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VIDAS SECAS EA RECEPÇÃO JUNTO AO PÚBLICO LEITOR - Cielli

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Universidade Estadual de Maringá – UEM<br />

Maringá-PR, 9, 10 e 11 de junho de 2010 – ANAIS - ISSN 2177-6350<br />

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<strong>VIDAS</strong> <strong>SECAS</strong> E A <strong>RECEPÇÃO</strong> <strong>JUNTO</strong> <strong>AO</strong> <strong>PÚBLICO</strong> <strong>LEITOR</strong>:<br />

OS CAMINHOS DA LEITURA<br />

Wanessa Regina Paiva da Silva (UFPA/PG) 1<br />

Vidas Secas surgiu no final da década de 30, em 1938, trazendo ao mundo a história<br />

de uma família de retirantes nordestinos que, como tantas outras, tenta fugir da seca que<br />

assola o sertão. Fabiano, Sinha Vitória, Menino mais velho, Menino mais novo e a<br />

cachorra Baleia são os personagens que revelarão a dura realidade daqueles que,<br />

deixados à margem da vida social, abandonados à própria sorte, tornam-se vítimas das<br />

estruturas injustas de poder e da fúria da natureza. Personagens a quem é negado quase<br />

tudo, restando apenas o direito de sonhar.<br />

Sentou-se na janela baixa da cozinha, desgostosa. Venderia as<br />

galinhas e a marrã, deixaria de comprar querosene. Inútil consultar<br />

Fabiano, que sempre se entusiasmava, arrumava projetos. Esfriava<br />

logo – e ela franzia a testa, espantada, certa de que o marido se<br />

satisfazia com a idéia de possuir uma cama. Sinha Vitória desejava<br />

uma cama real, de couro e sucupira, igual à de Seu Tomás da<br />

Bolandeira. (RAMOS, 1976, p. 49)<br />

Quando essa obra foi publicada, apesar de seu autor já ser uma figura reconhecida no<br />

meio literário brasileiro, não encontrou campo favorável à sua recepção entre os leitores<br />

comuns da época. Como afirma Letícia Malard:<br />

Vidas Secas, surgido quando o escritor já era bastante conhecido, teve<br />

a primeira edição com 1.000 exemplares que levaram dez anos para<br />

serem vendidos. Esse quadro demonstra que Graciliano não conheceu<br />

a fama enquanto vivo. Que, por motivos ainda não esclarecidos, a<br />

recepção de sua obra junto aos leitores comuns era quase<br />

insignificante. (MALARD, 2006, p. 204)<br />

Para Lúcia Miguel Pereira, o motivo pelo qual este romance não encontrou espaço<br />

entre o grande público deve-se ao fastio deste diante dos romances de cunho social,<br />

regionalista, que àquela altura estavam em declínio.<br />

Se tivesse sido escrito há alguns anos, se fosse do tempo do Quinze e<br />

da Bagaceira, teria levantado uma celeuma. Mas veio quando já o<br />

1 Aluna do Programa de Pós-Graduação em Letras, área de Estudos Literários, da Universidade Federal<br />

do Pará, orientada pela Professora Dra germana Maria Araújo Sales.


Universidade Estadual de Maringá – UEM<br />

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público está meio cansado de histórias do nordeste, quando se criou<br />

essa absurda querela literária entre romancistas do norte e romancistas<br />

do sul, entre bárbaros e psicólogos. (PEREIRA, 2005, p.150)<br />

A despeito da falta de receptividade do público leitor num primeiro momento para<br />

com Vidas Secas, percebe-se que ao longo do tempo sua popularidade só aumentou.<br />

Essa obra, com enredo crítico, conseguiu alcançar um sucesso inesperado — se for<br />

levado em consideração seu primeiro contato com o público em geral e as acusações de<br />

que Graciliano escrevia de modo inacessível para este mesmo público — sendo,<br />

inclusive, traduzida para mais de 18 países, entre eles: Polônia (desde 1950), Argentina<br />

(desde 1958), República Tcheca (desde 1959), Portugal (desde 1962), França (desde<br />

1964), Estados Unidos (desde 1965) e Alemanha (desde 1965). Em 2008, ano em que<br />

completou 70 anos de idade, Vidas Secas chegou à admirável marca de 108 edições.<br />

Contudo, Graciliano Ramos não pôde desfrutar, ainda em vida, da fama que lhe<br />

renderam seus livros, precisando muitas vezes vender alguns contos que produziu para<br />

jornais e revistas literárias para manter o sustento de sua família: ―Mas era 1938 e<br />

