12.07.2015 Views

Desafíos Feministas en América Latina: la mirada ... - Cotidiano Mujer

Desafíos Feministas en América Latina: la mirada ... - Cotidiano Mujer

Desafíos Feministas en América Latina: la mirada ... - Cotidiano Mujer

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>:<strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> ista<strong>en</strong><strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: a: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es 1


Edición<strong>Cotidiano</strong> <strong>Mujer</strong>Articu<strong>la</strong>ción Feminista Marcosur (AFM)ApoyoUNIFEM<strong>Cotidiano</strong> <strong>Mujer</strong>San José 1436 - Montevideo, Uruguay(598-2) 902 0393 / 901 8782www.cotidianomujer.org.uyISBN Nº 978-9974-8171-2-8Diseño y DiagramaciónFrancesca CasariegoCorrecciónEl<strong>en</strong>a FonsecaImpresiónImpr<strong>en</strong>ta RojoDep. Legal:Montevideo, Julio 20092 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


ÍndiceParticipação das mulheres no MSTS: gênero e c<strong>la</strong>sse no conflito fundiário urbano 5Luciana da Luz Silva - BrasilDiscursos y prácticas de feministas jóv<strong>en</strong>es hondureñas 17Jone B<strong>en</strong>goetxea Epelde - Costa RicaReflexões sobre a participação juv<strong>en</strong>il no feminismo 29Julia Zanetti - BrasilEl feminismo <strong>la</strong>tinoamericano como ag<strong>en</strong>te regional <strong>en</strong> el diálogo internacional sobre 41los derechos humanosMaría Silvana Sciortino - Arg<strong>en</strong>tinaImpresiones fr<strong>en</strong>te al Movimi<strong>en</strong>to Feminista <strong>en</strong> Colombia 55Margarita María Varón - ColombiaCatalina Góngora - ColombiaDesconstruir saberes machistas e <strong>en</strong>fr<strong>en</strong>tar re<strong>la</strong>ções de poder patriarcal 65Mariana Selister - BrasilIndicios de una reflexión política 75María El<strong>en</strong>a Hernández Mora - MéxicoPasar por b<strong>la</strong>nca 87Sandra del Valle - CubaAs contribuições da perspectiva dialógica ao movim<strong>en</strong>to feminista. Respeito à difer<strong>en</strong>ça 97e diálogo <strong>en</strong>tre mulheresCarolina Orquiza - BrasilA construção do direito ao aborto como uma questão de cidadania na <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> 109Fernanda P. Amaral - Brasil<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es3


4 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


Participação das mulheres no MSTS:gênero e c<strong>la</strong>sse no conflito fundiário urbanoLuciana da Luz Silva27 años - BrasilPREMIOO pres<strong>en</strong>te trabalho discute a participação feminina no Movim<strong>en</strong>to dos Sem Teto deSalvador (MSTS) sob a perspectiva dessas novas vozes que emergem na luta destas mulherescuja id<strong>en</strong>tidade está forjada no âmbito de um movim<strong>en</strong>to social de ação direta.Neste s<strong>en</strong>tido, analisar-se-á como se dão as re<strong>la</strong>ções de gênero e c<strong>la</strong>sse no processode des<strong>en</strong>volvim<strong>en</strong>to urbano informal da cidade de Salvador (capital do estado da Bahia),considerando a luta por moradia que ocorre na cidade com ênfase nos movim<strong>en</strong>tos sociaise nas mulheres <strong>en</strong>quanto ag<strong>en</strong>tes. Por fim, serão <strong>en</strong>umeradas as i<strong>la</strong>ções obtidas apartir da análise transversal e dialógica dos três aspectos c<strong>en</strong>trais deste texto: gênero,c<strong>la</strong>sse e a atuação dos movim<strong>en</strong>tos de luta por habitação.O MSTS será abordado aqui no escopo teórico em que o próprio movim<strong>en</strong>to seauto-id<strong>en</strong>tifica, que é o da teoria marxista. Apesar de Karl Marx não ter e<strong>la</strong>boradouma obra sobre os movim<strong>en</strong>tos sociais, sua principal contribuição ao tema terásido a definição do conceito de práxis (em oposição à ação ali<strong>en</strong>ada), que éconceituada como “toda ação para transformação do social, desde que essa açãocont<strong>en</strong>ha um certo grau de consciência crítica” (SCHERER-WARREN, 1987, p.15). Assim s<strong>en</strong>do, essa categoria re<strong>la</strong>ciona-se com o reconhecim<strong>en</strong>to de umasituação de opressão dada e a conseqü<strong>en</strong>te consci<strong>en</strong>tização da necessidadede articu<strong>la</strong>ção do movim<strong>en</strong>to em si. E<strong>la</strong> é fundam<strong>en</strong>tal para a transformação dasociedade e de uma situação de opressão e/ou carência econômica. Na perspectivadeste trabalho, quando se p<strong>en</strong>sa na participação das mulheres e do próprioespaço do movim<strong>en</strong>to <strong>en</strong>quanto um campo de reprodução das desigualdades degênero pres<strong>en</strong>tes na sociedade, deve-se levar em consideração que existe umadificuldade concreta de apropriação da questão de gênero por parte das mulheresque integram os movim<strong>en</strong>tos sociais, talvez por conta das dificuldades decompre<strong>en</strong>são da definição desta categoria de análise. Autoras como Sard<strong>en</strong>berg(2004) e Castro (1992) re<strong>la</strong>tam sobre o desafio que tem sido traduzir o termo dodiscurso da academia para a linguagem cotidiana dos movim<strong>en</strong>tos sociais.Gênero não é uma “coisa”, como uma pedra que a g<strong>en</strong>te tropeça no caminho, gênero é umaabstração, um construto, é uma teorização em torno de certos f<strong>en</strong>ôm<strong>en</strong>os. Como se diria naperspectiva marxista: “gênero é o concreto p<strong>en</strong>sado” (SARDENBERG, 2004, p. 21).<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es5


S<strong>en</strong>do assim, adotaremos o <strong>en</strong>t<strong>en</strong>dim<strong>en</strong>to do movim<strong>en</strong>to social como “uma açãogrupal para transformação voltada para realização dos mesmos objetivos, soba ori<strong>en</strong>tação mais ou m<strong>en</strong>os consci<strong>en</strong>te de princípios valorativos comuns e sobuma organização diretiva mais ou m<strong>en</strong>os definida” (SCHERER-WARREN, 1987,p. 20). Este texto traz, ainda, a concepção de gênero numa perspectiva feminista– para além do uso “g<strong>en</strong>érico” (em geral, despolitizado) pontuado por Sard<strong>en</strong>berg(2004).Gênero faz parte da id<strong>en</strong>tidade pessoal, assim como o sexo, a cor da pele, a c<strong>la</strong>sse social e asdemais circunstâncias sociais e culturais. Por outro <strong>la</strong>do, a atribuição de gênero não se restringeap<strong>en</strong>as aos comportam<strong>en</strong>tos dos sujeitos, mas se projeta também nas práticas e instituiçõessociais, que podem ser qualificadas de masculinas ou femininas, conforme os valores que expressam(CARVALHO, 2000, p. 16).Neste contexto se constituem as c<strong>la</strong>sses sociais, as quais se definem pe<strong>la</strong> funçãosocial exercida pelos seus integrantes no sistema produtivo (em geral, fa<strong>la</strong>-se emc<strong>la</strong>sse dominante/capital e c<strong>la</strong>sse dominada/trabalho). Essas colocações podemnos permitir fazer algumas i<strong>la</strong>ções acerca das interações analíticas <strong>en</strong>tre gêneroe c<strong>la</strong>sse a partir da concepção de gênero apres<strong>en</strong>tada até aqui. As re<strong>la</strong>ções <strong>en</strong>tregênero e c<strong>la</strong>sse nos permitem constatar que, no universo do mundo produtivo ereprodutivo, vivência-se também a efetivação de uma construção social sexuada,onde os hom<strong>en</strong>s e as mulheres que trabalham são, desde a família e a esco<strong>la</strong>,difer<strong>en</strong>tem<strong>en</strong>te qualificados e capacitados para o ingresso no mercado de trabalho.E o capitalismo tem sabido apropriar-se desigualm<strong>en</strong>te dessa divisão sexualdo trabalho. Neste tipo de construção teórica costumam-se distinguir duas linhasde análise: a primeira <strong>en</strong>fatiza a reprodução da popu<strong>la</strong>ção no contexto da reproduçãoda sociedade e permite focalizar aspectos macrossociais; a outra <strong>en</strong>fatizaa reprodução dos indivíduos em suas determinações estruturais, possibilitandofocalizar as ações individuais e familiares.É pertin<strong>en</strong>te ressaltar que algumas pesquisadoras, a exemplo de Nicholson(1993) apontam limitações à abordagem marxista, sobretudo por conta da separação<strong>en</strong>tre as esferas da produção e da reprodução. Já Hirata e Kergoat (1994)apontam os limites do marxismo cuja teoria é insufici<strong>en</strong>te para contemp<strong>la</strong>r aopressão sofrida pe<strong>la</strong>s mulheres, que não se limita à exploração <strong>en</strong>quanto c<strong>la</strong>sse.Nesse s<strong>en</strong>tido, não consideram que o patriarcado seja a estrutura ess<strong>en</strong>cialda sociedade; discordam que as re<strong>la</strong>ções sociais de sexo ou de sexagem sejamas re<strong>la</strong>ções predominantes; e concluem que as re<strong>la</strong>ções de c<strong>la</strong>sse e as re<strong>la</strong>çõesde sexo são portanto re<strong>la</strong>ções estruturantes e fundam<strong>en</strong>tais da sociedade emoposição a outras re<strong>la</strong>ções que seriam conting<strong>en</strong>tes.A reprodução da popu<strong>la</strong>ção – que abarca a reprodução humana, os processossociais que permitem explicar contradições exist<strong>en</strong>tes <strong>en</strong>tre a popu<strong>la</strong>ção e osrecursos disponíveis, como a reprodução da força de trabalho – remete à capa-6 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


cidade dos indivíduos (físicas e psíquicas) que são postas em ação ao produziremvalores de uso de qualquer natureza. O conceito de reprodução da forçade trabalho <strong>en</strong>volve, portanto, desde o desgaste físico e psicológico do trabalhadorcomo indivíduo (abarcando as características dos processos de trabalhoe de produção, qualificação, adaptabilidade e rotatividade), até a organizaçãofamiliar, a incorporação de mulheres e m<strong>en</strong>ores no mercado de trabalho, os mecanismosde socialização, apr<strong>en</strong>dizagem e controle, produzidos no interior dasunidades domésticas e também nas esco<strong>la</strong>s, ou mesmo nos sindicatos. Assim,a reprodução da força de trabalho abrange a reprodução do próprio trabalhadore também dos seus familiares, destacando-se o papel das unidades domésticase de seus membros, ao porem em prática mecanismos intra e extra-domésticosque são fundam<strong>en</strong>tais para a manut<strong>en</strong>ção dos níveis de vida da popu<strong>la</strong>ção emsituações históricas dadas.É evid<strong>en</strong>te que a ampliação do trabalho feminino no mundo produtivo das últimasdécadas é parte do processo de emancipação parcial das mulheres, tanto em re<strong>la</strong>çãoà sociedade de c<strong>la</strong>sses quanto às inúmeras formas de opressão masculina,que se fundam<strong>en</strong>tam na tradicional divisão social e sexual do trabalho. Mas - eisso tem sido c<strong>en</strong>tral – o capital incorpora o trabalho feminino de modo desiguale difer<strong>en</strong>ciado em sua divisão social e sexual do trabalho. Os desdobram<strong>en</strong>tossão perceptíveis na sociedade, quando se observa os elevados índices de desempregofeminino ou o alto número de mulheres chefes de família, a exemplo doque ocorre na cidade de Salvador. Logo, as mulheres estão nas cidades, as mulheresestão em todos os lugares. Ainda que esta constatação possa parecer umaobviedade, vez por outra nos damos conta que o que parece evid<strong>en</strong>te por vezesoculta uma trama complexa onde o estar e transitar fisicam<strong>en</strong>te em um dado territórionão significa automaticam<strong>en</strong>te a ocupação do mesmo como espaço próprio,ou mais grave ainda, como espaço público, lugar da cidadania.Assim, há uma similitude no interrogar se as mulheres são ag<strong>en</strong>tes ocultos nascidades e afirmar que as mesmas estão em todos os lugares. Essa similitude,por sua vez, reve<strong>la</strong> uma difer<strong>en</strong>ça: uma coisa é constatar a pres<strong>en</strong>ça feminina nacidade, outra completam<strong>en</strong>te distinta é p<strong>en</strong>sar a produção desse espaço t<strong>en</strong>docomo preocupação política e analítica a estrutura e a dinâmica das re<strong>la</strong>ções dedesigualdades <strong>en</strong>tre mulheres e hom<strong>en</strong>s (GOUVEIA, 2008). No contexto do déficithabitacional em Salvador, existem questões sociais mais amp<strong>la</strong>s, acessórias,porém de absoluta pertinência para a compre<strong>en</strong>são de “Salvador, cidade das desigualdades”(ESPINHEIRA, 1999, p. 63), e que não se restringem à discriminaçãopor gênero, mas que perpassam: a segregação por raça, etnia e deficiência, aprevalência dos direitos patrimoniais sobre os direitos humanos, a criminalizaçãodos movim<strong>en</strong>tos sociais, a interv<strong>en</strong>ção policial nos conflitos sociais, a necessidadede uma reforma urbana democraticam<strong>en</strong>te construída, a feminização dapobreza e do desemprego, a ausência de um marco jurídico que regu<strong>la</strong>m<strong>en</strong>te oconflito fundiário urbano, o lobby e a especu<strong>la</strong>ção imobiliária, d<strong>en</strong>tre outros.<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es7


Uma breve análise dos dados refer<strong>en</strong>tes a um estudo c<strong>en</strong>sitário 1 realizado juntoao MSTS reve<strong>la</strong> resultados inquietantes quanto aos impactos deste modelo desociedade e, conseqü<strong>en</strong>tem<strong>en</strong>te, do seu fazer política pública para a vida dasmoradoras e dos moradores de ocupação. A priori, os dados c<strong>en</strong>trais para a realizaçãodesta pesquisa são re<strong>la</strong>tivos ao perfil sócio-demográfico dos integrantesdo MSTS, reve<strong>la</strong>dores de uma grave distorção quanto às re<strong>la</strong>ções de gênero:ainda que sejam maioria nas ocupações do movim<strong>en</strong>to, as mulheres não ocupamproporcionalm<strong>en</strong>te funções na coord<strong>en</strong>ação ou mesmo d<strong>en</strong>tro das ocupações,reproduzindo o que Michael Kimmel (Apud SARDENBERG, 2004, p. 18) se referecomo s<strong>en</strong>do “o privilégio da masculinidade, privilégios que os hom<strong>en</strong>s sempredesfrutaram”, a exemplo do exercício do poder.Assim, observamos que as mulheres constituem 70% do MSTS e ocupam ap<strong>en</strong>as28% dos cargos de coord<strong>en</strong>ação do movim<strong>en</strong>to. Fa<strong>la</strong>r das desigualdades não é ap<strong>en</strong>astratar do problema do ponto de vista do acesso desigual aos espaços e processosdas cidades é, acima de tudo, reconhecer que as desigualdades <strong>en</strong>tre mulherese hom<strong>en</strong>s não atravessam a produção e reprodução das cidades, mas são, por princípio,elem<strong>en</strong>tos constituintes das mesmas. Esta é uma distinção importante, na medidaem que se atuamos ap<strong>en</strong>as no p<strong>la</strong>no das desigualdades de acesso estaremostrabalhando os impactos da estrutura na vida das mulheres- o que é importante, masnão o sufici<strong>en</strong>te – <strong>en</strong>quanto que ao assumirmos as desigualdades de gênero comoestruturadoras e dinamizadoras das cidades estaremos <strong>en</strong>fr<strong>en</strong>tando a questão dopoder e conseqü<strong>en</strong>tem<strong>en</strong>te dos privilégios que os hom<strong>en</strong>s têm com a conservaçãodesta estrutura, considerando que tais desigualdades observadas de forma maisamp<strong>la</strong> na sociedade se reproduzem no âmbito dos movim<strong>en</strong>tos sociais.Deste modo, analisar as sociedades numa perspectiva de gênero é desve<strong>la</strong>r e buscartransformar os complexos mecanismos sociais, políticos e institucionais que têmmantido as mulheres em situações de opressão, submissão e injustiça. Cabe ressaltarque a questão de gênero aparece re<strong>la</strong>cionada a outras categorias como raça e c<strong>la</strong>sse,remet<strong>en</strong>do ao que Castro (1992, p. 61) c<strong>la</strong>ssificou como “alquimia das categoriassociais”, pautada nos aspectos de gênero, raça e c<strong>la</strong>sse <strong>en</strong>quanto determinantes dasre<strong>la</strong>ções sociais e que leva à fragm<strong>en</strong>tação da id<strong>en</strong>tidade por referências exclusivas.Interessante notar que embora o discurso do movim<strong>en</strong>to feminista (grosso modo) seproponha a lutar pe<strong>la</strong> igualdade, respeitando as difer<strong>en</strong>ças, isto ainda é pouco difundido,principalm<strong>en</strong>te quando se tem em conta resultados de estudos realizados e quediscorrem acerca da dificuldade que as mulheres que integram movim<strong>en</strong>tos popu<strong>la</strong>restêm de se id<strong>en</strong>tificar, por exemplo, com o movim<strong>en</strong>to feminista, o qual costumam associarà mulheres de posição social distintas, em geral, superiores (CASTRO, 1992).1 Estudo c<strong>en</strong>sitário de caráter quali-quantitativo, realizado junto a 12 ocupações do MSTS <strong>en</strong>treagosto e novembro de 2007, com base na metodologia de coleta e análise de dados do IBGE. Forma<strong>en</strong>trevistadas <strong>en</strong>tre 45% e 75% das famílias de cada ocupação, resultando em um total de 1.234questionários respondidos.8 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


[...] Em sociedades como a nossa, nas quais existe também uma hierarquia racial e étnica, écerto que a situação de dominação/subordinação a que se vêem submetidas as mulheres se manifestaráconcretam<strong>en</strong>te, de formas e int<strong>en</strong>sidades difer<strong>en</strong>tes, de acordo com esses parâmetros(SARDENBERG; COSTA, 1994, p. 85).No Brasil, as difer<strong>en</strong>ças de raça, etnia, gênero e c<strong>la</strong>sse ainda são pouco consideradas,nomeadam<strong>en</strong>te se essa discussão se referir a um debate mais específico,pautado, por exemplo, na realidade concreta dos movim<strong>en</strong>tos sociais 2 . Nestateia sócio-econômica é possível id<strong>en</strong>tificar inúmeras necessidades colocadascomo prioritárias pe<strong>la</strong>s famílias do MSTS. Em resumo, para as integrantes e osintegrantes do movim<strong>en</strong>to, não basta que o governo lhes “dê” uma casa: é necessáriodispor de moradia digna com condições igualm<strong>en</strong>te dignas de viver ese sust<strong>en</strong>tar. Tal objetivo não pode ser alcançado sem considerar as re<strong>la</strong>ções degênero, raça e c<strong>la</strong>sse, uma vez que a maioria das pessoas que integram o MSTShoje são mães solteiras, negras e desempregadas.Logo, tais desafios levaram as mulheres do MSTS a criar em 2007 o grupo GuerreirasSem Teto, por considerar que se fazia necessário mobilizar as mulheresdo MSTS para combater a dup<strong>la</strong> opressão de gênero que <strong>en</strong>fr<strong>en</strong>tam: d<strong>en</strong>tro domovim<strong>en</strong>to e na luta pe<strong>la</strong> moradia na esfera pública; e d<strong>en</strong>tro de seus <strong>la</strong>res, nasre<strong>la</strong>ções inter-pessoais, na esfera privada. Nesse grupo de mulheres, que sereúne regu<strong>la</strong>rm<strong>en</strong>te e articu<strong>la</strong> atividades políticas junto a todas as ocupações domovim<strong>en</strong>to, são discutidas desde questões m<strong>en</strong>ores refer<strong>en</strong>tes aos problemascotidianos observados nas ocupações em geral, até as políticas públicas de caráterestrutural que lhes interessa, passando pelo debate político dos diss<strong>en</strong>sosinternos pertin<strong>en</strong>tes ao MSTS. Em um dos docum<strong>en</strong>tos produzidos por este grupode mulheres, e<strong>la</strong>s concluem que:Cinco anos se passaram e em Salvador (não ap<strong>en</strong>as ne<strong>la</strong>, trata-se de um problema das grandesmetrópoles) a situação dos “sem tetos’ continua a mesma ou pouco mudou; poucas casas, emvista do déficit habitacional, que nós do movim<strong>en</strong>to acreditamos ser de 150.000, foram construídas;poucas famílias foram abrigadas; quase n<strong>en</strong>huma política habitacional para resolver oproblema das famílias que têm r<strong>en</strong>da m<strong>en</strong>sal abaixo de 1 salário mínimo foi implem<strong>en</strong>tada. E aívale fa<strong>la</strong>r do PSH – Programa de Subsídio Habitacional – ao qual muito poucos têm acesso, edo Crédito Solidário que é um programa que não serve para quem é “sem teto”, já que sabemosque um dos nossos grandes problemas é também sermos “sem emprego”, e ele exige umar<strong>en</strong>da m<strong>en</strong>sal fixa de, no mínimo, 1 salário mínimo. Então, continuamos na luta pe<strong>la</strong> ReformaUrbana. QUEREMOS TETO! Mas, também queremos, acima de tudo, decidir sobre a políticaurbanística, sobre o nosso cadastram<strong>en</strong>to, sobre a nossa g<strong>en</strong>te, sobre os nossos projetos decomunidade, e exigimos disponibilidade de infra-estrutura, serviços urbanos, equipam<strong>en</strong>tos,respeito.. .(MSTS, 2007, p. 3)2 Ap<strong>en</strong>as para pontuar, a pesquisa realizada junto ao MSTS revelou que quase metade dos moradorese moradoras se considera negra(o) 47% do total – e outros 26% se dec<strong>la</strong>raram pardos/pardas.<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es9


As militantes têm construído um projeto das mulheres, na perspectiva de gênero(porém, em n<strong>en</strong>hum mom<strong>en</strong>to se reconhecem ou se colocam <strong>en</strong>quanto“feministas”...), d<strong>en</strong>tro do projeto mais amplo do movim<strong>en</strong>to. Para e<strong>la</strong>s nãose trata de empre<strong>en</strong>der ações “parale<strong>la</strong>s” aos objetivos coletivos do MSTS oupromover qualquer tipo de lógica separatista em re<strong>la</strong>ção aos hom<strong>en</strong>s. Pelocontrário, trata-se de complem<strong>en</strong>tar o projeto político do MSTS, com base emum hiato que sempre as incomodou - apesar de serem maioria no movim<strong>en</strong>to,como já foi colocado anteriorm<strong>en</strong>te, as desigualdades de gênero sempre oneramas mulheres. O que as Guerreiras Sem Teto colocam é que para além dabandeira de luta pe<strong>la</strong> moradia, o movim<strong>en</strong>to se constitui hoje num espaço deformação para todos e todas que dele fazem parte; mas, é, sobretudo, para asmulheres, que ele vem se configurando como um espaço emancipatório. T<strong>en</strong>doem conta que as mesmas são educadas para o repetitivo trabalho doméstico,estar atualm<strong>en</strong>te disputando a hegemonia na vida pública e nas estruturas depoder, requer um profundo <strong>en</strong>t<strong>en</strong>dim<strong>en</strong>to do s<strong>en</strong>tido da luta feminista, da históriados movim<strong>en</strong>tos popu<strong>la</strong>res e, sobretudo, da história das mulheres e dassuas lutas emancipatórias.A partir da luta e do t<strong>en</strong>sionam<strong>en</strong>to empre<strong>en</strong>dido pe<strong>la</strong>s militantes em prol daconsci<strong>en</strong>tização de gênero d<strong>en</strong>tro do movim<strong>en</strong>to, os integrantes do mesmopassam a <strong>en</strong>t<strong>en</strong>der que a mulher pode se tornar uma importante aliada nasmais diversas atividades. E<strong>la</strong>s são integradas nos mutirões de construção, nascooperativas de auto-gestão, nos espaços deliberativos do movim<strong>en</strong>to e nasesferas públicas de discussão das políticas sociais. Todavia, aos mecanismosconstrangedores à participação se opõem práticas de resistência das própriasmulheres, que em circunstâncias não raras, def<strong>en</strong>dem as prioridades da esferadoméstica em re<strong>la</strong>ção à pública. Educadas na tradição da difer<strong>en</strong>ciação sexualdos espaços e papéis sociais, a maioria das integrantes do movim<strong>en</strong>to, em quepese o re<strong>la</strong>tivo <strong>en</strong>volvim<strong>en</strong>to com a luta social em suas trajetórias individuaise coletivas, <strong>en</strong>t<strong>en</strong>dem que as questões da política e da produção ainda sãotemas prioritariam<strong>en</strong>te masculinos e na sua argum<strong>en</strong>tação para a não participaçãoreforçam as temáticas e <strong>en</strong>cargos tradicionais da mulher. Demonstram,com isso, que acabaram por naturalizar as re<strong>la</strong>ções de dominação simbólica(BOURDIEU, 1999) a que foram submetidas ao longo da construção de suaid<strong>en</strong>tidade de gênero.Enfim, o grupo de mulheres do MSTS reconhece que para melhorar sua luta precisaa formação, com vistas ao empoderam<strong>en</strong>to, ao qual e<strong>la</strong>s atribuem o seguintes<strong>en</strong>tido:1) Apossar-se do conhecim<strong>en</strong>to das leis que regem o país, sobretudo no que dizrespeito “às questões da mulher”;2) Ter acesso às informações acerca dos serviços, dos equipam<strong>en</strong>tos sociaisdisponíveis às mulheres, assim como também de seus companheiros, idosos ecrianças;10 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


3) Criar espaços formativos, de debates, de superação dos velhos conceitos,de socialização e multiplicação de conhecim<strong>en</strong>tos e de des<strong>en</strong>volvim<strong>en</strong>to de habilidadesnecessárias para avançar na luta, e assim ter a possibilidade de, namesma medida que os hom<strong>en</strong>s, assumir cargos de coord<strong>en</strong>ação, deliberação e/ou visibilidade política;4) Como não se pode p<strong>en</strong>sar em poder sem o conhecim<strong>en</strong>to da história daspróprias orig<strong>en</strong>s, do povo negro e indíg<strong>en</strong>a; como não se pode p<strong>en</strong>sar em empoderaras mulheres sem o conhecim<strong>en</strong>to da história da opressão feminina, sem o<strong>en</strong>t<strong>en</strong>dim<strong>en</strong>to do porque da pobreza ser, na maioria dos casos, feminina/negra, épreciso formação de “grupos de consciência” (formação de ag<strong>en</strong>tes multiplicadoras),um espaço de construção de consciências acerca de questões de gênero,arte, religiosidade, raça e c<strong>la</strong>sse;5) Trabalhar a subjetividade através de oficinas de arte, expressão e comunicação,com o intuito de reconstruir a fragm<strong>en</strong>tação e a castração causada pelospadrões de comportam<strong>en</strong>to impostos pelo sistema capitalista, que age oprimindoprincipalm<strong>en</strong>te as mulheres (MSTS, 2007).C<strong>la</strong>ro está para as integrantes do MSTS que a discussão em torno da questão degênero é c<strong>en</strong>tral no movim<strong>en</strong>to, no que diz respeito principalm<strong>en</strong>te à sua organizaçãopolítica, à materialização em s<strong>en</strong>tido amplo dos objetivos do MSTS, quevem se efetivando através da construção de uma cultura política de horizontalidadee da simbologia inspirada nas lutas de Conselheiros 3 sim, mas também nas deZeferinas 4 . As Guerreiras Sem Teto estão construindo um processo coletivo demudança de uma cultura política de exclusão e não reconhecim<strong>en</strong>to das id<strong>en</strong>tidadespopu<strong>la</strong>res. Enfim, lutam para ampliar sua luta, de modo que e<strong>la</strong> traga grandesmudanças na atual estrutura da sociedade. Segundo suas próprias pa<strong>la</strong>vras:“Queremos que a nossa LUTA que se iniciou por “um teto”, v<strong>en</strong>ha a mover outraslutas, assim como aconteceu na década de 40, quando através das mobilizaçõespopu<strong>la</strong>res por moradia, começaram a surgir a organização da Uniões <strong>Feministas</strong>”(MONTENEGRO, 2002, p. 67).A problemática de gênero é, indubitavelm<strong>en</strong>te, um dos aspectos mais marcantesna dinâmica do MSTS: apesar de maioria, as mulheres integrantes doMSTS <strong>en</strong>trevistadas para essa pesquisa, além da luta por habitação, <strong>en</strong>fr<strong>en</strong>tamainda o machismo e o androc<strong>en</strong>trismo d<strong>en</strong>tro do movim<strong>en</strong>to, muitas são vítimasde violência doméstica (32% dec<strong>la</strong>raram já ter sofrido algum tipo de agressão,física, moral e/ou sexual); s<strong>en</strong>do que 14,9% das mulheres afirmaram <strong>en</strong>fr<strong>en</strong>tarproblemas de saúde (inclusive depressão) em decorrência de separações conjugaistraumáticas e da solidão imposta pelo papel de mães solteiras e únicasresponsáveis pe<strong>la</strong>s suas famílias, o que lhes inflige uma dup<strong>la</strong> e árdua jornadade trabalho: em casa nas atividades domésticas familiares; e na rua, para sust<strong>en</strong>taremsuas famílias. Muitas destas mulheres, 32%, começaram a trabalhar3 Canudos é uma comunidade que inspira o MSTS, <strong>en</strong>quanto movim<strong>en</strong>to de mulheres e hom<strong>en</strong>s.4 Negra que lutou pe<strong>la</strong> libertação dos escravos e que liderava o Quilombo dos Urubus (região doParque São Bartolomeu, na cidade de Salvador).<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es11


ainda na infância – 71% destas até os nove anos de idade – como empregadasdomésticas, o que evid<strong>en</strong>cia outra questão social seríssima: a exploração dotrabalho infantil feminino em atividades domésticas.A análise do desemp<strong>en</strong>ho das políticas públicas na Bahia é um instrum<strong>en</strong>tofundam<strong>en</strong>tal para retomar o debate de que políticas estatais ou governam<strong>en</strong>taisnão são, necessariam<strong>en</strong>te, políticas públicas, na medida em que nãoat<strong>en</strong>dem à função de diminuição do nível de pobreza e desigualdade sociale de gênero. Além disso, ao analisarmos toda problemática de gênero nosmovim<strong>en</strong>tos sociais, como se vislumbrou na seção anterior, é possível inferirque as mulheres estão sujeitas a múltiplos processos de opressão e exclusãod<strong>en</strong>tro da sociedade, dada a pouca efetividade do Estado no cumprim<strong>en</strong>to deseu papel de promotor do acesso universal dos indivíduos aos direitos básicosassegurados inclusive na Constituição. Reforçamos que ao longo dessas páginasas políticas públicas estão definidas a partir das colocações de Santos(2001): ações do Estado no s<strong>en</strong>tido de responder às demandas, ampliar eefetivar os direitos de cidadania, promov<strong>en</strong>do des<strong>en</strong>volvim<strong>en</strong>to com eqüidade(de gênero, raça e etnia), e assegurando a regu<strong>la</strong>ção dos conflitos sociais(inclusive o conflito fundiário urbano, que é objeto precípuo do MSTS) e, jána perspectiva dos governos de esquerda (o que se coaduna com o governodo estado da Bahia, atualm<strong>en</strong>te do Partido dos Trabalhadores), incluindo aamp<strong>la</strong> e efetiva participação dos movim<strong>en</strong>tos sociais em sua e<strong>la</strong>boração eimplem<strong>en</strong>tação.É a partir do mom<strong>en</strong>to em que as questões de gênero passam a ser discutidasna sociedade não ap<strong>en</strong>as num viés meram<strong>en</strong>te academicista e tornam-se pontocrucial de uma discussão política em s<strong>en</strong>tido <strong>la</strong>to, inclusive em seu caráter maisinstrum<strong>en</strong>tal (que é o das políticas públicas implem<strong>en</strong>tadas pelos governos), quepodemos observar que o debate transborda para além dos muros das universidadese vai além dos movim<strong>en</strong>tos feministas organizados para se tornar umtema transversal aos diversos sujeitos sociais, que atuam na esfera pública tantoquanto da vida privada: mais do que nunca, “o pessoal é político” (MORGANApud SARDENBERG, 2004, p. 20).Está c<strong>la</strong>ro que tais políticas não at<strong>en</strong>dem aos interesses e demandas postos pe<strong>la</strong>sociedade sob a perspectiva dos movim<strong>en</strong>tos sociais (especificam<strong>en</strong>te o MSTS).Portanto, essas ações não podem ser consideradas públicas e sim políticas estataisou governam<strong>en</strong>tais, porque não visam at<strong>en</strong>der às demandas car<strong>en</strong>tes, nãoampliam e nem efetivam os direitos de cidadania, não fom<strong>en</strong>tam o des<strong>en</strong>volvim<strong>en</strong>toregional, não regu<strong>la</strong>m conflitos sociais e não promovem a igualdade degênero e nem o debate público, muito m<strong>en</strong>os a mobilização da sociedade civilem sua e<strong>la</strong>boração e execução. Além disso, as políticas estatais obedecem a umtempo de mandato, <strong>en</strong>quanto as públicas, de fato, des<strong>en</strong>volvem-se num tempoteórico (tempo necessário para cumprim<strong>en</strong>to das finalidades).12 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


