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mundo jovem - Fundação Tide Setubal

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<strong>mundo</strong> <strong>jovem</strong>desafios e possibilidadesuma proposta de trabalho com adolescentes


apresentaçãoCriada em 2005, a Fundação Tide Setubal éuma instituição privada sem fins lucrativosque nasce com objetivo de apoiar o desenvolvimentolocal e fortalecer o exercício da cidadanianas comunidades em que atua. O foco de suaatuação é o território local, onde as pessoas efetivamentevivem e constroem suas relações sociais,econômicas e políticas.A construção de uma sociedade justa e igualitária,o respeito às diferentes temporalidades epluralidades, a valorização da cultura, das experiênciase dos costumes são os princípios básicosque norteiam as ações da Fundação Tide Setubal.Nossos projetos focalizam com maior ênfaseadolescentes, jovens e famílias, moradores de regiõesque apresentam altos índices de vulnerabilidadesocial.Nossas atividades acontecem na zona leste de SãoPaulo, especialmente no bairro de São Miguel Paulista.A Fundação desenvolve iniciativas e projetosmultidisciplinares e multissetoriais; avalia, sistematizae disponibiliza os resultados e conhecimentosgerados pelas experiências desenvolvidas; promovee estimula o acesso da comunidade à informação eà apropriação do conhecimento.Além disso, as ações da Fundação buscam umaarticulação com as políticas públicas. Para tanto,desenvolvemos parcerias com órgãos governamentais,entidades não governamentais, empresariaise comunitárias, por meio da construção devínculos de confiança e do desenvolvimento conjuntode projetos e programas. Assim, o reconhecimentodo território e suas relações são defundamental importância em todas as etapas deimplementação dos projetos.Nesse contexto, é com muita satisfação que apresentamosMundo Jovem: desafios e possibilidades– uma proposta de trabalho com adolescentes,publicação que sistematizou o trabalho da Fundaçãonos projetos Espaço Jovem e Espaço MeninaMulher, de modo que essa metodologia pudesseser acessível a um grupo maior de educadoresassim como às diversas instituições governamentaise não governamentais.Mundo Jovem socializa a experiência dos projetosmencionados acima que aconteceram em diferentesespaços públicos – tanto comunitários comoem escolas – e buscaram estimular a autonomia deadolescentes e jovens, sustentando reflexões compartilhadasno coletivo e procurando desenvolverquestionamentos e pensamentos mais críticos arespeito de suas histórias de vida, de seus desejose do <strong>mundo</strong> em que vivem.Com a implementação do projeto, são discutidostemas relacionados à identidade, diversidade,corpo, sexualidade, família, profissão, drogas ecidadania. Ao longo de um ano, essas meninas emeninos podem exercitar as habilidades de convivênciae criação de iniciativas coletivas, fortalecendoa possibilidade de escuta e de fala, mediantea troca de saberes e a apropriação das novas informações.Dessa maneira refletem e compartilham apossibilidade de começar a construir um projeto devida possível e autêntico.Acreditamos que, com esta publicação, estamoscontribuindo para que um número maior de adolescentese jovens possa inserir-se em espaçoscoletivos de reflexão que potencializem seussaberes, ampliem seu universo cultural e contribuampara construção de seus projetos de vida.Maria Alice SetubalPresidente Fundação Tide Setubal5


introduçãoO trabalho com os adolescentes e jovens é essencial,pois esse período da vida caracteriza-se porgrandes transformações físicas e subjetivas, quedemandam reflexão e compartilhamento de experiênciaspara a construção de uma identidade adulumpouco de história...Este material nasceu dos projetos EspaçoMenina-Mulher e Espaço Jovem, dirigidosespecialmente para adolescentes de 13 a 18anos, moradores de São Miguel Paulista, bairro daperiferia de São Paulo. Uma pesquisa realizada em2005 pela Fundação Tide Setubal em parceria como Ibope, abordando temas como saúde, educação,cultura, segurança, necessidades e sonhos da população,forneceu informações essenciais para odelineamento do projeto. Dentre elas, cabe ressaltaro alto índice de desemprego, a falta de perspectivaspara o futuro na população <strong>jovem</strong> e aescassez de opções de cultura e lazer na região.Assim, o projeto foi idealizado visando oferecer àsadolescentes um espaço alternativo à escola quefosse, ao mesmo tempo, um lugar de informação,reflexão, aprendizado, cultura e lazer, no qual sedisponibilizassem instrumentos para a melhorcompreensão da fase adolescente como o momentode intensas transformações que marcam atrajetória da infância para a fase adulta. Consideraram-se,portanto, as pessoas nessa faixaetária em suas múltiplas dimensões – corporal,subjetiva e sociocultural.O Espaço Menina-Mulher teve início no primeirosemestre de 2006 com dois grupos de adolescentes(de 13 a 15 anos e de 16 a 17 anos). Eles foramrealizados no CDC Tide Setubal (Clube da Comunidade),um espaço público, dotado de equipamentosesportivos, ambientes de convivência, CPDOC(Centro de Pesquisa e Documentação) e um telecentro.Esse local é gerido pela Fundação TideSetubal conjuntamente com outras instituições dacomunidade local 1 .Os bons resultados doprimeiro semestrederam origem a umsegundo módulode 14 encontros,voltado, especificamente,parao projeto de vidade cada adolescente, realizado de agosto a dezembrode 2006. Em 2007, procurando atender a umademanda crescente, a equipe responsável decidiuampliar a proposta. Além de abrir seis novos grupos(dos quais dois mistos, chamados de EspaçoJovem, realizados em uma escola pública), o projetotornou-se anual. Em 2008, o projeto continua emvigor, com quatro grupos, em três diferentesespaços: CDC, Galpão Cultural do Jardim Lapennae Escola Municipal Dom Paulo Rolim.O objetivo mais amplo do projeto é promover asaúde mental e física de adolescentes e jovens pormeio de múltiplas atividades vinculadas ao desenvolvimentoe ao interesse pessoal dos participantesno <strong>mundo</strong> contemporâneo, focalizando aspectosrelacionados a: identidade e diversidade, corpo,sexualidade, família, drogas, trabalho e profissãoe cidadania. Pretende-se, com isso, que os integrantesampliem sua visão crítica da realidade ereflitam sobre temas próprios às suas vivências.1No atual mandato (2007/2009), a Associação Recreativa Brasil do Jardim Miragaia é parceira da Fundação Tide Setubal na gestão do CDC.6


ta capaz de se posicionar no <strong>mundo</strong>. Esse é umperíodo de escolhas cruciais, tanto no plano profissionalquanto no afetivo; para tanto, é fundamentalque existam espaços de troca que ajudem essesjovens a se apropriar de sua crescente autonomiae a trilhar caminhos saudáveis, que busquem umequilíbrio entre o desejo de cada um e as possibilidadesque a realidade oferece.A escolha de trabalhar com essa faixa etária tambémse baseou na idéia de que as políticas públicasdevem criar espaços diferentes das escolas, masconectados a elas, objetivando a montagem de umarede efetiva que contribua para a formação desujeitos-cidadãos, aptos a buscar, escolher einventar um futuro melhor para suas vidas.Para atingir esses objetivos, foi criada umametodologia específica, apoiada em atividades comabordagens diversas, pouco usuais nas escolas. Asoficinas incluíram atividades com vídeos educativos,discussões, jogos, dramatizações, conversase propostas lúdicas com materiais de artes. Amaior parte das atividades foi feita coletivamentepara que os adolescentes desenvolvessem habilidadesde convivência em grupo e de cooperação.O sucesso do projeto fez com que a equipe sistematizassesua experiência, elaborando um materialque tornou possível reproduzi-la, a fim de multiplicaro trabalho, ampliar o seu alcance e, desse modo,atingir um público maior em todo o país. Este materialbaseia-se, portanto, em atividades já realizadas,longamente discutidas e avaliadas, e contou com aparticipação dos próprios jovens.Assim, esperamos que este material ajude profissionaisinteressados na adolescência a formarjovens capazes de assumir o <strong>mundo</strong> adulto comconfiança e autonomia.Principais eixos do projetocorporal informações e reflexões sobre asquestões relativas à saúde e à estética (consciênciacorporal, cuidados com o corpo, nutrição, sexualidade);subjetivo envolve diversas temáticas, taiscomo: construção de identidade, auto-estima, projetode vida, relações interpessoais e sexualidade;cultural discute a sociedade de nossos dias,desde as relações familiares até a profissionalizaçãoe a cidadania. Procura questionar os valoresatuais e levar os jovens a uma melhor compreensãoda realidade e da cultura contemporâneas.7


A quem se destinaProfissionais de ONGs, escolas, grupos informais, centros de juventude, postos de saúde.Como desenvolver o trabalhoO grupoNossa experiência mostrou que o grupo deve serconstituído por preferencialmente, no máximo, 20adolescentes. Um número inferior a oito jovenspode empobrecer as discussões e um númeromuito grande pode acabar por causar dispersão,além de dificultar a participação de todos, algoessencial na proposta. Em razão dos grandes"saltos" próprios a essa fase de desenvolvimento,optou-se por reuni-los em grupos com idadespróximas, por exemplo, entre 12 e 15 anos, ouentre 15 e 18 anos.Os monitoresSugerimos que o trabalho seja desenvolvido, sepossível, por dois monitores, o que permite maiortroca de idéias e de interação entre jovens e adultos.É importante que os monitores tenham tempopara discutir e avaliar as oficinas após sua realização,a fim de adequar a metodologia às necessidadesde seu grupo. Eles devem estar disponíveise atentos aos movimentos do grupo, mobilizandoos adolescentes a cada atividade, escutando ospedidos deles, dando informações e mediando osconflitos que surgirem. Muitas vezes os jovens seexpõem ao tratar de temas mais delicados (comosexualidade ou conflitos familiares), o que exigerespeito e acolhimento da parte dos adultos.O papel do monitor é fundamental à conduçãodessa proposta; ele precisa lançar mão de seurepertório cultural, ser receptivo e aberto o suficientepara falar de todos os assuntos, transmitirconfiança e acolhimento, mas não deve perder oseu lugar de autoridade enquanto coordenador. Éimportante que os jovens encontrem adultos comos quais tenham afinidade, mas que se diferenciemdeles no modo de falar e de se comportar.Duração e rotinaO material pode ser usado de acordo com asnecessidades de cada grupo. Há atividades emnúmero suficiente para se desenvolver um trabalhosemanal ao longo de um ano. Sugerimos que osencontros tenham a duração de duas a três horas,com freqüência semanal. Contudo, ele pode sertambém usado de maneira esporádica, como porexemplo, por um professor em sala de aula quequeira desenvolver somente um ou outro móduloespecífico com seus alunos.Propomos ainda que todos os encontros sejam iniciadoscom uma roda de conversa, o que permiteaos jovens contar as novidades da semana e sepreparar para a atividade que virá a seguir. A rodaé uma forma de aquecimento, podemos usá-lapara lançar uma primeira conversa sobre o temaque será trabalhado no dia.Nossa experiência nos mostrou que um momentode socialização, ao término de cada oficina, promovemaior integração e descontração entre os participantes,ainda mais se acompanhado de um lanche.Portanto, sempre que possível, deve-se reservaralgum tempo para a realização dessas trocas informais,preferencialmente ao final dos trabalhos.8


Como usar este materialLivro do monitorOs módulos estão divididos em oito temas – Integração,Identidade & Diversidade, Corpo, Sexualidade,Família, Drogas, Profissão e Trabalho e Cidadania –,embora vários deles se entrecruzem. Cada módulocontém um texto apresentando a temática, um textode aprofundamento teórico escrito por um especialistana área, a descrição das oficinas e outras informaçõescomplementares (como a sugestão de livros,sites ou vídeos que possam enriquecer o trabalho).As oficinas sugeridas em cada módulo podem ounão ser trabalhadas sequencialmente. Cabe aomonitor decidir, de acordo com as necessidades deseu grupo e do tempo disponível para o projeto,tanto o número de oficinas quanto sua seqüência. Émuito importante que o monitor leia atentamenteos textos introdutórios, pois eles lhe darão recursospara enfrentar com segurança os desafios quecada temática propõe.Todos os temas podem ser enriquecidos com outrasatividades e materiais que os monitoresjulguem pertinentes, como vídeos, livros, palestras,dramatizações, materiais informativos, discussõese passeios. Alguns desses materiais sãosugeridos ao final dos módulos.Livro do adolescenteO Livro do adolescente é um material que pode seroferecido a cada um dos participantes e usado deforma complementar ao trabalho das oficinas.Igualmente organizado em módulos temáticos, eleaprofunda a reflexão sobre cada assunto sem, noentanto, retomar o que foi feito presencialmente.Assim, ele dispõe de certa autonomia em relaçãoao que acontece nas oficinas e não substitui asatividades realizadas em grupo. Se você quiserreceber esse material, entre em contato conosco(www.ftas.org.br).AvaliaçãoAvaliações são sempre muito importantes tantopara os monitores quanto para os participantes,porque permitem uma reflexão mais atenta acercado trabalho desenvolvido.As avaliações realizadas durante o processo (aofinal de cada módulo, por exemplo) orientam omonitor a efetivar eventuais mudanças no percursoe permitem ao <strong>jovem</strong> analisar o que aprendeuou vivenciou a cada etapa.Ao final, é fundamental, para ambos, analisar deque maneira o projeto repercutiu na vida dos jovens.Os temas desenvolvidos abriram novoshorizontes? Quais? As oficinas foram capazes defazê-los pensar de forma diferente? Como? Quaisassuntos mais interessaram? O que foi difícil duranteo processo? Cada monitor certamente terásuas próprias questões que devem ser contempladasna avaliação que fizer.Mesmo que as conversas coletivas sejam uma boaforma de avaliar, sugerimos que o monitor proponhaalgum registro escrito para os adolescentes.Perguntas objetivas podem ser feitas nessa avaliação,mas é interessante contemplar outras formasmais lúdicas, como um auto-retrato feito no iníciodo projeto e complementado ao final dele. Qualquerque seja a opção do monitor, é importante que aavaliação dê a idéia do caminho percorrido.Em nosso projeto, ao final do ano os adolescentestêm a oportunidade de escolher uma atividadeprazerosa, uma espécie de “produto final”, querepresente o trabalho ou o próprio grupo. Assim,algumas turmas escolheram fazer um jogral, outrascompuseram um rap, e também realizaramdesfiles, escreveram poemas ou confeccionaramum grande cartaz representativo de seu percurso.9


Os jovens se envolveram intensamente nessa produçãoe algumas turmas quiseram apresentá-lapara outras pessoas que freqüentavam o mesmoespaço onde as oficinas ocorriam. Construir coletivamenteesse produto é uma forma de os jovensse apropriarem ainda mais dos temas trabalhadose, ao mesmo tempo, elaborarem uma despedidado grupo.10


integração11


introduçãoCriar um clima de solidariedade e de intimidade no grupo é essencial ao projeto,uma vez que os conteúdos trabalhados exigem cumplicidade e respeito entre osparticipantes, assim como confiança entre adolescentes e adultos. Por essa razão,as oficinas introdutórias têm os objetivos de favorecer o entrosamento e apresentar o trabalho.Esse é um período de formação do grupo.Na primeira oficina, é importante:• Explicitar os objetivos do projeto;• Estabelecer regras com o grupo: horários, assiduidade, utilização do espaço e de materiais,arrumação, avaliação etc. Nesse momento, é importante estabelecer um tempopara a roda de conversa inicial, decidir se haverá intervalo, de quanto tempo e se haverálanche no final, organizando-o;• Escutar as expectativas dos jovens para ter um panorama das dúvidas, interesses edificuldades de cada um;• E, principalmente, garantir aos participantes absoluto sigilo sobre aquilo que for discutido,já que vários assuntos íntimos serão tratados. Essa é uma maneira de estabelecerum vínculo de confiança entre jovens e adultos.Além disso, nesse início de trabalho, é importante que você se aproxime do tema adolescência,aprofundando seus conhecimentos, questionando-se, por exemplo, sobre quem sãoesses adolescentes da atualidade, quais são suas características, necessidades e dificuldades.Isso pode ajudá-lo a entendê-los melhor e a se posicionar de uma maneira mais consistentediante do grupo. Para tanto, além dos textos dos especialistas presentes em cadamódulo, sugerimos uma bibliografia ao final, caso você queira se aprofundar ainda mais.Após o texto do especialista, você encontrará diversas atividades que auxiliam o grupo a seentrosar, mesmo quando os adolescentes já se conhecem. Algumas delas podem ser realizadasno primeiro encontro como forma de apresentação e outras, ao longo das primeirasoficinas, para criar um clima amistoso antes da realização das atividades. Cabe ao monitoravaliar as necessidades de seu grupo.Bom trabalho!objetivos do módulo:• Apresentar o projeto aos jovens e conversar sobre as expectativas de cada um.• Conhecer o grupo e promover uma integração dos participantes.• Criar um clima de descontração e confiança, preparando o grupo para as discussõese reflexões dos temas abordados ao longo do projeto.12


com a palavra...Os desafios do trabalho com os adolescentesTide Setubal Souza e SilvaQuem são os adolescentes dos tempos de hoje? Como eles podem estar maispreparados para enfrentar o <strong>mundo</strong> contemporâneo? Quais são os desafios comque os profissionais que trabalham com esse público têm de lidar? As possíveisrespostas para essas perguntas sem dúvida são muitas e incessantemente renováveis,uma vez que a realidade se apresenta de diversos modos. Também não podemos falarde uma única adolescência, mas de várias, com caminhos, estilos, pensamentos e característicasparticulares.Escrever sobre adolescência é, sobretudo, lidar com o tema das contínuas transformações.Adolescência é uma trajetória marcada pela passagem de um <strong>mundo</strong> infantil,protegido, no qual sempre há adultos (pais ou seus substitutos) zelando pela criança,para um <strong>mundo</strong> adulto no qual cada um tem de se responsabilizar pela sua vida e suasescolhas. O adolescente se vê, então, obrigado a lidar com todas essas mudanças.Obrigado porque ele não pode escolher entre crescer ou não: a todos nós, impõe-se atarefa de lidar com esse novo lugar no <strong>mundo</strong>.E como é essa trajetória que o adolescente constrói, ensaiando novos lugares, jeitos deser, possibilidades de futuro? É, antes de tudo, intensa. Recheada de conflitos, crises,questões. Não é fácil conquistar a autonomia, o engajamento no <strong>mundo</strong>, e responsabilizar-sepelas próprias atitudes. Tudo isso implica necessariamente um certo tempo.Tempo para se dar conta, experimentar, testar, questionar, brigar, descobrir, construiroutro jeito. Tempo para aceitar as perdas dos benefícios de ser criança e para descobrirque também há benefícios em ser adulto.Discute-se hoje o fenômeno de alargamento do tempo da adolescência. De um lado, aglobalização, a rapidez, a variedade e a quantidade de estímulos aos quais as criançasestão expostas levam-nas a entrar precocemente na adolescência. De outro, a saídadesse tempo também é mais tardia, em virtude, por exemplo, do mercado de trabalho,que exige maior preparo e especialização dos jovens.Assim, por um bom período da vida, as pessoas ocupam um lugar adolescente, marcadopor mudanças e instabilidades. E, na busca de um espaço na sociedade, muitas delastornam-se questionadoras: arriscam-se, provocam, constrangem, perguntam, desafiam,testam e acontecem. Outras, assustadas, mostram-se apáticas e desinteressadas.TIDE SETUBAL SOUZA E SILVA é psicóloga e psicanalista, mestre pela Université René Descartes - Paris V, trabalha naequipe Menina-Mulher/Espaço Jovem da Fundação Tide Azevedo Setubal e coordenou a produção desse material.13


O que podemos fazer então? Qual é o nosso papel? Compreender esse momento é aprimeiro passo para encontrar verdadeiramente esses adolescentes, saber conversarcom eles e saber se fazer escutar por eles. É preciso estar atento ao fato de que, apesarde inúmeras vezes eles se mostrarem muito rebeldes, distantes ou intransigentes,no fundo estão ávidos por conversas e encontros. E não exclusivamente com os amigos,que sem dúvida têm um papel fundamental nessa fase, mas também com os adultos.Com aqueles que podem ser referências, modelos e interlocutores.Das muitas transformações vivenciadas pelos adolescentes, as relacionadas ao corpoestão entre as mais fortes e importantes. É ele que indica a entrada na puberdade.Nesse momento, o corpo vai deixando de ter um aspecto infantil para ganhar a formaadulta. Os hormônios começam a atuar, surgem espinhas, acontece uma mudança navoz, os caracteres sexuais se desenvolvem. Os adolescentes são, então, invadidos porinúmeras questões e conflitos com o próprio corpo.A partir do processo de materialização desse novo corpo, o adolescente vê-se confrontadoe estimulado com uma novidade: a possibilidade de usufruir de uma sexualidadeadulta, ou seja, de poder beijar, namorar, transar. Fato completamente inéditoem sua vida. Novamente ele é bombardeado por infinitas perguntas: o que eu façocom todos esses meus desejos? Como lidar com a minha sexualidade?Nesse sentido, as primeiras experiências amorosas são extremamente importantes.Elas são uma espécie de brincadeira, jogos em que o adolescente vai experimentandoas novas possibilidades de seu corpo, de seu jeito de se relacionar e gostar dos outros.Elas são de uma intensidade e volatilidade notáveis. Grandes paixões e aventuras, mastambém as maiores desilusões e desgostos.Todas essas novas vivências corporais e sexuais implicam necessariamente muitasmudanças subjetivas. Quem sou eu? Do que eu gosto? A que turma eu pertenço? Estarintegrado a um grupo de amigos, por exemplo, adquire uma enorme importância.Vemos então que nesse momento a família – e também as pessoas mais próximas,como os professores e parentes – deixam de ser a única referência, e os laços fraternoscom os amigos ganham uma nova dimensão.A turma de amigos torna-se um fator de pertencimento e de troca, que amplia os referenciaise as experiências de vida. Ela é o primeiro laço social construído pelo adolescentefora de sua família de origem, um espaço que possibilita a experimentaçãoda condição de ser <strong>jovem</strong>. Essa nova relação não substitui a relação familiar, contudoela é fundamental para que o adolescente sinta-se autorizado a experimentarsituações novas.14


No trabalho com adolescentes, somos continuamente confrontados com um pedido:“queremos exemplos.” Isso nos indica, entre outras coisas, que nesse percurso de setornar adulto os jovens querem ter referências tanto de outros jovens com quem seidentificam horizontalmente, mas também de adultos, pais, familiares, educadores.Contudo, nos deparamos freqüentemente, na atualidade, com adultos que não sabemcomo se relacionar com adolescentes. E esse desencontro pode gerar uma ausência dafigura do adulto de diversas formas. Alguns exemplos: adultos que querem ser tãojovens quanto os jovens e se colocam de igual para igual em relação a eles; homens quenão assumem o papel de pais e simplesmente não se responsabilizam pela criação deseus filhos; mães cansadas de tanto trabalhar e cuidar da família que se ausentam nãofisicamente, mas emocionalmente na criação de seus filhos; educadores que, sementender seus alunos, não conversam, estimulam, discutem com eles; e até um governoque, sem conseguir cumprir o seu papel, o de investir nos jovens, acaba também pordeixá-los desamparados. Enfim, toda uma série de ausências e desencontros. E diantede tudo isso, o adolescente sente-se perdido e clama por ajuda. É verdade que não é fácilescutar esse grito, muitas vezes desesperado, desordenado, violento, sem causaaparente. Gritos que aparecem em forma de revolta, ações criminosas, uso de drogas,indisciplina, gravidez precoce ou até suicídio.E afinal, o que querem os adolescentes de hoje? Querem um futuro, um trabalho, umsentido para suas vidas, um <strong>mundo</strong> adulto que ajude e dê espaço para que eles possamconstruir projetos de vida possíveis. Como abrir mão dos prazeres imediatos da juventudese eles olham para o futuro e não vislumbram nenhuma possibilidade? Comoinvestir nos estudos, se a escola de hoje, muitas vezes, não se configura como um lugarde aprendizado valorizado, de desenvolvimento pessoal e profissional, de ampliação dehorizontes? Como construir um projeto de vida, se muitas vezes eles sequer imaginampor onde começar?Finalmente, perante esse quadro complicado da situação do adolescente na atualidade,poderíamos concluir (como muitos deles, aliás) que não há saída. No entanto, não é issoo que o trabalho com eles tem nos mostrado. Ao contrário, vemos o quanto podem serpotentes e criativos. Para isso é preciso estar com eles, escutá-los, entender o que estãopassando, colocar-se ao lado. Eles querem falar, conversar, ser reconhecidos nessa trajetóriaadolescente.Talvez possamos entender que o papel do adulto frente ao adolescente é o de apostarnele. Apostar é poder sobreviver aos momentos de dúvidas, ataques e desamparo pelosquais ele passa. Apostar é estar física e emocionalmente presente na vida dele, sendouma referência, colocando limites, conversando sobre questões importantes e até questionandoo <strong>mundo</strong> junto com ele. Apostar é acreditar que existe um futuro possível paraos adolescentes de hoje.15


atividades1. Brincadeira do nomeOBJETIVOS: Estimular a integração do grupo por meio de uma brincadeira com osnomes dos participantes. Auxiliar a memorização os nomes de cada integrante.DESCRIÇÃO: Peça a todos que fiquem em pé, em círculo, e que cada um diga o seu nomeum após do outro, pausadamente. Feito isso, explique que na próxima rodada cada umvai dizer o nome do companheiro que está à sua esquerda.Depois, faça uma inversão, peça para que digam o nome do companheiro que está dolado direito. A seguir, proponha que andem pela sala e que refaçam um círculo colocando-seem outros lugares. Repita a brincadeira.2. O adolescente gosta...OBJETIVO: Promover interação grupal e criar uma atmosfera agradável que estimuleconhecer o outro e reconhecer-se no outro.DESCRIÇÃO: Primeiramente, peça que os participantes sentem-se em cadeiras organizadasem círculo. Um deles ficará em pé, pois haverá uma cadeira a menos que onúmero de participantes. Aquele que ficar de fora deve completar a frase: “O adolescentegosta de... (tênis, por exemplo)”. Se preferir, você pode também propor outras frasescomo: “O adolescente que mora no bairro tal é...” ; “Minha expectativa nesse projetoé...”. Os participantes que concordarem com a idéia do colega devem sair do seu lugare procurar uma outra cadeira. Aqueles que não se identificarem com a frase, devempermanecer em seu lugar. Com a troca de cadeiras, alguém necessariamente vai ficarde fora. Caberá a essa pessoa reiniciar o jogo. Repita a proposta algumas vezes.Ao final, é interessante comentar com o grupo o que ocorreu, observando quais característicasmencionadas se destacaram (aspectos físicos, atitudes, hábitos; quais tiverammaior ou menor adesão etc.), como eles reagiram e assim por diante.3. Apresentando um amigoOBJETIVO: Promover o conhecimento entre os participantesDESCRIÇÃO: Cada participante deve sentar-se ao lado de um colega desconhecido e seapresentar, falando o nome, a idade, do que gosta, com quem mora, onde estuda, oque faz etc. Depois de 5 ou 10 minutos de conversa, abra a roda e peça para cada umapresentar ao grupo o colega que acabou de conhecer.16


4. TerremotoOBJETIVO: Promover interação grupal e o conhecimento do outro.DESCRIÇÃO: Os participantes do grupo devem formar trios e um adolescente deve ficarde fora. Em cada trio, duas pessoas devem erguer as mãos formando uma espécie decasa ou cabaninha sobre uma terceira que ficará dentro dessa casa. A idéia é formara imagem de “uma casa com um morador dentro”. A seguir, aquele participante queficou de fora deve falar algo sobre si, por exemplo, “Eu gosto de...” ou “Eu sou...” Emseguida ele deve escolher uma entre três palavras – casa, morador ou terremoto –para provocar uma mudança de lugar dos participantes.a. Se ele disser casa, as duplas que formam a casa devem procurar outros pares,trocando de lugar e formando uma nova configuração de duplas na sala;b. Se disser morador, somente os moradores trocam de lugar;c. Se disser terremoto, todos os participantes devem mudar de posição e formar novascasinhas com moradores.Quando as pessoas trocarem de lugar, aquele que deu a ordem deve adentrar nas formações,obrigando o novo participante que “sobrou” a recomeçar a brincadeira, dizendoalguma característica de si mesmo para o grupo.COMENTÁRIOS: Caso você use a brincadeira como aquecimento de uma oficina, podesugerir que a frase inicial tenha a ver com o tema proposto. Por exemplo, se estiver trabalhandono Módulo Família, o adolescente pode dizer: “Eu sou o caçula”, “Eu gosto domeu quarto”, “Em casa eu lavo a louça” e assim por diante.5. Mapeando o grupoOBJETIVO: Fazer um mapeamento do grupo e colher dados pessoais de cada participante.DESCRIÇÃO: Cada participante deve receber uma folha com o quadro abaixo. O objetivodo jogo é que cada um preencha a coluna “resposta” com o maior número denomes dos colegas. Para isso, dado o sinal, todos devem circular pela sala simultaneamente,fazendo as perguntas propostas, mas cada um só poderá escrever o nomedaqueles que responderem “sim” em cada questão (por exemplo: Maria, Isabel eSandra têm bichos de estimação – neste caso, o participante poderá colocar o nomedas três). Quando o monitor perceber que a maioria está terminando, deve dar o sinalpara parar. Quem conseguir responder todas as perguntas e tiver o maior número denomes diferentes será o vencedor.17


COMENTÁRIOS: Ao final do jogo, é importante que o monitor socialize as resposta em umpainel ou na lousa, escrevendo os nomes daqueles que responderam afirmativamentecada pergunta. Juntos, todos podem analisar se há poucos ou muitos nomes em cadaquestão, quais os nomes que aparecem mais etc. Isso possibilitará que sejam verificadasas semelhanças e as diferenças entre si. Naturalmente, você pode modificar as perguntasde acordo com o seu grupo.Se o grupo já se conhecer bastante, você pode mudar a proposta, pedindo para que adivinhemquem corresponde à pergunta. Depois eles devem verificar se acertaram.QUESTIONÁRIONº Pergunta Resposta1. Você tem um bicho de estimação?2. Você tem mais que dois irmãos?3. Você tem namorado?4. Você tem pais separados?5. Você gosta de ouvir pagode?6. Você gosta de matemática?7. Você pratica esporte?8. Você é chocólatra?9. Você já dançou na frente do espelho?10. Você já amou sem ser correspondido?18