Graciliano, consagrado e empobrecido tinha de vender um conto aqui, outro ali, para<br />

pagar o aluguel do seu ínfimo quarto de pensão, para completar o ainda parco sustento<br />

da mulher, dos oito filhos‖ (FUKS, 2006, p.36). Ou ainda realizar outras atividades<br />

profissionais, as quais lhe davam maior remuneração que a vida de escritor, como o<br />

cargo de inspetor de ensino do governo.<br />

Esse retrospecto confirma o que disse Antonio Candido em seu texto O Escritor e o<br />

Público: ―Escritor e obra constituem, pois um par solidário, funcionalmente vinculado<br />

ao público; e no caso deste conhecer determinado livro apenas depois da morte do autor,<br />

a relação se faz em termos de posteridade‖ (CANDIDO, 2008, p. 87).<br />

Isso foi exatamente o que aconteceu com Graciliano e sua obra, pois segundo Letícia<br />

Malard, ―o insucesso conhecido pelo autor em vida transformou-se, nos últimos anos<br />

em um dos maiores sucessos editoriais de autor brasileiro, sobretudo levando-se em<br />

consideração que escreveu pouco comparado com outros escritores‖ (MALARD, 2006,<br />

p. 204).<br />

O Romance e a Crítica


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Pensando na relação que se estabeleceu entre Vidas Secas e o público leitor comum,<br />

eventualmente poderá surgir um questionamento: Como foi a relação deste romance<br />

com os leitores especializados, ou melhor, com a crítica literária brasileira?<br />

Considerando a importância que tem Vidas Secas para a Literatura Brasileira, seria<br />

no mínimo estranho que a crítica literária, que sempre foi muito ativa, desde seus<br />

primeiros passos ainda no século XIX, não se manifestasse acerca da obra. Na verdade,<br />

o que houve foi o contrário. Vários nomes do mundo literário brasileiro, alguns mais<br />

conhecidos que outros contribuíram para a formação do grande acervo que existe a<br />

respeito do romance de Graciliano Ramos. Entre esses nomes estão o de Lúcia Miguel<br />

Pereira, Álvaro Lins, Wilson Martins, Otto Maria Carpeaux, Antonio Candido,<br />

Hermenegildo Bastos, Luís Bueno e Miguel Sanches Neto.<br />

Na tentativa de responder à pergunta anteriormente mencionada será realizada a<br />

análise de textos críticos que tenham por assunto a obra Vidas Secas, a partir do<br />

enfrentamento dos mesmos. Para esta análise, escolheu-se trabalhar com os textos de<br />

Lúcia Miguel Pereira, Álvaro Lins, Luís Bueno e Miguel Sanches Neto. A escolha<br />

desses textos deve-se ao fato de pertencerem a períodos distintos permitindo então a<br />

percepção do processo de efeito de uma obra ao correr dos anos. O primeiro, de Lúcia<br />

Miguel Pereira, está mais próximo à data da publicação da 1ª edição da obra, o segundo<br />

é de Álvaro Lins, um dos críticos literário mais importante de nossa literatura, enquanto<br />

que os dois últimos são mais recentes e trazem novos olhares sobre a obra.<br />

Assim, estabelecer um diálogo entre os textos críticos de diferentes épocas<br />

explicitará o movimento que Antonio Candido associa entre repercussão e feitura, pois é<br />

apenas na repercussão que a obra atinge sua concretização e completude, ou seja, seu<br />

efeito.<br />

1.1. O Problema da Montagem<br />

Em abril de 1938, um mês depois da publicação da 1ª edição de Vidas Secas, Lúcia<br />

Miguel Pereira escreve um artigo para o Boletim de Ariel, no qual avalia esta obra.<br />

Entre outras coisas, fala de uma característica estrutural da narrativa, que é a formação<br />

em quadros.


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Com essa conclusão sobre o formato do romance, Lúcia Miguel Pereira levantou<br />

uma questão que terá muitos desdobramentos entre a crítica literária brasileira: Vidas<br />

Secas teria um problema estrutural de montagem?<br />

Álvaro Lins, em 1947, para o lançamento do conjunto ficcional da obra de Graciliano<br />

