Q3) <strong>de</strong> nenhuma das empresas e do empreendimento solicitado.<br />

Esperou-se que até o final da pesquisa, os requisitados pu<strong>de</strong>ssem se expressar <strong>de</strong> alguma maneira afim <strong>de</strong> viabilizar a pesquisa e,<br />

principalmente, os resultados para uma análise sofisticada e fiel do trabalho realizado.<br />

56<br />

Normalmente, a palavra impacto resulta em uma percepção <strong>de</strong> que este seja obrigatoriamente negativo. No entanto,<br />

<strong>de</strong>ntro da teoria ecológica, impacto ambiental é qualquer efeito que altera a estrutura do ecossistema sem a preocupação<br />

<strong>de</strong> classificá-lo como positivo ou negativo. Na minha opinião, para <strong>de</strong>svincular esta percepção negativa, seria mais<br />

a<strong>de</strong>quado renomea-lo como interações ambientais.<br />

404


pneumatóforos das raízes do mangue; a eutrofização das águas e a <strong>de</strong>scarga <strong>de</strong> substâncias<br />

potenciais.<br />

Além <strong>de</strong> causar prejuízos ao meio ambiente, o lançamento <strong>de</strong> efluentes pelos viveiros <strong>de</strong><br />

camarão po<strong>de</strong>m exce<strong>de</strong>r a capacida<strong>de</strong> assimilativa das águas receptoras, resultando em um efeito<br />

retroativo <strong>de</strong>nominado auto-poluição, on<strong>de</strong> a qualida<strong>de</strong> da água para os tanques fica poluída pelos<br />

próprios <strong>de</strong>jetos, resultando na <strong>de</strong>terioração do meio ambiente <strong>de</strong> cultivo com consequente perda <strong>de</strong><br />

produtivida<strong>de</strong>, epi<strong>de</strong>mias <strong>de</strong> doenças e, em última instância, a inviabilização econômica da área.<br />

O intuito <strong>de</strong>ste trabalho através dos resultados obtidos é incitar a uma proposta conciliadora<br />

em que o prejuízo socioeconômico seja diminuto para comunida<strong>de</strong> e para o ecossistema, seguindo a<br />

premissa da sustentabilida<strong>de</strong> forte, em que a economia internaliza os seus custos ambientais -<br />

externalida<strong>de</strong>s - uma vez que o limite absoluto dado pela natureza impõe escolhas aos agentes.<br />

Diversos estudos sobre políticas mitigatórias <strong>de</strong> danos ambientais respon<strong>de</strong>m no intuito <strong>de</strong> se<br />

<strong>de</strong>sfazer da externalida<strong>de</strong> negativa que existe no ambiente analisado.<br />

7. CONCLUSÃO<br />

Reconhece-se <strong>de</strong>ssa forma que o ecossistema manguezal é uma área <strong>de</strong> interesse social,<br />

econômico, ecológico e turístico, e este estudo aprofundado do ecossistema e <strong>de</strong> sua saú<strong>de</strong><br />

ambiental por meio da análise hídrica se faz necessário pois, possibilita uma melhoria na condição<br />

<strong>de</strong> vida da população que habita nesta área.<br />

O trabalho serve <strong>de</strong> base, também, como indicativo para o fomento <strong>de</strong> políticas públicas<br />

voltadas para a preservação e conservação dos mangues, redução da ativida<strong>de</strong> antrópica que<br />

prejudica o meio ambiente e melhoria da saú<strong>de</strong> do ecossistema, e, consequentemente da população.<br />

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

AZEVEDO, F.A.; CHASIN, A.A.M. (eds). Metais: Gerenciamento da toxicida<strong>de</strong>. São<br />

Paulo:Editora Atheneu, 2003. 554p.<br />

BECKER, Bertha K. Revisão das Políticas <strong>de</strong> Ocupação da Amazônia: é possível i<strong>de</strong>ntificar<br />

mo<strong>de</strong>los para projetar cenários?. Parcerias Estratégicas, nº 12. 2001. Site:<br />

http://www.mct.gov.br/CEE/revista/Parcerias12/09bertha.pdf. Acesso em 10 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 2012;<br />

BRASIL. Constituição Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> 1988.<br />

405


______. Plataforma Brasileira <strong>de</strong> Direitos Humanos, Econômicos, Sociais e Culturais. Relatório<br />

sobre os Direitos Humanos, Econômicos, Sociais e Culturais: Meio Ambiente, Saú<strong>de</strong>, Moradia<br />

A<strong>de</strong>quada, Educação, Trabalho e Alimentação, Água e Terra Rural.2003;<br />

______. Política Nacional do Meio Ambiente. Lei n.º 6.938 <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1981.<br />

CAPRA, Fritjof. O Ponto <strong>de</strong> Mutação; trad. Álvaro Cabral. 25ª edição. São Paulo: Cultrix,2005;<br />

CETESB. Variáveis <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> da água. Disponível em<br />

acesso em 15/02/2012;<br />

FARIAS, Luana das Graças Queiróz <strong>de</strong>. Aspectos Legais e <strong>de</strong> Sustentabilida<strong>de</strong> nos Manguezais<br />

Baianos : O Caso <strong>de</strong> Canavieiras. Ilheus, Bahia, 2007.<br />

FERNANDEZ, R. N.; KUWAHARA, M. Y. O VALOR ECONÔMICO DOS RECURSOS<br />

HÍDRICOS NO USO TURÍSTICO: O EXEMPLO DE BROTAS. VI Encontro da Socieda<strong>de</strong><br />

Brasileira <strong>de</strong> Economia Ecológica "O Meio Ambiente <strong>nas</strong> Políticas Públicas" Brasília - 2005<br />

FERREIRA, Bruno M. Os impactos da poluição sobre a saú<strong>de</strong> ambiental e social da população da<br />

ilha <strong>de</strong> <strong>de</strong>us no Recife. Recife, 2011.<br />

GODARD, O. Environnement et théorie économique: <strong>de</strong> l‟internalisation <strong>de</strong>s effets externes au<br />

développement soutenable.In: SEMINAIRE Ecologie et Environnement, École Nationale <strong>de</strong> la<br />

Magistrature, Paris, 1992;<br />

HARTMANN, PHILLIP; Der Einsatz marktwirtschaftlicher Instrumente in <strong>de</strong>r Umweltpolitik. Eine<br />

ökonomische Analyse und Bewertung am Beispiel <strong>de</strong>rWassernutzungsabgaben in Brasilien.<br />

Marburg, Alemanha, 2005;<br />

HERZ, R. Manguezais do Brasil. Instituto Oceanográfico, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, São Paulo,<br />

1991, 227 p.;<br />

LIMA, E.C.R. <strong>Qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> água da Baía <strong>de</strong> Guanabara e saneamento: uma abordagem sistêmica.<br />

2006, 183f. Tese (Doutorado em Engenharia) - Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro, Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro.<br />

MAY, Peter H., LUSTOSA, Maria Cecília e VINHA, Valéria. (Org.). Economia do meio ambiente:<br />

teoria e prática. – Rio <strong>de</strong> Janeiro: Elsevier, 2003. p. 81 a 291;<br />

406


PASINI, Renata. Aplicação do Índice <strong>de</strong> Proteção da <strong>Vida</strong> Aquática (IVA) ao sistema estuarino da<br />

baía <strong>de</strong> Vitória. Dissertação apresentada ao programa <strong>de</strong> Pós graduação em Engenharia Ambiental.<br />

UFES, 2010;<br />

PEREIRA, R. S. I<strong>de</strong>ntificação e caracterização das fontes <strong>de</strong> poluição em sistemas hídricos. Revista<br />

Eletrônica <strong>de</strong> Recursos Hídricos. IPH - UFRGS. v.1, n.1. p. 20-36. 2004;<br />

PILLET, Gonzague. Economia Ecológica, 3ª edição. São Paulo, 1993.<br />

PRODEMA. Relatório do Seminário e da Oficina Estratégias para Conservação e Gestão do<br />

Manguezal do Pina. Recife, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Pernambuco - UFPE, 2008;<br />

ROMEIRO, A.R. "Economia ou Economia Política da Sustentabilida<strong>de</strong>" in MAY, P.& LUSTOSA,<br />

M.C. & VINHA, V. Economia do Meio Ambiente. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Campus, 2003, pp 1-14.<br />

SACHS, Ignacy. Estratégias <strong>de</strong> transição para o século XXI. In: Bursztyn, Marcel. Para pensar o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento sustentável. São Paulo: Brasiliense, 1993.;<br />

SÁNCHEZ, Luis E. Avaliação <strong>de</strong> impacto ambiental: conceitos e métodos.São Paulo: Oficina <strong>de</strong><br />

Textos, 2006. 495p.;<br />

SANTOS, Ricardo B. dos. Relações entre meio ambiente e ciência econômica:reflexões sobre<br />

economia ambiental e a sustentabilida<strong>de</strong>. Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná - UFPR. 2007;<br />

SECTMA, 2007. Relatório sobre o Parque dos Manguezais do Recife. Recife.<br />

SETTI, A. A.; LIMA, J. E. F. W.; CHAVES, A. G. M.; PEREIRA, I. C. Introdução ao<br />

gerenciamento <strong>de</strong> recursos hídricos. Brasília-DF, 2 ed., ANEEL, ANA, 2001, 235 p.<br />

SILVA, M. A. R. "Economia dos Recursos Naturais" in MAY, P.& LUSTOSA, M.C. & VINHA,<br />

V. (orgs) Economia do Meio Ambiente. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Campus, 2003, pp 33-57.<br />

SINHA, U. P. Economics of Social Sector and environment. India, 2007. 284 p.;<br />

407


ENTRE O POSSÍVEL E O DESEJÁVEL: O PANORAMA DO CENTRO HISTÓRICO NA<br />

CIDADE DE SÃO LUÍS MEDIANTE A ACESSIBILIDADE PARA O CADEIRANTE¹<br />

Resumo<br />

Alcimar Ferreira RIBEIRO (DHG/UEMA)<br />

alcimar.ribeiro@globomail.com*<br />

Igor Márcio Carneiro LOPES (DHG/UEMA)<br />

igor.lopes@hotmail.com*<br />

Hermeneilce Wasti Aires Pereira CUNHA (DHG/UEMA)<br />

wasti_uema@yahoo.com.br¹<br />

O presente trabalho tem como principal objetivo estudar a acessibilida<strong>de</strong> para os ca<strong>de</strong>irantes no<br />

Centro Histórico da capital maranhense. Para tanto, fez-se a i<strong>de</strong>ntificação das necessida<strong>de</strong>s e<br />

limitações <strong>de</strong>sses sujeitos nesse espaço, traçando o perfil socioeconômico dos ca<strong>de</strong>irantes, em<br />

seguida, <strong>de</strong>u-se início à catalogação e <strong>de</strong>limitação do Centro Histórico no intuito <strong>de</strong> serem criados<br />

roteiros acessíveis aos ca<strong>de</strong>irantes, uma vez feita caracterização dos principais problemas referentes<br />

à acessibilida<strong>de</strong> nesse espaço urbano da capital maranhense. Entre os principais problemas<br />

enfrentados pelos ca<strong>de</strong>irantes no Centro Histórico <strong>de</strong> São Luís, encontram-se calçadas irregulares e<br />

com pedras soltas, número limitado <strong>de</strong> rampas, ausência <strong>de</strong> guias rebaixadas <strong>nas</strong> calçadas da<br />

maioria dos bairros que compreen<strong>de</strong>m a sua área, falta <strong>de</strong> sinalização, presença <strong>de</strong> ambulantes e<br />

placas obstruindo passagens, dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso aos estabelecimentos comerciais, a<strong>de</strong>quação nos<br />

ambientes <strong>de</strong> lazer, casas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e <strong>nas</strong> residências, <strong>de</strong>ntre outros. Além das dificulda<strong>de</strong>s<br />

arquitetônicas, verifica-se o preconceito <strong>de</strong> algumas pessoas com relação às pessoas com<br />

<strong>de</strong>ficiência física, vendo-os não como cidadãos tão pouco consumidores do espaço citadino, mas<br />

como indivíduos que precisam a<strong>de</strong>quar-se à cida<strong>de</strong>, com todos os seus entraves e não com um<br />

planejamento inclusivo e igualitário para a socieda<strong>de</strong> em geral. Em meio a isso, quando se olha para<br />

as políticas <strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong> urbana existentes na cida<strong>de</strong>, constata-se que na prática ocorre o inverso<br />

<strong>de</strong> tais políticas, resultando num <strong>de</strong>srespeito aos ca<strong>de</strong>irantes, que veem o simples ato <strong>de</strong> ir e vir<br />

como uma gran<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>, visto que esse espaço urbano da capital maranhense, consi<strong>de</strong>rado o<br />

núcleo inicial da cida<strong>de</strong>, encontra-se carente <strong>de</strong> equipamentos a<strong>de</strong>quados às suas dificulda<strong>de</strong>s, como<br />

rampas e guias rebaixadas <strong>nas</strong> calçadas que, uma vez existentes nesses locais, facilitam a<br />

locomoção <strong>de</strong>sses indivíduos.<br />

Palavras-chave: Acessibilida<strong>de</strong>; Ca<strong>de</strong>irante; Centro Histórico <strong>de</strong> São Luís.<br />

408


Abstract<br />

This work has as main objective to study the accessibility for wheelchair users in the Historic<br />

Centre of São Luís. For both, it was the i<strong>de</strong>ntification of the needs and limitations of these subjects<br />

in this space, tracing the socioeconomic profile of the wheelchair, then was begun cataloging and<br />

<strong>de</strong>limitation of the historic center in or<strong>de</strong>r to be created itineraries accessible to wheelchair users,<br />

since ma<strong>de</strong> characterization of the main problems regarding accessibility in the urban space of São<br />

Luís. Among the main problems faced by wheelchair users in the Historic Center of St. Louis,<br />

si<strong>de</strong>walks are uneven and loose stones, limited number of ramps, no gui<strong>de</strong>s downgra<strong>de</strong>d the<br />

si<strong>de</strong>walks of most neighborhoods that comprise your area, lack of signage, presence of vendors and<br />

boards blocking passages, difficulty of access to shops, leisure fitness environments, nursing homes<br />

and homes, among others. Besi<strong>de</strong>s the architectural difficulties, there is the prejudice of some<br />

people with regard to people with physical disabilities, seeing them not as citizens as consumers<br />

little space city, but as individuals who need to adapt to the city, with all its barriers rather than<br />

planning for inclusive and equitable society in general. Amidst this, when you look at the policies of<br />

urban mobility in the city, it appears that in practice the opposite occurs of such policies, resulting<br />

in disrespect for wheelchair users, who see the simple act of coming and going as a great difficulty<br />

since this urban space of São Luis, consi<strong>de</strong>red the initial core of the city is lacking a<strong>de</strong>quate<br />

equipment to their difficulties, such as ramps and recessed tabs on si<strong>de</strong>walks that once existing in<br />

these locations, facilitate the movement of these individuals.<br />

Keywords: Accessibility; Wheelchair; Historic Centre of Saint Louis.<br />

Introdução<br />

O acesso aos sítios históricos pelos moradores ou visitantes <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong> se<br />

caracteriza como uma ativida<strong>de</strong> livre e espontânea, na qual há arraigado um importante<br />

valor histórico e material que é passado <strong>de</strong> gerações em gerações <strong>de</strong>vido à história que esse<br />

espaço apresenta e repassa a toda uma socieda<strong>de</strong>. Nesse sentido, a acessibilida<strong>de</strong> plena <strong>de</strong>sse<br />

espaço se caracteriza como fundamental e indispensável para que todos, sem exceção,<br />

possam frequentar permanente ou temporariamente esses locais. Daí a importância <strong>de</strong><br />

garantir o pleno acesso aos sítios históricos que, além <strong>de</strong> uma ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lazer, apresenta-<br />

se como a melhor maneira <strong>de</strong> possibilitar que a memória e importância da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um<br />

povo sejam conservadas e apresentadas através <strong>de</strong>sses sítios <strong>de</strong> preservação histórica.<br />

A acessibilida<strong>de</strong> é um valor intrínseco aos espaços urbanos e o cidadão ao caminhar<br />

por esses espaços, está exercendo seu direito <strong>de</strong> ir e vir, assegurados na Carta Magna do<br />

409


País. Porém, para que esse direito seja usufruído por todos, necessita-se <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> em todos os<br />

aspectos componentes <strong>de</strong>sses espaços. Inserem-se então nesse contexto, as pessoas com <strong>de</strong>ficiência<br />

física temporária ou permanente, que assim como as pessoas <strong>de</strong> locomoção privilegiada, também<br />

exercem ativida<strong>de</strong>s das mais diversas naturezas nesses ambientes, tais como lazer e trabalho.<br />

Segundo Santos (2002), as cida<strong>de</strong>s mo<strong>de</strong>r<strong>nas</strong> nos movem como se fôssemos máqui<strong>nas</strong> e os<br />

nossos menores gestos são comandados por um relógio onipresente. Nossos minutos são os minutos<br />

dos outros e a articulação dos movimentos e gestos é um dado banal da vida coletiva. Quanto mais<br />

artificial é o meio, maior é a exigência <strong>de</strong>ssa racionalida<strong>de</strong> instrumental que, por sua vez, exige<br />

mais artificialida<strong>de</strong> e racionalida<strong>de</strong>. Mas esses imperativos da vida urbana estão cada vez mais<br />

invadindo o campo mo<strong>de</strong>rnizado, on<strong>de</strong> as conseqüências da globalização impõem práticas<br />

estritamente ritmadas.<br />

Partindo para o conceito <strong>de</strong> acessibilida<strong>de</strong>, o Estatuto da Mobilida<strong>de</strong> Urbana (2005)<br />

estabelece que acessibilida<strong>de</strong> ―é a facilida<strong>de</strong>, em distância, tempo e custo, <strong>de</strong> se alcançar<br />

fisicamente, a partir <strong>de</strong> um ponto específico no espaço urbano, os <strong>de</strong>stinos <strong>de</strong>sejados‖.<br />

Contrapondo-se a isso, encontra-se na realida<strong>de</strong> dos espaços urbanos, em sua gran<strong>de</strong><br />

maioria, a total ou parcial falta <strong>de</strong> acessibilida<strong>de</strong> e a<strong>de</strong>quação dos seus equipamentos urbanos que<br />

compõem os mais diversos aspectos da cida<strong>de</strong>, seja na oferta <strong>de</strong> lazer, trabalho e/ou moradia para<br />

seus cidadãos que ocupam esses espaços <strong>de</strong> forma temporária ou permanente.<br />

Em se tratando do cenário da pesquisa, recorte empírico e área <strong>de</strong> estudo, apresenta-se a<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Luís e o seu Centro Histórico, como espaços urbanos on<strong>de</strong> atuam os sujeitos da<br />

referente pesquisa, os ca<strong>de</strong>irantes.<br />

A cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Luís, capital do estado do Maranhão, situa-se na Ilha do Maranhão e limita-<br />

se com o Oceano atlântico ao norte; com o Estreito dos Mosquitos, ao sul; com a Baía <strong>de</strong> São<br />

Marcos a oeste; e com o município <strong>de</strong> São José <strong>de</strong> Ribamar a oeste. Fazem parte da Ilha do<br />

Maranhão, além do município <strong>de</strong> São Luís, os municípios <strong>de</strong> São José <strong>de</strong> Ribamar, Paço do Lumiar<br />

e Raposa.<br />

De acordo com dados do Censo Demográfico do IBGE <strong>de</strong> 2010, o município <strong>de</strong> São Luís<br />

conta com uma população <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 1.011.000 habitantes, o que caracteriza cerca <strong>de</strong> 15% da<br />

população total do Estado, que possui pouco mais <strong>de</strong> 6 milhões e meio <strong>de</strong> habitantes. Já o Centro<br />

Histórico ludovicense, área <strong>de</strong> estudo da pesquisa, situa-se na faixa costeira noroeste da Ilha do<br />

Maranhão, sendo la<strong>de</strong>ado pelos rios Anil e Bacanga e ficando <strong>de</strong> frente para a Baía <strong>de</strong> São Marcos<br />

(Figura 01).<br />

410


Figura 01: Centro Histórico <strong>de</strong> São Luís localizado na Ilha do Maranhão.<br />

Fonte: Google Earth<br />

Org.: CUNHA, H.W.A.P (2012)<br />

Nesse contexto, o trabalho visa apresentar os resultados finais da pesquisa que trata<br />

da acessibilida<strong>de</strong> no Centro Histório da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Luís mediante a presença dos<br />

ca<strong>de</strong>irantes na cida<strong>de</strong> fragmentada, bem como procura fazer análises e suscitar discussões<br />

relacionadas à segregação impostas aos ca<strong>de</strong>irantes e posteriores medidas aplicáveis <strong>de</strong><br />

acessibilida<strong>de</strong> e inclusão social, tendo como pano <strong>de</strong> fundo um dos principais cartões postais<br />

e símbolos da capital maranhense.<br />

Para atingir os objetivos propostos na referente pesquisa, fez-se uso <strong>de</strong> diversas<br />

metodologias que, ao longo dos primeiros seis meses <strong>de</strong> trabalho, foram aplicadas seguindo<br />

a um cronograma estabelecido inicialmente e executadas em várias etapas sistematizadas no<br />

plano <strong>de</strong> trabalho.<br />

Inicialmente realizou-se o levantamento bibliográfico sobre questões referentes a<br />

cida<strong>de</strong>s e seus equipamentos; acessibilida<strong>de</strong> em sítios históricos; segregação <strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s<br />

com ênfase <strong>nas</strong> pessoas com <strong>de</strong>ficiência física, sujeitos pesquisados na pesquisa, <strong>de</strong>ntre<br />

outros temas relacionados à acessibilida<strong>de</strong>; além <strong>de</strong> releituras aprofundadas a obras<br />

referentes à cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Luís e o seu Centro Histórico. Para tanto, realizou-se pesquisas no<br />

acervo da biblioteca da Universida<strong>de</strong> Estadual do Maranhão – UEMA, além <strong>de</strong> órgãos<br />

públicos, a fim <strong>de</strong> se obter monografias, dissertações e teses e <strong>de</strong>mais pesquisas na área em<br />

411


questão, trabalhos estes <strong>de</strong> âmbitos local, regional e nacional, bem como boletins, relatórios <strong>de</strong><br />

pesquisas, <strong>de</strong>ntre outros.<br />

Na segunda etapa da pesquisa, Com bases em informações preexistentes, caracterizou-se a<br />

área <strong>de</strong> estudo da referente pesquisa. Para tanto, realizou-se visitas mensais ao local a fim <strong>de</strong> se<br />

apurar possíveis mudanças nos cenários dos equipamentos urbanos componentes do Centro<br />

Histórico, além <strong>de</strong> obtenção do registo fotográfico, on<strong>de</strong> foi possível fazer as análises e<br />

comparações acerca da acessibilida<strong>de</strong> nesse espaço urbano e suas interferências no cotidiano das<br />

pessoas com <strong>de</strong>ficiência física que frequentam aquele ambiente.<br />

Na terceira etapa, uma vez a pesquisa estando voltada para as pessoas com dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

locomoção, sendo esta temporária ou permanente, tendo os ca<strong>de</strong>irantes como sujeitos da pesquisa,<br />

procurou-se <strong>de</strong>senvolver entrevistas e aplicação <strong>de</strong> questionários com os mesmos, no intuito <strong>de</strong><br />

serem apuradas informações que auxiliasse no levantamento e caracterização da acessibilida<strong>de</strong> do<br />

Centro Histórico, tendo como referências, além da fundamentação bibliográfica, a visão dos<br />

próprios ca<strong>de</strong>irantes.<br />

Na entrevista, procurou-se apurar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> questões <strong>de</strong> infraestrutura das ruas e construções até<br />

a situação referente à relação inclusão/exclusão dos ca<strong>de</strong>irantes nos principais pontos <strong>de</strong> lazer,<br />

trabalho, assistência hospitalar, entretenimento, etc.<br />

É importante salientar também que as entrevistas e a aplicação dos questionários não se<br />

restringiram somente aos ca<strong>de</strong>irantes que moram ou visitam o Centro Histórico, mas sim a todos os<br />

ca<strong>de</strong>irantes <strong>de</strong> são Luís que se disponibilizaram a prestarem informações acerca das principais<br />

características que, na visão <strong>de</strong>les, classifica um local como acessível para pessoas com <strong>de</strong>ficiência<br />

física.<br />

Procurou-se apurar a situação da acessibilida<strong>de</strong> não ape<strong>nas</strong> do Centro Histórico, mas <strong>de</strong> toda<br />

a cida<strong>de</strong>, fazendo uma comparação dos diversos bairros nos quais resi<strong>de</strong>m ou frequentam com<br />

maior intensida<strong>de</strong>. Desse modo, po<strong>de</strong>m-se constatar a existência <strong>de</strong> diferentes estruturas inclusivas<br />

e exclusivas numa mesma cida<strong>de</strong>, com realida<strong>de</strong>s que serão apresentadas nos resultados parciais e<br />

finais <strong>de</strong>sta pesquisa.<br />

Na quarta e última etapa da pesquisa, primeiramente, iniciou-se a estruturação dos dados<br />

obtidos, com a leitura e reflexão dos diversos trabalhos científico-acadêmicos estudados; seleção<br />

das principais imagens adquiridas no registro fotográfico; levantamento dos principais pontos que<br />

apresentam acessibilida<strong>de</strong> e os que não apresentam nenhum tipo <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quação para a livre<br />

locomoção dos ca<strong>de</strong>irantes.<br />

Em seguida, partiu-se para a apuração das ações encontradas no local, indicadoras <strong>de</strong><br />

possíveis evoluções na sua a<strong>de</strong>quação para as pessoas com <strong>de</strong>ficiência física, bem como os locais<br />

412


on<strong>de</strong> se constatou total falta <strong>de</strong> assistência por parte dos gestores públicos, responsáveis pela<br />

à manutenção e a<strong>de</strong>quação dos equipamentos urbanos do Centro Histórico da capital<br />

maranhense.<br />

Como resultados da pesquisa, tem-se que o Cetro Histórico da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Luís<br />

que, <strong>nas</strong> vésperas <strong>de</strong> completar quatrocentos anos <strong>de</strong> fundação, abriga um importante sítio<br />

histórico. Trata-se do maior e mais belo acervo arquitetônico <strong>de</strong> origem portuguesa da<br />

América Latina, recebendo, no ano <strong>de</strong> 1997, o título <strong>de</strong> Patrimônio Cultural da Humanida<strong>de</strong><br />

pela UNESCO. Sua área <strong>de</strong> casarões históricos ocupa cerca <strong>de</strong> 250 hectares e envolve três<br />

mil e quinhentas construções.<br />

Essa herança é proveniente dos colonizadores portugueses e seus <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes que<br />

reproduziam nos solares e casarões o estilo arquitetônico colonial europeu. Nele os<br />

colonizadores utilizaram o revestimento <strong>nas</strong> fachadas como forma estratégica para amenizar<br />

o calor e evitar a umida<strong>de</strong>. Outra característica do estilo europeu presente no local são as<br />

diversas escadarias que se espalham por todo o Centro Histórico, caracterizando-se, assim,<br />

num obstáculo para pessoas com <strong>de</strong>ficiência físico-motora que fazem uso <strong>de</strong>sse espaço<br />

como formas <strong>de</strong> lazer, trabalho, entretenimento, etc.<br />

De acordo com Santana (2007), O Centro Histórico <strong>de</strong> São Luís é uma referência<br />

histórica para a compreensão do processo <strong>de</strong> estruturação da capital maranhense.<br />

Atualmente, é um lugar <strong>de</strong> representação que guarda elementos marcantes que se confun<strong>de</strong>m<br />

com a história da cida<strong>de</strong>.<br />

Paiva (2009. 85), diz que a área que compreen<strong>de</strong> o Centro Histórico ―esten<strong>de</strong>-se para<br />

outras áreas adjacentes do núcleo primitivo da expansão urbana ocorrida nos séculos XVIII,<br />

XIX e início do século XX e abrange os bairros da Praia Gran<strong>de</strong>, Centro, Apicum, Desterro,<br />

Madre Deus, Belira, Macaúba e Coreia‖.<br />

No que se refere aos <strong>de</strong>safios enfrentados pelos ca<strong>de</strong>irantes no Centro Histórico da<br />

capital maranhense, A concretização do sentido ―<strong>de</strong> todos‖ é uma realida<strong>de</strong> distante.<br />

Infelizmente, o país é <strong>de</strong> poucos, o governo é <strong>de</strong> alguns e cidadania a gente não vê por aqui.<br />

(SILVA, 2007, p. 142).<br />

Entre os principais problemas enfrentados pelos ca<strong>de</strong>irantes no Centro Histórico <strong>de</strong> São<br />

Luís, encontram-se calçadas irregulares e com pedras soltas, número limitado <strong>de</strong> rampas, ausência<br />

<strong>de</strong> guias rebaixadas (calçadas), falta <strong>de</strong> sinalização, excesso <strong>de</strong> escadarias (Figura 03), presença <strong>de</strong><br />

ambulantes e placas obstruindo passagens, dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso aos estabelecimentos comerciais,<br />

a<strong>de</strong>quação nos ambientes <strong>de</strong> lazer, casas hospitalares e <strong>nas</strong> residências, <strong>de</strong>ntre outros.<br />

413


Figura 03: Barreira arquitetônica no Centro Histórico <strong>de</strong> São Luís.<br />

Fonte: RIBEIRO, A. F. (2011)<br />

Além das dificulda<strong>de</strong>s arquitetônicas, verifica-se o preconceito <strong>de</strong> algumas pessoas com<br />

relação à pessoa com <strong>de</strong>ficiência, visualizando-a não como cidadã tampouco consumidora do<br />

espaço citadino, mas sim como um indivíduo que precisa a<strong>de</strong>quar-se a cida<strong>de</strong>, com todos os seus<br />

entraves e não com um planejamento inclusivo e igualitário para a socieda<strong>de</strong> em geral.<br />

A partir dos questionários aplicados aos moradores e visitantes do Centro Histórico <strong>de</strong> São<br />

Luís foi possível tirar algumas conclusões acerca da realida<strong>de</strong> a qual vivem essas pessoas que tem<br />

incapacida<strong>de</strong> ou capacida<strong>de</strong> reduzida <strong>de</strong> locomoção e, portanto, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ira-<strong>de</strong>-rodas para<br />

se locomoverem pelos espaços da cida<strong>de</strong>, neste caso específico, o Centro Histórico da capital<br />

maranhense. Procurou-se nessa etapa da pesquisa, analisar a acessibilida<strong>de</strong> do Centro Histórico<br />

vista pelos próprios ca<strong>de</strong>irantes.<br />

Em meio a isso, através da entrevista realizada com os ca<strong>de</strong>irantes, constatou-se total<br />

indignação em relação às condições apresentadas por esse espaço urbano, carente <strong>de</strong> equipamentos<br />

a<strong>de</strong>quados às suas necessida<strong>de</strong>s físicas, o que se caracteriza como precarieda<strong>de</strong> nos serviços <strong>de</strong><br />

acessibilida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ados por uma série <strong>de</strong> problemas, tais como infraestrutura edificações<br />

(Figura 04), paisagismo urbano, ofertas <strong>de</strong> lazer, conservação <strong>de</strong> ruas e edificações, <strong>de</strong>ntre outros<br />

serviços oferecidos <strong>nas</strong> diversas áreas do Centro Histórico.<br />

414


Figura 04: Buracos na Rua da Estrela, Centro Histórico <strong>de</strong> São Luís/MA.<br />

Fonte: RIBEIRO, A. F. (2011)<br />

Durante a entrevista realizada com os ca<strong>de</strong>irantes, procurou-se analisar a visão do ca<strong>de</strong>irante<br />

morador da área <strong>de</strong> estudo e a do ca<strong>de</strong>irante que ape<strong>nas</strong> visita o local em questão mensalmente ou<br />

poucas vezes no ano. O objetivo fora comparar as opiniões dos sujeitos que apresentam a mesma<br />

<strong>de</strong>ficiência física, porém em termos <strong>de</strong> conhecimento do local, um apresenta uma visão <strong>de</strong> quem<br />

viveu a vida inteira na área <strong>de</strong> estudo, enquanto o outro a <strong>de</strong> um mero visitante.<br />

“Moro no Desterro <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que <strong>nas</strong>ci, <strong>de</strong> lá para cá quase nada foi alterado na estrutura do CH e creio que<br />

nada mudará nos próximos anos, apesar <strong>de</strong> existir vários projetos do Po<strong>de</strong>r Público para a<strong>de</strong>quação dos<br />

equipamentos urbanos para as pessoas com <strong>de</strong>ficiência física”.<br />

Ca<strong>de</strong>irante moradora do Centro Histórico<br />

“Visito constantemente o CH, on<strong>de</strong> costumo jogar basquete com outros amigos ca<strong>de</strong>irantes. Percebo sem<br />

muito esforço as barreiras impostas a nós não só <strong>nas</strong> ruas inacessíveis como também em diversos<br />

estabelecimentos públicos, comerciais e <strong>de</strong> lazer”.<br />

Ca<strong>de</strong>irante morador do Monte Castelo.<br />

Realizada a comparação, concluiu-se que suas visões e opiniões são as mesmas, visto que<br />

ambos apontaram os mesmos problemas e necessida<strong>de</strong>s encontrados no Centro Histórico. Em face<br />

<strong>de</strong>ssa realida<strong>de</strong>, apontou-se a falta <strong>de</strong> politicas <strong>de</strong> planejamento em prol da acessibilida<strong>de</strong> e a falta<br />

415


<strong>de</strong> consistência <strong>nas</strong> politicas já existentes, às quais, segundo os ca<strong>de</strong>irantes, na maioria dos casos,<br />

não saem do papel.<br />

Para os ca<strong>de</strong>irantes entrevistados não moradores do Centro Histórico, o motivo das visitas a<br />

essa localida<strong>de</strong> da cida<strong>de</strong> dar-se-á por diversos motivos, entre os quais está o fato <strong>de</strong> nesse local<br />

existir vários órgãos públicos como o Palácio <strong>de</strong> La Ravardière, se<strong>de</strong> da prefeitura; Palácio dos<br />

Leões, se<strong>de</strong> do governo do Estado; Palácio da Justiça e o centro <strong>de</strong> <strong>de</strong>tenção Reffsa;<br />

Existem também nessa área da capital maranhense diversas clínicas médicas e hospitais<br />

públicos; imponentes praças como a Maria Aragão, a Benedito Leite, a João Lisboa, a do<br />

Parthenon, além é claro da Praça Deodoro, que dá acesso à Rua Gran<strong>de</strong>, consi<strong>de</strong>rada o principal<br />

comércio da capital, o que faz com que muitos ca<strong>de</strong>irantes, vez ou outra, necessitem transitar pelo<br />

Centro Histórico;<br />

Há também importantes agencias bancárias; igrejas como a Igreja da Sé, Igreja do Carmo e<br />

Igreja dos Remédios, <strong>de</strong>ntre outras; várias opções <strong>de</strong> lazer, como os teatros Arthur Azevedo, João<br />

do Vale e Alcione Nazareth; o cinema Cine Praia Gran<strong>de</strong> no Centro <strong>de</strong> Criativida<strong>de</strong> Odyllo Costa<br />

Filho; o imponente Convento das Mercês; diversos bares e casas <strong>de</strong> show, etc.<br />

Segundo os ca<strong>de</strong>irantes entrevistados, <strong>de</strong>ntre os locais <strong>de</strong> lazer do Centro Histórico<br />

mencionados acima, a maioria não apresenta acessibilida<strong>de</strong>, uma vez que não há a<strong>de</strong>quação<br />

satisfatória <strong>nas</strong> estruturas <strong>de</strong>sses locais, algo que é visto pelos ca<strong>de</strong>irantes como o resultado da falta<br />

<strong>de</strong> planejamento e <strong>de</strong> consistência na execução dos projetos <strong>de</strong> acessibilida<strong>de</strong> criados pelos gestores<br />

públicos.<br />

Essa falta <strong>de</strong> planejamento no local apontada pelos ca<strong>de</strong>irantes acaba se chocando com as<br />

iniciativas do Po<strong>de</strong>r Público, que ao <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> executar <strong>de</strong> forma consistente as políticas <strong>de</strong><br />

acessibilida<strong>de</strong>, acaba também eliminando as esperanças <strong>de</strong> minimização e melhorias na<br />

acessibilida<strong>de</strong> do Centro Histórico, compreen<strong>de</strong>ndo nesta ótica, as condições <strong>de</strong> infraestrutura,<br />

a<strong>de</strong>quação em todos os ambientes do local, sejam eles públicos, <strong>de</strong> lazer ou <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

Em referência às questões relacionadas à acessibilida<strong>de</strong> e inclusão social no Centro<br />

Histórico <strong>de</strong> São Luís, questionou-se a um total <strong>de</strong> 16 ca<strong>de</strong>irantes o grau <strong>de</strong> satisfação com a<br />

acessibilida<strong>de</strong> (Gráfico 02) e com a inclusão social (Gráfico 03), compreen<strong>de</strong>ndo nesse contexto,<br />

todos os aspectos indicadores <strong>de</strong> acessibilida<strong>de</strong>, planejamento e inclusão social.<br />

416


Luís/MA.<br />

Gráfico 02: Grau <strong>de</strong> satisfação dos ca<strong>de</strong>irantes com a acessibilida<strong>de</strong> no Centro Histórico <strong>de</strong> São<br />

Fonte: Dados do trabalho <strong>de</strong> campo<br />

Org.: RIBEIRO, A. F. (2011)<br />

Gráfico 03: Grau <strong>de</strong> satisfação dos ca<strong>de</strong>irantes com a inclusão social no centro Histórico <strong>de</strong> São Luís – MA.<br />

Fonte: Dados do trabalho <strong>de</strong> campo<br />

Org.: RIBEIRO, A. F. (2011)<br />

Como po<strong>de</strong>m ser constatados nos gráficos 01 e 02, os percentuais indicam que a avaliação<br />

dos ca<strong>de</strong>irantes acerca da acessibilida<strong>de</strong> e da inclusão social no Centro Histórico <strong>de</strong> São Luís é<br />

417


astante parecida, indicando uma gran<strong>de</strong> similarida<strong>de</strong> na opinião dos mesmos a respeito dos temas<br />

em questão, o que indica uma reação unânime dos ca<strong>de</strong>irantes à realida<strong>de</strong> percebida e vivenciada<br />

por essa parcela da socieda<strong>de</strong> ludovicense.<br />

Dessa forma, a criação <strong>de</strong> medidas aplicáveis <strong>de</strong> gerenciamento da mobilida<strong>de</strong> urbana da<br />

capital maranhense se caracteriza, em face à realida<strong>de</strong> vivenciada pelos ca<strong>de</strong>irantes <strong>de</strong> São Luís,<br />

como uma das mais eficientes e eficazes medidas para minimizar os problemas relacionados às<br />

barreiras urbanísticas e sociais presentes não ape<strong>nas</strong> no Centro Histórico, mas em toda a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

São Luís que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o seu <strong>nas</strong>cimento, nunca teve sua estrutura voltada para aten<strong>de</strong>r a todos, tendo<br />

o seu processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento preocupado ape<strong>nas</strong> em crescer cultura e financeiramente.<br />

Como visto ao longo dos resultados, a referente pesquisa se propôs a analisar a situação<br />

cotidiana vivida pelos ca<strong>de</strong>irantes na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Luís sob o ponto <strong>de</strong> vista da acessibilida<strong>de</strong>, com<br />

os ca<strong>de</strong>irantes nela inseridos.<br />

Em meio a isso, observa-se que os instrumentos urbanos como as vias públicas (ruas e<br />

calçadas), prédios públicos e particulares, ambientes <strong>de</strong> lazer, entre outros, ainda não gozam <strong>de</strong> uma<br />

atenção voltada por parte dos gestores públicos para a real existência da acessibilida<strong>de</strong> garantida e<br />

inclusão social usufruída.<br />

Em referência a isso, Cunha (2009) ressalta que existe, por parte dos gestores municipais,<br />

uma maior efetivação e cumprimento das normativas contidas no Plano Diretor vigente para o<br />

cumprimento <strong>de</strong> forma holística do direito à cida<strong>de</strong> também para os ca<strong>de</strong>irantes. No mesmo<br />

estavam previstas ações <strong>de</strong> estruturação urbana que po<strong>de</strong>riam, caso tivessem <strong>de</strong> fato sido<br />

implementadas na integra ou <strong>de</strong> acordo com a legislação especifica em vigor, facilitar, <strong>de</strong> fato, a<br />

vida cotidiana dos ca<strong>de</strong>irantes da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Luís.<br />

Portanto, a inclusão social no Centro Histórico <strong>de</strong> São Luís, ainda não se caracteriza como<br />

todos esperam que seja, porém ela se apresenta em processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento que, mesmo ainda<br />

em passos curtos, caminha para uma realida<strong>de</strong> já conhecida em outras cida<strong>de</strong>s do Brasil como, por<br />

exemplo, a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Curitiba, Paraná, cida<strong>de</strong> que já teve o mesmo quadro <strong>de</strong> exclusão social da<br />

capital maranhense, mas que se tornou um exemplo <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quação em todos os seus elementos<br />

urbanos, os quais os ca<strong>de</strong>irantes necessitam e tem o direito <strong>de</strong> usufruírem forma mais justa e<br />

igualitária, pois assim como o restante da população dita ―normal‖, são cidadãos que formam e<br />

transformam a cida<strong>de</strong>.<br />

Nesse sentido, a acessibilida<strong>de</strong> no Centro Histórico ludovicense, só po<strong>de</strong>rá existir <strong>de</strong> fato,<br />

quando a cida<strong>de</strong> a possuir, pois, na lógica do <strong>de</strong>senvolvimento urbano e social <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong>, um<br />

espaço urbano, seja ele isolado ou não, só se <strong>de</strong>senvolve através da projeção adquirida do usufruto<br />

da cida<strong>de</strong> como um todo, ou seja, numa cida<strong>de</strong> com mais <strong>de</strong> um milhão <strong>de</strong> habitantes como São<br />

418


Luís, torna-se impossível existir acessibilida<strong>de</strong> num lugar da cida<strong>de</strong>, caso não haja em nenhum<br />

outro.<br />

Isto se <strong>de</strong>ve pelo fato <strong>de</strong> que, a concepção <strong>de</strong> acessibilida<strong>de</strong> abrange muito mais do que<br />

equipamentos a<strong>de</strong>quados que permitam a livre locomoção das pessoas com <strong>de</strong>ficiência física, mas<br />

sim um conjunto <strong>de</strong> fatores que abordam tanto aspectos materiais como afetivos, caracterizando-se<br />

assim como a ocorrência da inclusão social.<br />

Portanto, a inclusão social só po<strong>de</strong>rá ocorrer, <strong>de</strong> fato por meio da acessibilida<strong>de</strong>, que permite<br />

com que as dificulda<strong>de</strong>s impostas às pessoas com <strong>de</strong>ficiência sejam encaradas não como um<br />

obstáculo, mas como um motivo <strong>de</strong> luta e perseverança em busca <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> e justiça na relação<br />

indivíduo versus socieda<strong>de</strong>.<br />

A partir dos resultados parciais da pesquisa, verifica-se a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> serem criadas rotas<br />

acessíveis no Centro Histórico <strong>de</strong> São Luís no sentido <strong>de</strong> contribuir com o processo <strong>de</strong><br />

gerenciamento da mobilida<strong>de</strong> urbana e da inclusão social naquele espaço da capital maranhense.<br />

Para tanto, na última etapa da pesquisa preten<strong>de</strong>-se fazer o levantamento das rotas acessíveis<br />

existentes no Centro Histórico <strong>de</strong> São Luís, bem como concluir o estudo qualitativo realizado<br />

através da aplicação <strong>de</strong> questionários e a realização <strong>de</strong> entrevistas com os ca<strong>de</strong>irantes.<br />

Referências<br />

BATISTA, I. F. A acessibilida<strong>de</strong> espacial na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Luís: fonte <strong>de</strong> inclusão ou exclusão?<br />

2007. 102f. Monografia <strong>de</strong> Graduação (Licenciatura em Geografia). Universida<strong>de</strong> Estadual do<br />

Maranhão, São Luís, 2007.<br />

LEFEBVRE, Henri. O Direito à Cida<strong>de</strong>. Ed: Centauro, São Paulo, 2001.<br />

MACIEL JÚNIOR, João da Silva. A política <strong>de</strong> cotas no trabalho como ação afirmativa para a<br />

pessoa com <strong>de</strong>ficiência em São Luís. 2008. 219f. Dissertação <strong>de</strong> Mestrado em Políticas Públicas,<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Maranhão, 2008.<br />

PAIVA, E. K. G. Acessibilida<strong>de</strong> e Preservação em Sítios Históricos: o caso <strong>de</strong> São Luís do<br />

Maranhão. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo). Programa <strong>de</strong> Pós Graduação em<br />

Arquitetura e Urbanismo. Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília, Brasília. 2009. 177 f.<br />

RESENDE, Ana Paula Crosara <strong>de</strong>. A cida<strong>de</strong> e as Pessoas com Deficiência: Barreiras e Caminhos.<br />

Revista Socieda<strong>de</strong> e Natureza, Uberlândia, 18 (35): 23-34, <strong>de</strong>z.2006.<br />

SANTOS, Milton. O Espaço do Cidadão. 7ª Ed. EDUSP, São Paulo, 2002.<br />

419


NÍVEL DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO MUNICÍPIO DE BOM JESUS-RN:<br />

Resumo<br />

APLICAÇÃO DO METODO, ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL<br />

MUNICIPAL COM A PARTICIPAÇÃO DE ATORES SOCIAIS E INSTITUCIONAIS<br />

Amanda Marcelino LOPES (NESA/ IFRN)<br />

amandamarcelino@bol.com.br<br />

Val<strong>de</strong>nildo Pedro da SILVA ( NESA/ IFRN)<br />

val<strong>de</strong>nildo.silva@ifrn.edu.br<br />

O momento atual exige que a socieda<strong>de</strong> esteja motivada para assumir um caráter mais propositivo e<br />

para po<strong>de</strong>r questionar <strong>de</strong> forma concreta a falta <strong>de</strong> políticas públicas pautadas pelo binômio entre<br />

<strong>de</strong>senvolvimento e sustentabilida<strong>de</strong>, num contexto <strong>de</strong> crescentes dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> inclusão social. No<br />

curso dos últimos anos, a temática sobre indicadores <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>senvolvimento vêm se<br />

<strong>de</strong>stacando e motivando inúmeros estudos e <strong>de</strong>bates, principalmente, sobre territórios humanos.<br />

Nesse contexto, essa pesquisa objetiva conhecer o nível <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> do município <strong>de</strong> Bom<br />

Jesus, situado no Estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte, a partir do Índice <strong>de</strong> Desenvolvimento<br />

Sustentável para Municípios (IDSM) e da participação <strong>de</strong> atores sociais e institucionais. Essa<br />

participação se dará por meio da escolha e pon<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> indicadores <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong>, na<br />

perspectiva do <strong>de</strong>senvolvimento local sustentável. Para a consecução <strong>de</strong>sse trabalho estão sendo<br />

utilizados procedimentos metodológicos, como: pesquisa bibliográfica, fortalecendo o<br />

embasamento teórico sobre conceitos e abordagens sobre a temática <strong>de</strong> Desenvolvimento<br />

Sustentável e Sistemas <strong>de</strong> Indicadores <strong>de</strong> Sustentabilida<strong>de</strong>; pesquisa documental para levantar<br />

dados e informações sobre esse município; pesquisa <strong>de</strong> campo que se dará por meio <strong>de</strong> entrevistas<br />

com atores sociais e institucionais locais e, por fim, por meio da observação não participante através<br />

<strong>de</strong> visitas técnicas a esse município. Esse percurso metodológico segue, ainda, as idéias propostas<br />

por Vasconcelos, Silva e Cândido (2010), que são: compreensão das variáveis componentes do<br />

sistema <strong>de</strong> indicadores; seleção dos atores sociais e institucionais; uso <strong>de</strong> instrumento <strong>de</strong> pesquisa<br />

para pon<strong>de</strong>ração e hierarquização pelos atores sociais e institucionais; método <strong>de</strong> tabulação e<br />

420


apuração dos dados; transformação dos indicadores em índices; cálculo dos índices das dimensões;<br />

cálculo do índice <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável municipal; e análise dos dados – quantitativa e<br />

qualitativa.<br />

PALAVRAS-CHAVE: Sustentabilida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, indicadores, participação,<br />

atores sociais.<br />

Abstract<br />

The current moment requires that society is motivated to take on a more purposeful and to be able to<br />

question the lack of a concrete public policies gui<strong>de</strong>d by the binomial between <strong>de</strong>velopment and<br />

sustainability in the context of increasing difficulties for social inclusion. In the course of recent years,<br />

the issue of sustainability indicators and <strong>de</strong>velopment have gained prominence and motivating<br />

numerous studies and discussions, mainly about human territories. In this context, this research aims to<br />

know the level of sustainability of Bom Jesus, located in the state of Rio Gran<strong>de</strong> do Norte, from the<br />

Sustainable Development In<strong>de</strong>x for Municipalities (IDSM) and participation in social and institutional<br />

actors. This participation is by choice and weighting of indicators of sustainability from the<br />

perspective of sustainable local <strong>de</strong>velopment. To achieve this work are being used methodological<br />

procedures, such as literature, strengthening the theoretical basis on concepts and approaches to the<br />

theme of Sustainable Development and Systems Sustainability Indicators; documentary research to<br />

collect data and information about the municipality; research field that will be through interviews with<br />

local institutional and social actors and, finally, through non-participant observation through technical<br />

visits to this city. This methodological approach follows also the i<strong>de</strong>as proposed by Vasconcelos, Silva<br />

and Candi<strong>de</strong> (2010), which are: un<strong>de</strong>rstanding the variable components of the indicator system;<br />

selection of social actors and institutional use research tool for weighting and ranking actors social and<br />

institutional method of counting and tabulation of the data, transformation of the indicators into<br />

indices; calculation of the indices of the dimensions, calculate the in<strong>de</strong>x of sustainable municipal<br />

<strong>de</strong>velopment, and data analysis - quantitative and qualitative.<br />

KEYS WORDS: Sustainability, sustainable <strong>de</strong>velopment indicators, participation, social actors.<br />

INTRODUÇÃO<br />

O conceito <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável ou sustentabilida<strong>de</strong> surgiu por volta dos anos <strong>de</strong><br />

1980, passando a ser usado em diferentes interesses, necessida<strong>de</strong>s e situações, tanto <strong>de</strong> órgãos<br />

421


governamentais como <strong>de</strong> instituições não governamentais. Portanto tornou-se um conceito prenhe<br />

<strong>de</strong> mal entendidos e ambigüida<strong>de</strong>s, contribuindo para a inexistência <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>finição ou uma<br />

conceituação que dê conta <strong>de</strong>sses termos. Mas, existe algo em comum, entre esses termos, que é a<br />

preocupação com a solução <strong>de</strong> <strong>de</strong>sequilíbrios <strong>de</strong> uma dada socieda<strong>de</strong> em suas dimensões sociais,<br />

ambientais e econômicas. Ou seja, apesar da diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> entendimentos <strong>de</strong>sses termos, parece<br />

existir um certo consenso sobre os mesmos, em relação às necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> se reduzir a poluição<br />

ambiental, eliminar os <strong>de</strong>sperdícios e diminuir o índice <strong>de</strong> pobreza (BARONI, 1992).<br />

A maioria dos estudos sobre sustentabilida<strong>de</strong> ou <strong>de</strong>senvolvimento sustentável tem sido<br />

realizada principalmente por meio do uso <strong>de</strong> dados quantitativos e secundários, sem consi<strong>de</strong>rar,<br />

muitas vezes, as opiniões e a participação da socieda<strong>de</strong>, quer sejam representantes institucionais<br />

quer sejam cidadãos comuns ou integrantes da socieda<strong>de</strong> civil. Além disso, <strong>de</strong>stacamos que o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma dada territorialida<strong>de</strong> ou localida<strong>de</strong> não <strong>de</strong>ve acontecer somente por meio<br />

da atuação exclusiva do Estado ou das elites econômicas e políticas, <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rando a atuação da<br />

maioria da população ou da socieda<strong>de</strong> civil. Esta <strong>de</strong>ve ser um dos atores principais quando da<br />

condução do planejamento, execução e controle das práticas coletivas <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> uma<br />

<strong>de</strong>terminada localida<strong>de</strong> ou municipalida<strong>de</strong>. Em face <strong>de</strong>ssas consi<strong>de</strong>rações foi que surgiu este<br />

trabalho que tem como objetivo principal conhecer o nível <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> do município <strong>de</strong><br />

Bom Jesus, no Estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte a partir do índice <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável<br />

para municípios e da participação <strong>de</strong> atores sociais e institucionais, consi<strong>de</strong>rando a escolha e<br />

pon<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> indicadores <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> na perspectiva do <strong>de</strong>senvolvimento local sustentável.<br />

O município <strong>de</strong> Bom Jesus, localizado geograficamente na microrregião do Agreste Potiguar<br />

do Estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte (mapa 1), possui uma área <strong>de</strong> 122 km 2 (o equivalente a 0,23% da<br />

superfície estadual) distante a 51 quilômetros da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Natal, capital do Estado do Rio Gran<strong>de</strong><br />

do Norte. Atualmente resi<strong>de</strong>m nesse município cerca <strong>de</strong> 9.432 habitantes, dos quais 4.691 são do<br />

sexo masculino (49,73%) e 4.741 do sexo feminino (50,27%), sendo 6.766 habitantes resi<strong>de</strong>ntes da<br />

área urbana e 2.666 habitantes na área rural (IBGE, 2010).<br />

422


Figura 2: Mapa da Localização <strong>de</strong> Bom Jesus - RN<br />

Fonte: IBGE. Elaborado pela autora 2010<br />

Esse município situa-se em área semiárida do Estado, caracterizado por apresentar forte<br />

insolação (insolação <strong>de</strong> 2.700 h/ano, apresentando uma média <strong>de</strong> 25,6º e uma umida<strong>de</strong> em torno <strong>de</strong><br />

74%), baixa nebolusida<strong>de</strong>, elevadas taxas <strong>de</strong> evaporação (em torno <strong>de</strong> 2.000 mm anuais),<br />

temperaturas constantes e normalmente altas e regular índice pluviométrico; possui uma formação<br />

geológica rica em minerais e solos que variam entre alta e baixa fertilida<strong>de</strong> natural, on<strong>de</strong> a cobertura<br />

423


vegetal é rala e escassa, em que predomina a caatinga sub<strong>de</strong>sértica e hipoxerófila, De acordo com o<br />

IDEMA, o solo da região apresenta características dos tipos podzólico vermelho amarelo abrúptico<br />

plínthico. O solo tem aptidão regular para lavouras, sendo apto para culturas especiais <strong>de</strong> ciclo<br />

longo (algodão arbóreo, sisal, caju e coco) e culturas temporárias, com <strong>de</strong>staque para o cultivo <strong>de</strong><br />

mandioca.<br />

De acordo com dados do PNUD do ano <strong>de</strong> 2006, o PIB era estimado em R$ 30.9755,75<br />

sendo que 15,81% correspondiam às ativida<strong>de</strong>s baseadas na agricultura e na pecuária, 9,94% à<br />

indústria e 21,84% ao setor <strong>de</strong> serviços. No <strong>de</strong>senvolvimento da agropecuária, <strong>de</strong>stacando-se o<br />

complexo gado-algodão e agricultura <strong>de</strong> subsistência, no extrativismo mineral e em ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

serviços e comerciais.<br />

Com relação à infra-estrutura, o município possui 01 Agência bancária, 01 posto dos<br />

Correios e 40 estabelecimentos comerciais. No ranking <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, Bom Jesus está em 96º<br />

lugar no estado (96/167 municípios) e em 4.214º lugar no Brasil (4.214/5.561 municípios) e possui<br />

o IDH-M <strong>de</strong> 0,625 segundo dados do PNUD.<br />

Para a consecução <strong>de</strong>sse estudo, procuramos nos apoiar em alguns fundamentos teóricos e<br />

em concepções <strong>de</strong> alguns autores que mais têm se <strong>de</strong>bruçado sobre as discussões <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento sustentável ou sustentabilida<strong>de</strong> como o fizeram Sachs (2002) e Veiga (2008) e <strong>de</strong><br />

sistemas indicadores <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong>, na perspectiva <strong>de</strong> Barbieri (2005), Bellen (2006), por<br />

exemplo. O primeiro autor diz em seu livro, Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável, que a<br />

sustentabilida<strong>de</strong> tem uma certa unida<strong>de</strong> e que a dinamicida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sta está na harmonização <strong>de</strong><br />

critérios ou perspectivas sociais, políticos, econômicos, ecológicos, ambientais, territoriais e<br />

culturais, quando do entendimento do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma dada socieda<strong>de</strong> em um <strong>de</strong>terminado<br />

território (SACHS, 2002).<br />

Para Sachs (2002), em última instância, o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da cultura do povo, na<br />

medida em que ele implica a invenção <strong>de</strong> um projeto. E este não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ter-se unicamente a<br />

aspectos sociais e econômicos, negligenciando as relações e dimensões complexas entre o porvir<br />

das socieda<strong>de</strong>s huma<strong>nas</strong> e a evolução da biosfera; na realida<strong>de</strong>, esse autor está querendo dizer é que<br />

existe a presença e uma co-evolução entre dois sistemas que se regem por escalas espaciais<br />

distintas. Para ele, a sustentabilida<strong>de</strong> no tempo das civilizações huma<strong>nas</strong> vai <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r da sua<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> submeter aos preceitos <strong>de</strong> prudência ecológica e <strong>de</strong> fazer um bom uso da natureza. É<br />

por isso que ele fala <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, dizendo que, a rigor, sua adjetivação <strong>de</strong>veria<br />

ser <strong>de</strong>sdobrada em socialmente inclu<strong>de</strong>nte, ambientalmente sustentável e economicamente<br />

sustentado no tempo (SACHS, 2011, grifo do autor).<br />

424


A realização <strong>de</strong>sse estudo é importante, pois sinaliza que quanto maior for a participação e o<br />

envolvimento político dos atores sociais ou cidadãos, quer integrantes da socieda<strong>de</strong> civil ou<br />

institucionais, maior será a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se efetivar uma política que garanta direitos <strong>de</strong><br />

cidadania, no tocante a educação, às oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> trabalho, à melhoria das condições <strong>de</strong> vida da<br />

população e à equida<strong>de</strong> social (SACHS, 2004).<br />

Segundo Veiga e Sachs, <strong>de</strong>senvolvimento e crescimento econômico não po<strong>de</strong>m ser vistos<br />

como sinônimos, ambos em suas pesquisas conseguem <strong>de</strong>ixar claro que <strong>de</strong>senvolvimento não po<strong>de</strong><br />

ser compreendido por visões centradas ape<strong>nas</strong> na renda per capita. As variações na expectativa <strong>de</strong><br />

vida relacionam-se a diversas oportunida<strong>de</strong>s sociais que são centrais – como as políticas<br />

epi<strong>de</strong>miológicas, serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, facilida<strong>de</strong>s educacionais etc. (VEIGA, p.40, 2002). E<br />

concordamos com Sachs (VEIGA, 2008, prefácio), consi<strong>de</strong>rando a sua <strong>de</strong>scrição sobre<br />

<strong>de</strong>senvolvimento e crescimento econômico, que ambos não são a mesma coisa, que crescimento<br />

econômico precisa estar submetido a um projeto social ou será ape<strong>nas</strong> ferramenta para o acumulo<br />

<strong>de</strong> capital para uma minoria e o aumento das diferenças sociais.<br />

Gro Brundtland (2007) <strong>de</strong>pois da formulação do conceito mais usado para sustentabilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>fine os riscos que todos estamos suscetíveis, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> classes sociais, classes dominantes,<br />

organizações ou nações. "Em um mundo globalizado, estamos todos interconectados. Os ricos estão<br />

vulneráveis às ameaças contra os pobres e os fortes, vulneráveis aos perigos que atingem os fracos".<br />

A nosso ver, essa <strong>de</strong>finição reforça o envolvimento <strong>de</strong> todos na construção do <strong>de</strong>senvolvimento<br />

sustentável, para esse crescimento não existe classe dominante, a natureza, a economia e a<br />

socieda<strong>de</strong> precisam prover juntas esse caminho.<br />

Desenvolvimento sustentável não é um estado permanente <strong>de</strong> harmonia, mas um processo <strong>de</strong><br />

mudança no qual a exploração dos recursos, a orientação dos investimentos, os rumos do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento tecnológico e a mudança institucional estão <strong>de</strong> acordo com as necessida<strong>de</strong>s atuais<br />

e futuras, como bem prenunciou o relatório Nosso Futuro Comum (CMMAD, 1987). Diante do<br />

exposto, é preciso planejamento e pesquisa sobre o que você <strong>de</strong>seja tornar sustentável, a forma<br />

como se aplica a sustentabilida<strong>de</strong> a um meio não é igual para todos. Ou em <strong>de</strong>terminado momento<br />

precise <strong>de</strong> um novo planejamento. Para isso faz-se uso dos indicadores <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong>.<br />

No que diz respeito à discussão sobre indicadores <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>mos dizer que a<br />

Agenda 21, em seus capítulos 8 e 40, tem se constituído num dos primeiros documentos que fazem<br />

referência para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se <strong>de</strong>finir indicadores para a concretu<strong>de</strong> do <strong>de</strong>senvolvimento<br />

sustentável. Esse documento reforça a importância da participação dos países em <strong>de</strong>senvolver<br />

sistemas <strong>de</strong> monitoramento e avaliação do avanço para o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, adotando<br />

425


indicadores que meçam as mudanças <strong>nas</strong> dimensões econômica, social e ambiental (BARBIERI,<br />

2005)<br />

É importante ressaltar nesse trabalho a significância da participação <strong>de</strong> atores no processo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento, para enfatizar, alguns teóricos reforçam essa idéia. A presença das comunida<strong>de</strong>s<br />

das organizações e instituições da socieda<strong>de</strong> civil foi adquirindo importância crescente no último<br />

quarto do século 20 (VIEZZER). O <strong>de</strong>senvolvimento sustentável po<strong>de</strong> ser mais facilmente<br />

alcançado com o aproveitamento dos sistemas tradicionais <strong>de</strong> gestão dos recursos, como também a<br />

organização <strong>de</strong> um processo participativo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação das necessida<strong>de</strong>s, dos recursos potenciais<br />

e das maneiras <strong>de</strong> aproveitamento da biodiversida<strong>de</strong> como caminho para a melhoria do nível <strong>de</strong><br />

vida dos povos. Esse processo exige, obviamente, a presença <strong>de</strong> atores envolvidos que atuem como<br />

facilitadores do processo. (Sachs, 2000, pág. 75).<br />

Seguindo essa mesma linha <strong>de</strong> pensamento, Buarque (2008) diz que, como participantes das<br />

<strong>de</strong>cisões, os atores sociais se sentem responsáveis e po<strong>de</strong>m facilmente tomar parte ativa <strong>nas</strong> ações e<br />

<strong>nas</strong> iniciativas necessárias ao <strong>de</strong>senvolvimento. Ainda, na visão <strong>de</strong> Buarque (2008), o processo<br />

participativo <strong>de</strong> planejamento, também, amplia e <strong>de</strong>mocratiza os espaços <strong>de</strong> negociação na<br />

socieda<strong>de</strong> local, estimulando o envolvimento <strong>de</strong> todos os atores sociais e o confronto organizado e<br />

civilizado das visões e interesses diversificados. Contribuindo para a reconstrução da estrutura <strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong>r local. Atores no contexto <strong>de</strong>ssa pesquisa são integrantes da socieda<strong>de</strong>, quer sejam<br />

representantes institucionais quer sejam cidadãos comuns ou integrantes da socieda<strong>de</strong> civil.<br />

METODOLOGIA<br />

A pesquisa sobre a avaliação da sustentabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Bom Jesus-RN, <strong>nas</strong> dimensões social,<br />

econômica e ambiental, foi operacionalizada por meio dos seguintes procedimentos metodológicos:<br />

levantamento bibliográfico, sistematização <strong>de</strong> dados secundários e pesquisa <strong>de</strong> campo, por meio do<br />

uso <strong>de</strong> entrevista, cálculos estatísticos e tabulação dos dados.<br />

Trata-se <strong>de</strong> uma pesquisa exploratória e <strong>de</strong>scritiva (GIL, 2006), que foi conduzida sob a<br />

forma <strong>de</strong> estudo <strong>de</strong> caso, uma vez que foi aplicada a metodologia <strong>de</strong>nominada Índice <strong>de</strong><br />

Desenvolvimento Sustentável para Municípios com a Participação <strong>de</strong> Atores Sociais e<br />

Institucionais, proposta por Cândido, Vasconcelos e Souza (2010), utilizando uma unida<strong>de</strong><br />

territorial municipal.<br />

Realizado a pesquisa <strong>de</strong> campo que constituiu em nossa pesquisa empírica que se <strong>de</strong>u com a<br />

aplicação <strong>de</strong> entrevistas (semi estruturada) com os atores sociais, com o perfil <strong>de</strong>finido para<br />

respon<strong>de</strong>r as questões, que após serem entrevistados indicaram outras pessoas com o uso da técnica<br />

―bola <strong>de</strong> neve‖ (snowball).<br />

426


Utilizamos a técnica <strong>de</strong> análise <strong>de</strong> conteúdo que, segundo Minayo (2007, p.203), em termos<br />

gerais relaciona estruturas semânticas (significantes) com estruturas sociológicas (significados) dos<br />

enunciados. Essa técnica possibilita a articulação da superfície dos textos <strong>de</strong>scrita e analisada com<br />

os fatores que <strong>de</strong>terminam suas características: variáveis psicossociais, contexto cultural, contexto e<br />

processo <strong>de</strong> produção da mensagem. Com o uso <strong>de</strong>ssa técnica, foi possível transformar a fala dos<br />

entrevistados em outros indicadores e conhecer melhor a dinâmica do município, consi<strong>de</strong>rando a<br />

participação da socieda<strong>de</strong> civil e <strong>de</strong> representantes institucionais, como: moradores locais,<br />

funcionários públicos, secretários municipais, <strong>de</strong>ntre outros sujeitos.<br />

A amostra do universo da pesquisa foi <strong>de</strong>finida por meio do uso do critério <strong>de</strong> saturação,<br />

segundo Sá (1998). Esse critério possibilitou que no momento em que as respostas começaram a se<br />

repetir, sem mais novida<strong>de</strong>s, parasse com as entrevistas, pois a amostragem tinha atingido o seu<br />

momento <strong>de</strong> saturação.<br />

Como foi dito acima, a entrevista mais estruturada ocorreu em uma segunda visita ao<br />

município. Essa foi a ocasião em que os atores sociais pu<strong>de</strong>ram quantificar com um <strong>de</strong>terminado<br />

grau <strong>de</strong> importância cada indicador trabalhado que <strong>de</strong> acordo com as respostas obtidas po<strong>de</strong>-se<br />

pon<strong>de</strong>rar e hierarquizar os principais indicadores da sustentabilida<strong>de</strong> do município <strong>de</strong> Bom Jesus.<br />

Com uso das mesmas técnicas utilizadas na primeira entrevista, como snowball e critério <strong>de</strong><br />

saturação para <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> amostragem e para tabulação dos dados <strong>de</strong>sse segundo momento foi<br />

elaborada uma matriz um diagrama com os indicadores, baseando-se na técnica <strong>de</strong> Silva (2008),<br />

com adaptação sugerida por Candido, Vasconcelos e Souza (2010).<br />

A adaptação refere-se à utilização da técnica <strong>de</strong> Mudge, que segundo Pandolfo (2001), essa<br />

técnica consiste em um método <strong>de</strong> avaliação numérico funcional, no qual se <strong>de</strong>termina uma<br />

hierarquia entre as funções, baseando-se na analise comparativa entre as funções, duas a duas, até<br />

que todas sejam comparadas entre si. Dessa forma, a utilização da referida técnica se faz necessária<br />

para que o processo <strong>de</strong> correlação entre os indicadores seja efetivado.<br />

RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

Ao realizar a visita <strong>de</strong> reconhecimento do município, foi elaborado um instrumento <strong>de</strong><br />

entrevista, semi-estruturado, para aplicação com os primeiros atores selecionados a partir do<br />

levantamento dos dados secundários, formaram uma ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> informações relevantes sobre o<br />

município, que <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> suas falas po<strong>de</strong>-se conhecer e reafirmar as fragilida<strong>de</strong>s e as<br />

potencialida<strong>de</strong>s do município <strong>de</strong> Bom Jesus.<br />

Nessa ocasião foram apresentados aos atores os indicadores até então trabalhados, alguns<br />

dos atores inquiridos, ape<strong>nas</strong> concordaram com os indicadores trabalhados, expondo suas<br />

427


experiências mediante ao que liam e outros não ape<strong>nas</strong> concordaram com os indicadores como<br />

também contribuíram com informações que, <strong>de</strong>ntro do contexto avaliado, foi possível transformar<br />

em indicadores a serem inseridos nesse trabalho.<br />

A segunda visita ao município <strong>de</strong> Bom Jesus foi para a aplicação do roteiro <strong>de</strong> entrevistas,<br />

em que os atores sociais e institucionais participaram e atribuíram um grau <strong>de</strong> importância para<br />

cada indicador, consi<strong>de</strong>rando o 1 como pouco importante; o 2 como sendo importante; e o 3 como<br />

muito importante, sempre um indicador em relação a outro e, principalmente, <strong>de</strong>ntro dos aspectos<br />

da realida<strong>de</strong> do município <strong>de</strong> Bom Jesus.<br />

Para tabulação dos dados <strong>de</strong>ssa fase da pesquisa foi utilizado o software Microsoft Excel, foi<br />

necessário a implementação <strong>de</strong> algoritmos estruturados que possibilitaram a codificação do<br />

diagrama <strong>de</strong> Mudge e cálculo dos valores pon<strong>de</strong>rados para cada indicador. Foi obtido uma matriz <strong>de</strong><br />

dados resultantes da pon<strong>de</strong>ração dos atores para todos os indicadores e respectivos temas e<br />

dimensões.<br />

Posteriormente a tabulação dos dados, è calculado do produto da soma dos pesos atribuídos<br />

pelos atores sociais e o índice <strong>de</strong> cada variável o índice pon<strong>de</strong>rado por cada tema. Por sua vez, o<br />

cálculo do índice <strong>de</strong> cada dimensão é o resultado da média pon<strong>de</strong>rada dos índices <strong>de</strong> cada tema que<br />

compõe a respectiva dimensão, cujos resultados po<strong>de</strong>m ser visualizados na figura 2. Isso resultou<br />

em uma matriz <strong>de</strong> dados resultantes da pon<strong>de</strong>ração dos atores para todos os indicadores e<br />

respectivos temas e dimensões.<br />

Figura 2: Pon<strong>de</strong>ração pelo diagrama <strong>de</strong> Mudge<br />

INDICADORES<br />

DA DIMENSÃO<br />

ECONÔMICA<br />

Grau <strong>de</strong><br />

Importância<br />

A B C D E F G H I<br />

PONDERAÇÃO PELO DIAGRAMA<br />

DE MUDGE<br />

2 2 2 2 2 2 2 2 3 SOMA % PONDERAÇÃO<br />

A AiBi AiCi AiDi AiEi AiFi AiGi AiHi Iii 7 9,72 0,10<br />

B BiCi BiDi BiEi BiFi BiGi BiHi Iii 7 9,72 0,10<br />

C CiDi CiEi CiFi CiGi CiHi Iii 7 9,72 0,10<br />

D DiEi DiFi DiGi DiHi Iii 7 9,72 0,10<br />

E EiFi EiGi EiHi Iii 7 9,72 0,10<br />

F FiGi FiHi Iii 7 9,72 0,10<br />

428


SIMBOLOS<br />

LEGENDA<br />

INDICADORES CODIFICAÇÃO<br />

A Produto interno bruto per capita i = 1<br />

B Participação da indústria no PIB ii = 2<br />

C Índice <strong>de</strong> Gini iii = 3<br />

D Renda per capita<br />

E<br />

F<br />

Renda familiar per capita em salário<br />

mínimo<br />

Participação da administração pública no<br />

PIB<br />

G Participação da agropecuária no PIB<br />

H<br />

Participação do comércio e Serviços no<br />

PIB<br />

I Renda Proveniente do Trabalho<br />

Fonte: Vasconcelos, Candido e Souza 2010 .<br />

G GiHi Iii 7 9,72 0,10<br />

H Iii 7 9,72 0,10<br />

I 16 22,22 0,22<br />

TOTAL 72 100 1,00<br />

Diante disso, por meio do produto da soma dos pesos atribuídos pelos atores sociais e o<br />

índice <strong>de</strong> cada variável, obtivemos o índice pon<strong>de</strong>rado por cada tema, conforme apresentamos<br />

abaixo:<br />

Por sua vez, o cálculo do índice <strong>de</strong> cada dimensão é o resultado da média pon<strong>de</strong>rada dos<br />

índices <strong>de</strong> cada tema que compõe a respectiva dimensão. Conforme expresso a seguir:<br />

O cálculo do Índice <strong>de</strong> Desenvolvimento Sustentável do Município <strong>de</strong> Bom Jesus-RN é<br />

obtido pela média dos índices pon<strong>de</strong>rados das dimensões, conforme estão expressos abaixo:<br />

Esses índices po<strong>de</strong>m ser representados graficamente, <strong>de</strong> acordo com Vasconcelos, Cândido e<br />

Silva (2010), por intermédio <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> cores que representa o nível <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> ou<br />

não, numa relação <strong>de</strong> escala <strong>de</strong> valores que varia entre mínimo e máximo e que correspon<strong>de</strong>m a 1<br />

(no caso <strong>de</strong> ser sustentável) ou a 0 (no caso <strong>de</strong> ser insustentável). Essa representação gráfica é<br />

apresentada <strong>de</strong> acordo com este quadro 1.<br />

429


Quadro 1: Representação gráfica<br />

Índice ( 0 – 1)<br />

Coloração Nível <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong><br />

0,0000 – 0,2500 Crítico<br />

0,2501 – 0,5000 Alerta<br />

0,5001 – 0,7500 Aceitável<br />

0,7501 – 1,0000 I<strong>de</strong>al<br />

Fonte: Vasconcelos, Candido e Silva 2010<br />

Consi<strong>de</strong>rando as dimensões social, econômica e ambiental, os índices referentes ao<br />

município <strong>de</strong> Bom Jesus, seguindo a metodologia do IDSM proposto por Vasconcelos, Candido e<br />

Souza (2010), po<strong>de</strong>m ser visualizados por meio da tabela 2.<br />

Tabela 2: Índice das Dimensões<br />

DIMENSÃO TEMA INDICADORES ÍNDICE<br />

DIMENSÃO SOCIAL<br />

SAÚDE<br />

EDUCAÇÃO<br />

FAMILIA<br />

∑ dos<br />

Esperança <strong>de</strong> vida ao <strong>nas</strong>cer 0,5938 0,0708<br />

Mortalida<strong>de</strong> infantil 0,9319 0,0501<br />

Prevalência <strong>de</strong> <strong>de</strong>snutrição total 0,9965 0,0616<br />

Imunização contra doenças infecciosas infantis 0,8425 0,0673<br />

Oferta <strong>de</strong> serviços básicos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> 1,0000 0,0765<br />

Escolarização 0,4902 0,0822<br />

Alfabetização 0,5369 0,0880<br />

Acesso a qualificação profissional (incentivo a<br />

profissionalização) 0,0000 0,0880<br />

Analfabetismo funcional 0,6018 0,0593<br />

Gravi<strong>de</strong>z na adolescência 0,7956 0,0735<br />

Famílias atendidas por transferências <strong>de</strong> benefícios<br />

sociais 0,5473 0,0536<br />

pesos IT ID<br />

0,2833<br />

0,1232<br />

0,0878<br />

HABITAÇÃO A<strong>de</strong>quação <strong>de</strong> moradia em domicílios 0,6903 0,0650 0,0916<br />

0,1349<br />

430


DIMENSÃO ECONOMICA<br />

DIMENSÃO AMBIENTAL<br />

SEGURANÇA<br />

EQUILIBRIO<br />

ECONÔMICO<br />

EMPREGO E<br />

RENDA<br />

PARTICIPAÇÃO<br />

NA ECONOMIA<br />

ÁGUAS<br />

SANEAMENTO<br />

LIXO<br />

Fonte: Dados da pesquisa, elaborado pela autora 2011<br />

Densida<strong>de</strong> ina<strong>de</strong>quada <strong>de</strong> moradores por dormitório 0,9687 0,0482<br />

Coeficiente <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> por homicídios 0,7973 0,0597<br />

Coeficiente <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> por aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> transporte 0,7292 0,0562<br />

Índice <strong>de</strong> Gini 1,0000 0,0558<br />

Renda per capita 0,0061 0,1105<br />

Renda Proveniente do Trabalho 0,0035 0,1306<br />

Renda familiar per capita em salário mínimo 0,0001 0,0127<br />

Participação da administração pública no PIB 0,0000 0,1194<br />

Participação da agropecuária no PIB 0,4542 0,1295<br />

Participação do comércio e Serviços no PIB 0,4793 0,1261<br />

Produto interno bruto per capita 0,3049 0,0123<br />

Participação da indústria no PIB 0,2098 0,0926<br />

<strong>Vol</strong>ume <strong>de</strong> água tratada: em estação <strong>de</strong> tratamento e por<br />

0,0886<br />

0,0565<br />

0,0005<br />

0,1424<br />

<strong>de</strong>sinfecção 1,0000 0,1715 0,2728<br />

Consumo médio per capita <strong>de</strong> água 0,9994 0,1014<br />

Acesso ao sistema <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água urbana 0,1027 0,1442<br />

Acesso a esgotamento sanitário urbano 0,2474 0,1442<br />

Acesso a coleta <strong>de</strong> lixo urbano por domicílio 0,0758 0,1715<br />

Acesso a coleta <strong>de</strong> lixo rural 0,0000 0,1365<br />

Disposição do lixo para coleta seletiva 0,0000 0,1306<br />

0,0505<br />

0,0130<br />

0,0664<br />

0,1121<br />

Para o cálculo <strong>de</strong>sse IDSM, foi utiliza a média pon<strong>de</strong>rada dos índices <strong>de</strong>ssas três dimensões,<br />

que está representado nessa tabela, na última coluna como sendo ID, com os respectivos resultados<br />

<strong>de</strong> cada dimensão. O resultado final foi <strong>de</strong>finido pela seguinte fórmula,<br />

IDSM = (0,1349 + 0,0664 + 0,1121) / 3<br />

IDSM = 0,1045<br />

De acordo com o método do IDSM, aplicado ao município <strong>de</strong> Bom Jesus, com indicadores<br />

elencados pelos atores sociais e institucionais, o nível <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> do município em estudo<br />

431


nessa pesquisa, revelou uma situação <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> crítica. Apesar do nível <strong>de</strong><br />

sustentabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Bom Jesus-RN ter apresentado um estado crítico <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> em alguns<br />

temas como, o tema Saú<strong>de</strong> da dimensão Social e o tema Água e População da dimensão Ambiental,<br />

que segundo a metodologia usada apresenta uma situação <strong>de</strong> alerta, que <strong>de</strong>monstra uma situação<br />

mais próxima do equilíbrio em relação aos outros temas.<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

A aplicação do método IDSM é um avanço para o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável saímos das<br />

discussões passando para uma etapa seguinte que nos dá um diagnóstico da situação <strong>de</strong><br />

sustentabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um município ou localida<strong>de</strong>, com a participação da socieda<strong>de</strong> das instituições. E<br />

ainda ser uma ferramenta bastante flexível no que se concerne as alterações dos indicadores <strong>de</strong><br />

acordo com as potencialida<strong>de</strong>s e fragilida<strong>de</strong>s do município para que gestores percebam as áreas<br />

mais críticas que precisam <strong>de</strong> mais atenção e as <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong>s mais i<strong>de</strong>ais que continuem bem<br />

trabalhadas. Po<strong>de</strong>ndo fazer uso da sua aplicação várias vezes com todas as dimensões ou<br />

separadamente para melhor visualizar cada área e seus indicadores. Portanto, esse estudo não<br />

preten<strong>de</strong> ape<strong>nas</strong> está no meio acadêmico, mas abrir caminho para outros trabalhos e ultrapassar as<br />

barreiras da ciência e contribuir para a melhoria do município <strong>de</strong> Bom Jesus-RN e <strong>de</strong> muitas outras<br />

socieda<strong>de</strong>s. Os atores sociais institucionais continuem contribuindo com o seu <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

AGENDA 21 BRASILEIRA: ações prioritárias. Brasília, DF: Comissão <strong>de</strong> Políticas <strong>de</strong><br />

Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 21 Nacional, 2002. Disponível em: . Acesso em: 14 out. 2010<br />

CMMAD (Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento). Nosso futuro comum.<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro: Editora da FGV, 1987.<br />

BARBIERI, J. C. Desenvolvimento e meio ambiente: as estratégias <strong>de</strong> mudanças da Agenda 21.<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro: Vozes, 2005.<br />

BARONI, M. Ambigüida<strong>de</strong>s e Deficiências do Conceito <strong>de</strong> Desenvolvimento Sustentável. Revista<br />

<strong>de</strong> Administração <strong>de</strong> Empresas, São Paulo, v.32, n.2, p.14-24, abr./ jun. 1992.<br />

432


BELLEN, H. M. V. Indicadores <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong>: uma análise comparativa. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

FGV, 2006.<br />

______ Indicadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável: Brasil 2004 (IDS 2004). IBGE. Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro, 2004. 389 p. + 1 CD-ROM : il., gráfs., mapas color. (Estudos e pesquisas. Informação<br />

geográfica; n. 4). ISBN 8524008881. Disponível em: Acessado em: maio/2006<br />

BRUNDTLAND, G. H. Nosso futuro comum 20 anos: encontros <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong>. Disponível<br />

em: . Acesso em: 13<br />

set. 2010.<br />

BUARQUE, S. C. Construindo o <strong>de</strong>senvolvimento local sustentável: metodologia <strong>de</strong> planejamento.<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro: Garamond, 2008.<br />

CÄNDIDO, G. A., VASCONCELOS, A. C. F., SOUZA, E. G. Capitulo 3. Índice <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento sustentável para municípios: uma proposta <strong>de</strong> metodologia com a participação <strong>de</strong><br />

atores sociais e institucionais. In: CÄNDIDO, G. A. (Org.) Desenvolvimento sustentável e sistemas<br />

<strong>de</strong> indicadores: formas <strong>de</strong> aplicação em contextos geográficos diversos e contingências específicas.<br />

Campina Gran<strong>de</strong>-PB: Ed. UFCG, 2010.<br />

GIL, A.C. Métodos e técnicas <strong>de</strong> pesquisa social. São Paulo: Atlas, 2006.<br />

MINAYO, M.C.S. O <strong>de</strong>safio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saú<strong>de</strong>. São Paulo: Hucitec,<br />

2007.<br />

PANDOLFO, A. et AL. Mo<strong>de</strong>lo para avaliação e comparação <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> habitação com base<br />

no valor. Disponível em:< http://www.scielo.br/pdf/gp/v14n3/a08v14n3.pdf >. Acesso em: 30 mai<br />

2011.<br />

SÁ, C. P. A construção do objeto <strong>de</strong> pesquisa em representações sociais. Rio <strong>de</strong> Janeiro: UERJ,<br />

1998.<br />

VEIGA, J. E. Desenvolvimento sustentável: o <strong>de</strong>safio do século XXI. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Garamond,<br />

2008.<br />

VIEZZER, M. L. Atores sociais que interferem na qualida<strong>de</strong> do meio ambiente e qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<br />

MV Consultoria EducAção Sócio Ambiental. Disponível em:<br />

. Acesso em: 20 set<br />

2010.<br />

433


SAATY, T. Analytic hierarchy process. Disponível em: . Acesso em: 14<br />

out. 2010.<br />

SACK, R. D. Human territorility: it's teory and history. Cambridge: Cambridge University, 1986.<br />

SACHS, I. Caminhos para o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Garamond, 2002.<br />

______. Desenvolvimento: inclu<strong>de</strong>nte, sustentável, sustentado. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Garamond, 2004.<br />

434


Resumo<br />

GERAÇÃO E ANÁLISE DO ÍNDICE DE CONFORTO TÉRMICO<br />

PARA A CIDADE DE JOÃO PESSOA/PB<br />

Caio Lima dos Santos<br />

(caiolima21@hotmail.com)<br />

Eduardo Rodrigues Viana <strong>de</strong> Lima<br />

(eduvianalima@gmail.com) 57<br />

O plano <strong>de</strong> trabalho teve como objetivo realizar medidas <strong>de</strong> temperatura e umida<strong>de</strong> relativa do ar em<br />

10 pontos da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa, para geração do Índice <strong>de</strong> Desconforto <strong>de</strong> Thom (IDT), e<br />

comparar esse índice com o uso e a ocupação do solo, para avaliar se o tipo <strong>de</strong> ocupação que está<br />

ocorrendo nessa cida<strong>de</strong> está afetando, <strong>de</strong> alguma forma, as temperaturas e, por conseguinte, a<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida da população. Para alcançar os objetivos propostos, foram <strong>de</strong>finidos <strong>de</strong>z pontos <strong>de</strong><br />

coleta <strong>de</strong> dados distribuídos da melhor forma possível pela cida<strong>de</strong>, consi<strong>de</strong>rando que esses pontos<br />

teriam que ser ante<strong>nas</strong> <strong>de</strong> telefonia celular, para a segurança dos equipamentos utilizados. As medidas<br />

foram realizadas em dois períodos, chuvoso e seco, compreen<strong>de</strong>ndo os seguintes intervalos <strong>de</strong> tempo:<br />

Período chuvoso – 5/6 a 30/8 <strong>de</strong> 2011; Período seco – 25/2 a 31/3 <strong>de</strong> 2012. Para realização das<br />

medidas foram utilizados equipamentos do tipo Hobo, que armazena os dados em um datalogger e em<br />

seguida esses dados são <strong>de</strong>scarregados em computador. Obtidos os dados <strong>de</strong> temperatura e umida<strong>de</strong><br />

relativa do ar, foi utilizado o índice bioclimático conhecido como índice <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconforto <strong>de</strong> Thom –<br />

IDT e foram utilizadas faixas <strong>de</strong> conforto estabelecidas por Santos (2011) para cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> clima<br />

tropical úmido. O mapeamento <strong>de</strong> uso e ocupação utilizado no trabalho foi gerado em outro plano <strong>de</strong><br />

trabalho <strong>de</strong>ste projeto <strong>de</strong> pesquisa. Para tanto foi utilizada imagem orbital do satélite Quickbird (2008),<br />

cedida pela Prefeitura Municipal <strong>de</strong> João Pessoa. Os resultados obtidos mostram uma certa correlação<br />

entre áreas <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconforto térmico com o a<strong>de</strong>nsamento populacional e construtivo, além também da<br />

verticalização que está ocorrendo na cida<strong>de</strong>. Um fato que chamou a atenção foi o <strong>de</strong> que pontos<br />

57 Orientador: Prof. Dr. Eduardo Viana <strong>de</strong> Lima<br />

435


localizados na orla marítima da cida<strong>de</strong> apresentaram situação <strong>de</strong> conforto pior do que outras áreas da<br />

cida<strong>de</strong>.<br />

PALAVRAS-CHAVE: Campo térmico; Índice <strong>de</strong> Conforto Térmico; Uso e ocupação do solo.<br />

Abstract<br />

The work plan aims to perform measurements of temperature and relative humidity of 10 points<br />

from João Pessoa to generation discomfort in<strong>de</strong>x of Thom (IDT), and compare this rate with the use<br />

of land for evaluating whether the occupancy type that is occurring in this city is affecting,<br />

somehow, temperatures and therefore the quality of life the population. To achieve the proposed<br />

objectives were <strong>de</strong>fined tem points of data collection distributed as best as possible the city<br />

consi<strong>de</strong>ring that these points would have to be mobile phone masts, for the safety of equipment<br />

used. Measure ments were taken in two periods, rainy period-5/6 to 30/8/2011;dry period-25/12 to<br />

31/3 2012.For realization measures were used Hobo, type equipment, which stores the data in a data<br />

logger and then data logger this data in a computer. Data of temperature and relative humidity,<br />

bioclimatic un<strong>de</strong>r was used as an in<strong>de</strong>x of know Santos (2011) for cities of clima tropical humid the<br />

use and occupancy mapping used in the study was generated in another work plan for this research<br />

project. It was used for both orbital image of Quick bird satellite(2008),courtesy for the city of João<br />

Pessoa, city hall. The obtained results show some correlation enters areas of thermal discomfort<br />

with the population <strong>de</strong>nsity and constructive, and also the vertical integration that in occurring in<br />

the city. A fact that cauch the attention hurts that points located on the waterfront of the city had a<br />

comfortable situation worse than other areas of the city.<br />

Keywords: thermal field; thermal confort in<strong>de</strong>x, use and occupation of land.<br />

INTRODUÇÃO<br />

Ao longo <strong>de</strong> sua história, a humanida<strong>de</strong> vivenciou momentos <strong>de</strong> transformação em seus<br />

hábitos e em sua forma <strong>de</strong> vida. Saindo da vida nôma<strong>de</strong> o homem começa e se organizar em<br />

cida<strong>de</strong>s, fato permitido pelo <strong>de</strong>senvolvimento da agricultura.<br />

Durante a revolução industrial verificou-se aquilo que se po<strong>de</strong> chamar <strong>de</strong> mudança mais<br />

radical ocorrida na forma <strong>de</strong> vida humana, fato representado fortemente na infraestrutura das<br />

cida<strong>de</strong>s e em sua forma <strong>de</strong> organização.<br />

Os aglomerados urbanos, frutos do processo conhecido como êxodo rural, passaram a exigir<br />

toda uma infraestrutura e tecnologia adaptada às necessida<strong>de</strong>s huma<strong>nas</strong>, fato marcado por alguns<br />

aspectos, como a construção <strong>de</strong> vias pavimentadas e casas <strong>de</strong> alvenaria, atrelados ao uso constante<br />

436


<strong>de</strong> veículos motorizados, que emitem gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> energia para a atmosfera, e o forte<br />

processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>smatamento observado nos séculos posteriores à revolução industrial. Junta-se a<br />

esses fatos a forte tendência a formação <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s aglomerados urbanos, dando origem, portanto, a<br />

fenômenos como a inversão térmica e a formação <strong>de</strong> ilhas <strong>de</strong> calor nesses ambientes.<br />

A cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa – PB insere-se nesse processo, e assim como gran<strong>de</strong> parte das<br />

cida<strong>de</strong>s no mundo, encontra-se bastante urbanizada, e tem apresentado atualmente um elevado<br />

crescimento populacional, o que representa diminuição das áreas <strong>de</strong> solo exposto, aumento do<br />

<strong>de</strong>smatamento e da construção <strong>de</strong> edificações, somados a elevação do número <strong>de</strong> automóveis e <strong>de</strong><br />

vias asfaltadas.<br />

As diferenciações no uso e cobertura do solo associadas à dinâmica climática promovem<br />

alterações nos ambientes urbanos, on<strong>de</strong> os elementos naturais são transformados segundo os<br />

interesses e a necessida<strong>de</strong> da socieda<strong>de</strong> pós-mo<strong>de</strong>rna. As mudanças na paisagem, através das<br />

diversas formas <strong>de</strong> uso e ocupação do solo, têm gerado transformações significativas na dinâmica<br />

climática <strong>de</strong> áreas urba<strong>nas</strong> (Santos, 2011). Isso tem comprometido cada vez mais a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

vida da população que resi<strong>de</strong> <strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s.<br />

Com base nesse contexto, o presente trabalho <strong>de</strong>stina-se a investigar as relações entre o uso<br />

e a ocupação do solo e o campo térmico na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa – PB, i<strong>de</strong>ntificando-se os níveis<br />

<strong>de</strong> conforto térmico existentes na cida<strong>de</strong>.<br />

A relação entre clima e cida<strong>de</strong><br />

O clima <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser compreendido através da interação <strong>de</strong> diversos fatores<br />

globais (latitu<strong>de</strong>, altitu<strong>de</strong>, continentalida<strong>de</strong>, maritimida<strong>de</strong>) e locais (uso e ocupação do solo,<br />

geomorfologia, revestimento do solo) que conjugados com os elementos atmosféricos (temperatura,<br />

umida<strong>de</strong>, vento, pressão, <strong>de</strong>ntre outros) <strong>de</strong>terminam as condições atmosféricas sobre uma<br />

<strong>de</strong>terminada localida<strong>de</strong> (Barbirato et. al., 2007).<br />

Monteiro (1976) compreen<strong>de</strong> o clima urbano como um sistema climático integrado formado<br />

por três subsistemas <strong>de</strong> análise: termodinâmico, físico-químico e o hidrometeórico. Para esse autor,<br />

as alterações climáticas em áreas urba<strong>nas</strong> po<strong>de</strong>m ser percebidas através <strong>de</strong> canais <strong>de</strong> percepção, que<br />

retratam as alterações nos elementos climáticos <strong>de</strong>ntro dos subsistemas mencionados (Santos,<br />

2011). Decorrentes da urbanização <strong>de</strong>ntro do subsistema termodinâmico ocorrem os fenômenos da<br />

ilha <strong>de</strong> calor, inversão térmica e o <strong>de</strong>sconforto térmico. A chuva ácida e a poluição atmosférica que<br />

marcam os gran<strong>de</strong>s centros urbanos ocorrem no subsistema físico-químico. Por outro lado, as<br />

precipitações em áreas urba<strong>nas</strong>, as enchentes e os impactos ambientais que ocorrem em função do<br />

437


processo <strong>de</strong> urbanização acelerada dos países em <strong>de</strong>senvolvimento são exemplos <strong>de</strong> alteração do<br />

subsistema hidrometeórico.<br />

Os problemas relacionados com o campo termodinâmico, bem como com o subsistema<br />

hidrometeórico ocorrem naturalmente <strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> países em <strong>de</strong>senvolvimento on<strong>de</strong> o rápido e<br />

<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nado processo <strong>de</strong> urbanização tardia caracteriza essas áreas. A temperatura do ar e a<br />

umida<strong>de</strong> atmosférica são elementos intensamente afetados durante o processo <strong>de</strong> apropriação dos<br />

recursos naturais e o crescimento <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nado dos centros urbanos, gerando <strong>de</strong>sconforto térmico<br />

nesses ambientes. No entanto, os impactos ambientais negativos provocados por esses eventos são<br />

bastante seletivos em função da forte concentração <strong>de</strong> renda e <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais ocasionadas<br />

pela acumulação do capital. Sendo assim, as respostas ao <strong>de</strong>sconforto térmico nesses ambientes se<br />

fazem notar, sobretudo, na população mais pobre, uma vez que elas são <strong>de</strong>sprovidas <strong>de</strong> condições<br />

econômicas, técnicas e científicas para respon<strong>de</strong>r às influências do clima sobre suas vidas<br />

(Mendonça, 2010).<br />

O processo <strong>de</strong> impermeabilização dos centros urbanos diminui drasticamente a infiltração<br />

das águas pluviais no solo, uma vez que gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>ssas áreas é revestida <strong>de</strong> material<br />

impermeável, ou encontram-se compactadas, <strong>de</strong>correntes do intenso <strong>de</strong>smatamento, que contribui<br />

também para a diminuição do albedo, fazendo que haja uma maior concentração <strong>de</strong> energia no<br />

ambiente.<br />

Conti (1998) <strong>de</strong>staca que a impermeabilização dos solos, o aumento do albedo, a redução<br />

das áreas ver<strong>de</strong>s, o aumento da poluição atmosférica em função das indústrias instaladas <strong>nas</strong><br />

cida<strong>de</strong>s, o aumento da precipitação, as ilhas <strong>de</strong> calor e, consequentemente, o <strong>de</strong>sconforto térmico,<br />

<strong>de</strong>ntre outros fatores, são ape<strong>nas</strong> alguns exemplos <strong>de</strong> alterações ambientais presentes nos centros<br />

urbanos que geram microclimas específicos. Com a ausência <strong>de</strong> superfícies líquidas e <strong>de</strong> áreas<br />

ver<strong>de</strong>s, a evaporação se reduz consi<strong>de</strong>ravelmente, aumentando a sensação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconforto térmico e<br />

acentuando o efeito das ilhas <strong>de</strong> calor, já que a água ao se evaporar consome 580 cal/g; e essa<br />

energia <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> ser utilizada fica presa no ambiente urbano, acentuando os efeitos já<br />

mencionados. O autor <strong>de</strong>staca que a intensificação <strong>de</strong> tais efeitos é influenciada pela forma<br />

arquitetônica dos edifícios, pela natureza dos materiais <strong>de</strong> construção, pelas cores das pare<strong>de</strong>s e pela<br />

<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> da área construída; afetando, também, a velocida<strong>de</strong> e direção dos ventos, que ten<strong>de</strong>m a se<br />

orientar pelos vales ou cânions, <strong>de</strong>finidos pelo alinhamento dos gran<strong>de</strong>s edifícios, variando<br />

conforme a hora do dia e a situação sinótica. O ambiente urbano tem sofrido intensas modificações<br />

climáticas face às diversas fontes adicionais <strong>de</strong> calor <strong>de</strong> caráter antropogênico e da composição dos<br />

materiais <strong>de</strong> sua superfície, a maioria bons condutores térmicos e com gran<strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> calorífica<br />

438


que tem colaborado para o <strong>de</strong>sconforto térmico nesses ambientes (Barbirato et al., 2007; Gulyás et.<br />

al., 2005; Sarrat et. al., 2005).<br />

O uso constante do concreto, do asfalto e <strong>de</strong> diversos outros tipos <strong>de</strong> revestimentos<br />

cerâmicos, atrelados à ausência <strong>de</strong> vegetação, influencia diretamente na formação do clima urbano.<br />

Os principais fatores responsáveis por alterações no balanço energético dos centros urbanos<br />

são os seguintes: a localização da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro da região, o tamanho das cida<strong>de</strong>s, a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> da<br />

área construída, a cobertura do solo, a altura dos edifícios, a orientação e a largura das ruas, a<br />

divisão dos lotes, os efeitos dos parques e áreas ver<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>talhes espaciais do <strong>de</strong>senho dos edifícios<br />

(Olgvay, 1998). Já no que diz respeito ao uso e ocupação dos solos em áreas urba<strong>nas</strong>, ou seja,<br />

morfologia dos solos e paisagem, Oliveira (1988) menciona que os fatores condicionantes do clima<br />

urbano são a porosida<strong>de</strong>, rugosida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> da construção, tamanho da cida<strong>de</strong>, uso e ocupação<br />

do solo, orientação, permeabilida<strong>de</strong> do solo urbano e as proprieda<strong>de</strong>s termodinâmicas dos materiais<br />

constituintes do ambiente urbano. Em virtu<strong>de</strong> da influência <strong>de</strong> tais fatores na dinâmica climática dos<br />

centros urbanos, tornou-se perceptível a formação <strong>de</strong> condições microclimáticas individualizadas<br />

para essas áreas, sendo assim caracterizadas pela formação <strong>de</strong> camadas ou substratos que <strong>de</strong>limitam<br />

as modificações impostas pelo a<strong>de</strong>nsamento urbano. A compreensão <strong>de</strong> tais camadas se tornou<br />

ferramenta fundamental para a realização <strong>de</strong> medições e análise bioclimáticas indispensáveis ao<br />

planejamento e projeto urbano.<br />

Localização dos pontos na área <strong>de</strong> estudo<br />

Para avaliar a influência que o uso e a ocupação do solo po<strong>de</strong>m estar provocando sobre o<br />

campo térmico e o conforto térmico na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa, foram feitas medidas <strong>de</strong> temperatura<br />

e umida<strong>de</strong> relativa do ar em <strong>de</strong>z pontos distribuídos da forma mais representativa possível pela<br />

cida<strong>de</strong>.<br />

A Tab. 1 exibe a relação dos pontos experimentais com as suas respectivas coor<strong>de</strong>nadas<br />

geográficas <strong>de</strong>ntro da malha urbana da cida<strong>de</strong>.<br />

Tabela 1. Localização dos pontos experimentais em coor<strong>de</strong>nadas UTM.<br />

Localização dos pontos Ponto ―X‖ ―Y" Altitu<strong>de</strong> (m)<br />

Mata do Buraquinho P01 294473 9210910 18<br />

Bairro Expedicionários P02 295307 9212248 54<br />

Bairro Manaíra P03 297168 9213966 13<br />

Bairro Cabo Branco P04 298053 9212232 09<br />

439


Bairro Mangabeira P05 296918 9205666 50<br />

Bairro Cruz das Armas P06 291631 9210044 47<br />

Bairro Alto do Mateus P07 288930 9210524 45<br />

Bairro Centro P08 296918 9205666 50<br />

Bairro Bancários P09 297368 9209252 18<br />

Estação do INMET P10 295858 9215350 05<br />

A Figura 2 apresenta a localização dos <strong>de</strong>z pontos selecionados para o estudo em função das<br />

suas diferenciações quanto ao uso e cobertura do solo <strong>de</strong>ntro do espaço intra-urbano da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

João Pessoa.<br />

Figura 2. Localização dos pontos <strong>de</strong> medições e da Estação Meteorológica do INMET no<br />

perímetro urbano da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa. Mata do Buraquinho (P01), Bairro Expedicionários<br />

(P02), Bairro Manaíra (P03), Bairro Cabo Branco (P04), Bairro Manguabeira (P05), Bairro Cruz<br />

das Armas (P06), Bairro Alto do Mateus (P07), Bairro Centro (P08) e Bairro dos Bancários<br />

(P09). As coor<strong>de</strong>nadas geográficas estão no Sistema Universal Transverso <strong>de</strong> Mercator (UTM),<br />

fuso 25.<br />

440


As medidas foram realizadas em dois períodos, chuvoso e seco, compreen<strong>de</strong>ndo os<br />

seguintes intervalos <strong>de</strong> tempo: Período chuvoso – 5/6 a 30/8 <strong>de</strong> 2011; Período seco – 25/2 a 31/3 <strong>de</strong><br />

2012.<br />

Nível <strong>de</strong> conforto térmico<br />

Na análise do nível <strong>de</strong> conforto térmico nos pontos monitorados durante os períodos seco e<br />

chuvoso na área <strong>de</strong> estudo foi utilizado o índice bioclimático conhecido como índice <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconforto<br />

<strong>de</strong> Thom – IDT (Thom, 1959). Esse índice <strong>de</strong>screve a sensação térmica que uma pessoa<br />

experimenta <strong>de</strong>vido às variações das condições climáticas <strong>de</strong> um ambiente. O IDT oferece uma<br />

medida razoável do grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconforto para várias combinações <strong>de</strong> temperatura e umida<strong>de</strong> relativa<br />

do ar, expresso em graus Celsius, e po<strong>de</strong> ser obtido pela seguinte equação:<br />

IDT = T – (0,55-0,0055 UR)(T - 14,5) (1)<br />

em que T é a temperatura do ar (ºC) e UR é a umida<strong>de</strong> relativa do ar (%). Na caracterização do<br />

nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconforto térmico, utiliza-se a classificação apresentada na Tabela 2 (Giles et al., 1990).<br />

Entretanto, a faixa <strong>de</strong> variação dos níveis <strong>de</strong> conforto térmico expresso por esse índice foi<br />

ajustada às condições climáticas da área <strong>de</strong> estudo por Santos (2011), que foram utilizadas neste<br />

trabalho (Tabela 3).<br />

Tabela 2. Faixa <strong>de</strong> classificação do índice <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconforto <strong>de</strong> Thom (IDT).<br />

Faixas<br />

IDT (º C) Nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconforto térmico<br />

1 IDT < 21,0 Sem <strong>de</strong>sconforto<br />

2 21,0 ≤ IDT < 24,0 Menos <strong>de</strong> 50% da população sente<br />

<strong>de</strong>sconforto<br />

3 24,0 ≤ IDT < 27,0 Mais <strong>de</strong> 50% da população sente<br />

<strong>de</strong>sconforto<br />

4 27,0 ≤ IDT < 29,0 A maioria da população sente <strong>de</strong>sconforto<br />

5 29,0 ≤ IDT < 32,0 O <strong>de</strong>sconforto é muito forte e perigoso<br />

6 IDT ≥ 32,0 Estado <strong>de</strong> emergência médica<br />

Fonte: Giles et al. (1990)<br />

441


Tabela 3. Faixa <strong>de</strong> classificação do índice <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconforto <strong>de</strong> Thom (IDT) ajustado às condições<br />

climáticas da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa.<br />

Faixas IDT (º C) Nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconforto<br />

térmico<br />

Fonte: Santos (2011).<br />

1 IDT < 24,0 Confortável<br />

2 24 ≤ IDT ≤ 26,0 Parcialmente confortável<br />

3 26 < IDT < 28,0 Desconfortável<br />

4 IDT ≥ 28,0 Muito <strong>de</strong>sconfortável<br />

Mapeamento do uso e ocupação do solo<br />

3.<br />

O resultado obtido neste plano <strong>de</strong> trabalho e utilizado nesta pesquisa está exposto na figura<br />

Figura 3: Mapa do Uso e Ocupação do Solo da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa/PB (2008).<br />

442


RESULTADOS E DISCUSSÕES<br />

A composição do recobrimento do solo urbano está diretamente associada à formação <strong>de</strong><br />

ilhas <strong>de</strong> calor e ao <strong>de</strong>sconforto térmico sentido pela população. Esses tipos <strong>de</strong> uso e <strong>de</strong> ocupação do<br />

solo po<strong>de</strong>m afetar diretamente as condições urba<strong>nas</strong> locais <strong>de</strong> cada ponto analisado. Entre outros<br />

aspectos, a presença da vegetação funciona como fator amenizador termodinâmico, pois sua<br />

ativida<strong>de</strong> consome parte da energia disposta no ambiente, reduzindo seus efeitos.<br />

Serão apresentadas a seguir as análises realizadas em cada ponto monitorado, <strong>de</strong>stacando a<br />

relação entre o tipo <strong>de</strong> cobertura do solo e a sensação térmica da população.<br />

CONCLUSÕES<br />

De acordo com os resultados obtidos na pesquisa fica evi<strong>de</strong>nte a influência positiva que tem<br />

a presença <strong>de</strong> vegetação para um melhor conforto térmico, consi<strong>de</strong>rando o caso do Ponto 01 (Mata<br />

do Buraquinho).<br />

De outro lado, percebe-se uma pior condição <strong>de</strong> conforto em locais on<strong>de</strong> está ocorrendo um<br />

maior a<strong>de</strong>nsamento populacional e <strong>de</strong> edificações, notadamente <strong>de</strong>vido ao processo <strong>de</strong><br />

verticalização que está ocorrendo em João Pessoa. Esse fato po<strong>de</strong> ser observado inclusive em áreas<br />

que normalmente são consi<strong>de</strong>radas com maior amenida<strong>de</strong>, caso dos bairros <strong>de</strong> Manaíra e Cabo<br />

Branco, na faixa litorânea da cida<strong>de</strong>.<br />

REFERÊNCIAS<br />

Barbirato, G. M.; Souza, L. C. L.; Torres, S. C. Clima e Cida<strong>de</strong>: a abordagem climática como<br />

subsídio para estudos urbanos. 1.ed. Maceió: EDUFAL, 2007. 164p.<br />

Carvalho, M.M. Clima urbano e vegetação: estudo analítico e prospectivo do Parque das Du<strong>nas</strong><br />

em Natal. Natal: UFRN, 2001. 283p. Dissertação Mestrado.<br />

Conti, J. B. Clima e meio ambiente. 2.ed. São Paulo: Atual, 1998. 87p.<br />

Giles S, B. D.; Balafoutis S, C. H. The Greek heatwaves of 1987 and 1988. International Journal<br />

of Climatology, v.10, n.5, p.505–517, 1990.<br />

Gomes, M.A.S.; Amorim, M.C.C.T. Arborização e conforto térmico no espaço urbano: estudo <strong>de</strong><br />

caso <strong>nas</strong> praças públicas <strong>de</strong> Presi<strong>de</strong>nte Pru<strong>de</strong>nte. Caminhos <strong>de</strong> Geografia, São Paulo, v.7, n.1,<br />

p.94-106, 2003.<br />

443


Gulyás, A.; Unger, J.; Matzarakis, A. Assessment of the microclimatic and human comfort<br />

conditions in a complex urban environment: Mo<strong>de</strong>ling and measurements. Building and<br />

Environment, v.41, n.1, p.1713-1722, 2005.<br />

IBGE, Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística, 2010.<br />

Laukkonen, J.; Blanco, P. K.; Lenhart, J.; Keiner, B.C.; Kinuthia-Njenga, C. Combining climate<br />

change adaptation and mitigation measures at the local level. Habitat International, v.33, n.1, p.<br />

287-292, 2009.<br />

Lombardo, M. A. Ilha <strong>de</strong> calor <strong>nas</strong> metrópoles: o exemplo <strong>de</strong> São Paulo. 1.ed. São Paulo: Hucitec,<br />

1985. 244p.<br />

Mendonça, F. O estudo do clima urbano no Brasil. In: Mendonça, F.; Monteiro, C.A. <strong>de</strong> F. (orgs).<br />

Clima Urbano. São Paulo: Contexto, 2003. Cap.6, p. 175-1991.<br />

Monteiro, C.A. <strong>de</strong> F. Teoria e clima urbano. São Paulo: USP, 1976. 236p. Tese doutorado.<br />

Olgyay, V. Arquitectura y clima: manual <strong>de</strong> diseño bioclimático para arquitectos y urbanistas.<br />

Barcelona: Editora Gustavo Gili, 1998. 203p.<br />

Oliveira, P. M. Cida<strong>de</strong> apropriada ao clima. Brasília: UNB, 1988. 159p. Dissertação Mestrado.<br />

Rafael, R. A., Aranha, T.R.B.T., Meneses, L.F., Saraiva, A.G.S. Caracterização da evolução<br />

urbana do município <strong>de</strong> João Pessoa/PB entre os anos <strong>de</strong> 1990 a 2006 com base em imagens<br />

orbitais <strong>de</strong> média resolução. Simpósio Brasileiro <strong>de</strong> Sensoriamento Remoto, 14, Natal, 2009.<br />

Rooba, S.M. Effect urbanization and insdustrialization processes on outdoor thermal human<br />

comfort in Egypt. Atmospheric and Climate Sciences. v. 1, n.1, p. 100-102, 2011.<br />

Santa‘Anna Neto, J. L. História da Climatologia no Brasil: gênese e paradigmas do clima como<br />

fenômeno geográfico. Ca<strong>de</strong>rnos Geográficos.v.1, n.7, p. 2004.<br />

Santos, Joel Silva dos. Campo térmico urbano e a sua relação com o uso e cobertura do solo em<br />

uma cida<strong>de</strong> tropical úmida / Joel Silva dos Santos – Campina Gran<strong>de</strong>, 2011. 108f.:il. col.<br />

Santos, J.S.S.; Silva, V.P.R.; Araújo, L.E., Lima, E.R.V.; Costa, A.D.L. Análise das condições do<br />

conforto térmico em ambiente urbano: estudo <strong>de</strong> caso em Campus Universitário. Revista Brasileira<br />

<strong>de</strong> Geografia Física, v.2, p.292-309, 2011.<br />

444


Sarrat, C.; Lemonsu A.; Masson, V.; Guedalia, D. Impact of urban heat island on regional<br />

atmospheric pollution. Atmospheric Environment, v.40, n.1, p.1743-1758, 2005.<br />

Silva, F. <strong>de</strong> A. G. O vento Como ferramenta no <strong>de</strong>senho do ambiente construído: uma aplicação ao<br />

nor<strong>de</strong>ste brasileiro. São Paulo: FAAUSP, 1999. 234p. Tese Doutorado.<br />

Silva, V.P.R. On climate variability in Northeast of Brazil. Journal of Arid Environments, v.58, n.1,<br />

p.575-596, 2004.<br />

Sobreira, L.C. ; Le<strong>de</strong>r, S.M. ; Silva, F. A. G.; Rosa, P.R.O. Expansão urbana e variações<br />

mesoclimáticas em João Pessoa/PB. Ambiente Construido. v.11, p.125-138, 2011.<br />

Thom, E.C. The Discomfort In<strong>de</strong>x. Weatherwise, v.2, n.1, p.567-60, 1959.<br />

445


PROBLEMAS AMBIENTAIS E URBANOS NA COMUNIDADE BELA VISTA NO BAIRRO<br />

Resumo<br />

DO CRISTO, JOÃO PESSOA, BRASIL<br />

58 Elisângela <strong>de</strong> Araújo BARBOSA (UEPB)<br />

elisangelaz10@hotmail.com<br />

59 Randson Mo<strong>de</strong>sto Coêlho da PAIXÃO (UEPB)<br />

randsonmo<strong>de</strong>sto@gmail.com<br />

60 Suelen Cláudia Barbosa LOPES (UEPB)<br />

suelen-bio@hotmail.com<br />

61 Bruno FERREIRA (UFPE)<br />

brunge2005@gmail.com<br />

Este estudo tem por objetivo listar os eventuais problemas ambientais e urbanos existentes no<br />

conjunto Bela Vista e propor possíveis soluções. O conjunto Bela Vista esta inserido no bairro do<br />

Cristo, João Pessoa, Paraíba. O estudo foi feito em jul/2011. Em uma etapa inicial foram listados<br />

possíveis problemas ambientais e urbanos a partir do qual foi elaborado um check list.<br />

Posteriormente aplicado em campo para i<strong>de</strong>ntificação dos problemas existentes no local <strong>de</strong> estudo e<br />

elaborar possíveis soluções. Dos problemas existentes no check list um esta relacionado ao clima,<br />

três relacionados ao solo e 15 problemas <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m urbana. A partir <strong>de</strong>sses resultados po<strong>de</strong>-se<br />

concluir que a listagem dos problemas foi eficaz para a <strong>de</strong>tecção problemas ambientais e urbanos<br />

presentes no local <strong>de</strong> estudo. Assim como a implantação <strong>de</strong> mecanismos <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> e a<br />

participação efetiva da população.<br />

Palavras-chaves: zoneamento ambiental, planejamento ambiental e populacional<br />

58 Estudante <strong>de</strong> graduação <strong>de</strong> Ciências Biológicas<br />

59 Estudante <strong>de</strong> graduação <strong>de</strong> Ciências Biológicas<br />

60 Profissional – Bacharel em Ciências Biológicas<br />

61 Professor orientador<br />

446


Abstract<br />

This study aims to list the possible environmental and urban problems existing in Bela Vista<br />

community and propose possible solutions. Bela Vista is inserted in Christ neighborhood, João<br />

Pessoa, Paraiba. The study was done in Jul/2011. In the initial stage were listed potential<br />

environmental issues and urban from which was drawn up a checklist. Later applied in the field to<br />

i<strong>de</strong>ntify existing problems at the study site and <strong>de</strong>velop possible solutions. Existing problems in the<br />

check list one is related to climate, three related problems of soil and 15 urban or<strong>de</strong>r. From these<br />

results it can be conclu<strong>de</strong>d that the list of problems was effective for <strong>de</strong>tecting environmental<br />

problems and urban present at the study site. As the <strong>de</strong>ployment of mechanisms for sustainability<br />

and effective participation of the population.<br />

Keywords: environmental zoning, environmental planning and population<br />

Introdução<br />

O crescimento acelerado e <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nado das cida<strong>de</strong>s se tornou uma preocupação frequente no<br />

mundo contemporâneo, sendo discutido por diferentes autores seus impactos sob os aspectos<br />

políticos, econômicos, sociais e/ou ambientais em nossa socieda<strong>de</strong>. Nos países <strong>de</strong>senvolvidos,<br />

populações rurais ao longo dos anos passaram a migrar para os gran<strong>de</strong>s centros urbanos, visando<br />

encontrar condições que garantissem a melhor qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida para suas famílias, aglomeraram-<br />

se principalmente <strong>nas</strong> regiões mais periféricas, formando os <strong>de</strong>nominados complexos suburbanos, o<br />

que acarretou em gran<strong>de</strong>s tormentos <strong>de</strong> poluição, violência e pobreza (Gouveia 1999).<br />

É evi<strong>de</strong>nte que o crescimento <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nado ocasionou muitos <strong>de</strong>sequilíbrios <strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> ocupações em locais <strong>de</strong> risco ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> subnúcleos populacionais em áreas <strong>de</strong><br />

periferia sem acesso aos serviços públicos (Azevedo 2004). Associado a este problema esta, a<br />

diminuição da aplicação do papel do governo municipal <strong>nas</strong> áreas sociais visíveis como por meio da<br />

falta <strong>de</strong> financiamentos a saú<strong>de</strong>, educação, infraestrutura pública e sanitária, conservação do meio<br />

ambiente, etc. (Zirkl 2003).<br />

Vinculado à questão territorial bem especifica da cida<strong>de</strong> esta o planejamento urbano. Este<br />

visa à manutenção da or<strong>de</strong>m <strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s (Azevedo 2004) e as principais estratégias para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento sustentável (Gouveia 1999), por meio do Zoneamento ambiental e urbano. Essa<br />

ferramenta <strong>de</strong> análise favorece a <strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> áreas críticas, especificando os problemas em<br />

relação à vulnerabilida<strong>de</strong> do meio físico e biótico, separando posteriormente as zo<strong>nas</strong> <strong>de</strong> restrição e<br />

ocupação <strong>de</strong> uso e ativida<strong>de</strong>s huma<strong>nas</strong> (Carvalho & Barbosa 2010).<br />

447


Tendo em vista estes aspectos, objetivou-se listar os eventuais problemas ambientais e<br />

urbanos existentes em uma comunida<strong>de</strong>, e propor possíveis soluções.<br />

Materiais e Métodos<br />

Área <strong>de</strong> Estudo – O município <strong>de</strong> João Pessoa localiza-se no litoral da Paraíba, nor<strong>de</strong>ste do<br />

Brasil. O conjunto Bela Vista, é uma comunida<strong>de</strong> inserida no bairro do Cristo, este se encontra na<br />

porção oeste da cida<strong>de</strong>, sob as coor<strong>de</strong>nadas 7°09‘47‖S e 34°52‘44‖O (Fig.1). De acordo com dados<br />

do Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística (IBGE 2009) estima-se que a população do bairro<br />

compreenda cerca <strong>de</strong> 37 mil habitantes, sendo o segundo bairro mais populoso do município. O<br />

conjunto Bela Vista foi criado para aten<strong>de</strong>r a população carente que necessitava <strong>de</strong> moradia entre<br />

1989- 1990 (Fig.2).<br />

Fig. 1. Localização do bairro do Cristo na Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa- PB. Em vermelho a <strong>de</strong>limitação do perímetro do<br />

bairro. Imagem: autores.<br />

448


Fig. 2. Localização do Conjunto Bela Vista. À esquerda, em amarelo <strong>de</strong>staca-se a <strong>de</strong>limitação do bairro do Cristo, em<br />

vermelho a localização do Conjunto Bela Vista. À direita, em vermelho observa-se uma ampliação do Conjunto Bela<br />

Vista. Fonte: Google Earth, com adaptações.<br />

Métodos - O trabalho ocorreu em junho <strong>de</strong> 2011, obe<strong>de</strong>cendo aos procedimentos instituídos<br />

pela disciplina ―Planejamento e Zoneamento Ambiental‖ do curso <strong>de</strong> Ciências Biológicas da<br />

Universida<strong>de</strong> Estadual da Paraíba (UEPB).<br />

A pesquisa consistiu em duas etapas. Na primeira foi feito uma listagem prévia com 33<br />

possíveis problemas ambientais e urbanos que po<strong>de</strong>riam ser observados em campo, o qual<br />

constituiu o check list. A escolha dos problemas i<strong>de</strong>ntificados segundo Soares e colaboradores<br />

2006, <strong>de</strong>ve-se ao fato <strong>de</strong>stes serem problemas que afetam todos os recantos dos limites urbanos da<br />

cida<strong>de</strong>; e por serem problemas ambientais que <strong>de</strong>terminam a própria qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida da<br />

população que nela habitam.<br />

Em um segundo momento, ocorreu a aplicação do mesmo no local <strong>de</strong> estudo, <strong>de</strong> forma a<br />

abranger todo o perímetro e o centro do conjunto. Após a i<strong>de</strong>ntificação dos problemas, foi feito uma<br />

listagem com as possíveis soluções.<br />

Resultados e Discussão<br />

Dos trinta e quatro problemas relacionados no check list, 19 foram encontrados no local <strong>de</strong><br />

estudo, os quais foram distribuídos em três grupos: Clima (1), Solo (3) e Urbano (15) (Tabela 1).<br />

Tabela 1. I<strong>de</strong>ntificação e <strong>de</strong>scrição dos problemas ambientais e urbanos encontrados no conjunto<br />

Bela Vista.<br />

449


Clima<br />

Alteração do microclima local<br />

Solo<br />

Erosão<br />

Compactação<br />

Impermeabilização<br />

Urbano<br />

Ausência <strong>de</strong> acessibilida<strong>de</strong> para portadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência<br />

Calçadas irregulares<br />

Terrenos baldios<br />

Transporte público insuficiente<br />

Ausência <strong>de</strong> creche<br />

Ausências <strong>de</strong> posto <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

Ausência <strong>de</strong> um posto <strong>de</strong> policia<br />

Ruas estreitas e mal sinalizadas<br />

Ligação clan<strong>de</strong>stina e obstrução <strong>nas</strong> re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> esgotos<br />

Obstrução das galeriais pluviais<br />

Coletas <strong>de</strong> lixo irregular<br />

Deposição <strong>de</strong> lixo <strong>de</strong> forma irregular<br />

Alagamentos temporários<br />

Pragas urba<strong>nas</strong><br />

Retirada da vegetação para construção <strong>de</strong> casas<br />

No que se refere ao Clima, as diferenças microclimáticas são facilmente percebidas entre o<br />

perímetro externo e centro do conjunto, tornando-se quente à medida que se a<strong>de</strong>ntra no local.<br />

Os problemas ambientais relacionados ao solo são visíveis em alguns locais, a erosão e a<br />

compactação do solo, por exemplo, estão presentes em ruas sem calçamento, enquanto a<br />

impermeabilização ocorre <strong>nas</strong> ruas calçadas. In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes do local em que ocorram, estes<br />

processos causam transtornos à população, pois além <strong>de</strong> dificultar a passagem <strong>de</strong> automóveis e por<br />

vezes pe<strong>de</strong>stres, aumentam o risco <strong>de</strong> alagamentos em períodos <strong>de</strong> chuva.<br />

O meio urbano foi o grupo o que apresentou a maior quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> problemas, estes por sua<br />

vez existem <strong>de</strong> forma interligada entre si, como também com os problemas ambientais. Os<br />

problemas urbanos e suas possíveis soluções estão relatados a seguir.<br />

Ausência <strong>de</strong> acessibilida<strong>de</strong> para portadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência: Nas ruas do conjunto não foram<br />

encontradas nenhum <strong>de</strong> acessibilida<strong>de</strong> a portadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiências, com isso, o direito <strong>de</strong> ir<br />

450


e vir <strong>de</strong> todo cidadão fica comprometida, seriam necessário construir calçadas com<br />

acessibilida<strong>de</strong>;<br />

Calçadas irregulares: A comunida<strong>de</strong> é formada por calçadas estreitas e irregulares, o que<br />

dificulta a passagem dos pe<strong>de</strong>stres, po<strong>de</strong>ndo ainda provocar aci<strong>de</strong>ntes, como quedas por<br />

exemplo, Além disso, po<strong>de</strong>m dificultar um correto escoamento das águas da chuva,<br />

formando poças. Faz-se necessário a implantação <strong>de</strong> um programa <strong>de</strong> incentivo a calçada<br />

ecológica (Almeida & Ferreira, 2008), que além <strong>de</strong> favorecer o caminhar, evita aci<strong>de</strong>ntes, e<br />

ainda possibilita o escoamento correto das águas pluviais.<br />

Terrenos baldios: Os terrenos baldios presentes no local constitui um gran<strong>de</strong> problema para<br />

a comunida<strong>de</strong>, pois servem <strong>de</strong> <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> lixo, favorecendo a proliferação <strong>de</strong> pragas<br />

urba<strong>nas</strong> e mal cheiro (Fig. 3). Estes terrenos po<strong>de</strong>riam ser utilizados para construção <strong>de</strong><br />

praças ou áreas <strong>de</strong> lazer e ainda para a criação <strong>de</strong> uma horta com o incentivo da prefeitura na<br />

redução do IPTU (Imposto sobre a proprieda<strong>de</strong> Territorial Urbana), (Plantando <strong>Vida</strong>, 2012).<br />

Deposição <strong>de</strong> lixo <strong>de</strong> forma irregular: Este problema ocorre principalmente em terrenos<br />

baldios e em calçadas (Fig. 3), sendo necessário melhorar o sistema <strong>de</strong> limpeza, proposto<br />

anteriormente e implementar medidas <strong>de</strong> educação ambiental junto à população.<br />

Fig. 3: À esquerda, <strong>de</strong>posição <strong>de</strong> lixo em terreno baldio. À direita, <strong>de</strong>posição <strong>de</strong> lixo em calçadas<br />

Coletas <strong>de</strong> lixo irregular: A coleta <strong>de</strong> lixo é irregular em algumas áreas pois algumas ruas<br />

são muito estreitas, o que impossibilita a passagem, uma solução a<strong>de</strong>quada para este<br />

problema seria a implantação da coleta seletiva e do acordo ver<strong>de</strong> (acordo simbólico on<strong>de</strong> o<br />

morador concorda em separar seu lixo e a prefeitura faz a coleta porta a porta através os<br />

agentes ambientais). E também disponibilizar coletores em áreas estratégias, assim evitaria<br />

jogar o lixo <strong>nas</strong> calçadas e nos terrenos baldios.<br />

451


Ligação clan<strong>de</strong>stina <strong>nas</strong> re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> esgotos e obstrução das galerias pluviais: Em vários pontos<br />

da comunida<strong>de</strong> foi verificada ligações clan<strong>de</strong>sti<strong>nas</strong> <strong>de</strong> <strong>nas</strong> re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> esgotos, e obstrução das<br />

vias pluviais, as quais se apresentavam entupidas com terra e lixo (Fig 4). Para resolver este<br />

problema é necessário a produção <strong>de</strong> materiais educativos e didático-pedagógicos (ProNEA,<br />

2005), a qual <strong>de</strong>ve ser distribuída aos moradores. Realizar a <strong>de</strong>sobstrução das galerias<br />

pluviais e interromper as ligações clan<strong>de</strong>sti<strong>nas</strong> <strong>de</strong> esgoto.<br />

Fig. 4: Galerias <strong>de</strong> esgotos e fluviais obstruídas. Canto superior esquerdo, boca <strong>de</strong> lobo com <strong>de</strong>posição <strong>de</strong> lixo.<br />

Canto superior direito, ligação clan<strong>de</strong>stina <strong>de</strong> esgoto. Cantos inferiores, galerias pluviais obstruídas com terra e<br />

lixo. Fotos: autores.<br />

Alagamentos temporários: Estes problemas estão mais presentes nos períodos chuvosos.<br />

Para evitá-los se faz necessário a manutenção dos sistemas <strong>de</strong> drenagem pluvial, juntamente<br />

com medidas <strong>de</strong> educação ambiental.<br />

452


Pragas urba<strong>nas</strong>: As pragas urba<strong>nas</strong> são provenientes da <strong>de</strong>posição ina<strong>de</strong>quada do lixo. Para<br />

resolver este problema é necessário implementar medidas educativas sobre <strong>de</strong>scarte correto<br />

do lixo, além <strong>de</strong> ser realizada limpeza periódica no local.<br />

Retirada da vegetação para construção <strong>de</strong> casas: Muitos moradores efetuaram o corte das<br />

arvores que se encontravam em seu terreno para construís peque<strong>nas</strong> vilas. Se faz necessário<br />

Arborização em áreas estratégicas.<br />

Transporte público insuficiente: O transporte público é uma necessida<strong>de</strong> básica do cidadão<br />

que precisa utilizar este meio para o trabalho ou mesmo ir à escola. O tempo <strong>de</strong> espera gira<br />

em torno <strong>de</strong> uma hora, e em horários <strong>de</strong> pico existe o problema da superlotação. Estes<br />

problemas po<strong>de</strong>riam ser resolvidos aumentando-se a frota <strong>de</strong> ônibus e diminuindo o tempo<br />

<strong>de</strong> espera<br />

Ausência <strong>de</strong> creche, posto <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e posto <strong>de</strong> policia: Educação, saú<strong>de</strong> e segurança, são<br />

elementos fundamentais para um <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> crianças e jovens, sendo assim é<br />

necessário a construção <strong>de</strong> uma creche, implantar o PSF - Programa <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Familiar e<br />

reativar o posto policial que existia no local.<br />

Ruas estreitas e mal sinalizadas: As ruas da comunida<strong>de</strong> são estreitas, e muitas vezes com<br />

calçamento comprometido. A falta <strong>de</strong> sinalização no local, po<strong>de</strong> provocar aci<strong>de</strong>ntes. É<br />

necessário aumentar a sinalização e realizar manutenção das ruas. Implantar medidas <strong>de</strong><br />

educação para o trânsito.<br />

Para que as soluções apresentadas sejam efetivamente concretizadas, é <strong>de</strong> extrema<br />

importância, que a população participe e também fiscalize as ações realizadas pela própria<br />

comunida<strong>de</strong> e também do po<strong>de</strong>r público. A população só será capaz <strong>de</strong> realizar tal tarefa, quando<br />

conhecer os problemas e tiver acesso aos meios <strong>de</strong> solucioná-los, e isso só ocorrerá através <strong>de</strong><br />

mudanças culturais e educacionais. Para isso, projetos <strong>de</strong> educação ambiental <strong>de</strong>vem ser<br />

implantados e seguidos rigorosamente. A educação ambiental é <strong>de</strong> fundamental importância para<br />

que as camadas <strong>de</strong>sta classe continuem <strong>nas</strong> suas reivindicações por melhores condições <strong>de</strong> vida,<br />

pela <strong>de</strong>mocracia e pela cidadania.<br />

Conclusão<br />

Neste estudo verificou-se a importância do método chek list para <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> problemas<br />

ambientais e urbanos ocorrentes na comunida<strong>de</strong> Bela Vista, o que permitiu propor medidas e ações<br />

direcionadas e que carecem ser implementadas. Dentre os problemas listados verificou-se que os<br />

mais agravantes estiveram relacionados meio antrópico.<br />

453


Para que as soluções apresentadas sejam efetivamente concretizadas, faz-se necessário a<br />

implementação nos mecanismos <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong>, previstos em qualquer programa ou sistema <strong>de</strong><br />

gestão ambiental. O envolvimento da população é <strong>de</strong> extrema importância para a fiscalização no<br />

processo <strong>de</strong> implantação das medidas mitigadoras por parte do po<strong>de</strong>r público.<br />

Referências Bibliográficas<br />

ALMEIDA, R. B. & FERREIRA, O. M. Calçadas Ecológicas: construções e benefícios sócioambientais.<br />

Goiana, jun, 2008. Disponível em:<br />

http://www.pucgoias.edu.br/ucg/prope/cpgss/ArquivosUpload/36/file/CAL%C3%87ADAS%20EC<br />

OL%C3%93GICAS.pdf Acessado em: 03 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2012.<br />

AZEVEDO, S. M. Avaliação do processo <strong>de</strong> zoneamento urbano <strong>de</strong> Araranguá – SC. Dissertação<br />

<strong>de</strong> mestrado, UFSC, 2004.<br />

BARBOSA, C. & CARVALHO, P. F. Zoneamento urbano-ambiental: possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

compatibilização entre análise geomorfológica e padrões <strong>de</strong> ocupação urbanos para construção <strong>de</strong><br />

cida<strong>de</strong>s sustentáveis. Seminário Latino Americano <strong>de</strong> Geografia física, Coimbra, 2010.<br />

Gestão Ambiental e Futuro (Blog). Calçada Ecológica. Disponível em:<br />

Acesso em: 10 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2011.<br />

GOUVEIA, N. 1999. Saú<strong>de</strong> e meio ambiente <strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s: os <strong>de</strong>safios da saú<strong>de</strong> ambiental. Saú<strong>de</strong> e<br />

Socieda<strong>de</strong> 8(1): 49-61.<br />

LELLES, L. C.; SILVA, E.; GRIFFITH, J. J. & MARTINS, S. V. 2005. Perfil ambiental<br />

qualitativo da extração <strong>de</strong> areia em d´água. Revista Árvore, 29(3): 439-444.<br />

SILVA, E. 1999. Técnicas <strong>de</strong> avaliação <strong>de</strong> impactos ambientais. Viçosa, MG: CPT. 64p. (Ví<strong>de</strong>ocurso<br />

1999)<br />

Plantando <strong>Vida</strong>: discutindo ambientas sustentáveis (Blog). Disponível em:<br />

http://plantandovida.wordpress.com/2011/04/15/horta-urbana-piracicaba/ Acessado em: 10 <strong>de</strong><br />

setembro <strong>de</strong> 2012.<br />

Programa Nacional <strong>de</strong> Educação Ambiental - ProNEA/ Ministério <strong>de</strong> Meio Ambiente, Diretoria <strong>de</strong><br />

Educação Ambiental, Ministério da Educação. Coor<strong>de</strong>nação Geral <strong>de</strong> Educação Ambiental. 3. ed.<br />

120. P, Brasília, 2005.<br />

SOARES, T. S; CARVALHO, R. M. M. A; VIANA, E. C; ANTUNES, F. C. B. Impactos<br />

ambientais <strong>de</strong>correntes da ocupação <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada na área urbana do Município <strong>de</strong> viçosa, estado<br />

<strong>de</strong> Mi<strong>nas</strong> Gerais. Revista Cientifica Eletrônica <strong>de</strong> Engenharia Florestal. 08 (4). p, 1-14. ago, 2006.<br />

ZIRKL, F. Desenvolvimento urbano <strong>de</strong> Curitiba (Brasil): Cida<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo ou uma exceção? Atlas <strong>de</strong><br />

L. <strong>de</strong> V, Tomo, V. 26, 2003. p.87-98.<br />

454


Resumo<br />

PERCEPÇÃO SOCIOAMBIENTAL DOS COMERCIANTES E FREQUENTADORES<br />

DO MERCADO PÚBLICO DA MADALENA – RECIFE - PE<br />

Lucicleiton Leandro da Silva <strong>de</strong> MELO (DCFL/UFRPE)<br />

lucicleitonl@hotmail.com<br />

Marília Isabelle Oliveira da SILVA (DCFL/UFRPE)<br />

marília.iosilva@gmail.com<br />

Clau<strong>de</strong>nice Paulino da SILVA (FMA)<br />

tecclau<strong>de</strong>nice@hotmail.com<br />

Marcelo NOGUEIRA (DCFL/UFRPE) –<br />

mnogueira_ufrpe@yahoo.com.br<br />

O Mercado Público da Madalena é parte integrante da história do Recife sendo <strong>de</strong> importância<br />

gastronômica, cultural e história para todo população contemporânea, com sua arquitetura<br />

imponente on<strong>de</strong> há um pórtico na sua parte frontal, bem no ápice da fachada, o antigo brasão do<br />

Recife marcado por inúmeras passagens política e social ao longo da história recifense. O Mercado<br />

é um local <strong>de</strong> encontros sociais entre jovens, personalida<strong>de</strong>s políticas e artísticas. Também, um<br />

local <strong>de</strong> preservação da cultura local/regional, culinária e relação social. Em função <strong>de</strong>ssas<br />

características, realizou-se um diagnóstico socioambiental no Mercado da Madalena para avaliar a<br />

percepção ambiental dos frequentadores e comerciantes do mercado, como forma <strong>de</strong> conhecer os<br />

impactos positivos e negativos sobre o meio ambiente. Diante dos questionamentos, observou-se<br />

um problema central aos dois públicos entrevistados: a falta <strong>de</strong> informação no que concerne a<br />

história do mercado e a relação, <strong>de</strong> ambos, com o meio ambiente.<br />

Palavras chaves: percepção socioambiental, impacto ambiental, mercado da madalena.<br />

Abstract<br />

The Public Market is part of the Magdalene in the history of Recife is important gastronomic,<br />

cultural and contemporary history for all people, with its imposing architecture where there is a<br />

porch on the front and at the height of the faca<strong>de</strong>, the old coat of Recife marked by numerous<br />

455


passages and social policy throughout history Recife. The Market is a place for social gatherings<br />

among young people, political and artistic personalities. Also, a local preservation of local culture /<br />

regional cuisine and social relationship. Due to these characteristics, there was a diagnosis of<br />

environmental marketing Magdalene to assess the environmental perception of the regulars and<br />

market tra<strong>de</strong>rs as a way to know the positive and negative impacts on the environment. Given the<br />

questions, there was a problem central to both public respon<strong>de</strong>nts: lack of information regarding the<br />

history of the market and the relation of both to the environment.<br />

Keywords: environmental awareness, environmental impact, market Magdalene.<br />

INTRODUÇÃO<br />

Os Mercados Públicos constituem patrimônios imateriais e culturais <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong> porque<br />

oferecem diversos produtos e serviços em um único local e são palco para diversos acontecimentos<br />

artísticos, políticos e intelectuais (PINTAUDE, 2010). A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> consumo do homem <strong>de</strong><br />

bens duráveis e não-duráveis trouxe para as cida<strong>de</strong>s esses gran<strong>de</strong>s mercados públicos nos quais<br />

disponibilizam serviços e comercialização <strong>de</strong> artesanatos, venda <strong>de</strong> gêneros alimentícios (quitandas,<br />

peixarias, açougues) e <strong>de</strong> comidas prontas (bares, lanchonetes e restaurantes), (OLIVEIRA et al,<br />

2008).<br />

A realização <strong>de</strong> um diagnóstico socioambiental no Mercado da Madalena, <strong>de</strong> uma forma<br />

geral estabelece uma <strong>de</strong>scrição macro do mercado, que norteia o ambiente social, baseado na<br />

percepção dos frequentadores e comerciantes. Além <strong>de</strong> avaliar pontos negativos, positivos e<br />

levantar alternativas <strong>de</strong> melhoramento. Segundo Barros (2008), o diagnóstico socioambiental é um<br />

instrumento que analisa as características socioambientais <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado lugar, levantando os<br />

seus principais problemas sociais e ambientais e alternativas viáveis <strong>de</strong> solução para os mesmos.<br />

Também se buscou uma percepção ambiental dos comerciantes e frequentadores e, segundo<br />

Fernan<strong>de</strong>s et al. (2010), percepção ambiental po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finida como uma tomada <strong>de</strong> consciência do<br />

ambiente pelo homem, ou seja o ato <strong>de</strong> perceber o ambiente que se está inserido, apren<strong>de</strong>ndo a<br />

proteger e a cuidar do mesmo. É importante a preservação os mercados públicos por eles serem um<br />

ambiente histórico e cultural que contribui <strong>nas</strong> entrelinhas para o resgate da história <strong>de</strong> um<br />

<strong>de</strong>terminado espaço geográfico.<br />

O Mercado da Madalena, consi<strong>de</strong>rado <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância histórica para Pernambuco, é<br />

um dos mercados integrantes da re<strong>de</strong> <strong>de</strong> mercados públicos da cida<strong>de</strong> do Recife. Sua construção<br />

teve início em 6 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1925 e em 19 <strong>de</strong> novembro do mesmo ano foi inaugurado. Foi<br />

<strong>de</strong>nominado Mercado Bacurau, pois funcionava ape<strong>nas</strong> no horário da noite. As terras foram doadas<br />

456


por Duarte Coelho 62 ao cunhado Jerônimo <strong>de</strong> Albuquerque. Depois <strong>de</strong> sua morte, foram divididas<br />

entre os filhos que, por sua vez, as passaram adiante. Uma <strong>de</strong>ssas partes foi adquirida por Pedro<br />

Afonso Durol, casado com dona Madalena Gonçalves Furtado. Ali o proprietário implantou um<br />

engenho <strong>de</strong> açúcar, movido por animais. A proprieda<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> se construiu o Sobrado Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> São<br />

João Alfredo - casa gran<strong>de</strong> do engenho -, ficou conhecido como Passagem <strong>de</strong> D. Madalena. Ainda<br />

hoje é ponto <strong>de</strong> encontro <strong>de</strong> boêmios... (CSURB, 2010) que se <strong>de</strong>liciam <strong>de</strong> belos petiscos da<br />

culinária regional (sarapatel, guisados e etc). O mercado tem gran<strong>de</strong> importância na cultura e na<br />

gastronomia (CSURB, 2010). Funciona em sua parte externa uma praça <strong>de</strong> alimentação durante 24<br />

horas, com comidas típicas e um gran<strong>de</strong> contingente <strong>de</strong> frequentadores funcionando também como<br />

bar.<br />

Apesar <strong>de</strong> ser <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância histórica, ainda é pouco explorado culturalmente.<br />

Entretanto, o mercado da madalena é um dos poucos mercados públicos que possui uma praça <strong>de</strong><br />

lazer, arborizada com espécies da mata atlântica proporcionando um ambiente agradável. Diante da<br />

sua relevância histórica, este trabalho tem como objetivo avaliar a percepção ambiental dos<br />

comerciantes e frequentadores do mercado público da Madalena, por meio da construção e<br />

aplicação <strong>de</strong> um questionário semi-estruturado abordando aspectos socioambiental.<br />

MATERIAL E METÓDOS<br />

O Mercado da Madalena está localizado no Bairro da Madalena na Praça Solange Pinto<br />

Melo, Rua Real da Torre, n° 270 - Recife-PE. O horário <strong>de</strong> funcionamento é das 6:00 às 18:00<br />

horas. O Mercado possui uma estrutura <strong>de</strong> aproximadamente 180 boxes <strong>de</strong> comercialização <strong>de</strong><br />

utensílios domésticos, artesanatos, comidas típicas do nor<strong>de</strong>ste, bares, lanchonetes, sapataria, venda<br />

<strong>de</strong> animais <strong>de</strong> estimações, rações e pássaros. Abrangendo 980m² <strong>de</strong> área construída,<br />

aproximadamente 3000 pessoas frequentam o mercado diariamente. O abastecimento <strong>de</strong> água é<br />

fornecido parte pela COMPESA e parte por um poço artesiano <strong>de</strong> água com profundida<strong>de</strong><br />

aproximada <strong>de</strong> 12,0 m, enchendo assim a caixa d‘água com 5000 litros servindo <strong>de</strong> abastecimento<br />

intermediário ao da re<strong>de</strong> pública <strong>de</strong> água para mercado.<br />

Para análise da percepção ambiental dos comerciantes e frequentadores do mercado público<br />

da Madalena e como forma <strong>de</strong> dimensionar em gráficos estatísticos sua avaliação perante as<br />

questões socioambiental, foi aplicado um questionário com perguntas <strong>de</strong> múltipla escolha<br />

abordando aspectos sociais, econômicos e ambientais do mercado. Ressaltando-se que o objetivo da<br />

62 ―Duarte Coelho foi o primeiro donatário da Capitania Hereditária <strong>de</strong> Pernambuco, e fundador <strong>de</strong> Olinda. Nasceu em<br />

Miragaia, talvez em 1485, e morreu em Portugal em 7 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1554. Foi fidalgo, militar e<br />

administrador‖(Fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Duarte_Coelho_Pereira).<br />

457


aplicação dos questionários visa uma análise qualitativa do contingente <strong>de</strong> pessoas que frequenta o<br />

mercado da Madalena.<br />

Com base no questionário socioambiental elaborado pela Socieda<strong>de</strong> Nor<strong>de</strong>stina <strong>de</strong> Ecologia<br />

– SNS (2007) para construção da agenda 21 local em quatro comunida<strong>de</strong>s do município do Cabo <strong>de</strong><br />

Santo Agostinho, foi adaptado para realida<strong>de</strong> do mercado público da madalena, como menciona<br />

Fernan<strong>de</strong>s et al. (2010), que ―... tal questionário <strong>de</strong>verá estar estruturado à luz dos objetivos a que<br />

se preten<strong>de</strong> como pesquisa e, sobretudo, consi<strong>de</strong>rar o tipo/nível dos entrevistados‖.<br />

O diagnóstico foi feito seguindo critérios metodológicos bem traçados para garantir<br />

legitimida<strong>de</strong> na coleta <strong>de</strong> dados e na análise das informações relacionadas ao Mercado da<br />

Madalena. Foram seguidas três etapas na elaboração do diagnóstico:<br />

Na etapa um, foi feito o reconhecimento do mercado: números <strong>de</strong> boxes cadastrados,<br />

história do mercado, estrutura, comercialização e localização. De posse dos dados foram<br />

selecionados 16 boxes, aleatoriamente, para compor a amostra a serem pesquisadas por meio do<br />

questionário socioambiental, representando um contingente <strong>de</strong> 8,3% do total <strong>de</strong> boxes existentes.<br />

Foi realizada uma ―consulta na Companhia <strong>de</strong> Serviços Urbanos do Recife – CSURB, ligada a<br />

Secretaria <strong>de</strong> Serviços Públicos, órgão responsável pela administração dos mercados públicos <strong>de</strong><br />

Recife – Pernambuco‖ com o objetivo <strong>de</strong> buscar informação sobre o mercado da Madalena.<br />

A etapa dois consistiu da aplicação do questionário sócio-ambiental para os comerciantes<br />

com trinta e cinco perguntas <strong>de</strong> múltipla escolha que abordava aspectos relacionados à: condições<br />

<strong>de</strong> trabalho; infra-estrutura e qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida. Concomitantemente, aplicar-se-á um questionário,<br />

com quatorze perguntas objetivas à 14 frequentadores presente no mercado, escolhidos<br />

aleatoriamente, na busca <strong>de</strong> uma percepção ambiental dos entrevistados em relação ao Mercado da<br />

Madalena.<br />

Na etapa três realizar-se-á a tabulação e análise dos dados e informações coletadas, além da<br />

elaboração <strong>de</strong> gráficos comparativos, sistematização e síntese dos mesmos. Com base na<br />

sistematização dos dados, po<strong>de</strong>-se traçar e analisar o perfil socioambiental dos comerciantes e<br />

frequentadores do Mercado Público da Madalena.<br />

RESULTADOS E DISCUSSÕES<br />

Perfil dos entrevistados<br />

Na figura 1, são apresentados a distribuição quantitativa em percentual dos comerciantes e<br />

frequentadores entrevistados por gênero. Dos comerciantes entrevistados, 50% das pessoas são<br />

458


mulheres e 50% são homens, no que concerne aos frequentadores temos 86% homens e 14 mulheres<br />

(Gráfico 1).<br />

Gráfico 1- Divisão <strong>de</strong> gênero dos comerciantes e frequentadores do mercado.<br />

Diante dos dados coletados no mercado da Madalena, observa-se que o mesmo possui um<br />

expressivo número <strong>de</strong> comerciantes com faixa etária entre 51 a 64 anos (Gráfico. 2). Enquanto que<br />

os frequentadores do mercado entrevistados têm faixa etária entre 18 a 64 anos, revelando que é um<br />

público diversificado <strong>de</strong> pessoas que frequentam o mercado da Madalena. A maioria dos<br />

entrevistados tinha entre 51 a 64 (56%) e 31 a 40 (43%) anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Os comerciantes entre 31 a<br />

40 e 41 a 50 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> ficaram empatados com 19% e os frequentadores entre 18 a 30 e 51 a 64<br />

com 14% do total dos entrevistados. Faz-se necessário salientar a importância dos adolescentes<br />

entre 10 a 17 anos nesses espaços históricos, como forma <strong>de</strong> manter viva, e não se per<strong>de</strong> a valor<br />

cultura do mercado da Madalena.<br />

Gráfico 2 - Distribuição da quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pessoas entrevistadas por faixa etária.<br />

A escolarida<strong>de</strong> também foi outro aspecto consi<strong>de</strong>rado no levantamento do perfil dos<br />

entrevistados conforme gráfico 3. Nesse aspecto verificou-se que a maioria dos comerciantes, 31%,<br />

tem como nível <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> o Ensino médio ou o superior completo, <strong>de</strong>smistificando a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />

que o trabalho em mercados públicos é fundamentalmente constituído <strong>de</strong> pessoas <strong>de</strong> níveis <strong>de</strong><br />

escolarida<strong>de</strong>s baixa, sem instrução acadêmica. No caso dos frequentadores observa-se que 57% têm<br />

ensino superior completo e 21% incompleto. Os níveis <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> que apresentaram os maiores<br />

459


percentuais entre os comerciantes e frequentadores foram: ensino médio completo com 31%<br />

seguido do ensino superior completo com 57%.<br />

Condições <strong>de</strong> Trabalho<br />

Gráfico 3 Nível <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> dos comerciantes e frequentadores do mercado.<br />

Em termos <strong>de</strong> condições <strong>de</strong> trabalho foi constatado que 44% dos entrevistados trabalham no<br />

mercado Madalena há mais <strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos, seguido <strong>de</strong> 31% há cinco anos (Gráfico 4). Este percentual<br />

mostra a relação e i<strong>de</strong>ntificação que os comerciantes construíram ao longo do tempo com o<br />

mercado, relação essa que vai além <strong>de</strong> um mero trabalho <strong>de</strong> feirante, mas sim <strong>de</strong> uma ativida<strong>de</strong> em<br />

um ambiente externo à sua casa com relações sociais <strong>de</strong> afeto e conflitos.<br />

Gráfico 4 - Tempo <strong>de</strong> trabalho dos comerciantes no mercado da Madalena.<br />

Foi perguntado também, aos comerciantes se eles conheciam a história do mercado da<br />

Madalena, 37% respon<strong>de</strong>ram que conheciam e 63% não conheciam (Gráfico 5) dado esse que é<br />

preocupante no que concerne a perda da disseminação do valor histórico do Mercado da Madalena,<br />

por que como mostra a figura 4, 44% dos comerciantes trabalham no mercado há mais <strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos<br />

460


e não conhecem sua história. Porém foi perguntado se sabiam da importância histórica, 38%<br />

respon<strong>de</strong>ram que sim e 62% opinaram que não (Gráfico 5).<br />

Gráfico 5 - Conhecimento da importância histórica do mercado pelos comerciantes.<br />

No questionário socioambiental aplicado, cerca <strong>de</strong> 31% dos comerciantes entrevistados<br />

comercializam animais domésticos (são aqueles que estão adaptados a presença humana) e animais<br />

silvestres e 69% não comercializa animais, sendo que dos trinta e um por cento, 80% tem licença<br />

para venda <strong>de</strong> animais enquanto 20% não possui o <strong>de</strong>vido documento legal (Gráfico 6) .<br />

Constatou-se no ato da aplicação do questionário a venda <strong>de</strong> uma Arara-azul espécie do<br />

bioma da amazônica, que encontra-se em processo <strong>de</strong> extinção (Figura 1). A arara-azul teve sua<br />

população bastante reduzida <strong>de</strong>vido a três fatores principais: a captura para o comércio nacional e<br />

internacional, a <strong>de</strong>scaracterização do seu habitat e a coleta <strong>de</strong> pe<strong>nas</strong> para adornos indíge<strong>nas</strong><br />

(GUEDES, 2010), sendo vendida no Mercado da Madalena por um valor <strong>de</strong> três mil reais, levando-<br />

nos a uma reflexão: quanto vale uma espécie ameaçada <strong>de</strong> extinção do planeta Terra?<br />

Gráfico 6 – Comercialização <strong>de</strong> animais o mercado.<br />

461


Quanto à separação e o recolhimento do lixo por tipo <strong>de</strong> materiais visando sua <strong>de</strong>stinação<br />

a<strong>de</strong>quada para não poluição dos recursos naturais, praticando a redução, reutilização e reciclagem<br />

dos resíduos, 94% dos entrevistados respon<strong>de</strong>ram que não praticam a coleta seletiva em seu<br />

ambiente <strong>de</strong> trabalho, seguido <strong>de</strong> 6% que não sabem o que é coleta seletiva (Gráfico 7).<br />

<strong>Qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Vida</strong><br />

Figura 1 – Comercialização da espécie Sivestre Arara-Azul (Cyanopsitta spixii) no<br />

mercado.<br />

Gráfico 7 – Nível <strong>de</strong> conhecimento do que é coleta seletiva.<br />

No questionário pediu-se que os entrevistados avaliassem o atendimento ao portador <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ficiência. Na percepção dos comerciantes 31% respon<strong>de</strong>ram que é bom, 25% consi<strong>de</strong>ram que é<br />

regular e outros 25% opinaram que não existe. Ape<strong>nas</strong> 13% consi<strong>de</strong>ram ruim, porém 6% não<br />

souberam opinar. Já em relação aos frequentadores 50% consi<strong>de</strong>ram ruim, 21% bom e 14% regular<br />

(Gráfico 8). Na prática o acesso ao <strong>de</strong>ficiente está muito precário precisando <strong>de</strong> manutenção e<br />

reestruturação dos locais internos do mercado da Madalena.<br />

462


Gráfico 8 – Avaliação do atendimento ao portador <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência.<br />

No mercado existem ativida<strong>de</strong>s culturais que são realizadas esporadicamente, como por<br />

exemplo, o forró itinerante que sai pelo mercado tocando musicas do gênero pé <strong>de</strong> serra. Na<br />

avaliação <strong>de</strong> 75% dos comerciantes que respon<strong>de</strong>ram o questionário sócio-ambiental a programação<br />

cultural é boa, porém 19% avaliam a programação regular e ape<strong>nas</strong> 6% consi<strong>de</strong>ram ruins. No ponto<br />

<strong>de</strong> vista dos frequentadores 50% avaliam como boa, 29% como regular e 21% ruim (Gráfico 9).<br />

Gráfico 9 – Avaliação <strong>de</strong> programações culturais no mercado.<br />

À poluição sonora foi outro aspecto importante abordado no questionário. Nesse aspecto se<br />

verificou que a maioria dos comerciantes cerca <strong>de</strong> 56%, consi<strong>de</strong>ram o nível <strong>de</strong> poluição sonora boa,<br />

regular 6%, ruim 31% e não souberam opinar 6%. Em relação aos frequentadores, 36% consi<strong>de</strong>ram<br />

boa e regular e 29% avaliam como ruim (Gráfico 10).<br />

Gráfico 10 – Avaliação do nível sonora no mercado.<br />

463


Diante dos dados coletados, fica constatado que na opinião dos entrevistados a poluição<br />

sonora no mercado da madalena é avaliada como boa, tendo em vista que não dispusermos <strong>de</strong><br />

equipamento que nos informasse com precisão o nível <strong>de</strong> poluição sonora ali existente.<br />

Sabendo-se que a Organização Mundial da Saú<strong>de</strong> - OMS estabelece parâmetros <strong>de</strong> poluição<br />

sonora, que são: limite tolerável ao ouvido humano é <strong>de</strong> 65 dB, acima disso, o organismo sofre<br />

estresse, e aumento o risco <strong>de</strong> doenças. Com ruídos acima <strong>de</strong> 85 dB aumenta o risco <strong>de</strong> sur<strong>de</strong>z,<br />

impotência sexual, hipertensão arterial, enfarte, distúrbios neuropsíquicos e psicológicos, perda <strong>de</strong><br />

concentração além <strong>de</strong> tensão nervosa. (SEMAS, 2007)<br />

Com relação à qualida<strong>de</strong> do ar, o diagnóstico revelou que em primeiro lugar, 50% dos<br />

comerciantes consi<strong>de</strong>ram boa a qualida<strong>de</strong> do ar, enquanto que 19% acha regular e 31% consi<strong>de</strong>ram<br />

ruim. Na análise dos frequentadores é consi<strong>de</strong>rada regular em primeiro lugar com 50%,<br />

acompanhada <strong>de</strong> 36% boa e 14% ruim a qualida<strong>de</strong> do ar no Mercado da Madalena (Gráfico 11).<br />

Observamos, portanto, <strong>de</strong> acordo com a percepção dos comerciantes, o ar atmosférico e avaliado<br />

com bom, por outro lado, os frequentadores acham regular.<br />

Gráfico 11 – Avaliação a qualida<strong>de</strong> do ar no mercado.<br />

O mercado da Madalena em termos <strong>de</strong> infra-estrutura possui Box, re<strong>de</strong> <strong>de</strong> esgoto, água<br />

encanada, energia elétrica. Porém, carece <strong>de</strong> sinalização <strong>de</strong> estan<strong>de</strong>s, armazenamento a<strong>de</strong>quado dos<br />

resíduos, banheiros higiênicos, responsabilida<strong>de</strong> sócio-ambiental. Partindo <strong>de</strong>stas dificulda<strong>de</strong>s<br />

foram perguntados aos próprios comerciantes quais os aspectos <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e meio<br />

ambiente que os mesmos acham que <strong>de</strong>ve ser melhorados no mercado da Madalena.<br />

Neste sentindo, constataram-se no diagnóstico que, 38% dos comerciantes priorizam o<br />

gerenciamento dos resíduos sólidos, outros 38% avaliam como sendo o saneamento e esgoto<br />

sanitário o prioritário no mercado da Madalena. Entretanto, 13% respon<strong>de</strong>ram que precisam ser<br />

melhorados os locais <strong>de</strong> alimentação, seguidos com o mesmo percentual poluição sonora e do ar. Os<br />

frequentadores <strong>de</strong>stacam com 50% o saneamento como prioritário, segundo <strong>de</strong>stinação dos resíduos<br />

com 29% e por último com 21% locais <strong>de</strong> alimentações (Gráfico 12).<br />

464


Gráfico 12 – Priorida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ações <strong>de</strong> melhoramento do mercado.<br />

Os problemas sócio-ambientais são situações negativas existentes que afetam a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

vida das pessoas e o ambiente. Po<strong>de</strong>m ser situações que afetam diretamente o ambiente físico<br />

alterando <strong>de</strong> forma prejudicial a sua qualida<strong>de</strong>... ou po<strong>de</strong>m ser algum comportamento social ou<br />

individual que esteja provocando a <strong>de</strong>gradação ambiental (BARROS, 2008).<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

A pesquisa evi<strong>de</strong>nciou a percepção ambiental dos feirantes e frequentadores do Mercado<br />

Público da Madalena, no que concernem a diversos aspectos socioambientais, tanto <strong>de</strong> forma<br />

macro, quanto micro, possibilitando assim conhecer melhor a realida<strong>de</strong> local. Neste sentido, a partir<br />

da pesquisa realizada, po<strong>de</strong>mos apontar alguns aspectos sobre a percepção ambiental dos<br />

entrevistados do Mercado da Madalena:<br />

- Existe a falta <strong>de</strong> manutenção e monitoramento do sistema <strong>de</strong> re<strong>de</strong> <strong>de</strong> esgoto, pois, o mesmo<br />

encontra-se em condições precárias <strong>de</strong> escoamento dos efluentes do mercado, uma vez que<br />

foi avaliado pelos os entrevistados negativamente, tendo como fator agravante os resíduos<br />

sólidos associado a não prática da coleta seletiva pela maioria dos feirantes, evi<strong>de</strong>nciando<br />

assim a importância <strong>de</strong> discussão da temática no âmbito do gerenciamento <strong>de</strong> resíduos<br />

sólidos;<br />

- Há por parte dos entrevistados uma concordância no que diz respeito aos níveis <strong>de</strong><br />

poluição sonora, pois, os mesmos, comerciantes (56%) e frequentadores (36%), consi<strong>de</strong>ram<br />

boa, entretanto, o mercado encontra-se em meio a um conglomerado urbano. A qualida<strong>de</strong> do<br />

ar foi consi<strong>de</strong>rada pelos comerciantes e frequentadores como boa (50%) e regular (50%),<br />

respectivamente.<br />

465


- Existe uma carência por parte dos comerciantes em saber e conhecer a importância<br />

histórica do Mercado da Madalena, pois, manter viva a história do mercado é <strong>de</strong> suma<br />

importância para manutenção e perpetuação da cultura ancestral e histórica do Recife.<br />

- Existe também a falta <strong>de</strong> conscientização socioambiental que busque trabalhar com os<br />

feirantes e frequentadores campanhas <strong>de</strong> educação ambiental tratando dos problemas<br />

inerentes ao mercado, na perspectiva <strong>de</strong> contribuir com a manutenção da história artística e<br />

cultural do Mercado da Madalena.<br />

Diante <strong>de</strong>ssas análises foi possível i<strong>de</strong>ntificar um problema central concomitante aos dois<br />

públicos entrevistados: A falta <strong>de</strong> informação no que concerne a história do mercado e sua relação<br />

com o meio ambiente.<br />

REFERÊNCIAS<br />

BARROS, A. P.; SILVEIRA, K. A.; NASCIMENTO, A. P.; MELO, L. L. S. Projeto educar para<br />

preservar: Diagnóstico socioambiental e plano <strong>de</strong> ação. Cabo <strong>de</strong> Santo Agostinho, PE: Re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Defesa Ambiental, 2008.<br />

CSURB. Histórico dos Mercados. Disponível em:<br />

. Acesso em: 10 <strong>de</strong> agosto<br />

<strong>de</strong> 2010.<br />

FENANDES, R. S.; SOUZA, V. J. ; PELISSARI, V. B. ; FENANDES, S. T. Uso da Percepção<br />

Ambiental com Instrumento <strong>de</strong> Gestão em Aplicação Ligadas às áreas Educacional, Social e<br />

Ambiental. Disponível em: .<br />

Acesso em: 10 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2010.<br />

GUEDES, N. M. R. Araras Azuis: 15 anos <strong>de</strong> estudos no pantanal. Disponível em: <<br />

http://www.projetoararaazul.org.br/Arara/Portals/0/PDF/Gue<strong>de</strong>s,%202004%20-<br />

%20Projeto%20Arara%20Azul%2015%20anos%20-%20SIMPAN.pdf>. Acesso em: 14 <strong>de</strong> agosto<br />

<strong>de</strong> 2010.<br />

LIMA, C. M. O imaginário sobre o trabalho e suas representações no cotidiano dos comerciantes<br />

do mercado público em Pernambuco. Ciências & Cognição, local, <strong>Vol</strong>. 03, p.13-20, novembro <strong>de</strong><br />

2004.<br />

PINTAUDE, S. M. Os mercados públicos: metamorfose <strong>de</strong> um espaço na história urbana.<br />

Disponível em: . Acesso em: 10 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2010.<br />

466


RBA Oliveira; MBQ Rolim; APBL Moura; RA Mota. Avaliação higiênico-sanitária dos boxes que<br />

comercializam carnes em dois mercados públicos da Cida<strong>de</strong> do Recife-PE/Brasil. Medicina<br />

Veterinária, Recife, v.2, n.4, p.10-16, 2008.<br />

SEMAS, Poluição Sonora – Panfleto. Cabo <strong>de</strong> Santo Agostinho, PE: Secretária <strong>de</strong> Meio Ambiente<br />

e Saneamento, 2007.<br />

467


Resumo<br />

MOBILIDADE INSUSTENTÁVEL NOS CENTROS URBANOS BRASILEIROS<br />

Rafael <strong>de</strong> Mendonça ARRUDA (UFPB) - rafaelmend@ymail.com<br />

Orientador: Dr. Sinval <strong>de</strong> Almeida PASSOS (DGE/UFPB) - sinvalapassos@yahoo.com.br<br />

Este trabalho procura relacionar as noções <strong>de</strong> urbano, meio ambiente e ecossistema, justificando os<br />

paralelos entre eles, fundamentais na busca do <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, passando por uma<br />

análise dos instrumentos <strong>de</strong> política pública para se atingir a sustentabilida<strong>de</strong>. Pensar na<br />

sustentabilida<strong>de</strong> das cida<strong>de</strong>s é pensar na conservação e/ou preservação <strong>de</strong> todos os espaços -<br />

inclusive os que não fazem parte <strong>de</strong> seus domínios -, além da busca por uma qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida<br />

digna aos seus habitantes. Aceitamos que a busca por um meio ambiente equilibrado passa pela<br />

qualida<strong>de</strong> do local on<strong>de</strong> vivemos - incluindo-se neste contexto mobilida<strong>de</strong> urbana, moradias dig<strong>nas</strong>,<br />

água <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong>, coleta e tratamento <strong>de</strong> esgotos e lixo, lazer, livre acesso à cultura, à<br />

educação, aos esportes, entre outros fatores relacionados à qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida. Consi<strong>de</strong>rando então,<br />

que mais <strong>de</strong> 80 % da população total estão vivendo atualmente <strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s, a discussão com foco<br />

<strong>nas</strong> áreas urba<strong>nas</strong> é algo necessário e urgente, principalmente porque a baixa qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida tem<br />

sido agravada cada vez mais. Por outro lado, <strong>de</strong>ntro da noção <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> das cida<strong>de</strong>s, a<br />

busca pela qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida acima mencionada, <strong>de</strong>ve se dar <strong>de</strong> forma universal, consi<strong>de</strong>rando-se o<br />

conjunto da população, e não <strong>de</strong> forma setorizada e exclu<strong>de</strong>nte.<br />

Palavras-chave: Sustentabilida<strong>de</strong>; cida<strong>de</strong>s; meio ambiente.<br />

Abstract<br />

This work seeks to relate the concepts of urban environment and ecosystem, explaining the parallels<br />

between them, the fundamental pursuit of sustainable <strong>de</strong>velopment, through analysis of policy<br />

instruments for achieving sustainability. Thinking about the sustainability of cities is thinking in<br />

conservation and/or preservation of all spaces - including those who are not part of their domains -<br />

in addition to the search for a <strong>de</strong>cent quality of life for its inhabitants. We accept that the search for<br />

a balanced environment is the quality of where we live - including in this context urban mobility,<br />

<strong>de</strong>cent housing, good water, collection and treatment of sewage and garbage, leisure, free access to<br />

culture, education, sports and other factors related to quality of life. Consi<strong>de</strong>ring then, that more<br />

than 80% of the total population currently living in cities, the discussion focused on urban areas is<br />

468


necessary and urgent, especially because the low quality of life has been increasingly aggravated.<br />

Moreover, within the concept of sustainability of cities, the search for quality of life mentioned<br />

above, should be given universally, consi<strong>de</strong>ring the whole population, and not so sectored and<br />

exclusionary.<br />

Keywords: Sustainability; cities; environment.<br />

Introdução<br />

Conceituar sobre cida<strong>de</strong> não é tarefa fácil, isto porque, no Brasil, o seu conceito confun<strong>de</strong>-se<br />

com o <strong>de</strong> município, ou seja, trata-se <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>finição jurídico-política. No Brasil, cerca <strong>de</strong> 80%<br />

dos habitantes vivem em regiões urba<strong>nas</strong>, e a maior parte <strong>de</strong>ssa população <strong>nas</strong> gran<strong>de</strong>s metrópoles,<br />

<strong>nas</strong> quais, se concentram a maior parte da população economicamente ativa, trabalhadores<br />

autônomos ou empregados, que exerçam suas ativida<strong>de</strong>s no ambiente urbano das cida<strong>de</strong>s.<br />

Para enten<strong>de</strong>r as cida<strong>de</strong>s, não basta ape<strong>nas</strong> observá-las, é preciso verificar a sua dinâmica, a<br />

sua geografia, a sua história, ou seja, é preciso observar a movimentação das pessoas que nelas<br />

vivem, suas relações políticas, sociais, culturais e econômicas. As cida<strong>de</strong>s possuem diferentes<br />

dimensões e paisagens, e é cada uma <strong>de</strong>ssas características, é que irão influenciar o seu processo <strong>de</strong><br />

crescimento espacial.<br />

Meio Ambiente<br />

Um <strong>de</strong> nossos direitos na Constituição Fe<strong>de</strong>ral, é o direito a um meio ambiente sadio:<br />

―Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem <strong>de</strong> uso<br />

comum do povo e essencial à sadia qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, impondo-se ao Po<strong>de</strong>r Público<br />

e à coletivida<strong>de</strong> o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> <strong>de</strong>fendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras<br />

gerações.‖ (Constituição da República Fe<strong>de</strong>rativa do Brasil, 1988 - CAPÍTULO VI -<br />

DO MEIO AMBIENTE, Art. 225).<br />

O meio ambiente po<strong>de</strong> ser entendido, basicamente, <strong>de</strong> duas maneiras: uma como sendo o<br />

ambiente natural (natureza), com o ser humano externo a ele, ou abranger também os aspetos<br />

culturais e, assim, as modificações do ser humano. Então o meio ambiente não é entendido como<br />

ape<strong>nas</strong> o meio natural, intocado, um pedaço da Terra on<strong>de</strong> a natureza é separada do homem, mas<br />

como qualquer espaço em que vivemos, mesmo on<strong>de</strong> há a interação com o homem, suas<br />

modificações ao meio, sua cultura, pois <strong>de</strong>vemos notar que a espécie humana é mais uma espécie<br />

fazendo parte do conjunto das espécies vivas da Terra.<br />

469


Um bom exemplo da visão <strong>de</strong> hoje e no que acreditamos está em Neves & Tostes (1992,<br />

p.17):<br />

―Meio ambiente é tudo o que tem a ver com a vida <strong>de</strong> um ser...,ou <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong><br />

seres vivos... os elementos físicos..., os elementos vivos..., elementos culturais..., e a<br />

maneira como esses elementos são tratados pela socieda<strong>de</strong>. Compõem também o<br />

meio ambiente as interações <strong>de</strong>stes elementos entre si, e entre eles as ativida<strong>de</strong>s<br />

huma<strong>nas</strong>. Assim entendido, o meio ambiente não diz respeito ape<strong>nas</strong> ao meio<br />

natural, mas também às vilas, cida<strong>de</strong>s, todo o ambiente construído pelo homem.‖<br />

Esta <strong>de</strong>finição <strong>de</strong>monstra que a busca por um meio ambiente equilibrado, passa pela<br />

qualida<strong>de</strong> do local on<strong>de</strong> vivemos, incluindo-se aí moradias dig<strong>nas</strong>, água <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong>, coleta e<br />

tratamento <strong>de</strong> esgotos e lixo, lazer, livre acesso à cultura, à educação, aos esportes, entre outros<br />

fatores relacionados à qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida. Ou seja, a noção <strong>de</strong> meio ambiente hoje, para o ser<br />

humano, inclui a cida<strong>de</strong> e sua qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida. Devemos nos lembrar que mais <strong>de</strong> 80 % da<br />

população total está vivendo atualmente <strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s, o que faz da discussão com foco <strong>nas</strong> áreas<br />

urba<strong>nas</strong> algo necessário e urgente, principalmente porque a baixa qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida nos centros<br />

urbanos tem sido agravada, mais e mais.<br />

Crescimento Urbano<br />

Partimos do princípio <strong>de</strong> que nossas cida<strong>de</strong>s foram, e continuam sendo, concebidas para o<br />

automóvel, não só <strong>nas</strong> especificações <strong>de</strong> projetos, no planejamento ou políticas públicas, mas,<br />

principalmente, porque há uma conjuntura social, política e econômica que tem consolidado o<br />

automóvel como um ―mal necessário‖ e indispensável para efetivação das relações sociais. As<br />

paisagens urba<strong>nas</strong> estão cada vez mais tomadas pela imagem dos automóveis, seja daqueles em<br />

movimento, estacionados nos centros das cida<strong>de</strong>s, ou aqueles parados em algum congestionamento<br />

diário.<br />

Muitos indivíduos não percebem que o preço do individualismo, faça com que, o número <strong>de</strong><br />

congestionamentos tenham tido um aumento diário em nossas cida<strong>de</strong>s. E que a cada hora <strong>de</strong><br />

acréscimo em congestionamentos, tenha-se uma média <strong>de</strong> aumento em 20%, na emissão <strong>de</strong><br />

poluentes atmosféricos. Isso significa que as quatro maiores cida<strong>de</strong>s brasileiras (São Paulo, Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro, Porto Alegre e Belo Horizonte), experimentaram nos últimos três anos, um aumento médio<br />

<strong>de</strong> 60% <strong>de</strong> acréscimo, em emissão <strong>de</strong> poluentes nos locais <strong>de</strong> maiores congestionamentos.<br />

O primeiro enfoque com relação à qualida<strong>de</strong> ambiental <strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s brasileiras, consi<strong>de</strong>ra<br />

que a poluição do ar, é um dos gran<strong>de</strong>s problemas, a ser enfrentado pelas gran<strong>de</strong>s e médias cida<strong>de</strong>s<br />

brasileiras. Segundo um estudo realizado pelo Instituto <strong>de</strong> Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA),<br />

470


em parceria com a Associação Nacional <strong>de</strong> Transportes Públicos (ANTP), consi<strong>de</strong>rou que os meios<br />

<strong>de</strong> transportes são os maiores responsáveis pela poluição atmosférica, nos gran<strong>de</strong>s centros urbanos<br />

brasileiros, li<strong>de</strong>rando o ranking <strong>de</strong> poluição do ar.<br />

Através <strong>de</strong>sse estudo, <strong>de</strong> Redução das Deseconomias Urba<strong>nas</strong> com a Melhoria do<br />

Transporte Público efetuado pelo IPEA / ANTP, em 1998, estima que os gastos em<br />

congestionamentos em 10 capitais pesquisadas, somem mais <strong>de</strong> 05 bilhões <strong>de</strong> reais a cada ano.<br />

Segundo esse mesmo estudo, as condições <strong>de</strong>sfavoráveis do trânsito <strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s pesquisadas,<br />

conduzem a quatro espécies <strong>de</strong> <strong>de</strong>seconomias no trânsito. I) aumento no tempo <strong>de</strong> percurso,<br />

correspon<strong>de</strong>ndo a uma perda anual <strong>de</strong> 250 milhões <strong>de</strong> reais, com 80% <strong>de</strong>ssas perdas contabilizadas<br />

na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, sendo que 120 milhões <strong>de</strong> horas são perdidas pelos usuários <strong>de</strong> transporte<br />

coletivo; II) consumo exce<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> combustível estimado a 200 milhões <strong>de</strong> litros <strong>de</strong> gasolina e 4<br />

milhões <strong>de</strong> litros <strong>de</strong> óleo diesel; III) emissão exce<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> CO; da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 122 mil toneladas<br />

anuais, com os automóveis respon<strong>de</strong>ndo por cerca <strong>de</strong> 80% <strong>de</strong>ste total; IV) exce<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> frota no<br />

transporte coletivo urbano para o mesmo padrão <strong>de</strong> serviços.<br />

Ape<strong>nas</strong> os congestionamentos do trânsito das gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s brasileiras, são responsáveis<br />

pelo consumo excessivo <strong>de</strong> 200 milhões <strong>de</strong> litros <strong>de</strong> gasolina, 4 milhões <strong>de</strong> litros <strong>de</strong> diesel, além da<br />

emissão, <strong>de</strong> 112 mil toneladas <strong>de</strong> CO na atmosfera <strong>de</strong>ssas cida<strong>de</strong>s anualmente. Calcula-se que os<br />

custos em saú<strong>de</strong>, <strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> São Paulo, e Rio <strong>de</strong> Janeiro por ano, ultrapasse o valor <strong>de</strong> US$ 75<br />

milhões <strong>de</strong> dólares, além <strong>de</strong> ser responsável por cerca <strong>de</strong> 04 mil casos anuais <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong><br />

infantil.<br />

Não obstante ao conjunto <strong>de</strong> externalida<strong>de</strong>s negativas provocadas ao meio ambiente, e a<br />

população das cida<strong>de</strong>s pelos congestionamentos, à gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> veículos em nossas ruas,<br />

também são responsáveis por um aumento expressivo no número <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trânsito em nossas<br />

cida<strong>de</strong>s. Tais impactos comprometem, <strong>de</strong> forma significativa, a sustentabilida<strong>de</strong> urbana das cida<strong>de</strong>s,<br />

como também, comprometem a mobilida<strong>de</strong> urbana, e a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida dos cidadãos.<br />

É nesse contexto, é que se insere uma nova conceituação que vem sendo bastante discutida<br />

no meio acadêmico, o conceito <strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong> urbana sustentável. Para Boareto (2003), a<br />

mobilida<strong>de</strong> sustentável é a realização <strong>de</strong> viagens ecologicamente sustentáveis com os menores<br />

gastos <strong>de</strong> energia, e impactos ao meio ambiente. A mobilida<strong>de</strong> urbana sustentável <strong>de</strong>ve ser pensada<br />

como o resultado <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> políticas <strong>de</strong> transporte e circulação, que visam proporcionar o<br />

acesso amplo e <strong>de</strong>mocrático ao espaço urbano. Através da priorização dos modos <strong>de</strong> transporte<br />

coletivo e não motorizados <strong>de</strong> maneira efetiva, socialmente inclusiva, e ecologicamente sustentável.<br />

Para termos cida<strong>de</strong>s sustentáveis é necessário que o transporte público coletivo seja a<br />

espinha dorsal da Mobilida<strong>de</strong> Urbana, com tarifas acessíveis, qualida<strong>de</strong>, boa frequência,<br />

471


combustíveis não poluentes e que alcance todo o espaço urbano, promovendo a inclusão social e o<br />

direito à cida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> modo que os usuários lhe <strong>de</strong>em preferência. Temos que mudar a concepção que<br />

a cida<strong>de</strong> seja planejada para os veículos, e não para as pessoas que nelas vivem. Para que essas<br />

mudanças comecem a acontecer, é necessária a participação <strong>de</strong> todos, e as políticas públicas<br />

adotadas pelos po<strong>de</strong>res públicos <strong>de</strong>vem ser, por <strong>de</strong>finição, direcionadas, e elaboradas para o bem<br />

estar da população em geral. Não existe nenhuma cida<strong>de</strong> do mundo que tenha se <strong>de</strong>senvolvido <strong>de</strong><br />

forma sustentável, sem um sistema <strong>de</strong> transporte público <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> para toda a população.<br />

Referências<br />

AFFONSO, Nazareno S. Automóveis e sustentabilida<strong>de</strong>. Revista Desafios do Desenvolvimento.<br />

Instituto <strong>de</strong> Pesquisa Econômica Aplicada, Brasília, n. 53, p. 27, ago. 2009.<br />

BOARETO, R. A. 2003. Mobilida<strong>de</strong> Urbana Sustentável. Revista dos Transportes Públicos, São<br />

Paulo. n.100.<br />

BRASIL. Ministério das Cida<strong>de</strong>s. Política Nacional <strong>de</strong> Mobilida<strong>de</strong> Urbana Sustentável. Brasília:<br />

Espalhafato Comunicações, 2004b. (Ca<strong>de</strong>rnos MCida<strong>de</strong>s, 6)<br />

CAMPOS, V.B.G. 2006. Uma visão da mobilida<strong>de</strong> sustentável. Revista dos Transportes Públicos.<br />

v. 2, p. 99-106.<br />

MOVIMENTO NACIONAL PELO DIREITO AO TRANSPORTE PÚBLICO DE QUALIDADE<br />

PARA TODOS. Mobilida<strong>de</strong> urbana e inclusão social. Brasília: MDT, 2009.<br />

NEVES, Estela & TOSTES, André. Meio Ambiente: Aplicando a Lei. Petrópolis: Vozes, 1992.<br />

RESENDE, P. T. V.; SOUSA. P. R. Mobilida<strong>de</strong> Urbana Nas Gran<strong>de</strong>s Cida<strong>de</strong>s Brasileiras: Um<br />

estudo sobre os impactos do congestionamento. São Paulo, 2009.<br />

472


CARTOGRAFIA DOS ÍNDICES HIDRODINÂMICOS DE POÇOS TUBULARES DA CIDADE<br />

DE JOÃO PESSOA, PARAÍBA, BRASIL<br />

Resumo<br />

Ramon Santos SOUZA<br />

Graduando em Licenciatura Plena em Geografia, Centro <strong>de</strong> Humanida<strong>de</strong>s,<br />

Universida<strong>de</strong> Estadual da Paraíba, ramongeography@gmail.com<br />

Joseline da Silva ALVES<br />

Graduanda em Licenciatura Plena em Geografia, Centro <strong>de</strong> Humanida<strong>de</strong>s,<br />

Universida<strong>de</strong> Estadual da Paraíba, joseline.geo@gmail.com<br />

Lanusse Salim Rocha TUMA<br />

Prof. Dr. Departamento <strong>de</strong> Geografia, Centro <strong>de</strong> Humanida<strong>de</strong>s,<br />

Universida<strong>de</strong> Estadual da Paraíba, lanussetuma@yahoo.com (Orientador)<br />

Este trabalho aborda a espacialização dos índices hidrodinâmicos, referentes às profundida<strong>de</strong>s e<br />

níveis dinâmicos, <strong>de</strong> 163 poços tubulares perfurados nos aquíferos existentes na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João<br />

Pessoa, representados graficamente com base <strong>nas</strong> técnicas <strong>de</strong> interpolação. Objetiva-se elaborar<br />

uma análise do potencial hídrico subsuperficial utilizando o cadastro <strong>de</strong> poços georreferenciados do<br />

Sistema <strong>de</strong> Informações <strong>de</strong> Águas Subterrâneas (SIAGAS), bem como realizar a exposição<br />

cartográfica dos índices disponíveis empregando os procedimentos da mo<strong>de</strong>lagem computacional o<br />

qual po<strong>de</strong>rá nortear prováveis intervenções do po<strong>de</strong>r público quanto à gestão sustentável <strong>de</strong>ste<br />

recurso. A metodologia adotada constou <strong>de</strong> revisão bibliográfica; investigação e coleta das análises<br />

das informações existentes; elaboração <strong>de</strong> planilhas eletrônicas; obtenção dos atributos;<br />

manipulação dos softwares; edição dos mo<strong>de</strong>los gerados e integração dos resultados. Com o<br />

crescimento do número da população urbana, entre 1970 a 2010, a perfuração <strong>de</strong> poços aumentou<br />

essencialmente. Assim, pela crescente urbanização <strong>de</strong>sta cida<strong>de</strong>, as <strong>de</strong>mandas <strong>de</strong> água subterrânea<br />

aten<strong>de</strong>m necessariamente aos espaços públicos, condomínios, bairros residências e indústrias. As<br />

profundida<strong>de</strong>s, em geral, dos poços tubulares chegam até 360 m, porém alcançam uma média <strong>de</strong><br />

135,14 m. Os valores do nível dinâmico variam até um patamar <strong>de</strong> 115 m, com uma média <strong>de</strong> 48,21<br />

metros e <strong>de</strong>svio padrão <strong>de</strong> 24.54. Portanto, a partir dos produtos gerados, po<strong>de</strong>rão ser propostos<br />

mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> gestão para os recursos hídricos da região em futuros trabalhos a serem realizados,<br />

assim como na i<strong>de</strong>ntificação dos fatores que condicionam a <strong>de</strong>manda e oferta das águas<br />

subterrâneas.<br />

Palavras-chave: Cartografia, hidrogeologia, hidrodinâmica.<br />

473


Abstract<br />

This work addresses the spatial hydrodynamic indices, referring to dynamic levels and <strong>de</strong>pths of<br />

163 wells drilled into aquifers in the city of João Pessoa, plotted based on interpolation techniques.<br />

The objective is to prepare an analysis of subsurface water potential using the georeferenced<br />

database of ―Sistema <strong>de</strong> Informações <strong>de</strong> Águas Subterrâneas‖ (SIAGAS) and make the exposure of<br />

cartographic available indices of employing the computational mo<strong>de</strong>ling procedures which can<br />

gui<strong>de</strong> interventions likely public power as the sustainable management of this resource. The<br />

methodology consisted of a literature review, research and collection of existing analyzes<br />

information; preparation of spreadsheets; obtaining attributes; software manipulation; edition of the<br />

generated mo<strong>de</strong>ls and integrating the results. With the growing number of urban population<br />

between 1970 and 2010, the drilling of wells has increased substantially. Thus, the growing<br />

urbanization of the city, the <strong>de</strong>mands of groundwater necessarily cater to public spaces,<br />

condominiums, resi<strong>de</strong>ntial neighborhoods and industries. The <strong>de</strong>pths in general the wells reach up<br />

to 360 m, but achieve an average of 135.14 m. The values of the dynamic level range to a level of<br />

115 m, with an average of 48.21 meters and a standard <strong>de</strong>viation of 24.54. Therefore, from the<br />

products generated may be proposed mo<strong>de</strong>ls for water resources management in the region in future<br />

work to be performed, as well as i<strong>de</strong>ntifying factors that influence the <strong>de</strong>mand and supply of<br />

groundwater.<br />

Key-words: cartography, hydrogeology, hydrodynamics.<br />

INTRODUÇÃO<br />

O valor intrínseco da água subterrânea se dá <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primórdios da formação <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s<br />

civilizações na antiguida<strong>de</strong>, por exemplo, túneis e poços foram construídos para a sua captação na<br />

Pérsia (atual Irã) e no Egito por volta <strong>de</strong> 800 a.C. (MANOEL FILHO, 2000). Na Revolução<br />

Industrial, o abastecimento <strong>de</strong>ste recurso se torna mais intenso com atuação <strong>de</strong> fábricas e o<br />

crescimento <strong>de</strong>senfreado dos centros urbanos. No Brasil, o seu uso pelas populações é realizada<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> os tempos coloniais, conforme atestam os ―cacimbões‖ existentes nos fortes militares,<br />

conventos, igrejas e outras construções <strong>de</strong>ssa época (BARBANTI e PARENTE, 2002).<br />

As águas subterrâneas encontradas nos sistemas <strong>de</strong> aquíferos regionais são fontes<br />

armazenadas que se acumularam ao longo dos milhares <strong>de</strong> anos e se encontram, em condições<br />

naturais, numa situação <strong>de</strong> quase equilíbrio, governado por um mecanismo <strong>de</strong> recarga e <strong>de</strong>scarga.<br />

Em termos quantitativos um pouco mais <strong>de</strong> 97% da água doce disponível no planeta encontra-se<br />

nestes sistemas (MANOEL FILHO, 2000).<br />

474


A explotação mais intensa das águas subterrâneas em todo mundo, que em muitas às vezes é<br />

<strong>de</strong>corrente da sua gran<strong>de</strong> disponibilida<strong>de</strong>, menores custos <strong>de</strong> produção e qualida<strong>de</strong> natural<br />

normalmente exce<strong>de</strong>nte, está levando a socieda<strong>de</strong> a se preocupar mais com estes recursos tanto na<br />

quantida<strong>de</strong> como na qualida<strong>de</strong> (HIRATA, 2000). No Brasil estima-se que existam pelo menos 400<br />

mil poços que bombeiam principalmente água para áreas urba<strong>nas</strong> (ZOBY e MATOS, 2002).<br />

Enten<strong>de</strong>-se por nível dinâmico a profundida<strong>de</strong> da água <strong>de</strong>ntro do poço, quando está na fase<br />

<strong>de</strong> bombeamento. Medido geralmente em metros (m) em relação à boca do poço. Profundida<strong>de</strong> é o<br />

comprimento total, medido entre o fundo do poço e o nível do solo (COSTA FILHO et. al., 1998).<br />

A cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa passa por um gran<strong>de</strong> processo <strong>de</strong> urbanização e traz como<br />

consequências, implicações ambientais relacionadas à carência do planejamento territorial e o<br />

gran<strong>de</strong> a<strong>de</strong>nsamento humano, que contribui no uso irregular dos aquíferos existentes: Beberibe<br />

(confinado) e Barreiras (livre). Conforme Costa (2009), a expansão urbana contribui para a<br />

<strong>de</strong>terioração das águas subterrâneas, através do aumento <strong>de</strong> fontes potencialmente poluidoras, e<br />

consequentemente, do risco <strong>de</strong> contaminação, bem como a implantação <strong>de</strong> obras <strong>de</strong> captação sem a<br />

observação <strong>de</strong> critérios técnicos, o que po<strong>de</strong> comprometer o uso sustentável <strong>de</strong>sse recurso.<br />

Este trabalho justifica-se em <strong>de</strong>trimento das características hidrodinâmicas <strong>de</strong> um aquífero<br />

ser <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valia para a compreensão do comportamento dos reservatórios em subsolo. A análise<br />

dos aspectos hidráulicos das águas subterrâneas é importante para o abastecimento e distribuição <strong>de</strong><br />

água, atual e futura, para a socieda<strong>de</strong> em todos os seus segmentos.<br />

Objetiva-se elaborar uma análise do potencial hídrico subsuperficial utilizando o cadastro <strong>de</strong><br />

poços georreferenciados do Sistema <strong>de</strong> Informações <strong>de</strong> Águas Subterrâneas (SIAGAS), bem como<br />

realizar a exposição cartográfica dos índices disponíveis empregando os procedimentos da<br />

mo<strong>de</strong>lagem computacional o qual po<strong>de</strong>rá nortear prováveis intervenções do po<strong>de</strong>r público quanto à<br />

gestão sustentável <strong>de</strong>ste recurso.<br />

DOMÍNIO GEOTERRITORIAL DA ÁREA DE ESTUDO<br />

A cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa (34º49‘56‖W, 7º 05‘46‖S), capital do estado da Paraíba (Nor<strong>de</strong>ste<br />

do Brasil) tem uma área <strong>de</strong> 211,47 km², localizando-se na porção extremo oriental paraibano,<br />

Mesorregião da Mata Paraibana e Província Costeira, atualmente possui um território <strong>de</strong> 211,47<br />

km², a população do município <strong>de</strong> João Pessoa é estimada em 723.514 habitantes (TUMA, 2004;<br />

IBGE, 2010; CARVALHO, 2011). Limita-se ao norte com o município <strong>de</strong> Cabe<strong>de</strong>lo, a sul com o<br />

Con<strong>de</strong>, a oeste com Bayeux e Santa Rita e a leste com a plataforma oceânica Atlântica (MENESES,<br />

et al., 2011) (Figura 1).<br />

475


Figura 1. Localização geográfica da área objeto <strong>de</strong> estudo, com <strong>de</strong>staque para o a<strong>de</strong>nsamento urbano na<br />

região.<br />

Fonte: Adaptado do IBGE 2007 e 2010.<br />

A cida<strong>de</strong> está sob o domínio do Clima Tropical quente-úmido, do tipo As‘, segundo a<br />

classificação do pesquisador alemão Köppen, caracterizada por uma precipitação anual <strong>de</strong> 1.800<br />

mm, com uma maior concentração <strong>de</strong> chuvas no final da estação do outono e início do inverno,<br />

entre os meses <strong>de</strong> maio, junho e julho, sendo junho o mês <strong>de</strong> maior concentração pluviométrica<br />

(SOBREIRA, 2010). A área está no domínio do baixo curso da bacia hidrográfica do rio Paraíba<br />

(SATANA, 2011). A mesma encontra-se inserida no Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba<br />

– CBH-PB <strong>de</strong> acordo com o DECRETO Nº 27.560, <strong>de</strong> 4 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2006.<br />

De acordo com Meneses (2007), o território <strong>de</strong> João Pessoa faz parte da Bacia Sedimentar<br />

Pernambuco-Paraíba, constituída por uma sequência relativamente pouco espessa <strong>de</strong> sedimentos e<br />

distribuída ao longo da faixa litorânea do estado da Paraíba e <strong>de</strong> parte do estado <strong>de</strong> Pernambuco,<br />

po<strong>de</strong>ndo atingir cerca <strong>de</strong> 40 km <strong>de</strong> largura.<br />

Segundo Assis (1985), o município encontra-se coberta por uma sequência sedimentar<br />

cenozóica, constituída por litologias do Terciário, representado pelo Grupo Barreiras, e do<br />

Quaternário, por aluviões, sedimentos <strong>de</strong> praia, mangues e areias quartzosas Os aquíferos da região<br />

são representados pelos Aquíferos Beberibe e Barreiras.<br />

476


O sistema do Aquífero Beberibe é o mais importante da região. É um aquífero do tipo<br />

confinado que apresenta boa qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suas águas e que tem sido explorado <strong>de</strong> forma crescente<br />

para fins <strong>de</strong> abastecimento humano na gran<strong>de</strong> João Pessoa (SANTANA, 2011). Sua camada<br />

confinante é representada pela Formação Gramame (MENESES, 2007). Aflora nos estados <strong>de</strong><br />

Pernambuco e Paraíba, ocupando uma área aproximada <strong>de</strong> 318 km². Os poços que captam águas<br />

<strong>de</strong>sse aquífero possuem uma vazão especifica média em torno <strong>de</strong> 3 m³/h e vazões médias <strong>de</strong> 58<br />

m³/h (COSTA, 1998). A recarga <strong>de</strong>ste aquífero ocorre, principalmente, por infiltrações da<br />

precipitação pluviométrica, na área <strong>de</strong> afloramento da Formação Beberibe e, secundariamente, por<br />

infiltração vertical <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte, na porção confinada (BARBOSA, 2007).<br />

O sistema do Aquífero Barreiras tem ampla distribuição na costa brasileira, aflorando <strong>de</strong><br />

forma <strong>de</strong>scontínua <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a região Norte até a Su<strong>de</strong>ste. Constitui um aquífero predominantemente<br />

livre que ocupa uma área <strong>de</strong> 176.532 km² (MENESES, 2007). É constituído <strong>de</strong> sedimentos<br />

continentais costeiros <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> terciária (Mioceno-Plioceno), que formam extensos tabuleiros,<br />

frequentemente cortados por falésias junto à linha <strong>de</strong> costa. Os principais constituintes litológicos<br />

na área são arenitos maturos, arenitos conglomerativos com intercalações <strong>de</strong> silicatos e folhelhos,<br />

variando <strong>de</strong> alguns centímetros a <strong>de</strong>ze<strong>nas</strong> <strong>de</strong> metros. A espessura do pacote sedimentar é superior a<br />

150 metros, com média <strong>de</strong> 60 metros (COSTA, 1994). A sua recarga se faz por infiltração direta da<br />

precipitação ao longo <strong>de</strong> sua área <strong>de</strong> cobertura, po<strong>de</strong>ndo-se estimar um coeficiente <strong>de</strong> infiltração <strong>de</strong><br />

10 a 30% da precipitação anual (LIRA, 2005). Este sistema tem gran<strong>de</strong> participação no<br />

abastecimento <strong>de</strong> várias capitais brasileiras, particularmente das capitais litorâneas nor<strong>de</strong>sti<strong>nas</strong> <strong>de</strong><br />

São Luís, Fortaleza, Natal e Maceió, além <strong>de</strong> Belém, na região norte do país. O abastecimento com<br />

base em águas subterrâneas, geralmente, é adotado como forma complementar <strong>de</strong> abastecimento das<br />

áreas urba<strong>nas</strong> ou como forma <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> custos em condomínios resi<strong>de</strong>nciais verticais ou<br />

horizontais (MENESES, 2007).<br />

MATERIAL E MÉTODOS<br />

No presente trabalho, foi utilizado um conjunto <strong>de</strong> etapas pré-estabelecidas em sequência,<br />

o que <strong>de</strong>sta forma favoreceu a execução da pesquisa, que constaram, entre elas: revisão <strong>de</strong><br />

literatura, levantamento e coleta das informações, sistematização do banco <strong>de</strong> dados, manuseio <strong>de</strong><br />

sistemas computacionais e análise dos resultados obtidos.<br />

A revisão literatura caracterizou a primeira etapa, e consistiu do levantamento, leituras e<br />

análise <strong>de</strong> relatórios técnicos, monografias, dissertações, teses, artigos (periódicos e <strong>de</strong> reuniões<br />

científicas) e obras que tratam <strong>de</strong> aspectos teóricos e práticos da estatística, além das obras <strong>de</strong><br />

referência sobre hidrogeologia. O levantamento bibliográfico foi uma ativida<strong>de</strong> constante ao longo<br />

477


do <strong>de</strong>senvolvimento da pesquisa para formação e atualização das bases teóricas e conceituais que<br />

nortearam a pesquisa. Assim, alguns trabalhos importantes serviram <strong>de</strong> suporte e estão relacionados<br />

com o contexto em questão, tais como: LIRA (2005); BARBOSA (2007); MENESES (2007);<br />

TOSCANO (2009) e CARVALHO (2011).<br />

A segunda etapa consistiu no levantamento das bases cartográficas digitais, no formato<br />

*.shp, junto a Secretaria <strong>de</strong> Planejamento da Prefeitura Municipal <strong>de</strong> João Pessoa – PMJP, Instituto<br />

Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística – IBGE e o Ministério do Meio Ambiente – MMA. Os dados<br />

hidrogeológicos <strong>de</strong> 239 poços tubulares cadastrados em João Pessoa, entre os anos <strong>de</strong> 1957 a 2006,<br />

foram obtidos nos arquivos públicos disponíveis no Sistema <strong>de</strong> Informações <strong>de</strong> Águas Subterrâneas<br />

(SIAGAS).<br />

Na terceira etapa foi realizada a montagem dos dados, que consistiu na compilação,<br />

organização e estruturação dos dados previamente selecionados o que reduziu o universo amostral<br />

<strong>de</strong> 239 para 163 poços tubulares, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> alguns poços não apresentarem os pares <strong>de</strong><br />

coor<strong>de</strong>nadas e algumas variáveis <strong>de</strong> interesse para a pesquisa. O banco <strong>de</strong> dados foi organizado em<br />

forma <strong>de</strong> planilha eletrônica no Microsoft Excel 2010.<br />

Posteriormente, a quarta e última etapa constou da manipulação dos softwares: Surfer 10<br />

da Gol<strong>de</strong>n – on<strong>de</strong> foi criado um Grid através da Krigagem Ordinária, e <strong>de</strong>pois foram criadas as<br />

malhas em seu ambiente computacional para interpolação das variáveis e construção <strong>de</strong> mapas <strong>de</strong><br />

bases e contornos; Quantum GIS 1.8.0, utilizado para elaboração dos mapas.<br />

RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

Através da interpretação do mapa <strong>de</strong> localização dos poços é possível notar uma<br />

concentração setorial polarizada e que estão preferencialmente situados no perímetro urbano.<br />

Admiti-se para tal situação, o aumento da população urbana o que justifica a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> poços<br />

perfurados nos anos entre 1957 a 2006. Assim sendo, as <strong>de</strong>mandas <strong>de</strong> água subterrânea aten<strong>de</strong>m<br />

necessariamente os espaços públicos, condomínios, bairros residências e indústrias (Figura 2).<br />

478


Figura 2. Localização dos poços cadastrados sobre malha viária <strong>de</strong> João Pessoa.<br />

Fonte: Arquivo pessoal do autor, 2012.<br />

O quadro 1 apresenta uma síntese da evolução da população do município no período <strong>de</strong><br />

1970 a 2010. Há um gran<strong>de</strong> a<strong>de</strong>nsamento humano <strong>nas</strong> áreas urba<strong>nas</strong> da cida<strong>de</strong> chegando, entre<br />

1991 a 2000, a ser <strong>de</strong> 100%.<br />

Quadro 1. Síntese <strong>de</strong>mográfica do município <strong>de</strong> João Pessoa no período entre 1970 a 2010.<br />

ANO 1970 1980 1991 2000 2010<br />

RURAL 7.955 3.360 0 0 2.725<br />

URBANA 213.591 326.582 497.600 597.934 720.789<br />

TOTAL 221.546 329.942 497.600 597.934 723.514<br />

URBANIZAÇÃO 96,40% 99,00% 100,00% 100,00% 99,60%<br />

Fonte: IBGE - Censos Demográficos, 1970, 1980, 1991, 2000 e 2010.<br />

As profundida<strong>de</strong>s finais dos poços tubulares <strong>de</strong> João Pessoa apresentam assimetria positiva,<br />

com média <strong>de</strong> 135,14 m, mediana <strong>de</strong> 114 m e o <strong>de</strong>svio padrão <strong>de</strong> 88,10 m, portanto, po<strong>de</strong>-se dizer<br />

que a curva alonga-se à direita. O valor mínimo é 8 m e o extremo <strong>de</strong> 386 m. Com relação a curtose<br />

0,328 mostra-se distribuição leptocúrtica, o que indica que os dados estão concentrados no centro e<br />

a distribuição apresenta uma forte elevação nesse setor.<br />

479


As profundida<strong>de</strong>s variam <strong>de</strong> 0 a 360 metros, a classe <strong>de</strong> 0 a 60 m está situado nos setores<br />

norte e sul do cartograma, nestas áreas a perfuração <strong>de</strong> poços é menor. A classe 60 m a 260 m são<br />

poços que se concentram em quase toda a totalida<strong>de</strong> do cartograma. A classe 260 m a 360 m<br />

encontra-se os poços em porções peque<strong>nas</strong> na região setentrional do município (Figura 4).<br />

Figura 4. Cartograma indicando as profundida<strong>de</strong>s finais dos poços tubulares <strong>de</strong> João Pessoa.<br />

Fonte: Arquivo pessoal do autor, 2012.<br />

Os valores do nível dinâmico variam <strong>de</strong> 0 a 115 metros. A classe <strong>de</strong> 0 a 40 m está situada<br />

nos sedimentos aluviais, mangues e <strong>de</strong> praias, e nestas áreas a perfuração <strong>de</strong> poços é menor, por<br />

consequência menor rebaixamento dos valores. A classe 40 a 80 m se concentra, principalmente, na<br />

porção central do cartograma e é também a área mais urbanizada e sujeita a diversos impactos<br />

ambientais. A classe 80 a 115 m localiza-se em menores faixas na direção oeste-noroeste (Figura 5).<br />

480


Figura 3. Cartograma indicando níveis dinâmicos dos poços tubulares <strong>de</strong> João Pessoa.<br />

Fonte: Arquivo pessoal do autor, 2012.<br />

Os níveis dinâmicos <strong>de</strong> João Pessoa apresentam assimetria positiva, com média <strong>de</strong> 48,21<br />

metros e mediana em 45 m, com <strong>de</strong>svio padrão <strong>de</strong> 24.54. Po<strong>de</strong>-se dizer que a curva alonga-se à<br />

direita. O caso mínimo é 3 m e o extremo <strong>de</strong> 128,54 m. Com relação a curtose apresentou o valor <<br />

0, <strong>de</strong>sta forma apresenta a distribuição leptocúrtica, o que indica que os dados estão concentrados<br />

no centro e a distribuição apresenta uma forte elevação nesse setor.<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Portanto, a partir das informações obtidas no <strong>de</strong>correr do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ste trabalho,<br />

po<strong>de</strong>-se verificar na zona urbana <strong>de</strong> João Pessoa que a água subterrânea possui uma gran<strong>de</strong><br />

tendência aos efeitos ambientais impactantes, principalmente, on<strong>de</strong> os rebaixamentos dos níveis <strong>de</strong><br />

água são mais superficiais. Admite-se também, que o maior rebaixamento subsuperficial po<strong>de</strong> estar<br />

associado ao estágio recente <strong>de</strong> explotação <strong>de</strong>stes reservatórios hídricos.<br />

A realização <strong>de</strong>ste trabalho serviu <strong>de</strong> produção do conhecimento para subsidiar os gestores<br />

públicos na a<strong>de</strong>quação <strong>de</strong> formas sustentáveis <strong>de</strong> uso e manejo dos aquíferos existentes. Já o<br />

481


emprego dos sistemas computacionais foi útil para levantar e elaborar avaliações a partir <strong>de</strong><br />

cartogramas que notificam os aspectos hidrodinâmicos dos poços tubulares perfurados, entre 1950 a<br />

2006, na área <strong>de</strong> pesquisa.<br />

Assim, os produtos gerados possuem uma relevância para propor mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> planejamento e<br />

gestão dos recursos hídricos disponíveis. Em futuros trabalhos, será realizada a i<strong>de</strong>ntificação dos<br />

fatores que condicionam o fluxo preferencial, a produtivida<strong>de</strong> e o nível potenciométrico das fontes<br />

hídricas subsuperficiais.<br />

AGRADECIMENTOS<br />

Esta pesquisa contou com o apoio do Programa <strong>de</strong> Incentivo à Pós-Graduação e Pesquisa-<br />

PROPESQ e a Universida<strong>de</strong> Estadual da Paraíba-UEPB através <strong>de</strong> financiamento, além da bolsa <strong>de</strong><br />

iniciação científica concebida ao primeiro autor <strong>de</strong>ste trabalho.<br />

REFERÊNCIAS<br />

ASSIS, A.D. Geologia In: EGLER, C.A.G. et al. (Coord.). Atlas Geográfico do Estado da Paraíba.<br />

João Pessoa: Grafset, 1985. p. 22-23.<br />

BARBOSA, L.K.L. Zoneamento <strong>de</strong> aquíferos através <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> perímetros <strong>de</strong> proteção <strong>de</strong><br />

poços <strong>de</strong> abastecimento público <strong>de</strong> água: o caso da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa. (Dissertação <strong>de</strong><br />

mestrado), João Pessoa: UFPB/CT, 2007. 101 p.<br />

BARBANTI, N.R.; PARENTE, K.S.P. Águas subterrâneas: alternativa para abastecimento. In:<br />

XXVIII Congresso interamericano <strong>de</strong> Ingeruería sanitária y ambiental. Cancun, México, 2002. p.<br />

1-8.<br />

CARVALHO, A.T. Análise multicriterial dos recursos hídricos subterrâneos <strong>de</strong> João Pessoa<br />

aplicando o método do processo analítico hierárquico em um sistema <strong>de</strong> informações geográficas.<br />

(Dissertação <strong>de</strong> mestrado), Campina Gran<strong>de</strong>: UFCG, Centro <strong>de</strong> Tecnologia e Recursos Naturais.<br />

2011. 108 p.<br />

COSTA, M.L.M. Estabelecimento <strong>de</strong> critérios <strong>de</strong> outorga <strong>de</strong> direito <strong>de</strong> uso para águas<br />

subterrâneas. (Dissertação <strong>de</strong> mestrado), Campina Gran<strong>de</strong>: UFCG, 2009. 149 p.<br />

COSTA, W.D. Água subterrânea e o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável do semiárido nor<strong>de</strong>stino. Projeto<br />

ÁRIDAS. Brasília, Secretaria <strong>de</strong> Planejamento, Orçamento e Coor<strong>de</strong>nação da Presidência da<br />

República. (GT II – Recursos Hídricos, Versão Preliminar). 1994. 53 p.<br />

482


COSTA FILHO, W.D.; GALVÃO, M.J.T.G.; LIMA, J.B. LEAL, O. Noções básicas sobre poços<br />

tubulares - cartilha informativa. CPRM, 1998. 22 p.<br />

DECRETO Nº 27.560, <strong>de</strong> 4 DE SETEMBRO DE 2006 – CRIA O COMITÊ DO RIO PARAÍBA.<br />

HIRATA, R. Recursos hídricos In: por TEIXEIRA, W.; TOLEDO, M.C.M.; FAIRCHILD, T.R.;<br />

TAIOLI, F. (Org.). Decifrando a Terra. São Paulo: Oficina <strong>de</strong> Textos, 2000. p. 313-338.<br />

IBGE, CIDADES. Censo 2010. Disponível em:<br />

. Acessado em: 09 fev.<br />

2012.<br />

LIRA, G.A.R. Sistema <strong>de</strong> Informações Baseado <strong>nas</strong> características dos poços <strong>de</strong> abastecimento<br />

público em áreas urba<strong>nas</strong> litorâneas do estado da Paraíba. (Dissertação <strong>de</strong> Mestrado) – UFPB/CT,<br />

2005. 120 p.<br />

MANOEL FILHO, J. Água subterrânea: histórico e importância In: FEITOSA, F.A.C.; MANOEL<br />

FILHO, J. Hidrogeologia: conceitos e aplicações. 2 ed. Fortaleza: CPRM/REFO, LABHID-UFPE,<br />

2000. p. 3-10.<br />

MENESES, L.F. Avaliação da vulnerabilida<strong>de</strong> dos aquíferos livres no município <strong>de</strong> João<br />

Pessoa/PB, através do mo<strong>de</strong>lo DRASTIC. (Dissertação <strong>de</strong> mestrado), João Pessoa: PPGEU/UFPB.<br />

2007. 88 p.<br />

MENESES, L.F.S.T.C.; FIGUEIREDO, E.C.T.P.; RAFAEL, R.A. Evolução urbana e<br />

vulnerabilida<strong>de</strong> dos aquíferos superiores no município <strong>de</strong> João Pessoa-PB. Revista Brasileira <strong>de</strong><br />

Cartografia n° 63/02, 2011. p. 267-280.<br />

SOBREIRA, L.C. Expansão urbana e variações mesoclimáticas em João Pessoa-PB. João Pessoa:<br />

(Dissertação <strong>de</strong> Mestrado) – UFPB, 2010. 69 p.<br />

SANTANA, R S. Aplicação do método drastic para caracterizar a vulnerabilida<strong>de</strong> do aquífero<br />

livre no bairro do Bessa em João Pessoa- PB. João Pessoa: (Dissertação <strong>de</strong> Mestrado) – UFPB,<br />

2011. 78 p.<br />

TOSCANO, G.L.G. Uso do solo em áreas para proteção <strong>de</strong> poços <strong>de</strong>stinados ao abastecimento<br />

público na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa, Paraíba. (Dissertação <strong>de</strong> Mestrado), João Pessoa: UFPB/CT,<br />

2009. 247 p.<br />

TUMA, L.S.R. Mapeamento geotécnico da gran<strong>de</strong> João Pessoa-PB. (Tese <strong>de</strong> Doutorado), São<br />

Paulo: Escola Politécnica da USP. Departamento <strong>de</strong> Engenharia <strong>de</strong> Mi<strong>nas</strong> e <strong>de</strong> Petróleo, 2004. 195<br />

p.<br />

483


ZOBY, J. L. G.; MATOS, B. Águas subterrâneas no Brasil e sua inserção na Política Nacional <strong>de</strong><br />

Recursos Hídricos. In: XII CONGRESSO BRASILEIRO DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS,.<br />

Florianópolis: ABAS, 2002. p. 1-19.<br />

484


AGRUPAMENTOS HUMANOS E QUALIDADE DE VIDA NA CIDADE JOÃO PESSOA, PB<br />

Resumo<br />

63 ANDRADE. Kátia Adalzira Lopes <strong>de</strong>.<br />

64 SOARES. Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s.<br />

65 SILVA. Roberta Teodorico Ferreira da.<br />

O trabalho, como etapa do Projeto Assessoria a Trabalhadores da Política <strong>de</strong> Habitação Popular<br />

mostra como surgiu e se <strong>de</strong>senvolveu a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa, PB, mostrando suas características<br />

nos governos que se seguiram após a ditadura militar, <strong>nas</strong> nuances <strong>de</strong> sua urbanização. O trabalho<br />

foi realizado a partir <strong>de</strong> pesquisas documentais e bibliográficas, na tentativa <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r na<br />

história da urbanização e da formação dos agrupamentos humanos a habitação popular direcionada<br />

a população mais carente, dando ênfase à intervenção do Estado na questão habitacional e no<br />

usufruto a cida<strong>de</strong> e na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida no <strong>de</strong>correr dos anos e como vem tentando diminuir o<br />

déficit habitacional e as mas condições <strong>de</strong> habitabilida<strong>de</strong> das populações pobres da cida<strong>de</strong>. A<br />

pesquisa nos <strong>de</strong>u a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r a realida<strong>de</strong> da formação dos agrupamentos humanos<br />

na formação <strong>de</strong> diversas centralida<strong>de</strong>s e periferia no <strong>de</strong>correr da história com uma tendência a<br />

<strong>de</strong>slocar a população mais pobre para áreas mais afastadas e <strong>de</strong>sprovida <strong>de</strong> infraestrutura.<br />

Comprometendo ainda mais as condições <strong>de</strong> vida dos mais pobres e estimulando a formação dos<br />

aglomerados subnormais, na modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> favelas e cortiços da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa.<br />

Palavras-chave: Cida<strong>de</strong>; Urbaização; Politica Habitacional; Habitação Popular; Favela.<br />

Abstract<br />

The work, as the stage of the Project Advisory Workers Housing Policy shows how it emerged and<br />

<strong>de</strong>veloped the city of João Pessoa, PB, showing its features in governments that followed the<br />

military dictatorship, the nuances of its urbanization. The study was conducted from <strong>de</strong>sk research<br />

and literature in an attempt to un<strong>de</strong>rstand the history of urbanization and formation of human<br />

groups to housing targeted the poorest people, with emphasis on state intervention in the housing<br />

question and enjoyment in the city and quality of life over the years and has been trying to reduce<br />

63 Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Paraíba, katia.servicosocial@hotmail.com, estudante.<br />

64 Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Paraíba, marialsc@terra.com.br, professora. Centro <strong>de</strong> Ciências Huma<strong>nas</strong> Letras e Artes/<br />

Departamento <strong>de</strong> Serviço Social.<br />

65 Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Paraíba, robertta.jp@hotmail.com, estudante.<br />

485


the housing <strong>de</strong>ficit and housing conditions but the poor of the city. The research gave us the<br />

possibility to un<strong>de</strong>rstand the reality of the formation of human groups in the formation of various<br />

centralities and periphery throughout history with a ten<strong>de</strong>ncy to move to the poorest and most<br />

remote areas lacking infrastructure. Further compromising the living conditions of the poor and<br />

stimulating the formation of subnormal agglomerates, in the form of slums in the city of João<br />

Pessoa.<br />

Keywords: City; Urbaização; Housing Policy, Housing, Slum.<br />

INTRODUÇÃO<br />

A pesquisa faz parte do Projeto Assessoria aos Trabalhadores da Política <strong>de</strong> Habitação<br />

Popular que buscando oferecer aos profissionais a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecer a realida<strong>de</strong> da questão<br />

urbana e da política habitacional no sentido <strong>de</strong> aperfeiçoar as intervenções sociais na área da<br />

Habitação Popular <strong>de</strong> modo a possibilitar um melhor enfrentamento dos <strong>de</strong>safios do direito a cida<strong>de</strong><br />

voltado particularmente para o direto a moradia, trabalhando o déficit habitacional e da efetivação<br />

da política <strong>de</strong> habitação.<br />

O projeto voltado para qualificar profissionais <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s publicas e sociais envolvidos em<br />

Projetos <strong>de</strong> Habitação Popular <strong>de</strong>senvolve-se articulando a discussão teórica (levantamento e<br />

apreensão <strong>de</strong> material bibliográfico e documental) e ativida<strong>de</strong>s práticas com a qualificação <strong>de</strong><br />

profissionais em exercício na área da habitação popular abordando a questão urbana, a formação e<br />

constituição das habitações populares e da política habitacional.<br />

Trabalha com objetivo <strong>de</strong> otimizar as intervenções sociais na área <strong>de</strong> Habitação Popular,<br />

aprofundando o conhecimento nessa área e possibilitando uma intervenção mais eficaz o que vem<br />

exigindo pesquisa documental e bibliográfica, produção intelectual e assessoria aos profissionais e<br />

entida<strong>de</strong>s Sociais envolvidos em Projetos <strong>de</strong> Habitação Popular. Consi<strong>de</strong>rando o que para Milton<br />

Santos (2002, p 40), a cida<strong>de</strong> é vista como algo ―que fica do passado como forma <strong>de</strong> espaço<br />

construído, paisagem‖ e a formação e os impactos das novas centralida<strong>de</strong>s e a estrutura da cida<strong>de</strong><br />

como ―um produto social, revestido <strong>de</strong> historicida<strong>de</strong>‖ (ARAÚJO e ARAÚJO, 2008, p 25).<br />

DESCRIÇÃO<br />

A cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa e suas rugosida<strong>de</strong>s<br />

João Pessoa, fundada em 5 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1585 com o nome <strong>de</strong> Nossa Senhora das Neves, a<br />

santa do dia em que foi firmada a aliança com os Tabajara (5 <strong>de</strong> agosto) <strong>nas</strong>ceu com o status <strong>de</strong><br />

cida<strong>de</strong>, jamais vivendo a condição <strong>de</strong> vila, fato esse ocorrido porque foi fundada pela cúpula da<br />

486


Fazenda Real numa Capitania Real da Coroa Portuguesa é a terceira capital <strong>de</strong> estado mais antiga<br />

do Brasil e a última a ser fundada no país no século XVI.<br />

Nasce da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ter um maior controle da região do litoral paraibano e, assim, evitar<br />

novos ataques indíge<strong>nas</strong> e intensificar a <strong>de</strong>fesa contra os franceses no litoral que se <strong>de</strong>u no início <strong>de</strong><br />

1574, quando Portugal, esteve diante da chacina <strong>de</strong> Tracunhaém, que foi o incêndio do engenho<br />

Tracunhaém que matou todos os moradores <strong>de</strong>ste lugar, pelo fato da filha <strong>de</strong> um chefe potiguara ter<br />

sido aprisionada pelo proprietário do engenho.<br />

Quando o Rei D. Sebastião <strong>de</strong>smembrou a capitania <strong>de</strong> Itamaracá e criou a capitania Real da<br />

Paraíba, porém, a conquista <strong>de</strong>sse território atrasou onze anos, por essa região ter sido uma área<br />

habitada por índios potiguaras.<br />

Foi ape<strong>nas</strong> após cinco expedições, em 05 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1585, que os Portugueses, com o<br />

apoio dos índios tabajaras, conseguiram expulsar os franceses e fundar a Cida<strong>de</strong> Real <strong>de</strong> Nossa<br />

Senhora das Neves. Porém a paz <strong>de</strong>finitiva com os potiguaras só foi conquistada em 1599. Com o<br />

passar do tempo a cida<strong>de</strong> foi recebendo várias <strong>de</strong>nominações.<br />

Filipeia <strong>de</strong> Nossa Senhora das Neves, em 1588, homenageando o rei Filipe II da Espanha,<br />

quando da União Ibérica e quando o Reino <strong>de</strong> Portugal foi incorporado à coroa espanhola.<br />

Fre<strong>de</strong>rikstad (Cida<strong>de</strong> Fre<strong>de</strong>rica), durante a ocupação holan<strong>de</strong>sa, entre 1634 e 1654, em<br />

homenagem ao príncipe <strong>de</strong> Orange, Fre<strong>de</strong>rico Henrique. Cida<strong>de</strong> da Parahyba, Imperial Cida<strong>de</strong>, em<br />

fins <strong>de</strong> 1859, com a reconquista portuguesa e a visita temporária <strong>de</strong> D. Pedro II ao Brasil. Sua<br />

<strong>de</strong>nominação atual, João Pessoa, é uma homenagem ao político paraibano João Pessoa, assassinado<br />

em 1930 na cida<strong>de</strong> do Recife, quando era presi<strong>de</strong>nte do estado e concorria, como candidato a vice-<br />

presi<strong>de</strong>nte, na chapa <strong>de</strong> Getúlio Vargas.<br />

Fundada sob influencia religiosa <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 50 anos já se calculava na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa<br />

seis templos, que eram: o convento <strong>de</strong> São Francisco, o convento dos carmelitas, o convento <strong>de</strong> são<br />

Bento, a igreja da Misericórdia, uma capela <strong>de</strong>nominada <strong>de</strong> são Gonçalo e mais três igreja, tendo<br />

como principal a matriz.<br />

Segundo a <strong>de</strong>scrição do Holandês Elias Herckmans, a partir daí po<strong>de</strong>-se observar a gran<strong>de</strong><br />

influência religiosa no <strong>de</strong>senvolvimento da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa que, inicialmente, foi arquitetada<br />

longe do mar e seu núcleo central era formado por dois compartimentos: a cida<strong>de</strong> alta e a cida<strong>de</strong><br />

baixa.<br />

A cida<strong>de</strong> baixa (Varadouro) ocupava um trecho da Várzea do rio Sanhauá e nesta<br />

reservavam-se as ativida<strong>de</strong>s comerciais e marítimas, on<strong>de</strong> se encontravam prédios da alfân<strong>de</strong>ga,<br />

armazéns, o porto do Capim e as casas comerciais.<br />

487


Atualmente, existem 64 aglomerados humanos distribuídos por quatro compartimentos<br />

topográficos, sub-bacia do Alto Jaguaribe: a Bacia do Sanhauá, a Sub-bacia Baixo Paraíba e a Sub-<br />

Bacia Mussuré. O efeito populacional <strong>de</strong>sses quatro compartimentos perfaz uma aproximação <strong>de</strong><br />

80.206 pessoas residindo em 17.523 moradias consi<strong>de</strong>rando medianamente 4,5 habitantes por<br />

residência em condições <strong>de</strong> subnormalida<strong>de</strong>.<br />

Já a cida<strong>de</strong> alta estendia-se sobre o baixo planalto costeiro e ali estavam instaladas<br />

instituições religiosas e <strong>de</strong> moradias, da população mais seletiva da cida<strong>de</strong>. E até o final do século<br />

XIX os limites da cida<strong>de</strong> se restringiam ape<strong>nas</strong> a essas duas áreas mesmo com mudanças em sua<br />

infraestrutura, o que nos remete segundo Maia, a chamada cida<strong>de</strong> tradicional.<br />

O autor Aires <strong>de</strong> Casal, (ano, p ...) <strong>de</strong>screveu no século XX a cida<strong>de</strong> da seguinte forma:<br />

Cida<strong>de</strong> medíocre, aprazível, populosa [...], sobre a margem direita, e três léguas<br />

acima da embocadura do rio [...], ornada com casa <strong>de</strong> misericórdia e seu hospital,<br />

um convento dos franciscanos, outro <strong>de</strong> carmelitas, terceiro <strong>de</strong> beneditinos [...],<br />

cinco ermidas [...] dois elegantes chafarizes <strong>de</strong> boas águas.<br />

No início do século XX podiam-se observar mudanças em sua infraestrutura urbana com a<br />

implantação <strong>de</strong> um sistema rodoviário que contribuiu para a movimentação das pessoas <strong>de</strong> uma<br />

cida<strong>de</strong> para outra com mais facilida<strong>de</strong>.<br />

De 1910 a 1924 a capital vivenciou um momento <strong>de</strong> constante progresso, provocado pela<br />

abertura <strong>de</strong> novos bairros que hoje se esten<strong>de</strong> a região <strong>de</strong> Tambaú, transformando a antiga lagoa em<br />

parque público e promovendo a remoção <strong>de</strong> alguns aspectos coloniais da cida<strong>de</strong> que mudou as ruas<br />

e igrejas antigas.<br />

Na época em que Gue<strong>de</strong>s Pereira era o prefeito <strong>de</strong> João Pessoa, ele <strong>de</strong>sapropriou sítios e<br />

plantou árvores em torno <strong>de</strong> todos os redutos do parque, construiu o Parque Arruda Câmara, trouxe<br />

aves e animais <strong>de</strong> espécies raras para seu embelezamento, arborizou diversos trechos da cida<strong>de</strong>.<br />

É quando João Pessoa já começa a ser conhecida como a ―cida<strong>de</strong> jardim‖ e o núcleo da<br />

cida<strong>de</strong> ganha nova aparência, contrastando dois estilos bem distintos, o Varadouro e a Cida<strong>de</strong> Alta<br />

com obras como a Praça <strong>Vida</strong>l <strong>de</strong> Negreiros, o Parque Arruda Câmara, Praça da In<strong>de</strong>pendência,<br />

Avenida Maximiliano <strong>de</strong> Figueiredo, além do avanço para o leste da antiga lagoa que agora é o<br />

parque Sólon d Lucena.<br />

O governo <strong>de</strong> João Pessoa calçou o Ponto do Cem Reis e ampliou o prédio do tesouro e a<br />

Epitácio Pessoa, que era uma estrada <strong>de</strong> barro e foi calçada e aberta em forma <strong>de</strong> avenidas largas até<br />

o mar, sendo esta alvo <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s investimentos por ligar o centro ao Porto.<br />

488


Figura No 01 Abertura da av. Epitácio Pessoa (1920)<br />

Fonte: Paraíba Net<br />

Segundo o historiador Arruda Melo, o governo <strong>de</strong> Camilo <strong>de</strong> Holanda (1916-1920),<br />

favorecido pelas arrecadações algodoeiras que gerou fortu<strong>nas</strong> e um surto <strong>de</strong> urbanização,<br />

empreen<strong>de</strong>u uma revolução urbanística, a base <strong>de</strong> praças e jardins, <strong>de</strong> aberturas <strong>de</strong> novas avenidas,<br />

<strong>de</strong> coretos e <strong>de</strong> edifícios, canalizando o crescimento da capital para o bairro <strong>de</strong> Cruz das Armas.<br />

É quando a cida<strong>de</strong> começou a ser modificada nos aspectos coloniais da cida<strong>de</strong>, com atração<br />

<strong>de</strong> gente nova, <strong>de</strong> arquitetos mais mo<strong>de</strong>rnos que introduziram em diversos trechos da cida<strong>de</strong><br />

elementos <strong>de</strong>corativos, como: calçamentos, edifícios, praças e abertura <strong>de</strong> novas avenidas. Após o<br />

governo <strong>de</strong> Camilo <strong>de</strong> Holanda, veio Sólon <strong>de</strong> Lucena (1920-1924), que manteve o ritmo <strong>de</strong><br />

urbanização da cida<strong>de</strong>.<br />

No <strong>de</strong>correr dos anos 1930 observa-se o <strong>de</strong>slocamento <strong>de</strong> moradores <strong>de</strong> classe média para<br />

lugares distantes do centro tradicional, para os bairros resi<strong>de</strong>nciais na orla. E a partir dos anos 1940<br />

João Pessoa passa por uma expansão <strong>de</strong>mográfica em direção ao leste.<br />

Mas e na década <strong>de</strong> 1950, após ações do Estado que privilegiaram a Avenida Epitácio<br />

Pessoa com serviços básicos <strong>de</strong> infraestrutura e outros serviços, que ocorre a maior ocupação na<br />

entre a cida<strong>de</strong> e a orla marítima e da faixa litorânea. E com a implantação do bairro do Miramar<br />

estabelece um ritmo mais intenso <strong>de</strong> ocupação da Avenida Epitácio Pessoa, com o surgimento <strong>de</strong><br />

outros bairros ‗as margens da avenida, que foram os Bairros dos Expedicionários e da Torre<br />

(Formiga,2008. p 8).<br />

No término do ano <strong>de</strong> 1964 começaram a ser incrementados as construções <strong>de</strong> conjuntos<br />

habitacionais segundo a política do BNH. Os conjuntos foram estratégias para o a<strong>de</strong>nsamento<br />

urbano direcionando a expansão urbana a partir dos eixos principais da cida<strong>de</strong> que são a AV.<br />

Epitácio Pessoa e a AV. Cruz das Armas e o prolongamento da BR-101. Os conjuntos Boa Vista e<br />

Pedro Godim atraíram a malha urbana em direção ao norte do município. O conjunto dos<br />

489


Funcionários, <strong>nas</strong> proximida<strong>de</strong>s da Avenida cruz das Armas, reforçou a tendência <strong>de</strong> crescimento<br />

para o sul. No <strong>de</strong>correr dos anos alguns conjuntos Habitacionais foram se <strong>de</strong>senvolvendo, como o<br />

Gervásio Maia, Ernani Sátiro, José Américo <strong>de</strong> Almeida, Mangabeira e Valentina e com eles sua<br />

população.<br />

Com o impulso a mo<strong>de</strong>rnização da Paraíba no governo <strong>de</strong> João Machado que realizou uma<br />

das melhores administrações da republica velha, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa construiu o serviço <strong>de</strong><br />

abastecimento da água, implantou o sistema <strong>de</strong> re<strong>de</strong> elétrica, abriu a avenida que ganhou seu nome,<br />

pavimentou ruas do centro, instalou a iluminação e o bon<strong>de</strong> elétrico, etc.<br />

Figura No 02 Ponto Cem Réis<br />

Mesmo assim até a década <strong>de</strong> cinqüenta a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa crescia em um ritmo menor<br />

que Campina Gran<strong>de</strong>, somente <strong>nas</strong> ultimas décadas João Pessoa conseguiu obter um melhor nível<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, pois por ser a capital do Estado o governo incrementou os incentivos,<br />

melhorando os serviços urbanos, acompanhado por uma política <strong>de</strong> industrialização que<br />

proporcionou uma superação do crescimento <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>.<br />

RESULTADO<br />

O crescimento da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa é vivenciado diante do processo <strong>de</strong> industrialização<br />

e mo<strong>de</strong>rnização produtiva que marcou o país, em meados do século XX. Neste contexto, segundo o<br />

Censo <strong>de</strong> 2000 do IBGE, a população da cida<strong>de</strong> cresceu a uma média <strong>de</strong> 50% a cada década, em<br />

1950 a população era <strong>de</strong> 95.953 habitantes e em 1991 passou 497.599 habitantes.<br />

Essa expansão é produto <strong>de</strong> ações combinadas entre o estado e as gran<strong>de</strong>s corporações<br />

privadas, como as construtoras e os agentes imobiliários utilizando-se <strong>de</strong> atributos seletivos para<br />

<strong>de</strong>finir os valores <strong>de</strong> uso e <strong>de</strong> troca das novas áreas, como das Avenidas Epitácio Pessoa e Beira<br />

490


Rio. A estruturação <strong>de</strong> novas vias <strong>de</strong> circulação exerce um po<strong>de</strong>roso papel na produção do espaço<br />

intra-urbano, pois, segundo Villaça (ano, p...), é o transporte <strong>de</strong> pessoas e não o <strong>de</strong> mercadoria que<br />

torna o espaço intra-urbano mais heterogêneo.<br />

João Pessoa possui com uma população <strong>de</strong> aproximadamente 100 mil habitantes, possui<br />

oficialmente 64 bairros, sendo Mangabeira o maior <strong>de</strong>les, vejamos alguns bairros: Zona Norte :<br />

Centro, Varadouro, Róger, Torre, Tambiá, Jardim 13 <strong>de</strong> Maio, Padre Zé, Bairro dos Estados, Bairro<br />

dos Ipês, Mandacaru, Alto do Céu, Jardim Esther, Jardim Mangueira e Conjunto Pedro Gondim;<br />

Zona Sul: Castelo Branco, Conjunto Cehap I, Bancários, Jardim São Paulo, Anatólia, Jardim<br />

Cida<strong>de</strong> Universitária, Água Fria, Ernesto Geisel, Valentina Figueiredo, Paratibe, Praia do Sol,<br />

Conjunto Boa Esperança, José Américo, Cida<strong>de</strong> dos Colibris, Costa e Silva, Mangabeira, Cida<strong>de</strong><br />

Ver<strong>de</strong>, Esplanada, Ernani Sátiro, Funcionários (I a IV), Grotão, João Paulo II, Distrito Industrial e<br />

Bairro das Indústrias; Zona Leste : Cabo Branco, Tambaú, Tambauzinho, Epedicionários, Bessa,<br />

Jardim Oceania, Aeroclube, Manaíra, Altiplano, Miramar, Jardim Luna, João Agripino, São José,<br />

Bairro dos Ipês, Intermares e Brisamar; Zona Oeste :Cruz das Armas, Re<strong>nas</strong>cer, Jaguaribe,<br />

Oitizeiro, Rangel, Cristo Re<strong>de</strong>ntor, Bairros dos Novais, Alto do Mateus, Ilha do Bispo e Jardim<br />

Veneza.<br />

E nos <strong>de</strong>paramos com um crescimento ainda maior na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa com aumento<br />

dos agrupamentos informais e populares, particularmente a formação das favelas, segundo pesquisa<br />

do IBGE, censo 2010. Dados referentes ao compartimento Alto Jaguaribe, que atualmente<br />

compreen<strong>de</strong> oito bairros, possuem vinte aglomerados, distribuídos por nove bairros e abriga ao todo<br />

6.125 domicílios e mais <strong>de</strong> vinte e nove bairros resi<strong>de</strong>ntes. Referentes ao Sanhauá que agrupa<br />

também a sub-bacia do rio Mares per faz o total <strong>de</strong> 28 aglomerados distribuídos em seis bairros que<br />

contam com uma população <strong>de</strong> 17.060 pessoas habitados 3.778 residências; enquanto que o bairro<br />

Costa e Silva contam com a população não urbanizada superior a urbanizada.<br />

A Bacia do Sanhauá que contempla o bairro Varadouro se <strong>de</strong>staque por seus oito<br />

aglomerados: Porto do Capim, Frei Vital, Vila União, Feira Mulungu, Nassau, Vila Caiaju,<br />

comunida<strong>de</strong> Nova. A Bacia do Baixo Paraíba contempla sete bairros e <strong>de</strong>zesseis aglomerados sendo<br />

<strong>de</strong>staque o bairro alto do céu com seus sete aglomerados: Beira da linha, Jardim Mangabeira, Vila<br />

dos Teimosos, Vem-Vem ou jardim Ester, jardim coqueiral, Beira Molhada, Porto <strong>de</strong> Jõao Tota. A<br />

Sub- Bacia Mussuré com quatro bairros e seis aglomerados todos contemplados para <strong>de</strong>staque <strong>de</strong><br />

fatos notáveis: Padre Ibiapina, Nova vida, Taipa ou Mutirão, Vila da Palha ou Paz, Ernani Sátiro,<br />

Favela dos Funcionários.<br />

No contexto atual, cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa conta com 117 favelas, entre elas <strong>de</strong>stacamos:<br />

Bairro São José, Re<strong>nas</strong>cer, Favela da barreira do cabo branco, Beira da Linha, Favela do Padre Zé,<br />

491


Favela <strong>de</strong> Mandacarú, Bola na Re<strong>de</strong>, Favela dos Funcionários III, Favela do Esplanada, Favela do<br />

s- Baixo Roger, Saturnino <strong>de</strong> Brito, Taipa, Favela do Timbó , Jardim Guíba, Jardim Bom<br />

Samaritano, Novo Horizonte, Nova República, Ilha do Bispo, Citex , Buraco da Gia, Cangote do<br />

urubu, Matinha, Boa Esperança, São Rafael, Favela do Miramar, 15 <strong>de</strong> Novembro, A barreira,<br />

Acampamento cinco <strong>de</strong> julho, Asa Branca, Baleado, Beira Molhada, Bola na Re<strong>de</strong>, Brasília <strong>de</strong><br />

palha, Ceasa, colibris, Favela do padre Zé, jardim Bom Samaritano, Jardim coqueiral, Re<strong>de</strong>nção,<br />

Riacho doce, Sanhauá, Santa Clara, São Rafael, Saturnino <strong>de</strong> Brito , tibo Ie II, Tito Silva, Vila<br />

Mangabeira.<br />

Figura No 03 Parte do bairro do Altiplano e a esquerda alguns bairros da zona leste <strong>de</strong> João Pessoa.<br />

Como <strong>de</strong>taca Suassuna (2006) a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa como fruto <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong><br />

urbanização exclu<strong>de</strong>nte e fragmentada, como vem ocorrendo <strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s Brasileiras nos anos 70,<br />

também passa por uma segregação sócio-espacial evi<strong>de</strong>nciado na sua anomalia urbana,<br />

particularmente as favelas, que ao longo dos anos, vem aumentando em número. Estima-se que dos<br />

60 bairros da capital, mais <strong>de</strong> 38 tem favelas. E apresentando dados da Prefeitura <strong>de</strong> 2003, 101 áreas<br />

com características <strong>de</strong> assentamentos espontâneos abrigam uma população <strong>de</strong> 121,8 mil pessoas. O<br />

que os urbanistas chamam da cida<strong>de</strong> "informal", que alem <strong>de</strong> ser ilegal, necessita <strong>de</strong> uma reforma<br />

fundiária urbana e é impactante ao meio ambiente, pois sua ocupação precária ocorre em áreas<br />

ambientalmente frágeis - beira <strong>de</strong> córregos, rios e reservatórios, encostas íngremes, várzeas e fundos<br />

<strong>de</strong> vale - consi<strong>de</strong>radas Áreas <strong>de</strong> Preservação Permanente (APPs).<br />

Suassuna (Ibid Id) <strong>de</strong>staca ainda que esses assentamentos, cujos moradores não possuem<br />

conhecimento técnico e muito menos ambiental, são responsáveis ainda pela contaminação dos<br />

recursos hídricos <strong>de</strong>vido ao lançamento <strong>de</strong> lixo e esgotos nos rios que, por sua vez, contribuem para<br />

se alastrarem os casos <strong>de</strong> doenças veiculadas à água poluída, pelo agravamento <strong>de</strong> assoreamento<br />

dos cursos d'água, <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> <strong>de</strong>smatamentos das matas ciliares e por <strong>de</strong>smoronamentos com<br />

492


mortes pela implantação dos barracos <strong>nas</strong> encostas em áreas <strong>de</strong> risco. Que somente em período <strong>de</strong><br />

fortes chuvas, vem a tona os efeitos <strong>de</strong> uma expansão urbana <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada e caótica, quando as<br />

populações ribeirinhas sofrem com as inundações e <strong>de</strong>slizamentos.<br />

E ele chama a atenção para a história que se repete ao longo dos anos e muito pouco é feito<br />

no que diz respeito a sanar os problemas <strong>de</strong> vez, são gastos milhões com ações paliativas e a<br />

população pobre, como se não bastasse a sua situação <strong>de</strong> exclusão perante a socieda<strong>de</strong>, se vê<br />

<strong>de</strong>sesperada e sem esperança por uma moradia ao menos digna, qaundo no aspecto jurídico, o Plano<br />

Diretor da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa visa, entre outros objetivos, ―assegurar o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

integrado das funções sociais da cida<strong>de</strong>, garantir o uso socialmente justo da proprieda<strong>de</strong> e do solo<br />

urbano e preservar, em todo o seu território, os bens culturais, o meio ambiente e promover o bem<br />

estar da população‖<br />

A questão habitacional como um dos mais graves problemas sociais <strong>de</strong> nossos dias, visível<br />

principalmente <strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> porte médio, como é o caso <strong>de</strong> João Pessoa, que <strong>de</strong> acordo com o<br />

levantamento do IBGE, 2009, vem crescendo vertiginosamente, expresso no gran<strong>de</strong> déficit<br />

habitacional, na falta <strong>de</strong> saneamento básico, consi<strong>de</strong>rando que ape<strong>nas</strong> 43% dos domicílios são<br />

cobertos por estes serviços, 2,3 mil estão sem banheiro ou sanitários, 4,8 mil domicílios <strong>de</strong>spejando<br />

seus <strong>de</strong>jetos no rio ou no mar, estes fazem parte dos 6% dos municípios brasileiros que possuem<br />

uma secretaria <strong>de</strong> Habitação exclusiva para tratar <strong>de</strong> ações nessa área e está entre os 20% dos<br />

municípios brasileiros que têm Plano <strong>de</strong> Habitação, além <strong>de</strong> estar inserida <strong>de</strong>ntre as prefeituras que<br />

possuem cadastro <strong>de</strong> pessoas interessadas em programas habitacionais, com entrega mais <strong>de</strong> cinco<br />

mil moradias à população em cinco anos <strong>de</strong> gestão.<br />

Com base em dados mais atuais, da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa, segundo o censo 2010, do IBGE,<br />

as condições <strong>de</strong> vida dos moradores dos aglomerados subnormais se encontram no seguinte estado:<br />

98,5 dos imóveis têm eletricida<strong>de</strong>, 97,2% tem água encanada, 94,4% afirmam tem re<strong>de</strong> <strong>de</strong> esgoto,<br />

as ruas são asfaltadas em 77,6% mas a iluminação pública só ocorre em 24,1%. No que diz respeito<br />

a obras públicas, <strong>de</strong>stacamos que ape<strong>nas</strong> 37% das comunida<strong>de</strong>s foram beneficiadas com alguma<br />

obra <strong>de</strong> melhoria urbana nos últimos quatro anos, entre os agentes do po<strong>de</strong>r público visto nestas<br />

comunida<strong>de</strong>s estão: os garis com 54,2%, e os policiais com 44,8%.<br />

Percebemos que o meio <strong>de</strong> transporte mais utilizados <strong>nas</strong> comunida<strong>de</strong>s é o ônibus com<br />

93,1% <strong>de</strong> uso, o segundo mais utilizado é a van com 40,1%, e por último e com ape<strong>nas</strong> 6,5% o<br />

carro. O nível <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> está <strong>de</strong> 83,4% <strong>de</strong> filhos freqüentando a escola e 22, 5% não<br />

estudando. Referente à saú<strong>de</strong>, existem postos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> em cerca <strong>de</strong> 60% das comunida<strong>de</strong>s, mas não<br />

há médico <strong>de</strong> família em 65% <strong>de</strong>las, agentes <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

493


Em 52,6% das comunida<strong>de</strong>s não há posto <strong>de</strong> policiamento comunitário, em 68,4% não há<br />

<strong>de</strong>legacia policial aten<strong>de</strong>ndo a comunida<strong>de</strong>. Para 55,5 as operações policiais não diminuem a<br />

influência <strong>de</strong> crime organizado <strong>nas</strong> favelas, mostrando a precarização da infraestrutura <strong>de</strong> segurança<br />

na cida<strong>de</strong>. Trabalho e Renda esta bastante precária em diversas comunida<strong>de</strong>s apresentando ape<strong>nas</strong><br />

14,2% <strong>de</strong>claram trabalho <strong>de</strong>ntro da comunida<strong>de</strong> e 12,9% admitiram ter outra fonte <strong>de</strong> renda. Não há<br />

apoio em cooperativa em 63% das comunida<strong>de</strong>s.<br />

CONCLUSÃO<br />

Na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa, com a maioria das cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Porte Médio do Brasil, apresenta<br />

gran<strong>de</strong>s disparida<strong>de</strong>s sócio-econômicas e os investimentos em infraestrutura ligados ao setor<br />

imobiliário e os equipamentos urbanos mais voltados às áreas com renda mais elevada, enquanto<br />

que as áreas que concentram as populações pobres, os espaços periféricos, por não apresentarem<br />

potencial econômico em concomitância com o mercado imobiliário rentável, encontram-se<br />

<strong>de</strong>sprovidos <strong>de</strong> planejamento e assistência pública, eficazes e equânimes. O que alimenta a<br />

formação e a segregação <strong>de</strong>sses espaços, mas percebemos, nos últimos anos, uma maior atenção aos<br />

espaços on<strong>de</strong> concentram as populações pobres e a habitação popular.<br />

Mas <strong>de</strong>vemos estar atentos ao que Engels (1988) alerta que a preocupação em solucionar as<br />

questões <strong>de</strong> habitação, <strong>de</strong> saneamento e <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> das camadas populares passa pela questão da<br />

proliferação <strong>de</strong> epi<strong>de</strong>mias e <strong>de</strong> violência <strong>de</strong> toda a cida<strong>de</strong>. Mas outra questão interessante abordada<br />

por ele é a expulsão dos trabalhadores do centro para a periferia, <strong>de</strong>vida a remo<strong>de</strong>lação das cida<strong>de</strong>s<br />

sob justificativas sanitárias e estéticas, o que evi<strong>de</strong>ncia que“os focos <strong>de</strong> epi<strong>de</strong>mias não são<br />

eliminados, mas ape<strong>nas</strong> mudados <strong>de</strong> lugar!”.<br />

Na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa percebemos a formação dos agrupamentos humanos <strong>nas</strong> suas<br />

diversas centralida<strong>de</strong>s com à segregação sócio-espacial, com exclusão <strong>de</strong> parcela da população,<br />

particularmente a mais pobre, dos locais mais próximos e mais providos <strong>de</strong> infraestrutura e serviços,<br />

principalmente no que diz respeito à ocupação <strong>de</strong> espaço com possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> habitabilida<strong>de</strong>, <strong>de</strong><br />

melhores condições <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong> preservação do meio ambiente. Colocando a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

maiores investimentos financeiros e intelectuais da questão do direito a cida<strong>de</strong> e habitabilida<strong>de</strong><br />

como possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> todos os habitantes da cida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> forma à<br />

possibilitar melhoria na saú<strong>de</strong>, moradia, educação, empregos, infraestrutura, saneamento básico,<br />

entre outras.<br />

REFERÊNCIAS<br />

ENGELS, Friedrich. A questão da Habitação. São Paulo: Editora Acadêmica. 1988.<br />

494


SUASSUNA LIMA, Marco Antonio. Segregação sócio-espacial e <strong>de</strong>senho urbano em<br />

assentamentos espontâneos: o caso do bairro São José em João Pessoa PB. Arquitextos, São Paulo,<br />

06.072, Vitruvius, mai 2006 .<br />

MORAIS, Lenygia Maria Formiga Alves. Expansão Urbana E <strong>Qualida<strong>de</strong></strong> Ambiental no Litoral <strong>de</strong><br />

João Pessoa-Pb. Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Paraíba, Centro <strong>de</strong> Ciências Exatas e da Natureza,<br />

Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Geografia, Mestrado, Joáo Pessoa, 2009.<br />

Josinei<strong>de</strong> da Silva Bezerra e Luciana Me<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> Araújo. Restruturação e centralida<strong>de</strong>: breves<br />

notas sobre a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa. Disponível em<br />

http://www.ifch.unicamp.br/ciec/revista/artigos2/%5B14%5DURBANA2_BEZERRA_ARAUJO.p<br />

df, Acesso em 29/06/2012.<br />

Carla Mary S. Oliveira. Imagens e traçados a Parayba dos primeiros séculos. João Pessoa - Número<br />

Um - Abril <strong>de</strong> 2000.<br />

Silvia, Lígia Maria Tavares da. (1996). João Pessoa: planejamento urbano e qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida. IN:<br />

Política Hoje- Revista do Mestrado<br />

Lista <strong>de</strong> favelas em João Pessoa/PB. Disponível em: http://cufa.org.br/. Acesso em 17/07/2012.<br />

495


A QUALIDADE AMBIENTAL URBANA DE SÃO LUÍS: UM RETRATO DAS PRAIAS DA<br />

Resumo<br />

CAPITAL MARANHENSE EM SEU QUARTO CENTENÁRIO.<br />

Ciro José RODRIGUES BARBOSA<br />

cirojrblitterae@hotmail.com<br />

João Sousa Corrêa<br />

joaosousabr@hotmail.com<br />

Hector Hoffman SOUZA BELO<br />

hectorsouza.15@hotmail.com<br />

Ronaldo BARROS SODRÉ<br />

ronaldo-sodr@hotmail.com<br />

Ana Rosa MARQUES<br />

anclaros@yahoo.com.br<br />

Esta pesquisa trata das problemáticas e soluções referentes à balneabilida<strong>de</strong> das praias da capital<br />

maranhense, as quais se encontram impróprias, por conta <strong>de</strong> um legado <strong>de</strong> ostracismo em relação à<br />

ação efetiva do po<strong>de</strong>r público e do cuidado com o meio ambiente por parte da população <strong>de</strong> modo<br />

geral. A praia é um bem público e <strong>de</strong>ve ser cuidado, a fim <strong>de</strong> que se evitem as doenças, o<br />

enfraquecimento do setor turístico e outros prejuízos advindos da poluição marinha.<br />

Palavras-chave: Praias. Poluição. Ação.<br />

Abstract<br />

This research shows problems and solutions about balneability (water cleanness) in beaches at<br />

Maranhão capital, where they are dirty, because government and population forget to contribute<br />

with conservation of them. Beach is a public good and it should be care to avoid diseases and go<br />

down in touristic area and others troubles caused for sea pollution.<br />

Keywords: Beaches. Pollution. Action.<br />

496


INTRODUÇÃO<br />

A socieda<strong>de</strong> continua em acelerada expansão e crescimento, transformando a paisagem a<br />

cada dia mais humanizada, principalmente <strong>nas</strong> gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s, as metrópoles mo<strong>de</strong>r<strong>nas</strong>, mas é<br />

preciso ter responsabilida<strong>de</strong> no que se refere a essas mudanças, para sustentar o acesso às futuras<br />

gerações também ao meio ambiente conservado, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> provém a continuida<strong>de</strong> da vida.<br />

A socieda<strong>de</strong> produz seu próprio mundo <strong>de</strong> relações a partir <strong>de</strong> uma base material, um modo<br />

que vai se <strong>de</strong>senvolvendo e criando à medida que se aprofundam as relações da socieda<strong>de</strong><br />

com a natureza. Esta, aos poucos <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser natural, primitiva e <strong>de</strong>sconhecida para se<br />

transformar em algo humano. A paisagem ganha novas cores e matrizes, novos elementos e é<br />

reproduzida <strong>de</strong> acordo com as necessida<strong>de</strong>s huma<strong>nas</strong>. (CARLOS, 2001, p. 38-39)<br />

Essas mudanças estão visíveis principalmente quando nos referimos aos impactos<br />

ambientais que atingem os ambientes naturais que existem nestes espaços mais urbanizados, que os<br />

expõem ao grau <strong>de</strong> extrema vulnerabilida<strong>de</strong>. A praia, por exemplo, não foge a essa regra.<br />

Antes <strong>de</strong> se compreen<strong>de</strong>r tal objeto <strong>de</strong> pesquisa, torna-se necessário, rever algumas idéias e<br />

conceitos prévios, sobre litoral, zona costeira e praia. De acordo com Ab´Saber (2001), litoral é a<br />

área <strong>de</strong> aproximação do mar e o continente.<br />

O Plano Nacional <strong>de</strong> Gerenciamento Costeiro (Lei Fe<strong>de</strong>ral nº 7661, <strong>de</strong> 16 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1988),<br />

<strong>de</strong>fine zona costeira como a ―interação‖ do ar, mar e terra, <strong>de</strong> forma que recursos diversos que estão<br />

neles inseridos também colaborem nesse conceito, que <strong>de</strong>fine assim:<br />

A área coberta e <strong>de</strong>scoberta periodicamente pelas águas, acrescida <strong>de</strong> faixa<br />

subseqüente <strong>de</strong> material <strong>de</strong>trítico, tal como areias, cascalhos, seixos e pedregulhos,<br />

até o limite on<strong>de</strong> se inicie a vegetação natural, ou, em sua ausência, on<strong>de</strong> comece<br />

outro ecossistema. (Art 10, §3º).<br />

Compreen<strong>de</strong>r tais idéias facilita a percepção dos limites do ambiente marinho e da ação<br />

antrópica <strong>de</strong> forma que se evitem problemas ambientais, quer seja pelos esgotos, pela proximida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> áreas habitacionais e comerciais e pelo lixo.<br />

Este trabalho resulta <strong>de</strong> pesquisas realizadas <strong>nas</strong> 09 (nove) praias <strong>de</strong> São Luís: a praia do<br />

Boqueirão ou dos Amores, da Guia, Ponta d´Areia, <strong>de</strong> São Marcos, do Calhau/Litorânea, Caolho,<br />

Olho d´Água, do Meio e Araçagy (ambas inseridas no perímetro do município <strong>de</strong> São José <strong>de</strong><br />

Ribamar, mas por receberem muitas pessoas da capital e por estarem no limite <strong>de</strong> município com<br />

São Luís, foram incluídas também).<br />

497


No Brasil, aproximadamente 80% das cida<strong>de</strong>s brasileiras não tratam seus esgotos,<br />

<strong>de</strong>volvendo ao rio toda a carga poluidora gerada pelas ativida<strong>de</strong>s huma<strong>nas</strong>, <strong>de</strong>gradando o manancial<br />

e diminuindo, <strong>de</strong>ssa forma, a pouca água disponível para o consumo.<br />

Segundo pesquisa realizada pelo Instituto Trata Brasil, que divulga o ranking do saneamento<br />

e esgoto <strong>de</strong> 81 cida<strong>de</strong>s brasileiras com mais <strong>de</strong> 300 mil habitantes, são as cida<strong>de</strong>s que apresentam a<br />

maior concentração <strong>de</strong> problemas sociais <strong>de</strong>correntes da falta <strong>de</strong> serviços e que concentram cerca <strong>de</strong><br />

72 milhões <strong>de</strong> pessoas do país. (Disponível em http://www.tratabrasil.org.br. Acesso 25 <strong>de</strong> jun. <strong>de</strong><br />

2011).<br />

Objetivamos assim: I<strong>de</strong>ntificar os problemas que ocasionam <strong>de</strong>gradação do espaço praístico<br />

e suas consequências para a socieda<strong>de</strong>. Discutir sobre o posicionamento dos banhistas em relação<br />

aos parâmetros i<strong>de</strong>ntificadores do comportamento <strong>de</strong>les; Relacionar as diversas formas <strong>de</strong><br />

contaminação observadas <strong>nas</strong> 9 (nove) praias pesquisadas e registrar por meio digital, fotos e<br />

produção <strong>de</strong> documentários através <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>os, com a narração <strong>de</strong> integrantes da equipe, <strong>de</strong> forma<br />

que expliquem a experiência com os entrevistados e a situação observada <strong>nas</strong> praias.<br />

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS<br />

Este trabalho <strong>de</strong> investigação científica ocorreu por meio <strong>de</strong> análise quanti-qualitativa.<br />

Quando nos referimos à pesquisa qualitativa nos remetemos à visão <strong>de</strong> Minayo (1994, p. 21-22) que<br />

consi<strong>de</strong>ra que a pesquisa qualitativa produz resultados com um nível maior <strong>de</strong> realida<strong>de</strong>,<br />

[...] que não po<strong>de</strong> ser quantificado, ou seja, ela trabalha com o universo <strong>de</strong> significados,<br />

motivos, aspirações, crenças, valores e atitu<strong>de</strong>s, o que correspon<strong>de</strong> a um espaço mais<br />

profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não po<strong>de</strong>m ser reduzidos à<br />

operacionalização <strong>de</strong> variáveis.<br />

Quanto à análise quantitativa, já que se valeu das informações fornecidas pelo público-alvo,<br />

e elas passaram pela tabulação e criação <strong>de</strong> gráficos. Que se dividiram <strong>nas</strong> seguintes etapas:<br />

Levantamento bibliográfico: através <strong>de</strong> livros, monografias, dissertações, revistas, pesquisas<br />

<strong>de</strong> órgãos como a SEMA (Secretaria Estadual <strong>de</strong> Meio Ambiente), legislação específica,<br />

etc.;<br />

Aplicação <strong>de</strong> questionários: levaram-se em consi<strong>de</strong>ração os usuários diretos das praias<br />

pesquisadas (banhistas, garçons, ven<strong>de</strong>dores, garis, moradores dos arredores) e com a<br />

percepção dos entrevistados para o cuidado com aquele ambiente tão frágil;<br />

Produção <strong>de</strong> documentários/ví<strong>de</strong>os e registro fotográfico: essa produção aconteceu com o<br />

relato dos componentes da equipe, ao falar das experiências <strong>de</strong> cada dia <strong>de</strong> trabalho <strong>nas</strong><br />

498


praias, além da filmagem e reproduções fotográficas das ce<strong>nas</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>sequilíbrio ambiental<br />

observadas, ao longo da pesquisa.<br />

O questionário foi utilizado como embasamento empírico <strong>de</strong> como a socieda<strong>de</strong> percebe os<br />

impactos, e principalmente, quem são os causadores e como solucioná-los. O campo <strong>de</strong><br />

investigação se <strong>de</strong>senvolveu no período <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2011 a janeiro <strong>de</strong> 2012.<br />

RESULTADOS E DISCUSSÕES<br />

Na socieda<strong>de</strong> atual, discute-se muito a questão da consciência ambiental e como ela po<strong>de</strong><br />

interferir na vida do ser humano. A respeito <strong>de</strong>sse conceito tão importante e necessário para a vida<br />

terrestre é que gradativamente se procura fazer algo em torno da esfera ambiental com o propósito<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>spertar uma visão mais crítica e precisa diante dos fatos ocorridos que tem posto em risco o<br />

equilíbrio natural.<br />

Um dos mais importantes movimentos sociais dos últimos anos, promovendo significantes<br />

transformações no comportamento da socieda<strong>de</strong> e na organização política e econômica, foi a<br />

chamada ―revolução ambiental‖.<br />

Segundo Foladori ―A problemática ambiental tem a particularida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser tão ampla, e <strong>de</strong><br />

seus elementos estarem tão interconectados, que sua <strong>de</strong>limitação torna-se difícil‖ (FOLADORI,<br />

1999, p. 94).<br />

Diante da preocupação sobre o quadro <strong>de</strong>gradante das praias localizadas na Ilha do<br />

Maranhão, a qual abrange quatro municípios incluindo a capital, vê-se a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecer os<br />

níveis <strong>de</strong> balneabilida<strong>de</strong> e/ou a<strong>de</strong>quabilida<strong>de</strong> para o banho. Os litorais geralmente são boas opções<br />

<strong>de</strong> lazer e turismo e atrai um fluxo numeroso <strong>de</strong> turistas e banhistas, no entanto, lançar-se ao mar,<br />

<strong>nas</strong> praias da Ilha do Maranhão, tornou-se um fator <strong>de</strong> risco em função do alto nível <strong>de</strong> poluição e<br />

ausência <strong>de</strong> políticas públicas no que tange à limpeza, conservação e controle.<br />

O Maranhão tem 5.414 km 2 <strong>de</strong> área ocupada por manguezais, <strong>de</strong> acordo com Fernan<strong>de</strong>s<br />

(2003, p. 15), ―bioma este que é frágil e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da preocupação citadina‖. Os mangues estão em<br />

volta das praias e po<strong>de</strong>m ter o equilíbrio modificado.<br />

O Golfão Maranhense na porção central do litoral, limitado pelos municípios <strong>de</strong> Icatu e<br />

Alcântara, assaz importantes para o estado, sendo a principal reentrância do nosso litoral é o gran<strong>de</strong><br />

coletor dos principais cursos fluviais do estado. On<strong>de</strong> localizam-se uma das importantes áreas <strong>de</strong><br />

mangue responsável pela reprodução <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> parte da fauna marinha. A partir <strong>de</strong>sta análise,<br />

percebe-se que todos precisam cuidar dos nossos patrimônios naturais.<br />

499


Na figura abaixo, vê-se a ilha do Maranhão, com seus quatro municípios, dos quais São Luís<br />

faz parte, e as setas brancas apontam as áreas <strong>de</strong> praias pesquisadas. A oeste da ilha está a baía <strong>de</strong><br />

São Marcos e o Golfão Maranhense, para on<strong>de</strong> convergem vários rios que dão uma coloração em<br />

tons <strong>de</strong> marrom (indicador <strong>de</strong> sedimentos em suspensão) para as águas marinhas próximas.<br />

Figura 1- Imagem <strong>de</strong> satélite da ilha do Maranhão, on<strong>de</strong> está a capital<br />

maranhense.<br />

Fonte: INPE, 2012.<br />

A priori, para que fosse compreensível o objeto <strong>de</strong> estudo, enten<strong>de</strong>r a praia e os seus agentes<br />

modificadores, os problemas ambientais e a balneabilida<strong>de</strong> foram imprescindíveis na etapa inicial<br />

do projeto e nos parágrafos anteriores.<br />

Com a aplicação <strong>de</strong> 269 (duzentos e sessenta e nove) questionários, sendo 137 homens e 132<br />

mulheres, <strong>nas</strong> nove praias pertencentes à capital maranhense, pô<strong>de</strong>-se enten<strong>de</strong>r a visão dos<br />

banhistas, moradores e trabalhadores do entorno da orla. As nove praias pesquisadas, por or<strong>de</strong>m <strong>de</strong><br />

visita, foram: da Guia e Ponta d´Areia (04/12/2011); São Marcos, Calhau/Litorânea e parte do<br />

Caolho (08/12/2011); Caolho (11/12/2011); Olho d´Água e Praia do Meio (15/01/2012); Araçagy<br />

(22/01/2012) e Boqueirão ou dos Amores (29/01/2012).<br />

Diversos tipos <strong>de</strong> pessoas passaram pelos questionamentos, da adolescência à fase adulta, do<br />

Ensino Fundamental ao Ensino Superior e <strong>de</strong> distintas classes sociais. Estes perfis socioeconômicos<br />

em alguns momentos auxiliaram na indução <strong>de</strong> certas respostas, em outros casos, nem tanto. Na<br />

Ponta d´Areia, por exemplo, as pessoas, na maioria dos casos, têm menos instrução e sujam mais o<br />

500


entorno já na praia da Guia os banhistas também, geralmente, tem baixo grau <strong>de</strong> instrução, mas<br />

conseguem emitir opiniões coerentes ao comportamento praticado ali. (BARBOSA et al, p.5, 2011).<br />

Nas praias <strong>de</strong> São Marcos e Calhau, on<strong>de</strong> as pessoas banham menos, pois apresentam um<br />

grau <strong>de</strong> instrução maior e conhecem os riscos que se po<strong>de</strong> ter ao a<strong>de</strong>ntrar <strong>nas</strong> águas, falavam com<br />

certa espontaneida<strong>de</strong> e o comportamento condizente com a fala.<br />

Na aplicação, havia perguntas objetivas e subjetivas, a fim <strong>de</strong> explorar ao máximo, a opinião<br />

do entrevistado, além <strong>de</strong> serem feitas algumas consi<strong>de</strong>rações no final e a conscientização <strong>de</strong> se<br />

preservar aquele bem natural, e também, possibilida<strong>de</strong>s para diminuir a produção <strong>de</strong> lixo <strong>nas</strong> praias.<br />

Questões como as praias menos e mais visitadas/poluídas, o que se faz com o lixo, órgãos<br />

competentes para limpar a praias e os maiores poluidores <strong>de</strong>las são algumas perguntas<br />

contempladas <strong>nas</strong> abordagens realizadas.<br />

Sobre as praias mais poluídas, <strong>de</strong> acordo com o público-alvo, são as seguintes:<br />

Gráfico1: Praias mais poluídas.<br />

Fonte: Geo <strong>nas</strong> praias, 2011- 2012<br />

O que se infere também é a associação <strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> freqüentadores com o alto índice <strong>de</strong><br />

poluição. Na realida<strong>de</strong>, os gran<strong>de</strong>s responsáveis da poluição são a Companhia <strong>de</strong> Águas e Esgotos<br />

do Maranhão- CAEMA, que não trata os esgotos domésticos antes <strong>de</strong> lançá-los ao mar, os bares e<br />

qualquer estrutura imobiliária do entorno, os banhistas, e por último, as embarcações, no caso os<br />

navios com a água <strong>de</strong> lastro, já que o porto do Itaqui localiza-se <strong>nas</strong> proximida<strong>de</strong>s, bem perto da<br />

praia do Boqueirão. Veja o gráfico a seguir, sobre os maiores poluidores <strong>de</strong>sse ecossistema, <strong>de</strong><br />

501


acordo com os entrevistados, o que confirma que a maior causa da <strong>de</strong>gradação das praias são os<br />

esgotos das residências:<br />

Gráfico2: Poluidores das praias.<br />

Fonte: Geo <strong>nas</strong> praias, 2011-2012<br />

De acordo com a Secretaria <strong>de</strong> Estado <strong>de</strong> Meio Ambiente e Recursos Naturais-SEMA, no<br />

presente ano (2012), nos pontos analisados, <strong>nas</strong> marés <strong>de</strong> vazante (momento <strong>de</strong> menor poluição),<br />

todas as praias da capital encontram-se impróprias para o banho, com a exceção das praias da Guia<br />

e do Boqueirão que não foram pesquisadas.<br />

Foto 1: Praia do Meio.<br />

Fonte: Geo <strong>nas</strong> praias, 2012<br />

502


Observa-se na Foto 1, flagrantes <strong>de</strong> poluição e <strong>de</strong>sestabilização na orla da praia do Meio,<br />

que fica entre as praias do Olho d´Água e do Araçagy, com a forte presença <strong>de</strong> lixo, instalação<br />

<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada <strong>de</strong> barracas e veículos estacionados em local impróprio. Des<strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2011<br />

ações movidas pelo Ministério Público Fe<strong>de</strong>ral (MPF) proíbe a circulação <strong>de</strong> veículos <strong>nas</strong> praias do<br />

Meio (foto) e Araçagy. Para o cumprimento <strong>de</strong>sta <strong>de</strong>terminação judicial a Secretaria Municipal <strong>de</strong><br />

Trânsito e Transportes (SMTT) publicou a portaria 003/08 que veta esse tráfego. Contudo, durante<br />

as pesquisas não foi possível observar o cumprimento nem a fiscalização <strong>de</strong>ssa lei.<br />

Foto 2: Praia <strong>de</strong> São Marcos.<br />

Fonte: Geo <strong>nas</strong> praias, 2011<br />

Na foto 2, que foi feita na praia <strong>de</strong> São Marcos, percebe-se o transporte <strong>de</strong> esgoto<br />

diretamente para o mar, sem nenhum tratamento. Além dos esgotos que correm <strong>de</strong> toda a cida<strong>de</strong><br />

para as praias, outra fonte <strong>de</strong> esgotos é originada dos bares e restaurantes presentes na orla.<br />

Por está localizada longe do centro e <strong>de</strong> bairros adjacentes a ele, a praia do Araçagy é<br />

consi<strong>de</strong>rada por banhistas como a única própria para banho, no entanto, <strong>de</strong> acordo com as coletas<br />

realizadas pela SEMA (Secretaria Estadual <strong>de</strong> Meio Ambiente), todas as praias da Ilha do<br />

Maranhão estão impróprias. Quem <strong>de</strong>sejar ir à alguma praia com status a<strong>de</strong>quado <strong>de</strong> balneabilida<strong>de</strong>,<br />

terá que <strong>de</strong>slocar-se ao município <strong>de</strong> São José <strong>de</strong> Ribamar (praia <strong>de</strong> Panaquatira) que se localiza na<br />

mesma ilha da capital: a Ilha do Maranhão.<br />

503


Como já se sabe, inexiste o tratamento do esgoto doméstico, o que contribui na<br />

transformação dos rios em canais <strong>de</strong> escoamento dos poluentes até chegar na orla, fato agravante da<br />

<strong>de</strong>gradação <strong>de</strong>sses ambientes. As bacias do Bacanga e Anil, <strong>nas</strong> proximida<strong>de</strong>s da praia da Guia e da<br />

Ponta d´Areia, a laguna da Jansen que se comunica com o mar nessa última praia citada, o rio<br />

Calhau na praia homônima, o rio da Prata na praia do Meio e outros tantos.<br />

Sobre a responsabilida<strong>de</strong> da limpeza, a maior parte dos entrevistados escolheu a Limpel<br />

(empresa que trabalha com o serviço terceirizado <strong>de</strong> limpeza para a prefeitura) e os banhistas. É<br />

importante salientar que estes últimos poluem tanto através do lixo, como através do esgoto que sai<br />

das residências <strong>de</strong>les.<br />

Esses crimes ambientais atingem a fauna, as restingas, os manguezais, os rios, lagu<strong>nas</strong>, as<br />

praias (ambientes costeiros), além do próprio ser humano, quando acontece o aumento na<br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cnidários como é o caso das caravelas portuguesas (Physalia physalis) <strong>de</strong>vido o<br />

aumento <strong>de</strong> matéria orgânica na água do mar.<br />

Os cnidários estão entre os organismos mais venenosos e peçonhentos que se conhecem, e<br />

seu arsenal químico vem <strong>de</strong>spertando interesse farmacológico. Entretanto, o interesse<br />

humano maior está voltado para um problema ocasionado por esses animais: as chamadas<br />

―queimaduras‖. (QUEIROZ, 611. 2011)<br />

Por conta do <strong>de</strong>sequilíbrio na ca<strong>de</strong>ia alimentar e águas-vivas e no aparecimento <strong>de</strong> doenças<br />

relacionadas ao contato ou consumo da água marinha.<br />

A partir <strong>de</strong>ssas informações, percebe-se que a socieda<strong>de</strong> e os turistas, todos, estão à espera<br />

<strong>de</strong> serem solucionadas todas as questões que giram em torno da preservação do ambiente marinho,<br />

para que haja um <strong>de</strong>sfrute saudável e seguro <strong>de</strong>sse ambiente.<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

A poluição das praias é o que mais preocupa as cida<strong>de</strong>s localizadas no litoral, pois isto<br />

reflete o não comprometimento da população, e principalmente, do Po<strong>de</strong>r Público, juntamente com<br />

os órgãos responsáveis pelo saneamento, tratamento <strong>de</strong> esgotos e coleta do lixo e do seu a<strong>de</strong>quado<br />

armazenamento.<br />

Outra questão a ser ressaltada é sobre o fato <strong>de</strong> que a gran<strong>de</strong> maioria dos rios, riachos da<br />

Ilha do Maranhão nesta porção estudada, sofre diretamente os impactos ambientais do aumento da<br />

expansão urbana, recebendo resíduos sólidos e esgotos que são <strong>de</strong>spejados sem tratamento algum e<br />

são levados pelo curso d água, até o mar, contribuindo com o aumento da contaminação <strong>de</strong>ssas<br />

áreas <strong>de</strong> banho <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> fluxo <strong>de</strong> pessoas.<br />

504


A Companhia <strong>de</strong> Águas e Esgotos do Maranhão (CAEMA) tem como sua atribuição, tratar<br />

os esgotos <strong>nas</strong> estações que existe, mas não funcionam. Existe, portanto, a urgência que <strong>de</strong>ve partir<br />

dos gestores públicos, com seus projetos, um melhor acompanhamento <strong>de</strong>ssa situação e a<br />

a<strong>de</strong>quação aos padrões <strong>de</strong> balneabilida<strong>de</strong> para as praias o que, em nossa compreensão, <strong>de</strong>veria<br />

começar com um melhor planejamento urbano, um respeito ao plano diretor municipal (2006) e<br />

também em planejar os bairros que estão em volta da orla e dos rios, riachos, lagu<strong>nas</strong>, córregos que<br />

lançam suas águas ao mar, <strong>de</strong> forma que seja limitado o crescimento <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nado dos<br />

empreendimentos imobiliários.<br />

Conclui-se que os banhistas <strong>de</strong>veriam tomar para si o papel <strong>de</strong> agente que contribui com a<br />

limpeza, como diz Bollmann apud Siqueira (2010), a sustentabilida<strong>de</strong> só será possível, quando se<br />

enten<strong>de</strong>r e equacionar as interações entre as dinâmicas urba<strong>nas</strong> e o ambiente natural. Enquanto isso<br />

passa <strong>de</strong>spercebido, torna-se assaz complicado a concretização da harmonia tão <strong>de</strong>sejável entre o<br />

processo <strong>de</strong> urbanização e a recuperação, mesmo que tênue, dos recursos naturais, quer seja<br />

aquáticos, vegetais, animais, terrestres e atmosféricos.<br />

REFERÊNCIAS<br />

AB´SABER, A. N. Litoral do Brasil. São Paulo: Metalivros, 2001.<br />

BRASIL. Lei Fe<strong>de</strong>ral nº 7.661, <strong>de</strong> 16 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1988. Institui o Plano Nacional <strong>de</strong> Gerenciamento<br />

Costeiro e dá outras providências. Disponível em: http://www.senado.gov.br. Acesso em<br />

CAIRNCROSS, Frances. Meio ambiente: custos e benefícios; tradução <strong>de</strong> Cid Knipel Moreira. São<br />

Paulo: Nobel, 1992.<br />

CARLOS, Ana Fani Alessandri Carlos. A cida<strong>de</strong>. 6. Ed. – São Paulo: Contexto, 2001.<br />

(Representado a Geografia).<br />

DIAS, Reinaldo. Gestão ambiental: responsabilida<strong>de</strong> social e sustentabilida<strong>de</strong>. 2 ed. São Paulo:<br />

Atlas, 2011.<br />

FELICIDADE, Norma; MARTINS, Rodrigo Constante; LEME, Alessandro André. Uso e gestão<br />

dos recursos hídricos no Brasil: velhos e novos <strong>de</strong>safios para a cidadania. São Carlos: RiMa, 2006.<br />

FERNANDES, Marcus E. B. (org.) Os manguezais da costa norte brasileira. Maranhão: Fundação<br />

Rio Bacanga, 2003, vol. II.<br />

505


BARBOSA, Ciro José Rodrigues et al, As praias ludovicenses em foco: uma analise da<br />

proteção/<strong>de</strong>gradação ambiental na orla da capital maranhense.<br />

GUERRA, Antonio José Teixeira; CUNHA, Sandra Baptista da. (org.) A questão ambiental:<br />

diferentes abordagens. 4 ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Bertrand Brasil, 2008.<br />

MAGALHÃES JÚNIOR, Antônio Pereira. Indicadores ambientais e recursos hídricos: realida<strong>de</strong> e<br />

perspectivas para o Brasil a partir da experiência francesa/Antônio Pereira Magalhães Júnior. –<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro: Bertrand Brasil, 2007.<br />

MINAYO, M.C.S. et al. Pesquisa Social: teoria, método e criativida<strong>de</strong>. Rio <strong>de</strong> Janeiro,Vozes,<br />

1994.<br />

OLIVEIRA, Dulce Raquel Pereira. <strong>Qualida<strong>de</strong></strong> ambiental das praias: Ponta da Areia, Calhau, Olho<br />

D´Água e Araçagi-São Luís-MA-Brasil-TCC Ciências Aquáticas, UFMA, 2007.<br />

PLANO DIRETOR DO MUNICÍPIO DE SÃO LUÍS. Lei nº 4. 669, <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2006.<br />

QUEIROZ Mcap, CALDAS JNAR. Dermatologia comparativa: lesão <strong>de</strong> ataque por caravela<br />

portuguesa (Physalya physalis). Na Bras Dermatol, 2011; 86(3): 611-2.<br />

SILVA, V. C., Avaliação das condições higiênico-sanitárias das praias do município <strong>de</strong> São Luís-<br />

MA, dissertação <strong>de</strong> mestrado, UFMA, São Luís, 2006.<br />

SIQUEIRA; COSTA NETO; BARBIERE; ROJAS; SANTOS. Diagnóstico socioambiental das<br />

condições sanitárias da água <strong>de</strong> praias <strong>de</strong> São Luís-MA, <strong>de</strong>cênio 1989-2009-in: VI Congresso <strong>de</strong><br />

Meio Ambiente da AUGM, 2009, São Carlos. Anais <strong>de</strong> eventos da UFSCAR, São Carlos, 2009.<br />

SIQUEIRA, Laurinda Fernanda Saldanha. Séries temporais e mo<strong>de</strong>los numéricos preditivos como<br />

ferramentas <strong>de</strong> auxílio ao gerenciamento costeiro integrado da Ilha do Maranhão, Brasil/Laurinda<br />

Fernanda Saldanha Siqueira. – São Luís, 2010.<br />

SOUZA, J. R. Estudo sobre a balneabilida<strong>de</strong> das praias <strong>de</strong> São Luís-TCC Geografia, UFMA,<br />

2003.<br />

506


2 – Educação Ambiental na Socieda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Consumo<br />

507


RESUMO<br />

EDUCAÇÃO SOCIOAMBIENTAL COMO ESTRATÉGIA<br />

DE MELHORIA DO BEM-ESTAR ANIMAL<br />

Benedito Marinho da COSTA NETO 1<br />

Camila Firmino <strong>de</strong> AZEVEDO 2<br />

Maria Caroline Pereira BRITO 3<br />

1 Professor do curso Técnico <strong>de</strong> Vigilância em Saú<strong>de</strong>, CEFOR/PB<br />

2 Professora Dra. do Departamento <strong>de</strong> Agroecologia e Agropecuária, CCAA/UEPB<br />

3 Graduanda em Medicina Veterinária, CCA/UFPB<br />

E-mail: beneditomarinho@yahoo.com.br<br />

Com o objetivo <strong>de</strong> melhorar o bem-estar <strong>de</strong> animais <strong>de</strong> companhia, foram realizadas ações <strong>de</strong><br />

educação socioambiental não formal para estudantes, professores e funcionários <strong>de</strong> sete escolas da<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> (Paraíba/Brasil), com o intuito principal <strong>de</strong> promover uma mudança <strong>de</strong><br />

atitu<strong>de</strong> das pessoas frente à preocupação com os animais <strong>de</strong> estimação. Para tal, foi realizado um<br />

estudo <strong>de</strong> natureza exploratória e <strong>de</strong>scritiva, com abordagem qualitativa através <strong>de</strong> palestras com a<br />

finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> traçar um perfil em relação ao bem-estar animal, especialmente <strong>de</strong> animais <strong>de</strong><br />

companhia. Além disso, foi realizado um trabalho educativo com o intuito <strong>de</strong> orientar sobre o<br />

respeito aos animais e a preservação da dignida<strong>de</strong>, saú<strong>de</strong> e vida dos mesmos. Dessa forma, espera-<br />

se reduzir o abandono e os maus tratos aos animais <strong>de</strong> companhia, assim como a adoção <strong>de</strong> políticas<br />

públicas que beneficiem o bem-estar animal.<br />

Palavras-chaves: animais <strong>de</strong> companhia; cães e gatos; educação ambiental; esterilização; saú<strong>de</strong><br />

pública.<br />

ABSTRACT<br />

In or<strong>de</strong>r to improve the welfare of companion animals, were held actions of socio-environmental<br />

education not formal for stu<strong>de</strong>nts, teachers and staff of seven schools in the Campina Gran<strong>de</strong> city<br />

508


(Paraíba / Brazil), with the main aim to promote a change in attitu<strong>de</strong> of the people in relation the<br />

concern for pets. To this end, was a study conducted exploratory and <strong>de</strong>scriptive, qualitative<br />

approach through lectures in or<strong>de</strong>r to draw a profile in relation to animal welfare, especially of pets.<br />

In addition, a work was un<strong>de</strong>rtaken with the aim of educational gui<strong>de</strong> about respect for animals and<br />

the preservation of dignity, health and lives of ourselves. Thus, it is expected to reduce the<br />

abandonment and mistreatment of pets, as well as the adoption of public policies that benefit animal<br />

welfare.<br />

Keywords: dogs and cats; pets; public health; sterilization; environmental education.<br />

INTRODUÇÃO<br />

A importância dos animais <strong>de</strong> estimação na vida dos seres humanos esten<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 10 mil<br />

anos atrás. Langoni et al. (2011) ressaltam a importância <strong>de</strong>sta interação na atualida<strong>de</strong>,<br />

especialmente quando são consi<strong>de</strong>rados os inúmeros benefícios que redundam <strong>de</strong>sta convivência. A<br />

companhia <strong>de</strong>sses animais produz diversos efeitos benéficos para o ser humano, <strong>de</strong>ntre eles ressalta-<br />

se os efeitos psicológicos (diminuição da <strong>de</strong>pressão, estresse e ansieda<strong>de</strong>), fisiológicos (redução da<br />

pressão arterial e frequência cardíaca, além do aumento da expectativa <strong>de</strong> vida e do estímulo para<br />

realização <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s saudáveis), e sociais (aumento da socialização <strong>de</strong> criminosos, idosos,<br />

<strong>de</strong>ficientes físicos e mentais e melhoria no aprendizado e socialização <strong>de</strong> crianças) (SANTANA e<br />

OLIVEIRA, 2006).<br />

O reconhecimento <strong>de</strong> que a interação com animais torna os indivíduos mais motivados para<br />

interagir, comunicar, expressar necessida<strong>de</strong>s, informações e sentimentos <strong>de</strong>u origem à utilização <strong>de</strong><br />

animais <strong>de</strong> estimação para a promoção da saú<strong>de</strong> (LIMA e SOUSA, 2004; BUSSOTTI et al., 2005;<br />

CARVALHO et al., 2011). Este fato se dá especialmente por que os animais possuem um conjunto<br />

<strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>s particulares, <strong>de</strong>ntre elas a senciência, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>staca ―o amor incondicional e<br />

espontâneo que manifestam em relação ao ser humano‖ (GARCIA et al., 2008). Neste contexto, os<br />

animais <strong>de</strong> estimação, especialmente cães e gatos, têm se tornado praticamente membros da família,<br />

convivendo diretamente com seres humanos em diversas ativida<strong>de</strong>s diárias.<br />

É importante consi<strong>de</strong>rar que para que esta convivência seja saudável é necessário que os<br />

animais recebam, no mínimo, os cuidados básicos, que envolvem principalmente os relativos à<br />

saú<strong>de</strong> física e psicológica (LUNA, 2008). O oferecimento <strong>de</strong> abrigo e alimento em quantida<strong>de</strong> e<br />

qualida<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ais, cuidados médico-veterinários e atenção <strong>de</strong>stinada aos mesmos são indispensáveis<br />

para uma boa qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, promovendo assim o bem-estar animal (LIMBERT et al., 2009).<br />

509


Porém, a maioria das pessoas <strong>de</strong>sconhecem os preceitos <strong>de</strong> bem-estar animal e muitas <strong>de</strong>las<br />

não oferecem os cuidados e os tratamentos a<strong>de</strong>quados, seja por negligência, falta <strong>de</strong> informação ou<br />

até mesmo cruelda<strong>de</strong>. Deste fato, resultam inúmeros problemas que afetam tanto seres humanos<br />

como animais, tais como abandono dos mesmos <strong>nas</strong> ruas (SOTO et al., 2007), causando aumento do<br />

número <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trânsito e zoonoses (SCHOENDORFER, 2001); redução da qualida<strong>de</strong> e<br />

expectativa <strong>de</strong> vida dos animais; além das crias in<strong>de</strong>sejadas, que aumentam ainda mais a<br />

superpopulação e o abandono (BORTOLOTI e D‘AGOSTINHO, 2007).<br />

Dessa forma, tornam-se essenciais as campanhas <strong>de</strong> conscientização através <strong>de</strong> ações<br />

socioeducativas, levando os conceitos da educação socioambiental e estabelecendo o ser humano<br />

como parte essencial no processo <strong>de</strong> melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida dos animais e<br />

consequentemente, da saú<strong>de</strong> pública e da sua interação com os mesmos (JACOBI, 2003).<br />

Nessa conjuntura, as ONG‘s (organizações não governamentais) têm-se <strong>de</strong>monstrado<br />

imprescindíveis na disseminação dos princípios da educação ambiental e na sensibilização das<br />

comunida<strong>de</strong>s através da percepção ambiental (RODRIGUES e LOUREIRO, 2012). Muitas das<br />

ONG‘S que atuam no apoio aos animais promovem ações educativas a fim <strong>de</strong> modificar a<br />

concepção acerca da responsabilida<strong>de</strong> humana em relação à melhoria do bem-estar animal e, além<br />

disso, acolhem e tratam animais abandonados, principalmente cães e gatos, e os encaminha para<br />

adoção; como é o caso da ONG Associação <strong>de</strong> Amigos dos Animais Abandonados da Paraíba<br />

(ONG-A4/PB).<br />

A A4/PB é bastante atuante na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> (Paraíba/Brasil) e também <strong>nas</strong><br />

cida<strong>de</strong>s circunvizinhas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2004. As ativida<strong>de</strong>s envolvem principalmente o acolhimento e<br />

tratamento <strong>de</strong> cães e gatos abandonados, feiras e campanhas <strong>de</strong> adoção, apoio aos adotantes e<br />

campanhas <strong>de</strong> sensibilização e conscientização através <strong>de</strong> diversas práticas educativas para<br />

diferentes públicos.<br />

Com o objetivo <strong>de</strong> promover uma mudança <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong> das pessoas frente à preocupação com<br />

os animais <strong>de</strong> estimação, foram realizadas ações <strong>de</strong> educação socioambiental não formal em<br />

diferentes escolas públicas e particulares da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> – PB.<br />

MATERIAL E MÉTODOS<br />

Para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sse trabalho, foi realizado um estudo <strong>de</strong> natureza exploratória e<br />

<strong>de</strong>scritiva, com abordagem qualitativa, pertinente aos <strong>de</strong>safios das políticas públicas <strong>de</strong> bem estar<br />

animal.<br />

510


Para tal foram realizadas palestras em sete escolas públicas e particulares <strong>de</strong> Campina<br />

Gran<strong>de</strong> – PB, sendo o público formado por alunos, professores, técnicos e funcionários das<br />

unida<strong>de</strong>s educacionais. Nas ações educativas foram enfatizados assuntos referentes ao bem-estar<br />

animal, principalmente os relativos aos métodos <strong>de</strong> controle populacional dos animais e seus<br />

benefícios, guarda responsável, a aplicabilida<strong>de</strong> da Lei Fe<strong>de</strong>ral 9.605/98, que dispõe sobre as<br />

sanções penais e administrativas para quem praticar atos <strong>de</strong> abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar<br />

animais; além do trabalho da ONG A4-PB e suas conquistas obtidas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início das suas<br />

ativida<strong>de</strong>s, no ano <strong>de</strong> 2004. Já <strong>nas</strong> ações educativas para o público infantil, juntamente com as<br />

palestras, eram realizados teatros <strong>de</strong> fantoches, abordando o tema <strong>de</strong> uma forma lúdica, e <strong>de</strong>ssa<br />

forma, chamando ainda mais à atenção dos expectadores.<br />

Fizeram-se visitas supervisionadas ao abrigo da ONG A4-PB, com o intuito <strong>de</strong> incentivar a<br />

interação das pessoas com os animais, realizando <strong>de</strong>ssa forma uma maior sociabilização entre<br />

pessoas e animais. As visitas eram acompanhadas por voluntários da ONG que, favorecendo o<br />

processo, estimulavam o contato das pessoas com os animais, realizando uma troca <strong>de</strong> saberes<br />

baseado no amor incondicional que os animais passam aos seres humanos.<br />

Para incentivar com mais afinco a realização <strong>de</strong> políticas públicas voltadas para educação<br />

ambiental e bem-estar animal, foram realizadas feiras <strong>de</strong> adoção <strong>de</strong> cães e gatos, com explanações<br />

sobre guarda responsável, bem estar animal e punição aos maus tratos contra animais. Com o<br />

término das feiras, os animais adotados eram supervisionados por voluntários da ONG A4-PB, que<br />

visitavam as casas dos adotantes, tirando suas dúvidas e realizando o apoio aos mesmos, com o<br />

intuito <strong>de</strong> aumentar as chances <strong>de</strong> uma adoção bem sucedida. Bem como, também foi realizado o<br />

monitoramento via e-mail e re<strong>de</strong>s sociais.<br />

RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

Nas práticas socioeducativas realizadas com crianças, adolescentes e adultos foram<br />

trabalhadas questões referentes principalmente aos conceitos <strong>de</strong> senciência animal, bem-estar<br />

animal, guarda responsável, preservação da dignida<strong>de</strong> e saú<strong>de</strong> dos animais e benefícios da<br />

esterilização.<br />

As ações <strong>de</strong> educação socioambiental através <strong>de</strong> teatro <strong>de</strong> fantoches (Figura 1a), palestras<br />

para adolescentes e adultos (figura 1b), percepção ambiental através do contato com os animais<br />

(figura 2a) e visitas ao abrigo (figura 2b) proporcionaram mudanças <strong>de</strong> perspectiva e gran<strong>de</strong><br />

interação em relação ao assunto bem-estar animal, por parte do público.<br />

511


Foi possível constatar, durante as palestras que ainda existem muitos tabus junto à<br />

população no tocante ao controle reprodutivo <strong>de</strong> seus animais <strong>de</strong> estimação. Os proprietários<br />

alegam além da falta <strong>de</strong> recursos financeiros, que têm receio <strong>de</strong> que seus animais sintam dor, ou que<br />

fiquem obesos ou ―preguiçosos‖, <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> exercer a guarda do domicílio. Bortoloti e<br />

D‘Agostinho (2007) e Garcia et al. (2008) ressaltam que estes conceitos <strong>de</strong>vem ser trabalhados<br />

junto à população, para <strong>de</strong>smistificação e esclarecimento, tendo em vista os inúmeros problemas<br />

possíveis <strong>de</strong>correntes do aumento da população canina e felina no município.<br />

Figura 1. Ações <strong>de</strong> educação socioambiental promovidas pela ONG A4/PB (Associação <strong>de</strong> Amigos dos Animais<br />

Abandonados da Paraíba). a. Teatro <strong>de</strong> fantoches para o público infantil. b. Palestra para adolescentes.<br />

Figura 2. Ações <strong>de</strong> educação socioambiental através da percepção ambiental promovidas pela ONG A4/PB (Associação<br />

<strong>de</strong> Amigos dos Animais Abandonados da Paraíba). a. Contato com os animais em feira <strong>de</strong> adoção. b. Visita <strong>de</strong> grupo ao<br />

abrigo da ONG.<br />

a<br />

a<br />

512


Desse modo, é <strong>de</strong> extrema importância que existam programas <strong>de</strong> incentivo a castração <strong>de</strong><br />

animais nos municípios, sejam eles domiciliados ou errantes, pois se sabe que uma ca<strong>de</strong>la, dando<br />

duas crias por ano, sendo <strong>de</strong> dois a seis filhotes, po<strong>de</strong> gerar em um período <strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos, uma<br />

população que po<strong>de</strong>rá atingir mais <strong>de</strong> 80 mil animais. Geralmente, muitos <strong>de</strong>sses animais morrerão<br />

por inúmeros motivos ainda nos primeiros meses <strong>de</strong> vida. Além disso, os que ficarão vivos po<strong>de</strong>rão,<br />

se não conseguirem um lar, sofrer com fome, se<strong>de</strong>, maus tratos, atropelamentos e doenças <strong>nas</strong> ruas<br />

das cida<strong>de</strong>s. Sendo assim, consi<strong>de</strong>rando que os animais são seres sencientes e possuem a capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> sentir as mesmas sensações que os seres humanos (LUNA, 2008), estima-se que o número <strong>de</strong><br />

animais que sofrem <strong>nas</strong> ruas é enorme e crescente a cada ano.<br />

Os proprietários <strong>de</strong> cães e gatos <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> – PB reconhecem a importância <strong>de</strong><br />

haver pensar projetos que beneficiem as políticas públicas voltadas para o bem estar animal; pois é<br />

evi<strong>de</strong>nte os efeitos sobre cães e gatos. Santana e Oliveira (2006) enfatizam que tais políticas<br />

po<strong>de</strong>riam incluir os assuntos referentes ao abandono e às doenças, traumatismos, fome, interações<br />

sociais, condições <strong>de</strong> alojamento, tratamento ina<strong>de</strong>quado, manejo, transporte, procedimentos<br />

veterinários e mutilações.<br />

Dessa forma, bem-estar <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>finido <strong>de</strong> forma que permita pronta relação com vários<br />

conceitos, tais como: necessida<strong>de</strong>s, liberda<strong>de</strong>s, felicida<strong>de</strong>, adaptação, controle, capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

previsão, sentimentos, sofrimento, dor, ansieda<strong>de</strong>, medo, tédio, estresse e saú<strong>de</strong> (BROOM e<br />

MOLENTO, 2004).<br />

Além disso, para a promoção do bem-estar dos animais <strong>de</strong> companhia, torna-se necessário a<br />

adoção <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> regras que <strong>de</strong>vem nortear o tratamento que se dispensa aos animais <strong>de</strong><br />

companhia, que representam os fundamentos da guarda responsável.<br />

Segundo a Organização Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (SAÚDE, 2003), guarda responsável trata-se da<br />

condição na qual o guardião <strong>de</strong> um animal <strong>de</strong> companhia aceita e se compromete a assumir uma<br />

série <strong>de</strong> <strong>de</strong>veres centrados no atendimento das necessida<strong>de</strong>s físicas, psicológicas e ambientais <strong>de</strong><br />

seu animal, assim como prevenir os riscos potenciais <strong>de</strong> agressão, transmissão <strong>de</strong> doenças ou danos<br />

a terceiros que seu animal possa causar à comunida<strong>de</strong> ou ao ambiente, como interpretado pela<br />

legislação pertinente.<br />

Sendo assim, a prática da guarda responsável se dá com cuidados a<strong>de</strong>quados <strong>de</strong> vacinação,<br />

vermifugação, alimentação, castração, higiene, segurança, conforto, entre outros cuidados adotados<br />

aos animais <strong>de</strong> estimação, sendo que os proprietários <strong>de</strong>vem respon<strong>de</strong>r legalmente por eventuais<br />

agravos e danos que seus animais produzam a seres humanos, outros animais, bens públicos e<br />

particulares (LIMBERT et al., 2010; LANGONI et al., 2011). Segundo Santana e Oliveira (2006),<br />

513


são por estes motivos que a promoção do bem-estar animal, da guarda responsável e da prevenção<br />

<strong>de</strong> doenças estão estritamente relacionadas com a saú<strong>de</strong> pública.<br />

Foi observado que a gran<strong>de</strong> maioria dos participantes das palestras ape<strong>nas</strong> vacina seu animal<br />

na época <strong>de</strong> campanha antirrábica. No entanto, é necessário esclarecer à população que a vacina<br />

antirrábica unicamente não protegerá os cães e gatos contra as <strong>de</strong>mais doenças (inclusive aquelas<br />

com potencial zoonótico, como a leptospirose, on<strong>de</strong> o cão participa como reservatório importante,<br />

uma vez que, quando infectado, po<strong>de</strong> eliminar Leptospira pela urina) (LIMA et al., 2010;<br />

FILGUEIRA et al., 2011).<br />

Além disso, a frequência <strong>de</strong> vacinação <strong>de</strong> animais em casas agropecuárias e não com os<br />

veterinários, também po<strong>de</strong> representar um problema, na medida em que nem sempre as vaci<strong>nas</strong> são<br />

corretamente conservadas nestes locais, po<strong>de</strong>ndo estar com temperaturas ina<strong>de</strong>quadas para tais<br />

imunobiológicos. Bem como, os esquemas vacinais e a forma <strong>de</strong> aplicação po<strong>de</strong>m não ser<br />

a<strong>de</strong>quados se realizados por ―práticos em veterinária‖. No entanto, na maioria dos casos, a maior<br />

queixa é a falta <strong>de</strong> recursos financeiros para promover, aos animais, visitas periódicas ao médico<br />

veterinário.<br />

O que muito chamou a atenção foi o crescente interesse da população na realização <strong>de</strong><br />

campanhas regulares para divulgar a posse responsável e as práticas <strong>de</strong> bem-estar animal. Visto a<br />

crescente necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> promover a conscientização ambiental para todos os níveis da socieda<strong>de</strong> é<br />

que a ONG A4-PB promove e incentiva campanhas que visem minimizar o abandono <strong>de</strong> animais,<br />

que é um grave problema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública no nosso país.<br />

CONCLUSÕES<br />

A educação socioambiental representa uma ferramenta eficaz para a sensibilização e<br />

conscientização das pessoas em relação à problemática dos animais abandonados, pois é a melhor<br />

forma <strong>de</strong> atingir várias camadas da socieda<strong>de</strong> civil incentivando-a a implementar práticas <strong>de</strong> guarda<br />

responsável e preservação do bem estar animal.<br />

Estes resultados po<strong>de</strong>m ser utilizados pelos órgãos competentes (saú<strong>de</strong>, planejamento<br />

urbano, representantes <strong>de</strong> universida<strong>de</strong>s, igrejas, socieda<strong>de</strong>s civis organizadas e outros), para o<br />

<strong>de</strong>lineamento <strong>de</strong> estratégias <strong>de</strong> educação em saú<strong>de</strong>, visando a melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida dos<br />

animais e da população. Acredita-se que o tema ―Educação socioambiental como estratégia <strong>de</strong><br />

melhoria do bem estar animal‖, está sendo plenamente <strong>de</strong>senvolvido, tendo em vista que os<br />

resultados acadêmicos obtidos contribuirão para aplicações concretas em políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública.<br />

514


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

BORTOLOTI, R., D‘AGOSTINO, R. G. Ações pelo controle reprodutivo e posse responsável <strong>de</strong><br />

animais domésticos interpretadas à luz do conceito <strong>de</strong> metacontingência. Revista Brasileira <strong>de</strong><br />

Análise do Comportamento. v. 3, n. 1, p. 17-28, 2007.<br />

BROOM, D. M.; MOLENTO, C.F.M. Bem-estar animal: conceito e questões relacionadas –<br />

revisão. Archives of Veterinary Science, v. 9, n. 2, p. 1-11, 2004.<br />

BUSSOTTI, E. A. Assistência individualizada: ―Posso trazer meu cachorro?‖. Revista da Escola <strong>de</strong><br />

Enfermagem da USP, v. 39, n. 2, p. 195-201, 2005.<br />

CARVALHO, C. F.; ASSIS, L.S.; CUNHA, L.P.C. Uso da ativida<strong>de</strong> assistida por animais na<br />

melhora da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> idosos institucionalizados. Em Extensão. v. 10, n. 2, p. 149-155,<br />

2011.<br />

FILGUEIRA, A.C.; CARDOSO, M.D.; FERREIRA, L.O.C. Profilaxia antirrábica humana: uma<br />

análise exploratória dos atendimentos ocorridos em Salgueiro-PE, no ano <strong>de</strong> 2007. Epi<strong>de</strong>miologia e<br />

Serviços em Saú<strong>de</strong>, v. 20, n. 2, p. 233-244, 2011.<br />

GARCIA, R. C. M.; MALDONADO, M.A.C.; LOMBARDI, A. Controle populacional <strong>de</strong> cães e<br />

gatos. Ciência Veterinária Tropical, v. 11, p.106-110, 2008.<br />

JACOBI, P. Educação ambiental, cidadania e sustentabilida<strong>de</strong>. Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> Pesquisa, n. 118, p.<br />

189-205, 2003.<br />

LANGONI, H.; TRONCARELLI, M.Z.; RODRIGUES, E.C.; NUNES, H.R.C.; HARUMI, V.;<br />

HENRIQUES, M.V.; SILVA, C.M.; SHIMONO, J.Y. Conhecimento da população <strong>de</strong> Botucatu-SP<br />

sobre guarda responsável <strong>de</strong> cães e gatos. Revista <strong>de</strong> Veterinária e Zootecnia. v. 18, n. 2, p. 297-<br />

305, 2011.<br />

LIMA, A.M.A.; ALVES, L.C.; FAUSTINO, M.A.G.; LIRA, N.M.S. Percepção sobre o<br />

conhecimento e profilaxia das zoonoses e posse responsável em pais <strong>de</strong> alunos do pré-escolar <strong>de</strong><br />

escolas situadas na comunida<strong>de</strong> localizada no bairro <strong>de</strong> Dois Irmãos na cida<strong>de</strong> do Recife (PE).<br />

Ciência e Saú<strong>de</strong> Coletiva, v. 15, p. 1457-1464, 2010.<br />

LIMA, M.; SOUSA, L. A Influência Positiva dos Animais <strong>de</strong> Ajuda Social. Interacções, n. 6, p.<br />

156-174, 2004.<br />

LIMBERT, B. N. P. Estudo da tría<strong>de</strong>: educação sanitária, posse responsável e bem-estar animal em<br />

animais <strong>de</strong> companhia em comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> baixa renda. Anuário da Produção <strong>de</strong> Iniciação<br />

Científica Discente da Anhanguera. v. 12, n. 13, p. 99-108, 2009.<br />

LUNA, S. P. L. Dor, senciência e bem-estar em animais. Ciência Veterinária Tropical, v. 11, p. 17-<br />

21, 2008.<br />

515


RODRIGUES, J.N.; LOUREIRO, C.F.B. Crise socioambiental e a atuação <strong>de</strong> ONGs ambientalistas<br />

no campo educacional. Linhas críticas, n.36, p. 379-394, 2012.<br />

SANTANA, L.R.; OLIVEIRA, T.P. Guarda responsável e dignida<strong>de</strong> dos animais. Revista<br />

Brasileira <strong>de</strong> Direito dos Animais, v. 1, n. 1, p. 207-230, 2006.<br />

SAÚDE, Organização Pan-Americana da. Reunião Latino-americana <strong>de</strong> Especialistas em Posse<br />

Responsável <strong>de</strong> Animais <strong>de</strong> Companhia e Controle <strong>de</strong> Populações Cani<strong>nas</strong>; Rio <strong>de</strong> Janeiro: WSPA;<br />

2003.<br />

SCHOENDORFER, L. M. P. Interação homem-animal <strong>de</strong> estimação na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo: o<br />

manejo ina<strong>de</strong>quado e as consequências em saú<strong>de</strong> pública. São Paulo: Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo,<br />

2001. 82 p. Dissertação (Mestrado em Saú<strong>de</strong> Pública) – Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Publica, 2001.<br />

SOTO, F.R.M., RISSETO, S.R.; BERNARDINI, F.; SHIMOZATO, H.J. Motivos do abandono <strong>de</strong><br />

cães domiciliados para eutanásia no serviço <strong>de</strong> controle <strong>de</strong> zoonoses do município <strong>de</strong> Ibiúna, SP,<br />

Brasil. Revista <strong>de</strong> Veterinária e Zootecnia, v. 14, n. 1, p. 100-106, 2007.<br />

516


RESUMO<br />

EDUCAÇÃO, CAPITAL E TRABALHO: REFLEXÕES<br />

SOBRE O PAPEL DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA TRANSFORMAÇÃO SOCIAL<br />

Danielle Alencar DANTAS¹<br />

Rita Maria <strong>de</strong> Cássia Rodrigues VIANA²<br />

Fábio Adônis Gouveia Carneiro da CUNHA³<br />

¹, ², ³ Mestrandos em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA-UFPE)<br />

Email: dandantasbio@gmail.com<br />

O gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio enfrentado pela educação nos tempos hodiernos é romper com a lógica perversa<br />

do capital a qual mercantiliza todas as formas <strong>de</strong> vida. É <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong>ssa lógica o paradigma<br />

reducionista que separa a questão ambiental da questão social, a educação do trabalho, o<br />

conhecimento da sabedoria. Dentro <strong>de</strong>ssa perspectiva se faz necessário uma análise crítica da<br />

realida<strong>de</strong> que po<strong>de</strong> ser empreendida através do método materialista histórico dialético, o qual nos<br />

abre a percepção para uma realida<strong>de</strong> em constante movimento e que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> nós para ser<br />

construída e reconstruída. Através dos pressupostos <strong>de</strong>ste método reflexionou-se sobre o papel da<br />

educação ambiental no enfrentamento da atual crise e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transpormos o ocultamento<br />

da categoria trabalho na abordagem da problemática ambiental, assim como transpor a ênfase<br />

<strong>de</strong>masiada dada ao componente comportamental no fazer da educação ambiental.<br />

Palavras-Chave: Educação; Trabalho; Capital; Método Materialista Histórico Dialético;<br />

Transformação social.<br />

ABSTRACT<br />

The great challenge facing education in mo<strong>de</strong>rn times is to break with the perverse logic of capital<br />

which commodifies all forms of life. It is the logical consequence of this reductionist paradigm that<br />

517


separates the environmental issue of social issues, education, labor, knowledge, wisdom. Within<br />

this perspective is nee<strong>de</strong>d critical analysis of reality that can be un<strong>de</strong>rtaken through the historical<br />

materialist dialectical method, which opens us to the perception a reality in constant motion and that<br />

<strong>de</strong>pends on us to be built and rebuilt. Through this method assumptions reflexionou up on the role<br />

of education in combating the environmental crisis and the need for concealment transpormos<br />

category work in addressing environmental issues, as well as bridge the emphasis given too much to<br />

do in the behavioral component of environmental education.<br />

Keywords: Education, Labor, Capital, Method Dialectical Materialist History, Social<br />

Transformation.<br />

INTRODUÇÃO<br />

O ponto <strong>de</strong> partida da obra ―O Capital‖ é a mercadoria, início abstrato cujo <strong>de</strong>senvolvimento<br />

reproduz a estrutura interna da socieda<strong>de</strong> capitalista. Mercadoria é tudo aquilo que é útil ao homem<br />

e por isso tem valor <strong>de</strong> uso, que <strong>de</strong>riva do consumo <strong>de</strong>ssa mercadoria. Além do valor <strong>de</strong> uso as<br />

mercadorias tem também um valor <strong>de</strong> troca, o qual faz com que o trabalho produtivo concreto não<br />

seja mais consi<strong>de</strong>rado (SCHMIDT, 1977). A mercadoria é a unida<strong>de</strong> básica do capital, e o fetiche<br />

pela mesma a marca registrada do nosso tempo.<br />

O fetichismo, a relação alienada entre a pessoa e as mercadorias, é um fenômeno i<strong>de</strong>ológico<br />

típico da i<strong>de</strong>ologia burguesa, e que se evi<strong>de</strong>ncia como resposta à opressão e alienação sofrida pelo<br />

indivíduo. O fetichismo é uma forma <strong>de</strong> manutenção do metabolismo do capital, pois para que o<br />

mesmo se mantenha é necessário que os indivíduos se tornem ou permaneçam alheios, estranhos<br />

aos produtos <strong>de</strong> sua própria ativida<strong>de</strong>, à natureza, a outros seres humanos e também a si mesmos.<br />

Está alienação esten<strong>de</strong>-se até mesmo às pessoas e suas relações, as quais são postas em termos <strong>de</strong><br />

mercadoria, ou seja, são reificadas pelo capital (GARCIA, 2006). Mészáros (1998, p.8) explicita tal<br />

fenômeno:<br />

Através da redução e <strong>de</strong>gradação dos seres humanos ao status <strong>de</strong> meros ―custos <strong>de</strong><br />

produção‖ como ―força <strong>de</strong> trabalho necessária‖, o capital po<strong>de</strong> tratar o trabalho<br />

vivo homogêneo como nada mais do que uma ―mercadoria comercializável‖, da<br />

mesma forma que qualquer outra, sujeitando-a às <strong>de</strong>terminações <strong>de</strong>sumanizadoras<br />

da compulsão econômica.<br />

518


A mercantilização da vida é prerrogativa inexorável do capital em sua lógica incorrigível e<br />

insanida<strong>de</strong> inata, o mesmo é incapaz <strong>de</strong> conceber os problemas ameaçadores <strong>de</strong> sua crise estrutural,<br />

suas personificações trabalham em prol da manutenção do seu metabolismo sócio reprodutivo<br />

negando os perigos, que envolvem inclusive a <strong>de</strong>terioração das condições para sobrevivência<br />

humana.<br />

Diante da atual crise estrutural do capital, Mészáros (2008a, p.20) pontua que o maior<br />

<strong>de</strong>safio atual e futuro é encontrar uma maneira <strong>de</strong> superar positivamente as <strong>de</strong>terminações<br />

sistêmicas do capital, colocando, então, o socialismo na agenda histórica como a alternativa radical<br />

à vigência do capital sobre a socieda<strong>de</strong>.<br />

Nesse contexto <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong> eminente <strong>de</strong> uma transformação estrutural frente a uma crise,<br />

abre-se o <strong>de</strong>bate sobre o papel da educação nessa transformação. Preten<strong>de</strong>-se no presente estudo,<br />

em formato <strong>de</strong> revisão <strong>de</strong> literatura, realizar uma breve discussão, sem pretensões <strong>de</strong> esgotar o tema,<br />

sobre o papel da educação ambiental (EA) na mudança social e os dualismos envolvidos na<br />

abordagem do tema.<br />

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS<br />

O presente artigo foi <strong>de</strong>senvolvido através da técnica <strong>de</strong> heurística (RUIZ, 2011), ou seja,<br />

documentação do material pertinente ao tema o qual foi coletado em obras <strong>de</strong> referência, periódicos<br />

científicos, anais e domínios da internet, e, posteriormente foi-se realizado o processo <strong>de</strong><br />

hermenêutica, ou seja, crítica e organização dos conteúdos presentes no material <strong>de</strong> pesquisa para o<br />

esclarecimento dos objetivos do presente estudo.<br />

RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

“A consciência do mundo e a consciência <strong>de</strong> si como ser inacabado<br />

necessariamente inscrevem o ser consciente <strong>de</strong> sua inconclusão num permanente<br />

movimento <strong>de</strong> busca” (Pedagogia da Autonomia, 1997)<br />

“Para a concepção crítica, o analfabetismo nem é uma „chaga‟, nem uma „erva<br />

daninha‟ a ser erradicada [...], mas uma das expressões concretas <strong>de</strong> uma<br />

realida<strong>de</strong> social injusta.” (Ação Cultural para a Liberda<strong>de</strong>, 1976)<br />

O tempo histórico que vivenciamos é marcado <strong>de</strong>masiadamente por uma lógica reducionista<br />

a qual impõe várias dicotomias, entre elas a separação sujeito-objeto. A compreensão da relação<br />

519


sujeito-objeto é a compreensão da forma como o homem se relaciona com as coisas, a natureza, a<br />

vida. A dialética que aparece no pensamento <strong>de</strong> Marx surge como uma tentativa <strong>de</strong> superação <strong>de</strong>sta<br />

dicotomia que a lógica formal não dá conta, e que seus antecessores a exemplo <strong>de</strong> Hegel não<br />

souberam compreen<strong>de</strong>r em sua totalida<strong>de</strong>, o que motivou Marx e Engels a <strong>de</strong>senvolver um método<br />

<strong>de</strong> interpretação e transformação da realida<strong>de</strong>, o método materialista histórico dialético (SCHMIDT,<br />

1977).<br />

Tal método tem um caráter material, pois os homens se organizam na socieda<strong>de</strong> para a<br />

produção e a reprodução da vida e um caráter histórico, pois <strong>de</strong>monstra como nos organizamos<br />

através da história, e ainda traz o componente dialético que encara a realida<strong>de</strong> como sendo repleta<br />

<strong>de</strong> contrarieda<strong>de</strong>s e conflitos e em constante movimento. Justamente por conceber este caráter<br />

contraditório e conflituoso da realida<strong>de</strong> esta lógica nos leva a movimentar o pensamento partindo do<br />

empírico (a realida<strong>de</strong> dada) e, por meio <strong>de</strong> abstrações (elaborações do pensamento, reflexões,<br />

teoria), chegar ao concreto: ―compreensão mais elaborada do que há <strong>de</strong> essencial no objeto, objeto<br />

síntese <strong>de</strong> múltiplas <strong>de</strong>terminações, concreto pensado‖ (PIRES, 1997, p. 86).<br />

Percebe-se, pois, que a lógica do método materialista histórico dialético engloba a lógica<br />

formal no intuito <strong>de</strong> realizar uma reflexão mais abrangente e concreta da realida<strong>de</strong> como um todo,<br />

abrindo-se inclusive a uma percepção das conexões entre socieda<strong>de</strong> e natureza a partir da<br />

centralida<strong>de</strong> (da <strong>de</strong>terminação em última instância) da produção material e dos processos<br />

econômicos (LEFF, 2010).<br />

Haja vistas as características da lógica do materialismo histórico dialético explicitadas<br />

sucintamente acima, infere-se seu enorme potencial para interpretar a realida<strong>de</strong> educacional e seu<br />

papel na transformação social, e mais especificamente o fazer da EA 66 . A utilização <strong>de</strong>ssa lógica se<br />

faz necessário, sobretudo, para compreen<strong>de</strong>r e tentar superar os dualismos envolvidos na questão<br />

ambiental, pois estamos fortemente marcados pelo paradigma cartesiano que fragmenta, hierarquiza<br />

e subtrai elementos que se articulam para formar a realida<strong>de</strong>. A dicotomia natureza/socieda<strong>de</strong>, a<br />

qual po<strong>de</strong> ser evi<strong>de</strong>nciada fortemente em nossas ações e práticas atuais, é <strong>de</strong>corrente primeiramente<br />

da concepção do sujeito como ser unicamente biológico ou social.<br />

Natureza e socieda<strong>de</strong> são duas categorias ontológicas que não são nem conceitos nem<br />

objetos <strong>de</strong> nenhuma ciência fundada. Estas categorias estão presentes tanto <strong>nas</strong> ciências biológicas<br />

quanto no materialismo histórico, e não po<strong>de</strong>m ser pensadas separadamente, pois: ―os recursos<br />

naturais e a força <strong>de</strong> trabalho não são entes naturais existentes in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do social, mas<br />

66<br />

Faz-se necessário enfatizar que a educação é necessariamente ambiental, entretanto utiliza-se aqui o<br />

adjetivo ―ambiental‖ para enfatizar o momento atual <strong>de</strong> eminência da <strong>de</strong>terioração das bases ecológicas que<br />

asseguram a sobrevivência humana e a questão da justiça social, assim como a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ter tais<br />

questões refletidas na práxis.<br />

520


são já o biológico <strong>de</strong>terminado pelas condições <strong>de</strong> produção e reprodução <strong>de</strong> uma dada estrutura<br />

social‖ (LEFF, 2010, p. 51).<br />

Esse reducionismo que por muito tempo esteve, e ainda se faz presente, refletido na práxis 67<br />

educacional, evi<strong>de</strong>ncia uma visão acrítica e ingênua da problemática ambiental e <strong>de</strong>sponta em<br />

práticas pedagógicas prescritivas e reprodutivas as quais se caracterizam como uma educação<br />

conservadora (comportamentalista), a qual tem por principal objetivo conscientizar os educandos<br />

das consequências das ações antrópicas danosas e os meios tecnológicos para superá-las<br />

(LOUREIRO, 2004).<br />

Os educadores ambientais que orientam suas práticas pelo método materialista histórico<br />

dialético procuram sempre evi<strong>de</strong>nciar as causas ao invés dos efeitos, ou seja, abandona aquele fazer<br />

centrado unicamente no fator comportamental e abrem-se para perspectiva dialética que revela o<br />

caráter mutável da realida<strong>de</strong> dada. Esse método nos ensina que a realida<strong>de</strong> não é fruto <strong>de</strong> um acaso,<br />

uma fatalida<strong>de</strong>, ela foi criada pelos homens, e, portanto, po<strong>de</strong> ser mudada pelos mesmos<br />

(SCHMIDT, 1977). O esclarecimento da possibilida<strong>de</strong>, e até necessida<strong>de</strong>, da mudança nos padrões<br />

vigentes é <strong>de</strong> fundamental importância no fazer da EA, visto que frequentemente somos abatidos<br />

pelo velho pensamento ―isso não muda‖.<br />

Segundo Layrargues (2006, p. 73), a EA é uma modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino que naturalmente esta<br />

ligada a duas funções básicas da educação: ―a função moral da socialização humana e a função<br />

i<strong>de</strong>ológica <strong>de</strong> reprodução das condições sociais‖. O autor pontua que a EA surge como resposta a<br />

uma crise ambiental caracterizada por muitos como consequência <strong>de</strong> um processo paulatino <strong>de</strong><br />

afastamento do ser humano da natureza, <strong>de</strong>correndo daí uma forte tendência do fazer da EA a<br />

enfatizar o componente da mudança cultural no sentido <strong>de</strong> orientar a construção <strong>de</strong>sse elo perdido.<br />

Essa ênfase <strong>de</strong>masiada no componente comportamental subtraiu historicamente a função<br />

político-i<strong>de</strong>ológica <strong>de</strong> reprodução das condições sociais e homogeneizou a EA como um meio,<br />

quiça o único, para mudança dos valores civilizatórios os quais são encaradas como causa da atual<br />

crise ambiental. Contudo, a crise ambiental abordada sob uma perspectiva sociológica permite a<br />

consi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> outro elemento, além da cultura, mediador da relação homem – natureza e <strong>de</strong><br />

fundamental importância para o <strong>de</strong>bate no campo ambiental, tal elemento é o trabalho.<br />

O trabalho é caracterizado, na concepção marxista, como sendo a forma como o homem<br />

realiza o intercâmbio orgânico com a natureza, sendo inseparável do ato <strong>de</strong> viver e da história do<br />

homem na terra. Quando o homem modifica a natureza através do trabalho, modifica ao mesmo<br />

67<br />

Vázquez (1990) <strong>de</strong>fine práxis como a ativida<strong>de</strong> prática <strong>de</strong> nossa espécie que, para constituir os agentes<br />

sociais, transforma o mundo natural-social, humanizando-o. Portanto, a práxis caracteriza-se pela ação <strong>de</strong> um<br />

ser humano sobre a matéria, objetivando a transformação do ―mundo exterior‖ e, nesse movimento, a<br />

transformação do ―mundo interior‖.<br />

521


tempo a sua própria natureza (SCHMIDT, 1977). Trabalho é o encontro da natureza com a própria<br />

natureza: da natureza interna a cada homem singular com a natureza externa comum a todos<br />

(PEDROSA, 2008, p 33-35). Tal encontro dá-se porque pelo trabalho, o homem modifica a<br />

realida<strong>de</strong> natural que lhe é dada e a transforma num domínio material próprio e comum aos <strong>de</strong>mais.<br />

Através do trabalho o homem se constitui como ser social em permanente construção.<br />

Esse aspecto do trabalho como mediador das relações do homem com o homem e do homem<br />

com a natureza, e a consequente divisão do trabalho <strong>de</strong>ntro da perspectiva do sistema produtivo é<br />

explicado por Rodrigues (2001, p.39): ―[...] a divisão social do trabalho não é uma simples divisão<br />

<strong>de</strong> tarefas [...] ela é também a expressão da existência <strong>de</strong> diferentes formas <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> no seio<br />

<strong>de</strong> cada socieda<strong>de</strong> num dado tempo histórico [...]‖. E levando tal reflexão para o campo da<br />

educação: ―[...] digam-me on<strong>de</strong> está o trabalho em um tipo <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong> e eu te direi on<strong>de</strong> está a<br />

educação‖ Mészáros (2008b, p.17).<br />

O ocultamento <strong>de</strong>ssa perspectiva transformadora e reveladora da realida<strong>de</strong> visualizada<br />

através do trabalho o qual constrói e reconstrói as socieda<strong>de</strong>s e a nós mesmos, acaba por dar<br />

margens ao entendimento que nossa realida<strong>de</strong> é exatamente a que está posta, logo o que se abre<br />

como possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ação para o futuro é a minimização, através da tecnologia e da<br />

conscientização, das consequências danosas das ações antrópicas.<br />

O entendimento <strong>de</strong> tais questões é <strong>de</strong> crucial importância no que concerne a problemática<br />

ambiental, pois a mesma é <strong>de</strong>terminada pela articulação <strong>de</strong> inúmeros interesses econômicos,<br />

i<strong>de</strong>ológicos, políticos e culturais inseridos em <strong>de</strong>terminado contexto social, político, espacial e<br />

temporal (QUINTAS, 2004).<br />

Apesar <strong>de</strong> tal concepção da problemática ambiental, são escassas as discussões no campo da<br />

EA sobre a categoria trabalho e suas implicações no campo da mudança societária, fato<br />

preocupante, pois como pontua Layrargues (2006, p. 74):<br />

A consi<strong>de</strong>ração da categoria ―trabalho‖ que fornece a concretu<strong>de</strong> necessária para<br />

que seja possível visualizar que os ―humanos‖ não são seres vivos genéricos e<br />

abstratos para serem qualificados linearmente numa relação ―humano-natureza‖<br />

como é tão frequentemente posta, mas sim preenchidos <strong>de</strong> valores, interesses,<br />

intencionalida<strong>de</strong>s e interferências físicas no mundo bastante diferenciadas.<br />

Ou seja, o encobrimento <strong>de</strong>ssa perspectiva transformadora da realida<strong>de</strong> revelada pela<br />

categoria trabalho na abordagem da crise ambiental e do fazer da EA, acaba por fortalecer a<br />

concepção <strong>de</strong> Feuerbach, filósofo contemporâneo a Marx, <strong>de</strong> um homem passivo, contemplativo<br />

522


que não concebe que a consciência é sempre consciência <strong>de</strong> um ser ativo, cujo modo <strong>de</strong> existir<br />

consiste precisamente em intervir transformadoramente na realida<strong>de</strong>. Bem como, tal encobrimento<br />

homogeneíza a responsabilida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> atores sociais diversos com diferenciados intercâmbios<br />

orgânicos e suas implicações na crise ambiental.<br />

Mészáros (2008b), ao <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r que a educação está necessariamente vinculada ao trabalho,<br />

esclarece que o <strong>de</strong>svinculamento <strong>de</strong>sses dois componentes é fruto <strong>de</strong> um sistema que se apoia<br />

justamente na divisão entre trabalho e capital e na exploração <strong>de</strong> massas, logo para o<br />

estabelecimento <strong>de</strong>sta situação advém a necessida<strong>de</strong> da educação para difundir os valores que<br />

permitam a manutenção do metabolismo <strong>de</strong>sse sistema. E nos traz exemplos, numa perspectiva<br />

histórica, <strong>de</strong> como as instituições <strong>de</strong> ensino tiveram que se adaptar às reconfigurações do capital. O<br />

caráter indissociável entre educação e trabalho é evi<strong>de</strong>nciado <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nossas socieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

classes, pois permanecer fazendo uma educação para classe trabalhadora em prol dos interesses da<br />

classe dominante/hegemônica é totalmente compatível e consoante com a lógica perversa do<br />

capital.<br />

Dentro <strong>de</strong>ssa lógica as formas <strong>de</strong> produção e reprodução do seu metabolismo são<br />

asseguradas por aparelhos repressivos e i<strong>de</strong>ológicos do Estado. É <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> a<strong>de</strong>rência o fato das<br />

instituições <strong>de</strong> ensino ser um dos mais formidáveis aparelhos i<strong>de</strong>ológicos das socieda<strong>de</strong>s atuais,<br />

haja vista que todas as pessoas, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da classe social a que pertencem, passam uma<br />

significativa parcela <strong>de</strong> suas vidas expostas aos efeitos (<strong>de</strong>) formadores das instituições formais <strong>de</strong><br />

ensino (ALTHUSSER, 1999).<br />

Diante <strong>de</strong>ssa concepção <strong>de</strong> escola como um forte aparelho i<strong>de</strong>ológico <strong>de</strong> Estado, é<br />

importante <strong>de</strong>stacar o papel da i<strong>de</strong>ologia no contexto <strong>de</strong> nossas socieda<strong>de</strong>s. Segundo Chauí (2001) a<br />

i<strong>de</strong>ologia, é um conjunto lógico, sistemático e coerente <strong>de</strong> representações (i<strong>de</strong>ias e valores) e <strong>de</strong><br />

normas ou regras (<strong>de</strong> conduta) que indicam e prescrevem aos membros da socieda<strong>de</strong> o que <strong>de</strong>vem<br />

pensar, valorizar, fazer e sentir. A função da i<strong>de</strong>ologia é, sobretudo, a <strong>de</strong> dar uma explicação<br />

racional para as diferenças (<strong>de</strong> classes, econômicas, políticas, culturais), criar uma sensação <strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> entre as pessoas e dar margens para o conformismo.<br />

As i<strong>de</strong>ias dominantes numa dada socieda<strong>de</strong> inserida em um <strong>de</strong>terminado espaço e tempo são<br />

os interesses da classe dominante que se mantém em tal posição utilizando-se da i<strong>de</strong>ologia. Então,<br />

em uma socieda<strong>de</strong> dividida em classes a educação dá-se <strong>de</strong> acordo com os interesses da classe<br />

dominante/hegemônica, logo cada um apren<strong>de</strong> aquilo que é permitido para sua classe social<br />

conhecer. Depreen<strong>de</strong>-se daí que a educação <strong>de</strong>ntro da lógica do capital também é uma mercadoria<br />

(HAUG, 1997), já tem um <strong>de</strong>stino estabelecido. O conhecimento como mercadoria torna-se partido,<br />

523


fragmentado, apren<strong>de</strong>-se ape<strong>nas</strong> a superficialida<strong>de</strong> a qual não permite visualizar as causas das<br />

contradições existentes, muito menos trabalhar no sentido <strong>de</strong> mudá-las.<br />

Para Mészáros (2008b) a escola <strong>de</strong>sempenha um importante papel no sistema global <strong>de</strong><br />

internalização, mas não representa a força i<strong>de</strong>ológica primária que consolida o sistema do capital;<br />

tampouco ela é capaz por si só <strong>de</strong> fornecer uma alternativa emancipatória radical. Deduze-se então,<br />

que apostar todas as fichas num caminho viciado é ingênuo e não nos conduz a mudanças<br />

significativas, essenciais.<br />

O referido autor <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que a educação é um processo contínuo, permanente e que vai além<br />

das instituições formais <strong>de</strong> ensino e nos esclarece parafraseando Paracelso: ―A aprendizagem é a<br />

nossa própria vida, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a juventu<strong>de</strong> até a velhice, <strong>de</strong> fato até quase a morte; ninguém passa sequer<br />

<strong>de</strong>z horas sem nada apren<strong>de</strong>r‖. Tal frase abre a percepção para o fato do processo educativo não se<br />

restringir ao aprendizado individualizado dos conteúdos, nem tampouco à educação formal. Pois,<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ssa perspectiva os homens educam uns aos outros, na relação entre eles e entre eles e o<br />

mundo.<br />

Não obstante, vale ressaltar que apesar <strong>de</strong>sse padrão <strong>de</strong> reprodução dos interesses da classe<br />

dominante na educação, existem propostas que buscam fugir <strong>de</strong>ssa lógica. É histórico o modo como<br />

a socieda<strong>de</strong> civil vem se articulando em torno <strong>de</strong> questões tratadas em esfera global e as conquistas<br />

alcançadas e pressões empreendidas. Tais propostas tem que ser propagadas e difundidas por<br />

justamente ser uma alternativa para se trabalhar fora da lógica do capital, pois como já foi<br />

comentado o espaço formal da educação não po<strong>de</strong> ser a única aposta da EA.<br />

Contudo, ainda fica o questionamento <strong>de</strong> como realizar a tarefa histórica <strong>de</strong> nosso tempo:<br />

―romper com a lógica do capital no interesse da sobrevivência humana‖? (MÉSZÁROS, 2008b, p.<br />

45). Marx refere-se à ―associação dos indivíduos livres‖ como a verda<strong>de</strong>ira solução do antagonismo<br />

impostos pelo capital (SCHMIDT, 1977). Posição também <strong>de</strong>fendida por Mészáros ao explicar o<br />

processo <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> consciência do ser humano que é por sua própria natureza individual e<br />

coletivo. A tomada <strong>de</strong> consciência ai vem necessariamente acompanhada <strong>de</strong> uma ação<br />

transformadora.<br />

Paulo Freire (1996, p. 113-114) em sua obra Pedagogia da Autonomia também nos diz um<br />

pouco a esse respeito:<br />

O que quero repetir, com força, é que nada justifica a minimização dos seres<br />

humanos, no caso das maiorias compostas <strong>de</strong> minorias que não perceberam ainda<br />

que juntas seriam a maioria. Nada, o avanço e/ou da tecnologia, po<strong>de</strong> legitimar<br />

uma ―or<strong>de</strong>m‖ <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ira em que só as minorias do po<strong>de</strong>r esbanjam e gozam<br />

524


enquanto às maiorias em dificulda<strong>de</strong>s até para sobreviver se diz que a realida<strong>de</strong> é<br />

assim mesmo que sua fome é uma fatalida<strong>de</strong> do fim do século. Não junto a minha<br />

voz à dos que, falando em paz, pe<strong>de</strong>m aos oprimidos, aos esfarrapados do mundo, a<br />

sua resignação. Minha voz tem outra semântica, tem outra música. Falo da<br />

resistência, da indignação, da ‗justa ira‘ dos traídos e dos enganados. Do seu direito<br />

e do seu <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> rebelar-se contra as transgressões éticas <strong>de</strong> que são vítimas cada<br />

vez mais sofridas.<br />

À luz <strong>de</strong>sta pertinente argumentação, confirma-se mais uma vez que o interesse do Capital<br />

não é transformar o mundo, mas justamente mantê-lo como está a qualquer custo, negligenciando<br />

limites biogeofísicos impostos pela natureza ao seu funcionamento e passando por cima até <strong>de</strong><br />

direitos humanos mais básicos como alimentação e moradia dignos. Diante <strong>de</strong> tal fato é mister a<br />

construção <strong>de</strong> outra racionalida<strong>de</strong> social que sai da lógica perversa do capital, que não esteja<br />

fundada em suas bases, que vá além e se afirme <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> outro paradigma.<br />

Sendo assim, a transformação da racionalida<strong>de</strong> produtiva que <strong>de</strong>grada o ambiente requer<br />

uma análise totalizadora da realida<strong>de</strong>, bem como a elaboração <strong>de</strong> estratégias conceituais e a<br />

produção <strong>de</strong> trabalho teórico para gerar os instrumentos práticos e teóricos da gestão ambiental do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento inserida num contexto <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> uma racionalida<strong>de</strong> ambiental a qual põe<br />

em análise os próprios conceitos <strong>de</strong> ―meio‖ e <strong>de</strong> ―ambiente‖, e propõe um enriquecimento do<br />

conceito <strong>de</strong> valor econômico, a construção <strong>de</strong> novos conhecimentos e saberes embasados na<br />

diversida<strong>de</strong>, na alterida<strong>de</strong>, na ética e no reconhecimento das contradições e estruturas <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r.<br />

Bem como, requer o rompimento das formas dominantes <strong>de</strong> produção que obstaculizam a<br />

reorientação das práticas produtivas para alcançar um <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, igualitário e<br />

justo (LEFF, 2007).<br />

Diante <strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> outra racionalida<strong>de</strong> social e econômica, a EA<br />

adquiriu diferentes i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s que apontam para iniciativas que buscam superar a chamada<br />

educação conservadora ou comportamentalista (LOUREIRO, 2004). Entre elas está a chamada<br />

educação ambiental crítica, que no presente estudo também é entendida como transformadora e<br />

emancipatória .<br />

Guimarães (2004) resgata uma história <strong>de</strong>verás oportuna para esclarecer a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

uma educação crítica: a do Barão <strong>de</strong> Münchhausen, o dito barão para sair do atoleiro no qual<br />

afundava buscou puxar para cima os seus próprios cabelos. Ou seja, <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> fora a perspectiva<br />

crítica da práxis educacional é reafirmar paradigmas dominantes, compartimentalizar a realida<strong>de</strong> e<br />

manter o status quo. No entendimento <strong>de</strong> Freire (1979), a consciência crítica comporta:<br />

525


1. Anseio <strong>de</strong> profundida<strong>de</strong> na análise <strong>de</strong> problemas. Não se satisfaz com as<br />

aparências. Po<strong>de</strong>-se reconhecer <strong>de</strong>sprovida <strong>de</strong> meios para a análise do problema; 2.<br />

Reconhece que a realida<strong>de</strong> é mutável; 3. Substitui situações ou explicações<br />

mágicas por princípios autênticos <strong>de</strong> causalida<strong>de</strong>; 4. Procura verificar ou testar as<br />

<strong>de</strong>scobertas. Está sempre disposta às revisões; 5. Ao se <strong>de</strong>parar com um fato, faz o<br />

possível para livrar-se <strong>de</strong> preconceitos. Não somente na captação, mas também na<br />

análise e na resposta; 6. Repele posições quietistas. É intensamente inquieta.<br />

Torna-se mais crítica quanto mais reconhece em sua quietu<strong>de</strong> a inquietu<strong>de</strong>, e vice-<br />

versa. Sabe que é na medida que é e não pelo que parece. O essencial para parecer<br />

algo é ser algo; é a base da autenticida<strong>de</strong>; 7. Repele toda transferência <strong>de</strong><br />

responsabilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> e aceita a <strong>de</strong>legação das mesmas; 8. É indagadora,<br />

investiga, força, choca; 9. Ama o diálogo, nutre-se <strong>de</strong>le; 10. Face ao novo, não<br />

repele o velho por ser velho, nem aceita o novo por ser novo, mas aceita-os na<br />

medida em que são válidos.<br />

Diante das reflexões feitas, infere-se o imperativo <strong>de</strong> superar a concepção naturalista da EA<br />

e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> incorporar conceitos como risco, conflito, vulnerabilida<strong>de</strong>, e justiça<br />

socioambiental. Bem como reconhecer a importância da categoria trabalho na transformação social,<br />

pois o mesmo é a nossa relação com a natureza.<br />

Dentro <strong>de</strong>sse contexto <strong>de</strong> conhecimento, saber e transformação, vale chamar atenção para o<br />

saber ambiental (LEFF, 2009) produzido numa relação entre teoria e práxis, trazendo em seu seio<br />

um conceito <strong>de</strong> ambiente como uma falta insaciável <strong>de</strong> conhecimento on<strong>de</strong> se aninha o <strong>de</strong>sejo que<br />

gera uma tendência interminável para produção <strong>de</strong> conhecimentos orientados para construção <strong>de</strong><br />

uma nova racionalida<strong>de</strong> social, e que não só gera um conhecimento científico mais objetivo e<br />

abrangente, mas também produz novas significações sociais, novas formas <strong>de</strong> subjetivida<strong>de</strong> e <strong>de</strong><br />

posicionamento diante do mundo.<br />

Vale salientar também que o saber ambiental transcen<strong>de</strong> o campo da racionalida<strong>de</strong> científica<br />

e das objetivida<strong>de</strong>s do conhecimento. Este saber que se afina com a incerteza e a <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m está se<br />

conformando <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma nova racionalida<strong>de</strong> teórica, don<strong>de</strong> emergem novas estratégias<br />

conceituais (LEFF, 2009).<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

A EA que é essencialmente educação tem um forte potencial e, quiçá, <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> revelar a<br />

necessida<strong>de</strong> e possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mudança do sociometabolismo do capital <strong>de</strong>spertando ―uma<br />

526


consciência crítica inflexível da inter-relação cumulativa, em lugar <strong>de</strong> buscar garantias<br />

reconfortantes no mundo da normalida<strong>de</strong> ilusória até que a casa <strong>de</strong>sabe sobre nossas cabeças‖<br />

(MÉSZÁROS, 2008).<br />

A construção <strong>de</strong>ssa consciência começa por eliminar as dicotomias que envolvem a questão<br />

ambiental. Uma forma prática <strong>de</strong> fazermos isso no nosso cotidiano <strong>de</strong> educadores ambientais é<br />

sempre fazer o exercício <strong>de</strong> procurar evi<strong>de</strong>nciar as causas primeiras <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada problemática<br />

ambiental, assim como evi<strong>de</strong>nciar quem são os atores envolvidos, porque eles estão envolvidos, <strong>de</strong><br />

que forma, a quanto tempo, por quanto tempo, para quê, para quem. Ou seja, a questão ambiental<br />

preconiza uma problematização crítica da realida<strong>de</strong> que é contrária à ênfase <strong>de</strong>masiada dada ao<br />

componente comportamental da educação e à visão romântica e unilateral da natureza.<br />

Por fim, reflexionamos <strong>de</strong>ntro do contexto <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> uma racionalida<strong>de</strong> ambiental<br />

que a EA necessita trabalhar no sentido <strong>de</strong> concepção <strong>de</strong> novos valores e práticas, que vá além da<br />

lógica do capital. Em EA precisa-se ousar acreditar e, sobretudo, partir <strong>de</strong> uma certeza: a realida<strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong> ser mudada!<br />

REFERÊNCIAS<br />

ALTHUSSER, L. Sobre a Reprodução.Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.<br />

CHAUÍ, M. O que é i<strong>de</strong>ologia? São Paulo: Brasiliense, 2001.<br />

FREIRE, P. Educação e Mudança. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Paz e Terra, 1979.<br />

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo:Paz e<br />

Terra, 1996.<br />

GARCIA, M.C. As Mercadorias como Objetos <strong>de</strong> Desejo: Insanida<strong>de</strong> Capitalista. São Paulo:<br />

EDICON, 2006<br />

GUIMARÃES. M. Educação Ambiental Crítica. In: I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s da educação ambiental brasileira /<br />

Ministério do Meio Ambiente. Diretoria <strong>de</strong> Educação Ambiental; Philippe Pomier Layrargues<br />

(coord.). – Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2004.<br />

HAUG, W. F. Crítica da Estética da Mercadoria. 1. ed. São Paulo: UNESP, 1997<br />

LAYRARGUES, P. P.; CASTRO, R. S. (Org). Socieda<strong>de</strong> e meio ambiente: a educação ambiental<br />

em <strong>de</strong>bate. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2002. p. 87-155.<br />

LEFF, E. Epistemologia ambiental. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2007.<br />

_______. Saber Ambiental. 7ª ed.Petrópolis: Vozes, 2009.<br />

527


_______. Epistemologia ambiental. Tradução <strong>de</strong> Sandra Valenzuela; Revisão técnica <strong>de</strong> Paulo<br />

Freire Vieira, 5. ed. São Paulo: Cortez, 2010.<br />

LOUREIRO, C. Educação ambiental e gestão participativa na explicitação e resolução <strong>de</strong><br />

conflitos. Gestão em Ação, Salvador, v.7, n.1, jan./abr. 2004<br />

MÉSZAROS, I. O <strong>de</strong>safio e o fardo do tempo histórico. Conferência <strong>de</strong> lançamento do livro O<br />

Desafio e o Fardo do Tempo Histórico (Boitempo), 2008ª<br />

_______. A crise estrutural do capital. Dossiê elaborado para palestra <strong>de</strong> lançamento do seu livro<br />

Além do capital, São Paulo, 1998.<br />

_______. A Educação para Além do Capital. Trad.. Isa Tavares. 2 ed.- São Paulo: Boitempo,<br />

2008b.<br />

PEDROSA, J. G. A. Natureza, o Capital e o Trabalho: Educação Ambiental e crítica social.<br />

Pesquisa em Educação Ambiental, vol. 3, n. 2 – pp. 25-48, 2008<br />

PIRES, M. F. C. Education and the historical and dialectical materialism. Interface —<br />

Comunicação, Saú<strong>de</strong>, Educação, v.1, n.1, 1997.<br />

QUINTAS, J.S. Educação no processo <strong>de</strong> gestão ambiental: uma proposta <strong>de</strong> educação ambiental<br />

transformadora e emancipatória. In: LAYRARGUES, P. (coord.). I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s da Educação<br />

Ambiental Brasileira. Brasília: MMA, 2004. p.115-140.<br />

RODRIGUES, A. T. Sociologia da Educação. Rio <strong>de</strong> Janeiro: DP&A, 2001.<br />

RUIZ, J.A. Metodologia Científica: guia para eficiência nos estudos. 6 ed.-5 reimp.- São Paulo:<br />

Atlas, 2011.<br />

SCHMIDT, A. El Concepto <strong>de</strong> Naturaleza en Marx. Espanha: Siglo XXI Editores, S.A.<br />

VÁZQUEZ, A. S. Filosofia da práxis. 4. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Paz e Terra, 1990.<br />

528


RESUMO<br />

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA RACIONALIDADE<br />

Dinabel Alves Cirne VILAS-BOAS<br />

Faculda<strong>de</strong> Frassinetti do Recife – FAFIRE<br />

dinavilasboas@gmail.com<br />

Esta investigação tem como propósito discutir sobre a educação ambiental e a construção <strong>de</strong> valores<br />

no cenário <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo estabelecido <strong>nas</strong> relações <strong>de</strong> produção, lucro, exploração da natureza e<br />

provocar a reflexão acerca da importância das instituições educativas para a construção <strong>de</strong> uma<br />

nova cultura e reorientação das relações <strong>de</strong> consumo. A partir <strong>de</strong> propostas pedagógicas pautadas na<br />

Educação Ambiental, os processos formativos po<strong>de</strong>rão contribuir com experiências catalisadoras<br />

para transformação dos valores e promover a adoção <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> respeito à vida que garantam a<br />

sustentabilida<strong>de</strong> socioambiental. A Educação Ambiental é uma educação política com envergadura<br />

para respon<strong>de</strong>r a evolução coletiva da socieda<strong>de</strong>, haja vista sua capacida<strong>de</strong> em catalisar processos<br />

formativos transformadores e contribuir para adoção <strong>de</strong> novos estilos <strong>de</strong> vida, pautados no respeito<br />

a vida, na solidarieda<strong>de</strong>, justiça, respeito, cuidado e sustentabilida<strong>de</strong> socioambiental. Nessa<br />

perspectiva é necessário um novo olhar sobre a educação, entendida como espaço essencial para<br />

construção <strong>de</strong> uma ética sustentável e para provocar inquietações e questionamentos acerca dos<br />

valores impostos pela socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> consumo, avançando para além do crescimento econômico,<br />

estabelecendo o compromisso com a construção <strong>de</strong> uma nova racionalida<strong>de</strong> e espiritualização<br />

humana.<br />

Palavras Chave: Sustentabilida<strong>de</strong>. Educação. Consumo.<br />

ABSTRACT<br />

This survey´s proposal is discussing about the environmental education and the values construction<br />

in a scenario based on production relations, profit and nature exploration and also to cause the<br />

reflection about the educational institutions in or<strong>de</strong>r to build a new culture and reorientation of the<br />

529


consume relations. As from pedagogic proposals based on environmental education, the formal<br />

processes may contribute with catalyzing experiences to transform values and promote the adoption<br />

of life-respecting attitu<strong>de</strong>s that may guarantee the sustaining base of the natural goods. The<br />

environmental education is part of a political education, with capacity to respond at the social<br />

collective evolution, consi<strong>de</strong>ring its capacity of catalyzing changing formal processes and<br />

contribute to the adoption of new life styles, based on life respect, solidarity, justice, respect, care<br />

and, social and environmental sustainability. This perspective requires a new look of the education,<br />

as an essential place to construct a sustainable ethic to provoke inquiries about the values imposed<br />

by the consume society and go beyond the economic <strong>de</strong>velopment and have the effective<br />

compromise on the construction of a new rationality and human spirituality.<br />

Keywords: Sustainability. Ethics. Consume<br />

INTRODUÇÃO<br />

É possível transformar as relações mantidas com o meio ambiente? Que papel as instituições<br />

<strong>de</strong> educação po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>sempenhar quanto às questões socioambientais? Como tornar possível uma<br />

relação <strong>de</strong> respeito com o Meio Ambiente, a Terra, e os seres vivos? Como viabilizar uma mudança<br />

<strong>de</strong> atitu<strong>de</strong> frente a si mesmo, ao outro e a vida?<br />

Respon<strong>de</strong>r questões <strong>de</strong>ssa natureza, consi<strong>de</strong>rando o cenário no qual a socieda<strong>de</strong> está<br />

inserida, encerra gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>safios.<br />

Os processos vivenciados ao longo da história da humanida<strong>de</strong> e a pressão exercida para<br />

aten<strong>de</strong>r as exigências do atual mo<strong>de</strong>lo econômico influenciam nossas ações e comportamentos,<br />

sendo necessário rever os valores e conceitos que vem se estabelecendo <strong>de</strong>ntro e fora das<br />

instituições <strong>de</strong> ensino. Somente por meio <strong>de</strong> uma educação crítica será possível a mudança <strong>de</strong><br />

percepção e dos hábitos <strong>de</strong> consumo, a construção <strong>de</strong> valores éticos e a autonomia <strong>nas</strong> escolhas <strong>de</strong><br />

padrões mais sustentáveis.<br />

No entanto, requer o investimento em políticas públicas e propostas educativas que<br />

garantam uma formação cidadã e promovam a atitu<strong>de</strong> ética e política, que para Boff (2000) implica<br />

em assumir com responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões, novas posturas e valores voltados para a melhoria da<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<br />

A emergência posta a humanida<strong>de</strong> exige alcançar relações sustentáveis e estabelecer novas<br />

relações <strong>de</strong> consumo. Trata-se da reorientação do comportamento antiecológico, que para<br />

530


Velázquez (2012) é condição essencial a ser trabalhada nos ambientes educativos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os<br />

primeiros anos escolares, resultando em novos contextos <strong>de</strong> interação entre o ser humano e as<br />

questões socioambientais. Portanto, o tipo <strong>de</strong> relação mantida com o meio e com o outro é que<br />

po<strong>de</strong>rá ou não garantir a sustentabilida<strong>de</strong> do planeta e uma razoável qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida para todos.<br />

A Educação Ambiental assume papel <strong>de</strong> fundamental importância para a formação dos<br />

futuros gestores das organizações huma<strong>nas</strong> no planeta. Entretanto, para o aprofundamento dos<br />

processos educativos é fundamental a construção <strong>de</strong> nova racionalida<strong>de</strong> ambiental que possibilite<br />

modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> relações entre o ser humano e a natureza sob o prisma <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo ético, centrado<br />

no respeito e no direito à vida. O <strong>de</strong>safio consiste em concretizar os princípios da educação<br />

ambiental, num mundo em que as mudanças <strong>de</strong> comportamento sociais indicam uma inversão <strong>de</strong><br />

valores e que a educação ainda reforça princípios redutores e fragmentadores dos processos <strong>de</strong><br />

aprendizagem e conhecimento.<br />

Este artigo aborda sobre os <strong>de</strong>safios para a construção <strong>de</strong> uma nova cultura, pautada em uma<br />

nova racionalida<strong>de</strong>, na responsabilida<strong>de</strong> socioambiental em um cenário <strong>de</strong> crise <strong>de</strong> valores, <strong>de</strong><br />

relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e estímulos às relações do ter, e apresenta a capacida<strong>de</strong> dos ambientes educativos<br />

para efetivamente respon<strong>de</strong>r por novos padrões, já que trata-se <strong>de</strong> uma organização capaz <strong>de</strong><br />

produzir e instrumentalizar os estudantes para a sustentabilida<strong>de</strong> ecológica proposta pela Educação<br />

Ambiental.<br />

DA VISÃO ANTROPOCÊNTRICA A RE-CONEXÃO COM O MEIO<br />

Na visão antropocêntrica, o ser humano é visto como o centro <strong>de</strong> todas as coisas, haja vista<br />

sua racionalida<strong>de</strong>, nesse sentido é contraditório que o mesmo não assuma a <strong>de</strong>vida responsabilida<strong>de</strong><br />

sobre as <strong>de</strong>mais formas <strong>de</strong> vida, e com a conservação das espécies que sustentam a própria vida<br />

humana.<br />

Essa visão do ser humano como centro <strong>de</strong> tudo e a natureza a seu dispor foi assimilada <strong>de</strong><br />

forma <strong>de</strong>sconectada das relações entre todos os seres vivos e os bens naturais, bem como, da<br />

necessária responsabilida<strong>de</strong> com a vida, inclusive produzindo uma percepção que <strong>de</strong>sconecta o<br />

próprio ser humano da teia da vida, como se ele não fosse um ser natural.<br />

O sentido da lógica Aristotélica da racionalida<strong>de</strong> humana diferencia os seres humanos e as<br />

outras espécies, nesta concepção o ser humano tem a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se relacionar com as diversas<br />

formas <strong>de</strong> vida e com o transcen<strong>de</strong>ntal, o que <strong>de</strong>veria ter implicado, na responsabilida<strong>de</strong> e<br />

compromisso com a manutenção da vida planetária.<br />

531


Essa cisão trouxe como <strong>de</strong>safio um conjunto <strong>de</strong> problemas socioambientais que não po<strong>de</strong>m<br />

ser vistos <strong>de</strong> maneira isolada, nem resolvidos sem consi<strong>de</strong>rar a integração entre os sistemas vivos,<br />

as estruturas materiais e as relações biológicas, químicas, físicas, sociais e culturais que influenciam<br />

e são influenciadas por este conjunto.<br />

Dias (2002) <strong>de</strong>staca que o cotidiano tem levado a socieda<strong>de</strong> a esquecer rapidamente sua<br />

ligação com a natureza, principalmente nos gran<strong>de</strong>s centros urbanos, on<strong>de</strong> o consumo rápido é<br />

estimulado o tempo todo e os resíduos gerados por este consumo ficam a distância das pessoas, o<br />

que também distancia a possibilida<strong>de</strong> em estabelecer conexões entre os padrões <strong>de</strong> organização<br />

humana e seus reflexos para o meio.<br />

O consumo individualista, segundo McCracken (2003), se estabeleceu no reinado <strong>de</strong><br />

Elizabeth, com a introdução da moda, o consumo extravagante e a competição por status, assim é<br />

criado o espaço para o crescimento do mercado e do consumo e a partir do século XVIII outros<br />

grupos e classes sociais passam a participar do consumo no mundo oci<strong>de</strong>ntal, sendo incorporado<br />

<strong>de</strong>finitivamente pela socieda<strong>de</strong> no século XX, agregando características que se mantém até os dias<br />

atuais.<br />

Na mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, as empresas e corporações estruturaram-se na lógica da produção e lucro<br />

cuja meta é a rentabilida<strong>de</strong> crescente e o progresso sem limite, estimulando o consumo em<br />

atendimento ao interesse da manutenção do sistema, distanciando o consumidor cada vez mais das<br />

suas reais necessida<strong>de</strong>s. Desse modo, o consumo se estabelece como uma construção cultural e<br />

social e assume valor simbólico na vida das pessoas. Para Belk (1998) o significado atribuído ao<br />

objeto consumido reflete a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> da socieda<strong>de</strong>, é e por meio <strong>de</strong> suas posses que os<br />

consumidores expressam e comunicam sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>.<br />

Nessas relações <strong>de</strong> consumo, a base se sustentação da vida acaba sofrendo uma gran<strong>de</strong><br />

pressão, já que a socieda<strong>de</strong> industrial da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> por meio do estímulo ao consumo<br />

<strong>de</strong>senfreado tem explorado os bens naturais em proporções maiores do que a capacida<strong>de</strong> do planeta<br />

em repor esses bens. Este cenário requer uma nova ótica em que o uso da natureza ocorra <strong>de</strong><br />

maneira pacífica como propõe Velázquez (2012), avançando para um comportamento em<br />

consonância com a ecologia e a sustentabilida<strong>de</strong>.<br />

Desse conjunto <strong>de</strong> problemas socioambientais que se agravam a cada dia e a <strong>de</strong>sconexão dos<br />

impactos socioambientais presentes na dimensão do consumo é que emerge necessida<strong>de</strong> da<br />

Educação Ambiental como possibilida<strong>de</strong> para reorientação humana na construção <strong>de</strong> novos valores<br />

e para uma educação voltada para o consumo inteligente.<br />

Para Morin (2001), o ambiente social do ser humano global forma uma sócio-organização e<br />

por meio <strong>de</strong>sta constitui a eco-organização humana. Essas interações espontâneas entre indivíduos e<br />

532


grupos, envolve liberda<strong>de</strong>, criativida<strong>de</strong>, dominação, exploração, compreen<strong>de</strong>ndo uma diversida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> ambivalências.<br />

No entanto, esses arranjos <strong>de</strong> interações coletivas precisam ser estruturados em uma nova<br />

lógica <strong>de</strong> respeito e colaboração à capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> autosustentação da natureza, e <strong>de</strong> maneira<br />

inteligente garantir a satisfação das necessida<strong>de</strong>s huma<strong>nas</strong> sem o comprometimento do equilíbrio<br />

dinâmico da natureza da qual somos parte e participamos.<br />

CAPRA (1996), ao discutir sobre a necessida<strong>de</strong> da mudança <strong>de</strong> percepção e <strong>de</strong> valores,<br />

afirma que esta mudança na organização social é inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da re-conexão planetária, possível<br />

por meio <strong>de</strong> uma re-educação fundamentada nos princípios básicos da ecologia, <strong>de</strong>nominada por ele<br />

<strong>de</strong> eco-alfabetização.<br />

As percepções são resultado das construções estruturadas a partir da reflexão, reconstrução e<br />

reedição das i<strong>de</strong>ias e modos <strong>de</strong> agir e viver no mundo, <strong>de</strong>stacando, portanto, a importância da<br />

educação ambiental no estímulo <strong>de</strong> processos reflexivos, criativos e críticos que favoreça a<br />

percepção sobre os efeitos em re<strong>de</strong> das atitu<strong>de</strong>s huma<strong>nas</strong> e estimule a busca individual e coletiva da<br />

sustentabilida<strong>de</strong> socioambiental.<br />

É no <strong>de</strong>senhar das propostas <strong>de</strong> Educação Ambiental que as instituições educativas tornam-<br />

se espaços <strong>de</strong> integração e tessitura para uma nova racionalida<strong>de</strong> possível <strong>de</strong> ser estruturada na<br />

oferta <strong>de</strong> processos formativos que atendam a necessida<strong>de</strong> em humanizar, instrumentalizar e<br />

espiritualizar os seres humanos.<br />

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO<br />

As instituições <strong>de</strong> ensino superior ao mesmo tempo em que são conservadoras e integradoras<br />

do conhecimento também são regeneradoras e produtoras <strong>de</strong> novos conhecimentos, percepções e<br />

saberes e <strong>de</strong>vem, portanto, ser o ambiente alimentador <strong>de</strong> novas i<strong>de</strong>ias que respondam às <strong>de</strong>mandas<br />

da socieda<strong>de</strong> pós-mo<strong>de</strong>rna e com capacida<strong>de</strong> em contribuir para construção <strong>de</strong> uma nova ética.<br />

Para Morin (2001) é necessária uma educação voltada para cidadania planetária, para<br />

construção <strong>de</strong> uma ética antropológica, promotora do respeito e valorização da vida. No entanto<br />

requer repensar os ambientes educativos e suas propostas pedagógicas. E a partir <strong>de</strong> novos<br />

contextos pedagógicos recriar o <strong>de</strong>stino humano, nutrir um conjunto <strong>de</strong> competências para a<br />

convivência com a própria espécie, com a coletivida<strong>de</strong> dos seres vivos e do meio.<br />

A Gestão coletiva e criativa das Instituições <strong>de</strong> Ensino Superior e das escolas, a<br />

oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> experiências concretas <strong>de</strong> respeito aos ciclos da natureza e das relações sociais,<br />

po<strong>de</strong>m se tornar excelentes espaços <strong>de</strong> ampliação da capacida<strong>de</strong> autoformadora e<br />

533


autotransformadora como propõe Maturana e Varela (2001) ao referir a dinâmica autopoiética dos<br />

processos <strong>de</strong> formação que se manifestam a partir do acoplamento entre o indivíduo e o meio no<br />

qual está inserido.<br />

Para Capra (2005) essas experiências são essenciais para alcançar a sustentabilida<strong>de</strong> nos<br />

ecossistemas e na socieda<strong>de</strong> humana, concretizada somente por meio da teia <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s autogeradoras<br />

construídas <strong>nas</strong> dimensões biológica, cognitiva e social.<br />

Nesse sentido, as relações construídas e as aprendizagens promovidas no processo formativo<br />

po<strong>de</strong>m significar espaços fundamentais para construção <strong>de</strong> uma nova ética estabelecida para além<br />

dos caminhos convencionais e que essencialmente consi<strong>de</strong>re a existência <strong>de</strong> um conjunto<br />

possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> enriquecimento e valorização <strong>de</strong> novos processos que possam incluir a<br />

criativida<strong>de</strong> e a incerteza, limites e potencialida<strong>de</strong>s, unindo conceitos divergentes, tecendo as re<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> relações entre os diferentes saberes e as múltiplas realida<strong>de</strong>s.<br />

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO PROPOSTA EDUCATIVA<br />

A Educação Ambiental <strong>de</strong>ve incorporar a complexida<strong>de</strong> da problemática ambiental, em suas<br />

dimensões política, ética e cultural. Implica na capacida<strong>de</strong> em ofertar espaços <strong>de</strong> aprendizagens,<br />

criativida<strong>de</strong> e novas concepções e práticas <strong>de</strong> vida que proporcionem a clara noção da<br />

responsabilida<strong>de</strong> humana com a sustentabilida<strong>de</strong> socioambiental.<br />

De acordo com Carvalho (2002) a Educação Ambiental <strong>de</strong>ve estar focada na participação<br />

política para transformação social, possibilitando assim, a construção e reelaboração <strong>de</strong> valores<br />

éticos entre sujeitos e entres estes e o ambiente.<br />

As modificações ambientais impostas pelos atuais padrões <strong>de</strong> consumo e <strong>de</strong> produção das<br />

socieda<strong>de</strong>s alteraram os ambientes naturais e consequentemente a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida. Os padrões <strong>de</strong><br />

consumo po<strong>de</strong>m aproximar ou distanciar pessoas, alterar os ciclos naturais e condições <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,<br />

bem como, alimentar sonhos, produzir aprendizagens <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> e respeito, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong><br />

como estas relações são construídas e com quais finalida<strong>de</strong>s.<br />

Segundo Capra (1996) somente uma nova percepção da realida<strong>de</strong>, uma visão da vida como<br />

uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> relações será capaz <strong>de</strong> revitalizar o mundo. Dessa maneira, po<strong>de</strong>m ser criadas novas<br />

formas <strong>de</strong> pensar, agir e viver no mundo, seja <strong>nas</strong> comunida<strong>de</strong>s educativas, política, comercial,<br />

industrial, nos diversos ambientes nos quais os seres humanos se organizam.<br />

Alcançar a sustentabilida<strong>de</strong> é almejar a continuida<strong>de</strong> dos segmentos para além das<br />

necessida<strong>de</strong>s individuais, pensar coletivamente e ter em mente a garantia <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> para as<br />

gerações futuras. Requer o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ações que possibilitem uma educação para a<br />

534


edução do consumo <strong>de</strong> materiais, energia, bens e serviços e que resultem no comprometimento<br />

com a qualida<strong>de</strong> ambiental, redução da emissão <strong>de</strong> substâncias tóxicas, intensificação da<br />

reciclagem, reutilização e consumo inteligente, maximização do uso sustentável <strong>de</strong> recursos<br />

renováveis, prolongamento da vida útil dos produtos e agregação <strong>de</strong> valor aos bens e serviços.<br />

A Educação Ambiental configura-se como ambiente para incorporação <strong>de</strong> uma nova cultura<br />

e o estudo <strong>de</strong> alternativas e possibilida<strong>de</strong>s para relações sustentáveis capazes <strong>de</strong> refletir em maior<br />

eficiência no consumo e <strong>de</strong>scarte dos bens utilizados no cotidiano, condição essencial para alcançar<br />

a sustentabilida<strong>de</strong>. No entanto, não po<strong>de</strong> se resumir às questões relacionadas ao consumo e <strong>de</strong>scarte<br />

dos bens naturais e materiais, mas também <strong>nas</strong> relações interpessoais e a sustentabilida<strong>de</strong> das re<strong>de</strong>s<br />

relacionais.<br />

Nesse sentido a Educação Ambiental é promotora <strong>de</strong> um ambiente <strong>de</strong> aprendizagens <strong>de</strong><br />

práticas sustentáveis, possibilitando a construção do senso da responsabilida<strong>de</strong> com a vida, com as<br />

pessoas, com os bens naturais e materiais utilizados no cotidiano e sua <strong>de</strong>volução ao meio, e ainda,<br />

o empo<strong>de</strong>ramento em replicar as aprendizagens em outros ambientes que compõe a re<strong>de</strong> das<br />

relações huma<strong>nas</strong>.<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

O ser humano interage na dinâmica social, que comporta as interconexões políticas,<br />

econômicas, pedagógicas, técnicas, artísticas, científicas, religiosas, espirituais e afetivas,<br />

participando na construção do meio urbano e ambiental, cujas intervenções po<strong>de</strong>m ocorrer <strong>de</strong> forma<br />

positiva ou não, <strong>de</strong>ssa maneira é que se tecem nossos modos <strong>de</strong> ser e viver no mundo, implicando<br />

na incorporação <strong>de</strong> novos valores e percepções mais integradas e transcen<strong>de</strong>ntais para superação<br />

dos <strong>de</strong>safios postos na mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>.<br />

A compreensão do ser humano como parte da natureza, numa relação dialética em que o ser<br />

humano transforma a natureza e é por ela transformado, não surgirá, sem que antes sejam criadas<br />

novas possibilida<strong>de</strong>s para uma reeducação que contemple as dimensões ser humano, natureza e<br />

socieda<strong>de</strong>.<br />

Nesse sentido, as instituições <strong>de</strong> ensino, como ambiente educador, precisam oferecer<br />

oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conexão com a natureza e experiências concretas <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> e<br />

responsabilida<strong>de</strong> com a vida <strong>de</strong> maneira mais ampla. Pedagogicamente, <strong>de</strong>ve ser oportunizada a<br />

construção da cultura da sustentabilida<strong>de</strong> e valorização da vida, alinhada ao pensamento eco-<br />

sistêmico e a uma visão aberta e integrada do conhecimento.<br />

535


Portanto, a transformação da socieda<strong>de</strong> implica na conexão com o transcen<strong>de</strong>ntal e na clara<br />

noção dos direitos, <strong>de</strong>veres e responsabilida<strong>de</strong>s huma<strong>nas</strong> com a vida e sustentabilida<strong>de</strong> planetária,<br />

na construção <strong>de</strong> uma nova ética que exigirá dos ambientes educativos o estudo aprofundado sobre<br />

sustentabilida<strong>de</strong>, o planejamento <strong>de</strong> ações interdisciplinares e uma visão sistêmica do ambiente<br />

escolar e da educação.<br />

REFERÊNCIAS<br />

BOFF, Leonardo. Saber Cuidar: ética do Humano – Compaixão pela Terra. Petrópolis – RJ: Vozes,<br />

2000. 199p.<br />

BELK, Russel Wallendorf. Possessions and the Exten<strong>de</strong>d Self. Journal of Consumer Research,<br />

Chicago, v.15, p.139-168, set. 1988.<br />

CAPRA, Fritjof. A Teia da <strong>Vida</strong>: uma nova compreensão cientifica dos sistemas vivos. Tradução:<br />

Newton Roberval Eichemberg. São Paulo: Cultrix, 1996.<br />

_____. As Conexões Ocultas: ciência para uma vida sustentável. Tradução: Marcelo Brandão<br />

Cipolla. São Paulo: Cultrix, 2005.<br />

CARVALHO, Isabel Cristina <strong>de</strong> Moura. Educação Ambiental: a formação do sujeito ecológico.<br />

3ª.ed. São Paulo: Cortez, 2008<br />

DIAS, Genebaldo Freire. Pegada Ecológica. São Paulo: Gaia, 2002.<br />

MATURANA, Humberto Romesín. & VARELA, Francisco Javier García. A Árvore do<br />

Conhecimento: as bases biológicas da compreensão humana. Tradução; Humberto Mariotti e Lia<br />

Diskin. São Paulo: Pala Athe<strong>nas</strong>, 2001.<br />

MCCRACKEN, Grant. Cultura e Consumo: novas abordagens ao caráter simbólico dos bens e<br />

das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> consumo. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Mauad, 2003.<br />

MORIN, EDGAR. O Método II: a vida da vida. Tradução: Marina Lobo. Porto Alegre: Sulina,<br />

2001.<br />

_____. A Cabeça Bem Feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Tradução: Eloá<br />

Jacobina. 5ª.ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Bertrand Brasil, 2001<br />

VELÁZQUEZ, Ricardo Estigarribia. Ética Fundamentos Filosóficos y Antropológicos - aplicación<br />

a la educaciona en valores, la política, la tecnología, la economía y el medio ambiente. Asunción-<br />

Paraguay: Marben, 2012.<br />

536


REFLETINDO SOBRE CONCEPÇÕES AMBIENTAIS DE EDUCANDOS E EDUCADOS DE<br />

RESUMO<br />

UMA ESCOLA PÚBLICA DA CIDADE DE CAMPINA GRANDE, PARAÍBA<br />

Gilberlândio Nunes da SILVA (PPGQ/UFRN)<br />

gilberlandionunes@hotmail.com<br />

Joycyely Marytza A. S. FREITAS (UEPB/CCET)<br />

jmarytza@yahoo.com.br<br />

Gilvanei<strong>de</strong> Nunes da SILVA (PPGSS/UFPB)<br />

nei<strong>de</strong>felipe@hotmail.com<br />

Antonio Manoel da SILVA FILHO (CCAA/UEPB)<br />

lucatony_2500@hotmail.com<br />

Refletir sobre a complexida<strong>de</strong> ambiental abre uma instigante oportunida<strong>de</strong> para compreen<strong>de</strong>r a<br />

gestação <strong>de</strong> novos atores sociais, que se mobilizam para a apropriação da natureza, num processo<br />

educativo articulado e compromissado com a sustentabilida<strong>de</strong> e a participação, apoiado, numa<br />

lógica que privilegia o diálogo e a interdisciplinarida<strong>de</strong> das diferentes áreas do saber. O presente<br />

estudo teve como finalida<strong>de</strong> investigar as concepções ambientais <strong>de</strong> educandos e educados <strong>de</strong> uma<br />

escola pública da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> Paraíba. No referencial teórico <strong>de</strong>sta pesquisa nos<br />

apoiamos no Parâmetros Curriculares Nacionais, Conferência <strong>de</strong> TBILISI, PRONEIA,<br />

Constituição Fe<strong>de</strong>ral, e LDB. No percurso metodológico fez-se um levantamento das<br />

características do objeto que se pretendia investigar, em adição utilizou-se um questionário objetivo<br />

como instrumento <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> dados. Os dados da pesquisa foram classificados em duas categorias<br />

distintas, sendo uma o grupo <strong>de</strong> 100 alunos, e a outra o grupo <strong>de</strong> 20 professores, totalizando 120<br />

investigados. Os questionários se encontram nos anexos A e B <strong>de</strong>ste trabalho. Na análises dos<br />

dados foi utilizado estatística <strong>de</strong>scritiva. Os resultados ilustrados <strong>nas</strong> figuras <strong>de</strong>ste trabalho<br />

referente as concepções e preservação ambiental dos educados investigados sinalizam, para o<br />

mínimo <strong>de</strong> conhecimento e pouco interesso em preservar o meio que vive. Em concordância com os<br />

resultados da pesquisa, po<strong>de</strong> se concluir que, alguns obstáculos apresentados por eles, po<strong>de</strong>m ser<br />

atribuídas a prática docente da escola investigada, a figuras três po<strong>de</strong> ser uma boa justificativa, para<br />

tal afirmação. É importante pontuar que o processo <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> consciência ambiental dos<br />

educados, é um processo continuo e necessita <strong>de</strong> muito comprometimento, <strong>de</strong>dicação e capacitação<br />

537


dos profissionais que estejam envolvidos, na participação, elaboração e realização do projeto<br />

político pedagógico da escola, inserido os princípios básico da educação ambiental nos temas<br />

transversais, como indica os PCNs.<br />

Palavras-chaves: Concepções, Educados e Educandos, Consciência Ambiental.<br />

ABSTRACT<br />

Reflecting on the environmental complexity opens an exciting opportunity to un<strong>de</strong>rstand the<br />

gestation of new social actors who mobilize for the appropriation of nature, an educational process<br />

articulated and committed to sustainability and participation, supported, a logic that favors dialogue<br />

and interdisciplinarity of different areas of knowledge. The present study aimed to investigate the<br />

environmental conceptions of stu<strong>de</strong>nts and educated at a public school in the city of Campina<br />

Gran<strong>de</strong> Paraiba. In the theoretical framework of this research we rely on the National Curriculum<br />

parameters, Conference TBILISI, PRONEIA, Constitution fe<strong>de</strong>ral, and BDL. In methodological<br />

course ma<strong>de</strong> up a survey of the characteristics of the object it was inten<strong>de</strong>d to investigate, in<br />

addition, we used an objective questionnaire as an instrument for data collection. The survey data<br />

were classified into two distinct categories, one group of 100 stu<strong>de</strong>nts, and another group of 20<br />

teachers, totaling 120 investigated. The questionnaires are in Annexes A and B of this work. In the<br />

analysis of the data was used <strong>de</strong>scriptive statistics. The results shown in the figures of this work<br />

regarding the concepts of environmental preservation and educated investigated signal, for the least<br />

bit interested in knowledge and preserve the living environment. Consistent with the results<br />

presented can be conclu<strong>de</strong>d that some obstacles presented by them, can be attributed to teaching<br />

practice school investigated, the three figures may be a good justification for such a claim. It is<br />

important to point out that the process of formation of environmental awareness among educated, is<br />

a continuous process and requires a lot of commitment, <strong>de</strong>dication and training of professionals<br />

who are involved in participation, preparation and realization of the political pedagogical project of<br />

the school, entered the basic principles environmental education in cross-cutting themes, as<br />

indicated by the PCNs.<br />

Keywords: Conceptions, polite and stu<strong>de</strong>nts, Consciousness Environmental.<br />

538


INTRODUÇÃO<br />

Refletir sobre a complexida<strong>de</strong> ambiental abre uma instigante oportunida<strong>de</strong> para<br />

compreen<strong>de</strong>r a gestação <strong>de</strong> novos atores sociais, que se mobilizam para a apropriação da natureza,<br />

num processo educativo articulado e compromissado com a sustentabilida<strong>de</strong> e a participação,<br />

apoiado, numa lógica que privilegia o diálogo e a inter<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> diferentes áreas do saber.<br />

Nessa perspectiva po<strong>de</strong>-se observar que em qualquer <strong>de</strong>finição é necessário que a consciência<br />

ambiental, contemple a formação <strong>de</strong> valores e alterações <strong>de</strong> paradigmas enraizados na socieda<strong>de</strong>,<br />

bem como no <strong>de</strong>spertar no individuo a cidadania, a responsabilida<strong>de</strong> social e a preocupação com o<br />

bem estar comum, criando uma consciência critica acerca da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> harmonizar as<br />

ativida<strong>de</strong>s huma<strong>nas</strong> com proteção ao meio ambiente. Portanto, <strong>de</strong>vemos buscar alternativas que<br />

promovam uma contínua reflexão nos indivíduos a ponto <strong>de</strong> refletir em mudanças relacionadas as<br />

questões ambientais, <strong>de</strong>sta forma conseguiremos implementar, <strong>nas</strong> escolas, a verda<strong>de</strong>ira Educação<br />

Ambiental. É importante <strong>de</strong>stacar que ativida<strong>de</strong>s e projetos, po<strong>de</strong> ser utilizados como ferramentas<br />

transformadoras no processo <strong>de</strong> construção da consciência ambiental.<br />

Desta forma o fruto da ânsia <strong>de</strong> toda a comunida<strong>de</strong> escolar, em construir um futuro no qual<br />

possamos viver em um ambiente equilibrado, em harmonia com o meio, com os outros seres vivos e<br />

com nossos semelhantes.Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, uma das questões que<br />

levaram a inserir o meio ambiente como tema transversal foi à contribuição, que, em termos <strong>de</strong><br />

educação, numa perspectiva que pu<strong>de</strong>sse contribuir para evi<strong>de</strong>nciar a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um trabalho<br />

vinculado aos princípios da dignida<strong>de</strong> do ser humano, da participação, da co-responsabilida<strong>de</strong> e da<br />

igualda<strong>de</strong>. Dessa forma, a escola po<strong>de</strong> estabelecer tais vínculos através <strong>de</strong> ações e propostas<br />

pedagógicas numa perspectiva interdisciplinar, ou seja, contra a fragmentação do conhecimento e<br />

criando possibilida<strong>de</strong>s para o <strong>de</strong>senvolvimento da Educação Ambiental como um todo,<br />

contornando dificulda<strong>de</strong>s que se encontram na aplicação das propostas estabelecidas em projetos<br />

pedagógicos nos diferentes contextos escolar, como orientadora <strong>de</strong> uma prática que, segundo os<br />

Parâmetros Curriculares Nacionais reflita para alem informações e conceitos.<br />

Nesse cotexto a escola <strong>de</strong>ve trabalhar numa perspectiva inovadora valorizando, o<br />

conhecimento dos educandos e oportunizando, com propostas que motive-os, frente ao processo <strong>de</strong><br />

ensino e aprendizagem <strong>de</strong> novas habilida<strong>de</strong>s e procedimentos. Em um contexto mais abrangente os<br />

PCNs trata das questões ambientais com finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> formar cidadãos críticos, reflexivos e,<br />

plenamente, conscientes <strong>de</strong> seus direitos e <strong>de</strong>veres, em adição <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> um ambiente i<strong>de</strong>al para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento e formação <strong>de</strong> valores, indo além dos conteúdos aplicados em sala <strong>de</strong> aula,<br />

fornecendo mais que informações e conceitos, contudo, valorizando comportamentos, experiências,<br />

539


habilida<strong>de</strong>s que possam favorecer o trabalho que o tema propõe <strong>de</strong>ntro do currículo e <strong>nas</strong> práticas<br />

cotidia<strong>nas</strong> <strong>de</strong> todos, vinculado a educação ambiental. É importante pontuar que o presente estudo<br />

<strong>de</strong> caso nos propomos investigar questões ambientais, numa escola pública da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina<br />

Gran<strong>de</strong> Paraíba , bem como diagnosticar as concepções <strong>de</strong> educandos e educados sobre consciência<br />

ambiental da escola em questão.<br />

Nesse cenário acreditamos que os professores sejam capazes <strong>de</strong> utilizar sua criativida<strong>de</strong><br />

atrelada aos seus conhecimentos, para aprimorar e gerar novas metodologias <strong>de</strong> ensino via<br />

educação ambiental, ou seja, educar ambientalmente, se torna necessário o estudo do meio ambiente<br />

com aquisição <strong>de</strong> novos valores relacionados à integração do ser humano e ambiente, os quais<br />

<strong>de</strong>verão ser trabalhados através dos informações <strong>de</strong> diversas área da ciência. Nesse contexto faz se<br />

necessário a capacitação <strong>de</strong> profissionais atuantes frente a comunida<strong>de</strong> estudantil numa perspectiva<br />

interdisciplinar. Estas condições evi<strong>de</strong>nciam as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> estudos sistemáticos na área <strong>de</strong><br />

política educacional, motivo pelo qual propomos investigar as concepções dos estudantes, fazendo<br />

um comparativo com a pratica docente dos educadores na temática em estudo.<br />

Fundamentação Teórica<br />

No século XX começaram a se preocupar com a educação ambiental da população, e com a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> proteger os recursos naturais. Contudo, ape<strong>nas</strong> em 1972, com a conferencia <strong>de</strong><br />

Estocolmo, é que esta temática se faz presente <strong>de</strong> forma internacional.<br />

Em 1977 foi realizada a Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental<br />

(Conferência <strong>de</strong> Tbilisi), com o Brasil-(PRONEA), Programa Nacional <strong>de</strong> Educação Ambiental,<br />

momento em que se consolidou o Programa Internacional <strong>de</strong> Educação Ambiental (PIEA), e foram<br />

estabelecidas as finalida<strong>de</strong>s, os objetivos, os princípios orientadores e as estratégias para a formação<br />

da educação ambiental em todo o mundo (PRONEIA, 2005). Surge como mais um importante<br />

instrumento <strong>de</strong> mudanças a educação ambiental, pois correspon<strong>de</strong>m a um processo educativo<br />

permanente, dinâmico, criativo, interativo, com enfoques interdisciplinares, que permite aos seres<br />

humanos conhecerem as relações, interações existentes entre eles, os seres vivos e o ambiente;<br />

reconhecer os problemas ambientais locais e globais e valorizar os aspectos sociais, históricos,<br />

éticos e culturais do ambiente on<strong>de</strong> estão inseridos. (SILVA, 2003).<br />

A efetivamente para contribuir na ampliação e no enriquecimento da questão ambiental na<br />

escola, propondo ações não especificas por disciplina, mas abrangendo as diferentes áreas do<br />

conhecimento e para servir <strong>de</strong> meio estimulador <strong>de</strong> algumas ações <strong>de</strong> Educação Ambiental, é<br />

fundamental que a escola <strong>de</strong>senvolva um programa ou projeto <strong>de</strong> Educação Ambiental. As ações<br />

<strong>de</strong>vem ocorrer <strong>de</strong>ntro do sistema formal <strong>de</strong> ensino junto re<strong>de</strong> à escola pública, estadual, municipal,<br />

540


e privada, com a produção <strong>de</strong> matérias técnicos específicos, treinamentos <strong>de</strong> professores e estímulos<br />

aos diferentes atores envolvidos na execução do projeto, a partir <strong>de</strong> uma abordagem interdisciplinar.<br />

De acordo com a conferência <strong>de</strong> Tbilisi, consi<strong>de</strong>rada um dos eventos mais importantes para<br />

a educação ambiental, realizada em 1977, na Ex-União Soviética, com diretrizes e propostas <strong>de</strong><br />

marcos teóricos mundiais sobre a educação ambiental, até os dias atuais, as principais<br />

características da educação ambiental são: O processo dinâmico integrativo; transformadora;<br />

participativa; abrangente; globalizadora; permanente; contextualizadora e transversal (TBILISI,<br />

1997). De acordo com esses tópicos a Tbilisi (1997) <strong>de</strong>ixa claro que: A educação é,<br />

respectivamente, um processo permanente, individual e coletiva <strong>de</strong> conscientização dos indivíduos<br />

ao seu meio ambiente; que a mesma conduz a mudanças <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s, consolidando novos valores,<br />

competências, conhecimentos, habilida<strong>de</strong>s, que refletirão na implantação <strong>de</strong> uma nova or<strong>de</strong>m<br />

ambiental sustentável, objetivada pela construção <strong>de</strong> uma nova visão <strong>de</strong> relações do ser humano<br />

com o seu meio; Estimula a participação do cidadão nos processos coletivos, atuando na sua<br />

sensibilização e conscientização; Á medida que a sua abrangência atingir a totalida<strong>de</strong>s dos grupos<br />

sociais, extrapolando as ativida<strong>de</strong>s inter<strong>nas</strong> da escola tradicional, sendo oferecida em todas as fases<br />

do ensino formal, envolvendo a família e toda coletivida<strong>de</strong> sua eficácia será alcançada; Que <strong>de</strong>ve<br />

ter atuação com visão ampla <strong>de</strong> alcance local, regional e global, consi<strong>de</strong>rando o ambiente em seus<br />

aspectos: natural, técnico, social, ético e estético; Com a evolução do senso crítico e a compreensão<br />

da complexida<strong>de</strong> dos aspectos que envolvem as questões ambientais <strong>de</strong> um modo crescente e<br />

contínuo, não se justificando sua interrupção, tem um caráter permanente.<br />

A conferência <strong>de</strong> Tbilisi <strong>de</strong>fine, além <strong>de</strong>stas características, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar a<br />

educação ambiental como tema transversal <strong>de</strong>ntro da escola. Nesse contexto pontuar se que, em<br />

todas as discussões <strong>de</strong> mesa redonda e análises recentes envolvendo tal tema no Brasil, esta questão<br />

têm sido o pivô <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>bates. Como a sua abrangência como tema transversal pelos<br />

parâmetros curriculares nacionais da educação, passou a ser elemento quase que obrigatório; nessa<br />

transversalida<strong>de</strong>. Contudo propõe-se que as questões ambientais não sejam tratadas em disciplina<br />

específica, mas que permeie os conteúdos, objetivos, orientações, didáticas em todas as discipli<strong>nas</strong>,<br />

no período da escolarida<strong>de</strong> obrigatória, valorizados tanto os assuntos específicos quanto os<br />

ambientais, vinculados a realida<strong>de</strong> da comunida<strong>de</strong>.<br />

Sabe-se que os problemas ambientais atualmente, têm sido alvo <strong>de</strong> preocupações pelos<br />

setores da socieda<strong>de</strong> brasileira, Tendo em vista os estragos ambientais em diferentes pontos do<br />

território brasileiro. Diante <strong>de</strong>sta realida<strong>de</strong> fez-se necessário, reflexões em <strong>de</strong>fesa do meio ambiente<br />

e principalmente na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida. Em adição os legisladores do Brasil implantam a Lei <strong>de</strong><br />

Educação Ambiental <strong>nas</strong> Constituições Fe<strong>de</strong>ral, Estadual e Municipal. A constituição Fe<strong>de</strong>ral tem<br />

541


como ponto central o art. 225 que <strong>de</strong>clara: ―todos tem direito ao meio ambiente ecologicamente,<br />

equilibrado, bem <strong>de</strong> uso comum do povo e essencial a sadia qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, impondo-se ao po<strong>de</strong>r<br />

Publico e a coletivida<strong>de</strong>, o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> <strong>de</strong>fendê-lo e preservá-lo para as gerações presentes e futuras‖<br />

(CONSTITUIÇAO DA REPUBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, 1988).<br />

De acordo com o parecer da Constituição Fe<strong>de</strong>ral, a Educação Ambiental <strong>de</strong>ve ser abordada<br />

em todos os currículos escolares, cabendo não só ao estado preservar o meio ambiente, mas também<br />

a coletivida<strong>de</strong>. Outra Legislação Ambiental que merece <strong>de</strong>staque é (PRONEA)-Programa Nacional<br />

<strong>de</strong> Educação Ambiental, o qual foi aprovado pelo Presi<strong>de</strong>nte da Republica em 21/12/1994 e criado<br />

com o objetivo <strong>de</strong> promover um amplo programa <strong>de</strong> Educação Ambiental, dos Recursos Hídricos e<br />

da Amazônia legal, com suporte técnico do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente dos Recursos<br />

Naturais e Renováveis-(IBAMA) e o Ministério da Educação e do Desporto que, juntos formaram<br />

estudos no sentido <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver este programa <strong>de</strong> Educação Ambiental.<br />

A PNEA, Lei nº 9795 <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1999, como instrumento legal que contempla a<br />

obrigatorieda<strong>de</strong> da inserção da Educação Ambiental em todos os setores da socieda<strong>de</strong>. Essa lei<br />

<strong>de</strong>fine que, a presença no ensino fundamental da Educação Ambiental, <strong>de</strong>ve abranger os currículos<br />

das instituições <strong>de</strong> ensino públicas e privadas, englobando: Educação Infantil; Ensino Fundamental;<br />

Ensino Médio; Educação Superior; Educação Especial; Educação Profissional e Educação <strong>de</strong><br />

Jovens e Adultos. Destacando-se alguns pontos importantes:<br />

Assim, a Lei reproduz as concepções básicas da Educação Ambiental, as mesmas que têm<br />

sido discutidas pelos educadores e que constam nos documentos internacionais e que já estavam<br />

expressas no Programa Nacional <strong>de</strong> Educação Ambiental. Estes enfoques visam à construção <strong>de</strong><br />

uma prática sustentável e, por fim, a capacitação como estratégia fundamental <strong>de</strong> implementação da<br />

educação ambiental, tanto no ensino formal, como no não formal.<br />

Metodologia<br />

A pesquisa abordada no presente trabalho po<strong>de</strong> ser classificada como qualitativa, para o<br />

estudo do tema fez-se um levantamento das características do objeto que se pretendia investigar, em<br />

adição utilizou-se um questionário objetivo como instrumento <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> dados, com a finalida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> diagnosticar as concepções dos educando e educados acerca da temática em discussão. A<br />

pesquisa foi realizada na escola pública estadual, Major Veneziano Vital do Rego, situada no bairro<br />

catingueira da zona urbana do município <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>-PB, no período <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2010<br />

a julho <strong>de</strong> 2011. Os dados da pesquisa foram classificados em duas categorias distintas, sendo uma<br />

o grupo <strong>de</strong> 100 alunos, e a outra o grupo <strong>de</strong> 20 professores, totalizando 120 investigados para as<br />

dois grupos. No grupo <strong>de</strong> alunos investigados 70% pertencia ao 9ª ano do ensino fundamental II e<br />

542


30% fazia parte do 1ª ano do ensino médio com uma faixa etária <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> entre 14 e 20 anos. O<br />

grupo dos professores todos lecionava aos respectivas alunos.<br />

Antes da aplicação do instrumento, <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> dados, para os alunos foi feito uma leitura<br />

do questionários e a eles foi solicitado serieda<strong>de</strong> na resolução, bem como ficou acordado que eles<br />

não tinha obrigação alguma <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r o referido, no entanto ao se comprometer resolver o<br />

questionário, teriam que serem fieis ao seu conhecimento do tema proposto. Já os professores<br />

tiveram a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> levar o questionário pra casa, respon<strong>de</strong>r e <strong>de</strong>volver no dia seguinte. Os<br />

questionários se encontram nos anexos A e B <strong>de</strong>ste trabalho. Na análises dos dados foi utilizado<br />

estatística <strong>de</strong>scritiva, e este serão discutidos na sequencia <strong>de</strong>ste trabalho.<br />

Resultados e discussão<br />

Diante do contexto apresentado, tem-se a retomada <strong>de</strong> alguns aspectos da pesquisa realizada<br />

consi<strong>de</strong>rados pertinentes para compreen<strong>de</strong>r o significado da inserção da educação ambiental na<br />

escola bem como, dos objetivos específicos propostos por este estudo. Nesse contexto<br />

apresentamos <strong>nas</strong> figuras um e dois, as concepções <strong>de</strong> meio ambiente, e ações <strong>de</strong> preservação do<br />

grupo educados consultados nessa investigação.<br />

Figura 03representa as percepções dos educados sobre os elementos que fazer parte do meio ambiente.<br />

Em relação aos fatores que fazem partem do meio ambiente, observa-se que a maioria dos<br />

alunos, 80% respon<strong>de</strong>ram que os elementos que fazem parte do meio ambiente são as florestas, o<br />

homem e os animais. E 16% disseram que são as florestas, e 2% afirmam que ape<strong>nas</strong> o homem, e<br />

2% disseram que ape<strong>nas</strong> os animais fazem parte do meio ambiente, diante <strong>de</strong>stes resultados<br />

po<strong>de</strong>mos afirmar que o homem em alguns casos não se sente como parte do meio ambiente,<br />

543


conforme mostrado na Figura 1. Com base nesses resultados po<strong>de</strong>mos afirmar que um percentual<br />

significativo <strong>de</strong> alunos, não sabe que são os elementos básico do meio ambiente, ou não se sente<br />

como parte integrante do meio que vive. A figura dois ilustra o percentual das respostas quando foi<br />

perguntado se eles pratica alguma ação on<strong>de</strong> mora para proteger o meio ambiente? os resultados<br />

apresenta uma percentagem significativo <strong>de</strong> alunos que não se interessa pelo maio ambiente.<br />

Figura 4 ilustra o percentual das ações <strong>de</strong> prevenção do meio ambiente do grupo <strong>de</strong> estudantes pesquisados.<br />

A maior parte dos alunos, 53%, afirmaram que praticam alguma ações <strong>de</strong> proteção ao meio<br />

ambiente on<strong>de</strong> mora, 30% respon<strong>de</strong>ram que não praticam essas ações e 15% disseram que as outras<br />

pessoas cuidam pra elas e 2% dizem que este tema não lhes interessa. Os resultados apresentados<br />

mostra que uma percentual <strong>de</strong> aproximadamente 50% não realiza ações alguma para preservar o<br />

meio que vive. Diante <strong>de</strong>sta realida<strong>de</strong>, as reflexões são muitas sobre a pratica docente <strong>nas</strong> escolas<br />

pública e no meio social que ro<strong>de</strong>iam esses alunos.<br />

Nos dias atuais são notórios os investimentos em formação e capacitação <strong>de</strong> professores,<br />

bem como investimentos <strong>nas</strong> escola, com uma diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> materiais didáticos pedagógico <strong>de</strong>ntre<br />

eles salas <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>os, que não sua maioria nunca foram usados, em adição alguns docentes<br />

apresentam resistência em participar dos cursos <strong>de</strong> capacitação oferecidos pelos governos fe<strong>de</strong>ral,<br />

estadual e municipal. No entanto, essa falta <strong>de</strong> consciência ambiental dos educados não po<strong>de</strong>r ser<br />

atribuída apelas as escolas, é certo que o meio social que estes estão inseridos também po<strong>de</strong> ser um<br />

dos fatores que influencie na educação ambiental <strong>de</strong>sses pessoas.<br />

Um outro objetivo especifico <strong>de</strong>sta pesquisa é avaliar as concepções dos docentes na<br />

temática intitulada, bem como entendimentos dos educadores quanto à consciência ambiental e<br />

544


suas estratégia <strong>de</strong> ensino na abordagem tópico em discussão, as figuras três e quatro esboça as<br />

percepções e preferências dos <strong>de</strong>centes investigados em trabalhar o tema <strong>de</strong>sta pesquisa.<br />

Figura 5 Algumas Percepções dos docentes sobre os problemas ambientais mais visíveis no bairro da escola que<br />

lecionam.<br />

A respeito dos principais problemas ambientais mais visíveis em sua comunida<strong>de</strong>; 40%<br />

disseram que era a poluição dos rios; 20% afirmam que é o <strong>de</strong>smatamento; 35% disseram que é as<br />

queimadas, o <strong>de</strong>smatamento e a poluição dos rios e ape<strong>nas</strong> 5% respon<strong>de</strong>ram que são as queimadas.<br />

Outros não foi a opção <strong>de</strong> nem um professor. Consi<strong>de</strong>rando que esta pesquisa foi realizada numa<br />

escola pública da zona urbana, a opção outros po<strong>de</strong>ria ter sido a opinada por todos os docente<br />

consultados, visto que naquele bairro não tem rios, se é urbanizado não existe <strong>de</strong>smatamento no<br />

entanto, os resultados não sinalizam nesse sentindo, temos 40% <strong>de</strong> manifestação dos investigados<br />

pelos rios. Algumas opções para outro po<strong>de</strong>ria ser compreendida como poluição sonora, lixões<br />

<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nados, esgotos a céu aberto, coleta seletiva tanto na escola quanto no bairro etc. A figura 04<br />

ilustra os procedimentos metodológicos utilizados pelos professoras para abordar as questões<br />

ambientais em suas aulas.<br />

545


Figura 6 quanto abordagem das questões ambientais em aulas.<br />

Quanto a forma <strong>de</strong> trabalhar o tema em sala 55% educandos respon<strong>de</strong>ram que aborda em<br />

seminarios e aulas expositivas, 15% disseram que trabalha o tema com <strong>de</strong>bates com alunos e pais<br />

15% disseram que trabalha este tema com ativida<strong>de</strong>s para casa e 15% outras formas. Nesse<br />

contexto é importante <strong>de</strong>stacar que, a conservação ambiental, principalmente na escola, está ligada<br />

há um bom relacionamento, extra - escola, e com a comunida<strong>de</strong>, portanto um estreitamento <strong>de</strong>ssas<br />

relações é <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> relevância no processo <strong>de</strong> conservação e conscientização do meio ambiente. A<br />

educação está ligada à transmissão cultural, e ela tem como objetivo principal promover mudanças<br />

<strong>de</strong>sejáveis no sujeito, no entanto a escola tem obrigação <strong>de</strong> fazer esse elo provocando<br />

transformações no educado que conduza a formação da consciência ambiental, bem como na<br />

formação <strong>de</strong> cidadãs capazes <strong>de</strong> refletir sobre questões socioambiental que estão presente no seu<br />

cotidiano.<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Em concordância com os resultados apresentados <strong>nas</strong> figuras um e dois da presente<br />

pesquisa, po<strong>de</strong> se concluir que o grupo <strong>de</strong> alunos investigados, sinalizaram para um pouco<br />

entendimento <strong>de</strong>sta temática. Quando aos elementos que constituem o meio ambiente, os alunos<br />

fazem confusão ou não apresenta concepções claras. Algumas obstáculos apresentados por eles,<br />

po<strong>de</strong>m ser atribuídas a prática docente da escola investigada, a figuras três po<strong>de</strong> ser uma boa<br />

justificativa, para tal afirmação. É importante pontuar que o processo <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> consciência<br />

ambiental dos educados, é um processo continuo e necessita <strong>de</strong> muito comprometimento,<br />

<strong>de</strong>dicação e capacitação dos profissionais que estejam envolvidos, na participação, elaboração e<br />

546


ealização do projeto político pedagógico da escola, inserido os princípios básico da educação<br />

ambiental nos temas transversais, como indica os PCNs.<br />

REFERÊNCIAS<br />

BRASIL. Política Nacional <strong>de</strong> Educação Ambiental. Lei <strong>de</strong> n 9.795 <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> Abril, 1999.<br />

CONSTITUIÇAO DA REPUBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Promulgada a 05 <strong>de</strong> Outubro<br />

<strong>de</strong> 1988. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Aurora ( Coleção Ler ).<br />

PEREIRA, D. S. S. Educação Ambiental: Consciência para cidadania. Trabalho apresentado no<br />

curso <strong>de</strong> especialização em educação básica, pela universida<strong>de</strong> estadual da Paraíba, p.16-58, 2008.<br />

PICOLI, Fiorelo. A Expropriação do Homem e do seu Ambiente: a <strong>de</strong>vastação ambiental na<br />

expansão capitalista. In: O Capital e a Devastação Ambiental da Amazônia. São Paulo: Expressão<br />

Popular, p. 118-134, 2006.<br />

PRONEA Programa Nacional <strong>de</strong> Educação Ambiental, Ministério <strong>de</strong> Educação e Desporto.<br />

Brasília, 2005.<br />

PNEA – Política Nacional <strong>de</strong> Educação Ambiental, Lei n 9795 <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1999.<br />

SILVA, M. P. Do Meio Ambiente. Revista Mundo Jovem. n. 339, Agosto, 2003.<br />

TBILISI. As Gran<strong>de</strong>s Orientações da Conferência <strong>de</strong> Educação Ambiental. Edição Especial<br />

Brasília, 1997.<br />

547


ANEXOS:<br />

Anexo A – Questionário <strong>de</strong> pesquisa (discentes)<br />

1º) Sexo a) Masculino ( ) b (Feminino ( ) 2º) Ida<strong>de</strong>: _____ 3º) Estado civil: _____<br />

4º) Das alternativas abaixo marque a quer você acha que faz parte do meio ambiente?<br />

a) As florestas b) O homem c) Os animais<br />

d) Todas as anteriores e ) Não sei opinar<br />

5º) Você pratica alguma ação on<strong>de</strong> mora para proteger o meio ambiente?<br />

a) Sim b) Não c) Este tema não me interessa<br />

d) As outras pessoas cuidam pra mim e) Não sei opinar<br />

6º) Marque a opção que você acredita que mais polui o meio ambiente?<br />

a) Jogar lixo na natureza b) Jogar esgoto urbano nos rios c) Fazer queimadas<br />

d) As alternativas anteriores e) Não acho que o homem po<strong>de</strong> polui o meio ambiente<br />

7º) Você já pensou em fazer juntos com seus amigos, pais e professores uma campanha para<br />

preservação do meio ambiente?<br />

a) Sim b) Não c) As vezes<br />

d) Não me interesso por este assunto e) Sim mas não encontrei apoio suficiente<br />

8º) Como você acha que <strong>de</strong><strong>de</strong> ser feito o tratamento do lixo em sua escola?<br />

a) Coletado b) Deixado exposto no meio ambiente<br />

c) Jogado nos rios d) Queimado e) Não sei opinar<br />

9º) professores mostram a importância da preservação do meio ambiente durante suas aulas ?<br />

a) Sim, sempre falam <strong>de</strong>sse assunto b) Não esse assunto nunca é discutido em sala <strong>de</strong> aula<br />

c) Às vezes fazemos ativida<strong>de</strong>s com este assunto d)Não sei opinar<br />

10º) Na sua comunida<strong>de</strong> as protegem o meio ambiente?<br />

a) Sim, as pessoas são conscientes b) Não, as pessoas não ligam pra isso<br />

c) Algumas pessoas têm essa consciência d) Não sei opinar<br />

11º) Que problema ambiental você consi<strong>de</strong>ra mais grave em sua comunida<strong>de</strong>?<br />

a) As queimadas b) O <strong>de</strong>smatamento c) A poluição dos rios<br />

d) O trânsito e)Não sei opinar<br />

Anexo B – Questionário <strong>de</strong> pesquisa (docentes)<br />

1º) Sexo a) Masculino ( ) b)Feminino ( ) 2º) Ida<strong>de</strong> __ 3º) Estado civil:_________<br />

4º) Qual o seu nível <strong>de</strong> formação?<br />

a) Nível médio b) Nível superior incompleto em uma licenciatura<br />

c) Nível superior completo em uma licenciatura d) Outro<br />

548


5º) Há quanto tempo leciona?<br />

a) Menos <strong>de</strong> um ano b) De um a dois anos c) De três a cinco anos d) Mais <strong>de</strong> cinco anos<br />

6º) Que estratégia <strong>de</strong> ensino você mais utiliza em sua aulas?<br />

a) Ativida<strong>de</strong>s extra-classe, como aulas <strong>de</strong> campo, <strong>de</strong>bates e seminários b) Outros recursos<br />

c) Ape<strong>nas</strong> o livro didático e o quadro negro ou louça d) Seminários<br />

7º) O Sr. (a) trabalha o tema meio ambiente em sala <strong>de</strong> aula? a) Sim d) Não<br />

8º) Se sua resposta foi sim,<strong>de</strong> que forma?<br />

a) Seminários e aulas expositivas sobre o tema b) Debates com alunos e pais<br />

c) Ativida<strong>de</strong>s para casa d) Outras formas<br />

9º) Para o Sr. (a) o que significa consciência ambiental?<br />

a) A consciência ambiental das pessoas sobre a importância da preservação do meio ambiente<br />

b) Fazer com que as pessoas não se preocupem com o meio ambiente<br />

c) Ressaltar as queimadas como meio <strong>de</strong> sobrevivência para a população carente<br />

d) Não sei opinar e) Tem outro ponto <strong>de</strong> vista<br />

10º) Que problemas ambientais são mais visíveis no bairro da escola (s) que você trabalha? Se sua<br />

opção for outros, diga quais são?<br />

a) As queimadas b) O <strong>de</strong>smatamento c) A poluição dos rios d)Todas as alternativas anteriores<br />

e)Outros____________________________________________________________________<br />

11º) O que o Sr.(a) faz para <strong>de</strong>spertar a consciência ambiental nos seus alunos?<br />

a) Procura sempre abordar a temática, bem como a importância <strong>de</strong> preservar o meio ambiente<br />

b) Faz aulas expositivas, on<strong>de</strong> o tema em <strong>de</strong>staque é o meio ambiente<br />

c) Faz reuniões com os pais e alunos para exposição do tema<br />

d) Utiliza todas as opções<br />

549


DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL –<br />

PONDERAÇÃO A PARTIR DA EDUCAÇÃO E DA ECONOMIA<br />

Giselda Maria da SILVA<br />

Geógrafa. Especialista em Gestão Ambiental. Professora da Re<strong>de</strong> Pública na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Bayeux/PB.<br />