6. Montagem de painelOBJETIVO: Fazer uma marca pessoal que identifique e apresente cada participante.MATERIAL: Para essa atividade você precisará de:• um grande pedaço de papel pardo• papel sulfite• lápis e canetas hidrográficas• revistas• colaDESCRIÇÃO: Peça que cada participante pense em algo que possa ser sua marca pessoal– um desenho, uma frase, um logotipo, suas iniciais, seu próprio nome. Distribuapapéis para cada um fazer seu rascunho. Estenda o papel pardo no chão e organize osmateriais de modo que sejam facilmente utilizados. É importante que o papel tenhaum tamanho suficiente para todos ocuparem seu espaço. Quando estiverem prontos,cada um deve registrar (se preferirem, colar) sua marca no papel pardo, de modo aformar um único painel.Ao final, sentados em roda, peça que apresentem sua marca ou desenho, justificando-a(Por que a escolheu? De que maneira essa idéia o representa? Por que utilizou determinadasformas e cores?). Favoreça os comentários dos colegas.COMENTÁRIOS: Observe como cada um ocupa o papel pardo, se compartilham o espaço,se deixam o colega ocupá-lo etc. Além de ser um instrumento para que os participantesse conheçam e se expressem, o painel pode cumprir a função de pessoalizar o espaçousado pelo grupo. Se for possível, deixe o painel afixado na parede nas próximas oficinas.Se você tiver mais tempo e recursos, também poderá utilizar um grande tecido pararealizar a proposta. Mais tarde, será possível transformá-lo em uma toalha para a horado lanche ou uma cortina para a sala onde as atividades são realizadas. Ao final doprojeto, esse pano poderá ser sorteado entre os participantes.19


para se aprofundar...LivrosABRAMO, Helena Wendel; BRANCO Pedro PauloMartoni. Retratos da Juventude Brasileira:analises de uma pesquisa nacional.São Paulo: Fundação Perseu Abramo/InstitutoCidadania, 2005.ABRAMO, Helena; FREITAS, Maria Virgínia;SPOSITO, Marília Pontes (Orgs.).Juventude em debate.São Paulo: Cortez, 2000.ASSIS, Simone Gonçalves de; AVANCI, JovianaQuintes; PESCE, Renata Pires. Resiliência naadolescência.Porto Alegre: Artmed, 2006.CALLIGARIS, Contardo. A adolescência.São Paulo: Publifolha, 2000. (Folha Explica, 4)CENPEC. Diálogo e Ação. v. 1-4,São Paulo: Cenpec, 2002.CENPEC. ONG espaço de convivência. 4ª ed.,Col. Educação e Participação.São Paulo: Cenpec, 2003.CENPEC. JOVENS e escola pública. 2.ed. 3 v.V.1: Escutar: um ponto de encontro. V.2: Olhar:histórias de lugares e vínculos. V.3: Pertencer:subjetividade, socialização e saber.São Paulo: Cenpec, 2006.FREIRAS, Maria Virginia (Org.). Juventude eadolescência no Brasil: referências conceituais.São Paulo: Ação Educativa, 2005.MATHEUS, Tiago Corbisier. Ideais na adolescência:falta (d)e perspectivas na virada do século.São Paulo: Annablume, 2002.(Selo Universidade - Psicologia, 195).NOVAES, Regina; VANNUCHI, Paulo (Orgs.).Juventude e Sociedade: trabalho, educação,cultura e participação.São Paulo: Fundacão Perseu Abramo, 2004.PALADINO, Erane. O adolescente e o conflito degerações na sociedade contemporânea.São Paulo: Casa do Psicólogo, 2005.REVISTA IMAGINÁRIO. Juventude.São Paulo: LABI – Laboratório de Estudos doImaginário do Instituto de Psicologia da USP,Ano XII, N. 12, 1º semestre de 2006.REVISTA MENTE E CÉREBRO.O olhar adolescente 1, 2 e 3.São Paulo: Duetto, 2008.SAYÃO, Rosely. Como Educar Meu Filho?São Paulo: Publifolha, 2003.SERRÃO, Margarida; BALEEIRO, Clarice.Aprendendo a ser e a conviver.São Paulo: Fundação Odebrecht/FTD, 1999.SPOSITO, Marília Pontes. Os jovens no Brasil:desigualdades multiplicadas e novas demandaspolíticas.São Paulo: Ação Educativa, 2003.ZAGURY, Tânia. O adolescente por ele mesmo.Rio de Janeiro: Record, 1996.20


identidade ediversidade


introduçãoEm uma idade de descoberta de si, de afirmação dos desejos, de busca pelos direitose conscientização das responsabilidades, algumas perguntas são recorrentespara os adolescentes: Quem sou eu? Do que eu gosto? Quem eu quero ser? A qualgrupo eu pertenço? Enfim, qual é a minha tribo? Essas perguntas falam da construçãoda própria identidade que se dá na relação com o outro e consigo próprio.Nessa fase da vida, construir uma imagem de si mesmo é uma questão fundamental.O adolescente não é mais aquela criança completamente ligada aos pais, ele começaa querer levantar vôo próprio, tem opiniões e visões singulares, que são, muitasvezes, diferentes das de seus familiares. Nesse sentido, o grupo de amigos torna-sealgo essencial. Ter uma turma, uma tribo, adotar um estilo próprio de se vestir, elegerseu tipo de música preferido são formas de se encontrar, de se organizar e de construiruma identidade.Discutir a identidade, aquilo que é singular em cada um, remete, necessariamente,não só aos gostos pessoais, mas também ao diverso e ao coletivo. Olhar o outro, tentarcompreendê-lo, é uma forma de se entender. Muitas vezes, os confrontos entre aidentidade pessoal e a grupal, ou entre grupos com fortes características identitárias(como as torcidas, por exemplo) geram conflitos bastante intensos. É nesse momentoque a tolerância, a aceitação de si e do outro podem se fortalecer, contribuindo paraum desenvolvimento pessoal e social saudável.A proposta deste módulo caminha nessa direção. Você vai observar que as trêsprimeiras oficinas são complementares e, por isso, os resultados podem ser maisinteressantes se elas forem trabalhadas em seqüência. Contudo, nada impede quevocê escolha apenas alguma delas para trabalhar isoladamente.Além disso, você vai perceber que a primeira metade deste módulo privilegia asquestões mais individuais e perguntas como: Quem sou eu? Quem eu quero ser? Comquem me identifico? Já a segunda metade aborda questões mais ligadas ao outro, àalteridade e à diversidade. Nas oficinas correspondentes à segunda metade do módulo,as questões das diferenças, dos preconceitos e da tolerância ficam mais evidentes.A experiência nos mostrou que, para constituirmos uma grupalidade interessante,pode ser muito importante trabalhar esse tema da diversidade e do preconceito, poisem muitos momentos ele aparece internamente no grupo.Além disso, há muitos filmes e músicas que você pode usar de modo a enriqueceresse tema.Boa sorte!22


objetivos do módulo:• Favorecer a reflexão do adolescente sobre suas características pessoais, sua história eseus projetos, levando-o a construir uma identidade e uma auto-imagem mais fortalecida.• Favorecer o olhar do adolescente para o outro de modo que conheça e respeite as diferençasentre os seres humanos, ajudando-o a refletir sobre os próprios preconceitose abrindo uma nova perspectiva sobre a questão da diversidade como algo positivo eenriquecedor.com a palavra...IntolerânciaYudith RosenbaumExistem pelo menos dois processos acontecendo, ao mesmo tempo, quando oadolescente se relaciona com seu grupo social (a família, os colegas da escola,os amigos do bairro etc.).De um lado, ele quer mostrar que tem personalidade e não se submete ao que osdemais pensam. Os comportamentos exibicionistas e rebeldes mostram essa necessidadede se afirmar e se discriminar de todos para ser ele mesmo. Seria mais oumenos assim: “Como saber quem sou eu se não me desgrudar dos meus pais, doscolegas, das figuras de autoridade?” Isso costuma gerar a intolerância do adolescentecom irmãos, pais, professores e amigos. O isolamento ou a antipatia por pessoas quepossam influenciá-lo acaba sendo um jeito de definir sua identidade e não se confundircom os que o rodeiam. É uma fase difícil, sobretudo para os familiares, que nãocompreendem a razão de atitudes tão intolerantes.De outro lado, esse mesmo <strong>jovem</strong> precisa sentir que é igual aos seus pares e que fazparte de uma turma, um grupo de referência, diferenciando-se, então, dos jovens de outrosgrupos. Para sentir que pertencem a uma comunidade, seja ela qual for (negros,brancos, punks, evangélicos, roqueiros, gays etc.), muitos adolescentes se mostramintolerantes com quem não pensa da mesma forma ou tem gostos diferentes. Pareceimportante para eles marcar um território no qual sejam incluídos. E o que eles fazempara ser incluídos? Excluem quem lhes pareça ameaçar a “verdade” do seu grupo, ouYUDITH ROSENBAUM é psicóloga, formada pela PUC – SP e professora de literatura brasileira na USP. Publicou os seguinteslivros: Manuel Bandeira: Uma poesia da ausência (Edusp/Imago, 1993); Metamorfoses do mal: Uma leitura de Clarice Lispector(Edusp/Fapesp, 1999); Clarice Lispector (Publifolha, 2002); O livro do psicólogo (Companhia das Letras, 2007).23


seja, hostilizam os que são diferentes nas crenças, nos hábitos, na opção sexual, naescolha de um time esportivo. Mas por que seria tão ameaçador conviver amistosamentecom quem está do outro lado do território demarcado?Para entender isso, é preciso lembrar que o adolescente está em busca de sua identidade,e nesse processo há muitos aspectos de sua personalidade que ele desconheceou quer esconder dele mesmo.É que uma das maiores dificuldades no amadurecimento dos adolescentes é conseguiraceitar o que ele é – seus limites e sua medida. Só quando seus própriosdefeitos ou fragilidades são reconhecidos e aceitos como parte de sua personalidade,sem se envergonhar por isso, torna-se possível tolerar os outros com suas diferenças.Vamos pensar isso por vários lados. Se, por exemplo, o <strong>jovem</strong> não aceita em simesmo ter dúvidas, hesitar, ficar inseguro, ter medo, como vai respeitar os que sãocomo ele? Como vai respeitar os velhos se não admite envelhecer? Como vai aceitaralguém de outra religião se tem a ilusão de que a sua é infalível? O primeiro passopara uma convivência tolerante é reconhecer que todos somos de fato imperfeitos e queser humano significa necessariamente ser incompleto e estar sempre se buscando, sequestionando, enfrentando conflitos e superando impasses.Nesse sentido, podemos dizer que a intolerância nasce da resistência das pessoasem perceber nelas aquilo mesmo que rejeitam nos outros. Se não existisse essadificuldade, a convivência entre grupos diferentes ou mesmo opostos não acarretariaviolência, agressividade, comportamentos preconceituosos, como forma de expressarsuperioridade e auto-afirmação. Bastaria cada um ser o que é e deixar os outrosserem o que são em paz.Justamente por isso, nem todos os grupos são intolerantes. Não é apenas o fato departicipar de um grupo que torna as pessoas intolerantes. Mas quando se formamgangues, grupos de extermínio, torcidas rivais e outros agrupamentos que ameaçame atacam “os de fora”, estamos diante de um fenômeno de intolerância mais sério. Enesses casos, vale pensar que algo muito incômodo dentro de cada um ou da própriaturma está sendo evitado, encoberto pela intolerância. Um exemplo prático talvezajude. Se eu tenho desejo de comer muito mas reprimo, ou seja, tento afastar demim essa tendência indesejável, posso começar a desenvolver uma intolerância aosgordos (que, afinal, realizam o que eu não me permito e nem aceito como um desejomeu). Os gordos, nesse caso, acabam sendo uma espécie de espelho do que eunão tolero em mim. Outro exemplo: se eu escolhi um time e “visto a camisa” dessetime – ou seja, me identifico com ele e me sinto humilhado quando o time perde (poisa derrota acaba sendo minha e não do time), sou levado a rejeitar torcidas alheiasque ponham em risco meu lugar invencível.24


Vale lembrar aqui o fato de que ninguém isoladamente se põe a brigar com um gruporival. Há atitudes que só existem amparadas pela turma. Cada membro do grupo seapóia no próprio grupo para vaiar, atacar ou mesmo executar os oponentes, o quemostra que fora da turma é a fragilidade que predomina. É só lembrar das humilhaçõescoletivas que alguns alunos sofrem na sala de aula, por qualquer motivo: umdefeito físico, um traço de personalidade estranho, um desempenho escolar ruim oumelhor do que o dos outros...Talvez fosse interessante dividir os grupos em dois tipos: os que se formam por umalegítima autodescoberta (gays, roqueiros, anarquistas, ecologistas, hippies etc.) e, portanto,estão juntos por afinidades e descobertas comuns, encontrando seus iguais semdestruir ou intimidar os que são heterossexuais, sambistas, ou militantes de outros partidos;e um segundo tipo de grupos que se constituem pelo autodesconhecimento, ouseja, pessoas que buscam fugir do que não querem ver em si e nos outros: anti-gays,anti-mendigos, racistas, nazistas etc. A intolerância desses últimos revela sua fragilidadee sua ignorância em relação às próprias características. A cultura, a mídia e asdesigualdades sociais acabam reforçando esse processo, fazendo das minorias bode expiatório,no qual os grupos mais fortes depositam sua raiva, sua inveja, sua intolerância.25


Oficina 1. Jogo das cartas e preparação para pintura na camisetaOBJETIVO: Ajudar os participantes a refletirem sobre si mesmos, buscando característicasmarcantes que expressem sua identidade.MATERIAL: Cartolina e canetinhas para fazer as cartas; folhas de sulfite (se possívelrecortadas em formato de camiseta), tintas guache e pincéis.DESCRIÇÃO: Recorte previamente seis cartas (retângulos de cartolina de aproximadamente12x8 cm). Em cada uma delas você deve escrever, em um dos lados, as palavras: mãe, pai,namorado(a), irmão, melhor amigo, eu. No outro lado, escreva a palavra Identidade.Distribua no chão (ou na mesa) as cartas de modo que o lado com a palavra Identidade fiquevoltado para cima. Utilize uma garrafa para servir de “roleta” e sorteie o participante que vaicomeçar. A pessoa sorteada deve virar uma das cartas. Assim que ela o fizer, leia a questãocorrespondente descrita abaixo. Depois que o participante responder, outras pessoas tambémpoderão fazê-lo, cabe a você decidir. Repita esse procedimento até que todas as cartassejam exploradas.Em seguida, distribua folhas de sulfite, tintas guache e pincéis. Proponha que os participantespensem em algum desenho, imagem ou palavra que responda a pergunta:Quem sou eu? Diga que devem levar em conta tudo o que foi conversado na atividadeanterior. Explique que esse desenho também servirá de rascunho para uma pintura decamiseta que será feita na próxima oficina. Explicar esse objetivo é fundamental,porque a imagem escolhida, além de ser uma marca pessoal, deve se adequar à pinturaem tecido.COMENTÁRIOS: A proposta de abordar as semelhanças e diferenças em relação a váriaspessoas próximas tem como intuito alimentar a noção de identidade. Nesse sentido, é fundamentalque o monitor ajude os jovens a transpor aquilo que pensaram no jogo para oque querem expressar no desenho da camiseta. Preste atenção no tempo para cadaresposta, pois é fundamental que todas as cartas sejam trabalhadas.26


QUESTÕES PARA CADA CARTA:CARTA “MÃE”O que eu tenho deparecido e de diferentede minha mãe?CARTA “PAI”O que eu tenho deparecido e dediferente de meu pai?CARTA “IRMÃO”O que eu tenho deparecido e de diferentede meu irmão?CARTA“NAMORADO(A)”Quais característicaseu esperoencontrar em um(a)namorado(a)?CARTA “MELHORAMIGO”Quais característicaseu espero encontrarno melhor amigo?OUO que eu tenho deparecido e de diferentedo meu melhor amigo?CARTA “EU”O que é maismarcante na minhapersonalidade?27


Oficina 2. Pintura na camisetaOBJETIVO: Trabalhar a identidade pessoal por meio da confecção de um produto valorizadopelos adolescentes: a camiseta.MATERIAL: Camiseta branca; um pedaço de papelão ou saco de lixo; pincéis; tinta paratecido, trapos e copos para limpar os pincéis. Opcional: aparelho de som para colocaruma música de fundo.DESCRIÇÃO: Para pintar a camiseta, algumas etapas são necessárias:a. Distribua a cada participante um pedaço de papelão ou um saco de lixo e peça queo coloquem dentro da camiseta para impedir que a tinta vaze para o lado de trás.b. Peça que organizem o espaço a ser utilizado. A seguir, a camiseta deve ser esticadasobre a mesa, e uma ou duas cores serão escolhidas para começar a pintura.c. Forneça algumas instruções gerais de uso do material, tais como:• não é necessário usar muita tinta nas camisetas, pois elas ficam pesadas edemoram muito para secar;• as tintas podem e devem ser diluídas em água, em um recipiente apropriado;• melhor manter um pincel fixo para cada tinta. Se não for possível, é precisolimpar bem os pincéis para trocar de tinta;• tomar cuidado com a própria roupa, pois a tinta não sai após lavagem. Se forpossível, peça que os participantes da oficina usem nesse dia uma roupa velhaou coloquem um avental.d. Entregue os desenhos que cada um fez na oficina anterior para que possam reproduzi-losem suas camisetas.e. Ao final do trabalho, peça para todos lavarem os pincéis e ajudarem a arrumar asala.COMENTÁRIOS: A possibilidade de o adolescente ser autor de uma camiseta que fale daprópria identidade é um exercício lúdico e muito valorizado por eles. Além disso, a camisetapossibilita dar visibilidade aos adolescentes, que podem se manifestar de maneira criativa.Se a instituição onde você trabalha não puder adquirir camisetas para todos os participantes,peça que cada um traga a sua, usada ou não, de preferência toda branca.28


Oficina 3. FotografiaOBJETIVO: Promover diferentes situações de registro de marcas pessoais, dentre elas,a camiseta produzida.MATERIAL: Maquiagem, tintas apropriadas para pele, sabonete e lenço umedecido.DESCRIÇÃO: Distribua as camisetas pintadas da semana anterior e peça que os participantesas vistam.A seguir, disponibilize a maquiagem e as tintas e peça aos jovens que pintem o própriorosto livremente. Incentive a ousadia no uso da maquiagem. Esta deve servir comouma máscara, de tal modo que os participantes da oficina possam representar umpersonagem ou sentimentos que os identifiquem. Dê aproximadamente 40 minutospara a atividade.Quando todos tiverem terminado, cada um deve escolher um local para tirar sua foto.Durante a “sessão de fotos”, estimule poses ou expressões faciais significativas, poisa foto também faz parte da brincadeira da “marca pessoal”. Os adolescentes tambémpodem tirar fotos uns dos outros, podem ainda registrar uma imagem do tipo “o jeitoque eu me vejo” e outra que mostre “o jeito que o outro me vê”.Na próxima oficina, as fotos devem estar disponíveis. Casonão seja possível que cada um fique com sua foto, éimportante que tenha pelo menos uma do grupo.COMENTÁRIOS: Seria interessante que você participasseusando a tinta e a maquiagem no próprio rostopara ajudar o grupo a entrar na atividade.Rafael Hess


Oficina 4. Identidade & diversidadeOBJETIVO: Observar diferenças e semelhanças nas características pessoais dos participantespara refletir sobre o tema “diversidade”.MATERIAL: Papel sulfite; lápis de escrever e/ou canetinhas.DESCRIÇÃO: Distribua uma folha de papel e um lápis a cada participante e peça que listemdez características pessoais. A seguir, solicite que classifiquem essas característicasem duas categorias: aquelas que lhes trazem facilidades ou dificuldades. Paraisso, podem refazer a lista, dividindo os atributos em duas colunas ou acrescentandomarcas coloridas que as distingam.Em seguida, forme um círculo e peça para cada um escolher duas ou três dessascaracterísticas e comentá-las.QUESTÕES PARA DISCUSSÃO:• O que você pode fazer em relação às características que, a seu ver, lhe trazemdificuldades? Existe alguma maneira de lidar com elas?• Quais são as características que facilitam sua vida? O que você pode fazer para cultivá-las?• Instigue os jovens a pensar que uma mesma característica pode ser positiva ou negativadependendo do contexto. Por exemplo, uma pessoa perfeccionista pode serextremamente valorizada num trabalho que exija capricho e cuidado e ao mesmotempo pode criar empecilhos quando uma tarefa exige rapidez.Terminada essa primeira discussão, levante com o grupo as características que maisapareceram, aquelas que são comuns aos participantes. Com base nessas características,pergunte: é possível pensar em que “cara” esse grupo tem? Poderíamospensar em uma palavra marcante para defini-lo?COMENTÁRIOS: Essa atividade é muito interessante para que os adolescentes percebama diversidade de características pessoais e a importância do contexto nas situações quevivem (uma qualidade pode ser boa em um momento e não ser tão boa em outro). A discussãodeve mostrar aos jovens a necessidade de se compreender, de desenvolver aanálise crítica e até a tolerância para consigo ou para com os outros. Explore ao máximoessas questões. Você também pode questionar quais seriam as características do grupodiante dessas descrições individuais.30


Oficina 5. Diversidade: o que é isso?OBJETIVO: Discutir a diversidade a partir das características, vivências e conhecimentosdo próprio grupo.DESCRIÇÃO: Na oficina anterior, trabalhamos prioritariamente as característicascomuns aos participantes do grupo, contudo, também sabemos que existem particularidadesque diferenciam cada um. Introduza a atividade pedindo para os adolescentesdescobrirem o que diferencia as pessoas desse grupo (como cor da pele, doscabelos, idade, temperamento etc.). Discuta com eles: o que é diversidade? Como sedá a diversidade nesse grupo?Em seguida, divida os participantes em subgrupos e peça para cada um contar umasituação na qual uma característica pessoal provocou um conflito. Por exemplo, umapessoa idosa que não foi bem atendida no banco, um menino gordo que não foi escolhidopara o jogo de futebol etc. Após esse primeiro momento, cada grupinho deveeleger uma das histórias para contá-la no grupão. Abra a discussão geral.QUESTÕES PARA DISCUSSÃO:• O que a história contada provoca?• O que é identidade? O que é diversidade? Como conviver com ambas?• Quais são seus preconceitos? O que você pode fazer com eles?COMENTÁRIOS: Pertencer a um grupo é, em geral, reconfortante, pois compartilhamoscoisas com outras pessoas. Contudo, muitas vezes nossas características pessoaisdestoam, divergem ou entram em conflito com o grupo. Essa dinâmica pode ser frutíferaquando se pode conversar e aparar arestas. Dessa forma, o monitor deve ser cuidadosoao trabalhar essa proposta.Ao discutir os preconceitos, é importante não se restringir aos fatos relatados, analisandoo contexto em que vivemos, questionando os valores de nossa época para que os jovenspercebam que as idéias são fruto de um tempo e de um lugar. Durante o debate, procureevitar uma postura moralista ou prescritiva, ensinando o que se deve fazer, pois isso geralmenteimpede que questões importantes venham à tona e sejam discutidas. Estimule-osa entrar em contato com seus preconceitos e pensar em maneiras de lidar com eles.31


Oficina 6. Debate HomossexualidadeOBJETIVO: Aprofundar o debate sobre o tema diversidade a partir da reflexão sobrequestões polêmicas.DESCRIÇÃO: Inicie a atividade informando que nesse encontro eles farão um debateacerca de um tema polêmico: a legalização da união homossexual. Divida os participantesem dois subgrupos, distribuindo-os aleatoriamente (você pode atribuir osnúmeros 1 e 2 seqüencialmente e depois pedir que os participantes de mesmo númerose reúnam). Cada grupo deverá ficar responsável por defender um dos lados daquestão. Sorteie quem ficará a favor ou contra. Ressalte que, nesse momento, asopiniões pessoais não contam, esse é um exercício de argumentação, os participantesde cada grupo devem defender a idéia que lhes foi atribuída, mesmo que, pessoalmente,não concordem com ela.Para enriquecer o debate, você pode ler alguma reportagem a respeito da legalizaçãoda união homossexual (há vários artigos na internet a respeito). Após a leitura,entregue uma cópia da reportagem para cada grupinho e solicite que a discutam. Dêcerca de 20 minutos para que cada grupo pense em argumentos que justifiquem eembasem sua posição.REGRAS PARA O DEBATE:• Cada grupo terá um minuto para defender a sua posição. Cada vez que um grupodefender seu ponto de vista, o outro terá outro minuto para réplica e assim por diante.• Não existe um vencedor no final: questões polêmicas não têm certo ou errado.Quando você entender que o debate se esgotou, interrompa a atividade e levante asseguintes questões:• O que acharam da atividade? Como cada um se sentiu nesse grupo defendendo umaidéia que não é necessariamente a sua?• Quais são os preconceitos mais comuns no Brasil?• O que gera um preconceito?• É possível não ter nenhum preconceito?• Como lidar com os nossos preconceitos?Ao final, é importante enfatizar que esse encontro não tem como propósito levantar bandeirascontra ou a favor da legalização da união homossexual e muito menos da homossexualidade,mas possibilitar a reflexão sobre a nossa postura diante das diferenças,assim como entender todas as variáveis que estão ao nosso redor e que interferem emnossas escolhas e opiniões.32


COMENTÁRIOS: É importante que você levante alguns argumentos contra e a favor daquestão debatida para alimentar a discussão inicial dos grupinhos. Ajude aqueles quetiverem maior dificuldade em defender uma idéia que não é a sua. A organização do debateé importante para que a atividade não se torne uma briga entre os grupos. É muito comumque os adolescentes se envolvam e, às vezes, se exaltem nas dramatizações. Se vocêperceber excessos, interrompa a cena e converse com eles.Mesmo que você dê espaço a todo tipo de opinião, inclusive as preconceituosas, a tolerânciae o respeito são valores inquestionáveis, que devem ser ressaltados. Nada melhor doque exercitá-los em grupo.Você também pode fazer esse debate escolhendo outra questão polêmica, por exemplo: osistema de cotas nas universidades, a diminuição da maioridade penal etc.33


Oficina 7. GêneroOBJETIVO: Promover a discussão sobre os papéis feminino e masculino.MATERIAL: Cartolina e caneta hidrográfica.DESCRIÇÃO: Confeccione previamente seis cartões de cartolina nos quais você deveráescrever as seguintes frases:• Se você fosse mulher por um dia, o que você faria?• Se você fosse homem por um dia, o que você faria?• Eu gostaria de ser mulher porque...• Eu não gostaria de ser mulher porque...• Eu gostaria de ser homem porque...• Eu não gostaria de ser homem porque...Peça para todos sentarem em círculo (no chão ou em cadeiras). Coloque no centrodesse círculo uma roleta (uma garrafa vazia ou uma caneta podem servir). Um voluntáriodeve girar a roleta improvisada para sortear o participante que vai começar ojogo. Essa pessoa deverá escolher um cartão e completar a frase proposta (que dizrespeito ao sexo oposto ao seu). Depois que o sorteado responder, o grupo tambémpoderá fazê-lo, de modo que todos possam participar. Repita esse procedimento atéque todos os cartões sejam explorados.Ao final, faça uma discussão coletiva. Pontos para discussão:• O que mais apareceu como vantagem de ser homem ou mulher?• O que mais apareceu com desvantagem de ser homem ou mulher?• Na sociedade atual, existe discriminação por essa questão de gênero? Quais são osmotivos que podem estar por trás disso?• Alguém do grupo já passou por alguma situação de preconceito por ser homem oumulher? Como reagiu? Como lidar com esse tipo de conflito?COMENTÁRIOS: Fornecer elementos históricos pode ser uma boa maneira de fomentar econtextualizar a discussão entre os participantes da oficina. Conte casos de como eram oscomportamentos de homens e mulheres no início do século XX, por exemplo, em relaçãoao casamento, às tarefas domésticas ou ao trabalho.34


Oficina 8. Resolução de conflitos – InjustiçasOBJETIVO: Auxiliar os jovens a refletirem sobre conflitos cotidianos relacionados àinjustiça ou ao preconceito e a pensarem novas possibilidades de solução.MATERIAL: Cópia da situação de injustiça (ver página 37) para cada pequeno grupo.DESCRIÇÃO: Inicie a oficina perguntando aos integrantes do grupo se eles já viveramsituações de injustiça ou preconceito em seu cotidiano. Quais? Como se sentiram?Em seguida, peça para formarem grupinhos (trios ou quartetos), conforme o númerode jovens. Distribua os depoimentos de conflitos (em anexo) para cada grupo. Cadagrupo deve planejar uma dramatização da situação relatada ou, se preferir, podeinventar uma outra situação de conflito que seus membros queiram dramatizar. Aencenação deve ser rápida para que os jovens tenham tempo de discuti-la.A cada apresentação dos grupinhos, problematize as principais questões de cada situaçãona discussão coletiva. As questões abaixo devem ajudá-lo.• O que fez quem sofreu a injustiça ou o preconceito?• O que fez quem se comportou injustamente?• Quais são as possíveis causas desse conflito?• Como os personagens se sentiram e lidaram com a situação?• Quais são as possíveis soluções para esse conflito?• O que você faria se estivesse no lugar dessa pessoa?• Esse tipo de conflito já aconteceu com você? Como se sentiu? Como reagiu?• Você reconhece situações em que tenha sido injusto ou preconceituoso?Ao final, promova um debate a partir das cenas sobre a questão dos preconceitos, perguntecomo se sentiram assistindo às dramatizações ou participando delas e o que asdiversas cenas têm em comum.COMENTÁRIOS: Uma análise fragmentada de um fato sempre leva a opiniões parciais.Na adolescência, conceitos e princípios estão sendo construídos, por isso, os jovens seapegam a suas idéias com paixão e nem sempre conseguem se deslocar para observaroutros pontos de vista. A idéia central dessa atividade é ajudar os adolescentes a analisaras situações relatadas de vários pontos de vista, para forjar uma opinião crítica e sólida.Analisando as situações relatadas, os jovens terão elementos para buscar soluções paramuitos conflitos que podem ter sido vividos pelos participantes, o que certamente iráenriquecer a atividade. Ajude-os a pensar soluções para resolver esses conflitos demaneira justa, pacífica e equilibrada.35


para se aprofundar...LivrosABRAMO, Helena. Cenas juvenis, punks e darksno espetáculo urbano.São Paulo: Saiita/ ANPOCS, 1994.COSTA, Cristina. Caminhando contra o vento:uma adolescente dos anos 60.São Paulo: Moderna, 1995.ERIKSON, Erik. Identidade, juventude e crise.Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1987.FRAGA, Paulo Cesar; JULIANELLI, Jorge (Orgs.).Jovens em tempo real.Rio de Janeiro: DP e A, 2003.INSTITUTO CREDICARD.Educadores e jovens em ação.São Paulo: Via Impressa, 2006.KOLE. A. T.; DIAS, F. L.Encontro da galera. CD Rom.Projeto Saúde Integral. SENAI, 1997.SitesFilmesAmerican PiePaul Weitz, 1999.AntoniaTata Amaral, 2006.Código DesconhecidoMichael Haneke, 2000.Crash – No LimitePaul Haggis, 2004.ElephantGus Van Sant, 2003.Em Busca da Terra do NuncaMarc Forster, 2004.História RealDavid Linch, 1999.Ken ParkLarry Clark e Edward Lachman, 2002.Sociedade dos Poetas MortosPeter Weir, 1989.Educarede:http://www.educarede.org.brMuseu da Pessoa:http://www.museudapessoa.netMundo Adolescente:http://www.<strong>mundo</strong>adolescente.com.brOnda Jovem:http://www.onda<strong>jovem</strong>.com.br36