A própria política pública para as cidades é concebida como uma política setorial,ainda que com dim<strong>en</strong>sões – ou pret<strong>en</strong>sões – de ser uma política aglutinadoradas demais setoriais, como está colocado nas diretrizes contidas nos programasfederais ora em curso, segundo os quais o objetivo precípuo seria articu<strong>la</strong>r a políticaurbana às políticas de educação, assistência social, saúde, <strong>la</strong>zer, segurança,preservação ambi<strong>en</strong>tal, emprego, trabalho e r<strong>en</strong>da e de des<strong>en</strong>volvim<strong>en</strong>to econômicodo país, como forma de promover o direito à cidade e à moradia, a inclusãosocial, o combate à violência e a redução das desigualdades sociais, étnicas eregionais, garantindo a desconc<strong>en</strong>tração de r<strong>en</strong>da e o crescim<strong>en</strong>to sust<strong>en</strong>tável.Evid<strong>en</strong>tem<strong>en</strong>te que s<strong>en</strong>do o território das cidades o espaço da vida cotidiana, emprincípio é fundam<strong>en</strong>tal que as políticas sejam articu<strong>la</strong>das, contudo existe umat<strong>en</strong>dência histórica de operar com as articu<strong>la</strong>ções a partir de uma lógica hierarquizadora,onde uma dada dim<strong>en</strong>são da realidade se coloca num c<strong>en</strong>tro a partirdo qual as outras dim<strong>en</strong>sões se <strong>en</strong>contram, s<strong>en</strong>do a dicotomia geral/específicouma de suas mais t<strong>en</strong>azes expressões.Note-se que em um dos <strong>en</strong>contros realizados pe<strong>la</strong>s Guerreiras Sem Teto, o posicionam<strong>en</strong>todas mulheres do MSTS diante do Estado e das políticas públicas poreste <strong>en</strong>sejadas, foi assim sintetizado:Desempregadas, empregadas domésticas, catadoras de resíduos sólidos, camelôs, biscateiras,<strong>en</strong>fim, o que quer que hoje façamos, essa diversidade nos aponta que fazemos partede um setor excluído da sociedade esquecido pelo poder público, setor que ainda não teveem suas vidas efetivado o artigo 6 da Constituição de 1988.O artigo referido nos diz que Saúde, Moradia, Educação, Trabalho, Segurança Pública ePrevidência Social, são direitos fundam<strong>en</strong>tais para o exercício da Cidadania, todavia sabemostambém que no Brasil eles estão restritos a uma pequ<strong>en</strong>a parce<strong>la</strong> da popu<strong>la</strong>ção, aque<strong>la</strong>que tem o capital para financiá-los, pois através do poder do Estado, do que caberia a estepromover, eles não são cumpridos em pé de igualdade para todas e todos. E é por issoque nós mulheres lutamos: para fazer cumprir os direitos das famílias brasileiras!! (MSTS,2007, p. 2).No contexto do MSTS, refer<strong>en</strong>te especificam<strong>en</strong>te às políticas de garantia de moradiaadequada (sem ignorar que as integrantes e os integrantes do movim<strong>en</strong>tocarecem de outras ações do poder estatal), é possível <strong>en</strong>umerar as seguintespolíticas públicas, ora em curso, no estado da Bahia:Políticas de prev<strong>en</strong>ção e mediação: regu<strong>la</strong>rização fundiária, compatibilizaçãodo direito à moradia com a preservação do meio ambi<strong>en</strong>te, prev<strong>en</strong>ção egestão de situações de risco à vida (refer<strong>en</strong>te às ocupações em área de riscoe possibilidade de desabam<strong>en</strong>to), promoção de habitação de interesse socialno c<strong>en</strong>tro histórico, regu<strong>la</strong>rização fundiária e urbanística, regu<strong>la</strong>ção do mercadoimobiliário, democratização do acesso à terra urbana;<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es13


Políticas refer<strong>en</strong>tes à vio<strong>la</strong>ção do direito humano à moradia adequada:promoção de unidades sanitárias, viabilização de abastecim<strong>en</strong>to deágua nas ocupações, regu<strong>la</strong>rização das ligações de <strong>en</strong>ergia elétrica com inclusãodos moradores nos programas sociais equival<strong>en</strong>tes, combate à insalubridade nosdomicílios.Do exposto até aqui, podemos concluir com a assertiva de Hirata e Kergoat (1994,p. 97), que def<strong>en</strong>dem que “Re<strong>la</strong>ções de sexo são c<strong>la</strong>ssistas”. Numa sociedadecapitalista, perpassada por difer<strong>en</strong>ças de gênero, raça e c<strong>la</strong>sse, a ação do estadono s<strong>en</strong>tido de articu<strong>la</strong>r os difer<strong>en</strong>tes interesses em jogo se concretiza atravésdas chamadas políticas públicas, as quais são severam<strong>en</strong>te influ<strong>en</strong>ciadas porinteresses antagônicos. Como já foi dito, as re<strong>la</strong>ções de c<strong>la</strong>sse e sexo organizama totalidade das práticas sociais em qualquer lugar que se exerçam, o que incluio espaço das urbes, onde difer<strong>en</strong>tes papéis sociais são desemp<strong>en</strong>hados (porexemplo, mulher, negra e operária), s<strong>en</strong>do que os mesmos não comportam re<strong>la</strong>çõesmecanicistas. Podemos <strong>en</strong>tão inferir que as re<strong>la</strong>ções de sexo e de c<strong>la</strong>ssesão indissociáveis e complem<strong>en</strong>tares. Tais elem<strong>en</strong>tos se imiscuem para comporo complexo c<strong>en</strong>ário no qual se des<strong>en</strong>ro<strong>la</strong> o conflito fundiário urbano e do qual asmulheres são ag<strong>en</strong>tes de importância c<strong>en</strong>tral, pois lutam em todas as fr<strong>en</strong>tes deopressão pres<strong>en</strong>tes na sociedade: no campo do gênero, da c<strong>la</strong>sse e da raça. Eisum desafio de dim<strong>en</strong>sões quase incom<strong>en</strong>suráveis para nós, feministas!ReferênciasBAHIA. Re<strong>la</strong>tório Síntese: Conflitos fundiários urbanos e vio<strong>la</strong>ções do direito humano àmoradia adequada na Região Metropolitana de Salvador. Salvador: CONDER, 2007. Mimeografado.BOURDIEU, Pierre. A dominação simbólica. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999.CASTRO, Mary Garcia. Alquimia de categorias sociais na produção de sujeitos políticos.Revista Estudos <strong>Feministas</strong>, vol. 0, n. 0, 1992, p. 57-73.EISENSTEIN, Zil<strong>la</strong>h R. Hacia el desarollo de una teoria del patriarcado capitalista y el feminismosocialista. In: ______ (org.). Patriarcado capitalista y feminismo socialista, México,D.F: Siglo XXI, 1980, p. 15-47.ESPINHEIRA, Gey. Salvador: a cidade das desigualdades. Cadernos do CEAS, n. 184, p.63-78, nov-dez 1999.GOUVEIA, Taciana. Mulheres: Sujeitos ocultos das / nas cidades? Disponível em: . Acesso em: 28 jun.2008.HIRATA, Hel<strong>en</strong>a; KERGOAT, Danièle. A divisão sexual do trabalho revisitada. In.:HIRATA, Hel<strong>en</strong>a; MARUANI, Margaret (orgs.). As Novas Fronteiras da Desigualdade: hom<strong>en</strong>se mulheres no mercado de trabalho. São Paulo: Editora S<strong>en</strong>ac, 2003.______. A c<strong>la</strong>sse operária tem dois sexos. Estudos <strong>Feministas</strong>, n. 1, 1994, p. 93-99.MARX, Karl. Sobre o suicídio. Boitempo: São Paulo, 2006.MARX, Karl; ENGELS, Fredrich. Manifesto do partido comunista. São Paulo: Martin C<strong>la</strong>ret,2001.14 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


MONTENEGRO, Ana. Fa<strong>la</strong>ndo de Mulheres. Salvador: Casa Amare<strong>la</strong>, 2002.MSTS (Movim<strong>en</strong>to dos Sem Teto de Salvador). Mulheres, moradia e outras lutas. Salvador,2007. Mimeografado.NICHOLSON, Linda. Feminismo e Marx: Integrando o Par<strong>en</strong>tesco com o Econômico. In:BENHABIB, Sey<strong>la</strong>; CORNELL, Drucil<strong>la</strong>. Feminismo como crítica da modernidade.Rio de Janeiro: Ed. Rosa dos Tempos, 1993. p. 23-37.SACKS, Kar<strong>en</strong>. Engels revisitado: a mulher, a organização da produção e a propriedadeprivada. In: ROSALDO, Michelle; LAMPHERE, Louise (orgs.). A mulher, a cultura e a sociedade.Rio de Janeiro: Paz e Terra 1979, p. 185-206.SARDENBERG, Cecília M. B. Estudos feministas: um esboço crítico. In: GURGEL, Célia(org.). Teoria e práxis dos <strong>en</strong>foques de gênero. Salvador: REDOR-NEGIF, 2004. p. 17-40.SARDENBERG, Cecília M. B.; COSTA, Ana Alice A.. Feminismos, feministas e movim<strong>en</strong>tossociais. In: BRANDÃO, Margarida; BINGHEMER, Maria C<strong>la</strong>ra (Org.). Mulher e re<strong>la</strong>çõesde gênero. São Paulo: Loyo<strong>la</strong>, 1994. p. 81-114.SCHERER-WARREN, Ilse. Movim<strong>en</strong>tos sociais: um <strong>en</strong>saio de interpretação sociológica.Florianópolis: Editora da UFSC, 1987.<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es15


16 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


Discursos y prácticas de feministasjóv<strong>en</strong>es hondureñasJone B<strong>en</strong>goetxea Epelde30 años - Costa RicaMENCIÓN“… Si los grandes movimi<strong>en</strong>tos quier<strong>en</strong> vivir lo sufi ci<strong>en</strong>te para poder alcanzar loque se propon<strong>en</strong>, deb<strong>en</strong> reinv<strong>en</strong>tarse a sí mismos. Para poder ser sost<strong>en</strong>ibles,los movimi<strong>en</strong>tos no sólo deb<strong>en</strong> crecer; también deb<strong>en</strong> transformarse. Y esto nosólo porque los tiempos inevitablem<strong>en</strong>te cambian. Sino también porque nosotrasmismas hemos cambiado los tiempos. Por lo tanto, debemos responder <strong>en</strong> partetambién a nuestra propia historia”. Bel<strong>la</strong> AbzugEl pres<strong>en</strong>te <strong>en</strong>sayo recoge gran parte de <strong>la</strong>s conclusiones extraídas a partir de <strong>la</strong> investigación“¿A <strong>la</strong>s puertas de <strong>la</strong> tercera o<strong>la</strong> feminista? Debates, discursos y prácticas defeministas jóv<strong>en</strong>es hondureñas” <strong>en</strong>marcada d<strong>en</strong>tro de <strong>la</strong> última fase de formación de <strong>la</strong> VIIIedición del Magíster <strong>en</strong> Género y Desarrollo de <strong>la</strong> Universidad Complut<strong>en</strong>se de Madrid (UCM)y el Instituto Complut<strong>en</strong>se de Estudios Internacionales (ICEI).Por un <strong>la</strong>do, el <strong>en</strong>sayo que aquí se pres<strong>en</strong>ta se propone buscar, explorar <strong>la</strong> incid<strong>en</strong>ciade los debates y discursos feministas contemporáneos <strong>en</strong> un grupo defeministas jóv<strong>en</strong>es hondureñas. Asimismo, se pret<strong>en</strong>de dar cu<strong>en</strong>ta de algunasrealidades pres<strong>en</strong>tes <strong>en</strong> <strong>la</strong> viv<strong>en</strong>cia feminista de este grupo de mujeres jóv<strong>en</strong>es.La búsqueda del vínculo <strong>en</strong>tre el p<strong>en</strong>sami<strong>en</strong>to y el movimi<strong>en</strong>to feminista, <strong>la</strong> tareade ubicar ideas, conocimi<strong>en</strong>tos y saberes <strong>en</strong> contextos concretos como el deHonduras, caracteriza <strong>la</strong> propuesta de análisis de este <strong>en</strong>sayo. En este s<strong>en</strong>tido,se sobre<strong>en</strong>ti<strong>en</strong>de que <strong>la</strong> elección de este país y de <strong>la</strong>s realidades de un grupoconcreto como es el caso de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es feministas <strong>en</strong>trevistadas, ilustra y docum<strong>en</strong>tauna realidad particu<strong>la</strong>r que aunque no es extrapo<strong>la</strong>ble a <strong>la</strong> región <strong>en</strong> g<strong>en</strong>eral,arroja interrogantes y desafíos interesantes para el conjunto del movimi<strong>en</strong>tofeminista <strong>la</strong>tinoamericano y del Caribe.Marco TeóricoNuevas propuestas y discusiones se abr<strong>en</strong> paso <strong>en</strong> el feminismo del sigloXXI, a pesar de que <strong>la</strong>s corri<strong>en</strong>tes clásicas del feminismo de <strong>la</strong> igualdad y elfeminismo de <strong>la</strong> difer<strong>en</strong>cia son <strong>la</strong>s dos tradiciones con mayor peso <strong>en</strong> <strong>la</strong> Aca-<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es17


demia Feminista. La influ<strong>en</strong>cia del posmodernismo y <strong>la</strong> desarticu<strong>la</strong>ción de losgrandes re<strong>la</strong>tos modernos, vi<strong>en</strong><strong>en</strong> cobrando relevancia a t<strong>en</strong>or de <strong>la</strong>s nuevascorri<strong>en</strong>tes de p<strong>en</strong>sami<strong>en</strong>to y acción. Las ciberfeministas, <strong>la</strong>s ecofemi-nistas,<strong>la</strong>s feministas poscolonialistas o <strong>la</strong>s feministas multiculturales son c<strong>la</strong>ro ejemplode ello.Las nuevas g<strong>en</strong>eraciones feministas beb<strong>en</strong> de todas estas influ<strong>en</strong>cias, y se<strong>en</strong>cu<strong>en</strong>tran pres<strong>en</strong>tes tanto <strong>en</strong> <strong>la</strong> construcción de nuevos aportes teóricos, asícomo <strong>en</strong> <strong>la</strong>s nuevas formas de “hacer y vivir el feminismo”. La re<strong>la</strong>ción <strong>en</strong>treel feminismo y <strong>la</strong>s mujeres jóv<strong>en</strong>es no es ninguna novedad, <strong>la</strong>s dinámicas g<strong>en</strong>eracionalesse repit<strong>en</strong> <strong>en</strong> todos los movimi<strong>en</strong>tos sociales y a lo <strong>la</strong>rgo de lostiempos. Precisam<strong>en</strong>te, los conflictos g<strong>en</strong>eracionales esc<strong>en</strong>ifican <strong>la</strong> transmisiónde <strong>la</strong>s her<strong>en</strong>cias políticas junto con <strong>la</strong> negociación y el paso a nuevas ideas yp<strong>la</strong>nteami<strong>en</strong>tos.Paralelo a <strong>la</strong>s discusiones sobre <strong>la</strong>s “transiciones interg<strong>en</strong>eracionales”, se abre eldebate alrededor de <strong>la</strong> sucesión de etapas y períodos d<strong>en</strong>tro de <strong>la</strong> propia historiografíadel p<strong>en</strong>sami<strong>en</strong>to y movimi<strong>en</strong>to feminista: ¿podemos hab<strong>la</strong>r de <strong>la</strong> llegadade una tercera o<strong>la</strong> feminista?Los escritos y estudios referidos a <strong>la</strong> tercera o<strong>la</strong> feminista son aún incipi<strong>en</strong>tes. Latransición de <strong>la</strong> segunda a <strong>la</strong> tercera o<strong>la</strong>, aparte de una mera sucesión cronológica,repres<strong>en</strong>ta para muchas feministas, un cambio de paradigmas. Las nuevasg<strong>en</strong>eraciones feministas, herederas <strong>en</strong> su mayoría del feminismo de <strong>la</strong> segundao<strong>la</strong>, reivindican el salto a <strong>la</strong> tercera o<strong>la</strong> bajo el signo de <strong>la</strong> interg<strong>en</strong>eracionalidad.Por ahora, <strong>la</strong> mayor producción teórica obt<strong>en</strong>ida respecto al tema, provi<strong>en</strong>e delmundo anglosajón o de Europa.Según <strong>la</strong>s autod<strong>en</strong>ominadas “terceraolistas”, (proced<strong>en</strong>tes sobre todo de EstadosUnidos) una de <strong>la</strong>s principales difer<strong>en</strong>cias <strong>en</strong>tre éstas y sus antecesorasse c<strong>en</strong>traría <strong>en</strong> <strong>la</strong> cuestión de <strong>la</strong> diversidad de <strong>la</strong>s mujeres. Es decir, <strong>la</strong>s nuevasg<strong>en</strong>eraciones estarían más consci<strong>en</strong>tes de sus difer<strong>en</strong>cias y particu<strong>la</strong>ridades, noestarían de acuerdo con una homog<strong>en</strong>ización del movimi<strong>en</strong>to, y vivirían y definiríanel feminismo a su manera. Estas ideas, <strong>en</strong> cierta medida, romp<strong>en</strong> con el s<strong>en</strong>tidocolectivo de los movimi<strong>en</strong>tos sociales tradicionales y <strong>en</strong>salzan <strong>la</strong> dim<strong>en</strong>siónpersonal de <strong>la</strong> “opción feminista”.Opciones individuales que contrastan con el s<strong>en</strong>tido comunitario y de movimi<strong>en</strong>tocolectivo organizado que caracteriza al movimi<strong>en</strong>to feminista <strong>en</strong> <strong>América</strong><strong>la</strong>tina y El Caribe. En este punto, cabría preguntarse si parte de <strong>la</strong>s nuevasg<strong>en</strong>eraciones de mujeres jóv<strong>en</strong>es <strong>la</strong>tinoamericanas que no toman parte<strong>en</strong> ningún movimi<strong>en</strong>to feminista o de mujeres, han naturalizado los logros delmovimi<strong>en</strong>to feminista y practican un d<strong>en</strong>ominado “feminismo de hecho” <strong>en</strong> susvidas personales.18 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


ContextoLas luchas feministas <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>la</strong>tina son heterogéneas y respond<strong>en</strong> <strong>en</strong> granmedida a <strong>la</strong>s propias realidades locales, nacionales y regionales. Sin embargo, seconsidera importante analizar si exist<strong>en</strong> objetivos y ag<strong>en</strong>das comunes, y observar<strong>en</strong> qué punto se <strong>en</strong>cu<strong>en</strong>tra <strong>la</strong> articu<strong>la</strong>ción y el propio ejercicio del feminismo <strong>en</strong><strong>América</strong> <strong>la</strong>tina y El Caribe. El movimi<strong>en</strong>to feminista <strong>la</strong>tinoamericano pres<strong>en</strong>ta característicaspropias difer<strong>en</strong>ciadas de otras partes del mundo 1 .Los d<strong>en</strong>ominados Encu<strong>en</strong>tros <strong>Feministas</strong> de <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> y el Caribe se pres<strong>en</strong>tancomo una de <strong>la</strong>s fu<strong>en</strong>tes principales a <strong>la</strong> hora de construir una g<strong>en</strong>ealogíadel feminismo <strong>en</strong> <strong>la</strong> región. Las discusiones albergadas <strong>en</strong> estos Encu<strong>en</strong>tros apartir de 1981, ofrec<strong>en</strong> pistas y pautas para compr<strong>en</strong>der mejor <strong>la</strong> evolución y eldesarrollo del movimi<strong>en</strong>to y de todas sus expresiones de diversidad. Además deestos Encu<strong>en</strong>tros, el movimi<strong>en</strong>to feminista <strong>la</strong>tinoamericano se articu<strong>la</strong> a través deactividades tales como <strong>la</strong>s campañas locales con temas re<strong>la</strong>tivos a los derechosde <strong>la</strong>s mujeres, <strong>la</strong> participación <strong>en</strong> foros internacionales del ciclo de <strong>la</strong>s NacionesUnidas así como a través de sus innumerables redes temáticas.En este s<strong>en</strong>tido, uno de los f<strong>en</strong>óm<strong>en</strong>os más relevantes y discutidos que ha acompañadoal movimi<strong>en</strong>to feminista <strong>en</strong> <strong>la</strong>s últimas décadas ha sido el proceso deinstitucionalización del propio movimi<strong>en</strong>to y el surgimi<strong>en</strong>to de instancias gubernam<strong>en</strong>talesy de otra índole vincu<strong>la</strong>das a <strong>la</strong>s mujeres y a <strong>la</strong> def<strong>en</strong>sa de sus derechos.Numerosas feministas han ido transitando desde espacios consideradoscomo movimi<strong>en</strong>tistas a espacios institucionales o han participado de manera simultánea<strong>en</strong> ambos.El feminismo ha ido impregnando leyes, políticas, programas, instituciones, organismosinternacionales, ONG..,pero, ¿sigue vivo <strong>en</strong> <strong>la</strong> calle?¿Qué papel juega<strong>en</strong> <strong>la</strong> vida de <strong>la</strong>s mujeres? ¿Sigue si<strong>en</strong>do un sujeto social emerg<strong>en</strong>te o actúa y esreconocido con <strong>en</strong>tidad propia?Como afirman varias autoras, el clásico rol de contrapoder ejercido desde <strong>la</strong>sONG y <strong>la</strong>s distintas expresiones de <strong>la</strong> sociedad civil, se ha reformu<strong>la</strong>do. En numerosasocasiones, <strong>la</strong>s ONG llegan a convertirse <strong>en</strong> prestadoras de serviciossociales y <strong>en</strong> ag<strong>en</strong>tes fundam<strong>en</strong>tales <strong>en</strong> el diseño, formu<strong>la</strong>ción e implem<strong>en</strong>taciónde <strong>la</strong>s d<strong>en</strong>ominadas políticas de género. Desde varias posiciones se hab<strong>la</strong> de <strong>la</strong>“tecnocratización del género” y de <strong>la</strong> reducción de los espacios de movilizaciónpolítica crítica. Gran parte del movimi<strong>en</strong>to se muestra favorable a <strong>en</strong>contrar un1 Se parte de <strong>la</strong> idea de que no existe un movimi<strong>en</strong>to feminista homogéneo ni un único p<strong>en</strong>sami<strong>en</strong>tofeminista. No obstante, se hace un uso semántico del singu<strong>la</strong>r el cual <strong>en</strong>globa toda <strong>la</strong> diversidad deacepciones que contemp<strong>la</strong>n estos términos y conceptos.<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es19


equilibrio <strong>en</strong>tre ambos espacios y apuesta por mant<strong>en</strong>er <strong>la</strong> “marca difer<strong>en</strong>cial” delfeminismo <strong>la</strong>tinoamericano y su compromiso por un cambio radical <strong>en</strong> <strong>la</strong> reorganizaciónsocial y <strong>en</strong> su d<strong>en</strong>uncia del sexismo d<strong>en</strong>tro de <strong>la</strong> izquierda.Precisam<strong>en</strong>te, este último ha sido un rasgo característico del feminismo <strong>en</strong> C<strong>en</strong>troamérica.La andadura feminista <strong>en</strong> el istmo c<strong>en</strong>troamericano se vincu<strong>la</strong> a losespacios de <strong>la</strong> izquierda política y <strong>la</strong> escisión de los mismos <strong>en</strong> muchos casos. Apesar de contar con un recorrido m<strong>en</strong>os ext<strong>en</strong>so temporalm<strong>en</strong>te que el feminismo<strong>en</strong> Suramérica, el feminismo c<strong>en</strong>troamericano se ha ido posicionando y convergi<strong>en</strong>do<strong>en</strong> intereses e iniciativas. Todo ello <strong>en</strong> un contexto sujeto a inequidadesestructurales y de grandes limitaciones para el ejercicio de los derechos humanosde <strong>la</strong>s mujeres.En <strong>la</strong> búsqueda de una hipotética id<strong>en</strong>tidad del feminismo c<strong>en</strong>troamericano, unfactor c<strong>la</strong>ve <strong>en</strong> su configuración ha sido el vínculo y <strong>en</strong> muchos casos <strong>la</strong> separaciónde <strong>la</strong>s organizaciones feministas con el movimi<strong>en</strong>to popu<strong>la</strong>r de mujeres. Laadscripción a una determinada c<strong>la</strong>se social marca <strong>la</strong> difer<strong>en</strong>cia y <strong>la</strong> separación<strong>en</strong>tre <strong>la</strong>s mujeres del movimi<strong>en</strong>to popu<strong>la</strong>r de base y <strong>la</strong>s feministas. Sin embargo,muchas mujeres pert<strong>en</strong>eci<strong>en</strong>tes a <strong>la</strong>s organizaciones de base reconoc<strong>en</strong> que elfeminismo ha influ<strong>en</strong>ciado su visión política y filosófica, imbricada <strong>en</strong> un feminismode corte popu<strong>la</strong>r y socialista.Concretam<strong>en</strong>te, <strong>en</strong> el caso de Honduras, <strong>la</strong>s puertas de <strong>en</strong>trada al feminismose g<strong>en</strong>eraron a partir de <strong>la</strong> década de los och<strong>en</strong>ta <strong>en</strong> un proceso de escisión deid<strong>en</strong>tidades y de una reconversión de ideas e imaginarios. Históricam<strong>en</strong>te el movimi<strong>en</strong>tode mujeres se ha id<strong>en</strong>tificado con el movimi<strong>en</strong>to popu<strong>la</strong>r <strong>en</strong> donde losintereses sectoriales prevalec<strong>en</strong> por <strong>en</strong>cima de los intereses de género.Ser negra, lesbiana, campesina, socialista, indíg<strong>en</strong>a, ser una mujer jov<strong>en</strong>, o dec<strong>la</strong>se media <strong>en</strong> Honduras conlleva distintos significados e implicaciones, bajolos cuales se irá <strong>en</strong>treteji<strong>en</strong>do una “id<strong>en</strong>tidad feminista colectiva”. El pres<strong>en</strong>te<strong>en</strong>sayo recoge de manera específica, un estudio cualitativo sobre los discursosy prácticas de un grupo de jóv<strong>en</strong>es feministas hondureñas 2 extraídas a partir de<strong>en</strong>trevistas estructuradas abiertas.Estudio de CasoD<strong>en</strong>isse, Gery, Leonor, Cynthia y Susana ofrecieron sus testimonios, a través delos cuales se analizaron los discursos y prácticas de estas mujeres <strong>en</strong> re<strong>la</strong>ción alfeminismo, el feminismo jov<strong>en</strong> y el movimi<strong>en</strong>to feminista <strong>en</strong> Honduras.2 Se hab<strong>la</strong> de “feministas jóv<strong>en</strong>es hondureñas” o de “jóv<strong>en</strong>es feministas hondureñas” indistintam<strong>en</strong>te.Se asume <strong>la</strong> variable etárea, y <strong>en</strong> concreto, al feminismo jov<strong>en</strong> como una categoría de análisis a pesarde que no existe un cons<strong>en</strong>so teórico al respecto.20 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


En primer lugar, se destaca el juego <strong>en</strong>tre “lo personal y lo político”, un eje constanteque se reitera <strong>en</strong> <strong>la</strong> discursiva política de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es <strong>en</strong>trevistadas.El feminismo es caracterizado como un “proyecto político”, un “movimi<strong>en</strong>to político”,una “doctrina”, un “p<strong>en</strong>sami<strong>en</strong>to”, una “ética” que actúa como guía a <strong>la</strong> horade decidir lo que es correcto y lo que no lo es. Se trata de visiones g<strong>en</strong>erales, dediscursos que d<strong>en</strong>otan un s<strong>en</strong>tido colectivo de <strong>la</strong> “propuesta feminista”.Pero esta propuesta de cambio social no se queda meram<strong>en</strong>te <strong>en</strong> el p<strong>la</strong>no socialy <strong>en</strong> los discursos políticos. El feminismo se <strong>en</strong>carna <strong>en</strong> el día a día de cada unade estas jóv<strong>en</strong>es feministas hondureñas, y se convierte <strong>en</strong> experi<strong>en</strong>cia de vidapara <strong>la</strong> mayoría de el<strong>la</strong>s.“El feminismo es una forma de vida, adoptar normas, reg<strong>la</strong>s (…), vos también te <strong>la</strong>s crees y<strong>la</strong>s defi<strong>en</strong>des desde tu propia vida y cómo <strong>la</strong>s vives re<strong>la</strong>cionándote con <strong>la</strong>s demás personas”.“Int<strong>en</strong>to razonar <strong>la</strong>s cosas desde los pocos conocimi<strong>en</strong>tos del feminismo”. (Leonor)El discurso político <strong>la</strong>s dota de toda una serie de herrami<strong>en</strong>tas tanto teóricas comopersonales a aplicar <strong>en</strong> <strong>la</strong> vida cotidiana. Todo ese bagaje conceptual se traduce<strong>en</strong> el proceso de conci<strong>en</strong>tización individual llevado a cabo por todas el<strong>la</strong>s, y que<strong>la</strong>s hace ser consci<strong>en</strong>tes y d<strong>en</strong>unciar <strong>la</strong>s distintas discriminaciones que sufr<strong>en</strong> <strong>en</strong><strong>la</strong> sociedad, y <strong>en</strong> particu<strong>la</strong>r, <strong>la</strong>s discriminaciones por razón de género.Esta toma de conci<strong>en</strong>cia del ideario feminista, <strong>la</strong>s posiciona socialm<strong>en</strong>te comorefer<strong>en</strong>tes <strong>en</strong> <strong>la</strong> lucha por los derechos de <strong>la</strong>s mujeres. Precisam<strong>en</strong>te, <strong>la</strong> cuestiónde los derechos y el ejercicio de los mismos, se conviert<strong>en</strong> <strong>en</strong> banderade lucha prioritaria para este colectivo de mujeres. Aterrizar <strong>la</strong> abstracción delos discursos políticos feministas y practicarlos <strong>en</strong> <strong>la</strong> vida diaria, se concretatambién <strong>en</strong> cuestiones como el manejo del cuerpo, <strong>la</strong> p<strong>la</strong>nificación familiar y/o<strong>la</strong>s re<strong>la</strong>ciones de pareja, <strong>en</strong>tre otros. La libertad es un eje que subyace <strong>en</strong> <strong>la</strong>spropuestas de signo feminista, ya sea <strong>en</strong> el p<strong>la</strong>no político o <strong>en</strong> los “caminos personales”de <strong>la</strong> vida.En este s<strong>en</strong>tido, otra apuesta por <strong>la</strong> libertad y que contradice el ord<strong>en</strong> heteropatriarcaly sexista sería el tema de <strong>la</strong> opción sexual. La refer<strong>en</strong>cia a <strong>la</strong> cuestiónde <strong>la</strong> opción sexual aparece casi de manera anecdótica y no reivindicada porparte de <strong>la</strong>s <strong>en</strong>trevistadas, t<strong>en</strong>i<strong>en</strong>do <strong>en</strong> cu<strong>en</strong>ta además, que varias de el<strong>la</strong>s seid<strong>en</strong>tifican como lesbianas. Paradójicam<strong>en</strong>te, los foros y <strong>en</strong>cu<strong>en</strong>tros feministas<strong>la</strong>tinoamericanos han sido testigo de <strong>la</strong>s polémicas suscitadas alrededor de estatemática, y han g<strong>en</strong>erado numerosos debates.La reivindicación de <strong>la</strong> diversidad sexual o <strong>la</strong> visibilización del lesbianismo sontemas que no ocupan un lugar prioritario <strong>en</strong> <strong>la</strong> ag<strong>en</strong>da feminista hondureña. Unade <strong>la</strong>s <strong>en</strong>trevistadas muestra su visión:<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es21