RESUMO<br />

e-mail: giseldasilva@yahoo.com.br<br />

Jussara Severo da SILVA<br />

Engenheira Civil. Mestre em Engenharia Urbana. Tecnóloga em Geoprocessamento.<br />

e-mail: jussarasevero@yahoo.com.br<br />

Desenvolvimento sustentável é essencial para o planeta e a vida humana. E está diretamente<br />

relacionado com aspectos ambientais, econômicos e sociais. Neste contexto, este trabalho tem o<br />

propósito <strong>de</strong> tratar do tema <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, com breve cronologia, abordando-o<br />

também no contexto educacional e econômico. Além <strong>de</strong> apresentar os resultados obtidos com a<br />

aplicação <strong>de</strong> questionário a professores <strong>de</strong> diferentes discipli<strong>nas</strong> e níveis <strong>de</strong> ensino.<br />

Palavras-chave: educação, <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, econômico, meio ambiente.<br />

ABSTRACT<br />

Sustainable <strong>de</strong>velopment is essential for the planet and human life. And it is directly related to<br />

environmental, economic and social aspects. In this context, the paper has the purpose of treat of the<br />

<strong>de</strong>velopment sustainable theme, with a brief chronology approaching it also in the educational and<br />

economic context. Besi<strong>de</strong>s presenting the results obtained with the application of questionnaire to<br />

teachers of different disciplines and levels of education.<br />

Keywords: education, sustainable <strong>de</strong>velopment, environment, economic.<br />

550


INTRODUÇÃO<br />

De acordo com o Relatório <strong>de</strong> Brundtland (1987), o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável é ―aquele<br />

que garante o suprimento das necessida<strong>de</strong>s do presente sem comprometer a capacida<strong>de</strong> das<br />

gerações futuras <strong>de</strong> suprirem as suas próprias necessida<strong>de</strong>s‖. Esse mesmo relatório <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que ―o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento sustentável não é um estado fixo <strong>de</strong> harmonia, mas um processo <strong>de</strong> mudança‖.<br />

No período <strong>de</strong> 13 a 22 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2012 ocorreu a Rio+20 que é a Conferência das Nações<br />

Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável. A Rio+20 é assim conhecida, porque marca os vinte<br />

anos <strong>de</strong> realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento<br />

(Rio-92) e <strong>de</strong>ntre outros fins, <strong>de</strong>ve contribuir na <strong>de</strong>finição da agenda do <strong>de</strong>senvolvimento<br />

sustentável para as próximas décadas.<br />

Abordar sobre a questão ambiental não é ape<strong>nas</strong> a relação do homem com o meio em que<br />

vive, é necessário e pelas atuais condições, refletir sobre a relação existente entre o meio ambiente e<br />

os nossos hábitos e costumes, visando à qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida para as pessoas no presente e no futuro.<br />

Deste modo, po<strong>de</strong>-se constatar que o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, até <strong>nas</strong> empresas, contém<br />

um gran<strong>de</strong> componente educativo – preservar o meio ambiente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma consciência e<br />

formação <strong>de</strong> consciência <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da Educação.<br />

OBJETIVO<br />

O estudo e a contribuição quanto à sustentabilida<strong>de</strong>, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da área <strong>de</strong> atuação, trata-se<br />

<strong>de</strong> uma questão importante e urgente para toda a socieda<strong>de</strong>.<br />

Por isso, a finalida<strong>de</strong> principal <strong>de</strong>ste trabalho é tratar do tema <strong>de</strong>senvolvimento sustentável,<br />

com breve cronologia, abordando-o também no contexto educacional e econômico. Além <strong>de</strong><br />

apresentar os resultados obtidos com a aplicação <strong>de</strong> questionário a professores <strong>de</strong> diferentes<br />

discipli<strong>nas</strong> e níveis <strong>de</strong> ensino.<br />

CRONOLOGIA E DESDOBRAMENTOS RELACIONADOS AO DESENVOLVIMENTO<br />

SUSTENTÁVEL<br />

Os princípios do <strong>de</strong>senvolvimento sustentável sempre estiveram implícitos em muitas das<br />

conferências da ONU, incluindo: A Segunda Conferência da ONU sobre Assentamentos Humanos<br />

(Istambul,1999); a Sessão Especial da Assembleia Geral sobre Pequenos Estados Insulares em<br />

Desenvolvimento (Nova York, 1999); a Cúpula do Milênio (Nova York, 2000) e seus Objetivos <strong>de</strong><br />

551


Desenvolvimento do Milênio - cujo sétimo objetivo trata <strong>de</strong> ―garantir a sustentabilida<strong>de</strong> ambiental‖<br />

e a Reunião Mundial <strong>de</strong> 2005.<br />

A Tabela 1 apresenta uma breve relação <strong>de</strong> eventos e ações relacionados ao <strong>de</strong>senvolvimento<br />

sustentável, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o Relatório <strong>de</strong> Brundtland em 1987.<br />

ANO DESCRIÇÃO<br />

1987<br />

1990<br />

1992<br />

1993<br />

1997<br />

2002<br />

2007<br />

2012<br />

Relatório <strong>de</strong> Brundtland foi o documento elaborado pela Comissão Mundial sobre o Meio<br />

Ambiente e Desenvolvimento on<strong>de</strong> surgiu uma <strong>de</strong>finição para <strong>de</strong>senvolvimento<br />

sustentável.<br />

Lançamento do primeiro sistema <strong>de</strong> certificação para obras sustentáveis, o BREEAM<br />

(Building Research Establishment Environmental Assessment Method), na Inglaterra.<br />

A conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento reuniu 108<br />

chefes <strong>de</strong> Estado na conhecida ECO – 92 aprovou, igualmente documentos <strong>de</strong> objetivos<br />

mais abrangentes e <strong>de</strong> natureza mais política: a Declaração do Rio, a Declaração <strong>de</strong><br />

Princípios sobre o uso das Florestas, a Convenção sobre a Diversida<strong>de</strong> Biológica, a<br />

Convenção sobre Mudanças Climáticas e a Agenda 21.<br />

Criado o selo ver<strong>de</strong>, o FSC (Conselho <strong>de</strong> Manejo Florestal) para ma<strong>de</strong>iras originárias <strong>de</strong><br />

um processo produtivo manejado <strong>de</strong> forma ecologicamente correta, socialmente justa e<br />

economicamente viável.<br />

Convenção das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas on<strong>de</strong> ocorre o tratado<br />

ambiental conhecido como o Protocolo <strong>de</strong> Kioto, o qual tinha como meta a redução dos<br />

gases, responsáveis pelo efeito estufa, emitidos na atmosfera.<br />

A Conferência RIO+10 aconteceu em setembro <strong>de</strong> 2002 na África do Sul, com o objetivo<br />

<strong>de</strong> fazer um balanço das lições aprendidas e dos resultados práticos obtidos a partir dos<br />

acordos firmados entre os cerca <strong>de</strong> 180 países que participaram da Rio-92.<br />

Criação do Conselho Brasileiro <strong>de</strong> Construção Sustentável que tem como missão<br />

promover a melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida da população brasileira e a preservação <strong>de</strong> seu<br />

patrimônio natural, pelo <strong>de</strong>senvolvimento e implementação <strong>de</strong> conceitos e práticas mais<br />

sustentáveis e que contemplem as dimensões social, econômico e ambiental da ca<strong>de</strong>ia<br />

produtiva da indústria da construção civil.<br />

Ocorre em junho <strong>de</strong> 2012 a Rio+20 que é a Conferência das Nações Unidas sobre<br />

Desenvolvimento Sustentável.<br />

Fonte: BRASIL (2012), CBCS (2012), ONU (2012).<br />

Tabela 1 - Relação <strong>de</strong> eventos e ações relacionados ao <strong>de</strong>senvolvimento sustentável.<br />

552


Des<strong>de</strong> a ECO-92, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e<br />

Desenvolvimento, realizada no Rio <strong>de</strong> Janeiro em 1992, o Brasil está <strong>de</strong>senvolvendo a construção<br />

<strong>de</strong> indicadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável. Ação esta que se integra ao conjunto <strong>de</strong> esforços<br />

internacionais para concretização das i<strong>de</strong>ias e princípios formulados, no que diz respeito à relação<br />

entre meio ambiente, <strong>de</strong>senvolvimento e informações para a tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões (IBGE, 2012).<br />

Assim, com a divulgação dos indicadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável - Brasil 2010, o<br />

País, através do IBGE, dá continuida<strong>de</strong> à série iniciada em 2002, a qual possui um conjunto <strong>de</strong><br />

informações sobre a realida<strong>de</strong> brasileira, em suas dimensões ambiental, social, econômica e<br />

institucional. A Tabela 2 apresenta os indicadores que compõem cada dimensão.<br />

Dimensão Indicadores<br />

Ambiental<br />

Social<br />

01 Emissões <strong>de</strong> origem antrópica dos gases associados ao Efeito Estufa<br />

02 Consumo industrial <strong>de</strong> substâncias <strong>de</strong>struidoras da camada <strong>de</strong> ozônio<br />

03 Concentração <strong>de</strong> poluentes no ar em áreas urba<strong>nas</strong><br />

04 Uso <strong>de</strong> fertilizantes<br />

05 Uso <strong>de</strong> agrotóxicos<br />

06 Terras em uso agrossilvipastoril<br />

07 Queimadas e incêndios florestais<br />

08 Desflorestamento na Amazônia Legal<br />

09 Área remanescente e <strong>de</strong>sflorestamento na Mata Atlântica e <strong>nas</strong> formações<br />

vegetais litorâneas<br />

10 Área remanescente e <strong>de</strong>smatamento no Cerrado<br />

11 <strong>Qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> águas interiores<br />

12 Balneabilida<strong>de</strong><br />

13 Produção <strong>de</strong> pescado marítima e continental<br />

14 População resi<strong>de</strong>nte em áreas costeiras<br />

15 Espécies extintas e ameaçadas <strong>de</strong> extinção<br />

16 Áreas protegidas<br />

17 Espécies invasoras<br />

18 Acessam a serviço <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> lixo doméstico<br />

19 Acesso a sistema <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água<br />

20 Acesso a esgotamento sanitário<br />

21 Taxa <strong>de</strong> crescimento da população<br />

22 Taxa <strong>de</strong> fecundida<strong>de</strong><br />

23 População e terras indíge<strong>nas</strong><br />

24 Índice <strong>de</strong> Gini da distribuição <strong>de</strong> rendimento<br />

25 Taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>socupação<br />

26 Rendimento familiar per capita<br />

27 Rendimento médio mensal<br />

553


Econômica<br />

Institucional<br />

28 Esperança <strong>de</strong> vida ao <strong>nas</strong>cer<br />

29 Taxa <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> infantil<br />

30 Prevalência <strong>de</strong> <strong>de</strong>snutrição total<br />

31 Imunização contra doenças infecciosas infantis<br />

32 Oferta <strong>de</strong> serviços básicos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

33 Doenças relacionadas ao saneamento ambiental ina<strong>de</strong>quado<br />

34 Taxa <strong>de</strong> escolarização<br />

35 Taxa <strong>de</strong> alfabetização<br />

36 Escolarida<strong>de</strong><br />

37 A<strong>de</strong>quação <strong>de</strong> moradia<br />

38 Coeficiente <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> por homicídios<br />

39 Coeficiente <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> por aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> transporte<br />

40 Produto Interno Bruto per capita<br />

41 Taxa <strong>de</strong> investimento<br />

42 Balança comercial<br />

43 Grau <strong>de</strong> endividamento<br />

44 Consumo <strong>de</strong> energia per capita<br />

45 Intensida<strong>de</strong> energética<br />

46 Participação <strong>de</strong> fontes renováveis na oferta <strong>de</strong> energia<br />

47 Consumo mineral per capita<br />

48 <strong>Vida</strong> útil das reservas <strong>de</strong> petróleo e gás<br />

49 Reciclagem<br />

50 Rejeitos radioativos: geração e armazenamento<br />

51 Ratificação <strong>de</strong> acordos globais<br />

52 Existência <strong>de</strong> conselhos municipais <strong>de</strong> meio ambiente<br />

53 Gastos com pesquisa e <strong>de</strong>senvolvimento<br />

54 Acesso a serviços <strong>de</strong> telefonia<br />

55 Acesso à Internet<br />

Fonte: IBGE (2012).<br />

Tabela 2 - Indicadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável - brasil 2010.<br />

Para a Rio+20, as Nações Unidas <strong>de</strong>finiram como temas:<br />

Economia ver<strong>de</strong> no contexto do <strong>de</strong>senvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza.<br />

Estrutura institucional para o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável.<br />

Sob o tema ―economia ver<strong>de</strong> no contexto do <strong>de</strong>senvolvimento sustentável e da erradicação da<br />

pobreza‖, o <strong>de</strong>safio proposto à comunida<strong>de</strong> internacional é o <strong>de</strong> pensar um novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento que seja ambientalmente responsável, socialmente justo e economicamente viável.<br />

Desta forma, a ―economia ver<strong>de</strong>‖ <strong>de</strong>ve ser uma ferramenta para o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável.<br />

554


E, para o tema da estrutura institucional para o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, insere-se a<br />

discussão sobre a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fortalecimento do multilateralismo como instrumento legítimo<br />

para solução dos problemas globais. Busca-se aumentar a coerência na atuação das instituições<br />

internacionais relacionadas aos pilares social, ambiental e econômico do <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

SUSTENTABILIDADE E ECONOMIA<br />

A sustentabilida<strong>de</strong> abrange vários níveis <strong>de</strong> organização, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a vizinhança até o planeta.<br />

Pensar e querer um mundo sustentável é ver mudanças nos seguintes segmentos: cida<strong>de</strong>s<br />

inovadoras; infraestrutura; alimentos; vestuário; transporte; turismo; economia e mercado.<br />

Um dos <strong>de</strong>bates na Rio+20 foi o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> unir as metas <strong>de</strong> preservação do meio ambiente<br />

com as necessida<strong>de</strong>s contínuas <strong>de</strong> progresso econômico.<br />

Tendo ape<strong>nas</strong> como referência o nível geral e setorial a longo, médio e curto prazo, <strong>de</strong><br />

acordo com Tarrega (2007), estão enumeradas na tabela 3 as implicações tecnológicas <strong>de</strong>rivadas<br />

dos planos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento econômico.<br />

NÍVEL<br />

GERAL<br />

SETORIAL<br />

PRAZO<br />

Longo Médio Curto<br />

Formulação <strong>de</strong> padrões<br />

científicos e tecnológicos<br />

estreitamente relacionados a<br />

padrões <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

I<strong>de</strong>ntificação dos requisitos para<br />

incrementar a capacida<strong>de</strong><br />

científica e técnica nacional em<br />

setores prioritários.<br />

Esboço da estratégia<br />

geral, <strong>de</strong>finindo<br />

priorida<strong>de</strong>s e<br />

formulando metas<br />

para consignar<br />

recursos.<br />

Definição <strong>de</strong><br />

estratégias setoriais e<br />

i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong><br />

programas.<br />

Tabela 3 - Implicações tecnológicas <strong>de</strong>rivadas dos planos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento econômico.<br />

Definição do orçamento<br />

total para ciência e<br />

tecnologia.<br />

Definição <strong>de</strong> projetos,<br />

ativida<strong>de</strong>s e orçamentos<br />

relacionados com as<br />

estratégias setoriais.<br />

Pelas condições existentes, po<strong>de</strong> parecer complexo <strong>de</strong> ser implementado e, em muitos casos,<br />

economicamente inviável. Entretanto, além das muitas possibilida<strong>de</strong>s, já existe a aplicação <strong>de</strong><br />

práticas sustentáveis, seja a partir <strong>de</strong> ações individuais ou em organizações, com a arquitetura,<br />

empresas, produtos e serviços sustentáveis.<br />

Um exemplo é citado por Orlando e et al (2009), que por meio da redução <strong>de</strong> alíquotas em<br />

operações e produtos menos poluentes e da majoração <strong>de</strong> alíquotas aos produtos e ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

maior potencial poluidor, os entes fe<strong>de</strong>rativos po<strong>de</strong>m contribuir para <strong>de</strong>sestimular a aquisição <strong>de</strong><br />

produtos poluentes e, em contra partida, fomentar a aquisição <strong>de</strong> produtos ―limpos‖.<br />

555


A SUSTENTABILIDADE NA EDUCAÇÃO<br />

Na Lei Nº 9.394/96 que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, no Título II -<br />

Dos Princípios e Fins da Educação Nacional (Art. 2º) consta que a educação, <strong>de</strong>ver da família e do<br />

Estado, inspirada nos princípios <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> e nos i<strong>de</strong>ais <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> humana, tem por<br />

finalida<strong>de</strong> o pleno <strong>de</strong>senvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua<br />

qualificação para o trabalho.<br />

Com os PCN‘s, foram inseridos os temas transversais: ética, pluralida<strong>de</strong> cultural, orientação<br />

sexual e meio ambiente, entre outros. E é nesse âmbito que <strong>de</strong>ve ser trabalhada a educação<br />

ambiental. Todavia, a educação ambiental, assim como todos os temas transversais, <strong>de</strong>ve ser<br />

trabalhada <strong>de</strong> forma interdisciplinar.<br />

E a Lei Nº 9.795/99 estabelece os princípios básicos da educação ambiental (Art. 4º): enfoque<br />

holístico, <strong>de</strong>mocrático; concepção do meio ambiente sob o enfoque da sustentabilida<strong>de</strong>; pluralismo<br />

<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ais e concepções pedagógicas; vinculação entre ética, educação, trabalho e as práticas sociais,<br />

além do reconhecimento e respeito à pluralida<strong>de</strong> e à diversida<strong>de</strong> individual, <strong>de</strong>ntre outros. Nesta Lei<br />

também foi instituída a Política Nacional <strong>de</strong> Educação Ambiental (PNEA), que <strong>de</strong>vem ser<br />

<strong>de</strong>senvolvidas na educação em geral e na educação escolar, por meio das seguintes linhas <strong>de</strong><br />

atuação inter-relacionadas (Art. 8º): capacitação <strong>de</strong> recursos humanos, o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

estudos e pesquisas; produção e divulgação <strong>de</strong> material educativo; e, acompanhar e avaliar.<br />

Isso é mais um <strong>de</strong>safio para os educadores. Entretanto, o que não se po<strong>de</strong> como cidadão<br />

comprometido com a Educação e interessado em um País melhor, é tornar-se omisso, negligente ou<br />

até indiferente e não contribuir com esta temática.<br />

De acordo com Sato (2002), há diferentes formas <strong>de</strong> incluir a temática ambiental nos<br />

currículos escolares, com ativida<strong>de</strong>s artísticas, experiências práticas, ativida<strong>de</strong>s fora <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula,<br />

produção <strong>de</strong> materiais locais, projetos ou qualquer outra ativida<strong>de</strong> que conduza os alunos a serem<br />

reconhecidos como agentes ativos no processo que norteia a política ambientalista. Cabe aos<br />

professores, por intermédio <strong>de</strong> prática interdisciplinar, proporem novas metodologias que<br />

favoreçam a implementação da Educação Ambiental, sempre consi<strong>de</strong>rando o ambiente imediato,<br />

relacionado a exemplos <strong>de</strong> problemas atualizados.<br />

Martins (2002) relata que às escolas tem sido permitido utilizar suas i<strong>de</strong>ias e projetos num<br />

contexto configurado cada vez mais pela necessida<strong>de</strong> do estabelecimento <strong>de</strong> parcerias. E, no seu<br />

livro Pedagogia da vida cotidiana e participação cidadã, Muñoz (2004) comenta do aprofundamento<br />

<strong>de</strong> conceitos-chave como: o que é educar, o que é ser educador, o que é a infância-adolescência, o<br />

que é a participação cidadã e o que é <strong>de</strong>mocracia participativa.<br />

556


Por isso, é importante procedimentos e atitu<strong>de</strong>s visando o <strong>de</strong>senvolvimento e a<br />

implementação <strong>de</strong> ações educativas relacionadas com o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, dirigida aos<br />

alunos, aos professores, aos <strong>de</strong>mais profissionais do contexto estudantil; e também à comunida<strong>de</strong>.<br />

METODOLOGIA<br />

Este trabalho é constituído <strong>de</strong> duas etapas, a primeira da análise conceitual sobre o tema<br />

relacionando-a no contexto educacional e econômico; e na segunda, apresentar os resultados<br />

obtidos a partir da aplicação <strong>de</strong> questionário a professores <strong>de</strong> diferentes discipli<strong>nas</strong> e níveis <strong>de</strong><br />

ensino.<br />

Questionário<br />

No questionário elaborado com 9 (nove) questões abertas e/ou diretas foi indagado: on<strong>de</strong><br />

trabalha; leciona da re<strong>de</strong> pública ou privada; se a escola/universida<strong>de</strong> trata do tema educação<br />

ambiental; se a escola/universida<strong>de</strong> trata do tema <strong>de</strong>senvolvimento sustentável; quais temas<br />

complementares <strong>de</strong>veriam ser tratados como formação acadêmica e formação do cidadão e se<br />

compraria qualquer produto consi<strong>de</strong>rado ecologicamente correto.<br />

conjunta.<br />

Foram aplicados 40 questionários e após a coleta, os dados foram analisados <strong>de</strong> forma<br />

RESULTADOS E DISCUSSÕES<br />

Os resultados a seguir apresentados foram obtidos a partir da aplicação <strong>de</strong> um questionário<br />

com 9 (nove) questões diretas, em meados do terceiro trimestre do ano <strong>de</strong> 2012, a uma amostra <strong>de</strong><br />

40 professores.<br />

O grupo amostral era formado por 32 professores do sexo feminino (80%) e 8 do sexo<br />

masculino (20%).<br />

Quanto ao estabelecimento <strong>de</strong> ensino - 24 professores (60%) lecionam ape<strong>nas</strong> na re<strong>de</strong><br />

pública, 10 professores (25%) lecionam ape<strong>nas</strong> na re<strong>de</strong> particular e 6 na re<strong>de</strong> pública e privada, os<br />

quais correspon<strong>de</strong>m a 15%. Dos 40 professores pesquisados, 12 dão aula no ensino fundamental<br />

(30%), 16 no ensino médio (40%) e 12 na graduação (30). Com estes resultados po<strong>de</strong>mos constatar<br />

que contemplamos professores em diferentes setores e níveis <strong>de</strong> ensino.<br />

Os resultados para a questão: a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino em que leciona, trabalha com o tema<br />

educação ambiental estão apresentados na Figura 1.<br />

557


Figura 7 - Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino que trabalha com o tema educação ambiental.<br />

Na Figura 2 estão os resultados para: a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino em que leciona trabalha com o<br />

tema <strong>de</strong>senvolvimento sustentável.<br />

Figura 2 - Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino que trabalha com o tema <strong>de</strong>senvolvimento sustentável.<br />

Com os resultados apresentados <strong>nas</strong> figuras 1 e 2, verifica-se que este temas já vêm sendo<br />

exposto e discutido <strong>nas</strong> unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensino com bons percentuais.<br />

Também foi perguntada qual a disciplina que o professor leciona cujos resultados alcançados<br />

estão apresentados na Tabela 4.<br />

Disciplina Fundamental Médio Graduação Quantida<strong>de</strong> %<br />

Português 4 2 - 6 15<br />

Geografia - 5 5 10 25<br />

Matemática 1 1 - 2 5<br />

Ciências 6 - - 6 15<br />

558


Química - 4 - 4 10<br />

Ciências do Ambiente - - 4 4 10<br />

Gestão Ambiental - - 8 8 20<br />

TOTAL 11 12 17 40 100<br />

Tabela 4 - Resultados apresentados em (%) para a disciplina que o professor leciona.<br />

Da tabela 4 conclui-se que o maior percentual encontrado foi para os professores que<br />

lecionam geografia (25 %), seguido dos que lecionam gestão ambiental (20 %). Ressaltamos que<br />

essa amostra configura o que preconiza os PCN‘s - trabalhar <strong>de</strong> forma interdisciplinar; e a Lei Nº<br />

9.795/99 com a concepção do meio ambiente sob o enfoque da sustentabilida<strong>de</strong>.<br />

Para quais os temas que <strong>de</strong>veriam ser tratados na sua disciplina, os professores <strong>de</strong>ram uma<br />

única resposta, cujos resultados foram: resíduos sólidos (15%), recursos hídricos (20%), poluição<br />

(50%), comunida<strong>de</strong> (5%) e <strong>de</strong>smatamento (10 %).<br />

Quando foi perguntado sobre quais os temas que <strong>de</strong>veriam ser tratados como cidadão? O (A)<br />

professor(a) po<strong>de</strong>ria apresentar mais <strong>de</strong> uma resposta e em <strong>de</strong>corrência, o universo <strong>de</strong> respostas foi<br />

bem maior: problemas mundiais, recursos hídricos, poluição, ecossistema, direito ambiental,<br />

<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social, políticas públicas, certificação ambiental, população; extinção <strong>de</strong> planta e<br />

animais; e também foi citado <strong>de</strong>senvolvimento sustentável.<br />

O questionário finalizava com: Se ele (a), como cidadão (ã) – elemento fundamental da<br />

socieda<strong>de</strong> compraria qualquer produto consi<strong>de</strong>rado ecologicamente correto? Caso a resposta fosse<br />

negativa citasse o motivo. Dos 40 professores, 34 respon<strong>de</strong>ram que sim. Para os <strong>de</strong>mais (6<br />

professores), as expressões <strong>de</strong> respostas foram as mais diversas, as quais são transcritas a seguir:<br />

compraria ape<strong>nas</strong> se fosse alimentos; compraria se o preço fosse justo; compraria ape<strong>nas</strong> produtos<br />

infantis; compraria produtos para casa; compraria produtos certificados e compraria produtos<br />

recicláveis.<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Os gran<strong>de</strong>s problemas ambientais, sociais e econômicos estão cada vez mais presentes;<br />

entretanto observamos que o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável é concebido diretamente na correlação <strong>de</strong><br />

três pilares: o social, o econômico e o ambiental.<br />

Com o objetivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver no ser humano a consciência sobre o meio ambiente é que a<br />

Educação Ambiental se faz presente nos conteúdos curriculares. Ao discorrer sobre educação<br />

559


ambiental é importante consi<strong>de</strong>rar as diferenças existentes nos indivíduos e em cada região,<br />

fortalecendo o valor da participação <strong>de</strong> todos.<br />

O papel da escola, que além <strong>de</strong> repassar conteúdos programáticos, também é <strong>de</strong> um<br />

ambiente construtivo; e ao mesmo tempo se ―pre-ocupa‖ em formar alunos para viver em<br />

socieda<strong>de</strong>. A escola <strong>de</strong>ve contribuir para que o aluno adquira uma formação crítica e consciente do<br />

espaço em que vive. Concordamos que este papel não lhe cabe, unicamente.<br />

Eventos e conferências mundiais e/ou locais foram e são importantes para nortear e dirimir,<br />

entretanto o alcance <strong>de</strong> resultados <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> e muito, <strong>de</strong> mudanças na esfera governamental e<br />

empresarial. Muitos são os exemplos <strong>de</strong> que não é possível ape<strong>nas</strong> estabelecer metas que sejam<br />

universais, é preciso agir localmente, <strong>de</strong> acordo com as condições regionais e com os potenciais <strong>de</strong><br />

cada indivíduo para que se atinja o global.<br />

As atitu<strong>de</strong>s, interferências, acompanhamento, avaliação e monitoramento do governo,<br />

autorida<strong>de</strong>s e entida<strong>de</strong>s ambientais é que <strong>de</strong> fato transformarão <strong>de</strong>senvolvimento sustentável <strong>de</strong><br />

conceito para algo real.<br />

É importante ressaltar que não temos a intenção <strong>de</strong> concluir esta temática, por enten<strong>de</strong>rmos<br />

que a mesma já está fazendo parte da vida do aluno e esta etapa é ape<strong>nas</strong> uma introdução e não o<br />

único momento em que o aluno se <strong>de</strong>frontará com a situação.<br />

Por isso, <strong>de</strong>ve-se pensar e agir coletivamente, e assim as modificações também ocorrerá da<br />

atuação e interação com o meio, on<strong>de</strong> cada um também é responsável, direta e indiretamente. Por<br />

que todos têm os seus direitos, mas também os seus <strong>de</strong>veres.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

BRASIL. Constituição da República Fe<strong>de</strong>rativa do Brasil. Brasília: Senado Fe<strong>de</strong>ral, 1988. [1]<br />

BRASIL. IBGE. Indicadores <strong>de</strong> Desenvolvimento Sustentável - Brasil 2010. Disponível em:<br />

. Acesso em:<br />

Set.2012. [2]<br />

BRASIL. Lei Nº 9.394, <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação<br />

nacional. Brasília: Diário Oficial da República Fe<strong>de</strong>rativa do Brasil, 23 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1996. [3]<br />

BRASIL. Lei Nº 9.795, <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a<br />

Política Nacional <strong>de</strong> Educação Ambiental e dá outras providências. Brasília: Diário Oficial da<br />

República Fe<strong>de</strong>rativa do Brasil, 28 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1999. [4]<br />

560


BRASIL. Secretaria <strong>de</strong> Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e<br />

quarto ciclos: apresentação dos temas transversais. Brasília: MEC/SEF, 1998. [5]<br />

BRASIL. Secretaria <strong>de</strong> Educação Ambiental. Parâmetros Curriculares Nacionais: temas<br />

transversais – Ética. Brasília: MEC/SEF, 1997. [6]<br />

BRASIL. Rio + 20. Documentos da Conferência. Disponível em:<br />

. Acesso em: Ago.2012. [7].<br />

CBCS. Conselho Brasileiro <strong>de</strong> Construção Sustentável. Sobre o CBCS. Disponível em:<br />

. Acesso em: Set.2012.<br />

ORLANDO, Breno et al (coord.). Direito Tributário Ambiental. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ed. Lumen Juris,<br />

2009. GDT-Rio.<br />

MARTINS, Angela Maria. Autonomia da Escola: a (ex)tensão do tema <strong>nas</strong> políticas públicas. São<br />

Paulo: Cortez, 2002.<br />

MUÑOZ, César. Pedagogia da <strong>Vida</strong> Cotidiana e Participação Cidadã. São Paulo: Cortez, 2004.<br />

Coleção Guia da Escola Cidadã – V. 9.<br />

SATO, M. Educação Ambiental. São Carlos: Rima editora, 2002<br />

SILVA, Giselda Maria. Caracterização <strong>de</strong> Bayeux – Uma Cida<strong>de</strong> Paraibana. 2005. 66f.<br />

Monografia (Especialização em gestão e análise ambiental) - programa <strong>de</strong> pós-graduação em gestão<br />

e análise ambiental. Universida<strong>de</strong> Estadual da Paraíba, Campina Gran<strong>de</strong>, 2005.<br />

TARREGA, Maria Cristina (Coord.). Direito Ambiental e Desenvolvimento Sustentável. São Paulo:<br />

RCS editora, 2007.<br />

561


O ESPAÇO URBANO COMO MERCADORIA:<br />

REFLEXÕES SOBRE O SHOPPING RIOMAR E O PROJETO NOVO RECIFE 68<br />

Kelly Regina Santos da SILVA<br />

Mestranda do Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente<br />

(PRODEMA/UFPE) – kellyregi<strong>nas</strong>@gmail.com.<br />

Edvânia Tôrres Aguiar GOMES<br />

Orientadora e Professora do Departamento <strong>de</strong> Geografia e do PRODEMA/UFPE - torres@ufpe.br.<br />

RESUMO<br />

Sueny Carla da SILVA<br />

Mestranda do Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente<br />

(PRODEMA/UFPE) - yuens@bol.com.br.<br />

O atual contexto da cida<strong>de</strong> do Recife tem sido marcado por gran<strong>de</strong>s obras, incluindo obras viárias,<br />

empreendimentos comerciais e imobiliários, todas tem em comum o retorno da i<strong>de</strong>ologia da<br />

mo<strong>de</strong>rnização da cida<strong>de</strong>. Nesse processo, observa-se a parceria existente entre o Estado e o mercado<br />

em prol <strong>de</strong> uma ―nova cida<strong>de</strong>‖ que em larga medida aponta a continuida<strong>de</strong> do paradigma da<br />

higienização social, posto que, o espaço urbano transformado em mercadoria, só vem a aten<strong>de</strong>r os<br />

interesses do mercado, tendo como principais resultados a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> e injustiça sócioespacial. A<br />

presente proposta <strong>de</strong> reflexão parte da hipótese <strong>de</strong> que, o sistema capitalista não toma o lugar do<br />

Estado, mas, o Estado é um dos seus protagonistas e facilitador dos interesses dos grupos<br />

econômicos. Até mesmo <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um discurso <strong>de</strong> inclusão e garantia <strong>de</strong> direitos, prevalece à lógica<br />

do capital sobre as <strong>de</strong>cisões políticas. Esse contexto tem <strong>de</strong>monstrado a cada dia a valorização<br />

econômica, <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> lado os outros aspectos e necessida<strong>de</strong>s da vida comunitária, o que <strong>de</strong>ságua<br />

em um dilema histórico entre dois conceitos, o <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e o <strong>de</strong> crescimento econômico.<br />

Á luz do materialismo histórico e das teorias sobre o direito à cida<strong>de</strong> e espaço urbano remete alguns<br />

68 Pesquisa <strong>de</strong>senvolvida no Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente<br />

(PRODEMA/UFPE), sob orientação da Profa. Dra. Edvânia Tôrres Aguiar Gomes. Conta com o apoio financeiro da<br />

Coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> Aperfeiçoamento <strong>de</strong> Pessoal <strong>de</strong> Nível Superior – CAPES.<br />

562


apontamentos e problematização sobre a visão <strong>de</strong> mundo em que predomina o espaço urbano como<br />

mercadoria, que tem como principal conseqüência à negação do que se possa parecer arcaico e<br />

<strong>de</strong>sinteressante ao capital.<br />

PALAVRAS-CHAVES: mo<strong>de</strong>rnização – espaço urbano – mercadoria – capitalismo.<br />

ABSTRACT<br />

The current context of the city of Recife has been marked by major works including road<br />

construction as well as commercial and real estate ventures, all of which relate back to the i<strong>de</strong>ology<br />

of urban mo<strong>de</strong>rnization. In this process, the partnership between State and Market becomes self-<br />

evi<strong>de</strong>nt in favor of a "new city" largely gueared towards continuity of the paradigm of social<br />

hygiene, as urban space, transformed into a commodity, meets only market interests, resulting<br />

mainly in socio-spatial inequality and injustice. The analysis here proposed assumes as basis that<br />

the capitalist system does not take the State's place, however the State is one of its main players,<br />

facilitating the interests of economic groups. Even within a discourse of inclusion and guaranteeing<br />

rights, capitalist logic prevails over political <strong>de</strong>cisions. In this context, the financial value of urban<br />

space increases daily, setting asi<strong>de</strong> other aspects and needs of community life and feeding into the<br />

historical dilemma between two concepts: <strong>de</strong>velopment and economic growth. In light of historical<br />

materialism and theories on the right to the city and urban space, several points and concerns<br />

regarding the aforementioned worldview that sees urban space mainly as a commodity resulting in<br />

the <strong>de</strong>nial of anything that within it may seem archaic or unattractive to finance, shall be touched<br />

on.<br />

KEYWORDS: mo<strong>de</strong>rnization - urban space - merchandise - capitalism.<br />

A MODERNIZAÇÃO DO ESPAÇO URBANO: UM FRUTO DA IDEOLOGIA CAPITALISTA<br />

Ao tratar do presente tema vale a pena ressaltar que outras análises já foram realizadas em<br />

contexto semelhante ao vivenciado hoje na cida<strong>de</strong> do Recife. Outras cida<strong>de</strong>s como São Paulo 69 e<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro, protagonizaram ao longo da história momentos <strong>de</strong> tamanha inserção da i<strong>de</strong>ologia da<br />

69 Destacamos o trabalho realizado por Mariana Fix: FIX, M. Parceiros da exclusão: duas histórias da construção <strong>de</strong><br />

uma ―nova cida<strong>de</strong>‖ em São Paulo: Faria Lima e Água Espraiada. São Paulo: Boitempo, 2001.<br />

563


mo<strong>de</strong>rnização na constituição do espaço urbanizado. Nesta ocasião, se <strong>de</strong>staca a conjuntura<br />

vivenciada no século XIX em Recife (GOMES, 2007), em que, mudanças estruturais tomaram<br />

conta do Recife Antigo que guardada as <strong>de</strong>vidas proporções em relação às cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>stacadas acima<br />

ocasionou dilemas e questionamentos, alguns pautados na questão da conservação histórica do<br />

bairro antigo, outros visando a real possibilida<strong>de</strong> do Recife tornar-se uma cida<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna, aos<br />

mol<strong>de</strong>s dos interesses internacionais e capitalistas.<br />

No tempo presente, três gran<strong>de</strong>s obras tomam conta do centro e da zona sul da cida<strong>de</strong>; a<br />

primeira, e já quase em fase <strong>de</strong> conclusão, é o Shopping RioMar (Figura 1); a segunda é a<br />

construção da Via Mangue, com a pretensão <strong>de</strong> melhorar a mobilida<strong>de</strong> viária em toda a cida<strong>de</strong>, e<br />

por último, o mais recente projeto intitulado: ―Novo Recife‖ (Figura 1), que preten<strong>de</strong> instalar em<br />

uma região histórica da cida<strong>de</strong> um complexo formado por centros empresarial, flats e resi<strong>de</strong>nciais,<br />

totalizando 16 torres. A área em que preten<strong>de</strong> ser construído o Projeto Novo Recife localiza-se na<br />

região portuária da cida<strong>de</strong>, no bairro do Recife Antigo. Apesar <strong>de</strong> não ser uma região <strong>de</strong> moradia, a<br />

perspectiva <strong>de</strong> construção <strong>de</strong>sse gran<strong>de</strong> complexo <strong>de</strong> torres coloca a discussão sobre a construção <strong>de</strong><br />

outra cida<strong>de</strong>, que só vem favorecer os processos <strong>de</strong> exclusão social em benefício dos interesses<br />

privados.Uma vez que se, configura como um projeto maior com uma visão <strong>de</strong> mundo ainda<br />

pautada nos i<strong>de</strong>ais da i<strong>de</strong>ologia da mo<strong>de</strong>rnização.<br />

Esse caminho atual leva a reflexão sobre o processo <strong>de</strong> gentrificação, encontrado <strong>nas</strong><br />

reflexões <strong>de</strong> Otília Arantes (ARANTES; VAINER; MARICATO, 2002), concernente ao retorno<br />

burguês à localização central da cida<strong>de</strong>. Mesmo não sendo colocados a partir <strong>de</strong>ssa categoria <strong>de</strong><br />

análise, os projetos <strong>de</strong>: requalificação, revitalização, revalorização, seria dizer a mesma coisa dos<br />

espaços urbanos aburguesados e com consequente afastamento das comunida<strong>de</strong>s do entorno. São<br />

projetos que, pelas forças i<strong>de</strong>ológicas, fabricam consensos e aparecem como salvação do que<br />

outrora enfeavam a cida<strong>de</strong>.<br />

564


Figura 1 – Vista panorâmica do local <strong>de</strong> construção dos empreendimentos<br />

Shopping RioMar e Projeto Novo Recife. Fonte: Google Maps<br />

No caso da construção do Shopping RioMar, <strong>de</strong>ve-se levantar a questão <strong>de</strong> que, assim como<br />

se observa <strong>de</strong> forma ampla a cida<strong>de</strong> segregada, alguns bairros também são marcados pelas<br />

discrepâncias econômicas e sociais. A região do bairro do Pina é uma <strong>de</strong>las, sendo possível falar em<br />

―dois‖ bairros do Pina com indicadores urbanísticos, condições econômicas e sociais bem<br />

diferentes. Em um breve histórico da comunida<strong>de</strong>, nota-se o contexto colonial marcado por<br />

violações e por formas <strong>de</strong> resistência que até hoje permanecem. Como exemplo tem a representação<br />

bastante forte das religiões <strong>de</strong> matriz africana nos terreiros, sendo o bairro do Pina apontado por<br />

algumas pessoas como um quilombo urbano.<br />

À luz das reflexões da professora e urbanista Ermínia Maricato (ARANTES; VAINER;<br />

MARICATO, 2002), o que predomina no planejamento urbano é a ótica da ―mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>‖ ou<br />

mo<strong>de</strong>rnismo, resultado da importação dos padrões <strong>de</strong> planejamento urbano dos países do centro do<br />

capitalismo que funcionou na manutenção das discrepâncias sociais, garantindo a chegada da<br />

mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> ape<strong>nas</strong> para uma parte da população. Mo<strong>de</strong>lo esse que vem funcionando como um<br />

instrumento eficaz <strong>de</strong> dominação resultando sempre em cida<strong>de</strong>s segregadas, cujo resultado final se<br />

expressa em várias cida<strong>de</strong>s sendo essas oficial, formal, legal ou marginalizada por não representar a<br />

mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. Esse processo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização das cida<strong>de</strong>s é incompleto e exclu<strong>de</strong>nte, <strong>de</strong> um lado, a<br />

565


cida<strong>de</strong> tem garantida a urbanização, saneamento, pavimentação, infraestrutura, segurança; por outro<br />

lado, uma cida<strong>de</strong> precária, sem condições básicas <strong>de</strong> existência, ressente da garantia e efetivação do<br />

direito à cida<strong>de</strong>. Desse modo, não seria equivocado dizer que todas as cida<strong>de</strong>s permanecem com<br />

suas ―Casas Gran<strong>de</strong>s‖ e suas ―Senzalas‖ contemporâneas, correspon<strong>de</strong>ndo a uma situação <strong>de</strong><br />

exclusão territorial.<br />

Nesse sentido, o dilema do antigo e do novo tem uma relação intrínseca ao se tratar <strong>de</strong><br />

planejamento urbano. Logo <strong>de</strong> início, se observa que as comunida<strong>de</strong>s periféricas não são<br />

categorizadas como mo<strong>de</strong>r<strong>nas</strong> tampouco, são encontrados meios <strong>de</strong> garantir o Direito à Cida<strong>de</strong> para<br />

essa população. Tendo em vista que representam, o olhar sobre o que esteticamente é feio e não<br />

prospero, evi<strong>de</strong>nciando a necessida<strong>de</strong>, observada em vários momentos da história, <strong>de</strong> ocultar as<br />

periferias, populações, grupos que não dialogam com os padrões <strong>de</strong> vida trazidos pelo i<strong>de</strong>al<br />

mo<strong>de</strong>rnizante <strong>de</strong> mundo. Na luta dualista, contudo, <strong>de</strong> tamanha complexida<strong>de</strong>, o Estado tem seu<br />

campo <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa bem <strong>de</strong>finido, mostrando cada vez mais que não é coletivo, e sim privado,<br />

encontrando-se a serviço do mercado, da lógica neoliberal e do capitalismo, fazendo parte <strong>de</strong> uma<br />

gran<strong>de</strong> fábrica <strong>de</strong> consensos (ARANTES; VAINER; MARICATO, 2002).<br />

É sob esse aspecto que pautamos a nossa análise sobre dois conceitos chaves para se pensar<br />

a ―i<strong>de</strong>ologia da mo<strong>de</strong>rnização‖ no contexto contemporâneo, tendo em visa à própria dinâmica <strong>de</strong><br />

construções <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s empreendimentos comerciais e empresariais, principalmente em regiões<br />

vulnerabilizadas da cida<strong>de</strong>. Desse modo, torna-se necessário trabalhar com as categorias <strong>de</strong> análise:<br />

a i<strong>de</strong>ologia e o fetichismo. São perspectivas que caminham juntas e mutuamente fortalecem a<br />

permanecia dos i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização, que tem como um <strong>de</strong> seus resultados o espaço dividido e<br />

transformado em mercadoria entre quem po<strong>de</strong> e quem não po<strong>de</strong> acessar.<br />

A i<strong>de</strong>ologia, esta entendida como, ―[...] um conjunto <strong>de</strong> representações pelas quais os<br />

homens se relacionam com suas condições <strong>de</strong> existência.‖ (GARCIA, 2006, p. 24), tem um papel<br />

fundamental na manutenção dos padrões sociais já estabelecidos, bem como, na dominação dos<br />

sentidos. No contexto <strong>de</strong> mercado, a i<strong>de</strong>ologia garante a disseminação das i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> esperança,<br />

prosperida<strong>de</strong>, liberda<strong>de</strong>, igualda<strong>de</strong>, todas associadas à relação <strong>de</strong> compra. A i<strong>de</strong>ologia da<br />

mo<strong>de</strong>rnização aliada com o elemento da prosperida<strong>de</strong> proporciona o funcionamento do plano <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento meramente econômico da cida<strong>de</strong>.<br />

Tim Jackson 70 é enfático ao dizer que, nesse mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> crescimento econômico que estamos<br />

assistindo, caímos em uma ironia, uma vez que ―ven<strong>de</strong>mos a prosperida<strong>de</strong> quase literalmente em<br />

termos <strong>de</strong> dinheiro e crescimento econômico‖, isso porque, no sistema capitalista tudo se<br />

70 Ver ví<strong>de</strong>o: Tim Jackson's economic reality check – Disponível em: . Acesso em: 10 out. 2012.<br />

566


transforma em mercadoria e faz parte <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> fluxo <strong>de</strong> consumo. Nesse caminho os<br />

investimentos realizados, são pautados na busca pela novida<strong>de</strong> uma produção <strong>de</strong> consumo que por<br />

sua vez, estimula o crescimento econômico, ou melhor, garante o seu pleno funcionamento, através<br />

da produção e reprodução da novida<strong>de</strong>, é uma nova cida<strong>de</strong>, um novo espaço urbano em<br />

contraposição ao antigo que não representa mais uma cida<strong>de</strong> prospera.<br />

No contexto <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização <strong>de</strong>sse espaço urbano que envolve aspectos políticos<br />

econômicos, o discurso i<strong>de</strong>ológico é extremamente bem trabalhado para que todas as pessoas se<br />

sintam <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse processo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização, principalmente pelo discurso competente realizado<br />

pelo Estado e pelo mercado, sendo este discurso, aquele ―[...] que preten<strong>de</strong> coincidir com as coisas,<br />

anular a diferença entre o pensar, o dizer e o ser e, <strong>de</strong>starte, engendrar uma lógica da i<strong>de</strong>ntificação<br />

que unifique pensamento, linguagem e realida<strong>de</strong> [...]‖ (CHAUI, p. 3), apaziguando as tensões por<br />

meio <strong>de</strong> políticas inter<strong>nas</strong> compensatórias, voltadas para o consumo básico das populações que<br />

estão fora do circuito econômico hegemônico.<br />

Concordando com Gohn (2006), quando diz que são ações que garantem a adaptação dos<br />

Estados Nacionais às <strong>de</strong>terminações do capital internacional, como a permanente relação <strong>de</strong><br />

subordinação econômica e social, fortalecendo as diversas formas <strong>de</strong> colonização interna,<br />

compreen<strong>de</strong>ndo que o discurso do crescimento econômico, ora tratado como <strong>de</strong>senvolvimento,<br />

ganha força e legitimida<strong>de</strong>. Dentro <strong>de</strong>s<strong>de</strong> contexto o geógrafo Milton Santos observa:<br />

[…] a i<strong>de</strong>ologia do crescimento entra como uma parte importante <strong>nas</strong> <strong>de</strong>cisões <strong>de</strong><br />

investimentos dos po<strong>de</strong>res públicos. A necessida<strong>de</strong> sentida por uma equipe governamental<br />

<strong>de</strong> 'preparar o terreno' para a chegada <strong>de</strong> novas indústrias é, no final, aceito pelo povo como<br />

um comportamento inteiramente razoável. Sobretudo porque maior parte das pessoas são<br />

tranquilizadas pelos famosos índices <strong>de</strong> aumento do produto nacional. (SANTOS, 2004, p.<br />

172).<br />

Esta confirmação do crescimento econômico como o gran<strong>de</strong> salvador da cida<strong>de</strong> aparece<br />

claramente no discurso realizado pelo prefeito da cida<strong>de</strong> do Recife ao visitar as obras do<br />

empreendimento comercial Shopping RioMar, diz ele: ―Vamos gerar riquezas e elas terão que ser<br />

gastas em algum lugar. O empresário está se antecipando e será benéfico para a cida<strong>de</strong> também.‖<br />

(JOÃO da Costa..., 2010). Além <strong>de</strong> reforçar a parceria feita entre Estado e mercado, esse discurso é<br />

percebido com muita legitimida<strong>de</strong>, uma vez que é competente,<br />

[…] confun<strong>de</strong>-se, pois, com a linguagem institucionalmente permitida ou autorizada, isto é,<br />

com um discurso no qual os interlocutores já foram previamente reconhecidos como tendo<br />

o direito <strong>de</strong> falar e ouvir, no qual os lugares e as circunstâncias já foram pre<strong>de</strong>terminados<br />

567


para que seja permitido falar e ouvir e, enfim, no qual o conteúdo e a forma já foram<br />

autorizados segundo os cânones da esfera <strong>de</strong> sua própria competência. (CHAUI, p. 7)<br />

Somando-se a esses discursos, também encontramos outros aparelhos i<strong>de</strong>ológicos que<br />

colaboram com a permanência <strong>de</strong>sse discurso hegemônico, chamando atenção para a mídia que a<br />

todo tempo tem trabalhado para mostrar a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um novo momento da cida<strong>de</strong>, bem<br />

como, as peças publicitárias que agregam outros valores a este espaço urbanizado que é o centro das<br />

atenções e a gran<strong>de</strong> moeda <strong>de</strong> troca entre Estado e mercado.<br />

Para a<strong>de</strong>ntrar a nossa segunda categoria <strong>de</strong> análise, o fetichismo, <strong>de</strong>stacamos alguns<br />

aspectos dos dois projetos em foco, observando que, longe <strong>de</strong> serem construções <strong>de</strong>sconectadas<br />

esses dois projetos dialogam diretamente com o novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> cida<strong>de</strong> protagonizado pelo<br />

mercado, em aliança clara com o Estado. Trata-se <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s empreendimentos que buscam colocar<br />

a cida<strong>de</strong> no cenário <strong>de</strong> disputa nacional e internacional, sem que sejam percebidos os <strong>de</strong>vidos<br />

impactos sociais, econômicos e ambientais. Desse modo, o que está em jogo, não é a garantia do<br />

Direito à Cida<strong>de</strong>, mas, o interesse do capital sobre a cida<strong>de</strong>, ou seja, ―a i<strong>de</strong>ologia dominante<br />

preserva a situação vigente e os interesses da classe dominante‖ (GARCIA, 2006, p. 24).<br />

Ainda em Garcia (2006), encontramos as reflexões sobre o fetichismo, tratando diretamente<br />

sobre a questão do espaço urbanizado como uma mercadoria feitichizada pelo capitalismo. À luz da<br />

experiência em curso, observa principalmente <strong>nas</strong> peças publicitárias dos projetos algo que provoca<br />

estranhamento, e só nos fortalece na i<strong>de</strong>ia do fetiche que envolve esta discussão política e<br />

econômica. São as ausências e o distanciamento do real e os seus respectivos fetiches.<br />

A partir do fetichismo, observamos a transformação <strong>de</strong>sse espaço como algo bastante atrativo,<br />

agregando a garantia <strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong> social, tranquilida<strong>de</strong>, comodida<strong>de</strong> e até mesmo a liberda<strong>de</strong>,<br />

felicida<strong>de</strong> e prosperida<strong>de</strong>. Nesse caminho, o espaço urbano é uma mercadoria valiosa e com lucros<br />

financeiros garantidos pelo fetiche, que ocorre ―[...] porque a beleza e a sofisticação das<br />

mercadorias agradam os consumidores. As mercadorias são belas e excitam no observador o <strong>de</strong>sejo<br />

<strong>de</strong> posse motivando-o à compra” (GARCIA, 2006, p. 29), sendo assim, o fetiche também é um<br />

fenômeno da i<strong>de</strong>ologia burguesa capitalista.<br />

O ESPAÇO URBANO COMO MERCADORIA E A NECESSIDADE DE UMA EDUCAÇÃO<br />

PARA ALÉM DO CAPITAL<br />

Depois <strong>de</strong> observar as perspectivas sobre o espaço urbano, que envolve uma complexa<br />

relação entre o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento em curso, os interesses econômicos, o direito à cida<strong>de</strong>,<br />

568


aprofundar-se um pouco mais a sua análise como mercadoria. O po<strong>de</strong>r econômico <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> seus<br />

rumos e consequentemente quem <strong>de</strong>ve acessar esse espaço urbano, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte dos mecanismos<br />

<strong>de</strong> regulação e <strong>de</strong>bates já realizados entre Estado e movimentos sociais diversos, principalmente os<br />

que atuam na luta pelo direito à cida<strong>de</strong>.<br />

A hipótese colocada é que, diante <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo econômico capitalista, a lógica estabelecida<br />

entre o po<strong>de</strong>r público e o mercado pauta-se, em alguma medida, na venda ou troca do espaço<br />

urbano, agregando, <strong>de</strong>sse modo, os interesses das duas partes. Até agora, foi observado que, o<br />

contexto <strong>de</strong> constituição <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong> tem como parâmetro o crescimento econômico que<br />

apresenta como a única forma possível <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento a prevalência dos interesses capitalistas<br />

sobre o espaço.<br />

O paradigma <strong>de</strong> consumo instalado no contexto do crescimento econômico percebe tudo à<br />

sua volta como potencial mercadoria para suprir as necessida<strong>de</strong>s criadas pelo capital, muito embora<br />

as contestações observadas neste paradigma – ética do progresso e da mo<strong>de</strong>rnização – está a serviço<br />

<strong>de</strong> uma lógica maior, que é a visão capitalista sobre o mundo; é a racionalida<strong>de</strong> empresarial ditando<br />

seu mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> cida<strong>de</strong> para todas as pessoas e, consequentemente, indicando o lugar que é permitido<br />

a <strong>de</strong>terminadas localida<strong>de</strong>s e grupos sociais. Nesse momento, essa racionalida<strong>de</strong> empresarial, que<br />

não se distancia <strong>de</strong> uma visão instrumental <strong>de</strong> mundo, promove suas colonizações contemporâneas,<br />

ditando também seus padrões estéticos <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>, a exemplo da excessiva verticalização, vista como<br />

a única saída possível.<br />

Chama-se a atenção para o fato <strong>de</strong> que, nessa lógica capitalista, o espaço urbano é um<br />

instrumento <strong>de</strong> troca entre pares; <strong>de</strong> um lado, o Estado e do outro o mercado, contudo, essa troca se<br />

dá pela necessida<strong>de</strong> criada <strong>de</strong> mudança estética e social do espaço. O que traz a lembrança do<br />

passado é logo compreendido como ultrapassado, sendo apresentadas opções <strong>de</strong> substituição ou <strong>de</strong><br />

inovação local, tornando essa nova cida<strong>de</strong>, objeto <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo, uma mercadoria a ser consumida por<br />

quem tem o po<strong>de</strong>r do capital para pagar por ela.<br />

A ocupação e o uso do espaço ao longo da história, principalmente nos países que passaram<br />

por processos <strong>de</strong> colonização, a exemplo do Brasil, foram configurando-se conforme os interesses<br />

capitalistas. Assim, produziram os centros e as localida<strong>de</strong>s periféricas da cida<strong>de</strong>, sendo o espaço<br />

urbanizado sempre mais privilegiado. Desse modo, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> um ―Novo<br />

Recife‖ (gran<strong>de</strong>s empreendimentos comerciais e excessiva verticalização), com padrões estéticos e<br />

arquitetônicos que não dialogam com as comunida<strong>de</strong>s do entorno nem com toda a construção<br />

histórica da cida<strong>de</strong>, só leva à reflexão <strong>de</strong> que o ―antigo‖, assim referido, precisa ser substituído pelo<br />

novo. Com essa compreensão, o espaço urbano, ganha um sentido <strong>de</strong> mercadoria, que, em po<strong>de</strong>r do<br />

mercado, vai realizando substituições em parceria com o Estado.<br />

569


Esse espaço, tornando-se mercadoria, <strong>de</strong>ve ter uma estética que provoque aceitação; por<br />

outro lado, apresenta uma necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mudança periódica. Esses aspectos <strong>de</strong> mudança é<br />

observado pelos discursos <strong>de</strong> negação do passado e da mo<strong>de</strong>rnização, por meio dos quais se po<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>duzir como a inevitável inovação estética <strong>de</strong>sse espaço, que venha a aten<strong>de</strong>r às necessida<strong>de</strong>s<br />

criadas pelo capitalismo, chegando à segunda resposta, a inevitável substituição. Contudo, não se<br />

trata <strong>de</strong> um olhar conservador sobre o espaço dizendo que tudo <strong>de</strong>ve permanecer intocável, mas sim<br />

<strong>de</strong> ampliar o olhar percebendo como se tem dado a apropriação das categorias <strong>de</strong> mudança para a<br />

manutenção das relações sociais <strong>de</strong>siguais.<br />

Em outras palavras, é pertinente enten<strong>de</strong>r como o sociometabolismo do capital<br />

(MÉSZÁROS, 2008) funciona, com seu processo <strong>de</strong> acumulação e das formas encontradas para<br />

permanecer funcionando, mudando até mesmo seu discurso para se manter hegemônico. É uma<br />

totalida<strong>de</strong> reguladora. O que está em evidência, ao se observar o contexto, não é simplesmente ―[...]<br />

o bem-estar do comprador, [...] o argumento é o bem-estar do empresário, ou seja, segundo a<br />

perspectiva do valor <strong>de</strong> troca, visando à reiteração da procura.‖ (HAUG, 1997, p. 54).<br />

Mais uma vez, entra-se em uma perspectiva dualista em que o ―novo‖ se apresenta como o<br />

único paradigma possível, restando saber quem vivenciará isso e, principalmente, os custos<br />

políticos <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> crescimento econômico, camuflado pelo nome <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento. É a<br />

pressão feita pelo esquecimento do ―velho‖, entendido como aquilo que <strong>de</strong>ve ser velado pelo<br />

―novo‖, percebido como uma gran<strong>de</strong> promessa <strong>de</strong> inovação estética, esta assim entendida:<br />

[...] portadora da função <strong>de</strong> reavivar a procura torna-se uma instância <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e <strong>de</strong><br />

conseqüências antropológicas, isto é, ela modifica continuamente a espécie humana em sua<br />

organização sensível; em sua organização concreta e em sua vida material, como também<br />

no tocante à percepção, à estruturação e à satisfação das necessida<strong>de</strong>s. (HAUG, 1997, p.<br />

57).<br />

Nesse sentido, a cida<strong>de</strong> colocada à venda pelo Estado é comprada pelo mercado, e retorna<br />

para o consumo <strong>de</strong> seu público – que tem o po<strong>de</strong>r do capital, como uma forma estética que garante<br />

não só uma nova cida<strong>de</strong> para viver, mas um espaço cheio <strong>de</strong> fantasias e <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ologias <strong>de</strong><br />

superiorida<strong>de</strong>. Isso porque, para que um projeto <strong>de</strong> uma nova cida<strong>de</strong> tenha êxito, faz-se necessário<br />

prevalecer às aparências, que se po<strong>de</strong> visualizar nos discursos <strong>de</strong> que a cida<strong>de</strong> está crescendo, <strong>nas</strong><br />

promessas <strong>de</strong> garantia <strong>de</strong> emprego, renda e moradia para os que não po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>sfrutar do novo<br />

espaço, ou seja, para moradores das comunida<strong>de</strong>s que têm <strong>de</strong> sair do caminho para o ―novo‖ passar.<br />

Sendo assim, não se po<strong>de</strong> esquecer a i<strong>de</strong>ologia dominante que perpassa todo esse processo e é tão<br />

bem difundida pelos aparelhos i<strong>de</strong>ológicos, por meio dos quais são disseminadas as intencionais<br />

570


verda<strong>de</strong>s.<br />

Os discursos i<strong>de</strong>ológicos responsáveis pela venda <strong>de</strong>sse novo espaço <strong>de</strong> compras e moradias,<br />

que, além disso, significam espaços <strong>de</strong> satisfações até mesmo subjetivas. Ao comprar o espaço<br />

urbanizado, compra-se também a vista para o mar, para o rio, na promessa <strong>de</strong> ligação entre o<br />

mo<strong>de</strong>rno e a natureza, como se esta última fosse algo separada, transformando a mesma em mais<br />

um atrativo <strong>de</strong>ssa mercadoria chamada espaço urbanizado. Quanto a isso, chama-se a atenção para<br />

outro aspecto i<strong>de</strong>ológico que tem total relação nessa conjuntura <strong>de</strong> venda <strong>de</strong> um espaço urbano que<br />

garante tudo e mais um pouco; trata-se do que tem sido chamado <strong>de</strong> construções sustentáveis, que<br />

na lógica capitalista, só serve para agrega mais valor ao seu produto final.<br />

De forma geral, quem vai usufruir aquele espaço compreen<strong>de</strong> que também está ajudando na<br />

melhoria da relação socieda<strong>de</strong>-natureza, na verda<strong>de</strong>, esse ―selo <strong>de</strong> respeito ao meio ambiente‖ na<br />

conjuntura atual, torna-se uma mercadoria i<strong>de</strong>ológica. Quanto a isso, chama-se a atenção para a<br />

construção do Shopping RioMar que, em maio <strong>de</strong> 2012, recebeu a Certificação Aqua (Alta<br />

<strong>Qualida<strong>de</strong></strong> Ambiental), concebida pela Fundação Vanzolini. Contudo, algumas perguntas surgem:<br />

Sustentabilida<strong>de</strong> ambiental <strong>de</strong> quem? Para quem? De que natureza está falando?<br />

Ao falar sobre o certificado, o diretor <strong>de</strong> Divisão Imobiliária do Grupo João Carlos Paes<br />

Mendonça (JCPM), Francisco Bacelar, <strong>de</strong>staca que o projeto do shopping é ―mo<strong>de</strong>rno‖ e já <strong>nas</strong>ce<br />

com uma concepção <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong>, enfatizando:<br />

Pensamos os aspectos econômicos, sociais e ambientais do projeto. Uma das ações foi o<br />

relacionamento com as comunida<strong>de</strong>s localizadas no entorno do empreendimento, a<br />

qualificação para 2.021 moradores, em cursos <strong>nas</strong> áreas <strong>de</strong> construção civil, varejo,<br />

informática básica, aceleração <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> e jovens aprendizes. Desse total, 420 alunos<br />

trabalham hoje na obra. (RIOMAR..., 2012, grifos nossos).<br />

Essa perspectiva <strong>de</strong> empreendimentos sustentáveis funciona como apaziguadora dos reais<br />

problemas, sendo em alguma medida uma das formas <strong>de</strong> o sistema capitalista se metabolizar e se<br />

manter em funcionamento, agora sob o argumento <strong>de</strong> que é possível crescer economicamente<br />

―preservando o meio ambiente, a natureza‖ e agregando às obras a comunida<strong>de</strong> local, por meio <strong>de</strong><br />

uma educação para o capital.<br />

À luz <strong>de</strong> István Mészáros, observa-se que o capital é irreformável, qualquer tentativa <strong>de</strong><br />

reforma remediaria ape<strong>nas</strong> os efeitos, mas não alteraria o essencial nos fundamentos causais, a<br />

exemplo os selos <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> que enfraquecem a perspectiva <strong>de</strong> uma mudança na estrutura<br />

capitalista. Concorda-se com o autor, que afirma:<br />

571


As mudanças sob tais limitações, apriorísticas e prejulgadas, são admissíveis ape<strong>nas</strong> com o<br />

único e legítimo objetivo <strong>de</strong> corrigir algum <strong>de</strong>talhe <strong>de</strong>feituoso da or<strong>de</strong>m estabelecida, <strong>de</strong><br />

forma que sejam mantidas intactas as <strong>de</strong>terminações estruturais fundamentais da socieda<strong>de</strong><br />

como um todo, em conformida<strong>de</strong> com as exigências inalteráveis da lógica global <strong>de</strong> um<br />

<strong>de</strong>terminado sistema <strong>de</strong> reprodução. (MÉSZÁROS, 2008, p. 25, grifos nossos).<br />

O <strong>de</strong>safio posto situa-se no olhar sobre as formas <strong>de</strong> apropriação realizadas pelo capitalismo<br />

para estabelecer suas relações. Segundo Mészáros, mais do que um processo educacional para<br />

provocar mudanças qualitativas na socieda<strong>de</strong>, é pertinente uma ―educação para além do capital‖;<br />

compreen<strong>de</strong>ndo a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mudança na estrutura social como um todo <strong>de</strong> forma dialética:<br />

transformação social – transformação educacional, para que seja possível compreen<strong>de</strong>r as dinâmicas<br />

e, especialmente, as formas <strong>de</strong> manipulação/dominação do capital.<br />

Nesse sentido, é preciso refletir que, ainda não é possível falar em uma mudança social<br />

qualitativa e substancial, porque se muda a forma, e não a essência, uma vez que o próprio discurso<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa do meio ambiente e <strong>de</strong> garantia <strong>de</strong> direitos é apropriado pelo capital. Trata-se não só <strong>de</strong><br />

negar o capital, mas <strong>de</strong> empreen<strong>de</strong>r uma nova or<strong>de</strong>m social metabólica que rompa com todas as<br />

formas <strong>de</strong> segregação e <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s.<br />

Muito embora o autor proponha uma revolução no processo educacional para que se possa<br />

vivenciar uma socieda<strong>de</strong> transformada, evi<strong>de</strong>ncia-se as possíveis microrrevoluções que po<strong>de</strong>m ser<br />

realizadas no âmbito da vida humana; uma <strong>de</strong>las é o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scapitalização e <strong>de</strong>scolonização.<br />

É preciso olhar o mundo possível sem a transformação <strong>de</strong> tudo em mercadoria e sem privatização<br />

do bem comum; também é preciso <strong>de</strong>sconstruir o olhar <strong>de</strong> dominação que, ao longo da história, foi<br />

configurando-se mediante a dominação <strong>de</strong> pessoas e <strong>de</strong> espaços, resultando em uma estrutura<br />

po<strong>de</strong>rosa <strong>de</strong> colonialida<strong>de</strong> do po<strong>de</strong>r.<br />

REFERÊNCIAS<br />

ARANTES, O. B F. VAINER, C. B.; MARICATO, E. A Cida<strong>de</strong> do Pensamento Único:<br />

<strong>de</strong>smanchando consensos. 3. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.<br />

CARTA Mundial pelo Direito à Cida<strong>de</strong>. In: FÓRUM SOCIAL MUNDIAL, 5., 2005, Porto Alegre.<br />

2005. Disponível em: . Acesso em: 2 nov. 2010.<br />

CHAUÍ, M. Cultura e Democracia: o discurso competente e outras falas. 7. ed. São Paulo: Cortez,<br />

1997.<br />

FIX, M. Parceiros da Exclusão: duas histórias da construção <strong>de</strong> uma “nova cida<strong>de</strong>” em São<br />

Paulo: Faria Lima e Água Espraiada. São Paulo: Boitempo, 2001.<br />

572


GARCIA, M. C. As Mercadorias como Objetos <strong>de</strong> Desejo: insanida<strong>de</strong> capitalista. São Paulo:<br />

EDICON, 2006.<br />

GOHN, M. G.. Políticas Públicas e Processos <strong>de</strong> Emancipação da Globalização Econômica na<br />

Realida<strong>de</strong> Brasileira. In: MILANI, Carlos R. S. (Org.). Dossiê: or<strong>de</strong>m mundial e contestação<br />

política. Ca<strong>de</strong>rno CRH, Salvador, v. 19, n. 48, p. 537-549, set.-<strong>de</strong>z. 2006.<br />

HAUG, W. F. Crítica da Estética da Mercadoria. São Paulo: Unesp, 1997.<br />

JOÃO Carlos diz que shopping Rio Mar é o empreendimento dos seus sonhos e vai elevar estima<br />

dos recifenses. Blog <strong>de</strong> Jamildo, 18 mar. 2010. Disponível em: . Acesso em: 30<br />

maio 2012.<br />

JOÃO da Costa apoia obra no Cais José Estelita. Jornal do Commercio, Recife, 17 abr. 2012.<br />

Disponível em: . Acesso em: 30 maio 2012.<br />

JOÃO da Costa diz que Shopping Rio Mar é exemplo <strong>de</strong> um Pernambuco que pensa gran<strong>de</strong>. Blog<br />

<strong>de</strong> Jamildo, 18 mar. 2010. Disponível em: . Acesso em: 30 maio 2012.<br />

JOÃO da Costa visita obras do RioMar Shopping. A Prefeitura, 31 ago. 2011a. Disponível em:<br />

. Acesso em: 1.º jun. 2012.<br />

JOÃO da Costa visita obras do RioMar Shopping. Blog <strong>de</strong> Jamildo, 31 ago. 2011b. Disponível em:<br />

. Acesso em: 30 maio 2012.<br />

OBRAS do RioMar recebem visita <strong>de</strong> João da Costa. Blog <strong>de</strong> Jamildo, 8 fev. 2011. Disponível em:<br />

. Acesso em: 30 maio 2012.<br />

QUIJANO, A. Colonialida<strong>de</strong> do po<strong>de</strong>r, eurocentrismo e América Latina. In: LANDER, E. (Org.). A<br />

colonialida<strong>de</strong> do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Buenos Aires: Consejo Latinoamericano<br />

<strong>de</strong> Ciências Sociales (CLACSO), 2005. p. 227-278. Disponível em:<br />

. Acesso em: 10 maio 2012.<br />

RIOMAR ganha selo <strong>de</strong> valor internacional. Jornal do Commercio, Recife, 15 maio 2012.<br />

Economia. Disponível em: . Acesso em: 1.º jun. 2012.<br />

573


SANTOS, M. O Espaço Dividido: os dois circuitos da economia urbana dos países<br />

sub<strong>de</strong>senvolvidos. 2. ed. São Paulo: Ed. da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, 2004.<br />

574


CRISE AMBIENTAL, CAPITALISMO E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRÍTICA<br />

1 Laudiélcio Ferreira Maciel da SILVA<br />

2 Robério Daniel da Silva COUTINHO<br />

3 Márcia Nascimento da SILVA<br />

4 Rodrigo Correia <strong>de</strong> LIMA<br />

1 UFPE, Mestrando em Educação, laudielciosilva@ig.com.br<br />

2 UFPE, Mestrando em Comunicação, belcoutinho@gmail.com<br />

3 UFPE, Graduanda em Educação Física, marcia_<strong>nas</strong>cimentosilva@hotmail.com<br />

4 UPE, Mestrando em Gestão <strong>de</strong> Desenvolvimento Local Sustentável, meiopopular@yahoo.com.br<br />

RESUMO<br />

O trabalho busca refletir sobre crise ambiental e o modo <strong>de</strong> produção capitalista apontando a<br />

vertente da educação ambiental crítica como uma das possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> transformação no modo <strong>de</strong><br />

pensar a crise. Na abordagem, é epistemologicamente evocada a educação transformadora em<br />

Freire, no intuito <strong>de</strong> subsidiar o <strong>de</strong>bate a cerca da educação ambiental crítica e sua relação, não<br />

exclu<strong>de</strong>nte, com a educação ambiental conservadora, revelando as limitações <strong>de</strong>sta última diante do<br />

problema ambiental. Tais reflexões se fundamentam <strong>nas</strong> concepções da educação ambiental<br />

transformadora e emancipatória, representadas por Loureiro (2004; 2006; 2009) e Lima (2004;<br />

2009), respectivamente. Os resultados indicam que a vertente crítica da educação ambiental<br />

contribui para superação <strong>de</strong> uma consciência ingênua, <strong>de</strong>nunciando o capitalismo como um dos<br />

fatores geradores da crise ambiental.<br />

PALAVRAS-CHAVE: Crise Ambiental; Capitalismo; Educação Ambiental Crítica.<br />

ABSTRACT<br />

The work aims to reflect on the environmental crisis and the capitalist mo<strong>de</strong> of production pointing<br />

to critical aspects of environmental education as one of the possibilities of transformation in<br />

thinking the crisis. In approach, it is epistemologically evoked Freire in transforming education in<br />

or<strong>de</strong>r to subsidize the <strong>de</strong>bate about the critical environmental education and its relationship, not<br />

exclusionary, with environmental education conservative, revealing the limitations of the latter<br />

before the environmental problem. Such reflections are based on the concepts of environmental<br />

education transformative and emancipatory, represented by Loureiro (2004, 2006, 2009) and Lima<br />

575


(2004, 2009), respectively. The results indicate that the critical part of environmental education<br />

contributes to overcoming a naive consciousness, <strong>de</strong>nouncing capitalism as one of the factors<br />

causing the environmental crisis.<br />

KEYWORDS: Environmental Crisis, Capitalism, Critical Environmental Education.<br />

INTRODUÇÃO<br />

A reflexão sobre a crise ambiental é uma necessida<strong>de</strong> crescente e requer a permanente busca<br />

por novas soluções diante do agravamento dos problemas ambientais, os quais po<strong>de</strong>m ser<br />

<strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> <strong>de</strong>sastres naturais ou do modo <strong>de</strong> produção capitalista. Este modo <strong>de</strong> produção tem<br />

sido apontado como responsável pelos impactos ambientais (FOLADORI, 2008), gerando crises em<br />

diversos setores como o político, o econômico e o social e comprometendo a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida das<br />

pessoas.<br />

A <strong>de</strong>gradação ambiental tem sido preocupação da comunida<strong>de</strong> internacional <strong>de</strong>s<strong>de</strong> décadas<br />

passadas, entretanto, ainda em gran<strong>de</strong> escala, a população não <strong>de</strong>spertou para uma consciência<br />

crítica frente a essa problemática. A conjuntura estimula reflexões e questionamentos sobre o<br />

exercício da educação ambiental no sentido <strong>de</strong> contribuir como elemento indissociável à elevação<br />

da consciência social frente à realida<strong>de</strong> ambiental.<br />

Nosso objetivo é fazer uma reflexão teórico-filosófica sobre a crise ambiental e o modo <strong>de</strong><br />

produção capitalista. Para tal, levaremos em consi<strong>de</strong>ração a concepção da educação ambiental<br />

crítica transformadora e emancipatória, bem como a sua relação dialógica com a educação<br />

ambiental conversadora, com o intuito <strong>de</strong> revelar as bases e funções <strong>de</strong>stas em socieda<strong>de</strong>, como<br />

fundamento constitutivo da reflexão.<br />

Acreditamos que tais pon<strong>de</strong>rações servirão para compreen<strong>de</strong>rmos melhor a relação <strong>de</strong><br />

complementação entre a educação ambiental crítica e a conservadora e, sobretudo, a importância da<br />

primeira na emancipação do sujeito a partir da transformação do seu modo <strong>de</strong> pensar a crise<br />

ambiental.<br />

COMO CHEGAR LÁ ?<br />

Partimos para uma pesquisa bibliográfica <strong>de</strong> natureza qualitativa, através <strong>de</strong> uma abordagem<br />

crítica sobre o capitalismo e crise ambiental, buscando fazer uma relação <strong>de</strong> complementação entre<br />

576


a educação ambiental conservadora (múltiplas vertentes) e a educação ambiental crítica, aqui<br />

representada aqui por Loureiro (2004, 2006, 2009) e Lima (2004, 2009).<br />

Na abordagem, trouxemos para o <strong>de</strong>bate breves consi<strong>de</strong>rações sobre o modo <strong>de</strong> produção<br />

capitalista; a crise ambiental; a educação transformadora em Freire e o olhar a cerca da educação<br />

ambiental crítica transformadora e emancipatória.<br />

O trabalho se <strong>de</strong>u a partir <strong>de</strong> reflexões teórico-filosóficas e análise <strong>de</strong> conteúdo com base na<br />

bibliografia referenciada.<br />

O MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA<br />

O modo <strong>de</strong> produção capitalista avançou pelo mundo e hoje, não é mais ―privilégio‖ das<br />

gran<strong>de</strong>s potencias mundiais. Ele chega ao Brasil com todo seu po<strong>de</strong>r, que, por um lado, oferece as<br />

conquistas associadas ao consumo, base do conceito liberal <strong>de</strong> cidadania, no contexto do<br />

capitalismo, mas <strong>de</strong> outro, transforma o meio ambiente. Estas mudanças, rapidamente, promoveram<br />

crises em diversos setores sociais, inclusive, comprometendo a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida das pessoas,<br />

<strong>de</strong>gradando a natureza e o próprio homem.<br />

Guimarães (2009) nos remete ao início da ida<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna (século XV) quando já se percebe<br />

essa visão <strong>de</strong> mundo se constituindo, sob uma perspectiva evolucionista e etnocentrista. Esta última<br />

classifica como primitivos os povos que viviam mais próximos da natureza (indíge<strong>nas</strong>) e civilizados<br />

aqueles que já não <strong>de</strong>pendiam da natureza, e sim a dominam e a exploram segundo seus interesses<br />

econômicos. É nessa perspectiva que a economia mundial vem explorando nossas riquezas naturais<br />

para alimentar um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento concentrador <strong>de</strong> riquezas.<br />

Na verda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a revolução industrial iniciada em meados do século XVIII, no Reino<br />

Unido, a terra vem sofrendo <strong>de</strong>sgastes provocados pelas ações indiscriminadas das indústrias. Não<br />

mais se extrai <strong>de</strong>la o necessário para o consumo no sentido <strong>de</strong> sobrevivência, mas o exce<strong>de</strong>nte,<br />

visando o lucro incessante, ignorando as necessida<strong>de</strong>s das gerações futuras e a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tal<br />

exploração resultar no comprometimento da vida na terra. E aí o mundo entra em uma grave crise<br />

ambiental.<br />

O QUE DIZER SOBRE CRISE AMBIENTAL ?<br />

Se antes as discussões sobre crise ambiental giravam em torno das questões puramente<br />

biologizantes, hoje, diversos problemas como a escassez <strong>de</strong> recursos naturais, produção exagerada<br />

<strong>de</strong> lixo, fome, doenças, falta <strong>de</strong> moradia e muitas outras, fazem parte <strong>de</strong> ampla discussão com o<br />

577


intuito <strong>de</strong> salvar o planeta <strong>de</strong> uma crise maior, para que as futuras gerações possam gozar <strong>de</strong> um<br />

ambiente que ofereça as mínimas condições <strong>de</strong> vida ao ser humano. A comunida<strong>de</strong> internacional<br />

tem <strong>de</strong>dicado vários encontros com objetivo <strong>de</strong> discutir estas temáticas reconhecendo, portanto, o<br />

homem como sujeito na natureza.<br />

Há evidências <strong>de</strong> que a crise ambiental po<strong>de</strong> estar na socieda<strong>de</strong> capitalista, que dita as<br />

normas como a economia mundial <strong>de</strong>ve se comportar, visando exclusivamente o lucro, promovendo<br />

acúmulo <strong>de</strong> riqueza, concentração <strong>de</strong> renda, geração <strong>de</strong> pobreza, ignorando a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suporte<br />

dos ecossistemas, explorando ao máximo suas riquezas até o <strong>de</strong>sperdício. (FOLADORI, 2008).<br />

Dessa forma, ―a crise ambiental é, portanto, muito mais a crise <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> do que a<br />

crise <strong>de</strong> gerenciamento da natureza‖ (BRUGGER, 1994:27). De fato, por meio do modo <strong>de</strong><br />

produção capitalista, a humanida<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolve uma relação com a natureza, constituída por uma<br />

visão fragmentada sobre a realida<strong>de</strong>; uma visão simplista e reducionista da complexida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sta, que<br />

não permite enxergar a verda<strong>de</strong>ira gênese <strong>de</strong> uma crise ambiental, e, para piorar, impõe-lhe neste<br />

processo, o encobrimento da realida<strong>de</strong>, uma vez que lança uma espécie <strong>de</strong> nevoeiro diante dos<br />

olhos, reduzindo a consciências das pessoas em socieda<strong>de</strong>.<br />

Assim, há uma necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> romper com os paradigmas da socieda<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna criando<br />

condições que favoreça um <strong>de</strong>spertar <strong>de</strong> uma consciência crítica diante da realida<strong>de</strong> ambiental no<br />

Brasil e no mundo.<br />

Quintas (In: LOUREIRO, 2009) <strong>de</strong>screve que a idéia que se tinha no passado era <strong>de</strong> que os<br />

avanços da ciência e tecnologia nos dariam maior liberda<strong>de</strong> em termos <strong>de</strong> limitações impostas pela<br />

natureza e que nos tornaríamos seu dono sem qualquer custo. Ele nos diz que a exploração da<br />

maioria por uma minoria e o uso intensivo e predatório dos recursos naturais do planeta, tem<br />

sustentado uma or<strong>de</strong>m social injusta e ambientalmente irresponsável, colocando em risco a vida<br />

humana no planeta.<br />

Para ele o capitalismo (sistema filosófico, político, social e econômico da humanida<strong>de</strong>), é<br />

visto como responsável pelas <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s, injustiça e agressão à natureza apontando como<br />

exemplo, a obsolescência planejada <strong>de</strong> bens. Enten<strong>de</strong> que as raízes da crise estão no padrão<br />

civilizatório eurocêntrico dos homens, portador <strong>de</strong> idéias <strong>de</strong> progressos impostos aos povos pela<br />

colonização.<br />

Gadotti (2000), por sua vez, <strong>de</strong>staca que as duas últimas décadas do século XX, foram<br />

marcadas por gran<strong>de</strong>s mudanças. Para ele, estamos no tempo <strong>de</strong> expectativas e reflexão que exige<br />

cautela não só pelo início do novo milênio, mas também por ser um momento novo e rico <strong>de</strong><br />

possibilida<strong>de</strong>s. Nesse sentido, ele se propõe a examinar algumas das perspectivas atuais da teoria e<br />

da prática da educação, por enten<strong>de</strong>r que é possível falar <strong>de</strong> esperança no futuro, mesmo no<br />

578


momento em que se sabe que é possível <strong>de</strong>struir toda vida no planeta em virtu<strong>de</strong> do <strong>de</strong>scontrole da<br />

produção industrial.<br />

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL CONSERVADORA E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRÍTICA<br />

Vale esclarecer inicialmente, que, educação ambiental é antes <strong>de</strong> tudo educação. Loureiro<br />

(2004) reforça esse pensamento ao dizer que ―educação ambiental é uma perspectiva que se<br />

inscreve e se dinamiza na própria educação, formada <strong>nas</strong> relações estabelecidas entre as múltiplas<br />

tendências pedagógicas e do ambientalismo‖ (p. 66).<br />

Também é oportuno salientar que existem no campo da educação, diferentes tendências e<br />

entre elas a conservadora e a transformadora, crítica ou emancipatória, logo, tais perspectivas<br />

também se inserem na educação ambiental.<br />

A concepção conservadora está centrada na idéia <strong>de</strong> uma educação bancária, tal como<br />

<strong>de</strong>nuncia Paulo Freire, na Pedagogia do Oprimido, em que o educador <strong>de</strong>posita no educando os<br />

conhecimentos e este armazena para <strong>de</strong>pois prestar conta do que sabe, tal como recebeu, sem<br />

qualquer aporte crítico. Uma educação que não questiona o conhecimento, mas recebe tudo como<br />

uma verda<strong>de</strong> absoluta. Portanto uma educação centrada na concepção ingênua, a qual, na fala <strong>de</strong><br />

Pinto (2010):<br />

―É sempre nociva, pois engendra as mais equivocadas idéias, que se traduzem em<br />

ações e juízos que não coinci<strong>de</strong>m com a essência do processo real, que não são<br />

pois verda<strong>de</strong>iras. Não po<strong>de</strong>m levar à completa e rápida solução dos problemas que<br />

consi<strong>de</strong>ra, e somente se torna uma fonte <strong>de</strong> equívocos, <strong>de</strong> <strong>de</strong>sperdício <strong>de</strong> recursos,<br />

<strong>de</strong> intentos frustrados‖ (p. 63).<br />

Segundo Pinto (2010), o pensar pedagógico ingênuo vê o educando como ignorante e puro<br />

objeto da educação. Vê a educação como transferência <strong>de</strong> um conhecimento finito e a figura do<br />

professor como mero transmissor. Vê ainda a educação como <strong>de</strong>ver moral da fração adulta, educada<br />

e dirigente da socieda<strong>de</strong>.<br />

A vertente transformadora da educação, por sua vez, caracteriza-se por analisar, questionar,<br />

problematizar o conhecimento. É uma educação que favorece o <strong>de</strong>spertar <strong>de</strong> uma consciência<br />

crítica, que busca a emancipação do ser.<br />

A consciência crítica, da qual emana a vertente transformadora da educação, é uma<br />

complementação da ingênua. Pinto (2010) nos diz que ―a concepção crítica (...) conduz à mudança<br />

da situação do homem e da realida<strong>de</strong> à qual pertence‖ (p. 65). Isto favorece uma educação mais<br />

eficaz para a instrução da criança e do adulto. Ainda segundo este autor, o pensar pedagógico crítico<br />

579


vê o educando como sabedor e <strong>de</strong>sconhecedor, sujeito (e nunca objeto) da educação, e a educação<br />

como um diálogo entre os dois sujeitos: educador e educando.<br />

Freire (2006) é a favor <strong>de</strong>ssa educação que favorece uma ação dialógica, libertadora,<br />

revolucionária, transformadora. Para ele a dialogicida<strong>de</strong> é a essência da educação como prática da<br />

liberda<strong>de</strong>. O diálogo começa na busca pelo conteúdo programático. Este conteúdo não é uma<br />

imposição vinda <strong>de</strong> uma autorida<strong>de</strong>, mas o resultado daquilo que o povo entregou <strong>de</strong> formas<br />

<strong>de</strong>sestruturadas e agora está organizado, sistematizado e acrescido <strong>de</strong> outros elementos.<br />

Da mesma maneira também é possível pensar numa educação ambiental centrada na<br />

perspectiva ingênua (que Loureiro, 2004, vai chamar <strong>de</strong> convencional), e outra na perspectiva<br />

crítica ou transformadora.<br />

Loureiro (2004) aponta alguns pontos <strong>de</strong> divergências entre as vertentes transformadora e<br />

convencional (conservadora) da educação ambiental.<br />

Para ele a educação ambiental conservadora está focada <strong>nas</strong> ações individuais enquanto<br />

mudança <strong>de</strong> comportamentos compatíveis a um <strong>de</strong>terminado padrão <strong>de</strong> relações corretas com a<br />

natureza. A espécie humana fica reduzida a um organismo biológico, associal e a-histórico.<br />

As vertentes conservadoras da educação ambiental (<strong>de</strong>ntre elas a naturalista,<br />

conservacionista/recursista, resolutiva, moral/ética) durante vários anos, <strong>de</strong>ram importância maior<br />

às questões biologizantes da natureza (como preservação e conservação <strong>de</strong> ecossistemas e extinção<br />

<strong>de</strong> espécies) e assim, o homem ficava <strong>de</strong> fora <strong>de</strong>sse <strong>de</strong>bate, como se não fizesse parte do meio<br />

ambiente.<br />

Enten<strong>de</strong>mos que esta maneira <strong>de</strong> conceber a educação ambiental que é caracterizada pela<br />

falta <strong>de</strong> atributo crítico, reproduz <strong>de</strong> uma concepção simplista e reducionista da problemática<br />

ambiental que <strong>de</strong>seja transferir para o indivíduo a responsabilida<strong>de</strong> pelas agressões à natureza,<br />

quando <strong>de</strong> fato, os maiores (embora não os únicos) agentes poluidores do meio ambiente são as<br />

gran<strong>de</strong>s corporações, as gran<strong>de</strong>s indústrias – seja pelo <strong>de</strong>rramamento <strong>de</strong> petróleo nos mares, seja<br />

pelo lançamento <strong>de</strong> <strong>de</strong>jetos contaminantes nos rios e solo, ou ainda pelo lançamento <strong>de</strong> gases <strong>de</strong><br />

efeito estufa na atmosfera, ou até mesmo pela indústria da fome, somente para exemplificar<br />

algumas.<br />

Já a educação ambiental transformadora põe ênfase numa educação enquanto processo<br />

permanente, cotidiano e coletivo on<strong>de</strong> todos agimos e refletimos, transformando a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<br />

Está fundamentada na crítica e autocrítica e <strong>nas</strong> ações políticas em função <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>manda <strong>de</strong><br />

transformação social. Esta se complementa àquela no sentido <strong>de</strong> favorecer este aporte crítico ali<br />

ausente.<br />

580


Enten<strong>de</strong>mos que a educação como mecanismo <strong>de</strong> mudança requer uma abordagem crítica. E<br />

é pensando nessa forma <strong>de</strong> educação ambiental, que po<strong>de</strong>mos pensar em ações transformadoras<br />

para um futuro sustentável. ―A educação transformadora busca re<strong>de</strong>finir o modo como nos<br />

relacionamos conosco, com as <strong>de</strong>mais espécies e com o planeta. Por isso é vista como um processo<br />

(...) por meio do qual o indivíduo, em grupos sociais, se transforma e à realida<strong>de</strong>‖ (LOUREIRO,<br />

2004, p. 81).<br />

Neste sentido, ratifica Lima (2004, p.94), ―uma concepção crítica capaz <strong>de</strong> produzir<br />

reflexões e ações emancipatórias, uma educação ambiental aon<strong>de</strong> associa as noções <strong>de</strong> mudança<br />

social e cultural, <strong>de</strong> emancipação-libertação individual e social e <strong>de</strong> integração no sentido <strong>de</strong><br />

complexida<strong>de</strong> da realida<strong>de</strong> social‖.<br />

A mudança social evoca a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> questionamento sobre o estado atual do mundo,<br />

incluindo as relações sociais dos indivíduos consigo mesmos neste mundo, bem como com os<br />

outros e com a natureza. Assim, projeta-se também a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma reflexão sobre a mudança<br />

cultural, ou seja, a renovação dos códigos <strong>de</strong> valores dominantes na socieda<strong>de</strong>, envolvendo o<br />

homem, mas também tudo em volta do homem.<br />

Esta postura emancipatória da visão do mundo promove um processo dinâmico, da<br />

ressignificação para incorporar a <strong>de</strong>fesa do amplo <strong>de</strong>senvolvimento das liberda<strong>de</strong>s e possibilida<strong>de</strong>s<br />

huma<strong>nas</strong> e não-huma<strong>nas</strong>. Portanto, promove ―uma politização da vida que antes eram tidas como<br />

privadas ou não políticas‖ (LIMA, 2004 p.95).<br />

Não obstante, por fim, é preciso incluir a noção <strong>de</strong> integração no processo, que, por<br />

conseguinte, caminha para a complexida<strong>de</strong> da questão, favorecendo a superação <strong>de</strong> concepções<br />

conservadoras que apresentam uma visão unilateral do objeto que insiste em fragmentar a realida<strong>de</strong><br />

e explicar sua totalida<strong>de</strong> através <strong>de</strong> suas partes.<br />

LIÇÕES QUE PODEMOS LEVAR PARA A VIDA<br />

A cidadania e a participação social revela a necessida<strong>de</strong> da consciência política dos atores<br />

sociais, logo, <strong>de</strong>manda reflexões e práticas superiores à naturalização do sistema capitalista que,<br />

contemporaneamente, é ainda observado em geral, como algo <strong>de</strong>satrelado da questão histórico e<br />

cultural da evolução social.<br />

Transformá-lo em mito, como algo sobrenatural superior aos homens, é negar seus<br />

sustentáculos na vida humana, logo, <strong>de</strong>spolitizá-lo, assim, classificá-lo ape<strong>nas</strong> <strong>nas</strong> questões<br />

econômicas e negar as outras dimensões sociais <strong>de</strong>ste fenômeno humano. Fragmentá-lo é per<strong>de</strong>r a<br />

581


capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>smistificá-lo, logo, <strong>de</strong> promover o advento <strong>de</strong> ações sistêmicas em prol da<br />

sustentabilida<strong>de</strong> do planeta.<br />

Nesta perspectiva, o problema do consumo e do modo <strong>de</strong> produção, proveniente do sistema<br />

capitalista, tem que ser enquadrado enquanto parte da totalida<strong>de</strong> do problema ambiental. Assim, não<br />

po<strong>de</strong>mos ignorar as ações agressivas das indústrias ou das gran<strong>de</strong>s corporações ao meio ambiente.<br />

Agir assim é incorrer numa atitu<strong>de</strong> ingênua, logo, nociva. I<strong>de</strong>ias equivocadas se traduzem em ações<br />

não condizentes com a realida<strong>de</strong> porque não são verda<strong>de</strong>iras (PINTO, 2010).<br />

Há muito o meio ambiente vem sendo explorado para sustentar o padrão <strong>de</strong> consumo que<br />

tem efetivamente produzido benefício econômico para poucos em <strong>de</strong>trimento do bem-estar social.<br />

As conquistas associadas ao consumo, pressuposto ancorado no conceito liberal no contexto da<br />

globalização, não tem promovido <strong>de</strong> fato tal benefício à humanida<strong>de</strong>, pelo menos <strong>de</strong> forma<br />

isonômica, pelo contrário, produz mazelas e ainda encobre as suas <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s pelo aspecto do<br />

consumo.<br />

Não obstante, Freire (2006) <strong>de</strong>nuncia a opressão daqueles que estão no topo da pirâmi<strong>de</strong><br />

social. Para ele os opressores colocam os oprimidos numa situação <strong>de</strong> fome, miséria. Eles (os<br />

opressores) possuem uma ânsia <strong>de</strong>senfreada pela posse, do po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> compra, concepção materialista<br />

da existência, se apropriam da ciência e da tecnologia para manter a or<strong>de</strong>m opressora com a qual<br />

manipulam e esmagam. Certamente por força da globalização do capitalismo e do neoliberalismo<br />

que trabalham para <strong>de</strong>mocratizar o sofrimento, <strong>de</strong>struir a esperança, e assassinar a justiça. O capital<br />

que gera opressão, roubando dos podres para dar aos ricos. (MACLAREN, in: IMBERNÓN, 2000).<br />

Os oprimidos, a gran<strong>de</strong> massa, carente e necessitada, é o resultado da violência imposta<br />

pelos opressores. Violência que Chauí (2000) diz estar presente na chacina das crianças e no<br />

massacre dos sem terra, acontecimentos bárbaros característicos <strong>de</strong>ste país, mas que muitos<br />

enten<strong>de</strong>m ser um país sem violência por força dos mitos difundidos pela socieda<strong>de</strong> autoritária.<br />

O mito, segundo Chauí, é uma criação i<strong>de</strong>ológica com o intuito <strong>de</strong> impor uma visão <strong>de</strong><br />

mundo que beneficia alguns poucos brasileiros. São idéias produzidas com intencionalida<strong>de</strong> clara<br />

<strong>de</strong> mascarar a verda<strong>de</strong>ira situação <strong>de</strong> uma dada realida<strong>de</strong>.<br />

A educação ambiental crítica é uma alternativa que se apresenta para nos aproximar da<br />

verda<strong>de</strong>ira gênese das crises ambientais. Uma educação freireana, portanto a favor <strong>de</strong> uma ação<br />

dialógica, libertadora, revolucionária, problematizadora, totalmente contrária à ação antidialógica,<br />

por meio da qual os opressores conquistam os oprimidos, divi<strong>de</strong>m as suas forças para manter a<br />

opressão, manipulam e as inva<strong>de</strong>m culturalmente e os sujeitos <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> ser eles mesmos para<br />

serem os outros introjetados nele, influenciados pelo po<strong>de</strong>r econômico e pela mídia (IMBERNÓN,<br />

2000) que a cada momento difun<strong>de</strong> o mito fundador <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> autoritária.<br />

582


Não há dúvidas quanto a responsabilida<strong>de</strong> do capitalismo em provocar tanta crise ambiental<br />

com sua se<strong>de</strong> pela acumulação <strong>de</strong> riqueza. A eficácia da educação ambiental crítica como<br />

complemento da educação ambiental convencional (conservadora) parece ser a saída para nos livrar<br />

do julgo dos opressores e partirmos em <strong>de</strong>fesa da natureza - não somente em seu aspecto<br />

biologizante, ou físico ou químico, mas na sua totalida<strong>de</strong> e complexida<strong>de</strong> que caracteriza o ser<br />

humano <strong>nas</strong> suas relações com o meio ambiente em todas as suas esferas, inclusive na esfera do<br />

pensamento para tentar combater qualquer tentativa <strong>de</strong> manipulação mental.<br />

A vertente crítica da educação ambiental, em complementação às vertentes conservadoras,<br />

contribui para o <strong>de</strong>spertar <strong>de</strong> uma consciência crítica frente à crise ambiental, por que nos conduz a<br />

refletir sobre a verda<strong>de</strong>ira origem <strong>de</strong>ssas crises, mediante à superação <strong>de</strong> uma consciência ingênua,<br />

a qual <strong>de</strong>nuncia as ações <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nadas das gran<strong>de</strong>s coorporações mundiais, e rompendo com mito<br />

<strong>de</strong> que o somatório <strong>de</strong> indivíduos com suas atitu<strong>de</strong>s ecologicamente corretas po<strong>de</strong>ria evitar as crises<br />

ambientais.<br />

Não há como esgotar o <strong>de</strong>bate a cerca <strong>de</strong>ssa temática, e nem tivemos tal pretenção. Assim,<br />

somos todos convidados a manter essa discussão em futuras pesquisas, o que é <strong>de</strong> nosso interesse.<br />

REFERÊNCIAS:<br />

BRÜGGER, P. Educação ou A<strong>de</strong>stramento Ambiental? Santa Catarina: Letras Contemporâneas,<br />

1994.<br />

CHAUÍ, Marilena, Brasil: mito fundador e socieda<strong>de</strong> autoritária, São Paulo: Perseu Abramo, 2000.<br />

FOLADORI, Guillermo. A Reedição Capitalista das Crises Ambientais. 2008, nº 17, p. 189–203.<br />

FREIRE. Paulo. Pedagogia do Oprimido. São Paulo: Paz e Terra, 2006.<br />

GADOTTI, M. Perspectivas Atuais da Educação Ambiental. Porto Alegre, Ed. Artes Médicas,<br />

2000.<br />

GUIMARÃES, Mauro. Armadilha Paradigmática na Educação Ambiental. In: IMBERNÓN.<br />

Francisco. (Org) Educação no Século XXI: os <strong>de</strong>safios do futuro imediato. Porto Alegre: Artmed,<br />

2000.<br />

LIMA, Gustavo Ferreira da Costa. Educação Ambiental Crítica: do socioambientalismo às<br />

socieda<strong>de</strong>s sustentáveis. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.35, n.1, p. 145-163, jan./abr. 2009<br />

____. Educação, Emancipação e Sustentabilida<strong>de</strong>: em <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> uma pedagogia libertadora para a<br />

educação ambiental. In: I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s da Educação Ambiental Brasileira. Brasília: Ministério do<br />

Meio Ambiente, 2004.<br />

583


LOUREIRO, Carlos Fre<strong>de</strong>rico B. (org). Pensamento Complexo, Dialética e Educação Ambiental.<br />

São Paulo. Cortez, 2006.<br />

____. Trajetória e Fundamentos da Educação Ambiental. São Paulo. Cortez, 2004.<br />

____. Repensar a Educação Ambiental: um olhar crítico. São Paulo. Cortez, 2009, pp. 33-79.<br />

PINTO, Álvaro Vieira Pinto. Sete Lições sobre Educação <strong>de</strong> Adultos. São Paulo. Cortez, 2010.<br />

QUINTAS, José Silva. Crise Ambiental ou Crise Civilizatória? In: GADOTTI, M. Perspectivas<br />

Atuais da Educação Ambiental. Porto Alegre, Ed. Artes Médicas, 2000.<br />

584


RESUMO<br />

OS CONCEITOS DE SOLIDARIEDADE E DE CONSUMISMO<br />

SOB AS LENTES DA COMPLEXIDADE<br />

Luciana Roso ARRIAL<br />

FURG / IFSUL<br />

luarrial@ig.com.br<br />

Doutoranda em Educação Ambiental<br />

Professora do IFSul – Campus Pelotas/RS, Curso Técnico <strong>de</strong> Edificações<br />

Este artigo pontua uma reflexão sobre os conceitos <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> e do consumismo, através do<br />

pensamento norteador do filósofo Edgar Morin. Esses elementos, estes que permeiam a socieda<strong>de</strong><br />

contemporânea entrelaçados na educação ambiental, se fecundam na ética, valor <strong>de</strong> metamorfose,<br />

através do diálogo entre indivíduos. O conhecimento, que constitui na essência do individuo, é um<br />

importante instrumento para a percepção do mundo. Portanto, a revisão das práticas e dos princípios<br />

dos valores propostos a cada ser humano conduz ao que <strong>de</strong>nominamos <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> social, a<br />

qual nos servirá <strong>de</strong> guia para balizar nossas ações <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> ou <strong>de</strong> consumismo.<br />

PALAVRAS-CHAVE: conceito, solidarieda<strong>de</strong>, consumismo, complexida<strong>de</strong>.<br />

ABSTRACT<br />

This paper reports a reflection upon the concepts of solidarity and consumism in the light of the<br />

philosopher Edgar Morin‘s thoughts. These elements, which have been intertwined with<br />

Environmental Education in the contemporary society, are based on Ethics - a value that triggers<br />

changes - through dialogues among individuals. Knowledge, an important tool to perceive the<br />

world, constitutes the essence of these individuals. Therefore, reviewing practices and principles of<br />

values proposed to every human being leads to the so-called social responsibility, which gui<strong>de</strong>s our<br />

actions towards solidarity or consumism.<br />

KEY WORDS: concept, solidarity, consumism, complexity.<br />

CONSIDERAÇÕES INICIAIS<br />

As relações contemporâneas se caracterizam por se sustentar no estabelecimento <strong>de</strong> arranjos<br />

subjetivos que adquirem formas ao mesmo tempo rígidas e facilmente mutáveis, resultando daí um<br />

585


consi<strong>de</strong>rável potencial (auto) <strong>de</strong>strutivo que se manifesta sob a forma <strong>de</strong> uma insuficiência na<br />

autonomia do Eu como outro, que se reveste invariavelmente <strong>de</strong> um caráter compulsório e<br />

utilitarista. Isso não implica, necessariamente, a consumação <strong>de</strong> atos <strong>de</strong>strutivos no plano da<br />

realida<strong>de</strong>, mas contribui, no entanto, para a produção <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> toda natureza.<br />

Dentre os problemas originados na socieda<strong>de</strong> contemporânea está a perda da capacida<strong>de</strong> do<br />

humano em passar por suas próprias experiências <strong>de</strong> forma autônoma, em possuir discernimento<br />

para seus julgamentos sem as influências <strong>de</strong> um mundo marcado pelos ditames da indústria cultural<br />

e pelos meios <strong>de</strong> comunicação. Isso porque, a cada momento histórico, surgem i<strong>de</strong>ais <strong>de</strong> beleza, <strong>de</strong><br />

arte, regras <strong>de</strong> comportamento a serem reproduzidas socialmente.<br />

Apesar <strong>de</strong> ser esperado que o progresso da civilização proporcione um maior bem-estar ao<br />

homem e, portanto, uma maior harmonia no contexto da vida social, o homem contemporâneo é<br />

compelido ao imediatismo, resultando no agravamento <strong>de</strong> problemas no âmbito da vida afetiva e na<br />

formação <strong>de</strong> laços sociais. Isso <strong>de</strong>corre, em muito, pois disputamos um ter no lugar <strong>de</strong> ser.<br />

Necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> consumo que até então não possuíamos, mas que <strong>de</strong> um momento para outro se<br />

torna um avalanche sobre nossas vidas, um bem que não nos fazia a menor falta, passa a ter uma<br />

importância arrebatadora sobre nós.<br />

Dessa forma, (re)fazemos diariamente nossas relações sociais solidárias ou <strong>de</strong> consumismo,<br />

contudo, em pequenos atos po<strong>de</strong>mos fazer a diferença em estar no mundo, ou ser e fazer neste<br />

mundo. Nossa escolha po<strong>de</strong> vir a ser nosso conceito <strong>de</strong> vida por qualida<strong>de</strong>. Quando se fala em<br />

conceito, traduz-se a realida<strong>de</strong> através <strong>de</strong> uma linguagem escrita, conhecida por todos nós.<br />

Neste contexto, essa situação conduz à proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> se refletir sobre o conceito <strong>de</strong><br />

solidarieda<strong>de</strong> e o do consumismo, consi<strong>de</strong>rados a partir da complexida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>vido a sua importância<br />

na condução da prática da vida social, relacionado a um modo <strong>de</strong> se conduzir uma prática <strong>de</strong><br />

cuidado <strong>de</strong> si e do outro.<br />

A METAMORFOSE ATRAVÉS DO DIÁLOGO<br />

A linguagem do diálogo proporciona a compreensão do outro, mas é na individualida<strong>de</strong>,<br />

formada por um sujeito pensante e crítico, que o indivíduo, em suas relações sociais, forma o sujeito<br />

humano, que <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser mito, para ser natureza Homo complex.<br />

É importante assinalar que a compreensão é o conhecimento por projeção/i<strong>de</strong>ntificação<br />

(Morin) que torna um sujeito inteligível para outro ser-sujeito. Compreensão faz-se na<br />

alteri<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> do indivíduo/sujeito, no respeito pela inserção da cultura do outro, na i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, na<br />

diversida<strong>de</strong>, na inclusão e na igualda<strong>de</strong>.<br />

586


A noção <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong> sugere que somos capazes <strong>de</strong> nos auto-organizarmos e <strong>de</strong><br />

estabelecer relações com o outro, e é nessa relação <strong>de</strong> alterida<strong>de</strong> que o sujeito encontra a<br />

autotranscendência, superando-se, interferindo e modificando o seu meio num processo <strong>de</strong> auto-eco-<br />

organização a partir <strong>de</strong> sua dimensão ética que traduz seus valores, escolhas e percepções do mundo.<br />

Do mesmo modo, o pensamento complexo inclui a procura do autoconhecimento, que<br />

resulta da compreensão <strong>de</strong> que o ego é frágil e por isso precisa ser trabalhado e reestruturado, para<br />

que possa ser capaz <strong>de</strong> cumprir o seu papel.<br />

O pensamento complexo comporta a interdisciplinarida<strong>de</strong> <strong>de</strong> saberes a ser posta em prática<br />

na concretu<strong>de</strong> dos sistemas da natureza. A compreensão <strong>de</strong> que a interdisciplinarida<strong>de</strong>, segundo<br />

Calloni (2006 :13) ―não é ape<strong>nas</strong> um enfoque consciente da multidimensionalida<strong>de</strong> do<br />

conhecimento humano (...) mira da formação <strong>de</strong> um ser humano integrado e eticamente<br />

comprometido com as transformações que envolvem o conjunto da humanida<strong>de</strong> e do ecossistema<br />

planetário.‖<br />

Assim, o sujeito se constitui a partir do diálogo, na diversida<strong>de</strong>, no pluralismo que se traduz<br />

<strong>nas</strong> diversas formas <strong>de</strong> vida, isto é, no <strong>de</strong>spren<strong>de</strong>r-se do rotulado, para aceitar o <strong>de</strong>safio do diferente.<br />

Através do compreen<strong>de</strong>r as conexões, compreen<strong>de</strong>r também a prática social e <strong>de</strong>screvê-la, pondo<br />

ênfase <strong>nas</strong> suas relações com as outras práticas individuais e coletivas. É necessário, também, ter o<br />

sentido dialógico, enten<strong>de</strong>r os processos concorrentes, contraditórios e complementares que<br />

<strong>de</strong>finem estas instâncias do diálogo humano.<br />

EM UM NÓS: SOLIDARIEDADE E CONSUMISMO<br />

Edgar Morin (1921 - ...) afirma que é no processo <strong>de</strong> autoafirmação <strong>de</strong> inclusão que o seu<br />

Eu inclui-se em um Nós, na família, <strong>nas</strong> solidarieda<strong>de</strong>s, <strong>nas</strong> relações sociais e porque não dizer, <strong>nas</strong><br />

relações diárias <strong>de</strong> consumo. Inclui-se como um ponto hologramático, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o seu <strong>nas</strong>cimento até a<br />

morte, através do apego às pessoas próximas. A inclusão respon<strong>de</strong> pela consciência <strong>de</strong> um nós<br />

coletivo, on<strong>de</strong> o sentido da solidarieda<strong>de</strong> encontra-se vinculado ao processo <strong>de</strong> fortalecimento das<br />

relações <strong>de</strong> pertencimento a uma comunida<strong>de</strong>, a uma socieda<strong>de</strong> e da construção <strong>de</strong> uma cidadania<br />

ambiental.<br />

Não fará sentido buscar uma relação harmoniosa com a Natureza se não tivermos<br />

um mínimo <strong>de</strong> boa vonta<strong>de</strong> no sentido <strong>de</strong> compreendê-la como verda<strong>de</strong>iramente<br />

Outra. Se, ao contrário, lutarmos para impor significados, previsão ou comando à<br />

natureza, estaremos entrando numa relação <strong>de</strong> conquista e não <strong>de</strong> diálogo (Grun,<br />

2007: 153)<br />

587


O princípio <strong>de</strong> inclusão rivaliza com o <strong>de</strong> exclusão e é ele que faz o indivíduo sentir-se parte<br />

<strong>de</strong> uma coletivida<strong>de</strong>. Ele transforma o eu em nós e po<strong>de</strong> se expressar na forma <strong>de</strong> altruísmo,<br />

favorecendo atos eticamente <strong>de</strong>sejáveis. O sujeito vive, então, oscilando entre o egocentrismo e o<br />

potencial existente em cada sujeito para a prática do altruísmo, consi<strong>de</strong>rando que a existência <strong>de</strong><br />

ambos, egoísmo e altruísmo, se dirige ao olhar sobre a ética experimentada pela indivíduo/sujeito,<br />

em uma relação <strong>de</strong> reconstrução na história da vida.<br />

O princípio <strong>de</strong> exclusão é antagônico à alterida<strong>de</strong> e é o responsável pela i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> singular<br />

<strong>de</strong> cada sujeito. Este princípio se expressa como egocentrismo, o qual po<strong>de</strong> vir a se tornar egoísmo.<br />

O princípio <strong>de</strong> exclusão <strong>de</strong>fine-se como um fechamento ao outro, que inclui a concorrência e o<br />

antagonismo em relação ao seu próximo. Assim, ora carrega o amor pelo outro, ora a morte do<br />

outro, garantindo a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> do eu mesmo.<br />

Tem-se, nesta lógica, como uma marca <strong>de</strong>finidora da contemporaneida<strong>de</strong>, os discursos<br />

i<strong>de</strong>ológicos dominantes, a cultura em sua forma mercadorizada produz comportamentos <strong>de</strong><br />

consumo, <strong>de</strong>correntes da subordinação <strong>de</strong> processos constitutivos da subjetivida<strong>de</strong>, como a<br />

i<strong>de</strong>ntificação, os i<strong>de</strong>ais e o <strong>de</strong>sejo à lógica mercantil. O consumismo passou a ser o principal i<strong>de</strong>al<br />

contemporâneo.<br />

Notadamente, vivemos na era do consumo para a satisfação <strong>de</strong> elementos articulados<br />

diretamente com o indivíduo, uma socieda<strong>de</strong> consumista, no qual o ter se rivaliza com o ser.<br />

Segundo Bauman (2005: 98),<br />

A socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> consumo é a socieda<strong>de</strong> do mercado, todos estamos <strong>de</strong>ntro e no<br />

mercado, ao mesmo tempo clientes e mercadoria, não admira que o uso/consumo<br />

das relações huma<strong>nas</strong>, e assim, por procuração, também <strong>de</strong> nossas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s<br />

(nós nos i<strong>de</strong>ntificamos em referência a pessoas com quais nos relacionamos), se<br />

emparelhe, e rapidamente, com padrão <strong>de</strong> uso/consumo <strong>de</strong> carros, imitando o ciclo<br />

que se inicia na aquisição e termina no <strong>de</strong>pósito <strong>de</strong> supérfluos.<br />

A roupa da moda, o sapato, o acessório, o celular, os óculos, que variam <strong>de</strong> estação para<br />

estação. E quem não os tem significa que não tem po<strong>de</strong>r aquisitivo para tal ou que está <strong>de</strong> fora do<br />

―tipo‖ atual, como <strong>de</strong>nominado por Ghiral<strong>de</strong>lli Jr. (2007), ou seja, fadado a não ter sucesso na vida,<br />

pois o corpo visual passa a ser o ―eu‖.<br />

A construção <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sujeito acontece ao se fazerem concessões no cotidiano,<br />

se autorregulando <strong>de</strong> conformida<strong>de</strong> com o meio, mas mantendo sua integrida<strong>de</strong>, sua atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> auto-<br />

organização, porém <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> suas próprias teorias para dar sentido à vida, que estão sempre se<br />

renovando por meio das relações sociais.<br />

588


Nesta perspectiva, ―tudo aquilo que é sentido por nós faz sentido, ao mesmo tempo em que<br />

nos indica um sentido a seguir‖ (Duarte Jr., 2006: 217); assim, os sentimentos são cognitivos como<br />

qualquer outra percepção, mas é necessário sentir e prestar atenção a estes sentimentos, pensar nos<br />

estímulos que os provocam no caminhar <strong>de</strong> nossa vida em socieda<strong>de</strong>.<br />

Quanto ao consumismo percebe-se a mudança <strong>de</strong> hábitos no <strong>de</strong>correr da história. Primeiro<br />

como exemplo, quando se comprava uma roupa e esta não servia, a tal peça do vestuário era<br />

ajustada ao corpo, ou seja, a coisa era submetida ao ajuste da vonta<strong>de</strong> humana. Atualmente, a peça<br />

do vestuário virou sujeito e ela que diz como <strong>de</strong>ve ser o corpo. O corpo é ajustado à roupa, que<br />

passa a ser o sujeito da ação. Há uma inversão <strong>de</strong> papéis e uma apatia do indivíduo. O corpo como<br />

obrigação <strong>de</strong> chamar a atenção. O que aparece não é o sujeito, o indivíduo, mas meros corpos.<br />

―A i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, migrando para o corpo, sendo este um elemento do parecer e do aparecer,<br />

veio a calhar em uma socieda<strong>de</strong> em que todos os movimentos <strong>de</strong>morados, reflexivos foram<br />

substituídos pelo olhar do relance e pelo julgamento a partir do visual‖ (Ghiral<strong>de</strong>lli Jr., 2007: 12). E,<br />

portanto, ―todos, então, são objetos. Todos os vivos são coisas mortas. Em contrapartida, todas as<br />

coisas mortas, objetos, po<strong>de</strong>m se comportar como vivos – como sujeitos‖(Ibi<strong>de</strong>m: 107). A<br />

sacieda<strong>de</strong> está no prazer <strong>de</strong> consumir, nesse mundo on<strong>de</strong> tudo é imagem e mercadoria: as relações,<br />

a subjetivida<strong>de</strong>, o sujeito.<br />

Na era do consumismo, que po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>nominado por mercantilização, as relações sociais<br />

são mediadas pela imagem, em que se passa o tempo a olhar e ser olhado. São indivíduos que<br />

sofrem uma re-educação estética, tendo, neste caso, a estética como combustível para a vida dos<br />

seres humanos.<br />

No ―tipo‖ sustenta-se a essa i<strong>de</strong>ia a transição da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> vivendo em uma condição pós-<br />

mo<strong>de</strong>rna, em que indivíduos estão preparados para serem diferentes a cada dia. Tipos visíveis que<br />

trazem a ética e a moral para o interior da estética.<br />

Percebe-se que o ―tipo‖ aparece não para substituir a palavra, mas para ocupar um espaço<br />

vazio, visto que a palavra, que necessita <strong>de</strong> um esforço intelectual, foi ou está quase que<br />

abandonada. Dessa forma, a partir da mercantilização, se instaura no período pós-mo<strong>de</strong>rno uma<br />

forma singular <strong>de</strong> prazer, o prazer <strong>de</strong> consumir, evi<strong>de</strong>nciando o caráter <strong>de</strong> fetiche assumido pelo<br />

consumo.<br />

Para tanto, a construção do conhecimento se faz por movimentos retroativos e recursivos, é<br />

o movimento em espiral visto em Morin (2005 b), no qual o produto retroage sobre o processo e<br />

sobre a causa, incorporando-os e modificando-os. O conhecimento é um importante instrumento<br />

para a reconstrução da percepção do mundo, que constitui a essência do sujeito provisório e<br />

dinâmico.<br />

589


O sujeito quando apren<strong>de</strong>, conforme Santos (2001), sofre uma mudança estrutural em todo o<br />

organismo, pois se criam re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> interconexões neuronais para conviver com as transformações<br />

ocorridas em seu meio, ou seja, o homem ao apren<strong>de</strong>r, modifica-se.<br />

Nesse sentido, socieda<strong>de</strong> e natureza formam uma conexão tornando-se uma re<strong>de</strong> complexa,<br />

permeando grupos, on<strong>de</strong> os indivíduos formam a totalida<strong>de</strong> moral e social. Enfim, não é porque<br />

muitos viraram ―tipos‖ que se <strong>de</strong>svincula a relação do homem com o mundo, <strong>de</strong>sta forma, as<br />

relações sociais continuam sendo traçadas.<br />

Com consciência <strong>de</strong> sua existência, o ser humano analisa suas posturas e suas convicções<br />

diariamente para que, então, possa atingir a verda<strong>de</strong> e o conhecimento necessário para permanecer<br />

ou mesmo alterar a sua relação com os outros e com o mundo.<br />

A partir da consciência <strong>de</strong> si, dos seus erros e acertos, po<strong>de</strong>mos compreen<strong>de</strong>r os outros seres<br />

humanos. A consciência <strong>de</strong> si, <strong>de</strong> seus atos e <strong>de</strong> suas convicções, conduz a uma autoanálise, cuja<br />

prática direciona a alterida<strong>de</strong>. É através <strong>de</strong>sta autoanálise que nos dirigimos aos princípios<br />

necessários para uma vida em socieda<strong>de</strong> e a prática da solidarieda<strong>de</strong>.<br />

Conforme Morin (2005 c: 100), ―a consciência <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> é característica <strong>de</strong> um<br />

indivíduo-sujeito dotado <strong>de</strong> autonomia (<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte como toda autonomia). A responsabilida<strong>de</strong>,<br />

contudo, necessita ser irrigada pelo sentimento <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong>, ou seja, <strong>de</strong> pertencimento a uma<br />

comunida<strong>de</strong>.‖<br />

O ser humano reage e respon<strong>de</strong> diferentemente frente às ações sobre o meio, como diz<br />

Morin na ―ecologia da ação‖ 71 . Trata-se <strong>de</strong> uma ética <strong>de</strong> si para si, que automaticamente inva<strong>de</strong> o<br />

outro, uma ética da compreensão, uma ética da cordialida<strong>de</strong> e, então, uma ética da solidarieda<strong>de</strong>.<br />

Ética como fonte do <strong>de</strong>ver, da moral <strong>de</strong>ntro do princípio da inclusão (Morin, 2005 c: 29), é um ―ato<br />

<strong>de</strong> religação‖ com a espécie humana.<br />

Morin (2005 c:100) relata que: ―enquanto a solidarieda<strong>de</strong> alimenta a nossa responsabilida<strong>de</strong>,<br />

a ecologia da ação mina-a. Com efeito, o sentido das nossas ações éticas po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>sviado ou<br />

pervertido pelas condições do meio em que se realizam.‖<br />

As relações <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>monstram que ―um e outro são inseparáveis, nem um em<br />

outro é o primeiro. Temos que compreen<strong>de</strong>r plenamente que a noção-anel <strong>de</strong> ―autos‖ é<br />

produtivamente anterior às noções <strong>de</strong> corpo, <strong>de</strong> alma, <strong>de</strong> espírito, e que a noção-anel <strong>de</strong> indivíduo-<br />

sujeito é logicamente anterior a elas.‖ (Morin, 2002: 321)<br />

O conceito <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> po<strong>de</strong> se fundamentar <strong>nas</strong> seguintes guias da complexida<strong>de</strong>, que<br />

se constroem a partir <strong>de</strong> princípios éticos em conformida<strong>de</strong> com o meio, sendo:<br />

71 ―Ecologia da ação‖ refere-se ao fato <strong>de</strong> que as nossas faces <strong>de</strong> boas intenções sofram possíveis perturbações ao longo<br />

dos seus objetivos, po<strong>de</strong>ndo não realizar os seus i<strong>de</strong>ais propostos inicialmente. (Morin: 2002)<br />

590


Ética da religação, que entrelaça todas as formas <strong>de</strong> vínculos e fraternida<strong>de</strong>, para a<br />

reconstrução individual e coletiva. As forças <strong>de</strong> religação são minoritárias em relação às<br />

forças <strong>de</strong> dispersão, <strong>de</strong> separação e aniquilação, as barbáries e cruelda<strong>de</strong>s. Mas, são as forças<br />

<strong>de</strong> religação que criam a diversida<strong>de</strong> da vida, vivendo uma dialógica <strong>de</strong> criação-<strong>de</strong>struição.<br />

A resistência à cruelda<strong>de</strong> do mundo é, por assim dizer, a ética <strong>de</strong> aceitação do mundo.<br />

Ética do diálogo, que participa, que informa, que difun<strong>de</strong>, que argumenta. A construção do<br />

conhecimento, da solidarieda<strong>de</strong> se fundamenta no diálogo, cujo aprendizado ocorre com<br />

diferentes interlocutores que participam das conversas.<br />

A ética da compreensão, que permite o conhecimento do sujeito em toda sua<br />

multidimensionalida<strong>de</strong>; isto é, o resgate da inteireza do ser humano.<br />

A ética da magnanimida<strong>de</strong>, que se contrapõe à barbárie e ao preconceito. Compreen<strong>de</strong>r a<br />

incompreensão, investigando as razões subjetivas e socioculturais que a provocam e a<br />

estudar as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> compreensão e generosida<strong>de</strong>. É esse procedimento que torna<br />

possível o perdão, uma força re<strong>de</strong>ntora e regeneradora na direção do outro.<br />

A ética da boa vonta<strong>de</strong>, para assumirmos a condição humana com a sabedoria que integra a<br />

racionalida<strong>de</strong> e a loucura da vida. Não basta ao sujeito a vonta<strong>de</strong> da boa ação, mas <strong>de</strong><br />

analisar se correspon<strong>de</strong> ao que queria para ele, para a socieda<strong>de</strong> e para o planeta. Isso<br />

implica conhecer a humanida<strong>de</strong> como uma comunida<strong>de</strong> planetária composta <strong>de</strong> sujeitos que<br />

vivem em <strong>de</strong>mocracia com consciência <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>stino que po<strong>de</strong>, então, nos<br />

conduzir a uma comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<br />

A ética da resistência; para combater as cruelda<strong>de</strong>s que se <strong>de</strong>senvolvem no mundo.<br />

Da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong> percebemos que a ética é o eixo que permeia a solidarieda<strong>de</strong>.<br />

Logo, o somatório do aprendizado das vivências e das experiências oferecidas ao longo da vida em<br />

socieda<strong>de</strong>, quando sedimentados através <strong>de</strong> processos reflexivos, é que virão a constituir o que<br />

realmente po<strong>de</strong>remos <strong>de</strong>nominar vida do homem e, no mundo, em suas diferenças, semelhanças e<br />

contradições. Tudo isso porque resultam em uma expectativa <strong>de</strong> transformação, <strong>de</strong> interação e <strong>de</strong><br />

interconexão, todas imbricadas <strong>de</strong> maneira invisível, mas intensa, isto é, a solidarieda<strong>de</strong> é um valor<br />

fundamental que constitui a essência do ser humano.<br />

O pensar o bem é uma condição humana que se nutre <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong> conduzindo os<br />

sujeitos ao julgamento e práticas éticas. Nesta condição, o princípio <strong>de</strong> religação se orienta para a<br />

solidarieda<strong>de</strong>. Neste sentido, o pensamento complexo compreen<strong>de</strong> a incerteza como uma<br />

591


característica forte. Ao mesmo tempo, exige do indivíduo uma capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> autoregulação e<br />

autonomia.<br />

Uma das características do refletir é conseguir perceber a verda<strong>de</strong> no ponto <strong>de</strong> vista daquele<br />

que apresenta uma i<strong>de</strong>ia contrária à que você <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>. A autocrítica surge da disposição <strong>de</strong> abertura<br />

para ouvir o outro e a si mesmo. Para que isso seja possível, é necessário que o sujeito seja capaz <strong>de</strong><br />

pensar dialogicamente, que represente uma luta contra os preconceitos, a egocentricida<strong>de</strong> e o<br />

autoengano.<br />

Somos verda<strong>de</strong>iramente cidadãos, dissemos, quando nos sentimos solidários e<br />

responsáveis. Solidarieda<strong>de</strong> e responsabilida<strong>de</strong> não po<strong>de</strong>m advir <strong>de</strong> exortações<br />

piegas nem <strong>de</strong> discursos cívicos, mas <strong>de</strong> um profundo sentimento <strong>de</strong> filiação<br />

(affiliare, <strong>de</strong> filius, filhos), sentimento matripatriótico que <strong>de</strong>veria ser cultivado <strong>de</strong><br />

modo concêntrico sobre o país, o continente, o planeta. (Morin, 2005 a: 74)<br />

A revisão das práticas e dos princípios a partir do entrelaçamento dos valores propostos<br />

conduz ao que <strong>de</strong>nominamos <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> social. A responsabilida<strong>de</strong> social inicia com a<br />

mudança da pessoa em relação às suas atitu<strong>de</strong>s, que se dá a partir da interativida<strong>de</strong> com o outro.<br />

Mudanças representam condições <strong>de</strong> renúncias, que levam à estranheza, ao <strong>de</strong>sequilíbrio e à<br />

<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m. As mudanças necessitam ser instigadas, mas sem a garantia <strong>de</strong> que todos mu<strong>de</strong>m na<br />

mesma direção, pois a direção a ser assumida, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> das lentes que utilizamos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />

<strong>nas</strong>cemos compondo-nos até a nossa morte, no trânsito <strong>de</strong> experiências vividas com maior ou<br />

menor intensida<strong>de</strong> com os <strong>de</strong>mais humanos e não humanos.<br />

CONCLUINDO<br />

A velocida<strong>de</strong> da socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> consumo é cada vez maior. Um verda<strong>de</strong>iro bombar<strong>de</strong>io <strong>de</strong><br />

informações, <strong>de</strong> novida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> produtos que precisamos da noite para o dia, o que antes não havia<br />

necessida<strong>de</strong> e que em poucas horas há uma massificação do uso e da suposta importância do<br />

produto.<br />

Ocorre que o processo <strong>de</strong> informação <strong>de</strong>positada nos indivíduos é mais veloz que o<br />

processo <strong>de</strong> assimilação dos mesmos sujeitos. O que nos resta perguntar é: será que precisamos<br />

trocar <strong>de</strong> produto? Será que precisamos <strong>de</strong> tal mercadoria? Isto ou aquilo fará diferença na nossa<br />

vida ou no nosso <strong>de</strong>senvolvimento como homo complex?<br />

592


Neste nosso mundo não po<strong>de</strong>mos impor a perfeição, mas po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>sejar e vislumbrar a<br />

virtu<strong>de</strong>, adotando um modo <strong>de</strong> vida virtuoso para com os seres humanos que o coabitam. Nós<br />

po<strong>de</strong>mos e <strong>de</strong>vemos, sempre, tentar.<br />

A realida<strong>de</strong> social é multidimensional, comporta elementos multifuncionais históricos que<br />

condicionam o nosso ―ethos‖ enquanto sujeitos sociais cuja autonomia/<strong>de</strong>pendência sequer<br />

imaginamos. Em <strong>de</strong>terminado momento, um fator sobressai ao outro, enca<strong>de</strong>ando um jogo <strong>de</strong> inter-<br />

retro-ações.<br />

Os princípios <strong>de</strong> inclusão e <strong>de</strong> exclusão convivem como em um gráfico senoidal, ora<br />

oscilam na parte superior da linha <strong>de</strong> referência, ora na inferior. Assim, po<strong>de</strong>mos comparar o<br />

consumismo como um ato <strong>de</strong> exclusão <strong>de</strong> um nós da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> do planeta e, os atos solidários, aos<br />

princípios <strong>de</strong> inclusão.<br />

A solidarieda<strong>de</strong> só tem sentido se for praticada. Quando nos posicionamos crítica e<br />

criativamente no espaço que vivenciamos e quando escolhemos pensar e fazer o bem. Quando<br />

percebemos o outro na sua dimensão humana compartilhada conosco, respeitando como cidadão<br />

terrestre, em uma comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>stino, enten<strong>de</strong>ndo e compreen<strong>de</strong>ndo suas i<strong>de</strong>ias e seus<br />

sentimentos. Mas, tudo isso não é suficiente se existe a incompreensão quanto ao outro, no<br />

egocentrismo, na autojustificação.<br />

Precisamos apren<strong>de</strong>r a viver, a partilhar, a comungar e a comunicar enquanto humanos no<br />

planeta Terra. Somos peças <strong>de</strong> um quebra-cabeças que na sua montagem atinge sua completu<strong>de</strong>,<br />

pois compartilhamos <strong>de</strong> uma paisagem comum, a vida. Mas todos estamos ameaçados pela morte<br />

dos valores <strong>de</strong> comum-unida<strong>de</strong>. Há necessida<strong>de</strong>, inconsciente ou consciente, <strong>de</strong> reforma <strong>de</strong> vida, <strong>de</strong><br />

privilegiar as qualida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> retomar e rever as nossas relações uns com os outros, estando em<br />

comunida<strong>de</strong>s sem per<strong>de</strong>r a nossa autonomia.<br />

A solidarieda<strong>de</strong> é uma ação política, pois orienta nossas ações <strong>de</strong> forma coletiva, como<br />

construtores <strong>de</strong> práticas <strong>de</strong> cidadania. Mas, há que se partir <strong>de</strong> um ponto-chave e este é, sem<br />

dúvida, o <strong>de</strong> que a solidarieda<strong>de</strong> é, antes <strong>de</strong> tudo, concretu<strong>de</strong> das relações, portanto, liga<br />

efetivamente uns seres humanos a outros.<br />

A solidarieda<strong>de</strong> presente <strong>nas</strong> relações huma<strong>nas</strong> oferece alternativas sintonizadas com a<br />

socieda<strong>de</strong> contemporânea, cujos conflitos, diferenças e riscos colocam em dúvida a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida no planeta terra.<br />

A solidarieda<strong>de</strong> potencializa a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> participar, <strong>de</strong> intervir, <strong>de</strong> promover mudanças<br />

e <strong>de</strong> se relacionar com os seres humanos e não humanos. Com isso, cresce a capacida<strong>de</strong> e a<br />

qualida<strong>de</strong> humana <strong>de</strong> exercer a cidadania <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>mocrática, <strong>de</strong> estabelecer novos laços <strong>de</strong><br />

sociabilida<strong>de</strong> sem per<strong>de</strong>r <strong>de</strong> vista em nenhum momento a existência do outro.<br />

593


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

BAUMAN, Zygmunt. I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>: entrevista a Bene<strong>de</strong>tto Vecchi. Trad. Carlos Alberto Me<strong>de</strong>iros.<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005.<br />

CALLONI, Humberto. Os Sentidos da Interdisciplinarida<strong>de</strong>. Pelotas: Seiva, 2006.<br />

DUARTE JR. João Francisco. O sentido dos Sentidos: a educação (do) sensível. 4 ed. Curitiba:<br />

Criar Edições Ltda, 2006.<br />

GHIRALDELLI JR., Paulo. O corpo: filosofia e educação. São Paulo: Ática, 2007.<br />

GRUN, Mauro. Em Busca da Dimensão Ética da Educação Ambiental. Campi<strong>nas</strong>, SP: Papirus,<br />

2007.<br />

MORIN, Edgar. A Cabeça Bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. 11. ed.<br />

Tradução <strong>de</strong> Eloá Jacobina. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Bertrand Brasil, 2005 a.<br />

MORIN, Edgar. O método II: a vida da vida. 2. ed. Tradução <strong>de</strong> Marina Lobo. Porto Alegre:<br />

Sulina, 2002.<br />

MORIN, Edgar. O Método III: o conhecimento do conhecimento. 3. ed. Tradução <strong>de</strong> Juremir<br />

Machado da Silva. Porto Alegre: Sulina, 2005 b.<br />

MORIN, Edgar. O Método VI: ética. 2. ed. Tradução <strong>de</strong> Juremir Machado da Silva. Porto Alegre:<br />

Porto Alegre: Sulina, 2005 c.<br />

SANTOS, Antonio Raimundo dos. Metodologia Científica: a construção do conhecimento. 4. ed.<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro: DP&A, 2001.<br />

594


RESUMO<br />

EDUCAÇÃO AMBIENTAL:<br />

UMA EXPERIÊNCIA NO CONTEXTO DO SEMIÁRIDO PARAIBANO<br />

Paulo Luciano da Silva SANTOS<br />

Técnico em CT&I MCTI/INSA, email: paulo@insa.gov.br<br />

Everaldo Gomes da SILVA<br />

Analista em CT&I MCTI/INSA, email: egomes@insa.gov.br<br />

Ana Paula Silva dos SANTOS<br />

Bolsista FINEP/MCTI/INSA, email: asantos@insa.gov.br<br />

O presente trabalho é resultado <strong>de</strong> ações em andamento do Projeto Ensaio Ambiental, que visam<br />

provocar e fortalecer práticas <strong>de</strong> Educação Ambiental no campo <strong>de</strong> propostas pedagógicas e<br />

contextualizadas, em escolas públicas, situadas no semiárido paraibano, em particular na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Campina Gran<strong>de</strong>, além <strong>de</strong> chamar a atenção <strong>de</strong> alunos e professores acerca da contribuição da<br />

ciência, da tecnologia e da inovação nessa área. O projeto surgiu da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pensar sobre a<br />

problemática dos resíduos sólidos, enten<strong>de</strong>ndo como isso afeta a vida da população da referida<br />

região. Por meio <strong>de</strong> uma metodologia participativa e da vivência das comunida<strong>de</strong>s, buscou-se<br />

implementar uma experiência piloto, em sete escolas da zona urbana e rural. Os resultados parciais<br />

já <strong>de</strong>monstram o empo<strong>de</strong>ramento <strong>de</strong> práticas ecológicas no dia a dia das escolas e o <strong>de</strong>spertar para<br />

consciência cidadã e crítica.<br />

PALAVRAS-CHAVE: Educação Ambiental; Resíduos Sólidos; Semiárido; Projeto Ensaio<br />

Ambiental.<br />

ABSTRACT<br />

This work is the result of ongoing actions of the Environmental Essay Project, aimed to provoke<br />

and strengthen environmental education practices in the field of pedagogical and contextualized in<br />

public schools, located in semiarid Paraiba, in particular in the city of Campina Gran<strong>de</strong>, in addition<br />

to draw the attention of stu<strong>de</strong>nts and teachers about the contribution of science, technology and<br />

innovation in this area. The project emerged from the need to think about the issue of solid waste,<br />

un<strong>de</strong>rstanding how it affects the lives of the people of that region. Through a participatory<br />

595


methodology and the experience of communities, we sought to implement a pilot project in seven<br />

schools in urban and rural areas. Partial results already <strong>de</strong>monstrate the empowerment of green<br />

practices in daily school and the awakening for social and critique consciousness.<br />

KEYWORDS: Environmental Education; Solid Waste; Semiarid; Environmental Essay Project.<br />

INTRODUÇÃO<br />

O <strong>de</strong>bate em torno da problemática ambiental tem sido fundamental nos dias atuais. Nesse<br />

contexto, a educação ambiental se apresenta como um instrumento político indispensável no<br />

processo <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> novas práticas, novos valores e atitu<strong>de</strong>s na relação entre socieda<strong>de</strong> e<br />

natureza.<br />

A perspectiva <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável engloba aspectos econômicos, políticos,<br />

sociais e ambientais. Porém, muitos são os entraves para sua concretização, consi<strong>de</strong>rando o<br />

estímulo ao consumo <strong>de</strong>senfreado, cuja expressão está na <strong>de</strong>gradação ambiental sob os mais<br />

variados aspectos.<br />

Neste mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento a educação ambiental <strong>nas</strong> escolas tornou-se uma diretriz,<br />

pela possibilida<strong>de</strong> concreta <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> uma consciência crítica, em particular sobre o processo<br />

<strong>de</strong> produção <strong>de</strong> bens <strong>de</strong> consumo e da <strong>de</strong>stinação <strong>de</strong> resíduos. A solução para resolver o problema<br />

do lixo está no seu gerenciamento integrado e não ape<strong>nas</strong> na reciclagem, como se pensava em<br />

momentos anteriores. Nessa expansão, <strong>de</strong>ve-se criar e promover ações <strong>de</strong> convívio e bem estar<br />

social e ambiental, num processo <strong>de</strong> educação continuada, <strong>de</strong> formação cidadã e <strong>de</strong> construção<br />

coletiva.<br />

Nessa perspectiva, o Projeto Ensaio Ambiental <strong>de</strong>senvolvido pelo Instituto Nacional do<br />

Semiárido (INSA) surge da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> refletir sobre a problemática ambiental e promover<br />

ações, com foco nos resíduos sólidos, junto à escolas públicas das áreas urbana e rural da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Campina Gran<strong>de</strong>, no sentido <strong>de</strong> contribuir com processos <strong>de</strong> geração e difusão <strong>de</strong> conhecimentos e<br />

práticas sociais.<br />

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, RESÍDUOS SÓLIDOS E O CONTEXTO DO<br />

SEMIÁRIDO<br />

Historicamente, a relação entre o homem e a natureza está centrada num processo <strong>de</strong><br />

exploração, que teve início com um mínimo <strong>de</strong> interferência nos ecossistemas, culminando numa<br />

exploração predatória e forte pressão sobre os recursos naturais (SOUZA JÚNIOR et al., 2010).<br />

596


Com atitu<strong>de</strong> antropocêntrica e imediatista, prioriza a dimensão econômica e do lucro, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

dos diversos impactos causados.<br />

Nas socieda<strong>de</strong>s capitalistas, o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento urbano-industrial impôs uma<br />

lógica pautada no consumo e no <strong>de</strong>scarte, agravando a <strong>de</strong>gradação ambiental, as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s<br />

social e regional, a poluição e a pobreza. Não se trata ape<strong>nas</strong> <strong>de</strong> um problema ecológico, mas<br />

também social, econômico e ético-cultural.<br />

Nesse contexto, emerge o discurso <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, projetado no início dos<br />

anos 1980, mundialmente, <strong>nas</strong> propostas da comissão <strong>de</strong> Brundtland 72 , que oficializa uma nova<br />

perspectiva <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento para tratar as questões ambientais e sociais. O Relatório<br />

Brundtland, intitulado ―Nosso Futuro Comum‖, publicado pela Organização das Nações Unidas<br />

(ONU), em 1982, o <strong>de</strong>fine como ―aquele que respon<strong>de</strong> às necessida<strong>de</strong>s das gerações presentes sem<br />

comprometer a capacida<strong>de</strong> das gerações futuras aten<strong>de</strong>rem suas próprias necessida<strong>de</strong>s‖<br />

(BRUNDTLAND, 1991).<br />

Essa perspectiva <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento parte <strong>de</strong> uma concepção multidimensional do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento e busca superar o enfoque predominante da economia, questão que mesmo antes<br />

já vinha sendo <strong>de</strong>batida e será mais observada nos anos 1970, um período em que o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento científico e tecnológico vai reforçar a acumulação flexível e os processos<br />

produtivos ultrapassaram os limites locais e ambientais. A partir daí surgem novas relações sociais,<br />

políticas e econômico-produtivas entre os países, <strong>de</strong>vido à implantação <strong>de</strong> novas tecnologias,<br />

ampliando-se a globalização.<br />

Entre os anos 1980 e 1990, como resultado do chamado Consenso <strong>de</strong> Washington, os<br />

Estados nacionais passaram a <strong>de</strong>senvolver políticas <strong>de</strong> ajuste, mais conhecidas como neoliberais<br />

que estão expressas no processo <strong>de</strong> privatização, na redução do papel do Estado no campo social, na<br />

flexibilização das leis trabalhistas e das normas <strong>de</strong> fiscalização das empresas.<br />

Ressalta-se que a ―reorientação da idéia <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento se <strong>de</strong>u no contexto <strong>de</strong> crise do<br />

próprio capitalismo e <strong>de</strong> consolidação <strong>de</strong> uma hegemonia do pensamento e <strong>de</strong> políticas neoliberais,<br />

postas em prática a partir dos anos 80, como parte da estratégia global <strong>de</strong> reestruturação sistêmica‖<br />

(LIMA, 2003, p.99)<br />

72 Apesar dos avanços, é importante <strong>de</strong>stacar que tal comissão se apoiou <strong>nas</strong> idéias do eco<strong>de</strong>senvolvimento, formulada<br />

por Ignacy Sachs. Assim, os resultados <strong>de</strong>ssa articulação <strong>de</strong> idéias merecem uma atenção, para <strong>de</strong>fesa e aplicação do<br />

conceito <strong>de</strong> forma mais bem qualificada. Para maior conhecimento sobre eco<strong>de</strong>senvolvimento ver a obra:<br />

Eco<strong>de</strong>senvolvimento: crescer sem <strong>de</strong>struir. Trad. <strong>de</strong> E. Araujo. São Paulo: Vértice, 1981.<br />

597


Questões como mudanças climáticas, <strong>de</strong>sertificação, <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais, resíduos sólidos,<br />

educação ambiental, <strong>de</strong>stacam-se como objeto <strong>de</strong> estudo <strong>de</strong> diferentes áreas <strong>de</strong> conhecimento e foco<br />

<strong>de</strong> práticas sociais <strong>de</strong>senvolvidas por diferentes atores.<br />

A problemática dos resíduos sólidos, por exemplo, tem sido uma das preocupações na<br />

socieda<strong>de</strong> contemporânea. A cultura <strong>de</strong> consumo e do <strong>de</strong>scarte <strong>de</strong>senfreado polui os recursos<br />

hídricos, o solo, o ar, gera doenças, entre outros impactos sócio-ambientais, que se agravam quando<br />

há a ausência ou insuficiência <strong>de</strong> uma política efetiva nessa área (coleta, limpeza pública e<br />

<strong>de</strong>stinação final), <strong>de</strong> saneamento básico, <strong>de</strong> acesso a água apropriada para o consumo humano,<br />

moradia, condições <strong>de</strong> vida digna da população.<br />

As análises dirigidas às expressões <strong>de</strong>ssa problemática estiveram ao longo dos anos mais<br />

centradas na dinâmica urbana da socieda<strong>de</strong>. Entretanto, no âmbito rural essa situação tem tido uma<br />

atenção crescente, on<strong>de</strong> estudos têm <strong>de</strong>monstrado a escassez <strong>de</strong> recursos <strong>de</strong>stinados a coleta,<br />

tratamento e <strong>de</strong>posição final do lixo. É comum a prática da queima, enterrar ou o <strong>de</strong>scarte do lixo<br />

junto a habitações, terrenos baldios, nos rios e espaços públicos.<br />

Com base na Pesquisa Nacional <strong>de</strong> Saneamento Básico, realizada em 2008, os chamados<br />

lixões ainda constituem o <strong>de</strong>stino final dos resíduos sólidos, chegando a 50,8% das cida<strong>de</strong>s<br />

brasileiras. O Nor<strong>de</strong>ste possui um nível proporcional <strong>de</strong> <strong>de</strong>stinação aos lixões ainda maior, 89,3%.<br />

Apesar dos registros <strong>de</strong> crescimento <strong>de</strong> programas <strong>de</strong> coleta seletiva <strong>de</strong> resíduos sólidos nos<br />

municípios brasileiros, os <strong>de</strong>staques ainda estão para as regiões Sul e Su<strong>de</strong>ste (PNSB/IBGE, 2010).<br />

As cida<strong>de</strong>s da região do Semiárido 73 brasileiro são afetadas com as mudanças no contexto<br />

global e a realida<strong>de</strong> não difere das <strong>de</strong>mais regiões do país quando se trata do problema do lixo e dos<br />

resíduos recicláveis que nele são encontrados (vidros, papéis, latas, entre outros), colocando em<br />

risco o bioma caatinga e a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida da população.<br />

O efeito combinado das condições climáticas próprias da região e as práticas ina<strong>de</strong>quadas <strong>de</strong><br />

uso e aproveitamento do solo têm provocado <strong>de</strong> modo crescente um acentuado <strong>de</strong>sgaste da<br />

paisagem natural, a perda da biodiversida<strong>de</strong> e o esgotamento <strong>de</strong> recursos naturais, além <strong>de</strong> agravar o<br />

processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sertificação <strong>nas</strong> áreas susceptíveis.<br />

73 Espaço geográfico <strong>de</strong>finido pelo Ministério da Integração Nacional, <strong>de</strong> acordo com a Portaria 89, <strong>de</strong> 16 <strong>de</strong> março <strong>de</strong><br />

2005. Para fazer parte do semiárido os municípios <strong>de</strong>veriam aten<strong>de</strong>r pelo menos um dos critérios, quais sejam:<br />

precipitação média anual inferior a 800 milímetros, índice <strong>de</strong> ari<strong>de</strong>z <strong>de</strong> até 0,5 e risco <strong>de</strong> seca maior que 60%. Sendo<br />

assim, é consi<strong>de</strong>rada uma região com regime pluvial irregular, solos rasos, com ocorrência <strong>de</strong> vegetação do tipo<br />

xerófila, resistente a longos períodos <strong>de</strong> estiagem. Oficialmente, é formada pelos seguintes estados: Piauí, Ceará, Rio<br />

Gran<strong>de</strong> do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, além do Vale do Jequitinhonha, no Norte <strong>de</strong> Mi<strong>nas</strong><br />

Gerais. Uma extensão territorial <strong>de</strong> 980.133,079 Km². São 56,46% do território nor<strong>de</strong>stino situados no semiárido.<br />

598


Um dado importante é que a população tem convivido com o fenômeno da seca, criando<br />

diferentes formas <strong>de</strong> resiliência, mesmo diante <strong>de</strong> políticas públicas insuficientes para provocar<br />

condições sócio-econômicas e ambientais sustentáveis, que ao longo das décadas se caracterizaram<br />

pelos programas <strong>de</strong> caráter assistencialista e emergencial.<br />

Os municípios que compõe a região chegam a 1.135, com <strong>de</strong>staque para o Rio Gran<strong>de</strong> do<br />

Norte que apresenta 88,02% dos seus municípios situados no semiárido. No caso da Paraíba chega a<br />

76,23% (INSA, 2012, p.31).<br />

Fonte: INSA, 2012.<br />

Mapa 01 – Municípios do Semiárido Brasileiro (SAB).<br />

Diante <strong>de</strong>sse cenário, pensar o semiárido na perspectiva do <strong>de</strong>senvolvimento sustentável e<br />

do enfrentamento do problema dos resíduos sólidos é compreen<strong>de</strong>r os <strong>de</strong>safios próprios à região e<br />

buscar também e não só em sua dinâmica, formas <strong>de</strong> convivência justas, social e ecologicamente.<br />

Nesse sentido, a educação ambiental é um forte instrumento <strong>de</strong> transformação social, por isso <strong>de</strong>ve<br />

ser compreendida numa perspectiva crítica e inovadora.<br />

EDUCAÇÃO AMBIENTAL<br />

A Educação <strong>de</strong>ve possibilitar como processo permanente a alfabetização, as capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

aprendizagem, o <strong>de</strong>senvolvimento do raciocínio crítico, a criativida<strong>de</strong> e a ação no que diz respeito à<br />

599


transformação social (DUARTE; BARBOZA, 2007). Nos diversos contextos, entre eles o do<br />

cuidado com o ambiente, o homem se beneficia <strong>de</strong> princípios educativos adquirido e em aquisição<br />

ao longo da vida, em espaços não acadêmicos, isto é, na família, no trabalho, na socieda<strong>de</strong> on<strong>de</strong> está<br />

inserido e com ele mesmo.<br />

Consi<strong>de</strong>ra-se que a escola é um local propício para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ações relacionadas<br />

ao ambiente em que vivemos (MANZANO; DINIZ, 2004), pois é mais fácil envolver todos os<br />

níveis <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> professores, alunos e colaboradores exercem sua cidadania e on<strong>de</strong> se<br />

espera que se promova um processo educativo não neutro e não ape<strong>nas</strong> <strong>de</strong> ensino passivo (SATO,<br />

2000). Além <strong>de</strong> que a escola, na sua estrutura física, é localizada normalmente nos centros das<br />

comunida<strong>de</strong>s, são referências, e utilizadas para ativida<strong>de</strong>s extraclasses e <strong>de</strong> uso das comunida<strong>de</strong>s,<br />

seja no âmbito rural ou urbano.<br />

As questões relacionadas ao meio ambiente e a exposição <strong>de</strong> diversos problemas ambientais,<br />

iniciados em décadas atrás e gerado principalmente pelo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento econômico<br />

capitalista, vêm se <strong>de</strong>stacando no cenário mundial. Em 1972, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Estocolmo/Suécia, foi<br />

realizada a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, sendo criado o<br />

Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Estabeleceu-se o ―Plano <strong>de</strong> Ação<br />

Mundial‖ e a ―Declaração da ONU sobre o Meio Ambiente Humano‖, a fim <strong>de</strong> chamar a atenção<br />

dos governos para a adoção <strong>de</strong> novas políticas ambientais, entre elas um Programa <strong>de</strong> Educação<br />

Ambiental, visando educar o cidadão para a compreensão e o combate à crise ambiental no mundo.<br />

Como um dos resultados, 113 países, incluindo o Brasil, assinaram a Declaração <strong>de</strong> Estocolmo<br />

sobre o Meio Ambiente, em junho <strong>de</strong>ste ano, cujo artigo 19 consta o seguinte:<br />

É indispensável um trabalho <strong>de</strong> educação em questões ambientais, visando<br />

tanto às gerações jovens como os adultos, dispensando a <strong>de</strong>vida atenção ao<br />

setor das populações menos privilegiadas, para assentar as bases <strong>de</strong> uma<br />

opinião pública, bem informada e <strong>de</strong> uma conduta responsável dos<br />

indivíduos, das empresas e das comunida<strong>de</strong>s, inspirada no sentido <strong>de</strong> sua<br />

responsabilida<strong>de</strong>, relativamente à proteção e melhoramento do meio<br />

ambiente, em toda a sua dimensão humana.<br />

A Educação Ambiental como modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> educação catalisadora para a cidadania<br />

consciente e <strong>de</strong> ações preventivas com intuito <strong>de</strong> mitigar os impactos ambientais (SOUZA;<br />

PEREIRA, 2011), como reversão do quadro <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação ambiental e como instrumento que<br />

busca a harmonia entre homem/natureza, se encaixa perfeitamente <strong>nas</strong> tentativas <strong>de</strong> promoção <strong>de</strong><br />

600


vida sustentável, além <strong>de</strong> vislumbrar possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> mudanças e <strong>de</strong> melhorias qualitativas do seu<br />

ambiente total (BEZERRA; GONÇALVES, 2007).<br />

Em 1975, a UNESCO promoveu em Belgrado, na Sérvia, um Encontro Internacional sobre<br />

Educação Ambiental, que teve como ponto alto a formulação <strong>de</strong> princípios e orientações para um<br />

Programa Internacional <strong>de</strong> Educação Ambiental (PIEA), segundo o qual esta <strong>de</strong>veria ser contínua,<br />

interdisciplinar, integrada às diferenças regionais e voltada para os interesses nacionais.<br />

Dois anos após, em 1977, celebrou-se em Tbilisi/EUA, a Conferência Intergovernamental<br />

sobre a Educação Ambiental, <strong>de</strong>finindo os objetivos da mesma e indicando o ensino formal como<br />

um dos eixos fundamentais para conseguir atingi-los. De acordo com Bernar<strong>de</strong>s (2006) como ponto<br />

central <strong>de</strong> consolidação do Programa Internacional <strong>de</strong> Educação Ambiental (PIEA), ficou atribuído<br />

à escola um papel <strong>de</strong>terminante no conjunto <strong>de</strong> ações sistemáticas <strong>de</strong> educação ambiental, no<br />

primeiro e segundo graus, bem como na ampliação <strong>de</strong> cursos superiores, recomendações ainda hoje<br />

vigentes.<br />

A publicação do Relatório Brundtland nos anos 1980, indica e incorpora o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

sustentável como saída para a contenção dos problemas ambientais no mundo, requerendo<br />

mudanças bastante significativas na socieda<strong>de</strong>.<br />

Como <strong>de</strong>sdobramento do <strong>de</strong>bate internacional, realizou-se em 1987, a Conferência<br />

Intergovernamental sobre Educação Ambiental, em Moscou, na Rússia, para avaliar os<br />

acontecimentos dos últimos <strong>de</strong>z anos e fortalecer as orientações <strong>de</strong> Tbilisi. A ênfase é colocada na<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r prioritariamente à formação <strong>de</strong> recursos humanos <strong>nas</strong> áreas formais e não-<br />

formais da Educação Ambiental e na inclusão da dimensão ambiental nos currículos <strong>de</strong> todos os<br />

níveis <strong>de</strong> ensino.<br />

Em 1992, com a Conferência Internacional Rio-92, realizada no Rio <strong>de</strong> Janeiro/Brasil, o<br />

movimento internacional da educação ambiental ganha legitimida<strong>de</strong> em diferentes instâncias<br />

nacionais e internacionais, por meio <strong>de</strong> agências, órgãos governamentais e não governamentais, <strong>nas</strong><br />

universida<strong>de</strong>s e institutos <strong>de</strong> pesquisa, nos meios <strong>de</strong> comunicação e nos movimentos sociais.<br />

Na ocasião da Conferência Internacional sobre Meio Ambiente e Socieda<strong>de</strong>: Educação e<br />

Consciência Pública para a Sustentabilida<strong>de</strong>, realizada na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Thessaloniki / Grécia, em<br />

1997, ―constatou-se que as recomendações e ações sugeridas nos encontros realizados<br />

anteriormente ainda não tinham sido totalmente exploradas e que o progresso observado cinco anos<br />

após a conferência Rio-92 foi insuficiente‖ (BERNARDES, 2006,p.18).<br />

No Brasil, em abril <strong>de</strong> 1981, foi promulgada a Lei Fe<strong>de</strong>ral n° 6.902, que já menciona a<br />

educação ambiental. Estabeleceu novos tipos <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> preservação ambiental, entre as quais as<br />

Estações Ecológicas, <strong>de</strong>stinadas à realização <strong>de</strong> pesquisas e à educação ambiental. No mês <strong>de</strong><br />

601


agosto, estava sendo publicada a primeira lei que reconhece a Educação Ambiental como um<br />

instrumento para ajudar a solucionar problemas ambientais. É a mais importante lei ambiental do<br />

Brasil, que institui a Política Nacional do Meio Ambiente (PNEA), Lei Fe<strong>de</strong>ral n° 6.938/81, e a<br />

criação do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). O seu texto já impõe que a<br />

educação ambiental seja ofertada em todos os níveis <strong>de</strong> ensino.<br />

No ano <strong>de</strong> 1988 foi aprovada a nova Constituição Fe<strong>de</strong>ral, trazendo no Capitulo VI – Do<br />

meio Ambiente, Art. 225. ―Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem <strong>de</strong><br />

uso comum do povo e essencial à sadia qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, impondo-se ao po<strong>de</strong>r público e à<br />

coletivida<strong>de</strong> o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> <strong>de</strong>fendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações‖ (BRASIL,<br />

1988).<br />

Em 1997, a Educação Ambiental é tratada no Brasil nos Parâmetros Curriculares Nacionais<br />

(PCNs), que recomendam um processo educativo, não limitado a simples transmissão <strong>de</strong><br />

conhecimentos e conteúdos programáticos pré-elaborados, mas constituído em espaços <strong>de</strong> troca <strong>de</strong><br />

conhecimentos e experiências. Cada professor, <strong>de</strong>ntro da especificida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua área, a<strong>de</strong>quará o<br />

tratamento dos conteúdos, para contemplar o Tema Meio Ambiente, assim como os <strong>de</strong>mais temas<br />

transversais. Ape<strong>nas</strong> em 1999, foi promulgada a lei 9.795/99, que estabelece a criação da Política<br />

Nacional <strong>de</strong> Educação Ambiental (PNEA), um avanço se consi<strong>de</strong>rarmos a sua especificida<strong>de</strong>.<br />

O relatório final do encontro Rio+20, Conferência das Nações Unidas – ONU, nesse ano <strong>de</strong><br />

2012, no ponto 231, encoraja os estados membros da organização a promoverem a conscientização<br />

e o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável entre a juventu<strong>de</strong>, através da promoção <strong>de</strong> programas <strong>de</strong> educação<br />

não-formal seguindo metas <strong>de</strong> conferências <strong>de</strong> décadas passadas.<br />

Essas mudanças no campo jurídico-legal e político-institucional ocorrem diante da<br />

complexida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resolver os problemas ambientais, fundados no aspecto econômico do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento. Reverter tais problemas requer mudanças econômica, social e cultural da<br />

socieda<strong>de</strong>. Des<strong>de</strong> a Conferência <strong>de</strong> Tbilisi/EUA, em 1977, o campo criativo e inovador da educação<br />

ambiental têm possibilitado o surgimento <strong>de</strong> diversas experiências interdisciplinares, reorientando<br />

novas práticas sociais e a produção <strong>de</strong> conhecimento.<br />

PROJETO ENSAIO AMBIENTAL<br />

O Projeto Ensaio Ambiental, implementado em novembro <strong>de</strong> 2011, surge do interesse e da<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> refletir sobre a complexida<strong>de</strong> ambiental, consi<strong>de</strong>rando o diálogo entre as diferentes<br />

áreas do saber, as práticas e a produção <strong>de</strong> conhecimento sobre educação ambiental e o bioma<br />

caatinga. Questões que também se situam como uma das preocupações do Instituto Nacional do<br />

602


Semiárido (INSA), unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pesquisa vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.<br />

O objetivo é provocar e fortalecer práticas <strong>de</strong> Educação Ambiental no campo <strong>de</strong> propostas<br />

pedagógicas e contextualizadas, em escolas da re<strong>de</strong> pública <strong>de</strong> ensino do semiárido Paraibano.<br />

Além disso, visa <strong>de</strong>spertar para questões ambientais, principalmente com relação à problemática<br />

dos resíduos sólidos.<br />

As etapas do projeto piloto foram: mapeamento e seleção das escolas; contatos com a<br />

direção das escolas; realização <strong>de</strong> pesquisa sobre a percepção ambiental <strong>de</strong> alunos e professores,<br />

com a aplicação <strong>de</strong> um questionário; apresentação do projeto; sensibilização e mobilização <strong>de</strong><br />

alunos e professores. As ações iniciais contemplaram a construção <strong>de</strong> uma agenda ambiental, a<br />

socialização e a difusão <strong>de</strong> conhecimentos e conceitos básicos.<br />

Consi<strong>de</strong>rando a impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dar conta <strong>de</strong> todo o território do semiárido paraibano,<br />

optou-se por <strong>de</strong>senvolver um projeto piloto em escolas <strong>de</strong> 4 bairros da zona oeste <strong>de</strong> Campina<br />

Gran<strong>de</strong>-PB, cuja população é estimada em 23.152 habitantes, cerca <strong>de</strong> 6% da população total do<br />

município, que chega a 383.941 habitantes (IBGE, 2010). Nesse primeiro momento do projeto<br />

foram selecionadas 7 escolas das re<strong>de</strong>s municipal e estadual, sendo 5 da zona rural e 2 da zona<br />

urbana. Os critérios para tal seleção foram basicamente os seguintes: 1. Escolas situadas em áreas<br />

próximas ao lixão da cida<strong>de</strong>; 2. Escolas situadas próximo a Se<strong>de</strong> e a Estação Experimental do<br />

INSA, por facilitar o processo <strong>de</strong> operacionalização das ações.<br />

Para tratar dos problemas ambientais, parte-se do próprio conteúdo cotidiano da vida<br />

escolar. Assim, o envolvimento <strong>de</strong> professores <strong>de</strong> forma permanente é indispensável não só no<br />

processo <strong>de</strong> sensibilização, mas também na mudança <strong>de</strong> comportamento, aprendizagem <strong>de</strong> novos<br />

valores e atitu<strong>de</strong>s em relação à natureza e <strong>de</strong> consciência cidadã.<br />

As ativida<strong>de</strong>s extraclasses são planejadas e realizadas junto aos professores e contam com o<br />

apoio <strong>de</strong> outros pesquisadores do INSA, que estão envolvidos com projetos em diferentes áreas.<br />

Nos primeiros contatos, que envolveu o processo <strong>de</strong> sensibilização e mobilização, também foram<br />

<strong>de</strong>senvolvidos plantios <strong>de</strong> mudas vegetais nativas da Caatinga (Umbu, Pau-ferro, Tambor e<br />

Catingueira), em área <strong>de</strong> experimentação científica <strong>de</strong> nucleação e recomposição <strong>de</strong> área ciliar e<br />

ribeirinha, na Estação Experimental do INSA; ativida<strong>de</strong>s sócio-educativas em datas alusivas a<br />

proteção ambiental; visitas à cooperativa <strong>de</strong> catadores <strong>de</strong> materiais recicláveis; passeios ecológicos;<br />

ofici<strong>nas</strong> <strong>de</strong> reciclagem; criação <strong>de</strong> hortas e viveiros <strong>de</strong> mudas vegetais, campanhas e palestras.<br />

Dentre os resultados parciais verificam-se a inserção espontânea da temática educação<br />

ambiental na rotina e no currículo das escolas; envolvimento efetivo <strong>de</strong> diretores, professores e<br />

alunos; ativação do protagonismo juvenil, promovendo socialização entre os participantes, em<br />

momentos ―além da sala <strong>de</strong> aula‖; <strong>de</strong>spertar, <strong>de</strong> forma lúdica e interativa, para a consciência cidadã<br />

603


crítica e inovadora, na relação socieda<strong>de</strong> e natureza; adoção <strong>de</strong> práticas ecológicas que garantem a<br />

participação coletiva; estímulo para novas iniciativas ecológicas, como a criação <strong>de</strong> espaços ver<strong>de</strong>s;<br />

envolvimento <strong>de</strong> pais e a comunida<strong>de</strong> local.<br />

No processo <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são à coleta seletiva, está prevista a entrega <strong>de</strong> coletores <strong>de</strong> materiais<br />

recicláveis <strong>nas</strong> escolas, material adquirido com recursos do INSA, bem como diferentes ações<br />

efetivas junto as escolas e comunida<strong>de</strong>s. Preten<strong>de</strong>-se, ainda, realizar e ampliar parcerias com<br />

cooperativas e associação <strong>de</strong> catadores existentes no município, universida<strong>de</strong>s, secretarias<br />

municipais e outros órgãos do governo estadual e fe<strong>de</strong>ral e organizações da socieda<strong>de</strong> civil.<br />

As avaliações ocorrem <strong>de</strong> forma sistemática e se dá com a participação dos atores<br />

envolvidos. As ações são <strong>de</strong> caráter permanente e buscam estabelecer um processo <strong>de</strong> mediação<br />

pedagógica.<br />

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES<br />

A educação ambiental é capaz <strong>de</strong> promover mudanças <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong> e garantir a participação<br />

ativa na solução <strong>de</strong> problemas sócio-econômicos e ambientais locais, na perspectiva do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento sustentável e da cidadania. Portanto, ela <strong>de</strong>ve ser um processo que consi<strong>de</strong>ra o<br />

contexto sócio-histórico e possibilita a construção <strong>de</strong> um conceito <strong>de</strong> natureza resignificando-a com<br />

base na realida<strong>de</strong> sócio-ambiental e no cotidiano da população.<br />

Com as reflexões aqui apresentadas, a partir da experiência do Projeto Ensaio Ambiental,<br />

preten<strong>de</strong>-se ampliar o <strong>de</strong>bate e divulgar conhecimentos e práticas <strong>de</strong> educação ambiental. Os<br />

resultados são parciais e já <strong>de</strong>monstram a relevância da ação, especialmente pela abordagem no<br />

contexto do semiárido Paraibano, com a particularida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tratar a problemática dos resíduos<br />

sólidos e a sua relação com a ciência, a tecnologia e a inovação.<br />

REFERÊNCIAS<br />

BERNARDES, A. M. Refletindo a educação ambiental: percepções e práticas dos professores <strong>de</strong><br />

geografia em escolas públicas do município <strong>de</strong> Viçosa – MG. Monografia. Viçosa: UFV, 2006.<br />

BRASIL. Constituição da República Fe<strong>de</strong>rativa do Brasil.<br />

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm Acesso em 14 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong><br />

2012, às 11h.<br />

604


BEZERRA, T. M. O.; GONÇALVES, A. A. C.. Concepções <strong>de</strong> Meio Ambiente e Educação<br />

Ambiental por Professores da Escola Agrotécnica Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Vitória <strong>de</strong> Santo Antão - PE. Revista<br />

Biotemas. Santa Catarina: Editora da UFSC, setembro <strong>de</strong> 2007.<br />

BRUNDTLAND, G . H. Nosso Futuro Comum. Rio <strong>de</strong> Janeiro: FGV, 1991.<br />

DECLARAÇÃO DE ESTOCOLMO SOBRE O MEIO AMBIENTE (1972).<br />

http://www.silex.com.br/leis/normas/estocolmo.htm Acesso em 20 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2012, às 16h.<br />

DUARTE, A. C. <strong>de</strong> S.; BARBOZA, R. J. Paulo Freire: o papel da educação como forma <strong>de</strong><br />

emanciapação do indivíduo. Revista Científica Eletrônica <strong>de</strong> Pedagogia. Ano V – Número 09 –<br />

Janeiro <strong>de</strong> 2007.<br />

FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação? 7ª ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro, Paz e Terra, 1983.<br />

IBGE. Censo Demográfico. IBGE: Rio <strong>de</strong> Janeiro, 2010.<br />

IBGE. Pesquisa Nacional <strong>de</strong> Saneamento Básico (PNSB). IBGE: Rio <strong>de</strong> Janeiro, 2010.<br />

INSA. Mapa <strong>de</strong> localização dos municípios do semiárido brasileiro. INSA: Campina Gran<strong>de</strong>, 2012.<br />

LIMA, Gustavo da C. L. O discurso da sustentabilida<strong>de</strong> e suas implicações para a educação.<br />

Revista Ambiente & Socieda<strong>de</strong> – <strong>Vol</strong>. VI nº. 2. Campi<strong>nas</strong>: NEPAM/UNICAMP, jul./<strong>de</strong>z. 2003.<br />

MANZANO, M. A.; DINIZ, R. E. da S. A temática ambiental <strong>nas</strong> séries iniciais do Ensino<br />

Fundamental: concepções reveladas no discurso <strong>de</strong> professoras sobre sua prática. In: NARDI,<br />

Roberto, BASTOS, Fernando; DINIZ, Renato Eugenio da Silva (Org.). Pesquisas em Ensino <strong>de</strong><br />

Ciências: contribuições para a formação <strong>de</strong> professores. São Paulo: Escrituras, 2004.<br />

MEDEIROS, S. S. et. al. Sinopse do Censo Demográfico para o Semiárido Brasileiro. Campina<br />

Gran<strong>de</strong>: INSA, 2012.<br />

PEREIRA, S. S.; MELO, J. A. B. <strong>de</strong>. Gestão dos resíduos sólidos urbanos em Campina Gran<strong>de</strong>/PB<br />

e seus reflexos socioeconômicos. Revista Brasileira <strong>de</strong> Gestão e Desenvolvimento Regional. v. 4, n.<br />

4. São Paulo: G&DR set/<strong>de</strong>z/2008.<br />

SOUZA, P. P. S.; PEREIRA, J. L. G. Representação social <strong>de</strong> meio ambiente e educação ambiental<br />

<strong>nas</strong> escolas públicas <strong>de</strong> Teófilo Otoni-MG. Revista Brasileira <strong>de</strong> Educação Ambiental. Rio Gran<strong>de</strong>:<br />

Revbea, 2011.<br />

http://www.coletasolidaria.gov.br/ Acesso em 27/08/2011 às 07:28 h.<br />

http://www.ipe.org.br/pontal/viveiros-agroflorestais-viveiro-escola-e-viveiros-comunitarios- Acesso<br />

em 28/08/2011 às 05:32 h.<br />

605


RESUMO<br />

DIAGNÓSTICO CONTÁBIL DOS BENEFÍCIOS AMBIENTAIS E SOCIAIS<br />

NO SESI - DR - PB<br />

Vivianne Pereira <strong>de</strong> SOUZA E SILVA<br />

(FIEP/PB) – viviannepss@gmail.com - Mestranda<br />

Yêda Silveira M LACERDA<br />

(UEPB/PB) – yedasilveira@hotmail.com - Doutoranda<br />

A contabilida<strong>de</strong> ambiental tem como premissa levar o empresariado a uma tomada <strong>de</strong> consciência<br />

no sentido <strong>de</strong> que os recursos naturais não são inesgotáveis, muito pelo contrário: alguns danos<br />

causados à natureza são irreversíveis. Portanto, o meio ambiente é um bem comum que <strong>de</strong>ve ser<br />

cuidado e preservado para as gerações futuras. O objetivo geral <strong>de</strong>ste trabalho é diagnosticar,<br />

contabilmente, os benefícios ambientais e sociais no SESI-DR-PB -, a partir do processo <strong>de</strong><br />

substituição do copo <strong>de</strong>scartável pela caneca <strong>de</strong> porcelana. A metodologia utilizada foi do tipo<br />

bibliográfico, <strong>de</strong> campo e estudo <strong>de</strong> caso. Possui caráter exploratório, com base <strong>de</strong>scritiva <strong>de</strong><br />

enfoque quantitativo e qualitativo. Os resultados indicam que embora haja um programa <strong>de</strong><br />

consciência, há uma limitação no tocante ao consumo <strong>de</strong> água quanto a higienização e limpeza das<br />

canecas. Desta forma, percebe-se a partir da ação <strong>de</strong>senvolvida, uma relevância para organização no<br />

que refere-se a adoção da prática contábil ambiental, pois foi i<strong>de</strong>ntificado que a maioria dos<br />

colaboradores estão dispostos a contribuir para que haja sucesso nos resultados.<br />

PALAVRAS-CHAVE: Contabilida<strong>de</strong> Ambiental. Gestão. Meio Ambiente<br />

ABSTRACT<br />

The environmental accounting is premised bring the business to an awareness of the effect that<br />

natural resources are not inexhaustible, quite the contrary: some damage to nature are irreversible.<br />

Therefore, the environment is a common good that should be maintained and preserved for future<br />

generations. The overall goal of this work is to diagnose, accounting, environmental and social<br />

benefits in the SESI-DR-PB, from the process of replacing the disposable cup porcelain mug. The<br />

606


methodology used was kind of literature, field and case study. It has an exploratory, <strong>de</strong>scriptive<br />

approach based on quantitative and qualitative. The results indicate that although there is a program<br />

of consciousness, there is a limitation regarding the use of water as washing and cleaning of cups.<br />

Thus, it is clear from the action <strong>de</strong>veloped a relevance to the organization that refers to the adoption<br />

of environmental accounting practice, it was i<strong>de</strong>ntified that most employees are willing to<br />

contribute to that success there in the results.<br />

KEYWORDS: Environmental Accounting. Management. Environment<br />

INTRODUÇÃO<br />

Os XVIII e XX, foi marcado por pouca preocupação em preservar ou recuperar o meio<br />

ambiente. Sem presença <strong>de</strong> consciência ambiental, as empresas <strong>de</strong>spejavam seus resíduos sólidos,<br />

líquidos e gasosos no meio ambiente, sem realizar qualquer tipo <strong>de</strong> tratamento. O mercado,<br />

percebendo as agressões por parte das empresas po<strong>de</strong>riam comprometer o futuro <strong>de</strong> seus<br />

investimentos, também começou a selecionar as empresas comprometidas com a preservação,<br />

manutenção e recuperação do meio ambiente.<br />

A Confe<strong>de</strong>ração Nacional da Indústria (CNI) lançou o ―Mapa Estratégico da Indústria 2007-<br />

2015‖, um conjunto <strong>de</strong> objetivos que o setor industrial consi<strong>de</strong>ra indispensável para consolidar o<br />

Brasil como uma economia competitiva inserida na socieda<strong>de</strong> do conhecimento e com a<br />

participação expressiva no comércio mundial.<br />

Sendo assim, como diagnosticar contabilmente os benefícios ambientais, sociais no SESI-<br />

DR-PB, a partir do processo <strong>de</strong> substituição do copo <strong>de</strong>scartável pela caneca <strong>de</strong> porcelana?<br />

Agir <strong>de</strong> acordo com o novo cenário <strong>de</strong> <strong>de</strong>safios para o mundo coorporativo e para socieda<strong>de</strong>,<br />

requer uma gestão voltada para o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável. Partindo <strong>de</strong>sta premissa, a<br />

necessida<strong>de</strong> da realização <strong>de</strong>sta pesquisa, surgiu <strong>de</strong>vido à observância da ausência da prática<br />

contábil ambiental na entida<strong>de</strong> e consequentemente falta <strong>de</strong> informações aos gestores para tomada<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão que venha auxiliar na autossustentabilida<strong>de</strong>. Sendo assim, será apresentado um estudo<br />

realizado no Serviço Social da Indústria – SESI-DR-PB, diagnosticando os benefícios ambientais e<br />

sociais. Esta ação foi realizada como parte integrante <strong>de</strong> um plano <strong>de</strong> excelência em gestão que está<br />

em fase <strong>de</strong> análises para posterior implantação, tornando este estudo <strong>de</strong> extrema relevância.<br />

O Objetivo Geral é apresentar um diagnóstico contábil dos benefícios ambientais e sociais<br />

no SESI-DR-PB, a partir do processo <strong>de</strong> substituição do copo <strong>de</strong>scartável pela caneca <strong>de</strong> porcelana.<br />

607


CONTABILIDADE AMBIENTAL<br />

A socieda<strong>de</strong> em geral, segundo Tinoco e Kraemer (2008), está aumentando a busca por<br />

informações ambientais na contabilida<strong>de</strong> das organizações, não só <strong>nas</strong> <strong>de</strong>monstrações contábeis,<br />

mas também em outros relatórios que evi<strong>de</strong>nciam as informações pertinentes à gestão ambiental<br />

<strong>de</strong>stinada à prevenção e recuperação dos danos ambientais.<br />

De acordo com Barreto (2008) a ―Contabilida<strong>de</strong> passou a ser valorizada como fonte <strong>de</strong><br />

informações gerenciais, sendo a origem dos dados quantitativos e monetários para alimentar o<br />

sistema <strong>de</strong> informações da controladoria das organizações‖.<br />

ATIVO AMBIENTAL<br />

Na literatura contábil existem várias classificações para Ativo. Apresentaremos o significado<br />

<strong>de</strong> Ativo, que se constitui no capítulo mais importante da Contabilida<strong>de</strong>, a nosso juízo, segundo a<br />

visão <strong>de</strong> dois pesquisadores contábeis, como segue:<br />

De acordo com Hermanson (1964 apud TINOCO e KRAEMER, 2008, p.180), um dos<br />

primeiros pesquisadores da Contabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Recursos Humanos, escrevendo sobre Ativo, assim o<br />

<strong>de</strong>nominou:<br />

Ativos são recursos escassos (<strong>de</strong>finidos como serviços, mas agrupados e classificados como<br />

agentes) operando na entida<strong>de</strong>, capazes <strong>de</strong> serem transferidos por força da economia,<br />

reportados em termos financeiros, e que foram adquiridos como resultado <strong>de</strong> transações<br />

atuais ou realizadas no passado, e que possuem capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gerar benefícios econômicos<br />

futuros.<br />

Os Ativos Ambientais representam: os estoques dos insumos, peças, acessórios, etc.<br />

utilizados no processo <strong>de</strong> eliminação ou redução dos níveis <strong>de</strong> poluição e <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> resíduos.<br />

Ativos Ambientais são os bens adquiridos pela companhia que têm como finalida<strong>de</strong><br />

controle, preservação e recuperação do meio ambiente. Se os gastos ambientais po<strong>de</strong>m ser<br />

enquadrados nos critérios <strong>de</strong> reconhecimento <strong>de</strong> um Ativo, <strong>de</strong>vem ser classificados como tais. Os<br />

benefícios po<strong>de</strong>m vir através do aumento da capacida<strong>de</strong> ou melhoria da eficiência ou da segurança<br />

<strong>de</strong> outros Ativos pertencentes à empresa, da redução ou prevenção da contaminação ambiental que<br />

<strong>de</strong>veria ocorrer como resultado <strong>de</strong> operações futuras ou, ainda, através da conservação do meio<br />

ambiente.<br />

608


PASSIVO AMBIENTAL<br />

Os Passivos Ambientais, conforme Ribeiro e Gratão (2000) ficaram amplamente conhecidos<br />

pela sua conotação mais negativa, ou seja, as empresas que os possuem agrediram<br />

significativamente o meio ambiente e, <strong>de</strong>ssa forma, têm que pagar vultosas quantias a título <strong>de</strong><br />

in<strong>de</strong>nização a terceiros, <strong>de</strong> multas e para a recuperação <strong>de</strong> áreas danificadas.<br />

Existem três tipos <strong>de</strong> obrigações <strong>de</strong>correntes do Passivo Ambiental: legais ou implícitas;<br />

construtivas e justas:<br />

Legais ou Implícitas: quando a entida<strong>de</strong> tem uma obrigação presente legal como<br />

consequência <strong>de</strong> um evento passado, como o uso do meio ambiente (água, solo, ar, etc.) ou a<br />

geração <strong>de</strong> resíduos tóxicos. Essa obrigação legal surge <strong>de</strong> um contrato, legislação ou outro<br />

instrumento da lei.<br />

Implícita: é a que surge quando uma entida<strong>de</strong>, por meio <strong>de</strong> práticas do passado, políticas<br />

divulgadas ou <strong>de</strong>clarações feitas, cria uma expectativa válida frente a terceiros e, por conta<br />

disso, assume um compromisso.<br />

Construtivas: são aquelas que a empresa propõe-se a cumprir espontaneamente, exce<strong>de</strong>ndo<br />

as exigências legais. Ocorre quando a empresa está preocupada com sua reputação na<br />

comunida<strong>de</strong> em geral, ou quando está consciente <strong>de</strong> sua responsabilida<strong>de</strong> social, e usa os<br />

meios para proporcionar o bem-estar da comunida<strong>de</strong>.<br />

Justas (equitable): refletem a consciência <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> social, ou seja, a empresa as<br />

cumpre em razão <strong>de</strong> fatores éticos e morais.<br />

GASTOS E CUSTOS AMBIENTAIS<br />

Os gastos ambientais apresentam-se em muitas das ações das empresas a todo o momento.<br />

Po<strong>de</strong>m estar ocultos em etapas do processo produtivo e nem sempre são facilmente i<strong>de</strong>ntificáveis,<br />

como o <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> novos produtos.<br />

Segundo Tinoco e Kraemer (2008):<br />

Os custos ambientais são ape<strong>nas</strong> um subconjunto <strong>de</strong> um universo mais vasto <strong>de</strong> custos<br />

necessários a uma a<strong>de</strong>quada tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões. Eles não são custos distintos, mas fazem<br />

parte <strong>de</strong> um sistema integrado <strong>de</strong> fluxos materiais e monetários que percorrem a empresa.<br />

A Contabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Gestão Ambiental, ao i<strong>de</strong>ntificar, avaliar e imputar os custos ambientais<br />

permite aos gestores adotar procedimentos para reduzir custos. A Divisão para o Desenvolvimento<br />

609


Sustentável das Nações Unidas (2001) informa como exemplo as economias/reduções que po<strong>de</strong>m<br />

resultar da substituição <strong>de</strong> solventes orgânicos tóxicos por não tóxicos, <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong> resíduos<br />

perigosos e outros custos associados à utilização <strong>de</strong> materiais perigosos.<br />

RECEITA AMBIENTAL<br />

Quando se implanta uma SGA em uma empresa o objetivo é gerar uma política responsável<br />

em relação aos problemas ambientais.<br />

Santos (2001) cita exemplo <strong>de</strong> três tipos <strong>de</strong> receitas ambientais:<br />

Prestação <strong>de</strong> serviços especializados em gestão ambiental;<br />

Venda <strong>de</strong> produtos elaborados a partir <strong>de</strong> sobras <strong>de</strong> insumos do processo produtivo;<br />

Participação no faturamento total da empresa que se reconhece como sendo <strong>de</strong>vida a<br />

sua atuação responsável com o meio ambiente.<br />

BALANÇO PATRIMONIAL AMBIENTAL<br />

O principal objetivo do Balanço Patrimonial é tornar público, para fins <strong>de</strong> avaliação <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sempenho, toda e qualquer atitu<strong>de</strong> das entida<strong>de</strong>s, com ou sem finalida<strong>de</strong> lucrativa, mensurável em<br />

moeda, que, a qualquer tempo, possa influenciar ou vir a influenciar o meio ambiente, assegurando<br />

que custos, ativos e passivos ambientais sejam reconhecidos a partir do momento <strong>de</strong> sua<br />

i<strong>de</strong>ntificação, em consonância com os Princípios Fundamentais <strong>de</strong> Contabilida<strong>de</strong> – Resolução 750-<br />

93 do CFC.<br />

Atualmente, a maioria das empresas brasileiras promove a elaboração e posterior publicação<br />

do seu balanço patrimonial sem nele constar os grupos <strong>de</strong> ativos e passivos ambientais (ANTUNES,<br />

2005).<br />

BENEFÍCIOS DA CONTABILIDADE AMBIENTAL<br />

1. Benefícios Potenciais à Indústria<br />

i<strong>de</strong>ntifica, estima, aloca, administra e reduz os custos, particularmente os tipos ambientais <strong>de</strong><br />

custos;<br />

controla o uso e os fluxos da energia e dos materiais;<br />

610


dá informação mais exata e <strong>de</strong>talhada para suportar o estabelecimento e a participação em<br />

programas voluntários, custos efetivos para melhorar o <strong>de</strong>sempenho ambiental;<br />

informação mais exata e mais <strong>de</strong>talhada da mensuração e da elaboração do relatório <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sempenho ambiental, contribuindo para melhorar a imagem da companhia perante os<br />

stakehol<strong>de</strong>rs.<br />

2. Benefícios Potenciais à Socieda<strong>de</strong><br />

permite o uso mais eficiente <strong>de</strong> recursos naturais, incluindo a energia e a água;<br />

reduz os custos externos relacionados à poluição da indústria, tais como os da monitoração<br />

ambiental;<br />

fornece informações para a tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão, melhorando a política pública;<br />

fornece informação ambiental industrial do <strong>de</strong>sempenho, que po<strong>de</strong> ser usada no contexto<br />

mais extenso das avaliações do <strong>de</strong>sempenho e <strong>de</strong> condições ambientais <strong>nas</strong> economias e<br />

em regiões geográficas.<br />

BALANÇO SOCIAL<br />

Segundo Tinoco e Kraemer (2008):<br />

Balanço Social é um instrumento <strong>de</strong> gestão e <strong>de</strong> informação que visa evi<strong>de</strong>nciar, <strong>de</strong> forma<br />

mais transparente possível, informações contábeis, econômicas, ambientais e sociais, do<br />

<strong>de</strong>sempenho das entida<strong>de</strong>s, aos mais diferenciados usuários.<br />

O Balanço Social contempla, também uma série <strong>de</strong> informações <strong>de</strong> caráter qualitativo:<br />

<strong>de</strong>ntre as mais importantes, <strong>de</strong>stacam-se as relativas à ecologia, em que se evi<strong>de</strong>nciam os esforços<br />

que as empresas vêm realizando para não afetar a fauna, a flora e a vida humana, vale dizer, as<br />

relações da entida<strong>de</strong> com o meio ambiente; ao treinamento e à formação continuada dos<br />

trabalhadores; às condições <strong>de</strong> higiene e segurança no emprego; às relações profissionais; às<br />

contribuições das entida<strong>de</strong>s para a comunida<strong>de</strong>, explicitando a responsabilida<strong>de</strong> social e corporativa<br />

das organizações.<br />

OBJETO DO ESTUDO<br />

O SESI - Serviço Social da Indústria – PB está localizado Edf. Agostinho Velloso da<br />

Silveira. José Pinheiro. Campina Gran<strong>de</strong> – PB. Possui a Forma Jurídica <strong>de</strong> Instituição <strong>de</strong> Direito<br />

Privado. Contempla 360 funcionários, sendo 84 no Departamento Regional e os <strong>de</strong>mais nos Centros<br />

<strong>de</strong> Ativida<strong>de</strong>s. Os serviços do SESI/PB são prestados em todo o Estado através dos Centros <strong>de</strong><br />

611


Ativida<strong>de</strong>s, Unida<strong>de</strong>s Operacionais e Móveis, localizadas <strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>, João<br />

Pessoa, Bayeux, Rio Tinto, Patos e Sousa. Desenvolve ações voltadas para Educação, Saú<strong>de</strong>, Lazer<br />

e Responsabilida<strong>de</strong> Social, voltados para os trabalhadores <strong>de</strong> indústria e seus <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes como<br />

também para a comunida<strong>de</strong> em geral. Através do seu Mapa Estratégico estabelece estratégias <strong>de</strong><br />

direcionamentos das ações on<strong>de</strong> a entida<strong>de</strong> acompanha sua eficiência, eficácia e efetivida<strong>de</strong> na<br />

aplicação <strong>de</strong> seus recursos financeiros, físicos e humanos e relaciona os fatores condicionantes<br />

internos e externos norteando os caminhos trilhados para o alcance da missão.<br />

METODOLOGIA<br />

A presente pesquisa caracterizou-se quanto aos fins como exploratória e <strong>de</strong>scritiva.<br />

Exploratória pela necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se conhecer mais sobre o assunto, objetivando oferecer uma visão<br />

panorâmica, através do esclarecimento e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias. Descritiva por apresentar<br />

características da percepção do público em relação à qualida<strong>de</strong> no atendimento. De acordo com<br />

Vergara (2010), po<strong>de</strong>-se constatar que a pesquisa exploratória é <strong>de</strong>senvolvida em área em que há<br />

uma escassez <strong>de</strong> conhecimento e a pesquisa <strong>de</strong>scritiva visa mostrar características <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada<br />

população ou fenômeno.<br />

Quanto aos meios, classificou-se como pesquisa bibliográfica, <strong>de</strong> campo e <strong>de</strong> estudo <strong>de</strong><br />

caso. Bibliográfica por ter sido feito um estudo tendo como base as referências teóricas publicadas<br />

em livros, artigos, <strong>de</strong>ntre outras fontes. A investigação foi <strong>de</strong> campo por ter sido utilizada uma<br />

averiguação empírica no lugar on<strong>de</strong> se dispõe das informações necessárias para explicar o objeto <strong>de</strong><br />

estudo. Caracterizou-se também como estudo <strong>de</strong> caso por ter se analisado uma instituição.<br />

O universo da pesquisa foi composto por 84 colaboradores do SESI-DR Serviço Social da<br />

Indústria em Campina Gran<strong>de</strong>- PB. A amostra da pesquisa contou com 33 colaboradores baseado na<br />

validação dos dados estatísticos.<br />

Neste trabalho procedimentos <strong>de</strong> pesquisa bibliográfica objetivando a fundamentação do<br />

tema proposto. O tamanho amostral foi obtido consi<strong>de</strong>rando-se: O objetivo principal da<br />

<strong>de</strong>terminação dos percentuais da escolha das empresas; Margem <strong>de</strong> Erro <strong>de</strong> 4%; Confiabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

95,0%; Tamanho populacional igual ao número <strong>de</strong> 84 colaboradores. A forma <strong>de</strong> cálculo utilizada<br />

para o tamanho da amostra para cada item foi:<br />

2 2<br />

z . <br />

n0 2<br />

54<br />

<br />

2 2<br />

1,<br />

96 . 15<br />

n<br />

0 2<br />

4,<br />

<br />

612


O tamanho mínimo da amostra necessária para validar a pesquisa, diante da população<br />

pesquisa, é <strong>de</strong> 33 Colaboradores. Para a fase da coleta foi utilizado a amostragem aleatória simples<br />

on<strong>de</strong> foi realizado um sorteio dos funcionários a partir <strong>de</strong> uma listagem fornecida pelo<br />

Departamento <strong>de</strong> Recursos Humanos da empresa.<br />

Em relação a coleta <strong>de</strong> dados, foi aplicado um questionário dividido em duas partes: a Parte<br />

I, refere-se ao perfil do colaborador, e a Parte II refere-se aos aspectos socioambientais englobando<br />

11 questões. Para análise socioambiental, o questionário foi elaborado com base em duas<br />

dimensões: Sociais e Ambientais, e composta por 11 variáveis.<br />

Dimensões Variáveis<br />

Aspectos Ambientais<br />

Aspectos Sociais<br />

Tabela 1: Dimensão dos Aspectos Socioambientais<br />

.<br />

Q6, Q.7, Q8, Q9, Q10, Q11<br />

Q12, Q13, Q14, Q15, Q16, Q17<br />

Fonte: Pesquisa Direta. Setembro 2011.<br />

Foi utilizado o método <strong>de</strong> Likert em escala <strong>de</strong> resposta psicométrica mais usada em<br />

pesquisas <strong>de</strong> opinião. Ao respon<strong>de</strong>rem o questionário baseado nesta escala, questionou-se sobre o<br />

nível <strong>de</strong> concordância na assertiva, com as seguintes alternativas: 1.Discordo totalmente; 2.<br />

Discordo parcialmente; 3.Indiferente; 4. Concordo;;parcialmente; 5.Concordo totalmente.<br />

Os dados foram submetidos a uma análise quanti-qualitativa, sendo para isto, codificados,<br />

agrupados e processados, utilizando-se para análise o tratamento estatístico <strong>de</strong>scritivo os quais estão<br />

apresentados sob forma <strong>de</strong> tabelas e gráficos, para isso utilizamos o Programa Estatístico SPSS 13.0<br />

(Statistical Package for Social Ciences-for Windows) e a Planilha eletrônica Excel.<br />

ANÁLISE DE RESULTADOS<br />

1. Resultado Agrupado dos Aspectos Ambientais<br />

Q6. Tenho consciência da importância <strong>de</strong> boas práticas ambientais para a sustentabilida<strong>de</strong> do<br />

planeta.<br />

Q7. Conheço o impacto ambiental causado pelo uso do copo <strong>de</strong>scartável.<br />

Q8. Acredito que a implantação da gestão ambiental na empresa irá contribuir para diminuir a<br />

geração <strong>de</strong> lixo.<br />

Q9. A gestão ambiental irá contribuir para diminuição do <strong>de</strong>sperdício dos recursos naturais, como<br />

água, energia, etc.<br />

613


Q10. O processo <strong>de</strong> substituição do copo <strong>de</strong>scartável por caneca <strong>de</strong> porcelana irá diminuir o<br />

impacto ambiental.<br />

Q11. Sinto-me motivado para as questões ambientais.<br />

Fonte: Pesquisa Direta. Setembro 2011.<br />

Gráfico 1: Resultado Agrupado dos Aspectos Ambientais<br />

Verifica-se que quando questionados acerca <strong>de</strong>ste aspecto, o percentual <strong>de</strong> discórdia dos<br />

colaboradores foi muito inferior aqueles que respon<strong>de</strong>ram <strong>de</strong> forma otimista. Isto significa que; a<br />

maioria dos colaboradores tem consciência da importância das boas práticas ambientais; conhece o<br />

impacto ambiental causado pelo uso do copo <strong>de</strong>scartável; acredita que a implantação da<br />

Contabilida<strong>de</strong> Ambiental na empresa irá contribuir para diminuição da geração <strong>de</strong> lixo e dos<br />

recursos naturais; e sente-se motivada para as questões ambientais. Tais aspectos representam<br />

resultado positivo não só para a ação <strong>de</strong>senvolvida na empresa a partir da substituição do copo<br />

<strong>de</strong>scartável por caneca <strong>de</strong> porcelana como também para ações futuras.<br />

2. Resultado Agrupado dos Aspectos Sociais<br />

Q12. Tenho hábitos conscientes em relação ao meio ambiente.<br />

Q13. Contribuo com atitu<strong>de</strong>s para o bom funcionamento do programa ambiental realizado pela<br />

empresa<br />

Q14. O programa ambiental realizado pela empresa mudou minhas atitu<strong>de</strong>s em relação ao meio<br />

ambiente.<br />

Q15. Estou disposto a participar <strong>de</strong> outros programas ambientais realizados pela empresa.<br />

Q16. Percebo mudança significativa na empresa após a implantação da caneca <strong>de</strong> porcelana.<br />

Q17. Estou satisfeito com o processo <strong>de</strong> substituição do copo <strong>de</strong>scartável por caneca <strong>de</strong> porcelana.<br />

614


Gráfico 2: Resultado Agrupado dos Aspectos Sociais<br />

Fonte: Pesquisa Direta. Setembro 2011.<br />

Com relação ao resultado agrupado dos Aspectos Sociais, constata-se que uma vez<br />

questionados acerca <strong>de</strong>ste aspecto, a maioria dos colaboradores respon<strong>de</strong>ram <strong>de</strong> maneira otimista,<br />

significando assim que: eles têm consciência dos hábitos em relação ao meio ambiente; não só<br />

contribuem com atitu<strong>de</strong>s para o bom funcionamento do Programa Ambiental realizado pela<br />

empresa, como também, mudaram outras a partir <strong>de</strong>ste Programa; perceberam mudanças<br />

significativas após a implantação da caneca <strong>de</strong> porcelana; e, estão satisfeitos e dispostos a<br />

participarem <strong>de</strong> outros programas ambientais realizados pela empresa.<br />

3. Resultado Agrupado dos Aspectos Ambientais e Sociais<br />

Fonte: Pesquisa Direta. Setembro 2011<br />

Gráfico 3: Resultado Agrupado dos Aspectos Ambientais e Sociais<br />

615


Analisando <strong>de</strong> forma agrupada as variáveis ambientais e sociais, percebe-se que a maioria<br />

dos colaboradores concordaram totalmente acerca <strong>de</strong>stas variáveis quando foram interrogados.<br />

Verifica-se que as opiniões em relação as variáveis ambientais se sobressaem as sociais e que as<br />

opiniões <strong>de</strong>sfavoráveis foram insignificantes diante das favoráveis. Isto significa que há um bom<br />

entendimento e comprometimento por parte dos colaboradores do SESI-DR-PB favorecendo <strong>de</strong>sta<br />

forma a implantação da Gestão Ambiental e consequentemente da Contabilida<strong>de</strong> Ambiental.<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Analisando o aspecto ambiental, observa-se que a maioria dos colaboradores afirma ter<br />

consciência da importância <strong>de</strong> boas práticas ambientais, conhecendo o impacto ambiental causado<br />

pelo uso do copo <strong>de</strong>scartável. Além disso, os colaboradores acreditam na implantação da gestão<br />

ambiental como forma <strong>de</strong> diminuição não só da geração <strong>de</strong> lixo como também do consumo dos<br />

recursos naturais. Concordam em sua maioria na diminuição do impacto ambiental causado no<br />

processo <strong>de</strong> substituição do copo <strong>de</strong>scartável pela caneca <strong>de</strong> porcelana.<br />

Verificou-se no aspecto social que a maioria dos colaboradores afirma ter consciência dos<br />

hábitos <strong>de</strong> consumo em relação ao meio-ambiente e que não só iria contribuir através <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s<br />

para o bom funcionamento do programa ambiental realizado pela empresa, como também mudarão<br />

seus hábitos, estando disponíveis para participar <strong>de</strong> outras ações ambientais realizadas pela<br />

organização. Houve uma consi<strong>de</strong>rável percepção <strong>de</strong> mudança na organização pelos colaboradores<br />

após a ação <strong>de</strong> implantação da caneca <strong>de</strong> porcelana.<br />

Logo, a ação ambiental <strong>de</strong>senvolvida serviu para reeducação para práticas <strong>de</strong> hábitos<br />

saudáveis, cabendo a cada colaborador como pessoa a utilização do consumo consciente<br />

contribuindo para a sustentabilida<strong>de</strong> do planeta.<br />

O estudo revelou que po<strong>de</strong> se ter um diagnóstico contábil dos benefícios nessas três esferas<br />

através <strong>de</strong> ferramentas da Contabilida<strong>de</strong>, como: Balanço Social, Controladoria e <strong>de</strong> uma Gestão<br />

Ambiental, pois estes auxiliarão para evitar uma maior <strong>de</strong>teriorização do ambiente causada por<br />

conta <strong>de</strong> ações ina<strong>de</strong>quadas. Desta forma, o diagnóstico contábil encontrado a partir da ação<br />

<strong>de</strong>senvolvida pela empresa é que embora haja um programa <strong>de</strong> consciência houve uma limitação na<br />

mensuração do resultado direto <strong>de</strong>vido a inexistência ainda da contabilida<strong>de</strong> ambiental e<br />

consequentemente <strong>de</strong> um plano <strong>de</strong> contas ambiental, <strong>de</strong>talhando cada conta em específico.<br />

No presente trabalho o tema não se dá por encerrado, ape<strong>nas</strong> <strong>de</strong>u-se ênfase e visão sobre<br />

os aspectos a que ele po<strong>de</strong> engendrar. Nesse sentido, recomenda-se aos pesquisadores afeitos ao<br />

tema o estímulo para que estes se sintam envolvidos e <strong>de</strong>dicados a aplicar-se no <strong>de</strong>leite <strong>de</strong>ste,<br />

616


aplicando ou mesmo replicando a presente pesquisa, on<strong>de</strong> possam eles perceber <strong>de</strong>mais aspectos<br />

que aqui não foram aludidos. Seja por motivos que não interessavam a presente seja por aspectos a<br />

esta pouco relevantes.<br />

REFERENCIAS<br />

ANDRADE, Rui Ótavio Bernar<strong>de</strong>s <strong>de</strong>; CARVALHO, Ana Barreiros <strong>de</strong>; TACHZAWA, Takeshy.<br />

Gestão Ambiental: enfoque estratégico aplicado ao <strong>de</strong>senvolvimento sustentável. 2. ed. São Paulo:<br />

Makron Books, 2002.<br />

ANTUNES, Cleber do Carmo. Contabilida<strong>de</strong>: da pictografia à preservação do meio ambiente.<br />

Belo Horizonte, CRC-MG, 2005.<br />

BARRETO, M. G. P. Controladoria na Gestão: a relevância dos custos <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>. São Paulo:<br />

Saraiva, 2008.<br />

http://www.aedb.br/seget/artigos11/6014463.pdf<br />

http://www.audicoplan.com.br/adm/TMP_UPLOAD/files/estudos-<br />

pesquisas/43e1205924796c3947a45a5ecd8fca48.pdf<br />

http://www.cpgss.ucg.br/ArquivosUpload/10/file/Disserta%C3%A7%C3%A3o(1).pdf (pontifícia<br />

<strong>de</strong> Goiás). Acessível em 10/09/2011<br />

http://www.excelenciaemgestao.org/Portals/2/documents/cneg5/anais/T8_0142_0733.pdf<br />

IBPS. Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Produção Sustentável e Direito Ambiental. Conceito <strong>de</strong> Sistema <strong>de</strong><br />

Gestão Ambiental. Disponível em: . Acesso<br />

em: 29 jun. 2011.<br />

PROJETO DESCARTE O DESCARTAVEL. Disponível em:<br />

www.tjrs.jus.br/ecojus/pagi<strong>nas</strong>/docs/<strong>de</strong>scarte-<strong>de</strong>scartavel.doc. Acesso em: 208/08/2011<br />

RIBEIRO, Maisa <strong>de</strong> Souza, GRATÃO, Ângela Denise. Custos Ambientais – o caso das empresas<br />

distribuidoras <strong>de</strong> combustíveis. In: Congresso Brasileiro <strong>de</strong> Custos, 7, 2000, Recife. Anais do VII<br />

Congresso Brasileiro <strong>de</strong> Custos. Recife: PE, 2000.<br />

RIBEIRO, Maisa <strong>de</strong> Souza. Contabilida<strong>de</strong> Ambiental. São Paulo: Saraiva, 2005.<br />

SANTOS, A.; SILVA, F.; SOUZA, S.; SOUSA, M. Contabilida<strong>de</strong> Ambiental: um estudo sobre sua<br />

aplicabilida<strong>de</strong> em empresas brasileiras. Revista Contabilida<strong>de</strong> & Finanças. São Paulo, SP: n. 27,<br />

ano XII, vol. 16. p. 89-99, set/<strong>de</strong>z-2001.<br />

TINOCO, João Eduardo Prudêncio. Balanço Social: uma abordagem da transparência e da<br />

responsabilida<strong>de</strong> publica das organizações. São Paulo: Atlas, 2008.<br />

617


TINOCO, João Eduardo Prudêncio; KRAEMER, Maria Elisabeth Pereira. Contabilida<strong>de</strong> e Gestão<br />

Ambiental. São Paulo: Atlas, 2008.<br />

VERGARA, Sylvia Constant. Projetos e Relatórios <strong>de</strong> Pesquisa em Administração. São Paulo:<br />

Atlas, 2010.<br />

618


RESUMO<br />

PLANTANDO A SEMENTE<br />

Wellington Marchi PAES<br />

PRODEMA-UFPB – tonbio@hotmail.com<br />

Elza Fernanda RAIMUNDO<br />

EMEFNV – elzafernanda@hotmail.com<br />

Maria Cristina CRISPIM<br />

DSE-UFPB – ccrispim@hotmail.com<br />

As comunida<strong>de</strong>s huma<strong>nas</strong> estão se distanciando da relação e dos conhecimentos que os<br />

antepassados tinham com o ambiente, em nome da ―civilização e progresso‖. Na agricultura,<br />

conhecimentos milenares vão sendo substituídos por atitu<strong>de</strong>s baseadas no lucro e consumo cada vez<br />

mais divulgados pela mídia. Dessa forma, é importante que técnicas naturais, sejam reintroduzidas<br />

em nossas comunida<strong>de</strong>s, especialmente <strong>nas</strong> rurais, que são à base <strong>de</strong> nossa alimentação. O objetivo<br />

central <strong>de</strong>ste trabalho foi à sensibilização <strong>de</strong> crianças do assentamento Nova <strong>Vida</strong> na Paraíba, para a<br />

preservação <strong>de</strong> nossos ambientes, instituindo uma alimentação saudável, o cuidado com o solo e<br />

com os organismos vivos na elaboração e cultivo <strong>de</strong> hortas agroecológicas. Nessa perspectiva,<br />

<strong>de</strong>senvolvemos um trabalho cooperativo entre os participantes utilizando técnicas permaculturais.<br />

Entretanto, a educação ambiental não <strong>de</strong>ve se restringir à divulgação <strong>de</strong> informações, é preciso que<br />

se estabeleça um vínculo permanente entre as pessoas e o ambiente, estabelecendo novos valores e<br />

sentimentos. As ativida<strong>de</strong>s foram realizadas no primeiro semestre <strong>de</strong> 2011, com alunos da EMEF<br />

Nova <strong>Vida</strong> e se dividiram em duas etapas, uma expositiva e outra prática, relacionada ao cultivo e<br />

manejo <strong>de</strong> espécimes vegetais, com a construção <strong>de</strong> canteiros circulares <strong>de</strong> garrafas plásticas<br />

separadas pelos alunos. Deste modo, evi<strong>de</strong>ncia-se a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s que possam inserir<br />

outros valores às crianças, na perspectiva <strong>de</strong> promover a sensibilização para o interesse e o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento da cultura <strong>de</strong> subsistência sem agressão ao ambiente e resgatar a solidarieda<strong>de</strong> e a<br />

criativida<strong>de</strong> na melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida da comunida<strong>de</strong>.<br />

Palavras-chave: Educação; Permacultura; Sustentabilida<strong>de</strong>.<br />

ABSTRACT<br />

The human communities are moving away from the relationship and the knowledge that their<br />

ancestors had with the environment, in the name of "civilization and progress". In agriculture,<br />

ancient knowledge are being replaced by attitu<strong>de</strong>s based on income and consumption increasingly<br />

619


published in the media. Thus, it is important that natural techniques, are reintroduced into our<br />

communities, especially in rural areas, which are the basis of our food. The central objective of this<br />

study was to raise awareness of children and young resi<strong>de</strong>nt in Nova <strong>Vida</strong>, Paraíba, for the<br />

preservation of our environment, establishing healthy eating, caring for the soil and living<br />

organisms in the <strong>de</strong>velopment and cultivation of gar<strong>de</strong>ns agroecological. In this perspective, we<br />

<strong>de</strong>velop a cooperative work among participants using permaculture techniques. However, the<br />

environmental education should not restrict the dissemination of information, it is necessary to<br />

establish a permanent bond between people and the environment, establishing new values and<br />

feelings. The activities were held in the first half of 2011, with stu<strong>de</strong>nts from Nova <strong>Vida</strong> EMEF and<br />

split into two stages, an exhibition and a practical, related to cultivation and management of plant<br />

specimens, with the construction of circular beds of plastic bottles separated by pupils . Thus, it is<br />

evi<strong>de</strong>nt the need for activities that can enter other values to children, with a view to promote<br />

awareness and interest for the <strong>de</strong>velopment of culture of subsistence without harm to the<br />

environment and re<strong>de</strong>em solidarity and creativity in improving the quality of life of the community.<br />

Keywords: Education, Permaculture, Sustainability.<br />

INTRODUÇÃO<br />

As comunida<strong>de</strong>s huma<strong>nas</strong> estão se distanciando da relação e dos conhecimentos que os<br />

antepassados tinham com o ambiente, em nome da ―civilização e progresso‖. Na agricultura,<br />

conhecimentos milenares vão sendo substituídos por atitu<strong>de</strong>s baseadas no lucro e consumo cada vez<br />

mais divulgados pela mídia. Dessa forma, é importante que técnicas naturais <strong>de</strong> reciclagem orgânica<br />

e interações biológicas, sejam reintroduzidas em nossas comunida<strong>de</strong>s, especialmente <strong>nas</strong> rurais, que<br />

são à base <strong>de</strong> nossa alimentação na produção <strong>de</strong> alimentos saudáveis e nutritivos.<br />

Diante do panorama ambiental <strong>de</strong>corrente das ações da socieda<strong>de</strong> humana que segue o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento do mo<strong>de</strong>lo econômico capitalista, no qual tudo vira produto com possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

lucro sem prece<strong>de</strong>ntes, e da ausência <strong>de</strong> alternativas eficazes para a proteção da natureza<br />

(PEREIRA; DIEGUES, 2010), uma gestão ambiental participativa propõe a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

integrar a população local, marginalizada pelo sistema, num processo <strong>de</strong> produção para satisfazer as<br />

suas necessida<strong>de</strong>s fundamentais, aproveitando o potencial <strong>de</strong> seus recursos ambientais e respeitando<br />

as suas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s coletivas, além da oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reverter os custos ecológicos e sociais da<br />

crise econômica impulsionando um <strong>de</strong>senvolvimento local sustentável (LEFF, 2007).<br />

O atual padrão <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento pressupõe que todas as pessoas <strong>de</strong>vam orientar-se por<br />

uma única via <strong>de</strong> acesso ao bem estar e à felicida<strong>de</strong>, a serem alcançados ape<strong>nas</strong> pela acumulação <strong>de</strong><br />

620


ens materiais (GADOTTI, 2000) e caracteriza-se centralmente pela exploração excessiva e<br />

constante dos recursos naturais da Terra, pela geração maciça <strong>de</strong> resíduos, com gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sperdício<br />

<strong>de</strong> matérias-primas e energia, propiciando crescente exclusão social com extremas <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s<br />

(GRIMBERG e BLAUTH, 1998).<br />

De acordo com Sachs (2001), são necessárias estratégias <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento genuíno,<br />

diferente dos componentes impostos pelo mercado, que requerem soluções que atendam às três<br />

frentes, ou seja, que sejam sensíveis ao social, ambientalmente pru<strong>de</strong>ntes e economicamente<br />

viáveis, proporcionando <strong>de</strong>ssa forma, uma sustentabilida<strong>de</strong> socioeconômica e ambiental, oferecendo<br />

a todos uma oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong>cente <strong>de</strong> trabalho assalariado, produção para o consumo próprio ou a<br />

combinação <strong>de</strong>sses dois.<br />

No que diz respeito à sustentabilida<strong>de</strong> ambiental ―a principal contradição está num mo<strong>de</strong>lo<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento ilimitado num planeta com recursos limitados‖ (MARCUSE citado por<br />

GADOTTI, 2000, p.65), <strong>de</strong>vendo-se repensar os padrões <strong>de</strong> consumo e <strong>de</strong>sperdício, com a mudança<br />

<strong>de</strong> hábitos cotidianos, aliada ao consumo consciente e a reutilização dos materiais, contribuindo<br />

<strong>de</strong>ssa maneira para minimizar a exploração dos recursos do planeta, diminuindo a disposição dos<br />

resíduos <strong>de</strong> forma ina<strong>de</strong>quada e estimulando a criativida<strong>de</strong>.<br />

Devido a esse mo<strong>de</strong>lo expansionista da civilização, a produção <strong>de</strong> alimentos é <strong>de</strong> essencial<br />

importância à manutenção e à qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida da população. O cuidado com o solo e com as<br />

plantas são fundamentais, pois além <strong>de</strong> alimentar os bilhões <strong>de</strong> habitantes <strong>de</strong>sta esfera<br />

proporcionam o contínuo ciclo que perpetua a vida no planeta.<br />

Diante dos problemas <strong>de</strong>scritos acima, ferramentas para promover reflexão e possibilitar<br />

melhorias em nosso modo <strong>de</strong> vida são essenciais. Nesse sentido, a educação ambiental não <strong>de</strong>ve se<br />

restringir à divulgação <strong>de</strong> informações, é preciso que se estabeleça um vínculo permanente entre as<br />

pessoas e o ambiente, estas, po<strong>de</strong>ndo criar novos valores e sentimentos que façam com que<br />

repensem suas atitu<strong>de</strong>s, preservando o meio em que vivemos e possibilitando inferir à<br />

sustentabilida<strong>de</strong> necessária.<br />

Técnicas permaculturais são alternativas que vêm sendo <strong>de</strong>senvolvidas no intuito <strong>de</strong><br />

produzir uma cultura permanente que reintegra o ser humano ao ambiente levando em consi<strong>de</strong>ração<br />

diversos fatores que estão auxiliando na <strong>de</strong>gradação dos ambientes, como a otimização das energias<br />

disponíveis, minimização dos <strong>de</strong>sperdícios, manutenção da fertilida<strong>de</strong> do solo, entre outros. Horta<br />

em mandala, palavra sânscrita que significa círculo sagrado, foge do convencional, buscando a<br />

atenção e a criativida<strong>de</strong> dos construtores, envolvendo técnicas alternativas para a produção <strong>de</strong><br />

alimentos, gerando assim uma mudança no ambiente e consequentemente o entusiasmo no trabalho<br />

com a terra.<br />

621


O cuidado na germinação e o crescimento das plantas elevam a autoestima dos educandos<br />

promovendo amor aos vegetais, valorizando seu potencial <strong>de</strong> agricultor, modificando positivamente<br />

a paisagem e proporciona interesse para a realização das ativida<strong>de</strong>s em suas residências, além disso,<br />

incentiva a investigação sobre as diversas utilizações e os cultivos dos vegetais.<br />

Nova <strong>Vida</strong> é um assentamento do MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra,<br />

pertencente ao município <strong>de</strong> Pitimbú no estado da Paraíba. Localizado a cerca <strong>de</strong> 50 km da capital<br />

João Pessoa, o assentamento possui uma área <strong>de</strong> 936 hectares dividida em parcelas para as 134<br />

famílias assentadas no local. É reconhecida por seu potencial produtor <strong>de</strong> diversos espécimes<br />

alimentares para a região, como macaxeira, inhame, feijão, entre outras. Possui um posto <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,<br />

uma cooperativa <strong>de</strong> agricultores, uma escola municipal e um viveiro <strong>de</strong> mudas arbóreas em seu<br />

perímetro. Este último é coor<strong>de</strong>nado pela Organização não governamental Serviço Pastoral dos<br />

Migrantes do Nor<strong>de</strong>ste – SPM NE.<br />

O objetivo principal <strong>de</strong>ste trabalho foi a sensibilização das crianças da Escola Municipal <strong>de</strong><br />

Nova <strong>Vida</strong>, para a preservação <strong>de</strong> nossos ambientes, instituindo uma alimentação saudável, o<br />

cuidado com o solo e com os organismos vivos na elaboração e cultivo <strong>de</strong> hortas agroecológicas.<br />

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS<br />

O projeto <strong>de</strong> Permacultura na Escola realizou-se no primeiro semestre <strong>de</strong> 2011, junto ao<br />

projeto ―Preservar e Produzir‖ <strong>de</strong>senvolvido pela SPM-NE no Viveiro <strong>de</strong> mudas <strong>de</strong> Nova <strong>Vida</strong>,<br />

com dois grupos <strong>de</strong> alunos da Escola Municipal <strong>de</strong> Ensino Fundamental <strong>de</strong> Nova <strong>Vida</strong>, com<br />

encontro uma vez por semana no período matutino, em horários distintos. Uma das turmas, com 20<br />

alunos que estudavam no 1°ano no período matutino, a maioria com 06 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, os quais<br />

eram acompanhados pela professora durante as ativida<strong>de</strong>s. O outro grupo foi <strong>de</strong> alunos que<br />

frequentavam a escola no período vespertino, do 2° ao 5°ano, com ida<strong>de</strong>s entre 07 e 13 anos, numa<br />

média <strong>de</strong> quinze alunos por aula.<br />

Na perspectiva <strong>de</strong> ―plantar a semente‖ no coração <strong>de</strong>ssas crianças para a preservação <strong>de</strong><br />

nossos ambientes, fomentando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma sustentabilida<strong>de</strong> socioambiental e<br />

instituindo o cuidado com a mãe Terra e suas vidas, <strong>de</strong>senvolveu-se um trabalho cooperativo entre<br />

os participantes utilizando técnicas permaculturais, as quais visam à criação <strong>de</strong> sistemas<br />

ecologicamente corretos e economicamente viáveis, que supram suas próprias necessida<strong>de</strong>s e sejam<br />

sustentáveis em longo prazo (MOLLISON, 1994).<br />

O trabalho em todos os encontros dividiu-se em duas etapas, uma expositiva <strong>de</strong><br />

sensibilização e aprendizagem no interior <strong>de</strong> uma das salas no Viveiro <strong>de</strong> mudas, valendo-se <strong>de</strong><br />

622


dinâmicas interativas e jogos pedagógicos. A segunda parte <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s práticas, relacionadas com<br />

o cultivo e manejo <strong>de</strong> espécimes vegetais utilizadas em nossa alimentação, com a elaboração <strong>de</strong><br />

hortas agroecológicas e <strong>de</strong>senvolvidas na área externa do Viveiro <strong>de</strong> mudas.<br />

RESULTADOS<br />

Como resultados, em sala foram discutidos as vantagens <strong>de</strong> uma alimentação saudável<br />

baseada em vegetais e os benefícios que as plantas proporcionam à nossa saú<strong>de</strong>, também,<br />

elucidadas as funções dos principais órgãos das plantas e os fenômenos naturais essenciais para o<br />

melhor <strong>de</strong>senvolvimento dos vegetais, além do papel dos animais responsáveis pela manutenção do<br />

solo, polinização e dispersão <strong>de</strong> sementes, fatores que promovem interações interespecíficas e a<br />

sustentabilida<strong>de</strong> dos sistemas naturais e artificiais, enfatizando a importância <strong>de</strong> respeitar a<br />

biodiversida<strong>de</strong> e a não <strong>de</strong>gradação dos ambientes naturais.<br />

Outro assunto <strong>de</strong>batido em sala, foi sobre a alarmante produção <strong>de</strong> lixo sem <strong>de</strong>stino<br />

a<strong>de</strong>quado, poluindo o solo, a água e o ar, contaminando os organismos vivos e po<strong>de</strong>ndo causar o<br />

sofrimento e a morte <strong>de</strong>stes. Para promover a sensibilização dos participantes neste aspecto,<br />

solicitou-se aos participantes que coletassem as garrafas plásticas <strong>de</strong> refrigerantes <strong>de</strong> 2 litros em<br />

casa e encontradas pelo Assentamento <strong>de</strong> Nova <strong>Vida</strong>, retirando-as <strong>de</strong>sse ambiente para a confecção<br />

dos canteiros da horta agroecológica.<br />

No <strong>de</strong>senvolvimento das ativida<strong>de</strong>s práticas, permitiu-se inferir e acompanhar o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> algumas espécies vegetais como alface, coentro, nabo, rúcula e tomate, que<br />

cresciam em canteiros lineares preparados com esse propósito, seguido da colheita <strong>de</strong>sses vegetais<br />

pelos alunos, para auxiliar na alimentação dos mesmos na escola e em suas residências. Os<br />

participantes também fizeram o transplante <strong>de</strong> mudas <strong>de</strong> alface e rúcula e semearam beterraba,<br />

couve, coentro entre outras, este último a partir das sementes <strong>de</strong> frutos colhidos por eles <strong>de</strong>ntro das<br />

ativida<strong>de</strong>s no Viveiro.<br />

Durante as ativida<strong>de</strong>s práticas, foram elaborados e construídos dois canteiros circulares no<br />

formato <strong>de</strong> buraco <strong>de</strong> fechadura. Depois <strong>de</strong> <strong>de</strong>marcado os canteiros, um <strong>de</strong>les foi <strong>de</strong>limitado com<br />

cerca <strong>de</strong> 130 garrafas plásticas do tipo PET recolhidas pelos alunos (FIGURAS 01 e 02). O solo foi<br />

preparado e utilizado adubação ver<strong>de</strong> e cobertura vegetal neste, para auxiliar na manutenção da<br />

umida<strong>de</strong> no solo e minimizar o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> espécies competidoras. A cobertura vegetal<br />

também foi utilizada nos canteiros <strong>de</strong> rúcula, esta foi remanejada e adubada pelas crianças e jovens,<br />

que verificaram nitidamente a melhora em seu <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

623


Figura 01. Demarcação do canteiro pelas crianças. Figura 02. Trabalho cooperativo no canteiro produzido<br />

(Fonte: Wellington Paes, 2011) com garrafas plásticas pelos jovens.<br />

(Fonte: Wellington Paes, 2011)<br />

Depois <strong>de</strong> preparados, os canteiros receberam mudas <strong>de</strong> indivíduos <strong>de</strong> alface, berinjela,<br />

quiabo e rúcula que estavam em estádio para transplante e houve o semeio do coentro nestes.<br />

Mudas <strong>de</strong> alface e rúcula e sementes <strong>de</strong> coentro, também foram doadas para que os participantes<br />

pu<strong>de</strong>ssem <strong>de</strong>senvolver suas próprias hortas <strong>nas</strong> residências (FIGURA 03).<br />

CONSIDERAÇÕES<br />

Figura 03. Doação <strong>de</strong> mudas <strong>de</strong> rúcula para as crianças<br />

(Fonte: Darcy Lima SPM-NE, 2011)<br />

O projeto foi bem aceito pelas crianças e pelos pais, <strong>de</strong>monstrando que este tipo <strong>de</strong> iniciativa<br />

são bem vindas na comunida<strong>de</strong>. O projeto <strong>de</strong>senvolvido conciliou ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Educação<br />

ambiental com as <strong>de</strong> agricultura orgânica e permacultura, <strong>de</strong>monstrando a interação que estas<br />

624


ativida<strong>de</strong>s apresentam, e motivando as crianças para novos ensinamentos e práticas, com uma<br />

metodologia <strong>de</strong> ensino não-formal, o que aumentou a motivação e lhes proporcionou momentos <strong>de</strong><br />

prazer, associado à educação ambiental aplicada.<br />

Diante <strong>de</strong>ste trabalho e do relato <strong>de</strong> alguns pais, evi<strong>de</strong>ncia-se a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mais<br />

ativida<strong>de</strong>s que possam inserir valores educacionais diferenciados e complementares à educação<br />

formal, na perspectiva <strong>de</strong> melhorar a gestão <strong>de</strong> seus ambientes, <strong>de</strong>spertando o interesse e<br />

<strong>de</strong>senvoltura pela cultura <strong>de</strong> subsistência sem agressão ao ambiente, no intuito <strong>de</strong> promover a<br />

sensibilização para a sustentabilida<strong>de</strong> socioeconômica e ambiental, afim <strong>de</strong> prepará-las para a vida<br />

que se abre, resgatando o amor, a solidarieda<strong>de</strong> e a criativida<strong>de</strong> na melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida da<br />

comunida<strong>de</strong>.<br />

Deste modo, são fundamentais as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Educação Ambiental no Viveiro <strong>de</strong> mudas, e<br />

os trabalhos realizados pela SPM-NE em Nova <strong>Vida</strong>, proporcionando novas experiências e uma<br />

visão mais abrangente do mundo, distinta da realida<strong>de</strong> local.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

GADOTTI, M. Pedagogia da Terra. São Paulo: Petrópolis, 2000.<br />

GRIMBERG, E.; BLAUTH, P. Coleta Seletiva: reciclando materiais, reciclando valores. São<br />

Paulo: Pólis: Estudos Formação e Assessoria em Políticas Sociais, 1998.<br />

LEFF, E. Saber Ambiental: sustentabilida<strong>de</strong>, racionalida<strong>de</strong>, complexida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>r. 5. ed. Petrópolis:<br />

Vozes, 2008.<br />

MOLLISON, B. Introdução à Permacultura. 2 edição. Tyalgum: Taguari Publication, 1994.<br />

PEREIRA, B. E.; DIEGUES, A. C. Conhecimento <strong>de</strong> Populações Tradicionais como Possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Conservação da Natureza: uma reflexão sobre a perspectiva da etnoconservação. 2010.<br />

Disponível em: Acesso em<br />

10/10/11.<br />

SACHS I. Repensando o crescimento econômico e o progresso social: o âmbito da política. In:<br />

Arbix, G.; Abramovay, R.; Zilbovicius, M. Razões e Ficções do Desenvolvimento. São Paulo:<br />

Unesp/EDUSP. 2001. p. 155-163.<br />

625


OFICINA DE RECICLAGEM: ESTRATÉGIAS E RECURSOS DIDÁTICOS PARA A PRÁTICA<br />

EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL 74<br />

Resumo<br />

Daniel Féo Castro <strong>de</strong> ARAÚJO (FACIP/UFU) – Daniel.feo@gmail.com<br />

Daniel <strong>de</strong> Araujo SILVA (FACIP/UFU) – Silva.d.a@live.com<br />

A presente pesquisa teve como objetivo realizar uma oficina na Escola Municipal Rosa Tahan, na<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ituiutaba-MG, no âmbito do Estágio Supervisionado, a fim <strong>de</strong> <strong>de</strong>spertar nos professores e<br />

alunos a consciência e sensibilida<strong>de</strong> ambiental necessária para gerenciar e a<strong>de</strong>quar os resíduos<br />

sólidos produzidos diariamente na socieda<strong>de</strong>, através da Educação Ambiental (EA). Teve como<br />

objetivos específicos, inserir <strong>de</strong>ntro das salas <strong>de</strong> aula, exemplos <strong>de</strong> maus cuidados com meio<br />

ambiente, contextualizando-os com a realida<strong>de</strong> que envolve os educandos, a fim <strong>de</strong> <strong>de</strong>spertar o<br />

interesse das crianças pela conservação ambiental, e em seguida, realizou-se uma oficina prática <strong>de</strong><br />

reciclagem com os alunos, instigando os mesmos a aplicação <strong>de</strong>sses conceitos no seu dia-a-dia. A<br />

oficina foi realizada em quatro etapas, na primeira etapa foi aplicado um questionário com o intuito<br />

<strong>de</strong> analisar a convivência no dia a dia do aluno no ambiente escolar com relação a pratica da<br />

reciclagem, e após a oficina aplicou-se a mesma avaliação, para estabelecer uma relação entre os<br />

resultados obtidos sobre todo o conhecimento no aspecto da reciclagem. A segunda etapa consistiu<br />

em levantar o interesse do aluno sobre o tema, usando abordagens áudios visuais, como filmes,<br />

fotos, documentários a respeito <strong>de</strong>sse tema. Na terceira etapa, foi proposto que os alunos<br />

realizassem uma coleta seletiva em forma <strong>de</strong> gincana. E finalmente, na quarta etapa, foi proposta<br />

uma palestra para os professores da re<strong>de</strong> pública, mostrando a importância da sensibilização dos<br />

alunos neta fase <strong>de</strong> formação da consciência sobre a natureza e socieda<strong>de</strong>. Acreditamos na<br />

perspectiva <strong>de</strong> uma avaliação participativa, e com isso <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>mos a importância da sensibilização<br />

dos professores quanto a educação ambiental para que possam disseminar estes conteúdos para seus<br />

74 Projeto <strong>de</strong>senvolvido no âmbito da disciplina <strong>de</strong> Estágio Supervisionado. Professor Orientador: Msc. Mauro<br />

Machado Vieira, Professor Adjunto Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências Integradas do Pontal (FACIP), Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong><br />

Uberlândia (UFU).<br />

626


alunos. Portanto, esta pesquisa cumpriu seu papel, visto que o trabalho <strong>de</strong>senvolvido no estágio<br />

supervisionado faz a interação da Universida<strong>de</strong> com a Comunida<strong>de</strong> local.<br />

Palavras-chaves: Educação Ambiental; Ensino e Aprendizagem; Socieda<strong>de</strong>.<br />

Abstract<br />

This research aimed to conduct a workshop at the Municipal School Rosa Tahan, the city of<br />

Ituiutaba-MG, un<strong>de</strong>r the Supervised Internship in or<strong>de</strong>r to awaken the faculty and stu<strong>de</strong>nts to<br />

environmental awareness and sensitivity nee<strong>de</strong>d to adapt and manage solid waste produced daily in<br />

society, through the Environmental Education (EE). Aimed specific insert insi<strong>de</strong> the classrooms,<br />

examples of poor care environment, contextualizing them with the reality that involves learners in<br />

or<strong>de</strong>r to arouse the interest of children for environmental conservation, and then held a practical<br />

workshop recycling with stu<strong>de</strong>nts, encouraging them to apply these concepts in their day-to-day.<br />

The workshop was conducted in four stages, the first stage was a questionnaire in or<strong>de</strong>r to analyze<br />

the interaction in everyday stu<strong>de</strong>nt in the school environment regarding the practice of recycling,<br />

and after the workshop applied the same assessment for establish a relationship between the results<br />

obtained on all the knowledge in the aspect of recycling. The second step was to raise stu<strong>de</strong>nt<br />

interest on the topic, using audio visual approaches, such as movies, photos, documentaries on this<br />

subject. In the third stage, it was proposed that stu<strong>de</strong>nts carry out a collection in selective form of<br />

gymkhana. And finally, the fourth stage, a lecture was proposed for public school teachers, showing<br />

the importance of raising stu<strong>de</strong>nts' granddaughter training phase of awareness about nature and<br />

society. We believe in the prospect of a participatory evaluation, and thus advocate the importance<br />

of teachers' awareness about environmental education so that they can disseminate that content to<br />

their stu<strong>de</strong>nts. Therefore, this research has fulfilled its role, since the work is supervised internship<br />

in the University of interaction with the local community.<br />

Keywords: Environmental Education, Teaching and Learning; Society.<br />

Introdução<br />

Existem inúmeros problemas em relação à interação homem/natureza, isto se <strong>de</strong>ve a<br />

condição da maioria das pessoas não estarem sensibilizadas à compreensão da frágil harmonia<br />

vigente na biosfera e dos problemas <strong>de</strong> gestão dos recursos naturais e <strong>de</strong>tríticos da socieda<strong>de</strong>, pois a<br />

abordagem didático-pedagógica relacionada a essa temática surge no Brasil no inicio dos anos 70<br />

atrelada a um ambientalismo que se une as lutas pela liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong>mocrática através da ação isolada<br />

627


na organização da socieda<strong>de</strong> civil, voltado para a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conservação e melhoria do meio<br />

ambiente.<br />

Tendo em foco a questão ambiental, os educandos têm a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ampliar um<br />

<strong>de</strong>bate em vista da crescente <strong>de</strong>gradação do meio ambiente que reflete na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida,<br />

entretanto a educação ambiental conduz adquirir a <strong>de</strong>vida concepção <strong>de</strong> mundo. Assim po<strong>de</strong>mos<br />

dizer que todo este processo esta inserido na educação do ser humano, nesse aspecto, Carvalho<br />

(2001) discorre:<br />

Ao constituir-se como pratica educativa, a E.A. também se filia ao campo da educação<br />

propriamente dito e é da confluência entre o campo ambiental e algumas tradições<br />

educativas que vão surgir orientações especificas <strong>de</strong>ntro da E.A. Contudo, essa inserção<br />

entre o ambiental e o educativo, no caso da E.A. parece se dar mais como um movimento<br />

da socieda<strong>de</strong> para a educação, repercutindo no campo educativo parte dos efeitos<br />

conquistados pela legitimida<strong>de</strong> da temática ambiental na socieda<strong>de</strong>. A educação – um<br />

campo altamente sensível as novas <strong>de</strong>mandas e temáticas sociais – incorpora a<br />

preocupação ambiental em seu universo propriamente educacional, transformando-a em<br />

objeto da teoria e da pratica educativa (CARVALHO, 2001, p. 189).<br />

A E.A. tem como objetivo <strong>de</strong>spertar a consciência que ocasiona os problemas no seu<br />

ambiente e permite uma mudança <strong>de</strong> comportamento para a biosfera como um todo.<br />

Vivemos em um período no qual a busca pelo consumo se tornou parte do modo <strong>de</strong> vida<br />

social do homem, esse comportamento social traz consigo uma conseqüência para nosso meio. O<br />

<strong>de</strong>scarte <strong>de</strong> mercadorias que são produzidas para ter um pequeno tempo <strong>de</strong> uso, <strong>de</strong>vido ao ritmo<br />

<strong>de</strong> consumo capitalista. Neste contexto po<strong>de</strong>mos atribuir ao <strong>de</strong>scarte <strong>de</strong> resíduos sólidos um<br />

problema <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> relevância para nossa época, problema esse que a cada dia vem aumentando<br />

com o número <strong>de</strong> indivíduos e <strong>de</strong> materiais consumidos, resultando num gran<strong>de</strong> volume <strong>de</strong><br />

matérias utilizadas e <strong>de</strong>scartáveis.<br />

Na perspectiva <strong>de</strong> encontrar respostas a questionamentos atribuídos ao <strong>de</strong>stino dos<br />

resíduos sólidos produzidos pela população, a reciclagem po<strong>de</strong> ser uma das soluções dos<br />

problemas ambientais com relação ao lixo.<br />

De acordo com Valle (1995, p. 71): ―reciclar o lixo significa refazer o ciclo, permite trazer<br />

<strong>de</strong> volta, a origem, sob a forma <strong>de</strong> matéria-prima aqueles materiais que não se <strong>de</strong>gradam<br />

facilmente e que po<strong>de</strong>m ser reprocessados, mantendo as suas características básicas‖. Assim, a<br />

reciclagem se concretiza, como fator primordial para a sustentação <strong>de</strong> uma consciência sócio-<br />

ambiental aplicável.<br />

Com as temáticas ambientais em voga, seus fundamentos <strong>de</strong>vem permear as discipli<strong>nas</strong> do<br />

currículo contextualizando-os com a realida<strong>de</strong> da comunida<strong>de</strong>, no que a escola atribuirá ao aluno<br />

628


a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> perceber a correlação dos fenômenos que a envolvem e a ter uma visão holística,<br />

ou seja, integrada do mundo em que vive.<br />

Desta forma, Souza (1992) diz que,<br />

Do ponto <strong>de</strong> vista metodológico, fica bastante claro e tem estado presente no discurso<br />

ambientalista <strong>de</strong> forma contun<strong>de</strong>nte a impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma única área do<br />

conhecimento por si só dar um encaminhamento mais efetivo as questões <strong>de</strong> origens tão<br />

diversas que são colocadas pela mesma. Dessa forma, não haverá outro caminho a não ser<br />

o da interdisciplinarida<strong>de</strong> (SOUZA, 1992, p. 25).<br />

Reigota (1994, p. 40) entre outros afirma que: ―além <strong>de</strong> uma compreensão mais global<br />

sobre o tema, esse método po<strong>de</strong> proporcionar o intercambio <strong>de</strong> experiências entre professores e<br />

alunos e envolver toda a comunida<strong>de</strong> escolar e extra-escolar‖.<br />

Consi<strong>de</strong>rando que os valores, experiências e atitu<strong>de</strong>s apreendidas pelo aluno na escola e<br />

fora <strong>de</strong>la, estes são reflexos <strong>de</strong> sua interação com a socieda<strong>de</strong>. É <strong>de</strong> suma relevância que todo<br />

aluno <strong>de</strong>senvolva seu potencial social integrando posturas pessoais e comportamentos sociais<br />

construtivos, colaborando para a construção <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> sensível à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> manter<br />

um ambiente saudável.<br />

Se tratando da questão do meio ambiente é necessário ressaltar que do ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong><br />

Travassos (2006):<br />

O papel da escola não se reduz simplesmente a incentivar a coleta seletiva do lixo, em<br />

seu território ou em locais públicos, para que seja reciclado posteriormente. Os valores<br />

consumistas da população tornam a socieda<strong>de</strong> uma produtora cada vez maior <strong>de</strong> lixo. A<br />

necessida<strong>de</strong> que existe é, na verda<strong>de</strong>, <strong>de</strong> mudanças <strong>de</strong> valores (TRAVASSOS, 2006, p.<br />

18).<br />

Os educadores acreditam em uma perspectiva, holística para a elaboração dos projetos<br />

pedagógicos com o objetivo a E.A. Nessa linha <strong>de</strong> pensamento, Travassos (2006) diz que:<br />

Colocar no programa a Educação Ambiental como tema a ser tratado <strong>de</strong> maneira isolada<br />

e relacionado ape<strong>nas</strong> com as discipli<strong>nas</strong> <strong>de</strong> biologia e geografia não é a forma mais<br />

correta <strong>de</strong> abordar a educação para o meio ambiente. Essa tem que ser praticada no dia-a-<br />

dia da escola, para que possa ser levada também para fora da mesma e para o ambiente <strong>de</strong><br />

cada individuo (TRAVASSOS, 2006, p. 59).<br />

Constitui-se que o ensino e a aprendizagem com o enfoque na formação <strong>de</strong> valores e<br />

atitu<strong>de</strong>s para o <strong>de</strong>senvolvimento e fortalecimento do ser humano.<br />

629


O gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio da escola é criar nos educandos ações que certifiquem uma<br />

aprendizagem significativa em práticas ambientais corretas. É importante garantir um instrumento<br />

para a prática dos professores no seu cotidiano. De acordo com Moreira (2006):<br />

A aprendizagem significativa ocorre quando a nova informação ancora-se em conceitos<br />

relevantes preexistentes na estrutura cognitiva. Ou seja, novas idéias, conceitos,<br />

proposições relevantes e inclusivos estejam, a<strong>de</strong>quadamente claros e disponíveis, na<br />

estrutura cognitiva do individuo e funcione <strong>de</strong>ssa forma, como ponto <strong>de</strong> ancoragem as<br />

primeiras (MOREIRA, 2006, p. 15).<br />

A escola torna-se um instrumento para a formação dos alunos para que eles possam agir <strong>de</strong><br />

forma critica. Tendo em vista que a formação <strong>de</strong> profissionais no que se refere à educação. Araújo<br />

(2004) <strong>de</strong>termina que:<br />

É inegável a importância dos saberes que os professores adquirem durante a sua<br />

formação, seja ela inicial ou continuada. A universida<strong>de</strong> como instancia i<strong>de</strong>al para a<br />

instrução <strong>de</strong> nível superior, tem que se sensibilizar para a preparação <strong>de</strong> professores para<br />

agir sob a égi<strong>de</strong> da Educação Ambiental, em cursos regulares e multidisciplinares ainda<br />

na graduação, cujo principal intuito é perseguir a construção do campo da Educação<br />

Ambiental (ARAÚJO, 2004, p. 73).<br />

É evi<strong>de</strong>nte que a má formação acadêmica com relação a E.A. é reflexo negativo na<br />

socieda<strong>de</strong> do futuro. Então se faz necessário aperfeiçoar os docentes em todos os níveis, só assim<br />

será possível mudar a qualida<strong>de</strong> da Educação Ambiental.<br />

O intuito do projeto é o amadurecimento sócio-cultural do educando enquanto ser<br />

modificador da paisagem como um todo. É importante que essa abordagem seja inserida <strong>nas</strong><br />

relações ensino/aprendizagem <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primeiros contatos da criança com o meio, ou seja, no<br />

ambiente escolar auxiliando sua compreensão e a formação <strong>de</strong> uma conduta ética quanto à relação<br />

exercida pela socieda<strong>de</strong> para com a natureza.<br />

Embasado nesses apontamentos, esta pesquisa foi realizada com alunos do ensino<br />

fundamental da Escola Municipal Rosa Tahan, no âmbito do Estágio Supervisionado, escola esta<br />

localizada no Bairro Tupã na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ituiutaba, Mi<strong>nas</strong> Gerais, o município <strong>de</strong> Ituiutaba (Figura<br />

1).<br />

630


Figura 1 – Localização do município <strong>de</strong> Ituiutaba-MG.<br />

A referida cida<strong>de</strong> pertence à mesorregião do Triangulo Mineiro a oeste do estado <strong>de</strong> Mi<strong>nas</strong><br />

Gerais, e está localizado entre as coor<strong>de</strong>nadas geográficas 19°00` e 19°20` Sul e 49°30` e 49°20`<br />

Oeste, a região possui clima tropical quente e úmido, com uma população <strong>de</strong> aproximadamente<br />

97.171 habitantes, sendo estes 4.046 pessoas resi<strong>de</strong>ntes na zona rural e 93.125 pessoas resi<strong>de</strong>ntes<br />

na zona urbana em um território <strong>de</strong> 2.598,046 Km 2 (IBGE, 2010).<br />

A presente pesquisa tem como objetivo principal fazer uma intervenção na escola a fim <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>spertar nos professores e alunos a consciência e sensibilida<strong>de</strong> ambiental necessária para<br />

gerenciar e a<strong>de</strong>quar os resíduos sólidos produzidos diariamente na socieda<strong>de</strong>, e quanto à<br />

importância da reutilização <strong>de</strong> produtos recicláveis. Para isso, visando aten<strong>de</strong>r os seguintes<br />

objetivos específicos:<br />

Realizar uma oficina prática <strong>de</strong> reciclagem com os alunos, instigando aos mesmos<br />

a aplicação <strong>de</strong>sses conceitos no seu dia-a-dia;<br />

Levar para <strong>de</strong>ntro das salas <strong>de</strong> aula, exemplos <strong>de</strong> maus cuidados com meio<br />

ambiente, contextualizando-os com a realida<strong>de</strong> que envolve os educando, a fim <strong>de</strong> <strong>de</strong>spertar o<br />

interesse das crianças pelo assunto;<br />

A integração da comunida<strong>de</strong> nos arredores da escola com o projeto <strong>de</strong>senvolvido;<br />

631


A sensibilização da comunida<strong>de</strong> escolar com relação a atitu<strong>de</strong>s e comportamentos<br />

ecologicamente corretos.<br />

Para que se alcance melhores resultados, se faz necessário a realização <strong>de</strong>ste trabalho em<br />

quatro etapas, on<strong>de</strong> uma esta atrelada a outra, estas foram adaptadas da proposta metodológica <strong>de</strong><br />

Castro (2007).<br />

Na primeira etapa foi aplicado um questionário com o intuito <strong>de</strong> analisar a convivência no<br />

dia-a-dia do aluno no ambiente escolar com relação a pratica da reciclagem.<br />

A segunda etapa consistiu em <strong>de</strong>spertar o interesse do aluno sobre o tema, utilizando-se<br />

abordagens áudio-visuais, como filmes, fotos, documentários a respeito <strong>de</strong>sse tema, levando em<br />

consi<strong>de</strong>ração o público alvo do projeto. O i<strong>de</strong>al nesta etapa seria se possível a participação<br />

inclusive dos pais dos alunos, <strong>de</strong>spertando assim um bojo <strong>de</strong> informação para <strong>de</strong>ntro dos lares,<br />

assim o conhecimento acerca do assunto tenha uma alcance maior e se dissemine.<br />

Na terceira etapa, foi pedido aos alunos a realização em sala <strong>de</strong> aula uma coleta seletiva<br />

em forma <strong>de</strong> gincana (os componentes do trabalho espalharão objetos recicláveis e não recicláveis<br />

pela sala dividindo em dois grupos pedindo aos alunos para que eles separem <strong>de</strong>vidamente os<br />

objetos), com o objetivo <strong>de</strong> observar o quanto os alunos foram apreendidos pelas imagens<br />

anteriormente apresentadas.<br />

E finalmente, na quarta etapa, foi proposta uma palestra para os professores da escola,<br />

ministrada pelos professores da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Uberlândia (UFU), Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciência<br />

Integradas do Pontal (FACIP), elucidando a importância da conscientização ambiental dos alunos<br />

nesta fase <strong>de</strong> formação da consciência sobre a natureza e socieda<strong>de</strong>, utilizando <strong>de</strong> uma sala da<br />

Universida<strong>de</strong> e matérias <strong>de</strong> áudio visual.<br />

As ativida<strong>de</strong>s foram <strong>de</strong>senvolvidas no âmbito do estagio supervisionado com o ensino<br />

fundamental na escola referida. A pesquisa foi <strong>de</strong>senvolvida na perspectiva <strong>de</strong> sensibilizar os alunos<br />

quanto à educação ambiental, para tanto foi realizada uma oficina <strong>de</strong> acordo com os objetivos <strong>de</strong>ste<br />

trabalho. A primeira etapa consistiu em uma avaliação da percepção dos alunos no cotidiano escolar<br />

em relação a pratica <strong>de</strong> reciclagem. O questionário consistiu das seguintes perguntas: Em sua casa<br />

alguém realiza a coleta seletiva? Você ou alguém em sua casa reaproveita o lixo produzido em sua<br />

casa? De que maneira? Estes questionamentos foram aplicados para 120 alunos da escola referida,<br />

no qual 15% dos alunos disseram que fazem coleta em casa, quanto o reaproveitamento do lixo,<br />

10,3% respon<strong>de</strong>ram que o fazem, com garrafas Pet, aproveitando-as como brinquedo, objetos <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>coração e utilização domestica. Os dados obtidos trazem apontamentos que a questão da<br />

educação na escola não sido tratado com a <strong>de</strong>vida importância, visto que os alunos fazem a<br />

reutilização em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua condição sócio-economica reaproveitando assim estes objetos, e não<br />

632


por uma prática i<strong>de</strong>alizada através <strong>de</strong> uma Educação Ambiental, evi<strong>de</strong>nciando a necessida<strong>de</strong> da<br />

introdução da prática no cotidiano escolar.<br />

Através dos dados obtidos, e do nível <strong>de</strong> consciência ambiental dos alunos, foi proposta<br />

uma ativida<strong>de</strong> informativa, fazendo uso <strong>de</strong> recursos audiovisuais, como os documentários ―Lixo<br />

Extraordinário‖ e ―Ilha das Flores‖, todos envolvendo a temática em relação a coleta do lixo e o<br />

reaproveitamento. Ainda foi apresentado outros ví<strong>de</strong>os informativos, que tratam da importância<br />

da reciclagem, e quais os materiais são passiveis <strong>de</strong> reciclagem e os que não são, e também como<br />

ocorre a prática <strong>de</strong> transformação do lixo em algo utilizável. Também foi mostrado como é o<br />

tratamento do lixo na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ituiutaba-MG.<br />

Logo após esta etapa, foi feita uma roda <strong>de</strong> conversa com os alunos, on<strong>de</strong> foram tratadas<br />

questões pontuais referentes aos ví<strong>de</strong>os e documentários exibidos, on<strong>de</strong> foi <strong>de</strong>stacado a forma <strong>de</strong><br />

organização da socieda<strong>de</strong> em relação ao lixo. Possível perceber nos comentários dos alunos, uma<br />

sensibilização e outros questionamentos neste espaço, on<strong>de</strong> foi evi<strong>de</strong>nciada a preocupação em<br />

relação ao <strong>de</strong>stino do lixo, bem como sua reciclagem.<br />

Após aplicação dos ví<strong>de</strong>os, os alunos já estão familiarizados com a temática da<br />

reciclagem, assim foi proposto aos alunos a realização em sala <strong>de</strong> aula uma coleta seletiva em<br />

forma <strong>de</strong> gincana. Então, foram espalhados objetos recicláveis (jornais, revistas, caixas <strong>de</strong><br />

papelão, cartoli<strong>nas</strong>, garrafas plásticas, cartelas <strong>de</strong> ovos, frascos <strong>de</strong> vidro, etc.) e não recicláveis<br />

(fitas a<strong>de</strong>sivas, fotografias, papel vegetal, espuma, etc.) pela sala, o objetivo da gincana era que os<br />

alunos pu<strong>de</strong>ssem i<strong>de</strong>ntificar e separar <strong>de</strong>vidamente os objetos. Os alunos conseguiram<br />

<strong>de</strong>senvolver a gincana <strong>de</strong> maneira correta, <strong>de</strong>monstrando que absorveram o conteúdo apresentado<br />

anteriormente, pois esta ativida<strong>de</strong> evi<strong>de</strong>nciou que os alunos estão sensibilizados com a prática da<br />

coleta seletiva e po<strong>de</strong>ndo incorporar estes novos hábitos no seu cotidiano.<br />

A última etapa <strong>de</strong>sta pesquisa consistiu em uma palestra para os professores da escola,<br />

ministrada pelos professores da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Uberlândia (UFU), Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciência<br />

Integradas do Pontal (FACIP), elucidando a importância <strong>de</strong> se trabalhar a conscientização<br />

ambiental dos alunos, nesta fase <strong>de</strong> formação da consciência sobre a natureza e socieda<strong>de</strong>,<br />

utilizando o auditório da Universida<strong>de</strong> e materiais <strong>de</strong> áudio visual. Esta etapa é <strong>de</strong> suma<br />

importância, visto que os alunos já tiveram um primeiro contato com a educação ambiental e seus<br />

atributos, é imprescindível que os professores continuem este trabalho, já que também receberam<br />

maiores instruções e orientações quanto a pratica da questões ambientais, principalmente a<br />

reciclagem, tratamento do lixo e educação ambiental em geral.<br />

O Reconhecimento da importância na formação da educação ambiental <strong>de</strong>sses cidadãos e a<br />

criação <strong>de</strong> espaços <strong>de</strong> discussão especificamente sobre suas necessida<strong>de</strong>s locais e <strong>de</strong> interação com<br />

633


os espaços urbanos é <strong>de</strong> extrema urgência para uma questão política no âmbito social. Neste<br />

sentido, investimento e modificações no processo <strong>de</strong> formação dos educandos <strong>nas</strong> escolas, precisam<br />

ser repensadas. Investir na formação dos professores que ocupam este espaço na educação é <strong>de</strong>ver<br />

da extensão da Universida<strong>de</strong> Pública. Esta proposta está imbricada no ensino, formação dos<br />

discentes, formação dos professores em exercícios, formação do pesquisador e da própria<br />

comunida<strong>de</strong> que estamos em contato. Destacamos, acreditamos na perspectiva <strong>de</strong> uma avaliação<br />

participativa, por estarmos trabalhando com uma discussão <strong>de</strong> Educação Ambiental, e com isso<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>mos que a importância da sensibilização dos professores quanto à educação ambiental para<br />

que possam disseminar estes conteúdos para seus alunos. Portanto, esta pesquisa cumpriu seu papel,<br />

visto que o trabalho <strong>de</strong>senvolvido no estágio supervisionado faz a interação da Universida<strong>de</strong> com a<br />

Comunida<strong>de</strong> local.<br />

Referências<br />

ARAÚJO, Maria Inês <strong>de</strong> Oliveira. Educação Ambiental. Revista Brasileira <strong>de</strong> Educação Ambiental<br />

nº zero. Brasília: Re<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Educação Ambiental.<br />

CARVALHO, Isabel Cristina <strong>de</strong> Moura. Educação Ambiental: A formação do sujeito ecológico.<br />

São Paulo: Cortez, 2004.<br />

CASTRO, Mauriceia Aparecida. A Reciclagem no contexto escolar. Ponta Grossa. Educação<br />

Ambiental: Aprendizes <strong>de</strong> Sustentabilida<strong>de</strong>. Ministério da Educação Secretaria <strong>de</strong> Educação<br />

Continuada, Alfabetização e Diversida<strong>de</strong> (Secad/MEC). Brasília, 2007.<br />

MOREIRA, Marco Aurélio. A teoria da aprendizagem significativa e sua implementação em sala<br />

<strong>de</strong> aula. Brasília: Editora da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília, 2006.<br />

REIGOTA, Marcos. O que é Educação Ambiental? São Paulo: Ed. Brasiliense, 1994.<br />

SOUZA, A.C.C. <strong>de</strong>. Sensos Matemáticos: uma abordagem externalista da matemática. Campi<strong>nas</strong>:<br />

FE/Unicamp, 1992.<br />

TRAVASSOS, Edson Gomes. A prática da educação ambiental <strong>nas</strong> escolas. Porto Alegre:<br />

Mediação, 2006<br />

634


EDUCAÇÃO PARA O CONSUMO CONSCIENTE: RACIONALIDADE, EMOTIVIDADE E A<br />

METAFÍSICA DO CONSUMIR 75<br />

Edilvan Moraes LUNA – graduando em ciências econômicas pela Universida<strong>de</strong> Regional do Cariri.<br />

E-mail: edilvanmoraes@hotmail.com<br />

Maria Erica Bezerra da COSTA – graduada em Geografia pela Universida<strong>de</strong> Regional do Cariri. E-<br />

E-mail: erika.bezerra@yahoo.com.br<br />

Maria Carlota Mariano ALEXANDRE – graduanda em pedagogia pela Universida<strong>de</strong> Estadual Vale<br />

Resumo<br />

do Acaraú. E-mail: carminhawisly@hotmail.com<br />

Nos últimos anos, a discussão sobre sustentabilida<strong>de</strong> ambiental e, consequentemente,<br />

sustentabilida<strong>de</strong> da vida humana vêm apontando no cotidiano, porém <strong>de</strong> maneira particularizada. As<br />

discussões sobre o tema giram em torno do cientificismo, como se o homem fosse uma máquina<br />

racional por natureza. Estas abordagens <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ram a complexida<strong>de</strong> do ser humano, esquecendo<br />

que antes <strong>de</strong> ser racional, o homem é também emocional e que este participa das relações do<br />

homem com a sustentabilida<strong>de</strong> da vida na Terra. Este artigo preten<strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar que o <strong>de</strong>bate sobre<br />

consumo, tema <strong>de</strong> ampla discussão na temática sustentabilida<strong>de</strong>, está centrado não ape<strong>nas</strong> na<br />

relação <strong>de</strong> alocação <strong>de</strong> recursos por parte <strong>de</strong> um sujeito, mas na relação emocional e <strong>de</strong> explicação<br />

metafísica que um produto exerce sobre a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um indivíduo. De maneira mais específica,<br />

por meio <strong>de</strong> revisões bibliográficas <strong>de</strong> autores consagrados como, por exemplo, Zygmunt Bauman,<br />

Gilles Lipovtesky e Colin Campbell, se procura evi<strong>de</strong>nciar que para uma educação ambiental para o<br />

consumo, as mudanças maiores a serem feitas estarão na reflexão sobre o Ser e não sobre o Ter.<br />

Preten<strong>de</strong>-se, ao final, como resultado, fornecer alguns objetivos que po<strong>de</strong>m ser trabalhados em sala<br />

<strong>de</strong> aula no que concerne a uma educação ambiental para o consumo, contribuindo para a real<br />

concretização dos princípios e objetivos da política <strong>de</strong> educação ambiental.<br />

Palavras-chaves: Consumo; Educação Ambiental; I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>; Racionalida<strong>de</strong>; Romantismo.<br />

Abstract<br />

In recent years, the discussion on environmental sustainability and hence sustainability of human<br />

75 Trabalho orientado pela professora Francisca Lau<strong>de</strong>ci Martins Souza – lau<strong>de</strong>cimartins@yahoo.com, do<br />

<strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> Ciências econômicas da Universida<strong>de</strong> Regional do Cariri (URCA) e coor<strong>de</strong>nadora da Incubadora Ecos<br />

<strong>de</strong> economia solidária e sustentabilida<strong>de</strong>.<br />

635


life have pointed out in everyday life, but so individualized. The discussions revolve around the<br />

theme of scientism, as if the man were a machine rational by nature. These approaches ignore the<br />

complexity of the human being, forgetting that before rational being, man is also emotional and this<br />

is part of the relationship between man and the sustainability of life on Earth. This article argues<br />

that the <strong>de</strong>bate about consumption, topic of discussion on sustainability theme, focuses not only on<br />

the relative allocation of resources by an individual, but in the emotional and metaphysical<br />

explanation that a product has on the i<strong>de</strong>ntity of an individual. More specifically, through literature<br />

reviews from renowned authors such as, for example, Zygmunt Bauman, Gilles Lipovtesky and<br />

Colin Campbell, is looking for evi<strong>de</strong>nce that environmental education for the consumer, major<br />

changes are to be ma<strong>de</strong> in consi<strong>de</strong>ration of Be unlike of Have. It is inten<strong>de</strong>d, in the end, as a result,<br />

provi<strong>de</strong> some goals that can be worked in the classroom with regard to environmental education for<br />

consumption, contributing to the real implementation of the principles and policy objectives of<br />

environmental education.<br />

Keywords: Consumption; Environmental Education; I<strong>de</strong>ntity; Rationality; Romanticism.<br />

Introdução<br />

Conforme os discursos sobre sustentabilida<strong>de</strong> se acirram, mais a complexida<strong>de</strong> sobre o tema<br />

vai se revelando ao ser humano. São inúmeras as iniciativas em diferentes campos dos saberes para<br />

se reduzir ou controlar as possíveis ameaças ecológicas. A educação não está fora <strong>de</strong>ste <strong>de</strong>bate,<br />

fornecendo instrumental teórico e prático para se trabalhar a sustentabilida<strong>de</strong> da vida.<br />

Pela importância do ato educativo, ato este <strong>de</strong> socialização <strong>de</strong> indivíduos e preparação para<br />

papeis na realida<strong>de</strong> social, se torna relevante <strong>de</strong>senvolver uma socialização comprometida com uma<br />

cultura ecológica e da sustentabilida<strong>de</strong>. É no intuito da construção <strong>de</strong>ste novo paradigma, <strong>de</strong>sta<br />

nova cultura, que o Brasil assinou a Lei n° 9.795, <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1999 sobre a política <strong>de</strong><br />

educação ambiental. Esta versa sobre as diretrizes que norteiam a educação ambiental e a política<br />

nacional <strong>de</strong> educação ambiental, como, por exemplo, os princípios e objetivos que perseguem.<br />

Dentro das discussões sobre educação ambiental, um fator em particular se mostra <strong>de</strong><br />

relevância extrema tanto para questões <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> como para apontar fraquezas <strong>nas</strong> práticas<br />

<strong>de</strong> educação ambiental. Este fator é o consumo. A exigência <strong>de</strong> um consumo consciente se faz<br />

necessário à medida que se i<strong>de</strong>ntifica no intenso consumo <strong>de</strong> recursos naturais renováveis ou não a<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escassez ou não abastecimento <strong>de</strong> toda uma <strong>de</strong>manda. Por outro lado, a forma<br />

como este é trabalhado não compreen<strong>de</strong> sua complexida<strong>de</strong>, gerando, assim, respostas ineficazes<br />

baseadas no consumo consciente.<br />

636


O consumo consciente é abordado <strong>de</strong> maneira frágil por não vê no homem sua totalida<strong>de</strong>, o<br />

que ten<strong>de</strong> a corromper a própria lógica <strong>de</strong> mudança <strong>de</strong> paradigma contida nos princípios da Lei n°<br />

9.795. Este artigo procurará, por meio <strong>de</strong> revisões bibliográficas <strong>de</strong> autores consagrados no campo<br />

da temática abordada <strong>de</strong>screver a educação ambiental e a relevância <strong>de</strong> se discutir sobre o consumo<br />

na educação ambiental, procurando i<strong>de</strong>ntificar fraquezas no discurso e explorando a seguinte<br />

problemática: será que a ação <strong>de</strong> consumo se baseia prepon<strong>de</strong>rantemente em aspectos racionais <strong>de</strong><br />

alocação <strong>de</strong> recursos e rendas? Espera-se que ao final sejam esclarecidas as <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong>s presentes no<br />

discurso do consumo consciente, contribuindo <strong>de</strong>sta forma por uma educação ambiental<br />

comprometida com um paradigma da sustentabilida<strong>de</strong> e com objetivos mais coerentes para planos<br />

<strong>de</strong> aulas sobre consumo consciente.<br />

Educação Ambiental<br />

Sendo a educação uma ação <strong>de</strong> socialização, cujos objetivos po<strong>de</strong>m variar, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do<br />

tipo <strong>de</strong> socialização que se <strong>de</strong>seja, a temática <strong>de</strong> educação ambiental não surge como mera ação do<br />

acaso. Eventos específicos contribuíram para a formação <strong>de</strong> uma classe <strong>de</strong> indivíduos que prezam<br />

por uma consciência ecológica e que obtiveram, ao longo do tempo, po<strong>de</strong>r o suficiente para<br />

influenciar a educação em nível amplo.<br />

Como exemplo <strong>de</strong> eventos marcantes para a educação ambiental, po<strong>de</strong>-se se referir a<br />

algumas catástrofes que afetaram algumas comodida<strong>de</strong>s e exigiu a tomada <strong>de</strong> posição <strong>de</strong> algumas<br />

pessoas, principalmente a comunida<strong>de</strong> acadêmica, diante do problema causado. O caso do nevoeiro<br />

<strong>de</strong> fumaça e fuligem que matou milhares <strong>de</strong> pessoas em Londres em 1952 é um exemplo disto. Uma<br />

poluição industrial, chamada <strong>de</strong> smog matou milhares <strong>de</strong> pessoas, principalmente crianças, velhos e<br />

doentes <strong>de</strong> causas respiratórias, pela enorme divulgação que teve, mobilizou muitas pessoas, dando<br />

impulso aos movimentos ecológicos e aos <strong>de</strong>bates sobre qualida<strong>de</strong> do meio ambiente. Devido ao<br />

evento, a temática ambiental começou a ser trabalhada <strong>nas</strong> escolas, mesmo <strong>de</strong> forma simples.<br />

Outro evento aconteceu em 1953, na cida<strong>de</strong> japonesa <strong>de</strong> Minamata, que <strong>de</strong>vido a uma<br />

poluição por mercúrio causada por <strong>de</strong>spejos industriais provocou a contaminação <strong>de</strong> várias pessoas<br />

pobres, pescadores em geral. A doença, que ganhou o nome <strong>de</strong> mal <strong>de</strong> Minamata. Os aci<strong>de</strong>ntes com<br />

usi<strong>nas</strong> nucleares e indústrias químicas também são contabilizadas nos eventos que chamaram a<br />

atenção para a ação do homem com o meio ambiente e consigo próprio. Os casos <strong>de</strong> Three-Mile<br />

Island (1979), Love Canal (1979), Bhopal (1984) e Chernobyl (1986) e mais recentemente<br />

Fukushima (2011) corroboram a noção da responsabilida<strong>de</strong> do homem com o meio em que vive,<br />

sejam ecológico, social, econômico, etc.<br />

Em março <strong>de</strong> 1965, na Conferência De Educação da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Keele, Inglaterra, pela<br />

637


primeira vez a expressão educação ambiental, foi usada como recomendação para se tornar uma<br />

parte essencial da educação <strong>de</strong> todos os cidadãos. Contudo, a forma como era vista se resumia como<br />

responsabilida<strong>de</strong> das ciências biológicas (Brasil, 1998).<br />

Em 1968, empresários, educadores, cientistas e economistas se reuniram na Itália para<br />

discutir os <strong>de</strong>safios e limites da humanida<strong>de</strong>. O clube <strong>de</strong> Roma, como ficou conhecido, gerou um<br />

número <strong>de</strong> relatórios, sendo um <strong>de</strong>les o famoso ―os Limites do Crescimento‖, encabeçada por<br />

Donella H. Meadows. Pesquisadores do MIT <strong>de</strong>clararam que o modo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da<br />

humanida<strong>de</strong> <strong>de</strong> então era insustentável, apontando os riscos do crescimento ad infinitum<br />

(MEADOWS et al., 1973). Atualmente, esta lição é retomada pelos <strong>de</strong>fensores do <strong>de</strong>crescimento<br />

feliz, que observam a contradição <strong>de</strong> uma organização econômica que vive do crescimento<br />

econômico, afirmando que a verda<strong>de</strong>ira revolução <strong>de</strong>ve acontecer no modo <strong>de</strong> viver das pessoas e<br />

não <strong>nas</strong> transformações econômicas e administrativas.<br />

A ONU, entre 5 e 16 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1972, realizou a Conferencia das Nações Unidas sobre o<br />

Meio Ambiente Humano. A participação dos 113 países ocorreu em Estocolmo, capital da Suécia, e<br />

teve como resultado os seguintes pontos (BRASIL, 1998, p. 29):<br />

Decidiu-se criar um organismo novo da própria ONU, só para a área ambiental: o<br />

Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), que foi instalado no<br />

mesmo ano, com se<strong>de</strong> em Nairobi, a capital do Quênia.<br />

Os 113 países assinaram a ―Declaração da ONU sobre o Ambiente Humano‖. Cujo<br />

artigo 19 diz: É indispensável um trabalho <strong>de</strong> educação em questões ambientais,<br />

visando tanto as gerações jovens, como os adultos, dispensando a <strong>de</strong>vida atenção aos<br />

setores menos privilegiados, para assentar as bases <strong>de</strong> uma opinião pública bem<br />

informada e <strong>de</strong> uma conduta responsável dos indivíduos, das empresas e das<br />

comunida<strong>de</strong>s, inspirada no sentido <strong>de</strong> sua responsabilida<strong>de</strong>, relativamente à proteção<br />

e melhoramento do meio ambiente em toda a sua dimensão humana‖.<br />

Recomendou-se a criação do Programa Internacional <strong>de</strong> Educação Ambiental<br />

(PIEA), para ajudar a enfrentar a ameaça da crise ambiental no planeta. Mas este<br />

programa só ―saiu do papel‖ em 1975, <strong>de</strong>pois que representantes <strong>de</strong> 65 países se<br />

reuniram em Belgrado (ex-Iugoslávia, atual Sérvia) para formular os princípios<br />

orientadores, na ―Conferência <strong>de</strong> Belgrado‖<br />

Contudo, para a educação ambiental, a Conferência <strong>de</strong> Tbilisi, ocorrida em 1977 representa<br />

um gran<strong>de</strong> marco, pois é nela que se encontra muitas das <strong>de</strong>finições, objetivos, princípios da<br />

educação ambiental. Segundo o Ministério da Educação e do Desporto, no livro a Implantação da<br />

638


Educação Ambiental no Brasil (1998), resume a conferencia nos seguintes tópicos:<br />

Processo dinâmico integrativo: abrange todos os aspectos educativos, formais e informais. A<br />

educação ambiental <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>senvolvida na escola, na família, na comunida<strong>de</strong>, etc.<br />

Transformadora: a educação ambiental está engajada na transformação <strong>de</strong> hábitos, valores,<br />

conhecimentos e atitu<strong>de</strong>s que mu<strong>de</strong>m os velhos paradigmas científico-sociais que não<br />

correspon<strong>de</strong>m mais as necessida<strong>de</strong>s atuais.<br />

Participativa: a educação ambiental <strong>de</strong>ve sensibilizar, conscientizar as pessoas a<br />

participarem <strong>de</strong> ações que favoreçam a construção <strong>de</strong> uma nova socieda<strong>de</strong>.<br />

Abrangente: a educação ambiental <strong>de</strong>ve emanar <strong>de</strong> todos e não ape<strong>nas</strong> <strong>de</strong> grupos restritos,<br />

por isso a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> consolidá-la no sistema <strong>de</strong> ensino formal, que possui respaldo<br />

oficial, estatal e i<strong>de</strong>ológico.<br />

Globalizadora: <strong>de</strong>ve abranger aspectos locais, regionais e globais, em toda a complexida<strong>de</strong><br />

geográfica, política e econômica.<br />

Permanente: <strong>de</strong>ve ser exercida <strong>de</strong> forma continua, sempre acompanhando a evolução dos<br />

tempos.<br />

Contextualizadora: <strong>de</strong>ve atuar na realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong>, mas sem per<strong>de</strong>r o foco na<br />

consciência planetária.<br />

No Brasil, a educação ambiental ganhou força durante os anos 80 e 90, se sistematizando em<br />

termos legais. Como referência, Cavalari (2006, p. 361) cita os passos dados para a<br />

institucionalização da educação ambiental:<br />

Promulgação da lei n. 6983/81, que instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente<br />

(PNMA). A educação ambiental foi formalmente instituída por meio <strong>de</strong>ssa lei,<br />

regulamentada dois anos <strong>de</strong>pois, em 1983, pelo Decreto n. 88315/83, o qual estabelece que<br />

compete ao po<strong>de</strong>r público, em suas várias instancias, ―orientar a educação, em todos os<br />

níveis, para a participação efetiva do cidadão e da comunida<strong>de</strong> na <strong>de</strong>fesa do meio ambiente,<br />

cuidando para que os currículos escolares das diversas matérias obrigatórias complementem<br />

o estudo da ecologia‖.<br />

Inserção da educação ambiental na Constituição Fe<strong>de</strong>ral, promulgada em 1988, no capítulo<br />

VI – (Do Meio Ambiente). O art. 225, § 1°, inc. VI) <strong>de</strong>termina que se <strong>de</strong>ve ―promover a<br />

educação ambiental em todos os niveis <strong>de</strong> ensino e a conscientização pública para a<br />

preservação do meio ambiente‖. Cumpre <strong>de</strong>stacar, no entanto, e isso já foi apontado por<br />

alguns autores, que a educação ambiental, na Constituição, figura no capitulo sobre o meio<br />

ambiente e não no capitulo sobre educação (capitulo III).<br />

639


Criação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis<br />

(Ibama), por meio da Lei n° 7.735, <strong>de</strong> 1989, que, entre outras atribuições ―<strong>de</strong>veria estimular<br />

a educação ambiental <strong>nas</strong> suas diferentes formas‖<br />

Criação dos Núcleos <strong>de</strong> educação ambiental pelo Ibama e dos Centros <strong>de</strong> educação<br />

ambiental pelo ministério da Educação, em 1992.<br />

Criação do Programa Nacional <strong>de</strong> Educação Ambiental (Pronea), pelo MEC e Pelo<br />

Ministério do Meio Ambiente (MMA), em 1994, com o objetivo <strong>de</strong> ―capacitar o sistema <strong>de</strong><br />

educação formal e não formal, supletivo e profissionalizante, em seus diversos níveis e<br />

modalida<strong>de</strong>s‖.<br />

Elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), <strong>de</strong>finidos pela Secretaria do<br />

Ensino Fundamental do MEC, em 1997, nos quais o meio ambiente foi incluído como um<br />

dos temas transversais.<br />

A Lei n° 9.795, <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1999, dispõe sobre a educação ambiental e a política<br />

nacional <strong>de</strong> educação ambiental. Nela constará os objetivos e os princípios que norteiam a<br />

compreensão <strong>de</strong> educação ambiental no Brasil. Segundo o Art. 4° da lei, são princípios básicos da<br />

educação ambiental:<br />

I. O enfoque humanista, holístico, <strong>de</strong>mocrático e participativo;<br />

II. A concepção do meio ambiente em sua totalida<strong>de</strong>, consi<strong>de</strong>rando a inter<strong>de</strong>pendência entre<br />

o meio natural, o sócio-econômico e o cultural, sob o enfoque da sustentabilida<strong>de</strong>;<br />

III. O pluralismo <strong>de</strong> idéias e concepções pedagógicas, na perspectiva da inter, multi e<br />

transdisciplinarida<strong>de</strong>;<br />

IV. A vinculação entre a ética, a educação, o trabalho e as práticas sociais;<br />

V. A garantia <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> e permanência do processo educativo;<br />

VI. A permanente avaliação crítica do processo educativo;<br />

VII. A abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais, nacionais e globais;<br />

VIII. O reconhecimento e o respeito à pluralida<strong>de</strong> e à diversida<strong>de</strong> individual e cultural.<br />

Os objetivos fundamentais <strong>de</strong>fendidos pela Lei N° 9.795 constam no Art. 5° e são:<br />

I. O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas e<br />

complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos,<br />

sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos;<br />

II. A garantia <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocratização das informações ambientais;<br />

640


III. O estímulo e o fortalecimento <strong>de</strong> uma consciência crítica sobre a problemática ambiental<br />

e social;<br />

IV. O incentivo à participação individual e coletiva, permanente e responsável, na<br />

preservação do equilíbrio do meio ambiente, enten<strong>de</strong>ndo-se a <strong>de</strong>fesa da qualida<strong>de</strong><br />

ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania;<br />

V. O estímulo à cooperação entre as diversas regiões do País, em níveis micro e<br />

macrorregionais, com vistas à construção <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> ambientalmente equilibrada,<br />

fundada nos princípios da liberda<strong>de</strong>, igualda<strong>de</strong>, solidarieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>mocracia, justiça social,<br />

responsabilida<strong>de</strong> e sustentabilida<strong>de</strong>;<br />

VI. O fomento e o fortalecimento da integração com a ciência e a tecnologia;<br />

VII. O fortalecimento da cidadania, auto<strong>de</strong>terminação dos povos e solidarieda<strong>de</strong> como<br />

fundamentos para o futuro da humanida<strong>de</strong>.<br />

Cada princípio e objetivo remontam a reflexões mais aprofundadas no âmbito não só<br />

didático, mas também epistemológico e ontológico sobre o ser humano e a educação. Os princípios,<br />

por exemplo, procuram evi<strong>de</strong>nciar a complexida<strong>de</strong> e interdisciplinarida<strong>de</strong> que norteiam o ser<br />

humano e que são temas abordados por autores consagrados como Enrique Leff (2006) e Edgar<br />

Morin (2003). Enquanto a complexida<strong>de</strong> consiste em evi<strong>de</strong>nciar o quanto o ser humano é um ser<br />

tecido em conjunto com diferentes saberes e ciências e, portanto, sendo sempre arriscada a análise<br />

<strong>de</strong> sujeitos pela lente <strong>de</strong> uma ou poucas ciências (MORIN, CIURANA & MOTTA, 2003), a<br />

interdisciplinarida<strong>de</strong> seria a confluência <strong>de</strong> vários saberes na construção da ação humana, também<br />

<strong>de</strong>monstrando que não se po<strong>de</strong> reduzir o humano a ape<strong>nas</strong> algumas ciências, como se po<strong>de</strong> ver na<br />

seguinte passagem <strong>de</strong> Leff (2006, p. 502-503), na qual ele aborda a riqueza do trabalho dos<br />

seringueiros na Amazônia brasileira, ultrapassando análises meramente econômicas:<br />

(...) Da seringueira acariciada e seduzida pelo homem flui a vida <strong>de</strong> uma cultura. O<br />

seringueiro enlaça a natureza e a cultura para extrair o leite da seringa, sentido e sustento <strong>de</strong><br />

um povo. Terra erotizada pela mão do homem, fertilizada com técnicas, com símbolos e<br />

signos. O seringueiro vai se forjando nessa referencia inesgotável com seu meio, com esse<br />

mundo externo e estranho que é a natureza. Natureza <strong>de</strong>snaturalizada. Natureza cultivada,<br />

culturizada.<br />

Contudo, ao se esten<strong>de</strong>r a análise do artigo 4º e 5º da Lei n° 9.795 para questões particulares que<br />

envolvem educação ambiental, como, por exemplo, a temática consumo, ainda se observa que<br />

conceitos presentes nesta lei não são compreendidos na sua integrida<strong>de</strong>, se transformando no que<br />

ela própria procura combater: o cientificismo.<br />

641


Os discursos que envolvem educação ambiental na política brasileira são discursos ainda<br />

envoltos <strong>de</strong> cientificismo, como se estivesse na ciência à integração do homem com a natureza. Ao<br />

contrário, e isso será observado na óptica do consumo e, em seu <strong>de</strong>rivado, consumo consciente, que<br />

o emocional exerce uma força tão significativa quanto à razão, tanto para explicar como para<br />

solucionar a crise ecológica. Agir ape<strong>nas</strong> pelo lado racional, como se as ações dos homens fossem<br />

exclusivamente racionais é um passo para ações ineficazes no que correspon<strong>de</strong> a objetivos que<br />

prezem pela sustentabilida<strong>de</strong> da vida humana na Terra por meio da reintegração do homem com a<br />

natureza.<br />

O romantismo do consumo<br />

Alguns teóricos, na tentativa <strong>de</strong> qualificar a contemporaneida<strong>de</strong>, realizam comparações entre<br />

o hoje e um passado que, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo dos fatores consi<strong>de</strong>rados explicativos da atualida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong><br />

adquirir diferentes limites. Autores como Gilles Lipovetsky (2004) procuram <strong>de</strong>limitar o passado e<br />

o presente na sutil passagem <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> que trabalhava sobre <strong>de</strong>terminada velocida<strong>de</strong> e, em<br />

<strong>de</strong>terminado momento, incrementou esta velocida<strong>de</strong> a ponto <strong>de</strong> se tornar uma socieda<strong>de</strong> da<br />

hipermo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. Para este autor, a contemporaneida<strong>de</strong> em sua essência não se diferencia <strong>de</strong><br />

socieda<strong>de</strong>s das décadas <strong>de</strong> 1950 e 1960. Ainda são socieda<strong>de</strong>s com forte ênfase no progresso<br />

técnico e científico, no individualismo e na capacida<strong>de</strong> salvadora da razão. A diferença está na<br />

velocida<strong>de</strong> com que certos componentes da socieda<strong>de</strong> passam a se mover. O fluxo <strong>de</strong> informações,<br />

pessoas, capitais e mercadorias, <strong>de</strong>ntre outros, se intensificam a ponto <strong>de</strong> se estar a viver em uma<br />

socieda<strong>de</strong> do hiper. Desta forma, o consumo não se exclui <strong>de</strong>sta socieda<strong>de</strong>, adquirindo traços<br />

também hiper e sendo chamado pelo autor <strong>de</strong> hiper consumo.<br />

O sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman (1998) também procura encontrar na<br />

contemporaneida<strong>de</strong> características que a diferencie <strong>de</strong> um passado visto como sólido, nos quais<br />

valores, papeis sociais, símbolos e laços sociais eram fixos e pré-<strong>de</strong>finidos. Os mecanismos <strong>de</strong><br />

controle social mudaram e a socieda<strong>de</strong> administradora da vida, socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> produtores se<br />

transformou em uma socieda<strong>de</strong> líquida, leve e <strong>de</strong> consumidores. Para Bauman (2001 apud<br />

AQUINO, 2007, p. 14)<br />

Mudamos agora (…) <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> do estilo panóptico para uma socieda<strong>de</strong> do estilo<br />

sinóptico: as mesas foram viradas e agora são muitos que observam poucos. Os espetáculos<br />

tomam o lugar da supervisão sem per<strong>de</strong>r o po<strong>de</strong>r disciplinador do antecessor. A obediência<br />

aos padrões (uma maleável e estranhamente ajustável obediência a padroẽs eminentemente<br />

flexíveis, acrescento) ten<strong>de</strong> a ser alcançada hoje em dia pela tentação e pela sedução e não<br />

mais pela coerção – e aparece sob o disfarce do livre-arbítrio, em vez <strong>de</strong> revelar-se como<br />

força externa.<br />

Assim, em uma socieda<strong>de</strong> líquida e leve, cujos valores e necessida<strong>de</strong>s ten<strong>de</strong>m a estar livres<br />

<strong>de</strong> qualquer amarra, esperando ape<strong>nas</strong> por quem diga o que é <strong>de</strong> valor e o que é necessário, o que<br />

casa com uma socieda<strong>de</strong> capitalista, on<strong>de</strong> produzir e consumir são condições indispensáveis para a<br />

642


geração e acúmulo <strong>de</strong> riqueza (duas coisas fundamentais para a manutenção <strong>de</strong> uma organização<br />

social capitalista), aqueles valores e necessida<strong>de</strong>s passam a ser dados pelo mercado e pela guerra<br />

concorrencial entre empresas. Neste contexto, a ciência do marketing se torna essencial para as<br />

ativida<strong>de</strong>s empresariais, sempre procurando instigar no consumidor necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> consumo.<br />

Sobre o marketing, é interessante sublinhar a análise do filósofo Jean Baudrillard (2008, p. 42) que<br />

afirma que ―a publicida<strong>de</strong> realiza o prodígio <strong>de</strong> um orçamento consi<strong>de</strong>rável gasto com o fim, não <strong>de</strong><br />

acrescentar, mas <strong>de</strong> tirar valor <strong>de</strong> uso dos objetos, <strong>de</strong> diminuir o seu valor/tempo, sujeitando-se ao<br />

valor/moda e à renovação acelerada‖.<br />

São muitos os autores que fazem análises da contemporaneida<strong>de</strong> e da socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

consumo, contudo, Bauman, Lypovetsky e Baudrillard já traçam um plano <strong>de</strong> fundo para se <strong>de</strong>linear<br />

a lógica romântica do consumo interpretado por Colin Campbell. Porém, antes, é interessante<br />

ressaltar que o consumo para a contemporaneida<strong>de</strong> já ultrapassa a lógica racional <strong>de</strong> satisfação <strong>de</strong><br />

necessida<strong>de</strong>s básicas. O consumo passa <strong>de</strong> ação <strong>de</strong> satisfação <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>s básicas para a<br />

sobrevivência para a satisfação <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cunho simbólico e social. Slogans <strong>de</strong> produtos<br />

atuais ten<strong>de</strong>m a não mais realçar valores tangíveis dos seus próprios produtos, como, por exemplo,<br />

preços, cores e durabilida<strong>de</strong>, mas sim atributos inatingíveis como a beleza, o amor e a liberda<strong>de</strong>. É<br />

comum propagandas <strong>de</strong> cosméticos que procuram ven<strong>de</strong>r a beleza e não mais tratamentos <strong>de</strong> pele;<br />

empresas automobilísticas não ven<strong>de</strong>m mais meios <strong>de</strong> transportes, mas a liberda<strong>de</strong>, a aventura, o<br />

sucesso e a certeza <strong>de</strong> bons relacionamentos; as empresas <strong>de</strong> cervejas já não mais ven<strong>de</strong>m bebidas,<br />

mas a sensualida<strong>de</strong> e a erotização.<br />

É neste contexto que Colin Campbell (2006) <strong>de</strong>senvolve seu trabalho Eu compro, logo sei<br />

que existo: as bases metafísicas do consumo mo<strong>de</strong>rno, no qual procura <strong>de</strong>monstrar que as bases do<br />

consumo mo<strong>de</strong>rno estão acima da racionalida<strong>de</strong> humana, <strong>de</strong> questões econômicas <strong>de</strong> alocação <strong>de</strong><br />

recursos. Ao contrário, o consumo possui bases metafísicas. A ação <strong>de</strong> comprar contribui na<br />

construção da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> do sujeito além <strong>de</strong> fornecer, mesmo que temporariamente, certezas<br />

ontológicas na contemporaneida<strong>de</strong>. Para o autor:<br />

Para que meu argumento faça sentido é importante que fique bem claro, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início, o<br />

que consi<strong>de</strong>ro como os dois aspectos cruciais do consumismo mo<strong>de</strong>rno, isto é, aqueles que<br />

claramente o distinguem dos padrões mais antigos e tradicionais. O primeiro é o lugar<br />

central ocupado pela emoção e pelo <strong>de</strong>sejo, juntamente com um certo grau <strong>de</strong> imaginação.<br />

Este é um argumento que já <strong>de</strong>senvolvi antes e sobre o qual não irei me esten<strong>de</strong>r nesse<br />

momento. Deixem-me ape<strong>nas</strong> enfatizar minha crença <strong>de</strong> que o processo <strong>de</strong> querer e <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sejar está no cerne do fenômeno do consumismo mo<strong>de</strong>rno. Isso não quer dizer que<br />

questões referentes a necessida<strong>de</strong>s estejam ausentes, ou que outras questões, como<br />

estruturas institucionais e organizacionais significativas, não sejam importantes. Quero<br />

ape<strong>nas</strong> afirmar o dínamo central que impulsiona tal socieda<strong>de</strong> é o da <strong>de</strong>manda do<br />

consumidor, e que isso, por sua vez, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da habilida<strong>de</strong> do consumidor <strong>de</strong> exercitar<br />

continuamente seu <strong>de</strong>sejo por bens e serviços. Nesse sentido, são nossos estados<br />

emocionais, mais especificamente nossa habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ―querer‖, e ―ansiar por alguma<br />

coisa‖, sobretudo nossa habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> repetidamente experimentar tais emoções, que na<br />

verda<strong>de</strong> sustentam a economia das socieda<strong>de</strong>s mo<strong>de</strong>r<strong>nas</strong> <strong>de</strong>senvolvidas. (CAMPBELL,<br />

2006, p. 48)<br />

643


É no relacionamento entre sujeito e produto que o indivíduo também constrói sua<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. Não se está aqui a limitar a construção i<strong>de</strong>ntitária <strong>de</strong> um sujeito ape<strong>nas</strong> <strong>nas</strong> ações <strong>de</strong><br />

consumo. São muitos os fatores que contribuíam na formação da subjetivida<strong>de</strong>. Entretanto, não se<br />

po<strong>de</strong> ignorar que as relações entre sujeitos e mercadorias ganharam, <strong>nas</strong> últimas décadas, um status<br />

<strong>de</strong> segurança para o indivíduo que consome. Se a contemporaneida<strong>de</strong> é caracterizada por incertezas<br />

e inseguranças, muitas mercadorias apontam como a <strong>de</strong>tentora <strong>de</strong> seguranças e certezas, <strong>de</strong> forma<br />

que é na relação <strong>de</strong> consumo que os indivíduos passam a se <strong>de</strong>scobrir e se i<strong>de</strong>ntificar. A propaganda<br />

e a publicida<strong>de</strong> apelam para as características da contemporaneida<strong>de</strong> na tentativa <strong>de</strong> obterem<br />

subsídios para atraírem consumidores. Exemplo significativo disto é o risco ecológico. A ameaça <strong>de</strong><br />

perigos provenientes do meio ambiente seja na forma <strong>de</strong> catástrofes naturais ou escassez <strong>de</strong> recursos<br />

naturais conduziu a uma onda publicitária <strong>de</strong> produtos ―ver<strong>de</strong>s‖ e ambientalmente corretos, estando,<br />

cada produto dando uma suposta contribuição para a sustentabilida<strong>de</strong> ambiental e colocando na mão<br />

do consumidor a responsabilida<strong>de</strong> pelo bem-estar do planeta, pois só <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong>le consumir o<br />

produto que a cada embalagem vendida po<strong>de</strong> plantar árvores ou fazer doações. A mesma tendência<br />

―ver<strong>de</strong>‖ para os produtos também cria uma classe <strong>de</strong> consumidores comprometidos com o meio<br />

ambiente, preocupados com a vida e responsáveis socialmente. É em um ambiente como este para<br />

as ações <strong>de</strong> consumo que Campbell (2006, p. 52-53) se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> afirmando:<br />

Que fique bem claro que não estou sugerindo que a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong>riva <strong>de</strong> um produto ou<br />

serviço consumido, ou que, conforme dizem, as pessoas são aquilo que compram. É<br />

evi<strong>de</strong>nte que o que compramos diz algo sobre quem somos. Não po<strong>de</strong>ria ser <strong>de</strong> outra forma.<br />

Mas o que estou sugerindo é que o verda<strong>de</strong>iro local on<strong>de</strong> resi<strong>de</strong> a nossa i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ser<br />

encontrado em nossas reações aos produtos e não nos produtos em si. Por conseguinte, não<br />

estou argumentando que como consumidores ―compramos‖ i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s, mediante nosso<br />

consumo <strong>de</strong> bens e serviços específicos. Tampouco estou sugerindo que <strong>de</strong>scobriremos isso<br />

nos expondo a uma gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> produtos e serviços. Mas é monitorando nossas<br />

reações a eles, observando do que gostamos e do que não gostamos que começaremos a<br />

<strong>de</strong>scobrir quem ―realmente somos‖.<br />

Campbell, portanto, conduz a discussão sobre consumo e, no contexto da sustentabilida<strong>de</strong>,<br />

consumo consciente a um novo nível, ressaltando a complexida<strong>de</strong> que há em <strong>de</strong>bater o tema.<br />

Demandar novas formas <strong>de</strong> consumo para o bem-estar da humanida<strong>de</strong> não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> ape<strong>nas</strong> <strong>de</strong> expor<br />

a situação dos recursos no planeta. Depen<strong>de</strong> <strong>de</strong> transformações <strong>nas</strong> características dos tempos<br />

atuais, nos pressupostos que fundamentam a contemporaneida<strong>de</strong>, repensando as relações que os<br />

indivíduos levam na construção <strong>de</strong> suas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s e do espaço em que atuam para que assim<br />

possam <strong>de</strong>senvolver uma nova postura diante do consumo, pois, antes <strong>de</strong> tudo, ―é justificável<br />

afirmar não só que vivemos numa socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> consumo, ou somos socializados numa cultura <strong>de</strong><br />

644


consumo, mas que a nossa, num sentido bem fundamental, é uma civilização <strong>de</strong> consumo‖<br />

(CAMPBELL, 2006, p. 63-64).<br />

A educação para o consumo consciente<br />

Sendo a educação ação socializadora, que prepara os indivíduos menores para<br />

<strong>de</strong>sempenharem <strong>de</strong>terminados papeis na teia social, para uma cultura da sustentabilida<strong>de</strong> é<br />

necessário que educadores estejam munidos <strong>de</strong> todo um instrumental teórico e analítico que<br />

possibilitem um trabalho <strong>de</strong> socialização para um paradigma da sustentabilida<strong>de</strong>. Contudo, como<br />

observado anteriormente, as reflexões sobre sustentabilida<strong>de</strong> não po<strong>de</strong>m se limitar a aspectos<br />

meramente científicos. A temática sobre consumo, na perspectiva apontada por Colin Campbell, é a<br />

prova que outros aspectos da vida humana, como a emoção, a imaginação e o <strong>de</strong>sejo, <strong>de</strong>sempenham<br />

pesos prepon<strong>de</strong>rantes na tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão dos indivíduos e que estão além <strong>de</strong> questões racionais<br />

<strong>de</strong> alocações <strong>de</strong> recursos e rendas.<br />

Por ter como matéria-prima o saber científico, as análises <strong>de</strong> Campbell apontam para um<br />

<strong>de</strong>safio a ser vivido pelas escolas para que possam realmente se comprometer com um paradigma<br />

da sustentabilida<strong>de</strong>. As escolas <strong>de</strong>vem se reinventar, <strong>de</strong> forma que o cientificismo dê lugar ao<br />

dialogo <strong>de</strong> saberes, a complexida<strong>de</strong> e a emoção na construção <strong>de</strong> uma cultura da sustentabilida<strong>de</strong>.<br />

Uma educação para o consumo consciente, por exemplo, estaria envolta <strong>de</strong> reflexões que<br />

além <strong>de</strong> expor os achados empíricos sobre os impactos do consumo, teria que trabalhar com<br />

reflexões mais profundas, filosóficas, religiosas, emocionais acerca do significado da vida, do ser,<br />

da existência, etc. o projeto <strong>de</strong> uma educação para o consumo consciente seria pautado nos<br />

seguintes objetivos:<br />

Demonstrar que a construção do Ser não necessariamente <strong>de</strong>ve se concentrar no Ter;<br />

Apontar que a ação <strong>de</strong> consumir é complexa, com diferentes pontos <strong>de</strong> articulação no tempo<br />

e no espaço e que, portanto, tem causas e conseqüências;<br />

Procurar incentivar nos alunos a reflexão sobre as causas que movem a ação do consumo;<br />

Educar para a mídia;<br />

Trabalhar a emoção na poesia e na arte, pois tão forte quanto razões são os laços<br />

emocionais;<br />

Estimular o ócio criativo, o tempo e livre e o lazer;<br />

Valorizar o sujeito mais que o objeto e;<br />

645


Reintegrar o ser humano na natureza, <strong>de</strong>monstrando que o homem faz parte inseparável da<br />

natureza e não uma figura autônoma e superior a ela.<br />

Cada ponto <strong>de</strong>stes, entre outros, possui um significado específico que remontam as<br />

características da contemporaneida<strong>de</strong> e que afetam a relação homem/natureza/sustentabilida<strong>de</strong>, tais<br />

como a falta <strong>de</strong> tempo, a publicida<strong>de</strong> infantil exacerbada e a racionalização da vida.<br />

Conclusão<br />

Filósofos racionalistas já temiam as paixões pelo po<strong>de</strong>r que estas <strong>de</strong>sempenham na vida do<br />

homem, apostando na razão para uma vida segura. Porém esta mesma razão conduziu à ameaças à<br />

sustentabilida<strong>de</strong> da vida humana na Terra. Entretanto, o próprio uso e domínio da ciência e da razão<br />

se transformaram em paixões perigosas e <strong>de</strong>scontroláveis parecidas com a crítica a uma razão que<br />

veio para combater mitos, mas terminou por se tornar um mito também (ADORNO &<br />

HORKHEIMER, 1995).<br />

Resta o alerta que para uma educação ambiental comprometida <strong>de</strong> fato com a<br />

sustentabilida<strong>de</strong>, um novo paradigma <strong>de</strong>ve ser construído e que a lei <strong>de</strong> educação ambiental<br />

caminha na construção <strong>de</strong>ste novo paradigma. Contudo, muito ainda se tem para se compreen<strong>de</strong>r<br />

sobre as inúmeras relações do homem com a natureza no seu cotidiano. O ato <strong>de</strong> consumir é prova<br />

disto, quando se observa que visto pela visão estritamente racional, visão predominante esta, pouco<br />

se po<strong>de</strong> cobrar <strong>de</strong> um consumo consciente quando o mesmo consumo é a razão <strong>de</strong> ser <strong>de</strong> um<br />

indivíduo.<br />

Referências<br />

ADORNO, Theodor; W, HORKHEIMER, Max. A dialética do esclarecimento. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Jorge Zahar Editor, 1995.<br />

AQUINO, Julio Groppa. Instantâneos da escola contemporânea. Campi<strong>nas</strong>, SP: Papirus, 2007.<br />

BAUDRILLARD, Jean. A socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Consumo. Portugal: Edições 70, 2008.<br />

BAUMAN, Zygmunt. O mal estar da pós-mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. Tradução <strong>de</strong> Mauro Gama, Cláudia<br />

Martinelli Gama. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1998.<br />

BRASIL. A implantação da Educação Ambiental no Brasil. Brasília- DF, 1998.<br />

CAMPBELL, Colin. Eu compro, logo sei que existo: as bases metafísicas do consumo mo<strong>de</strong>rno. In:<br />

BARBOSA, Lívia; CAMPBELL, Colin (orgs.). Cultura, consumo e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Editora FGV, 2006.<br />

646


CAVALARI, Rosa Maria Feiteiro. In: Educação ambiental, políticas públicas e contexto escolar.<br />

BARBOSA, Raquel Lazzari Leite (org.). Formação <strong>de</strong> educadores: artes e técnicas, ciências<br />

políticas. São Paulo: Editora UNESP, 2006.<br />

LEFF, Henrique. Racionalida<strong>de</strong> ambiental: a reapropriação social da natureza. Tradução <strong>de</strong> Luis<br />

Carlos Cabral. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.<br />

LIPOVETSKY, Gillles. Os tempos Hipermo<strong>de</strong>rnos. Tradução <strong>de</strong> Mário Vilela. São Paulo: Editora<br />

Barcarolla, 2004.<br />

MEADOWS, Donella H. et al. Limites do crescimento. São Paulo: Editora Perspectiva AS, 1973.<br />

MORIN, Edgar; CIURANA, Emilio-Roger; MOTTA, Raúl Domingo. Educar na era planetária: o<br />

pensamento complexo como método <strong>de</strong> aprendizagem no erro e na incerteza humana. Tradução <strong>de</strong><br />

Sandra Trabucco Valenzuela. São Paulo: Cortez Editora, 2003.<br />

647


Resumo<br />

PRÁTICA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESCOLA PÚBLICA DE ENSINO<br />

FUNDAMENTAL NO MUNICÍPIO DE RUSSAS – CE<br />

Jéssyca <strong>de</strong> Freitas LIMA (NUPGESAM/IFCE) jessycafreitas@ifce.edu.br<br />

Dayane <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> LIMA (NUPGESAM/IFCE) dayaneandra<strong>de</strong>@ifce.edu.br<br />

José Reuben MOREIRA (Estudante do IFCE) reuben_moreira@hotmail.com<br />

Maria Gizeuda <strong>de</strong> Freitas SOUSA (Professora e Orientadora/IFCE) gizeuda@ifce.edu.br<br />

A problemática em relação ao meio ambiente e seu processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação tem ganhado cada vez<br />

mais espaço <strong>nas</strong> discussões entre vários segmentos sociais, na mídia e recentemente, ao processo<br />

educacional. Nesse contexto, várias ações foram realizadas: os primeiros fóruns nacionais <strong>de</strong><br />

educação ambiental, a instituição do programa nacional <strong>de</strong> educação ambiental pelo ministério do<br />

meio ambiente e dos parâmetros curriculares nacionais pelo MEC, nos quais a temática ambiental<br />

foi inserida como conteúdo transversal em todas as discipli<strong>nas</strong> do currículo escolar. A educação,<br />

enquanto instrumento <strong>de</strong> transformação, tem papel fundamental na sensibilização dos seres<br />

humanos para uma melhor convivência com seus semelhantes e com o seu meio. Nesse sentido,<br />

cabe a ela cumprir sua função social, através <strong>de</strong> um sistema flexível e aberto que abor<strong>de</strong> questões da<br />

realida<strong>de</strong> e não ape<strong>nas</strong> reproduza o que apresentam os livros didáticos. O objetivo <strong>de</strong>sse trabalho é<br />

ampliar as ações <strong>de</strong> cidadania aos alunos da escola municipal <strong>de</strong> ensino fundamental Juarez<br />

Santiago <strong>de</strong> Lima do município <strong>de</strong> Russas- CE, embasadas nos princípios da educação ambiental<br />

para socieda<strong>de</strong>s sustentáveis. Foram realizados através <strong>de</strong> diversos meios metodológicos como:<br />

palestras, ofici<strong>nas</strong> <strong>de</strong> compostagem, arborização, formação <strong>de</strong> monitores e campanhas educativas.<br />

Com a analise <strong>de</strong>sse trabalho observou-se que a implantação <strong>de</strong> metodologias que promovam a<br />

Educação Ambiental é <strong>de</strong> tamanha importância para formação <strong>de</strong> alunos.<br />

Palavras–chave: Educação ambiental; Metodologias; Práticas ambientais.<br />

Abstract<br />

The issue in relation to the environment and its <strong>de</strong>gradation process has gained more space in<br />

discussions between various segments of society, the media and recently the educational process. In<br />

this context, several actions were taken: the first national forums on environmental education, the<br />

institution of the national program of environmental education by the ministry of environment and<br />

648


national curriculum gui<strong>de</strong>lines by MEC, in which the environmental theme was inserted as content<br />

in all transverse subjects in the school curriculum. Education as an instrument of transformation,<br />

plays a key role in raising awareness of human beings for better interaction with their peers and<br />

with their environment. It is worth it to meet its social function, through an open and flexible<br />

system that addresses issues of reality and not merely reproduce what they have textbooks. The aim<br />

of this work is to extend citizenship to the actions of public school children of primary school<br />

Juarez Santiago <strong>de</strong> Lima municipality of Russas-CE, based in the principles of environmental<br />

education for sustainable societies. Were performed through various means methodological as<br />

lectures, workshops and composting afforestation, training monitors and educational campaigns.<br />

With the analysis of this study showed that the implementation of methodologies that promote<br />

environmental education is of such importance to training of stu<strong>de</strong>nts.<br />

Palavras–chave: Educação Ambiental; Metodologias; Práticas ambientais.<br />

Introdução<br />

A Educação Ambiental foi <strong>de</strong>finida como uma dimensão dada ao conteúdo e à prática da<br />

educação, norteada para a resolução dos problemas ambientais através <strong>de</strong> aspectos interdisciplinares<br />

e <strong>de</strong> uma participação ativa e responsável <strong>de</strong> cada indivíduo e da coletivida<strong>de</strong>. (DIAS, 1998).<br />

No Brasil, a Educação Ambiental assume uma perspectiva abrangente, não se restringindo<br />

ape<strong>nas</strong> a proteção e uso sustentável <strong>de</strong> recursos naturais, mas incorporando fortemente a proposta<br />

<strong>de</strong> construção <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong>s sustentáveis.<br />

A prática da Educação Ambiental tornou-se lei em 27 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1999. A Lei N° 9.795 –<br />

Lei da Educação Ambiental, em seu Art. 2° afirma que: "A educação ambiental é um componente<br />

essencial e permanente da educação nacional, <strong>de</strong>vendo estar presente, <strong>de</strong> forma articulada, em todos<br />

os níveis e modalida<strong>de</strong>s do processo educativo, em caráter formal e não-formal‖ (Brasil, 2009).<br />

O estado do Ceará inicia o processo <strong>de</strong> ações voltadas para a melhoria ambiental quando em<br />

1987, foi criada a Superintendência Estadual do Meio Ambiente – SEMACE. Dessa forma tomando<br />

a li<strong>de</strong>rança no processo <strong>de</strong> proteção ao meio ambiente.<br />

Sabe-se da importância para sensibilização quanto às questões ambientais, para conseguir a<br />

promoção e conservação <strong>de</strong> um ambiente saudável para a presente e para as futuras gerações; Por<br />

ser a Educação Ambiental uma ativida<strong>de</strong> formal e informal é que a escola precisa se preocupar em<br />

promover simultaneamente, o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> conhecimentos, atitu<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s<br />

necessárias à preservação e melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida. O objetivo <strong>de</strong>sse trabalho é analisar uma<br />

proposta <strong>de</strong> educação ambiental com base na implantação <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> alunos monitores para<br />

649


trabalhar permanentemente a temática ambiental na Escola <strong>de</strong> Ensino Fundamental Juarez Santiago<br />

<strong>de</strong> Lima, Russas/CE.<br />

Material e Métodos<br />

O município <strong>de</strong> Russas está localizado no interior do Ceará, a 160 km da Capital Fortaleza. A<br />

execução <strong>de</strong>ste trabalho foi <strong>de</strong>sempenhada na Escola <strong>de</strong> Ensino Fundamental Juarez Santiago <strong>de</strong><br />

Lima, no município <strong>de</strong> Russas – CE. Vinte alunos participaram do movimento, sendo eles do 6º ao<br />

9º ano.<br />

O trabalho realizado foi dividido em partes, primeiro foram realizas palestras sobre temas<br />

ligados a questão ambiental tais como resíduos sólidos, <strong>de</strong>smatamentos, poluição atmosférica,<br />

poluição da água e dos esgotos, preservação da diversida<strong>de</strong> animal e vegetal, e outros. Depois das<br />

palestras foram realizadas ofici<strong>nas</strong> trabalhando os temas abordados <strong>nas</strong> palestras, como: oficina <strong>de</strong><br />

reciclagem, após questionamentos sobre a <strong>de</strong>stinação dos resíduos sólidos; oficina <strong>de</strong> compostagem,<br />

on<strong>de</strong> os alunos apren<strong>de</strong>ram uma técnica <strong>de</strong> <strong>de</strong>stinar os resíduos orgânicos como folhas <strong>de</strong> arvores,<br />

restos <strong>de</strong> alimentos e estrume; arborização da escola, visando os benefícios futuros.<br />

Os temas ambientais foram discutidos para toda a escola e comunida<strong>de</strong> pelos alunos<br />

monitores, por meio <strong>de</strong> duas metodologias que os mesmos escolheram teatro e manifestação<br />

pública, como uma passeata no dia 7 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2011 <strong>nas</strong> ruas da comunida<strong>de</strong>.<br />

O período da execução <strong>de</strong>sse trabalho foi <strong>de</strong> agosto a novembro <strong>de</strong> 2011. E espera-se que os<br />

alunos monitores continuem o trabalho na escola e na comunida<strong>de</strong>.<br />

Resultados e Discussão<br />

As palestras realizadas apresentaram a problemática ambiental tentando instigar o interesse<br />

diante <strong>de</strong>ssas questões, para que eles incorporem novos atos e ações ambientais na escola e na<br />

comunida<strong>de</strong>. Os alunos mostraram-se interessados nos temas ambientais trabalhados ao relacionar<br />

natureza e socieda<strong>de</strong> numa visão ligada ao cotidiano.<br />

Outro fato observado é <strong>de</strong> que a maioria dos alunos envolvidos, senão todos, realmente se<br />

engajaram e se sensibilizaram com as temáticas ambientais <strong>de</strong>sejando promover a preservar do<br />

meio ambiente. A Figura 1 mostra os alunos monitores participando das ativida<strong>de</strong>s para promoção<br />

da educação ambiental em diversos temas ambientais.<br />

650


Figura 1: Professor ministrando palestra sobre<br />

temas ambientais, locais e regionais.<br />

Figura 2: Alunos plantando, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> fazerem a<br />

compostagem.<br />

Na Figura 2, os alunos plantam após terem feito a compostagem. Foram plantados uma<br />

planta da espécie Tra<strong>de</strong>scantia pallida, popularmente conhecida por coração roxo, a mesma po<strong>de</strong><br />

ser usada como indicador <strong>de</strong> poluição do ar; o adubo gerado pelo processo <strong>de</strong> compostagem foi<br />

usado como fertilizantes na planta citada acima e também em uma horta on<strong>de</strong> plantaram-se verduras<br />

e legumes que futuramente complementaram a merenda escolar.<br />

Com a ajuda dos Multiplicadores em Educação Ambiental, foi realizada a arborização na<br />

escola, feita pelos alunos monitores, como mostra a Figura 3.<br />

Figura 3 - Arborização feita pelos alunos<br />

Figura 4 - Passeata pela comunida<strong>de</strong> no dia 07 <strong>de</strong><br />

Setembro <strong>de</strong> 2011, ressaltando as formas e a<br />

importância e preservar o meio ambiente.<br />

Em Setembro, a Escola sempre realiza o <strong>de</strong>sfile <strong>de</strong> 7 <strong>de</strong> Setembro na comunida<strong>de</strong>, nesse ano<br />

juntamente com os Multiplicadores em Educação Ambiental, o <strong>de</strong>sfile aconteceu com o tema<br />

principal Meio Ambiente. Abrangendo todos os alunos da Escola e tendo como objetivo mostrar à<br />

população a importância do meio ambiente para o planeta, como apresenta a Figura 4.<br />

651


Contudo, para trabalhar com educação ambiental, <strong>de</strong>vemos consi<strong>de</strong>rar vários aspectos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

a cultura até a política. Sendo assim, necessário muitos que sensibilizem e quem sabe incentive a<br />

população a viver <strong>de</strong> forma ambientalmente correta e sustentável.<br />

Conclusões<br />

Notou-se que em todos os encontros e ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> campo realizadas com o grupo <strong>de</strong><br />

alunos, eles estavam dispostos a apren<strong>de</strong>r. Foi observado que a maioria dos alunos envolvidos,<br />

realmente se interessou pelas questões ambientais, <strong>de</strong>ssa forma querendo promover a proteção e<br />

preservação do meio ambiente.<br />

Entretanto, trabalhar com educação ambiental é muito complexo, <strong>de</strong>vendo levar em<br />

consi<strong>de</strong>ração aspectos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a cultura até a política. Necessitando que todos se sensibilizem e<br />

incentivem a população a viver <strong>de</strong> forma ambientalmente mais sustentável.<br />

Para obtenção <strong>de</strong> melhores resultados seria necessário à formação <strong>de</strong> parcerias entre<br />

professores, alunos e comunida<strong>de</strong>s escolares on<strong>de</strong> houvesse esforços no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ações<br />

em Educação Ambiental, envolvendo a todos, promovendo discussões e construção <strong>de</strong> conceitos <strong>de</strong><br />

forma coletiva.<br />

Agra<strong>de</strong>cimentos<br />

Ao Instituto Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – Campus Limoeiro do<br />

Norte, a Superintendência Estadual do Meio Ambiente – SEMACE e a Prefeitura Municipal <strong>de</strong><br />

Russas.<br />

Referências<br />

BRASIL. Ministério <strong>de</strong> Meio Ambiente – MMA. Secretaria <strong>de</strong> Articulação Institucional e<br />

Cidadania Ambiental – Legislação. Brasília. Disponível em: < http://www.mma.gov.br>. Acesso<br />

em: 21 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2012.<br />

CARVALHO, Isabel Cristina <strong>de</strong> Moura. Educação Ambiental: a formação do sujeito ecológico –<br />

1° Ed. São Paulo: Cortez, 2004.<br />

CEARÁ, Superintendência Estadual do Meio Ambiente. Apostila do curso <strong>de</strong> Capacitação para<br />

Multiplicadores em Educação Ambiental. Fortaleza: SEMACE, 2003<br />

DIAS, Genebaldo Freire. Educação Ambiental: Princípios e práticas – 5° Ed. São Paulo: Global,<br />

1998.<br />

652


A EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA O CONSUMO CONSCIENTE: PRÁTICAS LÚDICAS NA<br />

FORMAÇÃO DE CIDADÃOS BIOCÊNTRICOS.<br />

RESUMO<br />

Ana Clara Giraldi COSTA – Estudante UFPR anagiraldi@ufpr.br<br />

Afonso Takao MURATA – Professor UFPR afonsomurata@ufpr.br<br />

Este artigo trata-se <strong>de</strong> um relato <strong>de</strong> experiência sobre um trabalho <strong>de</strong>senvolvido com um grupo <strong>de</strong><br />

crianças participantes do Projeto ―Ondas do Saber‖ do município <strong>de</strong> Matinhos/PR. O objetivo do<br />

trabalho foi promover a Educação Ambiental para o Consumo Consciente através <strong>de</strong> práticas<br />

lúdicas em espaço não escolarizado. Participaram da ação 47 crianças, <strong>de</strong> ambos os sexos, com<br />

ida<strong>de</strong>s entre 06 a 11 anos. Foram realizadas três seções <strong>de</strong> um circuito <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s em um único<br />

dia, durante um campeonato <strong>de</strong> surf <strong>de</strong>senvolvido paras os mesmos. Foram levantadas as principais<br />

referências e práticas que os mesmos fazem para preservar o meio ambiente, seguida <strong>de</strong> um<br />

esclarecimento, um caça ao tesouro e um teatro. Os dados apresentados no trabalho foram coletados<br />

durante o <strong>de</strong>senvolvimento das ativida<strong>de</strong>s. A experiência permitiu constatar a importância <strong>de</strong> se<br />

utilizar a ludicida<strong>de</strong> como instrumento metodológico em ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Educação Ambiental, e aferir<br />

a aceitabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>stas ações em espaços <strong>de</strong> lazer.<br />

PALAVRAS-CHAVE: Educação Ambiental; Consumo Consciente; Práticas Lúdicas.<br />

ABSTRACT<br />

This article it is an experience report on a work with a group of children participating in the Project<br />

―Ondas do Saber‖ in the Matinhos city, Paraná state, Brazil. The objective was to promote<br />

environmental education for Conscious Consumption through practices in not schooled recreational<br />

space. In this research participated 47 children, of both sexes, aged 06 to 11 years. There were three<br />

sections of a circuit of activities in a single day for a surf championship <strong>de</strong>veloped for them. We<br />

raised the main references and practices that they do to preserve the environment, followed by a<br />

clarification, a treasure hunt and a theater. The experience revealed the importance of using<br />

playfulness as a methodological tool in environmental education activities, and to assess the<br />

acceptability of these actions in leisure.<br />

KEYWORDS: Environmental Education; Conscious Consumption; playfulness.<br />

653


INTRODUÇÃO<br />

A socieda<strong>de</strong> vem passando por uma crise socioambiental em que se faz necessária mudanças<br />

nos paradigmas: do ser antropocêntrico para uma visão <strong>de</strong> mundo biocêntrica, comprometida com<br />

toda a vida na Terra (GOMES, 2006). É notório que o padrão <strong>de</strong> vida imposto pelo sistema<br />

capitalista seja revisto, e que a Educação Ambiental faça parte <strong>de</strong>ste processo.<br />

As bases, princípios e estratégias da Educação Ambiental ganharam espaço a partir dos anos<br />

70, na tentativa <strong>de</strong> resolver o quadro <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação ambiental e social que se instalou no mundo.<br />

Um instrumento <strong>de</strong> minimização e/ou solução dos problemas ocasionados, através da<br />

conscientização acerca das problemáticas e das possíveis soluções para elas.<br />

Há, sem dúvida, uma necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mudança no modo <strong>de</strong> pensar e agir para com a<br />

socieda<strong>de</strong> e o com meio. A Educação como um todo possui papel fundamental na formulação <strong>de</strong><br />

uma nova mentalida<strong>de</strong>; por conseguinte, a Educação Ambiental, aliada à temática do consumo<br />

consciente, representa um elemento-chave no processo <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> um cidadão consciente,<br />

agente transformador e preservador do meio ambiente.<br />

A utilização do lúdico em ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Educação Ambiental já é tida para diversos autores<br />

e trabalhos como um importante instrumento <strong>de</strong> aprendizagem em espaços <strong>de</strong> formação humana e<br />

<strong>de</strong> transformação da realida<strong>de</strong> (CARVALHO; MACEDO, 2003). Para Carvalho, Xavier (1999),<br />

Carvalho, Macedo (2003) e Carvalho (2005), por exemplo, usar o lúdico em trabalhos <strong>de</strong><br />

conscientização ambiental é umas das estratégias mais bem sucedidas, sejam elas em ambientes<br />

escolarizados ou não.<br />

Neste sentido o presente trabalho <strong>de</strong> Educação Ambiental teve como objetivo geral<br />

sensibilizar, proporcionar informações e reflexões para crianças a respeito das questões<br />

socioambientais relacionadas ao consumo consciente através <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s pedagógicas lúdicas.<br />

Teve como objetivos específicos apresentar <strong>de</strong> maneira lúdica as questões socioambientais<br />

que envolvem o consumo consciente; utilizar metodologias e estratégias <strong>de</strong> ginca<strong>nas</strong> e <strong>de</strong> teatro <strong>de</strong><br />

bonecos como forma <strong>de</strong> Educação Ambiental; <strong>de</strong>senvolver o trabalho em equipe, a criativida<strong>de</strong>, e a<br />

visão crítica da realida<strong>de</strong>; <strong>de</strong>senvolver hábitos <strong>de</strong> consumo consciente e preservação do meio<br />

ambiente; realizar ativida<strong>de</strong>s que permitam à criança ser o agente transformador e preservador do<br />

meio ambiente; apresentar às crianças diversos utensílios feitos a partir da reutilização <strong>de</strong> materiais.<br />

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA<br />

654


De acordo com a Política Nacional <strong>de</strong> Educação Ambiental (Lei 9.795/99), enten<strong>de</strong>-se por<br />

Educação Ambiental todos os processos em que o indivíduo ou até mesmo a coletivida<strong>de</strong> constroem<br />

valores sociais para conservação do meio ambiente, a partir <strong>de</strong> um enfoque humanista, holístico,<br />

<strong>de</strong>mocrático, participativo e sustentável. Ela po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>senvolvida em espaços formais (<strong>nas</strong><br />

escolas), ou em espaços não formais (ações e práticas voltadas à sensibilização da coletivida<strong>de</strong>)<br />

(BRASIL, 1999).<br />

Pensando em trabalhar a Educação Ambiental tanto <strong>de</strong> maneira formal quanto não formal,<br />

diversos autores e trabalhos encontram no lúdico uma excelente ferramenta <strong>de</strong> ensino. Segundo<br />

Araujo; Junior (2007), a utilização do lúdico em ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Educação Ambiental, sejam elas em<br />

espaços escolarizados ou não, compreen<strong>de</strong> um importante instrumento <strong>de</strong> aprendizagem.<br />

As ativida<strong>de</strong>s lúdicas têm por objetivo ajudar a criança a entrar em contato com o mundo<br />

imaginário e ao mesmo tempo real, a <strong>de</strong>senvolver habilida<strong>de</strong>s, a criar, relacionar e assimilar melhor<br />

os conhecimentos obtidos. (SALOMÃO; MARTINE, 2007).<br />

A proposta <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s lúdico-pedagógicas <strong>nas</strong> práticas educativas além <strong>de</strong> favorecer a<br />

relação das crianças com os adultos causa-lhes prazer e contribuiu para o <strong>de</strong>senvolvimento pleno da<br />

capacida<strong>de</strong> infantil (HURTADO, 2001).<br />

Para Carvalho, Macedo (2003) as ativida<strong>de</strong>s pedagógicas que envolvem esse método<br />

constituem uma boa forma em espaços <strong>de</strong> formação humana e <strong>de</strong> transformação da realida<strong>de</strong>.<br />

Para Lopes (2000) apren<strong>de</strong>r por meio <strong>de</strong> brinca<strong>de</strong>iras, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da ida<strong>de</strong>, significa<br />

maiores chances <strong>de</strong> assimilação do conhecimento. Estes, quando trazem elementos do cotidiano<br />

para <strong>de</strong>ntro dos espaços faz com que o aprendiz seja sujeito ativo do processo <strong>de</strong> educação.<br />

No que tange essa temática, o trabalho com o teatro apresenta um gran<strong>de</strong> potencial para<br />

<strong>de</strong>senvolver tais ativida<strong>de</strong>s. Traz excelentes contribuições, uma vez que proporciona uma<br />

aproximação entre o ser humano e o meio ambiente em seu entorno <strong>de</strong> maneira dialógica e dialética<br />

(ARAUJO & JUNIOR, 2007).<br />

Para Fonseca (2003), Ostelo, Oliveira & Mesina (2003) apren<strong>de</strong>r através <strong>de</strong> histórias é, com<br />

certeza, umas das melhores maneiras da criança construir conhecimentos. Para Lon<strong>de</strong>ro (2007) o<br />

po<strong>de</strong>r da imaginação do teatro faz com que as crianças absorvam o aprendizado <strong>de</strong> maneira<br />

divertida, sem sequer notarem estar apren<strong>de</strong>ndo. Para Capra & Santos (2001), a educação através da<br />

arte faz com que se <strong>de</strong>senvolva o espírito critico, capaz <strong>de</strong> transformar a si mesmo, e seu meio.<br />

A POPULAÇÃO PARTICIPANTE E O LOCAL<br />

Participaram <strong>de</strong>sta ação <strong>de</strong> Educação Ambiental 47 crianças, <strong>de</strong> ambos os sexos, com ida<strong>de</strong>s<br />

entre 06 a 11 anos, participantes do Projeto Ondas do Saber. Este é um trabalho <strong>de</strong>senvolvido pela<br />

655


Prefeitura do município <strong>de</strong> Matinhos/PR com o intuito <strong>de</strong> levar a prática do surf socioambiental<br />

para crianças matriculas na re<strong>de</strong> pública municipal.<br />

Foram realizadas três seções <strong>de</strong> um circuito <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s em um único dia do mês <strong>de</strong><br />

setembro <strong>de</strong> 2012, <strong>nas</strong> <strong>de</strong>pendências <strong>de</strong> um campeonato <strong>de</strong> surf <strong>de</strong>senvolvido para os mesmos,<br />

localizado no conhecido Pico <strong>de</strong> Matinhos, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Matinhos/PR. Nas <strong>de</strong>pendências também<br />

se encontra a se<strong>de</strong> e a escolinha <strong>de</strong> surf.<br />

AS ETAPAS DESENVOLVIDAS NO GRUPO<br />

A proposta inicial do trabalho estabelecia que as práticas fossem realizadas em espaços <strong>de</strong><br />

lazer e recreação, logo, <strong>de</strong>cidiu-se uni-la a um evento <strong>de</strong>stinado a prática <strong>de</strong> surf socioambiental<br />

para crianças.<br />

As ativida<strong>de</strong>s basearam-se na perspectiva do consumo consciente com enfoque no lixo na<br />

praia, através da metodologia participativa da Educação Ambiental aliada a práticas lúdicas. As<br />

ativida<strong>de</strong>s lúdico-pedagógicas escolhidas foram um caça ao tesouro e um teatro <strong>de</strong> bonecos, <strong>de</strong><br />

autoria própria e confeccionado a partir da reutilização <strong>de</strong> materiais.<br />

A participação das crianças na ativida<strong>de</strong> foi voluntária. Das 100 crianças inscritas no<br />

campeonato <strong>de</strong> surf, 47 participaram. Divididas em três seções, as ativida<strong>de</strong>s seguiram com 10<br />

crianças na primeira sessão, com 17 e 20 na segunda e terceira sessão, respectivamente.<br />

Para dar início as ativida<strong>de</strong>s foi pedido para que cada criança se apresentasse e falasse quais<br />

ações fazem diariamente para preservar o meio ambiente em que vivem.<br />

ainda tímidas<br />

Plantar e não jogar lixo na praia foram as principais reflexões levantadas pelas crianças, que<br />

Ao término <strong>de</strong>ssa etapa, as crianças foram informadas <strong>de</strong> que um pirata havia escondido os<br />

bonecos do teatro e que o papel <strong>de</strong>las neste momento era fazer um caça ao tesouro para encontrá-<br />

los.<br />

O CAÇA AO TESOURO<br />

O caça ao tesouro, que contou com elementos disponíveis ao redor do campeonato (resíduos<br />

jogados no chão, latões da coleta seletiva, latões <strong>de</strong> lixo único, latões <strong>de</strong> bitucas <strong>de</strong> cigarro), seguiu<br />

da seguinte maneira:<br />

1) A pista número um pedia para que as crianças fossem até o monumento <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cimento ao<br />

surfista Peterson Rosa e notassem o que havia <strong>de</strong> errado com ele, pois embaixo disso estaria a<br />

segunda pista. No local, havia lixos, que as crianças coletaram.<br />

656


2) A segunda pista pedia para que fossem ao lugar correto on<strong>de</strong> todas os fumantes <strong>de</strong>veriam jogar<br />

suas bitucas <strong>de</strong> cigarro, pois lá encontrariam a terceira pista.<br />

3) A terceira pista pedia para que continuassem seguindo em direção à escolinha <strong>de</strong> surf, pois no<br />

caminho notariam lixos no chão, esses seriam pistas. Na medida em que fossem coletando<br />

encontrariam a quarta pista.<br />

4) Por conseguinte, a quarta pista pedia para que fossem em direção à praia, no caminho<br />

encontrariam dois latões <strong>de</strong> lixo. Ao dizer o que havia <strong>de</strong> errado com eles, a educadora podia lhes<br />

dizer a última pista (os latões <strong>de</strong> lixo não tinham distinção <strong>de</strong> resíduos).<br />

5) Por fim, a ultima pista pedia para que as crianças avistassem latões <strong>de</strong> lixo da coleta seletiva,<br />

separassem-nos <strong>de</strong> acordo com a distinção e aguardassem até que o pirata lhes entregassem o<br />

tesouro.<br />

O TEATRO<br />

Intitulado ―A <strong>Vida</strong> do Mar”, o teatro contou a história <strong>de</strong> três amigos que <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> surfarem<br />

e ficarem com se<strong>de</strong>, compram uma água, pegam copos <strong>de</strong>scartáveis e carregam tudo em uma sacola<br />

<strong>de</strong>scartável para a beira da praia. Sem se importarem com o <strong>de</strong>stino correto dos resíduos e com a<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reaproveitá-los, acabam esquecendo-os jogados na areia. Logo, uma onda empurra-<br />

os para o fundo mar, enroscando nos animais marinhos (água-viva, peixes, golfinhos).<br />

Os animais, presos aos resíduos pe<strong>de</strong>m ajuda e socorro para as crianças.<br />

Partindo do princípio <strong>de</strong> Barcelos (1997) <strong>de</strong> que a Educação Ambiental não <strong>de</strong>ve se<br />

preocupar em transmitir conhecimentos, mas sim produzi-los, o teatro buscou a ajuda dos<br />

telespectadores para ter um fim.<br />

Assim, quando os animais marinhos se enroscaram nos lixos, o narrador perguntou para as<br />

crianças se elas estavam <strong>de</strong> acordo. Logo, houve um coro capaz <strong>de</strong> transmitir insatisfação, seguida<br />

<strong>de</strong> alternativas para o final feliz.<br />

Com a ajuda das educadoras e das opiniões das crianças o teatro ficou assim reconstituído:<br />

Aninha e seus amigos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> surfarem e ficarem com se<strong>de</strong>, compram uma água, mas ao<br />

invés <strong>de</strong> pegaram sacolas e copos <strong>de</strong>scartáveis na lanchonete tiram <strong>de</strong> suas sacolas retornáveis<br />

canecas.<br />

Ao final, ressaltam a importância <strong>de</strong> jogar a garrafa PET <strong>de</strong> água no latão <strong>de</strong> lixo vermelho,<br />

pois este é o <strong>de</strong>stino correto <strong>de</strong> materiais <strong>de</strong>rivados <strong>de</strong> plástico.<br />

657


CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ste trabalho permitiu constatar que a Educação Ambiental feita<br />

através da ludicida<strong>de</strong> constitui-se numa prática inovadora e bem aceita nos espaços <strong>de</strong> lazer. Isso<br />

pô<strong>de</strong> ser constatado através da euforia <strong>de</strong>monstrada pelas crianças na hora <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r às<br />

perguntas coletivas, no momento do caça ao tesouro, que por vezes, os educadores precisavam<br />

chamar a atenção para as crianças não correrem <strong>de</strong>mais, e até mesmo após as seções, quando elas se<br />

dirigiam aos mesmos para dar abraços e cumprimentos.<br />

Das 100 crianças inscritas para o evento <strong>de</strong> surf, 47 aceitaram participar do circuito <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong>s. Interessante foi notar que as crianças que não quiseram participar da primeira sessão <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong>s vendo o entusiasmo <strong>de</strong> seus colegas perguntavam-nos se haveria mais. Isso pô<strong>de</strong> ser<br />

verificado no aumento do número <strong>de</strong> crianças por sessão: na primeira sessão haviam 10 crianças, na<br />

segunda 17 e na terceira 20.<br />

A utilização <strong>de</strong> espaços <strong>de</strong> lazer para ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conscientização ambiental é uma<br />

alternativa frente a tarefa exaustiva que Effting (2007) diz ter enfrentado <strong>nas</strong> escolas. Para ele,<br />

fatores como a predisposição dos professores e da diretoria <strong>de</strong> realmente programar um projeto<br />

ambiental que alterará a rotina da escola, geram obstáculos ao sucesso <strong>de</strong>sejado.<br />

A partir da euforia das crianças, foi verificado que a utilização do lúdico faz com que elas se<br />

sintam mais à vonta<strong>de</strong> para expor suas opiniões, fazer perguntas e críticas. Ao fazer perguntas ao<br />

coletivo foi comum ouvir a resposta da maioria ―Tia, tia, <strong>de</strong>ixa eu..” “Eu, eu, tia”.<br />

Como já relatado em trabalho feito por Lon<strong>de</strong>ro (2007), as histórias contadas têm o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />

sensibilizar a percepção das crianças para a realida<strong>de</strong> em que estão inseridas. Foi comum ver<br />

feições <strong>de</strong> espanto quando os animais marinhos se enroscaram nos lixos. Logo, quando o narrador<br />

falou na possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer um final feliz houve entusiasmo.<br />

Ainda o que se pô<strong>de</strong> notar em comum ao trabalho da autora, foi a importância <strong>de</strong> introduzir<br />

aos projetos <strong>de</strong> conscientização o cotidiano, a visão e a participação das crianças nos processos <strong>de</strong><br />

aprendizagem e transformação da realida<strong>de</strong>. Para a autora, é necessário que as crianças percebam e<br />

participem do meio em que estão inseridas, a fim <strong>de</strong> <strong>de</strong>spertá-los para a importância da preservação.<br />

Neste contexto, o pedido <strong>de</strong> ajuda para encontrar os bonecos do teatro que o pirata houvera<br />

escondido, a utilização <strong>de</strong> surfistas no enredo da história e a participação das crianças no final feliz<br />

foram <strong>de</strong> suma importância para o sucesso <strong>de</strong>ste trabalho.<br />

658


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

ARAUJO, A. F; JUNIOR, V.P. TEATRO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: Um estudo sobre<br />

Ambiente, Expressão Estética e Emancipação. Rev. eletrônica Mestr. Educ. Ambient., v.18, janeiro<br />

a junho <strong>de</strong> 2007.<br />

BARCELOS, V. H. L.. A educação ambiental e o cotidiano escolar. Ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> Extensão, UFSM,<br />

<strong>Vol</strong>. 2. Santa Maria: Ed. UFSM, 1997.<br />

BRASIL. Política Nacional <strong>de</strong> Educação Ambiental. Brasília, DF: Ministério do Meio Ambiente/<br />

MEC, 1999.<br />

CARVALHO, J. M. K. & MACEDO, M. Uma Ativida<strong>de</strong> Lúdica Como Instrumento Da Educação<br />

Ambiental: O Pega-Pega Da Ca<strong>de</strong>ia Alimentar. In: FOME ZERO DA EDUCAÇÃO<br />

AMBIENTAL. Livro <strong>de</strong> Resumos. Cuiabá, Re<strong>de</strong> Mato-Grossense <strong>de</strong> Educação Ambiental. 2003.<br />

EFFTING, T. R. Educação ambiental <strong>nas</strong> escolas públicas: Realida<strong>de</strong> e Desafios. Monografia (Pós<br />

Graduação em ―Latu Sensu‖ Planejamento Para o Desenvolvimento Sustentável) – Centro <strong>de</strong><br />

Ciências Agrárias, Universida<strong>de</strong> Estadual do Oeste do Paraná – Campus <strong>de</strong> Marechal Cândido<br />

Rondon, 2007.<br />

FONSECA, M. L.S. Adaptação Escolar: Como viver este momento. UEI, UFCG. In; III Encontro<br />

Nacional das Unida<strong>de</strong>s Universitárias <strong>de</strong> Educação Infantil. UAC, Secretaria <strong>de</strong> assuntos<br />

Comunitários da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> São Carlos. 2003.<br />

GOMES, D. V. Educação para o consumo ético e sustentável. Rev. eletrônica Mestr. Educ.<br />

Ambient., v.16, janeiro junho <strong>de</strong> 2006.<br />

HURTADO, J. L. Un Nuevo Concepto <strong>de</strong> Educación Infantil. Havana: Editorial Pueblo y<br />

educación, 2001.<br />

LONDERO, L. K. Museu e teatro como práticas <strong>de</strong> educação ambiental. Monografia <strong>de</strong><br />

Especialização (Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Educação Ambiental) Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong><br />

Santa Maria – Centro <strong>de</strong> Ciências rurais. Santa Maria, RS, 2007.<br />

OSTELO, E. L; OLIVEIRA, H.R; MESINA, V.S. Deixando marcas. Registro uma forma <strong>de</strong><br />

resgate do cotidiano da educação infantil. USFC NDI (Núcleo <strong>de</strong> Desenvolvimento Infantil) III<br />

Encontro Nacional das Unida<strong>de</strong>s Universitárias <strong>de</strong> Educação Infantil. UAC, Secretaria <strong>de</strong> assuntos<br />

Comunitários da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> São Carlos. 2003.<br />

SALOMÃO, H. A. S.; MARTINE, M. A Importância do Lúdico na Educação Infantil: Enfocando<br />

a Brinca<strong>de</strong>ira e as Situações <strong>de</strong> Ensino não Direcionado, Roraima, Brasil, 2007.<br />

659


A INCLUSÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS MUNICIPAIS DO MUNICÍPIO<br />

DE AURORA, CEARÁ<br />

RESUMO<br />

Ana Raquel Domingos da PAZ (URCA/ PIBID) - ana.raqueldomingos@yahoo.com.br<br />

Luiza Maria Filgueira Cruz <strong>de</strong> LUNA (SEDUC/PIBID) –luizabio@hotmail.com<br />

Maria Socorro SANTOS LUNA - aeduarte@hotmail.com<br />

Luiz Marivando Barros (Doutorando DINTER UFSMS/URCA, COORDENADOR<br />

PIBID/CAPES)-lmarivando@hotmail.com<br />

Educação Ambiental <strong>de</strong>ve ser integrada no currículo escolar, para que o aluno possa compreen<strong>de</strong>r a<br />

complexida<strong>de</strong> e a amplitu<strong>de</strong> das questões ambientais. Implica mudanças profundas leva a mudança<br />

<strong>de</strong> comportamento pessoal e atitu<strong>de</strong>s e valores <strong>de</strong> cidadania transformando-se em prática <strong>de</strong> vida.<br />

Objetivou-se realizar um diagnóstico sobre a Educação Ambiental <strong>nas</strong> escolas municipais <strong>de</strong> 5ª a 8ª<br />

série na zona urbana <strong>de</strong> Aurora. Foi utilizado como instrumento um questionário com dados<br />

relativos as opiniões dos mesmos. Conforme a pesquisa realizada verifica-se que 100% dos<br />

professores afirmam trabalhar a Educação Ambiental e que 70% encontram dificulda<strong>de</strong>s para<br />

aplicá-la por falta <strong>de</strong> orientação, incentivo, e vários materiais <strong>de</strong> apoio. Os professores registraram<br />

metodologias <strong>de</strong> como ministrar suas aulas sobre o assunto: 100% com aulas expositivas, 87,5%<br />

com aulas <strong>de</strong> campo e 80% com trabalhos <strong>de</strong> pesquisas e 75% com textos aplicativos e 10% <strong>de</strong><br />

gravuras. Nota-se que 95% não receberam nenhum tipo <strong>de</strong> curso referente ao tema mencionado e<br />

87,5% conhecem pouco dos PCNs sobre Meio Ambiente. A maioria dos professores afirma que<br />

existe necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar o tema na escola, mas ape<strong>nas</strong> 25% dos educadores elaboram<br />

projetos em relação ao tema em questionamento e 100% afirmam que a sensibilização é a melhor<br />

forma <strong>de</strong> trabalhar a educação ambiental no espaço escolar.<br />

Palavras-chave – Educação Ambiental, escola, currículo.<br />

ABSTRACT<br />

Environmental education should be integrated into the school curriculum so that the stu<strong>de</strong>nt can<br />

un<strong>de</strong>rstand the complexity and breadth of environmental issues. Implies <strong>de</strong>ep changes leads to<br />

changes in behavior and personal attitu<strong>de</strong>s and values of citizenship becoming practical life. The<br />

objective was to perform a diagnosis on Environmental Education in public schools from 5th to 8th<br />

gra<strong>de</strong> in the city of Aurora. It was used as a survey instrument with data on the opinions of<br />

ourselves. As the survey shows that 100% of teachers report working environmental education and<br />

660


70% find it difficult to apply it for lack of guidance, encouragement, and various support materials.<br />

Teachers reported methodologies of how to minister their classes on the subject: 100% with<br />

lectures, classes with 87.5% and 80% with field work and research applications texts with 75% and<br />

10% of engravings. Note that 95% did not receive any type of course referring to the subject<br />

mentioned and 87.5% of PCNs know little about the Environment. Most teachers said that there is<br />

need to work the subject in school, but only 25% of educators elaborate <strong>de</strong>signs on the issue in<br />

question and 100% say that awareness is the best way of doing environmental education in the<br />

school.<br />

Keywords - Environmental Education, school, curricula<br />

INTRODUÇÃO<br />

Há vários séculos surgiram ás preocupações com a preservação do meio ambiente e suas<br />

principais espécies, mas foi após a Segunda Guerra Mundial, na década <strong>de</strong> 60 que iniciou-se o<br />

movimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa do meio ambiente, na luta para diminuir o acelerado ritmo <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição dos<br />

recursos naturais ainda existentes, buscando formas para consolidar a conservação da natureza com<br />

a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida das populações que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong>ssa natureza.<br />

Na década <strong>de</strong> 70, o Brasil iniciou um trabalho pioneiro em prol da natureza, alcançando<br />

circulação bem mais ampla, graças aos meios <strong>de</strong> comunicação. Mas a institucionalização <strong>de</strong> práticas<br />

<strong>de</strong> Educação Ambiental só teve início nos anos 80, nesta época o <strong>de</strong>bate sobre questões ambientais<br />

das entida<strong>de</strong>s ecológicas, e <strong>nas</strong> últimas décadas o movimento ambiental cresceu, consolidou-se<br />

ampliou a consciência para essas questões, levando as pessoas a reconhecer que ―estamos usando<br />

nossa capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transformar o ambiente <strong>de</strong> modo a torná-lo insustentável para as gerações<br />

futuras‖ (CARVALHO, 2000).<br />

Um marco importante do movimento ambiental realizada pela conferência do Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro, patrocinada pela Organização das Nações Unidas (ONU), foi o ECO 92. Já que contou com<br />

a participação <strong>de</strong> vários países e resultou na produção <strong>de</strong> um documento no qual mais <strong>de</strong> 170 países<br />

assinaram – A agenda 21 (ONU 1992).<br />

A agenda 21 inclui um programa <strong>de</strong> ações voltadas para um <strong>de</strong>senvolvimento sustentável<br />

para aten<strong>de</strong>r as necessida<strong>de</strong>s do presente sem comprometer a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida das gerações.<br />

Ela estabelece compromissos para a ação dos países e dos governos, para implementação <strong>de</strong><br />

acordo as necessida<strong>de</strong>s existentes no local é um instrumento <strong>de</strong> planejamento em cada país, estado e<br />

município, é um processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento eficiente e duradouro.<br />

A Educação Ambiental é tema <strong>de</strong> várias leis brasileiras. Sendo consi<strong>de</strong>rada indispensável<br />

nos currículos <strong>de</strong> 1° e 2° graus, conforme parecer <strong>de</strong> números 226/1998. A Constituição Fe<strong>de</strong>ral<br />

661


(1988), no seu artigo 255 diz: todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,<br />

atribuindo ao po<strong>de</strong>r Público e a coletivida<strong>de</strong> o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> preservá-lo para as gerações presentes e<br />

futuras.<br />

O ministério da educação (MEC), por meio da Secretaria <strong>de</strong> Ensino Fundamental,<br />

<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ou em 1994 a formulação dos Parâmetros Nacionais Curriculares (PCN) eles vieram com<br />

subsídios importantíssimos para tratar da educação Ambiental como um dos temas Transversais<br />

Obrigatórios, havendo assim uma reformulação dos currículos <strong>de</strong> todo país. Assim uma<br />

reformulação dos currículos <strong>de</strong> todo país.<br />

Devido a tantas mudanças vividas hoje na educação, resolveu-se realizar a presente<br />

pesquisa, com objetivo <strong>de</strong> conhecer o nível dos educadores com relação a educação Ambiental na<br />

Zona Urbana <strong>de</strong> 5ª a 8ª série do município <strong>de</strong> Aurora,Ceará.<br />

MATERIAL E MÉTODOS<br />

A pesquisa foi realizada <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2003 á abril <strong>de</strong> 2004 no município <strong>de</strong> Aurora.<br />

―Segundo Tavares, (1992), Aurora está localizada na região Centro Sul do Ceará, com latitu<strong>de</strong> Sul:<br />

6°56‘00‘‘ e longitu<strong>de</strong> W <strong>de</strong> Gr.: 39°53‘00‖. Sua extensão é <strong>de</strong> 942 Km 2 , limitando-se ao norte com<br />

Lavras da Mangabeira; ao Sul com os municípios <strong>de</strong> Barro,Milagres e Missão Velha; ao Leste com<br />

Ipaumirim e estado da Paraíba, ao Oeste com Caririaçu.<br />

Optou-se por uma pesquisa <strong>nas</strong> escolas da Zona Urbana <strong>de</strong> 5ª a 8ª séries do Ensino<br />

Fundamental do Município <strong>de</strong> Aurora, Ceará, escolhendo como alvo os educadores, já que po<strong>de</strong>rão<br />

esclarecer como realizam tal trabalho <strong>nas</strong> suas salas <strong>de</strong> aula.<br />

Para <strong>de</strong>senvolvimento da presente pesquisa selecionou-se as seguintes escolas da Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Aurora: escola <strong>de</strong> Ensino Infantil e Fundamental, Antonio Landim <strong>de</strong> Macedo, e Escola <strong>de</strong> Ensino<br />

Infantil e Fundamental Romão Sabiá. Estas escolas estão localizadas na periferia, com uma clientela<br />

basicamente formada pela população <strong>de</strong> baixa renda.<br />

As escolas acima mencionadas totalizam 15 turnos sendo assim distribuídos por séries 5ª, 6ª,<br />

7ª, 8ª, assistidos por mais <strong>de</strong> 20 professores, que são concursados e tem curso superior.<br />

Para obtenção dos dados foi elaborado um questionário e aplicados ao professor com<br />

questões objetivas, subjetivas, relacionadas ao assunto e o período <strong>de</strong> aplicação do mesmo foi <strong>de</strong> 20<br />

<strong>de</strong> fevereiro a 15 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2004 (Figura 01).<br />

662


Questionário<br />

ESCOLA___________________________________________<br />

ENDEREÇO________________________________________<br />

SÉRIE QUE LECIONA_______________________________<br />

SÉRIE_____________________________________________<br />

01 – Você trabalha em sala <strong>de</strong> aula o tema ―Educação Ambiental‖?<br />

( ) Sim ( ) Não ( ) ás vezes<br />

02 – Quais as dificulda<strong>de</strong>s encontradas em trabalhar o tema ― Educação Ambiental‖?<br />

03 – Como você trabalha este tema?<br />

04 – Você já participou <strong>de</strong> algum seminário ou capacitação sobre Educação Ambiental?<br />

( ) Sim ( ) Não<br />

05 – Você conhece o PCN sobre esta temática ambiental?<br />

( ) Sim ( ) Não<br />

06 – A diretoria pedagógica da escola on<strong>de</strong> você leciona já fez estudo sobre este PCN?<br />

07 – Você acha que seria necessário tornar a educação Ambiental obrigatória <strong>nas</strong> escolas?<br />

( ) Sim ( ) Não<br />

Porquê_________________________________________________________________<br />

08 – A escola em que você leciona já elaborou algum projeto neste sentido?<br />

09 – Cite alguns temas ligados a Educação Ambiental.<br />

10 – O que os professores po<strong>de</strong>riam fazer para ajudar na conservação do meio ambiente ao<br />

espaço escolar?<br />

Figura 01 – Questionário padronizado aplicado aos professores <strong>de</strong> 1ª a 4ª série das escolas municipais na<br />

zona urbana <strong>de</strong> Aurora-CE.<br />

RESULTADOS<br />

Após a pesquisa <strong>de</strong> campo junto aos educadores <strong>de</strong> 5ª a 8ª série do ensino fundamental das<br />

escolas pesquisadas verificou-se que todos os professores afiram trabalhar com Educação<br />

Ambiental, <strong>nas</strong> áreas <strong>de</strong> Ciências naturais, História e Geografia <strong>de</strong>senvolvendo o conteúdo pelo<br />

apoio objeto <strong>de</strong> estudo.<br />

Alguns dados não condizem com as orientações <strong>de</strong> PCN (1997), pois <strong>de</strong> acordo com os<br />

mesmos, esta temática <strong>de</strong>ve ser tratada <strong>nas</strong> diversas áreas do conhecimento, ganhando ênfase, <strong>nas</strong><br />

discipli<strong>nas</strong> <strong>de</strong> Língua portuguesa, Matemática, Educação Física e Arte, <strong>de</strong>ve ser trabalhada como<br />

tema transversal para criar uma visão global a abrangente da questão ambiental.<br />

663


Constatou-se que ape<strong>nas</strong> 30% dos professores não encontram dificulda<strong>de</strong>s citadas <strong>de</strong>stacam-<br />

se: a falta <strong>de</strong> orientação através da capacitação, incentivo e materiais <strong>de</strong> apoio (Figuras 02 e 03).<br />

30%<br />

Figura 02 – Número <strong>de</strong> professores que sentem ou não dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> trabalhar<br />

Educação Ambiental em sala.<br />

Figura 03 – Demonstrativo das dificulda<strong>de</strong>s encontradas pelos professores em trabalhar o<br />

tema Educação Ambiental.<br />

Como mostra a figura 05, a maioria dos professores respon<strong>de</strong>ram mais <strong>de</strong> uma proposta <strong>de</strong><br />

como trabalhar o tema educação Ambiental em sala 100% com aulas expositivas, 87,5%, com aulas<br />

<strong>de</strong> campo, 80% com trabalhos <strong>de</strong> pesquisa ( individual e em grupo), 25% com textos expositivos e<br />

10% através <strong>de</strong> gravuras. As metodologias utilizadas a respeito do mesmo po<strong>de</strong>m favorecer ao<br />

educando uma boa aprendizagem, pois as mesmas ajudam a <strong>de</strong>senvolver um espírito crítico e o<br />

senso <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>.<br />

0% 0%<br />

70%<br />

Encontrou Dificulda<strong>de</strong><br />

Não Encontrou Dificulda<strong>de</strong><br />

664


Faz-se necessário que o professor busque conhecer melhor o tema para que possa integrar os<br />

diversos conteúdos, abordando a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> forma mais abrangente e significativa.<br />

Conforme dados registrados na Figura 04, observa-se que a maioria dos professores ( 95%)<br />

não participam <strong>de</strong> cursos <strong>de</strong> formação sobre Educação Ambiental, mas com o conhecimento do que<br />

tem procuram realizar seu trabalho <strong>de</strong> maneira á orientar o educando a respeito do tema, mesmo<br />

assim faz-se necessário que busquem aperfeiçoar seus conhecimentos, pesquisando em livros,<br />

participando <strong>de</strong> cursos <strong>de</strong> capacitação, seminários, encontros, para incorporar <strong>de</strong> maneira efetiva a<br />

Educação Ambiental <strong>nas</strong> ativida<strong>de</strong>s escolares e sobretudo preparar o educando para ser um <strong>de</strong>fensor<br />

e amante da natureza.<br />

Figura 04 – Demonstrativo <strong>de</strong> como professores trabalham a Educação Ambiental.<br />

Cabe a cada professor trabalhar as especificida<strong>de</strong>s da sua região abrangendo os conteúdos<br />

necessários para sensibilização dos problemas ambientais, sensibilizando e, sobretudo <strong>de</strong>svendar<br />

causas e problemas ambientais para facilitar o direcionamento do tema.<br />

Os PCN‘s que tratam dos temas transversais trazem diversos subsídios que abordam as<br />

questões ambientais, por isso o professor <strong>de</strong>ve ter conhecimento sobre os mesmos para facilitar seu<br />

trabalho em sala <strong>de</strong> aula. Fato este que não é constatado na pesquisa, pois 87,5% dos professores<br />

afirmam ter pouco conhecimento, como <strong>de</strong>monstra a Figura 05.<br />

665


Figura 05 – Demonstrativo dos educadores que conhecem o PCN sobre a temática<br />

Meio Ambiente.<br />

Todos os professores afirmam que a atuação dos diretores pedagógicos com relação ao<br />

estudo dos PCN‘s <strong>de</strong>ixa muito a <strong>de</strong>sejar.<br />

É imprescindível que a escola, através da diretoria pedagógica possibilite aos educandos este<br />

momento <strong>de</strong> estudo para que possam aprofundar seus conhecimentos com relação a temática<br />

ambiental, pois precisam conhecer mais amplamente os conceitos e os procedimentos para po<strong>de</strong>r<br />

abordá-los <strong>de</strong> modo a<strong>de</strong>quado na escola.<br />

Verificou-se que 100% dos professores afirmaram a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> integrar a tema<br />

Educação Ambiental ao currículo escolar através da transversalida<strong>de</strong>, tratadas <strong>nas</strong> diversas áreas do<br />

conhecimento. É notório que os educadores estão preocupados em <strong>de</strong>senvolver o trabalho sobre<br />

Educação Ambiental afim <strong>de</strong> ajudar os aducados a construírem uma consciência das questões<br />

relativas ao meio em que vivem, conservando-o, protegendo-o e respeitando-o.<br />

Observa-se pelos dados da figura 06 que ape<strong>nas</strong> 25% dos professores elaboram projetos em<br />

relação a Educação Ambiental. Enquanto 75% não realizam projetos na luta pela preservação e<br />

conservação do meio ambiente.<br />

Diante dos dados apresentados nota-se que um elevado índice <strong>de</strong> educadores não realizaram<br />

projetos <strong>nas</strong> suas escolas executam trabalhos seja encarado com serieda<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> os educandos<br />

sejam conscientizados <strong>de</strong> maneira clara e precisa, pois a formação <strong>de</strong> uma consciência ecológica<br />

<strong>de</strong>manda muito tempo o que apren<strong>de</strong>r nessa área.<br />

666


Figura 06 – Número <strong>de</strong> professores que elaboram projetos sobre Educação Ambiental.<br />

Tendo em vista que a escola, através <strong>de</strong> todos que a compõem é corresponsável pela<br />

sensibilização na Educação Ambiental e dados os resultados apresenta-se algumas sugestões como<br />

mostra a figura 08 para o trabalho com a mesma <strong>nas</strong> escolas <strong>de</strong> ensino fundamental <strong>de</strong> 5ª a 8ª série.<br />

Introduzir a Educação Ambiental <strong>nas</strong> escolas para preparar o aluno sobre a preservação e<br />

conservação do meio ambiente.<br />

Incluir nos cursos <strong>de</strong> capacitação oferecidos pela Secretaria <strong>de</strong> educação conteúdos básicos<br />

<strong>de</strong> sensibilização sobre a Educação Ambiental.<br />

Promover a articulação do aluno com <strong>de</strong>bates sobre meio ambiente, sensibilizando-o e<br />

capacitando-o para uma tomada <strong>de</strong> consciência e ações concretas a favor do mesmo.<br />

Dar maior abertura na programação da escola a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se fazer esclarecimentos a<br />

cerca <strong>de</strong> temática: educação Ambiental.<br />

Figura 07 – Demonstrativo do que os professores precisam fazer para ajudar na<br />

conservação do meio ambiente no espaço escolar.<br />

667


CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Criar condições para que haja um futuro <strong>de</strong>sejável por todas as gerações é <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> todos.<br />

Diante da análise <strong>de</strong> resultados obtidos através dos educadores chegou-se á conclusão que é<br />

imprescindível que:<br />

A secretaria <strong>de</strong> Educação promova capacitação para seus professores sobre o tema em<br />

questão, dando condições favoráveis para que exerçam com responsabilida<strong>de</strong> suas funções<br />

<strong>de</strong> educadores;<br />

As diretoras pedagógicas realizem estudo sobre os PCN‘s para que os educadores possam<br />

ampliar seus conhecimentos, tendo assim uma preparação para trabalhar junto ao educando.<br />

As escolas garantam meios para que os educadores possam pôr em prática aquilo que<br />

<strong>de</strong>sejam, suprindo as dificulda<strong>de</strong>s apresentadas pelo menos nesta pesquisa;<br />

Os professores elaborem e executem projetos sobre Educação Ambiental, possibilitando<br />

construírem uma consciência global das questões relativas ao meio ambiente, já estas<br />

questões dizem respeito direta ou indiretamente ao interesse do planeta como um todo.<br />

Fica evi<strong>de</strong>nte a importância <strong>de</strong> se educar os futuros cidadãos brasileiros para que, como<br />

empreen<strong>de</strong>dores venham a agir <strong>de</strong> modo responsável e com sensibilida<strong>de</strong>, conservando o ambiente<br />

saudável no presente e para o futuro e ampliar a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suas relações intra e interpessoais com<br />

o ambiente físico quanto social.<br />

REFERÊNCIAS<br />

BRASIL, Ministério da Educação e Desporto. Secretaria <strong>de</strong> Educação Fundamental. Parâmetros em<br />

Ação: Meio Ambiente. Brasília- DF,2001.<br />

BRASIL. Ministério <strong>de</strong> Educação e do Desporto. Parâmetros Curriculares Nacionais: meio<br />

ambiente e saú<strong>de</strong>. Brasília: Secretaria <strong>de</strong> Educação Ambiental, 1997.<br />

_______. Política Nacional do Meio Ambiente. Brasília, DF, MMA, 1981. Disponível em:<br />

. Acesso em: 20 jul. 2011.<br />

CARVALHO, AF ET al. Jovens em Ação: Ações para Melhorar o Meio Ambiente e a <strong>Qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Vida</strong> <strong>nas</strong> Cida<strong>de</strong>s. São Paulo.Melhoramento,2000.<br />

DIAS, G. F. Educação Ambiental: princípios e práticas. São Paulo, Gaia, 1992.<br />

CEARÁ. Superintendência Estadual do Meio Ambiente – SEMACE. A Proteção Ambiental sob a<br />

ótica dos Municípios do Estado do Ceará. SEMACE – Fortaleza,1993.<br />

ONU: Conferência das Nações Unidas. Meio Ambiente e Desenvolvimento ( 1992: Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />

RJ) Agenda 21. Brasília: Senado Fe<strong>de</strong>ral – Secretaria <strong>de</strong> edições Técnicas, 1997.<br />

668


Resumo<br />

PERCEPÇÃO AMBIENTAL DE MORADORES RIBEIRINHOS<br />

DO MANGUE DE BAYEUX – PB<br />

Annyelle Kelly da Silva COSTA (UEPB) 1 – annyellek@hotmail.com<br />

Jan<strong>de</strong>r Cainã da Silva SANTOS (UEPB) 76 – jan<strong>de</strong>rkainan1@gmail.com<br />

Vancar<strong>de</strong>r BRITO 77 (UEPB) – vancar<strong>de</strong>r@hotmail.com<br />

Apesar da importância ecológica e econômica do manguezal, este ecossistema tem sido alvo<br />

constante <strong>de</strong> ações impactantes, motivo pelo qual vem se notando o <strong>de</strong>senvolvimento da<br />

consciência ecológica, que busca na educação ambiental a solução para essa questão. O presente<br />

trabalho foi <strong>de</strong>senvolvido com o objetivo i<strong>de</strong>ntificar as percepções <strong>de</strong> moradores ribeirinhos <strong>de</strong><br />

Bayeux - PB, sobre o manguezal. Para tanto, foi feito entrevistas abordando o manguezal (condição<br />

ecossistêmica e importância). A análise da percepção dos moradores revelou o público-alvo<br />

entrevistado possuía pouco conhecimento sobre o mangue e suas implicações com questão como<br />

saú<strong>de</strong>.<br />

Palavras-Chave: Percepção ambiental, manguezal, população ribeirinha<br />

Abstract<br />

Despite the ecological and economic importance of mangroves, the ecosystem has been subject to<br />

constant impacting actions, reason has been noting the <strong>de</strong>velopment of ecological awareness,<br />

environmental education in seeking a solution to this issue. This work was carried out in or<strong>de</strong>r to<br />

i<strong>de</strong>ntify the perceptions of resi<strong>de</strong>nts bor<strong>de</strong>ring Bayeux - PB on the mangrove. Therefore, it was<br />

done interviews addressing the mangrove (ecosystem condition and importance). The analysis of<br />

76 Discente do Curso <strong>de</strong> Ciências Biológicas<br />

77 Docente do Curso <strong>de</strong> Ciências Biológicas (orientador)<br />

669


the perception of resi<strong>de</strong>nts showed the audience interviewed had little knowledge about mangroves<br />

and their implications as health issue.<br />

Keywords: Perceived environmental, wetland, riparian population<br />

Introdução<br />

O Manguezal é um ecossistema costeiro, <strong>de</strong> transição entre os ambientes terrestre e marinho,<br />

característico <strong>de</strong> regiões tropicais e subtropicais, sujeito ao regime das marés. É constituído <strong>de</strong><br />

espécies vegetais lenhosas típicas (angiospermas), além <strong>de</strong> micro e macroalgas (criptogamas),<br />

adaptadas à flutuação <strong>de</strong> salinida<strong>de</strong> e caracterizadas por colonizarem sedimentos<br />

predominantemente lodosos, com baixos teores <strong>de</strong> oxigênio (SCHAEFFER-NOVELLI, 1995). No<br />

Brasil os manguezais ocorrem em quase todo o seu litoral, tendo importantes ocorrências no<br />

Nor<strong>de</strong>ste, principalmente no estado do Maranhão e Bahia.<br />

Os mesmos são então áreas <strong>de</strong> alta produtivida<strong>de</strong>, possuindo assim um papel significativo<br />

em termos ecológicos, econômicos e sócio-culturais na vida das comunida<strong>de</strong>s costeiras on<strong>de</strong> se<br />

<strong>de</strong>stacam a pesca e aqüicultura.(SOARES, 1997 e MIRANDA, MARTINS & SOARES, 1988) sua<br />

produtivida<strong>de</strong> se dá <strong>de</strong>vido ao acúmulo <strong>de</strong> substâncias alóctones e a queda e <strong>de</strong>gradação <strong>de</strong> folhas e<br />

outros substratos autóctones (SCHAEFFER NOVELLI, 1995). Esta alta produção <strong>de</strong> matéria<br />

orgânica é fundamental nos processos <strong>de</strong> reciclagem <strong>de</strong> nutrientes, que influencia a rica ca<strong>de</strong>ia<br />

alimentar presente nestes ecossistemas.<br />

Por possuir uma gran<strong>de</strong> riqueza <strong>de</strong> recursos naturais e oferecerem serviços ambientais, os<br />

manguezais são consi<strong>de</strong>rados ecossistemas-chave e os mesmos constituem-se há tempos em áreas<br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância para a população humana. Entretanto, apesar <strong>de</strong> sua importância, os<br />

manguezais são ecossistemas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> a ações exter<strong>nas</strong> (BELTRÃO et al., 1995) e<br />

vêm sofrendo processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição em vários níveis através da ação humana, não só em função<br />

da exploração predatória <strong>de</strong> sua fauna e flora, como também pela poluição <strong>de</strong> suas águas, aterros,<br />

<strong>de</strong>pósitos <strong>de</strong> lixo entre outros (OLIVEIRA, 2004). Além da <strong>de</strong>licada situação em que se encontra, a<br />

falta <strong>de</strong> conhecimento sobre a importância <strong>de</strong>sse ecossistema é um das maiores entraves para sua<br />

conservação (ALARCON & PANITZ, 1998) e, por este motivo, é fundamental implantar e<br />

consolidar ações e programas <strong>de</strong> educação ambiental que <strong>de</strong>senvolvam um saber crítico e<br />

contextualizado, voltado ao resgate dos valores, outrora tão tradicionais <strong>de</strong>ssa comunida<strong>de</strong>, com<br />

referência aos recursos naturais dos manguezais (SATO & SANTOS, 1996)<br />

De acordo com os estudos <strong>de</strong> LIMA (2006), estudos voltados para a educação ambiental<br />

enfatizam as regularida<strong>de</strong>s e busca manter o respeito pelos diferentes ecossistemas e culturas na<br />

670


terra. A <strong>de</strong>gradação e poluição dos ecossistemas, como por exemplo, o manguezal, é um tema em<br />

gran<strong>de</strong> discussão atualmente.<br />

De acordo com Rosado (2006), este ambiente, vem ao longo dos anos sofrendo agressões<br />

que contribuem para a sua <strong>de</strong>gradação constante e crescente, quer seja na exploração <strong>de</strong>senfreada e<br />

não planejada <strong>de</strong> seus recursos, quer seja nos aterros que vem sofrendo ou nos aportes <strong>de</strong> poluição<br />

<strong>de</strong> esgotos domésticos e industriais que recebe.<br />

A poluição e consequente diminuição da diversida<strong>de</strong> em mangues são dadas muitas vezes<br />

pelo uso dos próprios moradores <strong>de</strong>vido suas baixas condições financeiras, e os mesmos ainda são<br />

os mais afetados. Estudos mostram que a maioria dos manguezais possuem diferença notória em<br />

mínimo <strong>de</strong> tempo, fato também explícito por moradores, mesmo com o receio <strong>de</strong> alguns em relatar<br />

certos fatos que po<strong>de</strong>riam <strong>de</strong>ixar em ameaça suas próprias moradias.<br />

De acordo com a UNESCO (1973, apud VASCONCELOS, 2005), uma das dificulda<strong>de</strong>s<br />

para proteção dos ecossistemas naturais está na existência <strong>de</strong> diferenças <strong>nas</strong> percepções dos valores<br />

e da importância dos mesmos entre indivíduos <strong>de</strong> culturas diferentes ou <strong>de</strong> grupos sócio-<br />

econômicos que <strong>de</strong>sempenham funções distintas no plano social nesses ambientes. Neste sentido, a<br />

percepção é a experiência sensorial direta do ambiente em um dado instante que se dá por meio <strong>de</strong><br />

mecanismos perceptivos propriamente ditos e principalmente cognitivos e não um processo passivo<br />

<strong>de</strong> recepção informativa, já que implica em certa estrutura e interpretação da estimulação ambiental<br />

antrópica (BASSANI, 2001).<br />

As margens dos manguezais são impróprias para habitat humano por estarem situados em<br />

locais que requeiram ações <strong>de</strong> preservação/conservação ambiental e por comprometerem a saú<strong>de</strong><br />

humana <strong>de</strong> uma forma geral. Porém, ocorre que muitas vezes não há uma ocupação alternativa para<br />

os moradores <strong>de</strong>stas áreas e quando há, os mesmos se recusam à mudança. Ocorre assim então, um<br />

alto impacto nesses ecossistemas <strong>de</strong> transição dado pelos próprios moradores que tanto necessitam<br />

dos recursos do mesmo.<br />

O trabalho teve como objetivo a investigação da percepção ambiental <strong>de</strong> moradores<br />

ribeirinhos do mangue <strong>de</strong> Bayeux - PB, acerca <strong>de</strong> seus problemas ambientais dados pelo uso dos<br />

mesmos.<br />

Metodologia<br />

O estudo foi realizado no município <strong>de</strong> Bayeux (MAPA 01), o qual possui uma área <strong>de</strong><br />

aproximadamente 32 km², cerca <strong>de</strong> 100 mil habitantes (IBGE, 2010) e uma <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong>mográfica<br />

<strong>de</strong> 3.138,62 hab./km² (IBGE, 2000). Sua geomorfologia apresenta basicamente dois<br />

compartimentos: o primeiro ao Norte i<strong>de</strong>ntificado como a parte baixa do município, on<strong>de</strong> se<br />

671


localiza a planície flúvio-marinha, e o segundo on<strong>de</strong> fica a parte Sul, o baixo planalto costeiro que<br />

também se conhece por tabuleiros (RODRIGUES, A. P., et al 2006). Este tem uma importante área<br />

representativa do ecossistema <strong>de</strong> manguezal, que representam cerca <strong>de</strong> 60% do território municipal.<br />

De acordo com os estudos <strong>de</strong> Pinto e colaboradores (2011), Bayeux está localizado na porção<br />

litorânea do Estado da Paraíba (PB) - Brasil, entre os municípios <strong>de</strong> Santa Rita/PB e <strong>de</strong> João<br />

Pessoa/PB, mais precisamente entre as coor<strong>de</strong>nadas (UTM) 281.633 mE e 293.000 mE e 9.217.000<br />

mN e 9.206.500 mN mN, Fuso 25 S.<br />

Mapa 1: Localização do Município <strong>de</strong> Bayeux – PB. Fonte: Google Maps<br />

No Norte <strong>de</strong> Bayeux o mangue ainda encontra-se bastante preservado e ao Sul praticamente<br />

extinta, em função do avanço habitacional que se concentra principalmente nessa área, com a<br />

ocorrência <strong>de</strong> algumas espécies como a Rhizophora mangle e o Laguncularia racemosa ou mangue<br />

branco. O clima que predomina é o tropical, com pluviosida<strong>de</strong> acima <strong>de</strong> 180.00mm anuais e<br />

temperaturas médias <strong>de</strong> 26 ºC (ANDRADE, 1976).<br />

A população objeto <strong>de</strong>sse estudo é constituída <strong>de</strong> moradores ribeirinhos do manguezal e<br />

para a obtenção dos dados, utilizou-se entrevistas semi-estruturadas, através <strong>de</strong> um questionário que<br />

continha <strong>de</strong>z perguntas que direcionaram a conversa com os moradores.<br />

Resultados e Discussões<br />

O estudo atuou com a realização <strong>de</strong> 25 entrevistas, sendo estas com 18 mulheres e 7<br />

homens. O método utilizado para obtenção <strong>de</strong> dados se mostrou bastante eficiente, pois as perguntas<br />

abertas davam um livre arbítrio às respostas, observando então maior número <strong>de</strong> informações do<br />

672


que se fosse utilizado questionário com perguntas objetivas. Esse método também foi utilizado com<br />

êxito por Pessoa (2000), ao estudar concepções etnoecológicas <strong>de</strong> alunos, em Pernambuco.<br />

As casas dos moradores ribeirinhos se localizam muito próximas aos mangues, e por sua<br />

irregularida<strong>de</strong>, sofrem alagamento (figura 1). Na figura 2 observa-se uma ampla área próxima ao<br />

mangue cujas casas foram <strong>de</strong>rrubadas pela prefeitura por conta <strong>de</strong> enchentes. Os moradores que<br />

foram retirados <strong>de</strong> suas casas receberam uma casa ainda no Municipio <strong>de</strong> Bayeux, um ponto não tão<br />

favorável, vendo que as antigas casas, embora próximas ao mangue, possuíam uma área maior. De<br />

acordo com a Prefeitura <strong>de</strong> Bayeux (2012), a Comissão Municipal <strong>de</strong> Defesa Civil <strong>de</strong> Bayeux<br />

intensificou as vistorias <strong>nas</strong> áreas <strong>de</strong> risco no intuito <strong>de</strong> evitar transtornos com o aumento das<br />

chuvas.<br />

Figura 1: Ilustração das irregularida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> casas próximas ao mangue (Bayeux-PB) que<br />

influenciam no alagamento das casas. COSTA, A. K. S. Jun/2012.<br />

Figura 2: a) e b) Imagem <strong>de</strong> áreas cujas casas foram <strong>de</strong>rrubadas pela prefeitura. COSTA, A. K.<br />

S. Jun/2012.<br />

Embora haja coleta <strong>de</strong> lixo <strong>nas</strong> proximida<strong>de</strong>s do manguezal, um morador afirma que muitos<br />

ainda o usam como <strong>de</strong>pósito <strong>de</strong> lixo, ele afirma: ―A situação do mangue tá bem ruim. Muita gente<br />

joga lixo, cachorro morto, joga <strong>de</strong> tudo [...]‖, e quando perguntado sobre as consequências que o<br />

<strong>de</strong>spejo do lixo nos mangues po<strong>de</strong> trazer, ele conclui sua fala ―Há consequências sim, e muitas. O<br />

673


lixo no mangue afeta não só a gente, mas também o mangue mesmo, os bichos [...]‖. Essa falta<br />

aparente <strong>de</strong> conscientização <strong>de</strong> pessoas que moram em comunida<strong>de</strong>s ribeirinhas provocam os<br />

alagamentos, vendo que o <strong>de</strong>spejo do lixo nesses ecossistemas é <strong>de</strong> suma preocupação vendo que o<br />

mesmo impe<strong>de</strong> o percurso normal da água e assim, em períodos chuvosos, acontecem alagamentos.<br />

De acordo com Correia (2003), os maiores impactos sobre os manguezais são ainda <strong>de</strong>vido a<br />

ações antrópicas direta, ou indiretamente, ele afirma:<br />

Todos os impactos ambientais relacionados contribuem para a diminuição da qualida<strong>de</strong> ambiental,<br />

tendo como conseqüência direta a redução quantitativa das espécies <strong>de</strong> peixes e invertebrados, que<br />

vivem nos ecossistemas <strong>de</strong> manguezais, principalmente aquelas <strong>de</strong> importância sócio-econômica,<br />

assim como as <strong>de</strong>mais espécies que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m indiretamente, ao longo dos seus ciclos biológicos, dos<br />

ecossistemas <strong>de</strong> manguezais, acarretando sérios prejuízos.<br />

Dos entrevistados, ape<strong>nas</strong> 33,33% usufruíam diretamente os recursos do manguezal por<br />

meio da pesca sendo esta para consumo próprio. Os mesmos alegaram que <strong>de</strong> alguns anos pra cá<br />

mudanças notórias são vistas na riqueza e diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espécies, passando então a observar queda<br />

no número <strong>de</strong> recursos alimentícios (peixes e caranguejos) que antes serviam como base <strong>de</strong> renda<br />

familiar. Segundo uma moradora, o que se encontra ainda no mangue são alguns peixes e<br />

crustáceos, muito raramente moluscos, mas segundo um estudo <strong>de</strong> Nishida (2008), ape<strong>nas</strong> há três<br />

anos, os moluscos eram um dos recursos alimentícios mais explorados dos mangues <strong>de</strong> toda a<br />

Paraíba. Os que não usufruem diretamente do mangue justificam que as condições do mesmo se<br />

encontram precárias.<br />

Aproximadamente 90% dos moradores-alvo se recusaram a comentar sobre existência <strong>de</strong><br />

alguma doença mais frequente que po<strong>de</strong>ria estar relacionada ao mangue. Os <strong>de</strong>mais enfatizaram<br />

<strong>de</strong>ngue e hanseníase como doenças mais frequentes. Sendo assim, seguindo essa mesma idéia, Pinto<br />

et al (2011) afirma que "A socieda<strong>de</strong> atual cria riscos que afetam <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>sigual a população, e<br />

em Bayeux/PB, os riscos epi<strong>de</strong>miológicos <strong>de</strong> doenças infectocontagiosas, como a hanseníase é<br />

um fator preocupante para a comunida<strong>de</strong>.‖<br />

Consi<strong>de</strong>rações finais<br />

A população ribeirinha do manguezal <strong>de</strong> Bayeux - PB é ainda bastante leiga no que diz<br />

respeito às consequências do <strong>de</strong>spejo <strong>de</strong> resíduos no ecossistemas, são os próprios moradores que<br />

provocam essa ação, não tendo conhecimento que os problemas serão voltados principalmente para<br />

eles. Aos que sabem, observou-se receio em comentar a respeito.<br />

Foi possível notar que a percepção dos mesmos é ainda mínima, quanto ao ecossistema,<br />

on<strong>de</strong> o manguezal é referido principalmente como uma fonte para obtenção <strong>de</strong> recursos, se fazendo<br />

necessário o uso <strong>de</strong> técnicas tais como a educação ambiental nessa área.<br />

674


Agra<strong>de</strong>cimentos<br />

Aos entrevistados, por ce<strong>de</strong>rem informações importantes para a formação do trabalho; ao<br />

colega por toda ajuda na obtenção dos dados e <strong>de</strong>senvolvimento do trabalho, e especialmente ao<br />

professor Vancar<strong>de</strong>r Brito pela orientação e incentivo.<br />

Referências<br />

ALARCON, G.G.; PANITZ, C.M.N. Estudo comparativo da percepção ambiental <strong>de</strong> dois<br />

manguezais submetidos a diferentes condições ambientais e <strong>de</strong> ocupação urbana. In: SIMPÓSIO<br />

BRASILEIRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA, 2, 1998, São Carlos.<br />

ANDRADE, P. M. Enciclopédia dos manguezais paraibanos. João Pessoa: Correio da Paraíba,<br />

1976.<br />

BASSANI, M.A. Fatores psicológicos da percepção da qualida<strong>de</strong> ambiental. 2001. In: BASSANI,<br />

M.A;<br />

BELTRÃO, A.L; MAIA, J.T.A.; OLIVEIRA, M.L.; FARIAS, V.P. Diagnóstico ambiental do<br />

Município <strong>de</strong> Olinda. Recife: Companhia Pernambucana do Meio Ambiente - CPRH, 1995. 160 p.<br />

CORREIA, M. D. I<strong>de</strong>ntificação das alterações ambientais: Ecossistema <strong>de</strong> Manguezal, 2003. Em:<br />

http://www.ufal.br. Acesso em: 20 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2012.<br />

IBGE – Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística. Censo Populacional 2010. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

IBGE, 2010. Disponível em:<br />

http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/tabelas_pdf/total_populacao_pernam<br />

buco.pdf. Acessado em: 20/06/2012.<br />

LIMA, E. C. Educação Ambiental no manguezal. Meio ambiente, 2006.<br />

MIRANDA, P.T.C., MARTINS, M.L.R. & SOARES, Z.M.L. Levantamento e quantificação das<br />

áreas <strong>de</strong> manguezais no Estado do Ceará (Brasil) através <strong>de</strong> sensoriamento remoto. V Simpósio<br />

Brasileiro <strong>de</strong> Sensoriamento Remoto. Natal – RN. 1988<br />

NISHIDA, A. K.; NORDI, N.; & ALVES, R. R. N. Aspectos socioeconômicos dos catadores <strong>de</strong><br />

moluscos do litoral paraibano, Nor<strong>de</strong>ste do Brasil. REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA<br />

TERRA. V. 8. 2008<br />

OLIVEIRA, J.A. Percepção ambiental sobre o manguezal por alunos e professores <strong>de</strong> uma<br />

unida<strong>de</strong> escolar pública no bairro <strong>de</strong> Bebedouro, Maceió – Alagoas. 2004. 36 f. Monografia<br />

(Especialização em Biologia <strong>de</strong> Ecossistemas Costeiros) - Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Alagoas,<br />

Maceió.<br />

PESSOA, R.S. Um estudo comparativo entre as concepções etnoecológicas <strong>de</strong> alunos (6ª série) e<br />

<strong>de</strong> livros didáticos sobre os tópicos “seres vivos e ambiente manguezal”. 155 f. 2000. Dissertação<br />

(Mestrado em Educação <strong>nas</strong> Ciências) - Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Rural <strong>de</strong> Pernambuco, Recife, 2000.<br />

PINTO, H. R. F et al. Análise Espacial dos casos <strong>de</strong> Hanseníase em Bayeux (PB): percepção,<br />

riscos e abordagem ambiental do processo saú<strong>de</strong>-doença. Em:<br />

, 2011.<br />

675


PREFEITURA DE BAYEUX. Prefeitura <strong>de</strong> Bayeux inspeciona áreas <strong>de</strong> risco. Em: <<br />

http://www.bayeux.pb.gov.br/> 2012<br />

RODRIGUES, A. P. et al. O avanço da urbanização <strong>nas</strong> áreas <strong>de</strong> manguezais no município <strong>de</strong><br />

Bayeux-PB. III Encontros <strong>de</strong> ANPPAS, Brasília – DF, 2006.<br />

ROSADO, A. S. Relatório <strong>de</strong> planejamento e estado da arte. Projeto: Refinaria Landulpho Alves<br />

Mataripe (RLAM). Bahia, 2006.<br />

SATO, M.; SANTOS, J.E. Agenda 21 em Sinopse. São Carlos: PPG-ERN/UFSCAR, 1996. 50p.<br />

SCHEFFER-NOVELLI, Y. Manguezal ecossistema entre a terra e o mar. São Paulo/Caribbean<br />

Ecological Research, 1995.<br />

SOARES, M. L. G. Estudo da biomassa aérea <strong>de</strong> manguezais do su<strong>de</strong>ste do Brasil - análise <strong>de</strong><br />

mo<strong>de</strong>los. Tese <strong>de</strong> Doutorado. Instituto Oceanográfico. Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo. 2 vol. 1997.<br />

VASCONCELOS, F.A.L. Análise comparativa da percepção ambiental e conhecimento <strong>de</strong> alunos<br />

da re<strong>de</strong> pública e particular da Região Metropolitana do Gran<strong>de</strong> Recife acerca do tema<br />

“Ambientes Recifais”. 70 f. 2005. Monografia (Bacharelado em Ciências Biológicas) -<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Rural <strong>de</strong> Pernambuco, Recife, 2005.<br />

676


A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO ENSINO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO<br />

FORMADORA DA CONSCIÊNCIA AMBIENTAL DOS ALUNOS DA REDE PÚBLICA DO<br />

MUNICÍPIO DE CABACEIRAS, PB<br />

RESUMO<br />

Emannuella Hayanna Alves <strong>de</strong> LIRA (UEPB) - emannuellahayanna@gmail.com<br />

Natália Thaynã Farias CAVALCANTI (UEPB) - nataliathayna@yahoo.com.br<br />

José Thyago AIRES (UEPB) ze<strong>de</strong>taperoa@gmail.com<br />

Suenildo Jósemo Costa OLIVEIRA (UEPB) - suenildo@ccaa.uepb.edu.br<br />

O presente trabalho tem por objetivo avaliar o nível <strong>de</strong> consciência ambiental dos alunos em<br />

contrapartida as práticas pedagógicas utilizadas pelos professores do ensino fundamental II no<br />

município <strong>de</strong> Cabaceiras- PB. A preocupação com os problemas gerados a partir da relação homem-<br />

natureza é bastante antiga, a partir disso, as ações educacionais voltadas às ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> proteção,<br />

recuperação e melhoria sócia ambiental, vêm ganhando forças. A evolução dos conceitos <strong>de</strong><br />

Educação Ambiental (EA) está diretamente relacionada á evolução do conceito <strong>de</strong> meio ambiente e<br />

ao modo como este era percebido. A pesquisa foi exploratória e <strong>de</strong>scritiva com entrevistas voltadas<br />

aos dois diferentes públicos: professores e alunos passando por métodos <strong>de</strong> avaliação diferentes.<br />

Este tipo <strong>de</strong> estudo visa à obtenção <strong>de</strong> informações sobre as características, ações, percepções <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>terminado grupo <strong>de</strong> pessoas. Foi observado que mesmo com o incentivo da escola pelo tema,<br />

falta <strong>de</strong> um projeto político pedagógico que contemple a temática <strong>de</strong> forma eficiente e eficaz<br />

envolvendo todas as discipli<strong>nas</strong>. No que diz respeito aos alunos, foi observado que uma gran<strong>de</strong><br />

maioria, enten<strong>de</strong> o Meio Ambiente como algo importante, porém fora do seu contexto existencial,<br />

gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>stes, veem o meio ambiente ape<strong>nas</strong> como fauna e flora. Com isso, trata-se <strong>de</strong> fatores<br />

bastante preocupantes, tendo em vista que a EA é uma das ferramentas <strong>de</strong> orientação para a tomada<br />

<strong>de</strong> consciência dos indivíduos frente aos problemas ambientais, vendo que existe uma gran<strong>de</strong><br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser mais explorada <strong>nas</strong> escolas.<br />

Palavras-chaves: Degradação Ambiental; Meio Ambiente; Práticas Pedagógicas.<br />

ABSTRACT<br />

The present study aims to assess the level of environmental awareness among stu<strong>de</strong>nts on the other<br />

hand the pedagogical practices used by elementary school teachers in the city of Cabaceiras II-PB.<br />

The concern with the problems generated from the man-nature relationship is quite old, as<br />

appropriate, educational activities aimed at protection activities, restoration and environmental<br />

677


improvement partner, have been gaining strength. The evolution of the concepts of environmental<br />

education (EE) is directly related to the evolution of the concept of environment and how it was<br />

perceived. The research was exploratory and <strong>de</strong>scriptive with interviews aimed at two different<br />

audiences: teachers and stu<strong>de</strong>nts experiencing different evaluation methods. This type of study aims<br />

to obtain information on the characteristics, actions, perceptions of a particular group of people. It<br />

was observed that even with the encouragement of the school theme, lack of a political pedagogical<br />

project that addresses the issue of efficiently and effectively involving all disciplines. Regarding<br />

stu<strong>de</strong>nts, it was observed that a large majority un<strong>de</strong>rstands the Environment as something<br />

important, but outsi<strong>de</strong> their existential context, much of these, see the environment just as fauna and<br />

flora. With this, it is very disturbing factors, given that EA is a tool to gui<strong>de</strong> the awareness of<br />

individuals regarding environmental problems, seeing that there is a great need to be further<br />

explored in schools.<br />

Keywords: Environmental Degradation, Environment, Pedagogical Practices.<br />

Introdução<br />

No novo século, a escola tomou para si a incumbência <strong>de</strong> preparar os futuros cidadãos<br />

baseados em princípios ambientais. Mas infelizmente, a gran<strong>de</strong> maioria das ações<br />

educativas coloca nossa espécie como único elemento do meio a ser beneficiado. Tais<br />

ativida<strong>de</strong>s são, em sua maioria, engessadas e possuidoras <strong>de</strong> uma visão ingênua <strong>de</strong><br />

―salvarmos o planeta <strong>de</strong> nós mesmos‖ ou <strong>de</strong> propiciarmos um futuro mais sustentável<br />

para as nossas próximas gerações. (GUIMARÃES, 2008, p.7)<br />

A preocupação com os problemas gerados a partir da relação homem-natureza é bastante<br />

antiga, todavia foi em meados dos anos 50 que a crise ambiental foi disseminada, e na década<br />

seguinte que começaram a surgir com maior intensida<strong>de</strong> às reivindicações e os protestos contra o<br />

agravamento da <strong>de</strong>gradação ambiental (CARVALHO et al, 2005). A partir disso, as ações<br />

educacionais voltadas às ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> proteção, recuperação e melhoria sócia ambiental, vêm<br />

ganhando forças. De acordo com Dias (1991), a evolução dos conceitos <strong>de</strong> Educação Ambiental<br />

(EA) esteve diretamente relacionada á evolução do conceito <strong>de</strong> meio ambiente e ao modo como este<br />

era percebido. Com isso, a EA <strong>nas</strong>ce como um processo educativo que conduz a um saber ambiental<br />

materializado nos valores éticos e <strong>nas</strong> regras políticas <strong>de</strong> convívio social e <strong>de</strong> mercado, que implica<br />

a questão distributiva entre benefícios e prejuízos da apropriação e do uso da natureza. A aprovação<br />

da Lei nº 6.938, <strong>de</strong> 31.8.1981, institui a Política Nacional <strong>de</strong> Meio Ambiente a todos os níveis <strong>de</strong><br />

678


ensino, inclusive a educação da comunida<strong>de</strong>, objetivando capacitá-la para participação ativa na<br />

<strong>de</strong>fesa do meio ambiente. Dentro <strong>de</strong> toda problemática apontada, e da importância da preservação<br />

ambiental referidas no artigo 225 da constituição brasileira, este trabalho teve como principal<br />

objetivo avaliar o nível <strong>de</strong> consciência ambiental dos alunos em contrapartida as praticas<br />

pedagógicas utilizadas pelos professores do ensino fundamental II no município <strong>de</strong> Cabaceiras- PB.<br />

A pesquisa foi direcionada aos alunos e professores do ensino fundamental II do ensino<br />

publico do município <strong>de</strong> Cabaceiras. O município <strong>de</strong> Cabaceiras esta localizado na microrregião do<br />

Cariri Oriental Paraibano, com clima semiárido e uma população estimada em 5.035 habitantes<br />

(IBGE 2010). Metodologicamente a pesquisa foi do tipo exploratório e <strong>de</strong>scritivo. Este tipo <strong>de</strong><br />

estudo visa à obtenção <strong>de</strong> informações sobre as características, ações, percepções <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado<br />

grupo <strong>de</strong> pessoas, indicado como representante <strong>de</strong> uma população alvo, por meio <strong>de</strong> instrumentos<br />

<strong>de</strong> pesquisa, normalmente um questionário. As entrevistas voltadas aos dois diferentes públicos:<br />

professores e alunos passaram por métodos <strong>de</strong> avaliação diferentes, visando à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma<br />

diferente linguagem e abordagem para cada público.<br />

Na avaliação da pratica pedagógica dos professores adotamos como base a metodologia <strong>de</strong><br />

SARAIVA, NASCIMENTO & COSTA (2008), analisando o fenômeno estudado, os seus<br />

―porquês‖ e seus <strong>de</strong>terminantes. O questionário aplicado com os docentes constou <strong>de</strong> 7 perguntas<br />

objetivas. A escolha do questionário se <strong>de</strong>u pela objetivida<strong>de</strong> das perguntas, o que nos ajudou a<br />

obter os dados estatísticos com maior precisão. A pesquisa foi aplicada a 5 dos 18 professores do<br />

ensino fundamental II da re<strong>de</strong> publica no município.<br />

Com relação aos alunos, a população <strong>de</strong> amostragem foi composta por 100 alunos <strong>de</strong> todas<br />

as turmas do ensino fundamental II <strong>de</strong> escolas publicas do município. O questionário <strong>de</strong> avaliação<br />

dos alunos constou primeiramente <strong>de</strong> questões relativas à i<strong>de</strong>ntificação do entrevistado (sexo, ida<strong>de</strong><br />

e série.). Em seguida foram inseridas quatro perguntas abertas (SILVA & COUTINHO, s/d) (1- O<br />

que é Meio Ambiente para você? 2- Como estão os rios <strong>de</strong> nosso município? 3- Você faz parte do<br />

Meio Ambiente? 4-Qual sua contribuição para melhorar o meio ambiente?) seguindo a metodologia<br />

baseada na interação socioambiental proposta por Lopes (1997), on<strong>de</strong> o mesmo prevê a<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> avaliar os níveis <strong>de</strong> consciência <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> através <strong>de</strong> práticas<br />

contemplativas e comunicativas, que <strong>de</strong>vem expressar os mais profundos pensamentos humanos na<br />

interação com seu meio.<br />

A avaliação <strong>de</strong>stas perguntas abertas do questionário foi realizada da seguinte maneira:<br />

Valor 0: questionário que em momento algum expressou qualquer relação com a i<strong>de</strong>ia principal do<br />

tema, ou aquele que <strong>de</strong>ixou claro que o aluno não <strong>de</strong>monstrou o mínimo interesse pelas questões<br />

propostas, <strong>de</strong>ixando-as sem resposta, por exemplo.<br />

679


Valor 1: respostas que <strong>de</strong>monstraram que o aluno possui um entendimento vago dos assuntos<br />

tratados, ou seja, ele usa palavras chaves mas não consegue expressar claramente a sua i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />

Meio Ambiente, não se inserindo neste contexto.<br />

Valor 2: respostas que <strong>de</strong>monstraram ter uma visão já melhor formada sobre o conceito <strong>de</strong> Meio<br />

Ambiente, mas ainda não percebem a importância do mesmo para a continuida<strong>de</strong> da vida e não se<br />

inserem na composição <strong>de</strong>ste Meio.<br />

Valor 3: resposta que além <strong>de</strong> apresentar uma opinião formada sobre o que é Meio Ambiente, na<br />

gran<strong>de</strong> maioria correta e a<strong>de</strong>quada para a capacida<strong>de</strong> da sua faixa etária, compreen<strong>de</strong> que faz parte<br />

do Meio Ambiente e que uma agressão ao Meio será uma agressão a ele próprio.<br />

Valor 4: questionário que supera as idéias básicas sobre Meio Ambiente entre outros jovens com a<br />

sua faixa etária, ele mostra-se muito interessado com os problemas ambientais do mundo, além<br />

disso propõe maneiras <strong>de</strong> melhorar a qualida<strong>de</strong> no meio on<strong>de</strong> vive através <strong>de</strong> práticas simples mas<br />

importantes na coletivida<strong>de</strong>, dando a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong>.<br />

Após o recolhimento dos questionários, os dados foram tabulados na planilha do Excel e<br />

elaborados os gráficos para análise das abordagens quantitativas e qualitativas.<br />

Resultados<br />

Na avaliação dos professores buscou-se distribuir graficamente em termos quantitativos os<br />

resultados das respostas do questionário. Analisamos todos os professores do ensino fundamental II<br />

do município conjuntamente, para termos uma visão mais clara do tema abordado. Apesar da<br />

importância da pesquisa, ape<strong>nas</strong> 5 dos 18 professores (27,77%), respon<strong>de</strong>ram ao questionário.<br />

Observam-se na Figura 1, questões gerais referentes ao ensino da educação ambiental no<br />

município. Com relação à primeira questão abordada ―Você acha necessária à inclusão da educação<br />

ambiental na educação básica?‖, todos os professores, 100% da população amostrada respon<strong>de</strong>u que<br />

sim, o que nos revela um nível <strong>de</strong> consciência dos professores em relação ao tema. Também 100%<br />

dos entrevistados afirmaram que em sua escola existem programas <strong>de</strong> educação ambiental,<br />

revelando um gran<strong>de</strong> nível <strong>de</strong> interesse das escolas do município a cerca do problema ambiental.<br />

A respeito do conhecimento <strong>de</strong> colegas que praticam as questões ambientais vimos que<br />

100% dos professores conhecem colegas que <strong>de</strong> alguma forma pratica ações <strong>de</strong> preservação do<br />

meio ambiente. Este fator é extremamente importante, pois, segundo os Parâmetros Curriculares<br />

Nacionais (PCNs) a EA é um dos temas transversais, ou seja, <strong>de</strong>ve ser trabalhado em todas as<br />

discipli<strong>nas</strong>, enfatizando-se os aspectos sociais, econômicos, políticos e ecológicos.<br />

680


Figura1- Aspectos gerais referentes ao ensino da Educação ambiental.<br />

A Figura 2 mostra que para <strong>de</strong>senvolver na pratica o ensino da educação ambiental os<br />

professores optam tanto pela passagem dos conteúdos da educação formal (40%), quanto por outras<br />

ativida<strong>de</strong>s (40%). Ape<strong>nas</strong> 20% dos entrevistados optam pelas brinca<strong>de</strong>iras, com o objetivo <strong>de</strong> tornar<br />

o tema mais atrativo para os alunos.<br />

Figura 2- Como você <strong>de</strong>senvolve na prática o ensino da Educação ambiental?<br />

Referente ao número <strong>de</strong> vezes por semana em que se aborda a questão ambiental (Figura 3),<br />

40% dos professores afirma abordar mais <strong>de</strong> duas vezes, porém as outras alternativas também foram<br />

bastante escolhidas (todas com 20% dos entrevistados), mostrando assim que o tema não é<br />

abordado com uniformida<strong>de</strong> por todos os professores.<br />

681


Figura 3- Quantas vezes na semana você aborda a questão ambiental?<br />

Para que o ensino da educação ambiental se torne mais eficaz (Figura 4) 60% dos<br />

entrevistados acreditam que falta empenho da escola, dos professores, vonta<strong>de</strong> politica dos<br />

governantes e participação da comunida<strong>de</strong>; e 40% dos entrevistados acreditam que falta ape<strong>nas</strong> a<br />

participação <strong>de</strong> toda comunida<strong>de</strong>.<br />

Figura 4- O que falta para que o ensino da educação ambiental se torne mais eficaz?<br />

A Figura 5 nos mostra que ha uma preocupação dos educadores em preservar os ecossistemas<br />

<strong>de</strong> seu município e praticar atitu<strong>de</strong>s, no dia-a-dia, que visem minimizar os <strong>de</strong>sperdícios, para 80%<br />

dos entrevistados esta <strong>de</strong>veria ser a contribuição do alunado. Ape<strong>nas</strong> 20% dos entrevistados<br />

afirmam que os alunos po<strong>de</strong>m contribuir ape<strong>nas</strong> praticando atitu<strong>de</strong>s, no dia-a-dia, que visão<br />

minimizar os <strong>de</strong>sperdícios.<br />

Esta questão nos mostra um elevado nível <strong>de</strong> consciência dos educadores, pois a gran<strong>de</strong><br />

maioria vê a relação entre o meio ambiente e a socieda<strong>de</strong> por completo, ou seja, que uma ação está<br />

relacionada à outra.<br />

682


Figura 5- Como os alunos po<strong>de</strong>m agir para que não haja mais <strong>de</strong>gradação dos recursos naturais?<br />

Se a principal função da educação ambiental é contribuir para a formação <strong>de</strong> cidadãos<br />

conscientes e críticos, capazes <strong>de</strong> <strong>de</strong>cidirem e atuarem na realida<strong>de</strong> socioambiental <strong>de</strong> um modo<br />

comprometido com a vida, com o bem estar <strong>de</strong> cada um e da socieda<strong>de</strong>, esta assume uma dimensão<br />

ampla, atingindo praticamente todas as áreas do currículo, po<strong>de</strong>ndo ser entendida como um<br />

sinônimo do que se enten<strong>de</strong>, hoje, por Educação Escolar (SANTA CATARINA, 1998, p. 47).<br />

Avaliação dos alunos<br />

Para realização da etapa referente aos alunos foram escolhidos aleatoriamente 100 alunos do<br />

ensino fundamental II da re<strong>de</strong> publica <strong>de</strong> ensino do município <strong>de</strong> Cabaceiras, com ida<strong>de</strong>s entre 12 e<br />

16 anos.<br />

Na Figura 6, observa-se o resumo das respostas dos alunos sobre ―O que é meio ambiente‖,<br />

para esta questão todas as pontuações foram marcadas (<strong>de</strong> 0 a 4 pontos), obtendo 2 pontos o maior<br />

número <strong>de</strong> alunos 38%.<br />

683


Figura 6- Resposta dos alunos ao 1° questionamento<br />

Em relação aos rios do municipio, a maioria dos alunos (54%) não apresentaram respostas que<br />

não tiveram relação como tema abordado. E nenhum dos alunos superou as i<strong>de</strong>ias basicas sobre o<br />

tema, não obtendo assim nenhum aluno neste quesito a pontuação máxima.<br />

Figura 7- Resposta dos alunos ao 2° questionamento.<br />

Para a questão 3, observa-se que 92% dos alunos, respon<strong>de</strong>ram sim, fazer parte do meio<br />

ambiente, porém ape<strong>nas</strong> 2% <strong>de</strong>stes conseguiram explicar <strong>de</strong> forma convicente como isto acontece.<br />

Este é um fator bastante preocupante, <strong>de</strong>vido a faixa etária e série <strong>de</strong>stes alunos, que a esta altura já<br />

<strong>de</strong>veriam possuir uma opinião embasada sobre o assunto, bem como uma capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> discorrer<br />

explicações concretas a respeito do mesmo.<br />

684


Figura 8- Resposta dos alunos ao 3° questionamento.<br />

Nenhum dos alunos afirmou que a melhoria do meio ambiente é um trabalho só <strong>de</strong> adultos;<br />

52% dos entrevistados afirmam que como contribuição para melhorar o meio ambiente, não jogam<br />

lixo <strong>nas</strong> ruas e rios; 28% afirmam contribuir com a reciclagem e cuidando das plantas e animais.<br />

Empatados em 10% ficaram as respostas não obtiveram relação com o tema e as respostas mais<br />

embasadas, que abordaram os temas plantar, cultivar, preservar.<br />

Figura 9- Resposta dos alunos ao 4° questionamento.<br />

Consi<strong>de</strong>rando o nível <strong>de</strong> consciência ambiental dos alunos entrevistados, os indicadores <strong>de</strong><br />

consciência ambiental no ensino fundamental II da re<strong>de</strong> pública no município <strong>de</strong> Cabaceiras foram<br />

os seguintes:<br />

- 6% ótimo, 20% bom e 74% ruim.<br />

Enten<strong>de</strong>ndo que na soma dos valores das questões <strong>de</strong> cada aluno, é validada por:<br />

- resultados acima <strong>de</strong> 11 pontos são iguais ao conceito ótimo;<br />

- resultados entre 8,25 a 11 pontos são iguais ao conceito bom;<br />

- resultados abaixo <strong>de</strong> 8,25 pontos são iguais ao conceito ruim.<br />

685


Os resultados obtidos referentes às praticas pedagógicas utilizadas pelos professores foram<br />

insatisfatórios quando comparado a consciência ambiental dos alunos. Afirma-se isto quando<br />

observa-se que 100% dos professores entrevistados dizem que na escola existem programas <strong>de</strong><br />

educação ambiental e que acham importante o ensino da mesma, além do fato <strong>de</strong> que todos<br />

afirmaram conhecer colegas que praticam o assunto; no entanto, 74% das crianças e jovens<br />

entrevistados não conseguiram respon<strong>de</strong>r questões básicas sobre meio ambiente <strong>de</strong> forma clara e<br />

objetiva, não conseguindo fazer relação do mesmo com o local em que vivem, ficando este restrito<br />

ape<strong>nas</strong> na opinião da maioria dos alunos as plantas e animais.<br />

Para a obtenção <strong>de</strong> resultados mais satisfatórios e para que se possa ter a formação <strong>de</strong> adultos<br />

consciente e preocupados com as questões ambientais é necessária que haja uma participação mais<br />

efetiva dos professores e a adoção <strong>de</strong> métodos mais dinâmicos e efetivos, para que haja inclusão da<br />

EA em todas as discipli<strong>nas</strong> para que este passe a ser realmente um tema transversal.<br />

Aos professores <strong>de</strong> Línguas Portuguesa e estrangeiras, recomenda-se que tragam para a sala<br />

<strong>de</strong> aula textos relacionados ao meio ambiente; aos <strong>de</strong> História, que estimulem a leitura reflexiva dos<br />

acontecimentos ecológicos passados e presentes; aos <strong>de</strong> Matemática, que estimulem os alunos a<br />

pensar sobre quantida<strong>de</strong>s, envolvendo temas ambientais, para que estes possam transformá-los; em<br />

Biologia po<strong>de</strong>m ser abordados diversos temas ambientais e ciclos da natureza; na disciplina <strong>de</strong><br />

Física, po<strong>de</strong>m ser tratados os fenômenos que hoje vêm ocorrendo com muito mais intensida<strong>de</strong> na<br />

natureza, bem como abordar a questão das energias alternativas, etc; em Química po<strong>de</strong> ser analisada<br />

a questão do uso indiscriminado dos agrotóxicos (SARAIVA, NASCIMENTO e COSTA, 2008)<br />

Conclusão<br />

Fica evi<strong>de</strong>nte com esta pesquisa que a participação dos professores no que diz respeito à<br />

temática ambiental não é uniforme, ainda que esta seja incentivada pela escola e muito <strong>de</strong>batida e<br />

discutida em âmbito nacional. Também foi observado que mesmo com o incentivo da escola pelo<br />

tema, falta <strong>de</strong> um projeto político pedagógico que contemple a temática <strong>de</strong> forma eficiente e eficaz<br />

envolvendo todas as discipli<strong>nas</strong>.<br />

No que diz respeito aos alunos, foi observado que uma gran<strong>de</strong> maioria, enten<strong>de</strong> o Meio<br />

Ambiente como algo importante, porém fora do seu contexto existencial, gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>stes, vêem<br />

o meio ambiente ape<strong>nas</strong> como fauna e flora. Este fato nada mais é do que uma resposta dos alunos,<br />

perante as praticas pedagógicas utilizadas e o <strong>de</strong>scompasso dos professores perante o assunto.<br />

Este fator é bastante preocupante, tendo em vista que a EA é uma das ferramentas <strong>de</strong><br />

orientação para a tomada <strong>de</strong> consciência dos indivíduos frente aos problemas ambientais, e que uma<br />

parte do alunado entrevistado já esta saindo do nível fundamental e entrando no nível médio; ou<br />

686


seja, estamos formando jovens inconscientes e indiferentes a este tema que como sabemos é <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong> importância para o futuro da humanida<strong>de</strong>.<br />

Dentro do exposto, recomenda-se que seja revisto o plano <strong>de</strong> educação ambiental das<br />

escolas junto aos professores, ressaltando, a importância da transversalida<strong>de</strong> da educação ambiental.<br />

Também é importante que as famílias <strong>de</strong>stes jovens e todo comunida<strong>de</strong> sejam envolvida nos<br />

projetos <strong>de</strong> EA criados pela escola, pois este é um assunto <strong>de</strong> interesse <strong>de</strong> todos, e a educação das<br />

crianças e jovens só po<strong>de</strong> ser firmada se esta estiver presente em todo ambiente <strong>de</strong> convivência<br />

social do mesmo.<br />

Referências<br />

CARVALHO, Aurean <strong>de</strong> Paula; SILVA, Dany Geraldo Kramer Cavalcanti; TUPINAMBÁ, Felipe<br />

