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Manual de vigilância epidemiológica para o nível distrital: 1º volume

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MANUAL DE<br />

VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA<br />

PARA O NÍVEL DISTRITAL<br />

<strong>1º</strong> VOLUME<br />

INTERPRETAÇÃO E ACÇÃO


FICHA TÉCNICA<br />

TÍTULO:<br />

MANUAL DE VIGIÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA<br />

INTERPRETAÇÃO E ACÇÃO<br />

AUTORES:<br />

Avertino Barreto<br />

Lorna Gujral<br />

Carla Silva Matos<br />

EDITOR:<br />

DNS-DEE-GABINETE DE EPIDEMIOLOGIA – MINISTÉRIO DA SAÚDE<br />

3ª edição<br />

TIRAGEM:<br />

500 EXEMPLARES<br />

COM COMPARTICIPACAO FINANCEIRA DA USAID E NORAD<br />

ii


PREFÁCIO<br />

O “<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital” completou seis<br />

anos <strong>de</strong> existência, período esse em que foi largamente utilizado não só ao <strong>nível</strong><br />

nacional como também por instituições internacionais.<br />

Apesar <strong>de</strong> continuar a ser um valioso instrumento <strong>de</strong> trabalho, tornava-se urgente<br />

a sua a<strong>de</strong>quação aos novos <strong>de</strong>safios da saú<strong>de</strong> tendo em conta todo um conjunto<br />

<strong>de</strong> factores relacionados com o <strong>de</strong>senvolvimento do Ministério da Saú<strong>de</strong>.<br />

A recente avaliação epi<strong>de</strong>miológica sobre o perfil epi<strong>de</strong>miológico das doenças<br />

transmissíveis nos últimos 20 anos acompanhada pela experiência operacional<br />

adquirida pelo Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia durante as visitas <strong>de</strong> supervisão às<br />

províncias e distritos, permitiram reconhecer que muito se po<strong>de</strong>ria fazer <strong>para</strong><br />

melhorar o manual <strong>de</strong> epi<strong>de</strong>miologia – <strong>volume</strong> 1 e 2 – e <strong>de</strong>sta forma po<strong>de</strong>r-se<br />

contribuir <strong>para</strong> a melhoria do sub-sistema <strong>de</strong> informação das doenças transmissíveis<br />

e das doenças com características epidémicas.<br />

Com os dois <strong>volume</strong>s revistos e adaptados à nova realida<strong>de</strong> sanitária do país,<br />

preten<strong>de</strong>-se que os livros continuem a constituir uma boa fonte <strong>de</strong> aprendizagem<br />

sobre os conceitos básicos <strong>de</strong> epi<strong>de</strong>miologia bem como servir <strong>de</strong> instrumento útil<br />

<strong>para</strong> a notificação das doenças transmisíveis e não transmissíveis.<br />

Os dois <strong>volume</strong>s novos, com uma apresentação mais didáctica e atractiva, vai<br />

continuar a permitir que todos os trabalhadores <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e a todos os níveis<br />

possam ter acesso a um conhecimento <strong>de</strong> extrema utilida<strong>de</strong> na planificação das<br />

nossas activida<strong>de</strong>s e principalmente no controlo das principais doenças que atingem<br />

o nosso país.<br />

Não basta termos os livros. Torna-se imperioso que todos nós saibamos assumir<br />

o seu conteúdo, por forma a garantirmos uma melhor atenção <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> às nossas<br />

iii


populações.<br />

Sem uma boa informação não se tomam <strong>de</strong>cisões a<strong>de</strong>quadas, pois não é possível<br />

conhecermos a realida<strong>de</strong> evolutiva das doenças tendo em conta o número dos<br />

episódios e o local e o momento on<strong>de</strong> ocorrem. Estes três instrumento são vitais<br />

<strong>para</strong> uma correcta apreciação do <strong>de</strong>senvolvimento das doenças e mais ainda,<br />

permitem a tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões <strong>de</strong> forma atempada <strong>para</strong> que se obtenha o respectivo<br />

impacto positivo junto das populações.<br />

Através <strong>de</strong>ste prefácio mais uma vez encorajo todos os trabalhadores da saú<strong>de</strong><br />

a estudarem os dois manuais recentemente revistos por forma a po<strong>de</strong>rmos melhorar<br />

substancialmente o nosso trabalho, principalmente no campo da recolha,<br />

análise e avaliação das constatações tendo em conta uma maior valorização do<br />

Sistema <strong>de</strong> Informação <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> e neste caso concreto do Sub-Sistema <strong>de</strong> informação<br />

das doenças transmissíveis e também <strong>para</strong> as não transmissíveis, como<br />

instrumento <strong>de</strong> consulta.<br />

Maputo, Novembro <strong>de</strong> 2002<br />

O Ministro da Saú<strong>de</strong><br />

Dr. Francisco Ferreira Songane<br />

iv


Agra<strong>de</strong>cimentos<br />

(1ª edição)<br />

O MANUAL DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA, Interpretação e Acção, representa o<br />

<strong>1º</strong> Volume <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> dois manuais e tem como principal objectivo servir como mais um<br />

instrumento <strong>de</strong> apoio ao trabalho que é realizado ao <strong>nível</strong> das unida<strong>de</strong>s sanitárias no âmbito<br />

da recolha e análise da informação existente, principalmente no que diz respeito às doenças<br />

transmissíveis.<br />

O primeiro <strong>volume</strong> é o resultado das experiências acumuladas pelos trabalhadores da saú<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a In<strong>de</strong>pendência, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o momento em que foram traçadas as principais estratégias no<br />

sentido <strong>de</strong> garantir uma melhor qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida das populações Moçambicanas.<br />

Este manual foi concebido e elaborado pelo Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia sob a Direcção do Dr.<br />

Avertino Barreto e Coor<strong>de</strong>nação do Dr. Phillipe Tabard. Partici<strong>para</strong>m directamente neste<br />

trabalho os seguintes profissionais:<br />

- Sr. Lucas Chomera<br />

- Dra. Clara Santos<br />

- Dr. Martinho Dgedge<br />

- Dra. Fátima Aly<br />

- Dr. António Noya<br />

- Dr. Miguel Arágon<br />

- Sr. José João Matavele<br />

- Sr. Jonas Chambule<br />

A todos estes colaboradores directos e aos que indirectamente apoiaram com as suas experiencias<br />

vai o nosso sincero agra<strong>de</strong>cimento. nao <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> eneltecer a revisao realizada pela Sra. H. Tojais.<br />

GABINETE DE EPIDEMIOLOGIA<br />

v


AGRADECIMENTOS<br />

O MANUAL DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA, representa o <strong>1º</strong> Volume <strong>de</strong> uma<br />

série <strong>de</strong> dois manuais e tem como principal objectivo servir como mais um instrumento<br />

<strong>de</strong> apoio ao trabalho que é realizado ao <strong>nível</strong> das unida<strong>de</strong>s sanitárias no âmbito da recolha<br />

e análise da informação existente, principalmente no que diz respeito às doenças<br />

transmissíveis.<br />

O primeiro <strong>volume</strong> é o resultado das experiências acumuladas pelos trabalhadores da<br />

saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a In<strong>de</strong>pendência, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o momento em que foram traçadas as principais<br />

estratégias no sentido <strong>de</strong> garantir uma melhor qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida das populações Moçambicanas.<br />

A 2ª edição <strong>de</strong>ste manual foi concebido e elaborado pelo Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia sob<br />

a Direcção do Dr. Avertino Barreto e Coor<strong>de</strong>nação das Dras. Lorna Gujral e Carla<br />

Silva Matos. Partici<strong>para</strong>m directamente neste trabalho os seguintes profissionais:<br />

- Sr. José Chivale<br />

- Dra. Lúcia Linares<br />

- Dra. Hanifa Ramane<br />

- Dra. Benedita Silva<br />

- Dra. Ana Charles<br />

- Dr. Alfredo MacAuthur<br />

- Dra. Paula Perdigão<br />

- Dr. Alcino N<strong>de</strong>ve<br />

- Sr. Manuel Matonsse<br />

- Dr. Chandana Mendis<br />

- Dr. Milton Val<strong>de</strong>z<br />

A todos estes colaboradores e a todos os que apoiaram com as suas experiências, vai o<br />

nosso sincero agra<strong>de</strong>cimento, não <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> enaltecer a revisão da Sra. H. Tojais.<br />

GABINETE DE EPIDEMIOLOGIA<br />

(2ª edição)<br />

vi


INDICE<br />

Página<br />

I. INTRODUÇÃO 1<br />

1. Sistema <strong>de</strong> Informação <strong>para</strong> a Saú<strong>de</strong> (SIS) 2<br />

1.1. Definição 2<br />

1.1.1 Instrumentos 3<br />

1.1.2 Normas 3<br />

1.2. Uso dos dados 3<br />

1.2.1 Dado, informação e conhecimento 5<br />

2. INTRODUÇÃO A VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA 6<br />

2.1. Definições e generalida<strong>de</strong>s 6<br />

2.1.1 Limitações da VE 9<br />

2.2 Funções da Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica 10<br />

2.3 Etapas da Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica 10<br />

2.3.1 Registo 11<br />

2.3.2 Recolha 11<br />

2.3.3 Elaboração 12<br />

2.3.4 Apresentação 12<br />

2.3.5 Intepretação 13<br />

2.3.6 Envio 13<br />

2.3.7 Recepção 14<br />

2.3.8 Controlo <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> 14<br />

2.3.9 Retro informação 15<br />

3. ELABORAÇÃO E A INTERPRETAÇÃO 15<br />

3.1 Indicadores 15<br />

3.1.1 Incidência e taxa <strong>de</strong> incidência 16<br />

3.1.2 Prevalência e taxa <strong>de</strong> prevalência 18<br />

3.1.3 Utilização das taxas <strong>de</strong> incidência e <strong>de</strong> prevalência 20<br />

3.1.4 Taxa <strong>de</strong> letalida<strong>de</strong> 21<br />

3.1.5 Taxa <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> 23<br />

3.2 Quantida<strong>de</strong> e qualida<strong>de</strong> da informação 24<br />

3.3 Interpretação 25<br />

3.4 Investigações epi<strong>de</strong>miológicas 27<br />

4. FONTES ALTERNATIVAS DE INFORMAÇÃO 28<br />

4.1 Rumores 28<br />

4.2 Inquérito 29<br />

II A VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA EM MOÇAMBIQUE 31<br />

1. NÚCLEO DE EPIDEMIOLOGIA 31<br />

2. AVALIAÇÃO E PLANIFICAÇÃO 33<br />

2.1 Definir as priorida<strong>de</strong>s 33<br />

2.1.1 Resumos <strong>de</strong> internamento dos Hospitais Rurais 33<br />

2.1.2 BES 35<br />

2.2 Avaliar a eficácia 36<br />

vii


INDICE<br />

Página<br />

Exemplo 1: PAV 36<br />

Exemplo 2:– Programa ELAL 40<br />

Exemplo 3: Atendimento clínico 42<br />

2.3 Avaliar a qualida<strong>de</strong> 46<br />

2.3.1 Exemplo 1: Doenças em crianças vacinadas 46<br />

2.3.2 Exemplo 2: VAT 47<br />

2.3.3 Taxa <strong>de</strong> abandono (tuberculose) 47<br />

3. VIGILÂNCIA DAS EPIDEMIA 49<br />

3.1 Investigar uma epi<strong>de</strong>mia 49<br />

3.1.1Generalida<strong>de</strong>s 49<br />

3.1.2 Confirmar a epi<strong>de</strong>mia 50<br />

3.1.3 Analisar a epi<strong>de</strong>mia 52<br />

3.1.4 Controlar a epi<strong>de</strong>mia 56<br />

3.2 Epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> saramp 57<br />

3.3. Paralisia Flácida Aguda (PFA) e poliomielite 62<br />

3.3.1 Suspeita e confirmação <strong>de</strong> casos 62<br />

3.3.2 Seguimento ao doente aos 60 dias 65<br />

3.4 Diarreia 67<br />

3.4.1 Detectar uma epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> diarreia 67<br />

3.4.2 Cólera 70<br />

3.4.3 Disenteria 72<br />

3.5 Controle <strong>de</strong> uma epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> malária 73<br />

3.5.1 Factores <strong>de</strong> risco 73<br />

3.5.2 Diagnóstico do surto <strong>de</strong> malária 74<br />

3.5.3 Controlo do surto <strong>de</strong> malária 76<br />

3.6 Epi<strong>de</strong>mias <strong>de</strong> meningite 78<br />

3.6.1 Sistema <strong>de</strong> notificação 78<br />

3.6.2 Controlo <strong>de</strong> foco fora do contexto epidémico 80<br />

3.6.3 Detecção duma epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> meningite 82<br />

3.6.4 Controlo duma epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> meningite 84<br />

3.6.5 Controlo duma epi<strong>de</strong>mia nos quarteis 86<br />

3.6.6 Vacinação anti-meningocócica 86<br />

ANEXO 1: APRESENTAÇÃO DOS DADOS E GRÁFICOS 89<br />

1. Tabelas 90<br />

2. Gráficos 92<br />

2.1 Título 93<br />

2.2 Gráfico linear simples 94<br />

2.3 Gráfico linear com informação múltipla 100<br />

2.4 Gráfico <strong>de</strong> barras 102<br />

2.5 Notas explicativas 105<br />

3. Mapas 106<br />

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 110<br />

viii


I. INTRODUÇÃO<br />

<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> qualquer activida<strong>de</strong>, serviço ou programa pressupõe a<br />

existência <strong>de</strong> mecanismos que permitam avaliar o seu funcionamento, bem como<br />

medir o seu grau <strong>de</strong> implementação. Mais importante ainda é a medição da eficiência<br />

e eficácia <strong>de</strong> todo o processo.<br />

Hoje, muito do conhecimento existente, especialmente no campo sanitário, nomeadamente<br />

no controle das doenças transmissíveis, <strong>de</strong>veu-se à persistência<br />

dos investigadores em registar toda a informação relacionada com os fenómenos<br />

observados. Esta informação era organizada, analizada <strong>para</strong> posteriormente<br />

se tirar conclusões: <strong>de</strong>sta forma, as acções implementadas permitiam ultrapassar<br />

os entraves encontrados, ou seja, controlar os factores directamente<br />

associados ao aparecimento das referidas doenças.<br />

Todo este processo levou a que se <strong>de</strong>dicasse uma importância especial a um<br />

sistema que fosse capaz <strong>de</strong> recolher informação pertinente e regular, <strong>para</strong> que<br />

essa mesma informação fosse estudada e que finalmente se po<strong>de</strong>ssem tirar<br />

conclusões oportunas e credíveis.<br />

É <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ste âmbito que ao <strong>nível</strong> do Ministério da Saú<strong>de</strong> e tendo em conta<br />

as experiências dos outros países se criou o “Sistema <strong>de</strong> Informação <strong>para</strong> a<br />

Saú<strong>de</strong>”, sistema esse fundamental <strong>para</strong> que as activida<strong>de</strong>s do Ministério sejam<br />

regularmente registadas e como atrás se disse, após analizadas sirvam <strong>para</strong><br />

a tomada <strong>de</strong> dicisões, nomeadamente a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> políticas, estratégias ou<br />

mesmo a elaboração <strong>de</strong> programas.<br />

É <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ste gran<strong>de</strong> sistema <strong>de</strong> informação que é criado o sub-sistema <strong>de</strong><br />

informação das doenças transmissíveis e não-transmissíveis que incluem os Boletins<br />

Epi<strong>de</strong>miológicos Semanais e os Boletins Epi<strong>de</strong>miológicos mensais.<br />

MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003 1


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

1. SISTEMA DE INFORMAÇÃO PARA A SAÚDE (SIS)<br />

O SIS PERMITE A TOMADA DE DECISÕES E ACÇÕES<br />

AOS DIFERENTES NÍVEIS DE ATENÇÃO DE SAÚDE<br />

1.1. Definição<br />

O SIS é um conjunto <strong>de</strong> instrumentos, normas e activida<strong>de</strong>s inter-relacionados,<br />

que produz informação <strong>para</strong> a tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões na área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Esquematicamente,<br />

as componentes integrantes do SIS, são:<br />

Esquema 1: Componentes do SIS<br />

2 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 20033


1.1.1. Instrumentos<br />

<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

Os instrumentos do SIS são:<br />

• livro <strong>de</strong> registo<br />

• livro <strong>de</strong> internamento<br />

• fichas <strong>de</strong> notificação<br />

É através <strong>de</strong>stes instrumentos que os dados são registados, recolhidos e enviados.<br />

1.1.2 Normas<br />

As normas permitem saber:<br />

• o TIPO DE ACTIVIDADES que <strong>de</strong>vem ser realizadas, nomeadamente:<br />

(a) registo, (b) recolha, (c) elaboração, (d) apresentação, (e) interpretação,<br />

(f) envio, (g) recepção, (h) retro-informação, e (g) controlo <strong>de</strong><br />

qualida<strong>de</strong>.<br />

• QUEM <strong>de</strong>ve realizá-las<br />

• COMO <strong>de</strong>vem ser realizadas<br />

• qual a PERIODICIDADE <strong>de</strong> envio (semanal, mensal, semestral, anual)<br />

• qual o FLUXO que os instrumentos <strong>de</strong>vem seguir<br />

As normas permitem uniformizar o SIS nos diferentes pontos do País.<br />

1.2. Uso dos dados<br />

Os dados registados, recolhidos, enviados e elaborados pelo SIS servem <strong>para</strong><br />

<strong>de</strong>screver os seguintes aspectos:<br />

- O estado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> da população, que inclui a monitorização das doenças,<br />

aspecto seguido especificamente pela Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica (VE),<br />

como adiante se explica.<br />

MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003 3


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

- Os Serviços <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, que englobam (i) activida<strong>de</strong>s realizadas pelo<br />

SNS; (ii) recursos humanos, materiais ou financeiros; (iii) eficácia e o<br />

impacto do trabalho realizado.<br />

Portanto, a <strong>vigilância</strong> epi<strong>de</strong>miológica é um sub-sistema do SIS e os seus dados<br />

não <strong>de</strong>vem ser interpretados <strong>de</strong> forma se<strong>para</strong>da.<br />

A interpretação integrada dos dados é indispensável <strong>para</strong> o<br />

ciclo <strong>de</strong> planificação, programação e gestão do SNS.<br />

Deste modo, o SIS permite conhecer:<br />

- Os principais problemas a enfrentar<br />

- Os recursos disponíveis<br />

- O <strong>volume</strong> e a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalho realizado<br />

- O resultado do esforço dos trabalhadores<br />

O SIS ajuda a:<br />

♦<br />

♦<br />

♦<br />

♦<br />

♦<br />

<strong>de</strong>finir objectivos<br />

programar activida<strong>de</strong>s<br />

distribuir recursos<br />

avaliar as <strong>de</strong>cisões tomadas (avaliação e monitorização)<br />

retroinformação<br />

1.2.1. Dado, informação e conhecimento<br />

No funcionamento do SIS é preciso ter em conta 3 aspectos: dado, informa-<br />

4 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 20035


ção e conhecimento.<br />

<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

Um DADO é uma observação <strong>de</strong> factos (ex: o número <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> sarampo<br />

observados). Por si só, consi<strong>de</strong>rado isoladamente, um dado não permite a interpretação<br />

nem, portanto, a tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões.<br />

A INFORMAÇÃO é constituída por dados agrupados segundo o indivíduo (ida<strong>de</strong>,<br />

sexo), o tempo e o espaço.<br />

Por exemplo: “o número <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> sarampo no Distrito <strong>de</strong> Matutuine em<br />

1999”.<br />

Esta informação po<strong>de</strong>rá ser com<strong>para</strong>da com a do ano <strong>de</strong> 2000 ou 2001, e com a<br />

<strong>de</strong> outros Distritos. Deste modo, é possível estimar a gravida<strong>de</strong> da situação.<br />

Uma forma muito útil <strong>de</strong> compilar a informação é através do cálculo <strong>de</strong> INDI-<br />

CADORES.<br />

Um indicador é uma medida que po<strong>de</strong> ser utilizada <strong>para</strong> <strong>de</strong>screver uma situação<br />

actual com<strong>para</strong>ndo lugares ou pessoas, ou <strong>para</strong> verificar mudanças no tempo.<br />

Por exemplo:<br />

Po<strong>de</strong>-se calcular como indicador, a taxa <strong>de</strong> incidência do sarampo no Distrito<br />

<strong>de</strong> Matutuine em 1999, e com<strong>para</strong>r com a <strong>de</strong> 2000. A fórmula <strong>para</strong> o cálculo da<br />

taxa <strong>de</strong> incidência e outros indicadores, encontra-se no ponto 3 (“elaboração e<br />

interpretação”).<br />

O CONHECIMENTO consiste na integração da informação com a experiência<br />

e percepção sobre a situação, com base nos valores socio-políticos e nas limitantes.<br />

MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003 5


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

Por exemplo:<br />

Associar a taxa <strong>de</strong> incidência do sarampo no Distrito <strong>de</strong> Matutuine em 1999<br />

com outros dados do SIS, como (a) a taxa <strong>de</strong> cobertura <strong>de</strong> vacina anti-sarampo<br />

nos últimos 3 anos, (b) o número <strong>de</strong> Agentes <strong>de</strong> Medicina Preventiva no Distrito,<br />

(c) o facto <strong>de</strong> o Centro <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (CS) apenas vacinar 2 dias por semana e (d) o<br />

conhecimento sobre a percepção que a comunida<strong>de</strong> tem da doença.<br />

Todos estes dados em conjunto permitem conhecer a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sta doença<br />

no Distrito, discutir a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acção e consequentemente, PLANIFI-<br />

CAR.<br />

Portanto:<br />

O conhecimento é a base das <strong>de</strong>cisões.<br />

2. INTRODUÇÃO À VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA<br />

2.1. Definições e generalida<strong>de</strong>s<br />

A Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica (VE) é <strong>de</strong>finida como a recolha, análise e interpretação<br />

sistemática dos dados das doenças, bem como dos factores relacionados<br />

com o seu controlo, <strong>para</strong> a execução oportuna <strong>de</strong> acções.<br />

É importante, ter sempre presente que:<br />

O sistema <strong>de</strong> <strong>vigilância</strong> epi<strong>de</strong>miológica é um sub-sistema do SIS,<br />

cujos dados <strong>de</strong>vem ser interpretados no seu conjunto.<br />

6 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 20037


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

Por outras palavras, a VE permite <strong>de</strong>terminar:<br />

• que doenças existem<br />

• quais são as doenças prioritárias<br />

• quem é afectado (sexo, grupo etário, profissão, etc)<br />

• on<strong>de</strong> estão as pessoas afectadas (lugar)<br />

• quando é que foram afectadas (tempo)<br />

Uma vez conhecidos estes elementos e associados ao conhecimento sobre a<br />

situação dos Serviços <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, é possível <strong>de</strong>finir estratégias <strong>para</strong> prevenir<br />

e/ou controlar estas doenças.<br />

VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA (VE)<br />

ô<br />

INFORMAÇÃO SOBRE DOENÇAS, PARA ACÇÃO<br />

Para que as acções <strong>de</strong> prevenção e controlo sejam oportunas e eficazes, é fundamental<br />

que:<br />

- a VE seja uma componente imprescindível dos programas <strong>de</strong> controlo.<br />