Ramos, retoma o termo ―quadros‖ criado por Lúcia Miguel Pereira para falar da<br />

estrutura desse romance, entretanto, diferente do posicionamento da autora, que foi<br />

somente de apontar um diferencial da obra, o crítico percebe nisso um defeito, que gera,<br />

por conseqüência, a perda de unidade entre os capítulos, os quais se tornam<br />

independentes entre si.<br />

A novela, tendo sido construída em quadros, os seus capítulos, assim<br />

independentes, não se articulam formalmente com bastante firmeza e<br />

segurança. Cada um deles é uma peça autônoma, vivendo por si<br />

mesma, com um valor literário tão indiscutível, aliás, que se poderia<br />

escolher qualquer um, conforme o gosto pessoal para as antologias.<br />

(LINS, 1976, p. 164)<br />

Percebe-se na afirmação de Álvaro Lins, que o defeito de unidade causado pela<br />

autonomia dos capítulos é apenas técnica, não comprometendo seu sentido enquanto o<br />

todo articulado em torno de um assunto.<br />

A falta de unidade formal, acima assinalada, não se verifica na parte<br />

do assunto. Na substância, a novela apresenta uma perfeita unidade,<br />

uma completa harmonia interior. O drama do primeiro capítulo repetese<br />

no último; e tudo o mais que se encontra entre eles constitui uma<br />

matéria de ligação entre os dois episódios semelhantes. (idem, ibidem,<br />

p. 164)<br />

Acerca da opinião de Álvaro Lins, afirma Luís Bueno,<br />

Álvaro Lins parte do principio de que Vidas Secas é um ―romance<br />

desmontável‖ e, trabalhando com uma idéia tradicional de romance,<br />

não consegue ver senão defeito nessa estrutura fragmentária. Para<br />

suavizar a crítica, proclama o valor literário de cada capítulo<br />

individualmente, o que só confirma a idéia de que falta unidade ao<br />

romance. (BUENO, 2006, 642)<br />

O termo ―romance desmontável‖ cunhado para Vidas Secas, por Rubem Braga, em<br />

1938, foi muitas vezes usado pela crítica para fazer referência a sua estrutura. Porém,<br />

nota-se que ao fazerem uso desse termo, muitos críticos não levam em consideração que<br />

essa expressão não surge por considerar que falta maior unidade entre os capítulos e sim


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por considerar que alguns deles foram publicados, primeiramente, como contos, em<br />

datas distintas, em jornais — forma que Graciliano encontrou para prover o sustento de<br />

sua família — para só depois aparecer no formato livro.<br />

Mesmo com a tendência da crítica literária em considerar Vidas Secas um ―romance<br />

desmontável‖, é possível, no entanto, fazer outro tipo de análise, como a que propõe<br />

Luís Bueno quando afirma que,<br />

Se a leitura de Vidas Secas evidencia que um capítulo não dá<br />

seqüência imediata ao capítulo anterior, por outro lado também<br />

evidencia um ritmo geral da narrativa que nos deixa uma forte<br />

impressão de unidade. Ou seja, embora não haja propriamente uma<br />

contigüidade entre os capítulos, há uma continuidade que garante a<br />

unidade do romance e que vai além de simples referências que um<br />

capítulo faz aos outros. (idem, ibidem, p. 649)<br />

Para confirmar sua análise, Luís Bueno mostra a unidade do romance por meio da<br />

relação que há entre os capítulos. Por exemplo, quando apresenta a ligação entre os<br />

capítulos ―Cadeia‖ e ―O soldado Amarelo‖. Neste último fica evidente a passagem do<br />

tempo de um ano que separa o episódio da prisão de Fabiano da passagem em que este<br />

encontra o soldado amarelo perdido na caatinga, fato que caracterizaria a cronologia da<br />

obra. Esta passagem de tempo pode ser observada no seguinte trecho do capítulo ―O<br />

Soldado Amarelo‖: ―voltou-se e deu de cara com o soldado amarelo que, um ano antes, o<br />

levara à cadeia, onde ele agüentara uma surra e passara a noite‖ (RAMOS, 1976, p. 107).<br />

Acerca da relação cronológica que há entre os capítulos mencionados Bueno afirma:<br />

Não há espaço para dúvida aí: o narrador faz um corte linear no<br />

desenho circular que o tempo assume nas linhas gerais do romance.<br />

Essa é a única menção clara ao tempo decorrido entre as ações<br />

narradas. Mas é suficiente para, aliada ao fato de as lembranças das<br />

personagens só recuperarem ações ocorridas em capítulos anteriores<br />

àqueles em que a rememoração se dá, nos permite dizer que tudo o<br />

que se passa entre ―Cadeia‖ e ― O Soldado Amarelo‖ ocorre no<br />

período de um ano e nos é apresentado em ordem cronológica.<br />

(BUENO, 2006, p. 650)<br />

Nos capítulos ―Sinha Vitória‖ e ―Festa‖, são feitas alusões a acontecimentos de<br />

episódios anteriores, a partir da rememoração. No primeiro, após uma comparação feita<br />

por Fabiano entre os pés de Sinha Vitória e os de um papagaio, ela relembra do


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papagaio da família, morto para servir de alimento durante a viagem em busca de um<br />

lugar novo para morar, tal como se verifica no primeiro capítulo ―Mudança‖:<br />