Cesar Marques; SOUSA, Anésio Men<strong>de</strong>s <strong>de</strong>; FILHO, Antonio Moreira <strong>de</strong> Carvalho. Meio<br />

Ambiente Na Perspectiva <strong>de</strong> Estudantes do Ensino Médio <strong>de</strong> uma Escola Pública no Município <strong>de</strong><br />

Campina Gran<strong>de</strong>/PB. Engenharia Ambiental - Espírito Santo do Pinhal, v. 6, n. 3, p. 119-131, set<br />

/<strong>de</strong>z 2009.<br />

DIAS, Genebaldo Freire. Educação ambiental: princípios e prática. São Paulo: Gaia, 1992, p. 399.<br />

IBGE, Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística. Censo Demográfico 2010:<br />

http://www.ibge.gov.br/cida<strong>de</strong>sat/link.php?uf=pb<br />

LOPES, Josiane. Matemática, uma proposta <strong>de</strong> ensino a partir da teoria das inteligências múltiplas.<br />

Nova Escola: Revista do Ensino <strong>de</strong> Primeiro Grau. 101: 8-11, 1997.<br />

SANTA CATARINA, Secretaria <strong>de</strong> Estado da Educação e do Desporto. Proposta Curricular <strong>de</strong><br />

Santa Catarina: Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio: Temas Multidisciplinares.<br />

Florianópolis: COGEN, 1998.<br />

SARAIVA, Vanda Maria; NASCIMENTO, Kelly Regina Pereira do; COSTA, Renata Kelly Matos<br />

da. Prática Pedagógica Do Ensino De Educação Ambiental <strong>nas</strong> Escolas Públicas <strong>de</strong> João Câmara –<br />

RN. Holos, Ano 24, V. 2, fev 2008.<br />

SILVA, Júlio César Moschetta da. COUTINHO, Solange da Veiga. Nível <strong>de</strong> consciência ambiental<br />

em escolas como indicador <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong>. Universida<strong>de</strong> do Contestado, Campus <strong>de</strong><br />

Caçador/SC, s/d.<br />

687


RESUMO<br />

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL: HISTÓRICO E PERSPECTIVAS<br />

Gabriela Baesse Iglesias Alves PEREIRA 78<br />

Julie Louise HERPIN 79<br />

Laís Karla da Silva BARRETO 80<br />

O artigo a seguir visa a construção <strong>de</strong> um histórico ressumido da educação ambiental (EA)<br />

brasileira, partindo dos seus primórdios, quando ainda era vista <strong>de</strong> forma informal até sua<br />

normatização na lei brasileira. A partir da análise histórica e uma avaliação é possível também<br />

traçar as futuras perspectivas da educação ambiental <strong>de</strong>ntro do contexto brasileiro, analisando com a<br />

ajuda <strong>de</strong> autores se a tendência é o avanço da EA ou uma estagnação.<br />

PALAVRAS-CHAVE: Educação Ambiental; Meio ambiente; Histórico; Perspectivas.<br />

ABSTRACT<br />

The following article aims building a short history of environmental education in Brazil, since the<br />

beginning when it was an informal education until the regulation in the Brazilian law. From the<br />

historical analysis and evaluation of authors it's possible too trace the prospects of the<br />

environmental educational, analyzing with the help of authors if the environmental education is in a<br />

moment of stagnation or breakthrough.<br />

KEYSWORDS: Environmental Education; History; Prospects.<br />

INTRODUÇÃO<br />

Este artigo tem como objetivo tratar da Educação Ambiental (EA) no Brasil. Mesmo<br />

sabendo que a temática Meio Ambiente passou a ser vista com mais importância nós últimos 20<br />

anos, tal assunto já era abordado anteriormente. Aproximadamente no século XIX, a pauta em torno<br />

78 Estudante do curso <strong>de</strong> Relações Internacionais da Universida<strong>de</strong> Potiguar (UnP) e do curso <strong>de</strong> Gestão <strong>de</strong> Políticas<br />

Públicas da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte (UFRN). E-mail: gbaesse@gmail.com.<br />

79 Estudante do curso <strong>de</strong> Relações Internacionais da Universida<strong>de</strong> Potiguar (UnP). E-mail: julie_herpin@hotmail.com.<br />

80 Doutoranda em Estudos da Linguagem pela UFRN, professora da Universida<strong>de</strong> Potiguar. (orientadora). E-mail:<br />

laisbarreto@gmail.com<br />

688


das questões ambientais po<strong>de</strong> ser comprovada em diversos momentos. Um dos casos mais<br />

emblemáticos aconteceu em 1854 nos EUA quando o governo norte-americano <strong>de</strong>terminou a<br />

compra <strong>de</strong> terras dos índios, em manifesto o chefe indígena Seattle. O que trouxe uma resposta que<br />

se tornaria uma das primeiras referências às questões ambientais:<br />

"Ensinem às suas crianças o que ensinamos às nossas, que a Terra é nossa mãe. Tudo o que<br />

acontecer à Terra acontecerá aos filhos da Terra. Se os homens cospem no solo, estão<br />

cuspindo em si mesmos. Isto sabemos: a Terra não pertence ao homem, o homem pertence<br />

à Terra. Isso sabemos: todas as coisas estão ligadas como o sangue que une uma família.<br />

[...] O homem não teceu o tecido da vida: ele é simplesmente um <strong>de</strong> seus fios. Tudo o que<br />

fizer ao tecido, fará a si mesmo. [...] On<strong>de</strong> está o arvoredo ? Desapareceu. On<strong>de</strong> está a<br />

água? Desapareceu. É o final da vida e o início da sobrevivência. [...] Se não possuímos o<br />

frescor do ar e o brilho da água, como é possível comprá-los? […] Eu não sei, nossos<br />

costumes são diferentes dos seus. A visão <strong>de</strong> suas cida<strong>de</strong>s fere os olhos do homem<br />

vermelho. [...] Não há lugar quieto <strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s do homem branco. Nenhum lugar on<strong>de</strong> se<br />

possa ouvir o <strong>de</strong>sabrochar <strong>de</strong> folhas na primavera, ou o bater <strong>de</strong> asas <strong>de</strong> um inseto‖<br />

(SÁTIRO e WUENSCH, 2002, p. 168)<br />

A história da EA atual surge no século XIX em Londres, quando a cida<strong>de</strong> ficou coberta pelo<br />

“smog” – poluição atmosférica oriunda da indústria – que causou cerca <strong>de</strong> 12.000 mortes em 1952<br />

(BEREND, An economic history of Twentieth-Century Europe). A tragédia gerou discussões sobre a<br />

qualida<strong>de</strong> ambiental das cida<strong>de</strong>s, e em 1956 surgiu a Lei do Ar Puro que estabelecia limites para a<br />

emissão <strong>de</strong> poluentes.<br />

Além <strong>de</strong> vários outros acontecimentos que apontavam problemas no mo<strong>de</strong>lo econômico, foi<br />

em 1965 durante a Conferência <strong>de</strong> Educação da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Keele, Inglaterra, que o termo<br />

Educação Ambiental foi utilizado pela primeira vez, e recomendando que o mesmo se tor<strong>nas</strong>se<br />

parte primordial da educação <strong>de</strong> todos. Já em 1968 houve a criação do ―Clube <strong>de</strong> Roma‖ que <strong>de</strong>bate<br />

principalmente temas sobre o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável e criou uma série <strong>de</strong> relatórios <strong>de</strong><br />

enorme impacto.<br />

Mas o evento internacional mais importante da época para a EA foi a Conferência<br />

Intergovernamental <strong>de</strong> Educação Ambiental <strong>de</strong> Tbilisi (1977), promovido pela UNESCO e pelo<br />

Programa <strong>de</strong> Meio Ambiente da ONU (PNUMA) <strong>de</strong> on<strong>de</strong> surgiram <strong>de</strong>finições, objetivos, princípios<br />

e estratégias utilizados até hoje para a Educação Ambiental. Infelizmente o Brasil não participou da<br />

conferência e só teve acesso ao documento anos <strong>de</strong>pois, o que atrasou os avanços da EA no país.<br />

O Brasil só começou a ter encontros e discussões sobre o assunto nos anos 70 e ainda <strong>de</strong><br />

forma muito tímida, apesar da ebulição do tema em várias partes do mundo. Dessa maneira este<br />

689


artigo visa mostrar como a Educação Ambiental, mesmo <strong>de</strong> forma tardia, se construiu no Brasil e as<br />

perspectivas para o futuro <strong>de</strong> um tema tão importante para o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável.<br />

HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL<br />

Nos anos 70 durante o que foi chamado ―milagre econômico‖ – aon<strong>de</strong> a economia brasileira<br />

cresceu exponencialmente – o regime militar segundo Czapski (1998) ―<strong>de</strong>u sustentação para o<br />

crescimento econômico a qualquer custo, sem nenhuma preocupação ambiental.‖. Dessa maneira<br />

houve a construção Usi<strong>nas</strong> Nucleares e Usi<strong>nas</strong> hidrelétricas, que fez com que o Brasil fosse bastante<br />

criticado no exterior, Czapski também diz que ―o governo [brasileiro] colocou-se na <strong>de</strong>fensiva,<br />

espalhando a opinião <strong>de</strong> que a <strong>de</strong>fesa do meio ambiente seria uma espécie <strong>de</strong> conspiração das<br />

nações <strong>de</strong>senvolvidas para impedir o crescimento do país.‖.<br />

Mas mesmo estando na <strong>de</strong>fensiva, o governo brasileiro enviou uma <strong>de</strong>legação para a<br />

Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente Humano que teve como se<strong>de</strong> Estocolmo na Suécia e<br />

aconteceu em 1972 e até mesmo assinou a Declaração da ONU sobre o Meio Ambiente Humano.<br />

Em 1975 o governo fe<strong>de</strong>ral promoveu o Primeiro Encontro Nacional sobre Proteção e Melhoria do<br />

Meio Ambiente. Mas em 1977 o Brasil não fez parte da Conferência Internacional <strong>de</strong> Tbilisi que,<br />

como já foi dito anteriormente, marcou a educação ambiental. Em contrapartida pouco tempo antes<br />

da Conferência <strong>de</strong> Tbilisi, foi produzido um documento assinado pela Secretaria Especial <strong>de</strong> Meio<br />

Ambiente e pelo Ministério do Interior <strong>de</strong>nominado ―Educação Ambiental‖.<br />

Durante a década <strong>de</strong> 80 diversas leis importantes na área da Educação Ambiental foram<br />

positivadas, mostrando uma maior conscientização. Em 1981 houve a criação da Lei nº 6.938/81 81<br />

que dispõe sobre a política nacional <strong>de</strong> Meio Ambiente, em seu artigo 2º, inciso X a lei visa aten<strong>de</strong>r<br />

o princípio <strong>de</strong> ―educação ambiental a todos os níveis <strong>de</strong> ensino, inclusive a educação da<br />

comunida<strong>de</strong>, objetivando capacitá-la para participação ativa na <strong>de</strong>fesa do meio ambiente.‖,<br />

<strong>de</strong>monstrando que para a <strong>de</strong>fesa do meio ambiente é necessário que a EA esteja inclusa no currículo<br />

escolar. Além disso, esta mesma Lei, estabelece a criação do Conselho Nacional do Meio Ambiente<br />

(CONAMA) em seu Artigo 6º, inciso II como órgão consultivo e <strong>de</strong>liberativo. Vale salientar que o<br />

CONAMA foi criado como uma maneira da Socieda<strong>de</strong> Civil ajudar na construção das política<br />

públicas ambientais. Em 1985 o parecer nº 819/85 falava da importância <strong>de</strong> incluírem-se conteúdos<br />

ecológicos no ensino <strong>de</strong> primeiro e segundo graus, possibilitando assim a consciência ecológica do<br />

futuro cidadão. Já em 1987 o parecer nº 226/87, enfatizava a urgência da EA com uma abordagem<br />

interdisciplinar. Em 1988 a Constituição Fe<strong>de</strong>ral estabelece no Capítulo VI do Meio Ambiente,<br />

81 Lei disponível no en<strong>de</strong>reço: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm>. Acesso em: 20/09/2012<br />

690


Artigo nº225, § 1º, inciso VI, que o incumbe ao Po<strong>de</strong>r Público: ―promover a educação ambiental em<br />

todos os níveis <strong>de</strong> ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente.‖, sendo<br />

consi<strong>de</strong>rada uma das leis mais completas do mundo em relação ao meio ambiente.<br />

Já em 1991 o Ministério da Educação (MEC) institucionaliza através da portaria nº 678/91<br />

que a EA <strong>de</strong>veria ser contemplada na educação escolar, fazendo parte <strong>de</strong> todos os níveis <strong>de</strong> ensino,<br />

enfatizando a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> investir na capacitação dos professores. No mesmo ano o MEC<br />

através da portaria nº 2421/91:<br />

Institui em caráter permanente um Grupo <strong>de</strong> Trabalho <strong>de</strong> EA com o objetivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir com<br />

as Secretarias Estaduais <strong>de</strong> Educação, as metas e estratégias para a implantação da EA no<br />

país e elaborar proposta <strong>de</strong> atuação do MEC na área <strong>de</strong> educação formal e não formal para a<br />

Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento. (SOUZA e<br />

BENEVIDES, 2005, p. 534)<br />

No ano <strong>de</strong> 1992 o Brasil é se<strong>de</strong> da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e<br />

Desenvolvimento, conhecida como Rio 92, aon<strong>de</strong> foram elaborados diversos documentos<br />

importantes como a Convenção do Clima ou das Mudanças Climáticas, a Convenção da<br />

Biodiversida<strong>de</strong>, etc. Mas para a EA, o momento mais significativo foi a Jornada da Educação<br />

Ambiental, aon<strong>de</strong> foi elaborado o Tratado <strong>de</strong> Educação Ambiental para Socieda<strong>de</strong>s Sustentáveis e<br />

Responsabilida<strong>de</strong> Global, Cascino (2000, p. 45) enfatiza que este Tratado ―representou certo avanço<br />

para a leitura da Educação Ambiental, na medida em que relacionou os processos <strong>de</strong> aprendizagem<br />

permanentes à busca <strong>de</strong> uma sustentabilida<strong>de</strong> global equitativa.‖.<br />

Dias (2000, p. 172) vai dizer que ―A Rio 92 também endossou as recomendações da<br />

Conferência sobre Educação para todos, realizada na Tailândia (1990), que inclui o tratamento da<br />

questão ambiental como analfabetismo ambiental‖. Mostrando assim um outro aspecto importante<br />

da Conferência para a EA.<br />

Em 1994 foi aprovado o Programa Nacional <strong>de</strong> Educação Ambiental (PRONEA) que teria<br />

duas frentes, a educação não formal <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e<br />

a educação formal que teria o MEC a frente <strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s. O programa também teria como<br />

parceiros o Ministério da Cultura e o Ministério da Ciência e Tecnologia. No ano <strong>de</strong> 1996 a EA<br />

ganha mais força com a nova Lei <strong>de</strong> Diretrizes e Bases da educação (Lei nº 9.394/96 82 ) que mudou<br />

a concepção do currículo no ensino formal.<br />

82 Lei disponível no en<strong>de</strong>reço: Acesso em:<br />

20/09/2012<br />

691


É ape<strong>nas</strong> em 1997 por meio <strong>de</strong> uma comissão coor<strong>de</strong>nada pelo Ministério do Meio<br />

Ambiente que será criada a Agenda 21 Brasileira, que foi resultado <strong>de</strong> um documento preliminar<br />

que foi discutido em diversos estados. No mesmo ano aconteceu em Brasília a I Conferência<br />

Nacional <strong>de</strong> Educação Ambiental (CNEA), on<strong>de</strong> foi produzido um documento intitulado<br />

Declaração <strong>de</strong> Brasília para a Educação Ambiental que diagnostica a EA no Brasil, mostrando as<br />

dificulda<strong>de</strong>s encontradas para o <strong>de</strong>senvolvimento do trabalho.<br />

O ano <strong>de</strong> 1999 também foi importante para EA, visto que após seis anos <strong>de</strong> tramitação,<br />

houve a aprovação da Lei nº 9.795/99 83 que ―dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política<br />

Nacional <strong>de</strong> Educação Ambiental [PNEA] e dá outras providências‖. Segundo Czapski (2008, p.<br />

59) mais <strong>de</strong> 300 entida<strong>de</strong>s foram ouvidas para que o texto fosse construído, ―Com isso a lei tornou-<br />

se um divisor <strong>de</strong> águas na história brasileira da EA, ganhando a dimensão <strong>de</strong> política pública.‖<br />

(CZAPSKI, 2008, p. 59).<br />

Em 2000 foi lançada uma nova versão da Carta da Terra na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Paris (França),<br />

diferentemente da primeira Carta da Terra – que foi confeccionada durante a Rio 92 – está outra<br />

versão segundo Czapski foi produzida após oito anos <strong>de</strong> discussão em 46 países, e envolveu mais <strong>de</strong><br />

100 mil pessoas, provenientes <strong>de</strong> diversas áreas. Assim ao lado <strong>de</strong> outros documentos a Carta da<br />

Terra torna-se referência internacional para a Educação Ambiental.<br />

No mesmo ano, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e a<br />

Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) publicam um<br />

relatório aon<strong>de</strong> entre 45 países estudados, o Brasil era o que tinha a quarta pior remuneração aos<br />

seus docentes, o que faz com que seja difícil o incentivo a educação e ao professor com salários tão<br />

baixos. Logo após a publicação <strong>de</strong>ste relatório, 13 especialistas da área <strong>de</strong> EA se reúnem em<br />

Brasília para realizar uma oficina <strong>de</strong> trabalho organizada pela Coor<strong>de</strong>nação-Geral <strong>de</strong> Educação<br />

Ambiental (COEA) do MEC. O resultado da oficina é a publicação do documento Panorama da<br />

Educação Ambiental no Ensino Fundamental 6 , que abrange o <strong>de</strong>senvolvimento da EA no ensino<br />

formal e a garantia da inserção da EA como política pública <strong>nas</strong> escolas.<br />

Ainda em 2000 o Centro <strong>de</strong> Informação e Documentação do MMA (CID Ambiental) a partir<br />

<strong>de</strong> uma ação <strong>de</strong> educação não formal incentiva a formação <strong>de</strong> Salas Ver<strong>de</strong>s – espaços que abrem<br />

oportunida<strong>de</strong> para a população ter acesso a diversas publicações produzidas e disponibilizadas pelo<br />

MMA. Estes locais po<strong>de</strong>m ser criados por qualquer diversos atores sociais, como Organizações<br />

83 Lei disponível no en<strong>de</strong>reço: Acesso em: 20/09/2012<br />

6 Documento disponível no en<strong>de</strong>reço:<br />

Acesso em: 21/09/2012<br />

692


Não-Governamentais (Ongs), empresas e até o próprio governo. Segundo os dados <strong>de</strong> Verda<strong>de</strong><br />

(2010) em 2007 já havia 245 salas ver<strong>de</strong>s funcionando em todos os estados brasileiros.<br />

No ano <strong>de</strong> 2001 a Censo Educacional realizada anualmente pelo Instituto Nacional <strong>de</strong><br />

Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep/MEC), abrange questões da EA <strong>nas</strong> 177 mil instituições<br />

participantes, revela-se assim que 71,2% dos alunos encontram-se em escolas que trabalham a<br />

temática ambiental.<br />

O ano <strong>de</strong> 2002 também foi um marco para a educação ambiental, visto que três anos após a<br />

aprovação da Lei 9.795/99, finalmente o Decreto 4.281/02 7 que regulamente está lei foi<br />

promulgado, sendo importante porque cria as condições a<strong>de</strong>quadas para que a Política Nacional <strong>de</strong><br />

EA (PNEA) fosse realmente implementada. Em <strong>de</strong>poimento dado ao jornal Folha <strong>de</strong> São Paulo<br />

publicado em 6 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2002 (Tendências e Debates – p.3) 8 o então Ministro do Meio<br />

Ambiente, disse que com este Decreto foram criadas as ―condições para que os diversos segmentos<br />

sociais compreendam a complexida<strong>de</strong> da questão ambiental e participem das <strong>de</strong>cisões que afetam o<br />

meio ambiente e a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida‖.<br />

No mesmo ano também acontece a Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento<br />

Sustentável (Rio+10), que no âmbito da EA foi importante porque em seus dois documentos oficiais<br />

recomendava-se a criação da Década <strong>de</strong> Educação para o Desenvolvimento Sustentável, que terá<br />

sua criação confirmada no final <strong>de</strong> 2002 na Assembleia Geral da ONU em Nova Iorque (EUA) para<br />

o período <strong>de</strong> 2005 a 2014 e tendo como agência que li<strong>de</strong>rará o processo a UNESCO. O objetivo é<br />

dar ênfase ao papel primordial da educação para o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável a partir <strong>de</strong> parcerias<br />

aon<strong>de</strong> os governos, organizações internacionais, socieda<strong>de</strong> civil e o setor privado po<strong>de</strong>rão mostrar<br />

seu compromisso prático <strong>de</strong> viver sustentavelmente.<br />

Em 2003 é formulado o Programa <strong>de</strong> Formação <strong>de</strong> Educadores Ambientais (ProFEA), que<br />

tem como base metodológica à Pesquisa-Ação-Participativa (PAP - também chamado <strong>de</strong> Pessoas<br />

que Apren<strong>de</strong>m Participando), que segundo Fals Borda (1972) é um processo vivencial, que incluí<br />

em um mesmo momento, educação, pesquisa científica e ação política. Dessa maneira o Programa<br />

tem como objetivo envolver pessoas <strong>de</strong> diversos locais do país, transformando-as em educadoras<br />

ambientais populares.<br />

7 Decreto disponível no en<strong>de</strong>reço: Acesso em:<br />

21/09/2012<br />

8 Artigo completo disponível no en<strong>de</strong>reço: Acesso<br />

em: 21/09/2012<br />

693


Já em 2004 houve a criação do Programa 0052 (Educação Ambiental para Socieda<strong>de</strong>s<br />

Sustentáveis) 9 , que foi baseado no Tratado <strong>de</strong> Educação Ambiental para Socieda<strong>de</strong>s Sustentáveis e<br />

Responsabilida<strong>de</strong> Global criado durante a Rio 92. O Programa tem por objetivo educar a socieda<strong>de</strong><br />

brasileira que possuí padrões <strong>de</strong> consumo e produção insustentáveis que causam a <strong>de</strong>gradação<br />

ambiental e comprometem a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<br />

Começa no ano <strong>de</strong> 2005 a Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável<br />

(DEDS), já citada anteriormente. A Unesco responsável pelas ações <strong>de</strong>stes <strong>de</strong>z anos criou um<br />

documento final do esquema internacional <strong>de</strong> implementação da DEDS, estabelecendo priorida<strong>de</strong>s,<br />

ações locais, nacionais e internacionais, além <strong>de</strong> um calendário com as perspectivas do que será<br />

feito durante a década. Ainda em 2005 é criado o Programa Educação <strong>de</strong> Chico Men<strong>de</strong>s 10 que tem<br />

por objetivo fomentar projetos <strong>de</strong> EA no ensino básico. Czapski (2008, p. 315) fala que no mesmo<br />

ano, durante o evento Sustentável 2005, no Rio <strong>de</strong> Janeiro, é lançado o Manifesto pela Educação<br />

Ambiental 11 aon<strong>de</strong>:<br />

[o Manifesto] questiona o uso do termo EDS [Educação para o Desenvolvimento<br />

Sustentável], em <strong>de</strong>trimento do histórico termo Educação Ambiental. O documento é<br />

traduzido, na sequência, para cinco idiomas e ganha a<strong>de</strong>são <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 800 educadoras /<br />

es ambientais <strong>de</strong> várias partes do mundo (CZAPSKI, 2008, p. 315)<br />

Já no ano <strong>de</strong> 2006 segundo Czapski há um aumento <strong>nas</strong> pesquisas sobre a EA no ensino<br />

superior, <strong>de</strong> acordo a autora a pesquisa mais importante que aconteceu naquele ano foi o<br />

―Mapeamento da EA em Instituições <strong>de</strong> Ensino Superior: Elementos para políticas<br />

públicas‖, <strong>de</strong>senvolvida pela Rupea, [...] avalia a prática <strong>de</strong> EA a partir <strong>de</strong> 22<br />

instituições <strong>de</strong> ensino superior (IES), constatando uma gran<strong>de</strong> diversida<strong>de</strong>. Na Fundação<br />

Santo André, o professor Luiz Afonso Vaz Figueiredo orienta um trabalho que localiza<br />

521 dissertações e teses sobre EA <strong>de</strong>senvolvidas no país pelas IES. Com outra base <strong>de</strong><br />

dados, Leonir Lorenzetti (UFSC) e Demétrio Delizoicov (UnC-Caçador/SC) encontram<br />

736 dissertações e 74 doutorados, <strong>de</strong>senvolvidos entre 1981 e 2003. (CZAPSKI, 2008,<br />

p. 322)<br />

O Sistema Nacional <strong>de</strong> Educação Ambiental é criado em julho <strong>de</strong> 2007 que tem como<br />

objetivo ―integrar e coor<strong>de</strong>nar as relações <strong>de</strong> gestão e formação da EA, contribuindo para enca<strong>de</strong>ar<br />

9 Programa disponível no en<strong>de</strong>reço: Acesso em: 21/09/2012<br />

10 Programa disponível no en<strong>de</strong>reço: Acesso em: 21/09/2012<br />

11 Manifesto disponível no en<strong>de</strong>reço: Acesso em:<br />

21/09/2012<br />

694


ações ambientais com as educacionais‖ (CZAPSKI, 2008, p. 324), facilitando a realização das<br />

ativida<strong>de</strong>s da Educação Ambiental, visto que o Sistema procura integrar as ações ambientais e<br />

educacionais. No mesmo ano também acontecem dois eventos internacionais <strong>de</strong> importância para a<br />

EA no Brasil, o primeiro é o I Congresso Internacional <strong>de</strong> EA dois Países Lusófonos e Galícia, com<br />

o objetivo <strong>de</strong> criar um fórum permanente <strong>de</strong> difusão e atualização da EA. O segundo evento é a IV<br />

conferência Mundial <strong>de</strong> Educação Ambiental para um Futuro Sustentável (ou Tbilisi + 30) tendo<br />

como foco a DEDS.<br />

Após a criação do Sistema Nacional <strong>de</strong> Educação Ambiental, houve a realização do VI<br />

Fórum Brasileiro <strong>de</strong> Educação Ambiental, que aconteceu durante entre os dias 22 e 25 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong><br />

2009. Contou com a organização da Re<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> EA (REBEA),que reúne mais <strong>de</strong> 40 re<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

EA e educadores ambientais no país, realizando um diálogo com diferentes entida<strong>de</strong>s da EA do<br />

Brasil. Além <strong>de</strong> outros eventos paralelos que aconteceram durante o fórum, também houve a<br />

construção <strong>de</strong> um série <strong>de</strong> reflexões sobre a EA no Brasil.<br />

Outro evento marcante para a história da EA foi a Conferência das Nações Unidas sobre o<br />

Desenvolvimento Sustentável em 2012, a Rio+20. Durante esta conferência aconteceu a II Jornada<br />

Internacional <strong>de</strong> Educação Ambiental, que elaborou o Plano <strong>de</strong> Ação do Tratado da Educação<br />

Ambiental para Socieda<strong>de</strong>s Sustentáveis e Responsabilida<strong>de</strong> Global, incluindo a formação <strong>de</strong> uma<br />

Re<strong>de</strong> Planetária <strong>de</strong> Educação Ambiental, que tenha como objetivo, o diálogo constante entre os<br />

países, para que sejam cambiadas i<strong>de</strong>ias que tiveram sucesso, fazendo com que se assegure a<br />

continuida<strong>de</strong> das ações após a Rio+20.<br />

PERSPECTIVAS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL<br />

Com o complexo histórico da EA é possível perceber que muitas ações vem sendo tomadas<br />

para que a Educação Ambiental esteja presente tanto na educação formal quanto na informal, além<br />

<strong>de</strong> ser unânime sua importância para a formação <strong>de</strong> adultos conscientes da importância do meio<br />

ambiente e para a construção <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> mais sustentável. Dessa maneira apesar das<br />

inúmeras leis já positivadas sobre a EA e os inúmeros eventos que acontecem no Brasil e no mundo<br />

ainda há muita coisa para ser construída, Vasconcelos (Diretor do Departamento <strong>de</strong> EA do MMA)<br />

diz que:<br />

Ela [a Educação Ambiental] tem que dar conta da transformação necessária à transição<br />

para uma socieda<strong>de</strong> mais sustentável, em que prevalecerão padrões <strong>de</strong> produção e<br />

consumo a<strong>de</strong>quados, sem miséria, guerras e discriminações, com homens e mulheres<br />

juntos na construção <strong>de</strong>ssa utopia possível, mais a universalização da produção e do<br />

acesso à informação, a aproximação sinérgica dos saberes acadêmicos e tradicionais, a<br />

recuperação da <strong>de</strong>gradação provocada pelas ativida<strong>de</strong>s huma<strong>nas</strong> e a saú<strong>de</strong> ampliada<br />

695


para todos. (VASCONCELOS, VI Fórum Brasileiro <strong>de</strong> Educação Ambiental, 2010, p.<br />

17-18)<br />

Dessa maneira percebe-se que os <strong>de</strong>safios não são pequenos, visto que a transformação <strong>de</strong><br />

nossa realida<strong>de</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma educação <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> e universalizada, para que os objetivos<br />

citados por Vasconcelos sejam atingidos. Apesar do Brasil já ter avançado <strong>nas</strong> questões<br />

educacionais ainda há muito o que fazer. O último Programa Internacional <strong>de</strong> Avaliação <strong>de</strong><br />

Estudantes (PISA) em 2010, mostrou que o Brasil era o 53º lugar em educação, <strong>de</strong>ntre 65 países<br />

avaliados. Segundo o Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística (IBGE) <strong>de</strong> 2010 ainda há 731<br />

mil crianças entre 6 e 12 anos que estão fora da escola, além disso o Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Opinião<br />

Pública e Estatística (IBOPE) registrou em 2009 que o analfabetismo funcional entre pessoas <strong>de</strong> 15<br />

e 64 anos é <strong>de</strong> 28%.<br />

Um dos gran<strong>de</strong>s problemas para o lento avanço da educação brasileira, e <strong>de</strong>ssa maneira da<br />

educação ambiental formal, é o baixo salário dos docentes, segundo a Pesquisa Nacional por<br />

Amostra <strong>de</strong> Domicílios <strong>de</strong> 2006, a média do salário dos professores <strong>de</strong> educação básica é <strong>de</strong><br />

R$927,00, mas 50% <strong>de</strong>sses professores recebem valor menor que R$720,00, no Nor<strong>de</strong>ste a situação<br />

é ainda mais preocupante, já que 60% ganham menos do que R$530,00, sendo esses salários<br />

bastante baixos para trabalhadores com nível superior. O que <strong>de</strong>sestimula os profissionais que<br />

possuem a importante profissão <strong>de</strong> construir cidadãos, o que abrange também o ensino da EA.<br />

Carvalho (VI Fórum Brasileiro <strong>de</strong> Educação Ambiental, 2010, p. 43) vai dizer que ―o<br />

projeto político-pedagógico <strong>de</strong> uma EA crítica seria o <strong>de</strong> contribuir para uma mudança <strong>de</strong> valores e<br />

atitu<strong>de</strong>s, contribuindo para a formação <strong>de</strong> um sujeito ecológico”, construindo uma sensibilida<strong>de</strong><br />

social e ambiental imbuída <strong>de</strong> valores éticos. Loureiro (2006, p. 92) coloca a EA ―longe <strong>de</strong> ser uma<br />

educação temática e disciplinar, é uma dimensão essencial do processo pedagógico, situada no<br />

centro do projeto educativo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento do ser humano, enquanto ser da natureza‖,<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo então a EA não como disciplina propriamente dita, mas sim como parte das matérias<br />

dadas em sala <strong>de</strong> aula, visto que po<strong>de</strong> ser abordada em aulas <strong>de</strong> geografia, biologia, etc. Como o<br />

próprio artigo 10º da Política Nacional <strong>de</strong> Educação Ambiental (PNEA) <strong>de</strong>termina ao dizer em seu<br />

§ 1º que ―a educação ambiental não <strong>de</strong>ve ser implantada como disciplina específica no currículo do<br />

ensino‖.<br />

Assim Dib-Ferreira enfatiza a importância do professor e das instituições <strong>de</strong> ensino ao tratar<br />

da EA, afirmando a importância <strong>de</strong>:<br />

<strong>de</strong>senvolver práticas diferenciadas e constantes na escola, internalizar ações, hábitos,<br />

procedimentos que ultrapassem os muros e persigam os educandos em suas vidas. Não<br />

se trata <strong>de</strong> formar comportamentos através <strong>de</strong> um ensino que po<strong>de</strong> ser tornar estéril e<br />

696


<strong>de</strong>svinculado da realida<strong>de</strong>, mas construir a cidadania, a visão crítica da realida<strong>de</strong> e o<br />

<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> melhorias no ambiente no dia a dia <strong>de</strong> toda a comunida<strong>de</strong> escolar. (VI Fórum<br />

Brasileiro <strong>de</strong> Educação Ambiental, 2010, p. 88)<br />

Já se passaram treze anos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que a Política Nacional <strong>de</strong> Educação Ambiental passou a<br />

existir, mas para Layrargues ―ainda não é possível saber o grau <strong>de</strong> institucionalização [que essa<br />

política] atingiu no país‖ (VI Fórum Brasileiro <strong>de</strong> Educação Ambiental, 2010, p. 88), não se<br />

sabendo com objetivida<strong>de</strong> como o PNEA está presente na socieda<strong>de</strong>, no dia a dia dos educadores e<br />

nos órgãos públicos gestores das políticas e programas nacionais. Por isto não basta haver leis,<br />

projetos e programas, se não há como avaliar a repercussão que eles têm para o país.<br />

Com isto é possível perceber que a EA avançou bastante nos últimos anos, e que a<br />

consciência <strong>de</strong> sua importância fará com que ela continue caminhando a passos largos. Mas, como<br />

foi dito anteriormente, não basta haver políticas incentivando-a formalmente e informalmente se<br />

não existem maneiras <strong>de</strong> avaliá-la, assim para que além dos avanços legais a Educação Ambiental<br />

tenha uma verda<strong>de</strong>ira efetivida<strong>de</strong> é preciso acatar a sugestão <strong>de</strong> Layrargues (VI Fórum Brasileiro <strong>de</strong><br />

Educação Ambiental, 2010, p. 88) que diz ser necessário ―a criação <strong>de</strong> indicadores que permitam a<br />

visualização da internalização dos preceitos e elementos da PNEA a partir <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong><br />

critérios previamente <strong>de</strong>finidos‖, para ele como para outros estudiosos essa seria a maneira mais<br />

efetiva <strong>de</strong> fazer com que a Educação Ambiental tivesse verda<strong>de</strong>iramente avanços concretos.<br />

CONCLUSÃO<br />

Conclui-se assim que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o <strong>de</strong>poimento do chefe indígena Seattle no século IXX, dos<br />

primeiros passos da Educação Ambiental brasileira até a normatização <strong>de</strong> leis importantes como a<br />

Política Nacional <strong>de</strong> EA (PNEA) e a realização <strong>de</strong> eventos grandiosos como a Conferência das<br />

Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável em 2012 (Rio +20) houve um gran<strong>de</strong> avanço na<br />

visão do meio ambiente e a importância dada ao mesmo. A percepção do valor da natureza mudou<br />

não só entre os estudiosos, mas também entre os políticos e entre a própria população, que têm visto<br />

cada vez mais as consequências <strong>de</strong> um local que não é ambientalmente equilibrado.<br />

Desta maneira é preciso levar em conta as palavras <strong>de</strong> Czapski (2008, p. 5) ao dizer que ―a<br />

educação é um processo dinâmico em permanente construção‖, sendo assim é preciso que haja uma<br />

reflexão e <strong>de</strong>bate constante da mesma. A Educação Ambiental estagnará pois seus conceitos,<br />

reflexões e ações estão em constante mudança, é preciso para sua efetivação plena no Brasil, uma<br />

697


melhora na educação em si, incentivando professores e disponibilizando locais <strong>de</strong> trabalho<br />

a<strong>de</strong>quados para que os alunos possam construir um pensamento crítico e para se tornarem<br />

verda<strong>de</strong>iros agentes ambientais que por si mesmos implantam a Educação Ambiental diariamente.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

BRASIL. Ministério da Educação. Políticas <strong>de</strong> melhoria da qualida<strong>de</strong> da educação: um balanço<br />

institucional. Brasília: MEC/SEF, 202. 407 p.<br />

CASCINO, F. Educação ambiental: princípios, história, formação <strong>de</strong> professores. 3 ed. São Paulo:<br />

SENAC São Paulo, 2000. 109 p.<br />

CZAPSKI, S. A implantação da Educação Ambiental no Brasil. Brasília: Coor<strong>de</strong>nação Ambiental<br />

do Ministério da Educação e do Desporto, 1998. 166 p.<br />

CZAPSKI, S. Os diferentes Matizes da Educação Ambiental no Brasil: 1997-2007. 2. ed. Brasília:<br />

Ministério do Meio Ambiente, 2008. 393 p. (Série Desafios da Educação Ambiental).<br />

Década da Educação das Nações Unidas para um Desenvolvimento Sustentável, 2005-2014.<br />

Documento final do esquema internacional <strong>de</strong> implementação. Brasília: UNESCO, 2005. 120 p.<br />

DIAS, G. F. Educação Ambiental: princípios e práticas. 6. ed. São Paulo: Gaia, 2000. 399 p.<br />

DIB-FERREIRA, D. R.; GUERREIRO, J. (Org.) VI Fórum Brasileiro <strong>de</strong> Educação Ambiental:<br />

Participação, Cidadania e Educação Ambiental. Niterói: Instituto Baía da Guanabara, 2010. 200 p.<br />

FALS BORDA, O. Reflexiones sobre la aplicación <strong>de</strong>l método <strong>de</strong> estudio-acción en Colombia. In:<br />

Simposio Sobre Política <strong>de</strong> Enseñanza e Investagación em Ciencias Sociales. doc. n. 8. p. 19-24.<br />

Pontifica Universidad Católica <strong>de</strong>l Perú. Lima, 1972.<br />

LOUREIRO, C. F. B. Trajetória e Fundamentos da Educação Ambiental. São Paulo: Cortez, 2006<br />

MATOS, M. C. F. G. Panorama da educação ambiental brasileira a partir do V Fórum Brasileiro<br />

<strong>de</strong> Educação Ambiental. Rio <strong>de</strong> Janeiro: UFRN/Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Educação, 2009.<br />

SÁTIRO, A.; WUENSCH, A. M. Pensando melhor: Iniciação ao Filosofar. 3 ed., São Paulo:<br />

Saraiva, 2002.<br />

VERDADE, M. A. L. Projeto Sala Ver<strong>de</strong> na Região Sul do Brasil: subsídios para o<br />

estabelecimento <strong>de</strong> um novo programa <strong>de</strong> gestão diante das evidências observadas pelos educadores<br />

– Tese <strong>de</strong> doutorado – Universidad Evangélica <strong>de</strong>l Paraguay (Programa <strong>de</strong> Pos-grado em Ciencias<br />

<strong>de</strong> la Educación). Assunción, 2010.<br />

698


Resumo<br />

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: O DESAFIO DA CONSTRUÇÃO DE UM PENSAMENTO<br />

CRÍTICO E CONSCIENTE- ONG GUAJIRU- INTERMARES- PB<br />

Kleber Silva <strong>de</strong> Oliveira FILHO (DEMA/UFPB) - kleberfilho_sof@hotmail.com<br />

Carmen Lúcia Gomes da SILVA (IFPB)- carmen_crs@hotmail.com<br />

Rita MASCARENHAS (Orientadora; Drª.)- rita.mascarenhas@gmail.com<br />

É <strong>de</strong> extrema importância <strong>de</strong>senvolver a conscientização <strong>de</strong> todos, criar <strong>nas</strong> pessoas valores, hábitos<br />

e condutas para a preservação e bom uso dos recursos ambientais on<strong>de</strong> todos têm um direito <strong>de</strong> ter<br />

um ambiente ecologicamente correto e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Dentro<br />

disso, a Educação Ambiental tem a importante tarefa <strong>de</strong> ajudar as pessoas a questionar-se sobre os<br />

problemas ambientais, compreen<strong>de</strong>ndo a inter-relação existente entre os gran<strong>de</strong>s dramas ambientais<br />

e as <strong>de</strong>cisões ético-político-econômicas que conduziram a tais situações (Bigliardi & Cruz 2007). O<br />

objetivo do trabalho foi estimular a percepção ambiental dos Moradores e Turistas, sensibilizando-<br />

os para a compreensão da inter<strong>de</strong>pendência entre ser humano e meio ambiente. Procurou-se<br />

repassar os conhecimentos <strong>de</strong> maneira espontânea e simples por meio <strong>de</strong> palestras que oscilavam<br />

entre 10 á 15 minutos <strong>de</strong> duração, mostramos aos moradores, turistas e estudantes a questão da<br />

importância da preservação e conservação do meio ambiente. Para que exista um equilíbrio entre a<br />

natureza e homem é necessário mudar alguns hábitos que causam sérios problemas ambientais e<br />

sociais, Bigliardi & Cruz (2007) diz ―o que se faz necessário, para isso, é a construção <strong>de</strong> um novo<br />

paradigma no qual se estabeleçam relações consistentes entre o conhecimento científico, as<br />

inovações técnicas e as inadiáveis mudanças sociais em favor da sustentabilida<strong>de</strong> econômica, social<br />

e ecológica, tendo, como pressuposto, a assunção <strong>de</strong> um paradigma que se <strong>de</strong>monstre capaz <strong>de</strong><br />

enfrentar a diversida<strong>de</strong> da condição humana, as diferentes dimensões da realida<strong>de</strong>‖.<br />

PALAVRA CHAVE: Educação Ambiental; Preservação; Sustentabilida<strong>de</strong>.<br />

Abstract<br />

It is extremely important to <strong>de</strong>velop awareness on everyone, educate people on values, habits and<br />

behaviors for the preservation and good use of the environmental resources where everyone has a<br />

right to have a healthy environment and preserve it for present and future generations. Within that,<br />

environmental education has the important task of helping people to question themselves about the<br />

environmental problems un<strong>de</strong>rstanding the inter-relationship between the large environmental<br />

699


dramas and the ethical-political-economic <strong>de</strong>cisions that conduct to such situations (Bigliardi &<br />

Cruz 2007). The objective of this study was to stimulate environmental consciousness on resi<strong>de</strong>nts<br />

and Tourists, making them aware of the un<strong>de</strong>rstanding of the inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nce between human<br />

being and environment. The approach used to pass on the knowledge is inten<strong>de</strong>d to be simple and<br />

spontaneous, by means of lectures ranging from 10 to 15 minutes long, where we showed resi<strong>de</strong>nts,<br />

tourists and stu<strong>de</strong>nts the importance of environmental preservation and conservation. To allow<br />

existence of a balance between nature and mankind it is necessary to change some habits that cause<br />

serious environmental and social problems, Bigliardi & Cruz (2007) says "what is necessary, for<br />

such, is the construction of a new paradigm in which establish consistent relationships between the<br />

scientific knowledge, the technical innovations and the urgent social changes in favor of economic,<br />

social and environmental sustainability, taking as presupposition, the assumption of a paradigm<br />

shown able to cope with the diversity of the human condition, the different dimensions of reality ".<br />

Keyword: Environmental Education; Preservation; Sustainability.<br />

Introdução<br />

Des<strong>de</strong> os primórdios muitas socieda<strong>de</strong>s huma<strong>nas</strong>, que se tornaram hegemônicas em<br />

diferentes épocas históricas, buscaram acumular riquezas, utilizaram todos os recursos à sua volta<br />

(saraiva et al., 2008). Os recursos naturais têm sido utilizados como se fossem infinitos, e não há<br />

qualquer preocupação com os impactos das ativida<strong>de</strong>s realizadas (Gomes 2006). A reflexão sobre as<br />

práticas sociais, em um contexto marcado pela <strong>de</strong>gradação permanente do meio ambiente e do seu<br />

ecossistema, envolve uma necessária articulação com a produção <strong>de</strong> sentidos sobre a educação<br />

ambiental (Jacobi 2003). Segundo (Bigliardi & Cruz 2007) A socieda<strong>de</strong> atual – caracterizada pelo<br />

modo <strong>de</strong> vista capitalista, e orientada para o consumo – vem tratando os recursos naturais como<br />

fonte <strong>de</strong> matéria-prima para seu consumo e enten<strong>de</strong>ndo o ambiente natural como <strong>de</strong>pósito para seus<br />

resíduos. A mudança da consciência ambiental na socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ocorrer numa or<strong>de</strong>m evolutiva,<br />

contínua, tendo ligação direta com os anseios <strong>de</strong>ssa mesma socieda<strong>de</strong> (Oliveira 2007). Dados da<br />

literatura indicam que a educação ambiental vem a cada dia assumindo um papal importante, on<strong>de</strong> é<br />

responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada um construir um mundo e uma socieda<strong>de</strong> ambientalmente sustentável,<br />

consi<strong>de</strong>rando que a <strong>de</strong>gradação ambiental é hoje uma das maiores preocupações do governo e da<br />

socieda<strong>de</strong>. E <strong>de</strong> extrema importância <strong>de</strong>senvolver a conscientização <strong>de</strong> todos, criar <strong>nas</strong> pessoas<br />

valores, hábitos e condutas para a preservação e bom uso dos recursos ambientais on<strong>de</strong> todos têm<br />

um direito <strong>de</strong> ter um ambiente ecologicamente correto e preservá-lo para as presentes e futuras<br />

gerações. Dentro disso, a Educação Ambiental tem a importante tarefa <strong>de</strong> ajudar as pessoas a<br />

questionar-se sobre os problemas ambientais, compreen<strong>de</strong>ndo a inter-relação existente entre os<br />

700


gran<strong>de</strong>s dramas ambientais e as <strong>de</strong>cisões ético-político-econômicas que conduziram a tais situações<br />

(Bigliardi & Cruz 2007). Mas também questiona valores e premissas que norteiam as práticas<br />

sociais prevalecentes, implicando mudança na forma <strong>de</strong> pensar e transformação no conhecimento e<br />

<strong>nas</strong> práticas educativas (Jacobi 2003).<br />

A Associação Guajiru participa como parceria <strong>de</strong> outras entida<strong>de</strong>s não governamentais e<br />

órgãos públicos em diversas ativida<strong>de</strong>s voltadas para a comunida<strong>de</strong>, as escolas, turista e público em<br />

geral. Palestras, mutirões <strong>de</strong> limpeza, eventos <strong>de</strong> confraternização, exposições, participação em<br />

conselhos <strong>de</strong> gestão ambiental são algumas ativida<strong>de</strong>s voltadas para contribuir com a formação <strong>de</strong><br />

uma nova consciência ambiental (Guajiru 2012). O objetivo do trabalho foi estimular a percepção<br />

ambiental dos Moradores e Turistas, sensibilizando-os para a compreensão da inter<strong>de</strong>pendência<br />

entre ser humano e meio ambiente, Proporcionando oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aquisição <strong>de</strong> conhecimentos e<br />

assim contribuir para construção <strong>de</strong> conceitos, a formação <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s e a busca <strong>de</strong> soluções para os<br />

problemas ambientais existentes.<br />

Metodologia<br />

A Ong Guajiru fica localizada no bairro <strong>de</strong> Intermares, município <strong>de</strong> Cabe<strong>de</strong>lo PB, limita-se<br />

ao sul com o bairro do Bessa, ao Norte com o bairro <strong>de</strong> ponta <strong>de</strong> Campina. Procurou-se repassar os<br />

conhecimentos <strong>de</strong> maneira espontânea e simples por meio <strong>de</strong> palestras que oscilavam entre 10 á 15<br />

minutos <strong>de</strong> duração, mostramos aos moradores, turistas e estudantes a questão da importância da<br />

preservação e conservação do meio ambiente, procurando implantar no público-alvo medidas que<br />

possam transformar suas atitu<strong>de</strong>s com relação ao meio ambiente, tornando-as a<strong>de</strong>ptas a tentarem<br />

ajudar o quadro atual do planeta, <strong>de</strong>senvolvendo medidas básicas <strong>de</strong> menor impacto sobre ao<br />

ambiente.<br />

Consi<strong>de</strong>rações Finais<br />

Des<strong>de</strong> 2002 a Ong Guajiru já treinou em média 120 voluntários, aten<strong>de</strong>u 50 mil pessoas,<br />

tanto turistas como pessoas da própria comunida<strong>de</strong> e alfabetizou 9 crianças. A educação ambiental<br />

vem assumindo um papel importante na formação <strong>de</strong> pensamentos críticos, <strong>de</strong> valores e <strong>de</strong> uma<br />

ética para a construção <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> ambientalmente sustentável, mas a busca por soluções<br />

ambientais não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> só da socieda<strong>de</strong>, segundo (Pelicioni 2006) <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m, sobretudo, <strong>de</strong><br />

transformações concomitantes em três esferas na vida social: na esfera da subjetivida<strong>de</strong> individual,<br />

ou seja, na forma <strong>de</strong> pensar e sentir, na esfera microssocial do relacionamento interpessoal, ou seja,<br />

<strong>nas</strong> práticas cotidia<strong>nas</strong> e na esfera da ação política. Para que exista um equilíbrio entre a natureza e<br />

homem é necessário mudar alguns hábitos que causam sérios problemas ambientais e sociais,<br />

701


Bigliardi & Cruz (2007) diz ―o que se faz necessário, para isso, é a construção <strong>de</strong> um novo<br />

paradigma no qual se estabeleçam relações consistentes entre o conhecimento científico, as<br />

inovações técnicas e as inadiáveis mudanças sociais em favor da sustentabilida<strong>de</strong> econômica, social<br />

e ecológica, tendo, como pressuposto, a assunção <strong>de</strong> um paradigma que se <strong>de</strong>monstre capaz <strong>de</strong><br />

enfrentar a diversida<strong>de</strong> da condição humana, as diferentes dimensões da realida<strong>de</strong>‖.<br />

Referências Bibliográficas<br />

Associação Guajiru. Disponível em: http://www.guajiru.com.br/s5-no-moomenu-mainmenu-<br />

28/educacao-ambiental.html. Acesso em: 20 <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 2012.<br />

BIGLIARDI, R. V; CRUZ, R. G. O papel da educação ambiental frente à crise civilizatória atual.<br />

Ambiente & educação. <strong>Vol</strong>. 12. P. 127-141/ 2007<br />

GOMES, D. V. Educação para o consumo ético e sustentável. Revista eletrônica do Mestrado em<br />

Educação Ambiental. ISSN 1517-1256, <strong>Vol</strong>.16, p.18-31 janeiro/junho <strong>de</strong> 2006.<br />

JACOBI, P. Educação ambiental, cidadania e sustentabilida<strong>de</strong>. Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> Pesquisa, n. 118, p.<br />

189-205, março/ 2003.<br />

OLIVEIRA, T. V. S. A educação ambiental e cidadania: A transversalida<strong>de</strong> da questão. Revista<br />

Iberoamericana <strong>de</strong> Educación (ISSN: 1681-5653). N.º 42/4. P. 1-9. 10 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2007.<br />

PELICIONI, A. F. Ambientalismo e educação ambiental: dos discursos às práticas sociais. O<br />

Mundo da Saú<strong>de</strong> São Paulo: out/<strong>de</strong>z 30 (4): 532-543/ 2006.<br />

SARAIVA, V.M; NASCIMENTO, K. R. P; COSTA R. K. M. A prática pedagógica do ensino <strong>de</strong><br />

educação ambiental <strong>nas</strong> escolas públicas <strong>de</strong> João câmara – RN. Holos, Ano 24, <strong>Vol</strong>. 2; 2008.<br />

702


A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO COM O USO DE MODELOS<br />

DIDÁTICOS NO ENSINO DE BIOLOGIA CELULAR E MOLECULAR<br />

Mayara dos Santos MAIA<br />

Graduanda do Curso <strong>de</strong> Ciências Biológicas da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Paraíba/Bolsista PIBID<br />

maay_maia@hotmail.com<br />

Bianka Márcia do Nascimento XAVIER<br />

Graduanda do Curso <strong>de</strong> Ciências Biológicas da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Paraíba/Bolsista PIBID<br />

bianka.kinomoto@gmail.com<br />

Rafaela Oliveira ARAÚJO<br />

Graduanda do Curso <strong>de</strong> Ciências Biológicas da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Paraíba/Bolsista PIBID<br />

rafaela_oa@hotmail.com<br />

Rivete Silva <strong>de</strong> LIMA<br />

Professor adjunto do Departamento <strong>de</strong> Sistemática e Ecologia e Coor<strong>de</strong>nador do PIBID Biologia-<br />

RESUMO<br />

Campus I, João Pessoa, da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Paraíba (DSE/UFPB)<br />

rivete@terra.com.br<br />

Os avanços da ciência e da tecnologia relacionados ao conhecimento <strong>de</strong> Biologia Celular e<br />

Molecular, como as biotecnologias e melhoramento <strong>de</strong> recursos genéticos têm sido divulgados com<br />

rapi<strong>de</strong>z pela mídia e gerado questionamentos polêmicos. Porém, professores e alunos encontram<br />

dificulda<strong>de</strong>s em acompanhar ou contextualizar essas aplicações <strong>de</strong>correntes do conhecimento<br />

científico. O presente trabalho tem como objetivo a produção <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los didáticos referentes ao<br />

ensino <strong>de</strong> Biologia Celular e Molecular visando contribuir para a inserção <strong>de</strong> temas relacionados ás<br />

biotecnologias e melhoramento <strong>de</strong> recursos genéticos, bem como facilitar a construção do<br />

conhecimento científico a partir da contextualização dos conteúdos aprendidos para que os alunos<br />

se tornem aptos a opinar, questionar e tomar <strong>de</strong>cisões coerentes diante <strong>de</strong>sses avanços que<br />

envolvem aspectos positivos e negativos na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida da socieda<strong>de</strong>. Os mo<strong>de</strong>los foram<br />

confeccionados por bolsistas e voluntários do Programa Institucional <strong>de</strong> Bolsas <strong>de</strong> Iniciação á<br />

Docência (PIBID) Biologia, utilizando materiais como isopor, bolas <strong>de</strong> isopor, tintas, arame, cola e<br />

entre outros. Foram produzidos quatorze tipos <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los, os quais associados às aplicações do<br />

conhecimento <strong>de</strong> Biologia Celular e Molecular contribuem para a assimilação dos conceitos<br />

703


iológicos, contextualização e instrumentaliza o aluno a se posicionar diante <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões polêmicas,<br />

com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> construir e ampliar o saber científico e formar um cidadão consciente.<br />

PALAVRAS-CHAVE: Mo<strong>de</strong>los didáticos; Biologia Celular e Molecular; Ciência e tecnologia.<br />

ABSTRACT<br />

Advances in science and technology related to knowledge of Cellular and Molecular<br />

Biology, such as biotechnology and improvement of genetic resources have been rapidly<br />

disseminated by the media and generated polemical questions. However, teachers and stu<strong>de</strong>nts find<br />

it difficult to follow or contextualize these applications resulting from scientific knowledge. This<br />

work aims to produce didactic mo<strong>de</strong>ls related to the teaching of Cell and Molecular Biology in<br />

or<strong>de</strong>r to contribute to the inclusion of topics related to biotechnology and genetic resource<br />

improvement and facilitate the construction of scientific and technological knowledge from the<br />

contextualization of contents learned so the stu<strong>de</strong>nts become able to express an opinion, make<br />

questions and consistent <strong>de</strong>cisions on these advances involving positive and negative aspects of<br />

quality of life in society. The mo<strong>de</strong>ls were ma<strong>de</strong> by scholars and volunteers of the Scholarship<br />

Program Initiation to Teaching (PIBID) in Biology, using materials such as Styrofoam, Styrofoam<br />

balls, paint, wire, glue and others. Were produced fourteen types of mo<strong>de</strong>ls, which associated<br />

applications of knowledge of Cell Biology and Molecular contribute to the assimilation of<br />

biological concepts, context and instrumentalizes stu<strong>de</strong>nts to stand up to controversial <strong>de</strong>cisions, in<br />

or<strong>de</strong>r to build and expand scientific knowledge and form a conscious citizen.<br />

KEYWORDS: Didactic Mo<strong>de</strong>ls; Cellular and Molecular Biology, Science and Technology.<br />

INTRODUÇÃO<br />

O <strong>de</strong>senvolvimento da ciência e da tecnologia nos últimos anos tem fornecido diversas<br />

discussões, abordagens, inovações e avanços científicos baseado no conhecimento <strong>de</strong> Biologia<br />

Celular e Molecular, <strong>de</strong>monstrando a dimensão <strong>de</strong> conhecimento neste campo <strong>de</strong> pesquisa.<br />

Contudo, a citologia relacionada ás biotecnologias e melhoramento <strong>de</strong> recursos genéticos são pouco<br />

abordados no ensino <strong>de</strong> Biologia, sendo o aluno restrito á conteúdos conceituais sem obter o<br />

mínimo <strong>de</strong> conhecimento <strong>de</strong> suas aplicações e implicações, Pois, sabe-se que as Biotecnologias têm<br />

contribuído para o surgimento <strong>de</strong> questionamentos polêmicos que envolvem a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<br />

Assim, muitos estudantes encontram dificulda<strong>de</strong>s em contextualizar o conteúdo escolar com o<br />

cotidiano, no qual os limitam compreen<strong>de</strong>r as diversas situações vivenciadas por eles.<br />

Segundo trabalhos <strong>de</strong> Mortimer (1996) verifica-se que nem sempre o ensino promovido no<br />

ambiente escolar tem permitido que o estudante se apropriasse dos conhecimentos científicos <strong>de</strong><br />

704


modo a compreendê-los e utilizá-los como instrumento do pensamento que extrapolam situações <strong>de</strong><br />

ensino e aprendizagem eminentemente escolares.<br />

A <strong>de</strong>speito do gran<strong>de</strong> avanço da Biologia Molecular e a chegada <strong>de</strong>ste conhecimento á<br />

escola muito mais agora do que antes, ele ainda é superficial e carregado <strong>de</strong> concepções<br />

ina<strong>de</strong>quadas; o que contribui para dificultar o ensino-aprendizagem no que se refere ao<br />

conhecimento científico e tecnológico. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais<br />

(PCNs), nessas circunstâncias a ciência é pouco utilizada como instrumento para interpretar a<br />

realida<strong>de</strong> ou para nela intervir, e os conhecimentos científicos acabam sendo abordados <strong>de</strong> modo<br />

<strong>de</strong>scontextualizado e memorizados, como amplamente abordado pela literatura específica.<br />

Desta forma, <strong>de</strong>ve-se proporcionar ao aluno meios que o torne mais próximo do<br />

conhecimento técnico-científico, para que possa compreen<strong>de</strong>r os conceitos aprendidos na escola<br />

com a prática, ou seja, o que acontece no nosso cotidiano. Segundo Oliveira (2005), o sujeito é<br />

parte ativa do processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da estrutura que irá <strong>de</strong>terminar a organização e<br />

estruturação <strong>de</strong> seu conhecimento e é parte ativa do processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da estrutura<br />

cognitiva. Ele é parte atuante e essencial no processo <strong>de</strong> construção do conhecimento. Portanto,<br />

<strong>de</strong>ve-se consi<strong>de</strong>rar sua visão acerca do mundo, pois é ele o alvo <strong>de</strong> interesse neste processo. Sem<br />

sua participação efetiva, a construção dos conceitos não ocorre, portanto, não ocorre a<br />

aprendizagem, somente a transmissão <strong>de</strong> conhecimentos que se apresentam <strong>de</strong>svinculados da<br />

realida<strong>de</strong>.<br />

A discussão sobre temas atuais relacionados às biotecnologias e melhoramento <strong>de</strong> recursos<br />

genéticos como células-tronco, projeto genoma, alimentos transgênicos, clonagem e terapia gênica<br />

exigem a compreensão e a reflexão do conhecimento científico básico, no qual permitirá a<br />

formulação <strong>de</strong> concepções e consequentemente a contextualização dos conhecimentos adquiridos na<br />

escola com as abordagens que surgem durante o <strong>de</strong>senvolvimento da ciência. No Ensino Médio,<br />

<strong>de</strong>ve-se dar continuida<strong>de</strong> a essa perspectiva, sendo que conhecimentos biológicos relacionados á<br />

citologia <strong>de</strong>veriam instrumentalizar o aluno para que este seja capaz <strong>de</strong> se posicionar, contra ou a<br />

favor, sobre as <strong>de</strong>cisões polêmicas que envolvem esse tema, como por exemplo: pesquisas<br />

relacionadas á genômica, a clonagem terapêutica, clonagem reprodutiva e a produção e utilização<br />

<strong>de</strong> organismos transgênicos. A partir <strong>de</strong>sses conhecimentos adquiridos na vida escolar, o aluno<br />

po<strong>de</strong>rá refletir e opinar sobre os benefícios, riscos e implicações éticas, morais e sociais<br />

provenientes <strong>de</strong>ssas biotecnologias (FERREIRA, 2011).<br />

Conforme Bonzanini (2005), o ensino <strong>de</strong> Biologia não <strong>de</strong>ve fornecer ape<strong>nas</strong> informações,<br />

mas sim <strong>de</strong>senvolver a criticida<strong>de</strong> entre os educandos para que possam analisar informações, aceitá-<br />

705


las, refutá-las ou compreendê-las e agir no mundo <strong>de</strong> forma autônoma e consciente, utilizando os<br />

conhecimentos construídos historicamente.<br />

Trivelato (1995) complementa a importância <strong>de</strong> se pensar as discipli<strong>nas</strong> científicas como<br />

―elemento formador <strong>de</strong> cidadão crítico‖, <strong>de</strong> reconhecermos sua importância e, até mesmo sua<br />

ineficiência.<br />

Para formar uma socieda<strong>de</strong> crítica e valorizada no ensino científico que contribua para o<br />

progresso econômico e a formação <strong>de</strong> profissionais altamente qualificados faz-se necessário<br />

enten<strong>de</strong>r e participar <strong>de</strong> discussões que envolvam questões <strong>de</strong> diversas temáticas. Esses <strong>de</strong>bates<br />

facilitarão o conhecimento cognitivo do indivíduo, permitindo a este, <strong>de</strong>senvolver técnicas e<br />

métodos que melhorem <strong>de</strong>terminada ativida<strong>de</strong> ou recurso; bem como, proporciona-o a tomar<br />

<strong>de</strong>cisões e á adquirir competências que lhes permitam compreen<strong>de</strong>r o mundo em que vivem. Sendo<br />

assim, é preciso que o professor seja intermediador, ou seja, um guia que estabeleça uma<br />

comunicação entre o saber científico-tecnológico e os alunos; em que se possa explorar ainda mais<br />

esse ―universo‖ do conhecimento.<br />

Ao observar as dificulda<strong>de</strong>s dos alunos em contextualizar os conceitos básicos <strong>de</strong> Biologia<br />

Celular e Molecular com o <strong>de</strong>senvolvimento e abordagens das biotecnologias, analisando-se os<br />

aspectos positivos e negativos que estes interferem na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida da socieda<strong>de</strong>, faz-se<br />

necessário apresentar uma estratégia alternativa <strong>de</strong> ensino, que po<strong>de</strong> ser utilizada na sala <strong>de</strong> aula em<br />

que se possam inserir conteúdos científicos referentes á esses avanços científicos e tecnológicos.<br />

Uma alternativa metodológica é o uso <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los didáticos bi e tridimensionais, no qual possibilita<br />

uma aula expositiva, mais instigante e torna o aprendizado mais concreto. Uma vez que, a célula é<br />

microscópica e sua observação exige a utilização <strong>de</strong> microscópio, o que em muitas escolas públicas<br />

não têm; e mesmo com a utilização <strong>de</strong> inúmeros livros <strong>de</strong> Biologia, os <strong>de</strong>senhos, as figuras e as<br />

i<strong>de</strong>alizações dos componentes e estruturas dos organismos ainda são interpretadas ou <strong>de</strong>senhadas<br />

pelos alunos com dificulda<strong>de</strong>. De acordo com Palmero e Moreira (2001), a célula para o processo<br />

<strong>de</strong> ensino em Biologia, é um conceito chave na organização do conhecimento biológico. Porém,<br />

para os alunos é uma entida<strong>de</strong> complexa e abstrata que se constrói em suas mentes.<br />

O uso <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los auxiliaria e facilitaria aos alunos uma melhor visualização da célula e seus<br />

componentes citoplasmáticos, assim como a interpretação <strong>de</strong> seus conceitos; com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

utilizar o que se apren<strong>de</strong>u e mobilizar o aluno a contextualizar o conteúdo.<br />

Segundo Krasilchick (2004), os mo<strong>de</strong>los são um dos recursos mais utilizados em aulas <strong>de</strong><br />

Biologia, para mostrar objetos em três dimensões. Assim, os recursos didáticos constituem-se numa<br />

perspectiva <strong>de</strong> construção efetiva do conhecimento científico escolar. Um mo<strong>de</strong>lo é uma<br />

construção, uma estrutura que po<strong>de</strong> ser utilizada como referência, uma imagem analógica que<br />

706


permite materializar uma idéia ou um conceito, tornados assim, diretamente assimiláveis<br />

(GIORDAN; VECCHI, 1996),<br />

A transmissão do conhecimento entre professor e aluno em sala <strong>de</strong> aula no processo <strong>de</strong><br />

ensino pela aprendizagem receptiva significativa, que conforme Ausubel et al (1980), por meio da<br />

aula expositiva, preconiza a integração <strong>de</strong> diferentes assuntos, se o professor e/ou os recursos<br />

didáticos disponíveis evi<strong>de</strong>nciarem as semelhanças e diferenças entre o novo conceito e as<br />

concepções alternativas <strong>de</strong> cada aluno.<br />

Quando o professor utiliza <strong>de</strong> metodologias alternativas expositivas combinadas a outros<br />

tipos <strong>de</strong> práticas pedagógicas, po<strong>de</strong>rá favorecer melhor aproveitamento na aquisição dos conceitos,<br />

durante o processo <strong>de</strong> ensino. Neste aspecto, quando o indivíduo construir um significado,<br />

reproduzindo o que lhe é ensinado, está participando do processo <strong>de</strong> construção ativa <strong>de</strong> seus<br />

próprios significados (PÉREZ, 1983).<br />

O papel do professor, consciente e crítico, exige muito preparo didático pedagógico, pois a<br />

educação só começa a existir quando a relação professor-aluno for construtiva e participativa. O<br />

aluno não po<strong>de</strong> mais ser objeto do processo <strong>de</strong> ensino, ele precisa ser o sujeito <strong>de</strong>ste processo, e<br />

cabe ao professor a função <strong>de</strong> orientá-lo, conduzi-lo para que ele seja capaz <strong>de</strong> assumir o processo<br />

como sujeito histórico-crítico e criativo (RODRIGUES; REGO, 2004).<br />

O subprojeto intitulado ―A Licenciatura, o Ensino Médio e a Formação do Professor‖ do<br />

curso <strong>de</strong> licenciatura em Ciências Biológicas da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Paraíba/Campus I, João<br />

Pessoa, faz parte do Programa Institucional <strong>de</strong> Bolsas <strong>de</strong> Iniciação á Docência (PIBID) e é mantido<br />

pela Coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> Aperfeiçoamento <strong>de</strong> Pessoal <strong>de</strong> Nível Superior (CAPES) através <strong>de</strong> apoio<br />

financeiro e bolsa.<br />

O presente trabalho faz parte do subprojeto PIBID/ Biologia e tem como objetivo a<br />

produção <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los didáticos referentes ao ensino <strong>de</strong> Biologia Celular e Molecular visando<br />

contribuir para a inserção <strong>de</strong> temas relacionados ás biotecnologias e melhoramento <strong>de</strong> recursos<br />

genéticos, bem como facilitar a construção do conhecimento científico a partir da contextualização<br />

dos conteúdos aprendidos, para que os alunos se tornem aptos a opinar, questionar e tomar <strong>de</strong>cisões<br />

coerentes diante <strong>de</strong>sses avanços que envolvem aspectos positivos e negativos na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida<br />

da socieda<strong>de</strong>.<br />

MATERIAL E MÉTODOS<br />

A confecção dos mo<strong>de</strong>los didáticos bi e tridimensionais e semiplanos foi realizada através<br />

<strong>de</strong> grupos <strong>de</strong> estudantes bolsistas e voluntários do subprojeto PIBID/Biologia, <strong>de</strong>senvolvendo<br />

diferentes mo<strong>de</strong>los para abordagem dos conteúdos <strong>de</strong> Biologia Celular e Molecular <strong>nas</strong> turmas do<br />

707


primeiro e terceiro ano do Ensino Médio das escolas que participam do subprojeto. São elas: Escola<br />

Estadual <strong>de</strong> Ensino Fundamental e Médio João Roberto Borges <strong>de</strong> Sousa, Escola Estadual <strong>de</strong><br />

Ensino Fundamental e Médio Olivina Olívia Carneiro da Cunha e Escola Estadual <strong>de</strong> Ensino<br />

Fundamental e Médio Luiz Gonzaga <strong>de</strong> Albuquerque Burity.<br />

Para o <strong>de</strong>senvolvimento dos mo<strong>de</strong>los didáticos, foram consultados livros do Ensino Médio e<br />

livros <strong>de</strong> Nível Superior específicos na área <strong>de</strong> Biologia Celular e Molecular.<br />

Para a confecção dos recursos didáticos foram utilizados materiais como bolas <strong>de</strong> isopor <strong>de</strong><br />

diversos tamanhos, isopor, tintas, pincéis, tesouras, arame, massa <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lar, E.V.A, cola,<br />

barbantes, canetas, canudos, mol<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, papel A4, palitos <strong>de</strong> <strong>de</strong>nte, forma <strong>de</strong> ovo <strong>de</strong> páscoa<br />

e alfinetes. Os mo<strong>de</strong>los foram produzidos entre cerca <strong>de</strong> 50 cm a 20 cm <strong>de</strong> comprimento para<br />

facilitar a visualização e sempre obe<strong>de</strong>cendo ao grau <strong>de</strong> proporcionalida<strong>de</strong> das diferentes estruturas<br />

celulares.<br />

Os recursos didático-pedagógicos ficam disponíveis para os professores e estudantes das<br />

escolas participantes do subprojeto servindo <strong>de</strong> apoio para aulas ministradas no Ensino Médio.<br />

Além disso, já estão sendo utilizados pelos professores e <strong>de</strong>verão compor o laboratório <strong>de</strong> Biologia.<br />

A i<strong>de</strong>ia foi melhorar e contribuir para o conhecimento dos estudantes das escolas<br />

participantes do subprojeto sobre os conteúdos abordados referentes à célula e seus componentes, os<br />

quais têm fornecido diversas aplicações, que propiciaram e proporcionam vários avanços científicos<br />

e tecnológicos como as biotecnologias e melhoramento <strong>de</strong> recursos genéticos. Devido à necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> se contextualizar e discutir em sala <strong>de</strong> aula essas abordagens sobre esses avanços científicos e<br />

tecnológicos, o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los didáticos auxiliam a fixação <strong>de</strong>sses conteúdos. Assim,<br />

professores e alunos, com uma formação embasada <strong>nas</strong> novida<strong>de</strong>s tecnológicas po<strong>de</strong>rão<br />

acompanhar o <strong>de</strong>senvolvimento das mesmas, agindo <strong>de</strong> forma mais integrada, formando uma<br />

socieda<strong>de</strong> mais crítica e participativa, em que possam se posicionar sobre as <strong>de</strong>cisões polêmicas que<br />

envolvem esse tema e que refletem na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<br />

RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

Os mo<strong>de</strong>los didáticos bi e tridimensionais, além dos mo<strong>de</strong>los semiplanos, confeccionados<br />

pelos bolsistas e voluntários do PIBID/Biologia relacionados ao ensino <strong>de</strong> Biologia Celular e<br />

Molecular totalizam em quatorze tipos <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los, sendo cada mo<strong>de</strong>lo reproduzido em três<br />

quantida<strong>de</strong>s para compor o acervo das três escolas que participam do subprojeto.<br />

Foram confeccionados mo<strong>de</strong>los que representam a molécula <strong>de</strong> DNA, compactação e níveis<br />

do cromossomo, genes, cromossomos, célula procariótica, células eucarióticas animal e vegetal,<br />

membrana plasmática, mitocôndria, mitose e meiose.<br />

708


Figura 01 – Mo<strong>de</strong>lo da célula vegetal Figura 02 – Mo<strong>de</strong>lo da célula animal do<br />

epitélio intestinal<br />

Figura 03 – Mo<strong>de</strong>lo representando genes e cromossomos Figura 04 – Mo<strong>de</strong>lo da molécula <strong>de</strong><br />

DNA<br />

709


Figura 05 – Mo<strong>de</strong>lo representando a interfase e as fases da mitose. 1-<br />

Interfase; 2- Prófase; 3- Prometáfase; 4- Metáfase; 5- Telófase.<br />

Os materiais didático-pedagógicos constituem uma maneira <strong>de</strong> dinamizar e instigar a<br />

curiosida<strong>de</strong> dos estudantes, motivando-os e propiciando-lhes condições <strong>de</strong> captarem e processarem<br />

os estímulos provenientes do exterior, para que possam ser capazes <strong>de</strong> incorporarem novas<br />

informações em seus esquemas cognitivos. Assim, temas e informações recentes sobre as<br />

biotecnologias e melhoramento <strong>de</strong> recurso genético que constantemente são comentados e<br />

discutidos nos diversos mios <strong>de</strong> comunicação po<strong>de</strong>m ser inseridos em sala <strong>de</strong> aula com o auxílio <strong>de</strong><br />

mo<strong>de</strong>los tridimensionais.<br />

Á medida que se integra a ativida<strong>de</strong> prática ao contexto da Ciência, ela se transforma em<br />

algo interessante que atrai o aluno, e este se vê motivado na busca por mais conhecimento. Sendo<br />

assim, torna-se oportuno possibilitar uma reflexão sobre o fazer profissional dos professores <strong>de</strong><br />

Biologia, face á utilização <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los didáticos como possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> otimização <strong>de</strong> tarefa.<br />

Observa-se que os professores admitem a importância dos recursos didáticos no ensino <strong>de</strong><br />

Biologia Celular e Molecular, tendo em vista que se referem á estruturas microscópicas, mas que<br />

fornecem uma gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> informações e funções específicas pelas quais são tão<br />

utilizadas pelo conhecimento científico na tentativa <strong>de</strong> construir alternativas que viabilizam o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento da socieda<strong>de</strong>. Neste intuito, os mo<strong>de</strong>los associados ás aplicações do conhecimento<br />

<strong>de</strong> citologia estabelecem a construção do saber científico e tecnológico, na aquisição <strong>de</strong> novos<br />

conceitos para que possam se tornar cidadãos capazes <strong>de</strong> refletir e atuar <strong>de</strong> forma ampla e<br />

consciente.<br />

CONCLUSÕES<br />

O presente trabalho constatou que a ampliação dos estudos científicos e foco no<br />

<strong>de</strong>senvolvimento dos estudantes <strong>de</strong> ensino básico para uma abordagem científica exige uma ampla<br />

discussão sobre a atuação do aluno como cidadão consciente e ativo na tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões da<br />

socieda<strong>de</strong>. É necessário também que o professor seja capaz <strong>de</strong> refletir como cidadão consciente e se<br />

modifique, quando necessário, sua visão tecnológica, social e escolar.<br />

O professor <strong>de</strong>ve ser um facilitador que possa ajudar e contribuir o aluno a encontrar meios<br />

que o levam á aprendizagem mais significativa, norteando-o aos conceitos científicos e<br />

proporcionar e incentivar seus alunos na atribuição e construção <strong>de</strong> novos conceitos diante do<br />

mundo em que vivem. Pois, sabe-se que os conhecimentos biológicos acerca das biotecnologias e<br />

melhoramento <strong>de</strong> recursos genéticos têm afetado progressivamente o cotidiano das pessoas,<br />

surgindo questionamentos que exigem dos cidadãos o <strong>de</strong>vido conhecimento para que saibam<br />

710


estabelecer-se frente ás polêmicas e conflitos morais e éticos <strong>de</strong>correntes das aplicações do<br />

conhecimento <strong>de</strong> Biologia Celular e Molecular. Desta forma, contribui e instrumentaliza o aluno a<br />

se posicionar diante <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões polêmicas, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ampliar o saber científico e formar<br />

um cidadão consciente.<br />

Segundo Rodrigues e Rego (2004), vivemos hoje na era da informação e é impossível<br />

negarmos a influência da tecnologia na socieda<strong>de</strong>, na educação, na sala <strong>de</strong> aula e na relação<br />

professor-aluno. O papel do professor continuará sendo <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância para a disseminação<br />

do conhecimento e para a orientação daqueles que esperam uma direção para tornarem-se cidadãos<br />

conscientes e participativos. Mas para que essa função continue, o professor e a escola terá que<br />

utilizar cada vez mais as bases <strong>de</strong> informação disponíveis.<br />

O ensino <strong>de</strong> tópicos <strong>de</strong> Biologia Celular e Molecular constitui um dos conteúdos do Ensino<br />

Médio <strong>de</strong> Biologia que mais requer a elaboração <strong>de</strong> material didático <strong>de</strong> apoio <strong>de</strong> conteúdo presente<br />

nos livros, já que emprega conceitos bastante abstratos e trabalha a importância <strong>de</strong>sses conteúdos na<br />

ciência mo<strong>de</strong>rna e no entendimento <strong>de</strong> processos cotidianos que estão ao nosso redor e,<br />

consequentemente, fazem parte do dia-a-dia do estudante. (OLIVEIRA, 2011).<br />

A utilização <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los didáticos apresenta ótimos resultados, pois são uma ferramenta que<br />

o professor po<strong>de</strong> expor <strong>de</strong> forma bi e tridimensional, estruturas biológicas, fornecendo o<br />

entendimento <strong>de</strong> fenômenos complexos e abstrato, tornando, assim, o aprendizado mais concreto.<br />

Além disso, contribui para a inserção <strong>de</strong> temas científicos e tecnológicos propiciando uma<br />

aprendizagem eficiente tanto na fixação dos conteúdos como para aumentar o interesse dos alunos<br />

pela área <strong>de</strong> Biologia Celular e Molecular. Portanto, tornam-se necessárias novas metodologias <strong>de</strong><br />

ensino para subsidiar as aulas e promover a construção do conhecimento científico e tecnológico.<br />

REFERÊNCIAS<br />

AMABIS, J. M.; MARTHO, G. R. Biologia: Biologia das populações. - 2 ed. – São Paulo:<br />

Mo<strong>de</strong>rna, 2004.<br />

AUSUBEL, D. P.; NOVAK, D. J.; HANESIAN, H. Psicologia educacional. - 2. ed. - Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro: Interamericana, 1980.<br />

BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Parâmetros Curriculares Nacionais <strong>de</strong> Ciências da<br />

Natureza, Matemática e suas tecnologias, 2003.<br />

BONZANINI, T.; K. Avanços recentes em biologia celular e molecular, questões éticas implicadas<br />

e sua abordagem em aulas <strong>de</strong> biologia no ensino médio: um estudo <strong>de</strong> caso. Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências<br />

– Bauru, São Paulo. Mestre em ensino <strong>de</strong> Ciências e Matemática, 2005.<br />

BROWN, T. A. Genética um enfoque molecular. – 3 ed. – Rio <strong>de</strong> Janeiro: Guanabara Koogan,<br />

1998.<br />

711


FERREIRA, E. C. Concepções prévias dos alunos do primeiro e terceiro na do ensino médio sobre<br />

células: implicações para o ensino e aprendizagem. São Paulo, USP, Instituto <strong>de</strong> Biociências, 2011.<br />

GIORDAN, A; VECCHI, G. Do saber: das concepções dos apren<strong>de</strong>ntes aos conceitos científicos.<br />

Porto Alegre: Artemed, 1996.<br />

MORTIMER, E. F. Construtivismo, mudança conceitual e ensino <strong>de</strong> Ciências: para on<strong>de</strong> vamos?<br />

Investigações em Ensino <strong>de</strong> Ciências, 1(1), 20-39. (1996).<br />

KRASILCHICH, M. Práticas <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> biologia. São Paulo: EDUSP, 2004.<br />

OLIVEIRA, S. S. Concepções alternativas e ensino <strong>de</strong> biologia: como utilizar estratégias<br />

diferenciadas na formação inicial dos licenciados. Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Zootecnia. Curitiba,<br />

Brasil. Educar em Revista, núm. 26, 2005 pp. 233-250. Disponível em:<br />

Acesso em 25/07/2012.<br />

PALMERO, L. R.; MOREIRA, M. A. Mo<strong>de</strong>los mentales <strong>de</strong> la estrutura y el uncionamiento <strong>de</strong> la<br />

Célula: dos estudios <strong>de</strong> casos. Disponível em:<br />

Acesso em 26/07/2012.<br />

PÉREZ, D. G. Tres paradigmas basicos em la enseñanza <strong>de</strong> las ciências. Enseñanza <strong>de</strong> Las<br />

Ciencias, v.1, 1983. Disponível em: Acesso<br />

em 26/07/2012.<br />

RODRIGUES, J. M.; REGO, R. C. Formação docente: coletando textos, discutindo i<strong>de</strong>ias.<br />

(ORGs), João Pessoa: Editora Universitária, UFPB, 2004.<br />

TRIVELATO, S. L. F. Ensino <strong>de</strong> Ciências e Movimento CTS (Ciência/Tecnologia/Socieda<strong>de</strong>). In:<br />

Escola <strong>de</strong> verão para professores <strong>de</strong> prática <strong>de</strong> Ensino Física, Química e Biologia. São Paulo:<br />

Coletânea, USP, 1995.<br />

712


UMA ANÁLISE DO CONSUMO CONSCIENTE, PERCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL<br />

E DESTINO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DOS MORADORES DO BAIRRO DE<br />

MANGANEIRA VIII EM JOÃO PESSOA-PB<br />

Resumo<br />

Raquel Silva VIEIRA-UFPB<br />

E-mail: raquel-s._vieira@hotmail.com<br />

Graduanda <strong>de</strong> pedagogia<br />

Suelena <strong>de</strong> Souza ROCHA-UFPB<br />

E-mail: suellena_souza@hotmail.com<br />

Graduanda <strong>de</strong> matemática<br />

Maria <strong>de</strong> Fátima CAMAROTTI 84<br />

O artigo trata da difícil tarefa da Educação Ambiental (EA) na socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> consumo por ter cada<br />

vez mais aumento na produção e déficit no <strong>de</strong>stino correto dos resíduos. Relata um estudo no bairro<br />

<strong>de</strong> Mangabeira VIII em João Pessoa sobre a concepção <strong>de</strong> EA dos moradores, na qual analisou a<br />

forma <strong>de</strong> se <strong>de</strong>sfazer dos resíduos sólidos e qual a i<strong>de</strong>ia dos mesmos sobre consumo consciente. A<br />

pesquisa <strong>de</strong>senvolvida seguiu o método qualitativo e utilizou-se da coleta <strong>de</strong> dados através <strong>de</strong><br />

questionários. Os moradores relacionaram a EA com hábitos do cotidiano, afirmaram que utilizam<br />

ape<strong>nas</strong> o caminhão da prefeitura para dar o <strong>de</strong>stino final dos seus resíduos e uma pequena parcela<br />

relatou que além <strong>de</strong> utilizar o caminhão também recicla. Demostraram uma visão muito limitada do<br />

que é consumir conscientemente. A falta <strong>de</strong> informação e <strong>de</strong> políticas públicas mostrou ser o<br />

principal problema local.<br />

Palavras-chaves: Educação Ambiental; Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Consumo; Resíduos Sólidos; Consumo<br />

Consciente.<br />

Abstract<br />

The article <strong>de</strong>als with the difficult task of environmental education (EE) in the consumer society to<br />

have increasingly increased production and <strong>de</strong>ficit in the correct <strong>de</strong>stination of the waste. Reports a<br />

study in the Mangabeira VIII in João Pessoa on <strong>de</strong>signing and its habitants, in which analyzed the<br />

way to dispose of solid waste and where the i<strong>de</strong>a of them on conscientious consumption. The<br />

research followed the qualitative method was used and data collected through questionnaires. The<br />

habitants related EE with everyday habits, asserted that only use the city truck to give the final<br />

<strong>de</strong>stination of their waste and a small portion reported that in addition to using the truck also<br />

84 Orientadora, Profª. Dra. Departamento <strong>de</strong> Metodologia da Educação, Centro <strong>de</strong> Educação, UFPB.<br />

E-mail: fcamarotti@yahoo.com.br<br />

713


ecycles. Demonstrated a very limited vision of what is consuming consciously. The lack of<br />

information and of public policies proved to be the main problem.<br />

Keywords: environmental education; Consumer society; Solid Waste; Conscious Consumption.<br />

Introdução<br />

A educação engloba várias problemáticas e entre elas está a questão ambiental. Com o<br />

impulso e o crescimento por consumir surge à questão do <strong>de</strong>sfazer-se. O ritmo <strong>de</strong> produção aumenta<br />

a cada dia, mas a socieda<strong>de</strong> não está acostumada a pensar no fim dos seus bens <strong>de</strong> consumo, hoje o<br />

ter tem mais ênfase do que o ser para a socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> consumo. Assim sendo a EA tem como um dos<br />

focos o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável.<br />

EA segundo o Dicionário Ambiental (Ecolnews, 2012) seria: O processo em que se busca<br />

observar a preocupação dos indivíduos e comunida<strong>de</strong>s para as questões ambientais, fornecendo<br />

informações e contribuindo para um Desenvolvimento Sustentável <strong>de</strong> uma consciência crítica.<br />

Desenvolver-se sustentavelmente <strong>de</strong> acordo com a Comissão Mundial sobre Meio<br />

Ambiente, criada pelas Nações Unidas é a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> crescer economicamente sem esgotar os<br />

recursos das próximas gerações. A EA procura rever a consciência crítica das inter-relações<br />

humano-ambiente para que suas atitu<strong>de</strong>s e hábitos sejam elas individuais ou coletivas possam<br />

resultar na conservação dos recursos naturais, além <strong>de</strong> dar qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida. (Ecolnews, 2012)<br />

O ser humano sendo parte integrante do ecossistema precisa se <strong>de</strong>senvolver com<br />

responsabilida<strong>de</strong> como afirma Sauvé:<br />

O maior objetivo <strong>de</strong>ssas dimensões da educação contemporânea é o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

uma socieda<strong>de</strong> responsável. E sustentabilida<strong>de</strong> é uma das perspectivas esperadas. Isso nos<br />

leva a acreditar que seria redundante falarmos <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> e sustentabilida<strong>de</strong>. O<br />

<strong>de</strong>senvolvimento responsável, que po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finido contextualmente, transforma-se na<br />

garantia do tipo <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> escolhido pela comunida<strong>de</strong> (por quê?, o quê?, para<br />

quem?, como?...) (1997, p.14).<br />

Po<strong>de</strong>-se perceber a complexida<strong>de</strong> da EA nos dias atuais, na qual há um apelo econômico na<br />

socieda<strong>de</strong>, pois para si fazer parte do jogo mundial, a palavra <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m é consumir.<br />

Histórico da educação ambiental no mundo e no Brasil<br />

Os fatos históricos, a seguir, foram baseados <strong>de</strong> acordo com DIAS, 2004; SATO, 2002 apud<br />

Abílio, 2011.<br />

Década <strong>de</strong> 1960<br />

Rachel Carson publicou o livro Silete Spring, na qual mostra o problema dos pesticidas na<br />

agricultura e também a extinção <strong>de</strong> espécies. A ONU promoveu uma Conferência, na qual se<br />

reuniram 30 especialistas <strong>de</strong> vários países, para estudo e análise da situação dos Recursos Naturais<br />

do planeta.<br />

714


Década <strong>de</strong> 1970<br />

Foi realizada a "Primeira Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente", em<br />

Estocolmo, Suécia, com o tema sobrevivência da humanida<strong>de</strong>.<br />

É elaborado um relatório, o Meadows, feito pelos técnicos do MIT - Masschusetts Instituti<br />

Technology encomendado pelo Clube <strong>de</strong> Roma. O relatório foi duramente criticado pelos países<br />

<strong>de</strong> terceiro mundo, sendo li<strong>de</strong>rado pelo Brasil, os quais, oposições contra a proposta <strong>de</strong><br />

crescimento zero contida no relatório, isso, porque os países sub<strong>de</strong>senvolvidos tinham receio <strong>de</strong><br />

bloqueios no processo <strong>de</strong> industrialização e na exploração dos recursos naturais.<br />

Foi um período marcado pela crise do petróleo, on<strong>de</strong> houve uma corrida muito gran<strong>de</strong> em<br />

direção à energia nuclear. As socieda<strong>de</strong>s industriais reconhecem que há uma escassez muito<br />

gran<strong>de</strong> dos recursos naturais não renováveis.<br />

Em 1972 a Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Pernambuco lança uma campanha <strong>de</strong> reintrodução do<br />

Pau Brasil, sendo consi<strong>de</strong>rada extinta <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1920.<br />

Em 1973, foi criada a SEMA, Secretária Especial <strong>de</strong> Meio Ambiente - vinculada a<br />

Presidência da República e subordinada ao Ministério do Interior.<br />

No início do governo <strong>de</strong> José Sarney foi criado o Ministério do Desenvolvimento Urbano e<br />

Meio Ambiente. Período dos movimentos ambientais em diferentes Estados Brasileiros como:<br />

AGAPAN/RS, ASPAN/PE e o Movimento Arte e Ecologia/SP, entre outros.<br />

Em 1977, registram-se vários eventos importantes para a EA exemplo disto foi a<br />

Conferência Intergovernamental <strong>de</strong> Educação Ambiental na ex-União Soviética. Foram realizados<br />

também, seminários, Encontros e Debates preparatórios à Conferência <strong>de</strong> Tbilisi pela FEEMA-RJ.<br />

No Brasil, a disciplina Ciências Ambientais passa a ser obrigatória nos cursos <strong>de</strong><br />

Engenharia Sanitária e são inseridas também as discipli<strong>nas</strong> saneamento Básico e Saneamento<br />

Ambiente. O MEC e a CETESB/SP, publicam o documento "Ecologia uma proposta para o<br />

ensino <strong>de</strong> 1º e 2º grau‖.<br />

Década <strong>de</strong> 1980<br />

O Presi<strong>de</strong>nte Figueiredo, baixa a Lei nº 6938 <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 1981, que dispõe sobre a<br />

Política Nacional do Meio Ambiente.<br />

Na assembleia geral da ONU, foi criado uma Comissão Nacional para o Meio Ambiente e<br />

Desenvolvimento. Tendo como objetivo principal pesquisar os problemas ambientais numa<br />

perspectiva global.<br />

O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) apresenta uma resolução que<br />

estabelece as Diretrizes para a EA.<br />

Acontece o Congresso Internacional sobre a Educação e Formação Relativas ao Meio<br />

Ambiente, realizado em Moscou e na Rússia, promovido pela UNESCO;<br />

A Fundação Getúlio Vargas publica o relatório <strong>de</strong> Brundtland, "Nosso Futuro Comum" ―o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento sustentado‖ e a ―nova or<strong>de</strong>m mundial‖. Este relatório almejava uma mudança <strong>de</strong><br />

enfoque, apontando para a conciliação entre a conservação da natureza e do crescimento<br />

econômico.<br />

Em 1988, é lançada pela Secretária do Estado do Meio Ambiente <strong>de</strong> SP e a CETESB, a<br />

edição piloto do livro "Educação Ambiental" Guia para professores <strong>de</strong> 1º e 2º Grau.<br />

715


Criação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis<br />

(IBAMA), surgida da fusão da SEMA com o Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Desenvolvimento Florestal<br />

(IBDF) a Superintendência <strong>de</strong> Desenvolvimento da Borracha (SUDHEVE), e a Superintendência<br />

<strong>de</strong> Desenvolvimento da Pesca (SUDEPE).<br />

No Governo Collor foi criada a Secretária do Meio Ambiente (SEMAM) - da Presidência<br />

da República que era subordinada ao IBAMA.<br />

Nesse período foi realizado o Encontro Nacional Educação Ambiental no Ensino Formal,<br />

IBAMA – UFRPE, Recife.<br />

Década <strong>de</strong> 1990<br />

Acontece a maior Conferência já realizada pelas Nações Unidas no Rio <strong>de</strong> Janeiro, com<br />

fins pacíficos direcionados ao Meio Ambiente e ao Desenvolvimento ―Rio 92‖, contando com a<br />

presença <strong>de</strong> 170 países.<br />

É criada a Agenda 21, on<strong>de</strong> são resumidas as ações para o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável<br />

para ser adotado pelos países assinantes do tratado, visando uma nova visão para a cooperação<br />

Internacional sobre as questões ambientais.<br />

São criados os Centros <strong>de</strong> EA do MEC, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criar e difundir metodologias em<br />

EA. Criação da Comissão Interministerial <strong>de</strong> Educação Ambiental MMA<br />

Acontece o I Congresso Ibero-americano <strong>de</strong> EA em Guadalajara no México; a Conferência<br />

Internacional sobre Meio Ambiente e Socieda<strong>de</strong>: Educação e Conscientização Pública para a<br />

Sustentabilida<strong>de</strong> na Grécia; a I Teleconferência Nacional <strong>de</strong> EA promovido pelo MEC.<br />

Década <strong>de</strong> 2000<br />

Registra-se o evento RIO+10, encontro que a ONU promoveu na África do Sul em<br />

Johannesburgo, chamado "Cúpula Mundial do Desenvolvimento Sustentável".<br />

Acontece a Rio +15 Conferência internacional realizada pela ONU para avaliar os resultados<br />

obtidos nos outros eventos como a, Rio 92 e Rio+10.<br />

Em 2012, há mais uma Conferência internacional das Nações Unidas sobre<br />

Desenvolvimento Sustentável chamada <strong>de</strong> Rio+20, com o objetivo <strong>de</strong> avaliar as lacu<strong>nas</strong> dos outros<br />

eventos e propor um novo acordo através do documento: ―O Futuro que Queremos‖ que visa<br />

acelerar para se alcançar os objetivos e reforçar as ações já existentes.<br />

O documento foi muito criticado, por não <strong>de</strong>finir <strong>de</strong> fato os Objetivos para o<br />

Desenvolvimento Sustentável (ODS) e não apresentar ações concretas para alcançar os Objetivos do<br />

Milênio em 2015. Também foi aprovada uma ―Declaração para Instituições <strong>de</strong> Ensino Superior‖.<br />

Consumismo e consumo sustentável<br />

Sustentabilida<strong>de</strong> ambiental é a "Melhoria da qualida<strong>de</strong> da vida humana, respeitando a<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> assimilação dos ecossistemas que a suportam" (WWF apud Ecolnews, 2012).<br />

Sabe-se que a atual socieda<strong>de</strong> vive para possuir bens e serviços e poucos são os que pensam<br />

em suas atitu<strong>de</strong>s interferindo na socieda<strong>de</strong>. Consumir sustentavelmente é usufruir ape<strong>nas</strong> o que é<br />

necessário, além <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r que suas atitu<strong>de</strong>s irão refletir tanto no individual como no<br />

socioambiental. Para tanto precisa <strong>de</strong> uma Socieda<strong>de</strong> Responsável para conseguir a<br />

sustentabilida<strong>de</strong>.<br />

Justificativa<br />

716


É verda<strong>de</strong> que o pensamento <strong>de</strong> EA ligado ape<strong>nas</strong> à i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> natureza é forte na socieda<strong>de</strong>.<br />

Entretanto, há também uma concepção <strong>de</strong> EA para a sustentabilida<strong>de</strong>. A EA contribui para que<br />

comunida<strong>de</strong>s possam refletir, tendo mais consciência das suas escolhas para se <strong>de</strong>senvolver.<br />

A EA tem suas limitações, porém todo humano <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua concepção até o último momento<br />

<strong>de</strong> vida apren<strong>de</strong>, logo a humanida<strong>de</strong> se encontra caminhando num processo contínuo para apren<strong>de</strong>r<br />

a viver sem esgotar com o que ainda resta do planeta. Também é <strong>de</strong> saber-se que se a socieda<strong>de</strong><br />

tivesse tido uma educação <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o século passado e, que aliado a uma educação <strong>de</strong><br />

qualida<strong>de</strong> tivesse uma EA o mundo seria um pouco melhor para se habitar e mais fácil <strong>de</strong> fazer a<br />

transformação procurando o bem coletivo. Como afirma Sato e Santos:<br />

[...] Sabemos que não mudaremos a socieda<strong>de</strong> inteira, reconhecemos a limitação da<br />

educação. Entretanto é na potencialida<strong>de</strong> da educação que queremos ancorar nossos<br />

pensamentos, abrindo as janelas para um horizonte mais próximo, buscando uma utopia que<br />

teremos a coragem <strong>de</strong> realizar. (SATO; SANTOS, 2003, p. 4).<br />

Mas em uma socieda<strong>de</strong>, na qual até crianças são arrastadas pela impulsão do consumismo<br />

surgem algumas perguntas: O que os moradores do bairro Mangabeira VIII fazem com seus<br />

próprios resíduos sólidos produzidos? As pessoas se dão conta <strong>de</strong> que seus hábitos e atitu<strong>de</strong>s<br />

interferem tanto na socieda<strong>de</strong> quanto no Meio Ambiente? Que tipo <strong>de</strong> concepção a comunida<strong>de</strong> do<br />

bairro Mangabeira VIII tem <strong>de</strong> EA?<br />

Os Resíduos Sólidos Urbanos ―são todos os <strong>de</strong>jetos que não servem mais ao consumo<br />

humano, e que, pelas suas características físico-químicas, não são facilmente absorvidos e<br />

<strong>de</strong>compostos pela natureza‖. (BECK; ARAÚJO; ATAÍDE, 2009, p.2).<br />

A falta <strong>de</strong> informação leva as pessoas a tomar atitu<strong>de</strong>s erradas que prejudicam tanto a si<br />

como os <strong>de</strong>mais. Ao se caminhar pelo bairro percebe-se a gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resíduos sólidos<br />

jogado pelas ruas e até em campos abertos. É notável o aumento da população no bairro e o seu<br />

crescimento comercial. Entretanto, não há um planejamento <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> na área.<br />

O bairro conta com uma reserva florestal protegida pela Lei Fe<strong>de</strong>ral 9.605/1998, (BRASIL,<br />

1998), na qual foi cercada para manter a preservação, no entanto a comunida<strong>de</strong> tirou parte da cerca<br />

no local e construiu uma passagem para dar acesso a um rio. No local há uma consi<strong>de</strong>rável<br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sacolas plásticas, copos <strong>de</strong>scartáveis entre outros resíduos na área.<br />

Para Abílio (2011, p.4) os conceitos <strong>de</strong> Meio ambiente e Ambiente são, respectivamente:<br />

O conjunto <strong>de</strong> condições, leis, influências e interações <strong>de</strong> or<strong>de</strong>ns físicas, químicas e<br />

biológicas, que permite, abrigam e regem a vida em todas as suas formas; O conjunto <strong>de</strong><br />

fatores naturais, sociais e culturais que envolvem um indivíduo e com os quais ele interage,<br />

influenciando e sendo influenciado por eles.<br />

Ao analisar estes conceitos verifica-se que o Meio ambiente e o Ambiente sofrem<br />

interferências tanto <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m natural como humana. Sendo assim, po<strong>de</strong>-se afirmar que a<br />

comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Mangabeira VIII também interfere no Ambiente.<br />

717


Objetivos<br />

Este artigo tem como objetivos: Estudar a concepção <strong>de</strong> consumo consciente dos moradores;<br />

Averiguar o <strong>de</strong>stino dos resíduos sólidos produzidos pelos moradores, além <strong>de</strong> analisar a percepção<br />

<strong>de</strong> educação ambiental dos moradores do bairro Mangabeira VIII.<br />

Material e métodos<br />

O artigo foi <strong>de</strong>senvolvido conforme a Metodologia qualitativa, que tem como objetivo<br />

analisar os fatos levando em consi<strong>de</strong>ração o complexo comportamento humano. Para Marconi e<br />

Lakatos: ―A metodologia qualitativa preocupa-se em analisar e interpretar aspectos mais profundos,<br />

<strong>de</strong>screvendo a complexida<strong>de</strong> do comportamento humano. Fornece análise mais <strong>de</strong>talhada sobre as<br />

investigações, hábitos, atitu<strong>de</strong>, tendências <strong>de</strong> comportamento, etc.‖ (2007, p. 269).<br />

O contato do investigador com o grupo é direto, para obter mais profundida<strong>de</strong> sendo capaz<br />

<strong>de</strong> si aproximar das vivências huma<strong>nas</strong>. ―Por meio do método qualitativo, o investigador entra em<br />

contato direto e prolongado com o indivíduo ou grupos humanos, com o ambiente e a que está<br />

sendo investigada, permitindo um contato <strong>de</strong> perto com os informantes.‖ (MARCONI; LAKATOS,<br />

2007, p. 272).<br />

A coleta <strong>de</strong> dados foi realizada tendo como instrumento o questionário. Segundo Marconi e<br />

Lakatos (2007) na pesquisa qualitativa primeiro se faz a coleta dos dados para po<strong>de</strong>r ter uma<br />

elaboração a<strong>de</strong>quada da ―teoria <strong>de</strong> base‖, que seria o conjunto <strong>de</strong> conceitos, princípios e<br />

significados, sendo necessário correlacionar a pesquisa com o campo teórico.<br />

Os questionários foram aplicados em quinze pontos diferentes do bairro, para obter uma<br />

visão mais ampla do pensamento da comunida<strong>de</strong>. Como se trata <strong>de</strong> uma pesquisa qualitativa o<br />

interesse <strong>de</strong>ste trabalho é com o processo e não com seus resultados. A interpretação das respostas<br />

foi dada levando em consi<strong>de</strong>ração as atitu<strong>de</strong>s, hábitos, experiências e a complexa relação humana.<br />

Alguns dos questionários foram respondidos sem a presença das pesquisadoras e outros<br />

foram respondidos <strong>de</strong> acordo com o que os participantes relatavam para ser escrito. Os moradores<br />

apresentavam diferentes faixas etárias, sexo, escolarida<strong>de</strong> e profissão. Respon<strong>de</strong>ram as seguintes<br />

perguntas:<br />

1- O que você enten<strong>de</strong> por Educação Ambiental?<br />

2 - Para você o que po<strong>de</strong>ria ser feito para cuidar do Meio Ambiente?<br />

3 - O que é coleta seletiva do lixo?<br />

4 - O que é feito com os lixos produzidos em sua casa?<br />

( ) reciclam<br />

( ) fazem a separação para coleta seletiva<br />

( ) jogam em terreno baldio<br />

( ) É coletado pelo caminhão da prefeitura<br />

( ) Outro <strong>de</strong>stino<br />

5 - Você se acha responsável pelo <strong>de</strong>stino do lixo produzido na sua residência?<br />

( ) Sim. Por quê?<br />

( ) Não. Por quê?<br />

6 - O que você enten<strong>de</strong> por consumo consciente?<br />

718


O questionário foi aplicado tanto em residências quanto em pontos comerciais. Como<br />

Marconi e Lakatos (2007) relatam uma das <strong>de</strong>svantagens <strong>de</strong>ste instrumento é a falta <strong>de</strong> respostas<br />

por parte dos participantes. Portanto, houve questões que ficaram em branco, a qual dificultou a<br />

interpretação das respostas.<br />

Resultados<br />

De um modo geral as pessoas respon<strong>de</strong>ram que EA está relacionada com os cuidados que se<br />

<strong>de</strong>ve ter com o ambiente em que se vive. Os moradores mostraram ter consciência <strong>de</strong> que se<br />

prejudicar a natureza, a próxima geração irá sofrer com os danos. Deram respostas do tipo: ―manter<br />

o ambiente limpo, não jogar lixo <strong>nas</strong> ruas, não <strong>de</strong>smatar e plantar árvores‖.<br />

As i<strong>de</strong>ias sobre EA encontradas se assemelha com um estudo feito por Ruffo et al ( 2010),<br />

com alunos do supletivo-UFPB do ensino médio (segunda série), na qual a maioria associou EA a<br />

cuidar e respeitar o Meio Ambiente.<br />

No mesmo estudo realizado por Ruffo et al (2010), a maioria atribuiu o significado <strong>de</strong> Meio<br />

Ambiente a problema ambiental, o mesmo resultado se repetiu com a comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Mangabeira<br />

VIII, com as seguintes respostas a pergunta, ―o que po<strong>de</strong>ria ser feito para cuidar do meio<br />

ambiente?‖ ―Não queimar o lixo, não jogar lixo <strong>nas</strong> ruas, ter mais consciência, ter coleta seletiva<br />

nos bairros, campanhas para a população, reuniões <strong>de</strong> orientação <strong>nas</strong> comunida<strong>de</strong>s sobre a<br />

preservação do meio ambiente, as autorida<strong>de</strong>s se voltar mais para a questão, reaproveitar os<br />

materiais, plantar mais árvores, ter mais incentivo <strong>nas</strong> escolas, cada pessoa fazer a sua parte,<br />

educação familiar em conjunto com políticas públicas e ter mais rigi<strong>de</strong>z para quem prática crime<br />

ambiental‖.<br />

Na questão o que é coleta seletiva? Uma pessoa não respon<strong>de</strong>u e outra não soube dizer ao<br />

certo o que seria, mas também houve respostas como: ―algo necessário para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

um país e que se tratava da separação correta do lixo‖.<br />

93,33% das pessoas disseram ser responsáveis pelo <strong>de</strong>stino do lixo produzido na sua<br />

residência e 6,67% respon<strong>de</strong>ram que não se acham responsáveis.<br />

Na pergunta o que é feito com os lixos produzidos em sua casa? A porcentagem <strong>de</strong> pessoas<br />

que respon<strong>de</strong>ram ape<strong>nas</strong> ser coletado pelo caminhão da prefeitura foi <strong>de</strong> 80%. Das pessoas que<br />

respon<strong>de</strong>ram 6,67% disseram que o lixo é coletado pelo caminhão e também dão outro <strong>de</strong>stino. Dos<br />

moradores perguntados, 13,33% respon<strong>de</strong>ram que o lixo é coletado pelo caminhão, mas também<br />

realizam algum tipo <strong>de</strong> reciclagem.<br />

Guerra (2007) em um trabalho feito com professores <strong>de</strong> Cabe<strong>de</strong>lo-Pb sobre a percepção dos<br />

mesmos sobre Meio Ambiente verificou uma visão antropocêntrica, na qual ―tudo gira em torno <strong>de</strong><br />

nós‖ eles atribuíram o conceito <strong>de</strong> resíduos sólidos como sendo: ―aquilo que não tem mais valor e<br />

que não presta‖. Apontaram o lixo como sendo um problema ambiental sério, mas não <strong>de</strong>ram<br />

importância ao lixo escolar. Ou seja, os moradores também mostraram assim como os professores<br />

saber i<strong>de</strong>ntificar os problemas globais, porém quando se tratou do cotidiano <strong>de</strong>mostraram não<br />

i<strong>de</strong>ntificar os problemas locais. Tal fato talvez aconteça por não terem consciência crítica ou acesso<br />

a informações.<br />

Sobre o consumo consciente a maioria dos moradores relacionou com a economia familiar.<br />

Respon<strong>de</strong>ram: ―reduzir o consumo <strong>de</strong> água e energia e evitar o <strong>de</strong>sperdiço <strong>de</strong> comida‖. Alguns<br />

escreveram sobre: ―consumir consciente para não prejudicar o meio ambiente, zelar pelos objetos,<br />

observar o prazo <strong>de</strong> valida<strong>de</strong> dos produtos‖. Porém também teve pessoas que relataram ―ser um<br />

719


<strong>de</strong>safio para a humanida<strong>de</strong>, pois a moda é consumir‖. Algumas pessoas não respon<strong>de</strong>ram a<br />

pergunta.<br />

No geral a comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrou não saber ao certo o que é consumo consciente. Dando<br />

respostas prontas como: ―é consumir levando em conta o impacto provocado pelo consumidor‖.<br />

Apesar <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrarem economizar na energia e na água. Não sabem que também as roupas,<br />

calçados, aparelhos e tudo que consomem são feitos <strong>de</strong> materiais retirados da natureza que po<strong>de</strong>m<br />

ser acumulado e transformado em resíduos. Não procuram saber se os produtos vêm <strong>de</strong> empresas<br />

que se preocupam com o meio ambiente e qual o seu compromisso social. Um estudo realizado por<br />

Lago (2004) em três escolas <strong>de</strong> Porto Alegre também se constatou a falta <strong>de</strong> informação aos efeitos<br />

do consumismo exacerbado.<br />

Conclusão<br />

Os moradores mostraram uma concepção <strong>de</strong> EA relacionada a atitu<strong>de</strong>s do cotidiano <strong>de</strong> cada<br />

pessoa. Hábitos simples que cada pessoa po<strong>de</strong> fazer para ajudar a ter uma comunida<strong>de</strong> melhor <strong>de</strong> se<br />

habitar. As respostas se assemelham com uma i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong>. Porém aparenta estar longe<br />

<strong>de</strong> colocá-la em prática, pois há várias interferências tanto pessoais como por parte da própria<br />

comunida<strong>de</strong> sem se esquecer <strong>de</strong> incluir também as responsabilida<strong>de</strong>s do po<strong>de</strong>r público.<br />

A maioria dos moradores ape<strong>nas</strong> utiliza o caminhão da prefeitura como única alternativa<br />

para dar <strong>de</strong>stino aos seus resíduos. Enquanto uma pequena parcela percebe a importância <strong>de</strong> utilizar<br />

a reciclagem. Também se po<strong>de</strong> concluir que falta política pública voltada para questões <strong>de</strong><br />

sensibilização e <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s por parte das autorida<strong>de</strong>s para com a comunida<strong>de</strong>. Os entrevistados<br />

também questionaram atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> outros moradores do mesmo bairro que não se importam com o<br />

lixo, a saú<strong>de</strong> e o bem-estar local.<br />

Alguns moradores aparentam querer caminhar em direção <strong>de</strong> uma EA para a<br />

sustentabilida<strong>de</strong>, mesmo não sabendo o que seria sustentabilida<strong>de</strong> e, encontram barreiras como à<br />

falta <strong>de</strong> informação para que suas atitu<strong>de</strong>s sejam mais orientadas, além <strong>de</strong> não terem apoio <strong>de</strong> uma<br />

política voltada para um melhor <strong>de</strong>stino dos resíduos sólidos.<br />

Referências<br />

BRASIL. Lei n° 9605, <strong>de</strong> 12 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1998. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas<br />

<strong>de</strong>rivadas <strong>de</strong> condutas e ativida<strong>de</strong>s lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Disponível em:<br />

Acesso em 06 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2012.<br />

ECOLNEWS. Educação ambiental. Disponível em <br />

Acesso em 07 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2012.<br />

WWF. O que é Desenvolvimento Sustentável? Disponível em<br />

acesso em<br />

07 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2012.<br />

BECK, C; ARAÚJO, A; ATAÍDE, G. Problemática dos Resíduos Sólidos Urbanos do Município <strong>de</strong> João<br />

Pessoa: Aplicação do Mo<strong>de</strong>lo P-E-R. Qualit@s Revista Eletrônica, ISSN 1677 4280, <strong>Vol</strong>.8. N° 3, (2009)<br />

. Acesso em 12 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2012.<br />

SAUVÉ, L. Educação ambiental e <strong>de</strong>senvolvimento sustentável: uma análise complexa. Disponível em:<br />

Acesso em: 12 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2012.<br />

SATO, M.; SANTOS, J. E. Tendências <strong>nas</strong> pesquisas em educação ambiental. In<br />

720


NOAL, F.; BARCELOS, V. (Orgs.) Educação ambiental e cidadania: cenários brasileiros. Santa<br />

Cruz do Sul: EDUNISC, 2003, p. 253-283.<br />

LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. <strong>de</strong> A. Metodologia qualitativa e quantitativa. 5. Ed. – São Paulo: Atlas,<br />

2007.<br />

ABÍLIO, F.J.P.; Educação ambiental: conceitos, histórico, evolução e perspectivas. [Apostila do curso <strong>de</strong><br />

Pedagogia- UFPB-CE], 2011.<br />

BRASIL, Lei n° 9795, <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a política<br />

nacional <strong>de</strong> educação ambiental e dá outras providências. Disponível em:<br />

Acesso em: 30 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2012.<br />

RUFFO, T.L. <strong>de</strong> M; et al. Percepção dos alunos do supletivo- UFPB sobre os conceitos <strong>de</strong> Educação<br />

Ambiental, Meio Ambiente e Ecologia. In: ABÍLIO, F.J.P. (org). Educação ambiental e ensino <strong>de</strong> ciências.<br />

João Pessoa: Ed. Universitária da UFPB, 2010. P. 301-313.<br />

GUERRA, R.A.T. O Meio (?) Ambiente. In: LIMA, R.S; SILVA. J.A.N. Formação continuada <strong>de</strong><br />

professores - João Pessoa: Ed. Universitária da UFPB, 2007. P. 59-80.<br />

LAGO, C.D. Concepções e práticas na construção do saber sobre o meio ambiente. 2004. 23p.<br />

. Acesso em: 03 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2012.<br />

721


A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO FERRAMENTA PARA O USO SUSTENTÁVEL DAS<br />

ÁGUAS DE CISTERNAS NO SEMIÁRIDO PARAIBANO 85<br />

Resumo<br />

Roaga Bezerra e SILVA (UFCG) – roaga.bezerra@hotmail.com<br />

Elisângela Maria da SILVA (UFCG) – elisa_maria18@hotmail.com<br />

Talita Dantas PEDROSA (UFCG) – tdpedrosa2@yahoo.com.br<br />

Roberto <strong>de</strong> Sousa MIRANDA (UFCG) – robertosmiranda@yahoo.com.br<br />

A Educação Ambiental aliada à percepção ambiental funcionam como ferramentas transformadoras,<br />

que aplicada <strong>de</strong> forma contínua po<strong>de</strong> garantir o aprimoramento das técnicas <strong>de</strong> captação e<br />

armazenamento <strong>de</strong> água das chuvas em cister<strong>nas</strong>. O presente trabalho avalia as condições <strong>de</strong><br />

manutenção e manejo <strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong> captação <strong>de</strong> águas <strong>de</strong> chuva já instalados no assentamento<br />

rural Jacú, como também, as condições das áreas <strong>de</strong> captação <strong>nas</strong> residências. A educação<br />

ambiental informal aconteceu <strong>de</strong> maneira prática por meio <strong>de</strong> conversas interativas com os<br />

assentados on<strong>de</strong> os mesmos perceberam a importância da conservação das cister<strong>nas</strong> e com o manejo<br />

<strong>de</strong> suas águas, assim como as condições da área <strong>de</strong> captação <strong>nas</strong> residências.<br />

Palavras-chave: Assentamentos rurais; Manejo; Cister<strong>nas</strong>.<br />

Abstract<br />

The Environmental Education allied to environmental perception work as transformative tools that<br />

applied continuously can ensure the improvement of techniques of capturing and storing of<br />

rainwater in cisterns. This study evaluates the conditions of maintenance and management of<br />

catchment systems of rainwater already installed in rural settlement Jacú, as also, the conditions of<br />

the areas of catchment in resi<strong>de</strong>nces. The informal environmental education happened in practical<br />

ways through interactive conversations with the settlers where they realized the importance of<br />

conservation of tanks and the management of its waters, as well as the conditions in the catchment<br />

area resi<strong>de</strong>nces.<br />

Keys- work: Rural Settlements; Management; Tanks<br />

85 Este trabalho faz parte do projeto <strong>de</strong> extensão Estímulo à Inovação Produtiva, ao Manejo Sustentável <strong>de</strong> Recursos<br />

Naturais e à Cooperação em Assentamentos do Sertão Paraibano da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>. E tem<br />

como órgão fomentador o Conselho Nacional <strong>de</strong> Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).<br />

722


Introdução<br />

A variabilida<strong>de</strong> climática e a escassez hídrica são marcas in<strong>de</strong>léveis do semiárido, conviver<br />

com o semiárido é adaptar a socieda<strong>de</strong> a uma forma específica da ocorrência do clima na região.<br />

Neste sentido, a construção da infraestrutura hídrica, o gerenciamento dos recursos hídricos são<br />

caminhos necessários para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma estratégia robusta <strong>de</strong> adaptação das<br />

socieda<strong>de</strong>s do semiárido à natureza (SILVA, 2011).<br />

A região semiárida do Nor<strong>de</strong>ste brasileiro encontra-se localizada no ―Polígono das Secas‖,<br />

caracterizada por apresentar eventos hidrológicos extremos como, por exemplo, chuvas intensas e<br />

gran<strong>de</strong>s estiagens, apresentando precipitação pluviométrica variando entre 200 a 800 mm anuais.<br />

Estes eventos periódicos tornam vulneráveis os sistemas hídricos, po<strong>de</strong>ndo provocar fortes impactos<br />

negativos sobre as famílias, constituindo-se uma limitação no <strong>de</strong>senvolvimento socioeconômico <strong>de</strong><br />

comunida<strong>de</strong>s rurais (SILVA, et al., 2006).<br />

Segundo Gnadlinger (2000), a coleta e armazenamento <strong>de</strong> água <strong>de</strong> chuva é uma técnica<br />

popular em muitas partes do mundo, especialmente em regiões áridas e semiáridas, pela sua<br />

simplicida<strong>de</strong> e por fornecer água a<strong>de</strong>quada para o consumo humano. Embora estes sistemas<br />

contenham água <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong>, ainda ocorre contaminação hídrica que atinge à população<br />

usuária, principalmente da área rural.<br />

Na Figura 01, mostra-se uma cisterna construída pelo Programa Um Milhão <strong>de</strong> Cister<strong>nas</strong><br />

(P1MC) apresentando todos os componentes necessários para a captação e armazenamento da água<br />

<strong>de</strong> chuva. Este programa possui como mo<strong>de</strong>lo tecnológico <strong>de</strong> 16 m 3 <strong>de</strong> água permitindo o consumo<br />

<strong>de</strong> 13 litros diário por pessoa e, segundo a Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA), <strong>de</strong>ve ser<br />

utilizado exclusivamente para beber, cozinhar, lavar as mãos e utensílios domésticos <strong>de</strong> uso<br />

imediato. Se o período <strong>de</strong> estiagem se esten<strong>de</strong>r por 6 a 8 meses o dimensionamento da cisterna seria<br />

insuficiente (SILVA, 2012).<br />

Fonte: SILVA, 2012.<br />

Figura 01. Cisterna para a captação <strong>de</strong> água da chuva no assentamento.<br />

723


A acumulação <strong>de</strong> águas <strong>de</strong> chuvas em cister<strong>nas</strong> enquadra-se <strong>de</strong>ntro das chamadas soluções<br />

alternativas <strong>de</strong> abastecimento (MAY, 2004), e para essas águas, a legislação brasileira estabelece<br />

que qualquer água <strong>de</strong>stinada ao consumo humano, <strong>de</strong>ve ser objeto <strong>de</strong> controle e vigilância da sua<br />

qualida<strong>de</strong> (BRASIL, 2011).<br />

Nesse contexto, vem sendo implantada no semiárido brasileiro uma estratégia sustentável,<br />

que tem como foco melhorar o acesso <strong>de</strong> famílias à água potável, <strong>de</strong>nominada ―Programa <strong>de</strong><br />

Formação e Mobilização Social para a Convivência com o Semiárido: Um Milhão <strong>de</strong> Cister<strong>nas</strong><br />

Rurais (P1MC)‖. Este programa é gerido por organizações da socieda<strong>de</strong> civil, agregadas à<br />

Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA) que busca o <strong>de</strong>senvolvimento social, econômico,<br />

político e cultural das populações do semiárido <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1999 (ASA, 2012).<br />

De acordo com Jalfim (2001), o consumo <strong>de</strong> água em áreas rurais no semiárido brasileiro é<br />

<strong>de</strong> 6,0 L por pessoa/dia, consi<strong>de</strong>rando ape<strong>nas</strong> necessida<strong>de</strong>s prioritárias <strong>de</strong> beber e cozinhar. Porém,<br />

se levar em consi<strong>de</strong>ração que a higiene pessoal é também uma necessida<strong>de</strong> prioritária, esse valor <strong>de</strong><br />

consumo seria <strong>de</strong> 20,0 L <strong>de</strong> água por dia, que segundo Santos & Silva (2009) este valor é inferior ao<br />

recomendado pela Organização Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (OMS) que estabelece o mínimo <strong>de</strong> 50 L/hab/dia<br />

<strong>de</strong> água potável.<br />

Segundo Albuquerque (2004), a água <strong>de</strong> chuva é uma solução interessante para combater os<br />

efeitos da estiagem, uma vez que, a água da chuva po<strong>de</strong> ser captada <strong>de</strong> maneira simples e baseada<br />

em técnicas populares <strong>de</strong> armazenamento, ser <strong>de</strong> custo acessível e <strong>de</strong> nível tecnológico apropriado<br />

para pequena escala, com capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produzir resultados imediatos.<br />

Existem diversos tipos <strong>de</strong> cister<strong>nas</strong> para o armazenamento <strong>de</strong> água <strong>de</strong> chuva, sendo o tipo<br />

―colonial‖ o mais utilizado. Neste mo<strong>de</strong>lo, as cister<strong>nas</strong> po<strong>de</strong>m ser classificadas em superficial ou<br />

enterradas. As cister<strong>nas</strong> são alternativas simples, <strong>de</strong> fácil manutenção e <strong>de</strong> baixo custo, e são<br />

utilizadas em áreas rurais do semiárido brasileiro visando reduzir as vulnerabilida<strong>de</strong>s climáticas que<br />

o semiárido está submetido, estando entre as medidas alternativas que têm sido <strong>de</strong>senvolvidas na<br />

tentativa <strong>de</strong> mitigar os efeitos das secas prolongadas (SILVA, 2012).<br />

As águas das cister<strong>nas</strong> rurais no Brasil são utilizadas ape<strong>nas</strong> para os usos domésticos como,<br />

por exemplo, beber e cozinhar e, na maioria das vezes, essas águas não recebem nenhum tratamento<br />

prévio, daí a importância da segurança sanitária <strong>de</strong>ssas águas para evitar a ocorrência <strong>de</strong> eventuais<br />

contaminações (ANDRADE NETO, 2004).<br />

A Educação Ambiental (EA)<br />

O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) <strong>de</strong>fine a EA como um processo <strong>de</strong><br />

formação e informação orientada para o <strong>de</strong>senvolvimento da consciência crítica sobre as questões<br />

724


ambientais, e <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s que levem à participação das comunida<strong>de</strong>s na preservação do equilíbrio<br />

ambiental (DIAS, 1992).<br />

Um marco <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância no que se refere ao processo <strong>de</strong> Educação Ambiental<br />

integra-se <strong>de</strong>finitivamente na Primeira Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental,<br />

realizada em Tbilisi, na Geórgia, CEI, em outubro <strong>de</strong> 1977, ao revelar que o processo <strong>de</strong> Educação<br />

Ambiental é o veículo <strong>de</strong> conscientização dos povos a respeito das questões ambientais. No que<br />

tange a Recomendação n°15 <strong>de</strong>sta Conferência, a mesma consi<strong>de</strong>ra o meio <strong>de</strong> trabalho como o meio<br />

natural <strong>de</strong> aprendizagem <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> parte da população adulta, além <strong>de</strong> <strong>de</strong>finí-lo como espaço <strong>de</strong><br />

influência física, social e psicológica; constituindo assim um excelente ponto <strong>de</strong> partida para a<br />

educação <strong>de</strong> adultos (UNESCO, 1980).<br />

Outro documento <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância no processo <strong>de</strong> Educação Ambiental é a<br />

Conferência Internacional sobre Meio Ambiente e Socieda<strong>de</strong>, Educação e Consciência Pública para<br />

a Sustentabilida<strong>de</strong>, realizada em Tessalônica (Grécia), uma vez que o documento supracitado chama<br />

a atenção para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se articularem meios e ações <strong>de</strong> educação ambiental que venham a<br />

contribuir com a sustentabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> modo que estejam baseadas nos conceitos <strong>de</strong> ética e<br />

sustentabilida<strong>de</strong>, i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cultural e diversida<strong>de</strong>, mobilização e participação e práticas<br />

interdisciplinares (SORRENTINO, 1998).<br />

Para obter um manejo a<strong>de</strong>quado das cister<strong>nas</strong> <strong>nas</strong> comunida<strong>de</strong>s é indispensável à introdução<br />

da EA como ferramenta importante na transferência <strong>de</strong>stas medidas para população. Segundo<br />

Jacobi (2003), isso implica na necessida<strong>de</strong> e no fortalecimento do direito ao acesso à informação e à<br />

educação ambiental em uma perspectiva integradora, baseada na conscientização, mudança <strong>de</strong><br />

comportamento, capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> autoavaliação e participação.<br />

Braga et al. (2003) ressalta que é necessário educar para o ambiente, e somente a partir <strong>de</strong><br />

ações locais, da sensibilização e da conscientização dos indivíduos como cidadãos participantes no<br />

processo <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> uma nova socieda<strong>de</strong> é que po<strong>de</strong>mos modificar o <strong>de</strong>stino dos problemas<br />

globais que assolam o planeta, e a água é uma questão primordial.<br />

A educação ambiental é o principal instrumento <strong>de</strong> transformação, sendo fundamental para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma consciência crítica em relação ao meio ambiente, gerando<br />

comprometimento e responsabilida<strong>de</strong> da população <strong>nas</strong> ações <strong>de</strong> saneamento e saú<strong>de</strong> (SOARES et<br />

al., 2007 ).<br />

Metodologia<br />

O presente trabalho constitui uma pesquisa realizada no Assentamento Jacú, município <strong>de</strong><br />

Pombal - PB, no período <strong>de</strong> 12 a 31 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2012. O assentamento localiza-se na bacia<br />

hidrográfica do Rio Piranhas, entre a sub-bacia do Rio Piancó e a região do Alto Piranhas, inserida<br />

725


na Zona fisiográfica do baixo Sertão do Piranhas, na mesorregião do sertão paraibano (SILVA et<br />

al., 2011). A associação do assentamento Jacú é composta por 40 unida<strong>de</strong>s familiares.<br />

Durante o período <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da pesquisa, foram realizadas visitas <strong>de</strong> campo, com<br />

o objetivo <strong>de</strong> conhecer as condições <strong>de</strong> captação, transporte, armazenamento e manejo das águas<br />

das cister<strong>nas</strong> instalados no assentamento Jacú. Os dados foram coletados a partir da observação<br />

direta, registros fotográficos, conversas interativas com 34 famílias, o que correspon<strong>de</strong> 82,5% das<br />

famílias assentadas. As <strong>de</strong>mais, não foram encontradas em casa no momento das visitas. Com<br />

exceção <strong>de</strong> uma família visitada no assentamento, todas possuem cister<strong>nas</strong> em casa.<br />

Durante as visitas ao assentamento, foram levantadas diversas informações <strong>de</strong>ntre as quais,<br />

po<strong>de</strong>mos citar: o programa pelo qual foi beneficiado com a construção da cisterna; forma pela qual<br />

retira-se água das cister<strong>nas</strong>; avaliar as áreas <strong>de</strong> captação <strong>nas</strong> casas; <strong>de</strong>svio das primeiras águas;<br />

finalida<strong>de</strong> do uso da água da cisterna; utilização <strong>de</strong> algum método <strong>de</strong> <strong>de</strong>sinfecção da água; se a<br />

utilização do método <strong>de</strong> tratamento apresenta para a família algum tipo <strong>de</strong> reação adversa; se as<br />

cister<strong>nas</strong> apresentam algum tipo <strong>de</strong> rachadura ou vazamento na sua estrutura; nos anos <strong>de</strong> seca,<br />

como são abastecidas as cister<strong>nas</strong> e; se a estrutura das cister<strong>nas</strong> são conservadas.<br />

Resultados e Discussão<br />

Todas as cister<strong>nas</strong> do Assentamento Jacú foram adquiridas pelo P1MC, que é elaborado,<br />

<strong>de</strong>senvolvido e gerenciado pela socieda<strong>de</strong> civil organizada, através da ASA, tendo diversos<br />

parceiros, entre eles, o Ministério <strong>de</strong> Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS).<br />

De acordo com as visitas <strong>de</strong> campo, constatou-se que as famílias, em sua maioria, não<br />

utilizam a bomba manual para retirar a água das cister<strong>nas</strong>, como apresenta-se no Gráfico 01.<br />

24%<br />

18%<br />

58%<br />

Bal<strong>de</strong><br />

Bomba<br />

Manual<br />

Bal<strong>de</strong> e<br />

Bomba<br />

Manual<br />

Fonte: Pesquisa <strong>de</strong> campo.<br />

Gráfico 01: Forma <strong>de</strong> Coleta da Água da Cisterna.<br />

Diante do exposto, po<strong>de</strong>-se observar que, 58% das famílias do assentamento Jacú retiram<br />

água da cisterna com a utilização <strong>de</strong> bal<strong>de</strong>, representando uma maneira não aconselhável para<br />

retirada da mesma, já que o método recomendado é que a coleta ocorra sem contato direto do<br />

726


usuário com a água, para reduzir o risco <strong>de</strong> contaminação. Percebe-se que ape<strong>nas</strong> 24% das famílias<br />

usam a bomba manual para retirar água das cister<strong>nas</strong>, justificando que, a não utilização das bombas<br />

ocorre, por motivos técnicos, bombas quebradas ou que não são eficientes, ou por preferirem usar<br />

utensílios domésticos, por ser mais fácil e exigir menor esforço físico. E 18% das famílias recorrem<br />

a bal<strong>de</strong> e bomba manual.<br />

Todas as 33 famílias visitadas que possuem cister<strong>nas</strong>, <strong>de</strong>sviam as águas das primeiras<br />

chuvas, para <strong>de</strong>pois coletá-las, com objetivo <strong>de</strong> lavar os telhados e retirar as sujeiras como, poeiras,<br />

restos <strong>de</strong> folhas, galhos e fezes <strong>de</strong> aves e outros animais, evi<strong>de</strong>nciando medida preventiva <strong>de</strong><br />

manejo para melhorar a qualida<strong>de</strong> da água. Quanto às condições das tampas das cister<strong>nas</strong>, em geral,<br />

estão bem conservadas, segundo as famílias, são mantidas sempre bem fechadas para evitar a<br />

entrada <strong>de</strong> sujeiras.<br />

Consi<strong>de</strong>rando a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uso, 64% das famílias usam água <strong>de</strong> cister<strong>nas</strong> para beber e<br />

cozinhar, 9% utilizam para beber, seguido <strong>de</strong> 6% cozinhar e 21% para diversos usos, (ver gráfico<br />

02). A utilização da água para outros fins diminui a garantia <strong>de</strong> água <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong> para todo o<br />

período <strong>de</strong> estiagem.<br />

6%<br />

21%<br />

9%<br />

64%<br />

Fonte: Pesquisa <strong>de</strong> campo.<br />

Gráfico 02: Finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Uso.<br />

Beber<br />

Beber e<br />

cozinhar<br />

Cozinhar<br />

Outros<br />

usos<br />

Em relação aos processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sinfecção 88% das famílias utilizam o hipoclorito <strong>de</strong> sódio<br />

para tratar a água <strong>de</strong> beber (gráfico 03), on<strong>de</strong> ape<strong>nas</strong> 3% <strong>de</strong>stas, apresentam algum tipo <strong>de</strong> reação<br />

adversa. Seguido <strong>de</strong> 12% que não usam o hipoclorito <strong>de</strong> sódio.<br />

3%<br />

12%<br />

85%<br />

Utilizam<br />

Não utilizam<br />

Reacão adversa<br />

Fonte: Pesquisa <strong>de</strong> campo.<br />

Gráfico 03: Utilização do Hipoclorito <strong>de</strong> Sódio<br />

727


Quanto à conservação e estado higiênico das cister<strong>nas</strong>, 79% são a<strong>de</strong>quados e 21%<br />

apresentam rachaduras e vazamentos, caracterizando problemas <strong>de</strong> construção e falta <strong>de</strong><br />

manutenção (ver gráfico 04).<br />

21% Sim<br />

79%<br />

Não<br />

Fonte: Pesquisa <strong>de</strong> campo.<br />

Gráfico 04: Conservação e Manutenção da cisterna.<br />

No que se refere ao abastecimento das águas das cister<strong>nas</strong>, a maior parte das famílias utiliza<br />

água <strong>de</strong> carro-pipa, quando as chuvas do período são escassas ou porque as águas armazenadas<br />

durante as chuvas não são suficientes para satisfazer a <strong>de</strong>manda da família.<br />

Quanto à conservação dos telhados, observou-se que a maioria das cister<strong>nas</strong> encontra-se em<br />

bom estado, porém algumas calhas requerem limpeza.<br />

Segundo as famílias, as cister<strong>nas</strong> são anualmente pintadas <strong>de</strong> branco por fora, antes que se<br />

inicie o período chuvoso, esta iniciativa é necessária para a melhoria das condições <strong>de</strong> conservação<br />

das cister<strong>nas</strong>.<br />

Conclusão<br />

Observou-se que o processo <strong>de</strong> educação é indispensável para a sensibilização das famílias<br />

assentadas, pois além <strong>de</strong> permitir que estas mu<strong>de</strong>m seus hábitos, contribui também para garantia <strong>de</strong><br />

uma água <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong> e isenta <strong>de</strong> contaminação. Sem a Educação Ambiental não<br />

será possível o uso sustentável das águas <strong>de</strong> cister<strong>nas</strong>, nem <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> aplicação <strong>de</strong> outras<br />

tecnologias que precisam <strong>de</strong> novas formas <strong>de</strong> percepção e <strong>de</strong> atuação.<br />

A implantação do programa P1MC procura trazer para a pauta das comunida<strong>de</strong>s a discussão<br />

sobre o direito <strong>de</strong> ter água <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong> para consumo humano, as cister<strong>nas</strong> são construídas e<br />

mantidas pela comunida<strong>de</strong>. Entretanto, não se tem a garantia <strong>de</strong> que as famílias beneficiadas<br />

estejam utilizando a água proveniente das cister<strong>nas</strong> <strong>de</strong> maneira a<strong>de</strong>quada, fazendo-se imperativo o<br />

trabalho do profissional <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, no que concerne à prevenção <strong>de</strong> doenças, sobretudo as <strong>de</strong><br />

veiculação hídrica, bem como às estratégias <strong>de</strong> promoção da saú<strong>de</strong> que priorizem ações<br />

728


empo<strong>de</strong>radoras <strong>de</strong>ssas famílias, <strong>de</strong> maneira que as mesmas tornem-se co-participantes do seu<br />

processo <strong>de</strong> cuidado.<br />

As visitas permitiram instalar o processo <strong>de</strong> sensibilização para o manejo correto na<br />

captação, transporte, armazenamento e coleta <strong>de</strong> água <strong>de</strong> cister<strong>nas</strong> e para higiene pessoal das<br />

famílias.<br />

É preciso salientar, a importância das políticas públicas para garantia <strong>de</strong> acesso a água<br />

nesses assentamentos, o que constitui o êxito <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> alto investimento, como o PIMC e para<br />

sua auto-sustentabilida<strong>de</strong>.<br />

Referências Bibliográficas<br />

ALBUQUERQUE, T. M. A. Seleção Multicriterial <strong>de</strong> Alternativas para o Gerenciamento <strong>de</strong><br />

Demanda <strong>de</strong> Água na Escala <strong>de</strong> Bairro. 2004. 215p. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) -<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> - UFCG, 2004, Campina Gran<strong>de</strong>, 2004.<br />

ANDRADE NETO, C. O. Proteção sanitária das cister<strong>nas</strong> rurais. In: SIMPÓSIO LUSO-<br />

BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL, 11., 2004. Natal-RN. Anais...<br />

Natal: ABES/APESB/APRH, 2004.<br />

ASA. Articulação no Semiárido Brasileiro. Caminhos para a Convivência com o Semiárido. Recife,<br />

2010.<br />

ASA. Articulação no Semiárido Brasileiro. Programa <strong>de</strong> formação e mobilização social para a<br />

convivência com o Semiárido: um milhão <strong>de</strong> cister<strong>nas</strong> rurais (P1MC). Recife (PE): ASA; 2012.<br />

BRAGA, A. R. et al. Educação ambiental para gestão <strong>de</strong> recursos hídricos. Livro <strong>de</strong> Orientação<br />

ao Educador. Americana: Consórcio PCJ, 2003. 251p., il.<br />

BRASIL. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Portaria n. 2.914, <strong>de</strong> 12 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2011. Dispõe sobre os<br />

procedimentos <strong>de</strong> controle e <strong>de</strong> vigilância da qualida<strong>de</strong> da água para consumo humano e seu<br />

padrão <strong>de</strong> potabilida<strong>de</strong>. Diário Oficial da União <strong>de</strong> 14/12/11. Brasília, DF, 2011. Disponível em:<<br />

http://bvsms.sau<strong>de</strong>.gov.br/bvs/sau<strong>de</strong>legis/gm/2011/prt2914_12_12_2011.html>. Acesso em: 25 <strong>de</strong><br />

set. 2012.<br />

DIAS, G.F. Educação Ambiental: Princípios e práticas. 4ª ed. São Paulo: Gaia, 1992.<br />

GNADLINGER, J. Colheita <strong>de</strong> Água <strong>de</strong> Chuva em Áreas Rurais. Juazeiro – BA: IRPAA,<br />

2000.40p.<br />

729


JACOBI, Pedro. Educação ambiental, cidadania e sustentabilida<strong>de</strong>. Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> Pesquisa, n. 118,<br />

mp. a1rç8o9/-220050,3 março/ 2003.<br />

JALFIM, F. T. Consi<strong>de</strong>rações sobre a viabilida<strong>de</strong> técnica e social da captação e armazenamento<br />

da água da chuva em cister<strong>nas</strong> rurais na região semi-árida brasileira. In: SIMPÓSIO<br />

BRASILEIRO DE CAPTAÇÃO DE CHUVA NO SEMI-ÁRIDO, 3., 2001, Campina Gran<strong>de</strong>-PB.<br />

Anais... Campina Gran<strong>de</strong>-PB, 2001.<br />

MAY, S. Estudo da viabilida<strong>de</strong> do aproveitamento <strong>de</strong> água <strong>de</strong> chuva para consumo não potável em<br />

edificações. 2004. 159p. Dissertação (Mestrado em Engenharia <strong>de</strong> Construção Civil) -Escola<br />

Politécnica, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, São Paulo - SP, 2004.<br />

ORGANIZACION <strong>de</strong> las Naciones Unidas para la Educación, la Ciencia y la Cultura. La educación<br />

ambiental: las gran<strong>de</strong>s orientaciones <strong>de</strong> la Conferencia <strong>de</strong> Tbilisi. Tbilisi: UNESCO, 1980 <strong>de</strong><br />

Tbilisi. Tbilisi: UNESCO, 1980.<br />

SANTOS, M. J; SILVA, B. B. Análise do Mo<strong>de</strong>lo Conceitual e Tecnológico do Programa<br />

Cister<strong>nas</strong> Rurais em Sergipe. Revista Engenharia Ambiental – Ciência e Tecnologia. Espírito Santo<br />

do Pinhal-SP. v. 6, n. 2, p. 464-483, mai /ago 2009. ISSN: 1809-0664.<br />

SILVA, A. <strong>de</strong>. S. et al. Recursos hídricos em regiões áridas e semiáridas. Campina Gran<strong>de</strong>, PB:<br />

Instituto Nacional do Semiárido, 2011. 440 p. Disponível em:<br />

. Acesso em: 03 jul. 2012.<br />

SILVA, M. P; OLIVEIRA, L. A; DINIZ, C. R; CEBALLOS, B. O. Educação Ambiental para o uso<br />

sustentável <strong>de</strong> água <strong>de</strong> cister<strong>nas</strong> em comunida<strong>de</strong>s rurais da Paraíba. Revista <strong>de</strong> Biologia e Ciências<br />

da Terra. Suplemento Especial. n. 1. Universida<strong>de</strong> Estadual da Paraíba, Brasil. p 122-136. 2006.<br />

SILVA, E. M; SILVA, R. B; FEITOSA, P. H. C. Educação Ambiental como Ferramenta<br />

Fundamental para o Gerenciamento dos Resíduos Sólidos Produzidos em Assentamentos Rurais no<br />

Sertão Paraibano. In: II Congresso Nacional <strong>de</strong> Educação Ambiental e IV Encontro Nor<strong>de</strong>stino <strong>de</strong><br />

Biogeografia. 2011, João Pessoa, PB. Anais... João Pessoa. 2 CD-ROM.<br />

SILVA, E. M. Saneamento rural no semiárido paraibano: estudo <strong>de</strong> caso no Assentamento Rural<br />

São João II. 2012. 67f. Trabalho <strong>de</strong> Conclusão <strong>de</strong> Curso (Graduação em Engenharia Ambiental) -<br />

Centro <strong>de</strong> Ciências e Tecnologia Agroalimentar, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>,<br />

Pombal, 2012.<br />

730


SOARES, L. G. da C.; SALGUEIRO, A. A.; GAZINEU, M. H. P. Educação ambiental aplicada<br />

aos resíduos sólidos na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Olinda, Pernambuco – um estudo <strong>de</strong> caso. Revista Ciências &<br />

Tecnologia, Recife - PE , Ano 1, n. 1, p. 1-9, julho-<strong>de</strong>zembro 2007.<br />

SORRENTINO, M. De Tbilisi a Tessaloniki, a educação ambiental no Brasil. In: JACOBI, P. et al.<br />

(orgs.). Educação, meio ambiente e cidadania: reflexões e experiências. São Paulo: SMA, 1998.<br />

p.27-32.<br />

731


A (RE) CONSTRUÇÃO DE VALORES AMBIENTAIS ATRAVÉS DA ECOPEDAGOGIA NO<br />

ENSINO FUNDAMENTAL I<br />

Resumo<br />

Bruna Isabel Andra<strong>de</strong> Borges (UEPB/ UFCG) 86 – bruna.iab@hotmail.com<br />

Carina <strong>de</strong> Sousa Soares (UEPB) 87 – carina-soares@hotmail.com<br />

A educação ambiental faz-se cada vez mais necessária no ensino fundamental, pois é um dos mais<br />

conscientes e eficientes meios para buscar caminhos ecopedagógicos produzidos pela socieda<strong>de</strong> e<br />

para sua significação, é preciso consi<strong>de</strong>rar o meio próximo e circundante da criança, trabalhar com<br />

atitu<strong>de</strong>s e formação <strong>de</strong> valores e com ensino e aprendizagem <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s e procedimentos.<br />

Consi<strong>de</strong>rando-se as influências i<strong>de</strong>ológicas <strong>de</strong> cada socieda<strong>de</strong>, é imprescindível trabalhar a<br />

problemática ambiental num local on<strong>de</strong> o conhecimento começa a ser <strong>de</strong>senvolvido, ou seja, na<br />

escola. Em nossa pesquisa temos como objetivo a (re) construção <strong>de</strong> valores ambientais através da<br />

ecopedagogia com crianças do Ensino Fundamental I <strong>de</strong> uma escola em Campina Gran<strong>de</strong> - PB,<br />

<strong>de</strong>mostrando a importância da Ecopedagogia para a formação <strong>de</strong> educandos/as. Para esse trabalho<br />

realizamos ativida<strong>de</strong>s práticas e dinâmicas, como ofici<strong>nas</strong> <strong>de</strong> reciclagem com garrafas pet na<br />

construção <strong>de</strong> brinquedos; produção <strong>de</strong> textos verbais e não verbais com os/as alunos/as sobre a<br />

preservação da natureza; <strong>de</strong>senhos e ativida<strong>de</strong>s lúdicas, promovendo o <strong>de</strong>senvolvimento à<br />

criativida<strong>de</strong>, criticida<strong>de</strong> e afetivida<strong>de</strong> dos/as educandos/as. A metodologia se baseia em uma<br />

pesquisa participativa fundamentada e analisada por alguns autores, que discutem natureza, a<br />

ecopegadogia e a educação ambiental, entre os quais <strong>de</strong>stacamos: Paulo Freire (1996), Moacir<br />

Gadotti (2000), Leonardo Boff (2004), Capra (1996), Penteado (1994), Carvalho (2004), Meirelles<br />

(2000), entre outros. Os dados foram analisados <strong>de</strong> forma quantitativa e qualitativa. Por fim, cria-se<br />

a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inserir conhecimentos e práticas <strong>de</strong> Educação Ambiental, mediadas pelas<br />

relações com as vivências cotidia<strong>nas</strong> na escola.<br />

Palavras-chaves: Ecopedagogia; Educação Ambiental; Ensino Fundamental I.<br />

86 Pedagoga – UEPB, Engenheira Civil – UFCG (em curso);<br />

87 Pedagoga – UEPB, Psicopedagoga – FIP e Bacharel em Agroecologia – UEPB (em curso).<br />

732


Abtstract<br />

Environmental education becomes increasingly necessary in elementary school because it is one of<br />

the most conscientious and efficient means to seek ways ecopedagógicos produced by the company<br />

and its significance, we must consi<strong>de</strong>r the near and medium surrounding the child's attitu<strong>de</strong>s and<br />

work with values education and teaching and learning skills and procedures. Consi<strong>de</strong>ring the<br />

i<strong>de</strong>ological influences of each society, it is essential to work on environmental issues where<br />

knowledge is beginning to be <strong>de</strong>veloped, or at school. In our research we aim to (re) construction of<br />

environmental values through eco-pedagogy with children of elementary school to a school in<br />

Campina Gran<strong>de</strong> - PB, <strong>de</strong>monstrating the importance of Ecopedagogy to train stu<strong>de</strong>nts/ the. For this<br />

work we conducted practical activities and dynamics, as recycling workshops with PET bottles in<br />

building toys; production of verbal and nonverbal texts with / the stu<strong>de</strong>nts /about the preservation of<br />

nature, drawings and recreational activities, promoting the <strong>de</strong>velopment of creativity, criticality and<br />

affectivity of / the stu<strong>de</strong>nts / the. The methodology is based on a participatory research groun<strong>de</strong>d<br />

and analyzed by some authors argue that nature, ecopegadogy and environmental education, among<br />

which we highlight: Paulo Freire (1996), Moacir Gadotti (2000), Leonardo Boff (2004), Capra<br />

(1996), Penteado (1994), Carvalho (2004), Meirelles (2000), among others. Data were analyzed<br />

quantitatively and qualitatively. Finally, it creates the opportunity to put knowledge and practice of<br />

Environmental Education, mediated relationships with everyday experiences in school.<br />

Keywords: Ecopedagogy; Environmental Education, Elementary Education I.<br />

Introdução<br />

Com o alto crescimento da população mundial vêm se verificando um aumento <strong>de</strong>senfreado<br />

na exploração dos recursos naturais, gerando <strong>de</strong>ssa forma, consequências drásticas para o meio<br />

ambiente, tais como: poluição da água, do ar, do solo e <strong>de</strong>saparecimento <strong>de</strong> espécies nativas <strong>de</strong><br />

animais e vegetais, modificações movidas principalmente pelo consumismo humano <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nado,<br />

<strong>de</strong>vido a sua visão inesgotável dos recursos naturais. Segundo Capra (1996), tais problemas<br />

precisam ser vistos como diferentes facetas <strong>de</strong> uma única crise, uma crise <strong>de</strong> percepção, mas para os<br />

principais problemas há soluções, que exigem mudanças radicais <strong>nas</strong> percepções, valores e<br />

pensamentos dos indivíduos.<br />

O objetivo <strong>de</strong>ste trabalho <strong>de</strong> pesquisa é a (re) construção <strong>de</strong> valores ambientais com<br />

educandos/as do 4º e 5º ano do Ensino Fundamental I <strong>de</strong> uma escola particular em Campina Gran<strong>de</strong><br />

– PB, no intuito <strong>de</strong> mostrar a importância da Ecopedagogia para a formação dos educandos/as.<br />

Neste sentido importa i<strong>de</strong>ntificar suas práticas em relação à conservação e/ou melhoria do ambiente<br />

733


a que pertencem e a percepção dos/as alunos/as quanto às formas pelas quais as pessoas po<strong>de</strong>m<br />

contribuir para melhorar e/ou conservar o meio ambiente em que vivem. Para tal observação<br />

realizamos ofici<strong>nas</strong> <strong>de</strong> reciclagem com garrafas pet na construção <strong>de</strong> brinquedos; bem como,<br />

produzimos textos verbais e não verbais com os/as alunos/as sobre a preservação da natureza.<br />

Para Branco e Rocha (1984) apud Silva M (2000), o meio ambiente ou ambiente ecológico<br />

po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finido como o conjunto <strong>de</strong> elementos e fatores indispensáveis à vida, servindo como<br />

suporte para o <strong>de</strong>senvolvimento da socieda<strong>de</strong> e da comunida<strong>de</strong> (LIMA 2003). A Educação<br />

Ambiental é um meio i<strong>de</strong>al, para gerar reflexão em torno dos problemas ambientais, visando<br />

intervir na percepção ambiental dos estudantes. Silva M (2000) diz que a percepção ambiental<br />

abrange maneira <strong>de</strong> olhar o ambiente, mesmo o inconsciente. Consiste então, na forma como o ser<br />

humano ver o meio ambiente, como compreen<strong>de</strong> as leis que o regem.<br />

A metodologia do trabalho é baseada em uma pesquisa participativa fundamentada e<br />

analisada por alguns autores, que discutem natureza, a ecopegadogia e a educação ambiental. A<br />

realização <strong>de</strong>sse trabalho tornou-se relevante no sentido <strong>de</strong> percebemos à viabilida<strong>de</strong> do estudo <strong>de</strong><br />

aspectos importantes da ecopedagogia, na construção <strong>de</strong> valores ambientais em crianças.<br />

Empregamos <strong>de</strong> modo dinâmico ativida<strong>de</strong>s em busca da formação <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s para a construção<br />

do processo ensino e aprendizagem. Através <strong>de</strong>sse estudo, <strong>de</strong>staca-se a ecopedagogia como<br />

metodologia para a valorização do meio ambiente, no <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> construir uma consciência<br />

ecológica.<br />

A Ecopedagogia na (re) construção dos valores ambientais<br />

A discussão sobre a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se criar uma Ecopedagogia ganhou impulso, sobretudo a<br />

partir do Primeiro Encontro Internacional da Carta da Terra na Perspectiva da Educação, organizado<br />

pelo Instituto Paulo Freire, com o Apoio do Conselho da Terra e da UNESCO, <strong>de</strong> 23 a 26 <strong>de</strong> agosto<br />

<strong>de</strong> 1999, em São Paulo e do I Fórum Internacional sobre Ecopedagogia, realizado na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Psicologia e Ciências da Educação da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Porto, Portugal, <strong>de</strong> 24 a 26 <strong>de</strong> março <strong>de</strong><br />

2000.<br />

O educador Francisco Gutiérrez, diretor do Instituto Paulo Freire da Costa Rica, foi o<br />

primeiro a criar a concepção <strong>de</strong> Ecopedagogia em 1992, por ocasião do ECO – 92 realizada na<br />

cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro também conhecida como RIO – 92. Desses encontros surgiram os<br />

princípios norteadores <strong>de</strong> uma educação para uma socieda<strong>de</strong> sustentável ou socieda<strong>de</strong> da<br />

sustentabilida<strong>de</strong>, como se segue:<br />

1. O planeta <strong>de</strong>ve ser visto como única comunida<strong>de</strong> (al<strong>de</strong>ia planetária);<br />

2. A Terra <strong>de</strong>ve ser vista como mãe, organismo vivo e dinâmico;<br />

734


3. A escola <strong>de</strong>ve formar a consciência da sustentabilida<strong>de</strong>, fundada nesse sentido;<br />

4. Deve-se motivar o sentimento <strong>de</strong> ternura em relação à Terra, nossa morada;<br />

5. Deve-se formar uma consciência planetária e uma nova ética, visando à justiça sócio -<br />

cósmica, que vê a Terra como o maior dos pobres;<br />

6. A Ecopedagogia <strong>de</strong>ve promover a vida, levando o educando a compartilhar, a<br />

problematizar a se envolver e a se relacionar com os outros;<br />

7. O conhecimento <strong>de</strong>ve ser visto como partilha, algo que se conquista sempre em<br />

comunhão com o outro;<br />

8. A escola <strong>de</strong>ve ensinar ao educando o sentido da vida cotidiana;<br />

9. Deve-se <strong>de</strong>senvolver uma racionalida<strong>de</strong> baseada na afetivida<strong>de</strong>, na intuição e na<br />

comunicação, ao invés <strong>de</strong> priorizar ape<strong>nas</strong> a razão instrumental;<br />

10. A escola <strong>de</strong>ve incentivar o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> novas relações e atitu<strong>de</strong>s que se veja o<br />

mundo através da sensibilida<strong>de</strong> e não ape<strong>nas</strong> da razão.<br />

Esses princípios não se constituem ape<strong>nas</strong> em um compromisso ecológico, mas ético<br />

político, sustentado por uma pedagogia, isto é, por uma ciência da educação e uma prática social<br />

<strong>de</strong>liberada, <strong>de</strong>finida, <strong>de</strong>terminada. Sendo assim, a pedagogia <strong>de</strong>ve estar inserida num movimento<br />

sócio histórico, formando cidadãos capazes <strong>de</strong> escolherem os índices <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> do seu próprio<br />

futuro. Essa ciência da educação possui natureza inteiramente nova e intensamente <strong>de</strong>mocrática: a<br />

Ecopedagogia. Surge então, a Ecopedagogia como solução para a problemática mundial e a busca<br />

pela construção da socieda<strong>de</strong> sustentável.<br />

Francisco Gutiérrez (1999) <strong>de</strong>fine pedagogia como trabalho <strong>de</strong> promoção da aprendizagem<br />

através dos recursos necessários e significativos ao processo educativo no cotidiano das pessoas. A<br />

formação está ligada ao espaço/tempo no qual se realizam <strong>de</strong> forma concreta as relações entre ser<br />

humano e o meio ambiente. Muito mais do que no nível da consciência, essas relações se dão no<br />

nível da sensibilida<strong>de</strong>. Portanto, é necessário uma ecoformação para torná-las conscientes, e a<br />

ecoformação precisa <strong>de</strong> uma ecopedagogia.<br />

Desse modo, é impossível construir <strong>de</strong>senvolvimento sustentável sem uma educação para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento sustentável, visto <strong>de</strong> forma crítica, tem um componente educativo formidável,<br />

como lembra Moacir Gadotti (2000, p.72), quando diz que a preservação do meio ambiente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> uma consciência ecológica e a formação <strong>de</strong>ssa consciência <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da educação. De acordo com<br />

o Instituto Paulo Freire sobre os novos paradigmas da educação, o objetivo central é compreen<strong>de</strong>r<br />

melhor o papel da educação na construção <strong>de</strong> um <strong>de</strong>senvolvimento com justiça social, focado <strong>nas</strong><br />

necessida<strong>de</strong>s huma<strong>nas</strong> e que não acometa o meio ambiente, surgindo a partir daí a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

uma ecopedagogia que nos ensine a viver e conviver <strong>de</strong> forma sustentável.<br />

735


Educação ambiental e sua importância no ensino fundamental I<br />

A Educação Ambiental <strong>de</strong> acordo com Dias (1994), se caracteriza por incorporar as<br />

dimensões sociais, políticas, econômicas, culturais, ecológicas e éticas, o que significa que ao tratar<br />

<strong>de</strong> qualquer problema ambiental, <strong>de</strong>vem-se consi<strong>de</strong>rar todas as dimensões. A maior parte dos<br />

problemas ambientais tem suas raízes na miséria, que por sua vez é gerada por políticas e problemas<br />

econômicos concentradores <strong>de</strong> riqueza e responsáveis pelo <strong>de</strong>semprego e <strong>de</strong>gradação ambientar.<br />

A Educação Ambiental, enquanto processo contínuo e permanente <strong>de</strong>ve atingir todas as<br />

fases do ensino formal e não formal; <strong>de</strong>ve também, <strong>de</strong>senvolver o senso crítico e as habilida<strong>de</strong>s<br />

huma<strong>nas</strong> necessárias para resolver tais problemas e utilizar métodos e estratégias a<strong>de</strong>quadas para<br />

aquisição <strong>de</strong> conhecimentos e comunicação, valorizando as experiências pessoais e enfatizando<br />

ativida<strong>de</strong>s práticas <strong>de</strong>las <strong>de</strong>correntes (DIAS, 1994).<br />

Sabendo que a educação é a peça fundamental para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong><br />

mais justa e harmoniosa, colocamos a escola como mola propulsora <strong>de</strong> perspectivas e políticas<br />

ambientais. Se o principal objetivo da escola é formar cidadãos críticos, atuantes e conscientes, é<br />

importante que eles sejam intimamente comprometidos com a vida e o bem estar do planeta. É<br />

necessário que a escola trabalhe mais do que meros conceitos científicos, é imprescindível que ela<br />

trabalhe valores e atitu<strong>de</strong>s, habilida<strong>de</strong>s e procedimentos que possam ser postos em prática<br />

cotidianamente para que assim envolva <strong>de</strong> fato os alunos <strong>de</strong>spertando o comprometimento com os<br />

problemas <strong>de</strong> sua casa, do planeta mãe.<br />

Segundo McLaren e Ramin Framdpur (2002) educar para a cidadania implica em muito<br />

mais do que uma filosofia educacional, os <strong>de</strong>safios são enormes, educar não seria como a citação <strong>de</strong><br />

Emile Durkheim, no livro Pedagogia Revolucionária na Globalização. Dessa forma, educar implica<br />

num reajuste <strong>de</strong> conceitos, numa reformulação <strong>de</strong> valores, numa revisão <strong>de</strong> nossos currículos, uma<br />

reorientação <strong>de</strong> nossa visão <strong>de</strong> mundo da educação como espaço on<strong>de</strong> insere os indivíduos não<br />

numa comunida<strong>de</strong> local, mas numa comunida<strong>de</strong> que ao mesmo tempo em que é local é global.<br />

A Educação Ambiental exerce um papel extremamente importante, principalmente nos dias<br />

<strong>de</strong> hoje, on<strong>de</strong> os professores possuem diversas formas <strong>de</strong> trabalho. As aulas, não só as <strong>de</strong> Ciências,<br />

mas todas elas <strong>de</strong>vem se dar <strong>de</strong> forma crescente e gradativa, relacionando cada meio que envolve<br />

cada criança, partindo da sua própria realida<strong>de</strong>, fazendo com que ela reflita, <strong>de</strong>senvolva seu senso<br />

crítico sobre o que está certo e o que está errado e procurando conscientizar-se <strong>de</strong> forma a contribuir<br />

com a melhoria das condições sociais e ambientais do homem na Terra.<br />

736


As organizações não governamentais reunidas no Fórum Global na Rio - 92 formularam o<br />

trabalho <strong>de</strong> Educação Ambiental para Socieda<strong>de</strong>s Sustentáveis e Responsabilida<strong>de</strong> Global que<br />

estabeleceram alguns princípios, dos quais po<strong>de</strong> - se citar:<br />

1. A educação ambiental é um direito <strong>de</strong> todos, somos todos aprendizes e educadores;<br />

2. Deve ter como base o pensamento crítico e inovador em qualquer tempo ou lugar em seus<br />

modos formal, não formal e informal promovendo a transformação e a construção da<br />

socieda<strong>de</strong>.<br />

3. É individual e coletiva. Tem o propósito <strong>de</strong> formar cidadãos com consciência local e<br />

planetária que respeitem a auto<strong>de</strong>terminação dos povos e a soberania das nações;<br />

4. A educação ambiental não é neutra, mas i<strong>de</strong>ológica;<br />

5. Deve integrar conhecimentos, aptidões, valores, atitu<strong>de</strong>s e ações, convertendo cada<br />

oportunida<strong>de</strong> em experiências educativas <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong>s sustentáveis.<br />

A educação ambiental tem como objetivo, portanto, formar a consciência dos cidadãos e<br />

transformar-se em filosofia <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> modo à levar a adoção <strong>de</strong> comportamentos ambientalmente<br />

a<strong>de</strong>quados, investindo nos recursos e processos ecológicos do meio ambiente. A educação<br />

ambiental, <strong>de</strong>ve necessariamente transformar-se em ação. Enquanto prática político pedagógica, a<br />

Educação Ambiental <strong>de</strong>terminada histórica e socialmente, preten<strong>de</strong> possibilitar o <strong>de</strong>senvolvimento e<br />

a escolha <strong>de</strong> estratégias <strong>de</strong> ação, que venham contribuir para a construção do processo <strong>de</strong> cidadania<br />

e para a melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida da população.<br />

Metodologia<br />

A metodologia do trabalho é baseada em uma pesquisa participativa fundamentada e<br />

analisada por alguns autores, que discutem natureza, a ecopegadogia e a educação ambiental, entre<br />

os quais <strong>de</strong>stacamos: Paulo Freire (1996), Moacir Gadotti (2000), Leonardo Boff (2004), Capra<br />

(1996), Penteado (1994), Carvalho (2004), Meirelles (2000), entre outros.<br />

Este trabalho trata <strong>de</strong> uma pesquisa participativa. De acordo com Thiollent (1998) e Pedrini<br />

(1997), em tal pesquisa são estabelecidas relações comunicativas com pessoas ou grupos da<br />

situação investigada com intuito <strong>de</strong> serem mais bem aceitos, enquanto <strong>de</strong>sempenham um papel<br />

ativo no equacionamento dos problemas encontrados, no acompanhamento e <strong>nas</strong> ações<br />

<strong>de</strong>sempenhadas. Ainda <strong>de</strong> acordo com Haguette (1997) na pesquisa participativa o problema se<br />

origina na comunida<strong>de</strong> em estudo e a última finalida<strong>de</strong> da pesquisa é a transformação estrutural<br />

fundamental e melhoria da vida dos envolvidos.<br />

737


Para a coleta <strong>de</strong> dados foram utilizadas algumas estratégias metodológicas propostas por<br />

Silva (2000), tais como: questionário em forma <strong>de</strong> trilha, estudo minucioso <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhos e frases,<br />

textos não verbais e ativida<strong>de</strong>s lúdicas; que proporcionarão a realização <strong>de</strong> uma oficina com<br />

material reciclado. A amostragem se <strong>de</strong>u da seguinte maneira: foram distribuídos questionário aos<br />

alunos do 4º e 5º anos do Ensino Fundamental.<br />

O objetivo <strong>de</strong> aplicação dos questionários aos alunos foi <strong>de</strong> verificar o nível <strong>de</strong><br />

conhecimento prévio sobre o tema proposto. Buscou-se examinar como eles <strong>de</strong>finem o meio<br />

ambiente. Os dados foram analisados <strong>de</strong> forma quantitativa e qualitativa, utilizando a triangulação,<br />

<strong>de</strong> acordo com Sato (1997) e Thiollent (1998), pois para eles esse método possibilita que os dados<br />

sejam quantificados e <strong>de</strong>scritos.<br />

Descrevendo a vivência <strong>nas</strong> Ofici<strong>nas</strong><br />

No primeiro momento foi trabalhada a percepção na sala <strong>de</strong> aula e no recreio, verificando<br />

sua relação quanto ao lixo produzido, posteriormente, foi realizado um questionário <strong>de</strong>stinado aos<br />

alunos e <strong>de</strong>pois pedimos que os mesmos pegassem o que <strong>de</strong> fato po<strong>de</strong>ria ser aproveitados no lixo,<br />

para po<strong>de</strong>rmos fazer nossa oficina <strong>de</strong> brinquedos.<br />

No Segundo momento, inquiriu-se <strong>de</strong> forma mais específica, a fim <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r o<br />

conceito que eles possuem sobre o tema: natureza é vida. Perguntou-se o que eles entendiam sobre<br />

o tema proposto, um aluno disse: eu acho que a natureza é a floresta e o outro completou: também<br />

são as plantas e os animais. Daí, indaguei: e nós fazemos parte da natureza ou não? E ape<strong>nas</strong> dois<br />

respon<strong>de</strong>ram que sim. Então expliquei para os <strong>de</strong>mais que nós fazemos parte também e precisamos<br />

<strong>de</strong>la para sobreviver.<br />

No terceiro momento da pesquisa, com a explanação do tema: o ambiente que temos e o que<br />

queremos, foi <strong>de</strong> uma importância bem gratificante para o <strong>de</strong>senvolvimento da pesquisa.<br />

Oferecemos folhas em branco para a construção <strong>de</strong> textos verbais e não verbais sobre: poluição,<br />

<strong>de</strong>smatamento e queimadas. Pedi para que dividissem a folha ao meio, <strong>de</strong> um lado colocassem o<br />

título: O ambiente que temos. E do outro lado: O ambiente que queremos.<br />

No primeiro lado eles <strong>de</strong>senharam fábricas com chaminés saindo fumaça e falaram que era<br />

poluindo o meio ambiente, um dos alunos <strong>de</strong>senhou sua casa vizinho <strong>de</strong> uma padaria que também<br />

saia fumaça da chaminé e disse que poluía a sua casa e sua irmãzinha tossia muito. Do segundo<br />

lado, o ambiente que queremos, eles <strong>de</strong>senharam florestas, animais, e crianças brincando próximos<br />

aos rios. O menino que falou da sua irmã <strong>de</strong>senhou sua casa e a padaria sem a chaminé e sua irmã<br />

brincando com os pássaros.<br />

No quarto e último momento <strong>de</strong>sta pesquisa foi realizado uma oficina <strong>de</strong> reciclagem com<br />

garrafas pet, na construção <strong>de</strong> brinquedos, que ficaram na escola para que brincassem na hora do<br />

recreio. As crianças se dividiram em grupos e cada grupo confeccionou um tipo <strong>de</strong> brinquedo.<br />

738


Ficaram encantadas com o que produziram, quando perceberam que quase todo material utilizado<br />

foi produto do lixo que antes eram <strong>de</strong>scartados, a cada novo brinquedo produzido mostravam-se<br />

cada vez mais surpresos e extasiados com as várias possibilida<strong>de</strong>s apresentadas para reaproveitar<br />

resíduos.<br />

Resultados<br />

Segundo Guimarães (2005, p. 31), no trabalho <strong>de</strong> conscientização é preciso estar claro que<br />

conscientizar não é simplesmente transmitir valores ver<strong>de</strong>s do educador para o educando; essa é a<br />

lógica da educação tradicional. Na Educação Ambiental, o papel do educador se centraria no auxílio<br />

ao educando acerca da análise crítica dos valores sociais e <strong>de</strong> si mesmo, com vista a uma síntese<br />

pessoal madura que impulsiona novas atitu<strong>de</strong>s.<br />

No primeiro encontro das ofici<strong>nas</strong> observou-se a percepção <strong>nas</strong> aulas e no recreio,<br />

verificando a relação dos alunos quanto a Educação Ambiental, a qual é a condição necessária para<br />

modificar um quadro <strong>de</strong> crescente <strong>de</strong>gradação socioambiental e <strong>de</strong>crescente qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida. No<br />

entanto, trabalhar só os conceitos da conscientização ambiental não basta, pois muitas pessoas têm<br />

noção teórica dos problemas ambientais sem uma mudança efetiva das atitu<strong>de</strong>s isoladas ou<br />

coletivas.<br />

Foi sugerido que a sala fosse dividida em grupos, on<strong>de</strong> cada grupo ficou responsável em<br />

confeccionar um brinquedo diferente. Essas garrafas pet que seriam jogadas no lixo ou no meio<br />

ambiente, foram transformados em diferentes tipos <strong>de</strong> brinquedos, como por exemplo: vai e vem<br />

que foi feito com duas garrafas pet cortadas ao meio para encaixar uma na outra, passando uma fita<br />

que não <strong>de</strong>ixe escapar essas duas garrafas encaixadas, feito isso é só passar dois barbantes por<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ssas garrafas. O engoli bila, o jogo <strong>de</strong> argolas e o jogo da velha. As crianças ficaram<br />

encantadas com os brinquedos, brincaram muito e ao termino das brinca<strong>de</strong>iras foi sorteados alguns<br />

brinquedos, porque outros ficaram na escola, eles pediram, pois na sexta feira é o dia que po<strong>de</strong>m<br />

levar brinquedos para a escola.<br />

Figura I e II – Crianças brincando com brinquedos colecionados por eles próprios<br />

739


Análises dos questionários dos alunos<br />

O que representa a natureza para você? Foi obtido como resposta na maioria dos<br />

questionários: floresta, plantas e animais. E nesse universo <strong>de</strong> respostas, vale ressaltar que ape<strong>nas</strong><br />

dois alunos respon<strong>de</strong>ram: ―A natureza representa nossa vida, a floresta, a respiração, os animais,<br />

etc”.<br />

Gráfico 1 – percepção ambiental dos alunos<br />

A próxima pergunta foi: Os problemas ambientais estão cada vez mais sendo discutidos na<br />

socieda<strong>de</strong>: o que você acha em relação a estes assuntos?<br />

Gráfico 2 – Opinião referente aos problemas ambientais<br />

Pô<strong>de</strong>-se verificar que a maioria dos alunos acha importante a discussão dos temas<br />

ambientais, tendo assim uma consciência a cerca da problemática em questão. A partir <strong>de</strong>sta<br />

constatação, torna se fácil ao professor a trabalhar com temáticas ambientais que <strong>de</strong>monstram<br />

interesse ao aluno.<br />

Conclusão<br />

Durante a realização das ativida<strong>de</strong>s observou-se que os alunos se interessaram e se<br />

envolveram na temática apresentada, também foi possível observar o conhecimento <strong>de</strong>les sobre<br />

740


meio ambiente, as praticas pedagógicas <strong>de</strong>senvolvidas sugerem a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> incorporá-las no<br />

cotidiano das instituições <strong>de</strong> ensino. Para assim, formar cidadãos capazes <strong>de</strong> agir individualmente e<br />

coletivamente para um ambiente sustentável. Foram oferecemos ofici<strong>nas</strong> criativas, diferentes,<br />

lúdicas ou mesmo outras ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> interesse dos alunos em geral; as ofici<strong>nas</strong> focaram a<br />

educação ambiental como ativida<strong>de</strong> pedagógica <strong>de</strong> cunho interdisciplinar.<br />

A partir do diálogo e da interação em situações lúdicas e concretas as crianças pu<strong>de</strong>ram (re)<br />

elaborar i<strong>de</strong>ias e comportamentos sobre o lixo e reciclagem, a natureza e o valor <strong>de</strong>stas em suas<br />

vidas. Também foi possível observar atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> respeito ao outro e a cultura, quando as crianças,<br />

nos relacionamentos estabelecidos, compartilhavam suas i<strong>de</strong>ias e curiosida<strong>de</strong>s e incorporavam ou<br />

(re) produziam saberes e conhecimentos elaborados acerca da temática explorada ou das situações<br />

<strong>de</strong> experiências.<br />

Constamos através dos questionários que a educação ambiental não está inserida no<br />

currículo da escola, os alunos são receptivos a metodologias diferentes das convencionais como<br />

aula <strong>de</strong> campo, jogos educacionais, ví<strong>de</strong>os, ofici<strong>nas</strong>, ginca<strong>nas</strong> ambientais. E estão abertos a discutir<br />

assuntos da atualida<strong>de</strong> em relação à Educação Ambiental. É preciso, portanto, procurar uma<br />

abertura para outra dimensão nos campos do saber baseado na Ecopedagogia, com o objetivo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolver uma metodologia através do qual professores/as e alunos/as possa construir o<br />

conhecimento voltado para uma educação ambiental que permita transformar a escola em um local<br />

on<strong>de</strong> exerça a cidadania.<br />

Referências<br />

BRANCO, S. M; Rocha, A. A. (1984). Poluição do ar. In: Elementos <strong>de</strong> Ciências do Ambiente. São<br />

Paulo: CETESB, 1984. p. 56-57.<br />

CAPRA, Frijof. A teia da <strong>Vida</strong>; uma compreensão científica dos sistemas vivos. São Paulo: Cultrix,<br />

1996.<br />

DIAS, Genebaldo F. Educação ambiental: princípios e prática. 4. ed. - São Paulo: Gaia, 1994.<br />

GADOTTI, Moacir. Ecopedagogia. In Perspectivas atuais da educação. 2ª ed. - P Alegre: Artmed,<br />

2000.<br />

GUTIÉRREZ, F. PRADO C. Ecopedagogia e Cidadania Planetária tradução <strong>de</strong> Sandra Trabuco<br />

Valenzuela. 1º. Ed.- São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire, 1999. – (Guia da escola cidadã).<br />

GUIMARÃES, M. A dimensão Ambiental na educação. Campi<strong>nas</strong>-SP: Papirus, 2005.<br />

HAGUETTE, Teresa Maria Frota. Metodologias qualitativas na Sociologia. 5ª edição. Petrópolis:<br />

Vozes, 1997.<br />

741


LIMA, Adriana Jerônimo <strong>de</strong>. Educação Ambiental na ONG Menina Feliz no município <strong>de</strong> Campina<br />

Gran<strong>de</strong> / PB. Monografia. 2003. (Curso <strong>de</strong> Licenciatura e Bacharelado em Ciências Biológicas).<br />

UEPB. Campina Gran<strong>de</strong>.<br />

MCLAREN, Peter, Pedagogia Revolucionária na globalização. 2ª ed. – São Paulo.<br />

SILVA, Monica Maria Pereira da & LEITE, Val<strong>de</strong>ri Duarte. Estratégias metodológicas para<br />

formação <strong>de</strong> educadores ambientais do ensino fundamental. In Anais XXVII Congresso<br />

Interamericano <strong>de</strong> Engenharia Sanitária e Ambiental. Porto Alegre, 2000.<br />

THIOLLENT, Michael. Metodologia <strong>de</strong> pesquisa ação. 8ª Edição. São Paulo: Cortez, 1998.<br />

SATO, Michele. Educação para o ambiente amazônico. 1997. Tese (Doutorado em Ecologia e<br />

Recursos Naturais) Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> São Carlos. São Paulo.<br />

742


EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ONG ―CENTRO DE CULTURA DA VILA DE PONTA<br />

NEGRA‖: UM ENFOQUE NA POLUIÇÃO MARINHA COMO MODO DE SENSIBILIZAÇÃO<br />

DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES 88<br />

Resumo<br />

Cássio Lázaro Silva INÁCIO (UFRN) – cassio-lazaro@hotmail.com<br />

Leonardo Lucas do Nascimento SIQUEIRA (UFRN) – leolucasrn@hotmail.com<br />

Lidiane Gomes PINHEIRO (UFRN) – lidiane.gpinheiro@yahoo.com.br<br />

Marianne Torres da Costa TEIXEIRA (UFRN) – mariannetct@hotmail.com<br />

A problemática ambiental está cada vez mais presente em nosso cotidiano como reflexo,<br />

principalmente, da magnitu<strong>de</strong> dos eventos naturais que hoje estão atingindo <strong>de</strong> forma direta a<br />

população. A partir daí, percebemos a importância <strong>de</strong> se disseminar informações à respeito das<br />

questões relacionadas à sustentabilida<strong>de</strong> e realização <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> Educação Ambiental (EA)<br />

visando amenizar os problemas ambientais que são causados em gran<strong>de</strong> parte pela falta <strong>de</strong><br />

informação e da consciência ambiental da população em geral. A EA aplicada à crianças e<br />

adolescentes é um exemplo que tem dado certo, principalmente, pelo po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> disseminação e<br />

sensibilida<strong>de</strong> que estes possuem, assim mostrando extrema importância para a construção <strong>de</strong> uma<br />

socieda<strong>de</strong> mais consciente. Neste sentido, o presente estudo contribuiu para a formação <strong>de</strong> cidadãos<br />

mais conscientes, por meio <strong>de</strong> uma prática <strong>de</strong> sensibilização. A ação foi realizada em Janeiro <strong>de</strong><br />

2012 com crianças e adolescentes <strong>de</strong> 6 a 12 anos da Vila <strong>de</strong> Ponta Negra, Natal/RN. O trabalho foi<br />

fundamentado <strong>nas</strong> práticas da metodologia da pesquisa-ação participativa e envolveu a fase<br />

diagnóstica, por meio <strong>de</strong> observações espontâneas em campo e contato com gestores da ONG<br />

e posterior aplicação das ações <strong>de</strong> sensibilização. Através <strong>de</strong> dinâmicas, ginca<strong>nas</strong>, e palestras, as<br />

crianças obtiveram conhecimentos sobre poluição marinha, importância da fauna e flora local e da<br />

manutenção do equilíbrio natural. Diante disso, fica explícita a importância da realização <strong>de</strong><br />

práticas <strong>de</strong> sensibilização, principalmente aplicadas a crianças e adolescentes e vislumbra-se que a<br />

EA constrói uma postura eco-política, <strong>de</strong> forma que, a partir da conscientização, expressa-se uma<br />

atuação política que encaminha para os interesses em termos <strong>de</strong> reivindicações coletivas e <strong>de</strong>staca-<br />

se sua importância para fortalecer as relações sociais, e as interações entre os seres humanos com o<br />

mundo.<br />

Palavras-chave: Conservação do ambiente; Sensibilização ambiental; Sustentabilida<strong>de</strong>.<br />

88 Ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas por alunos graduandos em Ciências Biológicas da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> do<br />

Norte, sob a orientação da Profª Drª Elineí Araújo <strong>de</strong> Almeida.<br />

743


Abstract<br />

The environmental issues are increasingly present in our everyday as a result, mainly, of the<br />

magnitu<strong>de</strong> of natural events that are currently affecting directly the population. From there, we<br />

realize the importance of disseminating information on issues related to sustainability and projects<br />

of environmental education (EE) in or<strong>de</strong>r to minimize the environmental problems that are caused<br />

largely by lack of information and environmental awareness of the population in general. The EE<br />

applied to the children and adolescents is an example that has worked, mainly, for power<br />

dissemination and sensitivity of these have, thus showing extreme importance to building a more<br />

conscientious society. In this sense, this study contributed to the formation of citizens more aware,<br />

by means of a practice of sensibilization. The action was performed in January 2012 with children<br />

and adolescents 6-12 years old of Vila <strong>de</strong> Ponta Negra, Natal / RN. The work was groun<strong>de</strong>d on the<br />

practices of the methodology of participatory action research and involved the diagnostic phase,<br />

through spontaneous observations in the field and contact with managers of NGOs and subsequent<br />

implementation of awareness raising. Through dynamic, competitions and lectures, the children<br />

obtained knowledge about marine pollution, importance of local flora and fauna and the<br />

maintenance of the natural balance. Given this, is explicit the importance of the realization of<br />

practical sensibilization, especially applied to children and adolescents and glimpses that the EE<br />

builds an eco-political posture, so that, from the awareness, expressed a political action that forward<br />

to the interests in terms of collective claims and stands out their importance to strengthen the social<br />

relations and interactions between human beings with the world.<br />

Keywords: Environmental conservation, Environmental sensibilization, Sustainability.<br />

Introdução<br />

O meio ambiente vem sofrendo diversas alterações negativas provocadas pela <strong>de</strong>senfreada<br />

ação humana, perda da biodiversida<strong>de</strong>, poluição, <strong>de</strong>stinação ina<strong>de</strong>quada <strong>de</strong> resíduos, <strong>de</strong>sperdício <strong>de</strong><br />

água, <strong>de</strong>ntre outros problemas, estão pondo em risco o futuro do planeta. Em <strong>de</strong>corrência disso,<br />

torna-se importante a EA, tendo a difícil tarefa <strong>de</strong> reverter o pensamento ainda corrente, com o<br />

intuito <strong>de</strong> ensinar às atuais e próximas gerações a importância do meio ambiente (SCARDUA,<br />

2009).<br />

Nossa socieda<strong>de</strong> vive um momento marcado pela preocupação com as alterações ambientais<br />

que têm afetado diretamente o homem e tem cada vez mais se escutado falar em <strong>de</strong>senvolvimento<br />

______________________________________________<br />

¹ Apresentação parcial dos dados obtidos durante a pesquisa <strong>de</strong> Mestrado junto a Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong><br />

Rondônia , sob o titulo ELEMENTOS PARA O PLANO DE BACIA DO IGARAPE D’ALINCUORT: ROLIM DE MOURA - RO,<br />

projeto hospedado no Laboratorio <strong>de</strong> Geografia e Planejamento Ambiental <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2008 a maio <strong>de</strong> 2010,<br />

quando foi <strong>de</strong>fendido.


sustentável, preservação ambiental, sensibilização e outras palavras que marcam esse processo,<br />

porém, nem sempre possuem significado claro para todos. Paralelo a isso temos o aumento da<br />

incidência <strong>de</strong> doenças que têm como principal vetor a poluição, mudanças bruscas <strong>de</strong> temperatura,<br />

gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sperdícios <strong>de</strong> recursos naturais como a água e tragédias ambientais que são<br />

documentadas cotidianamente. A partir daí percebemos a importância <strong>de</strong> uma maior disseminação<br />

<strong>de</strong> informações para toda a população com relação a esses assuntos promovendo educação<br />

ambiental em resposta a essas problemáticas.<br />

A EA é um processo contínuo <strong>de</strong> aprendizagem voltado para a melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

vida, on<strong>de</strong> se apren<strong>de</strong> a lidar com o meio ambiente respeitando-o e a si próprio. De acordo com<br />

Dias (2003 apud SCARDUA, 2009), a educação ambiental preten<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver o conhecimento, a<br />

compreensão, as habilida<strong>de</strong>s e a motivação do homem para adquirir valores, mentalida<strong>de</strong>s e atitu<strong>de</strong>s<br />

necessários para lidar com questões e problemas ambientais e encontrar soluções sustentáveis. Este<br />

mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> educação, aplicado principalmente à crianças e adolescentes tem como objetivo<br />

contribuir para a formação <strong>de</strong> um pensamento crítico e consciente a favor do meio ambiente.<br />

Assim, tendo em vista essa problemática, <strong>de</strong>staca-se a importância da realização <strong>de</strong> projetos<br />

<strong>de</strong> Educação Ambiental visando atenuar os problemas ambientais causados em gran<strong>de</strong> parte pela<br />

falta <strong>de</strong> informação e consciência ambiental. Neste sentido, o objetivo <strong>de</strong>ste estudo foi contribuir<br />

para a formação <strong>de</strong> cidadãos mais conscientes, por meio <strong>de</strong> uma prática <strong>de</strong> sensibilização <strong>de</strong><br />

crianças e adolescentes moradores da Vila <strong>de</strong> Ponta Negra. A escolha do local e público-alvo foi<br />

<strong>de</strong>corrente da carência <strong>de</strong> informações no tocante à educação ambiental, visível na presença <strong>de</strong><br />

muitos elementos poluidores na Praia <strong>de</strong> Ponta Negra, sendo bastante frequentada por turistas e<br />

moradores locais, próxima à qual localiza-se a ONG on<strong>de</strong> foram <strong>de</strong>senvolvidas as ativida<strong>de</strong>s.<br />

Material e Métodos<br />

A ação <strong>de</strong> sensibilização foi realizada em Janeiro <strong>de</strong> 2012 com crianças e adolescentes <strong>de</strong> 6<br />

a 12 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, frequentadoras da ONG ―Centro <strong>de</strong> Cultura da Vila <strong>de</strong> Ponta Negra‖, localizada<br />

na Vila <strong>de</strong> Ponta Negra, Natal/RN.<br />

O trabalho foi fundamentando <strong>nas</strong> práticas da metodologia da pesquisa-ação participativa,<br />

que consi<strong>de</strong>ra fundamental a participação dos sujeitos envolvidos tanto no processo <strong>de</strong> produção <strong>de</strong><br />

conhecimentos quanto na tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões. A etapa inicial consistiu em uma fase diagnóstica,<br />

por meio <strong>de</strong> observações espontâneas em campo e contatos com gestores da ONG e posteriormente<br />

foram aplicadas as ações <strong>de</strong> sensibilização. Através da dinâmica da teia (figura 01), na qual é<br />

enfatizada a importância <strong>de</strong> cada individuo na manutenção do todo, ginca<strong>nas</strong>, e palestras, as<br />

crianças obtiveram conhecimentos sobre poluição marinha, importância da água, animais marinhos,<br />

medidas que <strong>de</strong>vem ser tomadas para a conservação da água, da natureza em geral, envolvendo os<br />

745


animais e os vegetais que nela habitam (figura 02).<br />

Figura 01: Dinâmica da teia.<br />

Fonte: Autores.<br />

Figura 02: Apresentação <strong>de</strong> palestra.<br />

Fonte: Autores.<br />

Os participantes frequentaram ativamente todas as etapas da ação e no <strong>de</strong>sfecho, receberam<br />

um copo <strong>de</strong> plástico reutilizável para que percebessem a importância da não utilização abusiva <strong>de</strong><br />

plásticos <strong>de</strong>scartáveis e do seu papel para com a preservação do meio ambiente (figura 03).<br />

Frequentadores da ONG e palestrantes após as ativida<strong>de</strong>s.<br />

Fonte: Autores.<br />

746


Resultados e Discussão<br />

Para <strong>de</strong>senvolvimento do estudo foram levantadas questões que <strong>de</strong>spertassem a necessida<strong>de</strong><br />

da população participar em um nível mais alto do processo <strong>de</strong>cisório, como uma forma <strong>de</strong> fortalecer<br />

sua corresponsabilida<strong>de</strong> na fiscalização e no controle dos agentes <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação ambiental<br />

(JACOBI, 2003), trazendo essa responsabilida<strong>de</strong> para as crianças e adolescentes, alvos do trabalho e<br />

personagens importantes do processo <strong>de</strong> disseminação dos fatores inerentes à problemática<br />

ambiental.<br />

No <strong>de</strong>correr do trabalho eles pu<strong>de</strong>ram perceber que todos nós fazemos parte do ambiente, e<br />

somos ligados a ele por nossas necessida<strong>de</strong>s naturais e que todos os organismos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os mais<br />

simples até os mais complexos, são agentes importantes na manutenção do equilíbrio do todo e<br />

como consequência, nossas ações po<strong>de</strong>m afetar, mesmo que indiretamente, o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

natural <strong>de</strong> outras espécies. Por fim, as crianças compreen<strong>de</strong>ram que as atitu<strong>de</strong>s individuais po<strong>de</strong>m<br />

influenciar significativamente nos gran<strong>de</strong>s acontecimentos naturais.<br />

Dessa forma, a ativida<strong>de</strong> realizada contribuiu <strong>de</strong> forma significativa para a compreensão<br />

quanto à nossa responsabilida<strong>de</strong> sobre o equilíbrio ou <strong>de</strong>clínio dos fatores ambientais. Conforme<br />

comenta Reigota (1998), a educação ambiental aponta para propostas pedagógicas centradas na<br />

conscientização, mudança <strong>de</strong> comportamento, <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> competências, capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

avaliação e participação dos educandos. A maior virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa abordagem é que, além da<br />

incorporação <strong>de</strong>finitiva dos aspectos ecológicos no plano teórico, ela enfatiza a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

inverter a tendência auto<strong>de</strong>strutiva dos processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento no seu abuso contra a<br />

natureza (JACOBI, 1998). Diante disso, fica explícita a importância da realização <strong>de</strong> práticas <strong>de</strong><br />

sensibilização, principalmente aplicadas à crianças e adolescentes, pois é nessa fase <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobertas<br />

e solidificação da aprendizagem que muitos aspectos da educação po<strong>de</strong>m ser mais facilmente<br />

apreendidos e transformados.<br />

Vislumbra-se que a EA constrói uma postura eco-política, <strong>de</strong> forma que, a partir da<br />

conscientização, expressa-se uma atuação política que encaminha para os interesses em termos <strong>de</strong><br />

reivindicações coletivas. Por isso, <strong>de</strong>stacar a importância da EA e praticá-la fortalece as relações<br />

sociais, e as interações entre os seres humanos com o mundo. Estas novas relações evocam,<br />

também, uma nova ética, que se distancia do atual sistema, permitindo criar um novo momento para<br />

um fecundo nexo entre os elementos que compõem o ambiente. A partir <strong>de</strong>sse ponto percebemos<br />

que há necessida<strong>de</strong>s urgentes <strong>de</strong> se incrementar os meios <strong>de</strong> informação e o acesso a eles, bem<br />

como o papel indutivo do po<strong>de</strong>r público nos conteúdos educacionais, como caminhos possíveis para<br />

alterar o quadro atual <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação socioambiental.<br />

747


Referências<br />

JACOBI, P. Educação ambiental, Cidadania e sustentabilida<strong>de</strong>. Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> Pesquisa, n. 118,<br />

2003.<br />

JACOBI, P. et al. (orgs.). Educação, meio ambiente e cidadania: reflexões e experiências. São<br />

Paulo: SMA, 1998.<br />

REIGOTA, M. Desafios à educação ambiental escolar. In: JACOBI, P. et al. (orgs.). Educação,<br />

meio ambiente e cidadania: reflexões e experiências. São Paulo: SMA, 1998. p.43-50.<br />

REIGOTA, M. A. S. Cidadania e educação ambiental. Psicologia & Socieda<strong>de</strong>. vol. 20, Porto<br />

Alegre, 2008.<br />

SAUVÉ, L. Educação Ambiental: possibilida<strong>de</strong>s e limitações. Educação e Pesquisa, vol. 31 nº<br />

2, São Paulo, 2005.<br />

SCARDUA, Valéria Mota. Crianças e meio ambiente: A importância da educação ambiental na<br />

educação infantil. FACEVV, nº 3, p. 57-64, 2009.<br />

TAMAIO, I. A Mediação do professor na construção do conceito <strong>de</strong> natureza. Campi<strong>nas</strong>, 2000.<br />

Dissert.(Mestr.) FE/Unicamp.<br />

748


Resumo<br />

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UMA PROPOSTA METODOLÓGICA PARA INCENTIVO<br />

AO CONSUMO DE ALIMENTOS ORGÂNICOS 89<br />

Cristiane Ribeiro do NASCIMENTO¹ (DEMA/UFPB) - cristianeribeiro.ufpb@gmail.com<br />

An<strong>de</strong>rson Alves dos SANTOS² (DEMA/UFPB) - an<strong>de</strong>rgrafia@yahoo.com.br<br />

Ailson <strong>de</strong> lima MARQUES³ (UFCG) - digiailson@hotmail.com<br />

O processo <strong>de</strong> industrialização e expansão urbana proporcionou praticida<strong>de</strong>s às ativida<strong>de</strong>s huma<strong>nas</strong>,<br />

porém aliado a essas vantagens surgiram também diversos problemas ambientais. Desse modo, a<br />

partir da década <strong>de</strong> 60 se inicia um ciclo <strong>de</strong> <strong>de</strong>bates e <strong>de</strong>núncias sobre os impactos ambientais<br />

gerados pela produção e pelo consumo. É acerca <strong>de</strong>sse contexto que o presente estudo tem como<br />

objetivo central apresentar uma proposta metodológica em educação ambiental que possibilita a<br />

construção <strong>de</strong> espaços dialógicos para a conscientização da socieda<strong>de</strong> sobre a relação entre a<br />

escolha dos alimentos que consumimos e os impactos <strong>de</strong>ssas escolhas sobre a crise socioambiental.<br />

Esta proposta foi aplicada com jovens da zona rural que estudam em escolas públicas da zona<br />

urbana do município <strong>de</strong> Rio Tinto/PB. Foi Observado que durante o tempo em que os estudantes se<br />

reuniam na praça João Pessoa localizada no centro <strong>de</strong>sta cida<strong>de</strong> para aguardar o transporte escolar,<br />

os mesmos faziam o consumo <strong>de</strong> alimentos industrializados comprados, em estabelecimentos<br />

localizados na praça ou em supermercados da cida<strong>de</strong>. Dessa forma, a prática <strong>de</strong> educação ambiental<br />

proposta nesse trabalho preten<strong>de</strong> colaborar com as discussões acerca da conscientização e formação<br />

consciente do cidadão co-participativo na gestão socioambiental.<br />

Palavras chave: Educação ambiental; Consumo; Cidadania.<br />

Abstract<br />

The process of urban industrialization and expansion provi<strong>de</strong>s practicality to human activities, but<br />

also emerge various environmental problems. Thus, from the <strong>de</strong>ca<strong>de</strong> 60 starts a cycle of <strong>de</strong>bates and<br />

reports on the environmental impacts generated by production and consumption. This context the<br />

89 Bacharel em Ecologia pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Paraíba- UFPB, Campus IV. 2 Profº. Ms. Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral<br />

da Paraíba- UFPB, Campus IV. ³Graduando do curso <strong>de</strong> licenciatura em geografia pela universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong><br />

Campina Gran<strong>de</strong><br />

749


present study aims to provi<strong>de</strong> a central and methodological approach in environmental education.<br />

This approach enables the construction of dialogic space for awareness of the society about the<br />

relationship between the choice of food we consume and the impacts of these choices on the<br />

environmental crisis. The proposal was applied with young of the zone rural that studying in public<br />

schools in the urban area of Rio Tinto / PB. Was observed that during the wait by the school bus,<br />

stu<strong>de</strong>nts gathered in the square João Pessoa located in the center of the city for consuming foods<br />

purchased in supermarkets. Thus, this proposed of practice of environmental education aims to<br />

contribute to the discussions about the conscious awareness and forming of citizen co-participatory<br />

in management environmental.<br />

Keywords: Environmental education; Consumption; Citizenship.<br />

Introdução<br />

O i<strong>de</strong>al da revolução ver<strong>de</strong> gerou mudanças na agricultura brasileira a partir da década <strong>de</strong><br />

50, provocando transformações no trato cultural do homem com a terra e seus recursos naturais,<br />

<strong>de</strong>ntre as quais se <strong>de</strong>stacam as alterações ocorridas no modo <strong>de</strong> produção dos alimentos,<br />

possibilitando o aumento na produtivida<strong>de</strong> através da utilização <strong>de</strong> insumos industrializados. No<br />

entanto, essas mudanças vieram associadas a consequências graves, como é o caso do<br />

envenenamento dos sistemas ambientais.<br />

Com o avanço da ciência internacional <strong>nas</strong> décadas <strong>de</strong> 50 e 60, marcadas pelo início das<br />

primeiras <strong>de</strong>núncias <strong>de</strong> uma crise ambiental, o livro Primavera Silenciosa <strong>de</strong> Rachel Carson traz um<br />

alerta para os problemas que o uso <strong>de</strong> produtos químicos utilizados na agricultura convencional<br />

po<strong>de</strong> ocasionar sobre a biodiversida<strong>de</strong> dos ecossistemas.<br />

Na década <strong>de</strong> 90, durante a realização da Eco 92, o uso <strong>de</strong> produtos químicos na agricultura<br />

seria contraposto, ganhando <strong>de</strong>staque no capítulo 19 da Agenda 21, documento elaborado durante a<br />

Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. Esse<br />

documento explicita, entre outras coisas, que:<br />

Devem ser adotadas políticas e medidas reguladoras e não-reguladoras para i<strong>de</strong>ntificar os<br />

produtos químicos tóxicos e reduzir ao mínimo a exposição a esses produtos, substituindo-<br />

os por outras substâncias menos nocivas e abandonando progressivamente aqueles que<br />

apresentam riscos excessivos ou inaceitáveis para a saú<strong>de</strong> humana e o meio ambiente e<br />

aqueles que são tóxicos, persistentes e bioacumulativos e cuja utilização não po<strong>de</strong> ser<br />

a<strong>de</strong>quadamente controlada. (Agenda 21, 2003, p. 389).<br />

750


Segundo Evangelista (2010), no Brasil, foi a partir da década <strong>de</strong> 70 que a agricultura<br />

convencional passou a ser contestada, e o conjunto <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias que vão em sentido contrário passa a<br />

ser chamado <strong>de</strong> agricultura alternativa. Ainda <strong>de</strong> acordo com esse autor, hoje se <strong>de</strong>nomina<br />

agroecologia a ciência fundamentada nos princípios e conceitos da ecologia aplicados aos sistemas<br />

<strong>de</strong> produção. Essa ciência enfoca, além dos cuidados com o ambiente, os problemas sociais<br />

presentes nos sistemas <strong>de</strong> produção, procurando assegurar a sustentabilida<strong>de</strong> socioambiental no<br />

processo <strong>de</strong> produção e comercialização dos alimentos.<br />

No entanto, a transição da agricultura convencional para a agricultura baseada em princípios<br />

agroecológicos não requer ape<strong>nas</strong> a redução ou substituição <strong>de</strong> produtos agroquímicos, necessita,<br />

entre outras coisas, do envolvimento e participação do consumidor que precisa está informado sobre<br />

a importância do consumo <strong>de</strong> alimentos da agricultura orgânica e <strong>de</strong> seus benefícios, tanto no<br />

âmbito social como ambiental, além do apoio governamental às propostas <strong>de</strong> produção regional,<br />

especialmente a agricultura familiar, fortalecendo a segurança alimentar local e reduzindo os gastos<br />

e <strong>de</strong>sperdícios <strong>de</strong> energia com transporte.<br />

Nesse sentido, segundo ―Ruscheinsky (2004), consi<strong>de</strong>rando que a proposta <strong>de</strong> Educação<br />

Ambiental po<strong>de</strong>ria pautar-se inicialmente por uma educação alimentar, pois <strong>de</strong> um lado é um<br />

instante ímpar <strong>de</strong> comunicação com bens naturais e <strong>de</strong> outro ainda somos como e o que comemos‖,<br />

aqui apresentamos uma proposta <strong>de</strong> Educação Ambiental com foco no consumo <strong>de</strong> alimentos<br />

orgânicos contrapondo os benefícios ambientais <strong>de</strong>sses com os impactos socioambientais dos<br />

alimentos industrializados e da agricultura convencional.<br />

Educação Ambiental e o consumo <strong>de</strong> alimentos orgânicos<br />

Os primeiros questionamentos sobre a crise ambiental <strong>de</strong>stacavam os impactos gerados no<br />

processo <strong>de</strong> produção seja nos sistemas agrícolas ou industriais. No entanto, na década <strong>de</strong> 70 já<br />

havia um <strong>de</strong>slocamento discursivo da produção para o consumo. Para Miller (1997, apud Portilho,<br />

2005) o consumo é uma atitu<strong>de</strong> que envolve tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões políticas e morais praticamente<br />

todos os dias. De acordo com Santos (1987 p. 41), o consumo tem a sua própria força i<strong>de</strong>ológica e<br />

material. Às vezes, porém, contra ele, po<strong>de</strong> se erguer a força do consumidor.<br />

A relação entre consumo e problemas ambientais se <strong>de</strong>fine principalmente pelo esgotamento<br />

dos recursos naturais e pela <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social que se apresenta no ato <strong>de</strong> consumir. Nesse sentido,<br />

a construção da consciência crítica para as questões socioambientais se dá no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

práticas <strong>de</strong> Educação Ambiental não ape<strong>nas</strong> no âmbito ecológico das questões ambientais, é preciso<br />

que o consumidor reflita sobre os produtos que irá consumir e o reflexo <strong>de</strong> suas escolhas sobre sua<br />

vida e sobre o funcionamento do sistema socioambiental. Isso mostra que a construção da<br />

consciência crítica para as questões socioambientais se dá no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> práticas <strong>de</strong><br />

751


Educação Ambiental não ape<strong>nas</strong> no âmbito ecológico das questões ambientais, pois o homem<br />

interage em diferentes espaços sociais e culturais, <strong>de</strong>vendo este, ter suas percepções <strong>de</strong> relação<br />

homem-natureza influenciadas por uma leitura crítica <strong>de</strong> situações vividas no seu próprio cotidiano.<br />

A transição da agricultura industrial para a agricultura <strong>de</strong> bases agroecológica constitui um<br />

exemplo, on<strong>de</strong> o consumidor precisa estar informado sobre os aspectos sociais, ecológicos e<br />

culturais envolvidos no ato <strong>de</strong> consumir. Dentre os objetivos da agroecologia tanto para a<br />

socieda<strong>de</strong> como para o meio ambiente po<strong>de</strong>mos elencar, segundo Altieri (2002):<br />

I. <strong>Segurança</strong> alimentar com valorização <strong>de</strong> produtos tradicionais e conservação <strong>de</strong> geoplasmas <strong>de</strong><br />

varieda<strong>de</strong>s culturais locais;<br />

II. Resgatar e reavaliar o conhecimento <strong>de</strong> tecnologias camponesas;<br />

III. Promover o uso eficiente <strong>de</strong> recursos locais;<br />

IV. Aumentar a diversida<strong>de</strong> vegetal e animal <strong>de</strong> modo a diminuir os riscos;<br />

V. Reduzir o uso <strong>de</strong> insumos externos;<br />

VI. Buscar novas relações <strong>de</strong> mercado e organização social.<br />

Desse modo, po<strong>de</strong>r optar pelo consumo <strong>de</strong> produtos orgânicos advindos da agroecologia ou<br />

da agricultura familiar orgânica representa uma forma <strong>de</strong> cooperação com a união <strong>de</strong> forças para<br />

romper com a lógica <strong>de</strong> dominação do sistema atual. Pois, a agroecológica, além <strong>de</strong> não utilizar<br />

produtos químicos, incorpora ao processo <strong>de</strong> produção a conservação ambiental e o compromisso<br />

ético entre agricultores e consumidores. (OLIVEIRA, 2007).<br />

Quanto ao perfil do público consumidor <strong>de</strong> produtos agroecológicos, Lima (2008) <strong>de</strong>staca a<br />

falta do conhecimento acerca da importância do consumo <strong>de</strong> produtos agroecológicos como uma<br />

das explicações para a ausência <strong>de</strong> consumidores <strong>de</strong> classes menos favorecidas em feira<br />

agroecológica. Pois, ainda segundo Lima (2008), os produtos agroecológicos são comercializados a<br />

preços iguais aos <strong>de</strong> feiras comuns, chegando a ser vendidos mais baratos que em outros locais,<br />

principalmente quando comparados com os preços <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> supermercados.<br />

Segundo Vasquéz; Barros; Silva (2008), os consumidores <strong>de</strong> produtos orgânicos em sua<br />

maioria possuem graduação ou pós-graduação, ou seja, essas pessoas apresentam elevado nível <strong>de</strong><br />

escolarida<strong>de</strong> e, em muitos casos, optam pelo consumo <strong>de</strong>sses produtos porque tem conhecimento<br />

752


sobre os benefícios dos alimentos orgânicos para a saú<strong>de</strong> e assim estão dispostos a pagar preços<br />

mais altos pelos produtos orgânicos em comparação com os valores dos produtos da agricultura<br />

convencional.<br />

Contextualização do estudo<br />

Este trabalho teve como público alvo alunos da re<strong>de</strong> pública <strong>de</strong> ensino do município <strong>de</strong> Rio<br />

Tinto, município que está localizado na Mesorregião da mata paraibana e na Microrregião do litoral<br />

norte, distando 50 km da Capital, João Pessoa. Segundo dados do IBGE (2010), o município está<br />

composto por uma população <strong>de</strong> 22.947 habitantes.<br />

O município teve seu <strong>de</strong>senvolvimento iniciado com a instalação da fábrica <strong>de</strong> tecidos <strong>de</strong><br />

proprieda<strong>de</strong> dos irmãos alemães Artur, Fre<strong>de</strong>rico e Alberto Lundgren. Atualmente, a principal<br />

ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvida é a agricultura e o comércio, <strong>de</strong>stacando-se a persistência da agricultura<br />

familiar na região. (IBGE - 2006).<br />

O público alvo está caracterizado por jovens e crianças entre 12 e 21 anos que resi<strong>de</strong>m na<br />

zona rural e estudam em escolas públicas da zona urbana do município <strong>de</strong> Rio Tinto-PB. A<br />

abordagem ao público foi feita no momento em que este esperava a condução escolar na Praça João<br />

Pessoa, localizada no centro do município.<br />

Segundo Cândido (2008), diante dos impactos ambientais provocados pela industrialização e<br />

pelo acelerado processo <strong>de</strong> expansão urbana surge então uma preocupação ambiental, que<br />

influenciou a criação <strong>de</strong> parques e praças arborizadas com o intuito <strong>de</strong> promover áreas <strong>de</strong> lazer e<br />

contemplação à natureza.<br />

No entanto, a criação <strong>de</strong> parques e praças arborizadas com a intenção <strong>de</strong> garantia da<br />

qualida<strong>de</strong> ambiental tem esses intuitos interrompidos ao <strong>de</strong>ixarem <strong>de</strong> exercer ape<strong>nas</strong> as funções <strong>de</strong><br />

embelezamento paisagístico, conforto térmico, purificação do ar, redução da poluição sonora, e<br />

passam a ser vistos como meio <strong>de</strong> uso especulativo das ativida<strong>de</strong>s comerciais sem que houvesse um<br />

planejamento prévio <strong>de</strong>sses espaços para esses fins, resultando em mais um centro gerador <strong>de</strong><br />

impactos ambientais.<br />

Assim, foi possível verificar que durante o tempo em que os estudantes se reuniam na<br />

praça para aguardar o transporte escolar, os mesmos faziam o consumo <strong>de</strong> alimentos<br />

industrializados comprados, ali mesmo, ou em supermercados da cida<strong>de</strong>. A partir <strong>de</strong>ssa observação,<br />

constatou-se a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> intervir no cotidiano da Praça João Pessoa e na vida <strong>de</strong>sses jovens,<br />

por meio <strong>de</strong> uma proposta metodológica <strong>de</strong> educação ambiental, com o intuito <strong>de</strong> construir o<br />

diálogo sobre alguns problemas gerados pelo consumo <strong>de</strong> alimentos industrializados e pela<br />

753


agricultura convencional, contrapondo-os com os benefícios ambientais e sociais do consumo <strong>de</strong><br />

alimentos orgânicos.<br />

Para tanto, os jovens estudantes que frequentavam a praça foram convidados a participar <strong>de</strong><br />

uma oficina, on<strong>de</strong> seriam discutidas tais questões. Os que se dispuseram a participar foram<br />

convidados a se organizar na formação <strong>de</strong> grupos.<br />

No momento seguinte, foi proposto aos mesmos que realizassem a compra <strong>de</strong> alimentos que<br />

gostariam <strong>de</strong> consumir em um piquenique que seria realizado na Praça João Pessoa. Cada grupo<br />

dispunha <strong>de</strong> uma quantia <strong>de</strong> R$10,00 para aquisição dos produtos que iriam compor o cardápio do<br />

piquenique.<br />

Após a realização da escolha dos alimentos, os alunos retornaram à praça para dar<br />

continuida<strong>de</strong> ao piquenique. Nesse momento, foi estabelecido um diálogo em torno dos motivos da<br />

existência <strong>de</strong> uma varieda<strong>de</strong> tão gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> alimentos no mercado. Cada participante pô<strong>de</strong> expor os<br />

motivos que influenciaram na escolha dos alimentos, além disso, pu<strong>de</strong>ram ser discutidas algumas<br />

diferenças entre os alimentos industrializados, como os alimentos <strong>de</strong> agricultura convencional e os<br />

<strong>de</strong> produção agroecológica ou da agricultura familiar. Tendo em vista que o público trabalhado<br />

residia em sua maioria na zona rural, procurou-se sensibilizar para a importância <strong>de</strong> se conhecer<br />

melhor, os alimentos que são produzidos na região on<strong>de</strong> vivem procurando valorizar os produtos<br />

tradicionais da agricultura familiar.<br />

Contribuições da ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvida na construção do conhecimento socioambiental<br />

A metodologia utilizada possibilitou a construção do conhecimento a partir do diálogo entre<br />

as percepções <strong>de</strong> cada participante. Entretanto, é passível <strong>de</strong> algumas adaptações. O dinheiro<br />

utilizado po<strong>de</strong> ser substituído por uma moeda simbólica, e o ambiente <strong>de</strong> compras po<strong>de</strong> ser<br />

viabilizado através da utilização <strong>de</strong> figuras que representem os alimentos comercializados em<br />

supermercados ou em feiras agroecológicas. Além disso, com o intuito <strong>de</strong> enriquecer a discussão,<br />

po<strong>de</strong>riam ser realizadas <strong>de</strong>monstrações visuais das diferenças entre os alimentos cultivados com a<br />

utilização <strong>de</strong> agrotóxicos, que geralmente são gran<strong>de</strong>s e viçosos, e os orgânicos muitas vezes<br />

pequenos e <strong>de</strong>formados, porém superam em outros fatores, como o cheiro, o sabor e por serem mais<br />

saudáveis.<br />

supermercado.<br />

A Figura I abaixo apresenta o momento em que os estudantes escolhem os produtos no<br />

754


Figura I. Estudantes escolhendo produtos.<br />

Conforme po<strong>de</strong> ser visto na Figura II abaixo, <strong>de</strong>ntre os alimentos escolhidos pelos<br />

estudantes po<strong>de</strong>mos verificar a presença <strong>de</strong> refrigerantes e sucos, além, <strong>de</strong> biscoitos industrializados<br />

e algumas frutas como maçã, laranja e uva.<br />

Figura II. Alimentos escolhidos para o piquenique.<br />

Por meio do <strong>de</strong>poimento dos participantes, percebeu-se que a escolha dos alimentos foi<br />

influenciada pelo sabor, pelo preço e pelos atributos saudáveis, no caso das frutas, citadas como<br />

mais benéficas para a saú<strong>de</strong> quando comparadas pelos jovens com os alimentos industrializados. O<br />

Quadro I abaixo apresenta <strong>de</strong> forma geral os alimentos escolhidos pelos participantes.<br />

Quadro I- Alimentos escolhidos pelos participantes para o piquenique.<br />

Alimentos Tipos <strong>de</strong> alimentos Características observadas<br />

nos alimentos escolhidos<br />

Frutas. Maçã, uva e laranja. Rico em nutrientes, mais<br />

saudáveis que os<br />

industrializados e gera<br />

resíduos orgânicos <strong>de</strong> fácil<br />

<strong>de</strong>composição na natureza.<br />

Biscoitos. Salgados, recheados com Pobre em nutrientes, rico<br />

chocolate, recheados com em calorias, colorido e<br />

aromatizado artificialmente,<br />

Origem<br />

Agricultura.<br />

Industrializado.<br />

755


goiabada. contém conservante<br />

químico e gera resíduos<br />

sólidos <strong>de</strong> difícil<br />

<strong>de</strong>composição na natureza.<br />

Refrigerantes. Refrigerante <strong>de</strong> Guaraná e Pobre em nutrientes, muito<br />

refrigerante <strong>de</strong> laranja. calórico, colorido e<br />

aromatizado artificialmente,<br />

contém conservante<br />

químico e gera resíduos<br />

sólidos.<br />

Sucos. Suco <strong>de</strong> laranja. Colorido e aromatizado<br />

artificialmente, contém<br />

conservante químico e gera<br />

resíduos sólidos <strong>de</strong><br />

inorgânicos.<br />

Industrializado.<br />

Industrializado.<br />

Os principais questionamentos colocados para o consumo <strong>de</strong> alimentos industrializados<br />

estão relacionados à poluição ambiental e aos malefícios que esses produtos po<strong>de</strong>m ocasionar na<br />

saú<strong>de</strong> do ser humano. Entretanto, esses alimentos ainda são consumidos com muita frequência, para<br />

incentivar o consumo a indústria alimentícia investe cada vez mais em estratégias <strong>de</strong> marketing,<br />

porém, outra questão que influencia é a praticida<strong>de</strong> oferecida para as pessoas que tem um cotidiano<br />

corrido, em que, o tempo que seria necessário para o preparo das refeições é substituído pelo<br />

consumo <strong>de</strong> alimentos comprados prontos para o consumo.<br />

Nesse sentido, o resgate <strong>de</strong> alguns costumes da agricultura familiar, a exemplo das comidas<br />

típicas preparadas com ingredientes produzidos regionalmente, constitui um hábito necessário tanto<br />

para a valorização da cultura regional como para o melhoramento da qualida<strong>de</strong> da dieta alimentar.<br />

O consumo <strong>de</strong> frutas enfatizado como uma escolha necessária para uma alimentação<br />

saudável acen<strong>de</strong> a discussão para a diferença entre os produtos da agricultura convencional e os<br />

produtos agroecológicos. Pois, hoje já são comprovados cientificamente os malefícios do uso dos<br />

―<strong>de</strong>fensivos agrícolas‖, utilizados na agricultura convencional para a saú<strong>de</strong> humana e sobre o<br />

equilíbrio dos ecossistemas naturais. Entre os problemas ocasionados pelo uso <strong>de</strong> agrotóxicos foram<br />

elencados vários impactos como: i.Doenças em seres humanos, provocadas pelo contato direto com<br />

os agrotóxicos, tal fato foi exemplificado por alguns participantes, que testemunharam casos <strong>de</strong><br />

intoxicação <strong>de</strong> pessoas <strong>de</strong> sua família provocada pelo uso <strong>de</strong>ssas substâncias. ii.Destruição <strong>de</strong><br />

espécies <strong>de</strong> insetos importantes para a polinização e reprodução das espécies vegetais e a<br />

contaminação do solo, da água e do ar.<br />

Diante da exposição dos impactos que o uso <strong>de</strong> agrotóxicos na agricultura convencional<br />

po<strong>de</strong> ocasionar, outra questão foi colocada em <strong>de</strong>staque por um dos participantes da ativida<strong>de</strong>.<br />

Relatando que sua família produzia hortaliças utilizando os princípios da agroecologia, ele <strong>de</strong>stacou<br />

756


sua opinião contrária ao fato <strong>de</strong>sses produtos apesar <strong>de</strong> serem mais saudáveis ainda serem<br />

comercializados por preços similares aos dos produtos da agricultura convencional.<br />

Pesquisas relatam que alguns consumidores estão dispostos a pagar preços mais altos pelos<br />

alimentos orgânicos. No entanto, há pesquisas que mostram que esses consumidores apresentam<br />

grau <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> elevado e pertencem a classes sociais mais favorecidas, <strong>de</strong>sse modo, o<br />

incentivo ao consumo <strong>de</strong> produtos ecologicamente corretos <strong>de</strong>ve levar em consi<strong>de</strong>ração a<br />

acessibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas mercadorias a todas as classes sociais, pois, do contrário, o fato <strong>de</strong> que ape<strong>nas</strong><br />

uma pequena parcela da população tenha acesso a mercadorias oferecidas como ecologicamente<br />

corretas, torna essas práticas <strong>de</strong> incentivo ao consumo sustentável como agravantes do quadro <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social.<br />

Outro aspecto observado foi o <strong>de</strong> que alguns alimentos, a exemplo <strong>de</strong> frutas como a uva, não<br />

eram produzidos no estado da Paraíba, sendo este um dos motivos <strong>de</strong> alguns produtos apresentarem<br />

preços mais elevados, quando comparados a alimentos produzidos localmente. Pois, passam a ser<br />

incluídos no valor dos mesmos além dos gastos com a produção, os custos com transporte e outros<br />

encargos tributários até que ele chegue à mesa do consumidor.<br />

Nesse sentido, o consumo <strong>de</strong> produtos agroecológicos se diferencia do consumo <strong>de</strong> produtos<br />

da agricultura convencional por proporcionar novas relações sociais e <strong>de</strong> mercado entre agricultor e<br />

consumidor, pois, segundo Santos e Marcos (2006), a comercialização <strong>de</strong>sses produtos em feiras<br />

agroecológicas torna possível o consumidor conhecer a história dos produtos e <strong>de</strong> quem os produz,<br />

eliminando a figura do atravessador e proporcionando relações sociais e <strong>de</strong> mercado mais justas.<br />

Consi<strong>de</strong>rações finais<br />

A proposta aqui apresentada conseguiu estabelecer um espaço dialógico com jovens que<br />

resi<strong>de</strong>m em área rural e estudam na zona urbana acerca da responsabilida<strong>de</strong> socioambiental <strong>de</strong> cada<br />

cidadão. Este espaço contribuiu para o envolvimento dos participantes com a temática, que nos<br />

últimos anos tem sido amplamente discutida em diversas esferas da socieda<strong>de</strong>. Em relação às<br />

contribuições para a formação crítica dos alunos, foi possível apontar a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estabelecer<br />

indicadores que po<strong>de</strong>riam reforçar a percepção dos jovens no conhecimento sobre consumo<br />

consciente.<br />

A importância <strong>de</strong> se elaborar práticas <strong>de</strong> educação ambiental para discutir a questão do<br />

consumo <strong>de</strong> alimentos orgânicos se dá pela necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> valorização <strong>de</strong> uma melhoria na<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e pela necessária conscientização quanto à importância da agroecologia, que além<br />

<strong>de</strong> não utilizar produtos químicos, incorpora ao processo <strong>de</strong> produção a conservação ambiental,<br />

valorização dos produtos tradicionais e o compromisso ético com os consumidores.<br />

757


A proposta <strong>de</strong> Educação Ambiental para o consumo <strong>de</strong> alimentos orgânicos quebra com a<br />

visão <strong>de</strong> uma natureza distante e intocada, pois parte da consi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> que o homem precisa ser<br />

sensibilizado quanto às questões socioambientais, porém não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar que o mesmo<br />

encontra-se envolvido pela lógica da produção e do consumo.<br />

Finalmente, é <strong>de</strong>sejo dos autores <strong>de</strong>ste artigo aplicar esta oficina em outros espaços, como o<br />

próprio ambiente escolar, <strong>de</strong>vido este espaço apresentar um alto índice <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> alimentos<br />

industrializados. Preten<strong>de</strong>-se, com isso, investir na formação e incentivar as discussões para as<br />

questões ambientais através da conscientização da responsabilida<strong>de</strong> social e ambiental e mais, <strong>de</strong><br />

disseminar para a socieda<strong>de</strong> os benefícios da Educação Ambiental para a qualida<strong>de</strong> da vida e para o<br />

bom funcionamento do sistema socioambiental.<br />

Referências<br />

ALTIERI, M. Agroecologia: Bases Científicas para uma Agricultura Sustentável. Guaiba, RS:<br />

Agropecuária, 2002. 592p.<br />

CÂNDIDO, D. K. AS Praças e a Parceria Público Privada em Natal/RN. 138 f. 2008. (Mestrado<br />

em Geografia)- Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte, Natal/RN. 2008. Disponível em:<br />

http://bdtd.bczm.ufrn.br/te<strong>de</strong>simplificado/t<strong>de</strong>_arquivos/16/TDE-2010-02-08T052544Z-<br />

2420/Publico/DanielaKCpdf.pdf. Acesso em: 08/02/2010.<br />

CARSON, R. Primavera Silenciosa. ed.1, São Paulo: Gaia, p. 309, 2010.<br />

Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e <strong>de</strong>senvolvimento. 3º. Ed. – Brasília: Senado<br />

Fe<strong>de</strong>ral. Subsecretarias <strong>de</strong> Edições Técnicas, 2001.<br />

EVANGELISTA, V. Jardins Educadores: Ensaio sobre agroecologia e Permacultura na Escola<br />

Pública. 165 f. 2010 (Mestrado em Educação)- Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília, Brasília/DF. 2010.<br />

Disponível em: http://bdtd.ibict.br/. Acesso em: 05/03/2010<br />

IBGE. (2010). Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatísstica. Disponível<br />

em: Acesso em: Janeiro/2011.<br />

LIMA, A. B. Assentamento APASA-PB: A Agroecologia na Construção <strong>de</strong> novas Territorialida<strong>de</strong>s.<br />

Dissertação <strong>de</strong> Mestrado em Geografia- Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Paraíba, João Pessoa/PB, 2008.<br />

Disponível em: http://www.geociencias.ufpb.br/posgrad/dissertacoes/aline_barboza.pdf. Acesso<br />

em: 10/08/2011.<br />

MEDINA, N. M. Breve Histórico da Educação Ambiental. In: PADUA. S.M e Tabanez, M. F.<br />

Educação Ambiental, Caminhos Trilhados no Brasil. Brasília: Ipê, 1997. P.257-269.<br />

OLIVEIRA, M. B. Feira Agroecológica Promovendo o Desenvolvimento Local Auto- sustentável<br />

no Assentamento Padre Gino- PB. In: IV SEMAGEO – Semana <strong>de</strong> Geografia da UFPB. 4ª edição,<br />

2007. João Pessoa- PB.<br />

758


PORTILHO, F. Promessas e armadilhas das propostas do Consumo Ver<strong>de</strong>. Sustentabilida<strong>de</strong><br />

ambiental, consumo e Cidadania. São Paulo: Cortez, 2005. P.110-132<br />

RUSCHEINSKY, A. Atores Sociais e Meio Ambiente. IN: LAYRARGUES, P.P (coord.)<br />

I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s da Educação Ambiental Brasileira. Brasília: Diretoria <strong>de</strong> Educação Ambiental;<br />

Ministério do Meio Ambiente, 2004. P.51-64. Disponível em: < <br />

Acesso em: 10/12/2010<br />

SANTOS, A.S; MARCOS.V. Feira Agroecológica do Campus I da UFPB: (Re)construindo a<br />

Relação Produtor Consumidor na Lógica Camponesa. In: SEMILUSO - Seminário Luso-<br />

Brasileiro-Caboverdiano/III Encontro Paraibano <strong>de</strong> Geografia/III Semageo. 3ª edição. 2006. João<br />

Pessoa-PB.<br />

SANTOS, M.O Consumidor Mais- Que- perfeito. O espaço do cidadão. São Paulo: Nobel,<br />

1987.p.77-78.<br />

VASQUÉZ, S. F; BARROS J. D. S; SILVA. M. F. P. Agricultura Orgânica: Caracterização do seu<br />

Consumidor em Cajazeiras – PB. Revista Ver<strong>de</strong> <strong>de</strong> Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável.<br />

Mossoró- RN, V.1, n.3, janeiro/março <strong>de</strong> 2008. Disponível em: http://revista.gvaa.com.br. Acesso<br />

em: 01/12/ 12.<br />

759


Resumo<br />

A POLÍTICA DOS 3 R‘s DA SUSTENTABILIDADE DIANTE DA SOCIEDADE DE<br />

CONSUMO: PERCEPÇÃO DE ALUNOS DA UFRPE<br />

Danielle Franklin <strong>de</strong> LIRA<br />

Graduanda do Curso <strong>de</strong> Ciências Biológicas da UFRPE – (danielle_lira12@hotmail.com)<br />

Fernando Ferreira Joaquim MAIA<br />

Doutor e Mestre em Direito pela UFPE; Professor Adjunto da UFRPE – (fjmaia3@gmail.com).<br />

Na atualida<strong>de</strong> um dos assuntos mais comentados é o meio ambiente e a preocupação que temos em<br />

enten<strong>de</strong>r e praticar a educação ambiental. O artigo apresenta a percepção <strong>de</strong> alunos iniciantes e<br />

alunos em termino do curso <strong>de</strong> Licenciatura em Ciências Biológicas da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Rural<br />

<strong>de</strong> Pernambuco sobre os 3 R‘s,da sustentabilida<strong>de</strong>,englobando outras temáticas ambientais que<br />

tenham relação com o perspectivo tema.Foi realizada uma pesquisa quantitativa exploratória através<br />

<strong>de</strong> um questionário fechado,o qual <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> analisado foi feita uma comparação entre a percepção<br />

dos alunos do 1º período e os alunos do 9º período,dos turnos da tar<strong>de</strong> e noite.No questionário dos<br />

alunos do 9º período foi realizada também uma analise critica da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses ― quase‘‘<br />

professores em levar informações sobre a temática para as escolas que vão atuar‖. No referencial<br />

teórico foram apresentadas teorias relacionadas à educação ambiental, resíduos sólidos,os 3R´s e a<br />

sustentabilida<strong>de</strong>.O trabalhado apresentou um resultado satisfatório quanto à percepção <strong>de</strong>sses<br />

alunos mais especificamente os do 9º período,mostrando que o curso prepara os alunos para temas<br />

transversais como a Educação Ambiental.<br />

Palavras Chaves: Reciclagem, Redução e Reutilização.<br />

Abstract<br />

Nowadays one of the most discussed issues is the environment and the concern we have for<br />

un<strong>de</strong>rstanding and practicing environmental education. The paper presents a perception stu<strong>de</strong>nts<br />

and beginners stu<strong>de</strong>nts finish the Bachelor's Degree in Biological Sciences, Fe<strong>de</strong>ral Rural<br />

University of Pernambuco about the 3 R's of sustainability, encompassing other environmental<br />

issues that relate to the perspectival theme. It was conducted a quantitative research exploratory<br />

through a closed questionnaire, which after analysis a comparison was ma<strong>de</strong> between the stu<strong>de</strong>nts'<br />

perception of the 1st period and stu<strong>de</strong>nts of 9th period, shifts in the afternoon and no night.No<br />

questionnaire the stu<strong>de</strong>nts of 9th period was also carried out an analysis criticizes the ability of<br />

these "almost'' teachers in bringing about the theme for schools that will work. In the theoretical<br />

framework were presented theories related to environmental education, solid waste, the 3R'sea<br />

sustentabilida<strong>de</strong>.O worked showed a satisfactory result as the perception of these stu<strong>de</strong>nts more<br />

specifically the 9th period, showing that the course prepares stu<strong>de</strong>nts for cross-cutting themes such<br />

as Environmental Education.<br />

Key Words: Recycle, Reduce and Reuse.<br />

760


Introdução<br />

A Educação Ambiental é uma temática bastante discutida atualmente <strong>de</strong>vido a situação em<br />

que nosso planeta se encontra. Nas últimas décadas vários movimentos tem se intensificado no<br />

mundo a fora tentando fazer com que as pessoas adotem novas formas <strong>de</strong> comportamento e se<br />

sensibilizem com a realida<strong>de</strong> ambiental e a responsabilida<strong>de</strong> da socieda<strong>de</strong> sobre o meio em que<br />

vivem.Para que isso aconteça é <strong>de</strong> supra importância a educação,tendo em vista que é a partir <strong>de</strong>la<br />

que serão formados acadêmicos mais conscientes,envolvidos e comprometidos com as questões<br />

ambientais.<br />

A utilização da política dos 3R´s, que nos induzem a reduzir o consumo <strong>de</strong> cada recurso,<br />

reutilizar tudo que po<strong>de</strong>, reciclar sempre que possível,se faz necessária diante <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

constante e alto consumo,isso se refere tanto ao ensino básico quanto ao ensino superior.A<br />

percepção da temática ambiental ainda <strong>de</strong>ixa a <strong>de</strong>sejar,se faz concreto porque a prática também<br />

<strong>de</strong>ixa a <strong>de</strong>sejar.Um exemplo é a utilização <strong>de</strong> copos <strong>de</strong>scartáveis.Quem anda com uma caneca na<br />

bolsa?Poucas pessoas Para on<strong>de</strong> vamos,seja médico,lojas,faculda<strong>de</strong>,escolas,empresas,enfim,durante<br />

o nosso dia cada lugar on<strong>de</strong> passamos quase sempre utilizamos os copos <strong>de</strong>scartáveis.Se levássemos<br />

um copo <strong>de</strong> acrílico na bolsa,reduziríamos e muito o consumo dos <strong>de</strong> difícil <strong>de</strong>gradação,e assim<br />

estaríamos fazendo um bem a socieda<strong>de</strong> e ao meio ambiente.<br />

A escola possui uma enorme importância no contexto <strong>de</strong> preparação do aluno para o futuro.<br />

A universida<strong>de</strong> também,o que muda é ape<strong>nas</strong> que no caso das licenciaturas está preparando futuros<br />

professores,on<strong>de</strong> os tais tem papel fundamental na conscientização <strong>de</strong> seus alunos a temas<br />

ambientais,seja ele <strong>de</strong> qualquer disciplina,porém os <strong>de</strong> biologia são vistos como mais importantes<br />

nesse conceito e têm que saber trabalhar mais profundamente o assunto.A política dos 3 R‘s é <strong>de</strong><br />

suma importância nesse trabalho,pois é <strong>de</strong>la que se tira o básico que temos que praticar para ter um<br />

meio ambiente mais equilibrado : reciclar,reutilizar e reduzir.<br />

Tendo essa política como base, o presente trabalho objetiva analisar a percepção da mesma<br />

por 50 universitários iniciantes (1º período) e 50 <strong>de</strong> fim <strong>de</strong> curso (9º período) <strong>de</strong> Licenciatura em<br />

Ciências Biológicas,turnos tar<strong>de</strong> e noite da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Rural <strong>de</strong> Pernambuco,fazendo ao<br />

final uma comparação do conhecimento entre ambos e analisando a preparação dos alunos do 9º<br />

período para trabalhar a temática na escola.No que tange essa política,vale lembrar que este trabalho<br />

como estudo <strong>de</strong> caso limita-se ao grau <strong>de</strong> conscientização da instituição e períodos avaliados,não<br />

po<strong>de</strong>ndo ser um mo<strong>de</strong>lo consi<strong>de</strong>rado generalizado.<br />

761


2 Referencial Teórico<br />

2.1 Educação Ambiental<br />

A EA baseia-se em uma prática <strong>de</strong> educação para a sustentabilida<strong>de</strong>,sendo a tradução das<br />

relações huma<strong>nas</strong> com o ambiente.É também um processo contínuo <strong>de</strong> ajuda ao ser humano na<br />

i<strong>de</strong>ntificação dos sintomas e das causas reais dos problemas ambientais.Procura ainda <strong>de</strong>senvolver<br />

conhecimentos,aptidões,atitu<strong>de</strong>s,motivações e a disposição necessária para o trabalho individual e<br />

coletivo na busca <strong>de</strong> soluções.(Antunes 2004)<br />

O conceito <strong>de</strong> EA trata da relação do homem com o meio ambiente,sendo assim vem se<br />

aprimorando ao longo do tempo,se adaptando á realida<strong>de</strong> social em que o mesmo se<br />

encontra.Diversos autores conceituam a EA <strong>de</strong> modo diferente.Os conceitos também diferem<br />

quando se diz respeito a Lei da Política Nacional da Educação Ambiental.<br />

De acordo com a Lei nº 9795/99 que dispões sobre a Política Nacional <strong>de</strong> Educação<br />

Ambiental (ANDREADE,2001) no seu artigo 1º,enten<strong>de</strong>-se por educação ambiental o processo por<br />

meio dos quais o individuo e a coletivida<strong>de</strong> constroem valores<br />

sociais,conhecimentos,habilida<strong>de</strong>s,atitu<strong>de</strong>s e competências voltadas para a conservação do meio<br />

ambiente,bem <strong>de</strong> uso comum do povo,essencial a sadia qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e sua sustentabilida<strong>de</strong>.<br />

A EA apesar <strong>de</strong> não ter constante presença <strong>nas</strong> escolas,vem sendo trabalhada como um tema<br />

transversal,focando datas comemorativas que condizem com a temática como um bom momento<br />

para ser trabalhada.Nas universida<strong>de</strong>s o tema é tratado com mais frequência,isso se o curso tiver<br />

alguma relação com a temática,através <strong>de</strong> discipli<strong>nas</strong>,congressos,simpósios.De acordo a Lei da<br />

Educação Ambiental,em seu Art. 2º afirma: ― A educação ambiental é um componente essencial e<br />

permanente da educação nacional,<strong>de</strong>vendo estar presente,<strong>de</strong> forma articulada, em todos os níveis e<br />

modalida<strong>de</strong>s do processo educativo,em caráter formal e não formal (MEDAUAR, 2010)‖. A EA se<br />

faz necessária <strong>nas</strong> escolas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a educação infantil,on<strong>de</strong> os alunos vão crescendo habituados<br />

tornado-se capazes <strong>de</strong> transmitir a socieda<strong>de</strong> em que convive as informações necessárias sobre o<br />

tema e chegar na universida<strong>de</strong> atualizado quanto as questões ambientais.<br />

Segundo Philippi(2001),a Educação Ambiental <strong>de</strong>ve buscar valores que conduzam a uma<br />

convivência harmoniosa das espécies que habitam o planeta com o meio ambiente.É preciso<br />

consi<strong>de</strong>rar que a natureza não é fonte inesgotável <strong>de</strong> recursos e suas reservas não são<br />

finitas,<strong>de</strong>vendo ser utilizadas <strong>de</strong> maneira racional,evitando-se o <strong>de</strong>sperdício e consi<strong>de</strong>rando-se a<br />

reciclagem como processo vital<br />

762


2.2 Consumismo e Desperdício do Lixo<br />

A produção <strong>de</strong> lixo é inevitável. A partir das ativida<strong>de</strong>s huma<strong>nas</strong> são gerados resíduos<br />

sólidos <strong>de</strong> duas maneiras: como parte inerente do processo produtivo e também quando termina a<br />

vida útil dos produtos (CALDERONI, 2003). Assim,o <strong>de</strong>stino que damos ao lixo que produzimos é<br />

um problema cada vez mais sério. A palavra lixo origina-se do latim lix, que significa cinzas ou<br />

lixívia. No Brasil atribuiuse ao lixo, segundo a NBR 10004, a <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> resíduo sólido.<br />

Residuu, do latim, significa o que sobra <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas substâncias (BIDONE; POVINELLI,<br />

1999).Lidar com o lixo é bastante difícil diante da socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> consumo e ainda mais porque tal<br />

socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>sconhece do procedimento e tempo que o lixo <strong>de</strong>scartado levar para se<br />

<strong>de</strong>compor,causando assim vários problemas ao meio ambiente (Tabela 01). A disposição<br />

ina<strong>de</strong>quada <strong>de</strong> resíduos sólidos causa impactos graves, tais como a <strong>de</strong>gradação do solo, a poluição<br />

<strong>de</strong> corpos hídricos, a contribuição para a poluição do ar e a proliferação <strong>de</strong> vetores causadores <strong>de</strong><br />

doenças (JACOBI; BESEN,2006).<br />

LIXO TEMPO DE DECOMPOSIÇÃO<br />

Papel 3 a 6 meses<br />

Caixa <strong>de</strong> papelão Mínimo 6 meses<br />

Embalagem <strong>de</strong> leite Cerca <strong>de</strong> 6 meses<br />

Tecido 6 meses a 1 ano<br />

Filtro <strong>de</strong> cigarro 5 anos<br />

Chiclete 5 anos<br />

Ma<strong>de</strong>ira Pintada 13 anos<br />

Boia <strong>de</strong> Isopor Cerca <strong>de</strong> 80 anos<br />

Copo <strong>de</strong> plástico Quase 100 anos<br />

Garrafa plástica Mais <strong>de</strong> 100 anos<br />

Lata <strong>de</strong> cerveja Mais <strong>de</strong> 100 anos<br />

Linha <strong>de</strong> pesca Mais <strong>de</strong> 600 anos<br />

763


Fralda <strong>de</strong>scartável Cerca <strong>de</strong> 450 anos<br />

Lixo radioativo Cerca <strong>de</strong> 250.000 anos<br />

Vidro Cerca <strong>de</strong> 1 milhão <strong>de</strong> anos<br />

Pneu Não se sabe ao certo<br />

Tabela 01 – Tempo <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição <strong>de</strong> resíduos sólidos.<br />

O <strong>de</strong>sperdício po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado como o consumo além do que é necessário. Mas a<br />

<strong>de</strong>terminação do que é necessário é muito difícil <strong>de</strong> ser realizada, pois pertence a um campo<br />

totalmente subjetivo. A necessida<strong>de</strong> humana não po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada somente estando <strong>de</strong> acordo<br />

com a manutenção biológica, pois consumir bens além dos essenciais ao funcionamento biológico<br />

faz parte do <strong>de</strong>senvolvimento da diversificação humana. O problema principal é que a socieda<strong>de</strong><br />

atual per<strong>de</strong>u a dimensão <strong>de</strong> suas necessida<strong>de</strong>s (WAHBA, 1993). O mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> vida atual é baseado<br />

no consumo <strong>de</strong> bens,on<strong>de</strong> quanto mais se consome,mais se <strong>de</strong>scarta. Um exemplo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sperdício<br />

po<strong>de</strong> ser dado em relação aos Estados Unidos: cerca <strong>de</strong> 186 bilhões <strong>de</strong> correspondências (lixo<br />

postal) são <strong>de</strong>scartadas por ano, e estima-se que 45% <strong>de</strong>las são jogadas fora sem ao menos serem<br />

abertas, o que correspon<strong>de</strong> a uma média <strong>de</strong> 660 cartas por estado-uni<strong>de</strong>nse (MILLER JR, 2008).<br />

Outro exemplo e um dos mais criticados é o <strong>de</strong>sperdício <strong>de</strong> embalagens,o qual quanto maior o<br />

consumo maior a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> embalagens <strong>de</strong>scartadas. LUTZENBERGER (2002) acredita que a<br />

maioria dos produtos que compramos hoje venha com embalagens exageradas, que representam um<br />

<strong>de</strong>sperdício <strong>de</strong> recursos naturais.Não existe necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tantas embalagens,o que configura um<br />

<strong>de</strong>sperdício <strong>de</strong> recursos naturais,financeiros,assim como posterior geração <strong>de</strong>snecessária <strong>de</strong> lixo.<br />

2.3 A política dos 3 R‘s<br />

Para preservar o meio ambiente e os recursos que este oferece, é urgente uma mudança <strong>de</strong><br />

atitu<strong>de</strong> em relação ao mesmo e a todos os problemas inerentes. Atitu<strong>de</strong>s individuais e sociais po<strong>de</strong>m<br />

refletir-se direta ou indiretamente numa mudança positiva.Para isso basta que todos adotem a<br />

política dos 3R‘s. A política é um conjunto <strong>de</strong> ações sugeridas durante a Conferência da Terra,<br />

realizada no Rio <strong>de</strong> Janeiro em 1992, e o 5° Programa Europeu para o Ambiente e<br />

Desenvolvimento, realizado em 1993. Os 3R‘s consistem nos atos <strong>de</strong> Reduzir, Reutilizar e Reciclar<br />

o lixo produzido. Para Bonelli (2005) reduzindo e reutilizando se evitará que maiores quantida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> produtos se transformem em lixo. Reciclando se prolonga a utilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recursos naturais, além<br />

<strong>de</strong> reduzir o volume <strong>de</strong> lixo.<br />

764


O autor citado exemplifica algumas formas <strong>de</strong> 3R´s:<br />

a) Cacos <strong>de</strong> vidros são usados na fabricação <strong>de</strong> novos vidros, o que permite a economia <strong>de</strong> energia.<br />

b) O reaproveitamento do plástico ajuda a poupar petróleo e, portanto, dinheiro.<br />

c) Reciclar Papel, além da economia, significa menos árvores <strong>de</strong>rrubadas.<br />

Ainda expõe o conteúdo <strong>de</strong> reduzir, reutilizar e reciclar; a saber:<br />

Reduzir:<br />

Reduzir o lixo em nossas casas, implica em reduzir o consumo <strong>de</strong> tudo o que não nos é realmente<br />

necessário. Isto significa rejeitar produtos com embalagens plásticas e isopor, preferindo as <strong>de</strong><br />

papelão que são recicláveis, que não poluem o ambiente e <strong>de</strong>sperdiçam menos energia.<br />

Reutilizar:<br />

Reutilizar significa usar um produto <strong>de</strong> várias maneiras. Como exemplo.<br />

a) Reutilizar <strong>de</strong>pósitos <strong>de</strong> plásticos ou vidro para outros fins, como plantar, fazer brinquedos;<br />

b) Reutilizar envelopes, colocando etiquetas a<strong>de</strong>sivas sobre o en<strong>de</strong>reço do remetente e <strong>de</strong>stinatário;<br />

c) Aproveitar folhas <strong>de</strong> papel rasuradas para anotar telefones, lembretes, recados; d) Instituir a Feira<br />

<strong>de</strong> Trocas para reciclar, aproveitando ao máximo os bens <strong>de</strong> consumo, como: roupas, discos,<br />

calçados, móveis.<br />

Reciclar:<br />

Reciclar é uma maneira <strong>de</strong> lidar com o lixo <strong>de</strong> forma a reduzir e reusar. Este processo<br />

consiste em fazer coisas novas a partir <strong>de</strong> coisas usadas. A reciclagem reduz o volume do lixo, o<br />

que contribui para diminuir a poluição e a contaminação, bem como na recuperação natural do meio<br />

ambiente, assim como economiza os materiais e a energia usada para fabricação <strong>de</strong> outros produtos.<br />

Geralmente o R mais conhecido é o da reciclagem,porém muitas pessoas não sabem <strong>de</strong><br />

fato o seu significado e acabam trocando os conceitos. Para alguns a questão do lixo é consi<strong>de</strong>rado<br />

como um problema cultural, tendo suas raízes no consumismo da socieda<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna. Desse modo,<br />

a Política dos 3R‘s teria uma sequência lógica a ser seguida: a redução do consumo <strong>de</strong>ve ser<br />

priorizada sobre a reutilização e a reciclagem; <strong>de</strong>pois da redução, a reutilização <strong>de</strong>ve ser priorizada<br />

sobre a reciclagem (LAYARGUES, 2002).<br />

765


Outra interpretação da Política dos 3Rs é consi<strong>de</strong>rando que a Reciclagem <strong>de</strong>ve se sobrepor<br />

à Redução e à Reutilização. De acordo com esse discurso, a Reciclagem seria suficiente para tornar<br />

o consumo sustentável.Essa situação faz com que a reciclagem produza um efeito ilusório e<br />

tranquilizante na consciência dos indivíduos, fazendo-os acreditar que po<strong>de</strong>m consumir ainda mais<br />

produtos, pois são recicláveis,sendo, portanto, consi<strong>de</strong>rados ecológicos (BLAUTH apud<br />

LAYARGUES, 2002). O simples símbolo <strong>de</strong> reciclável nos rótulos acaba trazendo a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que a<br />

embalagem será automaticamente reciclada, infinitamente.<br />

3 Metodologia<br />

Para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ste estudo utilizou-se a pesquisa bibliográfica exploratória, pesquisa<br />

<strong>de</strong>scritiva e análise quantitativa com o uso <strong>de</strong> questionário estruturado.<br />

A pesquisa bibliográfica é aquela que se realiza a partir do registro disponível, <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong><br />

pesquisas anteriores em documentos impressos, como livros, periódicos, artigos, teses,<br />

revistas e etc.(MARCONI E LAKATOS,2010).<br />

O tipo <strong>de</strong> pesquisa que se classifica como "<strong>de</strong>scritiva", tem por premissa buscar a resolução<br />

<strong>de</strong> problemas melhorando as práticas por meio da observação, análise e <strong>de</strong>scrições objetivas,<br />

através <strong>de</strong> entrevistas com peritos para a padronização <strong>de</strong> técnicas e validação <strong>de</strong> conteúdo<br />

(THOMAS; NELSON; SILVERMAN, 2007).<br />

Uma análise quantitativa apresenta os dados em percentuais. A primeira razão para se<br />

conduzir uma Pesquisa Quantitativa é <strong>de</strong>scobrir quantas pessoas <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada<br />

população compartilham uma característica ou um grupo <strong>de</strong> características. Ela é<br />

especialmente projetada para gerar medidas precisas e confiáveis que permitam uma análise<br />

estatística (ETHOS, 2002).<br />

Inicialmente, realizou-se uma pesquisa bibliográfica sobre o tema da Política dos 3R‘s para<br />

fundamentar os objetivos pretendidos neste artigo. Dentro do tema pesquisado, foram aprofundados<br />

diversos assuntos como Educação Ambiental, a problemática do lixo, sustentabilida<strong>de</strong>.<br />

Para coleta <strong>de</strong> dados foi elaborado um questionário,em anexo, contendo 10 questões <strong>de</strong><br />

múltipla escolha.Participaram da pesquisa 100 alunos do curso <strong>de</strong> Licenciatura em Ciências<br />

Biológicas da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Rural <strong>de</strong> Pernambuco(UFRPE),sendo 50 alunos do 1º período<br />

(tar<strong>de</strong> e noite) e 50 alunos do 9º período (tar<strong>de</strong> e noite).<br />

766


Após a coleta e seleção dos dados, estes foram tratados e analisados quantitativamente e<br />

qualitativamente para verificar a percepção da Política dos 3 R‘s envolvendo também conceitos da<br />

Educação Ambiental entre os alunos iniciantes(1º período) e alunos em término <strong>de</strong> curso(9º<br />

período) . No questionário dos alunos do 9º período foi realizada também uma analise critica da<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses ―quase professores‘‘em levar informações sobre a temática para as escolas que<br />

vão atuar.<br />

4 Resultados<br />

A apresentação e discussão dos resultados seguirão a linha dos recursos disponíveis após<br />

análise dos questionários respondidos pelos alunos. O mo<strong>de</strong>lo do questionário utilizado encontra-se<br />

no anexo A.<br />

Gráficos 1e 2 : Quanto a Política dos 3 r‘s você se consi<strong>de</strong>ra.<br />

Gráfico 1 Gráfico 2<br />

Com relação a questão <strong>de</strong> número 1 do questionário percebe-se que os alunos do 9º<br />

período estão mais informados do que os do 1º período,porém essa diferença não é tão gran<strong>de</strong>.<br />

Gráficos 3 e 4 : Qual foi sua principal fonte <strong>de</strong> informação?<br />

767


Gráfico 3 Gráfico 4<br />

Com relação a 2º questão observamos que a principal fonte <strong>de</strong> informação dos alunos do 1º<br />

período foi a internet,enquanto os alunos do 9º período <strong>de</strong>monstram buscar informação em fontes<br />

mais seguras como livros.<br />

Conceitos:<br />

Quanto aos conceitos <strong>de</strong> Reduzir,Reutilizar e Reciclar perguntados <strong>nas</strong> questões 3,4 e 5, 70<br />

% dos alunos do 9º período <strong>de</strong>monstraram mais concisão <strong>nas</strong> respostas,<strong>de</strong>ixando claro que sabem o<br />

conceito <strong>de</strong> cada um.Os outros 30% respon<strong>de</strong>ram superficialmente ou não souberam respon<strong>de</strong>r.Os<br />

alunos do 1º período <strong>de</strong>monstraram dificulda<strong>de</strong> <strong>nas</strong> repostas,ape<strong>nas</strong> 40% respon<strong>de</strong>ram com clareza<br />

e o restante mostraram estar confusos ou não souberam respon<strong>de</strong>r.<br />

Gráficos 5 e 6 : Qual Política dos 3‘s Você utiliza?<br />

Gráfico 5 Gráfico 6<br />

768


Quanto a 6º questão os alunos do 1º período assim como os do 9º período <strong>de</strong>monstram<br />

utilizar uma ação da Política dos 3 R‘s,ficando a <strong>de</strong>sejar uma pequena porcentagem que não usa<br />

nenhuma.<br />

Gráficos 7 e 8 : Para você, qual o nível <strong>de</strong> importância da Política dos 3r‘s diante da socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

consumo?<br />

Gráfico 7 Gráfico 8<br />

Na 7º questão os alunos do 9º período se mostraram mais concisos quanto a importância<br />

da política diante da socieda<strong>de</strong>,o que faz enten<strong>de</strong>r que tenham maior experiência com o assunto.<br />

Gráficos 9 e 10 : Você participa ou já participou <strong>de</strong> campanhas <strong>de</strong> Reciclagem,Reutilização e<br />

Redução <strong>de</strong> lixo?<br />

769


Gráfico 9 Gráfico 10<br />

Quanto a participação em campanhas questionada na 8º questão os alunos do 9º período mostram<br />

que participam mais e os alunos do 1º período já participaram em número maior.<br />

Gráficos 11 e 12 : Qual a melhor forma <strong>de</strong> tratar o tema?<br />

Gráfico 11 Gráfico 12<br />

Na 9º questão os números foram bem parecidos,fazendo-nos pensar que apesar da diferença <strong>de</strong><br />

períodos há uma consciência geral <strong>de</strong> como melhor o tema <strong>de</strong>ve ser tratado.<br />

A 10º questão os alunos relataram como tratariam o tema na escola,como futuros professores.Os<br />

alunos do 9º período <strong>de</strong>monstraram saber como aplicar o tema melhor,por já ter uma certa vivência<br />

<strong>nas</strong> escolas.Enquanto os do 1º período <strong>de</strong>ixaram a <strong>de</strong>sejar quanto a didática a ser aplicada.<br />

770


Consi<strong>de</strong>rações finais<br />

Consi<strong>de</strong>rando a temática abordada e análise do contexto das turmas pesquisadas, po<strong>de</strong>mos<br />

concluir que a Política dos 3 R‘s ainda <strong>de</strong>ixa a <strong>de</strong>sejar aos alunos iniciantes na<br />

Universida<strong>de</strong>s,mostrando que esses alunos não tiveram uma boa base do assunto em contexto com a<br />

Educação Ambiental em sua trajetória escolar.Quanto aos alunos do 9º período observamos que<br />

possuem uma boa base do assunto e que boa parte <strong>de</strong>ssa base foi adquirida no durante o curso <strong>de</strong><br />

Licenciatura em Ciências Biológicas,o qual em seu currículo está incluso a temática.<br />

Assim, po<strong>de</strong>-se perceber no presente estudo que a política dos 3R´s é importantíssima para o meio<br />

ambiente, pois sensibiliza população que a reciclagem, redução e reutilização são atos que <strong>de</strong>vem<br />

ser praticados no dia-a-dia.<br />

O presente trabalho é parte das discussões do projeto <strong>de</strong> pesquisa Retórica,Meio Ambiente e<br />

Po<strong>de</strong>r Judiciário do <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> Ciências Sociais da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Rural <strong>de</strong><br />

Pernambuco e também financiado pela CAPES através do Programa <strong>de</strong> Iniciação a<br />

Docência(PIBIDI).<br />

Referências Bibliográficas<br />

ANDRADE, Sueli A. <strong>de</strong>. Educação Ambiental: curso básico à distância: questões ambientais,<br />

conceitos, história, problemas e alternativas. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2001. 5v. 2ª<br />

Edição ampliada.<br />

ANTUNES, Marco A.M. Importância da Educação Ambiental. Instituto Teotônio Vilela, 2004.<br />

BIDONE, F. R. A.; POVINELLI, J. Conceitos básicos <strong>de</strong> resíduos sólidos. São Carlos: EESC/USP,<br />

1999.<br />

BONELLI, Cláudio M.C., Meio ambiente, poluição e reciclagem, 2 ed., Blucher, São Paulo: 2010.<br />

CALDERONI, S. Os bilhões perdidos no lixo.São Paulo: Humanitas Publicações - FFLCH/USP,<br />

2003.<br />

JACOBI, P. (Org.). Gestão compartilhada dos resíduos sólidos no Brasil: inovação com Inclusão<br />

Social. São Paulo: Annablume,2006.<br />

LAYRARGUES, Philippe P. O cinismo da reciclagem: o significado i<strong>de</strong>ológico da reciclagem da<br />

lata <strong>de</strong> alumínio e suas implicações para a educação ambiental. In: LOUREIRO, F.;<br />

LAYRARGUES, P.; CASTRO, R. (Org.). Educação ambiental: repensando o espaço da cidadania.<br />

São Paulo: Cortez, 2002.<br />

LUTZENBERGER, J. Vivemos um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> consume suicida e sem futuro. IHU On-Line. ano 2,<br />

n.18,maio<strong>de</strong>2002.Disponível.Acesso em: 28 <strong>de</strong> Agosto.2012.<br />

MARCONI, Marina <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos <strong>de</strong> Metodologia Científica.<br />

7ª edição. São Paulo, 2010. Atlas.<br />

MEDAUAR, O<strong>de</strong>te,Coletânea <strong>de</strong> legislação ambiental, 9.ed. Revista dos tribunais, São Paulo: 2010<br />

771


MILLER JR., G. T. Ciência Ambiental. São Paulo: Cengage Learning, 2008.<br />

PHILIPPI, L. S. A Costrução do Desenvolvimento Sustentável curso básico à distância: questões<br />

ambientais, conceitos, história, problemas e alternativas. Brasília: Ministério do Meio Ambiente,<br />

2001. 5v. 2ª Edição ampliada – Unida<strong>de</strong> VI<br />

THOMAS, J.R.; NELSON, J.K.; SILVERMAN, S.J. Métodos <strong>de</strong> pesquisa em ativida<strong>de</strong> física. 5.<br />

ed. Porto Alegre,RS: Artmed, 2007.<br />

WAHBA, L. L. A sombra do <strong>de</strong>sperdício. In: EIGENHEER, E. M. (Org.). Raízes do <strong>de</strong>sperdício.<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro: Instituto <strong>de</strong> Estudos da Religião, 1993.<br />

772


A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO ENSINO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO<br />

FORMADORA DA CONSCIÊNCIA AMBIENTAL DOS ALUNOS DA REDE PÚBLICA DO<br />

MUNICÍPIO DE CABACEIRAS, PB<br />

RESUMO<br />

Emannuella Hayanna Alves <strong>de</strong> LIRA (UEPB) - emannuellahayanna@gmail.com<br />

Natália Thaynã Farias CAVALCANTI (UEPB) - nataliathayna@yahoo.com.br<br />

José Thyago AIRES (UEPB) ze<strong>de</strong>taperoa@gmail.com<br />

Suenildo Jósemo Costa OLIVEIRA (UEPB) - suenildo@ccaa.uepb.edu.br<br />

O presente trabalho tem por objetivo avaliar o nível <strong>de</strong> consciência ambiental dos alunos em<br />

contrapartida as práticas pedagógicas utilizadas pelos professores do ensino fundamental II no<br />

município <strong>de</strong> Cabaceiras- PB. A preocupação com os problemas gerados a partir da relação homem-<br />

natureza é bastante antiga, a partir disso, as ações educacionais voltadas às ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> proteção,<br />

recuperação e melhoria sócia ambiental, vêm ganhando forças. A evolução dos conceitos <strong>de</strong><br />

Educação Ambiental (EA) está diretamente relacionada á evolução do conceito <strong>de</strong> meio ambiente e<br />

ao modo como este era percebido. A pesquisa foi exploratória e <strong>de</strong>scritiva com entrevistas voltadas<br />

aos dois diferentes públicos: professores e alunos passando por métodos <strong>de</strong> avaliação diferentes.<br />

Este tipo <strong>de</strong> estudo visa à obtenção <strong>de</strong> informações sobre as características, ações, percepções <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>terminado grupo <strong>de</strong> pessoas. Foi observado que mesmo com o incentivo da escola pelo tema,<br />

falta <strong>de</strong> um projeto político pedagógico que contemple a temática <strong>de</strong> forma eficiente e eficaz<br />

envolvendo todas as discipli<strong>nas</strong>. No que diz respeito aos alunos, foi observado que uma gran<strong>de</strong><br />

maioria, enten<strong>de</strong> o Meio Ambiente como algo importante, porém fora do seu contexto existencial,<br />

gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>stes, veem o meio ambiente ape<strong>nas</strong> como fauna e flora. Com isso, trata-se <strong>de</strong> fatores<br />

bastante preocupantes, tendo em vista que a EA é uma das ferramentas <strong>de</strong> orientação para a tomada<br />

<strong>de</strong> consciência dos indivíduos frente aos problemas ambientais, vendo que existe uma gran<strong>de</strong><br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser mais explorada <strong>nas</strong> escolas.<br />

Palavras-chaves: Degradação Ambiental; Meio Ambiente; Práticas Pedagógicas.<br />

ABSTRACT<br />

The present study aims to assess the level of environmental awareness among stu<strong>de</strong>nts on the other<br />

hand the pedagogical practices used by elementary school teachers in the city of Cabaceiras II-PB.<br />

The concern with the problems generated from the man-nature relationship is quite old, as<br />

appropriate, educational activities aimed at protection activities, restoration and environmental<br />

improvement partner, have been gaining strength. The evolution of the concepts of environmental<br />

773


education (EE) is directly related to the evolution of the concept of environment and how it was<br />

perceived. The research was exploratory and <strong>de</strong>scriptive with interviews aimed at two different<br />

audiences: teachers and stu<strong>de</strong>nts experiencing different evaluation methods. This type of study aims<br />

to obtain information on the characteristics, actions, perceptions of a particular group of people. It<br />

was observed that even with the encouragement of the school theme, lack of a political pedagogical<br />

project that addresses the issue of efficiently and effectively involving all disciplines. Regarding<br />

stu<strong>de</strong>nts, it was observed that a large majority un<strong>de</strong>rstands the Environment as something<br />

important, but outsi<strong>de</strong> their existential context, much of these, see the environment just as fauna and<br />

flora. With this, it is very disturbing factors, given that EA is a tool to gui<strong>de</strong> the awareness of<br />

individuals regarding environmental problems, seeing that there is a great need to be further<br />

explored in schools.<br />

Keywords: Environmental Degradation, Environment, Pedagogical Practices.<br />

Introdução<br />

No novo século, a escola tomou para si a incumbência <strong>de</strong> preparar os futuros cidadãos<br />

baseados em princípios ambientais. Mas infelizmente, a gran<strong>de</strong> maioria das ações<br />

educativas coloca nossa espécie como único elemento do meio a ser beneficiado. Tais<br />

ativida<strong>de</strong>s são, em sua maioria, engessadas e possuidoras <strong>de</strong> uma visão ingênua <strong>de</strong><br />

―salvarmos o planeta <strong>de</strong> nós mesmos‖ ou <strong>de</strong> propiciarmos um futuro mais sustentável<br />

para as nossas próximas gerações. (GUIMARÃES, 2008, p.7)<br />

A preocupação com os problemas gerados a partir da relação homem-natureza é bastante<br />

antiga, todavia foi em meados dos anos 50 que a crise ambiental foi disseminada, e na década<br />

seguinte que começaram a surgir com maior intensida<strong>de</strong> às reivindicações e os protestos contra o<br />

agravamento da <strong>de</strong>gradação ambiental (CARVALHO et al, 2005). A partir disso, as ações<br />

educacionais voltadas às ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> proteção, recuperação e melhoria sócia ambiental, vêm<br />

ganhando forças. De acordo com Dias (1991), a evolução dos conceitos <strong>de</strong> Educação Ambiental<br />

(EA) esteve diretamente relacionada á evolução do conceito <strong>de</strong> meio ambiente e ao modo como este<br />

era percebido. Com isso, a EA <strong>nas</strong>ce como um processo educativo que conduz a um saber ambiental<br />

materializado nos valores éticos e <strong>nas</strong> regras políticas <strong>de</strong> convívio social e <strong>de</strong> mercado, que implica<br />

a questão distributiva entre benefícios e prejuízos da apropriação e do uso da natureza. A aprovação<br />

da Lei nº 6.938, <strong>de</strong> 31.8.1981, institui a Política Nacional <strong>de</strong> Meio Ambiente a todos os níveis <strong>de</strong><br />

ensino, inclusive a educação da comunida<strong>de</strong>, objetivando capacitá-la para participação ativa na<br />

<strong>de</strong>fesa do meio ambiente. Dentro <strong>de</strong> toda problemática apontada, e da importância da preservação<br />

ambiental referidas no artigo 225 da constituição brasileira, este trabalho teve como principal<br />

objetivo avaliar o nível <strong>de</strong> consciência ambiental dos alunos em contrapartida as praticas<br />

pedagógicas utilizadas pelos professores do ensino fundamental II no município <strong>de</strong> Cabaceiras- PB.<br />

774


A pesquisa foi direcionada aos alunos e professores do ensino fundamental II do ensino<br />

publico do município <strong>de</strong> Cabaceiras. O município <strong>de</strong> Cabaceiras esta localizado na microrregião do<br />

Cariri Oriental Paraibano, com clima semiárido e uma população estimada em 5.035 habitantes<br />

(IBGE 2010). Metodologicamente a pesquisa foi do tipo exploratório e <strong>de</strong>scritivo. Este tipo <strong>de</strong><br />

estudo visa à obtenção <strong>de</strong> informações sobre as características, ações, percepções <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado<br />

grupo <strong>de</strong> pessoas, indicado como representante <strong>de</strong> uma população alvo, por meio <strong>de</strong> instrumentos<br />

<strong>de</strong> pesquisa, normalmente um questionário. As entrevistas voltadas aos dois diferentes públicos:<br />

professores e alunos passaram por métodos <strong>de</strong> avaliação diferentes, visando à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma<br />

diferente linguagem e abordagem para cada publico.<br />

Na avaliação da pratica pedagógica dos professores adotamos como base a metodologia <strong>de</strong><br />

SARAIVA, NASCIMENTO & COSTA (2008), analisando o fenômeno estudado, os seus<br />

―porquês‖ e seus <strong>de</strong>terminantes. O questionário aplicado com os docentes constou <strong>de</strong> 7 perguntas<br />

objetivas. A escolha do questionário se <strong>de</strong>u pela objetivida<strong>de</strong> das perguntas, o que nos ajudou a<br />

obter os dados estatísticos com maior precisão. A pesquisa foi aplicada a 5 dos 18 professores do<br />

ensino fundamental II da re<strong>de</strong> publica no município.<br />

Com relação aos alunos, a população <strong>de</strong> amostragem foi composta por 100 alunos <strong>de</strong> todas<br />

as turmas do ensino fundamental II <strong>de</strong> escolas publicas do município. O questionário <strong>de</strong> avaliação<br />

dos alunos constou primeiramente <strong>de</strong> questões relativas à i<strong>de</strong>ntificação do entrevistado (sexo, ida<strong>de</strong><br />

e série.). Em seguida foram inseridas quatro perguntas abertas (SILVA & COUTINHO, s/d) (1- O<br />

que é Meio Ambiente para você? 2- Como estão os rios <strong>de</strong> nosso município? 3- Você faz parte do<br />

Meio Ambiente? 4-Qual sua contribuição para melhorar o meio ambiente?) seguindo a metodologia<br />

baseada na interação socioambiental proposta por Lopes (1997), on<strong>de</strong> o mesmo prevê a<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> avaliar os níveis <strong>de</strong> consciência <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> através <strong>de</strong> práticas<br />

contemplativas e comunicativas, que <strong>de</strong>vem expressar os mais profundos pensamentos humanos na<br />

interação com seu meio.<br />

A avaliação <strong>de</strong>stas perguntas abertas do questionário foi realizada da seguinte maneira:<br />

Valor 0: questionário que em momento algum expressou qualquer relação com a i<strong>de</strong>ia principal do<br />

tema, ou aquele que <strong>de</strong>ixou claro que o aluno não <strong>de</strong>monstrou o mínimo interesse pelas questões<br />

propostas, <strong>de</strong>ixando-as sem resposta, por exemplo.<br />

Valor 1: respostas que <strong>de</strong>monstraram que o aluno possui um entendimento vago dos assuntos<br />

tratados, ou seja, ele usa palavras chaves mas não consegue expressar claramente a sua i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />

Meio Ambiente, não se inserindo neste contexto.<br />

Valor 2: respostas que <strong>de</strong>monstraram ter uma visão já melhor formada sobre o conceito <strong>de</strong> Meio<br />

Ambiente, mas ainda não percebem a importância do mesmo para a continuida<strong>de</strong> da vida e não se<br />

inserem na composição <strong>de</strong>ste Meio.<br />

775


Valor 3: resposta que além <strong>de</strong> apresentar uma opinião formada sobre o que é Meio Ambiente, na<br />

gran<strong>de</strong> maioria correta e a<strong>de</strong>quada para a capacida<strong>de</strong> da sua faixa etária, compreen<strong>de</strong> que faz parte<br />

do Meio Ambiente e que uma agressão ao Meio será uma agressão a ele próprio.<br />

Valor 4: questionário que supera as idéias básicas sobre Meio Ambiente entre outros jovens com a<br />

sua faixa etária, ele mostra-se muito interessado com os problemas ambientais do mundo, além<br />

disso propõe maneiras <strong>de</strong> melhorar a qualida<strong>de</strong> no meio on<strong>de</strong> vive através <strong>de</strong> práticas simples mas<br />

importantes na coletivida<strong>de</strong>, dando a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong>.<br />

Após o recolhimento dos questionários, os dados foram tabulados na planilha do Excel e<br />

elaborados os gráficos para análise das abordagens quantitativas e qualitativas.<br />

Resultados<br />

Na avaliação dos professores buscou-se distribuir graficamente em termos quantitativos os<br />

resultados das respostas do questionário. Analisamos todos os professores do ensino fundamental II<br />

do município conjuntamente, para termos uma visão mais clara do tema abordado. Apesar da<br />

importância da pesquisa, ape<strong>nas</strong> 5 dos 18 professores (27,77%), respon<strong>de</strong>ram ao questionário.<br />

Observam-se na Figura 1, questões gerais referentes ao ensino da educação ambiental no<br />

município. Com relação à primeira questão abordada ―Você acha necessária à inclusão da educação<br />

ambiental na educação básica?‖, todos os professores, 100% da população amostrada respon<strong>de</strong>u que<br />

sim, o que nos revela um nível <strong>de</strong> consciência dos professores em relação ao tema. Também 100%<br />

dos entrevistados afirmaram que em sua escola existem programas <strong>de</strong> educação ambiental,<br />

revelando um gran<strong>de</strong> nível <strong>de</strong> interesse das escolas do município a cerca do problema ambiental.<br />

A respeito do conhecimento <strong>de</strong> colegas que praticam as questões ambientais vimos que<br />

100% dos professores conhecem colegas que <strong>de</strong> alguma forma pratica ações <strong>de</strong> preservação do<br />

meio ambiente. Este fator é extremamente importante, pois, segundo os Parâmetros Curriculares<br />

Nacionais (PCNs) a EA é um dos temas transversais, ou seja, <strong>de</strong>ve ser trabalhado em todas as<br />

discipli<strong>nas</strong>, enfatizando-se os aspectos sociais, econômicos, políticos e ecológicos.<br />

776


Figura1- Aspectos gerais referentes ao ensino da Educação ambiental.<br />

A Figura 2 mostra que para <strong>de</strong>senvolver na pratica o ensino da educação ambiental os<br />

professores optam tanto pela passagem dos conteúdos da educação formal (40%), quanto por outras<br />

ativida<strong>de</strong>s (40%). Ape<strong>nas</strong> 20% dos entrevistados optam pelas brinca<strong>de</strong>iras, com o objetivo <strong>de</strong> tornar<br />

o tema mais atrativo para os alunos.<br />

Figura 2- Como você <strong>de</strong>senvolve na prática o ensino da Educação ambiental?<br />

Referente ao número <strong>de</strong> vezes por semana em que se aborda a questão ambiental (Figura 3),<br />

40% dos professores afirma abordar mais <strong>de</strong> duas vezes, porém as outras alternativas também foram<br />

bastante escolhidas (todas com 20% dos entrevistados), mostrando assim que o tema não é<br />

abordado com uniformida<strong>de</strong> por todos os professores.<br />

777


Figura 3- Quantas vezes na semana você aborda a questão ambiental?<br />

Para que o ensino da educação ambiental se torne mais eficaz (Figura 4) 60% dos<br />

entrevistados acreditam que falta empenho da escola, dos professores, vonta<strong>de</strong> politica dos<br />

governantes e participação da comunida<strong>de</strong>; e 40% dos entrevistados acreditam que falta ape<strong>nas</strong> a<br />

participação <strong>de</strong> toda comunida<strong>de</strong>.<br />

Figura 4- O que falta para que o ensino da educação ambiental se torne mais eficaz?<br />

A Figura 5 nos mostra que ha uma preocupação dos educadores em preservar os ecossistemas<br />

<strong>de</strong> seu município e praticar atitu<strong>de</strong>s, no dia-a-dia, que visem minimizar os <strong>de</strong>sperdícios, para 80%<br />

dos entrevistados esta <strong>de</strong>veria ser a contribuição do alunado. Ape<strong>nas</strong> 20% dos entrevistados<br />

afirmam que os alunos po<strong>de</strong>m contribuir ape<strong>nas</strong> praticando atitu<strong>de</strong>s, no dia-a-dia, que visão<br />

minimizar os <strong>de</strong>sperdícios.<br />

Esta questão nos mostra um elevado nível <strong>de</strong> consciência dos educadores, pois a gran<strong>de</strong><br />

maioria vê a relação entre o meio ambiente e a socieda<strong>de</strong> por completo, ou seja, que uma ação está<br />

relacionada à outra.<br />

778


Figura 5- Como os alunos po<strong>de</strong>m agir para que não haja mais <strong>de</strong>gradação dos recursos naturais?<br />

Se a principal função da educação ambiental é contribuir para a formação <strong>de</strong> cidadãos<br />

conscientes e críticos, capazes <strong>de</strong> <strong>de</strong>cidirem e atuarem na realida<strong>de</strong> socioambiental <strong>de</strong> um modo<br />

comprometido com a vida, com o bem estar <strong>de</strong> cada um e da socieda<strong>de</strong>, esta assume uma dimensão<br />

ampla, atingindo praticamente todas as áreas do currículo, po<strong>de</strong>ndo ser entendida como um<br />

sinônimo do que se enten<strong>de</strong>, hoje, por Educação Escolar (SANTA CATARINA, 1998, p. 47).<br />

Avaliação dos alunos<br />

Para realização da etapa referente aos alunos foram escolhidos aleatoriamente 100 alunos do<br />

ensino fundamental II da re<strong>de</strong> publica <strong>de</strong> ensino do município <strong>de</strong> Cabaceiras, com ida<strong>de</strong>s entre 12 e<br />

16 anos.<br />

Na Figura 6, observa-se o resumo das respostas dos alunos sobre ―O que é meio ambiente‖,<br />

para esta questão todas as pontuações foram marcadas (<strong>de</strong> 0 a 4 pontos), obtendo 2 pontos o maior<br />

número <strong>de</strong> alunos 38%.<br />

Figura 6- Resposta dos alunos ao 1° questionamento<br />

779


Em relação aos rios do municipio, a maioria dos alunos (54%) não apresentaram respostas que<br />

não tiveram relação como tema abordado. E nenhum dos alunos superou as i<strong>de</strong>ias basicas sobre o<br />

tema, não obtendo assim nenhum aluno neste quesito a pontuação máxima.<br />

Figura 7- Resposta dos alunos ao 2° questionamento.<br />

Para a questão 3, observa-se que 92% dos alunos, respon<strong>de</strong>ram sim, fazer parte do meio<br />

ambiente, porém ape<strong>nas</strong> 2% <strong>de</strong>stes conseguiram explicar <strong>de</strong> forma convicente como isto acontece.<br />

Este é um fator bastante preocupante, <strong>de</strong>vido a faixa etária e série <strong>de</strong>stes alunos, que a esta altura já<br />

<strong>de</strong>veriam possuir uma opinião embasada sobre o assunto, bem como uma capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> discorrer<br />

explicações concretas a respeito do mesmo.<br />

Figura 8- Resposta dos alunos ao 3° questionamento.<br />

Nenhum dos alunos afirmou que a melhoria do meio ambiente é um trabalho só <strong>de</strong> adultos;<br />

52% dos entrevistados afirmam que como contribuição para melhorar o meio ambiente, não jogam<br />

lixo <strong>nas</strong> ruas e rios; 28% afirmam contribuir com a reciclagem e cuidando das plantas e animais.<br />

780


Empatados em 10% ficaram as respostas não obtiveram relação com o tema e as respostas mais<br />

embasadas, que abordaram os temas plantar, cultivar, preservar.<br />

Figura 9- Resposta dos alunos ao 4° questionamento.<br />

Consi<strong>de</strong>rando o nível <strong>de</strong> consciência ambiental dos alunos entrevistados, os indicadores <strong>de</strong><br />

consciência ambiental no ensino fundamental II da re<strong>de</strong> pública no município <strong>de</strong> Cabaceiras foram<br />

os seguintes:<br />

- 6% ótimo, 20% bom e 74% ruim.<br />

Enten<strong>de</strong>ndo que na soma dos valores das questões <strong>de</strong> cada aluno, é validada por:<br />

- resultados acima <strong>de</strong> 11 pontos são iguais ao conceito ótimo;<br />

- resultados entre 8,25 a 11 pontos são iguais ao conceito bom;<br />

- resultados abaixo <strong>de</strong> 8,25 pontos são iguais ao conceito ruim.<br />

Os resultados obtidos referentes às praticas pedagógicas utilizadas pelos professores foram<br />

insatisfatórios quando comparado a consciência ambiental dos alunos. Afirma-se isto quando<br />

observa-se que 100% dos professores entrevistados dizem que na escola existem programas <strong>de</strong><br />

educação ambiental e que acham importante o ensino da mesma, além do fato <strong>de</strong> que todos<br />

afirmaram conhecer colegas que praticam o assunto; no entanto, 74% das crianças e jovens<br />

entrevistados não conseguiram respon<strong>de</strong>r questões básicas sobre meio ambiente <strong>de</strong> forma clara e<br />

objetiva, não conseguindo fazer relação do mesmo com o local em que vivem, ficando este restrito<br />

ape<strong>nas</strong> na opinião da maioria dos alunos as plantas e animais.<br />

Para a obtenção <strong>de</strong> resultados mais satisfatórios e para que se possa ter a formação <strong>de</strong> adultos<br />

consciente e preocupados com as questões ambientais é necessária que haja uma participação mais<br />

efetiva dos professores e a adoção <strong>de</strong> métodos mais dinâmicos e efetivos, para que haja inclusão da<br />

EA em todas as discipli<strong>nas</strong> para que este passe a ser realmente um tema transversal.<br />

Aos professores <strong>de</strong> Línguas Portuguesa e estrangeiras, recomenda-se que tragam para a sala<br />

<strong>de</strong> aula textos relacionados ao meio ambiente; aos <strong>de</strong> História, que estimulem a leitura reflexiva dos<br />

acontecimentos ecológicos passados e presentes; aos <strong>de</strong> Matemática, que estimulem os alunos a<br />

781


pensar sobre quantida<strong>de</strong>s, envolvendo temas ambientais, para que estes possam transformá-los; em<br />

Biologia po<strong>de</strong>m ser abordados diversos temas ambientais e ciclos da natureza; na disciplina <strong>de</strong><br />

Física, po<strong>de</strong>m ser tratados os fenômenos que hoje vêm ocorrendo com muito mais intensida<strong>de</strong> na<br />

natureza, bem como abordar a questão das energias alternativas, etc; em Química po<strong>de</strong> ser analisada<br />

a questão do uso indiscriminado dos agrotóxicos (SARAIVA, NASCIMENTO e COSTA, 2008)<br />

Conclusão<br />

Fica evi<strong>de</strong>nte com esta pesquisa que a participação dos professores no que diz respeito à<br />

temática ambiental não é uniforme, ainda que esta seja incentivada pela escola e muito <strong>de</strong>batida e<br />

discutida em âmbito nacional. Também foi observado que mesmo com o incentivo da escola pelo<br />

tema, falta <strong>de</strong> um projeto político pedagógico que contemple a temática <strong>de</strong> forma eficiente e eficaz<br />

envolvendo todas as discipli<strong>nas</strong>.<br />

No que diz respeito aos alunos, foi observado que uma gran<strong>de</strong> maioria, enten<strong>de</strong> o Meio<br />

Ambiente como algo importante, porém fora do seu contexto existencial, gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>stes, vêem<br />

o meio ambiente ape<strong>nas</strong> como fauna e flora. Este fato nada mais é do que uma resposta dos alunos,<br />

perante as praticas pedagógicas utilizadas e o <strong>de</strong>scompasso dos professores perante o assunto.<br />

Este fator é bastante preocupante, tendo em vista que a EA é uma das ferramentas <strong>de</strong><br />

orientação para a tomada <strong>de</strong> consciência dos indivíduos frente aos problemas ambientais, e que uma<br />

parte do alunado entrevistado já esta saindo do nível fundamental e entrando no nível médio; ou<br />

seja, estamos formando jovens inconscientes e indiferentes a este tema que como sabemos é <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong> importância para o futuro da humanida<strong>de</strong>.<br />

Dentro do exposto, recomenda-se que seja revisto o plano <strong>de</strong> educação ambiental das<br />

escolas junto aos professores, ressaltando, a importância da transversalida<strong>de</strong> da educação ambiental.<br />

Também é importante que as famílias <strong>de</strong>stes jovens e todo comunida<strong>de</strong> sejam envolvida nos<br />

projetos <strong>de</strong> EA criados pela escola, pois este é um assunto <strong>de</strong> interesse <strong>de</strong> todos, e a educação das<br />

crianças e jovens só po<strong>de</strong> ser firmada se esta estiver presente em todo ambiente <strong>de</strong> convivência<br />

social do mesmo.<br />

Referências<br />

CARVALHO, Aurean <strong>de</strong> Paula; SILVA, Dany Geraldo Kramer Cavalcanti; TUPINAMBÁ, Felipe<br />

Cesar Marques; SOUSA, Anésio Men<strong>de</strong>s <strong>de</strong>; FILHO, Antonio Moreira <strong>de</strong> Carvalho. Meio<br />

Ambiente Na Perspectiva <strong>de</strong> Estudantes do Ensino Médio <strong>de</strong> uma Escola Pública no Município <strong>de</strong><br />

Campina Gran<strong>de</strong>/PB. Engenharia Ambiental - Espírito Santo do Pinhal, v. 6, n. 3, p. 119-131, set<br />

/<strong>de</strong>z 2009.<br />

DIAS, Genebaldo Freire. Educação ambiental: princípios e prática. São Paulo: Gaia, 1992, p. 399.<br />

782


IBGE, Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística. Censo Demográfico 2010:<br />

http://www.ibge.gov.br/cida<strong>de</strong>sat/link.php?uf=pb<br />

LOPES, Josiane. Matemática, uma proposta <strong>de</strong> ensino a partir da teoria das inteligências múltiplas.<br />

Nova Escola: Revista do Ensino <strong>de</strong> Primeiro Grau. 101: 8-11, 1997.<br />

SANTA CATARINA, Secretaria <strong>de</strong> Estado da Educação e do Desporto. Proposta Curricular <strong>de</strong><br />

Santa Catarina: Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio: Temas Multidisciplinares.<br />

Florianópolis: COGEN, 1998.<br />

SARAIVA, Vanda Maria; NASCIMENTO, Kelly Regina Pereira do; COSTA, Renata Kelly Matos<br />

da. Prática Pedagógica Do Ensino De Educação Ambiental <strong>nas</strong> Escolas Públicas <strong>de</strong> João Câmara –<br />

RN. Holos, Ano 24, V. 2, fev 2008.<br />

SILVA, Júlio César Moschetta da. COUTINHO, Solange da Veiga. Nível <strong>de</strong> consciência ambiental<br />

em escolas como indicador <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong>. Universida<strong>de</strong> do Contestado, Campus <strong>de</strong><br />

Caçador/SC, s/d.<br />

783


PROPOSTA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL COM ÊNFASE EM RECURSOS HÍDRICOS: A<br />

PARTIR DA PROBLEMÁTICA DA LAGOA DO APODI-RN<br />

RESUMO<br />

Antônio Felipe Fernan<strong>de</strong>s ARAÚJO<br />

Universida<strong>de</strong> do Estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte – UERN<br />

Graduando do Curso Bacharelado em Gestão Ambiental<br />

felipe_uern@hotmail.com<br />

Felipe Vercely Arrais <strong>de</strong> ANDRADE<br />

Universida<strong>de</strong> do Estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte – UERN<br />

Graduando do Curso Bacharelado em Gestão Ambiental<br />

felipe_vercely@hotmail.com<br />

Hiara Ruth da Silva Câmara<br />

Universida<strong>de</strong> do Estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte – UERN<br />

Graduanda do Curso Bacharelado em Gestão Ambiental<br />

hiara_ruth@hotmail.com<br />

Jorge Luís <strong>de</strong> Oliveira PINTO FILHO<br />

Universida<strong>de</strong> do Estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte – UERN<br />

Professor do Curso Bacharelado em Gestão Ambiental<br />

jorgefilho-uern@bol.com.br<br />

O local estudado situa-se na parte mais baixa do município <strong>de</strong> Apodi-RN, e tem sido até hoje uma<br />

fonte <strong>de</strong> renda para muitos que ali resi<strong>de</strong>m. A pesca, a agricultura e a pecuária são algumas das<br />

ativida<strong>de</strong>s econômicas <strong>de</strong>senvolvidas na região. Este trabalho tem como objetivo expor as<br />

principais problemáticas ambientais que estão inseridas no trecho urbano da Lagoa do Apodi,<br />

através do levantamento das principais fontes poluidoras e como isso afeta a comunida<strong>de</strong> que resi<strong>de</strong><br />

às suas margens, e, diante disso, apresentar uma proposta <strong>de</strong> Educação Ambiental com Ênfase em<br />

Recursos Hídricos. Foi realizada uma visita in loco, a fim <strong>de</strong> visualizar a problemática <strong>de</strong> perto e<br />

interagir com a realida<strong>de</strong> dos moradores da região. Também foi utilizado o método <strong>de</strong> registro<br />

fotográfico e um check list, com o intuito <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar as áreas atingidas por <strong>de</strong>jetos e pela<br />

urbanização <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada. Percebeu-se que a Lagoa do Apodi atualmente encontra-se <strong>de</strong>gradada,<br />

situação esta que afeta as pessoas que utilizam direta ou indiretamente esse local. Foram<br />

i<strong>de</strong>ntificadas poluição <strong>de</strong> origem industrial, urbana e agropastoril. Diante <strong>de</strong>sse cenário, os<br />

problemas com o estado da referida lagoa acabam por refletir na socieda<strong>de</strong>, principalmente naqueles<br />

que resi<strong>de</strong>m em locais mais próximos. Nesta perspectiva, foi elaborada uma Proposta <strong>de</strong> Educação<br />

784


Ambiental com Ênfase em Recursos Hídricos, que objetiva conscientizar a população dos danos<br />

causados nesse ambiente aquático, seus efeitos e dar possíveis medidas cabíveis para atenuar essa<br />

problemática, através <strong>de</strong> alguns planos <strong>de</strong> ações. Percebeu-se também que há a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma<br />

ação conjunta do po<strong>de</strong>r público com a população local que vise um manejo a<strong>de</strong>quado para a lagoa e<br />

para as regiões vizinhas.<br />

PALAVRAS-CHAVES: Lagoa do Apodi; Problemáticas Ambientais; I<strong>de</strong>ntificação das Fontes;<br />

Educação Ambiental; População Local.<br />

ABSTRACT<br />

The study site is located in the lower part of the municipality of Apodi-RN, and has to date been a<br />

source of income for many living there. Fishing, farming and ranching are some of the economic<br />

activities in the region. This paper aims to explain the main environmental issues that are embed<strong>de</strong>d<br />

in urban stretch of lagoon Apodi through survey of the main polluting sources and how it affects the<br />

community residing along its banks, and, before that, a proposal Education environment with<br />

Emphasis on Water Resources. We conducted a site visit in or<strong>de</strong>r to see the problem up close and<br />

interact with the reality of local resi<strong>de</strong>nts. We also used the method of photographic record and a<br />

check list, in or<strong>de</strong>r to i<strong>de</strong>ntify areas affected by the waste and unplanned urbanization. It was<br />

noticed that the pond Apodi currently is <strong>de</strong>gra<strong>de</strong>d, a situation that affects people who use this site<br />

directly or indirectly. We i<strong>de</strong>ntified pollution from industrial, urban and agropastoral. Given this<br />

scenario, the problems with the state of said pond eventually reflect in society, especially those who<br />

live in places closer. In this perspective, we present a proposal for Environmental Education with<br />

Emphasis on Water Resources, which aims to raise awareness of the damage caused in the aquatic<br />

environment, its effects and possible give reasonable steps to mitigate this problem, through some<br />

action plans. It was also perceived that there is a need for joint action by the public authorities with<br />

the local population that seeks proper management of the lagoon and the surrounding regions.<br />

KEYWORDS: Pond Apodi; Environmental Issues; I<strong>de</strong>ntification of Sources, Environmental<br />

Education, Local Population.<br />

INTRODUÇÃO<br />

A quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> água doce renovável na terra gira em torno <strong>de</strong> 40.000 Km³ anuais,<br />

levando em consi<strong>de</strong>ração a diferença entre a precipitação pluviométrica e a evaporação. Porém,<br />

nem todo esse volume po<strong>de</strong> ser utilizado, uma vez que, quase dois terços rapidamente retornam aos<br />

corpos d‘Água e o restante é absorvido pelo solo e se concentra <strong>nas</strong> camadas mais superficiais, nos<br />

785


aquíferos subterrâneos. Sendo a parcela <strong>de</strong> água disponível para consumo <strong>de</strong> aproximadamente<br />

14.000 Km³. Essa pequena parcela disponível a humanida<strong>de</strong> e a custos compatíveis com seus<br />

diversos usos é <strong>de</strong>nominada <strong>de</strong> Recursos Hídricos (PEREIRA JÚNIOR, 2004).<br />

Essa pequena parcela <strong>de</strong> água é utilizada para diversos fins como: abastecimento doméstico<br />

e industrial; irrigação; <strong>de</strong>sse<strong>de</strong>ntação <strong>de</strong> animais; manutenção da flora e fauna; recreação e lazer;<br />

geração <strong>de</strong> energia elétrica; navegação e diluição <strong>de</strong> <strong>de</strong>spejos (DERISIO, 1992).<br />

Ainda segundo Derisio (1992), os recursos hídricos tem sua poluição originada <strong>de</strong> quatro<br />

fontes, que são: poluição <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m natural, quando esta não está associada à ação humana; poluição<br />

industrial, quando é originada a partir <strong>de</strong> resíduos líquidos dos processos industriais em geral;<br />

poluição urbana, quando é oriunda <strong>de</strong> habitantes <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong> e poluição agropastoril, que é<br />

<strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s ligadas principalmente a agricultura e a pecuária.<br />

Algumas <strong>de</strong>ssas fontes <strong>de</strong> poluição têm atingido a Lagoa do Apodi e diminuído<br />

gradativamente seu potencial hídrico, que tem sido <strong>de</strong> muita importância para os moradores que<br />

resi<strong>de</strong>m próximos à lagoa e que consequentemente tem utilizado seus recursos diretamente. É<br />

possível perceber o <strong>de</strong>spejo <strong>de</strong> <strong>de</strong>jetos sem um tratamento prévio, o que colabora para a constante<br />

<strong>de</strong>gradação e mau aproveitamento <strong>de</strong>sta importante fonte <strong>de</strong> água, além da presença <strong>de</strong><br />

empreendimentos avícolas e agropastoris, que propiciam <strong>de</strong>rramamento <strong>de</strong> excremento (matéria<br />

orgânica resultante da digestão animal) na água da lagoa, acarretando sérios danos ao equilíbrio<br />

natural do local.<br />

Além dos problemas citados anteriormente, existe o risco eminente <strong>de</strong> doenças causadas por<br />

vetores resi<strong>de</strong>ntes na água da Lagoa do Apodi e no seu entorno, <strong>de</strong>corrente do <strong>de</strong>spejo <strong>de</strong> esgotos<br />

diretamente na mesma e da presença <strong>de</strong> odores resultantes da alta concentração <strong>de</strong> matéria orgânica<br />

em <strong>de</strong>composição.<br />

Diante <strong>de</strong>sse cenário <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação da Lagoa do Apodi é importante se pensar no<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> métodos que mitiguem os impactos já verificados e promovam a prevenção à<br />

novos impactos.<br />

Algumas ações po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>senvolvidas a fim <strong>de</strong> manter a regularida<strong>de</strong>, qualida<strong>de</strong> e<br />

aumentar a disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse recurso como: reconstituir a vegetação ao longo das margens da<br />

lagoa; implantar re<strong>de</strong>s coletoras e <strong>de</strong> estações <strong>de</strong> tratamento <strong>de</strong> esgotos sanitários; coletar, tratar e<br />

dispor a<strong>de</strong>quadamente o lixo urbano; tratar os efluentes industriais entre outras (PEREIRA<br />

JÚNIOR, 2004). Tais ações po<strong>de</strong>m além <strong>de</strong> contribuir para a melhoria da qualida<strong>de</strong> da água,<br />

possibilitar o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s econômicas em condições mais favoráveis.<br />

Nessa perspectiva, a educação ambiental é uma ferramenta que po<strong>de</strong> ser usada para levar<br />

conhecimento sobre a temática ambiental. A mesma nesse contexto, po<strong>de</strong> contribuir para a<br />

formação <strong>de</strong> um pensamento reflexivo sobre o estado atual dos recursos hídricos da Lagoa do<br />

786


Apodi, bem como sua importância, para que os atores sociais se tornem agentes multiplicadores<br />

<strong>de</strong>ssas informações, disseminando ainda mais o conhecimento a respeito <strong>de</strong>ssa questão.<br />

Sendo assim o presente trabalho visa i<strong>de</strong>ntificar as fontes poluidoras da Lagoa do Apodi e<br />

como a população local é afetada, e a partir <strong>de</strong>ssa problemática apresentar uma proposta <strong>de</strong><br />

Educação Ambiental com Ênfase em Recursos Hídricos, a fim <strong>de</strong> conscientizar a população dos<br />

prejuízos causados pela poluição e consequente contaminação da Lagoa do Apodi.<br />

METODOLOGIA<br />

Classificação<br />

Inicialmente foi realizada uma consulta a bibliografia pertinente, objetivando o<br />

levantamento <strong>de</strong> informações teóricas sobre o problema abordado nesse estudo, consistindo assim<br />

em uma pesquisa bibliográfica (RAMPAZZO, 2002). Em seguida, foi realizada uma visita a campo<br />

que po<strong>de</strong> subsidiar à construção <strong>de</strong> um check-list para i<strong>de</strong>ntificar as principais fontes poluidoras e,<br />

assim, verificar a interação disso com a realida<strong>de</strong> vivida pela comunida<strong>de</strong> que resi<strong>de</strong> próximo as<br />

margens da Lagoa do Apodi. Sendo assim o presente estudo po<strong>de</strong> ser classificado ainda, como uma<br />

pesquisa <strong>de</strong> campo.<br />

Procedimentos<br />

No dia 30 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2011, foi realizada uma aula <strong>de</strong> campo, da disciplina Poluição e<br />

Controle Ambiental, com os discentes do Curso <strong>de</strong> Gestão Ambiental, 5° período, da Universida<strong>de</strong><br />

do Estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte – UERN na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Apodi/RN. Durante essa aula <strong>de</strong> campo<br />

foram levantados os primeiros dados para a realização <strong>de</strong>sse trabalho, esses dados foram oriundos<br />

do check list, para o levantamento das principais fontes poluidoras e da realização <strong>de</strong> um registro<br />

fotográfico.<br />

Num segundo momento, foi feito um planejamento e elaborado uma proposta <strong>de</strong> educação<br />

ambiental referente à recursos hídricos, com o intuito <strong>de</strong> aplicar o mesmo em alguma escola da<br />

região do entorno da Lagoa do Apodi. O questionário abordaria o tema recursos hídricos e objetiva<br />

adquirir informações sobre a percepção dos alunos com relação a esse tema, bem como suas<br />

opiniões sobre os principais usos da Lagoa do Apodi e suas principais fontes poluidoras.<br />

RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

A Lagoa do Apodi atualmente encontra-se <strong>de</strong>gradada, situação esta que afeta as pessoas que<br />

utilizam direta ou indiretamente esse ambiente aquático. A água que hoje se encontra poluída e<br />

totalmente ina<strong>de</strong>quada para uso já foi fonte potável para a população, sendo, para muitos, a única.<br />

787


Vários foram os fatores que contribuíram para que a lagoa chegasse a seu estado atual,<br />

<strong>de</strong>ntre eles a poluição por diversas fontes, <strong>de</strong>scaso por parte do po<strong>de</strong>r público e uma falta <strong>de</strong><br />

consciência da população em geral. Na concepção <strong>de</strong> Odum (1997), poluição é qualquer alteração<br />

in<strong>de</strong>sejável <strong>nas</strong> características químicas, físicas e biológicas do ar, do solo e da água que po<strong>de</strong>m<br />

afetar prejudicialmente a vida do homem, os nossos processos industriais, as condições <strong>de</strong> vida e<br />

patrimônio cultural; ou que po<strong>de</strong> <strong>de</strong>teriorar nossos recursos em matéria-prima, são consi<strong>de</strong>rados<br />

poluição.<br />

Dos tipos <strong>de</strong> poluição citadas por Derisio (1992), as que afetam a Lagoa do Apodi são <strong>de</strong><br />

origem industrial, urbana e agropastoril. Quanto aos seus usos, o citado recurso hídrico é <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

importância para a população do seu entorno, pois é utilizada para abastecimento doméstico e<br />

industrial, irrigação, <strong>de</strong>sse<strong>de</strong>ntação <strong>de</strong> animais, diluição <strong>de</strong> <strong>de</strong>spejos e para fins recreativos.<br />

I<strong>de</strong>ntificação das fontes poluidoras<br />

A poluição urbana se apresenta na forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>spejo <strong>de</strong> esgotos (Figura 01), sem tratamento<br />

prévio, diretamente na lagoa e disposição <strong>de</strong> resíduos sólidos, o que implica em perda da qualida<strong>de</strong><br />

da água. Esse fator ainda é influenciado pelo fato da lagoa está situada em uma parte muito baixa da<br />

cida<strong>de</strong>, o que favorece o escoamento <strong>de</strong> esgotos em direção a ela.<br />

Figura 01 – Esgoto sem tratamento sendo <strong>de</strong>spejado diretamente na lagoa.<br />

Fonte: Autores.<br />

Outra fonte <strong>de</strong> poluição i<strong>de</strong>ntificada na área foi a <strong>de</strong> origem industrial, que segundo Derísio<br />

(1992), é um das fontes mais significativas em termos <strong>de</strong> poluição. Esta foi percebida através <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong>s como a retirada <strong>de</strong> areia para ser utilizada na construção civil, que acaba <strong>de</strong>struindo a<br />

mata ciliar e <strong>de</strong>ixando a área mais vulnerável à erosão; e também por efluentes industriais oriundos<br />

<strong>de</strong> abatedouros que estão situados no entorno da lagoa, e tem os seus <strong>de</strong>spejos realizados<br />

diretamente nela, além <strong>de</strong> causar também odores <strong>de</strong>sagradáveis e o acúmulo <strong>de</strong> insetos. Em<br />

conjunto, todas essas ativida<strong>de</strong>s, além <strong>de</strong> atingir a população local, acabam causando alterações no<br />

ecossistema que por sua vez implica em uma redução da biodiversida<strong>de</strong>.<br />

788


Por fim, foi i<strong>de</strong>ntificada na área, a poluição <strong>de</strong> origem agropastoril, que é <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong>s ligadas à agricultura e à pecuária, e se dá através <strong>de</strong> <strong>de</strong>fensivos agrícolas, fertilizantes,<br />

excrementos <strong>de</strong> animais e erosão (DERÍSIO, 1992). Este tipo <strong>de</strong> poluição é muito comum na região,<br />

pelo fato <strong>de</strong> serem <strong>de</strong>senvolvidas práticas <strong>de</strong> agricultura e pecuária <strong>nas</strong> áreas bem próximas a lagoa,<br />

que causam alterações tanto ao solo quanto a água.<br />

Reflexo para a socieda<strong>de</strong><br />

Diante <strong>de</strong>sse cenário <strong>de</strong> interferência na Lagoa do Apodi-RN, os problemas com o estado da<br />

mesma acabam por refletir na socieda<strong>de</strong>, principalmente naqueles que resi<strong>de</strong>m em locais mais<br />

próximos, que acabam utilizando <strong>de</strong> tais recursos para sua subsistência e para obter renda, como é o<br />

caso dos moradores que com a pesca obtém alimento para suas famílias e ainda utilizam essa<br />

ativida<strong>de</strong> como fonte <strong>de</strong> renda. Há ainda aqueles que utilizam a região próxima da lagoa para o<br />

cultivo, principalmente, <strong>de</strong> arroz e feijão; outros trabalham com a pecuária. E assim, <strong>de</strong> uma forma<br />

ou <strong>de</strong> outra todas essas pessoas utilizam os recursos da lagoa. Todas essas ativida<strong>de</strong>s econômicas<br />

que os moradores <strong>de</strong>senvolvem, claramente causam impactos negativos ao meio em que eles vivem,<br />

contudo são os próprios moradores os mais prejudicados.<br />

Os moradores que utilizam esses recursos, principalmente para a subsistência, estão<br />

correndo sérios riscos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, pois além <strong>de</strong> estarem ingerindo alimentos produzidos em uma área<br />

que apresenta gran<strong>de</strong>s índices <strong>de</strong> poluição, estão constantemente em contato com a água e o solo<br />

que apresentam as mesmas condições. A Figura abaixo mostra esgotos a céu aberto e entre as casas<br />

(Figura 02).<br />

Figura 02 – Esgotos a céu aberto.<br />

Fonte: Autores.<br />

A população que vive <strong>nas</strong> proximida<strong>de</strong>s da lagoa enfrenta constantemente problemas com o<br />

saneamento precário da região, como é percebido na figura acima, tendo que enfrentar o risco <strong>de</strong><br />

789


contraírem doenças tanto pelo acúmulo <strong>de</strong> lixo, quanto pelo <strong>de</strong> insetos que se proliferam em meio a<br />

essas condições.<br />

A existência <strong>de</strong> uma estação <strong>de</strong> tratamento <strong>de</strong> esgoto atualmente <strong>de</strong>sativada (Figura 03)<br />

agrava ainda mais a situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação e <strong>de</strong>ixa claro o <strong>de</strong>scaso por parte do po<strong>de</strong>r público para<br />

com a comunida<strong>de</strong>.<br />

Figura 03 – Estação <strong>de</strong> tratamento <strong>de</strong> esgoto <strong>de</strong>sativada.<br />

Fonte: Autores<br />

Proposta <strong>de</strong> Educação Ambiental com Ênfase em Recursos Hídricos<br />

Nesta perspectiva, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alertar os atores sociais do entorno da Lagoa do<br />

Apodi-RN sobre a problemática existente na região, foi elaborado uma Proposta <strong>de</strong> Educação<br />

Ambiental com Ênfase em Recursos Hídricos, que tem por objetivo conscientizar a população dos<br />

danos causados nesse ambiente aquático, seus efeitos e suas possíveis medidas cabíveis para atenuar<br />

essa problemática.<br />

Dessa forma a Proposta <strong>de</strong> Educação Ambiental com Ênfase em Recursos Hídricos é<br />

composta pelos seguintes Planos <strong>de</strong> ação:<br />

Plano <strong>de</strong> ação I - Visita <strong>de</strong> reconhecimento da área <strong>de</strong> estudo para i<strong>de</strong>ntificação do<br />

problema a ser trabalhado;<br />

Plano <strong>de</strong> ação II - Apresentação do Projeto <strong>de</strong> Educação Ambiental com ênfase em<br />

Recursos Hídricos na comunida<strong>de</strong> escolar;<br />

Plano <strong>de</strong> ação III - Diagnóstico da abordagem do tema recurso hídrico na comunida<strong>de</strong><br />

escolar, através <strong>de</strong> aplicação <strong>de</strong> questionários para o diretor e supervisores pedagógicos, professores<br />

e alunos da escola;<br />

Plano <strong>de</strong> ação IV - Tabulação dos dados dos questionários, sobre a abordagem do tema<br />

recurso hídrico;<br />

790


Plano <strong>de</strong> ação V - Palestra sobre Recursos Hídricos, <strong>de</strong>stacando aspectos relacionados: sua<br />

importância, tipos <strong>de</strong> usos, formas <strong>de</strong> poluição, efeitos da poluição, aspectos legais e técnicas <strong>de</strong><br />

controle da poluição hídrica.<br />

Plano <strong>de</strong> ação VI - Aula <strong>de</strong> campo na Lagoa do Apodi-RN com a finalida<strong>de</strong> dos alunos<br />

reconhecer os principais usos, suas fontes <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação e suas consequências. Ao final <strong>de</strong>sse<br />

momento, os alunos seriam responsáveis pela elaboração <strong>de</strong> um painel constando o diagnóstico<br />

ambiental da área visitada.<br />

Plano <strong>de</strong> ação VII - Exposição dos painéis ambientais elaborados pelos alunos a partir das<br />

suas observações em campo.<br />

Plano <strong>de</strong> ação VIII - Palestra referente a recuperação <strong>de</strong> recursos hídricos e o papel do<br />

cidadão na preservação ambiental.<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

A Lagoa do Apodi já foi, e continua sendo, fonte <strong>de</strong> renda para toda ou para a maioria da<br />

população que vive em suas proximida<strong>de</strong>s. Entretanto, ao analisarmos as atuais condições em que a<br />

mesma se encontra, se torna evi<strong>de</strong>nte a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolverem ações que reduzam os<br />

níveis <strong>de</strong> poluição.<br />

Há a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma ação conjunta do po<strong>de</strong>r público com a população local que vise um<br />

manejo a<strong>de</strong>quado para a lagoa e para as regiões vizinhas. Para que seja possível mudar o quadro<br />

atual, é preciso que a socieda<strong>de</strong> seja alertada quanto aos perigos do consumo <strong>de</strong> produtos<br />

provenientes da lagoa, como o pescado e as hortaliças produzidas às margens da mesma, bem como<br />

alertá-la sobre os danos causados ao meio ambiente <strong>de</strong>corrente das ações antrópicas, além do<br />

contato direto com a sua água.<br />

Nessa perspectiva surgem as propostas <strong>de</strong> educação ambiental, a fim <strong>de</strong> levar conhecimento<br />

à população sobre temas relacionados ao meio ambiente como poluição do solo, ar e água, suas<br />

causas e consequências, para que eles mesmos possam agir <strong>de</strong> forma a contribuir para amenizar o<br />

problema da poluição, uma vez que eles estão inseridos diretamente nesse contexto. Isso po<strong>de</strong> fazer<br />

com que ocorra uma mudança no pensamento da população que refletirá em novos hábitos<br />

relacionados com o manejo da Lagoa do Apodi, fazendo com que as ações propostas aqui sejam<br />

realizadas continuamente e se estendam para todas as esferas da socieda<strong>de</strong>.<br />

Tão importante quanto a ação da população, é a ação do po<strong>de</strong>r público, que <strong>de</strong>tém gran<strong>de</strong><br />

parcela <strong>de</strong> culpa no que diz respeito às condições precárias <strong>de</strong> saneamento básico e ao <strong>de</strong>spejo <strong>de</strong><br />

esgoto sem tratamento algum diretamente na lagoa. Assim sendo, o po<strong>de</strong>r público precisa agir <strong>de</strong><br />

forma a aten<strong>de</strong>r as necessida<strong>de</strong>s da população, principalmente quanto aos problemas acima<br />

mencionados.<br />

791


Ações como essas po<strong>de</strong>riam ser realizadas a fim <strong>de</strong>, gradativamente, diminuir os níveis <strong>de</strong><br />

poluição da lagoa, favorecendo principalmente a população local, no que diz respeito a oferecer<br />

melhores condições <strong>de</strong> vida e habitação, e <strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolver um ambiente saudável e livre <strong>de</strong><br />

alterações in<strong>de</strong>sejadas.<br />

REFERÊNCIAS<br />

DERISIO, J. C. Introdução ao controle <strong>de</strong> poluição ambiental. 1ª ed. CETESB: São Paulo, 1992.<br />

PINTO FILHO, Jorge Luis <strong>de</strong> Oliveira; OLIVEIRA, Alan Martins <strong>de</strong>. Impactos socioambientais da<br />

ocupação <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada das margens da lagoa do Apodi-RN. In: Revista Ver<strong>de</strong>. (Mossoró – RN –<br />

Brasil). v.3, n.1, p.58-76 <strong>de</strong> janeiro/março <strong>de</strong> 2008.<br />

PEREIRA JÚNIOR, José <strong>de</strong> Sena. Recursos Hídricos: Conceituação, Disponibilida<strong>de</strong> e Usos.<br />

Câmara dos Deputados: Brasília 2004. Disponível em:<br />

Acesso em: 18. out. 2012.<br />

ODUM, E. (1997). Fundamentos <strong>de</strong> Ecologia. 5ª Edição. Lisboa. Fundação Calouste Gulbenkian.<br />

RAMPAZZO, Lino. Metodologia Científica: Para alunos <strong>de</strong> Graduação e Pós-graduação. São<br />

Paulo: Loyola, 2002.<br />

792


Resumo<br />

DETERMINAÇÃO DA PEGADA HÍDRICA DE ALUNOS DO ENSINO MÉDIO DO<br />

MUNICÍPIO DE POMBAL – PB<br />

Karla Pereira <strong>de</strong> LUCENA (CCTA/UFCG) 1 – karla.ccta.uacta@gmail.com<br />

Halana Oliveira TRIGUEIRO (CCTA/UFCG) 1 – lana_pb_16@hotmail.com<br />

Juliana dos Santos LUCENA (CCTA/UFCG) 90 – julia<strong>nas</strong>antos88@hotmail.com<br />

Érica Cristine Me<strong>de</strong>iros Nobre MACHADO (CCTA/UFCG) 91 – ericacristine@gmail.com<br />

A Pegada Hídrica <strong>de</strong> um indivíduo ou <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> refere-se ao volume total <strong>de</strong> água doce<br />

que é utilizada para produzir os bens e serviços consumidos pelo indivíduo ou pela comunida<strong>de</strong>.<br />

Atualmente, instituições e pesquisadores utilizam a Pegada Hídrica como indicador a fim <strong>de</strong><br />

contribuir para o seu aperfeiçoamento e quantificar o consumo direto e indireto <strong>de</strong> água. O presente<br />

trabalho teve como objetivo quantificar o consumo <strong>de</strong> água <strong>de</strong> alunos do ensino médio da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Pombal – PB, utilizando o indicador Pegada Hídrica. O método utilizado consistiu na aplicação <strong>de</strong><br />

questionários que trata do consumo direto <strong>de</strong> água, do consumo <strong>de</strong> alimentos e do consumo <strong>de</strong> bens<br />

industriais necessários ao cálculo da pegada hídrica <strong>de</strong> cada aluno. Após a aplicação dos<br />

questionários, utilizou-se a calculadora estendida disponibilizada pela WFN para calcular a Pegada<br />

Hídrica. Os resultados indicam que o valor <strong>de</strong> Pegada Hídrica, com grau <strong>de</strong> confiança <strong>de</strong> 99% (Z,2<br />

= 2,575), correspon<strong>de</strong>u a 996,83 m³/hab/ano, inferior ao valor médio global (1.240 m³/hab/ano) e<br />

nacional (1.381 m³/hab/ano) encontrados na literatura.<br />

Palavras-Chave: Pegada Hídrica, Consumo <strong>de</strong> água, Ensino médio, Pombal – PB.<br />

Abstract<br />

The Water Footprint of an individual or a community refers to the total volume of freshwater that is<br />

used to produce the goods and services consumed by the individual or community. Currently,<br />

institutions and researchers use the Water Footprint as an indicator in or<strong>de</strong>r to contribute to its<br />

improvement and quantify the direct and indirect consumption of water. This study aimed to<br />

quantify water consumption of high school stu<strong>de</strong>nts in the city of Pombal - PB, using the Water<br />

Footprint. The method consisted of questionnaires <strong>de</strong>aling with the direct water consumption, food<br />

consumption and consumption of industrial goods necessary to calculate the water footprint of each<br />

stu<strong>de</strong>nt. After the questionnaires, we used the exten<strong>de</strong>d calculator provi<strong>de</strong>d by WFN to calculate the<br />

Water Footprint of stu<strong>de</strong>nts. Results shows that, with confi<strong>de</strong>nce level of 99% (Z,2 = 2.575), the<br />

water footprint corresponding to 996.83 m³/hab/year, lower than the global average (1,240 m³/ hab/<br />

year) and national (1,381 m³/hab/year) of the literature.<br />

Keywords: Water Footprint, Water Consumption, High School, Pombal – PB.<br />

90 Graduandos do curso <strong>de</strong> Engenharia Ambiental.<br />

91 Professora orientadora.<br />

793


Introdução<br />

Segundo o conceito <strong>de</strong>senvolvido pela Water Footprint Network (www.waterfootprint.org), a<br />

Pegada Hídrica <strong>de</strong> um indivíduo ou <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> é <strong>de</strong>finida como o volume total <strong>de</strong> água<br />

doce que é utilizada para produzir os bens e serviços consumidos pelo indivíduo ou pela<br />

comunida<strong>de</strong>. Uma vez que nem todos os bens consumidos em um <strong>de</strong>terminado país são produzidos<br />

no próprio país, a Pegada Hídrica consiste <strong>de</strong> duas partes: o uso dos recursos hídricos nacionais e o<br />

uso <strong>de</strong> água fora das fronteiras do país. Outros fatores que influenciam diretamente na Pegada<br />

Hídrica <strong>de</strong> um país são: o volume <strong>de</strong> consumo (relacionado com o rendimento nacional bruto), o<br />

padrão <strong>de</strong> consumo (por exemplo, alto versus o baixo consumo <strong>de</strong> carne), o clima (condições <strong>de</strong><br />

crescimento) e a agricultura prática (uso eficiente da água) (Hoekstra e Chapagain, 2007).<br />

O conceito e método do cálculo da Pegada Hídrica têm sido constantemente discutidos na<br />

literatura científica. É alvo <strong>de</strong> críticas, por alguns pesquisadores, os quais apontam, principalmente:<br />

a) que o indicador induz as pessoas a imaginarem que a água é incorporada ao processo, quando na<br />

verda<strong>de</strong> refere-se a um fluxo <strong>de</strong> água que foi aproveitado, e que retornou <strong>de</strong> alguma forma ao<br />

ambiente; b) que o indicador ignora a disponibilida<strong>de</strong> hídrica do ambiente, ou seja, não incorpora o<br />

meio como referência (Lanna, 2011).<br />

O presente trabalho tem como objetivo <strong>de</strong>terminar a Pegada Hídrica dos alunos do ensino<br />

médio da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pombal – PB, através da seleção <strong>de</strong> amostras que representam duas escolas<br />

públicas e uma privada utilizando o conceito e procedimento <strong>de</strong> cálculo apresentado pela Water<br />

Footprint Network.<br />

A Pegada hídrica no Brasil e no mundo e suas limitações<br />

A base do conceito do indicador Pegada Hídrica foi introduzida em 2002 por Hoesktra e Hung<br />

em analogia ao conceito <strong>de</strong> Pegada Ecológica, <strong>de</strong>senvolvida na década <strong>de</strong> 90 por Wackernagel e<br />

Ress (1996). Além disso, o conceito <strong>de</strong> Pegada Hídrica está intimamente relacionado com o<br />

conceito <strong>de</strong> Água Virtual, introduzido por Allan (Allan, 1993 apud Hoesktra e Chapagain, 2007). A<br />

água virtual e a pegada hídrica po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>rados indicadores ambientais, que po<strong>de</strong>m ser<br />

associadas ao nível <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> da disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recursos hídricos, frente a uma análise<br />

conjunta com outros fatores, tais como: consumo, geração <strong>de</strong> resíduos sólidos e o uso e ocupação do<br />

solo (Fernan<strong>de</strong>z e Mendiondo, 2009).<br />

A Pegada Hídrica consi<strong>de</strong>ra o uso direto e o uso indireto dos recursos hídricos envolvidos em<br />

processos, na produção <strong>de</strong> produtos ou mesmo em uma área geográfica. O consumo direto diz<br />

respeito ao consumo <strong>de</strong> água e poluição relacionadas com o uso <strong>de</strong> água doméstico. O consumo<br />

indireto refere-se ao consumo e poluição associados à produção <strong>de</strong> bens e serviços utilizados pelo<br />

consumidor (Hoekstra et al, 2011). Geralmente o consumo indireto é superior ao consumo direto;<br />

em consumidores resi<strong>de</strong>nciais, por exemplo, a maior parte da pegada hídrica está associada à água<br />

utilizada no processo <strong>de</strong> fabricação dos produtos consumidos e não à água diretamente consumida.<br />

Recursos hídricos do planeta estão sujeitos a uma pressão crescente na forma <strong>de</strong> uso, <strong>de</strong><br />

consumo e <strong>de</strong> poluição das águas. No Brasil, é crescente a preocupação com discussões<br />

relacionadas às questões <strong>de</strong> uso e disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> água doce, com abordagens a nível local,<br />

794


nacional e à escala da bacia hidrográfica. Segundo Mekonnen e Hoekstra (2011), a crescente<br />

preocupação com os recursos naturais, <strong>de</strong>ntre eles a água, <strong>de</strong>spertou o interesse <strong>de</strong> vários<br />

pesquisadores em <strong>de</strong>monstrar que a água doce é um recurso que está sujeito a alterações, levando-os<br />

a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a importância <strong>de</strong> colocar as questões <strong>de</strong> água doce em um contexto global. Uma nação<br />

po<strong>de</strong> preservar os seus recursos hídricos nacionais, importando água e produtos em vez <strong>de</strong> produzilos<br />

internamente (Aldaya et al, 2010).<br />

A Pegada Hídrica global foi estimada por Hoekstra e Chapagain (2007) em 7.450 Gm³/ano,<br />

que equivale a 1.240 m³/hab/ano, em média. Em termos absolutos, a Índia é o país com a maior<br />

pegada hídrica do mundo, com uma pegada total <strong>de</strong> 987 Gm³/ano, entanto, a Índia contribui com<br />

17% da população global, logo as pessoas na Índia contribuem ape<strong>nas</strong> com 13% para a Pegada<br />

Hídrica global. Em uma base relativa, as pessoas resi<strong>de</strong>ntes nos EUA possuem a maior Pegada<br />

Hídrica, com 2.480 m³/hab/ano, seguido pelas pessoas dos países do sul da Europa (2.300-2.400<br />

m³/hab/ano). O povo chinês tem uma Pegada Hídrica relativamente baixa, com uma média <strong>de</strong> 700<br />

m³/hab/ano.<br />

O tamanho da Pegada Hídrica global é em gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>terminada pelo consumo <strong>de</strong><br />

alimentos e outros produtos agrícolas. Nos países ricos, as pessoas geralmente consomem mais bens<br />

e serviços, que imediatamente se traduz em aumento da Pegada Hídrica. Mas não é ape<strong>nas</strong> o<br />

volume <strong>de</strong> consumo que <strong>de</strong>termina a <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> água das pessoas. A composição do consumo<br />

também é relevante, porque alguns produtos em particular, necessitam <strong>de</strong> muita água (e.g. carne<br />

bovina, arroz). Em muitos países pobres é uma combinação <strong>de</strong> condições climáticas <strong>de</strong>sfavoráveis<br />

(alta <strong>de</strong>manda evaporativa) e práticas agrícolas ina<strong>de</strong>quadas (resultando em produtivida<strong>de</strong> da água<br />

baixa) que contribui para uma Pegada Hídrica elevada. Por exemplo, a Pegada Hídrica dos EUA é<br />

alta (2.480 m³/hab/ano) em parte por causa do gran<strong>de</strong> consumo per capita <strong>de</strong> carne e da alta <strong>de</strong><br />

produtos industriais; a Pegada Hídrica do Irã é relativamente alta (1.624 m³/hab/ano) em parte por<br />

causa <strong>de</strong> baixos rendimentos na produção agrícola e em parte porque <strong>de</strong> elevadas taxas <strong>de</strong><br />

evapotranspiração. Nos EUA, o componente industrial da Pegada Hídrica é 806 m³/hab/ano<br />

enquanto no Irã só é 24 m³/hab/ano. A influência dos diferentes fatores <strong>de</strong>terminantes varia <strong>de</strong> país<br />

para país (Hoekstra e Chapagain, 2007).<br />

O relatório do Conselho Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD, 2010)<br />

<strong>de</strong>nominado ―Water for business – Initiatives guiding sustainable water management in the private<br />

sector‖ apresenta iniciativas relacionadas às métricas e governança da água. Dentre elas, a<br />

metodologia da pegada hídrica proposta pela Water Footprint Network (WFN) e a norma <strong>de</strong> pegada<br />

hídrica - ISO 14.046. A proposta <strong>de</strong> elaboração da norma para a pegada hídrica está em discussão<br />

no âmbito do subcomitê <strong>de</strong> ACV (avaliação <strong>de</strong> ciclo <strong>de</strong> vida), <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2009, tendo sido aprovada em<br />

junho <strong>de</strong> 2011, sendo esperada a sua publicação em 36 meses. A versão ―draft‖ da ISO 14046 foi<br />

aprovada <strong>de</strong> forma que além da perspectiva <strong>de</strong> ciclo <strong>de</strong> vida ela contemple a quantificação dos<br />

impactos associados ao uso da água FIESP (2011).<br />

Os valores médios <strong>de</strong> Pegada Hídrica per capita em alguns países quantificados por Hoesktra<br />

e Chapagain (2007) para o período <strong>de</strong> 1997-2001 estão apresentados na Figura 1, na qual percebe-se<br />

uma maior contribuição da parcela relativa ao consumo <strong>de</strong> água para fins agrícolas, em todas as<br />

Pegadas Hídricas <strong>de</strong> todos os países.<br />

795


Figura 1 - Pegada Hídrica per capita <strong>de</strong> alguns países e a contribuição <strong>de</strong> diferentes categorias <strong>de</strong><br />

consumo (Hoeskstra e Chapagain, 2007).<br />

No Brasil, o termo pegada hídrica tem se difundido cada vez mais, principalmente, entre as<br />

empresas. Nesta linha, são <strong>de</strong>senvolvidos projetos sociais e culturais para redução do uso das águas<br />

nos processos produtivos, buscando engajamento da socieda<strong>de</strong>, preservação <strong>de</strong> biomas, tratamento<br />

a<strong>de</strong>quado dos resíduos sólidos, etc., Albuquerque (2011). No Brasil, o valor médio global estimado<br />

para o indicador é <strong>de</strong> 1.381 m³/hab/ano, valor, portanto, ligeiramente acima da média mundial<br />

(1.240 m³/hab/ano).<br />

A avaliação da pegada hídrica concentra-se essencialmente em analisar o uso <strong>de</strong> água doce,<br />

tendo em conta os recursos limitados <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> água, não abordando outros temas ambientais<br />

como as alterações climáticas, a <strong>de</strong>pleção <strong>de</strong> minerais, fragmentação <strong>de</strong> habitats, limitada<br />

disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> terra ou a <strong>de</strong>gradação do solo, nem sociais ou econômicos como a pobreza,<br />

emprego e bem-estar Hoekstra et al. (2011).<br />

Krauskopf Neto (2011) acredita que é importante <strong>de</strong>senvolver métodos para acompanhar a<br />

relação (e interferência) humana com a água. No entanto, critica o conceito <strong>de</strong> pegada hídrica<br />

adotado pela Water Footprint Network, segundo o qual trata <strong>de</strong> um indicador que gera<br />

valores irreais e absurdamente gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong> "pegada" e induz a que se pense que estes valores são<br />

reais, quando não são. Ainda segundo o autor o objetivo <strong>de</strong>ste indicador é "aumentar a<br />

conscientização", mostrando que se trata <strong>de</strong> uma ferramenta política, não técnica.<br />

Ramina (2011), no entanto, <strong>de</strong>staca que qualquer indicador tem sua esfera <strong>de</strong> abrangência, sua<br />

precisão e seus limites <strong>de</strong> aplicação, pois são baseados em simplificações e relações que muitas<br />

vezes não representam a<strong>de</strong>quadamente a realida<strong>de</strong>, apesar <strong>de</strong> possuírem a pretensão <strong>de</strong> fazê-lo.<br />

Mesmo assim o autor consi<strong>de</strong>ra que são úteis e necessários para orientar à gestão, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que não<br />

sejam tomados como se fossem a realida<strong>de</strong> e com isso <strong>de</strong>terminem parâmetros <strong>de</strong> gestão sem<br />

qualquer crítica ou consi<strong>de</strong>ração adicional.<br />

Diante <strong>de</strong> tantas críticas e discussões, cabe aos pesquisadores, empresas e governantes,<br />

estudar as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> melhorar o método através das vantagens que tal indicador apresenta.<br />

Tais como a utilização do indicador como uma ferramenta <strong>de</strong> conscientização e incentivo à<br />

796


acionalização no uso da água, através da redução do consumo direto <strong>de</strong> água e/ou a busca <strong>de</strong><br />

produtos e meios <strong>de</strong> produção mais sustentáveis.<br />

Metodologia<br />

A metodologia utilizada para a realização <strong>de</strong>ste trabalho consistiu na aplicação <strong>de</strong><br />

questionários com propósito <strong>de</strong> quantificar as Pegadas Hídricas dos alunos, o que requer<br />

informações acerca do consumo direto <strong>de</strong> água, do consumo <strong>de</strong> alimentos e do consumo <strong>de</strong> bens<br />

industriais. As três escolas selecionadas para aplicação dos questionários foram as escolas públicas:<br />

Escola Estadual <strong>de</strong> Ensino Médio Inovador e Profissionalizante Monsenhor Vicente Freitas (825<br />

alunos) e Escola Estadual <strong>de</strong> Ensino Fundamental e Médio Arruda Câmara (850 alunos) e a privada<br />

Escola Menino Jesus – Geo Pombal (150 alunos). Tais escolas estão localizadas na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Pombal, no estado da Paraíba.<br />

O município <strong>de</strong> Pombal possui uma área <strong>de</strong> 889 km² e está inserido na microrregião <strong>de</strong> Sousa,<br />

no estado da Paraíba, distante 378 km da capital do Estado, João Pessoa (Figura 1). Conforme o<br />

último Censo Demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística (IBGE), em<br />

2010, existe no município uma população <strong>de</strong> 32.110 mil habitantes, distribuídos entre 16.381<br />

homens e 16.729 mulheres, com uma <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong>mográfica <strong>de</strong> 36,13 hab./km².<br />

Do universo <strong>de</strong> 1.825 alunos <strong>de</strong> três escolas selecionadas, selecionou-se uma amostra <strong>de</strong> 750<br />

alunos, alunos aproximadamente 40% do total, para aplicação dos questionários, assim distribuídos:<br />

300 questionários em cada escola da re<strong>de</strong> pública (Monsenhor Vicente Freitas e Arruda Câmara) e<br />

150 questionários na escola da re<strong>de</strong> privada (Menino Jesus GEO).<br />

Figura 2 - Localização do município <strong>de</strong> Pombal/PB no Estado da Paraíba. Fonte: Autores.<br />

Após a distribuição dos questionários e esclarecimentos sobre o indicador Pegada Hídrica, os<br />

alunos foram orientados a respon<strong>de</strong>rem aos mesmos em suas casas, consi<strong>de</strong>rando todo o consumo<br />

familiar. Dessa forma, calculou-se a pegada hídrica da família e, em seguida dividiu-se tal valor<br />

797


pelo número <strong>de</strong> pessoas que compõem a mesma, obtendo-se assim a pegada hídrica individual do<br />

aluno.<br />

O cálculo do indicador foi realizado utilizando a ―Calculadora Estendida <strong>de</strong> Pegada Hídrica‖<br />

disponibilizada pela Water Footprint Network no site www.waterfootprint.org. Tais dados foram<br />

interpretados, analisados e sintetizados através <strong>de</strong> uma análise comparativa do consumo <strong>de</strong> água<br />

entre os alunos das três escolas e, também das escolas da re<strong>de</strong> pública com a da re<strong>de</strong> privada e, por<br />

fim a comparação <strong>de</strong>stes valores com os padrões <strong>de</strong> consumo a nível nacional e mundial.<br />

Resultados e Discussões<br />

A amostra pré-selecionada inicial foi <strong>de</strong> (750 questionários), 41,1% dos 1.825 alunos, porém<br />

nem todos os alunos mostraram interesse em participar da pesquisa. De forma geral, ape<strong>nas</strong> 103<br />

(ape<strong>nas</strong> 7,1%) alunos respon<strong>de</strong>ram corretamente e <strong>de</strong>volveram os questionários, sendo 51 alunos da<br />

escola Monsenhor Vicente Freitas, 19 alunos da escola Arruda Câmara e 33 alunos da escola<br />

Menino Jesus Geo, respectivamente.<br />

Ao analisar o perfil dos entrevistados selecionados <strong>nas</strong> três escolas em estudo, constatou-se<br />

que os alunos do ensino médio da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pombal-PB apresentam uma ida<strong>de</strong> média <strong>de</strong><br />

aproximadamente 17 anos, sendo a maioria (67,7%), composta por indivíduos do sexo feminino.<br />

Observou-se ainda que o número médio <strong>de</strong> moradores por residência foi <strong>de</strong> quatro pessoas, com<br />

uma renda média mensal <strong>de</strong> R$1.912,00 por família. Sendo que <strong>de</strong>sse valor, as escolas públicas<br />

apresentaram uma renda média mensal correspon<strong>de</strong>nte a R$829,50 por família e a escola privada<br />

um valor <strong>de</strong> médio R$4.076,00 por família.<br />

Na escola Monsenhor Vicente Freitas, foram aplicados um total <strong>de</strong> 259 questionários, sendo<br />

que ape<strong>nas</strong> 51 indivíduos em um universo <strong>de</strong> 825 alunos respon<strong>de</strong>ram corretamente os<br />

questionários. Logo, estatisticamente a variável estudada é a própria pegada hídrica calculada para<br />

os alunos, cuja média foi <strong>de</strong> 882,43 m³/hab/ano com um <strong>de</strong>svio padrão <strong>de</strong> 502,98. Desta forma, para<br />

este tamanho <strong>de</strong> amostra e consi<strong>de</strong>rando um grau <strong>de</strong> confiança <strong>de</strong> 99% (Z,2 = 2,575) a margem <strong>de</strong><br />

erro é <strong>de</strong> ± 175,77 m³/hab/ano. Ou seja, é possível afirmar como 99% <strong>de</strong> confiança que os alunos <strong>de</strong><br />

ensino médio <strong>de</strong>sta escola possuem uma pegada hídrica variável entre 706,06 e 1.058,21<br />

m³/hab/ano.<br />

Já na escola Arruda Câmara foram aplicados um total <strong>de</strong> 118 questionários, obtendo retorno<br />

em ape<strong>nas</strong> uma amostra <strong>de</strong> 19 indivíduos em um universo <strong>de</strong> 850 alunos. Neste caso, o valor do<br />

indicador pegada hídrica foi <strong>de</strong> 998,06 m³/hab/ano com um <strong>de</strong>svio padrão <strong>de</strong> 461,47. Desta forma, a<br />

margem <strong>de</strong> erro é <strong>de</strong> ± 269,71 m³/hab/ano, consi<strong>de</strong>rando um grau <strong>de</strong> confiança <strong>de</strong> 99%. Ou seja, é<br />

possível afirmar como 99% <strong>de</strong> confiança que os alunos <strong>de</strong> ensino médio <strong>de</strong>sta escola possuem uma<br />

pegada hídrica variável entre 728,36 e 1.267,77 m³/hab/ano.<br />

E, por fim na escola Menino Jesus GEO foram aplicados um total <strong>de</strong> 128 questionários,<br />

contudo, ape<strong>nas</strong> 33 indivíduos em um universo <strong>de</strong> 150 alunos respon<strong>de</strong>ram aos mesmos. Nesta<br />

escola, a média <strong>de</strong> Pegada Hídrica foi <strong>de</strong> 1.172,91 m³/hab/ano com um <strong>de</strong>svio padrão <strong>de</strong> 836,66, o<br />

que resulta em, para um grau <strong>de</strong> confiança <strong>de</strong> 99%, uma margem <strong>de</strong> erro <strong>de</strong> ± 332,33 m³/hab/ano.<br />

Ou seja, é possível afirmar como 99% <strong>de</strong> confiança que os alunos <strong>de</strong> ensino médio <strong>de</strong>sta escola<br />

possuem uma pegada hídrica variável entre 840,58 e 1.505,24 m³/hab/ano.<br />

798


Ao analisar o valor obtido para o indicador Pegada Hídrica consi<strong>de</strong>rando a amostra <strong>de</strong> todos<br />

os alunos das escolas envolvidas, constatou-se que a tal indicador correspon<strong>de</strong>u a 996,83<br />

m 3 /hab/ano, com <strong>de</strong>svio padrão <strong>de</strong> 630,69 e margem <strong>de</strong> erro é <strong>de</strong> ± 155,48 m³/hab/ano. Ou seja, é<br />

possível afirmar como 99% <strong>de</strong> confiança que os alunos <strong>de</strong> ensino médio do município <strong>de</strong> Pombal-<br />

PB possuem uma pegada hídrica variável entre 841,35 e 1152,31 m³/hab/ano. Percebe-se ainda que<br />

o valor <strong>de</strong> pegada hídrica encontrado para os alunos do ensino médio da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pombal – PB, em<br />

média, está abaixo dos valores <strong>de</strong> Pegada Hídrica Nacional (1.381 m 3 /hab/ano) e Global (1.240<br />

m 3 /hab/ano).<br />

Figura 3 – A Pegada Hídrica dos alunos do ensino médio da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pombal - PB em comparação<br />

com a Pegada Hídrica Nacional e a Global.<br />

Ao analisar os tipos <strong>de</strong> consumos (Alimentício, Doméstico e Industrial) que compõe o cálculo<br />

da Pegada Hídrica dos alunos das escolas estudadas percebeu-se que, o fator mais impactante da<br />

pegada hídrica das três escolas estudadas é o alto consumo <strong>de</strong> alimentos. O consumo industrial<br />

apresentou-se, na maioria das vezes, como fator "menos" impactante em todas as escolas estudadas,<br />

no entanto apresentou-se em maior percentual na escola Menino Jesus GEO, o que po<strong>de</strong> ser<br />

explicado <strong>de</strong>vido ao fato da referida escola pertencer à re<strong>de</strong> privada e ser constituída por alunos <strong>de</strong><br />

famílias que <strong>de</strong>clararam as maiores rendas anuais (Figura 4).<br />

799


Figura 4 – Detalhamento do consumo dos alunos do ensino médio da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pombal-PB.<br />

Conclusões<br />

Os alunos do ensino médio da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pombal – PB apresentaram um valor <strong>de</strong> pegada, em<br />

média, inferior aos valores encontrados na literatura, referente aos valores médios global e nacional.<br />

O que já era esperado, pois, trata-se <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> médio porte e situada na região do sertão<br />

paraibano, cujas características sócio-econômicas e climáticas sugerem um baixo consumo direto e<br />

indireto <strong>de</strong> água.<br />

Ratificou-se também a influência da renda familiar no consumo <strong>de</strong> água, principalmente no<br />

que se refere ao consumo industrial, explicado pelo maior po<strong>de</strong>r aquisitivo para adquirir produtos<br />

industrializados; e, ao consumo doméstico, explicado pela maior quantida<strong>de</strong> e varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

aparelhos ou itens <strong>de</strong> lazer cuja utilização ou manutenção <strong>de</strong>mandam a utilização <strong>de</strong> muita água,<br />

tais como máquina <strong>de</strong> lavar, pisci<strong>nas</strong>, etc.<br />

Agra<strong>de</strong>cimentos<br />

Os autores agra<strong>de</strong>cem às Escolas <strong>de</strong> Monsenhor Vicente Freitas, Arruda Câmara e Menino<br />

Jesus GEO pelo fornecimento das condições necessárias à realização <strong>de</strong>sta pesquisa e, também aos<br />

alunos que realmente mostraram interesse, respon<strong>de</strong>ndo e <strong>de</strong>volvendo os questionários que foram<br />

aplicados.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

ALDAYA, M. M., MARTINEZ-SANTOS, P. and LLAMAS, M. R. (2010) „Incorporating the<br />

waterfootprint and virtual water into policy: Reflections from the Mancha Occi<strong>de</strong>ntal. Region,<br />

Spain‘, Water Resources Management, vol 24, no 5, pp942.<br />

ALBUQUERQUE, H. J. T. R. (2011). ―Sustentabilida<strong>de</strong> Socioambiental”. Água e meio Ambiente<br />

Subterrâneo. Junho/julho, 2011. (3)pp.<br />

800


ALLAN, J. A. (1993). Fortunately there are substitutes for water otherwise our hiydropolitical<br />

futures would be impossible. In: Priorities for water resources allocation and management, ODA,<br />

London, pp 13-16.<br />

FERNANDEZ, J. A. B. & MENDIONDO, E. M. (2009). ”Água Virtual na Gestão <strong>de</strong> Águas<br />

Urba<strong>nas</strong> sob Cenários <strong>de</strong> Adaptação”. In Anais do XIX Simpósio Brasileiro <strong>de</strong> Recursos Hídricos.<br />

Maceió, Nov. 2011, 5-6 pp.<br />

FIESP – Fe<strong>de</strong>ração das Indústrias do Estado <strong>de</strong> São Paulo. (2011). Pegada hídrica e a governança<br />

do uso da água no setor industrial. São Paulo, 2011. Disponível em:<br />

www.fiesp.com.br/arquivos/.../pegada_hidrica_setor_industrial.pdf. Acesso: 19 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2012.<br />

HOESKTRA, A. Y., CHAPAGAIN, A. K. (2007). Water footprints of nations: Water use by people<br />

as a function of their consumption pattern. In Water Integrated Assessment of Water Resources and<br />

Global Change, 35-48, DOI: 10.1007/978-1-4020-5591-1_3.<br />

HOESKTRA, A. Y., HUNG, P. Q. (2002) Virtual water tra<strong>de</strong>: A quantification of virtual water<br />

flows between nations in relation to international crop tra<strong>de</strong>. Value of Water Research Report<br />

series No. 11, UNESCO-IHE Institute. for Water Education, Delft, The Netherlands,<br />

http://www.waterfootprint.org/Reports/Report11.pdf.<br />

HOEKSTRA, A.; CHAPAGAIN, A.; ALDAYA, M.; MEKONNEN, M. (2011). Water Footprint<br />

Manual. Setting the Global Standard. WaterFootprint Network.<br />

KRAUSKOPF, R. (2011). Comunicação por e-mail. Lista <strong>de</strong> discussão sobre Gestão <strong>de</strong><br />

Recursos Hídricos da ABRH (Associação Brasileira <strong>de</strong> Recursos Hídricos).<br />

LANNA, A. E. (2011). Comunicação por e-mail. Lista <strong>de</strong> discussão sobre Gestão <strong>de</strong> Recursos<br />

Hídricos da ABRH (Associação Brasileira <strong>de</strong> Recursos Hídricos).<br />

LANNA, A. E. (2012). Comunicação por e-mail. Lista <strong>de</strong> discussão sobre Gestão <strong>de</strong> Recursos<br />

Hídricos da ABRH (Associação Brasileira <strong>de</strong> Recursos Hídricos).<br />

MEKONNEN, M.M. and HOEKSTRA, A.Y. (2011) National water footprint accounts: the green,<br />

blue and grey water footprint of production and consumption, Value of Water Research Report<br />

Series No. 50, UNESCO-IHE, Delft, the Netherlands.<br />

RAMINA, R. (2011). Comunicação por e-mail. Lista <strong>de</strong> discussão sobre Gestão <strong>de</strong> Recursos<br />

Hídricos da ABRH (Associação Brasileira <strong>de</strong> Recursos Hídricos).<br />

WACKERNAGEL, M., RESS, W. (1996) Our ecological footprint: Reducing human impact on the<br />

Earth. New Society Publishers, Gabriola Island, BC, Canada.<br />

801


A EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A CONSTRUÇÃO DA CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL<br />

SOUZA, Josiane Maria (FAEST – Estudante <strong>de</strong> Iniciação Científica) – Souza.josianemaria@gmail.com<br />

PEREIRA, Idalilia Melo (FAEST - Estudante <strong>de</strong> Iniciação Científica) - dalilamel@hotmail.com<br />

SOUZA FREITAS, Joycyely Marytza <strong>de</strong> Araujo (FUNESO – Orientadora da Pesquisa) –<br />

jmarytza@yahoo.com.br<br />

LIRA, Irlane Cristine <strong>de</strong> Souza Andra<strong>de</strong> (UPE – Estudante <strong>de</strong> Iniciação Científica) -<br />

irlane.cristine@gmail.com<br />

RESUMO<br />

A educação ambiental possibilita e promove uma conscientização e criticida<strong>de</strong> dos que <strong>de</strong>la se<br />

apropriam. Dessa forma o objetivo geral do estudo foi analisar o conhecimento dos educandos do 1º<br />

ano do Ensino Fundamental I sobre o lixo e coleta seletiva. O trabalho realizado foi do tipo<br />

exploratório, <strong>de</strong> caráter qualitativo e quantitativo, caracterizando-se como estudo <strong>de</strong> caso. A<br />

pesquisa foi executada na Escola Municipal Santo Antônio em Timbaúba (PE) com 29 alunos do 1º<br />

ano do Ensino Fundamental I. Como instrumento da pesquisa foi utilizado à técnica <strong>de</strong> questionário<br />

e para análise dos dados foi utilizada a estatística <strong>de</strong>scritiva. Os resultados obtidos <strong>de</strong>monstram<br />

entendimento sobre aspectos relacionados aos resíduos sólidos, embora alguns termos não sejam do<br />

conhecimento dos mesmos. Conclui-se que os estudantes conhecem sobre o lixo e a coleta seletiva,<br />

porém <strong>de</strong>ve ser esclarecidos termos como os coletores recicláveis e o <strong>de</strong>stino do lixo para formar<br />

cidadãos conscientes para cuidar do planeta.<br />

Palavras-chaves: Educação Ambiental. Lixo. Conscientização.<br />

ABSTRACT<br />

Environmental education provi<strong>de</strong>s and promotes an awareness and criticality of that it appropriated.<br />

Thus the overall objective of the study was to assess the knowledge of stu<strong>de</strong>nts of 1st year of<br />

elementary school and I about garbage collection. The work was an exploratory, qualitative and<br />

quantitative, characterized as a case study. The research was performed at the Municipal School in<br />

Santo Antonio Timbaúba (PE) with 29 stu<strong>de</strong>nts in 1st year of elementary school I. As the survey<br />

instrument was used to survey technique and data analysis was used <strong>de</strong>scriptive statistics. The<br />

results <strong>de</strong>monstrate un<strong>de</strong>rstanding of aspects related to solid waste, although some terms are not<br />

aware of them. We conclu<strong>de</strong> that stu<strong>de</strong>nts know about garbage collection and selective, but should<br />

be un<strong>de</strong>rstood terms like recyclable collectors and garbage disposal to make people aware to take<br />

care of the planet.<br />

Keywords: Environmental Education. Trash. Awareness.<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

Sendo à em nossa compreensão a escola um espaço privilegiado para uma construção <strong>de</strong> uma<br />

conscientização sistemática, formada pela reflexão, teoria e prática, ou seja, é um ambiente capaz <strong>de</strong><br />

tornar um cidadão crítico e participativo. Assim sendo é importante averiguar e utilizar da forte<br />

ferramenta que é a educação para ser alcançado gran<strong>de</strong>s objetivos.<br />

802


Não resta dúvida dos benefícios que as informações trazem aos indivíduos utilizando-se como<br />

ponte a educação, pois a mesma tem como característica nortear todos e quaisquer indivíduos.<br />

Assim sendo pensando nesta contribuição que a educação oferece aos sujeitos, uma vez, que<br />

possibilita e promove uma conscientização, criticida<strong>de</strong> dos que <strong>de</strong>la se apropriam. Destaca-se a<br />

educação ambiental. Consi<strong>de</strong>rando todos estes aspectos. O presente estudo trata <strong>de</strong> uma<br />

investigação a cerca da conscientização das questões que dizem respeito à educação ambiental. De<br />

maneira que proporcione aos educandos das séries iniciais uma reflexão a respeito dos dilemas<br />

encontrados no século atual e a crise ambiental da qual enfrentamos. Além disso, a pesquisa<br />

também aborda a visão do lixo como uma forma reciclável, <strong>de</strong> fonte <strong>de</strong> renda e reaproveitamento<br />

utilizando-se para isso os resíduos dispensados pela socieda<strong>de</strong>. Os educandos po<strong>de</strong>m assim fazer<br />

pontes entre suas discipli<strong>nas</strong>, com os fatores relacionados ao que diz respeito a importância do lixo.<br />

Dessa forma preten<strong>de</strong>-se por meio da pesquisa promover na instituição escolar discussão e<br />

reflexão no que diz respeito ao <strong>de</strong>stino do lixo.<br />

2 OBJETIVOS<br />

2.1 OBJETIVO GERAL<br />

Analisar o conhecimento dos educandos do 1º ano do Ensino Fundamental I sobre o lixo e<br />

coleta seletiva.<br />

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS<br />

Examinar a opinião dos estudantes sobre o lixo, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> utilizar os conhecimentos<br />

prévios na pesquisa.<br />

Averiguar o entendimento dos aprendizes sobre os materiais e coletores recicláveis.<br />

Investigar sobre o <strong>de</strong>stino do lixo na opinião dos alunos.<br />

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA<br />

É notório e visível às discussões e preocupações á cerca das questões ligadas ao meio<br />

ambiente, ou seja, da crise ambiental da qual estamos enfrentando. E não resta dúvida do quanto é<br />

importante se trabalhar questões ambientais em salas <strong>de</strong> aula <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as séries iniciais. É <strong>de</strong> extrema<br />

importância que á criança <strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo, saiba a importância <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong>, reciclagem o que<br />

fazer com o que muitos consi<strong>de</strong>ram ape<strong>nas</strong> lixo. E que suas ações, po<strong>de</strong>m ajudar o ambiente ou<br />

poluí-lo. A Educação ambiental contribui <strong>de</strong> forma abrangente para a formação da cidadania.<br />

De acordo com Monteiro (2010, p.2):<br />

803


―A Educação Ambiental trata-se do processo <strong>de</strong> aprendizagem e comunicação <strong>de</strong> problemas<br />

relacionados à interação dos homens com seu ambiente natural. É o instrumento <strong>de</strong><br />

formação <strong>de</strong> uma consciência por meio do conhecimento e da reflexão sobre a realida<strong>de</strong><br />

ambiental.‖<br />

A educação ambiental possibilita aos educandos uma construção crítica e reflexiva a respeito<br />

dos problemas ambientais. Claro que a mesma, não resolverá os problemas <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ados pelo<br />

<strong>de</strong>sequilíbrio ambiental, mas, no entanto, influirá <strong>de</strong> forma consi<strong>de</strong>rável <strong>nas</strong> atitu<strong>de</strong>s que acarretam<br />

tal <strong>de</strong>sequilíbrio. Muito menos terá uma receita pronta para solucionar os problemas <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ados<br />

pelo <strong>de</strong>sequilíbrio ambiental, mas, no entanto, influirá <strong>de</strong> forma consi<strong>de</strong>rável <strong>nas</strong> atitu<strong>de</strong>s que os<br />

acarretam. Conforme Pieper (2012, p. 7):<br />

―A educação ambiental como educação política está comprometida com a ampliação da<br />

cidadania, da liberda<strong>de</strong>, da autonomia e da intervenção direta dos cidadãos e das cidadãs na<br />

busca <strong>de</strong> soluções e alternativas que permitam a convivência digna e voltada para o bem<br />

comum‖.<br />

Um dos meios pelos quais se po<strong>de</strong> conseguir uma conscientização crítica e eficaz é<br />

utilizando-se da educação, ela é gran<strong>de</strong> colaboradora, pois, além <strong>de</strong> contribuir para <strong>de</strong>fesa do meio<br />

ambiente, esta instituição em o papel <strong>de</strong> formador, ou seja, formar e investir no indivíduo enquanto<br />

criança, uma vez que o mesmo atuará na socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> forma crítica e consciente, quando adulto.<br />

Os educadores do ensino fundamental das séries iniciais po<strong>de</strong>m e <strong>de</strong>vem utilizar das aulas <strong>de</strong><br />

Ciências ou <strong>de</strong> outras matérias fazendo assim uma interdisciplinarida<strong>de</strong>, como meio <strong>de</strong> propagar e<br />

instigar os educandos á cerca <strong>de</strong> do <strong>de</strong>stino do lixo utilizado na instituição.<br />

―Uma pedagogia do ambiente implica ensinamentos que <strong>de</strong>rivam das práticas concretas que<br />

se <strong>de</strong>senvolvem no meio (...) valorizar a necessária relação entre teoria e práxis para fundamentar a<br />

construção da realida<strong>de</strong>‖ (LEFF, 2000).<br />

É notável o incentivo as campanhas que dizem respeito à coleta seletiva, como latas, vidros,<br />

papel <strong>de</strong>ntro outros materiais que po<strong>de</strong>m ser recicláveis. No entanto, para que estas campanhas<br />

alcance seus objetivos, faz-se necessário uma intensa reflexão e conscientização a respeito. São<br />

inúmeras as vantagens da reciclagem, pois, além <strong>de</strong> economizar energia ainda contribui na<br />

preservação da natureza.<br />

A importância do educador trabalhar a temática do lixo <strong>de</strong>ntro da sala <strong>de</strong> aula vem da gran<strong>de</strong><br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>spertar a consciência crítica a cerca da reciclagem e reutilização por crianças.<br />

A discussão do assunto, partindo da instituição escolar é <strong>de</strong> suma importância para se apontar<br />

meios que visem amenizar os impactos negativos ocasionados por não saber como lhe dar com o<br />

lixo. A reciclagem quando bem elaborada, po<strong>de</strong> ser uma alternativa economicamente lucrativa.<br />

804


―Muitos são os métodos possíveis para a realização da educação ambiental. O mais a<strong>de</strong>quado<br />

é que cada professor estabeleça o seu e vá ao encontro das características <strong>de</strong> seus alunos e <strong>de</strong> suas<br />

alu<strong>nas</strong>‖. (REIGOTA, p.65)<br />

A política Nacional do Meio Ambiente, em seus artigos e incisos, é clara quando se trata da<br />

educação ambiental, a fim <strong>de</strong> fornecer educação, incluindo assim, em todas as séries da re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

ensino. Porém, nem todos os discentes trabalham com seus alunos <strong>de</strong> forma que os motivem e<br />

sensibilizem quanto, os fatores que contribuem para a <strong>de</strong>struição ou preservação da natureza. Faz-se<br />

necessário que os professores conheçam a realida<strong>de</strong> das transformações que acontecem neste<br />

mundo globalizado, fazendo pontes com o cotidiano dos alunos, não só conceituando, mas<br />

utilizando práticas on<strong>de</strong> eles possam fazer observações, anotações e pesquisas e intervir no meio em<br />

que vive, minimizando, por exemplo: o lixo em sua cida<strong>de</strong> ou comunida<strong>de</strong> em que ele estar<br />

inserido.<br />

Um dos problemas da atualida<strong>de</strong> do meio ambiente é o lixo. Devido ao consumo exagerado e<br />

o <strong>de</strong>sperdício que gera uma gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resíduos. E um assunto importante para ser<br />

abordado em sala <strong>de</strong> aula.<br />

Dar ênfase aos assuntos relacionados à coleta seletiva do lixo, <strong>de</strong> como reduzir, reutilizar e<br />

reciclar. A coleta seletiva, ato <strong>de</strong> separar os materiais que são recicláveis e os <strong>de</strong> matéria orgânica,<br />

que as crianças percebam que isto é importante, tanto na escola como em sua comunida<strong>de</strong><br />

(CARVALHO, 2008). Os docentes po<strong>de</strong>m realizar ativida<strong>de</strong>s on<strong>de</strong> os discentes possam utilizar<br />

materiais tipo: latas, caixas garrafas pet, revistas, etc., para a confecção <strong>de</strong> porta lápis, entre outros.<br />

Sem esquecer que cada tipo <strong>de</strong> material jogado no solo tem seu tempo <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição e o <strong>de</strong>sastre<br />

que o mesmo causa no solo, ar, água e outros.<br />

Ao <strong>de</strong>monstrar este tempo, sensibilizará as crianças <strong>de</strong> que cada um tem uma<br />

responsabilida<strong>de</strong> nesse processo. Para isso faz-se necessário conhecer o tempo <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição <strong>de</strong><br />

alguns materiais que são jogados na natureza.<br />

Os materiais <strong>de</strong>scartados não só poluem o solo, mas toda a natureza viva em nosso planeta.<br />

Dar importância a conscientização das crianças <strong>nas</strong> escolas, uma vez que elas são o futuro do<br />

planeta, é um ambiente em que favorece informações e conhecimentos, <strong>de</strong>ve também estabelecer o<br />

papel <strong>de</strong> conscientizador, sensibilizador sobre os problemas ambientais, <strong>de</strong>ixando explicito como<br />

reduzir e evitar a poluição (MONTEIRO, 2010).<br />

Em meio à natureza que ainda nos resta, se fazem necessários e urgentes, uma educação<br />

diferente, metodologias e práticas eficientes, <strong>nas</strong> instituições <strong>de</strong> ensino, que não só abor<strong>de</strong>m<br />

conceitos, mas uma resposta concreta que venha sensibilizar, as crianças que utilizarão <strong>de</strong>sta terra;<br />

que possam ainda ter o privilegio <strong>de</strong> ver as belezas do meio em que vive, não só por fotos, televisão,<br />

revistas, entre outros.<br />

805


Mas que admirem a beleza do ver<strong>de</strong> que foi restaurado e preservado, e que eles fizeram parte<br />

<strong>de</strong>ste processo <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong>. O ver<strong>de</strong> <strong>de</strong> hoje, po<strong>de</strong> ser o marrom <strong>de</strong> amanhã, e sem o ver<strong>de</strong>,<br />

sem o ar, sem a água, sem o solo, toda a vida no planeta <strong>de</strong>saparecerá (LEFF, 2000).<br />

Por isso que a sustentabilida<strong>de</strong> é um conceito que diz respeito à continuida<strong>de</strong>. Ela <strong>de</strong>ve estar<br />

envolvida em todos os aspectos ambientais, sociais, econômicos e culturais da socieda<strong>de</strong>. Pois todos<br />

eles são afetados com a poluição causada pelo excesso <strong>de</strong> lixo.<br />

O mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong>, é primordial nos tempos <strong>de</strong> hoje, é um assunto interessante<br />

para que as escolas abor<strong>de</strong>m com seus alunos e todos que fazem parte <strong>de</strong>la. Ele veio com o intuito<br />

<strong>de</strong> melhorar a vida, os espaços e diminuir as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais, ambientais e econômicas<br />

(CARVALHO, 2008).<br />

4 METODOLOGIA<br />

O trabalho realizado foi do tipo exploratório, <strong>de</strong> caráter qualitativo e quantitativo,<br />

caracterizando-se como estudo <strong>de</strong> caso (AQUINO, 2010).<br />

O estudo foi executado na Escola Municipal Santo Antônio, localizado no Engenho Aningas,<br />

na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Timbaúba (PE). A população foi formada por 29 educandos do 1º ano do Ensino<br />

Fundamental I. Estiveram inclusos os estudantes frequentadores da turma investigada do presente<br />

ano. E estiveram exclusos todos que não pertenceram ao conjunto citado.<br />

Como instrumento da pesquisa foi utilizado à técnica <strong>de</strong> questionário <strong>de</strong> múltiplas escolhas,<br />

<strong>de</strong> forma padronizada, pessoal e formal, direcionado a conseguir informações sobre o lixo na<br />

opinião da população e com o intuito <strong>de</strong> obter respostas informativas relacionadas aos objetivos da<br />

pesquisa.<br />

Para análise dos dados, embora a população em estudo fosse nova, o intuito da pesquisa foi<br />

levantar o conhecimento prévio com finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> explorar e exigir dos alunos ações corretas sobre<br />

os lixos gerados principalmente no ambiente escolar. O questionário foi orientado a linha <strong>de</strong><br />

pensamento <strong>de</strong> termos simplificados facilitando assim o maior número <strong>de</strong> dados sobre o problema<br />

proposto.<br />

A estatística <strong>de</strong>scritiva foi utilizada para melhor compressão dos dados, na forma <strong>de</strong><br />

distribuição <strong>de</strong> frequência pontual e aplicação da frequência relativa em percentual, através da<br />

fórmula:<br />

806


On<strong>de</strong>: fi% é a frequência relativa em percentual; Fi são as frequências absolutas e N: tamanho<br />

da população (REIS, 1998).<br />

5 RESULTADOS E DISCURSÃO<br />

Devido a várias possibilida<strong>de</strong>s e dimensões que o tema da pesquisa propõe, em alguns<br />

momentos faz-se necessário rever trechos que a fundamentaram, para fins <strong>de</strong> esclarecimentos e<br />

lembrança dos objetivos que a <strong>de</strong>linearam.<br />

As apresentações das respostas dos estudantes investigados foram <strong>de</strong>scritas por categorias<br />

para melhor compreensão da análise.<br />

educandos.<br />

A primeira pergunta do questionário era direcionada para o que era lixo na opinião dos<br />

Gráfico 1 – O que é lixo?<br />

Fonte: FREITAS, 2012.<br />

De acordo com Ferreira (2010, p. 793) lixo significa "Qualquer matéria ou coisa que repugna<br />

por estar suja ou que se <strong>de</strong>ita fora por não ter utilida<strong>de</strong>." Ao passo que representa, apesar da pouca<br />

ida<strong>de</strong>, 60% dos estudantes sabem caracterizar e reconhecer o termo lixo sem dificulda<strong>de</strong>s. Embora<br />

respectivamente 25% e 10% justifiquem pertinentemente como sendo o que se joga em algum lugar<br />

ou não precisa mais. E para 2% que tinham opiniões diferentes das listadas no questionário o lixo é:<br />

a sobra <strong>de</strong> alguma coisa, o que se <strong>de</strong>ixa fora <strong>de</strong> casa, o que joga no lixeiro, entre outras afirmações.<br />

Além do conceito <strong>de</strong> lixo era importante enten<strong>de</strong>r termos citados por familiares, meios <strong>de</strong><br />

comunicação e as pessoas que convivem com os alunos. Com esse foco foi indagado sobre a<br />

opinião do público pesquisado sobre a intitulação Lixo reciclável.<br />

Gráfico 2 – O que significa lixo reciclável<br />

807


Fonte: FREITAS, 2012.<br />

Os resultados que foram obtidos po<strong>de</strong>-se classificá-los como satisfatório para ida<strong>de</strong> dos<br />

estudantes. Apesar <strong>de</strong> 74% respon<strong>de</strong>r <strong>de</strong> forma simples, não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser um dos significados <strong>de</strong><br />

lixo reciclável. Todavia 22% indica o entendimento sobre usar materiais que sejam benéficos ao<br />

planeta.<br />

Com intuito <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r a percepção sobre os coletores, suas cores e tipo <strong>de</strong> lixo<br />

armazenado, os educandos foram indagados acerca <strong>de</strong> qual lixo <strong>de</strong>veria ser jogado e em quais cores.<br />

Gráfico 3 – Coletores seletivos e tipo <strong>de</strong> lixo<br />

Fonte: FREITAS, 2012.<br />

As <strong>de</strong>clarações expressas foram alarmantes, pois 95% dos alunos não sabiam respon<strong>de</strong>r e nem<br />

tentaram argumentar. Dos que tentaram respon<strong>de</strong>r o tipo <strong>de</strong> coletor com o material correspon<strong>de</strong>nte<br />

ape<strong>nas</strong> 5% acertaram o coletor amarelo que é referente ao metal. As <strong>de</strong>mais cores <strong>de</strong> coletores não<br />

tiveram o tipo <strong>de</strong> lixo correspon<strong>de</strong>nte, que são: azul para o papel, ver<strong>de</strong> para o vidro e vermelho<br />

para o plástico.<br />

Dentro <strong>de</strong>sta perspectiva o público foi interrogado sobre o conhecimento <strong>de</strong> pessoas que<br />

vivem da reciclagem <strong>de</strong> materiais.<br />

808


Gráfico 4 – Conhecimento <strong>de</strong> pessoas que vivem da reciclagem <strong>de</strong> materiais.<br />

Fonte: FREITAS, 2012.<br />

Dos dados obtidos 93% relataram não conhecer pessoas que vivem da reciclagem <strong>de</strong><br />

materiais, mas que viram nos meios <strong>de</strong> comunicação. Porém 5% tem parentes ou pessoas próximas<br />

que utilizam a reciclagem como fonte <strong>de</strong> renda e 2% respon<strong>de</strong>ram que não lembravam no momento<br />

da aplicação do questionário. Representando assim na visão dos alunos o material reciclagem como<br />

fonte <strong>de</strong> renda mesmo que distante da realida<strong>de</strong> vivenciada pelos mesmos.<br />

cida<strong>de</strong>.<br />

E para concluir o questionário foi perguntado se os educandos sabiam para on<strong>de</strong> vai o lixo da<br />

Gráfico 5 – Destino final do lixo<br />

Fonte: FREITAS, 2012.<br />

Nas indicações dos estudantes 86% não souberam respon<strong>de</strong>r o <strong>de</strong>stino final do lixo da cida<strong>de</strong>.<br />

Assim é possível comprovar o quanto é importante <strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo explicar e comentar sobre a temática<br />

dos resíduos sólidos em qualquer ida<strong>de</strong>. Embora foi relatado por 10% que o lixo é <strong>de</strong>positado no<br />

lixão da cida<strong>de</strong>, foi opinado por 3% sobre a queima e foi escolhido por 1% da população pesquisada<br />

809


o aterro sanitário como caminho final do que não é mais utilizado. Importante <strong>de</strong>stacar que o lixo da<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Timbaúba (PE) é <strong>de</strong>positado num ―lixão‖, sem qualquer tipo <strong>de</strong> tratamento.<br />

6 CONCLUSÃO<br />

Com a pesquisa foi possível concluir que não existe ida<strong>de</strong> para começar a Educação<br />

Ambiental sobre a temática do lixo. As crianças <strong>de</strong>vem apren<strong>de</strong>r o mais cedo possível o contexto<br />

social e ambiental que os resíduos sólidos promovem.<br />

Os mestres-escolares tem que investigar e aproveitar os conhecimentos prévios e não ignorar<br />

o entendimento por mínimo que seja. Pois cada indivíduo carrega sua própria vivencia e num tema<br />

transversal que é os resíduos sólidos e o meio ambiente, todo conhecimento é importante.<br />

O estudo serviu também para <strong>de</strong>spertar as maiores dificulda<strong>de</strong>s dos estudantes sobre o tema,<br />

como <strong>nas</strong> perguntas sobre os coletores recicláveis e o <strong>de</strong>stino do lixo on<strong>de</strong> expressivo número não<br />

sabia respon<strong>de</strong>r.<br />

Dessa forma a Educação Ambiental é essencial para formação dos educandos para agregar<br />

valores éticos e <strong>de</strong> cidadania, não somente com finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r o lixo, mas sobre tudo para<br />

formar cidadãos conscientes para cuidar do planeta.<br />

REFERÊNCIAS<br />

AQUINO, Italo <strong>de</strong> Souza. Como escrever artigos científicos: sem ―arro<strong>de</strong>io‖ e sem medo da<br />

ABNT. 7 ed. São Paulo: Saraiva, 2010.<br />

CARVALHO, Isabel Cristina <strong>de</strong> Moura. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico. São<br />

Paulo: Cortez, ed. 4, 2008.<br />

FERREIRA, Aurélio Buarque <strong>de</strong> Holanda. Dicionário Aurélio. São Paulo: Positivo, 5ª ed., 2010.<br />

FREITAS, J. M. A. S. Gráficos dos dados. Arquivos Pessoal, 2012.<br />

LEFF, E. Pensamento sociológico, racionalida<strong>de</strong> ambiental e transformações do conhecimento. In:<br />

LEFF, E. Epistemologia ambiental. São Paulo: Cortez, 2000.<br />

MONTEIRO, Roberta Pereira; et al. Despertando o protagonismo juvenil: as abordagens <strong>de</strong><br />

Educação Ambiental na escola. XIII Encontro <strong>de</strong> Extensão UFPB - PRAC, 2010, João Pessoa.<br />

Anais eletrônicos... João Pessoa: UFPB, 2010. Disponível em:<br />

.<br />

Acesso em: 14 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2012.<br />

PIEPER, Daniela da Silva; VERAS NETO, Francisco Quintanilha; MACHADO, Carlos R. da<br />

Silva. Políticas Públicas em Educação Ambiental. DELOS: Desarrollo Local Sostenible, Málaga, v.<br />

5, n. 13, fev. 2012. Sobre la educación ambiental, p. 1 - 12.<br />

REIGOTA, Marcos. O que é educação ambiental. São Paulo: Brasiliense, ed. 2, 2009.<br />

810


Resumo<br />

PRÁTICA PEDAGÓGICA SOBRE RECICLAGEM: EXPERIÊNCIA NO SEMIÁRIDO<br />

PERNAMBUCANO 92<br />

Isabela Regina Wan<strong>de</strong>rley STEUER (DCFL/UFRPE) - isabelasteuer@gmail.com<br />

Graduanda <strong>de</strong> Engenharia Florestal da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Rural <strong>de</strong> Pernambuco (UFRPE),<br />

Bolsista do Programa <strong>de</strong> Educação Tutorial em Ecologia (PET/MEC/Sesu) e Pesquisadora do<br />

Grupo Gestão Ambiental em Pernambuco (Gampe)<br />

Josilaynne Maria da SILVA (DEPA/UFRPE) - josilaynnesilva@gmail.com<br />

Graduanda <strong>de</strong> Agronomia da UFRPE e Pesquisadora do Gampe<br />

Thiago Emanoel Pereira da SILVA (DQ/UFRPE) - thiago_pe@ig.com.br<br />

Graduando <strong>de</strong> Licenciatura Plena em Química da UFRPE e Pesquisador do Gampe<br />

Juliene Karine Anjos do NASCIMENTO (DTR/UFRPE) - juliene.<strong>nas</strong>cimento@gmail.com<br />

Graduanda <strong>de</strong> Engenharia Agrícola e Ambiental da UFRPE e Pesquisadora do Gampe<br />

As questões ambientais ganharam forte importância quando as pessoas começaram a perceber com<br />

mais criticida<strong>de</strong> o quanto os recursos naturais estão impactados <strong>de</strong>vido à ação antrópica. Por isso,<br />

para o ser humano coexistir com a natureza <strong>de</strong>vem ocorrer mudanças diretas e indiretas <strong>de</strong> filosofia<br />

<strong>de</strong> vida, <strong>de</strong> práticas no cotidiano mais sustentáveis e até mesmo uma mudança no mo<strong>de</strong>lo político,<br />

econômico, social e, principalmente ambiental, <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong> e que tenham o principal objetivo <strong>de</strong><br />

preservar os recursos naturais ainda existentes para as presentes e futuras gerações. A reciclagem,<br />

nesse contexto, torna-se <strong>de</strong> fundamental importância, sendo uma das formas <strong>de</strong> minimização dos<br />

resíduos que seguirão para a <strong>de</strong>stinação final, especialmente se tratando <strong>de</strong> resíduos domésticos. O<br />

presente trabalho tem por finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>screver uma prática pedagógica <strong>de</strong>senvolvida numa ação <strong>de</strong><br />

sensibilização ambiental com as crianças da comunida<strong>de</strong> rural Poço da Cruz, localizada no<br />

município <strong>de</strong> Ibimirim, no Estado <strong>de</strong> Pernambuco. Esta ativida<strong>de</strong> teve como foco a importância e os<br />

benefícios da reutilização <strong>de</strong> materiais recicláveis pelos munícipes. Estes materiais, presentes no<br />

cotidiano, foram retrabalhados em ofici<strong>nas</strong>, <strong>de</strong> forma lúdica, divertida e criativa, consi<strong>de</strong>rando a<br />

cultura local como elemento norteador, agregando tal elemento no trabalho criativo.<br />

Palavras-chaves: Reciclagem; Semiárido Pernambucano; Questão Ambiental.<br />

92 Orientadores: Soraya Giovanetti EL-DEIR, Coor<strong>de</strong>nadora do Gampe, Professora Adjunta da UFRPE; Fernando<br />

Joaquim Ferreira MAIA, Pesquisador do Gampe, Professor Adjunto da UFRPE.<br />

811


Abstract<br />

Environmental issues have gained strong importance when people began to realize how much more<br />

critical natural resources are impacted due to anthropogenic activities. So for humans coexist with<br />

nature should be changes direct and indirect philosophy of life, in everyday practices more<br />

sustainable and even a change in the mo<strong>de</strong>l political, economic, social and especially<br />

environmental, society and have the main objective of preserving natural resources still exist for<br />

present and future generations. Recycling in this context, it is of fundamental importance, being one<br />

of the ways of minimizing waste that will go to the final <strong>de</strong>stination, especially when <strong>de</strong>aling with<br />

household waste. This paper aims at <strong>de</strong>scribing a pedagogical practice <strong>de</strong>veloped an action<br />

environmental awareness with the children of the rural community Pit Cross, located in the<br />

municipality of Ibimirim in the state of Pernambuco. This activity focuses on the importance and<br />

benefits of reuse of recyclable materials by househol<strong>de</strong>rs. These materials present in everyday life,<br />

were reworked in workshops, in a playful, fun and creative, consi<strong>de</strong>ring the local culture as a<br />

guiding element, adding this element in creative work.<br />

Keywords: Recycling; Semiarid Pernambucano; Environmental Issue.<br />

Introdução<br />

Na era mo<strong>de</strong>rna, com o advento do processo <strong>de</strong> industrialização, o <strong>de</strong>senvolvimento da<br />

socieda<strong>de</strong> capitalista e a explosão do crescimento populacional mudaram a configuração da<br />

presença humana no planeta e <strong>de</strong> sua apropriação <strong>de</strong> recursos naturais (EL-DEIR et al., 2009).<br />

Hardin (1968) relacionava o crescimento <strong>de</strong>mográfico com a chamada ―Tragédia dos Comuns‖,<br />

apontando que a socieda<strong>de</strong> cuida <strong>de</strong> suas proprieda<strong>de</strong>s privadas ao passo que contaminam ou<br />

<strong>de</strong>vastam os espaços públicos, sendo necessário, portanto, a expansão <strong>de</strong>ssas para o controle<br />

populacional, perfazendo-se assim o mercado atuante e o lucro. Ou ainda mais profundada a<br />

discussão colocada por McCay e Acheson (1987), quando ressalta a questão dos comuns, on<strong>de</strong><br />

todos acabam por sofrer as consequências <strong>de</strong> um ato <strong>de</strong> um grupo. Nas questões socioambientais<br />

emergentes, um pensar global precisa tomar lugar do individualismo pseudomo<strong>de</strong>rno. Assim a<br />

forma e as proporções da relação do homem mo<strong>de</strong>rno com o ambiente passaram a gerar problemas<br />

ambientais específicos (CARVALHO, 2004).<br />

É <strong>de</strong> suprema necessida<strong>de</strong> que para o ser humano coexistir com a natureza ocorram<br />

mudanças diretas e indiretas <strong>de</strong> filosofia <strong>de</strong> vida, <strong>de</strong> práticas no cotidiano mais sustentáveis e até<br />

mesmo uma mudança no mo<strong>de</strong>lo político, econômico, social e, principalmente ambiental, <strong>de</strong><br />

812


socieda<strong>de</strong> e que tenham o principal objetivo <strong>de</strong> preservar os recursos naturais ainda existentes para<br />

as presentes e futuras gerações. Esta assertiva está alinhada a visão do Relatório <strong>de</strong> Brundtland, da<br />

Comissão das Nações Unidas para o Meio Ambiente (CNUMA, 1991), que preconiza que a<br />

sustentabilida<strong>de</strong> vislumbra suprir as necessida<strong>de</strong>s da geração presente sem afetar a habilida<strong>de</strong> das<br />

gerações futuras <strong>de</strong> suprir as suas. Com isso, tem-se a consciência da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> preservar o<br />

meio ambiente, pois a espécie humana está fortemente relacionada a este, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong>sse para<br />

sobreviver.<br />

A acelerada <strong>de</strong>struição dos recursos naturais do Planeta Terra compromete a<br />

sustentabilida<strong>de</strong> da relação homem-natureza. Nesse sentido, no que tange a resíduos sólidos, adota-<br />

se o conceito dos 3R, que serve para produzir mudanças impeditivas da <strong>de</strong>gradação ambiental:<br />

Reduzir, diminuindo a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lixo produzido, Reutilizar, <strong>de</strong>scobrindo novas utilida<strong>de</strong>s aos<br />

materiais consi<strong>de</strong>rados inúteis, Reciclar, no sentido <strong>de</strong> dar ―nova vida‖ aos materiais. São maneiras<br />

dinâmicas <strong>de</strong> <strong>de</strong>spertar a consciência quanto ao sentimento <strong>de</strong> pertencimento à nossa terra e<br />

preservação ambiental (SILVA et al, 2012).<br />

Uma forma <strong>de</strong> promover essa mudança <strong>de</strong> filosofia <strong>de</strong> vida é a adoção <strong>de</strong> práticas educativas<br />

(EL-DEIR et al., 2009), as quais visam <strong>de</strong>spertar a atenção para das civilizações para a <strong>de</strong>gradação<br />

potencial do meio ambiente e <strong>de</strong>mais questões ambientais, como a problemática da <strong>de</strong>stinação<br />

ina<strong>de</strong>quada dos resíduos sólidos. Neste sentido a reciclagem apresenta-se como tratamento <strong>de</strong><br />

impacto positivo, auxiliando no processo <strong>de</strong> sensibilização quanto a responsabilida<strong>de</strong><br />

socioambiental (SILVA et al., 2011).<br />

Para ajudar na sensibilização é possível associar os sentidos dos processos <strong>de</strong> 3R à temática<br />

<strong>de</strong> contos folclóricos e datas culturais, levar a reflexão e início <strong>de</strong> nova fase da vida, dar novas<br />

formas <strong>de</strong> utilida<strong>de</strong>s e empregar <strong>de</strong> outras maneiras os materiais, consi<strong>de</strong>ra-se sempre a cultura<br />

local e seus costumes. Nesse sentido, o presente trabalho apresenta uma das experiências <strong>de</strong><br />

educação ambiental em forma <strong>de</strong> oficina, realizada na escola Simão Izídio <strong>de</strong> Souza, na comunida<strong>de</strong><br />

rural <strong>de</strong> Poço da Cruz, Município <strong>de</strong> Ibimirim, região do semiárido <strong>de</strong> Pernambuco. Esta ação foi<br />

realizada durante a Campanha Páscoa Solidária 2012, ação <strong>de</strong> Responsabilida<strong>de</strong> Social<br />

Universitária (RSU), promovida anualmente pelo Grupo <strong>de</strong> Pesquisa Gestão Ambiental em<br />

Pernambuco (Gampe), da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Rural <strong>de</strong> Pernambuco (UFRPE).<br />

A Questão Ambiental<br />

Dentre as reflexões que a atualida<strong>de</strong> impõe, encontra-se a questão ambiental. A problemática<br />

em torno do meio ambiente gerou mudanças globais em sistemas socioambientais complexos que<br />

afetam as condições <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> do planeta, propõe a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> internalizar as bases<br />

813


ecológicas e os princípios jurídicos e sociais para a gestão <strong>de</strong>mocrática dos recursos naturais (LEFF,<br />

2001).<br />

As questões ambientais ganharam forte importância no fim dos anos 80, quando as pessoas<br />

começaram a perceber com mais criticida<strong>de</strong> o quanto os recursos naturais estão impactados <strong>de</strong>vido<br />

a ação antrópica (MARODIN, 2004). Estes <strong>de</strong>vem ser tratados <strong>de</strong> forma global, pois afetam a vida<br />

das gerações atuais e seus reflexos para as futuras. Nesse sentido, forma-se um movimento social<br />

que expressa as problemáticas relacionadas aos "riscos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> consequência", exige-se a<br />

participação <strong>de</strong> todos os indivíduos (LONDERO; SEBRAE, 2004).<br />

Atualmente, os principais <strong>de</strong>bates e <strong>de</strong>cisões políticos, econômicos e sociais da socieda<strong>de</strong> em<br />

relação às questões <strong>de</strong> meio ambiente são as seguintes (SEBRAE, 2004):<br />

• motivos e consequências do aumento da temperatura da Terra;<br />

• a poluição, a distribuição irregular e o <strong>de</strong>sperdício da água doce no planeta;<br />

• a fragmentação dos ecossistemas e a consequente diminuição da biodiversida<strong>de</strong>;<br />

• a contaminação dos alimentos consumidos pelo homem e pelos animais;<br />

• a contaminação dos oceanos e o esgotamento dos seus recursos;<br />

• a perspectiva <strong>de</strong> esgotamento dos recursos naturais não renováveis;<br />

• a <strong>de</strong>sertificação e a <strong>de</strong>gradação dos solos agricultáveis;<br />

• a contaminação do solo e das águas subterrâneas por <strong>de</strong>pósitos ina<strong>de</strong>quados <strong>de</strong> resíduos;<br />

• o aumento das doenças causadas pela contaminação do solo, do ar e da água, pelo <strong>de</strong>sequilíbrio<br />

que o <strong>de</strong>smatamento gera na reprodução <strong>de</strong> vetores <strong>de</strong> doenças endêmicas (ratos, mosquitos), pela<br />

falta <strong>de</strong> saneamento básico e pelas habitações ina<strong>de</strong>quadas;<br />

• os padrões insustentáveis <strong>de</strong> produção e consumo da socieda<strong>de</strong>.<br />

Po<strong>de</strong>-se dizer, <strong>de</strong> forma simplificada, que o questionamento ambiental é um canal <strong>de</strong><br />

abertura para a participação sociopolítica, eleva as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> influência das classes e estratos<br />

diversos da socieda<strong>de</strong> no processo <strong>de</strong> formação e tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões políticas (LONDERO, 1999<br />

apud PAIXÃO, 2012). Estas discussões concentram-se no <strong>de</strong>bate da forma e das consequências das<br />

ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> exploração do homem no que se refere aos recursos naturais e na elaboração <strong>de</strong> ações<br />

alternativas, na tentativa <strong>de</strong> <strong>de</strong>linear proposições que modifiquem o cenário global, elevando a<br />

qualida<strong>de</strong> ambiental do meio ambiente e direcionado ao uso antrópico parcimonioso dos recursos<br />

naturais.<br />

A Necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Práticas Educativas Socioambientais<br />

As práticas educativas são baseadas em um compromisso <strong>de</strong> cidadania, fomentado pelas<br />

ações <strong>de</strong> educação ambiental e po<strong>de</strong>m contribuir para a reconstrução <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> mais<br />

responsável e pon<strong>de</strong>rada em suas ações. Para lidar com as questões ambientais é preciso mudar a<br />

814


forma <strong>de</strong> lidar com o ambiente, sendo necessário o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma nova concepção do<br />

papel do homem em sua relação com o entorno. Esse processo <strong>de</strong>manda um investimento em<br />

educação ambiental (CARVALHO,2004; EL-DEIR, 2012).<br />

Leonardi (1999) <strong>de</strong>fine educação ambiental como processos educativos que tem por objetivo<br />

contribuir para a conservação da biodiversida<strong>de</strong>, para a auto realização individual e comunitária e<br />

para a autogestão política e econômica,com o objetivo <strong>de</strong> promover a melhoria do meio ambiente e<br />

da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida. E mais adiante ―a educação ambiental tem sido vinculada à formação da<br />

cidadania e à reformulação <strong>de</strong> valores éticos e morais, individuais e coletivos, necessários para a<br />

continuida<strong>de</strong> da vida no planeta‖. Já a Política Nacional <strong>de</strong> Educação Ambiental, estabelecida pela<br />

Lei 9795/99, <strong>de</strong>fine como ―os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletivida<strong>de</strong> constroem<br />

valores sociais, conhecimentos, habilida<strong>de</strong>s, atitu<strong>de</strong>s e competências voltadas para a conservação do<br />

meio ambiente, bem <strong>de</strong> uso comum do povo, essencial à sadia qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e sua<br />

sustentabilida<strong>de</strong>‖, sendo compreendida como parte integrante do processo educacional (BRASIL,<br />

1999).<br />

―O papel da educação ambiental vem no esforço <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver nos cidadãos uma<br />

nova mentalida<strong>de</strong> ambiental, clareando hábitos que implicam em <strong>de</strong>sperdícios <strong>de</strong><br />

recursos naturais e a contínua <strong>de</strong>gradação da qualida<strong>de</strong> do meio ambiente, não<br />

basta levar à população informação, mas é preciso o fortalecimento <strong>de</strong> vínculos<br />

afetivos e <strong>de</strong> valores‖ (CURRY, 2003 apud CARVALHO, 2004).<br />

Ainda nesse contexto, segundo Melo (2001), a responsabilida<strong>de</strong> social tem a ver com a<br />

consciência social e o <strong>de</strong>ver cívico. A ação <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> social não é individual, pois ela<br />

reflete a ação <strong>de</strong> uma organização em prol da cidadania. Diante da questão relacionada à<br />

responsabilida<strong>de</strong> social, teórica e conceitual, a abordagem do componente ou forma <strong>de</strong> atuação das<br />

Instituições <strong>de</strong> Ensino Superior (IES) assume certo grau <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong> (CALDERON, 2005).<br />

Dessa forma, as instituições <strong>de</strong> ensino como formadoras <strong>de</strong> agentes sociais <strong>de</strong> intervenção <strong>de</strong>vem,<br />

além <strong>de</strong> cumprir o seu papel como instituição <strong>de</strong> formação na responsabilida<strong>de</strong> social, promover um<br />

ambiente plural na estruturação <strong>de</strong> seu alunado, em que haja a transmissão dos princípios <strong>de</strong><br />

responsabilida<strong>de</strong> social para todos aqueles que estão inseridos na organização (discentes,<br />

funcionários, docentes).<br />

A Reciclagem como Alternativa para a Questão Ambiental<br />

A Revolução Industrial mudou radicalmente toda a estrutura <strong>de</strong> produção até então<br />

conhecida no mundo. Todos os padrões <strong>de</strong> consumo também foram modificados, evi<strong>de</strong>nciou o<br />

crescimento acelerado <strong>nas</strong> escalas produtivas e nos hábitos <strong>de</strong> consumo da população <strong>de</strong> forma<br />

815


exponencial. A consequência <strong>de</strong>ste mo<strong>de</strong>lo incorporado é a imensa geração <strong>de</strong> resíduos sólidos,<br />

ainda dispostos <strong>de</strong> forma ina<strong>de</strong>quada, como também, a exploração inesgotável dos recursos<br />

naturais.<br />

Em um primeiro momento, ocorre à extração dos recursos naturais para ―abastecer‖ a<br />

<strong>de</strong>manda social, obtendo matéria-prima para a fabricação <strong>de</strong> produtos para o consumo e <strong>de</strong>pois os<br />

resíduos são jogados no lixo. Neste processo, a geração <strong>de</strong> resíduos cresce em uma proporção que<br />

os serviços <strong>de</strong> limpeza urbana, e até mesmo os lixões, não têm condições <strong>de</strong> suportar (BARBA,<br />

2002).<br />

Este observa que a socieda<strong>de</strong> é levada pelo consumismo exagerado, pregado pelos meios <strong>de</strong><br />

comunicação, resultando numa geração cada vez maior <strong>de</strong> rejeitos, principalmente <strong>nas</strong> práticas que<br />

são realizadas comumente no cotidiano. Este modus operandis dificulta, cada vez mais, a mudança<br />

<strong>de</strong> hábitos já consolidados na socieda<strong>de</strong>. Neste sentido o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>smaterialização busca, junto<br />

com o 3R, diminuir o uso <strong>de</strong> recursos e que os produtos não sejam <strong>de</strong>scartados e sim retornem ao<br />

ciclo produtivo.<br />

A reciclagem, nesse contexto, torna-se <strong>de</strong> fundamental importância, sendo uma das formas<br />

<strong>de</strong> minimização dos resíduos que seguirão para a <strong>de</strong>stinação final, especialmente se tratando <strong>de</strong><br />

resíduos domésticos. O processo <strong>de</strong> reciclagem exige menor quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recursos naturais do que<br />

o processo industrial da matéria minimiza gastos com a energia e diminui a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resíduos<br />

que seriam dispostos nos lixões (SILVA et al, 2012).<br />

A conscientização da população a respeito da reciclagem é crescente, constitui um assunto<br />

bastante atraente pela varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> formas na utilização do material, pois <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> ape<strong>nas</strong> da<br />

aplicação da técnica e da criativida<strong>de</strong> coletiva e/ou individual. Caso a i<strong>de</strong>ia da reciclagem e da<br />

reutilização do papel tenham aceitação nos vários segmentos da socieda<strong>de</strong>, a consolidação <strong>de</strong>ste<br />

processo gerará economia, trabalho e renda para alguns segmentos da socieda<strong>de</strong>. Também auxilia a<br />

minimizar a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resíduos <strong>de</strong>stinados aos aterros sanitários, diminuindo a poluição<br />

potencial dos rios, do ar, das <strong>de</strong>rrubadas <strong>de</strong> florestas e dos gastos com água e energia. Portanto, a<br />

reciclagem, essencial para a vida do ser humano, é uma alternativa <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e <strong>de</strong><br />

sustentabilida<strong>de</strong> pela sua função social, ambiental e econômica.<br />

A ativida<strong>de</strong> aqui <strong>de</strong>scrita teve como proposito <strong>de</strong>senvolver uma ação <strong>de</strong> sensibilização<br />

ambiental com as crianças da comunida<strong>de</strong> rural Poço da Cruz, localizada no município <strong>de</strong> Ibimirim,<br />

no Estado <strong>de</strong> Pernambuco. Esta ativida<strong>de</strong> teve como foco a importância e os benefícios da<br />

reutilização <strong>de</strong> materiais recicláveis pelos munícipes. Estes materiais, presentes no cotidiano, foram<br />

retrabalhados em ofici<strong>nas</strong>, <strong>de</strong> forma lúdica, divertida e criativa, consi<strong>de</strong>rando a cultura local como<br />

elemento norteador, agregando tal elemento no trabalho criativo.<br />

816


Para tanto buscou-se <strong>de</strong>monstrar a importância do reaproveitamento <strong>de</strong> materiais dando um<br />

novo significado, transformando-os em brinquedos e artesanatos da cultura local, <strong>de</strong> forma simples<br />

e extrovertida, promovendo uma reflexão crítica da realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu município; incentivar a<br />

criativida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>senvolver habilida<strong>de</strong>s e coor<strong>de</strong>nação motora das crianças na confecção dos materiais<br />

<strong>de</strong> baixo custo e estimular, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a infância, o consumo consciente e a responsabilida<strong>de</strong> social e<br />

ambiental e a preservação dos recursos naturais e da necessida<strong>de</strong> da mudança <strong>de</strong> hábitos rotineiros<br />

visando à conservação do meio ambiente.<br />

Metodologia<br />

Caracterização da Área<br />

As ofici<strong>nas</strong> foram realizadas no município <strong>de</strong> Ibimirim, na Escola Municipal Simão Izídio<br />

<strong>de</strong> Souza, situada na comunida<strong>de</strong> rural <strong>de</strong> Poço da Cruz. Este encontra-se na mesorregião do Sertão<br />

Pernambucano e microrregião do Sertão do Moxotó. Ibimirim apresenta situação <strong>de</strong> carência<br />

extrema (IBGE, 2010) e a classificação do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento<br />

(PNUD), apresentando Índice <strong>de</strong> Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) <strong>de</strong> 0,566,<br />

ocupando o penúltimo lugar no ranking estadual. Está inserido em uma região <strong>de</strong> carência<br />

acentuada, a qual é i<strong>de</strong>ntificada pelo Ministério <strong>de</strong> Desenvolvimento Social como um dos<br />

Territórios da Cidadania, tendo atenção especial do Governo do Estado <strong>de</strong> Pernambuco mediante o<br />

Programa Integrado <strong>de</strong> Desenvolvimento Local (PIDL) (SILVA, 2010).<br />

Desenvolvimento das ofici<strong>nas</strong><br />

As ofici<strong>nas</strong> <strong>de</strong> reutilização <strong>de</strong> materiais recicláveis e educação ambiental foram realizadas<br />

no dia 17 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2012, contaram com a participação <strong>de</strong> aproximadamente 80 crianças e foram<br />

divididas em dois momentos.<br />

Momento 1 - Inicialmente foi feita uma apresentação da peça teatral <strong>de</strong> marionetes chamada<br />

―Páscoa Reutilizável‖ (Figura 1). A peça relata a trama <strong>de</strong> três personagens durante os preparativos<br />

da festa <strong>de</strong> Páscoa quando são surpreendidos pela visita inusitada do Coelho. Esta ativida<strong>de</strong> buscou<br />

fornecer uma breve visão sobre o real significado da Páscoa <strong>de</strong> forma divertida e infantil, bem<br />

como, <strong>de</strong>stacar para o público presente a importância da redução, reutilização e reciclagem dos<br />

materiais que geralmente são <strong>de</strong>stinados ao lixo, colaborando para a formação <strong>de</strong> cidadãos com uma<br />

maior sensibilida<strong>de</strong> do ponto <strong>de</strong> vista ecológico e social.<br />

817


Figura 01 - Apresentação das marionetes na peça Páscoa Reutilizável<br />

Figura 02 - Porta treco <strong>de</strong> papel confeccionado na oficina<br />

Momento 2 - Nesta fase, as crianças foram convidadas a participar do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

brinquedos (Figura 2) e conhecer <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>scontraída e lúdica, as utilida<strong>de</strong>s dos materiais<br />

recicláveis do cotidiano. Para isso, foram realizadas duas práticas <strong>de</strong> educação ambiental <strong>de</strong> forma<br />

extrovertida, utilizou-se dois materiais recorrentes no dia-a-dia (papel e garrafa PET), com o intuito<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar os benefícios do reaproveitamento <strong>de</strong> materiais e incentivar a criativida<strong>de</strong> e a<br />

responsabilida<strong>de</strong> socioambiental.<br />

Resultados e Consi<strong>de</strong>rações Finais<br />

Na execução das ofici<strong>nas</strong> foram incorporados materiais recicláveis. Inicialmente, houve o<br />

uso <strong>de</strong> garrafa pet para fazer portas trecos, reaproveitando o material plástico que seria jogado no<br />

lixo, buscou-se aguçar o estímulo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a infância, do comprometimento com o meio ambiente e<br />

818


com os resíduos que são gerados pelas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cada dia <strong>nas</strong> residências. Além disso,<br />

incentivou a criativida<strong>de</strong>, a habilida<strong>de</strong> e a coor<strong>de</strong>nação motora das crianças na confecção do seu<br />

porta treco inspirado na páscoa, pois todas pintaram <strong>de</strong> forma inventiva as orelhinhas, os olhinhos,<br />

as bocas e o narizinho, montando seu coelhinho.<br />

Com a utilização do papel foi <strong>de</strong>senvolvida a confecção do porta treco coelhinho da Páscoa.<br />

No <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sta, a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrou a importância do reaproveitamento <strong>de</strong> materiais<br />

com um novo significado, transformou-se papel em artesanato <strong>de</strong> forma simples e extrovertida,<br />

além <strong>de</strong> promover uma contextualizando com a simbologia da Páscoa.<br />

O coelhinho da páscoa também foi atribuído como representação dos quatro coletores, como<br />

Pontos <strong>de</strong> Entrega <strong>Vol</strong>untária (PEV), para reciclagem dos materiais <strong>de</strong>scartados, o que<br />

correspon<strong>de</strong>u à seguinte e respectiva coloração: amarelo (metal), azul (papel), vermelho (plástico) e<br />

ver<strong>de</strong> (vidro). As duas ofici<strong>nas</strong> impulsionaram a capacida<strong>de</strong> criativa e <strong>de</strong>monstraram que todos os<br />

materiais po<strong>de</strong>m ser reutilizados e reciclados, <strong>de</strong>u-se ―nova vida‖ e renovação para os mesmos, o<br />

que ajudou a relembrar o real significado da Páscoa.<br />

As crianças apresentaram-se claramente satisfeitas com as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas durante<br />

a execução da oficina, po<strong>de</strong>-se perceber isso mediante a interação com o trabalho <strong>de</strong>senvolvido,<br />

além do interesse explícito em participar e do compartilhamento <strong>de</strong> suas experiências com o auxílio<br />

dos facilitadores das ofici<strong>nas</strong>. No <strong>de</strong>correr da oficina, observou-se uma gran<strong>de</strong> satisfação por parte<br />

dos funcionários, pais e alunos da escola.<br />

O trabalho para a concretização das ofici<strong>nas</strong>, apesar <strong>de</strong> ter sido árduo e ter apresentado<br />

dificulda<strong>de</strong>s próprias, foi bastante gratificante. Também percebermos o impacto positivo <strong>de</strong> uma<br />

simples ação <strong>de</strong> cunho ambiental em uma realida<strong>de</strong> tão <strong>de</strong>sassistida. Foi notória a felicida<strong>de</strong> das<br />

crianças em compartilhar o aprendizado e a brinca<strong>de</strong>ira com os brinquedos elaborados a partir dos<br />

materiais recicláveis que para alguns po<strong>de</strong> ser tão pouco, porém para elas foram <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valor.<br />

Além disso, a certeza <strong>de</strong> contribuir para a educação e melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida das crianças da<br />

comunida<strong>de</strong> beneficiada.<br />

Referências<br />

BARBA, I. S. Valoração do Serviço <strong>de</strong> Coleta <strong>de</strong> Lixo: O Caso <strong>de</strong> Naviraí-MS. Dissertação <strong>de</strong><br />

Mestrado. Centro <strong>de</strong> Desenvolvimento Sustentável – CDS, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília – UnB, 2002.<br />

BELTRÃO, B. A.; MASCARENHAS, J. C.; MIRANDA, J. L. F.; SOUZA JUNIOR, L. C.;<br />

GALVÃO, M. J. T. G.; PEREIRA, S. N. et al. (org). Projeto cadastro <strong>de</strong> Fontes <strong>de</strong> Abastecimento<br />

por Água Subterrânea. Diagnóstico do Município <strong>de</strong> Ibimirim. Recife, 2005. Disponível em:<br />

. Acesso em: 10 mar.<br />

2012.<br />

BRASIL. Lei n. 9795, que dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional <strong>de</strong><br />

Educação Ambiental e dá outras providências. Diário Oficial da União, 25 abr. 1999.<br />

819


CALDERON, A. I. Responsabilida<strong>de</strong> social: <strong>de</strong>safios à gestão universitária. Revista da Associação<br />

Brasileira <strong>de</strong> Mantenedoras <strong>de</strong> Ensino Superior / Associação Brasileira <strong>de</strong> Mantenedora <strong>de</strong> Ensino<br />

superior, Brasília, a. 23, n. 34, p. 13-28, abr. 2005.<br />

CARVALHO, E. Representações sociais e práticas cotidia<strong>nas</strong> <strong>de</strong> trabalhadores e Trabalhadoras<br />

do lixo - a experiência do centro comunitário Santa Terezinha. In: CURY, 2003. Dissertação <strong>de</strong><br />

Mestrado. Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Ceará – UFC, 2004. 14 p. Disponível em: <<br />

http://www.pro<strong>de</strong>ma.ufc.br/dissertacoes/104.pdf>. Acesso em: 22 jun. 2012.<br />

CNUMA - Comissão das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Nosso Futuro Comum. São Paulo:<br />

Fundação Getúlio Vargas, 1991.<br />

EL-DEIR, S. G. Por que mesclar Educação Ambiental com Extensão Rural? IN: EL-DEIR, S. G.<br />

Educação ambiental no semiárido: propostas metodológicas <strong>de</strong> extensão rural. Recife: Edurfpe, 6 –<br />

8p. 2012.<br />

EL-DEIR, S. G.; NEUMANN-LEITÃO, S.; MARANHÃO, A. C. da F. <strong>de</strong> A.A questão ambiental<br />

como tema transdisciplinar. IN: NEUMANN-LEITÃO, S.; EL-DEIR, S. G. Educação ambiental:<br />

teoria e práticas. Recife: Instituto Brasileiro Pro-cidadania, 10 – 57p., 2009.<br />

HARDIN, G.. The Tragedy of the Commons. Science, 1968, v. 162, p. 1243 – 1248.<br />

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo 2010. Disponível<br />

em:. Acesso em: 12 jan. 2011.<br />

LEFF, E. Epistemologia ambiental. São Paulo: Cortez, 2001.<br />

LEONARDI, M. L. A . A educação ambiental como um dos instrumentos <strong>de</strong> superação da<br />

insustentabilida<strong>de</strong> da socieda<strong>de</strong> atual In: Meio Ambiente, <strong>de</strong>senvolvimento sustentável e políticas<br />

públicas. 2.ed. São Paulo; Cortez, 1999. p. 391-408.<br />

LONDERO, M.A.A. Meio Ambiente: uma questão <strong>de</strong> cidadania. Disponível em:<br />

. Acesso<br />

em: 22 jun. 2012.<br />

MARODIN, V. S.; BARBA, I. S., MORAIS, G. A., et al. Educação Ambiental com os Temas<br />

Geradores Lixo e Água e a Confecção <strong>de</strong> Papel Reciclável Artesanal. Anais do 2º Congresso<br />

Brasileiro <strong>de</strong> Extensão Universitária Belo Horizonte – 2004.<br />

MCCAY, B. J.; ACHESON, J. A. (ed.). The Question of the Commons. Tucson: University of<br />

Arizona Press, 1987.<br />

MELO N., F. P.; FROES, C. Gestão da responsabilida<strong>de</strong> social corporativa: o caso brasileiro. Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro, Qualitymark, 2001.<br />

MELO, F. N. Gestão da responsabilida<strong>de</strong> social corporativa. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Qualitymark, 2001.<br />

PAIXÃO, M. R. Consumo x Meio Ambiente. Disponível em:<br />

.<br />

Acesso em: 22 jun. 2012.<br />

PERNAMBUCO. Prefeitura Municipal <strong>de</strong> Ibimirim. Guia turístico. Disponível em:<br />

. Acesso em: 10 mar. 2012.<br />

820


PERNAMBUCO. Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). PE mira gestão<br />

escolar para elevar IDH. Disponível em: . Acesso em: 12 set. 2012.<br />

SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS - SEBRAE. A<br />

questão ambiental e as empresas. 4. ed. Brasília: Sebrae, 2004.<br />

SILVA, G. D., PAZ, Y. M., ROCHA, C. M. C. , JACOB, A. L.; EL-DEIR, S. G.. Desenvolvimento<br />

<strong>de</strong> Ações <strong>de</strong> Responsabilida<strong>de</strong> Socioambiental Universitária no Semiárido Nor<strong>de</strong>stino. 3rd.<br />

International Worksop advance in Clean Production. São Paulo, 2011. 8p.<br />

SILVA, G. D.; SIQUEIRA, A. S. T.; GOMES, R. K. L.; BEZERRA, R. P. L.; EL-DEIR; S. G. et al.<br />

O semi-árido e a segurança alimentar, estudo <strong>de</strong> caso do município <strong>de</strong> Ibimirim – PE. In: X<br />

JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2010 – UFRPE. Anais da X<br />

Jornada <strong>de</strong> Ensino, Pesquisa e Extensão-JEPEX-2010-UFRPE. Recife: EDUFRPE, 2010. 1 CD-<br />

ROM.<br />

SILVA, J. I. S.; GOMES, A. D.; CATÃO, M. J. D.; DINIZ, L. L. et al. Reduzir, Reutilizar e<br />

Reciclar - Proposta <strong>de</strong> Educação Ambiental para o Brejo Paraibano. II Congresso Brasileiro <strong>de</strong><br />

Extensão Universitária. Anais do II Congresso Brasileiro <strong>de</strong> Extensão Universitária. 2004.<br />

Disponível em: < https://www.ufmg.br/congrext/>. Acesso em: 09 ago. 2012.<br />

821


TRILHA ECOLÓGICA COMO ESTRATÉGIA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UM RELATO<br />

DE EXPERIENCIA NO HORTO FLORESTAL DO OLHO DÁGUA DA BICA, CUITÉ, PB 93<br />

João Nogueira Linhares Filho - joaobiologia2013@gmail.com 94<br />

Edclebeson Berto²<br />

Caroline Zabendzala Linheira 95<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong><br />

Resumo<br />

A Educação ambiental <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>senvolver o pensamento sistêmico, que permita compreen<strong>de</strong>r as<br />

complexas relações entre o homem e a natureza a fim <strong>de</strong> que possam adotar novos comportamentos<br />

em prol da conservação ambiental, com consciência e convicção. Entretanto, acreditamos que<br />

reconstruir a ligação com a natureza seja um ponto <strong>de</strong> partida para tais objetivos. Usando a<br />

interpretação ambiental em trilhas ecológicas estamos promovendo a educação ambiental no Horto<br />

Florestal do Olho D água da Bica: um ambiente <strong>de</strong> caatinga, bonito e impactado pelo uso antigo na<br />

região <strong>de</strong> Cuité, PB. Este trabalho tem origem em um projeto <strong>de</strong> extensão que e objetiva sensibilizar<br />

os estudantes do município, através do contato com a natureza, para questão <strong>de</strong> conservação e<br />