ANEXOSDepoimento 1José Antônio, 17 anosEu estava na rua com meus amigos indo para uma balada. A polícia apareceupara dar uma batida. Pediu os documentos, a gente mostrou, elesolharam e nos revistaram. Até aí eu achei normal, mas o policial ficou dizendoque a gente era maloqueiro, que ia vender drogas, que a gente eradesocupado, ficou humilhando. Foi bem ruim mesmo... Eu estudo, nãosou desocupado, mas não podia discutir com eles. Depois de ficar com agente 15 minutos, resolveram dispensar, mas a gente até perdeu o embalo,nem quis mais ir pra balada. Eu acho muito injusto a polícia tratar agente assim, se eu fosse “branquelo”, talvez eles não tivessem feito isso.Depoimento 2Maria Eduarda, 15 anosTem uma menina na minha classe que é muito metida, ela se acha. Elaé uma das mais bonitas da escola e eu a odeio. Sempre que pode, elaesnoba a gente, diz que eu e minhas amigas andamos mal-vestidas, quea gente é burra, que não vai ser nada na vida. Um dia, eu não agüentei,acabei brigando e dei um tapa na cara dela logo na saída da escola. Issofoi para ela aprender a não ser besta e a me respeitar. Se implicar comigode novo, vai levar. Não estou nem ligando se levar suspensão.Depoimento 3Aline, 17 anosAcontece com muita gente, eu sei, mas eu não acho certo. No domingo,eu fui ao shopping do meu bairro com minhas amigas. A gente não temmuita grana, mas gosta de ver as vitrines e às vezes alguém compraalguma coisa. Entrei numa loja para perguntar o preço de uma saia queeu achei legal. A vendedora, que era um pouco mais velha do que eu, memostrou a saia na maior má vontade e quando eu perguntei o preço eladisse: “não sei se vai caber no seu orçamento, ela custa R$ 70,00.” Eufiquei doida de raiva, eu disse que podia embrulhar, só pra mostrar queeu posso pagar. Mas eu não posso, acabei com o meu orçamento e tiveque fazer uma prestação. Agora nem tenho vontade de usar a tal da saia!37


corpo


introduçãoEste módulo aborda um tema que ocupa boa parte das preocupações adolescentes:o corpo. As intensas transformações físicas que acontecem nessa épocatêm importantes conseqüências sobre a auto-imagem, as emoções e a sociabilidadedos jovens. Assim, promover o acesso a conhecimentos e informações sobre ocorpo e saber cuidar dele é uma tarefa importante a ser realizada nessa fase da vida.As atividades aqui propostas procuram enfocar diferentes pontos de vista – o biológico,o psicológico e o sociocultural – para que o adolescente possa ter uma visão ampliadade si e do seu desenvolvimento. Trabalharemos o exercício de apropriação e aceitaçãodo novo corpo que se forma nesse período e o que essa transformação acarreta na vidado adolescente. Abordaremos também a questão da alimentação sob a perspectiva dasaúde e da imagem corporal.Além disso, é importante que você dê um lugar ao corpo ativamente, a fim de que osadolescentes não se limitem a pensar sobre ele, mas possam senti-lo, experimentá-loe percebê-lo em todas as suas dimensões. Por essa razão, no início de cada oficina,estão previstas algumas atividades de aquecimento nas quais sugerimos um pequenotrabalho corporal.Você perceberá que este módulo contém menos oficinas que os demais. Nossaexperiência mostrou que algumas questões fundamentais relacionadas ao corpo falamtambém da sexualidade. Por esta razão, elas são abordadas a seguir, no módulo dedicadoa esse tema.Não se esqueça de recorrer ao Livro do adolescente sempre que necessário.Bom trabalho!objetivos do módulo:• Promover maior conhecimento acerca do funcionamento do corpo humano e dastransformações ocorridas na puberdade.• Favorecer a reflexão sobre as necessidades e particularidades de cada indivíduo emrelação ao próprio corpo, estimulando uma maior consciência e percepção corporal.• Discutir as relações entre corpo e cultura, de modo que o <strong>jovem</strong> possa questionar osconceitos de saúde e beleza vigentes em nossa sociedade.40


com a palavra...O adolescente e seu corpoJunia de VilhenaJoana de Vilhena NovaesAadolescência é um período caracterizado não apenas por profundas mudanças nocorpo, nas relações familiares, na escola, nas amizades, como também por grandesincertezas. Um novo corpo surge, uma nova sexualidade e sensorialidade despontame a pressão do grupo social, amparada na mídia, torna-se extremamente poderosa.Por estarmos vivendo em uma sociedade que cultua a imagem, o corpo do adolescentepode acabar se tornando uma prisão. Lócus privilegiado da construção identitária, arelação com o próprio corpo, em alguns momentos, pode gerar desprazer e até umacerta obsessão.A estética nos dias de hoje assume um papel distinto daquele que exercia em outrostempos. Com o arsenal de técnicas corporais disponíveis e acessíveis a todas as classessociais (um bom exemplo é o número de academias de ginástica nas favelas e periferias),gerou-se a crença de que “só é feio quem quer”. A beleza, antes um atributo“natural”, passou a ser “moralizada”, sendo agora entendida como uma demonstraçãode força de vontade. De atributo físico (“se eu conseguir ser bonito, melhor”), a belezatornou-se um dever moral (“se realmente quiser, eu consigo ser bonito”). O fracassoem ser belo não se deve agora a uma impossibilidade mais ampla, mas a uma incapacidadeindividual.O culto ao corpoSabemos que a gordura é, hoje em dia, associada à feiúra e alvo de explícita exclusãosocial. Objeto de grande regulação social, os corpos passaram a ser monitorados peloviés da saúde (comidas orgânicas, combate aos radicais livre, dietas as mais variadas) etambém da estética. Em uma sociedade na qual os ideais continuam a ser brancos e burgueses,não é de estranhar uma pasteurização nos modelos estéticos tidos como belos.Os discursos sobre os corpos nos falam de mulheres louras, magras, altas e eternamentejovens que em nada se assemelham ao biótipo da maioria das brasileiras. Omesmo pode ser dito acerca da imagem que se veicula do homem ideal – “sarado”,bem-vestido, circulando em praias e dirigindo carros fantásticos – o que gera a ilusãoda saúde perfeita e do sucesso pessoal associado a ela.JUNIA DE VILHENA, psicanalista e terapeuta familiar, é professora da PUC-Rio e coordenadora do Laboratório Interdisciplinarde Pesquisa e Intervenção Social – Lipis da PUC-Rio.JOANA DE VILHENA NOVAES é doutora em psicologia clínica, pós-doutoranda da UERJ e bolsista da FAPERJ. Coordena oNúcleo de Doenças da Beleza do Lipis da PUC-Rio.41


Ora, se observamos a submissão a tal ditadura estética em homens e mulheres maismaduros, como não imaginar o impacto causado nos adolescentes que não se encaixamnesse modelo? Tal marginalização social provoca um profundo sofrimentopsíquico e produz vínculos sociais até então não evidenciados, tais como a profundaexclusão vivida por jovens que não se sentem pertencentes ao grupo desejado.Certamente não podemos reduzir todo o desconforto à questão estética. Na adolescência,quando se observa o desabrochar de uma sexualidade adulta que ainda necessitaser experimentada, aparecem, muitas vezes, grandes angústias. Serei atraente para ooutro? Saberei ter um bom desempenho sexual? Conheço os limites de meu corpo? Oque busco para mim? São perguntas que servem de pano de fundo para inúmerasincertezas e inseguranças.Contudo, grande parte dessas angústias ainda está ancorada em umsentido de inadequação aos modelos estéticos vigentes. Comoser loura/o e com cabelos lisos se vivemos em país majoritariamentenegro/mestiço? Observamos, com freqüência, queatender a esses apelos da estética vigente significa, em últimainstância, aceitar a extinção da própria raça – ou seja, osideais ainda são de embranquecimento.Felizmente, já podemos observar movimentos de resistência,através da cultura hip-hop, por exemplo, na qual tanto a identidadequanto a estética e as produções artísticas negras passama ser valorizadas.Sem dúvida, não podemos generalizar, nemcircunscrever a questão do culto ao corpo aos ideais deembranquecimento – mas podemos, sim, situá-la em umacultura que, além de importar modelos exógenos, é muitopouco tolerante às diferenças – ponto crucial para o adolescente.Este precisa sentir-se pertencendo ao grupo; quandoisso não acontece, podemos vislumbrar possibilidades nãomuito promissoras: dos transtornos alimentares que aumentamdia a dia, aos atos agressivos e/ou violentos que apelampor um reconhecimento mais justo.42


Alguns caminhosÉ possível obter sem grandes dificuldades algumas indicações acerca da existênciade problemas dos adolescentes com seus corpos e sua sexualidade. Podemos convidá-losa falar de possíveis desconfortos com o próprio corpo e a que atribuem isso;discutir criticamente com eles a cultura que supervaloriza o sucesso midiático;acompanhar suas interações com os colegas (retraídos, agressivos, violentos?);observar seu vestuário – se escondem ou se mostram em demasia? Estãosempre de casaco mesmo em dias muito quentes? Quais hábitos alimentaresconsideram inadequados e desejariam mudar? Todos esses aspectosfornecerão algumas indicações acerca de eventuais problemas.Sabemos que há uma profunda ligação entre a ansiedade e a comida. Aquelegordinho simpático e extrovertido pode estar aprisionado no conhecido estereótipode que gordinhos têm de ser “boa praça” e fazer tudo certinho.As notas escolares podem ajudar na aferição do adolescente, mas não se deveesquecer que também é importante estar bem consigo mesmo. Ter de ser o melhoraluno ou não poder fracassar jamais não são bons parâmetros para avaliar aauto-estima do aluno.Observar a aparência – um emagrecimento a olhos vistos pode indicar o iníciode uma anorexia ou bulimia. Por exemplo, "Ana" e "Mia" são comunidadesno Orkut que ensinam os jovens a desenvolver essas práticas e, simultaneamente,a enganar pais, pedagogos, psiquiatras, terapeutas e professores.Ariscos e espertos, os adolescentes geralmente acreditamque o melhor conselheiro é o amigo. O caminho ideal para um adultoajudar um <strong>jovem</strong> é, em particular; dizer-lhe que você estádisponível caso ele queira conversar sobre qualquer tema.Sempre sem constrangê-lo.Os adultos que trabalham com jovens devem estar atentos aosindícios que eles podem nos dar quando não estão bem. Senotar algo de diferente como um rápido emagrecimento ouaumento de peso, um afastamento do grupo, talvez seja o momentode conversar com os pais, cuidadores e amigos próximos, paraentender o que está acontecendo.43


Oficina 1. As transformações do corpoOBJETIVO: Discutir as mudanças corporais da adolescência, os novos cuidados decorrentese as conseqüências sobre a auto-imagem.MATERIAL: Tiras de papel sulfite e caixa para sorteio.DESCRIÇÃO: Peça que os adolescentes se deitem no chão e fechem os olhos. Proponhaque se transportem para a infância, quando tinham cerca de 10 anos. Levante umaquestão por vez: Como era seu corpo? Como você se sentia? Que roupas usava? Comoas pessoas o viam? Dê um tempo para que possam rememorar suas experiências. Aseguir, continue a perguntar lentamente: Seu corpo está mudando? De que maneira?O que você observa de diferente? Como você tem encarado essas mudanças? Comoacha que vai ser daqui a alguns anos? Peça então que abram os olhos e, devagar,retomem seus lugares, sentados em círculo.Em seguida, cada participante deve escrever, em uma tira de papel, uma mudança queocorreu (ou está ocorrendo) em seu corpo após a entrada na puberdade, depois dobrara tira e colocá-la em uma caixa. Quando todos tiverem terminado, cada um vai sortearuma dessas tirinhas (que não seja a sua), lê-la e pensar em uma conseqüência positivae outra negativa dessa mudança descrita pelo colega. Por exemplo:Menino: Minha voz engrossou.Conseqüências: Isso é bom porque você já parece um homem. Isso é ruim porque vocêanda desafinando de vez em quando.Evidentemente, há mudanças que não são nada agradáveis, o que vai obrigá-los adescobrir algo de positivo nelas, como no caso abaixo:Menina: Eu estou com espinhas.Conseqüências: Isso é bom porque você tem de cuidar mais da pele. Isso é ruimporque fica feia.Discuta com o grupo sobre cada mudança relatada e as sugestões dos colegas paralidar com elas. Tentar positivar os problemas não significa desprezar os dramas queafligem o adolescente, mas permite encarar mudanças temporárias com mais levezae bom-humor.Ao final, retome todas as mudanças citadas e pergunte se alguém lembra de algumaque não foi mencionada. Estimule a discussão grupal em torno dessa experiência demudança corporal para que os participantes compartilhem seus pontos de vista.44


COMENTÁRIOS: As questões que surgirem darão informações úteis para você encaminharas oficinas subseqüentes. Permita que o próprio grupo busque soluções para asdificuldades e ansiedades relatadas. Se for necessário, pesquise com especialistas, emrevistas ou livros formas de amenizar os problemas enfrentados, respondendo as questõesem encontros posteriores. As informações abaixo (que também estão presentes noLivro do adolescente) podem ajudar a desenvolver a atividade:• Alguns hormônios fazem seu trabalho de forma mais ativa na adolescência. Esseprocesso começa entre os 8 e 13 anos para as meninas e entre os 9 e 14 anos para osmeninos.• Os adolescentes ganham nessa fase de 20 a 25% da altura e 50% da massa corporal(peso) definitivas.• O crescimento se acelera primeiramente nas extremidades do corpo (braços, pernas,mãos e pés) e depois no tronco (para os meninos) e no quadril (nas meninas).• Na adolescência há o chamado “estirão de crescimento” entre os 10 e 16 anos. Podesecrescer até 10 cm por ano nessa fase, durante três anos consecutivos.• As mudanças corporais costumam durar de dois a quatro anos e meio.• O timbre de voz dos meninos se altera durante toda a puberdade, em especial nasfases mais avançadas, por causa do crescimento da laringe.• O desenvolvimento dos órgãos genitais acontece devagar, em etapas. Nas meninas,crescem os seios (mamas); nos meninos, o processo começa pelos testículos, queaumentam de tamanho antes do pênis. Os pêlos crescem devagar, até cobrirem aregião pubiana na fase final de maturação.45


Oficina 2. As funções do corpoOBJETIVO: Discutir as funções de diferentes partes do corpo de modo a promover maiorconscientização de suas potencialidades.MATERIAL: Cartolinas e canetas hidrográficas.DESCRIÇÃO: Como uma forma de aquecimento, peça que os participantes, em silêncio,façam caretas de acordo com suas instruções: “Faça uma cara de alegria, desaudades, de medo, de ironia, de fome, de nojo, de espanto” ou outras quaisquer quevocê quiser. A cada instrução, dê um tempo para que observem uns aos outros, semfalar. Depois, peça que acrescentem gestos à expressão facial: “Agora você estábravo”, “agora você está mandando em alguém”, “agora você está pedindo algo”,“agora você está agredindo” etc.Ao final da brincadeira, converse um pouco sobre essa experiência, ressaltando aimportância da expressão não-verbal.A seguir, divida os participantes em pelo menos três grupos e distribua uma cartolina ecanetinhas para cada um deles. Peça que dobrem a cartolina em três partes iguais. Digaque eles devem desenhar, coletivamente, um rosto no primeiro terço da folha e escreveruma palavra relacionada às partes do rosto que desejarem. Por exemplo: sinceridadepara os olhos, comunicação para a boca, e assim por diante. Sem mostrar suaprodução para os demais, a folha deve ser dobrada e passada para o grupo do lado quevai continuar a figura humana no segundo terço da folha, com o desenho do tronco.Eles também devem escrever atributos para as partes que desejarem (por exemplo,cintura – "jogo de cintura", flexibilidade, habilidade; braço – força; tórax – acolhimento,sensibilidade etc.). Novamente peça que dobrem e troquem as folhas entre si, de modoque o grupo que recebê-la não olhe o que já foi feito pelos demais. Nesse últimodesenho, eles devem desenhar as pernas e os pés, atribuindo-lhes também significados.Ao final, todas as cartolinas devem ser abertas e expostas.Naturalmente, os desenhos serão divertidos e inusitados. Abra uma discussão, orientando-osa refletirem sobre:• Como foi fazer essa atividade?• Houve algum desentendimento no grupo para atribuir palavras às partes do corpo?Como isso ocorreu?• Você já havia pensado nas funções do seu corpo?• Agora, olhando todos os desenhos, o que mais chama a atenção? Você acrescentariaalguma coisa?46


• Você se lembra de alguma experiência, sua ou de outros, em que os gestos forammais importantes que as palavras?COMENTÁRIOS: Nesse momento em que o corpo se transforma, é importante os adolescentesperceberem seus limites e potencialidades. Ajude-os a compreender que seusgestos, expressões ou silêncios revelam sentimentos e idéias e, certamente, interferemnas relações pessoais. Essa é uma oportunidade de se conscientizarem das mensagensque enviam de seu corpo sem perceber, e daquelas que recebem. É uma forma de percebere conhecer o outro.47


Oficina 3. Alimentação e nutriçãoOBJETIVO: Discutir o tema dos cuidados corporais, abordando-o com o foco na alimentaçãoe no lugar que ela ocupa na vida dos adolescentes.DESCRIÇÃO: Para afinar o grupo com o tema da oficina, proponha algumas perguntasnorteadoras para uma conversa inicial. Por exemplo: Você acha que se alimenta bem?Por quê? A sua alimentação mudou desde quando você era criança? Se você fosseuma comida, o que seria? O que você pensa da frase: Eu sou o que eu como?Em seguida, peça que os adolescentes abram o seu livro no Módulo Corpo, na páginaem que está desenhado um menu, e montem o cardápio do dia, ou seja, querelatem o que estão acostumados a comer durante o dia (segue abaixo a reproduçãoda proposta). Quando todos terminarem, convide-os a falar sobre o cardápio (não énecessário que todos relatem), marcando as diferenças individuais, fazendo perguntaspertinentes. Chame a atenção para a ingestão de líquidos e para os alimentos quesão consumidos fora das refeições, porque muitos adolescentes não bebem água ougostam muito de beliscar.Depois, abra o Livro do adolescente nas páginas seguintes e explore as informações,sempre dando espaço para perguntas e comentários.Por fim, divida os jovens em grupos e solicite que montem um cardápio diário saudável,equilibrado e, mais importante, viável, a partir das discussões e informaçõesaprendidas no dia. É preciso usar a criatividade! Para terminar, peça que elejam ocardápio mais adequado às suas necessidades.COMENTÁRIOS: Como você pôde perceber, essa oficina exige uma leitura antecipada eatenta das informações contidas no Livro do adolescente, de modo que você possa ajudaros participantes em suas dúvidas. No momento da discussão, procure não ser muitoprescritivo, pois não há adolescente que coma somente alimentos saudáveis; o cardápionessa fase da vida é recheado de refrigerantes, doces e salgadinhos que não podem sercompletamente banidos do dia-a-dia. Muitas vezes, vale a pena levá-los a se questionar:“O que estou fazendo comigo comendo isso?”.Se houver tempo, promova um bate-papo para que os participantes possam trocardicas de alimentação. Recomende a leitura das informações do Livro do adolescente.SUGESTÕES: Se possível, convide um nutricionista para participar dessa oficina. Elepoderá dar mais informações, tirar dúvidas, deixando a discussão ainda mais rica einteressante. Você também pode colocar a música “Comida”, dos Titãs, para queescutem ao final da oficina.48


MENUCafé da manhã:Lanche da tarde:Lanche da manhã:Jantar:Almoço:Antes de dormir:Você come em outroshorários? O quê? Quando?49


Oficina 4. Espelho, espelho meuOBJETIVO: Trabalhar aspectos subjetivos da relação de cada um com seu corpo.MATERIAL: Aparelho de som, CD de música suave, papel pardo, lápis de cor, canetashidrográficas (se desejar, pedaços de papéis coloridos e cola).DESCRIÇÃO: Em um clima suave e tranqüilo, com uma música de fundo, peça que osparticipantes fechem os olhos. Dirija o relaxamento lentamente, começando pelos pés,seguindo pelas pernas, tronco, membros, até a cabeça. Peça que pensem sobre comosentem e vêem o próprio corpo. Depois que abrirem os olhos, solicite que formemduplas. Entregue a cada participante uma folha de papel pardo do tamanho de cadaum. Peça que desenhem, com a ajuda do colega, um molde do próprio corpo. A seguir,eles devem trocar de lugar, de modo que ambos tenham seu contorno do corpo.Distribua lápis de cera e hidrográficas (se houver diferentes papéis para colar tambémpode ser interessante) a fim de que cada um preencha esse contorno, desenhando rosto,roupas e quaisquer detalhes que desejar. Quando terminarem, faça as seguintes perguntas,que devem ser respondidas no próprio desenho:• O que penso quando imagino o meu corpo?• O que eu costumo ouvir das pessoas sobre o meu corpo?• O que eu gostaria de ouvir?• O que eu mais gosto no meu corpo?Ao final, todos devem colocar seus desenhos no chão e circular pela sala para olharos dos colegas. Abra uma roda de conversa para discutir como se sentiram quandodesenhavam o próprio corpo, ressaltando os seguintes pontos: diferenças individuais,aspectos hereditários, o belo em cada um e o modelo social de beleza, a influência damídia na visão que temos do corpo, cuidados e exigências nessa fase da vida etc.COMENTÁRIOS: No momento do relaxamento, procure utilizar uma música instrumental enão ultrapasse 10 minutos. Essa oficina mobiliza muito os adolescentes, portanto, requertoda a atenção do monitor. É importante que você perceba o modo como cada um se vê,eventualmente confrontando-o com o olhar dos outros. Em geral, um excesso de autocríticaleva a uma imagem distorcida de si que pode ser questionada nesse momento. Procureconversar sobre as mudanças que podem ocorrer nessa fase de desenvolvimento: esseainda não é o corpo adulto. Há muitas maneiras saudáveis de ficar mais satisfeito com seucorpo e você pode instigá-los a pensar sobre isso.Essa oficina é uma grande oportunidade de discutir as dificuldades que todos, adolescentesou adultos, encontram para corresponder ao padrão de beleza veiculado pela mídia.50


Oficina 5. História da belezaOBJETIVO: Favorecer a reflexão sobre as relações entre beleza e cultura para que o<strong>jovem</strong> perceba que os padrões de beleza são historicamente construídos e possa refletirsobre a interferência dos modelos atuais na construção de sua auto-imagem.MATERIAL: Ilustrações anexas (ao final do módulo).DESCRIÇÃO: Divida os participantes em dois grupos, preferencialmente em meninos emeninas se o grupo for misto. Apresente a folha com as fotos para cada grupo e peçaque responda por escrito:Observando esses quadros, qual você acha que era o padrão de beleza em cada umadessas épocas? O que era ser bonito?Quais os detalhes que chamam sua atenção em cada uma das imagens?Depois que os adolescentes tiverem discutido, peça que respondam uma segundaquestão: O que é ser bonito hoje?A seguir, abra a discussão geral e alimente o debate acerca da influência da mídia nacriação de um padrão de beleza. Para finalizar, peça que respondam a questão individualmente:O que é ser bonito para mim?COMENTÁRIOS: Os textos da seção Papo cabeça e o texto do especialista no início destemódulo abordam essa importante questão. Não deixe de lê-los antes de iniciar a oficinapara estar mais preparado para o debate. Se você achar pertinente, pode também pedirpara o grupo ler o texto da história da beleza presente no Livro do adolescente e promoveruma discussão sobre ele.51


para se aprofundar...LivrosCOLASANTI, Marina. O homem que não paravade crescer. São Paulo: Global, 2005.COSTA, Ana. Tatuagem e marcas corporais.São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003.COSTA, Cristina. Os grilos da galera: as questõesda adolescência. São Paulo: Moderna, 1996.ECO, Humberto. História da beleza.São Paulo: Record, 2007.GREEN, Christine. Mudanças no corpo.São Paulo: Moderna, 1994.MATHEUS, Andrea; EISENSTEIN, Evelyn. Falasério! Perguntas e respostas sobre adolescênciae saúde. Rio de Janeiro: Vieira & Lent, 2006.NOVAES, Joana Vilhena de. O intolerável peso dafeiúra. Sobre as mulheres e seus corpos. 1a. ed.Rio de Janeiro: PUC/Garamond, 2006.RODRIGUES, José Carlos. Tabu do corpo.Rio de Janeiro: Achiamé, 1979.SALERNO, Silvana e CHARBIN, Alice.Mini Larrouse do Corpo Humano.São Paulo: Larousse, 2003.SANT’ANNA, Denise Bernuzzi de (Org.).Políticas do corpo.São Paulo: Estação Liberdade, 1995.SANT’ANNA, Denise Bernuzzi de. Corpos de Passagem:ensaios sobre a subjetividade contemporânea.São Paulo: Estação Liberdade, 2001.STEINER, Denise. Beleza levada a sério.São Paulo: Celebris, 2006.TUCUNDUVA. Sonia. A dieta do bom humor.São Paulo: Panda, 2006.SitesCentro Vergueiro de Atenção à Mulher:http://www.cevam.org.brDermatologia: http://www.dermatologia.netDieta: http://www.dietaesaúde.com.brManual do Adolescente:http:/www.adolescente.psc.br/Meu Corpo: http:/www.meucorpo.com.brNutrição: http:/www.nutrimais.comTratamentosAmbulatório de bulimia e transtornos alimentaresdo Instituto de Psiquiatria da Faculdade deMedicina da Universidade de São PauloTel, (11) 3069-6975. http://www.ambulim.org.br/Programa de Orientação e Assistência aPacientes com Transtornos Alimentares (Proata)da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp):http://www.proata.cepp.org.brFilmesAssuntos de MeninasLéa Pool, 2001.Beleza AmericanaSam Mendes, 1999.EspanglêsJames L. Brooks, 2004.Pequena Miss SunshineJonathan Dayton, 2006.Supersize Me – A Dieta do PalhaçoMorgan Spurlock, 2004.52


Anexo53


introduçãoCom a chegada da puberdade e as conseqüentes mudanças corporais, muitasnovidades acontecem para o adolescente, não apenas físicas, mas tambémpsíquicas. O <strong>jovem</strong> ingressa num processo de apropriação de um corpo emtransformação e encara a possibilidade de exercer a sexualidade de forma ativa, o queexige um trabalho de reflexão acerca dessa nova fase.Nesse movimento de ampliação de suas possibilidades, o adolescente confronta-secom a complexidade das relações humanas, das escolhas amorosas e sexuais, dosencontros e desencontros presentes nessas experiências.Refletir sobre a sexualidade humana é ir além do físico. É compreendê-la comoexpressão afetiva, envolvendo emoções, sentimentos, atitudes, crenças e valores querepresentam um tempo, um espaço e uma cultura singulares.O adolescente de hoje vive em uma sociedade repleta de apelos eróticos nas músicas,propagandas, novelas ou na moda, que o obrigam a lidar com diversas demandas deobtenção de prazer sexual da vida adulta. Frente a essa realidade, a maior parte dasfamílias encontra dificuldades para conversar sobre esse assunto. Por todas essasrazões, os jovens precisam encontrar outros interlocutores para conversar sobre suasdúvidas e angústias.Além disso, para que o adolescente exerça sua sexualidade de forma responsável, épreciso não apenas que tenha informações sobre métodos contraceptivos ou sobre aimportância do uso da camisinha, por exemplo, mas também que compreenda o funcionamentode seu corpo e do corpo de seu parceiro.Em virtude dos conteúdos tratados, as atividades do Módulo Sexualidade exigem domonitor uma postura madura, segura e isenta de preconceitos. Seu papel consiste eminformar e promover a discussão, permitindo que os jovens se expressem e busquemsuas próprias respostas, estimulando a reflexão, o respeito e a cumplicidade entre osparticipantes.Bom trabalho!56


objetivos do módulo:• Favorecer a criação de um ambiente acolhedor entre os participantes de modo quepossam tirar suas dúvidas acerca do tema e compartilhar experiências.• Ampliar e compreender as informações acerca do exercício da sexualidade.• Conscientizar sobre os valores e as pressões sociais que influenciam a sexualidade(banalização do sexo, erotização exagerada, preconceitos e exigências culturalmenteconstruídas, idealização dos papéis feminino e masculino, direitos e deveres do homeme da mulher nas relações amorosas), enfatizando o reconhecimento do consentimentomútuo indispensável para usufruir do prazer numa relação a dois.• Informar sobre os métodos contraceptivos, doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) egravidez na adolescência, bem como promover uma reflexão crítica sobre esses temas.• Estimular o respeito à diversidade de valores, crenças e comportamentos existentesrelativos à sexualidade, desde que garantida a dignidade do ser humano.com a palavra...Adolescência e gravidezMiriam Debieux RosaAdolescência e gravidez são duas experiências intensas, marcantes e formadoras,de repercussões fundamentais para a vida das pessoas e para o camposocial. Quando associadas – gravidez na adolescência – têm resultado em discursosunívocos, reduzindo a situação à condição de problema, risco e precocidade,desqualificando a experiência e sua potência em produzir significações e novas formasde enfrentamento dos fatos da vida.A adolescência pode ser caracterizada como um período de intenso trabalho psíquico,subjetivo e relacional, geralmente desencadeado pela entrada na puberdade, trabalhonecessário para produzir um cidadão com autonomia, engajamento e capacidade deescolha. Em outras palavras, o adolescente é uma pessoa em processo de desenvolvimentode sua capacidade de amar e trabalhar criativamente.A adolescência toma características particulares na atualidade dadas as novas perspectivassociopolíticas e econômicas que dificultam o acesso, de modo diversificadoMIRIAM DEBIEUX ROSA é psicanalista e professora de psicologia clínica na USP, onde coordena o Laboratório Psicanálise eSociedade, e professora da pós-graduação em psicologia social da PUC-SP, onde coordena com Maria Cristina Vicentim oNúcleo Violências: Sujeito e política. É autora do livro Histórias que não se contam (Cabral Editora Universitária) e de várioscapítulos de livros e artigos nacionais e internacionais na temática da família, infância e adolescência.57


entre os grupos sociais, ao <strong>mundo</strong> produtivo e à independência econômica. As escolhasprofissionais estão bastante relativizadas, já que imperam a alta competitividadee a dificuldade de empregar-se. De outro lado, a liberação dos costumespermite acesso à vida sexual independentemente de compromissos como namoroou casamento.A maternidade e paternidade, por sua vez, também são processos revestidos de certosimaginários fixos e ideais. Existe a idéia de que há uma ordem correta no comprometimentodo indivíduo: primeiro vem a responsabilidade pessoal, depois acapacidade de relação amorosa com o outro e só então a possibilidade de cuidado,educação e afeto com o filho. Se essa lógica descreve certo percurso razoável, nãoimpede que outras modalidades de percurso sejam legítimas. Independentemente dopreparo anterior, há que se considerar que o nascimento de uma criança é um eventopúblico que mobiliza todo o grupo social, familiar e processos subjetivos para permitirsua inclusão como membro da família e da sociedade.Em outras palavras, o nascimento do filho produz simbolicamente a parentalidade –maternidade e paternidade –, que só então se concretiza e efetiva. E para esse processo,em qualquer idade, a rede de apoio familiar é fundamental para ajudar a efetivaros requisitos dessas funções, tais como responsabilidade e disponibilidade paracuidar do filho.A gravidez na adolescência é experiência que agrega esses dois acontecimentos eproduz muitos questionamentos bastante importantes, já que quebra algumastradições e ideais da família e do próprio <strong>jovem</strong>.Em relação aos pais, antecipa um luto pela perda da juventude idealizada com prazerese liberdade. A maternidade é vista como o encerramento da adolescênciaenquanto processo, já que precipita um modo de entrada na vida social. Gera tambémpreocupação com a escolaridade, já que muitos jovens abandonam a escola oupassam a trabalhar. Essa preocupação encadeia-se com a menor possibilidade deascensão e autonomia econômica, com a falta ou adiamento de projetos de independência.Outra temática de conflito é com a relação igualitária entre os sexos, conquistaárdua das mulheres, graças em grande parte à sua participação comoprovedora econômica da família – ficaria a <strong>jovem</strong> dependente do pai da criança? Ospais oscilam entre a idéia de falta de prontidão do adolescente para a vida amorosae a sua total responsabilização pela gravidez e pelos cuidados com o filho.Quanto aos jovens, a reação à gravidez é muito variada, mas sempre traz sentimentose atitudes ambivalentes – impotência, medo e susto ladeados de alegria, orgulhoe realização.58