Pobre do papagaio. Viajava com ela, na gaiola que balançava em<br />

cima do baú de folha. Gaguejava: — ―Meu louro‖. Era o que sabia<br />

dizer. Fora isso, aboiava arremedando Fabiano e latia como baleia.<br />

Coitado. Sinha Vitória nem queria lembrar-se daquilo. Esquecera a<br />

vida antiga, era como se tivesse nascido depois que chegara à fazenda.<br />

A referência aos sapatos abrira-lhe uma ferida — e a viagem<br />

reaparecera. (RAMOS, 1976, p.45-46)<br />

Isso ocorre também no capítulo intitulado ―Festa‖, quando durante a visita que a<br />

família faz à cidade, na noite de natal, Fabiano vestido em uma roupa diferente da que<br />

usa na fazenda, sentindo-se preso e incomodado, acaba recordando do episódio em que<br />

foi surrado, preso e obrigado a passar a noite na cadeia.<br />

De acordo com Bueno, ―acima de tudo, são os próprios capítulos que nos fornecem a<br />

chave para entender a ordenação que Graciliano Ramos deu ao livro‖ (BUENO, 2006,<br />

p. 650). A chave para entender a estruturação do romance está, de acordo com o crítico,<br />

na relação especular que há entre eles. Relação apontada anteriormente por outros<br />

críticos, dentre eles Antonio Candido, mas restrita ao primeiro e ao último capítulo da<br />

narrativa. Bueno expande essa relação para a totalidade da obra, fundamentando-se na<br />

identificação de ―um movimento de escassez ou insegurança para a satisfação ou<br />

segurança e, posteriormente, o movimento oposto, da satisfação para a escassez‖ (2006,<br />

p. 650).<br />

Assim, Luís Bueno se contrapõe a tradição crítica que afirma a independência entre<br />

os capítulos, explicitando a unidade presente em Vidas Secas:<br />

Aqui um capítulo responde ao outro, descrevendo um movimento que<br />

se desenha seqüencialmente no livro como um todo. Uma leitura feita<br />

em qualquer ordem destruíra esse movimento e romperá uma unidade<br />

elaborada de forma sutil, mas sempre identificável. É por isso que se<br />

pode dizer que Vidas Secas é um romance cuidadosamente montado, a<br />

partir de peças fabricadas com perfeição. Aparentemente perfeitas em<br />

si mesmas, essas peças compõem uma arquitetura tão precisa que<br />

qualquer mudança no arranjo produzirá alguma coisa que não é Vidas<br />

Secas. Portanto, não é possível considerá-lo desmontável — a menos<br />

que se chame desmontável aquele relógio que o menino curioso abre,<br />

remonta e que continua funcionando por alguns minutos, apesar das<br />

peças que sobraram, dando falsa impressão de não há tantos segredos<br />

assim na arte da relojoaria. (BUENO, 2006, p. 658)


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1.2. O Foco Narrativo: Distanciamento e Aproximação<br />

Graciliano Ramos nos romances Caetés (1933), São Bernardo (1934) e Angústia<br />

(1936) utiliza a técnica de narração em primeira pessoa. Os narradores são os<br />

personagens principais das narrativas e são eles que revelam todas as contradições do<br />

comportamento humano. Já em Vidas Secas, o autor trabalha com o foco narrativo em<br />

terceira pessoa, e é sob a perspectiva desse narrador que se conhece os personagens<br />

Fabiano, Sinha Vitória, O menino mais velho, O menino mais novo e Baleia, suas<br />

aventuras, encantos e sofrimentos.<br />

Álvaro Lins aponta essa particularidade de Vidas Secas como uma novidade, se<br />

comparada às obras anteriores do autor. Todavia, o recurso ao foco narrativo em terceira<br />

pessoa teria gerado, segundo o crítico, um problema de técnica, o qual seria o intenso<br />

uso de monólogos interiores que teriam levado à inverossimilhança de um ―excesso de<br />

introspecção em personagens tão primários e rústicos‖ (LINS, 1976, p 164). Esse<br />

excesso de monólogos interiores tornou a obra desproporcional na relação entre os<br />

episódios da vida interior e da vida exterior.<br />

Contudo, para Lins, o problema de técnica não prejudica em nada a narrativa quanto<br />

aos conteúdos trabalhados nos monólogos. Toda a substância que há neles pode sim ser<br />