- todas as activida<strong>de</strong>s da VE sejam executadas a todos os níveis <strong>de</strong> prestação<br />

<strong>de</strong> serviço (Unida<strong>de</strong> Sanitária, <strong>distrital</strong>, provincial e nacional).<br />

Para se i<strong>de</strong>ntificar quais as doenças que necessitam <strong>de</strong> mais atenção, <strong>de</strong>ve-se<br />

tomar em conta aspectos como:<br />

(i)<br />

(ii)<br />

(iii)<br />

a sua gravida<strong>de</strong> em termos <strong>de</strong> incidência<br />

a sua prevalência e letalida<strong>de</strong><br />

a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> êxito das activida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> controlo e/ou <strong>de</strong> prevenção.<br />

MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003 7


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

Esquema 2: Limitações da VE<br />

S/sintomas<br />

C/sintomas<br />

N/procura<br />

ajuda<br />

População<br />

infectada<br />

Procura<br />

ajuda<br />

n/médica<br />

Diagnóstico<br />

n/feito<br />

Procura<br />

ajuda<br />

Notificação<br />

n/feita<br />

Procura<br />

serviços<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

Diagnóstico<br />

feito<br />

Notificação<br />

feita<br />

8 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 20039


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

2.1.1. Limitações da VE<br />

A VE apenas com dados <strong>de</strong> rotina não permite conhecer por completo o estado<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> da população numa comunida<strong>de</strong>, como se po<strong>de</strong> observar no esquema 2,<br />

na página 8. Do total da população infectada representada no quadro à esquerda,<br />

apenas uma pequena parte representada no quadro à direita, será notificada.<br />

Portanto, as doenças notificadas pelo sistema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> não dão uma imagem<br />

exacta do estado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> da comunida<strong>de</strong>, mas sim uma estimativa.<br />

Convém salientar, que algumas das limitações não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m directamente dos<br />

Serviços <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>.<br />

Por exemplo:<br />

Se uma criança tem sarampo e a mãe não a leva ao Centro <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, não será<br />

possível notificar o caso.<br />

No entanto, ao melhorar a parte que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do Sistema Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>,<br />

já será possível conhecer com valida<strong>de</strong> as tendências das doenças. Por outras<br />

palavras, será possível saber se a frequência duma certa doença está a aumentar<br />

ou a diminuir; se se apresenta sob uma forma mais ou menos grave que no<br />

passado, etc.<br />

Com a tendência da doença, é possível saber se:<br />

a) a sua frequência está a aumentar ou a diminuir<br />

b) se apresenta sob uma forma mais ou menos grave do que no passado, etc.<br />

Para complementar a VE, outras activida<strong>de</strong>s como a busca activa <strong>de</strong> casos, investigações<br />

ou inquéritos pontuais po<strong>de</strong>rão ser realizados.<br />

MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003 9


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

2.2. Funções da VE<br />

As funções da VE são as seguintes:<br />

a) Conhecer a dinâmica das doenças, ou seja, permite (i) conhecer e prever<br />

a evolução do comportamento das doenças e (ii) i<strong>de</strong>ntificar atempadamente<br />

surtos e epi<strong>de</strong>mias.<br />

b) Ajudar na planificação dos programas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, ou seja, permite i<strong>de</strong>ntificar<br />

(i) quais são as doenças que constituem um problema prioritário<br />

e que, portanto, precisam <strong>de</strong> programas <strong>de</strong> controlo e (ii) grupos <strong>de</strong> alto<br />

risco, as áreas <strong>de</strong> alta transmissão e a variabilida<strong>de</strong> no período <strong>de</strong> transmissão<br />

(exemplo: época chuvosa ou época seca).<br />

c) Avaliar os programas <strong>de</strong> controlo, ou seja, a <strong>vigilância</strong> epi<strong>de</strong>miológica<br />

permite avaliar a eficácia dos programas preventivos ou <strong>de</strong> controlo,<br />

com<strong>para</strong>ndo a magnitu<strong>de</strong> duma doença antes e <strong>de</strong>pois da implementação<br />

dos programas.<br />

As funções da <strong>vigilância</strong>, com exemplos práticos aplicáveis à nossa realida<strong>de</strong>,<br />

são pormenorizadas no 2º <strong>volume</strong> do manual, “Normas e Instrumentos <strong>para</strong><br />

a Notificação das Doenças Transmissíveis em Moçambique”.<br />

2.3. Etapas da VE<br />

A VE po<strong>de</strong> ser dividida em (a) activida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> rotina, e (b) activida<strong>de</strong>s eventuais.<br />

Exemplo <strong>de</strong> activida<strong>de</strong>s eventuais são as investigações que permitem obter<br />

informação complementar às notificações recebidas pelo sistema <strong>de</strong> rotina ou<br />

por rumores, sobre doenças não cobertas pelo sistema <strong>de</strong> rotina. As investigações<br />

e os inquéritos serão abordados noutros parágrafos.<br />

10 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 200311


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

Como já foi mencionado, a VE <strong>de</strong> rotina é um subsistema do SIS. Portanto,<br />

funciona com as mesmas activida<strong>de</strong>s que o SIS. As diferentes etapas são resumidas<br />

nos seguintes parágrafos, utilizando o exemplo do BES (mais pormenores<br />

encontram-se no 2º <strong>volume</strong> do manual). Os outros sistemas <strong>de</strong> VE, por exemplo,<br />

o sistema da Tuberculose, po<strong>de</strong>m ter formulários e ritmo diferentes, mas as<br />

activida<strong>de</strong>s são idênticas, nomeadamente:<br />

2.3.1. Registo<br />

O registo consiste em anotar num impresso um caso diagnosticado, uma activida<strong>de</strong><br />

realizada ou um recurso recebido.<br />

Por exemplo:<br />

O clínico escreve (regista) no seu livro <strong>de</strong> consulta um caso diagnosticado <strong>de</strong> sarampo.<br />

2.3.2. Recolha<br />

A recolha é o acto <strong>de</strong> transferência dos dados dos livros <strong>de</strong> registo ou<br />

das fichas diárias <strong>para</strong> as fichas <strong>de</strong> resumo. Este passo permite organizar<br />

os dados em gran<strong>de</strong>s categorias, com uma certa periodicida<strong>de</strong>.<br />

Por exemplo:<br />

No fim da consulta, o clínico escreve um traço na folha <strong>de</strong> contagem em cada<br />

quadro correspon<strong>de</strong>nte a cada uma das doenças <strong>de</strong> notificação obrigatória que<br />

aten<strong>de</strong>u. Na segunda-feira, o responsável do BES, recolhe as folhas <strong>de</strong> contagem<br />

da US e junta os dados <strong>de</strong> todas as consultas, preenchendo o BES da Unida<strong>de</strong><br />

Sanitária.<br />

MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003 11


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

2.3.3. Elaboração<br />

A elaboração consiste no agrupamento dos dados <strong>para</strong> transformá-los em informação.<br />

Um dado consi<strong>de</strong>rado isoladamente não permite a sua interpretação<br />

e, portanto, não é útil <strong>para</strong> a tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões. Assim, só diferentes tipos <strong>de</strong><br />

dados ligados numa forma lógica permitem conhecer uma realida<strong>de</strong>.<br />

Por exemplo:<br />

O responsável da VE da US soma os casos <strong>de</strong> diarreia notificados no BES durante<br />

o ano, e associa com a população estimada na área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>para</strong> calcular a<br />

taxa <strong>de</strong> incidência das diarreias nessa área.<br />

2.3.4. Apresentação<br />

A apresentação consiste na organização da informação em tabelas e gráficos, o<br />

que facilita a sua análise e compreensão. Assim, os gráficos evi<strong>de</strong>nciam visualmente<br />

uma situação sobre a qual po<strong>de</strong>rá ser necessário tomar uma <strong>de</strong>cisão.<br />

Por exemplo:<br />

No caso do BES, o responsável da VE do Distrito <strong>de</strong>ve actualizar mensalmente,<br />

o gráfico dos casos <strong>de</strong> sarampo e <strong>de</strong> diarreia que foram notificados.<br />

No anexo 1, são dadas orientações e exemplos <strong>de</strong> como elaborar tabelas e <strong>de</strong>senhar<br />

gráficos.<br />

12 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 200313


2.3.5. Interpretação<br />

<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

A interpretação é a tentativa <strong>de</strong> encontrar explicações <strong>para</strong> um <strong>de</strong>terminado acontecimento<br />

e suas causas. Saber interpretar é a condição indispensável <strong>para</strong> po<strong>de</strong>r<br />

escolher medidas correctivas a<strong>de</strong>quadas e evitar tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões precipitadas.<br />

Por exemplo:<br />

Na sua análise anual, o núcleo <strong>de</strong> epi<strong>de</strong>miologia nota que diminuiu o número<br />

<strong>de</strong> casos <strong>de</strong> tétano neo-natal notificados no Distrito. Encontrou como<br />

possíveis causas que explicavam a diminuição: (a) ausência <strong>de</strong> notificação<br />

no BES, ou (b) melhoria da higiene durante o parto pelas Parteiras<br />

Tradicionais ou (c) aumento da cobertura da VAT em mulheres grávidas.<br />

2.3.6. Envio<br />

O envio consiste na entrega dos impressos <strong>de</strong> resumo ao <strong>nível</strong> superior,<br />

<strong>de</strong>vendo seguir o percurso estabelecido e respeitar os prazos <strong>de</strong><br />

entrega, que po<strong>de</strong>rão ser diferentes, consoante o tipo <strong>de</strong> impressos.<br />

Por exemplo:<br />

Na terça-feira <strong>de</strong> cada semana, o BES da Unida<strong>de</strong> Sanitária correspon<strong>de</strong>nte à<br />

semana epi<strong>de</strong>miológica anterior, <strong>de</strong>ve ser enviado <strong>para</strong> o Distrito;<br />

O resumo da Lepra <strong>de</strong>ve ser enviado trimestralmente; enquanto que a informação<br />

sobre os recursos humanos po<strong>de</strong> ser enviada anualmente.<br />

MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003 13


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

2.3.7. Recepção<br />

É o acto <strong>de</strong> receber, numa Instituição do SNS, os impressos enviados pelo <strong>nível</strong><br />

inferior. O ritmo <strong>de</strong> recepção é obviamente o mesmo que o <strong>de</strong> envio. A recepção<br />

<strong>de</strong>ve ser controlada, <strong>de</strong> modo a que a informação em falta seja solicitada.<br />

Por exemplo:<br />

Os BES das diferentes US <strong>de</strong>vem ser recebidos na Direcção Distrital (DDS) até<br />

Sábado da semana seguinte. O controlo da recepção dos BES <strong>de</strong>ve ser feito com<br />

o Mapa <strong>de</strong> Recepção, afixado na pare<strong>de</strong>.<br />

2.3.8. Controlo <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong><br />

Para cada uma das 7 activida<strong>de</strong>s prece<strong>de</strong>ntes, o controlo <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ser<br />

feito, ou seja, <strong>de</strong>ve-se verificar se os dados estão completos, se são oportunos,<br />

atempados e confiáveis.<br />

Por exemplo:<br />

O responsável do BES da US verifica se os casos recolhidos correspon<strong>de</strong>m às <strong>de</strong>finições<br />

<strong>de</strong> caso. Verifica também se todos os casos registados foram recolhidos<br />

(se viu um caso <strong>de</strong> tétano neo-natal internado, que não aparece na folha <strong>de</strong> contagem,<br />

<strong>de</strong>verá corrigir). Finalmente, <strong>de</strong> modo a assegurar-se que não existam<br />

erros, verifica os números que constam no BES, o nº da semana epi<strong>de</strong>miológica<br />

antes <strong>de</strong> o enviar à DDS.<br />

14 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 200315


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

2.3.9. Retro-informação<br />

A partir da DDS, nos níveis superiores, etapas são as mesmas: elaboração da<br />

informação, apresentação e interpretação, seguida do envio e recepção ao<br />

<strong>nível</strong> superior.<br />

Entretanto, há outra activida<strong>de</strong> que <strong>de</strong>ve ser realizada: a retro-informação.<br />

Esta consiste em <strong>de</strong>volver aos níveis inferiores,<br />

os dados compilados na DDS; por outras palavras, <strong>de</strong>volver informação<br />

interpretada (indicadores e/ou gráficos) e com comentários.<br />

Por exemplo:<br />

A DPS <strong>de</strong>ve enviar a todas as DDS da Província, um resumo mensal do BES provincial<br />

que inclui os dados <strong>de</strong> todos os Distritos.<br />

3. ELABORAÇÃO E INTERPRETAÇÃO<br />

A elaboração, e, sobretudo, a interpretação são duas etapas imprescindíveis<br />

<strong>para</strong> a tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões pertinentes.<br />

Para po<strong>de</strong>r interpretar a informação, torna-se necessário o cálculo <strong>de</strong> indicadores.<br />

3.1. Indicadores<br />

Como foi <strong>de</strong>finido na página 11, um indicador é uma medida que po<strong>de</strong> ser utilizada<br />

<strong>para</strong> <strong>de</strong>screver uma situação actual com<strong>para</strong>ndo lugares ou pessoas, ou <strong>para</strong><br />

verificar mudanças no tempo; por outras palavras, um indicador dá informação<br />

sobre uma situação.<br />

MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003 15


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

Apresenta-se muitas vezes sob a forma <strong>de</strong> taxa, e permite com<strong>para</strong>r informação<br />

entre os diferentes lugares, tempo ou grupos <strong>de</strong> pessoas.<br />

Os indicadores mais utilizados <strong>para</strong> a Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica são:<br />

• Taxa <strong>de</strong> Incidência (TI)<br />

• Taxa <strong>de</strong> Prevalência (TP)<br />

• Taxa <strong>de</strong> Letalida<strong>de</strong> (TL)<br />

• Taxa <strong>de</strong> Mortalida<strong>de</strong> (TM)<br />

3.1.1. Incidência e Taxa <strong>de</strong> Incidência<br />

A incidência é <strong>de</strong>finida como o número <strong>de</strong> casos novos <strong>de</strong> uma doença num<br />

<strong>de</strong>terminado período (um mês, um semestre, um ano,...), e num lugar <strong>de</strong>finido<br />

(um Distrito, uma Cida<strong>de</strong>, um País, ...).<br />

Por exemplo:<br />

Em 1992, foram notificados 790 novos casos <strong>de</strong> cólera no Distrito <strong>de</strong> Cahora-Bassa<br />

e 458 em Mágoè, na Província <strong>de</strong> Tete; isto é, a incidência da cólera foi <strong>de</strong> 790<br />

casos em Cahora-Bassa, e 458 casos em Mágoè, no ano 1992.<br />

Desta forma, parece que Mágoè foi menos afectado pela cólera que Cahora-Bassa.<br />

Porém, Mágoè tem aproximadamente 20.000 habitantes, enquanto<br />

Cahora-Bassa tem mais <strong>de</strong> dobro (58.600). Portanto, está-se a com<strong>para</strong>r duas<br />

realida<strong>de</strong>s diferentes.<br />

Por este motivo, quando existem dados <strong>de</strong>mográficos actualizados, é melhor<br />

relacionar o número <strong>de</strong> casos novos com o tamanho da população. Esta relação<br />

é chamada a Taxa <strong>de</strong> Incidência (TI).<br />

16 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 200317


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

A TI calcula-se com a proporção <strong>de</strong> casos novos (ou seja, a incidência) sobre a<br />

população num lugar <strong>de</strong>finido durante um tempo <strong>de</strong>finido, segundo a fórmula:<br />

Casos novos num lugar<br />

Taxa <strong>de</strong> incidência = _______________________ x 100<br />

População do mesmo lugar<br />

(no mesmo período <strong>de</strong> tempo)<br />

Com os exemplos <strong>de</strong> Mágoè (população 1) e Cahora-Bassa (população 2), po<strong>de</strong>-se<br />

calcular a TI <strong>de</strong> cólera em 1992, como segue:<br />

Em Mágoè (população 1):<br />

458 x 10.000<br />

TI = _____________ = 229/10.000<br />

20.000 habitantes<br />

Em Cahora-Bassa (população 2):<br />

790 x 10.000<br />

TI = ______________ = 135/10.000<br />

58.600 habitantes<br />

Po<strong>de</strong>-se arredondar <strong>para</strong> a unida<strong>de</strong> mais próxima, ou seja, a Taxa <strong>de</strong> Incidência<br />

é igual a 229/10.000 habitantes. Na prática, isto quer dizer que em cada grupo<br />

<strong>de</strong> 10.000 pessoas da população do Distrito <strong>de</strong> Mágoè, houve 229 casos <strong>de</strong><br />

cólera em 1992.<br />

Com<strong>para</strong>ndo os 2 grupos populacionais com o mesmo tamanho (10.000), po<strong>de</strong>se<br />

ver que o problema foi mais grave em Mágoè (229) que Cahora-Bassa (135),<br />

apesar do número absoluto <strong>de</strong> casos ser maior em Cahora-Bassa.<br />

Geralmente, quando o número <strong>de</strong> casos da doença consi<strong>de</strong>rada é pequeno, e a<br />

população é gran<strong>de</strong>, em vez <strong>de</strong> utilizar percentagem, é melhor calcular frequências<br />

por 100 (%), 1.000 ou 100.000 habitantes, utilizando a mesma fórmula, mas<br />

diferindo no factor multiplicador (100 (%), 1.000 ou 100.000).<br />

MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003 17


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

Por exemplo:<br />

Em Tete foram notificados 2.527 casos <strong>de</strong> cólera em 1992, com uma população<br />

estimada <strong>de</strong> 748.158 habitantes. Neste caso, po<strong>de</strong>-se calcular a TI por 10.000<br />

habitantes.<br />

2.527 x 10.000<br />

Tete: TI = ____________ = 34 por 10.000 habitantes<br />

748.158<br />

Como nos exemplos anteriores, po<strong>de</strong>-se dizer que se a população da Província<br />

<strong>de</strong> Tete em 1992 fosse dividida em grupos <strong>de</strong> 10.000 habitantes, em cada grupo,<br />

houve 34 casos.<br />

NB: Geralmente, calcula-se a TI <strong>para</strong> um ano. Quando se calcula a TI apenas<br />

num período curto, por exemplo uma ou duas semanas, fala-se <strong>de</strong> Taxa <strong>de</strong> Ataque<br />

(TA). Porém, calcula-se com a mesma fórmula:<br />

Casos novos num lugar<br />

Taxa <strong>de</strong> Ataque = _______________________ x 100 (%)<br />

População <strong>de</strong> risco<br />

(durante um período <strong>de</strong>finido, por exemplo uma semana).<br />

Também, é possível calcular a TA <strong>para</strong> 1.000, 10.000 ou mais habitantes.<br />

3.1.2. Prevalência e Taxa <strong>de</strong> Prevalência<br />

A prevalência é <strong>de</strong>finida como sendo o número total <strong>de</strong> casos (velhos e novos)<br />

<strong>de</strong> uma doença num <strong>de</strong>terminado momento e lugar.<br />

18 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 200319


Por exemplo:<br />

<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

No dia 15/01/92, fez-se um inquérito <strong>para</strong> pesquisa <strong>de</strong> bócio nas escolas do Distrito<br />

<strong>de</strong> Marrupa no Niassa. Encontraram-se 65 crianças com bócio, isto é, no dia 15<br />

<strong>de</strong> Janeiro 1992, a prevalência do bócio foi <strong>de</strong> 65, nas escolas <strong>de</strong> Marrupa.<br />

No entanto, como no caso da incidência, é melhor utilizar a Taxa <strong>de</strong> Prevalência<br />

(TP), ou seja, o número <strong>de</strong> casos totais relacionados com o número da<br />

população ou <strong>de</strong> pessoas consi<strong>de</strong>radas. Assim, é possível com<strong>para</strong>r. A fórmula<br />

a utilizar é a seguinte:<br />

Casos totais num certo lugar<br />

(num <strong>de</strong>terminado momento)<br />

Taxa <strong>de</strong> Prevalência = _______________________ x 100%<br />

População do mesmo lugar<br />

(durante o mesmo momento)<br />

No exemplo prece<strong>de</strong>nte, foram investigadas 287 crianças nas escolas <strong>de</strong> Marrupa<br />

(população 1). Nas escolas do Distrito <strong>de</strong> Mandimba, no Niassa, foram<br />

investigadas 320 crianças (população 2), e 30 tinham bócio. As Taxas <strong>de</strong> Prevalência<br />

nas escolas <strong>de</strong> Marrupa e Mandimba no dia 15/01/92 foram <strong>de</strong>:<br />

Marrupa (população 1):<br />

65 x 100<br />

TP = _____________ = 23%<br />

287<br />

Mandimba (população 2):<br />

30 x 100<br />

TP = _____________ = 9%<br />

320<br />

Da mesma forma que <strong>para</strong> a TI, isto quer dizer que se dividir as crianças das<br />

escolas <strong>de</strong> Marrupa e <strong>de</strong> Mandimba em grupos <strong>de</strong> 100, em cada grupo encontrou-se<br />

respectivamente 23 e 9 com bócio. Com<strong>para</strong>ndo 2 grupos do mesmo<br />

tamanho (100 crianças), assim é possível ver que o problema do bócio na data<br />

do 15/01/92 era mais sério nas escolas <strong>de</strong> Marrupa que <strong>de</strong> Mandimba.<br />

MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003 19


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

Se o número <strong>de</strong> casos for pequeno em relação ao número <strong>de</strong> pessoas consi<strong>de</strong>radas,<br />

é também possível calcular a Taxa <strong>de</strong> Prevalência por 1.000, 10.000 ou<br />

100.000 habitantes.<br />

Por exemplo:<br />

No dia 1 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 1993, 1.345 casos <strong>de</strong> tuberculose estavam em tratamento<br />

na Província <strong>de</strong> Nampula (população estimada: 2.957.131 habitantes), dando uma<br />

Taxa <strong>de</strong> Prevalência <strong>de</strong> 45 por 100.000 habitantes.<br />

Geralmente, a Taxa <strong>de</strong> Prevalência é calculada <strong>para</strong> um curto período <strong>de</strong> tempo<br />

(2 ou 3 dias), ou seja, prevalência pontual; também se po<strong>de</strong> calcular a taxa <strong>de</strong><br />

prevalência <strong>para</strong> um período mais longo (12 meses), ou seja, prevalência anual.<br />

3.1.3. Utilização das Taxas <strong>de</strong> Incidência e <strong>de</strong> Prevalência<br />

As diferenças entre estas taxas são apresentadas na tabela seguinte:<br />

Tabela 1: Resumo das diferenças entre a incidência e a prevalência<br />

INCIDÊNCIA<br />

PREVALÊNCIA<br />

Casos novos durante um período<br />

específico <strong>de</strong> tempo (ex: 1 mês ou 1<br />

ano).<br />

Todos os casos num <strong>de</strong>terminado<br />

ponto no tempo.<br />

REGISTA Doenças agudas e <strong>de</strong> curta duração. Doenças crónicas e <strong>de</strong> longa<br />

duração.<br />

SERVE PARA<br />

I<strong>de</strong>ntificar variações no padrão da<br />

doença.<br />

Medir a magnitu<strong>de</strong> dum problema<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