<strong>de</strong>gradação da fauna e flora local. As crianças e adolescentes, acompanhadas <strong>de</strong> seus professores,<br />

são recebidos no campus universitário e levados a um passeio entremeado <strong>de</strong> reflexões científicas,<br />

históricas e culturais sobre o local e as relações do homem com aquela natureza. A visita<br />

compreen<strong>de</strong> três momentos: preparação, trilha e avaliação. Os guias são alunos licenciandos em<br />

Ciências Biológicas. Os resultados iniciais mostram que o contato com a natureza é uma ativida<strong>de</strong><br />

que vem suprir a falta <strong>de</strong> dinamismo na escola. Durante a avaliação, os relatos versam sobre a<br />

liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> correr, tocar as plantas, interagir com os colegas e com os guias. Dado o objetivo <strong>de</strong><br />

uma aproximação cognitiva e afetiva com a natureza, os resultados têm sido alcançados.<br />

Palavras chaves: Educação Ambiental, Trilhas ecológicas, Caatinga<br />

Abstract<br />

Environmental education must <strong>de</strong>velop the systemic thinking, allowing an un<strong>de</strong>rstanding of the<br />

complex relationship between man and nature so that they can adopt new behaviors towards<br />

environmental conservation, with conscience and conviction. However, we believe that rebuilding<br />

the connection with nature is a starting point for such purposes. Using environmental interpretation<br />

in ecological trails we are promoting environmental education in the Forest Gar<strong>de</strong>n Olho d‘Água da<br />

Bica: a beautiful place in the Caatinga Biome that has been impacted by ancient usage of the natural<br />

resources in the region of Cuité, PB. This work is based on an extension project that aims to<br />

sensitize stu<strong>de</strong>nts of that municipality, through contact with nature, to issue <strong>de</strong>gradation and<br />

conservation of local fauna and flora. Children and teenagers, accompanied by their teachers, are<br />

received on campus and led to a tour interspersed with scientific, historical and cultural reflections<br />

93 Projeto <strong>de</strong> Pesquisa e Extensão em <strong>de</strong>senvolvimento no Centro <strong>de</strong> Educação e Saú<strong>de</strong>, Campus Cuité, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong><br />

Campina Gran<strong>de</strong>.<br />

94 Licenciando em Ciências Biológicas, CES/UFCG<br />

95 Professora Orientadora<br />

822


about that site and the relationship between human and nature at that place. The tour comprises<br />

three stages: preparation, trail, and evaluation. The gui<strong>de</strong>s are un<strong>de</strong>rgraduate stu<strong>de</strong>nts in Biological<br />

Sciences. Initial results show that contact with nature is an activity that has overcome the lack of<br />

dynamism in school. During the evaluation, the reports <strong>de</strong>aling with the freedom to run, touch the<br />

plants, interact with peers and with the gui<strong>de</strong>s. Given the objectives of a cognitive and affective<br />

approach to nature, the goals have been achieved.<br />

Keywords: Environmental Education, Ecological trails, Caatinga<br />

Introdução<br />

A caatinga é uma das maiores e mais distintas regiões brasileiras compreen<strong>de</strong>m<br />

representando 70% da região nor<strong>de</strong>ste e 11% do território nacional. Em geral <strong>nas</strong> representações<br />

midiáticas a Caatinga é apresentada como um ambiente pobre seco e pouco diverso. Esta visão<br />

reflete na baixa priorida<strong>de</strong> para conservação. No entanto, estudos recentes mostram que isto está<br />

longe <strong>de</strong> ser verda<strong>de</strong>. Animais e plantas endêmicos, adaptados a uma dinâmica hídrica particular<br />

tem sido estudados sob diversos aspectos. (Pereira 2008)<br />

Talvez mais que outros biomas brasileiros a Caatinga vêm sendo intensamente modificada<br />

pelo homem. Os solos estão sofrendo processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sertificação em função do <strong>de</strong>smatamento para<br />

o plantio e com as constantes queimadas. A salinização dos solos <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> outros processos<br />

vem acelerando o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sertificação. De acordo (GARDA 1996 Apud CASTELLETTI et.<br />

al. 2004), somente a presença da vegetação adaptada da caatinga tem impedido a transformação do<br />

nor<strong>de</strong>ste brasileiro num imenso <strong>de</strong>serto.<br />

Neste cenário a Educação Ambiental <strong>de</strong>ve ser mais uma estratégia para a conservação da<br />

Caatinga. Muito embora os processos educativos sejam longos e lentos a construção <strong>de</strong> novas<br />

leituras e novas relações com este ambiente se faz necessária. Este artigo trata <strong>de</strong> socializar uma<br />

experiência em Educação Ambiental num dos cenários da caatinga paraibana – o Curimataú<br />

oci<strong>de</strong>ntal, Planalto da Borborema.<br />

Figura 1: Localização do município <strong>de</strong> Cuité, PB. Fonte: Wikipédia<br />

A criação do Centro <strong>de</strong> Educação e Saú<strong>de</strong> (CES) em Cuité, PB, fruto da expansão da<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> (UFCG) encampou uma área <strong>de</strong> uso antigo da<br />

823


comunida<strong>de</strong> local chamado Olho D‘água da Bica. Logo que a área foi fe<strong>de</strong>ralizada o CES<br />

institucionalizou o Horto Florestal do Olho D‘água da Bica.<br />

A Caatinga e a Educação Ambiental<br />

Apren<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo, na escola, que o termo Caatinga é originado da língua tupi-guarani,<br />

que significa mata branca, e <strong>de</strong>fini o aspecto da vegetação <strong>de</strong>sta região durante a época da seca.<br />

Quando suas folhas caem, os troncos branco-acinzentados das árvores e arbustos <strong>de</strong>stacam-se na<br />

paisagem (PRADO, 2005 Apud ABILIO, 2010).<br />

O estudo e a conservação da diversida<strong>de</strong> biológica da Caatinga é atualmente um gran<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>safio para a ciência brasileira. Há vários motivos para isto. A Caatinga é a única gran<strong>de</strong> região<br />

natural brasileira cujos limites estão inteiramente restritos ao território nacional; ela é<br />

proporcionalmente a menos estudada entre as regiões naturais brasileiras, com gran<strong>de</strong> parte do<br />

esforço científico estando concentrado em alguns poucos pontos em torno das principais cida<strong>de</strong>s da<br />

região. É ainda a região natural brasileira menos protegida e continua passando por um extenso<br />

processo <strong>de</strong> alteração e <strong>de</strong>terioração ambiental provocado pelo uso insustentável dos seus recursos<br />

naturais, o que está levando à rápida perda <strong>de</strong> espécies únicas, à eliminação <strong>de</strong> processos ecológicos<br />

chaves e à formação <strong>de</strong> extensos núcleos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sertificação em vários setores da região (I. R. Leal.,<br />

2005)<br />

O Horto Florestal do Olho D‘Água da Bica compreen<strong>de</strong> uma área <strong>de</strong> 75 hectares e abriga<br />

uma <strong>nas</strong>cente localizada em uma escarpa na face oci<strong>de</strong>ntal do Planalto da Borborema. Há indícios<br />

<strong>de</strong> uso pré-histórico. Sabe-se que existe pintura rupestre no local, mas em uma área pouco acessível<br />

<strong>de</strong>sta escarpa.<br />

Foto 1: Vista parcial do horto florestal<br />

Na história mais recente a água que se acumula em um poço construído é retirada em bal<strong>de</strong>s,<br />

uma lavan<strong>de</strong>ria comunitária foi construída no entorno e ainda existem os chuveiros públicos, que<br />

antigamente eram usados pela população local que não tinha acesso a água encanada ou como<br />

forma <strong>de</strong> lazer. Havia ainda quem acreditasse que a água da Bica tinha proprieda<strong>de</strong>s medicinais. O<br />

824


terreno íngreme, quase na forma arena foi usado durante alguns anos para a encenação da Paixão <strong>de</strong><br />

Cristo na Semana Santa.<br />

Com a chegada da Universida<strong>de</strong> à cida<strong>de</strong> e a doação do terreno para a União, esta área foi<br />

promovida a Horto Florestal protegido e gerida pelo Centro <strong>de</strong> Educação e Saú<strong>de</strong> (CES/UFCG).<br />

Hoje a área esta cercada, vigiada e vem recebendo benfeitorias a fim <strong>de</strong> manter um uso com<br />

restrições promover a recuperação e conservação da biota local. Recentemente a discussão sobre o<br />

Plano <strong>de</strong> Manejo do Horto foi retomada. Está em <strong>de</strong>bate a criação <strong>de</strong> uma Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Conservação<br />

(UC) aparada pelo Sistema Nacional <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação (SNUC).<br />

No estado Paraíba o Bioma Caatinga ocupava cerca <strong>de</strong> 70% da área territorial em 2004. As<br />

altas taxas <strong>de</strong> <strong>de</strong>smatados para pastagens e reforma agrária previam uma redução <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 30%<br />

até 2010. E, nos pólos <strong>de</strong> concentração <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s antrópicas po<strong>de</strong>rá haver o <strong>de</strong>saparecimento<br />

total da vegetação levando a (CNRBC, 2004, apud Pereira 2008). E combater a <strong>de</strong>sertificação não<br />

significa ape<strong>nas</strong> combater erosão, salinização, assoreamento ou tantas outras conseqüências, é<br />

necessário eliminar as causas que provocam estas conseqüências, ou seja, ativida<strong>de</strong>s huma<strong>nas</strong>.<br />

Neste sentido, a educação ambiental aparece como uma das ações para a conservação da<br />

biodiversida<strong>de</strong> na caatinga em Tabrelli e Silva (2002).<br />

O que se po<strong>de</strong> ver hoje na região do Olho D‘Água da Bica é uma área antropizada, com<br />

vegetação arbustiva e arbórea <strong>nas</strong> escarpas da formação. Os córregos e charcos no entorno da<br />

<strong>nas</strong>cente oscilam com a sazonalida<strong>de</strong> da Caatinga, enquanto a <strong>nas</strong>cente principal é perene. Seguindo<br />

o <strong>de</strong>clívio natural do terreno existem peque<strong>nas</strong> quedas d‘água, um lago, e outros acúmulos naturais<br />

<strong>de</strong> água. Nos limites da área <strong>de</strong> conservação existem proprieda<strong>de</strong>s privadas <strong>de</strong> uso mais extensivos<br />

em agricultura e lazer.<br />

Foto 2: Lago e córregos presentes no horto florestal<br />

825


Foto 3: Nascente do olho d‘ água da bica<br />

A beleza natural e os usos históricos do Horto compõem um cenário que julgamos perfeito<br />

para o <strong>de</strong>senvolvimento das ativida<strong>de</strong>s em Educação Ambiental. Contudo, sabemos que áreas como<br />

esta <strong>de</strong>spertam interesses conflitantes. Sustentamos nossa proposta nos argumentos <strong>de</strong> conservação<br />

e preservação: ―A Caatinga <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rada patrimônio biológico <strong>de</strong> valor incalculável ser<br />

preservada e protegida, pois ela só existe no Brasil‖ (EMBRAPA, 2007, p. 13).<br />

A Educação Ambiental, no entanto, não se restringe á temática <strong>de</strong> preservação e<br />

conservação <strong>de</strong> ambientes naturais. Uma pesquisa realizada em 2010 (ALVES e LINHEIRA, 2011)<br />

com os professores <strong>de</strong> ciências e biologia da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cuité, aponta a temática do lixo e temas<br />

globais como os mais <strong>de</strong>senvolvidos <strong>nas</strong> escolas durante a semana do meio ambiente, por exemplo.<br />

Na convivência com os professores percebemos que as iniciativas em Educação Ambiental são<br />

ainda tímidas quando consi<strong>de</strong>ramos os potenciais e os problemas ambientais do município e região.<br />

Um dos argumentos utilizados pelos professores ainda na pesquisa <strong>de</strong> Alves e Linheira (2011) é a<br />

sobrecarga <strong>de</strong> trabalho docente.<br />

Valendo-se da Política Nacional <strong>de</strong> Educação Ambiental (BRASIL, 1999) que estimula as<br />

ações <strong>de</strong> ―<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> estudos, pesquisas e experimentações‖ e o ―<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

instrumentos e metodologias, visando à incorporação da dimensão ambiental <strong>de</strong> forma<br />

interdisciplinar, nos diferentes níveis e modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensino‖ (art 8º) o projeto <strong>de</strong> extensão<br />

intitulado Trilhas Interpretativas no Horto Florestal Olho D´Agua da Bica: educação ambiental<br />

nos caminhos da natureza e da história foi elaborado.<br />

Neste contexto a Educação Ambiental pretendida segue a corrente do pensamento sistêmico<br />

(SAUVÉ, 2005), que permite conhecer e compreen<strong>de</strong>r a realida<strong>de</strong> e os problemas ambientais <strong>de</strong><br />

forma multidisciplinar, <strong>de</strong> natureza cognitiva, objetivando a tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões mais acertadas<br />

consi<strong>de</strong>rando as interações complexas em contraposição a fragmentação histórica dos saberes.<br />

Tratando-se <strong>de</strong> crianças e adolescentes urbanos, porém, pensamos que a reaproximação da natureza<br />

<strong>de</strong>ve ser o primeiro passo para a compreensão da complexida<strong>de</strong> dos problemas ambientais. Sob um<br />

viés naturalista (SAUVÉ, 2005) nossa proposta <strong>de</strong> Educação Ambiental amplia a abordagem<br />

826


cognitiva e traz as dimensões experienciais, afetiva e artística com o intuito <strong>de</strong> criar o restabelecer o<br />

vinculo das pessoas com a natureza.<br />

Trilhas Interpretativas e Educação Ambiental<br />

Assim como a expressão ―ambiental‖ veio complementar o conceito <strong>de</strong> educação, para<br />

<strong>de</strong>signar um tipo <strong>de</strong> conhecimento e práticas específicos a expressão vivencial complementa a<br />

Educação Ambiental <strong>de</strong>signa pedagogias que buscam diversificar os mecanismos pelos quais se<br />

apren<strong>de</strong>. O processo educativo da Educação Ambiental vivencial consi<strong>de</strong>ra os indivíduos em sua<br />

totalida<strong>de</strong>, priorizando o aprendizado através do corpo, dos sentidos e da percepção mais sutil <strong>de</strong> si<br />

mesmo, dos outros, do mundo e da natureza (MENDONÇA, 2007 ).<br />

Dentre as técnicas <strong>de</strong> estimulo e condução às vivencias na natureza está a interpretação<br />

ambiental: um instrumento <strong>de</strong> comunicação que favorece as conexões intelectuais e emocionais<br />

entre as pessoas e os significados inerentes aos recursos A abordagem interpretativa <strong>de</strong>ve cativar,<br />

provocar, envolver e estimular a reflexão das pessoas. Ela <strong>de</strong>ve ser amena para entreter e manter a<br />

atenção; <strong>de</strong>ve ter significado para quem ouve, para que as pessoas possam fazer conexões<br />

intelectuais; a interpretação <strong>de</strong>ve ser organizada e, por fim, temática. (VASCONCELLOS, 2006).<br />

As trilhas ecológicas são i<strong>de</strong>ais para o uso da técnica da interpretação ambiental. Elas<br />

po<strong>de</strong>m ser interpretadas por um guia treinado, que acompanha os visitantes na caminhada ou pelos<br />

próprios visitantes através <strong>de</strong> placas e/ou folhetos explicativos.<br />

As ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> interpretação <strong>nas</strong> trilhas constituem vivências práticas dos conhecimentos<br />

teóricos, visando facilitar os processos <strong>de</strong> aprendizagem estimulando estudantes, professores e<br />

participantes, visando à contemplação e valorização dos atrativos naturais do local. Contudo, a<br />

escolha a<strong>de</strong>quada e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma temática são importantes para o sucesso da ativida<strong>de</strong>.<br />

As trilhas ecológicas interpretativas po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>radas laboratórios vivos, salas <strong>de</strong> aula<br />

naturais, <strong>de</strong>spertando interesse, curiosida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>scoberta. Esse dinamismo que falta à escola<br />

tradicional levou-nos a planejar as ativida<strong>de</strong>s aqui apresentadas como forma <strong>de</strong> colaborar nos<br />

processos <strong>de</strong> ensino-aprendizagem na cida<strong>de</strong>.<br />

Interpretando a natureza<br />

O projeto <strong>de</strong> extensão tem como objetivo levar os estudantes do Ensino Fundamental e<br />

Médio do município <strong>de</strong> Cuité ao Horto para ter contato com a natureza, guiados por licenciandos do<br />

curso <strong>de</strong> Ciências Biológicas. Divulgamos o projeto na Secretaria <strong>de</strong> Educação do Município e<br />

diretamente <strong>nas</strong> escolas. Exigimos, ape<strong>nas</strong>, a presença <strong>de</strong> dois professores acompanhando a turma.<br />

Estabelecemos um limite <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 20 alunos por trilha, mas nem sempre conseguimos cumprir<br />

esta regra, pois para algumas escolas a <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> transporte dificulta a divisão das turmas.<br />

827


As temáticas escolhidas pelos guias foram Fauna e Flora da Caatinga com o objetivo <strong>de</strong><br />

apresentar aos estudantes aspectos biológicos, estéticos e culturais dos animais e das plantas locais.<br />

Para os alunos do Ensino Fundamental II e Médio as interpretações foram mais discursivas. Com os<br />

alunos das series iniciais o trilha foi conduzida a partir <strong>de</strong> uma ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> caça à espécie<br />

inspirados <strong>nas</strong> ativida<strong>de</strong>s propostas por Cornell (1997): on<strong>de</strong> cada criança recebeu no momento pré-<br />

trilha um cartão com a foto <strong>de</strong> uma árvore ou arbusto local, e uma pequena <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong>la. Durante<br />

a trilha precisariam encontrá-la na natureza. A cada parada uma criança lê o cartão e comenta<br />

aspectos afetivos em relação àquela planta. O guia complementa as informações e envolve todas as<br />

crianças na observação e interação com cada espécime.<br />

As ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> trilhas compreen<strong>de</strong>m três momentos: pré-trilha, trilha e pós-trilha. No<br />

primeiro momento, os alunos das escolas são recebidos no Campus Universitário que com sua<br />

paisagem encantadora surpreen<strong>de</strong>r aqueles que nunca estiveram lá.<br />

Em seguida, em uma sala <strong>de</strong> aula recebem instruções gerais sobre a trilha e uma pequena<br />

palestra introdutória. Terminada a aproximação inicial, o entrosamento entre o guia e os estudantes,<br />

vamos ao Horto Florestal do Olho D‘Água da Bica. A s trilhas são programadas <strong>de</strong> acordo com a<br />

faixa etária e o tempo disponível para o evento. Paradas são previamente estabelecidas pelos guias.<br />

Os pontos escolhidos estão relacionados à temática planejada. Contudo, assuntos po<strong>de</strong>m surgir ao<br />

longo da caminhada, como por exemplo, a <strong>nas</strong>cente e as construções que chamamos <strong>de</strong> castelos<br />

atraem a atenção dos alunos, que fazem muitas perguntas sobre o local.<br />

Vasconcellos (2006) sugere etapas que contribuem para seleção e organização da temática.<br />

Para ela as <strong>de</strong>finições do público e do objetivo a ser alcançado prece<strong>de</strong>m a <strong>de</strong>finição da temática. A<br />

escolha da fauna e da flora como temática <strong>de</strong>ve-se as possíveis relações com os conteúdos formais<br />

do ensino <strong>de</strong> ciências e biologia e claro, a familiarida<strong>de</strong> dos guias com o assunto.<br />

Os animais avistados durante a trilha são em geral aves, insetos, anfíbios e répteis. Os<br />

pequenos mamíferos não são vistos com facilida<strong>de</strong>, mas falamos sobre eles, suas características e<br />

seus hábitos. Em relação às plantas exclusivas do bioma são abordados aspectos morfológicos e<br />

fisiológicos, bem como usos populares das plantas. São apontadas as espécies em risco <strong>de</strong> extinção<br />

e relações planta-solo.<br />

Ao final da caminhada, os alunos se retornam à sala on<strong>de</strong> se iniciou o trabalho para um<br />

momento <strong>de</strong> socialização das experiências vivenciadas. Primeiro fazemos uma conversa para saber<br />

o que sentiram. Em seguida, solicitamos que <strong>de</strong>monstrem por meio <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhos, frases palavras ou<br />

textos a experiência <strong>de</strong> fazer uma trilha, evi<strong>de</strong>nciando algum ponto. Neste momento os guias<br />

acompanham as produções conversando individualmente na tentativa <strong>de</strong> extrair expressões não<br />

<strong>de</strong>claradas na ativida<strong>de</strong>. Para encerrar o encontro o guia <strong>de</strong>clama um poema feito por um professor<br />

<strong>de</strong> história da cida<strong>de</strong>, especialmente para e sobre o Horto.<br />

828


Alguns resultados<br />

A a<strong>de</strong>são das escolas ao projeto é crescente. O transporte até o Campus ainda é um problema<br />

a ser sanado. As particularida<strong>de</strong>s do relevo dificultam o <strong>de</strong>slocamento a pé, até mesmo para as<br />

escolas mais próximas. Em dois meses <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s do projeto oito turmas visitaram o Horto<br />

recepcionado por seis guias que revezam a coor<strong>de</strong>nação dos trabalhos entre si.<br />

Todas as turmas que visitaram o Horto ficaram interessadas <strong>nas</strong> espécies vegetais do<br />

campus após a trilha. Esse resultado parece muito positivo e promissor! Em especial, as crianças<br />

menores ao retornarem da trilha, perguntam com entusiasmo o nome <strong>de</strong> quase todas as plantas<br />

ornamentais no campus. Todo o passeio é tomado <strong>de</strong> alegria! Durante a trilha o envolvimento, a<br />

empolgação e as <strong>de</strong>monstrações <strong>de</strong> satisfação são mais expressivos nos mais jovens. Os<br />

adolescentes são mais contidos e preguiçosos. A possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estar fora da sala <strong>de</strong> aula com a<br />

permissão <strong>de</strong> caminhar, correr, pular, confere ao passeio um caráter lúdico evi<strong>de</strong>nciado pelo coro ao<br />

final <strong>de</strong> cada encontro ―quando é que vamos voltar?‖.<br />

Acreditamos que a vivencia na natureza <strong>de</strong>verá ser repetida tantas vezes quanto necessário a<br />

fim <strong>de</strong> que estes estudantes possam vivenciar a experiência também como um espaço <strong>de</strong><br />

aprendizagem legítimo. Em quase todas as turmas o comportamento daqueles alunos consi<strong>de</strong>rados<br />

indisciplinados e problemáticos, pelas professoras, tiverem o comportamento alterado. Estavam<br />

atentos, colaboradores e interessados.<br />

Na avaliação pós-trilha, durante as conversas, é quase unânime a saída da escola e da sala <strong>de</strong><br />

aula como ponto mais interessante da experiência. Isso reforça os questionamentos atuais sobre as<br />

necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> reformulação curricular e metodológica da escola básica. O contato com os guias<br />

também aparece <strong>nas</strong> falas e na escrita como um ponto relevante da experiência. O papel do guia e<br />

interprete da natureza é sempre <strong>de</strong> educador com o compromisso <strong>de</strong> fazer com que as pessoas<br />

cresçam com sua experiência interpretativa e se possível, apliquem novas <strong>de</strong>scobertas em seu<br />

cotidiano (Vasconcellos, 2006).<br />

Muitas crianças que passaram pela ativida<strong>de</strong> com os cartões durante as trilhas <strong>de</strong>senharam a<br />

‗sua‘ planta na avaliação, e durante a trilha apontavam outros exemplares da mesma espécie. O que<br />

nos leva a crer que há um caráter formativo <strong>nas</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Educação Ambiental via trilhas<br />

interpretativas. É importante reforçar que preten<strong>de</strong>mos que as vivencias na natureza sejam um<br />

primeiro encontro com a Educação Ambiental e que o reencontro com o ambiente natural seja um<br />

estimulo para a conscientização e as mudanças <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s.<br />

Os castelos aparecem nos <strong>de</strong>senhos com muita freqüência. Embora não seja o foco da trilha,<br />

é impossível não notá-los. A Paixão <strong>de</strong> Cristo foi encenada até o ano <strong>de</strong> 2005. Muitas crianças<br />

nunca participaram do evento o que torna os castelos um convite ao imaginário infanto-juvenil.<br />

829


E por fim, a inserção do ser humano como parte da natureza não aparece com freqüência nos<br />

<strong>de</strong>senhos. Em geral eles retratam o espaço visitado sem a presença <strong>de</strong> si ou dos outros. Este é um<br />

<strong>de</strong>sfio a ser superado neste projeto.<br />

Foto 4: Desenhos feitos pelos alunos<br />

Consi<strong>de</strong>rações finais<br />

Tendo em vista os problemas enfrentados pelo bioma Caatinga se faz urgente a introdução<br />

<strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Educação Ambiental <strong>de</strong> modo a garantir a sobrevivência <strong>de</strong>sta Formação tão<br />

brasileira. O uso das trilhas interpretativas possibilita transformar um ambiente natural em um<br />

espaço <strong>de</strong> aprendizagens cognitivas e <strong>de</strong>senvolvimentos afetivos, com vistas ao pensamento crítico,<br />

o entendimento dos problemas ambientais como <strong>de</strong>safios coletivos.<br />

Os estudos sobre o uso <strong>de</strong> trilhas interpretativas e trilhas ecológicas em geral no Brasil não é<br />

muito extenso. Se faz necessário uma difusão maior <strong>de</strong>sta estratégia formativa e um<br />

acompanhamento mais sistemático para <strong>de</strong>limitar com maior precisão os pontos positivos e<br />

compreen<strong>de</strong>r os limites <strong>de</strong>sta ferramenta <strong>de</strong> trabalho pedagógico na Educação Ambiental.<br />

Preten<strong>de</strong>mos em longo prazo formar uma comunida<strong>de</strong> conscientizada que valorize o<br />

equilíbrio entre as pessoas e natureza. Desejamos que o Horto Florestal do Olho D‘água da Bica<br />

seja o ponto <strong>de</strong> convergência <strong>de</strong>ste projeto coletivo.<br />

830


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

ABÍLIO, F. J. P. Bioma caatinga: ecologia, biodiversida<strong>de</strong>, Educação Ambiental e práticas<br />

pedagógicas - João Pessoa, editora universitária. UFPB, 2010<br />

AlVES, P.; LINHEIRA, C. Z. Educação Ambiental Na Concepção Dos Professores Do Curimataú<br />

Paraibano: Um Estudo No Município De Cuité, Pb. In: Colóquio <strong>de</strong> Educação Ambiental para o<br />

Semi-Árido Nor<strong>de</strong>stino , I, 2011, João Pessoa, Anais eletrônico. Disponível em: <<br />

https://sites.google.com/site/coloquioea/home/anais-2011> p. 61 a 75.<br />

ARAÚJO, D.; FARIAS, M.E. Trabalhando a construção <strong>de</strong> um novo conhecimento através dos<br />

sentidos em trilhas ecológicas. In: II Simpósio Sul Brasileiro <strong>de</strong> Educação Ambiental, 2003. Anais.<br />

Itajaí: Unilivre,<br />

ARAUJO, R. S <strong>de</strong>; FARIAS, M. E. Trabalhando A Trilha Ecológica Como Estratégia De<br />

Aprendizagem. Educação Ambiental em Ação nº. 34 - 05/12/2010. Disponível em:<br />

http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=927&class=21 Acesso em: 24/03/2012.<br />

BRASIL. Lei n.º 9.795, 27 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a política<br />

nacional <strong>de</strong> educação ambiental e da outras provi<strong>de</strong>ncias. Diário Oficial da republica fe<strong>de</strong>rativa do<br />

Brasil. Brasília, DF, 27 abr.,1999. Disponível em: <<br />

http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/educacaoambiental/lei9795.pdf> Acesso em: 20/04/2012.<br />

CASTELLETTI, C.H.M., J.M.C. SILVA, M. TABARELLI & A.M.M. SANTOS. Quanto ainda<br />

resta da caatinga? Uma estimativa preliminar. 2004<br />

CORNELL, J. A Alegria <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r com a Natureza: ativida<strong>de</strong>s na natureza para todas as<br />

ida<strong>de</strong>s. São Paulo: SENAC - São Paulo: Companhia Melhoramentos, 1997.<br />

COSTA, C. F. Projeto Horto Florestal Olho D´ água da Bica / UFCG/CES/CUITÉ. Diagnóstico<br />

Socio-Ambiental. Relatório técnico final. Fevereiro 2009.<br />

EMBRAPA. Embrapa Informação Tecnológica; Embrapa Semiárido. Preservação e uso da<br />

Caatinga. – Brasília, DF : Embrapa Informação Tecnológica, 2007.<br />

GUIMARÃES, M. A Dimensão Ambiental na Educação. Campi<strong>nas</strong>, SP: Papiros, 1995<br />

LEAL, I. et.al; Ecologia e Conservação da Caatinga: Introdução ao Desafio. 2005<br />

MENDONÇA, R. Educação Ambiental Vivencial. 2007. Disponível em:<<br />

http://www.institutoroma.org.br/artigos/educacao_ambiental_vivencial.pdf> Acesso em: 24/08/2012.<br />

PEREIRA D.D. Cariris paraibanos: do sesmarialismo aos assentamentos <strong>de</strong><br />

reforma agrária. Raízes da <strong>de</strong>sertificação? / Campina Gran<strong>de</strong>, 2008.<br />

341 p. : il. Color.<br />

SAUVÉ, L. Uma cartografia das correntes em educação ambiental. In: SATO, M. & CARVALHO,<br />

I. (orgs.) Educação Ambiental: pesquisa e <strong>de</strong>safios. Porto Alegre: Artmed, 2005.<br />

TABARELLI, M. ; SILVA, J. M. C., Áreas e Ações Prioritárias para a Conservação da Caatinga.<br />

2002. Disponível em: < http://www.acaatinga.org.br/wp-content/uploads/2011/08/25-cap.-20.pdf> Acesso<br />

em: 02/10/2012.<br />

VASCONCELLOS, J. M. O. Educação e Interpretação Ambiental em Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação -<br />

Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> Conservação, ano 3. Nº 4. Dezembro 2006.<br />

831


INICIATIVAS GLOCAIS DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS PARA EDUCANDOS DO ENSINO<br />

FUNDAMENTAL II<br />

RESUMO<br />

LIRA, Irlane Cristine <strong>de</strong> Souza Andra<strong>de</strong> (UPE)<br />

SOUZA FREITAS, Joycyely Marytza <strong>de</strong> Araujo (FUNESO)<br />

SOUZA, Josiane Maria (FAEST) - josianemaria@gmail.com<br />

ROCHA, Adália Maria Monteiro Rodrigues (UPE)<br />

A mudança climática é muito mais do que emissões <strong>de</strong> gases que provocam o efeito estufa. A<br />

influência da ativida<strong>de</strong> humana sobre o clima diz respeito ao que é consumido, ao tipo <strong>de</strong> energia<br />

que é produzida e a condição que é vivida no âmbito social. Por isso o objetivo <strong>de</strong>ssa pesquisa é<br />

sensibilizar alunos sobre as mudanças climáticas e as consequências para o planeta<br />

<strong>de</strong>senvolvendo atitu<strong>de</strong>s e ações que minimizem danos ambientais. O estudo é classificado como<br />

exploratório e explicativo e <strong>de</strong> caráter qualitativo. Foi realizado na Escola Estadual Gercino<br />

Coelho em Petrolina (PE) com educandos do 7º e 8º anos do Ensino Fundamental II. Como<br />

instrumento foi utilizado a técnica <strong>de</strong> entrevista e após ciclo <strong>de</strong> palestras. Os resultados obtidos<br />

foram positivos para informação e conscientização dos educando sobre a temática, assim foi<br />

possível a listagem <strong>de</strong> vinte atitu<strong>de</strong>s que po<strong>de</strong>m minimizar os efeitos da mudança climática no<br />

planeta. As palestras e os conhecimentos socializados pu<strong>de</strong>ram proporcionar aos alunos<br />

informações que o clima realmente mudou e está afetando a vida na Terra <strong>de</strong> forma significativa.<br />

Palavras-chaves: Mudanças Climáticas. Educação Ambiental. Terra.<br />

ABSTRACT<br />

The climate change is much more than emissions of gases that provoke the greenhouse effect.<br />

The influence of human activity on climate refers to what is consumed, the type of energy that is<br />

produced and the condition that is experienced in the social sphere. Therefore the objective of<br />

this research is to sensitize stu<strong>de</strong>nts about climate change and the consequences for the planet<br />

<strong>de</strong>veloping attitu<strong>de</strong>s and actions that minimize environmental damage. The study is classified as<br />

exploratory and explanatory and qualitative. It was held in the State School Gercino Coelho in<br />

Petrolina (PE) with stu<strong>de</strong>nts from the 7th and 8th gra<strong>de</strong>s of elementary school II. As instrument<br />

was used to interview technique and after lecture series. The results were positive information<br />

and awareness on the theme of educating, so it was possible the listing of twenty attitu<strong>de</strong>s that<br />

can minimize the effects of climate change on the planet. The lectures and socialized knowledge<br />

could provi<strong>de</strong> stu<strong>de</strong>nts with information that the climate really changed and is affecting life on<br />

Earth significantly.<br />

Keywords: Climate Change. Environmental Education. Earth.<br />

832


1 INTRODUÇÃO<br />

Mudanças climáticas são alterações no clima geradas pelo aquecimento global e provocadas<br />

pela emissão <strong>de</strong> gases <strong>de</strong> efeito estufa. Essas mudanças têm sido verificadas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> tempos mais<br />

remotos em que forças geológicas inerentes à dinâmica do planeta provocaram mudanças no clima.<br />

O aquecimento global está afetando os ecossistemas, causando a <strong>de</strong>struição ou a <strong>de</strong>gradação do<br />

habitat e perda da produtivida<strong>de</strong> agrícola, ameaçando tanto a biodiversida<strong>de</strong> como o bem-estar<br />

humano. Impactos ecológicos do aquecimento global têm sido pouco estudados no Brasil, enquanto<br />

que para outras regiões do mundo os estudos têm sido mais compreensivos e <strong>de</strong>talhados. Para<br />

estudar as mudanças climáticas as Nações Unidas criou o Painel Intergovernamental <strong>de</strong> Mudanças<br />

Climáticas – IPCC (Intergovernamental Painel Climate Change – IPCC), órgão responsável por<br />

produzir informações científicas em relatórios que tem sido divulgado periodicamente <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1988.<br />

Os relatórios são baseados na revisão <strong>de</strong> pesquisas <strong>de</strong> 2500 cientistas <strong>de</strong> todo o mundo.<br />

O efeito das mudanças climáticas acelera as migrações, <strong>de</strong>strói os meios <strong>de</strong> sustento, altera as<br />

economias, <strong>de</strong>bilita o <strong>de</strong>senvolvimento e exacerba as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s entre os povos. Por isso, diante<br />

<strong>de</strong>ste quadro convém à espécie humana e também aos pesquisadores e educadores ambientais, um<br />

olhar atento sobre os efeitos e vulnerabilida<strong>de</strong>s a que todos estamos expostos diante <strong>de</strong>ssas<br />

mudanças climáticas globais e dos <strong>de</strong>safios que se colocam aos educadores para tentar minimizar a<br />

crise ambiental que vem acelerando os efeitos <strong>de</strong>ssas mudanças. É uma questão <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong><br />

e cidadania global.<br />

Está sendo vivenciada uma época <strong>de</strong> intensas ondas <strong>de</strong> calor em todo o mundo, <strong>de</strong><br />

tempesta<strong>de</strong>s, secas e furacões cada vez mais severos, assim como o aumento <strong>de</strong> epi<strong>de</strong>mias e a<br />

extinção <strong>de</strong> espécies. Esses fenômenos têm sido apontados como consequência da mudança do<br />

clima na terra. É certo que a Terra tem passado, ao longo <strong>de</strong> toda a sua história geológica, por<br />

enormes variações climáticas causado por ativida<strong>de</strong>s antrópicas, em especial pelo consumo <strong>de</strong><br />

combustíveis fósseis, como carvão mineral, petróleo e gás natural, assim como pelos<br />

<strong>de</strong>smatamentos e queimadas. Os efeitos não são iguais em todas as regiões, mas a agricultura, o<br />

abastecimento <strong>de</strong> água, o equilíbrio dos ecossistemas e a vida <strong>de</strong> muitas espécies estão ameaçados<br />

por essas mudanças climáticas.<br />

A <strong>de</strong>sertificação e o aumento da temperatura das águas comprometem a sobrevivência da<br />

biodiversida<strong>de</strong> nos ecossistemas Brasileiros. E os nossos jovens? Eles conhecem toda essa<br />

problemática ambiental? Estão se preocupando com esses cenários? Quais atitu<strong>de</strong>s estão tomando<br />

para amenizar essas mudanças que tem ocorrido no nosso planeta? Afinal, eles são as futuras<br />

gerações, e aí? Essas futuras gerações estão sendo preparadas para enfrentar essas alterações no<br />

planeta? Que trabalho tem sido realizado com esses jovens? Qual procedimento que nós como<br />

833


educadores <strong>de</strong>vemos realizar para reduzir ou pelo menos amenizar os efeitos das mudanças<br />

climáticas? Com esse trabalho propomos principalmente, mostrar algumas ações ou atitu<strong>de</strong>s que<br />

fazem a diferença para o planeta e que po<strong>de</strong>m ser realizadas por esses jovens.<br />

Em tempos <strong>de</strong> previsões sobre as mudanças climáticas da Terra, novas atitu<strong>de</strong>s são valiosas<br />

para minimizar a cota individual <strong>de</strong> dióxido <strong>de</strong> carbono (CO2) na atmosfera.<br />

2 OBJETIVOS<br />

2.1 OBJETIVO GERAL<br />

Sensibilizar alunos do 7º e 8º ano da escola Professor Simão Amorim Durando no Rio<br />

Corrente em Petrolina-PE sobre as mudanças climáticas e as suas consequências para o planeta<br />

<strong>de</strong>senvolvendo atitu<strong>de</strong>s e ações que minimizem danos ambientais na sua cida<strong>de</strong>.<br />

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS<br />

I<strong>de</strong>ntificar fatores que tem contribuído para as mudanças do clima no planeta e <strong>de</strong>senvolver<br />

atitu<strong>de</strong>s no seu cotidiano que minimizem impactos ambientais;<br />

Desenvolver atitu<strong>de</strong>s que possam trazer benefícios ao meio ambiente possibilitando a<br />

construção <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> fundamentada na preservação ambiental tendo como base a educação<br />

ambiental;<br />

Discutir questões básicas relativas às mudanças climáticas, possibilitando a construção <strong>de</strong><br />

uma socieda<strong>de</strong> mais justa social e ambientalmente.<br />

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA<br />

São vários os fatores, apontados por ecologistas e cientistas, que provocam as mudanças<br />

climáticas tais como o efeito estufa, o buraco na camada <strong>de</strong> ozônio, a poluição atmosférica e o<br />

aumento na produção <strong>de</strong> gás carbônico.<br />

Des<strong>de</strong> a década <strong>de</strong> 1990 não pairam dúvidas sobre o aumento da temperatura do planeta. A<br />

confirmação do aquecimento do planeta ocorreu <strong>de</strong>pois da Conferência das Nações Unidas para o<br />

Meio Ambiente e Desenvolvimento - PNUMA – realizado no Rio <strong>de</strong> Janeiro em 1992, fato que<br />

possibilitou os Estados Unidos, apoiados por países árabes produtores <strong>de</strong> petróleo, pressionar para a<br />

redação <strong>de</strong> um texto genérico na Convenção sobre Mudanças Climáticas. A variação global das<br />

condições climáticas do planeta, segundo os dados apresentados na literatura científica, indica<br />

muitas mudanças, entre elas a elevação do nível médio do mar que não é uma questão catastrófica<br />

834


ou alarmante, mas uma questão preocupante. A elevação do nível do mar não se dá ape<strong>nas</strong> <strong>de</strong>vido<br />

ao <strong>de</strong>rretimento <strong>de</strong> gelo e aumento <strong>de</strong> massa, mas também pela expansão térmica da massa líquida<br />

do oceano e consequente aumento <strong>de</strong> volume. Cálculos matemáticos indicam que o efeito da<br />

expansão térmica é bem mais importante do que o <strong>de</strong>rretimento das geleiras.<br />

O fenômeno do <strong>de</strong>rretimento das geleiras acontece no Pólo Norte e no Pólo Sul. O mais<br />

preocupante com relação ao aumento do nível global dos oceanos é o <strong>de</strong>rretimento das camadas <strong>de</strong><br />

gelo na Antártica, no Polo Sul, porque as geleiras estão sobre um continente, enquanto o gelo do<br />

Polo Norte está sobre a água. A Antártica reúne cerca <strong>de</strong> 90% <strong>de</strong> todo o gelo da Terra e, segundo<br />

projeções do IPCC, se todo este gelo fosse <strong>de</strong>rretido o mar subiria 60 metros.<br />

O buraco da camada <strong>de</strong> ozônio não tem relação direta com o efeito estufa, apesar <strong>de</strong> ambos<br />

terem uma origem comum: a poluição causada pelas ativida<strong>de</strong>s huma<strong>nas</strong>. Portanto, não há relação<br />

direta entre os aumentos do buraco na camada <strong>de</strong> ozônio e a elevação do nível do mar.<br />

Algumas consequências notáveis do aquecimento global foram já observadas, como o<br />

<strong>de</strong>rretimento <strong>de</strong> geleiras nos pólos e o aumento <strong>de</strong> <strong>de</strong>z centímetros no nível do mar em um século.<br />

Uma tendência <strong>de</strong> aquecimento em todo o mundo, especialmente <strong>nas</strong> temperaturas mínimas, em<br />

gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s do Brasil como São Paulo e Rio <strong>de</strong> Janeiro, po<strong>de</strong> ser agravada pela urbanização. Os<br />

mo<strong>de</strong>los globais <strong>de</strong> clima projetam para o futuro, ainda com algum grau <strong>de</strong> incerteza, possíveis<br />

mudanças em extremos climáticos, como ondas <strong>de</strong> calor, ondas <strong>de</strong> frio, chuvas intensas e enchentes,<br />

secas, e mais intensos e/ou frequentes furações e ciclones tropicais e extratropicais. Exemplos<br />

po<strong>de</strong>m ser observados anualmente: as enchentes e ondas <strong>de</strong> calor da Europa em 2002 e 2003, os<br />

invernos intensos da Europa e Ásia nos últimos anos; o furacão Catarina no Brasil em 2004; os<br />

intensos e <strong>de</strong>vastadores furacões no Atlântico Tropical Norte em 2005 (Katrina, Rita, Wilma, etc.);<br />

as secas no Su<strong>de</strong>ste do Brasil em 2001, no Sul em 2004, 2005 e 2006, e na Amazônia, em 2005.<br />

Estes fenômenos têm sido atribuídos à variabilida<strong>de</strong> natural do clima, mudanças no uso da<br />

terra (<strong>de</strong>smatamento e urbanização), aquecimento global, aumento da concentração <strong>de</strong> gases <strong>de</strong><br />

efeito estufa e aerossóis na atmosfera. Para isso, todas as formas <strong>de</strong> relação do homem com a<br />

natureza <strong>de</strong>vem ocorrer com o menor dano possível ao ambiente. As políticas, os sistemas <strong>de</strong><br />

produção, a transformação, o comércio, os serviços - agricultura, indústria, turismo, mineração - e o<br />

consumo têm <strong>de</strong> existir preservando os biomas e a biodiversida<strong>de</strong> ressaltando que os biomas, um<br />

conjunto <strong>de</strong> vida (vegetal e animal) constituído pelo agrupamento <strong>de</strong> tipos <strong>de</strong> vegetação contíguos e<br />

i<strong>de</strong>ntificáveis em escala regional, com condições geoclimáticas similares e história compartilhada<br />

<strong>de</strong> mudanças, o que resulta em uma diversida<strong>de</strong> biológica própria e se caracteriza como fonte <strong>de</strong><br />

riqueza <strong>de</strong> um país e, que <strong>de</strong>ve ser preservada.<br />

Conforme dados do ministério do meio ambiente a década <strong>de</strong> 1990 segundo foi a mais quente<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que as primeiras medições, no fim do século XIX, foram efetuadas. Este aumento <strong>nas</strong> décadas<br />

835


ecentes correspon<strong>de</strong> ao aumento no uso <strong>de</strong> combustível fóssil durante este período. Até finais do<br />

século XX, o ano <strong>de</strong> 1998 foi o mais quente <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início das observações meteorológicas em<br />

1861, com +0.54ºC acima da média histórica <strong>de</strong> 1961-90. Já no século XXI, a temperatura do ar a<br />

nível global em 2005 foi <strong>de</strong> +0.48ºC acima da média, sendo este o segundo ano mais quente do<br />

período observacional, como afirma a Climate Research Unit da University of East Anglia, UK. O<br />

ano <strong>de</strong> 2003 foi o terceiro mais quente (+0.44ºC acima do normal).<br />

Os últimos 11 anos, 1995-2004 (com exceção <strong>de</strong> 1996) estão entre os mais quentes no período<br />

instrumental. A Terra está se aquecendo mais no hemisfério Norte. É nesse enfoque que a Ecologia<br />

se torna presente no dia a dia dos seres vivos No planeta terra, animais, plantas e microorganismos<br />

mantêm relações contínuas uns com os outros. Há um verda<strong>de</strong>iro ciclo <strong>de</strong> equilíbrio harmonioso -<br />

homeostase -entre o ambiente e os seres vivos. Entretanto se esse equilíbrio se rompe, quando o<br />

Homem, por exemplo, <strong>de</strong>rruba florestas, queima campos, ou com produtos tóxicos <strong>de</strong> suas<br />

indústrias altera a qualida<strong>de</strong> do ar que respiramos e da água que bebemos, ele produz poluição que<br />

leva ao <strong>de</strong>sequilíbrio ecológico e que po<strong>de</strong> ter consequências graves para os nossos biomas e para a<br />

humanida<strong>de</strong>, além <strong>de</strong> promover uma drástica mudança climática global, etc. Assim, <strong>de</strong>vemos<br />

encontrar formas <strong>de</strong> cuidar do nosso planeta para garantir que as próximas gerações tenham<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<br />

A temperatura média da Terra gira em torno <strong>de</strong> 15º C. Isto ocorre porque existem<br />

naturalmente gases, como o dióxido <strong>de</strong> carbono (CO2), o metano (CH4) e o vapor d‘água em nossa<br />

atmosfera. Eles formam uma camada que aprisiona parte do calor do sol que inci<strong>de</strong> em nosso<br />

planeta. Se não fossem estes gases, a Terra seria um ambiente gelado, com temperatura média <strong>de</strong> -<br />

17º C. Este fenômeno é chamado <strong>de</strong> efeito estufa. Não fosse por ele, a vida na Terra não teria<br />

tamanha diversida<strong>de</strong>. Só que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a revolução industrial, começamos a usar intensivamente o<br />

carbono estocado durante milhões <strong>de</strong> anos em forma <strong>de</strong> carvão mineral, petróleo e gás natural, para<br />

gerar energia, para as indústrias e para os veículos. As florestas, gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>pósitos <strong>de</strong> carbono,<br />

começaram a ser <strong>de</strong>struídas e queimadas cada vez mais rapidamente. Então imensas quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

CO2, CH4 e outros gases começaram a ser <strong>de</strong>spejadas na atmosfera, tornando aquela camada mais<br />

espessa. Mais calor do sol fica retido em nossa atmosfera. Isto intensifica o efeito estufa.<br />

Somente no último século, a temperatura da Terra aumentou em 0,7º C. Parece pouco, mas<br />

este aquecimento já está alterando o clima em todo o planeta. As gran<strong>de</strong>s massas <strong>de</strong> gelo começam<br />

a <strong>de</strong>rreter, aumentando o nível médio do mar, ameaçando as ilhas oceânicas e as zo<strong>nas</strong> costeiras.<br />

Furacões ficam mais intensos e <strong>de</strong>strutivos. Temperaturas mínimas ficam mais altas,<br />

enchentes e secas, mais fortes e regiões com escassez <strong>de</strong> água, como o semiárido, viram <strong>de</strong>sertos.<br />

Quando o aquecimento global foi <strong>de</strong>tectado, alguns cientistas ainda acreditavam que o fenômeno<br />

po<strong>de</strong>ria ser causado por eventos naturais, como a erupção <strong>de</strong> vulcões, aumento ou diminuição da<br />

836


ativida<strong>de</strong> solar e movimento dos continentes. Porém, com o avanço da ciência, ficou provado que as<br />

ativida<strong>de</strong>s huma<strong>nas</strong> são as principais responsáveis pelas mudanças climáticas que já vêm <strong>de</strong>ixando<br />

vítimas por todo o planeta.<br />

As mudanças climáticas são alterações que ocorrem no sistema climático, geradas pelo<br />

aquecimento global e provocado pela emissão <strong>de</strong> gases <strong>de</strong> efeito estufa. Essas mudanças têm<br />

acontecido <strong>de</strong>s<strong>de</strong> tempos remotos. No passado da Terra houveram alterações climáticas naturais<br />

causadas por forças geológicas, inerentes à dinâmica do planeta. Apesar <strong>de</strong> o homem ser ape<strong>nas</strong><br />

mais um agente geológico <strong>de</strong>ntre muitos outros, somos a espécie que pela primeira vez na história<br />

da Terra, contribuiu para uma mudança global do clima.<br />

E para estudar essas mudanças do clima as Nações Unidas criou o Painel Intergovernamental<br />

<strong>de</strong> Mudanças Climáticas – IPCC (Intergovernamental Panel Climate Change – IPCC), responsável<br />

por produzir informações científicas em relatórios que são divulgados periodicamente <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1988.<br />

Os relatórios são baseados na revisão <strong>de</strong> pesquisas <strong>de</strong> 2500 cientistas <strong>de</strong> todo o mundo. O IPCC é<br />

um documento que tem como objetivo estudar as alterações climáticas que estão ocorrendo no<br />

planeta. Seus relatórios só passaram ao domínio da opinião pública após a divulgação pelas mídias<br />

<strong>de</strong> alguns <strong>de</strong> seus dados e cenários futuros quanto ao aumento dos gases <strong>de</strong> efeito estufa e o<br />

aquecimento global da terra. Não há mais argumentos científicos que neguem que um dos agentes<br />

<strong>de</strong>ssas mudanças é o próprio ser humano. Caso medidas drásticas não sejam tomadas para controlar<br />

o aquecimento global, o planeta enfrentará tempos muito difíceis. A temperatura do planeta po<strong>de</strong><br />

aumentar mais que 2º C em relação à temperatura do início da Era Industrial, com alto risco <strong>de</strong><br />

extinção em massa <strong>de</strong> espécies, colapso dos ecossistemas, falta <strong>de</strong> alimentos, escassez <strong>de</strong> água e<br />

gran<strong>de</strong>s prejuízos econômicos.<br />

O ritmo do aquecimento neste século será muito superior ao do século 20 e po<strong>de</strong>rá alcançar<br />

valores sem prece<strong>de</strong>ntes nos últimos 10 mil anos. Haverá um aumento dos dias quentes e das ondas<br />

<strong>de</strong> calor em quase toda a superfície terrestre. O <strong>de</strong>rretimento das geleiras vai prosseguir no século<br />

21. Esse <strong>de</strong>gelo, junto com a expansão térmica da água, po<strong>de</strong>rá elevar o nível do mar e quase um<br />

metro até 2100.<br />

Uma relativa inércia da socieda<strong>de</strong> frente à questão das mudanças climáticas <strong>de</strong>corre tanto do<br />

fenômeno quanto do afastamento generalizado da vida política. A não percepção das conexões<br />

existentes entre nossas opções cotidia<strong>nas</strong> <strong>de</strong> locomoção, a emissão <strong>de</strong> gases <strong>de</strong> efeito estufa e o<br />

consequente aumento da temperatura da Terra; entre o <strong>de</strong>smatamento da Amazônia e da Mata<br />

Atlântica e a <strong>de</strong>sertificação em partes do sul do país; a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resíduos produzidos e o<br />

aumento do nível dos oceanos; o assoreamento dos rios, a impermeabilização <strong>de</strong> solos e as<br />

enchentes; o consumo <strong>de</strong>senfreado e o esgotamento dos recursos naturais <strong>de</strong>monstram, <strong>de</strong> forma<br />

837


inequívoca, a necessida<strong>de</strong> da Educação Ambiental se voltar para este tema <strong>de</strong> forma critica e<br />

transformadora.<br />

A Educação Ambiental (EA) po<strong>de</strong> lançar um novo olhar sobre as Mudanças Climáticas que<br />

não seja ape<strong>nas</strong> pautado por alternativas mercadológicas e tecnológicas, mas que aponte para<br />

transformações sociais que permitam enfrentar e minimizar as causas da <strong>de</strong>gradação<br />

socioambiental, que tem no aquecimento global a sua mais explícita tradução.<br />

À EA cabe aprofundar o <strong>de</strong>bate junto à socieda<strong>de</strong> e governos sobre o aquecimento da Terra e<br />

as mudanças socioambientais globais promovendo questionamentos sobre a manutenção da <strong>Vida</strong> e<br />

os nossos <strong>de</strong>stinos enquanto humanos e humanida<strong>de</strong> apresentando propostas articuladoras que<br />

agreguem conhecimento local às novas tecnologias.<br />

4 METODOLOGIA<br />

O estudo é classificado como exploratório e explicativo, pois foram assumidos as formas <strong>de</strong><br />

pesquisa bibliográfica e experimental, além do caráter qualitativo para interpretação e obtenção dos<br />

resultados.<br />

A pesquisa foi <strong>de</strong>senvolvida na Escola Estadual Gercino Coelho em Petrolina-PE, com<br />

educandos do 7º e 8º anos do Ensino Fundamental II. A escola trabalha com ensino fundamental e<br />

ensino médio.<br />

Como instrumento da pesquisa foi utilizado à técnica <strong>de</strong> entrevista, não estruturada, pessoal e<br />

formal. Direcionado a conseguir informações sobre as Mudanças Climáticas e as Atitu<strong>de</strong>s Glocais<br />

(atitu<strong>de</strong>s locais que interferem no âmbito global) e com o intuito <strong>de</strong> obter respostas informativas<br />

relacionadas aos objetivos do estudo.<br />

A análise e interpretação foram procedidas no formato <strong>de</strong> seleção (exame minucioso dos<br />

dados) a fim <strong>de</strong> conseguir respostas às indagações e procurar estabelecer as relações necessárias<br />

para a pesquisa.<br />

Para a execução <strong>de</strong>sse estudo várias escolas foram consultadas e <strong>de</strong>monstraram interesse em<br />

participarem. A escolha da escola foi mediante sorteio. A proposta <strong>de</strong>ssa pesquisa foi trabalhar a<br />

questão ambiental por meio <strong>de</strong> palestras envolvendo as mudanças climáticas e as Atitu<strong>de</strong>s ou Ações<br />

Individuais <strong>de</strong> cada Pessoa, como forma <strong>de</strong> promover conscientização em jovens <strong>de</strong> 7º e 8º ano para<br />

que tenham atitu<strong>de</strong>s em prol da minimização dos impactos ambientais que estão ocorrendo no<br />

Brasil e no mundo. Foram realizadas 08 palestras com duração <strong>de</strong> 1hora ao longo <strong>de</strong>sse trabalho,<br />

sendo uma palestra a cada mês. Os temas propostos para as palestras foram:<br />

Palestra1: O que são Mudanças Climáticas<br />

838


Palestra2: Cenário brasileiro <strong>de</strong> mudanças climáticas<br />

Palestra 3: O que é Aquecimento Global?<br />

Palestra 4: O Efeito estufa e sua consequências para o planeta<br />

Palestra 5: Atitu<strong>de</strong>s ou ações individuais <strong>de</strong> baixíssimo custo que fazem a diferença para o planeta<br />

Palestra 6: Atitu<strong>de</strong>s ou ações individuais <strong>de</strong> maior custo que fazem a diferença para o planeta<br />

Palestra 7: Atitu<strong>de</strong>s ou ações coletivas que fazem a diferença para o planeta<br />

Palestra 8: Deveres dos jovens para com o meio ambiente<br />

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

Os educandos tiveram uma participação ativa dos questionamentos feitos durante o primeiro<br />

colóquio, o que são Mudanças Climáticas?, durante a explanação foi informado que o Brasil não<br />

está imune aos efeitos que provocam as mudanças climáticas, <strong>de</strong>ntre eles o efeito estufa, a poluição<br />

atmosférica e o aumento do gás carbônico.<br />

Após a apresentação da palestra “Cenário brasileiro <strong>de</strong> mudanças climáticas”, os alunos<br />

pu<strong>de</strong>ram conhecer a real situação do Brasil com relação à mudança do clima, foi observado que o<br />

Brasil também é afetado pelas mudanças do clima, este tema que foi amplamente <strong>de</strong>batido com os<br />

alunos.<br />

Por meio do <strong>de</strong>bate O que é Aquecimento Global?, os temas mudanças climáticas e<br />

aquecimento global foram relacionados pelos alunos. Demonstrando que nossas atitu<strong>de</strong>s e ações<br />

locais interferem em todo o planeta os efeitos nocivos para a saú<strong>de</strong> e meio ambiente.<br />

Foi apresentada informando da relação dos gases na atmosfera e o aumento da temperatura da<br />

Terra, a palestra com o tema, o efeito estufa e suas consequências para o planeta. E foi recolhido<br />

para preenchimento da entrevista as experiências vivenciadas pelos educandos, como o calor<br />

excessivo, o entendimento do efeito, entre outras.<br />

As três palestras consecutivas realizadas no mês <strong>de</strong> setembro e outubro, tiveram como tema<br />

“Atitu<strong>de</strong>s ou ações individuais <strong>de</strong> baixíssimo custo que fazem a diferença para o planeta”,<br />

“Atitu<strong>de</strong>s ou ações individuais <strong>de</strong> maior custo que fazem a diferença para o planeta<br />

respectivamente” e “Atitu<strong>de</strong>s ou ações coletivas que fazem a diferença para o planeta”. Através<br />

<strong>de</strong>stas palestras os alunos pu<strong>de</strong>ram conhecer atitu<strong>de</strong>s que po<strong>de</strong>m ser tomadas e listaram as seguintes<br />

ações com justificativas:<br />

1 – Levar sacola para fazer as compras do supermercado e na feira. Utilizando a própria<br />

embalagem, você evita o <strong>de</strong>sperdício <strong>de</strong> sacos plásticos e reduz a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lixo produzido em<br />

casa;<br />

839


2 – Preferir produtos naturais aos industrializados sempre que possível. Pois na fabricação <strong>de</strong>sses<br />

produtos, as indústrias consomem mais energia e jogam toneladas <strong>de</strong> CO2 na atmosfera. Produtos<br />

naturais vêm prontos sem custos ambientais;<br />

3 – Valorizar o trabalho <strong>de</strong> cooperativas agrícolas e artesanais, por que elas são outra opção <strong>de</strong><br />

consumo consciente por usarem materiais naturais e reciclados;<br />

4 – Economizar água. Fechar a torneira ao lavar a louça, por que em 15 minutos, uma pessoa gasta<br />

mais <strong>de</strong> 240 litros <strong>de</strong> água na lavagem <strong>de</strong> louças. A dica é fechar a torneira, ensaboar as peças e só<br />

então abrir para enxaguá-las. Assim, o consumo cai para 20 litros <strong>de</strong> água. Também consi<strong>de</strong>re<br />

diminuir o tempo do banho e fechar a torneira do lavatório ao escovar os <strong>de</strong>ntes. Metais e louças<br />

sanitárias que economizam água são boas opções;<br />

5 – Escolher eletrodomésticos com selo Procel. O Programa Nacional <strong>de</strong> Conservação <strong>de</strong> Energia<br />

Elétrica (Procel) foi criado pelo governo para ajudar o consumidor a escolher os produtos que<br />

apresentam alta eficiência energética. Outras dicas importantes são: não <strong>de</strong>ixar a TV ligada à toa,<br />

ficar horas no chuveiro ou <strong>de</strong>morar em frente à porta da gela<strong>de</strong>ira para escolher o que comer. Use a<br />

energia com responsabilida<strong>de</strong>. Sempre que possível dê preferência às lâmpadas fluorescentes<br />

compactas;<br />

6 – Separar o lixo orgânico dos materiais que po<strong>de</strong>m ser reciclados. Em casa, bastam duas lixeiras<br />

para colaborar com o planeta. Numa <strong>de</strong>las, coloque o lixo orgânico (restos <strong>de</strong> comida) e na outra, os<br />

materiais que po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>stinados à reciclagem: plásticos, papéis, metais e vidros. Assim, evita-se<br />

a sobrecarga nos aterros sanitários e reduz o consumo <strong>de</strong> mais matéria-prima para a fabricação <strong>de</strong><br />

novos produtos;<br />

7 – Na obra adotar aos materiais ecológicos. Para construir ou reformar a casa, pensar <strong>nas</strong> opções<br />

menos agressivas ao ambiente. Há vários tipos <strong>de</strong> produtos e até lojas especializadas no assunto;<br />

8 – Reutilizar a água da chuva e da máquina <strong>de</strong> lavar. Se você mora em casa, reaproveite a água da<br />

lavagem das roupas para limpar a garagem, a varanda e o quintal. Você também po<strong>de</strong> armazenar a<br />

água da chuva que escorre pelas calhas para usar na limpeza das áreas exter<strong>nas</strong>;<br />

9 – Plantar árvores. No quintal, em canteiros ou em vasos, as árvores têm o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> ―sequestrar‖<br />

carbono da atmosfera, evitando o acúmulo excessivo do gás e retardando os efeitos do aquecimento<br />

global;<br />

10 – Deixar o carro em casa mais vezes durante a semana. Os combustíveis fósseis são um dos<br />

principais vilões do aquecimento global. Por isso, usar menos o carro é um excelente hábito<br />

ecológico que você po<strong>de</strong> adquirir. Uma dica para isso é caminhar pelo bairro e aproveitar os<br />

serviços disponíveis pertinho da sua casa;<br />

11 – Estabelecer princípios ambientalistas ou metas possíveis <strong>de</strong> serem alcançadas;<br />

840


14 – Incentivar seus colegas. Falar com todos a sua volta sobre a importância <strong>de</strong> agirem <strong>de</strong> forma<br />

ambientalmente correta;<br />

15 – Não Desperdiçar. Ajudar a implantar e participar da coleta seletiva <strong>de</strong> lixo. Você estará<br />

contribuindo para poupar os recursos naturais, aumentar a vida útil dos <strong>de</strong>pósitos <strong>de</strong> lixo, diminuir a<br />

poluição. Investigar o <strong>de</strong>sperdício com energia e água. Localizar e reparar os vazamentos <strong>de</strong><br />

torneiras. Desligar lâmpadas e equipamentos quando não estiver utilizando. Manter os filtros do<br />

sistema <strong>de</strong> ar-condicionado e ventilação sempre limpos para evitar <strong>de</strong>sperdício <strong>de</strong> energia elétrica;<br />

16 - Usar os dois lados do papel, preferir o e-mail ao invés <strong>de</strong> imprimir cópias e guardar os<br />

documentos em CDs, substituindo o uso do papel ao máximo;<br />

17 - Promover o uso <strong>de</strong> transporte alternativo ou solidário, como planejar um rodízio <strong>de</strong> automóveis<br />

para que as pessoas viajem juntas ou para que usem bicicletas, transporte público ou mesmo<br />

caminhem para o trabalho;<br />

19 – Arranjar tempo para o trabalho voluntário. Não adianta ficar só estudando e conhecendo mais<br />

sobre a natureza. É preciso combinar estudo e reflexão com ação. Consi<strong>de</strong>re a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>dicar uma parte do tempo, habilida<strong>de</strong> e talento para o trabalho voluntário ambiental a fim <strong>de</strong> fazer<br />

a diferença dando uma contribuição concreta e efetiva para a melhoria da vida do planeta;<br />

20 - Organizar e participar <strong>de</strong> mutirões ecológicos <strong>de</strong> limpeza e recuperação <strong>de</strong> ecossistemas e áreas<br />

<strong>de</strong> preservação <strong>de</strong>gradada, resgate e recupere animais atingidos por aci<strong>de</strong>ntes ecológicos ou mesmo<br />

abandonados na rua, redijir um projeto que permita obter recursos para a manutenção <strong>de</strong> um parque<br />

ou mesmo para viabilizar uma solução para problema ambiental e fazer palestras em escolas, etc.<br />

No mês <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro foi realizado o último discurso do projeto, com o tema, “Deveres dos<br />

jovens para com o meio ambiente”, através da palestra os jovens pu<strong>de</strong>ram conhecer seus <strong>de</strong>veres<br />

para contribuir com a preservação do meio ambiente, o projeto culminou com a exibição <strong>de</strong> um<br />

filme sobre as mudanças climáticas e a conscientização dos participantes.<br />

Fonte: LIRA, 2012.<br />

Figura 01 – Realização do ciclo <strong>de</strong> palestras.<br />

841


5 CONCLUSÕES<br />

O estudo foi bem aceito pela escola, pelos educandos e pais. As palestras e os conhecimentos<br />

socializados pu<strong>de</strong>ram proporcionar aos alunos informações que o clima realmente mudou e está<br />

afetando a vida na Terra <strong>de</strong> forma significativa.<br />

A pesquisa po<strong>de</strong> permitir a troca <strong>de</strong> experiências entre os discentes e profissionais <strong>de</strong>sse<br />

trabalho bem como os estudantes da escola envolvida. Com esse trabalho foi possível esperar e,<br />

principalmente, mostrar aos alunos da Escola Estadual Gercino Coelho que algumas ações e/ou<br />

atitu<strong>de</strong>s fazem a diferença para o planeta e po<strong>de</strong>m ser realizadas por eles.<br />

Pois enten<strong>de</strong>r sobre os reflexos produzidos das nossas ações no mundo incentiva a<br />

curiosida<strong>de</strong>, estabelece relações entre experiências prévias e o conhecimento adquirido e as<br />

conferências modificaram a pesquisa para um questionamento crítico sobre os problemas reais do<br />

mundo.<br />

REFERÊNCIAS<br />

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. DEA 2009 - Balanço. Ações realizadas e em andamento.<br />

Brasília: MMA/DEA, 2010. 55p.<br />

______. Ministério da Ciência e Tecnologia. Mudança do Clima. Vários. Disponível em:<br />

. Acesso em 29.01.2010.<br />

LIRA, Irlane Cristine <strong>de</strong> Souza Andra<strong>de</strong>. Realização do ciclo <strong>de</strong> palestras. Arquivo Pessoal, 2012.<br />

NOBRE, Carlos A.; SALAZAR, Luis F.; OYAMA, Marcos; CARDOSO, Manoel; SAMPAIO,<br />

Gilvan; LAPOLA, David. Relatório nº 06 - Mudanças Climáticas e possíveis alterações nos biomas<br />

da América do Sul. Brasil. São Paulo: CPTC/INPE/IAE/CTA, 2007. 25p.<br />

842


RESUMO<br />

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E COLETA SELETIVA DE LIXO:<br />

EXPERIÊNCIAS NO MUNICÍPIO DE MONTEIRO – PB 96<br />

Artur Alan Martins (IFPB/extensionista) - a.martins@hotmail.com<br />

Jéssica Maria <strong>de</strong> Sousa (IFPB/ extensionista) - jessyka-sousa@hotmail.com<br />

Kássia Dyjeane Leal Félix (IFPB/ extensionista) - kassia_edu@hotmail.com<br />

Keliana Dantas Santos (IFPB/Orientadora) - kelianads@hotmail.com<br />

Este trabalho trata <strong>de</strong> um relato <strong>de</strong> experiência na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Monteiro – Cariri Oci<strong>de</strong>ntal da Paraíba,<br />

envolvendo estratégias <strong>de</strong> Educação Ambiental na sensibilização da população <strong>de</strong>sta cida<strong>de</strong> acerca<br />

da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma a<strong>de</strong>quada <strong>de</strong>stinação dos resíduos sólidos através da coleta seletiva.<br />

Abordaremos as ativida<strong>de</strong>s que foram realizadas neste município em parceria com a prefeitura<br />

local.<br />

Palavras-Chave: educação ambiental; coleta seletiva; meio ambiente<br />

ABSTRACT<br />

This paper is an experience report on the city of Monteiro - West Cariri of Paraíba, involving<br />

strategies for Environmental Education in sensitizing the population of this city about the need for<br />

proper disposal of solid waste through recycling programs. We will discuss the activities that were<br />

held in this city in partnership with the local government.<br />

Keywords: environmental education; selective collection; environment<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

O presente artigo refere-se ao trabalho <strong>de</strong> Educação Ambiental e cidadania, que vem sendo<br />

realizado pelo IFPB, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Monteiro-PB, em parceria com a prefeitura <strong>de</strong>ste município. O<br />

projeto tem como objetivo sensibilizar a população monteirense em relação aos benefícios<br />

proporcionados pela prática da coleta seletiva.<br />

O processo da coleta seletiva é <strong>de</strong>scrito por Coelho, 2012 como:<br />

―Um sistema <strong>de</strong> recolhimento <strong>de</strong> materiais recicláveis: papéis, plásticos, vidros, metais e<br />

orgânicos, previamente separados na fonte geradora e que po<strong>de</strong>m ser reutilizados ou<br />

reciclados. A coleta seletiva funciona, também, como um processo <strong>de</strong> educação ambiental<br />

na medida em que sensibiliza a comunida<strong>de</strong> sobre os problemas do <strong>de</strong>sperdício <strong>de</strong> recursos<br />

naturais e da poluição causada pelo lixo‖.<br />

96 Este trabalho faz parte das ações do Programa Transposição Sustentável, aprovado pelo PROEXT<br />

2011-MEC/SESu, edital 004/2011.<br />

843


Segundo pesquisa realizada em 2010 pela ABRELPE, os 1.794 municípios distribuídos nos<br />

nove Estados da região Nor<strong>de</strong>ste do país tiveram, juntos, uma geração <strong>de</strong> 50.045 toneladas <strong>de</strong> RSU<br />

por dia no ano <strong>de</strong> 2010, das quais, 38.118 toneladas/dia foram coletadas. Enquanto o índice <strong>de</strong><br />

coleta per capita cresceu 3,9% em comparação ao ano <strong>de</strong> 2009, a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resíduos<br />

domiciliares coletados cresceu 6,1%, o que indica um aumento real na abrangência <strong>de</strong>stes serviços.<br />

A comparação entre os dados relativos à <strong>de</strong>stinação <strong>de</strong> resíduos nos anos e 2009 e 2010 resulta na<br />

verificação <strong>de</strong> um crescimento <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 9,4% na <strong>de</strong>stinação final <strong>de</strong> RSU em aterros sanitários.<br />

No entanto, observa-se que cerca <strong>de</strong> 66% dos resíduos coletados ainda são <strong>de</strong>stinados <strong>de</strong> maneira<br />

ina<strong>de</strong>quada, sendo encaminhados para lixões e aterros controlados que, do ponto <strong>de</strong> vista ambiental,<br />

pouco se diferenciam <strong>de</strong> lixões, pois não possuem o conjunto <strong>de</strong> sistemas necessários para proteger<br />

o meio ambiente <strong>de</strong> contaminações.<br />

Consequentemente, diante da gran<strong>de</strong> preocupação com o meio ambiente tornou-se<br />

necessário e <strong>de</strong> suma importância trabalhar a sensibilização da população, acerca dos impactos<br />

ambientais, sociais e econômicos causados por esta situação.<br />

Perante o exposto, Baeta et al. (2011) <strong>de</strong>screve a educação ambiental da seguinte forma:<br />

―A Educação Ambiental é uma práxis educativa e social que tem por finalida<strong>de</strong> a<br />

construção <strong>de</strong> valores, conceitos, habilida<strong>de</strong>s e atitu<strong>de</strong>s que possibilitem um entendimento<br />

da realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e a atuação lúcida e responsável <strong>de</strong> atores sociais individuais e<br />

coletivos no ambiente. Nesse sentido, contribui para a tentativa <strong>de</strong> implementação <strong>de</strong> um<br />

padrão civilizacional e societário distinto do vigente, pautado numa nova ética da relação<br />

socieda<strong>de</strong>-natureza.‖<br />

Ainda sobre educação ambiental, Oliveira (2000) reforça a opinião anterior, afirmando que:<br />

―A educação ambiental busca um novo i<strong>de</strong>ário comportamental, tanto no âmbito individual,<br />

quanto coletivo. Ela <strong>de</strong>ve começar em casa, ganhar as praças e as ruas, atingir os bairros e<br />

as periferias, evi<strong>de</strong>nciar as peculiarida<strong>de</strong>s regionais, apontando para o nacional e o global.<br />

Deve gerar conhecimento local, sem per<strong>de</strong>r <strong>de</strong> vista o global, precisa, necessariamente,<br />

revitalizar a pesquisa <strong>de</strong> campo, no sentido <strong>de</strong> uma participação pesquisante que envolva<br />

pais, estudantes, professores e comunida<strong>de</strong>. É um passo fundamental para a conquista da<br />

cidadania.‖<br />

Mesmo o Brasil sendo um dos países que mais recicla no mundo, segundo lí<strong>de</strong>res <strong>de</strong><br />

cooperativas e catadores o maior problema que se enfrenta para o aumento da porcentagem <strong>de</strong><br />

material coletado é justamente encontrar o material. Consi<strong>de</strong>rando que a maior parte das gran<strong>de</strong>s<br />

indústrias <strong>de</strong>scobriu as vantagens da reciclagem, tais como a diminuição do gasto energético para a<br />

produção <strong>de</strong> material e a propaganda social que o processo traz o nicho a ser explorado é o do lixo<br />

doméstico. Gran<strong>de</strong> parte das pessoas ainda não pratica a separação do lixo por falta <strong>de</strong><br />

conhecimento da existência do serviço em sua cida<strong>de</strong>, ou <strong>de</strong> visão acerca da importância <strong>de</strong>sse<br />

processo.<br />

844


No caso <strong>de</strong> Monteiro, as estimativas, são <strong>de</strong> que ape<strong>nas</strong> um terço dos recicláveis da cida<strong>de</strong><br />

são recolhidos, em consequência da falta <strong>de</strong> cooperação das pessoas <strong>de</strong> separar seu lixo.<br />

A cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Monteiro localiza-se na região chamada <strong>de</strong> Cariri oci<strong>de</strong>ntal. Possui uma<br />

população <strong>de</strong> 31 mil habitantes e apresenta-se como a maior e mais importante cida<strong>de</strong> da região.<br />

Dessa forma, justifica-se a importância <strong>de</strong> um projeto que busque sensibilizar a população<br />

acerca da importância da coleta seletiva e os impactos positivos da reciclagem.<br />

Outros aspectos importantes da produção <strong>de</strong> lixo são explorados com a implementação do<br />

projeto, tais como: o papel gerador <strong>de</strong> riquezas que vem sendo cada vez mais atribuído ao lixo; a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que o po<strong>de</strong>r público trate a questão do lixo com base social e estratégica e a<br />

interferência da produção <strong>de</strong> lixo e entulhos na modificação do espaço geográfico da cida<strong>de</strong>.<br />

Acreditamos que é o acesso à informação que possibilita as mudanças <strong>de</strong> comportamento<br />

voltadas para ação saudável visando o bem da coletivida<strong>de</strong>, daí a importância da Educação<br />

Ambiental.<br />

O <strong>de</strong>safio que se coloca é o <strong>de</strong> elaborar uma educação ambiental inovadora que seja crítica e<br />

voltada para a transformação social, buscando em seu conteúdo relacionar os diversos níveis do<br />

homem – social, econômico, político, afetivo – à educação. Assim, para administrar os riscos<br />

ambientais existe a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> iniciativas com o objetivo <strong>de</strong> ampliar a participação das pessoas<br />

no processo <strong>de</strong> preservação e garantir através da divulgação <strong>de</strong> informações um aumento no nível<br />

<strong>de</strong> consciência ambiental.<br />

Isso posto, o <strong>de</strong>safio que se toma nesse projeto é o <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver estratégias educativas<br />

para estimular a população Monteirense a participar e se envolver com o tema proposto,<br />

proporcionando uma mudança <strong>de</strong> comportamento com relação à concepção e às suas práticas<br />

relacionadas ao resíduo sólido.<br />

METODOLOGIA<br />

A metodologia <strong>de</strong>ste trabalho constituiu em primeiro lugar na caracterização dos resíduos<br />

sólidos urbanos da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Monteiro-PB. Após esta análise partiu-se para a implantação <strong>de</strong> um<br />

mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Educação Ambiental, com informação, sensibilização e discussões em relação a<br />

problemas ambientais, bem como, sobre os benefícios e métodos da compostagem, além <strong>de</strong><br />

informar sobre a importância <strong>de</strong> amenizar os impactos ambientais gerados pela utilização<br />

ina<strong>de</strong>quada dos recursos naturais, utilizando a compostagem <strong>de</strong> Resíduos Sólidos Orgânicos como<br />

ferramenta estratégica para sensibilizar a comunida<strong>de</strong> em relação aos problemas ambientais.<br />

845


As ações educativas foram <strong>de</strong>senvolvidas na Escola Estadual <strong>de</strong> Ensino Fundamental João<br />

<strong>de</strong> Oliveira, na se<strong>de</strong> da associação <strong>de</strong> moradores da Vila Santa Maria e <strong>nas</strong> principais ruas da cida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Monteiro num evento <strong>de</strong>nominado <strong>de</strong> caminhada ecológica.<br />

Participaram das ativida<strong>de</strong>s alunos, professores e comunida<strong>de</strong>s em geral. A importância do<br />

correto manuseio, reaproveitamento e acondicionamento do lixo, ou seja, da importância <strong>de</strong><br />

técnicas e processos <strong>de</strong> reciclagem dos resíduos sólidos foram os temas do processo ensino-<br />

aprendizagem <strong>de</strong>senvolvido.<br />

Um programa <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s envolveu a triagem dos resíduos sólidos e o armazenamento <strong>de</strong><br />

materiais potencialmente recicláveis. Na unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Compostagem, foi <strong>de</strong>monstrado aos alunos o<br />

a<strong>de</strong>quado tratamento no <strong>de</strong>stino final do lixo e o processo biológico.<br />

Na Oficina <strong>de</strong> Papel Reciclado, foi repassada aos alunos a idéia sobre a importância do<br />

reaproveitamento do papel e a confecção <strong>de</strong> materiais <strong>de</strong>corativos, utilizando como matéria-prima o<br />

papel reciclado.<br />

Outras ativida<strong>de</strong>s realizadas: apresentação <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>os, <strong>de</strong>bates, mutirão <strong>de</strong> idéias, trabalho em<br />

grupo, questionários, solução <strong>de</strong> problemas, jogos educativos, exploração do meio ambiente local e<br />

informação via música.<br />

BOTANDO A MÃO NA MASSA<br />

A questão do lixo vem sendo apontada pelos ambientalistas como um dos mais graves<br />

problemas ambientais urbanos da atualida<strong>de</strong>, a ponto <strong>de</strong> ter-se tornado objeto <strong>de</strong> proposições<br />

técnicas para seu enfrentamento e alvo privilegiado <strong>de</strong> programas <strong>de</strong> educação ambiental brasileira.<br />

A compreensão da necessida<strong>de</strong> do gerenciamento integrado dos resíduos sólidos propiciou a<br />

formulação da chamada Política ou Pedagogia dos 3R's (reduzir, reutilizar e reciclar), que inspira<br />

técnica e pedagogicamente os meios <strong>de</strong> enfrentamento da questão do lixo.<br />

No entanto, apesar da complexida<strong>de</strong> do tema, muitos programas <strong>de</strong> educação ambiental na<br />

escola são implementados <strong>de</strong> modo reducionista, já que, em função da reciclagem, <strong>de</strong>senvolvem<br />

ape<strong>nas</strong> a Coleta Seletiva <strong>de</strong> Lixo, em <strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> uma reflexão crítica e abrangente a respeito dos<br />

valores culturais da socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> consumo, do consumismo, do industrialismo, do modo <strong>de</strong><br />

produção capitalista e dos aspectos políticos e econômicos da questão do lixo. E a <strong>de</strong>speito <strong>de</strong>ssa<br />

tendência pragmática, pouco esforço tem sido <strong>de</strong>dicado à análise do significado i<strong>de</strong>ológico da<br />

reciclagem e suas implicações para a educação ambiental reducionista, mais preocupada com a<br />

promoção <strong>de</strong> uma mudança comportamental sobre a técnica da disposição domiciliar do lixo (coleta<br />

convencional x coleta seletiva) do que com a reflexão sobre a mudança dos valores culturais que<br />

sustentam o estilo <strong>de</strong> produção e consumo da socieda<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna.<br />

846


Diante <strong>de</strong>sta problemática, as primeiras ações <strong>de</strong>ste projeto foram ofici<strong>nas</strong> na escola estadual<br />

João <strong>de</strong> Oliveira (Figura 1 a) e com li<strong>de</strong>ranças da comunida<strong>de</strong> na Vila Santa Maria (Figura 1 b).<br />

Figura 1: (a) Oficina <strong>de</strong> Educação Ambiental e Cidadania realizada na Escola Estadual João <strong>de</strong><br />

Oliveira . (b) Oficina <strong>de</strong> Coleta Seletiva realizada na associação <strong>de</strong> moradores da Vila Santa<br />

Maria.<br />

Foram exploradas as questões que envolvem consumismo, o cidadania no contexto do<br />

consumo, o modo <strong>de</strong> produção capitalista e a produção <strong>de</strong> resíduos e por fim, foi proposta a forma<br />

<strong>de</strong> separação do lixo na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Monteiro.<br />

As ofici<strong>nas</strong> serão realizadas a partir no mês <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2012. Nestas houve inicialmente<br />

uma apresentação sobre o tema <strong>de</strong> forma dinâmica <strong>de</strong> modo a atrair o público, havendo também<br />

preparo <strong>de</strong> um café da manhã aproveitando materiais que geralmente são <strong>de</strong>sperdiçados por falta <strong>de</strong><br />

conhecimento. Posteriormente ocorreram exibições <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>os que tratam sobre a importância da<br />

preservação do meio ambiente.<br />

Após a realização das ofici<strong>nas</strong> com professores e lí<strong>de</strong>res comunitários, o projeto realizou a I<br />

Caminhada Ecológica alertando os moradores <strong>de</strong>sta cida<strong>de</strong> sobre os riscos ocasionados pela má<br />

<strong>de</strong>stinação dos resíduos sólidos, sensibilizando-os acerca da separação <strong>de</strong> forma simples em: lixo<br />

seco e lixo úmido. Este evento aconteceu <strong>de</strong> forma dinâmica, com divulgações em rádios e escolas.<br />

No momento da caminhada, havia um carro <strong>de</strong> som instigando os moradores a saírem <strong>de</strong><br />

suas casas para que os voluntários e bolsistas, realizando panfletagem (Figura 2) fossem até eles e<br />

explicar como fazer a separação, mostrando-lhes os benefícios, que consequentemente ajudariam<br />

aos catadores que trabalham no lixão <strong>de</strong>sta cida<strong>de</strong>.<br />

Passando pelas principais ruas (Figura 3), o movimento pela ―cidadania ecológica‖ chegou a<br />

seu <strong>de</strong>stino final na Praça João Pessoa (principal praça da cida<strong>de</strong>, localizada no centro) on<strong>de</strong> foram<br />

847


montadas tendas com cartazes e exemplares <strong>de</strong> lixo seco e úmido separados corretamente,<br />

<strong>de</strong>spertando assim o interesse dos curiosos a virem conhecer e participar <strong>de</strong>ste evento.<br />

Figura 2: Panfleto utilizado na sensibilização da população da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Monteiro à separação do<br />

lixo doméstico.<br />

Tendo em vista que ser cidadão é ter compromisso com o meio em que se vive, sabe-se que<br />

é necessário incentivar a utilização <strong>de</strong> práticas sustentáveis como forma <strong>de</strong> preservar o meio<br />

ambiente. Estas práticas não só preservam o meio ambiente, como também proporcionam uma<br />

melhor qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida para quem as pratica.<br />

Segundo Nogueira, ―A evolução e conscientização da socieda<strong>de</strong> resultaram no conceito <strong>de</strong><br />

‗responsabilida<strong>de</strong> social‘: somos todos responsáveis em nossa socieda<strong>de</strong>: Estado, iniciativa privada<br />

e coletivida<strong>de</strong>‖. A responsabilida<strong>de</strong> é <strong>de</strong> cada um e as ações sustentáveis têm que ser realizadas em<br />

conjunto para que haja um bom funcionamento.<br />

A Constituição Fe<strong>de</strong>ral em seu artigo 225, parágrafo 1º, inciso VI, diz que o po<strong>de</strong>r público<br />

<strong>de</strong>ve ―promover a educação ambiental em todos os níveis <strong>de</strong> ensino e a conscientização pública<br />

para a preservação do meio ambiente.‖ Observamos assim que é garantido por lei o direito do<br />

cidadão a educação ambiental, assim como a preservação do meio em que vive.<br />

Já o artigo 2º diz que ―A educação ambiental é um componente essencial e permanente da<br />

educação nacional, <strong>de</strong>vendo estar presente, <strong>de</strong> forma articulada, em todos os níveis e modalida<strong>de</strong>s<br />

do processo educativo, em caráter formal e não-formal.‖ Ou seja, <strong>de</strong>ve estar presente não só nos<br />

meios formais <strong>de</strong> ensino, mas em todos os âmbitos sociais.<br />

848


Figura 3: I Caminhada Ecológica <strong>de</strong> Monteiro.<br />

As práticas <strong>de</strong>ste projeto se adéquam ao nível formal e ao não-formal da educação, pois as<br />

ações realizadas envolvem ativida<strong>de</strong>s educativas voltadas não só para as escolas, mas também para<br />

a sensibilização da socieda<strong>de</strong> em geral acerca das questões ambientais e necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> participação<br />

na <strong>de</strong>fesa do meio ambiente.<br />

A cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Monteiro-PB ainda está sendo iniciada a este tipo <strong>de</strong> ação. Os habitantes <strong>de</strong><br />

Monteiro ainda não estão habituados a separar corretamente seu lixo doméstico. Aqueles que o<br />

fazem são <strong>de</strong>smotivados pelo fato <strong>de</strong> o sistema ainda não ter sido implantado, logo quando o<br />

caminhão passa recolhendo o lixo, este é novamente misturado e é nestas condições que chega ao<br />

lixão municipal, on<strong>de</strong> catadores sofrem em meio os montes <strong>de</strong> <strong>de</strong>tritos para tirar dali o seu sustento.<br />

O lixão por si só já é um problema, tendo em vista que a cida<strong>de</strong> também já <strong>de</strong>veria possuir<br />

um aterro sanitário, condição necessária a este município, pois o mesmo será receptor <strong>de</strong> águas do<br />

Projeto <strong>de</strong> Integração das Bacias do Nor<strong>de</strong>ste Setentrional. Até agora só foi realizada a limpeza <strong>de</strong><br />

um terreno on<strong>de</strong> <strong>de</strong>veria ser construído o aterro sanitário, mas há meses que o local está<br />

abandonado. O terreno também não é apropriado porque segundo a Lei <strong>de</strong> Resíduos Sólidos o local<br />

mais apropriado para um aterro sanitário <strong>de</strong>ve estar afastado no mínimo há 5 km da aglomeração<br />

urbana. Como dizíamos, o terreno on<strong>de</strong> estaria sendo construído o aterro sanitário municipal <strong>de</strong><br />

Monteiro não é apropriado por estar localizado numa distância inferior a 3 km.<br />

849


Nogueira diz que ―<strong>de</strong>ntro do conceito <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> social está inserida nossa<br />

obrigação em relação ao meio ambiente: <strong>de</strong>vemos protegê-lo, para garantir nossa subsistência e o<br />

futuro das próximas gerações.‖ Se queremos um bom futuro para o meio em que vivemos, temos<br />

que cuidar <strong>de</strong>le a<strong>de</strong>quadamente agora, no presente.<br />

É em meio a este contexto que estão sendo realizadas as ações acima citadas que visam<br />

sensibilizar a população monteirense acerca da importância da coleta seletiva <strong>de</strong> lixo. O mo<strong>de</strong>lo<br />

proposto é simples, trata-se da separação do lixo doméstico em lixo seco (embalagens plásticas,<br />

metais, vidro), lixo orgânico (restos <strong>de</strong> comida e vegetais) e o lixo <strong>de</strong> banheiro que não serve para o<br />

reaproveitamento.<br />

Para que houvesse uma boa divulgação e consequentemente uma boa participação da<br />

população na I Caminhada Ecológica <strong>de</strong> Monteiro, foram utilizados vários meios <strong>de</strong> comunicação,<br />

como divulgação em carros <strong>de</strong> som, <strong>nas</strong> rádios do município e ainda em sites conhecidos da região.<br />

Esta divulgação foi importante não ape<strong>nas</strong> para atrair publico para o evento, mas também serviu<br />

com meio <strong>de</strong> sensibilização, já que nesta já se falava da importância da prática supracitada.<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

As constantes transformações ambientais certamente são <strong>de</strong>correntes do <strong>de</strong>senvolvimento<br />

planetário, seguindo assim o caminho evolutivo natural, porém estas alterações vêem ocorrem <strong>de</strong><br />

modo acelerado e drástico, uma vez que a contribuição humana para a acentuação <strong>de</strong>stes problemas<br />

torna-se uma crescente.<br />

O modo como o homem se relaciona com o ambiente dá claros sinais <strong>de</strong> esgotamento,<br />

<strong>de</strong>monstrando assim uma necessida<strong>de</strong> maior <strong>de</strong> cuidados e preservação. O gran<strong>de</strong> problema parece<br />

estar no fato <strong>de</strong> que humanida<strong>de</strong> nunca presenciou uma crise ambiental tão gran<strong>de</strong> quanto essa que<br />

se anuncia, e a gran<strong>de</strong> maioria das pessoas não se vêem como os atores <strong>de</strong>ste problema, tratando-o<br />

com pouca ou nenhuma importância.<br />

O ambiente ainda possui uma gran<strong>de</strong> extensão que não foi superexplorada, <strong>de</strong>monstrando<br />

assim que ainda há possibilida<strong>de</strong>s, porém uma necessida<strong>de</strong> emergente <strong>de</strong> preservação e uso racional<br />

faz-se evi<strong>de</strong>nte e é nesta vertente que a educação ambiental crítica surge como uma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

(re)construção <strong>de</strong> valores para a preservação ambiental.<br />

A educação como uma ferramenta <strong>de</strong> mudança <strong>de</strong>ve ser um projeto continuado, já que a<br />

sua efetivação exige uma (re)elaboração <strong>de</strong> conceitos e atitu<strong>de</strong>s. A continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ações educativas<br />

<strong>de</strong> cunho crítico e reflexivo são necessária em qualquer programa <strong>de</strong> sensibilização que busque um<br />

real sentido <strong>de</strong> aplicação, já que não se basta transmitir as informações é preciso que se repense e<br />

recrie e incorpore as novas formas como nós nos relacionamos com o <strong>de</strong>senvolvimento político,<br />

ambiental, econômico e cultural do nosso planeta.<br />

850


É <strong>de</strong>vido a isto que se torna tão importante a utilização da educação ambiental como meio <strong>de</strong><br />

alertar os seres humanos acerca da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> preservação dos recursos naturais. Atitu<strong>de</strong>s<br />

sustentáveis como a prática da coleta seletiva não são por si só a solução para toda a problemática<br />

vivenciada atualmente, mas é o início da tomada <strong>de</strong> consciência sobre a responsabilida<strong>de</strong> coletiva<br />

que temos com o meio em que vivemos.<br />

O projeto que vem sendo realizada em Monteiro-PB visa alcançar esta conscientização da<br />

população e que <strong>de</strong> fato cada morador possa se a<strong>de</strong>quar a este simples sistema que tem<br />

consequências tão positivas. Num futuro, não distante, a prefeitura <strong>de</strong>ste município implantará o<br />

sistema <strong>de</strong> coleta seletiva dos resíduos, quando este momento chegar, é i<strong>de</strong>al que os moradores<br />

saibam agir corretamente.<br />

REFERÊNCIAS<br />

BAETA, Anna Maria Bianchini; et al. Educação ambiental: repensando o espaço da cidadania. 5<br />

ed. São Paulo: Cortez, 2011.<br />

BONELLI, Cláudio M. C. Meio ambiente, poluição e reciclagem. 2 ed. São Paulo: Blucher, 2010.<br />

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Fe<strong>de</strong>rativa do Brasil (promulgada em 5<br />

<strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1988). Disponível em:<br />

Acesso em 04 jul<br />

2012.<br />

COELHO, Maria do Rosário Fonseca. Coleta seletiva na escola, no condomínio, na empresa, na<br />

comunida<strong>de</strong> e no município. Disponível em:<br />

Acesso em 29 set<br />

2012.<br />

LEMOS, Jureth Couto; LIMA, Samuel do Carmo. Segregação <strong>de</strong> resíduos <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

para reduzir os riscos à saú<strong>de</strong> e ao meio ambiente. BioscienceJournal. <strong>Vol</strong>.15, n² Uberlândia:<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Uberlândia, 1999.<br />

NOGUEIRA, Carmen Patrícia Coelho. Importância do meio ambiente para uma sadia qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> vida. Disponível em:<br />

OLIVEIRA, E. M. Educação ambiental uma possível abordagem. 2 ed. Brasília, DF:IBAMA,<br />

2000. 185 p.<br />

Panorama <strong>de</strong> resíduos Sólidos no Brasil. ABRELPE – Associação Brasileira <strong>de</strong> Empresas <strong>de</strong><br />

Limpeza Pública e Resíduos Especiais, 2010.<br />

Política Nacional <strong>de</strong> Resíduos Sólidos. Disponível em: Acesso em 05 out. 2012.<br />

REIS, H. L. Metodologia <strong>de</strong> Avaliação <strong>de</strong> Investimentos em Projetos Ambientais. Tese <strong>de</strong><br />

Doutorado. Departamento <strong>de</strong> Engenharia <strong>de</strong> Produção. Escola Politécnica. USP, 2001.<br />

851


Resumo<br />

PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: INTERFACES POSSÍVEIS<br />

Lorena Macêdo A. N. <strong>de</strong> OLIVEIRA<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte, Bolsista IC/CNPq – lorenandra<strong>de</strong>_neves@com<br />

Gleice V. M. <strong>de</strong> Azambuja ELALI<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte, Prof. Dr. – gleiceae@gmail.com<br />

Sub-área da Psicologia <strong>de</strong>dicada ao estudo das inter-ações pessoas-ambiente, a Psicologia<br />

Ambiental (PA) tem se <strong>de</strong>senvolvido na América Latina a partir <strong>de</strong> meados dos anos 1990, apesar<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a década <strong>de</strong> 1960 estar presente em países europeus e na América do Norte. No Brasil, <strong>nas</strong><br />

duas últimas décadas nota-se o crescimento <strong>de</strong> estudos e publicações que utilizam conceitos e/ou<br />

metodologias originárias neste campo ou inspiradas nele. Esse artigo é baseado em uma pesquisa<br />

que investigou a produção acadêmica brasileira voltada para as Relações Pessoa Ambiente a fim <strong>de</strong><br />

contribuir para a compreensão da área, tendo como recortes a área <strong>de</strong> Psicologia e o período entre<br />

os anos <strong>de</strong> 2000 a 2010, visando contribuir para a compreensão da área. A coleta <strong>de</strong> informações foi<br />

<strong>de</strong>senvolvida em meio virtual, a partir <strong>de</strong> sites que disponibilizam dissertações <strong>de</strong> mestrado e teses<br />

<strong>de</strong> doutorado nacionais, cuja análise concentrou-se em: principais temas estudados e conceitos<br />

discutidos, referencial teórico, metodologia utilizada, fenômenos e população investigados, entre<br />

outros. Como uma quantida<strong>de</strong> significativa <strong>de</strong> trabalhos analisados volta-se direta ou indiretamente<br />

para a Educação Ambiental (EA), analisando temas relacionados a ela, esse artigo retoma as<br />

dissertações coletadas a fim <strong>de</strong> discutir possíveis interfaces entre estes dois campos <strong>de</strong><br />

conhecimento. Com base nesses trabalhos, e consi<strong>de</strong>rando os prismas abrangidos pela EA<br />

(compreensão, sensibilização e educação formal e social), <strong>de</strong> modo geral verifica-se que as<br />

contribuições da PA para esta área estão atreladas à promoção <strong>de</strong> condutas conscientemente<br />

orientadas pelo i<strong>de</strong>al da sustentabilida<strong>de</strong>, bem como à <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> estratégias que possam subsidiar<br />

e/ou operar em conjunto com uma educação orientada a construção <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s, valores e ações pró-<br />

ambientais e pró-ecológicas.<br />

Palavras-chave: Psicologia Ambiental; Educação Ambiental; Dissertações; Mestrado.<br />

852


Abstract<br />

Sub-area of psychology <strong>de</strong>voted to the study of inter-actions people-environment, Environmental<br />

Psychology (EP) has been <strong>de</strong>veloped in Latin America from the mid-1990s, although since the<br />

1960s is present in European countries and in North America. In Brazil, in the last two <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>s one<br />

can note the growth of studies and publications that use concepts and / or methodologies<br />

originated or inspired it this field. This article is based on a study that investigated the Brazilian<br />

aca<strong>de</strong>mic production oriented to the Relationships Person-Environment in or<strong>de</strong>r to contribute to the<br />

un<strong>de</strong>rstanding of the area, with the clippings area of Psychology and the period between the years<br />

2000 to 2010. The data was collected from websites that offer national master's dissertations and<br />

doctoral thesis, whose analysis focused on: main issues studied and discussed concepts, theoretical<br />

framework, methodology, and population phenomena investigated, among others. As a significant<br />

amount of work analysed turns directly or indirectly for Environmental Education (EE), analysing<br />

issues related to it, this article takes the essays collected in or<strong>de</strong>r to discuss possible interfaces<br />

between these two fields of knowledge. Based on these works, and consi<strong>de</strong>ring the prisms covered<br />

by EE (un<strong>de</strong>rstanding, awareness and formal and social), in general it appears that the contributions<br />

of EP for this area are linked to the promotion of behaviors consciously gui<strong>de</strong>d by the i<strong>de</strong>al of<br />

sustainability, and the <strong>de</strong>finition of strategies that can support and / or operating in conjunction with<br />

an education-oriented construction of attitu<strong>de</strong>s, values and actions pro-environmental and pro-<br />

ecological.<br />

Keywords: Environmental Psychology, Environmental Education Dissertations; Masters.<br />

Introdução<br />

Devido a sua dupla nomeação, a Psicologia Ambiental oferece dificulda<strong>de</strong> na tentativa <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>fini-la, visto que as terminologias que a nomeiam carregam em si uma vasta diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

influências, fruto da abrangência dos campos que a i<strong>de</strong>ntificam ou a adotam como interesse. Essas<br />

interferências po<strong>de</strong>m ser inter<strong>nas</strong> ao campo da Psicologia (Psicologia Social, Psicologia da<br />

Percepção, etc) ou exter<strong>nas</strong> a ele (como é o caso da Arquitetura e Planejamento Ambiental,<br />

Geografia, Biologia, Ecologia, <strong>de</strong>ntre outras).Para Sommer (2000, apud Pinheiro, 2003), a<br />

Psicologia Ambiental po<strong>de</strong> se manifestar como uma disciplina inserida no campo <strong>de</strong> conhecimento<br />

da Psicologia, e também como um campo profissional multidisciplinar em que po<strong>de</strong> ter incluso<br />

profissionais <strong>de</strong> outras áreas interessados nos aspectos psicológicos do relacionamento humano-<br />

ambiental.<br />

Ao citar alguns pressupostos básicos na área da PA e sugerir que futuramente possam emergir<br />

outros, Rivlin (2009) ressalta a importância <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar os princípios que caracterizam o campo,<br />

tais como: o ambiente é experienciado como um campo unitário; a pessoa tem proprieda<strong>de</strong>s<br />

853


ambientais tanto quanto características psicológicas individuais; não há ambiente físico que seja<br />

envolvido em um sistema social e inseparavelmente relacionado a ele.<br />

Embora a PA tenha surgido no pós-guerra, na América Latina, ela emergiu mais notadamente<br />

durante os anos <strong>de</strong> 1970 e se configura hoje <strong>de</strong> maneira peculiar em relação aos temas abordados eu<br />

outros regiões (especialmente, na América do Norte e Europa), por consi<strong>de</strong>rar em gran<strong>de</strong> parte a<br />

diversida<strong>de</strong> das influências culturais advindas <strong>de</strong> diversos continentes, sob a população.<br />

Especificamente com relação à interface entre a PA e EA, Corral - Verdugo e Pinheiro (2009)<br />

afirmam que a investigação sobre projetos e ações que estejam relacionados ao tema já existe em<br />

países como Brasil, México e Venezuela embora existam dificulda<strong>de</strong>s na implementação <strong>de</strong><br />

projetos que permitiriam a continuida<strong>de</strong> entre intervenções realizadas e pesquisas. Um bom<br />

exemplo <strong>de</strong>ssa parceria é o trabalho elaborado por Fraijo (2003), que promoveu o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> um programa visando a promoção <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s e habilida<strong>de</strong>s pró-ambientais, cujo estudo obteve<br />

resultados bem sucedidos e em acordo com requisitos apontados pela UNESCO, no México.<br />

Na curta história da PA no Brasil é possível i<strong>de</strong>ntificar dois momentos específicos: (i)<br />

inicialmente (anos <strong>de</strong> 1970 a 1980) eram oferecidos cursos <strong>de</strong> curta duração ministrados por<br />

psicólogos e foi realizada a tradução <strong>de</strong> clássicos na área, geralmente conhecidos por sociólogos,<br />

<strong>de</strong>signers e profissionais em arquitetura, mas não por psicólogos; (ii) a partir dos anos 1990<br />

começaram a ocorrer parcerias entre grupos distribuídos em diversos polos universitários,além da<br />

oferta <strong>de</strong> discipli<strong>nas</strong> na graduação, bolsas <strong>de</strong> iniciação científica, discipli<strong>nas</strong> em pós-graduação<br />

vinculadas a programas inseridos em Psicologia. De acordo com Pinheiro (2003), para o<br />

entrosamento dos pesquisadores e melhor acolhimento aos novos interessados é <strong>de</strong> suma<br />

importância a realização <strong>de</strong> encontros, como o ‗Simpósio Internacional Psicologia e Ambiente: o<br />

Papel da Psicologia Ambiental no Estudo das Questões Ambientais‘ (2002), que reuniu estrangeiros<br />

e brasileiros em sessões <strong>de</strong> discussão sobre temas relacionados.<br />

Analisando mais especificamente esse segundo momento, a pesquisa realizada focou a<br />

produção acadêmica na área <strong>de</strong> PA e <strong>de</strong>fendida entre 2000 e 2010. Desenvolvida no âmbito do<br />

Grupo <strong>de</strong> Trabalho em Psicologia Ambiental da Associação Nacional <strong>de</strong> Pesquisa e Pós-Graduação<br />

em Psicologia (GT-PsiAmbiental/ANPEPP), o trabalho visava traçar um quadro geral da<br />

preocupação com as Relações Pessoa Ambiente (RPA), no campo da PA brasileira. Com base nesse<br />

trabalho mais amplo, este artigo focará ape<strong>nas</strong> a produção que consi<strong>de</strong>ramos mais facilmente<br />

relacionada à interface entre esse campo e a educação ambiental, <strong>de</strong>vido aos seus propósitos e/ou<br />

aos fundamentos teórico-metodológicos utilizados, os quais, <strong>de</strong> modo geral utilizam os conceitos <strong>de</strong><br />

cuidado ambiental, e/ou focalizam os <strong>de</strong>terminantes do comportamento pró-ambiental, incluindo a<br />

conduta sustentável, entre outros.<br />

854


Para apresentar sucintamente o trabalho realizado, esse artigo foi dividido em três subitens:<br />

método, resultados, discussão/conclusões.<br />

Método<br />

O presente estudo foi baseado em uma pesquisa mais abrangente, <strong>de</strong>senvolvida no âmbito do<br />

Grupo <strong>de</strong> Trabalho em Psicologia Ambiental da Associação Nacional <strong>de</strong> Pesquisa e Pós-Graduação<br />

em Psicologia (GT-PsiAmbiental/ANPEPP). Naquele contexto, buscava- se contribuir para a<br />

obtenção <strong>de</strong> dados que facilitem uma análise sobre como se configura a temática das Relações<br />

Pessoa Ambiente (RPA), inserida na área da Psicologia, mais especificamente na Psicologia<br />

Ambiental, em trabalhos <strong>de</strong> Pós-Graduação <strong>de</strong>ssa esfera acadêmica, no Brasil, entre o período <strong>de</strong><br />

2000 à 2010. O material foi localizado e, em sua maioria, disponibilizadas nos acervos da<br />

Biblioteca Digital <strong>de</strong> Teses e Dissertações Brasileiras (BDTD), assim também como no material<br />

encontrado através do currículo Lattes <strong>de</strong> docentes atuantes na área. A partir dos resultados <strong>de</strong>sta<br />

investigação, foi possível discutir que a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> áreas que se voltam para o estudo das RPA,<br />

po<strong>de</strong> ser entendida como resultado das múltiplas possibilida<strong>de</strong>s que caracterizam o foco <strong>de</strong> estudos<br />

<strong>de</strong>sse tipo: fenômeno psicológico, ambiente on<strong>de</strong> ocorre, pessoas envolvidas e tempo.<br />

No intuito <strong>de</strong> investigar quais as possíveis contribuições entre os campos da Psicologia<br />

Ambiental e Educação Ambiental (em específico para a presente investigação), foram buscadas<br />

produções acadêmicas <strong>de</strong> mestrado em Psicologia que abordassem o tema da educação ambiental,<br />

no mesmo banco <strong>de</strong> dados digital relativos a aquelas duas outras, também no mesmo período <strong>de</strong><br />

2000 a 2010.<br />

Resultados<br />

Os resultados <strong>de</strong>sta investigação mostraram claramente a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> áreas que se voltam<br />

para o estudo das RPA, bem como as múltiplas possibilida<strong>de</strong>s que focalizam: fenômeno sócio-<br />

psicológico, ambiente on<strong>de</strong> este fenômeno ocorre, pessoas envolvidas e tempo.<br />

Quanto aos principais temas trabalhados, verifica-se que, na análise da RPA, gran<strong>de</strong> parte dos<br />

trabalhos tinha como objetivo discutir a qualida<strong>de</strong> do ambiente físico em estudo, qual a percepção,<br />

o uso e o significado atribuído ao mesmo, variando <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o significado do espaço físico da escola<br />

infantil - como observado na tese <strong>de</strong> Sager (2002), da UFRGS -, até o significado atribuído a uma<br />

praça pelos seus freqüentadores - dissertação <strong>de</strong> Sousa (2004), da UFRN. Outros temas recorrentes<br />

relacionam-se a: <strong>de</strong>terminantes do comportamento pró-ambiental, relacionando com o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento sustentável (como em Quevedo, 2005); educação ambiental para a promoção <strong>de</strong><br />

competências pró-ambientais (presente na dissertação <strong>de</strong> Lima, 2008, da PUC/SP); a relação afetiva<br />

com o lugar (ver Me<strong>de</strong>iros, 2005, UFRN) e a apropriação do espaço (Paranhos, 2008). Por sua vez,<br />

os lugares estudados também se mostraram muito diversos, variando <strong>de</strong>s<strong>de</strong> habitação (Rojas, 2005)<br />

e escolas (Fernan<strong>de</strong>s, 2006), até hospitais (presente na dissertação <strong>de</strong> Pinheiro, 2009, da UFC), e<br />

855


áreas urba<strong>nas</strong>, como a praia <strong>de</strong> Pipa-RN (Me<strong>de</strong>iros, 2005), a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Fortaleza (Bertini, 2006) e<br />

outros.<br />

O título e os resumos dos trabalhos indicam para temas i<strong>de</strong>ntificados, durante a fase anterior<br />

do trabalho, como mais constantes <strong>nas</strong> teses e dissertações encontradas. Assim, po<strong>de</strong>mos agrupar os<br />

temas já <strong>de</strong>limitados anteriormente com as produções acadêmicas encontradas mais recentemente,<br />

nessa or<strong>de</strong>m, da seguinte forma:<br />

qualida<strong>de</strong> do ambiente físico, 2 pesquisas: Salas <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso em empresas <strong>de</strong> telemarketing<br />

e qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida (Almeida, 2008); O Conforto Pleno como Referencial no Processo <strong>de</strong><br />

Projeto Arquitetônico (Villar, 2009);<br />

relação afetiva com o Lugar, 4 pesquisas: ProJovem Urbano da Escola João XXIII do<br />

Bairro Vila União : Significados Atribuídos pelos jovens na Perspectiva da Psicologia<br />

Comunitária e da Psicologia Ambiental ( Lima, 2010); Afetivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> idosos <strong>de</strong> vida<br />

religiosa consagrada e a moradia na casa <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>: projetos <strong>de</strong> vida e processo <strong>de</strong><br />

estabilização resi<strong>de</strong>ncial ( Ponte, 2010); Afetivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Adolescentes Praticantes <strong>de</strong><br />

Ativida<strong>de</strong>s Esportivas com Relação ao seu Bairro ( Souza, 2008); Lagoas do Norte PI :<br />

satisfação resi<strong>de</strong>ncial e significados do ressenciamento ( Nunes, 2010).<br />

Embora pudéssemos agrupar os temas já <strong>de</strong>limitados anteriormente com as produções<br />

acadêmicas encontradas mais recentemente, o tema da Educação Ambiental se fez constantemente<br />

presente em trabalhos que po<strong>de</strong>riam estar inseridos, portanto, em mais <strong>de</strong> um agrupamento<br />

temático. Este foi o caso <strong>de</strong> 3 <strong>de</strong>les, que abordam também o tema sobre <strong>de</strong>terminantes do<br />

comportamento pró-ambiental, entre outros fenômenos: Cuidado Ambiental em Tempos <strong>de</strong><br />

Sustentabilida<strong>de</strong> : Explorando as Dimensões da Conduta Sustentável com Estudantes Universitários<br />

(Diniz, 2010); A Eliminação do Mosquito do Dengue em Ambientes Resi<strong>de</strong>nciais: Uma Questão <strong>de</strong><br />

Cuidado Ambiental? (Barros, 2010);Aspectos Cognitivos sobre as transformações das áreas ver<strong>de</strong>s:<br />

a Floresta Amazônica em questão (Cunha, 2010). Outro estudo localizado aborda a EA logo em seu<br />

título: Dimensões e Universo das Representações Sociais <strong>de</strong> Educação Ambiental por Discentes <strong>de</strong><br />

Garanhus - PE (Freitas, 2008). Outros três possuem referencial teórico amplo, com pouca ou<br />

nenhuma especificida<strong>de</strong> voltada à Psicologia Ambiental: A Gestão Ambiental entre o Discurso<br />

Legitimador e Práticas Instrumentais (Oliveira, 2007); Avaliação dos Programas em Gestão<br />

Ambiental a Luz da percepção dos Trabalhadores (Farias 2006); e Justificativa <strong>de</strong> Motoristas para<br />

Infrações <strong>de</strong> Trânsito: Esboçando um mo<strong>de</strong>lo (Neto, 2009).<br />

Além <strong>de</strong> produções que tratam do tema da Educação Ambiental <strong>de</strong> maneira mais explícita,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> seu título, é possível <strong>de</strong>stacar conceitos que possibilitam contribuições no entendimento <strong>de</strong><br />

fenômenos e, consequentemente, po<strong>de</strong>m auxiliar na elaboração <strong>de</strong> estratégias úteis a educação<br />

856


ambiental no processo <strong>de</strong> construção e/ou modificações <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s, com o objetivo geral <strong>de</strong><br />

promover relações pessoa-ambiente sustentáveis. Aten<strong>de</strong>ndo aos critérios estabelecidos, foram<br />

selecionadas ao presente estudo as seguintes dissertações: Práticas em educação ambiental no<br />

ensino formal (Lima, 2008); Um enfoque psicológico da educação ambiental no contexto da gestão<br />

(Link, 2006); Aspectos Cognitivos sobre as transformações das áreas ver<strong>de</strong>s: a Floresta Amazônica<br />

em questão (Cunha, 2010); Cuidado Ambiental em Tempos <strong>de</strong> Sustentabilida<strong>de</strong>: Explorando as<br />

Dimensões da Conduta Sustentável com Estudantes Universitários (Diniz, 2010); A Eliminação do<br />

Mosquito do Dengue em Ambientes Resi<strong>de</strong>nciais: Uma Questão <strong>de</strong> Cuidado Ambiental? (Barros,<br />

2010); A água nossa <strong>de</strong> cada dia (Quevedo, 2005). Todos estes são dissertações <strong>de</strong> mestrado<br />

diretamente vinculadas a programas <strong>de</strong> pós-graduação em Psicologia A seguir, estas dissertações<br />

serão apresentadas, <strong>de</strong> maneira a explicitar interfaces entre Psicologia e Educação Ambiental.<br />

Com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> provocar reflexões sobre contribuições <strong>de</strong> um programa <strong>de</strong> capacitação<br />

vinculado a um sistema <strong>de</strong> gestão ambiental e verificar se os comportamentos pró-ambientais<br />

apresentados pelos participantes são elementos <strong>de</strong> um compromisso ambiental, tem-se o estudo<br />

―Um enfoque psicológico da educação ambiental no contexto da gestão‖, por Link (2006). Segundo<br />

Corral –Verdugo (2001) apud Link (2006), comportamentos pró-ambientais <strong>de</strong>vem gerar mudanças<br />

visíveis, antecipam e planejam resultados efetivos e requerem uma postura <strong>de</strong> compromisso aliando<br />

conhecimento e atitu<strong>de</strong>s. O conceito assume relevância a PA, posto que é inegável a intervenção<br />

humana como contribuidora a <strong>de</strong>gradação e agravamento da crise comumente <strong>de</strong>nominada<br />

ambiental.Como categoria investigada, a Educação Ambiental foi apresentada pelos participantes<br />

como um tipo <strong>de</strong> cuidado relacionado a ações pontuais, como por exemplo, mutirão <strong>de</strong> limpeza na<br />

praia, ou ainda palestras oferecias pelo IBAMA com informações sobre o arquipélago, os projetos<br />

<strong>de</strong> pesquisa e as ações ambientais existentes. Neste sentido, também foi possível i<strong>de</strong>ntificar entre os<br />

participantes, ações como o controle do lixo, redução do consumo <strong>de</strong> água e energia elétrica, porém<br />

relacionadas às próprias condições <strong>de</strong> sobrevivência no local, pois <strong>de</strong>vido estar situado em posição<br />

geográfica peculiar, o acesso à água potável e energia elétrica são restritos em relação a outras<br />

localida<strong>de</strong>s situadas em região continental.De forma geral, os resultados apontam para pouco<br />

compromisso ambiental, em que as ações <strong>de</strong> cuidado estão associadas ao trabalho, sem a<br />

constatação do comprometimento no estilo <strong>de</strong> vida das pessoas. Dada a pouca concretu<strong>de</strong> da<br />

sustentabilida<strong>de</strong>, justifica-se a continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pesquisas sobre sua efetivação.<br />

Em ―Cuidado Ambiental em Tempos <strong>de</strong> Sustentabilida<strong>de</strong>: Explorando as Dimensões da<br />

Conduta Sustentável com Estudantes Universitários‖ (Diniz, 2010), são discutidos conceitos como<br />

o da conduta sustentável para a qual se propõem 3 dimensões: compromisso pró-ecológico;<br />

perspectiva temporal <strong>de</strong> futuro e visões <strong>de</strong> mundo as quais possuem como indicador visões<br />

ecológicas <strong>de</strong> mundo. A partir do autorrelato dos participantes, basicamente caracterizados como<br />

857


estudantes universitários, foram i<strong>de</strong>ntificados associações positivas entre ambientalismo<br />

ecocêntrico, consi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> consequências futuras, visão ecológica <strong>de</strong> mundo <strong>de</strong> natureza frágil e<br />

cuidado ambiental relativo a predisposição e efetivida<strong>de</strong> das práticas pró-ecológicas; como também<br />

associações entre ambientalismo antropocêntrico e perfil não – cuidador, visões ecológicas passivas<br />

e <strong>de</strong> controle em associações negativas em relação a consi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> consequências futuras.Por fim,<br />

é sugerido o reconhecimento do compromisso pró-ecológico pautado <strong>nas</strong> consequências futuras <strong>de</strong><br />

nossas ações, visão <strong>de</strong> mundo pautada na inter<strong>de</strong>pendência e no apreço pela diversida<strong>de</strong>.<br />

Os temas <strong>de</strong> cuidado e comportamento pró-ambiental também foram abordados<br />

privilegiadamente nos estudos <strong>de</strong> Barros (2010) intitulado ―A Eliminação do Mosquito do Dengue<br />

em Ambientes Resi<strong>de</strong>nciais: Uma Questão <strong>de</strong> Cuidado Ambiental?‖; ―A água nossa <strong>de</strong> cada dia‖,<br />

por Quevedo (2005); e em Práticas em educação ambiental no ensino formal (Lima, 2008). O<br />

primeiro investigou mediante caráter exploratório, a proliferação da <strong>de</strong>ngue em ambientes<br />

resi<strong>de</strong>nciais no município <strong>de</strong> Natal, tendo como conceitos discutidos além do cuidado e<br />

comportamento pró-ambiental, a noção <strong>de</strong> territorialida<strong>de</strong>, lugar e ambiente resi<strong>de</strong>ncial, entre os<br />

quais perpassam fenômenos como a <strong>de</strong>marcação <strong>de</strong> espaço, afeto e habitação, por autores em PA,<br />

tais como Corraliza (1998), Tuan (1983), Lee (1997), entre outros. A partir da discussão sobre o<br />

achado <strong>de</strong> que a maioria dos moradores não terem consi<strong>de</strong>rado os quintais <strong>de</strong> sua casa (foco<br />

expressivo <strong>de</strong> proliferação do <strong>de</strong>ngue) como espaços privilegiados, é sugerida uma campanha<br />

educativa <strong>de</strong> controle do Ae<strong>de</strong>s aegipty, que pu<strong>de</strong>sse resgatar o quintal como um espaço <strong>de</strong><br />

afetivida<strong>de</strong> e convivência dos moradores. Em ―A água nossa <strong>de</strong> cada dia: percepção, uso e<br />

predisposições comportamentais <strong>de</strong> alunos do ensino médio <strong>de</strong> Natal, Rio Gran<strong>de</strong> do Norte‖,<br />

Violeta Quevedo (2005) da UFRN, orientada por José Q. Pinheiro, analisa <strong>de</strong>terminantes do<br />

comportamento pró-ambiental relativo à água, bem como os significados que lhe são atribuídos. A<br />

autora faz um breve histórico da questão da água pelo mundo, em seguida especificando o Brasil e o<br />

Rio Gran<strong>de</strong> do Norte. Situado sobre essa questão, apresenta sua proposta <strong>de</strong> estudo, discutindo se é<br />

realmente uma crise <strong>de</strong> água que estamos vivenciando, ou trata-se <strong>de</strong> uma crise <strong>de</strong> comportamento,<br />

introduzindo o conceito da Tragédia dos comuns, Hardin (1968), e o estudo feito por Corral e<br />

colaboradores (2002). A autora verificou que embora a idéia <strong>de</strong> água seja atribuída a noção <strong>de</strong> vida,<br />

não foi observada coerência entre as concepções manifestadas e os tipos <strong>de</strong> comportamento <strong>de</strong><br />

consumo <strong>de</strong> água relatado, sendo estas concepções e estes comportamentos <strong>de</strong>stoantes ou<br />

contrários. Então, sugere que preditores do comportamento pró-ambiental em relação à água sejam<br />

investigados <strong>de</strong> maneira mais aprofundada, auxiliando na elaboração <strong>de</strong> programas em educação<br />

ambiental, nos quais po<strong>de</strong>m ser trabalhados hábitos, atitu<strong>de</strong>s e comportamentos que inibam os<br />

efeitos <strong>de</strong> uma cultura <strong>de</strong> consumo e <strong>de</strong> uma visão utilitarista da água, no intuito <strong>de</strong> ampliar<br />

esforços ampliação da preservação <strong>de</strong> bens naturais.<br />

858


Lima (2008) em seu estudo cujo título foi <strong>de</strong>nominado ―Práticas em educação ambiental no<br />

ensino formal‖ problematiza as estimativas acerca da adoção, por escolas brasileiras, <strong>de</strong> projetos em<br />

Educação Ambiental, estabelecido por normas e diretrizes nacionais. Buscando compreen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> que<br />

forma tais projetos impactam sobre o comportamento <strong>de</strong> alunos que tenham participado <strong>de</strong> suas<br />

execuções, também buscou: verificar se estudantes <strong>de</strong> ensino médio, que participaram <strong>de</strong> projetos<br />

em EA, apresentam comportamento pró-ambiental; verificar se a possível manifestação do<br />

comportamento citado (pró-ambiental), conduz à obtenção <strong>de</strong> auto-governo; analisar sob que níveis<br />

<strong>de</strong> competência ambiental po<strong>de</strong>m estar os participantes. A população da pesquisa abrangia alunos<br />

<strong>de</strong> ensino médio, estudantes <strong>de</strong> escola pública situada na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo. Em especial sobre o<br />

auto-governo, este conceito advém <strong>de</strong> uma corrente psicológica <strong>de</strong>nominada Behaviorismo a qual<br />

possui como um <strong>de</strong> seus precursores Skinner, e diz sobre a resolução <strong>de</strong> problemas e tomada <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>cisão, consi<strong>de</strong>rando fontes e tipos <strong>de</strong> controle, sendo que os influenciadores ou fontes <strong>de</strong>sse<br />

controle são, na concepção skinneriana, o ambiente físico e/ou social. Em geral, o estudo verificou<br />

que, após presenciar ativida<strong>de</strong>s diversas (conferências, trabalhos em grupo, <strong>de</strong>monstrações práticas<br />

etc), que encaminharam a ação do plantio <strong>de</strong> árvores, os estudantes apresentaram competências<br />

pró-ambientais, sugerindo que a Educação Ambiental possa utilizar o embasamento teórico da<br />

Análise do Comportamento no planejamento e avaliação <strong>de</strong> ações que tenham resultados<br />

significativos em prol à preservação ambiental.<br />

Motivada pela exploração predatória do meio ambiente, e o efeito disso sobre a humanida<strong>de</strong> e<br />

seu futuro, Cunha (2010) investigou os processos cognitivos orientados à <strong>de</strong>cisão por preservação<br />

e/ou transformações, baseadas em necessida<strong>de</strong>s sociais, sobre o contexto da floresta amazônica. O<br />

estudo foi intitulado ―Aspectos Cognitivos sobre as transformações das áreas ver<strong>de</strong>s: a Floresta<br />

Amazônica em questão‖. Para tal, utiliza-se do referencial teórico em Psicologia Ambiental cujo um<br />

dos fenômenos investigados <strong>de</strong>nomina-se cognição ambiental que se refere ao modo como<br />

adquirimos, armazenamos, organizamos e acessamos informações sobre os ambientes (Cunha,<br />

2010; p.43). A autora criou uma situação representacional, com vistas a avaliar ações e ativida<strong>de</strong><br />

argumentativa <strong>de</strong> seus participantes, jovens resi<strong>de</strong>ntes em Brasília, Goiás e Amazo<strong>nas</strong>, entre as<br />

ida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> 13 a 19 anos, sendo os participantes dos sexos feminino e masculino, estudantes <strong>de</strong><br />

escolas públicas, privadas e escola técnica. Com a construção <strong>de</strong> maquetes <strong>de</strong> blocos removíveis<br />

(permitindo a ação dos estudantes na modificação da disposição <strong>de</strong>stes blocos), eram representados<br />

ambientes construídos, <strong>de</strong> infraestrutura urbana, e ambientes naturais, para avaliar ações <strong>de</strong><br />

transformação do instrumento a partir dos índices: valor ver<strong>de</strong>, conhecimento conservacionista e<br />

conhecimento técnico. Após os resultados, o estudo discute sobre a influência da escola, moradia, e<br />

<strong>de</strong>mais contextos sociais, como influenciadores <strong>de</strong> atribuição <strong>de</strong> importância do bioma amazônico.<br />

Em geral, os jovens indicaram entendimento sobre os problemas urbanos relacionados aos<br />

859


planejamentos das cida<strong>de</strong>s, como também o entendimento entre a relação dos seres humanos e<br />

recursos naturais, reconhecendo a questão ambiental como um tema importante. Entre suas<br />

consi<strong>de</strong>rações, Cunha (2010) se refera à Educação Ambiental, propondo que é preciso consi<strong>de</strong>rar as<br />

peculiarida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> localida<strong>de</strong>s específicas, para a tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões ambientalmente responsáveis,<br />

consi<strong>de</strong>rando as relações entre as pessoas e a natureza.<br />

Discussão<br />

Por tudo o exposto até aqui, nota-se a permissibilida<strong>de</strong> que os diversos enfoques da Educação<br />

Ambiental cujo campo <strong>de</strong> compreensão abrange <strong>de</strong>s<strong>de</strong> uma perspectiva ética a estratégias <strong>de</strong> ação,<br />

suscita ao interesse <strong>de</strong> psicólogos e/ou pesquisadores em Psicologia, <strong>de</strong>dicados ao estudo sobre<br />

questões humano-ambientais. É possível então concordar com Corraliza (1994, apud Corral-<br />

Verdugo, 2001) como citado por Link (2006), quando afirma que EA é o conjunto <strong>de</strong> recursos<br />

formativos e informativos mobilizados com o propósito <strong>de</strong> aumentar a responsabilida<strong>de</strong> humana<br />

sobre os problemas do meio ambiente. Desta forma, a Psicologia Ambiental voltada às discussões<br />

que permeiam ações do homem sobre o ambiente e ao mesmo tempo é modificado por este, possui<br />

eixos temáticos como o cuidado ambiental e indicadores do comportamento pró-ecológico, por<br />

exemplo a conduta sustentável, que permite <strong>de</strong>bate direto com a Educação Ambiental.<br />

Apesar dos trabalhos se concentrarem no aspecto investigativo <strong>de</strong> condutas e atitu<strong>de</strong>s, em<br />

especial no que se refere aos conceitos: conduta sustentável, compromisso pró-ecológico,<br />

<strong>de</strong>terminantes do comportamento pró-ambiental etc ; é possível que se reconheça a importância dos<br />

subsídios fornecidos pelo estudos em Psicologia, especialmente aqueles que se utilizam <strong>de</strong><br />

conceitos da Psicologia Ambiental. Tais subsídios assumem valor fundamental, consi<strong>de</strong>rando o<br />

foco das inter-ações pessoa-ambiente, <strong>nas</strong> quais não se isola as ações ou efeitos <strong>de</strong> um pelo outro,<br />

mas a própria inter-ação entre eles.<br />

Apesar <strong>de</strong> reconhecer o caráter reduzido do presente estudo a respeito dos conceitos em PA<br />

abordados, é possível encontrar bibliografia específica, inclusive <strong>de</strong> produção brasileira, em que são<br />

abordadas temáticas e pressupostos com maiores <strong>de</strong>talhamentos e discussões, como po<strong>de</strong>mos ver<br />

em Elali & Cavalcante at al (2011), além das dissertações <strong>de</strong> mestrado aqui mencionadas, em<br />

especial os trabalhos utilizados com maior discussão neste estudo, quais sejam os das autoras Link<br />

(2006), Diniz (2010), Barros (2010), Cunha (2010), Lima (2008) e Quevedo (2005).<br />

Consi<strong>de</strong>rando o exposto até aqui, nota-se múltiplas áreas do conhecimento interessadas ao<br />

estudo das Relações Pessoa-Ambiente, e em específico pela Psicologia Ambiental. Contudo, nota-se<br />

também uma maior produção nesta área fora da Psicologia, embora se utilize do referencial teórico<br />

da PA. Baseado nisso, discute-se sobre: (i) ser preciso que a área se aproprie do campo <strong>de</strong> PA; (ii) a<br />

transdisciplinarida<strong>de</strong> dos temas exigir abordagens inter/multidisciplinares e aumentar a chance <strong>de</strong><br />

860


psicólogos integrarem tais equipes; (iii) ampliar a formação <strong>de</strong> psicólogos em PA contribui para<br />

valorização dos fenômenos psicológicos inerentes às questões ambientais.<br />

A presente investigação buscou oferecer um panorama geral sobre as possíveis interfaces<br />

entre Psicologia e Educação Ambiental, embora se reconheça as limitações do estudo quanto a<br />

maneira reduzida do conteúdo abordado, posto a vastidão <strong>de</strong> <strong>de</strong>bates possíveis e idéias a serem<br />

<strong>de</strong>senvolvidas, e que tem sido discutidas em meio ao território nacional, por grupos <strong>de</strong> estudo sobre<br />

as RPA vinculados aos <strong>de</strong>partamentos <strong>de</strong> Psicologia. É esperado que se tenha contribuído à<br />

apresentação e evocação <strong>de</strong> reflexões sobre as áreas <strong>de</strong> conhecimento, expondo pressupostos e e<br />

apontando para referencial teórico que permitam contribuições perante o atual panorama mundial <strong>de</strong><br />

crise a qual envolve a escassez <strong>de</strong> recursos necessários a existência <strong>de</strong> seres vivos, como também<br />

envolve injustiça social e precarização das condições e direitos para a sobrevivência,qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

vida e equilíbrio ecológico, crise esta em PA <strong>de</strong>nominada como crise humano-ambiental.<br />

Referências<br />

DINIZ, R. F. (2010). Cuidado Ambiental em Tempos <strong>de</strong> Sustentabilida<strong>de</strong>: Explorando as<br />

Dimensões da Conduta Sustentável com Estudantes Universitários. Dissertação <strong>de</strong> mestrado,<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte, Natal, RN, Brasil.<br />

LINK, M. O. L.(2006). Um enfoque psicológico da educação ambiental no contexto da gestão.<br />

Dissertação <strong>de</strong> mestrado, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte, Natal, RN, Brasil.<br />

BARROS, R. M. B. <strong>de</strong> (2010). A Eliminação do Mosquito do Dengue em Ambientes Resi<strong>de</strong>nciais:<br />

Uma Questão <strong>de</strong> Cuidado Ambiental. Dissertação <strong>de</strong> mestrado, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio<br />

Gran<strong>de</strong> do Norte, Natal, RN, Brasil.<br />

LIMA, F. N. O. (2008). Práticas em educação ambiental no ensino formal. Dissertação <strong>de</strong><br />

mestrado, Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> São Paulo, São Paulo,SP, Brasil.<br />

CUNHA, D. C. (2010). Aspectos Cognitivos sobre as transformações das áreas ver<strong>de</strong>s: a Floresta<br />

Amazônica em questão. Dissertação <strong>de</strong> mestrado, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília, Brasília, DF, Brasil.<br />

QUEVEDO, V. O. R. <strong>de</strong> (2005). A água nossa <strong>de</strong> cada dia: percepção, uso e predisposições<br />

comportamentais <strong>de</strong> alunos do ensino médio <strong>de</strong> Natal, Rio Gran<strong>de</strong> do Norte. Dissertação <strong>de</strong><br />

mestrado, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte, Natal, RN, Brasil.<br />

YAMAMOTO, O. H. . (Org.). (2003). Construindo a Psicologia Brasileira: <strong>de</strong>safios da ciência e<br />

prática psicológica (3ª edição, pp. 280 – 304). São Paulo: Casa do Psicólogo.<br />

CORRAL-VERDUGO, V.; PINHEIRO, J. Q. (2009). Environmental psychology with a Latin<br />

American taste. Journal of Environmental Psychology, 29, 366-374.<br />

RIVLIN, L. G. (2003). Olhando o passado e o futuro: revendo pressupostos sobre as inter-relações<br />

pessoa-ambiente. Estudos <strong>de</strong> Psicologia, 8, 215-220.<br />

PINHEIRO, J. Q.; PINHEIRO, T. F. (2007). Cuidado ambiental: ponte entre psicologia e educação<br />

ambiental?. Psico, janeiro/abril ,38, 24-35.<br />

861


EDUCAÇÃO AMBIENTAL E LETRAMENTO: OS GÊNEROS TEXTUAIS COMO VIA DE<br />

SENSIBILIZAÇÃO NAS ESCOLAS PÚBLICAS<br />

RESUMO<br />

Maria Aparecida da Silva BARBOSA¹<br />

Celma Oliveira da SILVA¹<br />

A<strong>de</strong>lmo Faustino da SILVA¹<br />

Verônica <strong>de</strong> Fátima Gomes <strong>de</strong> MOURA- Orientador²<br />

CCHSA-UFPB¹ cydasilva84@gmail.com Graduanda <strong>de</strong> Licenciatura em Ciências Agrárias –<br />

Campus III<br />

CCHSA- DCBS – UFPB²<br />

Esse trabalho apresenta os resultados <strong>de</strong> um projeto educativo para a sensibilização ambiental<br />

<strong>de</strong>senvolvido em escolas municipais com alunos do ensino fundamental I. Fundamentado na<br />

articulação das áreas <strong>de</strong> Ciências da Natureza com os da área <strong>de</strong> Linguagens e Códigos, o projeto é<br />

constituído <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s sistemáticas voltadas para uma conscientização ambiental. Com ênfase na<br />

importância da Coleta Seletiva <strong>de</strong> Lixo, Reciclagem e Reaproveitamento Residual, as ativida<strong>de</strong>s<br />

focalizam a utilização <strong>de</strong> gêneros textuais como práticas sociais em favor da conscientização<br />

ambiental. Direcionadas às crianças do Ensino Fundamental I, todas as ativida<strong>de</strong>s têm o foco na<br />

abordagem da linguagem, verbal, oral e escrita, e da não verbal, como meio <strong>de</strong> expressão,<br />

informação e comunicação. Interligado ao Grupo <strong>de</strong> Pesquisas Interdisciplinares, vinculado ao<br />

Departamento <strong>de</strong> Ciências Básicas e Sociais (DCBS) do Centro <strong>de</strong> Ciências Huma<strong>nas</strong> Sociais e<br />

Agrárias (CCHSA), Campus III da UFPB, este projeto prevê o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong><br />

ações constituídas por: ativida<strong>de</strong>s orientadas <strong>de</strong> leituras sobre Educação Ambiental – tema central<br />

dos estudos – e sobre os Gêneros Textuais; ofici<strong>nas</strong> <strong>de</strong> produção textuais; pesquisas <strong>nas</strong> escolas<br />

municipais para traçar um diagnóstico sobre a realida<strong>de</strong> dos alunos em relação à coleta em suas<br />

comunida<strong>de</strong>s; ativida<strong>de</strong>s pedagógicas <strong>de</strong> sensibilização junto aos alunos, <strong>nas</strong> salas <strong>de</strong> aula; ofici<strong>nas</strong><br />

<strong>de</strong> reciclagem <strong>de</strong> materiais; palestras; o plantio <strong>de</strong> mudas e ou implantação <strong>de</strong> uma horta suspensa<br />

com garrafas ―pet‖. Desta forma, este trabalho pô<strong>de</strong> contemplar 283 crianças <strong>de</strong> 1º ao 5º ano do<br />

Ensino Fundamental I.<br />

Palavras-chave: Educação Ambiental/ Coleta Seletiva / Letramento / Gêneros Textuais /<br />

Reciclagem.<br />

862


ABSTRACT<br />

This paper presents the results of an educational project <strong>de</strong>signed to raise environmental awareness<br />

in local schools with elementary stu<strong>de</strong>nts I. Based on the articulation of areas of natural sciences<br />

with the area of languages and co<strong>de</strong>s, the project consists at the systematic activity aimed at<br />

environmental awareness. With emphasis on the importance of Selective Garbage Collection,<br />

Recycling and Reuse Residual, to centralize activities on the use of textual genres as social<br />

practices in favor of environmental awareness. Targeted at children's elementary school, all<br />

activities are focused in approach to language, verbal, oral and written, and non-verbal means of<br />

expression, information and communication. Interconnected to the Interdisciplinary Research<br />

Group, linked to the Department of Basic Sciences and Social (DCBS) Center Social and<br />

Agricultural Sciences (CCHSA), Campus III UFPB, this project inclu<strong>de</strong>s the <strong>de</strong>velopment of an<br />

action set consisting of: oriented activities readings on Environmental Education - a central theme<br />

of studies - and on textual Genres; textual production workshops; research in municipal schools to<br />

chart a diagnosis on the reality of the stu<strong>de</strong>nts regarding the collection in their communities;<br />

educational activities to raise awareness among stu<strong>de</strong>nts , in classrooms, workshops recycling<br />

materials; lectures; planting seedlings and <strong>de</strong>ployment of a gar<strong>de</strong>n or down with bottles "pet." Thus,<br />

this work could inclu<strong>de</strong> 283 children from 1st to 5th gra<strong>de</strong> of elementary school I.<br />

Keywords: Environmental Education / Selective Collection / Literacy / Genres Textual / Recycling.<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

Ao longo do tempo, o ser humano <strong>de</strong>senvolveu a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criar instrumentos, objetos e<br />

técnicas para melhorar sua qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e adaptar-se às características do meio natural,<br />

permitindo o <strong>de</strong>sfrute <strong>de</strong> melhores condições <strong>de</strong> sobrevivência. Seguindo esta conduta e<br />

consi<strong>de</strong>rando os atuais mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, as pessoas chegaram ao consumismo<br />

exacerbado, capaz <strong>de</strong> repercutir no futuro do planeta, cujas consequências po<strong>de</strong>rão ser nefastas<br />

(EIGENHEER, 2002). Segundo a Associação Brasileira <strong>de</strong> Empresas <strong>de</strong> Limpeza Pública e<br />

Resíduos Especiais - ABRELPE (2010), diariamente, no Brasil, quase 100 (cem) mil toneladas <strong>de</strong><br />

resíduos sólidos, domésticos e públicos, ainda vão parar em lixões a céu aberto, em áreas alagadas e<br />

em aterros controlados.<br />

A ausência <strong>de</strong> uma gestão eficiente do lixo é responsável por uma série <strong>de</strong> danos, não ape<strong>nas</strong><br />

para o meio ambiente, mas também para o cotidiano e a saú<strong>de</strong> das populações urba<strong>nas</strong>. Os materiais<br />

que po<strong>de</strong>m ser reciclados (papéis, metais, plásticos, vidros) são separados do lixo orgânico<br />

(bio<strong>de</strong>gradável), que po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scartado em aterros sanitários. A separação do lixo na origem evita<br />

a contaminação dos materiais recicláveis, diminuindo os custos com o processo. Como exemplo<br />

863


disso, para cada 10% <strong>de</strong> caco <strong>de</strong> vidro na mistura, economiza-se 4% da energia necessária para a<br />

fusão nos fornos industriais e a redução <strong>de</strong> 9,5% no consumo <strong>de</strong> água. Pilhas e baterias <strong>de</strong>vem ser<br />

também separadas, pois se <strong>de</strong>scartadas no meio ambiente provocam a contaminação do solo <strong>de</strong>vido<br />

sua composição química.<br />

Mesmo não sendo possível reutilizá-los, estes materiais recebem um <strong>de</strong>stino apropriado para<br />

não gerar poluição no meio ambiente (FERREIRA, 2004). A reciclagem <strong>de</strong> lixo auxilia na<br />

preservação do meio ambiente, diminuindo a contaminação dos solos e rios e reduzindo o<br />

<strong>de</strong>sperdício <strong>de</strong> recursos naturais através da economia <strong>de</strong> energia e matérias-primas (LIMA, 2005).<br />

O primeiro passo para que esse processo ocorra é a realização da coleta seletiva do lixo, um<br />

processo que consiste na separação e recolhimento <strong>de</strong> resíduos <strong>de</strong>scartados.<br />

O trabalho que <strong>de</strong>senvolvemos consiste em ações educativas que veiculadas pela diversida<strong>de</strong><br />

dos gêneros textuais, com vistas à sensibilização <strong>de</strong> crianças para que ajam como multiplicadores <strong>de</strong><br />

informações e ações conscientizadoras sobre a educação ambiental, em suas comunida<strong>de</strong>s, com<br />

ênfase na coletiva seletiva <strong>de</strong> lixo, reciclagem e o reaproveitamento <strong>de</strong> resíduos sólidos.<br />

Configurando-se como um conjunto <strong>de</strong> ações que focalizam a produção e circulação <strong>de</strong><br />

gêneros textuais como práticas sociais em favor da conscientização ambiental, todas as ativida<strong>de</strong>s<br />

estão direcionadas às informações e abordagens sobre Coleta Seletiva, Reciclagem e<br />

Reaproveitamento Residual e sobre Produção e circulação <strong>de</strong> Gêneros Textuais <strong>nas</strong> Escolas <strong>de</strong><br />

Ensino Fundamental I.<br />

Com este trabalho, objetivamos suscitar e orientar reflexões sobre a relação do homem com o<br />

meio-ambiente, com vistas à melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida dos educandos enquanto cidadãos, por<br />

intermédio da articulação dos conhecimentos <strong>de</strong> áreas distintas, e, <strong>de</strong>sta, forma, também tentar<br />

contribuir com práticas pedagógicas que caminhem em direção à superação do tratamento<br />

compartimentalizado que ainda caracteriza o saber escolar.<br />

2. METODOLOGIA<br />

O trabalho <strong>de</strong>senvolvido configura-se como um conjunto <strong>de</strong> ações constituído <strong>de</strong> estudos<br />

teóricos em grupo, ofici<strong>nas</strong> <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> textos, pesquisas <strong>nas</strong> escolas municipais, ofici<strong>nas</strong> <strong>de</strong><br />

reaproveitamento <strong>de</strong> materiais recicláveis e <strong>de</strong> leitura e produção <strong>de</strong> textos com os alunos do ensino<br />

fundamental, aliadas com ativida<strong>de</strong>s pedagógicas, apresentações orais e palestras <strong>de</strong> sensibilização<br />

sobre as questões relacionadas ao meio ambiente, com foco na coleta seletiva e na reciclagem.<br />

FASE I<br />

As ativida<strong>de</strong>s foram <strong>de</strong>senvolvidas em quatro fases:<br />

1 - Estudos Teóricos em Grupo: encontros para estudos teóricos, em grupo,<br />

coor<strong>de</strong>nado pela orientadora, cujas orientações visam a qualificar os participantes do grupo sobre os<br />

864


conhecimentos acerca da relação do homem e o meio ambiente, reaproveitamento dos resíduos<br />

sólidos e coleta seletiva - temas norteadores dos estudos. Estruturada em módulos, as informações<br />

foram sintetizadas em apostilas com textos e exercícios, realizados individualmente e, em seguida,<br />

discutidos oralmente pelo grupo. A cada encontro, os membros traziam informações sobre os temas,<br />

anteriormente pesquisados, para serem <strong>de</strong>batidas no grupo. Estes estudos serviram <strong>de</strong> base para o<br />

planejamento das ativida<strong>de</strong>s a serem <strong>de</strong>senvolvidas <strong>nas</strong> escolas municipais.<br />

2 - Pesquisa <strong>de</strong> Campo: paralelo às ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> estudos, iniciou-se uma pesquisa <strong>de</strong><br />

campo <strong>nas</strong> escolas selecionadas para a realização das ativida<strong>de</strong>s, a fim <strong>de</strong> investigar os<br />

comportamentos e a concepção que os alunos tinham em relação ao lixo e o que sabiam sobre coleta<br />

seletiva e a reciclagem.<br />

3 - Ofici<strong>nas</strong> Práticas para a Produção <strong>de</strong> Gêneros Textuais: Após três encontros, os<br />

estudos teóricos foram intercalados com as ofici<strong>nas</strong> <strong>de</strong> produção textual, <strong>nas</strong> quais, sob a orientação<br />

da orientadora, os alunos- membros participantes do projeto produziram os gêneros textuais que<br />

seriam trabalhados com os alunos das escolas municipais. Além <strong>de</strong>ste exercício <strong>de</strong> produção textual<br />

houve práticas <strong>de</strong> oralida<strong>de</strong>s com os alunos participantes do projeto, com o objetivo <strong>de</strong> que<br />

pu<strong>de</strong>ssem ter um melhor <strong>de</strong>sempenho <strong>nas</strong> escolas junto às crianças do fundamental.<br />

4 - Planejamento das Ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Sensibilização <strong>nas</strong> Escolas Envolvidas –<br />

planejamento das ativida<strong>de</strong>s que seriam realizadas com os alunos das escolas municipais, tendo em<br />

vistas o nível <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> <strong>de</strong>les e as informações obtidas com a pesquisa <strong>de</strong> campo.<br />

FASE II<br />

5 – Ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Sensibilização <strong>nas</strong> Escolas – Conforme o planejamento resultante<br />

dos encontros e das reavaliações feitas a cada semana durante as reuniões que continuaram<br />

ocorrendo sistematicamente, as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sensibilização junto ao público-alvo das escolas foram<br />

<strong>de</strong>senvolvidas, mediante a seguinte metodologia:<br />

I – Interação com a turma através <strong>de</strong> conversa informal.<br />

II - Audição das canções: ―Lixo no Lixo‖, autor <strong>de</strong>sconhecido; ―O lixo que você joga no lixo - Rap<br />

do Cascão‖ (Turma da Mônica); ―Palavrinhas Mágicas‖, com Eliana; e ―Xote Ecológico‖, <strong>de</strong> Luiz<br />

Gonzaga.<br />

III - Apresentação dos documentários (filme curta-metragem): ―É preciso reciclar‖; ―Impacto das<br />

pilhas‖; ―Os Animais Salvam o Planeta‖; ―A Natureza Pe<strong>de</strong> Socorro‖; ―O brincar e o planeta -<br />

Professor Sassá‖; ―Os impactos do lixo na natureza‖ e ―A reciclagem como uma solução‖.<br />

IV - Debate com os alunos.<br />

865


V - Informações sobre o trabalho das pessoas que coletam lixo e sobre o que é coleta seletiva e o<br />

que é reciclagem.<br />

VI - Apresentação e oficina prática <strong>de</strong> trabalhos manuais feitos a partir <strong>de</strong> materiais recolhidos dos<br />

lixos (reaproveitamento).<br />

VII - Ativida<strong>de</strong>s escritas sobre a coleta seletiva, <strong>de</strong>smatamento e reflorestamento.<br />

VIII - Ativida<strong>de</strong>s práticas e simuladas sobre a coleta seletiva, com coletores coloridos na sala <strong>de</strong><br />

aula.<br />

FASE III<br />

6 – Encerramento das ativida<strong>de</strong>s na escola – O término das ativida<strong>de</strong>s <strong>nas</strong> escolas<br />

aconteceu com uma Palestra relacionada a todas as informações repassadas <strong>nas</strong> fases anteriores,<br />

culminando com um plantio <strong>de</strong> uma árvore em duas escolas e uma horta suspensa com garrafas pet<br />

para o cultivo <strong>de</strong> condimentos em outras duas escolas.<br />

FASE IV<br />

Avaliação dos resultados do Projeto pela equipe executora.<br />

3. DESCRIÇÃO DO TRABALHO DOS PARTICIPANTES<br />

Os Membros Participantes<br />

N° total <strong>de</strong> participantes 14<br />

Coor<strong>de</strong>nadores 02<br />

Professores Colaboradores 02<br />

Alunos 10<br />

Por ser interdisciplinar, o projeto ―Educação Ambiental e Letramento: os Gêneros Textuais<br />

como Via <strong>de</strong> Sensibilização <strong>nas</strong> Escolas Públicas‖ foi <strong>de</strong>senvolvido sob a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> duas<br />

Coor<strong>de</strong>nadoras, uma, Doutora em Reaproveitamento <strong>de</strong> Resíduos Sólidos – Coleta Seletiva, e a<br />

outra Doutora em Letras.<br />

Além das funções gerais previstas para a coor<strong>de</strong>nação do projeto, coube a uma<br />

coor<strong>de</strong>nadora a função específica <strong>de</strong> orientar o grupo sobre os conhecimentos relativos à Educação<br />

Ambiental, Coleta Seletiva e Reciclagem. À outra professora coube a função específica <strong>de</strong> orientar<br />

866


as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> leitura dos textos selecionados para estudos em grupo, as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> produção <strong>de</strong><br />

gêneros textuais utilizados para a sensibilização <strong>nas</strong> escolas, bem como orientar as ativida<strong>de</strong>s que<br />

visem ao exercício da exposição oral pelos participantes do grupo.<br />

Os dois professores colaboradores, Mestres em Educação, coube as funções <strong>de</strong><br />

oferecer apoio pedagógico <strong>nas</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sensibilização na escola on<strong>de</strong> o trabalho foi realizado.<br />

Aos alunos participantes coube as funções <strong>de</strong>:<br />

a) participar <strong>de</strong> todas as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> estudos em grupo;<br />

b) participar <strong>de</strong> todas as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ofici<strong>nas</strong> em grupo;<br />

c) levantar os dados da pesquisa na escola;<br />

d) realizar as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sensibilização com os alunos, em sala <strong>de</strong> aula, na escola:<br />

Com esta equipe, este projeto educativo foi <strong>de</strong>senvolvido no período <strong>de</strong> abril a<br />

outubro <strong>de</strong> 2012, em quatro escolas municipais da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Solânea – Paraíba, a saber: Escola<br />

Municipal <strong>de</strong> Ensino Fundamental I Sônia Eliane, Escola Municipal <strong>de</strong> Ensino Fundamental I<br />

A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong> Gracindo, Escola Municipal <strong>de</strong> Ensino Fundamental I Antônio da Costa Souto, localizadas<br />

na área urbana e Escola Municipal <strong>de</strong> Ensino Fundamental I Santiago Chianca localizada na zona<br />

rural.<br />

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Consi<strong>de</strong>ramos que trabalhar a conscientização não é nada fácil, tendo em vista que a formação<br />

cultural pesa diante <strong>de</strong> novos conceitos. No Brasil, atualmente, evi<strong>de</strong>ncia-se a melhoria do bem<br />

estar da população <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> uma melhoria econômica. Mas, por ainda ter na educação do seu<br />

povo o maior <strong>de</strong>safio para que esse bem-estar seja verda<strong>de</strong>iramente assimilado e mantido, é preciso<br />

adotar ações educativas que promovam mudanças <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s necessárias à promoção e manutenção<br />

da melhoria na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida dos cidadãos.<br />

Portanto, avaliamos como um resultado positivo o dado consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong> 14 docentes (que<br />

lecionam <strong>nas</strong> escolas municipais) e 283 crianças contempladas com este projeto educativo.<br />

Acreditamos que através das ações educativas realizadas <strong>nas</strong> Escolas Municipais <strong>de</strong> Ensino<br />

Fundamental I foram <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> proveito, já que conseguimos <strong>de</strong>spertar, nos alunos e professores<br />

<strong>de</strong>stas escolas, uma consciência em relação à necessida<strong>de</strong> da coleta seletiva e da reciclagem e <strong>de</strong>, no<br />

mínimo, jogar o lixo <strong>nas</strong> lixeiras <strong>de</strong> acordo com a sua cor e função.<br />

Com o apoio e parceria dos órgãos governamentais e instituições <strong>de</strong> Educação que, no caso<br />

do nosso trabalho foi firmado entre a Secretaria Municipal <strong>de</strong> Solânea e o CCHSA, Campus da<br />

UFPB localizado na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Bananeiras – PB, po<strong>de</strong>mos promover ações que contribuam para a<br />

867


melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e bem-estar da população.<br />

REFERÊNCIAS<br />

ABRELPE. Coleta seletiva <strong>de</strong> lixo. Disponível em: http://www.abrelpe. Acesso em: 22 <strong>de</strong><br />

fevereiro <strong>de</strong> 2009.<br />

BORDINI, Maria da Glória; AGUIAR, Vera Teixeira. Formação do leitor: alternativas<br />

metodológicas. 2ª ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 2003.<br />

DIONÍSIO, Ângela, MACHADO, Anna Rachel, BEZERRA, Maria Auxiliadora. Gêneros textuais e<br />

ensino. 4ª ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Lucerna, 2005.<br />

EIGENHEER, E. M. Coleta seletiva <strong>de</strong> lixo: o real e o imaginário. In: Seminário da Indústria e do<br />

Meio Ambiente, 1,2002, São Paulo. Anais. São Paulo,2002, p.55-60.<br />

FERREIRA, S.M. Catadores <strong>de</strong> lixo no Brasil. Revista Urutágua. Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Maringá.<br />

Maringá- PR, v.7, p.13-15,mai, 2004.<br />

LIMA, J.D. Sistema integrado <strong>de</strong> <strong>de</strong>stinação final <strong>de</strong> resíduos sólidos urbanos. 1ª.Ed., Editado pela<br />

ABES: João Pessoa/PB,2005.<br />

http://www.youtube.com/watch?v=NgV7O_fJsD8-É preciso reciclar Turma da Mônica (ví<strong>de</strong>o) –<br />

acesso em 20 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2012.<br />

http://www.youtube.com/watch?v=oWxifuMMbpc-Palavrinhas Mágicas-Eliana (ví<strong>de</strong>o) – acesso<br />

em 20 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2012.<br />

http://www.youtube.com/watch?v=8Q-eHJjXAEg - Impacto das pilhas (ví<strong>de</strong>o) – acesso em 20 <strong>de</strong><br />

julho <strong>de</strong> 2012.<br />

http://www.youtube.com/watch?v=UJeO5PmZF0o - Os Animais Salvam o Planeta – Dublado<br />

(ví<strong>de</strong>o) – acesso em 20 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2012.<br />

http://www.youtube.com/watch?v=P7oeR3MTdwY- Natureza Pe<strong>de</strong> Socorro (ví<strong>de</strong>o) – acesso em<br />

20 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2012.<br />

http://ensinar-apren<strong>de</strong>r.blogspot.com.br/2011/06/varias-musicas-com-o-tema-meio-ambiente.html<br />

Paródias sobre o meio ambiente (músicas) – acesso em 20 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2012.<br />

http://www.youtube.com/watch?v=OR_J8KUkXMI - O Brincar e o Planeta - Professor Sassá<br />

(ví<strong>de</strong>o) – acesso em 20 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2012.<br />

http://www.youtube.com/watch?v=ltD7A_Mhwt8&feature=fvwrel - Os impactos do lixo na<br />

natureza. A reciclagem como uma solução (ví<strong>de</strong>o) – acesso em 20 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2012.<br />

868


PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS EDUCADORES DE DUAS ESCOLAS NO MUNICÍPIO DE<br />

MOSSORÓ/RN<br />

RESUMO<br />

Maria Aparecida Nogueira MARQUES (graduanda, DGA/UERN) – apmarkiss@hotmail.com<br />

Louise Duarte Matias <strong>de</strong> AMORIM (mestranda, PPGCN/UERN) – louiseuern@yahoo.com.br<br />

Maria Alcilene MORAIS (mestranda, PPGMSA/UFERSA) – alcilenemorais@ymail.com<br />

Ramiro Gustavo Valera CAMACHO (prof. Dr., DECB/UERN) – ramirogustavo@uern.br<br />

A percepção da crise ambiental ainda no século XX estimulou a sensibilida<strong>de</strong> ambiental das pessoas<br />

passando a fazer parte do cotidiano <strong>de</strong> muitos cidadãos tendo um papel fundamental nessa<br />

perspectiva. A presente pesquisa objetiva analisar a percepção ambiental <strong>de</strong> professores da<br />

educação básica em escolas públicas <strong>de</strong> Mossoró/RN. A partir <strong>de</strong> uma abordagem quali/quantitativa<br />

foram aplicados questionários com professores <strong>de</strong> duas escolas nomeadas A e B. Com a obtenção<br />

dos dados constatou-se uma divergência quando a percepção ambiental <strong>nas</strong> duas escolas analisadas,<br />

quanto as questões levantadas integrando a prática da Educação Ambiental <strong>nas</strong> salas <strong>de</strong> aulas, o<br />

entendimento sobre o meio ambiente e a Educação Ambiental. Deste modo, apesar <strong>de</strong> não ser uma<br />

prática vivenciada em todas as escolas, a Educação ambiental formal tem uma gran<strong>de</strong> relevância<br />

para a formação <strong>de</strong> multiplicadores ambientais e sujeitos ecológicos propícios a disseminação da<br />

sensibilização ambiental na socieda<strong>de</strong>.<br />

Palavras-chaves: Sujeito Ecológico; multiplicadores ambientais; Educação Ambiental formal.<br />

ABSTRACT<br />

The perception of environmental crisis in the 20 th century stimulated population‘s environmental<br />

sensitivity becoming part of lots of citizens‘ routine assuming a relevant role in this perspective.<br />

The present work aims at analyzing the environmental perception of elementary and high school<br />

teachers in public schools from Mossoró/RN. Using a qualitative/quantitative approach,<br />

questionnaires with teachers from two schools labeled A and B were applied. By obtaining the<br />

necessary data it was found that there was a divergence concerning the environmental perception in<br />

both analyzed schools in relation to the issues raised about the practice of Environmental Education<br />

in classroom, the un<strong>de</strong>rstanding about environment and the Environmental Education itself. This<br />

way, although it is not an action carried out in all schools, the formal Environmental Education is<br />

very valuable for the formation of environmental multipliers and ecological subjects who are able<br />

to spread environmental sensitization in society.<br />

Keywords: Ecological Subject; environmental multipliers; formal Environmental Education.<br />

869


INTRODUÇÃO<br />

O ser humano está em constantes modificações, alterando o seu meio e transformando a<br />

natureza em busca <strong>de</strong> recursos que sacie suas ativida<strong>de</strong>s diárias. A partir da revolução industrial os<br />

impactos ambientais aceleraram e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> consumir e produzir em massa tornou-se cada<br />

vez mais crescente na socieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ando a crise ambiental atual (CASSINO, 2000).<br />

Entretanto, a percepção <strong>de</strong>ssa crise ambiental ainda no século XX estimulou a sensibilida<strong>de</strong><br />

ambiental das pessoas passando a fazer parte do cotidiano <strong>de</strong> muitos cidadãos tendo um papel<br />

fundamental nessa perspectiva. Para DIAS (1999), a Educação Ambiental (EA), <strong>de</strong>senvolve o senso<br />

crítico a partir do conhecimento adquirido <strong>de</strong> um indivíduo, sendo este, capaz <strong>de</strong> transformar suas<br />

atitu<strong>de</strong>s e a<strong>de</strong>quá-las para uma nova postura diante da realida<strong>de</strong> inserida.<br />

A legislação brasileira dispõe em sua Política Nacional <strong>de</strong> Educação Ambiental, que,<br />

(art. 2º. da lei 9.795, <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1999)<br />

Enten<strong>de</strong>m-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a<br />

coletivida<strong>de</strong> constroem valores sociais, conhecimentos, habilida<strong>de</strong>s, atitu<strong>de</strong>s e<br />

competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem <strong>de</strong> uso comum do povo,<br />

essencial à sadia qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e sua sustentabilida<strong>de</strong>. (BRASIL, 2010, p.322)<br />

Nesse sentido a (EA) é disseminada a partir do momento em que o pensamento <strong>de</strong><br />

equilíbrio ambiental é colocado em prática, on<strong>de</strong> todos trabalham em busca <strong>de</strong> um ambiente sadio<br />

formando multiplicadores <strong>de</strong>ssa i<strong>de</strong>ia. A constituição brasileira assegura que a educação ambiental<br />

<strong>de</strong>ve ser promovida em todos os níveis <strong>de</strong> ensino e a conscientização publica para a preservação do<br />

meio ambiente, (Brasil 1988).<br />

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) aborda em sua metodologia <strong>de</strong>ntro dos<br />

Parâmetros em Ação – Meio Ambiente que:<br />

De acordo com a concepção metodológica <strong>de</strong> formação que norteia o programa Parâmetros<br />

em Ação, os Parâmetros em Ação – Meio Ambiente na Escola Consi<strong>de</strong>ra o professor como<br />

sujeito ativo e singular, que domina conhecimentos marcados por sua formação, suas<br />

experiências e suas representações sociais. Trata-se <strong>de</strong> um princípio para promover atitu<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> respeito pessoal, profissional e intelectual, além <strong>de</strong> uma escolha metodológica (BRASIL,<br />

p. 9, 2001).<br />

A partir <strong>de</strong>sse contexto enten<strong>de</strong>-se que o professor como sujeito multiplicador do<br />

conhecimento tem o papel <strong>de</strong> transmissão através <strong>de</strong> suas boas práticas, levando a sensibilização ao<br />

corpo discente e funcionários da escola.<br />

Nessa realida<strong>de</strong> surge o Programa Novos Talentos, que apoia projetos extracurriculares<br />

que se propõem a investir em novos talentos da re<strong>de</strong> <strong>de</strong> educação pública para inclusão social e<br />

<strong>de</strong>senvolvimento da cultura científica. Através <strong>de</strong> edital lançado pela CAPS//DEB Nº 033/2010, o<br />

projeto Educação Ambiental e a Construção <strong>de</strong> Saberes no Exercício da Cidadania na Escola<br />

Pública visa entre outras coisas i<strong>de</strong>ntificar as ações <strong>de</strong>senvolvidas pelos professores da educação<br />

870


ásica <strong>nas</strong> diferentes discipli<strong>nas</strong> que dimensionam uma abordagem para a educação ambiental e<br />

propor estratégias metodológicas para trabalhar este conteúdo em sala <strong>de</strong> aula, <strong>de</strong> forma<br />

contextualizada, transversal e interdisciplinar. A metodologia do projeto baseia-se na execução <strong>de</strong><br />

cursos e ofici<strong>nas</strong> para professores e alunos <strong>de</strong> escolas públicas. Nas ofici<strong>nas</strong> ministradas para os<br />

professores busca-se entre outras coisas i<strong>de</strong>ntificar conteúdos e estratégias utilizadas pelos mesmos<br />

para trabalhar as questões ambientais no contexto local, além discutir teorias e criação <strong>de</strong> propostas<br />

metodológicas voltadas para a educação ambiental na escola.<br />

Com o objetivo <strong>de</strong> analisar a percepção ambiental <strong>de</strong> professores da educação básica em<br />

escolas públicas <strong>de</strong> Mossoró, nos propusemos a realizar um estudo <strong>de</strong> cunho quali/quantitativa<br />

abordando principalmente aspectos relativos a formação do professor anterior ao <strong>de</strong>senvolvimento<br />

das ativida<strong>de</strong>s do projeto. Assim, o projeto visa compreen<strong>de</strong>r quais os caminhos trilhados pelos<br />

educadores na sua formação pessoal e profissional que os conduziram ao campo ambiental, e como<br />

suas trajetórias forjaram suas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sujeito ecológico, este entendido como um tipo i<strong>de</strong>al<br />

portador <strong>de</strong> valores éticos, atitu<strong>de</strong>s e comportamentos ecologicamente orientados, que inci<strong>de</strong>m<br />

sobre o plano individual e coletivo (CARVALHO, 2004).<br />

Para tanto, foram aplicados questionários semi-estruturados aos educadores <strong>de</strong> 2 (duas)<br />

escolas públicas do município <strong>de</strong> Mossoró/RN nomeadas A e B, todas parceiras do projeto<br />

―Educação Ambiental e a Construção <strong>de</strong> Saberes no Exercício da Cidadania na Escola Pública‖.<br />

Participaram da pesquisa 8 (oito) professores da escola A e 6 (seis) da escola B, todos lecionando<br />

no ensino fundamental e médio. Como afirma Carvalho (2005):<br />

A análise das trajetórias biográficas dá acesso às relações recursivas entre campo social e<br />

trajetória <strong>de</strong> vida, tomando a condição narrativa <strong>de</strong>stas interações como referencial teórico e<br />

a análise das trajetórias como caminho metodológico. (p. 53).<br />

Nesse contexto, nosso trabalho apontou para a relação entre a formação do Sujeito<br />

Ecológico e da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> ambiental dos educadores e os elementos que estão presentes<br />

influenciando esse processo <strong>de</strong> ingresso no Campo Ambiental (Carvalho, 2005).<br />

Segundo Dias (2005),<br />

[...] o uso das narrativas ten<strong>de</strong> a superar o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> formação, que reduz o docente à<br />

condição <strong>de</strong> audiência passiva, a mero executor <strong>de</strong> propostas i<strong>de</strong>alizadas por outros –<br />

especialistas que se consi<strong>de</strong>ram <strong>de</strong>tentores do saber – (re) colocando-os como participantes<br />

do processo <strong>de</strong> formação [...] Decorre <strong>de</strong>ssa afirmação a relevância da abordagem<br />

(auto)biográfica nos estudos sobre o <strong>de</strong>senvolvimento profissional, pois po<strong>de</strong>m impulsionar<br />

mudanças nos cursos <strong>de</strong> formação, no sentido <strong>de</strong> (<strong>de</strong>s)construir imagens e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s, que<br />

vão sendo repassadas como mo<strong>de</strong>lo único e i<strong>de</strong>al a ser assumido pelos futuros docentes.<br />

(p.162).<br />

Procuramos i<strong>de</strong>ntificar <strong>nas</strong> trajetórias <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> educadores ambientais, os processos<br />

influentes nesta constituição e na construção <strong>de</strong> suas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s enquanto sujeitos ecológicos.<br />

Enten<strong>de</strong>ndo a construção da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> enquanto um processo essencialmente ético na medida em<br />

871


que é articulação <strong>de</strong> valores, crenças, conceitos e sensibilida<strong>de</strong>s os elementos que servirão como<br />

lastro da subjetivida<strong>de</strong> e como baliza das atitu<strong>de</strong>s sociais e da prática docente.<br />

Dessa forma, procuraremos nos <strong>de</strong>bruçar sobre os discursos dos sujeitos e enten<strong>de</strong>r<br />

nessas falas quais os elementos mais significativos, na visão dos questionários.<br />

Dos questionários efetuados aos professores das escolas A e B tiveram suas respostas<br />

diferenciadas em algumas e semelhantes em outras. Quando questionados quanto a pergunta o que<br />

vocês enten<strong>de</strong>m por meio ambiente?:<br />

Gráfico 1: Resposta dos professores das escolas A e B quando a pergunta: O que você enten<strong>de</strong> por meio ambiente?<br />

O gráfico 1 mostra uma realida<strong>de</strong> dos professores i<strong>de</strong>ntificada também na maioria da<br />

pessoas que o meio ambiente é um lugar pra viver ou ape<strong>nas</strong> natureza, seguidos <strong>de</strong> recurso, sistema,<br />

biosfera, problema, por ultimo projeto comunitário e nenhum dos entrevistados colocou todas os<br />

quesitos. Sauvé (1997) relaciona em suas tipologias sobre meio ambiente que, meio ambiente como<br />

natureza é visto como um lugar para ser preservado, o ambiente como problema é para ser<br />

resolvido, como um lugar para se viver é visto como um ambiente para conhecer e apren<strong>de</strong>r sobre,<br />

para planejar e para cuidar, um ambiente como biosfera é on<strong>de</strong> <strong>de</strong>vemos viver juntos, um ambiente<br />

como recurso é para ser gerenciado e um ambiente como projeto comunitário é on<strong>de</strong> todas as<br />

pessoas são envolvidas. Sendo assim o meio ambiente é tudo que nos envolve e não somente uma<br />

parte como i<strong>de</strong>ntificado <strong>nas</strong> respostas, revelando a ausência <strong>de</strong> conhecimento dos mesmos sobre a<br />

temática meio ambiente.<br />

Diante da questão: O que você enten<strong>de</strong> por Educação Ambiental? Os professores da escola A<br />

respon<strong>de</strong>ram em sua maioria ao todo 5 (cinco) que a EA vai além <strong>de</strong> uma metodologia ela incentiva a<br />

mudança <strong>de</strong> pensamento do ser humano, 2 (dois) disseram que se tratava se uma metodologia adotada pelas<br />

872


pessoas para falar sobre o meio ambiente 2 (dois) colocaram que <strong>de</strong>veria ser uma prática cotidiana. Na escola<br />

B as respostas dos professores em sua maioria 3 (três) disseram que seria um cuidado com o meio ambiente,<br />

1 (um) informou que parte <strong>de</strong> uma reflexão entre homem e natureza e 2 (dois) não souberam respon<strong>de</strong>r.<br />

Segundo Carvalho:<br />

A EA tanto po<strong>de</strong> ser fruto <strong>de</strong> um engajamento prévio como constituir-se em um passaporte<br />

para o campo ambiental. Desta forma i<strong>de</strong>ntificar-se como sujeito e tornar-se educador<br />

ambiental po<strong>de</strong>m ser processos simultâneos. (CARVALHO, 2005, p. 55)<br />

Isso nos mostra que as duas escolas apresentam pensamentos diferentes sobre EA, tendo<br />

na A profissionais mais propícios a serem multiplicadores ambientais e sujeitos ecológicos pela<br />

maneira e reflexão sobre EA, uma vez que a maioria interpretou que EA vai além <strong>de</strong> uma<br />

metodologia e sim incentiva a mudança <strong>de</strong> pensamento do ser humano, já o B respon<strong>de</strong>u em sua<br />

maioria que seria um cuidado com o meio ambiente.<br />

Na questão Você trabalha com Educação Ambiental <strong>nas</strong> salas <strong>de</strong> aulas, como? Todos da<br />

escola A informaram que sim, a partir <strong>de</strong> projetos, textos, ofici<strong>nas</strong>, palestras, ví<strong>de</strong>os e discussões. Já<br />

na escola B os houve uma divergência <strong>nas</strong> repostas, pois, 1 (um) não respon<strong>de</strong>u, 2 (dois)<br />

respon<strong>de</strong>ram que raramente já não conseguiam associar o conteúdo a disciplina <strong>de</strong> matemática e<br />

história e 3 (três) disseram que trabalhavam sim através <strong>de</strong> músicas e textos. A diferença entre os<br />

dois colégios quanto a prática da EA nos mostra o quanto ainda é pouco disseminada essa atitu<strong>de</strong> e<br />

varia <strong>de</strong> uma instituição pra outra. Segundo Sauvé p. 17 (2005), ―os diferentes autores adotam<br />

diferentes discursos sobre a EA e propõem diversas maneiras <strong>de</strong> conceber e <strong>de</strong> praticar a ação<br />

educativa neste campo‖.<br />

Quando questionados sobre quais trabalhos que tinham <strong>de</strong>senvolvido e participado<br />

sobre EA? todos os professores tanto da escola A como B alavancaram situações pontuais como<br />

projetos <strong>de</strong> reciclagem, ofici<strong>nas</strong>, palestras geralmente executados na semana do meio ambiente.<br />

Focando a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolver mais ativida<strong>de</strong>s contínuas, on<strong>de</strong> a EA seja trabalhada no<br />

cotidiano escolar e não somente em datas comemorativas.<br />

A partir do acima exposto, verificamos que os professores das duas escolas A e B<br />

apresentam distinções quanto a teoria sobre EA e meio ambiente, pois os docentes da A tem uma<br />

visão teórica mais aprofundada, porém quando se trata da prática ambas as escolas A e B<br />

necessitam reciclar suas atitu<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>senvolver trabalhos voltados para uma EA contínua, on<strong>de</strong> o<br />

meio ambiente faça parte do cotidiano dos indivíduos.<br />

Diante das observações, i<strong>de</strong>ntificamos a carência <strong>de</strong> incentivos por parte das secretarias<br />

<strong>de</strong> educação e governos, que não disponibilizam recursos e métodos para que esses professores<br />

consigam <strong>de</strong>senvolver ativida<strong>de</strong>s <strong>nas</strong> salas <strong>de</strong> aulas <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> todas as discipli<strong>nas</strong> e não ape<strong>nas</strong><br />

873


iologia, ciências e geografia, levando aos alunos e colegas a disseminação <strong>de</strong> uma sensibilida<strong>de</strong><br />

ambiental.<br />

Portanto, apesar <strong>de</strong> não ser uma prática vivenciada em todas as escolas, a Educação<br />

ambiental formal tem uma gran<strong>de</strong> relevância para a proliferação <strong>de</strong> multiplicadores ambientais e<br />

sujeitos ecológicos levando a sensibilização ambiental <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a escola até a socieda<strong>de</strong>.<br />

REFERÊNCIAS<br />

BRASIL. Legislação <strong>de</strong> direito ambiental / Leis Paulo Sirvinskos, organização; [coor<strong>de</strong>nação Anne<br />

Joyce Angher]- 5. ed. – São Paulo: Ri<strong>de</strong>el, (2010, p. 37)<br />

CARVALHO, SATO. Educação ambiental: pesquisa e <strong>de</strong>safios / organizado por Michele Sato e<br />

Isabel Cristina Moura Carvalho.- Porto Alegre: Artmed, 2005.<br />

CARVALHO, Isabel Cristina <strong>de</strong> Moura. Educação Ambiental: a formação do sujeito ecológico.<br />

3ªed. São Paulo, SP: Cortez, 2004.<br />

CASSINO, Fábio. Educação Ambiental: princípios, história e formação <strong>de</strong> professores. 2ª ed. São<br />

Paulo: Editora SENAC São Paulo, 2000.<br />

DIAS, Cleuza Maria Sobral. Possibilida<strong>de</strong>s e limites no uso da abordagem (auto)biográfica no<br />

campo da Educação Ambiental. In: GALIZZI, Maria do Carmo; FREIRE, José Vicente (orgs).<br />

DIAS, Genebaldo Freire. Elementos para capacitação em educação ambiental/Genebaldo Freire<br />

Dias.-Editus, (1999, p. 79.)<br />

REIGOTA, Marcos; POSSAS, Raquel; RIBEIRO, Adalberto (orgs.). Trajetórias e Narrativas<br />

Através da Educação Ambiental. Rio <strong>de</strong> Janeiro: DP&A Editora, 2003.<br />

TEIXEIRA, Cláudia Hlebetz. On<strong>de</strong> os intérpretes da informação? In: INFORMARE: Ca<strong>de</strong>rnos do<br />

Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Ciência da Informação, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v.1, n.2, p.37-44,<br />

jul./<strong>de</strong>z.1995.<br />

SAUVÉ, Lucie. Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável: Uma Análise complexa. In:<br />

revista <strong>de</strong> educação púplica.v. 006 nº 010 jul/<strong>de</strong>z-1997.<br />

874


Resumo<br />

PROJETO RETRATO: UM NOVO OLHAR SOBRE OS RESÍDUOS SÓLIDOS<br />

Caiâne Paraguahy Marcolino OLSEN (UFSC) 97 - caiane_olsen@hotmail.com<br />

Maria Flavia Barbosa XAVIER (UFSC) - mflaviabx@gmail.com<br />

Orientador: Alberto LINDNER (UFSC) - alindner@ccb.ufsc.br<br />

O problema do <strong>de</strong>sperdício relacionado aos resíduos sólidos sempre esteve presente no<br />

cotidiano do ser humano. Algumas medidas simples po<strong>de</strong>m ser tomadas para reduzir esse problema,<br />

como a aplicação dos 3R‘s (redução, reutilização e reciclagem). O Projeto Retrato surgiu da<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>stacar a visão do resíduo em uma perspectiva <strong>de</strong> Redução e Reutilização, ao invés<br />

<strong>de</strong> dar <strong>de</strong>staque ape<strong>nas</strong> à Reciclagem, que normalmente é assunto principal nos projetos<br />

relacionados aos resíduos. Reduzir e reutilizar são etapas prioritárias em relação à reciclagem, já<br />

que a reciclagem envolve processos industriais, que consomem água e energia, e também poluem,<br />

<strong>de</strong>vendo ser a última etapa. O projeto foi realizado com estudantes do 6º ano do Ensino<br />

Fundamental da Escola Estadual Básica Henrique Stodieck, em Florianópolis, Santa Catarina, com<br />

duração <strong>de</strong> quatro encontros durante as aulas <strong>de</strong> Ciências. Foram realizadas dinâmicas, como um<br />

jogo confeccionado com figuras do que po<strong>de</strong> ou não ser reutilizável, repetido no fim do projeto para<br />

avaliação da sensibilização dos alunos; <strong>de</strong>gustação <strong>de</strong> alimentos feitos com o que é consi<strong>de</strong>rado<br />

resíduo, como casca <strong>de</strong> banana, e uma visita ao centro <strong>de</strong> triagem dos resíduos sólidos da cida<strong>de</strong>.<br />

Ao final, para incentivar a escola e os estudantes a continuarem se preocupando com os resíduos,<br />

foi montada uma exposição <strong>de</strong> arte com objetos confeccionados pela turma com o que normalmente<br />

é consi<strong>de</strong>rado lixo, no pátio da escola. Os alunos foram convidados a escrever uma redação sobre o<br />

que eles acharam dos encontros, das dinâmicas, da saída e do Projeto. Os resultados das dinâmicas<br />

foram analisados e comparados para ver a eficácia do projeto, que foram satisfatórios para o grupo,<br />

pois <strong>de</strong>monstra que houve uma sensibilização dos alunos em relação ao tema reutilização.<br />

Atualmente o projeto está tendo continuida<strong>de</strong> no CCB-Recicla, grupo <strong>de</strong> estudos sobre a reciclagem<br />

da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina.<br />

Palavras-chave: Reutilizar Educação Ambiental Escola<br />

Abstract<br />

The problem of waste was always present in the everyday life of humans. Some simple<br />

measures can be taken to reduce this problem, as the adoption of 3R's (reduce, reuse and recycle).<br />

The ―Projeto Retrato‖ was created from the need to highlight the vision of the residue in a<br />

97 Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina<br />

875


perspective of reduction and reuse, instead of highlighting only the recycling, which is normally the<br />

primary subject in projects related to solid waste. Reduce and reuse are the priorities steps in<br />

relation to recycling, since recycling involves industrial processes that consume water and energy,<br />

and also pollute, it should be the last step. The project was conducted with 6th gra<strong>de</strong> stu<strong>de</strong>nts in the<br />

―Escola Estadual básica Henrique Stodieck‖ in Florianópolis, Santa Catarina, with duration of four<br />

meetings during Sciences Classes. There were dynamics, as a game ma<strong>de</strong> with figures of which<br />

may or may not be reusable, repeated at the end of the project for the assessment of awareness of<br />

the stu<strong>de</strong>nts; tasting of foods ma<strong>de</strong> with what is consi<strong>de</strong>red as waste, such as shell of banana and<br />

passion fruit and a visit to the center of sorting of solid waste in the city. At the end to encourage<br />

the school and the stu<strong>de</strong>nts to continue worrying about the waste was ma<strong>de</strong> an exhibition of art with<br />

objects ma<strong>de</strong> by the class with what normally we call garbage in the courtyard of the school. The<br />

stu<strong>de</strong>nts were invited to write an essay on what they thought of the meetings, dynamics, and a<br />

review of the project. The results of dynamics were analyzed and compared to see the effectiveness<br />

of the project, which was satisfactory to the group. Now the project has a parthnership with CCB<br />

Recicla, a study group on Recycling and Reduce.<br />

Keywords: Reuse Environmental Education School<br />

Introdução<br />

O problema do <strong>de</strong>sperdício sempre esteve presente no cotidiano do ser humano. Vivemos<br />

em uma socieda<strong>de</strong> on<strong>de</strong> o consumo é estimulado através da indústria do marketing, da propaganda e<br />

do sistema capitalista no qual vivemos. Há uma visão, nessa situação globalizada, <strong>de</strong> que<br />

consumismo é sinônimo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e prosperida<strong>de</strong>. Diante <strong>de</strong>sse fato, nos <strong>de</strong>paramos com<br />

a chamada obsolescência programada, on<strong>de</strong> ―criam-se produtos novos, tornando algumas coisas<br />

obsoletas em pouco tempo‖ (AVANCINI; FAVARETTO, 1997, p. 462), ou seja, o produto é<br />

projetado <strong>de</strong> modo a ter um curto período <strong>de</strong> funcionamento ou durabilida<strong>de</strong>.<br />

A aplicação tecnológica e dos conhecimentos científicos, que tem sido <strong>de</strong> extrema<br />

importância para o ser humano em diversos aspectos, é hoje um dos principais responsáveis pelo<br />

excesso <strong>de</strong> resíduos gerados, isso por que um produto é logo substituído por outro mais avançado e<br />

mo<strong>de</strong>rno. Assim, como ressalta Dubos (1972), acabamos explorando os recursos naturais do<br />

mundo, quase sempre sem levar em conta as necessida<strong>de</strong>s huma<strong>nas</strong> genuí<strong>nas</strong>, o que realmente<br />

necessitamos.<br />

Medidas simples po<strong>de</strong>m ser tomadas para reduzir esse problema. Uma <strong>de</strong>las é a reciclagem,<br />

que torna o resíduo matéria-prima para novos produtos, reduzindo a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lixo nos aterros,<br />

876


gerando empregos e recolocando no ciclo <strong>de</strong> produção um material que po<strong>de</strong>ria estar contaminando<br />

o solo, os recursos hídricos e o ar. Para introduzir a reciclagem no cotidiano popular, é necessário<br />

que a visão <strong>de</strong> que o lixo é uma coisa suja e inútil seja mudada. Deve-se também apren<strong>de</strong>r a ―não<br />

misturar cegamente o que, separado, manteria um valor, como papel e restos <strong>de</strong> comida, por<br />

exemplo‖ (LUTZENBERGER, 1985, p. 58).<br />

Outras medidas que po<strong>de</strong>m ser tomadas são a redução do consumo e do <strong>de</strong>sperdício e a<br />

reutilização <strong>de</strong> produtos. Segundo Lutzenberger (1985), é necessário que aprendamos a produzir<br />

menos lixo, ―rejeitando os apelos publicitários‖ que nos incitam a adquirir ―sempre mais produtos e<br />

embalagens <strong>de</strong>snecessárias‖. Nesse contexto entra a Educação Ambiental, que para Ab‘Saber<br />

(1991) constitui em um processo vigoroso, que envolve um esforço <strong>de</strong> recuperação <strong>de</strong> realida<strong>de</strong>s e<br />

que não é simples, já que acaba atingindo toda a cultura <strong>de</strong> um povo quando sugere-se mudanças <strong>de</strong><br />

hábitos.<br />

A Educação Ambiental <strong>de</strong>ve ser realizada no intuito <strong>de</strong> sensibilizar e informar, para que, a<br />

partir daí, mudanças possam ser alcançadas. Além disso, como <strong>de</strong>stacam Dias (1994) e Guimarães<br />

(1995), necessita ser um ―processo contínuo e permanente‖, adotando uma ―perspectiva<br />

interdisciplinar‖ para que tenha uma abrangência global e equilibrada.<br />

O Projeto Retrato surgiu da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>stacar a visão do resíduo em uma perspectiva<br />

<strong>de</strong> Redução e Reutilização, ao invés <strong>de</strong> dar <strong>de</strong>staque ape<strong>nas</strong> à Reciclagem, que normalmente é<br />

assunto principal nos projetos relacionados ao lixo. Alterar a visão do resíduo como sinônimo <strong>de</strong><br />

sujeira e inutilida<strong>de</strong> é peça fundamental para que sejam tomadas atitu<strong>de</strong>s a respeito do problema<br />

―lixo‖. Gran<strong>de</strong> parte do que vai para a lixeira po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong> alguma forma ser reaproveitado,<br />

modificando hábitos e a idéia da <strong>de</strong>scartabilida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> boa parte das coisas que adquirimos per<strong>de</strong>,<br />

aparentemente, a função em pouco tempo.<br />

O <strong>de</strong>sperdício, assunto preocupante na socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> consumo atual, é o tema central do<br />

Projeto, que visa mostrar soluções baratas e ecológicas para o que seria jogado fora. Como ressalta<br />

Lutzenberger (1985), ―a miséria é gran<strong>de</strong>, os materiais são valiosos e não falta mercado‖, o que<br />

ressalta a riqueza do que jogamos fora e que po<strong>de</strong> ser reutilizado mantendo um tempo <strong>de</strong> vida<br />

maior.<br />

Segundo pesquisa do Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística (IBGE), cerca <strong>de</strong> 30%<br />

dos brasileiros passa fome, vivendo abaixo da chamada ―segurança alimentar‖, que significa o<br />

―direito <strong>de</strong> todos ao acesso regular e permanente <strong>de</strong> alimentos <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, em quantida<strong>de</strong><br />

suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessida<strong>de</strong>s essenciais, tendo como base práticas<br />

alimentares promotoras da saú<strong>de</strong>, que respeitem a diversida<strong>de</strong> cultural e que sejam social,<br />

econômica e ambientalmente sustentáveis‖ (IBGE). Nesse contexto, a reutilização dos alimentos<br />

que antes iriam para o lixo torna-se fundamental na sustentabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses três parâmetros citados.<br />

877


A quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resíduos sólidos secos que vai para o lixo também é gran<strong>de</strong>. Estes po<strong>de</strong>m<br />

ter sua vida prolongada através <strong>de</strong> práticas criativas <strong>de</strong> reutilização <strong>de</strong> embalagens, garrafas pet,<br />

latinhas, entre outros. Vale ressaltar que Reutilizar é diferente <strong>de</strong> Reciclar, já que Reciclar significa<br />

transformar um produto que não tem mais utilida<strong>de</strong> em outro igual, como transformar papel em<br />

papel reciclado, enquanto Reutilizar é atribuir a um produto, sem modifica-lo, uma nova utilida<strong>de</strong>,<br />

como, por exemplo, transformar garrafas pet em objetos artísticos e <strong>de</strong> <strong>de</strong>coração.<br />

Em 1997, a produção mundial <strong>de</strong> lixo chegou a 400 milhões <strong>de</strong> toneladas. No Brasil,<br />

segundo o Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística (IBGE), no ano 2000 o país produziu cerca<br />

<strong>de</strong> 90 milhões <strong>de</strong> toneladas, e esses dados ten<strong>de</strong>m a aumentar. Em Florianópolis, Santa Catarina,<br />

segundo dados da Companhia Melhoramentos da Capital (COMCAP), empresa que realiza a coleta<br />

do lixo na cida<strong>de</strong>, a produção diária <strong>de</strong> resíduos é <strong>de</strong> 400 toneladas/dia, sendo que 84% po<strong>de</strong>ria ser<br />

reciclado, <strong>de</strong>stes, 46% orgânico e 38% resíduo seco reciclável. Os gastos com o <strong>de</strong>pósito no aterro<br />

sanitário privado, localizado em Biguaçu, são <strong>de</strong> aproximadamente R$ 98,00/tonelada, ou seja, os<br />

gastos da prefeitura só com o aterramento do lixo passam dos R$ 39.000,00/dia.<br />

A <strong>de</strong>stinação incorreta do lixo é um dos maiores problemas relacionados ao assunto. No<br />

Brasil, 90% dos resíduos não passam por um processo <strong>de</strong> seleção, indo diretamente para aterros e<br />

lixões. Destes, 76% são lançados a céu aberto (IBGE, 2000). Isso <strong>de</strong>monstra o enorme <strong>de</strong>scaso e<br />

<strong>de</strong>sinteresse que há, ainda hoje, com essa problemática.<br />

A visão cultural que se tem do resíduo como algo sujo e inútil é uma das principais causas<br />

<strong>de</strong>sse ponto <strong>de</strong> vista e, sendo assim, um dos principais pontos que <strong>de</strong>ve ser atingido para uma<br />

possível solução do problema. Ao mostrar o resíduo como algo que po<strong>de</strong> ser reaproveitado, seja na<br />

forma <strong>de</strong> arte, objetos e até mesmo alimentos, são expostas novas possibilida<strong>de</strong>s e visões<br />

alternativas para aquilo que chamamos <strong>de</strong> ―lixo‖.<br />

Dentro disso, a relação que se tem com a produção <strong>de</strong> resíduos po<strong>de</strong> se tornar também peça<br />

chave na discussão sobre o tema. Perceber a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resíduos que jogamos no lixo todos os<br />

dias, que no Brasil é <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 1,25 kg/dia por habitante (IBGE, 2000), po<strong>de</strong> acabar nos levando a<br />

mudanças <strong>de</strong> hábitos, principalmente os <strong>de</strong> consumo.<br />

Os 3R‘s são as iniciais das palavras Reduzir, Reutilizar e Reciclar. Essa política surgiu como<br />

uma forma <strong>de</strong> enfrentamento da cultura consumista e da geração <strong>de</strong> resíduos. A or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> priorida<strong>de</strong><br />

dos 3R‘s segue uma abordagem preventiva que parte do menor para o maior impacto, ou seja,<br />

<strong>de</strong>vemos antes evitar consumir itens supérfluos do que reciclá-los. Eles questionam a cultura do<br />

<strong>de</strong>sperdício e da necessida<strong>de</strong> que temos do consumo excessivo. Precisamos realmente adquirir tudo<br />

o que queremos, ou fazemos isso por status?<br />

Reduzir então seria a etapa mais importante <strong>de</strong>sse processo, porém a mais difícil <strong>de</strong> ser<br />

alcançada. Torna-se a mais importante tendo em vista que, se o resíduo é visto como um problema,<br />

878


a solução mais lógica seria a redução na produção. Ao mesmo tempo é a mais difícil pelo fato <strong>de</strong> ser<br />

uma ação que mexe em hábitos e na questão cultural. A i<strong>de</strong>ologia do consumismo, que é a base do<br />

mo<strong>de</strong>lo capitalista, é um dos principais fatores <strong>de</strong> problemas ambientais como esse, on<strong>de</strong> a<br />

importância do que ―<strong>de</strong>vemos‖ adquirir dá lugar ao status do que ―po<strong>de</strong>mos‖ financeiramente<br />

consumir.<br />

Reduzir a produção <strong>de</strong> lixo segue algumas medidas como evitar adquirir o <strong>de</strong>snecessário<br />

para que não se torne lixo, procurar não utilizar e não comprar, produtos com embalagens<br />

sobressalentes e utilizar, quando possível, produtos duráveis.<br />

Reutilizar também se torna uma forma <strong>de</strong> redução, já que o que iria para o lixo ganha uma<br />

nova finalida<strong>de</strong>. Dessa forma, a vida útil do resíduo é aumentada e, conseqüentemente, diminui-se o<br />

consumo <strong>de</strong> energia, o lixo e a poluição gerada. Diversos itens po<strong>de</strong>m ser reutilizados. Cascas <strong>de</strong><br />

abacaxi e <strong>de</strong> maracujá po<strong>de</strong>m virar geléia; garrafas pet po<strong>de</strong>m tornar-se puffs, vasos, brinquedos e<br />

até painéis solares; caixinhas <strong>de</strong> leite viram carteiras. Outras formas <strong>de</strong> reutilizar o que iria para o<br />

lixo incluem usar frente e verso <strong>de</strong> folhas, antes <strong>de</strong> serem <strong>de</strong>scartadas, fazer uso <strong>de</strong> coadores <strong>de</strong> café<br />

não <strong>de</strong>scartáveis, preferir fraldas laváveis às <strong>de</strong>scartáveis, entre outras.<br />

Por fim, Reciclar é o retorno do resíduo ao ciclo <strong>de</strong> produção, seja ele industrial, como no<br />

caso das latinhas <strong>de</strong> alumínio; agrícola, como os adubos feitos com resíduos orgânicos; ou mesmo<br />

artesanal, como no caso do papel reciclado artesanalmente com polpa <strong>de</strong> papel usado.<br />

Reduzir e reutilizar são etapas prioritárias em relação à reciclagem. Po<strong>de</strong>-se dizer que<br />

―reciclar é pedir <strong>de</strong>sculpas à natureza, enquanto reduzir é não ofen<strong>de</strong>r em primeiro lugar‖<br />

(BLAUTH). Deve-se lembrar que a reciclagem envolve processos industriais, que consomem água<br />

e energia, e também poluem, <strong>de</strong>vendo ser a última etapa, mas não a menos importante. A<br />

reciclagem retira os resíduos que iriam para lixões e aterros, evitando o inchaço e a ocupação<br />

excessiva nestes. Assim, é <strong>de</strong> extrema importância, principalmente quando aliada à Redução e à<br />

Reutilização.<br />

Levar o conceitos <strong>de</strong>sses 3 R‘s (Reduzir, Reutilizar e Reciclar) ao conhecimento dos<br />

estudantes é uma forma <strong>de</strong> fazer com que todo o <strong>de</strong>sperdício, a que estamos culturalmente<br />

acostumados, seja repensado.<br />

Metodologia<br />

O Projeto Retrato foi realizado na Escola Estadual Básica Henrique Stodieck, localizada no<br />

Centro <strong>de</strong> Florianópolis, Rua Esteves Júnior, nº 65. A preferência por esta escola se <strong>de</strong>u pela opção<br />

<strong>de</strong> se trabalhar com uma escola pública.<br />

879


A Escola recebe em torno <strong>de</strong> 820 alunos, distribuídos da 1ª série do Ensino Fundamental a 3ª<br />

série do Ensino Médio, nos turnos matutino, vespertino e noturno. É dirigida atualmente pela<br />

Professora Margarete dos Santos e pela Assessora <strong>de</strong> Direção Elenice Wagner, contando com cerca<br />

<strong>de</strong> 65 profissionais entre assistente <strong>de</strong> educação, professores e professoras, orientador educacional,<br />

administrador, assistente técnico pedagógico, serventes e meren<strong>de</strong>iras.<br />

O público alvo do Projeto Retrato foram alunos do 6º ano do Ensino Fundamental (antiga 5ª<br />

série) da escola. A escolha foi feita porque os alunos <strong>de</strong>ssa série possuem no conteúdo programático<br />

matérias como água, ar e solo, que envolvem o meio ambiente e a sua conservação, além <strong>de</strong><br />

discipli<strong>nas</strong> que tratam <strong>de</strong> temas como a indústria e o comércio, relacionados com o tema central do<br />

Projeto. Também nessa ida<strong>de</strong> os estudantes estão formando opiniões, conceitos e julgamentos que<br />

precisam ser consolidados com boas práticas e exemplos.<br />

O Projeto foi realizado em quatro encontros com os alunos. O primeiro, terceiro e quarto<br />

encontros foram realizados em sala <strong>de</strong> aula, nos dias 9, 11 e 16 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2010, respectivamente.<br />

No segundo encontro, realizado no dia 10 do mesmo mês, foi realizada uma saída <strong>de</strong> estudos.<br />

Encontro I<br />

Os temas abordados em sala <strong>de</strong> aula foram:<br />

• A visão que temos dos resíduos;<br />

• O que po<strong>de</strong> ser reutilizado;<br />

• A utilização <strong>de</strong> alimentos que normalmente jogamos no lixo;<br />

• A reutilização <strong>de</strong> embalagens<br />

O primeiro encontro, em sala <strong>de</strong> aula, no dia 9 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2010, teve a duração <strong>de</strong><br />

aproximadamente 75 minutos. No primeiro momento, o grupo se apresentou e o projeto foi<br />

explicado. Após isto, realizamos uma sondagem com os alunos sobre a visão que estes tem sobre o<br />

lixo e sobre o que po<strong>de</strong> ser reaproveitado.<br />

Inicialmente, realizou-se o jogo ―Será que é?‖, confeccionado com figuras do que po<strong>de</strong> e do<br />

que não po<strong>de</strong> reutilizável, como cascas <strong>de</strong> frutas, garrafas pet, papéis usados, talos <strong>de</strong> hortaliças,<br />

entre outros. Convidamos os alunos, dispostos em um círculo no chão, a separarem as fichas <strong>de</strong><br />

acordo com o que eles consi<strong>de</strong>ram reutilizável e o que não é reutilizável, em dois recipientes<br />

distintos i<strong>de</strong>ntificados, que levamos para a sala <strong>de</strong> aula. Cada aluno levava sua ficha até os<br />

recipientes, falando em voz alta o que era a figura e todos votavam se era reutilizável ou não.<br />

Após essa ativida<strong>de</strong>, mostramos que muito do que é avaliado como lixo po<strong>de</strong> vir a não ser,<br />

po<strong>de</strong>ndo ser reutilizado <strong>de</strong> diversas maneiras, <strong>de</strong> forma a reduzir a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lixo produzida e<br />

evitando o <strong>de</strong>sperdício.<br />

880


No segundo momento do encontro levamos alimentos feitos com o que é consi<strong>de</strong>rado<br />

resíduo. Foram levados: bolo <strong>de</strong> cascas <strong>de</strong> banana, geléia <strong>de</strong> casca <strong>de</strong> maracujá, chá <strong>de</strong> casca <strong>de</strong><br />

abacaxi e sopa <strong>de</strong> talos <strong>de</strong> hortaliças. Os alimentos foram feitos no dia anterior e levados já prontos<br />

para a dinâmica. Os alunos foram vendados, convidados a provar os alimentos, sem saber o que<br />

eram e do que eram feitos. Após provarem, questionamos se haviam gostado ou não.<br />

Posteriormente, explicamos que foi feito do que por muitos <strong>de</strong> nós é consi<strong>de</strong>rado resíduo, e que<br />

mesmo assim eram alimentos muito saborosos.<br />

Os alimentos tiveram uma boa aceitação, respeitando-se os que não quiseram provar, e o<br />

fato <strong>de</strong> serem feitos do que consi<strong>de</strong>ramos ―lixo‖ causou certo espanto nos alunos.<br />

Encontro II<br />

O segundo encontro, realizado no dia 10 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2010, teve duração <strong>de</strong><br />

aproximadamente 2 horas e 30 minutos. Foi feita uma saída <strong>de</strong> estudo ao centro <strong>de</strong> triagem <strong>de</strong><br />

resíduos da COMCAP (Companhia Melhoramentos da Capital), localizado no bairro Itacorubi,<br />

on<strong>de</strong> os alunos conheceram, através do guia Adriano, o roteiro do lixo, sua separação, como é feita<br />

a compostagem e, por fim, o Museu do Lixo. O Museu abriga diversos objetos retirados do lixo,<br />

como instrumentos musicais, máqui<strong>nas</strong> <strong>de</strong> escrever, eletrodomésticos, além do artesanato<br />

confeccionado pelo Ney, funcionário da COMCAP, também guia e responsável pelo Museu. A<br />

saída <strong>de</strong> estudos foi realizada perante autorização por escrito dos pais dos alunos, através do ônibus<br />

cedido pelo IFSC.<br />

Nesse encontro propusemos um concurso <strong>de</strong> arte com o tema ―lixo‖. Sugerimos aos<br />

estudantes fazerem uma escultura, um <strong>de</strong>senho ou qualquer manifestação artística, confeccionada<br />

com materiais que eles jogariam no lixo, para serem apresentadas no último encontro.<br />

Também pedimos aos alunos para que levassem caixas <strong>de</strong> leite e garrafas PET para o<br />

próximo encontro, já que realizaríamos as ofici<strong>nas</strong> <strong>de</strong> carteiras <strong>de</strong> caixa <strong>de</strong> leite e puffs <strong>de</strong> garrafa<br />

PET.<br />

Encontro III<br />

O terceiro encontro foi realizado no dia 11 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2010 e teve duração <strong>de</strong><br />

aproximadamente 100 minutos. Foi realizado em sala <strong>de</strong> aula, e no primeiro momento cada aluno<br />

permaneceu em sua carteira para a oficina <strong>de</strong> carteiras <strong>de</strong> caixa <strong>de</strong> leite. Cada aluno recebeu uma<br />

caixa <strong>de</strong> leite, e os que levaram <strong>de</strong> casa usaram as suas. Mostramos cada passo e esperávamos todas<br />

acabarem a mesma parte para prosseguir com a explicação. No segundo momento, as carteiras<br />

foram afastadas <strong>de</strong>ixando o centro da sala livre para a elaboração do puff <strong>de</strong> garrafa PET. Os alunos<br />

881


foram divididos em pequenos grupos para passarem a fita a<strong>de</strong>siva em volta das garrafas. Quando o<br />

puff ficou pronto, todos tiveram a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sentar e ver como ficou.<br />

Nesse encontro, pedimos aos alunos para que fizessem uma redação para entregar no último<br />

dia do projeto, sobre o que eles acharam dos encontros, das dinâmicas, da saída e do Projeto.<br />

Encontro IV<br />

O quarto e último encontro foi realizado no dia 16 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2010 e teve duração <strong>de</strong><br />

aproximadamente 50 minutos. Realizamos o mesmo jogo proposto no primeiro encontro, para<br />

comparação dos resultados. Foram entregues cartilhas, confeccionadas previamente pelo grupo,<br />

contendo as receitas usadas no primeiro encontro, dicas para diminuir a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lixo e<br />

reaproveitar materiais, horário da coleta seletiva, jogos sobre o lixo e sites on<strong>de</strong> eles po<strong>de</strong>riam<br />

encontrar mais receitas e jogos. O papel utilizado na capa e contra capa foi confeccionado no<br />

Laboratório Experimental <strong>de</strong> Papel Artesanal (LEPA), no IFSC com a ajuda da Professora Beatriz<br />

Zoucas. O restante da cartilha foi impresso em papel reciclado industrial.<br />

Os estudantes apresentaram os objetos feitos para a exposição <strong>de</strong> arte. Entregaram também<br />

as redações solicitadas.<br />

A exposição foi realizada no dia 18 <strong>de</strong> agosto. Para montagem, foi solicitada a autorização<br />

da diretora, Professora Margarete dos Santos, que ce<strong>de</strong>u o espaço, mesa e papel para cobrir a mesa.<br />

Montamos a mostra no pátio interno da escola ficando a vista <strong>de</strong> todos os estudantes do Henrique<br />

Stodieck. A montagem foi feita ape<strong>nas</strong> pelo grupo, sem a presença dos alunos e teve a duração <strong>de</strong><br />

cerca <strong>de</strong> uma hora, ficando a mostra por alguns dias.<br />

Resultados e Discussão<br />

Em relação ao jogo ―Será que é?‖, foram analisadas as respostas obtidas no jogo e em<br />

seguida comparadas as respostas dadas na primeira e segunda realização do jogo (primeiro e último<br />

encontro, respectivamente). No primeiro encontro, a porcentagem <strong>de</strong> erros foi <strong>de</strong> 35%, contra 65%<br />

<strong>de</strong> acerto. Isso revela que já havia certo conhecimento da turma sobre o tema abordado. Como foi<br />

<strong>de</strong> conhecimento do grupo após a ativida<strong>de</strong>, a professora Alice, que dá aula <strong>de</strong> Ciências para a<br />

turma, já havia abordado o tema reciclagem em suas aulas com os alunos anteriormente, o que<br />

explica o alto número <strong>de</strong> acertos no jogo.<br />

No último dia, a porcentagem <strong>de</strong> erros foi <strong>de</strong> 3%, o que equivale a ape<strong>nas</strong> um erro, contra<br />

97% <strong>de</strong> acerto. O resultado foi bastante satisfatório para o grupo, pois <strong>de</strong>monstra que houve uma<br />

sensibilização dos alunos em relação ao tema <strong>de</strong> reutilização.<br />

882


Com as obras <strong>de</strong> arte com resíduos, feitas pelos alunos, foi realizada uma exposição para<br />

toda a escola, no pátio central. Os alunos ficaram animados com a idéia, embora nem todos tenham<br />

participado.<br />

As redações feitas pelos alunos sobre o projeto e sobre os encontros foram positivas e<br />

mostraram um gran<strong>de</strong> interesse pelos temas abordados, <strong>de</strong>monstrando também que eles gostaram<br />

das dinâmicas, ofici<strong>nas</strong> e da saída para a COMCAP.<br />

Alguns pontos negativos também estiveram presentes, a falta <strong>de</strong> domínio pedagógico para<br />

lidar com as crianças e o curto período <strong>de</strong> tempo para a obtenção dos materiais, principalmente das<br />

ofici<strong>nas</strong>, que exigiu gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> caixas <strong>de</strong> leite e garrafas PET.<br />

Consi<strong>de</strong>rações Finais<br />

O Projeto começou a ser <strong>de</strong>senvolvido como um Projeto <strong>de</strong> Conclusão <strong>de</strong> Curso do Curso<br />

Técnico em Meio Ambiente do Instituto Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina (IF-SC) em 2010 e atualmente,<br />

está vinculado ao grupo <strong>de</strong> estudos CCB Recicla, do Centro <strong>de</strong> Ciências Biológicas da Universida<strong>de</strong><br />

Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina (UFSC), que é um grupo i<strong>de</strong>alizado por funcionários e alunos da UFSC<br />

que realiza ativida<strong>de</strong>s tanto em escolas, em especial na Escola Estadual Básica Henrique Stodieck,<br />

quanto na própria Universida<strong>de</strong>, com ofici<strong>nas</strong> <strong>de</strong> reutilização <strong>de</strong> materiais recicláveis, mutirões para<br />

coleta <strong>de</strong> Lixo Eletrônico, coleta <strong>de</strong> pilhas e baterias e resíduos recicláveis que são vendidos para<br />

uma cooperativa. O Projeto Retrato participa com ativida<strong>de</strong>s na escola e <strong>nas</strong> ofici<strong>nas</strong> <strong>de</strong> reutilização<br />

<strong>de</strong> materiais.<br />

BIBLIOGRAFIA<br />

AB‘SABER, A. N. (Re) conceituando Educação Ambiental. Rio <strong>de</strong> Janeiro: CNPq, MAST, 1991.<br />

BLAUTH, P. O que fazer com tanto lixo?, Site Jardim <strong>de</strong> Flores. Disponível em:<br />

Acesso em: 30 <strong>de</strong><br />

julho <strong>de</strong> 2010.<br />

Blog Escola Estadual Básica Professor Henrique Stodieck. Disponível em:<br />

Acesso em: 31 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2010.<br />

BRITO, E. A.; FAVARETTO, J. A. Alterações no equilíbrio ecológico: a socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> consumo.<br />

In:______ Biologia: uma abordagem evolutiva e ecológica. 1ª Edição. São Paulo: Mo<strong>de</strong>rna, 1997.<br />

p. 462-464.<br />

DIAS, G. F. Educação Ambiental Princípios e Práticas, São Paulo. Global, 1998.<br />

DUBOS, R. O Despertar da Razão: Por uma Ciência Mais Humana. São Paulo:<br />

Melhoramentos/Edusp, 1972. 185p.<br />

883


GUIMARÃES, M. A Dimensão Ambiental na Educação. Campi<strong>nas</strong>: Papirus, 1995<br />

LEME, P. S. Entrevista Ecologicamente Correta. Disponível em: Acesso em: 3 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2010.<br />

LUTZENBERGER, J. Do Jardim ao Po<strong>de</strong>r. 11ª Edição. Porto Alegre: L&PM, 1992. 187p.<br />

Recicloteca – Centro <strong>de</strong> Informações sobre Reciclagem e Meio Ambiente. Disponível em:<br />

Acesso em: 3 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2010.<br />

Redação Ambiente Brasil. Reciclagem, 2008, Site Ambiente Brasil. Disponível em:<br />

Acesso em: 30 <strong>de</strong><br />

julho <strong>de</strong> 2010.<br />

Redação Terra. Produção Mundial chega a 400 milhões <strong>de</strong> toneladas, 2007, Site Terra. Disponível<br />

em: Acesso em: 30 <strong>de</strong><br />

julho <strong>de</strong> 2010.<br />

Redação Tetra Pak. Reciclagem, Site Tetra Pak. Disponível em:<br />

Acesso em: 30 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2010.<br />

884


EDUCAÇÃO AMBIENTAL: QUESTÕES AMBIENTAIS ENVOLVIDAS COM A<br />

UTILIZAÇÃO DE COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS, UMA NOVA ABORDAGEM NO ENSINO DE<br />

BIOLOGIA<br />

Maria José dias <strong>de</strong> ANDRADE<br />

Graduanda do Curso <strong>de</strong> Ciências Biológicas da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Paraíba/Bolsista<br />

Cida<strong>de</strong> Universitária - CEP: 58051-900 - João Pessoa - PB – Brasil<br />

mariadiasandra<strong>de</strong>@gmail.com<br />

Silvia Raquel Busatto Silva <strong>de</strong> OLIVEIRA<br />

Graduanda do Curso <strong>de</strong> Ciências Biológicas da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Paraíba/Bolsista<br />

silviabusatto@gmail.com<br />

RESUMO<br />

Rivete Silva <strong>de</strong> LIMA<br />

Professor adjunto do Departamento <strong>de</strong> Sistemática e Ecologia / Orientador<br />

Biologia- Campus I, João Pessoa, da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Paraíba (DSE/UFPB)<br />

rivete@terra.com.br<br />

José Antônio Novaes da SILVA<br />

Professor adjunto do Departamento <strong>de</strong> Biologia molecular / Orientador<br />

Biologia- Campus I, João Pessoa, da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Paraíba (DBM/UFPB)<br />

baruty@gmail.com<br />

O consumo <strong>de</strong> combustíveis fósseis e <strong>de</strong>rivados do petróleo apresenta um impacto<br />

significativo na qualida<strong>de</strong> do meio ambiente. A poluição do ar, as mudanças climáticas, os<br />

<strong>de</strong>rramamentos <strong>de</strong> óleo e a geração <strong>de</strong> resíduos tóxicos estão relacionados com o uso e produção<br />

<strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> combustível. O presente trabalho teve como objetivo trabalhar a temática Meio<br />

Ambiente e Educação Ambiental, assim como os conceitos chaves da Ecologia, na busca da<br />

conscientização dos alunos sobre os impactos ambientais envolvidos na utilização <strong>de</strong> combustíveis<br />

fósseis e da real necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conservação ambiental. Ao longo do primeiro e segundo semestre<br />

trabalhou-se com os estudantes do 2º ano do ensino médio da escola Estadual Liceu Paraibano,<br />

sendo abordados os seguintes temas: Origem dos combustíveis fósseis, questões ambientais<br />

associadas ao petróleo, <strong>de</strong>sastres ecológicos durante a exploração do petróleo, petróleo e o<br />

aquecimento global. A biologia é uma disciplina consi<strong>de</strong>rada pelos discentes <strong>de</strong> difícil<br />

entendimento, mas com estratégias inovadoras e diferentes abordagens em sala <strong>de</strong> aula é possível<br />

motivar a turma sobre o assunto. Tentou-se fazê-los compreen<strong>de</strong>r as etapas que envolvem todo o<br />

processo <strong>de</strong> refino e consumo dos combustíveis fósseis, buscou-se relacionar este estudo com o dia<br />

a dia dos alunos, interligando o uso dos combustíveis fósseis com os impactos ambientais. O<br />

trabalho com os estudantes foi feito por meio <strong>de</strong> ofici<strong>nas</strong> educativas e no final das ofici<strong>nas</strong> eles<br />

885


foram avaliados por meio <strong>de</strong> questões <strong>de</strong> vestibular e do ENEM. Ao final do trabalho e das ofici<strong>nas</strong>,<br />

observaram-se bons resultados referentes aos temas abordados, o que implica numa ótima resposta<br />

às metodologias utilizadas.<br />

Palavras Chave: Combustíveis Fósseis, Educação Ambiental, Biologia.<br />

ABSTRACT<br />

The consumption of fossil fuels and oil <strong>de</strong>rivatives has a significant impact on<br />

environmental quality. Air pollution, climate change, oil spills and toxic generation of residues are<br />

results of the use and production of these fuels. The present paper aimed to work the theme<br />

Environment and Environmental Education, as well as the key concepts of ecology, in search of<br />

stu<strong>de</strong>nts' awareness about environmental impacts involved in the use of fossil fuels and the real<br />

need for environmental conservation. Throughout the first and second semester were worked with<br />

stu<strong>de</strong>nts of 2nd year from high school of the state school Liceu Paraibano, being focused on the<br />

following themes: Origin of fossil fuels, Environmental issues Associated to Petroleum, Ecological<br />

Disaster during oil exploration, oil and Global warming. Biology is a discipline consi<strong>de</strong>red by<br />

stu<strong>de</strong>nts difficult to un<strong>de</strong>rstand, but with innovative strategies and different approaches in the<br />

classroom it‘s possible to motivate the class on the subject. They tried to make them un<strong>de</strong>rstand the<br />

stages involved throughout the process of refining and consumption of fossil fuels, sought to relate<br />

this study with the day-to-day, linking the use of fossil fuels with environmental impacts. Was<br />

worked with stu<strong>de</strong>nts through educational workshops, at the end of the workshops they were<br />

assessed through questions of University entrance exam and ENEM, where participated great<br />

results related to the themes discussed, which implies in a great response to the methodologies used.<br />

Keywords: Fossil Fuels, Environmental Education, Biology.<br />

INTRODUÇÃO<br />

A importância do petróleo em nossa socieda<strong>de</strong> é extensa e fundamental. O petróleo não é<br />

ape<strong>nas</strong> uma das principais fontes <strong>de</strong> energia utilizadas pela humanida<strong>de</strong>. Além <strong>de</strong> sua importância<br />

como fornecedor <strong>de</strong> energia, os seus <strong>de</strong>rivados são a matéria-prima para a manufatura <strong>de</strong> inúmeros<br />

bens <strong>de</strong> consumo, e, <strong>de</strong>ste modo, têm um papel cada dia mais presente e relevante na vida das<br />

pessoas.<br />

886


A importância do refino <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> toda a ca<strong>de</strong>ia produtiva do petróleo não se resume ape<strong>nas</strong><br />

ao ponto <strong>de</strong> vista estratégico. Do ponto <strong>de</strong> vista ambiental, as refinarias são gran<strong>de</strong>s geradoras <strong>de</strong><br />

poluição. Elas consomem gran<strong>de</strong>s quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> água e <strong>de</strong> energia, produzem gran<strong>de</strong>s quantida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>spejos líquidos, liberam diversos gases nocivos para a atmosfera e produzem resíduos sólidos<br />

<strong>de</strong> difícil tratamento e disposição. Em <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong> tais fatos, a indústria <strong>de</strong> refino <strong>de</strong> petróleo,<br />

po<strong>de</strong> ser, e muitas vezes é uma gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>gradadora do meio ambiente, pois tem potencial para<br />

afetá-lo em todos os níveis: ar, água, solo e, consequentemente, a todos os seres vivos que habitam<br />

nosso planeta.<br />

Entretanto, sabemos que o petróleo não <strong>de</strong>ixará <strong>de</strong> apresentar a importância que possui ao<br />

longo dos próximos anos, a menos que haja alguma incrível e revolucionária <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> algum<br />

substituto a altura. Deste modo, po<strong>de</strong>mos admitir que as refinarias continuarão existindo, pelo<br />

menos enquanto as reservas <strong>de</strong> petróleo continuarem a ser exploradas e continuarem a produzir.<br />

Assim sendo, faz-se necessária a integração da variável ambiental no planejamento, na<br />

concepção, e, acima <strong>de</strong> tudo, na operação das refinarias. A solução para o problema da poluição<br />

certamente não é fechar as refinarias ou reduzir os níveis <strong>de</strong> produção, um pensamento totalmente<br />

inviável do ponto <strong>de</strong> vista prático.<br />

Em nossa realida<strong>de</strong> ampliou-se ainda mais a exploração dos recursos naturais para aten<strong>de</strong>r<br />

um novo mercado mundial, baseado em uma socieda<strong>de</strong> consumista, que exige cada vez mais a<br />

exploração da natureza. O que o ser humano <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rou durante sua trajetória <strong>de</strong> crescimento<br />

predatório é que os recursos naturais são findáveis, como o caso da água potável e dos combustíveis<br />

fósseis (estima-se que as reservas mundiais <strong>de</strong> petróleo possam durar cerca <strong>de</strong> 40 anos, a manterem-<br />

se os atuais níveis <strong>de</strong> produção).<br />

Tendo em vista as consequências do uso dos combustíveis fósseis, em espacial o petróleo, a<br />

escola como formadora <strong>de</strong> cidadãos bem informados, formadores <strong>de</strong> opinião e capazes <strong>de</strong> resolver<br />

problemas, precisa conscientizar os alunos dos impactos ambientais causados pela utilização dos<br />

<strong>de</strong>rivados do petróleo, entre outros.<br />

Problematizar as questões que fazem parte do cotidiano dos jovens e que causam gran<strong>de</strong>s<br />

dúvidas no que se diz respeito em como lidar com elas, é um dos objetivos da aplicabilida<strong>de</strong> dos<br />

temas transversais na escola. Buscando que os alunos se posicionem <strong>de</strong> maneira crítica, responsável<br />

e construtiva <strong>nas</strong> diferentes situações sociais, buscando usar o diálogo como forma <strong>de</strong> mediar os<br />

conflitos e <strong>de</strong> tomar <strong>de</strong>cisões coletivas.<br />

O papel da escola é coor<strong>de</strong>nar e compatibilizar a construção do conhecimento com a<br />

realida<strong>de</strong> cotidiana, e os temas transversais são instrumentos privilegiados para isso. Criada para dar<br />

educação formal ao cidadão, a escola tem uma função socializadora, por tanto a postura assumida<br />

por todos os seus componentes faz parte não só do cotidiano dos que a exercitam, mas também do<br />

887


aprendizado dos alunos. À medida que a escola começa a trabalhar assuntos que estão interligados<br />

com a vida dos alunos e da comunida<strong>de</strong>, estes se sentem tocados, i<strong>de</strong>ntificando-se com a temática, e<br />

começam a participar <strong>de</strong> forma mais efetiva e significativa das ativida<strong>de</strong>s escolares.<br />

A forma como nos relacionamos com o meio ambiente à nossa volta está diretamente ligada<br />

à qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida que nós temos. Dessa forma, é função da escola usar intensamente o tema<br />

―meio ambiente‖ <strong>de</strong> forma transversal através <strong>de</strong> ações reflexivas, práticas ou teóricas, para que o<br />

aluno possa apren<strong>de</strong>r a amar e respeitar tudo que está a sua volta, incorporando <strong>de</strong>ssa maneira,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a mais tenra ida<strong>de</strong> a responsabilida<strong>de</strong> e respeito com a natureza.<br />

Esse é o papel da educação ambiental que, além <strong>de</strong> tratar <strong>de</strong> assuntos relacionados à<br />

proteção e uso racional dos recursos naturais, também <strong>de</strong>ve estar focada na proposição <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias e<br />

princípios que possibilitem a construção <strong>de</strong> um mundo sustentável.<br />

Assim, uma nova forma <strong>de</strong> ação educacional <strong>de</strong>ve proporcionar um movimento que busque<br />

integrar a questão ambiental com o sistema educacional, procurando transformar práticas<br />

tradicionais <strong>de</strong> ensino em práticas que possam mostrar a realida<strong>de</strong> e os <strong>de</strong>safios existentes nessa<br />

temática <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância para todos.<br />

Desta forma, com esta proposta <strong>de</strong> intervenção pedagógica preten<strong>de</strong>-se implementar um<br />

projeto com o objetivo <strong>de</strong> contribuir para uma maior conscientização dos alunos com relação as<br />

questões ambientais, que sejam locais ou globais e com o consumo consciente e racional dos<br />

recursos naturais, em especial dos combustíveis fosseis.<br />

REFERENCIAL TEÓRICO<br />

A educação ambiental <strong>de</strong>ve estar presente <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> todos os níveis educacionais, como o<br />

objetivo <strong>de</strong> atingir todos os alunos em fase escolar. Os professores po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>senvolver projetos<br />

ambientais e trabalhar com conceitos e conhecimentos voltados para a preservação ambiental e uso<br />

sustentável dos recursos naturais.<br />

A Lei Fe<strong>de</strong>ral nº 9.795, <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1999, através do artigo 2º diz: ―A educação<br />

ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, <strong>de</strong>vendo estar presente,<br />

<strong>de</strong> forma articulada, em todos os níveis e modalida<strong>de</strong>s do processo educativo, em caráter formal e<br />

não formal‖.<br />

Segundo Sato (2004, P.23) a educação ambiental esta envolvida num processo <strong>de</strong> formação<br />

do individuo na construção <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s interativa entre o meio em que vivem e suas relações<br />

com ele.<br />

888


A Educação Ambiental é um processo <strong>de</strong> reconhecimento <strong>de</strong> valores e clarificação <strong>de</strong> conceitos,<br />

objetivando o <strong>de</strong>senvolvimento das habilida<strong>de</strong>s e modificando as atitu<strong>de</strong>s em relação ao meio, para<br />

enten<strong>de</strong>r e apreciar as inter-relações entre os seres humanos suas culturas e seus meios biofísicos. A<br />

Educação Ambiental também está relacionada com a prática das tomadas <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões e a ética que<br />

conduzem para a melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<br />

Segundo Zabala (1998) as escolas <strong>de</strong>vem promover a formação integral dos alunos, suas<br />

relações interpessoais e sua atuação na socieda<strong>de</strong>.<br />

Educar quer dizer formar cidadãos e cidadãs, que não estão parcelados em compartimentos estanques,<br />

em capacida<strong>de</strong> isolada [...] a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma pessoa para se relacionar <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> das experiências<br />

que vive, e as educacionais são um dos lugares preferenciais, nesta época, para se estabelecer vínculos<br />

e relações que condicionam e <strong>de</strong>finem as próprias concepções pessoais sobre si mesmo e sobre os<br />

<strong>de</strong>mais (ZABALA, 1998, p. 28).<br />

Paulo Freire (2005) <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> uma Pedagogia <strong>de</strong> Comunicação que propõe uma educação e<br />

conscientização embasadas no método capaz <strong>de</strong> fazer com que o homem se torne crítico, criando<br />

condições <strong>de</strong>safiadoras, oferecidas para um <strong>de</strong>terminado grupo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que estas representem sentido<br />

para os mesmos.<br />

[...] método ativo que fosse capaz <strong>de</strong> criticar o homem através do <strong>de</strong>bate <strong>de</strong> situações <strong>de</strong>safiadoras,<br />

postas diante do grupo, estas situações teriam <strong>de</strong> ser existenciais para os grupos. Fora disso estaríamos<br />

repetindo os erros <strong>de</strong> uma educação alienada, por isso ininstrumental (FREIRE, 2005, p. 114).<br />

Os PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais) <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m o uso <strong>de</strong> temas transversais <strong>nas</strong><br />

escolas como instrumentos para uma melhor qualificação na formação dos alunos. Dentro dos temas<br />

transversais a Educação Ambiental aparece com os seguintes subtemas:<br />

Meio Ambiente: Natureza, socieda<strong>de</strong> e meio ambiente; Conservação ambiental; Princípios e<br />

conceitos sobre Educação Ambiental.<br />

Os temas transversais, que constituem o centro das atuais preocupações sociais, <strong>de</strong>vem ser o<br />

eixo em torno do qual <strong>de</strong>ve girar a temática das áreas curriculares, que adquirem assim, tanto para o<br />

corpo docente como para os alunos, o valor <strong>de</strong> instrumentos necessários para a obtenção das<br />

finalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sejadas. (BUSQUETS, 2001, p.37).<br />

O petróleo é um óleo mineral, tem cor escura e um cheiro forte. E constituído basicamente<br />

por hidrocarbonetos e a sua refinação consiste na sua separação em diversos componentes, e<br />

permite obter os mais variados combustíveis e matérias-primas (Gregoire, 1979).<br />

Segundo Yeomans (2006) <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que acordamos <strong>de</strong> manha ate a hora em que vamos dormir,<br />

o petróleo controla a nossa vida. A sua influencia esten<strong>de</strong>-se à politica, negócios internacionais,<br />

economia global, direitos humanos e saú<strong>de</strong> ambiental do nosso país.<br />

889


Nós como formadores e educadores <strong>de</strong>vemos utilizar <strong>de</strong> metodologias que proporcionem aos<br />

alunos uma visão crítica e solucionadora dos problemas causados pelo uso exagerado e muitas<br />

vezes prejudicial dos recursos ambientais.<br />

OBJETIVOS<br />

Desenvolver nos alunos o espirito crítico, a cooperação, a responsabilida<strong>de</strong>, a aquisição <strong>de</strong><br />

competências, no sentido <strong>de</strong> se tornarem verda<strong>de</strong>iros cidadãos livre e capazes <strong>de</strong> resolverem<br />

problemas, sempre no sentido da sustentabilida<strong>de</strong> futura.<br />

Sensibilizar os alunos sobre os impactos causados pelo uso <strong>de</strong> combustíveis fósseis,<br />

conscientizando-os sobre um uso sustentável <strong>de</strong>stes como forma <strong>de</strong> conservação do ambiente.<br />

Fomentar uma Educação Ambiental como principal impulsionadora <strong>de</strong> futuras práticas<br />

positivas para a preservação do Ambiente.<br />

METODOLOGIA<br />

Foi <strong>de</strong>senvolvido um projeto <strong>de</strong> Investigação-Ação, com o objetivo central <strong>de</strong> informar e<br />

sensibilizar os alunos sobre a importância <strong>de</strong> poupar e utilizar <strong>de</strong> maneira sustentável a energia<br />

proveniente <strong>de</strong> fontes fósseis, direcionando as futuras ações para o uso das fontes <strong>de</strong> energias<br />

renováveis, correlacionando os benefícios que outras fontes renováveis trariam, com os impactos<br />

que os combustíveis fósseis têm sobre o meio ambiente. Para melhor fundamentar o assunto<br />

abordado foram realizadas pesquisas em biblioteca e artigos, foi discutido como o tema seria<br />

transmitido em sala <strong>de</strong> aula em turmas.<br />

Trabalhamos em duas turmas do 2º ano do ensino médio da escola Estadual Liceu<br />

Paraibano. A primeira turma que assistiu às aulas do projeto foi uma turma do turno matutino. As<br />

aulas com essa turma tiveram inicio no dia 04 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2012 e finalização no dia 09 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong><br />

2012, como mostra o cronograma abaixo. Com a turma do vespertino as aulas tiveram início dia 27<br />

<strong>de</strong> agosto e foram finalizadas dia 19 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2012.<br />

Público alvo: 2ª. Série do ensino médio - manhã<br />

Inicio: 1º. Bimestre <strong>de</strong> 2011<br />

As aulas do turno da manhã foram aplicadas na turma 10 do 2º ano do ensino médio.<br />

Iniciamos as aulas no dia 04 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2012 com o tema: Origem dos combustíveis fósseis a partir<br />

890


<strong>de</strong> plantas e animais. Foram utilizados como recursos didáticos Data Show e Notebook. O tema foi<br />

discutido durante duas aulas consecutivas tendo uma duração <strong>de</strong> 90 minutos. Ao final da aula<br />

aplicamos um exercício para verificar o aprendizado dos alunos.<br />

O segundo tema abordado foi: Questões Ambientais Associadas ao Petróleo e seus<br />

subprodutos. Trabalhamos esse tema utilizando Data Show e Notebook para melhor <strong>de</strong>monstração<br />

do assunto abordado. Foram utilizadas duas aulas para melhor trabalhar o tema, on<strong>de</strong> na primeira<br />

foi feita a exposição do conteúdo e na segunda aula fizemos um <strong>de</strong>bate e aplicamos um exercício.<br />

Ao total o tema foi trabalhado durante 90 minutos com essa turma, no dia 11 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2012.<br />

No dia 02 <strong>de</strong> maio trabalhamos a temática: Desastres Ecológicos durante a exploração do<br />

petróleo: O Brasil está preparado? Utilizamos os mesmos recursos didáticos das aulas anteriores,<br />

trabalhamos o tema durante duas aulas consecutivas, tendo uma carga horária <strong>de</strong> 90 minutos, on<strong>de</strong><br />

houve a exposição do tema, discussão e aplicação <strong>de</strong> exercícios.<br />

No dia 09 <strong>de</strong> maio finalizamos as aulas na turma 10 do turno da manhã com o tema:<br />

Petróleo e o aquecimento Global. Utilizamos a mesma metodologia <strong>de</strong> aula e os mesmos recursos<br />

das aulas anteriores. A aula teve duração <strong>de</strong> 90 minutos, on<strong>de</strong>, além da exposição do tema,<br />

discussão e aplicação <strong>de</strong> exercícios, nós tivemos também uma conversa com os alunos sobre as<br />

metodologias abordadas, os temas e a influência do projeto na formação <strong>de</strong>les.<br />

Público alvo: 2ª. Série do ensino médio – tar<strong>de</strong><br />

Inicio: 3º bimestre<br />

No turno da tar<strong>de</strong> trabalhamos com a turma 34 do 2º ano do ensino médio. Iniciamos as<br />

aulas no dia 27 <strong>de</strong> setembro com o tema: Origem dos combustíveis fósseis a partir <strong>de</strong> plantas e<br />

animais. Utilizamos Data Show e Notebook como recursos didáticos para fazer a exposição do<br />

tema. Após a exposição foi realizado um <strong>de</strong>bate com os alunos e sequentemente foi aplicado um<br />

exercício para verificação do aprendizado.<br />

No dia 05 <strong>de</strong> outubro trabalhamos o tema: Questões Ambientais Associadas ao Petróleo e<br />

seus subprodutos. Durante duas aulas consecutivas, os <strong>de</strong>bates se mostraram <strong>de</strong> fundamental<br />

importância para a verificação do entendimento dos alunos a cerca do tema, auxiliados pelos<br />

exercícios que foram aplicados.<br />

O tema: Desastres Ecológicos durante a exploração do petróleo: O Brasil está preparado?<br />

Foi trabalhado no dia 12 <strong>de</strong> outubro, com uma duração <strong>de</strong> duas aulas, o que correspon<strong>de</strong> a 90<br />

minutos. Utilizamos os mesmos recursos das aulas anteriores, como Data Show, Notebook e<br />

exercícios para verificação do aprendizado.<br />

891


Finalizamos nossas aulas no dia 19 <strong>de</strong> outubro, com o tema: Petróleo e o aquecimento<br />

Global. On<strong>de</strong>, após a exposição do tema com auxilio do Data show, notebook e exercício, nós<br />

pedimos aos alunos que fizessem uma avaliação das aulas, focando <strong>nas</strong> metodologias utilizadas, no<br />

grau <strong>de</strong> atualização dos temas, bem como, nos resultados alcançados.<br />

RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

No início das aulas foi feita uma sondagem com os alunos para saber o nível <strong>de</strong><br />

conhecimento <strong>de</strong>les a cerca do tema abordado. Correlacionamos em nossas perguntas o tema:<br />

Combustíveis fósseis e educação ambiental, levando para os alunos o questionamento sobre o efeito<br />

<strong>de</strong>sses no clima, na natureza e consequentemente na biodiversida<strong>de</strong>.<br />

Foi visto que, os alunos estavam atualizados sobre alguns temas referentes à educação<br />

ambiental, mas não sabiam relacionar os combustíveis fósseis com os efeitos causados no ambiente,<br />

como poluição do ar, efeito estufa, poluição das águas causadas por resíduos ou por vazamentos,<br />

<strong>de</strong>ntre outros.<br />

Durante as aulas os alunos participaram <strong>de</strong> forma bastante efetiva, mostraram bastante<br />

interesse, tiraram duvidas, colocaram seus pontos <strong>de</strong> vista sobre os assuntos abordados e fizeram a<br />

observação <strong>de</strong> que é necessário para os professores utilizar temas mais atualizados e com<br />

abordagens diferentes e que esteja correlacionada com o dia a dia dos alunos.<br />

Ao fim <strong>de</strong> cada aula foram aplicados questionários referentes a cada tema abordado,<br />

contendo questões atualizadas e utilizadas no ENEM em diferentes processos seletivos<br />

(vestibulares) pelo Brasil.<br />

Trabalhamos com cerca <strong>de</strong> 100 alunos ao todo, contando com a turma <strong>de</strong> manhã e a turma<br />

do turno da tar<strong>de</strong>.<br />

Selecionamos a 1ª questão dos exercícios aplicados em cada aula para apresentar os<br />

resultados. Na questão 1 obtivemos uma ótima porcentagem <strong>de</strong> acertos. On<strong>de</strong> 0% marcou a<br />

alternativa A, 7,8 marcou a alternativa B, 0% marcou C, 2,6% marcou D e 89,4% marcou a<br />

alternativa correta, letra E.<br />

Questão 1<br />

(Enem 2000) Para compreen<strong>de</strong>r o processo <strong>de</strong> exploração e o consumo dos recursos<br />

petrolíferos é fundamental conhecer a gênese e o processo <strong>de</strong> formação do petróleo <strong>de</strong>scritos no<br />

texto abaixo.<br />

892


“O petróleo é um combustível fóssil, originado provavelmente <strong>de</strong> restos <strong>de</strong> vida aquática<br />

acumulados no fundo dos oceanos primitivos e cobertos por sedimentos. O tempo e a pressão do<br />

sedimento sobre o material <strong>de</strong>positado no fundo do mar transformaram esses restos em massas<br />

viscosas <strong>de</strong> coloração negra <strong>de</strong>nominadas jazidas <strong>de</strong> petróleo.”(Adaptado <strong>de</strong> tundisi. Usos <strong>de</strong><br />

energia. são Paulo: Atual editora, 1991)<br />

As informações do texto permitem afirmar que:<br />

a) O petróleo é um recurso energético, renovável em curto prazo, em razão <strong>de</strong> sua constante<br />

formação geológico.<br />

natural.<br />

b) A exploração <strong>de</strong> petróleo é realizada ape<strong>nas</strong> em áreas marinhas.<br />

c) A extração e o aproveitamento do petróleo são ativida<strong>de</strong>s não poluentes dada sua origem<br />

d) O petróleo é um recurso energético distribuído homogeneamente, em todas as regiões,<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> sua origem.<br />

e) O petróleo é um recurso não renovável em curto prazo, explorado em áreas continentais<br />

<strong>de</strong> origem marinha ou em áreas submari<strong>nas</strong>.<br />

De acordo com a seguinte questão obtivemos os referentes resultados: letra A 18,4%, B<br />

50%, C 10,5%, D 0 % e E 21,5%. Nessa questão meta<strong>de</strong> dos alunos marcou a alternativa correta,<br />

letra B.<br />

Questão 2<br />

(UFSCar) A energia do Sol entra na atmosfera sob a forma <strong>de</strong> ondas <strong>de</strong> luz, aquecendo a<br />

Terra. Parte <strong>de</strong>ssa energia é refletida e volta a irradiar-se no espaço, sob forma <strong>de</strong> ondas<br />

infravermelhas. Em condições normais, uma parte <strong>de</strong>ssa radiação infravermelha que volta para o<br />

espaço é, naturalmente, retida pela atmosfera... O problema que enfrentamos agora é que essa fina<br />

camada atmosférica está ficando mais espessa em consequência da enorme quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dióxido<br />

<strong>de</strong> carbono e outros gases-estufa produzidos pelo homem, resultando no aquecimento global. (Al<br />

Gore, "Uma Verda<strong>de</strong> Inconveniente", 2006.)<br />

Embora as hipóteses hoje levantadas em relação às causas do efeito estufa não sejam<br />

consensuais, po<strong>de</strong>mos dizer que, <strong>de</strong>ntre as ativida<strong>de</strong>s huma<strong>nas</strong> que intensificam esse fenômeno,<br />

<strong>de</strong>stacam-se:<br />

a) as queimadas, que aumentam a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> CO2 e diminuem a camada <strong>de</strong> ozônio (O3).<br />

b) a utilização <strong>de</strong> combustíveis fósseis e queimadas, que elevam o nível <strong>de</strong> CO2.<br />

893


c) a utilização <strong>de</strong> combustíveis minerais e queimadas, que diminuem a concentração <strong>de</strong><br />

oxigênio na atmosfera.<br />

d) o <strong>de</strong>smatamento e o uso do CFC, que afetam a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> CO2 na atmosfera.<br />

e) a utilização <strong>de</strong> combustíveis fósseis, as queimadas e o uso do CFC, que alteram as<br />

proporções <strong>de</strong> O2 e CO2 na atmosfera.<br />

Durante a aula sobre os <strong>de</strong>sastres ambientais, os alunos <strong>de</strong>monstraram um ótimo domínio do<br />

conteúdo e ótimo interesse durante as explanações que foram feitas, a mídia está em primeiro lugar na<br />

divulgação <strong>de</strong>sses acontecimentos, e a maioria dos alunos afirmou que a TV é o único meio por on<strong>de</strong><br />

eles têm contato com o tema.<br />

Questão 3<br />

Leia o texto seguinte: A Mancha da Impunida<strong>de</strong> Numa série <strong>de</strong> erros, a Petrobrás <strong>de</strong>ixa<br />

vazar 4 milhões <strong>de</strong> litros <strong>de</strong> óleo e emporcalha dois rios no Paraná (...) Aves e pequenos mamíferos<br />

que tentavam chegar até a água ficavam cobertos pelo óleo. De cada oito animais retirados pelas<br />

equipes <strong>de</strong> resgate, ape<strong>nas</strong> um sobreviveu. (Revista "Veja", 26/07/2000)<br />

fato:<br />

A mortanda<strong>de</strong> dos animais citados na reportagem explica-se, principalmente, pelo seguinte<br />

a) a impregnação da superfície <strong>de</strong> seus corpos com o óleo mata-os por intoxicação e por<br />

impedimento da termorregulação.<br />

b) o óleo provoca a obstrução das vias respiratórias <strong>de</strong>sses animais que morrem por asfixia.<br />

c) bactérias que <strong>de</strong>gradam o petróleo proliferam em gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> sobre os animais<br />

provocando infecções agudas e causando a sua morte.<br />

d) o óleo ingerido pelos animais provoca graves lesões no sistema nervoso central<br />

ocasionando a morte.<br />

e) o óleo na superfície corporal dos animais concentra os raios solares que inci<strong>de</strong>m sobre<br />

eles, provocando queimaduras severas na pele e levando-os à morte.<br />

A questão acima presentou unanimida<strong>de</strong> <strong>nas</strong> respostas dos alunos, obteve-se 100% <strong>de</strong> alunos<br />

que marcaram a letra A como correta, e todos os alunos acertaram com êxito a alternativa.<br />

894


Numa 4ª questão referente aos impactos ambientais causados pelo uso <strong>de</strong> combustíveis fósseis,<br />

em especial, relacionados com o <strong>de</strong>rramamento <strong>de</strong> óleo os alunos obtiveram os seguintes resultados:<br />

Gráfico 1 - Resultado das respostas dos alunos sobre uma questão referente aos impactos ambientais<br />

causados por <strong>de</strong>rramamentos <strong>de</strong> óleo.<br />

Várias questões foram aplicadas aos alunos, e em todas nós obtivemos uma gran<strong>de</strong><br />

percentual <strong>de</strong> acertos. O que nos mostra uma boa qualida<strong>de</strong> nos resultados finais do projeto, pois o<br />

objetivo <strong>de</strong> informa, sensibilizar e conscientizar os alunos sobre os impactos ambientais causados<br />

com o uso <strong>de</strong> combustíveis fósseis foi <strong>de</strong>vidamente cumprido, provocando nos alunos vários<br />

questionamentos sobre novas alternativas <strong>de</strong> uso <strong>de</strong> combustíveis que visem minimizar os efeitos<br />

causados sobre o meio ambiente.<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Com base nos resultados obtidos com o projeto, fica clara a importância <strong>de</strong> se trabalhar <strong>de</strong><br />

forma atualizada e com abordagens diferentes, temas relacionados com o ensino <strong>de</strong> biologia, em<br />

especial com temas tão frequentemente comentados na mídia e por toda socieda<strong>de</strong>, que são os temas<br />

sobre educação ambiental.<br />

Além <strong>de</strong> diferentes abordagens, estas precisam estar direcionadas com a assimilação do<br />

conteúdo pelos alunos, que eles consigam relacionar esses temas com seu dia a dia. Propiciando a<br />

estes que formem uma visão crítica e cada vez mais participativa a cerca <strong>de</strong> diversos temas da<br />

atualida<strong>de</strong>.<br />

Muitas vezes as pessoas não associam as relações causa-efeito entre o que lhes acontece e o<br />

local on<strong>de</strong> vivem, é por isso que são necessárias medidas informativas e interventivas <strong>de</strong> forma que<br />

todos tomem consciência que a mudança <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s contribui para o bem-estar individual e global.<br />

895


A nossa intervenção pedagógica foi pensada para promover um pensamento reflexivo nos<br />

alunos, ajudando com que estes se situem no nível dos problemas ambientais, procurando a<br />

aquisição <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s, condutas e conceitos necessários para a clarificação <strong>de</strong> valores.<br />

REFERÊNCIAS<br />

BRASIL. Lei nº 9795, <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1999. Institui a política Nacional <strong>de</strong> Educação Ambiental.<br />

Diário Oficial da república Fe<strong>de</strong>rativa do Brasil, Brasília, DF, 27 abril 1999. Disponível em: <<br />

http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=321> Acesso em 08 Mar. 2012.<br />

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: apresentação dos temas transversais. Brasília:<br />

MEC/SEF, 1998.<br />

BUSQUETS, M. D. et al. Temas Transversais em Educação: Bases para uma formação integral.2.<br />

ed. Série Fundamentos. São Paulo: Ática, 2001.<br />

FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberda<strong>de</strong>. 28. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Paz e Terra, 2005.<br />

Gregoire, J. Viver sem petróleo. Mem Martins: Europa América, 1979.<br />

Portal do professor: Questões <strong>de</strong> vestibular. Disponível em<br />

Acesso 8 Mar. 2012.<br />

SATO, M. Educação Ambiental. São Carlos, RiMa, 2004.<br />

Yeomans, M. Petróleo. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2006.<br />

ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.<br />

896


PERCEPÇÃO REFERENTE A PROBLEMAS AMBIENTAIS PELOS ALUNOS DO 5° ANO DA<br />

ESCOLA MUNICIPAL MAGALHÃES BASTOS, RECIFE/ PERNAMBUCO.<br />

Natache GONÇALVES DE MOURA FERRÃO (CCB / UFPE) 98 – natacheramone@yahoo.com.br<br />

Nathália LINS SILVA (CCB / UFPE) 99 - nathalialsilva@yahoo.com.br<br />

Talita PEREIRA SILVA (CCB / UFPE) 25 – talitapsilva@hotmail.com<br />

Euzelina dos SANTOS BORGES INÁCIO (CCSA / UFPE) 100 - euzi_inacio@yahoo.com.br<br />

Resumo<br />

O presente trabalho teve como objetivo central avaliar a percepção dos alunos do 5° ano<br />

referente aos problemas ambientais ocorridos no bairro. A ativida<strong>de</strong> intitulada ―Percepção<br />

Ambiental‖, foi realizada no dia 29 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2012, na Escola Municipal Magalhães Bastos,<br />

localizada na Rua Francisco Lacerda S/N no bairro da Várzea, Recife- PE com o intuito <strong>de</strong><br />

iniciação do Projeto <strong>de</strong> Extensão pela PROEXT, intitulado ―Educação ambiental, sustentabilida<strong>de</strong> e<br />

saú<strong>de</strong> na Escola Magalhães Bastos – Várzea, Recife / Pernambuco‖. Foi aplicado um questionário<br />

composto por sete perguntas discursivas (qualitativas) e múltipla escolha (quantitativas), referente à<br />

percepção ambiental. Os resultados mostraram que os alunos possuem uma boa percepção dos<br />

problemas ambientais ocorridos em seu bairro, mostrando-se bastante interessados na procura <strong>de</strong><br />

soluções. As crianças possuem uma i<strong>de</strong>ia bem simplista relacionada ao meio ambiente, fazendo<br />

comparações com seu cotidiano familiar e social.<br />

Palavra-chave: percepção ambiental; poluição; natureza.<br />

Abstract<br />

This study aimed to assess the central perception of year 5 stu<strong>de</strong>nts regarding environmental<br />

problems occurring in the neighborhood. The activity titled "Environmental Awareness" was held<br />

on May 29, 2012, at the Municipal School Magalhães Bastos, located at Rua Francisco Lacerda S /<br />

N in the neighborhood of the Meadow, Recife-PE in or<strong>de</strong>r to start the Extension Project PROEXT<br />

entitled "environmental education, sustainability and health at the School Magalhães Bastos -<br />

98 Graduanda do Curso <strong>de</strong> Ciências Biológicas com ênfase em Ciências Ambientais UFPE, Bolsista PROEXT<br />

99 Graduandas do Curso <strong>de</strong> Ciências Biológicas com ênfase em Ciências Ambientais<br />

100 Professor Adjunto do Departamento <strong>de</strong> Biofísica e Radiobiologia da UFPE<br />

897


Lowland, Recife / Pernambuco". We used a questionnaire composed of seven essay questions<br />

(qualitative) and multiple choice (quantitative) related to environmental perception. The results<br />

showed that the stu<strong>de</strong>nts have a good perception of environmental problems occurring in your<br />

neighborhood, being very interested in finding solutions. Children have a very simplistic i<strong>de</strong>a<br />

related to the environment, making comparisons with their daily social and family.<br />

Keyword: environmental perception; pollution; nature.<br />

Introdução<br />

O ambiente é <strong>de</strong> suma importância para a manutenção da vida, pois estabelece uma<br />

complexa conexão entre diversos fatores, garantindo a manutenção da biodiversida<strong>de</strong>. Portanto, a<br />

partir do momento em que a relação entre homem e ambiente começa a ser convertida em uma<br />

relação <strong>de</strong> dominância, on<strong>de</strong> o homem possui a função ape<strong>nas</strong> <strong>de</strong> explorador, servindo-se sem<br />

consciência do futuro, problemas como, aumento no número <strong>de</strong> doenças por pragas; e enchentes<br />

vão se tornando mais frequentes. Estas alterações físicas e biológicas ao longo do tempo vão<br />

modificando e comprometendo os ecossistemas (BRANCO 2008; FERNANDEZ 2004; MUCELIN<br />

2008; PORTELA 2010).<br />

Com o propósito da mitigação <strong>de</strong> problemas ambientais, está a Educação Ambiental, que<br />

segundo PHILIPPI 2005, tem a função <strong>de</strong> capacitar os indivíduos ao pleno exercício da cidadania,<br />

<strong>de</strong> modo a permitir que sejam superados os obstáculos á utilização sustentável do meio.<br />

SANTOS em 2004 comenta que o alto padrão da socieda<strong>de</strong> e o intenso processo <strong>de</strong><br />

urbanização das cida<strong>de</strong>s brasileiras vêm gerando diversos problemas <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m ambiental, como a<br />

ausência <strong>de</strong> saneamento básico. Através <strong>de</strong>ste fato nota-se que a socieda<strong>de</strong> vem per<strong>de</strong>ndo a<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> análise e proximida<strong>de</strong> dos problemas ambientais com o seu cotidiano, visando a<br />

Educação Ambiental ape<strong>nas</strong> como ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> magnitu<strong>de</strong>, exemplificada pelo combate ao<br />

<strong>de</strong>smatamento.<br />

De acordo com a Lei 9795/99, a Educação Ambiental tem por <strong>de</strong>finição um processo por<br />

meio do qual o indivíduo e a coletivida<strong>de</strong> constroem valores sociais, conhecimentos, habilida<strong>de</strong>s,<br />

atitu<strong>de</strong>s e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem como o uso comum do<br />

povo, essencial à sadia qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e a sua sustentabilida<strong>de</strong>. Com isso, uma Educação<br />

Ambiental trabalhada <strong>de</strong> forma efetiva <strong>nas</strong> escolas, por exemplo, será capaz <strong>de</strong> propiciar a<br />

construção <strong>de</strong> cidadãos capazes <strong>de</strong> atuar em questões ambientais.<br />

Desse modo, o trabalho teve como objetivo avaliar a percepção dos alunos do 5° ano da<br />

Escola Municipal Magalhães Bastos referente aos problemas ambientais encontrados em seu bairro,<br />

898


a fim <strong>de</strong> serem estabelecidas através <strong>de</strong> discussões soluções para tais problemas proporcionando um<br />

envolvimento dos alunos e consequentemente da comunida<strong>de</strong> na conservação ambiental.<br />

Material e Métodos<br />

A ativida<strong>de</strong> intitulada ―Percepção Ambiental‖, foi realizada no dia 29 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2012, na<br />

Escola Municipal Magalhães Bastos, localizada na Rua Francisco Lacerda S/N no bairro da Várzea,<br />

Recife- PE, funcionando no turno da manhã e da tar<strong>de</strong> com turmas <strong>de</strong> Educação Infantil ao 5º ano<br />

(Ensino Fundamento I). A escola possui Projeto Pedagógico elaborado anualmente, sempre no<br />

início <strong>de</strong> cada ano.<br />

O bairro da Várzea é o 2º maior em extensão territorial da cida<strong>de</strong> do Recife, com 2.264,0<br />

hectares <strong>de</strong> área. É um bairro bastante arborizado, cortado pelo Rio Capibaribe. Possui 70.453<br />

habitantes e uma taxa <strong>de</strong> alfabetização da população (10 anos e mais) <strong>de</strong> 93,2% (PREFEITURA DA<br />

CIDADE DO RECIFE). O bairro possui vários casarões, <strong>de</strong>ntre eles o que serve <strong>de</strong> se<strong>de</strong> ao<br />

Educandário Magalhães Bastos. Construído em 1897 por Napoleão Duarte, o prédio <strong>de</strong>stinava-se,<br />

segundo placa comemorativa, ao "Asilo da Infância Desvalida, <strong>de</strong> ambos os sexos‖, fundado e<br />

ditado pelo Com. Antônio José <strong>de</strong> Magalhães Bastos.<br />

Para avaliar a percepção ambiental foi aplicado um questionário com os alunos do 5° ano<br />

composto por sete questões, mescladas entre discursivas (qualitativas) e múltipla escolha<br />

(quantitativas). As perguntas tiveram como temas: Preservação Ambiental; Educação Ambiental;<br />

Problemas ambientais no bairro; Resíduos sólidos; e Saneamento básico. Para traçar um perfil geral<br />

e avaliar as concepções que os alunos têm a respeito do meio ambiente, aplicaram-se as seguintes<br />

questões por meio <strong>de</strong> questionário semi- estruturado:<br />

1 – O que é preservar o meio ambiente?<br />

2 – Você já teve aula <strong>de</strong> Educação Ambiental?<br />

( ) sim ( ) não<br />

3 – O que a Educação Ambiental te ensina?<br />

4 – Existem problemas ambientais n seu bairro? Caso sim, quais?<br />

5 – Para on<strong>de</strong> vai o lixo da sua casa?<br />

( ) coletado pelo caminhão ( ) jogado na rua ( ) colocado em outros locais. Quais?<br />

_____________________________________<br />

6 – Para on<strong>de</strong> vai o esgoto da sua casa?<br />

7 – Você acha que causa algum dano ao meio ambiente?<br />

( ) sim ( ) não<br />

Caso sim, qual? _______________________________<br />

899


Para a obtenção dos dados utilizou-se uma amostra composta por 22 alunos do 5° ano do<br />

Ensino Fundamental I, com faixa etária variando entre 9 e 14 anos.<br />

Escolheu-se trabalhar com alunos do 5° ano com base no trabalho <strong>de</strong> Bezerra et al. (2008),<br />

que em seu estudo também <strong>de</strong>finiram <strong>de</strong>ssa forma por se tratar da série inicial do Ensino<br />

Fundamental I, uma fase <strong>de</strong> transição em que os alunos dominam razoavelmente a escrita, mais<br />

ainda estão na infância, trazendo consigo um conhecimento prévio do ambiente.<br />

A coleta <strong>de</strong> dados com aplicação dos questionários foi realizada no mês <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2012.<br />

De posse dos dados, estes foram registrados e analisados. Nesta fase, os dados para as resposta<br />

objetivas foram avaliados quantitativamente. Quanto ás questões abertas, estas foram comparados<br />

entre si e agrupados quanto á semelhança <strong>de</strong> significados. Em seguida, foi realizada uma contagem<br />

da quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sujeitos que apresentou, em suas respostas, cada categoria específica e da<br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> temas diferentes presentes em cada categoria formada.<br />

Resultados<br />

Quando perguntados sobre o que é preservar o meio ambiente, 33% dos alunos respon<strong>de</strong>ram<br />

que é não jogar lixo <strong>nas</strong> ruas; 26% não poluir os rios; 14% cuidar bem da Natureza; 12% não<br />

<strong>de</strong>sperdiçar água; 7% reciclar; 5% não <strong>de</strong>ixar o chuveiro muito tempo aberto no banho; 3%<br />

direcionar corretamente o lixo, óleo <strong>de</strong> cozinha (Figura 1).<br />

Figura 8. Respostas dos alunos do 5° ano da Escola Municipal Magalhães Bastos, a<br />

pergunta ―O que é preservar o meio ambiente?‖ referente ao questionário aplicado sobre<br />

Percepção Ambiental em 29 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2012.<br />

900


Ao serem questionados sobre se já haviam tido aula <strong>de</strong> Educação Ambiental, 21 alunos,<br />

representando 95% dos alunos entrevistados respon<strong>de</strong>ram que tem ou já tiveram aula <strong>de</strong> Educação<br />

Ambiental (Figura 2.).<br />

Figura 2. Respostas dos alunos do 5° ano da Escola Municipal Magalhães Bastos, a<br />

pergunta ―Você tem ou já teve aula <strong>de</strong> Educação Ambiental?‖ do questionário aplicado<br />

sobre Percepção Ambiental em 29 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2012.<br />

Como todos os alunos fazem parte da mesma escola e segundo o projeto pedagógico das<br />

escolas, aulas <strong>de</strong> Educação Ambiental são inseridas no contexto das discipli<strong>nas</strong> <strong>de</strong> ciências, as<br />

respostas negativas a esta questão (5%) po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>vido aos alunos não terem conseguido<br />

estabelecer uma relação entre o contexto abordado e as questões ambientais.<br />

Na terceira questão ―O que a Educação Ambiental te ensina?‖ 38% dos alunos respon<strong>de</strong>ram<br />

que a Educação Ambiental ensina a não poluir; 19% a não <strong>de</strong>sperdiçar água; 14% preservar a<br />

Natureza e os rios; e 5% respon<strong>de</strong>ram não <strong>de</strong>ixar o ambiente sujo, e não cortar árvores; empatado<br />

com 5% não souberam respon<strong>de</strong>r.<br />

As respostas dos alunos condisseram com práticas <strong>de</strong> boas maneiras e consciência ambiental<br />

estabelecidas pelos professores na escola.<br />

Na questão, ―Existem problemas ambientais no seu bairro?‖, 86% dos alunos respon<strong>de</strong>ram<br />

que há problemas e enquanto que 14% alunos respon<strong>de</strong>ram não verifica a existência <strong>de</strong> problemas<br />

ambientais no bairro que resi<strong>de</strong>m. Dentre os problemas citados estão: lixos nos rios; lixo em<br />

terrenos baldios; lixo na rua; praça <strong>de</strong>struída; e animais mortos, representados <strong>de</strong> acordo com os<br />

percentuais <strong>de</strong> respostas na (Figura 3.).<br />

901


Figura 3. Respostas dos alunos do 5° ano da Escola Municipal Magalhães Bastos, a<br />

pergunta ―Existem problemas ambientais em seu bairro?‖ do questionário aplicado sobre<br />

Percepção Ambiental em 29 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2012.<br />

Na pergunta em que foram questionados sobre a <strong>de</strong>stinação do lixo resi<strong>de</strong>ncial, 20 alunos<br />

relataram que o lixo doméstico é coletado pelo caminhão do lixo; e 2 alunos lançam o lixo em<br />

outros locais. Os locais indicados pelas crianças são terrenos baldios ou pontos específicos on<strong>de</strong><br />

todos os moradores da rua colocam os seus resíduos domésticos. Na pergunta sobre a <strong>de</strong>stinação do<br />

esgoto <strong>de</strong> sua residência, 41% das crianças relataram que possuem saneamento básico; 23%<br />

respon<strong>de</strong>ram que o esgoto corre a céu aberto; 9% possuem fossa e 27% não sabem a <strong>de</strong>stinação do<br />

esgoto resi<strong>de</strong>ncial (Figura 4).<br />

Figura 4. Respostas dos alunos do 5° ano da Escola Municipal Magalhães Bastos, a<br />

pergunta ―Para on<strong>de</strong> vai o lixo da sua casa?‖ do questionário aplicado sobre Percepção<br />

Ambiental em 29 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2012.<br />

Em resposta última pergunta: ―Você acha que causa algum dano ao meio ambiente?‖, 15<br />

alunos respon<strong>de</strong>ram que sim e 7 alunos respon<strong>de</strong>ram que não causam danos ao meio ambiente. Os<br />

danos relatados pelas crianças foram: jogar lixo na rua e não economizar água.<br />

902


Discussão<br />

A escola é um ambiente bastante favorável para a construção <strong>de</strong> novas idéias, através <strong>de</strong> um<br />

ensino participativo. AMANTE 2001 e FRAZÃO 2010 relatam que a percepção é o ato ou<br />

faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> perceber e adquirir conhecimento a partir <strong>de</strong> algo por meio dos sentidos, compreen<strong>de</strong>r<br />

e ouvir.<br />

Neste pressuposto, a percepção ambiental abrange a compreensão das inter-relações entre o<br />

meio ambiente e os indivíduos, ou seja, como a socieda<strong>de</strong> percebe o seu meio circundante,<br />

expressando suas opiniões, expectativas e propondo linhas <strong>de</strong> condutas (FAGIONATO, 2011;<br />

GOMES 2007).<br />

Ao participarem da ativida<strong>de</strong>, as crianças trouxeram para o questionário as suas realida<strong>de</strong>s<br />

pessoais, como a manutenção da limpeza das ruas <strong>de</strong> seu bairro e escola; a falta <strong>de</strong> saneamento; e<br />

até mesmo o ato <strong>de</strong> jogar lixo no chão pelos colegas, mostrando uma associação entre preservação<br />

do meio ambiente com o meio familiar e social. Demonstrando que um indivíduo é capaz <strong>de</strong><br />

sustentar sonhos que busquem valores ecológicos, em prol da luta por uma socieda<strong>de</strong> que viva<br />

integrada e engajada em um processo <strong>de</strong> difusão <strong>de</strong> uma vida mais saudável (CARVALHO 2004).<br />

Após aplicação do questionário, foi estabelecida uma pequena discussão referente à visão<br />

que estes têm do ambiente, sendo evi<strong>de</strong>nciado pelas crianças a poluição, e a necessida<strong>de</strong> em<br />

expressar que a Educação Ambiental ensina a não poluir. Contudo, os alunos entrevistados como<br />

em outros trabalhos sobre Percepção Ambiental realizado no mesmo bairro (ESPÍDOLA 2011),<br />

mostram que mesmo tendo consciência da preservação do meio ambiente, mencionam práticas do<br />

seu dia-a-dia que prejudicam o meio ambiente, como: jogar lixo <strong>nas</strong> ruas e rios; <strong>de</strong>ixar a torneira<br />

aberta; <strong>de</strong>ixar a televisão ligada sem que esteja utilizando.<br />

Relacionaram também que on<strong>de</strong> há um ambiente poluído, não há uma conscientização das<br />

pessoas viventes no local. No entanto foi percebido que os alunos sentem falta <strong>de</strong> um método <strong>de</strong><br />

ensino relacionado à Educação Ambiental, mas dinâmico e participativo.<br />

Conclusão<br />

Com a realização da ativida<strong>de</strong> pela aplicação do questionário, ficou evi<strong>de</strong>nte que apesar <strong>de</strong><br />

pouca ida<strong>de</strong>, os alunos têm uma gran<strong>de</strong> consciência dos problemas ambientais, citando e<br />

comparando os temas propostos com a sua realida<strong>de</strong>.<br />

Agra<strong>de</strong>cimentos<br />

903


Agra<strong>de</strong>cemos ao corpo docente da Escola Magalhães Bastos, por nos propiciar a<br />

oportunida<strong>de</strong> da aplicação do projeto; aos alunos pela participação efetiva na ativida<strong>de</strong>; a PROEXT<br />

pelo financiamento das ativida<strong>de</strong>s.<br />

Referências<br />

AMANTE, F. A. Carta <strong>de</strong> enchente da Praça da Ban<strong>de</strong>ira e Tijuca – RJ. 110 p. 2001. Monografia<br />

(Graduação em Geografia) - Universida<strong>de</strong> Estadual do Rio <strong>de</strong> Janeiro/ Instituto <strong>de</strong> Geografia, Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro. 2001.<br />

BRANCO, S. Educação ambiental: metodologia e prática <strong>de</strong> ensino. 80 p. Dunya Editora. Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro. 2003.<br />

BRASIL. Lei n.º 9795 <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1999: Dispõe sobre a Educação Ambiental, institui a<br />

Política Nacional <strong>de</strong> Educação Ambiental Nacional.<br />

CARVALHO, I.C.M. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico. 3ª Editora Cortez.<br />

2008.<br />

ESPÍDOLA, M. et al. A Percepção Ambiental como subsídio para a formação do sujeito ecológico<br />

na comunida<strong>de</strong> Loteamento Padre Henrique, Várzea Recife PE. Cientec- Revista <strong>de</strong> Ciência,<br />

Tecnologia e Humanida<strong>de</strong>s do IFPE. v.3. n.1. 2011.<br />

FAGIONATO, S.R. Perspectivas <strong>de</strong> crianças <strong>de</strong> 5 e 6 anos sobre natureza e sua relação com ela-<br />

contribuições para se pensar o currículo na educação infantil. Forum Ambiental da Alta Paulista-<br />

ANAP. v.7. n.6 2011.<br />

FERNANDEZ, F.A.S. O poema imperfeito: crônicas <strong>de</strong> Biologia, conservação da natureza, e seus<br />

heróis. 2. ed. Editora UFPR. Curitiba. 2004.<br />

FRAZÃO, J.O, et al. Percepção ambiental <strong>de</strong> alunos e professores na preservação das tartarugas<br />

marinhas na praia <strong>de</strong> Pipa – RN. Revista eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental. v.24.<br />

FURG/RS. 2010.<br />

GOMES, A.P.W. Percepção Ambiental dos alunos da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> viçosa – FDV. Semana<br />

Acadêmica <strong>de</strong> Meio Ambiente: Gestão, Educação e Inovação Tecnológica. v.1. Viçosa/MG. 2007.<br />

MUCELIN, A.C; BELLINI, M. Lixo e impactos ambientais perceptíveis no ecossistema urbano.<br />

Socieda<strong>de</strong> & Natureza, Uberlândia/MG. 2008.<br />

PHILIPPI J.R; et al. Educação ambiental e sustentabilida<strong>de</strong>. Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo. Editora<br />

Manole. 2005.<br />

PORTELA, T.S et al. Educação Ambiental: entre a intenção e a ação. Revista Eletrônica do<br />

Mestrado em Educação Ambiental. v. 24. FURG/ RS. 2010.<br />

SANTOS, R. Saneamento e Educação Ambiental: A Experiência do Bahia Azul <strong>nas</strong> Escolas.<br />

Florianópolis/SC. 2004.<br />

VASCONCELOS, A.K.P; VILAROUCA, J. Avaliação da percepção ambiental dos alunos da<br />

EMEIF Dagmar Gentil: Estudo <strong>de</strong> caso. Fortaleza/ CE. 2010.<br />

http://www2.recife.pe.gov.br/a-cida<strong>de</strong>/perfil-dos-bairros/rpa-4/varzea/. Acessado: 24 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong><br />

2012.<br />

904


EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESCOLAS DO SEMIÁRIDO PERNAMBUCANO: COMO<br />

INSTITUIR ESSA REALIDADE?<br />

Resumo<br />

Nikolle Nebl Jardim ARAVANIS (DTR/UFRPE) - nikollearavanis@gmail.com<br />

Graduanda <strong>de</strong> Engenharia Agrícola e Ambiental e<br />

Pesquisadora do Grupo Gestão Ambiental em Pernambuco (Gampe)<br />

Wagner José <strong>de</strong> AGUIAR (DB/UFRPE) - wagner.wja@gmail.com<br />

Graduando <strong>de</strong> Licenciatura Plena em Ciências Biológicas e<br />

Pesquisador do Gampe<br />

Rodrigo Cândido Passos da SILVA (DTR/UFRPE) - rodrigo.candido.passos@hotmail.com<br />

Graduando <strong>de</strong> Engenharia Agrícola e Ambiental e<br />

Pesquisador do Gampe<br />

Soraya Giovanetti EL-DEIR (DTR/UFRPE) - sorayagel<strong>de</strong>ir@gmail.com<br />

Professora Orientadora, Adjunta nesta universida<strong>de</strong> e<br />

Coor<strong>de</strong>nadora do Gampe<br />

A Caatinga é um bioma exclusivamente brasileiro que cobre quase 10% do território nacional<br />

(CASTRO et al., 2006). Esse bioma que sofre forte pressão antrópica, por muito tempo foi tratado<br />

como um ambiente <strong>de</strong> pouca riqueza biológica, entretanto, quando comparado a outras regiões<br />

semiáridas do mundo, a Caatinga apresenta um alto grau <strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> biológica (LEAL et al.,<br />

2005; MENDES, 1997). Diante disso, a implementação <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sensibilização ambiental<br />

nos diferentes espaços educativos po<strong>de</strong> contribuir para o conhecimento da biodiversida<strong>de</strong> loco<br />

regional e a consequente conservação <strong>de</strong>sta. Logo, Educação Ambiental sendo um processo<br />

participativo, on<strong>de</strong> o aluno assume o papel <strong>de</strong> elemento central do processo <strong>de</strong> ensino-aprendizagem<br />

<strong>de</strong>sejado, procura buscar a participação ativa dos alunos na análise dos problemas ambientais,<br />

procurando também soluções através do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s e formação <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s.<br />

Nessa perspectiva, o presente trabalho tem o objetivo <strong>de</strong> investigar a percepção ambiental dos<br />

jovens <strong>de</strong> Poço da Cruz, a fim <strong>de</strong> perceber o nível <strong>de</strong> entendimento acerca dos principais problemas<br />

ambientais e a relação da população estudantil com o ambiente em que estão inseridos. Conhecendo<br />

esta realida<strong>de</strong> e a interrelação estabelecida com o meio ambiente, torna-se possível trabalhar a<br />

Educação Ambiental efetivamente <strong>nas</strong> escolas.<br />

Palavras-chaves: Escolas; Percepção ambiental; Caatinga.<br />

905


Abstract<br />

The Caatinga is an exclusively Brazilian biome that covers almost 10% of the country (Castro et al.,<br />

2006). This biome suffering strong anthropic pressure, has long been treated as an environment of<br />

little biological richness, however, when compared to other semi-arid regions of the world, the<br />

Caatinga has a high <strong>de</strong>gree of biological diversity (Leal et al., 2005; MENDES, 1997). Therefore,<br />

the implementation of environmental awareness activities in different educational spaces can<br />

contribute to knowledge of biodiversity conservation and subsequent locoregional this. Soon,<br />

Environmental Education is a participatory process where the stu<strong>de</strong>nt assumes the role of a central<br />

element of the process of learning and teaching <strong>de</strong>sired, searching seek the active participation of<br />

stu<strong>de</strong>nts in the analysis of environmental problems, seeking solutions also through the <strong>de</strong>velopment<br />

of skills and training attitu<strong>de</strong>s. This work aims mainly to study the environmental perception of<br />

young Pit Cross in or<strong>de</strong>r to realize the level of un<strong>de</strong>rstanding of the major environmental problems<br />

of the stu<strong>de</strong>nt population and the relationship with the environment in which they live. Knowing<br />

this reality and inter-established relationship with the environment, it becomes possible to work<br />

effectively in schools Environmental Education.<br />

Keywords: Schools; Environmental perception; Caatinga.<br />

Introdução<br />

Diante do uso predatório dos recursos naturais, o planeta tem enfrentado diversos problemas<br />

que traduzidos <strong>nas</strong> ameaças ao equilíbrio ecológico e que, por conseguinte, comprometem a<br />

biodiversida<strong>de</strong>, levando à extinção <strong>de</strong> espécies vegetais e animais, assim como a condições<br />

<strong>de</strong>sfavoráveis para a vida humana (EL-DEIR, 2012). Partindo do princípio <strong>de</strong> caracterização da<br />

socieda<strong>de</strong> atual como ―socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> risco‖ (BECK, 1995; JACOBI, 2005), a comunida<strong>de</strong> global<br />

tem se <strong>de</strong>parado, cada vez mais, com os riscos produzidos por ela mesma e, nesse contato, buscado<br />

reagir aos problemas <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ados, tornando-se autocrítica. Até então, a socieda<strong>de</strong> encontrava-se<br />

imersa numa racionalida<strong>de</strong> ilusória, e as pessoas não se davam conta que estavam subordinadas a<br />

uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> interesses que se voltavam para a exploração dos recursos existentes em seus<br />

territórios. Não se tinha uma percepção crítica acerca da forma como eram conduzidos os<br />

investimentos e a distribuição das riquezas obtidas por meio <strong>de</strong>stes, a socieda<strong>de</strong> daquela época não<br />

era capaz <strong>de</strong> olhar a ―pobreza material‖ por diferentes ângulos. A crise do século não era <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m<br />

específica, isto é, não se limitava ao fator econômico, ao fator social ou exclusivamente ao<br />

ambiental: a socieda<strong>de</strong> do século XX vivia uma ―crise <strong>de</strong> percepção‖ (CAPRA, 2006).<br />

906


A preocupação da socieda<strong>de</strong> por uma crise ambiental, fez com que na década <strong>de</strong> 60 no<br />

século XX, surgisse um movimento ecológico que estimulava uma cultura <strong>de</strong> ligação entre a<br />

socieda<strong>de</strong> e a natureza, através da criação <strong>de</strong> uma consciência ecológica e <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s e projetos<br />

no intuito <strong>de</strong> educar as comunida<strong>de</strong>s, por meio <strong>de</strong> sensibilização, mobilizando-as para ativida<strong>de</strong>s e<br />

posturas benéficas ao equilíbrio do ambiente. Da década <strong>de</strong> 60 aos anos 80, vivencia-se uma<br />

sequência <strong>de</strong> discussões acerca das questões ambientais, até ocorrer a institucionalização <strong>de</strong>ssas<br />

questões enquanto política pública, com a criação da Educação Ambiental (EA). Certamente, esse<br />

processo não se <strong>de</strong>u <strong>de</strong> forma homogênea, em termos <strong>de</strong> tempo e <strong>de</strong> espaço já que, em 1965, a<br />

expressão Educação Ambiental (ou Environmental Education) fora lançada na Inglaterra, numa<br />

Conferência <strong>de</strong> Educação que aconteceu na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Keele (BOTELHO, 1998)<br />

No Brasil, a institucionalização das questões ambientais se <strong>de</strong>u a partir da implantação da<br />

Política Nacional <strong>de</strong> Meio Ambiente (Lei 6.938/81) e da Política Nacional <strong>de</strong> Educação Ambiental -<br />

PNEA (Lei 9.795/99), sendo esta regulamentada pelo <strong>de</strong>creto 4.281/02. No Art. 7. da PNEA está<br />

estabelecido que a EA esta <strong>de</strong>ve envolver a participação não ape<strong>nas</strong> dos órgãos e entida<strong>de</strong>s do<br />

Sisnama 101 , mas também <strong>de</strong> instituições educacionais e das organizações não-governamentais com<br />

atuação em educação ambiental, <strong>de</strong>ntre outros atores institucionais. Não obstante, Furlan (2012)<br />

afirma que há limitações para implantação da EA, e elas referem-se ao ponto <strong>de</strong> vista metodológico.<br />

As pessoas sabem muito sobre o tema meio ambiente, mas não sabem atuar para resolver os<br />

problemas. Há uma gran<strong>de</strong> diferença entre falar sobre o tema e fazer Educação Ambiental.<br />

De acordo com Vasconcellos (1997), a presença, em todas as práticas educativas, da<br />

reflexão sobre as relações dos seres entre si, do ser humano com ele e do ser humano com seus<br />

semelhantes é condição imprescindível para que a Educação Ambiental ocorra. Dentro <strong>de</strong>sse<br />

contexto, sobressaem-se as escolas, como espaços privilegiados na implementação <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s<br />

que propiciem essa reflexão, pois isso necessita <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula e ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> campo,<br />

com ações orientadas em projetos e em processos <strong>de</strong> participação que levem à autoconfiança, a<br />

atitu<strong>de</strong>s positivas e ao comprometimento das pessoas com a proteção ambiental implementados <strong>de</strong><br />

modo interdisciplinar (DIAS, 1992).<br />

Face a esse panorama, o Grupo <strong>de</strong> Pesquisa Gestão Ambiental <strong>de</strong> Pernambuco (Gampe), da<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Rural <strong>de</strong> Pernambuco, tem atuado junto às diferentes instâncias da socieda<strong>de</strong>,<br />

buscando contribuir para o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável em Pernambuco através <strong>de</strong> iniciativas <strong>de</strong><br />

gestão ambiental (SILVA et al., 2011). Partindo do princípio <strong>de</strong> que a EA se consolida como um<br />

caminho estruturante no processo <strong>de</strong> gestão ambiental, a discussão a ser empreendida no presente<br />

101 Sistema Nacional <strong>de</strong> Meio Ambiente: instituído pela Lei 6.938 no dia 31 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1981, é um sistema que<br />

congrega órgãos públicos das esferas fe<strong>de</strong>ral, estadual e municipal, incluindo o Distrito Fe<strong>de</strong>ral, cuja finalida<strong>de</strong> é<br />

proteger e melhorar a qualida<strong>de</strong> ambiental.<br />

907


estudo se voltará para a análise do fortalecimento das instituições <strong>de</strong> educação básica – no caso, as<br />

escolas – no que concerne à participação social na promoção do <strong>de</strong>senvolvimento sustentável,<br />

tomando como norte a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> formação do sujeito ecológico trazida por Carvalho (2006), tendo<br />

este sujeito um posicionamento autônomo e lí<strong>de</strong>r na busca <strong>de</strong> soluções para os conflitos<br />

socioambientais.<br />

O presente trabalho apresenta o contexto <strong>de</strong> Poço da Cruz, comunida<strong>de</strong> rural do semiárido<br />

pernambucano, sob a perspectiva da EA por meio das ativida<strong>de</strong>s educativas e socioambientais<br />

realizadas <strong>nas</strong> escolas da comunida<strong>de</strong> em questão. Propõe-se analisar a percepção socioambiental<br />

dos populares e o impacto das ações educativas <strong>de</strong>senvolvidas pelo Gampe <strong>nas</strong> escolas, tomando<br />

como base a inserção e a participação dos atores escolares na discussão acerca das questões<br />

ambientais locais. De modo especial, buscaremos ainda ilustrar, <strong>de</strong> modo qualitativo e quantitativo,<br />

as ações <strong>de</strong>senvolvidas, na tentativa <strong>de</strong> suprir <strong>de</strong>mandas pedagógicas da comunida<strong>de</strong> escolar <strong>de</strong>ntro<br />

do eixo da educação ambiental, justificando os resultados alcançados nesta pesquisa.<br />

Metodologia<br />

O estudo resultou <strong>de</strong> uma pesquisa <strong>de</strong>scritiva (GIL, 1991), uma vez que se visou <strong>de</strong>screver<br />

as características <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada população ou fenômeno ou o estabelecimento <strong>de</strong> relações entre<br />

variáveis. Em função do seu caráter, a pesquisa incluiu levantamento, processamento e análise <strong>de</strong><br />

dados secundários. O levantamento dos dados ocorreu com a aplicação <strong>de</strong> 30, 50, 48 e 49<br />

questionários, aplicados respectivamente nos anos <strong>de</strong> 2009, 2010, 2011 e 2012, através <strong>de</strong> diálogos<br />

informais com moradores da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Poço da Cruz em Ibimirim, Pernambuco. Justifica-se a<br />

utilização do questionário como instrumento <strong>de</strong> pesquisa, pois este po<strong>de</strong> ser aplicado a um gran<strong>de</strong><br />

número <strong>de</strong> pessoas e constitui-se num instrumento que mobiliza a exposição das i<strong>de</strong>ias dos sujeitos<br />

pesquisados sem a influência <strong>de</strong> possíveis opiniões do entrevistador (GIL, 1999).<br />

Quanto ao foco <strong>de</strong> investigação, o questionário trazia perguntas objetivas e subjetivas, com foco na<br />

percepção ambiental dos entrevistados, buscando uma aproximação com as impressões e<br />

concepções dos moradores acerca <strong>de</strong> problemas ambientais globais e locais. Caso alguma resposta<br />

fornecida pelo entrevistado não tivesse coerência, a mesma era automaticamente consi<strong>de</strong>rada como<br />

―não soube respon<strong>de</strong>r‖. Dentre as questões trazidas no questionário, foram as elencadas para a nossa<br />

pesquisa: (i) Noção sobre o conceito <strong>de</strong> Meio Ambiente; (ii) Quais eram os principais problemas<br />

ambientais globais e locais. As perguntas abertas foram plotadas utilizando os dados percentuais das<br />

respostas. Fez-se necessário o uso do software Microsoft Excel para a plotagem e realização <strong>de</strong><br />

análises estatísticas.<br />

908


Resultados e Consi<strong>de</strong>rações Finais<br />

Dados sobre a escolarida<strong>de</strong> e a percepção ambiental<br />

Visto o significado do contexto escolar para a pesquisa, consi<strong>de</strong>rou-se como importante,<br />

antes <strong>de</strong> a<strong>de</strong>ntrar o foco da percepção ambiental, traçar um perfil <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> da comunida<strong>de</strong><br />

entrevistada. De um quantitativo <strong>de</strong> 400 entrevistados, 80% <strong>de</strong>sse total correspondiam ao sexo<br />

feminino. A ida<strong>de</strong> média dos entrevistados diminui no <strong>de</strong>correr dos quatro anos, passando <strong>de</strong> 41,96<br />

em 2009 para 40,02 em 2012. O nível escolar <strong>de</strong>sses entrevistados é <strong>de</strong>monstrado na Figura 1,<br />

expondo que a gran<strong>de</strong> parte da população, tanto em 2011 quanto em 2012, ou é analfabeta ou possui<br />

nível escolar incompleto (Figura 1).<br />

Gráfico 01 - Nível <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> dos entrevistados<br />

Estando entre as regiões pernambuca<strong>nas</strong> consi<strong>de</strong>radas <strong>de</strong> baixo <strong>de</strong>senvolvimento humano,<br />

Ibimirim possui um Índice <strong>de</strong> Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) igual 0, 566<br />

ocupando, assim, a posição <strong>de</strong> 167º no rank estadual (PNUD, 2010). Tal realida<strong>de</strong> exprime o grau<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência da educação escolar ofertada no município o que, ao analisarmos a viabilização das<br />

práticas <strong>de</strong> Educação Ambiental nos contextos pedagógicos formais, traz implicações a serem<br />

consi<strong>de</strong>radas, no sentido <strong>de</strong> levar em conta que o público participante da escola ten<strong>de</strong> a cada vez<br />

mais ficar reduzido, diminuindo significativamente a esfera <strong>de</strong> sujeitos alcançados com as ações<br />

educativas direcionadas para as escolas. Nesse sentido, po<strong>de</strong>-se atestar a priorida<strong>de</strong> <strong>de</strong> público<br />

historicamente instituída pelas ações do Gampe: a maior parte das experiências contínuas tem sido<br />

voltada para os populares das comunida<strong>de</strong>s rurais, como pequenos agricultores e pescadores;<br />

todavia, sem ignorar a importância das escolas, uma vez que estas são dotadas <strong>de</strong> um referencial<br />

909


social em função do seu potencial agregador, expresso na execução dos projetos <strong>de</strong><br />

Responsabilida<strong>de</strong> Socioambiental Universitária (RSU) 102 <strong>de</strong>senvolvidos pelo Gampe todos os anos.<br />

No quesito da percepção ambiental, quando se questionou sobre o conceito <strong>de</strong> ―meio<br />

ambiente‖ (Figura 2), percebeu-se que com o passar dos anos, as pessoas começaram a ter<br />

conhecimento sobre o assunto. Em 2011, dos 48 entrevistados, somente 10 conseguiram respon<strong>de</strong>r a<br />

pergunta <strong>de</strong> modo contextualizado, isto é, com exemplos da realida<strong>de</strong> do seu entorno. Em 2012, dos<br />

49 entrevistados, 28 conceituaram ―meio ambiente‖ <strong>de</strong> modo contextualizado.<br />

Gráfico 02 - Conceito <strong>de</strong> meio ambiente na perspectiva dos entrevistados<br />

Na perspectiva <strong>de</strong> contextualização, a maior parte dos exemplos trazidos remetia aos problemas<br />

ambientais, sendo estes componentes da nossa próxima categoria <strong>de</strong> análise. Quando questionados<br />

sobre os ―problemas ambientais globais‖, os entrevistados <strong>de</strong>stacaram como principais: enchentes<br />

(1, 6, 8 e zero), poluição (2, 5, 3, 8), poluição do ar (2, 5, 3, 8), queimadas (1, 5, 11, 7), lixo (1, 4,<br />

12, 17) e, principalmente, <strong>de</strong>smatamento (5, 18, 4, 14); sendo que muitos não souberam respon<strong>de</strong>r<br />

(17, 17, 16 e 6) ou <strong>de</strong>stacaram outras opções (2, 7, zero, 7). Tais números expressos, entre<br />

parênteses, correspon<strong>de</strong>m ao número <strong>de</strong> entrevistados que afirmaram o problema em suas respostas,<br />

nos anos <strong>de</strong> 2009, 2010, 2011 e 2012, respectivamente.<br />

Diante da análise das respostas para os ―problemas ambientais globais‖, po<strong>de</strong>-se perceber que os<br />

populares <strong>de</strong>tinham uma visão ampla da crise ambiental enfrentada atualmente pelo planeta. Por<br />

outro lado, outros estudos apontam uma dimensão negativa <strong>de</strong> um olhar amplo dissociado das<br />

especificida<strong>de</strong>s, que ocasiona um prevalecimento das causas globais sobre os problemas locais. A<br />

102 As ações <strong>de</strong> RSU <strong>de</strong>senvolvidas pelo Gampe tratam <strong>de</strong> questões que perpassam o empo<strong>de</strong>ramento das<br />

comunida<strong>de</strong>s rurais, o processo <strong>de</strong> construção da ecocidadania do alunato e a essência da educação ambiental <strong>nas</strong><br />

ativida<strong>de</strong>s realizadas. São as três ações específicas: a Páscoa Solidária, a Leitura Solidária e o Natal Solidário (SILVA;<br />

CHAGAS; EL-DEIR, 2011).<br />

910


exemplo <strong>de</strong>ssa afirmação, Silva (2011), ao analisar as práticas <strong>de</strong> Educação Ambiental<br />

<strong>de</strong>senvolvidas em escolas do semiárido alagoano, po<strong>de</strong> constatar que muitos professores tinham o<br />

foco <strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s centradas no tema água (em virtu<strong>de</strong> das escolas estarem situadas numa<br />

localida<strong>de</strong> cortada pelo Rio São Francisco), mas sem atentar para o <strong>de</strong>smatamento da Caatinga<br />

enquanto bioma local, em contraposição ao conhecimento trazido por alguns sobre a floresta<br />

amazônica e os manguezais, atípicos da localida<strong>de</strong>.<br />

Em termos <strong>de</strong> ―problemas ambientais locais‖, estes foram menos facilmente i<strong>de</strong>ntificados pela<br />

comunida<strong>de</strong>, aumentando a parcela <strong>de</strong> entrevistados que não sabiam respon<strong>de</strong>r (14, 23, 17, 8). As<br />

respostadas obtidas traduziam enquanto problemas locais: a questão do lixo (6, 8, 12, 23), que foi<br />

fortemente evi<strong>de</strong>nciada <strong>nas</strong> falas dos entrevistados, sendo este o problema predominante da<br />

localida<strong>de</strong>, seguido por poluição hídrica (2, 3, 7, 8), animais soltos (4, 4, 1, 6), poluição do ar (2,<br />

zero, 1, zero), além <strong>de</strong> outros (2, 15, 14, 20). Visto o quão expressivo foi o reconhecimento da<br />

questão do lixo, verificou-se ainda que os populares exprimiam uma visão sociopolítica do<br />

problema, pela qual a coleta, o transporte, o acondicionamento, o tratamento e a eliminação dos<br />

resíduos sólidos são consi<strong>de</strong>rados limpeza pública, portanto, uma atribuição que cabe ao po<strong>de</strong>r<br />

público municipal‖ (PEREIRA NETO, 1993; SOARES, SALGUEIRO; GANIZEL, 2007). Tal<br />

observação é expressa graficamente abaixo (Figura 3).<br />

Gráfico 03 - Situação/periodicida<strong>de</strong> da coleta <strong>de</strong> lixo<br />

É importante <strong>de</strong>stacar que a coleta <strong>de</strong> lixo na comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Poço da Cruz não é uma<br />

realida<strong>de</strong> estabelecida homogeneamente. De acordo com El-Deir et al (2010) apud Araújo et al<br />

(2011), comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Poço da Cruz é composta <strong>de</strong> 3 vilas: Mecânica, do Hospital e do Comércio.<br />

Dessas três, a vila do Hospital é a única que apresenta um leve grau <strong>de</strong> organização, pois possui<br />

água encanada e coleta <strong>de</strong> lixo, igreja, posto <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e escola.<br />

A partir da realida<strong>de</strong> observada e das inferências feitas face as reflexões emergentes, nota-se<br />

que o empo<strong>de</strong>ramento social, através da apreensão <strong>de</strong> novas informações e conhecimentos,<br />

constitui-se como um processo que requer, cada vez mais, um investimento permanente por parte<br />

911


dos atores e instituições sociais, por meio da junção <strong>de</strong> esforços. Tal investimento pressupõe uma<br />

atuação articulada e, nessa perspectiva, o Gampe tem buscado constante diálogo e parceria com os<br />

diferentes setores sociais. Porém, uma questão nos é posta, ao problematizarmos a Educação<br />

Ambiental no semiárido pernambucano: como incluir as escolas nessa re<strong>de</strong> <strong>de</strong> cooperação,<br />

possibilitando a instituição plena da Educação Ambiental também nesses espaços formais, embora<br />

se tenha a compreensão <strong>de</strong> que a escola não é o único <strong>de</strong> espaço <strong>de</strong> formação social mas, por outro<br />

lado, ela assume uma condição <strong>de</strong> espaço incentivador da causa socioambiental, sobretudo no<br />

semiárido?<br />

Em busca <strong>de</strong> uma abordagem teórico-conceitual<br />

A EA é um processo cíclico e contínuo (Smith, apud, Sato, 1995). A EA é vista hoje como<br />

uma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transformação ativa da realida<strong>de</strong> e das condições da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, por<br />

meio da conscientização advinda da prática social reflexiva embasada pela teoria (Loureiro, 2006).<br />

Instituiu a necessida<strong>de</strong> da inclusão da EA em todos os níveis <strong>de</strong> ensino, incluindo a educação da<br />

comunida<strong>de</strong>, objetivando capacitá-la para a participação ativa na <strong>de</strong>fesa do meio ambiente.<br />

Evi<strong>de</strong>nciando a capilarida<strong>de</strong> que se <strong>de</strong>sejava imprimir a essa prática pedagógica (BRASIL, 2005).<br />

Gráfico 04 - Representação da maneira como subdividimos as unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> análise (adaptada)<br />

De acordo com Sato (2004) o aprendizado ambiental é um componente vital, pois oferece<br />

motivos que levam os alunos se reconhecerem como parte integrante do meio em que vivem e faz<br />

pensar <strong>nas</strong> alternativas para soluções dos problemas ambientais e ajudar a manter os recursos para<br />

as futuras gerações. Entretanto, não raramente a escola atua como mantenedora e reprodutora <strong>de</strong><br />

uma cultura que é predatória ao ambiente. Nesse caso, as reflexões que dão início à implementação<br />

da Educação Ambiental <strong>de</strong>vem contemplar aspectos que não ape<strong>nas</strong> possam gerar alternativas para<br />

a superação <strong>de</strong>sse quadro, mas que o invertam, <strong>de</strong> modo a produzir conseqüências benéficas<br />

(ANDRADE, 2006), favorecendo a paulatina compreensão global da fundamental importância <strong>de</strong><br />

todas as formas <strong>de</strong> vida coexistentes em nosso planeta, do meio em que estão inseridas, e o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento do respeito mútuo entre todos os membros da nossa espécie (CURRIE, 1998).<br />

912


Ainda conforme Sato (2000), uma gran<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> encontrada hoje é <strong>de</strong> uma implantação<br />

<strong>de</strong> uma disciplina <strong>de</strong> Educação Ambiental no currículo escolar regular, pelo fato <strong>de</strong> ser um ramo<br />

que requer conhecimento amplo <strong>de</strong> várias discipli<strong>nas</strong>, dificilmente se encontrariam profissionais<br />

com estes requisitos. Logo, segundo Andra<strong>de</strong> (2000), para a implementação efetiva da Educação<br />

Ambiental <strong>nas</strong> escolas, evi<strong>de</strong>ntemente, <strong>de</strong>vemos nos posicionar diante <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong><br />

implementação que não seja hierárquico, agressivo, competitivo e exclusivista, mas que seja levado<br />

adiante fundamentado pela cooperação, participação e pela geração <strong>de</strong> autonomia dos atores<br />

envolvidos.<br />

Conforme Dias (1992), as escolas <strong>de</strong>vem ter como objetivos a sensibilização e a<br />

conscientização; buscar uma mudança comportamental; formar um cidadão mais atuante; (...)<br />

sensibilizar o professor, principal agente promotor da EA; (...) criar condições para que, no ensino<br />

formal, a EA seja um processo contínuo e permanente, através <strong>de</strong> ações interdisciplinares<br />

globalizantes e da instrumentação dos professores; procurar a integração entre escola e comunida<strong>de</strong>,<br />

objetivando a proteção ambiental em harmonia com o <strong>de</strong>senvolvimento sustentado.<br />

Entretanto, a implantação <strong>de</strong> uma consciência ambiental não é nenhuma tarefa fácil ou<br />

rápida. A Educação Ambiental não se dá por ativida<strong>de</strong>s pontuais, mas por toda uma mudança <strong>de</strong><br />

paradigmas que exige uma contínua reflexão e apropriação dos valores que remetem a ela, sendo<br />

necessário efetuarem pesquisas sobre os obstáculos, inerentes ao comportamento ambiental, que se<br />

opõem às modificações dos conceitos, valores e atitu<strong>de</strong>s das pessoas (DIAS, 1992). As dificulda<strong>de</strong>s<br />

e limitações <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> projetos e ativida<strong>de</strong>s, assim como sua manutenção, têm criado uma<br />

exaustão, um <strong>de</strong>sânimo, na implementação da Educação Ambiental <strong>nas</strong> escolas.<br />

―... fatores como o tamanho da escola, número <strong>de</strong> alunos e <strong>de</strong> profissionais, predisposição<br />

<strong>de</strong>stes passar por um processo <strong>de</strong> treinamento, vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> todos em realmente implementar<br />

um projeto ambiental que vá alterar a rotina na escola, etc, além <strong>de</strong> fatores resultantes da<br />

integração dos acima citados e ainda outros, po<strong>de</strong>m servir como obstáculos à<br />

implementação da Educação Ambiental.‖ (ANDRADE 2000).<br />

A EA realizada em escolas é um instrumento que incentiva estudantes a construírem uma<br />

visão <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong> ambientalmente correta reforçando o papel do cidadão na mudança <strong>de</strong><br />

pensamento e comportamento para que o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável se torne uma realida<strong>de</strong>.<br />

Embora haja escolas com suas fragilida<strong>de</strong>s estruturais, <strong>de</strong>vem ser buscadas alternativas que<br />

ultrapassem o condicionamento do ato educativo ao espaço físico. O processo <strong>de</strong> sensibilização<br />

ambiental da comunida<strong>de</strong> escolar po<strong>de</strong> incentivar iniciativas que ultrapassem o ambiente escolar,<br />

atingindo tanto o bairro em que a escola está inserida como em comunida<strong>de</strong>s mais afastadas <strong>nas</strong><br />

quais residam funcionários, professores e os alunos das escolas.<br />

913


Para não concluir<br />

Diante do estudo da percepção ambiental dos populares em consonância com o i<strong>de</strong>al<br />

buscado na implementação da EA <strong>nas</strong> escolas do semiárido, po<strong>de</strong>mos concluir a população da<br />

comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Poço da Cruz traz um grau consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong> percepção ambiental, diante do<br />

entendimento conceitual e contextual do meio ambiente, o qual foi possível quantificar por meio<br />

das entrevistas realizadas através dos anos. Mesmo havendo apresentado questões <strong>de</strong> caráter global,<br />

os moradores pontuaram ainda a problemática do lixo como a mais expressiva da sua localida<strong>de</strong>:<br />

sobre tal aspecto foi possível analisar a frequência da coleta (quando reconhecida como existente),<br />

bem como as principais formas <strong>de</strong> <strong>de</strong>stinação, havendo o predomínio dos lixões e da queima dos<br />

resíduos.<br />

Com base na evolução (constatada graficamente) <strong>de</strong> alguns dados, acreditamos que a<br />

dimensão ambiental tem sido um elemento que, gradativamente, está sendo internalizado pela<br />

comunida<strong>de</strong> e que, <strong>de</strong> certa forma nos mostra um resultado possível das ações e dos projetos<br />

<strong>de</strong>senvolvidos pelo Gampe, nos diferentes segmentos <strong>de</strong> atuação, inclusive pelas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

caráter educativo, firmadas no ato da Educação Ambiental enquanto um instrumento importante no<br />

processo da gestão ambiental. Nesse sentido, é fundamental uma maior articulação das ações do<br />

Gampe como as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas <strong>nas</strong> escolas, no sentido <strong>de</strong> contribuir para a<br />

ambientalização curricular também das escolas do semiárido, em diálogo com as ações<br />

<strong>de</strong>senvolvidas <strong>nas</strong> comunida<strong>de</strong>s do entorno escolar: esse processo <strong>de</strong> ambientalização correspon<strong>de</strong> à<br />

inserção da temática ambiental <strong>nas</strong> práticas escolares e que, <strong>de</strong> certa maneira, exprime o sucesso da<br />

implementação das diretrizes e princípios trazidos na PNEA e em outros documentos <strong>de</strong> referência.<br />

Espera-se que esta pesquisa possa servir <strong>de</strong> suporte para um melhor direcionamento para<br />

projetos e ações no campo da EA que dialoguem com as <strong>de</strong>mandas reais do semiárido, tanto no<br />

quesito ambiental como no social, tomando a escola como referência institucional para a ampliação<br />

do fazer ambiental rumo à construção <strong>de</strong> uma sustentabilida<strong>de</strong> emancipatória, em que o cidadão do<br />

semiárido não seja consi<strong>de</strong>rado como ingênuo diante da complexa caracterização da socieda<strong>de</strong><br />

atual, mas como um sujeito provido <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> própria, com seu estilo <strong>de</strong> vida, <strong>de</strong><br />

organização e <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>. É através <strong>de</strong>sta percepção, da mudança <strong>de</strong> mentalida<strong>de</strong> que a real<br />

implantação da Educação Ambiental será viabilizada. O passo a seguir é transformar a escola em<br />

exemplo <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong>, com uso responsável <strong>de</strong> recursos, no consumo <strong>de</strong> energias, na<br />

manutenção dos equipamentos, na utilização dos materiais, com a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e do ambiente<br />

na escola.<br />

914


Referências<br />

ANDRADE, D. F. Implementação da Educação Ambiental em escolas: uma reflexão. Revista<br />

Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, 2000.<br />

ARAÚJO, G. V. R.; et al. Ausência <strong>de</strong> saneamento básico no semiárido pernambucano: a<br />

percepção <strong>de</strong> moradores da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> poço da cruz, em Ibimirim-PE. In: II Congresso<br />

Brasileiro <strong>de</strong> Gestão Ambiental, Londrina, 2011. Anais do II CBGA, 2011, p. 1-6.<br />

CARVALHO, I. C. M. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico. 2ª Ed – São Paulo:<br />

Cortez, 2006.<br />

DIAS, G. F. Educação Ambiental: princípios e práticas. São Paulo, Gaia, 1992.<br />

EL-DEIR, S. G. Por que mesclar Educação Ambiental com Extensão Rural? IN: EL-DEIR, S. G.<br />

Educação ambiental no semiárido: propostas metodológicas <strong>de</strong> extensão rural. Recife: Edurfpe, 6 –<br />

8p. 2012.<br />

EL-DEIR, S. G.; et al. Caracterização, infra-estrutura e percepção ambiental <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s<br />

rurais do semi-árido brasileiro. In: Congresso Nacional <strong>de</strong> Meio Ambiente, Poços <strong>de</strong> Caldas, 2010.<br />

JACOBI, P. R. Educação Ambiental: o <strong>de</strong>safio da construção <strong>de</strong> um pensamento crítico, complexo<br />

e reflexivo. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 2, p. 233-250, maio/ago. 2005.<br />

PEREIRA NETO, J. T. et al. Resíduos urbanos domiciliares: um paradoxo da socieda<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna.<br />

In: Congresso Brasileiro <strong>de</strong> Engenharia Sanitária e Ambiental, Natal, 1993. Anais do Congresso<br />

Brasileiro <strong>de</strong> Engenharia Sanitária e Ambiental 1993.<br />

PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO (PNUD). PE mira<br />

gestão escolar para elevar IDH. Disponível em:<br />

http://www.pnud.org.br/educacao/reportagens/in<strong>de</strong>x.php?id01=1938&lay=ecu. Acesso em: 12 set.<br />

2010.<br />

SILVA, R. C. P.; CHAGAS, L.; EL-DEIR, S. G. Responsabilida<strong>de</strong> socioambiental universitária em<br />

comunida<strong>de</strong>s rurais do município <strong>de</strong> Ibimirim, Pernambuco. In: SEABRA, Giovanni;<br />

MENDONÇA, Ivo. (Orgs.). Educação Ambiental: responsabilida<strong>de</strong> para a conservação da<br />

sociobiodiversida<strong>de</strong>. 1a ed. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2011, v. 1, p. 1313-1318.<br />

SILVA, T. A. A. Educação Ambiental no Semiárido Nor<strong>de</strong>stino: apontamento <strong>de</strong> pesquisa e notas<br />

sobre prática educativa. Revista VITAS – Visões Transdisciplinares sobre Ambiente e Socieda<strong>de</strong>,<br />

n.1, set. 2011<br />

SOARES, L. G. C.; SALGUEIRO, A. A.; GANIZEL, M. H. P. Educação ambiental aplicada aos<br />

resíduos sólidos na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Olinda, Pernambuco – um estudo <strong>de</strong> caso. Revista Ciências &<br />

Tecnologia, v.1, n.1, jul/<strong>de</strong>z, 2007.<br />

VASCONCELLOS, H. S. R. A pesquisa-ação em projetos <strong>de</strong> Educação Ambiental. In: PEDRINI,<br />

A. G. (org.). Educação Ambiental: reflexões e práticas contemporâneas. Petrópolis, Vozes, 1997.<br />

915


EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS MUNÍCIPAIS DE PATOS-PB PROGRAMA IDEA-<br />

INFORMAÇÃO, DESENVOLVIMENTO DE MEIOS SUSTENTÁVEIS<br />

Resumo<br />

Rafaella <strong>de</strong> Lucena SALVIANO (CCEA/UEPB - Graduanda) – rafi.lucena@hotmail.com<br />

Roberto <strong>de</strong> Sousa NASCIMENTO (PPGCS/UFPB – Pós-graduando) – roberto.uni@gmail.com<br />

Rosângela da Silva FIGUEREDO (CCEA/UEPB – Orientadora) - figueredo.rosa@hotmail.com<br />

Ricardo <strong>de</strong> Sousa NASCIMENTO (IFPB/Picuí - Graduando) - ricardosousapb@gmail.com<br />

A Educação Ambiental surge como uma das possíveis estratégias <strong>de</strong> enfrentamento da crise<br />

econômica, cultural e social em que vivemos. Sua perspectiva crítica e emancipatória visa a<br />

<strong>de</strong>flagração <strong>de</strong> processos nos quais a busca individual e coletiva por mudança, com isso viemos por<br />

meio do Projeto <strong>de</strong> Extensão do Programa I<strong>de</strong>ia promover a conscientização dos alunos e a práticas<br />

da reciclagem dos resíduos orgânicos em algumas escolas do município <strong>de</strong> Patos - PB, bem como a<br />

inserção <strong>de</strong> professores neste contexto <strong>de</strong> mudança <strong>de</strong> hábitos. O projeto foi conduzido no período<br />

<strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2011 a agosto <strong>de</strong> 2012 por alunos do curso <strong>de</strong> Bacharelado em Administração e<br />

colaboradores da Universida<strong>de</strong> Estadual da Paraíba (UEPB), Campus VII, município <strong>de</strong> Patos - PB,<br />

na mesorregião do Sertão Paraibano. Toda ação foi <strong>de</strong>senvolvida através <strong>de</strong> seminários e palestras,<br />

bem como a <strong>de</strong>monstração prática da compostagem <strong>de</strong> resíduos orgânicos, visando a formação do<br />

pensamento crítico dos alunos a respeito da responsabilida<strong>de</strong> socioambiental. Apesar <strong>de</strong> ser um<br />

<strong>de</strong>safio para escolas, a educação ambiental <strong>de</strong>ve ser conduzida <strong>de</strong> forma interdisciplinar que integre<br />

a comunida<strong>de</strong> escolar e extraescolar. Dessa forma, conseguimos conciliar teoria e prática, sendo<br />

possível observar, analisar e repensar fatos e situações inerentes ao problema do lixo no meio<br />

ambiente.<br />

Palavras-chaves: Educação ambiental; resíduos orgânico; conscientização.<br />

Abstract<br />

Environmental education emerged as one of the possible strategies for <strong>de</strong>aling with the economic<br />

crisis, cultural and social environment in which we live. Its critical and emancipatory aims to trigger<br />

processes in which the quest for individual and collective change, with it came through Project<br />

extension program I<strong>de</strong>a promote awareness of stu<strong>de</strong>nts and the practices of recycling organic waste<br />

in some schools of the city of Patos - PB, as well as the inclusion of teachers in this context of<br />

changing habits. The project was carried out from August 2011 to August 2012 by stu<strong>de</strong>nts of<br />

916


Bachelor in Administration and collaborators from the State University of Paraíba (UEPB), Campus<br />

VII, city of Patos - PB, the region Sertão Paraibano. Every action was <strong>de</strong>veloped through seminars<br />

and lectures as well as practical <strong>de</strong>monstration of composting organic waste, for the training of<br />

stu<strong>de</strong>nts' critical thinking about environmental responsibility. Despite of the fact that it is a school<br />

challenge, the environmental education should be <strong>de</strong>veloped in an interdisciplinary context that<br />

integrates community insi<strong>de</strong> and outsi<strong>de</strong> the school. Thereby, can combine theory and practice,<br />

being able to observe, analyze and rethink on facts and situations inherent to the problem of trash on<br />

environment.<br />

Keywords: Environmental education, organic waste; awareness.<br />

Introdução<br />

O meio ambiente é on<strong>de</strong> se manifesta a vida em todas as suas formas, e todos os elementos<br />

nele existentes, observando assim ainter-relação entre os mesmos e o meio em que vive (FARIAS,<br />

2007). O problema do lixo apresenta riscos para saú<strong>de</strong>, flora e fauna, Leite (2003) conceitua lixo<br />

como todo e qualquer resíduo que aparentemente não tem utilida<strong>de</strong> e resulta das ativida<strong>de</strong>s diárias<br />

do homem na socieda<strong>de</strong>.<br />

Com o aumento da população, consequentemente maiores as quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> resíduos<br />

gerados, Segundo Pereira Neto (1999), lixo é uma massa heterogênea <strong>de</strong> resíduos sólidos,<br />

resultantes das ativida<strong>de</strong>s huma<strong>nas</strong>, os quais po<strong>de</strong>m ser reciclados e parcialmente utilizados, entre<br />

outros benefícios, proteção à saú<strong>de</strong> pública e economia <strong>de</strong> energia e <strong>de</strong> recursos naturais. Neste<br />

contexto observamos a importância da conscientização da comunida<strong>de</strong> escolas e extraescolar sobre<br />

a problemática socioambiental do lixo.<br />

A educação ambiental leva a sensibilização que estimula a comunida<strong>de</strong> a encarar o meio em<br />

que vive como parte integrante <strong>de</strong> suas vidas, ela <strong>de</strong>ve estar inserida em diversas discipli<strong>nas</strong><br />

educativas e experimentos educativos ao conhecimento e a compreensão do meio ambiente<br />

(SOUZA, 2011).<br />

O atual mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> crescimento econômico gerou enormes <strong>de</strong>sequilíbrios, pois, por um lado,<br />

nunca houve tanta riqueza e fartura no mundo, por outro lado, a miséria, a <strong>de</strong>gradação ambiental e a<br />

poluição aumentam dia-a-dia. Diante <strong>de</strong>sta constatação, surge a i<strong>de</strong>ia do Desenvolvimento<br />

Sustentável, buscando conciliar o <strong>de</strong>senvolvimento econômico com a preservação ambiental<br />

(CAVALCANTI, 1995).<br />

A reciclagem vem como uma das formas <strong>de</strong> promover esse <strong>de</strong>senvolvimento sustentável,<br />

pois possui como maiores vantagens à minimização da utilização <strong>de</strong> fontes naturais e da quantida<strong>de</strong><br />

917


<strong>de</strong> resíduos <strong>de</strong> tratamento final, como aterramento, ou incineração, além da geração <strong>de</strong> riquezas,<br />

beneficiando a todos, com a redução da quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lixo, melhorando a limpeza da cida<strong>de</strong> e o<br />

aumento da conscientização dos cidadãos (GROSSI, 2008).<br />

A dimensão ambiental configura-se crescentemente como uma questão que envolve um<br />

conjunto <strong>de</strong> atores do universo educativo, potencializando o engajamento dos diversos sistemas <strong>de</strong><br />

conhecimento, a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> profissionais e a comunida<strong>de</strong> universitária numa perspectiva<br />

interdisciplinar. Neste sentido, a produção do conhecimento <strong>de</strong>ve necessariamente contemplar as<br />

inter-relações do meio natural com o social, incluindo a análise dos <strong>de</strong>terminantes do processo, o<br />

papel dos diversos atores envolvidos e as formas <strong>de</strong> organização social que aumentam o po<strong>de</strong>r das<br />

ações alternativas <strong>de</strong> um novo <strong>de</strong>senvolvimento, com ênfase na sustentabilida<strong>de</strong> socioambiental<br />

(JACOBI, 2003).<br />

Por isso, surgiu o Projeto <strong>de</strong> Extensão do Programa I<strong>de</strong>a, conduzido por alunos do curso <strong>de</strong><br />

Bacharelado em Administração na Universida<strong>de</strong> Estadual da Paraíba (UEPB), Campus VII,<br />

município <strong>de</strong> Patos - PB, na mesorregião do Sertão Paraibano, com o objetivo <strong>de</strong> promover a<br />

educação ambiental através da conscientização dos alunos e <strong>de</strong> praticas da reciclagem <strong>de</strong> resíduos<br />

orgânicos, bem como a inserção <strong>de</strong> professores e alunos sobre a responsabilida<strong>de</strong> socioambiental e<br />

a importância da mudança <strong>de</strong> hábitos.<br />

Metodologia<br />

A ação foi conduzida no período <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2011 a agosto <strong>de</strong> 2012 por alunos do curso <strong>de</strong><br />

administração e colaboradoresda Universida<strong>de</strong> Estadual da Paraíba (UEPB), Campus VII,<br />

município <strong>de</strong> Patos - PB, na mesorregião do Sertão Paraibano, caracterizando-se como uma<br />

conscientização <strong>de</strong> natureza qualitativa.<br />

Para a formação do pensamento crítico dos alunos, a respeito do contexto socioambiental,<br />

foram realizadosseminários e palestras, sobre a abordagem do tema, bem como uma <strong>de</strong>monstração<br />

prática do mesmo. Promovendo a inserção, <strong>de</strong> professores e alunos no contexto <strong>de</strong> mudança <strong>de</strong><br />

hábitos enfocando os 3R‘s (reduzir, reutilizar e reciclar), integrando universida<strong>de</strong>, socieda<strong>de</strong> e<br />

atores públicos.<br />

Na parte teórica foi feito um levantamento das características enfocando o meio ambiente<br />

sempre buscando formas <strong>de</strong> reaproveitar produtos. Mostrando vantagens e importâncias para o<br />

presente e o futuro dando um embasamento teórico para pesquisas e estudos na área, com ênfase no<br />

papel da escola no processo <strong>de</strong> formação, tanto social quanto ambiental, dos seus alunos.<br />

Contribuindo com a ampliação da visão social, tanto dos participantes como dos colaboradores,<br />

918


trazendo um gran<strong>de</strong> aproveitamento. Gerando assim um melhor preparo e mais compreensão sobre<br />

o assunto.<br />

Conscientizando sobre a problemática do lixo e sua <strong>de</strong>vida separação, para facilitar a<br />

reciclagem buscando alternativas para a reutilização dos resíduos com o intuito <strong>de</strong> gerar reflexões<br />

individuais ou em grupo sobre a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produção e <strong>de</strong>stino do lixo <strong>nas</strong> escolas, casa e<br />

nos espaços em comum da cida<strong>de</strong>.<br />

Na parte prática foi produzida uma pilha <strong>de</strong> compostagem, com intuito <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar como<br />

se dá o processo <strong>de</strong> transformação <strong>de</strong> resíduos, aproveitando materiais oferecidos pela própria<br />

escola. Para a escolha do local <strong>de</strong> instalação da pilha <strong>de</strong> compostagem sugerimos que<br />

consi<strong>de</strong>rassem o fácil acesso, a disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> água para molhar a pilha, levando em<br />

consi<strong>de</strong>ração as características do solo (boa drenagem e leve <strong>de</strong>clive). Com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> evitar a<br />

compactação das camadas durante o processo <strong>de</strong> construção da compostagem, os materiais foram<br />

cortados em partículas menores, facilitando a aeração. À medida que foi formada cada uma das<br />

camadas adicionou água diariamente na pilha <strong>de</strong> compostagem para acelerar as reações<br />

microbia<strong>nas</strong>, como também para controlar temperatura e umida<strong>de</strong>. A cada 15 dias revolveram a<br />

pilha para haver uma boa homogeneização do material. Em sua confecção houve o empilhado em<br />

camadas sobrepostas em dimensões <strong>de</strong> 1 m <strong>de</strong> altura, 2 m <strong>de</strong> comprimento e 1m <strong>de</strong> largura. Após o<br />

último estado da compostagem, o processo <strong>de</strong> mineralização da matéria orgânica estava concluído,<br />

sendo assim beneficiamos e aplicamos em plantas e hortas da escola, levando em conta as<br />

orientações da literatura.<br />

Em termos gerais, essa metodologia <strong>de</strong> trabalho vem a contribuir com a busca <strong>de</strong><br />

alternativas para uma contínua reflexãoe ampliação dos conhecimentos sobre a educação ambiental,<br />

através do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ssas ativida<strong>de</strong>s.<br />

Resultados alcançados<br />

A aplicação <strong>de</strong>sse trabalho foi possível observar, analisar e repensar fatos e situações<br />

inerentes ao problema do lixo e meio ambiente, reconhecendo a necessida<strong>de</strong> e as oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

atuar <strong>de</strong> modo propositivo para reduzir a produção <strong>de</strong> resíduos gerados na escola. Estimulandoos<br />

alunos a diminuir essa quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resíduos, promovendo modificações nos padrões <strong>de</strong> produção<br />

e consumo, mostrando que o lixo não é, em absoluto, um conjunto <strong>de</strong> materiais sólidos sem<br />

utilida<strong>de</strong>. Para Travassos (2006), o papel da escola não se reduz simplesmente a incentivar a coleta<br />

seletiva do lixo, em seu território ou em locais públicos, para que seja reciclado posteriormente. Os<br />

valores consumistas da população tornam a socieda<strong>de</strong> uma produtora cada vez maior <strong>de</strong> lixo. A<br />

necessida<strong>de</strong> que existe é, na verda<strong>de</strong>, <strong>de</strong> mudanças <strong>de</strong> valores e comportamentos. Essas mudanças,<br />

919


segundo Reigota (1994), <strong>de</strong>vem acima <strong>de</strong> tudo, ―levar os indivíduos e os grupos a adquirir o sentido<br />

dos valores sociais, um sentimento profundo <strong>de</strong> interesse pelo meio ambiente e a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

contribuir para a sua proteção e qualida<strong>de</strong>‖.<br />

Com o trabalho também foi possível formular opiniões e sugestões dos professores, on<strong>de</strong> os<br />

mesmo <strong>de</strong>stacam alguns pontos para viabilizar a adoção <strong>de</strong>sse mo<strong>de</strong>lo para a conscientização<br />

sustentável dos alunos:<br />

―a abordagem teórica do assunto e em seguida uma prática é muito importante, pois diante dos<br />

problemas mencionados os alunos fixam melhor o conhecimento e se preocupam em engajar-se,<br />

havendo uma melhor conscientização‖;<br />

―iniciativas como essas são fundamentais para os jovens alunos do ensino fundamental<br />

construir uma visão crítica nesse contexto da problemática socioambiental‖;<br />

―A compostagem é um ótimo exemplo para <strong>de</strong>monstrar soluções viáveis e <strong>de</strong> fácil entendimento<br />

para o <strong>de</strong>stino do lixo, permitindo assim essa prática sejafeita até mesmo em casa”;<br />

Desta forma foi possível esclarecer a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> repensar o nosso mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento econômico e criar mecanismos efetivos que disciplinem a geração <strong>de</strong> bens <strong>de</strong><br />

consumo, o reaproveitamento e a reciclagem <strong>de</strong> materiais incentivando a minimização do<br />

<strong>de</strong>sperdício e dos impactos ambientais associados, tendo como base o pensamento crítico e<br />

inovador, promovendo a transformação e <strong>de</strong>senvolvendo uma consciência ética utilizando a<br />

Educação Ambiental <strong>nas</strong> bases. I<strong>de</strong>ia reforçada por Carvalho (2004), on<strong>de</strong> aborda que a educação<br />

acontece como parte <strong>de</strong> uma ação humana <strong>de</strong> transformar a natureza em cultura, atribuindo-lhe<br />

sentidos, trazendo-a para o campo da compreensão e das experiências. Além disso, Reigota (1994)<br />

<strong>de</strong>staca que a compreensão mais global sobre o tema, proporciona o intercâmbio <strong>de</strong> experiências<br />

entre professores e alunos e envolver toda a comunida<strong>de</strong> escolar e extraescolar. Para que isso ocorra<br />

o programa a Educação Ambiental <strong>nas</strong> escolas não <strong>de</strong>ve ser tratada isoladamente ou relacionado<br />

ape<strong>nas</strong> com algumas discipli<strong>nas</strong> e sim <strong>de</strong> uma forma interdisciplinar praticada no dia-a-dia da<br />

escola, para que possa ser levada também para fora da mesma e para o ambiente <strong>de</strong> cada indivíduo<br />

(TRAVASSOS, 2006).<br />

Consi<strong>de</strong>rações finais<br />

A educação ambiental é um <strong>de</strong>safio para qualquer escola, porém com as observações do<br />

presente trabalho a mesma <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>senvolvida em um contexto interdisciplinar que integre a<br />

comunida<strong>de</strong> escolar e extraescolar, <strong>de</strong> forma que os alunos consigam conciliar teoria e práticapara<br />

construir uma visão crítica.<br />

920


Através da educação ambiental e a conscientização, po<strong>de</strong>-se enten<strong>de</strong>r esse contexto da<br />

problemática socioambiental. Sendo possível observar, analisar e repensar os fatos e situações,<br />

inerentes ao problema do lixo e meio ambiente, reconhecendo a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reduzir a produção<br />

<strong>de</strong> resíduos gerados.<br />

Referências<br />

BARBERIS, R.; NAPPI, P. Evaluation of Compost Stability.In The Science of<br />

Composting.Eds De Bertoli, M., P. Sequi, B. Lemmes& T. Papi. Blackie Aca<strong>de</strong>mic &<br />

Professional, London, 176-183 pp, 1996.<br />

CAMPBELL, S. T. U. Manual <strong>de</strong> compostagem para hortas e jardins: como aproveitar<br />

tem o lixo orgânico doméstico; tradução <strong>de</strong> Marcelo Jahnel. São Paulo: Nobel, 1999.<br />

CARVALHO, I. C. <strong>de</strong> M. Educação Ambiental: A formação do sujeito ecológico. São<br />

Paulo: Cortez, 2004.<br />

CAVALCANTI, C. Desenvolvimento e natureza: estudos para uma socieda<strong>de</strong> sustentável. São<br />

Paulo, Cortez Editora, 1995. 429 p.<br />

D‘ALMEIDA, M. L.; VILHENA, André. Lixo municipal: manual <strong>de</strong> gerenciamento<br />

integrado. 2.ed. São Paulo: IPT/CEMPRE, 2000.<br />

FARIAS, T. Direito Ambiental: tópicos especiais. João Pessoa: Editora Universitária,<br />

2007.<br />

GRIPPI, S. Lixo, Reciclagem e sua História. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Interciência, 2001. 134p..<br />

Bibliografia, p.18, 23, 32.<br />

GROSSI, F. H.; et al. Estudo do potencial <strong>de</strong> reciclagem (reutilização) <strong>de</strong> papéis brancos na<br />

Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Engenharia Elétrica – UNICAMP. Revista Ciências do Ambiente On-Line Agosto,<br />

2008 <strong>Vol</strong>ume 4, Número 2.<br />

JACOBI, P. R. Educação ambiental, cidadania e sustentabilida<strong>de</strong>. Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong><br />

Pesquisa (Fundação Carlos Chagas), São Paulo, v. 118, p. 189 -205, 2003.<br />

LEITE, P. R. Canais <strong>de</strong> Logística Reversa: Meio Ambiente e Competitivida<strong>de</strong>. São<br />

Paulo; Pearson Prentice Hall, 2003.<br />

MATOS, A. T. <strong>de</strong>; et al. Compostagem <strong>de</strong> alguns resíduos orgânicos, utilizando-se<br />

águas residuárias da suinocultura como fonte <strong>de</strong> nitrogênio. Revista Brasileira <strong>de</strong><br />

Engenharia Agrícola e Ambiental, v.2, n.2, p.199-203, 1998.<br />

MORIN, E. A religião dos saberes: o <strong>de</strong>safio do século XXI. 4.ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Bertrand Brasil, 2004, 583p.<br />

OLIVEIRA, F. N. S.; LIMA, H. J. M.; CAJAZEIRA, J. P. Uso da compostagem em<br />

sistemas agrícolas orgânicos. Fortaleza : Embrapa Agroindústria Tropical, 2004.<br />

PEREIRA NETO, J. T. Conceitos mo<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> compostagem. Engenharia Sanitária,<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 28, n. 2, abr/jun 1989.<br />

921


REIGOTA, Marcos. O que é Educação Ambiental? São Paulo: Ed. Brasiliense, 1994.<br />

SANTOS, B. <strong>de</strong> S. Para uma reinvenção solidária e participativa do Estado. In: PEREIRA, L. C.<br />

B.; WILHEIM, J.; SOLA, L. (Orgs.) Socieda<strong>de</strong> e Estado em transformação. São Paulo: UNESP,<br />

1999.<br />

SOUZA, A. A. P.; OLIVEIRA, D. F.; FARIAS, G. G; JORDÃO, M. T. Agenda<br />

Ambiental: gestão socioambiental. 21 ed. Campina Gran<strong>de</strong>: EDUEPB, 2011 628 p.<br />

SUAREZ, M. L. H. Política energética e <strong>de</strong>senvolvimento sustentável: taxa sobre o<br />

carbono para a mitigação <strong>de</strong> gases <strong>de</strong> efeito estufa no Brasil. Tese (Doutorado em<br />

Engenharia). Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Engenharia, Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Campi<strong>nas</strong>.<br />

Campi<strong>nas</strong>. 2000.<br />

TEIXEIRA, R. F. F. Compostagem. HAMMES, V.S. (Org.) Educação ambiental para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento sustentável. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, 2002, v.5,<br />

p.120-123.<br />

TRAVASSOS, E. G. A prática da educação ambiental <strong>nas</strong> escolas. Porto Alegre:<br />

Mediação, 2006.<br />

922


HORTA MEDICINAL E AROMÁTICA NA ESCOLA: UMA AÇÃO SOCIOAMBIENTAL<br />

Ramon da Silva SANTOS 103 (UFPB/ PB) – ramonjp@hotmail.com<br />

Thamiris <strong>de</strong> Melo SILVA 29 (UFPB/PB) – thamiris.hana@gmail.com<br />

Lenyneves Duarte Alvino <strong>de</strong> ARAÚJO 104 – lenyneves@cca.ufpb.br<br />

Resumo<br />

Núbia Pereira da COSTA 30 – núbia@cca.ufpb.br<br />

Os problemas socioambientais, vistos como ameaças à sobrevivência do homem na terra, são<br />

relativamente novos no mundo e se agravaram no momento em que o homem distanciou-se da<br />

natureza e passou a encará-la como uma fonte <strong>de</strong> recursos ilimitados. Nesse contexto, objetivou-se<br />

implantar em escolas, hortas tradicionais e verticais, incentivando a interdisciplinarida<strong>de</strong> e a<br />

educação ambiental, <strong>de</strong> forma a propor a conscientização dos alunos com a preservação do meio<br />

ambiente. O projeto foi <strong>de</strong>senvolvido em duas escolas, uma pública e outra particular, ambas<br />

localizadas no município <strong>de</strong> Areia/PB. Foram realizadas ativida<strong>de</strong>s envolvendo conteúdos sobre<br />

educação ambiental, conhecimento botânico, potencial medicinal e aromático das plantas visando à<br />

educação ambiental, o resgate da cultura popular e a interdisciplinarida<strong>de</strong>, contribuindo com o<br />

socioambiental <strong>nas</strong> escolas. A criação <strong>de</strong> uma horta na escola com plantas medicinais e aromáticas,<br />

utilizando-se garrafas recicláveis, registrou a aceitação <strong>de</strong> 98% dos alunos. Desse modo, um lugar<br />

ocioso na escola foi utilizado para <strong>de</strong>spertar o interesse dos alunos através das aulas e experiências<br />

adquiridas na horta, <strong>de</strong> forma que esse conhecimento, provavelmente, foi repassado aos seus<br />

familiares. Foram citadas 17 espécies <strong>de</strong> plantas medicinais e aromáticas pelos alunos da escola<br />

particular e 15 espécies da escola da re<strong>de</strong> pública, on<strong>de</strong> 71% dos alunos afirmaram conhecer o<br />

potencial medicinal, bem como utilizar, por indicação dos pais, algumas das plantas citadas. Além<br />

disso, 100% dos professores confirmaram o incentivo a conscientização ambiental, a<br />

interdisciplinarida<strong>de</strong> e o maior <strong>de</strong>senvolvimento da aprendizagem dos alunos através do trabalho<br />

<strong>de</strong>senvolvido com a implantação da horta. Os objetivos do projeto foram alcançados <strong>de</strong> forma<br />

efetiva, uma vez que contribuiu com a formação <strong>de</strong> cidadãos conscientes, comprometidos e capazes<br />

<strong>de</strong> atuar na preservação do meio ambiente.<br />

Palavras-chave: Educação ambiental, interdisciplinarida<strong>de</strong>, cidadania.<br />

103<br />

Curso <strong>de</strong> Ciências Biológicas, Centro <strong>de</strong> Ciências Agrárias, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Paraíba, Cida<strong>de</strong> Universitária,<br />

CEP:58397-000, Areia-PB , Brasil.<br />

104<br />

Departamento <strong>de</strong> Ciências Biológicas, Centro <strong>de</strong> Ciências Agrárias, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Paraíba, Cida<strong>de</strong><br />

Universitária, CEP:58397-000, Areia-PB , Brasil.<br />

923


Abstract:<br />

The environmental problems, seen as threats to the survival of man on earth, are relatively new in<br />

the world and are aggravated when the man distanced himself of nature and came to regard it as a<br />

source of unlimited resources. In this context, the objective was to <strong>de</strong>ploy in schools, traditional and<br />

verticals gar<strong>de</strong>ns, encouraging the interdisciplinarity and environmental education, in or<strong>de</strong>r to<br />

propose the awareness of stu<strong>de</strong>nts with environmental preservation. The project was <strong>de</strong>veloped in<br />

two schools, one public and one private, both located in the city Areia/PB. Activities were engaging<br />

content about environmental education, botanical knowledge, medicinal and aromatic potential of<br />

the plants, aimed at environmental education, rescue of popular culture and the interdisciplinarity,<br />

contributing to the socio and environmental in the schools. The creation of a school gar<strong>de</strong>n with<br />

medicinal and aromatic plants, using recyclable bottles, recor<strong>de</strong>d the acceptance of 98% of the<br />

stu<strong>de</strong>nts. Thus, an idle place in school was used for arouse the interest of stu<strong>de</strong>nts through the<br />

lessons and experiences gained in the gar<strong>de</strong>n, so that this knowledge was probably passed on to<br />

their families. Were cited 17 species of medicinal and aromatic plants by private school children<br />

and 15 species of public school, where 71% of stu<strong>de</strong>nts said they knew the medicinal potential, and<br />

used, by indication of parents, some of the plants indicated. In addition, 100% of the teachers<br />

confirmed the incentive the environmental awareness, the interdisciplinarity and further<br />

<strong>de</strong>velopment of stu<strong>de</strong>nt learning through work with the <strong>de</strong>ployment of the gar<strong>de</strong>n. The project<br />

objectives were achieved effectively as it contributed to the formation of concerned citizens,<br />

committed and able to act in the preservation of the environment.<br />

Keywords: Environmental education, interdisciplinarity, citizenship.<br />

Introdução<br />

Os problemas socioambientais, vistos como ameaças à sobrevivência do homem na terra, são<br />

relativamente novos no mundo e tais problemas passaram a se agravar a partir do momento em que o homem<br />

tornou-se distante da natureza e passou a encará-la como uma fonte <strong>de</strong> recursos disponíveis e ilimitados<br />

(PENTEADO, 1999). Uma forma <strong>de</strong> minimizar o impacto <strong>de</strong>ssa i<strong>de</strong>ia está no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> projetos<br />

socioambientais, como caminho para multiplicar o saber, <strong>de</strong>senvolvendo ações em conjunto na busca <strong>de</strong> um<br />

ambiente harmonioso para todos (PADUA & TABANEZ, 1997).<br />

A educação ambiental é uma forma abrangente <strong>de</strong> educação, através <strong>de</strong> um processo<br />

pedagógico participativo, que procura estimular no aluno uma consciência crítica sobre os<br />

problemas do ambiente. A prática da Educação Ambiental surge da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conservação do<br />

meio ambiente, o que é indiscutível nos dias atuais. Os indivíduos precisam ser educados para que<br />

924


sejam capazes <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver a consciência socioambiental e para que esta tomada <strong>de</strong> consciência<br />

se propague entre, as presentes e futuras gerações, é importante que se trabalhe essa forma <strong>de</strong><br />

educação <strong>de</strong>ntro e fora da escola, através <strong>de</strong> projetos que envolvam toda a comunida<strong>de</strong> acadêmica.<br />

A educação ambiental vem sendo aceita, nos últimos anos, como sinônimo <strong>de</strong> educação para<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável e, por isso, a introdução <strong>de</strong> projetos que promovam a educação<br />

ambiental tornam-se importantes para o currículo escolar, <strong>de</strong> maneira interdisciplinar, em todas as<br />

práticas diárias da escola (PESTANA, 2007). No entanto, implantar a educação ambiental <strong>nas</strong><br />

escolas tem se mostrado uma tarefa exaustiva <strong>de</strong>vido as gran<strong>de</strong>s dificulda<strong>de</strong>s <strong>nas</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

sensibilização e formação, na implantação <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s, projetos e, principalmente, na manutenção<br />

e continuida<strong>de</strong> dos já existentes (VASCONCELLOS, 1997; ANDRADE, 2000).<br />

A horta na escola vem se mostrando como um projeto <strong>de</strong> suma importância, pois possibilita<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> diversas ativida<strong>de</strong>s pedagógicas em educação socioambiental auxiliando no<br />

processo <strong>de</strong> ensino-aprendizagem. Assim, a teoria e a prática encontram-se a partir do trabalho<br />

coletivo nos indivíduos envolvidos nesses projetos. Este processo torna-se importante para auxiliar<br />

a comunida<strong>de</strong> escolar na conscientização ambiental, valorizando a importância da reciclagem <strong>de</strong><br />

materiais, estabelecendo conceitos <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong>, entre outros (MORGADO, 2006).<br />

A horta implantada na escola tem diversas vantagens para toda comunida<strong>de</strong> acadêmica, tais<br />

como a redução dos gastos com a alimentação por parte das escolas, a promoção <strong>de</strong> uma<br />

alimentação saudável, o resgate da cultura popular através da utilização <strong>de</strong> plantas medicinais e<br />

aromáticas utilizadas na região, permite a colaboração dos alunos enriquecendo o conhecimento,<br />

estimula o interesse dos mesmos pelos temas <strong>de</strong>senvolvidos com a horta, além <strong>de</strong> promover à saú<strong>de</strong><br />

do alunado (JARDZWSKI, 2005). Essas vantagens intensificam-se quando na construção da horta,<br />

são introduzidas a utilização <strong>de</strong> garrafas PETs nos canteiros, tanto nos tradicionais como,<br />

principalmente, nos <strong>de</strong> uma horta vertical, estimulando os alunos à prática <strong>de</strong> reciclagem. As<br />

garrafas PETs são utilizadas principalmente por indústrias <strong>de</strong> refrigerantes e sucos, elas<br />

movimentam hoje um mercado que produz cerca <strong>de</strong> 9 bilhões <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s anualmente só no Brasil,<br />

das quais 53% não são reaproveitadas. Com isso, cerca <strong>de</strong> 4,7 bilhões <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s por ano são<br />

<strong>de</strong>scartadas na natureza, contaminando rios, indo para lixões ou mesmo espalhadas por terrenos<br />

vazios (ALEGRIA 2007).<br />

Se analisarmos o uso <strong>de</strong>ssas garrafas sobre aspectos econômicos é muito interessante tanto para<br />

quem produz como para quem consome. No entanto, em aspectos ambientais é muito preocupante, sendo 10<br />

milhões <strong>de</strong> garrafas fabricadas por dia, havendo poucos dias entre produção, uso e <strong>de</strong>scarte e séculos para a<br />

<strong>de</strong>composição (SILVA et. al., 2007).<br />

Materiais e Métodos<br />

925


A partir <strong>de</strong>sse contexto, objetivou-se implantar em escolas do município <strong>de</strong> Areia, hortas<br />

tradicionais e verticais, incentivando a interdisciplinarida<strong>de</strong>, a educação ambiental entre os<br />

estudantes através da reciclagem, <strong>de</strong> forma a estimular a conscientização dos alunos,<br />

comprometendo-se, assim, com a preservação e <strong>de</strong>fesa do meio ambiente, como cidadãos<br />

responsáveis.<br />

O trabalho foi <strong>de</strong>senvolvido em duas escolas, sendo uma da re<strong>de</strong> publica (Escola Municipal<br />

Madre Trautlin<strong>de</strong>) e a outra da re<strong>de</strong> privada (Escola <strong>de</strong> Ensino Infantil e Fundamental Pinóquio),<br />

ambas localizadas no município <strong>de</strong> Areia (6º58‘12‘ S e 35º42‘15‘ W), situada na mesorregião do<br />

Agreste Paraibano e Microrregião do Brejo Paraibano.<br />

Durante os períodos <strong>de</strong> junho a setembro <strong>de</strong> 2011 e junho a setembro <strong>de</strong> 2012, foram<br />

realizadas ativida<strong>de</strong>s dinâmicas envolvendo conteúdos como educação ambiental, potencial<br />

medicinal e aromático das plantas, além dos conteúdos básicos como ciências, matemática, artes,<br />

entre outras, visando incentivar o resgate da cultura popular, a interdisciplinarida<strong>de</strong> e a educação<br />

ambiental entre os alunos através da reciclagem, estimulando a conscientização dos estudantes.<br />

Foram realizadas palestras com temas relacionados à educação ambiental e na sequência<br />

foram aplicados questionários junto aos alunos das turmas do 2º ao 9º ano <strong>nas</strong> escolas e seus<br />

respectivos professores para obter informações relevantes sobre a utilização <strong>de</strong> plantas medicinais e<br />

aromáticas, bem como o interesse em cultivar uma horta em sua escola com o intuito <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar<br />

quais espécies po<strong>de</strong>riam e <strong>de</strong>sejariam cultivar.<br />

Uma campanha para a coleta <strong>de</strong> garrafas PET foi instalada <strong>nas</strong> escolas, on<strong>de</strong> as mesmas foram<br />

utilizadas na confecção dos canteiros das hortas tradicionais, bem como na construção das hortas<br />

verticais.<br />

As etapas seguintes consistiram na implantação e manutenção da horta a partir do<br />

escalonamento das turmas, que participaram na construção dos canteiros em quatro formas<br />

geométricas (triângulo, círculo, quadrado e retângulo) com garrafas pet e do plantio e rega das<br />

espécies indicadas pelos alunos nos questionários.<br />

Resultados e Discussão<br />

Na Escola Municipal Madre Trautlin<strong>de</strong>, a participação do alunado foi imprescindível, pois<br />

contribuíram diretamente na coleta das garrafas PET, bem como na utilização das mesmas nos<br />

canteiros. A partir das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas na horta tais como o transplante <strong>de</strong> mudas das<br />

sementeiras para os canteiros, da rega e dos cuidados com as plantas pô<strong>de</strong>-se promover a<br />

interdisciplinarida<strong>de</strong> e a educação ambiental entre os alunos e professores. Foram trabalhados temas<br />

como a importância das plantas para o meio ambiente e formas consciente <strong>de</strong> reciclagem ajudando<br />

926


na preservação do meio ambiente. Com essa temática pô<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>spertar o interesse do alunado em<br />

cuidar do meio ambiente <strong>de</strong> forma consciente (Figura I).<br />

Pela falta <strong>de</strong> espaço na Escola <strong>de</strong> Ensino Infantil e Fundamental Pinóquio, uma horta vertical<br />

foi feita, mostrando assim outras formas <strong>de</strong> reaproveitamento não só das garrafas PET, mas <strong>de</strong><br />

pequenos espaços. A i<strong>de</strong>ia foi aprovada por todos os alunos que mostraram interesse em<br />

<strong>de</strong>senvolver essa técnica em suas residências, o que motivou os pais <strong>de</strong>sses alunos a conhecerem a<br />

horta na escola. Foi registrado que 98% dos alunos afirmaram a importância da criação <strong>de</strong> uma<br />

horta na escola com plantas medicinais e aromáticas, utilizando-se garrafas recicláveis, pois com<br />

isso eles afirmaram estarem contribuindo com o meio ambiente através da redução da poluição.<br />

Figura I: Horta medicinal e aromática <strong>nas</strong> escolas. Implantação da horta tradicional (A),<br />

transplante <strong>de</strong> mudas pelos alunos (B), rega pelos alunos (C), horta vertical (D e F) e horta<br />

tradicional (E).<br />

A B<br />

C D<br />

E F<br />

927


A comunicação como fundamental para a co-participação dos sujeitos no ato <strong>de</strong> conhecer<br />

(FREIRE, 1992) e a proposta da Educomunicação que afirma que a Educação Ambiental precisa se<br />

expressar em múltiplas linguagens, para além da fala e da escrita (TRAJBER, 2005), pô<strong>de</strong> ser vista<br />

através das dinâmicas realizadas na horta.<br />

Assim, um lugar antes ocioso, tornou-se um espaço <strong>de</strong> dinamização do currículo na escola,<br />

capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>spertar o interesse socioambiental dos alunos através das aulas e das experiências<br />

adquiridas na horta, <strong>de</strong> forma que essa educação, provavelmente, foi repassada aos seus familiares.<br />

Portanto, a abordagem foi dada valorizando o espaço, o reciclável e o ocioso pois na prática da<br />

Educação Ambiental, novas perspectivas <strong>de</strong> pensar o viver, o habitar e o produzir são transmitidas,<br />

expandindo o uso e o consumo não só <strong>de</strong> aspectos materiais <strong>de</strong> produção, mas também <strong>de</strong> formas<br />

não materiais (SILVA e DUARTE, 1999 ).<br />

Foram citadas 17 espécies <strong>de</strong> plantas medicinais e aromáticas pelos alunos da escola <strong>de</strong><br />

Ensino Infantil e Fundamental Pinóquio, as quais <strong>de</strong>stacaram-se como as mais citadas pelos alunos:<br />

hortelã (Mentha s.p) (19%), seguida do capim santo (Cymbopogon citratus) (10%), da erva-cidreira<br />

(Melissa officinalis) (10%) e do eucalipto (Eucalyptus globulus) (10%) (Figura II). Foi observado<br />

que 71% dos alunos afirmaram conhecer o potencial medicinal das plantas citadas e as utilizavam<br />

segundo o conhecimento empírico dos pais que foi passado culturalmente.<br />

Figura II: Percentual das plantas medicinais e aromáticas indicadas entre os alunos das escolas e<br />

Pinóquio, Areia/PB.<br />

Já na escola Municipal Madre Trautlin<strong>de</strong>, diferentemente da escola Pinóquio, foram citadas<br />

15 espécies <strong>de</strong> plantas medicinais, das quais o capim santo (Cymbopogon citratus) foi o mais citado<br />

entre os alunos (26%), seguidos da erva-cidreira (Melissa officinalis) (21%), boldo (Peumus boldus)<br />

(15%), erva-doce (Foeniculum vulgare (11%) e hortelã (Mentha s.p) (11%) (Figura III). Os alunos<br />

928


elataram saber a utilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> algumas plantas medicinais como o boldo e a erva-cidreira para<br />

auxiliar nos distúrbios estomacais e intestinais e calmante, respectivamente.<br />

Figura III: Porcentagem das plantas medicinais conhecidas e indicadas pelos alunos da escola Madre<br />

Trautlin<strong>de</strong>, Areia/PB.<br />

Observou-se que as plantas citadas pelos alunos, são espécies comumente utilizadas como<br />

condimentos na alimentação e na medicina popular, fruto <strong>de</strong> uma cultura que aos poucos está se<br />

per<strong>de</strong>ndo entre as gerações.<br />

Observou-se durante o <strong>de</strong>senvolvimento do projeto o interesse do alunado entre a faixa etária<br />

<strong>de</strong> 5 e 12 anos, os quais mostraram-se mais envolvidos diretamente com as ativida<strong>de</strong>s realizadas na<br />

horta, por outro lado o alunado da faixa etária <strong>de</strong> 13 a 16 anos, inicialmente mostraram-se<br />

<strong>de</strong>sinteressados, mas com o <strong>de</strong>senvolvimento do projeto foram tornando-se mais receptivos as<br />

ativida<strong>de</strong>s realizadas na horta.<br />

Os professores das discipli<strong>nas</strong> <strong>de</strong> ciências, artes, matemática, entre outras, tiveram a<br />

oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar conteúdos didáticos associados às formas <strong>de</strong> incentivo da educação<br />

ambiental, o que refletiu em um aumento na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suas aulas, utilizando a horta como um<br />

laboratório vivo <strong>nas</strong> escolas. Isso foi corroborado nos questionários, nos quais 100% dos<br />

professores confirmaram a prática da conscientização ambiental, da interdisciplinarida<strong>de</strong> e do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento do nível <strong>de</strong> aprendizagem dos alunos através do trabalho <strong>de</strong>senvolvido com a<br />

implantação da horta.<br />

Conclusão<br />

A partir da implantação <strong>de</strong> hortas tradicionais e verticais em escolas do município <strong>de</strong> Areia,<br />

alcançou-se os objetivos <strong>de</strong> incentivar a interdisciplinarida<strong>de</strong>, o resgate da cultura popular e a<br />

929


educação ambiental entre os alunos, tornando-os capazes <strong>de</strong> atuar como cidadãos conscientes e<br />

comprometidos com a preservação e <strong>de</strong>fesa do meio ambiente.<br />

Referências<br />

BURATTO, A.P.; DASPASQUALE, M.; LOPES, A.C.; CORTOLI, C.; FERREIRA, E.S. Hortas<br />

em garrfas PET: uma alternative para a educação ambiental e sustentabilida<strong>de</strong>. Synergismus<br />

scyentifica UTFPR , Pato Branco, 06(1). 2011.<br />

FREIRE, P. Extensão ou Comunicação? 10. ed. São Paulo, Paz e Terra, 1992.<br />

JARDZWSKI, K, 2005. Projeto Horta. Disponível em:<br />

. Acesso em: 04<br />

<strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2011.<br />

MORGADO, F. S. A, SANTOS, M. A. A. Horta Escolar na Educação Ambiental e Alimentar:<br />

Experiência do Projeto Horta Viva <strong>nas</strong> Escolas Municipais <strong>de</strong> Florianópolis. 2006. 50 f. Monografia<br />

– Engenharia Agronômica. Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina, Florianópolis. 2006.<br />

SILVA, L. T.; DUARTE, R. G. Geografia e Educação Ambiental: discussões necessárias para suas<br />

práticas. Geo UERJ, Rio <strong>de</strong> Janeiro, n.6, p. 57-68, 1999.<br />

VASCONCELLOS, H. S. R. A pesquisa-ação em projetos <strong>de</strong> Educação Ambiental. In: PEDRINI,<br />

A. G. (org). Educação Ambiental: reflexões e práticas contemporâneas. Petrópolis, Vozes, 1997.<br />

TRAJBER, R. Educomunicação para Coletivos Educadores. In: Programa Nacional <strong>de</strong> Educação<br />

Ambiental - ProNEA / Ministério do Meio Ambiente, Diretoria <strong>de</strong> Educação Ambiental; Ministério<br />

da Educação. Coor<strong>de</strong>nação Geral <strong>de</strong> Educação Ambiental. - 3. ed - Brasília : Ministério do Meio<br />

Ambiente, 2005.<br />

930


EDUCAÇÃO AMBIENTAL: A UNIVERSIDADE NA FORMAÇÃO DE EDUCADORES<br />

RESUMO<br />

Rayane Carla <strong>de</strong> Batista da SILVA. UERN/rayane_carlabs@hotmail.com 105<br />

Maria Cleonice SOARES. UERN/cleonice_s@hotmail.com 106<br />

Aline Patrícia Lopes QUINTINO. UERN/alinepatricia@yahoo.com.br 107<br />

Maria do Socorro da Silva BATISTA. UERN/ msbatista-@hotmail.com 108<br />

Na socieda<strong>de</strong> contemporânea a problemática ambiental ultrapassou os aspectos meramente<br />

biológicos. Passou a exigir da socieda<strong>de</strong> o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s e comportamentos, bem<br />

como o exercício <strong>de</strong> reflexão sobre as dificulda<strong>de</strong>s que o meio ambiente vem enfrentando. Isto vem<br />

ocorrendo tendo como meta o alcance <strong>de</strong> mudanças <strong>de</strong> hábitos para garantir o bem-estar e a<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida das pessoas. Nesse contexto, o presente estudo se <strong>de</strong>senvolveu a partir da<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> refletirmos sobre as problemáticas ambientais e a formação <strong>de</strong> agentes<br />

multiplicadores capazes <strong>de</strong> modificar suas posturas e atitu<strong>de</strong>s para com o meio em que vivem.<br />

Nesse sentido, a universida<strong>de</strong> tem um papel <strong>de</strong> extrema importância na construção <strong>de</strong> um<br />

pensamento crítico dos educadores por ela formados. O trabalho objetiva discutir os problemas<br />

ambientais contemporâneos e ainda o papel da universida<strong>de</strong> na formação <strong>de</strong> sujeitos com<br />

pensamento crítico. A pesquisa discorreu a partir <strong>de</strong> revisão bibliográfica e análise documental.<br />

Respaldamo-nos em autores como: CARVALHO (2008), REIGOTA (2001) MEDINA (1999),<br />

<strong>de</strong>ntre outros. Com os resultados, constatou-se que as questões ambientais se constituem como um<br />

fator essencial na formação do educador, pois auxilia significativamente no <strong>de</strong>senvolvimento das<br />

práticas pedagógicas. Consi<strong>de</strong>ramos assim, que a educação ambiental contribui <strong>de</strong> maneira positiva<br />

para a criação <strong>de</strong> uma consciência socioambiental e para aumentar os conhecimentos acerca da<br />

problemática ambiental enfrentada pela socieda<strong>de</strong> atual.<br />

PALAVRAS-CHAVES: Universida<strong>de</strong>; Consciência Socioambiental; Formação;<br />

ABSTRACT<br />

In the contemporary society, environmental issues outpaced purely biological aspects. It began<br />

requiring society the <strong>de</strong>velopment of attitu<strong>de</strong>s and behaviors, as well as the exercise of reflection on<br />

the difficulties that the environment has been facing. This has been happening with the goal of<br />

achieving changes in habits to ensure people's well-being and quality of life. In this context, the this<br />

study <strong>de</strong>veloped itself from the need to reflect the course for the formation of multipliers capable of<br />

105<br />

Aluna da Graduação do curso <strong>de</strong> Pedagogia da faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Educação da Universida<strong>de</strong> do Estado do Rio Gran<strong>de</strong> do<br />

Norte-UERN. Monitora no Programa Novos Talentos.<br />

106<br />

Aluna da Graduação do curso <strong>de</strong> Pedagogia da faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Educação da Universida<strong>de</strong> do Estado do Rio Gran<strong>de</strong> do<br />

Norte-UERN. Monitora no Programa Novos Talentos.<br />

Graduada do curso do curso <strong>de</strong> Gestão Ambiental da Universida<strong>de</strong> do Estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte-UERN.<br />

107<br />

Aluna da Graduação do curso do curso <strong>de</strong> Gestão Ambiental da Universida<strong>de</strong> do Estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte-<br />

UERN. Monitora no Programa Novos talentos.<br />

108<br />

Dr. em Educação Ambienta, Professora da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Educação da Universida<strong>de</strong> do Estado do Rio Gran<strong>de</strong> do<br />

Norte – UERN.<br />

931


modifying their postures and attitu<strong>de</strong>s towards the environment in which they live. Accordingly the<br />

university has a critically important role in building critical thinking in the educators formed by it.<br />

In that perspective, the work discusses the formation of socioenvironmental awareness from the<br />

subjects in the area of <strong>de</strong>epening environmental education, present in the curriculum of the course.<br />

The qualitative research was <strong>de</strong>veloped from literature review and documentary analysis backed by<br />

authors such as: CARVALHO (2008), REIGOTA (2001), MEDINA (1999), among others. With<br />

the results, it was found that environmental issues are constituted as an essential factor in teacher<br />

education, it helps significantly in the <strong>de</strong>velopment of teaching practices. We consi<strong>de</strong>r therefore that<br />

environmental education contributes positively to the creation of environmental awareness and<br />

increase knowledge about environmental issues faced by society today.<br />

KEYWORDS: University; Environmental consciousness; Formation<br />

INTRODUÇÃO<br />

No século XXI, po<strong>de</strong>mos perceber que a problemática ambiental exce<strong>de</strong> a esfera biológica e<br />

exige um posicionamento da socieda<strong>de</strong>. Esse posicionamento <strong>de</strong>ve ocorrer através <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s e<br />

valores, para que a mesma possa refletir sobre as dificulda<strong>de</strong>s que o meio ambiente vem<br />

enfrentando, garantindo assim, o bem-estar e a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida das pessoas.<br />

Discutir a formação <strong>de</strong> educadores à luz das <strong>de</strong>mandas socioambientais atuais se constitui<br />

em um compromisso político-social e humano, pois a construção <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s sustentáveis na relação<br />

homem natureza é condição indispensável para a continuida<strong>de</strong> da existência humana no planeta.<br />

Nesse sentido, a escola, lócus <strong>de</strong> educação intencional tem um importante papel na formação <strong>de</strong><br />

educadores na perspectiva <strong>de</strong> um pensamento crítico. Nessa perspectiva, o presente estudo discute<br />

as problemáticas ambientais e os <strong>de</strong>safios no processo <strong>de</strong> formação dos educadores, abordando<br />

aspectos relacionados ao consumismo exacerbado da socieda<strong>de</strong> contemporânea.<br />

A pesquisa foi <strong>de</strong>senvolvida a partir <strong>de</strong> revisão bibliográfica, análise documental, e está<br />

respaldada em autores como: CARVALHO (2008), que <strong>de</strong>screve acerca dos nossos conceitos já<br />

formados e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mudar as posturas impostas pela socieda<strong>de</strong>; REIGOTA (2001) que<br />

ressalta o surgimento da Educação Ambiental como fator resultante da preocupação com o futuro;<br />

MEDINA (1999), que aborda a educação como contribuinte essencial na formação do sujeito, e que<br />

precisa acordar com a realida<strong>de</strong>; <strong>de</strong>ntre outros autores.<br />

Acreditamos que este estudo é pertinente para repensar a formação dos educadores no<br />

tocante às questões ambientais, pois direcionar a problemática para a formação acadêmica é um<br />

fator positivo, uma vez que o educador contribui <strong>de</strong> maneira significativa na formação das crianças,<br />

colaborando assim para a formação ética <strong>de</strong> modo geral.<br />

A PROBLEMÁTICA AMBIENTAL: ANÁLISE CRÍTICA DE SUAS CAUSAS E<br />

CONSEQUÊNCIAS<br />

932


A incompatibilida<strong>de</strong> entre as ações huma<strong>nas</strong> e a natureza resulta no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação<br />

do meio em que vivemos, provocando consequências nefastas para a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida. Sobre tal<br />

aspecto, Lima apud Herculano (2000) <strong>de</strong>fine qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida como a soma das condições<br />

econômicas, ambientais, científico-culturais e políticas coletivamente construídas e postas à<br />

disposição dos indivíduos para que estes possam realizar suas potencialida<strong>de</strong>s.<br />

Até início do século XX, a população mundial acreditava que os recursos naturais do planeta<br />

eram intermináveis, e que o homem po<strong>de</strong>ria tirar o máximo proveito <strong>de</strong>sses, sem que houvesse<br />

consequências futuras. Porém, no contexto atual, consi<strong>de</strong>rando as graves questões ambientais<br />

enfrentadas pelo homem, e diante dos inúmeros acontecimentos como catástrofes naturais,<br />

aquecimento global, elevação do nível do mar, escassez <strong>de</strong> água e <strong>de</strong> alimentos etc., acontecendo<br />

cada vez mais frequentes, po<strong>de</strong>-se perceber que a natureza não mais comporta tamanhas agressões<br />

como <strong>de</strong>sflorestamento, queimadas, emissões <strong>de</strong> gases, <strong>de</strong>spejos <strong>de</strong> lixos industriais, poluição dos<br />

rios, uso ina<strong>de</strong>quado <strong>de</strong> agrotóxicos, <strong>de</strong>sperdício <strong>de</strong> água potável, <strong>de</strong>ntre outros.<br />

A humanida<strong>de</strong> está traçando um caminho que parece não ter volta e para amenizarmos esses<br />

efeitos precisamos repensar as ações <strong>de</strong> maneira que a população tanto local quanto global, leve em<br />

consi<strong>de</strong>ração que os resultados <strong>de</strong> nossas mudanças trarão benefícios comuns para todos. As ações<br />

huma<strong>nas</strong> <strong>de</strong>terminadas pelo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento provocam fortes <strong>de</strong>gradações ambientais.<br />

A esse respeito, Leff (2003) analisa que:<br />

Mudanças catastróficas na natureza ocorreram <strong>nas</strong> diversas fases <strong>de</strong> evolução<br />

geológica e ecológica do planeta. A crise ecológica atual pela primeira vez não é<br />

uma mudança natural; é uma transformação da natureza induzida pelas concepções<br />

metafísicas, filosóficas, ética, científica e tecnológica do mundo (p. 19).<br />

O meio ambiente sofreu um forte impacto com a Segunda Guerra Mundial, on<strong>de</strong><br />

precisamente aconteceram, entre tantas outras <strong>de</strong>gradações, as explosões <strong>de</strong> bombas atômicas <strong>nas</strong><br />

cida<strong>de</strong>s japonesas <strong>de</strong> Hiroshima e Nagasaki. Após o término da Guerra, objetivou-se recuperar a<br />

economia dos países envolvidos o mais rápido possível. Assim, passou-se a produzir em massa,<br />

todo tipo <strong>de</strong> bens <strong>de</strong> consumo, incentivando-se também a formação <strong>de</strong> um público para consumir<br />

em excesso todos os produtos ―consi<strong>de</strong>rados indispensáveis‖.<br />

Esses produtos possuem ―vida‖ cada vez mais curta garantindo o seu rápido <strong>de</strong>scarte e<br />

consequentemente a aquisição <strong>de</strong> outros, cada vez mais elaborados. Isto incentiva para que as<br />

pessoas se <strong>de</strong>sfaçam dos mesmos e comprem novamente, dando margem para a economia se<br />

reestabelecer e se ampliar. Esses aspectos levam à formação da socieda<strong>de</strong> baseada no mo<strong>de</strong>lo<br />

consumista. De acordo com Guimarães (2004) esse mo<strong>de</strong>lo é baseado em uma visão<br />

antropocêntrica <strong>de</strong> mundo, que beneficia os interesses privados em perda dos bens coletivos,<br />

933


―gerando impactos predatórios, causadores dos graves <strong>de</strong>sequilíbrios socioambientais da<br />

atualida<strong>de</strong>‖.<br />

O consumismo passou a ser <strong>de</strong> fundamental ―importância‖ para a socieda<strong>de</strong>, a ponto <strong>de</strong> ser<br />

consi<strong>de</strong>rado o elemento chave para a evolução dos países. Isto fica claro quando, por exemplo, a<br />

presi<strong>de</strong>nte Dilma Rousseff, <strong>de</strong>clara para o site Reuters, que ―o governo vai continuar estimulando o<br />

consumo no país para alavancar o crescimento da economia em meio à crise internacional‖.<br />

Enquanto isso, a população brasileira e também mundial vem crescendo consi<strong>de</strong>ravelmente,<br />

principalmente nos países com maiores índices <strong>de</strong> pobreza.<br />

O atual mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento econômico está, comprovadamente, <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ando<br />

intensas transformações no planeta. O <strong>de</strong>sperdício dos bens naturais e o acúmulo <strong>de</strong> lixo são<br />

exemplos nítidos do estímulo à produção que o capitalismo exerce. A evolução que acompanhou as<br />

indústrias e a tecnologia após a Segunda Guerra Mundial levou o meio ambiente a um estado <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>struição nunca visto antes.<br />

A população precisa adquirir maiores conhecimentos acerca dos problemas ambientais e<br />

exigir soluções por parte dos governos, uma vez que este se constitui como representante dos<br />

interesses sociais. Tristão (2004) discorre que a efetivação das políticas para as ações sustentáveis é<br />

relacionada com uma nova racionalida<strong>de</strong>, que se caracteriza por uma postura <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong><br />

entre as gerações atuais e futuras, e <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s da população que compõe a socieda<strong>de</strong><br />

contemporânea. Essa postura compreen<strong>de</strong> a educação como um elemento imprescindível na<br />

preparação <strong>de</strong> das pessoas, além <strong>de</strong> reestabelecer socieda<strong>de</strong>s diminuindo a pobreza e a exclusão<br />

social. Visa ainda a criação <strong>de</strong> uma política que possa perceber a problemática ambiental como<br />

fator <strong>de</strong> urgente resolução. (MACEDO FILHO apud BATISTA, 2011), esclarece que:<br />

A Política Nacional <strong>de</strong> Meio Ambiente originou-se em um contexto <strong>de</strong> imposições<br />

<strong>de</strong> normas internacionais, <strong>de</strong>corrente da necessida<strong>de</strong> do Brasil vir a conseguir,<br />

através dos organismos financiadores, como o Banco Mundial e o Fundo<br />

Monetário Internacional, financiamento <strong>de</strong> projetos que exigiam a avaliação dos<br />

impactos ambientais, para os quais não tínhamos, até então, legislação específica.<br />

(p. 51)<br />

No Brasil a Política Nacional do Meio Ambiente objetiva a conservação e preservação da<br />

qualida<strong>de</strong> ambiental, visando assegurar, no País, condições ao <strong>de</strong>senvolvimento socioeconômico,<br />

tendo em seu artigo 2°, os seguintes princípios: Ação governamental na manutenção do equilíbrio<br />

ecológico; proteção <strong>de</strong> áreas ameaçadas <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação; educação ambiental em todos os níveis do<br />

ensino, inclusive a educação da comunida<strong>de</strong>, objetivando capacitá-la para participação ativa na<br />

<strong>de</strong>fesa do meio ambiente, <strong>de</strong>ntre outros. Percebemos diante dos princípios acima citados, que o<br />

meio ambiente tem sido uma ‗preocupação‘ dos gestores no momento <strong>de</strong> sua formulação, bem<br />

934


como tem sido motivo <strong>de</strong> mobilização <strong>de</strong> parcela da população exigindo iniciativas dos po<strong>de</strong>res<br />

públicos. No entanto, Ferreira (1998) <strong>de</strong>lineia que:<br />

As políticas públicas estão hoje a meio caminho entre um discurso atualizado e um<br />

comportamento social bastante predatório: por um lado, as políticas públicas têm<br />

contribuído para o estabelecimento <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> proteção ambiental no país;<br />

mas, por outro, o po<strong>de</strong>r público é incapaz <strong>de</strong> fazer cumprir aos indivíduos e às<br />

empresas uma proporção importante da legislação ambiental (p. 107).<br />

Tomando por base a implantação <strong>de</strong>ssas políticas, percebemos que há ainda muito a ser feito<br />

para que a preocupação com a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida dos indivíduos pelo po<strong>de</strong>r público seja efetivada. É<br />

certo dizer que houve um aumento <strong>nas</strong> leis <strong>de</strong> proteção ambiental, <strong>nas</strong> pesquisas, tecnologias e na<br />

participação da socieda<strong>de</strong>, porém, todos esses avanços ainda não são suficientes para salvar o<br />

planeta das inúmeras ameaças que vem sofrendo. Batista (2011) <strong>de</strong>screve que:<br />

As causas da <strong>de</strong>gradação ambiental estão no <strong>de</strong>sconhecimento técnico, na<br />

ineficiência das políticas públicas e na falta <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> da população. Desse<br />

modo, a educação com elevado nível <strong>de</strong> formação técnica, com planejamento e<br />

com sensibilização social é apontada como solução para a efetivação <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo<br />

sustentável <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, evitando-se, <strong>de</strong>ssa forma, a <strong>de</strong>gradação do meio<br />

ambiente. (p. 43)<br />

A resolução <strong>de</strong>sse problema não é tão simples. Conseguimos aumentar, <strong>de</strong> certa forma, a<br />

consciência ecológica e ver surgir leis mais rígidas, mas não conseguimos fazer com que haja mais<br />

ação política efetiva nessa área. Nesse aspecto, a educação seria uma maneira viável <strong>de</strong> nos orientar<br />

na mudança <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s. Assim, a educação ambiental se faz imprescindível e surge como possível<br />

estratégia para enfrentar essa crise da socieda<strong>de</strong>.<br />

Com isso, po<strong>de</strong>mos inferir que <strong>de</strong>vido ao crescente <strong>de</strong>scontrole ambiental nesses últimos<br />

tempos, a socieda<strong>de</strong> precisa adquirir uma nova postura, movida por uma ética que possa reorientar<br />

os hábitos, os costumes e as práticas <strong>de</strong>senvolvidas no atual mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong>. Nesse contexto,<br />

Medina (1999) afirma que a educação não po<strong>de</strong> permanecer alheia à realida<strong>de</strong> social, que exige<br />

respostas inovadoras e criativas, permitindo formar efetivamente cidadãos críticos, reflexivos e<br />

participativos, aptos à tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões, condizentes com a consolidação <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocracias<br />

verda<strong>de</strong>iras e sem exclusão da maioria dos seus membros.<br />

No Brasil, a educação ambiental surgiu inicialmente pela via dos movimentos sociais na luta<br />

pela <strong>de</strong>mocracia em oposição ao governo militar, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>nunciavam os riscos e impactos das<br />

indústrias contemporâneas e tinha como horizonte utópico uma vida livre e em harmonia com a<br />

natureza. A partir das décadas <strong>de</strong> 70 e 80 começou a se configurar um conjunto <strong>de</strong> ações e <strong>de</strong><br />

935


movimentos que se nomeavam como ecológicos ou ambientais. Henrique apud Batista (2007)<br />

contextualiza que:<br />

A Educação Ambiental surge no Brasil muito antes da sua institucionalização no<br />

Governo Fe<strong>de</strong>ral. Temos a existência <strong>de</strong> um persistente movimento<br />

conservacionista até o início dos anos 70, quando ocorre a emergência <strong>de</strong> um<br />

ambientalismo que se une às lutas pelas liberda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>mocráticas, manifestada<br />

através da ação isolada <strong>de</strong> professores, estudantes e escolas, por meio <strong>de</strong> peque<strong>nas</strong><br />

ações <strong>de</strong> organizações da socieda<strong>de</strong> civil, <strong>de</strong> prefeituras municipais e governos<br />

estaduais, com ativida<strong>de</strong>s educacionais voltadas à ações para recuperação,<br />

conservação e melhoria do meio ambiente. (p. 13)<br />

Nesse contexto, Reigota (2001) vem ressaltar que a educação ambiental surgiu a partir da<br />

preocupação da socieda<strong>de</strong> com o futuro da vida e com a qualida<strong>de</strong> da existência das presentes e<br />

futuras gerações. Em seu primeiro momento, ela <strong>nas</strong>ceu como preocupação dos movimentos sociais<br />

ecológicos a fim <strong>de</strong> envolver e chamar a atenção dos cidadãos para a finitu<strong>de</strong> e a má distribuição do<br />

acesso aos recursos naturais. Em um segundo momento, ela vai se transformando em proposta<br />

educativa com suas teorias e conhecimentos. Para o autor, <strong>de</strong> acordo com a Carta <strong>de</strong> Belgrado,<br />

<strong>de</strong>finida em reunião com especialistas em educação, biologia, <strong>de</strong>ntre outros, na Iugoslávia no ano<br />

<strong>de</strong> 1975, um dos objetivos da EA é levar os indivíduos a adquirir uma compreensão essencial do<br />

meio ambiente global, dos problemas que estão a ele interligados e o papel e lugar da<br />

responsabilida<strong>de</strong> crítica do ser humano. Tal posicionamento encontra respaldo em Freire (2000),<br />

quando afirma:<br />

Enten<strong>de</strong>mos que, para o [humano], o mundo é uma realida<strong>de</strong> objetiva,<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>le, possível <strong>de</strong> ser conhecida. É fundamental, contudo, partirmos<br />

<strong>de</strong> que o [ser humano], ser <strong>de</strong> relações e não só <strong>de</strong> contatos, não ape<strong>nas</strong> está ‗no‘<br />

mundo, mas ‗com‘ o mundo. Estar ‗com‘ o mundo resulta <strong>de</strong> sua abertura à<br />

realida<strong>de</strong>, que o faz ser ente <strong>de</strong> relações que é. (p.47)<br />

É necessário termos o entendimento <strong>de</strong> que somos seres integrantes do meio. Devemos ser<br />

agente ativo, mobilizador e transformador, a partir do conhecimento, e as pessoas <strong>de</strong>vem ter acesso<br />

a ele. Reigota (2001) retrata que a formação <strong>de</strong> novas atitu<strong>de</strong>s e posturas ambientais <strong>de</strong>veria integrar<br />

a educação <strong>de</strong> todos os cidadãos. Essa concepção é enfatizada pela Política Nacional <strong>de</strong> Educação<br />

Ambiental, instituída pela Lei 9.705 <strong>de</strong> 27/2/1999, que enten<strong>de</strong> por esse tipo <strong>de</strong> educação:<br />

Os processos por meio dos quais os indivíduos e a coletivida<strong>de</strong> constroem valores<br />

sociais, conhecimentos, habilida<strong>de</strong>s, atitu<strong>de</strong>s e competências voltadas para a<br />

conservação do meio ambiente, bem <strong>de</strong> uso comum do povo, essencial à sadia<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e sua sustentabilida<strong>de</strong>. (BRASIL, 1999, s.p.).<br />

936


Outro documento importante refere-se ao Tratado <strong>de</strong> Educação Ambiental para as<br />

Socieda<strong>de</strong>s Sustentáveis (elaborado pelas ONG‘S e pelos movimentos sociais <strong>de</strong> todo o mundo no<br />

Fórum Global, on<strong>de</strong> teve como marco o projeto pedagógico da EA) que tem buscado estabelecer<br />

uma perspectiva interdisciplinar para compreen<strong>de</strong>r os problemas que afetam o homem e sua relação<br />

com o meio ambiente, com o intuito <strong>de</strong> intervir nelas. Nas escolas, a EA não se constitui como<br />

disciplina, mas sim como conteúdo a se fazer presente no <strong>de</strong>senvolvimento das ativida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong><br />

maneira interdisciplinar, abrangendo ao mais variados conteúdos. A EA embora tenha várias<br />

concepções se ancora sempre no agir (processo) e se concretiza por mudanças <strong>de</strong> comportamento e<br />

<strong>de</strong> hábitos, pela absorção <strong>de</strong> uma nova filosofia <strong>de</strong> vida frente à sensibilização adquirida. De acordo<br />

com a percepção <strong>de</strong> com Loureiro (2004):<br />

[...] a educação como elemento <strong>de</strong> transformação social (movimento integrado <strong>de</strong><br />

mudança <strong>de</strong> valores e <strong>de</strong> padrões cognitivos com ação política <strong>de</strong>mocrática e<br />

reestruturação das relações econômicas), inspirada no fortalecimento dos sujeitos,<br />

no exercício da cidadania, para a superação das formas <strong>de</strong> dominação capitalistas,<br />

compreen<strong>de</strong>ndo o mundo em sua complexida<strong>de</strong> como totalida<strong>de</strong>. (p.66).<br />

Assim sendo, a educação se caracteriza como uma prática que não po<strong>de</strong> se pren<strong>de</strong>r ape<strong>nas</strong><br />

aos discursos <strong>de</strong> preservação, mas também levar à reflexão <strong>nas</strong> relações huma<strong>nas</strong>. É essencial a<br />

reconstrução <strong>de</strong> valores na relação entre os homens e <strong>de</strong>stes com o ambiente em que vivem, e a<br />

educação faz parte <strong>de</strong>sse processo <strong>de</strong> construção social. ―Significa uma construção social por estar<br />

diretamente envolvida na socialização e formação dos sujeitos pedagógicos e <strong>de</strong> sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

social e cultural‖ (LIMA, 2002, p. 120).<br />

Carvalho (2008) enfatiza que a educação ambiental constitui uma proposta pedagógica<br />

concebida como nova orientação em educação a partir da consciência da crise ambiental. No plano<br />

pedagógico, a EA tem se caracterizado pela crítica à divisão do conhecimento em discipli<strong>nas</strong>.<br />

A <strong>de</strong>manda pela EA, <strong>de</strong>corrente também dos problemas ambientais vivenciados por toda a<br />

socieda<strong>de</strong>, provoca a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> formar profissionais aptos a trabalhar com essa área, tendo o<br />

importante papel <strong>de</strong> estimular a relação do ser humano com o meio ambiente. Relação essa<br />

<strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rada pela maioria dos seres humanos, que <strong>de</strong>senvolvem uma consciência individual,<br />

assim, cada vez mais vai <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> se incluir como parte integrante, assumindo-se ape<strong>nas</strong> como<br />

um ser a parte da natureza.<br />

No século XXI, o ser humano se afasta mais e mais da natureza, o individualismo já é<br />

característica marcante na socieda<strong>de</strong>. O ser humano, totalmente <strong>de</strong>sintegrado do todo, não percebe<br />

mais as relações <strong>de</strong> equilíbrio da natureza. Age <strong>de</strong> forma totalmente <strong>de</strong>sarmônica sobre o ambiente,<br />

causando gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sequilíbrios ambientais, Guimarães (1995, p. 12). Nesse contexto, DIAS<br />

(2004,) <strong>de</strong>fine que a:<br />

937


Educação Ambiental é um processo permanente no qual os indivíduos e a<br />

comunida<strong>de</strong> tomam consciência do seu meio ambiente e adquirem conhecimentos,<br />

valores, habilida<strong>de</strong>s, experiências e <strong>de</strong>terminação que os tornem aptos a agir e<br />

resolver problemas ambientais, presentes e futuros. (p. 523).<br />

Assim, a Educação Ambiental ultrapassa o saber racional, os conteúdos e as informações<br />

conceituais que nos são impostas. Ela trata, além disso, da consciência ambiental, tendo como<br />

elemento base a sensibilização como consequência da consciência. Para ela, mais importante que<br />

saber é sentir, nós preservamos aquilo que amamos. E não basta ape<strong>nas</strong> amá-lo, temos que nos<br />

sentir parte <strong>de</strong>le, inseridos nesse ambiente. A EA precisa ser crítica e transformadora, e estar<br />

inserida em todos os níveis <strong>de</strong> ensino, incluindo assim, o ensino superior.<br />

O PAPEL DA UNIVERSIDADE NA FORMAÇÃO DE EDUCADORES – O ESPAÇO DA<br />

EDUCAÇÃO AMBIENTAL<br />

Para adquirimos uma educação crítica e transformadora, temos como lócus imprescindível a<br />

Universida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> existe suporte na produção e organização do conhecimento. Nessa perspectiva,<br />

a universida<strong>de</strong> passa por inúmeros <strong>de</strong>safios na formação <strong>de</strong> sujeitos não só para o mercado <strong>de</strong><br />

trabalho, mas para a vida e para o mundo.<br />

É oportuno ressaltar que a Lei <strong>de</strong> Diretrizes e Bases da Educação Nacional, 9394/96, afirma<br />

o direito à educação, e <strong>de</strong>screve em seu Art. 43°. Inciso VI que a educação superior tem por<br />

finalida<strong>de</strong> estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os nacionais e<br />

regionais, prestar serviços especializados à comunida<strong>de</strong> e estabelecer com esta uma relação <strong>de</strong><br />

reciprocida<strong>de</strong>. Assim, a Universida<strong>de</strong> vem buscando a formação ambiental para adquirir novas<br />

maneiras <strong>de</strong> olhar a socieda<strong>de</strong>, que é marcada por valores e paradigmas diversos, a fim <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolver uma consciência crítica na relação do ser humano com os outros e com o ambiente em<br />

que se encontram. De acordo com Leff (2001), a formação ambiental:<br />

[...] é pertinente para compreen<strong>de</strong>r a transformação da realida<strong>de</strong> causada pela<br />

problemática do <strong>de</strong>senvolvimento. A formação implica um processo mais orgânico<br />

e reflexivo <strong>de</strong> reorganização do saber e da socieda<strong>de</strong> na construção <strong>de</strong> novas<br />

capacida<strong>de</strong>s para compreen<strong>de</strong>r e intervir na transformação do mundo. (p. 254)<br />

Então, precisamos estar atentos diante da crise socioambiental que presenciando no século<br />

XXI, e percebermos que se faz emergente o repensar das nossas ações. É nessa perspectiva <strong>de</strong><br />

mudança que a educação ambiental <strong>de</strong>ve ser pensada aca<strong>de</strong>micamente <strong>de</strong> forma interdisciplinar,<br />

para ajudar na resolução <strong>de</strong>sses problemas. Para Leff (2001)<br />

938


É nessa construção e compreensão que a EA irrompe, como mediadora e resposta à<br />

problemática ambiental, <strong>de</strong>ntro das perspectivas <strong>de</strong> uma mudança sócio-ambiental<br />

e da complexida<strong>de</strong> ambiental. Dessa forma, a complexida<strong>de</strong> ambiental abre uma<br />

nova compreensão do mundo, incorporando o limite do conhecimento. (p. 195):<br />

Ainda <strong>de</strong> acordo com Leff (2001), a interdisciplinarida<strong>de</strong> surge como uma tentativa <strong>de</strong><br />

reorientar a formação profissional na busca <strong>de</strong> um pensamento capaz <strong>de</strong> solucionar os problemas<br />

gerados pela racionalida<strong>de</strong> social, econômica e tecnológica. Po<strong>de</strong>mos ressaltar assim, que a EA<br />

<strong>de</strong>senvolve-se como uma possibilida<strong>de</strong> do trabalho interdisciplinar, possibilitando novos<br />

conhecimentos.<br />

Araújo (2004) assinala que as universida<strong>de</strong>s, como formadoras <strong>de</strong> educadores ambientais,<br />

têm duas principais funções: formar professores para os diferentes níveis <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>; e investir<br />

em pesquisa <strong>de</strong> práticas educativas e metodologias fundadas na interdisciplinarida<strong>de</strong> e na<br />

investigação. No entanto, as instituições universitárias em geral, <strong>de</strong>senvolvem suas ativida<strong>de</strong>s para a<br />

produção do conhecimento e para a formação profissional, em função da necessida<strong>de</strong> do mercado<br />

<strong>de</strong> trabalho.<br />

Esse contexto tem se caracterizado como um sério obstáculo para que as instituições<br />

educacionais possam inserir a educação ambiental na formação <strong>de</strong> recursos humanos <strong>de</strong> maneira<br />

que consigam resolver os problemas socioambientais do nosso tempo Leff (2001). É necessário,<br />

porém, que as Universida<strong>de</strong>s transmitam aos seus alunos os conhecimentos básicos essenciais para<br />

que possam estar cientes <strong>de</strong> inserir, em suas futuras práticas educativas, ativida<strong>de</strong>s que englobem<br />

benefícios para o meio em que vivemos.<br />

Des<strong>de</strong> a Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental, organizada pela<br />

UNESCO em colaboração com o PNUMA e realizada na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Tibilisi em outubro <strong>de</strong> 1977,<br />

percebeu-se a necessida<strong>de</strong> e urgência <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> educadores ambientais. Na mesma, foram<br />

<strong>de</strong>lineadas algumas diretrizes em que a educação ambiental, nos espaços universitários <strong>de</strong>veria:<br />

romper com os mo<strong>de</strong>los tradicionais <strong>de</strong> educação ao aceitar a interdisciplinarida<strong>de</strong> para a solução <strong>de</strong><br />

problemas socioambientais; <strong>de</strong>senvolver materiais pedagógicos locais e estabelecer cooperações<br />

locais, nacionais e internacionais, bem como incluir no programa <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> professores a<br />

educação ambiental; ajudar docentes dos centros <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> professores na área <strong>de</strong> educação<br />

ambiental e facilitar, aos futuros professores, formação ambiental apropriada ao meio urbano ou<br />

rural (UNESCO, 1994).<br />

Em <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong>sses primeiros seminários e conferências nacionais sobre meio ambiente e<br />

universida<strong>de</strong>, aconteceu em 1990, o I Curso Latino-Americano <strong>de</strong> Especialização em Educação<br />

Ambiental ofertado pelo PNUMA, IBAMA e Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Mato Grosso. Depois disso,<br />

939


diversas universida<strong>de</strong>s, tomaram como exemplo as recomendações e diretrizes traçadas nesses<br />

seminários, e criaram estratégias para incorporar a dimensão ambiental. Criaram assim, discipli<strong>nas</strong><br />

optativas, programas e cursos interdisciplinares, e também implantaram cursos <strong>de</strong> pós-graduação<br />

lato e stricto-sensu na área <strong>de</strong> educação e meio ambiente. Des<strong>de</strong> então, várias iniciativas vem se<br />

firmando frente às questões socioambientais <strong>nas</strong> universida<strong>de</strong>s, assumindo também a<br />

responsabilida<strong>de</strong> da incorporação ambiental nos sistemas <strong>de</strong> educação e formação profissional,<br />

principalmente em cursos <strong>de</strong> pós-graduação.<br />

Assim, po<strong>de</strong>mos perceber que a oferta por cursos na área ambiental é crescente, e que esta se<br />

estabiliza na formação e na qualificação <strong>de</strong> profissionais educadores ambientais. Vale ressaltar que,<br />

po<strong>de</strong>mos encontrar alguns programas que se lançam para aten<strong>de</strong>r a <strong>de</strong>manda do mercado, mas que<br />

po<strong>de</strong>m não ter em seus conteúdos ambientais, a questão ambiental <strong>de</strong> forma crítica e reflexiva.<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Enten<strong>de</strong>mos, contudo, que a escola e a universida<strong>de</strong> exercem papeis fundamentais no que<br />

concerne à visão <strong>de</strong> mundo do aluno. Assim, Carvalho (2004) <strong>de</strong>screve que é necessário internalizar<br />

nos espaços institucionais do campo educativo a formação <strong>de</strong> uma sensibilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> uma leitura<br />

crítica dos problemas socioambientais. As duas instituições, apesar <strong>de</strong> responsáveis, oferecem<br />

poucos cursos voltados para a formação ambiental. Seria necessária uma reformulação na proposta<br />

educativa para aten<strong>de</strong>r as novas <strong>de</strong>mandas, usando <strong>de</strong> novos paradigmas no <strong>de</strong>senvolvimento da<br />

aula, fazendo com que o aluno <strong>de</strong>ixe <strong>de</strong> receber passivamente o conhecimento, e se torne um ser<br />

pensante, crítico, e participativo na escola e na socieda<strong>de</strong>. O professor precisa estar ciente que o<br />

diálogo com os próprios alunos se constitui como fator importante nesse processo. Nessa<br />

perspectiva, Penteado (1994) consi<strong>de</strong>ra que a escola <strong>de</strong>ve orientar os trabalhos escolares por uma<br />

lógica ambiental, a fim <strong>de</strong> contribuir para a formação <strong>de</strong> pessoas capazes <strong>de</strong> criar e ampliar espaços<br />

<strong>de</strong> participação <strong>nas</strong> <strong>de</strong>cisões acerca dos nossos problemas socioambientais.<br />

Sabemos que diante da crise ambiental, precisamos refletir sobre nossas ações e atentarmos<br />

para as consequências das mesmas. Ao longo <strong>de</strong>ssa pesquisa, percebemos que a formação docente<br />

que consi<strong>de</strong>re a educação ambiental é extremamente importante. E que o mesmo precisa<br />

<strong>de</strong>senvolver estratégias que auxiliem na relação homem-natureza, e ser capaz <strong>de</strong> acompanhar as<br />

mudanças sociais e ambientais da socieda<strong>de</strong> para que possamos ter bons resultados na formação da<br />

consciência socioambiental.<br />

Concluímos assim que os educadores ambientais tem um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio: a formação da<br />

consciência ambiental dos alunos, ancorada com o exercício da sua cidadania, através da<br />

transformação <strong>de</strong> seus comportamentos, atitu<strong>de</strong>s e paradigmas. E que o lócus escolar é um espaço<br />

940


on<strong>de</strong> essa formação po<strong>de</strong> estar sendo <strong>de</strong>senvolvida. Os educadores precisam adotar práticas que<br />

tenha relação com as questões ambientais, bem como as relações pessoais, e a cultura da nossa<br />

socieda<strong>de</strong>.<br />

REFFÊNCIAS<br />

ARAÚJO, M. I. <strong>de</strong> O. A universida<strong>de</strong> e a formação <strong>de</strong> professores para a educação ambiental. In:<br />

Revista Brasileira <strong>de</strong> educação ambiental. n.0. Brasília, 2004.<br />

BATISTA. M.S.S. A temática ambiental na educação superior: políticas, gestão acadêmica e<br />

projetos <strong>de</strong> formação nos cursos da Universida<strong>de</strong> do Estado do Rio gran<strong>de</strong> do Norte. Tese <strong>de</strong><br />

Doutorado. UFRN Natal, 2011.<br />

CARVALHO, I. C. <strong>de</strong> M. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico. São<br />

Paulo: Cortez, 2004.<br />

FREIRE, Paulo. Educação como prática <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>. Rio <strong>de</strong> Janeiro, RJ: Paz e Terra,<br />

1967/ 24 ed. 2000.<br />

GUIMARÃES, M. A formação <strong>de</strong> educadores ambientais. Campi<strong>nas</strong>: Papirus, 2004.<br />

LEFF, Enrique. Saber ambiental: sustentabilida<strong>de</strong>, racionalida<strong>de</strong>, complexida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>r. Petrópolis:<br />

Vozes, 2001.<br />

LIMA, Gustavo Ferreira da Costa. Crise ambiental, educação e cidadania: os <strong>de</strong>safios da<br />

sustentabilida<strong>de</strong> emancipatória. In: LOUREIRO, Carlos Fre<strong>de</strong>rico Bernardo;<br />

MEDINA, N. M., SANTOS, E da C. Educação Ambiental: uma metodologia participativa <strong>de</strong><br />

formação. 2 ed. Petrópolis: Vozes, 1999.<br />

PIMENTA, S.G.; ANASTASIOU, L. das G. C. Docência no ensino superior. São Paulo: Cortez,<br />

2002. (Coleção Docência em Formação).<br />

REIGOTA, Marcos. O que é Educação Ambiental. São Paulo: Brasiliense, 2001. – (Coleção<br />

primeiros passos; 292).<br />

TRISTÃO, M. A educação ambiental na formação <strong>de</strong> professores: re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> saberes. São Paulo:<br />

Annablume, 2004.<br />

941


PERCEPÇÃO AMBIENTAL DE ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO ATRAVÉS DA<br />

METODOLOGIA DO DISCURSO DO SUJEITO COLETIVO, SEMIÁRIDO POTIGUAR<br />

Thais Cristina <strong>de</strong> Souza LOPES (UFERSA) – thaiscristina13@hotmail.com<br />

Roselene <strong>de</strong> Lucena ALCÂNTARA (Professora da UFERSA, Campus Angicos) –<br />

Resumo<br />

roselene@ufersa.edu.br<br />

Objetivou-se analisar a percepção ambiental dos estudantes <strong>de</strong> uma escola no município <strong>de</strong><br />

Angicos/RN, a partir da vivência individual <strong>de</strong> cada um na perspectiva <strong>de</strong> se enten<strong>de</strong>r os diferentes<br />

níveis <strong>de</strong> interação do indivíduo com o ambiente, utilizando-se para tanto, a prática da Educação<br />

ambiental e a metodologia do Discurso do Sujeito Coletivo. Os resultados balizam que o processo<br />

educacional po<strong>de</strong> oportunizar a sensibilização e a conscientização dos educandos. E que a<br />

metodologia do discurso do sujeito coletivo mostra-se eficaz na compreensão <strong>de</strong> experiências<br />

coletivas.<br />

Palavras-chave: Percepção Ambiental. Educação Ambiental. Estudantes. Discurso do Sujeito<br />

Coletivo.<br />

Abstract<br />

This study aimed to analyze the environmental perception of stu<strong>de</strong>nts in the city of Angicos/RN,<br />

from the experience of each individual in the perspective to un<strong>de</strong>rstand the different levels of the<br />

individual's interaction with the environment, using for both, the practice of environmental<br />

education and methodology of the Collective Subject Discourse. The results mark out that the<br />

educational process can promote awareness of stu<strong>de</strong>nts. And the methodology of the collective<br />

subject discourse is effective in un<strong>de</strong>rstanding collective experiences.<br />

Keywords: Environmental Perception. Environmental Education. Stu<strong>de</strong>nts. Collective Subject<br />

Discourse.<br />

Introdução<br />

Em virtu<strong>de</strong> dos <strong>de</strong>sequilíbrios ambientais ocasionados pelas ina<strong>de</strong>quadas práticas da<br />

socieda<strong>de</strong> e pela necessária mudança <strong>de</strong> paradigma imposta pelo universo consumista, a Educação<br />

Ambiental se expõe como uma ferramenta <strong>de</strong> fundamental importância, já que, ape<strong>nas</strong> uma<br />

socieda<strong>de</strong> informada e consciente das limitações dos recursos naturais irá garantir a permanência<br />

das atuais e futuras gerações (ARAÚJO, 2010).<br />

942


É notável a forma agravante em que os problemas socioambientais estão se <strong>de</strong>senvolvendo,<br />

ao observar a paisagem no entorno das comunida<strong>de</strong>s, vilas, municípios, cida<strong>de</strong>s e capitais. A<br />

<strong>de</strong>gradação ambiental vem se tornando cada vez mais presente ao longo das últimas décadas, pela<br />

ação e postura que a socieda<strong>de</strong> tem estabelecido com seu habitual modo <strong>de</strong> vida, e pela falta <strong>de</strong><br />

percepção que se dá, muitas vezes, pela <strong>de</strong>ficiência do conhecimento acerca <strong>de</strong>ssa problemática.<br />

Com efeito, a relação que existe entre o meio ambiente e a educação adquire um papel cada<br />

vez mais <strong>de</strong>safiador, que exige a manifestação <strong>de</strong> novos saberes para compreen<strong>de</strong>r processos sociais<br />

observáveis através <strong>de</strong> diferentes aspectos, e riscos ambientais que se intensificam (JACOBI, 2003).<br />

É a partir daí que é enfatizado que, para conservar e preservar os recursos naturais é preciso o<br />

<strong>de</strong>spertar da consciência para educação ambiental.<br />

Os resultados das escolhas e atitu<strong>de</strong>s que o homem tem apresentado, quanto ao meio<br />

ambiente e a <strong>de</strong>gradação gerada pelo mesmo, fazem com que se repense o seu mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

crescimento econômico, buscando direcioná-lo ao i<strong>de</strong>al do <strong>de</strong>senvolvimento sustentável. Sendo<br />

assim, a crise atual global é uma oportunida<strong>de</strong> para a humanida<strong>de</strong> parar, pensar e i<strong>de</strong>ntificar on<strong>de</strong><br />

estão os erros e como evitá-los (SEABRA; MENDONÇA, 2009).<br />

No contexto da educação ambiental, existem diferentes possibilida<strong>de</strong>s para a compreensão<br />

<strong>de</strong> conceitos que se originam das diferentes visões <strong>de</strong> mundo que a constituíram ao longo do tempo<br />

e da multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> perspectivas <strong>de</strong> ensino relacionados à sua prática.<br />

A educação ambiental está interligada aos aspectos sociais, econômicos, políticos, éticos e<br />

culturais, on<strong>de</strong> a mesma se apresenta como um dos meios <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho para a reflexão crítica<br />

acerca dos melhores caminhos para sustentabilida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> o ser humano passa a a<strong>de</strong>quar sua vida<br />

em relação aos <strong>de</strong>mais seres vivos e à natureza enquanto totalida<strong>de</strong> (SCHIAVI et al., 2012).<br />

Diante disso, o estudo da percepção ambiental é uma das ferramentas utilizadas para obter<br />

dados acerca do conhecimento ambiental <strong>nas</strong> escolas e apontar caminhos através da interação entre<br />

a construção pedagógica e a proposta da educação ambiental (SILVA; RAMOS, 2012). Deste<br />

modo, o plano da prática da educação ambiental <strong>nas</strong> escolas é centrado na conscientização,<br />

mudança <strong>de</strong> conduta, no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> competências, disposição <strong>de</strong> análise e o estímulo à<br />

participação dos educandos.<br />

Com isso, o objetivo do presente trabalho é analisar a percepção ambiental dos estudantes <strong>de</strong><br />

uma Escola Estadual <strong>de</strong> Ensino Médio no Município <strong>de</strong> Angicos/RN, a partir da vivência <strong>de</strong> cada<br />

um, na perspectiva <strong>de</strong> se enten<strong>de</strong>r os diferentes níveis <strong>de</strong> interação do indivíduo com o ambiente,<br />

utilizando-se para tanto, a prática da Educação ambiental e a metodologia do Discurso do Sujeito<br />

Coletivo.<br />

943


Metodologia<br />

A pesquisa foi <strong>de</strong>senvolvida em uma Escola Estadual <strong>de</strong> Ensino Médio, município <strong>de</strong><br />

Angicos/RN, durante os meses <strong>de</strong> Agosto – Novembro <strong>de</strong> 2011, por intermédio da prática da<br />

educação ambiental através <strong>de</strong> palestras educativas e aplicação <strong>de</strong> questionário. Os participantes<br />

foram os alunos dos 3º anos (A e B), turno manhã.<br />

O município <strong>de</strong> Angicos/RN está localizado na micro-região central do Estado, bem no<br />

coração do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte. Limita-se com os municípios <strong>de</strong> Ipanguaçu (oeste), Afonso<br />

Bezerra e Pedro Avelino (norte), Lajes, Fernando Pedroza e Santana do Matos (sul) e Itajá (sul e<br />

oeste). A distância rodoviária até a capital é <strong>de</strong> 171 km . A população estimada é <strong>de</strong> 11.549<br />

habitantes (IBGE, 2010).<br />

No tocante à educação, o município <strong>de</strong> Angicos notabilizou-se pelas experiências pioneiras<br />

do educador Paulo Freire com seu método <strong>de</strong> alfabetização <strong>de</strong> adultos, fato que torna o município<br />

mundialmente conhecido. Paulo Freire recebeu o título <strong>de</strong> Cidadão Angicano em 28/08/1993 e em<br />

discurso proferido, enfatizou: ―Em nenhum lugar do mundo on<strong>de</strong> estive, fiquei mais tocado do que<br />

aqui e agora‖.<br />

A técnica <strong>de</strong> pesquisa utilizada fundamentou-se nos procedimentos da documentação<br />

indireta e da documentação direta – intensiva e extensiva (MARCONI; LAKATOS, 2005). Para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento da pesquisa foi utilizada abordagem qualitativa-quantitativa com a aplicação da<br />

estratégia do Discurso do Sujeito Coletivo - DSC (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2003). Para tanto,<br />

inicialmente as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas foram direcionadas ao levantamento bibliográfico dos<br />

temas relacionados à educação e percepção ambiental, objetivando a elaboração <strong>de</strong> material<br />

didático e <strong>de</strong> palestras.<br />

Concomitante, foram elaborados e aplicados questionários abertos objetivando realizar um<br />

diagnóstico situacional dos discentes contemplados pela pesquisa, para verificar como os alunos se<br />

i<strong>de</strong>ntificam quanto às suas responsabilida<strong>de</strong>s perante os problemas ambientais e a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

suas ações contribuírem para a sustentabilida<strong>de</strong> do meio ambiente. As perguntas foram aplicadas ao<br />

término das palestras objetivando avaliar a percepção ambiental dos alunos.<br />

Analisar a percepção ambiental através do Discurso do Sujeito Coletivo é eficaz na<br />

compreensão <strong>de</strong> experiências, percepções e das limitações vivenciam no exercício <strong>de</strong> seu papel <strong>de</strong><br />

formador <strong>de</strong> senso crítico dos estudantes <strong>de</strong> uma escola (LEFEVRE; LEFEVRE, 2006).<br />

O método do discurso do sujeito coletivo tem como objetivo expressar, empiricamente, o<br />

pensamento coletivo. Ao extrair os <strong>de</strong>poimentos em pesquisas empíricas <strong>de</strong> opinião por meio <strong>de</strong><br />

questões abertas, operações que expressam, ao final do procedimento, em <strong>de</strong>poimentos coletivos<br />

extraídos <strong>de</strong> <strong>de</strong>poimentos individuais (LEFÈVRE; LEFRÈVE, 2003).<br />

944


Resultados e discussão<br />

Inicialmente, procurou-se o responsável pela Escola Estadual <strong>de</strong> Ensino Médio, e explicou-<br />

se a respeito dos objetivos e metas do trabalho. O mesmo informou que apesar <strong>de</strong> existir a Lei <strong>de</strong> n°<br />

9.795 para promover a educação ambiental em todos os níveis <strong>de</strong> ensino, à implantação da<br />

educação ambiental somente é abordada <strong>nas</strong> discipli<strong>nas</strong> <strong>de</strong> geografia e biologia quando o assunto<br />

que está sendo ministrado em sala apresenta <strong>de</strong>terminada relação com o meio ambiente.<br />

Neste contexto, procurou-se a professora da disciplina <strong>de</strong> geografia, que, gentilmente aceitou<br />

que o trabalho fosse <strong>de</strong>senvolvido em suas turmas.<br />

Os primeiros contatos com as duas turmas contempladas pelo trabalho ocorreram no mês <strong>de</strong><br />

agosto/11, objetivando informar aos alunos sobre a finalida<strong>de</strong> e o <strong>de</strong>senvolvimento do trabalho.<br />

Palestras<br />

O <strong>de</strong>senvolvimento do trabalho foi balizado pela educação ambiental, que se constitui em<br />

uma forma abrangente <strong>de</strong> educação, que se propõe atingir todos os cidadãos, por intermédio <strong>de</strong> um<br />

processo pedagógico participativo permanente que procura incutir no educando uma consciência<br />

crítica sobre a problemática ambiental, compreen<strong>de</strong>ndo-se como crítica a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> captar a<br />

gênese e a evolução <strong>de</strong> problemas ambientais (EDUCACAO..., 2007).<br />

Ou seja, é um processo participativo, on<strong>de</strong> o educando assume o papel <strong>de</strong> elemento central<br />

do processo ensino/aprendizagem pretendido, participando ativamente no diagnóstico dos<br />

problemas ambientais e busca <strong>de</strong> soluções, sendo preparado como agente transformador, por<br />

intermédio do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s e formação <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s, por meio <strong>de</strong> uma conduta<br />

ética, condizente ao exercício da cidadania.<br />

O primeiro tema <strong>de</strong>senvolvido em sala <strong>de</strong> aula foi ―Meio Ambiente e Recursos Naturais‖.<br />

Os tópicos abordados foram: <strong>de</strong>finição do meio ambiente <strong>de</strong> acordo com a Política Nacional do<br />

Meio Ambiente (PNMA) na Lei 6.938 artigo 3°; o que são recursos naturais, os tipos <strong>de</strong> recursos:<br />

renováveis e não-renováveis, o mau uso dos recursos e toda uma abordagem com relação a nossas<br />

atitu<strong>de</strong>s e o que precisa ser mudado em cada um <strong>de</strong> nós, promovendo assim, a sensibilização<br />

ambiental através do tema abordado.<br />

O segundo tema foi ―A água‖, on<strong>de</strong>, inicialmente fez-se uma abordagem da importância da<br />

água para os seres vivos, como também a sua composição, origem e utilização; a Política Nacional<br />

<strong>de</strong> Recursos Hídricos; poluição e contaminação aquática; as doenças que po<strong>de</strong>m ser transmitidas<br />

pela água e as classes <strong>de</strong> infecções. Na sequência, foi apresentado um registro fotográfico <strong>de</strong> um<br />

corpo aquático local, <strong>de</strong>nominado ―Açu<strong>de</strong> Coronel José Teodoro‖, objetivando <strong>de</strong>bater e aproximar<br />

a realida<strong>de</strong> do Município <strong>de</strong> Angicos/RN no tocante à poluição visual no entorno do açu<strong>de</strong> ali<br />

945


existente. Para finalizar, foram apresentadas as possíveis medidas mitigadoras, enfatizando as<br />

dimensões e os valores da água no tocante à hidratação e alimentação, higiene pessoal e bem estar,<br />

e, <strong>de</strong> maneira geral, sobre os usos da água.<br />

A terceira temática foi a dos resíduos sólidos no contexto da Política Nacional <strong>de</strong> Resíduos<br />

Sólidos (Lei nº 12.305/10) (BRASIL, 2010), que é o novo marco na gestão <strong>de</strong> resíduos sólidos no<br />

Brasil, estabelecendo obrigatorieda<strong>de</strong>s fundamentais para que <strong>de</strong>ixemos <strong>de</strong> ser um país on<strong>de</strong><br />

prevalecem os lixões, o <strong>de</strong>sperdício e a falta <strong>de</strong> dignida<strong>de</strong> aos cidadãos que trabalham com os<br />

materiais recicláveis.<br />

Questionários – Análise do discurso do sujeito coletivo<br />

Os questionários foram aplicados com os alunos atendidos pela pesquisa, num total <strong>de</strong> 32<br />

estudantes, com intuito <strong>de</strong> avaliar a percepção ambiental <strong>de</strong>stes. As respostas permitiram a<br />

elaboração dos discursos com trechos selecionados dos <strong>de</strong>poimentos individuais, a partir da escrita<br />

dos participantes, ou seja, dos fragmentos indicados dos <strong>de</strong>poimentos individuais dos alunos<br />

participantes. O Discurso do Sujeito Coletivo produzido encontra-se em itálico em <strong>de</strong>staque do<br />

restante do texto. Para cada um dos discursos é indicada, entre parênteses, a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

respon<strong>de</strong>ntes que apresentaram aquela I<strong>de</strong>ia Central (IC) em sua fala/escrita (N1), em relação ao<br />

número total <strong>de</strong> correspon<strong>de</strong>ntes (N), como indicado por Lefèvre e Lefèvre (2003) (QUADRO 1).<br />