Algumas vezes a gravidez não foi planejada, mas estava vislumbrada como uma resoluçãoimediata para um futuro incerto e longínquo. A <strong>jovem</strong> sabe que a maternidadegera problemas, mas pode ser vivida como alívio em face de sua incerteza quanto aoutros modos de inserção social, pois a maternidade é valorizada e impõe certarespeitabilidade difícil de ser conquistada de outros modos. Para alguns, pode autorizarum retorno sem culpa à dependência dos pais, enquanto para outros é um sinal deindependência, já que vão cuidar em vez de ser cuidados. As escolhas nem sempre sãoconhecidas pela própria pessoa e a presença dessas dimensões só pode ser esclarecidana vigência do próprio acontecimento.De qualquer modo, com a gravidez, outras questões tornam-se prioritárias, podendodesviar momentânea ou definitivamente o <strong>jovem</strong> das tarefas da adolescência: o encontrocom o outro sexo, a relação prazer e responsabilidade; os impasses sociopolíticose subjetivos na entrada para a vida social e as dificuldades escolares. Destaco oencontro com o outro sexo e os conflitos do início da vida sexual como umdos fatores mais importantes da gravidez na adolescência. O envolvimentoamoroso com o outro, a insegurança e vontade de agradar, arelutância em impor condições para a relação sexual segura ou mesmoa incapacidade de prever que a relação vai se concretizar, a pressa, sãoquestões presentes na vida sexual. Tais questões fazem parte da vidade todos. Elas precisam de espaço para que os parceiros possam conversar,esperar, preparar-se melhor.Um dos fatores mais angustiantes desse primeiro momento, decisivonos modos de enfrentamento dos jovens frente à gravidez, é omedo da reação dos pais. Seus próprios temores, dúvidas edecisões ficam misturados com o medo de decepcionar os pais,de estes não legitimarem a gravidez e de os adolescentes seremabandonados por eles nesse momento, lançados à própria sorte.A gravidez na adolescência pode ser uma experiência importantee fecunda para os jovens e suas famílias, desde que consideradosos cuidados necessários a esse momento. Dependem de váriascondições o sentido e o destino dados à gravidez. Uma vez acontecida,os processos da adolescência podem se dar através da gravideze concomitantes a ela. Devem ser observados os seguintes cuidados:envolvimento dos pais com a maternidade e a paternidade; responsabilidadeda <strong>jovem</strong> desde os cuidados pré-natais e a preparaçãopara a chegada do bebê; adoção de uma atitude de espera, mas vislumbrandono horizonte outros projetos, tais como a continuidadedos estudos, da família e da vida social.Rafael Hess59


Oficina 1. Tudo o que você quer saber sobre sexualidadeOBJETIVO: Identificar as dúvidas dos adolescentes sobre sexualidade e abrir a possibilidadede diálogo sobre o tema.MATERIAL: Tiras de papel e caixa para sorteio.AQUECIMENTO: Para introduzir esse tema, é interessante organizar uma roda de conversa.Pergunte aos jovens o que eles entendem por “sexualidade”, com quem conversam sobreisso e se têm muitas dúvidas a respeito do assunto. A proposta da oficina é responder algumasquestões e iniciar um debate que vai se estender ao longo do módulo. Nesse aquecimento,deixe claro que o diálogo sobre sexualidade envolve pensar nas relações amorosas,beijos, namoros etc., e não apenas no ato sexual em si. Pode ser um bom começo perguntarquem já namorou, quem tem um namorado ou quem quer encontrar um. É preciso ficaratento para entrar suavemente nesse tema e dar espaço para se conversar também sobretemas como o primeiro beijo ou as relações amorosas.DESCRIÇÃO: A atividade central da oficina consiste em levantar perguntas sobre o tema dasexualidade. É imprescindível que essas perguntas sejam anônimas, dando liberdade aosparticipantes para eliminarem suas dúvidas sem temor do julgamento alheio. Para tanto,distribua tiras de papel aos adolescentes e dê um tempo para que escrevam perguntas emcada uma delas. Não é necessário estabelecer um número fixo de perguntas, cada um podeescrever quantas quiser. As perguntas podem ir para uma caixa a fim de serem sorteadas.Assim que todos tiverem depositado as perguntas na caixa, tire-as, leia-as e tente classificálasa fim de organizar as respostas, pois nem sempre dá tempo de responder uma a uma.A seguir, leia a pergunta (ou o conjunto delas) para que os próprios adolescentes arrisquema resposta. É sempre muito interessante ver como os jovens são, na maioria das vezes,capazes de esclarecer as dúvidas. Porém, se ninguém souber responder alguma delas,cabe a você dar a resposta ou acrescentar acrescentar informações que ficarem faltando.COMENTÁRIOS: Quando se sentem seguros para se expressar sobre o tema sexualidade, osadolescentes fazem perguntas que muitas vezes podem surpreender os adultos, quer pelaingenuidade ou falta de conhecimentos básicos, quer pela profundidade de suas inquietações.Há perguntas que evidenciam a inexperiência acerca do assunto e outras que falamde dúvidas próprias de quem já mantém relações sexuais. Desse modo, é importante que ocoordenador esteja preparado para todo tipo de questões, respondendo-as com respeito,franqueza, sem moralismos. Se o adulto não souber responder alguma pergunta feita pelogrupo, melhor explicitar esse fato e trazer a resposta posteriormente. Nossa experiênciamostrou que as dúvidas dos adolescentes giram em torno da primeira transa, de masturbação,de anticoncepcionais ou da gravidez. O Livro do adolescente pode ajudá-lo.60


Oficina 2. Funcionamento do corpo e métodos anticoncepcionaisOBJETIVO: Informar os adolescentes sobre o funcionamento do corpo e os métodoscontraceptivos, oferecendo um espaço para discussão das dúvidas sobre o tema.MATERIAL: Se possível, contraceptivos (pílula, diafragma, DIU, camisinha).DESCRIÇÃO: Comece a conversa perguntando aos participantes o que eles já sabemsobre as mudanças do corpo e sobre métodos anticoncepcionais. Depois, leia juntocom eles as informações sobre o funcionamento do corpo humano no Módulo Sexualidadedo Livro do adolescente: menstruação, ciclo menstrual, órgãos externos, órgãosinternos, fertilidade, concepção e os métodos contraceptivos. A seguir, divida os participantesem equipes de dois ou três integrantes, distribua os temas (por exemplo: métodoscontraceptivos com um grupo, concepção e fertilidade com outro e o funcionamentodo corpo com um terceiro) e proponha que apresentem as informações da maneira quequiserem: imitando um programa de rádio ou TV, fazendo um jogral, inventando umamúsica ou poema.COMENTÁRIOS: Durante a leitura, é importante que o monitor observe se as informaçõestransmitidas estão sendo compreendidas. Procure instigar os adolescentes afazerem perguntas.É interessante que os adolescentes possam manusear diferentes contraceptivos, inclusivecolocando a camisinha em um pênis de borracha (ou em um objeto passível de ser utilizadopara esse fim).Como são muitas informações a serem discutidas e assimiladas, pode ser mais produtivodividir essa oficina em duas. Isso vai depender dos conhecimentos prévios do grupo e dotempo disponível para o encontro.61


Oficina 3. Doenças sexualmente transmissíveisOBJETIVO: Informar sobre as doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), seus sintomase possíveis tratamentos. Conversar sobre a primeira consulta ao ginecologista.DESCRIÇÃO: Comece a oficina conversando sobre o que são as DSTs. Faça as perguntasabaixo ao grupo e registre todas as respostas na lousa ou em um papel grande,sem dar sua opinião a respeito delas.• Quais são as doenças sexualmente transmissíveis?• Quais são os principais sintomas? O que fazer quando se tem algum deles? Existetratamento? Como prevenir?• Como se transmite o vírus HIV?• Como saber quando se está contaminado com o vírus HIV?• Onde fazer o exame?• Quando é preciso ir ao ginecologista?• O que acontece na primeira consulta?Depois, peça para o grupo tentar classificar as informações anotadas no quadro emduas categorias: mito e verdade. Por exemplo, digamos que alguém tenha dito: o vírusHIV pode ser transmitido pelo beijo – isso é mito ou verdade? Esse exercício promoveráa participação de muitos adolescentes e você poderá verificar quais dúvidasprecisará se aprofundar.A seguir, abra o Livro do adolescente e leia junto eles as informações dos itens “consultaao ginecologista” e “DST”, para deixar bastante claro o que é de fato verdade.COMENTÁRIOS: Muitas questões levantadas pelos jovens devem ter sido contempladasna leitura do livro. Se alguma dúvida persistir, procure levar material (revistase livros) para a próxima oficina de modo que eles possam ler ou tente você mesmobuscar as informações necessárias. Se você tiver um grupo misto e perceber que háalgum constrangimento em discutir essas questões coletivamente, dê um tempo paraque essa conversa aconteça com mais intimidade, em pequenos grupos. Uma outrapossibilidade de organização da atividade é dividir o grupo em dois: um só de meninose outro só de meninas.62


Oficina 4. GravidezOBJETIVO: Trabalhar o tema da gravidez na adolescência e refletir sobre as conseqüênciasde uma gravidez não planejada.DESCRIÇÃO: Antes de iniciar a atividade, aqueça o grupo perguntando se conhecemcasos de meninas adolescentes que ficaram grávidas. Esses relatos podem fazer parteda história que os jovens criarão a seguir.Peça que os participantes se subdividam em grupos de quatro ou cinco e façam aencenação da história de uma adolescente grávida. Para enriquecer a discussão posterior,sugira que alguns pontos sejam abordados nessa dramatização. Por exemplo:quem é a menina? Em que situação ficou grávida? De quem? O que fez o rapaz? Quaisos motivos que a levaram à gravidez? O que sentiu ao saber que estava grávida? Quaisas conseqüências da gravidez em sua vida?Dê 45 minutos para a preparação e o ensaio da peça. Nesse momento é interessantecircular pela sala para observar as várias hipóteses que os grupos levantam para osconflitos propostos, quais temas escolhem dramatizar e como resolvem os conflitos.Tudo isso é material para a discussão. Depois da apresentação de cada grupo, inicieuma conversa coletiva.Roteiro auxiliar para a discussão:• Quais são os pontos interessantes de cada história?• Os temas das encenações se repetiram?• Vocês conhecem histórias parecidas?• Por que vocês acham que as adolescentes ficam grávidas, quando existem tantosmétodos contraceptivos? Falta de informação, ou algum outro fator entra em cena?• Como os meninos agem diante da notícia de uma gravidez inesperada?• Quais são as responsabilidades de cada um?• Quais são as conseqüências de ter ou não um filho?COMENTÁRIOS: É importante que você organize as atividades desta oficina de modo queos adolescentes tenham bastante tempo para a discussão, pois esse é um tema muitoenvolvente e eles precisam elaborar suas idéias.63


De acordo com muitos estudiosos, para as meninas, a gravidez na adolescência podeestar ligada aos seguintes temas:• a maternidade como projeto de vida, especialmente quando há ausência de sentidona vida cotidiana ou quando há dificuldade para se pensar o futuro – “agora queestou grávida eu tenho que me preocupar exclusivamente com o meu filho” ou “senos estudos e no trabalho não há nenhuma perspectiva de futuro, na maternidadeela está garantida”;• a maternidade como transformação da menina em mulher madura – “quando euficar grávida vou ser uma mulher madura”;• a gravidez como uma maneira de ser cuidada e olhada por parentes ou pelo pai dacriança;• a maternidade como um papel social valorizado – “ser mãe é uma forma de me sentirpoderosa e de deixar uma marca no <strong>mundo</strong>”;• a função materna já é exercida com os irmãos – “sei como é ser mãe porque eu jácuido dos meus irmãos caçulas. Agora, com o meu filho, eu vou poder fazer comoeu quiser”.Para os meninos, algumas reações costumam ser freqüentes: “eu não sei se o filho émeu”; “não estou a fim de ter um filho e se ela quiser, vai ter que cuidar”; “eu sou muito<strong>jovem</strong> para ser pai, agora minha vida vai mudar e eu não sei o que fazer”.Assim, é muito importante que você aborde essas ou outras questões na discussão dogrupo, ainda que elas não surjam espontaneamente, levantando argumentos clarospara discutir cada uma. Por exemplo, se a maternidade aparece associada ao poder,procure abordar outras maneiras que dariam à mulher a possibilidade de exercer seupoder no <strong>mundo</strong> contemporâneo.Ao final, recupere os pontos mais significativos da discussão, de forma a enfatizar asdificuldades de uma gravidez na adolescência e suas conseqüências, especialmentena vida da menina: o abandono da escola, a reestruturação familiar, a dificuldademaior para arrumar emprego, o aumento de responsabilidade em um momento deformação, a necessidade de readaptar o espaço da casa e o orçamento da família, queterá de arcar com mais um membro, e até os possíveis problemas físicos caso essagravidez aconteça entre 12 e 14 anos (nessa faixa etária, o aparelho reprodutor aindanão está maduro, e ocorrem três vezes mais casos de má-formação fetal do que entreas mulheres que engravidam por volta dos 25 anos).64


Oficina 5. Amor e sexoOBJETIVO: Discutir as várias relações entre amor e sexo refletindo sobre os diversosaspectos presentes numa relação sexual.MATERIAL: Papel sulfite; canetas; aparelho de som e CD.DESCRIÇÃO: Para iniciar a atividade, peça para cada participante completar a(s) frase(s):“Sexo é...” e “Amor é....” e depois ler o que escreveu.A seguir, leia junto com a turma a letra da canção de Rita Lee, “Amor e sexo”. Vocêpode consegui-la na internet. É importante parar para explicar o significado depalavras pouco comuns ao repertório adolescente (teorema, latifúndio, pagão, patético,epiléticos, entre outras). Peça que cada um cite a frase de que mais gostou, justificandosua escolha. Abra uma roda de discussão e converse sobre as diferentes formas queexistem de lidar com esse assunto.Sugestões de temas para discussão:• Existe idade ideal para começar a transar?• Dá para falar de sexo com seus pais? E com outros adultos?• Existe pressão de amigos e amigas para transar?• Por que os jovens têm resistência a usar camisinha? O que vocês fariam se a pessoanão quisesse usar camisinha?• Dá para namorar sem transar? Dá para transar sem amar?O trabalho fica bem mais interessante se ao final você colocar o CD e cantar a músicacom todo grupo.COMENTÁRIOS: Nessa oficina alguns preconceitos, fantasias, idealizações ou julgamentospodem vir à tona. Em tais circunstâncias, é fundamental que você assuma umaposição de neutralidade, ajudando o grupo a discutir. Qualquer que seja a visão dosadolescentes, é importante combater a idéia de sexo como algo errado, pois mesmopara aqueles que defendem a idéia de se casar virgem, ele é fundamental em umarelação conjugal. Muitos adolescentes trazem a questão do “momento certo paratransar”, de modo que é interessante que eles tenham pensado sobre o assunto quandoessa hora chegar: com quem será? É uma pessoa bacana? Como realizar o meudesejo sem prejudicar meu projeto de vida?65


Oficina 6. Mídia e sexualidadeOBJETIVO: Refletir sobre o papel dos meios de comunicação na formação de conceitose atitudes dos jovens.MATERIAL: Revistas.DESCRIÇÃO: Divida a turma em grupos de três ou quatro pessoas. Distribua algumasrevistas por grupo. Cada um deles deve escolher uma propaganda que contenha imagensassociadas à sexualidade (por exemplo: mulheres e cerveja, carros, criançasvestidas como adultos, etc...) e analisá-la. Algumas perguntas podem orientar a discussão:• Que mensagem essa publicidade transmite?• Que imagem de juventude está aqui proposta?• Você se identifica com ela? Se não, quem você acha que poderia se identificar?• Você acha que esse produto teria aceitação entre os jovens? Por quê?• Que modelos de jovens e de adultos você gostaria de ver na publicidade?Incentive-os a analisar o material tanto na forma (as cores, os personagens, as cenas),quanto no conteúdo das imagens (os slogans ou textos). Circule pelos grupos paraobservar a discussão. A seguir, peça que cada grupo apresente suas conclusões emuma conversa coletiva.COMENTÁRIOS: A análise de material publicitário é uma boa maneira de os jovens perceberemo papel da mídia em sua formação. Você pode ampliar a discussão incentivandoque dêem exemplos de propagandas na TV ou no rádio.66


Oficina 7. Fechamento do temaOBJETIVO: Refletir sobre os novos conhecimentos aprendidos neste módulo.MATERIAL: Caixa de papelão e perguntas (folha anexa).DESCRIÇÃO: Divida os participantes em dois grupos e explique as regras do jogo: elesresponderão perguntas relacionadas a tudo o que discutiram neste módulo. Em cadarodada de perguntas, um participante representará a sua equipe. Ele deverá retiraruma pergunta da caixa, ler a pergunta em voz alta, discutir com o seu grupo e emseguida respondê-la. Você pode recortar as perguntas da folha anexa ou reescrevê-lasem papéis diferentes.Quando a equipe não souber a resposta, não ganha ponto e a equipe adversária tem odireito de resposta.A cada acerto, um ponto. A equipe que conseguir responder mais perguntas ganha agincana e um prêmio (que fica a critério do monitor).Sugestões de perguntas (todas as perguntas abaixo foram feitas por adolescentes queparticiparam desse projeto):PERGUNTAS1. É possível sentir tesãomesmo sem transar?2. Penetração dói na menina?E nos meninos?3. É melhor que ele sejaexperiente na primeira vez?4. Há uma idade certa paratransar?5. O corpo pode mudar depoisde transar?6. Por que se usaanticoncepcional?7. É verdade queanticoncepcional engorda?8. Masturbar-se dá espinha?9. Mulher também semasturba?RESPOSTAS1. Sim, o desejo sexual não está relacionado somente aos carinhosda transa, ele pode ser despertado por fantasias, cheiros,imagens ou outros estímulos.2. A penetração pode doer na primeira vez nas meninas, masa dor não deve ser uma constante no ato sexual. A penetraçãotambém não deve doer para os meninos.3. Para fazer sexo não é necessário que os jovens tenhamexperiência. Ambos podem fazer suas descobertas juntos.4. Não há uma idade certa, depende da maturidade do adolescentee de sua capacidade de fazer escolhas responsáveis.5. Não, o corpo muda na fase da puberdade e as mudanças nãoestão relacionadas às relações sexuais.6. Para evitar a gravidez indesejada.7. Não necessariamente, mas se a pessoa sentir mudançasdeve consultar o médico.8. Não, masturbação não dá espinhas.9. Sim, tanto homens quanto mulheres podem se masturbar.67


10. O que é orgasmo?11. Como se transmite ovírus HIV?12. É preciso tomar pílulasempre que transar?13. É verdade que quando seamamenta não se engravida?14. O que é período fértil equando ele acontece?15. O que sãoanticoncepcionais?16. Cite três tipos deanticoncepcionais.17. Cite três sintomas deDSTs que levariam umapessoa ao médico.18. O que é TPM?19. O que é puberdade?20. É possível engravidar naprimeira relação sexual?10.Orgasmo é o clímax ou ponto de maior excitação e prazer darelação sexual.11.O HIV é transmitido pelo sangue ou outras secreções docorpo que estejam contaminadas pelo vírus. Assim, a contaminaçãopode ocorrer pela relação sexual, pelo uso coletivo deseringas, agulhas não esterilizadas (tatuagens e piercings),transfusões ou pela placenta nas mulheres grávidas.12.Não, quem escolhe a pílula como método anticoncepcionaldeve tomá-la todo dia, conforme orientado pelo médico, e nãosomente quando transa.13.Não, as mulheres podem engravidar enquanto amamentam.14.O período fértil ocorre quando a menina ovula. Ele dura umasemana, três dias antes e três depois da data da ovulação.15.São métodos que evitam que um bebê seja concebido. Apalavra anticoncepcional significa “não concepção”.16.Os mais conhecidos são: pílula, DIU, camisinha masculina efeminina, injeção mensal e diafragma.17.Nos meninos: corrimento amarelo-esverdeado, ardor aofazer xixi, verrugas ou bolhas nos genitais.Nas meninas: corrimento branco ou mal-cheiroso, coceira navagina, dor no ato sexual ou para fazer xixi e verrugas na regiãopróxima à vagina.18.TPM significa tensão pré-menstrual. Caracteriza-se peloaparecimento de uma série de sintomas, variáveis em cadamulher. Entre os mais comuns estão: inchaço, dores nasmamas, alteração no humor.19.A puberdade é uma fase da vida em que ocorrem muitasmudanças corporais, tais como: aceleração do crescimento edesenvolvimento dos órgãos genitais e dos caracteres sexuais.20.Sim, por isso é importante se prevenir, mesmo na primeiravez.COMENTÁRIOS: Você pode acrescentar na caixa as perguntas que já surgiram em outrasoficinas, essa é uma maneira de verificar se as dúvidas foram sanadas.68


para se aprofundar...LivrosABRAMOVAY, Miriam; CASTRO, Mary Garcia;SILVA, Lorena Bernadete (Orgs.). Juventude esexualidade.Brasília: Unesco, 2004.ALMEIDA, Heloísa Buarque et al (Orgs.). Gêneroem matizes.São Paulo: Universidade São Francisco, 2003.AQUINO, Júlio Groppa. Sexualidade na escola.Alternativas teóricas e práticas.São Paulo: Summus, 1997.ARATANGY, Lídia Rosenberg. Sexualidade: a difícilarte do encontro.São Paulo: Ática, 1995.BOUER, Jairo. O corpo dos garotos.São Paulo: Panda, 2006.BOUER, Jairo. O corpo das garotas.São Paulo: Panda, 2004.CHARBONNEAU, Paul-Eugène. Namoroe virgindade.São Paulo: Moderna, 1985.FELÍCIO, Cláudia. Tudo sobre meninaspara meninas.São Paulo: Planeta Jovem, 2006.FIGUEIRÓ, Mary. Educação sexual: retomandouma proposta, um desafio.Londrina: UEL, 2001.FISHER, Nick. Beijos: coisas que todo <strong>mundo</strong>quer saber.São Paulo: Melhoramentos, 2005.GANYMÉDES, José. Ladeira da Saudade.São Paulo: Moderna, 2003.LOPES, Angélica. Plano B, missão namoro.São Paulo: Rocco, 2003.MANDELLI, Paula. Alguém em quem confiar.São Paulo: Difusão Cultural do Livro, 2006.MAYLLE, Peter; ROBINS, Arthur. O que está acontecendocomigo: guia para a puberdade, comrespostas às perguntas mais embaraçosas.São Paulo: Nobel, 1984.MULLER Laura. 500 perguntas sobre sexo doadolescente.Rio de Janeiro: Objetiva, 2005.NICOLELIS, Giselda. O amor não escolhe sexo.São Paulo: Moderna, 2002.SAYÃO, Yara. Refazendo laços de proteção: açõespara combater o abuso e a exploração sexual decrianças e adolescentes: manual de orientaçãopara educadores.São Paulo: Cenpec-Childhood – Instituto WCF-Brasil, 2006.SAYÃO, Rosely. Sexo é sexo.São Paulo: Companhia das Letras, 1997.SUPLICY, Marta. Sexo para adolescentes: amor,puberdade, masturbação, homossexualidade,anticoncepção, DST/Aids, drogas.São Paulo: FTD, 1998.TAKIUTI, Albertina. A adolescente está ligeiramentegrávida. E agora? Gravidez na adolescência.São Paulo: Iglu, 1990.VEIGA, Francisco Daudt da. O aprendiz do desejo:a adolescência pela vida afora.São Paulo: Companhia das Letras, 1997.VENTURA, Miriam. Direitos reprodutivos no Brasil.São Paulo: Fundação Mac Arthur, 2002.GELLING, Kátia. Essa tal primeira vez.São Paulo: Moderna, 1995.69


SitesAIDS: www.aids.gov.brDoenças Sexualmente Transmissíveis:http://www.dstbrasil.org.brGravidez: http://www.gravidez-segura.orgGrupo de Trabalho e Pesquisa em OrientaçãoSexual: http://www.gtpos.org.br/index.aspInstituto Kaplan: http://www.kaplan.org.brPrograma Casa do Adolescente da Secretaria deEstado da Saúde – SP:http://www.saude.sp.gov.br/saude_adolesc/html/saude_adolesc.htmlSaúde: http://www.redesaude.orgSaúde Pública: http://www.portalsaude.gov.brSecretaria de Atenção à Saúde:http://www.saúde.gov.brFilmes:A Lei do DesejoPedro Almodóvar, 1987.Amigas de ColégioLukas Moodysson, 1998.Da Cor do LeiteTorun Lian, 2005.Dez Coisas que Eu Odeio em VocêGil Junger, 1999.Garotos Não ChoramKimberly Peirce, 1999.JunoJason Reitman, 2007.MeninasSandra Werneck, 2005.Mulheres Sexo Verdades e MentirasEuclydes Marinho, 2007.Sexualidade na Adolescência:http://www.drauziovarella.ig.com.brDisk-Adolescente: (11) 3819-2022.Para tirar dúvidas sobre sexualidadeLembrete importante:Na próxima semana você vai iniciar um novo módulo: Família. Na primeira oficinaestá previsto um trabalho com a história de vida dos adolescentes, no qualé preciso que eles tragam fotos da infância e façam pesquisas em casa.Portanto, não deixe de ler o item “Apresentação” do novo módulo e solicite essematerial ao final da última oficina do Módulo Sexualidade.70


Família


introduçãoNos dias de hoje, a noção rígida e definida de família dá lugar a um conceito maisamplo que envolve uma flexibilização de suas fronteiras. Alguns estudos mostramque o homem é considerado o chefe da família, corporificando a autoridademoral. Ele é responsável pela respeitabilidade familiar, conferida pela presençamasculina em casa. A mulher, por sua vez, é a chefe de casa, aquela que mantém aunião do grupo; ela é quem cuida de todos e zela pela organização e funcionamento dolar, mesmo que trabalhe fora. Contudo, no embate com a realidade cotidiana, nemsempre homens e mulheres conseguem exercer as funções a que se propõem, sejaporque as condições externas são oscilantes e pouco controláveis, seja porque aprópria dinâmica familiar é mutável.Assim, os rearranjos necessários para assegurar tanto a harmonia familiar quanto osustento financeiro podem se dar pelos mais diversos motivos: a gravidez inesperadade um filho adolescente, a separação dos pais, seguida ou não de novos casamentos enovos filhos de ambos ou de apenas um deles etc. E, embora os pais contem fundamentalmentecom a rede consangüínea (avós, tios, irmãos, cunhados), as criançaspodem ser cuidadas por outras pessoas do grupo de referência dos pais. Assim, umanova noção de família pode se configurar, composta por membros que não são necessariamenteparentes, mas pessoas com as quais se pode contar e que dão origem anovos vínculos de confiança. As configurações familiares atuais trazem, portanto,novos arranjos das funções e papéis nelas exercidos.Dessa forma, discutir com o <strong>jovem</strong> sobre esse tema envolve, necessariamente, umareflexão sobre os ideais de família almejados e valorizados em nossa cultura, as novasformações familiares, as implicações da presença de adolescentes em uma família e osrecursos afetivos que eles mobilizam nessa fase da vida. A crescente independência do<strong>jovem</strong>, as novas responsabilidades, anseios e expectativas quanto ao futuro costumamgerar conflitos entre pais e filhos, obrigando-os a rever posições, limites e regras.Por todas essas razões, neste módulo, daremos especial atenção aos aspectos queinterferem na construção da identidade dos adolescentes, oferecendo-lhes a chance derefletir a respeito dos diversos tipos de família hoje existentes e sobre as relaçõesfamiliares, tão essenciais em suas vidas. Procuraremos também resgatar aspectos dahistória infantil de cada um, entendendo que essas imagens da infância contribuempara a afirmação de sua identidade. Relembrando o passado e refletindo sobre o presente,os jovens têm a chance de imaginar seu futuro e de caminhar, com mais segurança,rumo à vida adulta.Bom trabalho!72