EXEMPLO Novos casos <strong>de</strong> Sarampo nos 6<br />

primeiros meses <strong>de</strong> 1999 em Gaza.<br />

Todos os doentes com Lepra em<br />

tratamento no <strong>1º</strong> <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong><br />

1999 em Gaza.<br />

20 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 200321


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

Estas taxas permitem com<strong>para</strong>r:<br />

- No tempo: a TI <strong>de</strong> cólera em Moçambique subiu <strong>de</strong> 3 por 100.000 em 1989<br />

<strong>para</strong> 211 por 100.000 em 1992, o que nos permite verificar que a situação<br />

piorou.<br />

- No espaço: comparou-se as T.I. <strong>de</strong> cólera em 1992 entre Mágoè e Cahora-<br />

Bassa. Também, comparou-se as T.P. do bócio nas escolas <strong>de</strong> Mandimba e<br />

Marrupa. Consi<strong>de</strong>ra-se geralmente que as crianças em ida<strong>de</strong> escolar são<br />

representativas do resto da população <strong>para</strong> o problema do bócio, ou seja,<br />

que estas crianças dão uma boa imagem do que se está a passar na população<br />

em geral em relação ao bócio. Deste modo, po<strong>de</strong>-se concluir que o<br />

problema do bócio era mais sério na Localida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Marrupa que em Mandimba.<br />

- Entre diferentes grupos <strong>de</strong> pessoas, por exemplo, os grupos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>:<br />

as T.I. <strong>de</strong> diarreia na Província <strong>de</strong> Maputo em 1991, foram <strong>de</strong> 50 por<br />

1.000 <strong>para</strong> as crianças <strong>de</strong> 0 a 5 anos, e <strong>de</strong> 11 por 1.000 nos maiores <strong>de</strong> 15<br />

anos. Apesar <strong>de</strong> serem dados das US e não da comunida<strong>de</strong>, isto parece<br />

confirmar que as crianças são mais afectadas pela diarreia que os adultos.<br />

Nota: Para calcular a T.I. num grupo <strong>de</strong> pessoas, por exemplo, <strong>para</strong> o grupo<br />

0-4 anos, utiliza-se uma formula idêntica à da fórmula geral: <strong>de</strong>ve-se<br />

dividir o número <strong>de</strong> casos registados neste grupo (ou seja, o número<br />

<strong>de</strong> casos <strong>de</strong> diarreia notificados no grupo <strong>de</strong> 0-4 anos) pelo número<br />

total <strong>de</strong> criancas <strong>de</strong> 0-4 anos.<br />

3.1.4. Taxa <strong>de</strong> letalida<strong>de</strong><br />

A Taxa <strong>de</strong> Letalida<strong>de</strong> (TL) é outro indicador muito utilizado na VE.<br />

MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003 21


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

A Taxa <strong>de</strong> Letalida<strong>de</strong> é a razão do número <strong>de</strong> pessoas diagnósticadas<br />

duma doença e o número <strong>de</strong> óbitos por essa doença, geralmente expressa<br />

em percentagem.<br />

Calcula-se com a seguinte fórmula:<br />

número <strong>de</strong> óbitos por uma <strong>de</strong>terminada doença<br />

TL = ____________________________________ x 100%<br />

número <strong>de</strong> casos da mesma doença<br />

Por exemplo:<br />

Durante a epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> meningite meningocócica no Distrito da Manhiça em 1992,<br />

foram notificados 18 casos e 2 óbitos, sendo a TL <strong>de</strong>:<br />

2 x 100<br />

TL = ____________ = 11%<br />

18<br />

22 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 200323


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

A Taxa <strong>de</strong> Letalida<strong>de</strong> permite:<br />

♦<br />

<strong>de</strong>finir a gravida<strong>de</strong> da doença - uma doença que provoca mais óbitos<br />

é mais grave do que uma doença com poucos óbitos - e assim ajudar a<br />

<strong>de</strong>finir priorida<strong>de</strong>s<br />

♦<br />

♦<br />

com<strong>para</strong>r a eficácia do tratamento<br />

estimar a qualida<strong>de</strong> do atendimento aos doentes, pois, geralmente, a<br />

eficácia está associada à qualida<strong>de</strong><br />

♦<br />

com<strong>para</strong>r a TL durante o mesmo período entre dois ou mais lugares<br />

3.1.5. Taxa <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong><br />

A Taxa <strong>de</strong> Mortalida<strong>de</strong> (TM) po<strong>de</strong> ser referente a um hospital ou enfermaria.<br />

A Taxa <strong>de</strong> Mortalida<strong>de</strong> é a razão ente o total <strong>de</strong> óbitos numa enfermaria<br />

ou hospital, e o total <strong>de</strong> altas nessa mesma enfermaria ou hospital.<br />

Note que a taxa <strong>de</strong> letalida<strong>de</strong> refere-se aos óbitos por uma doença específica.<br />

É a seguinte a fórmula usada no cálculo <strong>de</strong> taxa <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong>:<br />

número <strong>de</strong> óbitos num <strong>de</strong>terminado hospital/enfermaria<br />

TM = ___________________________________________ x 100 (%)<br />

número <strong>de</strong> altas no mesmo hospital/enfermaria<br />

MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003 23


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

Por exemplo:<br />

As taxas <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> (TM) no HR <strong>de</strong> Mocímboa da Praia:<br />

Exemplo 1: No primeiro trimestre <strong>de</strong><br />

1993, houve 175 altas no Hospital Rural <strong>de</strong><br />

Mocimboa da Praia, com 19 óbitos. A Taxa<br />

<strong>de</strong> Mortalida<strong>de</strong> no HR <strong>de</strong> Mocimboa foi:<br />

19 x 100<br />

TM = ____________ = 11%<br />

175<br />

Exemplo 2: Na pediatria do mesmo Hospital,<br />

durante o mesmo período, houve 62<br />

altas, com 10 óbitos. A TM da pediatria<br />

do HR <strong>de</strong> Mocimboa foi:<br />

10 x 100<br />

TM = ______________ = 17%<br />

62<br />

A Taxa <strong>de</strong> Mortalida<strong>de</strong> permite com<strong>para</strong>r a eficácia, e estimar a qualida<strong>de</strong><br />

do atendimento aos doentes entre 2 lugares ou 2 épocas diferentes.<br />

3.2. Quantida<strong>de</strong> e qualida<strong>de</strong> da informação<br />

O primeiro aspecto que se <strong>de</strong>ve ter em conta na análise é a quantida<strong>de</strong> e a<br />

qualida<strong>de</strong> da informação recebida.<br />

Por exemplo:<br />

Em 1992, o Distrito <strong>de</strong> Caia só notificou 1 caso <strong>de</strong> sarampo, enquanto o Distrito <strong>de</strong><br />

Chibabava, na mesma Província notificou 202 casos. À primeira vista, Chibabava<br />

registou muito mais casos do que Caia. No entanto, foram recebidos na DPS, 35<br />

BES <strong>de</strong> Chibabava, enquanto que <strong>de</strong> Caia só foi recebido 1. Ao <strong>nível</strong> da DPS não<br />

foi possível saber o que se passou em Caia durante as semanas que o BES não foi<br />

recebido, e na realida<strong>de</strong>, talvez Caia tivesse tido muito mais casos <strong>de</strong> sarampo que<br />

Chibabava. Portanto, o problema está na “quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> informação”.<br />

24 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 200325


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

Pelo contrário, o Hospital Central <strong>de</strong> Maputo enviou, em 1992, todos os BES esperados<br />

<strong>para</strong> a Direcção <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Maputo. Notificou 1151 casos <strong>de</strong> diarreia<br />

durante todo o ano, o que parecia pouco <strong>para</strong> a maior unida<strong>de</strong> sanitária do País. Investigado<br />

o assunto, verificou-se que a notificação correspondia apenas à Pediatria.<br />

Portanto, a Medicina, Banco <strong>de</strong> Socorros e outros serviços não foram incluídos na<br />

notificação. Portanto, o problema está na “qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> informação”.<br />

Finalmente, <strong>de</strong>ve-se ter em conta as DEFINIÇÕES DE CASO. Uma mudança <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>finição po<strong>de</strong> provocar gran<strong>de</strong>s variações no número <strong>de</strong> casos notificados.<br />

Por exemplo:<br />

No mês <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1991, a Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Maputo notificou 225 casos <strong>de</strong> cólera; no<br />

mesmo mês <strong>de</strong> 1992, foram reportados 366 casos. No entanto, em 1991, apenas<br />

se notificaram os casos com zaragatoas positivas. Em 1992, foi modificada a<br />

<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> caso, passando <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>finição laboratorial a uma clínica; foram<br />

notificados como cólera todos os casos <strong>de</strong> diarreia grave. É possível que<br />

o aumento <strong>de</strong> casos entre 1991 e 1992, tenha sido <strong>de</strong>vido a esta mudança e não<br />

a uma situação mais grave.<br />

3.3. Interpretação<br />

Depois <strong>de</strong> verificar a qualida<strong>de</strong>, calcular os indicadores, elaborar tabelas,<br />

gráficos e mapas, <strong>de</strong>vemos INTERPRETAR a informação dispo<strong>nível</strong>, ou seja,<br />

tentar respon<strong>de</strong>r às seguintes perguntas:<br />

- Quem é que está afectado? Quem é que morre? Quais os grupos<br />

etários mais afectados? São os <strong>de</strong>slocados, a população resi<strong>de</strong>nte ou<br />

população em movimento? As mulheres são mais afectadas do que os<br />

homens? Caso seja uma doença preve<strong>nível</strong> pela vacinação, os doentes<br />

foram previamente vacinados?<br />

MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003 25


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

- On<strong>de</strong> ocorrem os casos e óbitos? É uma doença urbana ou rural? Ocorrem<br />

só nalgumas Províncias e Distritos?<br />

- Quando ocorrem os casos e óbitos? São notificados os casos e óbitos<br />

num período particular?<br />

Na primeira etapa <strong>de</strong>ve-se <strong>de</strong>terminar se a incidência da doença numa área<br />

geográfica exce<strong>de</strong> a frequência normal <strong>de</strong>ssa doença na mesma população.<br />

Isto requer uma com<strong>para</strong>ção contínua da incidência recente com a dos períodos<br />

prece<strong>de</strong>ntes. Uma vez feita a com<strong>para</strong>ção, está-se perante as possíveis<br />

situações:<br />

Um aumento <strong>de</strong> casos que ultrapassa o número <strong>de</strong> casos esperado<br />

<strong>para</strong> o período <strong>de</strong> tempo e <strong>para</strong> a área - surto 1 .<br />

Um número <strong>de</strong> casos nitidamente superior ao esperado - epi<strong>de</strong>mia,<br />

ou, na presença habitual duma doença é <strong>de</strong>nominada en<strong>de</strong>mia.<br />

Um número <strong>de</strong> casos que ultrapassa barreiras geográficas, atingindo<br />

vários países e/ou continentes – pan<strong>de</strong>mia<br />

Para analisar e com<strong>para</strong>r os padrões <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> doenças é necessário ter<br />

1<br />

A <strong>de</strong>finição exacta dum surto é um episódio no qual dois ou mais casos da mesma doença apresentam relação entre sí.<br />

As características comuns aos dois ou mais casos po<strong>de</strong>m ser relacionadas ao momento do início dos síntomas, ao local<br />

on<strong>de</strong> ocorreram (mesma residência) ou a outra característica: criança na mesma escola, grupo étnico, trabalhadores da<br />

mesma empresa, etc..<br />

26 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 200327


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

em conta três factores:<br />

- A distribuição geográfica: é importante saber se os casos estão<br />

concentrados num mesmo lugar, ou se estão distribuídos em toda a<br />

área duma Unida<strong>de</strong> Sanitária. Se os casos estiverem concentrados, é<br />

provavelmente aí, que as medidas <strong>de</strong> controlo <strong>de</strong>vem ser iniciadas, ou<br />

aumentadas.<br />

- As variações sazonais: o número <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> algumas doenças po<strong>de</strong> ser<br />

mais alto numa época do ano que noutra. Os meses pico são geralmente<br />

os mesmos todos os anos <strong>para</strong> uma <strong>de</strong>terminada doença transmissível.<br />

Por exemplo: a málaria é mais comum durante o período das chuvas.<br />

- Variações anuais: <strong>para</strong> várias doenças transmissíveis, como sarampo ou<br />

cólera, po<strong>de</strong> haver gran<strong>de</strong>s diferenças no número <strong>de</strong> casos registados<br />

num ano em com<strong>para</strong>ção com outros anos. Tipicamente, po<strong>de</strong>-se ter um<br />

ou dois anos com poucos casos, seguidos por um ano com muitos casos.<br />

O ano com mais casos que os esperados é chamado ano epidémico.<br />

Para conhecer as variações anuais, é preciso seguir os dados <strong>de</strong> vários<br />

anos.<br />

Exemplos práticos <strong>de</strong> interpretação da informação epi<strong>de</strong>miológica sobre algumas<br />

doenças frequentes em Moçambique, encontram-se na segunda parte<br />

<strong>de</strong>ste <strong>volume</strong> “Normas e Instrumentos <strong>para</strong> a Notificação das Doenças<br />

Transmissíveis em Moçambique”.<br />

3.4. Investigações epi<strong>de</strong>miológicas<br />

A investigação é um procedimento através do qual se obtêm, <strong>de</strong> forma activa,<br />

informação sobre um ou vários casos <strong>de</strong> doenças. Inicia-se a investigação<br />

sempre a partir das notificações recebidas, mas nem sempre a partir da notificação<br />

oficial. A investigação <strong>de</strong>ve ser iniciada nos seguintes casos:<br />

MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003 27


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

- Quando a doença é prioritária<br />

Por exemplo: a poliomielite é alvo <strong>de</strong> um programa <strong>de</strong> erradicação a <strong>nível</strong><br />

mundial. Por este motivo, todo caso notificado <strong>de</strong>ve ser investigado: confirmar<br />

se o caso notificado correspon<strong>de</strong> à <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> caso nacional; ida<strong>de</strong> e<br />

estado vacinal do doente; busca activa <strong>de</strong> casos, nas casas vizinhas.<br />

- Quando a doença exce<strong>de</strong> a frequência usual<br />

Por exemplo: a disenteria existe em Moçambique na forma endémica. Porém,<br />

em 1992, uma epi<strong>de</strong>mia ocorreu em Niassa, Tete e Beira e necessitou<br />

<strong>de</strong> uma investigação epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> <strong>de</strong>terminar o agente etiológico, a<br />

sua forma <strong>de</strong> propagação e a sensibilida<strong>de</strong> aos antibióticos.<br />

- Quando uma doença se apresenta <strong>de</strong> forma mais grave que o habitual,<br />

isto é quando uma taxa <strong>de</strong> letalida<strong>de</strong> é mais elevada que o habitual, a<br />

situação <strong>de</strong>ve ser investigada <strong>para</strong> <strong>de</strong>terminar se é <strong>de</strong>vido a problemas<br />

<strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> no atendimento, ou se existem outros motivos. Neste caso,<br />

<strong>de</strong>ve-se tentar i<strong>de</strong>ntificar esses motivos.<br />

- Quando se trata <strong>de</strong> uma doença “<strong>de</strong>sconhecida” na área<br />

Por exemplo: a notificação <strong>de</strong> um caso <strong>de</strong> tripassonomiase na Província<br />

<strong>de</strong> Gaza <strong>de</strong>veria conduzir a uma investigação; da mesma forma, a notificação<br />

<strong>de</strong> um caso <strong>de</strong> febre amarela em qualquer ponto do País <strong>de</strong>veria<br />

<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar uma investigação.<br />

4. FONTES ALTERNATIVAS DE INFORMAÇÃO<br />

4.1. Rumores<br />

Os rumores são opiniões populares sobre um aumento <strong>de</strong> casos e óbitos por<br />

28 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 200329


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

uma <strong>de</strong>terminada causa. Originam-se na comunida<strong>de</strong> e são divulgados pelos<br />

lí<strong>de</strong>res locais, chefes tradicionais, religiosos, activistas ou pelos meios <strong>de</strong><br />

comunicação social.<br />

Os rumores não <strong>de</strong>vem ser notificados através<br />

dos instrumentos da VE (BES ou outros).<br />

Só <strong>de</strong>vem ser notificados casos e óbitos vistos por profissionais <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>.<br />

No entanto, os rumores muitas vezes informam sobre a existência <strong>de</strong> um<br />

problema real, e não <strong>de</strong>vem ser negligenciados. Pelo contrário, <strong>de</strong>vem ser<br />

investigados <strong>para</strong> confirmar o diagnóstico, <strong>de</strong>terminar a existência <strong>de</strong> uma<br />

epi<strong>de</strong>mia e, se necessário, tomar medidas.<br />

Por exemplo:<br />

No mês <strong>de</strong> Agosto 1992, houve rumores <strong>de</strong> 52 óbitos por sarampo no Distrito<br />

<strong>de</strong> Mecula, no Niassa. Não foi possível notificar no BES estes 52 óbitos porque<br />

não havia informação da Direcção Distrital; a <strong>de</strong>slocação duma brigada provincial<br />

confirmou a existência do surto, e tomou medidas <strong>para</strong> o controlo. Finalmente,<br />

só <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> serem confirmados pelos trabalhadores <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, 105 casos e 3<br />

óbitos foram reportados no BES com atraso.<br />

4.2. Inquéritos<br />

São procedimentos que permitem obter informação sobre a distribuição duma<br />

doença ou os seus factores <strong>de</strong> risco. São usados quando os dados obtidos pelo<br />

sistema <strong>de</strong> rotina são pouco fiáveis ou incompletos, ou quando não existe informação.<br />

MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003 29


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

Por exemplo:<br />

A hepatite é notificada mensalmente através do Boletim dos Postos Sentinela.<br />

A informação conseguida através <strong>de</strong>ste sistema não era suficiente <strong>para</strong> discutir<br />

uma possível introdução da vacina da hepatite B no PAV em Moçambique. O<br />

Instituto Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>cidiu realizar um inquérito <strong>para</strong> <strong>de</strong>terminar mais<br />

exactamente a prevalência <strong>de</strong> portadores do antigénio da hepatite B.<br />

Apesar <strong>de</strong> serem muito úteis, os inquéritos são mais caros, e necessitam mais<br />

conhecimentos estatísticos. De momento, não se recomenda a sua realização<br />

sem o acordo prévio com o <strong>nível</strong> central. Por este motivo, não foram incluídos<br />

neste manual.<br />

30 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 200331


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

II. A VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA EM MOÇAMBIQUE<br />

1. NÚCLEO DE EPIDEMIOLOGIA<br />

Para que a resposta a um problema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> seja atempada, o Distrito não <strong>de</strong>ve<br />

esperar que o <strong>nível</strong> central tome conhecimento e actue. Portanto, é imprescindível<br />

que no Distrito se faça uma interpretação da informação, acompanhada<br />

da tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões correspon<strong>de</strong>ntes.<br />

Para facilitar a interpretação da informação, recomenda-se a criação do núcleo<br />

<strong>de</strong> epi<strong>de</strong>miologia nas Direcções Distritais e Provinciais; <strong>de</strong>vem fazer parte<br />

<strong>de</strong>ste núcleo as seguintes pessoas:<br />

a) Nível Distrital<br />

- O Director Distrital<br />

- O Médico-Chefe Distrita/director clinico<br />

- O responsável da epi<strong>de</strong>miologia/responsavel do BES (+ responsável do PAV)<br />

- O elemento da Repartição <strong>de</strong> Planificação e Cooperação<br />

b) Nível Províncial<br />

- O Médico-Chefe<br />

- O Chefe <strong>de</strong> Repartição <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Comunida<strong>de</strong><br />

- O Responsável da epi<strong>de</strong>miologia<br />

- Um elemento do Departamento Provincial <strong>de</strong> Planificação e Cooperação<br />

É frequente que a mesma pessoa assuma mais do que uma <strong>de</strong>stas responsabilida<strong>de</strong>s;<br />

por isso, quando há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> discutir um assunto particular,<br />

po<strong>de</strong>m ser convidadas mais pessoas.<br />

MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003 31


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

Por exemplo:<br />

Convidar o responsável Distrital do ELAT, quando se discute os dados trimestrais<br />

da Tuberculose.<br />

O núcleo <strong>de</strong>ve reunir-se uma vez por mês, <strong>para</strong> discutir a informação epi<strong>de</strong>miológica<br />

da Província (ou do Distrito), e tomar <strong>de</strong>cisões pertinentes. Na reunião<br />

o responsável da epi<strong>de</strong>miologia, <strong>de</strong>ve apresentar informação actualizada.<br />

Note que, <strong>para</strong> além da informação do BES, <strong>de</strong>ve-se aproveitar este encontro<br />

<strong>para</strong> apresentar e discutir a informação dos diferentes sistemas <strong>de</strong> <strong>vigilância</strong><br />

epi<strong>de</strong>miológica (BES, BE-PS, resumos <strong>de</strong> internamento, ELAT/ELAL, etc).<br />

Quando necessário, po<strong>de</strong>-se juntar, outra informação do SIS, como a cobertura<br />

<strong>de</strong> Vacina Anti-Tétanica (num Distrito que reportou vários casos <strong>de</strong> tétano<br />

neo-natal), ou o número <strong>de</strong> geleiras em funcionamento (numa Cida<strong>de</strong> com um<br />

surto <strong>de</strong> sarampo).<br />

Não é necessário que estas reuniões sejam <strong>de</strong>moradas. Mas é importante que<br />

sejam regulares e sistemáticas e que se faça um pequeno resumo com as <strong>de</strong>vidas<br />

recomendações.<br />

Perante uma epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> cólera ou meningite meningocócica, por exemplo, as<br />

reuniões po<strong>de</strong>m ser mais frequentes, <strong>de</strong> modo a que a análise da informação e<br />

a tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões seja oportuna.<br />

Uma reunião mais completa <strong>de</strong>ve ser realizada uma vez por ano, antes do final<br />

do ano, ou antes, do Conselho Coor<strong>de</strong>nador <strong>para</strong> <strong>de</strong>finir o padrão epi<strong>de</strong>miológico<br />

do Distrito ou da Província.<br />

Para evitar a multiplicação <strong>de</strong> reuniões, a reunião do núcleo <strong>de</strong> epi<strong>de</strong>miologia<br />

po<strong>de</strong> ser integrada noutra reunião, como a do NÚCLEO DE EMERGÊNCIA, ou<br />

a REUNIÃO MENSAL DO CONSELHO CONSULTIVO DA DPS.<br />

32 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 200333


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

O núcleo <strong>de</strong> epi<strong>de</strong>miologia não <strong>de</strong>ve organizar outras reuniões,<br />

mas sim, interpretar a informação epi<strong>de</strong>miológica <strong>de</strong> forma sistemática,<br />

<strong>para</strong> que seja discutida em reuniões já programadas<br />

2. AVALIAÇÃO E PLANIFICAÇÃO<br />

A <strong>vigilância</strong> epi<strong>de</strong>miológica ajuda a:<br />

(a)<br />

(b)<br />

(c)<br />

i<strong>de</strong>ntificar os problemas prioritários<br />

<strong>de</strong>finir alterações nas priorida<strong>de</strong>s já traçadas<br />

avaliar se os programas <strong>de</strong> controle atingiram os objectivos traçados<br />