“Aúnque el ser lesbiana es una parte importante <strong>en</strong> mi vida, no define mi actuar político (…) Elfeminismo abarca mucho más que <strong>la</strong> opción sexual”. (D<strong>en</strong>isse)Estas cinco mujeres construy<strong>en</strong> sus id<strong>en</strong>tidades feministas de manera muy particu<strong>la</strong>r,<strong>en</strong> un contexto nacional concreto, y a través de distintas vías de socialización.Las puertas de <strong>en</strong>trada al feminismo, inician un proceso el cual vi<strong>en</strong>e marcadopor <strong>la</strong> incorporación a una organización feminista. “Ponerse <strong>la</strong> camiseta” de unaorganización feminista, s<strong>en</strong>tirse parte de <strong>la</strong> misma, g<strong>en</strong>era id<strong>en</strong>tidad. Cada <strong>en</strong>trevistadase id<strong>en</strong>tifica con <strong>la</strong> organización <strong>en</strong> <strong>la</strong> que trabaja y/o milita, inclusohay casos <strong>en</strong> los que se llega a establecer una especie de paralelismo <strong>en</strong>tre elejercicio del feminismo y <strong>la</strong> propia organización.En líneas g<strong>en</strong>erales, advertimos que los discursos manejados por este grupo dejóv<strong>en</strong>es hondureñas, beb<strong>en</strong> de <strong>la</strong>s fu<strong>en</strong>tes del feminismo oficial tradicional. Elpopu<strong>la</strong>r lema “lo personal es político” propio de los movimi<strong>en</strong>tos feministas de losaños ses<strong>en</strong>ta y set<strong>en</strong>ta, se insta<strong>la</strong> de ll<strong>en</strong>o <strong>en</strong> los discursos de estas jóv<strong>en</strong>es, lohac<strong>en</strong> suyo. El feminismo no es sólo una teoría o una propuesta de cambio social,se “hace piel” de estas cinco mujeres y se convierte <strong>en</strong> algo dinámico, algoque les da fuerza y que <strong>la</strong>s coloca de una manera predeterminada ante <strong>la</strong> sociedad.Lo político y lo personal confluy<strong>en</strong> de manera que no hay distinciones <strong>en</strong>treel ámbito público y privado de <strong>la</strong> vida humana, se difuminan <strong>la</strong>s fronteras.Los discursos teórico políticos se p<strong>la</strong>sman <strong>en</strong> algo viv<strong>en</strong>cial, <strong>en</strong> experi<strong>en</strong>cia devida. Ese rasgo “viv<strong>en</strong>cial” del feminismo fue característico de los primeros movimi<strong>en</strong>tospopu<strong>la</strong>res de mujeres <strong>en</strong> <strong>la</strong> región c<strong>en</strong>troamericana, <strong>en</strong>tre ellos, Honduras.Pero este grupo de cinco mujeres hondureñas de <strong>en</strong>tre 20 y 30 años,aparte de “viv<strong>en</strong>ciar” el feminismo, lo dota de un cont<strong>en</strong>ido teórico y político. Latemprana edad de estas mujeres no impide que cu<strong>en</strong>t<strong>en</strong> con una formación políticay con unos conocimi<strong>en</strong>tos teóricos sobre el feminismo que <strong>la</strong>s permite estary participar <strong>en</strong> diversos espacios e instancias feministas tanto nacionales comointernacionales.En otro ord<strong>en</strong> de ideas, se observa que a raíz de <strong>la</strong>s respuestas obt<strong>en</strong>idas porparte de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es, queda pat<strong>en</strong>te <strong>la</strong> ambival<strong>en</strong>cia <strong>en</strong>tre los conceptos de trabajoy militancia feminista, así como sus límites. Todas <strong>la</strong>s <strong>en</strong>trevistadas, exceptuandouna, son trabajadoras de organizaciones feministas, pero cada unacontemp<strong>la</strong> y afronta de manera difer<strong>en</strong>te el trabajo y/o <strong>la</strong> militancia feminista.Todas seña<strong>la</strong>n <strong>la</strong> fuerte carga de trabajo, <strong>la</strong> presión <strong>la</strong>boral a <strong>la</strong> que están sometidas,así como <strong>la</strong> debilidad <strong>en</strong> algunos derechos <strong>la</strong>borales. No obstante, <strong>la</strong>s re<strong>la</strong>cionesy los vínculos que guarda cada una de el<strong>la</strong>s con su organización, determina <strong>la</strong>manera de asumir los costes que implica <strong>la</strong> participación <strong>en</strong> estos espacios.22 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


Todas <strong>la</strong>s <strong>en</strong>trevistadas accedieron y se insertaron <strong>en</strong> el feminismo hondureñoa través de <strong>la</strong>s organizaciones <strong>en</strong> <strong>la</strong>s que trabajan actualm<strong>en</strong>te. Como hemosm<strong>en</strong>cionado anteriorm<strong>en</strong>te, <strong>la</strong>s puertas de <strong>en</strong>trada se sucedieron de distintasmaneras para cada una de el<strong>la</strong>s. Dos de <strong>la</strong>s <strong>en</strong>trevistadas llevan casi diez añosrealizando <strong>la</strong>bores de voluntariado <strong>en</strong> su organización, y <strong>en</strong> estos mom<strong>en</strong>tos formanparte de <strong>la</strong> p<strong>la</strong>ntil<strong>la</strong>. Una de el<strong>la</strong>s <strong>en</strong>tró como usuaria de un proyecto, y <strong>la</strong>otra <strong>en</strong>trevistada contaba con vínculos familiares <strong>en</strong> <strong>la</strong> propia organización. Paraestas dos mujeres, <strong>la</strong> organización no es un mero espacio de trabajo, se trata deun espacio militante, una segunda casa que <strong>la</strong>s ha acogido y que <strong>la</strong>s ha acompañadodurante los diez últimos años de sus vidas. Asum<strong>en</strong> todos los costespersonales del trabajo, y reiteran su compromiso militante ante una organizaciónque se pres<strong>en</strong>ta como su familia.“No t<strong>en</strong>go ni vida personal, ni vida social aparte de <strong>la</strong> organización, de <strong>la</strong> militancia. Es miopción de vida”. (Susana)La incorporación <strong>en</strong> <strong>la</strong>s organizaciones feministas, además de <strong>la</strong> vía del voluntariadoy de los <strong>la</strong>zos personales, vi<strong>en</strong>e dada como otro proceso de inserción<strong>la</strong>boral más. Éste es el caso de <strong>la</strong>s otras dos mujeres <strong>en</strong>trevistadas, <strong>la</strong>s cualesse incorporaron a sus organizaciones directam<strong>en</strong>te como trabajadoras asa<strong>la</strong>riadas.La concepción varía, sobre todo <strong>en</strong> el caso de una de <strong>la</strong>s <strong>en</strong>trevistadas, quemanti<strong>en</strong>e una visión c<strong>la</strong>ram<strong>en</strong>te institucional del feminismo, y se considera unatrabajadora más del mismo.“Lam<strong>en</strong>tablem<strong>en</strong>te veo muy institucionalizada esta vaina. Como mujer remunerada sí queme veo parte, pero como Cynthia, no sé”.Manti<strong>en</strong>e y afirma su compromiso con <strong>la</strong> militancia feminista, pero hace una c<strong>la</strong>rificaciónde los límites <strong>en</strong>tre el trabajo asa<strong>la</strong>riado y <strong>la</strong> militancia.“Mi militancia feminista deja de ser activismo cuando se convierte <strong>en</strong> responsabilidadasignada por mi trabajo, porque t<strong>en</strong>go un sa<strong>la</strong>rio por esas actividades lo quiera o no”.(Cynthia)Aún así, seña<strong>la</strong> como el resto de <strong>la</strong>s <strong>en</strong>trevistadas, <strong>la</strong> sobrecarga de trabajo a<strong>la</strong> que son sometidas además de <strong>la</strong> vulneración de derechos, como es el casodel derecho a <strong>la</strong> educación. Esta cuestión es repetida y criticada <strong>en</strong> numerosasocasiones, dejando ver <strong>la</strong> importancia y prioridad que <strong>la</strong> formación ti<strong>en</strong>e para estegrupo de mujeres.“No estamos gozando del derecho a <strong>la</strong> educación <strong>en</strong> los espacios <strong>la</strong>borales”. (Cynthia)En síntesis, podemos acordar que <strong>la</strong> manera de ingresar <strong>en</strong> una organizaciónfeminista ha sido difer<strong>en</strong>te para cada una de <strong>la</strong>s <strong>en</strong>trevistadas, y determina <strong>la</strong>s<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es23


e<strong>la</strong>ciones y vínculos establecidos con <strong>la</strong>s mismas. Ingresar mediante un contratode trabajo, de forma voluntaria, o como usuaria de un proyecto, no ti<strong>en</strong>e <strong>la</strong>smismas implicaciones. Todas el<strong>la</strong>s muestran una id<strong>en</strong>tificación y un compromisocon <strong>la</strong> organización <strong>en</strong> <strong>la</strong> que trabajan y/o militan. En muchos casos, se muestraun s<strong>en</strong>timi<strong>en</strong>to de pert<strong>en</strong><strong>en</strong>cia hacia <strong>la</strong> organización certificando <strong>la</strong> fidelidad hacia<strong>la</strong> misma. La organización por lo tanto, aparece como un pi<strong>la</strong>r básico <strong>en</strong> <strong>la</strong> experi<strong>en</strong>ciade vida de varias <strong>en</strong>trevistadas, convirtiéndose <strong>en</strong> paraguas bajo <strong>la</strong> cualse asum<strong>en</strong> todo tipo de costes, de los cuales son consci<strong>en</strong>tes.Cuando este reducido grupo de mujeres jóv<strong>en</strong>es es cuestionado sobre <strong>la</strong> exist<strong>en</strong>ciao no de un movimi<strong>en</strong>to feminista jov<strong>en</strong> hondureño, <strong>en</strong> g<strong>en</strong>eral, <strong>la</strong>s respuestasgiran <strong>en</strong> torno a <strong>la</strong> incertidumbre o <strong>la</strong> duda. No se puede hab<strong>la</strong>r de un sujetofeminista jov<strong>en</strong> <strong>en</strong> el país, sí <strong>en</strong> cambio, de un grupo de jóv<strong>en</strong>es que se defin<strong>en</strong>como feministas, que dic<strong>en</strong> estar id<strong>en</strong>tificadas <strong>en</strong>tre el<strong>la</strong>s, y que provi<strong>en</strong><strong>en</strong> <strong>en</strong> sumayoría de Tegucigalpa. Observan además, que muchas jóv<strong>en</strong>es de su g<strong>en</strong>eraciónestarían de acuerdo con los postu<strong>la</strong>dos feministas pero los desconoc<strong>en</strong>.No obstante, estas jóv<strong>en</strong>es concuerdan <strong>en</strong> afirmar que sí existe una controversia<strong>en</strong>tre <strong>la</strong>s mujeres adultas y <strong>la</strong>s mujeres jóv<strong>en</strong>es que conforman el movimi<strong>en</strong>tofeminista hondureño. Esta tradición divisionista ti<strong>en</strong>e lugar sobre todo <strong>en</strong> los últimosaños, y sus causas se atribuy<strong>en</strong> principalm<strong>en</strong>te a cuestiones de ord<strong>en</strong> personal.Los pleitos de poder, <strong>la</strong>s jerarquías, los personalismos, o <strong>la</strong> no aceptaciónde nuevos liderazgos, son términos que se repit<strong>en</strong> <strong>en</strong> muchas de <strong>la</strong>s <strong>en</strong>trevistasy que describ<strong>en</strong> parte de <strong>la</strong> controversia interg<strong>en</strong>eracional al interior del movimi<strong>en</strong>to.Como idea g<strong>en</strong>eral, a partir de algunos de los p<strong>la</strong>nteami<strong>en</strong>tos de <strong>la</strong>s <strong>en</strong>trevistadas,se baraja <strong>la</strong> posibilidad de crear un movimi<strong>en</strong>to de feministas jóv<strong>en</strong>es <strong>en</strong> elpaís. Pero <strong>en</strong> realidad, queda <strong>la</strong> duda de si realm<strong>en</strong>te se p<strong>la</strong>ntea esa necesidad.Las jóv<strong>en</strong>es acusan una falta de espacios de reunión y de debate propios, perotampoco se observa <strong>la</strong> necesidad de institucionalizar esos espacios, ya que <strong>la</strong>spropias jóv<strong>en</strong>es se consideran parte del movimi<strong>en</strong>to feminista y no un sector aparte.Mi<strong>en</strong>tras que alguna de <strong>la</strong>s <strong>en</strong>trevistadas dice s<strong>en</strong>tirse parte del d<strong>en</strong>ominado“relevo g<strong>en</strong>eracional” feminista, otras compañeras rechazan esta asignación yreivindican su condición de participantes pl<strong>en</strong>as al interior del movimi<strong>en</strong>to.“Es importante no dejarnos l<strong>la</strong>mar relevo” (…) “Nosotras ya somos parte del movimi<strong>en</strong>to” (…)“Nosotras necesitamos espacios para discutir pero cuando estamos <strong>en</strong> el movimi<strong>en</strong>to, cuandose discute <strong>la</strong> ag<strong>en</strong>da <strong>en</strong> algún mom<strong>en</strong>to se ha propuesto incluir a <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es como un punto deag<strong>en</strong>da y para mí este no es el punto”. (Susana)En cambio, <strong>en</strong> casi todos los casos, <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es id<strong>en</strong>tifican <strong>la</strong> especificidad deuna ag<strong>en</strong>da feminista jov<strong>en</strong>, que ubicada d<strong>en</strong>tro de una ag<strong>en</strong>da feminista común,contemple <strong>la</strong> cuestión “jov<strong>en</strong>” <strong>en</strong> diversos temas. Sobre todo, se hace hincapié <strong>en</strong>24 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


trabajar de manera específica, el tema de los derechos sexuales y reproductivos<strong>en</strong> <strong>la</strong> juv<strong>en</strong>tud. También se añad<strong>en</strong> temas como el de <strong>la</strong> viol<strong>en</strong>cia contra <strong>la</strong>s mujeres,el femicidio, y los temas vincu<strong>la</strong>dos al desarrollo o <strong>la</strong> pobreza.Las redes de mujeres jóv<strong>en</strong>es <strong>la</strong>tinoamericanas que trabajan a favor de los derechossexuales y reproductivos se han ido ampliando <strong>en</strong> los últimos años. Ciertam<strong>en</strong>te,se trata de un tema que adquiere relevancia para <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es, y que se haido posicionando <strong>en</strong> <strong>la</strong> ag<strong>en</strong>da feminista global. La def<strong>en</strong>sa y promoción de losderechos sigue si<strong>en</strong>do <strong>la</strong> gran prioridad para este grupo de mujeres.En re<strong>la</strong>ción a <strong>la</strong> incid<strong>en</strong>cia e inclusión de los debates feministas contemporáneosy <strong>la</strong>s nuevas propuestas teóricas feministas, se advierte una aus<strong>en</strong>cia de los mismos.En los discursos de <strong>la</strong>s <strong>en</strong>trevistadas, ninguna de el<strong>la</strong>s a excepción de una,llega a m<strong>en</strong>cionar nuevas propuestas teóricas que se estén dando al interior delmovimi<strong>en</strong>to nacional, reproduciéndose un esquema clásico de <strong>la</strong>s temáticas feministas.La propuesta del ecofeminismo, o el uso de Internet como herrami<strong>en</strong>ta<strong>en</strong> <strong>la</strong> ampliación de <strong>la</strong> democracia, aparec<strong>en</strong> de manera refer<strong>en</strong>cial <strong>en</strong> una de <strong>la</strong>s<strong>en</strong>trevistas sin que se llegue a profundizar <strong>en</strong> dichas cuestiones.Por lo tanto, el p<strong>la</strong>nteami<strong>en</strong>to de un debate sobre <strong>la</strong> tercera o<strong>la</strong> feminista no <strong>en</strong>cu<strong>en</strong>tralugar <strong>en</strong> este contexto, tanto desde un punto de vista ideológico comocronológico. No hay nuevos p<strong>la</strong>nteami<strong>en</strong>tos <strong>en</strong> <strong>la</strong>s formas de “hacer feminismo”,y <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es feministas trabajan mayoritariam<strong>en</strong>te desde sus organizaciones, apesar de que algunas p<strong>la</strong>ntean <strong>la</strong> búsqueda de espacios propios para debatir ydiscutir.Durante el transcurso de <strong>la</strong>s <strong>en</strong>trevistas, se fueron recogi<strong>en</strong>do distintas visionesy versiones que <strong>la</strong>s <strong>en</strong>trevistadas t<strong>en</strong>ían acerca del movimi<strong>en</strong>to feminista hondureño.Ello permitió realizar una pequeña radiografía <strong>la</strong> cual arrojó debilidades yfortalezas manifiestas del movimi<strong>en</strong>to.La fragm<strong>en</strong>tación y <strong>la</strong> falta de unidad del movimi<strong>en</strong>to aparec<strong>en</strong> como datos reiterativosa lo <strong>la</strong>rgo de <strong>la</strong>s <strong>en</strong>trevistas. Se trata de un movimi<strong>en</strong>to feminista articu<strong>la</strong>doa través de ONG feministas, que funcionan <strong>en</strong> numerosas ocasiones demanera uni<strong>la</strong>teral, y <strong>en</strong> donde se acusa una falta de alianzas estratégicas. Lasorganizaciones de mujeres y <strong>la</strong>s que se autod<strong>en</strong>ominan feministas, trabajan g<strong>en</strong>eralm<strong>en</strong>tede manera sectorial sin contar <strong>en</strong> <strong>la</strong> mayoría de los casos, con unaestrategia integral y de articu<strong>la</strong>ción con los movimi<strong>en</strong>tos sociales. Un movimi<strong>en</strong>toque <strong>en</strong> pa<strong>la</strong>bras de algunas <strong>en</strong>trevistadas, mira hacia su interior, carece de unavisión de país, y que muchas veces se <strong>en</strong>cu<strong>en</strong>tra alejado de <strong>la</strong> realidad de <strong>la</strong>pob<strong>la</strong>ción.“Desde el feminismo no hay visión de país, t<strong>en</strong>emos <strong>la</strong> utopía construida pero no <strong>en</strong> el país”.(D<strong>en</strong>isse)<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es25


La organización feminista <strong>en</strong>globa el espacio de militancia política y <strong>la</strong> esfera<strong>la</strong>boral. El actuar político y el ejercicio profesional feminista, se desarrol<strong>la</strong>n al interiorde estas organizaciones. Ello g<strong>en</strong>era un s<strong>en</strong>timi<strong>en</strong>to de pert<strong>en</strong><strong>en</strong>cia e id<strong>en</strong>tidadhacia <strong>la</strong> organización, con <strong>la</strong> cual se contrae un compromiso que va más alládel contrato <strong>la</strong>boral. So<strong>la</strong>m<strong>en</strong>te una de <strong>la</strong>s <strong>en</strong>trevistadas se posiciona c<strong>la</strong>ram<strong>en</strong>tecomo una “trabajadora del feminismo” y no se id<strong>en</strong>tifica totalm<strong>en</strong>te como partedel movimi<strong>en</strong>to feminista hondureño. Toda esta dinámica gregaria fom<strong>en</strong>ta <strong>la</strong>transmisión de her<strong>en</strong>cias políticas <strong>en</strong> <strong>la</strong>s nuevas g<strong>en</strong>eraciones feministas.“Yo asumo mi papel como parte de una organización y eso hace que yo t<strong>en</strong>ga difer<strong>en</strong>cias políticascon jóv<strong>en</strong>es de otras organizaciones”. (Gery)Respecto a <strong>la</strong> re<strong>la</strong>ción <strong>en</strong>tre el movimi<strong>en</strong>to feminista y <strong>la</strong>s instituciones, <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>esfeministas reconoc<strong>en</strong> el papel que el movimi<strong>en</strong>to ha jugado <strong>en</strong> el impulso de <strong>la</strong> maquinariainstitucional de género <strong>en</strong> Honduras. El movimi<strong>en</strong>to de mujeres ha sido imprescindiblepara <strong>la</strong> creación del mecanismo nacional responsable de coordinar <strong>la</strong>spolíticas para el avance de <strong>la</strong>s mujeres, el INAM (Instituto Nacional de <strong>la</strong> <strong>Mujer</strong>).El rol de interlocución jugado por el movimi<strong>en</strong>to <strong>en</strong>tre sociedad civil y gobierno,ha sido y sigue si<strong>en</strong>do c<strong>la</strong>ve, sobre todo <strong>en</strong> un país <strong>en</strong> donde <strong>la</strong>s institucionespúblicas están lejos de cumplir los mandatos asignados. Una de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es,seña<strong>la</strong> que aún reconoci<strong>en</strong>do avances, <strong>la</strong>s realidades y ag<strong>en</strong>das de <strong>la</strong>s mujeresno están llegando a los poderes públicos. Desde distintos foros se añade, que elmovimi<strong>en</strong>to de mujeres y el movimi<strong>en</strong>to feminista no cu<strong>en</strong>tan con elem<strong>en</strong>tos dearticu<strong>la</strong>ción perman<strong>en</strong>tes obstaculizando su capacidad de propuesta e influ<strong>en</strong>ciapolítica a nivel nacional.“El movimi<strong>en</strong>to de mujeres fue el que creó <strong>la</strong>s instituciones que apoyan a <strong>la</strong> mujer. El estadono ha reproducido el modelo que fom<strong>en</strong>taron <strong>la</strong>s organizaciones de mujeres. Funcionan comoburócratas”. (D<strong>en</strong>isse)Se advierte, como visión g<strong>en</strong>eral del movimi<strong>en</strong>to, una falta de espacios para <strong>la</strong>reflexión, discusión y debate. El movimi<strong>en</strong>to se <strong>en</strong>cu<strong>en</strong>tra volcado <strong>en</strong> el d<strong>en</strong>ominado“proyectismo”, y los espacios dedicados al activismo político son reducidos.El día a día de <strong>la</strong>s ONG feministas transcurre <strong>en</strong> <strong>la</strong> gestión y ejecución de losproyectos financiados por <strong>la</strong> cooperación internacional, los cuales sust<strong>en</strong>tan <strong>en</strong>gran medida, el funcionami<strong>en</strong>to de dichas organizaciones.En contraposición a <strong>la</strong>s debilidades, el movimi<strong>en</strong>to feminista hondureño pres<strong>en</strong>tafortalezas que se dan tanto al interior como fuera del movimi<strong>en</strong>to.Como marco g<strong>en</strong>eral de ideas, <strong>la</strong>s <strong>en</strong>trevistadas coincid<strong>en</strong> <strong>en</strong> hacer una valoraciónpositiva del feminismo como ag<strong>en</strong>te garante de <strong>la</strong> lucha contra el ord<strong>en</strong>patriarcal, y <strong>en</strong> contra de <strong>la</strong>s discriminaciones y desigualdades que éste g<strong>en</strong>era.26 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


“Honduras sería un poco más patriarcal si no fuera por el movimi<strong>en</strong>to” (Leonor)El movimi<strong>en</strong>to feminista <strong>en</strong> Honduras es un movimi<strong>en</strong>to jov<strong>en</strong> y emerg<strong>en</strong>te, queaunque no cu<strong>en</strong>ta con una <strong>la</strong>rga trayectoria, ha realizado grandes aportes <strong>en</strong> distintosniveles y <strong>en</strong> temas históricam<strong>en</strong>te invisibilizados <strong>en</strong> el país. Se subraya elimpulso promovido por el movimi<strong>en</strong>to feminista <strong>en</strong> los cambios legis<strong>la</strong>tivos, o <strong>la</strong>sdistintas acciones y campañas de incid<strong>en</strong>cia política llevadas a cabo.“Somos un movimi<strong>en</strong>to naci<strong>en</strong>te, más bi<strong>en</strong> organizaciones naci<strong>en</strong>tes”“Ningún movimi<strong>en</strong>to lucha por <strong>la</strong> educación sexual, el feminismo sí” (Gery, Cynthia)A pesar de todas <strong>la</strong>s críticas vertidas al movimi<strong>en</strong>to feminista, una de <strong>la</strong>s distintasvisiones, refleja el carácter particu<strong>la</strong>r y difer<strong>en</strong>ciado del movimi<strong>en</strong>to feministahondureño con respecto al resto de los movimi<strong>en</strong>tos sociales. La sociedad civil ylos movimi<strong>en</strong>tos sociales aparec<strong>en</strong> catalogados como “corruptos” y al servicio delgobierno. Ese rasgo difer<strong>en</strong>cial hace que el movimi<strong>en</strong>to y sus ag<strong>en</strong>das ocup<strong>en</strong>un lugar secundario.Las feministas jóv<strong>en</strong>es id<strong>en</strong>tifican un legado de her<strong>en</strong>cias políticas nocivas transmitidasa través de sus organizaciones, que han perjudicado y sigu<strong>en</strong> perjudicandoal movimi<strong>en</strong>to feminista <strong>en</strong> su conjunto. En este s<strong>en</strong>tido, algunas <strong>en</strong>trevistadashac<strong>en</strong> un l<strong>la</strong>mami<strong>en</strong>to para trabajar <strong>en</strong> el<strong>la</strong>s, y realizar un ba<strong>la</strong>nce sobre <strong>la</strong>slecciones apr<strong>en</strong>didas.Uno de los f<strong>en</strong>óm<strong>en</strong>os positivos pres<strong>en</strong>te <strong>en</strong> <strong>la</strong> dinámica y <strong>en</strong> el funcionami<strong>en</strong>todel movimi<strong>en</strong>to, es precisam<strong>en</strong>te, su capacidad de convocatoria. Las disputaspersonales e ideológicas, <strong>la</strong>s discrepancias y conflictos, quedan a un <strong>la</strong>do cuandoes necesaria <strong>la</strong> movilización ante un hecho o mom<strong>en</strong>to decisivo.De un modo g<strong>en</strong>eral, <strong>la</strong>s <strong>en</strong>trevistadas muestran visos de optimismo ante el futurodel movimi<strong>en</strong>to. Alguna hasta pronostica <strong>la</strong> creación de un partido feministahondureño.<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es27


28 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


Reflexões sobre a participaçãojuv<strong>en</strong>il no feminismoJulia Zanetti30 años - BrasilMENCIÓNO pres<strong>en</strong>te <strong>en</strong>saio se propõe a refletir sobre a participação das jov<strong>en</strong>s no feminismoatual e como se estabelecem re<strong>la</strong>ções <strong>en</strong>tre essas e as feministas adultas. Cabe esc<strong>la</strong>recerque ele insere-se no contexto de uma investigação mais amp<strong>la</strong> (pesquisa demestrado), que busca compre<strong>en</strong>der como se constitui a id<strong>en</strong>tidade de “jovem feminista”e analisar sua inserção contemporânea no movim<strong>en</strong>to feminista que atua na RegiãoMetropolitana do Rio de Janeiro - Brasil. Portanto, as informações aqui contidas baseiam-s<strong>en</strong>as observações e <strong>en</strong>trevistas com quatro jov<strong>en</strong>s militantes e referem-se basicam<strong>en</strong>teà realidade dessa localidade, mas possivelm<strong>en</strong>te apres<strong>en</strong>tam semelhançascom as experiências de outras cidades da <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>.Ao longo de sua história o feminismo contou com a participação de inúmerasjov<strong>en</strong>s, mas só muito rec<strong>en</strong>tem<strong>en</strong>te a id<strong>en</strong>tidade “jovem feminista” começou aser reivindicada d<strong>en</strong>tro do movim<strong>en</strong>to. D<strong>en</strong>tre os episódios evid<strong>en</strong>ciam isso, umexemplo emblemático foi a pres<strong>en</strong>ça e participação das jov<strong>en</strong>s feministas no 100Encontro Feminista Latino-Americano e do Caribe (100 EFLAC), ocorrido emoutubro de 2005, no Brasil, onde 25% das participantes tinha m<strong>en</strong>os de 30 anose o tema juv<strong>en</strong>tude teve considerável destaque. Esse Encontro foi uma oportunidadede diálogo <strong>en</strong>tre as jov<strong>en</strong>s, principalm<strong>en</strong>te no Fórum de Mulheres Jov<strong>en</strong>s<strong>Feministas</strong>, que, por sua vez, impulsionou a criação de uma atividade chamadaDiálogo Interg<strong>en</strong>eracional, que não estava prevista.No <strong>en</strong>tanto, isso não significa que a inserção dessa nova geração de jov<strong>en</strong>sesteja resolvida. Para além das reivindicações externas ao movim<strong>en</strong>to, que demodo geral são bastante semelhantes àque<strong>la</strong>s das adultas, faz<strong>en</strong>do ap<strong>en</strong>as umrecorte geracional, algumas questões internas também parecem demandar maisat<strong>en</strong>ção. Por exemplo, ainda no 100 EFLAC, uma das demandas das jov<strong>en</strong>s eraum feminismo m<strong>en</strong>os hierárquico e adultocêntrico, que possibilitasse o acessodas jov<strong>en</strong>s também aos seus espaços de poder e decisão.A ação das jov<strong>en</strong>s no feminismo de hoje, traz a memória de um passado rec<strong>en</strong>te,quando as feministas negras e lésbicas, por exemplo, reivindicavam o reconhecim<strong>en</strong>todas suas especificidades d<strong>en</strong>tro do movim<strong>en</strong>to.<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es29


O feminismo teve e tem uma preocupação com práticas educativas nas quais asjov<strong>en</strong>s sempre foram bem-vindas. Em princípios político-pedagógicos, reconheceque os(as) participantes dessas práticas não são uma página em branco, já têmconhecim<strong>en</strong>tos e experiências acumu<strong>la</strong>das ao longo de sua vida (PORTELLA EGOUVEIA, 1999). Entretanto, quando essas jov<strong>en</strong>s se <strong>en</strong>gajam no movim<strong>en</strong>to,esses princípios parecem não se aplicarem em re<strong>la</strong>ção à participação efetiva ouà ocupação de lugares de poder.Entre o final da década de 1990 e início dos anos 2000 é possível perceber umaaproximação das jov<strong>en</strong>s de hoje a um movim<strong>en</strong>to considerado ultrapassado pelos<strong>en</strong>so comum, uma vez que se acredita que a igualdade <strong>en</strong>tre hom<strong>en</strong>s e mulheresjá foi conquistada.T<strong>en</strong>do me aproximado do movim<strong>en</strong>to feminista em 2000, quando comecei a trabalharem uma organização não governam<strong>en</strong>tal feminista, e vindo de uma militânciana Pastoral de Juv<strong>en</strong>tude Estudantil, logo me chamou a at<strong>en</strong>ção a formacomo as poucas jov<strong>en</strong>s militantes se inseriam no feminismo naquele mom<strong>en</strong>to.Desde <strong>en</strong>tão, o c<strong>en</strong>ário mudou. Em vários estados brasileiros formaram-se gruposde jov<strong>en</strong>s feministas, que têm buscado se organizar nacionalm<strong>en</strong>te em ev<strong>en</strong>tosdo movim<strong>en</strong>to como um todo e, mais rec<strong>en</strong>tem<strong>en</strong>te, na Articu<strong>la</strong>ção Brasileirade Jov<strong>en</strong>s <strong>Feministas</strong>, que realizou seu primeiro <strong>en</strong>contro nacional em março de2008, no Ceará, que contou com a participação de mais de 100 jov<strong>en</strong>s feministasde vários estados do país 1 .O Encontro Nacional de Jov<strong>en</strong>s <strong>Feministas</strong> possibilitou uma reflexão sobre a condiçãoda jovem mulher e suas principais demandas em cada região, a articu<strong>la</strong>çãodessa id<strong>en</strong>tidade com outras id<strong>en</strong>tidades, principalm<strong>en</strong>te racial e de ori<strong>en</strong>taçãosexual, a discussão sobre políticas públicas para jov<strong>en</strong>s mulheres e dele resultoua criação da Articu<strong>la</strong>ção Brasileira de Jov<strong>en</strong>s <strong>Feministas</strong> (ABJF).Refletindo o mom<strong>en</strong>to político em que o movim<strong>en</strong>to feminista no Brasil se <strong>en</strong>contra,no conjunto das discussões sobre políticas públicas a principal demandaapres<strong>en</strong>tada foi o direito ao aborto legal e seguro, que além de ser uma bandeirahistórica do movim<strong>en</strong>to, voltou a ser amp<strong>la</strong>m<strong>en</strong>te discutido nos últimos anos e éuma questão que afeta diretam<strong>en</strong>te a vida das jov<strong>en</strong>s mulheres. Outras questõesque tiveram destaque estavam re<strong>la</strong>cionadas à trip<strong>la</strong> jornada das jov<strong>en</strong>s: estudo,trabalho e casa/filhos(as), e a imposição pelos meios de comunicação de umúnico padrão de beleza feminina: branco, alto e anoréxico.1 Esse constitui-se como número relevante uma vez que houve pouco apoio financeiro para a realizaçãodo <strong>en</strong>contro, que foi adiado várias vezes, e as próprias jov<strong>en</strong>s tiveram que arcar com suasdespesas de transporte.30 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