fruto do pensamento, da fala e da imaginação dos personagens.<br />

Nenhuma inverossimilhança, nenhum defeito fundamental será<br />

encontrado em Vidas Secas. Tudo o que o romancista, nos monólogos<br />

interiores, atribui a Fabiano, sua mulher e seus filhos, são<br />

pensamentos e reflexões à altura do que lhes poderia ter ocorrido<br />

realmente. Eles pensam, imaginam e sentem o que seriam<br />

pessoalmente capazes de pensar, imaginar e sentir. O romancista caiu<br />

numa inverosimilhança quanto á técnica de disposição dos<br />

monólogos, mas se salvou dessa falha no que diz respeito ao conteúdo<br />

deles. (LINS, 1976, p. 164)<br />

Para ele, o uso do foco narrativo em terceira pessoa mostra ainda uma maior<br />

preocupação do romancista com seus personagens, dando a entender que entre aquele e<br />

estes há algum tipo de identificação.<br />

Aliás, não será significativo e explicativo a este respeito que Vidas<br />

Secas seja a sua primeira obra de ficção em que a pessoa encarregada<br />

de narrar a historia não é um personagem, mas o próprio romancista?


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Não será isto um sinal de que antes deixava seus personagens<br />

entregues à própria sorte, enquanto agora se identifica com os<br />

desgraçados nordestinos de Vidas Secas? (idem, ibidem, p. 163)<br />

Esta identificação pode ser inferida pela forma sentimental com que o narrador fala<br />

dos personagens — vítimas da seca que castiga o sertão nordestino, região a que estão<br />

ligados e que é tão difícil de abandonar —, chegando a demonstrar compaixão.<br />

Miudinhos, perdidos no deserto queimado, os fugitivos agarraram-se,<br />

somaram as suas desgraças e os seus pavores. O coração de Fabiano<br />

bateu junto do coração de Sinha Vitória, um abraço cansado<br />

aproximou os farrapos que os cobriam. Resistiram à fraqueza,<br />

afastaram-se envergonhados, sem animo de afrontar de novo a luz<br />

dura, receosos de perder a esperança que os alentava. (RAMOS, 1976,<br />

p. 14)<br />

A compaixão do narrador pelos personagens influencia diretamente na descrição<br />

desses, apresentados aos leitores com todos os seus defeitos e misérias, sem, no entanto,<br />

perder seu caráter humano.<br />

O capítulo dedicado à cachorra Baleia seria para Álvaro Lins aquele em que melhor<br />

se verifica o tom de humanidade que há na voz do narrador: ―Da família também faz<br />

parte a cachorra Baleia, e o capítulo que lhe é dedicado se acha revestido de uma<br />

humanidade talvez maior que a dos seres humanos, sendo esta uma das páginas mais<br />

famosas do Sr. Graciliano Ramos‖ (LINS, 1976, p. 165). Então, resume suas<br />

considerações sobre a representação da humanidade e a dignidade dos personagens<br />

presentes em Vidas Secas com a observação de que é ―o mais humano e comovente<br />

livro do Sr. Graciliano Ramos‖ (LINS, 1976, p.164).<br />

Nesse aspecto, Lúcia Miguel Pereira aproxima-se do crítico ao considerar que<br />

Graciliano descobre humanidade em personagens tão brutos e sofridos como são<br />

Fabiano e sua família: ―viu criaturas humanas nesses retirantes. E as viu tão humanas,<br />

que até a cachorra Baleia foi humanizada com uma ternura nova no autor, uma ternura<br />

que põe uns longe de poesia no livro‖ (PEREIRA, 2005, p. 150). Para Luís Bueno,<br />

Vidas Secas, além de tratar da dignidade humana, toca na problemática da representação<br />

do outro, tema recorrente entre os romancistas de 30.<br />

Mais do que apontar o uso do foco narrativo em terceira pessoa, Bueno desenvolve a<br />

idéia de que é o uso particular das diversas modalidades do discurso (direto, indireto e


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indireto livre) o que permite a humanização dos personagens na obra, através da<br />

possibilidade de que o outro se mostre em seu próprio discurso junto ao discurso do<br />

narrador, mas para isso, para que o outro se manifeste, é necessário que haja o<br />

reconhecimento da distância entre o narrador e o outro, o personagem.<br />

Vidas Secas deve ser visto como uma tentativa de solucionar a difícil<br />

equação da figuração do outro (...) para preservar o outro e ao mesmo<br />

tempo evitar a falsa simpatia, é preciso representá-lo como outro<br />

mesmo, distante como todo outro é (...). O desafio seria construir um<br />

discurso em que as duas vozes ecoassem independentemente. E o<br />

caráter absolutamente único de Vidas Secas vem exatamente daí: em<br />

todos os seus níveis de organização, as duas vozes convivem,<br />

construindo uma substância única. Mas na qual se pode identificar os<br />

dois elementos que a formam. (BUENO, 2006, p. 659)<br />

A convivência das duas vozes, a do narrador e a do personagem, sem que uma se<br />