Com esta informação, po<strong>de</strong>-se melhorar a planificação e gestão das activida<strong>de</strong>s<br />

a longo prazo.<br />

Nos parágrafos seguintes são apresentados alguns exemplos práticos.<br />

2.1. Definir as priorida<strong>de</strong>s<br />

2.1.1. Resumos <strong>de</strong> internamento dos Hospitais Rurais<br />

Em 1992, foram elaborados pela primeira vez os Resumos <strong>de</strong> Internamento<br />

<strong>para</strong> os Hospitais Rurais (formulário SIS-DO4). A compilação <strong>de</strong> casos e óbitos<br />

reportados pelas enfermarias <strong>de</strong> pediatria dos HR <strong>de</strong> Gaza <strong>de</strong> 1999 é apresentada<br />

na tabela 2.<br />

Em 1999, verificou-se 65,9% <strong>de</strong> altas e 37,1% <strong>de</strong> óbitos por malária nas pediatrias<br />

dos Hospitais Rurais <strong>de</strong> Gaza. Estes dados dão uma i<strong>de</strong>ia da amplitu<strong>de</strong><br />

do problema e sugerem que a malária é a doença que mais afecta e mata as<br />

MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003 33


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

crianças na Província <strong>de</strong> Gaza. É provável que o programa <strong>de</strong> controle nas zonas<br />

rurais necessite dum novo impulso.<br />

A <strong>nível</strong> provincial, <strong>de</strong>ve-se analisar os Distritos, com<strong>para</strong>ndo os distritos costeiros<br />

com os do interior, pois os padrões epi<strong>de</strong>miológicos po<strong>de</strong>m ser diferentes.<br />

Sempre que necessário este tipo <strong>de</strong> análise po<strong>de</strong> ser feita com os resumos <strong>de</strong><br />

internamento dos Centros <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (SIS-DO3), facto que não invalida que os<br />

distritos façam também a sua análise.<br />

Tabela 2: Resumo dos dados <strong>de</strong> internamento dos Hospitais Rurais da Província<br />

<strong>de</strong> Gaza, em 1999.<br />

DOENÇA ALTAS % ÓBITOS %<br />

Diarreia 149 2,0 13 3,4<br />

Sarampo 25 0,3 0 0<br />

Malária Confirmada 5.025 65,9 143 37,1<br />

Pneumonia 587 7,7 62 16,1<br />

Malnutrição 440 5,8 80 20,8<br />

Anemia 582 7,6 22 5,7<br />

Tuberculose 64 0,8 11 2,9<br />

Meningite 20 0,2 3 0,8<br />

Outras doenças 735 9,6 51 13,2<br />

Total 7627 100% 385 100%<br />

34 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 200335


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

2.1.2. BES<br />

O gráfico 1, exemplifica a utilida<strong>de</strong> dos dados notificados através do BES;<br />

elaborado com dados mensais e, po<strong>de</strong>-se ver que a partir <strong>de</strong> 1997, houve um<br />

aumento progressivo das diarreias notificadas no País.<br />

Durante o mesmo período o País foi afectado pela cólera. Devido às suas características,<br />

esta doença exige uma intervenção rápida levando a que os casos<br />

<strong>de</strong> diarreias banais tenham sido <strong>de</strong>ixados <strong>para</strong> segundo plano. Com um gráfico<br />

linear simples, é possível <strong>de</strong>tectar-se o aumento precoce dos casos <strong>de</strong> diarreia<br />

na mesma altura em que se regista uma epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> cólera e agir-se atempadamente.<br />

O controlo das diarreias e da cólera <strong>de</strong>ve ser feito <strong>de</strong> forma integrada. A integração<br />

<strong>de</strong> todas as doenças diarreicas no programa AIDI permitirá diminuir<br />

a incidência e taxa <strong>de</strong> letalida<strong>de</strong>, através da educação dada à mãe.<br />

Gráfico 1: Casos notificados <strong>de</strong> diarreia em Moçambique,<br />

1989 - 2000<br />

600.000<br />

500.000<br />

Casos notificados<br />

400.000<br />

300.000<br />

200.000<br />

incidência <strong>de</strong> diarreia<br />

incidência <strong>de</strong> cólera<br />

100.000<br />

0<br />

1989<br />

1990<br />

1991<br />

1992<br />

1993<br />

1994<br />

1995<br />

1996<br />

1997<br />

1998<br />

1999<br />

2000<br />

Anos<br />

Fonte: BES<br />

MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003 35


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

2.2. Avaliar a eficácia<br />

A introdução <strong>de</strong> um programa <strong>de</strong> controlo tem geralmente como objectivo diminuir<br />

a incidência da doença, e/ou a sua mortalida<strong>de</strong>. É importante avaliar<br />

com regularida<strong>de</strong> se se consegue atingir o objectivo e <strong>de</strong>finir se os recursos<br />

humanos e financeiros investidos <strong>de</strong>ram resultados. A seguir, apresentam-se<br />

alguns exemplos 2 .<br />

Exemplo 1: PAV<br />

O objectivo do PAV é reduzir a incidência das doenças alvo, e não apenas<br />

vacinar crianças. Para avaliar o cumprimento <strong>de</strong>ste objectivo, é necessário<br />

seguir a evolução do número <strong>de</strong> casos das doenças abrangidas pelo programa.<br />

Po<strong>de</strong>-se, <strong>de</strong>ste modo, ver se o programa é eficaz e se correspon<strong>de</strong> ao que <strong>de</strong>le<br />

se espera.<br />

A OMS recomendou como metas ao <strong>nível</strong> mundial, a erradicação da poliomielite<br />

até o ano 2000, a eliminação do tétano neonatal e a diminuição em mais <strong>de</strong> 90%<br />

dos casos <strong>de</strong> sarampo e 95% dos seus óbitos até ao ano 1995.<br />

Se o programa <strong>de</strong> vacinação <strong>para</strong> a pólio e o tétano funcionar correctamente,<br />

esperar-se-ia uma diminuição progressiva do número <strong>de</strong> casos (gráfico 2). Isto<br />

po<strong>de</strong>rá ser facilmente verificado através dum gráfico linear <strong>de</strong> dados anuais;<br />

contudo, é preciso seguir as mudanças a longo prazo.<br />

O gráfico 2 mostra a evolução <strong>de</strong> tétano neo-natal <strong>de</strong> 1981 até 1997 comprovando<br />

a melhoria da situação em Moçambique. Porém a partir <strong>de</strong>ssa altura (97)<br />

o número <strong>de</strong> casos recomeça a subir, indicando uma alteração que <strong>de</strong>veria ser<br />

investigada <strong>para</strong> que as causas possam ser <strong>de</strong>tectadas e agir no sentido <strong>de</strong> se<br />

inverter a situação.<br />

2<br />

Lembre-se que são apenas alguns exemplos; cada programa tem mais indicadores <strong>para</strong> seguir a evolução das suas<br />

doenças alvo.<br />

36 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 200337


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

400<br />

350<br />

Gráfico 2: Casos notificados <strong>de</strong> tétano neo-natal,<br />

Moçambique 1987 - 2000<br />

300<br />

250<br />

200<br />

150<br />

100<br />

50<br />

0<br />

81<br />

83<br />

85<br />

87<br />

89<br />

Casos notificados<br />

91<br />

93<br />

95<br />

97<br />

99<br />

Anos<br />

Fonte: BES<br />

Da mesma forma, <strong>para</strong> o sarampo, po<strong>de</strong>-se seguir a evolução da doença com um<br />

gráfico <strong>de</strong> dados anuais, <strong>de</strong> modo a seguirem-se as tendências a longo prazo;<br />

através do gráfico 3, po<strong>de</strong>-se observar uma melhoria notável a partir <strong>de</strong> 1991<br />

até 1993. No entanto, entre 1993 e 1998, o número <strong>de</strong> casos foi aumentando,<br />

sugerindo a existência <strong>de</strong> problemas relacionados com o PAV.<br />

Infelizmente, no caso do sarampo, os dados anuais fornecem uma informação<br />

incompleta, pois esta doença evolui por epi<strong>de</strong>mias <strong>de</strong> curta duração (2-6 meses).<br />

Deste modo, os surtos não são correctamente i<strong>de</strong>ntificados com dados<br />

anuais. Um gráfico linear representando os casos mensais po<strong>de</strong> dar uma imagem<br />

mais clara.<br />

MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003 37


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

Fonte: BES<br />

Mas, mesmo com um gráfico mensal, a evolução recente do sarampo po<strong>de</strong> ser<br />

mal interpretada. Não se <strong>de</strong>ve pensar que as metas do PAV foram inteiramente<br />

alcançadas, pelo facto <strong>de</strong> ter havido poucos casos <strong>de</strong> sarampo - po<strong>de</strong> ser que<br />

se esteja no período inter-epidémico, isto é, que haja poucos indivíduos susceptíveis.<br />

Por outro lado, quando se está em presença <strong>de</strong> um surto, não significa<br />

que o PAV seja inefectivo.<br />

Com efeito, nas condições actuais do País, é impossível acabar-se completamente<br />

com os surtos. Para tal, seria necessário aumentar as coberturas vacinais<br />

até níveis iguais ou superiores a 90%; com coberturas inferiores, cria-se<br />

rapidamente um grupo <strong>de</strong> crianças não imunes (susceptíveis), permitindo assim<br />

a circulação do vírus e a ocorrência <strong>de</strong> epi<strong>de</strong>mias.<br />

O intervalo <strong>de</strong> tempo necessário <strong>para</strong> que se reconstitua um grupo suficiente<br />

<strong>de</strong> susceptíveis <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da (i) concentração da população, (ii) cobertura vacinal<br />

e (iii) eficácia vacinal (qualida<strong>de</strong> e técnica <strong>de</strong> aplicação da vacina).<br />

38 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 200339


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

Os objectivos actuais do PAV em relação ao controlo das epi<strong>de</strong>mias <strong>de</strong> sarampo são:<br />

♦ aumentar os intervalos entre os surtos (exemplo: um surto em cada 4<br />

ou 5 anos, em vez <strong>de</strong> 3 anos).<br />

♦ diminuir a magnitu<strong>de</strong> dos surtos, o que quer dizer ter surtos <strong>de</strong> menor<br />

importância, (por exemplo, um surto com 100 casos num Distrito num ano<br />

em vez dos 300 casos registados durante o prece<strong>de</strong>nte surto).<br />

Em seguida apresentam-se exemplos <strong>de</strong> controle duma doença preve<strong>nível</strong><br />

(sarampo), sendo: (a) gráfico linear <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> sarampo que seria <strong>de</strong> esperar<br />

numa zona urbana antes da introdução do PAV e (b) o segundo representa<br />

as alterações esperadas com a introdução do PAV (dados inventados).<br />

Finalmente, <strong>de</strong>ve-se também seguir o número <strong>de</strong> óbitos notificados, uma vez<br />

que o objectivo final do PAV é evitar que as crianças morram <strong>de</strong> doenças preveníveis.<br />

Não obstante, a <strong>nível</strong> <strong>distrital</strong>, <strong>de</strong>vido ao baixo número <strong>de</strong> óbitos reportados,<br />

convém que o seguimento das doenças do PAV seja feito através da taxa <strong>de</strong><br />

letalida<strong>de</strong> (ver o parágrafo 3.1.4) do capitulo 1.<br />

MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003 39


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

Casos notificados <strong>de</strong> sarampo<br />

(Dados imaginários sem o PAV)<br />

60<br />

Casos notificados<br />

40<br />

20<br />

0<br />

1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988<br />

Anos<br />

Casos notificados <strong>de</strong> sarampo<br />

(Dados imaginários com o PAV)<br />

60<br />

Diminuir a magnitu<strong>de</strong> dos surtos<br />

Casos mensais<br />

40<br />

20<br />

Início do PAV<br />

Aumentar o intervalo<br />

entre os surtos<br />

0<br />

1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988<br />

Anos<br />

Fonte: SIS-DO4<br />

Exemplo 2: Programa ELAL<br />

O programa ELAT/ELAL <strong>de</strong>finiu indicadores <strong>para</strong> avaliar a eficácia das medidas<br />

<strong>de</strong> controlo da lepra. Para avaliar a transmissão da doença na comunida<strong>de</strong>, recomenda-se<br />

a utilização da proporção <strong>de</strong> novos casos <strong>de</strong> 0-14 anos.<br />

40 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 200341


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

Com efeito, a constatação <strong>de</strong> novos casos <strong>de</strong> lepra em crianças indica uma<br />

persistência recente <strong>de</strong> transmissão e um risco <strong>de</strong> infecção elevado. Por isso,<br />

a proporção <strong>de</strong> crianças entre os novos casos <strong>de</strong>tectados representa uma<br />

estimativa da eficácia do <strong>de</strong>spiste.<br />

Um aumento <strong>de</strong>sta proporção <strong>de</strong>ve servir <strong>de</strong> alerta, porque indica um aumento<br />

da contagiosida<strong>de</strong> na comunida<strong>de</strong> (transmissão activa da doença). Uma diminuição<br />

indica uma redução da contagiosida<strong>de</strong>, ou seja, a en<strong>de</strong>mia está em fase<br />

<strong>de</strong> regressão.<br />

A proporção <strong>de</strong> novos casos <strong>de</strong> 0 a 14 anos, calcula-se através da seguinte fórmula:<br />

Novos casos <strong>de</strong> 0-14 anos<br />

% = ______________________ x 100<br />

Total novos casos<br />

Exemplo: no ano 2000, a Província <strong>de</strong> Cabo Delgado notificou 1.188 novos casos,<br />

sendo 152 em menores <strong>de</strong> 14 anos. Assim, a proporção <strong>de</strong> novos casos <strong>de</strong> 0-14<br />

anos foi <strong>de</strong>:<br />

152<br />

Proporção novos casos (%) = _____ x 100 = 12,8%<br />

(0-14) 1.118<br />

No mesmo ano, a proporção <strong>de</strong> novos casos <strong>de</strong> 0-14 anos variou <strong>de</strong> 0% nas<br />

Províncias do sul até 3,9% em Sofala. A proporção nacional foi <strong>de</strong> 12.0%. De<br />

lembrar que a Organização Mundial da Saú<strong>de</strong> está a envidar esforços no sentido<br />

<strong>de</strong> erradicar esta doença até 2005. Para tal, os países endémicos <strong>de</strong>vem<br />

reduzir o número <strong>de</strong> casos <strong>de</strong>sta doença até


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

Exemplo 3: Atendimento clínico<br />

Um dos objectivos do SNS é garantir um atendimento clínico <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>,<br />

<strong>de</strong> modo a evitar a morte dos seus utentes. Os indicadores <strong>para</strong> medir esse<br />

sucesso são; (a) baixas taxas <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> (TM) intra-hospitalar e (b) <strong>de</strong><br />

letalida<strong>de</strong> (TL).<br />

Para o cálculo da TL, <strong>de</strong>ve-se usar os dados do internamento, do Boletim Epi<strong>de</strong>miológico<br />

dos Postos Sentinela (BE-PS), ou o resumo <strong>de</strong> internamento dos<br />

Hospitais Rurais e dos CS com internamento (SIS-DO4 e SIS-DO3); nos dados<br />

do BES, o numerador não correspon<strong>de</strong> ao <strong>de</strong>nominador, ou seja, os óbitos<br />

notificados ocorrem no internamento das US, enquanto os casos incluem os do<br />

internamento e consultas externas.<br />

A TM intra-hospitalar, por <strong>de</strong>finição, só po<strong>de</strong> ser calculada no internamento.<br />

Se a TM geral for elevada, a TM por enfermaria <strong>de</strong>ve ser calculada <strong>para</strong> se<br />

verificar quais os serviços mais afectados; da mesma forma, <strong>de</strong>ve-se verificar<br />

se uma <strong>de</strong>terminada doença, com uma TL alta, foi a principal responsável pela<br />

elevada TM.<br />

Em Moçambique, na ausência <strong>de</strong> um evento particular,<br />

a TM aceitável num Hospital Rural ou Provincial <strong>de</strong>ve ser<br />

< 8% na pediatria e < 5% na medicina.<br />

Na tabela 3, encontram-se os valores limites das TL <strong>para</strong> algumas doenças<br />

nos Hospitais Rurais e Provinciais.<br />

42 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 200343


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

Tabela 3: Valores limites das TL <strong>para</strong> os Hospitais Rurais e Provinciais<br />

Doenças TL pediatria TL medicina<br />

Malária 5% 1%<br />

Sarampo 10% -<br />

Diarreia 5% 0%<br />

Cólera 5% 2%<br />

Pneumonia 15% 10%<br />

Tétano neo-natal 60% -<br />

Tétano 40% 40%<br />

Meningite Meningocócica 10% 10%<br />

Outras Meningites 25% 10%<br />

Se as taxas forem superiores às esperadas, é importante investigarem-se<br />

as suas causas, que po<strong>de</strong>rão ser, entre outras: (i) diagnóstico incorrecto, (ii)<br />

formação insuficiente do pessoal na área da rehidratação, (iii) falta <strong>de</strong> medicamentos<br />

e/ou soros, (iv) absentismo, etc.<br />

Duma forma geral, as TM dos Hospitais Rurais em 1999, nas pediatrias foram<br />

elevadas, oscilando entre 3,8% (Maputo Cida<strong>de</strong>) e 13,5% (Gaza), com uma taxa<br />

média nacional <strong>de</strong> 6,9%.<br />

No gráfico 4, apresenta-se as TM nos Hospitais Rurais <strong>de</strong> Sofala.<br />

MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003 43


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

Fonte: BES<br />

As TL também foram bastante elevadas como se po<strong>de</strong> observar no gráfico 5. É<br />

<strong>de</strong> salientar que em 2000, a TL foi elevada e que não foram notificados casos<br />

<strong>de</strong> sarampo em Cabora Bassa.<br />

Contudo, o uso <strong>de</strong>stas taxas <strong>de</strong>ve ser feito com precaução, visto que as elevadas<br />

TM ou TL nem sempre indicam um atendimento incorrecto por parte do<br />

trabalhador. Como anteriormente mencionado também po<strong>de</strong>m significar:<br />

• escassez <strong>de</strong> medicamentos<br />

• um estado epi<strong>de</strong>miológico<br />

• apresentação tardia do doente à unida<strong>de</strong> sanitária•<br />

44 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 200345


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

Fonte: BES<br />

Por exemplo:<br />

Numa zona <strong>de</strong> alta prevalência <strong>de</strong> HIV, a TL da tuberculose será provavelmente<br />

mais elevada do que numa zona <strong>de</strong> baixa prevalência, pois a associação entre as<br />

duas doenças é bem conhecida.<br />

Portanto, quando houver taxas elevadas, o importante não é castigar os trabalhadores,<br />

mas sim explicar os motivos e ser capaz <strong>de</strong> corrigi-los.<br />

Portanto, se as taxas forem elevadas, é importante i<strong>de</strong>ntificarem-se as suas<br />

causas e corrigirem-se os procedimentos e/ou condutas que estão por <strong>de</strong>trás<br />

da sua origem.<br />

MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003 45


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

2.3. Avaliar a qualida<strong>de</strong><br />

A informação existente permite também avaliar a qualida<strong>de</strong> do trabalho. De<br />

seguida são apresentados alguns exemplos do PAV.<br />

2.3.1 Exemplo 1: Doenças em crianças vacinadas<br />

Todos os Trabalhadores da Saú<strong>de</strong> já pu<strong>de</strong>ram constatar que a Vacina Anti-Sarampo<br />

(VAS) protege contra a doença, mas não é 100% eficaz. Isto quer dizer que,<br />

mesmo respeitando o calendário e com uma boa ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> frio, algumas crianças<br />

vacinadas não estão protegidas (imunizadas), po<strong>de</strong>ndo ser afectadas pela doença.<br />

Portanto, é normal encontrar-se algumas crianças vacinadas entre os casos.<br />

Contudo, o número não <strong>de</strong>ve ser elevado.<br />

A percentagem <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> sarampo pós vacinal, apenas <strong>para</strong> crianças do<br />

grupo etário dos 9 aos 23 meses, calcula-se através da seguinte fórmula:<br />

Casos <strong>de</strong> sarampo em crianças vacinadas<br />

<strong>de</strong> 9 a 23 meses<br />

% sarampo pós vacinal = ________________________x 100%<br />

Número total <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> sarampo<br />

em crianças <strong>de</strong> 9 a 23 meses<br />

Num Distrito rural, a percentagem <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> sarampo, em criancas<br />

vacinadas <strong>de</strong>ve ser inferior a 10% do total <strong>de</strong> casos registados.<br />

Se a percentagem for superior a 10%, <strong>de</strong>ve-se verificar:<br />

• o funcionamento da geleira<br />

• as técnicas <strong>de</strong> vacinação<br />

• o cumprimento do calendário (não vacinar antes dos 8,5 meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>).<br />

• As normas <strong>de</strong> notificação dos casos vacinados<br />

46 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 200347


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

• o cumprimento da política <strong>de</strong> frasco <strong>de</strong> vacina aberto (consultar o manual<br />

do PAV)<br />

Nas Cida<strong>de</strong>s Capitais com alta cobertura vacinal, a percentagem <strong>de</strong> casos <strong>de</strong><br />

sarampo pós-vacinal po<strong>de</strong> ser superior a 10%.<br />

2.3.2 Exemplo 2: VAT<br />

Nenhuma criança <strong>de</strong>ve aparecer com tétano neo-natal se a mãe foi correctamente<br />

vacinada, pois a VAT é quase 100% eficaz, quando aplicada <strong>de</strong>vidamente.<br />

Devem ser <strong>de</strong>vidamente investigados, todos os casos <strong>de</strong> tétano neo-natal<br />

em crianças nascidas:<br />

s<br />

<strong>de</strong> mãe vacinada<br />

s<br />

numa US<br />

Quando o número <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> tétano neo-natal ultrapassa o número esperado,<br />

<strong>de</strong>ve-se ir à comunida<strong>de</strong> investigar as causas.<br />

2.3.2. Taxa <strong>de</strong> abandono (tuberculose)<br />

A tuberculose, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do regime escolhido, é uma doença que<br />

necessita <strong>de</strong> um tratamento prolongado. É importante <strong>para</strong> o programa ELAT,<br />

que se saiba quantas pessoas não completaram o tratamento. Um indicador <strong>de</strong><br />

qualida<strong>de</strong> usado a <strong>nível</strong> <strong>distrital</strong> é a taxa <strong>de</strong> abandono (TA).<br />