DICAS PARA O MONITOR:• Trabalhar a história de vida dos participantes vai requerer que as atividadespropostas sejam feitas seqüencialmente; você vai perceber que uma forneceinstrumentos para o desenvolvimento da outra.• Na primeira oficina solicita-se que os adolescentes tragam material de casa,portanto, devem ser alertados antecipadamente. Peça que tragam uma foto dequando eram crianças. Peça também que conversem um pouco com os paissobre sua “pré-história” (como os pais se conheceram? Como começaram anamorar? Como foi a gravidez da mãe?) e seus primeiros dias de vida (como foio dia do seu nascimento? Como escolheram o seu nome?). Essas informaçõesserão trabalhadas em grupo.objetivos do módulo:• Refletir sobre a noção de família a partir do compartilhamento de histórias pessoais,vivências e expectativas de futuro.• Discutir os papéis familiares e as relações entre os membros de uma família.• Favorecer a reflexão pessoal sobre o projeto de futuro a partir da apropriação devivências da história de vida.73


com a palavra...Sobre a Família: Território de OrigemLeonel Braga NetoSe você é educador, precisa saber que parte da potência do seu trabalho está no fato devocê ser para o adolescente o equivalente de uma pessoa extremamente significativapara ele. Isso quer dizer que muitas coisas que são dirigidas a você, na verdade conversamcom essas figuras significativas internalizadas. São elas que, muitas vezes, os adolescentesbuscam no professor, seja para encontrar proteção e reconhecimento, seja paraestabelecer um distanciamento, uma separação, seja para buscar a reparação das rupturasprematuras que fazem da vida uma deriva. Procure observar as atitudes dos adolescentesem relação a você e ao grupo e você identificará, ao longo do processo, o "papel" que cada umlhe reserva. O próprio fato de fazer essa reflexão o ajudará a compreender sua posição emrelação a eles. Sem precisar ser um psicólogo, você pode colocar à disposição dele seu sabersobre isso. E todos sabem algo sobre isso...Todos sabem que para qualquer um de nós existirmos houve alguém que nos quis: umarelação sexual (ou uma inseminação artificial), uma gravidez que foi a termo, um parto e,depois disso, a operação humana mais arcaica e poderosa que existe, pela qual um bebêfabrica uma mãe: a amamentação. Toda pessoa que se torna mãe sabe desse momentotemeroso e emocionante em que se espera que o bebê a confirme aceitando seu leite (aindaque não venha de seu corpo), seu cheiro, seu calor. É também essa ordem de incerteza queestá em jogo nos processos de adoção, de tal forma que talvez possamos dizer que todamaternidade é uma operação de adoção recíproca.Nesse completo estado de entrega mãe/filho se estabelece uma via fundamental pela qualse transmitirá algo que vai muito além dos nutrientes que alimentam um corpo: um lugar naimensa comunidade humana, uma vontade de futuro, mais um elo em uma cadeiatransgeracional. Enfim, nasce uma família e nasce-se sempre em uma família, que é aomesmo tempo comum e singular.A curiosidade pela origem, pela cultura produzida e transmitida pela própria família(brincadeiras, provérbios, figuras míticas), suas estratégias de sobrevivência, astransformações ocorridas entre uma geração e outra, estará na base do interesse por todo oconhecimento posterior: a história, a geografia, a biologia, a matemática e a linguagem.O educador, sabendo que o conhecimento sobre a origem familiar de cada um facilita ointeresse pelo conhecimento humano em geral, pode convidar o <strong>jovem</strong> a se aproximar de suaprópria história (através das atividades mais diversas) de forma a possibilitar que acuriosidade encontre seu rumo, como um rio que, correndo em sentido inverso, busquea nascente para só depois chegar ao mar.Também sabemos que toda família é um campo de batalhas, palco de rivalidades, de violênciassutis ou explícitas, da força da lei simbólica ou da ausência dela, da imposição moral ouda luta de resistência ou submissão a ela. Embora muitas vezes idealizada, a família nuncaLEONEL BRAGA NETO. Psicanalista de adolescentes, adultos e famílias. Presidiu, coordenou a equipe clínica e supervisionoua equipe de professores e terapeutas da Escola de Passagem – equipamento do Centro Integrado de Cuidados ao Adolescente– Cica do Instituto Therapon Adolescência.74


é perfeita. Seja porque os filhotes humanos nascem tão desprotegidos e se agarram a essafigura primordial materna estabelecendo uma ligação de posse recíproca da qual mais tardeprecisarão/desejarão se separar, seja porque a violência e o não-dito vividos pelos pais tambémse transmitem aos filhos, o fato é que as famílias são potencialmente explosivas emmaior ou menor grau. A proximidade com o explosivo das próprias famílias faz com que,muitas vezes, os educadores construam verdadeiras muralhas em relação ao "explosivo" dooutro (aluno rebelde, apático ou respondão), com o objetivo de se protegerem daquilo quereconhecem como familiar, nesse outro que lhes parece tão estranho. Saber disso talvez oajude a lidar com essas intensidades dos adolescentes de forma a auxiliá-los a encontrarexpressões criativas que lhes permitam modulá-las (a música de protesto e o grafite sãoexemplos disso). É com você que esse <strong>jovem</strong> (e o grupo de jovens) encontrará a oportunidadede refazer um caminho, transformando uma experiência extremamente significativa paraele, em algo comunicável que pode encontrar, no campo da cultura/educação, uma saída,transformando coisas que poderiam ter um destino funesto (marginalidade, doença, violência)em talentos potenciais (artista/educador/terapeuta/ açougueiro/cirurgião/político/vendedor/empresário).A educação é a oportunidade de sonhar com outro destino.Estamos fazendo aqui um recorte; muitas vezes se lida com situações de violência extremanas quais não há a menor condição de conter ou transformar um impulso de destruição,mas, outras vezes, confunde-se violência com agressividade.A agressividade, originariamente, é uma força que busca empurrar para fora algo que tentaimpor-se ao sujeito, dominá-lo. É uma tentativa de restabelecer o domínio sobre si.Diferentemente da apatia (que é quando a agressividade volta-se silenciosamente contra opróprio sujeito), a agressividade é uma potência transformadora, é vontade de viver aindaque (ou por causa disso mesmo) correndo riscos. Tão característica da adolescência, aagressividade visa, internamente, à separação do corpo infantil em direção ao corpo adulto(o que só acontece à custa de muitos conflitos) e, "externamente", à separação na relaçãocom os pais em direção ao grupo social (grupo, banda, bando, trabalho). A escola e os demaisespaços de socialização são campos por excelência, onde os conflitos inerentes a esseprocesso de separação irão se atualizar cotidianamente buscando uma resolução. O educadoré figura visada e investida e será convocado a "encarnar" os pais. No entanto, deveaceitar só parte dessa incumbência sem se transformar efetivamente na polaridade doconfronto. O educador comumente acaba por encarnar a lei proibitiva, funcionando comoautoridade, e o adolescente, por vezes, complementa a situação posicionando-se de maneirasubmissa (apatia, desinteresse) ou reagindo de forma agressiva. A tarefa do educador étentar implicar o adolescente com suas próprias ações e decisões, algo como dizer a ele:“Você pode fazer ou querer, desde que arque com as consequências e encontre os recursospara realizar.” O adolescente pode, com seu corpo, efetivamente, realizar mais do que acriança, mas em contrapartida terá a responsabilidade de cuidar de si e de assumir asconsequências de seus atos. O poder efetivo do <strong>jovem</strong> deve ser proporcional à sua implicaçãoe a lei (em vez de ser encarnada por alguém) deve se transformar em um mediadorsimbólico, em parâmetros que regulam a sociedade como forma de conter e limitar aviolência. Aqui estamos no campo da ética e da política.Essencialmente podemos dizer que família é um território de origem que assegura ascondições para que um sujeito surja, encontre a via de acesso ao <strong>mundo</strong> e uma maneira(ainda que sempre provisória) de se representar nele. Ela contém e modula, de maneira singular,afetos primordiais como o amor e a agressividade que estarão na base do desejo deaprender, de conhecer e de transformar.75


Oficina 1. Minha históriaOBJETIVO: Favorecer o contato do adolescente com sua própria história.MATERIAL: Fotos da infância dos participantes.DESCRIÇÃO: Como você está iniciando uma nova temática, comece batendo um paposobre família, tema dos próximos encontros. Investigue quem é o caçula, quem é omais velho, quem é filho único, quais as vantagens de cada posição, quantos irmãoscada um tem etc. Esse tipo de conversa ajuda a criar uma cumplicidade no grupo.Como foi alertado anteriormente (quadro “Dicas para o monitor”), nessa oficina osjovens trabalharão com material trazido de casa. Pergunte a eles como foi conversarcom os pais sobre a época em que nasceram e quais as descobertas que fizeram.Peça que todos coloquem suas fotos de quando eram crianças no centro de um círculo,viradas de cabeça para baixo. Um dos participantes deve escolher uma foto e tentaradivinhar quem é aquela criança. A seguir, o dono da foto conta por que a escolheu,onde estava e o que estava acontecendo naquele momento. Continue o jogo até quetodos tenham participado.A seguir, você vai trabalhar o início da história de vida de cada participante, que deveter sido investigada com familiares, conforme fora solicitado. Para sortear quem vaifalar, coloque uma caneta no centro da roda e gire-a como se fosse uma roleta.Quando ela parar, o adolescente que estiver na direção da tampa contará uma dashistórias pedidas com antecedência (como os pais se conheceram, o dia do nascimentoe a escolha do nome). Aquele que estiver do lado oposto deverá perguntar a seucolega algo sobre a história contada. Isso feito, outras perguntas podem surgir. Repitaesse procedimento até todos contarem pelo menos uma das histórias.Ao final, comente os aspectos da conversa que mais lhe chamaram atenção.COMENTÁRIOS: Retomar a infância de cada um é uma maneira de se apropriar de suahistória, de traçar o fio entre as gerações e de buscar suas raízes e pertinência, elementosfundamentais para o desenvolvimento do adolescente.Você pode inventar outra regra caso a caneta aponte mais de uma vez para a mesmapessoa.76


Oficina 2. Mapeando a vidaOBJETIVO: Lembrar e compartilhar momentos da infância com o grupo de modo que seapropriem de marcos importantes da história pessoal.MATERIAL: Massinha de modelar, papelão ou papel-cartão preto.DESCRIÇÃO: O monitor deverá desenhar na lousa o seguinte quadro:Origem da família (estado ou país)Casa da infânciaBrincadeira de criançaMomento marcante da infânciaPeça que os participantes façam, com a massinha de modelar, objetos que representemcada um dos momentos referidos no quadro. É importante entregar um papelãoou papel-cartão preto que sirva de base para os objetos que serão posteriormenteexpostos. Quando todos tiverem terminado, peça que apresentem seus trabalhos e,com base neles, inicie a discussão.Questões que podem orientar a discussão:• Como se sentiram ao se lembrar desses momentos da infância?• O que foi mais difícil de lembrar e de fazer? Por quê?• Qual foi o objeto de que você mais gostou? Por quê?• Houve lembranças comuns no grupo? Quais foram diferentes?Para finalizar a oficina de um modo lúdico e prazeroso, proponha que os participantesbrinquem de uma das brincadeiras infantis mencionadas.COMENTÁRIOS: A conscientização de aspectos da história pessoal pode contribuir para ofortalecimento da identidade do <strong>jovem</strong>. Procure criar um clima propício para o compartilhamentodessas informações. A tarefa de pensar a infância nem sempre é simplesporque envolve a mobilização de afetos muitas vezes “guardados”. Por isso a atividaderequer algum cuidado. Preste especial atenção aos relatos que envolvam temas difíceis,de modo a evitar uma eventual hiper-exposição do adolescente.77


Oficina 3. A família de hoje e a de amanhãOBJETIVO: A partir de uma reflexão crítica sobre a própria família, analisar as relaçõesfamiliares e discutir a família que desejam construir.MATERIAL: Papel sulfite, lápis e canetinhas.DESCRIÇÃO: Você pode conversar sobre “códigos”, “manias”, peculiaridades de cadafamília, começando por contar algo divertido ou particular da sua própria (por exemplo,todas as mulheres há três gerações têm Maria em seu nome, em casa todos gostamde comer macarrão frio e assim por diante). Pertencer a um grupo com códigospróprios dá ao <strong>jovem</strong> um sentimento de identidade importante.Peça para os participantes desenharem em uma folha de sulfite a família que têm e,numa outra, a família que desejam construir no futuro. Ao lado do desenho de cadamembro da família atual, eles devem acrescentar um adjetivo relacionado a umacaracterística importante dessa pessoa. Em seguida, cada um apresenta o que fez.Depois, abre-se a roda de conversa.Questões que podem orientar a discussão:• Existem semelhanças entre a família que você tem e a que quer construir?• O que há de semelhante e de diferente nos desenhos que surgiram no grupo?• O que cada um pode planejar para se aproximar da família que deseja construir?COMENTÁRIOS: Não se esqueça de pedir para que incluam em seus desenhos animais deestimação e parentes que convivem com eles em seus desenhos, pois na maior parte dasvezes essas pessoas e os bichos também fazem parte da rede afetiva mais próxima.Sugerimos também que você observe a realização dos desenhos. Para isso, ande pela salae converse com os participantes. É importante que os jovens explorem, ao máximo, as qualidadespositivas de cada família; essa é uma maneira de os adolescentes valorizaremseu lugar de origem e pertencimento. Com base nas discussões, os participantes podemdescobrir que as fantasias e desejos sobre seu futuro familiar constituem um referencialpara a construção do seu projeto de vida.78


Oficina 4. A grande famíliaOBJETIVO: Promover a discussão sobre os papéis e as relações familiares, permitindoque os adolescentes se coloquem no lugar do outro (pai, mãe, irmão) e, dessa forma,reflitam sobre o seu papel dentro da família.DESCRIÇÃO: Peça que os adolescentes se dividam em grupos de quatro ou cinco (dependendodo número de participantes) para encenar uma pequena história familiar. Ahistória pode ser, por exemplo, uma conversa com os pais, uma briga entre irmãos, aapresentação do(a) namorado(a) à família ou qualquer outra. Dê aproximadamente 30minutos para a discussão e o ensaio. Em seguida, peça para cada grupo apresentar suahistória, alertando que todos devem prestem atenção, pois a “platéia” irá participar.Ao final da primeira apresentação, o monitor deverá eleger um trecho importante dahistória que contenha algum impasse ou conflito e pedir para alguém da “platéia” entrarno lugar de um personagem com o intuito de modificar aquela situação. Por exemplo, sena cena aparecer um pai agressivo, o novo participante poderá assumir uma posturacompreensiva, autoritária, evasiva, ou qualquer outra. Provavelmente, a nova atitude deum dos personagens vai requerer que os demais se reposicionem. Repita a dinâmica datrocas de atores nas demais apresentações. Depois, abra para discussão.Sugestões de temas para discussão:• Como você se sentiu fazendo o teatro?• Quais as questões centrais que surgiram?• Algo se repetiu nas apresentações?• O que mudou com a entrada de outros personagens? O conflito presente na cena seatenuou ou se agravou? Por quê?COMENTÁRIOS: Observar os grupos na preparação da peça o ajudará a melhor conduzir aatividade. Muitas vezes, durante as apresentações os jovens ficam excessivamente agitados.Portanto, cabe a você conter eventuais excessos.Ainda que a cena escolhida se baseie na vida real, a representação favorece um distanciamentodo adolescente que não é obrigado a expor conflitos de sua vida pessoal. Émuito importante que você chame a atenção para a complementação de papéis nasrelações sociais, mostrando que uma atitude diferente de uma pessoa pode gerar novoscomportamentos e arranjos em todo o grupo, isto é, se eles agem de uma maneira positivapodem receber uma resposta no mesmo tom. Isso deve ajudá-los a pensar em suaspróprias atitudes. Perceber similaridades entre as famílias e analisar os papéis existentesajudam o adolescente a colocar-se no lugar do outro e a melhor compreender seupapel na dinâmica familiar.79


Oficina 5. DebateOBJETIVO: Discutir e refletir sobre alguns papéis habitualmente estabelecidos na relaçãopai-mãe-adolescente.MATERIAL: Fotocópia do texto do debate para cada grupo.DESCRIÇÃO: Os adolescentes devem se subdividir em dois grupos para debater a situaçãofamiliar descrita abaixo. Depois de ler a cena, um grupo ficará encarregado dedefender o pai e o outro de criticá-lo. Cada grupo deve discutir e levantar argumentosque justifiquem sua opinião, mesmo que alguns não concordem com ela.Situação-problemaO pai chega do trabalho muito cansado e entrega o dinheiro para a mulher comprar a“mistura” para o dia seguinte. Senta-se no sofá para ver um pouco de televisão e nessemomento sua filha de 15 anos pergunta se pode ir a uma festa com seus amigos. O paipergunta: quem vai? Onde é a festa? A que horas você vai voltar? A filha diz que irãotodos os seus amigos da escola, inclusive a Claudinha, sua melhor amiga. Fala que afesta será uma grande balada que vai varar a madrugada. O pai balança a cabeça e falapara a filha ver essa história com a mãe porque ele trabalhou o dia inteiro e não quermais problemas.Quando você achar que o debate sobre o comportamento do pai se esgotou, levantealgumas questões para que os participantes reflitam sobre os outros personagens,por exemplo:• Na sua opinião, por que a filha foi conversar primeiro com o pai?• Como você acha que a mãe costuma agir em relação ao marido e à filha?• O que cada um teria que ceder para entrar em um acordo quanto à saída da filha?• Como vocês acham que essa história terminou?• E vocês, o que fariam no lugar da menina, do pai e da mãe?• Nem sempre os adultos concordam entre si quanto à educação dos filhos. Nessescasos, o que você acha que devem fazer?COMENTÁRIOS: Dentre os temas em jogo nesta cena, a independência é uma dasquestões centrais na vida dos adolescentes. No entanto, maior autonomia implica deverese responsabilidade por suas ações, como o cuidado com a própria vida. Esse aspecto deveaparecer nas discussões. Procure instigar o grupo a pensar em todos os personagensenvolvidos, sem tomar partido de nenhum. Essa é uma maneira de refletir sobre asrelações familiares de maneira mais distanciada e racional. Ajude os jovens a pensar nasconcessões que todos fazemos diante de eventuais conflitos.Você pode finalizar a oficina tocando a música “Pais e filhos” do grupo Legião Urbana.80


Oficina 6. O que a minha família espera de mim?OBJETIVO: Refletir sobre as expectativas pessoais e as da família em relação ao projetode vida de cada um.DESCRIÇÃO: Peça que os participantes preencham o quadro abaixo individualmente.Quando todos terminarem, solicite que cada um conte suas respostas ao grupo.Ao final, faça comentários sobre semelhanças e diferenças que surgiram no grupo ousobre questões que chamaram sua atenção.O que a sua família espera Você concorda ou não? O que você deseja/para o seu futuro? Por quê? pensa a respeito disso?NamoroTrabalhoEstudoCOMENTÁRIOS: As divergências de opinião entre pais e filhos são freqüentes nessa fase.Portanto, é importante que o adolescente aprenda a ouvir, a pensar e a argumentar,defendendo suas idéias, ainda que tenha que acatar determinadas decisões dos pais à suarevelia. Ajude-os a refletir sobre o peso que as expectativas parentais têm em suasdecisões, interferindo nas escolhas que possam fazer durante a vida.81


para se aprofundar...LivrosALBERGARIA, Lino de. Álbum de família.São Paulo: SM, 2005.COOPER, David. A morte da família.São Paulo: Martins Fontes, 1980.CORNEAU, Guy. Pai ausente, filho carente.São Paulo: Brasiliense, 1991.DIAS, Vera. Coisas de mãe.Belo Horizonte: Lê, 1995.FORJAZ, Sônia Salerno. Papai não é perfeito.São Paulo: FTD, 1999.GAARDER, Jostein. A garota das laranjas.São Paulo: Companhia das Letras, 2005.JAFFÉ, Laura; SAINT-MARC, Laure. Convivendocom a família. (Guia da Criança Cidadã – Unicef).São Paulo: Ática, 2005.LAING, Ronald David. A política da família.São Paulo, Martins Fontes, 1983.MATHELIN, Catherine; COSTA-PRADES,Bernadette. Como sobreviver em família.Rio de Janeiro: Rocco Jovens Leitores, 2002.ROUDINESCO, Elisabeth. A família em desordem.Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.SARTI, Cynthia. A família como espelho -um estudo sobre a moral dos pobres.2a edição, São Paulo: Cortez, 2003.SARTI, Cynthia. A. A família como ordem moral.Cadernos de Pesquisa n. 91.São Paulo: Cortez, p. 46-53, 1994.SitesAdoçãowww.portoalegre.rs.gov.br/funcriancaAssociação de Pais e Mães Separadoshttp://www.apase.org.brDenúncia - Violência Domésticahttp://diganaoaerotizacaoinfantil.wordpress.com/2008/05/15/servico-violencia-domestica-contracrianca-e-adolescenteDenúncia – Violênciawww.campanhadenuncieviolencia.blogspot.com/2007/05/disque-denuncia-contatosPortal da Famíliahttp://www.portaldafamilia.org/artigos/artigo188PSF – Saúde da Famíliahttp://www.portal.saude.gov.br/saude/areaFilmesCentral do BrasilWalter Salles, 1998.Kolya – Uma Lição de AmorJan Sverák, 1996.O Fabuloso Destino de Amélie PoulainJean-Pierre Jeunet, 2001.O Quarto do FilhoNanni Moretti, 2001.Ponte para TerabítiaGabor Csupo, 2007.82


drogas


introduçãoOuso das drogas é tema de preocupação constante para pais, educadores, profissionaisda saúde e autoridades. Os aspectos associados a seu consumo assumiramas dimensões de uma questão de Estado, envolvendo áreas diversas comoa Saúde, a Educação, a Assistência Social e a Segurança Pública. Não se discutem apenasos danos físicos e psíquicos causados pelas drogas, mas também os crimesenvolvidos no tráfico de entorpecentes.Abordar essa questão com os jovens requer muito cuidado. É preciso primeiramentediferenciar o adolescente usuário ocasional do toxicômano já dependente. As razões econseqüências de cada modo de usar drogas são distintas e, por essa razão, ao tratartodos os usuários da mesma maneira, corre-se o risco de não se comunicar efetivamentecom ninguém.São muitas as razões que podem levar o adolescente a experimentar uma droga, acontinuar a usá-la e a se tornar um viciado. A maior parte deles, aliás, não se tornadependente. Segundo especialistas, a personalidade do usuário, bem como circunstânciaspsíquicas e sociais, são mais determinantes para alguém começar a fazer um usopesado de drogas (isto é, usá-las diariamente ou mais de uma vez por dia) do que osprincípios ativos da droga propriamente dita. É por essa razão que os adolescentes sãomais suscetíveis aos perigos que a droga oferece.Adolescer é questionar-se, descobrir-se, viver tudo mais intensamente: a paixão, oódio, as inseguranças, os medos de rejeição, a autocrítica, os vazios existenciais; tudoaumenta. Comumente dizemos que a adolescência é uma fase de crise. E, para aplacarou suportar essas intensas “dores do viver”, são muitas as maneiras que o adolescenteencontra: uns comem em excesso, outros se recusam a comer. Há aqueles quenamoram ou saem na “balada” de maneira compulsiva. Alguns vão à academia diariamentee ficam horas e horas malhando. Outros, preocupados com a aprovação de seuspares, aderem sem pensar a comportamentos do grupo. Nesse mesmo sentido, parauma parcela dos adolescentes as drogas assumem um caráter de salvação, tornandoseo antídoto ilusório contra o sofrimento, permitindo a busca do prazer imediato.As pessoas viciam-se em uma ou outra droga por razões e caminhos singulares e, poressa razão, não se pode falar no “toxicômano” de maneira geral. Mas sejaqual for o motivo que leva o adolescente a viciar-se, a droga ocupará navida dele uma função apaziguadora das angústias, preenchendo umsentimento de vazio e promovendo a sensação de onipotência tãocaracterística dessa fase da vida. A busca desesperada pelarepetição do estado de satisfação que a droga propicialeva o sujeito a querer sempre mais. Daí o altíssimorisco de dependência física e psicológica que adroga aporta.84


Diante desse assunto tão delicado e difícil, como abordar o tema das drogas com os jovenssem lançar mão de uma postura moralista ou repressora? As oficinas propostas nestemódulo são informativas e reflexivas, partindo do princípio de que o entendimento do uso eabuso das drogas, assim como de seus efeitos prejudiciais à saúde e à vida, pode ajudar oadolescente a fazer uma escolha mais consciente.Antes de iniciar as oficinas, é fundamental que você estude o material informativo em anexo.Bom trabalho!objetivos do módulo:• Promover maior conhecimento sobre as drogas lícitas e ilícitas e sobre seus efeitosfísicos e psicológicos.• Favorecer a reflexão sobre o que leva um indivíduo a recusar, a usar ou a abusar dadroga e sobre as funções que esta pode ocupar na vida de uma pessoa.• Discutir a relação entre as drogas e a sociedade, de modo que o <strong>jovem</strong> possa percebera complexidade das relações socioeconômicas das quais as drogas fazem parte.85


com a palavra...Drogas – o que são? O que fazer?Lídia ChaibAs drogas, ou substâncias psicotrópicas, agem no cérebrohumano estimulando, diminuindo ou perturbando oseu funcionamento; são capazes de alteraros estados mentais e o comportamento daspessoas. Elas existem no nosso planeta emquantidade e variedade cada vez maiores.Na maior parte das vezes, a pessoa queexperimenta alguma droga pára sozinha deusar, ou recorre a ela muito ocasionalmente. Oproblema se coloca quando a pessoa cria umadependência em relação ao uso de determinadasubstância, seja com drogas lícitas (como o álcool ou otabaco), ou com drogas ilícitas (maconha, cocaína, crack etc.). Essa dependência seestabelece quando o usuário começa a gastar grande parte do tempo para conseguirdrogas, para usá-las ou se recobrar dos efeitos do consumo; quando passa a usarem maior quantidade ou com mais freqüência do que pretendia; quando precisa demaior quantidade para sentir os mesmos efeitos (tolerância); ao se expor a riscosfísicos sob o efeito da droga (como dirigir, pilotar moto, usar máquinas, nadar etc.);ou no momento em que passa a ter problemas pessoais com a família, amigos, naescola, no trabalho, com a polícia, com traficantes, além de ficar com a saúde debilitadaem decorrência do uso indevido e excessivo de determinadas substâncias.Um esforço de prevenção eficaz deve priorizar o combate a esse tipo de uso, àdependência, e não necessariamente à substância em si. A prevenção pressupõe umtrabalho que atue sobre questões que motivam a busca da droga.No documento “Manifestação do CONEN-SP para o I Fórum da Secretaria NacionalAntidrogas”, que serviu de base a este texto, o Conselho Estadual de Entorpecentes –CONEN-SP recomenda oferecer atividades prazerosas, significativas, criativas eeducativas, inseridas no conteúdo da matéria escolar, abordando aspectos de uma vidasaudável, sem necessariamente se referir de maneira direta às drogas.LÍDIA CHAIB é licenciada em Física, escritora e produtora cultural. Adaptou o livro Que droga é essa?, de Aidan Macfarlane,Editora 34. Escreveu Ogum, o rei de muitas faces e outras histórias dos orixás, Cia. das Letras, e As melhores histórias de todosos tempos, Publifolha.86


O trabalho de prevenção com o adolescente precisa ser feito em conjunto com afamília, a escola e a comunidade. Só desse modo será possível concretizar ações,amparadas e estimuladas pelo poder público, que tenham como resultado final umasociedade mais sadia.À família cabe acolher a inquietação própria dos adolescentes, sem abrir mão de estabelecerlimites claros e não arbitrários (que não resultem dos caprichos de alguém).Muitos pais precisam de orientação e ajuda de profissionais especializados para estabeleceressa relação com os filhos.A escola, por sua vez, deve garantir que os alunos recebam informações corretas enão preconceituosas, além de oferecer múltiplas atividades artísticas e esportivaspara a participação dos alunos. A instituição de ensino pode também transformar asreuniões de pais e mestres numa atividade produtiva e de troca real de informações,oferecendo aos responsáveis pelo adolescente assistência e cobertura.Finalmente, a comunidade precisa abrir oportunidades para o <strong>jovem</strong> exercitar suanecessidade de se confrontar com autoridades e regras. Isso pode ser feito por meiode programas sociais amplos e de trabalhos que busquem soluções para problemasreais da coletividade, permitindo o exercício da cidadania e incitando o <strong>jovem</strong> aextravasar de maneira adequada e produtiva sua rebeldia e espírito crítico.A experiência de especialistas de diversas áreas tem mostrado que um programa deprevenção eficiente com adolescentes teria de:1. levar em conta a dimensão emocional, oferecendo ao <strong>jovem</strong> opções culturalmenteválidas, que permitissem canalizar o turbilhão de emoções que habitam o adolescente,para se contrapor à intensidade das emoções que a droga propicia. Nessearsenal incluem-se, por exemplo, as atividades esportivas, diversas modalidadesde expressão artística e cultural;2. levar em conta a preocupação social e a necessidade que o <strong>jovem</strong> tem de pertencer aum grupo social, abrindo a possibilidade de participação ativa em questões queenvolvem a comunidade da qual a escola faz parte;3. oferecer informações verdadeiras e não preconceituosas sobre drogas, para que oadolescente possa fazer escolhas mais conscientes;4. respeitar a inteligência do <strong>jovem</strong>, não usando mensagens alarmistas e deformadas(não tratar, por exemplo, todas as drogas da mesma maneira, como se oferecessemos mesmos riscos, não confundir o uso eventual de uma substância psicoativa com ouso habitual e contínuo);5. não fazer afirmações inadequadas sobre as sensações que a droga produz, para nãocorrer o risco de se desmoralizar diante de adolescentes que possuem informaçõesdiretas que podem contradizer as suas;87


6. abrir um espaço para orientação dos pais de alunos, para que esses não se sintam tãodespreparados e desamparados para lidar com os desafios da adolescência. Esse trabalhodeve ser desenvolvido por equipes especialmente preparadas para levar emconta as múltiplas dimensões da questão (biológicas, psicológicas, sociais).O que seria necessário evitar, pois não tem se revelado eficaz nos trabalhos de prevençãoàs drogas com adolescentes:1. reduzir a discussão sobre drogas a um curso de química avançada. Por mais respeito queo adolescente tenha pelo saber científico, ele já tem a consciência clara de que a opçãopelo uso de substâncias psicoativas passa pelo conhecimento de seus efeitos, mas estálonge de se reduzir a isso: é acima de tudo uma questão emocional, não racional;2. reduzir a discussão sobre drogas a um curso de moral e religião, definindo o bem e omal como se fossem absolutos. Uma das mais importantes características da adolescênciaé a busca de um quadro de referências próprio, baseado nos valores recebidosdos pais e professores, mas que não se confunde com esses. Nesse contexto,lançar mão de argumentos morais (na maioria das vezes preconceituosos) implicaperder o interesse e a atenção do interlocutor adolescente.3. patrocinar atividades pontuais e isoladas, como uma palestra proferida por especialistaexterno ao cotidiano da instituição ou depoimentos de estrelas do universo popque se apresentam como ex-viciados reabilitados. Esses eventos são contraproducentes,na medida em que servem para aplacar a ansiedade da própria escola que,com isso acredita ter feito a sua parte e se exime de qualquer projeto mais comprometidoe consistente.4. palestras com especialistas podem eventualmente ajudar se fizerem parte de um programade prevenção mais amplo, que inclui atividades a longo prazo. Os depoimentosde ex-drogados arrependidos, principalmente se famosos, correm o risco de confirmara onipotência adolescente, fazendo-os acreditar que, como o depoente, serão capazesde largar a droga.Na medida em que as escolas e outras instituiçõesque trabalham com jovens forematrativas, estimulantes e respeitosas comos adolescentes, mais eles terãoconfiança e condições deescutar aquilo que elastransmitem.88


