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Costas - Vol. 1 - Programa EcoPlata

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Os desafios urbanos na zona costeira brasileira frente às mudanças climáticas<br />

peratura global de 1,1ºC e subida do nível do mar de<br />

apenas 0,26 metros (cenário mais otimista) até um<br />

aumento de 6,4ºC e de 0,59 metros (cenário mais<br />

pessimista). Para a gestão costeira a principal preocupação<br />

que surge ao se vislumbrar tais cenários<br />

são os impactos diretos e indiretos desta possível<br />

subida do nível do mar em termos de erosão costeira,<br />

inundação por transposição de ondas, obstrução<br />

das desembocaduras de canais, intrusão salina em<br />

corpos hídricos interiores e escassez de água doce.<br />

Para um adequado prognóstico destes impactos potenciais<br />

é preciso compreender que as respostas à<br />

subida do nível do mar ao longo de um determinado<br />

litoral não serão homogêneas, em função das suas<br />

distintas características geomorfológicas, oceanográficas<br />

e antrópicas. Esta constatação é particularmente<br />

importante para o litoral do Brasil que, com<br />

aproximadamente 8.000 km de extensão, apresenta<br />

uma grande diversidade de paisagens constituídas<br />

durante o período Quaternário em resposta as variações<br />

do clima e nível do mar, suprimento de sedimento<br />

pelos rios e uma herança geológica que data<br />

da separação entre a América do Sul e a África (Dominguez,<br />

2007).<br />

Adaptando o modelo de Brunn (1962 apud Bird,<br />

1993; Komar, 1976) para o litoral brasileiro, Muehe<br />

(2001) aponta, que, em caso de subida de 1 metro<br />

do nível do mar, ocorreriam, de modo geral, significativas<br />

diferenças de magnitude no recuo da linha<br />

de costa nas diferentes regiões do país. Nas regiões<br />

Norte e Nordeste, onde o gradiente topográfico<br />

da plataforma continental é muito baixo, o recuo da<br />

linha de costa poderia variar de aproximadamente<br />

100 metros a até 1 km. Enquanto isso, nas regiões<br />

Sudeste e principalmente Sul, em função do progressivo<br />

aumento do gradiente, o recuo seria de apenas<br />

10 até pouco mais de 100 metros. No entanto, aspectos<br />

como a exposição do litoral às ondulações, a<br />

quantidade de aporte sedimentar por diferentes fontes<br />

(rios, dunas), as características geomorfológicas,<br />

a cobertura vegetal, a granulometria, a densidade<br />

populacional e as intervenções antrópicas, também<br />

são fundamentais para avaliação da vulnerabilidade<br />

de uma dada linha de costa.<br />

No litoral Norte do Brasil o aporte sedimentar fluvial<br />

e o avanço dos manguezais constituem importante<br />

fator na atenuação dos efeitos de uma possível subida<br />

do nível do mar, embora casos atuais de erosão<br />

costeira já venham sendo observados (El Robrini et<br />

al, 2006 apud Muehe, 2010). Por outro lado, Tessler<br />

(2008) destaca para esta região a elevada vulnerabilidade<br />

à inundação em função da predominância de<br />

planícies fluviais.<br />

Esta paisagem é contrastante com a do Nordeste do<br />

Brasil, onde as falésias do Grupo Barreiras significam<br />

importantes proteções físicas e representam um<br />

estoque potencial de sedimentos em caso de subida<br />

do nível do mar. No entanto, este trecho do litoral<br />

brasileiro tem o menor aporte sedimentar fluvial do<br />

Brasil, em função do pequeno tamanho das bacias<br />

hidrográficas que deságuam na região (Dominguez,<br />

2007). Já no litoral leste do Brasil, abrangendo os<br />

estados da Bahia, Espírito Santo e norte do Rio de<br />

Janeiro, predominam um relevo acentuado e grandes<br />

bacias hidrográficas, o que favoreceu durante o<br />

Quaternário ao aparecimento de deltas dominados<br />

por ondas (Dominguez, 2007) alguns destes até hoje<br />

em processo de progradação, como os dos rios Jequitinhonha<br />

e Doce (Muehe, 2006). Estes casos de<br />

progradação são, no entanto, pontuais, uma vez que<br />

a maior parte das desembocaduras fluviais é considerada<br />

instável, como no caso da foz do rio Paraíba<br />

do Sul na localidade de Atafona (RJ) onde ocorre o<br />

maior processo erosivo de todo o litoral brasileiro.<br />

Em grande parte do estado do Rio de Janeiro a paisagem<br />

costeira é marcada pela presença de duplos<br />

cordões litorâneos com lagunas à retaguarda (Muehe<br />

e Valentinni, 1998). A tendência em caso de subida<br />

do nível do mar é o aumento da largura e profundidade<br />

das lagunas em função da penetração da maré,<br />

aumento dos fluxos e erosão de suas margens (Bird,<br />

1997). Em casos mais extremos, o cordão litorâneo<br />

pode ser completamente erodido em alguns trechos,<br />

abrindo novos canais de ligação do mar com as lagunas,<br />

processo que parece estar em curso na restinga<br />

da Marambaia (Muehe, 2010). Soma-se, ainda,<br />

a orientação leste-oeste deste trecho da costa o que<br />

lhe confere elevada exposição às fortes ondulações<br />

do quadrante sul. Atualmente as fortes ressacas que<br />

atingem os litorais sul e sudeste do Brasil já provocam<br />

significativo avanço do mar sobre o continente,<br />

funcionando como um dos principais mecanismos da<br />

erosão costeira atual na maioria das praias arenosas.<br />

Em muitas destas praias a valorização turística levou<br />

a uma desordenada ocupação da faixa litorânea<br />

resultando em danos e prejuízos financeiros significativos,<br />

como destaca Lins de Barros (2005, 2010)<br />

para algumas cidades da chamada Região dos Lagos.<br />

Uma subida do nível do mar, mesmo pequena,<br />

significaria, portanto, um acréscimo importante neste<br />

alcance do mar durante ressacas, especialmente na<br />

Região Sul onde se soma ainda o processo de maré<br />

meteorológica em função dos fortes ventos. Muehe<br />

(2010) destaca ainda a possibilidade do aumento da<br />

freqüência da ocorrência destes eventos extremos<br />

com o aumento da temperatura do oceano.<br />

O extremo sul do país é caracterizado pela maior planície<br />

arenosa de toda costa brasileira caracterizada<br />

por cordões litorâneos (regionalmente denominados<br />

de barreiras) associadas à uma planície de cristas<br />

de praias separadas por áreas baixas ocupadas por<br />

terras úmidas ou lagunas (Calliari et al., 2006; Dominguez,<br />

2007). A dinâmica costeira desta região é<br />

regulada, principalmente, pelo fenômenos associados<br />

à freqüente passagem de frentes polares (Calliari<br />

e Klein, 1993 apud Ângulo et al., 2006). Com isso,<br />

a morfodinâmica das praias é bastante variável, com<br />

alternância de momentos de acresção intercalados<br />

por momentos de erosão, sem ocorrência de recuo<br />

da linha de costa. Seperanski e Calliari apontam, no<br />

<strong>Costas</strong> - <strong>Vol</strong>. 1 - Nº.1 - Julio 2012<br />

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