Calcula-se a TA <strong>para</strong> os novos casos e os retratamentos, utilizando-se as seguintes<br />

fórmulas:<br />

MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003 47


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

doentes da mesma cohorte que iniciam um tratamento<br />

anti-tuberculose e o abandonam<br />

TA = ___________________________________ x 100%<br />

total <strong>de</strong> doentes da cohorte que iniciam o tratamento<br />

(durante o mesmo período <strong>de</strong> tempo)<br />

doentes da mesma cohorte que reiniciam um tratamento<br />

anti-tuberculose e o abandonam<br />

TA = ________________________________________ x 100%<br />

total <strong>de</strong> doentes da cohorte que reiniciam o tratamento<br />

(durante o mesmo período <strong>de</strong> tempo)<br />

I<strong>de</strong>almente, <strong>de</strong>veriam ser incluídos no <strong>de</strong>nominador, todos os pacientes que<br />

entram no registo. Na prática, calcula-se apenas com o número <strong>de</strong> doentes avaliados<br />

ao fim dum certo período <strong>de</strong> tempo.<br />

Por exemplo:<br />

Em 1999 na Província <strong>de</strong> Inhambane, foram registados 592 casos novos <strong>de</strong> tuberculose<br />

(BK+). Destes, 591 foram avaliados no fim do ano 2000, dos quais 36<br />

tinham abandonado o tratamento. A taxa <strong>de</strong> abandono em Inhambane em 1999<br />

foi <strong>de</strong>:<br />

36<br />

TA = ______ x 100 = 6,1%<br />

591<br />

Para os próximos anos, as metas do ELAT <strong>para</strong> as taxas <strong>de</strong> abandono são as<br />

seguintes:<br />

48 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 200349


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

Tabela 4: Metas do Programa ELAT <strong>para</strong> os próximos anos<br />

TA 2002 TA 2003<br />

Casos novos


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

3.1.2. Confirmar a epi<strong>de</strong>mia<br />

O passo inicial é:<br />

Rever os casos reportados, <strong>para</strong> confirmar a existência da doença.<br />

Isto po<strong>de</strong> ser feito através da:<br />

• análise das histórias clínicas, referindo-se às <strong>de</strong>finições <strong>de</strong> caso adoptadas<br />

ao <strong>nível</strong> nacional (ver o anexo do <strong>volume</strong> 2 “Normas e Instrumentos<br />

...”);<br />

• consulta dum Trabalhador <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> mais experiente, se possível;<br />

• realização <strong>de</strong> testes laboratoriais <strong>para</strong> confirmação, localmente ou no<br />

laboratório <strong>de</strong> referência; esta fase necessita <strong>de</strong> uma colaboração estreita<br />

entre os clínicos e o responsável da epi<strong>de</strong>miologia;<br />

• entrevistar os casos reportados, sendo mais fácil entrevistar os doentes<br />

hospitalizados.<br />

Se a epi<strong>de</strong>mia ocorrer numa zona remota sem serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, como a neuropatia<br />

tropical, os casos <strong>de</strong>vem ser entrevistados na comunida<strong>de</strong>.<br />

Com vista a uniformizar as entrevistas, <strong>de</strong>ve-se elaborar questionários específicos<br />

<strong>para</strong> a obtenção <strong>de</strong> informação sobre:<br />

(a) ida<strong>de</strong><br />

(b) sexo<br />

(c) residência<br />

(d) profissão<br />

(e) o local <strong>de</strong> trabalho<br />

(f) data do início da doença<br />

50 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 200351


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

Lembre-se que:<br />

Entrevistar os doentes ajuda também a i<strong>de</strong>ntificar contactos e casos adicionais<br />

na comunida<strong>de</strong> (domicílio, familiares/parentes, vizinhança, escola,<br />

local <strong>de</strong> trabalho).<br />

Esta acção é chamada <strong>de</strong> busca activa.<br />

A busca activa <strong>de</strong>ve ser feita até que a zona seja <strong>de</strong>clarada “livre <strong>de</strong> epi<strong>de</strong>mia”.<br />

Geralmente, este período dura o dobro do período <strong>de</strong> incubação, a partir<br />

da ocorrência do último caso.<br />

Uma vez confirmado o diagnóstico, a epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong>ve ser confirmada:<br />

• Com<strong>para</strong>ndo a incidência actual com a <strong>de</strong> um passado recente<br />

(exemplo: 4 últimas semanas/mês anterior, etc).<br />

• Com<strong>para</strong>ndo a incidência actual com os anos passados, na mesma comunida<strong>de</strong>.<br />

• Alternativamente, um surto po<strong>de</strong> ser confirmado se os casos estiverem<br />

agrupados, no mesmo quartel, bairro ou al<strong>de</strong>ia.<br />

• Através da confirmação dos casos<br />

(exemplo: peste ou cólera - basta ter a confirmação <strong>de</strong> poucos casos <strong>para</strong><br />

se afirmar que há epi<strong>de</strong>mia).<br />

No caso <strong>de</strong> PFA (poliomielite) ou <strong>de</strong> outras doenças a erradicar,<br />

a <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> apenas UM caso necessita <strong>de</strong> acção imediata!<br />

MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003 51


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

3.1.3. Analisar a epi<strong>de</strong>mia<br />

As perguntas básicas a serem colocadas sobre uma epi<strong>de</strong>mia são:<br />

• Qual é a doença que causa o surto?<br />

• Qual é a fonte?<br />

• Qual é o modo <strong>de</strong> transmissão?<br />

O que é que os casos têm <strong>de</strong> comum?<br />

Para se apurar as semelhanças entre os casos, é importante analisar-se a informação<br />

contida nas entrevistas sobre QUEM, ONDE, e QUANDO.<br />

Numa primeira fase, o número total <strong>de</strong> casos po<strong>de</strong>rá ser usado <strong>para</strong> tentar <strong>de</strong>finir<br />

se:<br />

• uma comunida<strong>de</strong> está mais afectada do que a outra;<br />

• existem indivíduos duma profissão mais afectados do que <strong>de</strong> outras;<br />

• os indivíduos do sexo masculino estão mais afectados que os do sexo feminino;<br />

• há diferenças entre os indivíduos dos diferentes grupos etários.<br />

Quando possível, convém relacionar o número <strong>de</strong> casos reportados com a<br />

população do mesmo lugar, calculando as taxas <strong>de</strong> ataques.<br />

Assim é possível <strong>de</strong>terminar os lugares mais afectados.<br />

As taxas <strong>de</strong> ataque por ida<strong>de</strong> e sexo são igualmente úteis.<br />

O gráfico que indica os casos <strong>de</strong> doença é parte essencial da análise. Nos Distritos,<br />

recomenda-se que sejam feitos gráficos lineares do sarampo e das diarreias,<br />

com os dados mensais. No entanto, em caso <strong>de</strong> um evento especial, po<strong>de</strong>-se fa-<br />

52 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 200353


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

zer gráficos <strong>de</strong> outras doenças, sendo conveniente o uso dos dados semanais. O<br />

gráfico po<strong>de</strong> indicar a natureza do surto e a provável fonte.<br />

A fonte única ou fonte-comum é aquela na qual houve exposição simultânea <strong>de</strong><br />

muitos indivíduos susceptíveis aos agentes patológicos, resultando no aumento<br />

da incidência em curto espaço <strong>de</strong> tempo, assim como uma diminuição rápida. Este<br />

tipo <strong>de</strong> surtos é característico em doenças causadas por águas, como a cólera, a<br />

febre tifói<strong>de</strong> e doenças causadas por alimentos. Uma curva típica <strong>de</strong>stas epi<strong>de</strong>mias<br />

é apresentada no exemplo seguinte.<br />

Nesta situação, o começo da doença é brusco, mas a incidência prevalece por um<br />

certo período <strong>de</strong> tempo com uma diminuição mais progressiva.<br />

Numa epi<strong>de</strong>mia prolongada, o aumento dos casos é mais progressivo, às vezes,<br />

com um caso em cada 2 ou 3 dias no início, como no exemplo da página seguinte.<br />

MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003 53


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

A forma da curva <strong>de</strong> uma epi<strong>de</strong>mia prolongada <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do (a) período <strong>de</strong> incubação<br />

da doença e (b) da presença <strong>de</strong> condições favoráveis do ambiente<br />

<strong>para</strong> a transmissão.<br />

Quanto mais longo for o período <strong>de</strong> incubação, mais abrangente é o surto.<br />

Para surtos <strong>de</strong> disseminação por contacto, o grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> da população<br />

e a intimida<strong>de</strong> <strong>de</strong> contacto <strong>de</strong>terminam a rapi<strong>de</strong>z com que a epi<strong>de</strong>mia atinge o<br />

seu pico, enquanto que a proporção da população susceptível influencia o raio<br />

<strong>de</strong> acção do surto.<br />

Para doenças causadas por vectores, o tempo que o organismo leva <strong>para</strong> se<br />

<strong>de</strong>senvolver no vector e as condições que favorecem o <strong>de</strong>senvolvimento do<br />

próprio vector, afectam também a forma da curva. O esquema 2 representa a<br />

investigação <strong>de</strong> uma epi<strong>de</strong>mia<br />

54 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 200355


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

Esquema 2: Investigação <strong>de</strong> uma epi<strong>de</strong>mia<br />

SUSPEITA DE<br />

EPIDEMIA<br />

SIS<br />

Comunida<strong>de</strong><br />

Lí<strong>de</strong>res<br />

Imprensa<br />

CONFIRMAR A EPIDEMIA<br />

Com<strong>para</strong>r coma a incidência<br />

recente<br />

Com<strong>para</strong>r com os anos<br />

anterires<br />

Casos agrupados?<br />

Rever os casos<br />

clínicos<br />

Definições <strong>de</strong> caso<br />

Laboratório<br />

Fazer busca activa<br />

Notificar<br />

DESCREVER A EPIDEMIA<br />

Quem?<br />

Quando?<br />

On<strong>de</strong>?<br />

CONTROLAR A EPIDEMIA<br />

Vigilância<br />

Epi<strong>de</strong>miológica<br />

Controlar a fonte<br />

Tratar os casos<br />

Vacinação ou quimioprofilaxia<br />

RELATÓRIO<br />

MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003 55


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

A análise dos casos a partir <strong>de</strong> dados pessoais como a (i) ida<strong>de</strong>; (ii) sexo e (iii)<br />

ocupação/profissão, po<strong>de</strong>m fornecer indicações com vista à i<strong>de</strong>ntificação da<br />

fonte <strong>de</strong> infecção.<br />

Por exemplo:<br />

Se os casos iniciais são maioritariamente em crianças em ida<strong>de</strong> escolar, a fonte<br />

po<strong>de</strong> ser na vizinhança da sua escola; enquanto que se um homem adulto a trabalhar<br />

no campo estiver afectado, a fonte po<strong>de</strong>rá estar no local <strong>de</strong> trabalho.<br />

O mapeamento dos casos conhecidos num mapa po<strong>de</strong> indicar a possível<br />

fonte <strong>de</strong> infecção.<br />

A análise po<strong>de</strong> indicar uma fonte ambiental. Isto po<strong>de</strong>rá ser confirmado através<br />

da recolha <strong>de</strong> amostras <strong>de</strong> alimentos e água suspeita <strong>para</strong> testes laboratoriais<br />

(caso exista facilida<strong>de</strong>) <strong>para</strong> análise <strong>de</strong> químicos tóxicos e contaminação<br />

fecal. Locais susceptíveis <strong>de</strong> procriar vectores <strong>de</strong> doenças também <strong>de</strong>verão<br />

ser investigados.<br />

A colaboração com os Laboratórios <strong>de</strong> Higiene e Água,<br />

é muito importante neste sentido<br />

3.1.4. Controlar a epi<strong>de</strong>mia<br />

Os elementos básicos <strong>para</strong> o controle <strong>de</strong> uma epi<strong>de</strong>mia são:<br />

a) Tratamento dos casos. O tratamento varia consoante a doença, facilida<strong>de</strong>s<br />

e meios disponíveis. Note que <strong>para</strong> além da importância do tratamento em<br />

si, a assistência médica tem um papel psicológico. A experiência <strong>de</strong>mons-<br />

56 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 200357


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

trou que, quando uma comunida<strong>de</strong> se encontra afectada por um problema<br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> dimensão, a primeira reivindicação é <strong>de</strong> que os casos sejam atendidos<br />

correctamente.<br />

A colaboração da população nas acções <strong>de</strong> investigação e controlo, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong><br />

em gran<strong>de</strong> medida, da qualida<strong>de</strong> da assistência médica.<br />

b) Controlar a fonte <strong>de</strong> contaminação e o modo <strong>de</strong> transmissão. As águas<br />

contaminadas <strong>de</strong>vem ser tratadas, ou controladas; os alimentos suspeitos;<br />

os óbitos <strong>de</strong>vem ser enterrados rapidamente e os locais <strong>de</strong> criadores <strong>de</strong><br />

vectores tratados.<br />

A educação sanitária <strong>de</strong>sempenha um papel prepon<strong>de</strong>rante neste trabalho e até<br />

mesmo uma legislação po<strong>de</strong>rá ser necessária. No entanto, <strong>de</strong>ve-se prestar<br />

particular atenção às proibições; não é razoável a proibição <strong>de</strong> refeições à<br />

base <strong>de</strong> peixe, numa comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pescadores ou on<strong>de</strong> este é o principal<br />

alimento. Deve-se sim, recomendar que o peixe seja bem cozinhado.<br />

c) Aumentar a resistência da população. Algumas doenças contagiosas po<strong>de</strong>m<br />

ser prevenidas através da quimoprofilaxia ou imunização.<br />

d) Vigilância contínua. Durante a fase aguda, é necessário seguir a evolução<br />

do número <strong>de</strong> casos. Uma vez controlada a epi<strong>de</strong>mia, a <strong>vigilância</strong> <strong>para</strong> novos<br />

casos não <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>scurada, <strong>para</strong> <strong>de</strong>sta forma ser possível reconhecerse<br />

uma recaída.<br />

3.2. Epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Sarampo<br />

No parágrafo sobre eficácia, discutiram-se os objectivos do PAV a longo prazo.<br />

Viu-se que não era viável, pensar em suprimir os surtos <strong>de</strong> sarampo, nas condi-<br />

MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003 57


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

ções actuais do país. Portanto, é necessário estar pre<strong>para</strong>do <strong>para</strong> <strong>de</strong>tectar e<br />

controlar estas epi<strong>de</strong>mias.<br />

Em geral, os surtos <strong>de</strong> sarampo surgem na época fria. Com a introdução do PAV,<br />

o seu padrão epi<strong>de</strong>miológico tem vindo a sofrer alterações, nomeadamente em<br />

termos <strong>de</strong> espaçamento e magnitu<strong>de</strong> dos surtos.<br />

Uma epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> sarampo é sempre precedida <strong>de</strong> um período <strong>de</strong>nominado<br />

“fase <strong>de</strong> alerta”, caracterizado por um aumento lento do número <strong>de</strong> casos.<br />

A fase <strong>de</strong> alerta, po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>tectada a tempo, através da VE (BES). Para tal,<br />

<strong>de</strong>ve-se:<br />

a) seguir regularmente a evolução do número <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> sarampo notificados<br />

em cada área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>; isto po<strong>de</strong> ser feito através dum gráfico linear com<br />

os dados mensais (exemplo: gráfico 6).<br />

b) tomar medidas, caso se verifique um aumento progressivo <strong>de</strong> casos notificados,<br />

consi<strong>de</strong>rando os seguintes aspectos:<br />

• Com<strong>para</strong>r estes dados com os <strong>de</strong> anos anteriores;<br />

• Colaborar com o pessoal <strong>de</strong> medicina curativa e investigar se<br />

existem casos diagnosticados e não notificados;<br />

• Investigar na comunida<strong>de</strong> a existência <strong>de</strong> casos que não foram<br />

vistos na consulta;<br />

• Verificar se o stock <strong>de</strong> vacinas anti-sarampo e <strong>de</strong> medicamentos é<br />

suficiente, e pedir reforço, se for necessário;<br />

• Verificar a operacionalida<strong>de</strong> da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> frio<br />

58 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 200359


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

Gráfico 6:<br />

O aumento do número <strong>de</strong> casos <strong>de</strong>ve ser ainda mais preocupante se surgir<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> um intervalo <strong>de</strong> tempo prolongado sem surtos.<br />

Por exemplo:<br />

A Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Nampula era tradicionalmente afectada por surtos <strong>de</strong> sarampo <strong>de</strong> 2<br />

em 2 anos. Após a gran<strong>de</strong> epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> 1989, o PAV realizou um forte trabalho e<br />

consequentemente, quase nenhum caso foi notificado entre 1990 e 1994. A partir<br />

<strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 1994, foram reportados 5 casos na Cida<strong>de</strong>. Apesar do número ter<br />

sido reduzido, <strong>de</strong>ver-se-ia ter dado a <strong>de</strong>vida atenção por surgir <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> quase<br />

5 anos <strong>de</strong> calma. Com efeito, no período <strong>de</strong> Julho-Agosto, a epi<strong>de</strong>mia já estava<br />

instalada.<br />

MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003 59


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

c) intensificar o programa <strong>de</strong> vacinações anti-sarampo, caso se confirme o<br />

aumento do número <strong>de</strong> casos. Para tal, <strong>de</strong>vem ser organizadas campanhas.<br />

É preciso informar logo no início do surto, as autorida<strong>de</strong>s políticas, religiosas<br />

e as ONGs locais no sentido <strong>de</strong> apoiarem na mobilização da população e na<br />

logística.<br />

A intensificação do programa <strong>de</strong> vacinações po<strong>de</strong>rá ser eficaz, apenas<br />

se for realizado no início do surto (até 72 horas), ou aquando da existência<br />

<strong>de</strong> surto em áreas vizinhas.<br />

No exemplo anterior (gráfico 6), intensificar as vacinações anti-sarampo durante<br />

a fase <strong>de</strong> alerta (<strong>de</strong> Abril a Junho), teria sido efectivo e po<strong>de</strong>ria ter<br />

diminuído a importância do surto; pelo contrário, fazer gran<strong>de</strong>s campanhas em<br />

Julho ou Agosto já não bloquearia o surto.<br />

A vacinação <strong>de</strong>ve incidir prioritariamente nos lugares e grupos <strong>de</strong> maior risco,<br />

como (i) <strong>de</strong>slocados, (ii) zonas mais <strong>de</strong>sfavorecidas e (iii) <strong>de</strong> forte <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong><br />

populacional (exemplo: zona periférica duma capital <strong>distrital</strong>), on<strong>de</strong> a propagação<br />

do vírus é mais fácil.<br />

O grupo prioritário é sempre o das crianças dos 9 aos 11 meses,<br />

embora o grupo alvo do PAV seja dos 9 aos 23 meses.<br />

Contudo, se houver evidências da existência <strong>de</strong> muitas crianças mais velhas não<br />

vacinadas, a ida<strong>de</strong> máxima po<strong>de</strong> ser estendida entre os 4 e/ou os 15 anos se<br />

ocorrerem casos <strong>de</strong> sarampo em crianças maiores <strong>de</strong> 5 anos.<br />

60 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 200361


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

A vacinação em crianças menores <strong>de</strong> 8,5 meses <strong>de</strong>ve ser evitada. A melhor<br />

protecção <strong>para</strong> as crianças mais novas é conseguir-se uma boa cobertura nas<br />

mais velhas, uma vez que limita a difusão do vírus.<br />

Apenas nos lugares on<strong>de</strong> é possível vacinar a curto prazo, po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>cidir vacinar<br />

a partir dos 6 meses. Neste caso, a dose não <strong>de</strong>ve ser registada no quadro<br />

da VAS no cartão <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, e a criança <strong>de</strong>ve ser revacinada logo que possível<br />

após os 9 meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>.<br />

d) concentrar esforços como forma <strong>de</strong> garantir uma assistência médica a<strong>de</strong>quada,<br />

na zona (bairro ou al<strong>de</strong>ia) mais afectada. Para a vacinação, <strong>de</strong>ve-se<br />

priorizar áreas à volta do lugar afectado, <strong>para</strong> tentar impedir a propagação<br />

do vírus do sarampo, a que se <strong>de</strong>nomina “vacinação <strong>de</strong> bloqueio”.<br />

Como a epi<strong>de</strong>mia tem um <strong>de</strong>senvolvimento centrífugo (do centro <strong>para</strong> a<br />

periferia), a vacinação <strong>de</strong>ve ser feita <strong>de</strong> forma centrípeta (da periferia<br />

<strong>para</strong> o centro), tendo como centro a zona on<strong>de</strong> surgiu a epi<strong>de</strong>mia.<br />

Se a epi<strong>de</strong>mia está <strong>de</strong>clarada, e se registam muitos casos,<br />

a vacinação não será muito eficaz.<br />

GARANTA A ASSISTÊNCIA MÉDICA<br />

No entanto, é provável que haja muitas pressões políticas <strong>para</strong> vacinar.<br />

e) Informar da ocorrência do surto, directamente ou através da Província,<br />

os Distritos vizinhos <strong>para</strong> que, atempadamente, possam ser tomadas localmente<br />

todas as medidas preventivas.<br />

MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003 61


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

f) Seguir o estado vacinal dos casos <strong>de</strong> sarampo. Como já foi mencionado<br />

no parágrafo “Avaliar a qualida<strong>de</strong>”, numa zona rural, a percentagem <strong>de</strong><br />

casos <strong>de</strong> sarampo em criancas dos no grupo 9-23 meses, não <strong>de</strong>ve ser<br />

superior a 10%. Se isto acontecer, o funcionamento <strong>de</strong> rotina do PAV <strong>de</strong>ve<br />

ser investigado, e em particular:<br />

• O funcionamento da geleira, a sua utilização correcta e o controle diário<br />

da temperatura;<br />

• A data limite <strong>de</strong> valida<strong>de</strong> das vacinas;<br />

• As técnicas <strong>de</strong> vacinação (seringas quentes, etc);<br />

• O respeito pelo calendário (crianças vacinadas aos 6 meses, etc);<br />

• O cumprimento da política <strong>de</strong> frasco <strong>de</strong> vacina aberto.<br />

Caso se i<strong>de</strong>ntifique algum problema, a priorida<strong>de</strong> já não é fazer-se campanhas,<br />

mas sim, corrigi-lo urgentemente.<br />

g) Não interromper as activida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> rotina nos postos fixos <strong>de</strong> vacinação.<br />

A priorida<strong>de</strong> passa a ser, assegurar a vacinação completa e com<br />

qualida<strong>de</strong>, <strong>para</strong> as crianças menores <strong>de</strong> 1 ano.<br />

As campanhas não <strong>de</strong>vem impedir o funcionamento normal do PAV<br />

nos postos fixos e nas brigadas móveis.<br />

3.3. Paralisia Flácida Aguda (PFA) e Poliomielite<br />

3.3.1. Suspeita e confirmação <strong>de</strong> casos<br />

Todos os trabalhadores das Unida<strong>de</strong>s Sanitárias (US) <strong>de</strong>vem estar sensibilizados<br />

<strong>para</strong> colaborarem na <strong>de</strong>tecção dos casos suspeitos <strong>de</strong> PFA em qualquer situação<br />

62 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 200363


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

(na comunida<strong>de</strong>, noutras consultas, etc). Assim, todos os casos suspeitos <strong>de</strong> PFA<br />

em menores <strong>de</strong> 15 anos <strong>de</strong>vem ser conduzidos à US mais próxima, <strong>para</strong> que o seu<br />

responsável da VE actue segundo os procedimentos, <strong>de</strong>terminados pelo MISAU.<br />

A <strong>de</strong>tecção dos casos <strong>de</strong> PFA <strong>de</strong>ve ser uma activida<strong>de</strong> <strong>de</strong> rotina na US,<br />

aproveitando-se outras oportunida<strong>de</strong>s, como por exemplo, as consultas <strong>de</strong><br />