Oficina 1. Conversando sobre as drogasOBJETIVO: Introduzir o tema das drogas identificando as dúvidas dos adolescentes eabrindo a possibilidade de diálogo sobre o assunto.MATERIAL: Tiras de papel e canetas.DESCRIÇÃO: Inicie a oficina perguntando ao grupo: O que são drogas? Quais drogas ogrupo conhece?Em seguida, distribua uma tira de papel e uma caneta para cada participante e peçaque escrevam suas dúvidas em forma de perguntas sobre o tema das drogas. As perguntasdevem ser anônimas, por isso é melhor você utilizar canetas de mesma corpara que os participantes não sejam identificados. Reúna todas as perguntas em umacaixa e peça para alguém sortear uma pergunta e fazê-la para o coletivo. Estimule ogrupo a respondê-la e, se necessário, complete as respostas. Repita esse procedimentoaté que todas as perguntas tenham sido respondidas.COMENTÁRIOS: Procure criar um clima descontraído e de confiança, isento de preconceitose julgamentos. Tenha sempre em mente que essa é uma introdução ao tema das drogase, portanto, não é preciso dar conta de todos os aspectos nesse encontro. Esteja atento àshistórias e aos depoimentos que surgirem e também aos pedidos de ajuda que podemaparecer. Como esse é um assunto acerca do qual muitos adolescentes carecem de informaçõessuficientes, a sua participação é fundamental para esclarecer as dúvidas do grupo.Por essa razão, prepare-se antecipadamente, lendo as informações abaixo e o Livro doadolescente, que decerto poderá ajudá-lo a compreender melhor a questão.Afinal, o que são as drogas?São substâncias químicas, naturais ou sintéticas, que provocam alterações físicas epsíquicas naqueles que as consomem podendo levar à dependência física e psicológica.O fato de uma droga ser natural não significa que ela seja benéfica ou menosprejudicial à saúde.As drogas podem ser divididas em lícitas (legais) e ilícitas (ilegais). No Brasil, são consideradasdrogas lícitas o álcool, o cigarro e os medicamentos. Alguns produtos químicos(como solventes e sprays) e medicamentos controlados não são ilegais, mas, seusados para fins indevidos, isto é, para um uso diferente daquele ao qual se destinam,também são consideradas drogas e o usuário pode ser penalizado por lei.89


Oficina 2. Uso e abuso/ Drogas lícitas e ilícitasOBJETIVO: Aprofundar o conhecimento dos jovens sobre drogas lícitas e ilícitas.MATERIAL: Cartolina; tiras de papel; canetas e cópias do material gráfico anexo (quedeve ser recortado antecipadamente).DESCRIÇÃO: Inicie a atividade retomando a discussão da última oficina sobre o que sãodrogas, recuperando as principais descobertas do grupo.Feito isso, peça aos participantes que se dividam em equipes de quatro ou cinco integrantese distribua uma cartolina para cada uma. Solicite que cada grupo divida a cartolinaem três partes e em cada uma delas escreva:• Drogas Lícitas• Drogas Ilícitas• Não DrogasEm seguida, distribua um jogo de tiras a cada grupo e peça para classificarem todosos nomes correspondentes às imagens (chocolate; vinho; acetona; cigarro; cocaína;tinta; remédio; ecstasy; gasolina; cerveja; café e chá) nas três categorias do cartaz.Quando terminarem, solicite que cada grupo apresente a sua proposta. Nessa apresentação,levante as semelhanças e diferenças nas respostas de cada grupo e abra adiscussão.PONTOS PARA DISCUSSÃO:• Quais são as drogas lícitas, ilícitas e não drogas?Resposta: Drogas ilícitas: cocaína, ecstasy.Drogas lícitas: cigarro, cerveja, vinho, medicamentos.Não drogas: chocolate, café, chá, tinta, acetona (se usada para o devido fim), gasolina(se usada para o devido fim).• Houve algum item/produto mais difícil de classificar? Qual? Por quê?• Dessa lista, o que não é considerado droga pode ser consumido em grandes quantidades,pois não faz mal?Resposta: Não. Muitos dos itens considerados não drogas podem fazer mal à saúde seconsumidos em grandes quantidades. O chocolate em excesso, por exemplo, podeaumentar os riscos de doenças cardiovasculares e de outros males provocados pelaobesidade. O café, por sua vez, contém substâncias estimulantes que acarretam insôniae agitação.90


• A seu ver, qual a diferença entre usar e abusar de alguma coisa?Resposta: O uso designa uma ação social moderada de consumo de um determinadoproduto ou substância. O abuso refere-se ao uso excessivo e fisicamente prejudicialde determinadas substâncias que, a curto ou a longo prazo, dependendo da substância,da dose usada e do número de doses, irá não só determinar alterações patológicascomo também induzir à dependência química.• Quais são os sinais que podem alertá-lo quanto ao uso do abuso de alguma coisa?Resposta: Necessidade diária de ingerir o produto; sentir falta dele em situações sociaisligadas ao prazer; propensão a consumir o produto em quantidades cada vez maiores;achar que o produto é a coisa mais importante da sua vida; o fato de os outros repararemque você está se excedendo com freqüência; ter antecedentes familiares de vício; pedircom freqüência dinheiro emprestado ou roubar para poder comprar o produto.Ao final, se ainda houver tempo você pode perguntar se o grupo conhece pessoas quesão viciadas em drogas lícitas ou ilícitas e quais são as conseqüências disso na vidadessas pessoas. Pode ser um bom momento para compartilhar histórias, experiênciase aprofundar a conversa sobre esse tema.COMENTÁRIOS: É importante que você leia antecipadamente as informações contidas noLivro do adolescente. Tenha sempre em mente que todo o tipo de substância em excessofaz mal à saúde. Além disso, apesar de o tabaco e o álcool serem drogas legalizadas elesoferecem muitos riscos. Sabe-se que atualmente, no Brasil, os adolescentes se viciammais nas drogas consideradas lícitas do que nas drogas ilícitas. Por serem substânciasaceitas e comumente consumidas socialmente é muito comum os adolescentes recorreremà bebida ou ao cigarro.É importante também que os jovens compreendam que o uso de drogas ilícitas vai alémdos problemas de saúde que elas podem acarretar. Tanto o acesso quanto o uso de drogassão atividades criminosas que envolvem uma série de questões éticas, sociais e políticasque merecem ser discutidas. Essa pode ser uma oportunidade.91


Oficina 3. Saúde no ar!OBJETIVO: Informar os adolescentes sobre os efeitos fisiológicos e psicológicos acarretadospelo uso de drogas lícitas e ilícitas.MATERIAL: Informações sobre cada droga (maconha, cocaína, inalantes, anfetaminas,LSD, álcool e tabaco) contidas no Livro do adolescente, Módulo Drogas.DESCRIÇÃO: Explique aos jovens que na oficina de hoje eles vão fazer um programa detelevisão chamado “Saúde no ar” e que o tema do programa vai ser as drogas e seusefeitos. Divida os participantes em quatro grupos e sorteie duas drogas dentre a listaem anexo (maconha, cocaína, inalantes, anfetaminas, LSD, álcool e tabaco, ecstasy);cuide para não haver repetição de temas para cada grupo. Distribua o material informativo,e recomende que façam a leitura com bastante atenção, para em seguidaprepararem uma apresentação que simulará um programa de TV. O formato do programaé livre, assim como o número de participantes: pode ser uma entrevista, umareportagem, um debate ou um telejornal acerca das informações sobre as drogassorteadas. Durante o ensaio, circule pela sala e, se necessário, forneça orientaçõesaos grupos.Terminada a preparação, improvise um microfone e disponha as cadeiras em círculo.Cada grupo apresentará seu programa. Ao final de todas as apresentações, abra umdebate, aproveitando a ocasião para discutir os seguintes pontos:• O que vocês acharam de fazer o programa?• O que foi mais fácil ou mais difícil?• Por que vocês escolheram esse formato apresentado?• Quais foram os aspectos que chamaram mais atenção de vocês em cada apresentação?• O que aprenderam de novo sobre essas drogas?COMENTÁRIOS: Essa é uma maneira lúdica de discutir um assunto sério e de aprofundaros conhecimentos sobre cada droga. Observe como os participantes abordam a questão:há preconceito na abordagem escolhida? Banalizam algum tema? Transmitem informaçõescorretas? Tudo o que você observar é material para a discussão coletiva.92


Oficina 4. DramatizaçãoOBJETIVO: Refletir sobre comportamentos e atitudes que estão associadas ao uso dedrogas, sobre os motivos que levam os adolescentes a usá-las ou rejeitá-las. Buscarcompreender a complexidade da questão e os diversos fatores que estão em jogo.DESCRIÇÃO: Inicie essa atividade contando que eles farão uma dramatização na qual podeme devem levantar questões e colocar seus pontos de vistas e vivências sobre o tema.Em seguida, divida os participantes em três grupos e leia as instruções abaixo paracada um deles. Dê cerca de 20 minutos para que preparem suas dramatizações.Grupo 1Crie uma cena cujo personagem central seja um adolescente viciado em drogas.Explore alguns pontos de sua história e de sua vida: como ele começou a usar, comoo problema se desenvolveu, com que freqüência ele usa, como está a relação dele coma família e com as drogas.Grupo 2Crie uma cena que tenha como foco um adolescente que, pela primeira vez, estejaexperimentando alguma droga. Explore alguns pontos de sua história: em qualmomento da sua vida isso acontece, o que leva a querer usar a droga, onde a consegue,como essa experiência se dá.Grupo 3Crie uma cena cujo tema central seja um adolescente que, diante de uma situação deoferta, se recusa a usar drogas. Explore alguns pontos de sua história: os motivos queo levaram a dizer não e a reação do grupo de amigos diante dessa recusa.Depois que todos tiverem apresentado suas cenas, abra para uma conversa coletiva.Pontos para discussão:• Quais razões podem levar alguém a usar e/ou abusar das drogas?• Qual a função que a droga pode assumir na vida dessas pessoas?• Quais são as conseqüências do uso abusivo de droga na vida de uma pessoa?• Quais são os fatores que podem ajudar o adolescente a recusar drogas?COMENTÁRIOS: Como o tema é carregado de preconceitos em relação aos usuários de drogas,é preciso evitar posturas moralizantes. O objetivo do trabalho é fazê-los compreendera relação de um usuário com a droga, seja ele um iniciante ou um dependente. Para compreender,é preciso analisar todos os elementos das situações apresentadas, de modo quesuas opiniões sejam críticas, baseadas em fatos, experiências ou informações corretassobre o assunto.93


Oficina 5. Drogas e sociedadeOBJETIVO: Aprofundar e ampliar os temas que estão ligados à questão das drogas.Perceber a relação entre as drogas e a sociedade.MATERIAL: Leitura das seguintes seções do Livro do adolescente: “As drogas e a lei”;“Álcool, uma cervejinha aqui, outra ali...”; “Redução de danos, um assunto polêmico” e“Papo cabeça”. (Se você não tiver um exemplar do livro para cada adolescente, façauma cópia dos textos para cada um.)DESCRIÇÃO: Inicie perguntando quais questões políticas e sociais estão ligadas ao temada droga, como, por exemplo, o tráfico de drogas, drogas lícitas e ilícitas e políticas desaúde pública para usuários. Faça um pequeno aquecimento do tema.Em seguida, peça que os participantes se dividam em três grupos. Para cada um delesentregue um dos seguintes textos contidos no Livro do adolescente: “As drogas e a lei”;“Álcool, uma cervejinha aqui, outra ali...”; “Redução de danos, um assunto polêmico” e“Papo cabeça”. Peça que os grupos leiam o seu texto e façam uma discussão: o queacharam do texto? Já haviam recebido essas informações? Acrescentariam algo? Emque o texto faz pensar?Feito isso, peça que eles imaginem um jeito criativo de apresentar o tema discutidopara o grupo todo. Pode ser em forma de uma música, uma aula, uma palestra, umaentrevista etc. O importante é poder passar as informações e a discussão de umamaneira lúdica e envolvente.Ao final, procure fazer uma conversa com todos os participantes da oficina. Pontospara discussão:• Você aprendeu algo novo nessas apresentações? O quê?• Do que mais gostou de saber?• Do que menos gostou?• Existe algo com que você não concorda sobre esse tema? Poderia acrescentar algumanova idéia à discussão?COMENTÁRIOS: Fazer uma pesquisa anterior sobre os temas que serão discutidos e atétrazer outros textos que alimentem a discussão dos grupos, pode ser muito interessantee o deixará mais preparado para conduzir essa oficina.94


Oficina 6. JogoOBJETIVO: Verificar o que os integrantes aprenderam durante as oficinas e ajudar queeles se apropriem delas.DESCRIÇÃO: Divida os participantes em dois grupos e solicite que respondam algumasperguntas relacionadas ao tema das drogas. Em cada rodada de perguntas um participanterepresentará a sua equipe. Ele deverá ouvir a pergunta feita pelo monitor, discutircom o seu grupo (em 30 segundos) e em seguida responder.Quando a equipe não souber a resposta, não ganha ponto e a equipe adversária tem odireito de resposta.A cada acerto, um ponto. A equipe que conseguir responder mais perguntas ganha agincana e um prêmio (a ser escolhido pelo monitor).PERGUNTAS PARA O JOGO:1. O que são drogas?Resposta: São substâncias químicas, naturais ou sintéticas, que provocam alteraçõesfísicas e psíquicas naqueles que as consomem, podendo levar à dependência física epsicológica.2. O que caracteriza um dependente?Resposta: “Aquele que faz uso pesado de drogas e que necessita cada vez mais quantidadespara os mesmos efeitos; que gasta seu tempo para conseguir, usar e se recobrardos efeitos; que vive para a droga, rompe os vínculos sociais, caindo namarginalidade e decadência física.” (retirado de Que droga é essa?, de AidanMacfarlane, pág.18)3. Cite três drogas lícitasResposta: No Brasil, são consideradas drogas lícitas o álcool, o cigarro e os medicamentos.Alguns produtos químicos (como solventes e sprays) e medicamentos controladosnão são ilegais, mas, se usados para fins indevidos, isto é, para um uso diferentedaquele ao qual se destinam, também são considerados drogas e o usuário pode serpenalizado por lei.4. O que acontece com alguém que é pego com alguma droga ilícita?Resposta: Depende. No caso brasileiro, a lei 6.368/76 trata, entre outras questões, dotráfico e do uso indevido de drogas. Se a pessoa for pega com uma pequena quantidadee assumir que é usuária, ela pode ser enquadrada no artigo 16 dessa lei; a penaé mais leve, com reclusão de 6 meses a 2 anos, que pode ser substituída por prestaçãode serviços à comunidade, acompanhada de tratamento obrigatório. Mas, se o indiví-95


duo estiver com uma grande quantidade ou não assumir que é usuário, seu casopassa a se enquadrar no artigo 12. A pessoa pode, então, ser condenada como traficante(pena de 3 a 15 anos, além da multa), mesmo que não tenha antecedentes e leveuma vida normal, trabalhe, estude etc. No caso de menores de idade, a pena máximade reclusão é de três anos, como estabelece o Estatuto da Criança e do Adolescente(ECA). Lembre-se: tráfico de drogas é crime hediondo e não tem fiança.5. Cite exemplos de danos orgânicos associados ao uso abusivo do álcool.Resposta: O uso exagerado causa tontura, falta de coordenação motora, confusão, fala“arrastada”, desorientação, náuseas e vômito.6. Qual é a relação do uso de drogas com o crime?Resposta: A relação das drogas com o crime é extensa e profunda. A produção, a vendae o uso de drogas são considerados crimes. Por serem proibidas, as drogas são contrabandeadas,entram no país através do tráfico. Exatamente por ser uma atividadeilegal, não há controle em nenhuma das etapas de produção ou de comercialização.Por exemplo, a droga pode estar misturada a substâncias perigosas ou mesmo mortais:alguns traficantes chegam a misturar estricnina à cocaína. Em geral, as organizaçõesdo tráfico também estão envolvidas com outros crimes graves, tais como seqüestros,roubos e assassinatos, contrabando de armas, exploração de menores, formação dequadrilha etc. Além disso, é comum encontrar, entre os dependentes, casos de envolvimentocom roubo para conseguir a droga desejada.7. Existe tratamento para dependentes? Quais?Resposta: Sim, existem muitos tratamentos para dependentes de todos os tipos de drogasna maioria das cidades do Brasil. Um deles é, por exemplo, a política de reduçãode danos que busca minimizar o efeito negativo do uso de drogas. Existem tambémmuitos hospitais, grupos e clínicas que oferecem tratamentos, tais como: AlcoólicosAnônimos, PROAD, Narcóticos Anônimos, entre outros.8. Há países nos quais as drogas são legalizadas?Resposta: Países como a Holanda e a Inglaterra têm algumas drogas liberadas. NaHolanda o consumo da maconha é permitido (cada cliente pode comprar até 5 gramasde maconha nos cafés), mas não se pode fumá-la em qualquer lugar. O consumo deoutras drogas é ilegal. Vários países como Portugal, Alemanha, Bélgica, Espanha eFinlândia descriminalizaram o uso, isto é, a lei não impõe condenação para quem é sóusuário. Entretanto, as leis contra traficantes se tornaram mais rígidas.Em algumas regiões existem políticas específicas de uso de drogas para fins medicinais,como o Canadá e oito estados norte-americanos. Na Califórnia, por exemplo,para atender à demanda do uso terapêutico, há uma produção legalizada, que obedecea rígido controle governamental. Existem drogas cujo uso é considerado normal e96


integrante da cultura de determinado país. Por exemplo, no Peru e na Bolívia, a folhade coca é consumida livremente, embora a cocaína seja proibida. Esses países são osúnicos nos quais a exportação de folhas de coca é uma atividade legal.9. Cite dois tipos de drogas estimulantes, depressoras e perturbadoras.Depressoras Diminuem a atividade cerebral, Álcool, ópio e seus derivados(calmantes) deixando os estímulos nervosos (morfina, heroína), tranqüilizantes,mais lentos.solventes e aerossóis (comobenzina, éter, tinner, acetona,removedor etc.)Estimulantes Aumentam a atividade cerebral e Anfetaminas (bolinhas, speedy),aceleram os estímulos nervosos. cocaína e derivados (crack),cafeína (estimulante suave)Perturbadoras Fazem o cérebro funcionar fora de Maconha, haxixe, mescalina,seu estado habitual. Não alteram a cogumelos, LSD, voláteis, ecstasyvelocidade dos estímulos cerebrais,mas causam perturbações na mentede quem usa.10. As seguintes afirmações são verdadeiras ou falsas?• O fumante passivo é aquele que fuma em pouca quantidade (F)• A Política de Redução de Danos diz que “Não sendo sempre possível interromper o usode drogas, que ao menos se tente minimizar o dano ao usuário e à sociedade”. (V)• O efeito de uma droga é sempre o mesmo para qualquer pessoa (F)• É mais perigoso misturar álcool com outras drogas do que tomá-lo sozinho. (V)• O uso de álcool e outras drogas durante a gravidez causa sérios danos ao feto. (V)• Os dependentes de drogas têm maior chance de sofrer fracasso escolar e perda de memóriae de se colocar em perigo. (V)• A pessoa mais obesa sente menos o efeito do álcool. (V)97


para se aprofundar...LivrosARATANGY, Lidia Rosenberg. Doces venenos:conversas e desconversas sobre drogas.São Paulo: Olho d'água, 1991.BOUER, Jairo. Álcool, cigarro e drogas.São Paulo: Panda, 2004.CAVALCANTE, Antônio Mourão. Drogas: esse baratosai caro. São Paulo: Rosa dos Tempos, 1999.GUIMARÃES, Eloísa. Escola, galera e narcotráfico.Rio de Janeiro: UFRJ, 1998.HERMANN, Kai; RIECK, Horst. Eu, Christiane F.,13 anos, drogada, prostituída. São Paulo:Bertrand, 1982.LARANJEIRA, Ronaldo; PINSKY, Ilana.O alcoolismo. São Paulo: Contexto, 1998.LEITE, Marcos da Costa; ANDRADE, Arthur.Guerra de cocaína e crack: dos fundamentos aotratamento. Porto Alegre: Artmed, 1999.MACFARLANE, Aidan. Que droga é essa? Adaptaçãode Lídia Chaib. São Paulo: Editora 34, 2003.MASUR, Jandira; CARLINI, Elisaldo. Drogas, subsídiospara uma discussão. Brasiliense, 1993.PINKY, Ilana; BESSA, Marcos. Adolescência e asdrogas. São Paulo: Contexto, 2005.TIBA, Içami. A maconha e o <strong>jovem</strong>: família, escolae sociedade. São Paulo: Agora, 1989.WUSTHOF, Roberto. O que é prevenção de drogas.São Paulo: Brasiliense, 1991. Col. Primeiros Passos.SitesAlcoólicos Anônimos:http://www.alcoolicosanonimos.org.brCentro Brasileiro de Informações sobre Drogas(CEBRID): http://www.cebrid.epm.brDrogas tô fora: http://www.spiner.com.br/modules.php?name=drogastoforaGrupo Interdisciplinar de Estudos do Álcool eDrogas (GREA): http://www.grea.org.brNarcóticos Anônimos: http://www.na.org.brPrograma de Orientação e Atendimento a Dependentes(PROAD): http://www.unifesp.br/dpsiq/proadRedução de danos, saúde e cidadania:http://www.reduc.orgSecretaria Nacional Antidrogas (SENAD):0800-61-4321 www.senad.gov.brUnidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (UNIAD):http://www.uniad.org.brFilmesCidade de DeusFernando Meirelles, 2002.Cidade dos HomensPaulo Morelli, 2007.Diário de Um AdolescenteScott Kalvert, 1995.Meu Nome Não É JohnnyMauro Lima, 2008.Notícias de Uma Guerra ParticularKátia Lund e João Moreira Salles, 2007.O Barato de GraceNigel Cole, 2001.TrafficSteven Soderbergh, 2000.Trainspotting – Sem LimitesDanny Boyle,1996.Tropa de EliteJosé Padilha, 2007.98


Anexo99


profissão etrabalho101


Este módulo pode ser de grande ajuda para auxiliar seu grupo a refletir sobre essasquestões.Boa sorte!objetivos do módulo:• Prover informações ao <strong>jovem</strong> sobre o <strong>mundo</strong> das profissões e do trabalho e suasdiversas dimensões, tais como: tipos de formações profissionais existentes, lugaresonde buscá-las, primeiro emprego, currículo, entre outras.• Refletir sobre o trabalho como um projeto de vida fundamental e ajudar o <strong>jovem</strong> adescobrir quais são suas habilidades e sonhos para que ele faça as melhoresescolhas possíveis.• Refletir criticamente sobre a relação entre o trabalho e a sociedade.• Incentivar o <strong>jovem</strong> a tomar atitudes que busquem realizar o seu sonho.103


Esse modelo, desenhado pela Revolução Industrial dos séculos XVIII - XIX, perdurou porquase todo o século XX. No entanto, de uns 30 anos para cá, ele tem sofrido transformaçõessignificativas. Graças à chamada “flexibilização do <strong>mundo</strong> do trabalho”, reduziram-sebastante o peso e a importância do emprego – até então a forma mais comum ehegemônica de inserção no mercado produtivo – e novos modelos começaram a ganharespaço, tais como: a terceirização, o trabalho temporário, o teletrabalho (você recebetarefas e as executa onde bem desejar), a consultoria e a informalidade.Além das mudanças nas relações profissionais, houve também um agravamento doquadro de desemprego, pela mecanização de diversas etapas do processo produtivo,por exemplo, o que levou à dispensa de funcionários, mas tentou assegurar a competitividadedo país diante da concorrência internacional, cada vez mais acirrada.Equilibrar essa balança, oferecendo oportunidades para que os trabalhadores possamse aprimorar constantemente e acompanhar os avanços, é um desafio importante.É fundamental perceber que um desempenho satisfatório no mercado de trabalho éalgo mais que ter um bom emprego em uma empresa ou instituição conceituada,alcançado graças a uma sólida formação educacional: esse é um caminho possível,mas não a única opção. Devemos analisar as inúmeras possibilidades e, também, asdiversas restrições, que todos enfrentam ao planejar seu futuro profissional e ao tentarconseguir um lugar nesse mercado cada vez mais competitivo.Em última análise, é a sociedade que institui valores sobre o que é bom ou ruim – porexemplo, o que seria um bom trabalho, o que seria desejável para ter um bomemprego, qual a melhor forma de inserção no mercado, o que é uma formação adequada,o que é uma carreira de sucesso –, que se tornam metas genéricas a seremalcançadas.Também é importante ressaltar que a relação entre a pessoa e o mercado de trabalhoé múltipla e complexa. Uma de suas dimensões é a flexibilização do mercado, que, porum lado, abre novas oportunidades profissionais, e por outro traz o risco da precarizaçãodas relações de trabalho (por exemplo, nos casos em que os trabalhadores nãodispõem de garantias ou têm seus direitos desrespeitados).Tentemos responder algumas perguntas: quem é mais competente: um médico ouum carpinteiro? Quem tem mais sucesso: um executivo de uma grande empresa ou umcamelô que tem apenas uma banquinha no centro da cidade? Quem é mais feliz: um professorde uma escola pública, um empresário, um bombeiro ou uma dona de casa?Se respondermos sem pensar muito, todas essas questões parecem fáceis ou óbvias.No entanto, há muitos fatores envolvidos nessas situações, principalmente pelo simplesfato de que existem pessoas por trás delas, que constroem sua relação com o trabalho105


(projetos e trajetórias de vida no trabalho). Tudo isso confere grande complexidade aessas respostas aparentemente fáceis, pois não convém fazer generalizações.O que é um projeto? É um estado que se almeja atingir, uma identidade que se pretendeconstruir e um conjunto de ações para chegar a um dado fim. Todo projeto emerge doprojeto de vida de cada um e toda escolha leva em conta um projeto preexistente.Assim, o projeto de vida requer uma estratégia no tempo ou uma ação que envolva a participaçãoda pessoa na construção do seu futuro. Isso implica: compromisso e vontadede tomar para si o futuro; autoconhecimento; conhecimento dos seus processos deescolha e do <strong>mundo</strong> do trabalho; antecipação de dificuldades e obstáculos; operacionalizaçãode estratégias para realizar projetos; existência de um projeto de vida global, doqual o trabalho é uma parte; consciência de que nenhum projeto é definitivo.O que uma pessoa busca com seu trabalho tem relação direta com o que ela busca parasua vida. É por isso que não existem receitas prontas ou caminhos adequados. Qualqueranálise da trajetória ou do projeto de vida no trabalho deve levar em conta o que a pessoabusca para sua vida (aspirações individuais), sem nunca perder de vista o que elapode realizar (condições objetivas) e o que existe para ela (possibilidades concretas).Ter clareza de que qualquer projeto de vida no trabalho se constitui de muitas variáveisnão é fácil, pois de certo modo obriga a desconstruir falsos ideais, evitar frustraçõesdesnecessárias, e a analisar o contexto de forma mais objetiva, a fim de visualizar aspossibilidades e restrições que serão enfrentadas por toda a vida no trabalho.Em síntese, ainda que o trabalho pareça algo simples de definir, ele adquire dimensõesmais complexas ao se constatar a existência de uma pessoa que trabalha em dadocontexto social, o que impõe restrições e gera oportunidades que devem ser levadasem conta em toda análise do trabalho, da trajetória ou do projeto de vida no trabalho.106


Oficina 1. Viagem ao futuro!OBJETIVOS: Discutir o projeto de vida de cada um e os caminhos possíveis para que elese torne uma realidade.MATERIAL: Folha em formato de hexágono; lápis de cera; canetinhas; lápis de cor;aparelho de som e música para o relaxamento.DESCRIÇÃO: Em clima suave e tranqüilo, com uma música de fundo, peça que todos osparticipantes fechem os olhos. Dirija um relaxamento lentamente, propondo umaviagem ao futuro. Pense de antemão como você vai dirigir essa viagem (eles entrarãoem um túnel? Passarão por uma porta? Viajarão pelos céus em uma espaçonave?),pois cabe a você orientar o pensamento dos adolescentes. Faça algumas perguntasque possam ajudá-los a se imaginar daqui a dez anos, por exemplo:• Agora que você avançou dez anos na sua vida, como você está se vendo?• Está trabalhando? Em quê?• Está estudando? Qual curso?• Está casado? Tem filhos? Quantos?• Tem uma casa própria? E um carro?• Como é a sua vida social? Como você se diverte?• E a sua família de origem, com que freqüência os encontra?• Quais são as suas prioridades nesse momento? O que é o mais importante para vocêe o que não é tão importante assim?Em seguida, peça que abram os olhos lentamente e entregue a cada participante umafolha de papel em branco, no formato de um hexágono, e material de escrita. Peça queescrevam na folha o futuro imaginado. No centro da figura geométrica, devem escrevero que consideram o mais importante; os demais aspectos de suas vidas podem serdistribuídos nas bordas ou como preferirem.Depois que terminarem, peça que cada um coloque o seu hexágono no centro da roda,de modo que, unidos, eles formem uma figura como se fosse uma colméia. Proponhaque cada um apresente seu desenho e depois, abra para discussão.Questões para discussão:• Quais são os aspectos que mais apareceram no centro do hexágono? E nas bordas? Oque mais se repetiu no grupo?• Quais os passos necessários para realizar esses desejos?• Pensando no presente, o que vocês já estão fazendo para atingir seus objetivos?• Existe algo que não estão fazendo ainda, mas que poderiam começar a fazer?• O caminho que vocês estão escolhendo é parecido com o das pessoas da família?Por quê?107


Exemplo:Casa PrópriaViagemProfissãoFaculdade deEducação FísicaCarroFamília:Casada com dois filhos108


Oficina 2. Relação escola/ qualidade de vida/ trabalhoOBJETIVO: Discutir a função da escola no projeto de vida de cada um, especialmente noque diz respeito à escolha profissional.MATERIAL: Cartolina e canetas hidrográficas.DESCRIÇÃO: Inicie o trabalho promovendo uma discussão sobre qual é a função daescola, da universidade (e de outros tipos de formação), o que é trabalho e qualidadede vida.Em seguida, divida os participantes em três grupos. Peça para cada grupo refletir eescrever em uma cartolina suas principais idéias sobre um dos seguintes temas:quais são as relações existentes entre escola e formação profissional (universidade ououtros cursos); quais as relações existentes entre escola e trabalho; e quais asrelações existentes entre escola e qualidade de vida. É importante que todos os temassejam discutidos. Por isso, certifique-se de cada grupo fique com um deles.Peça para cada grupo apresentar suas reflexões aos demais. Ao final de cada apresentação,realize um debate sobre os pontos levantados pelos grupos.QUESTÕES PARA DISCUSSÃO:• Quais são os limites e as potencialidades da escola na preparação do <strong>jovem</strong> para omercado de trabalho, para cursos de nível superior e para a vida?• Qual é o papel do aluno e o do professor na tarefa de tornar a escola um espaço maisinteressante para a vida dos seus alunos?COMENTÁRIOS: Esta oficina foi pensada com o intuito de resgatar a função da escola na vidado aluno, isto é, de problematizar os deveres da escola e do aluno diante da formação deum aluno crítico e cidadão. É muito importante que você discuta com os jovens as váriasfunções da escola para além da entrada no mercado de trabalho, como por exemplo, a formaçãoética e cidadã, o desenvolvimento emocional e intelectual, o fortalecimento deidéias, opiniões e valores, o relacionamento social. Os textos introdutórios podem servir deapoio para a discussão.109