sobreponha à outra, é, para Bueno, um efeito que surge da mistura das modalidades<br />

discursivas que ocorre em Vidas Secas, tal como exemplificado a partir de um trecho do<br />

capítulo ―O soldado amarelo‖, no qual fica explicitada essa mistura de discursos e<br />

como, a partir dela, se turva a origem do discurso, evitando-se, assim, uma sobreposição<br />

hierarquizante entre eles.<br />

1.3. O Problema da Linguagem<br />

Com a afirmação de que Vidas Secas seria um ―romance mudo como um filme de<br />

Carlitos‖ (PEREIRA, 2005, p.151), Lúcia Miguel Pereira, mais uma vez, evidencia uma<br />

característica deste romance, que seria a presença de uma problemática relacionada à<br />

ausência de linguagem. Para a autora, os personagens do romance são criaturas que não<br />

sabem se comunicar ou expressar seus sentimentos porque a narrativa apresenta esses<br />

seres como secos, como o sofrimento os fez, mas se a eles for dada uma oportunidade,<br />

se tornarão capazes de dar voz as suas vontades: ―As Vidas Secas do livro de Graciliano<br />

Ramos são secas só por fora, porque a estorricou a miséria. Um pouco de alegria, um<br />

pouco de bem estar, elas reverdecerão e desabrocharão‖ (PEREIRA, 2005, p. 150).<br />

Lúcia Miguel ainda vê nisso, na escolha do autor por essas criaturas, a demonstração<br />

da qualidade de sua técnica, que conseguiu um grande feito ao desvendar almas<br />

obscurecidas pela ausência da linguagem.


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Procurando heróis entre gente que não sabe analisar os próprios<br />

sentimentos, Graciliano Ramos ao mesmo tempo se impõe uma<br />

limitação e põe à prova sua técnica. Ser-lhe ia infinitamente mais fácil<br />

descobrir a complexidade em criaturas proustianas do que nos<br />

meninos de Sinha Vitória, a quem nem nome dá. Escolheu o caminho<br />

mais difícil — e saiu vitorioso porque viu criaturas humanas nesses<br />

retirantes. (PEREIRA,1976, p. 150)<br />

Em relação à problemática da linguagem que há em Vidas Secas, Álvaro Lins<br />

apresenta opinião semelhante à de Lúcia Miguel, de que é nesta obra que melhor se<br />

verifica a qualidade literária de Graciliano Ramos, que chega até mesmo a alcançar um<br />

tom poético: ―E somente aqui este autor de espírito tão pouco poético, consegue atingir<br />

um estado de poesia‖ (LINS, 1976, p. 165).<br />

No trecho que segue pode ser observado o tom poético de que fala Álvaro Lins,<br />

ocasionado pela dificuldade de expressão dos personagens. Nele, Baleia, acordada pelo<br />

estalo que faz o fogo abanado por Sinha Vitória, se afasta para não ter o pêlo<br />

chamuscado pela fagulhas que se soltam. Tais fagulhas são transfiguradas em uma<br />

imagem poética pelo narrador que assim expressa a percepção da cachorra sobre aquele<br />

fenômeno.<br />

Sentindo a deslocação do ar e a crepitação dos gravetos, Baleia<br />

despertou, retirou-se prudentemente, receosa de sapecar o pêlo, e ficou<br />

observando maravilhada as estrelinhas vermelhas que se apagavam<br />

antes de tocar o chão. Aprovou com um movimento de cauda aquele<br />

fenômeno. (RAMOS, 1976,p. 41)<br />

A mesma forma de expressão poética pode ser vista na cena em que O Menino Mais<br />

Velho ao contemplar o anoitecer chega a um questionamento sobre a natureza daquilo<br />

que observa: ―Foi sentar-se debaixo de outra árvore, avistou a serra coberta de nuvens.<br />

Ao escurecer a serra misturava-se com o céu e as estrelas andavam em cima dela. Como<br />

era possível haver estrelas na terra?‖ (RAMOS, 1976, p. 64). Percebe-se que para os<br />

dois críticos a ausência de linguagem dos personagens é um fator favorável à obra, pois<br />

é a partir daí que se torna possível matizá-la de tons poéticos. Entretanto, se para Lúcia<br />

Miguel e Álvaro Lins a problemática da linguagem se refere a um aspecto formal,<br />

Miguel Sanches Neto a aborda do ponto de vista do tema, afirmando que Vidas Secas<br />

trata, sobretudo, de sua importância enquanto instrumento de libertação.