Pelo direito à difer<strong>en</strong>çaA década de 1960 é um período de ebulição de difer<strong>en</strong>tes movim<strong>en</strong>tos sociais,inclusive aqueles em defesa dos direitos dos grupos chamados de “minorias”.Esses movim<strong>en</strong>tos ampliam o campo político, s<strong>en</strong>do capazes de transformarquestões que, até <strong>en</strong>tão, eram consideradas individuais em questões coletivas.Mostram que, para além da exploração exist<strong>en</strong>te nas re<strong>la</strong>ções de trabalho, outrasformas de opressão co-existem em nossa sociedade, como por exemplo, aque<strong>la</strong>sde sexo e raça (SANTOS, 2005).Nesse contexto, têm início as discussões sobre políticas de id<strong>en</strong>tidades, d<strong>en</strong>tree<strong>la</strong>s a questão da mulher. As feministas, que apesar de questionadas pelo cons<strong>en</strong>somarxista ortodoxo por pret<strong>en</strong>sam<strong>en</strong>te desviarem a at<strong>en</strong>ção da luta de c<strong>la</strong>sses,possibilitaram mudanças efetivas nas condições de vida de muitas cidadãs,e também de muitos cidadãos. Assim, o feminismo demonstra a opressão sofridape<strong>la</strong>s mulheres e adquire legitimidade <strong>en</strong>quanto movim<strong>en</strong>to social.Segundo Melucci (2001: 209), apesar de serem vistos externam<strong>en</strong>te como umf<strong>en</strong>ôm<strong>en</strong>o coletivo único, os difer<strong>en</strong>tes movim<strong>en</strong>tos sociais, inclusive o feminismo,no seu interior contêm muitos significados, formas de ação, modos de organizaçãomuito difer<strong>en</strong>ciados. No livro Uma história do feminismo no Brasil, Pinto(2003) lembra que movim<strong>en</strong>to em questão tem sido fragm<strong>en</strong>tado por natureza,com múltip<strong>la</strong>s manifestações, objetivos e pret<strong>en</strong>sões, com mom<strong>en</strong>tos unitáriosefêmeros e objetivos muito específicos.Por exemplo, logo se percebe que o termo mulheres, mesmo s<strong>en</strong>do utilizado noplural, não necessariam<strong>en</strong>te d<strong>en</strong>ota uma experiência comum a todas, pois nos difer<strong>en</strong>tescontextos históricos essa id<strong>en</strong>tidade estabelece intersecções com outrasid<strong>en</strong>tidades: raciais, c<strong>la</strong>ssistas, étnicas, regionais (BUTLER, 2003). No <strong>en</strong>tanto,as experiências que vinham s<strong>en</strong>do g<strong>en</strong>eralizadas e validadas eram aque<strong>la</strong>s dasmulheres brancas, de c<strong>la</strong>sse média, heterossexuais.Dessa forma, inicia-se um processo que Biondi (2000) chama de “colocar híf<strong>en</strong>s”,ou seja, buscando legitimar outras id<strong>en</strong>tidades que não eram visíveis ou reconhecidasd<strong>en</strong>tro do movim<strong>en</strong>to, muitas mulheres passaram, <strong>en</strong>tão, a id<strong>en</strong>tificarsecomo feminista-negra, feminista-lésbica, feminista-proletária, traz<strong>en</strong>do novasquestões e afirmando as múltip<strong>la</strong>s id<strong>en</strong>tidades que precisavam ser contemp<strong>la</strong>dasd<strong>en</strong>tro do movim<strong>en</strong>to. No Brasil esse processo iniciou-se nos anos de 1980, comas mulheres negras e lésbicas.Nos anos de 1990, observa-se uma int<strong>en</strong>sificação dessa t<strong>en</strong>dência. Pinto (2003)indica, por exemplo, a segm<strong>en</strong>tação das lutas por meio das inúmeras ONG feministasespalhadas pelo país, com recursos e objetivos muito distintos. E<strong>la</strong> cita ocaso daque<strong>la</strong>s filiadas à Associação Brasileira de ONG (Abong), d<strong>en</strong>tre as quais<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es31


se <strong>en</strong>contram organizações voltadas para mulheres rurais, portadoras de HIV,par<strong>la</strong>m<strong>en</strong>tares, negras, prostitutas etc. Apesar de parte dessa fragm<strong>en</strong>tação sedever à dinâmica do universo das ONG, e<strong>la</strong> reflete as difer<strong>en</strong>tes formas que ofeminismo assumiu nesse período, ainda como desdobram<strong>en</strong>to da crítica ao feminismoexcessivam<strong>en</strong>te branco, c<strong>la</strong>sse média, intelectual, heterossexual.A partir do resgate feito por Biondi e por Pinto, nota-se que, mesmo que muitasjov<strong>en</strong>s participassem, ou talvez por isso mesmo, não havia o reconhecim<strong>en</strong>toda id<strong>en</strong>tidade múltip<strong>la</strong> feminista-jovem e que tal reconhecim<strong>en</strong>to não era umademanda apres<strong>en</strong>tada pe<strong>la</strong>s jov<strong>en</strong>s naquele mom<strong>en</strong>to.Então, até a última década não era possível se fa<strong>la</strong>r nessa múltip<strong>la</strong> id<strong>en</strong>tidade,pois, de acordo com MELUCCI (2004:44), é difícil fa<strong>la</strong>r de id<strong>en</strong>tidade de um grupo(ou indivíduo), sem referir-se a três características: a continuidade do sujeito,indep<strong>en</strong>d<strong>en</strong>tem<strong>en</strong>te das variações no tempo e das adaptações ao ambi<strong>en</strong>te; adelimitação desse sujeito em re<strong>la</strong>ção aos outros; e a capacidade de reconhecersee ser reconhecido.Jov<strong>en</strong>s <strong>Feministas</strong>A literatura <strong>la</strong>tino-americana sobre políticas de juv<strong>en</strong>tude indica que ao longo dasúltimas décadas essas têm sido marcadas por difer<strong>en</strong>tes concepções a respeitodesse grupo. Essas concepções começam com o <strong>en</strong>t<strong>en</strong>dim<strong>en</strong>to da juv<strong>en</strong>tudecomo um período preparatório, passam pe<strong>la</strong> percepção dessa como uma etapaproblemática e, só muito rec<strong>en</strong>tem<strong>en</strong>te, a partir de meados da década dos anos1990, passa a ser vista como sujeito de direitos, com necessidades, pot<strong>en</strong>cialidadese demandas singu<strong>la</strong>res, mesmo que as concepções anteriores não t<strong>en</strong>hamsido pl<strong>en</strong>am<strong>en</strong>te superadas.A partir dessa nova abordagem, as questões refer<strong>en</strong>tes à condição juv<strong>en</strong>il começama adquirir relevância, os debates sobre juv<strong>en</strong>tude, principalm<strong>en</strong>te re<strong>la</strong>tivasa políticas públicas, ganham visibilidade <strong>en</strong>volv<strong>en</strong>do diversos atores, emdifer<strong>en</strong>tes ar<strong>en</strong>as públicas.Nos movim<strong>en</strong>tos sociais não foi difer<strong>en</strong>te. Mesmo t<strong>en</strong>do contado ao longo desuas histórias com a participação de sucessivas gerações de jov<strong>en</strong>s, só nos últimosanos a juv<strong>en</strong>tude passou a reivindicar no interior deles espaços específicosde discussão e pautas também específicas (ABRAMO e LÉON, 2005: 27),o que não significa que essa id<strong>en</strong>tidade seja acionada ap<strong>en</strong>as nesse contexto.Provavelm<strong>en</strong>te, essas demandas são possíveis de serem e<strong>la</strong>boradas nesse períodopor estarem inseridas em um contexto histórico em que a id<strong>en</strong>tidade jovemganha maior legitimidade social, o que pode ser verificado, por exemplo, atravésdas inúmeras políticas de juv<strong>en</strong>tude em des<strong>en</strong>volvim<strong>en</strong>to nos últimos anos. No32 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


c<strong>en</strong>ário brasileiro, destaca-se em 2005, o <strong>la</strong>nçam<strong>en</strong>to da Política Nacional de Juv<strong>en</strong>tude2 , formada pe<strong>la</strong> criação do ProJovem – Programa de Inclusão de Jov<strong>en</strong>s;da Secretaria e do Conselho Nacional de Juv<strong>en</strong>tude. Mais rec<strong>en</strong>tem<strong>en</strong>te, em abrilde 2008, registra-se a realização da I Conferência Nacional de Políticas Públicasde Juv<strong>en</strong>tude.Nos anos de 1990, assim como boa parte dos movim<strong>en</strong>tos sociais, o feminismosofreu certo retraim<strong>en</strong>to, que teve como uma de suas características a faltade r<strong>en</strong>ovação do movim<strong>en</strong>to, marcada pelo raro ingresso de jov<strong>en</strong>s militantes.Apar<strong>en</strong>tem<strong>en</strong>te, no Brasil, não houve interesse das jov<strong>en</strong>s em se aproximar domovim<strong>en</strong>to, tampouco parece ter havido uma preocupação das feministas, pelom<strong>en</strong>os que se revertesse em algum tipo de ação, de conquistar as novas gerações.Um exemplo disto pode ser <strong>en</strong>contrado na <strong>en</strong>trevista publicada no Jornalda Cidadania (nº 133, mar/abr de 2005) com Nalu Faria, coord<strong>en</strong>adora nacionalda Marcha Mundial das Mulheres, que afirma: “Foi em 2002 que a participação demulheres jov<strong>en</strong>s (na Marcha) se int<strong>en</strong>sificou, sem fazermos muito esforço.”Conforme sinaliza Abramo (2007), a visibilidade social da juv<strong>en</strong>tude nos anos 90está re<strong>la</strong>cionada a diversos tipos de ações individuais e coletivas, porém a maiorparte dessas ações continua s<strong>en</strong>do associada pelo s<strong>en</strong>so comum aos traços doindividualismo, da violência, do desregram<strong>en</strong>to e do desvio. Um exemplo dessavisão é a forma como os meios de comunicação têm apres<strong>en</strong>tado a juv<strong>en</strong>tude.Com exceção dos produtos midíaticos voltados para esse público, quando os(as)jov<strong>en</strong>s, principalm<strong>en</strong>te se pobres, são assunto dos cadernos ou programas voltadospara os(as) adultos(as), no noticiário, em matérias analíticas e editoriais, érecorr<strong>en</strong>te que estejam re<strong>la</strong>cionados(as) a problemas sociais, como violência, crime,exploração sexual, drogadição ou às medidas para <strong>en</strong>fr<strong>en</strong>tar tais problemas.As principais lideranças do feminismo de hoje iniciaram sua militância na décadade 1970, marcada como anos de efervescência do movim<strong>en</strong>to e de uma atuaçãopolítica mais int<strong>en</strong>sa da juv<strong>en</strong>tude e da sociedade em geral. T<strong>en</strong>do como referênciade atuação juv<strong>en</strong>il nesse período, talvez algumas de<strong>la</strong>s t<strong>en</strong>dam a comparar aatual geração de juv<strong>en</strong>tude com aque<strong>la</strong> do “seu tempo”, possivelm<strong>en</strong>te compartilhandoe reforçando as negativas repres<strong>en</strong>tações quanto à juv<strong>en</strong>tude contemporâneacitadas acima.Dessa forma, além de desconsiderar que esse é outro mom<strong>en</strong>to histórico, políticoe social, essa posição reve<strong>la</strong> também que estão s<strong>en</strong>do desconsideradas formasde participação não conv<strong>en</strong>cionais, como grupos culturais, artísticos e religiosos,através das quais é possível verificar uma ampliação dos interesses e práticas2 Consultar http://www.juv<strong>en</strong>tude.gov.br/<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es33


coletivas juv<strong>en</strong>is (DAYRELL e CARRANO, 2006). Um exemplo significativo demobilização juv<strong>en</strong>il rec<strong>en</strong>te foi a grande quantidade de jov<strong>en</strong>s que participaramdas difer<strong>en</strong>tes edições do Fórum Social Mundial, realizadas em Porto Alegre/RS.Por outro <strong>la</strong>do, apesar das jov<strong>en</strong>s de hoje reconhecerem que muitos dos direitosque gozam atualm<strong>en</strong>te são frutos da luta das feministas em outras décadas,também parecem não ter se interessado pelo movim<strong>en</strong>to. Pode tercontribuído para isto a falsa idéia prevalec<strong>en</strong>te na sociedade brasileira de queos direitos das mulheres foram todos conquistados por ocasião da Constituiçãode 1988, tornando-se, dessa forma, desnecessária a continuidade domovim<strong>en</strong>to.Outra possibilidade é que as jov<strong>en</strong>s t<strong>en</strong>ham acreditado nas repres<strong>en</strong>tações vig<strong>en</strong>tesno s<strong>en</strong>so comum, que apres<strong>en</strong>tam o feminismo como “o machismo aocontrário”, isto é, um movim<strong>en</strong>to que pret<strong>en</strong>de que as mulheres sejam as opressorasdos hom<strong>en</strong>s ou de mulheres que querem ser hom<strong>en</strong>s e não uma luta porequidade de direitos; ou <strong>en</strong>tão, como um movim<strong>en</strong>to formado por mulheres ma<strong>la</strong>madas,histéricas, feias e/ou lésbicas, características às quais e<strong>la</strong>s não queremser associadas.Além das <strong>en</strong>trevistas realizadas confirmarem essa última possibilidade, Souza(2006) constata esse estigma junto às jov<strong>en</strong>s do Me<strong>la</strong>nina, um grupo de hip hopdo Rio de Janeiro, que fazem questão de se afirmar femininas e não feministas,pois não querem ser vistas como um grupo de mulheres que discrimina ou qu<strong>en</strong>ão gosta de hom<strong>en</strong>s.Essas repres<strong>en</strong>tações sobre o feminismo e suas militantes, compartilhadas nãosó pe<strong>la</strong>s jov<strong>en</strong>s, mas também por boa parte da popu<strong>la</strong>ção, foi construída ao longoda história, com participação de vários setores da sociedade, inclusive de algunsconsiderados progressistas. Um exemplo disto é O Pasquim, jornal alternativopublicado a partir de 1969, que teve seu auge na metade dos anos 1970. SegundoSOIHET (2005), apesar de inspirado na contra-cultura norte-americana evoltado para o combate ao autoritarismo nacional, inúmeras vezes esse impressoassumiu postura misógina, ridicu<strong>la</strong>rizando feministas e desqualificando suasreivindicações.Outro exemplo mais rec<strong>en</strong>te de como essas repres<strong>en</strong>tações do feminismo seapres<strong>en</strong>tam é a id<strong>en</strong>tificação, pe<strong>la</strong> grande mídia brasileira, de Tati Quebra Barraco– cantora de funk – como feminista por cantar músicas do tipo Tapinha Nada,que traz versos como “Tapinha nada, nu meu homi eu dou porrada”. (FERNAN-DES E GRANATO, 2007). Nesse caso, reforçando a idéia de feminismo como“machismo ao contrário”, como se a proposta fosse que as mulheres deixassemde apanhar para passar a bater nos hom<strong>en</strong>s.34 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


A partir dos últimos anos da década de 1990, percebe-se a aproximação de algumasjov<strong>en</strong>s mulheres às várias corr<strong>en</strong>tes do feminismo. O que talvez t<strong>en</strong>ha sidomotivado pe<strong>la</strong> constatação de que, na prática, muitos dos direitos garantidos nalei não se concretizaram de fato para grande parte das mulheres, basta ver osíndices atuais de empobrecim<strong>en</strong>to feminino, violência contra mulher, desigualdadede remuneração no mercado de trabalho, pouca repres<strong>en</strong>tação política, <strong>en</strong>treoutros.Essa reaproximação da juv<strong>en</strong>tude ao movim<strong>en</strong>to feminista que vem ocorr<strong>en</strong>dotorna-se ainda mais relevante se considerarmos que, apesar dos avanços fundam<strong>en</strong>taisobtidos pelo feminismo nos campos jurídico e político formal, o movim<strong>en</strong>toparece não ter sido capaz de promover mudanças sufici<strong>en</strong>tes no que se refereàs re<strong>la</strong>ções de gênero <strong>en</strong>tre jov<strong>en</strong>s e políticas educacionais que co<strong>la</strong>borem paraquestionar as repres<strong>en</strong>tações sociais tradicionais sobre as mulheres (CASTRO,2004). Por exemplo, a observação sobre os dados quantitativos e qualitativossobre saúde reprodutiva (gravidez, aborto, uso de métodos contraceptivos, etc) 3 ,ou violência sexista junto às jov<strong>en</strong>s permite verificar que as re<strong>la</strong>ções desiguaisde gênero ainda as coloca em lugar de submissão aos interesses e desejos doshom<strong>en</strong>s. Ou seja, as conquistas históricas do feminismo em re<strong>la</strong>ção ao própriocorpo e aos direitos sexuais e direitos reprodutivos não estão s<strong>en</strong>do pl<strong>en</strong>am<strong>en</strong>teincorporados e usufruídos pe<strong>la</strong>s novas gerações, o que indica também umaausência de ações do movim<strong>en</strong>to voltadas para esse público.Uma nova múltip<strong>la</strong> id<strong>en</strong>tidadeBourdieu (2004: 204) afirma que os(as) jov<strong>en</strong>s são “aqueles que chegam ao camposem capital”, ou, de outra forma, sem os atributos valorizados pe<strong>la</strong> maioria dosgrupos. No feminismo não é difer<strong>en</strong>te. As jov<strong>en</strong>s militantes não possuem uma longavivência ou um profundo conhecim<strong>en</strong>to do movim<strong>en</strong>to, nem repres<strong>en</strong>tam instituiçõesou têm títulos que as legitimem. E, mesmo que possuíssem, dificilm<strong>en</strong>teseriam sufici<strong>en</strong>tes para disputar com aque<strong>la</strong>s que têm a experiência de décadasde militância. Assim, as re<strong>la</strong>ções de poder nesse campo são bastante desiguais, oque torna a inserção dessas jov<strong>en</strong>s no movim<strong>en</strong>to um desafio ainda maior.A participação política das jov<strong>en</strong>s tem se constituído em um grande desafio, poise<strong>la</strong>s não <strong>en</strong>contram muito espaço nem nos movim<strong>en</strong>tos juv<strong>en</strong>is, nem no movim<strong>en</strong>tofeminista. No primeiro, é possível observar que muitas jov<strong>en</strong>s acabaram3 Um exemplo são os resultados da Pesquisa GRAVAD (Gravidez na adolescência: estudo multicêntricosobre jov<strong>en</strong>s, sexualidade e reprodução no Brasil) realizado por: Programa em Gênero, Sexualidadee Saúde do IMS/UERJ, Programa de Estudos em Gênero e Saúde do ISC/UFBA e Núcleo dePesquisa em Antropologia do Corpo e da Saúde da UFRGS.<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es35


ocupando o mesmo lugar que tradicionalm<strong>en</strong>te as mulheres têm ocupado nasdifer<strong>en</strong>tes formas de organização social, ou seja, na base ou no trabalho operacional,distantes das instâncias de poder e de repres<strong>en</strong>tação (ARAÚJO, 2001),situação que vem se alterando l<strong>en</strong>tam<strong>en</strong>te.Já no movim<strong>en</strong>to feminista, aque<strong>la</strong>s que se aproximaram ficaram por muito tempoà margem, pois mesmo que por vezes fossem percebidas como herdeiras dolegado do movim<strong>en</strong>to, em geral, eram vistas como inexperi<strong>en</strong>tes demais paraserem escutadas, condição que só seria alterada pe<strong>la</strong> ausência das “feministashistóricas”.Através da observação e das <strong>en</strong>trevistas realizadas, é possível perceber difer<strong>en</strong>tespercepções acerca das re<strong>la</strong>ções intergeracionais no movim<strong>en</strong>to feminista doRio de Janeiro.Entre as quatro jov<strong>en</strong>s <strong>en</strong>trevistadas, com idades <strong>en</strong>tre 22 e 28 anos, todasdo Rio de Janeiro, ap<strong>en</strong>as uma nega haver conflitos intergeracionais no movim<strong>en</strong>toe a necessidade de coletivos de jov<strong>en</strong>s feministas, além de considerarum avanço da sua corr<strong>en</strong>te d<strong>en</strong>tro do movim<strong>en</strong>to “ter reaglutinado todo mundonuma coisa só”, em oposição à fragm<strong>en</strong>tação, afirmação das múltip<strong>la</strong>s id<strong>en</strong>tidades,ocorrida no movim<strong>en</strong>to em épocas anteriores. Cabe registrar que essaúltima afirmação lembra o argum<strong>en</strong>to utilizado pelos marxistas ortodoxos paranão reconhecer o feminismo, que segundo eles fragm<strong>en</strong>tava e <strong>en</strong>fraquecia aluta mais importante, ou seja, a luta de c<strong>la</strong>sses. Para essa mesma jovem, exist<strong>en</strong>o feminismo uma re<strong>la</strong>ção de troca <strong>en</strong>tre as gerações, onde “é importante anossa participação, das mais jov<strong>en</strong>s junto com as mais velhas, a troca e o quesai de resposta cultural através disso, em forma de manifestação, seja em esquete,seja em batucada.”Nessa última afirmação <strong>en</strong>contramos um ponto de contato dessa com outrasjov<strong>en</strong>s <strong>en</strong>trevistadas, isto é, a percepção de que o papel destinado às jov<strong>en</strong>sno feminismo é aquele de promover novas formas de expressão, de preferênciaanimadas, coloridas e ousadas. Nesse caso poderíamos incluir abatucada, o estêncil, o <strong>la</strong>mbe-<strong>la</strong>mbe, as esquetes ou a pichação crítica, qued<strong>en</strong>otam a reprodução de um estereótipo de juv<strong>en</strong>tude associado a festa,barulho e transgressão. A difer<strong>en</strong>ça <strong>en</strong>tre a jovem acima citada e as outras<strong>en</strong>trevistadas é que as últimas são críticas a esse lugar que lhes é destinado,querem estar aí sim, mas também em outros espaços, como outra jovemexplicita:“Quando a g<strong>en</strong>te vai t<strong>en</strong>tar fazer alguma coisa pra estar no espaço, pra você batucar, pravocê colocar <strong>en</strong>ergia, pra você pu<strong>la</strong>r, beleza, é isso, as jov<strong>en</strong>s são legais pra isso. Agora pracoord<strong>en</strong>ar o ato, pra ter espaço no microfone, pra qualquer outra ação, que seja estar defr<strong>en</strong>te, a g<strong>en</strong>te vai s<strong>en</strong>do podada, mesmo quando você já está há muito tempo”.36 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


As fa<strong>la</strong>s dessas duas jov<strong>en</strong>s <strong>en</strong>trevistadas faz lembrar Bourdieu (1983), segundoo qual os conflitos “são evitados durante o tempo em que os velhos conseguemregu<strong>la</strong>r o tempo de asc<strong>en</strong>são dos mais novos”. Ou seja, é possível que a primeiranão id<strong>en</strong>tifique os conflitos intergeracionais por não vivê-los, uma vez que pareceatuar, sem maiores questionam<strong>en</strong>tos, d<strong>en</strong>tro do limite que lhe foi dado pe<strong>la</strong>s adultas,difer<strong>en</strong>te da segunda, que não está satisfeita com esse lugar.Questionada sobre como é ser jovem no movim<strong>en</strong>to feminista, a segunda <strong>en</strong>trevistadaresponde:“Na verdade, tem duas questões. Se você é jovem e recém-chegada ou se você é jovem e játá batida. A difer<strong>en</strong>ça começa por aí. Se você é jovem e recém-chegada, você é tirada, ‘ah, táfa<strong>la</strong>ndo besteira’, não te dão muito ouvido, ‘mal chegou já está quer<strong>en</strong>do cantar de galo’. E sevocê é jovem, mas está militando há muito tempo, você ainda recebe umas podadas, mas commais sutilezas.”Essa afirmação, assim como a última parte da citação anterior, responde emparte a uma pergunta recorr<strong>en</strong>te: o “problema” é ser jovem ou ser recém-chegadaao movim<strong>en</strong>to? Pe<strong>la</strong>s citações acima, poderia se dizer que a questão c<strong>en</strong>tralé a idade e que o fator tempo de movim<strong>en</strong>to tem implicação ap<strong>en</strong>as na formacomo os limites são colocados. Outro dado interessante para essa reflexão éregistrar que, pe<strong>la</strong>s observações e conversas informais realizadas em virtudeda pesquisa, é possível perceber que a maior parte das jov<strong>en</strong>s, quando chegamao feminismo, já têm um histórico de participação em outros espaços políticos,tais como movim<strong>en</strong>to estudantil, partido político, movim<strong>en</strong>to negro, pastoral dejuv<strong>en</strong>tude, ONGs, <strong>en</strong>tre outros, isto é, já não são mais tão inexperi<strong>en</strong>tes assim.A terceira <strong>en</strong>trevistada apres<strong>en</strong>ta outra experiência. Primeiro e<strong>la</strong> destaca que aspautas feministas não apres<strong>en</strong>tavam um recorte geracional, para isso cita comoexemplo docum<strong>en</strong>tos das conferências de direitos humanos e de políticas paramulheres4. Depois reconhece sempre ter tido uma boa re<strong>la</strong>ção com as mais velhas,que tinham uma ação para com e<strong>la</strong> de “passar o bastão”, o que se concretizavamuitas vezes através da indicação para repres<strong>en</strong>tá-<strong>la</strong>s em alguns ev<strong>en</strong>tos,o que não deixou de causar estranham<strong>en</strong>to, principalm<strong>en</strong>te em espaços onde ajovem não era conhecida, pois “em geral, quando você vai lá, num ev<strong>en</strong>to, numcongresso, estão todas lá, aque<strong>la</strong>s feministas consagradas, em geral, mais velhas,catedráticas, é difícil você vê uma jovem numa mesa dessas”.4 Comparando o I P<strong>la</strong>no Nacional de Políticas para as Mulheres (2004) com o II P<strong>la</strong>no (2008), fica evid<strong>en</strong>teo quanto o <strong>en</strong>fr<strong>en</strong>tam<strong>en</strong>to das desigualdades geracionais ganhou destaque nos últimos anos.Praticam<strong>en</strong>te inexist<strong>en</strong>te no primeiro docum<strong>en</strong>to, aparece como um capítulo específico no segundo evárias referências nele como um todo.<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es37


Para melhor compre<strong>en</strong>der o lugar difer<strong>en</strong>te ocupado por essa jovem, talvez sejainteressante reconstituir seu percurso até o feminismo. É a mais velha das <strong>en</strong>trevistadas,28 anos, se aproximou do feminismo através de uma consultoria paraum projeto de uma organização não governam<strong>en</strong>tal feminista voltado para jov<strong>en</strong>s,quando já era militante no campo dos direitos humanos e formada em Direito. Ouseja, o primeiro contato de<strong>la</strong> com o movim<strong>en</strong>to e com as feministas mais velhasfoi a partir de uma re<strong>la</strong>ção profissional.Por outro <strong>la</strong>do, a mesma jovem lembra também que:“A g<strong>en</strong>te vê muitas jov<strong>en</strong>s feministas que se s<strong>en</strong>tem usadas pe<strong>la</strong>s feministas mais velhas.Como é que o feminismo usa a juv<strong>en</strong>tude, né? Às vezes dão pra g<strong>en</strong>te sempre o mesmo papel.‘Ah! E<strong>la</strong>s são jov<strong>en</strong>s, <strong>en</strong>tão bota e<strong>la</strong>s pra puxar uma passeata, e<strong>la</strong>s são mais animadas,bota e<strong>la</strong>s lá na fr<strong>en</strong>te, e<strong>la</strong>s vão bat<strong>en</strong>do pane<strong>la</strong>.’ Sempre aque<strong>la</strong>s coisas que e<strong>la</strong>s já estãocansadas de fazer.”A quarta <strong>en</strong>trevistada, que se id<strong>en</strong>tifica como jovem feminista negra, consideraimportante a afirmação id<strong>en</strong>titária, mas acredita que, às vezes, as jov<strong>en</strong>sexageram nas críticas, desqualificando conceitos, lutas e conquistas que asfeministas adultas construíram, o que em alguns casos acaba inviabilizando odiálogo intergeracional. Por outro <strong>la</strong>do, sinaliza as dificuldades apres<strong>en</strong>tadastambém da parte das feministas adultas, que até se propõem a conversar comuma jovem, “desde que seja a fu<strong>la</strong>na”, ou seja, uma jovem que e<strong>la</strong>s escolheram.Com forte referência nas culturas africanas, e<strong>la</strong> também traz para discussãoa dim<strong>en</strong>são do respeito aos mais velhos, do seu lugar de saber, o que é muitovalorizado nessas culturas e oferece outros contornos às discussões geracionais.O que, <strong>en</strong>tretanto, não a impede de perceber as dificuldades das jov<strong>en</strong>sem se afirmar no movim<strong>en</strong>to, que muitas vezes precisam mostrar a que veiopara ter o mínimo de credibilidade para assumir alguns lugares, de preferênciaaqueles permitidos pe<strong>la</strong>s lideranças adultas do movim<strong>en</strong>to. Por exemplo,uma jovem pode ser considerada muito nova para ocupar uma determinadaposição d<strong>en</strong>tro do movim<strong>en</strong>to, mas em outros espaços, em que é valorizada aparticipação juv<strong>en</strong>il, a mesma jovem se torna boa o sufici<strong>en</strong>te para repres<strong>en</strong>taro movim<strong>en</strong>to.Um aspecto da luta das jov<strong>en</strong>s feministas que essa <strong>en</strong>trevistada afirma valorizaré o fato de<strong>la</strong>s assumirem algumas questões que as organizações dasfeministas adultas não deram a devida importância, citando como exemplo oturismo sexual, que afeta diretam<strong>en</strong>te o segm<strong>en</strong>to juv<strong>en</strong>il. Por outro <strong>la</strong>do, segundoe<strong>la</strong>, há “uma apropriação dessas organizações do tema de juv<strong>en</strong>tudesem n<strong>en</strong>hum debate”, o que mais uma vez indica uma re<strong>la</strong>ção conv<strong>en</strong>i<strong>en</strong>te porparte das adultas.38 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


Por fim, um aspecto observado ao longo da pesquisa é a raridade de <strong>en</strong>controsque promovam um diálogo mais perman<strong>en</strong>te e amistoso <strong>en</strong>tre jov<strong>en</strong>s e adultasd<strong>en</strong>tro do movim<strong>en</strong>to. Nos espaços gerais muitas vezes se tem a impressão deque apesar desses segm<strong>en</strong>tos se fa<strong>la</strong>rem, pouco se escutam.O número de jov<strong>en</strong>s <strong>en</strong>trevistadas é muito pequ<strong>en</strong>o e o período observado muitobreve para poder dizer que as impressões aqui registradas repres<strong>en</strong>tam todo ouniverso das jov<strong>en</strong>s feministas do Rio de Janeiro. Mas, possivelm<strong>en</strong>te, essaspermitem refletir e iniciar um panorama de como estão se dando as re<strong>la</strong>çõesintergeracionais no feminismo, a dim<strong>en</strong>são que isso tem para a permanênciadessas militantes e a continuidade de um movim<strong>en</strong>to que já avançou muito, masque ainda tem várias outras conquistas a serem feitas e efetivadas no cotidianodas mulheres do mundo.Referências BibliográficasABRAMO, Hel<strong>en</strong>a W<strong>en</strong>del e LÉON, Oscar Dávi<strong>la</strong>. Juv<strong>en</strong>tude e Adolescência no Brasil:referências conceituais. São Paulo: Ação Educativa, 2005.__________. Considerações sobre a tematização social da juv<strong>en</strong>tude no Brasil. In: Juv<strong>en</strong>tudee Contemporaneidade. Brasília : Unesco, MEC, ANPEd, 2007.ARAÚJO, C<strong>la</strong>ra. Construindo novas estratégias, buscando novos espaços políticos – asmulheres e as demandas por pres<strong>en</strong>ça. In: PUPPIN, Andréa e MURARO, Rose Marie.Mulher, gênero e sociedade. Rio de Janeiro: Relume Dumará: Faperj, 2001.BIONDI, Liz. Focalizar as Políticas de Id<strong>en</strong>tidade. In: Cidadania e Feminismo. São Paulo:sem editora, 2000.BOURDIEU, Pierre. A juv<strong>en</strong>tude é ap<strong>en</strong>as uma pa<strong>la</strong>vra. In: Questões de Sociologia. Riode Janeiro: Marco Zero, 1983.__________. Coisas ditas. São Paulo: Brasili<strong>en</strong>se, 2004.BUTLER, Judith P. Problemas de gênero: feminismo e subversão da id<strong>en</strong>tidade. Rio deJaneiro: Civilização Brasileira, 2003.CASTRO, Mary Garcia. Políticas públicas por id<strong>en</strong>tidades e de ações afirmativas: acessandogênero e raça, na c<strong>la</strong>sse, focalizando juv<strong>en</strong>tudes. In: NOVAES, Regina e VANNUC-CHI, Paulo (orgs.). Juv<strong>en</strong>tude e Sociedade: trabalho, educação, cultura e participação.São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2004.DAYRELL, Juarez e CARRANO, Paulo César. Jov<strong>en</strong>s no Brasil: difíceis travessias de fimde século e promessas de um outro mundo. UFF: Observatório Jovem do Rio de Janeiro,Internet: http://www.uff.br/obsjovem/mambo/index.php?option=com_docman&task=cat_view&gid=20&Itemid=32, 11/09/06.FERNANDES, Nelito e GRANATO, Alice. Mulherada de respeito. Internet: http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,,EPT1106781-1661,00.html,28/12/07.MELUCCI, Alberto. A inv<strong>en</strong>ção do pres<strong>en</strong>te: movim<strong>en</strong>tos sociais nas sociedades complexas.Petrópolis: Vozes, 2001.________. O Jogo do Eu. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2004.PINTO, Céli Regina. Uma história do feminismo no Brasil. São Paulo: Editora FundaçãoPerseu Abramo, 2003.PORTELLA, Ana Pau<strong>la</strong> e GOUVEIA, Taciana. Idéias e dinâmicas para trabalhar com gênero.Recife: SOS Corpo,1999.<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es39


SANTOS, Boav<strong>en</strong>tura de Sousa. Pe<strong>la</strong> mão de Alice: o social e o político na pós-modernidade.São Paulo: Cortez, 2005.SOIHET, Rachel. Zombaria como arma antifeminista: instrum<strong>en</strong>to conservador <strong>en</strong>tre libertários.In: Revista Estudos <strong>Feministas</strong>, v. 13, n. 3, 2005.SOUZA, Patrícia Lânes Araújo de. Em busca da auto-estima: interseções <strong>en</strong>tre gênero,raça e c<strong>la</strong>sse na trajetória do grupo Me<strong>la</strong>nina. Dissertação de Mestrado. Ori<strong>en</strong>tação: ReginaReyes Novaes. PPGSA/ IFCS/ UFRJ, 2006.Página eletrônica consultada:10º Encontro Feminista Latino-Americano e do Caribe. Internet: www.10feminista.org.br,10/09/2006.40 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