Os Discursos do sujeito coletivo formados para as quatro perguntas foram divididos em 14<br />

i<strong>de</strong>ias centrais (IC) e estão apresentados no QUADRO 1.<br />

QUADRO 1 - Síntese das i<strong>de</strong>ias centrais<br />

PERGUNTA IDEIA CENTRAL – ( /N)<br />

A) O que você<br />

enten<strong>de</strong> por meio<br />

ambiente?<br />

B) O que você<br />

enten<strong>de</strong> por<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida?<br />

C) Qual o seu<br />

entendimento sobre<br />

poluição?<br />

D) Qual o tema<br />

trabalhado em sala<br />

<strong>de</strong> aula que mais te<br />

interessou?<br />

O meio em que vivemos (17/32)<br />

Toda forma <strong>de</strong> vida existente no planeta (5/32)<br />

Conjunto dos fatores vivos e não vivos (5/32)<br />

É o lugar on<strong>de</strong> precisa ser preservado e cuidado (5/32)<br />

Condições a<strong>de</strong>quadas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e saneamento básico (17/32)<br />

Viver em harmonia com o meio ambiente (9/32)<br />

Nós que fazemos nossa própria qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida (5/32)<br />

Ter nossos direitos (1/32)<br />

É tudo aquilo que danifica o meio ambiente (15/32)<br />

Quando alteramos as proprieda<strong>de</strong>s naturais do meio ambiente (9/32)<br />

É quando jogamos o lixo no meio ambiente (8/32)<br />

Água (17/32)<br />

Meio ambiente e recursos naturais (11/32)<br />

Resíduos sólidos (4/32)<br />

Nota: N1: número <strong>de</strong> entrevistados que apresentaram a I<strong>de</strong>ia Central; N: número total <strong>de</strong> entrevistados.<br />

946


O que você enten<strong>de</strong> por meio ambiente?<br />

Segundo Rebouças (2012), a percepção do homem quando se refere ao termo ―meio<br />

ambiente‖ geralmente é usado como sinônimo <strong>de</strong> natureza, porém é necessário se pensar um pouco<br />

mais a respeito do termo e estabelecer a noção dos vínculos naturais em que o ser humano se<br />

encontra com o meio ambiente e que é por meio da natureza que a socieda<strong>de</strong> reencontra suas<br />

origens e sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cultural e biológica.<br />

A lei que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente (6.938/81) <strong>de</strong>fine meio<br />

ambiente como o ―Conjunto <strong>de</strong> condições, leis, influências e interações <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m física, química e<br />

biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas‖. Neste contexto, ao analisar os<br />

discursos dos alunos atendidos pela pesquisa, foi possível agrupá-los em 4 categorias (QUADRO<br />

1).<br />

Ao verificar as discussões acerca da pergunta A, se referindo ao que o aluno entendia <strong>de</strong><br />

meio ambiente, foi visto que gran<strong>de</strong> parte dos alunos, 17 dos 32 respon<strong>de</strong>ntes, <strong>de</strong>stacou que seria<br />

―O meio em que vivemos‖. De acordo com o ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> Ribeiro et al. (2012), essa resposta<br />

seria consi<strong>de</strong>rada coerente, pois o meio ambiente não se refere ape<strong>nas</strong> ao aspecto natural, mas a<br />

conjunção da socieda<strong>de</strong> e o meio, ou seja, o que está ao nosso redor, o lugar no qual estamos<br />

inseridos.<br />

Nesse sentido, os outros alunos se manifestaram em diferentes aspectos em relação a sua<br />

percepção do que seria meio ambiente se referindo como “Toda forma <strong>de</strong> vida existente no<br />

planeta”, “Conjunto dos fatores vivos e não vivos” e que “É o lugar on<strong>de</strong> precisa ser preservado e<br />

cuidado”. Apesar <strong>de</strong>sses discursos apresentados não <strong>de</strong>finirem com clareza o que é ―meio<br />

ambiente‖, <strong>de</strong>monstra diversos aspectos da <strong>de</strong>finição exata do que seria, e <strong>de</strong>monstra o<br />

entendimento <strong>de</strong> cada aluno sobre o assunto.<br />

Um discurso <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque <strong>de</strong> um dos alunos foi o seguinte: ―Meio ambiente é um lugar aon<strong>de</strong><br />

nos vivemos com outros seres, on<strong>de</strong> a unida<strong>de</strong> que forma o meio ambiente é estar em contato com<br />

ele e viver nele buscando melhorias <strong>de</strong> sobrevivência‖. Diante disso, Granziera (2009) afirma que, a<br />

proteção ao meio ambiente é uma questão <strong>de</strong> suma importância, e os problemas causados por sua<br />

<strong>de</strong>gradação in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m do país em que localizados. A poluição do ar, a contaminação das águas, o<br />

efeito estufa e tantas outras formas <strong>de</strong> danos à natureza acabam por ferir o direito <strong>de</strong> todos ao meio<br />

ambiente equilibrado.<br />

O que você enten<strong>de</strong> por qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida?<br />

Quando questionados sobre o que entendiam por ―<strong>Qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> vida‖, a maioria dos<br />

respon<strong>de</strong>ntes, 17 dos 32 alunos, se referiu a ―Condições a<strong>de</strong>quadas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e saneamento básico”,<br />

947


com <strong>de</strong>staque para a seguinte resposta: ―Viver em um ambiente limpo e saudável e usufruir <strong>de</strong> água<br />

<strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong>”. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 2001), as reflexões<br />

acerca das relações sociais e econômicas estão inseridas na tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão dos gestores públicos<br />

<strong>de</strong> forma a se a<strong>de</strong>quar a cada passo que será dado em direção à qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, crescimento<br />

cultural e o equilíbrio ambiental satisfazendo a socieda<strong>de</strong>.<br />

Portanto, a população <strong>de</strong>ve participar <strong>de</strong> maneira efetiva do processo <strong>de</strong> saneamento em sua<br />

cida<strong>de</strong>, pela busca da melhoria da saú<strong>de</strong> pública e da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a compreensão e o<br />

planejamento até a gestão e monitoramento das ações (SCHIAVI et al., 2012).<br />

Nesse contexto, houve alunos que pensaram <strong>de</strong> uma forma distinta, <strong>de</strong>monstrando em seus<br />

<strong>de</strong>poimentos que qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida é ―Viver em harmonia com o meio ambiente‖, com <strong>de</strong>staque<br />

para 9 estudantes dos 32 respon<strong>de</strong>ntes, on<strong>de</strong> os mesmos ressaltaram a importância <strong>de</strong> viver bem<br />

com o nosso meio. Bem como para a seguinte resposta ―<strong>Qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> vida é estar bem com si<br />

próprio e com tudo que está em nossa volta, é ter um bom lugar para se morar, com saú<strong>de</strong>,<br />

buscando encontrar boas formas <strong>de</strong> viver‖.<br />

A prática da educação ambiental permite <strong>de</strong>spertar a percepção ambiental dos estudantes,<br />

modificando condutas e costumes para uma relação harmoniosa com o meio ambiente (SCHIAVI et<br />

al., 2012).<br />

A educação em prol do beneficiamento da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida tem como objetivo conservar o<br />

meio, além do investimento no conhecimento do saber, <strong>de</strong>senvolver no educando um envolvimento<br />

emocional e uma responsabilida<strong>de</strong> maior com os problemas ambientais. Assim, a maneira que o<br />

aluno percebe tais <strong>de</strong>finições é <strong>de</strong> fundamental importância para a difusão da educação ambiental na<br />

comunida<strong>de</strong> e as mudanças <strong>de</strong> paradigma da população (SILVA; RAMOS, 2012).<br />

Qual o seu entendimento sobre poluição?<br />

A concepção sobre poluição <strong>de</strong>monstrada pelos alunos, 15 dos 32 respondnetes, foi que,<br />

poluição é ―Tudo aquilo que danifica o meio ambiente‖. Em concordância, Mota (2012), afirma que<br />

a poluição po<strong>de</strong> ser entendida como tudo aquilo que provoca modificações em um ambiente, <strong>de</strong><br />

maneira que o torne prejudicial às pessoas e outras formas <strong>de</strong> vida.<br />

Os outros dois grupos <strong>de</strong> alunos afirmaram ainda em seu entendimento sobre que poluição:<br />

―Quando alteramos as proprieda<strong>de</strong>s naturais do meio ambiente‖ e ―É quando jogamos o lixo no<br />

meio ambiente‖. Dados obtidos em outrsas pesquisas mostram que cada indivíduo percebe e reage<br />

diferentemente às ações sobre o meio em que vivem. As respostas são resultados das percepções<br />

dos conhecimentos e expectativas <strong>de</strong> cada pessoa, influenciadas também pela cultura (SILVA;<br />

RAMOS, 2012).<br />

948


Qual o tema trabalhado em sala <strong>de</strong> aula que mais te interessou?<br />

Nesta questão, pontos importantes a serem consi<strong>de</strong>rados estão relacionados aos recursos<br />

naturais, <strong>de</strong>stacando-se a água, enquanto fonte e recurso para a manutenção da vida, e meio<br />

ambiente e recursos naturais, temas trabalhados com os alunos. Quando questionados sobre qual o<br />

tema que eles mais se interessaram, 17 dos 32 alunos afirmaram que seria o tema ―Água‖. Na<br />

sequência, 11 estudantes <strong>de</strong>clararam que a palestra que mais interessou foi sobre ―Meio ambiente e<br />

recursos naturais‖.<br />

Pelo exposto, por intermédio do processo educativo é possível promover a sensibilização e a<br />

conscientização para a preservação dos ecossistemas, tendo como base a utilização racional dos<br />

recursos naturais e a sustentabilida<strong>de</strong> da biodiversida<strong>de</strong> (BRASIL, 1997).<br />

A escola se sobressai como um espaço privilegiado e interdisciplinar na geração <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong>s que possam propiciar a importância da temática ambiental, on<strong>de</strong> o aluno absorve, em sala<br />

<strong>de</strong> aula e em diversas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> campo e/ou excursões, o prazer e o encanto que a natureza<br />

representa (REIGOTA, 2008).<br />

Consi<strong>de</strong>rações finais<br />

Com base nos resultados apresentados, po<strong>de</strong>-se concluir que este trabalho aborda parâmetros<br />

ambientais importantes, educação ambiental no contexto escolar e a análise da percepção ambiental<br />

dos educandos através do uso do discurso do sujeito coletivo, que se apresentou apropriado para<br />

esse tipo <strong>de</strong> pesquisa, certificando por preservar a natureza do discurso e da opinião dos sujeitos<br />

envolvidos na pesquisa, representando a expressão individual <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> estudantes, que<br />

exprimem um pensamento coletivo.<br />

Consi<strong>de</strong>rando a importância da temática ambiental e a visão integrada do mundo, a escola<br />

<strong>de</strong>vera oferecer meios efetivos para que cada aluno compreenda os fenômenos naturais e humanos,<br />

<strong>de</strong>senvolva suas potencialida<strong>de</strong>s e adote posturas pessoais e comportamentos sociais construídos<br />

para consigo mesmo e para com seu meio, colaborando para que a socieda<strong>de</strong> seja ambientalmente<br />

sustentável e socialmente justa.<br />

Referências<br />

ARAÚJO, K. <strong>de</strong> L. A educação ambiental como instrumento para a realização do consumo<br />

sustentável e da proteção constitucional do meio ambiente. In: SEABRA, Giovanni <strong>de</strong> Farias;<br />

SILVA, José Antonio Novaes da; MENDONÇA, Ivo Tha<strong>de</strong>u Lira (Org.). A Conferência da Terra:<br />

Aquecimento global, socieda<strong>de</strong> e biodiversida<strong>de</strong>. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB.<br />

<strong>Vol</strong>.2, p. 11-16, 2010.<br />

949


BRASIL. Lei n° 12.305, <strong>de</strong> 2 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2010. Política Nacional <strong>de</strong> Resíduos Sólidos. 2010.<br />

Disponível em: . Acesso em: 23 mar.<br />

2012.<br />

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais, Meio Ambiente e Saú<strong>de</strong>. 2001. Brasília, DF, 2001.<br />

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. I Conferencia Nacional <strong>de</strong> Educação Ambiental, Brasília:<br />

MMA, 1997.<br />

EDUCACAO ambiental, - do que se trata? Programa <strong>de</strong> Educação Ambiental – A Última Arca <strong>de</strong><br />

Noé. 2007. Disponível em:<br />

.<br />

Acesso em: 11/12/2011.<br />

GRANZIERA, M. L. M. Direito ambiental. São Paulo: Atlas, 2009. 666 p.<br />

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Pesquisa <strong>de</strong><br />

informações básicas municipais: Perfil dos municípios Brasileiros. 2008. Rio <strong>de</strong> Janeiro: IBGE,<br />

2010. Disponível em:<br />

. Acesso em: 26<br />

mar. 2012.<br />

JACOBI, P. Educação ambiental, cidadania e sustentabilida<strong>de</strong>. Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> Pesquisa, São Paulo,<br />

v. 118, p.189-205, mar. 2003.<br />

LEFÈVRE, F; LEFÈVRE, A. M. C. O sujeito coletivo que fala. Interface – comunicação, saú<strong>de</strong>,<br />

educação, v. 10, n.20, jul/<strong>de</strong>z, 2006. p.517-524.<br />

LEFÈVRE, F; LEFÈVRE, A. M. C. O discurso do sujeito coletivo: um novo enfoque em pesquisa<br />

qualitativa. Caxias do Sul: Educs, 2003.<br />

SEABRA, G. <strong>de</strong> F.; MENDONÇA, I. T. L. (Org.). Educação ambiental para a socieda<strong>de</strong><br />

sustentável e saú<strong>de</strong> global. 3 ed. v. 4, João Pessoa: EdUFPB, 2009.<br />

MARCONI, M. <strong>de</strong> A.; LAKATOS, E. M.; Fundamentos <strong>de</strong> metodologia científica. 6 ed. São Paulo:<br />

Atlas, 2005. 315p.<br />

MOTA, S. Introdução à engenharia ambiental. 5 ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Abes, 2012. 524p.<br />

REIGOTA, M. A. dos S. Cidadania e educação ambiental. Psicologia & Socieda<strong>de</strong>, Porto Alegre, v.<br />

20, p.61-69, 04 jan. 2008.<br />

REBOUÇAS, Fernando. Conceito <strong>de</strong> meio ambiente. Disponível em:<br />

. Acesso em: 01 Set. 2012.<br />

RIBEIRO, Carina dos Santos. CARVALHO, Simone Batista <strong>de</strong>. LIMA, Maria Gorethe <strong>de</strong> Souza.<br />

et. al. Introdução da educação ambiental na escola: fortalecendo os laços na construção <strong>de</strong> valores<br />

Sociais e culturais. In: CONGRESSO INTERAMERICANO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E<br />

AMBIENTAL, Anais... Salvador: Abes/Aidis, 2012. 9p.<br />

SILVA, M. M. P.; RAMOS, D. S. Análise Comparativa da Percepção Ambiental <strong>de</strong> Diferentes<br />

Atores Sociais <strong>de</strong> um Município do Semiárido Paraibano. In: CONGRESSO INTERAMERICANO<br />

DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL, Anais... Salvador: ABES/AIDIS, 2012. 7p.<br />

950


SCHIAVI, Cristiano Sordi; CAMPANI, Darci Barnech; SAMUEL, Paulo Robinson da Silva.<br />

Difusão da Ciência no Meio Escolar: Educação Ambiental na Vila Santa Isabel. In: CONGRESSO<br />

INTERAMERICANO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL, Anais... Salvador:<br />

ABES/AIDIS, 2012. 14p.<br />

951


SALA VERDE ÁGUA VIVA: EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA A SUSTENTABILIDADE<br />

SOCIOAMBIENTAL<br />

Resumo<br />

Thania Oliveira CARVALHO (Graduanda, Departamento <strong>de</strong> Geografia da UFC)<br />

thania_oc@yahoo.com<br />

Dayane <strong>de</strong> Siqueira GONÇALVES (Graduanda, Departamento <strong>de</strong> Geografia da UFC)<br />

dayane<strong>de</strong>siqueira@yahoo.com.br<br />

Nicolly Santos LEITE (Graduanda, Departamento <strong>de</strong> Geografia da UFC)<br />

nicollyleite2@gmail.com<br />

Antônio Jeovah <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> MEIRELES (Prof. Dr. Departamento <strong>de</strong> Geografia da UFC)<br />

meireles@ufc.br<br />

O presente artigo tem por finalida<strong>de</strong> apresentar um significativo histórico dos gran<strong>de</strong>s eventos da<br />

Educação Ambiental a nível nacional e internacional, abordando posteriormente o Projeto Sala<br />

Ver<strong>de</strong> Água Viva e o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> suas ações <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> socioambiental. O mo<strong>de</strong>lo<br />

vigente <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento econômico, pautado na exploração <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada <strong>de</strong> recursos naturais,<br />

vem ocasionando uma série <strong>de</strong> impactos que comprometem o meio ambiente, causando direta e<br />

indiretamente crises sociais e econômicas. Como agente disseminador da importância <strong>de</strong> práticas<br />

que visam o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, a Educação Ambiental vem <strong>de</strong> encontro a essa realida<strong>de</strong>,<br />

objetivando minimizar os impactos ambientais, buscando a preservação do meio ambiente. Nessa<br />

perspectiva, o projeto Sala Ver<strong>de</strong> Água Viva, vinculado ao Laboratório <strong>de</strong> Geoecologia da<br />

Paisagem e Planejamento Ambiental (LAGEPLAN) do Departamento <strong>de</strong> Geografia da<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Ceará, que faz parte <strong>de</strong> um programa nacional <strong>de</strong> caráter ambiental<br />

coor<strong>de</strong>nado pela (DEA/MMA), que promove um conjunto <strong>de</strong> ações visando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

questionamentos, reflexões e a sensibilização dos integrantes diretamente envolvidos nesse<br />

processo, objetiva a manutenção <strong>de</strong> sistemas naturais, conciliando ativida<strong>de</strong>s econômicas com<br />

conservação ambiental, on<strong>de</strong> natureza e socieda<strong>de</strong> possam manter relações harmoniosas.<br />

Palavras-chaves: Educação Ambiental; Sustentabilida<strong>de</strong>; Sala Ver<strong>de</strong>.<br />

952


Abstract<br />

This paper aims to present a significant historical events of great environmental education<br />

nationally and internationally, addressing the later Projeto Sala Ver<strong>de</strong> Água Viva and the<br />

<strong>de</strong>velopment of their environmental sustainability initiatives. Prevailing mo<strong>de</strong>l of economic<br />

<strong>de</strong>velopment, based on the exploitation disor<strong>de</strong>rly natural resources, has caused a number of<br />

impacts that affect the environment, causing direct and indirect social and economic crises. Because<br />

of the importance of disseminating agent practices aimed at sustainable <strong>de</strong>velopment,<br />

Environmental Education comes against this reality, aiming to minimize environmental impacts,<br />

seeking to preserve the environment. From this perspective, the Projeto Sala Ver<strong>de</strong> Água Viva,<br />

linked to the Laboratório <strong>de</strong> Geoecologia da Paisagem e Planejamento Ambiental (LAGEPLAN) of<br />

Departamento <strong>de</strong> Geografia da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Ceará, which is part of a national program<br />

coordinated by environmental character (DEA / MMA ), which promov and a set of<br />

actions <strong>de</strong>velopment questions, reflections and awareness d members directly involved in this<br />

process, objective maintenance of natural systems, combining economic activities with<br />

environmental conservation, where nature and society can maintain harmonious relations.<br />

Keywords: Environmental Education; Sustainability; Sala Ver<strong>de</strong>.<br />

Introdução<br />

O conceito <strong>de</strong> meio ambiente formulado por Reigota (1994), apresenta a socieda<strong>de</strong> e a<br />

natureza como elementos que interagem e mantêm relações dinâmicas entre si. Essas relações<br />

implicam processos <strong>de</strong> criação cultural e tecnológica, processos históricos e sociais <strong>de</strong><br />

transformação do meio natural e construído. A dominação das técnicas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as mais rudimentares<br />

voltadas à sobrevivência, ou ao <strong>de</strong>senvolvimento da recente e extraordinária tecnologia atual, ao<br />

longo da história do homem, foi obtida concomitantemente à exploração dos recursos disponíveis<br />

no meio ambiente, mas até que ponto <strong>de</strong>ssa utilização o ambiente suporta?<br />

O mo<strong>de</strong>lo vigente <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento econômico, pautado na exploração <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada dos<br />

sistemas naturais, vem ocasionando uma série <strong>de</strong> impactos que comprometem o meio ambiente,<br />

causando direta e indiretamente crises sociais e econômicas. Contudo, é somente a partir do final do<br />

século XX que o padrão <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento prevalecente entrou em crise, quando a socieda<strong>de</strong><br />

começou a evi<strong>de</strong>nciar que o <strong>de</strong>senvolvimento obtido através da exploração da natureza não era<br />

capaz <strong>de</strong> sanar os impactos ocasionados na mesma.<br />

953


Com a observação dos impactos originados pelo crescimento econômico a qualquer custo,<br />

é que se iniciaram inquietações a nível internacional, e em 1965 durante a Conferência em<br />

Educação realizada na Grã-Bretanha surge o termo Environmental Education (Educação<br />

Ambiental). Entretanto, as primeiras discussões a nível mundial em relação à crise do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento e os impactos exercidos por ela no meio ambiente só foram iniciadas no ano <strong>de</strong><br />

1968, através dos questionamentos da <strong>de</strong>legação sueca na Organização das Nações Unidas – ONU,<br />

que apresentavam a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma abordagem a nível mundial na busca <strong>de</strong> soluções contra o<br />

agravamento dos problemas ambientais (DIAS, 2004).<br />

Segundo Dias, (2004) a sobrevivência do planeta e consequentemente da nossa própria<br />

espécie, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do grau <strong>de</strong> equilíbrio que o ser humano <strong>de</strong>ve alcançar, procurando minimizar a<br />

<strong>de</strong>gradação ambiental; reutilizando e reciclando produtos aumentando a vida útil dos mesmos,<br />

reduzindo o consumo e consequentemente os resíduos produzidos, repensando o nosso modo <strong>de</strong><br />

vida para a construção <strong>de</strong> um sistema mais responsável e sustentável; buscando a diminuição das<br />

<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais e fomentar soluções para as questões locais e globais, não imediatistas e<br />

equivocadas, mas sim a longo prazo.<br />

Breve histórico inicial sobre Educação Ambiental no mundo<br />

Inicialmente a preocupação com o meio ambiente, incipiente e reduzida ape<strong>nas</strong> a<br />

advertências no meio científico, restringia-se a um pequeno número <strong>de</strong> estudiosos. Como nos<br />

lembra Dias (2004), em seus estudos sobre Educação Ambiental, somente a partir da meta<strong>de</strong> do<br />

século XX que se <strong>de</strong>u inicio aos questionamentos sobre os problemas ambientais, o que conduziu,<br />

em 1968, à discussões a nível internacional pela <strong>de</strong>legação da Suécia na ONU. No mesmo ano foi<br />

criado o Clube <strong>de</strong> Roma, formado por um grupo <strong>de</strong> especialistas com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> evi<strong>de</strong>nciar o<br />

início da discussão sobre a crise socioambiental atual.<br />

Quatro anos <strong>de</strong>pois, em 1972, o Clube <strong>de</strong> Roma publicou um relatório intitulado <strong>de</strong> ―Os<br />

limites do crescimento”, que <strong>de</strong> acordo com Diegues (1992), apresentava um panorama sombrio<br />

para a humanida<strong>de</strong>, por anunciar a limitação do meio ambiente com o crescimento da população, do<br />

consumo e da exploração dos recursos naturais, predizendo uma explosão <strong>de</strong>mográfica, aumento da<br />

poluição e <strong>de</strong>gradação dos ecossistemas, implicando diretamente na diminuição da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

vida. Propunha também, um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> crescimento global em equilíbrio e por fim alertava a<br />

socieda<strong>de</strong> contra o falso otimismo <strong>de</strong> que a tecnologia mo<strong>de</strong>rna po<strong>de</strong>ria solucionar esses problemas.<br />

No ano <strong>de</strong> 1972, foi <strong>de</strong>cisivo para o crescimento da abordagem ambiental no mundo,<br />

estimulado pela repercussão do relatório do Clube <strong>de</strong> Roma, a ONU promove a ―Conferência das<br />

Nações Unidas sobre o Ambiente Humano‖, conhecida como a Conferência <strong>de</strong> Estocolmo, que<br />

954


estabeleceu um ―Plano <strong>de</strong> Ação Mundial‖ e em particular recomendou um Programa Internacional<br />

<strong>de</strong> Educação Ambiental, constituindo por tanto, no primeiro pronunciamento a nível mundial sobre<br />

a necessida<strong>de</strong> da Educação Ambiental.<br />

Na Declaração da Conferência <strong>de</strong> Estocolmo, o Princípio nº 19 estabelece:<br />

É indispensável o trabalho <strong>de</strong> educação em questões ambientais, dirigida tanto às gerações<br />

jovens como aos adultos, e que tenha a <strong>de</strong>vida atenção com a população menos<br />

privilegiada, para erigir as bases <strong>de</strong> uma opinião pública bem informada e uma conduta dos<br />

indivíduos, das empresas e das coletivida<strong>de</strong>s inspirada no sentido <strong>de</strong> sua responsabilida<strong>de</strong><br />

com a proteção e melhoria do meio em toda a sua dimensão humana. (Declaração da<br />

conferência <strong>de</strong> Estocolmo, 1972).<br />

A partir da Conferência <strong>de</strong> Estocolmo, a Educação Ambiental torna-se uma recomendação<br />

imprescindível e através <strong>de</strong>la são criados importantes projetos, tais como o PNUMA (Programa das<br />

Nações Unidas para o Meio Ambiente), consi<strong>de</strong>rado atualmente a principal autorida<strong>de</strong> global em<br />

meio ambiente, <strong>de</strong> acordo com o site do referido projeto no Brasil, o PNUMA é a agência do<br />

Sistema das Nações Unidas responsável por promover a conservação do meio ambiente e uso<br />

eficiente dos recursos no contexto do <strong>de</strong>senvolvimento sustentável.<br />

A UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura),<br />

juntamente ao PNUMA, <strong>de</strong> acordo com a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> esten<strong>de</strong>r a formação e a educação<br />

ambiental à população, criam em 1975 o Programa Internacional <strong>de</strong> Educação Ambiental (PIEA),<br />

cuja primeira atuação foi no mesmo ano, na organização do Encontro Internacional para a Educação<br />

Ambiental, em Belgrado, Iugoslávia, no qual foram formulados princípios e orientações para o<br />

programa <strong>de</strong> Educação Ambiental.<br />

A Carta <strong>de</strong> Belgrado documento gerado no encontro recomendava que os recursos<br />

disponíveis <strong>de</strong>veriam ser utilizados <strong>de</strong> modo igualitário e benéfico a todos, permitindo a melhoria<br />

da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e exibia também a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma nova ética global:<br />

uma ética dos indivíduos e da socieda<strong>de</strong> que corresponda ao lugar do homem na biosfera;<br />

uma ética que reconheça e responda com sensibilida<strong>de</strong> as relações complexas, e em<br />

contínua evolução, entre o homem e a natureza e com seus similares. (Carta <strong>de</strong> Belgrado,<br />

1975).<br />

Em 1977 ocorreu o evento mais importante para a evolução da Educação Ambiental, a<br />

Primeira Conferência Intergovernamental sobre a Educação Ambiental (Conferência <strong>de</strong> Tbilisi),<br />

realizada em Tbilisi, Geórgia (ex-URSS), prolongamento dos encontros anteriores, a Conferência <strong>de</strong><br />

Tbilisi foi consi<strong>de</strong>rada o marco histórico do <strong>de</strong>senvolvimento da Educação Ambiental, pois foi<br />

nesta conferência que foram originados conceitos mais formais sobre essa nova dimensão<br />

educativa, <strong>de</strong>finindo sua natureza, seus princípios, objetivos e características, formulando<br />

recomendações e estratégias pertinentes a toda escala mundial.<br />

955


A Declaração da Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental <strong>de</strong> Tbilisi<br />

<strong>de</strong>fine como função da educação ambiental criar uma consciência e compreensão dos problemas<br />

ambientais e estimular a formação <strong>de</strong> comportamentos positivos. Segundo estudos <strong>de</strong> Dias (2004),<br />

acerca da Declaração da Conferência Intergovernamental <strong>de</strong> Tbilisi sobre Educação Ambiental, a<br />

Educação Ambiental, <strong>de</strong>veria constituir em uma educação permanente, com estruturas formais e<br />

não formais, não possuindo distinção <strong>de</strong> público-alvo, preparando o indivíduo mediante a<br />

compreensão dos principais problemas do mundo contemporâneo, proporcionando-lhe<br />

conhecimentos técnicos e qualida<strong>de</strong>s necessárias para <strong>de</strong>sempenhar uma função produtiva com<br />

vistas a melhorar a vida e proteger o meio ambiente, prestando a <strong>de</strong>vida atenção aos valores éticos.<br />

O documento expressa ainda o caráter interdisciplinar da Educação Ambiental; a profunda<br />

inter<strong>de</strong>pendência entre a natureza e a socieda<strong>de</strong>; traz convocações às nações para a incorporação <strong>de</strong><br />

conteúdos, diretrizes e ativida<strong>de</strong>s ambientais às políticas educacionais, intensificando assim a<br />

divulgação e promoção da Educação Ambiental; fixa o valor e a necessida<strong>de</strong> da cooperação a níveis<br />

local, nacional e internacional para prevenção e resolução dos problemas ambientais; solicita uma<br />

maior consi<strong>de</strong>ração dos aspectos ambientais nos planos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e <strong>de</strong> crescimento<br />

econômico e social; e apresenta ainda diversas estratégias <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da Educação<br />

Ambiental.<br />

Em 1979, foi realizado pela UNESCO o Seminário sobre Educação Ambiental para a<br />

América Latina, na Costa Rica. Influenciados pelas discussões vigentes em diversos encontros<br />

internacionais, particularmente a Conferência <strong>de</strong> Tbilisi, o Seminário da Costa Rica, como ficou<br />

conhecido, auxiliou no estabelecimento e <strong>de</strong>senvolvimento dos princípios e características da<br />

Educação Ambiental na América Latina.<br />

Uma década após a Conferência <strong>de</strong> Tbilisi, foi promovido em Moscou, Rússia, o<br />

Congresso Internacional sobre Educação e Formação Ambientais, mais conhecido como Congresso<br />

<strong>de</strong> Moscou. O objetivo do mesmo era avaliar a situação da Educação Ambiental, <strong>de</strong>z anos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

originados sua base, os progressos alcançados bem como as dificulda<strong>de</strong>s encontradas para sua<br />

realização.<br />

Segundo Pardo Díaz (2002), o Congresso <strong>de</strong> Moscou propõe, em suma, tornar mais<br />

operacionais as reflexões da Conferência <strong>de</strong> Tbilisi, elaborando uma estratégia para a introdução da<br />

Educação e Formação Ambiental na década <strong>de</strong> 90, fixando-se como meta fortalecer as gran<strong>de</strong>s<br />

orientações formuladas em Tbilisi, adaptando-as aos novos problemas. O conjunto <strong>de</strong> estratégias<br />

instituídas pelo Congresso <strong>de</strong> Moscou<br />

inclui a introdução da educação ambiental nos planos <strong>de</strong> estudo <strong>de</strong> todos os níveis <strong>de</strong><br />

ensino, a qualificação <strong>de</strong> pessoal e a elaboração <strong>de</strong> materiais didáticos <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>.<br />

Também insiste no estabelecimento <strong>de</strong> canais fluidos <strong>de</strong> informação e na necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

envolver os meios <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong> massas. Em cada item, recordam-se as orientações da<br />

956


Conferência <strong>de</strong> Tbilisi sobre a questão particular, formula-se um objetivo preciso e propõese<br />

uma série <strong>de</strong> ações específicas para alcançá-lo. (Congresso Internacional sobre Educação<br />

e Formação Ambientais, 1987).<br />

Posteriormente, em 1992, duas décadas <strong>de</strong>pois da realização da Conferência <strong>de</strong> Estocolmo<br />

em 1972, é realizado no Rio <strong>de</strong> Janeiro, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e<br />

Desenvolvimento, a Conferência Rio-92, como ficou conhecida. Na Conferência foi proposto a<br />

adoção <strong>de</strong> uma estratégia global, <strong>de</strong>nominada Agenda 21, como um modo <strong>de</strong> instrumentalização <strong>de</strong><br />

uma política mundial a nível internacional. Embora a Educação Ambiental esteja presente em quase<br />

todos os capítulos <strong>de</strong>sse plano <strong>de</strong> ação para a sustentabilida<strong>de</strong> no século XXI, especificamente a<br />

Seção IV, Cap. 4, referente à educação, propõe um esforço global para fortalecer atitu<strong>de</strong>s, valores e<br />

ações que sejam ambientalmente saudáveis por meio da promoção do ensino, reorientando-o ao<br />

<strong>de</strong>senvolvimento sustentável, do aumento da conscientização da população e da promoção do<br />

treinamento <strong>de</strong> formadores ambientais.<br />

Em 1998, a Conferência <strong>de</strong> Thessaloniki, em Tessalônica, Grécia, organizada pela<br />

UNESCO, teve como enfoque ativida<strong>de</strong>s que contribuíram como o Capítulo 36 da Agenda 21,<br />

sendo por tanto uma continuida<strong>de</strong> dos trabalhos realizados durante a Conferência <strong>de</strong> Tbilisi sobre<br />

Educação Ambiental, reaquecida com as discussões sobre a sustentabilida<strong>de</strong> do mundo na Rio-92.<br />

A Conferência teve como documento final a Declaração <strong>de</strong> Tessalônica, on<strong>de</strong>, segundo a mesma, os<br />

principais pontos <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque são o reconhecimento do papel crítico da educação e da consciência<br />

pública, <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar a importante contribuição da Educação Ambiental e <strong>de</strong> fornecer elementos<br />

para o <strong>de</strong>senvolvimento do programa <strong>de</strong> trabalho da Comissão <strong>de</strong> Desenvolvimento Sustentável da<br />

ONU.<br />

Educação Ambiental no Brasil<br />

Os encontros brasileiros sobre Educação Ambiental iniciaram-se somente a partir da<br />

década <strong>de</strong> 90, mais precisamente em 1991 com o Encontro Nacional <strong>de</strong> Políticas e Metodologias<br />

para a Educação Ambiental, promovido pelo MEC (Ministério da Educação e Cultura) e pela<br />

SEMAM (Secretaria do Meio Ambiente), no qual adotaram princípios norteadores para a<br />

implementação da Educação Ambiental no Brasil. A Educação Ambiental <strong>de</strong> acordo com a<br />

elaboração das propostas <strong>de</strong>sse encontro, segundo Dias (2002), <strong>de</strong>ve ser contínua, com uma visão<br />

multi, inter e transdisciplinar, dirigida a todos os níveis <strong>de</strong> ensino, dando ao indivíduo um perfil<br />

atuante, interativo, analítico, transformador, consciente, participativo e crítico, incentivando a<br />

produção <strong>de</strong> conteúdos e materiais didáticos a<strong>de</strong>quados e <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> acordo com as<br />

diretrizes para a Educação Ambiental estabelecidas pela UNESCO na Conferência <strong>de</strong> Tbilisi.<br />

957


Nos anos <strong>de</strong> 1991 e 1992, foram promovidos pelo Grupo <strong>de</strong> Trabalho <strong>de</strong> Formadores<br />

Ambientais do MEC e SEMAN, os Encontros Técnicos <strong>de</strong> Educação Ambiental em cada região<br />

brasileira, tiveram como objetivos as <strong>de</strong>finições <strong>de</strong> critérios e estratégias para apoiar e implementar<br />

programas <strong>de</strong> Educação Ambiental em cada região e promover intercâmbio das experiências em<br />

âmbito regional.<br />

A Educação Ambiental no Brasil é regida pela PNEA (Política Nacional <strong>de</strong> Educação<br />

Ambiental), estabelecida pela Lei Nº 9795, <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1999, que em seu 1º Artigo reflete Educação<br />

Ambiental como:<br />

os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletivida<strong>de</strong> constroem valores sociais,<br />

conhecimentos, habilida<strong>de</strong>s, atitu<strong>de</strong>s e competências voltadas para a conservação do meio<br />

ambiente, bem <strong>de</strong> uso comum do povo, essencial à sadia qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e sua<br />

sustentabilida<strong>de</strong>. (POLÍTICA, 1999)<br />

Rodriguez e Silva (2009) expõem que o surgimento da Educação Ambiental, é <strong>de</strong> acordo<br />

com a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ultrapassar a crise ambiental atual, um dos meios para se adquirir os<br />

conceitos, técnicas e as atitu<strong>de</strong>s necessárias para alavancar uma transformação <strong>de</strong> valores e atitu<strong>de</strong>s<br />

socioambientais responsáveis.<br />

Projeto Sala Ver<strong>de</strong><br />

O Projeto Sala Ver<strong>de</strong>, coor<strong>de</strong>nado pela Diretoria <strong>de</strong> Educação Ambiental do Ministério do<br />

Meio Ambiente (DEA/MMA), foi inicialmente <strong>de</strong>senvolvido em 2003, sendo inicialmente<br />

concebido com foco consi<strong>de</strong>rável no caráter biblioteca ver<strong>de</strong>, ambiente on<strong>de</strong> se po<strong>de</strong>m fazer<br />

pesquisas e estudos sobre temas voltados ao meio ambiente, como resposta a contínua <strong>de</strong>manda por<br />

informações socioambientais produzidas pelo MMA. A partir do <strong>de</strong>senvolvimento e da evolução<br />

<strong>de</strong>ste Projeto, passou-se a visualizar as Salas Ver<strong>de</strong>s como espaços com múltiplas potencialida<strong>de</strong>s,<br />

que além do acesso às informações, po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>senvolver ativida<strong>de</strong>s diversas <strong>de</strong> Educação Ambiental<br />

como: cursos, palestras, ofici<strong>nas</strong>, eventos, encontros, reuniões, campanhas.<br />

A perspectiva <strong>de</strong>sse projeto é a <strong>de</strong> potencializar ambientes, espaços e iniciativas já<br />

existentes em diversas instituições, que já <strong>de</strong>sempenham papel e realizam ações com a perspectiva<br />

<strong>de</strong> disponibilização e <strong>de</strong>mocratização <strong>de</strong> informações ambientais <strong>nas</strong> localida<strong>de</strong>s e com os públicos<br />

com os quais atuam. Busca maximizar as possibilida<strong>de</strong>s dos materiais distribuídos, colaborando<br />

para a construção <strong>de</strong> um espaço, que além do acesso à informação, ofereça a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

reflexão e construção do pensamento/ação ambiental.<br />

Acima <strong>de</strong> tudo, as Salas Ver<strong>de</strong>s são ambientes que dispõe <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> potencialida<strong>de</strong>s,<br />

quais sejam: ambientais, culturais, sociais, informacionais, <strong>de</strong> pesquisa, articuladoras, <strong>de</strong>ntre outras,<br />

958


são espaços interativos <strong>de</strong> informação, educação, formação e ação socioambiental, on<strong>de</strong> as pessoas<br />

po<strong>de</strong>rão realizar leituras, ouvir, acessar e ver documentos, participar <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s educacionais e <strong>de</strong><br />

eventos promovidos por elas, <strong>de</strong>ntre outras ativida<strong>de</strong>s.<br />

Nessa perspectiva, a Sala Ver<strong>de</strong> Água Viva, vinculada ao Laboratório <strong>de</strong> Geoecologia da<br />

Paisagem e Planejamento Ambiental (LAGEPLAN), situado no Departamento <strong>de</strong> Geografia da<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Ceará – UFC, busca promover um conjunto <strong>de</strong> ações visando à<br />

sensibilização dos integrantes diretamente envolvidos nesse processo à manutenção <strong>de</strong> sistemas<br />

naturais, conciliando ativida<strong>de</strong>s econômicas com conservação ambiental, on<strong>de</strong> natureza e socieda<strong>de</strong><br />

mantém uma relação sustentável.<br />

O <strong>de</strong>senvolvimento das práticas <strong>de</strong> Educação Ambiental é realizado em diferentes espaços,<br />

abrangendo professores e alunos do Departamento <strong>de</strong> Geografia da UFC, comunida<strong>de</strong>s tradicionais<br />

no Iguape, município <strong>de</strong> Aquiraz - CE, comunida<strong>de</strong> Quilombola da Serra do Evaristo, município em<br />

Baturité - CE, comunida<strong>de</strong> costeira <strong>de</strong> Mundaú - CE à escolas públicas <strong>de</strong> ensino fundamental e<br />

médio do município <strong>de</strong> Fortaleza, Ceará, a fim <strong>de</strong> potencializar a informação e a formação <strong>de</strong><br />

indivíduos ativo, capazes <strong>de</strong> gerar modificações que impulsionem transformações sociais.<br />

Para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ssas ativida<strong>de</strong>s, a Sala Ver<strong>de</strong> Água Viva, dispõe <strong>de</strong> um acervo<br />

bibliográfico sobre Meio Ambiente, Legislação Ambiental, Educação Ambiental, Ecologia,<br />

Recursos Hídricos, Formação Pedagógica, entre outros, produzidas e/ou fornecidas pelo Ministério<br />

do Meio Ambiente, bem como publicações do próprio Departamento <strong>de</strong> Geografia da UFC,<br />

disponíveis para exposição ou consulta local, o acervo tem por finalida<strong>de</strong> fundamental ampliar o<br />

acesso à informação acerca das questões ambientais e sociais. A figura 1, mostra alguns livros e<br />

cartilhas do acervo da Sala Ver<strong>de</strong> Água Viva em exposição na Feira <strong>de</strong> Ciências com alunos do<br />

ensino médio da Escola <strong>de</strong> Ensino Fundamental e Médio Estado do Paraná, no bairro Montese,<br />

Fortaleza – CE, acerca do Ecossistema Manguezal.<br />

Fonte: do autor, 2012.<br />

Figura 1 – Exposição do acervo Sala Ver<strong>de</strong> Água Viva na EEFM Estado do Paraná.<br />

959


O projeto possui ainda um acervo midiático, com o qual promove através do Cine Sala<br />

Ver<strong>de</strong>, a exibição <strong>de</strong> filmes, curtas-metragens e documentários que abordam diversos temas, como<br />

utilização <strong>de</strong> agrotóxicos, alterações climáticas, ecossistema manguezal e cotidiano das<br />

comunida<strong>de</strong>s costeiras, consumismo, impactos ambientais, resíduos sólidos, reciclagem,<br />

<strong>de</strong>gradação, gestão e manejo dos recursos hídricos. As sessões proporcionam em sua conclusão uma<br />

discussão sobre o tema, levando aos participantes a <strong>de</strong>senvolver questionamentos e reflexões acerca<br />

<strong>de</strong> questões ambientais. A Figura 2 apresenta alunos da graduação do Departamento <strong>de</strong> Geografia<br />

da UFC participando da exibição <strong>de</strong> um documentário acerca da gestão e do manejo dos recursos<br />

hídricos.<br />

Fonte: do autor, 2012.<br />

Figura 2 – Alunos da Graduação participam <strong>de</strong> Cine Sala Ver<strong>de</strong>.<br />

Dentre outras ações que a Sala Ver<strong>de</strong> exerce, po<strong>de</strong>-se especificar a realização <strong>de</strong> cursos e<br />

ofici<strong>nas</strong> <strong>de</strong> Educação Ambiental que estimulam o enfrentamento das questões ambientais e sociais,<br />

tais como: Desenvolvimento Sustentável, Ecologia dos Ecossistemas Costeiros, A Água no Século<br />

XXI, Reciclagem e Resíduos Sólidos (Figura 3), Consumo Sustentável, Artesanato com produtos<br />

naturais, <strong>de</strong>ntre outros. Os participantes <strong>de</strong>ssas ativida<strong>de</strong>s são ―incentivados e informados para<br />

atuarem como agentes multiplicadores dos programas <strong>de</strong> Educação Ambiental‖. (MEIRELES et al,<br />

2011).<br />

960


Fonte: do autor, 2012.<br />

Figura 3 – Reciclagem <strong>de</strong> jornal na Comunida<strong>de</strong> Quilombola da Serra do Evaristo, Baturité, Ceará.<br />

Consi<strong>de</strong>rações Finais<br />

A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma crescente disseminação <strong>de</strong> informações acerca da problemática<br />

ambiental, um conhecimento em construção, <strong>de</strong>manda esforço para o fortalecimento <strong>de</strong> visões<br />

integradoras que, centradas no <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, estimulem uma reflexão sobre a<br />

diversida<strong>de</strong> e a construção <strong>de</strong> conhecimentos em torno das relações socieda<strong>de</strong>-natureza, dos<br />

impactos ambientais globais e locais e das relações ambiente-<strong>de</strong>senvolvimento. A educação<br />

ambiental, <strong>nas</strong> suas diversas possibilida<strong>de</strong>s, abre um espaço para repensar práticas sociais e o papel<br />

dos integrantes como mediadores e transmissores <strong>de</strong> um conhecimento necessário para que outros<br />

participantes também possam vir a adquirir uma base a<strong>de</strong>quada <strong>de</strong> compreensão essencial do meio<br />

ambiente, da inter<strong>de</strong>pendência dos problemas e soluções e da importância da responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

cada um na construção <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> planetária mais igualitária e ambientalmente sustentável.<br />

Referências<br />

BRASIL. Lei Nº 9.795, <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1999.<br />

DIAS, Genebaldo Freire. Educação Ambiental: princípios e práticas. 9. ed. São Paulo: Gaia, 2004.<br />

DIEGUES, Antônio Carlos S. Desenvolvimento Sustentável ou Socieda<strong>de</strong>s Sustentáveis: da crítica<br />

dos mo<strong>de</strong>los aos novos paradigmas. São Paulo em Perspectiva, São Paulo, n. 6, p. 22-29, jun. 1996.<br />

Disponível em: < http://www.sea<strong>de</strong>.sp.gov.br/produtos/spp/v06n01-02/v06n01-02_05.pdf>. Acesso<br />

em: 24 set. 2012.<br />

JACOBI, Pedro. Educação Ambiental, Cidadania e Sustentabilida<strong>de</strong>. Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> Pesquisa, São<br />

Paulo, n. 118, p.189-205, mar. 2003. Disponível em:<br />

. Acesso em: 24 set. 2012.<br />

961


MEIRELES, Antônio Jeovah <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> et al. Sala Ver<strong>de</strong> água Viva: Educação Ambiental, Cultura<br />

e Cidadania. In: SILVA, Edson Vicente da et al. Educação Ambiental e Indígena: caminhos da<br />

extensão universitária na gestão <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s tradicionais. Fortaleza: Edições Ufc, 2011. Cap. 6,<br />

p. 103-121.<br />

PARDO DÍAZ, Alberto. Educação Ambiental como projeto; trad. Fátima Murad. 2.ed. Porto<br />

Alegre: Artmed, 2002<br />

PNUMA (Ed.). PNUMA no Brasil. Disponível em: .<br />

Acesso em: 28 set. 2012.<br />

REIGOTA, M. Meio ambiente e representação social. São Paulo: Cortez, 1994.<br />

RODRIGUES, José Mateo et al. Educação Ambiental e <strong>de</strong>senvolvimento sustentável: problemática,<br />

tendências e <strong>de</strong>safios. Fortaleza: Edições Ufc, 2009.<br />

UNESCO. Carta <strong>de</strong> Belgrado. Disponível em:<br />

. Acesso em: 30 set. 2012.<br />

UNESCO/PNUMA (Org.). Algumas Recomendações da Conferência Intergovernamental sobre<br />

Educação Ambiental aos Países Membros. Disponível em:<br />

. Acesso em: 01 out. 2012.<br />

< http://www.silex.com.br/leis/normas/estocolmo.htm>. Acesso em: 29 set. 2012.<br />

962


RESUMO<br />

CONCEPÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS PÚBLICAS DO SERIDÓ POTIGUÁR<br />

A CONCEPÇÃO AMBIENTAL<br />

ARAÚJO FILHO, Valfredo Pereira <strong>de</strong> ¹<br />

vpgeografia@yahoo.com.br<br />

BEZERRA DA NÓBREGA, Mariana Lucena²<br />

CHIANCA E SILVA, Igsson Rauan²<br />

ROCHA. Renato <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros³<br />

Licenciado em geografia pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte, (UFRN)¹<br />

Licenciando em geografia pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte (UFRN)²<br />

Orientador Dr. e coor<strong>de</strong>nador do Laboratório <strong>de</strong> Ecologia do Semiárido (LABESA)³<br />

Numa perspectiva <strong>de</strong> melhorar os conhecimentos relativos às questões do meio ambiente, a<br />

educação ambiental é trabalhada no ensino do primeiro e segundo grau, <strong>nas</strong> escolas públicas e<br />

particulares, enquanto a uma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> instruir indivíduos, para tornarem-se conscientizados,<br />

e aptos a praticarem cidadania. Este trabalho tem por objetivo i<strong>de</strong>ntificar as concepções ambientais<br />

e práticas pedagógicas dos professores e alunos <strong>de</strong> escolas públicas e privadas da região do Seridó<br />

potiguar, como também referente à concepção ambiental <strong>de</strong> alunos do ensino fundamental e médio,<br />

tornando emergentes os discursos dos professores e suas possíveis contribuições para uma retomada<br />

<strong>de</strong> consciência quanto às questões socioambientais. Neste trabalho <strong>de</strong> educação ambiental teve a<br />

participação <strong>de</strong> 23 alunos do curso <strong>de</strong> geografia bacharelado e licenciatura da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral<br />

do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte (UFRN), em escolas do ensino fundamental <strong>de</strong> 3ª a 9ª ano, e do 1º ao 3ª<br />

ano do ensino médio em várias cida<strong>de</strong>s do interior do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte, mas precisamente na<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Caicó. É fácil perceber que todos os alunos questionados tratam o meio ambiente como<br />

sendo a natureza o local on<strong>de</strong> se vive e da qual são retirados os recursos para a sobrevivência<br />

humana. Assim retratam o meio ambiente numa percepção antrópica, cuja origem se dá na ética<br />

humana <strong>de</strong> concepção, no que situa o homem <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do meio natural. Em gran<strong>de</strong> parte das<br />

respostas dos questionários, as concepções <strong>de</strong> educação ambiental dos entrevistados baseiam-se em<br />

conceitos informacionais comumente sem vínculo <strong>de</strong> proposta <strong>de</strong> ação para contribuir para a<br />

preservação do meio ambiente, não havendo mudanças <strong>de</strong> valore e posturas éticas diante das<br />

questões ambientais. Nesse sentido, este artigo apresenta a ética ambiental como sendo a forma <strong>de</strong><br />

analise crítica do contexto contemporâneo no que diz respeito entre a interação do ser humano e a<br />

natureza.<br />

Palavras chaves: educação ambiental, concepção ambiental, formação <strong>de</strong> conhecimentos.<br />

963


ABSTRACT<br />

In or<strong>de</strong>r to improve knowledge concerning the issues of the environment, environmental education<br />

is crafted in teaching first and second gra<strong>de</strong> in public and private schools, while a possibility of<br />

instructing individuals to become aware, and able to practice citizenship. This study aims to i<strong>de</strong>ntify<br />

the environmental conceptions and teaching practices of teachers and stu<strong>de</strong>nts in public and private<br />

schools in the region Seridó RN, but also on the environmental <strong>de</strong>sign of elementary stu<strong>de</strong>nts and<br />

middle, making emerging discourse among teachers and their possible contributions to a resumption<br />

of awareness regarding environmental issues. This environmental education program was atten<strong>de</strong>d<br />

by 23 stu<strong>de</strong>nts of geography baccalaureate and graduate of the Fe<strong>de</strong>ral University of Rio Gran<strong>de</strong> do<br />

Norte (UFRN) in elementary schools 3 rd to 9 th year, and the 1st to 3rd year of high school several<br />

cities in the interior of Rio Gran<strong>de</strong> do Norte, but precisely in the city of Caico. It is easy to see that<br />

all stu<strong>de</strong>nts questioned treat the environment as nature being the place where one lives and which<br />

resources are withdrawn for human survival. Thus portray the environment in a perception<br />

anthropogenic origin which occurs in the human ethics of <strong>de</strong>sign, which places the man <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<br />

on the natural environment. In most of the answers to the questionnaires, the concepts of<br />

environmental education of the respon<strong>de</strong>nts are based on concepts commonly informational without<br />

bond proposal for action to help preserve the environment, with no changes valore and ethical<br />

stances on environmental issues. In this sense, this paper presents the environmental ethics as a<br />

form of critical analysis of the contemporary context regarding the interaction between humans and<br />

nature.<br />

Keywords: environmental education, environmental <strong>de</strong>sign, training knowledge.<br />

INTRODUÇÃO<br />

O atual <strong>de</strong>senvolvimento econômico baseia-se na exploração exacerbada dos bens naturais<br />

<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ando gran<strong>de</strong>s consequências <strong>de</strong> âmbito social, e econômico e ambiental. As ações<br />

antrópicas estão diretamente relacionadas com a percepção ambiental do ser humano, pois é a partir<br />

<strong>de</strong>sta percepção que o ser humano atua sobre o meio ambiente.<br />

Deve-se observar que a temática ambiental é retratada por muitos educadores como dos<br />

principais referenciais <strong>de</strong> mudanças no setor da educação. Reigota (1998) citado por Tamoio<br />

(2002), ao discorrer sobre ao <strong>de</strong>safio da educação ambiental na escola, mostra que:<br />

964


A educação ambiental na escola ou fora <strong>de</strong>la continuará a se ruma concepção radical <strong>de</strong> educação, não<br />

por que se refere a 4ª tendência rebel<strong>de</strong> do pensamento educacional contemporâneo, mas sim por que<br />

nossa época e nossa herança histórica e ecológica exigem alternativas radicais, justas e pacificas (p.<br />

14).<br />

No entanto, a educação ambiental, pelo que se mostra, vem se tornando um instrumento <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento dando um lugar importante <strong>nas</strong> escolas, quase que exclusivamente na sua<br />

dimensão natural e técnica.<br />

O meio ambiente só é tratado enquanto se refere da questão humana enquanto que o mesmo<br />

não recebe nenhum mérito sem o seu espaço. Des<strong>de</strong> que se coloca a relação Homem-Meio<br />

Ambiente é íntima, permanente e afetiva, sendo assim, por conseguinte uma reciprocida<strong>de</strong><br />

necessária e universal. (OLIVEIRA, 2002,).<br />

Há cinco fatores que são analisados para preferencia da paisagem que são: as características<br />

dos pesquisadores; à medida que são selecionadas para apresentação; o formato <strong>de</strong> uma resposta; as<br />

feições ambientais relevantes da fisionomia; a natureza <strong>de</strong> intermediação do cenário específico.<br />

A conclusão e a estética são <strong>de</strong>finidas como: a estima associada com sentimentos <strong>de</strong> alegria<br />

e a ativida<strong>de</strong> produzida pelo choque com o ambiente (FORMAN & GODRON, 1986). A utilização<br />

<strong>de</strong> figuras sensibiliza as pessoas e autoriza a memória concepções anterior às imagens vistas.<br />

Para realização <strong>de</strong>sta pesquisa foram escolhidas 07 escolas do ensino fundamental e médio<br />

das cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Caicó, São José do Seridó, Santana do Seridó, Jardim do Seridó, Currais Novos, São<br />

João do Sabugi e São Fenando, no estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte/RN.<br />

A partir das observações, realizadas pelos monitores auxiliares do projeto A Caatinga vai À<br />

Escola, e a aplicação <strong>de</strong> questionário com questões a cerca do meio ambiente com estudantes do<br />

ensino fundamental e médio que foram selecionados por turma. Cada questionário apresenta uma<br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 10 questões todas relacionado ao meio ambiente.<br />

Com a análise do material coletado foi criado um banco <strong>de</strong> dados no qual foram observados<br />

e comparados à concepção ambiental <strong>de</strong> todos os participantes sobre cada questão elaborada, na<br />

qual buscou se i<strong>de</strong>ntificar o que há <strong>de</strong> mais significativo na concepção do indivíduo nos diferentes<br />

níveis, com as quais consi<strong>de</strong>rou a maturida<strong>de</strong> das concepções <strong>de</strong> meio ambiente com cada classe<br />

trabalhada.<br />

965


OBJETVO GERAL<br />

O presente trabalho tem por objetivo coletar dados e conceitos sobre o meio ambiente<br />

<strong>de</strong>scritos por alunos <strong>de</strong> diversos níveis <strong>de</strong> ensino, <strong>de</strong> forma a perceber a importância dos<br />

mesmos para a humanida<strong>de</strong>, e perceber como estes são interpretados.<br />

OBJETIVOS<br />

Verificar se a educação ambiental <strong>nas</strong> escolas da zona urbana <strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s do Seridó<br />

potiguar.<br />

Analisar os conteúdos programáticos para inserção <strong>de</strong> programas ambientais na comunida<strong>de</strong>,<br />

valorizando os saberes <strong>nas</strong> ativida<strong>de</strong>s escolares.<br />

Subsidiar a comunida<strong>de</strong> escolar com fundamentos teóricos- metodológicos para abordagem<br />

ambiental no cotidiano escolar.<br />

Observar os conhecimentos do alunado na comunida<strong>de</strong> e instituições <strong>de</strong> educacionais <strong>de</strong><br />

ensino fundamental e médio.<br />

METODOLOGIA<br />

O trabalho foi <strong>de</strong>senvolvido <strong>nas</strong> escolas <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s da região do Seridó no estado do Rio<br />

Gran<strong>de</strong> do Norte, mais precisamente na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Caicó, foi baseado na pesquisa-ação, que<br />

possibilita além <strong>de</strong> conhecer a realida<strong>de</strong> vivida, como também estudada, o envolvimento das<br />

pessoas que vivem a essa realida<strong>de</strong>, tanto na questão do realizar, quanto no refazer (FREIRE e<br />

SHOR, 1991), esse fato torna-se importante no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> extensão, quando<br />

trata <strong>de</strong> questões necessárias <strong>de</strong> conhecer a realida<strong>de</strong> aon<strong>de</strong> se vai trabalhar, aon<strong>de</strong> po<strong>de</strong>mos<br />

introduzir conhecimentos tendo como ponto <strong>de</strong> partida os saberes da comunida<strong>de</strong> promovendo uma<br />

transformação da pratica pedagógica <strong>de</strong>senvolvendo <strong>nas</strong> escolas novos projetos dando priorida<strong>de</strong> ao<br />

966


conhecimento sistemático numa concepção ambiental, e explorando no cotidiano escolar o tema<br />

meio ambiente.<br />

Esse enfoque visa o melhor <strong>de</strong>sempenho do conhecimento dos alunos e professore para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento sustentável, exigindo da escola uma resposta às necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> introduzir a<br />

educação ambiental no currículo escolar, no qual torna explicito <strong>nas</strong> ações educativas promovendo<br />

reflexivas as novas atitu<strong>de</strong>s e valores que contribuem para formar cidadãos críticos.<br />

Nessa concepção, a educação está diretamente envolvida com a emergência da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

vida, e cabe a escola a promoção <strong>de</strong> novos métodos levando formas <strong>de</strong> conhecimento, objetivando a<br />

formação <strong>de</strong> cidadãos conscientes, valorizando e articulando o saber existente. Segundo<br />

(OLIVEIRA, 1989:7), ―cabe ao professor (a) uma nova visão da realida<strong>de</strong> que transcenda os limites<br />

disciplinares e conceitos do conhecimento‖. Possibilitando assim ao ensino aprendizagem uma nova<br />

forma <strong>de</strong> apresentar e agregar conhecimentos a comunida<strong>de</strong> escolar, fortalecendo as relações entre o<br />

que constitui as concepções <strong>de</strong> cada indivíduo escolar, expandindo se a comunida<strong>de</strong> na qual<br />

encontra se inserida.<br />

Nesta concepção, a socieda<strong>de</strong> interpreta o mundo e a natureza visando à sustentabilida<strong>de</strong> do<br />

planeta, garantindo a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida presente e no futuro, da socieda<strong>de</strong> e das relações huma<strong>nas</strong><br />

essenciais para um novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

Esse enfoque visa o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, e exige da escola, uma resposta às<br />

necessida<strong>de</strong>s atuais, e a introdução da educação ambiental no currículo escolar, visando explicitar a<br />

realida<strong>de</strong> promovendo novas atitu<strong>de</strong>s dando reflexivos valores aos cidadãos.<br />

O trabalho <strong>de</strong>senvolvido <strong>nas</strong> comunida<strong>de</strong>s da região do Seridó Potiguar foi explorado<br />

através <strong>de</strong> aulas e situações <strong>nas</strong> quais proporcionou aos professores exercitar ―uma nova visão da<br />

realida<strong>de</strong> que fortalecendo as relações os seres humanos que constituem a comunida<strong>de</strong> escolar, até<br />

refletir os pensamentos cognitivos dos participantes‖.<br />

Trabalho, no qual os saberes (tanto daquele que ensina como daquele que apren<strong>de</strong>) foram o<br />

ponto <strong>de</strong> partida, para, numa atuação crítica, provocando a transformação da prática pedagógica<br />

<strong>de</strong>senvolvida na escola, abordando o conhecimento sistemático numa concepção ambiental,<br />

explorando no cotidiano escolar, o tema unificador <strong>de</strong>ssa comunida<strong>de</strong>.<br />

De acordo com Sato (2001, p.8).<br />

Cada pessoa ou grupo social po<strong>de</strong> ter a sua representação, ou a sua própria trajetória. O que é<br />

inadmissível é que as pessoas livrem-se do po<strong>de</strong>r da criticida<strong>de</strong> e reproduzam discursos e práticas<br />

orientadas para <strong>de</strong>smobilização <strong>de</strong> ED, ora como gestão ambiental ora como uma prática educativa<br />

qualquer.<br />

Perante o exposto, <strong>de</strong>vemos afirmar que a educação ambiental não <strong>de</strong>va consistir em transmissão <strong>de</strong><br />

verda<strong>de</strong>s, e informações, <strong>de</strong>monstrações em mo<strong>de</strong>los, mas, sim em processo <strong>de</strong> ação-reflexão que<br />

levem o aluno a apren<strong>de</strong>r por si só, conquistar essas verda<strong>de</strong>s e assim, <strong>de</strong>senvolver novas estratégias<br />

967


<strong>de</strong> compreensão da realida<strong>de</strong>. A metodologia adotada para realização <strong>de</strong>ste trabalho buscou unir<br />

teoria e prática, para que houvesse uma maior abstração dos conteúdos expostos.<br />

FIG 01: aplicação <strong>de</strong> questionários FIG 02: mostruário <strong>de</strong> plantas FIG 03: quadros ilustrativos<br />

fonte do autor fonte do autor fonte do autor<br />

RESULTADOS<br />

Foi com o propósito <strong>de</strong> valorizar a biodiversida<strong>de</strong> da Caatinga, que este projeto aten<strong>de</strong>u no<br />

ano <strong>de</strong> 2010/2011 oito escolas: sendo seis da re<strong>de</strong> Estadual, uma da re<strong>de</strong> municipal e uma da re<strong>de</strong><br />

privada. Na ocasião foram feitas as visitas <strong>nas</strong> escolas, enquanto fomos atendidos pelos diretores,<br />

dos quais recebemos o apoio físico e moral, dando-nos suporte para uma boa visão por parte dos<br />

participantes e ouvintes estudantes.<br />

O projeto teve como resultado um bom aprendizado e sensibilização a respeito da<br />

conservação e preservação da biodiversida<strong>de</strong> da Caatinga, on<strong>de</strong> foi atendido um público <strong>de</strong><br />

aproximadamente 5.700 pessoas entre eles alunos e professores.<br />

Esse projeto é <strong>de</strong> suma importância porque partir <strong>de</strong>le que os alunos obtém uma melhor<br />

noção do que seja bioma Caatinga, vale salientar que esse assunto vem sendo esquecido <strong>nas</strong> salas <strong>de</strong><br />

aulas por parte dos educadores, é aí que nota-se a importância do projeto, que tem como objetivo<br />

passar aos alunos/professores informações importantes do que seja a biodiversida<strong>de</strong> existente em<br />

nosso bioma.<br />

TABELA 01: Número <strong>de</strong> alunos das Escolas visitadas no ano <strong>de</strong> 2010 a 2011<br />

ESCOLAS<br />

VISITADAS NO ANO DE<br />

2010 A 2011<br />

Escola Municipal Raul <strong>de</strong><br />

Me<strong>de</strong>iros Dantas<br />

Escola Estadual M<br />

Walfredo Gurgel<br />

CIDADES DAS ESCOLAS<br />

VISITADAS<br />

NÚMERO DE ALUNOS<br />

ATENDIDOS NAS ESCOLAS<br />

São José do Seridó/RN 571<br />

São Fernando/RN 340<br />

968


Escola Estadual J<br />

Vilar da Cunha<br />

Centro Educacional<br />

Felinto Elísio<br />

Escola Estadual M<br />

Walfredo Gurgel<br />

Escola Estadual<br />

Senador José Bernar<strong>de</strong>s<br />

Escola Estadual Calp.<br />

Caldas <strong>de</strong> Amorim<br />

CONCLUSÃO<br />

Santana do Seridó/RN 460<br />

Jardim do Seridó/RN 908<br />

Caicó/RN<br />

490<br />

São João do Sabugi/RN 550<br />

Caicó/RN 500<br />

SESC/Seridó Caicó/RN 500<br />

Número <strong>de</strong> alunos/escolas visitados/total 5.613<br />

Dessa forma o ensino <strong>de</strong> educação ambiental é <strong>de</strong> suma importância para as atuais e<br />

futuras gerações, esse ensino se da principalmente <strong>nas</strong> escolas. A escola é o espaço social e o local<br />

on<strong>de</strong> o aluno dará sequência ao seu processo <strong>de</strong> socialização.<br />

O que nela se faz se diz e se valoriza representa um exemplo daquilo que a socieda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>seja e aprova. Comportamentos ambientalmente corretos <strong>de</strong>vem ser aprendidos na prática, no<br />

cotidiano da vida escolar, contribuindo para a formação <strong>de</strong> cidadãos responsáveis.<br />

É fundamental que cada aluno <strong>de</strong>senvolva as suas potencialida<strong>de</strong>s e adote posturas<br />

pessoais e comportamentos sociais construtivos, colaborando para a construção <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong><br />

socialmente justa, em um ambiente saudável.<br />

É por isso, que o projeto ―A Caatinga vai À escola‖ é importante, porque é uma forma que<br />

o aluno tem <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r sobre o bioma da região na qual mora. Notamos que em alguns casos<br />

alguns alunos nem sabiam o significado da palavra Caatinga, isso mostra que as escolas não vêm<br />

trabalhando sobre esses temas.<br />

Daí a importância do projeto, porque é a partir <strong>de</strong>le que os alunos principalmente das<br />

escolas publicas apren<strong>de</strong>m a respeito do bioma Caatinga e <strong>de</strong> como conservar e preservar a<br />

biodiversida<strong>de</strong> existente.<br />

Dessa forma, as aulas <strong>de</strong> Educação Ambiental foram realizadas por meio <strong>de</strong> banners,<br />

palestras, aulas ministradas pelos monitores do projeto discutindo sobre o bioma Caatinga,<br />

969


mostrando e proporcionando a sensibilização do publico sobre a temática ambiental do bioma<br />

Caatinga na Região do Seridó Potiguar, permitindo uma reflexão sobre a importância do bioma<br />

Caatinga.<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Hoje em dia, o estrato vegetal da Caatinga encontra-se em estado muito <strong>de</strong>vastado, em<br />

quase todos os lugares, sua biota está bastante reduzida comparando com a vegetação intacta. Isso é o<br />

resultado <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> ações prejudiciais praticadas pela população que não estava consciente<br />

dos efeitos em longo prazo, já que a natureza vigorosa parecia recuperar qualquer dano. Assim,<br />

práticas que em pequena escala não causavam maiores danos, foram aplicadas em gran<strong>de</strong> escala,<br />

ultrapassando a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recuperação natural (MAIA, 2004). A vegetação nativa existente <strong>nas</strong><br />

margens dos cursos d‘água é na maioria das vezes retirada para a plantação <strong>de</strong> peque<strong>nas</strong> roças, como<br />

o plantio <strong>de</strong> culturas <strong>de</strong> milho, feijão e melancia, por exemplo, como também, para ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

pisciculturas e <strong>de</strong> lazer que acabam gerando impactos no ambiente.<br />

Dentre os problemas encontrados, a ação antrópica é a principal mo<strong>de</strong>ladora do espaço,<br />

causando uma <strong>de</strong>gradação ambiental que gera perdas <strong>de</strong> espécies nativas da nossa flora e fauna, além<br />

<strong>de</strong> provocar o <strong>de</strong>sequilíbrio. É relevante a análise dos impactos negativos ocorrentes nesse meio<br />

como uma perspectiva <strong>de</strong> se apontar propostas <strong>de</strong> manejo capazes <strong>de</strong> minimizar os seus efeitos e até<br />

prevenir futuras ações impactantes (LACERDA, 2003). Depois <strong>de</strong> realizado este trabalho, espera-se<br />

que os resultados venham a contribuir para a tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões no que concerne ao manejo<br />

sustentável do bioma Caatinga, além <strong>de</strong> contribuir na mudança da metodologia aplicada pelo<br />

educando em relação ao Bioma Caatinga.<br />

Bibliografia<br />

BARBIERI, J.C. Desenvolvimento e meio ambiente. As estratégias <strong>de</strong> mudança da Agenda 21.<br />

Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.<br />

FREIRE, P e SHOR, I. Medo e ousadia – o cotidiano do professor. 7ª ed.. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Paz<br />

Terra. 1997.<br />

FORMAN, R.T. T.& GODRON, Landscape ecology. New York, John Wiley.1986. 619 p.<br />

LEFF, E. Saber ambiental: sustentabilida<strong>de</strong>, racionalida<strong>de</strong>, complexida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>r. Petrópolis, RJ:<br />

Vozes, 2001.<br />

LUCK, H. Pedagogia Interdisciplinar: fundamentos teórico-metodológicos. 2ª ed. Petrópolis, RJ:<br />

Vozes, 1994.<br />

MAIA, Guerda Nickel. Caatinga: árvores e arbustos e suas utilida<strong>de</strong>s. São Paulo/SP: D&Z<br />

Computação Gráfica e Editora 2004.<br />

970


OLIVEIRA, A.B. A unida<strong>de</strong> esquecida: homem-universo. Rio <strong>de</strong> Janeiro, Espaço e Tempo, 1999.<br />

SATO, M. (2001). Debatendo os <strong>de</strong>safios da educação ambiental. In: Congresso <strong>de</strong> Educação<br />

Ambiental Pró Mar <strong>de</strong> Dentro, 1. 2001. Rio Gran<strong>de</strong>. Anais... Rio Gran<strong>de</strong>: Mestrado em Educação<br />

Ambiental, FURG & Pró Mar <strong>de</strong> Dentro.<br />

SILVA-SANCHÉZ, S.S. Cidadania ambiental: novos direitos no Brasil. São Paulo: Humanistas /<br />

FFLCH, 2000.<br />

OLIVEIRA, Ivone <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s. Dimensão estratégica da comunicação no contexto Organizacional<br />

contemporâneo: um paradigma <strong>de</strong> interação comunicacional dialógica. Tese (Doutorado) – UFRJ,<br />

Escola <strong>de</strong> Comunicação, 2002.<br />

TAMOIO, I. A Meditação o professor na construção <strong>de</strong> conceito <strong>de</strong> natureza. Campi<strong>nas</strong>, 2000.<br />

Dissert. (Mestr.) FE/UNICAMP.<br />

971


RESUMO<br />

BREVES RELAÇÕES: CONFERÊNCIAS AMBIENTAIS MUNDIAIS, EDUCAÇÃO<br />

AMBIENTAL E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL<br />

Viviane Silva dos SANTOS<br />

Graduanda em Gestão Ambiental Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília/Campus <strong>de</strong> Planaltina<br />

vivi2_unb@hotmail.com<br />

Des<strong>de</strong> a Conferência <strong>de</strong> Estocolmo (1972) existe uma preocupação <strong>de</strong> que o crescimento<br />

exponencial da população e o atual mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> produção e consumo modifiquem as condições<br />

ambientais da Terra, causando a <strong>de</strong>gradação do meio ambiente. Duas décadas se passaram, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />

realização da Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento (1992),<br />

consi<strong>de</strong>rada a mais importante conferência ambiental mundial realizada até hoje. Mesmo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

tanto tempo, o que se verifica é que ainda há muito a fazer na agenda socioambiental mundial<br />

proposta durante o encontro no Rio <strong>de</strong> Janeiro. Com o objetivo <strong>de</strong> assegurar um comprometimento<br />

político renovado para o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável e avaliar o progresso feito até o momento,<br />

além <strong>de</strong> abordar os novos <strong>de</strong>safios emergentes, o Brasil sediou novamente o encontro organizado<br />

pela Organização das Nações Unidas (ONU), marcado <strong>de</strong> 13 a 22 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2012. É com base<br />

neste contexto que o presente documento tendo como ferramenta a educação ambiental tem como<br />

objetivo fazer uma reflexão sobre a importância do consumo consciente como elemento <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento sustentável e promoção da cidadania na socieda<strong>de</strong> contemporânea.<br />

PALAVRAS-CHAVE: Conferência ambiental, Desenvolvimento Sustentável, Educação<br />

Ambiental, Cidadania.<br />

ABSTRACT<br />

Since the Stockholm Conference (1972) there is a concern that the exponential growth of population<br />

and the current mo<strong>de</strong>l of production and consumption modify environmental conditions on Earth,<br />

causing the <strong>de</strong>gradation of the environment. Two <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>s have passed since realization the United<br />

Nations Conference on social environment and <strong>de</strong>velopment (1992), consi<strong>de</strong>red the most important<br />

global environmental conference held today. Even after so long what is checks is that there is still<br />

much to do in the global social environmental agenda proposed during the meeting in Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro. Aiming to secure a renewed political commitment to sustainable <strong>de</strong>velopment and assess<br />

the progress ma<strong>de</strong> so far, in addition to addressing the new challenges emerging, Brazil hosted<br />

again the meeting organized by the United Nations (UN), marked from 13 to June 22, 2012. It is<br />

based in this context that the present document have tool environmental education as aims to reflect<br />

972


on the importance of conscious consumption as an element of sustainable <strong>de</strong>velopment and<br />

promoting citizenship in contemporary society.<br />

KEYWORDS: Environmental Conference, Sustainable Development, Environmental Education,<br />

Citizenship.<br />

INTRODUÇÃO<br />

Des<strong>de</strong> a primeira Cúpula da Terra no Rio <strong>de</strong> Janeiro (ECO 92), movimentos populares,<br />

organizações sociais, associações profissionais, fóruns e re<strong>de</strong>s nacionais e internacionais da<br />

socieda<strong>de</strong> civil assumiram o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> construir um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> vida urbana<br />

sustentável, baseado nos princípios <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong>, liberda<strong>de</strong>, igualda<strong>de</strong>, dignida<strong>de</strong> e justiça<br />

social.<br />

O meio ambiente é um conjunto <strong>de</strong> forças e condições que cercam todos os seres vivos no<br />

Planeta Terra, constituído <strong>de</strong> elementos bióticos (condições <strong>de</strong> alimentação, educação, modo e<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida na socieda<strong>de</strong>, saú<strong>de</strong> e entre outros) e abióticos (clima, solo, pressão, iluminação,<br />

água e etc.). O equilíbrio e a manutenção <strong>de</strong> ambos os elementos são necessários para uma melhor<br />

ambiência a todos os seres vivos do Planeta Terra. As ativida<strong>de</strong>s antrópicas, como a industrialização<br />

e urbanização, acabam indo <strong>de</strong> encontro à proposta <strong>de</strong> uma ambiência melhor, porque provocam<br />

diversos problemas, danos e impactos ambientais, com <strong>de</strong>staque para a questão dos resíduos<br />

sólidos, do consumo <strong>de</strong>masiado <strong>de</strong> produtos industrializados e do excesso <strong>de</strong> lixo produzido pela<br />

socieda<strong>de</strong>, entre outros, acarretando um distanciamento da sustentabilida<strong>de</strong>. O padrão <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong><br />

consumo do homem atual está ocasionando a insustentabilida<strong>de</strong> em relação aos recursos naturais <strong>de</strong><br />

que o Planeta Terra dispõe. As ativida<strong>de</strong>s antrópicas relacionadas ao padrão <strong>de</strong> vida e consumo<br />

<strong>de</strong>vem ser modificadas por meio da conscientização e sensibilização das pessoas, visando a<br />

encontrar um padrão <strong>de</strong> vida e consumo que busque a sustentabilida<strong>de</strong> (Bervig, 2010).<br />

A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (UNCSD) que<br />

ocorreu no Brasil <strong>de</strong> 13 a 22 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2012 marcando o 20º aniversário da Conferência das<br />

Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED), que também ocorreu no Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro em 1992, e o 10º aniversário da Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável<br />

(WSSD), ocorrida em Johanesburgo em 2002. Com a presença <strong>de</strong> Chefes <strong>de</strong> Estado e <strong>de</strong> Governo a<br />

Conferência é pautada pela resolução ONU GA 64/236 <strong>de</strong> 24/12/2009, que <strong>de</strong>finiu como seus<br />

objetivos: assegurar um comprometimento político renovado para o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável;<br />

avaliar o progresso feito até o momento e as lacu<strong>nas</strong> que ainda existem na implementação dos<br />

resultados dos principais encontros sobre <strong>de</strong>senvolvimento sustentável e abordar os <strong>de</strong>safios novos<br />

e emergentes. Os dois temas em foco na Conferência foram: (a) uma economia ver<strong>de</strong> no contexto<br />

973


do <strong>de</strong>senvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza; e (b) o quadro institucional para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento sustentável.<br />

HISTÓRICO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL DAS NAÇÕES UNIDAS<br />

Em 1972, a Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, realizada em<br />

Estocolmo trouxe as nações industrializadas e em <strong>de</strong>senvolvimento um conjunto para <strong>de</strong>linear os<br />

"direitos" da família humana a um ambiente saudável e produtivo. Uma série <strong>de</strong> reuniões seguidas,<br />

por exemplo, sobre os direitos das pessoas à alimentação a<strong>de</strong>quada, ao som moradia, à água<br />

potável, ao acesso aos meios <strong>de</strong> planeamento familiar. O reconhecimento <strong>de</strong> revitalizar a conexão<br />

da humanida<strong>de</strong> com a natureza levou à criação <strong>de</strong> instituições globais <strong>de</strong>ntro do sistema da ONU.<br />

Em 1980, a União Internacional para a Conservação dos Recursos Naturais (IUCN)<br />

publicou a Estratégia <strong>de</strong> Conservação Mundial (WCS), que forneceu um precursor do conceito <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento sustentável. A Estratégia afirmou que a conservação da natureza não po<strong>de</strong> ser<br />

alcançada sem o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> aliviar a pobreza e miséria <strong>de</strong> cente<strong>nas</strong> <strong>de</strong> milhões <strong>de</strong> pessoas<br />

e <strong>de</strong>stacou a inter<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> conservação e <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento em que o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> cuidar da Terra. A menos que a fertilida<strong>de</strong> e produtivida<strong>de</strong> do planeta sejam salvos e<br />

guardados, o futuro da humanida<strong>de</strong> está em risco.<br />

Dez anos mais tar<strong>de</strong>, no plenário 48 da Assembleia Geral, em 1982, a iniciativa WCS<br />

culminou com a aprovação da Carta Mundial para a Natureza. A Carta afirma que "a humanida<strong>de</strong> é<br />

parte da natureza e da vida <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do funcionamento ininterrupto dos sistemas naturais".<br />

Em 1983, a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (WCED) foi<br />

criada e, em 1984, foi constituída como um órgão in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte pela Assembleia Geral das Nações<br />

Unidas. WCED foi convidado a formular "Uma agenda global para a mudança". Em 1987, no seu<br />

relatório Nosso Futuro Comum, o WCED avançou a compreensão da inter<strong>de</strong>pendência global e as<br />

relações entre a economia e o ambiente previamente introduzida pela WCS. O relatório entrelaçou<br />

as questões sociais, econômicas, culturais e ambientais e soluções globais. Ele reafirmou que "o<br />

meio ambiente não existe como uma esfera separada <strong>de</strong> ações huma<strong>nas</strong>, ambições e necessida<strong>de</strong>s, e,<br />

portanto, não <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rado isoladamente <strong>de</strong> preocupações huma<strong>nas</strong>. E o <strong>de</strong>senvolvimento é<br />

o que todos nós fazemos na tentativa <strong>de</strong> melhorar o nosso muito <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ssa morada. Os dois são<br />

inseparáveis".<br />

Em junho <strong>de</strong> 1992, a primeira Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e<br />

Desenvolvimento (UNCED), realizada no Rio <strong>de</strong> Janeiro, e adotada uma agenda <strong>de</strong> meio ambiente<br />

e <strong>de</strong>senvolvimento no século 21, a Agenda 21, um programa <strong>de</strong> ação para o Desenvolvimento<br />

Sustentável que contém a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento e reconhece<br />

o direito <strong>de</strong> cada nação buscar o progresso econômico e social e, é atribuído aos Estados à<br />

974


esponsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adoptar um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, e, a Declaração <strong>de</strong><br />

Floresta Princípios. Acordos foram também alcançados sobre a Convenção sobre Diversida<strong>de</strong><br />

Biológica e da Convenção sobre Mudança do Clima. A UNCED pela primeira vez mobilizou os<br />

gran<strong>de</strong>s grupos e legitimada a sua participação no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável. Essa<br />

participação tem se mantido uma constante até hoje. Pela primeira vez também, o estilo <strong>de</strong> vida da<br />

civilização atual foi abordado no Princípio 8 da Declaração do Rio. A urgência <strong>de</strong> uma profunda<br />

mudança nos padrões <strong>de</strong> consumo e produção foi expressa e amplamente reconhecida por lí<strong>de</strong>res <strong>de</strong><br />

Estado. A Agenda 21 reafirmou ainda que o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável foi <strong>de</strong>limitado pela<br />

integração dos pilares econômico, social e ambiental. O espírito da conferência foi capturado pela<br />

expressão "Harmonia com a Natureza", que foi o primeiro princípio da Declaração do Rio: "Os<br />

seres humanos estão no centro das preocupações para o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável. Têm direito a<br />

uma vida saudável e produtiva vida em harmonia com a natureza".<br />

Em 1993, CNUMAD instituiu a Comissão <strong>de</strong> Desenvolvimento Sustentável (CDS) para o<br />

acompanhamento da implementação da Agenda 21. Em junho <strong>de</strong> 1997, a Assembleia Geral<br />

<strong>de</strong>dicou a sua 19 ª Sessão Especial (UNGASS-19) para projetar um "Programa <strong>de</strong> Implementação<br />

da Agenda 21". Em 2002, <strong>de</strong>z anos após a Declaração do Rio, uma conferência <strong>de</strong> seguimento, a<br />

Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (CMDS) em Johanesburgo foi convocada para<br />

renovar o compromisso global para o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável. A conferência <strong>de</strong>cidiu aprovar o<br />

Plano <strong>de</strong> Implementação <strong>de</strong> Johanesburgo (JPOI) e ainda encarregou o CSD para acompanhamento<br />

da implementação do <strong>de</strong>senvolvimento sustentável. Em 24 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 2009 a Assembleia<br />

Geral da ONU aprovou uma resolução (A/RES/64/236) concordando em manter a Conferência das<br />

Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (UNCSD) em 2012 - também conhecida como<br />

Rio + 20.<br />

EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO INSTRUMENTO DE PROMOÇÃO DA<br />

SUSTENTABILIDADDE E DA CIDADANIA<br />

O futuro do planeta Terra <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do equilíbrio do meio ambiente. Sem uma relação<br />

harmônica e equilibrada entre o ser humano e a natureza, não há como assegurar a saudável<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida no presente, e fica comprometida a existência das futuras gerações.<br />

Diante <strong>de</strong>ste panorama, percebe-se a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se buscar uma nova ética, regida por<br />

um sentimento <strong>de</strong> pertença mútua entre todos os seres. A ética sempre esteve preocupada com as<br />

questões <strong>de</strong> existência do homem, mas agora <strong>de</strong>ve voltar-se principalmente para a sua inter-relação<br />

com o planeta – uma ética voltada a um relacionamento equilibrado entre a natureza e o ser<br />

humano. De modo que é necessária a construção <strong>de</strong> uma ética ambiental voltada ao futuro, para que<br />

975


o direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado possa ser assegurado para as<br />

presentes e futuras gerações (Sirvinskas, 2002).<br />

Deve-se buscar a consciência ecológica através da educação ambiental fundamentada na<br />

ética ambiental (Sirvinskas, 2002). A educação ambiental é <strong>de</strong>finida pelo art. 1º da Lei 9.795/99<br />

como o conjunto <strong>de</strong> processos por meio dos quais o indivíduo e a coletivida<strong>de</strong> constroem valores<br />

sociais, conhecimentos, habilida<strong>de</strong>s, atitu<strong>de</strong>s e competências voltadas para a conservação do meio<br />

ambiente, bem <strong>de</strong> uso comum do povo, essencial à sadia qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e sua sustentabilida<strong>de</strong>. A<br />

própria Constituição Fe<strong>de</strong>ral estabelece que é <strong>de</strong>ver do Po<strong>de</strong>r Público ―promover a educação<br />

ambiental em todos os níveis do ensino e a conscientização pública para a preservação do meio<br />

ambiente‖ (art. 225, §1º, VI/CF). O artigo 2º da Lei 9.795/99 assim estabelece: ―A educação<br />

ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, <strong>de</strong>vendo estar presente,<br />

<strong>de</strong> forma articulada, em todos os níveis e modalida<strong>de</strong>s do processo educativo, em caráter formal e<br />

não formal‖.<br />

A preservação do meio ambiente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma consciência ecológica, e a formação<br />

<strong>de</strong>sta consciência <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da educação e, em particular, da educação ambiental. Nesse processo <strong>de</strong><br />

formação <strong>de</strong> uma nova consciência voltada para a preservação do planeta é essencial à educação do<br />

consumidor, com a conscientização da importância <strong>de</strong> novos hábitos <strong>de</strong> consumo, visto que gran<strong>de</strong><br />

parte dos problemas ambientais presentes é fruto dos padrões impostos pela economia <strong>de</strong> mercado<br />

através da publicida<strong>de</strong>, difundida pelos meios <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong> massa, impondo um estilo <strong>de</strong> vida<br />

insustentável e inatingível para a maioria. A educação <strong>de</strong>ve passar a adquirir novos significados na<br />

construção <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> sustentável, <strong>de</strong>mocrática, participativa e socialmente justa, capaz <strong>de</strong><br />

exercer efetivamente a solidarieda<strong>de</strong> com as gerações presentes e futuras. E se não chega a ser um<br />

sinônimo <strong>de</strong> solução, a educação é, sem dúvida, o melhor caminho para melhorarmos a nossa<br />

socieda<strong>de</strong> (Gomes, 2006).<br />

O mo<strong>de</strong>lo econômico vigente atualmente proporciona e induz a um alto padrão <strong>de</strong><br />

consumo, que, mesmo ao alcance <strong>de</strong> poucos, é insustentável pelos danos que acarreta para o meio<br />

ambiente. Diante <strong>de</strong>sse cenário, para que o <strong>de</strong>senvolvimento siga no caminho da sustentabilida<strong>de</strong> é<br />

preciso alterar os padrões <strong>de</strong> consumo.<br />

O termo socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> consumo é uma das inúmeras tentativas <strong>de</strong> compreensão das<br />

mudanças que vêm ocorrendo <strong>nas</strong> socieda<strong>de</strong>s contemporâneas. Refere-se à importância que o<br />

consumo tem ganhado na formação e fortalecimento das nossas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s e na construção das<br />

relações sociais. Assim, o nível e o estilo <strong>de</strong> consumo se tornam a principal fonte <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

cultural, <strong>de</strong> participação na vida coletiva, <strong>de</strong> aceitação em um grupo e <strong>de</strong> distinção com os <strong>de</strong>mais.<br />

Po<strong>de</strong>mos chamar <strong>de</strong> consumismo a expansão da cultura do ―ter‖ em <strong>de</strong>trimento da cultura do ―ser‖.<br />

O consumo inva<strong>de</strong> diversas esferas da vida social, econômica, cultural e política. Neste processo, os<br />

976


serviços públicos, as relações sociais, a natureza, o tempo e o próprio corpo humano se transformam<br />

em mercadorias. Até mesmo a política virou uma questão <strong>de</strong> mercado, comercializando a<br />

participação cívica e misturando valores comerciais com valores cívicos. Isto seria uma ―vitória‖ do<br />

consumo como um fim em si mesmo. O consumo passa a ser encarado, mais do que um direito ou<br />

um prazer, como um <strong>de</strong>ver do cidadão. Seja como for, o consumismo, que emergiu na Europa<br />

Oci<strong>de</strong>ntal no século XVIII, vem se espalhando rapidamente para distintas regiões do planeta,<br />

assumindo formas diversas. O início do século XXI está sendo marcado por profundas inovações<br />

que afetam nossas experiências <strong>de</strong> consumo, como a globalização, o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> novas<br />

tecnologias <strong>de</strong> comunicação, o comércio através da internet, a biotecnologia, o <strong>de</strong>bate ambientalista<br />

etc.. Ao mesmo tempo, novos tipos <strong>de</strong> protestos e reações ao consumismo emergem, exigindo uma<br />

nova postura do consumidor (Manual <strong>de</strong> Educação para o Consumo Sustentável, 2005).<br />

De acordo com Spínola,<br />

―Para adotar a ética da vida sustentável, os consumidores <strong>de</strong>verão reexaminar seus valores<br />

e alterar seu comportamento. A socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>verá estimular os valores quer apoiem esta ética e<br />

<strong>de</strong>sencorajar aqueles incompatíveis com um modo <strong>de</strong> vida sustentável‖. (Spínola, 2001, p. 213).<br />

A partir do crescimento do movimento ambientalista, surgem novos argumentos contra os<br />

hábitos ostensivos, perdulários e consumistas, <strong>de</strong>ixando evi<strong>de</strong>nte que o padrão <strong>de</strong> consumo das<br />

socieda<strong>de</strong>s oci<strong>de</strong>ntais mo<strong>de</strong>r<strong>nas</strong>, além <strong>de</strong> ser socialmente injusto e moralmente in<strong>de</strong>fensável, é<br />

ambientalmente insustentável. A crise ambiental mostrou que não é possível a incorporação <strong>de</strong><br />

todos no universo <strong>de</strong> consumo em função da finitu<strong>de</strong> dos recursos naturais. O ambiente natural está<br />

sofrendo uma exploração excessiva que ameaça a estabilida<strong>de</strong> dos seus sistemas <strong>de</strong> sustentação<br />

(exaustão <strong>de</strong> recursos naturais renováveis e não renováveis, <strong>de</strong>sfiguração do solo, perda <strong>de</strong> florestas,<br />

poluição da água e do ar, perda <strong>de</strong> biodiversida<strong>de</strong>, mudanças climáticas etc.). Por outro lado, o<br />

resultado <strong>de</strong>ssa exploração excessiva não é repartido equitativamente e ape<strong>nas</strong> uma minoria da<br />

população planetária se beneficia <strong>de</strong>sta riqueza. Assim, se o consumo ostensivo já indicava uma<br />

<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma mesma geração (intrageracional), o ambientalismo veio mostrar que o<br />

consumismo indica também uma <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> intergeracional, já que este estilo <strong>de</strong> vida<br />

ostentatório e <strong>de</strong>sigual po<strong>de</strong> dificultar a garantia <strong>de</strong> serviços ambientais equivalentes para as futuras<br />

gerações (Manual <strong>de</strong> Educação para o Consumo Sustentável, 2005).<br />

O consumo sustentável utiliza os recursos naturais para satisfazer as necessida<strong>de</strong>s atuais,<br />

sem comprometer as necessida<strong>de</strong>s e aspirações das gerações futuras. O consumo consciente e<br />

responsável é a principal manifestação <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> social do cidadão. A responsabilida<strong>de</strong><br />

social é uma nova consciência do contexto social e cultural no qual se inserem as empresas e os<br />

cidadãos. Ela po<strong>de</strong> ser entendida como a contribuição direta <strong>de</strong>stes para o <strong>de</strong>senvolvimento social e<br />

977


a criação <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> mais justa e igualitária, por meio da condução correta <strong>de</strong> seus negócios<br />

e <strong>de</strong> suas ações pessoais (Gomes, 2006).<br />

O consumidor <strong>de</strong>ve ser incentivado a fazer com que o seu ato <strong>de</strong> consumo seja também um<br />

ato <strong>de</strong> cidadania, ao escolher em que mundo quer viver. Cada pessoa <strong>de</strong>ve escolher produtos e<br />

serviços que satisfaçam suas necessida<strong>de</strong>s sem prejudicar o bem-estar da coletivida<strong>de</strong>, seja ela atual<br />

ou futura. O conceito <strong>de</strong> cidadania sempre esteve fortemente atrelado à noção <strong>de</strong> direitos,<br />

especialmente os políticos. De maneira a permitir que o indivíduo intervenha, participe das <strong>de</strong>cisões<br />

dos negócios públicos do Estado, <strong>de</strong> modo direto ou indireto. Des<strong>de</strong> a formação do governo e <strong>de</strong><br />

sua administração. E esses direitos também são acompanhados <strong>de</strong> uma contrapartida <strong>de</strong> <strong>de</strong>veres em<br />

prol da coletivida<strong>de</strong>, ou seja, o respeito aos direitos individuais e coletivos que trazem benefícios à<br />

socieda<strong>de</strong> em geral (Canto, 2008).<br />

Se cidadania é essencialmente respeito aos direitos coletivos, sustentabilida<strong>de</strong> também é,<br />

pois se tivermos noção dos direitos e <strong>de</strong>veres coletivos e das nossas responsabilida<strong>de</strong>s individuais,<br />

estaremos caminhando em direção a um mundo mais harmônico, gentil e respeitoso entre humanos<br />

e, consequentemente, também em relação a todas as espécies que nos cercam. Afinal, o respeito que<br />

<strong>de</strong>vemos ter por nosso semelhante <strong>de</strong>ve ser o mesmo <strong>de</strong>stinado às plantas, árvores e animais (Canto,<br />

2008).<br />

Nestes tempos em que a informação assume um papel cada vez mais relevante,<br />

ciberespaço, multimídia, internet, a educação para a cidadania representa a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> motivar<br />

e sensibilizar as pessoas para transformar as diversas formas <strong>de</strong> participação na <strong>de</strong>fesa da qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> vida. Ou seja, a educação ambiental assume cada vez mais uma função transformadora, na qual a<br />

co-responsabilização dos indivíduos torna-se um objetivo essencial para promover o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento sustentável (Jacobi, 2003).<br />

INICIATIVAS VOLTADAS À MUDANÇA DE ATITUDES<br />

Com o objetivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>spertar as pessoas sobre a importância do consumo consciente como<br />

elemento <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável e promoção da cidadania propõem se algumas iniciativas<br />

têm como instrumento a educação ambiental. As propostas são compartilhadas através <strong>de</strong> mostras,<br />

fóruns, <strong>de</strong>bates e feiras envolvem metodologias específicas voltadas para a inserção da Educação<br />

Ambiental interdisciplinarmente, buscando promover uma relação ética <strong>de</strong> respeito à vida em sua<br />

totalida<strong>de</strong>.<br />

Oficina <strong>de</strong> campo, uma aventura nos biomas brasileiros: objetiva através <strong>de</strong> trilhas<br />

interpretativas conscientizar os participantes sobre a importância <strong>de</strong>stes ambientes<br />

relacionando conhecimento empírico e científico, apontando ações para sua conservação e<br />

preservação.<br />

978


Exposição <strong>de</strong> fotografias retratando nosso meio: possibilita através da mostra <strong>de</strong> espaços<br />

fotografados a discussão sobre a importância <strong>de</strong> cada espaço, seu estado <strong>de</strong> conservação e<br />

responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> todos no cuidado ambiental.<br />

Oficina <strong>de</strong> reutilização reeducando hábitos: através <strong>de</strong> fóruns e palestras, participantes<br />

embasam seu conhecimento sobre a crescente produção <strong>de</strong> lixo e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mudanças<br />

<strong>de</strong> hábito, a importância da reciclagem e reutilização e da coleta seletiva, qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida,<br />

dignida<strong>de</strong> humana, e a responsabilida<strong>de</strong> social e do po<strong>de</strong>r público.<br />

Feira <strong>de</strong> trocas vivendo a sustentabilida<strong>de</strong>: objetiva propiciar uma reflexão sobre o consumo,<br />

a acumulação <strong>de</strong>snecessária, o lucro elevado e o <strong>de</strong>scarte excessivo <strong>de</strong> produtos e materiais<br />

colocando em prática os princípios da economia solidária que valoriza a solidarieda<strong>de</strong>, a<br />

cooperação, os diferentes saberes e fazeres e o equilíbrio socioambiental.<br />

Re<strong>de</strong>s e cooperativas <strong>de</strong> consumo: objetiva permitir aos consumidores escapar, mesmo que<br />

temporariamente, das relações <strong>de</strong> exploração existentes na esfera do consumo, procurando<br />

fortalece uma percepção coletiva sobre a exploração e os abusos que acontecem nesta esfera.<br />

Vivenciando a economia solidária: é uma prática <strong>de</strong> colaboração e solidarieda<strong>de</strong>, inspirada<br />

em valores culturais que colocam o ser humano como sujeito e finalida<strong>de</strong> da ativida<strong>de</strong><br />

econômica, ao invés da acumulação da riqueza e <strong>de</strong> capital. Baseia-se numa globalização<br />

mais humana e valoriza o trabalho, o saber e a criativida<strong>de</strong>, buscando satisfazer as<br />

necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> todos e combater a exclusão social.<br />

Forum Conferências sobre Meio Ambiente: objetiva <strong>de</strong>stacar a importância <strong>de</strong>sses espaços<br />

para a discussão do futuro do planeta. Trata-se <strong>de</strong> uma ativida<strong>de</strong> que preten<strong>de</strong> promover um<br />

diálogo sobre sustentabilida<strong>de</strong> e participação civil contando com pessoas que vivenciaram as<br />

discussões <strong>nas</strong> diversas conferências ambientais mundiais <strong>de</strong> modo a repassar suas<br />

experiências e perspectivas.<br />

CONCLUSÃO<br />

Ao longo do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sse projeto procurou se mostrar que a adoção da educação<br />

ambiental como instrumento <strong>de</strong> promoção da sustentabilida<strong>de</strong> e da cidadania po<strong>de</strong> propiciar aos<br />

indivíduos um olhar mais reflexivo e crítico sobre o seu fazer e participar ―cidadão‖ no espaço que<br />

vivem. As tomadas <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão, as reflexões e o exercício da cidadania objetivadas com as<br />

ativida<strong>de</strong>s produzem repercussão na formação <strong>de</strong> cada individuo, na construção <strong>de</strong> novos valores e<br />

na relação mantida entre eles e o meio, possibilitando o <strong>de</strong>senvolvimento e aprendizagens<br />

individuais e coletivas. A busca por essa experiência nos leva a concluir que a Educação Ambiental<br />

alimenta o processo <strong>de</strong> construção do indivíduo consciente <strong>de</strong> sua conexão com o mundo e o<br />

979


próximo, <strong>de</strong>vendo ser pensada como um caminho <strong>de</strong> muitas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r a viver<br />

consi<strong>de</strong>rando a complexida<strong>de</strong> das inter-relações entre os seres vivos e o futuro do planeta.<br />

Diante das consequências <strong>de</strong> nossa <strong>de</strong>gradação on<strong>de</strong> <strong>de</strong>positamos toda a fé na capacida<strong>de</strong><br />

da tecnologia <strong>de</strong> nos tirar da crise sem mudar nosso estilo <strong>de</strong> vida poluidor e consumista é preciso<br />

procurar um novo caminho para seguir, um caminho fundado numa relação saudável com o planeta,<br />

reconhecendo que somos parte do mundo natural. É necessário abandonar o atual mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento, que busca ape<strong>nas</strong> o crescimento econômico, o lucro, e buscar um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento que respeite a natureza e utilize <strong>de</strong> modo racional os recursos naturais. É preciso<br />

questionar os valores impostos pela socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> consumo, e buscar novos mo<strong>de</strong>los para a vida em<br />

socieda<strong>de</strong>. Expressões como consumo sustentável, consumo responsável e consumo ético surgiram<br />

como forma <strong>de</strong> introduzir a preocupação com aspectos sociais, e não só ecológicos, <strong>nas</strong> ativida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> consumo. Os consumidores <strong>de</strong>vem incluir, em suas escolhas <strong>de</strong> compra, um compromisso ético,<br />

uma consciência e uma responsabilida<strong>de</strong> quanto aos impactos sociais e ambientais que suas<br />

escolhas e comportamentos po<strong>de</strong>m causar em ecossistemas e outros grupos sociais. A<br />

sustentabilida<strong>de</strong> não po<strong>de</strong> ser vista como mero modismo ou uma utopia, um sonho inalcançável,<br />

mas como uma necessida<strong>de</strong> para a sobrevivência do planeta Terra.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

BERVIG, Aline Andressa. Consumo Sustentável: Uma Ação <strong>de</strong> Educação Ambiental no Colégio<br />

Militar <strong>de</strong> Santa Maria. Revista Eletrônica Mestrado Educação Ambiental. ISSN 1517-1256, v. 24,<br />

2010.<br />

CANTO, Reinaldo. Cidadania e Sustentabilida<strong>de</strong>: tudo a ver. Agencia Envolver<strong>de</strong>, 2008.<br />

CONSUMO SUSTENTÁVEL: Manual <strong>de</strong> Educação. Brasília: Consumers International/ MMA/<br />

MEC/IDEC, 160 p. 2005.<br />

GOMES, Daniela Vasconcellos. Educação para o Consumo Ético e Sustentável. Revista eletrônica<br />

Mestrado Educação Ambiental. ISSN 1517-1256, v.16, 2006.<br />

JACOBI, Pedro. Educação ambiental, cidadania e sustentabilida<strong>de</strong>. Ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> Pesquisa, nº 118,<br />

pág. 189/206, 2003.<br />

SIRVINSKAS, Luís Paulo. Meio ambiente e cidadania. Revista do Instituto <strong>de</strong> Pesquisas e Estudos.<br />

Bauru, n. 35, p. 305-307, ago. 2002.<br />

SPÍNOLA, Ana Luiza. Consumo sustentável: o alto custo dos produtos que consumimos. Revista<br />

<strong>de</strong> Direito Ambiental. São Paulo, v. 6, n. 24, p. 209-216, out-<strong>de</strong>z, 2001.<br />

HTTP://www.rio20.info/2012<br />

980


Resumo<br />

POR UMA EDUCAÇÃO COM ÊNFASE NA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL NUMA<br />

PERSPECTIVA AMBIENTAL 109<br />

Danilo dos Reis Cardoso PASSOS (CCAAB/UFRB)<br />

danilocpassos@hotmail.com, estudante<br />

Fabiane Pereira Machado DIAS (CCAAB/UFRB<br />

bia-machado@hotmail.com, estudante<br />

Daniel Melo <strong>de</strong> CASTRO (CCAAB/UFRB)<br />

danielmec@gmail.com, profissional<br />

Perante as transformações que socieda<strong>de</strong> na qual estamos inseridos vem sofrendo <strong>nas</strong> últimas<br />

décadas, percebe-se que a questão ambiental tornou-se parte essencial do cotidiano da população.<br />

Em um momento em que experimentamos uma crise ambiental em função das mudanças climáticas,<br />

escassez <strong>de</strong> água doce e limpa, produção monumental <strong>de</strong> lixo, <strong>de</strong>struição da biodiversida<strong>de</strong>, uso<br />

indiscriminado <strong>de</strong> agrotóxicos, crescimento <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nado e caótico das cida<strong>de</strong>s, entre outros fatores<br />

que geram <strong>de</strong>sequilíbrio e instabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixando em dúvida o futuro do planeta; diante dos<br />

problemas ambientais relatados, é essencial que as novas gerações possam ter em seus currículos<br />

escolares a dimensão ambiental porque a escola é um lugar i<strong>de</strong>al para que esse processo aconteça.<br />

Neste sentido, a Educação Ambiental exerce um papel importante enquanto um meio que possibilite<br />

a formação <strong>de</strong> cidadãos críticos e atuantes diante da socieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>senvolvendo formas conscientes<br />

<strong>de</strong> consumo com o intuito <strong>de</strong> preservar o meio ambiente. O presente artigo objetivou avaliar o<br />

conhecimento <strong>de</strong> alunos do ensino médio na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cruz das Almas, aplicando-se um<br />

questionário aos alunos <strong>de</strong> duas escolas, sendo uma <strong>de</strong> Ensino Médio pública e uma particular sobre<br />

produtos orgânicos e seus hábitos alimentares, além <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver ativida<strong>de</strong>s teóricas e práticas<br />

diretamente relacionadas aos impactos sociais, ambientais e econômicos causados pela<br />

mo<strong>de</strong>rnização da agricultura.<br />

Palavras-chaves: meio ambiente; mudanças climáticas; alimentos orgânicos; agricultura.<br />

Abstract<br />

Given the changes that society in which we operate has un<strong>de</strong>rgone in recent <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>s, it is<br />

clear that the environmental issue has become an essential part of everyday life of the population.<br />

109 Projeto que está sendo <strong>de</strong>senvolvido na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cruz das Almas no Recôncavo da Bahia.<br />

981


At a time when we experience an environmental crisis due to climate change, scarcity of fresh water<br />

and clean production monumental waste, biodiversity <strong>de</strong>struction, indiscriminate use of pestici<strong>de</strong>s,<br />

and chaotic sprawl of cities, among other factors that cause imbalance and instability leaving in<br />

doubt the future of the planet; reported on environmental issues, it is essential that new generations<br />

may have in their curricula the environmental dimension because the school is an i<strong>de</strong>al place for<br />

this process to happen. In this sense, the Environmental Education plays an important role as a<br />

medium that enables the formation of critical and active citizens in society, <strong>de</strong>veloping ways<br />

conscious consumer in or<strong>de</strong>r to preserve the environment. This paper aims to assess the knowledge<br />

of high school stu<strong>de</strong>nts in the city of Cruz das Almas, applying a questionnaire to stu<strong>de</strong>nts from two<br />

schools, one high school and a particular public about organic products and their eating habits, and<br />

<strong>de</strong>velop theoretical and practical activities directly related to social, environmental and economic<br />

impacts caused by the mo<strong>de</strong>rnization of agriculture.<br />

Keywords: environment, climate change, organic food, agriculture.<br />

Introdução<br />

Assistiu-se a partir da década <strong>de</strong> 1960, um processo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização da agricultura<br />

brasileira. Assim, procura-se <strong>de</strong>monstrar a significância do artifício <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização e suas<br />

consequências, bem como a atual dinâmica produtiva do país, <strong>de</strong>stacando-se o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

sustentável. A análise do processo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização enseja um <strong>de</strong>bate teórico e po<strong>de</strong> ser sintetizado<br />

em duas consequências: uma os impactos ambientais, com os problemas mais frequentes,<br />

provocados pelo padrão <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> monocultura foram: a <strong>de</strong>struição das florestas e da<br />

biodiversida<strong>de</strong> genética, a erosão dos solos e a contaminação dos recursos naturais e dos alimentos;<br />

a outra, os impactos socioeconômicos, causadas pelas transformações rápidas e complexas da<br />

produção agrícola, implantadas no campo, e os interesses dominantes do estilo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

adotado provocaram resultados sociais e econômicos (BALSAN, 2006).<br />

A mo<strong>de</strong>rnização da agricultura chamada Revolução Ver<strong>de</strong> pós-segunda guerra mundial<br />

surgiu com o objetivo <strong>de</strong> aumentar a produtivida<strong>de</strong> agrícola baseando-se na tese <strong>de</strong> Malthus,<br />

segundo o qual ocorreria um <strong>de</strong>scompasso entre o crescimento populacional, <strong>de</strong> proporções<br />

geométricas e o crescimento alimentar <strong>de</strong> proporções aritméticas, como instrumento <strong>de</strong><br />

transformação e <strong>de</strong>senvolvimento do espaço rural que ora trouxe prosperida<strong>de</strong>, ora <strong>de</strong>cadência. O<br />

discurso que sustentou esse mo<strong>de</strong>lo era garantir alimentação farta e sadia para todos, porém no<br />

mundo ainda existem quase 870 milhões <strong>de</strong> pessoas passando fome no mundo, ou seja, 12,5% da<br />

população mundial indica um relatório sobre o biênio 2010-2012 divulgado, pela Organização das<br />

982


Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), evi<strong>de</strong>nciando o fracasso da revolução ver<strong>de</strong>,<br />

o que nos leva a perceber que a fome não é uma questão técnica e sim política.<br />

No entanto, tal padrão <strong>de</strong> produção não é mais unanimida<strong>de</strong> e o aumento da produtivida<strong>de</strong><br />

em <strong>de</strong>trimento à qualida<strong>de</strong> do produto gerado, vem sendo amplamente questionado nos países mais<br />

<strong>de</strong>senvolvidos. Os produtores se veem cada vez mais <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> insumos químicos<br />

dispendiosos, custos <strong>de</strong> produção elevados e preços pouco estimulantes aos seus produtos, e por<br />

outro lado, os consumidores passaram a ver neste modo <strong>de</strong> produção, um risco ao meio ambiente e<br />

à própria saú<strong>de</strong>. (SOUZA & ALCANTARA s/d)<br />

Dados <strong>de</strong>monstram que o os alimentos livres <strong>de</strong> agrotóxicos <strong>de</strong>vem ser encarados como um<br />

próspero nicho <strong>de</strong> mercado movimentando, em termos globais e regionais, uma fatia consi<strong>de</strong>rável<br />

<strong>de</strong> recursos físicos e financeiros. Esse impulso é resultado <strong>de</strong> um consumidor mais consciente, que<br />

busca uma melhor qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida através do consumo <strong>de</strong> alimentos mais saudáveis e<br />

absolutamente naturais. Mas, para que haja a expansão <strong>de</strong>sse novo comportamento se faz necessária<br />

uma melhor e maior troca <strong>de</strong> informações, fundamentais e imprescindíveis para o esclarecimento<br />

sobre a amplitu<strong>de</strong> do mercado (FLEURY & LIMA).<br />

Em um momento em que o mundo experimenta uma crise ambiental em função<br />

das mudanças climáticas, escassez <strong>de</strong> água doce e limpa, produção monumental <strong>de</strong> lixo, <strong>de</strong>struição<br />

da biodiversida<strong>de</strong>, transgenia irresponsável, uso indiscriminado <strong>de</strong> agrotóxicos, crescimento<br />

<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nado e caótico das cida<strong>de</strong>s, entre outros fatores que geram <strong>de</strong>sequilíbrio e instabilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ixando em dúvida o futuro do planeta, torna-se urgente mobilizar a comunida<strong>de</strong> na busca por<br />

alternativas sustentáveis, incentivando as escolas e instituições <strong>de</strong> ensino a prepararem a<br />

comunida<strong>de</strong> para o <strong>de</strong>safio. Para gerar um novo entendimento sobre os problemas ambientais nos<br />

quais estamos inseridos surge à educação ambiental como umas das possíveis estratégias para<br />

formar cidadãos conscientes, uma vez que a educação é o principal instrumento para promover<br />

transformações e melhorias em todos os setores da socieda<strong>de</strong>.<br />

A preservação ambiental tornou-se um <strong>de</strong>safio para a melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e a<br />

socieda<strong>de</strong> começou a cobrar das escolas uma educação voltada para conscientização ambiental<br />

(SANTANA & ARAÚJO, 2011). Quando nos referimos à Educação Ambiental relacionamos o<br />

tema meio ambiente como foco central da educação. Entretanto, a educação ambiental é mais que o<br />

ensino <strong>de</strong> ciências e <strong>de</strong> ecologia, pois tem como objetivo mudanças <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s, cuidado e respeito<br />

dos sujeitos com o ambiente (TOZONI-REIS, 2004).<br />

Segundo Mano (2005), a educação ambiental passa a ser mola propulsora para uma solução<br />

ambiental do planeta, sendo possível ape<strong>nas</strong> ter um meio ambiente saudável para gerações futuras<br />

se nossa socieda<strong>de</strong> atual educar-se ambientalmente.<br />

983


A educação ambiental permite ao cidadão pensar o ambiente <strong>de</strong> forma consciente,<br />

preocupando-se com os problemas ambientais e socioeconômicos <strong>de</strong>senvolvendo uma reflexão e<br />

raciocínio crítico com relação ao meio, <strong>de</strong>ssa forma, <strong>de</strong>spertando habilida<strong>de</strong>s para trabalhar<br />

individual e coletivamente buscando mudar seus hábitos e atitu<strong>de</strong>s em busca <strong>de</strong> soluções para<br />

resolver os problemas atuais e prevenir os futuros.<br />

Diante do exposto, na presente pesquisa objetivou-se avaliar o conhecimento <strong>de</strong> alunos do<br />

ensino médio <strong>de</strong> duas escolas no município <strong>de</strong> Cruz das Almas, Bahia sobre produtos orgânicos e<br />

seus hábitos alimentares. Em paralelo foi assumida a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> esclarecer também aos<br />

estudantes sobre os impactos sociais, ambientais e econômicos causados pela mo<strong>de</strong>rnização da<br />

agricultura iniciando um amplo diálogo sobre meio ambiente.<br />

Material e métodos<br />

As escolas escolhidas para a realização <strong>de</strong>ste trabalho, como parte das ativida<strong>de</strong>s do projeto<br />

―ORGÂNICOS: Sabor sem Veneno‖ apoiado pelo CCAAB/UFRB, foi uma escola estadual e uma<br />

escola particular, localizadas em Cruz das Almas, Bahia, sendo que essa segunda funciona em<br />

período integral. A ativida<strong>de</strong> foi realizada com alunos do ensino médio no horário normal <strong>de</strong> aula.<br />

Foram realizadas ativida<strong>de</strong>s práticas pedagógicas que proporcio<strong>nas</strong>sem uma educação<br />

voltada à construção cidadã dos alunos. Dentre as ativida<strong>de</strong>s realizou-se leitura <strong>de</strong> textos sobre<br />

problemas ambientais, apresentações <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>os sobre os efeitos contraproducentes dos agrotóxicos<br />

no meio ambiente e na saú<strong>de</strong> humana, além da distribuição <strong>de</strong> mudas <strong>de</strong> girassol mexicano<br />

(Tithonia rotundifolia) e <strong>de</strong> cartilhas informativas sobre o tema.<br />

A coleta <strong>de</strong> dados foi realizada mediante a aplicação <strong>de</strong> questionários com 10 questões<br />

objetivas, aplicado antes da realização das ativida<strong>de</strong>s programadas, objetivando respostas sem<br />

qualquer tipo <strong>de</strong> interferência <strong>de</strong>rivada das ativida<strong>de</strong>s planejadas; tendo como finalida<strong>de</strong> investigar<br />

o conhecimento dos alunos sobre produtos orgânicos e conhecer seus hábitos alimentares.<br />

O questionário dirigido aos alunos possuía os seguintes questionamentos:<br />

1º. O que acha da interação entre alunos da graduação e <strong>de</strong> ensino médio e a realização <strong>de</strong> projetos<br />

<strong>de</strong> extensão <strong>de</strong>ntro da escola?<br />

2º. Você se preocupa com problemas ambientais?<br />

3º. Acredita que agrotóxicos po<strong>de</strong>m afetar sua saú<strong>de</strong>?<br />

4º. E o meio ambiente?<br />

5º. Conhece alimentos orgânicos?<br />

984


6º. Acredita que os orgânicos sejam mais nutritivos e saborosos que os convencionais?<br />

7º Consome orgânicos?<br />

8º. Acredita que consumindo orgânicos está ajudando a preservar o meio ambiente?<br />

9º. Sobre suas preferências alimentares:<br />

10º. Em sua opinião, o que dificulta as pessoas adquirirem os produtos orgânicos?<br />

Resultados e discussões<br />

Na figura 1 po<strong>de</strong>-se observar que a ida<strong>de</strong> média dos alunos da escola estadual é superior a<br />

média dos alunos da escola particular o que nos leva a consi<strong>de</strong>rar a hipótese <strong>de</strong> que po<strong>de</strong> haver<br />

maior número <strong>de</strong> alunos repetentes. 89% dos alunos da escola estadual resi<strong>de</strong>m na zona urbana<br />

enquanto que na escola particular esse percentual é <strong>de</strong> 94%. Portanto, os estudantes pesquisados são<br />

jovens que resi<strong>de</strong>m predominantemente na zona urbana.<br />

Figura 1. Ida<strong>de</strong> média dos alunos do ensino médio das duas escolas avaliadas.<br />

Tomando-se como referência o fato <strong>de</strong> a maior parte da população brasileira viver em<br />

cida<strong>de</strong>s, observa-se uma crescente <strong>de</strong>gradação das condições <strong>de</strong> vida, refletindo uma crise<br />

ambiental. Isto nos remete a uma necessária reflexão sobre os <strong>de</strong>safios para mudar as formas <strong>de</strong><br />

pensar e agir em torno da questão ambiental numa perspectiva contemporânea (JACOBI, 2003).<br />

A primeira pergunta do questionário aplicado diz respeito à opinião dos alunos a sobre a<br />

interação universida<strong>de</strong> e escola e a realização <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> extensão com estudantes <strong>de</strong> ensino<br />

médio para verificar se esse tipo <strong>de</strong> ação é bem vista entre eles. Po<strong>de</strong>-se notar que a gran<strong>de</strong> maioria<br />

dos alunos acha importante a interação entre estudantes <strong>de</strong> graduação e <strong>de</strong> nível médio. Isso<br />

<strong>de</strong>monstra que os jovens começam a ter maior consciência <strong>de</strong> que a universida<strong>de</strong> e a socieda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>vem ter maior interação, ao menos entre os vários níveis escolares. No Colégio Estadual 85% dos<br />

985


alunos são a favor <strong>de</strong>ssa interação, já no Colégio Particular 95% dos estudantes do ensino médio<br />

concordam com a realização <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>.<br />

De acordo com Sato (2004) o aprendizado ambiental é um componente vital, pois oferece<br />

motivos que levam os alunos se reconhecerem como parte integrante do meio em que vivem e faz<br />

pensar <strong>nas</strong> alternativas para soluções dos problemas ambientais e ajudar a manter os recursos para<br />

as futuras gerações.<br />

Os alunos se mostraram preocupados com o meio ambiente uma porcentagem muito gran<strong>de</strong><br />

dos estudantes pesquisados <strong>de</strong>clarou preocupação, o que corrobora com impressões que atualmente<br />

se possui em relação ao grau <strong>de</strong> importância que os jovens dão à questão ambiental. No Colégio<br />

Estadual 86% dos alunos do 1º ano afirmaram se preocupar com o meio ambiente, já os alunos do<br />

2º e 3º ano foram unânimes em afirmar sua preocupação em relação aos problemas ambientais. Já<br />

no Colégio Particular dos alunos do 1º ano 97% se preocupam, no 2º ano 84%, com o 3º ano o<br />

resultado não foi muito diferente 81% afirmaram se preocupar com problemas ambientais.<br />

A maioria dos estudantes pesquisados <strong>de</strong>monstrou acreditar que os agrotóxicos po<strong>de</strong>m afetar<br />

a saú<strong>de</strong> humana. Para DAROLT (2003), atualmente, é praticamente inquestionável que o sistema <strong>de</strong><br />

produção convencional <strong>de</strong> alimentos tem <strong>de</strong>ixado resíduos <strong>de</strong> agrotóxicos em níveis preocupantes<br />

para a saú<strong>de</strong> pública. 94% dos alunos do 1º ano do Colégio Particular acredita que os agrotóxicos<br />

utilizados na agricultura po<strong>de</strong>m afetar <strong>de</strong> alguma forma a saú<strong>de</strong> humana, na turma do 2º ano 94%<br />

dos alunos também acreditam que os agrotóxicos po<strong>de</strong>m afetar a saú<strong>de</strong>, já os alunos do 3º ano 95%<br />

dos alunos afirmaram. No Colégio Estadual 86% da turma do 1º ano afirmou acreditar que os<br />

agrotóxicos afetam a saú<strong>de</strong>, na turma do 2º ano 94% dos alunos afirmou acreditar, já no 3º ano a<br />

turma foi o unânime em afirmar que acreditam que os agrotóxicos afetar <strong>de</strong> alguma forma a saú<strong>de</strong>.<br />

Nota-se que os estudantes do 1º e 2º ano apresentaram uma pequena divergência, o que se po<strong>de</strong><br />

atribuir à menor maturida<strong>de</strong> e grau <strong>de</strong> informação <strong>de</strong>sses estudantes.<br />

Segundo DAROLT (2003), apesar <strong>de</strong> dados <strong>de</strong>monstrarem que estamos diante <strong>de</strong> um quadro<br />

preocupante, não há ainda pesquisas conclusivas no Brasil que <strong>de</strong>monstrem os perigos do uso <strong>de</strong><br />

alimentos contaminados por agrotóxicos pelos seres humanos. Porém, segundo médicos sanitaristas,<br />

a médio e longo prazo, quem consome alimentos com resíduos <strong>de</strong> agrotóxicos po<strong>de</strong> apresentar<br />

problemas hepáticos (cirroses) e distúrbios do sistema nervoso central. O risco vai <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r da<br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> agrotóxico acumulada e das características do organismo <strong>de</strong> cada pessoa.<br />

Quando perguntado se conhecem alimentos orgânicos, em ambos os colégios mais <strong>de</strong> 80%<br />

(figura 2.) <strong>de</strong> todo o ensino médio alegou conhecer, porém no <strong>de</strong>correr das ativida<strong>de</strong>s, observou-se<br />

que os estudantes possuíam um conhecimento prévio sobre tais alimentos, mas não obtinham um<br />

conceito concreto e condizente sobre essa categoria <strong>de</strong> alimentos.<br />

986


Figura 2. Conhecimento dos estudantes sobre os alimentos orgânicos.<br />

Quando questionados se os alimentos orgânicos são mais nutritivos e saborosos que os<br />

alimentos convencionais, cerca <strong>de</strong> 75% (figura 3.) do ensino médio <strong>de</strong> ambos os colégios,<br />

concordam que os alimentos orgânicos são mais saborosos que os convencionais, dados esses<br />

<strong>de</strong>monstram que o mercado <strong>de</strong> orgânicos possui gran<strong>de</strong> potencial, mas existem gran<strong>de</strong>s obstáculos,<br />

como o preço elevado e a pouca divulgação <strong>de</strong>sses alimentos, que impe<strong>de</strong>m que tais alimentos<br />

tenham sucesso no mercado, como se po<strong>de</strong> observar na discussão da pergunta 10.<br />

Figura 3. Acredita que os alimentos orgânicos são mais nutritivos e saborosos que os alimentos<br />

produzidos <strong>de</strong> maneira convencional?<br />

Ao serem questionados se consumiam alimentos orgânicos, po<strong>de</strong>-se perceber (figura 4.) uma<br />

clara diferença <strong>nas</strong> respostas e <strong>nas</strong> interpretações dos estudantes nos distintos colégios. No colégio<br />

987


público, a maioria afirmou que consome tais alimentos. Cruz das Almas, por se tratar <strong>de</strong> um<br />

município com características <strong>de</strong> interior, a população ainda tem o hábito <strong>de</strong> fazer compras <strong>de</strong><br />

alimentos em feiras-livres, fato esse que proporcionou aos estudantes afirmarem que consomem<br />

alimentos orgânicos, ao contrario dos estudantes do colégio particular, tendo sua maioria afirmando<br />

―indiferente‖, nota-se que por suas famílias possuírem um maior po<strong>de</strong>r aquisitivo, geralmente fazem<br />

suas comprar em gran<strong>de</strong>s re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> supermercados, e como nos supermercados da cida<strong>de</strong> não se<br />

encontra muitos produtos orgânicos, associa-se assim a resposta ―indiferente‖ pelos estudantes do<br />

colégio particular; conclusões essas que tornam ainda mais necessário a inclusão <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s<br />

relacionada à educação ambiental nos colégios privados e os pertencentes a re<strong>de</strong> pública <strong>de</strong><br />

educação.<br />

Figura 4. Consome alimentos orgânicos?<br />

Os alunos também foram indagados sobre se acreditam que consumindo alimentos orgânicos<br />

estariam ajudando a preservar o meio ambiente. Segundo DAROLT (2003), a alimentação mo<strong>de</strong>rna<br />

tem conduzido não ape<strong>nas</strong> a um <strong>de</strong>sastre na saú<strong>de</strong> humana, mas também a uma serie <strong>de</strong> problemas<br />

ambientais. No Colégio Estadual 11% dos alunos discordam, e 82% acreditam que optando por<br />

alimentos orgânicos estão ajudando a preservar o meio ambiente <strong>de</strong> alguma maneira. No Colégio<br />

Particular 82,1% afirmou concordar que a produção orgânica contribui na preservação do meio<br />

ambiente (figura 5).<br />

988


Figura 5. Acredita que consumindo orgânicos está ajudando a preservar o meio ambiente?<br />

Para SOARES & MATTOS (s.d.) po<strong>de</strong>-se dar as pessoas com a educação ambiental, meios<br />

e métodos para todos criarem um plano <strong>de</strong> ação em prol do planeta, com o conhecimento adquirido<br />

e práticas responsáveis, po<strong>de</strong>-se criar a partir <strong>de</strong>ste trabalho, novas pessoas engajadas <strong>nas</strong> questões<br />

<strong>de</strong> preservação em vários métodos <strong>de</strong> gestão ambiental.<br />

Quando perguntado aos alunos a cerca <strong>de</strong> suas preferências alimentares no Colégio<br />

Particular 42,4% da turma do 1º ano usa indistintamente produtos naturais ou industrializados,<br />

ape<strong>nas</strong> 12,1% priorizam alimentação natural e 45,5% afirmou que a correria do dia-a-dia exige a<br />

praticida<strong>de</strong> dos industrializados, no 2º ano 61% usa indistintamente produtos naturais ou<br />

industrializados, enquanto que ape<strong>nas</strong> 7% priorizam a alimentação natural e 32% afirmou que a<br />

correria do dia-a-dia exige a praticida<strong>de</strong> dos industrializados, na turma do 3º ano 2% dos alunos<br />

afirmaram consumir ape<strong>nas</strong> alimentação natural e orgânica, 62% usam indistintamente produtos<br />

naturais ou industrializados, 10% dá priorida<strong>de</strong> à alimentação natural e 26% afirmou que o corre-<br />

corre do dia-a-dia exige a praticida<strong>de</strong> dos industrializados. No Colégio Estadual 60% dos alunos do<br />

1º ano usam indistintamente produtos naturais ou industrializados, ape<strong>nas</strong> 7% priorizam<br />

alimentação natural e 33% afirmam que a correria do dia-a-dia exige a praticida<strong>de</strong> dos<br />

industrializados, 5% dos alunos da turma do 2º ano consome ape<strong>nas</strong> alimentação natural e orgânica,<br />

50% usam indistintamente produtos naturais ou industrializados e 45% dizem que a correria do dia-<br />

a-dia exige a praticida<strong>de</strong> dos industrializados, dos alunos do 3º ano 7% consomem ape<strong>nas</strong><br />

alimentação natural e orgânica, 53% usam indistintamente produtos naturais ou industrializados<br />

20% prioriza alimentação natural e 20% afirmam que a correria do dia-a-dia exige a praticida<strong>de</strong> dos<br />

industrializados.<br />

989


Figura 6. Dados médios sobre a preferência alimentar dos alunos do ensino médio das duas<br />

escolas avaliadas.<br />

Po<strong>de</strong>-se observar na figura 6 que os alunos em sua maioria <strong>de</strong> modo geral consomem<br />

produtos naturais ou industrializados indistintamente e outra fatia consi<strong>de</strong>rável na rotina do dia-a-<br />

dia acaba recorrendo aos industrializados <strong>de</strong>vido a sua praticida<strong>de</strong>, ape<strong>nas</strong> uma minoria que não<br />

totaliza nem 10% prioriza a alimentação natural e menos <strong>de</strong> 5% consome ape<strong>nas</strong> alimentação<br />

natural e orgânica.<br />

Existe por tanto a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se discutir <strong>de</strong> forma ampla e continuada no ambiente<br />

escolar às consequências <strong>de</strong> hábitos alimentares ina<strong>de</strong>quados, <strong>de</strong>sta forma, a preocupação dos<br />

estudantes em relação a sua saú<strong>de</strong> só será <strong>de</strong>spertada e seus hábitos modificados, se houver um<br />

trabalho mais eficiente <strong>de</strong> sensibilização.<br />

O intuito <strong>de</strong>sse trabalho foi realizar um <strong>de</strong>bate <strong>de</strong> fácil compreensão que colabore na<br />

formação <strong>de</strong> cidadãos conscientes, levando-o a <strong>de</strong>senvolverem a reflexão, a curiosida<strong>de</strong> e o<br />

raciocínio crítico com relação ao meio ambiente, advertindo que qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e o equilíbrio<br />

entre a natureza e homem só será possível se este <strong>de</strong>senvolver sua inteligência ambiental, passando<br />

por uma reeducação ecológica. O objetivo é mobilizar a socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>spertando-a para os problemas<br />

ambientais <strong>de</strong>correntes da mo<strong>de</strong>rnização da agricultura.<br />

Foi perguntado aos alunos sobre quais as dificulda<strong>de</strong>s eles acreditam que os consumidores<br />

enfrentam ao tentar adquirir alimentos orgânicos, no Colégio Estadual 4% afirmou que as pessoas<br />

não compram porque não há no mercado, 17% acreditam que seja pela falta <strong>de</strong> divulgação <strong>de</strong>sses<br />

produtos e <strong>de</strong> seus benefícios, 20% afirmou que a falta <strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> dos produtos po<strong>de</strong> ser uma<br />

dificulda<strong>de</strong>, 24% acredita que as pessoas não compram porque não conhece, 26% acredita que o<br />

990


preço elevado é um fator <strong>de</strong>terminante e 9% não fez nenhuma relação, no Colégio Particular ape<strong>nas</strong><br />

5% disse que as pessoas não compram porque não há oferta <strong>de</strong>sses produtos, 22% acha que existe<br />

pouca divulgação, 17% associou a pouca varieda<strong>de</strong> dos mesmos, 28% afirmou que as pessoas não<br />

compram porque <strong>de</strong>sconhece, e ape<strong>nas</strong> 16% associou o preço elevado como fator <strong>de</strong>terminante na<br />

hora da compra, 12% não fizeram nenhuma associação.<br />

O que nos leva a constatar a necessida<strong>de</strong> que existe <strong>de</strong> uma divulgação maior e mais<br />

eficiente dos produtos orgânicos, conscientizando a população dos efeitos nocivos causados pelos<br />

resíduos <strong>de</strong> agrotóxicos presentes nos alimentos convencionais.<br />

Guerra & Gusmão (2004) perceberam que o aluno é um bom agente multiplicador <strong>de</strong><br />

informação no sentido escola - comunida<strong>de</strong>, por isso torna-se cada vez mais importante inverter o<br />

fluxo <strong>de</strong> informação, para que os ensinamentos, não menos importantes, da cultura popular possam<br />

<strong>de</strong>ssa forma chegar à escola ou como costuma-se dizer, romper os muros da escola. Para que isso<br />

possa efetivamente acontecer é preciso que todos participem, mas é preciso também que esse<br />

processo seja organizado por alguns dos atores <strong>de</strong>ssas instituições.<br />

Conclusão<br />

Através da análise dos questionários, ficou perceptível que os Estudantes do Ensino Médio<br />

do município <strong>de</strong> Cruz das Almas estão preocupados com a atual situação em que se encontra o meio<br />

ambiente, tendo em vista que eles são peça-chave para uma possível transformação do sistema<br />

alimentar atual, tanto em âmbito local, regional, nacional e mundial.<br />

Portanto, diante dos resultados obtidos neste trabalho, conclui-se que a Educação Ambiental<br />

precisa ser um processo contínuo e permanente no ambiente escolar, com a inclusão <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s<br />

extracurriculares diretamente ligadas à educação ambiental em parceria com instituições públicas e<br />

privadas, uma vez que ela <strong>de</strong>ve ser uma ação integradora, ou seja, a educação ambiental é <strong>de</strong><br />

responsabilida<strong>de</strong> da socieda<strong>de</strong> como um todo.<br />

Referências<br />

BALSAN, R. Impactos <strong>de</strong>correntes da mo<strong>de</strong>rnização da agricultura brasileira. CAMPO-<br />

TERRITÓRIO: revista <strong>de</strong> geografia agrária, v. 1, n. 2, p. 123-151, ago. 2006.<br />

DAROLT, M. R. Comparação da <strong>Qualida<strong>de</strong></strong> do Alimento Orgânico com o Convencional In:<br />

STRIGHETA, P.C & MUNIZ, J.N. Alimentos Orgânicos:Produção, Tecnologia e Certificação.1<br />

ed.Viçosa : Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Viçosa - UFV, 2003, p. 289-312.<br />

991


FLEURY, F. A. B. R & LIMA, W. M. <strong>de</strong>. Mercado Orgânico, Potencial em Expansão. Disponível<br />

em: http://www.seplan.go.gov.br/sepin/pub/conj/conj7/04.htm#_ftn1. Acesso em: 14 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong><br />

2012<br />

GUERRA, R. A. T. & GUSMÃO, C. R <strong>de</strong> C. A implementação da educação ambiental numa<br />

escola <strong>de</strong> ensino Fundamental. In:Global Trends on Environmental Education. AZEITEIRO, U. M.,<br />

PEREIRA, M. J., LEAL-FILHO, W., CAEIRO, S., BACELAR-NICOLAU, P., MORGADO, F.<br />

and GONÇALVES, F. (Eds), Discursos, Universida<strong>de</strong> Aberta, Lisboa, nº especial: 329-346. 2004<br />

JACOBI, P. Educação ambiental, cidadania e sustentabilida<strong>de</strong>. Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> Pesquisa, n. 118, mp.<br />

a1rç8o9/-220050,3 março/ 2003.<br />

MANO, Eloísa Biasotto: Meio ambiente, poluição e reciclagem. São Paulo Edgard Blucher, 2005.<br />

SANTANA, C. G. & ARAÚJO. M. I. O. A Educação Ambiental no Ensino Médio da Escola<br />

Estadual José Amaral Lemos no Município <strong>de</strong> Pirambu-SE. Scientia Plena 7, 022701 (2011)<br />

SATO, M. (2004). Educação Ambiental. São Carlos. Rima.<br />

SOARES, G. F. & MATTOS, J. A importância da Educação Ambiental <strong>nas</strong> Escolas.<br />

Pedagogia ao Pé da Letra, 07 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2011. Disponível em:<br />

http://www.pedagogiaaopedaletra.com/posts/a-importancia-da-educacao-ambiental-<strong>nas</strong>-escolas-2/.<br />

Acesso em 11 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2012.<br />

SOUZA, A. P. O e ALCÂNTARA, R. L. C. Produtos Orgânicos: Um estudo exploratório sobre as<br />

possibilida<strong>de</strong>s no Brasil no mercado internacional. Disponível em:<br />

http://www.planetaorganico.com.br/trabanapaula.htm. Acesso em: 24 Jan 2012<br />

TOZONI-REIS, M. Educação Ambiental: natureza, razão e história. Campi<strong>nas</strong>, SP: Autores<br />

Associados, 2004.<br />

992


3 – Planejamento, Programas e Ações<br />

Ambientais<br />

993


Resumo<br />

A INDISSOCIABILIDADE DO ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO<br />

EM AÇÕES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL<br />

Afonso Takao MURATA<br />

Professor UFPR<br />

Marília Pinto Ferreira MURATA<br />

Professora UFPR<br />

Jucélia Regina Silva SENE<br />

Bolsista-Estudante UFPR<br />

Este artigo tem por objetivo discutir a indissociabilida<strong>de</strong> do ensino, da pesquisa e da extensão <strong>nas</strong><br />

ações em que envolva a Educação Ambiental e o processo <strong>de</strong> inclusão, buscando cruzar a barreira<br />

entre a teoria e a prática, a i<strong>de</strong>ia do artigo surge no intuito <strong>de</strong> <strong>de</strong>svelar as ações <strong>de</strong>senvolvidas pelo<br />

projeto <strong>de</strong> extensão ―Agroecologia e Inclusão‖ ligada a indissociabilida<strong>de</strong> entre ensino, pesquisa e<br />

extensão na constante busca do protagonismo dos autores na construção <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> mais<br />

consciente as questões ambientais e a sustentabilida<strong>de</strong>. No sentido <strong>de</strong> se abarcar a indissociabilida<strong>de</strong><br />

o projeto propõe uma metodologia do trabalho por <strong>de</strong>mandas, on<strong>de</strong> não são apresentadas <strong>de</strong>mandas<br />

da universida<strong>de</strong> a comunida<strong>de</strong>, mas sim o inverso, ou seja, a comunida<strong>de</strong> apresenta suas <strong>de</strong>mandas<br />

para que a Universida<strong>de</strong> possa atuar. O acolhimento das <strong>de</strong>mandas inicia-se com a visita ao local a<br />

ser atendido. Se existirem <strong>de</strong>mandas os componentes do projeto realizam um estudo teórico<br />

aprofundado sobre o tema, em seguida é realizado o diagnóstico, após o diagnóstico é formulado<br />

uma proposta e um plano trabalho, que após ser discutido com a comunida<strong>de</strong> é proposta, se a<br />

proposta é aceita a etapa seguinte é a realização do processo <strong>de</strong> intervenção. Após a intervenção é<br />

realizado uma avaliação se o objetivo foi alcançado.<br />

Palavras Chaves: Universida<strong>de</strong>; Indissociabilida<strong>de</strong> do ensino da pesquisa e da extensão; Projeto <strong>de</strong><br />

extensão; Educação Ambiental.<br />

Abstract<br />

This article was conducted with the objective to discuss inseparability principle between education,<br />

research and extension, in practices that involving environmental education and the inclusion<br />

process, trying to cross the barrier from theory to practice, the i<strong>de</strong>a of the article appears in or<strong>de</strong>r to<br />

994


uncover the actions <strong>de</strong>veloped by extension project "Agroecology and Inclusion" linked the<br />

inseparability principle between education, research and extension in constant search of the authors'<br />

role in building a society more aware of environmental issues and sustainability. In or<strong>de</strong>r to cater to<br />

the inseparability project proposes a methodology of project by <strong>de</strong>mands, which is not taken the<br />

<strong>de</strong>mands of the university to community, but rather the reverse, i.e., the community presents their<br />

<strong>de</strong>mands to the University. After analyze the <strong>de</strong>mands. It was starts the diagnosis, after this is ma<strong>de</strong><br />

a proposal and a plan to work, after being discussed this proposal with the community, is performed<br />

the intervention process. After this, evaluates whether the objective was an attained.<br />

Keywords: University; inseparability principle between education, research; extension project;<br />

environmental education.<br />

Introdução<br />

A importante discussão sobre o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Universida<strong>de</strong> que almejamos, perpassa pelo<br />

modo como a Instituição se comunica com a socieda<strong>de</strong>. Neste sentido quando da aprovação da<br />

emenda popular, que gerou o artigo 207 da Constituição que discorre sobre o princípio da<br />

indissociabilida<strong>de</strong> entre ensino, pesquisa e extensão como paradigma da expressão da expectativa<br />

<strong>de</strong> construção <strong>de</strong> um projeto <strong>de</strong>mocrático <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> uma universida<strong>de</strong> socialmente<br />

referenciada.<br />

Estes aspectos serviram <strong>de</strong> marco para que os princípios configurados pu<strong>de</strong>ssem pautar o<br />

papel social da universida<strong>de</strong> brasileira. Consi<strong>de</strong>rando tudo que já foi construído legalmente e com o<br />

objetivo <strong>de</strong> transpor da teoria para a prática, é que surgiu a i<strong>de</strong>ia do artigo, tomando como exemplo,<br />

as ações <strong>de</strong>senvolvidas pelo projeto <strong>de</strong> extensão ―Agroecologia e Inclusão‖ no sentido <strong>de</strong> se<br />

<strong>de</strong>monstrar o trabalho abrangente da indissociabilida<strong>de</strong> entre ensino, pesquisa e extensão, que<br />

procura levar o protagonismo dos autores e parceiros na construção <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> mais<br />

consciente as questões ambientais e a sustentabilida<strong>de</strong>.<br />

Para aguçar a consciência ambiental e <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> o projeto tem atuado em diversas<br />

vertentes ligadas a Educação Ambiental <strong>de</strong> forma a trabalhar transversalmente a temática em todas<br />

as suas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas.<br />

Aten<strong>de</strong>ndo integralmente a Lei No 9.795, <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1999, que dispõe sobre a<br />

educação ambiental, institui a Política Nacional <strong>de</strong> Educação Ambiental que em seu artigo 2 o<br />

apresenta que a educação ambiental ―é um componente essencial e permanente da educação<br />

nacional, <strong>de</strong>vendo estar presente, <strong>de</strong> forma articulada, em todos os níveis e modalida<strong>de</strong>s do<br />

processo educativo, em caráter formal e não-formal‖. (BRASIL, 1999)<br />

995


Desta forma as ações <strong>de</strong>senvolvidas pelo projeto também busca trabalhar o processo <strong>de</strong><br />

inclusão, inclusive aten<strong>de</strong>ndo a visão disposta na lei em seu artigo 3 o que <strong>de</strong>termina que, ―como<br />

parte do processo educativo mais amplo, todos têm direito à educação ambiental‖, <strong>de</strong>terminando<br />

inclusive em se parágrafo segundo que é <strong>de</strong>legada ―às instituições educativas, promover a educação<br />

ambiental <strong>de</strong> maneira integrada aos programas educacionais que <strong>de</strong>senvolvem‖. Neste sentido o<br />

Projeto <strong>de</strong> Extensão que promove ações da UFPR, procura cumprir o seu papel junto a socieda<strong>de</strong> e<br />

atuar em consonância com os preceitos legais. (BRASIL, 1999)<br />

Neste sentido, o projeto ―Agroecologia e Inclusão‖ iniciou suas ativida<strong>de</strong>s em 01/05/2011,<br />

ele está vinculado ao programa <strong>de</strong> extensão ―Acessibilida<strong>de</strong> e Inclusão: Semeando‖, registrado na<br />

Pró Reitoria <strong>de</strong> Extensão e Cultura da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná e vem <strong>de</strong>senvolvendo ações<br />

em comunida<strong>de</strong>s do litoral paranaense.<br />

O programa tem por objetivo caracterizar necessida<strong>de</strong>s e intervir <strong>nas</strong> situações <strong>de</strong><br />

acessibilida<strong>de</strong>, inclusão e <strong>de</strong> condições <strong>de</strong> promoção da saú<strong>de</strong> e da educação <strong>nas</strong> diferentes etapas<br />

do ciclo vital, por meio <strong>de</strong> ações agroecológicas e <strong>de</strong> paisagismo nos espaços físicos das diferentes<br />

instituições envolvidas, colaborando para que os usuários possam <strong>de</strong>spertar a memória, afetivida<strong>de</strong><br />

e promover a melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<br />

Outros objetivos propostos são a Integração da UFPR Setor litoral e as entida<strong>de</strong>s parceiras<br />

com a comunida<strong>de</strong>; proporcionar troca <strong>de</strong> experiências para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> estratégias e<br />

ações agroecológicas; levantar os fatores <strong>de</strong> risco e as necessida<strong>de</strong>s do público-alvo; elaborar e<br />

programar estratégias <strong>de</strong> ações diferenciadas que aju<strong>de</strong>m a inclusão das pessoas com necessida<strong>de</strong>s<br />

especiais; programar ações que visem à melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida do público-alvo; colaborar<br />

com a divulgação do projeto institucional; realizar eventos voltados para a integração do público-<br />

alvo com a comunida<strong>de</strong>; realizar ativida<strong>de</strong>s formativas (palestras e cursos); oportunizar aos<br />

estudantes ativida<strong>de</strong>s formativas <strong>de</strong> integração entre extensão-ensino-pesquisa por meio <strong>de</strong><br />

vivências prática junto à comunida<strong>de</strong> atendida; estimular o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> trabalho em grupos<br />

e trabalhar aspectos voltados a Educação Ambiental.<br />

A parceria entre o projeto e a comunida<strong>de</strong> coaduna com ―o enfoque humanista, holístico,<br />

<strong>de</strong>mocrático e participativo‖ disposto no artigo Art. 4 o da Lei Nº 9.795 § I, além disso o projeto<br />

procura trabalhar <strong>de</strong>ntro da ―concepção do meio ambiente em sua totalida<strong>de</strong>, consi<strong>de</strong>rando a<br />

inter<strong>de</strong>pendência entre o meio natural, o socioeconômico e o cultural, sob o enfoque da<br />

sustentabilida<strong>de</strong>‖, conforme disposto no § II <strong>de</strong>ste mesma lei e artigo, <strong>de</strong> forma a se trabalhar <strong>de</strong><br />

forma plural a inter, multi e transdisciplinarida<strong>de</strong> (BRASIL, 1999). Importante ressaltar que as<br />

ações procuram aten<strong>de</strong>r aos preceitos éticos e <strong>de</strong>ontológicos em suas ações, respeitando e<br />

reconhecendo <strong>de</strong> forma imperiosa a pluralida<strong>de</strong> e à diversida<strong>de</strong> individual e cultural. Para tanto o<br />

projeto conta com alunos <strong>de</strong> vários cursos como: Agroecologia; Gestão Ambiental, Gestão<br />

Empreen<strong>de</strong>dorismo, Serviço Social, que são bolsistas (Proec ou Fundação Araucária) ou trabalham<br />

<strong>de</strong> forma voluntária.<br />

996


Metodologia<br />

No sentido <strong>de</strong> se trabalhar a indissociabilida<strong>de</strong> o projeto propõe uma metodologia do<br />

trabalho por <strong>de</strong>mandas, on<strong>de</strong> as <strong>de</strong>mandas advêm das comunida<strong>de</strong>s. Normalmente as <strong>de</strong>mandas<br />

aparecem quando do primeiro contato do projeto com a comunida<strong>de</strong> ou ao agricultor familiar,<br />

escola, etc.. Se existem <strong>de</strong>mandas ou interesse do trabalho compartilhado, o passo seguinte é o<br />

quando os componentes do projeto fazem um aprofundado levantamento teórico, no sentido <strong>de</strong> que<br />

todas as ações sejam referendadas, no momento seguinte é realizado uma pesquisa diagnóstica, e<br />

em seguida a análise <strong>de</strong>stes dados coletados, buscando i<strong>de</strong>ntificar as <strong>de</strong>ficiências e potencialida<strong>de</strong>s<br />

da comunida<strong>de</strong> envolvida (usuários, familiares, profissionais que atuam <strong>nas</strong> instituições) que são<br />

avaliadas e reavaliadas durante o processo <strong>de</strong> intervenção, com vistas a i<strong>de</strong>ntificar a eficiência das<br />

ações executadas.<br />

Este processo é realizado por meio <strong>de</strong> instrumentos <strong>de</strong> observação, avaliação e<br />

acompanhamento. Os dados obtidos foram analisados pela estatística aplicada, aliadas as pesquisas<br />

diagnósticas estão sendo realizadas a partir da construção <strong>de</strong> instrumentos <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> dados<br />

(Questionários semiestruturados) e também com uma proposta <strong>de</strong> pesquisa etnográfica (BEAUD;<br />

WEBER, 2007), articulando observações, diário <strong>de</strong> campo e entrevistas narrativas. A interpretação<br />

é feita é sustentada numa abordagem quali-quantitativa baseada na Técnica <strong>de</strong> Análise <strong>de</strong> Conteúdo<br />

proposta por Bardin (1997). Estas técnicas e metodologias utilizadas possuem características mais<br />

interdisciplinares e coerentes com os objetivos propostos.<br />

Da Teoria a Prática<br />

As ações propostas têm sido atendidas em diversas práticas <strong>de</strong>senvolvidas pelo projeto e<br />

com diferentes públicos, como exemplo, o projeto <strong>de</strong>senvolve ações mensais com agricultores da<br />

localizados no entorno da PR 508 no litoral paranaense, com reuniões mensais com o grupo, mas<br />

com visitas semanais a proprieda<strong>de</strong>s participantes, no intuito <strong>de</strong> incentivar a transição do<br />

convencional para o orgânico, disponibilizando ferramentas para que suas ações possam ser<br />

praticadas <strong>de</strong> forma sustentável. Além disso, tem se trabalhado o processo <strong>de</strong> certificação daqueles<br />

que já adotaram esta prática, para que o processo <strong>de</strong> inclusão possa se dar pelos programas <strong>de</strong><br />

aquisição <strong>de</strong> alimentos (PAA) ou mesmo a venda direta ao consumidor.<br />

Outra ação <strong>de</strong>senvolvida pelo projeto é com os idosos, internos em um asilo situado na<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Paranaguá, Pr. On<strong>de</strong> são <strong>de</strong>senvolvidos trabalhos <strong>de</strong> sensibilização utilizando chás, ervas<br />

medicinais, eventos <strong>de</strong> integração, além disso, existe a proposta <strong>de</strong> colaborar em ações <strong>de</strong><br />

paisagismo para ofertar um ambiente mais aconchegante aos internos.<br />

O projeto aten<strong>de</strong> ainda crianças da educação infantil da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pontal do Paraná, PR,<br />

on<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolve ações <strong>de</strong> educação ambiental a partir da prática <strong>de</strong> montagem <strong>de</strong> hortas, além <strong>de</strong><br />

997


trabalhar um espaço em parceria como a Prefeitura municipal, on<strong>de</strong> são realizadas semanalmente<br />

ofici<strong>nas</strong> <strong>de</strong> compostagem e vermicompostagem.<br />

Nesta mesma cida<strong>de</strong> o programa ao qual o projeto é vinculado ofertou a 33 professoras do<br />

município um curso <strong>de</strong> extensão <strong>de</strong> 40 horas com a temática da Educação Ambiental, este curso foi<br />

ofertado após a pesquisa diagnóstica que constou que as gran<strong>de</strong>s maiorias das professoras não<br />

tinham capacitação em Educação Ambiental, e que estavam atuando com a temática, pois era o que<br />

foi disponibilizado num primeiro momento.<br />

Indo ao encontro ao que <strong>de</strong>screveu Carvalho, 2001 (p. 11 e 12), on<strong>de</strong> a pesquisadora afirma<br />

que, os professores são profissionais <strong>de</strong> extrema importância nos processos <strong>de</strong> mudança das<br />

socieda<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>sempenham um papel essencial <strong>nas</strong> escolas. Se forem <strong>de</strong>ixados à margem, as<br />

<strong>de</strong>cisões pedagógicas e curriculares alheias, por mais interessantes que possam parecer não se<br />

efetivam, não geram efeitos sobre a socieda<strong>de</strong>. Por isso é preciso investir na formação e no<br />

<strong>de</strong>senvolvimento profissional dos professores.<br />

Outro público que foi atendido pelo projeto foram alunos com <strong>de</strong>ficiência da APAE em<br />

Morretes, esta ação está bem consolidada e será retomada quando surgirem novas <strong>de</strong>mandas, neste<br />

sentido será dado um <strong>de</strong>staque maior a uma ação realizada neste espaço que foi o do uso da<br />

educação ambiental em oficina <strong>de</strong> reciclagem <strong>de</strong> papel. Outras ações <strong>de</strong>senvolvidas foram a<br />

montagem <strong>de</strong> uma espiral <strong>de</strong> ervas para práticas <strong>de</strong> educação ambiental, este espiral <strong>de</strong> ervas foi<br />

montado com uma altura a<strong>de</strong>quado para que pu<strong>de</strong>sse haver a participação dos ca<strong>de</strong>irantes e que<br />

<strong>de</strong>sta forma houvesse a inclusão <strong>de</strong>stes alunos. Segundo Sassaki (1999, p.3), ―conceitua-se inclusão<br />

social como o processo pelo qual a socieda<strong>de</strong> se adapta para po<strong>de</strong>r incluir, em seus sistemas<br />

especiais gerais, pessoas com necessida<strong>de</strong>s especiais e, simultaneamente estas se preparam para<br />

assumir seus papéis na socieda<strong>de</strong>‖.<br />

Desenvolveu-se ainda um momento em que foram utilizadas embalagens UHT <strong>de</strong> leite, para<br />

a confecção <strong>de</strong> vasos on<strong>de</strong> foram plantadas flores, hortaliças e condimentos, os alunos fizeram toda<br />

uma ornamentação na embalagem que foram entregues no dia dos pais.<br />

Outra ação realizada e aqui <strong>de</strong>talhada com maior amplitu<strong>de</strong> foi a:<br />

Utilização da Reciclagem <strong>de</strong> Papel para Fins <strong>de</strong> Educação Ambiental com Crianças Deficientes<br />

- A Importância da Inclusão Social e Conscientização Ambiental<br />

Sendo assim, é necessário reinventar e adaptar métodos <strong>de</strong> acordo com a nossa realida<strong>de</strong>.<br />

Mudar a práxis tantas quantas vezes for preciso e acreditar no potencial dos nossos alunos.<br />

Acreditando nesse potencial é que planejamos e <strong>de</strong>senvolvemos ativida<strong>de</strong> que é importante para a<br />

preservação do ambiente e para o <strong>de</strong>senvolvimento humano.<br />

Neste contexto, o trabalho tenta contribuir para minimizar a exclusão social e conscientizar<br />

para os problemas ambientais, pois o objetivo com essa ativida<strong>de</strong> é <strong>de</strong>spertar o interesse, a<br />

998


criativida<strong>de</strong>, o envolvimento e a conscientização dos alunos na fabricação do papel reciclado<br />

artesanal. Como aponta Morin (2002), a consciência ecológica <strong>de</strong>ve nutrir a aspiração do homem <strong>de</strong><br />

convivibilida<strong>de</strong> sobre a terra. Sendo assim, conciliar a educação ambiental e inclusão social,<br />

preparando para conviver em socieda<strong>de</strong> com uma melhor qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e autonomia.<br />

Supõe-se que apesar dos preconceitos e restrições, os alunos assimilam <strong>de</strong> maneira efetiva o<br />

conteúdo trabalhado, além disso, a ativida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> trazer bem-estar e aumentar a autoestima. Sendo<br />

assim, é possível <strong>de</strong> forma prazerosa trazer ativida<strong>de</strong>s e métodos <strong>de</strong> trabalho adaptados para esse<br />

público.<br />

É necessária a inclusão para evitar a marginalização e nesse processo <strong>de</strong>ve ocorrer uma<br />

mudança <strong>de</strong> alteração da visão social, on<strong>de</strong> a inclusão escolar e o acatamento à legislação vigente<br />

são necessários para que todos possam ter acesso a uma educação <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>.<br />

- Educação Ambiental e Educação Especial<br />

Contudo, consi<strong>de</strong>rando que a Educação Ambiental além da ação individual, observa-se que<br />

as ações educacionais realizadas po<strong>de</strong>m ajudar a informar e conscientizar. Observando a<br />

importância <strong>de</strong> preservação do ambiente, temos a educação ambiental como aliada nesta tarefa <strong>de</strong><br />

conscientização da socieda<strong>de</strong>. Portanto, unir educação ambiental e inclusão social é quase um<br />

<strong>de</strong>safio, que po<strong>de</strong> ser atingido com uma educação <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> e a utilização <strong>de</strong> técnicas simples<br />

como, por exemplo, a <strong>de</strong> fazer papel reciclado artesanal.<br />

Desta forma, em se tratando <strong>de</strong> alunos <strong>de</strong>ficientes, os estereótipos a limitam e até exclui, a<br />

postura clássica tem sido a <strong>de</strong> colocar esses indivíduos à parte, à margem da socieda<strong>de</strong>. As<br />

perspectivas e práticas adotadas nos procedimentos <strong>de</strong> reabilitação e na educação familiar e escolar<br />

é importante para o <strong>de</strong>senvolvimento e qualida<strong>de</strong> da aprendizagem <strong>de</strong>sses alunos, on<strong>de</strong> cada um<br />

tem suas especificida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> cada tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência.<br />

No entanto, há limitação intelectual em graus variáveis, mas tem os que apresentam<br />

inteligência normal e obtêm resultados significativos na sua aprendizagem. Sendo assim, são<br />

visíveis as diferenças e especificida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada aluno, on<strong>de</strong> as necessida<strong>de</strong>s educacionais <strong>de</strong>vem ser<br />

relacionadas às dificulda<strong>de</strong>s específicas. A i<strong>de</strong>ia é, através da ativida<strong>de</strong>, aperfeiçoar a qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> vida dos alunos e consequentemente uma melhor reabilitação psicossocial, proporcionando ao<br />

Portador <strong>de</strong> Deficiência uma participação ativa no processo da socieda<strong>de</strong> atual e futura.<br />

- Papel e reciclagem<br />

Hoje a importância do papel é fundamental no nosso dia a dia, porém, alguns problemas<br />

ambientais não po<strong>de</strong>m ficar no esquecimento, segundo estudos, conforme a Associação Brasileira<br />

Técnica <strong>de</strong> Celulose e Papel - ABTCP (2004) seja qual for o tipo <strong>de</strong> papel fabricado, a matéria-<br />

999


prima básica é a celulose, virgem ou <strong>de</strong> papel reciclado, que po<strong>de</strong> ser dividida em dois grupos: a <strong>de</strong><br />

fibra longa (obtida <strong>de</strong> espécies como o pínus e a araucária), indicada para papéis <strong>de</strong> embalagem; e a<br />

<strong>de</strong> fibra curta (<strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> eucalipto, acácia, gmelina, bétula, entre outros), utilizada principalmente<br />

na fabricação <strong>de</strong> papéis para imprimir e escrever e para fins sanitários.<br />

A produção <strong>de</strong> papel consome enorme quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> energia e água, que são ingredientes<br />

essenciais na fabricação <strong>de</strong> papel como parte integrante da massa (polpa) e utilização na remoção <strong>de</strong><br />

impurezas da celulose mediante lavagens repetidas, sendo que a emissão <strong>de</strong> efluentes na água é um<br />

dos impactos ambientais mais significantes causados pela fabricação <strong>de</strong> papel e celulose. É possível<br />

constatar, que as fábricas <strong>de</strong> papel, utilizam quantida<strong>de</strong>s significantes <strong>de</strong> água fresca, se comparada<br />

com outras indústrias, sendo consi<strong>de</strong>rada, portanto, uma ―indústria intensiva‖ neste aspecto Nunes<br />

(2007).<br />

A água é utilizada em diferentes setores: no transporte e dispersão das matérias primas, na<br />

formação <strong>de</strong> folha <strong>de</strong> papel, para limpeza, resfriamento, selagem e lubrificação. Sendo assim a<br />

reciclagem é necessária e já é uma realida<strong>de</strong> no país atingindo índices invejáveis para alguns<br />

produtos, como papel ondulado 79% (CEMPRE, 2006b); papel <strong>de</strong> escritório 33% (CEMPRE,<br />

2006a). Vilhena (1996) afirma que a educação ambiental é a mola propulsora <strong>de</strong> qualquer iniciativa<br />

<strong>de</strong> preservação ambiental, que tenha o cidadão como personagem principal.<br />

A reciclagem do papel é <strong>de</strong> extrema importância para o meio ambiente, pois o papel quando<br />

largado no ambiente leva <strong>de</strong> três meses a até alguns anos para se <strong>de</strong>compor. Como sabemos, o papel<br />

é produzido através da celulose <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados tipos <strong>de</strong> árvores. Quando reciclamos o papel ou<br />

compramos papel reciclado estamos contribuindo com o meio ambiente, pois árvores <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong><br />

ser cortadas.<br />

A gran<strong>de</strong> geração <strong>de</strong> papel po<strong>de</strong> poluir o meio ambiente e <strong>de</strong>struir florestas, sendo assim, é<br />

viável ambientalmente e economicamente que se recicle. Segundo Hisatugo (2007) os indicadores<br />

da reciclagem <strong>de</strong> papel são: Economia <strong>de</strong> energia elétrica através da reciclagem 3,51 mil kWh/t -<br />

Economia <strong>de</strong> matéria-prima é <strong>de</strong> 20 árvores por tonelada - Economia <strong>de</strong> água é <strong>de</strong> 29.202 litros/t -<br />

Produção <strong>de</strong> papel reciclado 1,2 t <strong>de</strong> papel usado produz uma tonelada <strong>de</strong> papel reciclado. Portanto<br />

para cada 28 toneladas <strong>de</strong> papel reciclado evita-se o corte <strong>de</strong> 01 hectare <strong>de</strong> floresta.<br />

Materiais e Métodos<br />

Nesta ação, buscaram-se os valores como a solidarieda<strong>de</strong>, a cooperação, o respeito, a<br />

autonomia, a participação, a responsabilida<strong>de</strong>, a tolerância entre outros. O trabalho foi dividido em<br />

duas partes: uma <strong>de</strong> cunho teórico, on<strong>de</strong> foi utilizado o método da pesquisa bibliográfica e outra <strong>de</strong><br />

cunho prático, consistindo esta última na ativida<strong>de</strong> na escola. O processo foi reconhecido e<br />

1000


oportuno para que os alunos tivessem um momento <strong>de</strong> aquisição <strong>de</strong> conhecimento com ludicida<strong>de</strong>,<br />

Observou–se ainda que mesmo com diferentes tipos <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiências, ida<strong>de</strong> e sexo, o processo foi<br />

importante para todos os 15 alunos atendidos pelo projeto.<br />

Tabela 01 – Tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiências, Gênero, Ida<strong>de</strong> dos alunos da APAE Morretes que participaram da ação <strong>de</strong> reciclagem<br />

<strong>de</strong> papel para fins <strong>de</strong> educação ambiental <strong>de</strong>senvolvido pelo projeto <strong>de</strong> extensão‖Agroecologia e Inclusão‖<br />

SUJEITO GÊNERO IDADE TIPO DE DEFICIÊNCIA<br />

01 F 26 anos Deficiência mental mo<strong>de</strong>rada<br />

02 F 45 anos Deficiência mental mo<strong>de</strong>rada<br />

03 F 24 anos Deficiência mental mo<strong>de</strong>rada<br />

04 F 10 anos Síndrome <strong>de</strong> Down<br />

05 M 11 anos Deficiência mental mo<strong>de</strong>rada<br />

06 M 49 anos Deficiência mental mo<strong>de</strong>rada<br />

07 M 22 anos Deficiência mental mo<strong>de</strong>rada<br />

08 F 8 anos Deficiência mental mo<strong>de</strong>rada<br />

09 F 7 anos Síndrome <strong>de</strong> Down<br />

10 F 9 anos Deficiência mental mo<strong>de</strong>rada<br />

11 M 9 anos Paralisia cerebral<br />

12 F 9 anos Deficiência mental mo<strong>de</strong>rada<br />

13 M 13 anos Deficiência mental mo<strong>de</strong>rada<br />

14 F 14 anos Deficiência mental mo<strong>de</strong>rada<br />

15 M 10 anos Deficiência mental mo<strong>de</strong>rada<br />

Ao analisar os dados apresentado na Tabela 01, observa-se que a maioria dos alunos<br />

atendidos (46,67%) é <strong>de</strong> crianças na faixa etária <strong>de</strong> 0 a 10 anos; 20% são constituídos <strong>de</strong><br />

adolescentes com ida<strong>de</strong> variando <strong>de</strong> 11 a 21 anos e 33,33% são adultos com ida<strong>de</strong> entre 22 a 49<br />

anos.<br />

Outra contratação observada nesta pesquisa diagnóstica é que 80% dos alunos apresentam<br />

Deficiência Mental Mo<strong>de</strong>rada, 13,33%; Síndrome <strong>de</strong> Down; 6,67% Paralisia cerebral.<br />

Nesse processo observou-se os casos <strong>de</strong> Síndrome <strong>de</strong> Down e os <strong>de</strong> Paralisia Cerebral, como<br />

também observado por Buckley e Bird (1994), os portadores <strong>de</strong> síndrome <strong>de</strong> Down por<br />

apresentarem habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> processamento e <strong>de</strong> memória visual mais <strong>de</strong>senvolvidas do que aquelas<br />

referentes às capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> processamento e memória auditivas, as crianças portadoras <strong>de</strong><br />

Síndrome <strong>de</strong> Down se beneficiaram <strong>de</strong> recursos <strong>de</strong> ensino que utilizam suporte visual para trabalhar<br />

as informações. Porém, ocorre o atraso no <strong>de</strong>senvolvimento da linguagem, o menor reconhecimento<br />

das regras gramaticais e sintáticas da língua. E no caso da Paralisia cerebral, se apresenta<br />

clinicamente distúrbios da motricida<strong>de</strong>, isto é, alterações do movimento, da postura, do equilíbrio,<br />

da coor<strong>de</strong>nação com presença variável <strong>de</strong> movimentos involuntários.<br />

Dentre esse alunos 60% eram do sexo feminino e 40% do sexo masculino, corroborando<br />

com os dados apresentados na educação formal, on<strong>de</strong> existem mais mulheres estudantes do que<br />

1001


homens. Segundo Ferraro (2009), este fato apoia-se principalmente num estudo <strong>de</strong> caso, que<br />

focaliza a trajetória da relação entre gênero e alfabetização no Brasil no período <strong>de</strong> 1940 a 2000. Tal<br />

estudo revela que as mulheres passaram a superar os homens quanto à alfabetização <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o Censo<br />

1940, a começar pelos grupos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> mais jovem (5 a 9 anos e 10 a 14 anos), esten<strong>de</strong>ndo-se essa<br />

vantagem, no Censo 2000, até o grupo 40 a 44 anos.<br />

Após o diagnóstico inicial, numa segunda etapa do projeto visando aten<strong>de</strong>r a <strong>de</strong>manda da<br />

direção da escola para que fosse <strong>de</strong>senvolvida uma ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Educação ambiental com os alunos,<br />

foi proposto e após acordado, foi <strong>de</strong>senvolvida a oficina com a reciclagem <strong>de</strong> papel.<br />

A i<strong>de</strong>ia principal foi a <strong>de</strong> inclusão dos alunos, para o <strong>de</strong>senvolvimento da técnica da<br />

reciclagem do papel artesanal, foi repassado o método que é realizado seguindo-se oito etapas:<br />

1ª - Picar o papel;<br />

2ª – Colocar o papel picado no bal<strong>de</strong> com água, <strong>de</strong>ixar por 24 horas;<br />

3ª - Colocar o papel em um recipiente contendo água e cola;<br />

4ª - Trituração e homogeneização do papel;<br />

5ª - Coar a mistura;<br />

6ª - Absorção da água contida no papel;<br />

7ª - Prensagem do papel;<br />

8ª - Secagem do papel.<br />

Todos os alunos participaram <strong>de</strong> forma ativa e satisfatória, on<strong>de</strong> fizeram a trituração do<br />

papel, a prensagem e secagem.<br />

Resultados<br />

Nesta ativida<strong>de</strong> o projeto procurou incentivar os alunos a <strong>de</strong>senvolverem ações, como forma<br />

<strong>de</strong> respeito ao meio ambiente, apreen<strong>de</strong>r sobre a Educação Ambiental, inclusão social, dignida<strong>de</strong>,<br />

aumento da autoestima e principalmente liberda<strong>de</strong>, para que, mesmo com os seus limites, possam<br />

participar e serem incluídos sem ter que levar em conta os preconceitos.<br />

Durante o trabalho realizado, o importante foi o processo e não o produto final porque, os<br />

integrantes do projeto enten<strong>de</strong>m que a prática estimula a participação dos alunos com temas<br />

relativos ao meio ambiente e contribui para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma consciência ecológica e<br />

também, nesse caso, para uma melhor coor<strong>de</strong>nação motora e para o <strong>de</strong>senvolvimento cognitivo no<br />

processo <strong>de</strong> aprendizagem do aluno.<br />

O trabalho <strong>de</strong>senvolvido teve pleno êxito, pois foi <strong>de</strong>senvolvido respeitando a<br />

indissociabilida<strong>de</strong> ensino pesquisa e extensão. Os produtos finais (Figura 01) foram motivo <strong>de</strong><br />

1002


alegria e realização aos alunos da APAE, mas também para os participantes do projeto, professores<br />

e familiares.<br />

Figura 01 – Cartões elaborados com papel reciclado, obtidos em oficina <strong>de</strong> reciclagem <strong>de</strong> papel ofertado pelo projeto <strong>de</strong><br />

extensão ―Agroecologia e Inclusão‖ a alunos da APAE Morretes em ações <strong>de</strong> Educação Ambiental.<br />

Dos 15 alunos que participaram da oficina 40% conseguiram fazer todo processo somente<br />

com a orientação, 30% conseguiram com a ajuda em algumas etapas, e 30% fizeram com ajuda na<br />

maioria das etapas.<br />

Consi<strong>de</strong>rações Finais<br />

O projeto tem <strong>de</strong>senvolvido suas ações <strong>de</strong> forma satisfatória diagnosticando e caracterizando<br />

as necessida<strong>de</strong>s da comunida<strong>de</strong> parceira e intervindo <strong>nas</strong> situações <strong>de</strong> acessibilida<strong>de</strong>, inclusão e <strong>de</strong><br />

condições <strong>de</strong> promoção da saú<strong>de</strong> e da educação <strong>nas</strong> diferentes etapas do ciclo vital, por meio <strong>de</strong><br />

ações agroecológicas, <strong>de</strong> educação Ambiental e <strong>de</strong> paisagismo nos espaços físicos das diferentes<br />

instituições envolvidas, colaborando para que os usuários possam <strong>de</strong>spertar a memória, afetivida<strong>de</strong><br />

e melhorando a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<br />

Além disso, as ações <strong>de</strong>senvolvidas têm colaborado com a divulgação do projeto<br />

institucional, aproximando a universida<strong>de</strong> da comunida<strong>de</strong>, a partir da realização <strong>de</strong> eventos voltados<br />

para a integração do público-alvo com a comunida<strong>de</strong>; realizar ativida<strong>de</strong>s formativas (palestras e<br />

cursos). Estas ações têm oportunizado aos estudantes ativida<strong>de</strong>s formativas <strong>de</strong> integração entre<br />

extensão-ensino-pesquisa por meio <strong>de</strong> vivências prática junto à comunida<strong>de</strong> atendida aliadas a<br />

intensa fundamentação teórica, estimulando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> trabalho em grupos e<br />

trabalhando aspectos voltados a Educação Ambiental.<br />

1003


Referências<br />

ABTCP - Associação Brasileira Técnica <strong>de</strong> Celulose e Papel. Ficha Técnica: celulose e papel.<br />

2004. Disponível em: http://www.abtcp.com.br. Acessado em 27.ago.2010.<br />

BARDIN, L. Análise <strong>de</strong> Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1997. 226p.<br />

BEAUD, S.; WEBER, F. Guia para a pesquisa <strong>de</strong> campo: produzir e analisar dados etnográficos.<br />

Petrópolis: Vozes, 2007.<br />

BRASIL. LEI N o 9.795, DE 27 DE ABRIL DE 1999. Política Nacional <strong>de</strong> Educação Ambiental.<br />

1999.<br />

CARVALHO, I.C.M. Educação Ambiental a Formação do Sujeito Ecológico. São Paulo: Cortez, 5ª<br />

edição. 2011.<br />

CEMPRE. Ficha Técnica: papel <strong>de</strong> escritório. 2006a. Disponível em<br />

. Acesso em: 27 fev.<br />

2010.<br />

FERNANDEZ, O. S. L. Do. Desenvolvimentismo à Inclusão Social - inclusão social, Brasília, DF,<br />

v. 3, n. 2, p.123-132, jan./jun., 2010.<br />

FERRARO,A.R. Gênero e Alfabetização no Brasil <strong>de</strong> 1940 a 2000: a história quantitativa da<br />

relação. Revista <strong>de</strong> Didácticas Específicas, nº 1, pp. 30-47 – Disponível em:<br />

http://www.didacticasespecificas.com Acessado em 25.Set.2010.<br />

HISATUGO, E.; JÚNIOR, O. M. Coleta Seletiva e Reciclagem como Instrumentos para<br />

Conservação Ambiental: um estudo <strong>de</strong> caso em Uberlândia, MG. Socieda<strong>de</strong> & Natureza,<br />

Uberlândia, 19 (2): 205-216, <strong>de</strong>z. 2007.<br />

MORIN, E. Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro. Tradução <strong>de</strong> Catarina Eleonora F.<br />

da Silva e Jeanne Sawaya; 11ª edição; Editora Cortez; São Paulo; SP. 2006.<br />

1004


NUNES,D.C.L. Conservação <strong>de</strong> Água em Máquina <strong>de</strong> Fabricação <strong>de</strong> Papel - o caso da Bahia Sul<br />

Papel e Celulose S.A. - Dissertação para obtenção do Título <strong>de</strong> Mestre em Ciências em Engenharia<br />

da Energia. Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Itajubá, set/2007<br />

MACIEL, M. R. C. Portadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência: a questão da inclusão social - São Paulo em<br />

Perspectiva. vol.14, no. 2. São Paulo. Apr./June 2000<br />

SASSAKI, R.K. Inclusão: construindo uma socieda<strong>de</strong> para todos. 3ª Edição. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

WVA,1999.<br />

VILHENA, A. A cCleta Seletiva <strong>de</strong> Lixo: uma proposta <strong>de</strong> programa <strong>de</strong> gestão integrada.<br />

Dissertação (Mestrado em Ciências em Engenharia <strong>de</strong> Produção) – Programa <strong>de</strong> Pós-graduação em<br />

Engenharia, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro, Rio <strong>de</strong> Janeiro, 1996. 159 p.<br />

1005


Resumo<br />

PLANEJAMENTO URBANO E AMBIENTAL:<br />

DISCUSSÃO SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS NO BRASIL<br />

ALINE Carolina da SILVA 110 (PPGCAM/UFPB)<br />

alinesilva.ambiental@gmail.com<br />

Claudia Nóbrega COUTINHO 111 (DEC/PPGCAM/UFPB)<br />

claudiacn@uol.com.br<br />

Carmem Lúcia Moreira GADELHA 112 (DEC/PPGCAM/UFPB)<br />

carmemga<strong>de</strong>lha@yahoo.com.br<br />

Eu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Oliveira BOMFIM 113 (PPGCAM/UFPB)<br />

eu<strong>de</strong>s.bomfim@ig.com.br<br />

Este trabalho avaliou os aspectos do espaço urbano e fatores relevantes para o planejamento do uso<br />

e ocupação do solo e, nesse contexto, a problemática acerca dos resíduos sólidos urbanos,<br />

principalmente no que se refere ao cumprimento da Lei Fe<strong>de</strong>ral n o 12.305, <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2010, que<br />

institui a Política Nacional <strong>de</strong> Resíduos Sólidos. Esta Lei que estabeleceu prazos ou limites<br />

temporais para algumas ações tais como a eliminação <strong>de</strong> lixões e a consequente disposição final<br />

ambientalmente a<strong>de</strong>quada dos rejeitos até 2014, é um marco histórico para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

sustentável do Brasil. Contudo, existe a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fracasso na sua implantação se não houver<br />

um comprometimento entre os entes da fe<strong>de</strong>ração, ou seja, municípios, estados e União. Também,<br />

a falta <strong>de</strong> capacitação <strong>de</strong> pessoal po<strong>de</strong> ser uma barreira para o sucesso da empreitada. Assim, o<br />

gerenciamento <strong>de</strong> resíduos sólidos passou a ser uma questão prioritária para os gestores municipais,<br />

tornando-se um <strong>de</strong>safio encontrar soluções ambientalmente sustentáveis e economicamente viáveis.<br />

Concluiu-se, então, que assim como os Planos Diretores <strong>de</strong> Desenvolvimento Urbano Ambiental<br />

não obtiveram o alcance e a eficiência previstos, os Planos <strong>de</strong> Gestão Integrada <strong>de</strong> Resíduos Sólidos<br />

Urbanos <strong>de</strong>vem contemplar um diagnóstico completo sobre a realida<strong>de</strong> municipal, a fim <strong>de</strong> que<br />

110 Mestranda em Engenharia Urbana e Ambiental do Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Engenharia Civil e Ambiental<br />

(PPGCAM), Centro <strong>de</strong> Tecnologia – Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Paraíba - Campus I, Cida<strong>de</strong> Universitária, João Pessoa –<br />

PB – Brasil – Cep: 58051-900. Bolsista da Capes.<br />

111 Professora Associada II da UFPB/CT/DECA/PPGCAM, Campus I. Doutora em Recursos Naturais pela UFCG.<br />

112<br />

Professora Associada II da UFPB/CT/DECA/PPGCAM, Campus I. Doutora em Engenharia Sanitária pela Escola <strong>de</strong><br />

Engenharia <strong>de</strong> São Carlos/USP.<br />

113<br />

Mestrando em Engenharia Urbana e Ambiental do PPGCAM. Bolsista da Capes.<br />

1006


contemplem uma gestão integrada fundamental para a promoção <strong>de</strong> um ambiente mais saudável,<br />

com menos riscos à população.<br />

Palavras-chave: Política Nacional <strong>de</strong> Resíduos Sólidos, Planejamento Urbano, Meio Ambiente.<br />

Abstract<br />

This study evaluated aspects of urban space and factors relevant to planning the use and occupation<br />

of land and, in this context, the issue about the municipal solid waste, especially with regard to<br />

compliance with Fe<strong>de</strong>ral Law 12 305, August 2010 establishing a National Policy on Solid Waste.<br />

This Act which established <strong>de</strong>adlines or time limits for certain actions such as landfills and the<br />

consequent elimination of environmentally sound disposal of waste by 2014, is a landmark for the<br />

sustainable <strong>de</strong>velopment of Brazil. However, there is a possibility of failure in its implementation if<br />

there is not a commitment among fe<strong>de</strong>ral agencies, ie municipalities, states and Union. Also, lack of<br />

staff training can be a barrier to the success of the venture. Thus, the solid waste management has<br />

become a priority issue for city managers, making it a challenge to find solutions environmentally<br />

sustainable and economically viable. We conclu<strong>de</strong>, then, that just as the Master Plan for Urban<br />

Development Environmental had not foreseen the extent and effectiveness, Plans Integrated<br />

Management of Urban Solid Waste must inclu<strong>de</strong> a full diagnostic on the municipal reality in or<strong>de</strong>r<br />

to that contemplate management integrated fundamental to promoting a healthier environment with<br />

less risk to the population.<br />

Keywords: National Policy on Solid Waste, Urban Planning, Environment.<br />

Introdução<br />

Quando os centros urbanos crescem sem planejamento, a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida da população<br />

ten<strong>de</strong> a ser comprometida. O ambiente e o ser humano se tornam as gran<strong>de</strong>s vítimas do progresso.<br />

No caso brasileiro, a lógica capitalista <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento fez a população urbana crescer em<br />

<strong>de</strong>masia, o que gerou um acentuado êxodo rural e graves distorções regionais.<br />

A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> intervir neste processo <strong>de</strong> crescimento levou as metrópoles e gran<strong>de</strong>s<br />

cida<strong>de</strong>s a adotarem, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os anos 1970, planos urbanos como principal instrumento <strong>de</strong> controle,<br />

que se tornaram nos Planos Diretores atuais. Regras e normas consubstanciadas em um documento<br />

amplo, que abrange os setores da vida urbana, passaram a fornecer diretrizes e apoiar os projetos<br />

urbanos globalizantes, que assumiam as questões <strong>de</strong> forma ampla (OLIVEIRA, 2005).<br />

Na história recente do planejamento urbano brasileiro observam-se diferentes tentativas <strong>de</strong><br />

compreensão e <strong>de</strong> or<strong>de</strong>namento do espaço das cida<strong>de</strong>s. Alternam-se conceitos, mecanismos,<br />

1007


legislação e priorida<strong>de</strong>s. A mudança <strong>de</strong> enfoques sobre um mesmo problema indica até mesmo uma<br />

mudança referencial no modo <strong>de</strong> ver a cida<strong>de</strong>.<br />

Os resíduos sólidos (RS) são um dos gran<strong>de</strong>s problemas atuais e provocam impactos<br />

socioeconômicos e ambientais. A solução para os problemas gerados por esses resíduos po<strong>de</strong> ser<br />

consi<strong>de</strong>rada um dos maiores <strong>de</strong>safios enfrentados pelas autorida<strong>de</strong>s públicas. Franco (1990) explica<br />

que esse assunto teve como ponto <strong>de</strong> partida o crescimento das cida<strong>de</strong>s e a mudança no ritmo e<br />

padrão <strong>de</strong> consumo, o que tornou oneroso e complexo o tratamento a ser dado à questão.<br />

Ao gerenciar os RS <strong>de</strong> forma a<strong>de</strong>quada, evita-se ou minimizam-se os problemas à saú<strong>de</strong><br />

pública e à poluição ambiental, além <strong>de</strong> manter as características estéticas da cida<strong>de</strong> e do bem-estar<br />

para a população e, consequentemente, contribui para um <strong>de</strong>senvolvimento sustentável (ROLIM,<br />

2000 apud DALTRO FILHO et al., 2008).<br />

De maneira geral, os municípios brasileiros apresentam um gerenciamento ina<strong>de</strong>quado dos<br />

resíduos sólidos, comprometendo as condições <strong>de</strong> vida da comunida<strong>de</strong> e do meio ambiente. Esses<br />

municípios apresentam <strong>de</strong>ficiências <strong>de</strong> saneamento ambiental, principalmente na área <strong>de</strong> resíduos<br />

sólidos urbanos (RSU).<br />

Planejamento Urbano e Ambiental<br />

No <strong>de</strong>bate sobre a cida<strong>de</strong> atual emergem fatos como a violência, a favelização, a expansão<br />

<strong>de</strong>scontrolada e a fragmentação, a segregação sócio espacial, as <strong>de</strong>ficiências <strong>de</strong> transporte, os<br />

impactos negativos ao meio ambiente, etc. Esses aspectos são comumente observados como<br />

elementos do caos urbano (SILVEIRA, 2011).<br />

Faz-se necessário lembrar que o <strong>de</strong>senvolvimento econômico interfere diretamente sobre o<br />

setor urbano. É o caso, por exemplo, da indústria automobilística que geralmente causa<br />

modificações no sistema ambiental e <strong>de</strong> economia no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento (BEZZON,<br />

2004).<br />

Uma séria dificulda<strong>de</strong> que se apresenta para a construção da história do planejamento urbano<br />

no Brasil é que nele, em geral, discurso e prática se mesclam <strong>de</strong> tal forma que é difícil separá-los. É<br />

comum entre os cidadãos, por exemplo, consi<strong>de</strong>rar como sendo política urbana o discurso do Estado<br />

acerca <strong>de</strong> sua ação sobre o urbano (VILLAÇA, 1999).<br />

Villaça (2000) expõe que o caos ou o <strong>de</strong>nominado crescimento <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nado são explicações<br />

plausíveis para os problemas urbanos. Este autor <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que o crescimento or<strong>de</strong>nado é ape<strong>nas</strong> uma<br />

forma <strong>de</strong> camuflar a pobreza urbana oriunda dos baixos investimentos em equipamentos sociais e<br />

infraestrutura urbana, assim como, da má distribuição espacial.<br />

1008


Os planos diretores ou planejamento urbano têm sido difundidos com uma lógica interna com<br />

o enfoque da organização social e instrumento <strong>de</strong> solução para os problemas urbanos. Eles se<br />

difundiram no Brasil a partir da década <strong>de</strong> 1940, mas foram substituídos por diversos outros nomes<br />

na década <strong>de</strong> 1960, até ter o nome atual na Constituição Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> 1988.<br />

Nos primeiros anos os planos diretores eram direcionados para embelezar as cida<strong>de</strong>s e eram<br />

sintetizados por arquitetos urbanistas. Após algumas décadas os planos passaram a ser diagnósticos<br />

técnicos das cida<strong>de</strong>s, feitos por equipes multidisciplinares. Eles foram elaborados com o objetivo <strong>de</strong><br />

serem aplicados pelo Estado para que houvesse uma correta ação sobre o espaço urbano, porém,<br />

foram em pouco tempo abandonados e sem a <strong>de</strong>vida aplicabilida<strong>de</strong>.<br />

Para efetivar as necessida<strong>de</strong>s e obrigações <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong>, surgiu em 2001 a Lei Fe<strong>de</strong>ral n o<br />

10.257, que estabeleceu o Estatuto da Cida<strong>de</strong>, que regulamentou os artigos 182 e 183 da<br />

Constituição e reuniu importantes instrumentos urbanísticos, tributários e jurídicos que podiam<br />

garantir efetivida<strong>de</strong> ao Plano Diretor.<br />

Segundo dados do Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Administração Municipal - IBAM (2001), os Planos<br />

Diretores <strong>de</strong>vem orientar a elaboração dos Planos Plurianuais (PPA), a Lei <strong>de</strong> Diretrizes<br />

Orçamentárias (LDO) e Lei Orçamentária, visto que essas são leis e regras <strong>de</strong>terminam como cada<br />

governo municipal <strong>de</strong>verá gastar seus recursos e fazer investimentos.<br />

Importante aspecto dos planos diretores é que neles são consi<strong>de</strong>rados a participação popular<br />

em todas as suas fases, elaboração, acompanhamento e revisão. A participação da socieda<strong>de</strong> po<strong>de</strong><br />

acontecer <strong>de</strong> distintas maneiras, como por exemplo, nos processos <strong>de</strong> discussão das potencialida<strong>de</strong>s<br />

e i<strong>de</strong>ntificação dos problemas existentes na escala local, através <strong>de</strong> conselhos, comitês ou comissões<br />

<strong>de</strong> representantes <strong>de</strong> variados segmentos da população, do empresariado e das diferentes esferas <strong>de</strong><br />

governo (IBAM, 2001).<br />

Para a realização das audiências públicas, que visam à participação popular no planejamento<br />

urbano das cida<strong>de</strong>s, é imprescindível que seja estudada a realida<strong>de</strong> local para a formulação das<br />

metodologias participativas a serem utilizadas, por po<strong>de</strong>rem levar ao fracasso do processo <strong>de</strong>cisório<br />

<strong>de</strong>vido aos possíveis conflitos locais existentes.<br />

Apesar <strong>de</strong> todos os avanços quanto à participação social nos processos <strong>de</strong>cisórios municipais,<br />

às informações e às propostas existentes, e consistentes, advindas da população, ainda verificam-se<br />

os ajustes aos interesses políticos na formulação final dos planos diretores. Passos (2010) ressalta<br />

que é inconcebível imaginar que se continue a reunir as pessoas para que participem dos espaços <strong>de</strong><br />

discussão, que se realizem inúmeras reuniões, quando na verda<strong>de</strong>, o que a população <strong>de</strong>liberou<br />

acaba por se ajustar ao tipo <strong>de</strong> instrumento <strong>de</strong>finido <strong>de</strong> cima para baixo. Parece oportuno fazer o<br />

contrário, visto que os instrumentos <strong>de</strong>vem ser adaptados às questões locais, inclusive modificando-<br />

os totalmente, caso necessário.<br />

1009


Villaça (2012) <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que os planos diretores são altamente manipulados pela i<strong>de</strong>ologia<br />

dominante, um exemplo disso é precisamente uma questão que trata o planejamento urbano: é<br />

consenso entre os competentes que o Plano Diretor é um assunto complexo e, por isso, só<br />

compreendido pelos mais instruídos. Os menos instruídos necessitam fazer curso <strong>de</strong> capacitação<br />

para compreendê-lo. A analogia feita por Villaça (2012) mostra à complexida<strong>de</strong> do assunto, visto<br />

que uma das consequências da falta <strong>de</strong> consciência social é ausência <strong>de</strong> visão <strong>de</strong> conjunto <strong>de</strong> longo<br />

prazo da cida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> seus problemas.<br />

No âmbito dos municípios, uma das expressões mais significantes da <strong>de</strong>scrença no<br />

planejamento se revela <strong>nas</strong> estruturas administrativas. É difícil encontrar uma Secretaria <strong>de</strong><br />

Planejamento, sendo mais comuns estruturas que contemplam secretarias <strong>de</strong> Finanças e<br />

Planejamento ou Administração e Planejamento, ou até mesmo, Educação e Planejamento, o que<br />

mostra que as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> planejamento sempre foram <strong>de</strong>ixadas em segundo plano. A gestão do<br />

planejamento, no âmbito municipal, é um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio a ser vencido. Observando, por exemplo, o<br />

caso do Plano Diretor, verificam-se que muitos municípios enfrentam dificulda<strong>de</strong>s na sua<br />

implementação (CNM, 2008).<br />

Enten<strong>de</strong>-se que a Lei n o 12.305/2010, estabeleceu a Política Nacional <strong>de</strong> Resíduos Sólidos é<br />

um marco histórico na gestão ambiental do país, pois mostra uma visão mo<strong>de</strong>rna na luta contra um<br />

dos maiores problemas do planeta: o lixo urbano. Tendo como princípio a responsabilida<strong>de</strong><br />

compartilhada entre governo, empresas e população. A nova legislação impulsionou o retorno dos<br />

produtos às indústrias após o consumo e obriga o po<strong>de</strong>r público a realizar planos para o<br />

gerenciamento do lixo. Entre as novida<strong>de</strong>s, a lei consagra o viés social da reciclagem, com<br />

participação formal dos catadores organizados em cooperativas (CEMPRE, 2010).<br />

Gestão <strong>de</strong> Resíduos Sólidos no Planejamento Urbano<br />

O estado <strong>de</strong> limpeza <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> reflete, sem dúvida, o grau <strong>de</strong> civilização <strong>de</strong> seus<br />

habitantes e a eficiência e serieda<strong>de</strong> dos administradores locais. Silva (2000) explica que a falta <strong>de</strong><br />

limpeza gera diversos malefícios do ponto <strong>de</strong> vista sanitário. Do ponto <strong>de</strong> vista econômico, são<br />

<strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> um sistema precário <strong>de</strong> limpeza pública, a <strong>de</strong>svalorização dos terrenos e prédios<br />

localizados <strong>nas</strong> proximida<strong>de</strong>s das áreas com acúmulo <strong>de</strong> lixo. Além disso, ocorrem ainda problemas<br />

como: gastos frequentes com a limpeza <strong>de</strong> rios e galerias <strong>de</strong> águas pluviais; reflexos negativos no<br />

turismo da região; falta <strong>de</strong> estímulo à fixação <strong>de</strong> novos habitantes e <strong>de</strong> novos empreendimentos<br />

comerciais e industriais; e problemas operacionais relacionados à ausência <strong>de</strong> critérios para a<br />

disposição dos resíduos no solo (BRAGA; CARVALHO, 2002).<br />

1010


O modo <strong>de</strong> produção, o advento da industrialização, os aglomerados urbanos, a era dos<br />

<strong>de</strong>scartáveis e a cultura do consumismo geram um grave problema ambiental e <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública.<br />

Estes resíduos dispostos ina<strong>de</strong>quadamente nos territórios urbanos e rurais repercutem<br />

negativamente sobre a qualida<strong>de</strong> ambiental, da vida e da saú<strong>de</strong> da população.<br />

A utilização do Plano Diretor como um instrumento <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong> resíduos sólidos, <strong>de</strong>ve<br />

levantar dados que contemplem um diagnóstico completo da realida<strong>de</strong> do gerenciamento do<br />

município a fim <strong>de</strong> implementar uma gestão integrada dos resíduos sólidos, maximizar a<br />

reutilização, a reciclagem e garantir a disposição final <strong>de</strong> forma que não comprometa a saú<strong>de</strong><br />

pública e ambiental, assim como assegurar a inclusão social dos catadores no sistema <strong>de</strong> gestão<br />

adotado.<br />

A gestão dos resíduos sólidos é <strong>de</strong> competência municipal, cabendo a ele <strong>de</strong>finir sua própria<br />

regulamentação para coleta, tratamento e <strong>de</strong>stinação final. Dentre as várias formas <strong>de</strong> tratamento<br />

<strong>de</strong>staca-se a incineração, a reciclagem e a compostagem; quanto ao <strong>de</strong>stino final do lixo, tem os<br />

aterros sanitários, os aterros controlados e os vazadouros a céu aberto (lixões).<br />

Qualquer tecnologia usada no tratamento ou no <strong>de</strong>stino a<strong>de</strong>quado do lixo requer<br />

investimentos com altos custos operacionais, administrativos, sociais e ambientais. Assim, a escolha<br />

do tipo a<strong>de</strong>quado para o tratamento e para o <strong>de</strong>stino final dos resíduos sólidos <strong>de</strong>ve levar em conta<br />

as especificida<strong>de</strong>s locais e os custos implícitos <strong>nas</strong> estratégias <strong>de</strong> tecnologias adotadas (OLIVEIRA,<br />

2005). Em se tratando <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong> resíduos sólidos municipais a <strong>de</strong>terminação dos custos é<br />

extremamente relevante para a avaliação da eficiência e do <strong>de</strong>sempenho do serviço prestado.<br />

Outro elemento importante para o entendimento da gestão <strong>de</strong> resíduos municipais refere-se<br />

aos dados relacionados com a existência da cobrança pelo serviço <strong>de</strong> limpeza pública. Levando-se<br />

em conta essas consi<strong>de</strong>rações, os municípios, não têm sido capazes <strong>de</strong> equacionalizar os custos <strong>de</strong><br />

uma gestão integrada <strong>de</strong> resíduos sólidos. Diante <strong>de</strong> tais custos questiona-se: os municípios são<br />

capazes <strong>de</strong> assumir as <strong>de</strong>spesas <strong>de</strong>correntes da implantação <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> coleta, tratamento e<br />

<strong>de</strong>stino final <strong>de</strong> resíduos sólidos com as atuais formas <strong>de</strong> arrecadação <strong>de</strong> impostos?<br />

Planos <strong>de</strong> Gestão <strong>de</strong> Resíduos<br />

O plano <strong>de</strong> gestão integrada <strong>de</strong> resíduos sólidos é um instrumento básico para conceber,<br />

implementar e administrar sistemas <strong>de</strong> limpeza pública, contemplando os aspectos operacionais,<br />

legislação, administrativos, fiscalização e controle, financeiros, informação e comunicação, inserção<br />

social dos catadores e educação ambiental (MONTEIRO, 2001).<br />

O Brasil conta com o Programa <strong>de</strong> Gerenciamento Integrado <strong>de</strong> Resíduos Sólidos Urbanos<br />

(PGIRSU), sendo pioneiro na América do Sul. Esse programa possui como objetivos: a organização<br />

1011


dos catadores visando à emancipação econômica <strong>de</strong>sses agentes; a ampliação dos serviços, com<br />

inclusão social e sustentabilida<strong>de</strong> dos empreendimentos <strong>de</strong> limpeza urbana; redução, reutilização e<br />

reciclagem <strong>de</strong> resíduos e erradicação dos lixões (CARVALHO; LOURENZANI, 2006).<br />

A lei n o 12.305/2010 obriga a elaboração <strong>de</strong> um plano nacional com horizonte <strong>de</strong> duas<br />

décadas, atualizado a cada quatro anos, sob a coor<strong>de</strong>nação do Ministério do Meio Ambiente. O<br />

trabalho, previsto para ser executado a partir da mobilização e participação popular em audiências<br />

públicas, inclui metas para melhorar o cenário dos resíduos no país, normas para acesso a recursos<br />

fe<strong>de</strong>rais e meios <strong>de</strong> fiscalização.<br />

Depara-se, hoje, com diferentes obstáculos <strong>de</strong> diversificadas or<strong>de</strong>ns para a resolução da<br />

problemática que engloba os resíduos sólidos. Viveiros (2006) coloca que no campo econômico as<br />

principais alegações dão conta da eterna insuficiência <strong>de</strong> recursos financeiros públicos para a<br />

implantação das soluções necessárias. Na esfera técnica, as polêmicas giram em torno da relação<br />

custo/benefício das alternativas existentes para minimização, <strong>de</strong>stinação final e tratamento dos<br />

resíduos, da sua adaptação e a<strong>de</strong>quação à realida<strong>de</strong> local e da formação profissional <strong>de</strong>ficiente dos<br />

quadros do funcionalismo público.<br />

O sistema <strong>de</strong> <strong>de</strong>stinação <strong>de</strong> resíduos é um sistema complexo, com ações integradas e<br />

enca<strong>de</strong>adas. Não há solução única e nem medida isolada para lidar com os resíduos. Faz-se<br />

necessário um efetivo planejamento nesse sentido, através do qual <strong>de</strong>verão ser avaliadas as<br />

características dos resíduos sólidos, para então se <strong>de</strong>finir a conjunção mais a<strong>de</strong>quada e mais<br />

indicada para a situação local. Tais ações competem ao planejamento urbano e ambiental municipal.<br />

Lei n o 12.305/2010 – Política Nacional <strong>de</strong> Resíduos Sólidos: dificulda<strong>de</strong>s, perspectivas e<br />

tendências<br />

Os lixões, apesar <strong>de</strong> ser uma prática ina<strong>de</strong>quada, continuam sendo, formas <strong>de</strong> disposição do<br />

lixo, pois, cerca <strong>de</strong> 76% dos resíduos sólidos produzidos no Brasil são <strong>de</strong>positados em locais<br />

ina<strong>de</strong>quados, 13% para aterros controlados, 10% para aterros sanitários e ape<strong>nas</strong> 1% passa por<br />

processos <strong>de</strong> compostagem, reciclagem ou incineração (IBGE, 2002). Este fato tem gerado gran<strong>de</strong>s<br />

problemas <strong>de</strong> poluição e <strong>de</strong>gradação dos recursos naturais ainda disponíveis.<br />

Não havendo uma <strong>de</strong>stinação a<strong>de</strong>quada, os resíduos sólidos se transformam em um gran<strong>de</strong><br />

problema <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m econômica, social, sanitária e ambiental. Quanto aos aspectos econômicos, os<br />

lixões recebem uma gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> materiais que po<strong>de</strong>riam ser reutilizados ou reciclados<br />

(plástico, papel, vidro e metal), ocorrendo, portanto, <strong>de</strong>sperdício <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra, energia, recursos<br />

naturais e matéria-prima.<br />

1012


Machado (2004) afirma que a partir da década <strong>de</strong> 1970, o Governo Fe<strong>de</strong>ral disponibilizou<br />

linhas <strong>de</strong> créditos para as prefeituras através do Banco Nacional <strong>de</strong> Desenvolvimento Econômico e<br />

Social – BNDES e da Caixa Econômica Fe<strong>de</strong>ral – CEF as quais po<strong>de</strong>riam ser utilizadas na<br />

aquisição <strong>de</strong> equipamentos, implantação <strong>de</strong> usi<strong>nas</strong> <strong>de</strong> triagem e compostagem e auxílio à<br />

infraestrutura dos sistemas <strong>de</strong> limpeza. Com esses recursos, vários municípios candidataram-se a<br />

tais linhas <strong>de</strong> créditos e o tipo <strong>de</strong> recurso mais solicitado foi referente à aquisição <strong>de</strong> equipamentos<br />

industriais. Uma vez que a capacitação técnica dos gestores <strong>de</strong> limpeza urbana era mínima, vários<br />

projetos não foram condizentes com a estrutura do município tanto na sustentabilida<strong>de</strong> financeira do<br />

projeto como <strong>nas</strong> condições técnicas e administrativas numa perspectiva <strong>de</strong> longo prazo.<br />

Tais programas são mais paliativos do que preventivos, apontando claramente a falta <strong>de</strong><br />

racionalida<strong>de</strong> política com relação à gestão <strong>de</strong> resíduos sólidos municipais. No entanto, vale<br />

salientar que para a maioria dos recursos disponibilizados, inclusive por meio do FGTS através do<br />

Ministério das Cida<strong>de</strong>s, não houve <strong>de</strong>manda suficiente, talvez explicável em função da baixa<br />

capacitação técnica dos responsáveis pelo gerenciamento dos resíduos municipais em apresentarem<br />

projetos (BORZINO, 2005), ou então, pela dificulda<strong>de</strong> existente com relação à captação <strong>de</strong> recursos<br />

para financiamento <strong>de</strong> projetos. Esta questão po<strong>de</strong> também estar relacionada com a falta <strong>de</strong> suporte<br />

técnico na elaboração <strong>de</strong> projetos, pois segundo Machado et al. (2004), na natureza legal na busca<br />

<strong>de</strong> captação <strong>de</strong> recursos, gran<strong>de</strong> parte dos municípios não consegue captar recursos na esfera<br />

fe<strong>de</strong>ral, por estarem inadimplentes e não apresentarem as certidões negativas exigidas.<br />

Outro fator que implica negativamente na gestão <strong>de</strong> resíduos sólidos municipais refere-se a<br />

gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> municípios <strong>de</strong> pequeno porte que não cobram nenhum tipo <strong>de</strong> taxa para a<br />

cobertura <strong>de</strong>sses serviços. Isto implica em dificulda<strong>de</strong>s não ape<strong>nas</strong> econômico-financeiras, mas<br />

também na não garantia da prestação do serviço com qualida<strong>de</strong> para a comunida<strong>de</strong> (IBGE, 2002).<br />

Os Estados <strong>de</strong>verão elaborar seus planos <strong>de</strong> resíduos sólidos urbanos com vigência<br />

in<strong>de</strong>terminada, antevendo um horizonte <strong>de</strong> vinte anos e prevendo revisões a cada quatro. A política<br />

fornece a orientação <strong>de</strong> conteúdo, <strong>de</strong>terminando o que <strong>de</strong>ve constar do plano estadual, exigindo que<br />

o po<strong>de</strong>r público faça um diagnóstico e acompanhe os fluxos dos resíduos. Isto implicará em<br />

incentivo a reciclagem e aproveitamento, patrocinando a coleta seletiva <strong>de</strong>ntre outras medidas.<br />

Outra <strong>de</strong>terminação relevante é o comprometimento maior dos Estados em abrir espaço para a<br />

redução <strong>de</strong> resíduos, reciclagem, reutilização e outras formas sustentáveis, visando à redução dos<br />

rejeitos. A contra partida será a priorida<strong>de</strong> na obtenção <strong>de</strong> recursos da União <strong>de</strong> acordo com a<br />

regulamentação.<br />

Outro ponto forte abordado pela PNRS é a logística reversa, já existente em casos pontuais<br />

como fabricantes <strong>de</strong> pilhas e pneus quando, atribui aos responsáveis o recolhimento ou o retorno<br />

dos resíduos ou partes inservíveis do produto visando à correta <strong>de</strong>stinação ambientalmente indicada.<br />

1013


Inclui, também, o correto <strong>de</strong>scarte <strong>de</strong> embalagens, resíduos da construção civil, <strong>de</strong>ntre outros.<br />

Acordos setoriais em todas as instâncias <strong>de</strong> governo com a iniciativa privada são pontos fortes da<br />

política.<br />

A Lei n o 12.305/2010 institui que as prefeituras <strong>de</strong>vem implantar a coleta seletiva <strong>de</strong> lixo<br />

reciclável <strong>nas</strong> residências, no prazo <strong>de</strong> 4 anos, além <strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong> compostagem para resíduos<br />

orgânicos, como restos <strong>de</strong> alimentos – o que reduz a quantida<strong>de</strong> levada para os aterros, com<br />

benefícios ambientais e econômicos. As providências tomadas pelos municípios fazem parte <strong>de</strong> um<br />

novo conceito: o gerenciamento integrado do lixo, que envolve diferentes soluções, como a<br />

reciclagem e a disposição dos rejeitos em aterros que seguem critérios ambientais.<br />

Existe a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fracasso na implantação da lei se não houver comprometimento<br />

entre os entes da fe<strong>de</strong>ração, ou seja, municípios, estados e União. Ao resolver o problema do<br />

acúmulo <strong>de</strong> resíduos em locais ina<strong>de</strong>quados, como os lixões, até com o recurso a novas tecnologias,<br />

coloca-se outro problema: como aproveitar os catadores <strong>de</strong> material reciclável que, atualmente<br />

fazem da ativida<strong>de</strong> seu ganha-pão? Faz-se necessária uma solução que passe pela inserção dos<br />

catadores no processo produtivo, no caso <strong>de</strong> haver automação <strong>de</strong>sse trabalho, e que não se traduza<br />

em <strong>de</strong>semprego para uma gama <strong>de</strong> trabalhadores.<br />

Segundo o IBAM (2011) a coleta seletiva no Brasil cresceu ape<strong>nas</strong> 9,3%, nos dois últimos<br />

anos. O número <strong>de</strong> municípios que possuem o sistema <strong>de</strong> coleta no país, subiu <strong>de</strong> 405, para 443,<br />

entre 2008 e 2010, e somente sete <strong>de</strong>ssas cida<strong>de</strong>s conseguem aten<strong>de</strong>r toda a sua população.<br />

Atualmente, somente 8% dos municípios brasileiros possuem coleta seletiva, e a maior parte<br />

<strong>de</strong>les está <strong>nas</strong> regiões Sul e Su<strong>de</strong>ste. Para tornar esse sistema mais viável, principalmente para<br />

municípios pequenos, é preciso fazer consórcio entre eles para que a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> material<br />

arrecadado adquira valor comercial e gere lucro para as duas cida<strong>de</strong>s (CEMPRE, 2010).<br />

Para o setor <strong>de</strong> resíduos sólidos esta Lei em conjunto com a Política Nacional <strong>de</strong> Meio<br />

Ambiente (Lei n o 6.938/1981), a Lei <strong>de</strong> Crimes Ambientais (Lei n o 9.605/1998) e a Política <strong>de</strong><br />

Saneamento Básico (Lei n o 11.445/2007) passam a formar o arcabouço regulatório necessário para<br />

alterar a situação existente <strong>de</strong> negligência com os impactos ambientais gerados pelos resíduos. A<br />

Lei <strong>de</strong> Consórcio (Lei n o 11.107/2005) apoia quanto aos aspectos da gestão, da sustentabilida<strong>de</strong><br />

econômico-financeira, possibilitando ganhos em escala, dos sistemas municipais <strong>de</strong> resíduos sólidos<br />

<strong>de</strong> forma consorciada entre vários municípios.<br />

Aplicabilida<strong>de</strong> da Legislação Frente às Dificulda<strong>de</strong>s Municipais<br />

O Plano Nacional <strong>de</strong> Resíduos Sólidos, que estabelece a implantação <strong>de</strong> aterros sanitários até<br />

2 agosto <strong>de</strong> 2014, foi aprovado em 2010 após 20 anos <strong>de</strong> tramitação no Congresso. O Plano previa<br />

ainda que até 2 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2012, os municípios apresentassem seus planos <strong>de</strong> resíduos sólidos. A<br />

elaboração do plano municipal é um pré-requisito para receber recursos do governo fe<strong>de</strong>ral.<br />

1014


A dois anos do prazo, a instalação <strong>de</strong> aterros sanitários em todas as cida<strong>de</strong>s brasileiras ainda<br />

precisa atingir 3.371 municípios, que adotam <strong>de</strong>stinação consi<strong>de</strong>rada ina<strong>de</strong>quada para seus resíduos<br />

sólidos. Com 60,6% dos 5.565 municípios do país utilizando lixões e aterros controlados – terrenos<br />

sem condições técnicas – a tendência é que a meta estabelecida pelo Plano Nacional <strong>de</strong> Resíduos<br />

Sólidos (PNRS) seja adiada em alguns anos (CNM, 2012).<br />

Caso a média <strong>de</strong> crescimento do setor nos últimos cinco anos seja repetida, a meta só será<br />

atingida em 150 anos. A Confe<strong>de</strong>ração Nacional dos Municípios (CNM) apresentou que <strong>de</strong> 2007 a<br />

2011, o número <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s que adotaram <strong>de</strong>stinação correta para os resíduos sólidos cresceu 1,67%<br />

(0,33% ao ano em média). Em 2007, havia 2.159 municípios com aterros sanitários instalados e em<br />

2011 esse número passou para 2.194 (CNM, 2012).<br />

De acordo com o MMA (2012), 229 municípios apresentaram planos municipais ao órgão<br />

para pleitear recursos para implementá-los. Levantamento feito pela CNM (2012), aponta que <strong>de</strong><br />

3.457 municípios, ape<strong>nas</strong> 334 (9%) concluíram seus planos. Já 1.694 cida<strong>de</strong>s (49%) ainda não<br />

<strong>de</strong>ram início à elaboração dos planos. Para tais resultados os municípios justificam a inexistência <strong>de</strong><br />

equipe técnica, falta <strong>de</strong> recursos financeiros ou espera da liberação <strong>de</strong> recursos prometida pelo<br />

governo fe<strong>de</strong>ral e não repassada.<br />

Entre os municípios que ainda não começaram a elaborar política para os resíduos sólidos,<br />

221 (6,4%) <strong>de</strong>clararam não conhecer a lei. Outros 1.449 (42%) já iniciaram a elaboração dos<br />

projetos, mas ainda não os concluíram (CNM, 2012).<br />

Além do histórico e dos dados, que mostram avanço lento do setor, o prazo <strong>de</strong> quatro anos<br />

para implantar os aterros sanitários em todo o país também se mostra pequeno quando comparado<br />

com metas estabelecidas em outros países.<br />

O custo <strong>de</strong> implantação <strong>de</strong> aterros nos mais <strong>de</strong> 3 mil municípios, que precisam do serviço,<br />

custará R$ 70 bilhões, enquanto a arrecadação <strong>de</strong> todos as 5,5 mil cida<strong>de</strong>s chega a R$ 80 bilhões<br />

por ano (CNM, 2012).<br />

Na Europa, os países que compõem a União Europeia tiveram 12 anos, <strong>de</strong> 1998 a 2010 para<br />

resolver o problema, mas precisaram postergar o prazo para conseguir <strong>de</strong>stinar todo o lixo<br />

a<strong>de</strong>quadamente. Nesse contexto, o gerenciamento <strong>de</strong> resíduos sólidos passou a ser uma questão<br />

prioritária para os gestores municipais, tornando-se um <strong>de</strong>safio encontrar soluções ambientalmente<br />

sustentáveis e economicamente viáveis.<br />

Entretanto, mesmo o Brasil tendo uma das legislações ambientais mais bem elaboradas do<br />

mundo, a fiscalização para a efetivação <strong>de</strong>ssa lei é insuficiente, não sendo, portanto, tarefa fácil<br />

<strong>de</strong>finir um plano <strong>de</strong> gerenciamento integrado <strong>de</strong> resíduos sólidos <strong>de</strong>vido a fatores como: i)<br />

limitações <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m financeira; ii) <strong>de</strong>ficiência na capacitação técnica e profissional; iii)<br />

<strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong> política e administrativa; iv) <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> controle ambiental.<br />

1015


Consi<strong>de</strong>rações Finais<br />

A gestão do planejamento, no âmbito municipal, é um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio a ser vencido. Os<br />

obstáculos são <strong>de</strong> diversos tipos e vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a falta <strong>de</strong> estrutura a<strong>de</strong>quada até a escassez <strong>de</strong> recursos<br />

para promover a implementação do que foi planejado.<br />

O Planejamento Urbano, quando bem utilizado, transforma-se em um gran<strong>de</strong> aliado dos<br />

municípios para a prevenção e a solução dos problemas relacionados ao uso do território urbano, na<br />

medida em que estabelece as diretrizes que <strong>de</strong>vem ser observadas para a correta utilização do<br />

espaço. Porém, o que ocorre com a maioria dos planos formulados é o engavetamento, sem a ação<br />

do que foi elaborado, como também, a elaboração por equipe não qualificada, que prejudica o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento or<strong>de</strong>nado do município.<br />

A gestão <strong>de</strong> resíduos sólidos tem se tornado um expediente cada vez mais importante no<br />

contexto econômico da socieda<strong>de</strong> contemporânea. A complexida<strong>de</strong> existente principalmente na<br />

<strong>de</strong>stinação final dos resíduos sólidos tem causado em nosso país problemas <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m social<br />

(associados à pobreza) e ambiental (contaminação do solo, do ar e da água), com reflexos<br />

econômicos (externalida<strong>de</strong>s negativas) para a socieda<strong>de</strong> em geral.<br />

Positivamente, as soluções para os resíduos sólidos por exigirem forte participação do<br />

gerador, estão sendo concebidas consi<strong>de</strong>rando o envolvimento <strong>de</strong> todos os atores que interferem no<br />

ciclo, da geração até a <strong>de</strong>stinação, ou seja, produção/geração, distribuição/geração,<br />

consumo/geração.<br />

Embora não se tenha receita pronta para resolver os problemas dos resíduos sólidos nos<br />

municípios, em função das diferentes soluções para diferentes locais, a mistura dos ingredientes<br />

existentes, se bem utilizados: base legal, mudança <strong>de</strong> conceitos, inserção <strong>de</strong> novos e a exigência do<br />

envolvimento da socieda<strong>de</strong>, em um processo <strong>de</strong> educação ambiental, com financiamento para o<br />

setor, formarão os elementos norteadores das soluções preconizadas. A dimensão participativa ao<br />

envolver o cidadão <strong>nas</strong> <strong>de</strong>cisões que são tomadas pelo Po<strong>de</strong>r Público <strong>de</strong>ve ser uma constante nos<br />

projetos <strong>de</strong> resíduos sólidos.<br />

As cida<strong>de</strong>s brasileiras <strong>de</strong> maior porte, investem em soluções para a disposição final, porém,<br />

soluções para toneladas <strong>de</strong> resíduos diariamente gerados exigem ações que não visem ape<strong>nas</strong> o seu<br />

aterramento, mas, a exemplo do que faz a natureza, os reincorpore a um ciclo fechado, da geração à<br />

transformação.<br />

A problemática dos resíduos sólidos tem que ser analisada <strong>de</strong> maneira mais abrangente que a<br />

mera solução tecnológica, <strong>de</strong> modo geral concentrada na etapa <strong>de</strong> disposição final: é preciso<br />

também ver a montante da produção crescente <strong>de</strong> resíduos, questionando os mecanismos que levam<br />

a ela e as consequências daí advindas.<br />

1016


A administração dos resíduos sólidos urbanos e as políticas governamentais <strong>de</strong>vem<br />

vislumbrar simultaneamente todas as fases do processo, buscando reduzir sua geração e investir no<br />

processo <strong>de</strong> tratamento dos resíduos gerados que possam ser reutilizados ou aproveitados pelo<br />

sistema econômico, dispondo somente rejeitos em aterros sanitários ou alternativas tecnológicas <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>stinação <strong>de</strong> resíduos, alcançando, com isso, um sistema circular <strong>de</strong> manejo <strong>de</strong> resíduos<br />

produzidos.<br />

Referências Bibliográficas<br />

BEZZON, L. C. (Org.). Guia prático <strong>de</strong> Monografias, Dissertações Teses: elaboração e apresentação.<br />

Campi<strong>nas</strong>: Alínea, 2004.<br />

BRAGA, R.; CARVALHO, P. F. Instrumentos Urbanísticos e Gestão <strong>de</strong> Resíduos: comentários sobre sua<br />

aplicação. In: CAMPOS, J. <strong>de</strong> O.; BRAGA, R.; CARVALHO, P. F. <strong>de</strong> (Orgs.). Manejo <strong>de</strong> Resíduos:<br />

pressuposto para a gestão ambiental. Rio Claro: Laboratório <strong>de</strong> Planejamento Municipal – Deplan – IGCE<br />

UNESP, 2002.<br />

BRASIL. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (2002). Censo Demográfico<br />

2000. Rio <strong>de</strong> Janeiro, 2002. Pesquisa Nacional <strong>de</strong> Saneamento Básico 2000. Rio <strong>de</strong> Janeiro, IBGE, 2002.<br />

BRASIL. Lei Fe<strong>de</strong>ral n o 12.305, <strong>de</strong> 02 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2010. Institui a Política Nacional <strong>de</strong> Resíduos Sólidos.<br />

BRASIL. Lei n o 10.257, <strong>de</strong> 10 <strong>de</strong> jul. <strong>de</strong> 2001. Estabelece o Estatuto da Cida<strong>de</strong>. Disponível em: Diário<br />

Oficial – Seção 1 – Atos do Po<strong>de</strong>r Legislativo – Edição n o 133, <strong>de</strong> 11/07/2001.<br />

BRASIL. República Fe<strong>de</strong>rativa. Constituição Fe<strong>de</strong>ral, <strong>de</strong> 05 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1988.<br />

CEMPRE - Compromisso Empresarial para a reciclagem. Pesquisa Ciclosoft. São Paulo. 2010. Disponível<br />

em: . Acesso em: 15 jul. 2012.<br />

CNM - Confe<strong>de</strong>ração Nacional dos Municípios - Confe<strong>de</strong>ração Nacional dos Municípios – Brasília: CNM,<br />

2012.<br />

CNM - Confe<strong>de</strong>ração Nacional dos Municípios - Desenvolvimento Urbano: gestão territorial responsável.<br />

Confe<strong>de</strong>ração Nacional dos Municípios. – Brasília: CNM, 2008.<br />

DALTRO FILHO, J; OLIVEIRA, L. M. S. <strong>de</strong>. Gestão integrada <strong>de</strong> resíduos sólidos: alternativa sustentável<br />

para Telha e Cedro <strong>de</strong> São João, Sergipe. In: Sustentabilida<strong>de</strong>, Cidadania e Estratégias Ambientais - a<br />

experiência sergipana. São Cristóvão: EDUFS, 2008, pp. 111-134.<br />

MACHADO, C. J. S.; FERREIRA, J. A.; RITTER, E. A poluição das Águas Doces: integrando a gestão dos<br />

resíduos sólidos na gestão dos recursos hídricos. In: MACHADO, C. J. S. (Org.). Gestão <strong>de</strong> Águas Doces.<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro: Interciência, 2004.<br />

MONTEIRO, J. H. P. Manual <strong>de</strong> Gerenciamento <strong>de</strong> Resíduos Sólidos. Rio <strong>de</strong> Janeiro: IBAM, 2001.<br />

OLIVEIRA, I. C. P. et al. Is it Possible to Plan a Self-Sustanable City?. In: Inter-University Consortium for<br />

International Social Development, 14. Anais... Recife, 2005.<br />

1017


PASSOS, L. Planejamento Urbano e Participação da População: labirinto <strong>de</strong>mocrático. Brasília.206 f.Tese<br />

(Doutorado – Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Planejamento Urbano. 2010. Área <strong>de</strong> concentração:<br />

Planejamento Urbano) – Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Arquitetura e Urbanismo da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília.<br />

SILVA, J. A. Análise da <strong>Qualida<strong>de</strong></strong> da Coleta e Disposição Final dos Resíduos Sólidos Domiciliares da<br />

Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ivaiporã – Estado do Paraná. Dissertação (Mestrado). Florianópolis/SC. 115f. Universida<strong>de</strong><br />

Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina, 2000.<br />

SILVEIRA, J. A. R. da. Desor<strong>de</strong>m na Cida<strong>de</strong>? Controvérsias sobre o “caos urbano” e das possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

administrá-lo. Minha Cida<strong>de</strong>, São Paulo, 12.134. Disponível em:<br />

. Acesso em: 03. Jun. 2012.<br />

VILLAÇA, F. Dilemas do plano diretor. In: O Município no Século XXI: cenários e perspectivas. São Paulo:<br />

Fundação Prefeito Faria Lima — Cepam, 2000. Edição Especial.<br />

VILLAÇA, F. Reflexões sobre as Cida<strong>de</strong>s Brasileiras. São Paulo: Studio Nobel, 2012.<br />

VILLAÇA, F. Uma contribuição para a história do planejamento urbano no Brasil. In: O Processo <strong>de</strong><br />

Urbanização no Brasil: falas e façanhas. São Paulo: Editora Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, 1999, p.171.<br />

VIVEIROS, M. V. Coleta Seletiva Solidária: <strong>de</strong>safios no caminho da retórica à prática do <strong>de</strong>senvolvimento<br />

sustentável. 2000, São Paulo-SP. 154p. Dissertação (Mestrado). Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo.<br />

1018


ANÁLISE SOCIOAMBIENTAL DOS IMPACTOS<br />

PROVOCADOS PELO PROJETO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL ―MATA VIVA DO BELÉM‖<br />

Resumo<br />

NA COMUNIDADE DE SÃO SEBASTIÃO DO BELÉM - ES,<br />

A PARTIR DA PERCEPÇÃO DOS SEUS SUJEITOS<br />

Charles Moura NETTO (FARESE)<br />

cmnetto@gmail.com 114<br />

Sandra Maria GUISSO (UFES)<br />

sguisso@gmail.com 115<br />

O presente estudo analisa os impactos ambientais provocados pelo Projeto <strong>de</strong> Educação Ambiental<br />

―Mata Viva do Belém‖ na comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião do Belém em Santa Maria <strong>de</strong> Jetibá-ES, a<br />

partir da percepção dos seus sujeitos. Os pressupostos teóricos assumidos estão relacionados a partir<br />

da perspectiva da Educação Ambiental crítica e transformadora que teve como uma gran<strong>de</strong><br />

referência o educador Paulo Freire. O papel da educação transformadora se realiza quando a<br />

interferência na percepção e na consciência e em sua estrutura promove, nos sujeitos, uma vigorosa<br />

ativida<strong>de</strong> intelectual (formação <strong>de</strong> conceitos) entrelaçada aos conteúdos afetivos (emoções) e sócio-<br />

políticos (novas habilida<strong>de</strong>s para atuar no contexto socioambiental). Adotou-se como metodologia a<br />

pesquisa exploratória. Este estudo foi realizado com 35 alunos <strong>de</strong> 14 a 16 anos, pertencentes ao 9°<br />

ano do ensino fundamental e 1° e 2° anos do ensino médio, a 4 professores do ensino médio, a 4<br />

funcionários da escola e 10 famílias do entorno da escola estadual <strong>de</strong> ensino fundamental e médio<br />

―Prof. Hermann Berger‖ . Os dados foram coletados por meio da observação do pesquisador junto<br />

às ativida<strong>de</strong>s do programa, tanto na escola quanto na comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> confissão luterana <strong>de</strong> Belém<br />

quando da realização <strong>de</strong> ações aos participantes, e também pelo uso <strong>de</strong> entrevistas e formulários<br />

semiestruturados. Os resultados encontrados <strong>de</strong>monstram que o Projeto <strong>de</strong> Educação Ambiental<br />

―Mata Viva do Belém‖ foi capaz <strong>de</strong> alterar as análises da percepção da comunida<strong>de</strong> em relação às<br />

questões socioambientais, lhes proporcionando autonomia na tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões sem a necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> recorrer a agentes externos.<br />

Palavras-Chave: Projeto ―Mata Viva do Belém‖; Comunida<strong>de</strong>-Escola; Educação ambiental;<br />

Percepção; Impactos socioambientais.<br />

114 Professor Mestre da Faculda<strong>de</strong> da Região Serrana – FARESE.<br />

115 Doutoranda do Programa <strong>de</strong> Pós Graduação em Psicologia da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Espírito Santo – UFES.<br />

1019


Abstract<br />

The present study examines the environmental impacts caused by the Environmental education<br />

project "Mata Viva do Belém" in the community of São Sebastião do Belém in Santa Maria <strong>de</strong><br />

Jetibá-ES, from the perception of its subject. The theoretical assumptions ma<strong>de</strong> are related from the<br />

perspective of critical and transformative environmental education which took as a great educator<br />

Paulo Freire reference. The role of transforming education takes place when the interference in<br />

perception and consciousness and its structure promotes, in the subject, a vigorous intellectual<br />

activity (concepts) are interlaced to affective content (emotions) and socio-political (new skills to<br />

work in the socioenvironmental context). Adopted as the exploratory research methodology. This<br />

study was conducted with 35 stu<strong>de</strong>nts from 14 to 16 years, belonging to 9° year of elementary<br />

school and 1° and 2° years of high school, 4 school teachers, school staff and 10 4 families around<br />

the State School of primary and secondary school "Prof. Hermann Berger". The data were collected<br />

through observation of the researcher with the program's activities, both in school and in the<br />

community of Lutheran confession of Bethlehem when performing actions to participants, and also<br />

through the use of interviews and semi-structured forms. The results <strong>de</strong>monstrate that the<br />

Environmental education project "Mata Viva of Bethlehem" was able to change the analysis of<br />

perception of the community in relation to social and environmental issues, providing them with<br />

autonomy in <strong>de</strong>cision-making without the need to resort to external agents.<br />

Keywords: Project ―Mata Viva do Belém‖; Community-School; Environmental education;<br />

Perception; -Environmental impacts.<br />

Introdução<br />

Os problemas ambientais ficaram mais em evidência a partir da década <strong>de</strong> 1960 e se<br />

tornaram conteúdo programático das escolas na década <strong>de</strong> 1990, a partir da homologação da Lei <strong>de</strong><br />

Diretrizes e Bases da Educação Básica <strong>de</strong> 1996 (BRASIL, 1996) que estipula em seu artigo 22 que<br />

―A educação básica tem por finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver o educando, assegurar-lhe formação comum<br />

indispensável para o exercício da cidadania [...]‖. Leff ( 2001) relata a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> resolver os<br />

crescentes e complexos problemas ambientais e reverter suas causas sem que ocorra uma mudança<br />

sistemática nos sistemas <strong>de</strong> conhecimento, dos valores e dos comportamentos baseados no aspecto<br />

econômico do <strong>de</strong>senvolvimento vigente.<br />

Baseando-se em novas tendências, no Brasil várias propostas e projetos <strong>de</strong> Educação<br />

Ambiental foram formulados na educação formal e não formal na tentativa <strong>de</strong> possibilitar uma<br />

mudança <strong>de</strong> valores e atitu<strong>de</strong>s, contribuindo para a formação <strong>de</strong> um sujeito ecológico<br />

1020


(CARVALHO, 2004). Muitas <strong>de</strong>stas propostas <strong>de</strong> educação ambiental nos últimos anos se<br />

caracterizam por uma hegemonia <strong>de</strong> perspectivas e práticas educacionais voltadas a visões limitadas<br />

sobre o meio ambiente e sobre a relação entre o homem e seu meio natural (GUIMARÃES, 2004;<br />

LOUREIRO, 2004).<br />

As críticas à Educação Ambiental se voltam para o seu caráter convencional, aspectos<br />

técnicos e reducionistas (LAYRARGUES, 2003; LOUREIRO 2004), sua distância em relação a<br />

discussão dos fundamentos políticos e teóricos da mesma, assim como a sua prática através <strong>de</strong><br />

iniciativas <strong>de</strong> caráter aplicativo ou instrumental, afastando-a <strong>de</strong> uma abordagem socioambiental.<br />

A Educação Ambiental (EA) é um processo educativo e social que tem por finalida<strong>de</strong> a<br />

construção <strong>de</strong> valores, conceitos, habilida<strong>de</strong>s e atitu<strong>de</strong>s que possibilitem o entendimento da<br />

realida<strong>de</strong> da vida e a atuação consciente e responsável <strong>de</strong> atores sociais individuais e coletivos no<br />

ambiente, tendo em vista a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida individual e coletiva do planeta (LOUREIRO, 2002).<br />

A partir <strong>de</strong>stas explanações começaram a aparecer algumas indagações: Estão os projetos <strong>de</strong><br />

Educação Ambiental alcançando seus objetivos? Como avaliar a aplicabilida<strong>de</strong> dos projetos <strong>de</strong><br />

Educação Ambiental? Alba e Gaudiano (1997, 27) consi<strong>de</strong>ram que a avaliação precisa ser um<br />

processo contínuo e ocorrer em todas as fases do <strong>de</strong>senvolvimento das ativida<strong>de</strong>s: ―Está associada<br />

com todo o processo educativo. Não a concebemos só como uma ativida<strong>de</strong> final, nem diagnóstica,<br />

senão como um processo estreitamente articulado com o fazer educativo.‖ Fazendo um paralelo<br />

com a Educação Ambiental, Guimarães (1995) acredita ser importante realizar uma avaliação no<br />

<strong>de</strong>correr <strong>de</strong> todo o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> um projeto <strong>de</strong> Educação Ambiental.<br />

Respon<strong>de</strong>r qual impacto um projeto <strong>de</strong> educação ambiental ocasiona, a partir <strong>de</strong> uma<br />

experiência que mostra o fazer ambiental, envolvendo uma comunida<strong>de</strong> numa cida<strong>de</strong> do interior e<br />

suas interrelações foi a intenção <strong>de</strong>sta pesquisa que se baseou na análise dos impactos ocasionados<br />

na comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>de</strong> Belém. A seguir serão apresentados dados das ações dos cinco<br />

anos <strong>de</strong> implantação e intervenção do projeto <strong>de</strong> Educação Ambiental ―MATA VIVA DO<br />

BELÉM‖.<br />

Neste período, o projeto teve visibilida<strong>de</strong> regional e estadual, com reportagens e registros<br />

pela mídia local, estadual e pela Secretaria Estadual <strong>de</strong> Educação do Espírito Santo. Alguns<br />

questionamentos permearam a pesquisa, a saber: É possível i<strong>de</strong>ntificar mudanças <strong>nas</strong> concepções<br />

dos problemas ambientais dos sujeitos envolvidos no projeto? Quais os impactos diretos <strong>de</strong>ste<br />

projeto <strong>de</strong> Educação Ambiental na comunida<strong>de</strong>? Houve mudanças <strong>de</strong> hábitos e comportamento nos<br />

indivíduos com relação ao meio ambiente?<br />

O presente estudo po<strong>de</strong> ser classificado como sendo uma pesquisa qualitativa exploratória<br />

que utilizou como meios <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> dados a entrevista e a aplicação <strong>de</strong> formulários para conhecer<br />

as diversas manifestações do processo <strong>de</strong> construção do Projeto Mata Viva do Belém e dos atores<br />

1021


envolvidos. Foi ainda utilizada a análise <strong>de</strong> conteúdo para analisar os dados obtidos. Foram<br />

entrevistados a diretora da escola da EEEF Profº Hermann Berger, o pastor da Igreja <strong>de</strong> Confissão<br />

Luterana ―São Sebastião do Belém e a coor<strong>de</strong>nadora do Projeto Mata Viva do Belém. Foram<br />

aplicados formulários a 35 alunos <strong>de</strong> 14 a 16 anos , pertencentes ao 9° ano do ensino fundamental e<br />

1° e 2° anos do ensino médio, 4 professores do ensino médio, 4 funcionários e 10 famílias do<br />

entorno da Escola estadual <strong>de</strong> ensino fundamental e médio Prof. Hermann Berger .<br />

A Comunida<strong>de</strong> e a Introdução do Projeto Mata Viva do Belém<br />

Para compreen<strong>de</strong>r como se constitui uma comunida<strong>de</strong> e seus movimentos próprios <strong>de</strong><br />

resolução <strong>de</strong> problemas locais é importante que sejam apresentadas algumas <strong>de</strong> suas características,<br />

para como diz Augé (2008) enten<strong>de</strong>rmos <strong>de</strong> que lugar se fala. O município <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Jetibá<br />

está localizado na região serrana do Estado do Espírito Santo (figura 1), possui uma área <strong>de</strong> 734<br />

km2. Distante 80 km da capital, Vitória, possui aproximadamente 34.000 habitantes, sendo 80%<br />

população <strong>de</strong> origem pomerana. Segundo o Atlas <strong>de</strong> Desenvolvimento Humano (PNUD, 2000),<br />

Santa Maria <strong>de</strong> Jetibá tem um índice <strong>de</strong> Desenvolvimento Humano (IDH) <strong>de</strong> 0,724 (inferior a média<br />

estadual <strong>de</strong> 0,735) e uma distribuição populacional <strong>de</strong> 17,73% na zona urbana e 82,27% zona rural.<br />

Figura 1 - Mapa do estado Espírito Santo, localização do município <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Jetibá e a localida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São<br />

Sebastião do Belém.<br />

1022


A característica regional <strong>de</strong> predominância <strong>de</strong> peque<strong>nas</strong> proprieda<strong>de</strong>s rurais reforça a<br />

ocorrência <strong>de</strong> <strong>de</strong>vastação da mata nativa, pela necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ampliação das áreas para o cultivo. A<br />

cobertura vegetal local é a Mata Atlântica <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong>, que se encontra em intenso processo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>gradação. Os fragmentos <strong>de</strong> florestas da região estão isolados por áreas <strong>de</strong> pasto, agricultura e<br />

re<strong>de</strong>s elétricas.<br />

Apesar do contexto <strong>de</strong> <strong>de</strong>vastação florestal, a região apresenta ainda uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

espécies vegetais e animais, sendo que algumas <strong>de</strong>ssas espécies estão ameaçadas <strong>de</strong> extinção como<br />

Callicebus personatus (sauá), Bradypus torquatus (preguiça <strong>de</strong> coleira), Puma concolar<br />

capricorniensis (sussuarana) e Brachyteles arachnoi<strong>de</strong>s ( muriqui) (BRASIL, 2003).<br />

Esta comunida<strong>de</strong> também possui peque<strong>nas</strong> proprieda<strong>de</strong>s rurais, sendo a agricultura familiar<br />

sua principal forma <strong>de</strong> renda. São Sebastião do Belém é uma comunida<strong>de</strong> que se caracteriza pela<br />

forte participação em assuntos <strong>de</strong> interesse coletivo, que têm a Igreja <strong>de</strong> Confissão Luterana <strong>de</strong> São<br />

Sebastião <strong>de</strong> Belém e a Escola Estadual Prof. Hermann Berger como fóruns organizadores <strong>de</strong>stes<br />

<strong>de</strong>bates.<br />

Demonstra esta postura coletiva o fato da Escola Estadual Prof. Hermann Berger ter criado,<br />

por iniciativa própria, o projeto <strong>de</strong> Educação Ambiental intitulado ―Mata Viva do Belém‖,<br />

envolvendo a comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>de</strong> Belém, <strong>nas</strong> discussões sobre as questões regionais e<br />

globais, aten<strong>de</strong>ndo, <strong>de</strong>sta forma, ao princípio legal (BRASIL, 1996) que confere às escolas o papel<br />

<strong>de</strong> sensibilização e orientação.<br />

O Projeto ―Mata viva do Belém! foi fundado dia 1º <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2005 na escola pública<br />

estadual <strong>de</strong> Ensino Fundamental e Médio ―Hermann Berger‖ e teve como i<strong>de</strong>alizadores a direção e<br />

os professores da escola, baseando-se nos princípios da conferência <strong>de</strong> Tbilisi (UNESCO, 1997)<br />

que recomenda que a Educação Ambiental <strong>de</strong>ve ser um processo continuo e permanente, que <strong>de</strong>ve<br />

se inserir na educação formal e não formal e <strong>de</strong>spertar o senso crítico para a complexida<strong>de</strong> dos<br />

problemas ambientais e suas possíveis resoluções. A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste projeto ficou mais evi<strong>de</strong>nte<br />

<strong>de</strong>vido ao <strong>de</strong>sconhecimento da comunida<strong>de</strong> do entorno escolar a respeito da situação atual da Mata<br />

Atlântica local e da espécie-ban<strong>de</strong>ira, o muriqui-do-norte – o maior macaco das Américas e uma das<br />

25 espécies <strong>de</strong> macacos mais ameaçados no mundo – presente nos fragmentos florestais ao redor da<br />

escola. Foi acordado que a escola seria o agente que iria atuar sensibilizando e difundindo o<br />

conhecimento científico na comunida<strong>de</strong>, para que todos se sentissem motivados a realizar ações<br />

concretas para conservar a flora e fauna. A necessida<strong>de</strong> da criação <strong>de</strong>ste projeto se justificou, ainda,<br />

porque a escola se localiza em zona rural e conta com mais <strong>de</strong> 90 por cento dos alunos oriundos <strong>de</strong><br />

zona rural e que possuem uma forte ligação com a natureza.<br />

Primeiramente foi aplicado um questionário pela diretora da escola para diagnosticar o<br />

conhecimento prévio tanto <strong>de</strong> alunos, quanto dos funcionários em relação a temáticas ambientais<br />

1023


locais. Os resultados confirmaram as expectativas iniciais <strong>de</strong> precário nível <strong>de</strong> conhecimento sobre<br />

a <strong>de</strong>gradação do meio ambiente, sua i<strong>de</strong>ntificação, as possíveis causas e consequências, bem como<br />

das relações do homem, da socieda<strong>de</strong> com o meio ambiente. A partir <strong>de</strong>sta verificação, foram<br />

realizadas semanalmente, durante dois meses reuniões <strong>de</strong> planejamento e construção do plano <strong>de</strong><br />

ações do projeto. Na verificação dos questionários ficou também evi<strong>de</strong>nte a falta <strong>de</strong> preparo técnico<br />

da direção da escola e dos docentes em trabalhar com ações estritamente técnicas relacionadas ao<br />

meio ambiente. Sendo assim, a coor<strong>de</strong>nação do projeto optou em procurar possíveis parceiros para<br />

trabalharem juntos nesta construção do saber. Este processo <strong>de</strong> parceira <strong>de</strong>mandou tempo e<br />

persistência e foi construído efetivamente ao longo <strong>de</strong> três anos <strong>de</strong> reuniões on<strong>de</strong> foram feitos<br />

contatos com as seguintes instituições: Projeto Muriqui - IPEMA (Instituto <strong>de</strong> Pesquisas da Mata<br />

Atlântica), INCAPER (Instituto Capixaba <strong>de</strong> Produtores Rurais), Secretaria Municipal <strong>de</strong> Meio<br />

Ambiente <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Jetibá, Secretaria Municipal <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Jetibá e<br />

Polícia Ambiental do Estado do Espirito Santo. Foram feitos, a princípio, contatos telefônicos e<br />

posteriormente foram realizadas reuniões entre os diversos parceiros e a coor<strong>de</strong>nação do projeto<br />

para apresentar o plano <strong>de</strong> ação do projeto Mata Viva do Belém. Foram discutidos a problemática,<br />

os planejamentos, o cronograma <strong>de</strong> ações, as competências e as possíveis parcerias e suas atuações.<br />

Este processo aconteceu a partir <strong>de</strong> 2005 e se atualiza <strong>de</strong> forma dinâmica e presente.<br />

A princípio, o maior problema enfrentado pelo Projeto Mata Viva do Belém foi o<br />

convencimento <strong>de</strong> alguns estudantes, funcionários, familiares e integrantes da socieda<strong>de</strong> do entorno<br />

da escola <strong>de</strong> se envolverem com o projeto, pois a maioria da população brasileira tem consciência<br />

da importância da preservação <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> coberturas vegetais para preservação da flora e fauna,<br />

mas a participação ativa dos indivíduos ainda é uma situação difícil <strong>de</strong> alcançar. Este processo <strong>de</strong><br />

conscientização e fraturas <strong>de</strong> paradigmas é lento e trabalhoso, necessitando <strong>de</strong> muita persistência,<br />

didática, estratégia e planejamento. A estratégia adotada foi o trabalho interno da escola com a<br />

informação e a formação <strong>de</strong> sujeitos ecológicos com visão <strong>de</strong> um meio ambiente na sua totalida<strong>de</strong><br />

que integrasse fauna, flora, socieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>senvolvimento e suas relações. Este processo é <strong>de</strong><br />

permanente formação o que obrigatoriamente passa pela prática escolar <strong>de</strong> uma Educação<br />

Ambiental, que proporcione o diálogo entre os vários saberes da educação e o empo<strong>de</strong>ramento do<br />

indivíduo com o viés ambiental.<br />

Com a implantação dos cursos e ofici<strong>nas</strong> oferecidos aos alunos, professores, funcionários e a<br />

comunida<strong>de</strong> do entorno da escola que a<strong>de</strong>riram ao projeto <strong>de</strong> educação ambiental ―Mata Viva do<br />

Belém‖ e o planejamento das ações a partir das i<strong>de</strong>ntificações dos principais problemas ambientais,<br />

a a<strong>de</strong>são aconteceu <strong>de</strong> forma natural e espontânea, mas não sem antes enten<strong>de</strong>r que um projeto <strong>de</strong><br />

Educação Ambiental, necessariamente precisa envolver indireta e diretamente os vários grupos<br />

sociais que formam aquela socieda<strong>de</strong>. A partir <strong>de</strong>ste entendimento, a Igreja <strong>de</strong> Confissão Luterana<br />

1024


―São Sebastião do Belém‖ foi convidada a participar do projeto como instituição formadora <strong>de</strong><br />

opinião, <strong>de</strong> valores morais e éticos da socieda<strong>de</strong> local e que possibilitou dialogar principalmente<br />

com moradores que não possuíam filhos ou parentes no ambiente escolar. A partir <strong>de</strong>sta a<strong>de</strong>são aos<br />

cursos, as palestras e reuniões <strong>de</strong> planejamento e <strong>de</strong> avaliações aconteceram tanto na Igreja <strong>de</strong><br />

Confissão Luterana <strong>de</strong> São Sebastião <strong>de</strong> Belém quanto na Escola Estadual Profº Hermann Berger<br />

(figura 2) permitindo uma maior integração <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias e <strong>de</strong> ações dos vários grupos envolvidos no<br />

projeto.<br />

Fig. 2 - Igreja <strong>de</strong> Confissão Luterana <strong>de</strong> São Sebastião do Belém<br />

Nos cinco anos <strong>de</strong> atuação do Projeto ―Mata Viva do Belém‖ várias estratégias foram<br />

utilizadas para alcançar as metas e os objetivos do projeto e se caracterizam pela forte atuação da<br />

comunida<strong>de</strong> local em ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas, tanto na região <strong>de</strong> São Sebastião do Belém, como<br />

em outras partes do município e do estado. As estratégias utilizadas tiveram como primícias a<br />

gnoses e a práxis. Estas ativida<strong>de</strong>s foram resultado do planejamento dos parceiros e da coor<strong>de</strong>nação<br />

do Projeto ―Mata Viva do Belém‖, a partir dos três grupos <strong>de</strong> trabalho (Informação e<br />

Conscientização, Capacitação e Formação e Ação e Multiplicação) que atuaram na formação e na<br />

ação dos indivíduos no projeto <strong>de</strong> Educação Ambiental e culminaram com resultados práticos<br />

expressivos, a saber:<br />

Desenvolvimento <strong>de</strong> artesanato pela comunida<strong>de</strong> resultando em uma opção <strong>de</strong> renda<br />

adicional à algumas famílias;<br />

1025


Participação na Feira Científico-Cultural Estadual em 2006, 2007 e 2008 proporcionando<br />

aos discentes a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atuarem como educadores ambientais na explanação do<br />

Projeto ―Mata Viva do Belém‖ a outras escolas do estado.<br />

Participação na Feira do Ver<strong>de</strong> em Vitória nos anos <strong>de</strong> 2007 e 2009 oportunizando aos<br />

integrantes do projeto (alunos, professores, funcionários e moradores do entorno) a<br />

divulgação do projeto (proposta, objetivos, metas e resultados) a socieda<strong>de</strong> capixaba.<br />

Projeto escolhido pela Secretaria Estadual <strong>de</strong> Educação (SEDU) como um dos cinco<br />

melhores em Educação Ambiental <strong>de</strong>senvolvido <strong>nas</strong> Escolas Estaduais no ano <strong>de</strong> 2008. Essa<br />

escolha proporcionou uma visibilida<strong>de</strong> do projeto em ambiente escolar estadual.<br />

Projeto selecionado <strong>de</strong>ntre as 90 melhores experiências do Prêmio INOVES 2008 e 2009,<br />

pela secretaria <strong>de</strong> estado <strong>de</strong> recursos humanos. Esta seleção divulgou o projeto <strong>de</strong> Educação<br />

Ambiental em setores governamentais e não governamentais.<br />

Visitação <strong>de</strong> Escolas e outros órgãos como ―Projeto <strong>de</strong> Referência‖, a partir dos<br />

reconhecimentos a escola e o projeto passaram a receber visitas <strong>de</strong> público interno e externo<br />

do município, sendo reconhecido pela secretaria <strong>de</strong> turismo <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Jetibá, em<br />

2009 como um ―Circuito <strong>de</strong> Turismo Pedagógico e Científico‖.<br />

Criação <strong>de</strong> comércio local intitulado ―Broudhuss‖ que comercializa produtos da culinária<br />

pomerana resultando em uma opção <strong>de</strong> renda econômica adicional á algumas famílias.<br />

Formação do Clube ―Amigos do Projeto Mata Viva do Belém‖, grupo formado com o<br />

objetivo <strong>de</strong> captar a<strong>de</strong>ptos da causa ambiental e que possam contribuir com qualquer<br />

iniciativa.<br />

Criação da Horta Orgânica, Compostagem e Minhocário na Escola que serve para fornecer<br />

substratos tanto para a alimentação do lanche da escola, como para suprir as necessida<strong>de</strong>s do<br />

viveiro <strong>de</strong> mudas <strong>de</strong> árvores nativas da mata atlântica.<br />

Criação <strong>de</strong> uma logomarca (figura 3) do Projeto Mata Viva do Belém, como forma <strong>de</strong><br />

institucionalizar o marketing do projeto.<br />

1026


Figura 3 - Logomarca do Projeto Mata Viva do Belém<br />

Criação do Viveiro <strong>de</strong> mudas <strong>de</strong> árvores nativas, a partir dos reconhecimentos e resgate das<br />

árvores da Mata Atlântica <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong> como etapa do processo <strong>de</strong> reflorestamento das áreas<br />

<strong>de</strong>gradadas no entorno da escola.<br />

Adoção <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong>gradadas que foram previamente i<strong>de</strong>ntificadas com potencial <strong>de</strong><br />

reflorestamento e <strong>de</strong> ligação entre fragmentos <strong>de</strong> mata nativa que possuíam populações <strong>de</strong><br />

macacos muriquis, potencializando sua perpetuação. Esta ―adoção‖ se <strong>de</strong>u através <strong>de</strong><br />

consentimento espontâneo <strong>de</strong> proprietários rurais participantes do projeto e que a<strong>de</strong>riram a<br />

prática <strong>de</strong> reflorestamento com árvores nativas. Foi criado um documento intitulado<br />

―Contrato <strong>de</strong> Comodato <strong>de</strong> Imóvel Rural‖ no qual o proprietário ce<strong>de</strong> em regime <strong>de</strong><br />

comodato, uma área da sua proprieda<strong>de</strong> para reflorestamento por um período <strong>de</strong> 20 anos. O<br />

monitoramento da área e todas as etapas do reflorestamento são <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> do<br />

Projeto Mata do Belém. A primeira área a a<strong>de</strong>rir a este regime <strong>de</strong> comodato foi a área do<br />

proprietário rural Geraldo Saick, que se localiza no entorno da escola, distante 500 metros e<br />

possui 6,0821 hectares e se encontra <strong>de</strong>marcada entre as seguintes coor<strong>de</strong>nadas geográficas:<br />

Área 1 Latitu<strong>de</strong> 322187, Longitu<strong>de</strong> 7782979; Área 2 Latitu<strong>de</strong> 322208, Longitu<strong>de</strong> 7783139;<br />

Área 3 Latitu<strong>de</strong> 322299, Longitu<strong>de</strong> 7783109 – <strong>de</strong>marcadas por GPS. A área total<br />

disponibilizada foi subdividida em três áreas e seu reflorestamento está acontecendo<br />

respeitando o seguinte cronograma: Área 1 – inicio do reflorestamento em 2009, Área 2 –<br />

inicio do reflorestamento em 2010 e Área 3 – inicio do reflorestamento em 2011.<br />

1027


Figura 4 - Proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Geraldo Saick (6,0821 ha) e as 3 áreas que estão<br />

sendo reflorestadas em São Sebastião do Belém – Santa Maria <strong>de</strong> Jetibá - ES<br />

Reflorestamento <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong>gradadas selecionadas pelo projeto Mata Viva <strong>de</strong> Belém (figura<br />

4) com as etapas <strong>de</strong> capina do local, adubação, coroamento e manutenção. Esta ativida<strong>de</strong> é<br />

realizada pelos alunos, professores, funcionários e moradores em escala <strong>de</strong> rodízio. O<br />

reflorestamento é acompanhado por técnicos do IPEMA (Instituto <strong>de</strong> Pesquisas da Mata<br />

Atlântica).<br />

Passados cinco anos <strong>de</strong> sua implantação, o projeto ―Mata viva do Belém‖ teve uma<br />

significativa visibilida<strong>de</strong> e cobertura <strong>de</strong> suas ações por parte da mídia local e regional, além do<br />

reconhecimento da Secretaria Estadual <strong>de</strong> Educação.<br />

Consi<strong>de</strong>rações Finais<br />

A principal proposta <strong>de</strong>ste trabalho foi apresentar as várias etapas <strong>de</strong> construção do Projeto<br />

<strong>de</strong> Educação Ambiental Mata Viva do Belém e sua influência na comunida<strong>de</strong> local através da<br />

percepção <strong>de</strong> seus integrantes. À princípio, o projeto foi i<strong>de</strong>alizado como proposta <strong>de</strong> educação<br />

ambiental para a escola e conscientização dos moradores do entorno, mas passados cinco anos da<br />

implantação do projeto <strong>de</strong> educação ambiental Mata Viva do Belém é visível o alto grau <strong>de</strong><br />

comprometimento dos vários agentes envolvidos no projeto, tanto por parte da Escola (alunos,<br />

funcionários, professores e direção), quanto da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Belém (moradores do entorno,<br />

li<strong>de</strong>ranças religiosas e comunitárias), órgãos governamentais e não governamentais. Neste processo,<br />

foi possível i<strong>de</strong>ntificar que existem agentes que atuam formalmente no projeto e estão inscritos<br />

como colaboradores <strong>nas</strong> várias etapas <strong>de</strong> execução do mesmo (administrativo, logístico, <strong>de</strong><br />

1028


formação e <strong>de</strong> execução) e são compostos por alunos, funcionários, professores, pais, simpatizantes,<br />

moradores da escola e órgãos citados. Muitos agentes participam <strong>de</strong> modo não formal, oferecendo<br />

alguma forma <strong>de</strong> auxílio (administrativo, logístico, <strong>de</strong> formação e <strong>de</strong> execução) e se <strong>de</strong>claram<br />

simpatizantes da causa ambiental e são compostos principalmente por professores, moradores do<br />

entorno e munícipes <strong>de</strong> localida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Jetibá.<br />

O reconhecimento da direção da escola da importância <strong>de</strong> buscar parceiros em órgãos<br />

governamentais e não governamentais foi <strong>de</strong> suma importância para a construção do projeto<br />

planejado, com metas, objetivos e diretrizes. Este projeto conseguiu construir bases pedagógicas<br />

sólidas com gnoses e práxis, respaldados na vivência <strong>de</strong> temáticas ambientais locais. O projeto<br />

empo<strong>de</strong>rou seus participantes com cursos e ofici<strong>nas</strong> para informar, conscientizar, capacitar e<br />

multiplicar a causa ambiental através <strong>de</strong> inúmeras palestras. Essas ações possibilitam um diálogo<br />

constante entre os vários saberes da educação formal, ao menos tempo que possibilitou o acesso da<br />

informação à comunida<strong>de</strong> do entorno proporcionando uma educação ambiental não formal. A opção<br />

por um complemento <strong>de</strong> renda através <strong>de</strong> um comércio <strong>de</strong> comidas e artesanatos pomeranos foi uma<br />

opção real <strong>de</strong> frear a pressão sobre o esgotamento <strong>de</strong> reservas naturais e se constitui um exemplo <strong>de</strong><br />

sustentabilida<strong>de</strong> local.<br />

O Projeto Mata Viva do Belém aproximou para uma mesma causa comum, o bem-estar<br />

ambiental da comunida<strong>de</strong>, escola e igreja, duas instituições seculares que se aproximam e às vezes<br />

se distanciam em conhecimentos, valores e crenças. Desprovidos <strong>de</strong> pré-conceitos e dogmas, mas<br />

sabendo valer sua ―autorida<strong>de</strong> constituída‖ como instituições que o são, os lados buscaram o<br />

diálogo, a informação e formação dos seus tutelados.<br />

Os indivíduos pertencentes a comunida<strong>de</strong> são capazes <strong>de</strong> perceber a importância que o<br />

―Projeto Mata Viva do Belém‖ <strong>de</strong>sempenha na região após sua implantação e relatam <strong>de</strong> forma<br />

expressiva que ―reflorestamento‖, ―preservação ambiental‖, ―preservação das <strong>nas</strong>centes‖ e<br />

―preservação das espécies‖ são fatos observados na região e que foram motivados nos indivíduos<br />

após o seu envolvimento direto ou indireto com o projeto.<br />

Os participantes do projeto (alunos, professores, funcionários e moradores do entorno)<br />

relatam <strong>de</strong> forma significativa que ocorreram mudanças práticas com ele mesmo, no dia a dia com<br />

as questões ambientais. E mesmo com a heterogeneida<strong>de</strong> da amostra algumas respostas relatadas<br />

tiveram um alto grau <strong>de</strong> repetição como: ―conscientização ambiental‖, ―realização da<br />

compostagem‖, ―cultivo e uso <strong>de</strong> produtos orgânicos‖, ―reflorestamento‖, ―separação do lixo<br />

orgânico‖ e ―preservação ambiental‖.<br />

Estas argumentações levam a concluir que o ―Projeto Mata Viva do Belém‖ foi capaz <strong>de</strong><br />

alterar a análise da comunida<strong>de</strong> em relação às questões socioambientais, lhes proporcionando<br />

autonomia na tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões sem a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recorrer a agentes externos.<br />

1029


É importante ressaltar que a maioria das inciativas <strong>de</strong>senvolvidas não possui qualquer tipo<br />

<strong>de</strong> financiamento e que o projeto mesmo assim consegue alcançar seus objetivos com apoio <strong>de</strong><br />

parceiros, simpatizantes e comunida<strong>de</strong> local. Por outro lado, é importante ressaltar que a falta <strong>de</strong> um<br />

apoio financeiro permanente po<strong>de</strong> levar o projeto à insustentabilida<strong>de</strong> e comprometer sua<br />

continuida<strong>de</strong>.<br />

Referências Bibliográficas<br />

ALBA, A., GAUDIANO, E.G. Evaluación <strong>de</strong> programas <strong>de</strong> Educación Ambiental. México:<br />

Universida<strong>de</strong> Nacional Autônoma do México, 1997.<br />

AUGÉ, M. Não-lugares: introdução a uma antropologia da supermo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. Campi<strong>nas</strong>: Papirus,<br />

2008.<br />

BRASIL, Ministério do Meio Ambiente. I Conferência Nacional <strong>de</strong> Meio Ambiente (CNMA).<br />

Educação e Cidadania Ambiental. Brasília/DF, MMA, 2003.<br />

BRASIL, Ministério da Educação e Cultura. Lei <strong>de</strong> Diretrizes e Bases da Educação Nacional<br />

(LDBEN). Brasília/DF, MEC, 1996.<br />

CARVALHO, I.C.M. Educação Ambiental: a formação do sujeito ecológico. São Paulo: Cortez,<br />

2004.<br />

GUIMARÃES. A Formação <strong>de</strong>Eeducadores Ambientais. Campi<strong>nas</strong>: Papirus, 2004.<br />

GUIMARÃES, M. A Dimensão Ambiental na Educação. Campi<strong>nas</strong>: Papirus, 1995.<br />

LAYRARGUES, P.P. A Natureza da I<strong>de</strong>ologia e a I<strong>de</strong>ologia da Natureza: elementos para uma<br />

sociologia da educação ambiental. Campi<strong>nas</strong>: IFCH/ UNICAMP, Tese <strong>de</strong> Doutorado, 2003.<br />

LEFF, E. Epistemologia Ambiental. São Paulo: Cortez, 2001.<br />

Lima, G.F. da C. “O Discurso da Sustentabilida<strong>de</strong> e suas Implicações para a Educação”. Ambiente<br />

& Socieda<strong>de</strong>, NEPAM/UNICAMP, Campi<strong>nas</strong>: vol. 6, nº 2, jul-<strong>de</strong>z, 2003.<br />

LOUREIRO, C. F. B. Trajetória e Fundamentos da Educação Ambiental. São Paulo: Cortez, 2004.<br />

_______________ (Org.). Cidadania e Meio Ambiente. Salvador, Centro <strong>de</strong> Recursos Ambientais<br />

da Bahia, 2002.<br />

UNESCO, (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). Educação<br />

Ambiental: as gran<strong>de</strong>s orientações da Conferência <strong>de</strong> Tbilisi. Brasília: IBAMA, 1997.<br />

1030


POLÍTICAS PÚBLICAS, PROGRAMAS E AÇÕES QUE PERMEIAM A AGRICULTURA<br />

Resumo<br />

FAMILIAR NO CONTEXTO DA SUSTENTABILIDADE<br />

Christiane Fernan<strong>de</strong>s dos SANTOS (UFERSA) 116<br />

chrisfernan<strong>de</strong>s@hotmail.com<br />

Elis Regina Costa <strong>de</strong> MORAIS (UFERSA) 117<br />

elisregina@ufersa.edu.br<br />

Zil<strong>de</strong>nice Matias Gue<strong>de</strong>s MAIA (UFERSA) 118<br />

zil<strong>de</strong>nice@hotmail.com<br />

Emanoella Delfino Figueirêdo REINALDO (UERN) 119<br />

emanoella<strong>de</strong>lfino@hotmail.com<br />

O presente artigo tem como objetivo principal tecer uma análise sobre as políticas públicas,<br />

programas e ações que vem sendo implementadas na zona rural do município <strong>de</strong> Janduís- RN, com<br />

o intuito <strong>de</strong> investigar se tais intervenções contribuem para o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável dos<br />

agricultores familiares que vivem nesse espaço. A metodologia utilizada para alcançar esse fim,<br />

além <strong>de</strong> uma concisa revisão bibliográfica, consistiu na aplicação <strong>de</strong> questionários junto a<br />

agricultores, que, hora, comercializam na Feira da Economia Popular Solidária do município<br />

anteriormente citado; também, investigou-se, através <strong>de</strong> outro questionário <strong>de</strong> semelhante natureza,<br />

mas com questionamentos distintos, a Secretaria Municipal <strong>de</strong> Agricultura. Contudo, a pesquisa<br />

revelou que as políticas públicas <strong>de</strong>senvolvidas na zona rural daquele município não possuem<br />

caráter sustentável, principalmente quando são analisadas através dos aspectos sociais, ambientais e<br />

econômicos numa perspectiva interdisciplinar. É possível evi<strong>de</strong>nciar que as políticas, assim como as<br />

<strong>de</strong>mais intervenções, chegam às comunida<strong>de</strong>s rurais sem antes ter existido um momento <strong>de</strong><br />

planejamento, que propiciasse a participação ativa dos agricultores na construção e <strong>de</strong>lineamento<br />

das mesmas. Po<strong>de</strong>-se perceber, ainda, que não existe um entendimento mais sistematizado, por<br />

parte <strong>de</strong>les, sobre políticas públicas, porém asseguram que mesmo tendo um impacto positivo não<br />

tem sido suficientes para aten<strong>de</strong>r às reais necessida<strong>de</strong>s da agricultura familiar.<br />

Palavras-chave: Políticas públicas. Agricultura Familiar. Sustentabilida<strong>de</strong>.<br />

Abstract<br />

116 Mestranda em Ambiente Tecnologia e Socieda<strong>de</strong> pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Rural do Semi Árido - UFERSA<br />

117 Prof.ª Dr.ª do Departamento <strong>de</strong> Ciências Ambientais e Tecnológica - UFERSA<br />

118 Mestranda em Ambiente Tecnologia e Socieda<strong>de</strong> pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Rural do Semi Árido - UFERSA<br />

119 Mestranda em Ciências Naturais pela Universida<strong>de</strong> do Estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte - UERN<br />

1031


This paper's main objective is to weave an analysis of public policies, programs and actions that<br />

have been implemented in the rural municipality of Janduís-RN, in or<strong>de</strong>r to investigate whether<br />

such interventions contribute to the sustainable <strong>de</strong>velopment of small farmers living this space. The<br />

methodology used to achieve this end, and a concise review of the literature, consisted of<br />

questionnaires to farmers, who, time, tra<strong>de</strong> in Popular Solidarity Economy Fair of the county<br />

aforesaid; also investigated, using another questionnaire similar nature, but with different questions,<br />

the Municipal Agriculture. However, the survey revealed that public policies <strong>de</strong>veloped in a rural<br />

county that does not have character <strong>de</strong>velopment, especially when they are analyzed by the social,<br />

environmental and economic an interdisciplinary perspective. It is possible to show that policies,<br />

like other interventions, reach rural communities have existed before without a moment of planning,<br />

that would provi<strong>de</strong> the active participation of farmers in the <strong>de</strong>sign and construction of the same.<br />

One can see also that there is not a more systematic un<strong>de</strong>rstanding, on their part, on public policy,<br />

but ensure that even having a positive impact has not been sufficient to meet the real needs of the<br />

family farm.<br />

Keywords: Public policies. Family Agriculture. Sustainability.<br />

Introdução<br />

O <strong>de</strong>bate constante sobre uma proposta <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento que possa amenizar os<br />

<strong>de</strong>sgastes causados aos recursos da natureza, bem como reduzir as diferenças socioeconômicas<br />

entre classes tem ofuscado a concepção mo<strong>de</strong>rna <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, visto que, essa contribuía,<br />

significantemente, para a <strong>de</strong>gradação do meio ambiente e o agravamento das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />

colocando em risco as gerações presentes e futuras.<br />

A agricultura mo<strong>de</strong>rna, conforme afirma Garcia (2001) além <strong>de</strong> modificadora da paisagem e<br />

da estrutura organizacional e funcional dos sistemas naturais, caracteriza-se pela <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong><br />

insumos exógenos como, por exemplo, o adubo químico e o agrotóxico, po<strong>de</strong>ndo provocar danos<br />

ambientais, e também afetar a saú<strong>de</strong> humana.<br />

No que concerne à agricultura familiar é pertinente ressaltarmos que a transição do sistema<br />

agrícola convencional, ainda dominante, para um sistema agrícola ancorado nos conceitos da<br />

sustentabilida<strong>de</strong> é bastante complexa. Pois o entendimento <strong>de</strong>sse último exige uma visão integrada<br />

dos elementos que compõem o sistema <strong>de</strong> produção.<br />

Corroborando com esse entendimento Hardi (2000) citado por Bellen (2006) diz que a maior<br />

dificulda<strong>de</strong> para avaliar a sustentabilida<strong>de</strong> é o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> explorar e analisar um sistema holístico,<br />

1032


pois não requer ape<strong>nas</strong> uma percepção dos sistemas econômicos, sociais e ecológicos, por si só<br />

complexo, mas também compreen<strong>de</strong>r a interação existente entre eles.<br />

É diante <strong>de</strong>ssa gama <strong>de</strong> problemas econômicos, ambientais e sociais que se <strong>de</strong>staca a<br />

proposta <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável. Muitos são os conceitos formulados em volta <strong>de</strong> seu<br />

entendimento. No entanto, para uma primeira compreensão recorremos ao Relatório Brundtland ou<br />

Nosso Futuro Comum, no qual o conceito <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> apareceu <strong>de</strong> forma mais<br />

sistematizada, associando a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento com a valorização do meio ambiente e ao<br />

atendimento das aspirações huma<strong>nas</strong>. Logo, passa a ser entendido como uma forma <strong>de</strong><br />

―<strong>de</strong>senvolvimento que busca aten<strong>de</strong>r as necessida<strong>de</strong>s da geração presente sem comprometer a<br />

capacida<strong>de</strong> das futuras gerações <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r suas próprias necessida<strong>de</strong>s‖ (CMMAD, 1991).<br />

Compreen<strong>de</strong>r o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável no contexto da agricultura familiar exige, pois,<br />

que se consi<strong>de</strong>re, em igual grau <strong>de</strong> importância, a sua diversida<strong>de</strong> produtiva, a preservação<br />

ambiental e cultural, as tecnologias mais apropriadas ao seu meio, enfim, todos os elementos<br />

pertinentes e relacionados ao bem estar do ambiente e das pessoas. Nesse contexto, Buainaim e<br />

Romeiro (2000), afirmam que a agricultura familiar <strong>de</strong>senvolve, em geral, sistemas complexos <strong>de</strong><br />

produção, combinando várias culturas, criações animais e transformações primárias, tanto para o<br />

consumo da família como para o mercado. Afirmam, ainda que os produtores familiares<br />

apresentam, frequentemente, as seguintes características: diversificação, investimento progressivo, a<br />

combinação <strong>de</strong> subsistemas e a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adaptação.<br />

Dessa maneira, é pertinente ressaltar que o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável das comunida<strong>de</strong>s<br />

rurais do Semi-Árido Brasileiro <strong>de</strong>ve estar pautado em propostas e práticas focalizadas <strong>nas</strong><br />

diferentes dimensões sociais, econômicas, ambientais, tecnológicas e também culturais, <strong>de</strong> maneira<br />

articulada com os atores sociais e a realida<strong>de</strong> do local. Pensar a sustentabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> forma<br />

participativa pressupõe, pois, propostas e práticas que incluam a comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> forma ativa, pois<br />

isso favorece o entendimento e valorização da sua cultura.<br />

Dessa forma, os conhecimentos adquiridos no <strong>de</strong>correr do trabalho <strong>de</strong> pesquisa <strong>de</strong>verão<br />

proporcionar respostas às interrogações seguintes, <strong>de</strong>ntre outras: Como as políticas públicas, os<br />

programas e ações <strong>de</strong>senvolvidas no município <strong>de</strong> Janduís–RN contribuem para a sustentabilida<strong>de</strong><br />

das famílias rurais? Qual o entendimento, <strong>de</strong>ssas mesmas famílias, sobre a importância <strong>de</strong>ssas<br />

intervenções? Essas intervenções colaboram para o <strong>de</strong>senvolvimento local sustentável do ponto <strong>de</strong><br />

vista ambiental, social e econômico?<br />

A metodologia utilizada para alcançar esse fim consistiu, além <strong>de</strong> uma sucinta revisão<br />

bibliográfica, na aplicação <strong>de</strong> questionários composto por questões aberta e semi-abertas, com cinco<br />

agricultores, que, hora, comercializam na Feira da Economia Popular Solidária do município<br />

anteriormente citado. A escolha por estes agricultores se <strong>de</strong>u pelo fato dos mesmos constituírem um<br />

1033


espaço <strong>de</strong> comercialização solidária, facilitando assim a coleta dos dados almejados na presente<br />

pesquisa. Também, investigou-se, através <strong>de</strong> outro questionário <strong>de</strong> semelhante natureza, mas com<br />

questionamentos distintos, a Secretaria Municipal <strong>de</strong> Agricultura com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comparar as<br />

percepções <strong>de</strong>sses dois grupos distintos a cerca das intervenções no espaço rural.<br />

Dessa forma, quanto a sua forma <strong>de</strong> abordagem, a pesquisa se apresenta como qualitativa,<br />

visto que procura compreen<strong>de</strong>r fenômenos da realida<strong>de</strong> baseados em informações que não,<br />

necessariamente, precisam ser quantificadas. Na percepção <strong>de</strong> Mynayo (1994) citado por Brêtas<br />

(2000) ao <strong>de</strong>finir o aspecto qualitativo do objeto estamos consi<strong>de</strong>rando como ―sujeito <strong>de</strong> estudo:<br />

gente, em <strong>de</strong>terminada condição social, pertencente a <strong>de</strong>terminado grupo social ou classe com suas<br />

crenças, valores e significados‖ (BRÊTAS, 2000, p.83).<br />

Já com relação ao objetivo do estudo, a pesquisa se caracteriza como explicativa, pois além<br />

<strong>de</strong> buscar dados e analisá-los, busca i<strong>de</strong>ntificar suas causas ―através da interpretação possibilitada<br />

pelos métodos qualitativos‖ (SEVERINO, 2007, p.123).<br />

Quanto à natureza das fontes utilizadas para a abordagem do tema em questão, a pesquisa<br />

po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada como bibliográfica e <strong>de</strong> campo: A pesquisa bibliográfica ―é aquela que se<br />

realiza a partir <strong>de</strong> registros disponíveis, <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> pesquisas anteriores, em documentos<br />

impressos como livros, artigos, teses, etc.‖ (SEVERINO, 2007, p. 122); Na pesquisa documental<br />

utiliza-se como fonte documentos diversos como jornais, fotos, filmes, entre outros. Já, a pesquisa<br />

em campo acontece quando a coleta dos dados se faz no local on<strong>de</strong> o fenômeno a ser estudado<br />

ocorre.<br />

Vale salientar que a literatura que trata da questão das políticas públicas no contexto da<br />

agricultura familiar brasileira é relativamente escassa. Pois, a maioria dos estudos se propõe a<br />

avaliar o sucesso ou <strong>de</strong>scaso <strong>de</strong> um programa específico, principalmente aqueles voltados à<br />

produção e comercialização agrícola. É sabido que outras políticas mais voltadas para o bem-estar<br />

social como os programas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e habitação, por exemplo, também perpassam aquele meio,<br />

mesmo que <strong>de</strong> forma tímida.<br />

Assim sendo, esse estudo não é por si só um estudo pronto e acabado, mas que está à mercê<br />

<strong>de</strong> novos olhares e reflexões. No entanto, acredita-se ser <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> proveito para todos os<br />

profissionais e acadêmicos, em especial para os gestores locais, que almejam refletir sobre a<br />

sustentabilida<strong>de</strong> no contexto da agricultura familiar local.<br />

Agricultura Familiar e Sustentabilida<strong>de</strong><br />

A agricultura familiar está, intrinsecamente, relacionada ao uso dos recursos naturais. Po<strong>de</strong>-<br />

se dizer que ela <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> necessariamente <strong>de</strong>les, das tecnologias que utiliza para o seu usufruto,<br />

assim como do trabalho humano. No entanto, alguns fatores externos como as políticas públicas,<br />

1034


programas e ações impostas ao meio rural influenciam o sistema <strong>de</strong> produção, <strong>de</strong>ixando a margem,<br />

em muitas situações os saberes dos agricultores que emergem <strong>de</strong> suas próprias vivências.<br />

Muitas são as <strong>de</strong>finições em torno do entendimento sobre agricultura familiar. Antes, <strong>de</strong><br />

citar alguns autores que colaboram com tal entendimento é cabível saber que existem uma<br />

diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> grupos que ocupam ou <strong>de</strong>senvolvem suas ativida<strong>de</strong>s no espaço rural, po<strong>de</strong>ndo ser<br />

erroneamente consi<strong>de</strong>rados como agricultores familiares. Quanto a essa diversida<strong>de</strong> recorremos a<br />

Lages (2001), pois o mesmo afirma que:<br />

Em certas áreas predomina o conflito fundiário, em outras a agricultura familiar<br />

consi<strong>de</strong>rada marginal ou sub-familiar, extremamente empobrecida. Em outras<br />

encontramos os novos ―com-terra‖ em assentamentos rurais, mas ainda sem<br />

perspectivas concretas <strong>de</strong> emancipação, ou ainda os neorurais, profissionais liberais<br />

ou empresários que adquirem glebas rurais para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s<br />

produtivas ou mesmo como residência secundária ou chácaras <strong>de</strong> lazer (LAGES,<br />

2001, p. 49).<br />

É sabido que o Estado interfere, através da implantação <strong>de</strong> políticas públicas, no<br />

<strong>de</strong>senvolvimento produtivo do setor agrícola, contudo consi<strong>de</strong>ra como agricultor familiar aquele<br />

que aten<strong>de</strong> aos seguintes requisitos:<br />

Não <strong>de</strong>tenha, a qualquer título, área maior do que 4 (quatro) módulos fiscais;<br />

utilize predominantemente mão <strong>de</strong> obra da própria família <strong>nas</strong> ativida<strong>de</strong>s<br />

econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento; tenha renda familiar<br />

predominantemente originada <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s econômicas vinculadas ao próprio<br />

estabelecimento ou empreendimento; dirija seu estabelecimento ou<br />

empreendimento com sua família (Artigo 3º da Lei nº 11.326 <strong>de</strong> 2006).<br />

Wan<strong>de</strong>rley (2009, p. 156) enten<strong>de</strong> a agricultura familiar ―como aquela em que a família, ao<br />

mesmo tempo em que é proprietária dos meios <strong>de</strong> produção, assume o trabalho no estabelecimento<br />

produtivo‖. Consi<strong>de</strong>ra a agricultura camponesa tradicional como uma das formas sociais <strong>de</strong>rivada<br />

daquela, uma vez que se fundamenta na relação proprieda<strong>de</strong>, trabalho e família. Para essa autora, a<br />

autonomia econômica das socieda<strong>de</strong>s camponesas se expressa pela capacida<strong>de</strong> que esse grupo tem<br />

<strong>de</strong> prover a subsistência do grupo familiar. E essa subsistência se dá em dois níveis<br />

complementares: ―a subsistência imediata, isto é, o atendimento ás necessida<strong>de</strong>s do grupo<br />

doméstico, e a reprodução da família pelas gerações subsequentes‖ (p.157). Ainda em relação a esse<br />

tipo <strong>de</strong> autonomia que perpassa nesse grupo <strong>de</strong>staca que:<br />

Para além da garantia da sobrevivência no presente, as relações no interior da<br />

família camponesa tem como referência o horizonte das gerações, isto é, um<br />

1035


projeto para o futuro. Com efeito, um dos eixos centrais da associação camponesa<br />

entre família, produção e trabalho é a expectativa <strong>de</strong> que todo o investimento em<br />

recursos materiais e <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong>spendido na unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produção, pela geração<br />

atual, possa vir a ser transmitido à geração seguinte, garantindo a esta, as condições<br />

<strong>de</strong> sua sobrevivência (WANDERLEY, 2009, p.159).<br />

As consi<strong>de</strong>rações da autora, por mais que nos mostre uma realida<strong>de</strong> um pouco ―romântica‖<br />

quanto ás relações <strong>de</strong> trabalho, nos faz refletir sobre a sustentabilida<strong>de</strong> cultural e econômica<br />

embutida nos propósitos que se procura alcançar. Pois, ainda na visão <strong>de</strong> Wan<strong>de</strong>rley (2009, p. 160),<br />

aquelas famílias ―<strong>de</strong>finem estratégias que visam, ao mesmo tempo, assegurar a sua sobrevivência<br />

imediata e garantir a reprodução das gerações subsequentes‖.<br />

É pertinente consi<strong>de</strong>rar nesse contexto a estreita relação que o agricultor estabelece com a<br />

natureza através da efetivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu trabalho. Portanto, um estudo centrado nessa classe se torna<br />

necessário para se estabelecer caminhos para o alcance da sustentabilida<strong>de</strong> na agricultura. O fato <strong>de</strong><br />

se consi<strong>de</strong>rar importante a busca por sua sustentabilida<strong>de</strong>, nesse espaço <strong>de</strong> vida e trabalho é <strong>de</strong>vido<br />

a uma parcela significativa da população rural ―<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r primariamente da agricultura <strong>de</strong> pequena<br />

escala, orientada para a subsistência e baseada no trabalho da família‖ (CNUMAD, 2001, p. 493).<br />

Porém, a limitação ao uso <strong>de</strong> tecnologia e aos meios alternativos <strong>de</strong> produção e subsistência são<br />

características presentes na sua forma <strong>de</strong> produzir. Por essa razão, exploram <strong>de</strong> forma excessiva os<br />

recursos da natureza, sem muita preocupação aos danos ocasionados.<br />

A agricultura além <strong>de</strong> ser uma ativida<strong>de</strong> produtiva que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os seus primórdios, se<br />

encontra intrinsecamente relacionada aos recursos naturais, é uma ativida<strong>de</strong> cuja prática se encontra<br />

indissociada do trabalho humano e com as técnicas <strong>de</strong>senvolvidas para a sua execução.<br />

As famílias rurais, as populações indíge<strong>nas</strong> e suas comunida<strong>de</strong>s e os agricultores têm sido os<br />

administradores <strong>de</strong> boa parte dos recursos da Terra. Entretanto se reconhece que os agricultores<br />

<strong>de</strong>vem conservar o meio físico, pois <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong>le para sua subsistência. Ao longo dos últimos<br />

vinte anos, houve um aumento impressionante da produção agrícola agregada. Todavia, em algumas<br />

regiões, esse aumento foi superado pelo crescimento da população, a dívida internacional ou a<br />

queda dos preços dos produtos básicos. Além disso, os recursos naturais que sustentam a ativida<strong>de</strong><br />

agrícola precisam <strong>de</strong> cuidados a<strong>de</strong>quados e é cada vez maior a preocupação com a sustentabilida<strong>de</strong><br />

dos sistemas <strong>de</strong> produção agrícola (CNUMAD, 2001, p.493).<br />

Em relação ao <strong>de</strong>senvolvimento sustentável Lages (2001, p. 47) afirma que se trata <strong>de</strong> ―uma<br />

condição i<strong>de</strong>al ou <strong>de</strong>sejável, e não como um mo<strong>de</strong>lo teórico fechado, com o qual po<strong>de</strong>mos construir<br />

hipóteses <strong>de</strong> trabalho facilmente verificáveis através <strong>de</strong> experiências empíricas‖. Segundo esse<br />

1036


mesmo autor, po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rá-lo ―[...] como aquele que envolve eficácia econômica, equida<strong>de</strong>, e<br />

justiça social, além <strong>de</strong> prudência ecológica‖ (LAGES, 2001, p. 54).<br />

Dentro <strong>de</strong>ssa mesma perspectiva, compartilhamos da i<strong>de</strong>ia que <strong>de</strong>senvolvimento sustentável<br />

<strong>de</strong>ve estar relacionado às transformações ocorridas no âmbito das relações entre o homem e a<br />

natureza, procurando o equilíbrio e o bem-estar <strong>de</strong>sses dois componentes nos mais diferentes<br />

aspectos. Assim sendo, a evolução <strong>de</strong>sse conceito tem nos levado a perceber a relação intrínseca<br />

entre as variáveis econômicas, ambientais, sociais, tecnológicas e também culturais.<br />

A figura abaixo tem o propósito <strong>de</strong> facilitar o entendimento mais sistematizado e integrado<br />

do conceito <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável na agricultura familiar. De acordo com a sua leitura<br />

po<strong>de</strong>mos inferir que o alcance da sustentabilida<strong>de</strong> das diferentes dimensões ambiental, econômica,<br />

cultural, tecnológica e social, por exemplo, levaria a própria sustentabilida<strong>de</strong> das famílias rurais.<br />

Diante da Figura acima é pertinente consi<strong>de</strong>rar dois principais fatores: Primeiro, a<br />

sustentabilida<strong>de</strong> <strong>nas</strong> dimensões acima trabalhadas não <strong>de</strong>vem ser vistas <strong>de</strong> forma particularizadas,<br />

1037


mas sim <strong>de</strong> forma articulada com todas as outras dimensões propostas. Ou seja, para se pensar numa<br />

política focada no meio ambiente, é essencial que se analise a sua sustentabilida<strong>de</strong> não ape<strong>nas</strong> no<br />

âmbito ambiental, mas também se consi<strong>de</strong>re a sua sustentabilida<strong>de</strong> na condição cultural, econômica,<br />

tecnológica e social. Esse é o principal <strong>de</strong>safio da sustentabilida<strong>de</strong>, a sua visão holística. O segundo<br />

fator a ser consi<strong>de</strong>rado é a questão política, pois é a partir <strong>de</strong>la, seja no âmbito local ou global, que<br />

se faz emergir programas, ações, ou qualquer outro tipo <strong>de</strong> políticas públicas voltadas para a área<br />

social, ambiental ou tecnológica, por exemplo, direcionada ou não para o alcance <strong>de</strong> uma<br />

agricultura sustentável.<br />

As políticas públicas à luz dos atores locais<br />

Janduís possui uma área territorial <strong>de</strong> 351,1 km², situando-se na micro-região homogênea do<br />

Médio-Oeste, sertão do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte com uma população <strong>de</strong> 3.761 habitantes na zona<br />

urbana e 1.836 na zona rural, distribuída em 58 comunida<strong>de</strong>s.<br />

A se<strong>de</strong> do município localiza-se à margem do pequeno rio ―Adquinhon‖ ou das ―Croas‖. O<br />

clima é semiárido, atingindo temperaturas superiores a 35°C e chuvas, irregulares, oscilam entre<br />

janeiro a junho, com precipitação anual média é <strong>de</strong> 569,5 mm, concentrados principalmente no<br />

verão. O município tem também um dos maiores índices <strong>de</strong> insolação do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte. Está<br />

situado em área <strong>de</strong> abrangência das rochas metamórficas. Os minerais mais comuns são o calcário<br />

cristalino, mármore, chelita, rocha ornamental, entre outros. A economia é fundamentada na<br />

agricultura <strong>de</strong> subsistência com a cultura do feijão, do milho, do arroz e da batata doce, e a pecuária<br />

com criação <strong>de</strong> rebanhos bovinos, ovinos e caprinos. Essa economia se fortalece também com a<br />

1038


enda do funcionalismo público municipal e estadual, aposentados e pensionistas e com recursos<br />

oriundos <strong>de</strong> Programas do Governo Fe<strong>de</strong>ral como o Programa Bolsa Família, o Programa <strong>de</strong><br />

Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) e o Programa <strong>de</strong> Fortalecimento da Agricultura Familiar<br />

(PRONAF) (PREFEITURA MUNICIPAL DE JANDUÍS, 2002).<br />

A construção <strong>de</strong> políticas públicas para a agricultura familiar brasileira teve seu início na<br />

década <strong>de</strong> 1990, e paulatinamente, provocou mudanças <strong>de</strong> enfoque em relação ao contexto<br />

vivenciado até então. Antes da efetivação <strong>de</strong> algumas políticas <strong>de</strong>stinadas, especificamente, aos<br />

agricultores familiares ás ações do governo eram voltadas, principalmente, para a inovação<br />

científica e tecnológica, estabilização <strong>de</strong> preço, produção em gran<strong>de</strong> escala, monocultivo, entre<br />

outras.<br />

A agricultura familiar do município em questão recebe forte influência dos movimentos<br />

sociais. É comum os agricultores participarem do quadro <strong>de</strong> sócios <strong>de</strong> associações comunitárias<br />

rurais, e também do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR). Porém, quando questionados sobre<br />

a importância <strong>de</strong> participarem <strong>de</strong>sse espaço <strong>de</strong> discussão e <strong>de</strong>cisão afirmam que ―participando fica<br />

mais fácil conseguir alguma coisa‖. Já, em relação à participação <strong>de</strong>sses mesmos atores no STR,<br />

justificam a segurança <strong>de</strong> uma aposentadoria. Em nenhum momento, foi i<strong>de</strong>ntificado nos discursos<br />

dos agricultores que nesses espaços são lócus <strong>de</strong> discussão, planejamento e avaliação <strong>de</strong> projetos,<br />

programas e <strong>de</strong>mais ações <strong>de</strong>stinadas ao fortalecimento da agricultura.<br />

Parte dos agricultores que colaboraram com a pesquisa não possuem um entendimento<br />

organizado sobre o conceito <strong>de</strong> políticas públicas, outros as <strong>de</strong>finiram como ―os programas<br />

direcionados aos agricultores‖. Segundo a Secretaria <strong>de</strong> Agricultura do município, políticas públicas<br />

se <strong>de</strong>finem pelo conjunto <strong>de</strong> ações a serem <strong>de</strong>senvolvidas, objetivando beneficiar um <strong>de</strong>terminado<br />

público, as mesmas po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>adas pelos governos municipal, estadual e fe<strong>de</strong>ral. E, tem<br />

como objetivo apoiar o <strong>de</strong>senvolvimento do meio rural, através <strong>de</strong> ações e projetos que gerem<br />

emprego e renda para as famílias. No entanto, é pertinente ressaltarmos que as Políticas Públicas<br />

não <strong>de</strong>vem ser relacionadas ape<strong>nas</strong> aos po<strong>de</strong>res públicos, visto que as ONGs possuem importantes<br />

programas, projetos e ações que po<strong>de</strong>m ser caracterizados como não estatais.<br />

Entretanto, não se po<strong>de</strong> esquecer que <strong>de</strong> uma forma geral os movimentos sociais rurais têm<br />

tido um papel importante na mobilização <strong>de</strong> políticas públicas estatais, como a luta pela terra na<br />

efetivação da política <strong>de</strong> assentamentos; o movimento sindical na conquista <strong>de</strong> direitos como a<br />

previdência social rural e um crédito agrícola voltado especificamente para a agricultura familiar,<br />

entre outros exemplos (HEREDIA e CITRÃO, 2006). Nesse sentido, po<strong>de</strong>mos afirmar que os<br />

movimentos sociais rurais, tem um importante papel no <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>amento <strong>de</strong> políticas públicas,<br />

propiciando uma melhor qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida dos trabalhadores e trabalhadoras rurais.<br />

1039


De fato, a discussão sobre essa temática, na agricultura familiar é relativamente nova, pois<br />

<strong>de</strong> acordo com Silva (2003) somente na década <strong>de</strong> noventa, o Estado Brasileiro estabeleceu<br />

políticas explicitas voltadas para a agricultura familiar através do Programa <strong>de</strong> Fortalecimento da<br />

Agricultura Familiar (PRONAF). Contudo, quando questionados se as ações do po<strong>de</strong>r público local<br />

e <strong>de</strong> outras organizações têm ajudado no <strong>de</strong>senvolvimento da agricultura familiar local,os<br />

agricultores respon<strong>de</strong>m que sim, mas que muitas ações precisam ser melhoradas, pois não são<br />

suficientes para aten<strong>de</strong>r com precisão às necessida<strong>de</strong>s do agricultor.<br />

É possível evi<strong>de</strong>nciar, também, que as políticas, assim como os <strong>de</strong>mais programas e ações,<br />

<strong>de</strong>senvolvidas pelo po<strong>de</strong>r público ou pelas organizações não governamentais, ou ainda, pela<br />

parceria entre estes, chegam às comunida<strong>de</strong>s rurais sem antes ter existido um momento <strong>de</strong><br />

planejamento, que propiciasse a participação dos agricultores na construção e <strong>de</strong>lineamento das<br />

mesmas. No que concerne a Secretaria <strong>de</strong> Agricultura, o processo <strong>de</strong> avaliação é consi<strong>de</strong>rado<br />

ineficaz <strong>de</strong>vido a precarieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> recursos humanos. Po<strong>de</strong>-se perceber, ainda, que mesmo não<br />

existindo um entendimento mais sistematizado, por parte daqueles agricultores, sobre políticas<br />

públicas, asseguram que as mesmas tem um impacto positivo na vida do agricultor, apesar <strong>de</strong> não<br />

serem suficientes para aten<strong>de</strong>r às reais necessida<strong>de</strong>s da agricultura familiar.<br />

Com o intuito <strong>de</strong> obter informações a respeito da diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> programas, projetos ou<br />

ações que as famílias rurais estão sendo beneficiadas, fizemos questionamentos por área. O quadro,<br />

logo abaixo, apresenta a síntese das informações obtidas:<br />

Outras ações como banco <strong>de</strong> sementes comunitário, corte <strong>de</strong> terra; garantia safra; produção<br />

<strong>de</strong> ensilagem; construção, reforma e ampliação <strong>de</strong> barreiros e açu<strong>de</strong>s foram citadas como<br />

1040


esponsabilida<strong>de</strong> daquela secretaria municipal, como forma <strong>de</strong> incentivo ao fortalecimento da<br />

agricultura local.<br />

Consi<strong>de</strong>rações Finais<br />

Diante do exposto, po<strong>de</strong>-se inferir que as políticas públicas, programas e ações,<br />

<strong>de</strong>senvolvidas na zona rural daquele município não possuem caráter sustentável, principalmente<br />

quando são analisadas através dos aspectos sociais, ambientais e econômicos. Pois, não há uma<br />

preocupação em consi<strong>de</strong>rar, no <strong>de</strong>senvolvimento ou implantação <strong>de</strong> uma política pública na zona<br />

rural do município <strong>de</strong> Janduís, inter<strong>de</strong>pendência os diferentes elementos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m sociais,<br />

econômicos ambientais, e outros, envolvidos num <strong>de</strong>terminado processo. A causa das <strong>de</strong>ficiências<br />

nos processos <strong>de</strong> planejamento, implantação e avaliação das políticas públicas po<strong>de</strong>m estar<br />

atreladas a visão linear, imediatista e assistencialista que se sobrepõem a elas.<br />

Nessa perspectiva, e para fins <strong>de</strong> <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> agricultura sustentável, enten<strong>de</strong>ndo que se<br />

trata <strong>de</strong> termo relativamente recente, recorremos ao conceito da Food and Agriculture Organization<br />

(FAO), qual seja:<br />

O manejo e a conservação da base <strong>de</strong> recursos naturais, e a orientação da mudança<br />

tecnológica e institucional, <strong>de</strong> maneira a assegurar a obtenção e a satisfação<br />

contínua das necessida<strong>de</strong>s huma<strong>nas</strong> para as gerações presentes e futuras. Tal<br />

<strong>de</strong>senvolvimento sustentável (na agricultura, na exploração vegetal, na pesca)<br />

resulta na conservação do solo, da água e dos recursos s genéticos animais e<br />

vegetais, além <strong>de</strong> não <strong>de</strong>gradar o ambiente, ser tecnicamente apropriado,<br />

economicamente viável e socialmente aceitável. (FAO, 1991 apud EHLERS, 1998,<br />

p. 92).<br />

É diante <strong>de</strong>sse contexto que se torna necessário refletir sobre uma proposta <strong>de</strong><br />

implementação <strong>de</strong> políticas públicas, pautadas na sustentabilida<strong>de</strong>. Para tanto, é preciso reconhecer<br />

os elementos naturais, as tecnologias apropriadas, os aspectos socioeconômicos como<br />

inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes entre si. Isso implica numa percepção holística entre os diferentes elementos que<br />

<strong>de</strong>terminam a produção e o bem estar social das famílias da área rural.<br />

Referências<br />

BRASIL. Lei nº 11.326, <strong>de</strong> 24 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2006.<br />

1041


BRÊTAS, Ana Cristina Passarella. Pesquisa Qualitativa e o Método da Pesquisa Oral: aspectos<br />

conceituais. In: Acta Paul Enf, v. 13, n.3, p. 81-91, 2000. Disponível em:<br />

http://www.unifesp.br/<strong>de</strong>nf/acta/200/13-3/pdf/art.10.pdf. Acesso em: 18 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2012.<br />

BUAINAIM, A. M.; ROMEIRO, A; A Agricultura Familiar no Brasil: agricultura familiar e<br />

sistemas <strong>de</strong> produção. Projeto: UTF/BRA/051/BRA. Março <strong>de</strong> 2000. 62p. Disponível em:<br />

http://www.incra.gov.br/fao.<br />

CMMAD – Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Nosso Futuro Comum. 2<br />

ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1991.<br />

CNUMAD – Comissão das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Agenda 21. 3<br />

ed. Brasília: Senado Fe<strong>de</strong>ral, Subsecretaria <strong>de</strong> Edições Técnicas, 2001, 598 p.<br />

GARCIA. Maria Alice. Ecologia aplicada a agroecossistemas como base para a sustentabilida<strong>de</strong>. In:<br />

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.22, n. 213, p. 30-36, nov.-<strong>de</strong>z. 2001.<br />

HARDI, P. The dashboard of sustainability. Winnipeg, 2000. (Working paper).<br />

HEREDIA, Beatriz Maia Alísia; CINTRÃO, Rosângela Pezza. Gênero e acesso a políticas públicas<br />

no meio rural brasileiro. In: Revista Nera, ano 9, n. 8, jan.-jun. 2006. Disponível em: <<br />

www2.fct.unesp.br/nera/revistas/08/Heredia.pdf> Acesso em: 05/08/2012.<br />

LAGES, Vinicius Nobre. Agricultura Familiar e Desenvolvimento Sustentável: superando<br />

obstáculos. In: Agricultura Familiar e o Desafio da Sustentabilida<strong>de</strong>. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Oficina<br />

Social, Centro <strong>de</strong> Tecnologia, Trabalho e Cidadania, 2001.<br />

SEVERINO, Antônio Joaquim Severino. Metodologia do Trabalho Científico. 23. ed. São Paulo:<br />

Cortez, 2007.<br />

SILVA, Ícaro Azevedo da. Agricultura Familiar, Políticas Públicas e Participação Social em Nova<br />

Friburgo – RJ. In: II Encontro <strong>de</strong> Grupo <strong>de</strong> Pesquisa: agricultura, <strong>de</strong>senvolvimento regional e<br />

transformação socioespaciais. Instituto <strong>de</strong> Geografia. Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Uberlândia.<br />

Uberlândia, 2003. www.geografia.fflch.usp.br/inferior/laboratorios/agraria/eventos.htm. Acesso<br />

em:05/08/2012.<br />

WANDERLEY, Maria <strong>de</strong> Nazaré Bau<strong>de</strong>l. O Mundo Rural como um Espaço <strong>de</strong> <strong>Vida</strong>: reflexões<br />

sobre a proprieda<strong>de</strong> da terra, agricultura familiar e ruralida<strong>de</strong>. Porto Alegre: editora da UFRJ, 2009.<br />

1042


Resumo<br />

DO LOCAL AO GLOBAL: GOVERNANÇA PARTICIPATIVA DE BENS COMUNS –<br />

A EXPERIÊNCIA DO COMITÊ FACILITADOR DA SOCIEDADE CIVIL<br />

CATARINENSE PARA A RIO+20 120<br />

Diego Carlos Batista SOUSA (PPGRI/UFSC)<br />

diegocarlosjp@hotmail.com<br />

Virgínia Sebastião da SILVA (PPGA/UFRGS)<br />

virginiass28@gmail.com<br />

Rívea Medri BORGES (PPGEA/UFSC)<br />

riveamborges@gmail.com<br />

Luan Har<strong>de</strong>r GONSALVES (ENS/UFSC)<br />

luanhar<strong>de</strong>r@gmail.com<br />

O aumento das <strong>de</strong>mandas civilizatórias acerca dos bens comuns tem alcançado gran<strong>de</strong> repercussão<br />

na socieda<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna. Temas como esse ganharam mais espaço <strong>nas</strong> agendas internacionais e<br />

locais sobre o meio ambiente especialmente na última Conferência das Nações Unidas para o<br />

Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, em junho <strong>de</strong> 2012. Este artigo tem por objetivo apresentar<br />

as transversalida<strong>de</strong>s que emergiram a partir <strong>de</strong> análises em nível global e local a respeito dos<br />

entendimentos políticos sobre o meio ambiente e a sustentabilida<strong>de</strong>, realizadas pelo trabalho do<br />

Comitê Facilitador da Socieda<strong>de</strong> Civil Catarinense para a Rio+20. O trabalho envolveu a realização<br />

<strong>de</strong> Diálogos Sociais Temáticos que, através <strong>de</strong> uma metodologia construtivista e participativa <strong>de</strong><br />

governança local, buscou o empo<strong>de</strong>ramento da socieda<strong>de</strong> civil para uma contribuição qualificada<br />

acerca temas cruciais da sustentabilida<strong>de</strong>. O processo do Comitê trouxe como resultado o<br />

documento ―Demandas Civilizatórias do Processo <strong>de</strong> Facilitação da Socieda<strong>de</strong> Civil Catarinense à<br />

Rio+20‖, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> emergiram elementos cognitivos <strong>de</strong> pertinência transdisciplinar, <strong>de</strong>nominados<br />

sínteses transversais, sendo trabalhadas três essências da ética da sustentabilida<strong>de</strong>: cultural,<br />

pedagógica e política.<br />

Palavras-chave: governança, bens comuns, ética, sustentabilida<strong>de</strong>, Rio+20.<br />

120<br />

Pesquisa <strong>de</strong>senvolvida pelo Grupo Transdisciplinar <strong>de</strong> Pesquisa em Governança da Água e do Território - GTHidro,<br />

através do Comitê Facilitador da Socieda<strong>de</strong> Civil Catarinense para a Rio+20, projeto <strong>de</strong> extensão da Universida<strong>de</strong><br />

Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina - UFSC, sob orientação do Prof. Dr. Daniel José da Silva.<br />

1043


Abstract<br />

The increasing of civilizing <strong>de</strong>mands on the commons has achieved great impact on mo<strong>de</strong>rn<br />

society. Issues like this have gained more space in local and international environment agendas<br />

especially in the last UN Conference on Sustainable Development, Rio +20, in June 2012. This<br />

paper aims to present the transversalities that emerged from analysis on global and local level about<br />

the political un<strong>de</strong>rstandings on environment and sustainability, work carried out by the Comitê<br />

Facilitador da Socieda<strong>de</strong> Civil Catarinense para a Rio+20. The work involved the Thematic Social<br />

Dialogue that, through a constructivist methodology and participatory local governance, sought the<br />

empowerment of civil society to a qualified contribution about crucial issues of sustainability. The<br />

committee process as a result brought the document ―Demandas Civilizatórias do Processo <strong>de</strong><br />

Facilitação da Socieda<strong>de</strong> Civil Catarinense à Rio+20‖, from which emerged cognitive elements of<br />

transdisciplinary relevance, called transverse syntheses, and worked three essences of the ethics of<br />

sustainability: cultural, pedagogical and political.<br />

Keywords: governance, commons, ethics, sustainability, Rio +20.<br />

Introdução<br />

O avanço das relações globais e da inter<strong>de</strong>pendência entre as nações tem fomentado as<br />

discussões sobre novas formas <strong>de</strong> organização social, participação e gestão <strong>de</strong> políticas públicas<br />

num ambiente transnacionalizado. As temáticas sobre meio ambiente ganham cada vez mais<br />

importância no cenário internacional e passam a ter cada vez mais notorieda<strong>de</strong> entre os países em<br />

<strong>de</strong>senvolvimento, que encontram uma oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reformulação <strong>de</strong> instituições e <strong>de</strong> políticas<br />

públicas, valorizando a iniciativa social e a complexida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dinâmicas locais.<br />

Os problemas ambientais e, por consequência, suas soluções, originam-se em ativida<strong>de</strong>s<br />

locais. Assim, atuar no nível local assume importância inequívoca para o êxito frente a essa<br />

problemática. As estratégias para o Desenvolvimento Sustentável (DS) que se originarem <strong>de</strong>ste<br />

movimento <strong>de</strong>vem ser o produto <strong>de</strong> um diálogo entre po<strong>de</strong>r público, cidadãos, organizações locais e<br />

empresas privadas, <strong>de</strong> uma forma que traduza o melhor para todos (FERNANDES NETO, 2010;<br />

MONTIBELLER-FILHO, 2008; FURTADO, 1978; LEEF, 2010).<br />

A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> governança <strong>nas</strong>ce como uma oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> novos padrões para a<br />

prática da gestão local. Surge no vazio provocado pelo distanciamento do Estado resultante do<br />

avanço das políticas neoliberais e da aplicação do conceito <strong>de</strong> reengenharia aos processos públicos.<br />

Governança significa o aumento da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> governar no nível local, no qual a comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

interessados passa <strong>de</strong> consumidores a <strong>de</strong>finidores e gestores políticos local, sendo associado ao<br />

fenômeno da gestão compartilhada <strong>de</strong> bens comuns (SILVA, 2006). A forma para se chegar à<br />

1044


esolução do conflito na gestão dos bens comuns é através da organização e da cooperação entre<br />

indivíduos e/ou instituições que precisam utilizar os mesmos recursos e que estão empenhados em<br />

fazê-lo <strong>de</strong> uma forma sustentável, respeitando o tempo <strong>de</strong> reposição. (OSTROM, 1990).<br />

Neste contexto, foi inevitável a abertura <strong>de</strong> espaços <strong>de</strong> questionamento no sentido <strong>de</strong><br />

repensar a orientação do <strong>de</strong>senvolvimento, fazendo emergir movimentos sociais e políticos que<br />

buscam reverter este quadro, pôr a economia a serviço da socieda<strong>de</strong> e construir alternativas <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento e <strong>de</strong> organização social fundadas na solidarieda<strong>de</strong>, na inclusão social, na busca da<br />

equida<strong>de</strong>, no respeito aos direitos humanos, na preservação ecológica, na justiça social<br />

(SLAUGHTER, 2004; RIBEIRO, 2005; GUIMARAES, 1998; HURREL, 1992; SACHS 1986).<br />

No âmbito global, as discussões sobre o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento iniciaram à partir <strong>de</strong><br />

1972, com a publicação do relatório ―Os Limites do Crescimento‖ e a realização da Conferência <strong>de</strong><br />

Escotolmo, pela Organização das Nações Unidas (ONU), on<strong>de</strong> muitos países consi<strong>de</strong>raram inviável<br />

incluir a conservação ambiental em seus respectivos planos nacionais (CORDANI, 1995). O<br />

termo Desenvolvimento Sustentável (DS) só começou a ganhar notorieda<strong>de</strong> à partir <strong>de</strong> 1978, com a<br />

divulgação do Relatório Brundtland. À partir <strong>de</strong> então, a ONU passa a organizar conferências,<br />

reuniões e cúpulas com vistas à criação e incremento <strong>de</strong> ações que buscassem a mitigação dos<br />

problemas <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação ambiental, em especial a Conferência das Nações Unidas sobre Meio<br />

Ambiente e Desenvolvimento, ―Cúpula da Terra‖, ou Rio-92, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> resultaram documentos como<br />

a Agenda 21, a qual consolidou o slogan ―Pensar globalmente, agir localmente‖.<br />

No mês <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2012, vinte anos após a Conferência Rio-92, foi realizada a Conferência<br />

das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, com o objetivo <strong>de</strong> renovar o<br />

compromisso político para o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, avaliar o progresso alcançado e as<br />

lacu<strong>nas</strong> ainda existentes. A Rio+20 foi organizada em torno <strong>de</strong> dois temas centrais: a economia<br />

ver<strong>de</strong> e o combate à pobreza, e a criação <strong>de</strong> uma governança global para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

sustentável.<br />

O presente artigo tem por objetivo apresentar o processo <strong>de</strong> concepção e <strong>de</strong>senvolvimento<br />

das ativida<strong>de</strong>s do Comitê Facilitador da Socieda<strong>de</strong> Civil Catarinense para a Rio+20. A seguir serão<br />

apresentadas as metodologias <strong>de</strong> articulação e empo<strong>de</strong>ramento da socieda<strong>de</strong> civil catarinense para a<br />

atuação nos processos <strong>de</strong>cisórios discutidos no âmbito da Rio+20, além <strong>de</strong> apontar os pontos em<br />

comum em todas as esferas <strong>de</strong> diálogos, ou seja, os temas transversais e suas implicações para a<br />

formação <strong>de</strong> uma ética da sustentabilida<strong>de</strong>. Os resultados foram alcançados através <strong>de</strong> uma<br />

abordagem transdisciplinar <strong>de</strong> governança local para a gestão dos bens comuns, consi<strong>de</strong>rando uma<br />

visão holística da complexida<strong>de</strong> e da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um diálogo <strong>de</strong> saberes sobre os problemas<br />

socioambientais.<br />

O Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Governança da Água e do Território para a Sustentabilida<strong>de</strong> - GATS<br />

1045


Diante do quadro <strong>de</strong> abandono e <strong>de</strong>gradação ambiental vivenciado pela maior parte das<br />

comunida<strong>de</strong>s do Brasil, Silva (2006) propõe um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> governança para auxiliar a construção<br />

<strong>de</strong> leituras complexas <strong>de</strong> crises com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> buscar respostas inovadoras e perenes para<br />

todos. A abordagem preconizada pelo autor contextualiza a existência <strong>de</strong> diferentes realida<strong>de</strong>s,<br />

estabelecendo estratégias para a solução <strong>de</strong> problemas, baseadas <strong>nas</strong> lacu<strong>nas</strong> i<strong>de</strong>ntificadas na gestão<br />

dos bens comuns, a qual o autor chamou <strong>de</strong> ―vazios‖ cultural, pedagógico e político.<br />

Segundo Matulja (2009) o vazio cultural está <strong>nas</strong> dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> entendimento entre o saber<br />

técnico e o saber das comunida<strong>de</strong>s, em que a atuação técnica apesar <strong>de</strong> incorporar valores<br />

sustentáveis, não está comprometida com a dimensão civilizatória <strong>de</strong> passado, presente e futuro <strong>de</strong><br />

um território. Isto implica na necessida<strong>de</strong> em transcen<strong>de</strong>r a visão tecnicista (critério da verda<strong>de</strong>) e o<br />

agir tecnocrático (fonte do po<strong>de</strong>r), em direção a algo transdisciplinar (que consi<strong>de</strong>ra os diversos<br />

níveis <strong>de</strong> realida<strong>de</strong>) e o agir em equida<strong>de</strong> <strong>de</strong> po<strong>de</strong>res. Esta visão histórica surge <strong>de</strong> uma estratégia<br />

cultural <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> sustentável, conectando as atuais gerações das<br />

comunida<strong>de</strong>s com o passado e o futuro.<br />

O vazio pedagógico está <strong>nas</strong> dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> comunicação. Trata-se <strong>de</strong> uma visão cognitiva<br />

do processo <strong>de</strong> participação social, sujeito a metodologias, teorias e epistemes comprometidas com<br />

uma perspectiva humanista e humanizadora. E o vazio político está <strong>nas</strong> dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

implementação na gestão dos bens comuns. Estas dificulda<strong>de</strong>s resi<strong>de</strong>m no espírito competitivo, na<br />

exclusão <strong>de</strong> conhecimentos e na imobilização dos contraditórios. O espírito competitivo na disputa<br />

pelos recursos naturais leva a gestão do melhor para todos ao engano do somatório das partes. A<br />

exclusão dos conhecimentos locais está relacionada a atribuição da ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gestão aos<br />

especialistas. Por fim, a imobilização advém da dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> consensos que<br />

culmina na utilização da maioria <strong>de</strong>mocrática para a tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões.<br />

A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> governança, além <strong>de</strong> ser uma resposta mediadora para as lacu<strong>nas</strong> existentes,<br />

afirma-se como uma oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> novos padrões para a prática da gestão local.<br />

Estas respostas <strong>de</strong>vem partir da própria comunida<strong>de</strong> como o resultado <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong><br />

empo<strong>de</strong>ramento, que subsidiará as iniciativas legítimas que <strong>de</strong>las partem, ampliando sua capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> soberania e gestão local. A essência do empo<strong>de</strong>ramento está na transferência <strong>de</strong> conhecimento<br />

para que a comunida<strong>de</strong> possa atuar <strong>de</strong> forma qualificada, ―agindo com prudência e respeito, e<br />

fazendo frente à atual onda avassaladora <strong>de</strong> homogeneização econômica e cultural‖. (SILVA,<br />

2006).<br />

Com o intuito <strong>de</strong> preencher estes vazios surge o Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Governança da Água e do<br />

Território para a Sustentabilida<strong>de</strong> (GATS), <strong>de</strong>senvolvido pelo Grupo Transdisciplinar <strong>de</strong><br />

Governança da Água e do Território (GTHidro), do Departamento <strong>de</strong> Engenharia Sanitária e<br />

Ambiental da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina (UFSC).<br />

1046


O Mo<strong>de</strong>lo GATS é estruturado em cinco ciclos (figura 01) <strong>de</strong> aprendizagem, no qual em<br />

cada um <strong>de</strong>les a comunida<strong>de</strong> se organiza e <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r um conhecimento novo, seja na forma<br />

<strong>de</strong> um conceito, <strong>de</strong> uma metodologia ou <strong>de</strong> uma técnica, ou mesmo <strong>de</strong> uma experiência externa, que<br />

se aglutinam num processo contínuo para proporcionar o empo<strong>de</strong>ramento. Os ciclos são<br />

representados por ondas, que se propagam sinergicamente no tempo do trabalho (FERNANDES<br />

NETO, 2010).<br />

Figura 01: Ciclos do Mo<strong>de</strong>lo GATS. Fonte: Fernan<strong>de</strong>s Neto (2012)<br />

Como estratégia cultural, o Mo<strong>de</strong>lo GATS estabelece os ciclos <strong>de</strong> Acordo Inicial e<br />

Economia <strong>de</strong> Experiência. O vazio pedagógico é preenchido no ciclo <strong>de</strong>nominado Comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Aprendizagem. Por fim, os ciclos Estratégias <strong>de</strong> Governança e Avaliação e Prospecção preenchem<br />

o vazio político da sustentabilida<strong>de</strong>.<br />

O Ciclo 1, Acordo Inicial, tem por objetivo firmar o compromisso <strong>de</strong> todos os participantes<br />

<strong>nas</strong> três éticas da sustentabilida<strong>de</strong>, a fim <strong>de</strong> se operar em conjunto sobre os melhores caminhos a<br />

serem trilhados na busca dos objetivos acordados. Neste acordo é formado o grupo do qual se irá<br />

iniciar a construção dos objetivos, metodologias e resultados esperados.<br />

A primeira ética acordada é a da solidarieda<strong>de</strong>, que emerge da associação intergeracional. A<br />

solidarieda<strong>de</strong> é a emoção do partilhar, do doar e pressupõe uma economia prévia, uma poupança.<br />

Não se po<strong>de</strong> partilhar o que não se tem. Com esta ética o DS está propondo que <strong>de</strong>ixemos um<br />

mundo melhor como legado para os que virão. Trata-se, portanto <strong>de</strong> colocar-nos num acordo sobre<br />

a construção <strong>de</strong>ste legado e <strong>de</strong> como todos po<strong>de</strong>rão participar. A ética <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> com as<br />

gerações futuras implica numa solidarieda<strong>de</strong> entre as próprias gerações atuais, <strong>de</strong> modo a reduzir a<br />

indiferença humana, causa maior da <strong>de</strong>gradação da natureza, da violência <strong>de</strong> nossas socieda<strong>de</strong>s e da<br />

dificulda<strong>de</strong> das pessoas em usufruírem <strong>de</strong> uma melhor qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<br />

A segunda ética é a da sustentabilida<strong>de</strong>, que se <strong>de</strong>fine pela emoção <strong>de</strong> colher o fruto, <strong>de</strong><br />

plantar a semente, <strong>de</strong> cultivar a maturida<strong>de</strong>, sempre com a consciência <strong>de</strong> não esgotar as fontes. O<br />

DS, ao propor relações sustentáveis entre as atuais gerações e a natureza, está propondo que<br />

1047


aprendamos a usufruir da natureza conhecendo e preservando seus limites ecológicos e suas<br />

dimensões organizacionais. A ética da sustentabilida<strong>de</strong> implica numa a<strong>de</strong>quação ecológica e<br />

cultural <strong>de</strong> nosso planejamento e gestão dos territórios, <strong>de</strong> modo a reduzir a arrogância econômica e<br />

a intolerância política, causas maiores da geração e perpetuação dos conflitos ambientais e sociais.<br />

A terceira ética do conceito <strong>de</strong> DS diz respeito à emoção fundadora <strong>de</strong> como fazer, <strong>de</strong> como<br />

trilhar o caminho entre a solidarieda<strong>de</strong> e a sustentabilida<strong>de</strong>. É a ética da cooperação. A cooperação é<br />

a ação <strong>de</strong> operar em conjunto. É a lógica <strong>de</strong> operação <strong>de</strong> todos os sistemas naturais sustentáveis. Ela<br />

não exclui a competição, mas esta é um comportamento menor e circunstancial, nunca <strong>de</strong>terminante<br />

e exclusivo. Esta terceira ética, ao tratar do caminho, nos diz ape<strong>nas</strong> que ele <strong>de</strong>verá ser realizado<br />

com todos os interessados, com todos os participantes, com todos aqueles que têm o compromisso<br />

com as suas gerações futuras. Trata-se, portanto, ape<strong>nas</strong> <strong>de</strong> garantir uma forma <strong>de</strong> participação, <strong>de</strong><br />

apren<strong>de</strong>r a ouvir a opinião do outro, mesmo que com ela não se concor<strong>de</strong>, <strong>de</strong> dar-se os tempos<br />

necessários a que todos possam se inserir <strong>de</strong> forma qualificada no processo, e nele possam influir<br />

estrategicamente.<br />

O Ciclo 2 é <strong>de</strong>nominado Economia <strong>de</strong> Experiência. Tem por objetivo reconhecer e valorizar<br />

as experiências locais à partir do resgate histórico da comunida<strong>de</strong>, somado ao levantamento das<br />

melhores práticas a fim <strong>de</strong> se errar menos, gastar menos, per<strong>de</strong>r menos e incluir mais, <strong>de</strong> se<br />

distribuir mais, poupar mais, etc.<br />

A Comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Aprendizagem, terceiro ciclo do Mo<strong>de</strong>lo GATS, tem por objetivo<br />

preencher o vazio pedagógico, e é baseado <strong>nas</strong> seguintes teorias: Pedagogia da Autonomia, <strong>de</strong> Paulo<br />

Freire (1997); Teoria da Autopoiese, <strong>de</strong> Maturana e Varela (1980); Transdiciplinarida<strong>de</strong>, <strong>de</strong><br />

Nicolescu (1994); e as Estratégias Cooperativas, <strong>de</strong> Silva (1998). O enfoque transdisciplinar do<br />

mo<strong>de</strong>lo justifica-se pelos três pilares preconizados pelas teorias: a complexida<strong>de</strong>, que contribui para<br />

a ampliação da percepção complexa sobre o ambiente; a lógica ternária, que contribui para a<br />

facilitação da mediação e construção <strong>de</strong> consensos; e os diferentes níveis <strong>de</strong> realida<strong>de</strong>, que auxiliam<br />

na distinção das lógicas que <strong>de</strong>terminam cada nível <strong>de</strong> existência do mundo e das pessoas<br />

(PALAVIZINI, 2006).<br />

A Comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Aprendizagem é <strong>de</strong>finida como um grupo <strong>de</strong> pessoas que <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> trabalhar<br />

pedagogicamente sua autonomia na perspectiva <strong>de</strong> transformação no ambiente do qual estão<br />

inseridos, reconhecendo suas limitações inter<strong>nas</strong> e as potencialida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> diálogo e intercâmbio<br />

externo. Este trabalho pedagógico acontece com a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> temas específicos <strong>de</strong> interesse das<br />

comunida<strong>de</strong>s e da organização <strong>de</strong> textos e tempos para realizar o diálogo com os temas transversais<br />

contextualizadores da aprendizagem, resultando em estratégicas cooperativas para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento sustentável local (FERNANDES NETO, 2010).<br />

1048


O quarto ciclo é <strong>de</strong>dicado as Estratégias <strong>de</strong> Governança, o qual contribui para o<br />

preenchimento do vazio político da sustentabilida<strong>de</strong>. Neste ciclo, o conhecimento construído até<br />

então embasa a elaboração <strong>de</strong> estratégias <strong>de</strong> ação local, <strong>de</strong> forma cooperativa entre todos os<br />

participantes do processo, incluindo as esferas públicas, privada, socieda<strong>de</strong> civil organizada,<br />

famílias e indivíduos da comunida<strong>de</strong>.<br />

Por fim, o último ciclo <strong>de</strong> aprendizagem do Mo<strong>de</strong>lo GATS compreen<strong>de</strong> a Avaliação e<br />

Prospecção, o qual se <strong>de</strong>stina a empreen<strong>de</strong>r uma avaliação do processo <strong>de</strong> governança conduzido<br />

junto às comunida<strong>de</strong>s envolvidas e consolidar sua perspectiva <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong>, mediante a<br />

prospecção <strong>de</strong> novos planos <strong>de</strong> ação surgidos a partir das <strong>de</strong>mandas sociais e das estratégias<br />

elaboradas.<br />

Gorvernança Local: o Comitê Facilitador da Socieda<strong>de</strong> Civil Catarinense para a Rio+20<br />

Em janeiro <strong>de</strong> 2012, com o objetivo <strong>de</strong> trazer as discussões da Rio+20 ao nível local e<br />

reafirmar os compromissos para o Desenvolvimento Sustentável iniciados na RIO-92, assumindo<br />

um compromisso <strong>de</strong> gerações, membros do GTHidro convocam as primeiras reuniões abertas para a<br />

construção <strong>de</strong> uma proposta. Neste contexto, surge o Comitê Facilitador da Socieda<strong>de</strong> Civil<br />

Catarinense para a RIO+20, visando facilitar o envolvimento da socieda<strong>de</strong> civil catarinense no<br />

processo transitório para o Desenvolvimento Sustentável posto em pauta <strong>nas</strong> inúmeras conferências<br />

que constituíram a Rio+20.<br />

Com o aporte <strong>de</strong> uma metodologia <strong>de</strong> empo<strong>de</strong>ramento - Mo<strong>de</strong>lo GATS - a fim <strong>de</strong><br />

compreen<strong>de</strong>r as diferentes realida<strong>de</strong>s e consolidar um processo <strong>de</strong> valorização dos contextos locais,<br />

organizaram-se comitês locais, facilitados por membros do corpo principal, em cinco cida<strong>de</strong>s:<br />

Florianópolis, Joinville, Araranguá, Chapecó e Lages. Estas cida<strong>de</strong>s, além da representativida<strong>de</strong><br />

regional no estado <strong>de</strong> Santa Catarina, foram selecionadas pela presença <strong>de</strong> campis da UFSC, que<br />

facilitou a articulação <strong>de</strong> recursos para o <strong>de</strong>senvolvimento das ativida<strong>de</strong>s.<br />

O processo <strong>de</strong> participação da socieda<strong>de</strong> civil <strong>de</strong>u-se por meio <strong>de</strong> Diálogos Sociais<br />

Temáticos acerca <strong>de</strong> seis temas diagnosticados cruciais para o diálogo sobre DS, sendo eles, Água e<br />

Saneamento, Educação e Cultura, Planejamento Territorial, Agricultura, Economia Ver<strong>de</strong> e<br />

Governança. Estes encontros tinham como objetivo empo<strong>de</strong>rar os participantes para a contribuição<br />

qualificada na construção coletiva <strong>de</strong> <strong>de</strong>mandas civilizatórias.<br />

Para facilitar um processo <strong>de</strong> cooperação, <strong>de</strong> forma a evitar conflitos <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ologias que<br />

ocasio<strong>nas</strong>se um <strong>de</strong>sgaste na relação social do grupo, utilizou-se a Pedagogia do Amor (SILVA,<br />

1998), como abordagem cognitiva dos Diálogos Sociais.<br />

1049


Esta pedagogia, baseada no método construtivista, possui como princípio epistêmico<br />

fundamental a valorização do outro como legítimo na convivência pedagógica, facilitando a<br />

construção <strong>de</strong> conceitos, i<strong>de</strong>ias e propostas <strong>de</strong> forma cooperativa, <strong>de</strong> modo que todo o grupo<br />

compartilhe dos mesmos significados e sinta-se parte do processo que está sendo construído.<br />

A Pedagogia do Amor é organizada em quatro etapas. O primeiro momento é <strong>de</strong>nominado<br />

Revelação da Subjetivida<strong>de</strong> sobre o tema, que se dá através <strong>de</strong> um estimulo à reflexão sobre o<br />

mo<strong>de</strong>lo atual frente à sustentabilida<strong>de</strong>, iniciado pela introdução <strong>de</strong> uma pergunta geradora. Sendo<br />

assim, a realida<strong>de</strong> social e cognitiva da pessoa é o ponto <strong>de</strong> partida para a produção coletiva do<br />

conhecimento.<br />

A segunda etapa refere-se à Contribuição da Diversida<strong>de</strong>, e parte do princípio que para<br />

avançar em um novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, é necessário reconhecer o saber científico<br />

produzido sobre o tema. Nesta etapa, é realizada uma breve apresentação da bibliografia sobre<br />

<strong>de</strong>terminado tema. Desta forma, enriquecendo o conceito inicialmente produzido à partir ape<strong>nas</strong> da<br />

subjetivida<strong>de</strong> do participante.<br />

A terceira etapa trata-se da Construção da Intersubjetivida<strong>de</strong>, e parte do reconhecimento do<br />

outro. São formados pequenos grupos com o objetivo <strong>de</strong> facilitar a expressão das i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> cada um<br />

sobre o tema, assim, todos falam e são ouvidos. Nesta etapa é construído um conceito<br />

compartilhado entre todos os indivíduos do grupo sobre a i<strong>de</strong>ia inicial, utilizando-se do diálogo para<br />

i<strong>de</strong>ntificar as essências semânticas através <strong>de</strong> palavras-chaves encontradas nos diversos conceitos.<br />

Os critérios são os seguintes: a) a síntese não po<strong>de</strong> mudar a essência dos conceitos individuais; b)<br />

po<strong>de</strong>-se agregar adjetivos, substantivos e verbos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que estejam presentes em algum dos<br />

conceitos individuais e c) po<strong>de</strong>-se mudar a pontuação para melhorar o entendimento (SILVA,<br />

1998).<br />

A quarta e última etapa refere-se à Construção do Domínio Linguístico. É um trabalho <strong>de</strong><br />

síntese, on<strong>de</strong> cada pequeno grupo apresenta sua proposição ao gran<strong>de</strong> grupo, ouve as críticas, e por<br />

aproximações sucessivas constrói-se a síntese do grupo. É o momento <strong>de</strong> maior significado prático<br />

do mo<strong>de</strong>lo cognitivo, pois através <strong>de</strong>sta construção coletiva <strong>de</strong> documentos abre-se possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

planejar ações conjuntas <strong>de</strong> transformação da realida<strong>de</strong>. Nos Diálogos Sociais, essa etapa <strong>de</strong>u-se por<br />

meio da estruturação <strong>de</strong> um documento em cada região em Desafios e Soluções sobre o tema<br />

trabalhado com vista a sustentabilida<strong>de</strong>.<br />

Em conjunto foram promovidos eventos paralelos <strong>de</strong> mobilização da socieda<strong>de</strong> civil acerca<br />

dos temas que seriam tratados na Rio+20, como: piqueniques, passeatas, ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> educação<br />

ambiental em escolas, manifestações artísticas, entre outros. Ao todo, participaram dos encontros<br />

representantes das comunida<strong>de</strong>s, associações, li<strong>de</strong>ranças locais, agricultores, grupos religiosos,<br />

1050


organizações <strong>de</strong> representação profissional, ONG´s, professores, universitários, estudantes do<br />

ensino médio, fundamental e técnico, <strong>de</strong>ntre outros atores sociais.<br />

Os documentos gerados em cada região foram validados pela socieda<strong>de</strong> civil catarinense<br />

durante a Conferência Preparatória SC+20 e posteriormente sintetizados no documento ―Demandas<br />

Civilizatórias do Processo <strong>de</strong> Facilitação da Socieda<strong>de</strong> Civil Catarinense à Rio+20‖. Esse resultado<br />

foi levado ao Rio <strong>de</strong> Janeiro com o objetivo <strong>de</strong> apoiar a representação da socieda<strong>de</strong> civil catarinense<br />

durante a Rio+20. Entre os eventos que o comitê participou po<strong>de</strong>-se citar: Conferência das Nações<br />

Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, SD-Learning, Cúpula dos Povos: na Rio+20 por<br />

Justiça Social e Ambiental, Al<strong>de</strong>ia Nova Terra, Fórum <strong>de</strong> Empreen<strong>de</strong>dorismo Social na nova<br />

economia, etc.<br />

Na Cúpula dos Povos, o Comitê Catarinense se reuniu aos <strong>de</strong>mais Comitês Facilitadores<br />

Estaduais, organizações que buscaram suprir o vazio <strong>de</strong> envolvimento da socieda<strong>de</strong> civil brasileira<br />

<strong>nas</strong> discussões acerca da Rio+20 no âmbito local. Neste encontro <strong>de</strong> convergência estimou-se que<br />

os comitês estaduais tenham dialogado diretamente com aproximadamente 100 mil pessoas em São<br />

Paulo, Santa Catarina, Amazo<strong>nas</strong>, Paraná, Mi<strong>nas</strong> Gerais, Mato Grosso do Sul, Bahia, Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

e Distrito Fe<strong>de</strong>ral. O resultado <strong>de</strong>sta convergência gerou um documento <strong>de</strong>nominado ―Carta dos<br />

Comitês Estaduais e Locais à Assembleia dos Povos‖.<br />

Após a RIO+20, os resultados <strong>de</strong> todo o processo foram discutidos em Audiência Pública<br />

convocada pela Reitoria da UFSC, on<strong>de</strong> foram apresentados os documentos oficiais da Conferência<br />

das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Declaração Final da Cúpula dos Povos na<br />

Rio+20, a Carta dos Comitês Estaduais e Locais à Assembleia dos Povos, a Síntese das Demandas<br />

Civilizatórias do Comitê Facilitador da Socieda<strong>de</strong> Civil Catarinense, a Declaração Kari-Oca dos<br />

Povos Indíge<strong>nas</strong> sobre a Rio+20 e a Mãe Terra e a Carta do Major Group Crianças e Jovens. Ao<br />

final da audiência, foram elaboradas estratégias <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> e disseminação dos compromissos<br />

no Estado <strong>de</strong> Santa Catarina.<br />

Resultados<br />

Em todo o processo do Comitê buscou-se i<strong>de</strong>ntificar as transversalida<strong>de</strong>s a partir da análise<br />

transdisciplinar dos documentos produzidos nos diversos níveis local, regional e internacional,<br />

foram i<strong>de</strong>ntificadas as seguintes: Conectivida<strong>de</strong> com a Mãe-Terra, Conectivida<strong>de</strong> política e<br />

Educação, presentes em todos os documentos, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> emergiram elementos cognitivos,<br />

<strong>de</strong>nominados sínteses transversais, on<strong>de</strong> são trabalhadas três essências da ética da sustentabilida<strong>de</strong>:<br />

cultural, pedagógica e política.<br />

1051


Pela primeira vez um documento protocolado pela ONU reconhece a expressão Mãe-Terra,<br />

o conceito também está presente nos textos da síntese do comitê catarinense, do documento final da<br />

Cúpula dos Povos e na carta dos povos indíge<strong>nas</strong>. A transversalida<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificada é a garantia dos<br />

direitos da mãe-terra e <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rá-la como fundadora da vida, <strong>de</strong>vendo a nós zelar pela sua<br />

proteção.<br />

A transversalida<strong>de</strong> da conectivida<strong>de</strong> política diz respeito as formas <strong>de</strong> diálogos permanentes<br />

sobre a implementação do <strong>de</strong>senvolvimento sustentável <strong>nas</strong> agendas locais e globais. No documento<br />

oficial da ONU é instituído um Fórum <strong>de</strong> Alto Nível Político, responsável por acompanhar as<br />

ativida<strong>de</strong>s do <strong>de</strong>senvolvimento sustentável. Os comitês estaduais lançaram na Cúpula dos Povos o<br />

Fórum dos Povos, uma re<strong>de</strong> virtual <strong>de</strong> mobilização <strong>de</strong> propostas e agendas. Dos resultados do<br />

processo do comitê catarinense surgiu a proposta <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> instituições públicas para a<br />

sustentabilida<strong>de</strong>, com a participação <strong>de</strong> universida<strong>de</strong>s, organizações da socieda<strong>de</strong> civil, ministério<br />

público e cidadãos.<br />

A transversalida<strong>de</strong> da educação é, sem dúvida, a <strong>de</strong> maior representativida<strong>de</strong> <strong>nas</strong> discussões<br />

do processo Rio+20 em que o comitê catarinense esteve envolvido. As discussões sobre o mo<strong>de</strong>lo<br />

educacional, bem como a <strong>de</strong>mocratização, estiveram presentes em todos os eventos e documentos.<br />

Os resultados indicam a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo educacional inserido <strong>nas</strong> realida<strong>de</strong>s locais<br />

através <strong>de</strong> uma Pedagogia do Encantamento, que consi<strong>de</strong>re indivíduo como ator no processo <strong>de</strong><br />

construção do conhecimento e forme cidadãos engajados com a cultura da sustentabilida<strong>de</strong>.<br />

Estas três transversalida<strong>de</strong>s, por sua vez, dialogam com os vazios i<strong>de</strong>ntificados na gestão dos<br />

bens comuns, os quais o Mo<strong>de</strong>lo GATS busca preencher. A transversalida<strong>de</strong> da Mãe-Terra diz<br />

respeito a uma estratégia cultura, pois trata das éticas e emoções. A transversalida<strong>de</strong> da<br />

conectivida<strong>de</strong> política diz respeito a uma estratégia <strong>de</strong> governança, como forma <strong>de</strong> estabelecer um<br />

diálogo entre os atores a fim <strong>de</strong> se alcançar um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável. Por fim, a<br />

transversalida<strong>de</strong> da educação diz respeito a uma estratégia pedagógica.<br />

Na Audiência Pública <strong>de</strong> Apresentação do Processo do Comitê Catarinense, que ocorreu no<br />

dia 15 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2012, estiveram presentes aproximadamente 100 pessoas, entre<br />

representantes <strong>de</strong> ONG‘s, Reitora da UFSC, Reitor da UDESC, professores, estudantes, cidadãos,<br />

representantes <strong>de</strong> conselhos profissionais, representes <strong>de</strong> comitês <strong>de</strong> bacias hidrográficas, lí<strong>de</strong>res<br />

religiosos. Ao final do dia, foram elaboradas estratégias cooperativas <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong>, estruturadas<br />

em três níveis:<br />

a. Institucional - Re<strong>de</strong> Institucional Social para Sustentabilida<strong>de</strong>; Pacto Catarinense pela Mata<br />

Atlântica; Valorização Institucional da Transdisciplinarida<strong>de</strong>; Apresentação dos Resultados<br />

da RIO+20; Elaboração <strong>de</strong> documentos, relatórios e livros; Produção <strong>de</strong> Material Gráfico.<br />

1052


. Pedagógica - Disseminação dos resultados da Rio+20 <strong>nas</strong> Escolas; Disseminação da<br />

Pedagogia do Cuidado, da Valorização da <strong>Vida</strong> e dos Bens Comuns; Inserção das Éticas<br />

Transversais Civilizatórias; Hortas Comunitárias; Formação e Capacitação Humana;<br />

Transdiscipli<strong>nas</strong>.<br />

c. Institucionalização do Comitê - Propor e manter pesquisas e financiamentos <strong>nas</strong> temáticas<br />

da Rio+20; Agregar parceiros para elaboração <strong>de</strong> projetos; Formar e facilitar conselhos <strong>de</strong><br />

políticas públicas inspiradas nos resultados da Rio+20.<br />

Foram i<strong>de</strong>ntificadas sínteses transversais nos parágrafos <strong>de</strong> cada tema trabalhado. Essas<br />

sínteses são emergências do conteúdo, e estão presentes na maioria dos parágrafos. Foram<br />

i<strong>de</strong>ntificadas três essências <strong>de</strong>ssas emergências <strong>de</strong> conteúdo, apresentadas no quadro 01, uma diz<br />

respeito a conteúdos <strong>de</strong> natureza ética, a que chamamos <strong>de</strong> dimensão cultural da sustentabilida<strong>de</strong>.<br />

Outra diz respeito a conteúdos <strong>de</strong> natureza pedagógica, a que chamamos <strong>de</strong> dimensão pedagógica<br />

da sustentabilida<strong>de</strong> e, finalmente, foram i<strong>de</strong>ntificadas essências transversais <strong>de</strong> natureza política, a<br />

que chamamos <strong>de</strong> dimensão política da sustentabilida<strong>de</strong>.<br />

Esse processo alavancou uma nova visão sobre a organização social e política <strong>nas</strong> regiões<br />

que foram mobilizadas, bifurcando grupos e indivíduos e <strong>de</strong>spertando-os para uma cultura da<br />

sustentabilida<strong>de</strong> baseada <strong>nas</strong> três éticas do <strong>de</strong>senvolvimento sustentável.<br />

As re<strong>de</strong>s constituídas permanecem em ativida<strong>de</strong>, articuladas e em expansão para colocar em<br />

prática as estratégias <strong>de</strong> disseminação sobre temas pertinentes ao processo Rio+20 com respectivos<br />

conteúdos <strong>de</strong> leis, acordos, teorias, metodologias, tecnologias e experiências, organizadas para a<br />

formação humana e capacitação profissional em habilida<strong>de</strong>s e responsabilida<strong>de</strong>s para a efetivação<br />

<strong>de</strong> políticas públicas <strong>de</strong> bens comuns.<br />

1053


Sínteses Transversais Gerais<br />

Natureza Síntese<br />

Cultural Não nos enganemos mais: sem uma emoção capaz <strong>de</strong> refundar o humano em toda sua plenitu<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

sentimentos, inteligência, espiritualida<strong>de</strong>, altruísmo, cooperação, honestida<strong>de</strong>, respeito, cuidado,<br />

proteção, coragem, gentileza, tolerância, criativida<strong>de</strong> e talentos não teremos uma cultura da<br />

sustentabilida<strong>de</strong>. Se não abrirmos um espaço educacional urgente e imediato para a formação humana<br />

<strong>nas</strong> éticas justificadoras <strong>de</strong> nossas ações e <strong>de</strong> nosso agir no mundo, vencerá a indiferença com o seu<br />

vazio <strong>de</strong> emoções. A cultura da sustentabilida<strong>de</strong> baseada na ética <strong>de</strong> emoções verda<strong>de</strong>iras parece ser um<br />

bom caminho, senão o único, <strong>de</strong> nos afastarmos <strong>de</strong>sta atual cultura da indiferença, do <strong>de</strong>samor e da<br />

arrogância. É aqui, na dimensão ética da cultura que <strong>de</strong>vemos <strong>de</strong>finir os limites e as conexões das<br />

diversas outras ativida<strong>de</strong>s huma<strong>nas</strong>, a começar pela educação, política e economia.<br />

Pedagógica Não nos enganemos mais uma vez: sem uma pedagogia que nos reencante para a valorização das<br />

emoções, ficaremos somente com a razão instrumental para mediar nosso agir no mundo. É a pedagogia<br />

do encantamento que po<strong>de</strong>rá nos formar numa razão substantiva capaz <strong>de</strong> nos dar justificativas<br />

humanistas e emocionais para a valorização dos meios frente aos fins. É preciso que se afirme: a cultura<br />

da sustentabilida<strong>de</strong> é aquela na qual nenhum fim justifica os meios <strong>de</strong>gradantes e <strong>de</strong>sumanizadores às<br />

escalas globalizantes e homogeneizantes como as que estamos vivendo hoje.<br />

Política Não nos enganemos por uma última vez: sem uma inovação política da <strong>de</strong>mocracia, ficaremos somente<br />

com o vazio <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r na dimensão local do mundo, provocado pela globalização da cultura da<br />

indiferença. Esta inovação política da <strong>de</strong>mocracia facilitará uma transição à cultura da sustentabilida<strong>de</strong>.<br />

São duas as inovações políticas que precisamos consolidar, pois elas já estão disponíveis no mundo: a<br />

primeira diz respeito à <strong>de</strong>mocracia participativa que complementa e dinamiza a <strong>de</strong>mocracia<br />

representativa. E a segunda inovação diz respeito à legitimação (mediante leis) dos instrumentos da<br />

participação da socieda<strong>de</strong>, que em seu conjunto formam a governança local <strong>de</strong> políticas públicas <strong>de</strong><br />

bens comuns.<br />

Referências Bibliográficas<br />

CORDANI, U. G. As Ciências da Terra e a Mundialização das Socieda<strong>de</strong>s. Estudos Avançados,<br />

IEA-USP, 1995.<br />

FERNANDES NETO, J. S. Mo<strong>de</strong>lo Urubici <strong>de</strong> Governança da Água e do Território: uma<br />

tecnologia social a serviço do <strong>de</strong>senvolvimento sustentável local. 2010. 235 p. Tese (Doutorado em<br />

Engenharia Ambiental) - Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina, Florianópolis, 2010.<br />

FURTADO, Celso. Criativida<strong>de</strong> e Dependência na Civilização Industrial. São Paulo. Ed. Paz e<br />

Terra, 1978.<br />

GUIMARÃES, Roberto P. Mo<strong>de</strong>rnidad, Medio Ambiente y Ética: um nuevo paradigma <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sarrollo, Ambiente e Socieda<strong>de</strong>, ano 1, n. 2, 5-24, 1998.<br />

HURRELL, A; KINGSBURRY, B. The International Politics of the Environment. Oxford:<br />

Clarendon Press, 1992.<br />

LEFF, Enrique. Epistemologia Ambiental. 5° Ed. São Paulo. Cortez, 2010.<br />

1054


MATULJA, A. Construção <strong>de</strong> um Termo <strong>de</strong> Referência para o Plano Municipal <strong>de</strong> Saneamento <strong>de</strong><br />

Urubici - SC a partir <strong>de</strong> um Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Governança. 108 p. Trabalho <strong>de</strong> Conclusão <strong>de</strong> Curso.<br />

Graduação em Engenharia Sanitária e Ambiental. Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina.<br />

Florianópolis, 2009.<br />

MONTIBELLER-FILHO, Gilberto. O Mito do Desenvolvimento Sustentável: meio ambiente e<br />

custos sociais no mo<strong>de</strong>rno sistema produtor <strong>de</strong> mercadorias. 3° Ed. Florianópolis. Editora da UFSC,<br />

2008.<br />

OSTROM, E. Governing the Commons: The Evolution of Institutions for Collective Action. New<br />

York: Cambridge University Press, 1990.<br />

PALAVIZINI, R. S. Gestão Transdisciplinar do Ambiente: uma perspectiva aos processos <strong>de</strong><br />

planejamento e gestão social no Brasil. 2006. 415 p. Tese (Doutorado em Engenharia Ambiental) -<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina, Florianópolis, 2006.<br />

RIBEIRO, Wagner Costa. A Or<strong>de</strong>m Ambiental Internacional. São Paulo: Contexto, 2005.<br />

SACHS, Ignacy. Espaços, Tempos e Estratégias do Desenvolvimento. São Paulo: Vértica.1986.<br />

SILVA, D. J. Uma Abordagem Cognitiva ao Planejamento Estratégico do Desenvolvimento<br />

Sustentável. 1998. 240 p. Tese (Doutorado em Engenharia <strong>de</strong> Produção) - Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong><br />

Santa Catarina, Florianópolis, 1998.<br />

__________. Desafios Sociais da Gestão Integrada <strong>de</strong> Bacias Hidrográficas: uma introdução ao<br />

conceito <strong>de</strong> governança da água. In: Congrès <strong>de</strong> l‟ACFAS, 74, 2006. Université McGill. Montreal,<br />

Canadá.<br />

SLAUGHTER, Anne-Marie. A New World Or<strong>de</strong>r. Princeton University Press. Princeton, New<br />

Jersey. 2004.<br />

1055


O USO DA NORMA COMO FERRAMENTA DE CONTROLE AMBIENTAL:<br />

UM ESTUDO DE CASO DOS BUFFETS DE MOSSORÓ / RN<br />

Ligia Valleria <strong>de</strong> Oliveira SILVA<br />

Mestranda no Programa <strong>de</strong> Pós Graduação em Ciências Sociais e Huma<strong>nas</strong>/UERN<br />

ligia_oliva@hotmail.com<br />

Geovânia da Silva TOSCANO (Orientadora)<br />

Profª. Drª. do Depto. <strong>de</strong> Ciências Sociais/UFPB e do PPG em Ciências Sociais e Huma<strong>nas</strong>/UERN<br />

geotoscano@gmail.com<br />

Resumo<br />

Este trabalho propõe o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> analisar como a normatização do espaço/território no cenário<br />

contemporâneo, contribui com a mitigação <strong>de</strong> conflitos <strong>de</strong> interesse público e privado, tendo como<br />

ferramenta o uso <strong>de</strong> políticas públicas aplicadas, no caso a fiscalização ambiental do município <strong>de</strong><br />

Mossoró/RN. A relação com o meio ambiente é afetada, seja pelo fenômeno <strong>de</strong> ocupações<br />

irregulares do meio ou por questões ligadas à qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida da população. Santos (2004)<br />

consi<strong>de</strong>ra que os espaços são estabelecidos com certas finalida<strong>de</strong>s e que as “... normas são<br />

recriadas ao sabor das conjunturas localmente <strong>de</strong>finidas”. (p.232). A ocupação do território e, sua<br />

normatização enquanto forma <strong>de</strong> estabelecer critérios <strong>de</strong> uso a<strong>de</strong>quado, será o eixo norteador <strong>de</strong>ste<br />

trabalho e, como objeto empírico será apresentado estudo <strong>de</strong> caso sobre a regularização ambiental<br />

das casas <strong>de</strong> festas – buffets – no município <strong>de</strong> Mossoró/RN.<br />

Palavras Chave: Meio Ambiente – Norma – Espaço/Território – Política Pública<br />

Abstract<br />

This paper proposes the challenge of analyzing how the standardization of space / territory in<br />

contemporary society, contributes to the mitigation of conflicts of interest public and private, with<br />

the tool using public policies applied in the case of the environmental inspection the Mossoró / RN.<br />

The relationship with the environment is affected, is the phenomenon of irregular occupations of<br />

middle or matters related to the quality of life. Santos (2004) consi<strong>de</strong>rs that the spaces are<br />

established with certain aims and that "... standards are recreated the flavor of locally <strong>de</strong>fined<br />

situations". (p.232). The occupation of the territory and its standardization as a way to establish<br />

criteria for appropriate use, will be the guiding principle of this work and, as empirical object will<br />

be presented a case study on the environmental regularization of houses for parties - buffets - in the<br />

Mossoró / RN.<br />

Keywords: Environment - Norm - Area / Territory - Public Policy<br />

1056


Introdução<br />

As questões ambientais <strong>nas</strong> últimas décadas do século XX e primeira década do século XXI<br />

têm sido temas <strong>de</strong> relevantes <strong>de</strong>bates <strong>nas</strong> esferas política, econômica, cultural, acadêmica e<br />

midiática. Isto <strong>de</strong>monstra a força do fenômeno ambiental na construção do <strong>de</strong>bate público<br />

contemporâneo que envolve o cenário mundial, nacional, estadual e municipal.<br />

A cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Mossoró / RN, localizada no nor<strong>de</strong>ste brasileiro, com cerca <strong>de</strong> 260 mil<br />

habitantes (IBGE) 121 é uma cida<strong>de</strong> média que vive o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> lhe dar com uma série <strong>de</strong><br />

problemas sócios estruturais, tais como: o aumento na <strong>de</strong>manda por serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, educação,<br />

moradia e segurança pública. Diante <strong>de</strong>ste cenário <strong>de</strong> transformação urbana é perceptível o<br />

aumento da problemática ambiental nesta cida<strong>de</strong>.<br />

Diante do crescimento acelerado dos problemas ambientais, atrelados à falta <strong>de</strong> estrutura<br />

física, da ausência <strong>de</strong> uma educação ambiental e <strong>de</strong> políticas atuantes direcionadas para tais<br />

questões passamos a presenciar o surgimento e o aumento dos diversos conflitos<br />

sócio/ambientais/econômicos na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Mossoró/RN. Esses conflitos passaram a <strong>de</strong>safiar o<br />

po<strong>de</strong>r público a apresentar soluções cabíveis capazes <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r positivamente a todos os<br />

segmentos envolvidos.<br />

Como embasamento teórico para este artigo, será trabalhado alguns conceitos fundamentais<br />

sobre interdisciplinarida<strong>de</strong> que mostram o caminho percorrido pela ciência tradicional até o<br />

momento com a interação <strong>de</strong> outros saberes, on<strong>de</strong> se inclui a Geografia. E <strong>de</strong>ntre os conceitos<br />

geográficos, Milton Santos será o colaborador para o entendimento <strong>de</strong> conceitos como o papel das<br />

―rugosida<strong>de</strong>s‖ em <strong>de</strong>terminadas localida<strong>de</strong>s e a normatização do espaço/território como uma nova<br />

postura da or<strong>de</strong>m mundial.<br />

Erving Goffman nos ajudará a compreen<strong>de</strong>r o conceito <strong>de</strong> ―representação‖ a partir dos<br />

papeis representados pelos sujeitos na socieda<strong>de</strong> em que vivem e, como sua atuação po<strong>de</strong> contribuir<br />

na valoração dos seus direitos. Alain Touraine contribui com o entendimento do que venha a ser<br />

―consciência‖ e as ações <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong>sta.<br />

A partir <strong>de</strong>stes conceitos será possível compreen<strong>de</strong>r porque na conjuntura atual os sujeitos<br />

buscam cada vez mais uma melhor relação com meio em que está inserido e, respon<strong>de</strong>ndo aos<br />

interesses <strong>de</strong> cada um, o que possivelmente irá provocar <strong>de</strong>sacordo entre as partes –<br />

público/privado.<br />

Como procedimento metodológico além da bibliografia estudada, buscou-se acesso aos<br />

protocolos <strong>de</strong> <strong>de</strong>núncias e relatórios circunstanciados, que são documentos públicos, produzidos e<br />

121 http://www.ibge.gov.br/cida<strong>de</strong>sat/painel/painel.php?codmun=240800 visitado em 20/09/2012.<br />

1057


existentes no setor <strong>de</strong> Fiscalização Ambiental da Gerência Executiva da Gestão Ambiental – GGA,<br />

órgão responsável pela gestão, controle, monitoramente e fiscalização ambiental no município <strong>de</strong><br />

Mossoró/RN.<br />

Esta investigação origina-se das reflexões que estão sendo <strong>de</strong>senvolvidas no âmbito do<br />

Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Ciências Huma<strong>nas</strong> e Sociais na Universida<strong>de</strong> do Estado do Rio<br />

Gran<strong>de</strong> do Norte.<br />

Interdisciplinarida<strong>de</strong>: a Geografia como ramificação <strong>de</strong>sse processo<br />

A interdisciplinarida<strong>de</strong> como proposta <strong>de</strong> uma nova avaliação metodológica e cientifica nos<br />

convida a pensar como a trajetória do seu surgimento veio a contribuir com a expansão do<br />

pensamento acadêmico em relação a este tema.<br />

É contemporânea a discussão sobre a interação cientifica e, é clara a linha divisória entre o<br />

que é ou não aceitável enquanto ciência. Sendo que esse diálogo permeia pelo conceito do que<br />

venha a ser ciência verda<strong>de</strong>ira e falsa, como se <strong>de</strong>u sua construção no espaço/tempo e a sua<br />

relevância para a evolução e o <strong>de</strong>senvolvimento no panorama cientifico. Como bem colocou Santos<br />

(2007, p. 01) existe um abismo on<strong>de</strong> em meio a verda<strong>de</strong> da ciência metódica não há espaço para a<br />

subjetivida<strong>de</strong> do saber popular.<br />

Passado o reconhecimento exclusivo das primeiras discipli<strong>nas</strong> como a Matemática, a Física,<br />

a Biologia e a Química, o homem <strong>de</strong>codificou seu olhar, antes engessado por uma ―verda<strong>de</strong> única‖<br />

e, passou a reconhecer quão rico po<strong>de</strong>ria ser introduzir os <strong>de</strong>mais saberes em seus trabalhos.<br />

Foi através das ciências que o homem superou os limites das suas suposições e, pô<strong>de</strong> ver<br />

literalmente, além dos seus olhos. Construíram ao longo <strong>de</strong> sua história sistemas <strong>de</strong> pensamento, as<br />

<strong>de</strong>scobertas biológicas, os estudos sobre os planetas e o espaço, o domínio da mecânica, entre<br />

outros artefatos. Tal forma <strong>de</strong> compreensão humana e <strong>de</strong> realida<strong>de</strong> possibilitou o reconhecimento <strong>de</strong><br />

que a ciência po<strong>de</strong> ser feita e pensada <strong>de</strong> diversas formas e através dos muitos conhecimentos que<br />

envolvem não só homem como todo o universo.<br />

A metodologia interdisciplinar <strong>de</strong> pesquisa consiste em compreen<strong>de</strong>r historicamente a<br />

complexida<strong>de</strong> que as novas explicações científicas, apresentam diante da diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fenômenos<br />

que foram surgindo com as modificações da humanida<strong>de</strong> e do meio. Comporta fatores como<br />

cultura, socieda<strong>de</strong>, ambiente, espaço, tempo e <strong>de</strong>mais elementos que fazem parte da conjuntura dos<br />

estudos em ciência. Vários são os autores que assumem o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> contextualizar em diferentes<br />

aspectos a prática da interdisciplinarida<strong>de</strong>.<br />

Para contribuir com este trabalho foram analisados certos aspectos da pesquisa<br />

interdisciplinar <strong>de</strong>senvolvida a partir do diagnóstico <strong>de</strong> Japiassu (1976) o qual <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> este caminho<br />

1058


para a investigação como um ―remédio‖ para o ―mal‖ da ciência mo<strong>de</strong>rna. Esta reconhecida como a<br />

―verda<strong>de</strong>ira‖, atravancou durante muito tempo o uso <strong>de</strong> outros procedimentos e forma <strong>de</strong> saberes<br />

<strong>nas</strong> produções cientifica.<br />

A interdisciplinarida<strong>de</strong> caminhou pelo tempo e pelo espaço, até chegar a ser reconhecida<br />

como método capaz <strong>de</strong> agregar valor ao mecanismo <strong>de</strong> aprendizagem, Prigogine (2009) faz a<br />

relação entre tempo/espaço/natureza e mostra que a ―flecha do tempo‖ e as transformações causadas<br />

por ela implicam que a ciência começa a ser pensada não só pela razão, mas também pela emoção.<br />

E, que a negação (Einstein) do tempo enquanto parte constituinte da produção científica <strong>de</strong>veria ser<br />

repensada.<br />

A contribuição <strong>de</strong> Gonçalves-Maia (2011) apontando a introdução da Filosofia e da História<br />

no mundo cientifico tradicional (Grécia Clássica), trás a tona as polêmicas expostas pelos<br />

conservadores, assim como, apresenta ao mundo o surgimentos das novas discipli<strong>nas</strong> (bioquímica à<br />

cibernética) que emergiram das discipli<strong>nas</strong> tradicionais. No entanto, não havia mais como não<br />

consi<strong>de</strong>rá-las, pois a importância das suas <strong>de</strong>scobertas já proporia um novo olhar para um novo<br />

panorama <strong>de</strong> ciência universal.<br />

O aporte teórico dos autores referenciados confirma a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se explorar diversos<br />

conteúdos em um mesmo estudo. Aqui usaremos o meio ambiente como ator principal <strong>de</strong>ste<br />

cenário, e a Geografia será a disciplina base para o entendimento <strong>de</strong> como a ocupação do<br />

espaço/território po<strong>de</strong> <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar conflito <strong>de</strong> interesse público/privado, assim como a<br />

normatização <strong>de</strong>sses espaços/territórios através <strong>de</strong> políticas públicas, po<strong>de</strong>m ser mediadoras <strong>de</strong>sses<br />

conflitos.<br />

Uso do Espaço / Território<br />

O espaço geográfico po<strong>de</strong>r ser consi<strong>de</strong>rado um reflexo da socieda<strong>de</strong> e, por isso está sempre<br />

passível às transformações sofrida pela mesma. O contexto histórico <strong>de</strong> uma localida<strong>de</strong> po<strong>de</strong><br />

contribuir para a compreensão das modificações ocorridas ao longo do tempo e, os espaços po<strong>de</strong>m<br />

carregar consigo características preexistentes que se tornaram marco <strong>de</strong> imponência daquele lugar e,<br />

que nem mesmo as modificações advindas das necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> mudanças apagam o seu valor.<br />

Os valores atribuídos aos espaços originais vão sendo sobrepostos por outros valores ao<br />

sabor das intencionalida<strong>de</strong>s culturais, econômicas, sociais... <strong>de</strong> um povo. São essas características<br />

construídas como afirmativas das i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s locais que Milton Santos chama <strong>de</strong> ―rugosida<strong>de</strong>s‖ do<br />

espaço-tempo. ―Chamemos rugosida<strong>de</strong> ao que fica do passado como forma, espaço construído,<br />

paisagem, o que resta do processo <strong>de</strong> supressão, acumulação, superposição, com que as coisas se<br />

substituem e acumulam em todos os lugares. (SANTOS, 2004 p. 140)<br />

1059


Dessa forma, Santos (2004) aponta para o entendimento <strong>de</strong> que a “paisagem atual”, não<br />

po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sprezar o ―meio ambiente construído”, pois o primeiro é parte resultante do processo<br />

evolutivo do segundo e, sempre carregará consigo dados dos eventos corridos no passado, e, que se<br />

não refletem, pelo menos localiza no espaço e no tempo o momento atualmente vivido. As<br />

―rugosida<strong>de</strong>s‖ são os traços que marcam a linha do tempo, que no futuro trará à tona a história que<br />

será alicerce da “paisagem atual” contemporânea.<br />

O espaço portanto é um testemunho; ele testemunha um momento <strong>de</strong> um modo <strong>de</strong><br />

produção pela memória do espaço construído, das coisas fixadas na paisagem<br />

criada. Assim o espaço é uma forma, uma forma durável, que não se <strong>de</strong>sfaz<br />

paralelamente à mudança <strong>de</strong> processos; ao contrário, alguns processos se adaptam<br />

às formas preexistentes enquanto que outros criam novas formas para se inserir<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>las. (SANTOS, 1980, p. 138).<br />

Mas enxergar o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento em comunhão com nuances já existentes<br />

(cultura, socieda<strong>de</strong>, ambiente, etc.) respeitando e aceitando como integrante <strong>de</strong>ste processo, nem<br />

sempre faz parte do entendimento do setor econômico, que por vezes, assume uma postura<br />

impositiva sobre o social e o ambiental quando há ausência da norma.<br />

Àqueles espaços duráveis que em certo momento respondiam as expectativas <strong>de</strong> um modo<br />

<strong>de</strong> produção econômica <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado setor, po<strong>de</strong> ter executado suas ativida<strong>de</strong>s durante muito<br />

tempo sem a interferência da socieda<strong>de</strong>, tanto pelo <strong>de</strong>sconhecimento da mesma em relação ao seu<br />

direito por uma boa qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, como pela ausência <strong>de</strong> normas que regulamentassem<br />

<strong>de</strong>terminadas ativida<strong>de</strong>s em <strong>de</strong>terminados locais.<br />

Assim, uma empresa po<strong>de</strong>ria se instalar em meio a uma área resi<strong>de</strong>ncial, trazendo consigo<br />

todos os impactos ambientais e sociais possíveis, sem a preocupação em mitigar danos àquela<br />

comunida<strong>de</strong>. Transformavam espaços antes ―luminosos‖ por serem minimamente confortáveis aos<br />

seus moradores ou pela inexistência <strong>de</strong> maiores impactos, em espaços ―opacos‖, pois <strong>de</strong> alguma<br />

forma passou a ofuscar o sossego coletivo daquela localida<strong>de</strong>. (SANTOS, 2004, p.326)<br />

Diante <strong>de</strong> tantos dissabores, pensar a normatização do espaço/território vai além da esfera<br />

legal, é necessário compreen<strong>de</strong>r que este espaço/território não po<strong>de</strong>r ser visto ape<strong>nas</strong> como esfera<br />

geográfica e muito menos econômica. Convém visualizar a composição <strong>de</strong> todos esses segmentos<br />

somados a presença humana e ambiental, que também representam memória viva nessa composição<br />

tão complexa.<br />

A Influência dos Sujeitos e o Uso das Normas<br />

A ocupação do espaço/território e, sua normatização enquanto forma <strong>de</strong> estabelecer critérios<br />

<strong>de</strong> uso a<strong>de</strong>quado, atualmente é uma tendência intencionalmente elaborada pelo po<strong>de</strong>r público para<br />

1060


aten<strong>de</strong>r aos dissabores conflitais que permearam por séculos as socieda<strong>de</strong>s e que vem se<br />

evi<strong>de</strong>nciando cada vez mais a partir do século XX.<br />

Com a maior conscientização da população, com os movimentos sociais atuantes, as<br />

conquistas <strong>de</strong> direitos e o avanço da <strong>de</strong>mocracia <strong>de</strong>ram força à socieda<strong>de</strong> civil que passou a exigir<br />

do po<strong>de</strong>r público maior respaldo e pertinência jurídica para mitigação <strong>de</strong>sses conflitos. De acordo<br />

com Santos (2004, p. 229):<br />

As próprias exigências do intercâmbio internacional (...) ―ao lado dos direitos<br />

nacionais e do direito internacional público, os operadores privados - mais ou<br />

menos <strong>de</strong> acordo com o Estado - organizam o seu sistema <strong>de</strong> normas e<br />

progressivamente as impõem". Paralelamente à proliferação <strong>de</strong> normas jurídicas,<br />

no conjunto do campo das relações sociais (Z. Laïdi, 1992, p. 37), impõe-se uma<br />

outra tendência, à uniformização, o que se verifica, segundo J. L. Margolin (1991,<br />

p. 97) "no campo da gestão, da tecnologia, do consumo e dos modos <strong>de</strong> vida".<br />

Dessa forma po<strong>de</strong>mos perceber que atuação social coletiva po<strong>de</strong> refletir interesses<br />

compartilhados quando um grupo social se organiza em <strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> causas que respondam a<br />

<strong>de</strong>mandas não individuais e, sim amplamente representativas naquela comunida<strong>de</strong>.<br />

Dentro da discussão <strong>de</strong> representativida<strong>de</strong> coletiva Touraine (2009) aponta para a<br />

importância dos sujeitos reconhecerem em si mesmo o que venha a ser ―consciência‖ a partir dos<br />

seus próprios atos, para então compreen<strong>de</strong>r a generalida<strong>de</strong> das ações <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um contexto<br />

coletivo. Ressalta ainda, que só com a ―consciência‖ os sujeitos serão capazes <strong>de</strong> instrumentalizar<br />

suas causas e mostrar que “o mundo dos direitos e <strong>de</strong>veres não existe a não ser quando dito,<br />

<strong>de</strong>clarado”. (TOURAINE, 2009 p. 142)<br />

O que entendo por consciência é a presença num individuo, ou num grupo<br />

<strong>de</strong> indivíduos, <strong>de</strong> representações em si que carregam nelas julgamentos <strong>de</strong> valores<br />

morais sobre as condutas <strong>de</strong>ste individuo ou <strong>de</strong>ste grupo (...) o reconhecimento <strong>de</strong><br />

nossa responsabilida<strong>de</strong> em relação a nós mesmos e, consequentemente <strong>de</strong> nossos<br />

direitos no seio da socieda<strong>de</strong>. (TOURAINE, 2009 p. 142)<br />

A importância da ação consciente representa a conquista da legitimida<strong>de</strong> <strong>de</strong> direitos, da<br />

liberda<strong>de</strong> que os sujeitos têm em coor<strong>de</strong>nar, participar e, sobretudo fazer uso das ações coletivas e<br />

dos movimentos sociais em busca <strong>de</strong> ―direitos fundamentais‖ que para Touraine (2009) ―indica<br />

claramente que o que está em jogo vai além do social, e diz respeito à própria humanida<strong>de</strong> dos<br />

seres humanos”. (TOURAINE, 2009 p. 147)<br />

Foi através <strong>de</strong>sta perspectiva <strong>de</strong> ―consciência‖ individual e coletiva que os sujeitos atuantes<br />

(<strong>de</strong>nunciantes) que compõe este trabalho fizeram uso do conhecimento dos seus direitos e<br />

provocaram o po<strong>de</strong>r público através <strong>de</strong> <strong>de</strong>núncias, a tomar medidas mitigadoras fazendo uso da<br />

norma, em relação à poluição sonora advindas dos buffets.<br />

Essa atitu<strong>de</strong> por parte da população se apresenta segundo os conceitos <strong>de</strong> Goffman (2002)<br />

como uma ―representação formal‖ que o sujeito tem diante da aproximação com o problema que lhe<br />

1061


acomete, que po<strong>de</strong> <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar reação individual ou coletiva. A ―representação formal‖ tem valia à<br />

medida que esse sujeito registra formalmente sua insatisfação com <strong>de</strong>terminada causa. Ele po<strong>de</strong><br />

fazer uso do que Goffman (2002) chama <strong>de</strong> ―fachada social‖, que seria usufruir <strong>de</strong> posturas já<br />

estabelecidas, neste caso, usar a seu favor as normas e ou legislações locais pré-existentes para<br />

solucionar conflitos.<br />

―... a fachada social ten<strong>de</strong> a se tornar institucionalizadas em termos das<br />

expectativas estereotipadas abstratas às quais dá lugar e ten<strong>de</strong> a receber um sentido<br />

e uma estabilida<strong>de</strong> à parte das tarefas especificas que no momento são realizadas<br />

em seu nome. A fachada torna-se uma ―representação coletiva‖ e um fato, por<br />

direito próprio‖. (GOFFMAN, 2002 p. 34)<br />

O município <strong>de</strong> Mossoró / RN na última década tem passado por um processo <strong>de</strong><br />

transformação urbanístico e ambiental, <strong>de</strong> forma bem mais orientada, no que tange à preocupação<br />

em fazer uso das legislações que regulam o município no setor das construções (uso e ocupação do<br />

solo) assim como área ambiental, que hoje se encontra diretamente atrelada ao primeiro setor.<br />

Associadas a outras legislações (fe<strong>de</strong>rais e estaduais) o município <strong>de</strong> Mossoró/RN lança<br />

mão especificamente <strong>de</strong> três normas para coor<strong>de</strong>nar os processos urbanísticos e ambientais são: Lei<br />

Complementar Nº 012/2006 que dispõe sobre o Plano Diretor do Município <strong>de</strong> Mossoró/RN que<br />

regula em seu:<br />

Art. 51. Os usos e ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>verão aten<strong>de</strong>r aos requisitos <strong>de</strong> instalação <strong>de</strong>finidos<br />

em função do nível <strong>de</strong> impacto <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> sua potencialida<strong>de</strong> como geradores<br />

<strong>de</strong>:<br />

I – incômodo;<br />

I – impacto <strong>de</strong> vizinhança.<br />

Parágrafo Único: consi<strong>de</strong>ra-se impacto o estado <strong>de</strong> <strong>de</strong>sacordo <strong>de</strong> uso ou ativida<strong>de</strong><br />

com os condicionantes locais, causando reação adversa sobre a vizinhança, tendo<br />

em vista suas estruturas físicas e vivências sociais.<br />

A Lei Complementar Nº 047/2010 que institui o Código <strong>de</strong> Obras Posturas e Edificações no<br />

município <strong>de</strong> Mossoró/RN e por fim a Lei Complementar Nº 026/2008 que rege o Código<br />

Municipal <strong>de</strong> Meio Ambiente (CMMA), que irá instrumentalizar todas as normas e a<strong>de</strong>quações<br />

ligadas ao controle e gestão ambiental do município, vê art. 2º:<br />

Art. 2º. O Código <strong>de</strong> meio ambiente é o instrumento da Política municipal <strong>de</strong> meio<br />

ambiente, <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável e <strong>de</strong> expansão urbana, <strong>de</strong>terminante para<br />

os agentes públicos e privados que atuam no Município.<br />

De posse <strong>de</strong> tantos instrumentos normativos, é obrigação do po<strong>de</strong>r público fazer uso <strong>de</strong>stes,<br />

para garantir que os espaços/territórios públicos e privados do município possam <strong>de</strong>sempenhar os<br />

papeis aos quais estejam <strong>de</strong>stinados, <strong>de</strong>ntro dos padrões estabelecidos, para assim garantirem suas<br />

funcionalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> acordo com as normas.<br />

Estudo <strong>de</strong> Caso: buffets em Mossoró / RN<br />

1062


Para ilustrar <strong>de</strong> maneira concreta este trabalho, será apresentado um estudo <strong>de</strong> caso realizado<br />

na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Mossoró/RN envolvendo um setor privado da economia local, que são as casa <strong>de</strong><br />

festas chamadas <strong>de</strong> Buffets. Segundo dados colhidos em documentos públicos pertencente à<br />

Gerência Executiva da Gestão Ambiental – GGA (setor <strong>de</strong> Fiscalização) e pela imprensa local 122 ,<br />

até meados <strong>de</strong> 2011 todas as casas do ramo existentes na cida<strong>de</strong> funcionavam sem o <strong>de</strong>vido<br />

Licenciamento Ambiental 123 . Isto po<strong>de</strong>ria indicar a falta <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quação <strong>de</strong>sses locais para a<br />

realização <strong>de</strong> tal ativida<strong>de</strong>, já que todos eles estavam situados em áreas resi<strong>de</strong>nciais e não possuía<br />

isolamento acústico, gerando poluição sonora. Motivos estes que <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>aram inúmeras<br />

<strong>de</strong>núncias por parte da população atingida pelo incômodo, que passaram a exigir posicionamento do<br />

po<strong>de</strong>r público, enquanto órgão regulador do Estado.<br />

Em resposta a mobilização civil a Gerência Executiva da Gestão Ambiental – GGA realizou<br />

audiência pública com os empresários do setor, a fim <strong>de</strong> orientá-los à regularizarem seus espaços <strong>de</strong><br />

acordo com o que está <strong>de</strong>terminado pelo Código Municipal do Meio Ambiente, Lei Complementar<br />

026/2008, on<strong>de</strong> segundo o ―Art. 35 V – licença <strong>de</strong> regularização <strong>de</strong> operação (LRO), concedida aos<br />

empreendimentos e ativida<strong>de</strong>s que, na data <strong>de</strong> publicação <strong>de</strong>sta Lei, estejam em operação e ainda<br />

não tenham sido licenciados”.<br />

A audiência técnica foi realizada no dia 05 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 2011 on<strong>de</strong> os empresários e a GGA<br />

ajustaram os prazos para cumprimento das <strong>de</strong>terminações do licenciamento, prazo este, estipulado<br />

em três meses para que os responsáveis pelos empreendimentos protocolassem pedido <strong>de</strong> licença<br />

junto ao órgão responsável – GGA.<br />

Findado todos os limites dos acordos entre os empresários e a Gerência e diante das<br />

contínuas <strong>de</strong>núncias da vizinhança, foi acionado o setor <strong>de</strong> Fiscalização Ambiental, iniciando<br />

vistorias <strong>nas</strong> casas <strong>de</strong> festas e instaurando processos administrativos para a apuração das<br />

irregularida<strong>de</strong>s ambientais nos locais.<br />

Inicialmente os buffets que ainda não tinham iniciado seu processo <strong>de</strong> regularização foram<br />

multados pelo funcionamento sem licença ambiental e, encerrado o prazo administrativo para a<br />

resposta e ou recurso do autuado (15 dias), estes locais sofreram interdição <strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s até<br />

que os mesmos se regularizassem junto ao órgão municipal.<br />

Art. 133. A interdição será aplicada quando o estabelecimento, obra ou ativida<strong>de</strong><br />

estiver funcionando sem a <strong>de</strong>vida autorização, ou em <strong>de</strong>sacordo com a concedida,<br />

ou com violação <strong>de</strong> disposição legal ou regulamentar. (Lei 026/2008 – CMMA)<br />

122 http://omossoroense.uol.com.br/cotidiano/15394-nove-buffets-sao-interditados-por-falta-<strong>de</strong>-licenciamento<br />

123 Instrumento <strong>de</strong> controle e proteção ambiental Lei Complementar 026/2008 – Código Municipal <strong>de</strong> Meio Ambiente –<br />

CMMA.<br />

1063


Quando o po<strong>de</strong>r público dispõe da norma, da técnica e do corpo técnico especializado, ele<br />

possui uma importante ferramenta <strong>de</strong> controle ambiental, capaz <strong>de</strong> fiscalizar, monitorar, gerir,<br />

orientar e punir quando necessário. É relevante frisar, que estabelecer a or<strong>de</strong>m das coisas não é uma<br />

tarefa fácil e, é antes <strong>de</strong> tudo primar pelos interesses da coletivida<strong>de</strong>, por um bem comum que é<br />

direito <strong>de</strong> todos.<br />

Apresentaremos um quadro <strong>de</strong>monstrativo da situação dos estabelecimentos envolvidos no<br />

processo <strong>de</strong> regularização. Por motivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scrição profissional ocultaremos a razão social das<br />

empresas usando um termo figurativo.<br />

Tabela 1 - status dos buffets <strong>de</strong> Mossoró/RN em fevereiro 2012<br />

FONTE: Gerência Executiva da Gestão Ambiental (Setor <strong>de</strong> Fiscalização)<br />

Tomadas essas medidas, posteriormente todos os locais envolvidos buscaram a<br />

regularização e normatização das suas ativida<strong>de</strong>s. Segundo informações da GGA, cessaram-se as<br />

<strong>de</strong>núncias contra os buffets, o que representa um indicador positivo da eficácia da normatização do<br />

espaço/território sobre essa problemática urbana. Neste sentido, corrobora Santos (2004, p. 231),<br />

“O território como um todo se torna um dado <strong>de</strong>ssa harmonia forçada entre lugares e agentes<br />

neles instalados, em função <strong>de</strong> uma inteligência maior, situada nos centros motores da<br />

informação”.<br />

Assim contatamos a emergência <strong>de</strong> práticas <strong>de</strong> <strong>de</strong>núncias e ao mesmo tempo um setor<br />

receptor e gestor ambiental para procurar soluções para enfrentamento <strong>de</strong>stes fatores ambientais que<br />

envolvem a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida dos sujeitos em seus espaços/territórios.<br />

Consi<strong>de</strong>rações<br />

Este trabalho buscou o <strong>de</strong>bate interativo entre diversos conceitos científicos a fim <strong>de</strong><br />

divulgar um dos problemas que assolam as cida<strong>de</strong>s brasileiras, que são os conflitos sociais,<br />

1064


ambientais e econômicos, que facilmente se cruzam em eventos cotidianos provocando impasses<br />

que precisam na maioria das vezes, da interferência do po<strong>de</strong>r público através do uso da norma para<br />

fazer a ponte entre os lados.<br />

A discussão sobre normatização do espaço/território perpassa pela <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> estratégia <strong>de</strong><br />

ação que vise à regulamentação dos espaços público/privados quando estes interferem ambiental e<br />

socialmente nos espaços coletivos. Assim gestores locais precisam estar em sintonia com as<br />

<strong>de</strong>mandas e buscar efetivar o espaço público <strong>de</strong> <strong>de</strong>bate propondo a solução coletivamente dos<br />

conflitos.<br />

Pensar a normatização do espaço/território vai além das regras <strong>de</strong> conformida<strong>de</strong> operacional<br />

e legislativa. É pensar o ambiente em uma estrutura bem mais complexa, que envolve <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />

próprio meio até a relação e interação que as pessoas têm com esse meio. É buscar <strong>nas</strong> normas o<br />

equilíbrio socioambiental e econômico para o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável e saudável, que se<br />

expan<strong>de</strong> do local para o todo, proporcionando a interação dos segmentos que compõe a ca<strong>de</strong>ia da<br />

vida.<br />

Referências<br />

AMBIENTE, Código Municipal <strong>de</strong> Meio. Lei Complementar Nº 026/2008. Mossoró – RN.<br />

CORRÊA, Roberto Lobato. Trajetórias Geográficas. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Bertand Brasil, 1997.<br />

FERREIRA, Leila da Costa. Idéias para uma Sociologia da Questão Ambiental no Brasil. São<br />

Paulo- SP: Annablume, 2006.<br />

GOFFMAN, Erving. A Representação do Eu na <strong>Vida</strong> Cotidiana. Trad. <strong>de</strong> Maria Celia Santos<br />

Rapouso. Vozes, 10ª Ed. Petrópolis – RJ, 2002.<br />

GONÇALVES-MAIA, Raquel. Ciência, Pós-Ciência, Metaciência: tradição, inovação e renovação.<br />

São Paulo: Ed. Livraria da Física, 2011 (Col. Contextos da Ciência).<br />

HOGAN, Daniel Joseph. A <strong>Qualida<strong>de</strong></strong> Ambiental Urbana: oportunida<strong>de</strong>s para um novo salto. São<br />

Paulo em Perspectiva, v. 9, n.3, jul./set. 1995.<br />

HTTP://omossoroense.uol.com.br/cotidiano/15394-nove-buffets-sao-interditados-por-falta-<strong>de</strong>-<br />

licenciamento.<br />

IBGE, Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística: Mossoró / RN.<br />

http://www.ibge.gov.br/cida<strong>de</strong>sat/painel/painel.php?codmun=240800 visitado em 20/09/2012.<br />

JAPIASSU, Hilton. Interdisciplinarida<strong>de</strong> e Patologia do Saber. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Imago, 1976.<br />

LENZI, Cristiano Luiz. Sociologia Ambiental: risco e sustentabilida<strong>de</strong> na mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. Bauru, SP:<br />

EDUSC, 2006.<br />

MOSSORÓ, Código <strong>de</strong> Obras Posturas e Edificações <strong>de</strong>. Lei Complementar Nº 047/2010.<br />

1065


MOSSORÓ, Plano Diretor do Município <strong>de</strong>. Lei Complementar Nº 012/2006.<br />

PRIGOGINE, Ilya. Ciência, Razão e Paixão. 2. ed. revis. e ampl. (Org. Edgard <strong>de</strong> Assis Carvalho e<br />

Maria da Conceição <strong>de</strong> Almeida). São Paulo: Ed. Livraria da Física, 2009 (Col. Contextos da<br />

Ciência).<br />

SANTOS, Milton. Por Uma Geografia Nova. São Paulo. Ed. HUCITEC, 1980 2ª Ed.<br />

SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo. Ed. da<br />

Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, 2004. (Coleção Milton Santos; 1).<br />

TOURAINE, Alain. Pensar Outramente: o discurso interpretativo dominante. Tradução <strong>de</strong><br />

Francisco moras. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.<br />

1066


Resumo<br />

O DIÁLOGO CIENTIFICO COMO INSTRUMENTO<br />

DE PERCEPÇAO AMBIENTAL HIDRICA: SOCIALIZAÇAO DE UMA EXPERIÊNCIA<br />

REALIZADA NA REGIÃO DA ZONA DA MATA – RO¹<br />

Nubia CARAMELLO<br />

(FAROL/LABOGEOPA/SEDUC) - geocaramellourfj@gmail.com<br />

Irene CARNIATTO<br />

(UNIOESTE/PR) - irenecarniatto@yahoo.com.br<br />

Monica dos Santos MARÇAL<br />

(UFRJ/RJ) - monicamarcal@ufrj.br<br />

Luis Fernando Maia Lima<br />

(UNIR-RO) – maialima2000@gmail.com<br />

Busca-se com o presente artigo apresentar ações e diálogos científicos <strong>de</strong>senvolvidos em Rolim <strong>de</strong><br />

Moura – RO, em busca <strong>de</strong> <strong>de</strong>spertar a socieda<strong>de</strong> local, nacional e internacional a respeito do cenário<br />

das águas no Estado <strong>de</strong> Rondônia, no recorte territorial Zona da Mata. Nos últimos anos o<br />

diagnostico apresentado pelo Sistema <strong>de</strong> Proteção Ambiental da Amazônia – SIPAM, através do<br />

programa PROBACIA, a respeito da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> faltar água <strong>nas</strong> torneiras urba<strong>nas</strong> e nos<br />

principais mananciais <strong>de</strong> abastecimento do estado, vem trazendo o Ministério Público para o<br />

dialogo ambiental, buscando tornar a socieda<strong>de</strong> e os usuários cientes <strong>de</strong> suas responsabilida<strong>de</strong>s<br />

ambientais. Através dos diálogos estabelecidos com a Comunida<strong>de</strong> constatamos ter lacu<strong>nas</strong> no<br />

sentindo da socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>sconhecer tanto a atual realida<strong>de</strong>, quanto os fatores que influenciam na<br />

qualida<strong>de</strong> e quantida<strong>de</strong> das águas em seus espaços <strong>de</strong> vivencia. Buscando contribuir com esse<br />

diálogo, criaram-se metodologias e mecanismos <strong>de</strong> multiplicar as informações sobre o cenário<br />

anunciado, correlacionando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> várias pesquisas com a aplicabilida<strong>de</strong> das Leis<br />

Hdricas Nacional 9.433/97 e Estadual 255/2002, em busca da mobilização para a urgência da<br />

implantação da Gestão das Águas Continentais na escala <strong>de</strong> vivencia, através da realização do I<br />

Simpósio Hídrico da Zona da Mata, resultando na obra Amazônia: recursos hídricos e diálogos<br />

socioambientais, um livro que preten<strong>de</strong> ser um instrumento na busca <strong>de</strong> contribuir com as políticas<br />

publicas ambientais do Estado <strong>de</strong> Rondônia.<br />

Palavras-chaves: metodologia socioambiental, diálogo científico, Recursos Hídricos.<br />

1067


Abstract<br />

The present study shows actions and scientific dialogues <strong>de</strong>veloped in Rolim <strong>de</strong> Moura – RO, to<br />

wake up the local national and international society to the water scene of the state of Rondonia, at<br />

cropping land Zona da Mata. In the last years, the diagnostic showed by Environmental Protection<br />

System of the Amazon – SIPAM, by the program PROBACIA, about the possibility of missing<br />

water in the urban taps and in the main water source supplied by the state, has brought the Public<br />

Ministry into the environmental dialogue and has ma<strong>de</strong> society and the users more conscious about<br />

their environmental responsibilities. Through a dialogue with the community, we saw that there are<br />

gaps in the knowledge of society about the present reality and the factors that influence water<br />

quality and quantity in their public spaces. To contribute to this dialogue, methodology and<br />

mechanisms were ma<strong>de</strong> to increase information about the scenario showed, correlating the<br />

<strong>de</strong>velopment of many investigations with the applicability of Water National Law 9.433/97 and<br />

Water State Law 255/2002, urgently seeking the mobilization of the implementation of Continental<br />

Water Management in a range of public spaces, through the realization of I Zona da Mata Water<br />

Symposium, that resulted in the work: ―Amazônia: recursos hídricos e diálogos socioambientais‖, a<br />

book that is a tool for contributing to the environmental public politics of state of Rondonia.<br />

Keywords: environmental methodology, scientific dialogue, Water Resources.<br />

Introdução - A Problemática Motivadora da Proposta<br />

Morar na Amazônia, vem há décadas sendo visto pelos olhares mundiais, como um gran<strong>de</strong><br />

privilégio. Pensamento que tem entre sua base a suposta disponibilida<strong>de</strong> hídrica, ―cobiçada‖ assim,<br />

por esse precioso bem natural. Entretanto, nós Povos da Floresta, atualmente nos <strong>de</strong>paramos com<br />

questões referentes tanto a quantida<strong>de</strong> quanto a qualida<strong>de</strong> dos recursos hídricos em nossa região.<br />

Percepção possível ape<strong>nas</strong> através do olhar local.<br />

O fato é que o espaço Amazônico contemporâneo é reflexo <strong>de</strong> uma ocupação <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada,<br />

que tem em suas águas a maior testemunha das consequências, pela falta <strong>de</strong> políticas públicas<br />

voltadas para conservação dos recursos naturais e <strong>de</strong> um planejamento ambiental integrado, ferindo<br />

o Princípio da Precaução presente na Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, Lei N° 6.938/81.<br />

Nesse sentido, Lemos (2010), evi<strong>de</strong>ncia que quase meta<strong>de</strong> da floresta amazônica existente<br />

em Rondônia foi <strong>de</strong>vastada pelas mãos <strong>de</strong> garimpeiros, pecuaristas, grileiros, o que representa um<br />

total <strong>de</strong> 92.957 km². De 1998 a 2004 a retirada da floresta, chamou bastante atenção como po<strong>de</strong> ser<br />

verificado na Figura 01.<br />

1068


Figura 01 - Taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>smatamento anual (km²/ano) no estado <strong>de</strong> Rondônia realizado através do<br />

programa PRODES.<br />

Fonte: Lemos, 2010.<br />

A diminuição da taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>smatamento é algo a se comemorar, entretanto oculta a angustia<br />

local, pois o principal <strong>de</strong>smatamento sentido são o das margens dos rios <strong>de</strong> pequeno porte,<br />

provocando o assoreamento dos canais hídricos cuja falta da água, é uma realida<strong>de</strong> presente,<br />

agravada em períodos <strong>de</strong> estiagens prolongadas, como ocorreu em setembro <strong>de</strong> 2012, no município<br />

<strong>de</strong> Rolim <strong>de</strong> Moura – RO, noticiado pela mídia local.<br />

Acordar para o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> alterar esse quadro enquanto ainda há tempo como medida<br />

preventiva, se faz necessário para que não <strong>de</strong>ixemos <strong>de</strong> herança para as futuras gerações um cenário<br />

hídrico como a região Su<strong>de</strong>ste, Sul e Nor<strong>de</strong>ste, que buscam hoje por intermédio da implantação <strong>de</strong><br />

seus comitês hidrográficos reverterem o quadro já existente <strong>de</strong> escassez <strong>de</strong> água potável.<br />

Segundo Carniatto (2007, p. 20), citando o relatório <strong>de</strong> Avaliação das Águas do Brasil<br />

(BRASIL, 2002b):<br />

Nas áreas mais <strong>de</strong>senvolvidas do País, o aproveitamento <strong>de</strong>scontrolado das águas<br />

para seus múltiplos usos como: geração <strong>de</strong> energia elétrica, abastecimento público<br />

urbano eindustrial, diluição <strong>de</strong> efluentes, irrigação, navegação, recreação,<br />

manutenção <strong>de</strong> ecossistemas, em paralelo à industrialização, urbanização e<br />

agricultura intensivas em regiões, outrora ricas em recursos naturais, está<br />

<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ando crescentes conflitos pelo uso da água. O resultado é a perda <strong>de</strong><br />

eficácia para vultosos investimentos públicos e privados, assim como o acúmulo <strong>de</strong><br />

consi<strong>de</strong>ráveis prejuízos tanto do ponto <strong>de</strong> vista político-institucional como para os<br />

usuários menos estruturados.<br />

1069


Portanto, um dos maiores <strong>de</strong>safios apresentado pelo órgão Gestor <strong>de</strong> Recursos Hídricos do<br />

Estado - SEDAM, refere-se à falta <strong>de</strong> participação da socieda<strong>de</strong> e a extensão territorial <strong>de</strong><br />

237.576,167km², do Estado <strong>de</strong> Rondônia, divididas em sete bacias hidrográficas (Figura 02),<br />

através da Lei das Águas Estadual 255/2002, po<strong>de</strong>m ser alguns dos fatores que vêm<br />

comprometendo a real implantação <strong>de</strong> comitês <strong>de</strong> bacias hidrográficas que atendam as<br />

particularida<strong>de</strong>s sócio-territoriais das sub-bacias. Ao mesmo tempo e principalmente, po<strong>de</strong><br />

comprometer o diálogo dos usuários das bacias que precisam <strong>de</strong> espaços para serem ouvidos e<br />

articularem entre si, o cenário atual e o <strong>de</strong>sejado.<br />

A Lei Complementar N°255, <strong>de</strong> 25 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2002, apresenta em seu Artigo 13,<br />

parágrafo 4º, a possibilida<strong>de</strong> da articulação para implantação <strong>de</strong> comitês em ―sub-bacias‖,<br />

entretanto, no âmbito da legislação nacional não há legalmente uma <strong>de</strong>marcação <strong>de</strong> extensão para<br />

classificar uma sub-bacia, po<strong>de</strong>ndo variar <strong>de</strong> metros a quilômetros quadrados, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que se<br />

respeitem as <strong>de</strong>marcações físicas que as classificam e o interesse <strong>de</strong> gestão sobre as mesmas.<br />

Figura 02 – Mapa da Divisão Hidrográfica do Estado <strong>de</strong> Rondônia Lei 255/2002<br />

Fonte: SEDAM<br />

Quanto menor a escala <strong>de</strong> diálogos maiores se tornam as chances <strong>de</strong> juntos os atores da<br />

bacia hidrográfica, buscarem a melhor forma <strong>de</strong> Gestão das Águas regionais, <strong>de</strong> modo que o direito<br />

<strong>de</strong> um não sobressaia sobre o direito do outro (CARAMELLO et al 2011).<br />

Um dos princípios mais valorizados <strong>nas</strong> mo<strong>de</strong>r<strong>nas</strong> abordagens <strong>de</strong> gestão da água é a adoção<br />

da bacia hidrográfica como unida<strong>de</strong> principal <strong>de</strong> planejamento e gestão. A partir da escolha <strong>de</strong> uma<br />

1070


unida<strong>de</strong> territorial a<strong>de</strong>quada, a gestão da água <strong>de</strong>ve ser incorporada em um processo mais amplo <strong>de</strong><br />

gestão ambiental integrada (Figura 03), compreendida como a gestão <strong>de</strong> abordagem sistêmica, na<br />

qual o <strong>de</strong>safio é realizar a transição <strong>de</strong>mográfica, econômica, social e ambiental rumo a um<br />

equilíbrio durável.<br />

Gestão tradicional Gestão integrada<br />

Tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão ―top down‖ Participação em diferentes níveis<br />

Centralizada, linear Descentralização, retroalimentação<br />

Aversa a riscos Admite riscos<br />

Decisões finalistas Aceita revisar/revisitar e admite erros<br />

Visão impositiva Visões compartilhadas<br />

Limites administrativos Alem dos limites administrativos<br />

Ator individual Parcerias<br />

Figura 03 – Quadro com as diferenças entre a gestão tradicional e a gestão integrada<br />

Fonte: Holling (in Lewis, 2001) apud Magalhães-Junior, 2007, p.67<br />

Um dos principais fatores que diferenciam a Gestão Tradicional da Gestão Integrada é o<br />

nível <strong>de</strong> flexibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões e a participação aberta aos atores envolvidos na<br />

concepção do espaço em discussão.<br />

A Lei Nacional 9.433, <strong>de</strong> 8 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1997, renova as discussões sobre os mecanismos<br />

necessários para a construção <strong>de</strong> uma realida<strong>de</strong> local menos <strong>de</strong>gradante, reforça em seu Cap. III o<br />

espaço on<strong>de</strong> os diálogos sustentáveis possam ocorrer, <strong>de</strong>limitando no Art. 37 as áreas <strong>de</strong> atuação<br />

dos Comitês <strong>de</strong> Bacia Hidrográfica (MMA, 2008, p.36):<br />

I – a totalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma bacia hidrográfica;<br />

II – sub-bacias hidrográficas <strong>de</strong> tributário do curso <strong>de</strong> água principal da bacia, ou<br />

<strong>de</strong> tributários <strong>de</strong>sse tributário; ou<br />

III – grupo <strong>de</strong> bacias ou sub-bacias hidrográficas contínuas.<br />

A Proposta Metodológica <strong>de</strong> Diálogo Hídrico Científico<br />

Sob esse prisma, que surgiu através do olhar do Grupo <strong>de</strong> Pesquisadores e Pós-graduandos<br />

<strong>de</strong> Pericia e Auditoria Ambiental, a proposta <strong>de</strong> realizar o I ENCONTRO DE BACIAS<br />

HIDROGRÁFICAS DA ZONA DA MATA, sub-região do Estado <strong>de</strong> Rondônia, composta por onze<br />

municípios (Figura 04): São Miguel do Guaporé, São Felipe, Costa Marques, Santa Luzia,<br />

Brasilândia, Alta Floresta, Castanheiras, Novo Horizonte, Rolim <strong>de</strong> Moura, Alta Alegre e Parecis,<br />

localizados <strong>nas</strong> Bacias Hidrográficas Guaporé e Machado, cujo impacto ambiental hídrico quali-<br />

quantitativo encontra-se presente, <strong>de</strong>mandando a realização (ou implantação) <strong>de</strong> ações em busca da<br />

1071


eparação ambiental pelos Órgãos Públicos, Ministério Público, ONG ECOPORE e a Socieda<strong>de</strong><br />

Civil Organizada.<br />

Figura 04 – Mapa das bacias hidrográficas que compõem a Zona da Mata - RO<br />

Tomamos como exemplos os projetos <strong>de</strong> recuperação das matas ciliares do rio Bamburro<br />

(estagnado) e do Igarapé D‘Alincuort que se encontram em execução, ambos os projetos estão<br />

localizados no planalto dos Parecis, divisor <strong>de</strong> águas da Bacia do Guaporé e do Machado, uma área<br />

frágil, sobre a faixa <strong>de</strong> transição do Planalto dos Parecis para a Planície Amazônica, e contam com<br />

resultados bem diferenciados.<br />

Em 2002, o Estado <strong>de</strong> Rondônia através da Lei Complementar 255, torna pública a Política<br />

Estadual dos Recursos Hídricos, todavia a ausência da implantação <strong>de</strong> comitês <strong>de</strong> bacias no Estado<br />

<strong>de</strong> Rondônia e a falta <strong>de</strong> um Conselho Estadual <strong>de</strong> Recurso Hídrico (CERH) ativo, contribuíram<br />

durante 10 anos para <strong>de</strong>sarticulação e falta da autonomia legal <strong>de</strong> Gestão das Águas, <strong>nas</strong> ―peque<strong>nas</strong><br />

bacias hidrográficas em nível local‖. Através da política estadual possibilitaria a criação <strong>de</strong> sub-<br />

comitês e com eles a existência da Agencia <strong>de</strong> Bacia Hidrográfica nesses sub-comitês, <strong>de</strong>ssa forma<br />

contribuiria para a Gestão das Bacias Hidrográficas e a sustentabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> projetos socioambientais<br />

<strong>de</strong>senvolvidos com foco na <strong>de</strong>gradação quali-quantitativa dos espaços hídricos.<br />

1072


Após o contato com os pesquisadores do Estado <strong>de</strong> Rondônia, Rio <strong>de</strong> Janeiro, Brasília e<br />

Paraná, foi possível formular a pauta do evento e estruturar uma agenda <strong>de</strong> ações, tendo como foco<br />

principal a socialização do cenário hídrico, com base em pesquisas <strong>de</strong>senvolvidas por vários<br />

pesquisadores <strong>de</strong> estados e instituições diferentes.<br />

O segundo passo, focou-se em buscar recursos financeiros para a implantação da proposta,<br />

fato que levou a comissão aos municípios que compõem a Zona da Mata, estabelecendo um dialogo<br />

informativo sobre a relevância <strong>de</strong> tornar efetiva a Política Estadual dos Recursos Hídricos do Estado<br />

<strong>de</strong> Rondônia (Lei Complementar 255/2002), <strong>de</strong> maneira que os aspectos naturais e<br />

socioeconômicos possam ser realmente contemplados, requer uma revisão e adaptação da mesma<br />

junto à comunida<strong>de</strong>. A relevância da presença dos representantes <strong>de</strong> todos os setores da socieda<strong>de</strong>,<br />

seguindo a proposta da Lei 9433/97, também foi abordada, tendo em contra partida a colaboração<br />

para ser co-proponente da proposta, estabelecendo o numero <strong>de</strong> vagas correspon<strong>de</strong>nte a cada<br />

representativida<strong>de</strong> legal.<br />

A abertura oficial da programação do evento com chamada para artigos, que se<br />

enquadravam em uma das linhas temáticas do evento, foram fundamentais para que as pesquisas<br />

<strong>de</strong>senvolvida em bacias hidrográficas do estado, pu<strong>de</strong>sse ser uma reflexão com base cientifica à<br />

cada estudo <strong>de</strong> caso apresentado, <strong>de</strong> acordo com o tema dos trabalhos, adaptados a um dos eixos<br />

abaixo:<br />

Teoria, Métodos e Linguagem <strong>de</strong> Pesquisa Socioambiental: Contribuição ao Plano <strong>de</strong> Bacia;<br />

Conflitos por Recursos Naturais, Relação Socieda<strong>de</strong> e Natureza: Problemas Ambientais no<br />

Campo e na Cida<strong>de</strong>;<br />

Gestão <strong>de</strong> Recursos Hídricos em Rondônia com Ênfase na Zona da Mata e no Vale do<br />

Guaporé;<br />

Gestão Ambiental e dos Recursos Hídricos;<br />

Cultura / Etnogeografia, Percepção Ambiental e Sustentabilida<strong>de</strong>: Diálogos entre os Povos<br />

da(na) Amazônia.<br />

Dessa forma, o Diálogo em prol das Águas da Zona da Mata convidou os atores envolvidos<br />

a se fazerem presentes em um Espaço <strong>de</strong> Diálogo Aberto, para que pelo acesso aos mecanismos da<br />

implantação <strong>de</strong> um comitê possa haver uma reflexão sobre os direitos e <strong>de</strong>veres <strong>de</strong> cada um, em<br />

busca da mudança do quadro hídrico atual, na perspectiva <strong>de</strong> olhar o quadro que temos e o quadro<br />

que almejamos conquistar a curto, médio e longo tempo.<br />

Os comitês <strong>de</strong> bacias hidrográficas constituem um espaço <strong>de</strong> explicitação e resolução <strong>de</strong><br />

conflitos, pois são os fóruns <strong>de</strong> diálogo por excelência. A criação <strong>de</strong> novos direitos e o confronto<br />

com o instituído são marcas da <strong>de</strong>mocracia. Neste processo dialógico, o papel do Estado consiste<br />

1073


em promover e assegurar a coexistência dos segmentos sociais e a <strong>de</strong>fesa das regras <strong>de</strong> um jogo<br />

transparente, <strong>de</strong>mocrático e participativo, possibilitando uma gestão <strong>de</strong>scentralizada.<br />

Diante do exposto, o público participante <strong>de</strong>sse diálogo, presente no I ENCONTRO DE<br />

BACIAS HIDROGRÁFICAS DA ZONA DA MATA, contou com a presença <strong>de</strong> 480 pessoas,<br />

registrando a presença <strong>de</strong> vários segmentos (Figura 05).<br />

Figura 05 – Representação dos Participantes do I Simpósio <strong>de</strong> Recursos Hídricos da Zona da Mata – RO.<br />

Fonte: Banco <strong>de</strong> dados do evento<br />

Destacando-se entre os presentes, os representantes do: Ministério Público, Associações <strong>de</strong><br />

Bairros, Associação Rural, Associação Comercial, Pesquisadores In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, ONGs, Socieda<strong>de</strong><br />

Civil Organizada, Moradores da zona urbana e rural da região da Zona da Mata; Estudantes <strong>de</strong><br />

graduação, especialização, mestrado e doutorado com interesse <strong>de</strong> pesquisa envolvendo a temática<br />

Água e suas interfaces, Representantes civis, governamentais e socieda<strong>de</strong> organizada,<br />

Empreen<strong>de</strong>dores e <strong>de</strong>mais interessados, que se fizeram presentes para contribuir com esse diálogo.<br />

O espaço <strong>de</strong> diálogo aberto por este Simpósio figura como mais um passo, entre muitos<br />

outros, que já estão sendo dados, em busca <strong>de</strong> se constituir e fortificar as políticas públicas<br />

<strong>de</strong>scentralizadoras, voltadas à qualida<strong>de</strong> e quantida<strong>de</strong> das águas rondoniense. Tendo sido pautado<br />

pelo objetivo <strong>de</strong> proporcionar um encontro <strong>de</strong> representantes <strong>de</strong> todas as esferas sociais e<br />

governamentais, em prol do diálogo quali-quantitativo dos recursos hídricos da Zona da Mata,<br />

buscando fomentar as reflexões necessárias sobre um novo reor<strong>de</strong>namento da Lei Complementar<br />

N°255/2002.<br />

1074


Instrumentalizar os diálogos através <strong>de</strong> palestras e <strong>de</strong> ofici<strong>nas</strong>, envolvendo temáticas sobre<br />

Gestão e Plano <strong>de</strong> Bacias Hidrográficas, que apresentarão o cenário hídrico local e o referencial<br />

teórico para o diálogo em questão, formular propostas <strong>de</strong> políticas públicas, por meio <strong>de</strong> uma<br />

metodologia participativa, que produza um plano <strong>de</strong> ação para o alcance <strong>de</strong> um cenário hídrico <strong>de</strong><br />

futuro <strong>de</strong>sejável pela comunida<strong>de</strong> local e, que leve em consi<strong>de</strong>ração a análise das vulnerabilida<strong>de</strong>s e<br />

potencialida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sua base econômica, social, cultural e ambiental, foram a bússola da proposta do<br />

evento culminando com a publicação da obra ―Amazônia: recursos hídricos e diálogos<br />

socioambientais‖.<br />

A presente obra a i<strong>de</strong>ntificação do cenário hídrico do Estado, ao mesmo tempo em que<br />

busca provocar a reflexão aos <strong>de</strong>mais leitores espaciais, sobre as gran<strong>de</strong>s lacu<strong>nas</strong> entre a visão<br />

romântica existente ainda sobre o espaço amazônico e a realida<strong>de</strong> quali-quantitativa vivenciada<br />

pelos atores locais.<br />

Referencias<br />

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente do Brasil - MMA. Avaliação das Águas do Brasil.<br />

Secretaria <strong>de</strong> Recursos Hídricos. Brasília, 2002b.<br />

BRASIL. Presidência da Republica. Lei 9.433 <strong>de</strong> 8 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1997. Instituiu a Política Nacional<br />

<strong>de</strong> Recursos Hídricos e cria o Sistema Nacional <strong>de</strong> Gerenciamento <strong>de</strong> e Recursos Hídricos, 1997.<br />