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Esse autor apresenta sua idéia partindo do confronto entre os personagens Fabiano e<br />

Sinha Vitória. Fabiano representaria o lado que nega a importância da linguagem para a<br />

vida de quem mora no sertão e precisa sobreviver por meio da força. Negando a<br />

utilidade do conhecimento para a vida do sertanejo, ele se refere a uma figura recorrente<br />

na obra, que detinha grande conhecimento, mas foi vencido pela seca, Seu Tomás da<br />

Bolandeira.<br />

Lembrou-se de seu Tomás da bolandeira. Dos homens do sertão o<br />

mais arrasado era seu Tomás da Bolandeira. Por quê? Só se era porque<br />

lia demais. Ele, Fabiano, muitas vezes dissera; — ―Seu Tomás,<br />

vossemecê não regula. Para que tanto papel? Quando a desgraça<br />

chegar, Seu Tomás se estrepa, igualzinho aos outros.‖ Pois viera a<br />

seca, e o pobre do velho, tão bom e tão lido, perdera tudo, andava por<br />

aí, mole. Talvez já tivesse dado couro às varas, que pessoa como ele<br />

não podia agüentar verão puxado. (idem, ibidem, p. 23)<br />

Já Sinha Vitória representaria o lado que vê no conhecimento decorrente da<br />

linguagem o único meio que daria à família uma vida mais confortável, próxima à que<br />

tinha Seu Tomás.<br />

Segundo o autor esse embate é desenvolvido em toda a narrativa, e os personagens O<br />

menino mais novo, que gostaria de ser como o pai, e O menino mais velho, que tem<br />

curiosidade em saber o significado das palavras, também são vistos como opostos nessa<br />

questão, assim como os pais. ―É esta a tensão central do romance. Qual modelo os<br />

meninos devem seguir? O do pai, que renunciou à humanidade e à possibilidade de<br />

linguagem? Ou do homem que lia e foi vencido pela seca? A narrativa se organiza a<br />

partir desse núcleo‖ (NETO, 2006, p. 49).<br />

Fabiano, no confronto com experiências fora de seu habitat, descobre de modo cruel<br />

a importância da linguagem. O crítico aponta alguns momentos-chave nessa descoberta,<br />

por exemplo: no capítulo ―Inverno‖, quando a família passa a maior parte de tempo<br />

dentro de casa e tenta conversar, Fabiano não consegue contar aos outros histórias suas;<br />

no capítulo ―Contas‖, a ausência da linguagem também se faz sentir na transação entre<br />

Fabiano e o patrão, o qual se aproveita da ignorância do empregado para enganá-lo.<br />

A descoberta da linguagem também é vivenciada pelos meninos. No capítulo<br />

―Festa‖, ao travarem contato com objetos de um mundo desconhecido, o da cidade, eles


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questionam-se sobre a possível existência de palavras que designem todos os objetos<br />

que vêem.<br />

Provavelmente aquelas coisas tinham nomes. O menino mais novo<br />

interrogou-o com os olhos. Sim, com certeza as preciosidades que se<br />

exibiam nos altares da igreja e nas prateleiras das lojas tinham nomes.<br />

Puseram-se a discutir a questão intrincada. Como podiam os homens<br />

guardarem tantas palavras? Era impossível, ninguém conservaria tão<br />

grande soma de conhecimentos. (RAMOS, 1976, p. 88)<br />

A família, então, se dá conta de que sem a linguagem não há possibilidade de<br />

uma melhoria de vida. Como pode ser verificado no último capítulo, quando os pais,<br />

partindo mais uma vez da seca, decidem que os meninos seguirão caminhos diferentes<br />

dos deles, tendo acesso à educação e à formação: ―E andavam para o Sul metidos<br />

naquele sonho. Uma cidade grande, cheia de pessoas fortes. Os meninos em escolas<br />

aprendendo coisas difíceis e necessárias‖ (RAMOS, 1976, p. 134).<br />

Sanches Neto, portanto, apresenta uma relação entre a pobreza de palavras e a<br />

pobreza material, afirmando que ―ao ser excluída da posse de objetos, vivendo tão<br />

afastada deles, essa população acabou excluída da posse das palavras que os<br />

representava‖ (NETO, 2006, p. 50).<br />

A ausência da linguagem nos personagens de Vidas Secas é um dos aspectos que<br />

mais chama atenção na obra. Como seria viver como Fabiano e sua família num mundo<br />

de silêncio, sem poder expressar seus sentimentos e emoções, sem poder dar forma à<br />

sua revolta diante de injustiças e desmandos?<br />

Na obra, as relações sociais são prejudicadas pela distância que há entre os<br />

personagens, os quais não se entendem e não se reconhecem, como pode ser observado<br />

no capítulo ―O Mundo Coberto de penas‖ quando Fabiano não compreende a afirmação<br />

de Sinha Vitória de que as arribações matariam o gado — neste momento acontece um<br />