Oficina 3. Minhas habilidades (atividade das cartas)OBJETIVO: Reconhecer as próprias habilidades e dificuldades por meio das atividadesque mais gostam de fazer ou daquelas que gostariam de realizar.MATERIAL: Folha de sulfite; lápis preto; canetinhas e lápis de cor.DESCRIÇÃO: Entregue uma folha de sulfite aos participantes e peça que escrevam, de umlado, suas habilidades e, do outro, suas dificuldades, levando em conta todos os aspectosda vida: escola, família, esporte e lazer, amigos, características pessoais etc. Exemplo:HabilidadesFazer amigosDesenharDar conselhosDificuldadesFalar em públicoMatemáticaEscreverA seguir, entregue três cartas em branco (folhas de sulfite cortadas do mesmo tamanhode cartas de baralho) a cada um dos participantes. Peça que olhem suas listas eescolham duas habilidades e uma dificuldade que consideram significativas, reescrevendo-as,uma em cada carta.Assim que todos terminarem, forme um círculo e peça para cada um apresentar suas trêscartas e justificar o motivo de sua escolha. Durante a apresentação, é fundamental quehaja um amplo diálogo entre os participantes de modo que as diferentes percepções interajam.Alguns exemplos:• Se alguém disser que sua maior dificuldade é fazer amigos, você pode perguntar aosoutros jovens quais dicas eles poderiam dar para ajudar o colega a conquistar novasamizades.• Se alguém falar que sua maior habilidade é fazer contas de matemática, perguntequais dicas ele daria para aqueles que têm dificuldade em cálculos.• Se alguém mencionar uma habilidade ou dificuldade que é percebida pelos demais (comoa timidez, por exemplo), os participantes podem expressar a sua opinião sobre esseaspecto do colega.Ao final, a partir do que os jovens apresentaram, questione de que maneira essas habilidadese dificuldades podem interferir na escolha da profissão.COMENTÁRIOS: Nas discussões, procure ajudar os jovens a fazer possíveis ligações entresuas habilidades/dificuldades e a escolha profissional. Pode ser também interessantelevá-los a perceber que, dependendo do contexto, uma determinada característica podeser vista como algo positivo ou negativo. Por exemplo, ser detalhista é bom para algumasatividades e ruim para outras.110


Oficina 4. Escolhas profissionais. Como posso concretizá-las?OBJETIVO: Discutir as escolhas profissionais e as possibilidades de concretização.MATERIAL: Folhas de sulfite e canetas.DESCRIÇÃO: Inicie a atividade discutindo com o grupo quais são os vários aspectos queinfluenciam na escolha profissional de um <strong>jovem</strong>.Em seguida, peça a todos que pensem livremente nas numerosas possibilidades deprojetos relacionados a trabalho e/ou estudo que eles imaginam para si depois da conclusãodo ensino médio. Nesse primeiro momento, todas as idéias que vierem à tonadevem ser escritas nas folhas de papel. Lembre a eles que existem várias possibilidadesde estudo de nível superior como universidades, cursos técnicos, educação adistância, entre outros. Importante: no Livro do adolescente existe uma descrição decada um deles; se for o caso, leia essa página anteriormente com o grupo.Feito isso, peça que eles escolham, dentre todas as possibilidades que escreveram,aquelas que combinam melhor com seus desejos pessoais, suas habilidades, e comas possibilidades concretas de que dispõem, grifando-as.Divida os participantes em duplas e solicite que conversem sobre os projetos profissionaisescolhidos e o que eles levaram em conta nessa escolha.Ao final, abra a discussão geral, levantando os seguintes pontos para o debate:• Como é para você fazer uma escolha profissional?• Quais aspectos tiveram maior peso na escolha do projeto que você acredita que possaser concretizado?• O que sua família acha de sua escolha?• Quantas pessoas do grupo pensam em fazer cursos superiores e quantas não pensam?Por quê?COMENTÁRIOS: Tenha em mente que, dentre os aspectos que podem influenciar na escolhaprofissional de um <strong>jovem</strong>, incluem-se a profissão dos pais e dos familiares, as expectativasda família, os sonhos pessoais de infância, as habilidades de cada um e o retorno financeiroda atividade profissional escolhida, a curto e a longo prazo. Na discussão em torno do tema“universidade”, considere o fato de que a opção pela formação universitária não deve servista como a única escolha positiva do <strong>jovem</strong> após ele concluir o ensino médio. Existemoutras possibilidades de formação ou de inserção no <strong>mundo</strong> profissional: curso técnico,cursos de curta duração, ingresso no <strong>mundo</strong> do trabalho sem curso prévio, dar prosseguimentoao empreendimento familiar etc. O Livro do adolescente aborda amplamente essetema, você pode fazer uma leitura coletiva ao final da oficina.111


Oficina 5. Pensando nas profissões (Jogo das profissões)OBJETIVO: ampliar o conhecimento acerca das profissões existentes, assim comoensaiar escolhas profissionais possíveis.MATERIAL: Folha de sulfite; lápis preto; canetinhas e lápis de cor.DESCRIÇÃO: Peça que todos escrevam numa folha de sulfite as profissões que conhecem,tanto as de que gostam quanto as que não apreciam. Depois, peça que escrevam,em uma outra folha, cinco profissões com que mais se identificam, assinalando ospontos positivos e negativos de cada uma.Assim que todos terminarem, forme um círculo e peça para apresentarem suasreflexões.Questões para discussão:• Quais as profissões que mais apareceram no grupo?• Quais habilidades são necessárias nas cinco profissões escolhidas?• Você conhece alguém que trabalha em alguma das profissões escolhidas?• Vocês já pensaram na profissão em que pretendem trabalhar?Ao final da discussão, cada um deve escolher uma profissão para conhecê-la melhor.Isso será trabalhado no próximo encontro.COMENTÁRIOS: Muitas são as maneiras de escolher uma profissão, mas certamente, informar-seé fundamental. Peça que os participantes se informem mais sobre a profissão queescolheram trazendo dados que serão trabalhados no próximo encontro, conversandocom profissionais, lendo revistas ou manuais, consultando a internet. Leia a descriçãodesta oficina para melhor orientar a pesquisa dos adolescentes. Entretanto, para asseguraro bom andamento da próxima oficina, é importante que você também leve materialinformativo sobre as profissões que serão trabalhadas.112


Oficina 6. Profissões no ar (Telejornal)OBJETIVO: Aprofundar o conhecimento em torno de uma profissão especifica com aqual o <strong>jovem</strong> se identifica.MATERIAL: Folha de sulfite e lápis preto.DESCRIÇÃO: Na oficina anterior, os participantes escolheram algumas profissões eficaram de trazer informações a respeito delas. É importante que você também levanteesse material que, no mínimo, complementará o trabalho de cada <strong>jovem</strong>. Além dainternet, os guias de estudantes disponíveis em escolas ou nas bancas podem serfontes de pesquisa.Sugestões de Informações a serem levantadas:• O que faz esse profissional?• Qual é o campo de trabalho?• Quais são as habilidades exigidas nessa área?• Como a carreira pode se desenvolver?• Qual é a formação necessária?• Como é o curso (quantos anos de estudo, matérias principais)?• Onde se pode estudar (escolas públicas ou privadas, cidades ou bairros onde os cursossão ministrados)?• Como está o mercado de trabalho nessa área?Peça para cada um ler o material que você trouxe sobre a profissão escolhida e dêaproximadamente 20 minutos para os participantes organizarem o conteúdo que seráapresentado ao grupo. Informe que eles farão um “telejornal” durante o qual cada umdos jovens será entrevistado pelos outros integrantes do grupo. A seguir, organize as“entrevistas” até que todos passem pela posição de entrevistado.Sugestões de perguntas que o grupo poderá fazer ao entrevistado:• Há quanto tempo está formado?• Onde trabalha?• Como conseguiu esse trabalho?• Como é o seu trabalho?• Você gosta do seu trabalho?• Qual a duração da faculdade?• Como conseguiu entrar na área?• Fez alguma especialização? Qual?113


Comentários: Você também pode participar diretamente da atividade. Poderá, por exemplo,fazer o papel de apresentador, introduzindo cada novo entrevistado, dizendo: “Estamosaqui no programa ‘Profissões no ar’ com o nosso entrevistado Fulano de Tal que vai falarsobre sua profissão de...”. Se necessário, acrescente perguntas que considere importantes,dinamizando a atividade.Além disso, você pode trazer informações sobre alguma profissão inusitada, provavelmentedesconhecida do grupo, que ache interessante que os jovens conheçam melhor.Esse é um momento de aprofundar conhecimentos, portanto, a sua ajuda é fundamental.114


Oficina 7. Primeira EntrevistaOBJETIVO: Discutir sobre a primeira entrevista e oferecer informações úteis paraprocessos de seleção.MATERIAL: Fotocópia das duas situações relatadas abaixo.DESCRIÇÃO: Forme dois subgrupos e, para cada um, entregue uma história de um<strong>jovem</strong> que procura o seu primeiro emprego (veja abaixo). Cada grupo ficará responsávelpor responder as seguintes questões:• O que o <strong>jovem</strong> da história deve fazer?• Onde ele deve procurar trabalho?• Como ele deve se comportar na primeira entrevista?Em seguida, peça que os dois subgrupos apresentem suas sugestões. Assim que terminarem,escreva com eles uma lista de dicas sobre como se comportar na primeiraentrevista de trabalho. Isso deve ser feito sempre levando em consideração os exemplosque os próprios adolescentes deram durante a discussão das histórias.DEPOIMENTO 1Meu nome é Mariana, tenho 19 anos, sou solteira e residente da cidade de SãoPaulo (SP). Curso a Faculdade de Administração e estou à procura do meuprimeiro emprego. Tenho facilidade para lidar com os clientes, conhecimentosem inglês, espanhol e informática. Quero uma oportunidade, assim como todo<strong>jovem</strong> que cursa uma faculdade. Gosto do que estudo e quero começar a trabalharlogo. O que eu faço? Onde procuro trabalho? Como devo me comportar naprimeira entrevista?DEPOIMENTO 2Meu nome é João, tenho 17 anos, sou solteiro e moro em Ribeirão Preto (SP).Estou à procura do meu primeiro emprego para aumentar a renda familiar.Procuro cargo de atendente e tenho conhecimentos de inglês básico e informática.Atualmente curso o ensino médio (3º ano). O que eu faço? Onde eu procurotrabalho? Como devo me comportar na primeira entrevista?115


Seguem abaixo algumas dicas sobre os processos de seleção. Elas podem orientar adiscussão.Sobre apresentação pessoal:• Cuidar da aparência das roupas (roupa limpa e passada, vestir-se de forma discreta).• Cuidar da limpeza das unhas.• Cabelos bem cuidados ou presos de forma a não esconder o rosto.• Não exagerar no perfume, usar um aroma suave na entrevista.• Os sapatos devem estar bem limpos.• Piercings e tatuagens devem ser ocultados em um primeiro momento, é precisoconhecer a empresa e saber há restrições.• As pessoas que trabalham com as áreas de criação, design, moda, informática, telemarketingou esporte podem usar um traje mais despojado. Empregos mais formais comocorretores de seguro, recepcionistas e bancários, por exemplo, necessitam de uma apresentaçãomais formal.• É importante que você saiba como as pessoas se vestem para o tipo de vaga que vocêestá concorrendo. Lembre-se, porém, de que cada empresa tem um perfil.No caso das mulheres:• Apresente-se com as unhas limpas, cortadas, se possível com base ou esmalte, poisvaloriza a aparência. A maquiagem, quando suave, valoriza o rosto, mas não deve serextravagante. Não usar roupas decotadas, apertadas, que deixem a barriga expostaou vestidos curtos demais. Tome cuidado com o uso de brincos grandes, pois elespodem atrapalhar nas dinâmicas de grupo.Da preparação para a entrevista, dinâmicas de seleção em geral:• Seja você mesmo. Embora seja difícil, procure manter a tranqüilidade, seja sincero eespontâneo.• Procure conhecer tudo o que puder sobre a empresa contratante antes da entrevista.Busque informações na internet, grande parte das empresas hoje já tem seu site. Sevocê tiver contato com pessoas que trabalham no local, peça algumas dicas. Pesquisequantos funcionários a empresa tem, qual é a sua missão (seus objetivos para com asociedade), sua história, qual é o produto (ou o tipo de prestação de serviços) que realiza,quantas filiais tem etc. Essas informações podem ajudar nos teste de seleção efazer diferença. Você pode utilizá-las em algum momento da seleção, isso demonstrainteresse da sua parte em conhecer a empresa, é perfil de um profissional dedicado.Da conversa com o entrevistador, selecionador:• Respirar fundo (inspirar e expirar) para baixar a ansiedade.• Se for sua primeira entrevista e você se sentir muito nervoso diante do entrevistador,fale que esta é a sua primeira entrevista, a pessoa que está entrevistando lida comisso o tempo todo e já passou por isso também.116


• Procure demonstrar interesse pela vaga, força de vontade, desejo de batalhar por ela.• Ouça o entrevistador e responda a cada pergunta que lhe for feita de forma objetiva.• Não minta. Não se esqueça de que, quando mentimos, passamos insegurança e porvezes até gaguejamos. Lembre-se de que normalmente as pessoas que entrevistamsão especialistas em comportamento humano e têm boa percepção.• Não se esqueça de que o entrevistador tem como maior objetivo descobrir suas qualidades,as habilidades para que sua contratação seja favorável, encontrando a pessoacerta para o lugar certo.• Você também pode perguntar se tiver dúvidas sobre a vaga. Isso poderá ajudar nahora de responder e você poderá valorizar mais o que sabe fazer a partir do que éesperado para a vaga, ou seja, ressalte os pontos mais importantes.COMENTÁRIOS: Aproveite todas as experiências dos jovens nessa área, especialmente nocaso daqueles que não conseguiram determinada vaga, ajudando o grupo a fazer umaavaliação do que pode ter ocorrido. Se possível, apresente casos de outras pessoas emetapas de seleção.117


Oficina 8. Curriculum VitaeOBJETIVO: Fazer o próprio Curriculum Vitae.MATERIAL: Folha de sulfite; caneta preta e folha com as informações e o modelo doCurriculum Vitae.DESCRIÇÃO: Abra o Livro do adolescente na seção “E aí, já fez o seu CV?”. Nela vocêencontrará as informações necessárias para fazer um currículo. Converse com osparticipantes sobre cada item do currículo; assim que esgotarem todas as dúvidas,entregue a cada um deles uma folha de sulfite e uma caneta e peça que façam opróprio currículo. Assim que todos terminarem, solicite que o apresentem. Ajude ogrupo a analisar cada currículo, sugerindo possíveis mudanças caso necessário.Discuta os pontos positivos de cada um que merecem ser ressaltados assim comoeventuais fragilidades, por exemplo: “sou bom em computação, mas me falta inglês”.Pontos que devem ser lembrados na discussão:• A importância do histórico escolar para obtenção de um trabalho.• A participação em trabalhos voluntários como algo possível de ser acrescentado nocurrículo.• A importância de se aperfeiçoar participando de cursos oferecidos na própria escolaou em outras instituições.COMENTÁRIOS: Nem todos os jovens sabem da existência de cursos gratuitos ou a baixocusto (de língua estrangeira, informática, especialmente de cursos preparatórios parao vestibular) oferecidos por universidades e ONGs em várias cidades do país. Assim,durante a discussão, alerte-os sobre as disponibilidades oferecidas em termos de formaçãoe/ou aperfeiçoamento na sua região e instigue-os a se informar sobre as possibilidadesexistentes. Essa troca de conhecimentos pode ser muito útil.118


para se aprofundar...LivrosALVES, Rubem; DIMENSTEIN, Gilberto. Fomosmaus alunos. Campinas: Papirus, 2003.AMARAL, Sofia Esteves do. Virando gente grande.Como orientar os jovens em inicio de carreira.São Paulo: Gente, 2004.ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do trabalho:ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho.São Paulo: Boitempo, 1999.BOCK, Ana Mercês Bahia et al.A escolha profissional em questão.São Paulo: Casa do Psicólogo, 1995.BOHOSLAVSKY, Rodolfo.Vocacional: teoria, técnica e ideologia.São Paulo: Cortez, 1983.DEJOURS, Christophe.A banalização da injustiça social.Rio de Janeiro: FGV, 1999.DIAS, Maria Luiza. Profissão, no rumo da vida.São Paulo: Ática, 2002.FERRETTI, Celso João. Uma nova proposta deorientação profissional. São Paulo: Cortez, 1988.GIACAGLIA, Lia Renata.Atividades para orientação vocacional.São Paulo: Pioneira, 2000.GUIMARÃES, Ivan. Ingressando no mercado detrabalho. São Paulo: C N, 2001.GUIMARÃES, Nádia Araújo; HIRATA, Helena. (Orgs.).Desemprego: trajetórias, identidades, mobilizações.São Paulo: SENAC, 2006.LASSANCE, Maria Célia (Org.). Técnicas para otrabalho de orientação profissional em grupo.Porto Alegre: UFRGS, 1999.LEHMAN, Yvette Piha. Não sei que profissãoescolher. São Paulo: Moderna, 1999.MACEDO, Roberto. Seu diploma, sua prancha:como escolher a profissão e surfar no mercadode trabalho. 8.ed.São Paulo: Saraiva, 1999.MELLO, Fernando Achilles.O desafio da escolha profissional.Campinas: Papirus, 2002.MELO-SILVA, Lucy Leal; SANTOS, Manoel Antôniodos; SIMÕES, Joab Tenysson et al. Arquitetura deuma ocupação: orientação profissional - Vol. 1.São Paulo: Vetor, 2003.OLIVEIRA, Marco Antonio. O novo mercado detrabalho - guia para iniciantes e sobreviventes.Rio de Janeiro: SENAC, 2000.POCHMANN, Márcio. A inserção ocupacional e oemprego dos jovens.Campinas: IE/UNICAMP, 1998.POCHMANN, Márcio. O emprego na globalização:a nova divisão internacional do trabalho e oscaminhos que o Brasil escolheu.Rio de Janeiro: Boitempo, 2001.PUBLIFOLHA, “Série Profissões” – Administrador(2006); Advogado (2005); Engenheiro (2006);Jornalista (2006); Médico (2005); Publicitário (2005).São Paulo: Publifolha.RIBEIRO, Renato Janine. A universidade e a vidaatual. São Paulo: Globo, 1996.SCHEIN, Edgard. Identidade profissional.São Paulo: Nobel, 1996.SCHWARTZ, Gilson. As profissões do futuro.São Paulo: Publifolha, 2000.SENNETT, Richard. A corrosão do caráter: asconseqüências pessoais do trabalho no novocapitalismo. Rio de Janeiro: Record, 1998.SILVA, Laura Belluzo de Campos. A escolha daprofissão: uma abordagem psicossocial.São Paulo: Unimarco, 1996.119


SOARES, Dulce Penha; LISBOA, Marilu Diez(Orgs.). Orientação profissional em ação:formação e prática.São Paulo: Summus, 1998.SOARES, Dulce Penha (Org.).Pensando e vivendo a orientação profissional.São Paulo: Summus, 1993.SUPER, Donald; BOHN JR, Martin.Psicologia ocupacional.São Paulo: Atlas, 1972.TOMASI, Antonio. Da qualificação à competência:pensando o século XXI.Campinas: Papirus, 2004.TOURAINE, Alain.Poderemos viver juntos: iguais e diferentes.Petrópolis: Vozes, 1998.SitesAgência de Apoio ao Empreendedor ePequeno Empresário SEBRAE:http://www.sebrae.com.brCentro Paula Souza:http://www.centropaulasouza.sp.gov.br/Cursos/ETE/Cursos.htmlCooperativas de Trabalho - Incubadoras – USP:http://www.itcp.usp.br/Currículo:http://www.curriculum.com.brEmpregos e recrutamento:http://www.catho.com.brhttp://www.clickempregos.comFATEC:http://www.fatec.brGuia das profissões do Professor WagnerHorta (revista):www.agenciaeducacao.com.brGuia do Estudante:http://www.guiadoestudante.abril.com.brLei do Aprendiz:http://www.leidoaprendiz.org.brMinistério do Trabalho e Empregohttp://www. mte.gov.brPrograma Universidade para Todos:http://www.prouni-inscricao.mec.gov.brRota do Trampo – CD Rom, 2001.http://www.cipo.org.brSENAIhttp://www1.sp.senai.br/senaisp/WebForms/default.aspxTeenagerhttp://www.teenageronline.com.brVestibular FATEChttp://www.vestibularfatec.com.brFilmesBilly ElliotStephen Daldry, 2000.DomésticasFernando Meirelles e Nando Olival, 2001.Eles Não Usam Black-tieLeon Hirszman, 1981.MutumSandra Kogut, 2007.Pão e RosasKen Loach, 2000.SábadoUgo Giorgetti, 1994.120


cidadania


introduçãoApalavra cidadania parece ter entrado na moda há alguns anos. Ela está presenteno discurso das escolas, dos governos, das ONGs e nos meios de comunicação.Fala-se em cidadania para se tratar de assuntos tão diversos quanto o desmatamento,o desvio de verbas públicas, os conflitos entre gangues ou a falta desaneamento básico. E isso não acontece por acaso: em um momento de mudanças devalores, de amplo acesso à informação, de grandes disparidades sociais, é naturalque a cidadania seja conclamada como um poderoso antídoto para diversas mazelasda sociedade contemporânea.Isso ocorre porque cidadania nada mais é do que o cumprimento de deveres e direitosdos cidadãos. Entende-se que a participação dos cidadãos na sociedade é absolutamentenecessária para o fortalecimento das instituições, a consolidação da democraciae do Estado de Direito. Mas para exercer a cidadania, não basta conhecer direitos edeveres (ainda que seja fundamental!); é preciso reconhecer seu valor de modo acolocá-los em prática nos atos e gestos mais cotidianos.No caso dos jovens, o exercício da cidadania implica responsabilizar-se por suasações, respeitar o outro e os bens coletivos, fazer-se respeitar, participar da vidacomum, combater arbitrariedades, enfim, construir preceitos éticos para que aconvivência social seja mais justa e solidária. Esse caminhonão é simples nem rápido, pois exige profunda tomada deconsciência de si e da realidade, mudanças de modos depensar ou de fazer. Contudo, todos sabemos que astransformações sociais passam pela educação dosjovens e crianças com os quais trabalhamos. Pode soarcomo um jargão, mas, de fato, só haverá um <strong>mundo</strong>melhor se cada um fizer a sua parte. Hoje. Desde já.Cabe a você fazer a sua.Mãos à obra!objetivos do módulo:• Informar-se sobre o que é cidadania e sobre algumas das questões envolvidas nessetema, como, por exemplo, meio ambiente, participação política, violência.• Refletir criticamente sobre o papel do cidadão, buscando compreender quais são osdireitos e deveres de cada um na sociedade.• Estimular uma participação ativa e responsável do <strong>jovem</strong> na sua comunidade.122


com a palavra...Cidadania: como se chega a ser cidadãoMauricio ÉrnicaOuvimos e lemos a palavra cidadania em vários lugares, mas nem sempre ficaclaro o que se quer dizer com ela. Podemos ter uma boa compreensão do queesse termo significa tendo em mente que ele diz respeito às características pelasquais as pessoas podem chegar a se tornar cidadãs.Como definir cidadania, afinal?A palavra cidadania tem origem na palavra latina civitas, que significa cidade. Em sentidomais restrito, refere-se ao conjunto de direitos e deveres daquele que habita acidade, o cidadão. A cidadania, portanto, é caracterizada por um conjunto de direitos edeveres definidos a partir do que se costuma chamar de direitos humanos.Os direitos humanos foram criados no curso da história da sociedade a partir delutas políticas e não doados como se fossem presentes ou favores dos poderosos.Costuma-se classificá-los em três grandes grupos: direitos civis, direitos políticos edireitos sociais.Os direitos civis dizem respeito às liberdades individuais: liberdade de ir e vir,liberdade de imprensa, liberdade de participar de grupos de interesse, liberdade depensamento e de fé, liberdade para exercer a vida afetiva, liberdade para ter a vidaprivada preservada etc.Os direitos políticos referem-se à participação nos destinos da sociedade, seja atuandodiretamente nas instâncias de poder, seja escolhendo aqueles que participarão dessasinstâncias. Fundamentalmente, correspondem ao direito de votar e ser votado e aodireito de participar de organizações políticas como associações, partidos e sindicatos.Os direitos sociais remetem ao usufruto da riqueza produzida pela sociedade, assegurandoaos cidadãos níveis de bem-estar de acordo com os padrões definidos historicamente.São exemplos, o direito ao trabalho, ao salário digno, à saúde, à moradia, àeducação, à alimentação saudável, ao lazer etc.MAURICIO ÉRNICA. Cientista Social, Mestre em Antropologia Social (Unicamp) e Doutor em Linguística Aplicada e Estudos daLinguagtem (PUC-SP). Trabalhou como professor no Ensino Médio e no Superior. Participou de projetos de diferentes ONGs nasáreas de educação e cultura. Desde 1995 é pesquisador do CENPEC (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e AçãoComunitária) e, desde 2006, é consultor da Fundação Tide Setubal.123


A cidadania no BrasilSe observarmos diferentes sociedades, veremos que os direitos humanos assumemcaracterísticas que variam conforme as peculiaridades da história de cada uma delas.Na história do Brasil, a afirmação da cidadania seguiu um caminho lento e tortuoso.Nós só vivemos em regimes democráticos em três momentos: de 1934 a 1937; de 1945a 1964 e após 1985. Entre nós, os direitos sociais foram expandidos por governosautoritários e populistas, sem que os direitos civis e políticos estivessem assegurados.Por isso, a tradição de afirmação de direitos é frágil no país e não é comumreconhecermos nem a nós nem aos outros como pessoas portadoras de direitos. Omais comum é considerarmos que os direitos são favores concedidos pela vontadede quem ocupa um lugar de poder. Essa tradição valoriza o líder paternalista compersonalidade forte e disposto a distribuir benefícios aos seus protegidos. Elaenfraquece a participação na vida púbica e as políticas impessoais, voltadas a todos.Somos uma sociedade profundamente desigual, com muitas pessoas vivendo emsituação de pobreza e vulnerabilidade, pressionadas por necessidades urgentes, comomoradia, educação, saúde, trabalho etc. Essas urgências não satisfeitas são umterreno fértil para a reprodução de práticas clientelistas e assistencialistas.Clientelismo é a prática pela qual um poderoso concede benefícios a um grupo depessoas mantidas em situação de dependência (clientela) e que, por receberem essesfavores, tornam-se devedoras de lealdade política. Assistencialismo é a prática quebusca atender pontualmente, caso a caso, necessidades urgentes de pessoas ougrupos sociais sem que busque a implementação de iniciativas que solucionem essasquestões de modo amplo e impessoal.Pode-se ver, então, que somos uma sociedade marcada por práticas que não nosfazem cidadãos. Em vez de afirmarmos nossos direitos, é muito comum que nossasnecessidades sejam atendidas pontualmente na forma de favores. Favores geramdívidas. Dívidas devem ser pagas, sob o risco de punição. Um modo corrente depagar dívidas desse gênero é com a lealdade política e com a reprodução dessesesquemas de poder. Assim, o clientelismo e o assistencialismo se perpetuam erestringem a afirmação da cidadania por geraram pessoas dependentes dospoderosos e não cidadãos livres, autônomos e com seus direitos assegurados.A cidadania como deverA cidadania pode ser definida pelos direitos e deveres que garantem aos cidadãos124


liberdade individual, participação política e bem-estar social. O fato de os direitosserem afirmados nas leis é um passo importante para eles serem realizadosconcretamente, na vida cotidiana. Mas, para isso, é preciso consolidar instâncias departicipação social e políticas públicas que universalizem direitos para todos, semexceções ou privilégios.Direitos não geram dívidas, como os favores. Geram algo bem diferente: os deveres docidadão. E o dever central de todo e cada um dos cidadãos é zelar pela garantia dosdireitos de todos, dos seus e os dos outros.Referências bibliográficas:MARSHALL, T. H.. Cidadania e classe social. In: ____ . Cidadania, classe social e status.Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1967.BOBBIO, N.. A era dos direitos.Rio de Janeiro: Campus, 1992.CARVALHO, J. M. de. Cidadania no Brasil: o longo caminho.Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.COMPARATO, F. K.. A afirmação histórica dos direitos humanos.São Paulo: Saraiva, 2001.125


Oficina 1. Declaração dos Direitos HumanosOBJETIVO: Discutir alguns artigos da Declaração dos Direitos Humanos da ONU paraque os jovens tomem conhecimento de direitos e deveres universais.MATERIAL: Fotocópia da folha tarefa; revistas; lápis e canetas coloridas; tesouras;cartolinas; papéis coloridos e cola.DESCRIÇÃO: O conceito de cidadania ainda não é algo de que a maior parte dos jovenstenha se apropriado. Por essa razão, ao iniciar esse módulo, é interessante que vocêintroduza o tema com um pequeno aquecimento. Você pode escrever na lousa ou emum papel três palavras correlatas – cidade, cidadão e cidadania – e pedir aos jovensque atribuam significados a cada uma delas. Anote todas as idéias dos participantes,ajude-os a fazer relações entre as palavras e ao final, procure esboçar uma definiçãodo grupo de cidadania. Você pode ainda compará-la à acepção do dicionário ou dealgum outro livro sobre o tema. Diga que ao longo das oficinas desse módulo, essadefinição será enriquecida por meio de diversas atividades e vocês poderão compararas idéias iniciais com as que estão por vir.A seguir, pergunte aos jovens o que eles sabem sobre a Declaração dos DireitosHumanos ou sobre a Organização das Nações Unidas – ONU. Leia as informações doquadro abaixo se necessário.Depois disso, divida os participantes em duplas ou trios. Entregue a cada pequenogrupo uma cópia de um dos artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Aequipe deve elaborar um cartaz que remeta ao seu conteúdo. Procure garantir quecada um dos grupos entenda o texto que lhe cabe e, se for necessário, explique o significadode palavras que talvez não façam parte do repertório dos jovens.Quando todos tiverem terminado, peça que cada grupo mostre seu trabalho sem ler oartigo em questão, para que os demais descubram o conteúdo desse artigo. Dado suasopiniões, os autores lêem o artigo e o discutem coletivamente.Propomos algumas questões para aquecer a discussão. As suas contribuições certamenteirão enriquecer o debate.• O que você compreendeu desse artigo?• Você acha que esses direitos são cumpridos no país? Cite exemplos.• Se não o são, por que você acha que isso ocorre?• O que o Estado precisa fazer para garantir plenamente esses direitos?• O que nós podemos fazer para garantir plenamente esses direitos?• De que maneira esses artigos interferem na sua vida e na de seus familiares?126


• Você sabia que, assim como a Declaração dos Direitos Humanos aprovada pela ONUdefende os direitos das pessoas, está em vigor no Brasil o Estatuto da Criança e doAdolescente, conhecido como ECA, que visa assegurar os direitos dos indivíduos nessasetapas da vida? (comentar que alguns de seus artigos estão no Livro do adolescente).A idéia de proclamação dos direitos do homem nasceu no século XVIII, durante aRevolução Francesa, mas somente em 1948, depois dos horrores de duas guerrasmundiais, surgiu a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Foi uma das primeirasações da Organização das Nações Unidas – ONU, criada em 1945. Esta Declaraçãocontém 30 artigos que devem ser respeitados por todos os países que a assinaram(inclusive o Brasil), em benefício de todas as pessoas, sem restrição.COMENTÁRIOS: Provavelmente os jovens já ouviram falar em direitos humanos na TV, naescola ou em outros lugares. Contudo, talvez desconheçam que tais documentos (comotambém a Constituição e o ECA, por exemplo) balizam a atuação de instituições que visamgarantir os direitos e deveres em nosso país. Uma compreensão equivocada daqueles quetrabalham na defesa dos direitos humanos, em instituições governamentais ou não, temfeito crer que seu objetivo é “defender bandidos”. Para muitos, talvez seja difícil compreenderque presos, bandidos, travestis, homossexuais ou prostitutas também devem ter seusdireitos garantidos, independentemente da opinião que cada um possa ter sobre as atividadese os comportamentos dessas pessoas. Esse tipo de discussão é fundamental, poismostra ao <strong>jovem</strong> que leis são universais e devem ser cumpridas, ainda que não se concordecom elas.127