SMI, consultas <strong>de</strong> controlo do peso, campanhas/dias <strong>de</strong> vacinação ou mesmo<br />

durante os dias <strong>de</strong> vacinação <strong>de</strong> rotina na US.<br />

A suspeita <strong>de</strong> UM caso <strong>de</strong> poliomielite necessita <strong>de</strong> uma acção urgente, e <strong>de</strong>ve<br />

ser reportada ao <strong>nível</strong> superior.<br />

Um caso <strong>de</strong> poliomielite representa uma epi<strong>de</strong>mia!<br />

Deve ser consi<strong>de</strong>rado suspeito qualquer criança com menos <strong>de</strong> 15 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong><br />

com Paralisia Flácida Aguda (PFA).<br />

Portanto, toda criança com PFA é suspeita <strong>de</strong> poliomielite!<br />

O primeiro passo consiste na notificação imediata do caso à DDS e DPS, através<br />

da “via rápida” (telefone, fax, e-mail). A notificação <strong>de</strong> um caso suspeito <strong>de</strong><br />

PFA requer uma investigação epi<strong>de</strong>miológica imediata por parte do Núcleo <strong>de</strong><br />

Epi<strong>de</strong>miologia Provincial, incluindo o Médico-Chefe ou outro médico por ele <strong>de</strong>signado,<br />

se possível antes <strong>de</strong> 15 dias.<br />

MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003 63


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

A investigação epi<strong>de</strong>miológica do caso <strong>de</strong> PFA, consiste em 2 aspectos:<br />

(i)<br />

Preenchimento da “Ficha <strong>de</strong> Investigação Epi<strong>de</strong>miológica do Caso”, através<br />

da recolha <strong>de</strong> dados clínicos e epi<strong>de</strong>miológicos, incluindo a i<strong>de</strong>ntificação<br />

do doente, história clínica inicial e estado vacinal, <strong>para</strong> se <strong>de</strong>terminar<br />

se se trata <strong>de</strong> um caso verda<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> PFA.<br />

Só <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>sta confirmação é que o caso é notificado no BES.<br />

(ii)<br />

Busca activa <strong>de</strong> outros casos <strong>de</strong> PFA na comunida<strong>de</strong>, começando nas casas<br />

vizinhas da residência do caso.<br />

É importante salientar que se os elementos do Núcleo <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia provincial<br />

não estiverem disponíveis, o responsável <strong>de</strong> VE Distrital e o Médico-chefe<br />

Distrital ou outro por ele <strong>de</strong>signado <strong>de</strong>vem assumir esta tarefa.<br />

Consi<strong>de</strong>rando que alguns casos <strong>de</strong> PFA po<strong>de</strong>m não ser notificados através do<br />

BES, é aconselhável rever regularmente, <strong>de</strong> 3 em 3 meses, os formulários<br />

<strong>de</strong> internamento <strong>de</strong> Pediatria e Medicina dos Hospitais Provinciais e Rurais<br />

(SIS-DO4), dos Centros <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (SIS-DO3), assim como os livros <strong>de</strong> registo<br />

das triagens, Centros da Fisioterapia, Serviço <strong>de</strong> Neurologia, Ortopedia,<br />

Banco <strong>de</strong> Socorros.<br />

Sinais e sintomas que ajudam o diagnóstico <strong>de</strong> suspeita <strong>de</strong> Pólio (caso<br />

verda<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> PFA):<br />

existência <strong>de</strong> sequelas <strong>de</strong> <strong>para</strong>lisia aos 60 dias, após o início da doen-<br />

♦<br />

♦<br />

♦<br />

ça.<br />

febre no início da <strong>para</strong>lisia.<br />

conservação da sensibilida<strong>de</strong> dos membros <strong>para</strong>lisados.<br />

64 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 200365


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

Os casos verda<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> PFA <strong>de</strong>vem ser confirmados laboratorialmente, com<br />

dois exames <strong>de</strong> fezes. O primeiro <strong>de</strong>ve ser realizado no início da investigação<br />

e o segundo entre 24 e 48h <strong>de</strong>pois. Actualmente, esta estratégia é feita em<br />

colaboração com um laboratório especializado da África do Sul, local <strong>para</strong><br />

on<strong>de</strong> são enviadas as amostras <strong>de</strong> fezes <strong>para</strong> confirmação do diagnóstico.<br />

3.3.2. Seguimento ao doente aos 60 dias<br />

Com raras excepções, a pólio <strong>de</strong>ixa sequelas físicas durante os 2 meses após o<br />

início da <strong>para</strong>lisia.<br />

História clínica final: <strong>de</strong>fine-se se há ou não o envolvimento dos membros, ou<br />

seja, se há ou não sequelas físicas.<br />

Note que todo o caso verda<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> PFA perdido no controle (sem visita <strong>de</strong><br />

seguimento aos 60 dias), <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rado como sendo um caso confirmado<br />

<strong>de</strong> Pólio! Por esta razão é <strong>de</strong> extrema importância que os responsáveis<br />

<strong>de</strong> VE das DPS/DDS se organizarem <strong>de</strong> modo a que esta activida<strong>de</strong> não seja<br />

esquecida.<br />

Se a suspeita do caso <strong>de</strong> poliomielite for forte, não se <strong>de</strong>ve esperar os 60 dias<br />

<strong>para</strong> confirmar e iniciar as acções <strong>para</strong> o seu controlo. Neste caso as DDS/DPS<br />

<strong>de</strong>verão contactar imediatamente o Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia <strong>para</strong> informar e<br />

em conjunto <strong>de</strong>cidirem sobre as medidas a tomar.<br />

Para além da fisioterapia ao doente, <strong>de</strong>ve-se iniciar com as seguintes acções:<br />

1. Busca activa <strong>de</strong> mais casos <strong>de</strong> poliomielite na localida<strong>de</strong> ou Cida<strong>de</strong>, começando<br />

nos arredores da casa da criança doente. Por outras palavras, é<br />

uma busca “porta a porta”.<br />

MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003 65


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

Os li<strong>de</strong>res religiosos, tradicionais e/ou políticos e pessoas com influência junto<br />

à comunida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>vem ser convidados a participar nesta activida<strong>de</strong>. Se existir<br />

numa Cida<strong>de</strong> um centro <strong>de</strong> fisioterapia, este <strong>de</strong>ve ser visitado <strong>para</strong> se verificar<br />

nos registos, se houve entrada <strong>de</strong> crianças com <strong>para</strong>lisia recente, com um<br />

diagnóstico suspeito.<br />

2. Vacinação <strong>de</strong> todas as crianças <strong>de</strong> 0-14 anos, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do<br />

seu estado vacinal, na Cida<strong>de</strong> ou Localida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> o suspeito se encontre.<br />

Para interromper a circulação do vírus, é importante que esta activida<strong>de</strong> seja<br />

realizada num curto espaço <strong>de</strong> tempo (2-3 dias). Se não for possível, a campanha<br />

<strong>de</strong>ve ser realizada em menos <strong>de</strong> um mês após a <strong>de</strong>scoberta do caso.<br />

Para a realização <strong>de</strong>sta activida<strong>de</strong>, a DPS <strong>de</strong>ve apoiar a DDS em vacinas, pessoal<br />

e logística. A campanha <strong>de</strong>ve ser repetida um mês <strong>de</strong>pois.<br />

Lembre-se que, como <strong>para</strong> qualquer campanha, a vacinação <strong>de</strong> rotina <strong>de</strong>ve<br />

continuar normalmente (consultar o manual do PAV).<br />

3. Procura sistemática <strong>de</strong> novos casos através da VE. Na eventualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> existirem vários casos, é importante conhecer o estado vacinal das<br />

crianças doentes.<br />

A ocorrência <strong>de</strong> casos vacinados (3 doses no primeiro ano <strong>de</strong> vida, com intervalos<br />

respeitados) <strong>de</strong>ve levar a uma investigação (a) das técnicas <strong>de</strong> administração<br />

da vacina anti-pólio e (b) da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> frio em geral<br />

Para mais informação, <strong>de</strong>ve-se consultar o “<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica<br />

das PFA/Pólio”.<br />

66 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 200367


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

3.4. Diarreias<br />

3.4.1. Detectar uma epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> diarreia<br />

Des<strong>de</strong> 1985, as diarreias são notificadas semanalmente por todas as Unida<strong>de</strong>s<br />

Sanitárias <strong>de</strong> Moçambique através do BES. As notificações <strong>de</strong>vem ser seguidas<br />

ao <strong>nível</strong> do Distrito com um gráfico linear feito com dados mensais. Se for possível,<br />

<strong>de</strong>ve-se fazer também um gráfico com os dados semanais.<br />

A incidência das doenças diarreicas é geralmente mais elevada no período das<br />

chuvas que no resto do ano. Portanto, a notificação das diarreias tem uma evolução<br />

cíclica: muitos casos notificados na época das chuvas e menos na época<br />

seca. O primeiro gráfico da página seguinte (com dados inventados) representa<br />

os casos <strong>de</strong> diarreia “esperados” na Província <strong>de</strong> Tete, ou seja, as notificações<br />

previstas em Tete, na ausência <strong>de</strong> um evento anormal.<br />

Deve-se suspeitar que algo <strong>de</strong> anormal se está a passar, quando com<strong>para</strong>ndo<br />

com os dados dos anos passados, e na mesma época se verifica:<br />

• Um aumento <strong>de</strong> casos notificados quando se esperava uma diminuição<br />

(exemplo: durante a época seca);<br />

• Um aumento superior ao normal na época <strong>de</strong> alta incidência.<br />

Exemplo:<br />

O gráfico a seguir (gráfico 7) representa as diarreias esperadas (linha tracejada)<br />

como no gráfico prece<strong>de</strong>nte (gráfico 8). A linha contínua representa os dados reais<br />

notificados através do BES <strong>de</strong> Tete.<br />

Durante os anos 1987 e 1988, os casos notificados correspon<strong>de</strong>ram ao esperado.<br />

Mas a partir <strong>de</strong> 1989, nota-se alterações. Po<strong>de</strong>-se i<strong>de</strong>ntificar 3 eventos<br />

MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003 67


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

anormais, com a notificação <strong>de</strong> mais casos <strong>de</strong> diarreias do que o esperado: <strong>de</strong><br />

Junho a Setembro <strong>de</strong> 1989; <strong>de</strong> Dezembro 89 a Maio 90; e a partir <strong>de</strong> Setembro<br />

1990 (gráfico 8).<br />

Se um evento anormal for <strong>de</strong>tectado, <strong>de</strong>ve ser investigado. Em seguida, algumas<br />

questões que ajudam a investigação, nomeadamente:<br />

Gráfico 7:<br />

- O gráfico com dados mensais/semanais sugere uma epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> fonte<br />

única ou propagada?<br />

- O aumento dos casos <strong>de</strong> diarreia regista-se em todo o Distrito ou apenas<br />

em alguns Postos <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>?<br />

- Concentra-se numa população agrupada, na mesma família, no mesmo<br />

bairro, na mesma al<strong>de</strong>ia?<br />

- Aconteceu algum problema na distribuição <strong>de</strong> água: corte <strong>de</strong> água, rotura<br />

<strong>de</strong> canalização, falta <strong>de</strong> cloro?<br />

68 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 200369


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

- Os poços secaram e as populações vão à procura <strong>de</strong> água noutro lugar?<br />

- Chegaram grupos <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocados que vivem em condições <strong>de</strong> higiene <strong>de</strong>ficientes?<br />

Gráfico 8:<br />

Recomenda-se, que sejam feitos exames microbiológicos <strong>de</strong> fezes, sempre que<br />

haja condições <strong>para</strong> tal.<br />

Os Departamentos <strong>de</strong> Higiene e Águas e Água Rural <strong>de</strong>vem participar na investigação.<br />

Uma vez i<strong>de</strong>ntificado o problema, as medidas <strong>de</strong> prevenção e controle<br />

<strong>de</strong>vem ser implementadas em conjunto, sobretudo a <strong>de</strong>sinfecção das águas<br />

contaminadas (com cloro e/ou limpeza).<br />

MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003 69


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

Infelizmente, muitas vezes, as epi<strong>de</strong>mias <strong>de</strong> diarreias estão relacionadas com<br />

problemas multifactoriais (exemplo: pobreza), on<strong>de</strong> o Sector da Saú<strong>de</strong> isolado<br />

tem pouca possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acção. Portanto, a Educação <strong>para</strong> a Saú<strong>de</strong> tem um<br />

papel importante na promoção <strong>de</strong> acções <strong>de</strong> protecção ao <strong>nível</strong> individual.<br />

São exemplos <strong>de</strong>stas acções:<br />

• promover a higiene corporal, em particular lavar as mãos com água e<br />

sabão antes <strong>de</strong> pre<strong>para</strong>r os alimentos, antes das refeições e <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong> usar a latrina;<br />

• utilizar a latrina (construir se não existir);<br />

• clorar a água ou beber água fervida (apesar <strong>de</strong> ser, muitas vezes, uma<br />

medida difícil <strong>de</strong> implementar por falta <strong>de</strong> água e <strong>de</strong> lenha);<br />

• aumentar a ingestão <strong>de</strong> líquidos, logo que a diarreia comece, <strong>para</strong> substituir<br />

as perdas;<br />

• informar sobre os sinais <strong>de</strong> perigo <strong>para</strong> que a comunida<strong>de</strong> possa procurar<br />

ajuda no CS.<br />

A investigação e a educação <strong>de</strong>vem ser acompanhadas dum tratamento<br />

a<strong>de</strong>quado aos doentes. Se a epi<strong>de</strong>mia for importante<br />

(sinónimo), po<strong>de</strong> ser útil abrir uma enfermaria <strong>de</strong> rehidratação.<br />

Lembre-se que os antibióticos são usados apenas em casos <strong>de</strong> disenteria.<br />

3.4.2. Cólera<br />

Deve-se pensar na possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cólera quando se regista:<br />

• uma proporção elevada <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> diarreias agudas em adultos, ou<br />

mais alta que o costume;<br />

70 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 200371


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

• casos <strong>de</strong> diarreia com <strong>de</strong>sidratação em adultos;<br />

• óbitos por diarreia em adultos.<br />

Se estas condições estiverem reunidas, mesmo que não se registem casos<br />

clínicos típicos, <strong>de</strong>ve-se enviar algumas amostras <strong>de</strong> fezes (zaragatoas) ao<br />

Laboratório Provincial <strong>para</strong> fazer exames microbiológicos à procura do Vibrio<br />

Cholerae.<br />

Da mesma forma, quando houver um caso clínico suspeito <strong>de</strong>ve-se pedir confirmação<br />

laboratorial. As zaragatoas <strong>de</strong>vem ser conservadas e transportadas<br />

em meio Carry-Blair.<br />

Com um caso <strong>de</strong> cólera confirmado pelo Laboratório, consi<strong>de</strong>ra-se a zona<br />

afectada.<br />

A partir <strong>de</strong>ste momento, todo o caso <strong>de</strong> diarreia grave <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rado<br />

e notificado como cólera. Numa zona afectada, os óbitos por diarreia em adultos,<br />

por não serem comuns, são obviamente graves. Portanto, também <strong>de</strong>vem<br />

ser notificados como cólera.<br />

A notificação faz-se semanalmente por via rápida (rádio, telefone, fax) com<br />

confirmação no BES.<br />

Lembre-se que:<br />

Numa zona afectada, toda diarreia grave <strong>de</strong>ve ser notificada como cólera.<br />

Não se <strong>de</strong>ve esperar a confirmação laboratorial <strong>para</strong> agir.<br />

É necessário:<br />

MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003 71


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

(i)<br />

(ii)<br />

(iii)<br />

verificar o stock <strong>de</strong> cloro;<br />

verificar o stock <strong>de</strong> medicamentos: S.R.O., lactato <strong>de</strong> Ringer;<br />

organizar uma enfermaria <strong>de</strong> rehidratação C.T.C. (Centro <strong>de</strong> tratamento<br />

<strong>de</strong> Colera) que po<strong>de</strong> estar localizada num bairro ou numa al<strong>de</strong>ia.<br />

As acções a tomar são iguais às <strong>de</strong>scritas <strong>para</strong> as diarreias em geral. Contudo,<br />

<strong>de</strong>vido à gravida<strong>de</strong> e transmissibilida<strong>de</strong> da doença, a resposta <strong>de</strong>ve ser<br />

imediata. As estruturas políticas, religiosas e outras <strong>de</strong>vem ser mobilizadas,<br />

e organizadas campanhas <strong>de</strong> higiene e limpeza.<br />

O tratamento e acções <strong>de</strong> controle estão pormenorizados no “<strong>Manual</strong> <strong>de</strong><br />

Prevenção e Tratamento da Cólera”.<br />

3.4.3. Disenteria<br />

Des<strong>de</strong> 1993, após a epi<strong>de</strong>mia que assolou todo o País, a disenteria é também notificada<br />

através do BES. A <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> caso aceite <strong>para</strong> a disenteria é “diarreia<br />

com sangue visível nas fezes”.<br />

Existem todo o ano, casos esporádicos <strong>de</strong> disenteria, com uma gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> etiologias (amebas, E. Coli, etc.). Não obstante, no caso <strong>de</strong> epi<strong>de</strong>mias,<br />

o agente mais frequente é a shigela (Shigela disenteriae tipo 1). A evolução é<br />

geralmente do tipo da epi<strong>de</strong>mia prolongada e <strong>de</strong>mora vários meses.<br />

Durante as epi<strong>de</strong>mias e até prova em contrário, as disenterias <strong>de</strong>vem ser<br />

consi<strong>de</strong>radas como shigelose e tratadas como tal.<br />

No entanto, é muito importante enviar zaragatoas ao laboratório <strong>de</strong> referência,<br />

<strong>para</strong> (i) confirmar a etiologia e (ii) verificar a resistência aos antibióticos.<br />

Durante o surto <strong>de</strong> 1993, a shigela isolada mostrou-se resistente aos antibióti-<br />

72 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 200373


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

cos mais comuns, como ampicilina e cotrimoxazol, sendo sensível apenas ao ácido<br />

nalidíxico. No entanto, <strong>de</strong>vido à escassez <strong>de</strong> recursos e, sobretudo à gran<strong>de</strong><br />

facilida<strong>de</strong> da shigela <strong>para</strong> <strong>de</strong>senvolver resistências, foi <strong>de</strong>cidido reservar este<br />

medicamento <strong>para</strong> os casos graves, <strong>de</strong>finidos como aqueles que necessitam <strong>de</strong><br />

internamento.<br />

O acido nalidíxico <strong>de</strong>ve ser reservado apenas <strong>para</strong> as disenterias graves,<br />

ou seja, <strong>para</strong> os casos que necessitam <strong>de</strong> internamento<br />

As acções <strong>para</strong> o controle das epi<strong>de</strong>mias <strong>de</strong> disenteria são as idênticas às <strong>de</strong><br />

outras doenças diarreicas, mas o seu o controle é mais difícil, pois, as epi<strong>de</strong>mias<br />

ten<strong>de</strong>m a persistir duma forma menos grave durante meses, após o pico.<br />

3.5. Controle <strong>de</strong> uma epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> malária<br />

3.5.1. Factores <strong>de</strong> risco<br />

A epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> malária ocorre quando uma população com baixo <strong>nível</strong> <strong>de</strong> imunida<strong>de</strong><br />

é exposta a altos níveis <strong>de</strong> transmissão. Vários factores po<strong>de</strong>m contribuir<br />

<strong>para</strong> o aparecimento <strong>de</strong> uma epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> malária, como:<br />

• a <strong>de</strong>florestação<br />

• a interrupção <strong>de</strong> um programa <strong>de</strong> luta antivectorial que tivesse tido lugar<br />

durante vários anos consecutivos<br />

• a migração da população <strong>para</strong> novas áreas<br />

• o aumento da pluviosida<strong>de</strong> especialmente em regiões semi-áridas, ou<br />

após prolongados períodos <strong>de</strong> seca<br />

• o aumento da temperatura favorece o rápido <strong>de</strong>senvolvimento das larvas<br />

<strong>de</strong> mosquitos<br />

• gran<strong>de</strong>s obras <strong>de</strong> regadios com especial ênfase nas regiões montanhosas<br />

MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003 73


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

• os charcos <strong>de</strong> água como consequência das cheias<br />

Factores como a (a) cobertura insuficiente da re<strong>de</strong> sanitária e (b) distribuição<br />

<strong>de</strong>sigual <strong>de</strong> anti-maláricos, têm acentuado os quadros epidémicos e contribuído<br />

<strong>para</strong> a existência da alta letalida<strong>de</strong> que geralmente se observa nestas situações.<br />

Em Moçambique, os surtos <strong>de</strong> malária têm ocorrido com certa regularida<strong>de</strong>. No<br />

passado, foram i<strong>de</strong>ntificadas epi<strong>de</strong>mias na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Maputo, tendo as principais<br />

ocorrido após a interrupção da campanha <strong>de</strong> erradicação da malária; mais<br />

recentemente, na Província <strong>de</strong> Gaza, que ocorreu após um período <strong>de</strong> seca prolongada<br />

seguido <strong>de</strong> queda <strong>de</strong> chuvas abundantes.<br />

Outras regiões on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>rão aparecer surtos <strong>de</strong> malária em Moçambique são<br />

as regiões distantes da costa oceânica e planaltos, on<strong>de</strong> a transmissão da malária<br />

é sazonal. Exemplos <strong>de</strong>ssas áreas são zonas altas <strong>de</strong> Manica, Niassa e<br />

Nampula.<br />

3.5.2. Diagnóstico do surto epidémico <strong>de</strong> malária<br />

Os casos <strong>de</strong> malária internados (enfermarias <strong>de</strong> pediatria e medicina) são<br />

notificados mensalmente ao <strong>nível</strong> dos Hospitais Rurais através da ficha SIS-<br />

DO4, e nos Centros <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> com camas através do SIS-DO3 1 . Os Hospitais<br />

Provinciais também <strong>de</strong>vem reportar os casos internados <strong>de</strong> malária <strong>de</strong> forma<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, à Secção <strong>de</strong> Malária no MISAU. Os casos <strong>de</strong> malária vistos nas<br />

consultas médicas e triagem e serviços <strong>de</strong> urgência são reportados no BES.<br />

Como no caso das diarreias, a malária tem uma evolução cíclica ligada às<br />

chuvas.<br />

4<br />

Ver as normas <strong>de</strong> prenchimento e transmissão <strong>de</strong>stas fichas no primeiro <strong>volume</strong> do <strong>Manual</strong> “Normas e instrumentos”.<br />

74 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 200375


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

Habitualmente, o pico <strong>de</strong> malária aparece a partir do 2º mês do pico mais<br />

alto das chuvas.<br />

Em Moçambique, as chuvas têm geralmente o seu início em Novembro e o pico<br />

mais alto no mês <strong>de</strong> Janeiro a Fevereiro. Portanto, os surtos <strong>de</strong> malária têm<br />

ocorrido entre os meses <strong>de</strong> Fevereiro e Março, prolongando-se durante os<br />

meses <strong>de</strong> Abril e Maio. Têm em geral a duração do período <strong>de</strong> transmissão,<br />

que normalmente termina nos finais <strong>de</strong> Junho.<br />

De referir que o pico <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> malária grave surge após a época das chuvas.<br />