El feminismo <strong>la</strong>tinoamericano como ag<strong>en</strong>te regional <strong>en</strong>el diálogo internacional sobre los derechos humanosMaría Silvana Sciortino27 años - Arg<strong>en</strong>tinaMENCIÓN“Mi postura siempre fue así, de pelear y luchar contra los poderes políticos, nopelearnos <strong>en</strong>tre nosotro(a)s. Todas estas mujeres b<strong>la</strong>ncas que están a nuestrapar, <strong>la</strong>s fortalezco y les pido desde mi profundo s<strong>en</strong>timi<strong>en</strong>to indíg<strong>en</strong>a que seesfuerc<strong>en</strong> y nos acompañ<strong>en</strong> por más que no t<strong>en</strong>gamos <strong>la</strong> misma cultura. Peronecesitamos de ustedes para seguir esta lucha. Porque nosotro(a)s no podemosso<strong>la</strong>s, seamos sinceras (…) 1 “La construcción y <strong>la</strong> def<strong>en</strong>sa de los derechos de <strong>la</strong>s mujeres ha implicado unacrítica transformadora al contexto más amplio de los derechos humanos. Uno delos trabajos c<strong>en</strong>trales del siglo XX que cuestiona el universal como categoría monolíticay excluy<strong>en</strong>te de gran parte de <strong>la</strong> pob<strong>la</strong>ción humana es El Segundo Sexo.Su autora Simone de Beauvoir, analiza <strong>la</strong> forma <strong>en</strong> que <strong>la</strong> mujer es definida porel varón <strong>en</strong> re<strong>la</strong>ción a él y no <strong>en</strong> sí misma como un ser autónomo. La humanidad,sosti<strong>en</strong>e Beauvoir, es masculina. En sus pa<strong>la</strong>bras: “La mujer se determina y sedifer<strong>en</strong>cia con re<strong>la</strong>ción al hombre [=varón], y no éste con re<strong>la</strong>ción a el<strong>la</strong>, <strong>la</strong> mujeres lo ines<strong>en</strong>cial fr<strong>en</strong>te a lo es<strong>en</strong>cial. Él es el Sujeto, él es lo Absoluto, el<strong>la</strong> lo Otro.”(de Beauvoir. 2005:18) Esta Humanidad masculina, este Sujeto universal del cual<strong>la</strong>s mujeres son excluidas, expresa una fa<strong>la</strong>cia conocida con el nombre de parspro toto. Esto ocurre cuando una parte se hace pasar por el todo. Se hab<strong>la</strong> <strong>en</strong>nombre de toda <strong>la</strong> humanidad al mismo tiempo que se deja fuera de dicho conceptoa <strong>la</strong> mitad de los seres humanos que realm<strong>en</strong>te <strong>la</strong> conforman. Este tipo deseña<strong>la</strong>mi<strong>en</strong>tos, <strong>en</strong> el marco del rec<strong>la</strong>mo de derechos, ya habían sido formu<strong>la</strong>dospor p<strong>en</strong>sadoras como Olimpia De Gouges <strong>en</strong> “La Dec<strong>la</strong>ración de los Derechosde <strong>la</strong> <strong>Mujer</strong> y de <strong>la</strong> Ciudadana” (1791) o <strong>en</strong> <strong>la</strong> “Vindicación de los derechos de <strong>la</strong><strong>Mujer</strong>” de Mary Wollstonecraft (1792). El carácter sexista y etnocéntrico del universalha sido y vi<strong>en</strong>e si<strong>en</strong>do uno de los debates c<strong>en</strong>trales <strong>en</strong> <strong>la</strong> revisión de losderechos humanos.1 Pa<strong>la</strong>bras pronunciadas por una compañera de <strong>la</strong> comunidad Qom <strong>en</strong> el marco del taller “<strong>Mujer</strong>esy Pueblos originarios” <strong>en</strong> el XXII Encu<strong>en</strong>tro Nacional de <strong>Mujer</strong>es, Córdoba, 2007. Más sobre estos<strong>en</strong>cu<strong>en</strong>tros <strong>en</strong> cita 4.<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es41


El objetivo del sigui<strong>en</strong>te <strong>en</strong>sayo consiste <strong>en</strong> reflexionar sobre <strong>la</strong> implem<strong>en</strong>taciónde los derechos humanos de <strong>la</strong>s mujeres <strong>en</strong> contextos culturales diversos. De estamanera, construir una crítica feminista que, junto a <strong>la</strong> d<strong>en</strong>uncia al androc<strong>en</strong>trismoconstitutivo de los derechos humanos, permanezca alerta también al carácter etnocéntricode determinadas formu<strong>la</strong>ciones normativas. Puntualm<strong>en</strong>te una preguntaatraviesa este trabajo, <strong>la</strong> misma es retomada de <strong>la</strong> compi<strong>la</strong>ción “Derechos Humanosde <strong>la</strong> mujer. Perspectivas nacionales e internacionales”, Rebecca Cook, que <strong>en</strong>el capítulo primero, transcribe uno de los tantos ejes que conforman el debate respectoa los derechos internacionales. El cuestionami<strong>en</strong>to es el sigui<strong>en</strong>te, “¿Cómolegitimar los derechos humanos <strong>en</strong> sociedades radicalm<strong>en</strong>te distintas sin sucumbirya sea al universalismo o a <strong>la</strong> parálisis del re<strong>la</strong>tivismo cultural?” (Cook, R 1997:7)La discusión que pret<strong>en</strong>do pres<strong>en</strong>tar a continuación despliega esta pregunta.En primer lugar, el trabajo pres<strong>en</strong>ta una propuesta para <strong>la</strong> implem<strong>en</strong>tación delos derechos humanos <strong>en</strong> contextos culturalm<strong>en</strong>te diversos. La misma apuesta a<strong>la</strong> revisión del sistema normativo internacional a partir del diálogo <strong>en</strong>tre ag<strong>en</strong>teslocales y regionales. <strong>Feministas</strong> de difer<strong>en</strong>tes regiones vi<strong>en</strong><strong>en</strong> dialogando y trabajando<strong>en</strong> <strong>la</strong> consolidación de los derechos humanos de <strong>la</strong>s mujeres.Muchos han sido los avances. Desde mi punto de vista, uno de los desafíos emerg<strong>en</strong>tesconsiste <strong>en</strong> articu<strong>la</strong>r <strong>la</strong> crítica feminista <strong>en</strong> un diálogo intercultural. Para locual, como sost<strong>en</strong>go a continuación, el feminismo <strong>la</strong>tinoamericano <strong>en</strong> tanto queag<strong>en</strong>te regional, debería fom<strong>en</strong>tar los debates locales <strong>en</strong>tre mujeres de culturasdiversas. De esta forma, reformu<strong>la</strong>r aspectos del sistema normativo internacionalque continúan excluy<strong>en</strong>do y sil<strong>en</strong>ciando a diversos sectores de mujeres.En segundo lugar, el <strong>en</strong>sayo resalta <strong>la</strong> necesidad de interacción continua <strong>en</strong>tre <strong>la</strong>sformu<strong>la</strong>ciones normativas internacionales y los d<strong>en</strong>ominados derechos consuetudinarios.Siempre y cuando estos últimos sean sometidos a <strong>la</strong> crítica feminista, <strong>la</strong>cual propondré debe construirse desde una alianza que cont<strong>en</strong>ga y refleje <strong>la</strong> diversidadde prácticas y cosmovisiones propias de <strong>la</strong>s mujeres <strong>la</strong>tinoamericanas.Concretam<strong>en</strong>te, ambas cuestiones serán referidas a <strong>la</strong>s tareas de investigaciónque desempeño como becaria de investigación; pero también a los <strong>la</strong>zos que e<strong>la</strong>ctivismo me ha permitido tejer con feministas y mujeres indíg<strong>en</strong>as. El<strong>la</strong>s son <strong>la</strong>sprotagonistas. Mi int<strong>en</strong>ción es aportar una <strong>mirada</strong> actual del estado de vincu<strong>la</strong>ciónque se vi<strong>en</strong>e dando <strong>en</strong>tre <strong>la</strong>s feministas y <strong>la</strong>s refer<strong>en</strong>tes indíg<strong>en</strong>as <strong>en</strong> mi país.El cons<strong>en</strong>so <strong>en</strong>tre culturas como garante de los derechos de <strong>la</strong>smujeresEl interés <strong>en</strong> este trabajo, sigui<strong>en</strong>do a Abdu<strong>la</strong>hi An-Na’im, consiste <strong>en</strong> dar un pasoade<strong>la</strong>nte <strong>en</strong> <strong>la</strong> compr<strong>en</strong>sión formalista de <strong>la</strong>s obligaciones jurídicas internacionales,con el fin de buscar cons<strong>en</strong>so y compromiso <strong>en</strong> <strong>la</strong> revisión e implem<strong>en</strong>tación42 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


de los derechos humanos. El reconocimi<strong>en</strong>to político de <strong>la</strong> diversidad cultural esun avance de suma importancia, que trabajado cautelosam<strong>en</strong>te permite evitar políticasetnocéntricas que ti<strong>en</strong>dan a destruir <strong>la</strong> riqueza que aporta <strong>la</strong> multiplicidadde visiones del mundo. El peligro es el borde filoso que am<strong>en</strong>aza con <strong>la</strong> caída <strong>en</strong>un re<strong>la</strong>tivismo cultural, que oculto tras <strong>la</strong> máscara de <strong>la</strong> aceptación de lo diverso yel respeto a <strong>la</strong> multiculturalidad, ava<strong>la</strong> <strong>la</strong> reproducción de ciertas prácticas que seinterpon<strong>en</strong> al marco más amplio de respeto de los derechos humanos.An-Na’im define a <strong>la</strong> cultura como fu<strong>en</strong>te primaria de los sistemas normativos ycomo contexto <strong>en</strong> el cual tales normas se interpretan e implem<strong>en</strong>tan. En este s<strong>en</strong>tido<strong>la</strong> discusión <strong>en</strong> torno a <strong>la</strong> legitimidad cultural de los derechos internacionaleses fundam<strong>en</strong>tal para <strong>la</strong> implem<strong>en</strong>tación práctica de un régim<strong>en</strong> dado de derechoshumanos. En una gran cantidad de culturas esto implica el <strong>en</strong>cu<strong>en</strong>tro de dos sistemasnormativos, uno de los cuales <strong>en</strong> muchos s<strong>en</strong>tidos puede ser inconsist<strong>en</strong>tecon los valores culturales e institucionales particu<strong>la</strong>res de esta cultura.El autor propone que el sistema actual de normas de derechos humanos internacionalm<strong>en</strong>tereconocido debería aplicarse <strong>en</strong> todo el mundo, si<strong>en</strong>do aceptado comolegítimo por <strong>la</strong>s principales tradiciones culturales del mundo. Ahora bi<strong>en</strong>, cómo avanzar<strong>en</strong> <strong>la</strong> aspiración de un sistema internacional que logre legitimidad cultural universal.Para el autor únicam<strong>en</strong>te puede estar fundam<strong>en</strong>tado <strong>en</strong> un “cons<strong>en</strong>so” moraly político “<strong>en</strong>trecruzado” con <strong>la</strong>s principales tradiciones culturales del mundo. “[…]<strong>la</strong> re<strong>la</strong>ción <strong>en</strong>tre <strong>la</strong> cultura local y <strong>la</strong>s normas internacionales de derechos humanosdebe ser percibida como un esfuerzo global, g<strong>en</strong>uino y recíproco”. (An-Na’im, A. A.1997:174)Un camino posible consistiría, según An-Na’im, <strong>en</strong> partir del sistema internacional dederecho e instituciones de derechos humanos que ya disponemos. Desde ahí, apuntarhacia <strong>la</strong> búsqueda de legitimidad y afianzami<strong>en</strong>to de <strong>la</strong>s normas de este sistemaya establecido, al interior de <strong>la</strong> variedad de tradiciones culturales del mundo. “En otraspa<strong>la</strong>bras, <strong>la</strong>s normas del sistema internacional deb<strong>en</strong> ser validadas <strong>en</strong> términos delos valores e instituciones de cada cultura, y también <strong>en</strong> términos de los valores queson compartidos o simi<strong>la</strong>res <strong>en</strong>tre todas <strong>la</strong>s culturas.” (An-Na’im, A. A. 1997:175)¿Cómo lograrlo?. El autor propone lo que d<strong>en</strong>omina “discurso interno”, es decir <strong>en</strong>el marco de cada cultura y el “diálogo intercultural”, <strong>en</strong>tre <strong>la</strong>s distintas tradicionesculturales del mundo. Por medio del discurso interno los propon<strong>en</strong>tes de un derechohumano internacionalm<strong>en</strong>te reconocido buscan justificar y legitimar ese derecho <strong>en</strong>términos de su propia cultura. Este discurso puede explorar caminos para confrontary desacreditar <strong>la</strong>s prácticas discriminatorias. A <strong>la</strong> par de estos debates internos, existeuna dim<strong>en</strong>sión externa del proceso, los actores exteriores pued<strong>en</strong> influir sobre elproceso de discurso interno a través del diálogo intercultural. “Sin embargo, es crucialque el apoyo y <strong>la</strong> influ<strong>en</strong>cia externa se d<strong>en</strong> <strong>en</strong> formas que no m<strong>en</strong>oscab<strong>en</strong> sino quefortalezcan <strong>la</strong> integridad y eficacia del discurso interno.” (An-Na’im, A. A. 1997:179)<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es43


Abdu<strong>la</strong>hi An-Na’im reflexiona <strong>en</strong> torno a <strong>la</strong> responsabilidad del Estado de lograrque su derecho y sus prácticas internas correspondan con sus obligaciones segúnel derecho internacional de proteger y promover los derechos humanos. “Aúnsuponi<strong>en</strong>do <strong>la</strong> exist<strong>en</strong>cia de <strong>la</strong> obligación (del Estado] de erradicar estas prácticascon base <strong>en</strong> los derechos humanos internacionalm<strong>en</strong>te reconocidos, pued<strong>en</strong>pres<strong>en</strong>tarse problemas de implem<strong>en</strong>tación. (…) Incluso si existe <strong>la</strong> voluntad políticade actuar, puede no ser fácil para un gobierno ejercer influ<strong>en</strong>cia sobre <strong>la</strong>sraíces socioculturales de estas prácticas.” (An-Na’im, A. A 1997:171)La lógica subyac<strong>en</strong>te de <strong>la</strong>s leyes internas puede ser lo sufici<strong>en</strong>tem<strong>en</strong>te fuertecomo para eliminar o negar los esfuerzos del Estado por cambiar o reg<strong>la</strong>m<strong>en</strong>tar<strong>la</strong>s prácticas consuetudinarias <strong>en</strong> cuestión. Es hacia esta lógica que debe apuntar<strong>la</strong> construcción de un discurso interno cuyo objetivo sea lograr <strong>la</strong> correspond<strong>en</strong>ciadel sistema normativo internacional con <strong>la</strong>s leyes a nivel local. Si no hay uncambio <strong>en</strong> ese s<strong>en</strong>tido, por más que desde el Estado se llev<strong>en</strong> ade<strong>la</strong>nte políticasque se dirijan a lograr correspond<strong>en</strong>cia con el derecho internacional, <strong>la</strong>s prácticasreligiosas o consuetudinarias pued<strong>en</strong> persistir extraoficialm<strong>en</strong>te.En contextos retic<strong>en</strong>tes a respetar los derechos de <strong>la</strong>s mujeres, es de suma necesidad<strong>la</strong> ejecución de estrategias para <strong>la</strong> legitimación cultural de los mismos.La propuesta de An-Na’im sobre <strong>la</strong> implem<strong>en</strong>tación de un discurso interno podríaser, <strong>en</strong> mi opinión, un camino propicio. El esfuerzo por cambiar <strong>la</strong>s leyes religiosasy consuetudinarias de conformidad con el derecho internacional de losderechos humanos debe buscar persuadir a <strong>la</strong> g<strong>en</strong>te de <strong>la</strong> validez y utilidad delcambio. “Esa persuasión debe estar fundam<strong>en</strong>tada <strong>en</strong> una compr<strong>en</strong>sión completay realista de <strong>la</strong> lógica o autoridad de estas leyes.” (An-Na’im, A. 1997:177)El Estado debería propiciar el discurso interno, si<strong>en</strong>do él mismo un ag<strong>en</strong>te queinste por <strong>la</strong> transformación de leyes internas que viol<strong>en</strong> los derechos humanos.En pa<strong>la</strong>bras de Rita Segato, el rol del Estado t<strong>en</strong>drá que ser el de supervisar,mediar e interceder para garantizar que el proceso interno de deliberación puedaocurrir librem<strong>en</strong>te, sin abuso por parte de los sectores más poderosos de <strong>la</strong> sociedad.(Segato, R 2007:10) P<strong>en</strong>sar el Estado como un “meta-ag<strong>en</strong>te” del discursointerno, que reúna distintos tipos de movimi<strong>en</strong>tos, organizaciones, comunidades,pueblos <strong>en</strong> continuo diálogo, implica rep<strong>en</strong>sar <strong>la</strong> conformación misma del Estado.El movimi<strong>en</strong>to feminista <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>, vertebrado por distintos posicionami<strong>en</strong>tos,es un ag<strong>en</strong>te indisp<strong>en</strong>sable para conformar el tipo de diálogo que proponeAn-Na’im. En especial, para revisar <strong>la</strong>s t<strong>en</strong>siones que suel<strong>en</strong> establecerse<strong>en</strong>tre los derechos de <strong>la</strong>s mujeres y los derechos culturales.Ciertam<strong>en</strong>te acuerdo con An-Na’im sobre <strong>la</strong> necesidad de transformar <strong>la</strong>s leyesinternas que no correspondan o no permitan <strong>la</strong> implem<strong>en</strong>tación de los derechoshumanos internacionales y <strong>en</strong> particu<strong>la</strong>r los de <strong>la</strong>s mujeres. De <strong>la</strong> misma manera,creo necesario destacar que <strong>en</strong> muchas oportunidades los derechos consuetu-44 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


dinarios pued<strong>en</strong> funcionar como herrami<strong>en</strong>tas de evaluación y reformu<strong>la</strong>ción delos derechos humanos. Es decir, como controles ante formu<strong>la</strong>ciones normativasetnocéntricas <strong>en</strong> el marco de <strong>la</strong> construcción de los derechos humanos.Antes de continuar, considero acertado ofrecer una definición de derecho consuetudinario.Sigui<strong>en</strong>do a Xavier Albó, se <strong>en</strong>ti<strong>en</strong>d<strong>en</strong> <strong>la</strong>s normas y <strong>la</strong>s prácticas basadas<strong>en</strong> los “usos y costumbres” propios de cada pueblo y cultura <strong>en</strong> un lugar y mom<strong>en</strong>todado. (Albó, X 2000:1) Entre los caracteres constitutivos se reconoce, su flexibilidad<strong>en</strong> el tiempo y espacio y su perman<strong>en</strong>te apertura a influ<strong>en</strong>cias aj<strong>en</strong>as. La oralidades <strong>la</strong> base de <strong>la</strong> p<strong>la</strong>sticidad y adaptabilidad perman<strong>en</strong>te de todo el sistema. A difer<strong>en</strong>ciadel derecho positivo, el consuetudinario, no es una norma fija de carácterdefinitivo que exige un pesado procedimi<strong>en</strong>to para ser modificado. Este aspecto lodistancia, <strong>en</strong> mi opinión, positivam<strong>en</strong>te del derecho oficial. La flexibilidad y <strong>la</strong> aperturadel derecho consuetudinario pued<strong>en</strong> facilitar el proceso de articu<strong>la</strong>ción <strong>en</strong>trederecho jurídico y consuetudinario <strong>en</strong> el s<strong>en</strong>tido que aportan, a un sistema rígido yreacio al cambio, sus estrategias y mecanismos volviéndolo más dinámico.Xavier Albó remarca también que el derecho consuetudinario no es automáticam<strong>en</strong>teequitativo, sobre todo resalta el sesgo que suele reflejar a favor de los varones,“(…) particu<strong>la</strong>rm<strong>en</strong>te <strong>en</strong> toda <strong>la</strong> esfera de <strong>la</strong> actividad pública, desde <strong>la</strong> asamblea comunalo intercomunal hasta los mecanismos de repres<strong>en</strong>tación hacia afuera”. (Albó,X. 1998:7) El androc<strong>en</strong>trismo, es una dol<strong>en</strong>cia compartida con los sistemas normativosinternacionales 2 . En mi opinión, esta defici<strong>en</strong>cia compartida por ambos sistemasnormativos podría ser resignificada <strong>en</strong> trabajo conjunto <strong>en</strong>tre los ag<strong>en</strong>tes locales yglobales respecto a <strong>la</strong> implem<strong>en</strong>tación y garantía de los derechos de <strong>la</strong>s mujeres.Las feministas se ocupan int<strong>en</strong>sam<strong>en</strong>te de d<strong>en</strong>unciar <strong>la</strong>s prácticas culturales quevio<strong>la</strong>n los derechos de <strong>la</strong>s mujeres. Siempre <strong>en</strong> <strong>la</strong> búsqueda de que los derechoshumanos de <strong>la</strong>s mismas sean garantizados. En este camino <strong>la</strong> crítica feministadebería fortalecerse con el trabajo <strong>en</strong> contextos locales. Un marco metodológicoválido para conseguirlo podría ser, lo que <strong>en</strong> Antropología se d<strong>en</strong>omina, “trabajoetnográfico” 3 . Creo que esta experi<strong>en</strong>cia permitiría <strong>la</strong> empatía <strong>en</strong>tre mujeres de2 “Los derechos humanos internacionales y los instrum<strong>en</strong>tos legales que los proteg<strong>en</strong> fueron desarrol<strong>la</strong>dosprincipalm<strong>en</strong>te por hombres <strong>en</strong> un mundo con ori<strong>en</strong>tación masculina. No han sido interpretados<strong>en</strong> una forma s<strong>en</strong>sible al género que responda a <strong>la</strong>s experi<strong>en</strong>cias de injusticias vividas por <strong>la</strong>s mujeres.Se requiere una caracterización de los derechos humanos internacionales para que los derechoshumanos específicos de <strong>la</strong> mujer no sean marginales, y para que <strong>la</strong> aplicación de tales derechos seconvierta <strong>en</strong> parte de <strong>la</strong> ag<strong>en</strong>da c<strong>en</strong>tral del trabajo por los derechos humanos. (Cook, R. 1997:9)3 La elección de un marco teórico-metodológico define nuestro posicionami<strong>en</strong>to como investigadoras.El método etnográfico permitir establecer un tipo de conocimi<strong>en</strong>to que se construye corre<strong>la</strong>tivam<strong>en</strong>te,es decir desde <strong>la</strong> confrontación con los saberes de otras mujeres. El aporte antropológico que implicó<strong>la</strong> ext<strong>en</strong>sión de este método a otras disciplinas, consistió principalm<strong>en</strong>te <strong>en</strong> poder correr <strong>la</strong> <strong>mirada</strong>etno y sociocéntrica del investigador/a hacia estructuras y lógicas de conocimi<strong>en</strong>to difer<strong>en</strong>tes, quecom<strong>en</strong>zaron a interpe<strong>la</strong>r los propios conocimi<strong>en</strong>tos del investigador/a.<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es45


culturas diversas. Vínculos de este tipo abr<strong>en</strong> el diálogo <strong>en</strong> pos de <strong>la</strong> construcciónde instrum<strong>en</strong>tos garantes de los derechos de <strong>la</strong>s mujeres a partir de mecanismosestablecidos directam<strong>en</strong>te por el<strong>la</strong>s.Precisam<strong>en</strong>te, el trabajo conjunto <strong>en</strong> contextos culturales concretos facilita el reconocimi<strong>en</strong>tode los derechos que son particu<strong>la</strong>rm<strong>en</strong>te vio<strong>la</strong>dos <strong>en</strong> esa localidad.Pero también permite hacer visible dinámicas normativas internas de <strong>la</strong> comunidad,<strong>la</strong>s cuales pued<strong>en</strong> convertirse <strong>en</strong> mecanismos de control del cumplimi<strong>en</strong>tode derechos. De esta manera, se aprovecha el conocimi<strong>en</strong>to que <strong>la</strong>s mujerespose<strong>en</strong> de <strong>la</strong>s leyes internas de sus comunidades evitando imposiciones normativas.El mismo sistema de normas comunal actuaría como fu<strong>en</strong>te primariadesde donde p<strong>en</strong>sar <strong>la</strong>s soluciones; y como órgano al cual ape<strong>la</strong>r, por lo m<strong>en</strong>os<strong>en</strong> primera instancia. Si este tipo de debates <strong>en</strong>tre mujeres puede establecersepositivam<strong>en</strong>te, el mismo devi<strong>en</strong>e <strong>en</strong> cons<strong>en</strong>so cultural sobre <strong>la</strong>s revisiones, modificaciones<strong>en</strong> el sistema normativo interno <strong>en</strong> pos de <strong>la</strong> correspond<strong>en</strong>cia con elderecho internacional de <strong>la</strong>s mujeres.Un primer paso: el diálogo <strong>en</strong>tre feministas y mujeres de los PueblosoriginariosLa diversidad como derecho humano ha reubicado a <strong>la</strong> cultura como emblemadel reconocimi<strong>en</strong>to político. En este s<strong>en</strong>tido, los Pueblos indíg<strong>en</strong>as se vuelv<strong>en</strong>sujetos del derecho internacional, esta situación puede <strong>en</strong>t<strong>en</strong>derse acompañada<strong>en</strong> sus inicios, de sucesos tales como <strong>la</strong> aprobación del Conv<strong>en</strong>io 169 de <strong>la</strong> OIT<strong>en</strong> 1989; <strong>la</strong> preparación del Borrador de <strong>la</strong> Dec<strong>la</strong>ración Universal de los DerechosIndíg<strong>en</strong>as de <strong>la</strong>s Naciones Unidas y otros marcos legales que acompañan <strong>la</strong>smovilizaciones y demandas indíg<strong>en</strong>as a nivel global. (Briones, C. 2005:14) Ladiversidad se convierte <strong>en</strong> un elem<strong>en</strong>to a gestionar dando lugar a una gran variedadde organismos internacionales, ONG, ag<strong>en</strong>cias multi<strong>la</strong>terales, <strong>la</strong>s cuales hanadquirido protagonismo <strong>en</strong> <strong>la</strong>s luchas por el reconocimi<strong>en</strong>to cultural. El espaciode disputa excede el p<strong>la</strong>no nacional, <strong>la</strong>s alianzas <strong>en</strong>tre comunidades indíg<strong>en</strong>asalcanzan dim<strong>en</strong>siones supra-nacionales.La irrupción de los Pueblos indíg<strong>en</strong>as <strong>en</strong> el espacio público es el telón de fondoque permite analizar el papel protagónico que algunas de <strong>la</strong>s mujeres o grupos demujeres indíg<strong>en</strong>as, han tomado como refer<strong>en</strong>tes d<strong>en</strong>tro de los movimi<strong>en</strong>tos etnopolíticos<strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>. La manera <strong>en</strong> que estas mujeres se han organizadotoma difer<strong>en</strong>tes formas: ya sea a nivel de alianzas supra-nacionales tales comoel En<strong>la</strong>ce Contin<strong>en</strong>tal de <strong>Mujer</strong>es Indíg<strong>en</strong>as; a nivel nacional (taller <strong>Mujer</strong>es yPueblos Originarios <strong>en</strong> el marco de los Encu<strong>en</strong>tros Nacionales de <strong>Mujer</strong>es); anivel provincial (Encu<strong>en</strong>tro Provincial de <strong>Mujer</strong>es Indíg<strong>en</strong>as, Jujuy, 2006); a nivelpanétnico (Grupos de mujeres integrantes de La Organización de Naciones yPueblos Indíg<strong>en</strong>as <strong>en</strong> Arg<strong>en</strong>tina-ONPIA-)46 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


Para analizar los derechos culturales y políticos de los pueblos indíg<strong>en</strong>as, acordandocon Rosalva Aída Hernández y María Teresa Sierra, es indisp<strong>en</strong>sable <strong>la</strong> introducciónde <strong>la</strong> perspectiva de género. Pero a su vez, para evitar caer <strong>en</strong> posicionami<strong>en</strong>tosetnocéntricos, <strong>la</strong>s autoras recomi<strong>en</strong>dan no asumir a priori definiciones de igualdady desigualdad de género <strong>en</strong> <strong>la</strong>s sociedades indíg<strong>en</strong>as sin conocer el contexto históricoy cultural <strong>en</strong> el que se construy<strong>en</strong> <strong>la</strong>s id<strong>en</strong>tidades fem<strong>en</strong>inas y masculinas. Elcompromiso de p<strong>en</strong>sar el género desde <strong>la</strong> diversidad cultural desafiando <strong>la</strong>s versionesetnocéntricas universalistas así como los particu<strong>la</strong>rismos culturales es una tareac<strong>en</strong>tral para garantizar los derechos humanos y <strong>en</strong> especial los de <strong>la</strong>s mujeres.Las autoras remarcan <strong>la</strong> urg<strong>en</strong>cia de avanzar <strong>en</strong> una ag<strong>en</strong>da de <strong>la</strong>s diversidadesque vincule <strong>la</strong>s demandas de género de <strong>la</strong>s mujeres indíg<strong>en</strong>as con <strong>la</strong>s demandasde los pueblos indíg<strong>en</strong>as y con una visión pluralista del Estado y del derecho. Lasdemandas de <strong>la</strong>s mujeres indíg<strong>en</strong>as no pued<strong>en</strong> compr<strong>en</strong>derse fuera del marcode <strong>la</strong>s luchas de sus pueblos por <strong>la</strong> autonomía. “En este s<strong>en</strong>tido, <strong>la</strong> disputa de lospueblos por sus id<strong>en</strong>tidades y sus derechos políticos ante el Estado se correspondede alguna manera con <strong>la</strong> lucha de <strong>la</strong>s mujeres indíg<strong>en</strong>as ante sus hombres<strong>en</strong> el marco de sus comunidades.” (Hernández, R.; Sierra, M.T. 2005:12)La reflexión sobre vínculos y conexiones <strong>en</strong>tre mujeres, concretam<strong>en</strong>te <strong>en</strong>tre mujeresde los Pueblos originarios y feministas <strong>en</strong> Arg<strong>en</strong>tina, es una de <strong>la</strong>s temáticasprincipales que atraviesa mis investigaciones de posgrado. El objetivo consiste<strong>en</strong> analizar el posicionami<strong>en</strong>to de <strong>la</strong>s mujeres indíg<strong>en</strong>as <strong>en</strong> pos de <strong>la</strong> reivindicaciónde sus derechos como mujeres y como miembros de sus grupos étnicos. Laespecificidad de <strong>la</strong> problemática devi<strong>en</strong>e al int<strong>en</strong>tar compr<strong>en</strong>der <strong>la</strong>s luchas porel reconocimi<strong>en</strong>to cultural, t<strong>en</strong>i<strong>en</strong>do <strong>en</strong> cu<strong>en</strong>ta los procesos que han llevado a <strong>la</strong>afirmación de <strong>la</strong>s mujeres indíg<strong>en</strong>as como refer<strong>en</strong>tes de sus comunidades.En este espacio de disputa, el<strong>la</strong>s comi<strong>en</strong>zan a ocupar <strong>la</strong>s ar<strong>en</strong>as de lo públicocomo sujetos de derecho <strong>en</strong> tanto mujeres indíg<strong>en</strong>as. Las mismas han asumidopolíticam<strong>en</strong>te su “parte indíg<strong>en</strong>a” y comi<strong>en</strong>zan actuar a partir de <strong>la</strong> misma. Al definirse<strong>la</strong> figura de refer<strong>en</strong>te indíg<strong>en</strong>a se sosti<strong>en</strong>e una categoría política, <strong>en</strong> el s<strong>en</strong>tidode asumir su “historia” indíg<strong>en</strong>a y reafirmar<strong>la</strong> <strong>en</strong> tanto modo de acción política.Se exalta <strong>la</strong> difer<strong>en</strong>cia sobre <strong>la</strong> que se conforma una id<strong>en</strong>tidad constitutiva queexige reconocimi<strong>en</strong>to. Este tipo de reivindicaciones (culturales) suel<strong>en</strong> <strong>en</strong>t<strong>en</strong>derse<strong>en</strong> el marco de <strong>la</strong>s “Políticas de <strong>la</strong> Id<strong>en</strong>tidad”. En el feminismo esta noción serecoge inicialm<strong>en</strong>te <strong>en</strong> un manifiesto del feminismo negro de Estados Unidos <strong>en</strong>1977, <strong>en</strong> el cual <strong>la</strong> id<strong>en</strong>tidad “negra” se construye como el punto de refer<strong>en</strong>cia políticoque permitió a <strong>la</strong>s mujeres negras reunirse y d<strong>en</strong>unciar al propio feminismopor continuar mant<strong>en</strong>iéndo<strong>la</strong>s <strong>en</strong> un espacio de subordinación y de negación de <strong>la</strong>pa<strong>la</strong>bra (Leciñana B<strong>la</strong>nchard, 2006:130) Las mujeres negras <strong>en</strong>uncian una fuertecrítica a <strong>la</strong> supuesta “sororidad” p<strong>la</strong>nteada <strong>en</strong>tre <strong>la</strong>s mujeres feministas: “Cuandoparticipé <strong>en</strong> grupos feministas, descubrí que <strong>la</strong>s mujeres b<strong>la</strong>ncas adoptaban unaactitud condesc<strong>en</strong>di<strong>en</strong>te hacia mí y hacia otras participantes no b<strong>la</strong>ncas. (…) No<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es47