CARAMELLO, Nubia; CARNIATTO, Irene; MARÇAL, Monica dos Santos e PINHEIRO, Zairo.<br />

Amazonia: recursos hídricos e diálogos socioambientais. Ed. CRV, Curitiba 2011.<br />

CARNIATTO, Irene. Subsídios para um Processo <strong>de</strong> Gestão <strong>de</strong> Recursos Hídricos e Educação<br />

Ambiental <strong>nas</strong> Sub-Bacias Xaxim e Santa Rosa, Bacia Hidrográfica Paraná III. Tese (Doutorado) -<br />

Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Engenharia Florestal, Setor <strong>de</strong> Ciências Agrárias da Universida<strong>de</strong><br />

Fe<strong>de</strong>ral do Paraná. Curitiba, 2007.<br />

LEMOS, André Luiz Ferreira. Desmatamento na Amazônia Legal: evolução, causas,<br />

monitoramento e possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> mitigação através do fundo Amazônia. Dissertação <strong>de</strong> Graduação,<br />

disponível em acesso em 20 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong><br />

2011.<br />

MAGALHÃES-JUNIOR, Antonio Pereira. Indicadores Ambientais e Recursos Hídricos: realida<strong>de</strong><br />

e perspectivas para o Brasil a partir da experiência francesa. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Bertrand Brasil,<br />

2007.<br />

MMA. Conjunto <strong>de</strong> Normas Legais: recursos hídricos. Ministério do Meio Ambiente, Secretaria <strong>de</strong><br />

Recursos Hídricos e Ambiente Urbano. – 6. ed. – Brasília: MMA, 2008. 466 p.<br />

1075


GESTÃO AMBIENTAL COMPARTILHADA NA PARAÍBA:<br />

UM DESAFIO PARA A SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL NO ESTADO E MUNICÍPIOS<br />

Resumo<br />

Maria das Dores <strong>de</strong> Souza ABREU (UFPB)<br />

mdabreu_bio@hotmail.com<br />

Belinda Pereira da CUNHA (UFPB)<br />

belindacunha@hotmail.com<br />

O presente trabalho tem por finalida<strong>de</strong> discutir e refletir sobre a Gestão Ambiental Pública do<br />

Estado da Paraíba e a sua atuação quanto ao objetivo da Gestão Ambiental Pública Nacional <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolver uma gestão ambiental compartilhada entre as esferas nacional, estadual e municipal,<br />

fundamentada na elevação da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e do ambiente dos municípios. Para realização<br />

<strong>de</strong>ste trabalho foram feitas pesquisas bibliográficas e documentais visando o levantamento <strong>de</strong> dados<br />

compreendidos como fundamentais. O governo do Estado da Paraíba dispõe da Secretaria <strong>de</strong> Estado<br />

dos Recursos Hídricos, do Meio Ambiente e da Ciência e Tecnologia – SERHMACT, que tem a<br />

função <strong>de</strong> promover e <strong>de</strong>senvolver as Políticas Públicas Estaduais no âmbito <strong>de</strong> suas competências.<br />

Encontram-se em suas autarquias: SUDEMA – Superintendência Estadual <strong>de</strong> Meio Ambiente da<br />

Paraíba, AESA – Agência Executiva <strong>de</strong> Gestão das Águas do Estado da Paraíba e FAPESQ –<br />

Fundação <strong>de</strong> Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba. Dos 223 municípios paraibanos, cerca <strong>de</strong> 20<br />

apresentam algum órgão relacionado ao meio ambiente. A reativação da Comissão Tripartite da<br />

Paraíba representa um avanço para execução <strong>de</strong> uma política ambiental ativa e integrada no Estado.<br />

As Comissões Tripartites <strong>de</strong> Meio Ambiente consistem no espaço formal <strong>de</strong> diálogo e articulação<br />

entre os órgãos e entida<strong>de</strong>s ambientais, sendo comissões (são) fundamentais para promoção da<br />

gestão ambiental compartilhada e <strong>de</strong>scentralizada. As dificulda<strong>de</strong>s na área ambiental são gran<strong>de</strong>s<br />

precisando somar efetivamente os três níveis <strong>de</strong> governo, substituindo eventuais disputas e<br />

sombreamentos por uma situação <strong>de</strong> compartilhamento <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>s. Só assim haverá<br />

forças suficientes para mudança e evolução da gestão pública ambiental ou <strong>de</strong> qualquer outro<br />

segmento na implementação <strong>de</strong> um <strong>de</strong>senvolvimento sustentável fundamentado na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

vida.<br />

Palavras-chaves: Sustentabilida<strong>de</strong> Ambiental; Gestão Compartilhada; Estado; Municípios.<br />

1076


Abstract<br />

The present study aims discuss and reflect on the Public Environmental Management of State of<br />

Paraiba and its performance on the goal of the Environmental Management National Public at<br />

<strong>de</strong>velop an environmental management shared between national spheres, state and municipal, based<br />

on raising the quality of life and environment of municipalities. For this study were ma<strong>de</strong> researches<br />

bibliographic and documentary aimed at data collection un<strong>de</strong>rstood as fundamental. The<br />

government of the state of Paraíba has the Secretary of State of Water Resources, of Environment<br />

and Science and Technology – SERHMACT, which has the function to promote and <strong>de</strong>velop the<br />

State Public Policy within their competence. Are found in their autarchies: SUDEMA - State<br />

Superinten<strong>de</strong>nt of Environment of Paraíba, AESA - Executive Agency for Water Management in<br />

the State of Paraíba and FAPERQ - Foundation for Research Support of the State of Paraíba. Of the<br />

223 municipalities paraibanos, about 20 present an organ related to the environment. The<br />

reactivation of the Tripartite Commission of Paraíba presents a breakthrough for execution of an<br />

environmental policy active and integrated in the State. The Tripartite Commissions on<br />

Environment consist of the formal space for dialogue and joint between agencies and entities<br />

environmental, being commissions (are) fundamental to promote environmental management<br />

shared and <strong>de</strong>centralized. The difficulties in the environmental area are great needing to add<br />

effectively the three levels of government, substituted any disputes and sha<strong>de</strong>rs by a situation of<br />

shared responsibility. Only then there will be sufficient forces for change and evolution of<br />

environmental public management or any segment in the implementation of sustainable<br />

<strong>de</strong>velopment based on quality of life.<br />

Keywords: Environmental Sustainability; Shared Management; State; Municipalities.<br />

Introdução<br />

A Lei Fe<strong>de</strong>ral nº 6.938 (BRASIL, 1981), que dispõe sobre a Política Nacional <strong>de</strong> Meio<br />

Ambiente – PNMA tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualida<strong>de</strong> ambiental<br />

propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao <strong>de</strong>senvolvimento socioeconômico, aos<br />

interesses da segurança nacional e à proteção da dignida<strong>de</strong> da vida humana. Passados 31 anos da<br />

existência <strong>de</strong>sse instrumento <strong>de</strong> gestão ambiental averigua-se que a atuação dos municípios nesse<br />

contexto ainda não foi disseminada efetivamente em todo Brasil. A gestão ambiental compartilhada<br />

tem por objetivo a integração <strong>de</strong> todas as esferas governamentais e não-governamentais para que se<br />

possa realmente promover um <strong>de</strong>senvolvimento social, ambiental e econômico <strong>de</strong> forma<br />

equilibrada.<br />

1077


Temos um enorme <strong>de</strong>safio pela frente 1 , tocando a todos os brasileiros e estrangeiros<br />

resi<strong>de</strong>ntes no país (a) cuidar do Brasil, enfatizando que <strong>de</strong>senvolver essa tarefa é também trabalhar<br />

com os governos estaduais e municipais para assegurar qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida em nossas cida<strong>de</strong>s, on<strong>de</strong><br />

vivem quase 80% dos brasileiros. A missão da gestão ambiental pública nacional é <strong>de</strong> fazer uma<br />

política ambiental a ser respeitada por todos, fundamentada em quatro gran<strong>de</strong>s diretrizes: a política<br />

ambiental integrada, o fortalecimento do Sistema Nacional <strong>de</strong> Meio Ambiente - SISNAMA, o<br />

controle e a participação social, e o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, que, a rigor, é o objetivo principal<br />

da política ambiental <strong>de</strong> governo (Silva, 2004).<br />

Nesse contexto, foram criadas as Comissões Tripartites <strong>de</strong> Meio Ambiente como um espaço<br />

formal <strong>de</strong> diálogo e articulação entre os órgãos e entida<strong>de</strong>s ambientais. Essas comissões são<br />

fundamentais para promoção da gestão ambiental compartilhada e <strong>de</strong>scentralizada. É consenso, na<br />

Comissão Tripartite Nacional a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> avançar em diversos aspectos para o<br />

compartilhamento e a <strong>de</strong>scentralização da gestão ambiental, como: A regulamentação, por Lei<br />

Complementar, do Art. 23 da Constituição Fe<strong>de</strong>ral que trata da divisão <strong>de</strong> competências entre os<br />

entes fe<strong>de</strong>rados, no que diz respeito à gestão ambiental; O <strong>de</strong>sdobramento da Resolução CONAMA<br />

237/97 em outras normas e procedimentos no âmbito dos estados e municípios; A implementação<br />

do Programa Nacional <strong>de</strong> Formação e Capacitação <strong>de</strong> Gestores Municipais, visando à inclusão<br />

maciça dos municípios na gestão ambiental compartilhada; e a articulação para a necessária<br />

implementação do Sistema Nacional <strong>de</strong> Informações <strong>de</strong> Meio Ambiente, <strong>de</strong>ntre outros (MMA,<br />

2006).<br />

As Comissões Tripartites têm por objetivo primordial (<strong>de</strong>) estabelecer o diálogo entre os três<br />

níveis <strong>de</strong> governo, on<strong>de</strong> tudo <strong>de</strong>verá operar por consenso nestas três esferas, sendo a ocasião <strong>de</strong> se<br />

discutir como é possível resolver melhor a relação Ibama/Estado/Municípios, bem como os<br />

problemas <strong>de</strong> sombreamento e superposição <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s e discutir também uma estratégia<br />

conjunta para fortalecer o município, sobretudo ao que diz respeito à capacitação dos municípios<br />

para a questão ambiental.<br />

O estado da Paraíba possui 223 municípios e sua gestão ambiental pública é executada pela<br />

Secretaria <strong>de</strong> Estado dos Recursos Hídricos, do Meio Ambiente e da Ciência <strong>de</strong> Tecnologia –<br />

SERHMACT, que tem a função <strong>de</strong> promover e <strong>de</strong>senvolver as Políticas Públicas Estaduais no<br />

âmbito <strong>de</strong> suas competências. Tendo <strong>nas</strong> suas autarquias SUDEMA – Superintendência Estadual <strong>de</strong><br />

Meio Ambiente da Paraíba, AESA – Agência Executiva <strong>de</strong> Gestão das Águas do Estado da Paraíba<br />

e FAPESQ – Fundação <strong>de</strong> Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba.<br />

O campo da gestão ambiental é muito amplo. E essa extensão se explica porque o próprio<br />

tema meio ambiente precisa ser entendido em sua complexida<strong>de</strong> como um conjunto <strong>de</strong> fatores que<br />

constitui um todo (Leff, 2001).<br />

1078


Dessa forma, o presente trabalho tem por objetivo discutir e refletir sobre a Gestão<br />

Ambiental Pública do Estado da Paraíba e a sua operacionalida<strong>de</strong> quanto ao objetivo da Gestão<br />

Ambiental Pública Nacional <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver uma gestão ambiental compartilhada entre as esferas<br />

nacional, estadual e municipal, fundamentada na elevação da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e do ambiente dos<br />

municípios, uma vez que a gestão ambiental compartilhada po<strong>de</strong> contribuir para a sustentabilida<strong>de</strong><br />

do <strong>de</strong>senvolvimento econômico, social e ambiental local <strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s e assim com a proteção<br />

ambiental no seu contexto <strong>de</strong> totalida<strong>de</strong>.<br />

Metodologia<br />

Para realização <strong>de</strong>ste trabalho foram feitas pesquisas bibliográficas e documentais afim <strong>de</strong><br />

levantamento <strong>de</strong> dados fundamentais para a pesquisa. Alves-Mazzoti & Gewandsznaj<strong>de</strong>r (1999)<br />

consi<strong>de</strong>ram como documento qualquer registro escrito que possa ser usado como fonte <strong>de</strong><br />

informação. Foram feitas visitas para coletas <strong>de</strong> informações no órgão público ambiental do estado<br />

da Paraíba - SERHMACT e no IBAMA, on<strong>de</strong> fora aplicado um questionário <strong>de</strong>scritivo com a<br />

finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> coletar informações importantes quanto à situação da gestão ambiental pública<br />

paraibana.<br />

O presente trabalho faz parte <strong>de</strong> uma pesquisa <strong>de</strong> mestrado que está sendo <strong>de</strong>senvolvida pela<br />

mestranda autora ABREU, aprovada em seleção para o Programa <strong>de</strong> Mestrado e Doutorado em<br />

Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA, na Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Paraíba – UFPB. A<br />

referida pesquisa intitulada como: LICENCIAMENTO AMBIENTAL NA PARAÍBA:<br />

Descentralização, Entraves e Aplicabilida<strong>de</strong>, tem por objetivo analisar o processo <strong>de</strong> Licenciamento<br />

Ambiental executado no estado da Paraíba e quais os entraves se põem diante da aplicabilida<strong>de</strong> e<br />

consequente <strong>de</strong>scentralização para os municípios, como previsto na Política Nacional do Meio<br />

Ambiente (e) regulamentada pela Lei Complementar nº: 140 do ano <strong>de</strong> 2011. Nesse contexto se faz<br />

necessário enten<strong>de</strong>r como funciona a Gestão Ambiental Pública na Paraíba, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua estrutura<br />

até a sua execução prática.<br />

Fundamentação Teórica<br />

No momento em que o Brasil retoma índices <strong>de</strong> crescimento <strong>de</strong> sua economia, cuidar<br />

também quer dizer contribuir para que as ativida<strong>de</strong>s produtivas, especialmente na área <strong>de</strong> infra-<br />

estrutura, se instalem e se <strong>de</strong>senvolvam <strong>de</strong> maneira ambientalmente sustentável (Silva, 2004). Nesse<br />

momento faz-se necessário enfrentar a discussão e reflexão sobre os temas e questões perplexas que<br />

rondam a proteção ambiental, seus aspectos polêmicos e notáveis, a partir da socieda<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna,<br />

com vistas ao <strong>de</strong>senvolvimento baseado no respeito ao meio ambiente, <strong>de</strong>corrente dos necessários<br />

1079


crescimentos humano e econômico, suas i<strong>de</strong>ologias e necessida<strong>de</strong>s, respeitadas as diferenças<br />

culturais e regionais em circunstâncias <strong>de</strong>terminadas (Cunha, 2012).<br />

A capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atuação do Estado na área ambiental baseia-se na idéia <strong>de</strong><br />

responsabilida<strong>de</strong>s compartilhadas entre União, Estados, Distrito Fe<strong>de</strong>ral e Municípios, além da<br />

relação <strong>de</strong>sses com os diversos setores da socieda<strong>de</strong> (MMA, 2006).<br />

Dessa forma, com base <strong>nas</strong> diretrizes <strong>de</strong> gestão ambiental nacional, um grupo <strong>de</strong> Trabalho<br />

criado pela Comissão Tripartite Nacional elaborou um Projeto <strong>de</strong> Lei Complementar fixando<br />

normas para a cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Fe<strong>de</strong>ral e os Municípios, no que se<br />

refere às competências comuns previstas no artigo 23 - incisos III, VI e VII e parágrafo único,<br />

estabelecendo questões fundamentais como: (i) a repartição <strong>de</strong> competências entre os membros do<br />

SISNAMA em relação ao licenciamento ambiental, tendo como base a abrangência e magnitu<strong>de</strong> do<br />

impacto ambiental da ativida<strong>de</strong>; (ii) harmonização entre as competências para a realização do<br />

licenciamento ambiental e autorização para a supressão <strong>de</strong> vegetação; (iii) regras claras para ação da<br />

fiscalização e da gestão florestal; (iv) competência supletiva dos entes fe<strong>de</strong>rados e não ape<strong>nas</strong> da<br />

União, <strong>de</strong>ntre outras (MMA, 2006).<br />

O resultado <strong>de</strong>sse Projeto foi a Lei Complementar nº 140/2011, que dispõe sobre o artigo 23,<br />

parágrafo único, e incisos III, VI e VII da Constituição Fe<strong>de</strong>ral e trata da competência para o<br />

licenciamento ambiental (BRASIL, 2011). Resultou assim alterada a Lei nº 6.938/81 dispondo<br />

sobre "a cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Fe<strong>de</strong>ral e os Municípios <strong>nas</strong> ações<br />

administrativas <strong>de</strong>correntes do exercício da competência comum relativas à proteção das paisagens<br />

naturais notáveis, à proteção do meio ambiente, ao combate à poluição em qualquer <strong>de</strong> suas formas<br />

e à preservação das florestas, da fauna e da flora" (Ribeiro, 2011).<br />

A implementação <strong>de</strong>ssa lei será coor<strong>de</strong>nada pelas comissões tripartites, que consiste na<br />

Comissão Tripartite Nacional formada, paritariamente, por representantes dos Po<strong>de</strong>res Executivos<br />

da União, dos Estados, do Distrito Fe<strong>de</strong>ral e dos Municípios, com o objetivo <strong>de</strong> fomentar a gestão<br />

ambiental compartilhada e <strong>de</strong>scentralizada entre os entes fe<strong>de</strong>rativos. As Comissões Tripartites<br />

Estaduais são formadas, paritariamente, por representantes dos Po<strong>de</strong>res Executivos da União, dos<br />

Estados e dos Municípios, com o objetivo <strong>de</strong> fomentar a gestão ambiental compartilhada e<br />

<strong>de</strong>scentralizada entre os entes fe<strong>de</strong>rativos.<br />

A Comissão Tripartite é uma articulação institucional promovida pelo Ministério do Meio<br />

Ambiente - MMA para garantir ações compartilhadas dos órgãos ambientais dos três níveis <strong>de</strong><br />

governo (União, Estados e Municípios), on<strong>de</strong> o principal foco é garantir a eficiência da execução<br />

das políticas ambientais, além <strong>de</strong> ser um fórum que procura dirimir conflitos <strong>de</strong> competência no<br />

licenciamento ambiental e otimizar ações <strong>de</strong> fiscalização <strong>de</strong> combate aos crimes ambientais<br />

(IBAMA, 2011).<br />

1080


Estas comissões são fundamentais para promoção da gestão ambiental compartilhada e<br />

<strong>de</strong>scentralizada entre os entes fe<strong>de</strong>rados, uma vez que o artigo 23 da Constituição Fe<strong>de</strong>ral<br />

estabelece que é competência comum da União, dos Estados, do Distrito Fe<strong>de</strong>ral e dos Municípios,<br />

a proteção do meio ambiente e o combate à poluição em qualquer <strong>de</strong> suas formas. As Comissões<br />

Técnicas Tripartites Estaduais e a Nacional, são compostas por representações paritárias dos órgãos<br />

e entida<strong>de</strong>s ambientais da fe<strong>de</strong>ração, os quais <strong>de</strong>senvolvem seus trabalhos <strong>de</strong> acordo com uma<br />

lógica <strong>de</strong> consenso, on<strong>de</strong> as <strong>de</strong>cisões são construídas por unanimida<strong>de</strong> (Paz, 2011).<br />

Como encaminhamento do seminário ―Repartição <strong>de</strong> Competências‖, realizado no ano <strong>de</strong><br />

2006, realizado em Brasília, DF, nos dias 23 e 24 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2006, ficou estabelecido que<br />

paralelamente à discussão da regulamentação do Artigo 23 da CF, a Comissão Tripartite Nacional<br />

iria sugerir às Comissões Técnicas Tripartites Estaduais critérios para a <strong>de</strong>finição das ativida<strong>de</strong>s<br />

consi<strong>de</strong>radas com características <strong>de</strong> impacto local. Consi<strong>de</strong>rando que é fundamental para o<br />

exercício da competência e da gestão ambiental compartilhada a compreensão sobre abrangência <strong>de</strong><br />

impactos ambientais, a proposta <strong>de</strong> regulamentação do artigo 23 da CF estabelece que para<br />

<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> impacto ambiental serão levados em consi<strong>de</strong>ração o porte e o potencial poluidor do<br />

empreendimento ou ativida<strong>de</strong> a ser licenciada ou autorizada, e apresenta o seguinte entendimento<br />

sobre impacto ambiental <strong>de</strong> âmbito local:<br />

“aquele que afete diretamente, no todo ou em parte, o território <strong>de</strong> um<br />

município sem ultrapassar o seu limite territorial” (MMA, 2006).<br />

O processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> políticas públicas para uma socieda<strong>de</strong> reflete os conflitos <strong>de</strong><br />

interesses, os arranjos feitos <strong>nas</strong> esferas <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r que perpassam as instituições do Estado e da<br />

socieda<strong>de</strong> como um todo. As formas <strong>de</strong> organização, o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> pressão e articulação <strong>de</strong> diferentes<br />

grupos sociais no processo <strong>de</strong> estabelecimento e reivindicação <strong>de</strong> <strong>de</strong>mandas são fatores<br />

fundamentais na conquista <strong>de</strong> novos e mais amplos direitos sociais, incorporados ao exercício da<br />

cidadania. As ações públicas, articuladas com as <strong>de</strong>mandas da socieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>vem se voltar para a<br />

construção <strong>de</strong> direitos sociais (Höfling, 2001).<br />

Para avançar rumo ao <strong>de</strong>senvolvimento justo e sustentável, o po<strong>de</strong>r público tem um gran<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>safio a ser vencido, que é a compreensão <strong>de</strong> que uma política ambiental integrada, articulada com<br />

estados e municípios, sendo fruto <strong>de</strong> diálogo com a socieda<strong>de</strong>, constituindo um fator essencial para<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento do país. Incorporar a dimensão socioambiental <strong>nas</strong> metas <strong>de</strong> crescimento<br />

econômico é condição, e não obstáculo, para o <strong>de</strong>senvolvimento duradouro, sustentável e<br />

socialmente inclusivo (Silva, 2004).<br />

Preservar o meio-ambiente não po<strong>de</strong> e nem <strong>de</strong>ve, ser uma tarefa ape<strong>nas</strong> do Estado, mas<br />

também dos municípios, ONGs e socieda<strong>de</strong> em geral. Os caminhos para essa gestão compartilhada<br />

1081


po<strong>de</strong>m ser vários, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> mesmo é da <strong>de</strong>cisão política dos dirigentes. No entanto, é importante<br />

ressaltar que a municipalização da gestão ambiental só será possível se os funcionários das<br />

prefeituras forem capacitados e treinados para fazerem uma administração fundamentada na<br />

sustentabilida<strong>de</strong>. Não adianta transferir ou dividir a gestão ambiental com os municípios, se o corpo<br />

funcional da prefeitura não conhece, não enten<strong>de</strong> e não se interessa pelas questões ambientais<br />

(FAMUP, 2009). Preservar o meio-ambiente não po<strong>de</strong> e nem <strong>de</strong>ve ser uma tarefa ape<strong>nas</strong> do Estado,<br />

mas também dos municípios, organizações não governamentais e socieda<strong>de</strong> em geral. Os caminhos<br />

para essa gestão compartilhada po<strong>de</strong>m ser vários, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> mesmo é da <strong>de</strong>cisão política dos<br />

dirigentes. No entanto, é importante ressaltar que a municipalização da gestão ambiental só será<br />

possível se os funcionários das prefeituras forem capacitados e treinados para fazerem uma<br />

administração fundamentada na sustentabilida<strong>de</strong>. Não adianta transferir ou dividir a gestão<br />

ambiental com os municípios, se o corpo funcional da prefeitura <strong>de</strong>sconhecer as questões<br />

ambientais atinentes às suas funções integradas (FAMUP, 2009).<br />

Resultados<br />

Coletados e analisados os dados necessários obteve-se informações <strong>de</strong> que o Estado da<br />

Paraíba dispõe da Secretaria <strong>de</strong> Estado dos Recursos Hídricos, do Meio Ambiente e da Ciência <strong>de</strong><br />

Tecnologia – SERHMACT, que tem a função <strong>de</strong> promover e <strong>de</strong>senvolver as Políticas Públicas<br />

Estaduais no âmbito <strong>de</strong> suas competências. Encontram-se em suas autarquias: SUDEMA –<br />

Superintendência Estadual <strong>de</strong> Meio Ambiente da Paraíba, AESA – Agência Executiva <strong>de</strong> Gestão<br />

das Águas do Estado da Paraíba e FAPESQ – Fundação <strong>de</strong> Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba.<br />

Segundo Rogério dos Santos Ferreira, o Gerente Executivo <strong>de</strong> Meio Ambiente da<br />

SERHMACT, a respeito <strong>de</strong> como as ações da SERHMACT chegam aos municípios, uma vez que a<br />

Secretaria é múltipla, os municípios do Estado da Paraíba são contemplados com as ações <strong>de</strong>sta<br />

Secretaria Executiva quando procuram ou quando são visitados a partir da i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> uma<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> parceria entre ambos. Cabendo <strong>de</strong>ixar claro que poucos são os municípios no Estado<br />

com política voltada para as questões ambientais, apesar <strong>de</strong> toda a <strong>de</strong>manda existente<br />

(SERHMACT, 2012).<br />

Segundo o referido Gerente Executivo <strong>de</strong> Meio Ambiente da SERHMACT, pensando na<br />

questão do complemento, a Secretaria Executiva <strong>de</strong> Meio Ambiente trabalha <strong>de</strong> forma solitária e<br />

solidária quando não vê interesse nos Municípios em <strong>de</strong>senvolver políticas ambientais locais. Dos<br />

poucos municípios que atualmente dispõe <strong>de</strong> alguns órgãos ligado ao Meio Ambiente, cerca <strong>de</strong> 20<br />

ape<strong>nas</strong>, dos 223 municípios do Estado, nenhum apresenta, ao menos publicamente, uma Política<br />

Ambiental a qual possa integrar ao Estado. Sendo <strong>de</strong>staque neste ponto, a integração total <strong>de</strong>sta<br />

1082


Secretaria com outros órgãos como UFPB, UFCG, IFPB e outros que buscam promover as ações<br />

nos municípios em sua ausência <strong>de</strong> atuação.<br />

A Comissão Tripartite da Paraíba foi criada no ano <strong>de</strong> 2004, sendo formada naquele<br />

momento por representantes do IBAMA – PB, da SERHMACT, da SUDEMA, da SEMAM –<br />

Secretaria <strong>de</strong> Meio Ambiente do município <strong>de</strong> João Pessoa e <strong>de</strong> um representante da FAMUP –<br />

Fe<strong>de</strong>ração das Associações <strong>de</strong> Municípios da Paraíba. Atualmente a Comissão Tripartite da Paraíba<br />

encontrava-se sem funcionamento <strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s e foi no fim do ano <strong>de</strong> 2011 que a mesma<br />

voltou a exercer suas funções, reativando a realização <strong>de</strong> suas reuniões e ativida<strong>de</strong>s e agora com o<br />

Instituto Chico Men<strong>de</strong>s <strong>de</strong> proteção à Biodiversida<strong>de</strong> – ICMBio como mais um membro. Segundo o<br />

atual Superinten<strong>de</strong>nte da unida<strong>de</strong> do IBAMA na Paraíba, Bruno Dunda, que assumiu a pasta no ano<br />

<strong>de</strong> 2011, a Comissão Tripartite da Paraíba funciona como um fórum <strong>de</strong> discussões dos órgãos<br />

ambientais das esferas nacional, estadual e municipal, que tem por objetivo <strong>de</strong>senvolver uma gestão<br />

compartilhada na Paraíba e evoluir na <strong>de</strong>scentralização e <strong>de</strong>sconcentração da gestão ambiental<br />

pública paraibana, <strong>de</strong> forma a garantir a eficácia na proteção ao meio ambiente (IBAMA, 2012).<br />

Com a reativação da Comissão Tripartite da Paraíba, várias questões estão sendo discutidas,<br />

entre elas estão: o regimento interno da mesma, a criação <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong> trabalhos <strong>de</strong>ntro da comissão<br />

para levantamento <strong>de</strong> questões a serem discutidas, a execução das competências <strong>de</strong>finidas na Lei<br />

Complementar 140/2011, a tensão entre SUDEMA e municípios quanto a essa <strong>de</strong>scentralização <strong>de</strong><br />

gestão, <strong>de</strong>finição das ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> impacto local fundamental para a questão da <strong>de</strong>scentralização do<br />

licenciamento ambiental para os municípios, entre outras questões tão importantes <strong>de</strong>ntro da gestão<br />

ambiental pública.<br />

Passados seis anos do referido seminário ―Repartição <strong>de</strong> Competências‖ on<strong>de</strong> entrou em<br />

discussão a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> quais seriam as ativida<strong>de</strong>s consi<strong>de</strong>radas <strong>de</strong> impacto local, a Comissão<br />

Tripartite do Estado da Paraíba, que atualmente encontra-se se rearticulando para reativar suas<br />

ativida<strong>de</strong>s, está fazendo discussões para <strong>de</strong>finição das respectivas ativida<strong>de</strong>s consi<strong>de</strong>radas <strong>de</strong><br />

impacto local, consi<strong>de</strong>rando suas peculiarida<strong>de</strong>s regionais, adotando critérios para regulamentar as<br />

tipologias <strong>de</strong> empreendimentos e ativida<strong>de</strong>s com características <strong>de</strong> impacto local, no intuito <strong>de</strong><br />

difundir a <strong>de</strong>scentralização do licenciamento ambiental e atuação dos municípios para com o<br />

mesmo.<br />

Existe um entrave entre a gestão estadual e municipal, on<strong>de</strong> o governo do estado se <strong>de</strong>para<br />

com a falta <strong>de</strong> interesse da maioria dos municípios quanto à gestão ambiental e o fato <strong>de</strong> que<br />

existem municípios paraibanos que já dispõem <strong>de</strong> alguma estrutura para <strong>de</strong>senvolver essa função e<br />

principalmente o interesse para <strong>de</strong>senvolver essa importante ativida<strong>de</strong> e que se <strong>de</strong>param com a falta<br />

<strong>de</strong> estrutura do governo do Estado para capacitar e efetivar essa integração entre os mesmos. É<br />

necessário conscientizar os municípios <strong>de</strong> que eles po<strong>de</strong>m assumir a gestão ambiental, <strong>de</strong>finir e<br />

1083


difundir o que a prefeitura <strong>de</strong>ve fazer para gerir o meio-ambiente, os pontos positivos <strong>de</strong>ssa<br />

municipalização, como estruturar a Secretaria ou o Departamento <strong>de</strong>sta área para essa atuação e<br />

muitos outros assuntos relacionados para que essa evolução ocorra <strong>de</strong> fato. A reativação da<br />

Comissão Tripartite da Paraíba representa um passo à frente para execução <strong>de</strong> uma política<br />

ambiental ativa e integrada no estado.<br />

Para Não Concluir<br />

Tendo em vista a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse assunto para o andamento da pesquisa <strong>de</strong> mestrado<br />

citada e sua importância para o entendimento da real situação da gestão ambiental pública paraibana<br />

e da maioria dos estados brasileiros, <strong>de</strong>stacando a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> promoção <strong>de</strong> políticas públicas<br />

para a mudança e melhora <strong>de</strong>sse quadro observa-se a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> discutir e analisar<br />

conjuntamente a maneira como estas três esferas <strong>de</strong> atuação na área ambiental: nacional, estadual e<br />

municipal, trabalham e se integram, esclarecendo dúvidas quanto ao papel <strong>de</strong> cada uma. As<br />

dificulda<strong>de</strong>s na área ambiental são gran<strong>de</strong>s precisando somar efetivamente os três níveis <strong>de</strong><br />

governo, substituindo eventuais disputas e sombreamentos por uma situação <strong>de</strong> compartilhamento<br />

<strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>s. Portanto, se quisermos pensar em um sistema eficiente, é preciso sensibilizar<br />

os gestores da importância disso e pensar novas maneiras <strong>de</strong> capacitação dos municípios para esta<br />

atribuição, assim como viabilizar mecanismos <strong>de</strong> financiamento e trabalhar conjuntamente a<br />

questão da sustentabilida<strong>de</strong>. Mesmo com dificulda<strong>de</strong>s visíveis e em alguns casos compreensíveis,<br />

alguns passos significativos vêm sendo dados também na articulação da política ambiental integrada<br />

junto aos estados e municípios, consolidando gradativamente o Sistema Nacional <strong>de</strong> Meio<br />

Ambiente – SISNAMA, mostrando que é também a divisão <strong>de</strong> protagonismo que fortalece e torna<br />

real essa possibilida<strong>de</strong> a cada dia.<br />

Em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> aspectos como: o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento seguido pelo Brasil, uma<br />

gestão ambiental centralizadora <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os seus primórdios e a <strong>de</strong>scredibilida<strong>de</strong> que infelizmente<br />

representantes do po<strong>de</strong>r público tem dado à gestão pública, se torna urgente o gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio citado<br />

por Luis Inácio Lula da Silva, enquanto presi<strong>de</strong>nte do Brasil, que é a missão <strong>de</strong> <strong>de</strong>volver a auto-<br />

estima ao povo brasileiro. Este se torna, sem dúvida, o sentido do <strong>de</strong>senvolvimento que precisamos:<br />

socialmente justo, economicamente viável e ambientalmente sustentável. Só assim haverá forças<br />

suficientes para mudança e evolução da gestão pública, seja ambiental ou <strong>de</strong> qualquer outro<br />

segmento na promoção <strong>de</strong> um <strong>de</strong>senvolvimento sustentável fundamentado na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<br />

Referências<br />

ALVES-MAZZOTTI, A. J. & GEWANDSZNADER, F. O Método <strong>nas</strong> Ciências Naturais e<br />

Sociais: pesquisa quantitativa e qualitativa. São Paulo: Thomson, 1999.<br />

1084


BRASIL. Lei nº 6.938, <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1981. Dispõe sobre a Política Nacional <strong>de</strong> Meio<br />

Ambiente.<br />

BRASIL. Lei Complementar nº 140, <strong>de</strong> 08 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2011. Fixa normas, nos termos dos<br />

incisos III, VI e VII do caput e do parágrafo único do art. 23 da Constituição Fe<strong>de</strong>ral.<br />

CUNHA, Belinda Pereira (org.). Temas Fundamentais <strong>de</strong> Direito e Sustentabilida<strong>de</strong><br />

Socioambiental. – Manaus: Governo do Estado do Amazo<strong>nas</strong> – Secretaria <strong>de</strong> Estado <strong>de</strong> Cultura,<br />

2012.<br />

FAMUP. Gestão Ambiental Compartilhada, 2009.<br />

. Acesso em:17set.2012.<br />

HÖFLING, Eloisa Mattos. Estado e Políticas (Públicas) Sociais. Ca<strong>de</strong>rnos Ce<strong>de</strong>s, ano XXI, nº 55,<br />

novembro/2001.<br />

IBAMA. Ibama e Su<strong>de</strong>ma Discutem Condução do Sisnama na Paraíba. ASCOM – IBAMA – PB,<br />

2011.. Acesso em: 17 set. 2012.<br />

IBAMA-PB. Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Unida<strong>de</strong><br />

do Estado da Paraíba, 2012.<br />

LEFF, Henrique. Saber Ambiental: sustentabilida<strong>de</strong>, racionalida<strong>de</strong>, complexida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>r. Tradução<br />

Lúcia M. Orth. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.<br />

MMA. Ministério do Meio Ambiente. Gestão Ambiental Compartilhada: uma contribuição do<br />

Ministério <strong>de</strong> Meio Ambiente, 2006.<br />

PAZ, Ronilson. IBAMA Coor<strong>de</strong>na Reunião <strong>de</strong> Rearticulação da Comissão Tripartite da Paraíba.<br />

.<br />

Acesso em: 17 set. 2012.<br />

RIBEIRO, Roseli. Já está em vigor a nova Lei <strong>de</strong> competência Ambiental.<br />

.<br />

Acesso em: 17 set. 2012.<br />

SERHMACT. Secretaria <strong>de</strong> Estado dos Recursos Hídricos, do Meio Ambiente e da Ciência <strong>de</strong><br />

Tecnologia da Paraíba, 2012.<br />

SILVA, Marina. Dá pra Casar: meio ambiente e <strong>de</strong>senvolvimento. Revista Eco-21, Edição 91.<br />

Acesso em: . Em: 17 set. 2012.<br />

1085


Resumo<br />

NOTAS SOBRE A GÊNESE DAS ÁREAS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL CEARENSE:<br />

CONTEXTO HISTÓRICO JURÍDICO-INSTITUCIONAL 124<br />

Maria Rita VIDAL<br />

Doutoranda em Geografia, DGE/UFC<br />

mritavidal@yahoo.com.br<br />

Camila Campos LOPES<br />

Doutoranda em Geografia, DGE/UFC<br />

camila.npc@hotmail.com<br />

Nubélia Moreira da SILVA<br />

Doutoranda em Geografia, DGE/UFC<br />

nubeliamoreira@yahoo.com.br<br />

Abraão Levi dos Santos MASCARENHAS<br />

Prof. da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Pará, DGE/UFPA<br />

abraaolevi@hotmail.co<br />

As áreas <strong>de</strong> Proteção Ambiental - APAs constituem um dos instrumentos da Política Ambiental<br />

Brasileira, estas, se configuram como espaços voltados para a proteção do uso sustentável dos<br />

recursos naturais. Historicamente, essas áreas tem apresentado problemas no tocante ao<br />

cumprimento <strong>de</strong> seus objetivos frente a conservação e/ou proteção dos atributos ambientais. Pelo<br />

exposto, o estudo versa sobre a gênese das Áreas <strong>de</strong> Proteção Ambiental Estaduais cearenses,<br />

buscando i<strong>de</strong>ntificar e <strong>de</strong>bater sobre as dificulda<strong>de</strong>s da implantação e implementação <strong>de</strong>sses<br />

espaços em função da sua forma <strong>de</strong> criação. Os dados apresentados foram elaborados a partir <strong>de</strong><br />

informações obtidas na Superintendência Estadual do Meio Ambiente do Ceará – SEMACE, bem<br />

como no banco <strong>de</strong> dados do Cadastro Nacional <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação do Ministério <strong>de</strong> Meio<br />

Ambiente-MMA. As maiores dificulda<strong>de</strong>s encontradas para a implantação e efetivação das áreas <strong>de</strong><br />

proteção ambiental, estão expressas pela forma <strong>de</strong> gestão realizada nessas áreas, bem como a falta<br />

<strong>de</strong> recursos financeiros e humanos para geri-las. A gestão participativa envolvendo os órgãos<br />

124 Trabalho referente ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> Pesquisa <strong>de</strong> Pós Graduação em Geografia com linha <strong>de</strong> pesquisa em<br />

Estudos Socioambientais na Zona Costeira da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Ceará.<br />

1086


governamentais, o setor privado e a socieda<strong>de</strong> civil organizada se mostram como uma das saídas<br />

para a efetivação <strong>de</strong>sses espaços.<br />

Palavras – chave: Área <strong>de</strong> Proteção Ambiental; Conservação; Gestão Participativa.<br />

Abstract<br />

The Environmental Protection Areas - APAs constitute themselves as an instrument of the Brazilian<br />

Environmental Policy, these, are configured as spaces <strong>de</strong>dicated to the protection of the sustainable<br />

use of natural resources. Historically, these areas have been presenting problems in the fulfillment<br />

of their objectives regarding of conservation and / or protection of environmental attributes. For<br />

these reasons, the study focuses on the genesis of the creation of the Environmental Protection<br />

Areas in the State of Ceará, seeking i<strong>de</strong>ntify and discuss the difficulties in implantation and<br />

implementation of these spaces according to their scheme of creation. Data were elaborate from<br />

sources obtained from the Environment Superinten<strong>de</strong>nt State of Ceará - SEMACE as well the<br />

database of the National Register of Protected Areas of the Ministry of Environment-MMA. The<br />

major difficulties foun<strong>de</strong>d in the implementation and effectuation of environmental protection areas,<br />

are expressed by way of management conducted in these areas, as well the lack of financial and<br />

human resources to manage them. Participatory management involving government agencies,<br />

private sector and civil society organizations appear as one of the outputs for the effectuation of<br />

these spaces.<br />

Keywords: environmental protection area, conservation, participatory management.<br />

Introdução<br />

As áreas protegidas Brasileiras constituem-se como instrumentos da Política Nacional <strong>de</strong><br />

Meio Ambiente – PNMA, sendo estas, uma das estratégias <strong>de</strong>senvolvidas para a conservação e/ou<br />

preservação dos recursos naturais nacionais.<br />

As Áreas Protegidas <strong>de</strong>finem-se como espaços territoriais legalmente protegidos por meio<br />

da legislação ambiental específica. Nesses espaços estão inseridas as Áreas <strong>de</strong> Reserva Legal (RL),<br />

Áreas <strong>de</strong> Preservação Permanente (APP‘s), as Terras Indíge<strong>nas</strong> (TI‘s), sendo, portanto, diferentes<br />

do conceito <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação-UCs. As UCs, à luz da legislação ambiental brasileira, são<br />

<strong>de</strong>finidas, como um espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais,<br />

com características naturais relevantes, legalmente instituídas pelo Po<strong>de</strong>r Público (VIANA;<br />

GABEM, 2005).<br />

De acordo com (COELHO et al, 2009) a constituição das variadas Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação<br />

sejam <strong>de</strong> proteção integral ou <strong>de</strong> uso sustentável, levam á sobreposição <strong>de</strong> múltiplas<br />

1087


territorialida<strong>de</strong>s, sendo as Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação ao mesmo tempo território <strong>de</strong> conservação,<br />

território <strong>de</strong> vida, território <strong>de</strong> produção e território <strong>de</strong> pesquisa acadêmica. Ainda <strong>de</strong> acordo com os<br />

autores, as Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação brasileiras estão cunhadas por i<strong>de</strong>ais ambientalistas e<br />

territoriais, refletindo <strong>nas</strong> formas <strong>de</strong> criação e implantação <strong>de</strong>ssas unida<strong>de</strong>s no território nacional<br />

As Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação são classificadas em dois grupos, distribuídas em doze<br />

categorias com características específicas a saber: Grupo 01-Proteção Integral – admitem ape<strong>nas</strong><br />

usos indiretos dos seus recursos naturais, Grupo 02-Uso Sustentável – que compatibilizam a<br />

conservação da natureza com o uso sustentável <strong>de</strong> parcela dos seus recursos naturais; é na categoria<br />

<strong>de</strong> uso sustentável que estão inseridas as Áreas <strong>de</strong> Proteção Ambiental – APAs (BRASIL, 2000).<br />

As Áreas <strong>de</strong> Proteção Ambiental - APAs foram criadas como uma nova categoria no Brasil<br />

em 1981, cuja especificida<strong>de</strong> resi<strong>de</strong> no fato <strong>de</strong> buscar conciliar o <strong>de</strong>senvolvimento da área, aliado à<br />

sua proteção ambiental. As terras permanecem sob o domínio particular ou do estado, porém, estão<br />

(ou <strong>de</strong>veriam estar) sujeitas às restrições <strong>de</strong> uso do solo e dos recursos naturais segundo os objetivos<br />

<strong>de</strong> proteção da área, através <strong>de</strong> ações <strong>de</strong> planejamento e gestão territorial.<br />

O Sistema Nacional <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Conservação - SNUC, em seu Art.15, <strong>de</strong>fine Área <strong>de</strong><br />

Proteção Ambiental (APA) como:<br />

(...) ―área em geral extensa, com um certo grau <strong>de</strong> ocupação humana, com<br />

predicativos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais importantes para a qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> vida e o bem-estar das socieda<strong>de</strong>s huma<strong>nas</strong> como objetivos básicos <strong>de</strong> proteger<br />

a diversida<strong>de</strong> biológica, disciplinando o processo <strong>de</strong> ocupação além <strong>de</strong> assegurar a<br />

sustentabilida<strong>de</strong> do uso dos recursos naturais‖ (BRASIL, 2000).<br />

A partir das <strong>de</strong>finições do conceito <strong>de</strong> APA po<strong>de</strong>-se inferir que a mesma busca conciliar o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento econômico com a conservação dos recursos naturais <strong>de</strong>ntro do mesmo espaço, os<br />

múltiplos usos nessa área atribui elevada complexida<strong>de</strong> na gestão e manejo.<br />

São intermináveis os <strong>de</strong>bates em relação à eficácia das unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação <strong>de</strong> uso<br />

sustentável. A abrangência das especificações/possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s<br />

econômicas <strong>nas</strong> APAs, gerou a ―resistência‖ que muitos estudiosos e conservacionistas têm em<br />

relação a esta categoria, suscitando críticas no tocante à sua real aplicabilida<strong>de</strong>.<br />

Concordamos com (CÔRTE, 1997), quando afirma que as APAs têm sido usadas no<br />

território brasileiro como um instrumento <strong>de</strong> correção e minimizador da <strong>de</strong>gradação ambiental.<br />

Porém a transformação <strong>de</strong> uma área em APA historicamente tem <strong>de</strong>monstrado não ser suficiente<br />

para controlar o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação nesses espaços.<br />

Diante do exposto, e tomando como exemplo às APAS estaduais, é possível inferir que estas<br />

unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação, trazem consigo uma série <strong>de</strong> problemas pontuados pela falta <strong>de</strong> recursos<br />

financeiros e humanos, pela inexistência <strong>de</strong> planos <strong>de</strong> manejo e efetivação dos Conselhos Gestores,<br />

1088


levando à dificulda<strong>de</strong>s no planejamento e gestão <strong>de</strong>sses espaços. Todos esses fatores contribuíram<br />

para levar a APA ao rol da categoria mais <strong>de</strong>sacreditada do Sistema Nacional <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Conservação Brasileiro.<br />

Dessa forma, o presente trabalho discute a criação das Áreas <strong>de</strong> Proteção Ambiental<br />

cearenses, buscando i<strong>de</strong>ntificar e <strong>de</strong>bater sobre as dificulda<strong>de</strong>s da implantação e implementação<br />

<strong>de</strong>sses espaços.<br />

Material e Métodos<br />

Para a coleta <strong>de</strong> informações sobre a criação, distribuição e situação atual das APAs no<br />

Estado do Ceará, foram utilizados como fonte <strong>de</strong> pesquisa dados provenientes da Superintendência<br />

Estadual do Meio Ambiente – SEMACE. Dados <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m estatísticos e quantitativos foram obtidos<br />

através do Cadastro Nacional <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação, do Ministério <strong>de</strong> Meio Ambiente –<br />

MMA e na Legislação Fe<strong>de</strong>ral e Estadual referente à figura legal das APAs. Os Decretos <strong>de</strong> criação<br />

das APAs estaduais foram utilizados como fonte <strong>de</strong> análise para o entendimento da justificativa <strong>de</strong><br />

criação, dos objetivos, as peculiarida<strong>de</strong>s e as restrições impostas ao uso e ocupação <strong>de</strong> cada APA<br />

estudada.<br />

Para fundamentar as idéias <strong>de</strong> áreas protegidas e unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação optou-se por<br />

conceitos adotados no Sistema Brasileiro <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Conservação e no Sistema Estadual <strong>de</strong><br />

Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação do Ceará, bem como as aportações <strong>de</strong> autores como: Morsello (2001),<br />

que aborda o tratamento <strong>de</strong> áreas protegidas no tocante à conservação dos recursos naturais, com<br />

ênfase na seleção e manejo em áreas públicas e privadas. Viana; Ganem (2005) que trazem a<br />

caracterização da evolução e criação das APAs no contexto nacional. Cabral e Souza (2005) que<br />

apresentam as diferentes abordagens conceituais das áreas protegidas no mundo, discutindo o<br />

planejamento e gestão das áreas protegidas usando como estudo <strong>de</strong> caso as áreas <strong>de</strong> proteção<br />

ambiental - APAs.<br />

Da Criação das Áreas <strong>de</strong> Proteção Ambiental Cearenses<br />

O Ceará inicia a experiência <strong>de</strong> gestão sobre Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação, no final da década<br />

<strong>de</strong> 1980, através do Decreto <strong>de</strong> nº 20.253/09/1989, que trata da <strong>de</strong>sapropriação das áreas <strong>de</strong> terra<br />

compreendidas no contorno do, que seria hoje, Parque Ecológico do Rio Cocó, com objetivo <strong>de</strong><br />

minimizar os impactos urbanos sobre o ecossistema manguezal.<br />

Através da Lei Estadual n° 12.488, <strong>de</strong> 13/09/1995, que dispõe sobre a Política Florestal<br />

Estadual, inicia-se a criação <strong>de</strong> inúmeras unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação, na década <strong>de</strong> 1990, sobretudo,<br />

no tocante às unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> uso sustentável como as Áreas <strong>de</strong> Proteção Ambiental. Estas unida<strong>de</strong>s<br />

1089


predominam em número e se localizam em sua gran<strong>de</strong> maioria nos ecossistemas costeiros do<br />

Estado.<br />

Decorridas quase duas décadas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a criação da primeira unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conservação estadual<br />

(Parque do Cocó), somente no ano <strong>de</strong> 2009, através da Lei Estadual nº 14.390, o Governo do Ceará<br />

instituiu o Sistema Estadual <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação – SEUC. A referida lei traz à incumbência<br />

<strong>de</strong> a<strong>de</strong>quar as áreas protegidas do Estado <strong>de</strong>ntro das categorias estabelecidas pelo SNUC.<br />

Um ano <strong>de</strong>pois, através do Decerto nº 3.834, <strong>de</strong> 2001, fica <strong>de</strong>terminada a exigência da<br />

a<strong>de</strong>quação das categorias existentes às categorias propostas pelo SNUC. No Ceará existiam e ainda<br />

existem categorias fora das estabelecidas pelo SNUC, a exemplo das Reservas Ecológicas<br />

Particulares (REP), extintas pela <strong>de</strong>terminação do Decreto acima e do Parque Botânico do Ceará,<br />

ainda em funcionamento.<br />

Áreas <strong>de</strong> Proteção Ambiental Estaduais: da conservação a contradições<br />

Frente aos problemas enfrentados pelas APAs no tocante a falta <strong>de</strong> recursos financeiros e<br />

humanos, distorção em relação a suas áreas, inoperância dos Conselhos Gestores e, a não<br />

coadunação do Estado e as proprieda<strong>de</strong>s privadas, po<strong>de</strong>-se observar que gran<strong>de</strong> parte das APAs<br />

cearenses no mo<strong>de</strong>lo atual, não cumpre seus objetivos.<br />

Para embasar tal fato, parte-se <strong>de</strong> premissas que levam a reflexão sobre a gênese das APAs<br />

estaduais e os seus principais problemas, quais sejam: redação <strong>de</strong> seus <strong>de</strong>cretos <strong>de</strong> criação, ao<br />

tamanho das áreas, a distribuição/concentração espacial no território, e as relações estabelecidas (ou<br />

não), entre a institucionalização <strong>de</strong>sses espaços e as populações resi<strong>de</strong>ntes nos mesmos.<br />

- Mal <strong>nas</strong>cidas, mal criadas...<br />

O que nos leva a tal constatação resi<strong>de</strong> no fato <strong>de</strong>, que existe uma semelhança exacerbada<br />

nos Decretos <strong>de</strong> criação, on<strong>de</strong> a redação <strong>de</strong> seus artigos apresenta semelhança incontestável<br />

evi<strong>de</strong>nciando a não consi<strong>de</strong>ração das características locais <strong>de</strong> cada área <strong>de</strong>limitada. (quadro 01).<br />

APA Justificativa da Criação Objetivos e Peculiarida<strong>de</strong>s<br />

Bica do Ipu<br />

25.354/1999<br />

Du<strong>nas</strong> da<br />

Lagoinha<br />

25.41/1999<br />

Valor ecológico e turístico/fragilida<strong>de</strong> do<br />

equilíbrio ecológico da Bica do<br />

Ipu/conscientização da população<br />

regional sobre a preservação da área.<br />

Refúgios biológicos/fragilida<strong>de</strong> do<br />

equilíbrio ecológico das Du<strong>nas</strong> da<br />

Lagoinha/conscientização da população.<br />

Proteger e conservar as comunida<strong>de</strong>s bióticas,<br />

recursos hídricos, solos/or<strong>de</strong>nar o turismo<br />

ecológico, científico e cultural/<strong>de</strong>senvolver a<br />

consciência ecológica.<br />

Proteger e conservar as comunida<strong>de</strong>s bióticas,<br />

recursos hídricos, solos/or<strong>de</strong>nar o turismo<br />

ecológico, científico e cultural/<strong>de</strong>senvolver a<br />

consciência ecológica.<br />

Du<strong>nas</strong> <strong>de</strong> Valor ecológico e turístico/fragilida<strong>de</strong> do Proteger e conservar as comunida<strong>de</strong>s bióticas,<br />

1090


Paracuru<br />

25.418/1999<br />

Lagoa <strong>de</strong> Jijoca<br />

25.975/2000<br />

Lagoa do Uruaú<br />

25.355/1999<br />

Serra <strong>de</strong><br />

Aratanha<br />

24.959/1998<br />

Serra <strong>de</strong><br />

Baturité<br />

Nº 20.956/1990<br />

Estuário do Rio<br />

Ceará<br />

25.413/1999<br />

APA do<br />

Estuário do Rio<br />

Curu<br />

25.416/1999<br />

APA do<br />

Estuario do Rio<br />

Mundaú<br />

25.414/1999<br />

Rio Pacoti<br />

25.778/2000<br />

APA do<br />

Lagamar do<br />

equilíbrio ecológico das Du<strong>nas</strong> <strong>de</strong><br />

Paracuru/conscientização da população.<br />

Valor ecológico e turístico/fragilida<strong>de</strong> do<br />

equilíbrio ecológico/conscientização da<br />

população regional sobre a preservação<br />

da área.<br />

Peculiarida<strong>de</strong>s ambientais das margens<br />

da Lagoa/refúgio<br />

biológico/conscientização da população<br />

regional sobre a preservação da área.<br />

Fragilida<strong>de</strong> do equilíbrio ecológico<br />

ambiental da Serra/ <strong>de</strong> conscientização<br />

ambiental da população.<br />

Conservação e melhoria das condições<br />

ecológicas regionais assegurando o bem<br />

estar das populações huma<strong>nas</strong>/<br />

Valor ecológico e turístico/fragilida<strong>de</strong> do<br />

equilíbrio ecológico/conscientização da<br />

população.<br />

Valor ecológico e turístico/fragilida<strong>de</strong> do<br />

equilíbrio ecológico/conscientização da<br />

população.<br />

Refúgio biológico/fragilida<strong>de</strong> do<br />

equilíbrio ecológico do<br />

Estuário/conscientização da população.<br />

Riqueza e relevância dos ecossistemas<br />

presentes no entorno do Rio/preservação<br />

da foz/Importância da bacia para o<br />

Sistema <strong>de</strong> Abastecimento d‘água da<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Fortaleza.<br />

Peculiarida<strong>de</strong>s ambientais do Lagamar<br />

do Cauípe e dos entornos da Lagoa do<br />

recursos hídricos, solos/or<strong>de</strong>nar o turismo<br />

ecológico, científico e cultural/<strong>de</strong>senvolver a<br />

consciência ecológica.<br />

Proteger comunida<strong>de</strong>s bióticas e o<br />

solo/conservação <strong>de</strong> remanescentes da mata<br />

aluvial, leitos naturais, águas pluviais/or<strong>de</strong>nar o<br />

turismo ecológico, científico e<br />

cultural/<strong>de</strong>senvolver a consciência ecológica.<br />

Proteger as comunida<strong>de</strong>s bióticas nativas e o<br />

solo/ Garantir a conservação <strong>de</strong> remanescentes<br />

<strong>de</strong> mata aluvial/<strong>de</strong>senvolver a consciência<br />

ecológica.<br />

Proteger as comunida<strong>de</strong>s bióticas nativas,<br />

<strong>nas</strong>centes e vertentes/ conservar os<br />

remanescentes da Mata Atlântica/or<strong>de</strong>nar o<br />

turismo ecológico, científico e cultural.<br />

Proteger as comunida<strong>de</strong>s bióticas nativas,<br />

<strong>nas</strong>centes dos rios, as vertentes e os<br />

solos/<strong>de</strong>senvolver na população regional<br />

consciência ecológica e conservacionista<br />

Proteger as comunida<strong>de</strong>s bióticas nativas, os<br />

recursos hídricos e os solos/or<strong>de</strong>nar o turismo<br />

ecológico, científico e cultural/<strong>de</strong>senvolver, na<br />

população consciência ecológica e<br />

conservacionista.<br />

Proteger e conservar as comunida<strong>de</strong>s bióticas<br />

nativas, os recursos hídricos e os solos/<br />

proporcionar a população métodos e técnicas<br />

apropriadas ao uso do solo/ or<strong>de</strong>nar o turismo<br />

ecológico, científico e cultural.<br />

Proteger e conservar as comunida<strong>de</strong>s bióticas<br />

nativas, os recursos hídricos e os solos/<br />

proporcionar a população métodos e técnicas<br />

apropriadas ao uso do solo/ or<strong>de</strong>nar o turismo<br />

ecológico, científico e cultural.<br />

Proteger a biodiversida<strong>de</strong>/garantir qualida<strong>de</strong><br />

dos recursos hídricos/ preservar as margens do<br />

Rio/or<strong>de</strong>nar o turismo ecológico, científico e<br />

cultural/proteger o cordão dunar/preservar o<br />

manguezal.<br />

Proteger as comunida<strong>de</strong>s bióticas nativas, as<br />

<strong>nas</strong>centes rios, as vertentes e os solos; /garantir<br />

1091


Cauípe e APA<br />

do Pecem<br />

24.957/1998<br />

Pecém/refúgios biológicos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

valor/ambientes dotados <strong>de</strong> equilíbrio<br />

ecológico frágeis.<br />

a conservação <strong>de</strong> remanescentes <strong>de</strong> mata<br />

aluvial, dos leitos naturais das águas pluviais e<br />

das reservas hídricas/or<strong>de</strong>nar o turismo<br />

ecológico, científico e cultural.<br />

Quadro 01 - Síntese dos principias componentes dos Decretos <strong>de</strong> criação das APAs Cearenses.<br />

Fonte: Elaboração pelos autores.<br />

Decorrida um pouco mais <strong>de</strong> uma década do surgimento das APAs cearenses, estas ainda<br />

não alcançaram os objetivos aos quais se propõem. Verifica-se através <strong>de</strong>ste estudo que, quanto à<br />

elaboração dos objetivos, a tendência para as APAs cearenses é <strong>de</strong> estabelecer objetivos<br />

generalizados, não levando em consi<strong>de</strong>ração as características locais que cada área requer, e ainda,<br />

que existem objetivos citados nos <strong>de</strong>cretos que não são característicos da categoria. Conforme se<br />

po<strong>de</strong> perceber na redação em relação a ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> lazer e ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> educação ambiental.<br />

Os objetivos <strong>de</strong> proteção <strong>de</strong> uma APA precisam ser bem especificados em seus <strong>de</strong>cretos <strong>de</strong><br />

criação, uma vez que estes orientam o processo <strong>de</strong> planejamento e gestão territorial <strong>de</strong> uma área<br />

específica, levando em consi<strong>de</strong>ração as suas peculiarida<strong>de</strong>s e especificida<strong>de</strong>s dos atributos<br />

ambientais e locais.<br />

Com base nos <strong>de</strong>cretos analisados e na possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>stes auxiliarem o processo <strong>de</strong> gestão,<br />

observa-se aqueles que melhor foram estruturados <strong>de</strong> alguma maneira, mesmo que <strong>de</strong> forma tímida,<br />

reportaram características locais e endêmicas da unida<strong>de</strong> em questão, a exemplo temos a APA do<br />

Rio Pacoti, que traz a ―Importância da bacia hidrográfica para o sistema <strong>de</strong> abastecimento d‘água da<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Fortaleza‖, e a APA da Serra <strong>de</strong> Aratanha, que aborda a conservação dos remanescentes<br />

da Mata Atlântica.<br />

A data <strong>de</strong> criação <strong>de</strong>ssas áreas também nos remete a uma reflexão. A maioria tem como<br />

marco <strong>de</strong> criação a data <strong>de</strong> 29 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1999 seu marco <strong>de</strong> criação. Verifica-se que, sete das<br />

trezes APAs existentes, foram criadas na referida data, isso implica dizer que, 54% das APAs<br />

Estaduais foram criadas em data conjunta, ou seja em bloco.<br />

Desse modo, algumas áreas foram incluídas em categorias ina<strong>de</strong>quadas no tocante às suas<br />

características e objetivos <strong>de</strong> manejo, <strong>de</strong> modo que não condizem com seu uso atual, ou foram<br />

incluídas em categorias que não têm objetivos claros e <strong>de</strong>terminados.<br />

- Mal Nascidas, Mal Criadas e Mal Distribuídas...<br />

Outro fator relevante se expressa pela distribuição espacial das APAs no território cearense.<br />

Evi<strong>de</strong>nciando a concentração na zona costeira, esse <strong>de</strong>sequilíbrio espacial, implica na baixa<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> proteção dos ecossistemas e recursos naturais como um todo, tendo consequências na<br />

proteção da sociobiodiversida<strong>de</strong>.<br />

1092


Atualmente o Estado do Ceará conta com 13 Áreas <strong>de</strong> Proteção Ambiental sob sua<br />

administração, distribuídas em sua quase totalida<strong>de</strong> na Zona Costeira Cearense. (figura 01).<br />

Figura 01 – Espacialização das Áreas <strong>de</strong> Proteção Ambiental Estaduais do Ceará.<br />

Fonte: <strong>Vida</strong>l; Mascarenhas (2012)<br />

Outro fator relevante se expressa pela distribuição espacial das APAs no território cearense.<br />

Evi<strong>de</strong>nciando a concentração na zona costeira, esse <strong>de</strong>sequilíbrio espacial, implica na baixa<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> proteção dos ecossistemas e recursos naturais como um todo, tendo consequências na<br />

proteção da sociobiodiversida<strong>de</strong>.<br />

Atualmente o Estado do Ceará conta com 13 Áreas <strong>de</strong> Proteção Ambiental sob sua<br />

administração, distribuídas em sua quase totalida<strong>de</strong> na Zona Costeira Cearense. (figura 01).<br />

- Mal Nascidas, Mal Criadas, Mal Distribuídas e Mal Planejadas...<br />

Além da distribuição espacial voltada para a zona costeira, nota-se ainda, a disparida<strong>de</strong><br />

entre a extensão (em hectares) das áreas <strong>de</strong> proteção ambiental cearenses (figura 02). Algumas<br />

perfazendo gran<strong>de</strong>s áreas, como é o caso da APA da Bica do Ipu que <strong>de</strong> acordo com seu Decreto <strong>de</strong><br />

Criação nº 25.354, <strong>de</strong> 26 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1999, tem uma área <strong>de</strong> 3.484.665 hectares se contrapondo à<br />

APA do Estuário do Estuário do Rio Curu que tem ape<strong>nas</strong> 881,94 hectares (Decreto nº 25.416 <strong>de</strong><br />

1999).<br />

1. APA da lagoa da Jijoca<br />

2. APA do estuário do Rio Mundaú<br />

3. APA da duna <strong>de</strong> Lagoinha<br />

4. APA do estuário do Rio Curu<br />

5. APA das Duna do Paracuru<br />

6. APA do Pecém<br />

7. APA do Estuário do Rio Ceará<br />

8. APA do Lagamar do Cauípe<br />

9. APA da Serra <strong>de</strong> Aratanha<br />

10. APA do Rio Pacoti<br />

11. APA da Serra <strong>de</strong> Baturité<br />

12. APA da Bica do Ipú<br />

13. APA da Lagoa do Uruaú<br />

1093


0,05%<br />

0,15%<br />

6,71%<br />

4,49%<br />

2,68%<br />

4,61%<br />

Figura 02 - O tamanho das áreas <strong>de</strong> proteção ambiental estaduais em hectares.<br />

Fonte: <strong>Vida</strong>l; Mascarenhas (2012)<br />

Para além da extensão, Sampaio (2007), chama atenção para a incoerência na criação das<br />

Áreas <strong>de</strong> Proteção Ambiental do Estuário do Rio Curu e das Du<strong>nas</strong> <strong>de</strong> Lagoinha, ambas no<br />

município <strong>de</strong> Paraipaba, cujas características <strong>de</strong> criação são incompatíveis com a categoria prevista<br />

pelo SNUC, cujo Artigo 15, <strong>de</strong>fine as APAs como ―áreas em geral extensas e com um certo grau <strong>de</strong><br />

ocupação‖. Essa afirmação vai contra o tamanho das APAs citadas, 881,94ha e 523,48 ha<br />

respectivamente, e no baixo grau <strong>de</strong> ocupação humana que as mesmas contêm atualmente.<br />

- Mal Nascidas, Mal Criadas, Mal Distribuídas, Mal Planejadas, mas Tiveram Proliferação<br />

Rápida e Midiática<br />

A gran<strong>de</strong> vantagem das APAs para os <strong>de</strong>tentores do po<strong>de</strong>r público é que a sua criação<br />

dispensa custosas <strong>de</strong>sapropriações exigidas <strong>nas</strong> outras unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação. Para estabelecê-las<br />

basta um <strong>de</strong>creto fe<strong>de</strong>ral, estadual ou municipal. Para o gestor público criá-las passa uma imagem<br />

<strong>de</strong> protetor da natureza sem ter o ônus <strong>de</strong> dispensar vultosos recursos necessários em uma unida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> conservação mais eficaz.<br />

Distribuição das APAS Cearenses em hectares<br />

0,66%<br />

0,55%<br />

0,88%<br />

0,03%<br />

20,61%<br />

0,11%<br />

58,49%<br />

Isso nos leva a pensar <strong>nas</strong> razões <strong>de</strong> ter a APA proliferado tão rapidamente no Brasil e no<br />

Ceará, com frequência aten<strong>de</strong>ndo a motivos puramente <strong>de</strong>magógicos, ou em total <strong>de</strong>sacordo com as<br />

finalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ssa unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conservação. (PÁDUA, 2006)<br />

Serra <strong>de</strong> Baturite<br />

Lagamar do cauípe<br />

As APAs cearenses comprem uma importante função: aumentam as estatísticas do volume<br />

<strong>de</strong> áreas protegidas no país, <strong>de</strong> certo elas não aten<strong>de</strong>m aos objetivos <strong>de</strong> conservação propostos.<br />

Somente a categoria APA ocupa cinco por cento (5,7%) do território cearense e somando todas as<br />

outras categorias existentes no Estado o total <strong>de</strong> área protegida equivalem a dois por cento (2,0%).<br />

Pecém<br />

Aratuba<br />

Bica do Ipu<br />

Lagoinha<br />

Duna paracuru<br />

Estuário do Rio Ceará<br />

Estuário do rio Curu<br />

Estuário do Rio Pacoti<br />

Estuário do Rio Mundaú<br />

Lagoa do Uruaú<br />

Lagoa <strong>de</strong> Jijoca<br />

1094


Do ponto <strong>de</strong> vista da conservação esse dado que evi<strong>de</strong>ncia o predomínio das APAs sobre as<br />

outras categorias no Ceará, nos remete a uma reflexão preocupante, pois essa categoria é sem<br />

sombra <strong>de</strong> dúvidas a menos restritiva das categorias pertencentes ao SNUC. A comprovação vem<br />

em ser esta categoria a única a permitir <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> seus limites a pesquisa, moradia e o cultivo <strong>de</strong><br />

organismos geneticamente modificados.<br />

Outra especificida<strong>de</strong> resi<strong>de</strong> no fato das terras po<strong>de</strong>rem ser <strong>de</strong> domínio público ou<br />

permanecerem sob o domínio dos proprietários, mesmo que sejam feitas tentativas <strong>de</strong> restrições <strong>de</strong><br />

uso do solo e dos recursos naturais. Esta peculiarida<strong>de</strong> introduz um caráter <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong> à<br />

questão trazendo em cena a busca <strong>de</strong> práticas <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> e convivência harmônica com o<br />

meio.<br />

No Ceará como nos <strong>de</strong>mais estados do Brasil, em geral, a criação das Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

Conservação não obe<strong>de</strong>ceu a critérios técnicos e científicos e essas áreas passaram a ser<br />

estabelecidas muito em função das belezas cênicas ou como resultado <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong>s e oportunida<strong>de</strong>s<br />

políticas.<br />

As dificulda<strong>de</strong>s referentes à gestão das unida<strong>de</strong>s se expressam <strong>de</strong>ntre outros fatores pela<br />

inexistência dos planos <strong>de</strong> manejo. De acordo com os dados pesquisados no Cadastro Nacional <strong>de</strong><br />

Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Conservação-CNUC, das treze unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> proteção ambiental estaduais, nenhuma tem<br />

plano <strong>de</strong> manejo. Em relação aos Conselhos Gestores o número atualmente rege três conselhos<br />

constituídos (APA da Lagoa da Jijoca, APA da Serra <strong>de</strong> Baturité e APA do Rio Ceará). (BRASIL,<br />

2012).<br />

Existe ainda a precarieda<strong>de</strong> na infraestrutura física e operativa das unida<strong>de</strong>s, a perda da<br />

capacida<strong>de</strong> operativa dos conselhos gestores criados e/ ou formados, evi<strong>de</strong>nciando a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

capacitação para os gestores das UCs. (PROBIO/CEARÁ, 2004).<br />

E é aqui que entra o questionamento norteador <strong>de</strong>sse ensaio: o estado atual das APAs<br />

cearenses explica-se em função da sua forma <strong>de</strong> criação? Se a afirmativa para esse indagação não<br />

<strong>de</strong>r conta do resultado, po<strong>de</strong>-se dizer que a gran<strong>de</strong> força impulsionadora da má implantação e não<br />

efetivação das APAs cearenses se <strong>de</strong>u em função da sua forma impensada, mas não intencional <strong>de</strong><br />

criação.<br />

Talvez ir além seja preciso, principalmente, no que diz respeito às funções que esses espaços<br />

estabelecem nos territórios, para que as mesma não continuem sendo uma forma <strong>de</strong><br />

institucionalização dos espaços e sobretudo, uma expressão dos interesses políticos.<br />

As APAs só cumprirão seu papel frente à conservação/proteção e uso dos recursos naturais,<br />

quando o processo <strong>de</strong> criação <strong>de</strong>ssas unida<strong>de</strong>s for <strong>de</strong>finitivamente uma <strong>de</strong>cisão que parta das<br />

populações que habitam esse espaço (VIDAL, 2006), e que, os conselhos gestores sejam<br />

efetivamente compostos por cidadãos conscientes da sua participação <strong>nas</strong> tomadas <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões.<br />

1095


Enquanto as políticas ambientais não adotarem critérios mais aproximativos da problemática<br />

ambiental, tais como equida<strong>de</strong>s econômica e social <strong>de</strong> forma específica a cada espaço que se queira<br />

proteger/conservar, haverá necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se achar outras categorias que possam aten<strong>de</strong>r a esses<br />

<strong>de</strong>sígnios, ou seja, recategorizar as APAs é urgente para se propor novas formas <strong>de</strong> or<strong>de</strong>nação do<br />

território cearense.<br />

Conclusões<br />

Tomando <strong>de</strong> forma introdutória os argumentos acima apresentados é possível observar que<br />

as Áreas <strong>de</strong> Proteção Ambiental em sua gran<strong>de</strong> maioria não cumprem a funções/objetivos<br />

estabelecidos em seus Decretos, pois há uma série <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>s referentes à forma como estas<br />

áreas foram planejadas e ainda são implantadas pelo Estado.<br />

Os dados apresentados acima, ilustrando sua <strong>de</strong>sigual distribuição espacial, a proliferação<br />

rápida e midiática a que envolveu a criação das áreas <strong>de</strong> proteção ambiental, lhes garantiram a<br />

herança <strong>de</strong> serem tachadas como instrumentos políticos-<strong>de</strong>magógicos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua criação até os dias<br />

atuais.<br />

A esse espetáculo, se junta as irregularida<strong>de</strong>s sobre a equida<strong>de</strong> em suas extensões<br />

territoriais, on<strong>de</strong> não coadunam o público com o privado e ainda a separação consumada<br />

estabelecida entre a instituição <strong>de</strong>sses espaços e a população que o habita.<br />

Referências<br />

BRASIL. 2000. Lei 9985/00 que Institui o Sistema Nacional <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Conservação<br />

da Natureza.<br />

_______. Ministério do Meio Ambiente. Cadastro Nacional <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação.<br />

Disponível em: Acesso em 22<br />

<strong>de</strong> ago. <strong>de</strong> 2012.<br />

CABRAL, N.R.A.J.; SOUZA, M.P. Área <strong>de</strong> Proteção Ambiental: planejamento e gestão <strong>de</strong><br />

paisagens protegidas. 2ed. São Carlos: RIMA, 2005, 158P.<br />

CEARÁ. Decreto nº 25.354, <strong>de</strong> 26 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1999, institui a área <strong>de</strong> proteção ambiental da<br />

Bica do Ipú. Disponível em Acesso em: 07 <strong>de</strong> Set. 2012.<br />

______. Decreto nº 25.416, <strong>de</strong> 29 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 1999, institui a área <strong>de</strong> proteção ambiental do<br />

estuário do rio Curu. Disponível em Acesso em: 07 <strong>de</strong> Set. 2012.<br />

_______. Superintendência Estadual do Ceará- SEMACE. Programa <strong>de</strong> Biodiversida<strong>de</strong> - PROBIO.<br />

Ceará: 2004.<br />

1096


_______. Superintendência Estadual <strong>de</strong> Meio Ambiente. Criação do Sistema Estadual <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> Conservação – SEUC. Disponível em: Acesso em: 07 <strong>de</strong> Set.<br />

2012.<br />

COELHO, M. C. N.; CUNHA, L. H.; MONTEIRO, M. A. Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação: populações,<br />

recursos e território. Abordagens da geografia e da ecologia política. In: GUERRA, A. J.T;<br />

COELHO, M. C. N. Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação: abordagens e características geográficas. Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro: Bertrand Brasil, 2009.<br />

CÔRTE, D. A. A. Planejamento e Gestão <strong>de</strong> APAs. Enfoque institucional/ Série Meio Ambiente em<br />

Debate. 104 p., Brasília (IBAMA).1997.<br />

MORSELLO.C. Áreas Protegidas Públicas e Privadas: seleção e manejo. Anablume, FAPESP,<br />

São Paulo, 2001.<br />

SAMPAIO, S.H. 2007. Analise Integrada do Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Proteção Ambiental e Gestão das<br />

Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação do Município <strong>de</strong> Paraipaba-CE. Dissertação (Mestrado em<br />

Desenvolvimento e Meio Ambiente), Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Ceará- UFC.<br />

VIANA. M.B., GANEM. R.S. APAS Fe<strong>de</strong>rais no Brasil. Câmara dos Deputados. Brasília-DF,<br />

2005.<br />

VIDAL. M. R. Proposta <strong>de</strong> Gestão Ambiental para a Reserva Extrativista do Batoque-<br />

Aquiraz/CE, 2006.<br />

______; MASCARENHAS. As Áreas <strong>de</strong> Proteção Ambiental no Contexto Cearense. In:<br />

Congresso Brasileiro <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação. Anais...Natal-RN, 2012<br />

PÁDUA, M.T. J. 2006. O Fim da APA <strong>de</strong> Guaraqueçaba?. Disponível em: http://<br />

www.oeco.com.br .Acesso em: 13 abr.2012.<br />

1097


Resumo<br />

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UMA PROPOSTA ARTICULADA NA REDE PÚBLICA 125<br />

MUNICIPAL EM ÁREAS DE NASCENTES DO RIO MAMANGUAPE<br />

Maria Zélia ARAÚJO (COOPACNE/UNESC/FIP)<br />

zelinha_araujo@hotmail.com<br />

Josilda <strong>de</strong> França XAVIER (COOPACNE/UFCG)<br />

josildaxavier@yahoo.com.br<br />

Daniel Gregorio JÚNIOR (COOPACNE)<br />

gregorio_junior2@hotmail.com<br />

Maria José dos SANTOS (COOPACNE) 126<br />

mjsquintino@yahoo.com)<br />

O presente trabalho tem por finalida<strong>de</strong> apresentar uma proposta articulada na re<strong>de</strong> pública<br />

Municipal em áreas <strong>de</strong> <strong>nas</strong>centes do Rio Mamanguape concernente a Educação Ambiental no<br />

processo ensino aprendizagem para que se tenha no ensino formal a construção <strong>de</strong> uma consciência<br />

crítica a respeito das ações antrópicas e, assim, possa contemplar <strong>nas</strong> novas gerações cidadãos que<br />

tem como eixo principal a preservação e conservação do meio ambiente. Sabe-se que a Educação<br />

Ambiental se constitui numa forma abrangente <strong>de</strong> educação, na qual se propõe atingir todos os<br />

indivíduos na formação <strong>de</strong> cidadãos, através <strong>de</strong> um processo pedagógico participativo permanente<br />

que procura não somente incutir no educando uma consciência crítica sobre a problemática<br />

ambiental, mas que eles compreendam como crítica a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> captar a gênese e a evolução <strong>de</strong><br />

problemas ambientais <strong>de</strong>tectados no meio ambiente. O estudo baseou-se numa abordagem teórica<br />

com enfoque <strong>de</strong>scritivo-reflexivo, sobre o processo da capacitação a partir da articulação realizada<br />

em cada Secretaria <strong>de</strong> Educação tendo como referencial as leis a partir da Constituição Fe<strong>de</strong>ral<br />

Brasileira sobre o cuidado com o meio ambiente. O foco da capacitação <strong>de</strong> educadores(as) estava<br />

inserido no tema transversal: Educação Ambiental, conforme preconiza o PCN, proporcionando no<br />

125 Projeto Rio Mamanguape, patrocinado pela Petrobras através do Programa Petrobras Ambiental capacita educadores<br />

(as) do ensino fundamental da Re<strong>de</strong> Pública Municipal da área <strong>de</strong> abrangência do referido Projeto.<br />

126 Coor<strong>de</strong>nadora geral do Projeto Rio Mamanguape.<br />

1098


processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento cognitivo das crianças e adolescentes um senso critico no que se<br />

refere à qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e a convivência com o semiárido. Com a capacitação dos(as)<br />

educadores(as) foi possível dar uma contribuição não somente <strong>de</strong> apresentar novas técnicas<br />

pedagógicas, mas também proporcionar momentos <strong>de</strong> ações práticas entre os participantes e eles<br />

po<strong>de</strong>rem argui que se é possível galgar novos tempos em meio a situações caóticas encontradas no<br />

cerne do que se tem feito com a mãe natureza, e que nessas novas ações pedagógicas envolvem não<br />

somente educadores(as) e alunos, mas também gestores, comunida<strong>de</strong> acadêmica e a comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

entorno das escolas.<br />

Palavras-chave: Educação Ambiental; Meio Ambiente; Educadores; Re<strong>de</strong> Pública Municipal;<br />

Abstract<br />

Preservação <strong>de</strong> <strong>nas</strong>centes.<br />

This paper aims to present a proposal articulated in the public hall in headwater areas of Rio<br />

Mamanguape concerning Environmental Education in the learning process in or<strong>de</strong>r to have formal<br />

education in building a critical awareness about the human actions and thus , can contemplate the<br />

younger generation citizens whose main axis of the preservation and conservation of the<br />

environment. It is known that environmental education constitutes a comprehensive education,<br />

which proposes reach all individuals in the formation of citizens, through a continuing participatory<br />

learning process that not only seeks to instill in the stu<strong>de</strong>nt a critical awareness of environmental<br />

issues, but they un<strong>de</strong>rstand how critical the ability to grasp the genesis and evolution of<br />

environmental problems <strong>de</strong>tected in the environment. The study was based on a theoretical<br />

approach focusing <strong>de</strong>scriptive and reflective about the process of training through the joint held in<br />

each Department of Education as reference the laws from the Fe<strong>de</strong>ral Constitution on the care for<br />

the environment. The focus of teacher training (as) was inserted into the transversal theme:<br />

Environmental Education, as recommen<strong>de</strong>d by the NCP, providing in the process of cognitive<br />

<strong>de</strong>velopment of children and adolescents a critical sense with regard to quality of life and<br />

coexistence with the semiarid. With the capacity of (the) teachers (as) could make a contribution not<br />

only to introduce new teaching techniques, but also provi<strong>de</strong> moments of practical actions between<br />

participants and they can let us reason together that new times can climb amid chaotic situations<br />

found at the heart of what has been done with mother nature, and that these new pedagogical actions<br />

involve not only educators (as) and stu<strong>de</strong>nts, but also managers, aca<strong>de</strong>mia and the community<br />

surrounding the school.<br />

Keywords: Environmental Education, Environment, Educators; municipal public; Preservation<br />

springs.<br />

1099


Introdução<br />

A Educação Ambiental (EA) é uma temática que vem sendo arguida, a nível mundial, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

1945, época em que foram criadas as primeiras organizações internacionais <strong>de</strong>dicadas à proteção da<br />

natureza. Entretanto, no Brasil, sua arguição data <strong>de</strong> meados da década <strong>de</strong> 1980. Como política<br />

nacional, só veio acontecer, em 1999, com a Lei nº. 9795/99, a qual foi sancionada pelo Decreto nº.<br />

4281/02, em junho <strong>de</strong> 2002.<br />

Piazza, et al. (2006), que afirma que a educação ambiental se constitui numa forma<br />

abrangente <strong>de</strong> educação, na qual se propõe atingir todos os indivíduos no processo da educação<br />

formal dos cidadãos, através <strong>de</strong> um processo pedagógico participativo permanente que procura não<br />

somente incutir no educando uma consciência crítica sobre a problemática ambiental, mas que eles<br />

compreendam como crítica a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> captar a gênese e a evolução <strong>de</strong> problemas ambientais<br />

<strong>de</strong>tectados no meio ambiente.<br />

Esta conceituação ajuda a compreen<strong>de</strong>r que se po<strong>de</strong> afirmar que a natureza po<strong>de</strong> contribuir<br />

<strong>de</strong> diversas maneiras no processo ensino aprendizagem no que concerne a construção da educação<br />

formal, principalmente das crianças e adolescentes, que se encontram no processo <strong>de</strong> construção <strong>de</strong><br />

valores. Pois, é preciso que se entenda que toda a matéria utilizada no dia-a-dia dos indivíduos po<strong>de</strong><br />

servir <strong>de</strong> contra partida para vários trabalhos voltados para recuperação e preservação do meio<br />

ambiente, quando esse indivíduo é consciente dos atos que realiza no espaço on<strong>de</strong> resi<strong>de</strong> e no seu<br />

entorno e, isto acontecerá a contento quando o mesmo tem em seu nexo a educação ambiental.<br />

De conformida<strong>de</strong> com Loureiro (2002, p. 69) a Educação Ambiental é uma práxis educativa<br />

e social que tem por finalida<strong>de</strong> a construção <strong>de</strong> valores, conceitos, habilida<strong>de</strong>s e atitu<strong>de</strong>s que<br />

possibilitem o entendimento da realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e a atuação lúcida e responsável <strong>de</strong> atores sociais<br />

individuais e coletivos no ambiente. Portanto, po<strong>de</strong>-se afirmar que nesse sentido, a Educação<br />

Ambiental contribui para a tentativa <strong>de</strong> implementação <strong>de</strong> um padrão civilizacional e societário<br />

distinto do vigente, pautado numa nova ética da relação socieda<strong>de</strong>-natureza.<br />

Andra<strong>de</strong> (2008, p.17) apud Carvalho (2007) argumenta que a Educação Ambiental ―fomenta<br />

sensibilida<strong>de</strong>s afetivas e capacida<strong>de</strong>s cognitivas para uma leitura do mundo do ponto <strong>de</strong> vista<br />

ambiental‖. Ainda afirma Carvalho (2007) que a Educação Ambiental se constitui numa forma<br />

abrangente <strong>de</strong> educação, que se propõe a atingir todos os cidadãos, através <strong>de</strong> um processo<br />

pedagógico participativo permanente que procura incutir no educando uma consciência crítica sobre<br />

a problemática ambiental, compreen<strong>de</strong>ndo-se como crítica a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> captar a gênese e a<br />

evolução <strong>de</strong> problemas ambientais.<br />

Diante <strong>de</strong>sta percepção, a autora supracitada estabelece como mediação para múltiplas<br />

compreensões a experiência do indivíduo e dos coletivos sociais em suas relações com o ambiente.<br />

Arguindo que esse processo <strong>de</strong> aprendizagem, por via da perspectiva da leitura, dá-se<br />

particularmente pela ação do educador como intérprete dos nexos entre socieda<strong>de</strong>, meio ambiente e<br />

1100


a Educação Ambiental que é apresentada como mediadora na construção social <strong>de</strong> novas<br />

sensibilida<strong>de</strong>s e posturas éticas diante do mundo.<br />

Tendo como eixo <strong>de</strong> partida essa percepção é que foi realizada uma capacitação <strong>de</strong><br />

educadores (as), através do Projeto Rio Mamanguape, na área <strong>de</strong> abrangência do referido Projeto,<br />

nos municípios <strong>de</strong> Alagoa Nova, Areial, Esperança, Lagoa Seca, Matinhas, Montadas e São<br />

Sebastião <strong>de</strong> Lagoa <strong>de</strong> Roça, o qual é patrocinado pela Petrobras através do Programa Petrobras<br />

Ambiental e executado pela Cooperativa <strong>de</strong> Projetos Assistência Técnica capacitação do Nor<strong>de</strong>ste<br />

Ltda. (Coopacne).<br />

O referido Projeto tem como objetivo geral conservar e preservar as <strong>nas</strong>centes do Rio<br />

Mamanguape, estimulando o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável <strong>de</strong> sua área <strong>de</strong> abrangência tendo como<br />

eixo o uso e manejo racional <strong>de</strong> recursos hídricos e a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida da população ribeirinha e<br />

como objetivo especifico da área <strong>de</strong> educação ambiental promover a educação ambiental, através <strong>de</strong><br />

capacitação para professores, ou seja, apoiar as escolas da re<strong>de</strong> pública municipal na produção da<br />

Educação Ambiental das novas gerações e para convivência com o semiárido.<br />

O interesse em enfocar o processo <strong>de</strong> articulação da capacitação <strong>de</strong> educadores (as) da re<strong>de</strong><br />

pública municipal da área <strong>de</strong> abrangência do Projeto <strong>de</strong>u-se em razão não só da importância que<br />

tem a Educação Ambiental no que concerne a preservação e conservação do meio ambiente para<br />

que os sujeitos sociais usufruam <strong>de</strong> uma melhor qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, mas principalmente contribuir<br />

na construção <strong>de</strong> valores que serão <strong>de</strong>senvolvidos no processo ensino aprendizagem à medida que<br />

se elabora esse saber como tema transversal na gra<strong>de</strong> curricular do saber formal a nível<br />

fundamental I e II e ensino médio como menciona os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN,<br />

1997) que enfatiza que <strong>de</strong>vem ser tratados os aspectos sociais, econômicos, políticos e ecológicos.<br />

Dessa forma terão com a Educação Ambiental as vantagens <strong>de</strong> se ter a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma visão<br />

mais integradora e melhorada no que tange a compreensão referente às questões socioambientais<br />

como um todo.<br />

Ainda vale ressaltar que a própria legislação relacionada à Política Nacional <strong>de</strong> Educação<br />

Ambiental brasileira mostra que a temática ambiental <strong>de</strong>ve permear todo o processo <strong>de</strong><br />

escolarização, incluindo também o Ensino Superior <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a graduação até a pós-graduação.<br />

Em se tratando da Educação Ambiental, mais precisamente no que tange ao processo<br />

formativo é fora consi<strong>de</strong>rado como importante dar um enfoque mais apurado no nível <strong>de</strong><br />

conhecimento que os (as) educadores (as) para que todos trabalhassem <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um mesmo nível é<br />

que o Projeto Rio Mamanguape se propõe em capacitar os educadores (as) em algumas áreas <strong>de</strong><br />

<strong>nas</strong>centes do Rio Mamanguape. Vale ressaltar que, no que concerne às <strong>nas</strong>centes da Bacia<br />

Hidrográfica do Rio Mamanguape, sua inserção não se <strong>de</strong>u ape<strong>nas</strong> como tema transversal, como é<br />

<strong>de</strong>signado pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, mas teve a inserção da mesma também pelo<br />

referido Projeto Rio Mamanguape, em 2005, indo até início <strong>de</strong> 2008, quando da realização do<br />

1101


primeiro Projeto, e, tendo seu retorno, em 2010, num segundo Projeto com o mesmo título, ambos<br />

patrocinados pela Petrobras através do Programa Petrobras Ambiental e executado pela Coopacne.<br />

Metodologia<br />

O processo metodológico para a realização da capacitação <strong>de</strong> educadores (as) nos sete<br />

municípios da área <strong>de</strong> abrangência do Projeto Rio Mamanguape, inicialmente fez-se uma visita a<br />

cada Secretaria <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> cada um dos municípios para que os (as) secretários (as) fizessem<br />

um levantamento <strong>de</strong> dados referentes ao número <strong>de</strong> professores efetivos que compõem o quadro<br />

funcional do ensino fundamental da re<strong>de</strong> pública municipal; quantos foram capacitados em<br />

educação ambiental no primeiro Projeto; qual o nível educacional <strong>de</strong> cada um dos (as) educadores<br />

(as) para que se tivesse uma capacitação que viesse aten<strong>de</strong>r ao nivelamento <strong>de</strong> todos; o período <strong>de</strong><br />

realização da capacitação, consi<strong>de</strong>rando tanto o turno que cada um dos (as) educadores (as) se<br />

encontra em sala <strong>de</strong> aula e qual a disponibilida<strong>de</strong> dos mesmos, em termo <strong>de</strong> liberação para a<br />

capacitação oferecida pelo Projeto Rio Mamanguape.<br />

Ainda foi consi<strong>de</strong>rado o número <strong>de</strong> educadores (as) efetivos (as) que já haviam sido<br />

capacitados (as) em Educação Ambiental no primeiro Projeto Rio Mamanguape; o número <strong>de</strong><br />

educadores (as) que não haviam sidos capacitados (as) pelo Projeto, mas que tinham especialização<br />

em Educação Ambiental; o horário <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> cada um (a) <strong>de</strong>les (as) no município e se eles (as)<br />

também trabalhavam em outros municípios. Vale aqui ressaltar que essa preocupação <strong>de</strong>u-se em<br />

razão da capacitação acontecer no período letivo e não se ter educadores suficientes para substituir<br />

a sala <strong>de</strong> aula enquanto estivesse acontecendo a referida capacitação.<br />

Com a visita foi acordado que para a capacitação dos (as) educadores (as) em educação<br />

ambiental seria utilizado o seguinte procedimento: 1. A Secretaria <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> cada município<br />

realizaria o levantamento do nível <strong>de</strong> conhecimento dos (as) educadores (as), do quadro efetivo, em<br />

educação ambiental; 2. Após o levantamento, que apresentasse 20 educadores (as) para ser<br />

capacitado; 3. Realização <strong>de</strong> um Planejamento com os/as secretários/as e a coor<strong>de</strong>nadora da área <strong>de</strong><br />

educação ambiental do Projeto <strong>de</strong>finindo o período a ser realizada a capacitação.<br />

Com as restrições apresentadas os (as) secretários (as) apresentaram mais <strong>de</strong> 20 educadores<br />

(as) por município, mas como um dos requisitos do Projeto era que cada município só po<strong>de</strong>ria<br />

apresentar, no máximo, 20 educadores (as), a maioria dos municípios entraram como parceiros e o<br />

número <strong>de</strong> educadores (as) foram maiores do que o estimado, que era <strong>de</strong> 140, perfazendo um total<br />

<strong>de</strong> 245, isto <strong>de</strong> acordo com a indicação <strong>de</strong> cada município, pois os (as) secretários (as) não<br />

gostariam que nenhum dos (as) educadores (as) do quadro efetivo fosse excluído e que após a<br />

capacitação eles (as) realizariam o processo <strong>de</strong> replicação em cada escola. Os participantes só<br />

po<strong>de</strong>riam ter duas faltas, caso ultrapassasse em mais essa teria que ser por motivo <strong>de</strong> doença, e a<br />

mesma <strong>de</strong>veria ser justificada com atestado médico.<br />

1102


A capacitação compreen<strong>de</strong>u seis encontros, <strong>de</strong> quatro horas, sendo distribuído da seguinte<br />

forma: a) exposição geral sobre o Projeto Rio Mamanguape e sobre a Educação Ambiental; b)<br />

exposição sobre recursos hídricos e manejo e conservação do solo; c) teoria e prática sobre<br />

georreferenciamento; d) elaboração e exposição <strong>de</strong> projetos pedagógicos. Os encontros foram<br />

quinzenais e/ou mensais sendo em alguns municípios pela manhã e outros à tar<strong>de</strong>.<br />

O processo <strong>de</strong>u-se <strong>de</strong> forma expositiva, dialogal, reflexiva, representação gráfica e<br />

apresentação dos projetos elaborados durante a capacitação. As ativida<strong>de</strong>s foram: algumas<br />

individuais e outras coletivas. O material utilizado foi: apostilhas, mapas, ví<strong>de</strong>os, GPS e material<br />

gráfico, todos doados pelo Projeto.<br />

O local da capacitação era indicado pelo município acontecendo em auditórios e ou sala <strong>de</strong><br />

aula <strong>de</strong> algumas escolas, Câmara Municipal e num Centro Artesanal, buscando sempre oferecer o<br />

melhor para os participantes.<br />

O processo <strong>de</strong> interação e integração entre os participantes <strong>de</strong>u-se através da divisão <strong>de</strong><br />

grupo e da realização <strong>de</strong> algumas ativida<strong>de</strong>s que foram <strong>de</strong>senvolvidas <strong>de</strong> forma coletiva. A<br />

formação dos grupos seguiu a seletivida<strong>de</strong> entre os (as) educadores (as) que eram da mesma escola<br />

ou <strong>de</strong> escolas próximas em razão <strong>de</strong> se ter a partir do quarto encontro a elaboração <strong>de</strong> projetos<br />

pedagógicos que seriam implantados <strong>nas</strong> escolas após a capacitação.<br />

Resultados e discussão<br />

De acordo com o planejamento elaborado pela coor<strong>de</strong>nadora da área <strong>de</strong> Educação<br />

Ambiental e os (as) secretários (as) dos sete municípios po<strong>de</strong>-se afirmar que o processo <strong>de</strong><br />

capacitação aconteceu a contento atingindo-se o objetivo esperado.<br />

Seus resultados foram compilados através <strong>de</strong> quadros, tabelas e fotografias como po<strong>de</strong>m ser<br />

vistos a seguir:<br />

MUNICÍPIOS<br />

N° DE EDUCADORES<br />

(AS) NO INICIO DA<br />

CAPACITAÇÃO<br />

N° DE EDUCADORES<br />

(AS) QUE FORAM<br />

CAPACITADOS<br />

RELAÇÃO<br />

PERCENTUAL ENTRE<br />

OS EDUCADORES (AS)<br />

QUE INICIARAM E OS<br />

QUE FORAM<br />

CAPACITADOS (%)<br />

ALAGOA NOVA 22 13 59<br />

AREIAL 23 16 70<br />

ESPERANÇA 51 36 71<br />

LAGOA SECA 42 32 76<br />

MATINHAS 55 48 87<br />

MONTADAS 31 28 90<br />

1103


SÃO SEBASTIÃO DE<br />

LAGOA DE ROÇA<br />

21<br />

TOTAL 245 186 76<br />

Quadro 1. Distribuição dos (as) educadores (as) que se apresentaram no inicio da capacitação e que foram<br />

capacitados por município<br />

Fonte: Autoria própria<br />

Dos 245 participantes que estiveram presentes no primeiro ou segundo encontro do<br />

processo <strong>de</strong> capacitação <strong>de</strong> educadores (as), só 186 foram capacitados. Não foi feito uma exclusão<br />

por parte do município nem do Projeto. Entretanto, havia uma norma que fora partilhada com<br />

todos, no inicio da capacitação, que só po<strong>de</strong>ria receber certificado os participantes que estivesse<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ssa norma, e, assim aconteceu. O fato foi acompanhado através da lista <strong>de</strong> frequência que<br />

era passada em cada encontro.<br />

Analisando o Quadro 1 po<strong>de</strong>-se perceber que, aproximadamente 76% do total geral (245)<br />

<strong>de</strong> todos os educadores que foram indicados por cada um dos municípios e estiveram presentes no<br />

primeiro ou segundo encontro da capacitação. Po<strong>de</strong>-se ainda enfatizar que ape<strong>nas</strong> o grupo <strong>de</strong><br />

educadores (as) <strong>de</strong> Alagoa Nova foi abaixo <strong>de</strong> 60%, e, em contra partida o grupo <strong>de</strong> Montadas<br />

permaneceu com 90% do seu total. Os <strong>de</strong>mais variaram entre 62 a 87%.<br />

Descrevendo não somente o processo dos encontros da capacitação, mas também seus<br />

resultados, os mesmos po<strong>de</strong>m ser vislumbrados através <strong>de</strong> algumas fotos, ora elencado:<br />

Após o fechamento da programação da capacitação em cada um dos municípios o processo<br />

da mesma <strong>de</strong>u-se com o recebimento dos participantes, para o cre<strong>de</strong>nciamento <strong>de</strong> todos e a entrega<br />

<strong>de</strong> um kit contendo uma camisa, um boné, uma caneta, apostilhas e o material didático a ser<br />

utilizado no primeiro encontro, bem como o que se referia as ativida<strong>de</strong>s a serem <strong>de</strong>senvolvidas em<br />

casa e na sala <strong>de</strong> aula com o alunado, o que po<strong>de</strong> ser verificado na Foto 1. Na Foto 2 tem-se a<br />

13<br />

62<br />

1104


atuação <strong>de</strong> um técnico trabalhando a parte prática <strong>de</strong> georreferenciamento com os (as) educadores<br />

(as) tendo como objetivo ajudar no processo prático <strong>de</strong> localização e <strong>de</strong>marcação <strong>de</strong> espaço.<br />

Já, <strong>nas</strong> Fotos 3 e 4 tem-se a divisão <strong>de</strong> pequenos grupos e estes discutiam os problemas<br />

referentes ao meio ambiente e a Educação Ambiental encontrados na escola, no seu entorno e na<br />

comunida<strong>de</strong>, buscando nessa discussão a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> um ou mais aspecto para compor o objeto<br />

que redundaria no projeto pedagógico a ser <strong>de</strong>senvolvido após o termino da capacitação.<br />

Na Foto 5 tem-se o <strong>de</strong>monstrativo <strong>de</strong> um grupo representando o seu projeto <strong>de</strong> forma<br />

figurada. Nas Fotos 6, 7, 8, 9 e 10 tem-se a exposição <strong>de</strong> várias ilustrações <strong>de</strong> projetos pedagógicos<br />

para o plenário. Essa proposição foi para <strong>de</strong>monstrar que se po<strong>de</strong> trabalhar o processo ensino<br />

aprendizagem <strong>de</strong> várias maneiras, <strong>de</strong>spertando o alunado par ao melhor cuidado com o meio<br />

ambiente, ao tempo que vai gerando o processo <strong>de</strong> conscientização no que concerne a preservação<br />

e conservação da natureza. Po<strong>de</strong>-se ainda observar que alguns grupos também apresentaram seus<br />

1105


projetos através da musica e poesia. Esse mo<strong>de</strong>lo foi seguido em todos os grupos e em todos os<br />

municípios.<br />

1106


Na Foto 12 tem-se a representação <strong>de</strong> parte do encerramento da capacitação, que fora um<br />

momento em que um técnico realizava um gesto e este <strong>de</strong>veria percorre todo o circulo chegando<br />

em si ao termino da ação, <strong>de</strong>monstrando se havia ou não a atenção dos participantes e a<br />

integralida<strong>de</strong> do grupo. Essa <strong>de</strong>monstração tinha como objetivo a prática dos (as) educadores (as)<br />

<strong>nas</strong> escolas e assim venham gerar o processo <strong>de</strong> inclusão <strong>de</strong> todos os seus alunos,<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong>les serem ou não extrovertidos ou introvertidos.<br />

Conclusão<br />

Com a capacitação dos (as) educadores (as) dos sete municípios da área <strong>de</strong> abrangência<br />

conclui-se que foi dada uma contribuição não somente <strong>de</strong> novas técnicas pedagógicas, mas também<br />

foi proporcionado momentos <strong>de</strong> ações práticas entre os participantes e eles pu<strong>de</strong>ram argui que se é<br />

possível, em meio a situações caóticas encontradas no cerne do que se tem feito na mãe natureza,<br />

através das ações antrópicas, mudanças a partir <strong>de</strong> práticas simples como a reciclagem <strong>de</strong> garrafas<br />

pet‘s e outros produtos que são consi<strong>de</strong>rados como lixo e que levam tempo para serem diluídos na<br />

natureza. Conclui-se também que a ação pedagógica envolve não somente educadores (as) e<br />

alunos, mas também gestores, a comunida<strong>de</strong> acadêmica e a comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> entorno das escolas.<br />

Referências<br />

ANDRADE, José Waldson Costa <strong>de</strong>. Sala Ver<strong>de</strong> Projeto Velho Chico: uma lição <strong>de</strong> vida. In:<br />

BRASIL, Ministério do Meio Ambiente. Coleciona <strong>Vol</strong>ume III / 2008. Brasília - DF: Ministério do<br />

Meio Ambiente, 2008. p. 17 - 18<br />

1107


CARVALHO, Isabel C. M. Educação Ambiental: a formação do sujeito ecológico. BRASIL.<br />

Ministério da Educação & Ministério do Meio Ambiente. Formando COM-VIDA: Comissão <strong>de</strong><br />

Meio Ambiente e <strong>Qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Vida</strong> na Escola. 2. ed. Brasília. 2007.<br />

CARVALHO, Isabel Cristina <strong>de</strong> Moura. Educação Ambiental: a formação do sujeito ecológico.<br />

São Paulo: 2004.<br />

LEI n. 9.795, <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1999. Disponível em:<br />

. Acesso em: 03 out. 2012.<br />

LOUREIRO, Carlos Fre<strong>de</strong>rico Bernard. – Educação Ambiental e Movimentos Sociais na<br />

Construção da Cidadania Ecológica e Planetária. - Educação Ambiental: repensando o espaço da<br />

cidadania / Calos Fre<strong>de</strong>rico Bernardo Loureiro, Philippe Pomier Layrargues, Ronaldo Souza <strong>de</strong><br />

Castro. (orgs.). – São Paulo: Cortez, 2002. Disponível em: . Acesso em: 16 out. 2012.<br />

PO 002A - Educação Ambiental e Cidadania: vivendo a diversida<strong>de</strong> na escola. Artigo da UFPB,<br />

disponível em: . Acesso em: 03 out. 2011.<br />

BRASIL. Secretaria <strong>de</strong> Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: introdução<br />

aos parâmetros curriculares nacionais / Secretaria <strong>de</strong> Educação Fundamental. – Brasília: EC/SEF,<br />

1997. 126p.<br />

1108


Resumo<br />

EMPRESAS DA CONSTRUÇÃO CIVIL DE MOSSORÓ - RN:<br />

IDENTIFICAÇÃO DAS AÇÕES VOLTADAS À GESTÃO AMBIENTAL<br />

Marta Vick POSTAI NETA<br />

Mestranda em Ciências Naturais – UERN<br />

martavick@hotmail.com<br />

Márcia Regina Farias da SILVA<br />

Professora Adjunta III do Departamento <strong>de</strong> Gestão Ambiental – UERN<br />

marciaregina@uern.br<br />

As organizações empresariais estão cada vez mais preocupadas em atingir e <strong>de</strong>monstrar um<br />

<strong>de</strong>sempenho satisfatório em relação ao meio ambiente. Resi<strong>de</strong> neste fator a importância da adoção<br />

do Sistema <strong>de</strong> Gestão Ambiental - SGA, que envolva a mudança da cultura da empresa e introduza<br />

o componente ambiental entre as preocupações da população interna. Nesse contexto, objetivou-se<br />

i<strong>de</strong>ntificar as ações voltadas para gestão ambiental <strong>de</strong> empresas da construção civil na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Mossoró (RN). Como metodologia foi aplicados questionários com dirigentes e/ou responsáveis por<br />

empresas do ramo da construção civil <strong>de</strong> Mossoró, associadas ao SINDUSCON (Sindicato da<br />

Indústria da Construção Civil). Os dados foram agrupados em quatro eixos temáticos que tratam:<br />

(a) aspectos ambientais das ativida<strong>de</strong>s; (b) <strong>de</strong>stinação final dos resíduos das empresas; (c) ações <strong>de</strong><br />

controle e/ou prevenção dos aspectos ambientais (d) principais dificulda<strong>de</strong>s para a melhoria<br />

ambiental. Verificou-se como resultado, que 85% das empresas citam que são os resíduos sólidos<br />

não perigosos classe II b, o aspecto ambiental mais observado <strong>nas</strong> ativida<strong>de</strong>s produtivas da<br />

construção civil. Em relação à <strong>de</strong>stinação final dos seus resíduos, as empresas afirmaram que se<br />

<strong>de</strong>stinam ape<strong>nas</strong> 23% para a coleta seletiva. A respeito das ações <strong>de</strong> controle e prevenção<br />

ambiental, aproximadamente, 62% das empresas dispõem a<strong>de</strong>quadamente seus resíduos, no qual a<br />

remoção <strong>de</strong>sses ficava a cargo <strong>de</strong> empresas privadas, especializadas na retirada dos entulhos, como<br />

também na coleta pública da cida<strong>de</strong>, 62% afirmam ser a falta <strong>de</strong> informação técnica dos<br />

funcionários uma das principais barreiras para a adoção <strong>de</strong> praticas voltada para a gestão ambiental.<br />

Conclui-se, portanto, que as ações ambientais ainda não são internalizadas como um aspecto<br />

positivo para as empresas da construção civil que atuam na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Mossoró. Todavia, há uma<br />

intenção <strong>de</strong> implantação do SGA por parte dos dirigentes, caso haja exigências legais e cobranças<br />

do mercado consumidor.<br />

Palavras- chaves: Ações ambientais, construção civil, SGA.<br />

1109


Abstract<br />

Business organizations are increasingly concerned with achieving and <strong>de</strong>monstrating satisfactory<br />

performance in relation to the environment. Resi<strong>de</strong>s in this factor, the importance of adopting<br />

Environmental Management System - SGA, which involves changing the culture of the company<br />

and introduction of the environmental component to the employees concerns. In this context, the<br />

objective was to i<strong>de</strong>ntify actions for environmental management of civil construction companies in<br />

the city of Mossoró (RN). As methodology, questionnaires were filled with executives and / or<br />

companies responsible for the construction business Mossoró, associated SINDUSCON (Union of<br />

Construction Industry). Data were grouped into four themes that address: (a) environmental aspects<br />

of activities, (b) disposal of waste from businesses, (c) actions to control and/or prevention of<br />

environmental aspects (d) main difficulties for improvement environment. It was found as a result<br />

that 85% of companies report that they are non-hazardous solid waste class II b, the environmental<br />

aspect more observed in the productive activities of construction. Regarding the disposal of their<br />

waste, companies said they inten<strong>de</strong>d only 23% for collection. Regarding actions to control and<br />

prevent environmental approximately 62% of companies arrange their waste properly, in which the<br />

removal of these was in charge of private companies, specializing in the removal of <strong>de</strong>bris, but also<br />

in the public collection of the city, 62% claim to be the lack of technical information, one of the<br />

main barriers to adoption of practices aimed at environmental management. We conclu<strong>de</strong>, therefore,<br />

that the environmental actions are not yet internalized as a positive aspect for construction<br />

companies that operate in the city of Mossoro. However, there is an intention to implement EMS by<br />

the lea<strong>de</strong>rs, if any legal <strong>de</strong>mands were required from the consumer market.<br />

Keywords: Environmental Activities, Civil Construction, SGA<br />

Introdução<br />

A partir da década <strong>de</strong> 1960 a preocupação com as questões ambientais ganharam força na<br />

socieda<strong>de</strong>, conduzindo a população a participar <strong>de</strong> movimentos em prol da melhoria ambiental e da<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida. Nessa direção, as organizações começaram a <strong>de</strong>spertar para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se<br />

preocupar com as questões ambientais e não somente para a eficiência dos sistemas produtivos.<br />

A gestão ambiental é um aspecto funcional da gestão <strong>de</strong> uma empresa, que <strong>de</strong>senvolve e<br />

implanta as políticas e estratégias ambientais e tem se tornado uma das mais importantes ativida<strong>de</strong>s<br />

relacionadas com qualquer empreendimento, por isso que muitas organizações empresariais estão<br />

cada vez mais preocupadas em atingir e <strong>de</strong>monstrar um <strong>de</strong>sempenho mais satisfatório em relação ao<br />

meio ambiente. (KRAEMER, 2004).<br />

1110


Para Tachizawa (2002) a gestão ambiental po<strong>de</strong> ser entendida como o exame e a revisão das<br />

operações <strong>de</strong> uma organização da perspectiva ecológica, motivada pela mudança dos valores e da<br />

cultura empresarial, que inci<strong>de</strong> em pelo menos dois interesses: da dominação para a parceria e da<br />

i<strong>de</strong>ologia do crescimento econômico para a sustentabilida<strong>de</strong> ecológica. O mesmo autor discorre que<br />

a gestão ambiental envolve a passagem do pensamento mecanicista para o pensamento sistêmico,<br />

no qual um aspecto essencial <strong>de</strong>ssa mudança é que a percepção do mundo como máquina, ce<strong>de</strong><br />

lugar à percepção do mundo como sistema vivo.<br />

Assim, nos dias <strong>de</strong> hoje as empresas que optam pela a implantação <strong>de</strong> um Sistema <strong>de</strong> Gestão<br />

Ambiental (SGA), que adotam métodos <strong>de</strong> produção mais limpa, ou ainda que assumem<br />

compromissos or<strong>de</strong>m social encontram um espaço diferenciado no mercado. Tais práticas po<strong>de</strong>m<br />

ser consi<strong>de</strong>radas como indicativos para se pensar a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> produção<br />

alternativo ao vigente, não no sentido utópico e sim, no sentido <strong>de</strong> buscar uma via paralela, ao<br />

mo<strong>de</strong>lo hegemônico <strong>de</strong> produção, visando a construção <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> sustentável.<br />

As empresas precisam se a<strong>de</strong>quar as exigências ambientais e dos consumidores e as<br />

imposições normativas, que as obrigam conceberem produtos e sistemas <strong>de</strong> produção que<br />

minimizem os impactos ambientais negativos. Porém, no setor da construção civil, em particular, as<br />

medidas relativas à minimização dos problemas ambientais, ainda aparecem <strong>de</strong> forma pontual. A<br />

adoção <strong>de</strong> ações relativas ao compromisso com a qualida<strong>de</strong> ambiental nessas empresas parece<br />

caminhar <strong>de</strong> forma gradual.<br />

Portanto, ao consi<strong>de</strong>rar a relevância <strong>de</strong>sse <strong>de</strong>bate objetivou-se i<strong>de</strong>ntificar os problemas<br />

ambientais ocasionados pelo setor da construção civil e as ações voltadas para a gestão ambiental,<br />

<strong>de</strong>senvolvidas pelas empresas do referido setor, no município <strong>de</strong> Mossoró, RN.<br />

Metodologia<br />

Esta pesquisa adotou como referencial metodológico das abordagens quantitativa e<br />

qualitativa. Cabe <strong>de</strong>stacar que o aspecto qualitativo po<strong>de</strong> estar presente em informações obtidas por<br />

estudos essencialmente quantitativos, sem per<strong>de</strong>r seu caráter qualitativo quando transformados em<br />

dados quantificáveis. (RICHARDSON, 1999).<br />

Trata-se <strong>de</strong> um estudo <strong>de</strong>scritivo, e a coleta <strong>de</strong> dados foi realizada por meio <strong>de</strong> questionários,<br />

aplicados com dirigentes e/ou responsáveis por empresas do ramo da construção civil <strong>de</strong> Mossoró,<br />

associadas ao SINDUSCON (Sindicato da Indústria da Construção Civil).<br />

O estudo foi <strong>de</strong>senvolvido no período <strong>de</strong> maio a setembro <strong>de</strong> 2009. Inicialmente, foi<br />

elaborado um questionário semi-estruturado com 16 perguntas, abertas e fechadas, bem como um<br />

texto <strong>de</strong> apresentação da pesquisa, que foi enviado por e-mail para 35 empresas associadas ao<br />

1111


SINDUSCON. Em posse aos questionários respondidos, estes foram tabulados e quantificados com<br />

auxílio do Excel.<br />

Resultados<br />

Em relação os problemas ambientais relacionados com as ativida<strong>de</strong>s da construção civil das<br />

empresas questionadas foram citados como principais: a produção <strong>de</strong> resíduos sólidos não<br />

perigosos; o lançamento <strong>de</strong> efluentes; as emissões atmosféricas; os ruídos e as vibrações, Figura 01.<br />

Figura 01: Aspectos ambientais relacionados às ativida<strong>de</strong>s das empresas da construção civil.<br />

Fonte: Dados da pesquisa em campo, 2009.<br />

Observa-se que 85% das empresas citam que são os resíduos sólidos não perigosos classe II<br />

b, o aspecto ambiental mais observado como resultado das ativida<strong>de</strong>s produtivas da construção<br />

civil. Outro item importante, que vale estacar é a presença <strong>de</strong> emissões atmosféricas com 23%;<br />

juntamente com vibrações e ruídos com 54%, citados como aspectos ambientais negativos,<br />

resultantes das ativida<strong>de</strong>s do setor da construção civil. Devido a esses fatores citados estão<br />

ocorrendo alterações ambientais, as quais comprometem a qualida<strong>de</strong> do solo, ar e os recursos<br />

hídricos.<br />

Destaca-se nesta investigação que a Resolução nº 307/02 do Conselho Nacional do Meio<br />

Ambiente (CONAMA) foi um marco para o setor da construção civil participar das discussões a<br />

respeito do controle e da responsabilida<strong>de</strong> pela <strong>de</strong>stinação dos resíduos sólidos. Tal resolução<br />

consi<strong>de</strong>ra a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> implementação <strong>de</strong> diretrizes para a efetiva redução <strong>de</strong> impactos<br />

ambientais gerados pelos resíduos oriundos da construção civil como também vem tratar do<br />

1112


gerenciamento a<strong>de</strong>quado dos resíduos produzidos pelas empresas, incluindo a sua redução,<br />

reutilização e reciclagem, tornando o processo construtivo mais rentável e competitivo, além <strong>de</strong><br />

mais saudável.<br />

Em relação ao <strong>de</strong>stino final dos seus resíduos as empresas afirmaram que <strong>de</strong>stinavam gran<strong>de</strong><br />

parte para a coleta pública da cida<strong>de</strong> 62% (Figura 02) sendo <strong>de</strong>stinado ape<strong>nas</strong> 23% para a coleta<br />

seletiva, para uma melhor compreensão foram separados os resíduos por tipos: orgânicos,<br />

inorgânicos, efluentes, entulhos e direcionados a sua <strong>de</strong>stinação. Esses dados conduzem a<br />

compreensão que as empresas da construção civil <strong>de</strong> Mossoró vem timidamente <strong>de</strong>senvolvendo<br />

uma consciência ambiental em relação a reciclagem <strong>de</strong> seus resíduos .<br />

Figura 02: Destinação final dos resíduos.<br />

Fonte: Dados da pesquisa em Campo, 2009.<br />

Houve também, uma minoria mas que mereçe ser <strong>de</strong>stacada, <strong>de</strong> empresas que disseram em<br />

suas respostas queimarem seus residuos 8% (1) o que vem ocasionar gran<strong>de</strong>s transtornos à<br />

população.<br />

De acordo com o Código Municipal <strong>de</strong> Meio Ambiente, aprovado em 2008, e que contém<br />

resoluções pertinentes as edificações e suas condições ambientais <strong>de</strong> coleta, manuseio, transportes<br />

<strong>de</strong> resíduos sólidos urbano <strong>de</strong> qualquer natureza, planejado pelo CODEMA e Gerência Executiva <strong>de</strong><br />

Gestão Ambiental contendo em suas diretrizes procedimentos para gestão dos resíduos da<br />

construção civil na cida<strong>de</strong>; uma das finalida<strong>de</strong>s do Código do Meio Ambiente Municipal é<br />

exatamente proteger a área urbana contra as ações antrópicas, que venham <strong>de</strong>gradar a cida<strong>de</strong>, como<br />

também proteger a população, bem como, promover a conscientização e sensibilização para o meio<br />

ambiente. Nas diretrizes do capítulo IV, que se refere à coleta, transporte e disposições finais dos<br />

resíduos sólidos urbanos do Código do Meio Ambiente Municipal (2008), no art. 100, consta que:<br />

O acondicionamento, coleta, transporte, manejo e tratamento e disposição final dos<br />

resíduos <strong>de</strong>vem ser processados em condições que não tragam malefícios ou<br />

1113


inconvenientes à saú<strong>de</strong>, à segurança alimentar, ao bem-estar e meio ambiente<br />

(CÓDIGO DO MEIO AMBIENTE MUNICIPAL DE MOSSORÓ, 2008, p. 7).<br />

Segundo Araújo (2009), além <strong>de</strong> recolher e transportar, as empresas também são<br />

responsáveis pelas <strong>de</strong>posições. Contudo, ape<strong>nas</strong> uma empresa investigada por esse autor no<br />

município <strong>de</strong> Mossoró apresentou um local a<strong>de</strong>quado para a <strong>de</strong>posição do RCC‘s as <strong>de</strong>mais<br />

empresas utilizam o Lixão <strong>de</strong> Cajazeiras para <strong>de</strong>stinação dos entulhos, o que no caso ape<strong>nas</strong> estão<br />

transferindo o problema <strong>de</strong> um local para outro. Entretanto, 31% (4) das empresas dizem reutilizar<br />

entulhos para novas obras, o que é muito lucrativo, pois além <strong>de</strong> não estar colaborando para<br />

<strong>de</strong>gradação do meio ambiente, também é muito econômico para a empresa, pois não haverá outros<br />

gastos com materiais que po<strong>de</strong>m ser reaproveitados ou reciclados pela própria empresa.<br />

No que se refere às ações <strong>de</strong> controle e prevenção ambiental aproximadamente 62% das<br />

empresas questionadas dispõem a<strong>de</strong>quadamente seus resíduos no qual, a responsabilida<strong>de</strong> pela<br />

remoção <strong>de</strong>sses resíduos ficava a cargo <strong>de</strong> empresas privadas especializadas na retirada dos<br />

entulhos como também a coleta pública da cida<strong>de</strong>, Figura 03.<br />

Figura 03: Ações <strong>de</strong> controle e prevenção dos aspectos ambientais. Fonte: Dados da pesquisa em Campo,<br />

2009.<br />

Nesse sentido, comprometem a preocupação em atingir e <strong>de</strong>monstrar um <strong>de</strong>sempenho mais<br />

satisfatório em relação ao meio ambiente, pois segundo o Kraemer (2004) a adoção <strong>de</strong> ações<br />

voltadas para a qualida<strong>de</strong> ambiental adotadas por estas empresas po<strong>de</strong>riam se tornar um diferencial<br />

positivo, atraindo a atenção daqueles consumidores mais exigentes, e também comprometidos com<br />

a melhoria das condições socioambientais<br />

Em relação a existência <strong>de</strong> uma política <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> <strong>de</strong>sperdício <strong>de</strong> materiais <strong>nas</strong><br />

empresas, 54% afirmaram que procuram reduzir materiais como: papéis que utilizados em seus<br />

escritórios eram reaproveitados para rascunhos, a disponibilização <strong>de</strong> um copo para cada<br />

1114


funcionário, on<strong>de</strong> reduziam o uso excessivo <strong>de</strong> copos <strong>de</strong>scartáveis, havia por parte <strong>de</strong> algumas<br />

empresas um reaproveitamento <strong>de</strong> tijolos, telhas, cerâmicas, ferros. Essa constatação vem mostrar<br />

que mesmo timidamente em algumas ações po<strong>de</strong>-se perceber que para a maioria das empresas, a<br />

política <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> materiais vem se tornando uma preocupação.<br />

Sobre os procedimentos que eram utilizados para a minimização e economia <strong>de</strong> energia<br />

elétrica, água e veículos, os mais citados foram <strong>de</strong> minimização <strong>de</strong> energia elétrica que apresentou<br />

um porcentual 62%, por meio dos procedimentos <strong>de</strong>scritos pelos dirigentes: <strong>de</strong>sligarem todos os<br />

equipamentos, inclusive bebedouros em fins <strong>de</strong> semana; do início da manhã não são utilizados ar<br />

condicionados nos escritórios; mudanças dos equipamentos <strong>de</strong> refrigeração do ambiente<br />

anualmente; orientação aos funcionários para procurarem sempre fiscalizar luzes ligadas sem<br />

necessida<strong>de</strong>s e os computadores; trocam-se lâmpadas quando necessário, com intuito <strong>de</strong> reduzir<br />

custos, bem como o maquinário antigo, por um mais econômico.<br />

É possível constatar com base nos dados, que existe por parte <strong>de</strong> algumas empresas uma<br />

preocupação em adotar ações voltadas para a gestão ambiental, com o intuito <strong>de</strong> diminuir gastos<br />

<strong>de</strong>snecessários com o uso indiscriminado <strong>de</strong> água, energia e utilização <strong>de</strong> veículos. Uma pequena<br />

parcela também já adota Programas <strong>de</strong> Coleta Seletiva e <strong>de</strong> Gerenciamento <strong>de</strong> Resíduos Sólidos em<br />

suas obras. No entanto, a gran<strong>de</strong> maioria não <strong>de</strong>senvolve nenhum tipo <strong>de</strong> projeto que levem em<br />

conta as questões ambientais, o evi<strong>de</strong>ncia a ausência <strong>de</strong> uma consciência ambiental por parte dos<br />

empresários, sobretudo em relação à implantação <strong>de</strong> programas e projetos voltados à gestão<br />

ambiental.<br />

A diferença nos tipos <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>s para melhoria ambiental se <strong>de</strong>ve, especialmente, às<br />

distintas capacida<strong>de</strong>s técnicas e financeiras, das empresas. Porém, existem alguns aspectos que são<br />

relevantes para todos os tipos <strong>de</strong> empresa <strong>de</strong> acordo com a figura 04, a falta <strong>de</strong> informação técnica<br />

dos funcionários 62% é fator mencionado como uma das principais barreiras.<br />

1115


Conclusão<br />

Figura 04: Gráfico das principais dificulda<strong>de</strong>s para a melhoria ambiental da empresa (n=13). Dados da<br />

pesquisa em campo, 2009.<br />

Destaca-se, que no município <strong>de</strong> Mossoró não existe uma atuação social e política para que<br />

as empresas da construção civil atuem numa perspectiva <strong>de</strong> implantação <strong>de</strong> medidas ambientais no<br />

setor. Esse fato po<strong>de</strong> justificar o <strong>de</strong>sinteresse das empresas em praticarem ações ambientalmente<br />

responsáveis, embora a cida<strong>de</strong> esteja passando por um intenso e acelerado processo <strong>de</strong><br />

verticalização.<br />

As organizações pesquisadas já estão consolidadas no município e, portanto, já po<strong>de</strong>riam<br />

apresentar uma política interna voltada para a gestão ambiental e para a responsabilida<strong>de</strong> social.<br />

As empresas da construção civil necessitam se comprometer com a adoção <strong>de</strong> medidas que<br />

venham a minimizar os impactos ambientais da ativida<strong>de</strong>. A maioria <strong>de</strong>las não possui um setor<br />

ambiental ou um responsável pelas questões ambientais.<br />

Portanto, o dilema das empresas da construção civil <strong>de</strong> Mossoró é adaptar-se a este processo<br />

<strong>de</strong> melhoria <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho ambiental ou correr o risco <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r espaços em um mercado<br />

competitivo e globalizado, que advoga pela adoção <strong>de</strong> práticas ambientalmente corretas, sendo<br />

indispensável à adoção princípios <strong>de</strong> gerenciamento ambiental condizentes com os <strong>de</strong>sígnios do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento sustentável.<br />

Referências<br />

ARAÚJO, Cirliany Maria Bezerra. Resíduos Sólidos da Construção Civil na Zona Urbana do<br />

Município <strong>de</strong> Mossoró – RN . 52 p. Monografia (Curso <strong>de</strong> Bacharelado em Gestão Ambiental) –<br />

Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências Econômicas, Departamento <strong>de</strong> Gestão Ambiental, Núcleo Avançado <strong>de</strong><br />

Educação Superior <strong>de</strong> Areia Branca, Universida<strong>de</strong> do Estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte, Areia<br />

Branca.<br />

CONAMA, Resolução nº 307 <strong>de</strong> 05 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2002. Disponível em <<br />

http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res02/res30702.html>Acesso em 07 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2011.<br />

KRAEMER, Maria Elisabeth. Gestão Ambiental: um enfoque no <strong>de</strong>senvolvimento sustentável.<br />

Itajaí: Univali, 2004.<br />

MOSSORÓ. Câmara Municipal <strong>de</strong> Mossoró. Lei complementar n° 026 <strong>de</strong> 10 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2008.<br />

Institui o Código <strong>de</strong> Meio Ambiente e cria o Sistema Municipal do Meio Ambiente do Município <strong>de</strong><br />

Mossoró. Jornal Oficial <strong>de</strong> Mossoró, p. 7-8, 2008.<br />

RICHARDSON, R. J. Pesquisa Social: métodos e técnicas. São Paulo: Atlas, 1999.<br />

1116


TACHIZAWA, Takeshy. Gestão Ambiental e Responsabilida<strong>de</strong> Social Corporativa: estratégias <strong>de</strong><br />

negócios focadas na realida<strong>de</strong> brasileira. São Paulo: Atlas, 2002.<br />

1117


MOVIMENTO DE MASSA COMO AGENTES CAUSAIS DOS DESEQUILIBRIOS DOS<br />

Resumo<br />

TALUDES DA BR-101 NORTE / PE<br />

Natércia Maria Correia <strong>de</strong> ARAÚJO (CPRH/PE)<br />

naterciamcaraujo@hotmail.com<br />

Niédja Maria Galvão Araújo e OLIVEIRA (ITEP/PE)<br />

noliveira825@gmail.com<br />

O trabalho registra resultados obtidos no monitoramento dos talu<strong>de</strong>s e encostas da BR-101 Norte da<br />

cida<strong>de</strong> do Recife-PE, que sofreram movimentos <strong>de</strong> massa, no período <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2011 a julho <strong>de</strong><br />

2012. Propõem-se medidas <strong>de</strong> controle <strong>de</strong> estabilização por meio da técnica <strong>de</strong> Bioengenharia <strong>de</strong><br />

solos, Brushlayers, associada a biomanta natural para a proteção do talu<strong>de</strong>, evitando o processo<br />

erosivo e a inserção da vegetação a apreen<strong>de</strong>r os solos e produzir uma evapotranspiração,<br />

diminuindo o índice <strong>de</strong> umida<strong>de</strong> em subsolo. Constataram-se os movimentos <strong>de</strong> massa vistos na<br />

área da pesquisa mediante o monitoramento das vertentes durante o período <strong>de</strong> um ano,<br />

classificando-os em movimento Rotacional, Translacional e o movimento complexo <strong>de</strong> massa<br />

através das Voçorocas. Concluiu-se que as nove vertentes monitoradas encontravam-se em processo<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação, consi<strong>de</strong>rando a perda <strong>de</strong> solo, em face do solo Distrófico e o alto índice <strong>de</strong><br />

precipitação pluviométrica, além da umida<strong>de</strong> relativa do ar ter-se constado <strong>de</strong> forma elevada.<br />

Palavras-chave: Encostas. Erosão. Movimento <strong>de</strong> massa. Rodovia.<br />

Abstract<br />

The paper reports results obtained in the monitoring of embankments and slopes of BR-101 north of<br />

the city of Recife-PE, which suffered landsli<strong>de</strong>s, from August 2011 to July 2012. It proposes<br />

measures to control stabilization through Soil bioengineering technique, Brushlayers associated<br />

with bio<strong>de</strong>gradable natural slope protection, preventing soil erosion and the insertion of vegetation<br />

to capture and produce a soil evapotranspiration, reducing the rate of subsoil moisture. Were found<br />

in the landsli<strong>de</strong>s seen in research by monitoring the slopes during the period of one year, classifying<br />

them in motion Rotational, Translational and complex landsli<strong>de</strong>s through the Gullies. It was<br />

conclu<strong>de</strong>d that the nine sections monitored were in the process of <strong>de</strong>gradation, whereas soil loss in<br />

the face of Dystrophic soil and high rainfall levels, plus the relative humidity have been featured in<br />

high fashion.<br />

Keywords: Slopes. Erosion. Landsli<strong>de</strong>s. Highway<br />

1118


Introdução<br />

O modal rodoviário exerce consi<strong>de</strong>rável influência no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um país e, em<br />

especial, <strong>de</strong> uma região. No entanto, as obras <strong>de</strong> rodovia são potencialmente impactantes ao meio<br />

ambiente. A dimensão ambiental das estradas não se restringe à sua construção; prolonga-se por<br />

toda a sua vida útil, <strong>nas</strong> fases <strong>de</strong> operação, restauração e duplicação, entre outras intervenções <strong>de</strong><br />

caráter natural. A ausência <strong>de</strong> medidas mitigadoras acelera o surgimento dos processos <strong>de</strong><br />

instabilização <strong>de</strong> talu<strong>de</strong>s, provocados pelo <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>amento dos movimentos <strong>de</strong> massa como<br />

agentes causais dos <strong>de</strong>sequilíbrios dos talu<strong>de</strong>s da BR-101 Norte/PE.<br />

Esses fatores são frequentes causas <strong>de</strong> danos econômicos, sociais e ambientais – refletindo<br />

na população usuária da rodovia por meio <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes humanos, muitas vezes atingindo a<br />

letalida<strong>de</strong> –, <strong>de</strong> danos materiais na interdição das pistas e comprometimento da estrutura física do<br />

sistema linear, <strong>de</strong>struindo espaços e encostas e o que nelas existe. A questão ambiental está cada<br />

vez mais presente no cotidiano das pessoas que transitam em rodovias, necessitando <strong>de</strong><br />

pressupostos que materializem a sustentabilida<strong>de</strong>.<br />

Nesta visão o trabalho permeia seu limítrofe na região da Mata Norte <strong>de</strong> Pernambuco,<br />

restringindo-se à BR-101 Norte, trecho da divisa do estado da Paraíba com o município <strong>de</strong> Goiana /<br />

PE até o município <strong>de</strong> Igarassu, 41,4 km (Figura 1), entre as coor<strong>de</strong>nadas geográficas E: 280991; N:<br />

9170720 e E: 289054; N: 9133447, do sistema SIRGAS 2000, MC 33° WGr, segundo a Projeção<br />

Universal <strong>de</strong> Mercator (UTM). Constata-se que nesse trecho da rodovia o relevo ondulado e <strong>de</strong><br />

baixa ondulação <strong>de</strong> coli<strong>nas</strong> e tabuleiros favorece os processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>slizamentos.<br />

Figura 1 – Localização do trecho rodoviário, objeto da pesquisa<br />

Fonte: Google Earth, 2011.<br />

O projeto <strong>de</strong> duplicação da rodovia, conjugado com os talu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> corte e aterro <strong>de</strong> alturas<br />

significativas, caracterizam os problemas <strong>de</strong> instabilida<strong>de</strong> associados aos processos erosivos <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong> porte e <strong>de</strong>slizamentos rasos e profundos existentes no trecho estudado. Nessa ótica existe a<br />

1119


prevalência do clima da área, segundo Köppen, A‘s tropical chuvoso com precipitações <strong>de</strong> 1900<br />

mm anuais, com chuvas <strong>de</strong> outono-inverno e umida<strong>de</strong> relativa do ar em torno <strong>de</strong> 84%, que favorece<br />

as ações erosivas.<br />

A literatura reconhece uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> movimentos <strong>de</strong> massa, os quais resultam <strong>de</strong><br />

diferentes fatores atuando sobre diversos materiais, induzidos tanto pelos condicionantes naturais<br />

quanto pelos antrópicos. Guidicini e Nieble (1984) <strong>de</strong>finem os movimentos gravitacionais <strong>de</strong> massa<br />

como ―todo movimento coletivo <strong>de</strong> solos e <strong>de</strong> rochas‖, enquanto Wican<strong>de</strong>r e Monroe (2009)<br />

<strong>de</strong>finem como ―movimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>scida, pela encosta abaixo, <strong>de</strong> material, sob a influência direta da<br />

gravida<strong>de</strong>‖. Esses últimos acrescentam que os mecanismos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>amento mais comuns são<br />

as fortes vibrações dos terremotos e a quantida<strong>de</strong> excessiva <strong>de</strong> água no período chuvoso pela<br />

elevação do grau <strong>de</strong> saturação no solo. No que diz respeito aos talu<strong>de</strong>s e encostas <strong>de</strong> rodovia,<br />

segundo Gusmão Filho (2008), a instabilida<strong>de</strong> é causada pelos escoamentos superficial e<br />

subsuperficial sob a influência <strong>de</strong> fatores naturais: a precipitação <strong>de</strong> chuvas (intensida<strong>de</strong> e total<br />

pluviométrico) e a energia cinética associada; as proprieda<strong>de</strong>s do solo, como textura, <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>,<br />

porosida<strong>de</strong>, teor <strong>de</strong> matéria orgânica, etc.; o tipo e a porcentagem <strong>de</strong> cobertura vegetal influenciadas<br />

pela geometria da encosta (inclinação, comprimento e forma).<br />

No que se refere aos movimentos <strong>de</strong> massa na rodovia BR-101, são <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ados como<br />

resposta à ação das intervenções dos projetos estruturadores <strong>de</strong> impacto negativo e do processo <strong>de</strong><br />

industrialização da região que contribui para o aumento da carga produzida por tráfego pesado e<br />

operação <strong>de</strong> máqui<strong>nas</strong>, que passam a transmitir vibrações contínuas ao substrato levando ao<br />

processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>slizamento <strong>de</strong> talu<strong>de</strong>s. Dentre os investimentos <strong>de</strong> maior dimensão previstos para se<br />

instalar na Mata Norte, encontram-se a fábrica da Fiat, um terminal marítimo e um aeroporto <strong>de</strong><br />

cargas, esses dois últimos em estágio <strong>de</strong> viabilização (GOIANA..., 2011). Essas afirmações levam a<br />

admitir que modificações <strong>nas</strong> formas naturais conduzam à ruptura do equilíbrio entre a relação<br />

estável e instável <strong>de</strong> uma encosta, <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ando movimento <strong>de</strong> massa gerado pela ação antrópica.<br />

Sob esse aspecto, a pesquisa teve como objetivo central i<strong>de</strong>ntificar os talu<strong>de</strong>s e as encostas<br />

da rodovia BR-101 Norte da cida<strong>de</strong> do Recife, que sofreram movimentos <strong>de</strong> massa como processo<br />

<strong>de</strong> instabilização, e sugerir a técnica <strong>de</strong> Bioengenharia <strong>de</strong> solos, Brushlayer (SOTIR; GRAY, 1992),<br />

como recurso <strong>de</strong> promover a estabilida<strong>de</strong> das superfícies das vertentes.<br />

Metodologicamente, a pesquisa envolveu uma revisão bibliográfica, e para fundamentação<br />

do processo evolutivo das perdas <strong>de</strong> solo <strong>nas</strong> bordas dos talu<strong>de</strong>s, realizaram-se trabalho <strong>de</strong> campo<br />

por meio do monitoramento das encostas e análises climáticas. Utilizou-se o GPS para obtenção das<br />

coor<strong>de</strong>nadas <strong>de</strong> cada vertente no processo <strong>de</strong> monitoramento, estacas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira com 90 cm <strong>de</strong><br />

comprimento e 5 cm <strong>de</strong> diâmetro, martelo para fixação da estaca e trena para aferir medida entre a<br />

borda da vertente e a estaca, observando que <strong>de</strong>verá ficar enterrado no solo pelo menos 30 cm, <strong>de</strong><br />

1120


maneira firme e retilínea, para assegurar a interferência <strong>de</strong> animais. Fixaram-se estacas na área<br />

superior das nove vertentes, distando 2 m da borda, em linha reta (Figura 2 a e b).<br />

No monitoramento das vertentes, a análise foi por analogia; partindo <strong>de</strong> resultados iniciais,<br />

conhecia-se o valor da diferença entre a aferição pretérita e a presente. Aplicou-se a metodologia<br />

proposta por Cunha e Guerra (1996), modificada por Oliveira, Carvalho e Silva Neto (2007), que<br />

<strong>de</strong>fine métodos <strong>de</strong> monitoramento da evolução das perdas <strong>de</strong> solo <strong>nas</strong> bordas dos talu<strong>de</strong>s. A escolha<br />

dos locos monitorados realizou-se <strong>de</strong> forma a abranger todo o trecho da pesquisa, selecionando os<br />

talu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> corte e aterro <strong>de</strong> <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong> acentuada <strong>de</strong> forma a obter uma representativida<strong>de</strong> da<br />

geomorfologia da área. A i<strong>de</strong>ntificação dos talu<strong>de</strong>s ocorreu com o procedimento <strong>de</strong> fixação <strong>de</strong><br />

estacas-testemunha numeradas <strong>de</strong> 1 a 9.<br />

a) b)<br />

Figura 2 – Monitoramento dos talu<strong>de</strong>s<br />

a) momento da marcação da distância da estaca para a borda do talu<strong>de</strong> 1; b) <strong>de</strong>talhe da estaca<br />

com a numeração.<br />

Fonte: a autora, 2012.<br />

Resultados e Discussão<br />

O monitoramento consistiu em aferir mensalmente as distâncias em cada marco, por um<br />

período <strong>de</strong> doze meses consecutivos, iniciando em 29 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2011 e finalizando em 29 <strong>de</strong><br />

julho <strong>de</strong> 2012. A caracterização e <strong>de</strong>scrição dos solos citadas na análise do monitoramento<br />

extraíram-se <strong>de</strong> Araújo Filho et al. (2000). Na área pesquisada, ocorrem solos das classes<br />

Latossolos Amarelos; Podzólicos Amarelos e Vermelho-Amarelos; Gleissolos Distróficos e solos<br />

Aluviais. As medições realizaram-se com uma trena, cuja medida era tomada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a estaca até a<br />

borda da vertente, obtendo-se o resultado mensal das perdas <strong>de</strong> solo <strong>nas</strong> bordas do talu<strong>de</strong> por efeito<br />

da erosão, para se avaliar o grau <strong>de</strong> perdas entre a porção estável e a porção móvel dos talu<strong>de</strong>s. Os<br />

1121


pontos selecionados distribuem-se na margem esquerda e direita da rodovia, numerados em or<strong>de</strong>m<br />

crescente a partir da divisa PB-PE. Os dados <strong>de</strong> campo explicitam-se na Tabela 1, com i<strong>de</strong>ntificação<br />

das datas e medidas coletadas durante o <strong>de</strong>senvolvimento da pesquisa, fornecendo elementos<br />

tratados para a conclusão da análise.<br />

Tabela 1 – Dados do monitoramento dos talu<strong>de</strong>s da BR-101 Norte / PE<br />

Fonte: a autora, 2012.<br />

Com o apoio <strong>de</strong>sses dados, elaborou-se o Gráfico M1 (Figura 3), on<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser lido que, nos<br />

cinco primeiros meses <strong>de</strong> agosto a <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2011, e nos meses <strong>de</strong> janeiro a maio <strong>de</strong> 2012, não<br />

houve alteração das medidas iniciais dos marcos 2; 3; 4 e 9.<br />

Figura 3 – Gráfico M 1 com o resultado do monitoramento das perdas <strong>de</strong> solo nos talu<strong>de</strong>s<br />

Fonte: a autora, 2012.<br />

Quanto aos marcos 1, 5, 6, 7 e 8, sofreram intenso processo erosivo induzido pelo alto índice<br />

pluviométrico nos meses <strong>de</strong> junho e julho/2012 com um quantitativo <strong>de</strong> 244,9 mm e 276,1 mm<br />

simultaneamente, apresentados na Figura 4 (Gráfico M2), pertinente ao período associado à alta<br />

umida<strong>de</strong> relativa do ar com 82%, Figura 5 (Gráfico M 3).<br />

1122


700<br />

600<br />

500<br />

400<br />

mm<br />

300<br />

200<br />

100<br />

0<br />

ago set out nov <strong>de</strong>z jan fev mar abr mai jun jul<br />

Figura 4 – Gráfico M 2, dados pluviométricos, período <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2007 a julho <strong>de</strong> 2012<br />

Fonte : a autora, 2012.<br />

Figura 5 – Gráfico M 3, umida<strong>de</strong> relativa do ar, período <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2007 a julho <strong>de</strong> 2012<br />

Fonte : a autora, 2012.<br />

ago/2007-jul/2008<br />

ago/2008-jul/2009<br />

ago/2009-jul/2010<br />

ago/2010-jul/2011<br />

ago/2011-jul/2012<br />

Nesta seção apresentam-se os marcos monitorados: Marco 1 – característico por talu<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

corte com coor<strong>de</strong>nadas E: 280255 N: 9167277, componentes <strong>de</strong> solo da or<strong>de</strong>m Podzólico Amarelo<br />

(60%) e Podzólico Amarelo e Vermelho-Amarelo (40%), sendo todos Álicos <strong>de</strong>senvolvidos em<br />

ambientes sedimentares do Grupo Barreiras do Terciário-Quaternário (Tabuleiros Costeiros). Até o<br />

décimo mês do monitoramento, não houve registro <strong>de</strong> perdas <strong>de</strong> solo, no entanto, nesse período,<br />

conforme análise climática, o baixo índice <strong>de</strong> chuvas na região contribuiu para a estabilização da<br />

superfície da encosta. Nos meses <strong>de</strong> junho e julho <strong>de</strong> 2012, <strong>de</strong> valores <strong>de</strong> 244,9 mm e 276,1 mm <strong>de</strong><br />

chuvas; a classe <strong>de</strong> solo e a inclinação do talu<strong>de</strong> contribuíram para a ocorrência <strong>de</strong> erosão, com<br />

perda <strong>de</strong> 3,2 m na borda do talu<strong>de</strong>, apresentado na Figura 6: verifica-se o movimento <strong>de</strong> massa do<br />

1123


tipo Translacional, indicando instabilida<strong>de</strong> do talu<strong>de</strong> por efeito da ação hidráulica e sua constituição<br />

genética.<br />

Figura 6 – Deslizamento Translacional ocorrido no marco 1<br />

Fonte: a autora, 2012.<br />

Marcos 5 e 6 – localizados em talu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> corte, distintos, têm as mesmas classes <strong>de</strong> solos. O<br />

marco 5 encontra-se <strong>nas</strong> coor<strong>de</strong>nadas E: 287798; N: 9150127, e o 6 <strong>nas</strong> coor<strong>de</strong>nadas E: 287820; N:<br />

9150088, ambos com <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong> 45° e borda com recobrimento vegetal. Nesses pontos o solo<br />

compõe-se <strong>de</strong> duas classes: a primeira, Podzólicos Amarelos (70%); a segunda, Podzólicos (30%)<br />

<strong>de</strong>senvolvidos em sedimentos do Grupo Barreiras do Terciário-Quaternário. No início do<br />

monitoramento, em agosto <strong>de</strong> 2011, as condições climáticas da área apresentaram um baixo índice<br />

<strong>de</strong> precipitação com 162 mm, e 52 mm no fim <strong>de</strong> 2011 (Figura 4), fato que tornou o solo seco, não<br />

se visualizando movimento <strong>de</strong> massa nos talu<strong>de</strong>s nesse período, permanecendo assim até o fim <strong>de</strong><br />

maio <strong>de</strong> 2012. Com o início do mês <strong>de</strong> junho e fim <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2012, ocorreram as chuvas <strong>de</strong> final<br />

<strong>de</strong> outono; com precipitação máxima do período analisado, provocando <strong>de</strong>slizamento com perda<br />

total <strong>de</strong> aproximadamente 4,5 m <strong>de</strong> borda, para os dois meses, em ambos os talu<strong>de</strong>s, como<br />

apresentado na Tabela 1.<br />

A contribuição hídrica nos solos <strong>de</strong> textura arenosa/média a argilosa, a alta aci<strong>de</strong>z dos solos<br />

e a baixa saturação <strong>de</strong> base levaram a maior infiltração, que norteou o movimento <strong>de</strong> massa<br />

Rotacional nos marcos 5 e 6, apresentado na Figura 7. A ruptura teve início na borda da superfície<br />

atravessando a zona <strong>de</strong> cisalhamento até a base do talu<strong>de</strong>, com volume <strong>de</strong> massa consistente.<br />

Avançou em velocida<strong>de</strong> acelerada atingindo a rodovia, vindo a ocupar toda a área do acostamento,<br />

passando a ser um elemento impeditivo ao tráfego, <strong>de</strong>ixando uma cicatriz íngreme e bem <strong>de</strong>finida;<br />

1124


Figura 7 – Deslizamento Rotacional nos marcos 5 e 6 da área monitorada<br />

Fonte: a autora, 2012.<br />

Marco 7 – i<strong>de</strong>ntificado com as coor<strong>de</strong>nadas E: 285827; N: 9145580, locado na borda da<br />

voçoroca <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> dimensão, situada na margem esquerda da BR-101, consi<strong>de</strong>rando o sentido<br />

Paraíba-Pernambuco. O solo se apresenta em três classes: os Podzólicos Amarelos com 40%<br />

seguido dos Podzólicos com o mesmo percentual e os Latossolos Amarelos em 20%. Em julho <strong>de</strong><br />

2012, em razão da intensida<strong>de</strong> pluviométrica <strong>de</strong> 276,1 mm, levou à ocorrência <strong>de</strong> <strong>de</strong>slizamentos na<br />

área, conforme Figura 8, com <strong>de</strong>struição das calhas <strong>de</strong> drenagem resultantes do efeito da velocida<strong>de</strong><br />

produzida pela energia das águas da chuva, nesse sentido o voçorocamento foi favorecido por solos<br />

ácidos <strong>de</strong> textura arenosa a argilosa, tipo <strong>de</strong> solos suscetíveis à erosão.<br />

Figura 8 – Voçoroca na proximida<strong>de</strong> da margem da rodovia<br />

Fonte: a autora, 2012.<br />

Marco 8 – localizado em área urbana, ocupa espaço <strong>de</strong> relevo plano, coor<strong>de</strong>nadas E: 286469<br />

N: 9142733, <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong> 2:3; pertence à classe dos Gleissolos Distróficos (65%) mais 35% <strong>de</strong> solos<br />

1125


Aluviais Distróficos e Eutróficos. Por serem solos <strong>de</strong> planícies Aluvionares formados em terrenos<br />

baixos, são naturalmente <strong>de</strong> mal a muito mal drenados, <strong>de</strong> classe textural argilosa. Nesse marco,<br />

tomou-se como referência a <strong>de</strong>fensa da rodovia distando 2,0 m da borda do talu<strong>de</strong>. A Figura 9<br />

mostra a perda <strong>de</strong> solo, 0,70 m, ocorrida nos meses <strong>de</strong> junho e julho/2012. Destaca-se com clareza o<br />

início <strong>de</strong> processo <strong>de</strong> voçorocamento, em que se observam as ravi<strong>nas</strong> profundas no solo, provocado<br />

pelas águas drenadas da área da plataforma da rodovia, que escoam em direção às partes mais<br />

baixas. Como se trata <strong>de</strong> solo pouco compactado, portanto ácido e com superfície exposta à ação<br />

climática, o processo <strong>de</strong> voçorocamento avança <strong>de</strong> maneira a se aproximar da margem da rodovia.<br />

Caso semelhante, porém em menor escala, ao do marco 7, <strong>de</strong>talhado anteriormente, que atingiu<br />

gran<strong>de</strong>s proporções.<br />

Defensa<br />

RAVINAS<br />

Figura 9 – Erosão no talu<strong>de</strong> <strong>de</strong> aterro, marco 8, na BR-101 Norte<br />

Fonte: a autora, 2012.<br />

No que concerne aos solos, diante do concebido, importante se faz direcionar o norte do<br />

agente hídrico da área para explicar os sucessivos movimentos <strong>de</strong> massa produzindo o<br />

<strong>de</strong>slocamento dos talu<strong>de</strong>s, movimentos naturais <strong>de</strong> área rural a movimentos resultantes dos cortes<br />

antigos da BR, ou por efeito dos novos traçados da sua duplicação. Fato justificado pela perda da<br />

cobertura vegetal <strong>nas</strong> encostas da rodovia, associada a outros fatores, que levaram à maximização<br />

dos processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>slizamento, com consequência na instabilida<strong>de</strong> dos talu<strong>de</strong>s, pô<strong>de</strong>-se verificar na<br />

Tabela 1 e Gráfico M1 <strong>de</strong> resultados do monitoramento.<br />

Diante dos cenários observados, na solução para a estabilização das encostas da citada<br />

rodovia, po<strong>de</strong>m-se consi<strong>de</strong>rar projetos <strong>de</strong> Bioengenharia <strong>de</strong> solos, assim como da engenharia<br />

1126


convencional, on<strong>de</strong> a situação passa a requerer medidas mais efetivas para solução dos problemas,<br />

que venham a dirimir os constantes traumas <strong>nas</strong> rodovias brasileiras, em especial, na rodovia<br />

pesquisada. A Bioengenharia passa a ser uma técnica que prioriza o material vivo e prece<strong>de</strong>nte <strong>de</strong><br />

origem da Mata Atlântica como elementos equalizadores para a manutenção do equilíbrio sistêmico<br />

na área do talu<strong>de</strong> da BR-101 Norte.<br />

Nesse sentido propõe-se a técnica Brushlayers, que consiste num sistema <strong>de</strong> camadas <strong>de</strong><br />

ramos vivos dispostos perpendiculares à face do talu<strong>de</strong>, em fileiras, intercalados entre camadas <strong>de</strong><br />

solo, na qual os ramos vivos preenchem os espaços vazios à medida que se enraízam ao longo do<br />

seu comprimento, reforçando o solo por meio da ligação das partículas, adicionando resistência ao<br />

<strong>de</strong>slizamento. O espaçamento vertical entre as camadas normalmente são entre 30 e 90 cm. Agem<br />

como drenos horizontais e proporcionam a perda da umida<strong>de</strong> excessiva mediante a<br />

evapotranspiração. Sugere-se que o plantio não seja realizado durante o período <strong>de</strong> dormência da<br />

planta.<br />

Os solos do trecho da rodovia estudada, conforme apresentado na análise do monitoramento<br />

das vertentes, são suscetíveis à erosão. Nesse caso sugere-se para o recobrimento superficial da<br />

encosta a biomanta natural com peque<strong>nas</strong> aberturas, intercaladas, quando elas <strong>de</strong>verão ser<br />

preenchidas, por meio da vegetação, utilizando a técnica da Bioengenharia <strong>de</strong> solos, Brushlayers,<br />

como se verifica na Figura 10 a e b.<br />

a) b)<br />

Figura 10 – Técnica <strong>de</strong> Bioengenharia <strong>de</strong> solos e biomanta<br />

a) <strong>de</strong>talhes da instalação da Brushlayers com vegetação nativa; (b) talu<strong>de</strong> <strong>de</strong> corte com movimento<br />

<strong>de</strong> massa Translacional recoberto em faixas por biomanta natural.<br />

Fonte: a) Gray e Sotir (1995, p. 5)<br />

A técnica sugerida se materializa por reduzir a inclinação do talu<strong>de</strong>, o terraceamento das<br />

camadas intersticiais e por meio da biomanta evita o processo erosivo o que permite a cobertura<br />

vegetal tornar-se estabilizada, maximizando-se o índice <strong>de</strong> evapotranspiração mediante as plantas<br />

introduzidas e minimizando o percentual hídrico do solo. A implantação da técnica é <strong>de</strong> baixo<br />

1127


custo, execução e praticida<strong>de</strong> reduzidas, constituindo-se por ter alta taxa <strong>de</strong> sobrevivência dos<br />

indivíduos. A vegetação <strong>de</strong>verá ser do ambiente <strong>de</strong> origem, <strong>de</strong> preferência leguminosas com raízes<br />

pivotantes.<br />

Conclusão<br />

A duplicação da rodovia BR-101 Norte estimulou a procura por áreas para expansão do<br />

setor produtivo, imobiliário, comercial e <strong>de</strong> turismo. O <strong>de</strong>senvolvimento da região intensifica o<br />

tráfego pesado e produz vibrações contínuas ao substrato, contribuindo para o processo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>slizamento dos talu<strong>de</strong>s. Os movimentos <strong>de</strong> massa na BR estudada são dos tipos Rotacionais e<br />

Translacionais, aparecendo como uma forma complexa do movimento <strong>de</strong> massa, o sistema <strong>de</strong><br />

voçorocas. Nos agentes causadores dos movimentos <strong>de</strong> massa nos talu<strong>de</strong>s da BR-101 Norte,<br />

observaram-se as ações do clima úmido com índice <strong>de</strong> precipitação que atinge 276,1 mm,<br />

produzindo erosão superficial e ao mesmo tempo ocorrendo a infiltração para subsolo, <strong>de</strong>ixando a<br />

área saturada, fator que leva ao <strong>de</strong>slocamento da massa.<br />

Os solos passam a ser agentes indutores à absorção da água precipitada por serem <strong>de</strong><br />

formação Álica. Os talu<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> forma genérica, aparecem sem retaludamento e <strong>de</strong>snudos <strong>de</strong><br />

vegetação propiciando a absorção hídrica. Na correlação entre os parâmetros analisados e os<br />

movimentos <strong>de</strong> massa <strong>nas</strong> encostas, concluiu-se que a influência <strong>de</strong> natureza hidrológica associada<br />

às variáveis da composição geológica favorecem os movimentos <strong>de</strong> massa, <strong>de</strong> modo a se tornar<br />

possível as previsões das consequências e as ações preventivas do po<strong>de</strong>r público.<br />

Em relação às técnicas da Bioengenharia <strong>de</strong> solos, são a<strong>de</strong>quadas <strong>de</strong>ntro da varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

situações, em especial a estabilização <strong>de</strong> encostas naturais e talu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> corte e aterro <strong>de</strong>ssa rodovia,<br />

levando em consi<strong>de</strong>ração as limitações das vantagens e os benefícios na recomposição ambiental da<br />

área afetada. Dessa forma, conclui-se que os dados obtidos na pesquisa fornecem um acervo<br />

importante para aplicação metodológica com vista à regeneração e preservação dos talu<strong>de</strong>s,<br />

passando o trabalho a executar um papel técnico-científico subsidiando o Estado como gestor da<br />

malha rodoviária, vindo a consolidar a satisfação humana.<br />

Referências<br />

ARAÚJO FILHO, José Coelho <strong>de</strong> et al. Levantamento <strong>de</strong> Reconhecimento <strong>de</strong> Baixa e Média<br />

Intensida<strong>de</strong> dos Solos do Estado <strong>de</strong> Pernambuco. Recife: Embrapa Solos, 2000. Boletim <strong>de</strong><br />

Pesquisa, Rio <strong>de</strong> Janeiro, n. 11, <strong>de</strong>z. 2000.<br />

CUNHA, Sandra B.; GUERRA, Antonio José Teixeira. Geomorfologia: exercícios, técnicas e<br />

aplicações. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Bertrand Brasil, 1996.<br />

1128


GOIANA: evento anuncia hoje chegada da Fiat. Publicado no Diário Oficial do Estado (D.O.E.) em<br />

9/8/2011. Assembleia Legislativa do Estado <strong>de</strong> Pernambuco, 2011. Disponível em: . Acesso<br />

em: 17 ago. 2011.<br />

GUIDICINI, Guido; NIEBLE, Carlos M. Estabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Talu<strong>de</strong>s Naturais e <strong>de</strong> Escavação. 2. ed.<br />

São Paulo: E. Blüche, 1984.<br />

GUSMÃO FILHO, Jaime <strong>de</strong> A. Solos da Formação Geológica ao Uso da Engenharia. 2. ed.<br />

Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2008.<br />

OLIVEIRA, Niédja Maria Galvão A.; CARVALHO, João Allyson Ribeiro <strong>de</strong>; SILVA NETO,<br />

Manoel Anísio da. Instabilida<strong>de</strong> do compartimento dos glacis <strong>de</strong> acumulação, setor leste do<br />

município <strong>de</strong> Camaragibe: <strong>de</strong>slizamentos e voçorocas. 2007. Universida<strong>de</strong> Regional do Cariri<br />

(Urca). In: Simpósio <strong>de</strong> Geografia Física do Nor<strong>de</strong>ste, 1., 2007. Trabalhos apresentados... Ca<strong>de</strong>rnos<br />

<strong>de</strong> Cultura e Ciência, v. 2, n. 1, supl. especial, maio 2007.<br />

SOTIR, Robbin B.; GRAY, Donald H. Soil bioengineering for upland slope protection and erosion<br />

reduction. In: UNITED STATES. Department of Agriculture. Natural Resources Conservation<br />

Service. Engineering field handbook. New York, 1992. chap. 18, p.18-1/18-53.<br />

WICANDER, Reed; MONROE, James S. Fundamentos da Geologia. São Paulo: Cengace<br />

Learning, 2009.<br />

1129


AGENDA 21 LOCAL:<br />

O CASO DO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL DA COLÔNIA DE PELOTAS 127<br />

Resumo<br />

Neuza Maria Corrêa da SILVA<br />

neuzacorrea@ifsul.edu.br<br />

Esta pesquisa apresenta o estudo sobre as transformações socioambientais observadas no sétimo<br />

e oitavo distritos da Colônia <strong>de</strong> Pelotas, a partir da criação e atuação do Núcleo <strong>de</strong> Educação<br />

Ambiental (NEA) com a implantação da Agenda 21 local. Com isso, objetivamos avaliar<br />

durante um ano <strong>de</strong> atuação <strong>de</strong>ste (NEA), as possíveis transformações no que tange aos seus<br />

conhecimentos, habilida<strong>de</strong>s, valores, comportamentos e capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> avaliação dos problemas<br />

sociais, econômicos e ambientais por eles enfrentados. Na verda<strong>de</strong>, os pensamentos <strong>de</strong> vários<br />

educadores ambientais sobre Educação Ambiental e suas complexida<strong>de</strong>s, permitem a reflexão<br />

sobre o papel <strong>de</strong>stes <strong>nas</strong> transformações político-econômico-sociais; com isso, o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento da ética ambiental, permitindo ampliar a visão da complexida<strong>de</strong> e das<br />

conexões que se estabelecem entre os seres. A governabilida<strong>de</strong> local torna-se um dos mais<br />

importantes mecanismos <strong>de</strong> inovação <strong>de</strong>mocrática e ambiental. Esse processo, contudo,<br />

<strong>de</strong>safiam, <strong>de</strong> maneira radical, as práticas ambientais, sociais e econômicas tradicionais e<br />

vigentes na esfera municipal. A metodologia utilizada é a pesquisa-ação-participante, com a qual<br />

nos envolvemos <strong>de</strong> modo cooperativo, participativo. Através do método <strong>de</strong> entrevista gravada e<br />

escrita, foi possível conhecermos como pensa, sente e age a comunida<strong>de</strong> diante dos problemas<br />

socioambientais enfrentados por eles e o que esperam da Agenda 21. A partir da compreensão<br />

do que é Agenda 21, e como ela po<strong>de</strong> favorecer as práticas políticas sociais, utilizamo-nos dos<br />

informativos do Ministério do Meio Ambiente e da Agenda 21 Nacional. Os dados nos revelam<br />

que a Agenda 21, por si só, não constitui o único instrumento que <strong>de</strong>vemos utilizar para<br />

<strong>de</strong>senvolvermos um trabalho <strong>de</strong> conscientização e <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da ética ambiental ; mas<br />

quando levado a sério, po<strong>de</strong>rá ser um <strong>de</strong>cisivo instrumento para a prática <strong>de</strong> Educação<br />

Ambiental multiplicadora e mobilizadora.<br />

Palavras-chave: Educação Ambiental - Agenda 21 Local – Núcleo <strong>de</strong> Educação Ambiental.<br />

127 Instituto Fe<strong>de</strong>ral Sul Rio-gran<strong>de</strong>nse – Campus Pelotas<br />

Docente/Supervisora Pedagógica do IFSul<br />

1130


Abstract<br />

This research presents the study on social environmental changes observed in the seventh and<br />

eighth districts in Pelotas country area, after the beginning and the work of Environmental<br />

Education Nucleus, with the implantation of local Agenda 21. With this we aimed at evaluating<br />

for a year of work of the Nucleus, the possible changes consi<strong>de</strong>ring its knowledge, skills values,<br />

behavior and capacity of evaluating social, economical and environmental problems faced by<br />

the people from these districts. Actually, the thoughts of several environmental educators on<br />

Environmental Education and its complexities, enable the thought about their role in these<br />

social, political, economical changes; therefore, the <strong>de</strong>velopment of environmental ethics,<br />

enabling enlarging the view of complexity and of the connections which are established among<br />

the people. The local administration becomes one of the most important mechanisms of<br />

<strong>de</strong>mocratic and environmental innovation. This process, however, challenges, in a radical way,<br />

the environmental, social and economical traditional practices and present in the local content.<br />

The methodology used is the action-paticipant research, with which we involve, in acooperative,<br />

participative form. Through the method of recor<strong>de</strong>d and written interview, it was possible for us<br />

to know how the community thinks, feels, acts when facing social and environmental problems<br />

faced by them and what they expect from Agenda 21. From the un<strong>de</strong>rstanding of what Agenda<br />

21 is, and how it can favor the social political practices, we used informative from the<br />

Environment Ministry and the National Agenda 21. The data revealed that Agenda 21, itself,<br />

does not constitute the only tool which we should use to <strong>de</strong>velop a work of making people aware<br />

and of <strong>de</strong>velopment of environmental ethics; but, when taken seriously, it can be a very<br />

important tool for the practice of a multiplying and mobilizing Environmental Education.<br />

Keywords: Environmental Education – Local Agenda 21 – Environmental Education Nucleus.<br />

Introdução<br />

O município <strong>de</strong> Pelotas tem, aproximadamente, 323.158 habitantes (IBGE 2005) e com<br />

área <strong>de</strong> 1500 Km². Possui uma área rural <strong>de</strong> plantio contrastando com a área <strong>de</strong> planície banhada<br />

pela laguna dos Patos ao Leste, possuindo resquício <strong>de</strong> Mata Atlântica e um conjunto <strong>de</strong> áreas<br />

úmidas <strong>de</strong> significativo valor ambiental. Pelotas está situada na região fisiográfica <strong>de</strong>nominada<br />

Encosta do Su<strong>de</strong>ste, uma das onze regiões em que po<strong>de</strong> ser dividido o Rio Gran<strong>de</strong> do Sul. O<br />

espaço do município está estendido das mais baixas ondulações da encosta oriental da Serra dos<br />

Tapes, à Planície Costeira do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, sob o ponto <strong>de</strong> vista físico. Pelotas encontra-se<br />

numa região <strong>de</strong> encosta. Duas gran<strong>de</strong>s paisagens foram <strong>de</strong>terminadas por este aspecto, naturais e<br />

1131


huma<strong>nas</strong>: umas paisagens serra<strong>nas</strong>, onduladas e elevadas, correspon<strong>de</strong>ntes à zona rural, on<strong>de</strong> é<br />

utilizada a policultura <strong>nas</strong> colônias; a paisagem <strong>de</strong> planície, com utilização da pecuária e<br />

orizicultura. O clima é subtropical úmido, inverno ameno e verão suave. A forte influência do<br />

Oceano Atlântico, <strong>de</strong>nominada <strong>de</strong> maritimida<strong>de</strong>, ten<strong>de</strong> a amenizar o clima. Colônia <strong>de</strong> Pelotas é<br />

composta por 8 distritos e o número total <strong>de</strong> habitantes da Colônia <strong>de</strong> Pelotas, segundo IBGE<br />

(2004) é <strong>de</strong> 22.077 habitantes distribuídos entre eles. O núcleo atuará nos seguintes locais:<br />

Quilombo e Rincão da Cruz, compostos por vários subdistritos, (7º distrito) Vila Nova, Colônia<br />

Francesa, Santo Antônio, Grupelli, Três Cerros, Bachini, Santa Maria, (8º distrito) Chicuta<br />

Oliveira, Dona Júlia, São Manoel, Maciel. A zona rural é rica em beleza natural, apresentando<br />

paisagens <strong>de</strong> coli<strong>nas</strong> e cerros com cachoeiras, lajeados e zona <strong>de</strong> mata; um parque <strong>de</strong><br />

preservação ambiental e vários pontos turísticos. As populações dos distritos pesquisadas são do<br />

Rincão da Cruz (8º distrito), urbano 27, rural 2.387, totalizando 2.414 habitantes e do Quilombo<br />

(7º distrito), urbano 108, rural 2.746, totalizando 2.854 habitantes. Os dois distritos somam<br />

5.268 habitantes. A pesquisa atingiu 50 famílias 25 pertencentes ao 7º Distrito (Quilombo), e 25<br />

famílias no 8º distrito (Rincão da Cruz), avaliando a realida<strong>de</strong> atual e posterior ao trabalho do<br />

Núcleo <strong>de</strong> Educação Ambiental (NEA), as possíveis mudanças, no conhecimento, nos valores,<br />

<strong>nas</strong> habilida<strong>de</strong>s, nos comportamentos com relação ao meio ambiente. Tais comunida<strong>de</strong>s<br />

diferenciam-se pela suas tradições e costumes, <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> suas origens alemã, francesa e<br />

italiana. Lamentavelmente, esses grupos encontram-se um tanto abandonados pelas políticas<br />

públicas municipais.<br />

Metodologia <strong>de</strong> Pesquisa<br />

A metodologia utilizada nesta pesquisa é a metodologia da pesquisa-ação, houve uma<br />

avaliação dos resultados e uma tentativa <strong>de</strong> resolução dos problemas da comunida<strong>de</strong> somado ao<br />

objetivo <strong>de</strong> transformação. Além disso, ocorreu uma participação <strong>de</strong> ação planejada <strong>de</strong> caráter<br />

comunitário, social e cooperativo. Do ponto <strong>de</strong> vista sociológico, a proposta <strong>de</strong> pesquisa-ação dá<br />

ênfase à análise das diferentes formas <strong>de</strong> pensar, se comportar, sentir e agir, aliando<br />

conhecimento e mudança. A pesquisa-ação, enquanto linha <strong>de</strong> pesquisa associada a diversas<br />

formas <strong>de</strong> ação coletiva é orientada em função da resolução <strong>de</strong> problemas ou <strong>de</strong> objetivos <strong>de</strong><br />

transformação. Para THIOLLENT (2003, p.14)<br />

[...] a pesquisa-ação é um tipo <strong>de</strong> pesquisa social com base empírica<br />

que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a<br />

resolução <strong>de</strong> um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os<br />

1132


participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos <strong>de</strong><br />

modo cooperativo ou participativo.<br />

Ao nível das <strong>de</strong>finições, uma questão frequentemente discutida é a <strong>de</strong> saber se existe<br />

uma diferença entre pesquisa-ação e pesquisa participante. THIOLLENT (2003, p.15)<br />

Isto é uma questão <strong>de</strong> terminologia acerca da qual não há unanimida<strong>de</strong>.<br />

Nossa posição consiste em dizer que toda pesquisa é do tipo participativo: a<br />

participação das pessoas implicadas nos problemas investigados é<br />

absolutamente necessária. No entanto, tudo o que é chamado pesquisa<br />

participante não é pesquisa-ação.<br />

Pesquisa-ação participante, porque houve uma participação e ao mesmo tempo uma ação<br />

durante todo o processo e por todos envolvidos na pesquisa, tanto pesquisador como<br />

pesquisados. Dando suporte para ambos se tornarem capazes <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>rem com maior<br />

eficiência aos problemas da situação em que vivem, em particular sob forma <strong>de</strong> diretrizes <strong>de</strong><br />

ação transformadora, facilitando-me a busca <strong>de</strong> possíveis soluções dos problemas reais para os<br />

quais o procedimento convencional não contribuiria. Enquanto (DEMO, 1995), não faz distinção<br />

entre pesquisa participante e pesquisa-ação.<br />

Não fazemos aqui distinção entre pesquisa participante e pesquisa-<br />

ação, porque nos parece que o compromisso com a prática é o mesmo em<br />

ambas, ainda que pudéssemos inventar filigra<strong>nas</strong>, do tipo: nem toda ação<br />

precisa ser diretamente política, o que levaria a aceitar que participação é<br />

ape<strong>nas</strong> um tipo <strong>de</strong> ação social. Ainda, na intenção original da pesquisa-ação<br />

não está a colocação genérica e dispersa <strong>de</strong> qualquer ação social, mas ação<br />

conscientemente política, no sentido <strong>de</strong> aliar conhecimento e mudança. (1995,<br />

p.231)<br />

A pesquisa participante também po<strong>de</strong> ser conceituada como um conjunto <strong>de</strong> estratégias<br />

<strong>de</strong> investigação que, com a participação efetiva da população busca uma nova práxis que<br />

preconize mudanças na situação <strong>de</strong> opressão das subalter<strong>nas</strong>. Portanto, a metodologia <strong>de</strong><br />

pesquisa participante é um importante mecanismo <strong>de</strong> transformação da realida<strong>de</strong>, no que tange<br />

ao enfrentamento <strong>de</strong> problemas que afetam a maior parte das comunida<strong>de</strong>s. As técnicas para a<br />

coleta <strong>de</strong> dados e <strong>de</strong>senvolvimento da pesquisa foram, entrevistas semiestruturadas gravadas,<br />

questionário escrito, observação, diário <strong>de</strong> campo e fotografias.<br />

A pesquisa começou acontecer <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o primeiro encontro com o Núcleo em abril <strong>de</strong><br />

2004, na localida<strong>de</strong> da Vila Nova no 7º distrito, on<strong>de</strong> houve uma reunião com o grupo<br />

componente do NEA, ou seja, os dois distritos 7º e 8º. Neste encontro eu representava a<br />

1133


Secretaria <strong>de</strong> <strong>Qualida<strong>de</strong></strong> Ambiental (SQA), junto com mais três integrantes da ONG Teia<br />

Ecológica e componentes do NEA Rural. A reunião começou com a exposição sobre o curso <strong>de</strong><br />

formação <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadores e multiplicadores <strong>de</strong> Educação Ambiental. O curso teve duração <strong>de</strong><br />

80h, as quais foram divididas em 4 módulos <strong>de</strong> 20h, cada módulo foi composto por cinco<br />

encontros mensais, com duração <strong>de</strong> 4h. Apresentou os seguintes temas geradores <strong>de</strong> cada<br />

módulo. Módulo I - Fundamentação Teórica "Socieda<strong>de</strong> e Meio Ambiente‖, Agenda 21,<br />

mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, valores, ecossistemas, recursos naturais e efeitos da globalização.<br />

Módulo II - Diagnóstico Socioambiental "A I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> Local", meio ambiente natural e<br />

construído, saída <strong>de</strong> campo para estudo do meio, i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> da comunida<strong>de</strong>, finalização do<br />

diagnóstico, reunião com os semeadores e a comunida<strong>de</strong> para apresentação do diagnóstico,<br />

bases para a ação local. Modulo III - ―Visão <strong>de</strong> futuro‖, palestra sobre instrumentos <strong>de</strong><br />

planejamento, pesquisa sobre legislação Fe<strong>de</strong>ral, estadual e municipal sobre meio ambiente,<br />

i<strong>de</strong>ntificação e <strong>de</strong>finição das ações estratégicas incorporadas pela comunida<strong>de</strong>, sistematizar os<br />

resultados obtidos e construir os cenários socioambientais, reunião para discutir e avaliar os<br />

cenários socioambientais. Módulo IV – Desenvolvimento das ações locais, ―Construindo a<br />

Agenda 21 <strong>de</strong> Pelotas‖, elaboração <strong>de</strong> Projetos, montagem e <strong>de</strong>senvolvimento do projeto,<br />

finalização dos projetos, discussão e avaliação dos projetos, apresentação dos projetos. Neste<br />

encontro e em todos os outros que vieram posteriormente, foram feitos registros no ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong><br />

campo e muitas observações, avaliando o grupo a partir dos objetivos da Educação Ambiental,<br />

comportamentos, as habilida<strong>de</strong>s, os conhecimentos, e os valores ambientais. As perguntas do<br />

questionário-entrevista foram elaboradas <strong>de</strong> acordo com os objetivos da EA, para avaliar as<br />

possíveis mudanças socioambientais na comunida<strong>de</strong>. Foram escolhidas 25 pessoas do 7º e 25<br />

pessoas do 8º distritos, cada um foi entrevistado duas vezes, uma entrevista antes da atuação do<br />

núcleo e outra após um ano <strong>de</strong> atuação do núcleo, fazendo assim a comparação entre as duas<br />

respostas, a escolha dos entrevistados foi feita aleatoriamente, por uma integrante da<br />

comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada distrito, sendo ela a responsável por realizar as entrevistas, portanto foram<br />

duas colaboradoras no processo <strong>de</strong> avaliação. Preferi a neutralida<strong>de</strong>, na hora da entrevista, para<br />

que a comunida<strong>de</strong> ficasse a vonta<strong>de</strong> <strong>nas</strong> respostas, já que pertencia a (SQA), po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>sta forma<br />

influenciar <strong>nas</strong> respostas. Durante o ano <strong>de</strong> 2004 aconteceu à implantação do Núcleo, neste<br />

período houve 24 encontros, sendo 12 no 7º e 12 no 8º distritos, em todos os encontros estive<br />

presente como coor<strong>de</strong>nadora representando a SQA, motorista da Kombi que levava e buscava os<br />

integrantes do NEA para se reunirem e como pesquisadora. No final <strong>de</strong> 2004 o Núcleo já estava<br />

formado (sensibilizado) para <strong>de</strong>senvolverem suas funções, com o diagnóstico socioambiental<br />

pronto, com os projetos <strong>de</strong>terminados, a partir daí atuarem como agentes multiplicadores <strong>de</strong> EA.<br />

Foram escolhidas aleatoriamente 25 casas em cada distrito, as questões foram elaboradas junto<br />

1134


com o orientador da pesquisadora e aplicadas durante todo o ano <strong>de</strong> 2005, após a 1ª entrevista o<br />

núcleo se reunia quinzenalmente para a elaboração dos projetos e programarem ações <strong>de</strong> EA <strong>nas</strong><br />

comunida<strong>de</strong>s (7º e 8º), finais <strong>de</strong> semana participavam <strong>nas</strong> ativida<strong>de</strong>s da comunida<strong>de</strong><br />

aproveitando para disseminarem os conhecimentos adquiridos durante a formação, entregar<br />

materiais educativos sobre EA, Agenda 21, assim como, implantação <strong>de</strong> viveiros com mudas <strong>de</strong><br />

árvores nativas, incentivando toda a comunida<strong>de</strong> da importância do mesmo, trazendo inclusive<br />

pessoas qualificadas para falar sobre como produzir, porque produzir e quais as vantagens da<br />

produção <strong>de</strong> árvores nativas, a partir <strong>de</strong> viveiros. Foi realizadas algumas ações junto ao Núcleo,<br />

como escolha e transporte <strong>de</strong> palestrante para falarem sobre os temas escolhidos por eles, pedido<br />

na Câmara dos vereadores para entrarem com um projeto para dar nome a praça e para adoção<br />

junto a SQA. No final <strong>de</strong> 2005, foi realizada a 2ª entrevista com as mesmas pessoas e as mesmas<br />

perguntas da primeira, possibilitando assim a comparação, análise e conclusão do que realmente<br />

aconteceu durante um ano <strong>de</strong> atuação do núcleo. A partir da análise da tabulação separadamente<br />

das duas entrevistas, dos dois distritos, po<strong>de</strong>-se chegar a uma conclusão da pesquisa realizada e<br />

respon<strong>de</strong>r se os objetivos da EA foram <strong>de</strong>senvolvidos na comunida<strong>de</strong> ou não. A coleta dos<br />

dados e as questões foram analisadas, com as seguintes divisões: Análise dos dados gerais,<br />

análise dos valores, análise dos conhecimentos, análise dos comportamentos e análise das<br />

habilida<strong>de</strong>s. Os resultados das entrevistas <strong>de</strong> 2004 e 2005 <strong>de</strong> cada distrito foram comparados<br />

através <strong>de</strong> gráficos com percentagens.<br />

Conclusão<br />

Relembramos que o objetivo da pesquisa foi avaliar os resultados socioambientais da<br />

Agenda 21local, através do trabalho do Núcleo <strong>de</strong> Educação Ambiental da Colônia, entre os<br />

anos <strong>de</strong> 2004 e 2005, no 7º e 8º distritos da zona rural <strong>de</strong> Pelotas. Acompanhar a implantação e a<br />

atuação do NEA e pesquisar sobre as possíveis transformações socioambientais nessas<br />

comunida<strong>de</strong>s foram à tarefa a que nos propusemos. A partir do que pretendíamos na proposta da<br />

pesquisa, foram realizadas muitas reuniões, visitas, entrevistas e acompanhamento <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />

implantação do NEA até o momento atual em que já estão sendo criados vários projetos pelo<br />

Núcleo, envolvendo a comunida<strong>de</strong> local. Os resultados esperados pela Agenda 21 local, como a<br />

formação <strong>de</strong> NEAs, aconteceu em parte, alguns não chegaram a se formar totalmente, dos seis<br />

previstos, três estão organizados, já com atuação na comunida<strong>de</strong> e três precisam <strong>de</strong><br />

reestruturação.Quanto a participação consciente das comunida<strong>de</strong>s <strong>nas</strong> <strong>de</strong>cisões referentes a<br />

questões socioambientais: Conselho Municipal <strong>de</strong> Proteção Ambiental, OP, Fóruns da Agenda<br />

21 Local, esta se dá, através do COMPAM. Foi criado uma Câmara Técnica do Fórum da<br />

1135


Agenda XXI, com representativida<strong>de</strong> dos NEAs, ONGs e Instituições governamentais, tratando<br />

da continuida<strong>de</strong> da Agenda XXI e fortalecimento dos NEAs. On<strong>de</strong> previa o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

postura quanto às formas <strong>de</strong> interação entre seres humanos e ambientes, buscando uma melhor<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, as comunida<strong>de</strong>s estão tentando que criarem alternativas, através <strong>de</strong> projetos<br />

criados por elas, <strong>de</strong> acordo com as necessida<strong>de</strong>s locais. O engajamento da comunida<strong>de</strong> na<br />

construção <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong> sustentável, os NEAs estão sendo uma ponte entre a comunida<strong>de</strong> e a<br />

Secretaria <strong>de</strong> Urbanismo, para que as necessida<strong>de</strong>s regionais sejam contempladas no plano<br />

diretor da cida<strong>de</strong>. A formação <strong>de</strong> uma consciência coletiva quanto a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conservação<br />

do meio ambiente, a promoção da <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> bens e direitos sociais, patrimônio cultural, direitos<br />

humanos e o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, estão sendo construída muito lentamente pela falta <strong>de</strong><br />

apoio político e estrutura dos NEAs. O objetivo principal da Agenda 21 local é, na verda<strong>de</strong>, a<br />

formulação e implantação <strong>de</strong> políticas públicas, por meio <strong>de</strong> metodologia participativa, que<br />

produza um plano <strong>de</strong> ação para o alcance <strong>de</strong> um cenário <strong>de</strong> futuro <strong>de</strong>sejável pela comunida<strong>de</strong><br />

local. Esse precisa atentar para a análise das vulnerabilida<strong>de</strong>s e potencialida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sua base<br />

econômica, social, cultural e ambiental. Ainda o objetivo da Agenda 21 Local <strong>de</strong> Pelotas<br />

consiste em assegurar o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, contemplando ações na esfera econômica,<br />

social e ambiental. Como instrumento educativo, preten<strong>de</strong> garantir <strong>de</strong>bates socioambientais,<br />

aten<strong>de</strong>ndo às necessida<strong>de</strong>s atuais, sem comprometer a futura geração. Diante das intenções<br />

acima citadas, asseguramos, <strong>de</strong> acordo com os dados pesquisados, que a comunida<strong>de</strong> da zona<br />

rural <strong>de</strong> Pelotas precisa ter mais espaço, incentivos, orientações, políticas públicas voltadas para<br />

a realida<strong>de</strong> colonial. A agenda 21 <strong>de</strong>u ape<strong>nas</strong> um passo inicial rumo a esses compromissos, mas<br />

é necessário muito mais. Urge, que a partir <strong>de</strong> agora, o Núcleo seja fortalecido para cumprir seu<br />

papel e seu verda<strong>de</strong>iro objetivo: trabalhar os problemas locais e formar li<strong>de</strong>ranças na<br />

comunida<strong>de</strong>, através <strong>de</strong> um processo permanente <strong>de</strong> formação e informação, possibilitando cada<br />

vez mais que estes <strong>de</strong>senvolvam habilida<strong>de</strong>s e atitu<strong>de</strong>s voltadas à conservação e ao manejo do<br />

meio ambiente, por meio da Educação Ambienta. Desse modo, estaremos formando cidadãos<br />

críticos e conscientes para suas tomadas <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões, para uma comunida<strong>de</strong> sustentável. O<br />

Núcleo <strong>nas</strong>ceu compreen<strong>de</strong>ndo duas comunida<strong>de</strong>s distintas, com realida<strong>de</strong>s diversas em alguns<br />

pontos, noutros com muita semelhança, separados pela distância <strong>de</strong> mais ou menos <strong>de</strong> 20km.<br />

Com o tempo, adquiriu forma e não se extinguiu, como as ONGs que foram responsáveis pela<br />

sua formação. Unidos pela mesma força, vonta<strong>de</strong> e necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trocarem experiências,<br />

conhecimentos e sempre buscando orientação, seguiram em frente, formando uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

trocas. Com todas as dificulda<strong>de</strong>s encontradas para se fazer presente, e com pouco tempo para se<br />

<strong>de</strong>dicar a reflexões, estudos e divulgação da importância <strong>de</strong> se ter uma Agenda 21 Local, o<br />

Núcleo persistiu. Vale novamente enfatizarmos que a Agenda trabalha questões relacionadas à<br />

1136


sustentabilida<strong>de</strong>, questões estas <strong>de</strong>licadas para quem vive na terra e da terra. Mesmo com todos<br />

esses problemas, o grupo se <strong>de</strong>dica, cada vez mais, para que a comunida<strong>de</strong> vislumbre uma<br />

maneira <strong>de</strong> conquistar uma melhoria na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida da zona rural. Não há exagero ao<br />

afirmarmos que os integrantes do NEA foram heróis, porque foram abandonados pelas ONGs,<br />

que ganharam verba Fe<strong>de</strong>ral, infra-estrutura Municipal para formá-los e acompanhá-los, e não o<br />

fizeram. Mesmo com muitas turbulências, enten<strong>de</strong>ram que <strong>de</strong>pendia mais <strong>de</strong>les, enquanto<br />

comunida<strong>de</strong> do que <strong>de</strong> pessoas <strong>de</strong>scomprometidas com as questões socioambientais e com falta<br />

<strong>de</strong> ética profissional. A continuida<strong>de</strong> aconteceu, pelo engajamento e persistência do grupo, ainda<br />

pela disponibilida<strong>de</strong>, respeito e comprometimento da coor<strong>de</strong>nadora <strong>de</strong> EA da SQA, que,<br />

incansavelmente, era a motorista da Kombi que levava o grupo para as reuniões notur<strong>nas</strong> todas<br />

as sema<strong>nas</strong> se <strong>de</strong>slocava da cida<strong>de</strong>, ia até a zona rural rodava em média 150 Km, para reunir o<br />

Núcleo. Quando necessário, levava consigo um palestrante para falar sobre temas <strong>de</strong> interesse da<br />

comunida<strong>de</strong> como, por exemplo, Fauna, Flora, Meio Ambiente Natural e Construído, entre<br />

outros. Os objetivos da pesquisa foi plenamente realizado, uma vez que verificamos uma<br />

sensível mudança <strong>de</strong> comportamentos, <strong>de</strong> hábitos, <strong>de</strong> conhecimentos e habilida<strong>de</strong>s, sobre as<br />

questões ambientais. Po<strong>de</strong>mos dizer que o trabalho do NEA foi <strong>de</strong>senvolvido <strong>de</strong>ntro das<br />

condições precárias com as quais se <strong>de</strong>parou. Estamos no ano <strong>de</strong> 2006, e ainda o núcleo sequer<br />

recebeu o computador e a impressora, para montar sua sala na escola se<strong>de</strong>. O <strong>de</strong>scaso do po<strong>de</strong>r<br />

público municipal e das ONGs que <strong>de</strong>veria acompanhá-los, é injustificável e total. Essa pesquisa<br />

serve <strong>de</strong> exemplo para que outros municípios não cometam os mesmos erros, como contratar<br />

ONGs sem critérios <strong>de</strong> seleção, que usam o dinheiro público com interesses políticos,<br />

pagamento para as pessoas participarem <strong>de</strong> cursos, sem nenhum comprometimento ético,<br />

projetos mirabolantes, sem previsão <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong>. Um dos gran<strong>de</strong>s problemas <strong>de</strong>tectado no<br />

processo <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> da Agenda 21 local foi à mudança <strong>de</strong> governo municipal no meio do<br />

projeto. O comprometimento <strong>de</strong> um e o <strong>de</strong>scomprometimento do outro, prejudicou o projeto.<br />

Inclusive, um ano se passou até o atual governo enten<strong>de</strong>r que a Agenda 21 é um projeto<br />

grandioso, importante para ser <strong>de</strong>senvolvido a partir das necessida<strong>de</strong>s locais e não <strong>de</strong> interesses<br />

políticos ou particulares, ela é <strong>de</strong> toda socieda<strong>de</strong>. O que se propõe é que a Agenda 21 Local<br />

tenha ape<strong>nas</strong>, como um dos parceiros, as prefeituras, procurando envolver várias instituições e,<br />

principalmente, Conselhos Municipais <strong>de</strong> Proteção Ambiental, ONGs engajadas em questões<br />

ambientais e que sejam idôneas, sindicatos, associações <strong>de</strong> bairros, universida<strong>de</strong>s. Enfim, toda a<br />

comunida<strong>de</strong>, para que não fiquem somente ligadas ao Po<strong>de</strong>r Executivo. Embasados nos dados<br />

levantados, po<strong>de</strong>mos concluir que houve um trabalho <strong>de</strong> sensibilização, <strong>de</strong> divulgação, <strong>de</strong><br />

reflexão e <strong>de</strong> transformação <strong>de</strong> hábitos e <strong>de</strong> comportamento das comunida<strong>de</strong>s em foco. As<br />

pessoas passaram a enten<strong>de</strong>r um pouco mais sobre o meio on<strong>de</strong> vivem e qual é o seu papel neste<br />

1137


ambiente, tendo respeito pelo trabalho do NEA, vendo-o até como referencial para informações<br />

e orientações sobre muitos problemas ambientais, enfrentados pela comunida<strong>de</strong>. A Agenda 21<br />

<strong>de</strong> Pelotas está tendo continuida<strong>de</strong> com a criação do Fórum XXI, hoje, uma Câmara Técnica do<br />

Conselho Municipal <strong>de</strong> Proteção Ambiental (COMPAM), composto por três instituições não<br />

governamentais e três governamentais. Essa Câmara confere institucionalida<strong>de</strong> aos NEAs. O<br />

que é <strong>de</strong>cidido pelo Fórum entra em votação no conselho; caso aprovado, po<strong>de</strong>rá ser executado.<br />

Esse foi o encaminhamento que julgamos mais eficaz para garantir a continuida<strong>de</strong> do processo<br />

<strong>de</strong> Agenda 21 no município. O novo paradigma <strong>de</strong> gerenciamento <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> dinâmicas<br />

sociais e políticas representadas pela Agenda 21, e pela perspectiva do <strong>de</strong>senvolvimento local,<br />

integrado e sustentável, apoia-se <strong>de</strong> forma central <strong>nas</strong> i<strong>de</strong>ias anteriormente expostas. Sua gran<strong>de</strong><br />

aposta está em conceber os membros da socieda<strong>de</strong> como sujeitos <strong>de</strong> seu próprio <strong>de</strong>stino e dos<br />

rumos tomados pela socieda<strong>de</strong> ou pela comunida<strong>de</strong> em que vivem. Ela é uma metodologia<br />

voltada para a consecução dos objetivos relacionados com a viabilização do <strong>de</strong>senvolvimento<br />

sustentável <strong>nas</strong> suas diversas facetas, capazes <strong>de</strong> garantir um presente e um futuro melhores para<br />

as atuais e as futuras gerações. Por isso, sua implantação <strong>de</strong>manda uma mudança no enfoque, na<br />

postura, <strong>nas</strong> mentalida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> forma que permitam e estimulem a participação da socieda<strong>de</strong> na<br />

superação <strong>de</strong> seus dilemas. Por <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iro, enfatizamos a inquestionável relevância da Educação<br />

Ambiental, para intensificar e diversificar as formas <strong>de</strong> participação individual e coletiva e,<br />

também, para buscar outros caminhos eficazes que, ao lado da educação e da participação,<br />

contribuam para a mudança <strong>de</strong> mentalida<strong>de</strong>. Conjugar esforços, em todas as escalas da<br />

socieda<strong>de</strong>, com objetivos mais diversos, em uma permanente aprendizagem, parece-nos ser a<br />

única via para combater a indiferença e alcançar os significados profundos dos valores presentes<br />

nos conceitos <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocracia, tolerância, solidarieda<strong>de</strong> e compromisso individual e social. É<br />

importante <strong>de</strong>stacar o que diz no preâmbulo da carta da terra sobre os <strong>de</strong>safios para o futuro.<br />

A escolha é nossa: formar uma aliança global para cuidar da Terra e<br />

uns dos outros, ou arriscar a nossa <strong>de</strong>struição e a diversida<strong>de</strong> da vida. São necessárias<br />

mudanças fundamentais dos nossos valores, instituições e modos <strong>de</strong> vida. Devemos<br />

enten<strong>de</strong>r que, quando as necessida<strong>de</strong>s básicas forem atingidas, o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

humano será primariamente voltado a ser mais e não a ter mais. Nossos <strong>de</strong>safios<br />

ambientais, econômicos, políticos, sociais e espirituais estão interligados e juntos<br />

po<strong>de</strong>remos forjar soluções inclu<strong>de</strong>ntes. (Carta da Terra, 2004, p.14).<br />

O bem estar da humanida<strong>de</strong> e a gran<strong>de</strong> comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m do nosso<br />

compromisso pessoal, integrida<strong>de</strong> ecológica, justiça social e econômica, <strong>de</strong>mocracia e liberda<strong>de</strong>.<br />

1138


Referências Bibliográficas<br />

BARBIERI, José Carlos. Desenvolvimento e Meio Ambiente: as estratégias <strong>de</strong> mudanças da<br />

agenda 21. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.<br />

BRASIL. AGENDA 21. Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e<br />

Desenvolvimento (1992: Rio <strong>de</strong> Janeiro). 3ª ed. Senado Fe<strong>de</strong>ral. Brasília, 2001.<br />

CARVALHO, Isabel Cristina <strong>de</strong> Moura. A Invenção Ecológica. Narrativas e Trajetórias da<br />

Educação Ambiental no Brasil. Porto Alegre: Editora Universida<strong>de</strong>/UFRGS, 2001. 229p.<br />

DIAS, Genebaldo Freire. Educação Ambiental: princípios e práticas. 3ª ed. Rev. e ampl. São<br />

Paulo: Gaia, 1994.<br />

DIAS, Genebaldo Freire. Fundamentos <strong>de</strong> Educação Ambiental. Brasília: Universa, 2000.<br />

FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. Tradução <strong>de</strong> Moacir Gadotti e Lílian Lopes Martin. Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro: Paz e Terra, 1983. (Coleção Educação e Mudança, 1).<br />

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Paz e Terra, 1988, 18ª edição.<br />

HERMANNS, Klaus; MACEDO, Michel. Agenda 21 Local - Experiências da Alemanha, do<br />

Nor<strong>de</strong>ste e Norte do Brasil. Fortaleza: Fundação Konrad A<strong>de</strong>nauer, 2003.<br />

LAYRARGUES, Philippe Pomier (Coor.). I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s da Educação Ambiental Brasileira.<br />

Ministério do Meio Ambiente. Diretoria <strong>de</strong> Educação Ambiental. Brasília: Ministério do Meio<br />

Ambiente, 2004. 156p.<br />

LEFF, Enrique; FUNTOWICZ, Silvio; MARCHI, Bruna <strong>de</strong>; CARVALHO, Isabel; OSÓRIO,<br />

Jorge; LUZZI, Rubén Pesci'daniel; RIOJAS, Javier; ESTEVA, Joaquín; REYES, Javier;<br />

GÓMEZ Maritza (Coor.). A Complexida<strong>de</strong> Ambiental. Tradução <strong>de</strong> Eliete Wolff. São Paulo:<br />

Cortez, 2003.<br />

LITTLE, Paulo E (Org.). Políticas Ambientais no Brasil: análises, instrumentos e experiências.<br />

Brasília, DF: IIEB, 2003.<br />

LOUREIRO, Carlos Fre<strong>de</strong>rico Bernardo. Questões Ambientais e Educação: a multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

abordagens. Fundação Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong>, 1996. In: Ambiente e Educação.<br />

FURG. v. 8, 2003. (Premissas teóricas para uma educação ambiental transformadora).<br />

LOUREIRO, Carlos Fre<strong>de</strong>rico Bernardo. Trajetória e Fundamentos da Educação Ambiental.<br />

São Paulo: Cortez, 2004.<br />

LOUREIRO, Carlos Fre<strong>de</strong>rico Bernardo; PHILIPPE Pomier Layargues; CASTRO, Ronaldo<br />

Souza <strong>de</strong>. (Orgs.). Educação Ambiental e Movimentos Sociais na Construção da Cidadania<br />

Ecológica e Planetária. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2002.<br />

MINISTÉRIO do Meio Ambiente. Construindo a Agenda 21 Local. 2. ed. rev. e atual. Brasília:<br />

Ministério do Meio Ambiente, 2003. 56p.<br />

1139


MINISTÉRIO do Meio Ambiente. Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável:<br />

<strong>de</strong>claração <strong>de</strong> Joanesburgo e plano <strong>de</strong> implementação (2002: Joanesbugo, África do Sul).<br />

Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2003. 118p.<br />

SILVA, Cristiano Ayres da (Org.). Construindo a Cidadania Ambiental - Agenda XXI Ação<br />

Local. Pelotas / RS. SMQA. Prefeitura Municipal <strong>de</strong> Pelotas, 2004.<br />

SILVA, Marina. Carta da Terra. Brasília. 2004.<br />

VELASCO, Sírio Lopez. Ética para o século XXI. Unisinos: São Leopoldo. Brasil, 2003.<br />

ZAKRZEVSKI, Sônia Balvedi; BARCELOS, Valdo (Org.). Educação Ambiental e<br />

Compromisso Social: Pensamentos e Ações. Erechim, RS: Ed. Fapes, 2004. 352p.<br />

1140


Resumo<br />

DINÂMICA MIGRATÓRIA E O PROCESSO DE DESFLORESTAMENTO<br />

DA BACIA DO IGARAPÉ D´ALINCUORT- RO¹<br />

Nubia Deborah Araujo CARAMELLO<br />

nubiacaramello@yahoo.com.br<br />

Luis Fernando MAIA LIMA<br />

maialima2000@gmail.com<br />

Dorisval<strong>de</strong>r Dias NUNES<br />

dorisval<strong>de</strong>r@pq.cnpq.br<br />

Monica dos Santos MARÇAL<br />

monicamarcal@ufrj.br<br />

Estado <strong>de</strong> Rondônia <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua origem esteve voltado para a exploração <strong>de</strong> seus recursos naturais<br />

através <strong>de</strong> incentivos públicos ligados a ciclos econômicos e atrelados à dinâmica migratória. O<br />

<strong>de</strong>senvolvimento regional <strong>de</strong>sprovido <strong>de</strong> planejamento ambiental resultou no surgimento <strong>de</strong> um<br />

quadro ambiental preocupante, tendo o <strong>de</strong>smatamento como principal indicador <strong>de</strong> Estado/Pressão.<br />

O artigo visa i<strong>de</strong>ntificar o <strong>de</strong>smatamento durante os anos <strong>de</strong> 1975 a 2009 e relacionar com os<br />

fatores socioeconômicos que <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>aram o cenário atual na Bacia do Igarapé D`Alincuort – RO.<br />

Realizou-se interpretação da metodologia <strong>de</strong> analise Pressão/ Estado/ Impacto/ Resposta, para<br />

i<strong>de</strong>ntificar a dinâmica migratória para a Bacia e construiu-se série histórica com imagens<br />

LANDSAT <strong>de</strong> 1975 a 2009, com intervalos <strong>de</strong> 5 a 10 anos <strong>de</strong>vido a qualida<strong>de</strong> das imagens. A<br />

análise das imagens espaciais mostra que ao longo <strong>de</strong> quase quatro décadas, a bacia do Igarapé<br />

D`Alincourt vem sofrendo alterações em sua paisagem natural e os questionários mostram os<br />

fatores que estimularam o fluxo migratório da década <strong>de</strong> 70 à década atual para a bacia. Entretanto,<br />

os erros po<strong>de</strong>m continuar se novas dinâmicas não forem implantadas com o principio <strong>de</strong> governança<br />

<strong>de</strong> compartilhar as ações e não or<strong>de</strong>na-las para que ações como a recuperação das matas ciliares do<br />

Igarapé D´Alincuort seja algo constante.<br />

Palavra chave: Percepção Ambiental, Ciclo Migratório, Desmatamento<br />

1141


Abstract<br />

Rondônia State since its inception has been focused on exploiting its natural resources through<br />

public incentives linked to economic cycles and is tied to migration dynamics. Development of the<br />

regional environmental planning resulted in the emergence of a framework environmental concern<br />

and <strong>de</strong>forestation as the main indicator of State/ Pressure. The article aims to i<strong>de</strong>ntify <strong>de</strong>forestation<br />

during the years 1975 to 2009 and relate to socioeconomic factors that triggered the current scenario<br />

in D `IgarapéAlincuort Basin at Rondonia State. Held interpretation of the analysis methodology<br />

Pressure/ State /Impact /Response to i<strong>de</strong>ntify the dynamics of migration to the basin and built-in<br />

series with Landsat images from 1975 to 2009, with intervals of 5 to 10 years because the quality of<br />

its images. The analysis of space imagery shows that over almost four <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>s, the Igarapé D<br />

`Alincourtbasin has un<strong>de</strong>rgone changes in its natural landscape and questionnaires show the factors<br />

that stimulated the migration of the 70s <strong>de</strong>ca<strong>de</strong> for the basin. However, errors may still be if new<br />

dynamics are not <strong>de</strong>ployed to the principle of governance to share actions and not or<strong>de</strong>ring them so<br />

that actions such as restoration of riparian forests of D'IgarapéAlincuort is a constant.<br />

Key-words: Environmental Perception, Migratory Cycle, Deforestation<br />

Introdução<br />

O Estado <strong>de</strong> Rondônia <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua origem esteve voltado para a exploração <strong>de</strong> seus recursos<br />

naturais, através <strong>de</strong> incentivos públicos, assim sendo, no <strong>de</strong>correr <strong>de</strong> sua história, os ciclos<br />

econômicos estiveram atrelados aos ciclos migratórios. Na corrida pela ocupação <strong>de</strong>sse novo<br />

espaço que se <strong>de</strong>senhava no mapa brasileiro, não foram levadas em consi<strong>de</strong>ração as aptidões da<br />

terra e nem a particularida<strong>de</strong> da vegetação e do clima próprio da floresta amazônica, essa falta <strong>de</strong><br />

planejamento integrada provocou choques <strong>de</strong> saberes agrícolas, on<strong>de</strong> o maior per<strong>de</strong>dor foi e vem<br />

sendo a biodiversida<strong>de</strong> (AMARAL, 2001; SANTOS, 2001; SILVA, 2003).<br />

Nesse contexto, inicia-se em 1975, ocupação da Bacia do Igarapé D´Alincuort (BHIDA) -<br />

RO, oriundo da implantação do Projeto <strong>de</strong> assentamento Rolim <strong>de</strong> Moura, <strong>de</strong>senvolvido pelo<br />

INCRA (Instituto Nacional <strong>de</strong> Colonização e Reforma Agrária) <strong>de</strong>stinado ao assentamento <strong>de</strong><br />

famílias <strong>de</strong> migrantes proce<strong>de</strong>nte dos diversos Estados do País que vieram à procura <strong>de</strong> uma nova<br />

oportunida<strong>de</strong> (SANTOS, 2001; CARNEIRO, 2008).região em que se localiza a bacia hidrográfica<br />

em estudo. Na classificação do pesquisador Carlos Santos (2001), esse município engloba a região<br />

do Vale do Guaporé, <strong>de</strong>vido à sua importância como eixo <strong>de</strong> integração dos municípios <strong>de</strong> Alta<br />

Floresta D`Oeste, Alto Alegre dos Parecis, Castanheiras, Costa Marques, Nova Brasilândia<br />

1142


D´Oeste, São Francisco do Guaporé, São Miguel do Guaporé e Seringueiras, Santa Luzia, Novo<br />

Horizonte D‘Oeste, municípios que também estão inseridos <strong>de</strong>ntro da região da Zona da Mata,<br />

sendo Rolim <strong>de</strong> Moura nomeada como sua Capital.<br />

O <strong>de</strong>senvolvimento regional <strong>de</strong>sprovido <strong>de</strong> planejamento ambiental resultou no surgimento<br />

<strong>de</strong> um quadro ambiental preocupante, tendo o <strong>de</strong>smatamento como principal indicador <strong>de</strong><br />

Estado/Pressão, segundo o SIPAM (2004 – carta imagem <strong>de</strong> <strong>de</strong>smatamento) da área total <strong>de</strong><br />

1.457,885 km² da extensão municipal, o percentual 76,12% encontrava-se <strong>de</strong>smatado até o ano <strong>de</strong><br />

2004, fato que atinge diretamente os recursos hídricos da região.<br />

Material e Método<br />

A Bacia Hidrográfica do Igarapé D´Alincourt ocupa uma área <strong>de</strong> 65,54 km², faz parte do<br />

conjunto <strong>de</strong> afluentes da Sub-bacia Muqui,, que integra a Bacia Hidrográfica do Machado, um forte<br />

afluente da Bacia do Rio Ma<strong>de</strong>ira (Figura 01).<br />

Mapa01 - Delimitação da Bacia do Igarapé D´Alincuort.<br />

Fonte: SEDAM (base cartográfica)<br />

Está localizada no perímetro rural do município <strong>de</strong> Rolim <strong>de</strong> Moura, entre as latitu<strong>de</strong>s<br />

11º46` a 11º48` S e longitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> 61º48` a 61º54` W,possui suas principais <strong>nas</strong>centes (Corgo do Zé,<br />

Rio do Morro, Igarapé do Morro) localizadas no Planalto <strong>de</strong> Parecis com variação <strong>de</strong> 305 a405 m <strong>de</strong><br />

altitu<strong>de</strong>, com acesso através da linha vicinal 172. Sua estrutura geomorfológica proporciona a<br />

existência da re<strong>de</strong> fluvial <strong>de</strong> padrão predominantemente <strong>de</strong>ntrítico, é caracterizada por vales<br />

entalhados e <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> drenagem média a alta. Seu interfluvio é divisor d águas da Bacia a<br />

Hidrográfica do Guaporé e da Bacia do Machado o qual a BHIDA está inserida.<br />

1143


A presente pesquisa foi <strong>de</strong>senvolvida nos mol<strong>de</strong>s quali-quantitivo envolvendo a aplicação<br />

<strong>de</strong>entrevista a 45 proprieda<strong>de</strong>s rurais <strong>de</strong> um total <strong>de</strong> 90, foi utilizado questionário com questões<br />

semi-abertas. Sua elaboração consi<strong>de</strong>rou em primeira instância os dados necessários para o Plano <strong>de</strong><br />

Bacia condido na Lei 9433/97, utilizou-se como diretrizes a Tese <strong>de</strong> Doutorado <strong>de</strong> Carniatto (2007),<br />

dissertação <strong>de</strong> Mestrado <strong>de</strong> Silva (2006);(ANA) 128 , buscando i<strong>de</strong>ntificar as percepções sobre:<br />

Impactos na qualida<strong>de</strong> da água superficial utilizou -se o CNAR; Influência do Projeto <strong>de</strong><br />

Recuperação das Matas Ciliares D`Lincourt no comportamento dos moradores da Bacia; Nível <strong>de</strong><br />

satisfação em morar na área; e Percepção sobre o <strong>de</strong>senvolvimento do projeto <strong>de</strong> recuperação <strong>de</strong><br />

áreas <strong>de</strong> preservação permanente - APP.<br />

Na construção da série historia, foram utilizadas Imagens LANDSAT-5 órbita 231/68 com a<br />

composição <strong>de</strong> bandas 5R4G3B, adquiridas no banco <strong>de</strong> imagens do INPE. Os respectivos anos das<br />

imagens adquiridas foram 1975, 1980, 1990, 2000 e 2009. Através do software Global Mapper9.03<br />

as imagens foram georreferenciadas, tendo como base as ce<strong>nas</strong> GEOCOVER do ano <strong>de</strong> 2000. As<br />

bases cartográficas utilizadas neste trabalho, tais como: malha viária, malha hidrográfica,<br />

<strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> municípios, Estados e distritos são da SEDAM (Secretária <strong>de</strong> Estado <strong>de</strong><br />

Desenvolvimento Ambiental).<br />

Para estabelecer os níveis <strong>de</strong> <strong>de</strong>smatamento, <strong>de</strong> acordo com a série histórica escolhida, foi<br />

utilizado o software ARCGIS 9.2. A princípio foi feito o recorte das imagens, <strong>de</strong> acordo com a área<br />

<strong>de</strong> estudo <strong>de</strong>finida anteriormente. Após o recorte foi feita uma reclassificação dos pixels da imagem<br />

através da Ferramenta SpatialAnalyst e a opção Reclassify. Assim, foi <strong>de</strong>finido através <strong>de</strong><br />

classificação supervisionada o que era área <strong>de</strong>smatada e o que era floresta.<br />

Resultados Obtidos<br />

A análise das imagens espaciais da área foi fundamental na construção da série histórica do<br />

<strong>de</strong>smatamento (1975-2009) na qual ao longo <strong>de</strong> quase quatro décadas, a bacia do Igarapé<br />

D`Alincourt (Figura o2), vem sofrendo alterações em sua paisagem natural, pois, paralelo ao<br />

processo <strong>de</strong> colonização da BHIDA houve os interesses <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento econômico: a)<br />

endógeno: por parte dos novos colonos, sendo influenciado pelas oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> produção e a<br />

obrigatorieda<strong>de</strong> em <strong>de</strong>limitar os lotes adquiridos através da retirada da vegetação natural, e b)<br />

exógeno: estimulado pelas indústrias ma<strong>de</strong>ireiras que se instalaram juntamente com o processo <strong>de</strong><br />

colonização. Inicia-se então na década <strong>de</strong> 1980 o primeiro ciclo econômico na BHIDA: o ciclo<br />

ma<strong>de</strong>ireiro.<br />

128 Instituído através da Resolução ANA nº 317, <strong>de</strong> 26 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2003.<br />

1144


Mapa 02 - Mosaico da evolução <strong>de</strong> <strong>de</strong>smatamento da Bacia do Igarapé D ´Alincourt1975 a 2009.<br />

Fonte: Dados extraídos da pesquisa em campo e foto interpretação da série LANDSAT, imagens 1975, 1980, 1990,<br />

2000 e 2009, composição R5G4B3.<br />

Até a década <strong>de</strong> 80, o fluxo migratório para a BHIDA tinha o movimentopopulacional<br />

oriundo <strong>de</strong> várias regiões brasileiras, predominando a região Sul do país com 41,67%, sendo a<br />

maioria proce<strong>de</strong>nte do Estado do Paraná, a região Su<strong>de</strong>ste é a segunda mais expressiva, com a taxa<br />

<strong>de</strong> 31,25%, com <strong>de</strong>staque para o Estado do Espírito Santo, da região Centro-Oeste com o percentual<br />

<strong>de</strong> 14,58%, sendo este o que apresentou menor fluxo.<br />

A aplicação do questionário possibilitou i<strong>de</strong>ntificar os fatores que estimularam ofluxo<br />

migratório da década <strong>de</strong> 70 à década atual para a bacia em estudo. Como se po<strong>de</strong> observar no<br />

Gráfico 01, o processo migratório para a Bacia do Igarapé D´Alincourt, iniciou na década <strong>de</strong> 70 do<br />

século passado, nesse período vieram para a mesma 25,58% dos moradores atuais, foi na década <strong>de</strong><br />

1980 que a Bacia, recebeu o maior contingente populacional com o percentual <strong>de</strong> 41,86% e na<br />

década <strong>de</strong> 1990, chega mais 13,95% moradores.<br />

A população da Bacia ganha um novo fluxo migratório na década atual movida por dois<br />

fatores que encontra-se conectado: fragmentação dos lotes através da venda e o <strong>de</strong>sconhecimento a<br />

respeito do ―Projeto <strong>de</strong> Recuperação das Matas Ciliares do Igarapé D´Alincourt‖, gerando um<br />

sentimento <strong>de</strong> incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uso e ocupação da proprieda<strong>de</strong>.<br />

1145


Fonte: Banco <strong>de</strong> dadosdo projeto, obtidos em pesquisa <strong>de</strong> campo entre 2009 a 2010 .<br />

Gráfico 01 - Dinâmica migratória para BHIDA e Taxa <strong>de</strong> Desmatamento(1970-2009).<br />

De certa forma, a busca por um espaço <strong>de</strong> produção estava presente na intenção <strong>de</strong> todos os<br />

migrantes, atuais moradores da BHIDA, prevalecendo a herança cultural <strong>de</strong> uso e ocupação da terra<br />

dos estados <strong>de</strong> origens. Inicialmente, cada proprietário recebeu 100 alqueires (estrutura fundiária<br />

montada no padrão modular do INCRA) <strong>de</strong> terra (Santos, 2001; SEDAM, 2005, Carneiro, 2008).<br />

Aqueles que manifestassem interesse em obter mais terras, segundo 80% dos entrevistados,<br />

<strong>de</strong>veriam <strong>de</strong>rrubar toda a área o mais rápido possível. Desta forma, contrariando o Código Florestal<br />

vigente <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1965. Os colonizadores, ao avançar a cada década no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>smatamento <strong>de</strong><br />

sua proprieda<strong>de</strong>, provocaram a substituição da paisagem natural pela paisagem antrópica, dando<br />

espaço a pastagens e à agricultura cafeeira.<br />

Entretanto, é importante observar que o documento recebido como termo <strong>de</strong> posse só era<br />

entregue após a benfeitoria recomendada pelo órgão governamental, e nele continha <strong>de</strong> fato em seu<br />

verso o comunicado que a área só po<strong>de</strong>ria ser <strong>de</strong>smatada 50%. Um dado oficial que contradiz, na<br />

prática, as ações <strong>de</strong>senvolvidas para garantir o assentamento local e a ocupação populacional do<br />

então intitulado ―vazio <strong>de</strong>mográficas‖ coor<strong>de</strong>nadas pelo Instituto Nacional <strong>de</strong> Colonização e<br />

Reforma Agrária - INCRA.<br />

A falta <strong>de</strong> recursos para investimentos na proprieda<strong>de</strong> e a ineficiência <strong>de</strong> um planejamento<br />

ambiental, aliado ao projeto <strong>de</strong> assentamento na época, levou inúmeros proprietários rurais a iniciar<br />

um novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> fragmentação do lote, optando-se pela venda parcial da proprieda<strong>de</strong>, elevando<br />

<strong>de</strong>sta forma o fluxo migratório para a área em estudo e conseqüentemente a taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>smatamento<br />

em novas áreas foram se elevando.<br />

Esses fatores proporcionaram um mosaico <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>s diferenciadas (Gráfico 02), com<br />

variações <strong>de</strong> posse por proprietário <strong>de</strong> 1 a 200 alqueires <strong>de</strong> terra, episódio que vem contribuiu<br />

1146


com o processo <strong>de</strong> substituição da vegetação natural daárea, incentivado pela própria política<br />

econômica municipal, formando uma estrutura intitulada por Florenzano como espinha <strong>de</strong> peixe.<br />

Fonte: Banco <strong>de</strong> dadosdo projeto, obtidos em pesquisa <strong>de</strong> campo entre 2009 a 2010<br />

Gráfico 02 - Dimensão atual das proprieda<strong>de</strong>s da BHIDA.<br />

De forma geral, 71,11% dos proprietários entrevistados possuem <strong>de</strong> 1 a 30 alqueires<br />

totalizando aproximadamente 1.090 alqueires, enquanto que a parcela <strong>de</strong> 29,89% dos entrevistados<br />

possuem <strong>de</strong> 31 a 200 alqueires, concentrando aproximadamente 1.654 alqueires da BHIDA. Este<br />

fato indica que mesmo a bacia se enquadrando em áreas <strong>de</strong> peque<strong>nas</strong> proprieda<strong>de</strong>s (até 100<br />

alqueires) a concentração <strong>de</strong> terras da bacia está na mão dos trinta por cento dos proprietários.<br />

Na década <strong>de</strong> 70 e 80 do século passado, as variações <strong>de</strong> <strong>de</strong>smatamento na área estudada<br />

eram respectivamente 3,0 e 13,7 % ( Figura 02) sendo mais evi<strong>de</strong>ntes <strong>nas</strong> estradas vicinais e frente<br />

das proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> forma uniforme. Porém <strong>nas</strong> últimas décadas do século XX, houve um elevado<br />

aumento <strong>de</strong> <strong>de</strong>smatamento chegando dobrar o índice <strong>de</strong> <strong>de</strong>smatamento na década <strong>de</strong> 90 atingindo<br />

37,33% <strong>de</strong> uma área total <strong>de</strong> 65,54 km², iniciando um cenário espacial intitulada por Florenzano<br />

(2002) <strong>de</strong> espinha <strong>de</strong> peixe. Configurando um cenário <strong>de</strong> <strong>de</strong>smatamento na primeira década do<br />

século XXI incomparável.<br />

É importante <strong>de</strong>stacar que, análogo à substituição da vegetação natural, ocorreu a<br />

implantação do que Guerra e Marçal (2006) <strong>de</strong>fine como uma vegetação antrópica, nesse caso a<br />

monocultura cafeeira vem em substituição a vegetação natural, e a criação <strong>de</strong> gado, herança <strong>de</strong> uma<br />

cultura importada do Su<strong>de</strong>ste e Sul do país, tão marcante e presente atualmente que permite<br />

classificar a área em estudo <strong>de</strong> ―Bacia Hidrografia Café com Leite‖ sendo esse o palco do segundo<br />

ciclo econômico da BHIDA.<br />

O percentual <strong>de</strong> 60% dos entrevistados classificaram como principal função produtiva da<br />

área a agropecuária leiteira e <strong>de</strong> corte, <strong>de</strong>sse percentual, 30% dos proprietários rurais possuem como<br />

1147


única função, permitindo concluir que a agropecuária é uma forte tendência na bacia, a agricultura<br />

apontada refere-se ao plantio <strong>de</strong> café, peque<strong>nas</strong> hortas (verdura, legumes, frutas) para<br />

comercialização direta <strong>nas</strong> feiras livres realizadas no municio <strong>de</strong> Rolim <strong>de</strong> Moura - RO.Esses dados<br />

condizem com o principal produto comerciálizavel pelos produtores, sendo que 57,5% dos<br />

produtores possuem a criação bovina <strong>de</strong> corte, leite e procriação como principal fonte <strong>de</strong> renda,<br />

aliado ao cultivo <strong>de</strong> café, sendo essas duas produções as que ocupam a maior porcentagem do uso<br />

da terra na BHIDA.<br />

A comercialização da produção das proprieda<strong>de</strong>s é voltada, para as empresas <strong>de</strong> Rolim <strong>de</strong><br />

Moura, fato que representa 63,8% comercializado <strong>de</strong>ntro do próprio município, sendo os<br />

frigoríficos e indústrias <strong>de</strong> beneficiamento <strong>de</strong> leite as principais consumidoras; 6,4% e<br />

comercializado no restante dos municípios da zona da Mata; 2,13% comercializam com<br />

atravessador; 6,4% produz ape<strong>nas</strong> para consumo próprio e 15,00% optaram em não informar o<br />

<strong>de</strong>stino <strong>de</strong> sua produção.<br />

Esse cenário vem tendo algumas alterações com substituição na primeira década do século<br />

XXI, pela criação intensiva da pecuária bovina <strong>de</strong> corte e <strong>de</strong> leite, surgindo aqui o terceiro e atual<br />

ciclo econômico, levando em parte a substituição do plantio <strong>de</strong> café pela pastagem, em busca <strong>de</strong><br />

aten<strong>de</strong>r a alta <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> leite e carne <strong>nas</strong> indústrias localizadas no Município <strong>de</strong> Rolim <strong>de</strong> Moura.<br />

Essas interferências na paisagem natural levaram a década <strong>de</strong> 1990 e a primeiradécada do século<br />

XXI a serem i<strong>de</strong>ntificadas como o período <strong>de</strong> maior <strong>de</strong>smatamento da bacia atingindo um total <strong>de</strong><br />

77.68.% <strong>de</strong>smatado da vegetação natural. O resultado <strong>de</strong>ssa metamorfose espacial foi o elevado<br />

índice <strong>de</strong> <strong>de</strong>smatamento, que vem trazendo atualmente impacto ambiental na bacia atingindo os<br />

recursos naturais da mesma entre eles visivelmente po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>stacar os canais hídricos (Figura 03)<br />

que se encontram em processo <strong>de</strong> assoreamento no canal principal e eutrofização nos pequenos<br />

afluentes no período seco.<br />

Figura 01 - Presença <strong>de</strong> Eutrofização na BHIDA.<br />

Foto: Luis Fernando Maia Lima 10/05/2009.<br />

Linha 180 – Período A –chuvoso/ B - seco<br />

1148


Nesse sentido Braga et al (2002 ) alerta que a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vegetação <strong>de</strong>ntro dos canais<br />

torna o fluxo <strong>de</strong> água mais lentoscontribuindo para um processo <strong>de</strong> eutrofização cultural ou<br />

acelerada <strong>de</strong>vido à intervenção humana.<br />

O Projeto <strong>de</strong> Recuperação das Matas Ciliares do Igarapé D`Alincourt: um indicador <strong>de</strong> resposta<br />

Através da intervenção do Ministério Público frente aos impactos ambientais que<br />

vêmocorrendo no igarapé D`Alincourt, como mortanda<strong>de</strong> <strong>de</strong> espécie aquáticas (SEDAM, 2008),<br />

alto índice <strong>de</strong> assoreamento e erosão as margens do mesmo surgiu o ―Projeto <strong>de</strong> recuperação das<br />

matas ciliares do Igarapé D`Alincourt‖ elaborado por profissionais técnicos dos órgãos da SEDAM<br />

e IBAMA do núcleo <strong>de</strong> Rolim <strong>de</strong> Moura.Conduzidos pelo objetivo principal <strong>de</strong> recuperação das<br />

matas ciliares, visando a recuperação e proteção dos solos e cursos d´água, buscando diminuir<br />

impactos ambientais como <strong>de</strong> erosão, assoreamento e alteração nos padrões <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> da água da<br />

bacia hidrográfica.<br />

Os recursos econômicos para o <strong>de</strong>senvolvimento do projeto são providos <strong>de</strong> multas<br />

referentes a impactos ambientais consubstanciados no Art. 4º, VIII da Lei 6.938/81, levam em conta<br />

que os recursos ambientais são escassos, portanto, sua produção e consumo geram reflexos ora<br />

resultando sua <strong>de</strong>gradação, ora resultando sua escassez, utilizando dois princípios: a) poluidor-<br />

pagador (quem poluiu <strong>de</strong>ve pagar pela poluição causada ou que po<strong>de</strong> ser causada). Os proprietários<br />

rurais da BHIDA foram enquadrados neste princípio e b) usuário pagador (estabelece que quem<br />

utiliza o recurso ambiental <strong>de</strong>ve suportar seus custos) enquadrados a empresa responsável pelo<br />

abastecimento publico, neste principio, através do qual foi injetado aproximadamente um milhão <strong>de</strong><br />

reais no projeto.<br />

A participação dos proprietários na proposta <strong>de</strong> recuperação da mata ciliar ocorreu após uma<br />

entrevista socioambiental, <strong>de</strong>senvolvida pela entida<strong>de</strong> SEDAM e UNIR – Curso <strong>de</strong> Agronomia, na<br />

qual foram constatadas algumas irregularida<strong>de</strong>s ambientais e acionado o Ministério Público. Ao<br />

serem convocados para audiência publica, tomou-se conhecimento da finalida<strong>de</strong> da pesquisa, e <strong>de</strong><br />

suas responsabilida<strong>de</strong>s como poluidor-pagador, on<strong>de</strong> nesse momento foram comunicados que<br />

<strong>de</strong>veriam recuperar a faixa da mata ciliar garantida <strong>nas</strong> leis vigentes que regem sobre proteção <strong>de</strong><br />

áreas <strong>de</strong> preservação permanentes (APP).<br />

Diante do fato, foram ―convidados‖ a assinarem um termo <strong>de</strong> compromisso com o<br />

Ministério Público no qual foi estabelecido que iriam receber gratuitamente mudas, (todas as<br />

proprieda<strong>de</strong>s), e arame (ape<strong>nas</strong> peque<strong>nas</strong> proprieda<strong>de</strong>s) e assistência para plantio e manutenção das<br />

mudas na fase inicial, em troca <strong>de</strong>veria plantar e monitorar com ações necessárias para que a<br />

recuperação das área <strong>de</strong>gradadas fosse possível.Atualmente, o projeto possui como infraestrutura<br />

1149


um viveiro <strong>de</strong> mudas com banco <strong>de</strong> sementes contendo a vegetação natural local, este viveiro<br />

pertencente a ONG ECOPORÉ (Ação Ecológica do Vale do Guaporé) e assistência técnica <strong>de</strong> um<br />

engenheiro que acompanha o <strong>de</strong>senvolvimento do projeto diretamente <strong>nas</strong> proprieda<strong>de</strong>s, conforme<br />

relatou o coor<strong>de</strong>nador da ONG.<br />

Apesar <strong>de</strong>sse diálogo ter iniciado em 2005 os resultados já são perceptíveis em nível <strong>de</strong><br />

interpretação espacial (figura 02), entretanto a sustentabilida<strong>de</strong> do projeto em longo prazo, é<br />

questionável, tendo em vista que a percepção dos moradores é fundamental para se manter uma<br />

proposta com essa característica. Dessa forma a lacuna i<strong>de</strong>ntificada refere-se à percepção dos<br />

moradores frente ao <strong>de</strong>senvolvimento do projeto, pois os mesmo se sente alheios a proposta mesmo<br />

sendo eles os principais responsáveis pela eficácia da mesma. Foi possível i<strong>de</strong>ntificar nos<br />

entrevistados, um <strong>de</strong>sconforto em participar do projeto, os quais afirmam que só fizeram parte do<br />

diálogo da proposta <strong>de</strong> recuperação no momento da audiência pública, sendo envolvidos,<br />

posteriormente, em palestras para esclarecer a relevância do projeto e apresentação das parcerias<br />

com o apoio <strong>de</strong> um técnico, maquinários entre outros. Fato que levou no primeiro momento alguns<br />

produtores rurais a ven<strong>de</strong>rem suas proprieda<strong>de</strong>s e atualmente ainda é um fator <strong>de</strong> preocupação.<br />

Nesse sentido a legislação dos recursos hídricos 9.433/97 enfatiza a obrigatorieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma<br />

gestão <strong>de</strong> recursos hídricos <strong>de</strong>scentralizados e participativos, cujas propostas <strong>de</strong> intervenção <strong>de</strong>vam<br />

aten<strong>de</strong>r à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> todos os atores envolvidos direta ou indiretamente no cenário <strong>de</strong> diálogo,<br />

<strong>de</strong>vendo os mesmos ser integrados no processo <strong>de</strong> construção das mesmas e não uma imposição <strong>de</strong><br />

proposta pronta, em virtu<strong>de</strong> da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma mudança <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong> não sustentável a longo<br />

prazo. Souza (2002) propõem que em uma etapa <strong>de</strong> processo <strong>de</strong> gestão do ambiente, seja efetiva<br />

participação <strong>de</strong> todos autores envolvidos para que a estratégia <strong>de</strong> ação seja consistente, pois é nela<br />

que se <strong>de</strong>fine a intensida<strong>de</strong> e o alcance das medidas <strong>de</strong> controle, incentivo ou <strong>de</strong>sestímulo e <strong>de</strong><br />

proteção e recuperação ambiental a serem concretizadas pelas próximas etapas do processo.<br />

Portanto, na análise ambiental as partes envolvidas precisam assumir <strong>de</strong>terminados direitos e<br />

obrigações.<br />

Dos entrevistados, 40% assinalaram como fatores positivos que o <strong>de</strong>senvolvimento do<br />

projeto vem trazendo a drenagem <strong>de</strong> suas proprieda<strong>de</strong>s: recuperação da vazão e melhoria das águas<br />

como principal contribuição. Os <strong>de</strong>mais 60% optaram em não respon<strong>de</strong>r essa pergunta. No quadro<br />

<strong>de</strong> apresentação das respostas manteve-se a expressão <strong>de</strong> fala utilizada pelos entrevistados para que<br />

os mesmo possam i<strong>de</strong>ntificar suas respostas quando esse documento se tornar publico, aten<strong>de</strong>-se<br />

assim uma reivindicação <strong>de</strong> transparência da fala proposta pelos entrevistados.<br />

Os fatores negativos, que foram apontados por 51,11% dos entrevistados, referem-se ao fato<br />

<strong>de</strong> não terem sido convidados para participação no diálogo <strong>de</strong> construção da proposta; falta <strong>de</strong><br />

conhecimento na época <strong>de</strong> colonização sobre a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> preservação da vegetação em<br />

1150


questão <strong>de</strong> percentual; perca <strong>de</strong> áreas em m² da proprieda<strong>de</strong> alegando que esse fator trará prejuízo<br />

econômico, e o envolvimento da mão <strong>de</strong> obra do proprietário, que precisam se dividir entre as<br />

ativida<strong>de</strong>s da proprieda<strong>de</strong> e o monitoramento da área plantada, fator que vem provocando a morte<br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mudas. Sendo significativo o processo <strong>de</strong> regeneração nos áreas que foram<br />

cercadas e plantadas as mudas.<br />

No discurso dos entrevistados, percebe-se tom <strong>de</strong> <strong>de</strong>sabafo, referente aos pontos negativos<br />

que a preocupação com a relação <strong>de</strong> produção econômica. Torna-se evi<strong>de</strong>nte no <strong>de</strong>sabafo carregado<br />

<strong>de</strong> aflição sobre o investimento necessário e o tempo que precisam <strong>de</strong>stinar a manutenção das<br />

mudas, se dividindo entre as ativida<strong>de</strong>s na proprieda<strong>de</strong> e o tempo <strong>de</strong> manutenção da área<br />

reflorestada. Essa preocupação trás a tona o <strong>de</strong>sconhecimento sobre os benefícios reais que o<br />

projeto <strong>de</strong> recuperação <strong>de</strong> matar ciliar po<strong>de</strong>rá trazer a sua proprieda<strong>de</strong> em médio e longo prazo<br />

ainda estão presente.<br />

Outro fator, que justifica a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma proposta <strong>de</strong> gestão compartilhada, <strong>de</strong>ve ao<br />

fato <strong>de</strong> cinco anos após a implantação do projeto, 79% dos entrevistados classificarem terceiros<br />

como beneficiados diretos da preservação e ape<strong>nas</strong> 21% reconhecerem como <strong>de</strong> importância para<br />

todos. Atribuindo ao po<strong>de</strong>r público como principal responsável pela recuperação das matas ciliares<br />

totalizando 33%, e ape<strong>nas</strong> 16% dos entrevistados alegaram serem responsáveis por esse processo <strong>de</strong><br />

recuperação.<br />

Ao serem questionados sobre a importância do envolvimento da população em diálogos<br />

ambientais na área <strong>de</strong> vivência, houve manifestação da importância da informação ambiental,<br />

classificando <strong>de</strong> forma geral como relevante, entretanto, afirmam não se sentirem motivados a<br />

participar <strong>de</strong>ssas reuniões, a não ser quando realmente são obrigados a irem e, não por interesse. A<br />

dificulda<strong>de</strong> do envolvimento da população local é uma realida<strong>de</strong> presente em todas as experiências<br />

<strong>de</strong> construção <strong>de</strong> Planos <strong>de</strong> Bacia — diálogos presenciados no XII Encontro <strong>de</strong> Comitê <strong>de</strong> Bacia<br />

Hidrográficas no Rio <strong>de</strong> Janeiro, em 2008 —, fato que compromete a real compartilização dos<br />

direitos e <strong>de</strong>veres dos usuários do recurso hídrico, bem como a busca pela amenização do problema<br />

i<strong>de</strong>ntificado por uma equipe técnica.<br />

Consi<strong>de</strong>rações<br />

As lacu<strong>nas</strong> entre o interesse econômico e ambiental foram perceptíveisna presente pesquisa,<br />

momento em que foi possível diagnosticar que o Código Florestal <strong>de</strong> 1965 não foi consi<strong>de</strong>rado no<br />

objetivo <strong>de</strong> colonizar para não entregar, ban<strong>de</strong>ira do governo fe<strong>de</strong>ral da época. Hoje, com as novas<br />

resoluções ambientais e forte pressão nacional e internacional sobre a relevância das águas na<br />

Amazônia as percepções qualitativas e quantitativas sobre as águas da Rondônia se tornam presente,<br />

1151


uscando então como medidas mitigadoras a recuperação das matas ciliares nos espaços hídricos<br />

em que o caos esta implantado.<br />

Entretanto os erros po<strong>de</strong>m continuar se novas dinâmicas não foram implantadas como<br />

principio <strong>de</strong> governança <strong>de</strong> compartilhar as ações e não or<strong>de</strong>na-las para que ações como a<br />

recuperação das matas ciliares do Igarapé D´Alincuorte seja algo constante. Em busca <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar<br />

uma metodologia para que, a participação dos moradores <strong>nas</strong> reuniões ambientais realizada pelos<br />

Órgãos Ambientais, Instituições <strong>de</strong> pesquisa e educacional, fosse ampliada, tendo em vista a pouca<br />

expressivida<strong>de</strong> na BHIDA, foi levantado junto com os mesmos os critérios que po<strong>de</strong>riam estimular<br />

a mudança esse quadro. A opinião expressa pelos entrevistados evi<strong>de</strong>ncia o olhar críticos dos<br />

moradores da BHIDA, momento em que propõem as seguintes alternativas: trazer informação e<br />

planejar junto; informação preventiva; fazer com que as pessoas tornem-se comprometidas; mais<br />

valor ao produtor rural; respeitar as condições financeiras dos proprietários; colocar pessoas que<br />

têm experiência nazona rural no <strong>de</strong>senvolvimento dos projetos. Segundo eles essas consi<strong>de</strong>rações<br />

provocariam uma integração maior nos diálogos ambientais na BHIDA entre moradores locais,<br />

representantes governamentais e entida<strong>de</strong> civil organizada.<br />

Ao contrário do que se po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>duzir a população apresenta interesse em colaborar com a<br />

mudança do cenário ambiental, entretanto se esbarra na questão econômica, na falta <strong>de</strong> informações<br />

a respeito do quadro real da BHIDA, na i<strong>de</strong>ntificação dos principais ações <strong>de</strong> uso e ocupação que<br />

impactam o ambiente e o grau <strong>de</strong>ssa imputabilida<strong>de</strong> na quantida<strong>de</strong> e qualida<strong>de</strong> dos recursos<br />

hídricos.<br />

Agra<strong>de</strong>cimentos<br />

A Secretária <strong>de</strong> Meio Ambiente do Estado <strong>de</strong> Rondônia – SEDAM, CAERD, e ao Mestrado<br />

em Geografia da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Rondônia – UNIR, laboratório <strong>de</strong> Geografia e<br />

Planejamento Ambiental a qual faço parte fica o reconhecimento <strong>de</strong> que sem a parceria estabelecida<br />

os presentes resultados não po<strong>de</strong>riam ser apresentados. As Doutoras Irene Carniatto (UNIOESTE) e<br />

Monica Marçal(UFRJ) e Ana Strava (SIPAM) pelas inúmeras horas <strong>de</strong> trocas <strong>de</strong> conhecimento e<br />

gran<strong>de</strong> contribuição a pesquisa.<br />

Referencias<br />

AMARAL, Januário. Mata Virgem: terra prostituta. São Paulo: Terceira Margem, 2004.<br />

BENITEZ, Ivo. Legislação Ambiental Fe<strong>de</strong>ral e <strong>de</strong> Rondônia. Salvador/BH: PODIVM, 2009.<br />

1152


BRASIL. Presidência da Republica. Lei 9.433 <strong>de</strong> 8 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1997. Instituiu a Política Nacional<br />

<strong>de</strong> Recursos Hídricos e cria o Sistema Nacional <strong>de</strong> Gerenciamento <strong>de</strong> e Recursos Hídricos, 1997.<br />

CARNEIRO, Neri <strong>de</strong> Paula. Educação em Rolim d Moura: das iniciativas privadas às ações<br />

públicas (1975-1983). Dissertação <strong>de</strong> Mestrado em Educação apresentado a Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral<br />

do Mato Grosso do Sul - Centro <strong>de</strong> Ciências Huma<strong>nas</strong> e Sociais. Campo Gran<strong>de</strong>, 008. No prelo.<br />

(cd).<br />

CARNIATTO, Irene. Subsídios para um Processo <strong>de</strong> Gestão <strong>de</strong> Recursos Hídricos e Educação<br />

Ambiental <strong>nas</strong> Sub-Bacias Xaxim e Santa Rosa, Bacia Hidrográfica Paraná III. Tese <strong>de</strong><br />

Doutoradoem Ciências Florestais do Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Engenharia Florestal, Setor <strong>de</strong><br />

Ciências Agrárias da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná, <strong>de</strong>fendida em 2007. Disponibilizado pela<br />

autora via online em 4/08/2009.<br />

FLORENZANO, Tereza Gallotti. Imagens <strong>de</strong> Satélite para Estudos Ambientais. São Paulo: Oficina<br />

<strong>de</strong> Textos, 2002.<br />

GUERRA, Antonio Jose Teixeira e MARÇAL, Mônica dos Santos. Geomorfologia Ambiental. Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro, Bertrand Brasil, 2006.<br />

RONDÔNIA. Secretaria <strong>de</strong> Estado do Desenvolvimento Ambiental (SEDAM). Boletim<br />

Climatológico <strong>de</strong> Rondônia, ano 2004. SEDAM, Porto Velho, 2005. Disponível em<br />

www.sedam.ro.gov.br. Acessado 17/03/2010.<br />

SANTOS, Carlos. A Fronteira do Guaporé. Porto Velho/RO. EDUFRO. 2001.<br />

SEDAN/UNIR. DIAGNÓSTICO SÓCIO-AMBIENTAL DA BACIA HIDROGRÁFICA DO<br />

IGARAPÉ D‟ALINCOURT. Relatório <strong>de</strong> Campo, 2005 e 2008.<br />

SILVA, Maria das Graças S. N. O Espaço Ribeirinho. Porto Velho: Terceira Margem, 2003.<br />

SIPAM. Sistema <strong>de</strong> Proteção da Amazônia Centro Técnico e Operacional <strong>de</strong> Porto Velho<br />

coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> operações integradas divisão <strong>de</strong> meteorologia e climatologia. Diagnóstico<br />

Climático para o Município <strong>de</strong> Rolim <strong>de</strong> Moura. Porto Velho, 2006.<br />

1153


Resumo<br />

A CIDADE INDUSTRIAL SÃO BENTO DO SUL:<br />

TOPOGRAFIA, IMIGRAÇÃO, COLONIZAÇÃO, ACESSOS, E ARRUAMENTO<br />

Oto Roberto BORMANN 129<br />

Arlindo COSTA 130<br />

A cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Bento do Sul apresenta diversas características importantes, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a colonização<br />

com planejamento <strong>de</strong> lotes rurais e urbanos, industrialização diversificada, forte investimento em<br />

música ativida<strong>de</strong>s folclóricas. Apresenta <strong>de</strong>safios relativos a re<strong>de</strong> viária urbana em função da<br />

topografia muito irregular, outro gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio, que não é exclusivo <strong>de</strong> São Bento do Sul, são os<br />

acessos, tanto pela Rodovia BR280 quando pela Rodovia SC- 301, assim como pela Rodovia<br />

estadual que lhe liga a BR116, com uma gran<strong>de</strong> profusão <strong>de</strong> curvas, subidas e <strong>de</strong>scidas, que<br />

aumentam em muito o tempo <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamento e a distância a percorrer.<br />

Palavras-chave: São Bento do Sul; topografia; colonização; planejamento.<br />

Abstract<br />

The city of São Bento do Sul has several important features, from colonization with lots of planning<br />

urban and rural industrialization diversified, strong investment activities in folk music. It presents<br />

challenges related to urban road network due to the very irregular topography, another major<br />

challenge, which is not unique to São Bento do Sul, are hits, both by highway BR280 highway<br />

when the SC-301, as well as the state highway which BR116 connects with a wealth of curves,<br />

climbs and <strong>de</strong>scents, which greatly increase the travel time and the distance traveled.<br />

Keywords: São Bento do Sul; topography; colonization; planning.<br />

Introdução<br />

Neste breve estudo, fortemente influenciado pela multidisciplinarida<strong>de</strong> da Escola Alemã,<br />

temperado por sua vez com o pragmatismo da Escola Anglo-Saxônica americana,a intenção é po<strong>de</strong>r<br />

apresentar um resumido <strong>de</strong>talhe da interessante cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Bento do Sul, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua colonização<br />

até os dias atuais. A abordagem está baseada nos conceitos apresentados na obra Imagens da Cida<strong>de</strong><br />

129 Doutorando em Geografia e Meio Ambiente - UFPR<br />

130 Aluno Especial do Geografia e Meio Ambiente - UFPR<br />

1154


<strong>de</strong> Kevin Lynch, <strong>de</strong> como se a vê e vive. Igualmente, não há aqui qualquer intenção implícita ou<br />

explícita <strong>de</strong> se tecer juízos <strong>de</strong> valor, ape<strong>nas</strong> apresentar a cida<strong>de</strong> que cordialmente acolhe quem a<br />

visita e também quem nela trabalha e, lhe quer o progresso mantendo a qualida<strong>de</strong> vida que todas<br />

merecem ter.<br />

O Enfoque<br />

Espera-se que uma cida<strong>de</strong> para ser mo<strong>de</strong>rna ou comportar as condições <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna tenha,<br />

ainda que em menor escala as facilida<strong>de</strong>s encontradiças <strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s globais.<br />

Com este preâmbulo reportar-se-á à obra Teorias da Cida<strong>de</strong> (FREITAG 2008), on<strong>de</strong> entre<br />

muitas constatações encontra-se na página 154, a seguinte e seminal observação:<br />

As cida<strong>de</strong>s globais são sítios fundamentais para os meios mo<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> serviços e<br />

telecomunicações, necessárias para efetivar a gestão das operações econômicas<br />

globais. Elas também ten<strong>de</strong>m a concentrar as se<strong>de</strong>s <strong>de</strong> firmas, especialmente firmas<br />

que operam em mais <strong>de</strong> um país (cf. SASSEN 1994, p. 19).<br />

Como o mundo dos negócios é globalizado (talvez já fosse há muito) tempo e,<br />

ape<strong>nas</strong> se criou um neologismo para uma realida<strong>de</strong> já vivida há muito tempo, há uma clara<br />

tendência atual <strong>de</strong> se esperar que também as peque<strong>nas</strong> e médias cida<strong>de</strong>s tenham se não todas as<br />

facilida<strong>de</strong>s apontadas por Sassen na obra acima referida, possuam pelo menos as mais prementes no<br />

mundo atual, tais como acessos mo<strong>de</strong>rnos, seja por rodovia ou ferrovia, que o traçado urbano<br />

ofereça facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> locomoção e, que serviços e telecomunicações, segurança pública e saú<strong>de</strong><br />

estejam no que oferecem, à altura ou próximos dos das cida<strong>de</strong>s ditas globais.<br />

Em tal cenário geográfico-econômico e cultural far-se-á um breve exercício sobre as<br />

condições na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Bento do Sul, com alguns <strong>de</strong>talhes <strong>de</strong> sua colonização, relevo, clima,<br />

etnias e situação atual.<br />

Figura 01: Localização geográfica <strong>de</strong> São Bento Sul<br />

Localização: latitu<strong>de</strong> 26º15'01" sul, longitu<strong>de</strong> 49º22'43" oeste e altitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> 838,39<br />

Fonte: maps.google.com.br<br />

1155


Colonização<br />

Segundo o site da Prefeitura Municipal <strong>de</strong> São Bento do Sul,<br />

No século retrasado, a Cia. Colonizadora com se<strong>de</strong> em Hamburgo, mesmo<br />

não mais possuindo terras na região da, então, Colônia Dona Francisca (hoje<br />

Joinville), continuava a embarcar colonos para a região.O número <strong>de</strong> alojados no<br />

rancho da Companhia aqui no Brasil aumentava sem que houvesse terras para eles.<br />

Em 1873, um pequeno grupo <strong>de</strong> homens subiu a Serra Geral a pé em direção ao<br />

planalto, com mantimentos e ferramentas no lombo <strong>de</strong> mulas. Após dois dias <strong>de</strong><br />

caminhada, chegaram às margens do Riacho São Bento. Ali construíram o primeiro<br />

rancho e <strong>de</strong> lá partiram para abrir os primeiros caminhos na mata, sempre ao longo<br />

do riacho São Bento.<br />

Pelo resumo histórico acima infere-se que,já na época da colonização da região da antiga<br />

Colônia Dona Francisca havia problemas quanto ao domínio ou posse da terra (que em princípio é<br />

ou <strong>de</strong>veria ser do Estado Brasileiro, <strong>de</strong> direito e <strong>de</strong> fato, fazendo-se observar os instrumentos legais<br />

existentes por seus subordinados nos locais on<strong>de</strong> estivesse ocorrendo uma colonização para<br />

povoamento e <strong>de</strong>senvolvimento do território).<br />

Uma colonização (evita-se neste breve estudo o termo ocupação, <strong>de</strong>vido ao seu emprego por<br />

movimentos sociais, também à procura <strong>de</strong> terras, mas nem sempre com a disposição <strong>de</strong> criar<br />

realmente uma colônia, <strong>de</strong>pois uma vila, uma cida<strong>de</strong>, e assim por diante, mas salvo melhor juízo,<br />

mais empenhados em tomar posse na forma <strong>de</strong> esbulho, ao invés <strong>de</strong> enfrentar as agruras, e a<br />

odisséia que foi a colonização <strong>de</strong> muitas regiões brasileiras). No presente caso com foco em São<br />

Bento do Sul, dá-se com pessoas, especificamente famílias, que transportam o pouco que têm <strong>de</strong><br />

material, mas muita disposição para o trabalho e progresso.<br />

Isto posto, é <strong>de</strong> bom alvitre permitir um vislumbre, ainda que breve e, sem nenhuma<br />

pretensão <strong>de</strong> ser exaustivo nem preconceituoso ou <strong>de</strong>finitivo, dos grupos étnicos que colonizaram<br />

São Bento do Sul, dado que, cada um <strong>de</strong>les trouxe sua língua natal, sua cultura, religião, usos e<br />

costumes.Os primeiros colonos, imigrantes, migrantes e habitantes.<br />

histórica:<br />

Do mesmo portal da Prefeitura Municipal <strong>de</strong> São Bento do Sul tem-se a seguinte informação<br />

Da Áustria, Bavária, Prússia, Polônia, Saxônia, Tchecoslováquia e mesmo<br />

do Brasil vinham os primeiros habitantes. Enfrentaram uma realida<strong>de</strong> dura: mata<br />

virgem, floresta <strong>de</strong>nsa, povoada por inúmeros animais e pássaros. Foi preciso muita<br />

coragem e vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar para construir aqui uma réplica, ao menos parecida<br />

com a pátria que <strong>de</strong>ixaram.Trouxeram sua história, usos e costumes, lembranças,<br />

1156


eligião, língua e sauda<strong>de</strong>. Cultivavam os campos e a cultura era expressa na<br />

música, literatura, no teatro. Um misto <strong>de</strong> lembrança e <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> vencer<br />

compensava as imensas dificulda<strong>de</strong>s.<br />

Vieram para explorar a nova terra, e construir sua nova pátria e, não ape<strong>nas</strong> esbulhar.<br />

Puseram-se a trabalhar com o que sabiam, empenhando-seem apren<strong>de</strong>r com a situação diária o que<br />

po<strong>de</strong>riam fazer.<br />

Deve-se ter em mente que, a Geografia e a topografia e clima eram totalmente<br />

diferentesdaquelas<strong>de</strong> seus vários países ou estados <strong>de</strong> origem, o mesmo se dando com a<br />

alimentação. Era uma situação totalmente diversa da <strong>de</strong> ir a um passeio turístico ou a um safári, pois<br />

se está com família, composta <strong>de</strong> bebês, crianças, moças, rapazes, senhoras e senhores idosos que<br />

também necessitavam atendimento que em nenhuma circunstância era similar a encontradiça em<br />

seus lugares <strong>de</strong> origem, tendo-se que se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> alguma forma.<br />

Logo, precisavam construir suas habitações e, também, os galpões para os animais (é<br />

importante observar que a cultura <strong>de</strong> construções <strong>de</strong> casas para abrigar os animais, cultura e estilo<br />

esses trazidos principalmente pelos vindos do Império Germânico e/ou <strong>de</strong> sua influência, ainda se<br />

mantém nos distritos <strong>de</strong> Pirabeiraba (Joinville/Santa Catarina), visíveis facilmente da BR101.<br />

(Para as construções tiveram que apren<strong>de</strong>r a trabalhar com a esplêndida ma<strong>de</strong>ira nativa v.g.,<br />

pinheiro (Araucaria angustifolia), cedro (Cedrela odoratta), imbuia (Ocotea porosa) esta última<br />

com troncos cujo diâmetro costumava passar <strong>de</strong> 3,0 m), além <strong>de</strong> outras como o sassafrás (<strong>de</strong> odor<br />

muito agradável).<br />

Figura 02: árvores nobres da região<br />

Fotos (fonte: www.itsnature.org/plant/_) da esquerda para a direita: imbuia, cedro rosa, sassafrás)<br />

1157


Figura 03: Pinheiros do Paraná e <strong>de</strong> Santa Catarina<br />

Fonte: www.guiageo-parana.com.br/araucariária.htm<br />

Consultando-se novamente o Portal da Prefeitura <strong>de</strong> São Bento do Sul no que concerne ao<br />

seu <strong>de</strong>senvolvimento, apren<strong>de</strong>-se que a Ma<strong>de</strong>ira foi um importante, talvez o mais importante<br />

vetordo <strong>de</strong>senvolvimento e, que seu corte também propiciou o plantio da lavoura <strong>de</strong> subsistência,<br />

modalida<strong>de</strong> comum em todo o Planalto Norte Catarinense e Sul Paranaense.<br />

Colonia Agrícola <strong>de</strong> São Bento<br />

Consultando a história <strong>de</strong> São Bento do Sul, (PEREYRA, 2006) 131 , tem-se alguns fatos(não<br />

todos) <strong>de</strong> importância para se visualizar a imagem atual da cida<strong>de</strong>, pois ela foi construída a partir do<br />

que se planejou no alvorecer <strong>de</strong> sua colonização, quando já houve uma preocupação <strong>de</strong> se evitar<br />

tortuosida<strong>de</strong> maior do que a imposta pela topografia irregular, assim como, eventuais <strong>de</strong>savenças<br />

sobre limites das proprieda<strong>de</strong>s.<br />

Reportando-se á importante obra <strong>de</strong> Pereya, encontra-se na página 29 o seguinte:<br />

No dia 23 <strong>de</strong> setembro (nota: é feriado Municipal ), os colonos<br />

formalmente receberam os primeiros quatro lotes na nova ColôniaAgrícola. No dia<br />

seguinte iniciaram-se as <strong>de</strong>rrubadas das árvores e <strong>de</strong>marcação dos lotes,localizadas<br />

entreduas picadas: a picada Murinelli (que leva o nome do engenheiro topográfico<br />

que a construiu, que mais tar<strong>de</strong> seria parte integrante da estrada dona Francisca) e a<br />

picada Wun<strong>de</strong>rwald-nome também originário do engenheiro que a construiu.<br />

131 PEREYRA, Rubén Benedicto. Arquitetura e <strong>de</strong>senvolvimento urbano <strong>de</strong> São Bento do Sul.Prefeitura Municipal,<br />

fundação cultural <strong>de</strong> São Bento do Sul, 2006.<br />

1158


Nos dias atuais a picada Wun<strong>de</strong>rwald é a Rua Augusto Wun<strong>de</strong>rwald, com intenso trânsito,<br />

rica em curvas, subidas e <strong>de</strong>scidas, constituindo-se na principal artéria <strong>de</strong> ligação entre bairros,<br />

assim como, uma das saídas para Joinville e Corupá, servindo ainda como marginal à BR 301 –<br />

Dona Francisca, como mostra o mapa a seguir.<br />

Figura 04 Mapa <strong>de</strong> São Bento – Rua Augusto Wun<strong>de</strong>rwald X BR301<br />

Detalhes Ilustrativos do Espírito Organizador na Fundação da Colônia São Bento<br />

É fato conhecido que, a organização <strong>de</strong> uma colônia, vila, cida<strong>de</strong> ou região <strong>de</strong> fazendas ou<br />

reservas florestais, quer públicas ou privadas, para ter funcionamento pacífico e progredir, está<br />

embasada em alguns fatores cruciais, entre ele, a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>s e suas incontroversas<br />

<strong>de</strong>limitações.<br />

Neste sentido, a Colônia São Bento procurou se estabelecer <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> ditames e práticas<br />

legais para <strong>de</strong>limitar e garantir a proprieda<strong>de</strong> e, que nela os colonos estabelecidos trabalhassem e<br />

progredissem, o que garantiria o progresso da dita também.<br />

É, salvo melhor juízo, importante ter em mente, alguns pontos fundamentais do Estado<br />

Mo<strong>de</strong>rno e Liberal, eventualmente diverso <strong>de</strong> algumas i<strong>de</strong>ologias, no que concerne aos referenciais<br />

<strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> e progresso. Neste sentido, passar-se-á a citar dois autores clássicos sobre o assunto em<br />

epígrafe, não se preten<strong>de</strong> com isso ser exaustivo nem polêmico:<br />

1. John Locke 132 : Totalmente avesso ao absolutismo, propõe a idéia <strong>de</strong> que é preciso<br />

garantir a existência <strong>de</strong> um governo ou estado que garanta a liberda<strong>de</strong> e a preservação da<br />

proprieda<strong>de</strong>, direitos naturais do homem. ...<br />

BASTIAT, Frèdèric 133 :<br />

132 LOCKE, John. Segundo Tratado sobre o Governo. SãoPaulo: Martin Claret, 2000.<br />

133 BASTIAT, Clau<strong>de</strong> Frèdèric. A Lei. Instituto Liberal 1991, Rio <strong>de</strong> Janeiro, ISBN 85-85054-21-2<br />

1159


O homem não po<strong>de</strong> viver e <strong>de</strong>sfrutar a vida, a não ser pela assimilação e<br />

apropriação perpétua, isto é, por meio da incessante aplicação <strong>de</strong> suas faculda<strong>de</strong>s às<br />

coisas, por meio do trabalho. Daí emana a proprieda<strong>de</strong>. Por outro lado, o<br />

homem po<strong>de</strong> também viver e <strong>de</strong>sfrutar a vida, assimilando e apropriando-se do<br />

produto das faculda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> seus semelhantes. Daí a espoliação.Ora, sendo o trabalho<br />

em si mesmo um sacrifício, e sendo o homem naturalmente levado a evitar os<br />

sacrifícios, segue-se daí que – e a história bem o prova – sempre que a espoliação<br />

se apresentar como mais fácil que o trabalho, ela prevalece. Ela prevalece sem que<br />

nem mesmo a religião ou a moral possam, neste caso, impedi-la. ...<br />

Isto posto e lembrando, po<strong>de</strong>-se contra-argumentar que dificilmente ou só eventualmente os<br />

colonizadores da Colônia São Bento fossem dotados <strong>de</strong> tais finezas culturais ou filosóficas,<br />

conduziram <strong>de</strong>ntro do viável, seus trabalhos no sentido <strong>de</strong> ter proprietários regulares e produtivos. É<br />

também <strong>de</strong> se aventar a hipótese <strong>de</strong> que coerção para a observação da lei (Law enforcement –<br />

inglês), em virtu<strong>de</strong> das enormes dimensões do Brasil, não pu<strong>de</strong>sse ser muito eficaz, ipso facto<br />

tomaram-se as medidas preventivas e éticas possíveis para, se não evitar, pelo menos minimizar<br />

conflitos <strong>de</strong> terra e/ou proprieda<strong>de</strong>.<br />

Alguns exemplos <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> preocupação, legítima e ética, são ilustrados <strong>nas</strong> figuras a<br />

seguir, com os mapas históricos dos primeiros planejamentos na Colônia São Bento, segundo a obra<br />

já citada, <strong>de</strong> Pereyra:<br />

Figura 05: Distribuição dos primeiros lotes em 1873<br />

Segundo Pereyra (citado) cada lote tinha 30 hectares, com aproximadamente 200m <strong>de</strong><br />

frente. Po<strong>de</strong>-se eventualmente objetar que tais medidas não eram exatas, em virtu<strong>de</strong> da topografia<br />

extremamente aci<strong>de</strong>ntada e, dos parcos recursos técnicos para se efetuar tais medições com a<br />

precisão hodierna, o que no caso em apreço não compromete o resultado, tendo-se evitado até on<strong>de</strong><br />

possível, o uso e costume <strong>de</strong>marcações do gênero até on<strong>de</strong> a vista alcança.<br />

1160


Figura 06: Esquema urbano 1873 – Distribuição dos primeiros lotes urbanos<br />

Figura 07: Distribuição dos lotes coloniais em 1874<br />

(Os mapas foram impressos em tamanho gran<strong>de</strong> para permitir a visualização <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhes,<br />

dado que esta é uma <strong>de</strong> suas importantes funções).<br />

1161


Figura08: Plano geral dos lotes distribuídos até 1879<br />

Ainda segundo Pereyra, dos anos <strong>de</strong> 1874 até 1879, foram <strong>de</strong>marcadas novas áreas para a<br />

colonização e, houve a distribuição <strong>de</strong> lotes como forma <strong>de</strong> pagamento na região, como forma <strong>de</strong><br />

pagamento pelos trabalhos <strong>de</strong>les na <strong>de</strong>limitação da Estrada Dona Francisca e, por conhecerem<br />

muito bem a região, o que <strong>de</strong>monstra o caráter ético <strong>de</strong> quem o fez.<br />

A Ma<strong>de</strong>ira, Passado, Presente e Futuro?<br />

São Bento do Sul <strong>de</strong>scobriu na transformação da ma<strong>de</strong>ira sua vocação. No<br />

início a ma<strong>de</strong>ira da floresta moldou ranchos, cercas e vendas. Antes das indústrias<br />

vieram as serrarias, carpintarias, tanoarias, tamancarias e marcenarias. As rodas<br />

d'água e tração animal moviam serras, moinhos, fura<strong>de</strong>iras e tupias. Da imbuía, do<br />

pinheiro e da canela eram produzidos móveis, cabos <strong>de</strong> ferramentas, equipamentos<br />

para agricultura e carroças. Da iniciativa do pequeno agricultor em montar sua<br />

fábrica artesanal, São Bento do Sul começou a <strong>de</strong>linear seu futuro. Hoje, com 134<br />

anos <strong>de</strong> fundação, o município é a Capital Nacional dos Móveis e se <strong>de</strong>staca nos<br />

setores cerâmico, plástico, metalúrgico, fiação e tecelagem. (Fonte: Portal da<br />

PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO BENTO DO SUL)<br />

O extrativismo da erva mate e da ma<strong>de</strong>ira, e a agricultura <strong>de</strong> subsistência acompanharam a<br />

colonização. Por mais simples que fosse a vida, necessitavam os colonos <strong>de</strong> vias <strong>de</strong> transporte,<br />

inicialmente carreiros para andar a pé e a cavalo, posteriormente alargados para transitar com<br />

carroças ou carroções. Estas vias <strong>de</strong> transporte, em função da Topografia da região chamada <strong>de</strong><br />

Planalto Norte Catarinense e, que é gêmea do Planalto Sul Paranaense, apresentou e continua<br />

apresentando <strong>de</strong>safios <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s proporções para a construção <strong>de</strong> vias (estradas, ruas, avenidas,<br />

1162


etc.), sendo quase inviável a sua construção com uma trajetória que se aproxime <strong>de</strong> linhas retas,<br />

condicionando a uma configuração tortuosa, apresentadora <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> se ler a cida<strong>de</strong> , o<br />

mesmo se dando com todos os acessos rodoviários, ricos em intermináveis curvas em três<br />

dimensões.<br />

Tal observação é importante, dado que, se espera em tempos mo<strong>de</strong>rnos e globalizados um<br />

traçado tanto interestadual, intermunicipal e urbano que tenda ao regular e não em circunvoluções<br />

geradoras <strong>de</strong> <strong>de</strong>sperdício <strong>de</strong> tempo (o tempo é um recurso finito, restrito, não renovável e sem<br />

substituto – Oto R. Bormann), além <strong>de</strong> aumentar o consumo <strong>de</strong> combustível e o <strong>de</strong>sgaste dos<br />

veículos. Po<strong>de</strong>-se inferir que haja maior <strong>de</strong>sgaste no sistema <strong>de</strong> locomoção do corpo humano em<br />

terrenos muito aci<strong>de</strong>ntados, tornando as caminhadas menos interessantes.<br />

A seguir, alguns recortes <strong>de</strong> bairros <strong>de</strong> São Bento do Sul, mostrando outra característica<br />

local que são as ruelas do tipo servidão <strong>de</strong> passagem, mais encontradiças em cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> colonização<br />

lusitana.<br />

FONTE: GOOGLE MAPAS<br />

Figura 09 Arruamento <strong>de</strong> parte <strong>de</strong> São Bento do Sul<br />

Positivamente não se consegue observar nos mapas <strong>de</strong> recortes <strong>de</strong> São Bento do Sul a<br />

topografia íngreme.São Bento do Sul pela sua topografia remete o visitante ou morador a uma<br />

sensação ambiental próxima a dos Alpes Suíços e Austríacos. Neste sentido, em se reportando às<br />

observações <strong>de</strong> Lynch (1997), e tendo em mente a colonização haveria <strong>de</strong> se ter uma expectativa <strong>de</strong><br />

arquitetura que remetesse o visitante àquela que lembrasse as origens, o que é perceptível, sendo<br />

que é, não há uma predominância ou onipresença <strong>de</strong> arquitetura do tipo saxã ou eslava ou lusitana,<br />

havendo alguns exemplares da germânica/saxã/bávara e a predominância é <strong>de</strong> arquitetura atual,<br />

simbiose comosoe o padrão brasileiro, o que se po<strong>de</strong> ver na imagens a seguir.<br />

1163


Fotos São Bento do Sul – fonte: www.ferias.tur.br/sao-bento-do-sul-sc<br />

Figura 10: Brasão <strong>de</strong> São Bento do Sul, e Prefeitura Municipal (Centro)<br />

Figura 11: Arquivo Histórico e Igreja Matriz<br />

1164


Conclusão<br />

Figura 12: Foto da esquerda: Prédio <strong>de</strong> dois pavimentos na esquina à esquerda: Secretaria Municipal <strong>de</strong><br />

Turismo e foto da direita: Praça Getúlio Vargas com Coreto ao fundo<br />

Figura 13: Calçadão e Igreja Luterana<br />

São Bento do Sul tem por base uma cultura <strong>de</strong> trabalho, forte empenho em música e<br />

folklore, trazida pelos seus imigrantes e migrantes, convivente pacificamente com várias etnias, que<br />

<strong>de</strong> uma ou outra forma <strong>de</strong>ixaram e continuam <strong>de</strong>ixando suas marcas.<br />

Devido a sua irregular topografia, propicia gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>safios técnico-ambientais no<br />

concernente ao planejamento e execução <strong>de</strong> vias terrestres que facilitem a circulação veicular <strong>de</strong><br />

pequeno porte e acentuadamente a <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte, incluindo o transporte coletivo.<br />

Tem paisagem bonita, é agradável, além do frio invernal e a umida<strong>de</strong>, que, no entanto são<br />

características em função <strong>de</strong> sua latitu<strong>de</strong> e altitu<strong>de</strong>, além da relativa proximida<strong>de</strong> com o mar.<br />

Referências<br />

BASTIAT, Clau<strong>de</strong> Frèdèric. A Lei. Instituto Liberal 1991, Rio <strong>de</strong> Janeiro, ISBN 85-85054-21-2<br />

COSTA, Arlindo. Metodologia Científica. Mafra: Nos<strong>de</strong>, 2006.<br />

LOCKE, John. Segundo Tratado sobre o Governo. São Paulo: Martin Claret, 2000.<br />

KEVIN LYNCH. A Imagem das Cida<strong>de</strong>s. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2008.<br />

PEREYRA, Rubén Benedicto. Arquitetura e Desenvolvimento Urbano <strong>de</strong> São Bento do Sul.<br />

Prefeitura Municipal, Fundação Cultural <strong>de</strong> São Bento do Sul, 2006.<br />

1165


Resumo<br />

EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESCOLAS PÚBLICAS: UM ESTUDO DE CASO NO<br />

ESTADO DA PARAÍBA 134<br />

Rachel <strong>de</strong> Souza MELO<br />

rachelmelo2@hotmail.com<br />

Ione Macena da SILVA<br />

ionemacena@yahoo.com.br<br />

Catarina <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros BANDEIRA<br />

catmbio@hotmail.com<br />

Cláudia Bene Batista da SILVA<br />

claudia-bene25@hotmail.com<br />

Os objetivos <strong>de</strong>ste trabalho foram promover a discussão e a construção da temática<br />

ambiental, <strong>de</strong> forma coletiva e interdisciplinar, e levantar o perfil ambiental das escolas e dos<br />

professores. Este foi conduzido em escolas <strong>de</strong> ensino fundamental e médio, sendo duas localizadas<br />

nos municípios <strong>de</strong> Solânea e Bananeiras e uma em Massaranduba, no estado da Paraíba, com a<br />

participação <strong>de</strong> 20 educadores, quatro em cada escola. Foram <strong>de</strong>senvolvidas a metodologia<br />

participativa, com ações educativas e a participação em reuniões <strong>de</strong> planejamento pedagógico e<br />

eventos. Além disso, foi realizado um levantamento, por meio <strong>de</strong> diálogos e da aplicação <strong>de</strong><br />

questionários semi estruturados, do perfil ambiental das escolas e do trabalho <strong>de</strong> educação<br />

ambiental <strong>de</strong>senvolvidos pelos professores. Todos os profissionais pesquisados possuem formação<br />

acadêmica <strong>de</strong> nível superior. De acordo com os perfis ambientais das escolas avaliadas, todas as<br />

variáveis relativas ao trabalho <strong>de</strong> educação ambiental tiveram resultados acima <strong>de</strong> 60%, entretanto,<br />

ape<strong>nas</strong> 20% das escolas possuem áreas arborizadas. Dos educadores pesquisados, respectivamente,<br />

59,5; 100 e 87,5% <strong>de</strong>senvolvem projetos ou ativida<strong>de</strong>s, percebem o interesse dos alunos e a<br />

participação da escola no processo <strong>de</strong> ensino e aprendizagem ligados à educação ambiental. Porém,<br />

os projetos são restritos ao ambiente escolar e com temas comuns como poluição, queimadas,<br />

<strong>de</strong>smatamento, aquecimento global, preservação ambiental, coleta seletiva, reciclagem, arborização<br />

134 Pesquisa <strong>de</strong> extensão que está sendo <strong>de</strong>senvolvida em cida<strong>de</strong>s do estado da Paraíba, coor<strong>de</strong>nada pela Profª. Rachel <strong>de</strong> Souza<br />

Melo. Conta com apoio financeiro do Programa <strong>de</strong> Bolsas <strong>de</strong> Extensão – PROBEX - UFPB<br />

1166


urbana, erosão e tratamento <strong>de</strong> água e do esgoto. Verificou-se que a direção e professores<br />

mostraram-se acessíveis e interessados nos trabalhos e palestras oferecidas com a temática<br />

estudada, no qual se po<strong>de</strong> constatar participação coletiva e integrada. No entanto, po<strong>de</strong>mos perceber<br />

que, utilizar efetivamente à educação ambiental, em sua essência politicamente atuante,<br />

ecologicamente correta e socialmente crítica, como se faz solícito, está além dos muros das nossas<br />

escolas. É necessário abrir os olhos para essa visão sistêmica e holística da realida<strong>de</strong><br />

socioambiental, inserida na educação.<br />

Palavras-chave: Meio ambiente, escola pública, interdisciplinarida<strong>de</strong>.<br />

Abstract<br />

The objectives of this work went to promote the discussion and the construction of the<br />

environmental theme, in a collective and interdisciplinary way, and to lift the environmental profile<br />

of the schools and of the teachers. This work was accomplished at High School and junior high<br />

school, being two located in the Solânea and Bananeira cities and one in Massaranduba city, in the<br />

state of Paraíba, with the 20 theachers participation, four in each school. The dynamic methods<br />

were <strong>de</strong>veloped, with educational actions and the participation in meetings of pedagogic planning<br />

and events. Besi<strong>de</strong>s, a rising was accomplished, through dialogues and of the application of<br />

questionnaires structured semi, of the environmental profile of the schools and of the work of<br />

environmental education <strong>de</strong>veloped by the teachers. All the researched professionals ma<strong>de</strong><br />

university. In agreement with the environmental profiles of the appraised schools, all the variables<br />

to the work of environmental education had results above 60%, however, only 20% of the schools<br />

possess vegetation areas. Of the researched teachers, respectively, 59.5, 100 and 87.5% <strong>de</strong>velop<br />

environmental projects or activities, they notice the stu<strong>de</strong>nt‘s interest and the participation of the<br />

school in the teaching process and learning called to the environmental education. However, the<br />

projects are restricted to the school and with common themes as pollution, burning, <strong>de</strong>forestation,<br />

global heating, environmental preservation, collects selective, recycling, urban forestation, erosion<br />

and treatment of water and of the sewer. It was verified that the school director and teachers were<br />

shown accessible and interested parties in the works and lectures offered with the work, we verified<br />

collective participation and integrated. However, we can notice that, to use in<strong>de</strong>ed to the<br />

environmental education, in it essence politically active, ecologically correct and socially critic, it is<br />

besi<strong>de</strong>s the walls of our schools. It is necessary to open the eyes for that systemic and holism vision<br />

of the reality social environmental, inserted in the education.<br />

Wordkey: Environment, interdisciplinary, public school<br />

1167


Introdução<br />

Para a abordagem sócio-histórica, conforme Ozellam (2003), a adolescência é compreendida<br />

como um processo construído <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um contexto histórico e social e que tem um significado<br />

cultural. Definir o que se enten<strong>de</strong> por juventu<strong>de</strong> ou adolescência a faz importante, uma vez que seu<br />

significado irá <strong>de</strong>terminar as ações políticas, pessoais, sociais e profissionais empreendidas em<br />

relação a ela. Assim, concordando com Ozella (2003), enten<strong>de</strong>-se que superar a visão naturalizante<br />

<strong>de</strong>sta fase da vida humana e compreendê-la como uma construção social, é colocar o jovem numa<br />

posição ativa, como um parceiro propiciador <strong>de</strong> mudanças positivas para a socieda<strong>de</strong>, sendo este um<br />

dos objetivos <strong>de</strong>ste trabalho.<br />

Nesta direção, é importante <strong>de</strong>stacar a função social do educador: ser agente <strong>de</strong><br />

transformação. Como afirmam Serrão e Baleeiro (1999), este profissional irá auxiliar na<br />

organização dos <strong>de</strong>sejos e necessida<strong>de</strong>s da população com a qual trabalha, utilizando diversas<br />

metodologias e instrumentos para tal intento. Uma <strong>de</strong>ssas possibilida<strong>de</strong>s é o trabalho com grupos.<br />

Uma vez que a vivência em grupo permite ao facilitador propiciar um espaço <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

pessoal e social para as crianças e jovens, fomentando a tomada <strong>de</strong> iniciativa e a conscientização<br />

ambiental e <strong>de</strong> cidadania, na medida em que constroem reflexões e aprendizagens. Conforme as<br />

autoras citadas:<br />

―A educação é uma chave. Chave que abre a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se<br />

transformar o homem anônimo, sem rosto, naquele que sabe que po<strong>de</strong><br />

escolher que é sujeito participante <strong>de</strong> sua reflexão, da reflexão do mundo e<br />

da sua própria história, assumindo a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus atos e das<br />

mudanças que fizer acontecer. Esta chave nos permite modificar a<br />

realida<strong>de</strong>, alterando o seu rumo, provocando as rupturas necessárias e<br />

aglutinando as forças que garantem a sustentação <strong>de</strong> espaços on<strong>de</strong> o novo<br />

seja buscado, construído e refletido‖ (p.23).<br />

Com os conteúdos ambientais permeando todas as discipli<strong>nas</strong> do currículo e<br />

contextualizados com a realida<strong>de</strong> da comunida<strong>de</strong>, a escola <strong>de</strong>ve ajudar ao aluno a perceber a<br />

correlação dos fatores e a ter uma visão holística. Para isso, a Educação Ambiental <strong>de</strong>ve ser<br />

abordada <strong>de</strong> forma transversal, em todos os níveis <strong>de</strong> ensino, assegurando a presença da dimensão<br />

ambiental <strong>de</strong> forma interdisciplinar nos currículos das diversas discipli<strong>nas</strong> e das ativida<strong>de</strong>s<br />

escolares. Porém, nem sempre esses temas são abordados em sala <strong>de</strong> aula. Por isso, a participação<br />

<strong>de</strong> pessoas integradas em diferentes áreas do conhecimento na abordagem <strong>de</strong> temáticas ambientais é<br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância na construção do conhecimento e da conscientização ambiental.<br />

1168


A abordagem do tema transversal ―meio ambiente‖ requer abordagens e metodologias<br />

didáticas integradas, transdisciplinares, coletivas e transformadoras que propiciem a reflexão, a<br />

conscientização e a tomada <strong>de</strong> iniciativa diante das situações cotidia<strong>nas</strong> e do contexto educacional.<br />

As problemáticas ambientais estão se tornando mais evi<strong>de</strong>ntes e a socieda<strong>de</strong> tem<br />

<strong>de</strong>monstrado que o nível <strong>de</strong> informações relacionado à temática ambiental é inversamente<br />

proporcional ao interesse na busca por estas informações e por ações mais efetivas na resolução<br />

<strong>de</strong>sses problemas. Por isso, surge a motivação em <strong>de</strong>senvolver abordagens <strong>de</strong> Educação Ambiental<br />

em escolas públicas dos ensinos fundamental e médio, na tentativa <strong>de</strong> associar diversas discipli<strong>nas</strong> a<br />

ações extensionistas, mostrando assim a indissociabilida<strong>de</strong> entre ensino, consi<strong>de</strong>rando, assim, a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reconhecer o (a) jovem como protagonista e agente <strong>de</strong> mudanças.<br />

A Educação Ambiental (EA) se <strong>de</strong>staca por ser um processo participativo <strong>de</strong> ação<br />

interdisciplinar e integrada, on<strong>de</strong> professores e alunos po<strong>de</strong>m atuar <strong>de</strong> forma conjunta durante o<br />

processo <strong>de</strong> ensino e aprendizagem, sendo agentes multiplicadores e atuantes em todo o processo.<br />

Em 2000, Minini relatou que a EA é um processo que consiste em propiciar às pessoas uma<br />

compreensão crítica e global do meio ambiente para elucidar valores e <strong>de</strong>senvolver atitu<strong>de</strong>s que lhes<br />

permitam adotar uma posição consciente e participativa, a respeito das questões relacionadas com a<br />

conservação e a<strong>de</strong>quada utilização dos recursos naturais, para a melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e a<br />

eliminação da pobreza e do consumismo exacerbados.<br />

Estamos vivendo em uma época em que prevalece a cultura consumista e, mesmo que<br />

muitos tenham consciência a respeito dos problemas ambientais vigentes, está cada vez mais rara a<br />

tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões para colocar em exercício as práticas sustentáveis a fim <strong>de</strong> melhorar a qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> vida e do meio ambiente. O aumento <strong>de</strong>senfreado do consumo gera a cada dia milhares <strong>de</strong><br />

toneladas <strong>de</strong> resíduos que irão parar nos lixões virando ape<strong>nas</strong> entulho, gerando a <strong>de</strong>gradação da<br />

qualida<strong>de</strong> ambiental, como a produção do chorume, que polui o solo e os lençóis freáticos. Com<br />

tantos problemas ambientais ocasionados pelo ser humano, surge como meio <strong>de</strong> mitigá-los a<br />

educação ambiental.<br />

A EA como eixo transversal e <strong>de</strong> natureza interdisciplinar no projeto político-pedagógico<br />

po<strong>de</strong> contribuir para que se contemplem ações coletivas que resultarão na elaboração <strong>de</strong> uma<br />

proposta partilhada entre diferentes discipli<strong>nas</strong> escolares. A ação pedagógica através da<br />

interdisciplinarida<strong>de</strong> propicia a construção <strong>de</strong> uma escola participativa e <strong>de</strong>cisiva na formação<br />

social do indivíduo, bem como uma prática coletiva e solidária na organização da escola.<br />

Portanto, neste trabalho objetivou-se realizar um levantamento dos perfis ambientais <strong>de</strong><br />

escolas públicas e <strong>de</strong> seus educadores, além <strong>de</strong> promover, <strong>de</strong> forma coletiva e interdisciplinar,<br />

oportunida<strong>de</strong>s para reflexão, compreensão, discussão e ações quanto às questões relacionadas à<br />

1169


temática ambiental em escolas <strong>de</strong> ensino fundamental e médio localizadas <strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

Bananeiras, Solânea e Massaranduba, no estado da Paraíba.<br />

Procedimentos Metodológicos<br />

O presente trabalho teve a colaboração do ―Núcleo <strong>de</strong> Pesquisa e Extensão em Agroecologia<br />

no Território da Borborema‖ e da ―Comissão do Meio Ambiente (CCHSA/UFPB)‖. Foi conduzido<br />

em cinco escolas <strong>de</strong> ensino fundamental e médio, sendo duas localizadas no município <strong>de</strong> Solânea,<br />

duas no município <strong>de</strong> Bananeiras e uma no município <strong>de</strong> Massaranduba, no Estado da Paraíba, com<br />

um universo amostral <strong>de</strong> 20 educadores, quatro em cada escola. Foi empregada a metodologia<br />

participativa, com ações educativas e participação em reuniões <strong>de</strong> planejamento pedagógico e<br />

eventos ligados à temática ambiental <strong>nas</strong> escolas envolvidas no projeto, com a realização <strong>de</strong><br />

exposição <strong>de</strong> produtos confeccionados pelos alunos.<br />

Na tabela abaixo estão <strong>de</strong>scritas a caracterização das escolas pesquisadas e o perfil<br />

profissional das diretoras das escolas, bem como a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> educadores e alunos presentes no<br />

ambiente escolar (Tabela 1).<br />

Cida<strong>de</strong> Escola Formação Nº <strong>de</strong> Nº <strong>de</strong><br />

alunos educadores<br />

Bananeiras 1 Licenciatura em História 761 _____<br />

2 Bacharelado em Pedagogia 58 3<br />

Solânea 3 Licenciatura Plena 300 13<br />

4 Licenciatura Plena em Pedagogia-<br />

Habilitada em Administração Escolar<br />

722 31<br />

Massaranduba 5 Psicologia Educacional /<br />

Psicopedagoga<br />

920 36<br />

Tabela 1: Caracterização das escolas pesquisadas e perfil profissional do (a) diretor (a) da escola, 2011/2012.<br />

Na tabela 2 está <strong>de</strong>scrita o perfil profissional dos educadores pesquisados.<br />

Cida<strong>de</strong> Professor Formação acadêmica<br />

Bananeiras<br />

1<br />

Licenciatura em Ciências<br />

Agrárias<br />

2 Licenciatura em História<br />

(Especialização em História do<br />

Tempo em que<br />

leciona (anos)<br />

Discipli<strong>nas</strong><br />

que leciona<br />

27 Várias*<br />

8 História<br />

1170


3<br />

Brasil)<br />

Licenciatura em Matemática e<br />

Geografia<br />

11 Matemática<br />

4 Licenciatura em Matemática 8 Matemática<br />

5 Bacharelado em Pedagogia 4 Várias<br />

6 Bacharelado em Pedagogia 23 Várias<br />

7 Bacharelado em Pedagogia 28 Várias<br />

Solânea Várias<br />

Massaranduba<br />

1<br />

2<br />

3<br />

Bacharelado em Pedagogia<br />

(Especialização em Supervisão<br />

Escolar)<br />

Bacharelado em Pedagogia<br />

(Especialização em Pedagogia-<br />

Psicopedagogia)<br />

Especialização em Língua,<br />

Linguagem e Ensino<br />

15 Várias<br />

12 Várias<br />

15 Várias<br />

4 Licenciatura Plena em Letras 12 Várias<br />

5 Licenciatura Plena em História 28 Várias<br />

6<br />

7<br />

Licenciatura Plena em História<br />

(Especialização em Educação<br />

Básica)<br />

Licenciatura em História<br />

(Especialização em Educação<br />

Básica)<br />

24 Várias<br />

27 Várias<br />

8 Bacharelado em Pedagogia 5 Várias<br />

1 Licenciatura Plena em Biologia 3 Biologia<br />

2 Especialização em Linguística 3 Português<br />

3<br />

Licenciatura em Geografia<br />

(Especialização em Gestão e<br />

Análise Ambiental)<br />

12 Geografia<br />

4 Licenciatura em Química 1 Química<br />

* Turmas polivalentes<br />

Tabela 2: Caracterização do perfil dos educadores que lecionam <strong>nas</strong> escolas estudadas, 2011/2012.<br />

1171


Para melhor <strong>de</strong>tectar a problemática, as expectativas e as características dos diferentes<br />

grupos trabalhados, no que concerne à educação ambiental, realizou-se uma pesquisa exploratória,<br />

através <strong>de</strong> diálogos e da aplicação <strong>de</strong> questionários semi estruturados junto à direção, para realizar<br />

um levantamento do perfil ambiental da escola, e aos educadores ligados à educação <strong>de</strong>ssas crianças<br />

e jovens.<br />

A coleta <strong>de</strong> dados e as análises das respostas foram realizadas conforme as chamadas<br />

abordagens quanti-qualitativas citadas por Freitas e Janissek, (2000). Os dados foram agrupados em<br />

categorias, recebendo um tratamento quanti/qualitativo, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da natureza da pergunta, a fim<br />

<strong>de</strong> evi<strong>de</strong>nciar os resultados relativos aos objetivos da pesquisa, inclusive, com citação <strong>de</strong> trechos<br />

das respostas dos educadores. Quanto às respostas objetivas presentes no questionário <strong>de</strong>finiram-se<br />

por indicadores <strong>de</strong> quantida<strong>de</strong>. Os resultados das questões quantitativas foram agrupados <strong>de</strong> acordo<br />

com a natureza das perguntas e a sequência lógica dos assuntos a fim <strong>de</strong> facilitar a compreensão do<br />

leitor.<br />

Dentre os vários problemas e expectativas <strong>de</strong>tectados, priorizou-se por <strong>de</strong>senvolver<br />

ativida<strong>de</strong>s focalizando assuntos apontados em nossa pesquisa, tendo como temas centrais: Meio<br />

ambiente, sustentabilida<strong>de</strong> e responsabilida<strong>de</strong> social e ambiental. Foram realizados encontros<br />

quinzenais, no período do ano letivo do ano <strong>de</strong> 2011 e 2012, com grupos <strong>de</strong> crianças e jovens. Em<br />

nossos encontros, utilizou-se como instrumentos e técnicas <strong>de</strong> trabalho: Vivências e dinâmicas <strong>de</strong><br />

grupos, ví<strong>de</strong>os, apresentações na forma <strong>de</strong> palestra <strong>de</strong> temas ambientais com profissionais<br />

qualificados e confecção <strong>de</strong> brinquedos e produtos com a reutilização <strong>de</strong> resíduos sólidos.<br />

Foram realizadas palestras com convidados <strong>de</strong> diferentes áreas do conhecimento, com os<br />

seguintes temas: ―As ativida<strong>de</strong>s huma<strong>nas</strong> e o meio ambiente: Qual é o nosso papel?‖; ―<strong>Qualida<strong>de</strong></strong><br />

alimentar e a Agroecologia: Valorização dos saberes polulares‖; ―Os três R‘s: Reciclar, Reduzir e<br />

Reutilizar‖; e "Água: Fonte da vida".<br />

Além disso, foram <strong>de</strong>senvolvidas ofici<strong>nas</strong> para dinamizar o aprendizado dos alunos, on<strong>de</strong><br />

foram abordados os temas ―Confecção <strong>de</strong> material didático com resíduos sólidos reutilizados‖,<br />

―Transformando lixo em arte‖ e ―Agricultura sustentável‖, esta última com o propósito <strong>de</strong> ensinar a<br />

produzir compostagem e biofertilizantes. Posteriormente preten<strong>de</strong>-se realizar <strong>nas</strong> escolas incluídas<br />

no projeto uma oficina cujo tema será: ―As abordagens da Educação Ambiental na escola:<br />

Planejamento e aplicação prática‖, que propiciará a continuida<strong>de</strong> das ativida<strong>de</strong>s.<br />

Dentre as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas <strong>de</strong>staca-se a Campanha ―Adote uma Muda‖. Mudas <strong>de</strong><br />

plantas nativas e <strong>de</strong> hortaliças foram disponibilizadas pelo Setor <strong>de</strong> Agricultura do Centro <strong>de</strong><br />

Ciências Huma<strong>nas</strong> Sociais e Agrárias da UFPB e doadas para escolas <strong>de</strong> ensino fundamental para<br />

compor e tornar mais ver<strong>de</strong> o ambiente escolar, com plantio e cuidados realizados pelos próprios<br />

1172


alunos. Essa ativida<strong>de</strong> visou <strong>de</strong>senvolver ainda mais a conscientização ambiental, a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

vida no ambiente escolar e o ensino da forma correta <strong>de</strong> plantar e manejar plantas.<br />

Análises dos resultados<br />

Durante o <strong>de</strong>senvolvimento das ativida<strong>de</strong>s do projeto foram aplicados questionários semi<br />

estruturados à Direção <strong>de</strong> cada escola pesquisada, possibilitando o levantamento do perfil<br />

profissional do (a) diretor (a) e do perfil ambiental da mesma. Um fator <strong>de</strong> interesse observado é<br />

que todos os diretores são do sexo feminino.<br />

Dentre as perguntas subjetivas, algumas incluíam conhecimentos básicos em relação ao<br />

meio ambiente, à Educação Ambiental e ao conceito <strong>de</strong> interdisciplinarida<strong>de</strong>.<br />

Na pergunta relacionada ao conceito <strong>de</strong> meio ambiente e sua relação com a educação as<br />

diretoras respon<strong>de</strong>ram que: ―... a educação no ensino formal é comprometida com a construção da<br />

cidadania, conscientizando o homem a perceber-se integrante e agente transformador do ambiente<br />

em que se vive‖; ―... um povo educado é um povo que certamente cuidará do meio em que vive‖; ―É<br />

muito importante em nosso meio educacional que cui<strong>de</strong>mos do nosso meio ambiente, protegendo o<br />

local on<strong>de</strong> vivemos‖; ―... a educação é o maior veículo <strong>de</strong> sensibilização na importância <strong>de</strong><br />

preservação e cuidado com o meio ambiente‖; e ―Estamos num mundo on<strong>de</strong> precisamos respirar ar<br />

puro e precisamos apren<strong>de</strong>r‖.<br />

Os educadores, diante do mesmo questionamento, respon<strong>de</strong>ram que: ―A relação <strong>de</strong> ambos<br />

são <strong>de</strong> reciprocida<strong>de</strong>, a educação fornece subsídios que possibilite reconhecer no meio ambiente os<br />

problemas e soluções que nos cerca‖; ―Uma relação <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência, pois se o homem não foi<br />

educado para preservar o meio em que vive, por consequência ele o <strong>de</strong>struirá‖; ―... O homem para<br />

que possa satisfazer seus <strong>de</strong>sejos e necessida<strong>de</strong> tem que ser um cidadão consciente e a escola<br />

também tem o papel <strong>de</strong> fazer com que os alunos sejam conscientes para que haja a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

mudança e melhoria <strong>de</strong> seu ambiente total‖; e ―Todas as discipli<strong>nas</strong> po<strong>de</strong>m fazer relação <strong>de</strong> seus<br />

conteúdos com o meio ambiente ... <strong>de</strong>spertando o interesse pela questão ambiental‖. O que<br />

<strong>de</strong>monstra a concepção <strong>de</strong> interação e inter<strong>de</strong>pendência entre o tema meio ambiente e o papel da<br />

escola nesta conjectura, sendo também i<strong>de</strong>ntificado a concepção <strong>de</strong> interdisciplinarida<strong>de</strong> neste<br />

processo.<br />

Em relação ao questionamento sobre o que é Educação Ambiental, as diretoras respon<strong>de</strong>ram<br />

que: ―... a educação ambiental não se refere ape<strong>nas</strong> ao entorno físico do ambiente, mas também os<br />

aspectos sociais, culturais, econômicos e políticos inter-relacionados‖; ―Trata-se da educação da<br />

socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> forma que convivam com o ambiente em harmonia, conservando-o‖; ―... trata-se do<br />

meio em que vivemos‖; ―... educar para o ambiente; rever erros no meio inserido quanto o<br />

1173


equilíbrio da fauna e flora; buscar oportunida<strong>de</strong>s e soluções para uma vida melhor e mais saudável‖;<br />

―Um lugar on<strong>de</strong> todos trabalham para o bem estar <strong>de</strong> todos os seres vivos, preservação <strong>de</strong> tudo que<br />

temos‖. Percebe-se que a concepção <strong>de</strong> Educação Ambiental, em alguns casos, confundi-se com o<br />

conceito <strong>de</strong> meio ambiente, e, em outros, percebe-se a concepção holística <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong> em<br />

relação ao tema, incluindo não ape<strong>nas</strong> o meio ambiente físico, mas os ambientes sociais,<br />

econômicos e políticos integrados.<br />

Alguns professores respon<strong>de</strong>ram em relação à concepção <strong>de</strong> Educação Ambiental que: ―É<br />

um processo por meio do qual o indivíduo e a coletivida<strong>de</strong> constroem valores sociais,<br />

conhecimentos, habilida<strong>de</strong>s, ativida<strong>de</strong>s e competências voltadas para a conservação do meio<br />

ambiente ... É o instrumento <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> uma consciência por meio do conhecimento e da<br />

reflexão sobre a realida<strong>de</strong> ambiental‖; ―É um processo <strong>de</strong> reconhecimento <strong>de</strong> valores e classificação<br />

<strong>de</strong> conceitos objetivando o <strong>de</strong>senvolvimento das ativida<strong>de</strong>s e modificando as atitu<strong>de</strong>s em relação ao<br />

meio para enten<strong>de</strong>r e apreciar as inter-relações entre os seres humanos, suas culturas e seus meios<br />

biofísico‖; ―É toda ação educativa que leva o ser humano a cuidar e a preservar o meio ambiente‖.<br />

Tais concepções abrangem mais o conceito <strong>de</strong> Educação Ambiental, entretanto, alguns educadores<br />

ainda restringem este conceito ao ambiente físico e natural.<br />

Outro instrumento necessário à educação ambiental é a interdisciplinarida<strong>de</strong>. As diretoras<br />

das escolas pesquisadas consi<strong>de</strong>ram como conceito <strong>de</strong> interdisciplinarida<strong>de</strong>: ―... <strong>de</strong>vido à<br />

complexida<strong>de</strong> do real e a teia <strong>de</strong> relações entre os diferentes e contraditórios aspectos, refere-se a<br />

uma relação entre discipli<strong>nas</strong>‖; ―Inserir não só <strong>nas</strong> discipli<strong>nas</strong> afins, uma temática <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

relevância para o ser humano nos aspectos bio-psico-pedagógicos, em conteúdos que possam ser<br />

esclarecidos por vários profissionais <strong>de</strong> diferentes áreas, a importância do tema em questão‖;<br />

―<strong>Qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong>senvolvimento sustentável‖; ―São assuntos que correspon<strong>de</strong>m as matérias<br />

estudadas em sala e que são <strong>de</strong>senvolvidas com interdisciplinarida<strong>de</strong>‖; ―... on<strong>de</strong> todas as discipli<strong>nas</strong><br />

estão inseridas num contexto <strong>de</strong> forma objetiva a facilitar a aprendizagem do aluno‖. A maioria das<br />

diretoras percebe a relação existente entre interdisciplinarida<strong>de</strong> e as variadas áreas do<br />

conhecimento. Entretanto, também se percebe o pouco conhecimento em relação ao tema. Quatro<br />

das cinco diretoras acreditam que a temática ambiental possa ser trabalhada <strong>de</strong> forma<br />

interdisciplinar e transversal.<br />

Dentre os conceitos apresentados pelos professores, a interdisciplinarida<strong>de</strong> vem a ser ―uma<br />

ação conjunta entre duas ou mais discipli<strong>nas</strong>, com características individuais para atingir um<br />

objetivo comum e coletivo‖. É também entendida como uma ação educativa on<strong>de</strong> se possa trabalhar<br />

qualquer assunto <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada perspectiva, usando as mais variadas discipli<strong>nas</strong>, <strong>de</strong> forma<br />

que venha a ajudar no processo <strong>de</strong> ensino aprendizagem‖, ―... envolvendo o aluno e mostrando que<br />

1174


o mesmo objeto <strong>de</strong> estudo po<strong>de</strong> ser trabalhado em outras discipli<strong>nas</strong>‖. Os educadores apresentam<br />

maior maturida<strong>de</strong> e intimida<strong>de</strong> em relação ao tema, em relação às diretoras.<br />

Na tabela 3 po<strong>de</strong>m-se observar alguns parâmetros que foram avaliados em relação ao perfil<br />

ambiental das escolas pesquisadas.<br />

Variável analisada Sim Não<br />

Trabalham-se os temas ambientais <strong>de</strong> forma interdisciplinar 100% -<br />

Desenvolve projetos na área ambiental 80% 20%<br />

Incentiva os professores a participarem <strong>de</strong> projetos/ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

educação ambiental<br />

I<strong>de</strong>ntifica-se o interesse dos alunos em participarem <strong>de</strong><br />

projetos/ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> educação ambiental<br />

I<strong>de</strong>ntifica-se o interesse dos professores em participarem <strong>de</strong><br />

projetos/ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> educação ambiental<br />

100% -<br />

80% 20%<br />

100% -<br />

Existe área arborizada na escola 20% 80%<br />

Existe interesse da escola em arborizar o ambiente escolar 100% -<br />

Coleta-se <strong>de</strong> forma seletiva os resíduos sólidos produzidos no<br />

ambiente escolar<br />

60% 40%<br />

Tabela 3: Levantamento <strong>de</strong> variáveis relativas ao perfil ambiental das escolas estudadas, em<br />

porcentagem, 2011/ 2012.<br />

Todas as variáveis relativas ao trabalho <strong>de</strong> educação ambiental tiveram resultados acima <strong>de</strong><br />

60%, entretanto, ape<strong>nas</strong> 20% das escolas possuem áreas arborizadas. Dos educadores pesquisados,<br />

ape<strong>nas</strong> 59,5% <strong>de</strong>senvolve projetos ou ativida<strong>de</strong>s ligados à educação ambiental, e, na percepção dos<br />

mesmos, 100% i<strong>de</strong>ntificam interesse dos alunos e 87,5% i<strong>de</strong>ntificam interesse e participação da<br />

escola no processo <strong>de</strong> ensino e aprendizagem ligado à educação ambiental.<br />

Na Tabela 4 estão os principais temas ligados à temática ambiental que foram trabalhados<br />

pelos professores no ambiente escolar.<br />

Cida<strong>de</strong>s Temas<br />

Bananeiras Poluição<br />

Queimadas<br />

Desmatamento<br />

Aquecimento global<br />

Preservação ambiental<br />

Reciclagem<br />

Solânea Reciclagem<br />

Preservação ambiental<br />

Arborização urbana<br />

Poluição<br />

Aquecimento global<br />

Coleta seletiva<br />

Massaranduba Reciclagem<br />

Produtos orgânicos e inorgânicos<br />

Adubação orgânica<br />

1175


Poluição<br />

Desmatamento<br />

Erosão<br />

Limpeza urbana<br />

Queimadas<br />

Tratamento <strong>de</strong> água e do esgoto<br />

Tabela 4: Principais temas abordados com temática ambiental <strong>nas</strong> escolas estudadas 2011/2012.<br />

Po<strong>de</strong>mos perceber através <strong>de</strong>ssa tabela que os temas relacionados ao meio ambiente<br />

<strong>de</strong>senvolvidos em ativida<strong>de</strong>s e projetos são restritos ao ambiente escolar e com temas comuns,<br />

como poluição, queimadas, <strong>de</strong>smatamento, aquecimento global, preservação ambiental, coleta<br />

seletiva, reciclagem, arborização urbana, erosão e tratamento <strong>de</strong> água e do esgoto. No entanto,<br />

po<strong>de</strong>mos perceber que, a<strong>de</strong>ntrar efetivamente à educação ambiental, em sua essência politicamente<br />

atuante, ecologicamente correta e socialmente crítica, como se faz solícito, está além dos muros das<br />

nossas escolas. É necessário abrir os olhos para essa visão sistêmica e holística da realida<strong>de</strong><br />

socioambiental, inserida na educação.<br />

Na Tabela 5 consta, segundo a percepção dos educadores, o nível <strong>de</strong> interesse próprio, dos<br />

alunos e da Direção em relação a aplicação da Educação Ambiental na escola.<br />

Variáveis analisadas Cida<strong>de</strong>s<br />

Desenvolve projetos ou ativida<strong>de</strong>s ligados à<br />

educação ambiental<br />

I<strong>de</strong>ntifica interesse dos alunos em relação aos<br />

temas ambientais<br />

I<strong>de</strong>ntifica participação ou interesse da escola em<br />

<strong>de</strong>senvolver ações <strong>de</strong> educação ambiental<br />

Conclusão<br />

Bananeiras Solânea Massaranduba<br />

28,6% 75% 75%<br />

100% 100% 100%<br />

100% 87,5% 75%<br />

Tabela 5: Percepção dos educadores pesquisados em relação à participação dos mesmos, dos alunos e da escola<br />

no processo <strong>de</strong> ensino e aprendizagem ligado à educação ambiental, 2011/2012.<br />

Os resultados encontrados nos permitiram i<strong>de</strong>ntificar que mesmo <strong>de</strong> forma tênue, a educação<br />

ambiental vem sendo <strong>de</strong>senvolvida <strong>nas</strong> escolas pesquisadas.<br />

Que para além da educação ambiental tradicional que sempre encontramos, com trabalhos,<br />

projetos e ações educativas contemplando ape<strong>nas</strong> temas como preservação do meio ambiente, já<br />

po<strong>de</strong>mos ver no horizonte <strong>de</strong>ssa dimensão a inclusão da relação social e também a preocupação do<br />

educador com o <strong>de</strong>senvolvimento critico reflexivo e atuante dos alunos em relação ao meio em que<br />

está inserido.<br />

1176


Assim, concluímos que, mesmo <strong>de</strong> forma discreta, a educação ambiental tem sido trabalhada<br />

<strong>nas</strong> escolas assistidas pelo projeto e que as mesmas estão alcançando novos horizontes no intuito <strong>de</strong><br />

compreen<strong>de</strong>r o que vem a ser essa problemática inserida no contexto escolar, e <strong>de</strong> pesquisar e<br />

<strong>de</strong>senvolver trabalhos <strong>de</strong> forma crítica acerca da dimensão ambiental.<br />

Referências<br />

FREITAS, Henrique Mello Rodrigues <strong>de</strong>; JANISSEK, Raquel. Análise <strong>de</strong> dados quantitativos e<br />

qualitativos: casos aplicados. Porto Alegre: Sphinx: Editora Sagra Luzzatto, 2000.<br />

MININI, apud DIAS, Genebaldo Freire Dias. Educação Ambiental – Princípios e práticas. São<br />

Paulo, Gaia, 1992.<br />

SERRÃO, M.; BALEEIRO, M. C. Apren<strong>de</strong>ndo a Ser e a Conviver. São Paulo: FTD, 1999.<br />

ZABALA, Antoni. Enfoque Globalizador e Pensamento Complexo: uma proposta para o currículo<br />

escolar. Trad. Ernani Rosa. Porto Alegre: ARTMED Editora, 2002<br />

1177


Resumo<br />

INTERLIGAÇÃO RURAL-URBANA: FRAGMENTOS DA CONSTRUÇÃO DE UMA<br />

CRISE ANUNCIADA E POSSÍVEIS PERSPECTIVAS<br />

Rafaela Dias <strong>de</strong> MELO<br />

dm.rafaela@gmail.com<br />

Mário Jarbas <strong>de</strong> Lima Júnior<br />

mariojarbas@hotmail.com<br />

O atual momento <strong>de</strong> crise socioambiental tem sua construção a partir <strong>de</strong> uma ciência reificadora do<br />

mundo, que baniu uma noção dos limites <strong>de</strong> recuperação ambiental. A <strong>de</strong>gradação ambiental<br />

consequente do atual mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento gerador da crise está, também, fortemente<br />

associada a questões <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação social. Deste modo, o efeito da concentração dos meios <strong>de</strong><br />

produção, consumo e excessiva objetificação do mundo levaram ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> profundas<br />

distorções que se apresentam tanto no ambiente rural, como no urbano. A hierarquização social,<br />

bem como a hierarquização <strong>de</strong> espaços preferenciais para o <strong>de</strong>senvolvimento, se sedimentam <strong>nas</strong><br />

atuais estruturas e <strong>nas</strong> dinâmicas urba<strong>nas</strong> e rurais com consequências nocivas diretas sobre o<br />

ambiente e sobre a socieda<strong>de</strong>. Diante disso, o presente artigo busca <strong>de</strong>stacar fragmentos históricos<br />

da construção da atual situação <strong>de</strong> crise relacionada aos ambientes rurais e urbanos, bem como,<br />

apontar perspectivas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento baseadas na multiplicida<strong>de</strong> das relações sociais e<br />

ambientais.<br />

Palavras chave: Meio Ambiente; Rural-urbano; Saber ambiental<br />

Abstract<br />

The current times of environmental crisis is based in a refrying perception of the world, which has<br />

banned the limits of environmental recuperation. The environmental <strong>de</strong>gradation resulting from the<br />

current mo<strong>de</strong>l of <strong>de</strong>velopment of the crisis is, also, strongly associated to social <strong>de</strong>gradation.<br />

Therefore, the effects of the concentration of the production manners, consumption and excessive<br />

objectification of the world have led into the <strong>de</strong>velopment of great distortions that are visible either<br />

in the rural and urban environments. The social hierarchy, and also the hierachization of preferable<br />

places to be the object of <strong>de</strong>velopment root themselves in the current urban and rural structures and<br />

dynamics, with direct vicious consequences into the environment and the society. In this point of<br />

view, this paper highlights historical fragments of the construction of the current crisis situation<br />

1178


elated to the rural and urban environments, and also appoints perspectives of <strong>de</strong>velopment based in<br />

the multiplicity of the social and environmental relations.<br />

Keywords: Environment; Rural-urban; Environmental Knowledge.<br />

Introdução<br />

Qualquer sistema econômico parte <strong>de</strong> uma apropriação do ambiente já que, em última<br />

análise, os bens <strong>de</strong> consumo são retirados direta ou indiretamente da natureza. Mesmo na socieda<strong>de</strong><br />

atual, fruto <strong>de</strong> um chamado ―capitalismo leve‖ (BAUMAN, 2001), no qual há uma aparente<br />

liberda<strong>de</strong> maior <strong>de</strong> consumo e <strong>de</strong> escolhas que o ―capitalismo duro‖ da meta<strong>de</strong> do século XX,<br />

vivencia-se essa apropriação do ambiente pelo sistema econômico. Por trás da flui<strong>de</strong>z das relações<br />

econômicas, e das premissas da globalização, a partir da qual passa haver uma maior integração<br />

econômica entre os países, existem, ainda, graves questões <strong>nas</strong> quais o homem, <strong>de</strong>liberadamente, se<br />

apropria do ambiente <strong>de</strong> uma maneira incoerente do ponto <strong>de</strong> vista ambiental.<br />

O processo econômico e social que resultou na constituição da socieda<strong>de</strong> atual traz uma<br />

noção <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, normalmente representadas pelo i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> progresso tecnológico. No<br />

entanto, essa racionalida<strong>de</strong> econômica baniu a natureza da esfera da produção gerando processos <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>struição ecológica e <strong>de</strong>gradação ambiental bastante grave (CAVALCANTI, 2001), como o<br />

esgotamento dos recursos naturais, a geração <strong>de</strong> resíduos, e a disseminação <strong>de</strong> doenças. Todo esse<br />

quadro fez configurar o que Ulrich Beck (1992) classificou como uma ―socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> risco‖ em que<br />

os efeitos da industrialização começam a ganhar contornos <strong>de</strong> ameaça planetária.<br />

Diante da atual crise ambiental, novos modos <strong>de</strong> se relacionar com a natureza <strong>de</strong>vem<br />

emergir. A crise ambiental é consequência <strong>de</strong> um modo <strong>de</strong> produção que tem o meio ambiente<br />

como externalida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> um modo <strong>de</strong> produção que se baseia na acumulação ilimitada e na,<br />

igualmente ilimitada, utilização dos recursos naturais. A ciência econômica clássica não consi<strong>de</strong>ra<br />

os limites do ambiente, visto que objetiva suprir matéria prima ilimitadamente ao seu processo<br />

produtivo. Como resultado, a crise ambiental está cada vez mais presente <strong>nas</strong> discussões<br />

econômicas, sociais e políticas.<br />

É necessário compreen<strong>de</strong>r que os processos econômicos, além <strong>de</strong> serem gerados a partir <strong>de</strong><br />

uma irracionalida<strong>de</strong> econômica que não contempla os limites ambientais, são responsáveis<br />

indubitavelmente por profundas injustiças sociais. Diante disso, existe uma necessida<strong>de</strong> e se<br />

construir um novo ―saber ambiental‖ que contemple tanto as limitações ambientais como a<br />

diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> saberes relacionado ao ambiente (LEFF, 2006). A mesma racionalida<strong>de</strong> econômica<br />

geradora <strong>de</strong> crise ambiental, também domina os processos produtivos e estabelece hierarquias<br />

sociais que <strong>de</strong>slegitimam uma heterogeneida<strong>de</strong> cultural e social.<br />

1179


Face à acumulação centralizadora proveniente do capitalismo, responsável por gerar um<br />

processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sigual e injusto que beneficia ape<strong>nas</strong> parte da população integrante<br />

do processo produtivo, Porto-Gonçalves (2006, p. 72) afirma que a ―humanida<strong>de</strong> toda, embora <strong>de</strong><br />

modo <strong>de</strong>sigual, está submetida a riscos <strong>de</strong>rivados <strong>de</strong> ações <strong>de</strong>cididas por alguns e para benefícios <strong>de</strong><br />

alguns‖, visto que a globalização é comandada pela lógica econômica, que ignora sua inserção nos<br />

recursos naturais e a distribuição equânime das riquezas produzidas.<br />

Diante da complexida<strong>de</strong> dos conflitos <strong>de</strong> natureza socioambiental, faz-se necessário uma<br />

visão interdisciplinar, que implica na integração <strong>de</strong> processos naturais e sociais <strong>de</strong> diferentes or<strong>de</strong>ns<br />

<strong>de</strong> materialida<strong>de</strong> e esferas <strong>de</strong> racionalida<strong>de</strong> (LEFF, 2001). Dessa forma, as questões ambientais não<br />

po<strong>de</strong>m ser vistas <strong>de</strong> forma isolada e unilateral, <strong>de</strong>ve-se integrar os diversos saberes na busca <strong>de</strong><br />

compreen<strong>de</strong>r a natureza complexa da relação entre socieda<strong>de</strong> e meio ambiente.<br />

Os atuais <strong>de</strong>safios ambientais nos colocam diante da questão <strong>de</strong> que há limites para<br />

dominação da natureza e para a irracionalida<strong>de</strong> ecológica dos padrões dominantes <strong>de</strong> produção e<br />

consumo, os quais requerem a busca <strong>de</strong> paradigmas alternativos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, ou seja,<br />

―novos princípios <strong>de</strong> valorização da natureza, novas estratégias <strong>de</strong> reapropriação dos processos<br />

produtivos e novos sentidos que mobilizem e reorganizem a socieda<strong>de</strong>‖ (LEFF, 2001, p. 75;<br />

PORTO-GONÇALVES, 2006).<br />

O presente trabalho surge diante da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>bater e divulgar possíveis alternativas<br />

ao atual mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento baseado em uma ciência econômica limitada e incoerente com<br />

os limites ambientais e relações sociais. Nesse sentido, objetiva-se montar um breve panorama<br />

histórico dos problemas ambientais que apontam para um cenário <strong>de</strong> crise nos ambientes rural e<br />

urbano. E, por fim, apontar possíveis direcionamentos para o enfrentamento da crise levando em<br />

consi<strong>de</strong>ração as dimensões sociais e ambientais tanto objetivas como subjetivas.<br />

Panorama da Crise Ambiental na Interligação Rural-Urbano na Contemporaneida<strong>de</strong><br />

A relação entre o campo e a cida<strong>de</strong> muitas vezes é vista baseada em uma dicotomia que dá<br />

ao campo sinônimo <strong>de</strong> atraso, local on<strong>de</strong> predominam ativida<strong>de</strong>s agrícolas por excelência; enquanto<br />

as cida<strong>de</strong>s representam tudo que é mo<strong>de</strong>rno, on<strong>de</strong> tudo acontece. Essa tipologia acaba por transmitir<br />

a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que o campo <strong>de</strong>ve estar subordinado a cida<strong>de</strong> e aos efeitos da sua reprodução (SILVA,<br />

2012 - TARCÍSIO; LEFEBVRE, 2004).<br />

Do ponto <strong>de</strong> vista das ativida<strong>de</strong>s econômicas, o campo não po<strong>de</strong> ser visto exclusivamente<br />

como agricultura e pecuária, nem a cida<strong>de</strong> ape<strong>nas</strong> como ativida<strong>de</strong> industrial. Apesar <strong>de</strong> haver uma<br />

diferenciação entre trabalho rural e urbano, eles <strong>de</strong>vem ser vistos <strong>de</strong> modo interligado, formando<br />

um todo único e indissociável (SANTOS, 1997; ROSSINI, 2009).<br />

1180


Nos dias atuais, apesar das diferenciações, está cada vez mais difícil <strong>de</strong>limitar o que é campo<br />

e o que é cida<strong>de</strong>. A cida<strong>de</strong> está, cada vez mais, invadindo o campo na busca <strong>de</strong> espaço para<br />

<strong>de</strong>senvolver suas ativida<strong>de</strong>s, modificando o modo <strong>de</strong> vida do camponês, assim como suas<br />

ativida<strong>de</strong>s.<br />

Andra<strong>de</strong> (1995) <strong>de</strong>staca diferentes formas <strong>de</strong> influência que o meio urbano exerce sobre o<br />

rural, contribuindo para <strong>de</strong>struição da vida camponesa, entre elas: a facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso às<br />

informações (como o uso do rádio <strong>de</strong> pilha e televisão) que fez com que certos valores e hábitos<br />

interioranos fossem se modificando, influenciados por hábitos e valores urbanos; os meios <strong>de</strong><br />

comunicação que levam ao camponês os problemas urbanos e contribuem para uma uniformização<br />

dos costumes e do modo <strong>de</strong> falar por meio, por exemplo, dos programas televisivos; e a inserção do<br />

camponês no mercado levando-o a adquirir informações sobre os produtos comercializados <strong>nas</strong><br />

cida<strong>de</strong>s gerando a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> diversificar o seu consumo.<br />

Segundo Gehlen (2010), ―o processo <strong>de</strong> urbanização vem ―rompendo‖ ou ―pressionando‖ os<br />

limites políticos dos distritos e municípios politicamente <strong>de</strong>finidos do seu entorno, engolfando a<br />

produção pecuária, causando o abandono <strong>de</strong> outras ativida<strong>de</strong>s agrícolas e levando a uma<br />

<strong>de</strong>terioração do meio ambiente‖.<br />

Por volta do século XVI a redução da produção agrícola em <strong>de</strong>trimento a produção<br />

industrial, caracterizando o que Lefebvre (2004) chama <strong>de</strong> cida<strong>de</strong> industrial, associada ao<br />

capitalismo em expansão, provocou uma intensa migração do camponês para as cida<strong>de</strong>s a procura<br />

<strong>de</strong> novas oportunida<strong>de</strong>s, contribuindo para a formação <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s concentrações urba<strong>nas</strong>.<br />

A partir da década <strong>de</strong> 1950, o processo industrial brasileiro foi acelerado <strong>de</strong>vido à<br />

intensificação da política <strong>de</strong>senvolvimentista, durante o governo <strong>de</strong> Juscelino Kubitscheck. Além<br />

das dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> importação ocasionadas pela Primeira e Segunda Guerra Mundial, maiores<br />

investimentos no setor industrial contribuíram para o aumento da população urbana. Mais do que a<br />

própria industrialização, a migração rural-urbana foi causada principalmente pela estrutura fundiária<br />

concentradora e as péssimas condições <strong>de</strong> vida do campo (SOUZA, 2009).<br />

Na região Nor<strong>de</strong>ste, o processo <strong>de</strong> industrialização trouxe novos investimentos à produção<br />

açucareira e novas terras foram incorporadas ao latifúndio <strong>de</strong> cultivo da cana. Os camponeses,<br />

contudo, per<strong>de</strong>ram suas terras e suas lavouras <strong>de</strong> subsistência, <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> produzir parte da sua<br />

alimentação. ―Como <strong>de</strong> costume, a expansão expandiu a fome‖ (GALEANO, 1983). Trabalhadores<br />

rurais <strong>de</strong>ixaram, em massa, suas terras para avigorar as forças operárias dos centros urbanos e/ou a<br />

categoria do trabalho informal ou do chamado subemprego.<br />

A respeito <strong>de</strong>ssa migração em direção aos centros urbanos, para Santos (1997) quando o<br />

camponês vai para a cida<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>, certamente, <strong>de</strong>ixar para trás uma cultura herdada para se<br />

encontrar com uma outra. Ainda segundo o referido autor ―quando o homem se <strong>de</strong>fronta com um<br />

1181


espaço que não ajudou a criar, cuja história <strong>de</strong>sconhece, cuja memória lhe é estranha, esse lugar é a<br />

se<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma vigorosa alienação‖ (SANTOS, 1997, p. 222).<br />

Na década <strong>de</strong> 60 a população brasileira era em sua maioria rural, representando cerca <strong>de</strong><br />

55.3% da população total – contra 44,7% <strong>de</strong> população urbana – aproximadamente 10 anos <strong>de</strong>pois<br />

observa-se o oposto, 55,9% da população passa a ser urbana (ROLNICK, 2002). De acordo com<br />

censo 2010 do IBGE (Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia Estatística), 84,2% da população brasileira<br />

está residindo em área urbana. Isso significa que nesse período as cida<strong>de</strong>s receberam<br />

aproximadamente mais 160 milhões <strong>de</strong> habitantes. Essa migração para as cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sruraliza o<br />

camponês sem fazê-lo adquirir o hábito do trabalhador urbano, passando a formar populações<br />

marginalizadas, vivendo as margens da socieda<strong>de</strong>. Diante disso, a população cresceu sem que as<br />

cida<strong>de</strong>s estivessem preparadas para aten<strong>de</strong>r as suas necessida<strong>de</strong>s, originando diversos problemas <strong>de</strong><br />

moradia, saneamento e saú<strong>de</strong> pública. Na verda<strong>de</strong>, esse crescimento urbano na ausência <strong>de</strong> um<br />

planejamento a<strong>de</strong>quado trata-se, muito mais <strong>de</strong> uma inchação do que <strong>de</strong> um crescimento<br />

(ANDRADE, 1995) - A questão do território no Brasil.<br />

Embora o crescimento do número <strong>de</strong> habitantes <strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s tenha se intensificado,<br />

principalmente a partir da década <strong>de</strong> 1950, uma política nacional urbana só surge no país após quase<br />

quatro décadas, quando a proporção da população que residia <strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s já beirava os 75%. No<br />

entanto, as <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns no crescimento urbano, e consequentes problemas ambientais, não são<br />

suficientemente explicados pelo <strong>de</strong>senvolvimento tardio <strong>de</strong> políticas urba<strong>nas</strong> ou sua ineficiência.<br />

Tais problemas são, principalmente, reflexos <strong>de</strong> uma estrutura social hierarquizada e <strong>de</strong> uma<br />

economia baseada na concentração <strong>de</strong> terras e dos meios <strong>de</strong> produção.<br />

A própria ocupação e organização das capitais brasileiras ocorreram baseadas em<br />

<strong>de</strong>sequilíbrios, que aglutinavam problemas não ape<strong>nas</strong> <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m ambiental, como a ocupação<br />

<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada, o aterro fluvial e o <strong>de</strong>smatamento como também <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m social e simbólica, como as<br />

péssimas condições <strong>de</strong> vida dos negros e a própria estratificação das camadas sociais.<br />

De fato, as políticas econômicas dos últimos 40 anos, da Ditadura militar e ao próprio<br />

neoliberalismo dos primeiros governos <strong>de</strong>mocráticos pós-64, con<strong>de</strong>nsavam as camadas populares<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma estrutura com pouca mobilida<strong>de</strong> econômica, ao mesmo tempo em que não havia, <strong>nas</strong><br />

cida<strong>de</strong>s, as reformas urba<strong>nas</strong> necessárias para receber o contingente <strong>de</strong> migrantes que,<br />

constantemente, chegavam à cida<strong>de</strong> em busca <strong>de</strong> melhores condições <strong>de</strong> vida.<br />

A associação <strong>de</strong> três fatores - a falta <strong>de</strong> condições <strong>de</strong> emprego digno, associada à falta <strong>de</strong><br />

uma ampla reforma urbana e à concentração <strong>de</strong> terras - contribuíram <strong>de</strong>cisivamente para o<br />

aparecimento em massa <strong>de</strong> favelas <strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s brasileiras. Não coinci<strong>de</strong>ntemente esses aglomerados<br />

urbanos são compostos principalmente pelos expropriados rurais, exilados dos latifúndios, e os<br />

negros, ex-escravos, que ―órfãos‖ da Lei Áurea não eram acolhidos no sistema econômico em<br />

1182


virtu<strong>de</strong> do preconceito histórico implementado por quase quatro séculos <strong>de</strong> racismo legitimado.<br />

Assim, as favelas no Brasil crescem, à cada crise econômica ou a cada novo hectare <strong>de</strong> terra<br />

invadida pela cana. Novas levas <strong>de</strong> ―Severinos‖, no dizer <strong>de</strong> João Cabral <strong>de</strong> Melo Neto (2000)<br />

migram em busca <strong>de</strong> condições <strong>de</strong> vida digna e findam encontrando <strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s, um sistema<br />

econômico que oferece para eles emprego ―informal‖ e moradia <strong>nas</strong> áreas mais vulneráveis como<br />

áreas sujeitas a inundações, próximas a lixões e áreas <strong>de</strong> risco.<br />

Essas <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s persistem <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o período colonial, visto que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> início da<br />

colonização as terras brasileiras são proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma minoria. As sesmarias do período colonial<br />

e o aforo <strong>de</strong> terras da república foram instrumentos <strong>de</strong> manutenção <strong>de</strong> oligarquias que se mantém<br />

estruturadas até hoje. O acesso a terras tanto rurais quanto urba<strong>nas</strong> ainda é muito restrito. Mais<br />

especificamente sobre as áreas urba<strong>nas</strong>: a concentração <strong>de</strong> terras <strong>nas</strong> mãos <strong>de</strong>ssas oligarquias<br />

<strong>de</strong>termina quem são os beneficiários das políticas urba<strong>nas</strong> ao mesmo tempo em que <strong>de</strong>limitam os<br />

piores ambientes da cida<strong>de</strong> para o assentamento habitacional dos mais pobres.<br />

Acerca <strong>de</strong>ssas <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s, Andra<strong>de</strong> (1997) afirma que a pobreza no Nor<strong>de</strong>ste não é<br />

resultado da inexistência <strong>de</strong> recursos, nem da incapacida<strong>de</strong> da população, mas sim <strong>de</strong> um governo<br />

profundamente concentrador que age em benefício <strong>de</strong> um grupo dominante em <strong>de</strong>trimento dos mais<br />

pobres ou em fase <strong>de</strong> ocupação, portanto, faz-se necessário uma mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> que tenha<br />

compromisso com a eliminação da miséria e com a preservação ambiental, contrapondo-se a atual<br />

mo<strong>de</strong>rnização injusta e dolorosa.<br />

O “Saber Ambiental” como Alternativa à Degradação Socioambiental<br />

Uma mudança na atual socieda<strong>de</strong> capitalista exige a busca <strong>de</strong> novos paradigmas, que não<br />

tenha no crescimento econômico e na mo<strong>de</strong>rnização concentradora um sinônimo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento e que consi<strong>de</strong>re os diferentes saberes em <strong>de</strong>trimento da homogeneização<br />

dominante. É indispensável a criação <strong>de</strong> políticas públicas que realmente venham para aten<strong>de</strong>r as<br />

<strong>de</strong>mandas <strong>de</strong> grupos menos favorecidos em <strong>de</strong>trimento aquelas que, direta ou indiretamente,<br />

aten<strong>de</strong>m as necessida<strong>de</strong>s da classe dominante. Há a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> políticas, por exemplo, que<br />

criem condições ao agricultor <strong>de</strong> se manter no campo, realizando as suas ativida<strong>de</strong>s tradicionais, e<br />

não migrando para centros urbanos para viverem <strong>nas</strong> periferias, à margem da socieda<strong>de</strong>; assim<br />

como políticas urba<strong>nas</strong> <strong>de</strong> reor<strong>de</strong>namento territorial objetivando reduzir a fragmentação do espaço<br />

urbano e garantindo a todos o <strong>de</strong>vido direito à cida<strong>de</strong>.<br />

A racionalida<strong>de</strong> científica hegemônica associada à racionalida<strong>de</strong> econômica e a<br />

racionalida<strong>de</strong> jurídica legitima certas formas <strong>de</strong> acesso, proprieda<strong>de</strong> e exploração dos recursos<br />

naturais, justamente aquelas formas que culminam na atual <strong>de</strong>gradação socioambiental (LEFF,<br />

1183


2006). Deste modo, o autor vai <strong>de</strong>senvolver o conceito <strong>de</strong> um Saber Ambiental o qual diz respeito a<br />

uma reorientação o <strong>de</strong>senvolvimento do conhecimento em três níveis: a aplicação <strong>de</strong> saberes<br />

científicos através <strong>de</strong> <strong>de</strong>mandas sociais; elaboração <strong>de</strong> um conhecimento integrado através <strong>de</strong><br />

métodos interdisciplinares e <strong>de</strong> sistemas complexos; a problematização <strong>de</strong> paradigmas teóricos <strong>de</strong><br />

diferentes ciências, <strong>de</strong>terminando reelaboração <strong>de</strong> conceitos. O que significaria a construção <strong>de</strong><br />

novas bases epistemológicas.<br />

É possível afirmar que as bases epistemológicas das quais nos fala Leff (2006) não estão por<br />

serem construídas, mas se encontram em <strong>de</strong>senvolvimento, especialmente a partir dos movimentos<br />

sociais e ambientais que se tornam emergentes <strong>nas</strong> décadas <strong>de</strong> 1950-60. No entanto, uma<br />

reorientação no projeto <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento adotado hegemonicamente só po<strong>de</strong> fazer sentido se<br />

posto em exercício, quer dizer, se assimilado pelas práticas cotidia<strong>nas</strong>. Assim, a crise<br />

socioambiental se acentua não por falta <strong>de</strong> conhecimento ou <strong>de</strong> novas bases epistemológicas, mas<br />

por uma <strong>de</strong>sconexão entre as práticas <strong>de</strong> produção e acumulação e o conhecimento já <strong>de</strong>senvolvido.<br />

A questão é, portanto, estrutural. A própria formação do Estado burguês está baseada no<br />

processo <strong>de</strong> acumulação, na proprieda<strong>de</strong> privada e na hierarquização social. Na medida em que as<br />

forças do Estado estão voltados para assegurar a continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tal mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento o<br />

conhecimento científico socioambientalmente coerente tem o seu po<strong>de</strong>r transformador arrefecido.<br />

A internalização das i<strong>de</strong>ias apresentadas por uma racionalida<strong>de</strong> ambiental no cotidiano<br />

prático da vida social <strong>de</strong>manda, necessariamente, uma apropriação <strong>de</strong>stas i<strong>de</strong>ias por parte das<br />

políticas públicas. É sabido, no entanto, que a <strong>de</strong>finição das políticas está condicionada a estruturas<br />

administrativas, jurídicas e legislativas que se <strong>de</strong>senvolveram, por sua vez, <strong>de</strong>ntro da mesma<br />

racionalida<strong>de</strong> científica que culminou na racionalida<strong>de</strong> econômica atual. Deste modo, é necessário<br />

compreen<strong>de</strong>r que uma nova constituição social <strong>de</strong>ve estar associada a uma profunda mudança<br />

também nos paradigmas administrativo, jurídico e legislativo. Analisar as diferentes dimensões nos<br />

processos <strong>de</strong> formulação das políticas, sejam elas ambientais, sociais ou econômicas, po<strong>de</strong> oferecer<br />

indicativos e suportes teóricos nos processos <strong>de</strong> mudanças epistemológicas.<br />

Uma nova racionalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve estar internalizada tanto no nível das estruturas políticas e<br />

jurídica; no processos <strong>de</strong> participação e representação popular; como no nível mais material do<br />

conteúdo das políticas. No entanto, além do caráter participativo das políticas ambientais, <strong>de</strong>vem<br />

estar inseridas as dimensões <strong>de</strong> subjetivida<strong>de</strong>, como noção <strong>de</strong> pertencimento, territorialida<strong>de</strong> e<br />

afeto; aspectos culturais, os quais também constituem parte <strong>de</strong> uma nova epistemologia ambiental.<br />

As políticas voltadas à <strong>de</strong>mocratização <strong>de</strong> uso da terra, no entanto, <strong>de</strong>vem trazer consigo tais<br />

dimensões do ambiente, normalmente esquecido ou ignorado pela racionalida<strong>de</strong> cientificista<br />

hegemônica. Superar o entendimento <strong>de</strong> espaço meramente como recurso, vendo-o também como<br />

um local <strong>de</strong> relações, vínculo, afeto e pertencimento é um <strong>de</strong>safio ambiental, social e político. Vale<br />

1184


salientar, que a participação é trazida aqui sob a forma <strong>de</strong> um diálogo interminável, on<strong>de</strong> os atores<br />

sociais criam uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> coletiva que ―envolve a crença <strong>de</strong> que quando as pessoas se abrem<br />

umas com as outras, cria-se um tecido que as mantém unidas‖ (THEODORO, 2005, p. 49).<br />

Nesse sentido, Lefebvre (2010) vai falar da construção do ambiente urbano e rural em sua<br />

dimensão <strong>de</strong> ―obra‖, superando a forma <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r o espaço meramente como ―produto‖. A<br />

dimensão ―Obra‖ diz respeito a um espaço construído e vivido coletivamente cheio <strong>de</strong> significados<br />

<strong>de</strong> dimensões subjetivas, construído historicamente. Leff (2006), afirma que por meio do saber<br />

ambiental criam-se mecanismos para: reconhece as potencialida<strong>de</strong>s do real, além <strong>de</strong> incorporar<br />

valores e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s no saber; <strong>de</strong> interiorizar as condições <strong>de</strong> subjetivida<strong>de</strong> do ser; conduz ao<br />

reposicionamento do ser através do saber; gera o inédito no encontro com a alterida<strong>de</strong>; é oposto a<br />

todo e qualquer princípio homogeneizante, a todo conhecimento unitário, a toda globalida<strong>de</strong><br />

totalizadora. Finalmente, o Saber ambiental proporcionaria uma reapropriação social da natureza<br />

gerando novos territórios <strong>de</strong> ação política.<br />

Consi<strong>de</strong>rações Finais<br />

Superar a visão <strong>de</strong> ambiente predominantemente como produto bem como a reapropriação<br />

social da natureza (LEFF, 2006) e participação política levaria a uma reestruturação profunda do<br />

papel do Estado e um redirecionamento dos interesses contidos em sua dimensão legislativa,<br />

executiva e judiciária. A aplicação das idéias da "racionalida<strong>de</strong> ambiental" na pauta das políticas<br />

públicas (consi<strong>de</strong>rando a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cultural, as relações <strong>de</strong> pertencimento e a formação <strong>de</strong><br />

territorialida<strong>de</strong>s associado ao espaço), seria capaz <strong>de</strong> direcionar o caráter teórico do conceito <strong>de</strong><br />

racionalida<strong>de</strong> ambiental às práticas das políticas (urba<strong>nas</strong>, econômicas, rurais), como forma <strong>de</strong><br />

minimizar os efeitos da fragmentação rural-urbana, assim como as suas consequências nocivas.<br />

A estrutura Estatal, política e econômica que observamos hoje se <strong>de</strong>senvolveu a partir <strong>de</strong> um<br />

contexto histórico e <strong>de</strong> uma racionalida<strong>de</strong> científica. Contudo, tais estruturas são tencionadas na<br />

medida em que seus efeitos negativos sobre o mundo cotidiano se explicitam. As questões<br />

territoriais no campo e na cida<strong>de</strong>, a <strong>de</strong>gradação ambiental, perda da diversida<strong>de</strong> cultural e biológica<br />

além <strong>de</strong> tantos outros efeitos negativos trazem a tona os limites <strong>de</strong>sta dada racionalida<strong>de</strong>. Um novo<br />

contexto social e ambiental <strong>de</strong>manda novas formas <strong>de</strong> se relacionar com o mundo. Neste sentido, a<br />

mudança <strong>de</strong> paradigmas científicos e econômicos é mais que uma questão teórica, é uma <strong>de</strong>manda<br />

do nosso tempo.<br />

Referências<br />

1185


ANDRADE, M. C. A Questão do Território no Brasil. São Paulo: HUCITEC, 1995.<br />

______________. A Geografia e a Questão Social. Recife: Editora Universitária da UFPE, 1997.<br />

BAUMAN, Zygmunt. Mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> Líquida. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Jorge Zahar, 2001.<br />

BECK, Ulrich. Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Risco: rumo a uma outra mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. São Paulo: 34, 2010.<br />

CAVALCANTI, Clóvis (org). Desenvolvimento e Natureza: estudos para uma socieda<strong>de</strong><br />

sustentável. 3a ed. São Paulo. Cortez; Recife-PE: Fundação Joaquim Nabuco, 2001.<br />

GALEANO, Eduardo. As Veias Abertas da América Latina. 16. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Paz e Terra,<br />

1983.<br />

GEHLEN, Vitória. Para Além dos Limites do Urbano: áreas peri-urba<strong>nas</strong> e questão ambiental. In<br />

Ca<strong>de</strong>rnos CERU São Paulo, série 2, v. 21, n. 1, jun. 2010.<br />

LEFEBVRE, Henri. O Direito à Cida<strong>de</strong>. 3. ed. São Paulo: Centauro, 2004.<br />

LEFF, Enrique. Racionalida<strong>de</strong> Ambiental: a reapropriação social da natureza. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Civilização Brasileira, 2006.<br />

LEFF, Enrique. Saber Ambiental: sustentabilida<strong>de</strong>, racionalida<strong>de</strong>, complexida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>r. 6. ed. Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro: Vozes, 2008.<br />

MELO NETO, João Cabral <strong>de</strong>. Morte e <strong>Vida</strong> Severina. In: MELO NETO, João Cabral <strong>de</strong>. Morte e<br />

<strong>Vida</strong> Severina e Outros Poemas Para Vozes. 4. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 2000.<br />

PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter. A Globalização da Natureza e a Natureza da<br />

Globalização. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Civilização Brasileira, 2006<br />

ROLNIK, Raquel. Estatuto da Cida<strong>de</strong>: guia para implementação pelos municípios e cidadãos.<br />

Brasília, Instituto Pólis/Câmara dos Deputados, 2005.<br />

ROSSINI, Rosa Ester. A Produção do Novo Espaço Rural: pressupostos gerais para compreensão<br />

dos conflitos sociais no campo. In: Campo-território: Revista <strong>de</strong> Geografia Agrária, v. 4, n. 8, p. 5-<br />

28, ago. 2009.<br />

SANTOS, M. A Natureza do Espaço. Técnica e Tempo. Razão e Emoção. 2º<br />

Edição. São Paulo: Hucitec, l997.<br />

SILVA, Tarcísio Augusto Alves da; Os Conflitos Socioambientais sob a Lógica da Dicotomia<br />

Rural-Urbano. In GEHLEN, Vitória Régia Fernan<strong>de</strong>s; LAINÉ, Pilar Carolina Villar (Org.)<br />

Costurando com Fios Invisíveis: a fragmentação do território rural. 1. ed. Recife: Ed. Universitária<br />

UFPE, 2012.<br />

SOUZA, M. V. Políticas Públicas e Espaço Urbano Desigual: favela Jardim Maravilha (SP).<br />

Estudos Avançados <strong>Vol</strong>. 24 (68), 2010. No trabalho está 2009.<br />

THEODORO, Suzi Huff et al. Mediação <strong>de</strong> Conflitos Socioambientais no Brasil. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Garamond, 2005.<br />

1186


Resumo<br />

AS REPRESENTAÇÕES SÓCIOAMBIENTAIS<br />

DOS AGENTES AMBIENTAIS ACERCA DO TRABALHO 135<br />

Sandra Maria Guisso<br />

sguisso@gmail.com<br />

Este texto analisa, na perspectiva das representações sociais, as narrativas dos agentes ambientais<br />

acerca do trabalho. Os discursos foram retirados <strong>de</strong> entrevistas com os agentes ambientais <strong>de</strong> três<br />

municípios da região serrana do Espírito Santo. A discussão proposta é estabelecer conexão dos<br />

discursos com a teoria das representações sociais, fundamentando as discussões em Moscovici e<br />

outros autores.<br />

Palavras chave: Representações Sociais; Preconceito, Trabalho; Meio Ambiente; Lixo.<br />

Abstract<br />

This text analyzes, from the perspective of social representations, the narratives of the<br />

environmental agents about the work. The speeches were taken from interviews with environmental<br />

agents of three municipalities in the mountainous region of Espírito Santo. The discussion is<br />

proposed to connect the speeches with the theory of social representations, basing the discussions<br />

on Moscovici and other authors.<br />

Keywords: social representations; Prejudice, Work; Environment; Trash.<br />

Introdução<br />

Gid<strong>de</strong>ns (1991) <strong>de</strong>staca o império da razão e da técnica como os pontos principais <strong>nas</strong><br />

discussões a respeito da socieda<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna e ressalta a configuração <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong><br />

individualista e as suas conseqüências para a humanida<strong>de</strong>.<br />

A socieda<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna <strong>de</strong>finida como individualista, na qual a premissa é a produção e o<br />

consumo <strong>de</strong> bens cada vez mais elaborados para aten<strong>de</strong>r aos anseios dos consumidores e justificar<br />

135 Doutoranda do Programa <strong>de</strong> Pós Graduação em Psicologia da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Espírito Santo. A pesquisa foi<br />

apoiada pela CAPES.<br />

1187


os ganhos cada vez maiores. É interessante analisar que nesta socieda<strong>de</strong> exigente e ansiosa por<br />

novida<strong>de</strong>s, as pessoas são comparadas a uma moeda, com maior ou menor valor, ou seja, elas<br />

adquirem um valor monetário, um exemplo disso é a venda da força <strong>de</strong> trabalho.<br />

Dessa forma, a mão-<strong>de</strong>-obra terá valor <strong>de</strong> acordo com a necessida<strong>de</strong> do mercado e <strong>de</strong> acordo<br />

com a <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> trabalhadores oferecidos pela socieda<strong>de</strong>. Cria-se então uma divisão <strong>de</strong> classes na<br />

socieda<strong>de</strong>: os compradores <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra e os ven<strong>de</strong>dores da mesma.<br />

Neste contexto, é importante ressaltar que para aqueles que comercializam a sua mão-<strong>de</strong>-<br />

obra, muitas vezes, para garantir a sobrevivência, sobra somente á resignação e o comum acordo <strong>de</strong><br />

permanecer no mercado <strong>de</strong> trabalho.<br />

Essa visão em relação á importância da mão-<strong>de</strong>-obra e ao mesmo tempo a <strong>de</strong>svalorização do<br />

ser humano (<strong>de</strong>tentor da mesma), que não teve as oportunida<strong>de</strong>s, leva a questionamentos na relação<br />

trabalho-trabalhador.<br />

De acordo com Marx (1996), o homem agrega valor a matéria prima a partir do momento<br />

que ele usa a sua força <strong>de</strong> trabalho e produz o material <strong>de</strong> consumo. Apesar disso, as novas<br />

tecnologias que vieram associadas á mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> proporcionaram riqueza para alguns e pobreza<br />

para muitos, pois apesar da força <strong>de</strong> trabalho ser fundamental para valorizar os produtos<br />

consumidos, ela também exige uma qualificação que parte significativa da população não tem<br />

acesso, gerando <strong>de</strong>ssa forma, além do problema <strong>de</strong> empregos que pagam baixos salários, há ainda o<br />

problema do <strong>de</strong>semprego.<br />

Essa organização individualista da socieda<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna proporcionou a criação <strong>de</strong> nichos <strong>de</strong><br />

trabalhadores que para sobreviver recorreram a informalida<strong>de</strong>, fazendo surgir e proliferar uma<br />

estatística não contabilizada nos registros formais (MARX, 1996).<br />

Essa população que hoje incha o mercado <strong>de</strong> trabalho informal, em sua maioria, é<br />

proveniente do campo, que com a expansão das ativida<strong>de</strong>s industriais <strong>nas</strong> gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s,<br />

vislumbrou a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ganhos ―mais fáceis‖ <strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s. No entanto, as ativida<strong>de</strong>s<br />

industriais não foram suficientes para absorver toda a mão-<strong>de</strong>-obra disponível nos centros urbanos.<br />

A falta <strong>de</strong> qualificação profissional e <strong>de</strong> postos <strong>de</strong> trabalho proporcionou o surgimento <strong>de</strong> um nicho<br />

populacional marginal que passou a habitar as franjas da periferia. Para este nicho populacional<br />

restou ape<strong>nas</strong> profissões alternativas e ou ignoradas aliadas a total falta <strong>de</strong> direitos elementares,<br />

como alimentação, saú<strong>de</strong> e moradia.<br />

Como <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> Filho (2007) as novas tecnologias são muito importantes para o processo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento mundial, o que é questionável é o mo<strong>de</strong>lo adotado pela socieda<strong>de</strong> na utilização<br />

<strong>de</strong>ssas tecnologias, que as fazem <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar um dinamismo exclu<strong>de</strong>nte sem prece<strong>de</strong>ntes. Esse<br />

processo <strong>de</strong> exclusão social endêmico a socieda<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna passa necessariamente pela falta <strong>de</strong><br />

1188


planejamento social, político e econômico. Wan<strong>de</strong>rley discorre a respeito disso quando <strong>de</strong>staca<br />

René Lenoir como um dos precursores <strong>nas</strong> discussões a respeito da exclusão social:<br />

Dentre suas causas <strong>de</strong>stacava o rápido e <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nado processo <strong>de</strong> urbanização, a<br />

inadaptação e uniformização do sistema escolar, o <strong>de</strong>senraizamento causado pela<br />

mobilida<strong>de</strong> profissional, as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> renda e <strong>de</strong> acesso aos serviços<br />

(WANDERLEY, 2004, p.17).<br />

São vários os fatores que combinados propiciam a exclusão social, <strong>de</strong>stes além do êxodo<br />

rural, as novas tecnologias e ainda a falta <strong>de</strong> qualificação da mão-<strong>de</strong>-obra são <strong>de</strong>terminantes para o<br />

afastamento <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> trabalhadores dos postos formais <strong>de</strong> trabalho. Ocorre que em muitos<br />

casos existem vagas e não há mão-<strong>de</strong>-obra especializada para as ocuparem. De qualquer forma, é<br />

importante ficarmos atentos a outra forma <strong>de</strong> exclusão, <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ada e mantida pelas restrições<br />

impostas no mundo do trabalho, que é a exclusão cultural (WANDERLEY, 2004). Essa exclusão<br />

não se restringe a países pobres, mas é claro que em países em <strong>de</strong>senvolvimento como o Brasil, as<br />

conseqüências são inúmeras, trazendo gran<strong>de</strong>s prejuízos sociais e econômicos ao país. Diante <strong>de</strong>sse<br />

quadro social a catação constitui-se como a única oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses trabalhadores garantirem a<br />

sobrevivência (ROCHA, 2004).<br />

De acordo com Legaspe (1996), a população, que vive da catação, o faz <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> esgotar<br />

todas as formas <strong>de</strong> trabalho, quando nem o trabalho braçal é aceito, encontra no que a socieda<strong>de</strong><br />

chama <strong>de</strong> lixo, a última esperança <strong>de</strong> vida.<br />

A socieda<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna caracterizada pelo consumo excessivo <strong>de</strong>scarta o que consi<strong>de</strong>ra inútil em<br />

termos materiais e sociais. O lixo produzido através do consumo é tido como algo externo aos que o<br />

produzem, gerando estranhamento da socieda<strong>de</strong> para com quem vive <strong>de</strong>sse lixo. Em relação ao<br />

fenômeno da exclusão, Wan<strong>de</strong>rley (2004, p. 17-18) discorre:<br />

[...] existem valores e representações do mundo que acabam por excluir as<br />

pessoas. Os excluídos não são simplesmente rejeitados física, geográfica ou<br />

materialmente, não ape<strong>nas</strong> do mercado e <strong>de</strong> suas trocas, mas <strong>de</strong> todas as riquezas<br />

espirituais, seus valores não são reconhecidos, ou seja, há também uma exclusão<br />

cultural.<br />

Para Bursztyn (2000) no Brasil, o catador <strong>de</strong> lixo é mal incluído economicamente e<br />

excluído socialmente. De acordo com o autor eles fazem parte <strong>de</strong> um nicho organizacional sem os<br />

direitos básicos, como saú<strong>de</strong>, alimentação, moradia e muitas vezes as condições <strong>nas</strong> quais eles se<br />

encontram os limitam até no direito <strong>de</strong> ir e vir.<br />

Muitas vezes na tentativa <strong>de</strong> diminuir as distâncias sociais e econômicas alguns subsídios<br />

são oferecidos a essa população, na forma <strong>de</strong> ajuda financeira para suprir algumas necessida<strong>de</strong>s<br />

1189


ásicas e imediatas, mas é importante ressaltar como diz Sawaia (2004, p.08) que<br />

A socieda<strong>de</strong> exclui para incluir e essa transmutação é condição da or<strong>de</strong>m social<br />

<strong>de</strong>sigual, o que implica o caráter ilusório da inclusão. Todos estamos inseridos <strong>de</strong><br />

algum modo, nem sempre <strong>de</strong>cente e digno, no circuito reprodutivo das ativida<strong>de</strong>s<br />

econômicas, sendo a gran<strong>de</strong> maioria da humanida<strong>de</strong> inserida através da<br />

insuficiência e das privações, que se <strong>de</strong>sdobram para fora do econômico.<br />

Neste processo é fundamental conscientizar que do outro lado do lixo, há um outro, um<br />

catador, que sobrevive dos resíduos e que o utiliza como fonte <strong>de</strong> renda, mas muitas vezes é<br />

através <strong>de</strong>le que a socieda<strong>de</strong> consegue ver o lado obscuro do crescimento econômico sem<br />

planejamento social, o que muitas vezes gera <strong>de</strong>sconforto e aversão por parte <strong>de</strong> quem<br />

simplesmente assiste a essa parcela da população lutar para sobreviver (CATALÃO, 2003). O mais<br />

interessante <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> voltada para o consumo é que a mesma tem muita dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> ver<br />

o outro. Em relação á cegueira social Maturana (2000), discorre que se não vemos o outro como<br />

um outro legítimo então não nos importamos com ele.<br />

É importante ressaltar que além da cegueira social a socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> consumo também<br />

<strong>de</strong>senvolve a cegueira ambiental, acreditando que a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suporte <strong>de</strong> poluição do planeta é<br />

infinita. Esta crise <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação ambiental, risco <strong>de</strong> colapso ecológico e o avanço da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong><br />

e da pobreza, veio questionar a racionalida<strong>de</strong> e os paradigmas teóricos que impulsionaram e<br />

legitimaram o crescimento econômico negando a natureza e a criativida<strong>de</strong> humana.<br />

Neste artigo buscou-se analisar os discursos dos agentes ambientais <strong>de</strong> três municípios da<br />

região serrana do Espírito Santo acerca do trabalho. Para a compreensão das narrativas utilizou-se a<br />

teoria das representações sociais, a qual constitui-se em um processo <strong>de</strong> compreensão e<br />

comunicação daquilo que nós já sabemos (MOSCOVICI, 2007). Dessa forma a representação social<br />

po<strong>de</strong>ria ser <strong>de</strong>finida como: ―Uma modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecimento, socialmente elaborada e partilhada,<br />

com um objetivo prático e contribuindo para a construção <strong>de</strong> uma realida<strong>de</strong> comum a um conjunto<br />

social‖ (JODELET apud VALA, 1997, p. 354).<br />

Procedimentos Metodológicos<br />

- Participantes<br />

Participaram <strong>de</strong>ste estudo 13 pessoas com ida<strong>de</strong>s variando <strong>de</strong> 24 à 68 anos, <strong>de</strong> três<br />

municípios da região serrana do Espírito Santo. Estes sujeitos foram <strong>de</strong>signados como agentes<br />

ambientais, pois todos trabalhavam com a manipulação <strong>de</strong> resíduos sólidos. Foi utilizada a técnica<br />

<strong>de</strong> amostragem por aglomerado, por enten<strong>de</strong>r que nesta os entrevistados são escolhidos<br />

aleatoriamente e po<strong>de</strong>m indicar outras pessoas para as entrevistas, ou as que estão ao seu redor<br />

1190


(CORTES, 1994). A coleta dos dados foi iniciada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a primeira conversa com os agentes e as<br />

entrevistas foram realizadas no local <strong>de</strong> trabalho dos entrevistados visando o confronto das falas<br />

com as práticas dos mesmos (BECKER, 1999). Antes <strong>de</strong> iniciar as entrevistas foi explicado o<br />

objetivo da pesquisa dando-lhes a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> participarem ou não. Além disso, os entrevistados<br />

foram consultados a respeito da utilização do gravador para otimizar a coleta <strong>de</strong> dados. As falas dos<br />

entrevistados não foram interrompidas com o intuito <strong>de</strong> não romper o raciocínio dos mesmos,<br />

quando foi conveniente algumas perguntas foram inseridas para extrair maiores informações a<br />

respeito <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado tema.<br />

- Características dos participantes da pesquisa<br />

Homens: foram entrevistados cinco homens com ida<strong>de</strong>s entre 24 e 68 anos. Somente um não<br />

era casado e não tinha filhos. O grau <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> variou entre ensino médio completo até<br />

analfabeto funcional. Somente um <strong>de</strong>les trabalhava <strong>de</strong> carteira assinada. Neste artigo eles foram<br />

i<strong>de</strong>ntificados como M1, M2, M3, M4, M5.<br />

Mulheres: foram entrevistadas sete mulheres com ida<strong>de</strong>s entre 25 e 68 anos. Todas eram ou<br />

já tinham sido casadas e com filhos. O grau <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> variou entre 4º série e 7º série do ensino<br />

fundamental. Neste artigo elas foram i<strong>de</strong>ntificadas como F1, F2, F3, F4, F5, F6 e F7.<br />

Método<br />

Para a coleta dos dados realizou-se uma pesquisa do tipo qualitativa, na qual o método<br />

adotado foi á entrevista semi estruturada. Para análise dos dados utilizou-se a análise <strong>de</strong> conteúdo<br />

que <strong>de</strong> acordo com Puglisi e Franco (2003, p. 13) ―o ponto <strong>de</strong> partida da Análise <strong>de</strong> Conteúdo é a<br />

mensagem, seja ela verbal (oral ou escrita), gestual, silenciosa, figurativa, documental ou<br />

diretamente provocada. Necessariamente, ela expressa um significado e um sentido‖. A teoria das<br />

representações sociais, seus conceitos e pressupostos foram usados como fonte <strong>de</strong> apoio para a<br />

compreensão das narrativas dos agentes.<br />

Resultados<br />

As Representações dos Agentes sobre Trabalho, Oportunida<strong>de</strong> e Preconceito<br />

O homem apesar <strong>de</strong> ser o polidor dos materiais produzidos para abastecer o mercado não<br />

consegue, muitas vezes, se manter através do pagamento <strong>de</strong> seu próprio trabalho, fortalecendo a<br />

segregação social entre as diferentes camadas da socieda<strong>de</strong>. Dejours (1998), explica claramente essa<br />

categorização <strong>de</strong> pessoas quando coloca que a socieda<strong>de</strong> divi<strong>de</strong> a organização do trabalho e também<br />

1191


divi<strong>de</strong> os grupos <strong>de</strong> trabalhadores <strong>de</strong> acordo com as funções que eles exercem e as relações que<br />

estabelecem. Apesar da exclusão ser um fenômeno multifacetado, ela necessariamente passa pelo<br />

trabalho e este pelas oportunida<strong>de</strong>s que o indivíduo i<strong>de</strong>ntifica ao longo <strong>de</strong> sua vida.<br />

Além da sobrevivência, o trabalho tem uma função social e emocional, pois através <strong>de</strong>ssa<br />

ferramenta muitos projetos, <strong>de</strong>sejos, sonhos estão sendo mantidos, abandonados ou realizados.<br />

Dessa forma, a sua importância para a formação do sujeito é crucial, sendo muitas vezes, uma<br />

relação <strong>de</strong> realização, outras <strong>de</strong> <strong>de</strong>sprezo e humilhação. O trabalho está envolvido na construção dos<br />

sentidos, na formação da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e na forma como os sujeitos reagem diante <strong>de</strong> situações <strong>de</strong><br />

cidadania, sendo sujeitos críticos e participativos das mudanças políticas, econômicas e sociais ou<br />

simplesmente observadores <strong>de</strong>sses fenômenos (DEJOURS, 1998).<br />

Essa relação psicológica com o trabalho está presente <strong>nas</strong> narrativas dos agentes ambientais.<br />

Várias foram ás situações em que eles verbalizaram que gostavam da ativida<strong>de</strong> que exerciam,<br />

<strong>de</strong>monstraram satisfação e até gratidão pelas conquistas alcançadas através do trabalho. A seguir<br />

alguns discursos dos agentes ambientais, quando perguntados: ―O que o seu trabalho significa para<br />

você?‖<br />

“Prazer, eu gosto <strong>de</strong> trabalhar, eu não gosto <strong>de</strong> ficar em casa, eu gosto do que eu estou fazendo. Dinheiro, a<br />

gente precisa trabalhar, para ter o sustento.” (F1 39 anos, casada, três filhos, 4º série do ensino<br />

fundamental, trabalha separando lixo, para uma empresa)<br />

“Ah! Ele significa uma coisa muito boa que se fosse para eu sair daqui para ir trabalhar na roça só se for o<br />

caso <strong>de</strong> aqui fechar mesmo porque do contrário eu não largo não.” (F4 30 anos, casada, dois filhos, 4º<br />

série do ensino fundamental, trabalha separando lixo numa usina)<br />

“Eu me sinto muito bem trabalhando aqui, eu gosto <strong>de</strong> fazer esse trabalho. O meu trabalho é tudo para mim<br />

eu <strong>de</strong>pendo <strong>de</strong>le, significa tudo.” (F7 34 anos, casada, dois filhos, 5º série do ensino fundamental,<br />

trabalha separando lixo numa usina)<br />

“Esse trabalho é bem melhor. Um sonho era operar uma máquina, eu sempre tive muita vonta<strong>de</strong> e graças a<br />

Deus hoje eu sei operar uma máquina e daí se Deus quiser para melhor.” (M4 24 anos, casado, um filho,<br />

3º série ensino fundamental, trabalha separando e transportando lixo para o aterro)<br />

“Pra mim é ganhar dinheiro pra ter um futuro melhor. Com o trabalho a gente po<strong>de</strong> comprar as coisas e<br />

melhorar a vida.” (M5 30 anos, solteiro, sem filhos, ensino médio completo, trabalha coletando<br />

papel na rua).<br />

A resposta <strong>de</strong> M5 <strong>de</strong>ixou claro que o trabalho constitui-se em um meio <strong>de</strong> obtenção <strong>de</strong><br />

produtos e através <strong>de</strong>sse po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> compra limitado ele tem a impressão <strong>de</strong> que faz parte <strong>de</strong>ssa<br />

socieda<strong>de</strong> que consome. Martins (1997 apud VERÁS, 2004) alerta para o fato da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

1192


compra levar a um entendimento <strong>de</strong> que o sujeito está incluído socialmente, o que faz com que o<br />

mesmo não enxergue o abismo que há entre ele e a socieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ixando, <strong>de</strong>ssa forma, <strong>de</strong> reivindicar<br />

pela diminuição <strong>de</strong>ssas distâncias.<br />

O conformismo inerente as classes <strong>de</strong>sfavorecidas, <strong>nas</strong> quais os direitos básicos se tornam<br />

ajudas e a simples possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sobrevivência vem acompanhada <strong>de</strong> gratidão, <strong>de</strong>ixando claro<br />

que talvez nem essa ativida<strong>de</strong>, negligenciada por muitos, fosse digna <strong>de</strong>ssa população. Jo<strong>de</strong>let faz<br />

um questionamento interessante a respeito <strong>de</strong>ssa passivida<strong>de</strong> diante da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social.<br />

O que é que faz com que em socieda<strong>de</strong>s que cultuam valores <strong>de</strong>mocráticos e<br />

igualitários, as pessoas sejam levadas a aceitar a injustiça, a adotar ou tolerar<br />

frente àqueles que não são seus pares ou como eles, práticas <strong>de</strong> discriminação que<br />

os excluem? (JODELET, 2004, p. 54)<br />

É importante ressaltar que a condição <strong>de</strong>mocrática <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> é estabelecida e<br />

mantida por essa socieda<strong>de</strong>. No entanto, é espantoso ver como a <strong>de</strong>mocracia é concebida como algo<br />

externo a socieda<strong>de</strong> e que incorpora po<strong>de</strong>res surreais, ou seja, os membros <strong>de</strong>ssa socieda<strong>de</strong> não se<br />

sentem responsáveis pelo cumprimento dos princípios básicos <strong>de</strong> cidadania. Carone enten<strong>de</strong> a<br />

relação da socieda<strong>de</strong> com a <strong>de</strong>mocracia da seguinte maneira:<br />

Quando nos referimos às enormes <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais e à flagrante má<br />

distribuição <strong>de</strong> recursos no país, não parecemos nos incomodar muito, como se a<br />

<strong>de</strong>mocracia tivesse algum po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> resolver isso, ou seja, <strong>de</strong> passar da idéia <strong>de</strong><br />

igualda<strong>de</strong> para uma realização progressiva <strong>de</strong>ssa idéia, sabe-se lá como e quando<br />

(CARONE, 2004, p. 07).<br />

A construção do sujeito passa pelas experiências com o trabalho. O trabalho é um espaço <strong>de</strong><br />

construção <strong>de</strong> sentido e, portanto, <strong>de</strong> conquista <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, da continuida<strong>de</strong> e historização do<br />

sujeito. Através do trabalho o sujeito começa a enten<strong>de</strong>r o funcionamento do sistema e qual a sua<br />

função no mundo do trabalho, passa também a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r e a reagir às situações ameaçadoras. As<br />

situações <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa são fortemente singularizadas em função do passado, da história e da estrutura<br />

<strong>de</strong> personalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada sujeito (DEJOURS, 1998). As oportunida<strong>de</strong>s que os indivíduos<br />

i<strong>de</strong>ntificam ao longo da vida, são o reflexo das suas experiências sejam elas emocionais, pessoais<br />

ou coletivas e profissionais.<br />

No questionamento feito aos agentes ambientais, sobre oportunida<strong>de</strong> não foi mencionado o<br />

trabalho como uma oportunida<strong>de</strong>, mas todos associaram imediatamente a palavra oportunida<strong>de</strong> ao<br />

trabalho que estavam executando no momento. A pergunta dirigida aos agentes ambientais foi: ―O<br />

que a palavra oportunida<strong>de</strong> significa para você?‖. A seguir algumas respostas:<br />

1193


“É o que faltou. A gente está trabalhando assim porque faltou oportunida<strong>de</strong>, se tivesse tido oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

estudar com certeza estaria trabalhando em outra coisa. É porque com certeza faltou”. (F1 39 anos,<br />

casada, três filhos, 4º série do ensino fundamental, trabalha separando lixo para uma empresa)<br />

“... Como hoje eu vejo falar na televisão agora para os catadores <strong>de</strong> papel existe carteira assinada, nós não<br />

tivemos oportunida<strong>de</strong> porque eu tive que fazer abaixo assinado pra po<strong>de</strong>r trabalhar. A catação foi a única<br />

oportunida<strong>de</strong> que eu consegui na minha vida, para po<strong>de</strong>r ter o sustento...” (F3 68 anos, casada, três<br />

filhos, 7º série do ensino fundamental, trabalha catando papel na rua)<br />

“Eu tive. Tive muitas oportunida<strong>de</strong>s e essa é uma <strong>de</strong>las. Essa é uma oportunida<strong>de</strong> que eu tive e tenho.” (F5<br />

32 anos, casada, quatro filhos, 4º série do ensino fundamental, trabalha separando lixo numa usina)<br />

“Quase não tive nenhuma. Se eu tivesse tido oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estudar teria mudado tudo. Eu engravi<strong>de</strong>i e<br />

casei muito nova, tinha 17 anos, se eu tivesse tido aconselhamento a minha vida teria sido muito melhor.<br />

Esse trabalho para mim é uma oportunida<strong>de</strong> não é on<strong>de</strong> eu queria chegar mais está ótimo.‖ (F7 34 anos,<br />

casada, dois filhos, 5º série do ensino fundamental, trabalha separando lixo numa usina)<br />

“Sim. Eu aproveitei as oportunida<strong>de</strong>s. Esse trabalho por enquanto ele é uma oportunida<strong>de</strong>.” (F8 49 anos,<br />

solteira, um filho, 7º série do ensino fundamental, trabalha separando o lixo numa usina)<br />

“Antes não, agora eu tenho.” (M4 24 anos, casado, um filho, 3º série ensino fundamental, trabalha<br />

separando e levando lixo para o aterro)<br />

“Eu já tive muito, nunca precisei correr atrás <strong>de</strong> serviço, eles que me oferecem serviço não aceito para ficar<br />

trabalhando <strong>de</strong> empregado para os outros.” (M5 30 anos, solteiro, sem filhos, ensino médio completo,<br />

trabalha coletando papel na rua)<br />

Analisando as narrativas acima é possível ter a dimensão da importância do trabalho. Como<br />

através <strong>de</strong>le os sujeitos constroem suas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s, se reconhecem <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um contexto<br />

globalizado e como a falta <strong>de</strong>le no <strong>de</strong>correr da existência po<strong>de</strong> provocar lacu<strong>nas</strong> <strong>nas</strong> suas histórias.<br />

Essa representação tão intensa do trabalho associado à oportunida<strong>de</strong>, ou seja, em algum momento<br />

<strong>de</strong> sua história esse sujeito foi tolido <strong>de</strong>sse mecanismo po<strong>de</strong>roso <strong>de</strong> inclusão. Em relação a esse<br />

pensamento Carone expõe que:<br />

As iniciativas <strong>de</strong> igualar as oportunida<strong>de</strong>s para os segmentos excluídos têm sido<br />

chamadas <strong>de</strong> ‗ações afirmativas‘, cujo objetivo é tornar os muito excluídos <strong>de</strong><br />

ontem em (poucos ou muitos?) incluídos <strong>de</strong> amanhã. A igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> condições é,<br />

portanto, a única igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> sentido positivo <strong>nas</strong> <strong>de</strong>mocracias atuais e representa<br />

não ape<strong>nas</strong> o reconhecimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais que afetam a igualda<strong>de</strong><br />

política, mas também a percepção <strong>de</strong> que são <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s diferenciadas com<br />

1194


ase na existência <strong>de</strong> práticas <strong>de</strong> discriminação e <strong>de</strong> exclusão por origem, raça,<br />

etnia, ida<strong>de</strong>, sexo, credo religioso, convicção política, ou orientação sexual,<br />

resultantes <strong>de</strong> processos sociais nem sempre exclusivamente econômicos<br />

(CARONE, 1998 apud CARONE, 2004, p. 19)<br />

Os agentes ambientais representam uma parcela significativa da população e se caracterizam<br />

como uma população na qual a falta é constante em suas histórias. A falta <strong>de</strong> trabalho é a porta <strong>de</strong><br />

entrada para que as outras manifestações exclusivistas entrem em ação, todo o tipo <strong>de</strong> abstinência<br />

po<strong>de</strong> ser i<strong>de</strong>ntificado nestas histórias, mas acredito que a mais marcante para o ser humano é a<br />

social, aquela que afeta as relações. Vivemos em socieda<strong>de</strong> porque estabelecemos relações e<br />

quando essas relações são afetadas, ocorre o que chamamos <strong>de</strong> categorização da socieda<strong>de</strong>. O<br />

preconceito aparece como a mais marcante manifestação da categorização da socieda<strong>de</strong>, pois<br />

através da sua expressão é possível i<strong>de</strong>ntificar os mais favorecidos e os menos favorecidos. Os<br />

discursos abaixo são um exemplo <strong>de</strong> que as manifestações preconceituosas estão presentes em todas<br />

as formas <strong>de</strong> execução do trabalho com os resíduos sólidos, seja catando na rua ou separando lixo<br />

na usina, as pessoas estão associadas à sua ativida<strong>de</strong> com o lixo. Neste caso o questionamento<br />

dirigido aos agentes foi: ―Você acha que as ativida<strong>de</strong>s ligadas ao lixo sofrem preconceito?‖ A<br />

seguir algumas respostas dos agentes:<br />

“Tem preconceito, tem preconceito. Eu sinto uma ignorância, <strong>nas</strong> caixinhas que a gente juntava e junta tem<br />

as setas, três setas – reciclagem- nós estamos fazendo limpeza na cida<strong>de</strong>. Eles abusavam da gente, ah é<br />

lixeiro não sei o que, para você ver como é que são as coisas.” (M3 68 anos, casado, três filhos, 4º série<br />

do ensino fundamental, trabalha coletando papel na rua)<br />

“Algumas pessoa tem preconceito, aquele negócio <strong>de</strong> mexer com papel, acham que é lixo no caso. Para mim<br />

eu ganhando o meu dinheiro não ligo.” (M5 30 anos, solteiro, sem filhos, ensino médio completo,<br />

trabalha coletando papel na rua)<br />

“Com certeza, ou fala ah! Ela trabalha ali porque é nojento, é fedorento.” (F1 39 anos, casada, três<br />

filhos, 4º série do ensino fundamental, trabalha separando lixo, para uma empresa)<br />

“Elas olhavam pra mim, as mulheres que iam toda arrumadinha, eu estava ainda carregando as coisas <strong>nas</strong><br />

costa, porque eu nunca tive assim carrocinha, não. Carregava era <strong>nas</strong> costas mesmo, ia lá <strong>de</strong>sdobrava uma<br />

porção ia colocando uma <strong>de</strong>ntro da outra , fazia aquela arrumadazinha e aí eu ia. Muitas pessoa riam, mas<br />

riam mesmo <strong>de</strong> <strong>de</strong>boche falavam assim: poxa essa mulher só vive carregando lixo e era assim, então eu<br />

cheguei um dia lá e falei ... faz o símbolo da reciclagem, aí o ... fez, eu não consigo fazer, eu já pelejei com<br />

aquelas três setas assim, né. Você faz um daqueles bem grandão que eu quero fazer uma blusa e colocar, aí<br />

quando eles olharem para mim e <strong>de</strong>bochar eu vou mostrar para eles o que é que eu estou fazendo, eu não<br />

estou catando lixo, eu estou catando papelão e papelão é reciclável, ele não é lixo ele serve para vim e<br />

1195


voltar, eu estou ajudando a natureza e eu quero continuar fazendo isso...” (F3 68 anos, casada, três<br />

filhos, 7º série do ensino fundamental, trabalho catando papel na rua)<br />

“Tem. Eu vou falar o que aconteceu um tempo atrás. Veio um primo do meu marido ele falou assim: ih! Sua<br />

mãe é lixeira, ela trabalha com lixo. Aí eu falei assim: é, eu trabalho com lixo, eu tenho muito orgulho <strong>de</strong><br />

trabalhar lá, que é <strong>de</strong> lá que vem o nosso sustento. Aí ele calou a boca <strong>de</strong>le, pra mim foi tudo.” (F5 32 anos,<br />

casada, quatro filhos, 4º série do ensino fundamental, trabalha separando o lixo numa usina)<br />

“Sim. Fala muito, o povo fala muito. Eles falam eles fe<strong>de</strong>m, esse povo fala muito, nojera, essa não vida pra<br />

vocês.” (F6 41 anos, casada, três filhos, 4º série do ensino fundamental, trabalha separando lixo<br />

numa usina)<br />

“Oh! se tem. O nojo, né, a crítica, em vez <strong>de</strong> falar cooperativa eles falam lá no lixão.” (F4 30 anos,<br />

casada, dois filhos, 4º série do ensino fundamental, trabalha separando lixo numa usina)<br />

Pelas narrativas ficou claro que a categorização está bem <strong>de</strong>limitada, ou seja, existem os que<br />

trabalham com o lixo e os que não trabalham com o lixo. Dentre as diversas ativida<strong>de</strong>s econômicas<br />

<strong>de</strong>sfavorecidas o trabalho com o lixo é a mais discriminada, pois a socieda<strong>de</strong> ten<strong>de</strong> a <strong>de</strong>scartar o<br />

resíduo material e o humano também. Na concepção <strong>de</strong> Jo<strong>de</strong>let a categorização tem dois sentidos<br />

principais, a saber: classificação em uma divisão social e a atribuição <strong>de</strong> uma característica à<br />

alguém. Nesse sentido na concepção <strong>de</strong> Jo<strong>de</strong>let:<br />

Existe, é claro, uma relação entre esses dois sentidos: imputar uma característica a<br />

um conjunto <strong>de</strong> objetos po<strong>de</strong> servir para constituí-lo em uma classe <strong>de</strong>finida pela<br />

divisão <strong>de</strong>ssa característica; inversamente, basta ser afetado por uma categoria,<br />

para que se veja atribuir-se a si mesmo uma característica que é típica <strong>de</strong>la [...]<br />

(JODELET, 2004, p. 60).<br />

As Narrativas dos Agentes e a Teoria das Representações Sociais<br />

Foi escolhido a teoria das representações sociais para analisar os discursos dos agentes<br />

ambientais já que as narrativas atendiam as características das representações que constituem-se <strong>nas</strong><br />

concepções dos indivíduos acerca <strong>de</strong> um objeto e as interações entre os membros <strong>de</strong> um grupo ou<br />

entre grupos para compartilhar essas concepções. Além <strong>de</strong> tornar conhecido o <strong>de</strong>sconhecido e,<br />

<strong>de</strong>ssa forma, possibilitar a estabilida<strong>de</strong> das relações. (MOSCOVICI, 2007).<br />

Paugam (2004) utiliza um termo a<strong>de</strong>quado para <strong>de</strong>screver a condição das pessoas que se<br />

encontram em situação <strong>de</strong> pobreza. Para o autor a pobreza está associada a um processo e não a um<br />

estado perpétuo e imutável. Dessa forma o termo <strong>de</strong>squalificação social po<strong>de</strong> levar a compreensão<br />

1196


<strong>de</strong>sse processo como a saída gradativa do mercado <strong>de</strong> trabalho e todas as implicações que estão<br />

associadas á <strong>de</strong>squalificação social do sujeito.<br />

Nos discursos dos agentes ambientais ficou claro que o trabalho com o lixo só foi<br />

incorporado <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> cessarem todas as outras formas <strong>de</strong> trabalho, e em muitos casos todas as<br />

ajudas sob a forma <strong>de</strong> assistência social, já não eram suficientes para o sustento da família.<br />

Paugam (2004) classifica em fases a inserção na pobreza. De acordo com o autor quando<br />

passa a fase da <strong>de</strong>pendência social, na maioria das vezes contra a vonta<strong>de</strong> do sujeito, vem á fase <strong>de</strong><br />

ruptura com os vínculos sociais, normalmente nessa fase o sujeito vai se submeter à ativida<strong>de</strong>s até<br />

então discriminadas por ele mesmo.<br />

Em alguns momentos da entrevista os agentes ambientais foram questionados sobre<br />

profissão, se eles consi<strong>de</strong>ravam a sua ativida<strong>de</strong> com o lixo como uma profissão, a maioria afirmou<br />

que sim, mas alguns falaram que não, que não teriam coragem <strong>de</strong> assumir o lixo como a sua<br />

profissão em uma compra em uma loja, por exemplo. Em relação a negação dos sujeitos a respeito<br />

do trabalho com o lixo Triandafillidis discorre que:<br />

Se a negação é a resposta do ego quando ele se recusa a crer em uma percepção<br />

que contradiz <strong>de</strong> modo intolerável um dos seus <strong>de</strong>sejos, mas que no entanto, é<br />

impossível <strong>de</strong> rejeitar totalmente, pois ela é imposta pela realida<strong>de</strong>, então a<br />

negação faz parte da vida; as situações que necessitam <strong>de</strong> negação são inerentes à<br />

vida (TRIANDAFILLIDIS, 1988 apud CARRETEIRO, 2004, p. 90).<br />

As representações sociais dos agentes ambientais <strong>de</strong>monstraram que eles convivem com<br />

situações muito peculiares <strong>de</strong> trabalho, ficou evi<strong>de</strong>nte também que <strong>de</strong>senvolveram estratégias <strong>de</strong><br />

enfrentamento com relação a reação da socieda<strong>de</strong> para com a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvida por eles. Por<br />

outro lado ficou evi<strong>de</strong>nte que a socieda<strong>de</strong> ainda não assimilou o trabalho com os resíduos como<br />

uma ativida<strong>de</strong> digna e necessária, ou seja, para ela ainda está distante do cotidiano, ainda não é<br />

comum ver algum manipulando o lixo e, principalmente, consi<strong>de</strong>rando essa ativida<strong>de</strong> como uma<br />

profissão. Em relação ao familiar e ao não familiar Moscovici discorre:<br />

A presença real <strong>de</strong> algo ausente, a ‗exatidão relativa‘ <strong>de</strong> um objeto é o que<br />

caracteriza a não-familiarida<strong>de</strong>. Algo parece ser visível sem o ser: ser semelhante,<br />

embora sendo diferente, ser acessível e, no entanto, ser inacessível. O não-familiar<br />

atrai e intriga as pessoas e comunida<strong>de</strong>s enquanto, ao mesmo tempo, as alarma, as<br />

obriga a tornar explícitos os pressupostos implícitos que são básicos ao consenso<br />

(MOSCOVICI, 2007, p.56).<br />

1197


Para a socieda<strong>de</strong> é mais fácil tratar o corpo doente do que tratar o que o faz ficar doente – o<br />

mal estar social – causado pela discriminação preconceito e pela falta <strong>de</strong> atendimento por meio das<br />

dimensões institucionais básicas.<br />

Através das narrativas os agentes ambientais transmitiram as suas impressões, suas angústias<br />

e constrangimentos durante as suas trajetórias no mundo do trabalho. De acordo com Moscovici<br />

(2007, p. 30) ―nós percebemos o mundo tal como é e todas as nossas percepções, idéias e<br />

atribuições são respostas a estímulos do ambiente físico ou quase-físico, em que nós vivemos‖.<br />

É relevante ressaltar a importância do grupo na teoria das representações sociais, pois os<br />

sentimentos <strong>de</strong> medo, injustiça, impotência não se originam isoladamente. Também existe uma<br />

cumplicida<strong>de</strong> com o grupo interno (ingroup), em relação a adjetivos positivos e negativos, sendo<br />

associado ao grupo <strong>de</strong> pertença os positivos e negativos aos grupos externos (outgroup), mantendo,<br />

<strong>de</strong>ssa forma, a or<strong>de</strong>m e o controle interno.<br />

Os agentes ambientais constituem um grupo social, os discursos <strong>de</strong>ixaram claro que eles,<br />

apesar <strong>de</strong> almejarem algo melhor para suas vidas, valorizam esse trabalho e esse grupo ao qual<br />

pertencem. Na medida do possível vão buscando um espaço digno através da aceitação interna da<br />

sua ativida<strong>de</strong> para então, no futuro, esperar que a socieda<strong>de</strong> compreenda a importância do trabalho,<br />

seja ele qual for, para a manutenção do equilíbrio social.<br />

Nesse sentido, a partir <strong>de</strong> Moscovici e outros autores a análise dos agentes ambientais vem<br />

reforçar a compreensão operacional <strong>de</strong> como as representações sociais são elaboradas coletivamente<br />

a partir da realida<strong>de</strong> cotidiana.<br />

Referências<br />

BECKER, Howard. Métodos <strong>de</strong> pesquisas em ciências sociais. 4º ed. São Paulo: Hucitec,1999.<br />

BURSZTYN, M. (org). No meio da rua: nôma<strong>de</strong>s, excluídos e viradores. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Garamond, 2000.<br />

CARONE, Iray. Democracia e exclusão social In: SOUZA, Lídio <strong>de</strong> e TRINDADE, Zeidi Araújo<br />

(orgs.). Violência e exclusão: convivendo com paradóxos. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004. cap.<br />

1, p. 7-20.<br />

CARRETEIRO, Teresa Cristina. ―A doença como projeto‖: uma contribuição à análise <strong>de</strong> formas<br />

<strong>de</strong> filiações e <strong>de</strong>sfiliações sociais. In: SAWAIA, Ba<strong>de</strong>r (org.). As artimanhas da exclusão: análise<br />

psicossocial e ética da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social. Petrópolis: Editora Vozes, 2004. cap. 5, p. 87-96.<br />

CATALÃO, Vera. L. Educação ambiental, resíduos sólidos urbanos e sustentabilida<strong>de</strong>. Um estudo<br />

<strong>de</strong> caso. Porto Alegre, RS. Tese <strong>de</strong> Doutorado. Centro <strong>de</strong> Desenvolvimento Sustentável-UnB.<br />

Brasília, 2003.<br />

1198


CORTES Soraya M. Vargas. Técnicas <strong>de</strong> coleta e análise qualitativa <strong>de</strong> dados. Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong><br />

Sociologia, v.9 Porto Alegre, jan/jul 1994, p. 11-47.<br />

DEJOURS, C. A loucura do trabalho: estudo da psicopatologia do trabalho. 5 ed. São Paulo:<br />

Cortez, 1998.<br />

FILHO, José Soares. Socieda<strong>de</strong> pós-industrial: e os impactos da globalização na socieda<strong>de</strong>, no<br />

trabalho, na economia e no Estado. Curitiba: Juruá, 2007.<br />

GIDDENS, Anthony. As consequências da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. São Paulo: UNESP, 1991.<br />

JODELET, Denise. Os processos psicossociais da exclusão. In: SAWAIA, Ba<strong>de</strong>r (org.). As<br />

artimanhas da exclusão: análise psicossocial e ética da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social. Petrópolis: Editora<br />

Vozes, 2004. cap. 3, p. 53-66.<br />

LEGASPE, R. Luciano. Reciclagem: a fantasia do ecocapitalismo. Um estudo sobre a reciclagem<br />

promovida no centro da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo observando a economia informal e os catadores.<br />

Dissertação (mestrado em Geografia) faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Geografia. Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo USP, São<br />

Paulo, 1996.<br />

MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. ed.15a, Ed. Bertrand Brasil, Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />

1996.<br />

MATURANA, Humberto. "Transdisciplinarida<strong>de</strong> e cognição", in Educação e<br />

Transdisciplinarida<strong>de</strong>. Nicolescu, B. (org.), Brasília: UNESCO, 2000.<br />

MOSCOVICI, Serge. O fenômeno das representações sociais. Em: Representações sociais:<br />

investigações em psicologia social. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 2007. p. 29-111.<br />

PAUGAM, Serge. O enfraquecimento e a ruptura dos vínculos sociais: uma dimensão essencial do<br />

processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>squalificação social. In: SAWAIA, Ba<strong>de</strong>r (org.). As Artimanhas da Exclusão: análise<br />

psicossocial e ética da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social. Petrópolis: Editora Vozes, 2004. cap. 4, p. 67-86.<br />

PUGLISI, Maria Laura e FRANCO, Barbosa. Análise <strong>de</strong> Conteúdo. Brasília: Editora Plano, 2003.<br />

ROCHA, F. Solange. Caminhos e <strong>de</strong>scaminhos. Revista Ágora, Rio Gran<strong>de</strong> do Norte, n.1, 2004.<br />

SAWAIA, Ba<strong>de</strong>r. Inclusão ou exclusão perversa? In: __________ (org.). As Artimanhas da<br />

Exclusão: análise psicossocial e ética da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social. Petrópolis: Editora Vozes, 2004. p. 7-<br />

13<br />

VALA, Jorge. Representações sociais: para uma psicologia social do pensamento social. Em:<br />

VALA, J. e MONTEIRO, M.B. (Coords.). Psicologia Social. Lisboa: Fundação Calouste<br />

Gulbenkian, 1997. p.353-384.<br />

VERÁS, Maura Pardini Bicudo. Exclusão social: um problema <strong>de</strong> 500 anos. In: SAWAIA, Ba<strong>de</strong>r<br />

(org.). As Artimanhas da Exclusão: análise psicossocial e ética da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social. Petrópolis:<br />

Editora Vozes, 2004. cap. 2, p. 27-50.<br />

1199


WANDERLEY, Mariângela Belfiore. Refletindo sobre a Noção <strong>de</strong> Exclusão. In: SAWAIA, Ba<strong>de</strong>r<br />

(org.). As Artimanhas da Exclusão: análise psicossocial e ética da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social. Petrópolis:<br />

Editora Vozes,<br />

1200


ESTUDO SOBRE A IMPORTÂNCIA DA GEOMORFOLOGIA PARA O PLANEJAMENTO<br />

URBANO O PLANO DIRETOR PARTICIPATIVO DA CIDADE DE MACAÍBA-RN 136<br />

Danyelle Rayane DANTAS (DGE/UFRN) danyelle.rayane@hotmail.com<br />

Silviane Batista Da SILVA (DGE/UFRN) silvianebsilva@hotmail.com<br />

Wellington Costa <strong>de</strong> MIRANDA (DGE/UFRN) wellingtonmiranda1967@hotmail.com<br />

Orientadora: Profª Drª. Maria Francisca <strong>de</strong> Jesus Lírio RAMALHO (DGE/UFRN) franci@ufrnet.br<br />

Resumo<br />

Essa pesquisa tem como intenção estudar a importância da geomorfologia para o planejamento<br />

urbano da cida<strong>de</strong>, em especial na elaboração <strong>de</strong> seu Plano Diretor. Sabemos que a relação do<br />

homem com o espaço sempre esteve associada à base territorial em que se encontre, possuindo essa<br />

uma dinâmica específica que <strong>de</strong>ve ser respeitada para manutenção do próprio ambiente, da<br />

socieda<strong>de</strong> atual e futuras gerações, respeitando assim a natureza enquanto recurso finito. A criação<br />

<strong>de</strong> um plano diretor que utilize os conhecimentos da geomorfologia para proposição <strong>de</strong> medidas<br />

preventivas e severas no uso e ocupação do solo po<strong>de</strong> diminuir os efeitos danosos causados ao meio<br />

natural e a vida humana.<br />

Palavras chave: Geomorfologia; Planejamento urbano; Plano Diretor; uso do solo; políticas<br />

públicas.<br />

Abstract<br />

This research is inten<strong>de</strong>d to study the importance of geomorphology for urban planning of the city,<br />

especially in the preparation of Master Plan. We know that man's relationship to space has always<br />

been associated with a territorial base in which it is, having the specific dynamics which must be<br />

respected to maintain the proper environment, society and future generations, thereby respecting<br />

nature as finite resource. The creation of a master plan that uses the knowledge of geomorphology<br />

to propose preventive measures and stringent land use and soil can reduce the harmful effects<br />

caused to the natural environment and human life.<br />

Keywords: Geomorphology, Urban Planning, Master Plan, land use, public policies.<br />

136 Pesquisa <strong>de</strong>senvolvida para conclusão da disciplina Meio Ambiente e Desenvolvimento, orientada pela ProfªDrª.<br />

Maria Francisca <strong>de</strong> Jesus Lírio Ramalho,no Departamento <strong>de</strong> Geografia da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> do<br />

Norte.<br />

1201


Introdução<br />

A relação do homem com o espaço sempre esteve associada à base territorial em que se<br />

encontre e que essa possui uma dinâmica específica que <strong>de</strong>ve ser respeitada para manutenção do<br />

próprio ambiente, bem como da socieda<strong>de</strong> que ali habita e modifica. Além das medidas necessárias<br />

para utilização da natureza como recurso finito.<br />

Um dos maiores <strong>de</strong>safios da gestão urbana é o da convivência harmoniosa entre socieda<strong>de</strong> e<br />

natureza, tendo em vista que os impactos causados pelo uso indiscriminado <strong>de</strong> recursos ambientais<br />

afetam tanto a sua disponibilida<strong>de</strong> como a saú<strong>de</strong> e qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida da socieda<strong>de</strong>.<br />

Esse <strong>de</strong>safio é da gestão urbana porque é a partir <strong>de</strong>ssa que são elaboradas as normas e padrões<br />

<strong>de</strong> uso e ocupação do solo, assim como as penalida<strong>de</strong>s e medidas preventivas, por exemplo, da<br />

ocupação <strong>de</strong> encostas, proximida<strong>de</strong> a leitos <strong>de</strong> rios, taxas <strong>de</strong> permeabilização, gabarito <strong>de</strong> prédios,<br />

saneamento ambiental, parcelamento do solo e criação <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> preservação.<br />

Nós, enquanto pesquisadores, temos interesse em aprofundar nossos conhecimentos acerca da<br />

geomorfologia no que diz respeito ao <strong>de</strong>senvolvimento da cida<strong>de</strong>, já que diversos problemas são<br />

gerados pela forma <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada com que a socieda<strong>de</strong> ocupa o território. Isso po<strong>de</strong> causar<br />

<strong>de</strong>sequilíbrios e transtornos <strong>nas</strong> áreas urba<strong>nas</strong>, tais como aumento do escoamento superficial das<br />

águas <strong>de</strong> chuvas em <strong>de</strong>trimento da infiltração, o que po<strong>de</strong> provocar enchentes, aumento da sensação<br />

<strong>de</strong> calor, poluição e assoreamento <strong>de</strong> corpos d‘água e ampliação da erosão.<br />

A criação <strong>de</strong> um plano diretor que utilize os conhecimentos da geomorfologia para proposição<br />

<strong>de</strong> medidas preventivas e severas no uso e ocupação do solo po<strong>de</strong> mitigar os efeitos maléficos<br />

causados ao meio natural e a vida humana.<br />

Neste trabalho, preten<strong>de</strong>mos analisar a importância da geomorfologia como ciência <strong>de</strong> apoio ao<br />

planejamento urbano e das medidas propostas para o uso e ocupação do solo no Plano Diretor<br />

Participativo da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Macaíba-RN.<br />

Com isso teremos a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> investigar os aspectos geomorfológicos abordados no<br />

Plano e sua importância caso seja ou não bem utilizado. Tomando por base aspectos naturais,<br />

sociais e históricos da ocupação da cida<strong>de</strong> que resultaram na paisagem atual.<br />

O maior interesse em <strong>de</strong>senvolver esta pesquisa gira em torno da nossa curiosida<strong>de</strong> em<br />

aprofundar/conhecer/saber a importância da geomorfologia em estabelecer medidas preventivas ao<br />

uso urbano do solo, observando suas limitações e potencialida<strong>de</strong>s. Além disso, acreditamos que a<br />

experiência e o conhecimento adquiridos com a pesquisa serão fundamentais para a vida<br />

profissional/acadêmica dos geógrafos e dos atores da gestão da cida<strong>de</strong> em saber lidar com os<br />

indivíduos que <strong>de</strong>senvolvem esse transtorno.<br />

1202


Sabemos também que, enquanto professores <strong>de</strong> geografia, temos <strong>de</strong> estar aptos a mostrar aos<br />

estudantes do ensino básico sua responsabilida<strong>de</strong> enquanto cidadãos no conhecimento das políticas<br />

<strong>de</strong> gestão <strong>de</strong> sua cida<strong>de</strong>. Como também a colaboração que a geografia po<strong>de</strong> fornecer para análise da<br />

eficiência <strong>de</strong> tais políticas.<br />

Importância da geomorfologia para o planejamento urbano<br />

Des<strong>de</strong> que o homem se tornou se<strong>de</strong>ntário e transformou a natureza em recurso as formas <strong>de</strong><br />

relação <strong>de</strong>ste com o meio ambiente causam <strong>de</strong>sequilíbrios. A natureza possui uma dinâmica própria<br />

que permanece in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte das mudanças provocadas pela fixação do homem no território, mas<br />

que po<strong>de</strong> se acentuar ou regredir a partir da intensida<strong>de</strong> com que o homem modifica uma dada área.<br />

De acordo com SAADI (2009) no Brasil, bem como na maior parte dos países do Terceiro<br />

Mundo,<br />

a aceleração <strong>de</strong>scontrolada <strong>de</strong>ste crescimento tem gerado formas anárquicas <strong>de</strong> adaptação<br />

da urbanização ao relevo. O relevo constitui a expressão física das condições <strong>de</strong> equilíbrio<br />

reinantes na litosfera, ou seja, no substrato <strong>de</strong> todos os equipamentos implantados pelo<br />

homem (P. 1).<br />

O papel da geomorfologia na compreensão das formas <strong>de</strong> relevo contribui para o<br />

reconhecimento dos processos existentes numa área e os impactos negativos que uma <strong>de</strong>terminada<br />

forma <strong>de</strong> ocupação po<strong>de</strong> causar ao ambiente e a população que ali se encontra.<br />

A classificação e o mapeamento geomorfológico são <strong>de</strong> fundamental importância para questões<br />

<strong>de</strong> planejamento territorial, político, urbano e ambiental. Sua aplicação se dá em projetos <strong>de</strong><br />

gerenciamento ambiental, no diagnóstico <strong>de</strong> impactos ambientais, no planejamento <strong>de</strong> uso da terra,<br />

para a engenharia, hidrologia, solos e conservação, ainda na agricultura e controle <strong>de</strong> erosão e na<br />

<strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> paisagem.<br />

A ocupação do solo pela socieda<strong>de</strong> po<strong>de</strong> provocar novas morfologias à paisagem, além <strong>de</strong><br />

criar áreas <strong>de</strong> risco numa cida<strong>de</strong>, por exemplo. Essas áreas não são ―perigosas por natureza‖ é o<br />

homem quem cria o risco ocupando áreas sem conhecer/respeitar os limites impostos por processos<br />

naturais.<br />

Pedro (2009) aponta que a socieda<strong>de</strong> cria espaços que são i<strong>de</strong>alizados, mo<strong>de</strong>lados,<br />

esculturados, <strong>de</strong>struídos e reconstruídos, como por exemplo,<br />

po<strong>de</strong>-se citar a edificação <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s obras <strong>de</strong> engenharia, tais como a construção <strong>de</strong><br />

rodovias, no qual o relevo é mo<strong>de</strong>lado com cortes (talu<strong>de</strong>s) criando novas formas, novos<br />

usos e novas dinâmicas. Outro exemplo refere-se à canalização <strong>de</strong> rios, que passam a escoar<br />

por meio <strong>de</strong> tubos e canais, alterando não só a dinâmica natural, mas também a social. (p.4)<br />

1203


Logo, um dos maiores <strong>de</strong>safios para a geografia e a geomorfologia, assim como outras<br />

ciências, na atualida<strong>de</strong> é o <strong>de</strong> ―ajustar suas metodologias, ou redirecionar suas ações, na tentativa <strong>de</strong><br />

apontar mecanismos e possíveis respostas que possam levar a soluções, que, no mínimo, orientem a<br />

forma a<strong>de</strong>quada <strong>de</strong> planejar, recuperar ou conservar as diversas paisagens‖. (GUERRA, 2006).<br />

Pedro (2009) ainda ressalta acerca das ações da socieda<strong>de</strong> no espaço que:<br />

As ações da socieda<strong>de</strong> resultam na construção <strong>de</strong> um espaço com características próprias,<br />

sendo um reflexo do avanço da ciência e das técnicas. As ações huma<strong>nas</strong> são conduzidas <strong>de</strong><br />

acordo com os interesses políticos, econômicos e sociais, que se expressam no espaço por<br />

meio das formas (as edificações e construções em geral) e as <strong>de</strong>cisões (leis, interesses,<br />

relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, etc.) tomadas pelos setores públicos e privadas.<br />

A fim <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r o papel das <strong>de</strong>cisões, na forma <strong>de</strong> leis, e da geomorfologia para esse<br />

controle é que escolhemos a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Macaíba que só muito recentemente institui seu Plano<br />

Diretor com controle <strong>de</strong> uso e ocupação do solo e com alguma preocupação com o meio ambiente.<br />

O Plano Diretor <strong>de</strong> Macaíba<br />

Localizado na mesorregião Leste Potiguar (Mapa 01), o município <strong>de</strong> Macaíba integra a<br />

região metropolitana <strong>de</strong> Natal. Segundo dados do Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística<br />

(IBGE) possui uma área <strong>de</strong> 510,753 KM², o censo 2010 aponta uma população <strong>de</strong> 69.467<br />

habitantes, sendo 42.631 da zona urbana.<br />

A se<strong>de</strong> do município tem uma altitu<strong>de</strong> média <strong>de</strong> 11 m e apresenta coor<strong>de</strong>nadas 05°51‘28,8‖<br />

<strong>de</strong> latitu<strong>de</strong> sul e 35°21‘14,4‖ <strong>de</strong> longitu<strong>de</strong> oeste, estando a cerca <strong>de</strong> 17 km da capital, sendo seu<br />

acesso, a partir <strong>de</strong> Natal, efetuado através da rodovia pavimentada BR-304.<br />

1204


O município <strong>de</strong> Macaíba possui 71,95% <strong>de</strong> seu território inserido nos domínios da bacia<br />

hidrográfica do Rio Potengi e 26% nos domínios da bacia hidrográfica do Rio Pirangi, sendo<br />

banhado pela sub-bacia do Rio Gran<strong>de</strong>, que o atravessa na direção SW-NE. Os principais tributários<br />

são: os rios Jundiaí, Gran<strong>de</strong> e Japecanga, além dos riachos: Lamarão,Água Vermelha, Taborda, do<br />

Mel e do Sangue. Os principais corpos <strong>de</strong> acumulação são: as lagoas dos Cavalos, Seca, Santo<br />

Antônio, Tapará, do Papagaio, Gran<strong>de</strong> e do Sítio; e os açu<strong>de</strong>s: Alfredo Mesquita, Cajazeiras,<br />

Bêbado (108.000m3), Cana Brava (100.000m3) e Jambeiro (100.000m3). O padrão <strong>de</strong> drenagem é<br />

o <strong>de</strong>ndrítico e os cursos d‘água têm regime intermitente.<br />

Possui clima tropical chuvoso com verão seco e estação chuvosa adiantando-se para o<br />

outono. Com relevo <strong>de</strong> menos <strong>de</strong> 100 metros <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong>, planícies fluviais - terrenos baixos e planos<br />

situados <strong>nas</strong> margens dos rios, vales. Biomas <strong>de</strong> Caatinga e Mata Atlântica. O mapa 2 mostra que o<br />

município se encontra, em sua maior parte, nos relevos <strong>de</strong> Planícies Fluviais e Tabuleiros Costeiros.<br />

Mapa 2. Relevo do RN<br />

A ocupação do território do município <strong>de</strong> Macaíba se <strong>de</strong>u ao redor do rio Jundiaí em virtu<strong>de</strong><br />

da circulação <strong>de</strong> mercadorias no estado que acontecia por este canal. As construções foram<br />

perpetradas próximas as margens do rio e por estarem numa área <strong>de</strong> vale as vertentes pluviais<br />

<strong>de</strong>scem exatamente para o centro da cida<strong>de</strong>, parte mais urbanizada, po<strong>de</strong>ndo causar alagamentos,<br />

uma vez que o Rio Jundiaí não mais possui seu leito <strong>de</strong> enchente, ou seja, não tem para on<strong>de</strong> se<br />

espraiar. Por isso aconteceram muitas enchentes na cida<strong>de</strong>, esse problema foi, <strong>de</strong> certa forma,<br />

sanado com a construção <strong>de</strong> uma barragem.<br />

1205


Ainda hoje o a<strong>de</strong>nsamento urbano do município permanece muito próximo ao rio, mas<br />

gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong> sua área é rural. Como mostra o mapa 3retirado do Plano Diretor.<br />

Mapa 3. Macrozoneamento <strong>de</strong> Macaíba/RN.<br />

O Plano Diretor <strong>de</strong> Macaíba/RN diz em seu Art. 2º O Plano Diretor Participativo <strong>de</strong><br />

Macaíba é o instrumento básico da política <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento territorial sustentável do Município<br />

e no Art. 3º que <strong>de</strong>ve ser observado pelos agentes públicos e privados que atuam conjuntamente na<br />

construção, planejamento e na gestão do território.<br />

Tem como um dos princípios em seu artigo 5º inciso I orientar, promover e direcionar o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento do Município, assegurando a conservação <strong>de</strong> suas características naturais; além<br />

<strong>de</strong> garantir o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, ainda no Art. 5º inciso VIII – a<strong>de</strong>quar o a<strong>de</strong>nsamento à<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suporte do meio físico, o que não ocorre <strong>de</strong> fato.<br />

Constitui-se uma das diretrizes básicas da política territorial no Art. 6º I – compatibilizar o<br />

uso e ocupação do solo com a proteção ao meio-ambiente, reduzindo a especulação imobiliária e<br />

orientando a distribuição <strong>de</strong> infraestrutura básica e equipamentos urbanos. Mas, em alguns casos,<br />

por exemplo, é permitida a instalação <strong>de</strong> indústrias muito próximas a leitos <strong>de</strong> rios, <strong>de</strong>sobe<strong>de</strong>cendo<br />

a própria lei municipal.<br />

A zona urbana do município apresenta diversos problemas <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m ambiental e histórica,<br />

tendo em vista que se encontra, em sua maior parte, a margem do Rio Jundiaí, ainda não tem<br />

1206


saneamento básico, ou seja, o esgoto é jogado no rio. A re<strong>de</strong> <strong>de</strong> drenagem é muito <strong>de</strong>ficiente. Mas o<br />

saneamento está sendo implantado.<br />

A maioria da área construída não possui área permeável, dificultando a infiltração <strong>de</strong> águas<br />

pluviais e a maioria das novas residências continua com essa característica, pois a população ainda<br />

<strong>de</strong>sconhece o que está na legislação urbanística que prevê recuos frontal, lateral e <strong>de</strong> fundo.<br />

O Plano Diretor não institui nenhuma zona <strong>de</strong> proteção ambiental, mesmo havendo na zona<br />

urbana algumas áreas que necessitam serem preservadas. Como é o caso da mata ao redor do Solar<br />

do Ferreiro Torto, área <strong>de</strong> mangue. A mata ciliar do Rio Jundiaí nos bairros Tavares <strong>de</strong> Lira,<br />

Ferreiro Torto, Auta <strong>de</strong> Souza e Centro, entre outras. Entretanto prevê em seu artigo 9º três Zo<strong>nas</strong><br />

<strong>de</strong> Proteção Ambiental (ZPA), que <strong>de</strong>verão estar previstas em Lei específica do Município, Código<br />

Municipal <strong>de</strong> Meio Ambiente, o qual não existe.<br />

A ZPA I, §1º constitui-se <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> domínio público ou privado, <strong>de</strong>stinadas a recuperação<br />

ambiental urbana, à proteção dos mananciais, à proteção das áreas estuari<strong>nas</strong> e seus ecossistemas<br />

associados, e as várias formas <strong>de</strong> vegetação natural <strong>de</strong> preservação permanente, inclusive<br />

manguezais, sendo incluídas as margens dos rios e bacias fechadas <strong>de</strong> águas pluviais, on<strong>de</strong><br />

quaisquer ativida<strong>de</strong>s modificadoras do meio ambiente natural só serão permitidas mediante<br />

licenciamento ambiental e autorização expressa dos órgãos <strong>de</strong> controle urbanístico e ambiental do<br />

Município.<br />

A ZPA II §2º constitui-se <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> domínio público ou privado, que venham a ser<br />

classificadas pelo órgão ambiental do Município como áreas <strong>de</strong> risco sujeitas aos eventos<br />

ambientais, que possam trazer riscos aos assentamentos humanos e ao patrimônio natural, histórico,<br />

turístico e cultural ou que apresentem espécies ameaçadas ou em risco <strong>de</strong> extinção, classificadas em<br />

listas oficiais.<br />

A ZPA III §3º constitui-se <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> domínio público ou privado, <strong>de</strong>stinadas à proteção<br />

integral dos recursos ambientais nela inseridos, especialmente os ecossistemas lacustres associados<br />

a afloramentos do aquífero sob os tabuleiros costeiros, a vegetação <strong>de</strong> transição da Mata Atlântica<br />

para a caatinga e <strong>de</strong>mais formas <strong>de</strong> vegetação natural <strong>de</strong> preservação permanente, on<strong>de</strong> não serão<br />

permitidas quaisquer ativida<strong>de</strong>s modificadoras do meio ambiente natural ou ativida<strong>de</strong>s geradoras <strong>de</strong><br />

pressão antrópica.<br />

Nesta seção do Plano Diretor fica percebida a importância <strong>de</strong> conhecimentos da<br />

geomorfologia da cida<strong>de</strong> aplicados no mesmo. Consi<strong>de</strong>rando a dinâmica das formas <strong>de</strong> relevo e o<br />

risco aos assentamentos humanos.<br />

Também são observados padrões ambientais e <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida na seção que trata das<br />

prescrições urbanísticas da Zona <strong>de</strong> A<strong>de</strong>nsamento Básico, on<strong>de</strong> são estabelecidos parâmetros como<br />

taxa <strong>de</strong> permeabilização, coeficiente <strong>de</strong> aproveitamento do solo e gabarito máximo das edificações.<br />