No gráfico 9, encontra-se a relação entre a época da chuva e a notificação dos<br />

casos <strong>de</strong> malária no Hospital <strong>de</strong> Chicumbane <strong>de</strong> 1992 a 1994.<br />

Gráfico 9:<br />

Para <strong>de</strong>tectar um surto, <strong>de</strong>ve-se verificar o número <strong>de</strong> casos registados no<br />

MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003 75


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

mesmo período <strong>de</strong> anos anteriores. Assim se se observar um aumento brusco,<br />

anormal e acentuado no número <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> malária em relação ao período em<br />

estudo, po<strong>de</strong>-se afirmar que se está na presença <strong>de</strong> uma epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> malária.<br />

Po<strong>de</strong> ser interessante seguir o número <strong>de</strong> casos notificados <strong>de</strong> anemia na pediatria,<br />

pois existe uma relação forte entre malária e anemia (que também é<br />

notificada do SIS-DO3 e do SIS-DO4).<br />

Apesar <strong>de</strong> não ser muito específico, o consumo <strong>de</strong> cloroquina na US (internamento<br />

e consultas externas), uma vez um medicamento administrado <strong>para</strong><br />

qualquer tipo <strong>de</strong> febre, po<strong>de</strong> complementar esta informação.<br />

Por exemplo:<br />

Se o abastecimento foi normal em relação aos anos anteriores, uma ruptura <strong>de</strong><br />

stock <strong>de</strong> cloroquina po<strong>de</strong> ser um sinal <strong>de</strong> alarme.<br />

Nos locais on<strong>de</strong> é possível obter-se dados <strong>de</strong> pluviosida<strong>de</strong> <strong>para</strong> os mesmos<br />

períodos em estudo (actual e passado), estes po<strong>de</strong>m ajudar a <strong>de</strong>finir melhor<br />

a situação. Ou seja, se se observar um aumento anormal do padrão <strong>de</strong> chuvas<br />

<strong>para</strong> o mesmo período em relação aos anos anteriores, ou se aparecerem chuvas<br />

após um período <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 2 anos <strong>de</strong> poucas chuvas, o risco <strong>de</strong> surto é maior.<br />

3.5.3. Controlo do surto <strong>de</strong> malária<br />

O surto <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>tectado logo no seu início, <strong>para</strong> que possam ser tomadas<br />

medidas <strong>para</strong> diminuir a morbilida<strong>de</strong> e mortalida<strong>de</strong>. As principais activida<strong>de</strong>s a<br />

<strong>de</strong>senvolver são:<br />

- Abastecer as Unida<strong>de</strong>s Sanitárias com anti-maláricos. Estes medicamentos<br />

<strong>de</strong>vem incluir drogas <strong>de</strong> primeira linha (exemplo: cloroquina), <strong>de</strong><br />

segunda linha (exemplo: sulfadoxina-pirimetamina) e <strong>de</strong> terceira linha<br />

76 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 200377


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

(exemplo: quinino) <strong>para</strong> o tratamento <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> malária grave, complicada,<br />

ou resistente à sulfadoxina-pirimetamina 2<br />

Verificar a capacida<strong>de</strong> técnica do pessoal <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> dirigido ao diagnóstico e<br />

tratamento dos diferentes tipos <strong>de</strong> malária (malária não complicada, malária<br />

grave ou complicada e malária resistente) <strong>de</strong> acordo com as políticas do MI-<br />

SAU.<br />

Se for necessário, treino extra <strong>de</strong>ve ser instituído. Se houver capacida<strong>de</strong>,<br />

sugere-se que anualmente, seja feito treino <strong>de</strong> actualização <strong>para</strong> os clínicos da<br />

triagem.<br />

- Introduzir rapidamente programas <strong>de</strong> Educação Sanitária dirigidos<br />

particularmente às mães <strong>de</strong> crianças menores <strong>de</strong> 5 anos. Devem ser sensibilizadas<br />

sobre a existência do surto, e da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> em caso <strong>de</strong><br />

febre, dirigirem-se rapidamente a uma Unida<strong>de</strong> Sanitária. Esta campanha<br />

<strong>de</strong> educação <strong>de</strong>ve também dar ênfase à dosagem correcta do antimalárico<br />

a ser administrado.<br />

- Sensibilizar as farmácias e outros locais que vendam cloroquina no sentido<br />

<strong>de</strong> explicar aos seus utentes como tratar correctamente a malária<br />

não complicada. Note que esta medida não visa promover a automedicação,<br />

mas sim fazer com que o anti-malárico seja tomado correctamente.<br />

- Introduzir a administração massiva ou dirigida <strong>de</strong> um quimioprofilático<br />

a <strong>de</strong>terminados grupos susceptíveis (exemplo: mulheres grávidas,<br />

crianças menores <strong>de</strong> 5 anos) po<strong>de</strong> ser recomendável. Contudo, <strong>para</strong> tal, é<br />

necessário que se garanta uma boa cobertura.<br />

5<br />

Para mais pormenores sobre o tratamento, ver o “<strong>Manual</strong> dos Medicamentos Essenciais” e as “Normas <strong>de</strong> Tratamento<br />

da Malária”.<br />

MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003 77


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

Se não se conseguir garantir um boa cobertura, não se<br />

recomenda o início da quimioprofilaxia.<br />

A <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> implementar esta forma <strong>de</strong> controlo, bem como o medicamento a<br />

utilizar, <strong>de</strong>ve ser tomada em concordância com o <strong>nível</strong> central.<br />

- Mobilizar as populações no sentido <strong>de</strong> se eliminar os criadores <strong>de</strong> mosquitos<br />

próximo das suas casas.<br />

- Promover o uso <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s mosquiteiras nas zonas rurais, sempre que estas<br />

estejam disponíveis na comunida<strong>de</strong>.<br />

- Se a epi<strong>de</strong>mia for <strong>de</strong>tectada precocemente e houver capacida<strong>de</strong> a <strong>nível</strong><br />

local, é possível iniciar a (a) luta anti-vectorial através da pulverização<br />

intradomiciliar ou (b) um programa antilarval, se for aplicável.<br />

Esta estratégia é particularmente dirigida às zonas urbanas e semi-urbanas.<br />

Se o surto for <strong>de</strong>tectado muito tempo <strong>de</strong>pois do seu início, já nos finais do período<br />

<strong>de</strong> transmissão, o impacto <strong>de</strong> qualquer activida<strong>de</strong> será menor. Por outras<br />

palavras, mesmo sem intervenção, a epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong>saparecerá num espaço relativamente<br />

curto e <strong>de</strong> forma natural.<br />

3.6. Epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> meningite<br />

3.6.1. Sistema <strong>de</strong> notificação<br />

A meningite é uma doença grave que, quando suspeita, conduz ao internamento<br />

do doente. Por este motivo, os casos internados e todos os outros casos <strong>de</strong><br />

meningite são notificados pelo BES.<br />

78 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 200379


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

Nos níveis III e IV (Hospitais Provinciais e Centrais), os casos <strong>de</strong> meningite<br />

<strong>de</strong>vem ser notificados através do Boletim Epi<strong>de</strong>miológico dos Postos Sentinela<br />

(BE-PS); <strong>para</strong> os níveis I e II, os casos são notificados, através do resumo<br />

mensal <strong>de</strong> internamento (SIS-DO3 e SIS-DO4). Note que os casos são notificados<br />

sem especificar a etiologia.<br />

A <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> caso é a seguinte:<br />

Qualquer pessoa com início súbito <strong>de</strong> febre (>38,5ºC rectal ou 38ºC axilar) e<br />

um dos seguintes sinais:<br />

• rigi<strong>de</strong>z da nuca,<br />

• alteração da consciência, ou<br />

• outro qualquer sinal meningeo.<br />

Lembre-se que:<br />

A <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> casos serve apenas <strong>para</strong> a notificação.<br />

Para o diagnóstico, o clínico po<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve utilizar critérios mais amplos, incluindo<br />

a confirmação laboratorial e, <strong>de</strong>cidir sobre o início do tratamento.<br />

Por exemplo:<br />

Uma criança menor <strong>de</strong> um ano <strong>de</strong>ve ser suspeita <strong>de</strong> meningite se apresentar pelo<br />

menos 3 dos seguintes sintomas: (i) febre alta, (ii) vómitos, (iii) hipotonia, (iv)<br />

fontanela hipertensa, (v) excitabilida<strong>de</strong>.<br />

Uma amostra do LCR <strong>de</strong>ve ser sempre enviada ao Laboratório <strong>de</strong> referência,<br />

<strong>para</strong> confirmação do diagnóstico e etiologia.<br />

MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003 79


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

Das <strong>de</strong>finições, po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>duzir que a punção lombar (PL) e a análise do LCR,<br />

em particular o Gram, são fundamentais <strong>para</strong> a notificação <strong>de</strong> meningite. Portanto,<br />

<strong>de</strong>vem ser realizadas a todos os doentes com síndrome meníngeo.<br />

Alerta:<br />

A suspeita dos casos <strong>de</strong> meningite compete ao pessoal clínico.<br />

Todos os casos compatíveis com alterações meníngeas<br />

<strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong> imediato comunicadas ao responsável da VE.<br />

Uma taxa <strong>de</strong> ataque <strong>de</strong> casos suspeitos e/ou confirmados superior a<br />

5 casos/100.000 habitantes.<br />

Casos esporádicos ocorrem durante todo o ano, mas os surtos surgem geralmente<br />

durante a época fria e seca (<strong>de</strong> Abril a Setembro).<br />

3.6.2. Controlo <strong>de</strong> foco fora do contexto epidémico<br />

Na ausência <strong>de</strong> epi<strong>de</strong>mia, o diagnóstico <strong>de</strong> um caso <strong>de</strong> meningite meningocócica<br />

leva a consi<strong>de</strong>rar como “foco <strong>de</strong> infecção” o local on<strong>de</strong> o doente esteve<br />

durante o período <strong>de</strong> transmissibilida<strong>de</strong>. Neste local, <strong>de</strong>vem ser realizadas<br />

acções com vista ao controlo do foco e evitar a propagação da doença, nomeadamente:<br />

a) Melhorar a higiene pessoal.<br />

b) Se possível, evitar quartos e habitações superlotadas.<br />

80 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 200381


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

c) Melhorar a limpeza e ventilação das habitações.<br />

d) Quimioprofilaxia precoce (no máximo, 48 horas <strong>de</strong>pois do diagnóstico) e<br />

reservada aos contactos mais próximos assim <strong>de</strong>finidos:<br />

- pessoas que habitem a mesma casa com o doente<br />

- pessoas em dormitórios colectivos como quartéis, orfanatos, internatos<br />

on<strong>de</strong> foi diagnosticado um caso;<br />

- outros doentes que estejam no mesmo quarto com o caso <strong>de</strong> meningite,<br />

se não houver possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> isolamento na US.<br />

A não ser que compartilhe o dormitório (exemplo: quartéis), o pessoal médico<br />

e <strong>para</strong>médico não necessita <strong>de</strong> quimioprofilaxia. As pessoas que compartilham<br />

o lugar <strong>de</strong> estadia do doente durante o dia (escola, creche, lugar <strong>de</strong> trabalho)<br />

tão pouco necessitam.<br />

Actualmente em Moçambique, <strong>de</strong>vido ao aumento da resistência às sulfamidas,<br />

a rifampicina é o medicamento recomendado.<br />

Tabela 5: Dosagem <strong>de</strong> rifampicina por grupo etário<br />

Grupo etário<br />

Neonato/Recém nascido<br />

Dose<br />

5 mg/Kg - 2 vezes/dia<br />

1 mês até 12 anos 20 mg/Kg - 2 vezes/dia<br />

13 anos e mais 600 mg - 2 vezes/dia<br />

A rifampicina <strong>de</strong>ve ser tomada durante 2 dias. Recomenda-se que os Trabalhadores<br />

<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> controlem a administração do medicamento.<br />

Lembre-se que por si só, a quimioprofilaxia não é suficiente e dá um efeito protector<br />

não absoluto e não prolongado. Deve ser acompanhada <strong>de</strong> medidas <strong>para</strong><br />

melhorar as condições das habitações e a higiene da população.<br />

MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003 81


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

A quimioprofilaxia não é suficiente<br />

<strong>para</strong> o controle da meningite meningocócica<br />

Para as outras etiologias <strong>de</strong> meningite, não se recomenda qualquer forma <strong>de</strong><br />

quimioprofilaxia, nem às famílias, nem na comunida<strong>de</strong>. Mas, as medidas <strong>de</strong> higiene<br />

e do saneamento são sempre recomendáveis, <strong>para</strong> além do tratamento<br />

ao doente.<br />

3.6.3. Detecção duma epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> meningite<br />

Na prática, apenas as meningites meningocócicas propagam-se <strong>de</strong> forma epidémica.<br />

Nos anos recentes, as principais epi<strong>de</strong>mias aconteceram em quartéis<br />

militares na Manhiça e Nacala. Em 1990, houve um surto no Distrito <strong>de</strong> Chiúta,<br />

uma zona rural <strong>de</strong> Tete. Mais recentemente, em Setembro 1994, houve uma<br />

epi<strong>de</strong>mia importante na Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Maputo. Lembre-se que os surtos ocorrem<br />

geralmente na época fria.<br />

Numa zona rural, apenas um caso <strong>de</strong> meningite meningocócica, segundo a <strong>de</strong>finição<br />

mencionada acima, é sinal <strong>de</strong> alerta. Por este motivo, é importante fazerse<br />

um Gram do LCR a todos os doentes com síndroma meníngeo.<br />

De mesma forma, um caso originário dum lugar on<strong>de</strong> há aglomeração <strong>de</strong> pessoas<br />

(quartel, creche, orfanato, acampamento <strong>de</strong> refugiados) <strong>de</strong>ve ser suspeito e<br />

pensar-se na possibilida<strong>de</strong> do surgimento duma epi<strong>de</strong>mia.<br />

Numa zona urbana ou suburbana, po<strong>de</strong>m acontecer casos esporádicos, sem que<br />

haja epi<strong>de</strong>mia.<br />

Uma forma simples <strong>para</strong> vigiar os surtos é a com<strong>para</strong>ção do número <strong>de</strong> casos <strong>de</strong><br />

meningite com o dos anos anteriores no mesmo período, principalmente durante<br />

82 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 200383


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

a época fria. Um gráfico linear, com os dados <strong>de</strong> internamento dos Hospitais<br />

Provinciais ou Rurais, ajuda na <strong>vigilância</strong>.<br />

Outro indicador <strong>de</strong> alerta é a<br />

duplicação do número <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> meningite duma semana <strong>para</strong> outra,<br />

durante 3 semanas consecutivas.<br />

Por exemplo:<br />

Durante a semana epi<strong>de</strong>miológica 31, o HR <strong>de</strong> Xai-Xai internou 3 casos <strong>de</strong> meningite.<br />

Na semana 32, o número aumenta <strong>para</strong> 8, ou seja, mais do que o dobro da<br />

semana 31.<br />

Na semana 33, 19 casos foram internados, ou seja, mais do que o dobro da semana<br />

32. Esta duplicação durante 3 semanas consecutivas necessita <strong>de</strong> medidas<br />

urgentes, incluindo a informação à DPS.<br />

Uma elevada proporção <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> meningite em indivíduos com ida<strong>de</strong> superior<br />

a 5 anos, aumenta a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se tratar duma epi<strong>de</strong>mia meningocócica.<br />

A duplicação semanal do número <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> meningite,<br />

com alta proporção <strong>de</strong> adultos,<br />

é suspeita <strong>de</strong> epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> meningite meningocócica<br />

Quando a epi<strong>de</strong>mia é <strong>de</strong>clarada e há confirmação da presença <strong>de</strong> diplococos<br />

Gram negativos no LCR pelo menos uma vez, todos os síndromas meníngeos<br />

com LCR turvo <strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>rados como meningite meningocócica, e notificados<br />

com tal. Contudo, é importante enviar algumas amostras <strong>de</strong> LCR (em<br />

agar Chocolate) <strong>para</strong> micro-bacteriologia e teste <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> no Labora-<br />

MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003 83


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

torio <strong>de</strong> referencia. Isto permite:<br />

- Confirmar se o agente etiológico é Neisseria meningitidis.<br />

- Determinar o serotipo.<br />

- Determinar a sensibilida<strong>de</strong> aos antibióticos.<br />

Uma vez confirmado o agente etiológico, não é necessário multiplicar os exames<br />

bacteriológicos.<br />

Uma amostra em cada 20-30 doentes é suficiente <strong>para</strong><br />

seguir a evolução da epi<strong>de</strong>mia.<br />

3.6.4. Controle da epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> meningite<br />

O tratamento precoce dos doentes é um elemento fundamental <strong>para</strong> evitar a<br />

propagação da epi<strong>de</strong>mia. As populações <strong>de</strong>vem ser informadas <strong>para</strong> procurar<br />

tratamento o mais cedo possível após a ocorrência dos sintomas.<br />

Nas zonas rurais, o cloranfenicol oleoso (uma injecção IM, com uma segunda<br />

injecção 48h <strong>de</strong>pois, se necessário) é o tratamento i<strong>de</strong>al, simples, eficaz e barato.<br />

A primeira dose <strong>de</strong>ve ser dada logo à entrada, mesmo antes da PL se esta<br />

não for imediata. As doses recomendadas são apresentadas na Tabela 6.<br />

Se existir uma melhor infra-estrutura hospitalar, outros antibióticos (geralmente<br />

a penicilina EV) são indicados, <strong>para</strong> além do tratamento sintomático 6 .<br />

Contudo, qualquer que seja o lugar, quando a epi<strong>de</strong>mia é forte e os serviços<br />

estão sobrecarregados, o cloranfenicol oleoso po<strong>de</strong> ser útil, <strong>de</strong>vido à sua simplicida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> aplicação.<br />

6<br />

Para mais pormenores sobre o tratamento, ver o “<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Tratamento e Control da Meningite” e o “<strong>Manual</strong> dos<br />

Medicamentos Essenciais”.<br />

84 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 200385


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

Tabela 6: Dosagem <strong>de</strong> cloranfenicol oleoso por grupo etário<br />

Grupo etário<br />

Dose em gramas<br />

1-11 meses 75 mg/Kg<br />

1-2 anos 1,0 gr. (2 ml)<br />

3-6 anos 1,5 gr. (3 ml)<br />

7-10 anos 2,0 gr. (4 ml)<br />

11-14 anos 2,5 gr. (5 ml)<br />

15 anos e mais 3,0 gr. (6 ml)<br />

Sempre que possível, uma enfermaria <strong>de</strong> isolamento <strong>de</strong>ve ser aberta.<br />

Na comunida<strong>de</strong>, o controlo das epi<strong>de</strong>mias está baseado no controlo <strong>de</strong> foco<br />

como explicado anteriormente. Isto <strong>de</strong>ve ser implementado o mais rapidamente<br />

possível, acompanhado <strong>de</strong> uma intensiva educação sanitária. Insista-se na<br />

importância <strong>de</strong> promover a limpeza e a ventilação das habitações.<br />

Lembre-se que a quimioprofilaxia <strong>de</strong>ve ser precoce (antes das 48h) e reservada<br />

aos contactos próximos. A quimioprofilaxia em larga escala não permite o<br />

controle dos surtos, e po<strong>de</strong> introduzir resistências.<br />

Durante as epi<strong>de</strong>mias, a <strong>vigilância</strong> epi<strong>de</strong>miológica continua<br />

através do BES, do BE-PS e dos resumos <strong>de</strong> internamento.<br />

No entanto, <strong>para</strong> agilizar a informação, recomenda-se que se mencione semanalmen-<br />

MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003 85


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

te, na parte observação, no verso da ficha do BES, o número <strong>de</strong> casos e <strong>de</strong> óbitos,<br />

até à inclusão no BES das alterações efectuadas na notificação das meningites.<br />

3.6.5. Controle das epi<strong>de</strong>mias nos quartéis<br />

Como já mencionamos, a maioria das epi<strong>de</strong>mias <strong>de</strong> meningite meningocócica<br />

acontecem nos quartéis. As normas <strong>de</strong> controlo são basicamente as mesmas,<br />

mas merecem mais cuidados, nomeadamente:<br />

• Isolamento hospitalar restrito dos casos durante as primeiras 24 horas;<br />

• Quimioprofilaxia a todos os mancebos e oficiais, incluindo o pessoal médico;<br />

• Quando possível, não ultrapassar o número <strong>de</strong> pessoas <strong>para</strong> o qual os<br />

locais estão pre<strong>para</strong>dos, sobretudo nos dormitórios;<br />

• Melhorar as condições <strong>de</strong> higiene pessoal, em particular o abastecimento<br />

<strong>de</strong> água <strong>para</strong> garantir a higiene dos soldados;<br />

• Melhorar as condições <strong>de</strong> higiene colectiva, em particular a limpeza e a<br />

ventilação dos dormitórios;<br />

• Os oficiais e soldados <strong>de</strong>vem permanecer no quartel durante 10 dias a<br />

partir da data <strong>de</strong> internamento do último caso;<br />

• Proibir a chegada <strong>de</strong> novos contigentes a esse quartel até a epi<strong>de</strong>mia<br />

estar controlada;<br />

• Manter a <strong>vigilância</strong> na procura <strong>de</strong> soldados com febre, cefaleia, vómitos<br />

ou rigi<strong>de</strong>z <strong>de</strong> nuca;<br />

• Notificar semanalmente o número <strong>de</strong> casos à DDS.<br />

3.6.6. Vacinação anti-meningocócica<br />

Existem vacinas contra os serotipos A e C <strong>de</strong> Neisseria meningitidis , mas não<br />

são muito eficazes <strong>para</strong> as crianças menores <strong>de</strong> 2 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, por isto não<br />

estão incluídas no PAV.<br />

86 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 200387


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

Para os adultos e crianças maiores <strong>de</strong> 2 anos, apenas uma dose protege mais<br />

<strong>de</strong> 90% das pessoas. Portanto, po<strong>de</strong> ser uma estratégia interessante <strong>para</strong> o<br />

controlo das epi<strong>de</strong>mias. A protecção dura mais ou menos 3 anos. Para vacinar, é<br />

necessário conhecer o serotipo (A ou C), ou utilizar a vacina polivalente A-C.<br />

A vacinação protege contra a doença,<br />

mas não impe<strong>de</strong> a transmissão da bactéria pelas pessoas infectadas.<br />

A vacinação, como forma <strong>de</strong> controlo duma epi<strong>de</strong>mia, requere uma cobertura<br />

vacinal elevada, que <strong>de</strong>ve ser atingida no mais curto espaço <strong>de</strong> tempo. On<strong>de</strong><br />

existe uma alta concentração das pessoas, e on<strong>de</strong> o controlo é fácil, a vacinação<br />

é uma estratégia a ser consi<strong>de</strong>rada, como em quartéis, acampamentos <strong>de</strong><br />

refugiados ou <strong>de</strong>slocados.<br />

Por exemplo:<br />

Em geral, a vacinação em massa na população é recomendável apenas se o surto<br />

atingir gran<strong>de</strong>s proporções em termos <strong>de</strong> incidência e extensão geográfica.<br />