Declaração Universal dos Direitos HumanosArtigo I – Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos.São dotados de razão e consciência e devem agir em relação unsaos outros com espírito de fraternidade.Artigo V – Ninguém será submetido a tortura nem a tratamento ou castigocruel, desumano ou degradante.Artigo XVIII – Todo homem tem direito à liberdade de pensamento, consciênciae religião. Este direito inclui a liberdade de mudar de religiãoou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença pelo ensino,pela prática, pelo culto e pela observação, tanto em público quantoem particular.Artigo XIX – Todo homem tem direito à liberdade de opinião e expressão.Este direito inclui a liberdade de, sem interferências, ter opiniões e deprocurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meiose independentemente de fronteiras.Artigo XXIII – Todo homem tem direito ao trabalho, à livre escolha doemprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contrao desemprego. Todo homem, sem qualquer distinção, tem direito aigual remuneração justa e satisfatória, que lhe assegure, assim comoà sua família, uma existência compatível com a dignidade humana e aque se acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social.Todo homem tem direito a fundar sindicatos e a sindicalizar-se para adefesa de seus interesses.Artigo XXV – Todo homem tem direito a um padrão de vida capaz deassegurar a si e à sua família saúde e bem-estar, inclusive alimentação,vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveise direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez,viuvez, velhice e outros casos de perda dos meios de subsistência emcircunstâncias fora de seu controle. A maternidade e a infância têmdireito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças nascidas dematrimônio ou fora dele, têm direito a igual proteção social.128


Artigo XXVI – Todo homem tem direito à instrução. A instrução será gratuita,pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instruçãoelementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessívela todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito. Ainstrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidadehumana e do fortalecimento do respeito pelos direitos do homeme pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensãoe a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos e coadjuvaráas atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz.Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução queserá ministrado aos filhos.Artigo XXIX – Todo homem tem deveres para com a comunidade, na qualé possível o livre e pleno desenvolvimento de sua personalidade. No exercíciode seus direitos e liberdades, todo homem está sujeito às limitaçõesestabelecidas pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devidoreconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazeras justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar deuma sociedade democrática. Esses direitos e liberdades não podem, emhipótese alguma, ser exercidos contrariamente aos objetivos e princípiosdas Nações Unidas.129


Oficina 2. Por quê?OBJETIVO: Problematizar questões relativas à convivência, à ecologia e ao uso dosespaços coletivos de modo que os jovens se sintam implicados e possam contribuirpara o bem comum.MATERIAL: Papel; caneta; cópias das fotos em anexo (ao final do módulo).DESCRIÇÃO: Você pode trabalhar com o grupo todo ou dividir os participantes emequipes. Sente-se em uma posição da qual todos possam ver as fotos que você vaimostrar. Mostre uma foto por vez, dê um tempo para que observem cada uma comatenção. À medida que você mostra cada foto, peça para responderem as questõesabaixo por escrito. Esclareça que esse registro escrito tem apenas a função de apoiara discussão, ele não será entregue.• O que/quem causou isso que você vê?• Por que isso aconteceu?• O que você sente quando vê essa cena?• Você já viu algo parecido?• O que essa situação tem a ver com você?• Quais são as possíveis soluções para esse problema?• E você, o que pode fazer?A seguir, abra a discussão para todo o grupo.Questões norteadoras:• O que você tem a ver com essa imagem?• Você vê essas situações em seu cotidiano? O que você faz? O que poderia fazer?COMENTÁRIOS: Todas essas situações aparentemente diversas têm em comum o abuso, airresponsabilidade e a impunidade. Sabemos hoje que a maior parte dos problemas dedestruição do patrimônio ou da natureza é causada pela falta de apropriação dos benscoletivos ou por um sentimento de não-pertencimento à comunidade. Além disso, paramuitos, é difícil pensar nas conseqüências de seus atos, como jogar lixo na rua, por exemplo;por essa razão, tirar proveito pessoal imediato das situações aparece como a soluçãomais fácil. No caso dos animais, o fato de eles não serem vistos como seres dotados dedireitos – embora tenham vida e sejam semelhantes a nós por sua sensibilidade à dor, aosofrimento, à privação – acaba justificando sua exploração.O impacto das imagens deve gerar uma discussão interessante acerca desses temas. Éimportante mostrar que cada um tem a sua parcela de responsabilidade, mesmo quenão esteja diretamente envolvido na situação. A questão principal é discutir as causas econseqüências de cada situação, de modo a envolvê-los com esses problemas.130


Oficina 3. Dilemas éticosOBJETIVO: Discutir com os jovens dilemas éticos cotidianos de forma a auxiliá-los aconstruir valores e princípios sólidos.DESCRIÇÃO: Inicie perguntando o que o grupo acha que é um “dilema ético”. Para tanto,é preciso discutir cada uma das palavras para garantir que compreendam seu significado.Observe as definições do Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa:Dilema s.m. (1679 cf. RB) 1 FIL raciocínio que parte de premissas contraditórias emutuamente excludentes, mas que paradoxalmente terminam por fundamentaruma mesma conclusão.Ética s.f. (sXV cf. FichIVPM) 1 parte da filosofia responsável pela investigação dosprincípios que motivam, distorcem, disciplinam ou orientam o comportamentohumano, refletindo esp. a respeito da essência das normas, valores, prescriçõese exortações presentes em qualquer realidade social.A seguir, leia um dos dilemas listados na próxima página (que também se encontramna seção “Ética e cidadania” do Livro do adolescente) e peça que alguém diga comoagiria em tal situação. Aprofunde a discussão, perguntando: alguém faria outra coisa,agiria de outra maneira? Dê a palavra à pessoa que disser que sim, de modo a estimulara discussão. Ajude-os a analisar as causas e conseqüências de cada situação.Prossiga com a leitura e discussão de cada um dos dilemas.Depois de exploradas as situações propostas, peça aos participantes que, em duplas,elaborem outros dilemas para exporem ao grupo.COMENTÁRIOS: Há muitas situações nas quais os jovens têm dúvidas sobre a maneiracorreta de se comportar e, outras vezes, mesmo sabendo como seria adequado agir, nãoo fazem. Questionar essas razões e mostrar quais os comportamentos sociais esperadosé uma maneira de humanizar as relações sociais.131


Há regras que são regidas pelas leis, mas há comportamentos e atitudes que fazemparte da ética e da cidadania. Leia os dilemas éticos abaixo e veja como você agirianestas situações:• Você está sentado em um ônibus cheio, morrendo de sono porque ficou estudandoà noite para a prova. Entra uma senhora de idade, cabelos brancos, mas bemfirmezinha. Você dá o seu lugar para ela ou finge que está dormindo?• Você foi na lotérica pagar uma conta pra sua mãe. O cidadão da frente deixou cairR$ 10,00 e ninguém viu. Você o avisa? E se for uma nota de R$ 100,00, você age domesmo jeito?• Sua irmã tem um diário (sem cadeado!). Você lê escondido para ter posse deinformações privilegiadas?• Você sabe que seu vizinho bate na mulher quando bebe. Você acha que “em brigade marido e mulher ninguém mete a colher”?• Para você, o <strong>mundo</strong> é dos espertos ou é esperto quem acha essa frase um absurdo?• Você recebe um convite para ganhar um bom dinheiro trabalhando para um candidatocorrupto da sua região, o que você faz?• Você está precisando de grana e seu colega, que não conseguiu terminar o trabalho definal de ano da escola, lhe oferece dinheiro para fazer o trabalho dele. Você topa?132


Oficina 4. O que é violênciaOBJETIVO: Ajudar os participantes a refletir sobre o que é violência e o que ela desperta.MATERIAL: Uma garrafa ou algo que possa passar por uma roleta; cartolina para fazeros cartões.Confeccione previamente seis cartões. Em cada um deles você deve escrever asseguintes frases em um só lado:Sinto-me agredido quando...Violência pra mim é...Quando me sinto agredido eu...Cite um exemplo de violência que você já presenciou (na rua, na escola, no ônibus etc.);Quando vejo uma cena de violência me sinto...Para mim a frase: “violência gera violência” quer dizer que...DESCRIÇÃO: Inicie dizendo ao grupo que o tema dessa oficina é violência. Perguntequais são os tipos de violência que existem (física, psicológica, sexual, negligência/abandono) e peça para citarem exemplos. Pergunte se eles acham que o bairro ondemoram é violento e por quê.Em seguida, peça para todos se sentarem (no chão ou em cadeiras), formando um círculo.Coloque no centro a garrafa. Um voluntário deve girá-la para sortear quemcomeça; a pessoa para a qual o gargalo da garrafa apontar deverá escolher um cartãoe completar a frase. Depois que o participante responder, o grupo também poderáfazê-lo de modo que todos possam participar. Repita esse procedimento até que todosos cartões sejam explorados.Ao final, pergunte ao grupo como foi falar desse tema e como estão se sentindo.Lembre-os também de que, no Livro do adolescente, existe um quadro explicandoonde buscar ajuda, caso precisem.COMENTÁRIOS: Esse é um tema bastante delicado, pois a violência está na vida de todos epode mobilizar os participantes da oficina caso se lembrem de alguma experiência pessoaldifícil. Procure estar atento e sempre orientar para que saibam onde buscar ajudacaso necessário.Também parece importante sempre enfatizar que existem diversas maneiras deresolver um conflito e que a violência normalmente costuma ser a pior delas.133


Oficina 5. Modelos: gente que fazOBJETIVO: Favorecer a identificação dos jovens com pessoas que se destacam por suasvirtudes.DESCRIÇÃO: Peça para cada participante pensar em alguém por quem sente admiração.Essa pessoa pode ser tanto um anônimo (como os pais, parentes, professores)quanto uma celebridade; o importante é que ela seja lembrada por sua conduta, seusprincípios (honestidade, generosidade, retidão, responsabilidade, preocupação com ooutro), pela militância em uma causa ou pelo trabalho que realiza. A seguir, divida osparticipantes em pequenos grupos e peça que os integrantes de cada um falem sobreo seu personagem. Depois de ouvidas as histórias, o grupo deve escolher apenas umdeles para apresentá-lo aos demais. Deixe que cada grupo apresente seu personagem,contando um pouco de sua história, suas qualidades e o motivo que levou ogrupo a escolhê-lo como uma pessoa admirável. A seguir, abra a discussão coletiva.Questões norteadoras para a discussão:• O que essas pessoas têm em comum? Como elas são?• Por que elas fazem diferença à sua volta?• Qual desses personagens mais o sensibiliza? Por quê?• O que elas têm que você também tem ou gostaria de ter?• De que maneiras você também pode fazer diferença à sua volta? O que você acha quepoderia fazer para melhorar o <strong>mundo</strong>?Comentários: Bons modelos inspiram muitas pessoas, mas os jovens, sobretudo, necessitamde referenciais e exemplos positivos. Valores e princípios sólidos contribuem para aconstrução da personalidade. Esse é um bom momento para discutir e questionar os valoresde cada um e partilhá-los com o grupo. Você também pode participar, trazendo seusexemplos. Você pode ainda dar prosseguimento a esse trabalho, estimulando uma entrevistacom um dos personagens (se forem acessíveis) ou uma visita a uma instituição querealize algum trabalho importante no bairro.134


Oficina 6. Sonhos para um futuro melhorOBJETIVO: Favorecer a discussão sobre as relações existentes entre indivíduo esociedade. Refletir, discutir e nutrir em sonhos pessoais que estejam vinculados ainteresses coletivos.MATERIAL: Papel sulfite recortado em tiras; caneta e fita crepe.DESCRIÇÃO: Copie as frases abaixo em um quadro e peça para os participantes completaremcada frase usando uma tira de papel diferente.Eu sonho para mim ______________________________________________________Eu gostaria que a minha família __________________________________________Eu queria que o meu bairro fosse __________________________________________Eu queria que minha cidade tivesse ________________________________________Eu queria que o Brasil ____________________________________________________Eu imagino um <strong>mundo</strong> __________________________________________________Assim que terminarem, recolha as frases e afixe-as na parede (ou em um papel pardo)separando-as de acordo com os temas (eu, família, bairro, cidade, país, <strong>mundo</strong>) demodo a construir um painel coletivo com a opinião de cada adolescente. Procure analisarsemelhanças e diferenças entre as frases.Abra a discussão em grupo, levantando a seguinte pergunta: seus sonhos pessoais searticulam com os demais desejos? Se sim, de que maneira? A idéia é promover umdebate entre as relações indivíduo-coletividade. Outras questões podem ampliar a discussão,por exemplo: como é ter uma bela casa em um bairro sujo e perigoso? Umapessoa pode ser bom aluno em uma escola ruim? O que pode fazer uma pessoa mudarde país? Uma pessoa pode ter bom emprego se a economia do lugar onde mora estiverestagnada?Ao final, procure resumir as opiniões que surgiram, consolidando as principaisquestões discutidas.COMENTÁRIOS: A realização de desejos e sonhos depende não apenas do esforço pessoal,mas das possibilidades e circunstâncias da realidade. Ajudar o adolescente a pensar sobrea realidade à sua volta é uma maneira de, em última análise, integrá-lo ao <strong>mundo</strong>. Porisso, é tão importante que ele se informe sobre o que acontece no seu bairro, em suacidade e no país.135


Oficina 7. Nosso bairroOBJETIVO: Fazer uma cartografia do bairro de modo que os adolescentes possam identificarseus problemas assim como os potenciais existentes.MATERIAL: Gravador; música; mapa do bairro; papel sulfite; lousa e giz ou papel pardoe canetas.OBSERVAÇÃO: Você pode obter o mapa do bairro nos guias da cidade ou até nas listastelefônicas. Se você morar em uma cidade pequena, pode trabalhar com o mapa daregião central que você pode conseguir na Prefeitura.DESCRIÇÃO: Coloque uma música suave e peça para os jovens se sentarem, fecharemos olhos e imaginarem o percurso que fazem de casa para a escola. Vá orientandolentamente a vivência, por meio de perguntas: o que você está vendo agora que saiude casa? Ande mais um pouco, o que chama a atenção? O que lhe dá desgosto de ver?O que lhe dá prazer? Existem pessoas/animais/coisas que você vê sempre em seucaminho? Você passa por algum espaço público? Como ele está: limpo, sujo, comgente ou vazio? Como estão os muros no seu percurso? E as calçadas? Existe algumperigo nesse trajeto?Quando você achar que foi suficiente, peça para abrirem os olhos e registrarem em umpapel o que viram por meio de desenhos, palavras, sinais. Isso vai ser usado ao longoda oficina. A seguir, socialize a vivência, pedindo que quem quiser dê sua opinião.Esclareça que essa oficina tem por finalidade levar os jovens a conhecer melhor o bairroem que vivem. Juntos, eles descobrirão as potencialidade e os problemas locais.Levante com o grupo todos os equipamentos públicos existentes: bibliotecas, praças,clubes, salões paroquiais, cinemas, teatros, postos de saúde, ONGs, escolas, parques,enfim, quaisquer lugares em que as pessoas se encontrem. Anote na lousa ou em umpapel pardo aquilo que for mais importante. A seguir, dê-lhes um mapa do bairro (podeser um único exemplar se todos conseguirem observá-lo). Primeiramente, ajude-os ase localizar, marcando onde estão; depois, peça que assinalem os lugares que listaram,classificando-os por cor. Por exemplo: praças em verde, escolas em azul,clubes em amarelo e assim por diante.Com esses dados em mãos, inicie uma discussão. Para orientar a conversa, seguemabaixo algumas questões:• Quais os locais que já freqüentaram, onde nunca foram e onde costumam ir?• Por que razão vão ou não a esses lugares? O que fazem?• Quais os aspectos positivos e negativos desses lugares?• Quais os aspectos positivos e negativos do bairro?136


• Do que sentem falta no bairro? Por quê?• Precisam ir a outro bairro para fazer alguma coisa? Que bairro freqüentam? Como vãoaté lá?• Aproveitam os potenciais do bairro?• O que deveria/poderia ser feito para melhorar o bairro?• De que maneiras poderiam contribuir para melhorar a vida no bairro?A discussão certamente estimulará os jovens a se integrar mais ao local onde moram,a desenvolver um sentimento de "apropriação". Pode acontecer de alguns jovens seinteressarem por conhecer locais antes ignorados ou até em realizar ações concretasde intervenção em instituições ou melhoria nos equipamentos públicos. Se isso ocorrer,anote na lousa ou em um papel grande as sugestões levantadas. Qualquer queseja a ação proposta, um passeio ou de intervenção em algum lugar, ela vai requererplanejamento, o que pode ser feito em uma outra oficina que tenha por finalidadeespecífica a organização dessas ações.COMENTÁRIOS: O sentido de pertencimento é fundamental para a construção da cidadania.Quanto mais sentimos que o planeta, o país, a cidade, o bairro ou a escola são “nossos”,melhor cuidaremos desses espaços. Quando as pessoas se dão conta de que estabelecemrelações de troca com cada um dos espaços nos quais vivem ou transitam, aumenta suaconsciência de seus potenciais de utilização e da necessidade de preservação. Conhecer obairro é o primeiro passo para os jovens descobrirem espaços coletivos, discutirem opotencial e os problemas de onde vivem. Essa é uma maneira de se responsabilizarem ereivindicarem seus direitos de cidadãos.137


Oficina 8. Caro político...OBJETIVO: Informar e refletir sobre o funcionamento dos três Poderes no Brasil.Estimular uma participação política ativa.MATERIAL: Folha tarefa anexa; lousa e giz ou papel pardo e caneta hidrográfica.DESCRIÇÃO: O voto é um dos principais meios de participação política. Entretanto, tãoimportante quanto votar é acompanhar o trabalho dos governantes. Para tanto, é precisoque o <strong>jovem</strong> compreenda como o governo funciona e qual o seu papel comocidadão.Comece a oficina conversando com os jovens sobre as funções dos três Poderes daRepública, perguntando-lhes se sabem o que cada um faz, quem são os profissionaisque trabalham em cada um deles. A seguir, esclareça as dúvidas apoiando-se noquadro a seguir (um quadro semelhante se encontra no Livro do adolescente).Informe ao grupo que nesse momento eles vão dirigir sua atenção para o bairro (oua região) onde moram. Retome com eles os principais problemas do bairro levantadosna oficina anterior, que mereceriam maior atenção das autoridades. Listados osproblemas, peça que elejam o mais importante. O objetivo é que escrevam uma cartaa um vereador, por exemplo, alertando-o para o problema. O destinatário da cartadeve ser a autoridade ou instituição responsável pelo problema em questão (como overeador, o prefeito, o governador, o presidente, o Ibama, o Ministério Público, aSabesp).Você será o responsável pela redação dessa carta coletiva. Talvez alguns jovens nãosaibam como escrever uma carta a uma autoridade; é uma boa oportunidade paravocê explicar algumas regras fundamentais e também esclarecer sobre o tipo detratamento e a linguagem que devem ser empregados. Abaixo há um exemplo quepode ajudá-lo.Naturalmente, será melhor se o grupo tiver realmente intenção de enviar a carta.Nesse caso, será preciso postá-la e aguardar o retorno. Mas a atividade também valecomo um exercício para que eles possam utilizar o procedimento em outros momentos,sempre que precisarem.Os três PoderesNas repúblicas, como a do Brasil, a administração da vida pública está a cargo de trêsPoderes independentes: o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. O objetivo é evitar aconcentração de poder em um só grupo e também possibilitar que os três poderes se138


fiscalizem reciprocamente. Acompanhe o quadro abaixo para compreender como elesfuncionam:Poderes/Áreas de atuaçãoO que faz?Principais funçõesQuem são?PaísQuem são?EstadoQuem são?MunicípioExecutivoAdministra o Estadosegundo as regras daConstituição. Aplica leisDefine políticas públicas.Conduz a política econômica.Zela pela segurançanacional. Administrarecursos. Representa opaís. Comanda a políticaexterna.PresidenteMinistros de EstadoGovernadorSecretários estaduaisPrefeitoSecretários municipaisLegislativoElabora leisFiscaliza os outros poderes,inclusive vetando aquilo quejulga inadequado.Senadores(Senado Federal) cada estadotem 3 senadores que exercemum mandato de 8 anos.Deputados federais(Câmara dos Deputados)Os deputados têm mandatode 4 anos e representam oscidadãos no Congresso. Cadaestado tem um número dedeputados proporcional aonúmero de eleitores.Ambos formam o CongressoNacional. O trabalho deles éindependente, mas coordenado.Eles devem definir as leisnacionais, aprovar o orçamentodo governo e fiscalizarcontas e ações do Executivo.Deputados estaduais(Assembléia Legislativa)São eleitos para um mandatode 4 anos. Eles elaboram evotam leis de interesse doestado.Vereadores(Câmara Municipal)Têm mandato de 4 anos.Elaboram e votam leis deinteresse do município.JudiciárioAplica a Constituição e asleis para garantir a Justiça eassegurar a vigência dosdireitos individuais.Ministros do SupremoTribunal Federal (STF)Julga questões constitucionaise crimes comuns dopresidente e dos membrosdo Congresso Nacional.Os ministros são nomeadospelo presidente da República.Superior Tribunal de Justiça(STJ)Julga crimes comuns degovernadores e prefeitos,crimes de responsabilidadedos desembargadores;recursos dos tribunaisregionais e estaduais.Tribunais de JustiçaEstaduais (SJEs)Comarcas e varas estaduais139


Poder JudiciárioO Poder Judiciário tem uma organização mais complexa, hierárquica e sua atuação sedá no âmbito federal ou estadual. Atende as demandas jurídicas da população emações criminais, civis ou comerciais. Todos os seus membros ingressam na carreiraatravés de concursos públicos e vão sendo promovidos por critérios de antiguidade eexercício de funções. Além da Justiça Federal Comum, existe uma Justiça FederalEspecializada, com tribunais nas áreas eleitoral, militar, do trabalho.Funções essenciais da Justiça que você deve conhecer:Ministério Público – é o defensor dos interesses da sociedade, deve proteger opatrimônio público e os interesses coletivos. Pode atuar no âmbito federal ou estadual.É um órgão autônomo, ligado ao Poder Executivo, mas não a determinado governo:seus integrantes são escolhidos por concurso. Entre os quadros do Ministério Públicoestão os promotores, que recebem os inquéritos policiais e podem oficializar denúncias.Nos tribunais são responsáveis pela acusação de réus. Qualquer pessoa podeprocurar um promotor quando achar necessário.Defensoria Pública – sua função é garantir o principio de igualdade entre os cidadãosperante a lei. A Defensoria Pública da União e as dos Estados são órgãos autônomos,embora estejam ligadas ao Poder Executivo. Os profissionais orientam aqueles quenão podem pagar advogados.Exmo. Sr. vereador Benedito Souza,Local, dataNós do grupo Espaço Jovem, que se reúne na escola municipal X, estamos trabalhando o temaCidadania em nossas oficinas semanais. Apresentação – quem é aquele que escreve, seja uma pessoaou uma instituiçãoNas discussões, percebemos que em nosso bairro existe um grande problema quanto a (apresentaçãodo problema de forma clara e objetiva). Por esta razão, gostaríamos de (Objetivo da carta: reclamar,alertar, divulgar, solicitar etc.)Acreditamos que seu papel é fundamental para a resolução desse problema, uma vez que sua atuaçãopolítica tem sido marcada pela (defesa dos direitos de alguém, da natureza, pelos interesses dobairro, da cidade etc.)Esperamos poder contar com a sua ajuda. (saudações finais)Atenciosamente,Fulano de tal (monitor do projeto) e participantesProjeto Espaço JovemRua da Mata 10301000-000 – Jururupimpim, SP140


COMENTÁRIOS: Desacreditadas das instituições, é cada vez mais comum que as pessoasachem que não vale a pena tentar encaminhar seus problemas, sejam eles quais forem.No entanto, se deixamos de fazer um boletim de ocorrência sobre um dano sofrido,por exemplo, essa informação não será registrada. Se os dados policiais não forem fiéisà realidade, as autoridades não identificarão o problema e, por conseguinte, terão umavisão distorcida da realidade e não poderão estabelecer políticas públicas adequadaspara enfrentar a questão.Omitir-se ou tentar resolver o problema no âmbito pessoal não são boas saídas.Atitudes de apatia ou de omissão acabam enfraquecendo as instituições e deixando osindivíduos inseguros porque não se sentem atendidos em seus direitos. Essa tambémé uma maneira de não assumir as próprias responsabilidades. Escrever uma carta aum político ou à seção de cartas de um jornal (você pode mostrar aos participantesessas seções nos periódicos mais importantes) é uma maneira de participar, mas háoutras formas que devem ser discutidas no grupo. Esse é um bom momento paraampliar a discussão e conversar com os adolescentes sobre a importância de dar vozàs suas idéias e indignações sobre os problemas da sociedade contemporânea.É importante que os jovens compreendam que informar-se é fundamental. Aproveitepara divulgar os sites referentes ao tema. Nos sites dos poderes Legislativo e Executivopode-se conseguir o e-mail do político com quem se deseja falar:www.camara.gov.brwww.senado.gov.brwww.presidencia.gov.brOutro endereço importante é o do Ministério Público Federal, ligado ao PoderExecutivo. Recorde que também existem quadros do Ministério Público nos estados.Ministério Público Federal:www.pgr.mpf.gov.br141


para se aprofundar...LivrosBENEVIDES, Maria Vitória. A cidadania ativa.São Paulo: Ática, 1998.BOSCO, Sérgio Martinho de Souza;RODRIGUES, Joel Costa. Redescobrindo oadolescente na comunidade: uma outravisão da periferia.São Paulo: Cortez, 2005.CHAUÍ, Marilena. Cultura e democracia,São Paulo: Moderna, 1984.DIMENSTEIN, Gilberto. O cidadão depapel: a infância, a adolescência e osdireitos humanos no Brasil.São Paulo: Ática, 1998. (Discussão Aberta, 1)FERREZ (Org.). Literatura marginal:talentos da escrita periférica.São Paulo: Agir, 2005.FERRY, Luc. A nova ordem ecológica: aárvore, o animal e o homem.São Paulo: Ensaio, 1994.GARCIA, Edson Gabriel. Uma conversa demuita gente: o exercício do diálogo e daparticipação.São Paulo: FTD, 2004. 48 p. (Conversassobre Cidadania - Temas Transversais)IMPRENSA OFICIAL. Estatuto da Criançae do Adolescente.São Paulo: CMDCA/SP, 2007.JAKIEVICIUS, Mônica.Ambientes brasileiros.São Paulo: DCL, 2008.JORGE, Maria Helena et al.Jovens acontecendo na trilha das políticaspúblicas.Brasília: CNPD, 1998.KRISHNAMURTI, Jiddu.Sobre a natureza e o meio ambiente.São Paulo: Cultrix, 2000.LATERMAN, Ilana.Violência e incivilidade na escola.Florianópolis: Obra Jurídica, 2000.LEGRAND. Pequenas lições.Belo Horizonte: Soler, 2007.MARIN, Isabel da Silva Kahn.Violências.São Paulo: Escuta/FAPESP, 2002.MARTINS, Maria Helena Pires.Eu e os outros: as regras da convivência.São Paulo: Moderna, 2007.NOVAES, Regina; VANNUCHI, Paulo(Orgs.). Juventude e sociedade: trabalho,educação, cultura e participação.São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2004.ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS.Declaração Universal dos DireitosHumanos.São Paulo: Paulinas, 1978.PEREZ, Clotilde; JUNQUEIRA, LucianoPrates (Orgs).Voluntariado e a gestão das políticassociais.São Paulo: Futura, 2002.PONS, Esteves.Valores para a convivência.São Paulo: A Girafa, 2006.SASTRE, Genoveva; MORENO, Montserrat.Resolução de conflitos e aprendizagememocional.São Paulo: Moderna, 2002.142


SitesAnjos dos cavalos:http://www.anjodoscavalos.org.brArca Brasil:http://www.arcabrasil.org.brCentro de adoção de cães e gatos:http://www.naturezaemforma.comConselho Municipal dos Direitos daCriança e do Adolescente da Cidade deSão Paulo – CMDCA/SP:www.prefeitura .sp.gov.br/cmdcaDiálogos contra o racismo:www.dialogoscontraoracismo.org.brDesarmamento: Instituto Sou da Paz:www.soudapaz.orgDocumentos: Para tirar:www.poupaclic.ig.com.brEstatuto da Criança e do Adolescente:www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/L8069.htmGrupo Gay:http://www.arco-iris.org.brInstituto Nina Rosa:http://www.ninarosa.org.brMovimento Nossa São Paulo:http://www.nossasaopaulo.org.br/portal/Quintal de São Francisco:http://www.quintaldesaofrancisco.org.brUnião Internacional Protetora dos Animais(UIPA): http://www.uipa.org.brSOS Mata Atlântica – preservação da florae da fauna da Mata Atlântica:http://www.sosmataatlantica.org.brFilmesBicho de Sete CabeçasLais Bodanski, 2002.Cidade dos HomensPaulo Morelli, 2007.EdukatorsHans Weingartner, 2004.ManderlayLars von Trier, 2005.A Marcha dos PinguinsLuc Jacquet, 2005.Meninas MalvadasMark S. Waters, 2004.Nunca Fui BeijadaRaja Gosnell, 1998.O Clube dos CincoJohn Hughes, 1985.O Que É Isso, Companheiro?Bruno Barreto, 1997.Palavra e UtopiaManoel de Oliveira, 2000.Tiros em ColumbineMichael Moore, 2002.Um Grande GarotoChris Weitz e Paul Weitz, 2002143


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Anexo145


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Este livro nasceu com a proposta de disseminaros conhecimentos gerados por alguns dos projetosdesenvolvidos com adolescentes pela FundaçãoTide Setubal. Ele é voltado para educadores(professores, psicólogos e profissionais de ONGs,postos de saúde, bibliotecas etc.) que atuamcom jovens e procuram desenvolver um trabalhoconsistente através de oficinas temáticas que discutemassuntos relacionados ao universo adolescente,tais como: identidade, diversidade, corpo,sexualidade, família, drogas, profissão, trabalho ecidadania. A proposta favorece a convivência dosjovens, a criação de iniciativas coletivas, fortalecendoa possibilidade de escuta e de fala mediantea troca de saberes e a apropriação de novas informações.Dessa maneira, os adolescentes refleteme trocam experiências sobre o início da construçãode um projeto de vida possível e autêntico.ISBN 978-85-6205801-19 7 8 8 5 6 2 0 5 8 0 1 1

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