distanciamento entre Fabiano e sua esposa causado pela incompreensão. Ele, então, se<br />

questiona sobre essa possibilidade e depois de muito refletir, enfim, percebe que a<br />

mulher tem razão, admirando-se da inteligência dela, o que leva ao reconhecimento do<br />

valor de sua esposa.<br />

Sinha Vitória falou assim, mas Fabiano resmungou, franziu a testa,<br />

achando a frase extravagante. Aves matarem bois e cabras, que


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lembrança! Olhou a mulher, desconfiado, julgou que ela estivesse<br />

tresvariando.<br />

(...)<br />

Como era que Sinha Vitória tinha dito? A frase dela tornou ao espírito<br />

de Fabiano e logo a significação apareceu. As arribações bebiam a<br />

água. Bem. O gado curtia sede e morria. Muito bem. As arribações<br />

matavam o gado. Estava certo. Matutando, a gente via que era assim,<br />

mas Sinha Vitória largava tiradas embaraçosas. Agora Fabiano<br />

percebia o que ela queria dizer. Esqueceu a infelicidade próxima, riuse<br />

encantado coma esperteza de Sinha Vitória. (RAMOS, 1976, p.<br />

116)<br />

Vidas Secas, portanto, denuncia a dificuldade de viver no mundo sem linguagem,<br />

pois o convívio social demanda tal habilidade, não só no sentido de estabelecer relações<br />

afetivas, mas também no sentido de posicionar-se enquanto sujeito autônomo dentro das<br />

relações sociais.<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

A leitura e o leitor têm ganhado, no âmbito dos estudos literários, um espaço cada<br />

vez mais representativo, principalmente por meio das análises que, de certo modo,<br />

privilegiam a repercussão da obra junto ao seu público. Estas abordagens se<br />

fundamentam no reconhecimento de um movimento que vai da obra ao público leitor e,<br />

em sentido contrário, do público leitor de volta à obra — sendo neste percurso que o<br />

sentido da obra vai se constituindo e mantendo-se vivo.<br />

Com a obra Vidas Secas não acontece de modo diferente. O romance de Graciliano<br />

Ramos, publicado em 1938, vem passando por constantes leituras e releituras que<br />

contribuem para sua completude. Se, conforme Letícia Malard, sua repercussão junto ao<br />

público leitor não-especializado foi tímida num primeiro momento, junto à crítica este<br />

romance logo encontrou manifestações. Pode-se distinguir nos textos escolhidos para<br />

análise três pontos recorrentes: o problema da montagem, o foco narrativo e a<br />

problemática da ausência da linguagem.<br />

A partir do cotejamento dos textos, os quais apresentam perspectivas variadas,<br />

tentou-se ilustrar o movimento entre a obra e seu público, bem como a ação da leitura<br />

deste público sobre o romance, a qual não se restringe apenas à época de sua<br />

publicação.


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Vidas Secas ultrapassou as barreiras dos anos 30, uma vez que sua relação com o<br />

público leitor comum melhorou ao longo do tempo e continua instigando a crítica do<br />

presente a renovar as críticas do passado, pela revisão e pela reformulação destas –<br />

como se pode observar na retomada e reformulação de outros textos, realizada por<br />

Bueno e na apresentação de uma nova abordagem por Miguel Sanches Neto.<br />

Assim como Fabiano e sua família mantêm-se vivos enquanto caminham em busca<br />

de uma nova existência, chegando e partindo, o romance Vidas Secas continuará<br />

trilhando os caminhos desconhecidos da leitura, os quais poderão ser fáceis ou<br />

perigosos, porém, nunca os mesmos.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

BUENO, Luís. Uma História do Romance de 30. São Paulo: Edusp, 2006.<br />

CANDIDO, Antonio. Literatura e sociedade: Estudos de teoria e história literária.<br />

10ª ed. Rio de Janeiro; Ouro sobre azul, 2008.<br />

LETRAS <strong>SECAS</strong> DE GRACILIANO. Revista Entre Livros. São Paulo: Duetto<br />

Editorial, nº 19, novembro/ 2006. Edição especial.<br />

LINS, Álvaro. Valores e misérias das Vidas Secas. In: Vidas Secas. 35ª Ed. Rio de<br />

Janeiro, São Paulo: Record, 1976.<br />

MALARD, Letícia. Literatura e Dissidência Política. Belo Horizonte: Editora UFMG,<br />

2006.<br />

PEREIRA, Lúcia Miguel. A leitora e seus personagens: seleta de textos publicados<br />

em periódicos (1931-1943) e em livros. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Grafia, 2005.<br />

RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. 35ª Ed. Rio de Janeiro, São Paulo: Record, 1976.

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