A OMS recomenda a vacinação em massa se a taxa <strong>de</strong> ataque ultrapassar 15<br />

por 100.000 habitantes por semana durante 2 semanas consecutivas.<br />

Ao contrário do sarampo, a vacinação <strong>de</strong>ve ser iniciada nos lugares (bairros,<br />

al<strong>de</strong>ias) <strong>de</strong> maior incidência.<br />

Existe no <strong>de</strong>pósito nacional <strong>de</strong> vacinas em Maputo, uma reserva <strong>de</strong> vacinas antimeningocócicas.<br />

MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003 87


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

Lembre que:<br />

Em caso <strong>de</strong> epi<strong>de</strong>mia, a vacinação,<br />

<strong>de</strong>ve ser iniciada com o conhecimento do <strong>nível</strong> central.<br />

Para uma <strong>de</strong>cisão pertinente, a informação transmitida<br />

<strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong><br />

88 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 200389


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

ANEXO 1: APRESENTAÇÃO DOS DADOS E GRÁFICOS<br />

MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003 89


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

Como foi referenciado no texto, as tabelas, os gráficos, os mapas e as frequências<br />

são os meios mais usados <strong>para</strong> apresentar a informação.<br />

Vantagens da utilização das tabelas, gráficos e mapas:<br />

- permitem uma apresentação global e clara da informação;<br />

- permitem a com<strong>para</strong>ção <strong>de</strong> dados;<br />

- permitem observar as tendências;<br />

- Ocupam pouco espaço.<br />

1. Tabelas<br />

Uma tabela é composta por linhas e colunas, como se po<strong>de</strong> ver no exemplo<br />

(Tabela 7).<br />

Tabela 7: Internamento no Hospital Rural <strong>de</strong> Chicuque - 2000 (pediatria)<br />

Coluna<br />

Linha<br />

Doenças Casos Óbitos *TL(%)<br />

Sarampo 33 2 6,1%<br />

Diarreias 21 6 28,6%<br />

Malária 1307 33 2,5%<br />

Pneumonia 145 19 13,1%<br />

Malnutrição ** 82 13 15,9%<br />

Meningite meningocócita 11 7 63,6%<br />

Outras Doenças 18 17 94,5%<br />

Fonte: Resumo <strong>de</strong> Internamento (SIS-DO4); *TL – Taxa <strong>de</strong> Letalida<strong>de</strong><br />

** Os casos <strong>de</strong> anemia foram incluidos na malnutrição.<br />

90 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 200391


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

Para elaborar a tabela completa, <strong>de</strong>ve-se:<br />

a) numerá-la<br />

b) ter um título que explique:<br />

- o QUE se estuda,<br />

- QUANDO foi<br />

- ONDE foi.<br />

c) rotular claramente as colunas e linhas (exemplo: “Doenças”, “Casos”,<br />

Óbitos”)<br />

Se forem utilizadas abreviaturas, <strong>de</strong>ve-se colocar a legenda por baixo da<br />

tabela (exemplo: “TL” está explicada através duma nota (*), como taxa <strong>de</strong><br />

letalida<strong>de</strong>).<br />

d) mencionar as fontes.<br />

e) evitar fazer tabelas muito gran<strong>de</strong>s. Se a informação for muita é<br />

preferível que se faça 2 tabelas.<br />

Por exemplo:<br />

Para apresentar os casos <strong>de</strong> sarampo por grupo etário, é preferível fazer-se 2<br />

tabelas, mencionando apenas o total dos casos numa tabela juntamente com as<br />

outras doenças (1ª tabela); em seguida, faça outra tabela apenas <strong>para</strong> os casos<br />

<strong>de</strong> sarampo, divididos por grupo etário e/ou estado vacinal.<br />

Para limitar o tamanho da tabela, é possível também agrupar certos dados.<br />

MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003 91


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

Por exemplo:<br />

Mencione na tabela apenas as doenças mais frequentes, e se tiver muitas doenças<br />

com apenas 1 ou 2 casos, agrupá-las todas numa última linha <strong>de</strong>nominada “Outras<br />

doenças”.<br />

f) Evitar sobrecarregar a tabela.<br />

Se for necessário fornecer mais <strong>de</strong>talhes sobre algum assunto, <strong>de</strong>ve-se colocar<br />

uma nota em baixo da tabela (exemplo: explicar que na linha “malnutrição”<br />

estão incluídos os casos <strong>de</strong> anemia).<br />

É também possível escrever em baixo, notas gerais <strong>para</strong> explicar a tabela<br />

(exemplo: tabela 7).<br />

g) Nos comentários, não volte a repetir o que está escrito na tabela.<br />

Por exemplo:<br />

Não escreva “Houve 12 casos <strong>de</strong> sarampo, com 5 óbitos e uma taxa <strong>de</strong> letalida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> 42%” pois isto po<strong>de</strong> ser lido na tabela. É melhor comentar sobre as<br />

consequências práticas, como se segue:<br />

“Houve poucos casos <strong>de</strong> sarampo, mas o número <strong>de</strong> óbitos foi bastante elevado,<br />

motivo pelo qual o controle <strong>de</strong>sta doença <strong>de</strong>ve ainda ser consi<strong>de</strong>rado prioritário.<br />

Quase todos os casos vinham da mesma al<strong>de</strong>ia. Uma campanha porta a porta <strong>de</strong>ve<br />

ser iniciada pela Cruz Vermelha, nas al<strong>de</strong>ias vizinhas <strong>para</strong> sensibilizar as mães sobre<br />

a VAS. É também necessário discutir o protocolo <strong>de</strong> tratamento no Hospital”.<br />

2. Gráficos<br />

Existem vários tipos <strong>de</strong> gráficos; os principais são:<br />

92 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 200393


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

• Gráfico linear;<br />

- gráfico linear simples.<br />

- gráfico linear <strong>de</strong> frequências acumuladas<br />

• Histograma;<br />

• Diagrama <strong>de</strong> barras;<br />

• Diagrama circular.<br />

Neste manual, faz-se referência principalmente aos gráficos lineares<br />

simples e <strong>de</strong> barras, <strong>de</strong>vido à sua utilida<strong>de</strong> na <strong>vigilância</strong> epi<strong>de</strong>miológica.<br />

Os gráficos constam <strong>de</strong>:<br />

• Título;<br />

• Gráfico e respectiva legenda;<br />

• Notas explicativas.<br />

É mais fácil fazer um gráfico com papel milimétrico, porque as linhas estão<br />

bem <strong>de</strong>finidas. Porém, é possível fazer com qualquer papel que tenha quadrados<br />

ou linhas.<br />

2.1. Título<br />

Como nas tabelas, o título <strong>de</strong>ve ser claro e completo, resumindo a informação<br />

que consta no gráfico. Deve respon<strong>de</strong>r às perguntas:<br />

- o QUE se estuda?<br />

- COMO se estuda, <strong>de</strong> acordo com <strong>de</strong>terminadas características?<br />

- ONDE se estuda (local)?<br />

- QUANDO se estuda (época)?<br />

MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003 93


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

2.2. Gráfico linear simples<br />

A maior parte dos gráficos apresentam uma forma rectangular com duas linhas,<br />

chamadas coor<strong>de</strong>nadas ou eixos, que formam um ângulo recto:<br />

- Linha horizontal ou abcissa ou “eixo <strong>de</strong> X” <strong>de</strong>stinam-se às classes<br />

da escala utilizada. Num gráfico linear, a abcissa representa geralmente<br />

o tempo: semanas epi<strong>de</strong>miológicas, meses, anos, etc...<br />

- Linha vertical ou or<strong>de</strong>nada ou “eixo <strong>de</strong> Y” correspon<strong>de</strong> à frequência<br />

ou número <strong>de</strong> vezes que se observa o fenómeno em estudo, <strong>para</strong><br />

cada grupo da abscissa, que po<strong>de</strong> ser: (a) número <strong>de</strong> casos, (b) número<br />

<strong>de</strong> óbitos, (c) taxa <strong>de</strong> incidência, (d) número <strong>de</strong> vacinas aplicadas,<br />

etc.<br />

Or<strong>de</strong>nada<br />

Abcissa<br />

O gráfico <strong>de</strong>ve ser o maior possível, <strong>para</strong> que seja perceptível e claro. Num gráfico<br />

linear, a abcissa é geralmente maior do que a or<strong>de</strong>nada (frequentemente<br />

2 vezes maior).<br />

94 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 200395


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

Faça o gráfico o maior possível,<br />

ocupando todo o espaço dispo<strong>nível</strong> na sua folha <strong>de</strong> papel<br />

A escala nos eixos <strong>de</strong>ve ser escolhida <strong>de</strong> modo a permitir a construção <strong>de</strong> intervalos<br />

<strong>de</strong> números arredondados, preferivelmente múltiplos <strong>de</strong> 5 ou <strong>de</strong> 10.<br />

O valor máximo dos dados a lançar não <strong>de</strong>ve ser necessariamente colocado nos<br />

extremos dos eixos coor<strong>de</strong>nados, pois <strong>de</strong>ssa forma nem sempre será possível<br />

dividir os eixos em intervalos iguais.<br />

No entanto, <strong>para</strong> que seja mais evi<strong>de</strong>nte, é conveniente escolher a maior escala<br />

possível. Sempre que possível, as coor<strong>de</strong>nadas <strong>de</strong>vem começar por zero, mas,<br />

não é indispensável.<br />

Cada coor<strong>de</strong>nada <strong>de</strong>ve ser rotulada <strong>de</strong> modo a que se perceba facilmente o que<br />

se apresenta.<br />

Por exemplo:<br />

O número <strong>de</strong> casos duma doença, os meses do ano, etc.<br />

No exemplo seguinte, <strong>de</strong>senha-se o gráfico linear dos casos <strong>de</strong> tétano em<br />

Inhambane a partir da tabela 8.<br />

MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003 95


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

Tabela 8: Casos notificados <strong>de</strong> tétano, Província <strong>de</strong> Inhambane, 1985 - 1990.<br />

Anos<br />

Casos notificados<br />

1985 7<br />

1986 8<br />

1987 2<br />

1988 9<br />

1989 12<br />

1990 3<br />

Fonte: BES<br />

Primeiro, coloca-se o tempo no eixo horizontal (mínimo - 1985 e máximo<br />

– 1990). Entre estes 2 valores, <strong>de</strong>ve-se dividir em 5 intervalos iguais. É importante<br />

que a distância entre os diferentes anos seja a mesma.<br />

96 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 200397


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

Em seguida, no eixo vertical, colocam-se o número <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> tétano neo-natal.<br />

Nos dados da tabela, o valor máximo é em 1989 com 12 casos (este valor máximo<br />

é <strong>de</strong>nominado apogeu).<br />

No topo da or<strong>de</strong>nada, coloca-se 15, número superior a 12, múltiplo <strong>de</strong> 5 e fácil<br />

<strong>de</strong> dividir. Isto representa 15 casos <strong>de</strong> tétano. Po<strong>de</strong>-se dividir em 3 partes: 15<br />

divido por 3 são 5, ou seja, uma divisão representa 5 casos <strong>de</strong> tétano. Assim, o<br />

primeiro intervalo são 5 casos; o segundo, são mais 5 casos, ou seja, 10 casos; o<br />

último, mais 5 casos, ou seja, 15 casos. É importante que cada divisão tenha<br />

a mesma distância.<br />

Continua-se marcando em frente ao ano 1985, o número <strong>de</strong> casos que foi reportado<br />

pela Província <strong>de</strong> Inhambane naquele ano (ou seja, 7 casos).<br />

MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003 97


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

Da mesma forma, introduz-se no gráfico o número <strong>de</strong> casos <strong>para</strong> cada ano,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1985 até 1990.<br />

Para completar o gráfico, <strong>de</strong>senha-se uma linha que una os diferentes pontos. O<br />

traço <strong>de</strong>ve iniciar a partir <strong>de</strong> 1985, e não da or<strong>de</strong>nada, pois só se conhece os<br />

98 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 200399


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

valores a partir <strong>de</strong> 1985. Por fim, escreve-se o título.<br />

Num gráfico linear, a abcissa geralmente representa o tempo: “anos” como<br />

no exemplo, mas também po<strong>de</strong> ser “dias”, “semanas”, “mês” ou qualquer outra<br />

unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tempo.<br />

A or<strong>de</strong>nada po<strong>de</strong> representar óbitos, taxa <strong>de</strong> incidência, prevalência, ou taxa<br />

<strong>de</strong> cobertura, como no exemplo seguinte.<br />

MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003 99


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

2.3. Gráfico linear com informação múltipla<br />

É possível colocar num mesmo gráfico, informação diversa, que po<strong>de</strong> ou não<br />

estar associada.<br />

Por exemplo:<br />

- Os diferentes grupos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> duma doença (exemplo: 3 grupos etários<br />

das diarreias).<br />

- Os casoa duma doenca em varios distritos.<br />

- 2 ou 3 doenças relacionadas entre si (exemplo: malária e anemia, ou diarreia<br />

e cólera).<br />

- As coberturas <strong>de</strong> 2 antigenos.<br />

100 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003101


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

Para que o gráfico seja claro e fácil <strong>de</strong> ler,<br />

não <strong>de</strong>senhe muitas linhas, 3 ou 4 são suficientes<br />

Quando tiver vários dados provenientes <strong>de</strong> fontes diferentes, as linhas <strong>de</strong>vem<br />

ser bem diferenciadas.<br />

Por exemplo:<br />

Uma linha contínua <strong>para</strong> os primeiros dados, e outra traçejada, ou duas cores diferentes.<br />

Não se recomenda a associação, num mesmo gráfico <strong>de</strong> informação diferente.<br />

MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003 101


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

Por exemplo:<br />

Não se <strong>de</strong>ve associar no mesmo gráfico, doenças <strong>de</strong> alta e baixa incidência (exemplo:<br />

diarreia e tripanossomíase), pois a linha da tripanossomíase estaria muito<br />

próxima da abcissa, não permitindo a leitura correcta das alterações no padrão<br />

epi<strong>de</strong>miológico.<br />

Igualmente, não se <strong>de</strong>vem <strong>de</strong>senhar no mesmo gráfico, o número <strong>de</strong> casos, óbitos<br />

e taxa <strong>de</strong> letalida<strong>de</strong> duma doença.<br />

2.4. Gráfico <strong>de</strong> barras<br />

O gráfico mais usado a <strong>nível</strong> <strong>distrital</strong>, é o gráfico linear. Porém, o gráfico <strong>de</strong><br />

barras também po<strong>de</strong> ser muito útil.<br />

Em seguida, é apresentado um exemplo, utilizando os mesmos dados dos casos<br />

<strong>de</strong> tétano da Província <strong>de</strong> Inhambane <strong>de</strong> 1985 a 1990.<br />

Às etapas <strong>para</strong> <strong>de</strong>senhar um gráfico <strong>de</strong> barras são idênticas às do gráfico linear;<br />

começa-se pre<strong>para</strong>ndo os eixos na abcissa (anos) e na or<strong>de</strong>nada (casos). Os<br />

intervalos também <strong>de</strong>vem ser idênticos.<br />

102 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003103


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

Para cada ano, introduz-se os valores correspon<strong>de</strong>ntes, <strong>de</strong>senhando um rectângulo<br />

até ao topo, que correspon<strong>de</strong> ao número <strong>de</strong> casos do ano consi<strong>de</strong>rado. Em<br />

1985, foram notificados 7 casos; <strong>de</strong>senha-se no espaço correspon<strong>de</strong>nte a este<br />

ano um rectângulo que chegue até ao 7, na or<strong>de</strong>nada.<br />

MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003 103


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

Continua-se da mesma forma, lançando os casos <strong>para</strong> os outros anos<br />

Por fim, <strong>de</strong>ve-se colocar um título e mencionar a fonte <strong>de</strong> dados.<br />

Em vez <strong>de</strong> se fazer um gráfico <strong>de</strong> barras com o tempo (anos na abcissa), po<strong>de</strong>se<br />

fazer igualmente com Distritos, Províncias, Unida<strong>de</strong>s Sanitárias, doenças,<br />

grupos etários, etc. Na or<strong>de</strong>nada, no lugar do número <strong>de</strong> casos, po<strong>de</strong>-se lançar<br />

taxas <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong>, letalida<strong>de</strong>, incidência ou prevalência (como no exemplo<br />

seguinte), <strong>para</strong> permitir com<strong>para</strong>ções.<br />

104 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003105


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

2.5. Notas explicativas<br />

Para além da fonte <strong>de</strong> dados, po<strong>de</strong>-se adicionar também outra informação importante,<br />

no próprio gráfico ou por baixo do mesmo.<br />

Por exemplo:<br />

- Num gráfico linear <strong>de</strong> casos mensais <strong>de</strong> sarampo: se a vacinação foi<br />

interrompida a partir <strong>de</strong> Março e durante 2 meses por problemas na ca<strong>de</strong>ia<br />

<strong>de</strong> frio, é possível <strong>de</strong>senhar uma seta no mês <strong>de</strong> Março e escrever<br />

“vacinação interrompida”; outra seta no mês <strong>de</strong> Maio com a legenda<br />

“Vacinação reiniciada”.<br />

- Num gráfico linear <strong>de</strong> casos totais <strong>de</strong> diarreia: po<strong>de</strong> colocar uma seta<br />

com uma nota à frente do mês em que foram confirmados laboratorialmente<br />

os primeiros casos <strong>de</strong> cólera.<br />

MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003 105


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

- Num gráfico anual provincial dos casos <strong>de</strong> tétano neo-natal: po<strong>de</strong>-se<br />

mencionar à frente <strong>de</strong> cada ano, a cobertura estimada da VAT na mulher<br />

em ida<strong>de</strong> fértil.<br />

- Num gráfico anual: se os dados <strong>para</strong> um ano são apenas dados <strong>de</strong> 9<br />

meses, <strong>de</strong>ve-se mencionar em baixo do gráfico: “Para 1988, são apenas<br />

os dados <strong>de</strong> 9 meses”.<br />

3. Mapas<br />

Os mapas são igualmente instrumentos muito usados na <strong>vigilância</strong> epi<strong>de</strong>miológica<br />

<strong>para</strong> apresentar informação. Demostram claramente a distribuição duma<br />

doença numa <strong>de</strong>terminada área geográfica.<br />

No exemplo apresentado, a legenda do lado direito, indica que as áreas a ver<strong>de</strong><br />

(Províncias <strong>de</strong> Nampula e Zambézia em 1991 e Nampula e Sofala em 1992) notificaram<br />

mais <strong>de</strong> 1500 novos casos tuberculose.<br />

A Província <strong>de</strong> Tete que notificou 614 e 447 casos novos <strong>de</strong> tuberculose, em<br />

1991 e 1992, aparece no mapa assinalado a laranja e azul, respectivamente.<br />

Em vez do número <strong>de</strong> casos duma doença, é possível representar taxas (taxa <strong>de</strong><br />

incidência, prevalência, cobertura vacinal, mortalida<strong>de</strong> intrahospitalar, etc) ou<br />

activida<strong>de</strong>s (doses <strong>de</strong> vacinas aplicadas, número <strong>de</strong> consultas pré-natais, etc).<br />

Utilize mapas simples. Como nas tabelas e gráficos, os mapas com <strong>de</strong>masiada<br />

informação tornam-se difíceis <strong>de</strong> ler. Na legenda, utilize apenas 3 ou 4 categorias.<br />

Na Província os mapas com a Divisão Administrativa estão geralmente disponíveis<br />

no<br />

Departamento Provincial <strong>de</strong> Planificação e Cooperação; po<strong>de</strong>m também ser encontrados<br />

na Comissão Provincial do Plano.<br />

106 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003107


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

Se não houver mapas disponíveis na DDS, estes po<strong>de</strong>rão ser encontrados na<br />

Administração do Distrito.<br />

Mapa 1: Casos novos <strong>de</strong> Tuberculose, Moçambique 1991 - 1992<br />

1991<br />

1992<br />

• 1 a 499<br />

• 500 a 999<br />

• 1000 a 1499<br />

• 1550 e mais casos<br />

Fonte: ELAT<br />

A <strong>nível</strong> <strong>distrital</strong> e da US, em vez <strong>de</strong> agrupar os dados em gran<strong>de</strong>s categorias<br />

(ex: 1-99, 100-999, etc), é melhor consi<strong>de</strong>rar casos individuais. Assim, assinala-se<br />

com ponto ou “x” no lugar on<strong>de</strong> aparece o caso da doença. Os lugares com<br />

mais pontos vão indicar on<strong>de</strong> houve mais casos reportados.<br />

No mapa 2, que mostra a distribuição <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> cólera na Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Maputo<br />

em 1993, permite observar que Chamanculo e Maxaquene foram os bairros que<br />

tiveram mais casos.<br />

MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003 107


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

Casos <strong>de</strong> cólera, Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Maputo, 1993<br />

Para uma doença <strong>de</strong> baixa incidência como a raiva, apresenta-se o exemplo que<br />

se segue. Cada caso notificado pela Província consi<strong>de</strong>rada está representado<br />

com um ponto. Po<strong>de</strong>-se facilmente ver que as Províncias mais afectadas foram<br />

Nampula e as do Centro.<br />

108 MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003109


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

Mapa 3: Casos notificados <strong>de</strong> raiva, Moçambique, 1992<br />

Na interpretação <strong>de</strong> um mapa, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da forma utilizada (ponto ou<br />

<strong>de</strong>senho), não se esqueça <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> populacional.<br />

MISAU, DNS-DEE/Gabinete <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, 2003 109


<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA<br />

Anon (1999). Doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias. Guia <strong>de</strong> bolso – aspectos clínicos,<br />

<strong>vigilância</strong> epi<strong>de</strong>miológica e medidas <strong>de</strong> controlo. Ministério da Saú<strong>de</strong>, Fundação<br />

Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, Centro Nacional <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia. Brazil<br />

Anon (1999). Integrated disease surveillance in the african region. A regional strategy<br />

for communicable diseases, 1999-2003. World Health Organization, Regional<br />

Office for Africa.<br />

Direcção Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (1993). <strong>Manual</strong> <strong>de</strong> prevenção e tratamento da cólera. Ministério<br />

da Saú<strong>de</strong> 0011/26/07/93/MS/C.I.<br />

Direcção Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (1995). <strong>Manual</strong> <strong>de</strong> prevenção e tratamento da malária.<br />

Ministério da Saú<strong>de</strong>.<br />

Direcção Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (1997). <strong>Manual</strong> <strong>de</strong> <strong>vigilância</strong> epi<strong>de</strong>miológica das PFA/Pólio.<br />

Ministério da Saú<strong>de</strong>.<br />

Direcção Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (1996). <strong>Manual</strong> <strong>de</strong> prevenção e tratamento da <strong>de</strong>sinteria<br />

epidémica causada por Shigella dysenteriae tipo 1. Ministério da Saú<strong>de</strong>.<br />

Direcção Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (1997). <strong>Manual</strong> <strong>de</strong> prevenção e tratamento da meningite<br />

meningocócica. Ministério da Saú<strong>de</strong>.<br />

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<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>para</strong> o Nível Distrital - Vol. I: Interpretação e Acção<br />

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