nos trataban como iguales. Y aunque esperaban que les proporcionáramos re<strong>la</strong>tosde primera mano sobre <strong>la</strong> experi<strong>en</strong>cia negra, s<strong>en</strong>tían que a el<strong>la</strong>s les tocabadecidir si esas experi<strong>en</strong>cias eran auténticas” (bell hooks, 1984, citado <strong>en</strong> LeciñanaB<strong>la</strong>nchard, 2006:130-131). Este tipo de dec<strong>la</strong>ración develó re<strong>la</strong>ciones dedesigualdad d<strong>en</strong>tro del mismo feminismo; exigi<strong>en</strong>do un reconocimi<strong>en</strong>to <strong>en</strong> tantomujeres y negras y haci<strong>en</strong>do explícita <strong>la</strong> urg<strong>en</strong>cia de ser escuchadas al marg<strong>en</strong> deuna <strong>mirada</strong> “paternalista” y del exotismo con el que eran consideradas.En este ejemplo se hace visible cómo <strong>la</strong> noción de id<strong>en</strong>tidad fue tomada <strong>en</strong> un s<strong>en</strong>tidofuerte (Fem<strong>en</strong>ías, 2007:103). Es decir, “lo negro” se toma como un rasgo queid<strong>en</strong>tifica a un grupo a partir de una historia de colonización y esc<strong>la</strong>vitud compartida.De esta manera <strong>la</strong> id<strong>en</strong>tidad política se construye ante un sufrimi<strong>en</strong>to compartidoy un posicionami<strong>en</strong>to positivo que int<strong>en</strong>ta confrontar <strong>la</strong>s estructuras que los/as circunscrib<strong>en</strong><strong>en</strong> tanto excluidos/as. Para ciertas minorías <strong>la</strong>s políticas de <strong>la</strong> id<strong>en</strong>tidadhan abierto un espacio de cohesión y afirmación política de relevancia, que les hadado <strong>la</strong> posibilidad de repres<strong>en</strong>tación. Ochy Curiel retoma una frase de bell hooksque ejemplifica esta idea: “Dada <strong>la</strong> omnipot<strong>en</strong>cia de una política supremacista b<strong>la</strong>nca,cuyo objetivo consiste <strong>en</strong> impedir <strong>la</strong> formación de una subjetividad negra radical,no podemos m<strong>en</strong>ospreciar <strong>la</strong>s políticas de id<strong>en</strong>tidad” (hooks <strong>en</strong> Curiel, 2003).Las mujeres indíg<strong>en</strong>as <strong>en</strong> Arg<strong>en</strong>tina, más allá de <strong>la</strong> pert<strong>en</strong><strong>en</strong>cia étnica particu<strong>la</strong>r,se id<strong>en</strong>tifican <strong>en</strong> tanto miembros de los Pueblos originarios. Esta adscripciónreúne a sus pueblos, víctimas de uno de los primeros g<strong>en</strong>ocidios del mundo,los que continuaron sufri<strong>en</strong>do <strong>la</strong> dominación tanto <strong>en</strong> tiempo de <strong>la</strong> colonia comodurante <strong>la</strong> constitución de los Estados-Nación. Estas “no apropiadas otras” seconstituy<strong>en</strong> <strong>en</strong> un sujeto colectivo que emerge a partir de un proceso de luchay de interpretación, de reescritura del propio yo (de Lauretis, T., 1993:106). Laid<strong>en</strong>tidad construida como “mujeres de los pueblos originarios” es un productode <strong>la</strong> experi<strong>en</strong>cia histórica específica del racismo y se ha desarrol<strong>la</strong>do a partir de<strong>la</strong> compr<strong>en</strong>sión de <strong>la</strong> necesidad política y personal de conformar una comunidada pesar de <strong>la</strong>s t<strong>en</strong>siones, <strong>en</strong> contradicción incluso con los propios valores étnicosy familiares. El<strong>la</strong>s son parte de movimi<strong>en</strong>tos etno-políticos desde los cualescuestionan <strong>la</strong> hegemonía del poder, “lo indíg<strong>en</strong>a” se resuelve como <strong>la</strong> prioridadpolítica. En el taller <strong>Mujer</strong> y Pueblos Originarios del Encu<strong>en</strong>tro Nacional de <strong>Mujer</strong>esrealizado <strong>en</strong> el 2002 una de <strong>la</strong>s mujeres sostuvo: “Nuestra cultura es nuestraarma” 4 . El peso de esta afirmación es fundam<strong>en</strong>tal para <strong>en</strong>t<strong>en</strong>der <strong>la</strong> estrategia4 C<strong>la</strong>udia Laudano y Silvia Chejter describ<strong>en</strong> los Encu<strong>en</strong>tros Nacionales de <strong>Mujer</strong>es como una experi<strong>en</strong>ciamundial única <strong>en</strong> su tipo. Los mismos se vi<strong>en</strong><strong>en</strong> realizando desde 1986 sin interrupción,<strong>en</strong> difer<strong>en</strong>tes ciudades del país. El funcionami<strong>en</strong>to del <strong>en</strong>cu<strong>en</strong>tro consiste <strong>en</strong> dos días seguidos dediscusión <strong>en</strong> talleres temáticos, con una coordinadora que modera y propicia <strong>la</strong> participación de <strong>la</strong>sasist<strong>en</strong>tes. Los talleres se cierran con <strong>la</strong> redacción de <strong>la</strong>s conclusiones. Durante esos días tambiénse realizan talleres libres con temáticas propuestas por <strong>la</strong>s asist<strong>en</strong>tes, una fiesta, una marcha por <strong>la</strong>ciudad <strong>en</strong> <strong>la</strong> que se desarrol<strong>la</strong> el <strong>en</strong>cu<strong>en</strong>tro y un pl<strong>en</strong>ario <strong>en</strong> el cual se le<strong>en</strong> <strong>la</strong>s conclusiones. (Chejter,S.; Laudano, C.: 2002, p.47)48 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


afirmativa de los pueblos indíg<strong>en</strong>as. La precaución debe ser <strong>en</strong> el s<strong>en</strong>tido decontro<strong>la</strong>r que ese “arma” no funcione como una am<strong>en</strong>aza y una restricción para<strong>la</strong>s mujeres, que les impida <strong>la</strong> ag<strong>en</strong>cia, <strong>la</strong> resist<strong>en</strong>cia a <strong>la</strong>s fuerzas conservadorasde sus respetivas etnias 5 .A partir de <strong>la</strong> participación <strong>en</strong> <strong>en</strong>cu<strong>en</strong>tros, talleres, reuniones de mujeres indíg<strong>en</strong>asy del intercambio de perspectivas a través de <strong>en</strong>trevistas, es posible destacar<strong>la</strong> distancia que algunas mujeres indíg<strong>en</strong>as y organizaciones de mujeres indíg<strong>en</strong>asresaltan <strong>en</strong>tre el<strong>la</strong>s y <strong>la</strong>s agrupaciones feministas. Si, sigui<strong>en</strong>do a Abdu<strong>la</strong>hiAn-Na’im, un camino propicio para <strong>la</strong> constitución de un sistema normativo internacionalque contemple <strong>la</strong>s diversidades culturales de <strong>la</strong>s mujeres implicaría eldebate intercultural; el des<strong>en</strong>t<strong>en</strong>dimi<strong>en</strong>to que por mom<strong>en</strong>to pareciera existir <strong>en</strong>trefeministas y refer<strong>en</strong>tes indíg<strong>en</strong>as t<strong>en</strong>dría que com<strong>en</strong>zar a dist<strong>en</strong>derse.Uno de los primeros pasos a dar <strong>en</strong> <strong>la</strong> consolidación de este tipo de alianzasrequiere reconocer los posicionami<strong>en</strong>tos políticos particu<strong>la</strong>res de los diversosgrupos de mujeres que puedan llegar a participar del debate interno. En mi opinión,una forma efectiva de construir <strong>la</strong>zos <strong>en</strong>tre feministas y mujeres indíg<strong>en</strong>as,conlleva el reconocimi<strong>en</strong>to de <strong>la</strong> historicidad que posiciona de manera difer<strong>en</strong>tea un grupo particu<strong>la</strong>r d<strong>en</strong>tro de <strong>la</strong> totalidad del movimi<strong>en</strong>to de mujeres, haci<strong>en</strong>doposible <strong>en</strong>t<strong>en</strong>der sus objetivos y estrategias políticas. Si se logra una conci<strong>en</strong>ciahistórica (por parte de <strong>la</strong>s indíg<strong>en</strong>as y <strong>la</strong>s no indíg<strong>en</strong>as) de <strong>la</strong>s trayectorias múltiplesque nos caracterizan y el respeto a un pasado que condiciona accionares aveces no compr<strong>en</strong>sibles por otros sectores de mujeres, es posible que <strong>la</strong> dicotomíamujer indíg<strong>en</strong>a - mujer b<strong>la</strong>nca llegue <strong>en</strong> algún mom<strong>en</strong>to a at<strong>en</strong>uar <strong>la</strong> t<strong>en</strong>siónpersist<strong>en</strong>te. Esto implicaría un gran avance <strong>en</strong> los procesos de conci<strong>en</strong>ciación decada grupo y del movimi<strong>en</strong>to de mujeres <strong>en</strong> g<strong>en</strong>eral.Como propuse <strong>en</strong> un trabajo anterior, el camino a seguir debería dirigirse hacia<strong>la</strong> construcción de una nueva sororidad que involucre el reconocimi<strong>en</strong>to de <strong>la</strong>smúltiples “situaciones” desde donde <strong>la</strong>s mujeres proyectan su libertad. Es decirel marco objetivo donde se ejerce <strong>la</strong> libertad. El concepto de situación como fuedefinido por Simone de Beauvoir debe ser p<strong>en</strong>sado ya no sólo <strong>en</strong> <strong>la</strong> re<strong>la</strong>ción <strong>en</strong>trevarones y mujeres sino d<strong>en</strong>tro del colectivo de mujeres. De esta manera esposible una mejor compr<strong>en</strong>sión de <strong>la</strong> particu<strong>la</strong>ridad del proyecto de <strong>la</strong>s mujeresindíg<strong>en</strong>as (o de cualquier otro sector d<strong>en</strong>tro del movimi<strong>en</strong>to) 6 . Coincidi<strong>en</strong>do con5 Esta postura crítica fr<strong>en</strong>te a <strong>la</strong>s prácticas culturales que actúan como “camisa de fuerza” para <strong>la</strong>toma de conci<strong>en</strong>cia de <strong>la</strong>s mujeres indíg<strong>en</strong>as, es c<strong>la</strong>ram<strong>en</strong>te extrapo<strong>la</strong>ble a cualquier grupo de mujeresya que <strong>en</strong> toda cultura exist<strong>en</strong> sectores conservadores que aplican <strong>la</strong> tradición como estrategiade sometimi<strong>en</strong>to.6 Para profundizar <strong>en</strong> el concepto de situación ver López Pardina, Mª Teresa, “El feminismo de Simonede Beauvoir”, <strong>en</strong> Amorós, C. (coord.), Historia de <strong>la</strong> Teoría Feminista, Universidad Complut<strong>en</strong>sede Madrid, 1994.<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es49


Simone de Beauvoir: “Para <strong>la</strong> mujer no hay más salida que trabajar por su liberación”,esa liberación sólo puede ser colectiva (Beauvoir, S. de, 1954: 466); y <strong>en</strong>mi opinión debe conllevar <strong>la</strong> apuesta hacia un diálogo intercultural.A modo de conclusiónLa propuesta de procedimi<strong>en</strong>tos concretos para tejer una red de localidades <strong>en</strong>diálogo, comparti<strong>en</strong>do el objetivo de construir un sistema normativo universalcada vez más inclusivo, excede este trabajo. Pero <strong>en</strong> términos g<strong>en</strong>erales quedap<strong>la</strong>nteada <strong>la</strong> apuesta por el debate interno <strong>en</strong>tre comunidades para avanzarhacia un diálogo intercultural regional 7 . En especial, <strong>en</strong>tre <strong>la</strong>s feministas y <strong>la</strong>srefer<strong>en</strong>tes indíg<strong>en</strong>as.En algunos contextos, es aún necesario establecer los canales e id<strong>en</strong>tificar losag<strong>en</strong>tes internos, esta es <strong>la</strong> primera instancia de trabajo <strong>en</strong> algunas comunidadesy regiones. Una vez <strong>en</strong> este camino, con <strong>la</strong>s hebras elegidas, <strong>la</strong>s técnicasde tejido seleccionadas y <strong>la</strong> materialidad del te<strong>la</strong>r, <strong>la</strong> red global <strong>en</strong>tra <strong>en</strong> continuaformación y ext<strong>en</strong>sión.La reflexión sobre los procesos de trasformación de <strong>la</strong>s leyes internas debe ir a<strong>la</strong> par de una evaluación de los derechos consuetudinarios que puedan servirde inspiración para modificar el sistema normativo internacional. Antes de establecerestrategias de legitimación cultural de los derechos humanos, estos mismosdeberían ser p<strong>la</strong>nteados desde <strong>la</strong> multiculturalidad. Cuestión que puede serprovechosam<strong>en</strong>te p<strong>en</strong>sada <strong>en</strong> re<strong>la</strong>ción a <strong>la</strong>s t<strong>en</strong>siones <strong>en</strong>tre reivindicaciones degénero y étnicas. Muchas leyes internas de <strong>la</strong>s culturas deb<strong>en</strong> ser revisadas paralograr el cumplimi<strong>en</strong>to de los derechos de <strong>la</strong>s mujeres <strong>en</strong> tanto que universales.Pero esta tarea no responde a un modelo g<strong>en</strong>eral aplicable a todos los contextos,sino que toma <strong>la</strong> forma de <strong>la</strong> dinámica propia de cada cultura. En el marco localpued<strong>en</strong> ser consideradas múltiples maneras de implem<strong>en</strong>tación o garantía de derechosque aport<strong>en</strong> cierto grado de novedad a un campo que puede <strong>en</strong>contrarsesaturado y car<strong>en</strong>te de soluciones.Un s<strong>en</strong>tir común <strong>en</strong> el cual solemos <strong>en</strong>contrarnos <strong>la</strong>s feministas, más allá d<strong>en</strong>uestras difer<strong>en</strong>cias teóricas y prácticas, es el azorami<strong>en</strong>to ante triunfos que sonfagocitados e invertidos por el sistema patriarcal. Lo formal y lo concreto, losderechos y <strong>la</strong>s viv<strong>en</strong>cias, son dos niveles que para <strong>la</strong>s mujeres no suel<strong>en</strong> corresponderse.Pero también compartimos el “atrevimi<strong>en</strong>to” de arremeter una yotra vez, tomando los resultados paradojales de <strong>la</strong>s luchas como un continuo7 Una tarea que también queda p<strong>en</strong>di<strong>en</strong>te es <strong>la</strong> de definir cómo se constituy<strong>en</strong> <strong>la</strong>s “comunidades”que serán ag<strong>en</strong>tes del diálogo intercultural. Es decir, cuáles serán los límites <strong>en</strong>tre esas comunidades,qui<strong>en</strong>es determinarán esos límites, <strong>en</strong>tre otras cuestiones.50 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


apr<strong>en</strong>dizaje político. Apr<strong>en</strong>dizaje que nos abrió los ojos ante <strong>la</strong> diversidad culturalque nos atraviesa y nos conforma como sujetos. “Enriquece saber que causascomunes de justicia y libertad no necesariam<strong>en</strong>te ti<strong>en</strong><strong>en</strong> <strong>la</strong>s mismas estrategias,ni los mismos resultados, porque amplía los límites de lo posible, complejizando<strong>la</strong>s apuestas feministas <strong>en</strong> lo global, levantando nuevas formas de interrogar <strong>la</strong>realidad y poni<strong>en</strong>do nuevam<strong>en</strong>te <strong>en</strong> cuestión <strong>la</strong>s soluciones universales y losp<strong>en</strong>sami<strong>en</strong>tos únicos.” (Vargas, V. 2008:14)El desafío actual consiste <strong>en</strong> <strong>la</strong> consolidación de una <strong>mirada</strong> plural y el abandonode paradigmas c<strong>en</strong>trados <strong>en</strong> una única <strong>mirada</strong> (<strong>la</strong> cual históricam<strong>en</strong>te correspondióa <strong>la</strong> de Occid<strong>en</strong>te). Este tipo de apuesta <strong>en</strong> el marco de los derechoshumanos busca abrir el espacio a ag<strong>en</strong>tes culturales diversos <strong>en</strong> el debate internacional.Que el universal (andamiaje de los derechos humanos) debe revisarsey reformu<strong>la</strong>rse se d<strong>en</strong>uncia hace un <strong>la</strong>rgo tiempo, como se sostuvo al comi<strong>en</strong>zode este trabajo. En este s<strong>en</strong>tido, <strong>la</strong> implem<strong>en</strong>tación de un sistema internacionalde derechos humanos no debería implicar el avasal<strong>la</strong>mi<strong>en</strong>to y <strong>la</strong> destrucción deleyes y normas culturalm<strong>en</strong>te situadas.Ciertam<strong>en</strong>te, como se propuso a lo <strong>la</strong>rgo del trabajo, del debate <strong>en</strong>tre ag<strong>en</strong>teslocales, los derechos consuetudinarios pued<strong>en</strong> ser revisados <strong>en</strong> pos de lograrcorrespond<strong>en</strong>cia con el sistema internacional. De este modo, <strong>la</strong>s leyes internasde cada cultura no deb<strong>en</strong> ser directam<strong>en</strong>te abandonadas ya que existe <strong>la</strong> posibilidadde deliberación intra e inter grupo. Rita Segato lo expresa c<strong>la</strong>ram<strong>en</strong>te: “(…)todo pueblo habita <strong>en</strong> un fluir de los tiempos históricos, <strong>en</strong>tre<strong>la</strong>zándose con otros,y todo pueblo conti<strong>en</strong>e esa usina de <strong>la</strong> historia que es el dis<strong>en</strong>so <strong>en</strong> su interior,de manera que <strong>la</strong>s costumbres son cambiadas <strong>en</strong> el curso de <strong>la</strong> deliberación. Noes una tradición lo que constituye un pueblo y sí <strong>la</strong> deliberación.” (Mi traducción)(Segato, R. 2007:11)Ya sea que hablemos de t<strong>en</strong>siones <strong>en</strong>tre el sistema de derecho internacionalcon el derecho indíg<strong>en</strong>a; o con el derecho de <strong>la</strong>s mujeres indíg<strong>en</strong>as o <strong>en</strong>trelos derechos humanos y los derechos de <strong>la</strong>s mujeres <strong>en</strong> g<strong>en</strong>eral, creo que <strong>la</strong>construcción de un debate interno debe ser seriam<strong>en</strong>te considerada. Esta víade diálogo <strong>en</strong>tre los/as principales implicados/as puede ser una herrami<strong>en</strong>ta quefortalezca <strong>la</strong> posibilidad de “tomar <strong>la</strong> pa<strong>la</strong>bra” por parte de sectores, sobre loscuales el derecho internacional puede imponerse, acal<strong>la</strong>ndo dinámicas locales.La dicotomía “Universal-Particu<strong>la</strong>r”, ti<strong>en</strong>e que ser transformada <strong>en</strong> una dialécticadonde el “todo” sea un producto dialogado <strong>en</strong>tre sus partes.Bibliografía- Albó, Xavier “Derecho consuetudinario: posibilidades y límites”, XII Congreso Internacional,Derecho Consuetudinario y Pluralismo jurídico Legal: <strong>Desafíos</strong> <strong>en</strong> el Tercer Mil<strong>en</strong>io,Arica, Universidad de Chile y Universidad de Tarapacá, 1998.<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es51


- An-Na’im, Abdu<strong>la</strong>hi Ahmed, “La responsabilidad del Estado según el derecho internacionalde los Derechos Humanos fr<strong>en</strong>te al cambio del derecho religioso y consuetudinario”,<strong>en</strong> Cook, R. (org.), Derechos humanos de <strong>la</strong> <strong>Mujer</strong>. Perspectivas Nacionales e Internacionalesde <strong>la</strong> <strong>Mujer</strong>, Bogotá, PROFAMILIA, 1997.- Briones, C. (ed.) Cartografías arg<strong>en</strong>tinas, Bu<strong>en</strong>os Aires, Antropofagia, 2005.- de Beauvoir, S., El Segundo Sexo, Bu<strong>en</strong>os Aires, Sudamericana, 2005.- Chejter, S.; Laudano, C., “Género y movimi<strong>en</strong>tos sociales”, Mundos Paralelos, Ag<strong>en</strong>dade género movimi<strong>en</strong>tos sociales <strong>en</strong> Arg<strong>en</strong>tina, Chile y Uruguay, Programa <strong>Mujer</strong> y Democracia<strong>en</strong> el MERCOSUR, Santiago, Edición Carm<strong>en</strong> Torres, 2002, pp. 11-54.- Cook, Rebecca, “Los Derechos Humanos internacionales de <strong>la</strong> mujer: el camino a seguir”,<strong>en</strong> Cook, R. (org.), Derechos humanos de <strong>la</strong> <strong>Mujer</strong>. Perspectivas Nacionales e Internacionalesde <strong>la</strong> <strong>Mujer</strong>, Bogotá, PROFAMILIA, 1997.- Curiel, O. “La lucha política desde <strong>la</strong>s mujeres ante <strong>la</strong>s nuevas formas de racismo. Aproximaciónal análisis de estrategias”. Sitio: www.creatividadfeminista.org- de Laur<strong>en</strong>tis, T., “Sujetos excéntricos: <strong>la</strong> teoría feminista y <strong>la</strong> conci<strong>en</strong>cia histórica”, <strong>en</strong>Cangiano, M.C.; DuBois, L., De mujer a género. Teoría, interpretación y práctica feminista<strong>en</strong> <strong>la</strong>s ci<strong>en</strong>cias sociales, Bu<strong>en</strong>os Aires, C<strong>en</strong>tro Editor de <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>, 1993, pp.73-113- Fem<strong>en</strong>ías, M.L., El género del multiculturalismo, Bernal, UNQui, 2007.-------------------, “Esbozo de un feminismo <strong>la</strong>tinoamericano”, Estudos <strong>Feministas</strong>, Florianópolis,15(1): 7-10, janeiro-abril/2007----------------- (comp.) Feminismos de Paris a La P<strong>la</strong>ta, Bu<strong>en</strong>os Aires, Catálogos, 2006.-------------------, «El feminismo <strong>la</strong>tinoamericano ante el desafío de <strong>la</strong>s difer<strong>en</strong>cias», <strong>en</strong>Debats/76, 2002, págs. 56-64- Leciñana B<strong>la</strong>nchard, Maira, “El desafío de <strong>la</strong>s difer<strong>en</strong>cias: teoría feminista <strong>la</strong>tinoamericana,¿Quién hab<strong>la</strong> y cómo?”, <strong>en</strong> AAVV, Actas de <strong>la</strong>s VII Jornadas Nacionales de Historiade <strong>la</strong>s <strong>Mujer</strong>es; II Congreso Iberoamericano de Estudios <strong>en</strong> Género, Salta, UniversidadNacional de Salta, 2004. (<strong>en</strong> soporte electrónico)----------------------------, “Crisis del sujeto desde el feminismo filosófico y sus perspectivas<strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>la</strong>tina” <strong>en</strong>, Fem<strong>en</strong>ías, M.L. (comp.) Feminismos de Paris a La P<strong>la</strong>ta, Bu<strong>en</strong>osAires, Catálogos, 2006- Hernández Castillo, Rosalía Aída., Sierra, María Teresa, “Rep<strong>en</strong>sar los derechos colectivosdesde el género: Aportes de <strong>la</strong>s mujeres indíg<strong>en</strong>as al debate de <strong>la</strong> autonomía”, <strong>en</strong>Sánchez, M., La doble <strong>mirada</strong>: Luchas y experi<strong>en</strong>cias de <strong>la</strong>s mujeres indíg<strong>en</strong>as de <strong>América</strong><strong>Latina</strong>, México DF, UNIFEM/ILSB, 2005.- Hernández Castillo, Rosalía Aída, “Re-p<strong>en</strong>sar el multiculturalismo desde el género. Lasluchas por el reconocimi<strong>en</strong>to cultural y los feminismos de <strong>la</strong> diversidad”, <strong>en</strong> revista FeministaLa V<strong>en</strong>tana, Universidad de Guada<strong>la</strong>jara.- Sciortino, María Silvana, “El reconocimi<strong>en</strong>to y <strong>la</strong> historización de <strong>la</strong>s difer<strong>en</strong>cias comoestrategia para re-p<strong>en</strong>sar <strong>la</strong>s alianzas <strong>en</strong>tre mujeres”, Actas de <strong>la</strong>s IX Jornadas Nacionalesde Historia de <strong>la</strong>s <strong>Mujer</strong>es y IV Congreso Iberoamericano de Estudios de Género, UniversidadNacional de Rosario, Julio-Agosto, 2008----------------------, “Propuestas para <strong>la</strong> construcción de un debate democrático: una <strong>mirada</strong>crítica ante apar<strong>en</strong>tes t<strong>en</strong>siones”, Actas del I Congreso Arg<strong>en</strong>tino-Latinoamericano de DerechosHumanos, Universidad Nacional de Rosario, Rosario, Abril del 11 al 13 de 2007- Segato, Rita Laura, “Uma ag<strong>en</strong>da da ações afirmativas para as mulheres indíg<strong>en</strong>as doBrasil”, Série Antropología 326, Brasilia: departam<strong>en</strong>to de Antropología, Universidade deBrasilia, 2002.------------, La Nación y sus Otros. Raza, etnicidad y diversidad religiosa <strong>en</strong> tiempos dePolíticas de <strong>la</strong> Id<strong>en</strong>tidad, Bu<strong>en</strong>os Aires, Prometeo, 2007.52 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


------------, “Que cada povo trame os fios da sua história: Em defesa de um Estado restituidore garantista da deliberação no foro étnico”, texto leído <strong>en</strong> <strong>la</strong> Cámara de Diputados durante<strong>la</strong> Audi<strong>en</strong>cia Pública realizada <strong>en</strong> 05/09/2007 por <strong>la</strong> Comisión de Derechos Humanos paradebatir el Proyecto de Ley nº 1057 de 2007 del Diputado H<strong>en</strong>rique Afonso sobre a prácticado infanticidio <strong>en</strong> áreas indíg<strong>en</strong>as.http://www.cimi.org.br/pub/publicacoes/1190056936_Rita%20Segato%20-%20INFANTICIDIO.pdf- Suárez Navaz, Liliana; Hernández Castillo Rosalía Aída (eds.), Descolonizando el feminismo.Teorías y prácticas desde los márg<strong>en</strong>es, Madrid, Ediciones Cátedra, Madrid,2008.- Vargas, Virginia, “Nuevas formas de participación política y de luchas feministas <strong>en</strong>lo local y <strong>en</strong> lo global <strong>en</strong> el nuevo mil<strong>en</strong>io”, IX Jornadas de Historia de <strong>la</strong>s mujeres y IVCongreso Iberoamericano de Estudios de Género, 30-31 de Julio y 1 de Agosto de 2008,Rosario.<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es53


54 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


Impresiones fr<strong>en</strong>te al Movimi<strong>en</strong>to Feminista<strong>en</strong> ColombiaMargarita María VarónCatalina Góngora26 años - ColombiaVarias dificultades y desafíos se han com<strong>en</strong>tado acerca del curso actual del movimi<strong>en</strong>tofeminista. La aus<strong>en</strong>cia de una ag<strong>en</strong>da política común que indique lospasos a seguir para lograr <strong>la</strong>s transformaciones sociales que profesamos 1 ; <strong>la</strong>fragm<strong>en</strong>tación interna y <strong>la</strong> dificultad de incluir a los grupos diversos, como <strong>la</strong>strabajadoras sexuales 2 ; el fortalecimi<strong>en</strong>to, por parte de <strong>la</strong>s organizaciones donantesa los proyectos que brindan bi<strong>en</strong>es y servicios a mujeres vulnerables, lo queha aum<strong>en</strong>tado <strong>la</strong> compet<strong>en</strong>cia por los recursos, y <strong>la</strong> reducción de financiación aacciones de cohesión del movimi<strong>en</strong>to 3 , así como <strong>la</strong> aus<strong>en</strong>cia de un trabajo multig<strong>en</strong>eracionalque integre a <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es <strong>en</strong> el proceso de toma de decisiones 4 ,hace parte de los desafíos actuales, como el uso de herrami<strong>en</strong>tas tecnológicas yde Internet <strong>en</strong> tanto posibilidades de acceder a difer<strong>en</strong>tes diálogos, cohesionar yconvocar a un grupo masivo de personas 5 .El alcance de <strong>la</strong>s políticas con <strong>en</strong>foque de género que se formu<strong>la</strong>n, <strong>la</strong>s dificultadespara movilizar más mujeres, el <strong>en</strong>vío masivo de correos electrónicos t<strong>en</strong>di<strong>en</strong>tes aridiculizar <strong>la</strong>s reivindicaciones fem<strong>en</strong>inas son algunos de los aspectos que creemosno se <strong>en</strong>cu<strong>en</strong>tran totalm<strong>en</strong>te compr<strong>en</strong>didos <strong>en</strong> los obstáculos p<strong>la</strong>nteados,aun cuando co<strong>la</strong>teralm<strong>en</strong>te <strong>la</strong> solución de los mismos puede mitigar y proponersoluciones a estas situaciones.Los desafíos descritos han olvidado un obstáculo que consideramos es<strong>en</strong>cialpara el desarrollo del movimi<strong>en</strong>to feminista, al m<strong>en</strong>os <strong>en</strong> el contexto colombiano:el movimi<strong>en</strong>to feminista no es legítimo porque no ha logrado describir de maneraadecuada y sufici<strong>en</strong>te <strong>la</strong>s nuevas formas de opresión. Lo anterior no significa queel movimi<strong>en</strong>to no haya descrito <strong>la</strong> opresión que sufr<strong>en</strong> <strong>la</strong>s mujeres; significa que1 Batliwa<strong>la</strong>, Sri<strong>la</strong>tha. 2008, “Cambiando el mundo: conceptos y prácticas de los movimi<strong>en</strong>tos demujeres”, Nueva Deli: AWID.2 Tercera Pl<strong>en</strong>aria: los contextos de nuestros procesos organizacionales, XI Foro AWID: el poder delos movimi<strong>en</strong>tos, Ciudad del Cabo, 16 de noviembre de 2008.3 Op.cit.4 List<strong>en</strong>ing to each other: a multig<strong>en</strong>erational feminist dialogue, 2007, New Jersey: Rutgers University.5 Anna Elisabeth, Samson. Seeking techno-justice <strong>en</strong> Def<strong>en</strong>ding our dreams: global feminist voicesfor a new g<strong>en</strong>eration, 2005. Edición de S, Wilson; A, S<strong>en</strong>gupta; K, Evans. Londres: Zed Books.<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es55


no ha reflexionado sobre esas formas de represión contemporáneas. Se manejaun discurso <strong>en</strong> el cual se parte de un f<strong>en</strong>óm<strong>en</strong>o considerado como dado a priori,para formu<strong>la</strong>r propuestas, o prestar una serie de servicios y asist<strong>en</strong>cia a <strong>la</strong>smujeres, pero no parte de <strong>la</strong> forma de sumisión como punto de arranque para e<strong>la</strong>ccionar activista.Las formas de opresión son <strong>la</strong>s formas más concretas <strong>en</strong> <strong>la</strong>s que cada mujer vivetodos y cada uno de los días <strong>la</strong> re<strong>la</strong>ción de poder <strong>en</strong>tre los hombres y <strong>la</strong>s mujeres,a través de <strong>la</strong>s cuales puede evid<strong>en</strong>ciar que su posición <strong>en</strong> <strong>la</strong> sociedad es difer<strong>en</strong>te.Por ejemplo, rega<strong>la</strong>r a una madre una <strong>la</strong>vadora el día de su cumpleañosti<strong>en</strong>e un efecto distributivo <strong>en</strong> los roles que el hombre y <strong>la</strong> mujer ti<strong>en</strong><strong>en</strong> fr<strong>en</strong>te alhogar. Que se le pregunte a una víctima por <strong>la</strong> ropa que llevaba puesta despuésde una vio<strong>la</strong>ción ti<strong>en</strong>e efectos distributivos <strong>en</strong> <strong>la</strong>s actitudes permitidas y prohibidasa los hombres y a <strong>la</strong>s mujeres <strong>en</strong> <strong>la</strong> esfera pública, como también lo ti<strong>en</strong>e elhecho de decir que está “mal visto que una mujer fume <strong>en</strong> <strong>la</strong> calle porque pareceprostituta”. Felicitar a una mujer después de una reunión de trabajo “porquesorpr<strong>en</strong>de por su intelig<strong>en</strong>cia y precisión” ti<strong>en</strong>e un doble efecto distributivo <strong>en</strong> <strong>la</strong>oficina y <strong>la</strong>s re<strong>la</strong>ciones <strong>la</strong>borales porque de una parte, supone que <strong>la</strong>s mujeres noson intelig<strong>en</strong>tes, al m<strong>en</strong>os <strong>la</strong> mayoría; de otra, pone a <strong>la</strong> mujer objeto del com<strong>en</strong>tario<strong>en</strong> una apar<strong>en</strong>te superioridad fr<strong>en</strong>te a sus compañeras mujeres, g<strong>en</strong>erandoa través de esta difer<strong>en</strong>ciación una reproducción de <strong>la</strong> primera g<strong>en</strong>eralización,incluso por <strong>la</strong> misma mujer. Ello es así <strong>en</strong> <strong>la</strong> medida <strong>en</strong> que <strong>la</strong> mujer felicitadasobresale por contraste con <strong>la</strong>s demás mujeres y así, requiere del prejuicio paracontinuar sobresali<strong>en</strong>do.Fr<strong>en</strong>te a cada una de estas situaciones podría hacerse <strong>la</strong> correspondi<strong>en</strong>te pregunta,con el fin de evid<strong>en</strong>ciar <strong>la</strong> difer<strong>en</strong>cia de <strong>la</strong> posición <strong>en</strong>tre los hombres y<strong>la</strong>s mujeres <strong>en</strong> <strong>la</strong> sociedad. Por ejemplo, cabe preguntarse ¿por qué a un padr<strong>en</strong>o suel<strong>en</strong> rega<strong>la</strong>rle <strong>la</strong>vadoras? O ¿por qué cuando un hombre ha sido víctimade una vio<strong>la</strong>ción no suele preguntársele por <strong>la</strong> ropa que llevaba puesta? O ¿porqué no está mal visto que los hombres fum<strong>en</strong> <strong>en</strong> <strong>la</strong> calle y si lo hac<strong>en</strong> por qué nose v<strong>en</strong> putos? O ¿por qué cuando los hombres intervi<strong>en</strong><strong>en</strong> <strong>en</strong> <strong>la</strong>s reuniones nosuel<strong>en</strong> felicitarlos después porque sorpr<strong>en</strong>de su intelig<strong>en</strong>cia y precisión?Sin embargo, el movimi<strong>en</strong>to feminista proporciona pocas descripciones de losefectos simbólicos de estas situaciones y cuando <strong>la</strong>s ofrece no <strong>la</strong>s socializa con<strong>la</strong> profundidad y ext<strong>en</strong>sión necesaria 6 . Describir <strong>la</strong>s formas de opresión a profun-6 Debe anotarse que una de <strong>la</strong>s formas de opresión más docum<strong>en</strong>tada es <strong>la</strong> pregunta por <strong>la</strong> ropaque <strong>la</strong> víctima llevaba puesta al mom<strong>en</strong>to de <strong>la</strong> vio<strong>la</strong>ción. Véase por ejemplo, David, K<strong>en</strong>nedy, 2007.Sexy Dressing Inc. Sin embargo, como se anota <strong>en</strong> el docum<strong>en</strong>to, estos estudios no son de amplioconocimi<strong>en</strong>to y socialización.56 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