1207


Além da seção nove do capítulo II título III que institui o Estudo Prévio <strong>de</strong> Impacto <strong>de</strong><br />

Vizinhança para ―subsidiar o licenciamento <strong>de</strong> empreendimentos ou ativida<strong>de</strong>s, públicas ou<br />

privadas, que na sua instalação ou operação possam causar impactos ao meio ambiente, sistema<br />

viário, entorno ou à comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> forma geral, no âmbito do Município‖.<br />

No título IV, capítulo III discute a Política Municipal <strong>de</strong> Meio Ambiente e tem como<br />

objetivos do Art. 82:<br />

objetivos.<br />

I – manter conservada a cobertura vegetal <strong>nas</strong> zo<strong>nas</strong> <strong>de</strong> proteção ambiental;<br />

II – controlar as ativida<strong>de</strong>s poluidoras e as que provoquem impacto ambiental;<br />

III – promover a utilização racional dos recursos naturais;<br />

IV – preservar e buscar a recuperação <strong>de</strong> ecossistemas essenciais;<br />

V – viabilizar a criação <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação da natureza no plano municipal.<br />

Entretanto se revela <strong>de</strong> uma forma generalista no que tange a forma <strong>de</strong> cumprimento <strong>de</strong> seus<br />

Em entrevista a SEMUR (Secretaria <strong>de</strong> Meio Ambiente e Urbanismo) <strong>de</strong> Macaíba/RN nos<br />

foi informado que a secretaria possui o mapeamento geomorfológico, entretanto esse não foi<br />

utilizado na elaboração do Plano Diretor e está numa escala muito pequena, dificultando sua<br />

utilização em pequenos projetos.<br />

Ainda foi informado que o município possui áreas <strong>de</strong> risco <strong>de</strong> ocupação, mas que estas até o<br />

momento não eram protegidas, ou seja, também não há áreas <strong>de</strong> proteção permanente apesar <strong>de</strong><br />

haver necessida<strong>de</strong>, especialmente <strong>nas</strong> margens do rio Jundiaí. Não existe nenhum monitoramento<br />

para qualida<strong>de</strong> das águas do rio nem projetos <strong>de</strong> proteção do mangue e da fauna aquática.<br />

As indústrias que ficam na zona urbana e <strong>de</strong> a<strong>de</strong>nsamento urbano que não se encontram no<br />

Distrito Industrial <strong>de</strong> Macaíba (DIM) não possuem plano <strong>de</strong> tratamento <strong>de</strong> efluentes e <strong>de</strong>spejam<br />

seus efluentes no rio, contra <strong>de</strong>cisão municipal que prevê que a indústria trate o esgoto antes <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>spejá-lo.<br />

Consi<strong>de</strong>rações finais<br />

Por meio <strong>de</strong>ste projeto foi possível compreen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> forma sucinta as aplicações dos<br />

conhecimentos geomorfológicos ao meio ambiente e ao planejamento e gestão da cida<strong>de</strong>, em<br />

especial o caso <strong>de</strong> Macaíba/RN.<br />

A cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Macaíba apresenta diversos problemas <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m ambiental e, apesar da existência<br />

do plano Diretor, as não conformida<strong>de</strong>s continuam acontecendo, não só <strong>nas</strong> construções e reformas<br />

residências. Talvez mais ainda com relação à indústria e comércio, os quais mesmo necessitando <strong>de</strong><br />

1208


licenciamento insistem em não cumprir as normas ambientais e urbanísticas presentes no Plano<br />

Diretor. Sem falar no que o Plano ainda não trata e que <strong>de</strong>ve ser estudado e inserido para que<br />

padrões ambientais seja, cumpridos no município.<br />

Os órgãos <strong>de</strong> gestão do território <strong>nas</strong> diferentes esferas do governo <strong>de</strong>vem realizar o<br />

planejamento urbanístico em conformida<strong>de</strong> com os critérios e informações das ciências afins, em<br />

especial a geomorfologia por sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar limites para a ocupação humana.<br />

Dado o exposto, po<strong>de</strong>mos inferir que a geomorfologia e o mapeamento geomorfológico<br />

permitem ―estabelecer fieis prognósticos sobre as potencialida<strong>de</strong>s ofertadas ao uso urbano do solo,<br />

bem como sobre as limitações impostas ao mesmo‖.<br />

Referencial Teórico<br />

SAADI, Allaoua. A GEOMORFOLOGIA COMO CIÊNCIA DE APOIO AO PLANEJAMENTO<br />

URBANO EM MINAS GERAIS. Revista Geonomos <strong>Vol</strong>.5, p. 1 - 4.<br />

PEDRO, Leda Correia. Socieda<strong>de</strong> e Natureza: A interrelação entre ocupação, relevo e os impactos<br />

ambientais gerados. In: XIII Simpósio Brasileiro <strong>de</strong> Geografia Física Aplicada, 2009, Viçosa/Mg.<br />

A Geografia Física e as dinâmicas <strong>de</strong> apropriação da natureza, 2009.<br />

GUERRA, A.J.T. MARCAL, M.S. (orgs.). Geomorfologia Ambiental – Geomorfologia e Unida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Paisagem. Bertrand Brasil, 2006.<br />

Plano Diretor Participativo do Município <strong>de</strong> Macaíba/RN. Lei Complementar nº 01/2008, <strong>de</strong> 19 <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2008.<br />

1209


OS MUNICÍPIOS DE ORIGEM DOS ALUNOS MATRICULADOS NO CEFET CURVELO NA<br />

PERSPECTIVA DE PLANEJAMENTO, PROGRAMAS E AÇÕES AMBIENTAIS<br />

Resumo<br />

Joyce <strong>de</strong> Matos RAMOS 137 (CEFET/MG) – joyceramos.m@hotmail.com<br />

Este artigo abordou a área da análise ambiental, a qual po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finida como a leitura ou<br />

interpretação <strong>de</strong> uma dada área, lugar, região ou espaço visando coletar e integrar informações,<br />

diagnosticar, programar e planejar ambientes. Não foi pretensão <strong>de</strong>sta pesquisa apresentar <strong>de</strong> forma<br />

<strong>de</strong>talhada ou acurada, um planejamento, um programa e nem mesmo uma ação ambiental ao objeto<br />

<strong>de</strong> estudo. Embora todas as etapas elencadas anteriormente sejam <strong>de</strong> suma importância, a<br />

estruturação da análise ambiental se ateve à coleta <strong>de</strong> dados e à interpretação ou leitura dos<br />

mesmos. O objeto <strong>de</strong> estudo <strong>de</strong>ste artigo foi cartografar a área geográfica dos municípios <strong>de</strong> origens<br />

dos alunos matriculados no Cefet Curvelo. Com o objeto <strong>de</strong>limitado, foi aplicado um questionário<br />

simples contendo perguntas sobre a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> origem dos alunos matriculados na instituição e,<br />

algumas perguntas com variáveis para apontar o motivo da escolha em estudar e consequentemente<br />

se <strong>de</strong>slocar para a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Curvelo, on<strong>de</strong> a escola está localizada. Para facilitar a análise dos<br />

dados coletados, utilizou-se do ferramental constituído por gráficos, tabelas e mapa. Já o objetivo<br />

do artigo é proporcionar o leitor a partir da compreensão da análise abordada neste estudo, como<br />

didaticamente é fácil realizar a análise ambiental <strong>de</strong> espaços quaisquer, aguçando este, a mergulhar<br />

na iniciação científica e, consequentemente, contribuir para o campo da pesquisa. O presente artigo<br />

está estruturado da seguinte maneira; uma breve introdução abarcando parte da história do Cefet,<br />

transitando com a apresentação da importância <strong>de</strong> mapas, gráficos a da análise ambiental para a<br />

leitura <strong>de</strong> um dado lugar. Posteriormente, discorrerá sobre a metodologia utilizada na pesquisa<br />

assim como a interpretação dos gráficos e mapas gerados a partir do questionário que foi aplicado.<br />

E por fim, as consi<strong>de</strong>rações finais, situando a importância da análise ambiental para a interpretação<br />

<strong>de</strong> lugares quaisquer.<br />

Palavras-chaves: Análise Ambiental; Interpretação Cartográfica, CEFET-MG<br />

137<br />

Estudante do Curso Técnico Integrado <strong>de</strong> Nível Médio em Meio Ambiente no CEFET/MG – Campus Curvelo.<br />

Bolsista do Programa Institucional <strong>de</strong> Bolsas <strong>de</strong> Iniciação Científica Júnior, da Fundação <strong>de</strong> Amparo à Pesquisa <strong>de</strong><br />

Mi<strong>nas</strong> Gerais (FAPEMIG) e do Conselho Nacional <strong>de</strong> Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).Orientador<br />

Prof. Clayton Ângelo Silva Costa, Professor Efetivo do CEFET-MG.<br />

Graduado em Geografia Licenciatura Plena e Bacharelado pela Puc-Mi<strong>nas</strong>. Mestre em Ciências Ambientais pela<br />

UEMG. Doutorando em Relações Internacionais pela Puc-Mi<strong>nas</strong>.<br />

1210


Abstract<br />

This article covered the area of environmental analysis, which can be <strong>de</strong>fined as reading or<br />

interpretation of a given area, place, area or space in or<strong>de</strong>r to collect and integrate information,<br />

diagnose, plan and plan environments. No claim of this research was to present a <strong>de</strong>tailed and<br />

accurate, a plan, a program or even an environmental action to the object of study. Although all the<br />

steps listed above are of paramount importance, the structuring of environmental analysis adhered<br />

to data collection and interpretation or reading them. The object of this article is to map the<br />

geographic area of the counties of origin of stu<strong>de</strong>nts enrolled in Cefet Curvelo. With the object<br />

boun<strong>de</strong>d, we applied a simple questionnaire containing questions about the city of origin of stu<strong>de</strong>nts<br />

enrolled at the institution, and some variables to point to questions about why they chose to study<br />

and consequently move to the city of Curvelo, where the school is located. To facilitate data<br />

analysis, we used the tooling consists of charts, tables and map. Since the aim of the paper is to<br />

provi<strong>de</strong> the rea<strong>de</strong>r from un<strong>de</strong>rstanding the analysis discussed in this study, as didactically is easier<br />

to perform environmental analysis of any space, this sharpening, the plunge in un<strong>de</strong>rgraduate<br />

research and thus contribute to the research field. This paper is structured as follows: a brief<br />

introduction of the history of embracing Cefet, moving with the presentation of the importance of<br />

maps, charts the environmental analysis for the reading of a given place. Later, will discuss the<br />

methodology used in the research as well as the interpretation of graphs and maps generated from<br />

the questionnaire that was applied. And finally, the final consi<strong>de</strong>rations, placing the importance of<br />

environmental analysis for the interpretation of any places.<br />

Keywords: Environmental Analysis, Cartographic Interpretation, CEFET-MG<br />

Introdução<br />

A análise ambiental po<strong>de</strong> ser enquadrada como uma ação ambiental a partir do momento que<br />

se tem as informações <strong>de</strong> um dado lugar para que haja o apontamento <strong>de</strong> medidas mitigadoras. Não<br />

obstante, po<strong>de</strong> ajudar no posicionamento crítico da socieda<strong>de</strong> fazendo com que essa busque e<br />

almeje o planejamento, programas e ações ambientais por parte dos governantes. Nesse contexto, a<br />

partir do diagnóstico do lugar, as autorida<strong>de</strong>s políticas po<strong>de</strong>m traçar intervenções, caracterizando<br />

assim, <strong>de</strong> fato, uma ação ambiental.<br />

Com o intuito <strong>de</strong> formular as problemáticas que nortearam a presente pesquisa foi<br />

fundamental buscar o ferramental histórico para compreen<strong>de</strong>r a instituição. Logo, para a melhor<br />

compreensão <strong>de</strong>ste artigo, também é interessante ressaltar a história do Cefet-MG. Esse Centro <strong>de</strong><br />

Educação Tecnológica (antiga Escola <strong>de</strong> Aprendizes Artífices <strong>de</strong> Mi<strong>nas</strong> Gerais) foi criado em 23 <strong>de</strong><br />

1211


Setembro <strong>de</strong> 1909, localizado na Avenida Afonso Pena, em Belo Horizonte/MG. Em 1942 a escola<br />

se tornou técnica o que foi um gran<strong>de</strong> avanço na época, pois abriu uma série <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

estudo (nível superior, cursos técnicos); e os reflexos <strong>de</strong>ssa mudança são muito significativos até<br />

hoje, tudo indica que foi a partir <strong>de</strong>sse momento que o CEFET-MG começou a ganhar um <strong>de</strong>staque<br />

no mercado <strong>de</strong> trabalho e na socieda<strong>de</strong>, por oferecer um ensino <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> e ao alcance <strong>de</strong><br />

praticamente todos. Esse fato po<strong>de</strong> ser enfatizado através da citação <strong>de</strong> OLIVEIRA (1994), on<strong>de</strong> ele<br />

afirma como a socieda<strong>de</strong> produz o seu espaço através <strong>de</strong> seus interesses.<br />

A Geografia explica como as socieda<strong>de</strong>s produzem o espaço conforme seus<br />

interesses em <strong>de</strong>terminados momentos históricos e que esse processo implica uma<br />

transformação contínua (Ariovaldo Umbelino <strong>de</strong> OLIVEIRA (org) [et al]. Para on<strong>de</strong><br />

vai o ensino da Geografia. 5ª ed. Contexto. SP, 1994. p.142).<br />

Para auxiliar na escolha das variáveis apontadas no questionário que foi elaborado e<br />

aplicado aos alunos da instituição, teve-se a preocupação em mencionar o histórico relativo aos<br />

cursos ofertados. Com a criação <strong>de</strong> novos cursos, a <strong>de</strong>manda para ingressar na instituição foi<br />

aumentando gradativamente, pois o mercado <strong>de</strong> trabalho também foi exigindo trabalhadores mais<br />

especializados. E como não podia ser diferente, atualmente o mesmo acontece e a procura por uma<br />

instituição on<strong>de</strong> se tenha uma tradição (renome) cresce constantemente. Esse fato é percebido<br />

claramente, pois como no Campus X quanto nos outros campus do CEFET, a <strong>de</strong>manda por uma<br />

vaga é relativamente expressiva, como po<strong>de</strong> ser visualizado <strong>nas</strong> tabelas 01 e 02:<br />

Processo Seletivo - 2º semestre <strong>de</strong> 2012<br />

Unida<strong>de</strong> Curso Vagas Candidatos/Vagas<br />

Curvelo Engenharia Civil 40 10,43<br />

Fonte: Adaptado http://www.copeve.cefetmg.br/galerias/arquivos_download/CandidatosVagasGraduacao_20 122.pdf<br />

(Acessado em 25/07/2012).<br />

Tabela 01: Relação <strong>de</strong> candidatos/vagas para o Curso <strong>de</strong> Engenharia Civil.<br />

Cursos Relação candidato/vaga<br />

Engenharia <strong>de</strong> Produção Civil 21,44<br />

Engenharia Mecânica 18<br />

Engenharia Elétrica 12,41<br />

Fonte: Adaptado- CEFET-MG http://www.cefetmg.br/noticias/2012/06/noticia0013.html(Acessado em 15/07/2012).<br />

Tabela 02: Relação candidato/vaga para o 2˚ Semestre <strong>de</strong> 2012 em Belo Horizonte.<br />

A tabela 01 mostra claramente o quanto é concorrido o vestibular para ingressar no CEFET-<br />

MG. Os cursos foram sendo modificados baseando-se na <strong>de</strong>manda do mercado e possivelmente<br />

atraindo cada vez mais pessoas interessadas no ensino oferecido pela instituição.<br />

O CEFET-MG (Campus X) foi inaugurado no ano <strong>de</strong> 2010 no município <strong>de</strong> Curvelo/MG,<br />

localizado na região central <strong>de</strong> Mi<strong>nas</strong> Gerais, a aproximadamente 170 KM da Capital, Belo<br />

1212


Horizonte. No primeiro ano <strong>de</strong> funcionamento foram ofertados os cursos <strong>de</strong> Edificações,<br />

Eletrotécnica e Meio Ambiente; a <strong>de</strong>manda entre os inscritos interessados em ingressar na<br />

Instituição po<strong>de</strong> ser percebido durante o processo <strong>de</strong> inscrição, pois segundo os dados da COPEVE<br />

(Comissão Permanente do Vestibular) teve-se uma média <strong>de</strong> 18,6 alunos inscritos para cada vaga,<br />

isso mostra que a instalação do CEFET em Curvelo <strong>de</strong>spertou o interesse <strong>de</strong> muitas pessoas. Como<br />

po<strong>de</strong> ser visto na Tabela 03.<br />

Curso Técnico N˚ <strong>de</strong> alunos por vaga<br />

Edificações 11,15<br />

Eletrotécnica 15,38<br />

Meio Ambiente 27,03<br />

Fonte: CEFET-MG-http://www.cefetmg.br/noticias/2009/12/noticia0009.html (Acessado em 15/07/2012).<br />

Tabela 03: Número <strong>de</strong> candidatos em relação ao número <strong>de</strong> vagas em 2010, Campus X.<br />

Após o breve passeio pela história da instituição as variáveis para integrarem o questionário<br />

que foi aplicado aos alunos, foram traçadas, e posteriormente elaborados os gráficos e mapas que<br />

constituem esta pesquisa. Essa realida<strong>de</strong> serviu para <strong>de</strong>monstrar que os mapas são ferramentas<br />

utilizadas para apontar os aspectos existentes em um <strong>de</strong>terminado local em um <strong>de</strong>terminado espaço<br />

<strong>de</strong> tempo. Eles são utilizados, por exemplo, para <strong>de</strong>monstrar os estados no nosso país, a vegetação,<br />

o clima, relevo, <strong>de</strong>ntre vários outros aspectos. Sendo <strong>de</strong> suma importância para se analisar e/ou<br />

planejar um dado ambiente. Segundo R. F. Santos, em seu livro ―Planejamento Ambiental: Teoria e<br />

Prática‖, o planejamento ambiental po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finido como o ―planejamento <strong>de</strong> uma região, visando<br />

integrar informações, diagnosticar ambientes, prever ações e normatizar seu uso através <strong>de</strong> uma<br />

linha ética <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento‖.<br />

Com o passar dos anos, o mapa se tornou uma ferramenta <strong>de</strong> muita importância em nossas<br />

vidas, pois está presente a todo tempo em nosso cotidiano; com o uso <strong>de</strong> GPS (Sistema <strong>de</strong><br />

Posicionamento Global), com as previsões do tempo, para se planejar uma cida<strong>de</strong> (Plano Diretor),<br />

enfim são várias as utilida<strong>de</strong>s do mapa. O mapa possui varias utilida<strong>de</strong>s, e <strong>de</strong>ntro da geografia ele<br />

po<strong>de</strong> ser utilizado tanto para a investigação quanto para a constatação <strong>de</strong> dados, como po<strong>de</strong> ser<br />

observado na citação abaixo, na visão <strong>de</strong> Almeida:<br />

Uma vez que a geografia é uma ciência que se preocupa com a organização do<br />

espaço, para ela o mapa é utilizado tanto para investigação quanto para a constatação<br />

<strong>de</strong> seus dados. (ALMEIDA 2006, Repensando o Ensino. P. 16)<br />

O mapa neste artigo foi utilizado como uma ferramenta <strong>de</strong> constatação <strong>de</strong> informações, ou<br />

seja, durante a pesquisa foram coletados dados e a partir dos mesmos foram confeccionados mapas.<br />

Disso foi possível fazer a análise do espaço, ou seja, nesse caso a análise ambiental a partir da<br />

visualização dos municípios <strong>de</strong> origem dos alunos matriculados na instituição.<br />

1213


Segundo Lopes, Loch e Bahr (2004), resultados <strong>de</strong> uma pesquisa, apresentados sob a forma<br />

gráfica <strong>de</strong> mapas temáticos, torna a informação mais impactante e provoca reação positiva no<br />

administrador, estimulando-o para que soluções sejam provi<strong>de</strong>nciadas <strong>de</strong> forma mais rápida. E foi<br />

nesse sentido <strong>de</strong> tornar impactante a informação sobre a origem dos alunos do CEFET que foi<br />

criado o referido mapa temático, pois além <strong>de</strong> mostrar as informações necessárias <strong>de</strong> forma clara e<br />

objetiva, ele permite ao leitor uma aproximação maior com a realida<strong>de</strong> e com os dados ali<br />

expressados.<br />

Discussões e Métodos<br />

O artigo foi proposto com a intenção <strong>de</strong> obter dados sobre a origem dos discentes<br />

matriculados em janeiro dos anos <strong>de</strong> 2011 e 2012, no Campus Curvelo. E com isso observar os<br />

dados obtidos e fazer as suas <strong>de</strong>vidas interpretações sobre o assunto, relacionando-os com a matéria<br />

<strong>de</strong> Análise Ambiental, procurando respostas sobre o motivo pelo qual muitos <strong>de</strong>sses alunos<br />

matriculados na instituição optaram por se <strong>de</strong>slocarem <strong>de</strong> sua cida<strong>de</strong> para Curvelo.<br />

Os dados sobre a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> origem <strong>de</strong> cada aluno foram coletados junto ao Registro Escolar<br />

do Campus para haver maior precisão nos resultados aqui mostrados. A partir da obtenção <strong>de</strong>sses<br />

dados foi possível perceber a gran<strong>de</strong> área <strong>de</strong> influência que o Campus X tem em sua região, pois<br />

como mostra os gráficos 01 e 02 há alunos <strong>de</strong> vários municípios vizinhos que ingressaram na<br />

instituição, tanto no ano <strong>de</strong> 2011 quanto no ano <strong>de</strong> 2012. Vale ressaltar que esta pesquisa foi<br />

apoiada por intermédio <strong>de</strong> bolsa vinculada ao Programa <strong>de</strong> Iniciação Científica BIC-Jr.<br />

Fonte: Joyce <strong>de</strong> Matos Ramos.<br />

Obs: No gráfico on<strong>de</strong> a porcentagem consta 0% se refere a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 1 aluno.<br />

Gráfico 01: Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Origem dos alunos do Campus X, no ano <strong>de</strong> 2011.<br />

1214


Fonte: Joyce <strong>de</strong> Matos Ramos.<br />

Gráfico 02: Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Origem dos Alunos do Campus X, em 2012.<br />

A instalação do CEFET no Município <strong>de</strong> Curvelo indica que houve o interesse <strong>de</strong> alunos <strong>de</strong><br />

várias cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Mi<strong>nas</strong> Gerais, como mostra os gráficos 01 e 02. Des<strong>de</strong> municípios situados<br />

próximos à Curvelo, que permitem o <strong>de</strong>slocamento <strong>de</strong> alunos diariamente, quanto municípios mais<br />

distantes on<strong>de</strong> há a necessida<strong>de</strong> dos alunos se mudarem para Curvelo. Esse <strong>de</strong>slocamento diário <strong>de</strong><br />

alunos <strong>de</strong> municípios vizinhos po<strong>de</strong> ser caracterizado como um movimento pendular, ou seja, é o<br />

<strong>de</strong>slocamento diário <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong> para outra com alguma finalida<strong>de</strong> (trabalhar e/ou estudar). Para<br />

a autora BEAUJEU-GARNIER o movimento pendular po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finido com o termo commuting:<br />

se reconhecermos que, <strong>de</strong> fato, há enorme número <strong>de</strong> pessoas envolvidas nesse<br />

movimento diário, comumente realizado duas vezes por dia, po<strong>de</strong>remos restringir o<br />

uso do termo ‗commuting‘ a movimentos que encerram três características:<br />

apreciável extensão, uso <strong>de</strong> alguns meios <strong>de</strong> transporte mecânicos e certo grau <strong>de</strong><br />

convergência (BEAUJEU- GARNIER 1980, p. 292-293).<br />

O <strong>de</strong>slocamento diário <strong>de</strong> vários <strong>de</strong>sses alunos (movimento pendular) apontou a força <strong>de</strong><br />

vonta<strong>de</strong> dos mesmos em realizar <strong>de</strong>slocamentos expressivos para alcançarem ou almejarem uma<br />

vida melhor no seu cada dia-a-dia. Para Andan, D'Arcier e Raux (1994, p. 247), a mobilida<strong>de</strong><br />

correspon<strong>de</strong> ao conjunto <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamentos que o indivíduo efetua para executar os atos <strong>de</strong> sua vida<br />

cotidiana (trabalho, compras, lazer).<br />

Através <strong>de</strong> conversas informais com os estudantes, aferiu-se que os <strong>de</strong>slocamentos são feitos<br />

diariamente através <strong>de</strong> carros e transportes públicos. Havendo a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se ter um<br />

planejamento do trânsito para que o <strong>de</strong>slocamento seja feito com êxito e não prejudique as<br />

ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas no município (Curvelo). Essa realida<strong>de</strong> serve para <strong>de</strong>monstrar uma ação<br />

ambiental que po<strong>de</strong>rá ser planejada pelo gestor municipal mediante o exposto.<br />

Apesar da gran<strong>de</strong> maioria dos alunos (75% em 2011 e 64% em 2012) serem do próprio<br />

município, o CEFET conseguiu atrair alunos <strong>de</strong> várias cida<strong>de</strong>s, mostrando <strong>de</strong>sse modo o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />

atração que o Campus possui, em tão pouco tempo <strong>de</strong> funcionamento.<br />

1215


Com a oferta <strong>de</strong> vários cursos, ensino <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, e reconhecimento perante parte da<br />

socieda<strong>de</strong>, o CEFET parece <strong>de</strong>spertar cada vez mais o interesse <strong>de</strong> várias pessoas <strong>de</strong> diferentes<br />

localida<strong>de</strong>s. Pensando nessa realida<strong>de</strong> foi aplicado um questionário aos alunos com o objetivo <strong>de</strong><br />

traçar quais variáveis são responsáveis por atrair alunos oriundos <strong>de</strong> outros municípios adjacentes a<br />

cida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> o Campus se localiza. Para <strong>de</strong>monstrar a varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> pessoas vindas <strong>de</strong> outros<br />

municípios, a pesquisa foi capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitar a área <strong>de</strong> Influência do CEFET-MG a partir dos dados<br />

relativos a cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> origem dos alunos matriculados na escola. Essa área <strong>de</strong> Influência do<br />

Campus X po<strong>de</strong> ser visualizada <strong>nas</strong> tabelas 04 e 05, on<strong>de</strong> há relação entre a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> origem e o<br />

número <strong>de</strong> alunos no Campi.<br />

Tabela 04<br />

Tabela da área <strong>de</strong> influência do Cefet-MG/ Campus X (2011)<br />

Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Origem dos alunos Número <strong>de</strong> alunos<br />

Curvelo 163<br />

Felixlândia 7<br />

Lassance 1<br />

Buenópolis 2<br />

Morro da Garça 4<br />

Três Marias 9<br />

Augusto <strong>de</strong> Lima 5<br />

Presi<strong>de</strong>nte Juscelino 3<br />

Sete Lagoas 1<br />

Inimutaba 8<br />

Corinto 9<br />

Paineiras 1<br />

Diamantina 1<br />

Pompéu 2<br />

Cordisburgo 1<br />

Total <strong>de</strong> Alunos 217<br />

Fonte: Registro Escolar do Campus X<br />

Fonte: Joyce <strong>de</strong> Matos Ramos, 2011.<br />

*Os dados da tabela 03 se referem aos alunos matriculados no ano <strong>de</strong><br />

2011.<br />

1216


Tabela 05<br />

Tabela da área <strong>de</strong> Influência do Cefet-MG/ Campus X (2012)<br />

Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Origem dos Alunos Número <strong>de</strong> Alunos<br />

Curvelo 66<br />

Corinto 8<br />

Buenópolis 6<br />

Felixlândia 6<br />

Três Marias 5<br />

Augusto <strong>de</strong> Lima 2<br />

Belo Horizonte 2<br />

Sete Lagoas 2<br />

Diamantina 1<br />

Monjolos 1<br />

Morro da Garça 1<br />

João Pinheiro 1<br />

Várzea da Palma 1<br />

Total <strong>de</strong> Alunos 102<br />

Fonte: Registro Escolar do Campus X<br />

*Os dados da tabela se referem aos alunos matriculados ano <strong>de</strong> 2012.<br />

Fonte: Joyce <strong>de</strong> Matos Ramos, 2012.<br />

Para ser mais preciso foram 17 municípios diferentes, <strong>de</strong>monstrando assim a varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

alunos <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s distintas em uma única instituição. Com a leitura das tabelas, percebe-se que a<br />

gran<strong>de</strong> maioria dos alunos são <strong>de</strong> origem do próprio município <strong>de</strong> Curvelo, <strong>de</strong>pois vêm os<br />

municípios que se encontram mais próximos ao Campus e que permitem o <strong>de</strong>slocamento diário dos<br />

alunos. Posteriormente, estão os municípios que estão mais distantes do campus(o mais distante,<br />

com 262Km <strong>de</strong> distância) e que por esse motivo faz com que os alunos nessa situação residam<br />

próximos à instituição durante o período <strong>de</strong> estudo, contribuindo <strong>de</strong>ssa maneira com a dinâmica da<br />

economia da cida<strong>de</strong> em questão.<br />

Para haver uma fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> mais expressiva na pesquisa, foi elaborado e aplicado um<br />

questionário quantitativo para se saber os reais motivos e/ou variáveis pelo qual o Campus Curvelo,<br />

foi escolhido para local <strong>de</strong> estudos. Para Richardson (1999),<br />

método Quantitativo, significa a escolha <strong>de</strong> procedimentos sistemáticos para<br />

<strong>de</strong>scrição e explicação <strong>de</strong> fenômenos. O método quantitativo representa, em<br />

princípio, a intenção <strong>de</strong> garantir a precisão dos resultados, evitar distorções <strong>de</strong><br />

análise e interpretação, possibilitando consequentemente, uma margem <strong>de</strong> segurança<br />

quanto às inferências.<br />

O questionário foi feito <strong>de</strong> modo a procurar i<strong>de</strong>ntificar quais foram os motivos mais<br />

relevantes para a escolha do Campus como a escola para se estudar. Segundo Parasuraman (1991),<br />

um questionário é tão somente um conjunto <strong>de</strong> questões, feito para gerar os dados necessários para<br />

se atingir os objetivos do projeto.<br />

1217


Na visão <strong>de</strong> Alyrio (2008), o método quantitativo é utilizado:<br />

nos casos em que se procura i<strong>de</strong>ntificar quantitativamente o nível <strong>de</strong> conhecimento,<br />

as opiniões, impressões, hábitos, comportamentos, quando se procura observar o<br />

alcance do tema, do ponto <strong>de</strong> vista do universo pesquisado, em relação a um produto,<br />

serviço, comunicação ou instituição.<br />

E por isso que foi utilizado o método quantitativo nesse artigo, pois permiti obter dados mais<br />

precisos, sobre a temática utilizada.<br />

Tal questionário apresentou perguntas como, o porquê da escolha do CEFET como<br />

instituição <strong>de</strong> ensino, quem o incentivou a ingressar na instituição, ida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ntre outras perguntas.<br />

Houve certa dificulda<strong>de</strong> em obter esses dados dos alunos, pois no período <strong>de</strong> aplicação do<br />

questionário, a Instituição se encontrava em greve, e não houve o retorno esperado <strong>de</strong> todos.<br />

Devido essa condição ou realida<strong>de</strong> o questionário foi enviado ao e-mail <strong>de</strong> cada turma para<br />

que o mesmo fosse respondido, a partir das respostas obtidas foi elaborado três gráficos, os quais<br />

auxiliaram na cartografia do mapa temático que <strong>de</strong>monstrou a origem dos municípios dos alunos<br />

matriculados.<br />

Fonte: Joyce <strong>de</strong> Matos Ramos.<br />

Gráfico 03: Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Origem dos Entrevistados.<br />

Fonte: Joyce <strong>de</strong> Matos Ramos.<br />

Gráfico 04: Quem o incentivou em ingressar na Instituição.<br />

1218


Fonte: Joyce <strong>de</strong> Matos Ramos.<br />

OBS.: Alguns alunos respon<strong>de</strong>ram com mais <strong>de</strong> uma opção as perguntas referentes<br />

ao gráfico 03 e 04.<br />

Gráfico 05: O que o levou a escolher o Cefet como instituição <strong>de</strong> ensino.<br />

Como se observa no Gráfico 03, aproximadamente 25 das pessoas que foram entrevistadas<br />

são do próprio município <strong>de</strong> Curvelo, e os restantes são <strong>de</strong> outros municípios (Felixlândia,<br />

Inimutaba, Diamantina, Três Marias e Augusto <strong>de</strong> Lima); o Gráfico 04 apresenta os resultados<br />

sobre quem os incentivou a ingressar na Instituição, e as respostas mais ditas foram por <strong>de</strong>cisão<br />

própria ou incentivo <strong>de</strong> pais e familiares, <strong>de</strong>monstrando assim o gran<strong>de</strong> interesse dos alunos em<br />

ingressar no CEFET, e o apoio por parte da família. Já o Gráfico 05, mostra qual foi o fator que<br />

mais influenciou para o Campus X ser escolhido como escola, a gran<strong>de</strong> maioria dos entrevistados<br />

respon<strong>de</strong>ram que foi por causa do ensino <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>. Esse fato enfatiza alguns dizeres acima, pois<br />

<strong>de</strong>monstra a importância do ensino <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> ofertado pela instituição e o seu reconhecimento.<br />

Segundo a American Marketing Association (AMA), a área <strong>de</strong> influência é uma área<br />

geográfica contendo os consumidores <strong>de</strong> uma empresa particular ou grupo <strong>de</strong> empresas para bens<br />

ou serviços específicos (Bennett citado por Berman e Evans, 1998). De acordo com os dizeres da<br />

AMA, o CEFET Campus Curvelo, po<strong>de</strong> ser enquadrado em serviços específicos, ou seja, na<br />

prestação <strong>de</strong> serviços; no caso, educacionais.<br />

A figura 1 apresenta o mapa temático que <strong>de</strong>monstra a cida<strong>de</strong> origem dos alunos<br />

matriculados no CEFET CURVELO, ou seja, representa a área <strong>de</strong> atração que o Campus possui,<br />

representando assim os ―consumidores‖/alunos do CEFET.<br />

Fonte: Adaptado a partir do mapa disponível no site do IBGE<br />

(http://www.censo2010.ibge.gov.br/sinopse/in<strong>de</strong>x.php?uf=31&dados=1).<br />

Figura 01 - Mapa da Área <strong>de</strong> Influência do CEFET-MG/ Campus X.<br />

1219


Em outras palavras, o mapa acima representa o espaço geográfico da Área <strong>de</strong> Influência do<br />

CEFET-MG/Campus Curvelo, representando o espaço geográfico da origem dos alunos<br />

matriculados na escola. Para Brunet (2001 [1990]) ―o espaço geográfico é formado pelo conjunto <strong>de</strong><br />

populações, por suas obras, suas relações localizadas, pelo seu meio <strong>de</strong> vida‖.<br />

A figura 1 apresenta os municípios <strong>de</strong> origem <strong>de</strong> cada aluno do Campus X, como<br />

<strong>de</strong>monstrado no mapa, Curvelo atrai alunos <strong>de</strong> várias cida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s mais próximas como<br />

Inimutaba que se localiza a aproximadamente 10,3 km <strong>de</strong> Curvelo, até cida<strong>de</strong>s mais distantes, como<br />

João Pinheiro que fica à 262 km do município em questão (dados obtidos a partir do Google Earth).<br />

Apesar do número <strong>de</strong> alunos provindos <strong>de</strong>sses municípios serem relativamente pequeno se<br />

comparado com os do município <strong>de</strong> Curvelo (como po<strong>de</strong> ser observado <strong>nas</strong> tabelas 03 e 04) é muito<br />

importante observar o mapa para se ter uma i<strong>de</strong>ia mais clara sobre a importância que essa realida<strong>de</strong><br />

esboça, pois como po<strong>de</strong> ser observado, vários são os municípios e é a partir <strong>de</strong>ssa análise espacial<br />

que o Campus Curvelo <strong>de</strong>senha o seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> atração em tão pouco tempo <strong>de</strong> funcionamento.<br />

Segundo Santos:<br />

o espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório,<br />

<strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong> objetos e sistemas <strong>de</strong> ações, não consi<strong>de</strong>rados isoladamente, mas<br />

como o quadro único no qual a história se dá (Santos, 1999, p. 51).<br />

As análises dos gráficos contidos no artigo nos remetem a credibilida<strong>de</strong> da instituição ao<br />

ponto <strong>de</strong> atrair alunos <strong>de</strong> lugares distantes, como foi apontado pelas respostas obtidas mediante a<br />

aplicação do questionário. Essa realida<strong>de</strong> reflete o <strong>de</strong>staque que o CEFET-MG (Se<strong>de</strong>) tem ganhado<br />

ao longo dos seus 102 anos <strong>de</strong> funcionamento, fazendo que isso reflita em seus Campi. Nesse<br />

contexto, o presente artigo po<strong>de</strong>rá chamar a atenção dos gestores dos municípios que possuem<br />

alunos que estudam no Cefet Curvelo, a planejarem melhor suas respectivas cida<strong>de</strong>s com o intuito<br />

<strong>de</strong> alocar ou direcionar mais investimentos na educação, evitando assim, o aumento do<br />

<strong>de</strong>slocamento pendular. Realida<strong>de</strong> essa que caracterizaria uma ação ambiental mediante o<br />

planejamento e programas <strong>de</strong> cunho ambientais.<br />

Reflexões Finais<br />

Espera-se que esta pesquisa abra as portas para que novos estudos envolvendo a análise<br />

ambiental sejam realizados, aguçando assim, a intenção <strong>de</strong> jovens vislumbrarem o campo da<br />

iniciação científica. Temáticas diversas po<strong>de</strong>rão ser trabalhadas ou pesquisadas utilizando-se do<br />

ferramental constituído <strong>de</strong> mapas, gráficos e tabelas. A exemplo da referida diversida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>mos<br />

mencionar a temática abordada neste artigo, a qual <strong>de</strong>monstrou os municípios <strong>de</strong> origem dos alunos<br />

matriculados no Cefet Campus Curvelo ao longo <strong>de</strong> seus 2 anos <strong>de</strong> funcionamento, numa área<br />

abarcando 17 municípios na totalida<strong>de</strong>.<br />

1220


Bibliografia<br />

ALMEIDA, Rosângela Doin <strong>de</strong>.; PASSINI, Elza Yasuko. O espaço geográfico: ensino e<br />

representação. 15. ed. São Paulo: Contexto, 2006. (Repensando o Ensino. P. 16).<br />

ALYRIO, R.D. Metodologia Científica. PPGEN: UFRRJ, 2008.<br />

ANDAN, O.; D'ARCIER, B.F.; RAUX, C. Mouvements, déplacements, transport: la mobilité<br />

quotidiene. In: AURAY, J. P.; BAILLY, A.; DERYCKE, P. H.; HURIOT, J. M.<br />

(Org.). Encyclopédie d'économie spatiale: concepts - comportements - organisations. Paris:<br />

Economica, 1994. p. 247-252.<br />

Ariovaldo Umbelino <strong>de</strong> OLIVEIRA (org) [et al]. Para on<strong>de</strong> vai o ensino da Geografia. 5ª ed.<br />

Contexto. SP, 1994. p.142).<br />

BEAUJEU-GARNIER, J. Geografia da população. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1980.<br />

BERMAN, Barry, EVANS, Joel R. Retail management:a strategic approach. Upper Saddle River:<br />

Prentice Hall, 1998. p. 276.<br />

BRUNET. Le déchiffrement du mon<strong>de</strong>: théorie et pratique <strong>de</strong> la géographie. Paris: Belin, 2001<br />

[1990].<br />

LOPES, L. H. A.; Loch, C.; Bähr, H.P. (2004). Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Gestão Urbana baseado na capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> atendimento do sistema <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água. Congresso Brasileiro <strong>de</strong> Cadastro Técnico<br />

Multifinalitário, COBRAC – 2004, Florianópolis.<br />

PARASURAMAN, A. Marketing research. 2. ed. Addison Wesley Publishing Company, 1991.<br />

RICHARDSON, R. J.. Pesquisa Social: Métodos e Técnicas. São Paulo: Atlas, 1999.<br />

SANTOS, Milton. A natureza do espaço: espaço e tempo: razão e emoção. 3. ed. São Paulo:<br />

Hucitec, 1999.<br />

SANTOS, R.F. Livro: Planejamento Ambiental: Teoria e Prática. Editora: oficina <strong>de</strong> Textos. São<br />

Paulo, 2004.<br />

1221


MEIO AMBIENTE, OCUPAÇÃO URBANA E TURISMO: O CASO DA PONTA DO SEIXAS,<br />

PONTO MAIS ORIENTAL DAS AMÉRICAS<br />

Alexandre dos Santos SOUZA<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Paraíba (UFPB). Graduando do curso <strong>de</strong> Geografia<br />

alesougeo@gmail.com<br />

Wesley Ramos NÓBREGA<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Paraíba (UFPB). Graduando do curso <strong>de</strong> Geografia<br />

wesjppb@gmail.com<br />

Maria Emanuella Firmino BARBOSA<br />

mariaemanuellaf@gmail.com<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Paraíba (UFPB). Mestranda do curso <strong>de</strong> Geografia<br />

Max FURRIER<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Paraíba (UFPB). Orientador Dr. e Prof. do Departamento <strong>de</strong> Geociências<br />

max.furrier@hotmail.com<br />

Resumo<br />

O presente trabalho tem por objetivos norteadores, fazer uma análise dos aspectos físicos e<br />

ambientais da área compreendida pela Ponta do Seixas, ponto mais oriental das Américas,<br />

localizado na coor<strong>de</strong>nada 34º47ʹO, na porção leste do município <strong>de</strong> João Pessoa, capital do estado<br />

da Paraíba. Nessa zona costeira (como em outros pontos do litoral paraibano e brasileiro) os<br />

processos mo<strong>de</strong>ladores naturais atrelados ao uso e ocupação do solo por ativida<strong>de</strong>s antrópicas, tem<br />

dinamizado os processos erosivos e a <strong>de</strong>gradação do ambiente costeiro. Em <strong>de</strong>corrência disso,<br />

torna-se imprescindível a fiscalização, monitoramento e a conservação da área por parte dos órgãos<br />

responsáveis, criando ações que garantam o cumprimento da legislação vigente. Entre as<br />

implicações da ocupação do terreno costeiro supracitado, averigua-se concomitantemente intensa<br />

ação erosiva na faixa <strong>de</strong> praia. A caracterização do espaço costeiro apresentada nesse trabalho<br />

constatou o <strong>de</strong>sequilíbrio ambiental em que se encontra essa zona litorânea, fato averiguado tanto<br />

na dinâmica costeira, como também <strong>nas</strong> obras <strong>de</strong> engenharia civil que estão projetadas, em sua<br />

maioria, sobre a área limítrofe da berma praial.<br />

Palavras-chaves: Ponta <strong>de</strong> Seixas; Planejamento ambiental; Ocupação imobiliária; Terreno costeiro.<br />

Abstract<br />

The following research has as its leading objectives, analyze the physical and environmental aspects<br />

of the area known as Seixa's Pontal, the eastern most point in the Americas, located at 34º47 W, in<br />

the eastern portion of the municipality of João Pessoa, the capital of the state of Paraíba. In this<br />

coastal zone (as in other locations of the brazilian, and in other locations of the Paraiba‘s coast).<br />

1222


The natural mo<strong>de</strong>ling processes along with the occupation of the area for anthropic activity has sped<br />

up the eroding process and <strong>de</strong>gradation of the coastal line. Due to this occurrence monitoring has<br />

become something of the highest or<strong>de</strong>r. The monitoring and the conservation of the area by the<br />

appropriated governmental branches, creating policies that will guarantee the fulfillment of the<br />

current legislation. Among the implications of occupancy of the coastal terrain mentioned above, it<br />

can be evaluated that the intense concomitantly erosive action of the coastal line. The<br />

characterization of the coast presented in this essay conveyed that the environmental misbalance<br />

happening in this coastal zone, this fact being seen in coastal dynamics, as it is also seen in civil<br />

engineering that are projected, in its majority, about the area bor<strong>de</strong>ring the beach berm.<br />

Keywords: Seixa's Pontal, Environmental Planning, Real State Occupation, Coastal Terrain<br />

Introdução<br />

A zona costeira on<strong>de</strong> está localizada a Ponta do Seixas, porção leste do município <strong>de</strong> João<br />

Pessoa, capital do estado da Paraíba (Figura 1), tem evi<strong>de</strong>nciado nos últimos anos uma série <strong>de</strong><br />

problemas <strong>de</strong> natureza socioambiental entre os quais po<strong>de</strong>mos elencar: <strong>de</strong>gradação da vegetação<br />

nativa, ocupação irregular da orla praial por elementos antrópicos, e erosão costeira.<br />

No caso dos ambientes costeiros, sendo esses, terrenos propícios a intensa especulação<br />

imobiliária e turismo em virtu<strong>de</strong> dos atrativos <strong>de</strong> recreação que tais ambientes naturais oferecem,<br />

torna-se <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância ações <strong>de</strong> planejamento visando mitigar processos que <strong>de</strong>gra<strong>de</strong>m<br />

esses espaços <strong>de</strong> extrema relevância no que diz respeito a questões <strong>de</strong> natureza socioambiental. Para<br />

SEABRA (2005), tais espaços representam perímetros suscetíveis aos processos predatórios que<br />

ocorrem em toda região do litoral nor<strong>de</strong>stino em <strong>de</strong>corrência do uso e ocupação ina<strong>de</strong>quada <strong>de</strong>sses<br />

terrenos.<br />

Nesse contexto as regiões litorâneas (ou costeiras) constituem as faixas limítrofes entre os<br />

continentes (terras emersas) e os oceanos (terras submersas), representando uma das áreas <strong>de</strong> mais<br />

intenso intercâmbio <strong>de</strong> energia e matéria do sistema Terra. Essas regiões estão sendo invadidas, em<br />

escala mundial, pelo rápido incremento populacional, que constitui uma das consequências diretas<br />

do <strong>de</strong>senvolvimento econômico (SOUZA e SUGUIO, 2003).<br />

Entre os ambientes naturais, aqueles suscetíveis aos processos erosivos são os mais ativos e<br />

frágeis a alterações do equilíbrio dinâmico. Nesse aspecto, as faixas costeiras, sobretudo as com<br />

bases litológicas arenosas, representam indubitavelmente uma área propicia a problemas <strong>de</strong> erosão.<br />

Segundo BIRD (1993 apud Lins-<strong>de</strong>-Barros 2005, p.83) esses problemas <strong>de</strong>correntes da erosão<br />

costeira vêm sendo observado em diferentes locais do mundo, o que faz da questão um fenômeno<br />

<strong>de</strong> natureza global.<br />

1223


Para Addad (l997, p.5), a linha <strong>de</strong> pesquisa mais disseminada, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que a principal causa<br />

dos processos erosivos nos terrenos costeiros advém em função da "subida global do nível do mar,<br />

responsabilizando" o efeito estufa e consequentemente o aumento da temperatura do planeta, "da<br />

or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 0,5ºC nos últimos l00 anos" como principais causadores <strong>de</strong>sse fenômeno.<br />

Outra abordagem científica que tem sido amplamente observada nos últimos anos aponta a<br />

intervenção antrópica nos mecanismo que suprem <strong>de</strong> sedimento os ambientes marinhos, como fato<br />

que agrava e influi mais intensamente na dinâmica erosiva das orlas praiais. Neste sentido, a<br />

construção <strong>de</strong> barragens e outros meios <strong>de</strong> retenção da carga sedimentar que <strong>de</strong>veria ser <strong>de</strong>positada<br />

na faixa costeira representam fatores causadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>sequilíbrio no sistema dinâmico da<br />

morfologia praial.<br />

Figura 1 – Localização da área <strong>de</strong> estudo.<br />

Materiais e Métodos<br />

Para <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sse trabalho, foram utilizadas: imagens <strong>de</strong> satélite e a carta<br />

topográfica Nossa Senhora da Penha 1:25.000 (SB.25-Y-C-III-1-SE); além <strong>de</strong> registros<br />

iconográficos; consulta à bibliografia especializada e pesquisas <strong>de</strong> campo. Através <strong>de</strong>sses critérios,<br />

1224


foram balizadas as informações que possibilitaram o estudo da situação geográfica do trecho<br />

analisado.<br />

Caracterização Geológica e Geomorfológica<br />

A Ponta do Seixas é parte integrante da unida<strong>de</strong> geológica que forma o arcabouço<br />

litoestratigráfico que compõem a Formação Barreiras. O material sedimentar <strong>de</strong>sta unida<strong>de</strong> advém<br />

basicamente da atuação dos agentes exógenos sobre as rochas do embasamento cristalino, situado<br />

no interior do continente sendo composto por sedimentos areno-argilosos mal consolidados<br />

(FURRIER et al., 2006, p.62). Conforme também citar esse autor, "a Formação Barreiras representa<br />

a evolução <strong>de</strong> um sistema fluvial <strong>de</strong>senvolvido em fortes gradientes e sob clima predominantemente<br />

árido e sujeito a oscilações" (FURRIER 2006, p.64, apud ALHEIROS et al., l998).<br />

O terreno estudado está inserido na Baixada Litorânea, que é compreendida por uma forma<br />

<strong>de</strong> relevo plana constituída <strong>de</strong> sedimentos recentes do Quaternário, que ocupa as cotas mais baixas<br />

da orla marítima, representada pelas praias e áreas baixas <strong>de</strong> restingas litorâneas. Essa unida<strong>de</strong> é<br />

<strong>de</strong>finida por Suguio (1998) como planície <strong>de</strong> baixo gradiente que margeia corpos <strong>de</strong> água <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong>s extensões, como o mar ou oceano, representado habitualmente por faixas <strong>de</strong> terra<br />

recentemente emersas, compostas <strong>de</strong> sedimentos marinhos e fluviomarinhos, em geral <strong>de</strong> ida<strong>de</strong><br />

quaternária.<br />

Nesta perspectiva tem-se a planície costeira local como uma forma <strong>de</strong> relevo on<strong>de</strong> os<br />

processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>posição são superiores aos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sgaste ou dissecação da paisagem. Isto significa<br />

dizer que a verda<strong>de</strong>ira planície é uma forma <strong>de</strong> relevo relativamente recente (GUERRA, 2006). As<br />

planícies po<strong>de</strong>m ter diversas classificações (marítimas, continentais, inundação, lacustre, <strong>de</strong>ltaica,<br />

<strong>de</strong>ntre outras), mas a área estudada apresenta-se inserida em uma área <strong>de</strong> planície litorânea<br />

(FIGURA 2).<br />

1225


Figura 2 – Morfologia da área <strong>de</strong> estudo. (Fonte: Google Earth 2012).<br />

Na porção estudada, além da diminuição na <strong>de</strong>posição dos sedimentos arenosos, atrelada ao<br />

transporte natural ocorrente perpendicular à faixa <strong>de</strong> praia, que intensifica a abrasão dos grãos em<br />

<strong>de</strong>trimento dos movimentos causados pelas ondas, interferindo diretamente na manutenção do<br />

equilibro dinâmicos da área, verifica-se também que a ocupação ina<strong>de</strong>quada do pós-praia, tem<br />

constituído um cenário <strong>de</strong>sastroso que contribui significativamente na modificação e <strong>de</strong>gradação do<br />

ambiente costeiro em questão.<br />

Um aspecto importante da geomorfologia da porção estudada é a proximida<strong>de</strong> entre o Baixo<br />

Planalto Costeiro e a planície costeira, tal característica, favorece o surgimento <strong>de</strong> trechos <strong>de</strong><br />

falésias e praias relativamente estreitas (Figura 2). A plataforma continental é resultante <strong>de</strong> espessas<br />

bacias sedimentares tectônicas, que receberam milhares <strong>de</strong> metros <strong>de</strong> sedimento marinho durante a<br />

separação <strong>de</strong> África e Brasil, através dos gran<strong>de</strong>s movimentos tectônicos <strong>de</strong> placas, (AB‘SABER,<br />

2005).<br />

Na porção marinha que abrange a Ponta do Seixas, há presença <strong>de</strong> beach rocks (Figura 3)<br />

fator esse que influência significativamente na dissipação das ondas que na área em questão não<br />

ultrapassam l m, mesmo <strong>nas</strong> marés altas. A respeito <strong>de</strong>ssas formações marinhas Ab‘Saber, (2005 p.<br />

5) comenta:<br />

Um dos atributos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> presença no litoral brasileiro, sob a forma <strong>de</strong><br />

paleopraias <strong>de</strong> arenito e representado pela gran<strong>de</strong> extensão <strong>de</strong> recifes,<br />

1226


ocasionalmente entremeados por setores biogênicos coralígenos. Predominam na<br />

nossa costa recifes em forma <strong>de</strong> barreiras paralelas dos mais diferentes setores do<br />

litoral intertropical, sobretudo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o Ceará até o sul da Bahia.<br />

FIGURA 3 – Localização dos beach rocks na área <strong>de</strong> estudo. (Fontes: Google earth 2012; Foto na imagem:<br />

Valéria Silva 2008).<br />

É importante ressaltar também que as ondas atuam como os principais agentes mo<strong>de</strong>ladores<br />

do prisma praial, e que no litoral paraibano são registradas marés que oscilam entre as amplitu<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> -0.1m (micro maré) e máximas <strong>de</strong> 2.7 m, conforme dados apresentados pela Diretoria <strong>de</strong><br />

Hidrografia e Navegação (DHN).<br />

Como se sabe, uma zona costeira é um ambiente muito dinâmico, frágil e fácil <strong>de</strong> sofrer<br />

alterações em seu equilíbrio. Como principal evidência <strong>de</strong> fatores que <strong>de</strong>sequilibram esses<br />

ambientes tem-se a erosão costeira, processo natural em faixas litorâneas e que por outro lado po<strong>de</strong><br />

trazer sérios danos sócios ambientais quando é acelerado por intervenções <strong>de</strong> natureza antrópica<br />

(Figura 4).<br />

1227


Figura 4 – a) Localização da Palhoça do Seixas no ano <strong>de</strong> 2005. Fonte: Google Earth, 2005; b) Área na qual estava<br />

situada a antiga Palhoça do Seixas. Fonte: Google Earth, 2009; c) Imagem aérea on<strong>de</strong> estava construída a antiga<br />

palhoça do Seixas, estabelecimento muito frequentado na década <strong>de</strong> 1990. Disponível em:<br />

http://www.panoramio.com/photo/8859527. Acesso em: 15 setembro 2012; d) Situação atual da área em questão. A<br />

erosão nesse trecho apresenta um grau bastante consi<strong>de</strong>rável e já compromete toda a infraestrutura (estacionamento<br />

público e sistema <strong>de</strong> drenagem fluvial) da área (Foto: Alexandre Souza, 2012).<br />

É importante observar também que a dinâmica responsável pelo comportamento das praias<br />

principia sua atuação na base da antepraia (shoreface), a qual representa o limite externo da camada<br />

limite da costa, e que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do clima <strong>de</strong> ondas, essa camada se esten<strong>de</strong>rá a profundida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

uma a duas <strong>de</strong>ze<strong>nas</strong> <strong>de</strong> metros e tendo a praia como perímetro mais interno, (CALLIARI et al.,<br />

2003, p. 64).<br />

Na orla ao norte da Ponta do Seixas, especificamente na zona limítrofe do trecho estudado<br />

encontramos a mais ilustre falésia do estado da Paraíba, <strong>de</strong>nominada <strong>de</strong> falésia do Cabo Branco,<br />

importante ponto turístico e que também tem sido afetada por intensos processos erosivos conforme<br />

(Figura 5 a/b). Ao sul, encontramos a <strong>de</strong>sembocadura do rio do Cabelo (Figura 5 c/d), bastante<br />

<strong>de</strong>gradado por elementos antrópicos, salientando que os rios são elementos fundamentais para<br />

reabastecimento <strong>de</strong> sedimentos das praias. Sobre isso, Addad (1997, p. 5) comenta que a<br />

interferência humana nos suprimentos sedimentares das praias aumentou dramaticamente <strong>nas</strong><br />

ultimas décadas, fato que po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado como fator <strong>de</strong>sequilibrante do perfil das praias.<br />

1228


Figura 5 – a) Falésia do Cabo Branco; b) Face praial da Falésia do Cabo Branco vista a partir da Praia do Seixas;<br />

c) Construções na margem do leito do rio do Cabelo; d) Desembocadura do rio do Cabelo, porção ao sul da<br />

Ponta do Seixas.<br />

No que tange os processos erosivos ocorridos na linha <strong>de</strong> costa estudada, foi possível<br />

averiguar um processo natural <strong>de</strong> <strong>de</strong>sgaste que se agrava em áreas on<strong>de</strong> ocorrem pontões e<br />

enseadas. No caso da Ponta do Seixas, ocorre a uma taxa maior <strong>de</strong>vido à concentração das ondas<br />

refratadas durantes as marés altas. No espaço em questão, esses processos intensificam a erosão na<br />

faixa limítrofe da berma em <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> construções impróprias e in<strong>de</strong>vidas que<br />

estão postas na zona <strong>de</strong> pós-praia conforme citado anteriormente.<br />

Outro agravante que altera a paisagem local e atesta o quanto a região carece <strong>de</strong><br />

planejamento técnico são as barricadas <strong>de</strong> contenção feitas com estacas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira e rocha calcária<br />

na zona da berma. Nesse aspecto tem-se o calcário como um material ina<strong>de</strong>quado uma vez que sua<br />

composição cárstica, tem como característica principal a dissolução química, processo que em<br />

<strong>de</strong>corrência da dinâmica imposta pela atmosfera costeira se torna consi<strong>de</strong>ravelmente acelerado,<br />

fazendo-se necessário a reposição do material periodicamente, em virtu<strong>de</strong> do <strong>de</strong>sgaste provocado<br />

pelos fatores exógenos atuantes na área (Figura 6).<br />

1229


Figura 5 – a) Bares da orla do Seixas afetados pela erosão; b e c) Construções obstruindo a linha <strong>de</strong> berma e<br />

consequentemente o acesso <strong>de</strong> pessoas à praia; d) Enrocamento improvisado com utilização <strong>de</strong> estacas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira<br />

e rochas calcárias, outro elemento que impe<strong>de</strong> a livre circulação <strong>de</strong> pessoas a face praial.<br />

No escopo <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r a situação ambiental da área estudada, torna-se relevante analisar<br />

o meio físico a luz <strong>de</strong> normas regulamentares instituídas que proponham a preservação do Meio<br />

Ambiente, bem como o estabelecimento humano no espaço geográfico. Principalmente, porque no<br />

litoral do brasileiro são comuns muitos problemas <strong>de</strong> natureza antrópica bem conhecidos, entre os<br />

quais são citados por Ab‘Saber (2005, p. 12).'<br />

Falta <strong>de</strong> fiscalização do po<strong>de</strong>r público sobre o uso do solo da linha <strong>de</strong> costa, que<br />

resulta em <strong>de</strong>gradação estética da orla e na alta <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> urbana <strong>de</strong> pontos<br />

turísticos do litoral; Lixo resi<strong>de</strong>ncial que <strong>de</strong>sce pelos múltiplos rios do litoral em<br />

dias <strong>de</strong> enxurrada, composto em parte <strong>de</strong> materiais não bio<strong>de</strong>gradáveis, que se<br />

acabam <strong>de</strong>positando no fundo do mar ou alcançando as praias da região; Lixo que<br />

se <strong>de</strong>posita <strong>nas</strong> praias próximas dos centros urbanos litorâneos; Falta <strong>de</strong> recursos<br />

financeiros e <strong>de</strong>terminação política para o gerenciamento costeiro.<br />

Desta forma foram observados alguns parâmetros da Lei Nº 6.938, <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1931,<br />

da Política Nacional do Meio Ambiente. Segundo essa Lei, conforme disposto no Art. 2º, ―A<br />

Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da<br />

qualida<strong>de</strong> ambiental propícia à vida, visando assegurar, no país, condições ao <strong>de</strong>senvolvimento<br />

socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignida<strong>de</strong> da vida humana.‖<br />

1230


Baseado no Artigo supracitado e examinando a situação da área <strong>de</strong> estudo foram sublinhados os<br />

seguintes princípios que constam nos parágrafos regulamentadores da mesma Lei:<br />

IV. Proteção dos ecossistemas, com a preservação <strong>de</strong> áreas representativas;<br />

VII. Acompanhamento do estado da qualida<strong>de</strong> ambiental;<br />

IX. Proteção <strong>de</strong> áreas ameaçadas <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação;<br />

X. Educação ambiental a todos os níveis do ensino, inclusive a educação da comunida<strong>de</strong>,<br />

objetivando capacitá-la para participação ativa na <strong>de</strong>fesa do meio ambiente.<br />

Desta forma, consi<strong>de</strong>rando o fato <strong>de</strong> que a faixa <strong>de</strong> pós-praia da Ponta do Seixas e sua<br />

adjacência norte e sul encontram-se sobre forte intervenção antrópica, sobressai-se notória<br />

possibilida<strong>de</strong> ser esse um trecho que bem exemplifica (no que tange os itens supracitados da Lei Nº<br />

6.938 da Política Nacional do Meio Ambiente), um espaço on<strong>de</strong> a normas legais <strong>de</strong> planejamento<br />

ambiental não foram respeitadas, contribuindo assim com o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação da área.<br />

Tais conclusões avigoram-se com o Artigo 3º da mesma Lei que <strong>de</strong>fine como ―<strong>de</strong>gradação<br />

da qualida<strong>de</strong> ambiental, a alteração adversa das características do meio ambiente‖ (item II) e que <strong>de</strong><br />

alguma forma resultem em ativida<strong>de</strong>s que: ―criem condições adversas às ativida<strong>de</strong>s sociais e<br />

econômicas; e afetem <strong>de</strong>sfavoravelmente a biota‖, (conforme subitens B e C, item III da mesma<br />

Lei).<br />

A porção estudada conforme observado <strong>nas</strong> (Figuras 5 e 6 acima) apresenta o terreno<br />

costeiro <strong>de</strong> pós-praia ocupado por uma quantida<strong>de</strong> significativa <strong>de</strong> construções civis (casas, bares e<br />

associações recreativas) e que <strong>de</strong> acordo com as aferições realizadas infringem a artigos da lei Nº<br />

7.661, <strong>de</strong> 16 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1988 do Plano Nacional <strong>de</strong> Gerenciamento Costeiro - PNGC, uma vez que,<br />

conforme o Art.10 <strong>de</strong>ssa lei ―As praias são bens públicos <strong>de</strong> uso comum do povo, sendo<br />

assegurado, sempre, livre e franco acesso a elas e ao mar, em qualquer direção e sentido,<br />

ressalvados os trechos consi<strong>de</strong>rados <strong>de</strong> interesse <strong>de</strong> segurança nacional ou incluídos em áreas<br />

protegidas por legislação específica‖.<br />

A partir do que expõe o artigo supracitado, tem-se na área total <strong>de</strong>scumprimento da<br />

legislação vigente que regula a ocupação do acrescido <strong>de</strong> marinha da União, fato comprovado<br />

através dos registros efetuados na área, uma vez que, conforme o parágrafo 1º do Art.10 ―Não será<br />

permitida a urbanização ou qualquer forma <strong>de</strong> utilização do solo na Zona Costeira que impeça ou<br />

dificulte o acesso assegurado no caput <strong>de</strong>ste artigo‖. A partir dos pressupostos legais apresentados<br />

foi <strong>de</strong>finida a seguinte situação do trecho estudado:<br />

A) Pós-praia estreita e intensamente ocupada em algumas áreas <strong>de</strong>vido ao processo <strong>de</strong><br />

urbanização e visivelmente afetado pela abrasão das preamares <strong>de</strong> sizígias.<br />

1231


B) Degradação da <strong>de</strong>sembocadura do rio do Cabelo evi<strong>de</strong>nciando a grave interferência<br />

antrópica.<br />

C) Construção <strong>de</strong> enrocamentos a base <strong>de</strong> blocos <strong>de</strong> calcário e estacas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira na área <strong>de</strong><br />

berma, visando conter o avanço do mar, fato que po<strong>de</strong> agravar ainda mais o equilíbrio<br />

dinâmico da face praial.<br />

D) Orla costeira bor<strong>de</strong>jada por construções <strong>de</strong> casas, bares e restaurantes servindo como<br />

contenção aos sedimentos que <strong>de</strong>veriam ser <strong>de</strong>positados naturalmente na praia pela ação<br />

gravitacional existente, levando em consi<strong>de</strong>ração a proximida<strong>de</strong> com os trechos escarpados<br />

dos tabuleiros litorâneos.<br />

E) Destruição <strong>de</strong> estruturas artificiais construídas sobre a face praial e pós-praia provocada<br />

durante as marés altas.<br />

Consi<strong>de</strong>rações Finais<br />

Como resultado final <strong>de</strong>sse trabalho, concluímos que o processo <strong>de</strong> ocupação do espaço<br />

costeiro que abrange a Ponta do Seixas e suas adjacências, traz consigo fortes implicações que têm<br />

como saldo: <strong>de</strong>gradação da paisagem; ausência <strong>de</strong> planejamento no uso do solo; e ocupação<br />

<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada da orla praial por infraestruturas ina<strong>de</strong>quadas em áreas <strong>de</strong> risco.<br />

Destarte, faz-se imperativa a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> soluções eficazes que visem mitigar os efeitos<br />

da <strong>de</strong>terioração em que se encontra a zona em questão, permitindo assegurar <strong>de</strong> maneira efetiva,<br />

uma ocupação a<strong>de</strong>quada e sem maiores danos a socieda<strong>de</strong> e ao meio ambiente. Para tanto, será<br />

imprescindível que tais soluções, aconteçam por intermédio <strong>de</strong> uma ação integradora entre a<br />

socieda<strong>de</strong> e po<strong>de</strong>r público, on<strong>de</strong> os esforços técnicos, financeiros e humanos, sejam conjugados, a<br />

fim <strong>de</strong> conter os impactos causados num ambiente consi<strong>de</strong>ravelmente frágil, como é a zona praial.<br />

Em suma, <strong>de</strong>ve-se ressaltar que, tais medidas, sejam implantadas a fim <strong>de</strong> promover a<br />

recuperação e a preservação <strong>de</strong>sse ambiente, uma vez que, a análise da área <strong>de</strong>monstrou uma série<br />

<strong>de</strong> consequências socioeconômicas negativas em função da falta <strong>de</strong> planejamento e ocupação do<br />

solo da zona costeira estudada. Fazendo-se necessário assim, a intervenção por parte dos órgãos<br />

públicos responsáveis pela fiscalização <strong>de</strong>sse bem público, a fim <strong>de</strong> promover um or<strong>de</strong>namento<br />

a<strong>de</strong>quado do espaço em questão consi<strong>de</strong>rando sua vulnerabilida<strong>de</strong> física e a importância turística do<br />

terreno costeiro que abarca a Ponta do Seixas.<br />

1232


Referências<br />

AB'SABER, A. Litoral do Brasil / Brazilian coast. Sao Paulo, Metalivros, 2005, 281 p., publicado<br />

na Obra <strong>de</strong> Aziz Nacib Ab´Saber, 2010.<br />

ADDAD, J. Alterações fluviais e erosão costeira. Revista Brasileira <strong>de</strong> Recursos Hídricos <strong>Vol</strong>ume<br />

2, n.2 Jul/Dez 1997, 21-44.<br />

BORGES, P., et al. A erosão costeira como factor condicionante da sustentabilida<strong>de</strong>. 15º<br />

Congresso da APDR, p. 66-75, 2009.<br />

CALLIARI, L. J., et al. Morfodinâmica praial: uma breve revisão. Revista Brasileira <strong>de</strong><br />

Oceanografia, 51: 63-78, 2003.<br />

FURRIER, F., et al. Geomorfologia e Tectônica da Formação Barreiras no Estado da Paraíba.<br />

Revista do Instituto <strong>de</strong> Geociências – USP. Geol. USP Sér. Cient., São Paulo, v. 6, n. 2, p. 61-70,<br />

outubro 2006.<br />

GUERRA, A. T.; GUERRA, A. J. T. Novo dicionário geológico - geomorfológico. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Bertrand Brasil, 5ª ed. p.652, 2006.<br />

LINS-DE-BARROS, F. M. Risco, vulnerabilida<strong>de</strong> física à erosão costeira e impactos sócioeconômicos<br />

na orla urbanizada do município <strong>de</strong> maricá, rio <strong>de</strong> janeiro. Revista Brasileira <strong>de</strong><br />

Geomorfologia - Ano 6, nº 2 (2005) 83-90.<br />

SEABRA, Giovanni <strong>de</strong> Farias. Turismo Insustentável: <strong>de</strong>gradação da cultura e do meio ambiente<br />

no Estado da Paraíba. In Revista Paraibana <strong>de</strong> Geografia. <strong>Vol</strong>. II. Número 1. João Pessoa: DGEOC<br />

- UFPB, 2000 (89-100).<br />

SOUZA, C.R <strong>de</strong> G. e SUGUIO, K. The coastal erosion risk zoning and the São Paulo Plan for<br />

Coastal Management. Journal of Coastal Research, Special Issue 35, p. 530-547, 2003.<br />

SUGUIO, K. Dicionário <strong>de</strong> Geologia Sedimentar e Áreas Afins. Rio <strong>de</strong> Janeiro. Ed. Bertand Brasil.<br />

1222p. 1998.<br />

SUGUIO, K. Geologia do Quaternário e mudanças ambientais: (passado + presente = futuro?).<br />

São Paulo: Paulo‘s comunicação e Artes Gráficas, p.366. 1999.<br />

DIRETORIA DE HIDROGRAFIA E NAVEGAÇÃO. Disponível em:<br />

https://www.mar.mil.br/dhn/dhn/in<strong>de</strong>x.html. Acesso em: 13 <strong>de</strong> Setembro 2012.<br />

LEI Nº 6.938, DE 31 DE AGOSTO DE 1931, DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE.<br />

Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm. Acesso em 22 <strong>de</strong> Setembro<br />

2012.<br />

LEI Nº 7.661, DE 16 DE MAIO DE 1988, PLANO NACIONAL DE GERENCIAMENTO<br />

COSTEIRO - PNGC. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7661.htm. Acesso<br />

em 22 <strong>de</strong> Setembro 2012.<br />

1233


Resumo<br />

BASES MOTIVACIONAIS PARA O CUIDADO AMBIENTAL: UM EXAME DA<br />

LITERATURA EM PSICOLOGIA<br />

Dandara MORAIS<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte, Bolsista IC/CNPq – dandaramrs@gmail.com<br />

Raquel Farias DINIZ<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte, Doutoranda – raquelfdiniz@gmail.com<br />

José Q. PINHEIRO<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte, Prof. Dr. – pinheiro@cchla.ufrn.br<br />

O mundo vivencia um contexto <strong>de</strong> crise generalizada das condições ambientais, que revela fatores<br />

críticos consi<strong>de</strong>rados consequências da ação humana sobre o meio ambiente. Dessa forma, os<br />

esforços para superar tais condições por meio da promoção <strong>de</strong> mudanças nesse contexto, precisam<br />

partir, inicialmente, <strong>de</strong> mudanças <strong>de</strong> conduta nos indivíduos. Objetivando uma melhor compreensão<br />

dos fatores subjetivos que compõem o compromisso pró-ecológico, realizamos levantamento <strong>de</strong><br />

literatura voltada para o tema motivação, com foco em quatro teorias sobre bases motivacionais: a<br />

teoria da auto<strong>de</strong>terminação, a teoria da ativação da norma, a teoria do valor-crença-norma e a teoria<br />

do comportamento planejado. Os mo<strong>de</strong>los teóricos se centram em três predisposições psicológicas:<br />

valores, atitu<strong>de</strong>s e normas e apresentam diferentes possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> compreensão do<br />

comportamento, além <strong>de</strong> abrirem espaço para intervenções e incentivos ao aumento das ações pró-<br />

ecológicas.<br />

Palavras-chave: motivação, compromisso pró-ecológico, comportamento pró-ecológico<br />

Abstract<br />

The world has experienced a context of generalized crisis of environmental conditions, which<br />

reveals critical factors consi<strong>de</strong>red consequences of the human action over the environment. Thus,<br />

the efforts to overcome these conditions by fostering changes in this context should start from<br />

individual behavioral changes. Aiming at a better un<strong>de</strong>rstanding of the subjective factors that are<br />

part of the pro-ecological commitment, we have conducted a survey of studies about the topic<br />

motivations. Our review was focused on four theories: self-<strong>de</strong>termination, norm-activation, value-<br />

belief-norm and the theory of planned behavior. These mo<strong>de</strong>ls focus on three psychological<br />

predispositions: values, attitu<strong>de</strong>s and norms, presenting different possibilities on how to<br />

comprehend behavior and propose interventions and incentives to increase pro-environmental<br />

actions.<br />

Keywords: motivation, pro-ecological commitment, pro-ecological<br />

1234


Introdução<br />

O mundo vivencia um contexto <strong>de</strong> crise generalizada das condições ambientais. Crise esta<br />

que se revela nos sinais <strong>de</strong> escassez dos recursos naturais, produção <strong>de</strong>scontrolada <strong>de</strong> lixo, consumo<br />

excessivo <strong>de</strong> produtos, níveis crescentes <strong>de</strong> poluição – para citar alguns pontos mais alarmantes.<br />

Estes fatores po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>rados consequências da ação humana sobre o meio, o que faz com<br />

que esta se constitua como uma crise comportamental <strong>de</strong> efeitos diretos sobre o meio ambiente, ou<br />

seja, uma crise humano-ambiental (Pinheiro & Pinheiro, 2007; Tuan, 1980). Os esforços em vista<br />

<strong>de</strong> superar tais condições <strong>de</strong>mandam não ape<strong>nas</strong> o enfoque das ciências físicas e biológicas, as<br />

ciências huma<strong>nas</strong> tem um papel central para perpetrar mudanças nesse contexto, a partir das<br />

mudanças <strong>de</strong> conduta nos indivíduos (Kurz 2002; Oskamp, 2000). Nesse sentido, a Psicologia<br />

busca cumprir seu papel no entendimento dos processos cognitivos, emocionais e motivacionais que<br />

favorecem comportamentos em favor do meio ambiente. O estudo das transações entre as pessoas e<br />

o ambiente busca promover uma harmonia entre ambos e, consequentemente, o bem-estar humano e<br />

a sustentabilida<strong>de</strong> ambiental (Bonnes & Bonaiuto, 2002; Wiesenfeld, 2005).<br />

A importância <strong>de</strong> atuar para mudar tal contexto ambiental é largamente reconhecida e há<br />

muito conhecimento facilmente disponível sobre quais são as questões a serem revistas e <strong>de</strong> que<br />

forma cada indivíduo po<strong>de</strong> mobilizar-se para isso. O bem estar físico e psicológico e, <strong>de</strong> maneira<br />

geral, o futuro coletivo, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da restauração e manutenção da qualida<strong>de</strong> do ambiente, porém<br />

as pessoas continuam relativamente inativas a esse respeito (Pelletier, 1998). Não obstante, as<br />

atitu<strong>de</strong>s pró-ambientais permanecem fortalecidas, a maior parte das pessoas concorda que conservar<br />

o meio ambiente é algo bom (Vining & Ebreo, 2002). Sendo assim, por que não há mais<br />

comportamentos pró-ambientais? Se há informação disponível e predisposições favoráveis, por que<br />

o número <strong>de</strong> pessoas envolvidas em ações <strong>de</strong> conservação não é maior? No intuito <strong>de</strong> acessar as<br />

razões para essa questão e compreen<strong>de</strong>r algumas das razões para a permanência dos<br />

comportamentos, nos propusemos ao estudo das motivações para o compromisso pró-ecológico.<br />

De forma simplificada, a motivação po<strong>de</strong> ser compreendida como motivo, referente a um<br />

estado <strong>de</strong> carência, uma necessida<strong>de</strong> que impele à ação, sendo essa necessida<strong>de</strong> a própria instância<br />

que <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ia a ação (Pisani, Pereira, & Rizzon, 1994). Em outras palavras, a motivação<br />

predispõe à ação, portanto, estudá-la possibilita um maior esclarecimento sobre as razões para que<br />

um comportamento ocorra em <strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> outros. Essa compreensão auxilia no <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> estratégias que incentivem o surgimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados comportamentos, incluindo as que<br />

busquem criar as condições i<strong>de</strong>ais para que certo número <strong>de</strong> pessoas se sinta motivada a preservar o<br />

ambiente (Tabernero & Hernán<strong>de</strong>z, 2006). O crescente interesse pelo estudo do tema, então, se<br />

justifica por seu potencial prático em aperfeiçoar o <strong>de</strong>senvolvimento, <strong>de</strong>sempenho e bem-estar das<br />

1235


pessoas (Ryan & Deci, 2000). Assim, o objetivo <strong>de</strong>ste estudo foi realizar um aprofundamento<br />

teórico sobre o tema motivação, tendo como foco a literatura psicológica que trata das bases<br />

motivacionais do comportamento pró-ecológico.<br />

Método<br />

Foi realizada revisão <strong>de</strong> literatura, por meio <strong>de</strong> leitura e análise crítica <strong>de</strong> referências<br />

bibliográficas relativas ao comportamento pró-ecológico. Tais referências foram i<strong>de</strong>ntificadas a<br />

partir <strong>de</strong> trabalhos anteriores <strong>de</strong> nosso grupo <strong>de</strong> pesquisa (Grupo <strong>de</strong> Estudos Inter-Ações Pessoa-<br />

Ambiente – GEPA/UFRN), bem como por meio <strong>de</strong> bancos <strong>de</strong> dados bibliográficos, como o<br />

PsycINFO, acessados via Portal <strong>de</strong> Periódicos da Capes. Elas apresentam, em sua maioria, sínteses<br />

<strong>de</strong> diferentes formas <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r a motivação, propostas por vários teóricos.<br />

A partir <strong>de</strong>ssa revisão inicial foi feito o levantamento <strong>de</strong> algumas teorias sobre bases<br />

motivacionais que vem sendo amplamente utilizadas nos estudos sobre comportamento pró-<br />

ecológico (Vining & Ebreo, 2002). Este levantamento se <strong>de</strong>u por via <strong>de</strong> leituras, seguidas <strong>de</strong><br />

fichamentos e discussões semanais entre os pesquisadores responsáveis pelo estudo, que<br />

possibilitaram a <strong>de</strong>limitação dos aportes teóricos a serem aprofundados. Neste segundo momento,<br />

foi realizado, também, o aprofundamento em alguns conceitos da Psicologia Social – quais sejam:<br />

atitu<strong>de</strong>s, valores e normas – a fim <strong>de</strong> introduzir e facilitar o entendimento das proposições teóricas.<br />

Por fim, foi dado seguimento ao mesmo processo <strong>de</strong> apropriação do conteúdo: leitura,<br />

elaboração <strong>de</strong> fichamentos e discussões semanais. Nessa etapa foi feita uma análise em<br />

profundida<strong>de</strong> das proposições e conceitos <strong>de</strong> cada teoria, elencadas na etapa anterior e apresentadas<br />

na seção <strong>de</strong> resultados, a seguir.<br />

Resultados<br />

Ao se estudar mais profundamente o tema da motivação (para a prática da conservação<br />

ambiental), observa-se que se trata <strong>de</strong> um conceito amplo e <strong>de</strong> difícil <strong>de</strong>limitação, que é abordado<br />

<strong>de</strong> diferentes formas (Corral-Verdugo, 2001). A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> motivação engloba um conjunto <strong>de</strong> fatores<br />

que funcionam como bases motivacionais, diferentes conceitos que fazem parte das teorias<br />

consi<strong>de</strong>radas neste estudo. Inicialmente, para facilitar a compreensão das teorias, apresentamos<br />

esses conceitos.<br />

As atitu<strong>de</strong>s são predisposições, maneiras organizadas <strong>de</strong> pensar, sentir e reagir a<br />

<strong>de</strong>terminado objeto ou classe <strong>de</strong> objetos, sejam pessoas, grupos, problemas sociais ou qualquer<br />

acontecimento no ambiente. Possuem três componentes: cognitivo, o conjunto <strong>de</strong> crenças e<br />

cognições acerca do objeto; afetivo, correspon<strong>de</strong>nte à carga afetiva a favor ou contra o objeto; e<br />

comportamental, a predisposição à ação (Pisani et al., 1994).<br />

1236


Os valores, embora também impliquem estes três componentes, diferem das atitu<strong>de</strong>s por<br />

serem conceitos mais gerais e abrangentes, que po<strong>de</strong>m servir <strong>de</strong> ponto <strong>de</strong> partida para várias <strong>de</strong>las.<br />

Eles orientam e fornecem parâmetros para o julgamento, avaliação e adoção <strong>de</strong> condutas, doutri<strong>nas</strong>,<br />

crenças, i<strong>de</strong>ologias e culturas (Pisani et al. 1994). As orientações <strong>de</strong> valor tomam forma durante o<br />

processo <strong>de</strong> socialização e são razoavelmente estáveis em adultos. Além disso, não são exclusivas,<br />

ou seja, os indivíduos po<strong>de</strong>m ter vários valores para a mesma situação (Stern & Dietz, 1994).<br />

As normas são crenças compartilhadas sobre como se <strong>de</strong>ve agir, po<strong>de</strong>ndo ser <strong>de</strong> dois tipos,<br />

pessoal ou social. A norma social, ou norma subjetiva, se baseia em expectativas <strong>de</strong> grupo acerca<br />

<strong>de</strong> como agir, sendo <strong>de</strong>finidas e impostas externamente (Ros & Gouveia, 2001). Por sua vez, a<br />

norma pessoal, ou norma moral, refere-se às expectativas do próprio indivíduo sobre uma ação<br />

específica em uma situação particular, sendo assim <strong>de</strong>finida internamente e experimentada como<br />

um sentimento <strong>de</strong> obrigação moral (Thøgersen, 2006). Portanto, a norma pessoal e a norma social<br />

diferenciam-se pelo grau <strong>de</strong> internalização.<br />

O presente estudo contemplou quatro proposições teóricas <strong>de</strong>senvolvidas em Psicologia que<br />

abordam est as bases motivacionais para o comportamento e que servem aos estudos da pró-<br />

ambientalida<strong>de</strong>: a teoria da auto<strong>de</strong>terminação, a teoria da ativação da norma, a teoria do valor-<br />

crença-norma e a teoria do comportamento planejado. Em seguida, tais proposições serão<br />

apresentadas <strong>de</strong> forma sintética.<br />

Teoria da Auto<strong>de</strong>terminação<br />

A teoria da auto<strong>de</strong>terminação estipula que o ser humano possui uma propensão inerente <strong>de</strong><br />

crescimento e necessida<strong>de</strong>s biológicas inatas, entre elas competência, vínculo e autonomia, que são<br />

as bases <strong>de</strong> sua motivação (Ryan & Deci, 2000). Segundo essa teoria, o comportamento se baseia<br />

em três tipos gerais <strong>de</strong> motivação: intrínseca, extrínseca e amotivação, que se diferenciam pelo seu<br />

nível <strong>de</strong> auto<strong>de</strong>terminação.<br />

A amotivação é o estado <strong>de</strong> falta <strong>de</strong> intenção para agir, quando o sujeito não realiza a ação<br />

ou a realiza sem intento, ape<strong>nas</strong> seguindo uma moção. Resulta <strong>de</strong> não valorizar uma ativida<strong>de</strong>, não<br />

sentir-se competente para fazê-la, ou não esperar que esta atinja uma consequência <strong>de</strong>sejada. Por<br />

sua vez, a motivação intrínseca está no outro extremo da auto<strong>de</strong>terminação, é a mais interna das<br />

três, sendo a própria tendência inerente ao ser humano <strong>de</strong> buscar por novida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>safios, aumentar<br />

e explorar suas capacida<strong>de</strong>s. Gera melhor <strong>de</strong>sempenho, persistência e criativida<strong>de</strong>, além <strong>de</strong><br />

autoestima e bem-estar, que a motivação extrínseca (Ryan & Deci, 2000). Para que o indivíduo<br />

possa ser motivado intrinsecamente, a ativida<strong>de</strong> precisa representar um interesse intrínseco para ele,<br />

para a qual ele possua sentimentos <strong>de</strong> competência e, principalmente, um senso <strong>de</strong> autonomia.<br />

Portanto, recompensas tangíveis, bem como ameaças, prazos, diretivas, avaliações e metas impostas<br />

1237


minam a motivação intrínseca, pois conduzem a uma percepção <strong>de</strong> causalida<strong>de</strong> externa. A<br />

motivação extrínseca acontece quando a ação se <strong>de</strong>ve a reforços ou punições exter<strong>nas</strong>, e ocorre para<br />

alcançar consequências positivas ou evitar negativas.<br />

Um estudo <strong>de</strong>senvolvido por Osbaldiston e Sheldon (2003) buscou verificar a eficácia <strong>de</strong>sta<br />

teoria em promover comportamento pró-ecológico. Os autores acessaram as motivações <strong>de</strong> 162<br />

participantes por meio <strong>de</strong> metas pessoais auto-selecionadas. Inicialmente, eram fornecidas<br />

informações acerca dos problemas ambientais, para <strong>de</strong>monstrar a importância das metas. Então, a<br />

partir <strong>de</strong> uma lista, os participantes selecionaram três metas ambientais que eles pu<strong>de</strong>ssem alcançar<br />

no <strong>de</strong>correr <strong>de</strong> uma semana. Durante esse período, os pesquisadores mediram o suporte percebido, a<br />

autonomia, a motivação internalizada, o <strong>de</strong>sempenho da meta e as intenções futuras. Seus resultados<br />

<strong>de</strong>monstraram que a motivação auto<strong>de</strong>terminada po<strong>de</strong> promover uma mudança mais duradoura no<br />

comportamento pró-ecológico, e que os participantes que apresentaram formas intrínsecas <strong>de</strong><br />

motivação tiveram melhores <strong>de</strong>sempenhos que os <strong>de</strong>mais.<br />

Teoria da Ativação da Norma<br />

A teoria da ativação da norma, proposta por Schwartz, aborda o processo <strong>de</strong> formação das<br />

normas pessoais (Harland, Staats, & Wilke, 2007). São centrais para isto os ativadores, sendo<br />

quatro fatores situacionais e dois traços <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong>.<br />

Os ativadores situacionais são: consciência da necessida<strong>de</strong>, que diz respeito a quanto a<br />

atenção do indivíduo está voltada para alguém ou algo (como o meio ambiente) em necessida<strong>de</strong>;<br />

responsabilida<strong>de</strong> situacional, referente a quanto o indivíduo se sente responsável por aquela<br />

necessida<strong>de</strong> e suas consequências; eficácia, ou seja, o quanto ele percebe que suas ações po<strong>de</strong>m<br />

aliviar a necessida<strong>de</strong>; e habilida<strong>de</strong>, a percepção do indivíduo da disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recursos e suas<br />

capacida<strong>de</strong>s para <strong>de</strong>sempenhar o comportamento (Harland et al., 2007). Os traços <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong><br />

ativadores são atribuição <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>, ou seja, a tendência a reconhecer ou negar a<br />

responsabilida<strong>de</strong> por suas ações; e consciência das consequências, a compreensão pelo indivíduo <strong>de</strong><br />

que suas ações po<strong>de</strong>m ter consequências para o bem-estar dos <strong>de</strong>mais (Milfont, Sibley & Duckitt,<br />

2010).<br />

Os ativadores predispõem ao comportamento. Assim, na presença <strong>de</strong> ativadores situacionais,<br />

a avaliação do indivíduo ativa a norma pessoal, que funciona como mediadora e leva à ação. Os<br />

traços <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong> ativadores, por outro lado, por serem inerentes ao indivíduo, são<br />

suficientemente motivadores por si só; assim a ação po<strong>de</strong> ocorrer sem a mediação da norma pessoal<br />

(Harland et al., 2007).<br />

Em um estudo para verificar a aplicabilida<strong>de</strong> da teoria para o comportamento pró-ecológico<br />

auto-relatado, Milfont et al. (2010) confirmaram a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> generalização do papel<br />

1238


mo<strong>de</strong>rador dos componentes da ativação da norma, ou seja, os autores observaram que há uma<br />

relação entre a percepção dos problemas ambientais, a atribuição <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> e valores<br />

altruístas e que estes fatores levam ao comportamento pró-ecológico in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do grupo<br />

cultural.<br />

Teoria do Valor-Crença-Norma<br />

A teoria do valor-crença-norma surgiu no contexto da Psicologia Ambiental, <strong>de</strong>senvolvida<br />

no intuito <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r o compromisso pró-ecológico em diferentes níveis: do comportamento<br />

em uma esfera individual a qualquer ação <strong>de</strong> natureza participativa <strong>de</strong>senvolvida para melhorar a<br />

qualida<strong>de</strong> do meio ambiente (Sevillano, Aragonés, & Schultz, 2010).<br />

A proposta apresentada pela teoria é <strong>de</strong> que os valores po<strong>de</strong>m afetar as crenças sobre as<br />

consequências dos objetos <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong> para as coisas que um indivíduo valoriza e, assim, ter<br />

consequências para as atitu<strong>de</strong>s e o comportamento do indivíduo (Stern & Dietz, 1994). Utilizando<br />

os movimentos ativistas como ponto <strong>de</strong> partida para sua análise, os autores sustentam que<br />

indivíduos que aceitam os valores básicos <strong>de</strong> um movimento, acreditam que objetos <strong>de</strong> valor estão<br />

ameaçados, e acreditam que suas ações po<strong>de</strong>m ajudar a restaurar estes objetos <strong>de</strong> valor,<br />

experimentam uma obrigação moral que os predispõem a fornecer suporte (Stern, Dietz, Abel,<br />

Guagnano, & Kalof, 1999).<br />

Desta forma, os valores funcionam como ponto <strong>de</strong> partida para a formação das crenças que,<br />

por sua vez, ativam as normas - geradoras <strong>de</strong> comportamento.<br />

Teoria do Comportamento Planejado<br />

A teoria do comportamento planejado, elaborada por Ajzen (1991), propõe que o<br />

comportamento humano é guiado por três tipos <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rações: crenças sobre as prováveis<br />

consequências ou outro atributo do comportamento (crenças comportamentais), crenças sobre as<br />

expectativas normativas das outras pessoas (crenças normativas), e crenças sobre a presença <strong>de</strong><br />

fatores que po<strong>de</strong>m melhorar ou dificultar o <strong>de</strong>sempenho do comportamento (crenças sobre<br />

controle). As crenças comportamentais produzem uma atitu<strong>de</strong> acerca do comportamento; as crenças<br />

normativas resultam em pressão social percebida, ou norma subjetiva; e as crenças sobre controle<br />

dão origem ao controle percebido do comportamento, que diz respeito à facilida<strong>de</strong> ou dificulda<strong>de</strong><br />

percebida em <strong>de</strong>sempenhar o comportamento (Ajzen, 2002).<br />

A união dos três fatores (ou seja, atitu<strong>de</strong>, norma subjetiva e controle percebido) leva à<br />

formação <strong>de</strong> uma intenção <strong>de</strong> comportamento, que é o antece<strong>de</strong>nte imediato do comportamento.<br />

Quando o controle real sobre o comportamento é suficiente, isto é, quando as pessoas são realistas<br />

em seus julgamentos acerca do controle sobre o comportamento, o indivíduo ten<strong>de</strong> a agir quando<br />

surge a oportunida<strong>de</strong> (Ajzen, 1991, 2002).<br />

1239


No estudo <strong>de</strong> Cheung, Chan e Wong (1999), 82 estudantes universitários respon<strong>de</strong>ram a um<br />

questionário sobre o comportamento <strong>de</strong> reciclagem. Os autores constataram que a teoria do<br />

comportamento planejado conseguiu predizer significativamente tanto a intenção comportamental<br />

quanto o comportamento auto-relatado <strong>de</strong> reciclagem do lixo um mês após a aplicação do<br />

questionário.<br />

Discussão<br />

As teorias apresentadas são amplamente utilizadas nos estudos <strong>de</strong> psicologia ambiental, na<br />

análise da predisposição para o cuidado ambiental. Elas fornecem importantes subsídios para a<br />

compreensão da motivação para atuar em favor do meio ambiente, po<strong>de</strong>ndo assim, além disso,<br />

embasar estratégias interventivas. Entre as diferentes i<strong>de</strong>ias apresentadas em cada uma <strong>de</strong>las, é<br />

possível i<strong>de</strong>ntificar alguns pontos em comum, como a ênfase dada a certos aspectos individuais<br />

internos. Na teoria da auto<strong>de</strong>terminação, o indivíduo não ape<strong>nas</strong> precisa sentir-se capaz <strong>de</strong> realizar a<br />

ação, é necessário também que ele se perceba autônomo, e tão mais intensa será a motivação quão<br />

mais auto-regulada ela for. Da mesma forma, a teoria do comportamento planejado pressupõe que o<br />

indivíduo se perceba em controle do comportamento em questão, para que este se concretize. A<br />

teoria da ativação da norma apresenta entre seus ativadores situacionais a eficácia e a habilida<strong>de</strong>,<br />

que são referentes ao mesmo tipo <strong>de</strong> noção <strong>de</strong> percepção do indivíduo.<br />

No mesmo sentido <strong>de</strong> focalizar aspectos subjetivos, a teoria do valor-crença-norma e a teoria<br />

do comportamento planejado valorizam a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> raciocínio e análise do ser humano – e a<br />

segunda, <strong>de</strong> fato, parte da suposição <strong>de</strong> que as pessoas são essencialmente racionais, fazendo uso<br />

sistemático das informações disponíveis e não sendo controladas por motivos não-conscientes nem<br />

apresentando comportamentos impensados (Kollmuss & Agyeman, 2002).<br />

Além <strong>de</strong> sublinharem a importância da auto-regulação, algumas das teorias apontam para a<br />

maior intensida<strong>de</strong> da motivação que se funda em aspectos inerentes ao indivíduo, como o interesse<br />

intrínseco que esse possa sentir pela ativida<strong>de</strong> em questão, ou os traços <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong> que geram<br />

a tendência a assumir responsabilida<strong>de</strong>s e compreen<strong>de</strong>r as consequências das próprias ações. Tais<br />

características <strong>de</strong> tal maneira inerentes ao sujeito são <strong>de</strong> difícil manipulação, tanto que os próprios<br />

autores não manifestam expectativas <strong>de</strong> que seja possível incentivar o surgimento <strong>de</strong> motivações<br />

intrínsecas, mas somente auto<strong>de</strong>terminadas até certo nível.<br />

Os conceitos estudados como bases motivacionais possuem gran<strong>de</strong> valor para uma melhor<br />

compreensão dos indivíduos, porém apresentam algumas dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aplicação em<br />

intervenções. Dimensões inter<strong>nas</strong> como atitu<strong>de</strong>s e percepções são difíceis <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir objetivamente e<br />

<strong>de</strong> mudar diretamente. Mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> intervenção baseados no indivíduo são pouco efetivos em<br />

grupos, organizações ou comunida<strong>de</strong>s, pois o foco requer interação individual extensa com um<br />

1240


especialista treinado (Geller, 2002). No entanto, outros tipos <strong>de</strong> abordagem, que busquem fazer o<br />

caminho inverso – ou seja, promover mudanças comportamentais para alcançar as mudanças <strong>de</strong><br />

atitu<strong>de</strong> indiretamente – também são possíveis.<br />

Como já apontado, as atitu<strong>de</strong>s possuem pouca influência direta na ocorrência dos<br />

comportamentos. Tal incongruência po<strong>de</strong> ser reflexo não ape<strong>nas</strong> <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>s teóricas, mas<br />

também metodológicas, uma vez que atitu<strong>de</strong>s generalistas não po<strong>de</strong>m estar fortemente relacionadas<br />

a comportamentos específicos; essas medidas precisariam conter e expressar o mesmo nível <strong>de</strong><br />

especificida<strong>de</strong> (como mencionado por Vining & Ebreo, 2002, entre outros autores). Ao mesmo<br />

tempo, o uso <strong>de</strong> estratégias comportamentais no incentivo ao comportamento pró-ecológico é<br />

comumente criticado como pouco eficaz, por surtir efeito ape<strong>nas</strong> a curto prazo, uma vez que<br />

extinguindo-se o elemento recompensador, o comportamento também ten<strong>de</strong>ria a extinguir-se<br />

(Vining & Ebreo, 2002).<br />

No entanto, Geller (2002), ao <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a união da psicologia ambiental com a análise<br />

aplicada do comportamento, aponta que é possível <strong>de</strong>senvolver uma estratégia interventiva baseada<br />

no comportamento que sustente um impacto a longo prazo. De maneira geral, bastaria fazer uso <strong>de</strong><br />

recompensas menos po<strong>de</strong>rosas, suficientes ape<strong>nas</strong> para iniciar a mudança, empregar representações<br />

gerais dos resultados <strong>de</strong>sejados e acompanhar as estratégias <strong>de</strong> informações acerca dos motivos para<br />

realizar tal comportamento. Além disso, três princípios básicos precisariam ser seguidos: focar a<br />

intervenção em comportamentos observáveis, buscar fatores externos para melhorar o <strong>de</strong>sempenho<br />

e valorizar as consequências positivas para motivar o comportamento.<br />

Geller (2002) também aponta sugestões <strong>de</strong> intervenção, que consistem em abordagens<br />

diferenciadas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do estágio <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho em que estejam os indivíduos. Uma<br />

intervenção motivacional, que se dá por meio <strong>de</strong> um programa <strong>de</strong> recompensas e incentivos, é<br />

necessária para um indivíduo que possui informações sobre como agir, porém não age. Por outro<br />

lado, para um indivíduo que já esteja motivado, seria feito uso <strong>de</strong> uma intervenção <strong>de</strong> apoio, que<br />

caracterize suporte para que o comportamento se mantenha até tornar-se um hábito. E, por fim, uma<br />

vez que o comportamento esteja no estágio automático, torna-se aplicável uma intervenção<br />

educativa, para aprimorar e dar maior direcionamento ao comportamento.<br />

Cada mo<strong>de</strong>lo teórico apresenta uma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> compreensão do comportamento pró-<br />

ecológico, e possui diferentes vantagens e <strong>de</strong>svantagens. Muitos são os fatores, internos e externos<br />

ao indivíduo, que conflitam e competem para moldar as ações e <strong>de</strong>cisões, e ape<strong>nas</strong> uma teoria não<br />

seria capaz <strong>de</strong> abordar todos eles. Contudo, o estudo das bases motivacionais para o comportamento<br />

pró-ecológico não somente possibilita um conhecimento valioso para a melhor compreensão <strong>de</strong>ste;<br />

fornece potencialida<strong>de</strong>s preditivas e, principalmente, possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> intervenção e incentivo ao<br />

aumento das ações pró-ecológicas.<br />

1241


As teorias abordadas neste trabalho foram analisadas com base em diferentes aspectos<br />

motivacionais e contemplam subsídios variados para uma melhor compreensão do comportamento<br />

pró-ecológico e para possíveis estratégias <strong>de</strong> intervenção. Tais proposições teóricas se centram em<br />

características mais inter<strong>nas</strong> e individuais, porém mo<strong>de</strong>los baseados em comportamentos<br />

observáveis que busquem atingir tais características <strong>de</strong> maneiras indiretas também são possíveis.<br />

Existem ainda outras teorias sobre o assunto, não tratadas neste estudo, que abordam o tema<br />

<strong>de</strong> diferentes maneiras. Há, por exemplo, abordagens focadas nos aspectos morais que motivam o<br />

comportamento, e em bases emocionais e afetivas. Assim, há espaço para outras pesquisas na área<br />

que busquem aprofundar estes outros aspectos e <strong>de</strong>senvolver estudos empíricos.<br />

Referências<br />

Ajzen, I. (1991). The Theory of Planned Behavior. Organizational behavior and human <strong>de</strong>cision<br />

processes, 50, 179-211.<br />

Ajzen, I. (2002). Perceived behavioral control, self-efficacy, locus of control, and the theory of<br />

planned behavior. Journal of Applied Social Psychology, 32(4), 665-683.<br />

Bonnes, M., & Bonaiuto, M. (2002). Environmental Psychology: from spatial-physical environment<br />

to sustainable <strong>de</strong>velopment. In R. B. Bechtel & A. Churchman (Orgs.), Handbook of Environmental<br />

Psychology (2 a ed., pp. 28-54). Nova York: Wiley.<br />

Corral-Verdugo, V. (2001). Comportamiento proambiental: una introducción al estudio <strong>de</strong> las<br />

conductas protectoras <strong>de</strong>l ambiente. La Laguna, Tenerife, Espanha: Resma.<br />

Cheung, S. F., Chan, D. K.-S., & Wong, S. F.-Y (1999). Reexamining the Theory of Planned<br />

Behavior in Un<strong>de</strong>rstanding Wastepaper Recycling. Environment and Behavior, 31, 587-612.<br />

Geller, E. S. (2002). The challenge of increasing proenvironment behavior. In R. B. Bechtel & A.<br />

Churchman (Orgs.), Handbook of Environmental Psychology (2 a ed., pp. 525-540). Nova York:<br />

Wiley.<br />

Harland, P., Staats, H., & Wilke, A. M. (2007). Situational and personality factors as direct or<br />

personal norm mediated predictors of pro-environmental behavior: questions <strong>de</strong>rived from norm-<br />

activation theory. Basic and Applied Social Psychology, 29(4), 323-334.<br />

Kurz, T. (2002). The psychology of environmentally sustainable behavior: fitting together pieces of<br />

the puzzle. Analyses of Social Issues and Public Policy, 2(1), 257-278.<br />

1242


Kollmuss, A., & Agyeman, J. (2002). Mind the gap: why do people act environmentally and what<br />

are the barriers to pro-environmental behavior? Environmental Education Research, 8(3), 239-260.<br />

Milfont, T. L., Sibley, C. G., & Duckitt, J. (2010). Testing the mo<strong>de</strong>rating role of the components of<br />

norm activation on the relationship between values and environmental behavior. Journal of Cross-<br />

Cultural Psychology, 41(1), 124-131.<br />

Osbaldiston, R., & Sheldon, K. M. (2003). Promoting internalized motivation for environmentally<br />

responsible behavior: a prospective study of environmental goals. Journal of Environmental<br />

Psychology, 23(4), 349-357.<br />

Oskamp, S. (2000). Psychological contributions to achieving an ecologically sustainable future for<br />

humanity. Journal of Social Issues, 56, 373-390.<br />

Pelletier, L. G, Tuson, K. M., Green-Demers, I., Noels, K., & Beaton, A. M. (1998). Why are you<br />

doing things for the environment? The motivation toward the environment scale (MTES). Journal<br />

of Applied Social Psychology, 28(5), 437-468.<br />

Pinheiro, J. Q., & Pinheiro, T. F. (2007). Cuidado ambiental: ponte entre psicologia e educação<br />

ambiental? Psico, 38(1), 25-34.<br />

Pisani, E. M., Pereira, S., & Rizzon, L. A. (1994). Temas em Psicologia Social. Petrópolis: Vozes.<br />

Ros, M. (2002). Valores, actitu<strong>de</strong>s y comportamiento: una nueva visita a un tema clásico. In M. Ros<br />

& V. Gouveia (Orgs.), Psicología social <strong>de</strong> los valores humanos: <strong>de</strong>sarrollos teóricos,<br />

metodológicos y aplicados. Madri: Biblioteca Nueva.<br />

Ryan, R. M., & Deci, E. L. (2000). Self-<strong>de</strong>termination theory and the facilitation of intrinsic<br />

motivation, social <strong>de</strong>velopment, and well-being. American Psychologist, 55(1), 68-78.<br />

Sevillano, V., Aragonés, J. I, & Schultz, P. W. (2010). Altruism and beyond: the motivational bases<br />

of pro-environmental behavior. In V. Corral-Verdugo, C. H. Garcia-Ca<strong>de</strong>na, & M. Frías-Armenta<br />

(Orgs.). Psychological approaches to sustainability: current trends in theory, research and<br />

applications. Happauge, Nova York: Nova.<br />

Stern, P. C., & Dietz, T. (1994). The value basis of environmental concern. Journal of Social Issues,<br />

50(3), 65-84.<br />

1243


Stern, P. C., Dietz, T., Abel, T., Guagnano, G. A., & Kalof, L. (1999). A value-belief-norm theory<br />

of support for social movements: the case of environmentalism. Human Ecology Review, 6(2), 81-<br />

97.<br />

Tabernero, C., & Hernán<strong>de</strong>z, B. (2006). Environmental motivation: self-regulation and<br />

environmental behaviour. IAPS Bulletin of People-Environment Studies, (28), 3-6.<br />

Thøgersen, J. (2006). Norms for environmentally responsible behaviour: an exten<strong>de</strong>d taxonomy.<br />

Journal of Environmental Psychology, 26(4), 247-261.<br />

Tuan, Yi-Fu (1980). Topofilia. São Paulo: DIFEL.<br />

Vining, J., & Ebreo, A. (2002). Emerging theoretical and methodological perspectives on<br />

conservation behavior. In R. B. Bechtel & A. Churchman (Orgs), Handbook of Environmental<br />

Psychology (2 a ed., pp. 541-558). Nova York: Wiley.<br />

Wiesenfeld, E. (2005). A psicologia ambiental e as diversas realida<strong>de</strong>s huma<strong>nas</strong>. Psicologia USP,<br />

16(1/2), 53-69.<br />

1244


Resumo<br />

ECOTRILHAS: UM INSTRUMENTO PARA A PROMOÇÃO DA EDUCAÇÃO<br />

AMBIENTAL<br />

138 Francisca Fábricia Teodoro COSTA (IFCE) - e-mail: fabriciaguia<strong>de</strong>turismo@hotmail.com<br />

139 Lucas da SILVA (IFCE) - e-mail: lucasilva@ifce.com.br<br />

140 Alexandre Queiroz PEREIRA (IFCE) - e-mail: aqp@ifce.edu.br<br />

141 Francisca Maria Damasceno Góis (IFCE) - franciscagois@ifce.edu.br<br />

O projeto Ecotrilhas surgiu <strong>de</strong> uma iniciativa do Instituto Fe<strong>de</strong>ral do Ceará, campus Quixadá, e<br />

consiste na realização <strong>de</strong> trilhas interpretativas, direcionadas aos alunos do ensino básico e técnico<br />

do município <strong>de</strong> Quixadá, oportunizando estabelecer um contato saudável e educativo com o<br />

ambiente natural. Tem como objetivo <strong>de</strong>spertar a imaginação geográfica e a consciência ambiental<br />

da socieda<strong>de</strong> local, através do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s lúdicas e práticas em caminhos<br />

urbanos e em trilhas ecológicas, através <strong>de</strong> uma abordagem pedagógica <strong>de</strong> caráter multi e<br />

interdisciplinar, procurando contribuir para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma consciência sobre a<br />

importância turística, cultural, educativa e socioeconômica da ativida<strong>de</strong>. O presente artigo buscou<br />

discutir a contribuição <strong>de</strong>sse projeto na promoção da educação ambiental. Para isso foi aplicado<br />

questionário estruturado, com questões abertas e fechadas, englobando as seguintes dimensões: a)<br />

sensorial (percepção); b) emocional (sensibilida<strong>de</strong>, interesse); c) cognitiva (conhecimento,<br />

consciência), d) social (vivencia social), e) pró-ativa (adoção <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s, posicionamentos e<br />

cuidados referente à questão ambiental). Foi observado que o projeto Ecotrilhas se apresenta como<br />

uma excelente fonte para promover a educação ambiental, po<strong>de</strong>ndo ser adaptado e aplicado a outros<br />

segmentos da comunida<strong>de</strong> local, como os próprios moradores.<br />

Palavras–chave: Educação ambiental, trilha ecológica, consciência ambiental.<br />

Abstract<br />

The project Ecotrilhas arose from an initiative of the Fe<strong>de</strong>ral Institute of Ceará, Quixadá campus,<br />

and consists of making trails, directed to stu<strong>de</strong>nts of primary and technical council of Quixadá,<br />

138 Estudante do curso Técnico em Guia <strong>de</strong> Turismo do Instituto Fe<strong>de</strong>ral do Ceará- Campus Quixadá<br />

139 Prof. MsC. do Instituto Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – Campus Quixadá. (Orientador)<br />

140 Professor Dr. do Instituto Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará - Campus Quixadá.<br />

141 Professora do Instituto Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará - Campus Quixadá.<br />

1245


providing opportunities to establish a healthy and educational contact with the natural environment.<br />

Aims to awaken the imagination geographical and environmental awareness of local society<br />

through the <strong>de</strong>velopment of recreational activities and practices on urban roads and trails ecologies,<br />

through a pedagogical approach of multi and interdisciplinary character, seeking to contribute to the<br />

<strong>de</strong>velopment of an awareness of the importance of tourism, cultural, educational and socioeconomic<br />

activity. The present paper aims to discuss the contribution of this project to promote environmental<br />

education. To this was applied a structured questionnaire with open and closed questions, including<br />

the following dimensions: a) sensory (perception), b) emotional (sensitivity, interest); c) cognitive<br />

(knowledge, awareness), d) social (social experience), e) proactive (adoption of attitu<strong>de</strong>s, positions<br />

and care regarding environmental issues). It was observed that the project Ecotrilhas presents itself<br />

as a source for <strong>de</strong>termining promote environmental education and can be adapted and applied to<br />

other segments of the local community, as the resi<strong>de</strong>nts themselves.<br />

Keywords: environmental education, ecological trail, environmental awareness<br />

INTRODUÇÃO<br />

A socieda<strong>de</strong> atual passa por profunda crise civilizatória, <strong>de</strong> caráter ambiental, em que a<br />

população ascen<strong>de</strong>nte, vem cada vez mais aumentando seu padrão <strong>de</strong> consumo, exigindo cada vez<br />

mais recursos ambientais, que já se encontram escassos, <strong>de</strong>vido à forma <strong>de</strong>sastrosa que o homem<br />

sempre se relacionou com a natureza, sempre extraindo, sem se preocupar com sua reposição e<br />

regeneração natural.<br />

É notório que, se a socieda<strong>de</strong> atual, quiser garantir sua existência e das futuras gerações, tem<br />

que mudar radicalmente seu modo <strong>de</strong> se relacionar com a natureza, sobretudo, permitindo que haja<br />

um equilíbrio salutar entre a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> consumir e a disponibilida<strong>de</strong> dos recursos ambientais<br />

disponíveis.<br />

Para tanto é exigido da socieda<strong>de</strong> mudanças <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong> e incorporação <strong>de</strong> novos valores que<br />

possam garantir a sensibilida<strong>de</strong> para lidar com as questões ambientais. O contexto social exige o<br />

empenho <strong>de</strong> todas as áreas do conhecimento <strong>nas</strong> discussões para a superação das trágicas<br />

consequências <strong>de</strong>sse mo<strong>de</strong>lo prejudicial <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento. E nesse cenário <strong>de</strong> crise, <strong>de</strong>staca-se a<br />

função primordial da educação.<br />

A Educação Ambiental (EA), cuja origem data dos anos 60, <strong>nas</strong>ceu através da percepção <strong>de</strong><br />

que a revolução industrial e o <strong>de</strong>senvolvimento tecnológico <strong>de</strong>senfreado não trariam somente<br />

benefícios, mas também consequências <strong>de</strong>sastrosas ao meio ambiente e aos seres que nele vive,<br />

incluindo a espécie humana. Essa situação tornou urgente e necessário que a socieda<strong>de</strong> refletisse<br />

1246


estratégias que garantissem a preservação dos ecossistemas naturais propondo uma educação<br />

diferenciada da tradicional.<br />

Neste contexto, a educação ambiental através <strong>de</strong> trilhas ecológicas se constitui hoje com<br />

uma das alternativas. Consi<strong>de</strong>rando que a paisagem, enquanto notável recurso didático, propõe a<br />

interação entre o homem e a natureza, principalmente por seu apelo estético, enten<strong>de</strong>-se que os<br />

indivíduos são conduzidos a contemplação, estimulando a imaginação e a reflexão sobre meio em<br />

que estão inseridos. Constata-se que o contato e a observação direta com a natureza tornam as<br />

pessoas mais sensíveis a perceber as consequências das ações sociais no meio ambiente.<br />

Segundo Guillaumon (1977 apud Andra<strong>de</strong>, 2007, p.05) <strong>de</strong>fine as trilhas interpretativas<br />

―como sendo um percurso em um sitio natural que consegue promover um contato mais estreito<br />

entre o homem e a natureza‖. O autor consi<strong>de</strong>ra a trilha como importante instrumento pedagógico,<br />

que através da exposição dos recursos naturais (flora, fauna, diversida<strong>de</strong> biológica e paisagística)<br />

estimula os visitantes a refletirem sobre as questões ambientais.<br />

Hoje o processo educativo é encarado como o principal formador <strong>de</strong> atores sociais críticos,<br />

que po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>senvolver uma cidadania plena e ativa sobre essas questões ambientais atuais. Foi<br />

partindo <strong>de</strong>sse pressuposto que o projeto Ecotrilhas do Instituto Fe<strong>de</strong>ral do Ceará, Campus Quixadá,<br />

foi constituído, planejando ações para a promoção da Educação Ambiental.<br />

Este projeto consiste na realização <strong>de</strong> trilhas interpretativas, direcionadas principalmente aos<br />

alunos <strong>de</strong> ensino básico e técnico do município <strong>de</strong> Quixadá, em que terão a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

estabelecer um contato saudável e educativo com o ambiente natural e urbano visitado. Promovendo<br />

também a criação <strong>de</strong> novas <strong>de</strong>stinações urba<strong>nas</strong> e ecoturisticas que permitem um <strong>de</strong>senvolvimento<br />

econômico e sustentável, compatível com a preservação ambiental. O seu principal objetivo é<br />

<strong>de</strong>spertar a conscientização <strong>de</strong>sses alunos, para com o meio ambiente em que estão inseridos, e com<br />

o Bioma Caatinga.<br />

O presente artigo preten<strong>de</strong> avaliar se esse projeto contribui <strong>de</strong> fato como um instrumento <strong>de</strong><br />

educação ambiental, para os estudantes do município, e <strong>de</strong> que forma ele colabora para que o<br />

individuo enxergue o meio ambiente <strong>de</strong> forma mais ampla, consciente e sustentável.<br />

DESENVOLVIMENTO<br />

A área <strong>de</strong> estudo da pesquisa foi o município <strong>de</strong> Quixadá, sob as coor<strong>de</strong>nadas 4º 58' 17‘ <strong>de</strong><br />

Latitu<strong>de</strong> (S) e 39º 00' 55"Longitu<strong>de</strong> (WGr), localizado no sertão central cearense, na microrregião<br />

<strong>de</strong> Quixeramobim.<br />

1247


O Município está inserido no semiárido nor<strong>de</strong>stino, caracterizado por solos que ressecam<br />

rapidamente nos períodos <strong>de</strong> estiagem e se encharcam na chuva. A vegetação é típica da caatinga,<br />

com cactáceas, lençóis <strong>de</strong> água superficiais geralmente salinizados e com clima tropical quente.<br />

Uma característica bastante presente no relevo da cida<strong>de</strong> são as rochas graníticas <strong>de</strong> diferentes<br />

formatos que se <strong>de</strong>stacam na paisagem, essas rochas são <strong>de</strong>nominadas monólitos. Apresenta clima<br />

tropical quente semiárido, com precipitação média anual <strong>de</strong> 838,1 mm e temperatura média<br />

variando entre 26°C a 28°C. A vegetação é caatinga arbustiva <strong>de</strong>nsa, caatinga arbustiva fechada e<br />

floresta caducifólia espinhosa (IPECE, 2009).<br />

A metodologia do artigo foi <strong>de</strong>senvolvida em três fases, sendo a primeira constituída <strong>de</strong> um<br />

levantamento bibliográfico, em que foram levantados conceitos e discussões inerentes ao tema<br />

proposto, como educação ambiental, trilhas, ecoturismo e etc. A segunda consistiu em observações<br />

assistemáticas e holísticas das experiências dos participantes das trilhas interpretativas, guiadas<br />

pelos alunos do curso técnico em Guia <strong>de</strong> Turismo do IFCE, Campus Quixadá. Na terceira fase se<br />

<strong>de</strong>u a verificação da eficácia do Ecotrilhas na promoção efetiva da educação ambiental, utilizando-<br />

se da técnica quanto-qualitativa, através <strong>de</strong> questionário estruturado, com questões abertas e<br />

fechadas, englobando as seguintes dimensões: a) sensorial (percepção); b) emocional (sensibilida<strong>de</strong>,<br />

interesse); c) cognitiva (conhecimento, consciência), d) social (vivencia social), e) pró-ativa (adoção<br />

<strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s, posicionamentos e cuidados referente a questão ambiental). O estudo foi realizado entre<br />

os meses <strong>de</strong> Janeiro e Agosto <strong>de</strong> 2012, e os questionários foram aplicados durante o mês <strong>de</strong><br />

setembro, com os alunos participantes da ultima edição do projeto. Era composto por vinte e uma<br />

questões, sendo duas subjetivas. O total aplicado foram o <strong>de</strong> trinta questionários.<br />

As trilhas interpretativas constituem estratégias educativas adotadas para integrar o visitante à<br />

natureza, propiciando-lhe conhecimento do ambiente, e para atuar como fator <strong>de</strong> motivação na<br />

preservação das áreas silvestres (ROBIM & TABANEZ, 1993). E a educação, como meio <strong>de</strong><br />

sensibilizar as pessoas frente aos problemas ambientais e <strong>de</strong> responsabilizá-las enquanto seres<br />

críticos, capazes <strong>de</strong> modificar <strong>de</strong> forma positiva ou negativa o meio on<strong>de</strong> vive, é uma forma eficaz<br />

<strong>de</strong> instigar a percepção das pessoas fazendo-as refletir sobre a situação <strong>de</strong> crise vigente.<br />

Assim o projeto Ecotrilhas alia a trilha ecológica à educação ambiental construindo <strong>de</strong>ssa<br />

forma uma ampliação do olhar, em que se trabalha a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pertencimento ao meio,<br />

provocando uma mudança <strong>de</strong> foco, que contempla uma compreensão ampla da realida<strong>de</strong><br />

socioambiental, e que motiva os alunos a se envolver <strong>nas</strong> discussões sobre a problemática<br />

ambiental.<br />

A Figura 1 expõe a opinião dos participantes sobre o Ecotrilhas e o que os motivaram a<br />

participar do mesmo.<br />

1248


Figura 1 GRAFICO ―A‖- representando a avaliação geral do projeto Ecotrilhas. GRAFICO ―B‖- representando o que<br />

leva o estudante a participar do Ecotrilhas/ Trilhas Ecológicas.<br />

O gráfico A mostra a visão geral dos entrevistados a respeito do projeto Ecotrilhas, em que<br />

3% disseram ter sido regular, 13% bom, 46% muito bom e 38% o consi<strong>de</strong>rou excelente. Ou seja,<br />

uma gran<strong>de</strong> parte dos participantes encontrou satisfação na forma como o projeto foi <strong>de</strong>senvolvido.<br />

Basicamente o Ecotrilhas tem uma abordagem pedagógica com caráter multi e<br />

interdisciplinar, procurando contribuir para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma consciência sobre a<br />

importância turística, cultural, educativa e socioeconômica da região, além disso a trilha ecológica<br />

como um instrumento para o <strong>de</strong>senvolvimento do tema transversal ―meio ambiente‖ apresenta<br />

também a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> interação entre as diversas discipli<strong>nas</strong> como história, geografia, ciências,<br />

português, o que contribui para que os alunos enxerguem a realida<strong>de</strong> além da sala <strong>de</strong> aula.<br />

Já o gráfico B expõe o que leva os alunos a participar do projeto, sendo 3% por influência <strong>de</strong><br />

professor (notas), 10% o vislumbra como uma oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> praticar ativida<strong>de</strong> física,<br />

contribuindo com a saú<strong>de</strong>, 40% participa para manter um maior contato com a natureza e apreciar a<br />

paisagem e 47% para obter conhecimento sobre a flora/fauna regional e ambiental.<br />

Esses números comprovam a importância e credibilida<strong>de</strong> que o Ecotrilhas adquiriu ao longo<br />

dos anos, como uma importante fonte para obtenção <strong>de</strong> conhecimentos locais, como também para a<br />

interação dos indivíduos com o ambiente, sendo possível apresentar as diferentes realida<strong>de</strong>s aos<br />

alunos, incluindo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os aspectos gerais do local até a i<strong>de</strong>ntificação dos problemas ambientais e<br />

seus possíveis tratamentos.<br />

Na figura 2 tem-se a interação entre trilha e a educação ambiental. No gráfico C, 64% dos<br />

alunos acreditam que a trilha é capaz <strong>de</strong> promover a educação ambiental, e outros 33% disseram<br />

que talvez e ape<strong>nas</strong> 3% acham pouco provável. Já o gráfico D é relativamente parecido com o C, no<br />

entanto a diferença se encontra na forma como o aluno foi incitado a respondê-lo, pois ele avalia a<br />

si mesmo e seu respectivo conhecimento sobre a questão ambiental. A partir disso os resultados<br />

tiveram um valor positivo maior, já que 74% dos alunos acreditam que o projeto conseguiu<br />

<strong>de</strong>spertar seus interesses sobre o ambiente, e outros 20% disseram talvez e ape<strong>nas</strong> 6% acham que<br />

pouca coisa mudou sobre sua relação com a EA.<br />

1249


Figura 2 GRAFICO ―C‖- representando se a trilha ecológica é capaz <strong>de</strong> promover a educação ambiental. GRAFICO<br />

―D‖- representando se o projeto conseguiu <strong>de</strong>spertar a educação ambiental do estudante.<br />

De acordo com Til<strong>de</strong>n (1977) a interpretação ambiental tem como objetivo básico revelar os<br />

significados, relações ou fenômenos naturais por intermédio <strong>de</strong> experiências práticas e meios<br />

interpretativos, ao invés da simples comunicação <strong>de</strong> dados e fatos.<br />

Dessa forma a educação ambiental tão requisitada <strong>nas</strong> instituições <strong>de</strong> ensino está alem do<br />

repasse das informações sobre o meio ambiente, ela abran<strong>de</strong> também a forma como o aluno se<br />

relaciona com o meio, e o que ele pensa sobre a questão ambiental, e o mo<strong>de</strong>lo econômico vigente<br />

que influencia diretamente na forma como a natureza é utilizada.<br />

Apesar <strong>de</strong> a educação ambiental fazer parte da filosofia das propostas curriculares atuais e<br />

<strong>de</strong> haver incentivos para que seja implantada na re<strong>de</strong> geral <strong>de</strong> ensino, esbarra-se com a dificulda<strong>de</strong><br />

dos professores em não se sentirem capacitados para implantar projetos <strong>de</strong>sta natureza em suas<br />

programações letivas (Grandis,1999).<br />

E o Ecotrilhas atualmente é coor<strong>de</strong>nado por um grupo <strong>de</strong> professores do IFCE, campus<br />

Quixadá, que perceberam a importância do projeto tanto para <strong>de</strong>spertar a consciência ambiental dos<br />

alunos guiados, como também para aprimorar os conhecimentos técnicos dos alunos, futuros guias<br />

<strong>de</strong> turismo, que são os responsáveis pelo acompanhamento dos grupos e repasse <strong>de</strong> todas as<br />

informações.<br />

Torna-se assim evi<strong>de</strong>nte que a execução do projeto tem caráter prático e positivo para todos<br />

os envolvidos. E que o <strong>de</strong>senvolvimento da EA está diretamente vinculada à forma como a<br />

instituição <strong>de</strong> ensino preten<strong>de</strong> <strong>de</strong>sperta-lá no aluno. Já que aliar a teoria e pratica hoje em dia nos<br />

meios educacionais, é a melhor forma <strong>de</strong> fazer o aluno compreen<strong>de</strong>r o todo, pois a pratica ape<strong>nas</strong><br />

consiste em aplicar o que se apren<strong>de</strong>u <strong>de</strong>ntro da sala <strong>de</strong> aula em outros ambientes.<br />

1250


A educação ao ar livre é uma prática educacional que utiliza como recursos educativos<br />

<strong>de</strong>safios encontrados em ambiente naturais, e objetiva o <strong>de</strong>senvolvimento educacional do ser<br />

humano (BARROS, 2000).<br />

Por isso sempre que possível, as instituições <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong>vem buscar formas <strong>de</strong> mostrar a<br />

teoria ensinada a seus alunos na sala <strong>de</strong> aula, na forma pratica, realizando-as em ambientes naturais,<br />

para que o aluno interaja <strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo como o meio.<br />

A interpretação <strong>nas</strong> trilhas po<strong>de</strong> incluir: ativida<strong>de</strong>s dinâmicas e participativas, em que o<br />

público recebe informações sobre, por exemplo, recursos naturais, exploração racional, conservação<br />

e preservação, aspectos culturais, históricos, econômicos, arqueológicos etc (Tabanez et al., 1997<br />

apud Tabanez & Pádua, 1997 ).<br />

A seguir a figura 3 representa o que aluno mais apren<strong>de</strong> durante o percurso da trilha.<br />

Figura 3 GRAFICO ―E‖- representando o que mais se apren<strong>de</strong>u durante a trilha<br />

Dentre os temas apresentados aos estudantes, 2% disseram ter aprendido mais sobre a<br />

fauna da região, 14% sobre o bioma Caatinga, e 36% sobre a importância da preservação<br />

ambiental. Já 46% dos alunos acreditam que apren<strong>de</strong>ram sobre os três temas anteriores <strong>de</strong> forma<br />

paralela.<br />

E o projeto preza justamente por essa união <strong>de</strong> aprendizados, já que o aluno <strong>de</strong>ve ser capaz<br />

<strong>de</strong> fazer relações entre os temas apresentados, como também fazer associações entre o que apren<strong>de</strong>u<br />

em sala <strong>de</strong> aula com os aspectos socioambientais visto na trilha.<br />

1251


Pois a trilha ecológica além <strong>de</strong> servir como um instrumento para o <strong>de</strong>senvolvimento do tema<br />

transversal ―meio ambiente‖ apresenta também a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> interação entre as diversas<br />

discipli<strong>nas</strong> como história, geografia, ciências, artes, português entre outras.<br />

Para o projeto Ecotrilhas é fundamental ressaltar a importância do Bioma Caatinga, tanto<br />

por ser o único bioma exclusivamente brasileiro, como também por sua diversida<strong>de</strong> e fenômenos<br />

característicos. E o tema preservação ambiental ingressa justamente quando enten<strong>de</strong>mos que esse<br />

nosso patrimônio encontra-se ameaçado, <strong>de</strong>vido à exploração feita <strong>de</strong> forma extrativista pela<br />

população local.<br />

Na próxima figura, <strong>de</strong> número 4, têm-se as ações que os alunos passaram a praticar <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong> ter participado do projeto.<br />

Figura 4 GRAFICO ―F‖- representando a ação que o entrevistado passou a praticar <strong>de</strong>pois da trilha<br />

Dentre as ações praticadas 12% e 16 % respectivamente disse não <strong>de</strong>sperdiçar mais energia<br />

e água, tanto para economizar dinheiro como para poupar a natureza <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sgaste <strong>de</strong>snecessário.<br />

Já outros 30% relatou não maltratar a flora e a fauna, principalmente por que os alunos guias<br />

focavam a todo instante a questão da preservação ambiental e a importância do Bioma Caatinga. E<br />

outros 35% disseram não jogar mais lixo no chão. O que também foi exposto durante a trilha, e os<br />

condutores chegaram a levar sacos plásticos para que os alunos <strong>de</strong>positassem qualquer resíduo<br />

utilizado. Essa foi mais uma forma <strong>de</strong> mostrar na pratica o que se apren<strong>de</strong> na teoria em sala <strong>de</strong> aula,<br />

sobre o respeito para com o meio ambiente.<br />

1252


CONCLUSÃO<br />

A educação po<strong>de</strong> contribuir muito para construir uma socieda<strong>de</strong> consciente, no entanto, está<br />

é realmente uma tarefa gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>mais para ficar só no âmbito escolar. Seria necessária uma<br />

cooperação entre diferentes instituições a partir <strong>de</strong> uma relação <strong>de</strong> complementarida<strong>de</strong>. O projeto<br />

Ecotrilhas atualmente é <strong>de</strong>stinado ape<strong>nas</strong> aos alunos, no entanto <strong>de</strong>vido a sua influência e<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> convencimento sobre os indivíduos, ele po<strong>de</strong> ser adaptado e produzido <strong>de</strong>ntro da<br />

comunida<strong>de</strong> quixadaense, como uma forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>spertar a consciência ambiental dos moradores, os<br />

auxiliando a lidar melhor com o meio on<strong>de</strong> vivem.<br />

Através <strong>de</strong>sse projeto muitos foram os alunos que conseguiram <strong>de</strong>senvolver o senso critico,<br />

e hoje se consi<strong>de</strong>ram verda<strong>de</strong>iros praticantes da educação <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, que está alem dos<br />

conteúdos vistos em sala, e dos seus conhecimentos técnicos. As instituições <strong>de</strong> ensino além <strong>de</strong><br />

formar bons profissionais para o mercado <strong>de</strong> trabalho, <strong>de</strong>vem se preocupar também em formar bons<br />

cidadãos, que interferem <strong>de</strong> forma positiva no ambiente em que atuam.<br />

O projeto tem gran<strong>de</strong> influência sobre a educação e percepção dos alunos para com o meio<br />

ambiente e as questões nele inseridas. E é uma ótima fonte para promover a educação ambiental,<br />

po<strong>de</strong>ndo ser adaptado e aplicado a outros segmentos da comunida<strong>de</strong> local, como os próprios<br />

moradores.<br />

REFERÊNCIAS<br />

BARROS, M. I. A. <strong>de</strong>. Outdoor Education: uma alternativa para a educação ambiental através do<br />

turismo <strong>de</strong> aventura. In: SERRANO, C. (org.). A Educação pelas Pedras. São Paulo: Chronos,<br />

2000. p. 85-110.<br />

GRANDIS, C. A. M. . et AL. Curso <strong>de</strong> Educação Ambiental na Estação Ecológica dos Caetetus<br />

para professores <strong>de</strong> 1º e 2º graus .Assis: Floresta Estadual <strong>de</strong>Assis, 1999. (RelatórioAnual da<br />

Floresta Estadual <strong>de</strong>Assis).<br />

GUILLAUMON, J.R al. Análise das trilhas <strong>de</strong> interpretação. São Paulo: Instituto Fe<strong>de</strong>ral, 1977.<br />

Bol.Técn.<br />

IPECE - INSTITUTO DE PESQUISA E ESTRATÉGIA ECONÔMICA DO CEARÁ - Perfil<br />

básico municipal – Quixadá. Disponível em:<br />

http://www.ipece.ce.gov.br/publicacoes/perfil_basico/perfil-basico-municipal-2009. Acessado em:<br />

29/09/2012<br />

1253


ROBIM, M. J.; TABANEZ M. F. Subsídios para implantação da Trilha Interpretativa da<br />

Cachoeira – Parque Estadual <strong>de</strong> Campos do Jordão-SP. Rev. Inst. Flor., São Paulo, v. 5, n. 1, p. 65-<br />

89, 1993.<br />

TABANEZ, M. F. & PADUA, S.M. (orgs.) 1997. Educação Ambiental: caminhos trilhados no<br />

Brasil. Instituto <strong>de</strong> Pesquisas Ecol ógicas - IP Ê. Brasília. 283 pp.<br />

TABANEZ, M. F. & PADUA, S.M. 1997. Uma abordagem participativa para a conservação <strong>de</strong><br />

áreas naturais: Educação ambiental na mata atlântica. Anais do Congresso brasileiro <strong>de</strong><br />

comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação. Curitiba-Paraná. <strong>Vol</strong>.02.<br />

TILDEN, F. Interpreting our heritage. 3rd. ed. Chapel Hill: The University of North Carolina,<br />

1977. 138 p.<br />

1254


AÇÕES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL DESENVOLVIDASPELO PROGRAMA ―NOVOS<br />

Resumo<br />

TALENTOS‖ EM UMA ESCOLA PÚBLICA DE MOSSORÓ/RN 142<br />

Jarlene<strong>de</strong> Almeida MELO - jarlenemelo@hotmail.com<br />

Discente do Curso <strong>de</strong> Gestão Ambiental (DGA/UERN)<br />

Hiara Ruth da Silva CÂMARA- hiara_ruth@hotmail.com<br />

Discente do Curso <strong>de</strong> Gestão Ambiental (DGA/UERN)<br />

Maria da Conceição<strong>de</strong> MELO- melo.ceica@yahoo.com<br />

Discente do Curso <strong>de</strong> Gestão Ambiental (DGA/UERN)<br />

Ramiro Gustavo ValeraCAMACHO 143 (CEMAD/UERN) - ramirogustavo@uern.br<br />

O presente trabalho tem por objetivoobservar o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ações pontuais <strong>de</strong> Educação<br />

Ambiental (EA) realizadaspelo do Programa ―Novos Talentos‖, a partir da percepção dos monitores<br />

quanto à participação dos alunos durante a realização das ofici<strong>nas</strong> <strong>de</strong> EA em uma escola pública <strong>de</strong><br />

Mossoró/RN. Para embasar a parte teórica do trabalho, recorreu-se a livros, preferindo-se os mais<br />

atualizados, principalmente aqueles que tratam do tema educação ambiental e temas afins. Como<br />

suporte para a pesquisa <strong>de</strong> campo, aplicou-se questionários dirigidos aos monitores do programa,<br />

por ocasião <strong>de</strong> uma das ofici<strong>nas</strong> <strong>de</strong> EA na escola.A análise das respostas permitiu concluir que os<br />

assuntos tratados na EA vêm se tornandoum instrumento <strong>de</strong> disseminação <strong>de</strong> novos conceitos e<br />

valores para o cotidiano escolar dos alunos, configurando-se, portanto, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolver outros projetos que viabilizem melhor interação e participação dos alunos na relação<br />

socieda<strong>de</strong>-natureza, mostrando que a EA construída <strong>de</strong> forma consciente e cotidiana, e não<br />

somentepontual, po<strong>de</strong>alcançarum nível <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> mais equilibrada e duradoura.<br />

Palavras-chaves: Escola Pública;Ensino Fundamental;Sustentabilida<strong>de</strong>.<br />

Abstract<br />

This work aims to observe the <strong>de</strong>velopment of punctual actions in environmental education<br />

inclu<strong>de</strong>d in a program called ―Novos Talentos‖ through the perception which the auxiliaries<br />

monitors have about the participation of public school stu<strong>de</strong>nts‘ in Mossoró/RN/Brazil, while they<br />

142 Trabalho apresentado à Conferência da Terra, resultado das ações realizadas pelo Programa “Novos Talentos”,<br />

<strong>de</strong>senvolvidas pelo Centro <strong>de</strong> Estudos e Pesquisas do Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional do Semiárido<br />

(CEMAD), da Universida<strong>de</strong> do Estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte (UERN).<br />

143<br />

Orientador /Professor Adjunto do Departamento <strong>de</strong> Ciências Biológicas da Universida<strong>de</strong> do Estado do Rio Gran<strong>de</strong><br />

do Norte, Doutor em Botânicapela Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo-USP.<br />

1255


are teaching the themes in a workshop.The theoretical was based on books about environmental<br />

education and similar topics. As support for the search, some questionnaires were answered by the<br />

auxiliariesmonitors. Based on their answers, it was possible to conclu<strong>de</strong> that environmental<br />

education is becoming an important instrument to disseminate new values and concepts to the<br />

stu<strong>de</strong>nts‘ life. So, it‘s important to <strong>de</strong>velop other projects that make easier stu<strong>de</strong>nts‘ interaction and<br />

participation in their relationship with the environmental, showing that environmental education<br />

built consciously and in everyday, not just on time, can reach a more balanced and lasting<br />

sustainability level.<br />

Keywords:Public School; Fundamental Level;Sustainability.<br />

INTRODUÇÃO<br />

A prática da Educação Ambiental (EA), nos mais variados âmbitos, consiste em um gran<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>safio quando se remete às questões <strong>de</strong> conservação, preservação do meio ambiente e recursos<br />

naturais, visto que é uma problemática importantea ser discutida. Porém, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criação<br />

<strong>de</strong> projetos e propostas para a inserção <strong>de</strong> componentes <strong>de</strong> Educação Ambiental em escolas públicas<br />

vem sendo vista como gran<strong>de</strong> alavanca para a mudança <strong>de</strong> valores <strong>de</strong> cidadania em relação às<br />

questões ambientais.<br />

A prática da EAé <strong>de</strong>stacada como um gran<strong>de</strong> problema no cotidiano escolar, visto que é <strong>de</strong><br />

fundamental importância mostrar para os alunos das escolas, principalmente as públicas que esta é<br />

umaferramenta <strong>de</strong> disseminação <strong>de</strong> práticas consi<strong>de</strong>radas sustentáveis e que po<strong>de</strong>m influenciar no<br />

cotidiano <strong>de</strong> cada um. Baseado nesse argumento objetivou-seobservar o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ações<br />

<strong>de</strong> EA realizadas pelo Programa ―Novos Talentos‖, através da percepção dosmonitores quanto à<br />

participação dos alunos durante a realização das ofici<strong>nas</strong> <strong>de</strong> EA em uma escola pública <strong>de</strong><br />

Mossoró/RN.<br />

A escolha da EA <strong>de</strong>u-se através da observação feita durante a realização das ofici<strong>nas</strong>, <strong>nas</strong><br />

escolas públicas no município <strong>de</strong> Mossoró/RN. Isto porque é perceptível a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mostrar a<br />

compreensão dos alunos sobre o conhecimento dotema, principalmente porque há ainda pouca<br />

difusão em alguns espaços do universo escolar, e não ao cotidiano dos alunos.<br />

METODOLOGIA<br />

Caracterização da Área <strong>de</strong> Estudo<br />

No intuito <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver a pesquisa sobre a percepção <strong>de</strong> participação dos envolvidos no<br />

projeto, optou-se por realizar a pesquisa na Escola Estadual Manoel Justiniano <strong>de</strong> Melo, localizada<br />

1256


na Rua Dom Hel<strong>de</strong>r Câmara, nº 79, bairro Belo Horizonte, zona urbana do município <strong>de</strong> Mossoró-<br />

RN. Estaoferece níveis <strong>de</strong> ensino fundamental I e II, nos turnos matutino e vespertino, e o programa<br />

<strong>de</strong> Educação para Jovens e Adultos (EJA) no turno noturno. Ao todo, resultam em um número <strong>de</strong><br />

550 alunos, aproximadamente, distribuídos entre os níveis <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong>scritos acima. Que no<br />

universo geral das escolas trabalhadas, configura-se como um elemento mediador com<br />

características semelhantes a todas as escolas inseridas.<br />

Material e Métodos<br />

Para embasar a parte teórica do trabalho, a priori recorreu-se a livros, preferindo-se os mais<br />

atualizados, principalmente aqueles que tratam do tema educação ambiental e temas afins.<br />

Foi <strong>de</strong>senvolvido um curso <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> EA com os monitores do Programa Novos<br />

Talentos, promovido pelo Centro <strong>de</strong> Estudos e Pesquisas do Meio Ambiente e Desenvolvimento<br />

Regional do Semiárido (CEMAD/UERN), em sua própria se<strong>de</strong>, com objetivo <strong>de</strong> formação para<br />

realização das ofici<strong>nas</strong> e <strong>de</strong>mais ativida<strong>de</strong>s do programa.<br />

Como suporte para a pesquisa <strong>de</strong> campo, aplicou-se questionários dirigidos aos monitores do<br />

programa, por ocasião <strong>de</strong> uma das ofici<strong>nas</strong> <strong>de</strong> EA na escola.No referido momento foram aplicados<br />

sete questionários, com perguntas abertas e fechadas entre os quinzemonitores do programa que<br />

participaram das ofici<strong>nas</strong> nesta escola, com objetivo <strong>de</strong> observar como se dá a participação do aluno<br />

quanto ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s educativas realizadas <strong>de</strong> forma pontual.<br />

As ações ocorreramno dia 31 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2012, iniciando às 13h 30min, com término às<br />

17h30 min. Sendo <strong>de</strong>senvolvida,simultaneamente, uma oficina <strong>de</strong> capacitação para professores e<br />

gestores <strong>de</strong>sta escola, ministrada pelo coor<strong>de</strong>nador do Programa, bem comoofici<strong>nas</strong> <strong>de</strong> Educação<br />

Ambiental em salas <strong>de</strong> aula, com os alunos do 6º ao 9º ano do ensino fundamental II, ministradas<br />

pelos monitores que participam <strong>de</strong>ste.<br />

Durante estas ofici<strong>nas</strong> foram trabalhadas as seguintes etapas:o primeiro momento com<br />

apresentação <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> cultural, com músicas, enfocando a temática ambiental e a relação<br />

socieda<strong>de</strong>-natureza, mostrando a relevância da valorização da cultura nor<strong>de</strong>stina.<br />

No segundo momento, as turmasforam divididas em grupos (respectivas salas <strong>de</strong> aula) e os<br />

monitores expõem sugestões para a construção <strong>de</strong> cartazes feitos pelos alunos atentando em<br />

respon<strong>de</strong>r à questão ―Que futuro nós queremos?‖ (FIGURA 1). Com o propósito <strong>de</strong> observar como<br />

conhecimento prévio a percepção <strong>de</strong>stes em relação à temática ambiental antes do <strong>de</strong>senvolvimento<br />

das <strong>de</strong>maisativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> educação ambiental.<br />

1257


Figura 1 - Alunos da escola durante a confecção dos cartazes <strong>nas</strong> ofici<strong>nas</strong> <strong>de</strong> EA.<br />

Fonte: MELO, 2012.<br />

Em seguida, foram feitas apresentações, pelos monitores, em sli<strong>de</strong>s, ví<strong>de</strong>os, seguidas <strong>de</strong><br />

discussões sobre a temática do bioma local (caatinga) e a importância da conservação ambiental<br />

(fauna, flora, recursos, etc.) <strong>de</strong>ste ecossistema. Adicionalmente, alertou-se sobre a questão da água e<br />

disposição dos resíduos sólidos (lixo), enfatizando a coleta seletiva como instrumento que auxilia na<br />

minimização da disposição ina<strong>de</strong>quada <strong>de</strong>stes resíduos, além disso, promove a geração <strong>de</strong> renda <strong>de</strong><br />

muitas famílias quase sustentam <strong>de</strong>ssa ativida<strong>de</strong>.<br />

Como última parte <strong>de</strong>sta etapa no referido dia, colheu-se o entendimento <strong>de</strong>stes alunos<br />

diante do que foi mostrado e o que eles gostariam <strong>de</strong> modificar em relação o que foi confeccionado<br />

nos cartazes, discutindo sobre o que eles po<strong>de</strong>ram compreen<strong>de</strong>r após o conteúdo educativo que lhes<br />

foi exposto.No final das ofici<strong>nas</strong> foram recolhidos os questionários distribuídos aos monitores,a fim<br />

<strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r e avaliar como ocorreu o <strong>de</strong>senvolvimento das ativida<strong>de</strong>s durante as ofici<strong>nas</strong>.<br />

Como complemento das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> EA realizou-se uma aula <strong>de</strong> campo, no dia 01 <strong>de</strong><br />

setembro <strong>de</strong> 2012, com cerca <strong>de</strong> 40 alunos selecionados pela direção da escola e também com os<br />

professores que participaram das ofici<strong>nas</strong> <strong>de</strong> EA no dia anterior, com o objetivo <strong>de</strong> ressaltar o que<br />

foi visto <strong>nas</strong> ofici<strong>nas</strong>, ou seja,<strong>de</strong>monstrar na prática como os conceitos e valores po<strong>de</strong>m ser<br />

exercitados no cotidiano <strong>de</strong>stes, mostrando a beleza e a biodiversida<strong>de</strong> do local, a importância da<br />

preservação e conservação ambiental, e com isso proporcionando uma melhor compreensão e<br />

conciliação da teoria e da prática.<br />

Como local escolhido para a viabilização da aula foi a Reserva <strong>de</strong> Desenvolvimento<br />

Sustentável Estadual Ponta do Tubarão (RDSEPT), Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Conservação localizada entre os<br />

municípios <strong>de</strong> Macau e Guamaré/RN, que tem a história <strong>de</strong> sua criação como principal marco, pois<br />

foi através da incansável luta dos moradores locais por melhores condições <strong>de</strong> vida, e a preocupação<br />

1258


com a preservação e conservação dos recursos naturais locais que levaram a ser instituída como<br />

uma Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Desenvolvimento Sustentável.<br />

Assim, foram relatados pelos guias e representantes da RDSEPT (FIGURA 2), aos alunos e<br />

professores toda a história da criação e como ocorre a busca cotidiana da população pela viabilida<strong>de</strong><br />

do <strong>de</strong>senvolvimento sustentável <strong>de</strong>ntro do local, a partir <strong>de</strong> movimentos populares, projetos,<br />

associações, cooperativas, e principalmente pelo fortalecimento da economia baseada na pesca<br />

tradicional.<br />

Figura 2 - Aula <strong>de</strong> campo na RDSEPT-RN. Fonte: GARCIA, 2012.<br />

RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

A Educação Ambiental<br />

Nas últimas décadas, tem sido evi<strong>de</strong>nciada uma série <strong>de</strong> problemas ambientais ocasionados<br />

pela ação humana, inicialmente nos países <strong>de</strong>senvolvidos e, mais recentemente, também <strong>nas</strong> áreas<br />

urba<strong>nas</strong> dos países em <strong>de</strong>senvolvimento. Nesse sentido, tanto organizações <strong>de</strong> cunho ambientalista<br />

quanto socieda<strong>de</strong> civil vem se fortalecendo na preservação dos recursos naturais ainda existentes.<br />

Para isso, organizam-se em eventos por todo o mundo, chamando a atenção dos governos e da<br />

socieda<strong>de</strong> para o agravamento da crise existente, movida pelo pensamento <strong>de</strong> que os recursos<br />

ambientais constituem-se como um bem amplamente renovável e infinito.<br />

A EA enquanto conceito estabelecido tem sua origem em um <strong>de</strong>sses eventos. Loureiro et al<br />

(2005, p. 13) ressalta ―A primeira vez que se adotou o termo educação ambiental foi em evento<br />

<strong>de</strong>educação promovido pela Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Keele, no Reino Unido, no ano <strong>de</strong>1965‖.Após uma<br />

década, tornou-se um objetivo educativo específico com a realização do I Seminário Internacional<br />

<strong>de</strong> Educação Ambiental, em Belgrado (LOUREIRO et al, 2005).<br />

1259


A comemoração das duas décadas <strong>de</strong> realização da Conferência <strong>de</strong> Tbilisi, em 1977, na<br />

capital da Geórgia, Ex-União Soviética,resultou num documento final que é base para a mo<strong>de</strong>rna<br />

visão da educação ambiental (BRASIL, 2008). Este evento foi o marco mais importante para<br />

evolução da EA no mundo. Nesta conferência, foi ponto culminante a primeira fase do Programa<br />

Internacional <strong>de</strong> EA, <strong>de</strong> acordo com Dias (2004), este <strong>de</strong>veria ser o resultado <strong>de</strong> uma reorientação e<br />

articulação <strong>de</strong> diversas discipli<strong>nas</strong> e exposições educativas que facilitassem a visão integrada do<br />

ambiente.<br />

Mais tar<strong>de</strong>, no ano <strong>de</strong> 1988, é promulgada a Constituição Fe<strong>de</strong>ral Brasileira, <strong>de</strong>dicando um<br />

capítulo exclusivo ao meio ambiente e <strong>de</strong>stacando o papel <strong>de</strong> se promover a EA em todos os níveis<br />

<strong>de</strong> ensino. Nesse contexto, ocorre no Brasil, em 1992, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio<br />

Ambiente e Desenvolvimento, ou Rio-92. Nela, é aprovado o Tratado <strong>de</strong> Educação Ambiental para<br />

socieda<strong>de</strong>s sustentáveis, constituindo um avanço para as discussões sobre a temática. Destaca-se<br />

ainda:<br />

Des<strong>de</strong> 1994, as ações públicas nesse setor eram orientadas pela primeira versão do<br />

Programa Nacional <strong>de</strong> EA (ProNEA), instituído pela Presidência da República por<br />

instrução ministerial. Nele, constava a missão da Coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> EA do Ministério da<br />

Educação [...] <strong>de</strong> se voltar mais para a ―educação ambiental formal‖, isto é, vinculada ao<br />

sistema <strong>de</strong> ensino, em todos os níveis (BRASIL, 2008, p. 19).<br />

Em 1997, segundo Abílio (2011) o Ministério <strong>de</strong> Educação e Cultura (MEC) apresentou a<br />

comunida<strong>de</strong> escolar os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) para o ensino fundamental e mais<br />

adiante no ano <strong>de</strong> 2000 para o ensino médio.<br />

Segundo Seabra (2011) a publicação da Lei nº 9.795/1999, que instituiu a Política Nacional<br />

<strong>de</strong> Educação Ambiental (PNEA) institucionaliza a EA e regulariza seus princípios, uma política<br />

públicaque proporciona a socieda<strong>de</strong> um instrumento <strong>de</strong> cobrança para a sua promoção.A EA é<br />

entendida como:<br />

―Enten<strong>de</strong>-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a<br />

coletivida<strong>de</strong> constroem valores sociais, conhecimentos, habilida<strong>de</strong>s, atitu<strong>de</strong>s e<br />

competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem <strong>de</strong> uso comum do povo,<br />

essencial à sadia qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e sua sustentabilida<strong>de</strong>‖ (BRASIL, 1999. Art. 1º).<br />

Assim, a EAvem sendo inserida <strong>nas</strong> escolas como um instrumento <strong>de</strong> alerta quanto ao<br />

agravamento das questões ambientais, cada vez mais presentes <strong>de</strong>vido à ação humana. Por isso, a<br />

prática da EA está sendo reconhecida como um dos principais mecanismos para se chegar à<br />

conscientização dos alunos na escola, pois tem como intuito promover ações cotidia<strong>nas</strong> que levem o<br />

indivíduo a repensar sobre as suas ações relacionando-as ao meio em que vive.<br />

O Programa Novos Talentos<br />

1260


O Programa <strong>de</strong> Apoio a Projetos Extracurriculares: Investindo em Novos Talentos da Re<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Educação Pública para Inclusão Social e Desenvolvimento da Cultura Científica é um projeto<br />

financiado pela Capes e ―visa à inclusão social e <strong>de</strong>senvolvimento da cultura científica por meio <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong>s extracurriculares para alunos e professores das escolas da re<strong>de</strong> pública <strong>de</strong> educação<br />

básica‖ (PROGRAMA NOVOS TALENTOS, 2012).<br />

Através do programa ―Novos Talentos‖, o projeto intitulado <strong>de</strong> ―Divulgando a Educação<br />

Ambiental na Construção <strong>de</strong> Saberes e Exercício da Cidadania na Escola Pública em Mossoró-RN‖,<br />

executado pelo CEMAD, é possível realizar ações <strong>de</strong> educação ambiental <strong>nas</strong> escolas públicas do<br />

município <strong>de</strong> Mossoró/RN, com o propósito <strong>de</strong> divulgar a educação ambiental como principal meio<br />

<strong>de</strong> disseminação <strong>de</strong>novos conceitos, quebrando paradigmas sobre a importância da preservação<br />

ambiental e a conservação dos recursos naturais, como assuntos primordiais no universo cotidiano<br />

escolar.<br />

As ações do programa se dão semanalmente, por meio <strong>de</strong> ofici<strong>nas</strong>teóricas <strong>nas</strong> escolas,<br />

geralmente às sextas-feiras, abordando temas como: bioma caatinga, disposição a<strong>de</strong>quada dos<br />

resíduos sólidos (lixo), através da coleta seletiva e a importância da preservação e conservação dos<br />

recursos naturais e outros.<br />

Ações <strong>de</strong> Educação Ambiental na Escola Estadual Manoel Justiniano <strong>de</strong> Melo<br />

A prática da EA <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma escola tem como ponto forte a participação dos alunos, pois<br />

permite que eles acumulem o conhecimento dos assuntos abordados, <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> relevância e, assim,<br />

po<strong>de</strong>m repassá-los em seus hábitos cotidianos, afinal é no espaço escolar que se permite expor<br />

novas i<strong>de</strong>ias, questões, antes não ou pouco discutidas. Abílio (2011, p. 116) vem <strong>de</strong>stacar ―a escola<br />

é um local imprescindível <strong>de</strong> se promover a ―consciência‖ ambiental a partir da conjugação das<br />

questões ambientais com as questões sócio-culturais‖.<br />

No caso da escola pesquisada, os monitores po<strong>de</strong>ram ver na prática o quanto os alunos<br />

conseguem compreen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> forma coerente os conteúdos abordados sobre temáticas ambientais, e<br />

como essa relação homem-natureza é construída.Com a aplicação dos questionários entre os<br />

monitores, foi possível perceber esse real interesse,o que configura como um ponto bem relevante,<br />

já que foi <strong>de</strong>stacado durante as ofici<strong>nas</strong> pelos alunos que não são vistas com tanta freqüência no<br />

conteúdo disciplinar temáticas <strong>de</strong>ste tipo.Do total <strong>de</strong> monitores questionados (7), 43% relataram que<br />

os alunos se mostraram curiosos em saber mais sobre os assuntos abordados <strong>nas</strong> ofici<strong>nas</strong>(Conforme<br />

o Gráfico 1).<br />

1261


Gráfico 1 – Percepção dos monitores quanto ao conhecimento dos alunos sobre o<br />

conteúdo<br />

Fonte: MELO, 2012.<br />

Em relação ao interesse dos alunossobre os temas abordados, os monitores po<strong>de</strong>ram<br />

observar um maior interesse por questões referentes à água, biodiversida<strong>de</strong> no bioma caatinga<br />

(<strong>de</strong>monstravam bastantes curiosos sobre as espécies florísticas e faunísticas do bioma) e <strong>de</strong> outros<br />

temas como escassez <strong>de</strong> alimentos, e consequências ambientais <strong>de</strong>vido à ação do homem contra a<br />

natureza (Gráfico 2).<br />

Gráfico 2 - Percepção dos Monitores quanto ao interesse dos alunos sobre os temas<br />

apresentados.<br />

Fonte: MELO,2012.<br />

1262


Porém, durante a realização das ofici<strong>nas</strong> foi possível verificar algumas dificulda<strong>de</strong>s na<br />

escola, proporcionando em alguns momentos a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> não eficiência das ações educativas<br />

realizadas, conforme po<strong>de</strong> ser observado no Gráfico 3.<br />

Gráfico 3 - Dificulda<strong>de</strong>s percebidas durante as ofici<strong>nas</strong>.Fonte: MELO, 2012.<br />

De acordo com o Gráfico3 po<strong>de</strong>-se observar que boa parte dos monitores elencou ter<br />

encontrado dificulda<strong>de</strong>s em relação à falta <strong>de</strong> atenção,interação e comportamento <strong>de</strong> alguns alunos<br />

durante as ofici<strong>nas</strong>, o que po<strong>de</strong> ser um ponto negativo, já que para se alcançar o objetivo do<br />

programa é necessário que haja uma interação dos alunos. Outros elencaram perceber dificulda<strong>de</strong>s<br />

em relação as estrutura funcional e estrutural da própria escola, po<strong>de</strong>ndo ser <strong>de</strong>stacado dificulda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> salas disponíveis, seleção das turmas trabalhadas, <strong>de</strong>sconforto quanto à estrutura física e<br />

ambiental das salas <strong>de</strong> aula (<strong>de</strong>sconforto térmico, falta <strong>de</strong> ventilação, iluminação), o que po<strong>de</strong> vir a<br />

propiciar uma dispersão entre os alunos nos momentos <strong>de</strong> realizar algumas tarefas orientadas pelo<br />

monitores.<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Durante a participação dos alunos <strong>nas</strong> ofici<strong>nas</strong>, <strong>de</strong>senvolvidas foi perceptível a necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> elaboração e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> outros projetos que viabilizem uma melhor interação e<br />

participação dos alunos no contexto das questões ambientais. Diante da efetiva participação dos<br />

alunos, e da observação da necessida<strong>de</strong> do aprofundamento <strong>nas</strong> discussões que envolvem as<br />

relações socieda<strong>de</strong>-natureza.<br />

A análise das respostas permitiu concluir que os assuntos tratados na EA vêm se tornando<br />

um instrumento <strong>de</strong> disseminação <strong>de</strong> novos conceitos e valores para o cotidiano escolar dos alunos,<br />

configurando-se, portanto, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver outros projetos que viabilizem melhor<br />

interação e participação dos alunos na relação socieda<strong>de</strong>-natureza, mostrando que a EA construída<br />

1263


<strong>de</strong> forma consciente e cotidiana, e não somente pontual, po<strong>de</strong> alcançar um nível <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong><br />

mais equilibrada e duradoura, pois os alunos carecem <strong>de</strong> aulas que possam introduzir a sua<br />

realida<strong>de</strong> um melhor entendimento e conhecimento sobre uma consciência ambiental. Para isso,<br />

também se propõem a melhoria na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conteúdos repassados no âmbito das discipli<strong>nas</strong>, e a<br />

promoção <strong>de</strong> aulas mais práticas, que viabilizem aos alunos uma melhor compreensão do que é<br />

estudado, pois muitas vezes, as aulas não admitem uma interação interdisciplinar entre os mais<br />

diversos dilemas da educação.<br />

REFERÊNCIAS<br />

ABÍLIO, Francisco José Pegado. Educação ambiental: conceitos, princípios e tendências.<br />

In_____.Educação ambiental para o Semiárido. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB,<br />

2011.cap. 2.<br />

BRASIL.Lei n° 9.795, <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1999. Diário Oficial [da] República Fe<strong>de</strong>rativa do<br />

Brasil.Po<strong>de</strong>r Executivo, Brasília, DF, 28 abr. 1999. Disponível em:<br />

. Acesso em: 07 <strong>de</strong><br />

agosto <strong>de</strong> 2012.<br />

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente; Secretaria <strong>de</strong> Articulação Institucional e Cidadania<br />

Ambiental; Departamento <strong>de</strong> Educação Ambiental. Os diferentes matizes da educação ambiental no<br />

Brasil: 1997-2007.Brasília, DF: MMA, 2008.<br />

Disponívelem:. Acesso<br />

em: 20 ago. 2012.<br />

DIAS, Genebaldo Freire. Educação Ambiental: princípios e práticas. 9. ed. São Paulo: Gaia, 2004.<br />

LOUREIRO, Carlos Fre<strong>de</strong>rico B. et al (Orgs.). Educação ambiental e gestão participativa em<br />

unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação. 2. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ibama, 2005.<br />

PROGRAMA NOVOS TALENTOS. Página digital. Disponível em:<br />

. Acesso em: 25 jul. 2012.<br />

SILVA, Paulo Sergio. Ações efetivas para a educação ambiental na prática escolar. In: SEABRA,<br />

Giovanni. (Org.). Educação ambiental no mundo globalizado: uma ecologia <strong>de</strong> riscos, <strong>de</strong>safios e<br />

resistência. João Pessoa: Editora Universitária, 2011. p.113-124.<br />

1264


PROJETO MUSEU DE CIÊNCIAS AMBIENTAIS MUNDO LIVRE: AÇÕES DE EDUCAÇÃO<br />

Resumo<br />

AMBIENTAL EM ESCOLAS PÚBLICAS E COMUNIDADES DA REGIÃO<br />

METROPOLITANA DE FORTALEZA - CEARÁ<br />

Nicolly Santos LEITE<br />

Graduanda, Departamento <strong>de</strong> Geografia da UFC<br />

kollysantosleiteleite@yahoo.com.br<br />

Wallason Farias <strong>de</strong> SOUZA<br />

Graduando, Departamento <strong>de</strong> Geografia da UFC<br />

wallasonfarias@alu.ufc.br<br />

Francisco Otávio Landim NETO<br />

Mestrando em Geografia pela UFC<br />

otaviogeo@oi.com.br<br />

Adryane GORAYEB<br />

Profa. Dra. Departamento <strong>de</strong> Geografia da UFC<br />

adryanegorayeb@yahoo.com.br<br />

Integrado ao Laboratório <strong>de</strong> Geoecologia da Paisagem e Planejamento Ambiental do curso <strong>de</strong><br />

Geografia da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Ceará, o Projeto Museu <strong>de</strong> Ciências Ambientais Mundo<br />

Livre vem, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2002, <strong>de</strong>senvolvendo ativida<strong>de</strong>s<strong>de</strong> extensão voltadas à Educação Ambiental junto<br />

às escolas da re<strong>de</strong> pública <strong>de</strong> Fortaleza e da Região Metropolitana. O projeto em questão atua como<br />

disseminadorda cultura indígenae da Educação Ambiental, tendo como um <strong>de</strong> seus principais<br />

objetivos o fomentoda construção <strong>de</strong> uma consciência ecológica e social.Para isso, o principal<br />

artifício usado diz respeito à visitação <strong>de</strong> escolas ao espaço do museu,localizado no Departamento<br />

<strong>de</strong> Geografiada Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Ceará (UFC), que atualmente oferece três diferentes<br />

exposições:1) ecossistema manguezal; 2) cultura indígena e 3) cultura africana. Este trabalho tem<br />

por objetivo <strong>de</strong>monstrar e discutir sobre a importância das ativida<strong>de</strong>s realizadas nos anos <strong>de</strong> 2011 e<br />

2012 pelo projeto supracitado. Nesse sentido, foram realizadas diversasofici<strong>nas</strong>, como a <strong>de</strong> sabão a<br />

partir <strong>de</strong> óleo doméstico e oficina <strong>de</strong> papel reciclado; exposições do acervo do museu em escolas<br />

públicas e em comunida<strong>de</strong>s da Região Metropolitana <strong>de</strong> Fortaleza-CE; rodas <strong>de</strong> <strong>de</strong>bates<br />

comdiferentes temáticas, entre elas ―A importância da água‖, ―Má <strong>de</strong>stinação dos resíduos sólidos e<br />

Reciclagem‖, ―As mudanças no Código Florestal brasileiro‖,que sãoativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> caráter<br />

conscientizador e informativo. O projeto ao longo <strong>de</strong>stes dois anos vem <strong>de</strong>spertando em crianças e<br />

jovens uma consciência mais crítica sobre os temas abordados e incentivaações sustentáveis junto<br />

1265


às escolas e às comunida<strong>de</strong>s on<strong>de</strong> as ativida<strong>de</strong>s foram realizadas. Assim, oprojeto Mundo Livre<br />

fomenta as discussões e práticas acerca da preservação e conservação dos recursos naturais,<br />

buscando privilegiar as ações extensionistas voltadas para a sustentabilida<strong>de</strong> ambiental.<br />

Palavras Chave: Museu Mundo Livre; Educação Ambiental e Sustentabilida<strong>de</strong>.<br />

Abstract<br />

Integrated to Laboratory of GeoecologyofLandscape and Environmental Planning course of<br />

Geography, Fe<strong>de</strong>ral University of Ceará, theProject Environmental Science Free World Museum<br />

has, since 2002, <strong>de</strong>veloping extension activities focused on environmental education at the public<br />

schools and Fortaleza Metropolitan Region. The project in question works as a disseminator of<br />

indigenous culture and environmental education, having as one of its main objectives the promotion<br />

of the construction of social and ecological conscience. For this, the mainartifice used concerns the<br />

schools visitationto the space of the Museum, located in the Department of Geography, Fe<strong>de</strong>ral<br />

University of Ceará (UFC), which currently offers three different exposures: 1) mangrove<br />

ecosystem, 2) indigenous culture and 3) african culture. This work aims to <strong>de</strong>monstrate and discuss<br />

the importance of the activities performed in the 2011 and 2012 years by aforementioned project.<br />

Accordingly, were performedmany workshops, such as recycled soap from domestic oil and<br />

recycled paper workshop; exhibitions of the museum collection at schools and in the communities<br />

Metropolitan Region of Fortaleza-CE; discussions with differentsthematics, including "The<br />

Importance of Water", "Bad disposal of solid waste and recycling", "Changes in the Brazilian<br />

Forest Co<strong>de</strong>," which are activities conscientizing and character informative. The project over these<br />

two years has stimulated young and children a more critical conscience about the themes and<br />

encourages sustainable actions at the schools and communities where the activities were performed.<br />

Thus, the Museum Free World project fosters the practical and discussions about the preservation<br />

and conservation of the natural resources, seeking privilege the extension actions aimed at<br />

environmental sustainability.<br />

Keywords: Museum Free World; Environmental Education; Sustainability.<br />

INTRODUÇÃO<br />

Nas últimas décadas ocorreram mudanças no âmbito dos meios <strong>de</strong> produção e na exploração<br />

dos recursos naturais. No Brasil, é possível i<strong>de</strong>ntificar áreas com elevados índices <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação<br />

ambiental. Essa apropriação dos recursos naturais tem se intensificado drasticamente, trazendo<br />

consequências ao meio ambiente, nesse sentido as questões ambientais não po<strong>de</strong>m ser entendidas<br />

1266


sem levar em consi<strong>de</strong>ração a ação do homem sobre o meio. A <strong>de</strong>senfreada busca pelo progresso,<br />

consumo, mo<strong>de</strong>rnização e <strong>de</strong>senvolvimento tendo como principal custo os danos ao meio ambiente,<br />

tem levado a socieda<strong>de</strong> a refletir acerca das suas formas <strong>de</strong> utilização dos recursos naturais<br />

(BRASIL; SANTOS, 2004).<br />

Nesse contexto,o presente trabalho tem por objetivo <strong>de</strong>monstrar a importância das ativida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> Educação Ambiental realizadas pelo projeto<strong>de</strong> extensão universitária Museu <strong>de</strong> Ciências<br />

Ambientais Mundo Livre, nos anos <strong>de</strong> 2011 e 2012. Convém <strong>de</strong>stacar que as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> extensão<br />

universitária vinculadas ao projetosão <strong>de</strong>senvolvidas em três momentos: (i) exposição dos<br />

elementos que compõem o ecossistema manguezal e exposições sobre cultura indígena; (ii)<br />

realização <strong>de</strong> ofici<strong>nas</strong> e (iii) palestras acerca <strong>de</strong> temas ligados a Educação Ambiental.<br />

REFLEXÕES SOBRE A QUESTÃO AMBIENTAL<br />

A partir do final do século XVIII, com as mudanças no modo <strong>de</strong> produção, o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento da indústria, a intensificação na utilização e na busca por recursos naturais e o<br />

intenso <strong>de</strong>senvolvimento urbano, houve consi<strong>de</strong>ráveis aumentos da poluição ambiental que foram<br />

mais facilmente sentidos pelas populações no <strong>de</strong>correr dos anos. Somente no século XX, com a<br />

emergência por mudanças que viabilizem um melhor uso dos recursos naturais assegurando uma<br />

melhor qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, começa-se a pensar e organizar ações que caracterizam a ―crise do<br />

ambiente humano‖ como uma questão global. As discussões ambientais tomaram forma nítida com<br />

a Conferência <strong>de</strong> Estocolmo em 1972 promovida pela ONU (DIAS, 2004). A conferência buscava<br />

soluções para conter a intensificação dos problemas ambientais que já começavam a ser percebidos<br />

pelas populações do mundo.<br />

A partir da Conferência <strong>de</strong> Estocolmo, a Educação Ambiental passa a ser consi<strong>de</strong>rada como<br />

um importante projeto e uma questão fundamental para o controle dos problemas socioambientais já<br />

tão discutidos. Nos anos seguintes à conferência, uma série <strong>de</strong> outros importantes eventos<br />

enfocando questões socioambientais foi organizada, como o Seminário Internacional <strong>de</strong> Educação<br />

Ambiental em 1975, conhecido principalmente como Conferência <strong>de</strong> Belgrado, que teve como<br />

resultado a Carta <strong>de</strong> Belgrado. Nesse documento várias iniciativas foram estimuladas para a<br />

diminuição dos problemas da humanida<strong>de</strong> e da natureza (DIAS, 2004).<br />

A Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental (Tbilisi) em 1977 é mais um<br />

importante evento, sendo a continuação da Conferência <strong>de</strong> Belgrado. No Brasil, por sua vez, não se<br />

avaliava com profundida<strong>de</strong> a perspectiva <strong>de</strong> promoção da Educação Ambiental (EA). A dificulda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> implantação da Educação Ambiental persistiria durante alguns anos (DIAS, 2004). Po<strong>de</strong>-se<br />

perceber que a partir da década <strong>de</strong> 80 a Educação ambiental ganha maior relevância pelo governo,<br />

sendo consi<strong>de</strong>rado o seu caráter multidisciplinar. Percebem-se, também várias outras iniciativas a<br />

1267


partir <strong>de</strong> Organizações Não Governamentais (ONGs),associações, universida<strong>de</strong>s e escolas que se<br />

multiplicam <strong>nas</strong> comunida<strong>de</strong>s e no país (SATO, 2004).<br />

Seguem-se a esses vários outros eventos até 1992, ano em que foi realizada a Conferência<br />

Internacional Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento realizada no Rio <strong>de</strong> Janeiro. Nesta, a i<strong>de</strong>ia<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável foi o foco principal. A Conferência teve como um dos principais<br />

resultados a criação da Agenda 21, um importante documento on<strong>de</strong> são apresentadas alternativas às<br />

nações para que estas possam alcançar o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável.<br />

Apesar disso, a Agenda 21 não faz referência somente ao modo como <strong>de</strong>vem ser tratadosos<br />

problemas ambientais. O Documento faz menção, também, à importância da relação entre os países<br />

e a forma como as questões huma<strong>nas</strong> po<strong>de</strong>m ser lidadas pelas nações, para que seja garantida uma<br />

distribuição mais igualitária dos recursos naturais, buscando, assim, o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável<br />

e não simplesmente o <strong>de</strong>senvolvimento econômico.<br />

Em 2012, observou-se mais uma tentativa <strong>de</strong> se discutir o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, a<br />

partir da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. Esta teve<br />

como um <strong>de</strong> seus objetivos avaliar o cumprimento, ou não, das ações <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

sustentável promovidas nos vários eventos da ONU ocorridos após a Conferência Internacional<br />

Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92) (VITAE CIVILIS, 2012).<br />

Portanto, a Conferência se mostrou como um ótimo momento <strong>de</strong> discussão sobre a forma<br />

como as Nações lidam com seus recursos naturais e humanos, promovendo uma reflexão acerca do<br />

mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento adotado e incentivando a ―construção <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> socialmente<br />

justa, economicamente próspera e ambientalmente sustentável.‖ (VITAE CIVILIS, 2012, p.2).<br />

O evento teve como resultado um documento <strong>de</strong> 49 pági<strong>nas</strong> com propostas para se alcançar<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável pelos países presentes na conferência, no entanto o texto propõe que<br />

estas serão efetivadas diferenciadamente em países <strong>de</strong>senvolvidos e em <strong>de</strong>senvolvimento, levando<br />

em consi<strong>de</strong>ração, portanto, as particularida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cada Estado. O documento não se apresentou<br />

como uma obrigação para os países que o aceitaram, mas sim como propostas <strong>de</strong> novas posturas.<br />

AÇÕES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESCOLAS E NAS COMUNIDADES<br />

A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> se fazer a Educação Ambiental a partir <strong>de</strong> uma nova educação vem do<br />

pressuposto <strong>de</strong> que a educação tradicional, não só implantada no Brasil, não seria capaz <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvê-la plenamente, já que não se pensa em Educação Ambiental como uma disciplina<br />

propriamente dita, mas sim como uma troca <strong>de</strong> saberes que cria uma consciência ambiental.<br />

Assim, a Educação Ambiental é uma forma <strong>de</strong> educar e apren<strong>de</strong>r, tendo como finalida<strong>de</strong><br />

―[...] a emancipação para a transformação dos sujeitos, o que significa a construção <strong>de</strong> sua<br />

autonomia e liberda<strong>de</strong>‖ (Loureiro, 2006 apud Araújo, 2010, p. 44), estando incluído aí, estudos <strong>de</strong><br />

1268


problemas ecológicos e regras <strong>de</strong> conservação da natureza. Po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>stacar a importância da<br />

Educação Ambiental no sentido <strong>de</strong> proporcionar várias <strong>de</strong>scobertas valiosas, compreen<strong>de</strong>ndo-se<br />

melhor o meio em que se vive, passando a admirá-lo e protegê-lo mais ainda. O fórum global da<br />

socieda<strong>de</strong> civil <strong>de</strong>finiu por ocasião da Cúpula do Rio <strong>de</strong> Janeiro em junho <strong>de</strong> 1992, alguns<br />

princípios básicos do que consi<strong>de</strong>rou Educação Ambiental, orientada para uma socieda<strong>de</strong><br />

sustentável e <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> global.<br />

A INFRAESTRUTURA DOPROJETOMUSEU DE CIÊNCIAS AMBIENTAIS MUNDO LIVRE<br />

O Museu <strong>de</strong> Ciências Ambientais Mundo Livre foi criado em Junho <strong>de</strong> 2002, <strong>de</strong>senvolvido<br />

no Departamento e Geografia da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Ceará, estando integrado ao Laboratório<br />

<strong>de</strong> Geoecologia da Paisagem e Planejamento Ambiental.O Museu é constituído por um espaço com<br />

17, 38m² que dispõe <strong>de</strong> três exposições permanentes, são elas: cultura indígena, ecossistema<br />

manguezal e fósseis além <strong>de</strong> materiais sobre cultura africana, voltado para a visitação <strong>de</strong> escolas,<br />

instituições e ONGs. As ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas pelo projeto ocorrem <strong>de</strong> maneiras distintas, como<br />

as visitas monitoradas por alunos ao museu, realização <strong>de</strong>cursos, ofici<strong>nas</strong> e palestras ministradas no<br />

Departamento <strong>de</strong> Geografia. Em outros momentos, as ativida<strong>de</strong>s acontecem em algumas<br />

comunida<strong>de</strong>s e escolas públicas e organizadas por bolsistas, estagiários e pelos coor<strong>de</strong>nadores do<br />

projeto.<br />

Procura-se, assim, beneficiar não só os estudantes do curso <strong>de</strong> Geografia, como também<br />

estudantes <strong>de</strong> outros cursos da Universida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> escolas públicas, em especial pessoas <strong>de</strong><br />

comunida<strong>de</strong>s estuari<strong>nas</strong> on<strong>de</strong> o Laboratório <strong>de</strong> Geoecologia da Paisagem e Planejamento Ambiental<br />

<strong>de</strong>senvolve suas ativida<strong>de</strong>s.<br />

O projeto <strong>de</strong> caráter permanente <strong>de</strong>staca-se atualmente como um espaço aberto às discussões<br />

e ativida<strong>de</strong>s que já vem integrando a universida<strong>de</strong> com outros segmentos da socieda<strong>de</strong>. Portanto, há<br />

fomento das ações <strong>de</strong> extensão e pesquisa, à medida que se auxilia e facilita os estudos feitos sobre<br />

o ecossistema manguezal e possibilita uma maior discussão e conscientização acerca da temática<br />

ambiental, não só no âmbito da Universida<strong>de</strong>, mas, também, em escolas particulares e públicas e em<br />

comunida<strong>de</strong>s da Região Metropolitana <strong>de</strong> Fortaleza, através das ações <strong>de</strong> extensão realizadas pelos<br />

integrantes do projeto.<br />

O espaço Mundo Livre vem se apresentando como uma importante alternativa à<br />

disseminação da Educação Ambiental <strong>nas</strong> áreas on<strong>de</strong> atua. A figura 1 representa um mosaico <strong>de</strong><br />

fotografias do Museu Mundo Livre.<br />

1269


Figura 1: Mosaico representativo do espaço do Museu Mundo Livre com seu acervo e organização.<br />

Fonte: Nicolly Santos Leite, 2012.<br />

endo como base a importância da Educação Ambiental, foram montadas três exposições que contam<br />

com Fonte: peças LEITE, <strong>de</strong>monstrativas 2011.<br />

no Museu Mundo Livre. Uma <strong>de</strong>las é da fauna do ecossistema<br />

manguezal, com várias espécies <strong>de</strong> crustáceos e peixes conservados em frascos com formol. Uma<br />

exposição sobre a cultura indígena também foi montada, contendo diversos elementos do cotidiano<br />

<strong>de</strong> uma al<strong>de</strong>ia, como cestos <strong>de</strong> palha e cuias <strong>de</strong>coradas, bancos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira feitos em formato <strong>de</strong><br />

animais, instrumentos usados para a caça e para a guerra, como lanças, flechas, bordu<strong>nas</strong> e<br />

zarabata<strong>nas</strong>, encontra-se, também, adornos pessoais usados no cotidiano e em festejos e pinturas<br />

elaboradas pelos próprios índios. O acervo indígena é composto por peças <strong>de</strong>monstrativas da arte e<br />

da cultura das etnias dos Guajajara, que vivem no Maranhão, e os Baniwa <strong>de</strong> São Gabriel da<br />

Cachoeira/AM. Os materiais sobre cultura africana, banners e maquetes foram doações <strong>de</strong> escolas<br />

que o projeto atua.<br />

O acervo do ecossistema manguezal merece <strong>de</strong>staque no espaço, pois além <strong>de</strong> representar o<br />

esforço da coleta, armazenamento e do cuidado <strong>de</strong>sse material pela equipe <strong>de</strong> trabalho do projeto,<br />

ele assinala o compromisso do projeto com esse ecossistema,que é afetado por impactos ambientais,<br />

como <strong>de</strong>spejo <strong>de</strong> resíduos sólidos e líquidos e outras ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>gradantes como a carcinicultura,<br />

mas que possui gran<strong>de</strong> relevância no já referido equilíbrio entre socieda<strong>de</strong>/natureza.<br />

As espécies foram coletadas em diferentes áreas <strong>de</strong> manguezal do estado do Ceará sendo<br />

eles, o estuário do rio Coreaú, o estuário do rio Ceará, e nos estuários do rio Timonha, Jaguaribe e<br />

Mundaú.Essas coletas foram realizadas em diferentes anos, sendo a primeira em 2003, logo após a<br />

criação do projeto e as duas últimas foram realizadas em 2011, no estuário do rio Ceará,e no<br />

estuário do rio Jaguaribe,localizados nos municípios <strong>de</strong> Caucaia-CE e Aracati-CE, respectivamente.<br />

Para a realização das coletas tivemos a ajuda <strong>de</strong> bolsistas do projeto Mangue Vivo do curso <strong>de</strong><br />

Engenharia <strong>de</strong> Pesca da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Ceará e <strong>de</strong> pescadores e moradores das<br />

comunida<strong>de</strong>s visitadas, cientes que as coletas seriam para fins <strong>de</strong> Educação Ambiental, com intuito<br />

<strong>de</strong> incentivar a preservação do ecossistema.<br />

Dois procedimentos diferentes foram realizados para a conservação das espécies em frascos.<br />

Nos primeiros anos do projeto, utilizou-se uma solução <strong>de</strong> álcool etílico 70%; já <strong>nas</strong> últimas coletas<br />

1270<br />

T


foi usada uma solução <strong>de</strong> formol 40% e água. Os outros passos feitos após a conservação são iguais<br />

para os dois diferentes procedimentos, como colocar nome científico e vulgar das espécies, o local e<br />

data <strong>de</strong> coleta e a pessoa que os i<strong>de</strong>ntificou para exposição.De modo complementar, realizou-se o<br />

processo <strong>de</strong> taxi<strong>de</strong>rmia com três crustáceos coletados, sendo um Siri Pimenta e dois Caranguejo-<br />

Uçá (Callinectesbocourti e Uci<strong>de</strong>sCordatus,respectivamente).Estas espécies, portanto, passaram<br />

por um processo diferenciado, on<strong>de</strong> foi preciso fazer uma limpeza interna, além <strong>de</strong> injetar formou<br />

4% <strong>nas</strong> articulações. Para realizar esse processo contamos com o apoio <strong>de</strong> um Engenheiro <strong>de</strong> Pesca,<br />

especialista no processo <strong>de</strong> taxi<strong>de</strong>rmia em crustáceos, peixes e mamíferos.<br />

O acervo é variado, possuindo peixes e crustáceos, entre as espécies temos a Muré<br />

(Bathygobiossoporator), o Baiacu (Sphoeroi<strong>de</strong>stestudineus), a Tilápia (Oreochromisniloticus),a<br />

Sóia (Apionichthysasphyxiatus), a Guarajuba-preta (Caranxcrysos), o Bagre<br />

(Scia<strong>de</strong>ichthysluniscutis), o Pirambu (Anisotremussurinamensis), o Pampo-cabeça-mole<br />

(Trachinotuscarolinus), o Camarão-rosa (Penaeus brasiliensis), a Carapeba (Eugerresbrasilianus),<br />

a Tainha (Mugil brasiliensis), o Cavalo marinho (Hippocampusreidi), o Siri Pimenta<br />

(Callinectesbocourti), o Aratu(Aratus pisonii), o Caranguejo-Uçá (Uci<strong>de</strong>sCordatus), o Chama-<br />

Maré (Uca thayeri), <strong>de</strong>ntre outras ainda em processo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação.<br />

As ativida<strong>de</strong>s do projeto vão além da visitação ao espaço do museu, por isso têm-se<br />

elaborado alternativas às ativida<strong>de</strong>s realizadas fora do Departamento <strong>de</strong> Geografia. Desenvolvem-<br />

se, portanto, outras formas <strong>de</strong> transmissão e troca <strong>de</strong> conhecimentos, como a realização <strong>de</strong> rodas <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>bate, palestras, ofici<strong>nas</strong> e a exibição <strong>de</strong> filmes, dinâmicas lúdicas,exposições <strong>de</strong> sli<strong>de</strong>s em<br />

projetor, enfim, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo sempre do tempo disponível, em média 2 a 4 horas.O Quadro 1<br />

apresenta as ações realizadas, os objetivos, as metas alcançadas e o registro fotográfico<br />

representativo das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas pelo projeto.<br />

1271


AÇÃO REALIZADA OBJETIVOS METAS ALCANÇADAS REGISTRO<br />

FOTOGRÁFICO<br />

Roda <strong>de</strong> conversa na EEM Liceu •Fornecer informações sobre o <strong>de</strong>stino dos resíduos •Gran<strong>de</strong> participação dos alunos nos dois momentos: roda<br />

Vila Velha, em Fortaleza-CE com o sólidos humanos <strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s, e principalmente em <strong>de</strong> conversa e reciclagem <strong>de</strong> papel conscientizando-os<br />

tema ―O problema da má <strong>de</strong>stinação Fortaleza, alertando para os problemas gerados pela acerca dos problemas existentes em Fortaleza <strong>de</strong>vido à<br />

dos residos sólidos‖ on<strong>de</strong> se má <strong>de</strong>stinação <strong>de</strong>sses resíduos sólidos.<br />

<strong>de</strong>stinação incorreta dos resíduos.<br />

apresentou partes do filme ―Lixo •Apresentar alternativas como a reciclagem e seus •Incentivo do coor<strong>de</strong>nador e <strong>de</strong> professores em<br />

Extraordinário‖ (99 min, direção benefícios <strong>de</strong>spertando-os para novas posturas com <strong>de</strong>senvolver ações <strong>de</strong> reciclagem na escola, como<br />

Lucy Walker) e se realizou uma<br />

oficina <strong>de</strong> reciclagem <strong>de</strong> papel.<br />

o meio ambiente.<br />

separação dos resíduos.<br />

Palestra com o tema ―A diversida<strong>de</strong> •Esclarecer os alunos acerca das riquezas •A palestra gerou gran<strong>de</strong> curiosida<strong>de</strong> nos alunos, visto que<br />

cultural, religiosa, linguística e os paisagísticas e da diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> culturas, religiões o assunto estava sendo abordado por bolsista <strong>nas</strong>cido em<br />

estigmas enfrentados pelo continente existentes no continente africano.<br />

São Tomé e Príncipe, oeste da África.<br />

africano.‖ com alunos da EEM Liceu •Enfocar as dificulda<strong>de</strong>s enfrentadas por países •A ativida<strong>de</strong> possibilitou aos alunos <strong>de</strong>sconstruírem<br />

Vila Velha, em Fortaleza-CE. africanos e a história <strong>de</strong> lutas e escravidão sofridas<br />

por diversas populações do continente.<br />

imagens estereotipadas sobre o continente africano.<br />

Oficina <strong>de</strong> Educação Ambiental para •Apresentar <strong>de</strong> forma lúdica aos alunos a •Houve gran<strong>de</strong> participação durante a oficina e<br />

os alunos <strong>de</strong> Ensino Fundamental I diversida<strong>de</strong> biológica do ecossistema marinho. diagnosticou-se que os alunos já enten<strong>de</strong>m a importância<br />

da EMEF Raimundo Fagner, •Ressaltar os problemas causados pela má da preservação do ambiente que os ro<strong>de</strong>ia, <strong>de</strong> modo que se<br />

localizada na Praia das Fontes em <strong>de</strong>stinação dos resíduos sólidos na área <strong>de</strong> praia procurou <strong>de</strong>spertá-los para a importância da reciclagem<br />

Beberibe-CE, abordando ―A morte tanto para os animais marinhos quanto para o para manter a praia limpa e evitar as mortes <strong>de</strong> animais<br />

<strong>de</strong> animais marinhos pela ingestão <strong>de</strong> próprio ser humano.<br />

marinhos pela ingestão <strong>de</strong> lixo.<br />

sacos plásticos (lixo) no litoral da •Conscientizar e estimular mudanças <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s. •Os alunos elaboraram, em conjunto, um gran<strong>de</strong> mural,<br />

Praia das Fontes‖.<br />

•Confeccionar materiais para a exposição na on<strong>de</strong> eles mostravam como seria a praia que <strong>de</strong>sejavam:<br />

própria escola em conjunto com os alunos. limpa.<br />

Oficina <strong>de</strong> elaboração <strong>de</strong> sabão em<br />

barra a partir <strong>de</strong> óleo doméstico na<br />

Praia das Fontes, em Beberibe-CE.<br />

•Alertar para os problemas causados pelo <strong>de</strong>spejo<br />

do óleo na natureza.<br />

•Sugerir e conscientizar estratégias para uma<br />

melhor <strong>de</strong>stinação do óleo utilizado na comunida<strong>de</strong>,<br />

principalmente <strong>nas</strong> várias barracas <strong>de</strong> praia<br />

existentes, além da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma renda<br />

sustentável (pela venda do sabão produzido) para as<br />

mulheres da comunida<strong>de</strong>.<br />

•Através da oficina foi possível gerar uma conscientização<br />

a cerca da contaminação gerada pelo óleo nos recursos<br />

hídricos.<br />

•As mulheres conseguiram <strong>de</strong>senvolver com êxito a<br />

oficina, sendo feito uma gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sabão que<br />

foi distribuído entre elas.<br />

1272


Exposição <strong>de</strong> parte do acervo<br />

indígena do Museu no município <strong>de</strong><br />

Pindoretama- CE, em espaço cedido<br />

pela Secretária <strong>de</strong> Educação<br />

Municipal.<br />

•Apresentar aos visitantes da exposição peças<br />

representativas da cultura indígena que <strong>de</strong>monstram<br />

o modo <strong>de</strong> vida, a cultura e a arte das etnias Baniwa<br />

e Guajajara.<br />

•Houve uma gran<strong>de</strong> visitação ao espaço on<strong>de</strong> foi repassado<br />

o conhecimento acerca do modo <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong> como usam a<br />

palha para a fabricação <strong>de</strong> diferentes artigos, além das<br />

diferentes pinturas e artes plumárias.<br />

AÇÃO REALIZADA OBJETIVOS METAS ALCANÇADAS REGISTRO<br />

FOTOGRÁFICO<br />

Em vista das discussões e •Disponibilizar maiores informações à comunida<strong>de</strong> •Ao final da fala dos professores foi possível discutir,<br />

mobilizações sobre as mudanças no acadêmica sobre a questão que é tão importante sendo este um momento muito produtivo, já que os alunos<br />

Código Florestal brasileiro, foi para os ambientalistas, mas que ao mesmo tempo <strong>de</strong> diversos cursos presentes (Geografia; Engenharia <strong>de</strong><br />

realizada no início <strong>de</strong> 2012 uma roda havia muito <strong>de</strong>sconhecimento e muitas dúvidas. Meio Ambiente; Ciências Biológicas e Engenharia <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> discussão<strong>de</strong>stinada aos discentes •Promover uma troca <strong>de</strong> conhecimentos entre os Pesca) e integrantes do Movimento Pró-árvore ouviram e<br />

sobre questões referentes ao participantes, alertando para o nosso papel como esclareceram dúvidas,além <strong>de</strong> compartilharem os seus<br />

tema.Participaram do momento dois ambientalistas, educadores ambientais ou ape<strong>nas</strong> conhecimentos.<br />

professores doutores do preocupados com a causa ambiental.<br />

•Foi ressaltada por diversos participantes a importância da<br />

Departamento <strong>de</strong> Geografia que •Chamar atenção para as consequências Educação Ambiental para a mudança <strong>de</strong> mentalida<strong>de</strong> das<br />

apresentaram as seguintes temáticas socioambientais das mudanças no CódigoFlorestal pessoas e assim torná-las mais ativas.<br />

―As ameaças das possíveis mudanças e quem eram os principais interessados <strong>nas</strong> •O momento trouxe mais informações e um maior<br />

no Código Florestal para as áreas <strong>de</strong> mudanças.<br />

entusiasmo para lutar pela causa, através do repasse dos<br />

manguezal‖ e ―A vulnerabilida<strong>de</strong><br />

conhecimentos adquiridos e até maior mobilização <strong>nas</strong><br />

socioambiental na Região<br />

diversas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> oposição que ocorriam na cida<strong>de</strong>.<br />

Metropolitana <strong>de</strong> Fortaleza‖.<br />

Foi realizada uma oficina com o •Transmitir aos alunos, <strong>de</strong> forma lúdica e •Os alunos participaram bastante durante a oficina,<br />

tema ―Água: cuidados e importância‖ <strong>de</strong>scontraída, on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>mos encontrar a água na principalmente quando era perguntado o que eles<br />

em vista do dia mundial da água (22 natureza, seus estados físicos e o ciclo da água, entendiam dos <strong>de</strong>senhos infantis abordando a temática.<br />

<strong>de</strong> março) na EIMEF Inah Arruda alémda importância da água para o ser humano. •Ao final, os alunos pu<strong>de</strong>ram formar grupos e fazer um<br />

localizada no município <strong>de</strong> Caucaia- •Apresentar osdiferentes usos e a distribuição do mural on<strong>de</strong> mostraram o que apren<strong>de</strong>ram com a oficina.<br />

Ce. Esta foi <strong>de</strong>stinada aos alunos do recurso no planeta, a fim <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver nos alunos Em geral, eles <strong>de</strong>monstraram a importância da água para a<br />

4º ano do ensino fundamental. uma consciência ambiental e também alertar para as nossa vida.<br />

ativida<strong>de</strong>s econômicas que mais a utiliza, como a •Os alunos <strong>de</strong>senvolveram uma consciência acerca das<br />

irrigação.<br />

atitu<strong>de</strong>s necessárias para se preservar este valioso bem.<br />

•Levar conhecimento acerca dos problemas Não se esquecendo <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r que em algumas ativida<strong>de</strong>s<br />

enfrentados pela água no nosso século, como a<br />

poluição e contaminação dos recursos hídricos<br />

superficiais e do lençol subterrâneos.<br />

econômicas há gran<strong>de</strong> uso da mesma.<br />

1273


Foi realizada exposição com peças<br />

do acervo ―cultura indígena‖ e<br />

―ecossistema manguezal‖ do projeto<br />

Museu Mundo Livre na EEFM<br />

Heráclito <strong>de</strong> Castro e Silva localizada<br />

no bairro João XXIII em Fortaleza-<br />

CE.<br />

•Demonstrar a importância e riqueza biológica do<br />

Ecossistema Manguezal, assim como a <strong>de</strong>gradação<br />

sofrida pelo mesmo, como o <strong>de</strong>spejo <strong>de</strong> esgotos,<br />

resíduos sólidos, carcinicultura, entre outros.<br />

•Apresentar aos alunos a riqueza da cultura<br />

indígena,o cotidiano, os rituais e a arte também<br />

foram <strong>de</strong>monstrados na exposição, a fim <strong>de</strong><br />

incentivar a valorização da cultura indígena.<br />

•A exposição trouxe maior conhecimento aos alunos<br />

acerca da temática.<br />

•Foi incentivado o respeito e a valorização da cultura<br />

indígena, visto que muitos dos nossos costumes são<br />

herdados dos índios. Além <strong>de</strong> transparecer aos alunos a<br />

ligação <strong>de</strong>ssas comunida<strong>de</strong>s com o meio ambiente natural.<br />

1274


O projeto conseguiu, através das ativida<strong>de</strong>s realizadas em 2011 e 2012, <strong>de</strong>spertar uma<br />

consciência crítica sobre os temas abordados, além <strong>de</strong> levar um pensamento ecológico que<br />

pressupõe a ―aquisição <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s, conceitos e técnicas necessárias para construir uma nova forma<br />

<strong>de</strong> adaptação cultural para os sistemas ambientais‖ (SILVA; RABELO; RODRIGUEZ, 2011, p.<br />

19). Em vista da atual forma <strong>de</strong> apropriação dos recursos naturais, as ativida<strong>de</strong>s extensionistas<br />

relatadas sugerem o equilíbrio na relação natureza-homem levando em consi<strong>de</strong>ração o contexto<br />

social, histórico e econômico, promovendo uma maior qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida das populações e<br />

comunida<strong>de</strong>s on<strong>de</strong> são realizadas.<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

O Projeto <strong>de</strong> Extensão Universitária Museu <strong>de</strong> Ciências Ambientais Mundo Livre interage<br />

com pessoas <strong>de</strong> vários cursos e setores da universida<strong>de</strong>, servindo <strong>de</strong> apoio e fonte <strong>de</strong> pesquisa para a<br />

comunida<strong>de</strong> científica e a socieda<strong>de</strong> em geral levando o conhecimento para além dos muros da<br />

universida<strong>de</strong>, à medida que são realizados cursos, palestras, ofici<strong>nas</strong> e visitas monitoradas a<br />

diversas escolas e comunida<strong>de</strong>s, além da troca <strong>de</strong> conhecimentos (tanto o científico e quanto<br />

tradicional) promovido nestas ativida<strong>de</strong>s e, também, na possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> visitação <strong>de</strong> jovens ao<br />

espaço do Museu.<br />

Nos momentos <strong>de</strong> discussão e das ativida<strong>de</strong>s em geral foi possível avaliar o nível <strong>de</strong><br />

satisfação dos indivíduos beneficiados pelo projeto. A partir da interação, da dinâmica e<br />

participação voluntária, em relação às ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas junto às escolas e comunida<strong>de</strong>s,<br />

observou-se a importância das mesmas e também a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>stas serem estimuladas e<br />

propagadas para a comunida<strong>de</strong> acadêmica, professores, alunos e órgãos e entida<strong>de</strong>s apoiadoras da<br />

extensão. Dessa forma, os atores envolvidos <strong>nas</strong> ativida<strong>de</strong>s educacionais propagam os<br />

conhecimentos adquiridos e transmitidos durante os encontros extensionistas e em outros encontros<br />

e congressos, sempre ressaltando a importância <strong>de</strong> valorizar as práticas <strong>de</strong> extensão na promoção da<br />

Educação Ambiental junto às escolas e às comunida<strong>de</strong>s.<br />

As ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> extensão realizadas em escolas e comunida<strong>de</strong>s já mencionadas, e a própria<br />

visita ao espaço interativo são atitu<strong>de</strong>s simples, mas que quando <strong>de</strong>senvolvidas com compromisso,<br />

<strong>de</strong>dicação e com certa continuida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>senvolver sensibilida<strong>de</strong> e criticida<strong>de</strong> naqueles a quem<br />

se <strong>de</strong>seja alcançar, transformando-os em agentes multiplicadores. A importância <strong>de</strong>ste e <strong>de</strong> outros<br />

projetos se apresentam, então, a partir da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> disseminação do conhecimento socioambiental<br />

que se revestirá em atitu<strong>de</strong>s mais conscientes e responsáveis para com o meio ambiente. É um<br />

______________________________________________<br />

¹ Apresentação parcial dos dados obtidos durante a pesquisa <strong>de</strong> Mestrado junto a Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong><br />

Rondônia , sob o titulo ELEMENTOS PARA O PLANO DE BACIA DO IGARAPE D’ALINCUORT: ROLIM DE MOURA - RO,<br />

projeto hospedado no Laboratorio <strong>de</strong> Geografia e Planejamento Ambiental <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2008 a maio <strong>de</strong> 2010,<br />

quando foi <strong>de</strong>fendido.


processo em que resultados grandiosos só são percebidos em longo prazo, mas que para existirem<br />

necessitam, também, das iniciativas extensionistas.<br />

REFERÊNCIAS<br />

ARAÚJO, Adilson Ribeiro De. Educação Ambiental e Sustentabilida<strong>de</strong>: <strong>de</strong>safios para a sua<br />

aplicabilida<strong>de</strong>. Lavras: Ufla, 2010. Disponível em:<br />

. Acesso em: 26 ago. 2012.<br />

BEZERRA, Rita <strong>de</strong> Cássia Lima et al. (Org.). Educação Ambiental. Fortaleza: Global Geoparks<br />

Network, 2010/2011.<br />

BRASIL, Anna Maria; SANTOS, Fátima. Equilíbrio Ambiental e Resíduos na Socieda<strong>de</strong> Mo<strong>de</strong>rna.<br />

São Paulo: FAARTE Editora, 2004.<br />

Brasil. Órgão Gestor da Política Nacional <strong>de</strong> Educação Ambiental. Juventu<strong>de</strong>, cidadania e meio<br />

ambiente:subsídios para elaboração <strong>de</strong> políticas públicas. Brasília: UNESCO, 2006.<br />

DIAS, Genebaldo Freire. Educação Ambiental: Princípios e Práticas. São Paulo: Gaia, 2004.<br />

DÍAZ, Alberto Pardo. Educação Ambiental Como Projeto. Porto Alegre: Artmed, 2002.<br />

EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Embrapa Meio Ambiente.<br />

Princípios da Educação Ambiental. Disponível em:<br />

. Acesso em: 30 jul. 2012.<br />

LOUREIRO, Carlos Fre<strong>de</strong>rico Bernardo; CUNHA, Cláudia Conceição. Educação ambiental e<br />

gestão participativa <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação: Elementos para se pensar a sustentabilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>mocrática. Redalyc, Campi<strong>nas</strong>, vol.11, n.2, p. 237-253, jul./set.2008. Disponível em:<br />

. Acesso em 26 ago.<br />

2012.<br />

MARCATTO, Celso. Educação Ambiental:Conceitos e Princípios. Belo Horizonte: Feam, 2002. 64<br />

p. Disponível em: .<br />

Acesso em: 20 ago. 2012.<br />

RODRIGUEZ, José Manuel Mateo; SILVA, Edson Vicente da.Educação ambiental e<br />

Desenvolvimento Sustentável: Problemática, Tendências e Desafios. Fortaleza: UFC, 2009.<br />

1276


SATO, Michele. Educação Ambiental. São Carlos: Rima, 2004.<br />

SILVA, Edson Vicente da; RABELO, Francisco Davy Braz; RODRIGUEZ, José Manuel Mateo<br />

(Org.). Educação Ambiental e Indígena: Caminhos da Extensão Universitária na Gestão <strong>de</strong><br />

Comunida<strong>de</strong>s Tradicionais. Fortaleza: UFC, 2011.<br />

TRATADO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA SOCIEDADES SUSTENTÁVEIS E<br />

RESPONSABILIDADE GLOBAL (1992). Disponível<br />

em:. Acesso em: 30<br />

jul. 2012.<br />

VITAE CIVILIS. Rio + 20: As Informações Essenciais. São Paulo: janeiro, 2012.<br />

Disponível em:<br />

. Acesso em: 8 set. 2012.<br />

1277


Resumo<br />

EDUCAÇÃO ALIMENTAR E AMBIENTAL NA DINAMIZAÇÃO DO CURRÍCULO<br />

ESCOLAR POR MEIO DE HORTAS, AREIA/PB<br />

Tarciso Botelho PEREIRAFILHO - Graduando CCA/ UFPB-tarciso.filho@bol.com.br<br />

Rodolfo César <strong>de</strong> ALBUQUERQUE - Graduando CCA/ UFPB - rcesar_fi@hotmail.com<br />

Núbia Pereira da COSTA 144 - Professora CCA/UFPB-nubia@cca.ufp.br<br />

Lenyneves Duarte Alvino <strong>de</strong> ARAUJO - Professora CCA/ UFPB - lenyneves@cca.ufpb.br<br />

O presente trabalho se <strong>de</strong>stina a <strong>de</strong>monstração prática das diferentes formas <strong>de</strong> dinamizar o<br />

currículo através da construção <strong>de</strong> hortas escolares trabalhando educação alimentar e educação<br />

ambiental em escolas particulares e públicas <strong>de</strong> ensino fundamental do município <strong>de</strong> Areia-PB. As<br />

transformações na urbanização e mo<strong>de</strong>rnização ocorridas na socieda<strong>de</strong> implicam em mudanças no<br />

estilo <strong>de</strong> vida, principalmente nos hábitos alimentares e na conscientização ambiental da população.<br />

A horta escolar realiza esse importante papel, uma vez que ao interligar conceitos teórico se<br />

práticos, auxilia no processo <strong>de</strong> ensino e aprendizagem, se constituindo uma importante ferramenta<br />

capaz <strong>de</strong> atuar no <strong>de</strong>senvolvimento dos conteúdos <strong>de</strong> forma interdisciplinar. Este estudo baseia-se<br />

numa abordagem prática sob a ótica da <strong>de</strong>scrição e reflexão como referencial para analisar os<br />

benefícios <strong>de</strong> hortas inseridas em ambiente escolar. Observa-se a riqueza do tema, que a princípio<br />

aparenta uma prática simples, cujos resultados apontam uma profunda reflexão e aprendizado sobre<br />

como dinamizar as aulas á luz das práticas alimentares e ambientais corretas.<br />

Palavras-chave: reciclagem, hortaliças, hábitos alimentares, escolas<br />

Abstract<br />

This paper is inten<strong>de</strong>d to <strong>de</strong>monstrate the implementation of different forms of boosting the<br />

curriculum by constructing school gar<strong>de</strong>ns and food education working environmental education in<br />

private schools and public elementary schools of the city of Areia-PB. The changes in urbanization<br />

and mo<strong>de</strong>rnization occurred in society imply changes in lifestyle, especially eating habits and<br />

environmental awareness of the population. The school gar<strong>de</strong>n performs this important role, since<br />

by linking theoretical concepts and practical aids in the process of teaching and learning, is<br />

144 Orientadora<br />

1278


ecoming an important tool capable of operating in the <strong>de</strong>velopment of content in an<br />

interdisciplinary way. This study is based on a practical approach from the perspective of<br />

<strong>de</strong>scription and reflection as a reference to assess the benefits of gar<strong>de</strong>ns entered in the school<br />

environment. Note the richness of the subject, which at first seems a simple practice, the results<br />

point to a <strong>de</strong>ep reflection and learning lessons on how to streamline the light of feeding practices<br />

and environmental correct.<br />

Keywords: recycling, vegetables, eating habits, schools<br />

1. Introdução<br />

As gra<strong>de</strong>s curriculares das escolas oferecem suas discipli<strong>nas</strong> separadas em conhecimento<br />

específico. O que aponta uma complexida<strong>de</strong> caduca dos saberes que não po<strong>de</strong> ser explicada <strong>de</strong><br />

forma total e/ou inteira.No dia a dia das escolas particulares e públicas<strong>de</strong> ensino fundamental<br />

observa-se a necessida<strong>de</strong> por parte do aluno e a dificulda<strong>de</strong> dos educadores, em dinamizar o<br />

currículo escolar. Sob a criativida<strong>de</strong> dos envolvidos, a horta torna-se uma ferramenta lúdica e<br />

concreta capaz <strong>de</strong> incentivar e integrar as diversas fontes e recursos <strong>de</strong> aprendizagem, inserindo a<br />

multidisciplinarida<strong>de</strong> <strong>nas</strong> estruturas do ambiente <strong>de</strong> ensino, gerando uma fonte <strong>de</strong> observação e<br />

pesquisa diversa e exigindo uma reflexão diária por parte dos educadores e educandos envolvidos<br />

nesta ação coletiva.<br />

Por se tratar <strong>de</strong> um paradigma sempre atual, não ultrapassado, mas que ultrapassa os<br />

resultados esperados à medida que é discutido nos corredores da escola enquanto o aluno se dirige à<br />

horta ou quando este consegue enxergar que o conhecimento teórico tem sua utilida<strong>de</strong> no momento<br />

que ele se <strong>de</strong>para com um problema prático, a horta gera possibilida<strong>de</strong>s para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

ações pedagógicas por permitir experiências práticas em equipe explorando as diversas formas <strong>de</strong><br />

apren<strong>de</strong>r.<br />

1.1. Interdisciplinarida<strong>de</strong>, Multidisciplinarida<strong>de</strong> e Transdisciplinarida<strong>de</strong><br />

Na ida<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna surgiu o pensamento da organização disciplinar. Estudos revelam que<br />

ainda assim, muitos educadores sentem-se bloqueados por essa organização disciplinar da escola,<br />

que se mostra dificultosa, e às vezes até impeditiva, <strong>de</strong> ações pedagógicas mais eficazes, dinâmicas<br />

e atraentes para os educandos.<br />

Observando as escolas, Pichinin (2012) percebeu que as discipli<strong>nas</strong> são tratadas como se<br />

fossem únicas e sem nenhuma relação entre si, <strong>de</strong>ixando o aluno alienado e com dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

observar que os conhecimentos <strong>de</strong> cada professor fazem parte <strong>de</strong> uma só realida<strong>de</strong>, que <strong>de</strong>ve ser<br />

concebido como parte <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> salto <strong>de</strong> conhecimento. O que se busca são possibilida<strong>de</strong>s<br />

1279


concretas <strong>de</strong> superação <strong>de</strong>ssa estrutura compartimentada que isola os campos do saber limitando a<br />

ação dos professores e contribui para os insatisfatórios <strong>de</strong>sempenhos dos educandos, constatados<br />

pelas pesquisas realizadas pelo INEP/MEC.<br />

Procurando cada vez mais a realida<strong>de</strong> do próprio aluno, é possível construir um currículo<br />

aparentemente informal, mas real. Buscando a supremacia do conhecimento, é necessário o<br />

rompimento das barreiras entre as discipli<strong>nas</strong> alcançando uma visão interdisciplinar do saber que<br />

seja capaz <strong>de</strong> respeitar a verda<strong>de</strong> e a relativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada disciplina.<br />

Enten<strong>de</strong>-se como interdisciplinarida<strong>de</strong>, discipli<strong>nas</strong> que se inter-relacionam na realida<strong>de</strong>.<br />

Assim, Cardona (2012) afirma que um elemento po<strong>de</strong> ao mesmo tempo ser estudado por diferentes<br />

discipli<strong>nas</strong>, no entanto, não ocorrerá uma sobreposição dos seus saberes no estudo do elemento<br />

analisado. Este termo abre a discursão sobre como o conhecimento <strong>de</strong>ve ser entendido, uma vez que<br />

as matérias curriculares fazem parte <strong>de</strong> um todo e não <strong>de</strong>vem ser especializadas.<br />

É possível trabalhar qualquer tema, o <strong>de</strong>safio está em como abordá-lo com cada grupo <strong>de</strong><br />

alunos e em especificar o que po<strong>de</strong>m apren<strong>de</strong>r <strong>de</strong> cada tema que se estabelece na busca <strong>de</strong> solução<br />

para os problemas existentes na realida<strong>de</strong> dos alunos e no contexto em que vivem e atuam como<br />

seres humanos pensantes que po<strong>de</strong>m a partir <strong>de</strong> uma estrutura buscar soluções para cada tema<br />

(MAGALHÃES, 1999).<br />

Contudo, o termo acima evi<strong>de</strong>ncia insuficiência, uma vez que as realida<strong>de</strong>s na verda<strong>de</strong> são<br />

múltiplas.No eixo multidisciplinarida<strong>de</strong>,as discipli<strong>nas</strong> se interconectam através das várias<br />

realida<strong>de</strong>s. Este termo vai além da simples justaposição das discipli<strong>nas</strong>, encontra-se aqui um<br />

processo <strong>de</strong> coparticipação, diálogo, reciprocida<strong>de</strong> que permeiam as discipli<strong>nas</strong>, e o mais<br />

importante, todos os envolvidos no processo educativo. O conhecimento das discipli<strong>nas</strong> torna-se<br />

assim, integrado, on<strong>de</strong> a interação acaba com algo setorizado. Pichinin (2012) reforça esta idéia,<br />

para ele, a multidisciplinarida<strong>de</strong> é um formato verda<strong>de</strong>iramente dinamizador <strong>de</strong> currículos,em que<br />

os temas passam a ser o eixo e não a própria disciplina, parecendo ser a mais viável e condizente<br />

com a realida<strong>de</strong> social e cultural que vivemos e da qual fazemos parte.<br />

Outro processo <strong>de</strong> ensino/aprendizado é a transdisciplinarida<strong>de</strong>, tão importante que foi<br />

recomendada pela UNESCO em 1998, em uma conferência mundial para o ensino Superior. Neste<br />

caso, praticamente inexiste as fronteiras das discipli<strong>nas</strong>, suas sobreposições são tantas que seu<br />

começo e fim tornam-se i<strong>de</strong>ntificável.<br />

À vista do acima exposto, a horta se mostra ser uma estratégia forte, por se tratar <strong>de</strong> um<br />

espaço <strong>de</strong> construção coletiva em torno <strong>de</strong> temas pontuais, especiais e necessários, no qual, os<br />

professores po<strong>de</strong>m expor seus próprios conteúdos, <strong>de</strong> acordo com a sua disciplina <strong>de</strong> trabalho, ou<br />

também, como nos temas transversais. Ou seja, se escolhe alguns temas que atravessarão cada uma<br />

1280


das matérias ensinadas na escola. Nesse caso, o tema educação alimentar ou educação ambiental<br />

passa a ser o eixo curricular à medida que se trabalha na horta.<br />

1.2. Educação alimentar<br />

Tem-se observado nos últimos anos uma gran<strong>de</strong> preocupação com o hábito alimentar na<br />

infância, já que o mau hábito alimentar acarreta inúmeros problemas à saú<strong>de</strong>. Ainda que em<br />

pequena proporção, percebe-se a iniciativa <strong>de</strong> algumas instituições <strong>de</strong> ensino na formação dos bons<br />

hábitos alimentares das crianças. Promover a adoção <strong>de</strong> hábitos alimentares saudáveis representa<br />

um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio para os profissionais da saú<strong>de</strong> da educação. Tendo em vista o papel fundamental<br />

da alimentação na <strong>de</strong>finição do estado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> das crianças, a escola se apresenta como um espaço<br />

e tempo privilegiados para promover a saú<strong>de</strong>, por ser um local on<strong>de</strong> muitas pessoas passam gran<strong>de</strong><br />

parte do seu tempo, vivem, apren<strong>de</strong>m e trabalham (COSTA et al., 2001).<br />

No Brasil <strong>de</strong> hoje, a má alimentação não é problema exclusivo <strong>de</strong> pobres nem <strong>de</strong> ricos, pois<br />

pessoas <strong>de</strong> todas as classes sociais se alimentam mal. Os problemas <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> uma alimentação<br />

ina<strong>de</strong>quada, como <strong>de</strong>snutrição, anemia, obesida<strong>de</strong> e doenças crônicas não transmissíveis, afetam<br />

tanto crianças, quanto jovens e adultos. Por isso, a educação alimentar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a mais tenra ida<strong>de</strong> é<br />

fundamental (HULSE, 2006).<br />

Segundo relatório <strong>de</strong> <strong>Segurança</strong> Alimentar e Nutricional do estado da Paraíba (MDS,<br />

2012),59,04% era o percentual <strong>de</strong> domicílios em situação <strong>de</strong> segurança alimentar e nutricional em<br />

2009. Os <strong>de</strong>mais domicílios apresentavam percentual <strong>de</strong> insegurança alimentar e nutricional <strong>de</strong> leve<br />

a grave.<br />

Observa-se que a obesida<strong>de</strong> infantil vem crescendo mundialmente em países <strong>de</strong>senvolvidos<br />

e em <strong>de</strong>senvolvimento, com sérias repercussões na saú<strong>de</strong> da população infanto-juvenil. Tal situação<br />

é favorecida pela mídia. A televisão, por exemplo, mostra alimentos mo<strong>de</strong>rnos como o drivethru,<br />

fast-food,serviços <strong>de</strong> <strong>de</strong>livery além dos alimentos congelados, pré-cozidos ou enlatados. Existem<br />

ainda, além da força da mídia, outros fatores que tem contribuído bruscamente para as mudanças<br />

nos hábitos alimentares <strong>de</strong>ssas crianças. Entre eles, a falta <strong>de</strong> tempo dos pais, levando essas crianças<br />

ao consumo <strong>de</strong> alimentos industrializados e a provável falta <strong>de</strong> conhecimento dos pais sobre<br />

alimentação saudável.<br />

Chegando ao ambiente escolar, essas crianças <strong>de</strong>veriam encontrar uma estrutura mais<br />

a<strong>de</strong>quada <strong>de</strong> alimentação e nutrição. No entanto, estudos <strong>de</strong>monstram que os alimentos das canti<strong>nas</strong><br />

escolares são muito energéticos, ricos em açúcares, gorduras e sal, indicando a preferência dos<br />

estudantes pelos mesmos. Em especial <strong>nas</strong> canti<strong>nas</strong> públicas, encontra-se pouca ou nenhuma<br />

diversida<strong>de</strong> na alimentação, com número reduzido <strong>de</strong> hortaliças. Essa realida<strong>de</strong> necessita ser<br />

modificada, passando, a cantina,a ser um espaço que reforce e estimule a prática <strong>de</strong> hábitos<br />

1281


alimentares saudáveis, abordado pelo educador <strong>nas</strong> aulas. Para Souzaet al.(2007), mais do que<br />

representar ape<strong>nas</strong> um dos períodos para a alimentação, a escola é responsável por uma parcela<br />

importante do conteúdo educativo global, inclusive do ponto <strong>de</strong> vista nutricional.<br />

A escola se revela um espaço privilegiado para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ações <strong>de</strong> melhoria das<br />

condições <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e do estado nutricional das crianças e dos adolescentes que passam boa parte do<br />

seu dia neste ambiente, sendo um setor estratégico para a concretização <strong>de</strong> iniciativas <strong>de</strong> promoção<br />

da saú<strong>de</strong>, que incentiva o <strong>de</strong>senvolvimento humano saudável e as relações construtivas e<br />

harmônicas.<br />

Segundo Ferreira apud Hulse (1998), a familiarida<strong>de</strong> com o alimento é fator prepon<strong>de</strong>rante<br />

para sua aceitação e a partir daí apren<strong>de</strong>-se a gostar do que está disponível. A escola é<br />

indiscutivelmente o melhor agente para promover a educação alimentar, uma vez que é na infância<br />

a na adolescência, que se fixam atitu<strong>de</strong>s e práticas alimentares difíceis <strong>de</strong> modificar na ida<strong>de</strong> adulta<br />

(TURANO, 1990). A finalida<strong>de</strong> da educação alimentar é transformar o alimento em um instrumento<br />

pedagógico, transpondo os limites do ato alimentar, fazendo com que este se transforme em um<br />

ponto <strong>de</strong> partida para novas <strong>de</strong>scobertas (CASTRO, 1985).<br />

Apesar dos alimentos estarem presentes <strong>nas</strong> escolas, raramente ele é visto como conteúdo <strong>de</strong><br />

ensino. A presença da horta no ambiente <strong>de</strong> estudo, no entanto, vai além do processo pedagógico e<br />

mais ainda da sua própria produção <strong>de</strong> alimentos. A horta, e as ativida<strong>de</strong>s nela <strong>de</strong>senvolvida,<br />

envolvem, além do trabalho coletivo dos alunos, a participação <strong>de</strong> vários membros da comunida<strong>de</strong><br />

escolar, <strong>de</strong> forma a fortalecer a relação da comunida<strong>de</strong> com a escola, aproximando a escola da<br />

realida<strong>de</strong> que a cerca.<br />

1.3. Educação ambiental<br />

Em 1999 foi aprovada a Lei no 9.795/99, que institucionalizou e legalizou a Educação<br />

Ambiental, como sendo "os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletivida<strong>de</strong> constroem<br />

valores sociais, conhecimentos, habilida<strong>de</strong>s, atitu<strong>de</strong>s ecompetências voltadas para aconservação do<br />

meio ambiente, bem <strong>de</strong> uso comum dopovo, essencial à sadia qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e<br />

suasustentabilida<strong>de</strong>". Desta forma, a educação ambiental é um componente essencial e permanente<br />

da educação que <strong>de</strong>ve estar presente, <strong>de</strong> forma articulada, em todos os níveis e modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

ensino do sistema educacional brasileiro, em caráter formal e não-formal.<br />

Fica claro que não bastam ape<strong>nas</strong> projetos <strong>de</strong> educação ambiental <strong>nas</strong> escolas para que a<br />

educação seja totalizada. É essencial que professores se sintam comprometidos com um permanente<br />

processo <strong>de</strong> autoformação, com a busca <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s alternativas e sensibilizadoras dos educandos<br />

para a construção <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> ambientalmente equilibrada.<br />

1282


O Art. 10da Lei acimareferida ressalta um aspecto extremamente positivo quando afirma<br />

que a educação ambiental "não <strong>de</strong>ve ser implantada como disciplina específica no currículo <strong>de</strong><br />

ensino", antes <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>senvolvida como uma prática educativa integrada, contínua e permanente<br />

em todos os níveis e modalida<strong>de</strong>s do ensino formal.<br />

No sentido da busca <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s alternativas para incorporação da educação ambiental no<br />

currículo, a horta escolar se apresenta como um "ecossistema", on<strong>de</strong> educandos, professores,<br />

funcionários da escola e pais dos alunos po<strong>de</strong>m trabalhar <strong>de</strong> maneira solidária e cooperativa em<br />

favor da aprendizagem <strong>de</strong> todos e da mudança na cultura alimentar.<br />

Quando se refere à Educação Ambiental, do ponto <strong>de</strong> vista integrador,MINC<br />

(2005:71)afirma que ―as escolas <strong>de</strong>vem funcionar como pólosirradiadores da consciência ecológica,<br />

envolvendo as famílias e a comunida<strong>de</strong>‖. Em concordância, Reigota (1999) afirma que: O principal<br />

e fundamental objetivo é fazer por meio do processo pedagógico, com que as pessoas possam obter<br />

uma melhor e mais abrangente compreensão do problema (geralmente complexo, como é o caso das<br />

questões ambientais) e que possibilite uma ação em busca <strong>de</strong> alternativas e soluções.<br />

2. Descrição metodológica<br />

Trata-se <strong>de</strong> um estudo <strong>de</strong>scritivo e reflexivo, com dados <strong>de</strong> quatro escolasda cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Areia-PB, sendo duas da re<strong>de</strong> pública e duas da re<strong>de</strong> privada, entre os anos <strong>de</strong> 2010, 2011 e 2012,<br />

abrangendo um total <strong>de</strong> 476 alunos do segundo ao nono ano do ensino fundamental.Inicialmente,<br />

foram levantados os dados dos estudantes e dos pais, para caracterização <strong>de</strong> seus perfis, com a<br />

aplicação <strong>de</strong> questionário. Comparo-se o perfil entre os hábitos alimentares dos alunos e seus pais,<br />

<strong>nas</strong> escolas da re<strong>de</strong> pública e da re<strong>de</strong> privada.<br />

Com o intuito <strong>de</strong> mobilizar as escolas, uma palestra foi ministrada para o alunado e para os<br />

professores a fim <strong>de</strong> que os mesmos se engajassem no projeto. Nessa palestra foi apresentada a<br />

proposta <strong>de</strong> trabalho,discutido a educação ambiental,alimentar, importância nutricional das<br />

hortaliças e apresentado a proposta da utilização <strong>de</strong> garrafas PET na confecção da horta,bem com,<br />

forma <strong>de</strong> reciclagem <strong>de</strong> resíduos das cozinhas das escolas como fonte <strong>de</strong> adubos para as hortas.<br />

1283


Figura 9 - Aplicação <strong>de</strong> questionários aos alunos (A) e palestra para apresentação do projeto <strong>nas</strong> escolas (B).<br />

Feita a escolha da área, os trabalhos <strong>de</strong> implantação da horta tiveram início utilizando as<br />

técnicas agronômicas a<strong>de</strong>quadas. Em seguida, os alunos acompanhavam sempre atentos, a<br />

semeadura <strong>de</strong> algumas hortaliças e o transplantio <strong>de</strong> outras. Indo à horta diariamente, cada turma<br />

praticava os tratos culturais como a rega e a capina manual, manuseavam as ferramentas <strong>de</strong><br />

jardinagem e conheciam as técnicas <strong>de</strong> horticultura, tendo sempre atenção por parte dos tutores do<br />

projeto, na aplicação dos conhecimentos transversais que po<strong>de</strong>riam ser recriados em outros<br />

ambientes <strong>de</strong> moradia ou trabalho.<br />

Figura 10 - Manejo dos canteiros (A) e colheita das hortaliças (B).<br />

Na escola on<strong>de</strong> não existia uma área a<strong>de</strong>quada com solo para a construção dos canteiros<br />

tradicionais, estes foram feitos utilizando-se em garrafas PET que os próprios alunos traziam <strong>de</strong><br />

suas casas. A horta foi implantada, <strong>de</strong> forma vertical <strong>nas</strong> pare<strong>de</strong>s do muro da escola.<br />

1284


3. Resultados<br />

Figura 11 - Aproveitamento do espaço vertical (A) e manejo da horta vertical (B).<br />

Com a metodologia proposta foi possível mobilizar e conhecer o perfil alimentar dos<br />

estudantes envolvidos, bem como o seu nível <strong>de</strong> entendimento a respeito dos benefícios das<br />

hortaliças na alimentação. Durante os três anos os dados revelaram que o consumo <strong>de</strong> hortaliças é<br />

maior entre os alunos das escolas públicas. Deixando-se revelar que a má alimentação é<br />

influenciada pelo suposto maior po<strong>de</strong>r aquisitivo dos pais que tem seus filhos em escola particular,<br />

pois, as crianças, ao terem maior oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolha, acabam escolhendo um alimento<br />

ina<strong>de</strong>quado para se alimentar. Comparando-se o consumo <strong>de</strong> hortaliças dos pais e dos alunos,<br />

observou-se que tanto os da re<strong>de</strong> pública quanto os da re<strong>de</strong> privada, o consumo <strong>de</strong> hortaliças pelos<br />

pais é mais acentuado que os dos filhos, <strong>de</strong>monstrando que ape<strong>nas</strong> o ambiente familiar não está<br />

sendo suficiente para influenciar <strong>de</strong> forma significativa na alimentação dos filhos, sendo <strong>de</strong> extrema<br />

importância a intervenção da escola.<br />

Quanto à preferência <strong>de</strong> hortaliças, os alunos consomem geralmente aquelas mais<br />

tradicionais: alface, tomate, batatinha e cenoura. Esses resultados indicam que as hortaliças<br />

escolhidas são as mais consumidas em seus lares e as mais disponíveis no mercado nacional<br />

(LIMA, 2010).<br />

Sempre quando indagados sobre a presença do projeto horta na escola, alunos e professores<br />

reconheceram a importância da sua implantação, seja pelo motivo da melhoria na merenda escolar,<br />

ou porque apren<strong>de</strong>ram a cultivar o alimento.<br />

Sempre estimulados a começarem os trabalhos, a princípio, notava-se nos alunos a<br />

curiosida<strong>de</strong> ao cavarem o solo, colocarem as garrafas PET e aos poucos vendo os canteiros<br />

ganhando formas geométricas. Quando requisitados a fazerem a semeadura ou o transplante da<br />

mudas, foi possível perceber o interesse e a evolução dos conhecimentos dos alunos que, ao ver as<br />

sementes germinarem e as mudas crescerem sadias, pu<strong>de</strong>ram perceber a importância dos nutrientes<br />

no solo para uma hortaliça <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong>.<br />

1285


No manejo diário da horta cada um já sabia o que era preciso fazer <strong>de</strong>ntro da programação<br />

do dia, além da rega, realizavam a limpa manual nos canteiros ao redor, bem como observavam se<br />

as plantas do canteiro estavam sendo atacadas por pragas ou acometidas por doenças. Nesta<br />

vivência do <strong>de</strong>senvolvimento das ativida<strong>de</strong>s na horta, sempre era enfatizado e explicado o porquê<br />

<strong>de</strong> cada tarefa, possibilitando-se o entendimento na teoria e na prática <strong>de</strong> todas as etapas <strong>de</strong><br />

realização do cultivo.<br />

No entanto, a horta escolar <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser ape<strong>nas</strong> <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> alimento e se tornou<br />

produtora <strong>de</strong> novos conhecimentos. Tornando-se uma horta pedagógica, não produziu ape<strong>nas</strong><br />

alimento saudável, ela educou a criança e o pré-adolescente para se tornarem um cidadão<br />

responsável pelo mundo que vive.<br />

4. Conclusão<br />

Educar no âmbito da educação alimentar e ambiental é uma construção conjunta <strong>de</strong><br />

processos permanentes e contínuos que <strong>de</strong>vem unir escola e família, a implantação <strong>de</strong> um projeto <strong>de</strong><br />

horta em escolas, leva ao conhecimento não somente da produção <strong>de</strong> alimentos, <strong>de</strong> forma a<strong>de</strong>quada,<br />

saudável e segura, mas também, da construção <strong>de</strong> conhecimentos que ganham força e são<br />

reproduzidos à medida que são <strong>de</strong>senvolvidos por educandos e educadores.<br />

Referências<br />

CARDONA, Fernando. Transdisciplinarida<strong>de</strong>, Interdisciplinarida<strong>de</strong> e<br />

Multidisciplinarida<strong>de</strong>.Disponívelem:http://www.mundojovem.com.br/artigos/interdisciplinarida<strong>de</strong>-<br />

ou multidisciplinarida<strong>de</strong>. Acesso em 18/09/2012.<br />

COSTA, E. D. Q.; RIBEIRO, V. M. B.; RIBEIRO, E. C. D. O. Programa <strong>de</strong> alimentação escolar:<br />

espaço <strong>de</strong> aprendizagem e produção <strong>de</strong> conhecimento. Rev. Nutr. Campi<strong>nas</strong>, v. 3,n. 14 p.225-229,<br />

set./<strong>de</strong>z. 2001.<br />

MAGALHÂES, Altina Costa. Interdisciplinarida<strong>de</strong>. Brasil (1999, p.89)<br />

MDS - (Ministério <strong>de</strong> Desenvolvimento Social e Combate à Fome). Relatório <strong>de</strong> <strong>Segurança</strong><br />

Alimentar e Nutricional do estado da Paraíba. Plano Brasil Sem Miséria, 2012. 4 p.<br />

MINC, Carlos. Ecologia e Cidadania. São Paulo: Mo<strong>de</strong>rna, 2005.<br />

MORGADO, S. F.; SANTOS, A. M. A. A Horta Escolar na Educação Ambiental e Alimentar:<br />

Experiência do Projeto Horta Viva <strong>nas</strong> Escolas Municipais <strong>de</strong> Anápolis. Florianópolis, 2006.<br />

1286


NOGUEIRA, C. L. N.; RAMOS, S. V. Horta na Escola-“Uma Alternativa <strong>de</strong> Melhoria na<br />

alimentação e <strong>Qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Vida</strong>‖. In 8º ENCONTRO DE EXTENÇÃO DA UFMG, 2005. Anais...<br />

Belo Horizonte.<br />

PETTER, C. M. B. A Construção Coletiva <strong>de</strong> uma Horta Escolar. In: IV Encontro Ibero-<br />

Americano <strong>de</strong> coletivos escolares e re<strong>de</strong> <strong>de</strong> professores que fazem investigação na sua escola, 2002.<br />

Anais... Estrela.<br />

PICHININ, Dailton Sidnei. Interdisciplinarida<strong>de</strong> ou Multidisciplinarida<strong>de</strong>. Disponível em:<br />

http://www.mundojovem.com.br/artigos/interdisciplinarida<strong>de</strong>-oumultidisciplinarida<strong>de</strong>. Acesso em<br />

18/09/2012.<br />

SOUZA, E. C. G.; PAIXÃO, J. A. D.; ARÊDES, E. M.; BASTOS, K. P. L.; GOMES, D. M.. O<br />

papel da escola na formação do bom hábito alimentar. Nutrição Brasil, Rio <strong>de</strong> Janeiro, ano6, n2,<br />

65-67, mar/ abr. 2007.<br />

1287


EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESCOLAS DA PERIFERIA DO MUNICÍPIO DE SERRA<br />

TALHADA, PERNAMBUCO, BRASIL 145<br />

Valdilene Gomes <strong>de</strong> MELO (UFRPE/UAST) - valdilenemelo.uast@gmail.com<br />

Morgana Maria Gouveia da SILVA (UFRPE/UAST) - morgana.uast@gmail.com<br />

Isabela Janne <strong>de</strong> LIMA (UFRPE/UAST) - bel.lima.2@hotmail.com<br />

Luciana <strong>de</strong> Matos Andra<strong>de</strong> BATISTA-LEITE (UFRPE/UAST) - luciana_matos1@hotmail.com<br />

Resumo<br />

Ações antropogênicas exercidas no ambiente trouxeram uma série <strong>de</strong> consequências para a biota,<br />

exigindo o repensar da socieda<strong>de</strong>. A Educação Ambiental é a principal ferramenta <strong>de</strong><br />

conscientização e/ou conservação dos recursos naturais, po<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong>finir valores, motivações e<br />

conduzir mo<strong>de</strong>los ecotecnológicos <strong>de</strong> comportamento. Objetivou-se avaliar a percepção dos<br />

estudantes do Ensino Fundamental II sobre meio ambiente, com intuito <strong>de</strong> conscientizá-los a partir<br />

<strong>de</strong> suas vivências e concepções. A coleta <strong>de</strong> dados foi baseada em três etapas: a. Aplicação <strong>de</strong><br />

questionários estruturados; b. Palestra educativa dialogada; c. Confecção <strong>de</strong> cartazes. Foram<br />

amostrados 75 educandos (59,87% meninos e 40,13% meni<strong>nas</strong>), entre 10 a 16 anos, on<strong>de</strong> 100%<br />

resi<strong>de</strong>m na periferia. Os estudantes foram questionados quanto ao conceito <strong>de</strong> meio ambiente:<br />

86,67% afirmaram que sabiam o conceito. Destes, 58,09% não respon<strong>de</strong>ram satisfatoriamente. Em<br />

seguida, foi indagado se faziam algo que prejudicasse o meio ambiente: 43,37% dos alunos<br />

afirmaram realizar práticas <strong>de</strong> agressão ao ambiente, conforme meme: [...] jogo lixo <strong>nas</strong> ruas fazo<br />

fogueira Todos nos fasemos coisas que prejudica o meio hambiente [...] Menina (13 anos). Quanto<br />

ao <strong>de</strong>stino do lixo doméstico: 82,41% relataram recolhimento pela prefeitura. Posteriormente, foi<br />

questionado se a população <strong>de</strong> Serra Talhada-PE se preocupa com o ambiente: 74,03% respon<strong>de</strong>ram<br />

que não, <strong>de</strong>screvendo o meme: [...] por que eles matam as plantas e jogam lixo <strong>nas</strong> caatingas e<br />

<strong>de</strong>stroe elas [...] Menino (13 anos). Finalmente, foi indagado se havia presenciado alguma ação <strong>de</strong><br />

agressão ao meio ambiente: 32% respon<strong>de</strong>ram que sim, através <strong>de</strong> queima do lixo, <strong>de</strong>rrubas <strong>de</strong><br />

árvores e <strong>de</strong>sperdício <strong>de</strong> água. Evi<strong>de</strong>nciou-se motivação e envolvimento na ativida<strong>de</strong> dos cartazes,<br />

que perceptivelmente <strong>de</strong>spertou um olhar crítico e consciente, retratados <strong>nas</strong> ilustrações.<br />

Indiscutivelmente, a educação ambiental funciona como um elo entre homem versus natureza<br />

consciente, um alicerce para a sensibilização humana, incluindo-os não como expectadores, mas<br />

sim, como sujeitos participantes.<br />

145 Pesquisa realizada pelo Programa <strong>de</strong> Educação Tutorial (PET Biologia UAST/UFRPE) na Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Rural <strong>de</strong> Pernambuco, Unida<strong>de</strong><br />

Acadêmica <strong>de</strong> Serra Talhada. Com o apoio financeiro do MEC/SeSu/SECAD.<br />

1288


Palavras Chaves: Educação Ambiental, Ensino Fundamental II, Periferia, Serra Talhada-PE.<br />

Abstract<br />

Anthropogenic actions performed in the environment brought a number of consequences for biota,<br />

requiring a rethinking of society. Environmental education is the main tool of awareness and / or<br />

conservation of natural resources and can <strong>de</strong>fine values, motivations and conduct eco-technology<br />

mo<strong>de</strong>ls of behavior. This study aimed to assess stu<strong>de</strong>nts' perceptions of Elementary Education II on<br />

environment, aiming to make them aware from their experiences and conceptions. Data collection<br />

was based on three steps: a. Structured questionnaires, b. Educational lecture dialogued c. Making<br />

posters. We sampled 75 stu<strong>de</strong>nts (59.87% boys and 40.13% girls), between 10 and 16 years, where<br />

100% live on the periphery. Stu<strong>de</strong>nts were asked about the concept of environment: 86.67% said<br />

they knew the concept. Of these, 58.09% did not answer satisfactorily. And then they were asked if<br />

they did anything that harmed the environment: 43.37% of stu<strong>de</strong>nts reported receiving practices of<br />

aggression to the environment, as meme: [...] we throw trash in the streets do fire. We do all things<br />

that affect the environment [...] Girl (13 years old). About for the fate of household waste: 82.41%<br />

reported clean service streets by the city hall. Later, he was asked whether the population of Serra<br />

Talhada-PE cares about the environment: 74.03% answered no, <strong>de</strong>scribing the meme: [...] because<br />

they kill the plants and throw garbage in scrublands and <strong>de</strong>stroys them [...] Boy (13 years). Finally,<br />

he was asked if he had seen any action harmful to the environment: 32% answered yes, by burning<br />

waste, cutting of trees and water waste. It became clear motivation and involvement in the activity<br />

of the posters, which noticeably aroused a critical look and conscious, portrayed in the illustrations.<br />

Undoubtedly, environmental education serves as a link between man versus nature conscious, a<br />

foundation for human awareness, including them not as spectators, but as subjects.<br />

Key Words: Environmental Education, Elementary II, Outskirts, Serra Talhada-PE.<br />

Introdução<br />

A chegada da revolução industrial possibilitou um aumento <strong>de</strong> renda, fazendo o homem<br />

atuar sobre a natureza não só a fim <strong>de</strong> garantir o sustento, mas com a expectativa <strong>de</strong> obter bens e,<br />

consequentemente lucros (Oliveira et al, 2007). Assim, a gran<strong>de</strong>za do <strong>de</strong>sperdício que a socieda<strong>de</strong><br />

mo<strong>de</strong>rna efetua tem sido um reflexo <strong>de</strong>sse processo <strong>de</strong> industrialização, no qual tem provocado<br />

1289


condições <strong>de</strong>sfavoráveis a sobrevivência da humanida<strong>de</strong>, sendo necessário minimizar seu fluxo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento (Mazzotti, 1998). Dessa forma, a ação do homem sobre a natureza trouxe uma<br />

série <strong>de</strong> conseqüências para o planeta, exigindo o repensar da socieda<strong>de</strong>.<br />

Além disso, o avanço na industrialização em todo o mundo proporcionou uma aceleração<br />

nos processos <strong>de</strong> urbanização, <strong>de</strong> forma que promoveu o maior <strong>de</strong>senvolvimento das cida<strong>de</strong>s. A<br />

partir disso, aproximadamente no final do século XIX, surgiu o termo ―periferia‖, relacionada com<br />

ocupações realizadas a margem do espaço urbano legal e regular <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada cida<strong>de</strong><br />

(Tanaka, 2006). Esses espaços urbanos caracterizam-se por apresentar uma população normalmente<br />

<strong>de</strong> baixa renda, on<strong>de</strong> as condições <strong>de</strong> moradia, acessibilida<strong>de</strong>, infraestrutura são precárias, bem<br />

como se registra péssima qualida<strong>de</strong> ambiental e da paisagem urbana (Costa, 1984), contribuindo<br />

ainda mais para uma falta <strong>de</strong> conscientização ambiental e preservação do meio ambiente.<br />

A Educação Ambiental apresenta-se como uma ferramenta <strong>de</strong> conscientização e <strong>de</strong><br />

preservação dos recursos naturais. De acordo com Dias (1998), a educação ambiental tem como<br />

objetivo a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> valores e motivações, conduzindo a mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> comportamento <strong>de</strong><br />

preservação e melhoria do meio ambiente.<br />

As crianças e jovens são os principais norteadores para o exercício da Educação Ambiental,<br />

e a escola se torna parceira e local a<strong>de</strong>quado para fórum <strong>de</strong> discussões sobre a importância do<br />

manejo dos recursos naturais limitados do planeta. Além disso, a escola funciona como instituição<br />

que centraliza informações e transmite conhecimentos aos educandos, <strong>de</strong>stacando-se pelo papel<br />

conscientizador dos problemas ambientais, bem como esclarecedor, objetivando amenizar e/ou<br />

evitar os problemas sociais e ambientais (Fernan<strong>de</strong>s et al, 2012).<br />

A percepção ambiental <strong>de</strong> uma dada população torna-se <strong>de</strong> suma importância para nortear<br />

políticas públicas em educação ambiental (Lacerda et al., 2012). Ao longo do seu caminho, a<br />

educação ambiental, esteve sempre presente na legislação brasileira, voltada a universalização <strong>de</strong>sse<br />

método educativo por toda a socieda<strong>de</strong>, conforme o Decreto <strong>de</strong> Nº 73.030, <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong><br />

1973, que em suas atribuições criou a Secretaria do Meio Ambiente, na qual especificava, <strong>de</strong>ntre<br />

suas responsabilida<strong>de</strong>s, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> esclarecimentos e educação do povo brasileiro, para que os<br />

mesmos pu<strong>de</strong>ssem usar a<strong>de</strong>quadamente os recursos naturais, conservando <strong>de</strong>ssa forma o meio<br />

ambiente (BRASIL, 2007).<br />

Para ser eficaz a Educação Ambiental, não po<strong>de</strong> estar ligada somente à transmissão <strong>de</strong><br />

conteúdos sobre a natureza, mas sim, está alicerçada como processo contínuo e permanente <strong>de</strong><br />

construção <strong>de</strong> conhecimento, o que possibilita a participação política dos cidadãos e isso só se<br />

tornará possível se estiver presente em todos os segmentos da socieda<strong>de</strong>, seja <strong>de</strong> caráter formal,<br />

não-formal ou informal, consi<strong>de</strong>rando a escola como um ambiente imprescindível para o seu<br />

1290


<strong>de</strong>senvolvimento, porque é <strong>de</strong> sua competência trabalhar na formação integral do sujeito (Pazda et<br />

al., 2009).<br />

Desta forma, o presente trabalho objetivou avaliar a percepção dos estudantes do Ensino<br />

Fundamental II sobre meio ambiente, com intuito <strong>de</strong> conscientizá-los a partir <strong>de</strong> suas vivências e<br />

concepções.<br />

Metodologia<br />

1. Caracterização da Área <strong>de</strong> Estudo<br />

O município <strong>de</strong> Serra Talhada (coor<strong>de</strong>nadas geográficas: 07º59‘10‖S e 38º17'47"W) (mapa 01),<br />

está inserido no Semiárido, pertence à Mesorregião do Sertão Pernambucano, microrregião do<br />

Pajeú, apresentando uma área <strong>de</strong> 2.952,8 km 2 , distando 423 km da capital. De acordo com o Censo<br />

realizado em 2010, estima-se que a população <strong>de</strong> Serra Talhada-PE é <strong>de</strong> 79.232 habitantes,<br />

distribuída <strong>de</strong> forma similar entre a área urbana e a área rural. O município em questão está inserido<br />

no bioma Caatinga, exclusivamente brasileiro (IBGE, 2010).<br />

Mapa 01. Localização do município <strong>de</strong> Serra Talhada – PE – Brasil (coor<strong>de</strong>nadas geográficas: 07 07º59‘10‖S e 38º17'47"W),<br />

adaptado do IGBE (2010).<br />

2. Coleta <strong>de</strong> Dados<br />

A amostragem foi realizada durante o mês <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2011, em uma ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Extensão<br />

intitulada: ―Ações Educativas em Prol do Meio Ambiente‖ do Planejamento Anual <strong>de</strong> Ativida<strong>de</strong>s<br />

2011 do Grupo do Programa <strong>de</strong> Educação Tutorial (PET Biologia UAST/UFRPE), entre estudantes<br />

da Re<strong>de</strong> Pública do Ensino Fundamental II. As instituições educacionais objeto <strong>de</strong> estudo foram:<br />

Escola Estadual Irnero Ignácio, (bairro da Borborema), Escola Estadual Methódio <strong>de</strong> Godoy Lima<br />

(bairro da COHAB) e Escola Municipal Vicente Inácio <strong>de</strong> Oliveira (bairro do Mutirão).<br />

O processo metodológico consistiu em três etapas: I. Aplicação <strong>de</strong> questionários estruturados<br />

1291


individuais, com intuito <strong>de</strong> verificar a percepção prévia dos estudantes sobre meio ambiente. Este<br />

foi elaborado com questões objetivas e discursivas para os estudantes do 6º, 7º e 8º anos do Ensino<br />

Fundamental II. Os conteúdos abordados nestes questionários foram: a. Dados pessoais (escola,<br />

ida<strong>de</strong>, série e sexo); b. Sondagem dos conhecimentos sobre meio ambiente; II. Palestras educativas<br />

dialogadas; III. Estimulação a confecção <strong>de</strong> cartazes, para verificar a assimilação do conhecimento<br />

adquirido durante as palestras educativas dialogadas (figura 01).<br />

Figura 01. Etapas do processo metodológico. Fig. 01A – Aplicação dos questionários individuais; Fig. 01B – Palestra Educativa<br />

dialogada; Fig. 01C e Fig. 01D – Confecção dos cartazes.<br />

O tempo <strong>de</strong> aplicação dos questionários individuais foi <strong>de</strong> aproximadamente 15 minutos,<br />

seguido das palestras educativas dialogadas que foram proferidas em 50 minutos.<br />

As palestras foram elaboradas no Programa Computacional Microsoft® PowerPoint e<br />

apresentadas com auxílio do recurso audiovisual (Data Show). A técnica <strong>de</strong> abordagem foi<br />

dialogada, com o uso <strong>de</strong> linguagem clara e a<strong>de</strong>quada ao público-alvo.<br />

O momento <strong>de</strong> vivência e experiência expressas através do grafismo infantil/adolescente foi<br />

oportunizado um período <strong>de</strong> 40 minutos, on<strong>de</strong> foram articulados em grupo e oferecido cartolina<br />

branca, lápis <strong>de</strong> cor revestido <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, lápis <strong>de</strong> cor do tipo hidrocor e tinta guache (<strong>nas</strong> cores<br />

ver<strong>de</strong>, amarelo, azul, vermelho, branco e preto), tesoura, cola branca, revistas, jornais e pinceis. Os<br />

educandos foram estimulados a representar o meio ambiente <strong>de</strong> forma livre e espontânea, através<br />

dos conhecimentos aprimorados durante as palestras educativas dialogadas. Os estudantes se<br />

mostraram inteiramente envolvidos com a ativida<strong>de</strong> que <strong>de</strong>spertou um olhar crítico e consciente da<br />

situação que nosso planeta se encontra.<br />

Ao final da confecção, os cartazes foram fixados no pátio da escola, local este, que<br />

possibilitou a visualização pelos <strong>de</strong>mais estudantes da instituição, <strong>de</strong> forma que houvesse o<br />

1292


<strong>de</strong>spertar para as questões ambientais.<br />

As informações obtidas nos questionários individuais foram registradas em um banco <strong>de</strong><br />

dados do Programa Computacional Microsoft® Excel Windows. Alguns fragmentos mêmicos (ou<br />

memes) foram transcritos, conforme metodologia <strong>de</strong> Batista-Leite (2005).<br />

Resultados e Discussão<br />

Foram amostrados 75 estudantes regularmente matriculados no Ensino Fundamental II <strong>de</strong><br />

três escolas da re<strong>de</strong> pública <strong>de</strong> ensino. O universo amostral foi representado por 59,87% do sexo<br />

masculino e 40,13% representantes do sexo feminino, com faixa etária <strong>de</strong> 10 a 16 anos, on<strong>de</strong><br />

63,24% residiam próximo a escola e 36,7% relataram morar em bairros vizinhos, porém também<br />

periféricos, pois o intuito foi verificar a percepção ambiental <strong>de</strong>stes estudantes resi<strong>de</strong>ntes na<br />

periferia.<br />

A- Aplicação dos Questionários Individuais<br />

Os educandos foram questionados quanto ao conceito <strong>de</strong> Meio Ambiente: 86,67%<br />

afirmaram que sabiam o conceito. Destes, 58,09% não respon<strong>de</strong>ram satisfatoriamente, enquanto que<br />

34,92% conceituaram corretamente e 6,99% não opinaram.<br />

Os que não acertaram o conceito <strong>de</strong> Meio Ambiente, atribuíram diferentes respostas como:<br />

―são vários tipos <strong>de</strong> preservação‖ ou ―é não jogar lixo nos rios‖ ou ―não pegar passarinho‖, não<br />

fazendo menção ao espaço em que vivemos.<br />

Quando questionados se faziam algo que prejudicasse o meio ambiente: 56,63% afirmaram<br />

que não realizavam práticas <strong>de</strong> agressão ao ambiente, enquanto 43,37% afirmaram que sim, <strong>de</strong><br />

acordo com o seguinte fragmento mêmico:<br />

[...] jogo lixo <strong>nas</strong> ruas fazo fogueira Todos nos fasemos coisas que prejudica o meio hambiente<br />

[...] Menina, 13 anos.<br />

Guimarães (1995) afirmou que o homem tem se afastado cada vez mais da natureza e nos<br />

últimos tempos essa situação tem piorado em virtu<strong>de</strong> do individualismo. Além disso, vem agindo <strong>de</strong><br />

forma <strong>de</strong>sarmônica com o meio em que vive, provocando <strong>de</strong>sta forma gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sequilíbrio.<br />

Com relação ao <strong>de</strong>stino do lixo doméstico: 82,41% relataram que <strong>de</strong>spejam em lixeiras,<br />

on<strong>de</strong> a coleta municipal se encarrega do <strong>de</strong>stino final. Contudo, 17,59% respon<strong>de</strong>ram que jogam no<br />

―mato‖ e queimam. De forma generalista, a população enten<strong>de</strong> que todo problema que o lixo<br />

acarreta é resolvido quando o mesmo é <strong>de</strong>positado fora <strong>de</strong> suas residências para ser coletado.<br />

Porém, conforme Barba (2002), o problema resi<strong>de</strong> especialmente a partir <strong>de</strong>sse momento.<br />

Em seguida, os estudantes foram arguidos se em sua percepção a população <strong>de</strong> Serra<br />

Talhada-PE se preocupava com o meio ambiente: 25,97% afirmaram que sim e 74,03%<br />

1293


espon<strong>de</strong>ram que não. Os memos exibem o <strong>de</strong>scaso com o meio ambiente, expresso na percepção<br />

estudantil:<br />

[...] por que eles matam as plantas e jogam lixo <strong>nas</strong> caatingas e <strong>de</strong>stroe elas [...] Menino, 13<br />

anos.<br />

[...] por que a cida<strong>de</strong> está toda suja [...] Menina, 12 anos.<br />

De forma geral, comumente se observa <strong>nas</strong> gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s brasileiras, o lixo doméstico<br />

lançado diretamente no meio ambiente, sem nenhum tratamento prévio, sendo muitas vezes<br />

queimado, abrindo assim um espaço para a proliferação <strong>de</strong> vetores <strong>de</strong> doenças, como contribuindo<br />

para a poluição do solo, da água e do ar, alterando <strong>de</strong>sta forma todo o ecossistema (PROSAB,<br />

2012).<br />

Posteriormente, foi questionado aos educandos se em algum momento presenciou em Serra<br />

Talhada-PE alguma ação <strong>de</strong> agressão ao meio ambiente: 32% respon<strong>de</strong>ram que sim e 68%<br />

afirmaram não ter vivenciado nenhuma ação <strong>de</strong>sta natureza. Mas, aqueles que respon<strong>de</strong>ram sim,<br />

indicaram ações <strong>de</strong> pessoas queimando lixo, <strong>de</strong>rrubando árvores e <strong>de</strong>sperdiçando água.<br />

Mesmo que a percepção dos estudantes não tenha uma magnitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> informações<br />

conscientes em 100% das questões avaliadas, nitidamente se verifica preocupação com o meio<br />

ambiente, como também se mostraram conscientes das ações prejudiciais ao ambiente natural.<br />

Todavia, esta consciência ainda não garante integralmente boas práticas no seu cotidiano, com<br />

manutenção <strong>de</strong> atos que agri<strong>de</strong>m a natureza, entre eles: jogar lixo a céu aberto e queimá-lo, <strong>de</strong><br />

forma que se faz necessário uma mudança <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>, veiculada pela reconstrução <strong>de</strong> paradigmas e o<br />

exercício da cidadania.<br />

Além disso, o fato dos estudantes residirem em bairros periféricos po<strong>de</strong> ter alta relevância,<br />

uma vez que na maioria dos casos, esses bairros não possuem saneamento básico, nem coleta<br />

domiciliar dos resíduos sólidos, <strong>de</strong>correntes em parte do <strong>de</strong>scaso dos gestores municipais.<br />

Vale ressaltar ainda, que apesar da maioria dos discentes terem afirmados que a população<br />

<strong>de</strong> Serra Talhada-PE não se preocupa com o meio ambiente, somente 32% relataram ter presenciado<br />

algum tipo <strong>de</strong> agressão ambiental.<br />

Dessa forma, a escola se <strong>de</strong>staca pelo papel importante na formação <strong>de</strong> cidadãos conscientes<br />

e críticos, sendo a educação ambiental o centro norteador para boas práticas ambientais, só assim<br />

haverá possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reversão ou minimização dos impactos antropogênicos.<br />

B- Confecção dos Cartazes<br />

Em síntese, os educandos <strong>de</strong>screveram em seus cartazes diversas formas <strong>de</strong> agressão ao<br />

meio ambiente, tais como: <strong>de</strong>smatamento, queimadas e poluição <strong>nas</strong> suas diversas formas. Contudo,<br />

na maioria das ilustrações, foram retratadas paisagens saudáveis, livre <strong>de</strong> impactos negativos, dando<br />

1294


a enten<strong>de</strong>r um ambiente pretendido pelos autores (figura 02).<br />

Figura 02. Cartazes confeccionados pelos estudantes durante o estudo realizado <strong>nas</strong> escolas públicas <strong>de</strong> Serra Talhada-PE, durante<br />

em junho <strong>de</strong> 2012.<br />

Dessa forma, a Educação Ambiental consiste em uma área <strong>de</strong> conhecimento que busca obter<br />

o aprendizado, bem como conscientizar o homem sobre o pensar e o fazer diante do meio ambiente,<br />

tendo como intuito, informar e sensibilizar a população sobre os danos ambientais e suas possíveis<br />

implicações/soluções, como também fazer com que os indivíduos se transformem em participantes<br />

das <strong>de</strong>cisões do grupo (BRASIL, 2004).<br />

Conclusão<br />

O meio ambiente está cada vez mais <strong>de</strong>gradado, não sendo possível <strong>de</strong>ixar para <strong>de</strong>pois uma<br />

mudança <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong> da humanida<strong>de</strong>, categorizados como consumidores em potencial, agindo com<br />

<strong>de</strong>scaso ao ambiente que vivem. A educação ambiental vem sendo continuamente discutida.<br />

Contudo, as boas práticas ambientais não são aplicadas por gran<strong>de</strong> parte da população e educar<br />

indivíduos comprometidos em conservar/preservar o meio ambiente se faz necessário.<br />

A periferia constitui-se muitas vezes <strong>de</strong> um espaço sem infraestrutura e condições básicas<br />

para sobrevivência, sendo um lugar on<strong>de</strong> ce<strong>nas</strong> <strong>de</strong> poluição são rotineiras, atitu<strong>de</strong>s como jogar lixo<br />

a céu aberto, bem como a queima do mesmo, são presenciadas constantemente.<br />

A preocupação dos entrevistados é evi<strong>de</strong>nte, uma vez que tem consciência que muitas ações<br />

causam danos ambientais, bem como sabem que a população do seu município não se preocupa<br />

com o meio ambiente, apesar <strong>de</strong> alguns estudantes ter relatado a não presença <strong>de</strong> agressões que<br />

afetassem o meio ambiente, no entanto há uma gran<strong>de</strong> falta <strong>de</strong> conhecimento por parte <strong>de</strong>stes, que<br />

não tem suporte escolar direcionado a esta problemática.<br />

Desse modo, formar pessoas conscientes que se preocupam com o meio ambiente é a base<br />

para o futuro, e isso será possível através da educação ambiental, que <strong>de</strong>ve fazer parte não só do<br />

1295


ambiente escolar, como do ambiente familiar e da comunida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> estão inseridos, bem como<br />

<strong>de</strong>ve haver mais envolvimento dos po<strong>de</strong>res públicos.<br />

Referências<br />

OLIVEIRA, A.L; OBARA, A.T; RODRIGUES, M.A. Educação ambiental: concepções e práticas<br />

<strong>de</strong> professores <strong>de</strong> ciências do ensino fundamental. Revista Electrónica <strong>de</strong> Enseñanza <strong>de</strong> las Ciencias<br />

v. 6, n. 3, 471-495, 2007.<br />

MAZZOTTI, T.B. Uma crítica à ética ambientalista. In: CHASSOT, Ático; OLIVEIRA, José R.<br />

(Org.) Ciência, ética e cultura na educação. São Leopoldo: Unisinos, 1998.<br />

TANAKA, G.M.M. Periferia: conceitos, práticas e discursos. Práticas Sociais e processos urbanos<br />

na metrópole <strong>de</strong> São Paulo. Dissertação (Mestrado – Área <strong>de</strong> concentração: habitat), Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Arquitetura e Urbanismo da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo. 163p. 2006.<br />

COSTA, L.C. Aspectos do processo <strong>de</strong> produção das periferias da gran<strong>de</strong> São Paulo. Dissertação<br />

<strong>de</strong> Mestrado. Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Arquitetura e Urbanismo da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, 1984.<br />

DIAS, G. F. Educação ambiental: princípios e práticas. 5 ed. São Paulo: Gaia,1998.<br />

FERNANDES, A.P.L.M; COSTA, C.E.S; BARROS, A.T.O; FERREIRA, L. A; SANTOS, L. C;<br />

ANDRÉ, L. M; SILVA, S. M. D. Educação ambiental voltada para coleta seletiva <strong>de</strong> lixo no<br />

ensino infantil. Um Exemplo Prático em Arapiraca-AL. In: VII SEGeT – Simpósio <strong>de</strong> Excelência<br />

em Gestão e Tecnologia, 2010.<br />

LACERDA, K.A.P et al. Aspectos da Percepção Ambiental dos Moradores do Bairro Mauro<br />

Antônio Bento em Jataí – Goiás, Brasil. In: SEABRA, G.; SILVA, J.A.N.; MENDONÇA, I.T.L.<br />

(Org.) A Conferência da Terra: aquecimento global, socieda<strong>de</strong> e biodiversida<strong>de</strong>. João Pessoa – PB:<br />

UFPB. v.2. p. 38-42, , 2010.<br />

BRASIL. Ministério da Educação. Vamos cuidar do Brasil: conceitos e práticas em educação<br />

ambiental na escola. UNESCO, 2007. Disponível em:<br />

. Acesso em: 15 out. 2012.<br />

PAZDA, A. K; MORALES, A. G. M; HINSCHING, M. A. O. Jogo didático no processo da<br />

Educação Ambiental: auxílio pedagógico para professores. In: I Simpósio Nacional <strong>de</strong> Ensino <strong>de</strong><br />

Ciência e Tecnologia, 2009.<br />

IBGE. Dados <strong>de</strong> Serra Talhada. Disponível em:<br />

Acesso em: 15 out., 2012.<br />

BATISTA-LEITE, L.M.A. Estudo etnocarcinológico dos catadores <strong>de</strong> Cardisoma guanhumi<br />

Latreille, 1825 (CRUSTACEA, BRACHYURA, GECARCINIDAE) do estuário do rio Goiana,<br />

Pernambuco, Brasil. Tese (Doutorado em Ciências Biológicas – ênfase Zoologia), Universida<strong>de</strong><br />

Fe<strong>de</strong>ral da Paraíba.<br />

BARBA, Inês <strong>de</strong> Souza. Valoração do Serviço <strong>de</strong> Coleta <strong>de</strong> Lixo: O Caso <strong>de</strong> Naviraí-MS.<br />

Dissertação <strong>de</strong> Mestrado. Centro <strong>de</strong> Desenvolvimento Sustentável, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília. 152 p.<br />

2002.<br />

PROSAB. Resíduos Sólidos. Disponível em:<br />

. Acesso em: 15 out. 2012.<br />

BRASIL. Fundação Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>. Manual <strong>de</strong> Saneamento. 3 ed. Brasília: FUNASA, 2004.<br />

1296


Resumo<br />

A AGENDA 21 ESCOLAR COMO POTENCIALIZADORA DAS PRÁTICAS<br />

ECOPEDAGÓGICAS: PROMOVENDO ESPAÇOS DE AUTONOMIA PARA A<br />

CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA PLANETÁRIA 146<br />

Wagner José <strong>de</strong> AGUIAR (Depto. Biologia/UFRPE) – wagner.wja@gmail.com 1<br />

Renata Alves <strong>de</strong> BRITO (Depto. Educação/UFRPE) – renataalves<strong>de</strong>brito@gmail.com 2<br />

Alexandro Cardoso TENÓRIO (Depto. Educação /UFRPE) – act72@yahoo.com 3<br />

1, 2 – Estudantes <strong>de</strong> graduação; 3 – Professor adjunto/Orientador<br />

No cenário <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> consumo e, ao mesmo tempo, produtora <strong>de</strong> riscos, temos<br />

observado que os cidadãos têm buscado novos i<strong>de</strong>ais para combater as ameaçadas ambientais<br />

geradas pelo <strong>de</strong>senfreado consumismo e, nesse contexto, a Educação Ambiental tem se inserido <strong>de</strong><br />

modo a otimizar esse ―<strong>de</strong>spertar‖ da socieda<strong>de</strong>. Partindo do princípio <strong>de</strong> que a Ecopedagogia,<br />

enquanto uma das i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s da Educação Ambiental brasileira, que se constitui a partir <strong>de</strong><br />

princípios que valorizam a autonomia e participação coletiva, com base na experiência cotidiana, o<br />

estudo ocupou-se na análise <strong>de</strong> uma experiência <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> uma Agenda 21 escolar,<br />

discutindo as potencialida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sta para a produção <strong>de</strong> uma cidadania planetária a partir da<br />

promoção <strong>de</strong> espaços propiciadores <strong>de</strong> autonomia no campo escolar. Proce<strong>de</strong>u-se também com o<br />

relato da uma experiência <strong>de</strong> uma oficina <strong>de</strong>senvolvida com alunos e professores <strong>de</strong> uma escola da<br />

re<strong>de</strong> pública estadual <strong>de</strong> Pernambuco/Brasil. Po<strong>de</strong>-se ratificar que, embora os atores da comunida<strong>de</strong><br />

escolar estejam ambientalmente sensibilizados, permanece em evidência um tratamento<br />

fragmentado, na perspectiva disciplinar, frente à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma compreensão sistêmica da<br />

realida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> a escola está situada, que situe a temática da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida enquanto uma<br />

abordagem complexa e <strong>de</strong>rivada da construção <strong>de</strong> uma cidadania ambiental em nível local e<br />

planetário.<br />

Palavras-chaves: Ecopedagogia; Agenda 21 escolar; Educação para a sustentabilida<strong>de</strong>; Cidadania<br />

planetária.<br />

146 Estudo <strong>de</strong>senvolvido como parte do plano <strong>de</strong> trabalho intitulado: ―A implementação <strong>de</strong> políticas públicas <strong>de</strong><br />

Educação Ambiental nos espaços pedagógicos formais: possibilida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>safios a partir da ambientalização curricular<br />

da educação pública‖, no âmbito do PET/Conexões <strong>de</strong> Saberes: Avaliação <strong>de</strong> Políticas Públicas em Ações Afirmativas<br />

para a Juventu<strong>de</strong>. Conta com o apoio financeiro do Ministério da Educação, através da Secretaria <strong>de</strong> Educação Superior<br />

(MEC/SESu).<br />

1297


Abstract<br />

In the context of a consumer society and at the same time, producing risks to human life, we have<br />

noticed that individuals have sought alternatives to face the new threat environment, generated by<br />

rampant consumerism. And so, Environmental Education has been inserted in or<strong>de</strong>r to optimize this<br />

"awakening" of society. Assuming that Ecopedagogy while i<strong>de</strong>ntity of a Brazilian Environmental<br />

Education, is foun<strong>de</strong>d upon principles that value autonomy and collective participation, a holistic<br />

view of the human relationship with the world and everyday life while the sense of place of learning<br />

practices productive. The study focuses on the analysis of an experience of building a school<br />

Agenda 21, discussing the potential for construction a planetary citizenship, from spaces enablers of<br />

autonomy. Also procee<strong>de</strong>d with an account of an experience of a workshop <strong>de</strong>veloped with stu<strong>de</strong>nts<br />

and teachers at a public school in the state of Pernambuco/Brazil. We can confirm that although the<br />

subjects of the school community have the sensitivity to environmental challenges, is still evi<strong>de</strong>nt<br />

treatment adopted as fragmented and discipline, <strong>de</strong>spite the need for a systemic un<strong>de</strong>rstanding of<br />

reality, in which school is situated, as it <strong>de</strong>ems quality of life, through a complex approach and<br />

<strong>de</strong>rived from an environmental citizenship in the local and global.<br />

Keywords: Ecopedagogy; Agenda 21 school; Education for sustainability; Planetary Citizenship.<br />

Introdução<br />

A socieda<strong>de</strong> contemporânea tem sofrido gran<strong>de</strong>s mudanças, a maior parte <strong>de</strong>stas<br />

<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ada com o crescimento exponencial da economia em sintonia com o avanço tecnológico,<br />

traduzido no retrato <strong>de</strong> um mundo informacional e economicamente globalizado. Diante da nossa<br />

atual configuração cultural como uma ―socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> consumo‖, é fato que o padrão <strong>de</strong> vida adotado<br />

pelas pessoas não tem sido o mesmo <strong>de</strong> outrora, principalmente em função da facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso<br />

às benesses resultantes da interação crescimento/avanço alcançadas por uma parcela da socieda<strong>de</strong><br />

global. Paralelamente a esse aparente ―progresso‖, tem sido visível um veloz e acentuado processo<br />

<strong>de</strong> exploração dos recursos naturais, a partir do qual regiões que antes eram gran<strong>de</strong>s mantenedoras<br />

do patrimônio ambiental foram se tornando áreas extremamente pobres e vulneráveis.<br />

Frente a esse quadro, coletivos <strong>de</strong> civis e governos têm se mobilizado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a segunda<br />

meta<strong>de</strong> do século XX, na tentativa <strong>de</strong> reverter os prejuízos gerados ao ambiente pela nossa<br />

―socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> risco‖ (BECK, 1997) já que, <strong>de</strong>ntro dos atributos <strong>de</strong>sse perfil <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong>, são<br />

típicos a imprevisibilida<strong>de</strong> dos riscos e o movimento reativo da socieda<strong>de</strong> às ameaças ambientais<br />

produzidas pelo consumismo exacerbado. A partir <strong>de</strong>sse contato com os riscos produzidos por si<br />

própria, a socieda<strong>de</strong> tem se tornado cada vez mais reflexiva, tornando-se autocrítica (JACOBI,<br />

2005) e, nesse processo, a Educação Ambiental (EA) tem tido um papel fundamental, no sentido <strong>de</strong><br />

1298


otimizar esse ―<strong>de</strong>spertar‖ em direção à construção <strong>de</strong> conhecimentos, habilida<strong>de</strong>s e atitu<strong>de</strong>s<br />

imprescindíveis à conservação e proteção do bem ambiental.<br />

Embora se <strong>de</strong>monstre persistente a lógica hegemônica que tem caracterizado a EA com<br />

práticas pontuais, disciplinatórias, fragmentadas e <strong>de</strong>spolitizadas, emergiram na esfera pedagógica<br />

movimentos contra-hegemônicos, <strong>de</strong>ntre eles a Ecopedagogia, fundamentada numa perspectiva <strong>de</strong><br />

formação integral, holística e firmada no cotidiano, tendo como foco a instituição <strong>de</strong> uma cultura da<br />

sustentabilida<strong>de</strong> em consonância com o exercício <strong>de</strong> uma cidadania aliada ao pertencimento e ao<br />

convívio harmônico com o planeta, configurando assim a ―cidadania planetária‖ (GADOTTI,<br />

2001). Segundo Boff (1995), a cidadania planetária é uma expressão adotada para expressar um<br />

conjunto <strong>de</strong> princípios, valores, atitu<strong>de</strong>s e comportamentos que <strong>de</strong>monstra uma nova percepção da<br />

terra como uma única comunida<strong>de</strong>. Sob esse viés, a EA tem adquirido uma função instrumental na<br />

construção <strong>de</strong> um planeta sustentável, sobretudo após a criação da Agenda 21 147 , documento <strong>de</strong><br />

referência universal com princípios norteadores para a projeção <strong>de</strong> um <strong>de</strong>senvolvimento capaz <strong>de</strong><br />

conciliar justiça social e equilíbrio ambiental, com a manutenção do bem ambiental para as<br />

gerações do presente e do futuro.<br />

Partindo da projeção da Agenda 21 para os diferentes contextos da atuação social, a Agenda<br />

21 escolar constitui-se numa proposta político-pedagógica capaz <strong>de</strong> favorecer a autonomia do aluno<br />

e <strong>de</strong> toda comunida<strong>de</strong> escolar, tendo o propósito <strong>de</strong> instituir no terreno da escola uma cultura <strong>de</strong><br />

cooperação e participação ativa na promoção da sustentabilida<strong>de</strong> socioambiental, permeada por<br />

princípios como o diálogo e a solidarieda<strong>de</strong>, em interface com a articulação ação local/pensamento<br />

global. Para Jacobi & Santos (2000, p.12), a elaboração da Agenda 21 na escola se insere no quadro<br />

das práticas educativas que ampliam a compreensão <strong>de</strong> contextos <strong>de</strong> aprendizagem e a relevância <strong>de</strong><br />

processos e metodologias realmente dialógicas e participativas.<br />

Nesse sentido, a Agenda 21 escolar constitui o objeto <strong>de</strong> reflexão do presente trabalho, o<br />

qual tem como objetivo principal apresentar uma experiência <strong>de</strong> concepção <strong>de</strong> uma Agenda 21<br />

escolar, discutindo as potencialida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sta para a construção <strong>de</strong> uma cidadania planetária a partir<br />

da promoção <strong>de</strong> espaços propiciadores <strong>de</strong> autonomia no campo escolar, <strong>de</strong> forma aliada ao<br />

fortalecimento da Ecopedagogia, já que não se po<strong>de</strong> falar em cidadania planetária ou global sem<br />

uma efetiva cidadania na esfera local e nacional (GADOTTI, 2001, p.117).<br />

A experiência a ser relatada proce<strong>de</strong>u <strong>de</strong> uma oficina <strong>de</strong>senvolvida com alunos da Escola<br />

Estadual <strong>de</strong> Referência em Ensino Médio Artur Mendonça, localizada no município <strong>de</strong> Moreno,<br />

147 A agenda 21 foi um dos documentos resultantes da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e<br />

Desenvolvimento Humano (ECO-92/Rio-92) e correspon<strong>de</strong> a um plano <strong>de</strong> ação alicerçado na sinergia das<br />

sustentabilida<strong>de</strong>s ambiental, social e econômica, a ser adotado global, nacional e localmente, por organizações do<br />

sistema das nações unidas, governos e pela socieda<strong>de</strong> civil, em todas as áreas em que a ação humana impacta o meio<br />

ambiente.<br />

1299


Pernambuco. Intitulada como ―Práticas <strong>de</strong> Educação Socioambiental na Agenda 21 Escolar‖, a<br />

oficina foi realizada por ocasião da I Semana <strong>de</strong> Meio Ambiente da Escola Artur Mendonça,<br />

realizada em junho <strong>de</strong> 2012 e organizada pelos gestores e professores da escola em parceria com a<br />

Coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> Integração Comunitária da Pró-Reitoria <strong>de</strong> Extensão, da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral<br />

Rural <strong>de</strong> Pernambuco. A oficina integrou parte da programação do evento, tendo como objetivo<br />

divulgar a proposta da Agenda 21 na escola, além <strong>de</strong> propiciar à comunida<strong>de</strong> escolar uma<br />

experimentação do processo <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> uma agenda ambiental na escola, <strong>de</strong>ntro dos seus<br />

princípios norteadores para a construção da Agenda 21 escolar.<br />

Metodologicamente, a oficina abrangeu cinco etapas principais:<br />

(1) Leitura e discussão do texto ―O aluno e a consciência ambiental‖ 148 , que traz algumas<br />

reflexões acerca da cidadania ambiental no contexto da escola. O objetivo <strong>de</strong>ssa etapa<br />

consistia em chamar os alunos à reflexão acerca do papel social da escola e da<br />

capacida<strong>de</strong> política <strong>de</strong> cada membro da comunida<strong>de</strong> escolar;<br />

(2) Apresentação do ví<strong>de</strong>o intitulado ―Esse problema não é meu‖ 149 , sucedido <strong>de</strong> uma roda<br />

<strong>de</strong> diálogos. Nesse momento, buscou-se uma abordagem contextualizada, possibilitando<br />

a i<strong>de</strong>ntificação dos problemas da realida<strong>de</strong> escolar, bem como a análise do nível <strong>de</strong><br />

envolvimento da comunida<strong>de</strong> escolar com os problemas;<br />

(3) Exposição dialogada acerca da ―Agenda 21‖, precedida por uma tempesta<strong>de</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias<br />

sobre o tema. Nessa fase, preten<strong>de</strong>u-se uma aproximação com o conhecimento prévio <strong>de</strong><br />

alunos e professores, <strong>de</strong> tal forma que houvesse um nivelamento posterior em termos <strong>de</strong><br />

conceitos e aplicações;<br />

(4) Elaboração <strong>de</strong> propostas resolutivas, on<strong>de</strong> os alunos foram agrupados em equipes, tendo<br />

como sugestão <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> a estruturação <strong>de</strong> propostas para os problemas anteriormente<br />

i<strong>de</strong>ntificados pelo coletivo. Cada equipe ocupou-se <strong>de</strong> um problema específico<br />

(escolhido voluntariamente), tendo como material <strong>de</strong> suporte um roteiro sugerido pelos<br />

facilitadores, que <strong>de</strong>stacava como etapas das propostas a serem formuladas:<br />

i<strong>de</strong>ntificação do problema (problema?), <strong>de</strong>scrição dos efeitos do problema<br />

(consequências?), apresentação <strong>de</strong> propostas resolutivas (como resolver?), indicação <strong>de</strong><br />

parceiros (quem po<strong>de</strong> ajudar?) e cronograma (em quanto tempo?);<br />

148 Extraído da seguinte obra: PENTEADO, Heloísa Dupas. Meio ambiente e formação <strong>de</strong> professores. 2. Ed. – São<br />

Paulo: Cortez, 1997.<br />

149 Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=jjw7DQSUak0<br />

1300


(5) Montagem do plano <strong>de</strong> ação (agenda ambiental da escola), a partir da socialização das<br />

propostas criadas por cada grupo. O propósito <strong>de</strong>ssa etapa era permitir o reconhecimento<br />

dos problemas por todo o coletivo, fomentando uma leitura crítica <strong>de</strong> cada proposta<br />

resolutiva, principalmente no que tangia as i<strong>de</strong>ias sistematizadas e aos procedimentos <strong>de</strong><br />

operacionalização pensados para cada proposta, além <strong>de</strong> reforçar a responsabilização <strong>de</strong><br />

cada um pela execução do plano, concebido pelo coletivo.<br />

A oficina foi <strong>de</strong>senvolvida num intervalo <strong>de</strong> três horas, reunindo alunos das séries terminais<br />

do ensino fundamental II e das turmas do ensino médio. Além dos alunos, também foi registrada a<br />

participação <strong>de</strong> dois professores da escola, sendo um da área <strong>de</strong> História e outro da área <strong>de</strong> Língua<br />

Portuguesa.<br />

A concepção da Agenda 21 escolar e os <strong>de</strong>sdobramentos para a cidadania ambiental e planetária:<br />

algumas notas a partir da experiência vivenciada<br />

Em continuida<strong>de</strong> ao relato da experiência, inicialmente po<strong>de</strong>-se observar que a temática da<br />

Agenda 21 era <strong>de</strong>sconhecida por uma gran<strong>de</strong> parte dos alunos, e até mesmo <strong>de</strong> alguns professores.<br />

Tal constatação foi possível através <strong>de</strong> observações, na medida em que se percebia que os alunos,<br />

ao se direcionar para a sala on<strong>de</strong> estava sendo realizada a oficina, questionavam-se uns aos outros<br />

sobre o assunto a ser tratado naquela ativida<strong>de</strong>. Nessa primeira observação, po<strong>de</strong>-se inferir que a<br />

curiosida<strong>de</strong> é um elemento favorável a uma nova forma <strong>de</strong> ler a realida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> intervir sobre, já que<br />

segundo Freire (1996):<br />

―O exercício da curiosida<strong>de</strong> convoca a imaginação, a intuição, as emoções, a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

conjecturar, <strong>de</strong> comparar, (...) Satisfeita uma curiosida<strong>de</strong> a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inquietar-me a<br />

buscar continua em pé. Não haveria existência humana sem a abertura <strong>de</strong> nosso ser ao<br />

mundo, sem a transitivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nossa consciência.‖ (Ibid, p.88).<br />

Com base no entendimento <strong>de</strong> que a essência da cidadania é a consciência <strong>de</strong> direitos e<br />

<strong>de</strong>veres (GADOTTI, 2001), verificou-se que os alunos tinham poucos argumentos construídos para<br />

a discussão acerca da sua capacida<strong>de</strong> política, da mesma forma que para a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> cidadania<br />

ambiental. De acordo com Higuchi & Azevedo (2004, p.68), a cidadania ambiental ―envolve ações<br />

<strong>de</strong> efetiva participação e <strong>de</strong> mobilização, com outras pessoas, na busca <strong>de</strong> soluções aos problemas<br />

da relação pessoa/ ambiente, ou na prevenção <strong>de</strong> possíveis riscos ambientais a partir <strong>de</strong><br />

comportamentos ecologicamente <strong>de</strong>sequilibrados‖.<br />

Dos poucos pronunciamentos feitos, observou-se a tendência <strong>de</strong> exposição oral dos alunos<br />

ainda remetem bastante aos exemplos que, <strong>de</strong> certa forma, possibilitam um diálogo contextualizado,<br />

mas, ao mesmo tempo, nem sempre po<strong>de</strong>m trazer uma leitura crítica da realida<strong>de</strong>, reafirmando a<br />

realida<strong>de</strong> do jeito que está posta. Frente a essa percepção, o educador, enquanto facilitador da<br />

1301


construção do aprendizado e a<strong>de</strong>pto a uma perspectiva construtivista <strong>de</strong> ensino-aprendizagem, <strong>de</strong>ve<br />

buscar alternativas problematizadoras <strong>de</strong> se abordar a temática ambiental, capazes <strong>de</strong> evi<strong>de</strong>nciar o<br />

caráter holístico e sistêmico característico da realida<strong>de</strong> e inerente ao <strong>de</strong>bate ambiental alicerçado na<br />

Ecopedagogia.<br />

Frente às observações da primeira etapa, optou-se pela apresentação e discussão do ví<strong>de</strong>o ―O<br />

problema não é meu‖ (etapa 2) o qual, em função da sua natureza (formato <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho, linguagem,<br />

conteúdo, etc.) exprimiu ter sido mais apropriado pelos alunos do que o instrumento utilizado na<br />

etapa anterior (texto). Como o ví<strong>de</strong>o traduz uma situação em que emerge um problema, para o qual<br />

a lógica <strong>de</strong> resolução proposta é a que preza pela responsabilização individual, foi possível a<br />

recordação/apresentação <strong>de</strong> situações reais do cotidiano, a exemplo da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que o responsável<br />

pelo cuidado/zelo do patrimônio escolar é sempre o diretor ou os funcionários <strong>de</strong> serviços gerais.<br />

Além do exemplo acima, foram também trazidas situações do dia-a-dia da comunida<strong>de</strong> e, ao<br />

serem indagados quanto à responsabilização pelo problema da escola ou da comunida<strong>de</strong>, os alunos<br />

refletiam e afirmavam que o empenho para a resolução dos problemas <strong>de</strong>veria ser coletivo, pelo fato<br />

<strong>de</strong> que, diante <strong>de</strong> uma possível ameaça ambiental, o coletivo como um todo po<strong>de</strong> ser afetado. Nesse<br />

quesito, é importante <strong>de</strong>stacar que o trabalho coletivo é um indicativo metodológico da EA<br />

Transformadora (MIRANDA; MIRANDA; GIOTTO, 2009) e que, numa perspectiva <strong>de</strong> instituição<br />

<strong>de</strong> uma cultura da sustentabilida<strong>de</strong>, é válido reconsi<strong>de</strong>rarmos que somos seres <strong>de</strong> relações, on<strong>de</strong><br />

―nossa individualida<strong>de</strong> se completa na relação com o outro no mundo‖ (LOUREIRO, 2004): são as<br />

relações estabelecidas entre os indivíduos que irão <strong>de</strong>finir os princípios do coletivo constituído.<br />

Em relação à etapa 3, constatou-se mais uma vez o <strong>de</strong>sconhecimento pleno do assunto por<br />

uma boa parte do coletivo. O estabelecimento da noção <strong>de</strong> Agenda 21 se <strong>de</strong>u com base na<br />

tempesta<strong>de</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias, que convergiu em questões do tipo: por que agenda? Por que 21?<br />

Complementarmente a discussão, foi feita uma exposição dialogada com a utilização <strong>de</strong> sli<strong>de</strong>s e <strong>de</strong><br />

um material audiovisual educativo elaborado pelo Ministério do Meio Ambiente, que trazia um<br />

breve histórico das questões ambientais com a culminância na criação da Agenda 21. Além dos<br />

princípios gerais, discutiu-se ainda a expansão da agenda para os níveis nacionais e locais, incluindo<br />

as escolas, dando margem para o entendimento da relevância do trabalho empreendido naquela<br />

situação <strong>de</strong> ensino-aprendizagem, sobretudo pela socialização do princípio 21 da Declaração do Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro sobre Meio Ambiente 150 , que afirma: ―Devem ser mobilizados a criativida<strong>de</strong>, os i<strong>de</strong>ais e<br />

o valor dos jovens do mundo para forjar uma aliança mundial orientada para obter o<br />

150 Documento originado, assim com a Agenda 21, da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e<br />

Desenvolvimento Humano (ECO-92/Rio-92), no qual são estabelecidos 27 princípios sobre Meio Ambiente e<br />

Desenvolvimento. Segundo Gadotti (2010, p.15), ela<br />

1302


<strong>de</strong>senvolvimento sustentável e assegurar um futuro melhor para todos‖. Tal princípio preconiza a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se preparar os jovens para uma postura protagonista na construção da cultura da<br />

sustentabilida<strong>de</strong> e, no âmbito da nossa reflexão, essa i<strong>de</strong>ia adquire significado real através das<br />

práticas inovadoras <strong>de</strong> Educação Ambiental, inerentes ao trabalho com a Agenda 21 escolar.<br />

Uma vez cientes do conceito e das aplicações da Agenda 21, o próximo passo foi a<br />

elaboração <strong>de</strong> propostas resolutivas para os problemas observados (etapa 4), no qual os alunos<br />

elegeram os seguintes problemas, montando as propostas <strong>de</strong>scritas abaixo:<br />

Proposta (1)<br />

1) Problema/tema: poluição sonora.<br />

2) Consequências: interfere na concentração do aluno, gera brigas.<br />

3) Como resolver: proibir a reprodução <strong>de</strong> músicas na sala <strong>de</strong> aula.<br />

4) Parceiros: professores, supervisores e colegas.<br />

5) Tempo i<strong>de</strong>al para resolução: 6 meses.<br />

Proposta (2)<br />

1) Problema: falta <strong>de</strong> arborização e jardins.<br />

2) Consequências: clima <strong>de</strong>sagradável.<br />

3) Como resolver: discutir o problema com a comunida<strong>de</strong> escolar e busca apoio junto à<br />

prefeitura.<br />

4) Parceiros: professores, colegas e zeladores.<br />

5) Tempo i<strong>de</strong>al para resolução: 6 meses.<br />

Proposta (3)<br />

1) Problema: lixo.<br />

2) Consequências: interfere na qualida<strong>de</strong> do meio ambiente escolar.<br />

3) Como resolver: sensibilizando os colegas para que, após o consumo <strong>de</strong> algum<br />

alimento/lanche, <strong>de</strong>scarte o lixo no local correto.<br />

4) Parceiros: toda a comunida<strong>de</strong> escolar.<br />

5) Tempo i<strong>de</strong>al para resolução: 2 meses.<br />

Diante das problemáticas i<strong>de</strong>ntificadas pelos alunos, po<strong>de</strong>-se frisar que a escolha temática do<br />

―lixo‖ estava <strong>de</strong>ntro das expectativas dos facilitadores, uma vez que, diante <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong><br />

altamente consumista e, ao mesmo tempo, uma ―socieda<strong>de</strong> dos <strong>de</strong>scartáveis‖ – ou ―throwaway<br />

society‖ (HENRY, 1996), a mídia tem contribuído muito para a internalização <strong>de</strong>ssa temática na<br />

maioria das discussões relacionadas ao meio ambiente, inclusive <strong>nas</strong> orientações trazidas nos<br />

1303


Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) tomados como referência pelos professores. Por outro<br />

lado, não fazia parte das expectativas do trabalho a opção pela temática da ―poluição sonora‖, uma<br />

vez que, face a rapi<strong>de</strong>z com a qual tem se dado a inovação no setor tecnológico e, paralelamente, a<br />

difusão dos novos produtos pela mídia e a facilitação no acesso a estes, tem se instituído em gran<strong>de</strong><br />

parte das escolas uma cultura <strong>de</strong> utilização massiva <strong>de</strong> artefatos tecnológicos multifuncionais, que<br />

permitem ao usuário, além <strong>de</strong> se comunicar (função tradicional), fotografar, filmar, reproduzir e<br />

trocar arquivos, como músicas e ví<strong>de</strong>os. Em contraponto a essas benesses, valorizadas pela maioria<br />

da nossa juventu<strong>de</strong> escolar, o uso <strong>de</strong>squalificado <strong>de</strong>ssas tecnologias em sala <strong>de</strong> aula tem sido um<br />

gran<strong>de</strong> impacto negativo para a qualida<strong>de</strong> do trabalho pedagógico: os professores participantes da<br />

oficina ratificaram esse posicionamento em suas falas mas, em síntese, o inesperado consistiu no<br />

posicionamento contra-hegemônico dos alunos.<br />

Em relação à etapa 5 (montagem do plano <strong>de</strong> ação), foi feita uma socialização das propostas<br />

construídas em cada equipe. Houve reconhecimento dos problemas existentes pelo coletivo, e<br />

inclusive percepções críticas acerca <strong>de</strong> alguns aspectos trazidos, como exemplo, do tempo<br />

i<strong>de</strong>alizado para operacionalização das propostas: segundo alguns posicionamentos, alguns prazos<br />

po<strong>de</strong>riam ser revistos, pois a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r do problema, o tempo <strong>de</strong> resolução po<strong>de</strong>ria ser tanto curto<br />

como longo. Nesse quesito, pontuou-se como fundamental o estabelecimento e a consi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong><br />

alguns parâmetros para um planejamento mais <strong>de</strong>talhado e eficaz, por exemplo, tomar a gravida<strong>de</strong><br />

do problema e o grau <strong>de</strong> envolvimento do público escolar com um <strong>de</strong>terminado problema como<br />

referenciais para a organização das propostas <strong>de</strong> intervenção.<br />

Já em relação à responsabilização pela execução do plano, foi levantada pelo público a<br />

importância <strong>de</strong> se promover um espaço/momento na escola, em que os alunos que participaram da<br />

oficina po<strong>de</strong>riam assumir uma postura lí<strong>de</strong>r, socializando, com o apoio da gestão e do corpo<br />

docente, as suas propostas e, em diálogo com os colegas, firmar articulações para executar as i<strong>de</strong>ias,<br />

em forma <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> colaboração. Além do apoio da escola, os alunos também contariam com o<br />

apoio da comunida<strong>de</strong> acadêmica da UFRPE, representada nos estudantes e coor<strong>de</strong>nadores que<br />

tiveram participação na composição daquele evento <strong>de</strong> comemoração ao dia do meio ambiente.<br />

Nesse sentido, o movimento feito até então foi <strong>de</strong> repasse das produções feitas na oficina para a<br />

gestão escolar <strong>de</strong> tal maneira que, em diálogo com o corpo docente e com os voluntários da<br />

UFRPE, sejam pensados fóruns consultivos e <strong>de</strong>liberativos para que, então, a Agenda 21 da escola<br />

se constitua <strong>de</strong> maneira plena.<br />

Em busca <strong>de</strong> uma abordagem teórico-conceitual<br />

1304


Conforme algumas sinalizações feitas no início, a Educação Ambiental (EA) tem sido<br />

configurado, em função do seu caráter político e i<strong>de</strong>ológico, em duas perspectivas: uma<br />

hegemônica, caracterizada pela racionalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que a função da EA seja a ―adaptação‖ dos<br />

indivíduos a um ―renovado‖ mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong> (TOZONI-REIS, 2008, p.157), sem<br />

questionamentos ao mo<strong>de</strong>lo vigente <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, reproduzindo as relações socioambientais<br />

<strong>de</strong>finidas pela mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>; e outra contra-hegemônica, que parte <strong>de</strong> ―análises críticas das relações<br />

entre os grupos sociais e <strong>de</strong>les com o ambiente em que vivem, compreen<strong>de</strong>ndo-as como relações<br />

históricas‖ (Ibid, p.158).<br />

Frente a essa ―bipolarização i<strong>de</strong>ológica‖, têm emergido diferentes correntes e concepções <strong>de</strong><br />

EA e, especificamente quando se discutia a Agenda 21 escolar, uma <strong>de</strong>las configura-se como uma<br />

das i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s da EA no Brasil – a Ecopedagogia. Segundo Gadotti (2001), a Ecopedagogia parte<br />

<strong>de</strong> uma consciência planetária (gêneros, espécies, reinos, educação formal, informal e não-formal),<br />

tendo uma configuração <strong>de</strong> uma EA mais ampla, <strong>de</strong> uma Educação sustentável que se preocupa com<br />

o sentido mais profundo da existência humana, a partir da vida cotidiana (Ibid, p.99) já que, nessa<br />

perspectiva, ―a vida cotidiana é o lugar do sentido e das práticas <strong>de</strong> aprendizagem produtiva‖<br />

(GUTIÉRREZ & PRADO, 1999).<br />

Partindo do princípio <strong>de</strong> que a Ecopedagogia abrange diversos contextos pedagógicos<br />

formais e não formais, é fundamental que se tome o contexto da escola, em virtu<strong>de</strong> do foco <strong>de</strong><br />

estudo. Alguns autores a<strong>de</strong>ptos <strong>de</strong>ssa corrente filosófica fazem críticas diversas a EA instituída <strong>nas</strong><br />

escolas, sobretudo quando esta traz em sua composição práticas limitadas a conteúdos <strong>de</strong>sprovidos<br />

<strong>de</strong> significado para o aluno, configurando o que muitos <strong>de</strong>les <strong>de</strong>nominam ―pedagogia da<br />

<strong>de</strong>claração‖ (GUTIÉRREZ & PRADO, 2000; AVANZI, 2004) ou ―pedagogia da proclamação‖<br />

(GADOTTI, 2001). Essa pedagogia, sendo conservadora, se estabelece com base em metodologias<br />

expositivas, enunciativas e impositivas com ênfase nos conteúdos e, majoritariamente, ―a<br />

participação está mais em função daquele que ensina e do conteúdo que é ensinado do que naquele<br />

que apren<strong>de</strong>‖ (GADOTTI, 2001).<br />

Em contraposição a essa vertente, a Ecopedagogia propõe uma ―pedagogia da <strong>de</strong>manda‖,<br />

que tem como propósito satisfazer as necessida<strong>de</strong>s i<strong>de</strong>ntificadas, durante o processo educativo, por<br />

seus protagonistas (AVANZI, 2004, p.45). Nesse contexto, a autora <strong>de</strong>staca quatro dimensões <strong>de</strong>ssa<br />

pedagogia, segundo Gutiérrez & Prado (2000): a) sócio-política: marcada pela <strong>de</strong>mocracia<br />

participativa; b) técnico-científica: que consiste na fundamentação do processo; c) pedagógica: que-<br />

fazer situado na cotidianida<strong>de</strong>; d) espaço-temporal: que consi<strong>de</strong>ra a educação como um processo<br />

consumidor <strong>de</strong> tempo. Nesse ponto, ao tomarmos o trabalho da Agenda 21 escolar como uma<br />

proposta inovadora, perceberemos que as suas diretrizes metodológicas dialogam diretamente com<br />

1305


os princípios próprios <strong>de</strong>ssa ―pedagogia da <strong>de</strong>manda‖, sobretudo com as dimensões sócio-política e<br />

pedagógica, dando assim uma nova configuração à cultura organizacional da escola.<br />

Ao consi<strong>de</strong>rarmos o currículo uma dimensão <strong>de</strong>ssa cultura organizacional da escola, Avanzi<br />

(2004) afirma que a Ecopedagogia, como abordagem curricular, implica na reorientação dos<br />

currículos escolares <strong>de</strong> modo a trabalharem com conteúdos significativos para o aluno e para o<br />

contexto mais amplo, no qual estão incluídos os princípios da sustentabilida<strong>de</strong>. Nas práticas<br />

ecopedagógicas, a compreensão <strong>de</strong> conteúdo não é subordinada aos conteúdos <strong>de</strong>terminados pela<br />

pedagogia clássica, mas abrangem os vínculos e as relações como conteúdos primordiais, tendo<br />

como pauta a instituição <strong>de</strong> uma cultura permeada pela <strong>de</strong>mocracia e pela participação. Segundo<br />

Gadotti (2001, p.93) a Ecopedagogia propõe uma nova forma <strong>de</strong> governabilida<strong>de</strong> diante da<br />

ingovernabilida<strong>de</strong> do gigantismo dos sistemas atuais <strong>de</strong> ensino, propondo a <strong>de</strong>scentralização<br />

<strong>de</strong>mocrática e uma racionalida<strong>de</strong> baseadas na ação comunicativa, já que a comunicação supõe<br />

diálogo, e o diálogo é ―uma das matrizes em que <strong>nas</strong>ce a própria <strong>de</strong>mocracia‖ (FREIRE, 2001,<br />

p.15).<br />

Nesse viés, a cidadania planetária implica também na existência <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>mocracia<br />

planetária. Para Gadotti (2001, p.117), ―ao contrário do que sustentam os neoliberais, estamos<br />

muito longe <strong>de</strong> uma efetiva cidadania planetária, e inalcançável se for limitada ape<strong>nas</strong> ao<br />

<strong>de</strong>senvolvimento tecnológico‖. É preciso o <strong>de</strong>vido tratamento sistêmico para a discussão acerca da<br />

construção da cidadania planetária, que perpasse todos os níveis e/ou ―dimensões complementares<br />

da cidadania 151 ‖ (CORTINA, 1997): política, social, econômica, civil e intercultural.<br />

Ao tratar-se, especificamente, das experiências <strong>de</strong> concepção e implementação da Agenda<br />

21 escolar, Formis (2006, p.53) coloca que ―o <strong>de</strong>safio da construção da Agenda 21 na escola é<br />

utilizar-se <strong>de</strong> uma estratégia metodológica para compartilhar os conhecimentos científicos, <strong>de</strong><br />

mundo, <strong>de</strong> vida sem fronteiras entre eles‖. Nesse contexto, observa-se que a Ecopedagogia, acima<br />

focada, consolida-se enquanto fundamento epistemológico para as práticas bem sucedidas no<br />

trabalho da Agenda 21 escolar, uma vez que, além dos pressupostos <strong>de</strong> uma ―pedagogia da<br />

<strong>de</strong>manda‖, a Ecopedagogia traz princípios sustentados numa visão planetária, coletivista e firmada<br />

no cotidiano, essenciais a uma nova escola, escolada cidadã e gestora do conhecimento, construtora<br />

151 Como afirma A<strong>de</strong>la Cortina (1997), são as dimensões complementares da cidadania:<br />

1. Cidadania política: participação numa comunida<strong>de</strong> política.<br />

2. Cidadania social: justiça como exigência ética (da socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> bem-estar à socieda<strong>de</strong> justa).<br />

3. Cidadania econômica: a empresa cidadã, ética e a transformação da economia: os trabalhadores do saber, o terceiro<br />

setor (privado, porém, público).<br />

4. Cidadania civil: a socieda<strong>de</strong> civil e a civilida<strong>de</strong>, civilização. Valores cívicos: liberda<strong>de</strong>, igualda<strong>de</strong>, respeito ativo,<br />

solidarieda<strong>de</strong>, diálogo.<br />

5. Cidadania intercultural: multiculturalida<strong>de</strong>, interculturalida<strong>de</strong>, transculturalida<strong>de</strong>. A interculturalda<strong>de</strong> como projeto<br />

ético e político (miséria do etnocentrismo).<br />

1306


<strong>de</strong> sentido e plugada no mundo (GADOTTI, 2001). A educação continua sendo a chave para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento sustentável (Ibid, p.99) e, uma vez transformada, a escola estará apta à construção<br />

<strong>de</strong> cidadãos localmente participativos e globalmente comprometidos; porém, frente à resistência da<br />

vertente hegemônica da EA, observa-se a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma relação dialética, em que a Agenda<br />

21 escolar, além <strong>de</strong> potencializada pela Ecopedagogia, precisa fortalecer metodologicamente essa<br />

nova vertente, por meio dos seus potenciais.<br />

Para não concluir<br />

Este trabalho compôs uma análise <strong>de</strong> uma experiência <strong>de</strong> pesquisa-ação, como parte <strong>de</strong> uma<br />

pesquisa que ainda está em andamento. Ao optarmos pela temática da Agenda 21 escolar e buscar<br />

numa experiência prática, propiciada pela práxis extensionista, elementos que atestassem a inserção<br />

da temática ambiental <strong>nas</strong> práticas curriculares instituídas na escola (configurando, assim, um<br />

currículo ambientalizado), foi possível ratificar que, embora os atores da comunida<strong>de</strong> escolar<br />

estejam ambientalmente sensibilizados, permanece em evidência um tratamento fragmentado e<br />

disciplinatório frente à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma compreensão sistêmica da realida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> a escola está<br />

situada, on<strong>de</strong> se estabelecem formas <strong>de</strong> pensar e <strong>de</strong> agir e, por conseguinte, <strong>de</strong> ser.<br />

Uma vez constituída como subtema <strong>de</strong> um <strong>de</strong>bate ecumênico, a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida<br />

compreen<strong>de</strong> um ponto a ser encarado criticamente pelos cidadãos em nível local e global; não<br />

obstante, há <strong>de</strong> convirmos que é fundamental que se propiciem meios para que a Educação<br />

Ambiental possa ocorrer <strong>de</strong> forma dinâmica e integrada, <strong>de</strong> tal modo que a comunida<strong>de</strong> escolar<br />

trace objetivos e caminhos para se promover, coletivamente, melhorias na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida da<br />

socieda<strong>de</strong> global. Foi nesse sentido que se <strong>de</strong>u o enfoque para a Ecopedagogia, enquanto<br />

movimento em processo <strong>de</strong> instituição a partir da promoção <strong>de</strong> espaços férteis à autonomia e a<br />

emancipação, sobretudo <strong>nas</strong> escolas, on<strong>de</strong> boa parte ainda permanece regida <strong>de</strong> forma tradicional,<br />

adaptando os alunos a uma realida<strong>de</strong> aceitada por uma maioria e reproduzindo as feições <strong>de</strong> uma<br />

socieda<strong>de</strong> marcada pelo consumo e pelo risco.<br />

Referências<br />

AVANZI, M. R. Ecopedagogia. In: MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE/DIRETORIA DE<br />

EDUCAÇÃO AMBIENTAL. Philippe Pomier Layrargues (coord.). I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s da educação<br />

ambiental. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2004.<br />

BECK, U. A reinvenção da política. In: GIDDENS, A.; et al. (Orgs.) A mo<strong>de</strong>rnização reflexiva. São<br />

Paulo: UNESP, 1997.<br />

BOFF, L. Ecologia: grito da Terra, grito dos pobres. São Paulo: Ática, 1995.<br />

CORTINA, A. Ciudadanos <strong>de</strong>l mundo: hacia una teoría <strong>de</strong> la Ciudadanía. Madrid: Alianza, 1997.<br />

1307


FORMIS, C. A. Estudo do Processo <strong>de</strong> Construção da Agenda 21 <strong>nas</strong> escolas da Diretoria <strong>de</strong><br />

Ensino <strong>de</strong> Jundiaí- SP. Jundiaí, 2006. 125 f. Dissertação (Mestrado em Saú<strong>de</strong> Pública) –<br />

Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, 2006.<br />

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e<br />

Terra, 1996.<br />

_______. Educação e atualida<strong>de</strong> brasileira. São Paulo, SP: Cortez: Instituto Paulo Freire, 2001<br />

GADOTTI, M. Pedagogia da Terra: Ecopedagogia e educação sustentável. In: Torres, C. A. (Org.)<br />

Paulo Freire y la agenda <strong>de</strong> la educación latinoamericana en el siglo XXI. Buenos Aires:<br />

CLACSO, 2001.<br />

_______.<br />

GUTIÉRREZ, F.; PRADO, C. Ecopedagogia e cidadania planetária. São Paulo: Cortez, 2000.<br />

HENRY, J. G. Solid Waste. In: HEINKE. G. W. (Org.) Environmental science and engineering.<br />

2.ed. Upper Saddlle River - U.S.A.: Prentice Hall, 1996.<br />

HIGUCHI, M. I. G.; AZEVEDO, G. C. Educação como processo na construção da cidadania<br />

ambiental. Revista Brasileira <strong>de</strong> Educação Ambiental, n.0, p.63-70, 2004.<br />

JACOBI, P. Educar para a Sustentabilida<strong>de</strong>: complexida<strong>de</strong>, reflexivida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>safios. Revista<br />

Educação e Pesquisa, v.31, n.2, p. 1-31, mai/ago, 2005.<br />

LOUREIRO, C.F.B. Educar, participar e transformar em Educação ambiental. Revista Brasileira <strong>de</strong><br />

Educação Ambiental, n.0, p.13-20, 2004.<br />

MIRANDA, F. S.; MIRANDA, A. S.; GIOTTO, A. C. Educação Ambiental no Brasil -<br />

conservadora ou transformadora? In: VI Congresso Iberoamericano <strong>de</strong> Educação Ambiental, 2009,<br />

San Clemente <strong>de</strong> Tuyú. Educación Ambiental en la Gestión y Políticas Públicas, 2009.<br />

TOZONI-REIS, M. F. C.. Pesquisa-ação-participativa e a educação ambiental: uma parceria<br />

construída pela i<strong>de</strong>ntificação teórica e metodológica. In: ______. (Org.). Pesquisa-açãoparticipativa<br />

em educação ambiental: reflexões teóricas. São Paulo: Annablume, 2007.<br />

1308


DETERMINAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA ARMAZENADA EM CISTERNAS POR<br />

MEIO DE PARÂMETROS FÍSICOS, QUÍMICOS E MICROBIOLÓGICOS.<br />

RESUMO<br />

A<strong>de</strong>raldo <strong>de</strong> Souza SILVA 152<br />

Célia Maria M. <strong>de</strong> Souza SILVA (MC.SS) célia_maganhotto@yahoo.com.br<br />

André Luiz da SILVA (IFPB) andre.silvajp@gmail.com<br />

Luiza Teixeira <strong>de</strong> Lima BRITO (EMBRAPA SEMIÁRIDO) luizatlb@cpatsa.embrapa.br<br />

Este trabalho avaliou a qualida<strong>de</strong> da água para o consumo humano, armazenada em cister<strong>nas</strong><br />

localizadas em 63 comunida<strong>de</strong>s rurais pertencentes a 46 (quarenta e seis) municípios <strong>de</strong> nove<br />

Estados da região semiárida. Foram realizadas análises físicas, químicas e microbiológicas em 777<br />

amostras <strong>de</strong> água abrangendo mananciais, cister<strong>nas</strong> e reservatórios caseiros. A partir dos resultados<br />

das análises físicas e químicas foi elaborado o Índice <strong>de</strong> Uso da Água Doméstica (IUD) para<br />

monitorar a qualida<strong>de</strong> da água das cister<strong>nas</strong> e i<strong>de</strong>ntificar a sua procedência. O IUD foi calculado a<br />

partir dos valores médios dos dados obtidos com o auxílio do software Statistical Analysis System,<br />

utilizando o procedimento Factor. A análise do componente principal agrupou o conjunto <strong>de</strong><br />

variáveis pré-selecionadas em quatro indicadores: salinida<strong>de</strong>, alcalinida<strong>de</strong>, poluição da água e saú<strong>de</strong><br />

da água. Como resultado há agregação <strong>de</strong> 48 pontos amostrados com IUD elevado, 48 com IUD<br />

alto, 63 com IUD médio e 618 com IUD baixo, significando que a maioria das cister<strong>nas</strong> apresenta<br />

água <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong>. Observou-se que a maioria das cister<strong>nas</strong> (97,18 %) está localizada em<br />

territórios on<strong>de</strong> predominam as águas superficiais do tipo bicarbonatadas e cloretadas, sódicas e<br />

mistas. Dessa forma, ao se <strong>de</strong>tectar estas características físicas e químicas <strong>nas</strong> águas armazenadas<br />

<strong>nas</strong> cister<strong>nas</strong>, po<strong>de</strong>-se concluir que a mesma não é proveniente <strong>de</strong> captação <strong>de</strong> água <strong>de</strong> chuva e sim<br />

<strong>de</strong> outras fontes alternativas <strong>de</strong> abastecimento. Foi constatada a ausência <strong>de</strong> coliformes totais em<br />

79,15 % das amostras e ausência <strong>de</strong> Escherichia coli em 94,08 %, O que resulta em água <strong>de</strong> boa<br />

qualida<strong>de</strong>.<br />

Palavras chave: Índice <strong>de</strong> uso da água doméstica; água para consumo humano.<br />

ABSTRACT<br />

This study evaluated the quality of water stored in cisterns for human consumption, located in rural<br />

communities (63) of 46 (forty six) counties of nine states in the semiarid region. Thus 777 samples<br />

152 Pesquisador Orientador da Embrapa Semiárido, BR 428, Km 152, Zona Rural - Caixa Postal 23,<br />

Petrolina, PE CEP 56302-970. a<strong>de</strong>raldo@cpatsa.com.br<br />

1309


from various water sources were collected, including springs, cisterns and home ma<strong>de</strong> storage<br />

tanks. These samples were submitted to microbiological and physicochemical analyses. Total<br />

coliforms were absent in 79.15% of the samples and Escherichia coli in 94.08%. From the results of<br />

physical and chemical analysis was formulated a Domestic Water Use In<strong>de</strong>x (DWUI) to monitor the<br />

quality of water in cisterns and i<strong>de</strong>ntify its origin. The DWUI was calculated from the mean values<br />

of the data obtained with the aid of the software Statistical Analysis System, using the factor<br />

procedure. The principal component analysis grouped the pre-selected variables into four indicators:<br />

salinity, alkalinity, water pollution and water health. As a result there was an aggregate of 48 points<br />

sampled with an elevated DWUI, 48 with a high DWUI, 63 with a medium DWUI and 618 with a<br />

low DWUI, signifying that the majority of the cisterns presented good quality water. It was shown<br />

that the majority of the cisterns (97.18%) were located in terrains where surface waters of the<br />

bicarbonate and chlori<strong>de</strong>, sodium and mixed types predominated. Thus, by <strong>de</strong>tecting these physical<br />

and chemical characteristics in water stored in cisterns, we can conclu<strong>de</strong> that it does not come from<br />

capturing rain water, but other alternative sources of supply.<br />

In<strong>de</strong>x terms: Domestic Water Use In<strong>de</strong>x (DWUI), water for human consumption.<br />

INTRODUÇÃO<br />

O abastecimento <strong>de</strong> água é uma questão essencial às populações, pelos riscos que sua<br />

ausência ou seu fornecimento ina<strong>de</strong>quado po<strong>de</strong>m causar à saú<strong>de</strong>. Por exemplo, a ingestão direta <strong>de</strong><br />

água contaminada ou a preparação <strong>de</strong> alimentos e higiene pessoal utilizando água contaminada, o<br />

uso na agricultura, na higiene do ambiente, nos processos industriais e <strong>nas</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> lazer,<br />

po<strong>de</strong>m trazer graves riscos à saú<strong>de</strong> da população. Por este motivo, a universalização do<br />

abastecimento <strong>de</strong> água é a gran<strong>de</strong> meta para os países em <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

A falta <strong>de</strong> recursos hídricos afeta severamente as condições <strong>de</strong> sobrevivência dos milhões <strong>de</strong><br />

brasileiros que vivem, principalmente, <strong>nas</strong> áreas rurais do Semiárido nor<strong>de</strong>stino. A chuva representa<br />

a única fonte <strong>de</strong> água renovável da região, cujos valores normais no conjunto <strong>de</strong> 24 unida<strong>de</strong>s<br />

hidrográficas <strong>de</strong> planejamento, variam entre 640 e 1840 mm/ano, representando 1778 bilhões<br />

m 3 /ano (SUDENE/ÁRIDAS, 1994). Todavia, a previsão segura das quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> água precipitada<br />

é um problema complexo, porque <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> fatores meteorológicos situados fora da região e<br />

variam, sensivelmente, tanto no espaço como no tempo.<br />

Nesse caso, a solução encontrada foi o armazenamento da água <strong>de</strong> chuva em cister<strong>nas</strong>, que<br />

são pequenos reservatórios individuais construídos junto, em geral, às casas. A cisterna tem<br />

1310


aplicação tanto em áreas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> como <strong>de</strong> baixa pluviosida<strong>de</strong>. No meio rural são geralmente<br />

empregadas para acumular água para aten<strong>de</strong>r as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> consumo doméstico. No Brasil,<br />

como em muitos outros países, as águas das cister<strong>nas</strong> rurais são utilizadas inclusive para beber,<br />

quase sempre sem qualquer tratamento. Portanto, é <strong>de</strong> fundamental importância a segurança<br />

sanitária <strong>de</strong>ssas águas, que <strong>de</strong>vem aten<strong>de</strong>r aos padrões <strong>de</strong> portabilida<strong>de</strong>. Vários estudos que<br />

examinaram a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> águas <strong>de</strong> chuva armazenadas em cister<strong>nas</strong> concluíram que estas<br />

geralmente aten<strong>de</strong>m os padrões <strong>de</strong> portabilida<strong>de</strong> da Organização Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> para os<br />

parâmetros físico-químicos, porém frequentemente não aten<strong>de</strong>m aos padrões <strong>de</strong> portabilida<strong>de</strong> da<br />

OMS quanto aos critérios <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> microbiológica (Andra<strong>de</strong> Neto, 2012).<br />

A perda <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> e a contaminação da água <strong>de</strong> chuva ocorrem, sobretudo, na superfície<br />

<strong>de</strong> captação ou quando está armazenada <strong>de</strong> forma não protegida. Quando escoa sobre a superfície <strong>de</strong><br />

captação a água lava e carreia a sujeira acumulada no intervalo entre duas chuvas. A proteção<br />

sanitária <strong>de</strong> cister<strong>nas</strong> é relativamente simples. Basicamente requer o <strong>de</strong>svio das primeiras águas das<br />

chuvas, que lava a atmosfera e a superfície <strong>de</strong> captação e não <strong>de</strong>ve ir para a cisterna, e um manejo<br />

a<strong>de</strong>quado.<br />

Além disso, as cister<strong>nas</strong> também estão sendo utilizadas como reservatório <strong>de</strong> água trazida<br />

por carros-pipa, o que po<strong>de</strong> comprometer a qualida<strong>de</strong> da água armazenada. Algumas famílias<br />

pertencentes às comunida<strong>de</strong>s que utilizam cister<strong>nas</strong> em diversos Estados da Fe<strong>de</strong>ração informaram<br />

que estão colocando água <strong>de</strong> outras fontes quando a água da chuva acaba. É importante salientar<br />

que segundo as mesmas, a água da chuva não dura para todo o período da estiagem. Além disso, há<br />

<strong>de</strong> se consi<strong>de</strong>rar que algumas famílias estão utilizando água da cisterna para outras finalida<strong>de</strong>s,<br />

além das preconizadas como beber, cozinhar e escovar os <strong>de</strong>ntes (Brito et al., 2007; Brasil, 2006).<br />

Reconhece-se que há gran<strong>de</strong> importância em buscar o conhecimento da realida<strong>de</strong> rural,<br />

caracterizada por populações com menor acesso às medidas <strong>de</strong> saneamento e pela presença <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong>s agropecuárias altamente impactantes, po<strong>de</strong>ndo interferir na qualida<strong>de</strong> da água dos<br />

mananciais, muitos <strong>de</strong>sses utilizados no abastecimento <strong>de</strong> água. Também já é <strong>de</strong> conhecimento que<br />

a gran<strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> dos regimes hidrológicos dos rios do semiárido nor<strong>de</strong>stino advém das<br />

diferentes condições pluviométricas, das diversas características físicas e da forma da re<strong>de</strong><br />

hidrográfica, bem como <strong>de</strong> suas morfologia e vegetação.<br />

Neste trabalho objetiva-se avaliar a qualida<strong>de</strong> física, química e microbiológica das águas<br />

armazenadas em cister<strong>nas</strong> e em diferentes reservatórios e corpos <strong>de</strong> água, bem como formular um<br />

Índice <strong>de</strong> Uso da Água Doméstica (IUD) para monitorar a qualida<strong>de</strong> das águas armazenadas em<br />

cister<strong>nas</strong> e i<strong>de</strong>ntificar a sua procedência, isto é se é proveniente da água <strong>de</strong> chuva ou dos<br />

mananciais.<br />

1311


MATERIAL E MÉTODOS<br />

A pesquisa abrangeu 63 (sessenta e três) comunida<strong>de</strong>s rurais pertencentes a 46 (quarenta e<br />

seis) municípios localizados em nove Estados da região semiárida: Bahia (24,49% dos domicílios);<br />

Piauí (19,61%); Pernambuco (20,47%); Rio Gran<strong>de</strong> do Norte (11,36%), Sergipe (3,32%); Alagoas<br />

(7,98%); Ceará (6,06%) e Paraíba (4,77%). A pesquisa abrangeu 55 (cinquenta e cinco) Unida<strong>de</strong>s<br />

Geoambientais (Silva et al., 2002). Nas comunida<strong>de</strong>s selecionadas foram coletadas amostras <strong>de</strong><br />

água armazenadas em cister<strong>nas</strong>, filtros ou potes, bem como amostras <strong>de</strong> água dos mananciais<br />

utilizados como fonte alternativa <strong>de</strong> água <strong>de</strong> uso doméstico, para que fosse possível conhecer a<br />

procedência das águas utilizadas pelas famílias, isto é, se são provenientes da captação <strong>de</strong> água <strong>de</strong><br />

chuva dos telhados, das barragens, rios, açu<strong>de</strong>s, barreiros, cacimbas ou <strong>de</strong> poços tubulares<br />

(profundos) ou amazo<strong>nas</strong> (rasos).<br />

Na coleta <strong>de</strong> amostras <strong>de</strong> água, quando a fonte era superficial, como em lagos, rios, ou<br />

reservatórios (açu<strong>de</strong>s e barreiros), teve-se a precaução que estas fossem coletadas no centro do<br />

manancial e abaixo da camada superficial <strong>de</strong> água. Ao total foram coletadas 777 amostras <strong>de</strong> água,<br />

georeferênciadas, que foram engarrafadas, resfriadas e transportadas para o Laboratório <strong>de</strong><br />

Sustentabilida<strong>de</strong> Ambiental da Embrapa Semiárido e mantidas sob refrigeração, até o momento das<br />

análises físicas e químicas.<br />

Em condições <strong>de</strong> campo, as amostras foram submetidas à análises microbiológicas para a<br />

<strong>de</strong>tecção da presença ou ausência <strong>de</strong> coliformes fecais e Escherichia coli. Na realização <strong>de</strong>ssas<br />

análises foi usado o Kit <strong>de</strong> meio <strong>de</strong> cultura enriquecido (Kit Readycult – Coliforms 100), que<br />

possibilita <strong>de</strong>terminar a presença ou ausência <strong>de</strong> Coliformes Totais e/ou Escherichia coli. Este Kit é<br />

aprovado pela Agência Ambiental Americana – EPA. Após a adição das amostras ao Kit <strong>de</strong> meio <strong>de</strong><br />

cultura, essas foram transportadas e armazenadas, em laboratório, em estufa a 37 o C, por um<br />

período <strong>de</strong> 24 h. A presença <strong>de</strong> Coliformes Totais foi <strong>de</strong>tectada pela mudança <strong>de</strong> cor <strong>nas</strong> amostras<br />

(esver<strong>de</strong>ada-azulada/presença), enquanto a E. coli foi <strong>de</strong>tectada por luminescência na presença <strong>de</strong><br />

luz UV.<br />

Na <strong>de</strong>terminação das características físicas e químicas das águas foi utilizada, além das<br />

análises laboratoriais, a sonda multiparâmetros (equipamento portátil <strong>de</strong> medição <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

água - www. ysi.com), cujo terminal <strong>de</strong> leitura, po<strong>de</strong>rá ser visualizado na Figura 3. Esse<br />

equipamento permite a leitura instantânea dos seguintes parâmetros: temperatura ( o C), turbi<strong>de</strong>z<br />

(NTU), condutivida<strong>de</strong> (mS cm -1 ), sal (mg L -1 ), oxigênio dissolvido (mg L -1 ), sólidos totais<br />

dissolvidos (mg L -1 ), amônia (mg L -1 ), amônio (mg L -1 ), cloretos (mg L -1 ) e nitrato (mg L -1 ). .<br />

O Índice <strong>de</strong> Uso da Água Doméstica (IUD), <strong>de</strong>terminado para as 63 (sessenta e três)<br />

comunida<strong>de</strong>s rurais avaliadas, foi elaborado a partir dos resultados das análises físicas e químicas.<br />

1312


Para a análise estatística foram consi<strong>de</strong>rados os valores médios dos dados coletados nos 777 pontos<br />

<strong>de</strong> coleta georreferenciados. Após a plotagem dos dados, realizou-se a análise estatística com o<br />

auxílio do software SAS (Statistical Analysis System), utilizando o procedimento Factor (SAS,<br />

2002; Harman, 1976).<br />

RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

Apresenta-se na Tabela 1 os valores alcançados para as cargas fatoriais rotacionadas pelo<br />

método Varimax, as estimativas finais das comunalida<strong>de</strong>s, e as percentagens explicadas da<br />

variância total relativa a cada fator e acumulada para dois, três e quatro fatores, para os 777<br />

(setecentos e setenta e sete) pontos <strong>de</strong> água avaliados. As cargas fatoriais são os coeficientes <strong>de</strong><br />

correlação entre cada uma das variáveis e os respectivos fatores. As comunalida<strong>de</strong>s fornecem a<br />

proporção da variância <strong>de</strong> cada variável que é explicada pelo número <strong>de</strong> fatores consi<strong>de</strong>rados<br />

a<strong>de</strong>quados na análise.<br />

Verifica-se pelas comunalida<strong>de</strong>s finais, que as variáveis mais explicadas foram sólidos<br />

(sólidos totais dissolvidos) e salinida<strong>de</strong> (teor <strong>de</strong> sais dissolvidos).<br />

Tabela 1. Cargas Fatoriais para os resultados obtidos, pelo método Varimax, com a rotação<br />

ortogonal dos fatores principais das variáveis físico-químicas das águas <strong>de</strong> beber,<br />

provenientes das regiões <strong>de</strong> amostragem.<br />

Procedimento fatorial - Método Varimax rotacionado<br />

Variáveis Fator 1 Fator 2 Fator 3 Fator 4<br />

Sólidos 0.993 0.042 0.022 0.030<br />

Salinida<strong>de</strong> 0.992 0.043 0.026 0.031<br />

Cloretos 0.124 0.796 0.087 -0.026<br />

pH -0.176 0.771 0.220 -0.055<br />

Óxido 0.165 0.575 -0.290 0.194<br />

Amônia 0.063 0.101 0.941 -0.029<br />

Oxigênio 0.035 0.023 -0.038 0.987<br />

Sólidos – parâmetro <strong>de</strong> sólidos totais dissolvidos na água coletada<br />

Salinida<strong>de</strong> - teor <strong>de</strong> sais dissolvidos; mg L -1<br />

Cloretos – teor <strong>de</strong> cloreto, em mg L -1<br />

pH – potencial hidrogênio iônico<br />

Óxido – potencial <strong>de</strong> óxido redução, mg L -1<br />

Amônia – teor <strong>de</strong> amônia (Íon amônia) presente na água coletada, mg L -1<br />

Oxigênio - teor <strong>de</strong> oxigênio dissolvido, mg L -1<br />

A análise do componente principal discriminada na Tabela 1 agrupou <strong>de</strong> maneira satisfatória<br />

o conjunto <strong>de</strong> variáveis pré-selecionadas. A análise <strong>de</strong> agrupamento possibilitou a construção <strong>de</strong><br />

quatro indicadores, os quais são discriminados a continuação:<br />

1313


Indicador 1 - SALINIDADE – Os parâmetros <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> água para este indicador foram<br />

relacionados a duas variáveis: sólidos e salinida<strong>de</strong>. Este indicador representou 79,54% do total <strong>de</strong><br />

amostras analisadas e foi classificado com um IUD entre 0, 0003 e 0, 1926 para um escore que<br />

variou entre 0,03% e 19,26%. Por este motivo, em função <strong>de</strong> suas características físicas e químicas<br />

foi avaliado como sem restrições ao uso pelas famílias suarias <strong>de</strong> cister<strong>nas</strong> e se representou o Índice<br />

<strong>de</strong> Uso da Água Doméstica - IUD com a cor azul (Figura 1).<br />

Indicador 2 - ALCALINIDADE – Foi interpretado como um fator <strong>de</strong> alcalinida<strong>de</strong>, em função da<br />

variável pH se encontrar associada as variáveis Cloretos, pH e ORP (potencial <strong>de</strong> óxido redução).<br />

Este esteve presente em 48 (quarenta e oito) pontos <strong>de</strong> amostragem, totalizando 6,18% das amostras<br />

analisadas, sendo consi<strong>de</strong>rado na análise como o grupo <strong>de</strong> amostras <strong>de</strong> água <strong>de</strong> uso doméstico com<br />

restrição mo<strong>de</strong>rada, com amplitu<strong>de</strong> do IUD entre 0,1933 e 0,2319 para um escore que variou entre<br />

19,33% e 23,19%, tendo sido interpretado como <strong>de</strong> Médio risco. Foi-lhe atribuída a cor ―ver<strong>de</strong>‖<br />

Mapa da hidroquímica dos mananciais <strong>de</strong> superfície (Figura 1).<br />

Figura 1. Classificação dos tipos <strong>de</strong> água em função da hidroquímica dos mananciais <strong>de</strong> superfície e<br />

subterrâneos no Semiárido Brasileiro, adaptada pela Embrapa Semiárido <strong>de</strong> estudos<br />

realizados pelo IBGE.·.<br />

Indicador 3 - POLUIÇÃO DA ÁGUA – Foi interpretado como um indicador responsável pela<br />

poluição da água <strong>de</strong>vido a presença da variável Amônia (Íon amônia) que é outra forma inorgânica<br />

do nitrogênio. Este indicador representou 8,11% <strong>de</strong> todas as amostras pesquisadas, sendo<br />

classificado com um IUD entre 0,2329 e 0,2768 para um escore que variou entre 23,29% e 27,68%.<br />

Este indicador permitiu convencionar o Grupo 3 com a cor ―amarela‖, no Mapa da hidroquímica<br />

dos mananciais <strong>de</strong> superfície (Figura 1).<br />

1314


Indicador 4 - SAÚDE DA ÁGUA – Interpretou-se como o parâmetro responsável pela saú<strong>de</strong> da<br />

água em função da presença da variável oxigênio dissolvido (OD). Esse parâmetro é consi<strong>de</strong>rado<br />

um indicador básico da saú<strong>de</strong> do ecossistema e sua análise me<strong>de</strong> a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> oxigênio (O2)<br />

dissolvido em soluções aquosas, cuja concentração varia com a temperatura, salinida<strong>de</strong>, ativida<strong>de</strong><br />

biológica e a taxa <strong>de</strong> transferência <strong>de</strong> O2 da atmosfera. O estado <strong>de</strong> equilíbrio constitui a saturação,<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> pressão e temperatura. Devido às interferências naturais e antropogênicas, as<br />

concentrações <strong>de</strong> oxigênio diferem <strong>de</strong>ste equilíbrio.<br />

O a<strong>de</strong>quado OD é necessário para uma boa qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> água. Os processos <strong>de</strong> purificação <strong>de</strong> um<br />

fluxo <strong>de</strong> água requerem níveis a<strong>de</strong>quados <strong>de</strong> oxigênio para permitir formas <strong>de</strong> vida aeróbicas.<br />

Quando os níveis <strong>de</strong> oxigênio na água caem abaixo <strong>de</strong> 5 mg L -1 <strong>de</strong> água, a vida aquática fica sob<br />

estresse e é letal para muitos organismos em níveis menores do que 3 mg L -1 . Também as<br />

concentrações muito baixas <strong>de</strong> OD po<strong>de</strong>m como resultado, mobilizar concentrações ínfimas (traços)<br />

<strong>de</strong> metais.<br />

O indicador 4 representou 6,69% da qualida<strong>de</strong> das águas pesquisadas no âmbito dos mananciais e<br />

dos domicílios rurais pesquisados. Este foi classificado com um IUD entre 0,2781 e 0,3367 para um<br />

escore <strong>de</strong> 27,81% e 33,67%, consi<strong>de</strong>rado como <strong>de</strong> risco Elevado para a saú<strong>de</strong>, se consumida sem<br />

tratamento e lhe foi atribuída a cor ―vermelha‖, no Mapa da hidroquímica dos mananciais <strong>de</strong><br />

superfície (Figura 1).<br />

Procedência da água das cister<strong>nas</strong><br />

Os tipos <strong>de</strong> água das fontes alternativas <strong>de</strong> uso doméstico, utilizadas pelas famílias<br />

beneficiárias do Programa cister<strong>nas</strong>, po<strong>de</strong>m ser mapeadas por bacia hidrográfica. Na Figura 1 po<strong>de</strong><br />

ser observado o tipo <strong>de</strong> água superficial e subterrânea que ocorre em cada território. Acredita-se que<br />

esta informação seja primordial na <strong>de</strong>tecção da procedência das águas domésticas, quando estas não<br />

forem provenientes da captação <strong>de</strong> água <strong>de</strong> chuva. Os tipos <strong>de</strong> água das fontes alternativas<br />

dominantes (cloretadas-mistas, bicarbonatadas-cálcicas, cloretadas-sódicas, etc.) estão<br />

representados por diferentes cores. Salienta-se que os tipos <strong>de</strong> água ocorrem quase sempre em<br />

setores coinci<strong>de</strong>ntes com as zo<strong>nas</strong> <strong>de</strong> menor precipitação e quase sempre associadas às rochas<br />

cristali<strong>nas</strong>.<br />

Observou-se que a maioria das cister<strong>nas</strong> (97,18 %) está localizada em territórios on<strong>de</strong> predominam<br />

as águas superficiais do tipo bicarbonatadas e cloretadas, sódicas e mistas (Figura 1). Dessa forma,<br />

ao se <strong>de</strong>tectar estas características físicas e químicas <strong>nas</strong> águas armazenadas <strong>nas</strong> cister<strong>nas</strong>, po<strong>de</strong>-se<br />

concluir que a mesma não é proveniente <strong>de</strong> captação <strong>de</strong> água <strong>de</strong> chuva e sim <strong>de</strong> outras fontes<br />

alternativas <strong>de</strong> abastecimento.<br />

1315


Análises microbiologicas<br />

A Tabela 2 apresenta os resultados em relação aos parâmetros microbiológicos das águas<br />

provenientes <strong>de</strong> fontes alternativas, da própria cisterna e dos recepientes caseiros (potes e filtros),<br />

no âmbito dos domicílios e da comunida<strong>de</strong>, coletados em 777 (setecentos e setenta e sete) pontos <strong>de</strong><br />

amostragem.<br />

Tabela 2: Distribuição <strong>de</strong> amostras quanto à presença ou ausência <strong>de</strong> coliformes totais e Escherichia<br />

coli e potabilida<strong>de</strong><br />

Análises<br />

Amostras<br />

(n o. )<br />

Percentagem<br />

(%)<br />

Coliformes Totais<br />

Ausente 615 79,15<br />

Presente 162 20,85<br />

Escherichia coli<br />

Ausente 731 94,08<br />

Presente 46 5,92<br />

Potabilida<strong>de</strong><br />

Não-Potável (provável) 176 22,65<br />

Potável (provável) 597 76,83<br />

Sem informação 4 0,51<br />

Observa-se que 79 % das amostras coletadas apresentam ausência <strong>de</strong> coliformes fecais e<br />

94% ausência <strong>de</strong> Escherichia coli. Isso indica que essas águas po<strong>de</strong>m ser consumidas pelas famílias<br />

pois, no Brasil, a Portaria 518/2004 do Ministério da Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>fine os padrões <strong>de</strong> potabilida<strong>de</strong> da<br />

água com base <strong>nas</strong> exigências da OMS (Organização Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>). De acordo com a Portaria<br />

518/2004, os padrões que <strong>de</strong>terminam se uma água é potável ou não (Brasil, 2006), estão <strong>de</strong>scritos<br />

na Tabela 3.<br />

Tabela 3. Padrão <strong>de</strong> potabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> água adotado pelo Ministério da Saú<strong>de</strong><br />

Parâmetros Valor Máximo Permitido<br />

Água para consumo humano<br />

Coliformes totais Ausência em 100 mL<br />

Escherichia coli ou coliformes termotolerantes Ausência em 100 mL<br />

Nas cister<strong>nas</strong> restantes, que apresentaram contaminação microbiológica, é necessário<br />

investigar o motivo, pois tanto po<strong>de</strong> ser pelo manejo ina<strong>de</strong>quado, quanto pela utilização <strong>de</strong> outras<br />

fontes alternativas <strong>de</strong> água para o preenchimento das mesmas. No entanto, consi<strong>de</strong>rando os<br />

1316


esultados das análises físicas e químicas nos mesmos pontos <strong>de</strong> amostragem, é possível <strong>de</strong>duzir<br />

que a utilização <strong>de</strong> fontes alternativas foi o principal motivo.<br />

REFERENCIAS<br />

ANDRADE NETO, C.O <strong>de</strong>. Proteção sanitária das cister<strong>nas</strong> rurais. XI SILUBESA Simpósio<br />

Luso-Brasileiro <strong>de</strong> Engenharia Sanitária e Ambiental. XI SILUBESA Simp ósio Luso-<br />

Brasileiro <strong>de</strong> Engenharia Sanitária e Ambiental. 7 pp. Disponível em<<br />

http://www.abcmac.org.br/files/simposio/4simp_cicero_segurancasanitaria sdaagua<strong>de</strong>c<br />

isterna.pdf> Acesso em 17/03/2012.<br />

BRASIL. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Secretaria <strong>de</strong> Vigilância em Saú<strong>de</strong>. Manual <strong>de</strong> procedimentos <strong>de</strong><br />

vigilância em saú<strong>de</strong> ambiental relacionada à qualida<strong>de</strong> da água para consumo humano /<br />

Ministério da Saú<strong>de</strong>, Secretaria <strong>de</strong> Vigilância em Saú<strong>de</strong>. – Brasília : Ministério da Saú<strong>de</strong>, 2006. 284<br />

p. – (Série A. Normas e Manuais Técnicos).<br />

BRASIL. Tribunal <strong>de</strong> Contas da União. Avaliação da Ação Construção <strong>de</strong> Cister<strong>nas</strong> para<br />

Armazenamento <strong>de</strong> Água /Tribunal <strong>de</strong> Contas da União; Relator Ministro Guilherme Palmeira. –<br />

Brasília : TCU, Secretaria <strong>de</strong> Fiscalização e Avaliação <strong>de</strong> Programas <strong>de</strong> Governo, 2006. 44 p. : il.<br />

color.– (Sumários Executivos. Nova Série; 11).<br />

BRITO, L.T. DE; SILVA, A. DE S.; D´ALVA. O.A. Avaliação Técnica do Programa Cister<strong>nas</strong> no<br />

Semi-árido Brasileiro. In.: BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.<br />

Avaliação <strong>de</strong> políticas e programas do MDS: resultados: <strong>Segurança</strong> Alimentar e Nutricional. /<br />

Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Secretaria <strong>de</strong> Avaliação e Gestão da<br />

Informação.-- Brasília, DF: MDS; SAGI, 2007. 412 p ; (Avaliação <strong>de</strong> políticas e programas do<br />

MDS: resultados; v. 1).<br />

HARMAN, H.H. Mo<strong>de</strong>rn factor analysis. Chicago: University of Chicago Press, 1976. 487p.<br />

SAS Institute Inc., SAS/STAT. User‘s gui<strong>de</strong>, version 8, ed. Cary: SAS Institute Inc., 2002. p. 943.<br />

SILVA, F.B.R.; RICHÉ, G.R.; TONNEAU, J.P.; SOUZA NETO, N.C. DE; BRITO, L.T.L.;<br />

CORREIA, R.C.; CAVALCANTI, A.C.; SILVA, F.H.B.B. DA; SILVA, A.B. DA; ARAÚJO<br />

FILHO, J.C. DE; LEITE, A.P. Zoneamento Agroecológico do Nor<strong>de</strong>ste: diagnóstico e prognóstico.<br />

Recife: Embrapa Solos Escritório Regional <strong>de</strong> Pesquisa e Desenvolvimento Nor<strong>de</strong>ste ERP/NE;<br />

Petrolina: Embrapa Semiárido, 2000. (Embrapa Solos, Documentos, 14). em CD ROM.<br />

SUDENE/ÁRIDAS. Recursos Hídricos do Nor<strong>de</strong>ste Semi-Árido, RH/SEPLAN/PR, Brasília, 1994.<br />

1317


PROPOSTA METODOLÓGICA DE GESTÃO AMBIENTAL EM AMBIENTES ACADÊMICOS<br />

Resumo<br />

Rodrigo Cândido Passos da SILVA (DTR/UFRPE) - rodrigo.candido.passos@hotmail.com,<br />

Graduando em Engenharia Agrícola e Ambiental e Pesquisador do Gampe<br />

Anna Carolina Faustino Xavier da SILVA (DB/UFRPE) - acfxs.carol@gmail.com,<br />

Graduanda em Licenciatura em Ciências Biológicas e Pesquisadora do Gampe<br />

Gabriela Valones Rodrigues <strong>de</strong> ARAÚJO (DTR/UFRPE) – gabivalones@gmail.com<br />

Graduanda <strong>de</strong> Engenharia Agrícola e Ambiental e Pesquisadora do Gampe<br />

Diogo Henrique Fernan<strong>de</strong>s da PAZ (DTR/UFRPE) – diogo.henriquepaz@gmail.com<br />

Graduando <strong>de</strong> Engenharia Agrícola e Ambiental e Pesquisador do Gampe<br />

A preocupação com o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável e ações <strong>de</strong> gestão ambiental vem ganhando<br />

espaço crescente em ambientes acadêmicos. Isso tem se revelado, a partir da abordagem<br />

educacional, na preparação <strong>de</strong> estudantes e colaboradores da instituição o fornecimento <strong>de</strong><br />

informações e conhecimento sobre gestão ambiental. A proposta <strong>de</strong> uma sistematização <strong>de</strong><br />

procedimentos, consi<strong>de</strong>rando um mo<strong>de</strong>lo para a implantação <strong>de</strong> um Sistema <strong>de</strong> Gestão Ambiental<br />

(SGA), <strong>de</strong>ve ser adaptada às universida<strong>de</strong>s, e permitir a estas o controle dos impactos ambientais e a<br />

a<strong>de</strong>quação à legislação. Essa situação revela a preocupação crescente em relação à adaptação das<br />

universida<strong>de</strong>s em busca <strong>de</strong> um <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, não somente no aspecto do ensino,<br />

mas também <strong>nas</strong> práticas <strong>de</strong> pesquisa e extensão. A proposta <strong>de</strong> gestão ambiental apresentada neste<br />

trabalho vem sendo <strong>de</strong>senvolvida pelo Grupo <strong>de</strong> Gestão Ambiental em Pernambuco (GAMPE) na<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Rural <strong>de</strong> Pernambuco (UFRPE).<br />

Palavras-chave: Universida<strong>de</strong>s; Gestão Ambiental; Desenvolvimento Sustentável.<br />

Abstract<br />

The concern with sustainable <strong>de</strong>velopment and environmental management actions is gaining<br />

increasing space in aca<strong>de</strong>mic environments. It has been revealed from the educational approach in<br />

5,6 Orientadores: Soraya Giovanetti EL-DEIR, Coor<strong>de</strong>nadora do Gampe, Professora Adjunta da UFRPE; Fernando<br />

Joaquim Ferreira MAIA, Pesquisador do Gampe, Professor Adjunto da UFRPE.<br />

preparing stu<strong>de</strong>nts and employees of the institution to provi<strong>de</strong> information and knowledge about<br />

environmental management. The proposal of a systematic procedure for consi<strong>de</strong>ring a mo<strong>de</strong>l for the<br />

1318


implementation of an Environmental Management System (EMS), must be adapted to the<br />

universities, and enable them to control the environmental impacts and compliance with legislation.<br />

This situation reveals the growing concern regarding the adaptation of universities in pursuit of<br />

sustainable <strong>de</strong>velopment, not only in the aspect of education, but also in practice research and<br />

extension. The proposed environmental management presented in this paper has been <strong>de</strong>veloped by<br />

the Environmental Management Group in Pernambuco (Gampe) at Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Rural <strong>de</strong><br />

Pernambuco (UFRPE).<br />

Keywords: Universities; Environmental Management; Sustainable Development.<br />

Introdução<br />

A gestão ambiental vem ganhando um espaço crescente no meio empresarial. O<br />

<strong>de</strong>senvolvimento da consciência ecológica em diferentes camadas e setores da socieda<strong>de</strong> mundial<br />

acaba por envolver também o setor da educação, a exemplo das Instituições <strong>de</strong> Ensino Superior<br />

(IES) (TAUCHEN & BRANDLI, 2006). No entanto, ainda são poucas as práticas observadas <strong>nas</strong><br />

IES, as quais têm o papel <strong>de</strong> qualificar e formar cidadãos-profissionais críticos e responsáveis com<br />

o futuro.<br />

De acordo com Tauchen & Brandli (2006), existem duas correntes <strong>de</strong> pensamento principais<br />

referentes ao papel das IES no tocante ao <strong>de</strong>senvolvimento sustentável. A primeira <strong>de</strong>staca a<br />

questão educacional como uma prática fundamental para que as IES, pela formação, possam<br />

contribuir na qualificação <strong>de</strong> seus egressos, futuros tomadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão, para que incluam em suas<br />

práticas profissionais a preocupação com as questões ambientais. A segunda corrente <strong>de</strong>staca a<br />

postura <strong>de</strong> algumas IES na implementação <strong>de</strong> SGAs em seus campi universitários, como mo<strong>de</strong>los e<br />

exemplos práticos <strong>de</strong> gestão sustentável para a socieda<strong>de</strong>.<br />

Tauchen et al. (2005), enfatizam que o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável procura <strong>nas</strong> IES um<br />

agente especialmente equipado para li<strong>de</strong>rar o caminho. A missão das IES são o ensino e a formação<br />

dos tomadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão do futuro – ou dos cidadãos mais capacitados para a tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão.<br />

Essas instituições possuem experiência na investigação interdisciplinar e, por serem promotores do<br />

conhecimento, acabam assumindo um papel essencial na construção <strong>de</strong> um projeto <strong>de</strong><br />

sustentabilida<strong>de</strong>.<br />

Isso vem ao encontro <strong>de</strong> Fouto (2002) que, ao discutir o papel do Ensino Superior no<br />

<strong>de</strong>senvolvimento sustentável, apresenta a visão da Universida<strong>de</strong> Politécnica da Catalunha, sob a<br />

forma <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo (Figura 1). O mo<strong>de</strong>lo apresentado por Fouto aponta quatro níveis <strong>de</strong><br />

intervenção para as IES: (I) Educação dos tomadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão para um futuro sustentável; (II)<br />

1319


Investigação <strong>de</strong> soluções, paradigmas e valores que sirvam uma socieda<strong>de</strong> sustentável; (III)<br />

Operação dos campi universitários como mo<strong>de</strong>los e exemplos práticos <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> à escala<br />

local; e (IV) Coor<strong>de</strong>nação e comunicação entre os níveis anteriores e entre estes e a socieda<strong>de</strong>.<br />

Figura 01 – O papel das universida<strong>de</strong>s na socieda<strong>de</strong>, relativo ao <strong>de</strong>senvolvimento sustentável<br />

Promover a educação, a consciência pública e reorientar a educação para o Desenvolvimento<br />

Sustentável são idéias que constam nos artigos da Rio/92, nos quais se <strong>de</strong>staca a importância <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>terminar a integração dos conceitos <strong>de</strong> ambiente e o <strong>de</strong>senvolvimento em todos os programas <strong>de</strong><br />

educação, em particular, a análise das causas dos problemas que lhes estão associados num contexto<br />

local, como um objetivo específico (AGENDA 21, 1992).<br />

Existem razões significativas para implantar um Sistema <strong>de</strong> Gestão Ambiental (SGA) numa<br />

Instituição <strong>de</strong> Ensino Superior, entre elas o fato <strong>de</strong> que as faculda<strong>de</strong>s e universida<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m ser<br />

comparadas com pequenos núcleos urbanos, envolvendo diversas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensino, pesquisa e<br />

extensão. No tocante ao que cerne, o SGA é <strong>de</strong>finido pela NBR 14004 (1996), como um sistema <strong>de</strong><br />

gestão global que inclui estrutura organizacional, ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> planejamento, responsabilida<strong>de</strong>s,<br />

práticas, procedimentos, processos e recursos para <strong>de</strong>senvolver, implementar, atingir, analisar<br />

criticamente e manter a política ambiental e para gerenciar seus aspectos ambientais.<br />

Segundo Rodrigues et.al (2007), as universida<strong>de</strong>s brasileiras ainda encontram inúmeros<br />

obstáculos para incorporar a gestão ambiental à formação <strong>de</strong> recursos humanos, <strong>de</strong>vido a fatores,<br />

como: abordagem da questão ambiental <strong>de</strong> forma setorial e multidisciplinar e estudos <strong>de</strong> caráter<br />

técnico, em <strong>de</strong>trimento dos aspectos epistemológicos e metodológicos. Desta forma, o presente<br />

artigo propen<strong>de</strong> mostrar uma proposta metodológica <strong>de</strong> gestão ambiental em espaços acadêmicos<br />

(universida<strong>de</strong>s e faculda<strong>de</strong>s) na perspectiva do tripé acadêmico, ensino, pesquisa e extensão, a partir<br />

das ações <strong>de</strong>senvolvidas pelo grupo pesquisa <strong>de</strong> Gestão Ambiental em Pernambuco (GAMPE) da<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Rural <strong>de</strong> Pernambuco (UFRPE).<br />

1320


Material e Método<br />

Generalida<strong>de</strong>s<br />

O presente artigo foi <strong>de</strong>senvolvido a partir <strong>de</strong> dados primários, referentes às experiências das<br />

ações e ativida<strong>de</strong>s do Gampe na UFRPE, secundários e levantamento bibliográfico quanto à questão<br />

da gestão ambiental em espaços acadêmicos. A partir do suporte teórico foi possível <strong>de</strong>senhar um<br />

mo<strong>de</strong>lo metodológico <strong>de</strong> gestão ambiental passível a ser implantado em centros acadêmicos.<br />

Grupo <strong>de</strong> Gestão Ambiental em Pernambuco (GAMPE)<br />

O Grupo Gestão Ambiental em Pernambuco (Gampe) é um grupo <strong>de</strong> pesquisa voltado para<br />

o estudo e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> propostas para a gestão ambiental no Estado <strong>de</strong> Pernambuco. Em<br />

sua filosofia, o Gampe enten<strong>de</strong> que é possível contribuir para o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável em<br />

Pernambuco através <strong>de</strong> iniciativas <strong>de</strong> gestão ambiental voltadas para os diversos setores da<br />

socieda<strong>de</strong>, como: micro e peque<strong>nas</strong> empresas, comunida<strong>de</strong>s tradicionais, escolas e setor público e<br />

privado, <strong>de</strong> uma maneira geral.<br />

Surgiu em junho <strong>de</strong> 2009, tendo sido agraciado no mesmo ano com o Prêmio Von Martius<br />

<strong>de</strong> Sustentabilida<strong>de</strong> 2009, na categoria Humanida<strong>de</strong>, como Honra ao Mérito, da Câmara <strong>de</strong><br />

Comércio Brasil/Alemanha, pelo conjunto <strong>de</strong> projetos em <strong>de</strong>senvolvimento e pela sua forma <strong>de</strong><br />

atuação. Em 2012, foi premiado pelo Prêmio Benchmarking pelas ações <strong>de</strong> caráter ambiental que<br />

vem sendo realizadas. Faz parte do Departamento <strong>de</strong> Tecnologia Rural (DTR) da Universida<strong>de</strong><br />

Fe<strong>de</strong>ral Rural <strong>de</strong> Pernambuco (UFRPE), sendo formada por uma equipe multidisciplinar <strong>de</strong> aluno e<br />

professores da UFRPE, em associação com colaboradores externos e parceiros institucionais, <strong>de</strong><br />

diversas áreas do conhecimento como: Biologia, Economia, Engenharia Agrícola e Ambiental,<br />

Engenharia Química, Gastronomia, Gestão Ambiental, Turismo.<br />

Resultados e Discussão<br />

A proposta <strong>de</strong> implantar um sistema <strong>de</strong> gestão ambiental na universida<strong>de</strong> fundamenta-se na<br />

Agenda 21, a qual estabelece que as instituições <strong>de</strong> ensino universitário tenham responsabilida<strong>de</strong>s<br />

diversas no que se refere à formação <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> sustentável. Entretanto, para se implantar<br />

um sistema <strong>de</strong> gestão ambiental em uma universida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ve-se ter em mente que ela é uma<br />

organização altamente complexa, <strong>de</strong>vido à diversificação <strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s, ao meio social<br />

heterogêneo que incorpora e ao mo<strong>de</strong>lo estrutural que utiliza.<br />

De acordo com Tauchen & Brandli (2006), o levantamento dos requisitos legais e aspectos<br />

ambientais <strong>de</strong>verá influenciar a <strong>de</strong>finição da Política Ambiental <strong>de</strong> um Campus. Depois <strong>de</strong><br />

1321


i<strong>de</strong>ntificados os aspectos ambientais, po<strong>de</strong> ser aplicado o ciclo do PDCA. Com a i<strong>de</strong>ntificação dos<br />

aspectos ambientais da ativida<strong>de</strong> exercida pela IES e a criação da política ambiental, po<strong>de</strong>-se avaliar<br />

e <strong>de</strong>terminar quem será responsável por cada etapa do processo, quais as mudanças físicas<br />

necessárias, e, principalmente, qual a receita disponível para investir nesse projeto <strong>de</strong> melhoria.<br />

Após a execução do proposto, segue-se com o monitoramento das etapas produtivas, buscando<br />

corrigir falhas que possam existir e minimizar possíveis problemas que não condizem com o<br />

objetivo do SGA.<br />

O ciclo PDCA po<strong>de</strong> ser brevemente <strong>de</strong>scrito da seguinte forma, conforme Tauchen e Brandli<br />

(2006): Planejar (PLAN): envolve o estabelecimento dos objetivos e processos necessários para<br />

atingir os resultados, <strong>de</strong> acordo com a política ambiental da organização; Executar (DO): envolve a<br />

implementação dos processos; Verificar (CHECK): envolve o monitoramento e medição dos<br />

processos em conformida<strong>de</strong> com a política ambiental, objetivos, metas, requisitos legais e outros, e<br />

relatar os resultados; Agir (ACTION): envolve a execução <strong>de</strong> ações para melhorar continuamente o<br />

<strong>de</strong>sempenho do sistema da gestão ambiental.<br />

extensão.<br />

I - ENSINO<br />

O mo<strong>de</strong>lo apresentado a seguir está esquematizado no tripé acadêmico: ensino, pesquisa e<br />

Grupos <strong>de</strong> Estudo<br />

São grupos estruturados com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estudar eixos temáticos diversos. As linhas<br />

temáticas estudadas pelo Gampe são: Saneamento ambiental, resíduos sólidos, agroecologia, gestão<br />

ambiental empresarial, economia ver<strong>de</strong>, educação ambiental e direito ambiental. O grupo <strong>de</strong> estudo<br />

proporciona uma imersão do aluno no tema e a elaboração <strong>de</strong> projetos e artigos científicos.<br />

Educação Ambiental Universitária<br />

A educação ambiental é o processo on<strong>de</strong> o indivíduo e a coletivida<strong>de</strong> constroem valores<br />

sociais, conhecimentos, atitu<strong>de</strong>s e competências voltadas para conservação do meio ambiente. Sua<br />

importância resi<strong>de</strong> na base <strong>de</strong> eficiência das ações <strong>de</strong> gestão ambiental através da alteração <strong>de</strong><br />

comportamentos e elevação da consciência ambiental. Trata-se, portanto, <strong>de</strong> um elemento central e<br />

imprescindível ao <strong>de</strong>senvolvimento sustentável.<br />

Há basicamente duas vias para se promover a educação ambiental: i) formal (<strong>de</strong>senvolvida<br />

nos espaços formais <strong>de</strong> ensino, como escolas e universida<strong>de</strong>s) e ii) informal (praticada fora dos<br />

estabelecimentos <strong>de</strong> ensino formal como igrejas, organizações não governamentais e outros).<br />

1322


No que se refere à educação ambiental formal, o grupo atua através da elaboração <strong>de</strong><br />

Calendário Ecológico; <strong>de</strong> eventos Uniculturais (ativida<strong>de</strong>s realizadas <strong>de</strong>ntro da universida<strong>de</strong> que<br />

proporciona a interação do aluno com temáticas voltadas às questões ambientais, estas serão<br />

<strong>de</strong>senvolvidas através <strong>de</strong> cinemas, palestras, <strong>de</strong>bates, ginca<strong>nas</strong>, minisursos). Quanto à educação<br />

ambiental informal, o grupo atua através da elaboração <strong>de</strong> cartilhas com preceitos ambientais<br />

voltadas para os estudantes da instituição.<br />

Empo<strong>de</strong>ramento <strong>de</strong> Li<strong>de</strong>ranças Estudantis Universitária<br />

A palavra empo<strong>de</strong>ramento foi uma das expressões ricamente <strong>de</strong>finidas por Paulo Freire,<br />

embora a palavra ―empowerment” já existisse na língua inglesa significando ―dar po<strong>de</strong>r‖ a alguém<br />

para realizar uma tarefa sem precisar <strong>de</strong> permissão <strong>de</strong> outras pessoas, o conceito <strong>de</strong> Empo<strong>de</strong>ramento<br />

em Paulo Freire segue uma lógica diferente. Para o educador, a pessoa, grupo ou instituição<br />

empo<strong>de</strong>rada é aquela que realiza, por si mesma, as mudanças e ações que a levam a evoluir e se<br />

fortalecer. Empo<strong>de</strong>ramento implica conquista, avanço e superação por parte daquele que se<br />

empo<strong>de</strong>ra (sujeito ativo do processo), e não uma simples doação ou transferência por benevolência<br />

como <strong>de</strong>nota o termo em inglês ―empowerment‖, que transforma o sujeito em objeto passivo<br />

(SCHIAVO & MOREIRA, 2005).<br />

Empo<strong>de</strong>ramento, portanto, difere das simples construção <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s e competências,<br />

saber comumente associado à escola formal. A educação pelo empo<strong>de</strong>ramento difere do<br />

conhecimento formal tanto pela sua ênfase nos grupos (mais do que indivíduos), quanto pelo seu<br />

foco na transformação cultural (mais do que na adaptação social).<br />

É nesse contexto que o empo<strong>de</strong>ramento <strong>de</strong> li<strong>de</strong>ranças estudantis <strong>de</strong>ntro dos espaços<br />

acadêmicos terá uma gran<strong>de</strong> importância, pois conduzirá o estudante à um processo contínuo <strong>de</strong><br />

evolução pessoal, mas principalmente profissional, levando-os a serem lí<strong>de</strong>res <strong>de</strong> situações, a<br />

tomarem <strong>de</strong>cisões conscientes e construtivas, a trabalhar em equipe, através <strong>de</strong> reuniões dialógicas,<br />

e a enxergarem a sua vida profissional como um ramo <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s a serem almejadas. O<br />

estudante participará <strong>de</strong> organização <strong>de</strong> eventos como, por exemplo: palestras, seminários,<br />

congressos lançamentos <strong>de</strong> livros, mini cursos e cursos <strong>de</strong> extensão; escrita <strong>de</strong> capítulo <strong>de</strong> livro e<br />

artigos (resumo, resumo expandido, artigos: simples, completo e em revista científica); em amostras<br />

<strong>de</strong> eventos na organização <strong>de</strong> stands e na organização <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> extensão. Todos esses<br />

mecanismos <strong>de</strong> empo<strong>de</strong>ramento estudantis trarão a prática ativida<strong>de</strong>s por eles realizadas no futuro,<br />

sendo assim, servirá como um processo <strong>de</strong> amadurecimento profissional do estudante universitário.<br />

II - PESQUISA<br />

Gestão Ambiental Universitária<br />

1323


A proposta geral do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Gestão Ambiental Universitária apresenta-se em forma <strong>de</strong><br />

ações (Figura 2) <strong>de</strong> maneira a sistematizar as ativida<strong>de</strong>s a serem realizadas <strong>de</strong> acordo com as<br />

temáticas abordadas em cada ação buscando dar um <strong>de</strong>senvolvimento lógico e continuida<strong>de</strong> do<br />

trabalho realizado.<br />

Figura 02 - Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Gestão Ambiental Universitária<br />

A outra proposta visa à análise institucional e a elaboração <strong>de</strong> uma proposta <strong>de</strong><br />

Planejamento Estratégico Ambiental (PEA) para a Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Rural <strong>de</strong> Pernambuco.<br />

Embasando subsídios para a estruturação <strong>de</strong> um <strong>de</strong>senho inicial <strong>de</strong> Gestão Ambiental e a busca <strong>de</strong><br />

cenários favoráveis para o fortalecimento da ativida<strong>de</strong> e a conservação ambiental. As ações versão<br />

as temáticas: Resíduos Sólidos, Água, Eficiência Energética e <strong>Qualida<strong>de</strong></strong> Ambiental. Buscando,<br />

<strong>de</strong>sta forma, a inserção do paradigma ambiental <strong>nas</strong> práticas neste setor, a minimização <strong>de</strong><br />

potenciais impactos ambientais e perdas processuais, a consolidação da sustentabilida<strong>de</strong>,<br />

disseminando práticas e hábitos sustentáveis.<br />

Ação I: Resíduos Sólidos<br />

A primeira ação versa sobre Resíduos Sólidos, buscando <strong>de</strong>senvolver um mo<strong>de</strong>lo integrado<br />

<strong>de</strong> gestão. Or<strong>de</strong>namento da Gestão <strong>de</strong> Resíduos Sólidos para a Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Rural <strong>de</strong><br />

Pernambuco, <strong>de</strong> forma articulada, sistêmica, integrada, baseado em dados coletados a partir da<br />

realida<strong>de</strong> existente e dos potenciais <strong>de</strong> mudança, <strong>de</strong> acordo com diretriz da gestão. A ação<br />

apresenta dois momentos distintos e subseqüentes: (i) sensibilização e diagnóstico <strong>de</strong> resíduos<br />

sólidos e (ii) implantação do projeto <strong>de</strong> gestão integrada <strong>de</strong> resíduos sólidos. Concomitantemente,<br />

se <strong>de</strong>senvolverá um diagnóstico da universida<strong>de</strong> analisando à organização no ambiente externo<br />

(oportunida<strong>de</strong>s e ameaças) e suas forças e fraquezas no ambiente interno (<strong>de</strong>ntro da organização).<br />

a) Etapa I: Sensibilização Ambiental e Diagnóstico <strong>de</strong> Resíduos Sólidos<br />

A sensibilização ambiental e o diagnóstico <strong>de</strong> resíduos sólidos são ativida<strong>de</strong>s realizadas<br />

concomitantes e paralelas. Para a sensibilização ambiental po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>senvolver ativida<strong>de</strong>s que<br />

busquem o envolvimento da universida<strong>de</strong> com o programa <strong>de</strong> Gestão Ambiental a ser implantado,<br />

bem como a alteração <strong>de</strong> práticas cotidia<strong>nas</strong>, voltando-as para uma realida<strong>de</strong> contextualizada na<br />

Educação Ambiental <strong>de</strong> todo o staff. Para tanto, ativida<strong>de</strong>s como palestra/ ofici<strong>nas</strong> são<br />

fundamentais. Para o diagnóstico <strong>de</strong> percepção será elaborado um questionário sobre aspectos<br />

1324


envolvendo a gestão <strong>de</strong> resíduos da instituição, sendo aplicado por meio <strong>de</strong> entrevista e plotados os<br />

dados para análise.<br />

No campo do diagnóstico, preten<strong>de</strong>-se realizar levantamento <strong>de</strong> informações sobre compras<br />

e <strong>de</strong>scartes da universida<strong>de</strong>. Neste sentido, será realizada ausculta dos colaboradores, <strong>de</strong>terminação<br />

do perfil <strong>de</strong> compras e estudo gravimétrico e quali-quantitativo dos <strong>de</strong>scartes da empresa, <strong>de</strong>stino<br />

final <strong>de</strong>stes e potencial impactante. Este será dividido em duas partes: ausculta e coleta <strong>de</strong> dados, e<br />

apresentação e conclusão do estudo. Na primeira parte, elabora-se um fluxograma <strong>de</strong> entrada (input)<br />

e saída (output) <strong>de</strong> materiais <strong>de</strong>ntro do campus <strong>de</strong> ensino, estando focados em: I<strong>de</strong>ntificar os inputs<br />

(compra <strong>de</strong> materiais e consumo interno); Quantificar os inputs (obter em números a representação<br />

<strong>de</strong>ste consumo); Tipificar os inputs (origem, processo <strong>de</strong> aquisição, periodicida<strong>de</strong> e qualida<strong>de</strong>,<br />

conhecimento sobre os editais e normas <strong>de</strong> compra da empresa; Tipificar os outputs (Classificação<br />

do resíduo gerado. Necessário para o dimensionamento <strong>de</strong> um possível projeto <strong>de</strong> coleta seletiva a<br />

ser implantado). O registro formal dos resultados e inventário fotográfico constituirão a fase final<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> módulo.<br />

b) Etapa II: Implantação do Projeto <strong>de</strong> Gestão Integrada <strong>de</strong> Resíduos Sólidos<br />

Os dados levantados no diagnóstico serão utilizados no planejamento estratégico buscando<br />

i<strong>de</strong>ntificar inicialmente peque<strong>nas</strong> ações que gerem movimento no sentido <strong>de</strong> implantação <strong>de</strong><br />

práticas <strong>de</strong> gestão ambiental universitária, buscando respon<strong>de</strong>r <strong>de</strong> forma crescente as <strong>de</strong>mandas<br />

i<strong>de</strong>ntificadas pelos colaboradores e priorizadas pelos estudantes.<br />

Ação II: Gestão Integrada da Água<br />

A segunda ação tem como foco a Gestão Integrada da Água, buscando <strong>de</strong>senvolver um<br />

diagnóstico da situação atual, bem como uma proposta para a melhoria <strong>de</strong>sta ativida<strong>de</strong>. Esta<br />

apresenta dois momentos distintos e subseqüentes: (i) sensibilização e diagnóstico da gestão da<br />

água e (ii) Implantação do Projeto <strong>de</strong> Gestão Integrada da Água.<br />

a) Etapa I: Sensibilização Ambiental e Diagnóstico <strong>de</strong> Gestão da Água<br />

No aspecto da educação e sensibilização ambiental, serão realizadas palestras sobre o<br />

consumo consciente da água, a responsabilida<strong>de</strong> individual na gestão <strong>de</strong>ste recurso e a importância<br />

que <strong>de</strong>ste em nossas ativida<strong>de</strong>s diárias, bem como um esclarecimento sobre o ciclo da água, a atual<br />

<strong>de</strong>manda mundial e os conflitos gerados a partir <strong>de</strong>sta.<br />

Para o diagnóstico <strong>de</strong> percepção será elaborado um questionário sobre aspectos envolvendo<br />

a Gestão da Água da Empresa, que será aplicado por meio <strong>de</strong> entrevista e plotados os dados para<br />

análise. Ao final <strong>de</strong>ste módulo será entregue o relatório <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s juntamente com a proposta <strong>de</strong><br />

manutenção e melhorias para a gestão <strong>de</strong>ste recurso.<br />

b) Etapa II: Implantação do Projeto <strong>de</strong> Gestão Integrada da Água<br />

O estudo sobre a atual situação da estrutura hidráulica dos prédios e i<strong>de</strong>ntificação dos pontos<br />

on<strong>de</strong> ocorrem <strong>de</strong>sperdícios ou falha na distribuição será implementado por meio da verificação <strong>de</strong><br />

torneiras, registros, tubulações da empresa e dados gerais sobre gastos. Estes darão base para o<br />

1325


<strong>de</strong>senvolvimento do fluxograma <strong>de</strong>s<strong>de</strong> recurso. Será necessário o levantamento do inventário<br />

fotográfico para a complementação do diagnóstico. Estes dados serão plotados nos formatos<br />

planilha, gráfico e texto para discussão com a equipe <strong>de</strong> engenharia responsável para o fechamento<br />

do relatório e a formatação da proposta para a melhoria da gestão <strong>de</strong>ste recurso pela Universida<strong>de</strong>.<br />

Ação III: Eficiência Energética<br />

O termo Eco-eficiência (EE) foi lançado em 1991 pelo WBCSD como sendo a entrega <strong>de</strong><br />

produtos e serviços a preço competitivo, que satisfaçam a necessida<strong>de</strong> humana e traga qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

vida, enquanto reduza progressivamente os impactos ecológicos e a intensida<strong>de</strong> do uso <strong>de</strong> recursos<br />

ao longo do seu ciclo <strong>de</strong> vida, a um nível pelo menos <strong>de</strong>ntro da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suporte da Terra.<br />

Logo, nota-se que a EE <strong>de</strong>safia as universida<strong>de</strong>s a obterem mais valor para produtos e serviços,<br />

reduzindo as quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> materiais, energia e emissões.<br />

O plano <strong>de</strong> ação para implantação da gestão da energia no Campus da universida<strong>de</strong> seguirá<br />

os preceitos da Eco-eficiência energética proposta por Lehni (2000), que apresenta sete elementos<br />

da EE, sendo eles: 1) reduzir a intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> materiais; 2) reduzir a intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> energia; 3)<br />

reduzir a dispersão <strong>de</strong> substancias toxicas; 4) aumentar a reciclabilida<strong>de</strong>; 5) maximizar o uso <strong>de</strong><br />

materiais renováveis; 6) prolongar a durabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produtos e 7) aumentar a intensida<strong>de</strong> dos<br />

serviços.<br />

Ação IV: <strong>Qualida<strong>de</strong></strong> Ambiental<br />

A <strong>Qualida<strong>de</strong></strong> Ambiental consiste no atendimento aos requisitos <strong>de</strong> natureza física, química,<br />

biológica, econômica e tecnológica que assegurem a estabilida<strong>de</strong> das relações ambientais no<br />

ecossistema no qual se inserem as ativida<strong>de</strong>s da instituição. No ambiente interno da instituição é<br />

necessário segurança, higiene e condições satisfatórias, para que seja assegurado o cumprimento da<br />

legislação e sejam mantidos os princípios sadios <strong>de</strong> uma política ambiental avançada.<br />

Visando garantir a salubrida<strong>de</strong> do ambiente da universida<strong>de</strong> e assegurar a qualida<strong>de</strong> do meio<br />

ambiente, serão controlados os impactos gerados pelas operações da mesma sobre o meio ambiente<br />

externo seja por meio da geração <strong>de</strong> resíduos ou pela utilização conscienciosa <strong>de</strong> matérias-primas e<br />

energia, assim como também, serão criadas roti<strong>nas</strong> para evitar a contaminação cruzada no interior<br />

do campus.<br />

III – EXTENSÃO<br />

Responsabilida<strong>de</strong> Socioambiental Universitária (RSU)<br />

1326


As ações <strong>de</strong> RSU realizadas pelo Gampe tratam <strong>de</strong> questões que perpassam o<br />

empo<strong>de</strong>ramento das comunida<strong>de</strong>s rurais, o processo <strong>de</strong> construção da ecocidadania do alunato e a<br />

essência da educação ambiental <strong>nas</strong> ativida<strong>de</strong>s realizadas. Neste sentido, reflexões teóricas<br />

basearam na praxis acadêmica no <strong>de</strong>senvolvimento dos trabalhos na comunida<strong>de</strong> rural do<br />

Município <strong>de</strong> Ibimirim, em Pernambuco.<br />

As ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> RSU realizadas na UFRPE foram estruturadas, em or<strong>de</strong>m cronológica <strong>de</strong><br />

execução, em três ações específicas (Páscoa Solidária, a Leitura Solidária e o Natal Solidário). As<br />

ações possuem características e propósitos peculiares, pautados na educação ambiental, e foram<br />

<strong>de</strong>senvolvidas por uma lógica temporal que envolveu sete etapas, como: Li<strong>de</strong>rança, Planejamento,<br />

Implantação, Arrecadação, Execução, Resultados Obtidos e Publicação das Informações (tabela 1).<br />

ETAPA DAS AÇÕES<br />

Ações Li<strong>de</strong>rança Planejamento Implantação Arrecadação Execução Avaliação Publicação<br />

Páscoa<br />

Solidária<br />

Leitura<br />

Solidária<br />

Natal<br />

Solidário<br />

fevereiro fevereiro março<br />

maio maio junho<br />

setembro Setembro outubro<br />

março/<br />

abril<br />

junho/<br />

setembro<br />

outubro/<br />

<strong>de</strong>zembro<br />

abril abril<br />

setembro setembro<br />

janeiro janeiro<br />

A partir <strong>de</strong><br />

maio<br />

A partir <strong>de</strong><br />

setembro<br />

A partir <strong>de</strong><br />

fevereiro<br />

Tabela 01 - Lógica temporal das etapas das ações <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> socioambiental universitário<br />

A escolha da li<strong>de</strong>rança é o passo inicial para a estruturação <strong>de</strong> cada ação. Nesta fase, através<br />

<strong>de</strong> conversas dialógicas, é i<strong>de</strong>ntificado um lí<strong>de</strong>r para gerenciar todas as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>adas. O<br />

segundo passo é o planejamento, o lí<strong>de</strong>r juntamente com sua equipe, traça estratégias para que a<br />

idéia do projeto assuma forma e proporção entre os alunos da universida<strong>de</strong>, ou <strong>de</strong> outras instituições<br />

e empresas. A partir <strong>de</strong> um planejamento sólido, a equipe segue para a etapa <strong>de</strong> Implantação.<br />

Nesta etapa, as idéias saem <strong>de</strong> uma realida<strong>de</strong> logística e estrutural para uma efetiva<br />

realização. A metodologia <strong>de</strong> implantação e os meios para tal divulgação são <strong>de</strong>correntes da equipe<br />

do projeto, bem como os locais, além da universida<strong>de</strong>, que participam como parceiros da ação. Na<br />

etapa <strong>de</strong> arrecadação, os objetos <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>finidos na etapa <strong>de</strong> planejamento são<br />

arrecadados no hall da universida<strong>de</strong> e instituições participantes até o final da ação. Estes são<br />

<strong>de</strong>stinados para a comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Poço da Cruz e <strong>de</strong> forma integrada, são realizadas palestras,<br />

ofici<strong>nas</strong> com os moradores à respeito <strong>de</strong> temáticas como: segurança alimentar, qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida,<br />

meio ambiente, uso sustentável dos recursos naturais e a importância da educação ambiental e da<br />

leitura no âmbito interno, relacionado ao seu crescimento pessoal, e externo voltado para o<br />

crescimento econômico e proteção ambiental. Caracterizando assim a fase <strong>de</strong> execução do projeto.<br />

1327


A penúltima etapa da ação consiste na contabilização e avaliação dos resultados obtidos. Os<br />

pontos analisados são: número <strong>de</strong> participantes envolvidos, repercussão positiva ou negativa no<br />

âmbito interno e externo da universida<strong>de</strong> e da comunida<strong>de</strong>, qualida<strong>de</strong> da ação, contribuição na<br />

elevação socioambiental dos partícipes e percepção da eficiência dos instrumentos <strong>de</strong> educação<br />

ambiental utilizados. Além dos citados, os <strong>de</strong>mais tipos <strong>de</strong> informações <strong>de</strong> relevância para o<br />

projeto, no segmento social, econômico e ambiental, são analisados.<br />

Por fim, os dados obtidos antes, durante e após a ação são consubstanciados em relatórios<br />

técnicos e publicados como artigos científicos (resumo, resumo expandido, artigo simples, artigo<br />

completo e artigo para revistas científicas). Desse modo, o estudante versa por vários caminhos <strong>de</strong><br />

tamanha importância para sua vida, como: preparação <strong>de</strong> lí<strong>de</strong>res para o presente e o futuro,<br />

aprendizagem constante <strong>de</strong> relação dialógica em trabalhos com equipe, cientistas comprometidos<br />

com a pesquisa e um melhoramento da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida das comunida<strong>de</strong>s atendidas, além <strong>de</strong> seres<br />

humanos mais comprometidos com a vida e com um ambiente equilibrado.<br />

Ações <strong>de</strong> Responsabilida<strong>de</strong> Socioambiental Universitária<br />

Páscoa Solidária<br />

A Páscoa Solidária é uma ação voltada para crianças e adolescentes <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s rurais<br />

do semi-árido pernambucano e alunos da re<strong>de</strong> pública do município. Dentre as ativida<strong>de</strong>s<br />

realizadas, <strong>de</strong>stacam-se as ofici<strong>nas</strong> sobre higiene pessoal e a distribuição <strong>de</strong> Kits <strong>de</strong> escovação<br />

<strong>de</strong>ntária para o público participante, além <strong>de</strong> todo um trabalho cultural em prol da data<br />

comemorativa como: pintura dos rostos em forma <strong>de</strong> coelho e utilização <strong>de</strong> orelhas <strong>de</strong> coelho<br />

confeccionadas com materiais reciclados.<br />

Leitura Solidária<br />

A Leitura Solidária visa estruturar e/ou enriquecer as bibliotecas das escolas públicas em<br />

comunida<strong>de</strong>s rurais carentes, com a doação <strong>de</strong> livros didáticos e paradidáticos, além <strong>de</strong> estimular o<br />

hábito da leitura em crianças que muitas vezes vivem em situação <strong>de</strong> miséria através <strong>de</strong> ofici<strong>nas</strong> <strong>de</strong><br />

interpretação, expressão e leitura. O Projeto propen<strong>de</strong> discutir os temas ambientais relacionados à<br />

realida<strong>de</strong> vivenciada pelas crianças e elevar o grau <strong>de</strong> articulação entre a comunida<strong>de</strong> acadêmica e a<br />

população em geral, por meio <strong>de</strong> ações integradas <strong>de</strong> ensino/aprendizagem e extensão rural.<br />

Natal Solidário<br />

O Natal Solidário engloba ofici<strong>nas</strong> para os adultos sobre temas relativos a gênero, geração e<br />

ética, além <strong>de</strong> ofici<strong>nas</strong> sobre segurança alimentar, hídrica, qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, agricultura orgânica e<br />

1328


uso sustentável dos recursos naturais através <strong>de</strong> ofici<strong>nas</strong> <strong>de</strong> coité, além <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> lúdica com as<br />

crianças, explorando as habilida<strong>de</strong>s motoras e artísticas através <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s utilizando a técnica do<br />

origami, <strong>de</strong>senhos e jogos, e distribuição <strong>de</strong> sacolas com roupas, sapatos e cestas básicas<br />

alimentícias.<br />

Conclusão<br />

As instituições <strong>de</strong> ensino superior ainda são restritas em relação ao seu gerenciamento<br />

ambiental. Entretanto, <strong>de</strong>monstram a sua preocupação com o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, tanto no<br />

que diz respeito ao ensino dos alunos quanto às práticas ambientais. As ações <strong>de</strong>senvolvidas pelo<br />

GAMPE na UFRPE tem trazido melhorias significativas, seja no aspecto acadêmico quanto no<br />

crescimento pessoal e profissional do alunato. Dessa forma, é importante salientar que os benefícios<br />

<strong>de</strong> um SGA são muitos para a instituição; entre eles, <strong>de</strong>stacam-se a redução no consumo <strong>de</strong> energia,<br />

água e materiais <strong>de</strong> expediente; o estabelecimento das conformida<strong>de</strong>s com a legislação ambiental;<br />

melhora na imagem externa da instituição; além da geração <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesquisa.<br />

Referências<br />

AGENDA 21 (1992). Disponível em: www.crescentefertil.org.br/agenda21/in<strong>de</strong>x2.htm. Acesso em:<br />

20 jul. 2005.<br />

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO 14004. Sistemas <strong>de</strong> Gestão<br />

Ambiental – Diretrizes gerais sobre princípios, sistemas e técnicas <strong>de</strong> apoio. Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

ABNT, 1996.<br />

FOUTO, A. R. F. O papel das universida<strong>de</strong>s rumo ao <strong>de</strong>senvolvimento sustentável: das relações<br />

internacionais às práticas locais. Dissertação. (Mestrado em Gestão e Políticas Ambientais<br />

Relações Internacionais do Ambiente), 2002. Disponível em:<br />

http://campus.fct.unl.pt/campusver<strong>de</strong>/W_RIA_ARFF.doc Acesso em: 08 <strong>de</strong>z. 2005.<br />

RODRIGUES, C. R. B.; OLIVEIRA, I. L.; PILATTI, L. A. Abordagem dos resíduos sólidos <strong>de</strong><br />

serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> na formação acadêmica em cursos da área da saú<strong>de</strong>. In: Congresso Internacional<br />

<strong>de</strong> Administração, Gestão Estratégica para o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, 17 a 21 <strong>de</strong> setembro,<br />

Ponta Grossa, 2007.<br />

SCHIAVO, M. R.; MOREIRA, E. N. Glossário Social. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Comunicart, 2005.<br />

TAUCHEN et al. Gestão Ambiental: Um mo<strong>de</strong>lo da Faculda<strong>de</strong> Horizontina. In: XII SIMPEP.<br />

Bauru, SP. Disponível em: http://simpep.feb.unesp.br. Acesso em: 02 <strong>de</strong>z. 2005.<br />

1329


TAUCHEN, Joel; BRANDLI, Luciana Lon<strong>de</strong>ro. A gestão ambiental em instituições <strong>de</strong> ensino<br />

superior: mo<strong>de</strong>lo para implantação em campus universitário. Gestão e Produção, v. 13, n. 3, p.<br />

503-515, set./<strong>de</strong>z. 2006.<br />

1330


PAA E PNAE FOMENTANDO A AGRICULTURA FAMILIAR DO AGRESTE MERIDIONAL<br />

Resumo<br />

DE PERNAMBUCO 153<br />

Cássia Roberta <strong>de</strong> Melo LEITE (UFRPE/UAG) – cassia.melol@hotmail.com, Estudante<br />

Lauana Souza MUNIZ (UFRPE/UAG) – laua<strong>nas</strong>m@hotmail.com, Estudante<br />

Horasa Maria Lima da Silva ANDRADE (UFRPE) – horasaa@gmail.com, Orientadora<br />

Luciano Pires <strong>de</strong> ANDRADE (UFRPE/UAG) – lucianoandra<strong>de</strong>@uag.ufrpe.br, Co-orientador<br />

Neste artigo preten<strong>de</strong>-se mostrar a realida<strong>de</strong> das políticas públicas, PAA e PNAE, no Agreste<br />

Meridional <strong>de</strong> Pernambuco e a forma que o Projeto AGROFAMILIAR 154 apoia a inserção dos<br />

agricultores familiares nesses programas junto aos órgãos responsáveis dos municípios. Os<br />

agricultores familiares da região estão sendo sensibilizados quanto ao funcionamento do PAA e<br />

PNAE, para que eles entendam como po<strong>de</strong>rão ser inseridos nessas políticas públicas, com ofici<strong>nas</strong>,<br />

rodas <strong>de</strong> <strong>de</strong>bate e comunicação, Fóruns e Encontros sobre a temática Agroecologia, participação <strong>nas</strong><br />

reuniões do Conselho Municipal <strong>de</strong> Desenvolvimento Rural (CMDRS) dos municípios. A compra<br />

direta dos produtos que são cultivados pela agricultura familiar do município fomenta a renda <strong>de</strong><br />

cada agricultor familiar, já que a região se <strong>de</strong>staca na produção <strong>de</strong> mandioca, feijão, milho, além <strong>de</strong><br />

frutas e hortaliças. A discussão <strong>de</strong> todos os processos para a implantação do PAA e PNAE acontece<br />

no Sindicato dos Trabalhadores Rurais dos municípios, junto ao Conselho Municipal <strong>de</strong><br />

Desenvolvimento Rural Sustentável (CMDRS), on<strong>de</strong> tem a participação dos órgãos governamentais<br />

(Prefeitura, secretarias, IPA 155 ), da UFRPE/UAG 156 (Professores e alunos) e dos agricultores<br />

familiares. Assim a colaboração da UFRPE/UAG, representada pelo Projeto AGROFAMILIAR, se<br />

torna <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância no âmbito técnico - cientifico e tem gerado aprendizagem no auxílio<br />

junto aos agricultores para a produção Agroecológica.<br />

153 Pesquisa que está sendo <strong>de</strong>senvolvida pelo Núcleo <strong>de</strong> Estudo, Pesquisa e Extensão em Agroecologia, Agricultura<br />

Familiar e Camponesa da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Pernambuco/Unida<strong>de</strong> Acadêmica <strong>de</strong> Garanhuns. Conta com apoio<br />

financeiro do Conselho Nacional <strong>de</strong> Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq);<br />

154 Núcleo <strong>de</strong> Estudo, Pesquisa e Extensão em Agroecologia, Agricultura Familiar e Camponesa da Universida<strong>de</strong><br />

Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Pernambuco/Unida<strong>de</strong> Acadêmica <strong>de</strong> Garanhuns;<br />

155 Instituto Agronômico <strong>de</strong> Pernambuco;<br />

156 Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Rural <strong>de</strong> Pernambuco/Unida<strong>de</strong> Acadêmica <strong>de</strong> Garanhuns.<br />

1331


Palavras-chaves: Agroecologia, Políticas Públicas, Produção Rural Sustentável.<br />

Abstract<br />

This article aims to show you the reality of public policy, PAA and PNAE, in South Agreste of<br />

Pernambuco and the way that Project AGROFAMILIAR supports the inclusion of family farmers in<br />

these programs together the bodies of the municipalities. Family farmers in the region are being<br />

sensitized on the workings of PAA and PNAE, so they un<strong>de</strong>rstand how they can be entered in these<br />

policies, with workshops, <strong>de</strong>bate and communication, forums and meetings on the subject<br />

Agroecology, participation in Council meetings Municipal Rural Development (CMDRS)<br />

municipalities. The direct purchase of products that are grown by family farmers in the municipality<br />

encourages the family income of each farmer, as the region excels in the production of cassava,<br />

beans, corn, and fruits and vegetables. A discussion of all the processes for implementing the PAA<br />

and PNAE happens in the Rural Workers Union of municipalities, with the City Council for<br />

Sustainable Rural Development (CMDRS), which has the participation of government agencies<br />

(City, secretaries, IPA), the UFRPE / UAG (Teachers and stu<strong>de</strong>nts) and family farmers. Thus the<br />

collaboration of UFRPE / UAG, represented by Project AGROFAMILIAR, becomes of great<br />

importance in technical - and has generated scientific learning in aid to farmers for the production<br />

Agroecological.<br />

Keywords: Agroecology, Public Policy, Rural Sustainable Production.<br />

Introdução<br />

Atualmente no Brasil, vários são os programas que estão sendo <strong>de</strong>senvolvidos e implantados<br />

para fomentar a agricultura familiar e valorizar cada vez mais seus produtos, além da realização da<br />

assistência para que os agricultores tenham a facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comercializar a sua produção.<br />

Uma das formas <strong>de</strong>ssa facilitação é a venda dos produtos vindos da agricultura familiar é o<br />

PAA (Programa <strong>de</strong> Aquisição <strong>de</strong> Alimentos), on<strong>de</strong> ocorre a compra e a valorização <strong>de</strong>sses produtos:<br />

―O PAA é <strong>de</strong>senvolvido com recursos dos Ministérios do Desenvolvimento Social e<br />

Combate à Fome - MDS e do Desenvolvimento Agrário - MDA. As diretrizes do PAA são<br />

<strong>de</strong>finidas por um Grupo Gestor, coor<strong>de</strong>nado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e<br />

Combate à Fome e composto por mais cinco Ministérios: Fazenda; Planejamento<br />

Orçamento e Gestão; Agricultura, Pecuária e Abastecimento, representado pela<br />

Companhia Nacional <strong>de</strong> Abastecimento - CONAB; Desenvolvimento Agrário e<br />

Educação, representado pelo Fundo Nacional <strong>de</strong> Desenvolvimento da Educação – FNDE‖<br />

(Ministério do Desenvolvimento Social e Cambate à Fome, 2010, p.3).<br />

1332


Outra Política Pública direcionada ao apoio da Agricultura Familiar no Brasil é o Programa<br />

Nacional <strong>de</strong> Alimentação Escolar (PNAE) que está sendo implantado para ajudar na venda dos<br />

produtos produzidos pelos agricultores familiares e proporcionar um alimento mais saudável para os<br />

alunos matriculados <strong>nas</strong> escolas públicas dos municípios on<strong>de</strong> o PNAE é inserido. As Políticas<br />

Públicas são as totalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ações, metas e planos que os governos (nacionais, estaduais ou<br />

municipais) traçam para alcançar o bem-estar da socieda<strong>de</strong> e o interesse público. Com a certeza que<br />

as ações que os dirigentes públicos (os governantes ou os tomadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões) selecionam (suas<br />

priorida<strong>de</strong>s) são aquelas que eles enten<strong>de</strong>m serem as <strong>de</strong>mandas ou expectativas da socieda<strong>de</strong><br />

(SEBRAE/MG, 2008).<br />

Em 1993, iniciou-se o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scentralização dos recursos financeiros <strong>de</strong>stinados ao<br />

PNAE para os estados e municípios com o intuito <strong>de</strong> otimizar o <strong>de</strong>sempenho; introduzir mudanças<br />

na sistemática <strong>de</strong> compras; implantar a produção alternativa <strong>de</strong> alimentos e utilizar produtos básicos<br />

in natura e beneficiados, o que permitiu melhorar a aceitabilida<strong>de</strong> das refeições e diversificar os<br />

cardápios para alunos das escolas públicas e creches (ABREU, 1996).<br />

A construção dos saberes sobre a Política Pública no âmbito técnico–científico se torna<br />

indispensável para a organização dos agricultores quanto à produção e venda <strong>de</strong> seus produtos para<br />

a prefeitura municipal, que é o mediador da compra <strong>de</strong> tais produtos oferecidos pelos agricultores<br />

familiares.<br />

No Brasil embora a agricultura familiar não tenha força política suficiente para influenciar a<br />

formulação <strong>de</strong> políticas agroecológicas, observa-se que militantes e lí<strong>de</strong>res <strong>de</strong> movimento<br />

alternativo e ecológico vêm ocupando espaços na administração do po<strong>de</strong>r local (BRANDENBURG,<br />

2002).<br />

Muitas vezes no processo <strong>de</strong> comercialização <strong>de</strong> seus produtos o agricultor precisa da<br />

presença <strong>de</strong> uma terceira pessoa (―o atravessador‖) para que assim consiga fazer a venda,<br />

consequentemente acaba per<strong>de</strong>ndo o valor <strong>de</strong> seus produtos ou ainda não conseguindo gerar lucro.<br />

Então, com base <strong>nas</strong> problemáticas, estão sendo realizados processos <strong>de</strong> sensibilização sobre a atual<br />

questão e a inserção dos agricultores familiares nos programas direcionados à venda <strong>de</strong> produtos<br />

vindos da agricultura familiar. Como ANDRADE (2011, p. 4) comentando sobre os processos <strong>de</strong><br />

sensibilização <strong>de</strong> agricultores, ressalta em seu trabalho:<br />

―As ativida<strong>de</strong>s e ofici<strong>nas</strong> realizadas sobre políticas públicas favoreceram a participação<br />

ativa dos agricultores <strong>nas</strong> discussões que aconteceram nos Conselhos Municipais <strong>de</strong><br />

Desenvolvimento Rural Sustentável (CMDRS). Permitiram ainda, levantar que dos 26<br />

municípios do agreste meridional cerca <strong>de</strong> 70% implementaram o PAA e o PNAE, sendo<br />

fundamental o papel dos parceiros junto aos gestores municipais e agricultores <strong>nas</strong><br />

discussões para o conhecimento e a implementação <strong>de</strong>stes programas‖.<br />

1333


Como a agricultura familiar é administrada pelo próprio agricultor, ou seja, ele sabe o<br />

quanto que po<strong>de</strong> gastar com as <strong>de</strong>spesas da casa a cada plantio. Então quanto mais ele pu<strong>de</strong>r<br />

diminuir esses gastos, com a venda direta do seu produto, sem a ajuda <strong>de</strong> terceiros, melhor será para<br />

a renda da família.<br />

Consi<strong>de</strong>rando a importância <strong>de</strong> inserir o agricultor em alguma Política Pública que fomenta<br />

a agricultura familiar, como o PAA – Programa <strong>de</strong> Aquisição <strong>de</strong> Alimentos e PNAE – Programa<br />

Nacional <strong>de</strong> Alimentação Escolar, que auxiliam esses agricultores facilitando a venda <strong>de</strong> seus<br />

produtos e a geração <strong>de</strong> renda para melhorar a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> sua família <strong>de</strong>ntro das suas<br />

realida<strong>de</strong>s, é extremamente relevante buscar maneiras mais fáceis <strong>de</strong> sensibilizar e auxiliar esses<br />

agricultores familiares nessa inserção em programas que favorecem a comercialização em mercados<br />

institucionais.<br />

Um das maneiras <strong>de</strong> apoiar os agricultores nesta inserção <strong>de</strong> mercados é diagnosticando os<br />

problemas que surgem na agricultura familiar, nos processos <strong>de</strong> produção e comercialização,<br />

facilitando a realização das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> apoio aos agricultores e consequentemente gerando<br />

estratégias para que seus produtos consigam chegar ao consumidor mais rápido e com uma melhor<br />

qualida<strong>de</strong>.<br />

Portanto o PAA e o PNAE vão promover uma renda mais segura para os agricultores<br />

familiares do Agreste Meridional, pois esses terão a produção <strong>de</strong> uma forma mais saudável para<br />

oferecer seus produtos para esses programas. Deseja-se avançar na construção <strong>de</strong> alternativas <strong>de</strong><br />

produção agrícola <strong>de</strong> base ecológica, como forma <strong>de</strong> contribuir efetivamente para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento local e regional, e ter serviços <strong>de</strong> pesquisa, assistência técnica e extensão rural que<br />

aju<strong>de</strong>m nessa empreitada. Mas <strong>de</strong>ve-se, no entanto, analisar com cuidado quais são as<br />

possibilida<strong>de</strong>s e limitações para avançarmos nessa direção e ter a prudência <strong>de</strong> não alimentar ilusões<br />

(DENARDI, 2001).<br />

Dessa forma neste artigo preten<strong>de</strong>-se mostrar a pesquisa realizada para saber qual a<br />

realida<strong>de</strong> sobre as políticas públicas (PAA e PNAE) na região do Agreste Meridional <strong>de</strong><br />

Pernambuco e o processo <strong>de</strong> sensibilização e apoio do Projeto AGROFAMILIAR aos agricultores<br />

familiares são <strong>de</strong> suma importância para o Desenvolvimento Rural Sustentável.<br />

Metodologia<br />

O Agreste meridional <strong>de</strong> Pernambuco em <strong>de</strong>staque é localizado na Mesorregião do Agreste e<br />

do Sertão Pernambucano, sendo uma área intermediária entre a Mata e o Sertão e tem sua<br />

composição 26 municípios (Figura 1).<br />

1334


Figura1 - Mapa do território do Agreste Meridional <strong>de</strong> Pernambuco.<br />

(Fonte: http://blogdoronaldocesar.blogspot.com.br/2011/01/as-prefeituras-do-agreste-meridional-e.html)<br />

As práticas agrícolas que se <strong>de</strong>stacam na região são as altas produções <strong>de</strong> mandioca, milho e<br />

feijão. Além da produção <strong>de</strong> frutas, hortaliças e uma gran<strong>de</strong> parte da produção leiteira do estado. As<br />

proprieda<strong>de</strong>s variam em média <strong>de</strong> 0,5 a 3 ha, on<strong>de</strong> pais e filhos sobrevivem e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m<br />

inteiramente da pequena proprieda<strong>de</strong> que possuem. Não há diversificação da produção, tampouco<br />

segurança alimentar para a base familiar.<br />

Este trabalho é <strong>de</strong>senvolvido pelo Núcleo <strong>de</strong> Estudo, Pesquisa e Extensão em Agroecologia<br />

e Agricultura Familiar e Camponesa (AGROFAMILIAR) da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Rural <strong>de</strong><br />

Pernambuco/Unida<strong>de</strong> Acadêmica <strong>de</strong> Garanhuns (UFRPE/UAG), coor<strong>de</strong>nado pela Professora<br />

Horasa Maria Lima da Silva Andra<strong>de</strong>, durante o período <strong>de</strong> janeiro a <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2012 e tem como<br />

principais objetivos dinamizar o <strong>de</strong>bate sobre Agroecologia, o apoio ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

experiências, auxiliar os processos <strong>de</strong> reconversão visando a construção e adoção <strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong><br />

produção agroecológicos com perspectivas ao fortalecimento da agricultura familiar, a inserção em<br />

políticas públicas, e geração processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento rural sustentável e participativo.<br />

O Projeto AGROFAMILIAR <strong>de</strong>senvolve um trabalho que envolve as dimensões Educativas,<br />

Produtivas e Políticas Públicas, gerando para os municípios ativida<strong>de</strong>s como ofici<strong>nas</strong>, rodas <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>bate e comunicação, Fóruns e Encontros sobre a temática Agroecologia, visitando algumas<br />

proprieda<strong>de</strong>s mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> sistemas produtivos agroecológicos, e é a partir <strong>de</strong>ssas ativida<strong>de</strong>s que se<br />

faz a interação entre o agricultor e todos os envolvidos com o projeto. O principal foco é fazer com<br />

que o agricultor familiar troque experiências e aprenda os princípios novos que a Agroecologia traz<br />

para a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada agricultor, fazendo com que ele inicie o processo <strong>de</strong> transição e suas<br />

práticas agrícolas sejam <strong>de</strong> uma forma <strong>de</strong> base ecológica, uma agricultura ―mais saudável‖.<br />

Dentre as ativida<strong>de</strong>s já proporcionadas para os agricultores dos municípios durante as ações<br />

<strong>de</strong>senvolvidas pelo projeto, há <strong>de</strong>staque em uma <strong>de</strong>las, referente à discussão sobre as Políticas<br />

1335


Públicas (PAA e PNAE), que fomentam a agricultura familiar.<br />

Outra forma <strong>de</strong> apoio na implantação <strong>de</strong>sses programas oferecido pelo projeto<br />

AGROFAMILIAR se dá através da participação efetiva <strong>nas</strong> reuniões do Conselho Municipal <strong>de</strong><br />

Desenvolvimento Rural Sustentável (Figuras 2 e 3), que acontece mensalmente em todos os<br />

municípios, <strong>de</strong> forma que a discussão sobre os parâmetros e exigências que os agricultores terão que<br />

dispor como: Quais os produtos que cada agricultor po<strong>de</strong> oferecer (Frutas, hortaliças, milho,<br />

mandioca, leite, carne, ovos); Como é feito à chamada pública na região; Como é feito o cardápio<br />

para cada escola <strong>de</strong> acordo com as exigências nutricionais disposta pela nutricionista da Secretaria<br />

<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do município, entre outros.<br />

Então, como base a pesquisa-ação (THIOLLENT, 2005), inicialmente foram aplicados<br />

questionários com cinco agricultores <strong>de</strong> 22 municípios (totalizando 110 agricultores) no período <strong>de</strong><br />

abril a julho <strong>de</strong> 2012. As aplicações dos questionários ocorreram <strong>nas</strong> reuniões do CMDRS, on<strong>de</strong><br />

esse constava <strong>de</strong> perguntas para conhecer o perfil do agricultor (Social, Produtivo e Cultural), <strong>de</strong>ssa<br />

forma diagnosticando a realida<strong>de</strong> dos agricultores e <strong>de</strong> cada município do Agreste Meridional <strong>de</strong><br />

Pernambuco. Os questionários também foram aplicados às entida<strong>de</strong>s que participavam da reunião<br />

do CMDRS (IPA – Instituto Agronômico <strong>de</strong> Pernambuco, Sindicato dos Trabalhadores Rurais,<br />

associações, cooperativas, entre outras), diagnosticando assim qual a situação da assistência dada<br />

por essas entida<strong>de</strong>s já que essas são responsáveis por auxiliar os agricultores <strong>de</strong> seu município.<br />

Essa pesquisa é parte <strong>de</strong> um trabalho que está sendo <strong>de</strong>senvolvido pelo Projeto<br />

AGROFAMILIAR, o Mapeamento <strong>de</strong> Experiências Agroecológicas do Agreste Meridional <strong>de</strong><br />

Pernambuco, tendo como principal objetivo <strong>de</strong> conhecer on<strong>de</strong> estão localizados os agricultores que<br />

tem práticas agrícolas com base agroecológica, que estão em processo <strong>de</strong> transição <strong>de</strong> um sistema<br />

convencional para um sistema agroecológico.<br />

A análise dos dados dos questionários foi feita através <strong>de</strong> uma classificação, categorização e<br />

tematização das informações e dados levantados (TOLEDO, 1992; CRESWELL 2010),<br />

consi<strong>de</strong>rando os eixos: Social, produtivo e políticas públicas. A tabulação dos dados foi feita a partir<br />

do estabelecimento frequências que foram representadas por gráficos (MILES E HUBERMAN<br />

1984).<br />

A forma <strong>de</strong> apoio <strong>de</strong>senvolvido pelo Projeto AGROFAMILIAR é através da metodologia<br />

participativa, <strong>de</strong>volvendo as informações geradas no processo investigativo, como a participação<br />

efetiva <strong>nas</strong> reuniões do CMDRS, no grupo <strong>de</strong> estudos em Agroecologia realizado semanalmente<br />

pelo Núcleo AGROFAMILIAR na UFRPE/UAG, realização <strong>de</strong> ofici<strong>nas</strong> temáticas para os<br />

agricultores, participação no Encontro <strong>de</strong> Agroecologia do Agreste Meridional <strong>de</strong> Pernambuco,<br />

1336


socializações das ativida<strong>de</strong>s junto aos parceiros.<br />

Figura 2 – Reunião do CMDRS <strong>de</strong> Garanhuns – PE.<br />

Resultados e discussão<br />

No perfil social dos agricultores familiares do Agreste Meridional <strong>de</strong> Pernambuco po<strong>de</strong>-se<br />

<strong>de</strong>stacar uma característica importante é que 90% <strong>de</strong>sses agricultores vêm <strong>de</strong> famílias que já<br />

trabalhavam na agricultura, ou seja, eles já trazem experiências <strong>de</strong> seus pais, avôs, entre outros<br />

familiares. E há uma preocupação <strong>de</strong> que suas proprieda<strong>de</strong>s rurais sejam passadas para seus filhos e<br />

netos, pois <strong>de</strong>ssa forma há uma maior valorização <strong>de</strong> suas terras e consequentemente a continuação<br />

das práticas agrícolas realizadas nessas proprieda<strong>de</strong>s.<br />

Observa-se que todos da família trabalham <strong>nas</strong> proprieda<strong>de</strong>s, seja <strong>de</strong> forma direta (ativida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> produção) ou indireta (processo <strong>de</strong> comercialização), <strong>de</strong>stacando assim a participação da mulher<br />

cada vez mais freqüente e forte nessas ativida<strong>de</strong>s. Como SOUZA (2010, p. 6) discuti em seu<br />

trabalho que a questão <strong>de</strong> gênero <strong>de</strong>ntro das ativida<strong>de</strong>s agrícolas , on<strong>de</strong> a mulher vem se <strong>de</strong>stacando<br />

com o forte trabalho e com seus direitos garantidos:<br />

Figura 3 – Reunião do CMDRS <strong>de</strong> Jupi – PE.<br />

―Nos dias atuais esse contexto está se transformando e a mulher ganhando espaço e<br />

consolidando-se sem tanto preconceito, realizando-se pessoal e profissionalmente. Todas<br />

as conquistas alcançadas pelas mulheres a tornam mais fortes não diminuindo a sua<br />

feminilida<strong>de</strong> e mostrando o quanto po<strong>de</strong>m, em se tratando <strong>de</strong> trabalhos realizados por<br />

homens, através <strong>de</strong> garra, <strong>de</strong>terminação e força <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong>, pegar na enxada e realizá-lo<br />

com perfeição‖.<br />

Dentre alguns problemas que foram diagnosticados no eixo das políticas públicas (PAA e<br />

PNAE), <strong>de</strong>staca-se a presença do ―atravessador‖, que compra o produto diretamente do agricultor<br />

por um valor menor que o do mercado ou programas do governo. O que LEITE (2012, p. 4) discutiu<br />

em seu trabalho, que esse ―atravessador‖ facilita os processos <strong>de</strong> compra e venda dos produtos, mas<br />

<strong>de</strong>svaloriza os produtos advindos da agricultora familiar e consequentemente diminui a renda do<br />

1337


agricultor.<br />

Com a participação <strong>nas</strong> reuniões dos CMDRS dos municípios do Agreste Meridional <strong>de</strong><br />

Pernambuco percebeu-se que os agricultores familiares vêm mostrando cada vez mais o interesse<br />

em estar inseridos nessas Políticas Públicas e em alguns municípios é assídua a discussão sobre o<br />