didad y socializar<strong>la</strong>s <strong>en</strong>tre <strong>la</strong> pob<strong>la</strong>ción civil es un reto de mayor importancia parael movimi<strong>en</strong>to, porque el no hacerlo ha g<strong>en</strong>erado una inconsist<strong>en</strong>cia al interiordel mismo que deg<strong>en</strong>era <strong>en</strong> productos equívocos e impertin<strong>en</strong>tes. A causa deello, el movimi<strong>en</strong>to feminista carece de una proyección sólida fr<strong>en</strong>te a qui<strong>en</strong>es locompon<strong>en</strong> y fr<strong>en</strong>te a qui<strong>en</strong>es no lo compon<strong>en</strong>. Esta situación ha deg<strong>en</strong>erado <strong>en</strong>una ridiculización del movimi<strong>en</strong>to feminista y ha impedido una mayor movilización<strong>en</strong> <strong>la</strong>s mujeres que no pert<strong>en</strong>ec<strong>en</strong> al mismo.En este <strong>en</strong>sayo se pret<strong>en</strong>de demostrar que <strong>la</strong> aus<strong>en</strong>cia de legitimidad del movimi<strong>en</strong>todebido a que éste no ha logrado describir de manera adecuada y sufici<strong>en</strong>te<strong>la</strong>s nuevas formas de opresión, es uno de los principales obstáculos para el desarrollodel mismo. No se ha reflexionado sufici<strong>en</strong>tem<strong>en</strong>te sobre este obstáculo.La falta de descripción y socialización de <strong>la</strong>s formas de opresión se evid<strong>en</strong>cia<strong>en</strong> <strong>la</strong> inconsist<strong>en</strong>cia interna del movimi<strong>en</strong>to y <strong>en</strong> <strong>la</strong> construcción de políticas con<strong>en</strong>foque de género equívocas e inexactas para <strong>la</strong> verdadera protección contra <strong>la</strong>sformas de opresión actuales. Estas dos expresiones de <strong>la</strong> aus<strong>en</strong>cia de legitimidadcausan <strong>la</strong> ridiculización del movimi<strong>en</strong>to y <strong>la</strong> dificultad de g<strong>en</strong>erar movilizaciónal interior de sectores no activistas.1. La inconsist<strong>en</strong>cia del movimi<strong>en</strong>toUna de <strong>la</strong>s mayores fortalezas y a <strong>la</strong> vez una de <strong>la</strong>s mayores debilidades delmovimi<strong>en</strong>to feminista radica <strong>en</strong> el hecho de ser sufici<strong>en</strong>tem<strong>en</strong>te amplio comopara que, tanto <strong>la</strong>s mujeres que v<strong>en</strong> <strong>en</strong> el reconocimi<strong>en</strong>to de <strong>la</strong> igualdad <strong>la</strong> vía a<strong>la</strong> reivindicación de <strong>la</strong> mujer, como aquel<strong>la</strong>s que v<strong>en</strong> <strong>en</strong> el reconocimi<strong>en</strong>to de <strong>la</strong>difer<strong>en</strong>cia <strong>la</strong> vía para hacerlo, puedan l<strong>la</strong>marse a sí mismas, feministas. Por supuesto,esta inclusión no es pacífica, pues para algunas el reconocimi<strong>en</strong>to de <strong>la</strong>difer<strong>en</strong>cia trae como consecu<strong>en</strong>cia una distribución inequitativa de poder, que porlo tanto contradice <strong>la</strong> es<strong>en</strong>cia del movimi<strong>en</strong>to. Para otras, el reconocimi<strong>en</strong>to de<strong>la</strong> igualdad pierde de vista <strong>la</strong>s difer<strong>en</strong>cias <strong>en</strong>tre hombres y mujeres y conc<strong>en</strong>trasus esfuerzos <strong>en</strong> <strong>la</strong> igualdad formal, cuando este reconocimi<strong>en</strong>to es <strong>la</strong> maneramás imperceptible para desconocer <strong>la</strong> posición de opresión que experim<strong>en</strong>tan<strong>la</strong>s mujeres.La coexist<strong>en</strong>cia de estos <strong>en</strong>foques y muchos otros, supone difer<strong>en</strong>cias fr<strong>en</strong>te alsignificado de “ser mujer”. Para algunas mujeres el hecho de ser mujer estaráanc<strong>la</strong>do al hecho de <strong>la</strong> función reproductiva que posee <strong>en</strong> oposición a <strong>la</strong> del hombre,mi<strong>en</strong>tras que para otras <strong>la</strong> función reproductiva no es determinante, sin queello suponga que <strong>la</strong>s mujeres no estén capacitadas para desarrol<strong>la</strong>r funcionesque normalm<strong>en</strong>te se han calificado como “propias” de los hombres. Así, ser mujerno estará necesariam<strong>en</strong>te asociado al hecho de ser personas conciliadoras,portadoras de cariño y suavidad y dulzura, por ejemplo.<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es57


¿Cómo definir <strong>en</strong>tonces un movimi<strong>en</strong>to de reivindicación para “<strong>la</strong> mujer”? ¿Cuáles el sujeto al que tratará de aproximarse el movimi<strong>en</strong>to? El movimi<strong>en</strong>to feministareivindica a <strong>la</strong> mujer cuando se aboga por mecanismos para reconocer <strong>la</strong>s <strong>la</strong>boresde cuidado que desempeña <strong>la</strong> mujer <strong>en</strong> <strong>la</strong> sociedad, como el caso de <strong>la</strong>s madrescomunitarias 7 , o lo hace cuando inc<strong>en</strong>tiva a que <strong>la</strong> mujer salga de casa ape<strong>la</strong>ndoa un equilibrio <strong>en</strong> <strong>la</strong>s <strong>la</strong>bores de cuidado de los hijos <strong>en</strong>tre padre y madre.Podría p<strong>en</strong>sarse que <strong>la</strong> implem<strong>en</strong>tación de acciones <strong>en</strong> ambos s<strong>en</strong>tidos podríasolucionar el problema. Sin embargo, <strong>la</strong> precaria c<strong>la</strong>sificación binaria que se hahecho <strong>en</strong> este texto para efectos de ilustrar el punto, evid<strong>en</strong>cia los problemas de<strong>la</strong> definición del sujeto. Para el movimi<strong>en</strong>to feminista es difícil lograr una cohesión<strong>en</strong> torno a lo que ser mujer implica y aquello que lo excluye. Ser mujer para unaempleada de servicio no es lo mismo que serlo para una mujer de <strong>la</strong> vida políticadel país. Ser mujer para una madre soltera no es lo mismo que serlo para unaviuda. Tampoco para <strong>la</strong> mujer católica, ni para <strong>la</strong> mujer atea. No será lo mismo“ser mujer” para <strong>la</strong> universitaria y para <strong>la</strong> mujer campesina.A pesar de que estas difer<strong>en</strong>cias son ampliam<strong>en</strong>te conocidas y discutidas porel movimi<strong>en</strong>to feminista, el movimi<strong>en</strong>to parecería seguir int<strong>en</strong>tando <strong>la</strong> cohesiónalrededor del hecho de “ser mujer”. Esta es <strong>la</strong> primera inconsist<strong>en</strong>cia del movimi<strong>en</strong>to.2. Productos equívocos e impertin<strong>en</strong>tesNo obstante <strong>la</strong>s dificultades que <strong>en</strong>fr<strong>en</strong>ta el movimi<strong>en</strong>to, al m<strong>en</strong>os <strong>en</strong> Colombiase han implem<strong>en</strong>tado programas difer<strong>en</strong>ciados según <strong>la</strong> condición de <strong>la</strong> mujer.Así, se han creado proyectos específicos para <strong>la</strong> mujer campesina, para <strong>la</strong>s madrescomunitarias, y para <strong>la</strong>s mujeres desp<strong>la</strong>zadas, <strong>en</strong>tre otras.Sin embargo, a pesar de haber políticas difer<strong>en</strong>ciadas, no están dirigidas a superar<strong>la</strong>s formas de opresión que vive cada una de el<strong>la</strong>s. Al contrario, el <strong>en</strong>foquede <strong>la</strong> mayoría de <strong>la</strong>s políticas, con excepción de los programas de rehabilitacióny tratami<strong>en</strong>to psicológico, es muy simi<strong>la</strong>r: La mujer debe ser objeto de accionesafirmativas por el hecho de ser mujer:Se ade<strong>la</strong>ntará <strong>la</strong> política afirmativa “<strong>Mujer</strong>es constructoras de paz y desarrollo”, mediante <strong>la</strong>ejecución de p<strong>la</strong>nes estratégicos y programas específicos a favor de <strong>la</strong>s mujeres 8 .7 En Colombia <strong>la</strong>s madres comunitarias cuidan a los hijos de <strong>la</strong>s mujeres que trabajan fuera decasa.8 P<strong>la</strong>n Nacional de Desarrollo, Ley 1151 de 2007, Artículo 6, de los principales programas y proyectosde inversión, acápite 7.1. “Enfoque de Género”.58 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


Así por ejemplo, <strong>la</strong> mayoría de <strong>la</strong>s políticas establec<strong>en</strong> difer<strong>en</strong>ciaciones y priorizacionesa favor de <strong>la</strong> mujer, sin at<strong>en</strong>der <strong>la</strong>s formas específicas <strong>en</strong> <strong>la</strong>s que cadamujer se ve oprimida. Por ejemplo, <strong>la</strong>s mujeres campesinas ti<strong>en</strong><strong>en</strong> pre<strong>la</strong>ción <strong>en</strong>el acceso al subsidio para <strong>la</strong> adquisición de tierras 9 sin que se haya determinadocuáles son <strong>la</strong>s formas específicas <strong>en</strong> <strong>la</strong>s que <strong>la</strong>s mujeres campesinas son oprimidas.Sin que se discuta que <strong>la</strong>s mujeres que acced<strong>en</strong> al derecho de propiedadti<strong>en</strong><strong>en</strong> más posibilidades de autodeterminación que aquel<strong>la</strong>s que no, no es c<strong>la</strong>rosi este acceso modifica <strong>la</strong>s re<strong>la</strong>ciones <strong>en</strong>tre los hombres y <strong>la</strong>s mujeres del sectorrural. ¿Cómo <strong>la</strong> política ori<strong>en</strong>tada a <strong>la</strong> mujer campesina cabeza de hogar <strong>la</strong> pone<strong>en</strong> situaciones de igualdad fr<strong>en</strong>te a sus colegas, por ejemplo, <strong>en</strong> <strong>la</strong> compra/v<strong>en</strong>tade los productos agríco<strong>la</strong>s? Entonces no es c<strong>la</strong>ro que deban implem<strong>en</strong>tarse políticasespecíficas a favor de <strong>la</strong> mujer.Tanto el hombre como <strong>la</strong> mujer sin acceso a <strong>la</strong> propiedad son personas con m<strong>en</strong>oscapacidad de autodeterminación. Y <strong>en</strong>tre una misma fu<strong>en</strong>te de recursos, <strong>la</strong>política a favor de <strong>la</strong> mujer debe poder justificar con mayor contund<strong>en</strong>cia por qué<strong>la</strong> distribución de recursos escasos debe ori<strong>en</strong>tarse con mayor vehem<strong>en</strong>cia afavor de <strong>la</strong> mujer cuando hay mujeres y hombres sin acceso a <strong>la</strong> propiedad.Debe ac<strong>la</strong>rarse <strong>en</strong> este punto que <strong>la</strong>s autoras no buscan <strong>la</strong> eliminación de <strong>la</strong>s políticaspúblicas a favor de <strong>la</strong> mujer. Pero <strong>la</strong> pre<strong>la</strong>ción <strong>en</strong> el acceso a recursos paraestudiar, por ejemplo, debe poder dar cu<strong>en</strong>ta de <strong>la</strong> manera <strong>en</strong> <strong>la</strong> que <strong>la</strong>s mujeresestudiantes pued<strong>en</strong> superar su condición de opresión a través de <strong>la</strong> asignaciónde recursos antes que otros. Al contrario, también debe poder responder a <strong>la</strong> críticag<strong>en</strong>eralizada según <strong>la</strong> cual “a <strong>la</strong>s mujeres hay que ayudar<strong>la</strong>s y van siempreprimero que los hombres porque solitas no pued<strong>en</strong>”.Lejos de ser mecanismos para <strong>la</strong> reivindicación de los derechos de <strong>la</strong>s mujeres,este tipo de acciones afirmativas reproduc<strong>en</strong> <strong>la</strong> condición de víctima de <strong>la</strong> mujery cuestionan <strong>la</strong> capacidad de <strong>la</strong> mujer para autodeterminarse. Al contrario, noatacan <strong>la</strong>s estructuras a partir de <strong>la</strong>s cuales se tej<strong>en</strong> <strong>la</strong>s re<strong>la</strong>ciones de poder <strong>en</strong>trelos hombres y <strong>la</strong>s mujeres <strong>en</strong> situaciones concretas y específicas.Un ejemplo más puede ayudar a concluir el punto. Como medio para superar elestado de cosas inconstitucional g<strong>en</strong>erada por el f<strong>en</strong>óm<strong>en</strong>o del desp<strong>la</strong>zami<strong>en</strong>to,<strong>la</strong> Corte Constitucional ha expedido varios Autos <strong>en</strong> los que ha establecido crite-9 Entre otros artículos véase: Ley 1152 de 2007, Estatuto de Desarrollo Rural, Artículo 172, Numeral4. “En los casos de <strong>en</strong>aj<strong>en</strong>ación de <strong>la</strong> propiedad sobre una Unidad Agríco<strong>la</strong> Familiar, el adquir<strong>en</strong>tese subrogará <strong>en</strong> todas <strong>la</strong>s obligaciones contraídas por el <strong>en</strong>aj<strong>en</strong>ante a favor del Instituto. Cuando elIncoder deba readjudicar una parce<strong>la</strong>, <strong>la</strong> transfer<strong>en</strong>cia del dominio se hará directam<strong>en</strong>te <strong>en</strong> favor delos campesinos que reúnan <strong>la</strong>s condiciones seña<strong>la</strong>das por el Consejo Directivo <strong>en</strong> <strong>la</strong> forma y modalidadesestablecidas para <strong>la</strong> adquisición con el subsidio para compra de tierras. Si d<strong>en</strong>tro de loscampesinos inscritos hubiere mujeres jefes de hogar, se les dará prioridad <strong>en</strong> <strong>la</strong> adjudicación de <strong>la</strong>Unidad Agríco<strong>la</strong> Familiar”.<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es59


ios y ha emitido órd<strong>en</strong>es al Gobierno. El auto 092 de 2008 aborda el problemade <strong>la</strong> mujer desp<strong>la</strong>zada. Una de <strong>la</strong>s órd<strong>en</strong>es emitidas al Gobierno fue <strong>la</strong> de diseñar13 programas específicos para <strong>la</strong> superación de <strong>la</strong>s condiciones de opresiónde <strong>la</strong> mujer desp<strong>la</strong>zada. El Gobierno, <strong>en</strong> respuesta al Auto citado, articuló losprogramas exist<strong>en</strong>tes a partir de cuatro ejes, uno de los cuales consiste <strong>en</strong> <strong>la</strong>“participación”.Como acciones a ejecutar para <strong>la</strong> implem<strong>en</strong>tación del eje de participación, el GobiernoNacional propuso incluir a más mujeres <strong>en</strong> <strong>la</strong>s mesas de desp<strong>la</strong>zami<strong>en</strong>to<strong>en</strong> <strong>la</strong>s que se discut<strong>en</strong> y analizan los programas a implem<strong>en</strong>tar y se evalúan losresultados obt<strong>en</strong>idos. Esta política pareciera perder de vista que <strong>la</strong>s mujeres ti<strong>en</strong><strong>en</strong><strong>la</strong> capacidad de acceder a formas participativas, si son consci<strong>en</strong>tes de esacapacidad. Al contrario, lo que suele suceder con este tipo de políticas es que <strong>la</strong>smujeres acced<strong>en</strong> a estos cargos por mandato de <strong>la</strong> ley. En consecu<strong>en</strong>cia, no sonbi<strong>en</strong> recibidas por sus colegas, mujeres y hombres, pues no es c<strong>la</strong>ro que una personaesté ocupando ese lugar sólo por el hecho de ser mujer. Si esa persona <strong>en</strong>particu<strong>la</strong>r ti<strong>en</strong>e habilidades repres<strong>en</strong>tativas, de liderazgo, de diseño y evaluaciónde políticas públicas son criterios que dejan de ser relevantes. Como consecu<strong>en</strong>ciade esta situación, suele suceder que <strong>la</strong>s actas formales reflejan <strong>la</strong> asist<strong>en</strong>ciade <strong>la</strong> mujer, sin que su pres<strong>en</strong>cia haya g<strong>en</strong>erado transformaciones <strong>en</strong> <strong>la</strong> estructurade <strong>la</strong>s re<strong>la</strong>ciones <strong>en</strong>tre hombres y mujeres. Por oposición, reproduce, como seha dicho, los esquemas de poder <strong>en</strong>tre hombres y mujeres porque permite a loshombres confirmar <strong>la</strong> condición inferior de <strong>la</strong>s mujeres.Las consecu<strong>en</strong>cias1. RidiculizaciónEl hecho de que el movimi<strong>en</strong>to feminista pret<strong>en</strong>da una cohesión alrededor delconcepto de mujer, sin lograr articu<strong>la</strong>r <strong>la</strong>s distintas percepciones que exist<strong>en</strong>del mismo, incluso al interior del movimi<strong>en</strong>to, aunado al hecho de que no lograinflu<strong>en</strong>ciar <strong>la</strong>s políticas públicas a través de mecanismos de superación de <strong>la</strong>sformas específicas de opresión de <strong>la</strong> mujer <strong>en</strong> cada situación, ha puesto al movimi<strong>en</strong>to<strong>en</strong> una situación crítica fr<strong>en</strong>te a los hombres y fr<strong>en</strong>te a <strong>la</strong> sociedad <strong>en</strong>g<strong>en</strong>eral.La percepción de <strong>la</strong>s personas que no pert<strong>en</strong>ec<strong>en</strong> al movimi<strong>en</strong>to feminista, incluidas<strong>la</strong>s mujeres, está viciada por el hecho de que ni siquiera logra articu<strong>la</strong>rse así mismo. Para los hombres es curioso <strong>en</strong>contrar que <strong>la</strong>s mismas mujeres evitanser catalogadas como feministas, incluso si lo son, porque el estigma de serlo supone,<strong>en</strong>tre otras cosas, asumir cargas como por ejemplo, ser catalogada comolesbiana, res<strong>en</strong>tida, acomplejada o marimacha.60 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


A m<strong>en</strong>udo hac<strong>en</strong> mofa del hecho de que <strong>la</strong>s mujeres buscan igualdad pero serehúsan a pagar <strong>la</strong> cu<strong>en</strong>ta. Suel<strong>en</strong> preguntar por <strong>la</strong> contradicción que existe <strong>en</strong>treel hecho de que <strong>la</strong>s mujeres pidan ser iguales a los hombres y parale<strong>la</strong>m<strong>en</strong>teruegu<strong>en</strong> al Estado b<strong>en</strong>eficios para llegar a los cargos o puestos a los que hanaccedido los hombres sin ningún tipo de tratami<strong>en</strong>to especial.El movimi<strong>en</strong>to feminista debe reconocer <strong>la</strong> importancia de <strong>la</strong> percepción que <strong>la</strong>spersonas externas ti<strong>en</strong><strong>en</strong> sobre el mismo, incluidos los hombres. Para ello, debelograr una mayor cohesión del grupo y debe crear políticas y mecanismos deacción que ataqu<strong>en</strong> <strong>la</strong>s formas concretas de opresión de <strong>la</strong> mujer. No hacerlo hacostado al feminismo una falta de legitimidad <strong>en</strong> <strong>la</strong> sociedad tal, que a m<strong>en</strong>udose critica el s<strong>en</strong>tido de su exist<strong>en</strong>cia. No se supone que el feminismo sea un productomás, pero <strong>en</strong> el mercado de <strong>la</strong>s ideas también hay terr<strong>en</strong>os que deb<strong>en</strong> serconquistados.2. Dificultad de movilizaciónExiste un s<strong>en</strong>tir g<strong>en</strong>eralizado de no querer verse id<strong>en</strong>tificada como feminista.Aun cuando <strong>la</strong>s mujeres son conci<strong>en</strong>tes de <strong>la</strong>s presiones sociales que sufr<strong>en</strong>,no quier<strong>en</strong> o consideran que su percepción no se re<strong>la</strong>ciona con el movimi<strong>en</strong>to.Otro reto del movimi<strong>en</strong>to sería <strong>en</strong>tonces cómo alcanzar los sectores fem<strong>en</strong>inosno movilizados.Para que una mujer decida movilizarse debe id<strong>en</strong>tificar <strong>la</strong>s frustraciones que <strong>la</strong>sociedad produce <strong>en</strong> <strong>la</strong>s mujeres, y además debe reconocer su propia posiciónd<strong>en</strong>tro de <strong>la</strong> sociedad. Es un proceso que exige que cada sujeto reconozca que <strong>la</strong>sociedad construye una id<strong>en</strong>tidad de “mujer” que oprime. El movimi<strong>en</strong>to feministadebería poder dar cu<strong>en</strong>ta de <strong>la</strong> id<strong>en</strong>tidad estigmatizante de <strong>la</strong> mujer para evid<strong>en</strong>ciar<strong>la</strong>s formas de opresión concretas, de tal manera que <strong>la</strong>s mujeres no movilizadaspudieran ver <strong>la</strong>s formas concretas de opresión y a <strong>la</strong> vez reconocer<strong>la</strong>s <strong>en</strong>su vida cotidiana. Si el movimi<strong>en</strong>to logra evid<strong>en</strong>ciar cómo <strong>la</strong> id<strong>en</strong>tidad de “mujer”que crea <strong>la</strong> sociedad impacta a todas y cada una de <strong>la</strong>s mujeres no movilizadas<strong>en</strong> su vida diaria debería poder dinamizar <strong>la</strong> movilización.En ese s<strong>en</strong>tido, el reto del movimi<strong>en</strong>to no consiste <strong>en</strong> definir una id<strong>en</strong>tidad fem<strong>en</strong>ina,sino <strong>en</strong> decantar <strong>la</strong> id<strong>en</strong>tidad social creada <strong>en</strong> torno a <strong>la</strong> mujer que produceesas formas de opresión social común a <strong>la</strong>s mujeres, para poder acoger a <strong>la</strong>smujeres desmovilizadas y despolitizadas de su condición, todo lo cual fortalecería<strong>la</strong> legitimidad del movimi<strong>en</strong>to.Con el fin de ilustrar el punto, quisiéramos remitirnos a una situación a <strong>la</strong> qu<strong>en</strong>os <strong>en</strong>fr<strong>en</strong>tamos como profesoras de Derecho, <strong>en</strong> <strong>la</strong> Universidad de los Andes<strong>en</strong> Bogotá. Aun cuando <strong>la</strong> respuesta de los estudiantes varía, existi<strong>en</strong>do grupos<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es61


más críticos y reflexivos, cuando utilizamos el método de estudio de caso <strong>en</strong>contramosrespuestas reiteradas a lo <strong>la</strong>rgo de los semestres 10 . De manera casiunánime les es mucho más fácil id<strong>en</strong>tificar <strong>la</strong>s distribuciones que realiza <strong>la</strong> leyimponi<strong>en</strong>do mayores cargas para personas pobres, o campesinos, aun cuandosectores sociales como los grupos étnicos o <strong>la</strong>s mujeres, <strong>en</strong> algún mom<strong>en</strong>to de<strong>la</strong> historia colombiana han sido id<strong>en</strong>tificados como vulnerables. Nos preguntamos<strong>en</strong>tonces, por qué se les dificulta id<strong>en</strong>tificar <strong>la</strong>s difer<strong>en</strong>cias de género, principalm<strong>en</strong>te<strong>en</strong> los cursos donde <strong>la</strong> mayoría de los alumnos son mujeres, de lo cual seespera una mayor solidaridad o s<strong>en</strong>sibilidad fr<strong>en</strong>te a esos temas.Esta situación evid<strong>en</strong>cia una serie de aproximaciones posibles. En alguna medidapuede ser una aus<strong>en</strong>cia de consci<strong>en</strong>cia o de actitud política; otra posibilidades el no querer reconocer <strong>la</strong>s represiones contra <strong>la</strong> mujer porque se prefiereacogerse a <strong>la</strong>s doctrinas que soportan el status quo de <strong>la</strong>s re<strong>la</strong>ciones de poder;finalm<strong>en</strong>te, puede ser miedo o p<strong>en</strong>a de ser visualizada como una mujer quereivindica.Estas posibilidades contrastan con un contexto social <strong>en</strong> el que todas <strong>la</strong>s mujeresconoc<strong>en</strong> el concepto “machismo” y se refier<strong>en</strong> constantem<strong>en</strong>te a él cuandoestán inconformes con <strong>la</strong> actitud de su esposo, su novio o su jefe. De algunau otra manera <strong>la</strong>s mujeres colombianas ti<strong>en</strong><strong>en</strong> consci<strong>en</strong>cia de dichas opresiones,t<strong>en</strong>siones sociales y distribuciones de poder. Vivimos <strong>en</strong> un país <strong>en</strong> elque todavía los hombres pagan <strong>la</strong> cu<strong>en</strong>ta y <strong>la</strong>s mujeres se pon<strong>en</strong> imp<strong>la</strong>ntes desilicona 11 .Si es palpable esa presión que si<strong>en</strong>t<strong>en</strong> <strong>la</strong>s mujeres sobre su condición, al puntoque <strong>la</strong>s lleva a invertir sus primeros sueldos <strong>en</strong> operaciones quirúrgicas para versemás acorde a los estándares sociales estéticos, ¿por qué el movimi<strong>en</strong>to no hapermeado <strong>la</strong> conci<strong>en</strong>cia de <strong>la</strong>s mujeres?, ¿por qué no ha logrado t<strong>en</strong>er una visióncomún de frustración fr<strong>en</strong>te a esas prácticas?10 Algunos de estos ejemplos los tomamos de <strong>la</strong> c<strong>la</strong>se de “ética profesional”, <strong>la</strong> cual es dictada alos estudiantes de tercer año de <strong>la</strong> Facultad de Derecho de <strong>la</strong> Universidad de los Andes. En dichac<strong>la</strong>se, más allá de tratar <strong>la</strong> corrupción como práctica criticada a los abogados, se pres<strong>en</strong>tan algunoscasos <strong>en</strong> los cuales se evid<strong>en</strong>cia <strong>la</strong> distribución de cargas que realiza el derecho como herrami<strong>en</strong>tade poder, favoreci<strong>en</strong>do a unos sectores e imponi<strong>en</strong>do mayores pesos a <strong>la</strong> parte contraria. Los casosse pres<strong>en</strong>tan con el fin que los estudiantes reflexion<strong>en</strong> acerca de su ejercicio profesional <strong>en</strong> dichocontexto. ¿Cómo aplico <strong>la</strong> ley, cuando <strong>la</strong> misma ley favorece a unos fr<strong>en</strong>te a otros? Esa es <strong>la</strong> preguntac<strong>en</strong>tral. Los casos pued<strong>en</strong> variar, pued<strong>en</strong> mostrar t<strong>en</strong>siones <strong>en</strong>tre propietarios y poseedores adineradosy personas car<strong>en</strong>tes de recursos económicos, vulneraciones a grupos étnicos, y difer<strong>en</strong>cias <strong>en</strong>trehombres y mujeres.11 Se estima que aproximadam<strong>en</strong>te más de 300.000 mujeres al año se operan <strong>en</strong> Colombia, poniéndoseun imp<strong>la</strong>nte de silicona. Ver: Colombia: paraíso de <strong>la</strong> silicona, por: Víctor Sánchez Rincones deLatino. En: http://www.<strong>la</strong>tinomadrid.com/noticia.php?id=2625. Consultada <strong>en</strong> <strong>en</strong>ero de 2009. También<strong>en</strong>: El paraíso de <strong>la</strong> silicona, por: Germán Jiménez Morales <strong>en</strong>: Lopaisa.com. En: http://www.lopaisa.com/index2.php?option=com_cont<strong>en</strong>t&do_pdf=1&id=93. Consultado <strong>en</strong> <strong>en</strong>ero de 2009.62 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


Una descripción común de <strong>la</strong>s formas de opresión que permita que el movimi<strong>en</strong>tosea capaz de permear <strong>la</strong> conci<strong>en</strong>cia de estas mujeres y a <strong>la</strong> vez de acoger nuevasmovilizaciones podría ser una opción. Esto alcanzaría una visión del feminismocomo movimi<strong>en</strong>to incluy<strong>en</strong>te, no ais<strong>la</strong>do, ni aj<strong>en</strong>o a <strong>la</strong>s situaciones cotidianasde <strong>la</strong>s mujeres, que reflejan <strong>la</strong> situación de dominación común que vivimos.El movimi<strong>en</strong>to debe ser capaz de acoger a aquel<strong>la</strong>s mujeres despolitizadas quetoman <strong>la</strong> condición social fem<strong>en</strong>ina como una situación dada e incuestionable, oincluso como aj<strong>en</strong>a, propia de segm<strong>en</strong>tos sociales excepcionalm<strong>en</strong>te más vulnerables.El movimi<strong>en</strong>to también debe poder llegar a aquel<strong>la</strong>s mujeres que prefier<strong>en</strong>adherirse a <strong>la</strong> condición social impuesta, porque cre<strong>en</strong> que el éxito de <strong>la</strong>s re<strong>la</strong>ciones<strong>la</strong>borales o de pareja se <strong>en</strong>cu<strong>en</strong>tra condicionado a <strong>la</strong> manera <strong>en</strong> <strong>la</strong> que comomujer logró pasar victoriosa por los filtros de conducta. En este s<strong>en</strong>tido, cadapresión impuesta que pone <strong>en</strong> te<strong>la</strong> de juicio <strong>la</strong> autonomía de <strong>la</strong>s mujeres debe servista como opción de unión y adhesión al movimi<strong>en</strong>to.El ampliar el alcance del movimi<strong>en</strong>to y acoger a estas personas que no han cuestionadoaún su condición social o tem<strong>en</strong> hacerlo, se considera indisp<strong>en</strong>sable porquet<strong>en</strong>er una dim<strong>en</strong>sión más amplia legitima el movimi<strong>en</strong>to. Así mismo, el hechode acoger nuevas movilizaciones implica un fortalecimi<strong>en</strong>to de <strong>la</strong> solidaridad fem<strong>en</strong>ina,lo cual a su vez es es<strong>en</strong>cial para legitimar el movimi<strong>en</strong>to, <strong>en</strong> cuanto a unasituación común que afrontamos como mujeres y que <strong>en</strong> respuesta soportamossolidariam<strong>en</strong>te. Además, <strong>la</strong> solidaridad fem<strong>en</strong>ina es es<strong>en</strong>cial para <strong>la</strong>s nuevas activistas,ya que el reconocimi<strong>en</strong>to de <strong>la</strong> condición social que como mujer t<strong>en</strong>emoses un proceso arduo que implica una doble reflexión: <strong>la</strong> personal y <strong>la</strong> social. Serconci<strong>en</strong>te de esas presiones implica ser conci<strong>en</strong>te de esa id<strong>en</strong>tidad social queoprime. Ese reconocimi<strong>en</strong>to no es fácil, por el contrario <strong>la</strong> autodeterminación implicaque <strong>la</strong>s mujeres sean capaces de reconocer su situación, vivir inconformescon <strong>la</strong> misma y revindicar su verdadera id<strong>en</strong>tidad. Ese proceso de emancipaciónrequiere del apoyo de un movimi<strong>en</strong>to, de una solidaridad fem<strong>en</strong>ina que soporte yfortalezca dicho reconocimi<strong>en</strong>to.ConclusiónEl movimi<strong>en</strong>to feminista no es legítimo porque no ha logrado describir <strong>la</strong>s nuevasformas de opresión a <strong>la</strong> mujer. Ha propuesto <strong>la</strong> cohesión del movimi<strong>en</strong>to a partirde un concepto unívoco sin que <strong>en</strong> realidad lo sea, ocultando <strong>la</strong>s formas específicas<strong>en</strong> <strong>la</strong>s que cada mujer vive esa opresión. Ha construido políticas públicascon un <strong>en</strong>foque uni<strong>la</strong>teral y proteccionista que victimiza a <strong>la</strong> mujer y no justifica <strong>la</strong>necesidad de un <strong>en</strong>foque difer<strong>en</strong>cial <strong>en</strong> el diseño de políticas públicas. En consecu<strong>en</strong>cia,el movimi<strong>en</strong>to ha sido sujeto de ridiculizaciones que destruy<strong>en</strong> su poderreivindicatorio y ha perdido su poder de convocatoria pues no logra movilizar a<strong>la</strong>s personas no politizadas.<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es63