PAA e PNAE, cada um expõe os interesses individuais que se tem em produzir e ven<strong>de</strong>r para os<br />

programas, colocando em questão os alimentos que se têm disponíveis em sua proprieda<strong>de</strong>, pois<br />

além da percepção <strong>de</strong> fortalecer e garantir uma renda sustentável para sua família, eles vão propiciar<br />

aos alunos das escolas públicas dos municípios um alimento mais saudável, que consequentemente<br />

ajuda no aprendizado e incentivo da participação <strong>de</strong>sses alunos <strong>nas</strong> escolas através do oferecimento<br />

<strong>de</strong> alimentos mais saudáveis ou por seus pais po<strong>de</strong>r está ven<strong>de</strong>ndo os produtos cultivados <strong>nas</strong> suas<br />

proprieda<strong>de</strong>s.<br />

Assim com a aplicação dos questionários po<strong>de</strong>mos diagnosticar quais municípios já estão<br />

inseridos em alguma Política Pública (PAA e PNAE) e quais os produtos que os agricultores<br />

fornecem para esses programas.<br />

45% Sim<br />

Gráfico 01 – Porcentagem dos 22 municípios do Agreste Meridional <strong>de</strong> Pernambuco que participam <strong>de</strong><br />

Políticas Públicas<br />

Diante <strong>de</strong>sses dados (Gráfico 01), po<strong>de</strong>mos observar que doze municípios (o que<br />

correspon<strong>de</strong> a 55%) dos vinte e dois municípios da região do Agreste <strong>de</strong> Pernambuco, em que<br />

foram aplicados os questionários, já estão inseridos em algum dos programas do governo (PAA e<br />

PNAE) e que os agricultores que comercializam seus produtos nestes programas têm uma renda<br />

garantida, assim proporcionando a sua família uma qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida melhor. Além <strong>de</strong><br />

disponibilizar aos consumidores produtos mais saudáveis. SILVA (2011, p. 17) comenta em seu<br />

trabalho a importância da inserção dos agricultores <strong>nas</strong> políticas públicas e <strong>de</strong>ssa forma garantindo a<br />

produção e comercialização dos produtos e assegurando a renda do agricultor:<br />

55%<br />

Não<br />

1338


―As políticas públicas voltadas para o setor agrário, em especial a agricultura familiar tem<br />

<strong>de</strong>sempenhado papel importante do Estado na intervenção no processo produtivo e<br />

comercial dos produtos agrícolas. A implementação do PAA e do PNAE no município <strong>de</strong><br />

Bananeiras - Paraíba pô<strong>de</strong> garantir pela prefeitura local e pelos conselhos das escolas<br />

estaduais a compra da produção familiar, possibilitando maior estabilida<strong>de</strong> à ativida<strong>de</strong><br />

agrícola, garantindo ocupação e renda ao produtor em seu próprio local, incentivando a<br />

permanência e a inclusão social no campo e proporcionando melhores condições <strong>de</strong> vida.<br />

Dessa forma, o agricultor e sua família passam a <strong>de</strong>senvolver a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> forma mais<br />

ampla e sistemática, explorando com maior racionalida<strong>de</strong> o espaço rural‖.<br />

Na tabulação dos dados dos questionários observou-se que dos doze municípios que estão<br />

inseridos no PAA e PNAE, seis no PAA e PNAE, ape<strong>nas</strong> um no PAA e cinco no PNAE (Gráfico<br />

02). Mostra que os municípios estão sendo mais inseridos no PNAE pelo fato <strong>de</strong> que o estado e o<br />

município têm que disponibilizar alimentos saudáveis na dieta dos alunos que estão matriculados<br />

<strong>nas</strong> escolas públicas e filantrópicas e creches. Assim oferecendo produtos advindos da agricultura<br />

familiar, fortalecendo e assegurando a renda do agricultor. Como po<strong>de</strong>mos observa na lei sobre<br />

alimentação escolar, que refere-se ao recursos do programa PNAE on<strong>de</strong> no mínimo 30% <strong>de</strong>ve ser<br />

advindo da agricultura familiar:<br />

―Do total dos recursos financeiros repassados pelo FNDE, no âmbito do PNAE, no<br />

mínimo 30% (trinta por cento) <strong>de</strong>verão ser utilizados na aquisição <strong>de</strong> gêneros<br />

alimentícios diretamente da agricultura familiar e do empreen<strong>de</strong>dor familiar rural ou <strong>de</strong><br />

suas organizações, priorizando-se os assentamentos da reforma agrária, as comunida<strong>de</strong>s<br />

tradicionais indíge<strong>nas</strong> e comunida<strong>de</strong>s quilombolas‖.<br />

Quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> municípios<br />

12<br />

10<br />

8<br />

6<br />

4<br />

2<br />

0<br />

PAA PNAE<br />

Políticas Públicas<br />

Gráfico 02 – Quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> municípios do Agreste Meridional <strong>de</strong> Pernambuco que estão inseridos<br />

<strong>nas</strong> Políticas Públicas<br />

No levantamento da produção constatou-se que os principais produtos comercializados são<br />

in natura, sendo poucos os produtos beneficiados e quase inexistentes ou ainda não explorados os<br />

produtos <strong>de</strong> origem animal advindos <strong>de</strong> uma produção rural familiar.<br />

1339


Uma parte da produção <strong>de</strong> mandioca, milho, feijão, hortaliças, leite e frutas dos municípios<br />

da região do Agreste Meridional <strong>de</strong> Pernambuco é comercializada para os programas PAA e PNAE<br />

(Gráfico 03). Há possibilida<strong>de</strong> do agricultor já oferecer o produto beneficiado (bolos, doces, entres<br />

outros) para ser disponibilizado às escolas públicas e creches dos municípios através das prefeituras<br />

municipais. Os agricultores também po<strong>de</strong>m estar disponibilizando para a venda in natura ou <strong>de</strong><br />

outras formas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que eles garantam uma produção constante, como é previsto legalmente em<br />

um contrato feito pela prefeitura municipal, assistido pelo IPA e outros órgãos relacionados com<br />

essa venda.<br />

Leite Bolo Hortaliças Feijão Frutas mandioca<br />

Frutas<br />

8%<br />

Feijão<br />

12%<br />

mandioca<br />

12%<br />

Hortaliças<br />

28%<br />

Gráfico 03 – Porcentagem dos produtos comercializados nos municípios nos programas<br />

PAA e PNAE<br />

O apoio que o Projeto AGROFAMILIAR realiza para auxiliar esses agricultores na inserção<br />

e sensibilização das políticas públicas (PAA e PNAE), participação efetiva <strong>nas</strong> reuniões do<br />

Conselho Municipal <strong>de</strong> Desenvolvimento Rural Sustentável dos municípios, em congressos<br />

nacionais e internacionais, encontros regionais <strong>de</strong> agroecologia, socialização das ativida<strong>de</strong>s junto<br />

aos parceiros, nos encontros semanais do grupo <strong>de</strong> estudo em agroecologia realizado pelo Núcleo<br />

AGROFAMILIAR, realização <strong>de</strong> ofici<strong>nas</strong> temáticas (PAA e PNAE, Associativismos e<br />

Cooperativismo, Produção <strong>de</strong> hortaliças, Criação <strong>de</strong> pequenos animais, entre outras), apoio a Re<strong>de</strong><br />

Produtiva do Feijão do Agreste Meridional <strong>de</strong> Pernambuco. Além da crescente busca que estar<br />

sendo feita pelos agricultores para ser realizada a assistência em suas produções agrícola e pecuária.<br />

Portanto o trabalho <strong>de</strong> sensibilizar esses agricultores familiares <strong>de</strong> produzir com práticas<br />

mais sustentáveis e ven<strong>de</strong>r para programas que fomentem a agricultura familiar é continuo,<br />

tornando a realida<strong>de</strong> da região do Agreste Meridional <strong>de</strong> Pernambuco melhor para todos.<br />

Leite<br />

32%<br />

Bolo<br />

8%<br />

1340


Agra<strong>de</strong>cimentos<br />

Os autores agra<strong>de</strong>cem à orientação e coor<strong>de</strong>nação da Professora Horasa Maria Lima da Silva<br />

Andra<strong>de</strong>, ao apoio e colaboração do IPA, ProRural e movimentos sociais na realização das<br />

ativida<strong>de</strong>s do projeto e ao CNPq no financiamento do projeto AGROFAMILIAR, Edital<br />

MDA/SAF/CNPq Nº 58/2010, Processo nº 564209/2010-4.<br />

Referências<br />

ABREU, M.; Alimentação escolar na América Latina: programas universais ou<br />

focalizados/políticas <strong>de</strong> <strong>de</strong>scentralização. Documento mimeografado, 1996.<br />

ANDRADE, H.M.L.S.; QUEIROZ, A.E.S.F.; LEITE, C.R.M.; MUNIZ, L.S.; SANTOS, B.A.C.;<br />

ANDRADE, L.P.; A inserção <strong>de</strong> agricultores familiares <strong>nas</strong> políticas públicas: o PAA e PNAE<br />

como alternativa para viabilização da produção agroecológica. Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> Agroecologia – ISSN<br />

2236-7934 – <strong>Vol</strong> 6, No. 2, 2011, p. 4.<br />

BRANDENBURG, A.; Movimento agroecológico: trajetória, contradições e perspectivas. Revista<br />

<strong>de</strong> Desenvolvimento e Meio Ambiente, Curitiba, n.6, p. 11-28, 2002.<br />

CRESWEEL, J.W. Projeto <strong>de</strong> pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. 3ª. Ed. Porto<br />

Alegre: Artmed, 2010.<br />

DENARDI, R.A.; Agricultura familiar e políticas públicas: alguns dilemas e <strong>de</strong>safios para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento rural sustentável. Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável, Porto<br />

Alegre, v.2, n.3, jul./set.2001.<br />

Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. LEI Nº 11.947, DE 16 DE<br />

JUNHO DE 2009, Art. 14.<br />

LEITE, C.R.M.; ARAÚJO, A.N.; MUNIZ, L.S.; OLIVEIRA, M.; VIANA, E.G.H.; ANDRADE,<br />

H.M.L.S.; ANDRADE, L.P.; Mapeamento <strong>de</strong> Experiências Agroecológicas do Agreste Meridional<br />

<strong>de</strong> Pernambuco. II Encontro <strong>de</strong> Agroecologia do Agreste Meridional <strong>de</strong> Pernambuco, UFRPE/UAG,<br />

Garanhuns – PE. 2012, p. 4.<br />

MILES, M.B.; HUBERMAN, A.M. Qualitative Data Analysis: A Sourcebook of new Methods,<br />

Beverly Hills, Sage Publ., 1984.<br />

Ministério do Desenvolvimento Social e Cambate à Fome. Programa <strong>de</strong> Aquisição <strong>de</strong> Alimentos –<br />

1341


PAA. 2010, p. 3.<br />

SEBRAE/Mi<strong>nas</strong> Gerais; Políticas Públicas - Conceitos e Práticas. Série Políticas Públicas, <strong>Vol</strong>ume<br />

7. 2008.<br />

SILVA, K.R.; SILVA, D.L.A.C. Análise da Comercialização e do Impacto do PAA e PNAE na<br />

condição <strong>de</strong> vida das Famílias Agricultoras <strong>de</strong> Bananeiras na Paraíba. Centro <strong>de</strong> Ciências Sociais<br />

Aplicadas - Departamento <strong>de</strong> Economia- UFPB. 2011, p. 17.<br />

SOUZA, L.P.; OLIVERA, W.B.; ANDRANDE, H.M.L.S.; ANDRADE, L.P.; A Inserção da<br />

Mulher na Agricultura Familiar no Município <strong>de</strong> Triunfo, Sertão do Pajeú <strong>de</strong> Pernambuco. 4º<br />

Encontro da Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Estudos Rurais: Mundo Rural, Políticas Públicas, Instituições e Atores em<br />

Reconhecimento Político. UFPR, Curitiba – PR. 2010, p. 6.<br />

THIOLLENT, M. Metodologia da pesquisa-ação. 14º ed. São Paulo: Cortez, 2005.<br />

TOLEDO, V.M. What is Etnoecology? Origin, scope and implications of a rising discipline.<br />

Etnocológica 1 (1): 5-21, 1992.<br />

1342


AÇÕES EXTENSIONISTAS NO LITORAL DO IGUAPE – AQUIRAZ/CE: A EDUCAÇÃO<br />

AMBIENTAL COMO SUBSÍDIO PARA A CONSERVAÇÃO E PRESERVAÇÃO DOS<br />

RESUMO<br />

RECURSOS NATURAIS<br />

Dayane <strong>de</strong> Siqueira GONÇALVES<br />

Graduanda, Departamento <strong>de</strong> Geografia da UFC<br />

dayane<strong>de</strong>siqueira@yahoo.com.br<br />

Alysa Lumi Kuroki SASAHARA<br />

Graduanda, Departamento <strong>de</strong> Geografia da UFC<br />

lumisasahara@gmail.com<br />

Thania Oliveira CARVALHO<br />

Graduanda, Departamento <strong>de</strong> Geografia da UFC<br />

Thania_oc@yahoo.com<br />

Antonio Jeovah <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> MEIRELES<br />

Professor Doutor do Departamento <strong>de</strong> Geografia da UFC<br />

meireles@ufc.br<br />

Aquiraz é um município do estado do Ceará localizado na Região Metropolitana <strong>de</strong> Fortaleza que<br />

possui uma varieda<strong>de</strong> paisagística explorada por pesquisadores e turistas. Possui oito distritos<br />

(Aquiraz - se<strong>de</strong>, Camará, Caponga <strong>de</strong> Bernarda, Jacaúna, João <strong>de</strong> Castro, Justiniano <strong>de</strong> Serpa,<br />

Patacas e Tapera) e algumas comunida<strong>de</strong>s tradicionais, como a comunida<strong>de</strong> quilombola Lagoa do<br />

Ramo e Goiabeira e a comunida<strong>de</strong> indígena Jenipapo-Kanindé, as quais praticam ativida<strong>de</strong>s<br />

tradicionais como a renda e a pesca em seu litoral. O distrito <strong>de</strong> Jacaúna <strong>de</strong>staca-se por suas praias,<br />

tais como a do Presídio, Barro Preto e a praia do Iguape. Esta última possui unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> paisagens<br />

diversas, como praia e pós-praia, tabuleiro litorâneo, du<strong>nas</strong> fixas e móveis, planície lacustre e<br />

planície flúvio-marinha. Toda essa heterogeneida<strong>de</strong> <strong>de</strong> paisagens estruturais propiciou o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma paisagem social e cultural que passa <strong>de</strong> geração em geração através da<br />

Associação <strong>de</strong> Ren<strong>de</strong>iras do Iguape, da Dança do Coco do Iguape, além da prática da pesca<br />

artesanal, que caracterizaram a comunida<strong>de</strong> em um local <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> atração turística. Apesar <strong>de</strong><br />

apresentar um quadro paisagístico tão rico, a comunida<strong>de</strong> vem sofrendo sérios danos ocasionados<br />

principalmente pelos processos <strong>de</strong> uso e ocupação <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nadas que resultaram em impactos<br />

ambientais. Assim, este artigo tem por objetivo compreen<strong>de</strong>r a relação da comunida<strong>de</strong> com o meio,<br />

através da análise das unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> paisagens e <strong>de</strong> aspectos do uso e ocupação para a realização da<br />

prática da educação ambiental, através do projeto MANGROVE: Educação Ambiental em Áreas <strong>de</strong><br />

Manguezal, visando formar pessoas críticas do seu momento presente e agentes <strong>de</strong> seus futuros.<br />

Palavras-chaves: Paisagem, Iguape, Caracterização, Degradação, Educação Ambiental.<br />

ABSTRACT<br />

Aquiraz is a township of the state of Ceará located at the Metropolitan Region of Fortaleza that has<br />

a landscape variety explored by researchers and tourists. It has eight conties (Aquiraz – seat,<br />

Camará, Caponga <strong>de</strong> Bernarda, Jacaúna, João <strong>de</strong> Castro, Justiniano <strong>de</strong> Serpa, Patacas e Tapera) and<br />

some traditional communities, like the quilombola community Lagoa do Ramo and Goiabeira and<br />

1343


the indigenous community Jenipapo-Kanin<strong>de</strong>, which maintain traditional activities like sewing and<br />

fishing in their coast. Jacauna‘s county stands out for its beaches, like Presidio, Barro Preto and<br />

Iguape. The latter has several landscape units, like beach and post-beach, coastal plain, fixed and<br />

mobile dunes, lowland lake and fluvine-marine plain. All this heterogeinity of structural landscapes<br />

led to the <strong>de</strong>velopment of a cultural and social landscape that passes from generation to generation<br />

through the Association of Sewing Women of Iguape, the Iguape Coco Dance, and the practice of<br />

handicrafted fishing, which have ma<strong>de</strong> of the community a place of great touristic attraction.<br />

Despite presenting such a rich landscape mosaic, the community has been suffering serious<br />

damages caused mainly by the processes of use and disor<strong>de</strong>rly occcupation of the land that have<br />

resulted in environmental impacts. Thus, this article aims to un<strong>de</strong>rstand the relation between the<br />

community and its environment through the analysis of the landscape units and of the aspects of the<br />

use and occupation of the land to carry out the practise of environmental awareness through the<br />

MANGROVE project: Environmental Awareness in Mangrove Areas, which aims to educate<br />

people to be critics of their present and agents of their future.<br />

Key words: landscape, Iguape, <strong>de</strong>scription, <strong>de</strong>gradation, environmental awareness.<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

Aquiraz é um município do estado do Ceará localizado na Região Metropolitana <strong>de</strong><br />

Fortaleza. Dentre seus oito distritos (Aquiraz - se<strong>de</strong>, Camará, Caponga <strong>de</strong> Bernarda, Jacaúna, João<br />

<strong>de</strong> Castro, Justiniano <strong>de</strong> Serpa, Patacas e Tapera), em Jacaúna é on<strong>de</strong> se encontra a comunida<strong>de</strong> do<br />

Iguape on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolveram as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> educação ambiental do projeto MANGROVE:<br />

Educação Ambiental em Áreas <strong>de</strong> Manguezal.<br />

O MANGROVE consiste em um projeto <strong>de</strong> extensão universitária vinculado ao<br />

Departamento <strong>de</strong> Geografia da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Ceará - UFC, financiado pela Pró-Reitoria<br />

<strong>de</strong> Extensão - PREX/UFC. Através do projeto objetiva-se, <strong>de</strong>senvolver ações <strong>de</strong> Educação<br />

Ambiental em áreas <strong>de</strong> manguezais, beneficiando comunida<strong>de</strong>s tradicionais (pesqueiras e<br />

ribeirinhas) e buscando <strong>de</strong>spertar a preocupação individual e coletiva sobre a <strong>de</strong>gradação ambiental<br />

através <strong>de</strong> ofici<strong>nas</strong>, palestras, discussões e outros instrumentos pedagógicos para a disseminação <strong>de</strong><br />

uma consciência crítica, para que o público alvo se veja como sujeito atuante na conservação do<br />

meio ambiente. Espera-se que as pessoas atendidas pelo projeto trabalhem como agentes protetores<br />

da natureza, colocando o conhecimento adquirido em prática no dia-a-dia.<br />

Além <strong>de</strong> sua varieda<strong>de</strong> cultural, que se mostra através do trabalho <strong>de</strong> pescadores, das<br />

ren<strong>de</strong>iras e das dança<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> Coco, o Iguape também apresenta uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s<br />

geoambientais, como du<strong>nas</strong> (fixas e móveis), planície flúvio-marinha, planície lacustre, faixa <strong>de</strong><br />

praia e planície <strong>de</strong> <strong>de</strong>flação, que tornam essa comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> singular importância como é mostrado<br />

na Figura 1. A escolha <strong>de</strong>ssa comunida<strong>de</strong> para a realização do projeto ocorre por que, apesar da<br />

beleza encontrada nela, também se observa um quadro <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação que precisa ser revestido.<br />

1344


Figura 1 – Mapa da comunida<strong>de</strong> do Iguape.<br />

Fonte: Alysa Lumi Kuroki Sasahara, 2012.<br />

2. A GEOECOLOGIA DAS PAISAGENS COMO SUPORTE TEÓRICO-METODÓLOGICO<br />

PARA OS ESTUDOS INTEGRADOS NO LITORAL DO IGUAPE<br />

A Geoecologia das Paisagens consiste na análise das paisagens sob a óptica <strong>de</strong> um conjunto<br />

<strong>de</strong> sistemas formando um todo no qual há realizações <strong>de</strong> fluxos contribuindo para uma íntima<br />

interação, por isso este método<br />

Reveste-se <strong>de</strong> fundamental importância no âmbito <strong>de</strong> uma nova<br />

perspectiva, on<strong>de</strong> as idéias da multidisciplinarida<strong>de</strong> valorizam a questão ambiental,<br />

rompendo fronteiras padronizadas, <strong>de</strong>dicando-se às características, aos estudos e<br />

aos processos dos elementos da natureza e da socieda<strong>de</strong>. (RODRIGUEZ; SILVA;<br />

CAVALCANTE, 2010, p. 13)<br />

Dessa maneira, as paisagens tornam-se um dos principais focos <strong>de</strong> estudo da análise<br />

geoecológica das paisagens, pois alia as interações entre homem e natureza. Em função <strong>de</strong>sse<br />

caráter sistêmico e integrado, a Geoecologia das Paisagens foi utilizada como referencial teórico e<br />

metodológico para o estudo do Lagamar do Iguape, consi<strong>de</strong>rando três importantes conceitos,<br />

paisagem natural, social e cultural.<br />

3. CARACTERIZAÇÃO DA PAISAGEM NATURAL DO IGUAPE<br />

No estudo da paisagem natural há uma ―interpretação tipológica, que concebe a paisagem<br />

como um território com traços comuns, que distingue-se pela semelhança.‖ (RODRIGUEZ;<br />

SILVA; CAVALCANTE, 2010. p. 15 ). Assim a paisagem natural<br />

1345


Concebe-se como uma realida<strong>de</strong>, cujos elementos estão dispostos <strong>de</strong><br />

maneira tal que substituem <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o todo, e o todo subsiste <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os elementos, não<br />

como estivessem caoticamente mesclados, mas sim como conexões harmônicas <strong>de</strong><br />

estrutura e função. (RODRIGUEZ; SILVA; CAVALCANTE, 2010, p. 7)<br />

Assim, no Iguape, temos geótopos como unida<strong>de</strong>s básicas <strong>de</strong> nível local <strong>de</strong> diferenciação da<br />

paisagem, que serão caracterizados a seguir (figura 2).<br />

Figura 2 – Mapa das Unida<strong>de</strong>s Geoambientais da comunida<strong>de</strong> do Iguape.<br />

Fonte: Alysa Lumi Kuroki Sasahara, 2012.<br />

Praia e Pós-praia<br />

As praias ―po<strong>de</strong>m ser conceituadas como ambientes sedimentares costeiros, formados mais<br />

comumente por areias, <strong>de</strong> composição variada‖ (TESSLER; MAHIQUES, 2009, p. 273). Após a<br />

praia localiza-se a pós-praia, que é uma área com areias mais consolidadas e on<strong>de</strong> encontra-se a<br />

vegetação pioneira samófila.<br />

A Praia do Iguape atualmente sofre um processo <strong>de</strong> erosão acentuado, cuja principal<br />

conseqüência é a <strong>de</strong>struição das construções que estão sobre a pós-praia. Barracas <strong>de</strong> praia, casas <strong>de</strong><br />

veraneio e o calçadão, que a prefeitura construiu para que os pescadores pu<strong>de</strong>ssem guardar suas<br />

jangadas, estão sendo prejudicados pelas ondas. Além disso,<br />

A faixa <strong>de</strong> praia e pós-praia tem se tornado paisagem para carros a tração<br />

que compactam o solo e diminuem a vegetação pioneira. Encontram-se ainda, nesta<br />

faixa, latinhas <strong>de</strong> cervejas e refrigerantes, além <strong>de</strong> garrafas plásticas, <strong>de</strong>positados<br />

1346


durante a passagem <strong>de</strong> finais <strong>de</strong> semana por visitantes e proprietários <strong>de</strong> segundas<br />

residências. (CARDOSO; SILVA, 2011. p. 21).<br />

A diminuição da faixa <strong>de</strong> praia ocorre por processos naturais como o aumento da ação<br />

abrasiva do mar e do vento, e atinge os moradores e veranistas pelo fato das construções serem à<br />

beira-mar. Pescadores relatam que a faixa <strong>de</strong> praia chegava a mais <strong>de</strong> <strong>de</strong>z metros e que nos últimos<br />

anos ela vem diminuindo em ritmo acelerado.<br />

Campo <strong>de</strong> Du<strong>nas</strong><br />

As du<strong>nas</strong> são formadas por sedimentos areno-quartzosos altamente triados pelo vento, <strong>de</strong><br />

granulometria fina, que se <strong>de</strong>positam sobre uma litologia mais antiga. Esses sedimentos, em sua<br />

maioria, têm origem continental, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> foram transportados pela ação fluvial até a costa, sendo<br />

distribuídos ao longo das praias, pela ação das ondas, e <strong>de</strong>positadas em forma <strong>de</strong> du<strong>nas</strong> pela ação do<br />

vento.<br />

As du<strong>nas</strong> são caracterizadas em fixas, quando recobertas por vegetação que dão a ela<br />

estabilida<strong>de</strong>; e móveis, quando estão <strong>de</strong>sprovidas <strong>de</strong> vegetação, estando em frequente mutabilida<strong>de</strong>.<br />

No extenso cordão <strong>de</strong> du<strong>nas</strong> fixas que contorna o Iguape, representado em ver<strong>de</strong> no mapa<br />

(Figura 2), se formou um solo <strong>de</strong> composição orgânica que sustenta uma vegetação <strong>de</strong> pequeno e<br />

médio porte. Também nele se <strong>de</strong>senvolveu um aquífero que abastece a comunida<strong>de</strong> com água<br />

potável e disponível para todos, a qual é retirada pelos moradores através <strong>de</strong> uma fonte.<br />

Esse ambiente vem sendo ameaçado constantemente pela ocorrência <strong>de</strong> queimadas, avanço<br />

<strong>de</strong> construções e moradias <strong>nas</strong> du<strong>nas</strong> fixas e pela retirada <strong>de</strong> areia das du<strong>nas</strong> móveis (Figuras 3 e 4).<br />

A diminuição da praia e pós-praia também contribui <strong>de</strong> forma negativa na acumulação <strong>de</strong><br />

sedimentos <strong>nas</strong> du<strong>nas</strong>.<br />

Figura 3 e 4 – Comunida<strong>de</strong> do Iguape na planície <strong>de</strong> <strong>de</strong>flação e a presença <strong>de</strong> construções<br />

próximas ao campo <strong>de</strong> du<strong>nas</strong>.<br />

Fonte: Alysa Lumi Kuroki Sasahara, 2012.<br />

Planície Flúvio-marinha<br />

1347


Os manguezais são um ecossistema <strong>de</strong> transição entre os ambientes terrestre e marinho,<br />

regidos pela maré, e característicos <strong>de</strong> regiões tropicais e subtropicais. Este ecossistema<br />

<strong>de</strong>sempenha um papel fundamental na conservação da biodiversida<strong>de</strong>, na estabilida<strong>de</strong> da<br />

geomorfologia costeira e na manutenção <strong>de</strong> recursos pesqueiros.<br />

A planície flúvio-marinha do Iguape é formada pelo encontro da água doce proveniente das<br />

águas fluviais vindas do continente e do aquífero contido no campo <strong>de</strong> du<strong>nas</strong> com a água do mar<br />

que entra por um canal que é constantemente fechado através da dinâmica natural dos sedimentos e<br />

reaberto periodicamente por um trator a mando da prefeitura, gerando uma água salobra essencial<br />

para o <strong>de</strong>senvolvimento da vegetação do manguezal.<br />

Essa interação <strong>de</strong> fluxos gera um ambiente propício para a formação <strong>de</strong> um ecossistema<br />

manguezal <strong>de</strong> médio porte, on<strong>de</strong> encontramos os tipos <strong>de</strong> vegetação <strong>de</strong> mangue mais<br />

prepon<strong>de</strong>rantes no litoral brasileiro que são a Rhizophora mangle (mangue vermelho, mangue<br />

verda<strong>de</strong>iro ou sapateiro), Avicena schaueriana e Avicennia germinans (mangue-preto, seriúba ou<br />

canoé), Laguncularia racemosa (mangue-branco) e Conocarpus erectus (mangue-<strong>de</strong>-botão).<br />

A fauna que se alimenta e se reproduz no manguezal varia <strong>de</strong>s<strong>de</strong> peixes, mamíferos, aves,<br />

moluscos e crustáceos até microalgas e bactérias, que caracterizam este ambiente como um berçário<br />

natural, principalmente da vida marinha.<br />

Apesar <strong>de</strong> sua importância do ponto <strong>de</strong> vista da biodiversida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> servir como amortecedor<br />

da erosão costeira e como fonte <strong>de</strong> subsistência para a comunida<strong>de</strong>, o manguezal do Iguape sofre<br />

com<br />

Os <strong>de</strong>smatamentos e aterros das margens dos manguezais para a construção<br />

<strong>de</strong> equipamentos urbanos, resi<strong>de</strong>nciais, hotéis, sali<strong>nas</strong> e tanques para criação <strong>de</strong><br />

camarões, alteram o equilíbrio dos processos morfogênicos, constituindo uma<br />

ameaça à biodiversida<strong>de</strong> e levando à perda da qualida<strong>de</strong> paisagística. (MEIRELES;<br />

SILVA, 2002).<br />

A pressão exercida pelo assoreamento, <strong>de</strong>smatamento, ocupação resi<strong>de</strong>ncial,<br />

estrangulamento <strong>de</strong> seus canais, poluição e contaminação hídrica causada pelo lançamento <strong>de</strong><br />

esgoto nesse manguezal é muito forte. Isso faz com que esse ecossistema se encontre <strong>de</strong>gradado,<br />

apesar <strong>de</strong> ser ainda utilizado para pesca.<br />

Planície Lacustre<br />

A estrada que liga Iguape à Fortaleza divi<strong>de</strong> dois ambientes distintos: o primeiro, mais<br />

próximo ao mar, forma uma planície flúvio-marinha, com a ocorrência <strong>de</strong> um ecossistema<br />

1348


manguezal característico, e a segunda, <strong>de</strong>pois da estrada, forma uma planície lacustre. Abaixo da<br />

estrada existe um canal que liga esses dois ambientes. Resquícios <strong>de</strong> mangue no Lagamar indicam<br />

que provavelmente o manguezal abrangia toda a área da planície fluvial.<br />

O Lagamar do Iguape, assim chamado pelos moradores locais, é uma laguna costeira sendo<br />

muito utilizada por pessoas que veem na pesca uma complementação alimentar.<br />

Originalmente, outra lagoa existia e ocupava gran<strong>de</strong> parte da comunida<strong>de</strong>, porém, com a<br />

pressão exercida pela especulação imobiliária que limitou as opções da população mais pobre, a<br />

lagoa foi aterrada dando lugar a casas, que formam à rua da Lama, assim <strong>de</strong>nominada pelos<br />

moradores.<br />

Planície <strong>de</strong> Deflação<br />

A comunida<strong>de</strong> do Iguape foi construída sobre uma planície <strong>de</strong> <strong>de</strong>flação, caracterizada por<br />

ser um ambiente <strong>de</strong> erosão entre du<strong>nas</strong>. Esse processo ocorre, pois ―os sedimentos são transportados<br />

da praia para o interior, migram sobre a planície costeira e retornam parcialmente ao mar através do<br />

sistema <strong>de</strong> drenagem ou pelas du<strong>nas</strong> que constituem a planície <strong>de</strong> <strong>de</strong>flação.‖ (CASTRO;<br />

CALHEIROS, 2003, P. 1)<br />

Por ser um ambiente instável do ponto <strong>de</strong> vista ambiental, não é propício para ocupação.<br />

Isso é visível no Iguape no período mais chuvoso, caracteristicamente no começo do ano, on<strong>de</strong> as<br />

casas são alagadas <strong>de</strong>vido ao aumento do nível do lençol freático. Outro problema é a avanço das<br />

du<strong>nas</strong> na comunida<strong>de</strong>, acentuado pela retirada <strong>de</strong> areia das du<strong>nas</strong> móveis.<br />

4. CARACTERIZAÇÃO DA PAISAGEM CULTURAL DO IGUAPE<br />

Enten<strong>de</strong>-se que a paisagem é ―um aspecto físico e um sistema <strong>de</strong> recursos naturais aos quais<br />

integram-se as socieda<strong>de</strong>s em um binômio inseparável Socieda<strong>de</strong>/ Natureza.‖ (RODRIGUEZ;<br />

SILVA; CAVALCANTE, 2010, p. 7).<br />

Assim, temos no Iguape, além da paisagem natural mostrada anteriormente, a paisagem<br />

formada pela socieda<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> se encontram as relações sociais. A paisagem cultural<br />

É formada a partir da paisagem natural pelo grupo cultural. O grupo é força<br />

ativa, a área natural é o meio (milieu) no qual o grupo atua e a paisagem cultural é<br />

resultado. Sob a influência <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada cultura, que muda com o tempo, a<br />

paisagem é <strong>de</strong>senvolvida ou <strong>de</strong>formada, alcançando talvez um clímax <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento, a não ser que o rejuvenescimento ocorra por conta da introdução<br />

<strong>de</strong> novos elementos culturais. (CORRÊA; ROSENDAHL, 2000, p. 68)<br />

Dessa maneira, observa-se a importância <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r a paisagem cultural que se formou no<br />

Iguape, através da vivência dos pescadores, ren<strong>de</strong>iras e também turistas.<br />

1349


Os pescadores da comunida<strong>de</strong> tiveram uma gran<strong>de</strong> relevância na formação da paisagem,<br />

pois ela formou-se principalmente pela presença e ação constante da comunida<strong>de</strong> no espaço, sendo<br />

que estes foram seus primeiros moradores. A comunida<strong>de</strong> do Iguape surgiu com um pequeno<br />

conjunto <strong>de</strong> casas <strong>de</strong> pescadores que foram estabelecendo-se e formando famílias. Durante esse<br />

período eles viviam principalmente da pesca no mar.<br />

Por ser dotado <strong>de</strong> uma beleza natural, o Iguape, chamou a atenção <strong>de</strong> muitos turistas que<br />

passaram a frequentar a comunida<strong>de</strong> principalmente <strong>nas</strong> décadas <strong>de</strong> 1970 e 1980, no quais foram os<br />

anos caracterizados pelo crescimento da comunida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>vido o gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> construções <strong>de</strong><br />

casas <strong>de</strong> veraneio, que passaram a ocupar os locais on<strong>de</strong> encontravam-se as antigas casas dos<br />

pescadores. Esse fato é explicado por Dantas (2011) ao dizer que<br />

Os amantes <strong>de</strong> praia, não satisfeitos com o estado das zo<strong>nas</strong> <strong>de</strong> praia<br />

fortalezense – poluídas ou ocupadas por atores in<strong>de</strong>sejáveis –, po<strong>de</strong>m, após a<br />

chegada do carro, utilizar as vias <strong>de</strong> circulação para se <strong>de</strong>slocar às praias distantes<br />

<strong>de</strong> Fortaleza. Aproveitando-se da frágil infraestrutura <strong>de</strong>senvolvida para garantir o<br />

transporte <strong>de</strong> produtos provenientes das comunida<strong>de</strong>s litorâneas, o veraneio ocupa,<br />

inicialmente, as praias vizinhas <strong>de</strong> Fortaleza, notadamente as do Icaraí e <strong>de</strong><br />

Cumbuco, em Caucaia, e a praia <strong>de</strong> Iguape, em Aquiraz. (DANTAS, 2011, p. 70)<br />

Os antigos moradores <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> ocupar o local próximo a faixa <strong>de</strong> praia e passaram a<br />

morar em áreas mais distantes da mesma. Como consequências da intervenção do turismo houve<br />

uma intensa modificação na cultura dos moradores que tiveram a sua rotina e vivência alteradas, ou<br />

seja, muitos pescadores <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> exercer sua profissão e passaram a aten<strong>de</strong>r aos turistas,<br />

disponibilizando seus barcos para passeios em alto mar ou tornando-se caseiros em segundas<br />

residências. Tais mudanças acarretaram outras sérias consequências, como a poluição do lagamar,<br />

por lançamento <strong>de</strong> esgoto e lixo, avanço <strong>de</strong> moradias <strong>nas</strong> du<strong>nas</strong>, o rápido avanço do mar <strong>de</strong>vido à<br />

diminuição da faixa <strong>de</strong> praia, resultado <strong>de</strong> construções in<strong>de</strong>vidas <strong>de</strong> casas <strong>de</strong> veraneio, entre outros.<br />

Tais fatores contribuíram para que a comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixasse <strong>de</strong> ser uma atração para turistas,<br />

prejudicando a economia local que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as décadas <strong>de</strong> 1970 e 1980 <strong>de</strong>dicava-se principalmente ao<br />

turismo.<br />

O problema também foi agravado pelo aumento da infraestrutura, que permitiu o acesso a<br />

praias cada vez mais distantes, turistas (estrangeiros e nacionais) e a classe alta fortalezense passam<br />

as suas férias em praias cada vez mais distantes <strong>de</strong> Fortaleza, on<strong>de</strong> há mais infraestrutura e on<strong>de</strong> as<br />

classes baixas tem pouco acesso, causando o <strong>de</strong>clínio do turismo na comunida<strong>de</strong> do Iguape.<br />

A falta <strong>de</strong> planejamento e investimento para que a introdução <strong>de</strong>sses elementos, como o<br />

turismo, na cultura da população fosse realizada <strong>de</strong> uma forma menos <strong>de</strong>strutiva, acarretou<br />

problemas como os vivenciados hoje pelas ren<strong>de</strong>iras, que tiveram que se instalar em um local <strong>de</strong><br />

1350


venda diferente do habitual contribuindo para a queda <strong>de</strong> suas vendas, pois a nova localida<strong>de</strong><br />

apresenta péssimas condições, <strong>de</strong>ntre elas infiltrações <strong>nas</strong> pare<strong>de</strong>s, danificando as rendas postas à<br />

venda. A associação <strong>de</strong> ren<strong>de</strong>iras do Iguape, que antes era muito visitada por veranistas que iam em<br />

direção às praias do Presídio, Iguape e Barro Preto, viu suas vendas locais gradativamente<br />

diminuírem o que fez com que as ren<strong>de</strong>iras investissem em mercados cada vez mais longe, como<br />

Fortaleza, Rio <strong>de</strong> Janeiro e São Paulo.<br />

Outro aspecto cultural do Iguape são os dançadores <strong>de</strong> coco, que tem sua tradição passada<br />

por gerações <strong>de</strong> pescadores, e ainda hoje se apresentam não somente na própria comunida<strong>de</strong> como<br />

também em eventos em Fortaleza e outra capitais do Brasil.<br />

Apesar <strong>de</strong> ter um quadro paisagístico e cultural tão belo, o Iguape vem per<strong>de</strong>ndo muito <strong>de</strong><br />

sua caracterização ambiental original <strong>de</strong>vida a pressão exercida pela ocupação resi<strong>de</strong>ncial<br />

<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada e especulação imobiliária. O resultado é a <strong>de</strong>gradação do manguezal e estrangulamento<br />

<strong>de</strong> seus canais, a poluição e assoreamento do lagamar, <strong>de</strong>smatamento, extrativismo mineral<br />

indiscriminado através da retirada <strong>de</strong> areia das du<strong>nas</strong>, pesca predatória, lixo a céu aberto, ocupação<br />

resi<strong>de</strong>ncial <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada em du<strong>nas</strong> e áreas alagáveis, poluição e contaminação hídrica causada pelo<br />

lançamento <strong>de</strong> esgoto, retirada <strong>de</strong> areia das du<strong>nas</strong>, além da falta <strong>de</strong> planejamento urbano que se nota<br />

através da ausência <strong>de</strong> saneamento básico, pavimentação ina<strong>de</strong>quada e ausência na coleta <strong>de</strong> lixo.<br />

Nesse sentido, se faz necessário elaborar ações <strong>de</strong> educação ambiental, que possibilitem a à<br />

valorização e a preservação das paisagens do Iguape, para que as futuras gerações não sofram com<br />

as consequências dos impactos ambientais causados pela <strong>de</strong>gradação atual.<br />

5. A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO TRANSFORMADORA DAS PERCEPÇÕES<br />

HUMANAS<br />

Estamos vivendo hoje uma crise ambiental fundamentalmente cultural ―causada pelo<br />

<strong>de</strong>senvolvimento explosivo da capacida<strong>de</strong> cultural da exploração dos seres humanos e dos bens<br />

naturais‖ (RODRIGUEZ; SILVA, 2010). Para mudar esse quadro se faz necessária a educação<br />

ambiental, pois esta visa à mudança <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong> das pessoas em relação ao meio ambiente.<br />

De acordo com Rodriguez; Silva (2010), cada existem diferentes concepções políticas e<br />

filosóficas <strong>de</strong> educação ambiental, cada uma tendo uma visão diferenciada para o que causa a crise<br />

ambiental e suas possíveis soluções. Para a realização dos trabalhos <strong>de</strong> educação ambiental no<br />

Iguape, foi utilizada a educação ambiental ético-social que é voltada para a formação dos indivíduos<br />

não só com conhecimento científico, mas também ambiental. Tencionando tornar os indivíduos<br />

1351


mais críticos, capazes <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r e modificar o mundo e a socieda<strong>de</strong>, critica o padrão da socieda<strong>de</strong><br />

capitalista e imagina uma socieda<strong>de</strong> socialista em comunhão com o meio ambiente.<br />

Assim, <strong>de</strong> acordo com os conceitos da educação ambiental ético-social, o projeto<br />

MANGROVE - Educação Ambiental em Áreas <strong>de</strong> Manguezal visa uma mudança <strong>de</strong> valores e <strong>de</strong><br />

atitu<strong>de</strong>s através <strong>de</strong> palestras e ofici<strong>nas</strong> on<strong>de</strong> o conhecimento científico acerca do meio ambiente e os<br />

valores solidários acerca da sua preservação objetivam formar pessoas críticas do seu momento<br />

presente e agentes <strong>de</strong> seus futuros.<br />

Nesse contexto, é importante trabalhar a educação ambiental com jovens e crianças, pois<br />

estamos conscientizando futuros cidadãos para a importância da preservação do meio ambiente.<br />

6. AÇÕES CONCRETAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL<br />

Tendo em vista a importância da conscientização ecológica através da educação ambiental,<br />

os alunos universitários que participam do projeto MANGROVE: Educação Ambiental em Áreas <strong>de</strong><br />

Manguezal vem <strong>de</strong>senvolvendo ativida<strong>de</strong>s em escolas do Iguape.<br />

Figura 6 e 7 – Oficina no manguezal do Iguape com jovens da comunida<strong>de</strong>.<br />

Fonte: Dayane <strong>de</strong> Siqueira Gonçalves, 2012.<br />

São <strong>de</strong>senvolvidos estudos e pesquisas no Laboratório <strong>de</strong> Geoecologia da Paisagem e<br />

Planejamento Ambiental – LAGEPLAN - do Departamento <strong>de</strong> Geografia da UFC, sobre<br />

metodologias e materiais didáticos que serão utilizados <strong>nas</strong> ofici<strong>nas</strong>, como cartazes, banners,<br />

apresentação <strong>de</strong> sli<strong>de</strong>s, ví<strong>de</strong>os, além <strong>de</strong> outros recursos para maximizar a compreensão do público-<br />

alvo <strong>nas</strong> exposições temáticas.<br />

As ativida<strong>de</strong>s foram <strong>de</strong>senvolvidas em parceria com a E.E.F.M. Cel. Osvaldo Studart,<br />

buscando que os jovens da comunida<strong>de</strong> do Iguape se tornem atuantes em seu próprio meio a fim <strong>de</strong><br />

1352


se tornarem cidadãos autônomos e conscientes <strong>de</strong> seu papel na socieda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> muda-<br />

lá.<br />

As metodologias utilizadas para o <strong>de</strong>senvolvimento dos trabalhos foram palestras e<br />

discussões sobre o futuro do planeta, a escassez <strong>de</strong> água potável, mudanças climáticas, consumismo<br />

exacerbado e o papel dos jovens nesse quadro visam que os alunos tomem para si a<br />

responsabilida<strong>de</strong> dos problemas ambientais e possam visualizar o seu verda<strong>de</strong>iro papel na<br />

<strong>de</strong>gradação do planeta. Dessa maneira, os jovens e crianças passaram a perceber que quem polui o<br />

ambiente não é somente o lixo e que a população que mora no entorno joga, mas também a falta <strong>de</strong><br />

saneamento, especulação imobiliária que vem valorizando a ocupação <strong>de</strong> áreas do litoral, o turismo<br />

<strong>de</strong> massa, entre outros.<br />

CONCLUSÃO<br />

A comunida<strong>de</strong> do Iguape vem sofrendo um processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação acentuado que é<br />

consequência da falta <strong>de</strong> planejamento, <strong>de</strong> infra-estrutura e investimento para a introdução do<br />

turismo. A especulação imobiliária pressiona as classes mais baixas a ocuparem áreas <strong>de</strong> risco,<br />

como as du<strong>nas</strong> e as margens do lagamar que não possuem infraestrutura e são ina<strong>de</strong>quadas para a<br />

ocupação urbana. Assim, são essenciais ativida<strong>de</strong>s sustentáveis que integrem a comunida<strong>de</strong> como<br />

pesca <strong>de</strong> subsistência, ativida<strong>de</strong>s turísticas, recreativas, educacionais e pesquisa científica.<br />

Para que haja essa mobilização, é necessária a educação ambiental com o intuito <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>spertar a responsabilida<strong>de</strong> sobre o meio para que o ser humano se perceba como principal agente<br />

para <strong>de</strong>terminar e garantir a manutenção do meio ambiente. Realizando ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

conscientização <strong>de</strong>senvolvidas pelo projeto, buscamos que os moradores, em particular os jovens,<br />

que futuramente cuidarão da comunida<strong>de</strong>, respeitem as paisagens do Iguape pela importância que<br />

tem e cui<strong>de</strong>m <strong>de</strong>las, visando à melhoria <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida da população e a conservação e<br />

preservação dos recursos naturais.<br />

REFERÊNCIAS<br />

CASTRO, J.W.A. & CALHEIROS, A.L.S. 2003. Geoindicadores resultantes dos episódios El<br />

Niño/La Niña em du<strong>nas</strong> costeiras do litoral setentrional do Nor<strong>de</strong>ste brasileiro. IX Congresso da<br />

Associação <strong>de</strong> Estudos do Quaternário (ABEQUA). Anais. CD-Rom. Recife, Pernambuco. Brasil<br />

CORRÊA, Lobato Roberto; ROSENDAHL, Zeny (Orgs.). Geografia Cultural: Um século (1). Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro: Editora UERJ, 2000. 168 p.<br />

1353


DANTAS, Eustógio Wan<strong>de</strong>rley Correia. Mar à Vista: estudo da maritimida<strong>de</strong> em Fortaleza:<br />

Fortaleza: Museu do Ceará, Secretaria <strong>de</strong> Cultura e Desporto, 2002. Disponível em:<br />

. Acesso em 16 <strong>de</strong> Set. <strong>de</strong> 2012.<br />

SILVA, Edson Vicente da; MEIRELES, Antônio Jeovah <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>. Abordagem geomorfológica<br />

para a realização <strong>de</strong> estudos integrados para o planejamento e gestão em ambientes fúviomarinhos.<br />

2002. Disponível em:. Acesso em: 6 jul.<br />

2011.<br />

RODRIGUEZ, José Manuel Mateo; SILVA, Edson Vicente da. Educação ambiental e<br />

Desenvolvimento Sustentável: Problemática, Tendências e Desafios. Fortaleza: edições UFC, 2009.<br />

RODRIGUEZ, José Manuel Mateo; SILVA, Edson Vicente da Silva; CAVALCANTI, Agostinho<br />

Paula Brito. Geoecologia das Paisagens: uma visão geossistêmica da análise ambiental. 3. ed.<br />

Fortaleza: Edições UFC, 2010. 222 p.<br />

SILVA, Edson Vicente da; CARDOSO, Evanildo Santos. Litoral <strong>de</strong> Iguape, Barro Preto e Presídio:<br />

Situação da ocupação e propostas <strong>de</strong> zoneamento geoambiental. In: SILVA, Edson Vicente da;<br />

RODRIGUEZ, José Manuel Mateo; GORAYEB, Adryane (Orgs.). Planejamento ambiental e<br />

bacias hidrográficas: gestão, sustentabilida<strong>de</strong> e turismo (Tomo2 – ―estudo <strong>de</strong> casos‖). Fortaleza:<br />

Edições UFC, 2011. p. 11–48.<br />

TESSLER, Moysés Gonsalez; MAHIQUES, Michel Michaelovitch <strong>de</strong>. Processos oceânicos e a<br />

fisiografia dos fundos marinhos. In: TEIXEIRA, Wilson; TOLEDO, M. Cristina Motta <strong>de</strong>;<br />

FAIRCHILD, Thomas Rich; TAIOLI, Fabio (Orgs.). Decifrando a terra. São Paulo: Companhia<br />

Editora Nacional, 2009. p. 261 – 284.<br />

1354


APRESENTANDO O PET MATA ATLÂNTICA: CONSERVAÇÃO E DESENVOLVIMENTO<br />

Resumo<br />

Diana Ribeiro TOSATO (CCAAB/UFRB) – dia_tosato@hotmail.com<br />

Ana Paula Moreira CEZAR (CCAAB/UFRB) – apmcezar@gmail.com<br />

Clarisse Dias CRUZ (CCAAB/UFRB) – claribiologia@gmail.com<br />

Alessandra Nasser CAIAFA (CCAAB/UFRB) – ancaiafapet@gmail.com<br />

O programa <strong>de</strong> Educação Tutorial foi instituído pela Lei Nº 11.180 <strong>de</strong> vinte e três <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong><br />

dois mil e cinco se constituindo como um programa organizado a partir <strong>de</strong> cursos <strong>de</strong> graduação que<br />

preza pela indissociabilida<strong>de</strong> entre ensino, pesquisa e extensão, objetivando o estímulo à formação<br />

profissional, a contribuição para a melhoria na qualida<strong>de</strong> do ensino superior, além <strong>de</strong> estímulo à<br />

formação <strong>de</strong> um espírito crítico, solidário e ambientalmente engajado dos estudantes atendidos. O<br />

PET Mata Atlântica: Conservação e Desenvolvimento foi criado no final <strong>de</strong> 2010 e implantado na<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Recôncavo da Bahia, localizada em uma região <strong>de</strong> relevância para a<br />

conservação da Mata Atlântica. O programa propõe três linhas <strong>de</strong> ação: Conhecendo a<br />

Biodiversida<strong>de</strong>; Interações Homem e Natureza; e Educação e Desenvolvimento, agindo direta e<br />

indiretamente num dos ecossistemas mais <strong>de</strong>vastados do mundo. Através <strong>de</strong> parcerias com<br />

organizações do terceiro setor e apoio <strong>de</strong> empresas, o grupo organiza eventos <strong>de</strong> conscientização e<br />

formação <strong>de</strong> estudantes sobre os aspectos vegetativos, faunísticos e humanos do bioma para que<br />

haja uma ação <strong>de</strong> conservação aliada ao <strong>de</strong>senvolvimento da região. Dentro do programa o<br />

estudante conhece o bioma através da aca<strong>de</strong>mia e do campo, em contato direto com comunida<strong>de</strong>s<br />

tradicionais adquirindo conhecimento empírico que se transforma em gran<strong>de</strong> diferencial <strong>de</strong>ntro da<br />

graduação, como em sua formação profissional, seguindo como base os preceitos do PET <strong>de</strong><br />

formação <strong>de</strong> alunos <strong>de</strong> excelência com responsabilida<strong>de</strong> socioambiental. Baseado nos i<strong>de</strong>ais <strong>de</strong> uma<br />

educação emancipadora transformadora da realida<strong>de</strong> social, o PET Mata Atlântica: Conservação e<br />

Desenvolvimento se dispõe a levar o conhecimento adquirido em sala <strong>de</strong> aula e projetos <strong>de</strong> pesquisa<br />

e extensionistas, realizados no âmbito do programa <strong>de</strong> educação tutorial, às comunida<strong>de</strong>s exter<strong>nas</strong><br />

ao ambiente universitário, compartilhando o i<strong>de</strong>al conservacionista, sempre aliado ao<br />

<strong>de</strong>senvolvimento das regiões <strong>de</strong> relevante interesse ecológico e seus habitantes.<br />

Palavras-chaves: bioma; preservação; formação; graduação.<br />

Abstract<br />

1355


The Education Tutorial Program was instituted by Law Nr. 11.180 of September 23, 2005 being<br />

constituted as a program <strong>de</strong>veloped in organized groups from un<strong>de</strong>rgraduation courses that values<br />

by the inseparability between education, research and extension, objectifying the stimulus to the<br />

professional graduation, to contribute for the higher education improvement and to stimulate the<br />

critical, of solidarity and environmentally engaged spirit of the atten<strong>de</strong>d stu<strong>de</strong>nts. The PET Mata<br />

Atlântica: Conservação e Desenvolvimento was created in the end of 2010 and <strong>de</strong>ployed in<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Recôncavo da Bahua located in a relevant area to the conservation of<br />

Atlantic Forest. The project proposes three working lines: Knowing the biodiversity, man-nature<br />

interactions and education and <strong>de</strong>velopment, acting directly and indirectly in one of the ecosystems<br />

most <strong>de</strong>vastated in the world. By partnerships with third sector organizations and companies<br />

support, the group organizes events of awareness and formation of stu<strong>de</strong>nts about vegetative, faunal<br />

and human aspects of the biome, in or<strong>de</strong>r that to have an action of conservation combined with<br />

region <strong>de</strong>velopment. Insi<strong>de</strong> the program, the stu<strong>de</strong>nt knows the biome through the aca<strong>de</strong>my and the<br />

field, in direct contact with traditional communities acquiring an empirical knowledge which<br />

becomes a differential as insi<strong>de</strong> the un<strong>de</strong>rgraduation as on your professional formation, following as<br />

base the PET precepts of training stu<strong>de</strong>nts for excellence with socioenvironmental responsibility.<br />

Based in the i<strong>de</strong>als of an emancipator education, converter of the social reality, the PET Mata<br />

Atlântica: Conservação e Desenvolvimento is willing to <strong>de</strong>liver the knowledge acquired in class and<br />

in research and extensionist projects, carried out at the scope of Education Tutorial Program to the<br />

communities outsi<strong>de</strong> the university environment, sharing the conservationist i<strong>de</strong>al, always allied to<br />

the <strong>de</strong>velopment of relevant ecological interest regions and their inhabitants.<br />

Keywords: biome; preservation; training; un<strong>de</strong>rgraduation.<br />

Introdução e Apresentação do Grupo<br />

O Programa <strong>de</strong> Educação Tutorial foi criado em 1979 pela CAPES pelo então Diretor Geral<br />

Prof. Dr. Cláudio <strong>de</strong> Moura e Castro, inicialmente chamado <strong>de</strong> Programa Especial <strong>de</strong><br />

Treinamento.Preocupado com a qualida<strong>de</strong> do ensino superior, o Professor Castro criou o Programa<br />

baseado na sua própria experiência como bolsista <strong>de</strong> um programa que havia na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Ciências Econômicas (FACE), em Mi<strong>nas</strong> Gerais, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a década <strong>de</strong> 50. O programa, na FACE, era<br />

inspirado em programas <strong>de</strong> Universida<strong>de</strong>s america<strong>nas</strong> e em procedimentos adotados em<br />

Universida<strong>de</strong>s inglesas.<br />

1356


O PET foi implantado como um programa <strong>de</strong> excelência, selecionando alunos <strong>de</strong> um<br />

<strong>de</strong>terminado curso para <strong>de</strong>senvolverem ativida<strong>de</strong>s acadêmicas extracurriculares em período integral<br />

formando grupos <strong>de</strong> estudos e tutorados por um professor. A função do tutor seria estimular a<br />

aprendizagem ativa, através <strong>de</strong> vivências, reflexões e discussões informais, prevalecendo à<br />

cooperação no grupo. Des<strong>de</strong> então o programa <strong>de</strong> educação tutorial passou por diversas fases e<br />

transformações. A principal <strong>de</strong>las é a não obrigatorieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> se vincular a ape<strong>nas</strong> um curso <strong>de</strong><br />

graduação e sim po<strong>de</strong>r se constituir <strong>de</strong> forma interdisciplinar, com a participação <strong>de</strong> alunos <strong>de</strong><br />

diferentes curso <strong>de</strong> graduação num único grupo trabalhando em prol do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> áreas<br />

temáticas.<br />

O programa <strong>de</strong> Educação Tutorial foi instituído nos seus mol<strong>de</strong>s atuais, pela Lei Nº 11.180 <strong>de</strong><br />

23 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2005, se constituindo como um programa <strong>de</strong>senvolvido em grupos organizados a<br />

partir <strong>de</strong> cursos <strong>de</strong> graduação, e composto por, no máximo, 12 estudantes bolsistas e um professor<br />

tutor. Garantindo que os grupos sejam pautados pelo principio da indissociabilida<strong>de</strong> entre ensino,<br />

pesquisa e extensão. O programa traz como objetivos principais: <strong>de</strong>senvolver ativida<strong>de</strong>s acadêmicas<br />

com padrão <strong>de</strong> excelência, contribuir para a elevação da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> formação acadêmica dos<br />

alunos <strong>de</strong> graduação, estimular o espírito crítico, bem como a atuação profissional pautada pela<br />

cidadania e pela função social da educação superior. Nessa nova fase o PET se encontra sob<br />

responsabilida<strong>de</strong> da Coor<strong>de</strong>nação-Geral <strong>de</strong> Relações Estudantis (CGRE) da Diretoria da Re<strong>de</strong> IFES<br />

(DIFES), subordinados ao Ministério da Educação.<br />

No Edital PET n 09 <strong>de</strong> 2010, o Programa <strong>de</strong> Educação Tutorial mais uma vez se reformula e<br />

se fusiona ao Programa Conexões <strong>de</strong> Saberes, estimulando maior articulação entre as IES e as<br />

comunida<strong>de</strong>s populares, oferendo a <strong>de</strong>vida troca <strong>de</strong> saberes além do oferecimento da formação <strong>de</strong><br />

excelência aos estudantes oriundos <strong>de</strong> populações urba<strong>nas</strong> <strong>de</strong> risco, do campo ou quilombolas, e<br />

comunida<strong>de</strong>s indíge<strong>nas</strong>. Nesse contexto, é criado o PET Mata Atlântica: Conservação e<br />

Desenvolvimento, um grupo interdisciplinar que tem como temática principal a conservação<br />

ambiental.<br />

Assim como no restante do País, no Recôncavo Sul Baiano, a situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação e<br />

<strong>de</strong>scaracterização dos fragmentos <strong>de</strong> Mata Atlântica e Ecossistemas Associados, e <strong>de</strong> seus<br />

habitantes tradicionais é alarmante. Com o intuito <strong>de</strong> transformar essa realida<strong>de</strong> no âmbito do<br />

ambiente universitário do Recôncavo Baiano e para fora <strong>de</strong>le, O PET Mata Atlântica: Conservação<br />

e Desenvolvimento realiza ativida<strong>de</strong>s nos eixos <strong>de</strong> ensino, pesquisa e extensão. O grupo foi criado<br />

na Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Recôncavo da Bahia (UFRB) e encontra-se vinculado a Pró-reitora <strong>de</strong><br />

Graduação (PROGRAD) e conta com o apoio da administração central da Instituição.<br />

1357


O PET Mata Atlântica: Conservação e Desenvolvimento é um grupo interdisciplinar e<br />

temático, composto pelos cursos <strong>de</strong> Biologia (Bacharelado e Licenciatura), Tecnológico em<br />

Agroecologia, Engenharia Florestal, Agronomia e Tecnológico em Gestão <strong>de</strong> Cooperativas tem a<br />

possibilida<strong>de</strong> concreta <strong>de</strong> transformação da realida<strong>de</strong> a qual estamos inseridos, por meio <strong>de</strong> uma<br />

<strong>de</strong>safiadora e contínua dinamização das ativida<strong>de</strong>s, em parceria obrigatória entre a universida<strong>de</strong> e a<br />

comunida<strong>de</strong> regional.<br />

O objetivo principal <strong>de</strong> criação do grupo aqui apresentando é contribuir para a formação <strong>de</strong><br />

excelência dos estudantes a partir <strong>de</strong> um olhar interdisciplinar da Mata Atlântica e ecossistemas<br />

associados; porém não somente dos discentes envolvidos diretamente no Programa <strong>de</strong> Educação<br />

Tutorial, mas sim <strong>de</strong> todos os acadêmicos da UFRB. Assim, privilegia-se a indissociabilida<strong>de</strong> entre<br />

Ensino, Pesquisa e Extensão, buscando uma melhoria nos cursos <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> graduação da<br />

UFRB, tornando nossos futuros egressos cidadãos éticos e conscientes <strong>de</strong> seu papel <strong>de</strong> agente<br />

transformador da socieda<strong>de</strong>.<br />

Neste sentindo a proposta do PET Mata Atlântica: Conservação e Desenvolvimento articula-<br />

se ao Plano <strong>de</strong> Desenvolvimento Institucional (PDI) da UFRB (quinquênio 2010-2014), principal<br />

instrumento <strong>de</strong> gestão da Instituição que tem como objetivo principal interagir com o potencial<br />

socioambiental <strong>de</strong> cada espaço do Recôncavo Baiano. A UFRB foi criada pela Lei nº 11.151 <strong>de</strong> 29<br />

<strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 2005, que iniciou suas ativida<strong>de</strong>s em 03 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 2006, integrando o programa <strong>de</strong><br />

interiorização do ensino superior no Brasil. Possuindo o mo<strong>de</strong>lo multicampi, com campus nos<br />

municípios <strong>de</strong> Amargosa, Santo Antônio <strong>de</strong> Jesus e Cruz das Almas, on<strong>de</strong> esta sediado o grupo PET<br />

Mata Atlântica: Conservação e Desenvolvimento.<br />

Contexto da Região <strong>de</strong> Atuação do PET Mata Atlântica: Conservação e Desenvolvimento<br />

Sob o ponto <strong>de</strong> vista ambiental a Região Recôncavo Sul Baiano tem como característica<br />

marcante a pluralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> paisagens dotadas <strong>de</strong> belezas naturais. Em termos ecossistêmicos o<br />

insere-se predominantemente no Domínio da Mata Atlântica, e um <strong>de</strong> seus remanescentes florestais<br />

mais bem preservados, a Serra da Jibóia, representa o extremo norte do Corredor Central da Mata<br />

Atlântica. O conceito senso amplo <strong>de</strong> Domínio da Mata Atlântica, engloba as formações florestais<br />

Ombrófilas Densas e Abertas, as florestas Estacionais Semi<strong>de</strong>ciduais e Deciduais, bem como os<br />

ecossistemas associados: Afloramentos Rochosos, Restingas e Manguezais. Todas estas fisionomias<br />

<strong>de</strong> vegetação encontram-se representadas em diferentes graus <strong>de</strong> conservação no Recôncavo Sul<br />

Baiano.<br />

A Mata Atlântica é o conjunto <strong>de</strong> ecossistemas mais ocupado e <strong>de</strong>vastado do País. Em nossa<br />

região do Recôncavo Sul Baiano a situação dos remanescentes florestais é alarmante, em virtu<strong>de</strong> da<br />

1358


fragmentação e dos constantes <strong>de</strong>smatamentos. Temos duas ecorregiões prioritárias: uma<br />

<strong>de</strong>nominada ―Recôncavo e Baía <strong>de</strong> Todos os Santos‖, apontada como <strong>de</strong> alta importância biológica<br />

e a ―Serra da Jibóia‖, categorizada como insuficientemente conhecida, mas <strong>de</strong> provável importância<br />

biológica. Não é a primeira vez que a Serra da Jibóia, distante ape<strong>nas</strong> 60 km da se<strong>de</strong> da UFRB é<br />

citada em artigos pelo <strong>de</strong>sconhecimento <strong>de</strong> sua biodiversida<strong>de</strong>. Sendo então necessários esforços<br />

para o conhecimento <strong>de</strong> seu potencial biológico.<br />

A relação harmônica ―Homem-Bioma‖ tem se intensificado a partir da década <strong>de</strong> 80 quando<br />

as populações nativas foram incorporadas em ações <strong>de</strong> manejo <strong>de</strong> áreas protegidas. Há um<br />

entendimento que a limitação do uso tradicional dos recursos naturais po<strong>de</strong> resultar na<br />

<strong>de</strong>sestruturação social <strong>de</strong>ssas populações e na perda do conhecimento sobre os ecossistemas.<br />

Diversos autores <strong>de</strong>stacam a importância do conhecimento nativo ou tradicional para a conservação<br />

da Biodiversida<strong>de</strong>. Porém a realida<strong>de</strong> é que as populações tradicionais estão <strong>de</strong>saparecendo mais<br />

rápido do que as florestas <strong>nas</strong> quais habitam. No Recôncavo Sul Baiano são várias as populações<br />

quilombolas, rurais e ribeirinhas que vivem em condições precárias e sem apoio para a manutenção<br />

<strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s tradicionais, o que vem causando a <strong>de</strong>scarcterização <strong>de</strong> sua cultura.<br />

Neste cenário os estudantes participantes do grupo, <strong>de</strong> diferentes cursos <strong>de</strong> formação <strong>de</strong><br />

graduação, serão capazes <strong>de</strong> exercer a tría<strong>de</strong> ensino, pesquisa e extensão <strong>de</strong> forma plena e assim<br />

contribuir ao <strong>de</strong>senvolvimento sustentável <strong>de</strong> importantes remanescentes do Domínio da Mata<br />

Atlântica no Recôncavo Sul. É uma obrigação do PET – MATA ATLÂNTICA: Conservação e<br />

Desenvolvimento, a articulação entre o saber científico e a complexa realida<strong>de</strong> do Recôncavo Sul<br />

Baiano.<br />

Linhas <strong>de</strong> Ação<br />

O PET Mata Atlântica: Conservação e Desenvolvimento se fundamenta em três linhas <strong>de</strong><br />

ação. A 1ª linha ―Conhecendo a Biodiversida<strong>de</strong>‖ tem correlação com o Grupo <strong>de</strong> Pesquisa<br />

Biodiversida<strong>de</strong> e Conservação do Recôncavo Baiano. Ressalta-se que, hoje, temos na instituição<br />

uma gama <strong>de</strong> profissionais que já focam suas pesquisas no conhecimento da biodiversida<strong>de</strong> e<br />

também na possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> bioprospecção sustentável da Mata Atlântica e seus ecossistemas<br />

associados.<br />

A 2ª linha abrange as ―Interações Homem-Natureza‖. Como os habitantes da Mata Atlântica<br />

enten<strong>de</strong>m este ecossistema? Há alguma forma <strong>de</strong> utilização? O gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio posto é a necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> construir juntamente com a socieda<strong>de</strong>, soluções que atendam as <strong>de</strong>mandas sociais da produção<br />

do conhecimento, integrando os saberes acadêmicos e tradicionais/populares, com a participação <strong>de</strong><br />

1359


todos os atores envolvidos no processo <strong>de</strong> pesquisa e ensino, promovendo o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

humano, sócio-ambiental, cultural e econômico.<br />

Na 3ª linha a temática ―Educação e Desenvolvimento‖, <strong>de</strong>stina-se a investigar as<br />

possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> uso da educação enquanto ponte <strong>de</strong> comunicação, mobilização e transformação <strong>de</strong><br />

padrões sociais. Os envolvidos irão atuar no ensino formal, reciclando os professores das escolas do<br />

Recôncavo Sul Baiano e oferecendo perspectivas <strong>de</strong> novas abordagens pedagógicas. Tais ações<br />

po<strong>de</strong>rão interagir com projetos <strong>de</strong> pesquisa em educação da própria UFRB.<br />

Funcionamento do Grupo<br />

Metodologicamente, para o bom andamento das ativida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>senvolvimento do grupo,<br />

optamos por dividi-lo em quatro coor<strong>de</strong>nações, sendo elas: Coor<strong>de</strong>nação Administrativa,<br />

Coor<strong>de</strong>nação Financeira, Coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> Estrutura-física e Coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> Comunicação. Sendo<br />

que cada coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong>senvolve ativida<strong>de</strong>s diárias <strong>de</strong> <strong>de</strong>mandas do grupo, e também executa as<br />

ativida<strong>de</strong>s que lhe cabem no Planejamento Anual do PET Mata Atlântica: Conservação e<br />

Desenvolvimento.<br />

Nossos encontros são feitos em reuniões ordinárias semanais, para que <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse período,<br />

entre uma e outra reunião, haja um prazo <strong>de</strong> execução <strong>de</strong> <strong>de</strong>mandas <strong>de</strong>liberadas para cada petiano.<br />

Nossas reuniões são registradas com atas, feitas sempre pelos petianos da Coor<strong>de</strong>nação<br />

Administrativa, que ficam armazenadas na sala do PET juntamente com todos os outros<br />

documentos necessários para o funcionamento do grupo.<br />

Na sala PET Mata Atlântica, dispomos <strong>de</strong> boletins informativos cedidos em sua gran<strong>de</strong><br />

maioria pelo Grupo Ambientalista da Bahia (GAMBA), que distribuímos para a comunida<strong>de</strong><br />

acadêmica da UFRB à medida que nos visitam na sala do PET nos horário dos plantões dos<br />

petianos. Dispomos também <strong>de</strong> um pequeno e importante acervo bibliográfico <strong>de</strong> Mata Atlântica ou<br />

temática ambientais, doadas pelas diversas ONG‘s, como o SOS Mata Atlântica e a Conservação<br />

Internacional do Brasil, que po<strong>de</strong>m ser consultados pela comunida<strong>de</strong> acadêmica. Esse acervo é a<br />

base para criação <strong>de</strong> nossas propostas <strong>de</strong> ação e projetos.<br />

Ativida<strong>de</strong>s Desenvolvidas<br />

Buscando alcançar estes objetivos o grupo <strong>de</strong>senvolve ativida<strong>de</strong>s baseadas na tría<strong>de</strong>: ensino,<br />

pesquisa e extensão. Dentre as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> extensão <strong>de</strong>senvolvidas <strong>de</strong>stacam-se o Dia Nacional da<br />

Mata Atlântica, que está na sua segunda edição e a proposta é que seja realizado todos os anos na<br />

data comemorativa da Mata Atlântica (27 <strong>de</strong> Maio).<br />

1360


Na primeira edição em 2011, o ―Dia da Mata Atlântica no Ano Internacional das Florestas‖,<br />

buscou inserir a Floresta Atlântica no contexto das florestas <strong>de</strong> forma ampla e abrangente, trazendo<br />

ao <strong>de</strong>bate resultados atuais sobre a <strong>de</strong>gradação e as ações conservacionistas empenhadas para<br />

amenizar a <strong>de</strong>gradação. Este ano, o ―II Dia Nacional da Mata Atlântica no contexto dos Hotspots:<br />

―Pontos Quentes‖ <strong>de</strong> Biodiversida<strong>de</strong>‖, proporcionou a discussão da situação em que se encontra o<br />

bioma Mata Atlântica no contexto <strong>de</strong> hotspots mundial e mais uma vez, por ser a missão primordial<br />

<strong>de</strong>ste projeto, buscou-se fomentar o <strong>de</strong>bate para uma política eficiente e a conscientização dos<br />

participantes quanto a conservação da Mata Atlântica.<br />

A parceria com o GAMBA (Grupo Ambientalista da Bahia) proporcionou ao PET Mata<br />

Atlântica o envolvimento em mais um projeto conservacionista, o SERMATA (Seminário Regional<br />

<strong>de</strong> Ações Conservacionistas do Recôncavo Sul), realizado no dia 19 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2011, fazendo<br />

parte do projeto ―Ações Ambientais Sustentáveis no Recôncavo Sul Baiano‖, que por meio <strong>de</strong> ações<br />

ambientais sustentáveis beneficiará diretamente cerca <strong>de</strong> 6.000 pessoas. A realização <strong>de</strong>ste trabalho<br />

dá continuida<strong>de</strong> às ações <strong>de</strong> recuperação <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong>gradadas da Mata Atlântica e busca contribuir<br />

para influenciar mudanças <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s das comunida<strong>de</strong>s locais, da socieda<strong>de</strong> civil organizada e do<br />

po<strong>de</strong>r público da região, quanto à conservação dos sistemas ambientais e a sobrevivência <strong>de</strong>stas<br />

comunida<strong>de</strong>s.<br />

Estes eventos que trazem como temática primordial as ações <strong>de</strong> conservação, envolvem a<br />

socieda<strong>de</strong> como sua principal aliada. O intuito dos eventos <strong>de</strong>senvolvidos pelo grupo é promover a<br />

disseminação da informação, a partir <strong>de</strong> consórcio do conhecimento acadêmico com o potencial <strong>de</strong><br />

mudança que a socieda<strong>de</strong> tem, mas que muitas vezes <strong>de</strong>sconhece. Por isso é tão importante alertar,<br />

educar e fomentar <strong>de</strong>bates com estes princípios. Ape<strong>nas</strong> a socieda<strong>de</strong> é capaz <strong>de</strong> transformar o<br />

impacto <strong>de</strong> décadas causado a Mata atlântica.<br />

A ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pesquisa em <strong>de</strong>staque que o grupo está implantando na UFRB é uma<br />

Experiência em Reflorestamento com espécies Nativas da Mata Atlântica, <strong>de</strong>nominado ―Talhão<br />

Memoria‖. A proposta é daqui a alguns anos estabelecer um fragmento <strong>de</strong> Mata Atlântica, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />

uma área totalmente impactada por ações antrópicas. Fazendo com que essa área sirva <strong>de</strong> referencia<br />

para estudos comparativos em sistemas <strong>de</strong> manejo <strong>de</strong> produção agrícola. Sendo que nessa área os<br />

petianos tiveram e estão tendo contato direto com diversos áreas do conhecimento como:<br />

Georreferenciamento, I<strong>de</strong>ntificação Taxonômica, Restauração Ambiental, bem como controle <strong>de</strong><br />

espécies daninhas e avaliação da progressão da área a ser reflorestada. Po<strong>de</strong>ndo ainda esse hectare<br />

ser contabilizado como área <strong>de</strong> Reserva Legal do Campus <strong>de</strong> Cruz das Almas e servir como mo<strong>de</strong>lo<br />

a ser implantado em peque<strong>nas</strong> proprieda<strong>de</strong>s rurais como forma <strong>de</strong> mitigar potenciais impactos<br />

ambientais e o principal recuperar a prestação dos serviços ecossistêmicos.<br />

1361


No ―PET vai a Escola‖ o grupo promoveu uma ativida<strong>de</strong> em uma escola <strong>de</strong> ensino primário<br />

no município <strong>de</strong> Casto Alves, localizada no entorno <strong>de</strong> um fragmento <strong>de</strong> Mata Atlântica que abriga<br />

a única Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Conservação da Serra da Jibóia, a RPPN Guarirú. Em nossos encontros com os<br />

alunos e professoras da escola, buscamos compreen<strong>de</strong>r qual o olhar que esses atores lançam sobre a<br />

Mata Atlântica, ou seja, suas percepções sobre a paisagem faunística e florística na qual estão<br />

inseridos. O grupo realizou com as crianças um teatro com bonecos <strong>de</strong> pano para entretenimento a<br />

partir da temática da educação ambiental, foi proposto que as crianças fizessem <strong>de</strong>senhos para<br />

expressar os animais que eles já viram na mata, e as paisagens que elas mais se i<strong>de</strong>ntificam, nestas<br />

ativida<strong>de</strong>s com as crianças po<strong>de</strong>-se perceber o quanto elas se sentam parte da natureza e a forma<br />

como elas veem o processo da <strong>de</strong>gradação ambiental da Mata Atlântica, que ocorre no entorno <strong>de</strong><br />

on<strong>de</strong> elas moram e estudam. Na segunda etapa <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s no ―PET vai a Escola‖ em andamento<br />

estamos construindo uma proposta <strong>de</strong> material didático complementar, em parceria com as<br />

professoras da escola a ser distribuído e utilizado <strong>nas</strong> escolas da região da Serra da Jibóia.<br />

Com o intuito <strong>de</strong> facilitar nossas pesquisas e sistematizar todas as formas <strong>de</strong> literatura<br />

produzidas sobre a Mata Atlântica, foi criado em encontra-se em fase <strong>de</strong> alimentação, um banco <strong>de</strong><br />

dados sobre a Mata Atlântica em ambiente Microsoft Access. O objetivo <strong>de</strong>sta ação é organizar a<br />

bibliografia a cerca da temática (legislação, artigos, livros, manuais). Esta bibliografia será<br />

disponibilizada aos petianos e aos estudantes da UFRB que tiverem interesse no campo <strong>de</strong> estudo.<br />

O banco <strong>de</strong> dados até o momento, possui cerca <strong>de</strong> 150 trabalhos. A partir <strong>de</strong> sua consolidação<br />

estudaremos uma forma <strong>de</strong> disponibiliza-lo na re<strong>de</strong> virtual, para que possa atingir um público bem<br />

mais amplo, proporcionando a disseminação da informação a nível exponencial.<br />

Uma visita técnica <strong>de</strong>nominada: ―Conhecendo a Mata Atlântica e seus Habitantes‖,foi<br />

realizada em área <strong>de</strong> restinga e mangue (ecossistemas associados) e em dois fragmentos florestais<br />

da Mata Atlântica. Essa ativida<strong>de</strong> teve por objetivo possibilitar aos participantes do grupo e seus<br />

convidados uma percepção real do nosso campo <strong>de</strong> estudo. Compreen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> perto seus aspectos e<br />

características são <strong>de</strong>finidores para a qualida<strong>de</strong> da pesquisa. Por sermos um PET com esta temática,<br />

não existe outra forma melhor <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r sobre nosso campo <strong>de</strong> interesse do que presencialmente,<br />

esta é sem dúvida a melhor estratégia <strong>de</strong> aprendizado.<br />

Meios <strong>de</strong> Comunicação<br />

Buscando veicular as informações pertinentes a Mata Atlântica e as ativida<strong>de</strong>s realizadas<br />

pelo grupo foram criados meios eletrônicos, um mural e os jornais do PET com a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> do<br />

grupo para divulgar estas informações.<br />

1362


O mural é dinâmico e informativo, localizado em um dos pavilhões <strong>de</strong> aulas da UFRB, ao<br />

lado da sala <strong>de</strong>stinada ao funcionamento do grupo. Ele foi dividido em tem três sessões: na primeira<br />

seção tem uma <strong>de</strong>scrição do grupo, sua missão e seus objetivos, na segunda seção um calendário<br />

das principais datas ambientais comemorativas, e na terceira trabalhamos com uma temática que é<br />

variável, a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r do período do ano e da abordagem <strong>de</strong> questões pertinentes, como a divulgação<br />

<strong>de</strong> eventos, notícias sobre a Mata Atlântica ou temas ambientais e questões atuais da socieda<strong>de</strong> e da<br />

Universida<strong>de</strong>.<br />

O Jornal da Mata é mais um meio informativo que ainda se encontra em fase <strong>de</strong><br />

diagramação do primeiro número. Será trabalhado no jornal, temas diretamente ligados a Mata<br />

Atlântica e a questões ambientais, além <strong>de</strong> informações sobre o Programa <strong>de</strong> Educação Tutorial e<br />

das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas pelo grupo. O objetivo <strong>de</strong>ssa ativida<strong>de</strong> é promover maior integração<br />

entre PET Mata Atlântica: Conservação e Desenvolvimento e a comunida<strong>de</strong> acadêmica da UFRB e<br />

<strong>de</strong> outros ambientes do qual o PET esteja participando.<br />

No meio eletrônico o grupo criou um site oficial do PET, <strong>de</strong>ntro do domínio da<br />

universida<strong>de</strong>: www.ufrb.edu.br/petmataatlantica, on<strong>de</strong> divulgamos o grupo PET, os petianos e<br />

nossas ativida<strong>de</strong>s. Foi criado também um blog no intuito <strong>de</strong> ser um veículo mais dinâmico e mais<br />

interativo para os internautas: www.<strong>de</strong>olhonamataatlantica.blospot.com, nele divulgamos<br />

informações e referências <strong>de</strong> livros, cartilhas, artigos e textos acerca da Mata Atlântica, não se<br />

restringindo as notícias do PET. Desta forma o blog funciona como um indicativo <strong>de</strong> acervo<br />

bibliográfico da temática, on<strong>de</strong> os links <strong>de</strong> arquivos ligados a temática estarão disponíveis para<br />

download.<br />

Consi<strong>de</strong>rações Finais<br />

Através da tría<strong>de</strong> fundamental entre ensino, pesquisa e extensão, o Programa <strong>de</strong> Educação<br />

Tutorial transforma os participantes em alunos diferenciados, além <strong>de</strong> cidadãos críticos e<br />

formadores <strong>de</strong> opinião, os quais agem como multiplicadores <strong>de</strong> conhecimento <strong>de</strong>ntro do âmbito<br />

acadêmico e na socieda<strong>de</strong>.<br />

O PET Mata Atlântica: Conservação e Desenvolvimento aten<strong>de</strong>u mais <strong>de</strong> 780 estudantes da<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Recôncavo da Bahia, <strong>de</strong> diferentes formações <strong>de</strong> toda a região do<br />

Recôncavo Sul Baiano, com cursos voltados à conservação do bioma e formação pessoal como:<br />

relações huma<strong>nas</strong>: apren<strong>de</strong>ndo a trabalhar em grupo; práticas educacionais; manejo e alimentação<br />

<strong>de</strong> animais silvestres; conhecendo o novo código florestal; solos da Mata Atlântica; etnozoologia;<br />

conhecendo a vegetação da Mata Atlântica; mastozoologia; restauração <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong>gradadas;<br />

florística da Mata Atlântica; coleta e conservação <strong>de</strong> sementes <strong>de</strong> árvores da Mata Atlântica e<br />

1363


Economia ver<strong>de</strong>. Grupos <strong>de</strong> discussão e trabalho também foram fomentados e tiveram a<br />

participação do Grupo Ambientalista da Bahia como: a<strong>de</strong>quação ambiental; leis da mata atlântica;<br />

uso sustentável dos recursos naturais; economia solidária e agroecologia no Recôncavo; educação<br />

ambiental na formação crítica e conservação dos recursos hídricos. Todas essas ativida<strong>de</strong>s contam<br />

com parceiros valorosos que atuam como docentes em nossa Instituição, e que participam <strong>de</strong> nossos<br />

eventos e ações <strong>de</strong> forma voluntária, bem com docentes <strong>de</strong> outras IES como a Universida<strong>de</strong><br />

Estadual <strong>de</strong> Feira <strong>de</strong> Santana (UEFS), Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Santa Cruz (UESC), Universida<strong>de</strong><br />

Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Viçosa (UFV). Além <strong>de</strong> organizações do terceiro setor como o Grupo Ambientalista da<br />

Bahia, SOS Mata Atlântica e Conservação Internacional do Brasil. O convívio dos participantes <strong>de</strong><br />

nossas ações com diferentes profissionais gabaritados, po<strong>de</strong> influenciar suas <strong>de</strong>cisões profissionais.<br />

Os participantes do grupo Mata Atlântica: Conservação e Desenvolvimento possuem uma<br />

formação diferenciada, <strong>de</strong>vido à vivência com as diversas experiências executadas pelo grupo. Essa<br />

multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> funções <strong>de</strong>sempenhada pelos participantes do grupo faz com que os mesmos<br />

<strong>de</strong>senvolvem um senso <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> profissional, além <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvoltura para resolver<br />

problemas <strong>de</strong> forma coletiva e saber dividir seu tempo entre os estudos e sua formação/atuação<br />

diferenciada. Devido a necessida<strong>de</strong> da manutenção <strong>de</strong> um escore elevado, os participantes se<br />

transformam em estudantes <strong>de</strong> excelência com <strong>de</strong>sempenho diferenciado em pesquisas, prática <strong>de</strong><br />

ensino e extensão. Isso os capacita como agentes transformadores da socieda<strong>de</strong> com foco no<br />

Recôncavo Baiano, dividindo o conhecimento com os <strong>de</strong>mais colegas <strong>de</strong> graduação e toda região. O<br />

PET Mata Atlântica: Conservação e Desenvolvimento com ape<strong>nas</strong> dois anos conseguiu<br />

proporcionar mudanças na Universida<strong>de</strong>, incentivos na região e crescimento na vida dos seus<br />

participantes diretos e indiretos, <strong>de</strong>ntro e fora dos limites da Universida<strong>de</strong> e tem como perspectiva<br />

que todos as ações continuem e sejam multiplicadas, em prol da conservação da Mata Atlântica,<br />

objetivo fundamental da criação do grupo.<br />

Referências<br />

BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Conexões <strong>de</strong> Saberes. Disponível em:<br />

.<br />

Acesso em: 19 out. 2012.<br />

BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Programa <strong>de</strong> Educação Tutorial. Disponível em:<br />

.<br />

Acesso em: 19 out. 2012.<br />

BRASIL. Lei nº 11.180, <strong>de</strong> 13 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2005. Institui o Projeto Escola <strong>de</strong> Fábrica, autoriza a<br />

concessão <strong>de</strong> bolsas <strong>de</strong> permanência a estudantes beneficiários do Programa Universida<strong>de</strong> para<br />

1364


Todos – PROUNI, institui o Programa <strong>de</strong> Educação Tutorial – PET, altera a Lei no5.537, <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong><br />

novembro <strong>de</strong> 1968, e a Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, aprovada pelo Decreto-Lei<br />

no5.452, <strong>de</strong> 1o <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1943, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 13<br />

set. 2005. Disponível em: .<br />

Acesso em: 28 set. 2012.<br />

BRASIL. Lei nº 11.151 <strong>de</strong> 29 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2005. Dispõe sobre criação da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do<br />

Recôncavo da Bahia – UFRB, por <strong>de</strong>smembramento da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Bahia – UFBA, e<br />

dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 29 jul. 2005. Disponível em:<br />

. Acesso em: 28 set.<br />

2012.<br />

CASTRO, C. M. O PET visto por seu criador. Disponível em:<br />

<br />

Acesso em: 10 out. 2012.<br />

1365


PLANEJAMENTO E AÇÕES AMBIENTAIS NO PARQUE ESTADUAL MARINHO DE AREIA<br />

Resumo<br />

VERMELHA, CABEDELO, PB<br />

Juan Diego Silva LOURENÇO (DB/UEPB) – lourenco.cbio@gmail.com<br />

José Jailson <strong>de</strong> FARIAS (CEM/UEPB) – zafari@ig.com.br<br />

Christinne Costa ELOY (IFPB/Cabe<strong>de</strong>lo) – christinne.eloy@gmail.com<br />

O Parque Estadual Marinho <strong>de</strong> Areia Vermelha (PEMAV) é um dos pontos turísticos mais visitados<br />

na região metropolitana <strong>de</strong> João Pessoa-PB e, embora tendo sido criado a mais <strong>de</strong> uma década,<br />

necessita da efetivação <strong>de</strong> um plano <strong>de</strong> manejo a<strong>de</strong>quado à ativida<strong>de</strong> turística. Como suporte ao<br />

plano emergencial <strong>de</strong> manejo da Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Conservação, a Universida<strong>de</strong> Estadual da Paraíba<br />

(UEPB) <strong>de</strong>senvolveu o projeto <strong>de</strong> extensão ―Educação e preservação ambiental no PEMAV‖,<br />

executado com a Su<strong>de</strong>ma-PB, e tendo como parceiros e colaboradores o IFPB, Secretaria <strong>de</strong> Pesca e<br />

Meio Ambiente <strong>de</strong> Cabe<strong>de</strong>lo e associação Guajiru que, <strong>de</strong> forma conjunta, realizaram ações <strong>de</strong><br />

educação ambiental com informação e orientação sobre normas para visitação do Parque. Foram<br />

elaborados vários materiais educativos divulgados em fol<strong>de</strong>rs, banners e mídia <strong>de</strong> comunicação<br />

local contendo as normas <strong>de</strong> conduta consciente e um mapa <strong>de</strong> visitação, que foram essenciais na<br />

sensibilização dos atores envolvidos e implantação <strong>de</strong> práticas <strong>de</strong> manejo sustentáveis para o<br />

parque. Como forma <strong>de</strong> or<strong>de</strong>namento, agentes ambientais foram treinados e atuaram na orientação<br />

dos visitantes <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os pontos <strong>de</strong> embarque, <strong>nas</strong> embarcações e na ilha propriamente dita. O<br />

resultado das ações <strong>de</strong>monstrou a importância da educação ambiental no parque, uma vez que 98%<br />

dos visitantes indicam a visita e preten<strong>de</strong>m retornar à ilha e mais <strong>de</strong> 40% <strong>de</strong>les já visitaram o parque<br />

mais <strong>de</strong> uma vez. Por se tratar <strong>de</strong> uma área com priorida<strong>de</strong> <strong>de</strong> preservação para os recifes <strong>de</strong> corais,<br />

as ações <strong>de</strong>senvolvidas foram essenciais para a orientação <strong>de</strong> um plano <strong>de</strong> manejo que <strong>de</strong>ve estar<br />

a<strong>de</strong>quado ao <strong>de</strong>senvolvimento econômico e socioambiental, integrando a comunida<strong>de</strong> no sentido <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolver um turismo ecologicamente correto e sustentável.<br />

Palavras-chave: Educação ambiental; Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Conservação Marinha; Turismo sustentável.<br />

Abstract<br />

The Marine State Park of the Areia Vermelha (PEMAV) is the most visited tourist sites in the<br />

metropolitan area of João Pessoa and although having been created over a <strong>de</strong>ca<strong>de</strong> requires the<br />

execution of a management plan suited to tourism. How to support emergency management plan of<br />

the Conservation Unit, the State University of Paraiba (UEPB) <strong>de</strong>veloped extension project<br />

―Education and environmental preservation in PEMAV‖, performed with the Su<strong>de</strong>ma/PB and<br />

having as partners and collaborators to IFPB, Bureal of Fisheries and Environment of Cabe<strong>de</strong>lo and<br />

Association Guajiru which jointly conducted environmental education with information and<br />

guidance on rules for visiting the Park. Were <strong>de</strong>veloped several educational materials published in<br />

fol<strong>de</strong>rs, banners and media communication site containing the rules of conduct conscious and map<br />

of visitation, which were instrumental in sensitizing stakehol<strong>de</strong>rs and implementation of sustainable<br />

management practices for the park. As a way of planning, environmental agents have been trained<br />

1366


and worked in guiding visitors from points of embarkation, in boats and on the island itself. The<br />

result of the actions <strong>de</strong>monstrated the importance of environmental education in the park, since 98%<br />

of show visitors to visit and plan to return to the island and more them 40% of them have visited the<br />

park more than once. Since this is an area of priority for the preservation of coral reefs, the actions<br />

taken were essential for the guidance of a management plan that must be a<strong>de</strong>quate to economic<br />

<strong>de</strong>velopment and environmental integrating the community to <strong>de</strong>velop a tourism greener and<br />

sustainable.<br />

Key-words:Environmental Education; Marine Protect Areas; Sustainable tourism.<br />

INTRODUÇÃO<br />

De fato, as Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação (UC‘s) são tidas como as melhores áreas protegidas<br />

para conservação in sito <strong>de</strong> espécies, populações e <strong>de</strong> ecossistemas num pensamento logístico. Estas<br />

por sua estão distribuídas por todo o litoral e abrangem quase todas as ilhas oceânicas do Brasil<br />

segundo Prates & Pereira (2000), <strong>de</strong>sempenhando assim importantes serviços ambientais para a<br />

socieda<strong>de</strong>.<br />

O Brasil, através da promoção do Sistema Nacional <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Conservação (SNUC) em<br />

2000, estabeleceu uma significativa expansão da superfície <strong>de</strong>stas áreas protegidas, sendo<br />

responsável por 74% <strong>de</strong> todas as áreas protegidas criadas entre 2003 e 2008 no mundo (Jenkins &<br />

Joppa, 2009) fazendo com que o país atingisse as metas estabelecidas na 7ª Conferência das Partes<br />

da Convenção da Diversida<strong>de</strong> Biológica. Atualmente o Brasil possui 1.771 Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

Conservação distribuídas <strong>nas</strong> categorias <strong>de</strong> Proteção Integral e <strong>de</strong> Uso Sustentável, sobre as esferas:<br />

municipal, estadual e fe<strong>de</strong>ral (MMA, 2012).<br />

Os ambientes recifais estão distribuídos por cerca <strong>de</strong> 3.000 quilômetros ao longo da costa<br />

brasileira e <strong>de</strong> acordo com Ferreira et al. (2006) apresentam suas formações mais representativas no<br />

litoral do nor<strong>de</strong>ste. Reaka-Kluda (1997) consi<strong>de</strong>ra os ambientes recifais, juntamente com as<br />

florestas tropicais, como sendo uma das mais diversas comunida<strong>de</strong>s naturais do planeta. Estes<br />

ambientes fornecem uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> bens e serviços à humanida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>stacando-se: a proteção do<br />

litoral contra a ação das ondas, potencialida<strong>de</strong> para a <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> compostos medicinais, berçários<br />

para espécies marinhas e benefícios provenientes do uso recreativo e turístico <strong>de</strong>ntre outros<br />

(Moberg & Folke, 1999). Os mesmo autores comentam ainda que a maior parte dos bens e serviços<br />

provindos por esses ambientes é <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> inter-relações dinâmicas e complexas entre re<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

espécies <strong>de</strong>ntro e entre ecossistemas.<br />

A Paraíba abriga ao longo da sua região costeira ape<strong>nas</strong> uma Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Conservação<br />

estritamente marinha, o Parque Estadual Marinho <strong>de</strong> Areia Vermelha, historicamente famoso por<br />

ser um dos principais roteiros turísticos da região. Branner (1904) relata que moradores locais e os<br />

1367


habitantes <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s vizinhas extraiam gran<strong>de</strong>s quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> corais para a produção <strong>de</strong> cal e que<br />

estas ações foram responsáveis pela pobre fauna <strong>de</strong> corais encontrada no Parque, que só veio a se<br />

tornar área protegida a partir do Decreto Estadual <strong>de</strong> n° 21.263 <strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2000. Neste<br />

contexto, este trabalho objetivou-se em promover ações <strong>de</strong> educação ambiental junto aos diversos<br />

atores envolvidos direta e indiretamente com o Parque, como forma <strong>de</strong> sensibilizá-los para uma<br />

prática <strong>de</strong> turismo sustentável.<br />

MATERIAIS E MÉTODOS<br />

Localização e caracterização da área<br />

O PEMAV (07°00‘37.31‖ S e 34°49‘01.36‖ O) encontra-se localizado no município <strong>de</strong><br />

Cabe<strong>de</strong>lo a aproximadamente 800 metros da praia <strong>de</strong> Camboinha. Possui uma extensão <strong>de</strong> 3,4 km<br />

no sentido Norte-Sul e perfaz uma área <strong>de</strong> 230,91 hectares, que durante as marés mais baixas exibe<br />

seus bancos <strong>de</strong> areia e pisci<strong>nas</strong> naturais (Figura 1).<br />

Figura 1. PEMAV: banco <strong>de</strong> areia à esquerda e pisci<strong>nas</strong> naturais à direita. Foto: Juan Lourenço.<br />

Planejamento das ações<br />

O Projeto <strong>de</strong> Educação Ambiental no Parque Estadual Marinho <strong>de</strong> Areia Vermelha<br />

(PEMAV), sob iniciativa do Prof. Jailson Farias, juntou-se com outros projetos da mesma linha<br />

temática e formou o Programa <strong>de</strong> Educação Ambiental no Campus V, da Universida<strong>de</strong> Estadual da<br />

Paraíba, o qual foi vinculado a Pró-Reitoria <strong>de</strong> Extensão e Assuntos Comunitários. O órgão gestor<br />

do Parque Estadual Marinho <strong>de</strong> Areia Vermelha, a Superintendência <strong>de</strong> Administração do Meio<br />

Ambiente (Su<strong>de</strong>ma/PB) aprovou o projeto e o inseriu ao Projeto Conduta Consciente no Parque<br />

Estadual Marinho <strong>de</strong> Areia Vermelha, como meta para ações <strong>de</strong> sensibilização ambiental e turismo<br />

sustentável no parque.<br />

1368


Para ganhar mais força e melhorar a viabilida<strong>de</strong> das ações <strong>de</strong> implantação e suporte, o<br />

projeto contou também com a parceria do Instituto Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Educação, Ciência e Tecnologia da<br />

Paraíba – IFPB, que <strong>de</strong>senvolveu juntamente com a UEPB, as ações ambientais através <strong>de</strong><br />

coor<strong>de</strong>nadores e agentes ambientais. O projeto também contou com o apoio da Prefeitura Municipal<br />

<strong>de</strong> Cabe<strong>de</strong>lo através da Secretaria <strong>de</strong> Pesca e Meio Ambiente, a Associação Guajiru: Ciência-<br />

Educação-Meio Ambiente, através do Projeto Tartarugas Urba<strong>nas</strong> e o próprio órgão gestor do<br />

parque.<br />

Para <strong>de</strong>senvolver a proposta <strong>de</strong> zoneamento do PEMAV, a equipe, fez várias visitas ao<br />

parque, observando a rotina <strong>de</strong> visitação já estabelecida no local. Foram entrevistados comerciantes,<br />

policiais ambientais, donos <strong>de</strong> embarcações, turistas, sendo a participação <strong>de</strong> todos fundamental<br />

para o direcionamento do zoneamento.<br />

Com o intuito <strong>de</strong> capacitar os agentes ambientais que participariam das ações na ilha foi<br />

promovido pelas instituições <strong>de</strong> ensino e a Coor<strong>de</strong>nadorias <strong>de</strong> Educação Ambiental da Su<strong>de</strong>ma um<br />

curso <strong>de</strong> formação que contemplou em seu currículo as normas <strong>de</strong> conduta estabelecidas para o<br />

parque, educação ambiental e biodiversida<strong>de</strong> em ambientais recifais, além <strong>de</strong> técnicas <strong>de</strong> canoagem<br />

(Figura 2).<br />

Figura 2. Curso <strong>de</strong> capacitação para os agentes ambientais (A e B - Aulas teórica e prática; C e D –<br />

Aula <strong>de</strong> canoagem).<br />

Execução das ações<br />

As ações educativas ocorreram no verão, entre <strong>de</strong>zembro e fevereiro <strong>de</strong> 2012, nos dias em<br />

que a maré encontrava-se igual ou inferior a 0,5 metros, com duas equipes, uma <strong>de</strong> mar e outra <strong>de</strong><br />

1369


terra, ambas acompanhadas por um coor<strong>de</strong>nador. As duas equipes ficavam encarregadas <strong>de</strong> prestar<br />

informações ao público sobre as normas <strong>de</strong> visitação do parque durante o translado nos catamarãs<br />

cadastrados à visitação no parque. A equipe terra ficou responsável pela fixação e monitoramento<br />

dos banners <strong>nas</strong> áreas <strong>de</strong> embarque, bem como a prestação <strong>de</strong> informações. Já a equipe mar<br />

monitorava as áreas intangíveis do parque prestando informações e tirando dúvidas com o público e<br />

com auxílio <strong>de</strong> caiaques também monitoravam as áreas <strong>de</strong> fun<strong>de</strong>io das embarcações informando<br />

sobre a proposta <strong>de</strong> zoneamento.<br />

Resultados e Discussão<br />

A elaboração da proposta <strong>de</strong> zoneamento do PEMAV foi uma etapa fundamental para todo o<br />

processo <strong>de</strong> sensibilização que se seguiu. Como resultado <strong>de</strong>sta proposta foram elaborados, junto<br />

com os parceiros do projeto, materiais <strong>de</strong> sinalização e informativos com a proposta para<br />

zoneamento emergencial (Figura 3). Foi elaborado um fol<strong>de</strong>r bilíngue com orientações básicas<br />

sobre as normas <strong>de</strong> conduta do parque e um mapa <strong>de</strong> visitação. O parque foi subdividido em áreas<br />

prioritárias para conservação da biodiversida<strong>de</strong>, áreas seguras para banhista, área <strong>de</strong> fun<strong>de</strong>io <strong>de</strong><br />

embarcações e os pontos <strong>de</strong> embarque para visitantes. Também foram i<strong>de</strong>ntificados no fol<strong>de</strong>r os<br />

agentes ambientais e a polícia ambiental, presenças fundamentais na orientação e fiscalização do<br />

Parque.<br />

Figura 3. A - normas <strong>de</strong> conduta; B - mapa <strong>de</strong> visitação; C - fol<strong>de</strong>r com as normas <strong>de</strong><br />

conduta e mapa <strong>de</strong> visitação; D - boias <strong>de</strong> sinalização; E - placa <strong>de</strong> sinalização; F -<br />

banner com mapa <strong>de</strong> informação. Fotos: A e B – Su<strong>de</strong>ma; C, D, E e F - Juan Lourenço.<br />

1370


Estas medidas visaram um or<strong>de</strong>namento temporário, uma vez que o Parque trata-se <strong>de</strong><br />

unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conservação <strong>de</strong> proteção integral e ainda não possui seu plano <strong>de</strong> gestão, mesmo tendo<br />

sido criado há mais <strong>de</strong> uma década. Outros autores, como Lourenço (2010), Gondim et al. (2011) e<br />

Costa et al. (2007) já enfatizaram a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser ter um plano <strong>de</strong> gestão efetivo como medida<br />

mais eficaz para preservação da biodiversida<strong>de</strong> do parque, diante do gran<strong>de</strong> fluxo <strong>de</strong> turismo não<br />

or<strong>de</strong>nado.<br />

O treinamento dos agentes ambientais tornou-os aptos a prestar as informações necessárias<br />

aos visitantes e sua ação provou ser uma forma eficaz <strong>de</strong> divulgação das normas <strong>de</strong> conduta. As<br />

entrevistas realizadas antes e <strong>de</strong>pois da ação dos agentes na ilha <strong>de</strong>monstraram uma maior<br />

efetivida<strong>de</strong> da divulgação das normas <strong>de</strong>pois da ação, on<strong>de</strong> tínhamos ape<strong>nas</strong> cerca <strong>de</strong> 10% dos<br />

visitantes com informações sobre as normas <strong>de</strong> conduta na Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Conservação antes da ação<br />

dos agentes, chegando a 87% <strong>de</strong> visitantes informados durante o período <strong>de</strong> ação.<br />

De todos os entrevistados durante a pesquisa, 98% disseram indicar o passeio para outras<br />

pessoas. Destes, 58% estavam visitando o parque pela primeira vez, enquanto os 42% restantes<br />

estavam retornando à unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conservação, o que reforça a necessida<strong>de</strong> e efetivida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

trabalhar a educação ambiental no local, uma vez que o parque apresenta um alto número <strong>de</strong><br />

visitantes frequentes que po<strong>de</strong>m ser sensibilizados para, inclusive, serem multiplicadores das<br />

normas <strong>de</strong> conduta.<br />

A divulgação dos materiais informativos atingiu <strong>de</strong> forma efetiva a região metropolitana da<br />

gran<strong>de</strong> João Pessoa, uma vez que através <strong>de</strong> vários meios <strong>de</strong> comunicação tentou-se sensibilizar a<br />

comunida<strong>de</strong> no que cerne ao turismo sustentável, <strong>de</strong>senvolvendo ações ecológicas educativas <strong>de</strong><br />

responsabilida<strong>de</strong> coletiva amenizando os impactos ambientais providos pela visitação. Estas<br />

medidas tiveram também como resultado o estabelecimento <strong>de</strong> uma integração entre os atores<br />

envolvidos no PEMAV que participaram efetivamente, colaborando para consolidar uma conduta<br />

consciente.<br />

As entrevistas realizadas antes da ação dos agentes mostraram que o foco do turista na<br />

visitação estava, em sua maioria, direcionado para o turismo e a infraestrutura local. Quando<br />

questionados sobre qual seria a importância <strong>de</strong> preservar aquele ambiente, a maioria dos turistas<br />

(54%) respon<strong>de</strong>u ser importante para o turismo, para manter o ambiente limpo e para que ele<br />

mesmo pu<strong>de</strong>sse voltar outras vezes. Depois do processo educativo realizado no parque e a<br />

divulgação da importância das normas <strong>de</strong> conduta para uma visitação segura e sustentável, houve<br />

uma sensível mudança <strong>nas</strong> respostas dadas pelos visitantes. A maioria apontou como importante<br />

para a preservação do ambiente para as futuras gerações (46%) e a conservação da biodiversida<strong>de</strong><br />

1371


marinha (30%). O foco exclusivamente na manutenção do turismo ficou em 22%, revelando uma<br />

maior preocupação com a conservação do ambiente (Figura 4).<br />

Figura 4. Importância da preservação do PEMAV segundo os visitantes entrevistados durante o<br />

período <strong>de</strong> ação dos agentes ambientais no Projeto <strong>de</strong> Educação Ambiental no PEMAV 2011/2012.<br />

A utilização dos agentes como educadores ambientais no parque funcionou como uma<br />

excelente ferramenta no processo <strong>de</strong> divulgação das normas <strong>de</strong> conduta bem como <strong>nas</strong> ações <strong>de</strong><br />

extensão e ensino. Estes extensionistas também conseguiram estabelecer juntamente com as práticas<br />

turísticas no parque a sensibilização para preservação pelos visitantes.<br />

O mapa <strong>de</strong> visitação disponível nos materiais informativos teve gran<strong>de</strong> valia na execução do<br />

projeto, uma vez que as proposições sugeridas abrangeram tanto a preservação da unida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

conservação, quanto a integrida<strong>de</strong> física dos visitantes.<br />

Sendo assim, o planejamento e as ações executadas no PEMAV durante a primeira fase do<br />

projeto conseguiram levantar informações importantes que irão servir <strong>de</strong> subsídio para a elaboração<br />

do plano <strong>de</strong> manejo, essencial e necessário para a conservação da biodiversida<strong>de</strong> no parque.<br />

REFERENCIAS<br />

Branner, J.C. 1904. The stone reefs of Brazil, their geological and geographical relations, with a<br />

chapter on the coral reefs. Bull. Mus. Comp. Zool. Geol. 44(7):1-278.<br />

Costa, C.F., Sassi, R., Costa, M.A.J. & Brito, A.C.L. 2007. Recifes costeiros da Paraíba, Brasil:<br />

usos, impactos e necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> manejo no contexto da sustentabilida<strong>de</strong>. Gaia Scientia 9(1):37-45.<br />

Ferreira, B.P., Maida, M., Castro, C.B., Pires, D.O., Damico, T.M. Prates, A.P.L. & Marx, D. 2006.<br />

Status of coral reefs in Brazil. Proc. 10th International Coral Reef Symposium 1:1011-1015.<br />

1372


Gondim, A.I., Dias, T.L.P., Campos, F.F., Alonso, C. & Christoffersen, M.L. 2011. Macrofauna<br />

bêntica do Parque Estadual Marinho <strong>de</strong> Areia Vermelha, Cabe<strong>de</strong>lo, Paraíba, Brasil. Biota<br />

Neotropica 11(2): 1-12.<br />

Jenkins, C. & Joppa, L.N. 2009. Expansion of the Global Protect Area System. Biological<br />

Conservation, 142:2166-2174.<br />

Lourenço, L.J.S. 2010. Proposta <strong>de</strong> zoneamento e capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> carga para o Parque Estadual<br />

Marinho <strong>de</strong> Areia Vermelha. 135f. Dissertação <strong>de</strong> Mestrado. Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Paraíba. João<br />

Pessoa, Paraíba.<br />

MMA - Ministério do Meio Ambiente. 2012. Áreas Protegidas: Cadastro Nacional <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

Conservação. Disponível em: . Acesso em 08/10/2012.<br />

Moberg, F. & Folke, C. 1999. Ecological goods and services of coral reefs ecosystems. Ecological<br />

Economics 29:215-233.<br />

Prates, A.P.L., Cor<strong>de</strong>iro, A.Z., Ferreira, B.P. & Maida, M. 2000. Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação<br />

costeiras e marinhas <strong>de</strong> uso sustentável como instrumento para gestão pesqueira. In: Anais do 2º<br />

Congresso Brasileiro <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação. Re<strong>de</strong> Nacional Pró-Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação.<br />

Fortaleza, CE.<br />

Reaka-Kudla, M.L. 1997. The global biodiversity of coral reefs the comparison with can forest. Pp.<br />

83-108. In: Reaka-Kluda, M.L., Wilson, E.D. & Wilson, E.O. (eds.). Biodiversity II Un<strong>de</strong>rstanding<br />

and protection our biological resources. J. H. Press, Washington, D.C., 549pp.<br />

1373


DESENVOLVENDO A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL NO CENTRO HISTÓRICO DE JOÃO<br />

RESUMO<br />

PESSOA ATRAVÉS DO PROJETO ―O FUTURO VISITA O PASSADO‖ <br />

Jullyane SATURNINO, UFPB,jullyanesaturnino@hotmail.com<br />

Estudante da Graduação<br />

Lindomar BARBOSA, UFPB, Lindinha19_00@hotmail.com<br />

Estudante da Graduação<br />

Este trabalho explora os caminhos percorridos pela educação patrimonial trabalhada <strong>nas</strong> escolas<br />

públicas municipais da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa, na Paraíba, através do projeto ―O futuro visita o<br />

passado‖. O projeto trabalha com crianças e procura estabelecer um elo entre elas e o patrimônio da<br />

cida<strong>de</strong>, propondo recordar as memórias e associar os monumentos a acontecimentos importantes<br />

para a história da sua cida<strong>de</strong>, fazendo com que elas se sintam inseridas neste processo e agentes<br />

importantes na preservação e salvaguarda do patrimônio histórico e cultural sejam eles materiais ou<br />

imateriais. A aula <strong>de</strong> campo também se constitui em uma importante ferramenta, sendo fundamental<br />

para o <strong>de</strong>senvolvimento do projeto, pois possibilita ao aluno conhecer através dos seus próprios<br />

sentidos, ao observar e estar presente, <strong>de</strong> certa forma vivenciando a história da cida<strong>de</strong> por meio <strong>de</strong><br />

suas construções antigas. É <strong>de</strong> suma importância trabalhar estas questões ainda no Ensino<br />

Fundamental, para que consigamos forma cidadãos conscientes e preocupados com a manutenção<br />

do patrimônio da cida<strong>de</strong>, reconhecendo o seu valor histórico, artístico e cultural.<br />

Palavras-chaves: Educação Patrimonial; Cultura; Ensino; Pertencimento.<br />

Abstract<br />

This article explores the paths of heritage education worked in the public schools of the city of João<br />

Pessoa, Paraíba, through the project "The future visit the past." The project works with children and<br />

seeks to establish a link between them and the city property, offering associate recall the memories<br />

and the monuments to important events in the history of their city, making them feel inclu<strong>de</strong>d in the<br />

process and important actors in preserving and safeguarding of cultural heritage and whether<br />

tangible or intangible. The class field also constitutes an important tool, being fundamental to the<br />

Orientado por Marcelo <strong>de</strong> Oliveira Moura (Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Paraíba)<br />

1374


<strong>de</strong>velopment of the project, as it allows stu<strong>de</strong>nts to learn through their own senses, to observe and<br />

be present in some way experiencing the city's history through its buildings old. It is extremely<br />

important to work these issues still in elementary school, so that we can shape and conscientious<br />

citizens concerned with the maintenance of city property, recognizing their historical value, artistic<br />

and cultural.<br />

Keywords: Heritage Education, Culture, Belonging.<br />

Introdução<br />

A nossa proposta neste trabalho foi discutir acerca das formas <strong>de</strong> trabalhar a educação<br />

patrimonial <strong>nas</strong> escolas, especialmente com alunos do Ensino Fundamental. Para tanto utilizamos<br />

como ferramenta para sua construção, a experiência do projeto ―O futuro visita o passado‖,<br />

<strong>de</strong>senvolvido <strong>nas</strong> escolas municipais <strong>de</strong> João Pessoa.<br />

Fundamentando-se nesta experiência, o trabalho foi <strong>de</strong>senvolvido numa primeira parte<br />

<strong>de</strong>dicada a tratar do processo <strong>de</strong> aprendizagem, do <strong>de</strong>senvolvimento do aluno na escola e da<br />

educação patrimonial e sua importância em resgatar valores e realizar uma aproximação entre os<br />

alunos e a cida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> eles vivem, procurando restabelecer os laços <strong>de</strong> pertencimento com o lugar<br />

do qual fazem parte.<br />

Trabalhando o conceito <strong>de</strong> ―conhecer para preservar‖, em seguida mostra o trabalho<br />

<strong>de</strong>senvolvido pelo projeto ―O futuro visita o passado‖ e como se dá a aplicação do mesmo junto às<br />

escolas da re<strong>de</strong> municipal da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa. A importância da aula <strong>de</strong> campo como<br />

ferramenta metodológica para melhor <strong>de</strong>senvolvimento do aprendizado e maior interação do aluno<br />

com a realida<strong>de</strong> em que vive também será tratada no <strong>de</strong>correr do trabalho.<br />

Ensino, Educação Patrimonial e a Valorização do Pertencimento ao Lugar<br />

A partir do memento em que <strong>nas</strong>ce o homem começa a <strong>de</strong>senvolver sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

aprendizado, até as peque<strong>nas</strong> ativida<strong>de</strong>s do dia-dia do ser humano são aprendidas no convívio social<br />

<strong>de</strong>ste indivíduo, seja com a família ou com a socieda<strong>de</strong> como um todo. Ou seja, o homem é<br />

naturalmente um ser social e sua formação se dá sob forte influência do meio em que vive. A<br />

formação do homem acontece <strong>de</strong> maneira contínua, tendo em vista que tudo que ele vive, todos os<br />

sentimentos que tem, bem como as outras pessoas e os ambientes por on<strong>de</strong> passa, exercem, <strong>de</strong><br />

alguma forma, algum tipo <strong>de</strong> influência em sua vida. Portanto, o processo <strong>de</strong> aprendizagem e<br />

<strong>de</strong>senvolvimento do homem nunca acaba.<br />

1375


O homem, enquanto ser social e em constante transformação, carrega consigo tudo o que ele<br />

viveu e a influência <strong>de</strong> todas as relações travadas por ele. O indivíduo, ao mesmo tempo em que é<br />

formado pela realida<strong>de</strong> em que vive, vai construindo sua própria i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> calcada nesta realida<strong>de</strong>.<br />

A socieda<strong>de</strong> ou o convívio social em geral <strong>de</strong>sempenha um papel <strong>de</strong> formador do homem e <strong>de</strong> sua<br />

história. Pois, durante todas as etapas <strong>de</strong> sua vida, todas as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> qualquer tipo, em qualquer<br />

instância e em qualquer lugar, que ele venha realizar, certamente são frutos <strong>de</strong> seu conhecimento<br />

construído através da sua vivência e das relações por ele estabelecidas. Dentro <strong>de</strong>sta perspectiva o<br />

processo <strong>de</strong> educacão efetiva na formação social do homem.<br />

Atualmente, po<strong>de</strong>mos perceber que em gra<strong>de</strong> parte das salas <strong>de</strong> aula <strong>de</strong> Educação Básica no<br />

nosso país, as ativida<strong>de</strong>s propostas pelos professores visam ape<strong>nas</strong> fixar o conteúdo através <strong>de</strong><br />

técnicas, como por exemplo a <strong>de</strong> copiar os assuntos do quadro e/ou livro didático, que não<br />

<strong>de</strong>senvolvem a capacida<strong>de</strong> intelectual dos alunos nem tampouco ajudam na sua formação como<br />

cidadãos <strong>de</strong> uma forma efetiva, e também <strong>de</strong>monstram a falta <strong>de</strong> comprometimento dos professores<br />

que são pouco estimulados <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> sistema educacional do país.<br />

Ao colocar a escola na dimensão da formação do homem pela ação social, valorizando o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s que estimulem a formação do aluno enquanto cidadão pertencente e<br />

atuante na sua cida<strong>de</strong>. A sala <strong>de</strong> aula é, sem dúvida, o ambiente mais importante para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento do processo <strong>de</strong> ensino-aprendizagem entre aluno e professor, pois, este processo é<br />

sempre uma troca, <strong>nas</strong> palavras <strong>de</strong> Paulo Freire, ―ninguém educa ninguém, ninguém educa a si<br />

mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo‖. Logo, enten<strong>de</strong>-se que a<br />

experiência extra classe tem um papel fundamental no <strong>de</strong>senvolvimento do aprendizado do aluno e,<br />

portanto, na sua formação como cidadão. Pois, <strong>de</strong>sta forma, o aluno po<strong>de</strong> na prática sentir-se<br />

inserido neste mundo. Tais ativida<strong>de</strong>s tanto melhoram o <strong>de</strong>sempenho dos alunos em seus estudos<br />

quanto na sua vida.<br />

Neste caso, tratamos da educação patrimonial <strong>de</strong>senvolvida <strong>nas</strong> escolas. Para o IPHAN, toda<br />

vez que as pessoas se reúnem para construir e dividir novos conhecimentos, investigam pra<br />

conhecer melhor, enten<strong>de</strong>r e transformar a realida<strong>de</strong> que nos cerca, estamos falando <strong>de</strong> uma ação<br />

educativa. Quando fazemos tudo isso levando em conta alguma coisa que tenha relação ao com<br />

nosso patrimônio cultural, então estamos falando <strong>de</strong> Educação Patrimonial.<br />

O patrimônio cultural não diz respeito ape<strong>nas</strong> a imóveis isolados como igrejas, casarões<br />

antigos e etc., consi<strong>de</strong>ra-se também patrimônio cultural Os patrimônios culturais materiais são<br />

protegidos através do tombamento, que é um ato administrativo realizado pelo Po<strong>de</strong>r Público com o<br />

objetivo <strong>de</strong> preservar, por intermédio da aplicação <strong>de</strong> legislação específica, bens <strong>de</strong> valor histórico,<br />

cultural, arquitetônico, ambiental e também <strong>de</strong> valor afetivo para a população, impedindo que<br />

1376


venham a ser <strong>de</strong>struídos ou <strong>de</strong>scaracterizados. Segundo o IPHAN, Eles estão divididos em bens<br />

imóveis como os núcleos urbanos, sítios arqueológicos e paisagísticos e bens individuais; e móveis<br />

como coleções arqueológicas, acervos museológicos, documentais, bibliográficos, arquivísticos,<br />

vi<strong>de</strong>ográficos, fotográficos e cinematográficos. Já o patrimônio cultural imaterial é <strong>de</strong>finido pela<br />

UNESCO como "as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas - junto com os<br />

instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados - que as comunida<strong>de</strong>s, os<br />

grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante <strong>de</strong> seu patrimônio<br />

cultural." O patrimônio imaterial é transmitido <strong>de</strong> geração em geração.<br />

O papel da educação patrimonial neste sentido é <strong>de</strong> conhecer para preservar e preservar para<br />

que as futuras gerações também possam conhecer, ou seja, não é ape<strong>nas</strong> preservar por preservar,<br />

saber o que se preserva saber que é parte da história e se sentir parte disso.<br />

O Projeto ―O Futuro visita o Passado‖<br />

―O futuro visita o passado‖ é um projeto <strong>de</strong> educação patrimonial <strong>nas</strong> escolas municipais<br />

coor<strong>de</strong>nado e <strong>de</strong>senvolvido pela Secretaria <strong>de</strong> Educação e Cultura (SEDEC) como uma ação<br />

integrada ao Programa <strong>de</strong> Educação Patrimonial ―João Pessoa, Minha Cida<strong>de</strong>‖, uma parceira do<br />

Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e da Prefeitura Municipal <strong>de</strong> João<br />

Pessoa. O projeto é <strong>de</strong> âmbito interdisciplinar e, <strong>de</strong> acordo com uma parceria firmada entre a PMJP<br />

e a Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Paraíba, os estagiários responsáveis pelo <strong>de</strong>senvolvimento do projeto<br />

<strong>nas</strong> escolas municipais são alunos <strong>de</strong>sta Instituição, abrangendo os cursos <strong>de</strong> Artes, Geografia,<br />

História e Turismo. Os estagiários passam por processo seletivo e em seguida por um treinamento<br />

para capacitá-los para trabalharem em todas as etapas do projeto <strong>nas</strong> escolas. Nas escolas, o projeto<br />

é composto por três etapas diferentes, realizadas em dias diferentes, são elas: a sensibilização, a aula<br />

<strong>de</strong> campo e o retorno para avaliação.<br />

A sensibilização consiste em estabelecer um primeiro contato com os alunos trabalhando em<br />

sala <strong>de</strong> aula o que é a educação patrimonial e introduzir conceitos básicos a serem trabalhados<br />

durante todo o processo (FOTO 1). Trabalham-se os conceitos <strong>de</strong> cultura, memória,i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e<br />

patrimônio. O Compreen<strong>de</strong>-se como CULTURA todo complexo que inclui conhecimentos, crenças,<br />

arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> hábitos adquiridos pelo homem como<br />

membro <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong>. Cultura também po<strong>de</strong> ser entendida como padrões <strong>de</strong> comportamento<br />

transmitidos socialmente. A MEMÓRIA está atrelada à construção <strong>de</strong> sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. Ela é o<br />

resultado <strong>de</strong> um trabalho <strong>de</strong> organização e <strong>de</strong> seleção do que é importante para o sentimento <strong>de</strong><br />

unida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> experiência, isto é, <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. IDENTIDADE é o termo utilizado<br />

1377


para <strong>de</strong>finir o sentimento <strong>de</strong> um individuo ou grupo em pertencer a uma <strong>de</strong>terminada região, prática<br />

social, i<strong>de</strong>ia e/ou sistema <strong>de</strong> valores. PATRIMÔNIO CULTURAL são consi<strong>de</strong>rados os<br />

monumentos e bens históricos, registros arqueológicos e paleontológicos, paisagens naturais, festas<br />

tradicionais, manifestações culturais, artesanato e tantas outras expressões que se revestem <strong>de</strong><br />

importância para a memória e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um povo. Os monitores estagiários tentam estabelecer<br />

um elo entre estes conceitos e a realida<strong>de</strong> dos alunos, que se encontram no 3º, 4º e 5º anos do<br />

Ensino Fundamental, numa faixa etária <strong>de</strong> 8 a 14 anos. Isso é feito tentando interagir ao máximo<br />

com os alunos, fazendo com que eles se sintam inseridos no processo, através <strong>de</strong> dinâmicas.<br />

Enquanto conversam e tentam saber um pouco mais sobre a vivência dos alunos em seu bairro e na<br />

cida<strong>de</strong> (centro histórico), os monitores lêem os conceitos que os próprios alunos construíram e<br />

explicam a importância <strong>de</strong> conhecer sua cida<strong>de</strong> para <strong>de</strong>spertar nos alunos o sentimento <strong>de</strong><br />

pertencimento a mesma. Introduzidos estes conceitos, são dados os avisos pertinentes a realização<br />

da segunda etapa do projeto, que é a aula <strong>de</strong> campo, a ser realizada em data posterior com as<br />

<strong>de</strong>vidas autorizações dos responsáveis pelos alunos e medidas a serem tomadas pela escola.<br />

1 SENSIBILIZAÇÃO FOTO: Laciene Karoline em 17/05/2012<br />

Na aula <strong>de</strong> campo, os alunos vão ao Centro Histórico <strong>de</strong> João Pessoa nos ônibus<br />

disponibilizados pela PMJP, acompanhados dos monitores do projeto e supervisionados por<br />

funcionários da escola, percorrendo tanto a Cida<strong>de</strong> Alta quanto a Cida<strong>de</strong> Baixa, parando em pontos<br />

pré-<strong>de</strong>terminados para observação e aprendizado.<br />

Na Cida<strong>de</strong> Alta, o percurso se inicia na Praça Dom Adauto, visitando-se o Complexo<br />

Carmelita (Igreja <strong>de</strong> Nossa Senhora do Carmo, Capela <strong>de</strong> Santa Thereza D‘Ávila e Arquidiocese da<br />

1378


Paraíba (antigo convento das carmelitas), além <strong>de</strong> conhecerem o Casarão dos Azulejos e o Casarão<br />

34. Em seguida, seguem para o Complexo Franciscano e posteriormente, para a Catedral Basílica <strong>de</strong><br />

Nossa Senhora das Neves, observando o ponto on<strong>de</strong> a cida<strong>de</strong> se iniciou. O Complexo beneditino<br />

fecha o circuito da cida<strong>de</strong> alta. Há uma pausa para o lanche na meta<strong>de</strong> do percurso <strong>de</strong>scrito acima.<br />

Na cida<strong>de</strong> baixa o percurso se inicia na Praça Antenor Navarro, observando os casarões<br />

antigos e em seguida visita-se o Largo <strong>de</strong> São Pedro e a Igreja <strong>de</strong> São Frei Pedro Gonçalves. Por<br />

último, os alunos visitam o Hotel Globo, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m observar o antigo comércio e o Rio<br />

Sanhauá, on<strong>de</strong> se começou o <strong>de</strong>senvolvimento da cida<strong>de</strong> (FOTO 2).<br />

2 AULA DE CAMPO FOTO: Araly Araújo 02/08/2012<br />

Algum tempo após a realização da aula <strong>de</strong> campo, os monitores retornam à escola para uma<br />

terceira e última etapa do projeto, que visa ter um feedback do que foi <strong>de</strong>senvolvido na<br />

sensibilização e na aula <strong>de</strong> campo. Nesta etapa é aplicado um questionário junto aos alunos e com<br />

os professores, bem como a confecção <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhos pelos alunos. Com isso, po<strong>de</strong>-se saber se o<br />

objetivo do projeto foi alcançado e possíveis melhorias a serem feitas.<br />

Portanto, o projeto surge como uma ferramenta metodológica diferenciada que torna o<br />

aprendizado acerca do tema mais dinâmico e envolve os alunos, valorizando os laços <strong>de</strong><br />

pertencimento com a cida<strong>de</strong>. O apoio das escolas é muito importante para a continuida<strong>de</strong> do<br />

processo, fortalecendo o que foi construí através do projeto e incentivando a formação <strong>de</strong> um aluno<br />

1379


mais comprometido com a sua cida<strong>de</strong> e as pessoas que vivem nela hoje, que visitam e, também,<br />

com as gerações futuras, respeitando o patrimônio cultura seja ele material ou imaterial.<br />

Consi<strong>de</strong>rações Finais<br />

O patrimônio é o elo entre o passado, o presente e o futuro. A educação patrimonial é tida<br />

como um caminho pedagógico que vai além da sala <strong>de</strong> aula e leva o aluno a conhecer um mundo<br />

novo. Trabalhar a educação patrimonial é <strong>de</strong>senvolver a valorização dos laços <strong>de</strong> pertencimento do<br />

aluno com sua cida<strong>de</strong> e assim a sua história, representada pelo seu patrimônio cultural. Iniciar este<br />

processo no Ensino Fundamental contribui para a formação <strong>de</strong> cidadãos conscientes <strong>de</strong> seu papel na<br />

preservação do patrimônio da cida<strong>de</strong> para as gerações futuras.<br />

O <strong>de</strong>senvolvimento do projeto ―O futuro visita o passado‖ tem se mostrado um gran<strong>de</strong><br />

aliado na preservação no patrimônio cultural da cida<strong>de</strong>, bem como na formação <strong>de</strong> um aluno mais<br />

preocupado em proteger a história <strong>de</strong> sua cida<strong>de</strong> e com isso, sua própria história.<br />

A preservação do patrimônio cultural <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong> também é muito importante para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento do Turismo. O Turismo Cultural leva o visitante a conhecer a história do lugar e<br />

sua cultura. Sabendo que esta é uma ativida<strong>de</strong> econômica, manter conservado o patrimônio da<br />

cida<strong>de</strong> para que outras pessoas <strong>de</strong> outros lugares possam apreciar as riquezas nela presentes.<br />

Referências Bibliográficas<br />

SALVADOR, César Coll. etal. Psicologia do ensino. Tradução <strong>de</strong> Cristina Mª <strong>de</strong> Oliveira. Porto<br />

Alegre: Auter Médicas Sul, 2000. Tradução <strong>de</strong>: Psicologia <strong>de</strong> la instruccío.<br />

http://www.unisantos.br/pos/revistapatrimonio/artigos.php?cod=72 Acesso em 15/10/2012<br />

IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional www.iphan.gov.br Acesso em<br />

15/10/2012<br />

FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberda<strong>de</strong>. 5ª Ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Paz e Terra<br />

1380


MUNICÍPIO DE GROSSOS-RN: UMA PROPOSTA DE PLANO DE AÇÃO PARA UMA<br />

RESUMO<br />

GESTÃO PARTICIPATIVA<br />

Felipe Vercely Arrais <strong>de</strong> ANDRADE<br />

Universida<strong>de</strong> do Estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte – UERN<br />

Graduando do Curso Bacharelado em Gestão Ambiental<br />

felipe_vercely@hotmail.com<br />

Lívia Laiane Barbosa ALVES<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Rural do Semi-Árido – UFERSA<br />

Graduanda do Curso Engenharia Florestal<br />

liviabarbosa17@yahoo.com.br<br />

Melissa Rafaela Costa PIMENTA<br />

Universida<strong>de</strong> do Estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte – UERN<br />

Professora do Curso Bacharelado em Gestão Ambiental<br />

melissarafaela@uern.br/melissa_pimenta2@hotmail.com<br />

Samylle Ruana Marinho <strong>de</strong> MEDEIROS<br />

Universida<strong>de</strong> do Estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte – UERN<br />

Graduanda do Curso Bacharelado em Gestão Ambiental<br />

samylleme<strong>de</strong>iros@yahoo.com<br />

As potencialida<strong>de</strong>s dos recursos naturais presentes <strong>nas</strong> áreas litorâneas <strong>de</strong>spertaram o interesse<br />

econômico <strong>de</strong> diversos setores da socieda<strong>de</strong>. Sendo assim, há uma relevância <strong>de</strong> se trabalhar a<br />

gestão participativa no Município <strong>de</strong> Grossos-RN, já que o mesmo está inserido nesse contexto e<br />

apresenta como principais ativida<strong>de</strong>s econômicas a pesca, a agricultura e a exploração do sal<br />

marinho. Ativida<strong>de</strong>s estas que possuem uma estreita relação com o ambiente, pois <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m<br />

totalmente da qualida<strong>de</strong> do meio para tornarem-se viáveis, e também possuem uma forte relação<br />

com as comunida<strong>de</strong>s, consi<strong>de</strong>rando que o sustento das mesmas é proveniente <strong>de</strong>las. Diante disso, o<br />

presente trabalho tem por objetivo propor elementos para um plano <strong>de</strong> ação que contribua para a<br />

integração e participação da socieda<strong>de</strong> na gestão do território. A fim <strong>de</strong> alcançar esse objetivo foi<br />

realizada uma entrevista com o Gerente Executivo da Agricultura do município, e procedimentos<br />

metodológicos <strong>de</strong> campo e <strong>de</strong> registro fotográfico da área. A pesquisa i<strong>de</strong>ntificou que os pescadores<br />

e salineiros artesãos não têm nenhuma forma <strong>de</strong> organização, seja associação ou conselho, ape<strong>nas</strong><br />

os agricultores que tem um conselho constituído e um sindicato atuando no município, o plano <strong>de</strong><br />

ação proposto ao município contempla as seguintes metas: Elaborar estratégias <strong>de</strong> comunicação<br />

efetiva, que todas as classes da socieda<strong>de</strong> participem da gestão e que esta seja igualitária; Pressionar<br />

1381


órgãos públicos; Realizar um manejo a<strong>de</strong>quado dos recursos naturais; Estudar a viabilida<strong>de</strong> das<br />

propostas do plano <strong>de</strong> ação; Comprometimento com as ações planejadas. No entanto para o alcance<br />

da gestão participativa a socieda<strong>de</strong> local tem que passar a assumir uma postura <strong>de</strong> cooperação, <strong>de</strong><br />

solidarieda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> respeito; enfatizando também que para a consolidação da proposta, tanto em seu<br />

aspecto teórico como metodológico, é preciso que haja um posicionamento político sobre a questão.<br />

PALAVRAS-CHAVES: Gestão Ambiental; Desenvolvimento Sustentável; Planejamento;<br />

Comunida<strong>de</strong>s Tradicionais.<br />

ABSTRACT<br />

The natural resources potentialities at the northern coast, aroused the economic interest in many<br />

parts of society. Un<strong>de</strong>r these circumstances, there is a relevance on studying the participative<br />

management in the city of Grossos-RN, once it is inserted in this context and presents fishing,<br />

agriculture and sea salt extraction as main economic activities. Therefore, these activities have a<br />

close relation to the environment (because they <strong>de</strong>pend of its quality) and are the base of<br />

local community's livelihood. Due to this, this paper aims to suggest couple improvements in an<br />

action plan for those administrators who care of the land. For this might be possible, the group did<br />

an interview with the city's Chief of Agriculture Affairs and also took pictures of the area. The<br />

research realized that the fishermen and sea salt miners do not have a syndicate, but the<br />

agriculturists have an organized labor union. Accordingly, the goals of the paper were: To make<br />

effective comunication strategies where everyone could join; To pressure government; To do<br />

specific natural resources handling; To study the feasibility of the project; To commit with the plan.<br />

Thus, to see the proposal of a participative management come true, it is indispensable to reconcile<br />

native's cooperation with public power effort.<br />

KEYWORDS: Environmental Management; Sustainable Development; Planning; Traditional<br />

Communities.<br />

INTRODUÇÃO<br />

As potencialida<strong>de</strong>s dos recursos naturais presentes <strong>nas</strong> áreas litorâneas <strong>de</strong>spertaram o<br />

interesse econômico <strong>de</strong> diversos setores da socieda<strong>de</strong>. Com isso, ao longo dos anos vem se<br />

perpetuando um cenário <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação ambiental <strong>de</strong>ssas áreas, pois os recursos submetidos a um<br />

1382


mau gerenciamento geram conflitos e problemas socioambientais. Tal situação exige uma mudança<br />

<strong>de</strong> gestão que seja pautada na <strong>de</strong>mocracia, na equida<strong>de</strong> e que tenha por base os princípios da<br />

sustentabilida<strong>de</strong>.<br />

Sendo assim, a relevância <strong>de</strong> se trabalhar a gestão participativa no município <strong>de</strong> Grossos-RN<br />

se faz pertinente em virtu<strong>de</strong> do mesmo apresentar em seu contexto histórico-social uma relação<br />

insustentável na interação entre socieda<strong>de</strong> e ambiente.<br />

O município estudado está localizado no Estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte, na Mesorregião<br />

Oeste Potiguar. Situado à margem esquerda do Rio Apodi-Mossoró, foi um território intensamente<br />

disputado em <strong>de</strong>morado conflito judicial, pelos Estados do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte e do Ceará. Sua<br />

área era reivindicada pelo Ceará que chegou a transformá-la em vila, daí iniciou-se uma longa<br />

batalha judicial com o Rio Gran<strong>de</strong> do Norte lutando pela localida<strong>de</strong>. Em 17 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1920, o<br />

Estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte venceu a disputa judicial e assumiu <strong>de</strong>finitivamente os direitos<br />

sobre o território <strong>de</strong> Grossos, que até então fazia parte do município <strong>de</strong> Areia Branca. No dia 11 <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1953, através da Lei nº 1.025, Grossos <strong>de</strong>smembrou-se <strong>de</strong> Areia Branca tornando-se<br />

município do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte (IBGE, 2012).<br />

Atualmente, Grossos possui uma população <strong>de</strong> 9.393 habitantes, conforme o censo realizado<br />

no ano <strong>de</strong> 2010 (IBGE, 2012). Além <strong>de</strong> seu perímetro urbano, fazem parte dos limites municipais<br />

sete comunida<strong>de</strong>s, on<strong>de</strong> quatro encontram-se mais próximas do litoral. As principais ativida<strong>de</strong>s<br />

econômicas <strong>de</strong>senvolvidas no local são a pesca, a agricultura e a exploração do sal marinho, estas<br />

apresentam uma estreita relação com o ambiente, pois <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m totalmente da qualida<strong>de</strong> do meio<br />

para tornarem-se viáveis, e também uma forte relação com as comunida<strong>de</strong>s, consi<strong>de</strong>rando que o<br />

sustento das mesmas é proveniente <strong>de</strong>stas ativida<strong>de</strong>s. Surge daí a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se trabalhar a<br />

sustentabilida<strong>de</strong> local, que consiste em consi<strong>de</strong>rar a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recursos ambientais que é<br />

extraído da natureza e conciliar com a conservação da mesma <strong>de</strong> modo que o ambiente e os futuros<br />

moradores não venham a sofrer consequências em virtu<strong>de</strong> do mau uso dos recursos.<br />

Diante disso, o presente trabalho tem por objetivo propor elementos para um plano <strong>de</strong> ação<br />

que contribua para a integração e participação da socieda<strong>de</strong> na gestão do território, pois conforme<br />

Bauman (2000, p.25), ―a participação é a promoção da cidadania, a realização do sujeito histórico, o<br />

instrumento por excelência para a construção do sentido <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> pertencimento a<br />

um grupo, classe, comunida<strong>de</strong> e local‖.<br />

Contudo, a proposta do plano <strong>de</strong> ação não tem como finalida<strong>de</strong> ser aplicado em uma<br />

Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Conservação – UC, já que o município não possui em seu limite territorial uma UC<br />

constituída, no entanto, não se <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>scartar a importância que tal instrumento tem na relação que<br />

o próprio município estabelece com o ambiente natural, pois a exploração dos recursos naturais<br />

1383


evi<strong>de</strong>nte no local necessita <strong>de</strong> mecanismos <strong>de</strong> gerenciamento equitativo, que preze o bem estar <strong>de</strong><br />

todos os atores envolvidos na relação socieda<strong>de</strong> e ambiente.<br />

METODOLOGIA<br />

Para da proposição <strong>de</strong> um plano <strong>de</strong> ação para o município <strong>de</strong> Grossos-RN, foi realizada uma<br />

pesquisa bibliográfica que nos permitiu um embasamento teórico sobre a questão proposta e<br />

discorrer elementos para a prática e o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma gestão participativa no município já<br />

citado.<br />

Foi realizada também uma entrevista, no dia 10 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2012, com o Gerente<br />

Executivo da Agricultura do Município <strong>de</strong> Grossos-RN, gerência esta que é vinculada a Secretaria<br />

<strong>de</strong> Meio Ambiente do município, e que atualmente está atuando <strong>nas</strong> questões ambientais, já que o<br />

município encontra-se <strong>de</strong>sprovido <strong>de</strong> secretario (a) <strong>de</strong> Meio Ambiente, para conhecer a opinião e<br />

atitu<strong>de</strong>s do po<strong>de</strong>r público em relação a gestão participativa, além das obtidas pela pesquisa<br />

bibliográfica, documental e <strong>de</strong> campo.<br />

Foram realizadas 3 (três) visitas ao campo <strong>de</strong> estudo, nos dias 8, 9 e 10 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2012<br />

para realização das ativida<strong>de</strong>s e o registro fotográfico da área pesquisada.<br />

RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

Segundo Leff (2006), a gestão participativa consiste em um processo <strong>de</strong> interação social que<br />

gera o diálogo entre os diferentes atores sociais envolvidos com a situação na <strong>de</strong>finição do espaço<br />

comum e do <strong>de</strong>stino coletivo, opondo-se, <strong>de</strong> certa forma, à hierarquia social. Trata-se <strong>de</strong> uma nova<br />

linha <strong>de</strong> raciocínio, que rever a maneira <strong>de</strong> como a socieda<strong>de</strong> se organiza politicamente e<br />

<strong>de</strong>scentraliza as tomadas <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão.<br />

Pautado na sustentabilida<strong>de</strong>, ―o princípio da gestão participativa no manejo dos recursos<br />

ambientais implica a construção <strong>de</strong> uma racionalida<strong>de</strong> produtiva fundada <strong>nas</strong> condições e potenciais<br />

da natureza e da cultura (LEFF, 2006, p. 473)‖, racionalida<strong>de</strong> esta que Leff chama <strong>de</strong> ambiental, e<br />

que atua contrária a lógica econômica do mercado – polarizadora e exclu<strong>de</strong>nte. No processo <strong>de</strong><br />

gestão participativa a tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão é <strong>de</strong>scentralizada, os diversos atores sociais que fazem<br />

parte da convivência local têm voz e vez perante as <strong>de</strong>cisões, em entrevista ao Gerente Executivo da<br />

Agricultura <strong>de</strong> Grossos foi questionado se este consi<strong>de</strong>rava importante à gestão participativa na<br />

tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão, obtendo-se a seguinte fala:<br />

1384


Claro que sim, vamos partir <strong>de</strong>sse pensamento: quando nós estamos doentes<br />

e vamos ao médico, ele não po<strong>de</strong> nos ajudar se a gente não conta a ele o que<br />

esta nos incomodando, aí diante do que nós contamos, ele po<strong>de</strong> nos receitar<br />

o remédio. É assim também numa gestão participativa, se faz necessário<br />

ouvirmos a socieda<strong>de</strong>, para que juntos possamos diagnosticar seus<br />

problemas e encontrar suas causas, e juntos, governo e socieda<strong>de</strong> traçar<br />

metas para melhorar a vida do povo. Uma boa gestão se dá quando o<br />

governo tem a humilda<strong>de</strong> <strong>de</strong> ouvir o seu povo 157 .<br />

Segundo Dowbor (2001, p. 6) ―as transformações reais são as que se enraízam em termos <strong>de</strong><br />

empo<strong>de</strong>ramento, <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> novas culturas políticas assimiladas pela própria população,<br />

processos frequentemente pouco tangíveis‖. Assim sendo, para que aconteça o progresso na<br />

organização social <strong>de</strong> um local, é necessário que também ocorra mudanças <strong>nas</strong> formas das<br />

estruturas políticas que limitam e controlam o po<strong>de</strong>r local.<br />

Aspectos Socioambientais<br />

Com base nos trabalhos elaborados por Me<strong>de</strong>iros, Gê e Moura (2011), Carvalho (2011) e<br />

visitas a campo, constatou-se a presença <strong>de</strong> problemas e conflitos socioambientais no município. No<br />

que diz respeito aos problemas ambientais, consi<strong>de</strong>ram-se principais: o avanço do mar e a migração<br />

<strong>de</strong> sedimentos das du<strong>nas</strong> e faixa <strong>de</strong> praia sobre as comunida<strong>de</strong>s (FIGURA 01).<br />

Figura 01 – Migração <strong>de</strong> sedimentos das du<strong>nas</strong> e faixa <strong>de</strong> praia sobre a comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Pernambuquinho, Grossos-RN.<br />

157 Entrevista realizada com Pedro Gomes <strong>de</strong> Melo, Gerente Executivo da Agricultura do Município <strong>de</strong> Grossos-RN, no<br />

doa 10 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2012.<br />

1385


A presença da ativida<strong>de</strong> pecuária no campo <strong>de</strong> du<strong>nas</strong>, que <strong>de</strong>scaracteriza a mesma, e o<br />

<strong>de</strong>scaso com o ecossistema manguezal que sofre tanto pela proximida<strong>de</strong> que existe entre o mesmo e<br />

as indústrias salineiras, quanto pela disposição <strong>de</strong> resíduos sólidos urbanos (FIGURA 02).<br />

Figura 02: Acúmulo <strong>de</strong> lixo em área <strong>de</strong> Manguezal, Grossos/RN.<br />

No entanto, os conflitos conforme Me<strong>de</strong>iros, Gê e Moura (2011), se estabelecem diante das<br />

relações sociais que se dão em torno <strong>de</strong> uma luta que um grupo ou indivíduo acredite correspon<strong>de</strong>r<br />

ao seu papel, são os modos <strong>de</strong> pensar e atuar diferentes que geram a tensão e promovem o conflito.<br />

A comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pernambuquinho, em Grossos-RN, vivencia conflitos com o Instituto Brasileiro<br />

do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA. A colônia <strong>de</strong> pescadores<br />

resi<strong>de</strong>nte no local <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> exclusivamente da pesca, quando não permitido o <strong>de</strong>senvolvimento da<br />

ativida<strong>de</strong> em virtu<strong>de</strong> do período <strong>de</strong> <strong>de</strong>feso, estes <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da ajuda <strong>de</strong> custo advinda do governo,<br />

que por muitas vezes atrasa o pagamento, comprometendo a renda familiar e levando os pescadores<br />

a transgredirem o contrato, pescando também no período <strong>de</strong> <strong>de</strong>feso.<br />

Os pescadores não possuem nenhuma forma <strong>de</strong> organização, nenhuma associação ou<br />

conselho teve sucesso quando criado, as divergências entre os próprios pescadores impossibilitam a<br />

gestão, o que dificulta a solução dos conflitos e a conquista <strong>de</strong> benefícios para a comunida<strong>de</strong>.<br />

Além <strong>de</strong>stes, os salineiros artesãos também não possuem uma forma <strong>de</strong> organização<br />

constituída. Questões como estipular um valor <strong>de</strong> venda comum para o sal geram muitas discussões,<br />

e por muitas vezes o sal é vendido por preços variados, e nesse contexto uns são mais beneficiados<br />

que outros.<br />

1386


O gerente executivo da agricultura do município, quando questionado sobre quais eram os<br />

maiores obstáculos que existiam na criação <strong>de</strong> organizações e na participação da população, relatou<br />

que:<br />

―Na minha visão é preciso que nós voltemos a confiar no outro e em nós<br />

mesmos, acreditando que só como socieda<strong>de</strong> organizada é que po<strong>de</strong>remos<br />

mudar essa realida<strong>de</strong>. É chegado o momento <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixarmos o individualismo<br />

<strong>de</strong> lado e sermos protagonista <strong>de</strong> uma realida<strong>de</strong>‖.<br />

A problemática da participação popular na gestão trata-se <strong>de</strong> uma questão <strong>de</strong> maturida<strong>de</strong><br />

política, somos um país que está começando a <strong>de</strong>senvolver uma cultura participativa, e a<br />

transformação do nível <strong>de</strong> consciência sempre leva tempo (DOWBOR, 2008). Mas o cenário<br />

político está mudando em nosso país, por isso,é importante a atenção voltada a instrumentos<br />

concretos <strong>de</strong> controle social como a criação <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> civil organizada.<br />

Participação e Formulação do Plano <strong>de</strong> Ação<br />

Segundo LEFF (2006), faz-se necessária uma maior participação da socieda<strong>de</strong> em geral nos<br />

processos e <strong>nas</strong> discussões que permeiam a realida<strong>de</strong> das mesmas, pois somente elas conhecem a<br />

fundo os locais que habitam e as dinâmicas em que os mesmos estão envolvidos, po<strong>de</strong>ndo assim<br />

i<strong>de</strong>ntificar mais facilmente os problemas e as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cada local, e, consequentemente,<br />

discutir sobre essas questões e buscar alternativas que visem solucionar possíveis pendências.<br />

No município <strong>de</strong> Grossos, diferentemente do contexto da classe ligada à pesca e à ativida<strong>de</strong><br />

salineira, a classe dos agricultores <strong>de</strong>senvolvem procedimentos <strong>de</strong> uma gestão participativa, existe<br />

uma associação constituída, conforme a seguinte fala do Gerente Executivo da Agricultura:<br />

―Os agricultores, ou seja, uma gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>les estão organizados em<br />

associações comunitárias. Temos o conselho municipal <strong>de</strong> agricultura,<br />

formado pelos representantes do governo e da socieda<strong>de</strong> organizada, ou<br />

seja, pelo representante das associações, e o sindicato atuando no<br />

município‖.<br />

Contudo, i<strong>de</strong>ntifica-se a necessida<strong>de</strong> da implementação <strong>de</strong> conselhos e associações às<br />

<strong>de</strong>mais classes trabalhistas, que são os próprios moradores do local, e que conhecem as dificulda<strong>de</strong>s<br />

e realida<strong>de</strong>s do município. Estes estão cobertos <strong>de</strong> respaldo para discutir políticas públicas com<br />

vistas à melhoria na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida. Sendo assim, o primeiro passo ao almejar uma gestão com<br />

base na participação da socieda<strong>de</strong> é criar um conselho e eleger um lí<strong>de</strong>r, seja este comunitário ou<br />

representante da ativida<strong>de</strong>. Em seguida, <strong>de</strong>vem-se estabelecer funções e direcioná-las a<br />

1387


<strong>de</strong>terminados membros. Por fim, o conselho estruturado <strong>de</strong>ve realizar constantes <strong>de</strong>bates, tratando<br />

do interesse comum <strong>de</strong> todos. O plano <strong>de</strong> ação é resultante das discussões que se dão no conselho, e<br />

<strong>de</strong>vem constar os elementos apresentados no Quadro 01.<br />

METAS<br />

Comprometime<br />

nto com as<br />

ações<br />

planejadas<br />

Pressionar<br />

órgãos públicos<br />

Realizar um<br />

manejo<br />

a<strong>de</strong>quado dos<br />

Recursos<br />

Naturais<br />

Viabilida<strong>de</strong> das<br />

propostas do<br />

plano <strong>de</strong> ação<br />

Estratégias <strong>de</strong><br />

comunicação<br />

efetiva<br />

Participação <strong>de</strong><br />

todas as classes<br />

da socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

maneira<br />

igualitária<br />

Quadro 01 – Elementos para um Plano <strong>de</strong> Ação em Grossos-RN (Adaptado)<br />

PROBLEMAS<br />

Poucas pessoas<br />

comprometidas<br />

Descaso e falta<br />

<strong>de</strong> apoio do<br />

po<strong>de</strong>r público<br />

Esgotamento dos<br />

Recursos<br />

Naturais<br />

Elaboração <strong>de</strong><br />

propostas <strong>de</strong><br />

ação inviáveis<br />

Falta <strong>de</strong><br />

divulgação sobre<br />

as ações<br />

A priorização<br />

das classes mais<br />

altas frente às<br />

<strong>de</strong>mais<br />

Fonte: GESTÃO PARTICIPATIVA, 2012.<br />

CAUSAS<br />

A socieda<strong>de</strong><br />

não conhece<br />

as ações<br />

A falta <strong>de</strong><br />

cobrança e <strong>de</strong><br />

mobilização<br />

da socieda<strong>de</strong><br />

Distribuição<br />

<strong>de</strong> renda<br />

ineficaz;<br />

manejo<br />

ina<strong>de</strong>quado<br />

dos recursos<br />

naturais<br />

Estabelecer<br />

metas que não<br />

po<strong>de</strong>m ser<br />

alcançadas<br />

A falta <strong>de</strong><br />

interesse e<br />

organização<br />

Influência<br />

social das<br />

classes mais<br />

altas;<br />

interesses<br />

políticos ou<br />

pessoais<br />

O QUE FAZER?<br />

Palestras<br />

informativas e<br />

comparativas;<br />

exposições em<br />

murais<br />

Cobrar ações do<br />

po<strong>de</strong>r público<br />

Melhorar e<br />

fiscalizar a<br />

distribuição <strong>de</strong><br />

renda para a<br />

socieda<strong>de</strong><br />

Estabelecer ações<br />

e metas possíveis<br />

<strong>de</strong> serem<br />

alcançadas e<br />

viáveis<br />

Realizar reuniões<br />

e <strong>de</strong>bates com<br />

frequência<br />

A forte resistência<br />

<strong>de</strong> grupos<br />

conservadores<br />

COMO<br />

FAZER?<br />

-<br />

-<br />

-<br />

-<br />

-<br />

QUANDO<br />

FAZER?<br />

-<br />

-<br />

-<br />

-<br />

-<br />

QUEM<br />

FAZER?<br />

As metas contidas no plano <strong>de</strong> ação dizem respeito aos objetivos que o conselho <strong>de</strong>seja<br />

alcançar, com base nos problemas antes i<strong>de</strong>ntificados no grupo, pois é baseado na problemática<br />

vivenciada que se estipula as metas. No tocante as causas, estas são os motivos que geram os<br />

-<br />

-<br />

-<br />

-<br />

-<br />

-<br />

-<br />

-<br />

1388


problemas. Depois <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificados esses pontos, o conselho <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> como vai solucionar o problema<br />

e atingir as metas (Como fazer?), estipula os prazos para o cumprimento <strong>de</strong>stas, se a curto, médio<br />

ou longo prazo (Quando fazer?), e por fim, <strong>de</strong>termina as pessoas responsáveis pelo seu<br />

cumprimento (Quem fazer?).<br />

O Quadro 01 é ape<strong>nas</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> como o plano <strong>de</strong> ação po<strong>de</strong> ser estruturado, os<br />

questionamentos <strong>de</strong> como fazer, quando fazer e quem fazer não foram comentados, consi<strong>de</strong>rando<br />

que estes são pontos que cabem somente ao conselho discutir e <strong>de</strong>liberar. Deve-se consi<strong>de</strong>rar<br />

também que outras metas po<strong>de</strong>m e <strong>de</strong>vem ser inseridas, cada grupo social sabe <strong>de</strong> suas necessida<strong>de</strong>s<br />

e <strong>de</strong>sejos, e consequentemente conhece o melhor caminho a percorrer.<br />

CONCLUSÃO<br />

Ao tratarmos da questão <strong>de</strong> planos <strong>de</strong> ação e analisarmos o quadro do município <strong>de</strong> Grossos-<br />

RN, exposto e discutido durante este trabalho, a busca por um manejo sustentável torna-se uma<br />

necessida<strong>de</strong> e não mais uma opção. E, para se alcançar e promover esse novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> manejo,<br />

faz-se imprescindível uma gestão integrada, que abranja a população e os recursos naturais e<br />

ambientais, ou seja, faz-se imprescindível uma gestão participativa.<br />

Uma gran<strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atores sociais e interesses envolvidos estão inseridos no contexto<br />

do município, isso dificulta a realização <strong>de</strong> uma gestão que busque integrar os interesses comuns a<br />

fim <strong>de</strong> melhorar a relação socieda<strong>de</strong>-natureza-economia.<br />

Para a elaboração <strong>de</strong> um plano <strong>de</strong> ação que vise alcançar a gestão participativa em Grossos,<br />

tem que ser consi<strong>de</strong>rado os aspectos aqui discutidos, o quadro exposto e analisado, e a socieda<strong>de</strong><br />

local tem que passar a assumir uma postura <strong>de</strong> cooperação, <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> respeito;<br />

enfatizando também que para a consolidação da proposta, tanto em seu aspecto teórico como<br />

metodológico, é preciso que haja um posicionamento político sobre a questão.<br />

REFERÊNCIAS<br />

BAUMAN, Z. Em busca da política. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Zahar, 2000.<br />

CARVALHO, Rodrigo Guimarães <strong>de</strong>. Análise <strong>de</strong> Sistemas Ambientais Aplicada ao<br />

Planejamento: Estudo em macro e mesoescala na região da bacia hidrográfica do Rio Apodi-<br />

Mossoró, RN/Brasil. 2011. 269 f. Tese (Doutorado) - Curso <strong>de</strong> Geografia, Departamento <strong>de</strong><br />

Geografia, UFC, Fortaleza, 2011. Cap. 1. Disponível em:<br />

.<br />

Acesso em: 8. fev. 2012.<br />

1389


DOWBOR, Ladislau. O que é po<strong>de</strong>r local. São Paulo: Brasiliense, 2008. (Coleção Primeiros<br />

Passos).<br />

________. A Comunida<strong>de</strong> Inteligente: visitando experiências <strong>de</strong> gestão local. São Paulo: Pólis,<br />

2001.<br />

GESTÃO PARTICIPATIVA. Plano <strong>de</strong> ação para o conselho da Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Conservação: Câmara<br />

Técnica <strong>de</strong> Pesca – APA <strong>de</strong> Guaraqueçaba, PARNA Superagüi e CORDRAP. Disponível em:<br />

http://www.gestaoparticipativa.org.br/imagens/cursosterritoriais/materiais_metodos/corpo_dagua_planos_trabalho.pdf<br />

>. Acesso em: 17. fev. 2012.<br />

IBGE. Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística. Disponível em: <<br />

http://www.ibge.gov.br/cida<strong>de</strong>sat/topwindow.htm?1 > Acesso em: 12. fev. 2012.<br />

LEFF, Enrique. Racionalida<strong>de</strong> ambiental: a reapropriação social da natureza. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Civilização Brasileira, 2006.<br />

LOUREIRO, Carlos Fre<strong>de</strong>rico B; AZAZIEL, Marcus; FRANCA Nahyda (org). Educação<br />

ambiental e gestão participativa em unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ibase: Ibama, 2003<br />

MEDEIROS, Samylle Ruana Marinho <strong>de</strong>; GÊ, Dweynny Rodrigues Filgueira; MOURA, Samuel<br />

Rodrigues <strong>de</strong> Freitas. Análise Socioambiental das Comunida<strong>de</strong>s Litorâneas <strong>de</strong> Barra,<br />

Pernambuquinho e Alagamar, Município <strong>de</strong> Grossos-RN. 2. ed. João Pessoa: Universitária da<br />

UFPB, 2011. Cap. 11, p. 11-61. Disponível em: .<br />

Acesso em: 10. fev. 2012.<br />

1390


ANÁLISE DA GESTÃO AMBIENTAL PÚBLICA DOS MUNICÍPIOS BRASILEIROS<br />

Anne Louise Carneiro Girão VIANA (IFCE) – louisegirao@gmail.com - Estudante<br />

Luana Iarima NOGUEIRA (IFCE) – luana_iarima@hotmail.com - Estudante<br />

Raquel Rodrigues da SILVA (IFCE) – raq_el14@hotmail.com - Estudante<br />

Diego Ga<strong>de</strong>lha <strong>de</strong> ALMEIDA (IFCE) – diegoga<strong>de</strong>lha@ifce.edu.br – Professor/Mestre/Orientador<br />

Resumo<br />

A gestão ambiental é um sistema <strong>de</strong> administração que visa amenizar e/ou solucionar os impactos<br />

ambientais dos recursos naturais, por meio da implementação <strong>de</strong> políticas públicas. Seguindo este<br />

conceito o presente estudo tem como objetivo analisar se os municípios brasileiros estão<br />

estruturando um arcabouço institucional na área <strong>de</strong> meio ambiente, bem como, se estão fazendo uso<br />

dos instrumentos <strong>de</strong> política e <strong>de</strong> gestão, disponíveis na Política Nacional <strong>de</strong> Meio Ambiente, para<br />

tratar das questões ambientais, baseando-se nos dados da Pesquisa <strong>de</strong> Informações Básicas<br />

Municipais - MUNIC 2009. Os resultados obtidos na análise mostram que os municípios brasileiros<br />

estão formando uma estrutura ambiental, porém, não fazem uso completo dos instrumentos <strong>de</strong><br />

gestão, e que a maior ou menor capacida<strong>de</strong> estrutural ambiental sempre está associada ao tamanho<br />

populacional do município.<br />

Palavras–chave: Gestão Pública, Meio Ambiente, Municípios Brasileiros.<br />

Abstract<br />

Environmental management is a management system that aims to mitigate and / or resolve the<br />

environmental impacts of natural resources through the implementation of<br />

public policies. Following this concept the present study aims to analyze whether Brazilian<br />

municipalities are structuring an institutional framework in the area of environment, as well as, are<br />

making use of policy instruments and management, available in the National Policy on<br />

Environment, to treat environmental issues, based on data from the Pesquisa <strong>de</strong> Informações<br />

Básicas Municipais - MUNIC 2009. The results of the analysis show that the municipalities are<br />

forming an environmental structure, however, does not make full use of management tools, and the<br />

greater or lesser capacity structural environment is always associated with the county population<br />

size.<br />

Keywords: Public Management, Environment, Brazilian Municipalities.<br />

1391


Introdução<br />

A gestão ambiental surgiu da necessida<strong>de</strong> do ser humano organizar-se melhor com suas<br />

diferentes formas <strong>de</strong> relação com o meio ambiente. O conceito <strong>de</strong> gestão ambiental po<strong>de</strong> ter<br />

diferentes significados, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do objetivo almejado; ele po<strong>de</strong> ser entendido como ―a<br />

condução do processo <strong>de</strong> manutenção e garantia ambiental em face da utilização dos recursos<br />

naturais (renováveis e não renováveis) e da produção <strong>de</strong> quaisquer resíduos [...]‖ (Milaré apud De<br />

Carlo, 2006, p. 73), por meio da implementação <strong>de</strong> políticas públicas com participação da socieda<strong>de</strong><br />

civil organizada, garantindo assim, o equilíbrio e as características essenciais dos meios natural e<br />

construído (assentamentos humanos).<br />

As políticas públicas, quando possuem planos, projetos, programas e ações que objetivam a<br />

proteção ou conservação do meio ambiente, são <strong>de</strong>nominadas políticas ambientais. A temática<br />

ambiental é alvo <strong>de</strong> preocupações <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o período colonial, mesmo que restrita à legislação que<br />

regulava a proteção florestal. Porém, foi somente a partir do século XX que essas preocupações<br />

aumentaram. A lei nº. 6.938, <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> 08 <strong>de</strong> 1981, foi um passo pioneiro tanto no que concerne às<br />

questões ambientais do país, como também, à história da administração pública brasileira. Essa lei<br />

instituiu a Política Nacional <strong>de</strong> Meio Ambiente - PNMA e o Sistema Nacional <strong>de</strong> Meio Ambiente,<br />

um sistema <strong>de</strong>scentralizado que integra as três esferas <strong>de</strong> governo - fe<strong>de</strong>ral, estadual e municipal -<br />

separando e atribuindo competências políticas, executivas e judiciais; criou o Conselho Nacional <strong>de</strong><br />

Meio Ambiente, <strong>de</strong> caráter consultivo e <strong>de</strong>liberativo, e os instrumentos operacionais que dirigem as<br />

ações <strong>de</strong> gestão ambiental.<br />

Entretanto, apesar <strong>de</strong>sta lei criar um arcabouço institucional <strong>de</strong>scentralizado e integrado, foi<br />

somente com a promulgação da Constituição da República Fe<strong>de</strong>rativa do Brasil <strong>de</strong> 1988 que<br />

ocorreu o aumento na <strong>de</strong>scentralização e <strong>de</strong>mocratização da política ambiental, visto que, ela trouxe<br />

um capítulo exclusivo sobre o meio ambiente, on<strong>de</strong> o reconhece como bem jurídico, prevê o direito<br />

do meio ambiente, eleva os municípios à unida<strong>de</strong> fe<strong>de</strong>rativa dotada <strong>de</strong> autonomia e reparte as<br />

competências entre as unida<strong>de</strong>s da Fe<strong>de</strong>ração. (CONSTITUIÇÃO FEDERAL <strong>de</strong> 1988)<br />

Sendo o município um ente fe<strong>de</strong>rativo dotado <strong>de</strong> autonomia, é <strong>de</strong>ver do mesmo estruturar-se<br />

e assumir as competências inerentes à gestão ambiental local. Consi<strong>de</strong>rando-se que é nessa esfera<br />

que se materializam os problemas <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação ambiental, há que se ter em mente que é também<br />

nessa instância que <strong>de</strong>vem receber o tratamento necessário à sua solução, através dos mecanismos<br />

disponíveis na PNMA. O presente trabalho tem por objetivo analisar os Sistemas <strong>de</strong> Gestão<br />

Ambiental Pública dos municípios brasileiros, com base na Pesquisa <strong>de</strong> Informações Básicas<br />

Municipais – MUNIC 2009, do Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística – IBGE.<br />

1392


Material e Métodos<br />

A presente pesquisa procurou respon<strong>de</strong>r algumas indagações: Os municípios brasileiros estão<br />

montando um arcabouço institucional para gerir as questões ambientais em nível local? Os<br />

municípios estão fazendo uso dos instrumentos <strong>de</strong> gestão ambiental disponíveis na PNMA? Para<br />

construir respostas, a pesquisa analisou os dados fornecidos pela MUNIC - 2009, do IBGE; para<br />

posterior construção <strong>de</strong> tabelas e gráficos das informações estudadas. Na busca <strong>de</strong> perceber a real<br />

situação dos Sistemas Municipais <strong>de</strong> Meio Ambiente, foram selecionadas as seguintes variáveis:<br />

Estrutura Ambiental (EA): órgão gestor e responsável pela implementação da política ambiental do<br />

município; Conselho Municipal <strong>de</strong> Meio Ambiente (CMMA): órgão colegiado consultivo e<br />

<strong>de</strong>liberativo, responsável por acompanhar, fiscalizar e assessorar a implementação da política<br />

ambiental; Fundo <strong>de</strong> Meio Ambiente (FMA): instrumento <strong>de</strong>stinado a prover condições financeiras<br />

e <strong>de</strong> gestão dos recursos para a gestão ambiental; Agenda 21: instrumento <strong>de</strong> planejamento local;<br />

Legislação Ambiental Específica (LAE): instrumento legal que condicionará o funcionamento do<br />

Sistema Municipal <strong>de</strong> Meio Ambiente; Licenciamento Ambiental (LA) <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s<br />

potencialmente poluidoras <strong>de</strong> impacto local; Comitê <strong>de</strong> Bacia Hidrográfica: saber a participação<br />

social, na gestão dos recursos hídricos; Articulação Interinstitucional: se possui consorcio público<br />

intermunicipal; Contrato <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> serviço (terceirização) com empresas na área <strong>de</strong> meio<br />

ambiente. Como estratégia <strong>de</strong> classificação, os municípios foram analisados isoladamente,<br />

compondo o cenário nacional e em compartimentos por classes <strong>de</strong> tamanho <strong>de</strong> população: <strong>de</strong> até<br />

5000 habitantes à mais <strong>de</strong> 500000 habitantes.<br />

Resultados e Discussão<br />

Como resultados, po<strong>de</strong>-se observar que em 2009, 84,5% dos municípios brasileiros tinham<br />

alguma EA; e que este percentual é crescente à medida que se avança <strong>nas</strong> classes <strong>de</strong> tamanho da<br />

população dos municípios, dos menos, para os mais populosos.<br />

1393


Figura 1 – Percentual <strong>de</strong> municípios com estrutura na área <strong>de</strong> meio ambiente, segundo as classes <strong>de</strong><br />

tamanho da população dos municípios – 2009.<br />

Observou-se que 56,3% dos municípios dispõem <strong>de</strong> CMMA; e com relação às atribuições dos<br />

mesmos, predominam os <strong>de</strong> caráter <strong>de</strong>liberativo (80,9% dos conselhos) e/ou consultivo (77,8%),<br />

seguindo os <strong>de</strong> caráter fiscalizador (47,9%) e com atribuição normativa (40,2%).<br />

Figura 2 – Percentual <strong>de</strong> municípios com Conselho Municipal <strong>de</strong> Meio Ambiente, segundo as<br />

classes <strong>de</strong> tamanho da população dos municípios – 2009.<br />

1394


A análise dos dados revela que 29,6% dos municípios tinham FMA; e que esta variável está<br />

presente em 95,0% dos municípios com mais <strong>de</strong> 500.000 habitantes.<br />

Figura 3 – Percentual <strong>de</strong> municípios com Fundo Municipal <strong>de</strong> Meio Ambiente, segundo as classes<br />

<strong>de</strong> tamanho da população dos municípios – 2009.<br />

No que se refere à Agenda 21, 19,9% dos municípios haviam iniciado o processo <strong>de</strong><br />

elaboração; sobretudo nos municípios <strong>de</strong> maior porte populacional – mais <strong>de</strong> 500.000 habitantes<br />

(60,0%).<br />

1395


Figura 4 – Percentual <strong>de</strong> municípios com elaboração <strong>de</strong> Agenda 21 iniciada, segundo as classes <strong>de</strong><br />

tamanho da população dos municípios – 2009.<br />

Quanto a existência <strong>de</strong> LAE, 46,8% dos municípios brasileiros dispunham <strong>de</strong>sta variável;<br />

havendo uma disparida<strong>de</strong> entre os municípios com menos <strong>de</strong> 5 000 habitantes (35,6%) e aqueles<br />

com mais <strong>de</strong> 500 000 habitantes (100,0%).<br />

Figura 5 – Percentual <strong>de</strong> municípios com Legislação Ambiental Específica, segundo as classes <strong>de</strong><br />

tamanho da população dos municípios – 2009.<br />

Dos 5.565 municípios brasileiros, 30,8% realizam LA <strong>de</strong> impacto local; sendo esta variável<br />

crescente a partir dos municípios <strong>de</strong> 5.001 a 10.000 habitantes (32,4%), até atingir 80% nos <strong>de</strong><br />

maior porte.<br />

Figura 6 – Percentual <strong>de</strong> municípios com Licenciamento Ambiental <strong>de</strong> impacto local, segundo as<br />

classes <strong>de</strong> tamanho da população dos municípios – 2009.<br />

1396


Os dados nos revela que 61,1% dos municípios participam <strong>de</strong> algum Comitê <strong>de</strong> Bacia<br />

Hidrográfica; sendo crescente dos municípios <strong>de</strong> menor porte 51,9%, aos municípios <strong>de</strong> maior porte<br />

populacional 90%.<br />

Figura 7 – Percentual <strong>de</strong> municípios com participação em Comitê <strong>de</strong> Bacia Hidrográfica, segundo<br />

as classes <strong>de</strong> tamanho da população dos municípios – 2009.<br />

Observou-se que 17,5% dos municípios participam <strong>de</strong> Consórcio Público Intermunicipal. Na<br />

análise por classe <strong>de</strong> tamanho da população, observamos que a participação dos municípios nesse<br />

tipo <strong>de</strong> Consórcio evolui <strong>de</strong> 11,1% nos <strong>de</strong> menor porte, para 37,5% nos <strong>de</strong> maior porte.<br />

Figura 8 – Percentual <strong>de</strong> municípios com Consórcio Público Intermunicipal, segundo as classes <strong>de</strong><br />

tamanho da população dos municípios – 2009.<br />

1397


Por fim, em 2009, 18,4% dos municípios tiveram contrato <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> serviços com<br />

empresas na área <strong>de</strong> meio ambiente para exercício <strong>de</strong> funções; a terceirização aumenta à medida<br />

que avança <strong>nas</strong> classes <strong>de</strong> tamanho da população, ou seja, dos menos (14,6%) para os mais<br />

populosos (55%).<br />

Figura 9 – Percentual <strong>de</strong> municípios com contrato <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> serviço com empresas na área do<br />

meio ambiente, segundo as classes <strong>de</strong> tamanho da população dos municípios – 2009.<br />

Com base nos dados analisados anteriormente, po<strong>de</strong>-se afirmar que existe uma tendência <strong>de</strong><br />

os municípios montarem um arcabouço institucional para gerenciar as questões ambientais, visto<br />

que, um número relativamente elevado (84,5%) <strong>de</strong>ssas municipalida<strong>de</strong>s possuem alguma Estrutura<br />

Ambiental, principalmente os com mais <strong>de</strong> 500 000 habitantes (100%). O que po<strong>de</strong> ser justificado<br />

pelo fato <strong>de</strong> os municípios <strong>de</strong> maior porte terem problemas ambientais mais visíveis, além <strong>de</strong> maior<br />

dotação orçamentária. Entretanto, a existência <strong>de</strong> um arcabouço institucional, não implica em uma<br />

gestão ambiental eficaz. A existência <strong>de</strong> Conselho Municipal <strong>de</strong> Meio Ambiente, Fundo Municipal<br />

<strong>de</strong> Meio Ambiente, consolidação da Agenda 21, criação <strong>de</strong> Legislação Ambiental Específica,<br />

realização <strong>de</strong> Licenciamento Ambiental <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> impacto local, existência <strong>de</strong> contrato <strong>de</strong><br />

terceirização com empresas na área <strong>de</strong> meio ambiente e a participação em consórcio intermunicipal,<br />

são instrumentos legais pouco utilizados pelos municípios brasileiros. Além <strong>de</strong>ssas variáveis, é<br />

necessário se fazer uso dos <strong>de</strong>mais instrumentos <strong>de</strong> gestão disponíveis na Política Nacional <strong>de</strong> Meio<br />

Ambiente. Po<strong>de</strong>mos afirmar também, que a existência <strong>de</strong> estrutura administrativa, assim como os<br />

<strong>de</strong>mais instrumentos, estão cada vez mais presentes nos municípios <strong>de</strong> maior porte populacional<br />

(mais <strong>de</strong> 500 000 habitantes).<br />

1398


Consi<strong>de</strong>rações Finais<br />

Po<strong>de</strong>mos concluir que uma parcela consi<strong>de</strong>rável dos municípios brasileiros possui alguma<br />

estrutura ambiental, contudo, não utilizam os instrumentos <strong>de</strong> gestão disponível na PNMA. Além<br />

disso, a menor ou maior capacida<strong>de</strong> estrutural em termos <strong>de</strong> gestão municipal sempre estará<br />

associada com o tamanho populacional do município.<br />

Apesar da ausência <strong>de</strong> um banco <strong>de</strong> dados atualizado, a análise apresentada nos revela a real<br />

situação dos Sistemas Municipais <strong>de</strong> Meio Ambiente do Brasil, <strong>de</strong>monstrando que há uma<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> os municípios repensarem sobre a importância do meio ambiente para a qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> vida da socieda<strong>de</strong>, bem como do uso dos mais variados instrumentos que auxiliam na gestão<br />

ambiental.<br />

Referências<br />

COELHO, Maria Célia Nunes; CUNHA, Luís Henrique. Política e Gestão Ambiental. In: CUNHA,<br />

Sandra Baptista; GUERRA, Antônio Teixeira (Orgs.). A questão ambiental: diferentes abordagens.<br />

4. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Bertrand Brasil, 2008.<br />

DE CARLO, Sandra. Gestão Ambiental nos municípios brasileiros: impasses e heterogeneida<strong>de</strong>.<br />

329f. Tese (Doutorado em Desenvolvimento Sustentável) – Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília, Brasília,<br />

2006.<br />

FIORILLO. Celso Antonio Pacheco. Curso <strong>de</strong> Direito Ambiental Brasileiro. 10 ed. rev., atual. e<br />

ampl. São Paulo: Saraiva, 2009.<br />

MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente: doutrina, jurisprudência, glossário. 4 ed. São Paulo: Editora<br />

Revista dos Tribunais, 2005.<br />

_____. Instrumentos legais e econômicos aplicáveis aos municípios. Sistema Municipal do Meio<br />

Ambiente – SISMUNA/SISNAMA. In: PHILIPPI JR. Arlindo; MAGLIO, Ivan Carlos; et al.<br />

Municípios e meio ambiente: perspectivas para municipalização da gestão ambiental no Brasil. São<br />

Paulo: ANAMMA, 1999.<br />

PHILIPPI JR., Arlindo. O impacto da capacitação em gestão ambiental. 240p. [Tese <strong>de</strong> Livre-<br />

Docência. Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública da USP). São Paulo: Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo. Faculda<strong>de</strong><br />

1399


<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública. Departamento <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Ambiental, 2002.<br />

PHILIPPI JR. Arlindo; ZULAUF, Werner. Estruturação dos municípios para a criação e<br />

implementação do sistema <strong>de</strong> gestão ambiental. In: PHILIPPI JR. Arlindo; MAGLIO, Ivan Carlos;<br />

et al. Municípios e meio ambiente: perspectivas para municipalização da gestão ambiental no Brasil.<br />

São Paulo: ANAMMA, 1999.<br />

1400


CARACTERIZAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE SANEAMENTO BÁSICO EM COMUNIDADES<br />

RURAIS NO MUNICÍPIO DE MOSSORÓ E REGIÃO, RIO GRANDE DO NORTE<br />

Solange Aparecida Goularte DOMBROSKI (DCAT-UFERSA) – solangedombroski@ufersa.edu.br<br />

Diana Gonçalves LUNARDI (DCAT-UFERSA) – lunardi.diana@ufersa.edu.br<br />

Lunara Grazielly Costa e SILVA (UFERSA) – lunaragrazielly@msn.com<br />

Marco Antonio DIODATO (DCAT-UFERSA) – diodato@ufersa.edu.br<br />

Resumo<br />

A região do Semiárido é sem dúvida a porção do Brasil que mais sofre com a escassez hídrica,<br />

<strong>de</strong>vido principalmente à pequena disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> água das bacias hidrográficas, intensa radiação<br />

solar, baixa pluviosida<strong>de</strong> e chuvas bastante irregulares. Esses fatores climáticos, aliados a má gestão<br />

dos recursos hídricos, são os gran<strong>de</strong>s responsáveis pela baixa qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida humana em áreas<br />

rurais. Assim, os principais objetivos <strong>de</strong>sse estudo foram caracterizar as condições <strong>de</strong> saneamento<br />

básico, sobretudo o acesso à água em comunida<strong>de</strong>s rurais no município <strong>de</strong> Mossoró e região, e<br />

analisar as estratégias <strong>de</strong> reutilização da água por famílias rurais. Neste estudo, um total <strong>de</strong> 80<br />

famílias pertencentes às comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Gangorra (Tibau), Sussuarana, Pedra Branca e Quixaba<br />

(Mossoró), RN, foram entrevistadas a partir <strong>de</strong> um questionário semiestruturado. Para realização<br />

<strong>de</strong>ste estudo, foram levantadas informações sobre o tipo <strong>de</strong> domicílio, abastecimento <strong>de</strong> água,<br />

esgotamento sanitário e <strong>de</strong>stino <strong>de</strong> lixo. Embora aproximadamente meta<strong>de</strong> dos domicílios<br />

dispusesse <strong>de</strong> canalização interna para abastecimento <strong>de</strong> água, o seu fornecimento era insuficiente e<br />

bastante irregular, o que levava muitas famílias a utilizarem fontes alternativas, tais como o<br />

fornecimento por caminhão-pipa ou a compra <strong>de</strong> água <strong>de</strong> fornecedores locais. Para amenizar a<br />

situação <strong>de</strong> extrema escassez <strong>de</strong> água, muitas famílias dispunham <strong>de</strong> reservatórios tais como<br />

cister<strong>nas</strong>, caixas <strong>de</strong> água, tambores metálicos e/ou bombo<strong>nas</strong> plásticas. O número e tipo <strong>de</strong><br />

reservatório por residência variou conforme a disponibilida<strong>de</strong> financeira <strong>de</strong> cada grupo familiar.<br />

Apesar das condições precárias, a gran<strong>de</strong> maioria dos entrevistados dispunha <strong>de</strong> banheiro com fossa<br />

rudimentar. Como esperado, os resultados apresentados neste estudo mostraram a ausência <strong>de</strong><br />

universalização do acesso à fonte <strong>de</strong> água tratada. Isso ressalta a importância do estabelecimento <strong>de</strong><br />

estratégias que visem reverter esta situação em busca <strong>de</strong> um <strong>de</strong>senvolvimento rural sustentável.<br />

Palavras-chave: Mossoró; Saneamento Básico Rural; Semiárido; Aproveitamento <strong>de</strong> água.<br />

Abstract<br />

The semiarid region is the portion of Brazil that more suffers from water scarcity, mainly due to the<br />

low availability of water from watersheds, intense solar radiation, low and very irregular rainfall.<br />

1401


These climatic factors linked to mismanagement of water resources, are largely responsible for the<br />

low quality of life in rural areas. Thus, the main objectives of this study were to characterize the<br />

conditions of sanitation, especially the access to water in rural communities at Mossoró and region,<br />

and analyze the strategies of water reuse for rural families. In this study, a total of 80 families from<br />

the communities of Gangorra (Tibau), Sussuarana, Pedra Branca and Quixaba (Mossoró), RN, were<br />

interviewed from a semi-structured questionnaire. For this study, we investigated information on the<br />

type of household, water supply, sewage and garbage <strong>de</strong>stination. Although approximately half of<br />

the homes had indoor plumbing for water supply, their supply was very irregular and insufficient.<br />

Consequently, many families used alternative sources, such as supply by water truck or buying<br />

water from local suppliers. To reduce extreme water scarcity, many families had reservoirs such as<br />

water tanks and metal and plastic drums. The number and type of container per household varied<br />

according to the availability of funds for each family group. Despite the poor conditions, the vast<br />

majority of respon<strong>de</strong>nts had a bathroom with rudimentary sewage. As expected, the results<br />

presented in this study showed the absence of universal access to improved water source. This<br />

highlight the importance of establishing strategies to reverse this situation in search of sustainable<br />

rural <strong>de</strong>velopment.<br />

Keywords: Mossoró, Rural Sanitation, Semi-arid, Water Use.<br />

Introdução<br />

O semiárido brasileiro ocupa uma área <strong>de</strong> aproximadamente 970 mil km 2 , abrangendo<br />

1.133 municípios entre os estados <strong>de</strong> Piauí, Ceará, Rio Gran<strong>de</strong> do Norte, Paraíba, Pernambuco,<br />

Alagoas, Sergipe, Bahia e Mi<strong>nas</strong> Gerais (BRASIL, 2007a). A <strong>de</strong>limitação da região semiárida do<br />

Brasil é baseada em três critérios técnicos: (i) precipitação pluviométrica média anual inferior a 800<br />

mm; (ii) índice <strong>de</strong> ari<strong>de</strong>z <strong>de</strong> até 0,5 (balanço hídrico que relaciona as precipitações e a<br />

evapotranspiração potencial); e (iii) risco <strong>de</strong> seca maior que 60% (BRASIL, 2007a). Nas regiões<br />

semiáridas, os rios são, na sua maioria, intermitentes, as chuvas bastante irregulares, os solos rasos e<br />

as taxas <strong>de</strong> evapotranspiração altas, o que favorece o fenômeno <strong>de</strong> seca. Das 12 Regiões<br />

Hidrográficas organizadas segundo a localização das principais bacias hidrográficas do País, a <strong>de</strong><br />

maior escassez <strong>de</strong> água (disponibilida<strong>de</strong> hídrica inferior a 100 m³/s) é a Região Hidrográfica<br />

Atlântico Nor<strong>de</strong>ste Oriental, que abrange o Rio Gran<strong>de</strong> do Norte, a Paraíba e parte dos estados do<br />

Ceará, Pernambuco, Alagoas e um pequeno trecho do Piauí (ANA, 2010).<br />

A Região Nor<strong>de</strong>ste se <strong>de</strong>staca por apresentar os maiores problemas <strong>de</strong> mananciais <strong>de</strong>vido,<br />

basicamente, à escassez hídrica da sua porção semiárida e à pequena disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> água das<br />

1402


acias hidrográficas litorâneas. Nesta Região, o número <strong>de</strong> se<strong>de</strong>s urba<strong>nas</strong> com sistemas <strong>de</strong><br />

abastecimento <strong>de</strong> água em situação satisfatória até 2015 correspon<strong>de</strong> a 26% do total, mas ape<strong>nas</strong><br />

18% da população é atendida por esses sistemas. Assim, são necessários investimentos para solução<br />

<strong>de</strong> problemas <strong>de</strong> abastecimento a 82% da população (ANA, 2010).<br />

Na tabela 1 são apresentados os dados sobre o abastecimento <strong>de</strong> água em domicílios na<br />

área urbana e rural do Brasil, da Região Nor<strong>de</strong>ste e no Rio Gran<strong>de</strong> do Norte publicados pelo IBGE<br />

(2009) na Pesquisa Nacional por Amostra <strong>de</strong> Domicílio (PNAD). De acordo com a PNAD, 84,4%<br />

dos domicílios brasileiros tinham abastecimento <strong>de</strong> água por re<strong>de</strong> geral. Para a Região Nor<strong>de</strong>ste e<br />

RN, estes valores correspon<strong>de</strong>ram a 76,8 e 88,5%, respectivamente (IBGE, 2009, tabela 1).<br />

Conforme os dados contidos na tabela 1, observam-se gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s no acesso aos serviços<br />

<strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água em áreas urba<strong>nas</strong> e rurais. No âmbito do Brasil, ape<strong>nas</strong> 32,8% dos<br />

domicílios rurais estavam ligados à re<strong>de</strong> <strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong> água, enquanto na Região Nor<strong>de</strong>ste e<br />

RN esses valores foram <strong>de</strong> 36,4% e 64,5%.<br />

Tabela 1 – Abastecimento <strong>de</strong> água em domicílios na área urbana e rural do Brasil, da Região<br />

Local Área<br />

Brasil<br />

Região<br />

Nor-<br />

<strong>de</strong>ste<br />

Rio<br />

Gran<strong>de</strong><br />

do<br />

Norte<br />

Nor<strong>de</strong>ste e do Estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte (Adaptado <strong>de</strong> IBGE, 2009).<br />

Nº total <strong>de</strong><br />

domicílios<br />

x 1000<br />

Domicílios ligados a re<strong>de</strong> (%) Outras formas (%)<br />

Com<br />

canalização<br />

interna<br />

Sem<br />

canalização<br />

interna<br />

Total<br />

Com<br />

canalização<br />

interna<br />

Sem<br />

canalização<br />

interna<br />

Total<br />

Urbana 49.827 92,6 0,9 93,5 4,9 1,6 6,5<br />

Rural 8.750 28,9 3,8 32,8 39,9 27,4 67,2<br />

Total 58.577 83,1 1,4 84,4 10,1 5,5 15,6<br />

Urbana 39.094 89,6 2,4 92,0 4,1 3,9 8,0<br />

Rural 14.698 29.7 6,7 36,4 19,6 44,0 63,6<br />

Total 53.792 73,2 3,6 76,8 8,4 14,8 23,2<br />

Urbana 680 95,6 1,3 96,9 0,7 2,2 2,9<br />

Rural 242 57,4 7,0 64,5 14,0 21,5 35,5<br />

Total 922 85,7 2,8 88,5 4,2 7,4 11,6<br />

O conceito <strong>de</strong> recursos hídricos baseia-se em três aspectos fundamentais associados a<br />

disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> água: garantia, qualida<strong>de</strong> e acessibilida<strong>de</strong>, e um dos maiores <strong>de</strong>safios para a<br />

convivência com a região semiárida é, sem dúvida, a gestão das águas (ARAÚJO, 2012). Assim, a<br />

redução <strong>de</strong> perdas nos sistemas <strong>de</strong> transporte, a melhoria na eficiência da irrigação e o reuso das<br />

águas têm sido apontados como os principais <strong>de</strong>safios para a gestão dos recursos hídricos do<br />

semiárido. Seguramente, o reuso das águas é o mais relevante instrumento para garantir a<br />

sustentabilida<strong>de</strong> hídrica das regiões secas (ARAÚJO, 2012).<br />

As respostas huma<strong>nas</strong> à escassez <strong>de</strong> água envolvem aspectos ambientais, sociais e culturais<br />

complexos (GALIZONI et al., 2008). Um estudo realizado no alto do Jequitinhonha, Nor<strong>de</strong>ste <strong>de</strong><br />

1403


Mi<strong>nas</strong> Gerais, apontou que famílias e comunida<strong>de</strong>s rurais construíram estratégias produtivas,<br />

reprodutivas e politicas para lidar com situações críticas e cíclicas <strong>de</strong> escassez <strong>de</strong> água. Ao longo do<br />

tempo, essas famílias criaram critérios <strong>de</strong> priorida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uso da água e técnicas <strong>de</strong> gestão<br />

comunitária <strong>de</strong> abastecimento e acesso às fontes (GALIZONI et al., 2008). Outro estudo realizado<br />

em Vitória, Austrália, projetou e construiu uma casa ‗ecologicamente sustentável‘ em eficiência<br />

energética e reaproveitamento eficiente <strong>de</strong> água. A casa construída permitiu uma economia <strong>de</strong> até<br />

77% <strong>de</strong> água potável e uma reutilização significativa <strong>de</strong> águas residuais para abastecer vasos<br />

sanitários e irrigar jardins (MUTHUKUMARAN et al., 2011).<br />

A escassez <strong>de</strong> água e a forma como diferentes comunida<strong>de</strong>s em situações sócio-econômico-<br />

culturais e ambientais particulares lidam com o problema criam um universo altamente complexo<br />

que <strong>de</strong>ve ser compreendido a partir da realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada região, visando a proposição <strong>de</strong> estratégias<br />

para uma melhor gestão dos recursos hídricos. Portanto, os objetivos <strong>de</strong>sse estudo foram: (i)<br />

caracterizar as condições <strong>de</strong> saneamento básico, sobretudo o acesso à água em comunida<strong>de</strong>s rurais<br />

no município <strong>de</strong> Mossoró e região e (ii) analisar as estratégias <strong>de</strong> reutilização da água por famílias<br />

rurais.<br />

Métodos<br />

Área <strong>de</strong> estudo<br />

Neste estudo, quatro comunida<strong>de</strong>s rurais foram investigadas, uma pertencente ao município<br />

<strong>de</strong> Tibau, e as <strong>de</strong>mais, ao município <strong>de</strong> Mossoró, no Rio Gran<strong>de</strong> do Norte (Figura 1).<br />

O Rio Gran<strong>de</strong> do Norte (RN) apresenta uma localização estratégica no segmento oriental do<br />

Nor<strong>de</strong>ste Brasileiro, entre os paralelos (4º 49‘ S; 34º 58‘ W à 6º 58‘ S; 38º 34‘ W). É o Estado do<br />

Nor<strong>de</strong>ste com maior proporção <strong>de</strong> área semiárida, com 93,4% dos 53.077 km² da sua área total<br />

(NEVES et al., 2011). O Estado tem 167 municípios e sua população em 2010 era cerca <strong>de</strong> 3<br />

milhões <strong>de</strong> habitantes (IBGE, 2010a).<br />

Mossoró e Tibau estão entre os municípios localizados em região semiárida do Rio Gran<strong>de</strong><br />

do Norte (MMA, 2004). Mossoró possui uma área <strong>de</strong> 2.099 km² e sua população em 2010 era <strong>de</strong><br />

259.815 habitantes. Deste total, 22.574 pessoas eram resi<strong>de</strong>ntes em área rural (IBGE, 2010b). O<br />

município <strong>de</strong> Tibau apresenta uma área <strong>de</strong> 169 km² com uma população total, em 2010, <strong>de</strong> 3.687<br />

habitantes, sendo 2.836 resi<strong>de</strong>ntes em área urbana e ape<strong>nas</strong> 851 em área rural (IBGE, 2010b).<br />

Coleta <strong>de</strong> dados<br />

Para a realização <strong>de</strong>ste estudo, 20 famílias foram entrevistadas em cada uma das quatro<br />

comunida<strong>de</strong>s rurais amostradas, totalizando 80 famílias. As entrevistas ocorreram no dia 16 <strong>de</strong><br />

1404


setembro <strong>de</strong> 2012, domingo, <strong>de</strong> 07:00h às 17:00h, quando a probabilida<strong>de</strong> dos moradores estarem<br />

em casa era maior.<br />

Figura 1 – Localização das comunida<strong>de</strong>s investigadas:<br />

Gangorra (Tibau), Sussuarana, Pedra Branca e Quixaba<br />

(Mossoró), Rio Gran<strong>de</strong> do Norte, Brasil.<br />

A coleta <strong>de</strong> dados foi realizada a partir <strong>de</strong> um questionário semiestruturado por quatro<br />

pesquisadores previamente treinados. As informações levantadas sobre o tipo <strong>de</strong> domicílio,<br />

abastecimento <strong>de</strong> água, esgotamento sanitário e <strong>de</strong>stino <strong>de</strong> lixo se basearam em conceitos e<br />

<strong>de</strong>finições apresentadas pelo IBGE (2010c). Além da entrevista, havendo permissão dos moradores,<br />

os pesquisadores também conheceram o interior da casa e as condições <strong>de</strong> armazenamento <strong>de</strong> água.<br />

As estimativas <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> água por família foram realizadas a partir <strong>de</strong> <strong>de</strong>clarações dadas pelas<br />

próprias famílias e do volume dos recipientes usados frequentemente para armazenar água (ver<br />

GALIZONI et al., 2008).<br />

Resultados e Discussão<br />

Das 81 pessoas entrevistadas 54 pertenciam ao gênero feminino e 27 ao gênero masculino.<br />

Em cada residência foi contabilizado o número <strong>de</strong> resi<strong>de</strong>ntes, o que totalizou para a amostra<br />

realizada na pesquisa um universo <strong>de</strong> 294 pessoas. A renda referia-se ao grupo familiar, portanto o<br />

quadro retratado aqui se refere às 294 pessoas e não ape<strong>nas</strong> às 81 pessoas da amostra. A renda<br />

familiar mensal da maioria (57,7%) foi <strong>de</strong> até um salário mínimo (SM), seguido <strong>de</strong> uma renda na<br />

faixa <strong>de</strong> 1,1 até 2 SM (38,5%) e, por último, ape<strong>nas</strong> 3,8% manifestaram ganhar acima <strong>de</strong> 2,1 SM.<br />

1405


A tabela 2 mostra que a maioria das famílias investigadas neste estudo obtém renda <strong>de</strong><br />

salário e/ou benefícios sociais. Ape<strong>nas</strong> uma pequena parcela manifestou ser autônomo ou dona <strong>de</strong><br />

casa. Os empregos temporários, popularmente chamados <strong>de</strong> bicos, são uma forma comum <strong>de</strong><br />

mascarar o <strong>de</strong>semprego e também foram representados por uma minoria (4,2%). As maiores<br />

ocorrências <strong>de</strong> origem <strong>de</strong> renda referiram-se à aposentadoria (31,6%) e empregado no setor privado<br />

(29,5%). Embora a área <strong>de</strong> estudo esteja localizada em zona rural <strong>de</strong> municípios <strong>de</strong> interior, era<br />

esperado uma taxa <strong>de</strong> emprego significativa no setor privado, <strong>de</strong>vido às ativida<strong>de</strong>s petrolíferas da<br />

região.<br />

Tabela 2 – Situação laboral dos entrevistados, em valores absolutos e porcentagem para as<br />

comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Gangorra (Tibau), Sussuarana, Pedra Branca e Quixaba (Mossoró), RN.<br />

Situação laboral Total % % total<br />

Aposentadoria 30 31,6<br />

Pensão<br />

Bolsa família<br />

5<br />

6<br />

5,3<br />

6,3<br />

44,2<br />

Benefícios<br />

sociais<br />

Bolsa Escola 1 1,1<br />

Trabalhador rural 6 6,3<br />

Empregado Empresa Privada 28 29,5<br />

Funcionário(a) Público(a) 6 6,3<br />

Autônomo(a) 5 5,3 55,8 Outros<br />

Empregada Doméstica 2 2,1<br />

Emprego temporário 4 4,2<br />

Dona <strong>de</strong> casa 2 2,1<br />

As residências também foram caracterizadas conforme o número <strong>de</strong> cômodos existentes,<br />

incluindo sala, cozinha, banheiro e área <strong>de</strong> serviço, entre outros. Assim, obteve-se uma média <strong>de</strong> 5,2<br />

cômodos <strong>nas</strong> residências contempladas na pesquisa, variando <strong>de</strong> um mínimo <strong>de</strong> ape<strong>nas</strong> um cômodo<br />

até um máximo <strong>de</strong> oito cômodos. Isto prova a varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> estilos <strong>de</strong> residências analisadas.<br />

Residências <strong>de</strong> ape<strong>nas</strong> um cômodo po<strong>de</strong>m ser categorizadas como precárias, o que também<br />

significa a inexistência <strong>de</strong> banheiro. Nesses casos, quando os entrevistados eram consultados,<br />

relatavam que usavam a mata mais próxima como banheiro improvisado. No que se refere ao acesso<br />

à água, a maioria dos entrevistados (52%) se servia <strong>de</strong> fontes alternativas <strong>de</strong> água, que não a re<strong>de</strong><br />

geral, tais como o fornecimento por caminhão-pipa, seja fornecido pela prefeitura local ou pelo<br />

exército (Figura 2). Em algumas comunida<strong>de</strong>s foi relatada a compra <strong>de</strong> água <strong>de</strong> fornecedores locais,<br />

transportada precariamente em carroças. A busca <strong>de</strong> água em outras comunida<strong>de</strong>s mais favorecidas<br />

no fornecimento também foi mencionada.<br />

Vale lembrar que entre os Objetivos <strong>de</strong> Desenvolvimento do Milênio (ODM) propostos em<br />

2000 pela Organização das Nações Unidas (ONU), estão: até 2015, diminuição pela meta<strong>de</strong>, em<br />

1406


elação aos valores <strong>de</strong> 1990, da proporção <strong>de</strong> pessoas sem acesso sustentável à fonte segura <strong>de</strong> água<br />

para consumo e saneamento básico.<br />

Figura 2 – Frequência <strong>de</strong> diferentes fontes <strong>de</strong> água <strong>nas</strong><br />

comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Gangorra (Tibau), Sussuarana, Pedra Branca e<br />

Quixaba (Mossoró), RN.<br />

Os indicadores das Nações Unidas utilizados para monitoramento do progresso <strong>de</strong>sses<br />

objetivos são, respectivamente, a proporção da população (urbana e rural) com acesso a uma fonte<br />

<strong>de</strong> água tratada (para o acesso a água por re<strong>de</strong> geral, poço ou <strong>nas</strong>cente ou outro tipo) e a proporção<br />

<strong>de</strong> pessoas usando melhores instalações sanitárias, em meio rural e urbano, para esgoto por re<strong>de</strong><br />

geral, fossa séptica, fossa rudimentar e outros tipos (THE WORLD BANK, 2011). Para estes<br />

mesmos objetivos, os indicadores brasileiros são o percentual <strong>de</strong> moradores em domicílios<br />

particulares permanentes com abastecimento <strong>de</strong> água a<strong>de</strong>quado, em áreas rurais e urba<strong>nas</strong> e o<br />

percentual <strong>de</strong> moradores em domicílios particulares permanentes urbanos com acesso simultâneo a<br />

água canalizada <strong>de</strong> re<strong>de</strong> geral e esgoto <strong>de</strong> re<strong>de</strong> geral ou fossa séptica (IPEA e MPGO-SPIE, 2010).<br />

Disto, infere-se que <strong>nas</strong> comunida<strong>de</strong>s pesquisadas, ape<strong>nas</strong> 33% dos domicílios aten<strong>de</strong>ram o<br />

indicador brasileiro <strong>de</strong> abastecimento a<strong>de</strong>quado <strong>de</strong> água. Esse valor foi próximo aos i<strong>de</strong>ntificados<br />

para áreas rurais do Brasil como um todo (32,8%) e da Região Nor<strong>de</strong>ste (36,4%), e inferior ao<br />

indicado para o RN (64,5%), conforme mostrado na tabela 1 em relação a domicílios ligados a re<strong>de</strong><br />

geral <strong>de</strong> água.<br />

Para as comunida<strong>de</strong>s estudadas, a porcentagem <strong>de</strong> domicílios ligados à re<strong>de</strong> geral <strong>de</strong> água<br />

sobe para 48% quando se consi<strong>de</strong>ram aqueles cuja fonte <strong>de</strong> água era a re<strong>de</strong> geral (33%) e a re<strong>de</strong><br />

geral e outra fonte (15%). Entretanto, po<strong>de</strong>-se observar que a ligação à re<strong>de</strong> geral <strong>de</strong> água não<br />

implicava, necessariamente, em fornecimento a<strong>de</strong>quado <strong>de</strong> água, levando às pessoas a procurarem<br />

fontes alternativas.<br />

De maneira geral, é fundamental o estabelecimento <strong>de</strong> estratégias para o cumprimento dos<br />

objetivos da Política Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Saneamento Básico, especificados no Art. 49 da Lei Fe<strong>de</strong>ral nº<br />

11.445/2007 (BRASIL, 2007b), entre os quais, cita-se ―proporcionar condições a<strong>de</strong>quadas <strong>de</strong><br />

1407


salubrida<strong>de</strong> ambiental às populações rurais e <strong>de</strong> pequenos núcleos urbanos isolados‖. Para tanto,<br />

torna-se necessário, entre outros, o acesso à água em quantida<strong>de</strong> e qualida<strong>de</strong> a<strong>de</strong>quadas.<br />

Uma vez que a água chegava à residência pelas diferentes formas <strong>de</strong> fornecimento, esta era<br />

mantida em reservatórios específicos. Em geral, além da caixa <strong>de</strong> água, o uso <strong>de</strong> cister<strong>nas</strong> foi<br />

comum na região. Manter ambos os reservatórios na residência foi a opção da maioria (23,2%)<br />

(Figura 3), porém, nem todos tinham condições financeiras <strong>de</strong> construir uma cisterna, que era<br />

substituída por tambores metálicos e/ou bombo<strong>nas</strong> plásticas, preferencialmente <strong>de</strong> 100 litros. Esse<br />

grupo representou 22% das residências visitadas. O número <strong>de</strong> tambores/bombo<strong>nas</strong> por residência<br />

variou conforme a disponibilida<strong>de</strong> financeira <strong>de</strong> cada grupo familiar. A porcentagem <strong>de</strong> residências<br />

que continham ape<strong>nas</strong> a caixa <strong>de</strong> água representou 19,5%. Em geral, a caixa <strong>de</strong> água localizava-se<br />

em cima do banheiro, sempre próximo à cozinha. Entretanto, 49,4% das residências não<br />

apresentaram canalização interna, condições essas que obrigaram os resi<strong>de</strong>ntes a disporem da caixa<br />

<strong>de</strong> água mais próximo do chão, isto é, ao alcance da coleta <strong>de</strong> água por bal<strong>de</strong>s, que são conduzidos<br />

até a cozinha e banheiro para seu uso. Das 80 residências visitadas, em ape<strong>nas</strong> três (3,8%) não<br />

existia banheiro.<br />

Figura 3 – Frequência <strong>de</strong> diferentes formas <strong>de</strong> armazenamento <strong>de</strong><br />

água <strong>nas</strong> comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Gangorra (Tibau), Sussuarana, Pedra<br />

Branca e Quixaba (Mossoró), RN.<br />

Após utilização da água, 91,2% das residências estudadas (Figura 4) <strong>de</strong>rivavam as águas<br />

residuais para uma fossa rudimentar, 5% não apresentavam esgotamento sanitário e ape<strong>nas</strong> 3,8%<br />

enviavam as águas para fossas sépticas. As águas residuais oriundas <strong>de</strong> outros usos <strong>de</strong>ntro das<br />

residências, como da cozinha e área <strong>de</strong> serviço, por exemplo, em sua maioria (88,8%) eram<br />

encaminhadas para o quintal, visando o seu aproveitamento para outros usos como aguar árvores<br />

frutíferas (77,8%, tabela 3). O uso das águas residuais para irrigar plantas do quintal é prática<br />

comum no semiárido, pois a escassez <strong>de</strong>ste recurso inibe seu <strong>de</strong>sperdício e estimula o seu<br />

1408


aproveitamento ao máximo. As plantas são geralmente frutíferas, e são valorizadas pelo<br />

fornecimento <strong>de</strong> alimento.<br />

Figura 4 – Frequência dos diferentes <strong>de</strong>stinos das águas residuais<br />

do vaso sanitário <strong>nas</strong> comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Gangorra (Tibau),<br />

Sussuarana, Pedra Branca e Quixaba (Mossoró), RN.<br />

Nas comunida<strong>de</strong>s, observou-se que em residências com escassez frequente <strong>de</strong> água, poucas<br />

plantas eram mantidas no quintal, às vezes nenhuma. Já as residências que dispunham <strong>de</strong><br />

fornecimento frequente, seja pela facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso ou por melhor condição financeira,<br />

mantinham, além das frutíferas, plantas ornamentais. Ambas as situações foram observadas,<br />

algumas vezes, em residências vizinhas, o que marcou um <strong>de</strong>stoante visual <strong>de</strong> contraposição <strong>de</strong>ssas<br />

duas realida<strong>de</strong>s. Parece obvio que o recurso financeiro é o indicador <strong>de</strong>ssas duas situações: <strong>de</strong><br />

escassez e <strong>de</strong> relativa abundância <strong>de</strong>sse recurso natural.<br />

Tabela 3 – Reaproveitamento <strong>de</strong> águas residuais (excluindo águas residuais do vaso sanitário) em<br />

valores absolutos e porcentagem.<br />

Reaproveitamento <strong>de</strong> águas<br />

residuais<br />

Total %<br />

Regar árvores frutíferas 49 77,8<br />

Molhar o quintal/Aguar terreno 9 14,3<br />

Limpar a casa 4 6,3<br />

Para os animais 1 1,6<br />

Total 63 100,0<br />

Na tabela 4 são apresentados os resultados da <strong>de</strong>stinação dada ao lixo gerado pelas<br />

residências contempladas neste estudo. A maioria das residências (63,8%) tem coleta periódica <strong>de</strong><br />

lixo efetuada pela prefeitura, no entanto, por diversas razões o serviço não é oferecido por alguns<br />

1409


períodos, optando os moradores por enterrar, queimar ou <strong>de</strong>scartar o lixo em áreas <strong>de</strong> vegetação<br />

próximas à comunida<strong>de</strong>.<br />

Tabela 4 – Destinação dada ao lixo <strong>nas</strong> residências estudadas, em valores absolutos e porcentagem.<br />

Destino do lixo Total %<br />

Coletado 51 63,8<br />

Queimado 19 23,8<br />

Coletado e enterrado 3 3,8<br />

Coletado e queimado 3 3,8<br />

Coletado e <strong>de</strong>scartado 2 2,5<br />

Queimado e <strong>de</strong>scartado 1 1,3<br />

Coletado, queimado e <strong>de</strong>scartado 1 1,3<br />

Total 80 100,0<br />

A tabela 5 apresenta uma comparação entre os resultados obtidos neste estudo e aqueles da<br />

PNAD 2009 (IBGE, 2010c) com relação ao abastecimento <strong>de</strong> água, esgotamento sanitário,<br />

disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> banheiro e <strong>de</strong>stino do lixo.<br />

Tabela 5 – Comparação entre dados da Pesquisa Nacional por Amostra <strong>de</strong> Domicílio (PNAD) em<br />

área rural do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte (RN) e <strong>de</strong> 4 comunida<strong>de</strong>s rurais <strong>de</strong> Mossoró e Tibau, RN.<br />

Situação e características do domicílio<br />

Domicílios particulares permanentes¹<br />

Dados da PNAD 2009²<br />

para o estado do RN<br />

Dados levantados no<br />

presente trabalho em 4<br />

comunida<strong>de</strong>s rurais do RN<br />

Nº x 1.000 % N° %<br />

Abastecimento <strong>de</strong> água 242 100 81 100<br />

Com canalização interna 173 72 41 51<br />

Re<strong>de</strong> geral 139 81 19 46<br />

Outro 34 19 22 54<br />

Sem canalização interna 69 28 40 49<br />

Re<strong>de</strong> geral 17 24 20 50<br />

Outro 52 76 20 50<br />

Esgotamento sanitário 242 100 80 100<br />

Tinham 220 91 76 95<br />

Re<strong>de</strong> coletora 11 5 0 0<br />

Fossa séptica ligada à re<strong>de</strong> coletora 10 4 0 0<br />

Fossa séptica não ligada à re<strong>de</strong><br />

coletora<br />

44 20 3 4<br />

Fossa rudimentar 151 69 73 96<br />

Outro 4 2 0 0<br />

Não tinham 23 9 4 5<br />

Banheiro ou sanitário 242 100 80 100<br />

Tinham 220 91 77 96<br />

De uso exclusivo 216 98 77 100<br />

Comum a mais <strong>de</strong> um 3 2 0 0<br />

Não tinham 23 9 3 4<br />

Destino do lixo 242 100 80 100<br />

1410


Coletado diretamente 125 52 60 75<br />

Coletado indiretamente 3 1 0 0<br />

Outro 114 47 20 25<br />

¹Conforme <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> IBGE (2010c). ²IBGE (2010c).<br />

Com relação ao abastecimento <strong>de</strong> água <strong>nas</strong> comunida<strong>de</strong>s estudadas, observou-se um menor<br />

percentual (51%) <strong>de</strong> domicílios com canalização interna em relação à amostragem para o estado do<br />

RN (72%). Para esta situação, um menor percentual (46%) contava com água da re<strong>de</strong> geral,<br />

comparando-se com o valor da PNAD 2009 (81%). Quanto ao esgotamento sanitário, mais <strong>de</strong> 90%<br />

dos domicílios tinham alguma forma <strong>de</strong> esgotamento, tanto para os dados levantados para o Rio<br />

Gran<strong>de</strong> do Norte como um todo (91%), quanto para as comunida<strong>de</strong>s pesquisadas neste trabalho<br />

(95%).<br />

Vale ressaltar neste estudo que nos domicílios que contavam com esgotamento sanitário<br />

i<strong>de</strong>ntificou-se o uso <strong>de</strong> fossa rudimentar (96%) e fossa séptica não ligada à re<strong>de</strong> coletora (4%). Já na<br />

PNAD 2009, foram verificadas outras formas <strong>de</strong> esgotamento como: re<strong>de</strong> coletora (5%), fossa<br />

séptica ligada à re<strong>de</strong> coletora (4%) e outro (2%), além <strong>de</strong> fossa rudimentar (69%) e fossa séptica<br />

não ligada à re<strong>de</strong> coletora (20%). Com relação à disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> banheiro, observou-se 4% <strong>de</strong><br />

domicílios sem esta funcionalida<strong>de</strong> <strong>nas</strong> comunida<strong>de</strong>s estudadas, sendo observados 9% pela PNAD<br />

2009. Entre os serviços <strong>de</strong> saneamento básico levantados neste estudo, a coleta <strong>de</strong> lixo apresentou<br />

maior percentual <strong>de</strong> atendimento (75%), quando comparado com dados obtidos para o estado do<br />

RN como um todo (52%).<br />

Como esperado, os resultados apresentados neste estudo mostraram a ausência <strong>de</strong><br />

universalização do acesso a fonte <strong>de</strong> água tratada, além <strong>de</strong> uma maior frequência <strong>de</strong> esgotamento<br />

sanitário com uso <strong>de</strong> fossa rudimentar. Isso ressalta a importância do estabelecimento <strong>de</strong> estratégias<br />

que visem reverter esta situação em busca <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento rural sustentável.<br />

Referências<br />

AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (ANA) e ENGECORPS/COBRAPE. Atlas Brasil:<br />

abastecimento urbano <strong>de</strong> água: panorama nacional. Brasília: ANA, ENGECORPS/COBRAPE, v. 1,<br />

2010.<br />

ARAÚJO, J. C. <strong>de</strong>. Recursos hídricos em regiões semiáridas. In: GHEYI, H. R.; PAZ, V. P. DA S.;<br />

MEDEIROS, S. DE S.; GALVÃO, C. DE O. (eds). Recursos hídricos em regiões semiáridas.<br />

Campina Gran<strong>de</strong>, PB: Instituto Nacional do Semiárido, Cruz das Almas, BA: Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral<br />

do Recôncavo da Bahia. 258 p, 2012.<br />

1411


BRASIL. Ministério da Integração Nacional. Câmara dos Deputados. Nova <strong>de</strong>limitação do semi-<br />

árido brasileiro. Estudo. Brasília, DF. 2007a.<br />

BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei nº 11.445,<br />

<strong>de</strong> 5 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2007. Estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico; altera as Leis nº<br />

6.766, <strong>de</strong> 19 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1979, 8.036, <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1990, 8.666, <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1993,<br />

8.987, <strong>de</strong> 13 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1995; revoga a Lei nº 6.528, <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1978; e dá outras<br />

providências. 2007b.<br />

GALIZONI, F. M.; RIBEIRO, E. M.; LIMA, V. M. P.; DOS SANTOS, I. F.; CHIODI, R. E.;<br />

LIMA, A. L. R.; AYRES, E. C. B. Hierarquias <strong>de</strong> uso <strong>de</strong> águas <strong>nas</strong> estratégias <strong>de</strong> convívio com o<br />

Semi-Árido em comunida<strong>de</strong>s rurais do Alto Jequitinhonha. Revista Econômica do Nor<strong>de</strong>ste,<br />

Fortaleza, v. 39, 2008.<br />

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Censos <strong>de</strong>mográficos<br />

2010. Cida<strong>de</strong>s@. Rio Gran<strong>de</strong> do Norte. Mossoró. Censo <strong>de</strong>mográfico 2010: características da<br />

população e dos domicílios: resultados do universo. 2010a. Disponível em:<br />

. Acesso em: 24 mar. 2012.<br />

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Censos <strong>de</strong>mográficos<br />

2010. Estados@. Rio Gran<strong>de</strong> do Norte. Censo <strong>de</strong>mográfico 2010: características da população e dos<br />

domicílios: resultados do universo 2010b. Disponível em:<br />

. Acesso em: 24 mar. 2012.<br />

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Pesquisa nacional por<br />

amostra <strong>de</strong> domicílio. Síntese <strong>de</strong> indicadores 2009. Rio <strong>de</strong> Janeiro: IBGE. 2010c.<br />

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Pesquisa nacional por<br />

amostra <strong>de</strong> domicílio 2009. Rio <strong>de</strong> Janeiro: IBGE, v. 30, 2009.<br />

INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA (IPEA); MINISTÉRIO DO<br />

PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO (MPOG) - Secretaria <strong>de</strong> Planejamento e<br />

Investimentos Estratégicos (SPIE). Objetivos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento do milênio. Relatório nacional <strong>de</strong><br />

acompanhamento. Brasília: IPEA. 2010.<br />

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (MMA). Secretaria <strong>de</strong> recursos hídricos. Programa <strong>de</strong> ação<br />

nacional <strong>de</strong> combate à <strong>de</strong>sertificação e mitigação dos efeitos da seca PAB-Brasil. 2004.<br />

MUTHUKUMARANA, S., BASKARANA, K., SEXTONB, N. Quantification of potable water<br />

savings by resi<strong>de</strong>ntial water conservation and reuse – A case study. Resources, Conservation and<br />

1412


Recycling, v. 55, p. 945– 952, 2011.<br />

NEVES, J. A.; MELO, S. B.; SAMPAIO, E. V. S. B. Análise pluviométrica do Rio Gran<strong>de</strong> do<br />

Norte – período: 1963-2009. Natal: EMPARN, 2011.<br />

THE WORLD BANK. World <strong>de</strong>velopment indicators 2011. Washington: International Bank. 2011.<br />

1413


ARTICULAÇÕES ENTRE O PERCURSO DE UM PROJETO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL E<br />

RESUMO<br />

A SOCIEDADE DE CONSUMO<br />

Maria Cleonice SOARES – UERN/ cleonice_s@hotmail.com 158<br />

Iáskara Michelly <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros SILVEIRA – UERN/ iaskarasilveira@hotmail.com 159<br />

Rayane Carla B. da SILVA – UERN/ rayane_carlabs@hotmail.com 160<br />

Louise Duarte Matias <strong>de</strong> AMORIM – UERN/ louiseuern@yahoo.com.br 161<br />

As problemáticas envolvendo o tema socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> consumo são bastante abordadas no meio social<br />

em que vivemos. A preocupação com o <strong>de</strong>stino do lixo produzido por essa socieda<strong>de</strong> tem<br />

mobilizado instituições apesar <strong>de</strong> ainda não haver uma solução concreta para o problema. O<br />

consumismo é algo arraigado em nossas vidas e continua sendo estimulado principalmente pelos<br />

meios <strong>de</strong> comunicação. O Projeto ―Divulgando a Educação Ambiental na Construção <strong>de</strong> Saberes e<br />

Exercício da Cidadania na Escola Pública em Mossoró-RN,‖ tenciona mostrar através do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s com alunos e professores <strong>de</strong> escolas públicas, entre outras coisas,<br />

possibilida<strong>de</strong>s, alternativas capazes <strong>de</strong> proporcionar a melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida das<br />

comunida<strong>de</strong>s escolares, sem causar danos ao meio ambiente. Este trabalho aborda o tema <strong>de</strong> uma<br />

oficina específica, na qual o nosso direcionamento apontou para a seguinte pergunta: Que socieda<strong>de</strong><br />

queremos no futuro? Nos baseamos autores que abordam a questão do consumo tais como: Adorno<br />

(1996); Baudrillard (1995); Carvalho (2004); Debord (1992); Lima (1990); Marx (1974); Moles<br />

(1975); Padilha, (2006) e Santos (1998). Na oficina inicialmente pedimos para que os alunos<br />

respon<strong>de</strong>ssem ao questionamento através da confecção <strong>de</strong> cartazes utilizando imagens que<br />

po<strong>de</strong>riam ser extraídas <strong>de</strong> revistas ou produzidas por eles. Após a problematização, apresentamos o<br />

ví<strong>de</strong>o ―A História das Coisas‖ <strong>de</strong> Annie Leonard (2007), que <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ou uma discussão em sala<br />

158 Aluna da graduação em Pedagogia da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Educação da Universida<strong>de</strong> do Estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte –<br />

FE/UERN. Bolsista do Programa Institucional <strong>de</strong> Bolsas <strong>de</strong> Iniciação à Docência – PIBID/CAPES. Monitora do Projeto<br />

Novos talentos- CEMAD/UERN.<br />

159 Aluna da graduação do curso <strong>de</strong> Gestão Ambiental da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências Econômicas da Universida<strong>de</strong> do<br />

Estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte – FACEM/UERN. Monitora do Projeto Novos talentos- CEMAD/UERN.<br />

160 Aluna da graduação em Pedagogia da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Educação da Universida<strong>de</strong> do Estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte –<br />

FE/UERN. Monitora do Projeto Novos talentos- CEMAD/UERN.<br />

161 Orientadora - Graduada em Ciências biológicas pela Universida<strong>de</strong> do Estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte – UERN.<br />

Especialista em Biologia Geral pelas Faculda<strong>de</strong>s Integradas <strong>de</strong> Jacarépaguá, RJ. Mestranda em Ciências Naturais pelo<br />

Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Ciências Naturais- UERN. Pesquisadora pelo Grupo <strong>de</strong> pesquisa: Grupo <strong>de</strong> Estudos e<br />

Pesquisas em Educação Ambiental, Meio Ambiente e Sustentabilida<strong>de</strong> (GEEAMAS).<br />

1414


levando ao conhecimento dos alunos todo o ciclo produtivo dos bens <strong>de</strong> consumo e o quanto somos<br />

vitimas conscientes <strong>de</strong>sse ciclo ininterrupto <strong>de</strong> trabalho/consumo. Ao final das discussões os alunos<br />

pu<strong>de</strong>ram apresentar seus cartazes e perceber em suas próprias falas a restrição quanto aos itens<br />

inicialmente apontados por eles como essenciais a vida <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong>, agregando outros valores<br />

como indispensáveis a socieda<strong>de</strong> que almejam pro seu futuro. Com isso percebe-se a necessida<strong>de</strong><br />

urgente do fazer ambiental face aos <strong>de</strong>safios da contemporaneida<strong>de</strong>.<br />

Palavras-chave: construção <strong>de</strong> saberes; consumismo; recursos ambientais; valores sociais.<br />

Abstract<br />

The issues involving the theme consumer society are very stated in the social context in which we<br />

live. The worry about the <strong>de</strong>stiny of the garbage produced by this society has mobilized some<br />

institutions, although there has not been a concrete solution to the problem. Consumerism is<br />

something ingrained in our lives and it continues being stimulated mainly by the media. The project<br />

―Divulgando a Educação Ambiental na Construção <strong>de</strong> Saberes e Exercício da Cidadania na Escola<br />

Pública em Mossoró-RN‖ aims at showing through the <strong>de</strong>velopment of activities with public<br />

schools‘ stu<strong>de</strong>nts and teachers possibilities, alternatives able to favor the improvement of life<br />

quality of school communities, without damaging the environment. This work addresses the content<br />

of a specific workshop where our direction pointed to the following question: What society do we<br />

want in the future? To answer it, we are based on authors who address the issue of consumption<br />

such as Adorno (1996); Baudrillard (1995); Carvalho (2004); Debord (1992); Lima (1990); Marx<br />

(1974); Moles (1975); Padilha, (2006) and Santos (1998). In the workshop we asked initially for<br />

stu<strong>de</strong>nts to answer to questions by making posters using images that could be extracted from<br />

magazines or produced by them. After the questioning, we presented the vi<strong>de</strong>o "A História das<br />

Coisas‖ by Annie Leonard (2007), which promoted a discussion in class leading the stu<strong>de</strong>nts to the<br />

knowledge of the production cycle of consumer goods and how we are victims concerned about<br />

this uninterrupted cycle of work / consumption. At the end of the discussions, the stu<strong>de</strong>nts could<br />

present their posters and notice about their own lines the restriction related to the items initially<br />

pointed by them as essential to the life of any society, adding other values as essential to the society<br />

they want for their future. From the exposed it is realized the urgent necessity of the environmental<br />

acting face to the challenges of the contemporary world.<br />

Keywords: building of knowledge; consumerism, environmental resources, social values.<br />

INTRODUÇÃO<br />

As problemáticas envolvendo o tema socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> consumo são bastante abordadas no meio<br />

social que vivemos. Hoje a preocupação com o <strong>de</strong>stino <strong>de</strong> todo lixo produzido pelo consumismo<br />

tem mobilizado uma série <strong>de</strong> instituições, todavia, o problema apesar <strong>de</strong> bastante discutido não tem<br />

apresentado soluções concretas, pois o consumismo está arraigado em nossas vidas, estamos<br />

vivendo em um mundo que cria necessida<strong>de</strong>s para que compremos coisas (MOLES, 1975).<br />

1415


Preocupados com estas questões, após termos percebido em alguns casos que os alunos<br />

apresentam como essencial a seu futuro alguns bens <strong>de</strong> consumo, direcionamos algumas ativida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong>senvolvidas <strong>nas</strong> escolas públicas <strong>de</strong> Mossoró/RN, através do Projeto ―Divulgando a Educação<br />

Ambiental na Construção <strong>de</strong> Saberes e Exercício da Cidadania na Escola Pública em Mossoró-RN,<br />

para a questão do consumismo exacerbado que leva à exploração <strong>de</strong> matérias primas e a uma gran<strong>de</strong><br />

produção <strong>de</strong> lixo na fabricação <strong>de</strong>sses bens <strong>de</strong> consumo. Apresentaremos a visão dos alunos na<br />

perspectiva do consumo em meio a socieda<strong>de</strong> atual, através <strong>de</strong> uma ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvida em uma<br />

das ofici<strong>nas</strong>, numa turma do ensino médio, ressaltamos, todavia, que esta oficina teve o<br />

direcionamento exclusivo a questão do consumo.<br />

Utilizamos como elemento provocador o ví<strong>de</strong>o ―A História das Coisas‖ que apresentado por<br />

Annie Leonard (EUA, 2007) que aborda e enfatiza a questão do consumismo <strong>de</strong>senfreado e a<br />

produção <strong>de</strong> lixo e <strong>de</strong>sgaste <strong>de</strong> recursos naturais com fins lucrativos, refletindo o mo<strong>de</strong>lo capitalista<br />

da socieda<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna. E para a construção <strong>de</strong>ste texto, nos aportamos em autores tais como:<br />

Adorno (1996); Baudrillard (1995); Carvalho (2004); Debord (1992); Lima (1990); Marx (1974);<br />

Moles (1975); Padilha, (2006) e Santos (1998) que abordam a questão do consumismo na socieda<strong>de</strong><br />

atual.<br />

Assim, este trabalho se divi<strong>de</strong> em três momentos, faremos uma pequena abordagem do<br />

Projeto, sua intenção e objetivos e a relação que o mesmo faz com o consumo através da aplicação<br />

das ofici<strong>nas</strong>, em seguida traremos um pouco da abordagem <strong>de</strong> como surge o tema consumismo<br />

através da construção <strong>de</strong> cartazes pelos alunos em uma das ofici<strong>nas</strong> realizadas, nos quais eles<br />

<strong>de</strong>monstram sua visão <strong>de</strong> mundo e a perspectiva <strong>de</strong> futuro que os mesmos possuem articulando-a ao<br />

tema consumismo. Por fim apresentaremos a abordagem interventiva das ofici<strong>nas</strong>, sobreposta à<br />

construção dos cartazes dos alunos.<br />

Ainda discorreremos acerca da construção <strong>de</strong> saberes inerentes ao exercício da cidadania na<br />

escola pública através do programa Novos Talentos, e sobre a visão <strong>de</strong> consumo exposta pelos<br />

alunos durante a oficina trabalhada enfatizando o novo olhar construído a partir dos conhecimentos<br />

discutidas no <strong>de</strong>correr da oficina <strong>de</strong> Educação Ambiental.<br />

O PROJETO ―DIVULGANDO A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA CONSTRUÇÃO DE<br />

SABERES E EXERCÍCIO DA CIDADANIA NA ESCOLA PÚBLICA EM MOSSORÓ-RN‖.<br />

Através do Programa Novos Talentos criou-se com a aprovação do edital da CAPES/DEB<br />

Nº 033/2010 o projeto ―Divulgando a Educação Ambiental na Construção <strong>de</strong> Saberes e Exercício da<br />

Cidadania na Escola Pública em Mossoró-RN‖, executado pelo Grupo <strong>de</strong> Estudos e Pesquisas em<br />

Educação Ambiental, Meio Ambiente e Sustentabilida<strong>de</strong> (GEEAMAS), vinculado ao Centro <strong>de</strong><br />

1416


Estudos e Pesquisas do Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional do Semi-Árido (CEMAD) da<br />

Universida<strong>de</strong> do Estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte - UERN, sob a coor<strong>de</strong>nação do Professor Doutor<br />

Ramiro Gustavo Valera Camacho 162 .<br />

O projeto tenciona mostrar outras possibilida<strong>de</strong>s, alternativas e técnicas <strong>de</strong> exploração dos<br />

recursos ambientais capazes <strong>de</strong> proporcionar a melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida das comunida<strong>de</strong>s<br />

escolares, sem causar danos ao meio ambiente. Para tanto, o projeto arquiteta dimensionar uma<br />

abordagem para a educação ambiental e propor estratégias metodológicas para trabalhar este<br />

conteúdo em sala <strong>de</strong> aula, <strong>de</strong> forma contextualizada, transversal e interdisciplinar. Promovendo,<br />

através <strong>de</strong> ofici<strong>nas</strong> a sensibilização do corpo docente e discente escolar para a interdisciplinarida<strong>de</strong><br />

da educação ambiental, <strong>de</strong>senvolvendo seminários/ofici<strong>nas</strong>/minicursos com professores e alunos a<br />

fim <strong>de</strong> discutir teorias e a elaboração <strong>de</strong> estratégias e metodologias voltados para a Educação<br />

Ambiental escolar <strong>de</strong> forma transversal.<br />

O projeto aborda através das ofici<strong>nas</strong> temas relevantes e atuais sobre questões ambientais, a<br />

saber: <strong>de</strong>gradação ambiental, biomas regionais, reconhecimento local, cultura ambiental, produção e<br />

consumo, escassez <strong>de</strong> água, poluição, fauna e flora, crescimento <strong>de</strong>mográfico, produção e <strong>de</strong>stino<br />

do lixo, sustentabilida<strong>de</strong>, preservação ambiental, <strong>de</strong>ntre outros assuntos que transpassem o tema<br />

Educação Ambiental.<br />

O Projeto em andamento já aten<strong>de</strong>u várias escolas públicas <strong>de</strong> Mossoró e Região, do ensino<br />

fundamental menor ao ensino médio. Em cada escola, as ofici<strong>nas</strong> seguem um planejamento<br />

abordando as questões relacionadas à temática ambiental, direcionando sempre a uma postura <strong>de</strong><br />

sensibilização dos alunos, fazendo com que eles dirijam seus olhares e se percebam como sujeitos<br />

ambientais, fazedores do ambiente em que vivem. No dia seguinte a realização das ofici<strong>nas</strong>, os<br />

alunos tem a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecer uma Reserva <strong>de</strong> Desenvolvimento Sustentável (aula <strong>de</strong><br />

campo) on<strong>de</strong> é possível ao aluno perceber a existência <strong>de</strong> alternativas <strong>de</strong> vida sustentável utilizando<br />

os recursos locais disponíveis sem exauri-los.<br />

DESVELANDO CONCEITOS: SOCIEDADE DE CONSUMO E A PROPOSTA DO PROJETO<br />

DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL.<br />

Ao levarmos o tema Educação Ambiental para as escolas públicas através do Projeto<br />

―Divulgando a Educação Ambiental na Construção <strong>de</strong> Saberes e Exercício da Cidadania na Escola<br />

162 Ramiro Gustavo Valera Camacho é professor. Dr. do Departamento <strong>de</strong> Ciências Biológicas - DECB/UERN. E<br />

coor<strong>de</strong>nador do Centro <strong>de</strong> Estudos e Pesquisas do Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional do Semi-Árido<br />

(CEMAD) e do Grupo <strong>de</strong> Estudos e Pesquisas em Educação Ambiental, Meio Ambiente e Sustentabilida<strong>de</strong> (GEEAMAS).<br />

1417


Pública mm Mossoró-Rn‖, buscamos primeiramente, perceber qual a visão dos alunos quanto ao<br />

conceito <strong>de</strong> educação ambiental, e quanto a esperança <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> futura. Esta ultima<br />

concepção, trabalhada na forma <strong>de</strong> pergunta é respondida por eles através da construção <strong>de</strong> um<br />

cartaz, on<strong>de</strong> representam, por meio <strong>de</strong> imagens, quer extraída <strong>de</strong> revistas (corte e colagem) quer<br />

produzidas por eles mesmos, suas visões, expectativas, projeções, anseios e medos <strong>de</strong> uma<br />

socieda<strong>de</strong> que está se construindo. Através <strong>de</strong>ssa ativida<strong>de</strong> os alunos, em grupo, po<strong>de</strong>m discutir,<br />

interagir, se questionar, nos questionar acerca da participação humana <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse processo, se<br />

i<strong>de</strong>ntificando como sujeitos e co-participantes <strong>de</strong>sse sistema em construção.<br />

Contatamos que a construção <strong>de</strong>stes cartazes enfatizam dois aspectos interessantes: movidos<br />

pela temática apresentada, os alunos ten<strong>de</strong>m a colocar o ver<strong>de</strong>, a preservação da fauna e da flora,<br />

em alguns casos a questão da saú<strong>de</strong> e da família, mas também fortemente, aparece o consumismo, o<br />

ter, uma vez que o consumismo está diretamente ligado a visão <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, <strong>de</strong> possuir, a satisfação<br />

pessoal, como uma coisa indispensável ao futuro. Assim percebemos que a socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma forma<br />

geral, almeja ser possuidora <strong>de</strong> bens <strong>de</strong> consumo, apesar <strong>de</strong> a temática apresentada ter um caráter<br />

ambiental. Nos cartazes os alunos enfatizam tanto a preservação ambiental quanto o possuir,<br />

indicando-os como indispensáveis ao seu futuro. Esse consumismo, antes da problematização dos<br />

temas, toma conta da visão dos jovens alunos pois como referencia Baudrillard (1970), a socieda<strong>de</strong><br />

atual é uma socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> consumo,<br />

[...] também a socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizado do consumo, do condicionamento social do<br />

consumo – isto é, um modo novo e específico <strong>de</strong> socialização, em relação com a<br />

emergência <strong>de</strong> novas forças produtivas e a reestruturação monopolística <strong>de</strong> um sistema<br />

econômico a produtivida<strong>de</strong> alta.<br />

Assim percebemos que o consumismo é algo que apren<strong>de</strong>mos a fazer, somos induzidos a<br />

ele. O consumismo na visão <strong>de</strong> Padilha (2006, p. 55), é a valoração que os objetos passaram a ter ao<br />

serem adquiridos, não pelo seu valor <strong>de</strong> uso, mas pelo significado social <strong>de</strong> sua posse, não é a<br />

necessida<strong>de</strong> que se tem <strong>de</strong>stes, mas também o consumo <strong>de</strong> imagens e <strong>de</strong> valores para uma gran<strong>de</strong><br />

parte da socieda<strong>de</strong>. Os alunos representam-no não ape<strong>nas</strong> como algo <strong>de</strong> sua vonta<strong>de</strong>, mas como<br />

uma forma <strong>de</strong> fazer parte do meio social, <strong>de</strong> estar atualizado com o mundo contemporâneo <strong>de</strong><br />

possuir coisas.<br />

Baudrillard (1995) apresenta quatro mo<strong>de</strong>los que revelam a lógica <strong>de</strong>ssa estruturação <strong>de</strong><br />

consumo que representa para a socieda<strong>de</strong> a felicida<strong>de</strong> e a realização pessoal: o kitsch, o gadget, o<br />

lúdico e corpo.<br />

O kitsch é o conjunto <strong>de</strong> artefatos da tradição <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada cultura que se torna<br />

mercadoria <strong>de</strong> consumo. São adornos, bugigangas, quinquilharias como estatuetas, bibelôs, colares,<br />

1418


iscuit, ou seja, são objetos que, além <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r seu significado por estar sendo comercializados<br />

fora <strong>de</strong> seu contexto, não se têm valor <strong>de</strong> uso. É o consumir por consumir na tentativa incansável <strong>de</strong><br />

encontrar alguma realização plena.<br />

Outro aspecto interessante é a reciclagem cultural industrializada que também caracteriza o<br />

kitsch: o que era antigo é relançado como novo alimentando o ciclo vicioso <strong>de</strong> seguir a moda das<br />

tendências atuais mesmo que sejam velhas novida<strong>de</strong>s. Isso garante a circulação do mercado que<br />

impossibilita o acúmulo <strong>de</strong> riqueza pelos consumidores (BAUDRILLARD, 1995). Quanto a isso,<br />

alguns cartazes, principalmente, entre as meni<strong>nas</strong>, <strong>de</strong>monstram essa visão <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> adornos,<br />

objetos que não tem um valor <strong>de</strong> uso, mas que são ditados pela mídia como sendo necessários a<br />

agregar valor a beleza, ou ape<strong>nas</strong> tendências da moda, e assim, portanto, necessário ao bem estar<br />

pessoal.<br />

Os gadget´s são produtos que tem utilida<strong>de</strong> prática, mas passam a ter mais valor pelos seus<br />

acessórios que pela sua função inicial, como no caso dos telefones celulares. Inicialmente serviam<br />

para fazer ligações, hoje em dia passaram a servir para fazer contas, anotar lembretes, tirar fotos,<br />

jogar, ver as horas, assistir a ví<strong>de</strong>os, <strong>de</strong>spertar, passar mensagens, trocar arquivos, ou seja, a função<br />

principal se tornou a que menos agrega valor ao celular. Percebemos que alunos que já portam<br />

celulares, ao ver um mo<strong>de</strong>lo mais avançado <strong>nas</strong> revistas que oferecemos para o corte e colagem, o<br />

<strong>de</strong>sejam e colocam em seus cartazes como sendo algo <strong>de</strong> fundamental importância a seu futuro.<br />

Outra característica <strong>de</strong>snorteada da socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> consumo, <strong>de</strong>nunciada por Baudrillard<br />

(1995) é a importância do lúdico, pois segundo este autor a realização plena se tornou fuga da<br />

realida<strong>de</strong>. Essa visão contraditória que leva os sujeitos a encontrar <strong>nas</strong> baladas, passeios, novelas,<br />

filmes, músicas, <strong>de</strong>ntre outros os raros momentos <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong>. Trabalha-se seis dias da semana<br />

com o objetivo <strong>de</strong> custear esses raros ―momentos <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong>‖, em festas, praias e viagens. Isso<br />

torna-se um ciclo infindável, como aborda o ví<strong>de</strong>o ― A história das coisas‖ utilizado <strong>nas</strong> ofici<strong>nas</strong><br />

como ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>adora. Percebe-se na própria fala dos alunos, ao apresentarem os cartazes,<br />

o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> dispor <strong>de</strong> recursos financeiros para adquirir isso ou aquilo, como se o ter fosse na<br />

verda<strong>de</strong> uma válvula <strong>de</strong> escape, e solução para todos os problemas.<br />

Divertir-se significa, que não <strong>de</strong>vemos pensar, que <strong>de</strong>vemos esquecer a dor, mesmo on<strong>de</strong><br />

ela se mostra. Na sua base do divertimento, planta-se a impotência. É, <strong>de</strong> fato, fuga, mas<br />

não, como preten<strong>de</strong>, fuga da realida<strong>de</strong> perversa, mas sim do último grão <strong>de</strong> resistência que<br />

a realida<strong>de</strong> ainda po<strong>de</strong> haver <strong>de</strong>ixado (LIMA, 1990, p. 182).<br />

Diante disso, percebemos que o consumismo é uma ilusão que envolve as pessoas, pois estas<br />

entregam-se a um ciclo <strong>de</strong> vida, entre trabalhar e consumir pra ser feliz, numa miraculosa<br />

associação <strong>de</strong> inversão <strong>de</strong> valores que, por vezes, são contraditórios. E a quem se <strong>de</strong>ve isso? ―a<br />

1419


publicida<strong>de</strong> constitui um dos pontos estratégicos <strong>de</strong> semelhante processo‖ (BAUDRILLARD, 1995,<br />

p. 134). Ou seja, o autor citado <strong>de</strong>nuncia que os meios <strong>de</strong> comunicação se tornaram ativida<strong>de</strong>s<br />

míticas essenciais para orquestrar a socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> consumo, pois os anúncios dizem o que <strong>de</strong>vemos<br />

comprar o que nos fará felizes, as revistas utilizadas pelos alunos são cheias <strong>de</strong>sses bens <strong>de</strong><br />

consumo, e encharcadas <strong>de</strong> anúncios dizendo o que se <strong>de</strong>ve ter.<br />

A associação não falsa e, ao mesmo tempo, não verda<strong>de</strong>ira entre produto e felicida<strong>de</strong> é<br />

mítica como a suprarrealida<strong>de</strong> da arte. Os publicitários não mentem, mas realizam relações<br />

absurdas, possíveis <strong>de</strong> acontecer tão somente na ficção (BAUDRILLARD, 1995). Os produtos <strong>de</strong><br />

consumo estão associados aos prazeres, ao corpo, ao que satisfaz pessoalmente cada individuo do<br />

ponto <strong>de</strong> vista do status, aquilo que é representado na socieda<strong>de</strong>. O que leva ao uso e <strong>de</strong>suso <strong>de</strong><br />

recursos naturais sem a preocupação com o <strong>de</strong>stino do lixo produzido ao se fabricar tantos bens,<br />

on<strong>de</strong> um dos objetivos principais é movimentar a economia e não garantir o bem estar <strong>de</strong> quem esta<br />

comprando.<br />

Nossos alunos ao atentar para isso ressaltam em suas apresentações que a troca <strong>de</strong> celulares<br />

ocorre com frequência em <strong>de</strong>corrência da aparição <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los mais atuais e com mais funções o<br />

que leva a uma substituição <strong>de</strong> um produto que ainda serve ao uso, mas que <strong>de</strong> acordo com a<br />

socieda<strong>de</strong> não esta mais <strong>de</strong>ntro dos padrões e não contempla o seu usuário.<br />

Abordamos, com os alunos <strong>de</strong> uma das escolas participantes, o tempo <strong>de</strong> utilida<strong>de</strong>s dos<br />

produtos e a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lixo gerado na sua produção e no <strong>de</strong>scarte <strong>de</strong>stes, os alunos atentaram ao<br />

fator <strong>de</strong> que o <strong>de</strong>sgaste planetário e a poluição serão consequências advindas <strong>de</strong>ssa produção e<br />

consumo exacerbado <strong>de</strong> bens materiais, o que não é <strong>de</strong> conhecimento público. Com isso visamos<br />

articular os conhecimentos prévios dos alunos (construção dos cartazes antes da oficina) com o<br />

conhecimento apreendido no <strong>de</strong>correr das ofici<strong>nas</strong>, observando –os na apresentação dos cartazes ao<br />

final da oficina.<br />

ARTICULAÇÕES ENTRE O TEMA SOCEIDADE DE CONSUMO E AS OFICINAS DO<br />

PROJETO<br />

Após a apresentação dos cartazes pelos alunos, ao final da oficina, eles já possuem outra<br />

visão acerca do tema ―consumismo‖, e já agregam outros valores como indispensáveis a socieda<strong>de</strong><br />

que almejam a seu futuro, pois a partir das discussões acerca das questões ambientais, eles<br />

articulam que a aquisição <strong>de</strong> bens <strong>de</strong> consumo, ditados pela mídia capitalista, tem a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

movimentar a economia e ven<strong>de</strong>r seus produtos. Assim a discussão da temática no <strong>de</strong>correr da<br />

oficina, após a construção dos cartazes permitem aos alunos trocarem as lentes (CARVALHO,<br />

2004), e passarem a ver o mesmo objeto que antes almejavam como essencial a sua vida futura,<br />

1420


percebendo-o agora ape<strong>nas</strong> como um produto feito para ser vendido. Conhecendo toda a história <strong>de</strong><br />

extração <strong>de</strong> recursos naturais, poluição do solo, ar e água, e toda a questão envolvida por trás e que<br />

a mídia não aborda, leva os alunos à conclusão <strong>de</strong> que ―o consumidor real torna-se um consumidor<br />

<strong>de</strong> ilusões‖ (DEBORD 1992, p. 9).<br />

Somente a partir da problematização, do direcionamento, do novo olhar, quando são<br />

estimulados a refletir: ―será que eu realmente preciso <strong>de</strong> tantas coisas, são elas essenciais a mim?‖ é<br />

que os alunos, confrontados com esses temas, passam a se perceber consumistas, ou seja, ―a<br />

natureza artificializada, instrumentalizada ao extremo, recusa-se a <strong>de</strong>ixar enten<strong>de</strong>r diretamente. Os<br />

homens não vêem o que enxergam.‖ (SANTOS, 1998, p. 51).<br />

Estamos nos tornando uma socieda<strong>de</strong> mecanizada, direcionada <strong>de</strong> acordo com os interesses<br />

do mercado e do capital, mesmo no seu momento <strong>de</strong> lazer. Estamos nos tornando cada vez menos<br />

participantes e conformados com aquilo que nos é imposto, estamos extraindo da natureza tudo que<br />

ela po<strong>de</strong> ofertar e <strong>de</strong>volvendo todo o lixo produzido por isso, e nem ao menos nos damos conta. É o<br />

que Adorno (1996), chama <strong>de</strong> ―semicultos‖, on<strong>de</strong> os homens pensam unicamente no momento, no<br />

instante, sem o interesse a um aprofundamento crítico sobre o que esta fazendo.<br />

Esse direcionamento levou os alunos a perceberem que a produção cria os objetos <strong>de</strong><br />

consumo e o consumo cria o sujeito para esse objeto, mas além <strong>de</strong> criar o sujeito para esse objeto, o<br />

consumo inventa todo o espaço que esse sujeito faz parte. A empresa não cria o objeto (a<br />

mercadoria), mas o mundo on<strong>de</strong> o objeto existe. Ela não cria tampouco o sujeito (trabalhador e<br />

consumidor), mas o mundo on<strong>de</strong> o sujeito existe (MARX ,1974). Assim tem-se:<br />

A produção é, pois imediatamente consumo; o consumo é, imediatamente, produção. Cada<br />

qual é imediatamente seu contrário. Mas, ao mesmo tempo, opera-se um movimento<br />

mediador entre ambos. São elementos <strong>de</strong> uma totalida<strong>de</strong> (MARX ,1974, p.115).<br />

Tanto o consumo como a produção são <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, o que nos leva a inferir que sem o<br />

consumismo não há motivos para se produzir tanto, e só se produz muito porque há quem consuma<br />

todas as mercadorias, a preocupação é ape<strong>nas</strong> com a movimentação da economia, que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> das<br />

vendas, consequentemente, do consumo, e toda produção utiliza matérias primas e a sua fabricação,<br />

aumentando a <strong>de</strong>gradação, a poluição, além <strong>de</strong> outros agravantes ao meio ambiente, assim:<br />

O consumo não po<strong>de</strong>, então, ser consi<strong>de</strong>rado um momento autônomo, ele se encontra<br />

<strong>de</strong>terminado, seja, pelo complexo processo constitutivo dos <strong>de</strong>sejos humanos, seja pela<br />

lógica <strong>de</strong> produção, o que, <strong>nas</strong> socieda<strong>de</strong>s capitalistas, significa dizer que se encontra<br />

estabelecido pela lógica do lucro (Padilha, 2006, p. 85).<br />

Esse consumismo todo não aconteceu por acaso, os alunos questionam-se quando se<br />

tornaram consumistas? Recorremos a Santos (1998), para enten<strong>de</strong>r como se <strong>de</strong>u esse processo, o<br />

autor afirma que a socieda<strong>de</strong> no final do século XX, influenciada pelo processo intenso <strong>de</strong><br />

1421


globalização, torna-se uma socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> indivíduos consumistas, enraizando na cultura esse<br />

aspecto, que promove novos conceitos <strong>de</strong> socialização, aumentando a individualida<strong>de</strong>, reduzindo a<br />

personalida<strong>de</strong>, tornando todos muito parecidos, senão iguais. A exaltação do consumo reduz muitas<br />

sensibilida<strong>de</strong>s do homem, e intensifica e alimenta um individualismo feroz e sem fronteiras. O<br />

consumo, ainda <strong>de</strong> acordo com Santos (1998), dizima a personalida<strong>de</strong>, sem a qual o homem não se<br />

reconhece como único, a partir da igualda<strong>de</strong> entre todos.<br />

Este trabalho, em uma das ofici<strong>nas</strong> <strong>de</strong>monstrou o quanto ainda somos ingênuos diante do<br />

mo<strong>de</strong>lo capitalista on<strong>de</strong> vivemos, as influências ditadas na mídia, e por outros meios <strong>de</strong><br />

comunicação facilmente nos ilu<strong>de</strong>m e nos levam ao consumismo <strong>de</strong>senfreado daquilo que<br />

acreditamos ter necessida<strong>de</strong>, algumas coisas realmente são necessárias a nós, mas outras nem tanto.<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Nesse contexto, <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 200 anos <strong>de</strong> revolução industrial, que aqueceu a economia e<br />

estimulou o consumismo vigente até hoje, surge à educação ambiental que assume uma posição <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>staque para construir os fundamentos <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> sustentável, apresentando uma<br />

importante função num tempo ainda consumista/capitalista, mas ao mesmo tempo em pleno<br />

processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>spertamento frente as questões ambientais, ao propiciar a base necessária aos<br />

processos <strong>de</strong> mudança culturais rumo a uma consciência ecológica. O projeto ―Divulgando a<br />

Educação Ambiental na Construção <strong>de</strong> Saberes e Exercício da Cidadania na Escola Pública em<br />

Mossoró-RN‖, faz parte <strong>de</strong>sse processo, uma vez que através <strong>de</strong> uma equipe multidisciplinar <strong>de</strong><br />

professores e alunos atuando em escolas da re<strong>de</strong> pública <strong>de</strong> ensino em Mossoró/RN, tem trazido a<br />

tona e chamado à responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> educadores e alunos face aos <strong>de</strong>safios da contemporaneida<strong>de</strong>.<br />

A problemática envolvendo o tema consumismo, abordado em uma das ofici<strong>nas</strong> numa turma<br />

do ensino médio, possibilitou a apreensão da visão dos alunos quanto a este tema, o direcionamento<br />

da construção dos cartazes que enfatizava o futuro que eles almejavam, <strong>de</strong>monstrou que a cultura<br />

consumista está inserida na vida das pessoas como algo comum, e que somente ao trocar as lentes,<br />

ao expor o que há por trás da produção e comercialização <strong>de</strong>sses bens <strong>de</strong> consumo é que os alunos<br />

passam a enxergar o lado da exploração dos recursos naturais e da poluição que a fabricação e<br />

<strong>de</strong>scartes <strong>de</strong>stes produtos ocasiona.<br />

O Programa Novos Talentos com o seu Projeto ―Divulgando a Educação Ambiental na<br />

Construção <strong>de</strong> Saberes e Exercício da Cidadania na Escola Pública em Mossoró-RN, tem alcançado<br />

seus objetivos, pois tem conseguido por meio <strong>de</strong>ssas ofici<strong>nas</strong>, levar a informação aos alunos da re<strong>de</strong><br />

básica <strong>de</strong> educação, on<strong>de</strong> acreditamos, ser a informação a base primaria para uma nova postura<br />

1422


diante da socieda<strong>de</strong>, estamos assim, construindo saberes no exercício da cidadania, e nos<br />

posicionando diante das problemáticas ambientais, levando os alunos a reflexão e sensibilização<br />

diante da própria postura, <strong>de</strong> seu papel como sujeito participante <strong>de</strong>sse processo.<br />

Os alunos se perceberam consumistas, e além <strong>de</strong>sta concepção atentaram ao fato <strong>de</strong> que<br />

alguns <strong>de</strong>sses bens não necessários, são comprados ape<strong>nas</strong> porque dizem que precisamos, quando<br />

nunca o usamos para um fim <strong>de</strong> fato necessário. É assim que a socieda<strong>de</strong> consumista se mantém<br />

buscando no consumismo uma felicida<strong>de</strong> e satisfação que acreditam não ter, é um ciclo<br />

interminável, pois, a mídia, principal, responsável pela divulgação e venda dos produtos, nos faz<br />

acreditar que somente comprando <strong>de</strong>terminado objeto seremos realizados, e essa realização nunca<br />

chega por o pelo fato <strong>de</strong> o mercado estar sobrecarregado <strong>de</strong> coisas que ainda precisam ser vendidas,<br />

então <strong>de</strong>ve-se sempre haver necessida<strong>de</strong>s para que hajam compradores.<br />

REFERÊNCIAS<br />

ADORNO, T. Teoria da semicultura. Educação & Socieda<strong>de</strong>, São Paulo, ano XVII, n.56,<br />

<strong>de</strong>z. 1996.<br />

LEONARD, Annie. A História das Coisas ('The Story of Stuff'). Direção: Louis Fox. EUA, 2007.<br />

BAUDRILLARD, Jean. A socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> consumo. Lisboa. Edições 70, 1995.<br />

CARVALHO, I. C. <strong>de</strong> M. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico. São<br />

Paulo: Cortez, 2004.<br />

DEBORD, G. A Socieda<strong>de</strong> do Espetáculo. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Contraponto, 1992.<br />

LIMA, Luiz Costa. Teoria da Cultura <strong>de</strong> Massa. Rio <strong>de</strong> Janeiro. Paz e Terra, 1990.<br />

MARX, K. Introdução à crítica da economia política. São Paulo: Abril, 1974. p.109-113 (Os<br />

pensadores, v.35).<br />

MOLES, A. O Kitsch: a arte da felicida<strong>de</strong>. São Paulo: Editora perspectiva, 1975.<br />

PADILHA, Valquíria. Shopping Center: a catedral das mercadorias. São Paulo, Boitempo, 2006.<br />

SANTOS, M. O Espaço do Cidadão. São Paulo, Nobel, 1998.<br />

1423


RESUMO<br />

POTENCIALIDADE E ECONOMIA SOLIDÁRIA: ENTRELAÇAMENTOS PARA O<br />

DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL<br />

Mikael Bernardo Vasconcelos <strong>de</strong> ARAÚJO (PIBIC/UEPB) –<br />

mikaelbernado_cg@hotmail.com<br />

Rafaela Dias FERNANDES (PIBIC/UEPB) – rafaela_dadiva@hotmail.com<br />

Ângela Maria Cavalcanti RAMALHO (DFCS/UEPB) - angelaramalho@oi.com.br<br />

Sandra Serei<strong>de</strong> Ferreira da SILVA (UEPB) - sandraserei<strong>de</strong>@yahoo.com.br<br />

No contexto da socieda<strong>de</strong> atual em que se processa cada vez mais o dinamismo do capitalismo, faz-<br />

se necessário a implantação <strong>de</strong> políticas capazes <strong>de</strong> fortalecer a redistribuição <strong>de</strong> renda e<br />

<strong>de</strong>mocratização das oportunida<strong>de</strong>s. Neste cenário a economia solidária surge como uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>ias e experiências que se encontram focalizadas <strong>nas</strong> lutas das organizações dos trabalhadores em<br />

contraposição ao capitalismo e tem como um dos seus fundamentos ser hegemônico no quadro<br />

econômico atual, buscando com isso diminuir a competitivida<strong>de</strong> gerada nos mercados, que por<br />

consequência traz <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais, marginalização do mercado <strong>de</strong> trabalho formal, má<br />

distribuição <strong>de</strong> renda e <strong>de</strong>gradação do meio ambiente. A formação <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> economia solidária é<br />

um passo importante para a construção <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> territorial com base <strong>nas</strong> potencialida<strong>de</strong>s<br />

locais, que permita aos atores sociais - trabalhadores uma reação autônoma através <strong>de</strong> novas<br />

modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> trabalho na busca da geração <strong>de</strong> renda. Com bases nesses pressupostos o estudo tem<br />

como foco principal analisar como a economia solidária a partir das potencialida<strong>de</strong>s locais tem<br />

contribuído para o <strong>de</strong>senvolvimento local sustentável. Buscando compreen<strong>de</strong>r como <strong>de</strong> processa as<br />

relações sociais, econômicas e ambientais nos empreendimentos econômicos solidários e com isso<br />

obter atuações concretas sobre a exequibilida<strong>de</strong> da economia solidária a partir <strong>de</strong> seus princípios<br />

estabelecidos abrindo um leque <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong> para a observação da humanização do trabalho,<br />

geração <strong>de</strong> renda e a sustentabilida<strong>de</strong> ambiental. A pesquisa <strong>de</strong>senvolvida foi do tipo exploratória,<br />

tomando como base um levantamento das ativida<strong>de</strong>s econômicas e sociais, em potencial,<br />

<strong>de</strong>senvolvida na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Remígio, PB. Os resultados apontam um potencial econômico e social<br />

1424


significativo o que sinaliza para a criação e ampliação <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> economia solidária na busca do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento local sustentável<br />

PALAVRAS-CHAVE: Economia Solidária; Potencialida<strong>de</strong>s Locais; Desenvolvimento Sustentável.<br />

ABSTRACT<br />

In the context of today's society that is increasingly ren<strong>de</strong>rs the dynamism of capitalism, it is<br />

necessary to implement policies that strengthen <strong>de</strong>mocratization and redistribution of income<br />

opportunities. In this scenario the solidarity economy emerges as a network of i<strong>de</strong>as and<br />

experiences that are focused on the struggles of workers' organizations in opposition to capitalism<br />

and has as one of its foundations be hegemonic in the current economic context, intending to<br />

diminish the competitiveness generated in markets which consequently brings social inequalities,<br />

marginalization of the formal labor market, unequal distribution of income and environmental<br />

<strong>de</strong>gradation. The formation of networks of economic solidarity is an important step towards the<br />

construction of a territorial i<strong>de</strong>ntity based on local potential, enabling social actors - a reaction<br />

autonomous workers through new ways of working in the pursuit of generating income. With bases<br />

assumptions that the study focused primarily on examining how the social economy from local<br />

potential has contributed to sustainable local <strong>de</strong>velopment. Trying to un<strong>de</strong>rstand how processes of<br />

social, economic and environmental solidarity in economic enterprises and thereby obtain concrete<br />

actions on the feasibility of the solidarity economy from its principles established by opening a<br />

range of opportunity for observing the humanization of work, income generation and environmental<br />

sustainability. The survey was <strong>de</strong>veloped like taking an exploratory survey of economic and social<br />

activities in potential <strong>de</strong>veloped in the city of Remígio, PB. The results indicate a potential<br />

economic and social impact which signals to the creation and expansion of networks of economic<br />

solidarity in the pursuit of sustainable local <strong>de</strong>velopment.<br />

KEYWORDS: Solidarity Economy; Potential Sites; Sustainable Development<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

A Economia Solidária surge no Século 19 como um movimento social na Inglaterra, como<br />

forma <strong>de</strong> resistência - por parte da população socialmente excluída - ao crescimento <strong>de</strong>senfreado do<br />

1425


capitalismo industrial, levando milhares <strong>de</strong> trabalhadores a se organizarem na busca da melhoria da<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<br />

Como resultado, com força cada vez maior os empreendimentos solidários surgiram como<br />

―respostas a crises <strong>nas</strong> empresas, ao <strong>de</strong>semprego e à exclusão social. Mas, em <strong>de</strong>terminadas regiões,<br />

a economia solidária atingiu <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> tal que domina a vida econômica e pauta a sua expansão‖<br />

(SINGER, 2002, p.121).<br />

Sendo assim, a Economia Solidária po<strong>de</strong> ser entendida como uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias e<br />

experiências que traz no seu bojo raízes históricas que se encontram focalizadas <strong>nas</strong> ações e lutas<br />

das organizações <strong>de</strong> trabalhadores, <strong>de</strong> movimentos populares, <strong>de</strong> grupos ativistas <strong>nas</strong> universida<strong>de</strong>s<br />

e <strong>nas</strong> igrejas. Um movimento que se fortalece e se organiza a cada dia, recebendo apoio da<br />

socieda<strong>de</strong> civil, do po<strong>de</strong>r público e das empresas.<br />

Destarte, a mobilização, a organização dos atores sociais em associações e/ou em<br />

cooperativas viabiliza a criação <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s solidárias na busca da geração <strong>de</strong> trabalho e renda dos<br />

atores sociais nos diversos territórios e a promoção do <strong>de</strong>senvolvimento local <strong>de</strong> forma sustentável.<br />

Assim, a economia solidária preconiza o entendimento do trabalho como um meio <strong>de</strong><br />

libertação humana <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocratização econômica, criando uma alternativa à<br />

dimensão alienante e assalariada das relações do trabalho capitalista, reafirmando a emergência <strong>de</strong><br />

milhares <strong>de</strong> trabalhadoras e trabalhadores se emanciparem como sujeitos históricos.<br />

Além disso, a economia solidária possui uma finalida<strong>de</strong> multidimensional, isto é, envolve a<br />

dimensão social, econômica, política, ecológica e cultural. Isto porque, além da visão econômica <strong>de</strong><br />

geração <strong>de</strong> trabalho e renda, as experiências <strong>de</strong> economia solidária se projetam no espaço público,<br />

no qual estão inseridas, tendo como perspectiva a construção <strong>de</strong> um ambiente socialmente justo e<br />

sustentável.<br />

A literatura acadêmica-cientifica versa que a economia solidária é ―[...] um conjunto <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong>s econômicas – <strong>de</strong> produção, distribuição, consumo, poupança e crédito – organizadas sob<br />

a forma <strong>de</strong> autogestão, isto é, pela proprieda<strong>de</strong> coletiva do capital e participação <strong>de</strong>mocrática <strong>nas</strong><br />

<strong>de</strong>cisões dos membros da entida<strong>de</strong> promotora da ativida<strong>de</strong>, tendo como finalida<strong>de</strong> a reprodução<br />

ampliada da vida‖ (SINGER, 2002, p.48).<br />

Vale ressaltar que a economia solidária não se confun<strong>de</strong> com o chamado "Terceiro Setor"<br />

que substitui o Estado <strong>nas</strong> suas obrigações legais e inibe a emancipação <strong>de</strong> trabalhadoras e<br />

trabalhadores, enquanto sujeitos protagonistas <strong>de</strong> direitos. A economia solidária reafirma a<br />

emergência <strong>de</strong> atores sociais, ou seja, a emancipação <strong>de</strong> trabalhadoras e trabalhadores como sujeitos<br />

históricos.<br />

1426


Evi<strong>de</strong>ncia-se que muitos trabalhadores no mundo inteiro estão se unindo para fazer e<br />

vivenciar a Economia Solidária porque enten<strong>de</strong>m que os frutos da economia capitalista dominante,<br />

como a exclusão social, o <strong>de</strong>semprego e a <strong>de</strong>gradação do meio ambiente, são muito amargos e<br />

sacrificantes. Rompendo com a lógica do lucro, na Economia Solidária o mais importante é a vida.<br />

Para tanto, essa economia funciona a partir <strong>de</strong> empreendimentos todos os participantes <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>m em<br />

conjunto, cooperando sem hierarquias ou patrões.<br />

Com bases nesses pressupostos o estudo tem como foco principal analisar como a economia<br />

solidária a partir das potencialida<strong>de</strong>s locais tem contribuído para o <strong>de</strong>senvolvimento local<br />

sustentável. Buscando compreen<strong>de</strong>r como <strong>de</strong> processa as relações sociais, econômicas e ambientais<br />

nos empreendimentos Econômico Solidários e com isso obter atuações concretas sobre a<br />

exequibilida<strong>de</strong> da Economia Solidária a partir <strong>de</strong> seus princípios estabelecidos abrindo um leque <strong>de</strong><br />

oportunida<strong>de</strong> para a observação da humanização do trabalho, geração <strong>de</strong> renda e a sustentabilida<strong>de</strong><br />

ambiental.<br />

Quanto à metodologia como caminho para o <strong>de</strong>senvolvimento da pesquisa em função do<br />

objeto estudado optou-se por uma pesquisa do tipo exploratória com abordagem qualitativa,<br />

tomando como base um levantamento das ativida<strong>de</strong>s econômicas e sociais em potencial<br />

<strong>de</strong>senvolvida na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Remígio, PB e os empreendimentos <strong>de</strong> economia solidária existentes no<br />

município.<br />

A partir do enfoque elucidado, evi<strong>de</strong>ncia-se que formação <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> economia solidária é<br />

um passo importante para a construção do processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento local, além da construção<br />

da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> territorial com base <strong>nas</strong> potencialida<strong>de</strong>s locais, que permita aos atores sociais -<br />

trabalhadores uma reação autônoma através <strong>de</strong> novas modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> trabalho para a geração <strong>de</strong><br />

renda. Perspectiva que indica caminhos para se erigir o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento local<br />

sustentável.<br />

Sustentável<br />

1.1 Economia Solidária, Potencialida<strong>de</strong>s Econômicas e Desenvolvimento local<br />

A economia solidaria contribui para a configuração <strong>de</strong> uma nova realida<strong>de</strong> social ao<br />

proporcionar a geração <strong>de</strong> um trabalho emancipado, autônomo e constituído <strong>de</strong> trabalhadores e<br />

consumidores como sujeitos históricos para superação dos problemas sociais oriundos da lógica<br />

sistêmica que gerou graves problemas sociais e ambientais. Portanto, a economia solidária torna-se<br />

possível a partir da interface cooperação, autogestão e solidarieda<strong>de</strong> entre os atores sociais na<br />

realização das ativida<strong>de</strong>s econômicas, ao estabelecer novas relações entre produtores e<br />

1427


consumidores contribuindo para o surgimento cada vez mais <strong>de</strong> movimentos emancipatórios na<br />

socieda<strong>de</strong>.<br />

Sendo assim, o empreendimento econômico solidário viabiliza a manutenção do emprego<br />

local a partir <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>manda dos serviços disponíveis nos territórios; também a permanência <strong>de</strong><br />

uma parcela significativa da população jovem e adulta na gestão do território; manutenção do<br />

emprego agrícola para assegurar outros serviços multifuncionais incluídos os ambientais e os<br />

turísticos. Além evi<strong>de</strong>ntemente da manutenção da paisagem e do meio ambiente, através <strong>de</strong> uma<br />

agricultura com um povoamento regional equilibrado; manutenção do habitat no espaço rural, a<br />

partir <strong>de</strong> e princípios ecológicos.<br />

Assim, diante da perspectiva <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> mais justas, o movimento da economia<br />

solidária <strong>de</strong>ve se fortalecer como uma das alternativas à crise econômica e <strong>de</strong> emprego, bem como<br />

ao enfrentamento <strong>de</strong> instabilida<strong>de</strong>s sociais e ambientais, com isso o movimento ganhou força<br />

nacional disseminando assim, os princípios <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> e participação e criando novos<br />

empreendimentos.<br />

Também o fortalecimento das relações <strong>nas</strong> cooperativas populares têm proporcionado, a<br />

seus integrantes, possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vislumbrar a diminuição do <strong>de</strong>semprego e da exclusão social.<br />

Porém, a partir do momento em que se articula com outros movimentos sociais e, ampliam suas<br />

agendas, passam a atuar como agentes <strong>de</strong> mudanças sociais no território em que atuam. Isto<br />

significa que se apresentam, num primeiro momento, como instrumentos <strong>de</strong> proteção social e num<br />

segundo momento, como instrumentos <strong>de</strong> mudança social.<br />

Neste processo <strong>de</strong> organização da socieda<strong>de</strong> civil, busca-se a concretização da práxis a partir<br />

da reorganização do processo <strong>de</strong> produção, comercialização e consumo com vistas à promoção da<br />

coletivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> forma equitativa, com uma distribuição da riqueza socialmente produzida, com base<br />

na autogestão dos trabalhadores. Vislumbrando um <strong>de</strong>senvolvimento que seja solidário e<br />

principalmente sustentável, propiciando a melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong><br />

trabalhadores no campo e na cida<strong>de</strong>.<br />

Assim sendo, é relevante assinalar que o <strong>de</strong>senvolvimento precisa ser entendido como a<br />

efetivação universal do conjunto dos direitos humanos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os direitos políticos e cívicos,<br />

passando pelos direitos econômicos, sociais e culturais, e terminando nos direitos ditos coletivos,<br />

entre os quais está, por exemplo, o direito a um ambiente saudável (SACHS, 2008).<br />

Com base nessa lógica, o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ve possuir qualida<strong>de</strong>s inerentes, como ser<br />

sustentável, endógeno, integrado, social e humano, para que assim consiga atingir todas as classes<br />

sociais. O <strong>de</strong>senvolvimento é uma construção social que consegue estabelecer uma dinâmica<br />

territorial <strong>nas</strong> quais são potencializadas as fontes <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e <strong>de</strong> riqueza locais, através da interação<br />

1428


estratégica entre atores sociais, políticos, econômicos e culturais, consi<strong>de</strong>rando seus recursos<br />

físicos, humanos, culturais além <strong>de</strong> sua infraestrutura (SACHS, 2008).<br />

Este viés elucida que o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, se baseia em pressupostos éticos que<br />

<strong>de</strong>mandam duas solidarieda<strong>de</strong>s interligadas: solidarieda<strong>de</strong> sincrônica, com a geração a qual<br />

pertencemos, e solidarieda<strong>de</strong> diacrônica com as gerações futuras, o bem-estar das gerações atuais<br />

não po<strong>de</strong> comprometer as oportunida<strong>de</strong>s e necessida<strong>de</strong>s futuras, reduzindo as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

reprodução e <strong>de</strong>senvolvimento futuro (Op cit., 2008).<br />

Relevante pontuar ainda, que o <strong>de</strong>senvolvimento local <strong>de</strong>ve ser concebido a partir das<br />

concepções culturais e políticas próprias dos grupos sociais, consi<strong>de</strong>rando-se suas relações <strong>de</strong><br />

diálogo e <strong>de</strong> integração com a socieda<strong>de</strong> maior, através <strong>de</strong> representação em espaços comunitários<br />

ou em conselhos políticos e profissionais (COSTABEBER e CAPORAL, 2003).<br />

Sendo assim, as potencialida<strong>de</strong>s socioeconômicas locais são fundamentais na composição <strong>de</strong><br />

mecanismos estratégicos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento local. As potencialida<strong>de</strong>s são constituídas <strong>de</strong> seus<br />

aspectos sociais, culturais e históricos, do capital social existente e acumulado, da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> ou<br />

pertencimento dos que <strong>nas</strong>ceram na região, além do acervo natural que caracteriza a localida<strong>de</strong> e o<br />

visual fotográfico que embeleza o local, cuja população está sempre em cooperação umas para com<br />

as outras ao mesmo tempo em que recebe informações exter<strong>nas</strong> para buscarem implantar um<br />

processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

A partir <strong>de</strong>ssa perspectiva evi<strong>de</strong>ncia-se que os empreendimentos <strong>de</strong> economia solidária<br />

particularmente, <strong>nas</strong> regiões do semiárido, po<strong>de</strong> se caracterizar como a mola propulsora para guiar<br />

as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas partir das potencialida<strong>de</strong>s socioeconômicas nos espaços urbanos e<br />

rurais na busca do <strong>de</strong>senvolvimento local sustentável. Consi<strong>de</strong>rando ainda, que as ativida<strong>de</strong>s<br />

econômicas no meio rural são <strong>de</strong>senvolvidas e se processam na agricultura familiar utilizando<br />

basicamente a mão <strong>de</strong> obra da família.<br />

Evi<strong>de</strong>ncia-se ainda que a agregação dos valores dos produtos <strong>de</strong> cada território traz na sua<br />

matiz um fator significante que são as tradições culturais regionais e os modos específicos <strong>de</strong><br />

manufaturar os produtos oriundos <strong>de</strong> cada cida<strong>de</strong> e região, também os recursos naturais<br />

geograficamente diferenciados e históricos é um diferencial significativo do produto confeccionado<br />

em dada região.<br />

Segundo Amaral Filho (1996) as regiões que possuírem maior abrangência na agregação <strong>de</strong><br />

valor po<strong>de</strong>rão aumentar a produção, acelerar o crescimento, aumentar o produto e possibilitar uma<br />

melhor distribuição da renda. Desse modo, <strong>de</strong>fine que o <strong>de</strong>senvolvimento local.<br />

1429


[...] é um processo <strong>de</strong> crescimento econômico implicando em uma<br />

contínua ampliação da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> agregação <strong>de</strong> valor sobre a produção bem<br />

como da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> absorção da região, cujo <strong>de</strong>sdobramento é a retenção do<br />

exce<strong>de</strong>nte econômico gerado na economia local e/ou a atração <strong>de</strong> exce<strong>de</strong>ntes<br />

provenientes <strong>de</strong> outras regiões. Este processo tem como resultado a ampliação do<br />

emprego, do produto e da renda do local ou da região mais ou menos <strong>de</strong>finido<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo específico <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento regional (Op. Cit., 1999).<br />

Sendo assim, evi<strong>de</strong>ncia-se que o <strong>de</strong>senvolvimento local no semiárido <strong>de</strong>manda um incentivo<br />

e apoio a empreendimentos econômicos solidários inclu<strong>de</strong>ntes, a partir da produção <strong>de</strong> bens e<br />

serviços <strong>de</strong> pequenos empreen<strong>de</strong>dores (individuais, ou em associações ou cooperativas), que<br />

possam contar com um mínimo <strong>de</strong> suporte e incentivo <strong>nas</strong> ações das políticas públicas, para<br />

alavancar <strong>de</strong> forma sustentável, ativida<strong>de</strong>s econômicas que possibilitem ocupação e renda dos<br />

habitantes <strong>de</strong>ssa região.<br />

Diante dos <strong>de</strong>safios da problemática social, econômica e ambiental do semiárido que se<br />

configura em um cenário que mutila sonhos, esperanças e felicida<strong>de</strong> dos sujeitos que os constrói,<br />

<strong>de</strong>scortina- se movimentos, fluxos, <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong> e, extasiados e perplexos diante da realida<strong>de</strong><br />

posta, <strong>de</strong>scobre-se também, que nos faltam conceitos e até mesmo palavras que permitam indicar o<br />

que está diante dos nossos olhos, por isso precisamos buscar respostas <strong>nas</strong> <strong>de</strong>scobertas feitas através<br />

dos estudos metódicos <strong>de</strong>senvolvidos cotidianamente.<br />

2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS<br />

Para o <strong>de</strong>senvolvimento da investigação científica o caminho metodológico percorrido no<br />

primeiro momento foi uma pesquisa bibliográfica com base em aportes teóricos que analisam as<br />

categorias economia solidária e <strong>de</strong>senvolvimento sustentável. Seguido <strong>de</strong> uma pesquisa exploratória<br />

a partir <strong>de</strong> um mapeamento das ativida<strong>de</strong>s econômicas e sociais em potencial <strong>de</strong>senvolvidas na<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Remígio, PB.<br />

A pesquisa foi realizada em duas etapas. Na primeira etapa se proce<strong>de</strong>u o levantamento <strong>de</strong><br />

dados sobre as potencialida<strong>de</strong>s no lócus social pesquisa. Para isso se entrevistou li<strong>de</strong>res<br />

comunitários assim com funcionários <strong>de</strong> instituições públicas, pesquisadores e pessoas ligadas ao<br />

<strong>de</strong>senvolvimento do município. Na segunda fase se proce<strong>de</strong>u à coleta <strong>de</strong> dados primários - que<br />

foram coletados utilizando a técnica da observação participante e a entrevista semiestruturada.<br />

1430


Tomou-se como cenário o local para apreen<strong>de</strong>r como potenciais econômicos e sociais ecoam<br />

na estrutura do local operando profundas transformações em todas as manifestações da vida<br />

cotidiana: mudando estruturas, formas <strong>de</strong> pensar e <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r o mundo, transformando-se em<br />

uma gran<strong>de</strong> força <strong>de</strong> ação social coletiva que po<strong>de</strong>rá provocar o alavancamento do processo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento local.<br />

Algumas questões <strong>de</strong>scortinadas pela pesquisa sobre <strong>de</strong>senvolvimento econômico sugerem<br />

investigações mais <strong>de</strong>talhadas, como experiências <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento local, implementação <strong>de</strong><br />

re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> economia solidária, a participação da socieda<strong>de</strong> nos processos <strong>de</strong> planejamento e<br />

conselhos, fóruns e outras instituições; o papel dos governos municipais e estaduais no fomento as<br />

ativida<strong>de</strong>s produtivas e competitivas dos territórios.<br />

2.1. Caracterização da área estudada<br />

O município <strong>de</strong> Remígio está localizado na Microrregião do Curimatáu Oci<strong>de</strong>ntal e na<br />

Mesorregião Agreste Paraibano do Estado da Paraíba <strong>de</strong> acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro <strong>de</strong><br />

Geografia e Estatística). A cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Remígio tem população estimada em 17.581 habitantes e área<br />

territorial <strong>de</strong> 178 km² representando 0.3155% do Estado, 0.0115% da Região e 0.0021% <strong>de</strong> todo o<br />

território brasileiro. A se<strong>de</strong> do município tem uma altitu<strong>de</strong> aproximada <strong>de</strong> 593 metros distando<br />

109,7 Km da capital. O acesso é feito, a partir <strong>de</strong> João Pessoa, PB.<br />

O município <strong>de</strong> Remígio fica no topo da serra da Borborema. Na encosta voltada para o lado<br />

do mar encontra-se a região mais chuvosa, o brejo. Na encostada voltada para o Norte fica a região<br />

mais seca, o Curimatáu. E nos envoltos do município tem o agreste, que é uma transição <strong>de</strong>ssas<br />

duas regiões.<br />

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES<br />

A partir da pesquisa exploratória <strong>de</strong>senvolvida foi possível mapear as potencialida<strong>de</strong>s<br />

econômicas da cida<strong>de</strong> Remígio no estado da Paraíba, associando-as a exploração econômica <strong>de</strong><br />

produtos e serviços que se <strong>de</strong>stacam por sua qualida<strong>de</strong>, peculiarida<strong>de</strong> e cultura. O município possui<br />

características específicas para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um produto ou serviço com diferenciação dos<br />

<strong>de</strong>mais existentes no mercado, além <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>s intrínsecas agregadoras <strong>de</strong> valor, como por<br />

exemplo, a tradição, a cultura e os saberes envolvidos nos produtos/serviços que são associados a<br />

produtos amplamente comercializados no Estado e em outras regiões.<br />

1431


Esses produtos carregam consigo uma chancela e associa o produto/ativida<strong>de</strong>/serviço a uma<br />

<strong>de</strong>terminada região do Estado. Muitas vezes associando o produto a cida<strong>de</strong>, tornando-o o cartão <strong>de</strong><br />

visitas, construído durante anos pela tradição.<br />

O estudo possibilitou ainda apontar o potencial no município em análise, verificando como<br />

estes elementos po<strong>de</strong>m provocar mudanças na ocupação e geração <strong>de</strong> renda, além das formas <strong>de</strong><br />

produção e comercialização, contribuindo para um mapeamento mais ampliado <strong>de</strong> indicadores que<br />

viabilizam o <strong>de</strong>senvolvimento local, servindo <strong>de</strong> base para um estudo mais aprofundado em um<br />

segundo momento.<br />

Sinalizando ainda, que as ativida<strong>de</strong>s que são exploradas não recebem o <strong>de</strong>vido apoio e<br />

incentivo através das políticas públicas, no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> aptidões econômicas e<br />

dotação <strong>de</strong> empreen<strong>de</strong>dores (individuais ou coletivos) locais <strong>de</strong> capacitação e infraestrutura para o<br />

seu <strong>de</strong>senvolvimento socioeconômico.<br />

Assim, a aptidão agrícola no município muda <strong>de</strong> acordo com o seu ambiente. Na região mais<br />

úmida on<strong>de</strong> se encontra os Sítios Camará, Caiana e Mata Redonda observa-se uma estratégia<br />

econômica viabilizada através do plantio <strong>de</strong> laranja e banana. Próximo à cida<strong>de</strong> fica a região do<br />

brejo que uma concentração maior <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> ―roçado‖ (produção para subsistência), como o<br />

feijão, o milho e fava, além da produção <strong>de</strong> tubérculos e hortaliças, como a batata doce, macaxeira e<br />

cenoura.<br />

Na região do Agreste e Curimataú se encontram as áreas <strong>de</strong> assentamento da reforma<br />

agrária. Essa área tem produzido bastante feijão e milho, chegando a produzir toneladas<br />

significativas, sendo que 60% são comercializadas <strong>nas</strong> feiras livres no município e o restante nos<br />

municípios circunvizinhos.<br />

A criação animal está mais localizada nesta região, como gado, ovelhas e cabras, sendo a<br />

renda familiar rural mais significativa, existindo outras rendas com as peque<strong>nas</strong> criações.<br />

No mercado da agricultura familiar tem comerciantes que compram direto <strong>nas</strong> proprieda<strong>de</strong>s,<br />

realiza a venda dos produtos na feira livre, outros agricultores estão envolvidos em programas <strong>de</strong><br />

aquisição <strong>de</strong> alimento <strong>nas</strong> políticas públicas do Governo Fe<strong>de</strong>ral. Além <strong>de</strong>ssas culturas há também<br />

comercialização <strong>de</strong> amendoim, castanha <strong>de</strong> caju, inhame e outras frutas no Agreste. Também a<br />

criação <strong>de</strong> pequenos animais, como galinha e peru em épocas <strong>de</strong> São João e Natal. ―Casando a<br />

cultura com as culturas‖<br />

No que <strong>de</strong>srespeita a organização social dos trabalhadores no município, o Sindicato dos<br />

Trabalhadores Rurais <strong>de</strong> Remígio tem um trabalho amplo e significativo na agricultura familiar<br />

agroecológica. Esse trabalho tem como principio básico a agroecologia, a autonomia e os princípios<br />

da economia solidária. Esses três princípios atuam em interface. O trabalho é organizado em<br />

1432


comissões temáticas por interesse, formado através das comissões: saú<strong>de</strong> e alimentação, sementes,<br />

água, criação <strong>de</strong> animais e placas, que no período <strong>de</strong> longa estiagem recebe recursos <strong>de</strong> algumas<br />

ONGs.<br />

Os recursos recebidos das ONGs são transformados em fundos rotativos solidários com a<br />

gestão da própria comunida<strong>de</strong>. Anteriormente havia <strong>nas</strong> comunida<strong>de</strong>s ape<strong>nas</strong> cinco cister<strong>nas</strong>,<br />

todavia em dois ou três anos se multiplicavam em mais <strong>de</strong> mil cister<strong>nas</strong> <strong>de</strong> placas.<br />

Relevante assinalar, que em 2005 no município houve um salto <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> no programa <strong>de</strong><br />

FRS (Fundo Rotativo Solidário), com a criação da comissão <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e alimentação. Também foi<br />

criado um fundo rotativo com telas na criação <strong>de</strong> galinhas, como plásticas para cilagem e troca <strong>de</strong><br />

sementes. Na comunida<strong>de</strong> Lagoa do Jogo o fundo rotativo solidário tem apoiado várias iniciativas<br />

tanto <strong>de</strong> teor econômico como social, a exemplo do frete do transporte para o <strong>de</strong>slocamento dos<br />

produtos dos agricultores, além da ajuda <strong>nas</strong> copias <strong>de</strong> documentação para aposentadorias.<br />

Dessa forma, é importante potencializar o local para dinamizar a reciprocida<strong>de</strong> entre os<br />

atores sociais, além evi<strong>de</strong>ntemente dos mecanismos redistributivos <strong>de</strong> renda na busca da melhoria<br />

da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, a partir das diferentes formas <strong>de</strong> organização pensando na gestão econômica<br />

centrada na comunida<strong>de</strong>, com capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> auto-organização no campo político, econômico, social<br />

e ambiental.<br />

Assim sendo, constata-se um significativo fortalecimento da organização dos trabalhadores<br />

no município, contribuindo significativamente para a ampliação do número <strong>de</strong> associações, que hoje<br />

conta com cerca <strong>de</strong> 30 associações, <strong>de</strong>ntre elas a Associação Comunitária <strong>de</strong> Desenvolvimento <strong>de</strong><br />

Caiana (ACODECA), Associação dos Produtores Rurais do Município <strong>de</strong> Remígio (APROMUR),<br />

Associação dos Agricultores Familiares das Comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Malacheta e Jacaré (AAFCMJ).<br />

Destaca-se a Associação <strong>de</strong> Comunida<strong>de</strong> Negra <strong>de</strong> Camará - ACONCA, uma comunida<strong>de</strong><br />

remanescente <strong>de</strong> quilombo que resi<strong>de</strong>m cerca <strong>de</strong> 26 famílias. Sua principal fonte <strong>de</strong> renda vem da<br />

agricultura camponesa (produção <strong>de</strong> laranja, manga, abacate, entre outros). Tem como objetivo o<br />

fornecimento <strong>de</strong> alimento para a CONAB (Companhia Nacional <strong>de</strong> Abastecimento) e essa<br />

instituição distribuí os produtos para os projetos solidários existentes no município, também com as<br />

famílias <strong>de</strong> baixa renda.<br />

A comunida<strong>de</strong> tem um potencial <strong>de</strong> capital social significativo, principalmente o cultural e<br />

os traços geográficos com um enraizamento social peculiar, se caracterizando como um mecanismo<br />

para o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável local.<br />

Dessa forma, é importante potencializar o território para dinamizar a reciprocida<strong>de</strong> entre os<br />

atores sociais, além evi<strong>de</strong>ntemente dos mecanismos redistributivos <strong>de</strong> renda na busca da melhoria<br />

da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, a partir das diferentes formas <strong>de</strong> organização pensando na gestão econômica<br />

1433


centrada na comunida<strong>de</strong>, com capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> autoorganização no campo político, econômico, social<br />

e ambiental.<br />

A partir dos dados obtidos, advindos <strong>de</strong> pesquisas e da utilização <strong>de</strong> procedimentos<br />

científicos, ou seja, a utilização <strong>de</strong> conhecimentos teóricos, métodos e técnicas, para compreen<strong>de</strong>r<br />

quais princípios norteiam esses empreendimentos, o trabalho observou-se que a economia solidária<br />

enquanto mecanismo estratégico <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento a partir das potencialida<strong>de</strong>s socioeconômicas<br />

do território da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Remígio po<strong>de</strong> contribuído para viabilizar o <strong>de</strong>senvolvimento local<br />

sustentável.<br />

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

A partir da sistematização do estudo foi possível evi<strong>de</strong>nciar que o processo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento local requer uma maior aproximação e fortalecimento das relações entre a<br />

comunida<strong>de</strong> e os profissionais <strong>de</strong>nominados como ―agentes <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento‖ que são os bancos<br />

públicos, serviços públicos (como por exemplo, o SEBRAE), agências <strong>de</strong> fomento da economia<br />

solidária, ligadas à Igreja, sindicatos ou universida<strong>de</strong>s além dos movimentos sociais. Demandando<br />

que os ―agentes‖ levem até a comunida<strong>de</strong> informações necessárias sobre as formas <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento e como é possível implantar o processo através do esforço conjunto da<br />

comunida<strong>de</strong>.<br />

Nesse processo, a própria comunida<strong>de</strong> necessita buscar capacitar–se para o manejo e<br />

interpretação das informações, para que possa se empo<strong>de</strong>rar e manter uma relação igualitária com<br />

os agentes diante da troca <strong>de</strong> saberes, também para dialogar sobre as propostas e orientações<br />

apresentadas pelos ―agentes <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento‖.<br />

Nesse processo <strong>de</strong> diálogo profícuo, os atores sociais da comunida<strong>de</strong> ao mesmo tempo em<br />

que recebem ensinamentos também oferecem aos agentes, estabelecendo uma relação dialética <strong>de</strong><br />

educação política mútua. As experiências das incubadoras universitárias e das cooperativas<br />

populares atestam que este tipo <strong>de</strong> relação necessária para que o <strong>de</strong>senvolvimento solidário possa<br />

acontecer efetivamente.<br />

Sendo assim, é possível buscar promover o que se consi<strong>de</strong>ra fundamental para os territórios,<br />

principalmente <strong>nas</strong> regiões semiáridas do nor<strong>de</strong>ste como: gerar ocupação e renda, ampliar o número<br />

<strong>de</strong> proprietários produtivos, elevar o nível <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> da população, além do número <strong>de</strong><br />

organizações da socieda<strong>de</strong> civil, para a <strong>de</strong>mocratização do acesso à riqueza.<br />

Um elemento importante para instigar a consciência é levar para o conjunto da comunida<strong>de</strong><br />

as informações necessárias sobre as novas formas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, o que <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar um<br />

1434


processo <strong>de</strong> educação política, econômica e financeira <strong>de</strong> todos os atores. No <strong>de</strong>correr do processo,<br />

instituições vão surgindo por meio das quais a comunida<strong>de</strong> se organiza para promover o seu<br />

<strong>de</strong>senvolvimento como, por exemplo, assembleia <strong>de</strong> cidadãos, comissões para <strong>de</strong>senvolver<br />

diferentes tarefas, empresas individuais, familiares, cooperativas e associações <strong>de</strong> diferentes<br />

naturezas.<br />

Diante da discussão sistematizada, é mister ressaltar que efetivamente todo <strong>de</strong>senvolvimento<br />

só acontecerá quando surgirem novos e múltiplos laços <strong>de</strong> realimentação <strong>de</strong> saberes e experiências.<br />

A partir dinâmica do aumento <strong>de</strong> mais capital humano cresce o capital social, que vai gerar mais<br />

renda e mais capital humano.<br />

A partir dos pressupostos circunscritos, elucida-se que a economia solidária torna-se um<br />

elemento medular na composição <strong>de</strong> mecanismos estratégicos na oxigenação do <strong>de</strong>senvolvimento<br />

local do território ao viabilizar a economia a partir das potencialida<strong>de</strong>s socioeconômicas como meta<br />

para gerar localmente trabalho e renda, valorizando a cultura, as aptidões locais e a cooperação<br />

empreendida entre os trabalhadores <strong>de</strong> forma organizada, ao mesmo tempo em que oferece<br />

elementos ao po<strong>de</strong>r público local para apoio e incentivo às ativida<strong>de</strong>s empreendidas, bem como as<br />

políticas públicas com elementos para <strong>de</strong> traçar um <strong>de</strong>senvolvimento que se quer sustentável.<br />

BIBLIOGRAFIA<br />

AMARAL FILHO, Jair. Desenvolvimento regional endógeno em um ambiente fe<strong>de</strong>ralista. In:<br />

Planejamento e políticas públicas. Brasília, IPEA, n. 14. <strong>de</strong>z.1996<br />

CAPORAL, F. R.; COSTABEBER, J. A. Agroecologia: enfoque científico e estratégico para<br />

apoiar o <strong>de</strong>senvolvimento rural sustentável: texto provisório para <strong>de</strong>bate. Porto Alegre:<br />

EMATER/RS-ASCAR, 2002. 54 p. (Programa <strong>de</strong> Formação Técnica Social da EMATER/RS.<br />

Sustentabilida<strong>de</strong> e Cidadania, textos, 5).<br />

SACHS, Ignacy. Dilemas e Desafios do Desenvolvimento Sustentável no Brasil. NASCIMENTO,<br />

Elimar Pinheiro do.; VIANA, João Nildo (Orgs). Rio <strong>de</strong> Janeiro: Garamond, 2003.<br />

SACHS, Ignacy; BURSZTYN, Marcel. Desafios, Possibilida<strong>de</strong>s e Alternativas <strong>de</strong> Desenvolvimento<br />

Sustentável. Palestra sobre i<strong>de</strong>ias sustentáveis <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento. Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong><br />

Brasília, 2011.<br />

SCHNEIDER, J. W. Pesquisa mundial <strong>de</strong> comércio justo. Brasília: SEBRAE, 2007.<br />

1435


SINGER, P. Introdução à economia solidária. 1. ed. São Paulo:Perseu Abramo, 2002.<br />

SINGER, P. KRUPPA, S. M. P. Senaes e a economia solidária – <strong>de</strong>mocracia e participação<br />

ampliando as exigências <strong>de</strong> novas tecnologias sociais. In:____ Tecnologia social: uma estratégia<br />

para o <strong>de</strong>senvolvimento. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Fundação Banco do Brasil, 2004.<br />

SINGER, P; SOUZA, A. R. <strong>de</strong>. (Orgs.). A Economia solidária no Brasil: a autogestão como<br />

resposta ao <strong>de</strong>semprego. São Paulo: Contexto, 2000. (Coleção Economia).<br />

1436


RESUMO<br />

ADEQUAÇÃO AMBIENTAL NO SÍTIO ÇARAKURA COMO FERRAMENTA DE<br />

POTENCIALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL<br />

Caiâne Paraguahy Marcolino OLSEN, UFSC 163 , caiane_olsen@hotmail.com, Estudante<br />

Maria Flavia Barbosa XAVIER, UFSC, mflaviabx@gmail.com, Estudante<br />

Natália SILVÉRIO, UFSC, nataliasilverio.ma@gmail.com, Estudante<br />

Fernando Soares Pinto SANT´ANNA, UFSC, santanna@ens.ufsc.br, Orientador<br />

O Instituto Çarakura, Organização Não governamental, localizada no Sítio Çarakura (Bairro <strong>de</strong><br />

Ratones, Florianópolis-SC) realiza várias ações <strong>de</strong> educação ambiental, muitas <strong>de</strong>las em parceria<br />

com o NEAmb (Núcleo <strong>de</strong> Educação Ambiental do Centro Tecnológico da UFSC) . No sítio<br />

Çarakura estão instalados alguns sistemas alternativos <strong>de</strong> saneamento <strong>de</strong>scentralizado, como o<br />

Banheiro Seco, Espiral <strong>de</strong> Aguapés (para águas cinza) e Wetlands (zona <strong>de</strong> raízes). Devido ao<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ssas tecnologias sociais e <strong>de</strong> práticas sustentáveis, o Sítio Çarakura recebe<br />

cente<strong>nas</strong> estudantes <strong>de</strong> diversas instituições, escolas e voluntários <strong>de</strong> outros países. O Projeto<br />

A<strong>de</strong>quação Ambiental no Sítio Çarakura tem como objetivo principal implantar ações e medidas <strong>de</strong><br />

gestão ambiental, através do diagnóstico do local, a fim <strong>de</strong> propor melhorias e alternativas para o<br />

Sítio.<br />

Palavras-chave: Educação Ambiental, Saneamento Ecológico, Diagnóstico.<br />

ABSTRACT<br />

The Çarakura Institute is a Non Governmental Organization, that is located on ―Sítio Çarakura‖<br />

(Ratones. Florianópolis/SC). It realizes many actions of Environmental Educations, and some of<br />

them in a partnership with NEAmb (Núcleo <strong>de</strong> Educação Ambiental do Centro Tecnológico da<br />

UFSC). In Sítio Çarakura are installed some alternatives systems of ecosan, as composting toilets<br />

and wetlands. Because of the <strong>de</strong>velopments of these social technologies and sustainable practices,<br />

the Sítio Çarakura receives, thousands stu<strong>de</strong>nts of different institutions and school and some<br />

volunteers, some from foreign countries. This project has as objective to implement actions and<br />

measures of environmental management, through the diagnosis of the Sítio Çarakura, in or<strong>de</strong>r to<br />

propose improvements and alternatives.<br />

Keywords: Environmental Education, Ecosan, Diagnostic<br />

163 Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina<br />

1437


INTRODUÇÃO<br />

Atualmente a população mundial chegou a 7 bilhões <strong>de</strong> pessoas, e o crescimento da<br />

população mundial trás consigo o aumento no consumo <strong>de</strong> bens e produtos, que geralmente causam<br />

gran<strong>de</strong>s impactos ao meio ambiente. Além do consumo o estilo <strong>de</strong> vida das pessoas se modifica<br />

com o passar dos anos, exigindo cada vez mais a exploração da natureza para suprir as<br />

―necessida<strong>de</strong>s‖ da socieda<strong>de</strong> atual.<br />

O mo<strong>de</strong>lo insustentável <strong>de</strong> produção requer a exploração intensa dos recursos naturais, e<br />

alem disso, geram resíduos e efluentes que <strong>de</strong>veriam ser minimizados e tratados antes <strong>de</strong> retornar à<br />

natureza. A fim <strong>de</strong> minimizar os impactos ambientais causados pelo homem, tecnologias para<br />

controle dos impactos ambientais <strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong>senvolvidas e utilizadas. Além do <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> novos meios para reduzir os impactos ambientais, faz-se necessário uma educação ambiental da<br />

socieda<strong>de</strong> para que cresça entre nós uma cultura preservacionista, que faça oposição ao atual<br />

consumismo exacerbado.<br />

Com o intuito <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver projetos <strong>de</strong> educação ambiental, o Instituto Çarakura sediado<br />

no Sítio Çarakura, localizado no bairro Ratones, Florianópolis-SC, tem por objetivo praticar ―ações<br />

referentes à pesquisa científica e tecnológica que facilitem a aplicação <strong>de</strong> tecnologias sociais, ou<br />

seja, simples, eficiente, <strong>de</strong> baixo custo e baixo impacto ambiental, aplicáveis principalmente na<br />

construção <strong>de</strong> habitações ecológicas, utilização <strong>de</strong> energias renováveis, recuperação <strong>de</strong> áreas<br />

<strong>de</strong>gradadas, sistemas alternativos <strong>de</strong> saneamento básico e outras iniciativas que possam fomentar o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento sócio-ambiental sustentável‖.<br />

Em parceria com o Núcleo <strong>de</strong> Educação Ambiental (NEAmb) do Centro Tecnológico (CTC)<br />

da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina (UFSC), o Instituto Çarakura realiza projetos <strong>de</strong><br />

educação ambiental, que visam o <strong>de</strong>senvolvimento tecnológico e a preservação da natureza através<br />

do conhecimento científico obtido na Universida<strong>de</strong>. Suas ações já chegaram a mais <strong>de</strong> 5 mil<br />

pessoas. A partir <strong>de</strong>sta parceria surgiu a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver um projeto no próprio sítio,<br />

pois o local recebe vários visitantes interessados em conhecer os projetos que são <strong>de</strong>senvolvidos<br />

pelo Instituto Çarakura.<br />

O objetivo do projeto é <strong>de</strong> potencializar as visitas e ações <strong>de</strong> educação ambiental realizadas<br />

no sítio, que resultarão na disseminação do conhecimento técnico, científico e socioambiental para<br />

os visitantes, e principalmente para a comunida<strong>de</strong> local.<br />

O Sítio Çarakura é uma proprieda<strong>de</strong> particular <strong>de</strong> 16 hectares, localizada em área rural <strong>de</strong><br />

Florianópolis, se<strong>de</strong> do Instituto Çarakura (ONG). No local estão instalados alguns sistemas<br />

alternativos <strong>de</strong> saneamento <strong>de</strong>scentralizado, como o Banheiro Seco, Espiral <strong>de</strong> Aguapés (para águas<br />

cinza) e Wetlands (zona <strong>de</strong> raízes). Os três sistemas apresentam a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> manutenção. O<br />

1438


sistema <strong>de</strong> wetlands é recente, foi implantado este ano. Já existe no local, antes do tanque <strong>de</strong><br />

wetlands um sistema fossa-filtro.<br />

Devido ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ssas tecnologias <strong>de</strong> saneamento e práticas sustentáveis, o<br />

Sítio Çarakura recebe cente<strong>nas</strong> <strong>de</strong> visitantes, incluindo estudantes <strong>de</strong> diversas instituições, escolas e<br />

voluntários <strong>de</strong> outros países. Os centros acadêmicos da UFSC realizam o trote eco-solidário no<br />

Çarakura. Isto proporciona um novo espaço <strong>de</strong> integração solidária entre calouros e veteranos e<br />

também entre a UFSC e a comunida<strong>de</strong>.<br />

A necessida<strong>de</strong> dos estudantes em participar <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> educação ambiental que visam o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento socioambiental está prevista na Política Nacional <strong>de</strong> Educação Ambiental,<br />

instituída em 2002, pelo <strong>de</strong>creto número 4.281, através da regulamentação da lei 9.795/1999. Nos<br />

Artigos 2 e 3 do capítulo 1, está escrito que: "A educação ambiental é um componente essencial e<br />

permanente da educação nacional, <strong>de</strong>vendo estar presente, <strong>de</strong> forma articulada, em todos os níveis e<br />

modalida<strong>de</strong>s do processo educativo, em caráter formal e não-formal(...)." "Como parte do processo<br />

educativo mais amplo, todos têm direito à educação ambiental.". Baseado nesse princípio, as<br />

práticas <strong>de</strong> educação ambiental adotadas pelo Projeto alertam a população sobre a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

preservação da natureza, fornecendo ferramentas para que os cidadãos sejam mais conscientes com<br />

os recursos naturais.<br />

MATERIAIS E MÉTODOS<br />

O passo inicial do Projeto foi realizar um diagnóstico com visitas ―in loco‖ para o<br />

conhecimento da situação da captação e consumo <strong>de</strong> água, geração e tratamento <strong>de</strong> efluentes,<br />

geração e disposição dos resíduos sólidos, consumo <strong>de</strong> energia elétrica e capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acolhimento<br />

dos visitantes.<br />

Inicialmente foi feita uma pesquisa bibliográfica sobre o que iria ser abordado no<br />

diagnóstico, inclusive sobre trabalhos científicos que foram <strong>de</strong>senvolvidos no próprio Sítio<br />

Çarakura.<br />

Foram realizadas cerca <strong>de</strong> quinze visitas em turno integral, ao longo <strong>de</strong> cinco meses, para a<br />

coleta dos dados para análise. Foram feitos registros fotográficos e elaboração <strong>de</strong> relatórios a cada<br />

visita feita. Ao fim do diagnóstico, foi feito um relatório final para reunir todos os relatórios<br />

pontuais <strong>de</strong> cada visita.<br />

RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

O Sítio Çarakura é abastecido por um curso d‘água que passa pela proprieda<strong>de</strong>. São dois<br />

pontos <strong>de</strong> captação responsáveis pelo abastecimento. Os pontos <strong>de</strong> captação não estão localizados<br />

1439


na <strong>nas</strong>cente do curso d‘água, sabe-se ape<strong>nas</strong> que a <strong>nas</strong>cente está situada longe da proprieda<strong>de</strong>, e que<br />

acima do ponto <strong>de</strong> captação há algumas casas, pastagens e uma trilha turística (trilha da Costa da<br />

Lagoa).<br />

Tendo em vista a <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong> do terreno, a água é encaminhada para os reservatórios por<br />

gravida<strong>de</strong>, e para torneiras e chuveiros pelo mesmo princípio.<br />

A água é captada <strong>de</strong> forma simples, são utilizadas mangueiras <strong>de</strong> polietileno <strong>de</strong> ¾‘ <strong>de</strong><br />

diâmetro. Inicialmente a mangueira principal não possuía nenhuma espécie <strong>de</strong> filtro, porém<br />

recentemente foi colocado um saco <strong>de</strong> verduras para filtrar os sólidos grosseiros que entravam na<br />

mangueira.<br />

A água é armazenada em duas caixas d‘água, uma <strong>de</strong> polietileno e outra <strong>de</strong> fibra. A água é<br />

utilizada para consumo humano e <strong>de</strong>sse<strong>de</strong>ntação dos animais, <strong>de</strong>scarga dos dois únicos banheiros<br />

convencionais da proprieda<strong>de</strong>, nos banheiros (chuveiros e pias), cozinha (preparação <strong>de</strong> alimentos e<br />

pia) e limpeza da casa. A fixação das mangueiras no local é feita com o auxílio <strong>de</strong> pedras e arames.<br />

Em dias com muita chuva o nível do curso d‘água sobe, com isso as pedras responsáveis<br />

pela fixação das mangueiras acabam se soltando. Isto ocasiona a interrupção do abastecimento <strong>de</strong><br />

água, além <strong>de</strong> propiciar a entrada <strong>de</strong> ar nos canos. Essa é uma problemática bem frequente no sítio,<br />

pois requer atenção constante dos moradores para que não falte água na proprieda<strong>de</strong>.<br />

Em relação ao tratamento <strong>de</strong> efluentes, o sítio Çarakura possui duas tecnologias sociais, o<br />

Wetlands e a Espiral <strong>de</strong> Aguapés. Ambas possuem o tratamento bem parecido, pois utilizam<br />

macrófitas aquáticas para tratar o efluente.<br />

As Wetlands construídas são alagados artificiais que po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>rados filtros<br />

biológicos nos quais os microorganismos (aeróbios e anaeróbios) e as macrófitas aquáticas são os<br />

principais responsáveis pela remoção <strong>de</strong> nutrientes dos efluentes (Wood, 1995).<br />

Estes sistemas <strong>de</strong> tratamento foram <strong>de</strong>senhados e construídos para o tratamento <strong>de</strong> efluentes<br />

domésticos e industriais, visando principalmente a <strong>de</strong>composição da matéria orgânica e a remoção<br />

das formas <strong>de</strong> nitrogênio e fósforo pela transformação e absorção direta pelas macrófitas aquáticas<br />

(Cooper & Findlater, 1990).<br />

Na proprieda<strong>de</strong>, o Wetlands é utilizado para tratar o efluente proveniente do banheiro<br />

convencional. Após passar na fossa séptica, o efluente é canalizado para o wetlands.<br />

Já a espiral <strong>de</strong> aguapés é utilizada no tratamento do efluente da pia da cozinha. Após passar pela<br />

caixa <strong>de</strong> gordura, o efluente é canalizado para a espiral <strong>de</strong> aguapés.<br />

O projeto do Wetlands foi feito pela Engenheira Sanitarista Maria Elisa Magri, sendo o<br />

dimensionamento planejado para oito pessoas. A estrutura do tanque ficou pronta ape<strong>nas</strong> neste ano,<br />

1440


porém as macrófitas aquáticas foram plantadas em Agosto <strong>de</strong> 2012. A espécie utilizada foi o<br />

Cypeus papyros, popularmente conhecida como ‖Papiro‖.<br />

O banheiro seco utiliza <strong>de</strong> tecnologia que evita o uso <strong>de</strong> água potável para <strong>de</strong>scartar os<br />

<strong>de</strong>jetos. Os resíduos gerados pelo banheiro são tratados pelo processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sidratação, seguindo a<br />

orientação <strong>de</strong> uma pesquisa <strong>de</strong> doutorado da pesquisadora Maria Elisa Magri do Grupo <strong>de</strong> Estudos<br />

em Saneamento Descentralizado (GESAD) do Departamento <strong>de</strong> Engenharia Sanitária e Ambiental.<br />

Nas visitas realizadas foram percebidos alguns problemas na estrutura do banheiro e nos<br />

sistemas sanitários e conexões utilizadas. Havia água <strong>nas</strong> bombo<strong>nas</strong> <strong>de</strong> armazenamento das fezes,<br />

proporcionada pela infiltração pelas conexões mal vedadas e a entrada <strong>de</strong> água pelo próprio vaso<br />

sanitário segregador, pois a cobertura da estrutura não cobria a área do banheiro por inteira.<br />

As bombo<strong>nas</strong> contendo as fezes <strong>de</strong>vem permanecer lacradas por um período <strong>de</strong> 6 meses a<br />

um ano, afastadas do local <strong>de</strong> circulação dos visitantes.<br />

No Sítio Çarakura, eventualmente parte dos resíduos recicláveis é separada e levada a um<br />

ponto da coleta seletiva municipal, porém normalmente sua <strong>de</strong>stinação fica restrita ao Sítio. Os<br />

resíduos orgânicos são utilizados para tratar os animais que os proprietários criam (vaca, cabras,<br />

jegue, ganso, cães e gato). É importante salientar que não há consumo <strong>de</strong> qualquer tipo <strong>de</strong> carne na<br />

proprieda<strong>de</strong>, então todo o resíduo orgânico é proveniente <strong>de</strong> frutas e verduras. Estes resíduos são<br />

armazenados provisoriamente em um recipiente localizado na cozinha. O que sobra da alimentação<br />

dos animais é utilizado na compostagem.<br />

Em relação aos resíduos recicláveis, há alguns pontos principais on<strong>de</strong> estes são<br />

armazenados. Um <strong>de</strong>les é na cozinha, on<strong>de</strong> alguns resíduos sólidos são <strong>de</strong>ixados provisoriamente<br />

em uma caixa <strong>de</strong> papelão antes <strong>de</strong> serem lavados e, posteriormente, armazenados em uma lixeira<br />

atrás da casa.<br />

Boa parte do que é produzido no sítio é utilizado localmente, como o emprego <strong>de</strong> garrafas<br />

<strong>de</strong> vidro em bioconstruções, além <strong>de</strong> garrafas PET e potes <strong>de</strong> margarina para utilização em mudas, e<br />

PET no uso <strong>de</strong> construções com bambu.<br />

Muito do material que não é utilizado fica armazenado em um <strong>de</strong>pósito aberto na entrada do<br />

sítio. O local foi consi<strong>de</strong>rado pelo grupo como sendo um local <strong>de</strong> risco, já que há a <strong>de</strong>posição <strong>de</strong><br />

ma<strong>de</strong>ira, ferro, entre outros entulhos em que os visitantes, especialmente crianças, po<strong>de</strong>m<br />

eventualmente entrar em contato.<br />

Com o objetivo <strong>de</strong> analisar o consumo <strong>de</strong> energia elétrica na proprieda<strong>de</strong>, foi obtido o<br />

histórico <strong>de</strong> consumo através do site da concessionária <strong>de</strong> energia elétrica, a CELESC. Com os<br />

dados <strong>de</strong> CPF do proprietário e número da unida<strong>de</strong> consumidora, conseguimos dados <strong>de</strong> no máximo<br />

dois anos atrás.<br />

1441


Foi feito um histórico do consumo da proprieda<strong>de</strong> e o levantamento dos equipamentos<br />

eletro-eletrônicos <strong>de</strong> uso na proprieda<strong>de</strong>. Além <strong>de</strong>ste levantamento conversou-se com os moradores<br />

sobre as causas dos picos máximos <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> energia elétrica.<br />

Em relação ao número <strong>de</strong> visitantes do Sítio Çarakura, atualmente não há um controle.<br />

Algumas visitas são registradas, como <strong>de</strong> algumas escolas, porém não há uma quantificação feita a<br />

rigor, <strong>de</strong> forma sistemática. Com base em alguns <strong>de</strong>sses registros, chegou-se a um número<br />

aproximado dos visitantes no ano <strong>de</strong> 2010, <strong>de</strong> 2080 pessoas, e o <strong>de</strong> 2011, <strong>de</strong> aproximadamente<br />

2040. Dentre essas visitas, cerca <strong>de</strong> 70% foram ape<strong>nas</strong> <strong>de</strong> meio período.<br />

É importante que o levantamento e arquivamento do número <strong>de</strong> pessoas que frequentam o<br />

local sejam feito, para posterior estudo <strong>de</strong> impactos e capacida<strong>de</strong> suporte do mesmo. O Sítio possui<br />

uma estrutura limitada para receber os visitantes, e com isso o exce<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> pessoas po<strong>de</strong>ria causar<br />

impactos no local.<br />

Em relação à estrutura física, foi feito o levantamento <strong>de</strong> alguns dados consi<strong>de</strong>rados<br />

importantes no acolhimento dos visitantes como número <strong>de</strong> colchões, camas, banheiros, chuveiros,<br />

entre outros.<br />

MELHORIAS PROPOSTAS PARA O SÍTIO<br />

A fim <strong>de</strong> resolver os problemas na captação <strong>de</strong> água da proprieda<strong>de</strong>, buscou-se materiais<br />

científicos para melhorar este aspecto do diagnóstico. Foram também consultados professores do<br />

Departamento <strong>de</strong> Engenharia Sanitária e Ambiental da UFSC. Estas pesquisas, indicaram duas<br />

propostas para a captação <strong>de</strong> água na proprieda<strong>de</strong>:<br />

Proposta A: 1.1 Fixação da mangueira: Fazer uma forma geométrica parecida com um cubo<br />

com pedras. O cubo seria sustentado, firmado por tela <strong>de</strong> arame, como as utilizadas em galinheiros;<br />

1.2 Mangueiras: as mangueiras ficariam inseridas no interior do cubo, <strong>de</strong> forma que fiquem fixas na<br />

estrutura. Além disso, seriam feitos furos <strong>nas</strong> mangueiras e uma cobertura <strong>de</strong> manta <strong>de</strong> Bidim.<br />

Proposta B: 2.1 Fazer um represamento com pedras, <strong>de</strong> forma a aumentar o nível d‘água; 2.2<br />

Mangueiras: as mangueiras ficariam no meio <strong>de</strong>sta barragem, <strong>de</strong> forma que fiquem fixas na<br />

estrutura. Além disso, seriam feitos furos <strong>nas</strong> mangueiras e uma cobertura <strong>de</strong> manta <strong>de</strong> Bidim;<br />

Sobre o Espiral <strong>de</strong> Aguapés há uma graduanda do curso <strong>de</strong> Ciências Biológicas que está<br />

realizando o Trabalho <strong>de</strong> Conclusão do Curso sobre o funcionamento e manutenção do sistema <strong>de</strong><br />

saneamento. Após a conclusão do trabalho será disponibilizado para o Projeto os dados e análises<br />

realizadas no sistema.<br />

1442


Infelizmente o Wetland até o momento <strong>de</strong> conclusão do diagnóstico não estava em pleno<br />

funcionamento para se obter dados coerentes sobre o tratamento do efluente, pois as macrófitas<br />

aquáticas utilizadas ainda estavam se adaptando ao local.<br />

O banheiro seco estava necessitando <strong>de</strong> modificações estruturais e sanitárias. O diagnóstico<br />

<strong>de</strong>tectou problemas estruturais, em vigas que comprometiam a estrutura do banheiro. Além disso,<br />

observou-se que a forma <strong>de</strong> armazenamento das fezes não estava a<strong>de</strong>quada. Como recomendação<br />

orientou-se que fossem modificadas as vigas <strong>de</strong> sustentação, a cobertura, a impermeabilização do<br />

solo que aloja as bombo<strong>nas</strong>, além da vedação dos sistemas sanitários do banheiro. Durante as<br />

sema<strong>nas</strong> <strong>de</strong> realização do diagnóstico ocorreram muitas mudanças no banheiro seco e a maioria das<br />

recomendações do grupo do Projeto foram seguidas e modificadas. Este foi um gran<strong>de</strong> passo para<br />

melhoria <strong>de</strong>ste sistema.<br />

Além das modificações no próprio banheiro, <strong>de</strong>terminou-se uma área na proprieda<strong>de</strong> que<br />

abrigará as bombo<strong>nas</strong> para ficarem <strong>de</strong> 6 meses a um ano lacradas para que ocorra o tratamento. O<br />

local <strong>de</strong>terminado já possuía o chão <strong>de</strong> cimento, porém estava coberto por mato. Logo, sugeriu-se<br />

que a área fosse limpa, isolada e que fosse construída uma cobertura para impedir a infiltração <strong>de</strong><br />

água <strong>nas</strong> bombo<strong>nas</strong>. O transporte das mesmas a partir do banheiro seco para o local será feito por<br />

um carrinho tipo armazém, <strong>de</strong> duas rodas, que facilitará o <strong>de</strong>slocamento até o local. A proposta foi<br />

bem recebida pelos proprietários, o local foi limpo e isolado, porém ainda não foi possível a<br />

construção da cobertura e a compra do carrinho.<br />

Os resíduos sólidos gerados no sítio são em sua maioria resíduos orgânicos. O sítio não<br />

possui problema em relação à <strong>de</strong>stinação <strong>de</strong>stes resíduos, pois eles são <strong>de</strong>stinados para alimentação<br />

dos animais e compostagem. Quanto aos <strong>de</strong>mais resíduos sólidos gerados no sítio, como<br />

embalagens plásticas, vidros, ma<strong>de</strong>ira, ferros, resíduos do banheiro, entre outros, a <strong>de</strong>stinação final<br />

é variada.<br />

Uma parte dos resíduos é utilizada em bioconstrução (objetos <strong>de</strong> vidro), garrafas PET e<br />

embalagens <strong>de</strong> margarina são usadas para fazer mudas <strong>de</strong> plantas para doação à comunida<strong>de</strong>, uma<br />

pequena parte é <strong>de</strong>stinada para a central <strong>de</strong> resíduos recicláveis do município. Recomenda-se a<br />

construção <strong>de</strong> um local fechado e coberto para triagem e armazenamento provisório dos mesmos,<br />

que será atrás do banheiro seco, próximo à casa, para facilitar o acesso. Além disso, os resíduos<br />

ficariam centralizados em ape<strong>nas</strong> um local, e não espalhado em vários focos.<br />

Há alguns entulhos, como ma<strong>de</strong>iras, ferro e objetos não utilizados, como janelas, ca<strong>de</strong>iras,<br />

etc. que são acomodados na entrada do sítio, gerando problemas estéticos e atraindo animais e<br />

insetos. Recomendou-se, então, o fechamento e cobertura do local a<strong>de</strong>quando-o para um <strong>de</strong>pósito<br />

do material. O material já acumulado <strong>de</strong>verá ser separado e o que estiver em boas condições e com<br />

1443


possível utilida<strong>de</strong> será armazenado neste ambiente a<strong>de</strong>quado, <strong>de</strong> forma organizada. O que não<br />

estiver em bom estado <strong>de</strong>verá ser separado e enviado aos seus <strong>de</strong>stinos corretos, como a coleta<br />

seletiva, ferro-velho ou outros locais que recebam o <strong>de</strong>terminado resíduo sólido.<br />

Os resíduos do banheiro atualmente são queimados no Sítio, porém a queima do lixo libera<br />

alguns gases que po<strong>de</strong>m ser nocivos ao ambiente, principalmente se entre os resíduos houver<br />

plástico <strong>de</strong> embalagens, como <strong>de</strong> absorventes ou sabonetes. Dessa forma, o melhor <strong>de</strong>stino para os<br />

resíduos do banheiro é encaminhar para a coleta municipal, pois o caminhão da coleta passa pela<br />

proprieda<strong>de</strong>.<br />

Outro tipo <strong>de</strong> resíduo presente no sítio eram os eletrônicos. Sobre estes, entramos em<br />

contato com uma ONG que realiza trabalhos sociais com o aproveitamento dos resíduos eletrônicos.<br />

Os resíduos foram <strong>de</strong>vidamente recolhidos, e será utilizado pelos beneficiados do projeto.<br />

Através do acesso ao site da companhia elétrica <strong>de</strong> Florianópolis, a CELESC, obtiveram-se<br />

os dados <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> energia elétrica <strong>de</strong> até dois anos atrás.<br />

A média aritmética do consumo <strong>de</strong> cada mês foi <strong>de</strong> 312,59 kWh. Os meses <strong>de</strong> maior<br />

consumo foram <strong>de</strong> junho a setembro <strong>de</strong> 2011. Estes valores foram apresentados aos proprietários,<br />

para que eles pu<strong>de</strong>ssem justificar a causa do aumento. Nestes meses um membro da família estava<br />

adoecido, então foi necessária a utilização <strong>de</strong> um aquecedor elétrico, pois o inverno na região sul foi<br />

bem rigoroso.<br />

Nos outros meses não houve a utilização do aquecedor, como resultado o consumo da<br />

energia elétrica diminuiu consi<strong>de</strong>ravelmente. Foi realizado o levantamento <strong>de</strong> todos os aparelhos<br />

elétricos da casa. Todas as lâmpadas são fluorescentes e há ape<strong>nas</strong> dois chuveiros elétricos, três<br />

máqui<strong>nas</strong> <strong>de</strong> lavar, ferro <strong>de</strong> passar, entre outros. Em conversa com os moradores constatou-se que o<br />

maior consumo <strong>de</strong> energia elétrica no inverno <strong>de</strong>ve-se ao chuveiro elétrico, pois o sítio recebe<br />

vários visitantes. No entanto, o tempo máximo dos usuários no chuveiro, estipulado pelos<br />

proprietários, é <strong>de</strong> no máximo 5 minutos, medida que economiza energia elétrica e água.<br />

Com isso, vimos que o Sítio Çarakura não possui um consumo <strong>de</strong> energia elétrica excessivo,<br />

mesmo com frequente visitação diária.<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

O diagnóstico no Sítio Çarakura foi importante para melhor conhecimento da proprieda<strong>de</strong> e<br />

<strong>de</strong> alguns pontos críticos das tecnologias sociais ali utilizadas, a fim <strong>de</strong> buscar melhorias e ampliar<br />

o potencial que o local possui para receber visitantes.<br />

Há diversas melhorias que po<strong>de</strong>m ser feitas. Entretanto, medidas iniciais importantes já<br />

foram tomadas e, com isso, o Sítio encontra-se em processo <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quação. O projeto teve como<br />

1444


função principal fornecer um embasamento científico e bibliográfico para a aplicação correta das<br />

tecnologias sociais utilizadas no local, já que a maior parte <strong>de</strong>las era implementada <strong>de</strong> forma<br />

intuitiva, sem uma fundamentação teórica, tendo como consequência tecnologias não a<strong>de</strong>quadas aos<br />

padrões <strong>de</strong> aceitação para visitas no sítio.<br />

Há a intenção do Sítio em receber o título <strong>de</strong> Reserva Particular <strong>de</strong> Patrimônio Natural<br />

(RPPN). Dessa forma, é necessário que as recomendações feitas pelo grupo do projeto sejam<br />

aplicadas e seguidas, o que po<strong>de</strong> ajudar no enquadramento <strong>de</strong> RPPN e também beneficiará a<br />

instituição e potencializará as visitas realizadas pela mesma.<br />

AGRADECIMENTOS<br />

Professor Fernando S. P. Sant‘Anna – Orientador e Coor<strong>de</strong>nador do Projeto;<br />

Richard Smith - Coorientador do Projeto;<br />

Maria Elisa Magri - Doutoranda em Engenharia Sanitária e Ambiental;<br />

Andréa e Percy Ney - Proprietários do Sítio Çarakura, que gentilmente abriram as portas do Sítio<br />

para o estudo;<br />

Núcleo <strong>de</strong> Estudos Ambientais (NEAmb) que recebeu o projeto <strong>de</strong> braços abertos;<br />

Aos membros do NEAmb e do Instituto Çarakura;<br />

Julia Sfredo que gentilmente fornecerá os dados da sua pesquisa para o nosso projeto.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

MARQUES, Joana Lentz. Estudo <strong>de</strong> caso: Diagnóstico do Uso e Manejo <strong>de</strong> Sanitário Compostável<br />

Localizado em Ratones, Florianópolis. 2010. 79 f. Tcc (Graduação) - Departamento <strong>de</strong> ENS, Ufsc,<br />

Florianópolis, 2010.<br />

MAGRI, Maria Elisa et al. II-298 – Avaliação do Processo <strong>de</strong> Desidratação das Fezes Huma<strong>nas</strong><br />

para Implementação <strong>de</strong> Banheiro Seco Segregador. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE<br />

ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL, 26., 2011, Porto Alegre, RS.<br />

Site Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Tecnologia Social. – Tecnologia Social - Conceito. Disponível em:<br />

Acesso em: 30 set. 2012.<br />

ÇARAKURA, Instituto. Histórico. Disponível em:<br />

. Acesso em: 01 out. 2012.<br />

ONU BRASIL. A ONU e a população mundial. Disponível em: .<br />

Acesso em: 08 fev. 2012.<br />

1445


ÇARAKURA, Instituto. Quem Somos. Disponível em:<br />

. Acesso em: 02<br />

fev. 2012.<br />

BRASIL. Lei nº 9.795, <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política<br />

Nacional <strong>de</strong> Educação Ambiental e dá outras providências. Disponível em:<br />

. Acesso em: 08 fev. 2012.<br />

1446


DESAFIOS NA REDEFINIÇÃO DOS LIMITES MUNICIPAIS DE SÃO LUÍS E SÃO JOSÉ DE<br />

Resumo<br />

RIBAMAR / MARANHÃO 164 .<br />

Danillo José Salazar SERRA (Acadêmico - Geografia/UEMA) – djss206@hotmail.com<br />

Rosalva <strong>de</strong> Jesus dos REIS (Docente/UEMA) - rosalvareis@oi.com.br<br />

O presente estudo tem por escopo discutir os aspectos territoriais relacionados à formação das<br />

divisas intermunicipais na Ilha do Maranhão, pontualmente nos municípios <strong>de</strong> São Luís e São José<br />

<strong>de</strong> Ribamar, localizados no Estado do Maranhão. Com o levantamento <strong>de</strong> referencial teóricometodológico<br />

em fontes secundárias <strong>de</strong> dados, buscou-se acarear as in<strong>de</strong>finições das divisas nos<br />

municípios supracitados com a ausência <strong>de</strong> políticas direcionadas às populações que convivem <strong>nas</strong><br />

periferias <strong>de</strong>stes municípios. Com o crescimento urbano <strong>de</strong>stas regiões, as leis que <strong>de</strong>finem as<br />

divisas municipais tornam-se equívocas, pois utilizam parâmetros meramente geodésicos, ou seja,<br />

sem a adoção <strong>de</strong> parâmetros cartográficos. Diante <strong>de</strong>ste cenário, os gestores municipais <strong>de</strong>ixam a<br />

mercê, um recorte significativo da população que habita na penumbra das divisas. Com o censo<br />

<strong>de</strong>mográfico <strong>de</strong> 2010, corroborou-se a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> re<strong>de</strong>finição das divisas intermunicipais e<br />

neste processo surgiu a proposta <strong>de</strong> re<strong>de</strong>finição dos limites municipais do Estado do Maranhão,<br />

elaborada pelo Instituto Maranhense <strong>de</strong> Estudos Socioeconômicos e Cartográficos (IMESC) em<br />

parceria com o Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística (IBGE), ressalta-se a utilização <strong>de</strong><br />

parâmetros cartográficos na elaboração da proposta. Os interesses na re<strong>de</strong>finição das divisas<br />

perpassam várias esferas, todavia alguns <strong>de</strong>safios são latentes.<br />

Palavras-chave: Divisas municipais. Aspectos geodésicos. Re<strong>de</strong>finição.<br />

Abstract<br />

The scope of this study is to discuss aspects related to the formation of territorial limits in inter<br />

island of Maranhão, punctually in the cities of St. Louis and San Jose <strong>de</strong> Ribamar, located in the<br />

State of Maranhão. With a survey of theoretical and methodological secondary sources of data, we<br />

attempted to confront the uncertainties of the currencies in the municipalities with the<br />

aforementioned lack of policies directed to people who live on the outskirts of these cities. With<br />

urban growth of these regions, the laws <strong>de</strong>fining the boundaries municipal become equivocal,<br />

merely because they use geo<strong>de</strong>tic parameters, without the adoption of cartographic parameters.<br />

Given this scenario, populations are left without assistance. With the census of 2010, confirmed the<br />

need for a re<strong>de</strong>finition of limit intercity and this process was proposed the re<strong>de</strong>finition of municipal<br />

bor<strong>de</strong>rs of the State of Maranhão, prepared by the Institute for Socioeconomic Studies and<br />

Cartographic of Maranhão (IMESC) in partnership with the Institute Brazilian Geography and<br />

Statistics (IBGE), using <strong>de</strong> cartographic parameters in the proposal. The interests in re<strong>de</strong>finition are<br />

in various spheres, but the challenges are great.<br />

Keywords: Municipal boundaries. Geo<strong>de</strong>tic aspects. Re<strong>de</strong>finition.<br />

164 Artigo elaborado com a colaboração <strong>de</strong> Wen<strong>de</strong>rson Carlos da Silva Teixeira - Técnico em Geoprocessamento do<br />

Instituto Maranhense <strong>de</strong> Estudos Socioeconômicos e Cartográficos (IMESC).<br />

1447


Introdução<br />

A formação do território maranhense <strong>de</strong>u-se <strong>de</strong> forma gradativa através <strong>de</strong> divisões político-<br />

administrativas que se iniciaram na primeira meta<strong>de</strong> do século XVI, conforme Trovão (2008). A<br />

primeira divisão ocorreu em 1534 quando o Maranhão era uma capitania composta por quatro lotes<br />

que se estendiam dos atuais estados do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte até o Pará. A extinção da capitania em<br />

1621 efetivou o Estado autônomo do Maranhão que compreendia os atuais estados do Ceará e Pará,<br />

correspondia a cerca <strong>de</strong> 50 % do território nacional.<br />

Com a extinção do Estado autônomo, pela carta régia <strong>de</strong> 25 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1652, foram<br />

criadas duas capitanias gerais: Grão Pará e São Luís. Estas foram extintas pela carta régia <strong>de</strong> 25 <strong>de</strong><br />

agosto <strong>de</strong> 1654, que estabeleceu os estados do Maranhão e Grão Pará. O Estado do Maranhão<br />

criado no século XVII e sua divisão política foram se constituindo gradualmente.<br />

À proporção que os municípios maranhenses foram sendo criados, concomitantemente,<br />

foram surgindo os <strong>de</strong>safios na <strong>de</strong>finição e re<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> seus limites. Estes <strong>de</strong>safios tornaram-se<br />

latentes no censo <strong>de</strong>mográfico <strong>de</strong> 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística<br />

(IBGE), on<strong>de</strong> se teve a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> re<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> alguns limites municipais do Estado, para<br />

uma contagem apropriada da população.<br />

Utilizando-se <strong>de</strong> uma parceria com o Instituto Maranhense <strong>de</strong> Estudos Socioeconômicos e<br />

Cartográficos (IMESC), o IBGE retificou alguns limites municipais, dividindo o território<br />

maranhense em setores censitários. Entre os municípios que se situavam em zo<strong>nas</strong> <strong>de</strong> in<strong>de</strong>finição <strong>de</strong><br />

limites, estavam os <strong>de</strong> São Luís (mais populoso do Estado) e São José <strong>de</strong> Ribamar (terceiro mais<br />

populoso do Estado), situados na Ilha do Maranhão, a linha <strong>de</strong> divisa segregava algumas<br />

localida<strong>de</strong>s, como se evi<strong>de</strong>nciará em análises posteriores.<br />

Ressalta-se que o impasse na re<strong>de</strong>finição <strong>de</strong>stes limites contribui para que as populações<br />

situadas nestas áreas fiquem a mercê <strong>de</strong> políticas assistencialistas, recebendo cobranças duais <strong>de</strong><br />

impostos e ficando <strong>de</strong>snorteadas <strong>nas</strong> lutas pelos direitos citadinos.<br />

A priori a pesquisa estruturou-se com o levantamento <strong>de</strong> referencial teórico sobre a<br />

re<strong>de</strong>finição dos limites territoriais da Ilha do Maranhão, realizada em livros, artigos, e sites.<br />

Posteriormente, foram i<strong>de</strong>ntificados os principais bairros limítrofes entre os municípios <strong>de</strong> São Luís<br />

e São José <strong>de</strong> Ribamar, elencando-se os problemas enfrentados pelas populações nestas localida<strong>de</strong>s.<br />

Conclui-se o estudo apresentando a proposta <strong>de</strong> re<strong>de</strong>finição dos limites territoriais do Instituto<br />

Maranhense <strong>de</strong> Estudos Socioeconômicos e Cartográficos (IMESC) adotada no censo <strong>de</strong>mográfico<br />

<strong>de</strong> 2010.<br />

1448


Ilha do Maranhão<br />

Situado no nor<strong>de</strong>ste do Brasil, o Estado do Maranhão limita-se ao norte com o Oceano<br />

Atlântico, oeste com o estado do Pará, sul e su<strong>de</strong>ste com Tocantins e leste com Piauí. Delineia-se<br />

em uma área <strong>de</strong> 331.935,507 km², com uma população <strong>de</strong> 6.574.789 habitantes (IBGE, 2010),<br />

distribuída em 217 municípios. Cerca <strong>de</strong> 20 % da população do Estado situa-se na Ilha do<br />

Maranhão (Mapa 1), localizada ao norte do Estado e composta pelos municípios <strong>de</strong> São Luís<br />

(capital), São José <strong>de</strong> Ribamar, Paço do Lumiar e Raposa.<br />

2º 30’ 00” S<br />

Porto da Vale<br />

do Rio Doce<br />

Baía <strong>de</strong> São Marcos<br />

44º 20’ 00” W 44º 10’ 00” W<br />

OCEANO ATLÂNTICO<br />

2º 40’ 00” S<br />

Rio<br />

Quebra Pote<br />

Tibirí<br />

Formigueiro<br />

Ilha<br />

Tatipá<br />

Porto do Itaquí<br />

Porto da Alumar<br />

Ilha Tauá-Mirim<br />

Estreito<br />

Rio dos Cachorros<br />

dos<br />

Mosquitos<br />

Praia da<br />

Ponta da Areia<br />

Rio Anil<br />

SÃO LUÍS<br />

Rio Bacanga<br />

Praia do<br />

Calhau<br />

Fonte: Fonseca (2004), adaptado por Reis (2005).<br />

Mapa 1- Ilha do Maranhão<br />

BR 135<br />

Praia do<br />

Olho Dágua<br />

Rio Formigueiro/Maracujá<br />

Baía do Arraial<br />

Rio P aciência<br />

Rio S anto A ntônio<br />

RAPOSA<br />

PAÇO DO LUMIAR<br />

Ilha do Curupu<br />

SÃO JOSÉ DE RIBAMAR<br />

Baía <strong>de</strong> São José<br />

As divisões político-administrativas que criaram e <strong>de</strong>smembraram os municípios <strong>de</strong> Paço do<br />

Lumiar, Raposa, São José <strong>de</strong> Ribamar e São Luís contribuíram para a mudança na nomenclatura da<br />

Ilha <strong>de</strong> São Luís para Ilha do Maranhão. Desponta-se nos parágrafos posteriores um breve histórico<br />

Praia do<br />

Araçagi<br />

da evolução político-administrativa dos municípios pertencentes à Ilha do Maranhão.<br />

Arraial<br />

Ma 203<br />

Ma 201<br />

Rio Tijupá<br />

Ponta do Quebra Pote<br />

Ponta do Tereré<br />

Ponta do Arraial<br />

Ponta da Tabaiana<br />

Ponta do Guarapiranga<br />

FONTE: FONTE: FONSÊCA FONSÊCA (2004). (2004). adaptado adaptado por por REIS REIS (2005) (2005)<br />

FIGURA FIGURA 02 02 - - ILHA ILHA DO DO MARANHÃO<br />

MARANHÃO<br />

Limite Intermunicipal<br />

Rodovia Fe<strong>de</strong>ral<br />

Rodovia Estadual<br />

Rodovia Municipal<br />

Se<strong>de</strong> do Município<br />

Povoado<br />

Porção Continental<br />

Porto<br />

0 2,42 km<br />

1449


São Luís<br />

A cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Luís (capital do Estado do Maranhão) foi fundada em 08 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong><br />

1612 pelos franceses Daniel <strong>de</strong> La Touche e François <strong>de</strong> Rasilly, que em homenagem ao Rei da<br />

França, Luís XIII, colocaram o nome da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Luís. Ape<strong>nas</strong> em 1645, após a expulsão <strong>de</strong><br />

franceses e holan<strong>de</strong>ses, iniciou-se <strong>de</strong>finitivamente a colonização portuguesa da antiga Upaon Açú<br />

ou Ilha Gran<strong>de</strong> (<strong>de</strong>nominação Tupinambá para a Ilha <strong>de</strong> São Luís).<br />

O distrito <strong>de</strong> São Luís foi criado ape<strong>nas</strong> em 17 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1896 com a lei municipal n°<br />

17. Em divisões territoriais datadas <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1936 e 31 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1937, o<br />

município aparecia constituído <strong>de</strong> 03 distritos: São Luís, Paço do Lumiar e São José <strong>de</strong> Ribamar.<br />

Com a divisão territorial datada <strong>de</strong> 01 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1950, o município passou a ser<br />

constituído <strong>de</strong> 03 distritos: São Luís, Anil e Ribamar. Através da lei estadual n°758, <strong>de</strong> 24 <strong>de</strong><br />

setembro <strong>de</strong> 1952, ocorreu um <strong>de</strong>smembramento do distrito <strong>de</strong> Ribamar (elevado à categoria <strong>de</strong><br />

município) <strong>de</strong> São Luís. Em 15 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1997, São Luís aparece constituído ape<strong>nas</strong> do distrito<br />

se<strong>de</strong>, sendo extinto o distrito Anil, assim permanecendo em divisão territorial.<br />

De acordo com o IBGE (2010), o município <strong>de</strong> São Luís (Figura 1) possuía 1.014.837<br />

habitantes que se distribuíam em uma área <strong>de</strong> 834.780 km². A <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong>mográfica do município<br />

era <strong>de</strong> 1.215,69 hab/km².<br />

São José <strong>de</strong> Ribamar<br />

Fonte: www.visitesaoluis.com (2012).<br />

Figura 1 - Vista parcial do centro histórico <strong>de</strong> São Luís<br />

O atual município <strong>de</strong> São José <strong>de</strong> Ribamar foi, em tempos primitivos, habitado por índios<br />

conhecidos como ―gamelas‖, localizados <strong>nas</strong> terras dos religiosos da Companhia <strong>de</strong> Jesus,<br />

1450


concedidas por sesmarias e doadas por Francisco Coelho <strong>de</strong> Carvalho, então governador do<br />

Maranhão, em 16 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1627.<br />

Através do alvará <strong>de</strong> 07 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1755, restitui-se aos índios a liberda<strong>de</strong> e terras para a<br />

subsistência <strong>de</strong> 200 casais na localida<strong>de</strong>. Esta medida favoreceu o processo <strong>de</strong> povoamento da<br />

região. Após mais <strong>de</strong> um século, em 1896, a localida<strong>de</strong> possuía 19 casas cobertas <strong>de</strong> telha e outras<br />

<strong>de</strong> palha, em torno da igreja.<br />

O <strong>de</strong>creto-lei estadual n° 820, <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1943, elevou à categoria <strong>de</strong> município<br />

com a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> Ribamar. No entanto, em 1948 foi extinto da categoria <strong>de</strong> município,<br />

tornando-se distrito anexado ao município <strong>de</strong> São Luís.<br />

O município <strong>de</strong> Ribamar <strong>de</strong>smembrou-se <strong>de</strong>finitivamente <strong>de</strong> São Luís em 1952, quando foi<br />

elevado à categoria <strong>de</strong> município novamente, sendo constituído <strong>de</strong> 3 distritos: Ribamar, Mata e<br />

Vila Paço. A toponímia atual foi data pela lei estadual nº 2980, <strong>de</strong> 16 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1969. Em<br />

1979, ocorreu a última divisão administrativa em São José <strong>de</strong> Ribamar, com a extinção do distrito<br />

Vila Paço.<br />

De acordo com o IBGE (2010), o município <strong>de</strong> São José <strong>de</strong> Ribamar (Figura 2) possuía<br />

163.045 habitantes que se espacializam em uma área <strong>de</strong> 388.369 km². A <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> do município<br />

correspondia a 419.82 hab./km².<br />

Paço do Lumiar<br />

Fonte: www.mp.ma.gov.br (2012).<br />

Figura 2- Vista parcial da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São José <strong>de</strong> Ribamar com o santo padroeiro ao centro.<br />

O processo <strong>de</strong> ocupação do atual município <strong>de</strong> Paço do Lumiar iniciou-se em 1625, quando<br />

o jesuíta Luís Figueira recebeu uma légua <strong>de</strong> terras no sítio Anindiba, estas atraíram populações e o<br />

então governador Joaquim <strong>de</strong> Melo e Póvoas, em virtu<strong>de</strong> da Carta Régia <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1761,<br />

elevou as terras à categoria <strong>de</strong> vila, com o nome <strong>de</strong> Paço do Lumiar, <strong>de</strong>vido à semelhança com um<br />

1451


lugar <strong>de</strong> mesmo nome em Portugal 165 . A fim <strong>de</strong> promover a fixação das famílias e o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento da Vila, mandou para o núcleo famílias indíge<strong>nas</strong> e numerosos homens brancos.<br />

Em 1931, o município foi extinto, sendo seu território anexado ao município <strong>de</strong> São Luís,<br />

dois anos após, Paço do Lumiar figurou como distrito do município da capital estadual. Com o<br />

<strong>de</strong>creto-lei estadual nº 159, <strong>de</strong> 06 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1938, o distrito foi extinto, sendo seu território<br />

anexado ao distrito <strong>de</strong> São José <strong>de</strong> Ribamar.<br />

A lei estadual nº 1890 <strong>de</strong> 07 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1959 elevou Paço do Lumiar à categoria <strong>de</strong><br />

município, <strong>de</strong>smembrado <strong>de</strong> Ribamar. A constituição <strong>de</strong> ape<strong>nas</strong> um distrito-se<strong>de</strong> em 1960 foi à<br />

última divisão territorial no município.<br />

De acordo com o IBGE (2010), o município <strong>de</strong> Paço do Lumiar (Figura 03) possuía 105.121<br />

habitantes e uma área territorial <strong>de</strong> 124,753 km². A <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong>mográfica do município<br />

correspondia a 842,63 hab./km²<br />

Raposa<br />

Fonte: COSTA, Denílson (2012).<br />

Figura 3 – Vista parcial <strong>de</strong> um porto em Paço do Lumiar.<br />

O crescimento do povoado <strong>de</strong> Raposa culminou, recentemente, com sua emancipação <strong>de</strong><br />

Paço Lumiar, ganhando o status <strong>de</strong> município 166 . Consi<strong>de</strong>rado a maior colônia <strong>de</strong> pescadores<br />

cearenses no Maranhão, o município <strong>de</strong> Raposa também é conhecido pelos artesanatos e belezas<br />

naturais. A última divisão territorial foi em 1997, quando ficou constituído <strong>de</strong> um distrito-se<strong>de</strong>.<br />

De acordo com o IBGE (2010), Raposa (Figura 4) possuía 26.327 habitantes e uma área<br />

territorial <strong>de</strong> 64,35 km², com uma <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong>mográfica <strong>de</strong> 409,10 hab./km².<br />

165 A <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> Paço do Lumiar foi concedida pela Resolução Régia <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1757 e a elevação à<br />

categoria <strong>de</strong> vila, pela Carta Régia nº 7, em 29 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1835.<br />

166 A Lei Estadual nº 6.132, <strong>de</strong> 10 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1994, elevou o povoado à categoria <strong>de</strong> município e distrito com a<br />

<strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> Raposa, <strong>de</strong>smembrado <strong>de</strong> Paço do Lumiar.<br />

1452


Pressupostos teóricos<br />

Fonte: http://www.facebook.com/equipe.oros ( 2012).<br />

Figura 4- Praia <strong>de</strong> Carimã em Raposa-MA<br />

A formação da Ilha do Maranhão <strong>de</strong>u-se através do <strong>de</strong>smembramento <strong>de</strong> territórios e<br />

concomitante formação dos municípios. Nesta perspectiva, surgiram intervenções espaciais <strong>nas</strong><br />

localida<strong>de</strong>s, com a estruturação, subdivisão, e gestão <strong>de</strong>stes espaços. Torna-se fundamental para a<br />

compreensão <strong>de</strong>sta dinâmica, o conceito <strong>de</strong> território.<br />

De acordo com Costa (1997), o território é formado pela dimensão simbólica e i<strong>de</strong>ntitária<br />

dos grupos que o constitui, ou seja, a formação do território entrelaça-se com a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> das<br />

populações, o grau <strong>de</strong> pertencimento com o lugar e suas relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r.<br />

As divisões territoriais ocorridas na Ilha do Maranhão favorecem a formação da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

territorial da população. Conforme advogam Souza e Pedon (2007), a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> territorial não<br />

existe nem a priori nem a posteriori à constituição do território. Sua constituição resulta <strong>de</strong><br />

permanentes transformações que vão ocorrendo ao longo da história.<br />

A conurbação dos municípios e a in<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> seus limites contribuíram para a formação<br />

<strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> territorial diferenciada, on<strong>de</strong> a população apregoa-se <strong>de</strong>scaber do território legal.<br />

Nestas localida<strong>de</strong>s, são formadas zo<strong>nas</strong> <strong>de</strong> penumbra on<strong>de</strong> o conflito entre os limites territoriais<br />

<strong>de</strong>finidos e a assistência fornecida pelos municípios, quando existe, são díspares, <strong>de</strong>ixando<br />

populações às margens do crescimento econômico.<br />

Maricato (2000) advoga que nestas regiões formam-se espaços duais com características da<br />

cida<strong>de</strong> globalizada do Terceiro Mundo.<br />

Há duas cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> cada cida<strong>de</strong> brasileira: a primeira, uma cida<strong>de</strong> formal, on<strong>de</strong><br />

ocorrem os investimentos públicos, para a qual há planejamento urbano, leis, mercado e<br />

cidadania; e a segunda, uma cida<strong>de</strong> clan<strong>de</strong>stina, às margens <strong>de</strong> quaisquer investimentos que<br />

venham a proporcionar qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida para a população ali resi<strong>de</strong>nte. Esta dualida<strong>de</strong> é<br />

uma característica da cida<strong>de</strong> globalizada do Terceiro Mundo.<br />

A organização <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s com mais <strong>de</strong> 20 mil habitantes <strong>de</strong>ve se nortear pelo Plano Diretor,<br />

como prevê a Constituição Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> 1988, no Capítulo II, parágrafos 182 e 183. Este instrumento<br />

1453


contem normas, diretrizes, objetivos, programas e metas que projetam o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

econômico-social em suas múltiplas esferas. Segundo Diniz (2006) o ―bum‖ no crescimento da<br />

população <strong>nas</strong> áreas <strong>de</strong> divisa na Ilha do Maranhão, <strong>de</strong>u-se com a criação <strong>de</strong> conjuntos<br />

habitacionais.<br />

[...] na <strong>de</strong>finição das diretrizes e proposições com vista ao <strong>de</strong>senvolvimento integral do<br />

município <strong>de</strong> São Luís como um todo, no seu processo <strong>de</strong> expansão urbana, <strong>de</strong>staca-se o<br />

perceptível avanço das frentes urba<strong>nas</strong> do referido município sobre as áreas fronteiriças dos<br />

outros três confundindo-se já inteiramente os limites municipais, com a construção <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong>s conjuntos habitacionais populares, on<strong>de</strong> a população <strong>de</strong> São José <strong>de</strong> Ribamar e<br />

Paço do Lumiar, praticamente, foi duplicada em 1991.<br />

A re<strong>de</strong>finição dos limites territoriais dos municípios maranhenses, utilizando-se <strong>de</strong><br />

instrumentos técnicos e legais, favorece a mitigação <strong>de</strong> problemas político-administrativos e<br />

concomitantemente sociais.<br />

Diante <strong>de</strong>ste panorama, <strong>de</strong>stacar-se-á os entraves da <strong>de</strong>finição das divisas entre os<br />

municípios <strong>de</strong> São Luís e São José <strong>de</strong> Ribamar diante da proposta do Instituto Maranhense <strong>de</strong><br />

Estudos Socioeconômicos e Cartográficos (IMESC).<br />

Divisas territoriais entre São Luís e São José <strong>de</strong> Ribamar<br />

Com base em um levantamento técnico realizado pela empresa Geomap-Geoprocessamento<br />

e Consultoria LTA, em 2005, i<strong>de</strong>ntificou-se que os limites territoriais entre São Luís e São José<br />

Ribamar não estavam sendo oficialmente reconhecidos, ocasionando perdas <strong>de</strong> receitas, arrecadação<br />

<strong>de</strong> impostos e equívocos na contagem populacional, principalmente, para o município <strong>de</strong> São José<br />

<strong>de</strong> Ribamar.<br />

A ausência <strong>de</strong> critérios técnicos na criação e <strong>de</strong>smembramentos dos municípios da Ilha do<br />

Maranhão provocou uma disparida<strong>de</strong> entre a área perimetral do município, segurada por lei, e a<br />

abrangência do po<strong>de</strong>r municipal. Neste cenário, povoados e bairros limítrofes <strong>de</strong>ixavam <strong>de</strong> ser<br />

assistidos e ficavam no insulamento.<br />

Em 2010, o IMESC constatou a ineficácia da utilização da Lei N°758, <strong>de</strong> 24 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong><br />

1952, a qual cria o Município <strong>de</strong> São José <strong>de</strong> Ribamar e a Lei N° 269, <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1948<br />

que <strong>de</strong>screve as divisas do Município <strong>de</strong> São Luís 167 .<br />

Nas especificações da Lei n. 758, <strong>de</strong> 24 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1952, a qual cria o Município <strong>de</strong> São<br />

José <strong>de</strong> Ribamar, a divisa municipal com o Município <strong>de</strong> São Luís:<br />

167 Informações retiradas do Relatório Técnico elaborado pelo Instituto Maranhense <strong>de</strong> Estudos Socioeconômicos e<br />

Cartográficos (IMESC) em 08 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2010.<br />

1454


[...] Começa na foz do Rio Tajipuru; segue pelo veio <strong>de</strong>ste rio à montante até a sua<br />

cabeceira; daí uma reta a Lagoa da Mata e outra até a cabeceira do Rio Amaro, afluente do<br />

Rio Paciência; segue por outra reta a cabeceira do Rio Jaguarema, e por este a jusante até a<br />

foz no Oceano Atlântico [...] (MARANHÃO, 1952).<br />

Nas especificações da Lei n. 269, <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1948, a qual cria o Município <strong>de</strong><br />

São Luís, a divisa municipal com o Município <strong>de</strong> São José <strong>de</strong> Ribamar:<br />

[...] Começa no limite das águas territoriais, ao norte <strong>de</strong>fronte a foz do Rio Jaguarema;<br />

segue a essa foz na costa norte da Ilha <strong>de</strong> São Luís; segue pelo talvegue do Rio Jaguarema à<br />

montante, até a sua cabeceira; daí por um alinhamento reto a cabeceira do Rio Amaro,<br />

afluente do Rio Paciência; daí por um alinhamento reto até a Lagoa da Mata; ainda por<br />

outro alinhamento reto à cabeceira do Rio Tajipuru; segue pelo veio <strong>de</strong>sse rio à jusante, até<br />

a sua foz na Baia do Arraial [...].<br />

Com o crescimento populacional e concomitantemente ocupação das divisas municipais,<br />

constatou-se que as leis supracitadas, por não adotarem parâmetros cartográficos, passaram a ser<br />

obsoletas.<br />

No Quadro 1 estão citadas algumas localida<strong>de</strong>s situadas <strong>nas</strong> divisas da Ilha do Maranhão e<br />

suas respectivas localizações <strong>de</strong> acordo com o mapa político-administrativo do Estado. Ressalta-se<br />

que nesta divisão o Município <strong>de</strong> São José <strong>de</strong> Ribamar, por exemplo, per<strong>de</strong> algumas localida<strong>de</strong>s,<br />

apesar <strong>de</strong> fornecer assistências.<br />

Localida<strong>de</strong> ( Bairros) Localização (Mapa do IBGE)<br />

Cida<strong>de</strong> Olímpica São Luís<br />

Conjunto Parque Farol Paço do Lumiar / São José <strong>de</strong> Ribamar<br />

Invasão Caveira Paço do Lumiar<br />

Invasão Rosa <strong>de</strong> Saron Paço do Lumiar<br />

Lot. Olho <strong>de</strong> Porco Paço do Lumiar / São José <strong>de</strong> Ribamar<br />

Lot. Portal do Cohatrac Paço do Lumiar<br />

Loteamento Vila Fiori Paço do Lumiar<br />

Lot. Világio o Cohatrac V São Luís/ São José <strong>de</strong> Ribamar<br />

Parque Bob Keneddy Paço do Lumiar<br />

Parque Jair Paço do Lumiar<br />

Parque Morada do Sol Paço do Lumiar<br />

Santa Efigênia São Luís<br />

Trizi<strong>de</strong>la <strong>de</strong> Maioba São Luís / São José <strong>de</strong> Ribamar<br />

Vila José Reinaldo Tavares São Luís<br />

Vila Sarney Costa São Luís<br />

Vila Temer São Luís<br />

Fonte: Adaptado do Ministério Público do Estado do Maranhão, 2011.<br />

Quadro 1 – Distribuição <strong>de</strong> localida<strong>de</strong>s em divisas na Ilha do Maranhão.<br />

As populações que habitam na zona <strong>de</strong> conurbação dos municípios supracitados convivem<br />

com falta <strong>de</strong> garantias, infraestrutura e bitributação. Os gestores municipais <strong>de</strong>monstram<br />

insatisfação com a in<strong>de</strong>finição dos limites, principalmente, no que tange a perda <strong>de</strong> recursos do<br />

1455


Fundo <strong>de</strong> Participação dos Municípios (FPM). A Figura 5 retrata uma das realida<strong>de</strong>s nestas<br />

localida<strong>de</strong>s.<br />

Fonte: http://joao<strong>de</strong>ca.blogspot.com.br (2010).<br />

Figura 5 – Ponte no bairro Trizi<strong>de</strong>la da Maioba.<br />

A proposta <strong>de</strong> re<strong>de</strong>finição dos limites (São Luís e São José <strong>de</strong> Ribamar)<br />

Com a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atualização da malha municipal do Estado do Maranhão, o Instituto<br />

Maranhense <strong>de</strong> Estudos Socioeconômicos e Cartográficos (IMESC), autarquia estadual vinculada a<br />

Secretaria do Estado do Planejamento e Orçamento, elaborou o projeto <strong>de</strong> Re<strong>de</strong>finição das Divisas<br />

para Consolidação dos Limites dos Municípios do Estado do Maranhão. Este projeto ampara-se na<br />

Constituição Fe<strong>de</strong>ral, especificamente, em seu artigo 18 § 4°com redação apregoada pela Emenda<br />

Constitucional n° 15/96.<br />

A priori, o IMESC atuou na análise das leis <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> todos os 217 municípios<br />

maranhenses, aproximadamente, 370 leis, constatando equívocos na redação das mesmas.<br />

Posteriormente, dispondo <strong>de</strong> equipamentos <strong>de</strong> cartografia digital e sensoriamento remoto, mapeou<br />

(através <strong>de</strong> avançadas tecnologias na área <strong>de</strong> cartografia digital e técnicas <strong>de</strong> sensoriamento remoto)<br />

cerca <strong>de</strong> 60% do território estadual, propondo novas divisas aos gestores municipais e ao IBGE para<br />

as possíveis correções.<br />

Através da parceria IBGE/IMESC foi possível a elaboração dos setores censitários e<br />

contagem populacional no censo <strong>de</strong>mográfico <strong>de</strong> 2010. O IMESC propôs uma nova linha divisória,<br />

representada na cor vermelha, para os municípios <strong>de</strong> São Luís e São José <strong>de</strong> Ribamar, com base na<br />

Figura 6.<br />

1456


Fonte: Relatório IMESC, 2010.<br />

Figura 6- Recorte da proposta elaborada pelo IMESC.<br />

Observa-se significativas mudanças nos limites estabelecidos no mapa político-<br />

administrativo, linha na cor preta, e a proposta do IMESC. Nesta perspectiva, para que a proposta<br />

seja <strong>de</strong>finitivamente adotada é preciso a apreciação da Assembleia Legislativa do Estado e dos<br />

gestores municipais que sinalizam pela aprovação.<br />

Em geral, as prestadoras <strong>de</strong> serviços nos municípios supracitados já adotam na emissão das<br />

cobranças, os limites estabelecidos na proposta.<br />

Algumas reflexões<br />

Os parâmetros cartográficos utilizados na elaboração da proposta <strong>de</strong> re<strong>de</strong>finição dos limites<br />

municipais, pelo IMESC, fornecem subsídios para que a penumbra da conurbação seja minimizada<br />

e, <strong>de</strong>sta forma favorecer a inclusão <strong>de</strong> um recorte da população que se sente excluída dos<br />

municípios.<br />

A dual cobrança <strong>de</strong> impostos e a ausência <strong>de</strong> investimentos dos gestores municipais <strong>nas</strong><br />

localida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> divisas estão sendo minimizadas com a proposta, porém os recursos do Fundo <strong>de</strong><br />

Participação dos Municípios (FPM), por exemplo, são entraves na ratificação <strong>de</strong> acordos<br />

<strong>de</strong>finitivos. Diante <strong>de</strong>ste cenário, a população anseia por investimentos públicos e privados em seus<br />

territórios ou lugares repudiados.<br />

1457


A utilização <strong>de</strong> parâmetros meramente geodésicos na <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> limites torna-se algo<br />

efêmero e impreciso. Nesta perspectiva, os limites estabelecidos em lei entre os municípios <strong>de</strong> São<br />

Luís e São José <strong>de</strong> Ribamar necessitam <strong>de</strong> atualização através da inclusão <strong>de</strong> parâmetros<br />

cartográficos vigentes, afinal no centro das in<strong>de</strong>finições coexiste uma população <strong>de</strong>sassistida.<br />

Referências<br />

COSTA, Rogério Haesbaert. Des-territorialização e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>: a re<strong>de</strong> “gaúcha” no nor<strong>de</strong>ste.<br />

Niterói: EDUF, 1997.<br />

DINIZ, Juarez Soares. As condições e contrastes no espaço urbano <strong>de</strong> São Luís: traços periféricos.<br />

Artigo científico. São Luís: CCH/UFMA, 2006.<br />

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo <strong>de</strong>mográfico <strong>de</strong> 2010. Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro: IBGE, 2010. Disponível em: . Acesso em: 9 ago. 2012.<br />

INSTITUTO MARANHENSE DE ESTUDOS SOCIOECONÔMICOS E CARTOGRÁFICOS.<br />

limites territoriais da Ilha do Maranhão. São Luís, 2010. Disponível em: .<br />

Acesso em: 10 ago. 2012.<br />

MARANHÃO. Lei n. 269, <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1948. Cria o Município <strong>de</strong> São Luís, a divisa<br />

municipal com o Município <strong>de</strong> São José <strong>de</strong> Ribamar. São Luís, 1948.<br />

MARANHÃO. Lei n. 758, <strong>de</strong> 24 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1952. Cria o Município <strong>de</strong> São José <strong>de</strong> Ribamar, a<br />

divisa municipal com o município <strong>de</strong> São Luís. São Luís, 1952.<br />

MARICATO, H. ―As i<strong>de</strong>ias fora do lugar e o lugar fora das i<strong>de</strong>ias‖. In: ______. A cida<strong>de</strong> do<br />

pensamento único. Petrópolis: Vozes, 2000.<br />

REIS, R. J. Costa su<strong>de</strong>ste <strong>de</strong> São Luís-MA: análise e proposta para gestão ambiental. 2005.<br />

Dissertação (Mestrado em Gestão e Políticas Ambientais) – Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Pernambuco,<br />

Pernambuco, 2005.<br />

SOUZA, Edivaldo Aparecido; PEDON, Nelson Rodrigo. Revista Eletrônica da Associação dos<br />

Geógrafos Brasileiros, v. 1, n. 6, ano 4, nov. 2007.<br />

TROVÃO, José <strong>de</strong> Ribamar. O processo <strong>de</strong> ocupação do território maranhense. São Luís: IMESC,<br />

2008.<br />

1458


QUALIDADE DE VIDA E SENSIBILIZAÇÃO AMBIENTAL ATRAVÉS DOS ESPORTES DE<br />

RESUMO<br />

AVENTURA: UMA INTERAÇÃO HOMEM, ANIMAL E NATUREZA<br />

Vanessa da Silva SANTOS (CCA/UFPB) - vanessa_ufpb@hotmail.com<br />

Bruno Ferreira da SILVA (CCA/UFPB) - brunoufpb10.1@gmail.com<br />

Lidiane Alves SOARES (CCA/UFPB) - lidiane_alves16@hotmail.com<br />

Thiago Siqueira Paiva <strong>de</strong> SOUZA (CCA/UFPB) - thiago@cca.ufpb.br<br />

Po<strong>de</strong>-se afirmar que uma das modalida<strong>de</strong>s praticadas no lazer que mais tem crescido <strong>nas</strong> últimas<br />

décadas é o esporte <strong>de</strong> aventura. Tornando-se assim, um dos meios <strong>de</strong> promoção <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

vida. Essa busca por emoções po<strong>de</strong> representar uma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reaproximação com o<br />

ambiente natural, pelo contado com: a flora, fauna, amplitu<strong>de</strong>s, altura, água e outros, gerando assim<br />

uma sensibilização com o cuidado com esse ambiente. O presente trabalho tem por finalida<strong>de</strong>,<br />

enriquecer e discutir qual é o embasamento técnico-cientifico acerca dos esportes <strong>de</strong> aventura e a<br />

interação homem-animal-natureza, e <strong>de</strong>ssa forma, contribuir com o <strong>de</strong>senvolvimento, lazer e<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida. Trata-se <strong>de</strong> um relato <strong>de</strong> experiência da ativida<strong>de</strong> extensionista curricular:<br />

Esportes em uma interação: homem, animal e natureza. Ativida<strong>de</strong> esta oferecida pela Universida<strong>de</strong><br />

Fe<strong>de</strong>ral da Paraíba – Centro <strong>de</strong> Ciências Agrária – Areia-PB.<br />

Palavras-chaves: Esportes <strong>de</strong> aventura, qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, sensibilização ambiental<br />

ABSTRACT<br />

It can be argued that one of the methods practiced in leisure that has grown the most in recent<br />

<strong>de</strong>ca<strong>de</strong>s is the adventure sport becoming thus a means of promoting quality of life. This search for<br />

emotions may represent a possible rapprochement with the natural environment, by contact with:<br />

the flora, fauna, amplitu<strong>de</strong>, time, water and others, thus creating an awareness with the care of this<br />

environment. The present study aims to enrich and discuss what is the technical-scientific about<br />

adventure sports and the human-animal-nature, and thus contribute to the <strong>de</strong>velopment, leisure and<br />

quality of life. This is an experience report extensionist curricular activity: Sports in an interaction:<br />

man, animal and nature. This activity offered by the Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Paraíba – Centro <strong>de</strong><br />

Ciências Agrárias - Areia-PB.<br />

1459


INTRODUÇÃO<br />

Po<strong>de</strong>mos afirmar que a busca por <strong>de</strong>senvolvimento tem sido uma constante na história da<br />

humanida<strong>de</strong>. O ser humano sempre buscou aprimorar o meio que o cerca para aten<strong>de</strong>r seus<br />

objetivos, sejam estes individuais ou coletivos. A verda<strong>de</strong> é que nessa busca, o homem nem sempre<br />

encontrou tal aprimoramento. Conforme Cardoso (2002, p.29) o crescimento econômico, da<br />

maneira como ocorre atualmente, interfere negativamente sobre o meio ambiente e, <strong>de</strong>vido a isto, é<br />

necessário repensar quer os fins quer os meios do <strong>de</strong>senvolvimento. Para além do meio ambiente,<br />

acreditamos que o atual mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento vem provocando consequências negativas<br />

também na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida populacional. Diante disto, é necessário compreen<strong>de</strong>r melhor o que é<br />

<strong>de</strong>senvolvimento.<br />

O termo ―<strong>de</strong>senvolver‖, <strong>de</strong> acordo com o dicionário Michaelis, significa ―tirar do invólucro,<br />

<strong>de</strong>scobrir o que estava envolvido; melhorar, aperfeiçoar, fazer progredir‖, ou seja, po<strong>de</strong>-se enten<strong>de</strong>r<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento como processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scoberta da realida<strong>de</strong>, levantando informações acerca da<br />

realida<strong>de</strong>, potenciais e dificulda<strong>de</strong>s, para posterior tomada <strong>de</strong> medidas on<strong>de</strong> ocorra aperfeiçoamento<br />

e progresso do que se preten<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver. Boisier (1996, p. 26-33) contribui para esse <strong>de</strong>bate<br />

quando coloca que construir socialmente uma região significa potencializar sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> auto-<br />

organização, transformando uma socieda<strong>de</strong> inanimada, segmentadas por interesse setoriais, pouco<br />

perceptivas <strong>de</strong> sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> territorial e, em <strong>de</strong>finitivo, passiva, em outra, organizada, coesa,<br />

consciente da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> socieda<strong>de</strong>-região, capaz <strong>de</strong> transformar-se em sujeito <strong>de</strong> seu próprio<br />

<strong>de</strong>senvolvimento.<br />

Para tanto, é necessário uma mudança cultural muito gran<strong>de</strong>, um processo educacional<br />

intenso e efetivo, valorizar a vantagem coletiva em <strong>de</strong>trimento da pessoal, sem esquecer, no entanto,<br />

dos grupos minoritários, preservando a cultura local e regional (MÜLLER, 2002). Nesse sentido, <strong>de</strong><br />

um <strong>de</strong>senvolvimento amplo, sustentável, que se posiciona além do mero crescimento econômico,<br />

que consi<strong>de</strong>ramos a relação do lazer com o <strong>de</strong>senvolvimento regional, pois, conforme Müller<br />

(2002) não há como haver <strong>de</strong>senvolvimento se a dimensão humana do <strong>de</strong>scanso, do divertimento e<br />

do <strong>de</strong>senvolvimento pessoal e social, que são funções do lazer, não atingir a cada um dos atores<br />

sociais.<br />

Queremos <strong>de</strong>ixar claro que enten<strong>de</strong>mos o lazer, em conformida<strong>de</strong> com Marcellino (2002),<br />

como cultura, compreendida em seu sentido mais amplo, vivenciada no tempo disponível, com suas<br />

especificida<strong>de</strong>s, inclusive, enquanto política pública, mas não po<strong>de</strong> ser tratado <strong>de</strong> forma isolada <strong>de</strong><br />

outras questões sociais. Segundo Müller (2002), citando Dumazedier (1980) e Camargo (1986), o<br />

lazer po<strong>de</strong> ser classificado em seis conteúdos culturais quais sejam: social, turístico, artístico, físico-<br />

1460


<strong>de</strong>sportivo, intelectual e manual. Po<strong>de</strong>-se afirmar que uma das modalida<strong>de</strong>s praticadas no lazer que<br />

mais tem crescido <strong>nas</strong> últimas décadas é o esporte <strong>de</strong> aventura. A palavra aventura <strong>de</strong>riva do latim<br />

adventura, quer dizer o que está por vir, com o sentido <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconhecido, imprevisível. Disto, po<strong>de</strong>-<br />

se relatar que os esportes <strong>de</strong> aventura aproximam-se do sentimento <strong>de</strong> buscar algo que não é<br />

tangível num primeiro momento, o que é muito comum aos praticantes <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s físicas na<br />

natureza (PEREIRA e ARMBRUST, 2010).<br />

De acordo com Pereira et al (2004), as ativida<strong>de</strong>s físicas na natureza obtiveram um<br />

crescimento no número <strong>de</strong> praticantes em todas as faixas etárias, pelos mais diversos motivos.<br />

Conforme o mesmo autor os adultos têm procurado para sair da rotina e combater o estresse, os<br />

jovens têm o intuito <strong>de</strong> buscar ativida<strong>de</strong>s que proporcionem a liberação <strong>de</strong> adrenalina; e as crianças<br />

para fugir da monotonia e po<strong>de</strong>r experimentar espaços mais amplos. Além <strong>de</strong>stes, po<strong>de</strong>mos<br />

mencionar os idosos cujo principal impulsionador acredita-se ser a busca por qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e<br />

longevida<strong>de</strong>. Bruhns (2003) coloca que essa busca por emoções, po<strong>de</strong> representar uma possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> reaproximação com os estados <strong>de</strong> surpresa, medo e repugnância constituídos num ambiente<br />

natural (pelo contato com a flora, fauna, amplitu<strong>de</strong>s, altura, água e outros) ao qual o acesso era<br />

limitado. Além disso, acrescenta-se a reaproximação com a cultura e a história <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada<br />

cida<strong>de</strong> e/ou microrregião quando se entram em contato com monumentos e marcos histórico-<br />

culturais acompanhados <strong>de</strong> uma rica orientação.<br />

Essa explosão dos esportes <strong>de</strong> aventura proporcionou um aumento do número <strong>de</strong> turistas,<br />

principalmente em ambientes naturais. Esse avanço turístico permite aos economistas ampliar o<br />

crescimento das taxas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento das diferentes regiões. Nesse contexto, o turismo é<br />

tomado como ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> forte apelo econômico. Quanto mais cresce, mais cria necessida<strong>de</strong>s:<br />

hotéis, restaurantes, etc., gerando um espiral <strong>de</strong> bens e serviços, empregando mais mão-<strong>de</strong>-obra<br />

(SOUZA, 2000).<br />

O presente trabalho fora produto <strong>de</strong> uma Ativida<strong>de</strong> Extentensionista Curricular, intitulada<br />

por: ―Esportes em uma interação homem, animal e natureza‖. Ativida<strong>de</strong> esta, oferecida pela<br />

instituição superior, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Paraíba – Centro <strong>de</strong> Ciências Agrárias – Campus II –<br />

Areia –PB.<br />

Reconhecendo o potencial existente no município <strong>de</strong> Areia/PB para a prática <strong>de</strong> esportes <strong>de</strong><br />

aventura, <strong>de</strong> maneira geral, preten<strong>de</strong>u-se fornecer um embasamento técnico-científico acerca dos<br />

esportes <strong>de</strong> aventura e a interação homem – animal - natureza, para posterior atuação na promoção<br />

<strong>de</strong>ssa variante esportiva e, <strong>de</strong>ssa forma, contribuir com o <strong>de</strong>senvolvimento, lazer e qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

vida no município.<br />

1461


De modo específico buscou-se contribuir na formação estudantil on<strong>de</strong> estes compreendam e<br />

valorizem as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aventura na natureza e com animais e a importância <strong>de</strong>stes para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento, o lazer e a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida; organizar, mapear e divulgar áreas próprias para<br />

treinos <strong>de</strong> esportes <strong>de</strong> aventura, bem como analisar e gerenciar o risco nesses locais; promover os<br />

esportes <strong>de</strong> aventura local; promover cursos e ofici<strong>nas</strong> <strong>de</strong> iniciação e atualização em modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

esportes <strong>de</strong> aventura; organizar eventos <strong>de</strong>ssa variante esportiva em nível local; incentivar a<br />

formação <strong>de</strong> grupos e equipes <strong>de</strong> aventura para participarem <strong>de</strong> competições em outras localida<strong>de</strong>s e<br />

em nível estadual; contribuir com o <strong>de</strong>bate científico acerca da temática, por meio <strong>de</strong> publicações<br />

em eventos e/ou revistas.<br />

METODOLOGIA<br />

Este estudo consiste em um relato <strong>de</strong> experiência vivenciado no âmbito do Campus II da<br />

UFPB. Para nortear a nossa metodologia das ativida<strong>de</strong>s, foi utilizada algumas questões básicas<br />

propostas por Zingoni (2002). Nesse sentido, uma política <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável por meio<br />

do lazer <strong>de</strong>ve atentar-se às potencialida<strong>de</strong>s e limites do meio ambiente; a um mercado orientado<br />

para a universalização do acesso; às potencialida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> emprego; à a<strong>de</strong>quação das políticas <strong>de</strong> lazer<br />

às condições <strong>de</strong> vida específicas da população; e aos valores <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong>, cooperação e<br />

associativismo.<br />

Nesse intuito, a primeira parte <strong>de</strong>ssa Ativida<strong>de</strong> Extensionista Curricular teve como<br />

priorida<strong>de</strong> dar embasamento teórico aos estudantes matriculados. Para isso, foram realizadas<br />

ofici<strong>nas</strong> e palestras, no qual foi ministrados os temas: Introdução aos esportes <strong>de</strong> aventura;<br />

Fundamentos científicos dos esportes <strong>de</strong> aventura; Desenvolvimento, lazer e qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida;<br />

Ativida<strong>de</strong>s físicas na natureza e com animais; gerenciamento <strong>de</strong> risco em esportes <strong>de</strong> aventura;<br />

análise <strong>de</strong> impacto ambiental.<br />

Após, a <strong>de</strong>finição das áreas e locais <strong>de</strong> práticas <strong>de</strong> esportes <strong>de</strong> aventura. Esta ação teve por<br />

finalida<strong>de</strong> facilitar o encontro <strong>de</strong> pessoas praticante das modalida<strong>de</strong>s, estimulando a troca <strong>de</strong><br />

informações e a formação <strong>de</strong> grupos. No intuito <strong>de</strong> preservar os espaços que foram utilizados pelo<br />

projeto, utilizamos uma ficha <strong>de</strong> campo proposta por Souza e Martos (2008). Para a obtenção <strong>de</strong><br />

dados sobre o grau <strong>de</strong> impacto ambiental nos pontos selecionados aleatoriamente, a ficha <strong>de</strong> campo<br />

buscou analisar parâmetros biofísicos e antrópicos, adaptada <strong>de</strong> Magro (1999), <strong>de</strong> cada ponto<br />

analisado, sendo utilizado como parâmetro uma classificação <strong>de</strong> 0 a 3, na qual o 0 correspon<strong>de</strong> à<br />

ausência <strong>de</strong> impacto, 1 baixo impacto, 2 impacto mo<strong>de</strong>rado e 3 alto impacto. Os indicadores a<br />

serem utilizados foram: raízes expostas, presença <strong>de</strong> espécies exóticas, indícios <strong>de</strong> fogo, árvores e<br />

1462


arbustos com galhos quebrados, área <strong>de</strong> solo nu, área <strong>de</strong> vegetação <strong>de</strong>gradada, serrapilheira, erosão,<br />

vandalismo em estruturas, inscrições em rochas, árvores com danos/inscrições, lixo, presença <strong>de</strong><br />

construções ou edificações, presença <strong>de</strong> árvores com bromélias e orquí<strong>de</strong>as.<br />

Realizada a etapa inicial, proce<strong>de</strong>mos com a divulgação e realização <strong>de</strong> ofici<strong>nas</strong> <strong>de</strong> iniciação<br />

em cada modalida<strong>de</strong> com a comunida<strong>de</strong>. Em comum, essas ofici<strong>nas</strong> tiveram o histórico da<br />

modalida<strong>de</strong>, conhecimento e manuseio dos equipamentos para a prática e regras. Antes <strong>de</strong><br />

proce<strong>de</strong>rmos com o início do treinamento, será proposto aos participantes a realizarem uma<br />

avaliação física e <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, no qual analisamos alguns componentes da aptidão física,<br />

tais como força, resistência, flexibilida<strong>de</strong>; composição corporal; respostas fisiológicas agudas e<br />

crônicas; e níveis <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<br />

Durante todo período <strong>de</strong> treinamento foram organizados alguns cursos <strong>de</strong> atualizações,<br />

oportunizando o aprofundamento e conhecimento <strong>de</strong> novas técnicas <strong>de</strong> cada modalida<strong>de</strong>. E foram<br />

realizadas, também, novas avaliações físicas e <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<br />

E ao final do projeto, realizou-se um evento <strong>de</strong> esportes <strong>de</strong> aventura, que teve por objetivo<br />

estimular mais os que praticaram ao longo do projeto, assim como divulgar para o município essa<br />

variante esportiva, promovendo a prática da mesma.<br />

RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

As ativida<strong>de</strong>s do projeto ocorreram em todo o território municipal <strong>de</strong> Areia, tendo como<br />

praticantes <strong>de</strong>s<strong>de</strong> crianças até idosos, qualquer interessado que gozasse <strong>de</strong> relativa saú<strong>de</strong> po<strong>de</strong><br />

participar. Ao final do projeto, tivemos mais <strong>de</strong> 500 pessoas atendidas, seja <strong>nas</strong> ofici<strong>nas</strong> <strong>de</strong><br />

iniciação, palestras <strong>de</strong> apresentação e divulgação <strong>de</strong> modalida<strong>de</strong>s e competições. Visto que, as<br />

modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aventura possuem forte apelo turístico e, conforme as palavras <strong>de</strong> Souza (2000),<br />

quanto mais crescem o turismo, mais cria novas necessida<strong>de</strong>s. Como hotéis, estradas,<br />

comunicações, entretenimento, o que gera uma gama <strong>de</strong> bens e serviços, proporcionando um<br />

incremento na mão-<strong>de</strong>-obra contratada. Dessa maneira acreditamos que inserindo esses esportes <strong>de</strong><br />

aventura contribuímos com o <strong>de</strong>senvolvimento local, beneficiando, indiretamente, milhares <strong>de</strong><br />

areienses.<br />

Po<strong>de</strong>mos colocar a integração acadêmica, pois os estudantes pu<strong>de</strong>ram não somente vivenciar<br />

ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sportivas como o Canicross e o Slackline, como também coletaram dados clínicos dos<br />

cães envolvidos para futuras publicações e analisaram os impactos da prática do Slackline na<br />

vegetação. Outro bom resultado foi a interdisciplinarida<strong>de</strong>, principalmente entre as áreas da<br />

1463


Educação Física, Ciências Biológicas, Zootecnia, Medicina Veterinária e Agronomia. Além <strong>de</strong>sses<br />

houve a difusão <strong>de</strong>sses esportes para a comunida<strong>de</strong> areiense.<br />

A Ativida<strong>de</strong> Extensionista Curricular tratada nesse trabalho proporcionou a organização <strong>de</strong><br />

cursos e ofici<strong>nas</strong> <strong>de</strong> iniciação nos esportes <strong>de</strong> orientação, Slackline e Canicross; palestra no III<br />

Semana <strong>de</strong> Medicina Veterinária organizada no CCA/UFPB sobre esportes com animais; e<br />

preparação <strong>de</strong> estudos e eventos <strong>nas</strong> áreas centrais <strong>de</strong>ssa extensão.<br />

Dentre as principais mudanças ocorridas, po<strong>de</strong>mos mencionar:<br />

- Conhecimento da população acerca <strong>de</strong> esportes <strong>de</strong> aventura;<br />

- População <strong>de</strong> esportes antes <strong>de</strong>sconhecidos;<br />

- Valorização do respeito ao meio ambiente;<br />

- Reconhecimento externo da potencialida<strong>de</strong> do município areiense para a prática <strong>de</strong><br />

esportes <strong>de</strong> aventura;<br />

- Estimulo à prática <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> física.<br />

CONCLUSÃO<br />

Após a realização das ativida<strong>de</strong>s previstas e avaliação por parte da equipe <strong>de</strong> execução e<br />

público atendido, po<strong>de</strong>mos concluir que:<br />

Os esportes <strong>de</strong> aventura são um excelente precursor, para a melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida;<br />

As práticas <strong>de</strong> esportes <strong>de</strong> aventura contribuíram para a difusão <strong>de</strong> uma sensibilização<br />

ambiental e respeito ao meio ambiente;<br />

Os estímulos à prática <strong>de</strong> esportes <strong>de</strong> aventuras <strong>de</strong>vem ocorrer cada vez mais na região, visto<br />

o potencial existente no município;<br />

A organização <strong>de</strong> eventos competitivos é uma excelente ferramenta <strong>de</strong> divulgação das<br />

modalida<strong>de</strong>s e estímulo a continuida<strong>de</strong> da prática.<br />

REFERÊNCIAS<br />

ASSIS, M L. Meio Ambiente e esportes <strong>de</strong> aventura: uma perspectiva profissionalizante para o<br />

ecoturismo em Areia/PB. 2008. 67f. Monografia (Curso <strong>de</strong> Pós-graduação em nível <strong>de</strong><br />

especialização) – Curso <strong>de</strong> especialização em Educação profissional integrada à educação básica na<br />

modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> jovens e adultos, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Paraíba, Bananeiras.<br />

BOISIER, Sérgio. Mo<strong>de</strong>rnidad y território. Santiago Del Chile: ILPES. Cua<strong>de</strong>rnos Del Instituto<br />

Latinoamericano y Caribe <strong>de</strong> Planificacion Econômica y Social, n.42. 1996.<br />

1464


BRUHNS, Heloisa Turini. No ritmo da Aventura: explorando sensações e emoções. In:<br />

MARINHO, Alcyane; BRUHNS, Heloísa T.(orgs). Turismo, Lazer e Natureza. Barueri: Manole,<br />

2003.<br />

CARDOSO, Antônio María Ferreira. Turismo, ambiente e <strong>de</strong>senvolvimento sustentável em áreas<br />

rurais. Observatório Medioambiental, v.5, p. 21-45. 2002.<br />

MARCELLINO, Nelson Carvalho. Lazer como fator e indicador <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento regional. In:<br />

MÜLLER, A<strong>de</strong>mir; DACOSTA, Lamartine Pereira. Lazer e <strong>de</strong>senvolvimento regional. Santa Cruz<br />

do Sul: EDUNISC, 2002.<br />

MÜLLER, A<strong>de</strong>mir. Lazer, <strong>de</strong>senvolvimento regional: como po<strong>de</strong> <strong>nas</strong>cer e se <strong>de</strong>senvolver uma<br />

idéia. In: MÜLLER, A<strong>de</strong>mir; DACOSTA, Lamartine Pereira. Lazer e <strong>de</strong>senvolvimento regional.<br />

Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2002.<br />

PEREIRA, Dimitri Wuo; ARMBRUST, Igor. Pedagogia da aventura: os esportes radicais, <strong>de</strong><br />

aventura e <strong>de</strong> ação na escola. 1ª edição.Jundiaí: Fontoura, 2010.<br />

SOUZA, M <strong>de</strong>. Caracterização e evolução das ocupações das pessoas e das famílias agrícolas e<br />

rurais no contexto paranaense. In: CAMPANHOLA, C.; SILVA, J. G. da (Org.). O novo rural<br />

brasileiro: uma análise estadual - Sul, Su<strong>de</strong>ste e Centro-Oeste. Jaguariúna: Embrapa, 2000, p. 81 –<br />

115.<br />

SOUZA, T S P; CORDEIRO, J L T; CANDIDO, M L A; ABRÃAO, P C; SANTOS NETO, J F.<br />

Esportes <strong>de</strong> aventura: uma opção <strong>de</strong> lazer e Desenvolvimento para o município <strong>de</strong> Areia - PB.<br />

Boletim FIEP, v., n.. 2011.<br />

1465


PERCEPÇÃO ENTOMOLÓGICA POR DISCENTES DO 8º e 9º ANO NA REDE PÚBLICA NO<br />

Resumo<br />

MUNICÍPIO DE AREIA – PB<br />

Wyara Jéssica D. COSTA (DCB/UFPB) – wyarajessica@hotmail.com<br />

Mileny dos Santos<strong>de</strong> SOUZA (DFCA/UFPB) –mileny.lopes67@hotmail.com<br />

Hallan Emannuel G. da SILVA (EEMJAA/PB) – hg.silv@yahoo.com.br<br />

Carlos H. <strong>de</strong> BRITO (DCB/UFPB) – carlos@cca.ufpb.br<br />

Os insetos são os seres que se encontram em maior abundância e com diversas funções no planeta<br />

sendo ape<strong>nas</strong> 10% que prejudica o homem, no entanto, existe ainda uma visão negativa em relação<br />

ao mundo dos insetos. A presente pesquisa analisou a percepção entomológica dos discentes quanto<br />

ao conhecimento que possuem sobre os insetos na Escola Estadual Ministro José Américo <strong>de</strong><br />

Almeida na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Areia - PB. O estudo foi realizado através <strong>de</strong> questionários não estruturados<br />

composto por quatro questões para 37 e 35 discentes <strong>nas</strong> séries <strong>de</strong> 8º e 9º ano, respectivamente<br />

totalizando 72 discentes. Quando indagado à <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> insetos ape<strong>nas</strong> 44% dos discentes <strong>de</strong>finiu<br />

o termo ―inseto‖ <strong>de</strong> maneira correta. Ao analisar os questionários, constatou-se que 84,61% dos<br />

discentes classificaram <strong>de</strong> maneira correta os organismos pertencentes à classe insecta, e os <strong>de</strong>mais<br />

indivíduos ―insetos‖ eram <strong>de</strong> outras categorias taxonômicas amphibia, arachnida, chilopoda,<br />

gastropoda, hirudínea, mammalia, oligochaeta e reptilia. Quando os discentes foram perguntados<br />

sobre a sua reação ao observar um inseto, 30% dos respon<strong>de</strong>ram que os matam. Já para a<br />

importância dos insetos no meio ambiente, 40% relataram que os insetos são importantes, uma vez<br />

que, fazem parte da ca<strong>de</strong>ia trófica na manutenção dos ecossistemas na natureza. Essa visão po<strong>de</strong> ser<br />

explicada pela hipótese da ambivalência entomoprojetiva, on<strong>de</strong> os seres humanos ten<strong>de</strong>m a projetar<br />

sentimentos <strong>de</strong> nocivida<strong>de</strong>, periculosida<strong>de</strong>, irritabilida<strong>de</strong>, repugnância e menosprezo aos animais<br />

<strong>de</strong>terminados culturalmente como "insetos" e classificá-los em uma mesma categoria. Nesse<br />

sentido, os discentes ainda tem pouco conhecimento sobre os aspectos positivo dos insetos sendo<br />

necessário que os docentes busquem formas para transmitir o tema.<br />

Palavras-chave: Discentes; Etnoentomologia; Insetos; Meio ambiente.<br />

1466


Abstract<br />

Insects are the most abundant beings found and with several functions on the planet, only 10% of<br />

them could harm men, however, there is still a negative view regarding the world of insects. The<br />

present study analyzed the entomological perception of stu<strong>de</strong>nts regarding their knowledge about<br />

insects at the Ministro José Américo <strong>de</strong> Almeida State School, in Areia city - PB. The study was<br />

carried out through unstructured questionnaires composed by four questions for 37 and 35 stu<strong>de</strong>nts<br />

in 8 th and 9 th gra<strong>de</strong>, respectively, totaling 72 stu<strong>de</strong>nts. When asked to <strong>de</strong>fine what an insect is, only<br />

44% of the stu<strong>de</strong>nts <strong>de</strong>fined the term "insect" correctly. Analyzing the questionnaires, it was noticed<br />

that 84.61% of the stu<strong>de</strong>nts classified in a correct way the organisms which belong to the class<br />

insecta, and other individuals "insects" were from other taxonomic categories amphibia, arachnida,<br />

chilopoda, gastropoda, hirudínea, mammalia, oligochaeta and reptilia. When stu<strong>de</strong>nts were asked<br />

about their reaction when watching an insect, 30% of the respon<strong>de</strong>nts said that use to kill them.<br />

About the importance of insects for the environment, 40% have said that the insects are important,<br />

since they are part of the trophic chain in keeping the ecosystems in nature. This view may be<br />

explained by the hypothesis of entomoprojective ambivalence, where humans tend to project<br />

feelings of harmfulness, dangerousness, irritability, loathing and contempt to animals culturally<br />

<strong>de</strong>termined as "insects" and classify them in the same category. This way, the stu<strong>de</strong>nts still have<br />

little knowledge about the positive aspects of the insects, being necessary that teachers find ways<br />

how to convey the theme.<br />

Key words: Stu<strong>de</strong>nts, Etnoentomology, insects, environment.<br />

Introdução<br />

A classe insecta <strong>de</strong>staca-se pela sua abundância na natureza, cujo sucesso atribui-se a<br />

presença <strong>de</strong> um exoesqueleto que tem por finalida<strong>de</strong> proteger os órgãos internos e a presença <strong>de</strong><br />

asas funcionais que facilita aos insetos: a dispersão, a fuga dos inimigos naturais e a captura <strong>de</strong><br />

alimentos (BUZZI,2010).Estes seres são <strong>de</strong> fundamental importância <strong>de</strong>vido as suas diferentes<br />

funções ecológicas que <strong>de</strong>sempenham no ecossistema, uma vez que, agem como herbívoros,<br />

<strong>de</strong>compositores, predadores e parasitói<strong>de</strong>s.<br />

Os insetos são seres que estão interligados ao homem <strong>de</strong> tal forma que po<strong>de</strong>-se afirmar, que<br />

a humanida<strong>de</strong> não conseguiria sobreviver sem os insetos, pois o abastecimento <strong>de</strong> alimentos seria<br />

afetado, diversas doenças como a malária e a peste bubônica não teriam controle com a ausência<br />

dos mesmos.Muitos insetos a serem observados são rotulados como maléficos, pois existe uma<br />

concepção generalizada <strong>de</strong> que todos ou pelo menos gran<strong>de</strong> parte dos insetos são<br />

1467


prejudiciais,afirmação essa errônea. Pois os insetos em relação ao homem po<strong>de</strong>m ser divididos em<br />

três categorias:os insetos úteis;nocivos; e <strong>de</strong>mais insetos que não causam nenhum benefício ou<br />

malefício ao homem,porém fazem parte da ca<strong>de</strong>ia alimentar <strong>de</strong> outros animais(BUZZI, 2010)<br />

Devido a sua gran<strong>de</strong> diversida<strong>de</strong>,fácil coleta e importância ecológica esses animais po<strong>de</strong>m<br />

ser utilizados como bioindidicadores do grau <strong>de</strong> alteração ambiental,pois fornece informações<br />

importantes para conservação,restauração,monitoramento e uso sustentável <strong>de</strong> recursos naturais<br />

(LEWINSOHN et al., 2005; FREITAS et al., 2006).<br />

São frequentes tais perguntas: quantas espécies há no Brasil, nos biomas ou em<br />

<strong>de</strong>terminadas áreas? Por que é importante saber isso? A resposta é clara: ninguém sabe, com<br />

certeza, o número <strong>de</strong> espécies existentes; se tem ape<strong>nas</strong> estimativas, especialmente quando se trata<br />

<strong>de</strong> invertebrados. A relevância do tema baseia-se no fato <strong>de</strong> que a biodiversida<strong>de</strong>, além <strong>de</strong> ser<br />

imprescindível para a manutenção da vida na Terra, também é fundamental para aten<strong>de</strong>r<br />

necessida<strong>de</strong>s básicas do ser humano. Além disso, estes recursos são proprieda<strong>de</strong>s do país que os<br />

<strong>de</strong>tém e <strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>rados estratégicos para o <strong>de</strong>senvolvimento da nação. Deste modo como<br />

indica Camargo (2009), as coleções <strong>de</strong>vem ser vistas como bancos <strong>de</strong> dados fundamentais para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento científico e tecnológico.<br />

A diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> insetos presente no território nacional é imensa consi<strong>de</strong>rando o numero<br />

ainda não <strong>de</strong>scrito que aguardam <strong>nas</strong> gavetas das nossas coleções cientificas e as enormes lacu<strong>nas</strong><br />

<strong>de</strong> amostragem na maioria dos biomas brasileiros, po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar que o número real <strong>de</strong> insetos<br />

que habitam o território nacional <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>z vezes maior. É importante <strong>de</strong>smistificar falsas<br />

verda<strong>de</strong>s e mudar paradigmas estabelecidos sobre certos grupos da fauna. Existe uma concepção<br />

errônea e generalizada <strong>de</strong> que todos (ou a maioria dos insetos) são prejudiciais. No entanto, estudos<br />

em projetos agrícolas efetuados pela Embrapa Cerrados em cooperação técnica com Japan<br />

Internacional CooperationAgency (JICA) <strong>de</strong>monstraram que ape<strong>nas</strong> um pequeno percentual dos<br />

insetos (8-13%) eram pragas com alguma importância econômica, portanto é claro a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

mudança conceitual para a quebra <strong>de</strong> alguns paradigmas nessa área.<br />

Desta forma, o presente estudo analisou a percepção entomológica dos discentes quanto ao<br />

conhecimento que possuem sobre os insetos na Escola Estadual Ministro José Américo <strong>de</strong> Almeida<br />

na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Areia - PB.<br />

Metodologia<br />

O presente estudo foi realizado na escola da re<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Ensino ―Ministro José<br />

Américo <strong>de</strong> Almeida‖no município <strong>de</strong> Areia–PB, localizada na microrregião do brejo paraibano.<br />

Segundo os dados censitários, o município possui cerca <strong>de</strong> 23.829 habitantes.Na pesquisa contou<br />

1468


com a participação <strong>de</strong> 72 discentes do Ensino Fundamental-II abrangendo as séries do 8° e 9° ano<br />

com faixa etária entre 13 e 17 anos,sendo que 60% <strong>de</strong>stes discentes são do gênero masculino e 40%<br />

do gênero feminino.A aplicação dos questionários não estruturados, contendo questões subjetivas<br />

sobre os insetos. Após a aplicação dos questionários os dados obtidos passaram por um padrão <strong>de</strong><br />

contagem e atribuição <strong>de</strong> percentual, sendo utilizada para a representação dos dados gráficos.<br />

Resultados e discussão<br />

De acordo com o gráfico 1, quando questionados sobre o que são insetos 44% dos discentes<br />

acertaram totalmente ou parcialmente, que a maioria afirma que os insetos são seres pequenos e<br />

invertebrados que voam sendo <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância para o planeta, porém 39% errou e 17% não<br />

soube respon<strong>de</strong>r. Resultados semelhantes foram encontrados por Modroet al.(2009),quando<br />

constataram que os discentes entrevistados, <strong>de</strong>finem os ―insetos‖como seres<br />

pequenos(61%),perigosos(28%) ou nojentos(24%).<br />

Gráfico 1- Resposta dos alunos quando indagados sobre o que são insetos.<br />

Na tabela1, quando os discentes foram questionados a respeito dos insetos que conhecem, a<br />

maioria dos seres vivos citados pertence à classe Insecta (84,61%) e os outros consi<strong>de</strong>rados por eles<br />

insetos, pertencem às classes do Reino Animalia: Amphibia(1,03%), Arachnida(7,69%),<br />

Gastropoda(0,21%), Hirudinea(0,2%), Mammalia(1,66%), Oligochaeta(2,49%) e Reptilia(1,45%).<br />

Esta observação no presente estudo é similar aos <strong>de</strong>Modroet al.(2009),quando pesquisaramquea<br />

maior parte dos organismos vivos percebidos como ―insetos‖, pertencem a classe Insecta(82,75) e<br />

os <strong>de</strong>mais seres citados a outras classes taxonômicas.Isso po<strong>de</strong> ser explicado em <strong>de</strong>corrência da<br />

ambivalência entomoprojetiva, on<strong>de</strong> os seres humanos ten<strong>de</strong>m a projetar sentimentos <strong>de</strong><br />

nocivida<strong>de</strong>, periculosida<strong>de</strong>, irritabilida<strong>de</strong>, repugnância e menosprezo aos animais <strong>de</strong>terminados<br />

culturalmente como "insetos" e classificá-los em uma mesma categoria (COSTA-NETO, 1999).<br />

1469


Reino * Classe* Etnocategoria<br />

taxonômica<br />

Citações (%)<br />

Animalia Amphibia Rã 0,21<br />

Sapo 0,83<br />

Arachnida Aranha 4,16<br />

Caranguejeira 0,41<br />

Carrapato 2,50<br />

Escorpião 0,62<br />

Chilopoda Centopeia 0,62<br />

Gastropoda Lesma 0,21<br />

Hirudinea Sanguessuga 0,21<br />

Insecta Abelha 4,78<br />

Arapuá 0,21<br />

Barbeiro 0,83<br />

Barata 12,70<br />

Besouro 1,04<br />

Bicho-pau 0,21<br />

Bicho da seda 0,21<br />

Borboleta 6,03<br />

Cavalo do cão 0,62<br />

Cigarra 0,83<br />

Cupim 1,66<br />

Escaravelho 0,21<br />

Esperança 0,41<br />

Formiga 8,52<br />

Gafanhoto 5,00<br />

Grilo 6,65<br />

Joaninha 1,04<br />

Lagarta 1,87<br />

Louva-<strong>de</strong>us 0,41<br />

Mosca 11,85<br />

Muriçoca 4,16<br />

Mané mago 0,21<br />

Maribondo 2,50<br />

Mariposa 0,21<br />

Maruim 0,41<br />

Mosquito da <strong>de</strong>ngue 1,25<br />

Mosquito 4,57<br />

Percevejo 0,21<br />

Pernilongo 1,87<br />

Piolho 0,62<br />

Pulga 0,62<br />

Rola bosta 0,21<br />

Serra-pau 0,21<br />

Tanajura 0,62<br />

Traça 0,21<br />

Vagalume 0,41<br />

Varejeira 0,41<br />

Vespa 0,21<br />

Zangão 0,62<br />

Mammalia Morcego 0,83<br />

Rato 0,83<br />

Oligochaeta Minhoca 2,50<br />

Reptilia Cobra 0,41<br />

Jiboia 0,21<br />

Lagarto 0,41<br />

Lagartixa 0,41<br />

1470


O Gráfico 2, <strong>de</strong>mostra que 40% dos discentes consi<strong>de</strong>ram os insetos muito importantes,<br />

pois afirmam que esses seres fazem parte da ca<strong>de</strong>ia trófica <strong>de</strong> outros animais que, por conseguinte,<br />

a sua presença na natureza mantém oecossistema equilibrado,porém 18% dos discentes consi<strong>de</strong>ram<br />

que os insetos são pouco importantes e 42% dos discentes não atribuíram importância alguma aos<br />

insetos. Esses resultados assemelham aos <strong>de</strong> Silva et al. (2009), que ao fazer o mesmo<br />

questionamento, os discentes atribuíram a importância dos insetos as diversas funções<br />

<strong>de</strong>sempenhadas no equilíbrio do ecossistema, na ca<strong>de</strong>ia trófica e na saú<strong>de</strong> humana.Desta forma, é<br />

necessário que os docentes realizem práticas educacionais que enfatizem a importância dos insetos<br />

no ecossistema e as ações funções <strong>de</strong>sempenhadas pelos discentes.<br />

Gráfico 2- A importância dos insetos para os discentes<br />

Analisando o Gráfico 3, observou-se que quando os discentes foram indagados sobre a sua<br />

reação ao observar um inseto 30% dos respon<strong>de</strong>ram que os matam,3% reagem <strong>de</strong> forma normal,7%<br />

não respon<strong>de</strong>ram,29% disseram que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do inseto,7% observam o comportamento,6% sentem<br />

nojo,15% sentem medo e 35% liberam os insetos na natureza.A pesquisa realizadana escola do<br />

ensino fundamental e médio por Modro et al.(2009), constatou que a principal reação dos discentes<br />

ao observar um inseto é matá-lo.De acordo com Costa-Neto(2004), o modo como a maioria das<br />

socieda<strong>de</strong>s percebe e se expressa com relação tanto aos próprios insetos quanto aos animais não<br />

1471


insetos, i<strong>de</strong>ntificando-os como ―insetos‖, evi<strong>de</strong>nciam as atitu<strong>de</strong>s, os sentimentos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sprezo, medo<br />

e aversão que os seres humanos geralmente <strong>de</strong>monstram pelos invertebrados.<br />

Consi<strong>de</strong>ração final<br />

Gráfico 3 -Reação dos discentes ao ver um inseto.<br />

O conhecimento dos discentes ainda é pouco sobre os aspectos positivo dos insetos sendo<br />

necessário que os docentes busquem formas para transmitir o tema.<br />

Referências<br />

MODRO,A.F.H.;COSTA,M.S.;MAIA,E.;ABURAYA,F.H.Percepção entomológica por docentes e<br />

discentes do município <strong>de</strong> Santa Cruz do Xingu,Mato Grosso,Brasil.Biotemas,v. 22,n. 2, p. 153-<br />

159,2009.<br />

1472


COSTA NETO,E.M.Etnocategoria “inseto” e a hipótese da ambivalência projetiva. Acta<br />

Biológica Leopol<strong>de</strong>nsia,v. 21, n. 1, p. 7-14,1999.<br />

COSTA NETO,E.M.Os insetos que “ofen<strong>de</strong>m”:Artropodoses na visão dos moradores da região da<br />

Serra da Jibóia,Bahia,Brasil.Sitientibus,Série Ciências Biológicas,4 (1/2), p. 59-68,2004.<br />

BUZZI, Z. J. Entomologia didática, 5. ed. Curitiba: UFPR, 2010.<br />

SILVA, M. L. L. S.; OLIVEIRA, C. R. F.; MATOS, C. H. C.; BEZERRA, Y. B. S.; FERRAZ, C.<br />

S.Re<strong>de</strong>scobrindo o mundo dos insetos <strong>nas</strong> escolas do sertão do Pajeú.In: IX JORNADA DE<br />

ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO, 2009, Recife-PE. Resumos. Recife-PE: JEPEX, 2009. CD<br />

Rom.<br />

1473

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!