Esta situación crea un círculo vicioso <strong>en</strong> el cual, se requiere de reconocimi<strong>en</strong>topara ser legítimo, pero a <strong>la</strong> vez de prestigio legítimo para ser reconocido.Id<strong>en</strong>tificar <strong>la</strong>s imposiciones que como mujeres afrontamos indep<strong>en</strong>di<strong>en</strong>tem<strong>en</strong>tede <strong>la</strong> raza, <strong>la</strong> opción sexual, opción <strong>la</strong>boral (aun cuando cada una sufre otrotipo de presiones propias de estos <strong>en</strong>foques difer<strong>en</strong>ciales, también se sufre unapresión común por <strong>la</strong> condición fem<strong>en</strong>ina), y lograr definir políticas acordes anuestras condiciones para ganar legitimidad como movimi<strong>en</strong>to, es evitar <strong>la</strong> ridiculizacióna nuestras reivindicaciones, es lograr permear estam<strong>en</strong>tos que no hansido movilizados, es int<strong>en</strong>tar ser incluy<strong>en</strong>tes.T<strong>en</strong>i<strong>en</strong>do <strong>en</strong> cu<strong>en</strong>ta lo anterior, se considera que debe discutirse <strong>en</strong> torno a <strong>la</strong>ssigui<strong>en</strong>tes propuestas:- El movimi<strong>en</strong>to debe realizar trabajos descriptivos de campo y teóricos <strong>en</strong> losque pueda destruirse <strong>la</strong> id<strong>en</strong>tidad estigmatizante que se construye socialm<strong>en</strong>te yque produce <strong>la</strong>s formas concretas de opresión. Estas formas de opresión y susefectos simbólicos y tangibles también deb<strong>en</strong> ser descritos.- El movimi<strong>en</strong>to debe soportar y apoyar los procesos introspectivos de reflexiónacerca de <strong>la</strong> condición social de <strong>la</strong> mujer para poder difundir y socializar <strong>la</strong>s descripcionesobt<strong>en</strong>idas del trabajo inicial. Este proceso de difusión y socializacióndebería ser capaz de g<strong>en</strong>erar movilización. Respecto de los esc<strong>en</strong>arios de socialización,nos acogemos a los ya propuestos por el movimi<strong>en</strong>to como grupos delectura, discusión de pelícu<strong>la</strong>s, foros de discusión, discusiones <strong>en</strong>tre amigas.- El movimi<strong>en</strong>to debe ser capaz de g<strong>en</strong>erar redes de solidaridad fem<strong>en</strong>ina parasoportar los costos que implica ser una mujer autodeterminada y haber escogido<strong>la</strong> reivindicación de sus derechos.64 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


Desconstruir saberes machistas e <strong>en</strong>fr<strong>en</strong>tar re<strong>la</strong>ções depoder patriarcalMariana Selister24 años - BrasilIntroduçãoO movim<strong>en</strong>to feminista já alcançou muitas conquistas, na <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>, ao longodo século XX. Na <strong>en</strong>trada do século XXI precisamos nos questionar quais são osdesafios e como podemos <strong>en</strong>fr<strong>en</strong>tá-los de uma forma não pontual. Precisamos legalizaro abordo em muitos países <strong>la</strong>tino-americanos que ainda o criminalizam, concretizaras Leis de proteção das mulheres contra a violência doméstica, conquistarpolíticas específicas para as mulheres indíg<strong>en</strong>as e negras, alcançar a igualdade nomercado de trabalho, atingir mais cargos políticos, <strong>en</strong>tre outras pautas fundam<strong>en</strong>taisde luta. No <strong>en</strong>tanto, para que essas pautas sejam conquistas e de uma formanão pontual, acredito que uma dos maiores desafios feministas na <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>seja conquistar mudanças profundas na cultura, ou seja, desconstruir saberes machistase <strong>en</strong>fr<strong>en</strong>tar re<strong>la</strong>ções de poder patriarcal. Destaca-se que, no que se refere arupturas culturais, a produção de reflexão e p<strong>en</strong>sam<strong>en</strong>to feminista é fundam<strong>en</strong>tal.Michel Foucault (1926-1984), o primeiro homossexual a se tornar professor catedráticono Collège de France, militante de diversos movim<strong>en</strong>tos na década de 1960,demonstrou em suas pesquisas e reflexões a re<strong>la</strong>ção <strong>en</strong>tre os saberes e as re<strong>la</strong>çõesde poder. O autor demonstrou que o poder é muito mais complexo do queo exercício da repressão e da punição. Quando compre<strong>en</strong>demos que o poder seexerce também nos saberes, compre<strong>en</strong>demos que todas as cr<strong>en</strong>ças sociais, todosos valores culturais, tudo que é considerado verdade, ou seja, todos os saberes sãoconstuídos, em determinados contextos históricos, através das re<strong>la</strong>ções de poder.Por exemplo, o poder dos hom<strong>en</strong>s na sociedade patriarcal não está ap<strong>en</strong>as na dominaçãofísica, no controle e na repressão das mulheres, o poder patriarcal é exercidotambém na cr<strong>en</strong>ça de que as mulheres são meigas e dóceis, não tem tanto desejosexual como os hom<strong>en</strong>s, não sabem se def<strong>en</strong>der por isso precisam ficar mais em casa,<strong>en</strong>tre outros saberes que condicionam a vida das mulheres e assim são um exercíciode poder. Por trás da violência contra as mulheres, está o saber de que a mulher é propriedadedo homem; por trás da pouca pres<strong>en</strong>ça das mulheres na política, está o saberde que a mulher pert<strong>en</strong>ce ao espaço privado; por trás da pouca pres<strong>en</strong>ça das mulheresnos cargos de chefia, está o saber de que a mulher é dócil e não sabe mandar; por trásda criminalização do aborto, está o saber de que a mulher é naturalm<strong>en</strong>te mãe.<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es65


Este <strong>en</strong>saio pret<strong>en</strong>de discutir a construção de saberes machistas e sexistas queconstroem e reproduzem as re<strong>la</strong>ções de poder patriarcal e, assim, constituem-seem dominação das mulheres. Descontruir esses saberes, essas cr<strong>en</strong>ças, essesvalores culturais machistas, é fundam<strong>en</strong>tal para <strong>en</strong>fr<strong>en</strong>tarmos as re<strong>la</strong>ções de podere provocarmos uma mudança profunda na sociedade.Compre<strong>en</strong>d<strong>en</strong>do a re<strong>la</strong>ção saber-poderPara Foucault nada é substancial, tudo deve ser analisado como uma construçãohistórica. Assim, as cr<strong>en</strong>ças, os saberes, também são construídos historicam<strong>en</strong>te.Para analisar saberes Foucault propõem uma análise arqueológica, na qual“analisar positividades é mostrar segundo que regras uma prática discursivapode formar grupos de objetos, conjuntos de <strong>en</strong>unciações, jogos de conceitos,séries de escolhas teóricas” (2004, p.203). Assim, a arqueologia é “a descriçãodas formações discursivas, a analise das positividades, a demarcação do campo<strong>en</strong>unciativo” (idem, p. 149). Para analisar um campo <strong>en</strong>unciativo é preciso compre<strong>en</strong>der“os <strong>en</strong>unciados como acontecim<strong>en</strong>tos (t<strong>en</strong>do suas condições e seu domíniode aparecim<strong>en</strong>to) e coisas (compre<strong>en</strong>d<strong>en</strong>do sua possibilidade e seu campode utilização). São todos esses sistemas de <strong>en</strong>unciados (acontecim<strong>en</strong>tos de um<strong>la</strong>do, coisas de outro) que proponho chamar de arquivo” (idem, p. 146). E acresc<strong>en</strong>taque “o arquivo é, de início, a lei do que pode ser dito” (idem, p. 147).Na análise arqueológica deve-se além de descrever as formações discursivas“re<strong>la</strong>cioná-<strong>la</strong>s no que podem ter de específico com as práticas não discursivasque as <strong>en</strong>volve e lhes servem de elem<strong>en</strong>to geral” (Foucault, 2004, p. 177). Ouseja “quando se dirige a um tipo singu<strong>la</strong>r de discurso (...) é também para descrever,ao mesmo tempo que eles e em corre<strong>la</strong>ção com eles, um campo institucional,um conjunto de acontecim<strong>en</strong>tos, de práticas, de decisões políticas, um <strong>en</strong>cadeam<strong>en</strong>tode processos econômicos (...)” (idem, ibidem). Analisar a re<strong>la</strong>ção <strong>en</strong>tre aspráticas discursivas e não discursivas não é buscar as continuidades <strong>en</strong>tre e<strong>la</strong>s,não é focar em uma re<strong>la</strong>ção causal, mas sim compre<strong>en</strong>der as re<strong>la</strong>ções de poder<strong>en</strong>volvidas e, assim, como umas se utilizam das outras, como se articu<strong>la</strong>m, jáque não são indep<strong>en</strong>d<strong>en</strong>tes. Assim, “o saber (...) pode estar também em ficções,reflexões, narrativas, regu<strong>la</strong>m<strong>en</strong>tos institucionais, decisões políticas” (idem, p.205).Foucault complem<strong>en</strong>ta a arqueologia do saber com a g<strong>en</strong>ealogia do poder e,neste s<strong>en</strong>tido: “pouco importa que esta institucionalização do discurso ci<strong>en</strong>tíficose realize em uma universidade ou, de modo mais geral, em um aparelho político,(...) são os efeitos de poder próprios a um discurso considerado como ci<strong>en</strong>tífico,que a g<strong>en</strong>ealogia deve combater” (1986, p. 171). S<strong>en</strong>do a g<strong>en</strong>ealogia umaanálise a partir do pres<strong>en</strong>te, busca as construções históricas que sust<strong>en</strong>tam asre<strong>la</strong>ções de poder no pres<strong>en</strong>te.66 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


O saber-poder patriarcal e o saber-poder sobre os corposPateman (1993) demonstra que o poder patriarcal é o mediador fundam<strong>en</strong>taldas re<strong>la</strong>ções sociais estabelecidas através do contrato sexual na era moderna.Nesse contrato, foram estabelecidos social e culturalm<strong>en</strong>te os papéis da mulher:prostituta ou esposa. Esses papéis são os dois <strong>la</strong>dos de um mesmo exercício depoder dos hom<strong>en</strong>s sobre as mulheres e também repres<strong>en</strong>tam a exclusão da mulherdo mercado de trabalho. Conforme Pateman “no patriarcado moderno existeuma variedade de meios pelos quais os hom<strong>en</strong>s mantêm os termos do contratosexual” (p.279).A abordagem de Pateman sobre o poder patriarcal está re<strong>la</strong>cionada com aabordagem de Foucault sobre o biopoder – poder sobre os corpos. ConformeFoucault (1986, 1993, 1996) no século XIX a sociedade moderna ocid<strong>en</strong>tal capitalistaconsolida-se na “era do biopoder” (1993, p. 132). O biopoder consiste em“fazer viver ou deixar morrer” (1996, p. 194), s<strong>en</strong>do que morrer “pode ser tambémmorte indireta” (idem, p. 207). Ou seja, as re<strong>la</strong>ções de poder passam a ser exercidasatravés da gestão da vida, da disciplinarização dos corpos, da produção daspopu<strong>la</strong>ções, “garantindo re<strong>la</strong>ções de dominação e efeitos de hegemonia” (1993,133). A sexualidade e o racismo se tornam os dispositivos mais importantes dessepoder. Dispositivo é “um conjunto decididam<strong>en</strong>te heterogêneo que <strong>en</strong>globadiscursos, instituições, organizações arquitetônicas, decisões regu<strong>la</strong>m<strong>en</strong>tares,leis, medidas administrativas, <strong>en</strong>unciados ci<strong>en</strong>tíficos, proposições filosóficas,morais, fi<strong>la</strong>ntrópicas (Foucault, 1986, p.244).O foco de Foucault (1993, p. 98) não é no poder que se exerce sobre a sexualidadepara reprimi-<strong>la</strong>, seu foco é demonstrar que através da sexualidade se exercem re<strong>la</strong>çõesde poder – micro-poderes e mecanismos de Estado. Este poder se exerce,<strong>en</strong>tão, a partir de positividades, não no s<strong>en</strong>tido de bom, mas no s<strong>en</strong>tido de produção.Para o autor, não basta a explicação da repressão sexual, é preciso compre<strong>en</strong>der“quais são os mecanismos positivos que, produzindo a sexualidade desta ou daque<strong>la</strong>maneira, acarretam efeitos de miséria” (1986, p. 232). A abordagem de Foucaultpermite explicar porque muitas mulheres se <strong>en</strong>caixam nos papéis sexuais que sãoproduzidos para e<strong>la</strong>s pe<strong>la</strong> sociedade patriarcal. A sociedade, através de espaçosde poder (como a mídia, a esco<strong>la</strong>, e outros que serão analisados a seguir) produze reproduz saberes e valores que conduzem a vida das pessoas sem que e<strong>la</strong>spercebam porque e<strong>la</strong>s compartilham esses saberes e valores. É nesses saberesque Foucault demonstra o exercício do poder. Como exemplo de uma abordagemfoucaultiana, podemos analisar que o exercício do poder patriarcal na sexualidadeestá em reproduzir saberes de que os hom<strong>en</strong>s têm mais desejo sexual que as mulherese por isso não são fiéis e muitas mulheres ainda hoje acreditam nisso e issoé reproduzido na mídia como analisaremos em seguida. Esse é o saber-biopoder:exercício de dominação sobre os corpos. Assim evid<strong>en</strong>cia-se que o poder não estásó no fato das mulheres terem mais proibições de exercício da sexualidade.<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es67


Cunha (2002) demonstra as aproximações <strong>en</strong>tre as análises de Foucault (sobreo biopoder) e as de Fanon (sobre raça, subjetivação e poder colonial). Nestes<strong>en</strong>tido pode-se perceber que um dos mecanismos do biopoder é o discurso(construído a partir período colonial) que produz a sexualidade do negro.Segundo Fanon (1983, p. 153 e 154) o negro simboliza o pecado e “para amaioria dos brancos, o negro repres<strong>en</strong>ta o instinto sexual” (idem, p.145). T<strong>en</strong>doem vista que “as re<strong>la</strong>ções de poder são uma re<strong>la</strong>ção desigual e re<strong>la</strong>tivam<strong>en</strong>teestabilizada de forças, é evid<strong>en</strong>te que isso implica um em cima e um em baixo,uma difer<strong>en</strong>ça de pot<strong>en</strong>cial” (Foucault, 1986, p. 250). Neste s<strong>en</strong>tido, negros emulheres são o elo mais fraco das re<strong>la</strong>ções de poder do mundo ocid<strong>en</strong>tal – “seo humanismo universalista contrapõe ao ser humano um `não-homem´ bárbaro,negro ou indíg<strong>en</strong>a e selvagem, também lhe opõe a `não-homem´ mulher” (Nascim<strong>en</strong>to,2003, p. 68).Pode-se afirmar, a partir da perspectiva do biopoder, que:(...) o racismo se constitui e opera ess<strong>en</strong>cialm<strong>en</strong>te da mesma forma que o sexismo,tanto no campo da discriminação, resultando em desigualdades sociais estatisticam<strong>en</strong>tem<strong>en</strong>suráveis [deixar morrer], quanto no âmbito mais amplo, efetuando de diversasmaneiras, ora direta, ora sutis, determinações e condicionam<strong>en</strong>tos às possibilidadese às perspectivas de vida das pessoas e dos grupos humanos <strong>en</strong>volvidos [fazer viver](idem, p. 66)Negri e Cocco (2005, p. 147) ao analisarem o biopoder na <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>, afirmamque “é justam<strong>en</strong>te na gestão da mestiçagem que o bloco biopolítico sereproduz com impressionante continuidade”. Na <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> há um discursode mestiçagem harmônica <strong>en</strong>tre brancos, negros e indíg<strong>en</strong>as, através da qualtodos seriam iguais e não haveria racismo. No <strong>en</strong>tanto, em todos os países hádesigualdades im<strong>en</strong>sas. Por isso, os autores apontam que a reprodução dessesaber/discurso de mestiçagem é na <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> uma forma de dominação sobreos corpos, porque o poder reafirma que não há racismo e assim deslegitimaas lutas de negros e indíg<strong>en</strong>as.Espaços de contrução do saber-poder patriarcal: mídia, esco<strong>la</strong>,tradições, linguagemA pres<strong>en</strong>ça amp<strong>la</strong> e constante da mídia no mundo contemporâneo tem levadoteóricos como Thompson (2002) a fa<strong>la</strong>r em cultura midiada. Essa cultura midiadase constituiria na mode<strong>la</strong>gem social pe<strong>la</strong> mídia, ou seja, na intrusão midiada dem<strong>en</strong>sag<strong>en</strong>s ideológicas nos contextos práticos do cotidiano. O autor afirma queatualm<strong>en</strong>te a comunicação de massa é a produtora fundam<strong>en</strong>tal dos imagináriossociais. Assim, a mídia torna-se um ator fundam<strong>en</strong>tal das re<strong>la</strong>ções sociais e umespaço importante de construção do saber-poder.68 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


A mídia é responsável pe<strong>la</strong> reprodução do imaginário da mulher como passiva epe<strong>la</strong> naturalização do homem como det<strong>en</strong>tor único de desejo e instinto sexual.Nesse s<strong>en</strong>tido, cita-se no Brasil, um livro que já esteve mais de uma vez na listados mais v<strong>en</strong>didos do país: “Por que os Hom<strong>en</strong>s Fazem Sexo e as MulheresFazem Amor?”, de Al<strong>la</strong>n e Bárbara Pease. Cita-se também a manchete do GloboRepórter de dezembro de 2008, programa de reportag<strong>en</strong>s especiais da RedeGlobo (maior emissora de televisão do Brasil): “A traição masculina pode ser explicadag<strong>en</strong>eticam<strong>en</strong>te?”. E poderíamos multiplicar os exemplos...A mídia também é uma das grandes responsáveis pe<strong>la</strong> comercialização do corpoda mulher e assim pe<strong>la</strong> transformação da mulher em objeto sexual. Reproduzemseos saberes sobre a mulher erotizada, no Brasil, especialm<strong>en</strong>te as mu<strong>la</strong>tas.Cita-se a Crônica de Arnaldo Jabor (um dos jornalistas mais importantes do país)no Jornal da Globo, dia 24/10/08, em hom<strong>en</strong>agem ao <strong>la</strong>nçam<strong>en</strong>to do livro decrônicas e poemas de Oscar Niemayer (o arquiteto mais importante do Brasil,reconhecida internacionalm<strong>en</strong>te, construtor de Brasília a Capital Federal):“Sobreviv<strong>en</strong>te do modernismo(...) Como ele disse, em um poema: “Não é o ângulo reto queme atrai, nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. Quero a curva livre e s<strong>en</strong>sualque <strong>en</strong>contro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos rios, das ondas do mar, nocorpo da mulher amada. De curvas é feito o universo, o universo curvo de Einstein. Oscarsabe das coisas… Por isso, aquele grande “M” no sambódromo do Rio é uma hom<strong>en</strong>agemao bumbum de uma mu<strong>la</strong>ta”.Na mídia destaca-se o marketing turístico que reproduziu o imaginário de erotizaçãoda mulher brasileira para atrair turistas, o que foi responsável pelos altosíndices de turismo sexual no Brasil. Segundo Caetano (2004) as mulheres foramtransformadas em atrativos turísticos. Além do marketing turístico, outros produtosutilizam a comercialização do corpo da mulher para atrair cli<strong>en</strong>tes, comoé o caso das propagandas de cerveja. Nesse ponto é importante visualizarmosalgumas imag<strong>en</strong>s:Revista Rio, Samba e Carnaval,distribuída em váriaslínguas pe<strong>la</strong> EMBRATUR(Empresa Brasileira de Turismo,Autarquia do GovernoFederal), 1973<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es69


Cartão Postal do Rio de Janeiroque circulou até 2005, quando omovim<strong>en</strong>to feminista conquistou aLei Estadual, número 4.642, queproíbe a vincu<strong>la</strong>ção de imag<strong>en</strong>s demulheres semi-nuas nas propagandasturísticas e cartões postais.Peça publicitária atual de uma cervejabrasileiraA esco<strong>la</strong> também é um espaço de construção de imaginários sociais e re<strong>la</strong>ções desaber-poder. Conforme Telles (2008), a esco<strong>la</strong> é espaço de resistência e transformação,mas também na esco<strong>la</strong> são reproduzidos saberes desde a infância quereproduzem a opressão das mulheres e determinam os papéis nas re<strong>la</strong>ções degênero. Desde a pré-esco<strong>la</strong>, crianças de 3 e 4 anos já são condicionas a brincarde determinadas brincadeiras a partir do recorte de gênero: carrinhos para osm<strong>en</strong>inos, bonecas para as m<strong>en</strong>inas, <strong>en</strong>tre outros exemplos.Ao longo do processo educativo a invisibilidade das mulheres é reproduzida. Assim,quem são os heróis <strong>la</strong>tino-americanos? Che Guevara, Simon Bolivar, Tirad<strong>en</strong>tes,Getúlio Vargas, Zumbi dos Palmares... Quem são os grandes artistasmundias: Picasso, Mozart, Sheakspeare... Quem são os grandes ci<strong>en</strong>tistas: Einstein,Newton... Quem são os grandes p<strong>en</strong>sadores: Aristóteles, Maquiavel, P<strong>la</strong>tão,Marx, Weber, Freud...A tradição reproduz saberes machistas das mais diversas formas. Desde tradiçõesligadas a manifestações culturais onde os papéis de gênero são determinados,até tradições familiares de cotidiano doméstico.70 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


Nas manifestações culturais podemos citar o carnaval brasileiro e a figura damu<strong>la</strong>ta erotizada. O samba tem origem afro-brasileira, no <strong>en</strong>tanto nos chamadossambas de raiz não há a figura da mu<strong>la</strong>ta erotizada, essa espetacu<strong>la</strong>rizaçãodo carnaval foi produzida pe<strong>la</strong> sociedade patriarcal e racista, quecriou um espaço de possibilidade para a manifestação afro-brasileira, no <strong>en</strong>tanto,moldado pelo desejo branco. O saber de que a mu<strong>la</strong>ta é naturalm<strong>en</strong>teerótica é um exercício de saber-poder. A mu<strong>la</strong>ta foi inv<strong>en</strong>tada pelo branco,como aponta Correa (1996). Essa erotização da mulher “nativa” iniciou-sejá no período do Brasil Colônia (1500-1822). Os colonizadores portuguesescriaram esse imaginário re<strong>la</strong>cionado ao paraíso e a erotização, que <strong>en</strong>volveuprimeiram<strong>en</strong>te as mulheres indíg<strong>en</strong>as e, depois, as mulheres negras (Nascim<strong>en</strong>to,2003).Nas tradições familiares do cotidiano doméstico podemos citar como exemploa tradição de que o trabalho doméstico é função da mulher. Essa tradição machistatem sido questionada pelos movim<strong>en</strong>tos feministas há muitos anos. Issogerou uma mudança na tradição, mas precisamos estar sempre at<strong>en</strong>tas paraas reformu<strong>la</strong>ções do saber-poder. Muitas mulher, acreditando lutar pelos seusdireitos afirmam “na minha casa meu marido me ajuda nas tarefas domésticas”.Essa frase contém o mesmo imaginário patriarcal, é a mesma tradição machistade que as tarefas domésticas são de responsabilidade da mulher – se o homemestá ajudando-a, o que está intrínseco é que e<strong>la</strong> é a responsável por fazer. Naverdade ele não está ajudando a mulher, porque não era e<strong>la</strong> que devia fazer,ele está faz<strong>en</strong>do ap<strong>en</strong>as a sua parte na divisão de tarefas domésticas, porque aresponsabilidade deve ser dos dois.Por fim, é preciso destacar a própria linguagem como um espaço de saberpoder.Conforme Borba (2007), a linguagem constrói id<strong>en</strong>tidades de gênero.Como exemplo, citamos o casam<strong>en</strong>to, que poderia também ser analisadocomo tradição, mas pegaremos ap<strong>en</strong>as a frase final de um padre no casam<strong>en</strong>tocatólico, ou de um juiz de paz, no casam<strong>en</strong>to civil, para analisarmos aquestão da linguagem. “Eu vosdec<strong>la</strong>ro marido e mulher”: a própria condição deser mulher é dada pelo casam<strong>en</strong>to, <strong>en</strong>quanto o homem já tem sua condiçãode homem e no casam<strong>en</strong>to adquire a condição de marido. Mulher é sinônimode casada. A dec<strong>la</strong>ração de ser mulher é dada por um homem-padre para umhomem-marido.Outros exemplos também repres<strong>en</strong>tam a inferiorização sofrida pe<strong>la</strong> mulher atravésda linguagem. Quando se fa<strong>la</strong> “os hom<strong>en</strong>s precisam cuidar da natureza, poisestão destruindo o p<strong>la</strong>neta”, já está subjac<strong>en</strong>te as mulheres. Quando em umasa<strong>la</strong> de au<strong>la</strong> tem 39 alunas e 1 aluno, mesmo assim para referir-se ao grupofa<strong>la</strong>-se “os alunos”. Mãe e Pai é igual a “pais”. Entre outros muitos exemplospossíveis do exercício do poder patriarcal através da cultura, dos saberes, dosimaginários.<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es71


Considerações finais: <strong>en</strong>fr<strong>en</strong>tando o saber-poder patriarcalEste <strong>en</strong>saio buscou analisar e demonstrar, através de conceitos e de exemplos,o poder exercido sobre as mulheres através de saberes, valores culturais, imagináriossociais, para assim auxiliar na reflexão feminista e no desafio de rompercom essa cultura machista e <strong>en</strong>fr<strong>en</strong>tar o poder patriarcal de uma forma profunda.Diversos movim<strong>en</strong>tos e organizações sociais feministas lutam para romper comquestões culturais e esse <strong>en</strong>saio buscou, <strong>en</strong>tão, auxiliar a compre<strong>en</strong>der a profundidadedo poder exercido através de saberes e os diversos espaços onde essesaber-poder se reproduz, como a mídia, a linguagem, a esco<strong>la</strong> e as tradições.Internacionalm<strong>en</strong>te, já em 1979, a Conv<strong>en</strong>ção sobre a Eliminação de todas asformas de discriminação contra a Mulher – CEDAW – prevê a importância demudanças de padrões culturais machistas. No Artigo 5º. compromete ao Estadosmembros a “modificar os esquemas e padrões de comportam<strong>en</strong>to sócio-culturalde hom<strong>en</strong>s e mulheres, com vistas a alcançar a eliminação dos preconceitos”. NoArtigo 10º. refere-se à educação e define a “eliminação de qualquer concepçãoestereotipada dos papéis masculino e feminino em todos os níveis e em todas asformas de <strong>en</strong>sino”.No Brasil, temos avanços nesse s<strong>en</strong>tido, especialm<strong>en</strong>te no século XXI. Em 2005,foi aprovada a Lei que proíbe a mercantilização do corpo da mulher na publicidadeturística do Rio de Janeiro (como já citado). Também, nas diretrizes geraisdo II P<strong>la</strong>no Nacional de Políticas para as Mulheres (2008) <strong>en</strong>contra-se o objetivode “combater as distintas formas de apropriação e exploração mercantil do corpoe da vida das mulheres, como a exploração sexual, o tráfico de mulheres e oconsumo de imag<strong>en</strong>s esteriotipadas da mulher”. Na I Conferência Nacional dePromoção da Igualdade Racial (2005), no eixo temático Mulheres Negras, estáa seguinte proposta: “int<strong>en</strong>sificar políticas que valorizem a imagem das mulheresnegras, indíg<strong>en</strong>as, quilombo<strong>la</strong>s e ciganas nos meios de comunicação, visando àsuperação de antigos estereótipos e à valorização de seus papéis como ag<strong>en</strong>tese participativas na sociedade”. Ainda, o Programa Mulheres em Ciência, daSecretaria Especial de Políticas para as Mulheres, da Presidência da República,tem contribuído de diversas formas para a visibilidade das mulheres e dos estudosfeministas e de gênero, o que repercutirá também nas esco<strong>la</strong>s. As feministastêm alcançado modificações na linguagem como a saudação em público: “BomDia a todas e todos”. Atualm<strong>en</strong>te a Maria da P<strong>en</strong>ha, inspiradora da Lei Maria daP<strong>en</strong>ha de combate a violência doméstica contra as mulheres, está propondo otermo feminicídio, questionando o termo homicídio, para casos de assassinato demulheres com evid<strong>en</strong>te causa re<strong>la</strong>ciona ao gênero. A discussão se deu a partirde um assassinato de uma jovem por seu namorado, após terminado o namoro.O assassino manteve a vítima dias em cativeiro diante da mídia nacional que<strong>en</strong>focava o desequilíbrio emocional e diante de uma polícia que não tinha preparon<strong>en</strong>hum para lidar com esse caso específico de seqüestro – um seqüestro72 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


patriarcal. A inspiradora da Lei <strong>en</strong>t<strong>en</strong>de que não basta a Lei para punir a violênciacontra mulher, é preciso discutir social e culturalm<strong>en</strong>te para que essa violênciaseja realm<strong>en</strong>te compre<strong>en</strong>dida como violência grave e inaceitável e, assim, termine,a partir de uma mudança cultural profunda. A Lei ajuda nesse processo,mas não é um fim último. É preciso <strong>en</strong>fr<strong>en</strong>tar o saber-poder que reproduz que“em briga de marido em mulher ninguém mete a colher”. Porque nosso desafiofeminista no século XXI é lutar sempre, até conquistarmos a completa igualdadede gênero, a partir de uma mudança profunda na cultura patriarcal.Referências bibliográficasBORBA, Rodrigo. Linguagem e gênero: a construção discursiva de id<strong>en</strong>tidades sociais. In:Estudos <strong>Feministas</strong>, Florianópolis, vol. 15, n.1, p. 243-266, 2007.CAETANO, Rosana. A publicidade e a imagem do produto Brasil e da mulher brasileiracomo atrativo turístico. In: Anais do Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação,27, Porto Alegre. São Paulo: Intercom, 2004. CD-ROOM.CORREA, Mariza. Sobre a inv<strong>en</strong>ção da mu<strong>la</strong>ta. Cadernos Pagu (6-7), p. 33-50, 1996.CUNHA, Olívia Maria. Reflexões sobre biopoder e pós-colonialismo: rel<strong>en</strong>do Fanon eFoucault. In: Mana, Rio de Janeiro, v.8, n.1,p. 149-163, 2002.FANON, Franz. Peles negras, máscaras brancas. Rio de Janeiro: Factor, 1983.FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1986._____. História da sexualidade. Vol. 1 A vontade de saber. Rio de Janeiro: Edições Graal,1993.______. G<strong>en</strong>ealogía del racismo. Bu<strong>en</strong>os Aires: Altamira, 1996.______. Arqueologia do saber. Rio de Janeiro: For<strong>en</strong>se Universitária, 2004.NASCIMENTO, Elisa Larkin. O sortilégio da cor: id<strong>en</strong>tidade, raça e gênero no Brasil. SãoPaulo: Selo Negro, 2003.NEGRI, Antonio; COCCO, Giuseppe. Glob(AL): Biopoder e luta em uma <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>globalizada. Rio de Janeiro: Record, 2005.PATEMAN, Carole. O Contrato Sexual. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1993.TELLES, Edna. Esco<strong>la</strong> e re<strong>la</strong>ções de gênero: (re)produção e resistência nas práticas esco<strong>la</strong>res.In: Anais do Seminário Internacional Faz<strong>en</strong>do Gênero 8, Florianópolis, 2008. Disponívelem: http://www.faz<strong>en</strong>dog<strong>en</strong>ero8.ufsc.br/st53.htmlTHOMPSON, John B. Ideologia e Cultura Moderna: Teoria Social Crítica na Era dos Meiosde Comunicação de Massa. Petrópolis: Vozes, 2002.<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es73


74 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


Indicios de una reflexión políticaMaría El<strong>en</strong>a Hernández Mora26 años - MéxicoEn este <strong>en</strong>sayo se analizan algunos aspectos acerca del movimi<strong>en</strong>to feminista <strong>en</strong> <strong>América</strong><strong>Latina</strong>. Se parte de una muy breve revisión de aspectos históricos sobre el feminismocomo ética, como política y como práctica que apunta a <strong>la</strong> desidealización deparadigmas constituy<strong>en</strong>tes de <strong>la</strong> jerarquización de <strong>la</strong> vida social, económica, culturaly política, se pone especial énfasis <strong>en</strong> <strong>la</strong> necesidad de autocrítica y de <strong>la</strong> integraciónde g<strong>en</strong>eraciones jóv<strong>en</strong>es al movimi<strong>en</strong>to, así como de <strong>la</strong> at<strong>en</strong>ción que se debe poner <strong>en</strong><strong>la</strong> utilización indiscriminada de algunos conceptos y categorías, para evitar su e<strong>la</strong>sticidad,es decir, para no caer <strong>en</strong> <strong>la</strong> ambigüedad.I. IntroducciónSin duda, hab<strong>la</strong>r de los desafíos del movimi<strong>en</strong>to feminista de <strong>América</strong> <strong>Latina</strong><strong>en</strong> el siglo XXI nos acerca a conceptos que <strong>en</strong> <strong>la</strong>s últimas décadas han ganadoespacio <strong>en</strong> el debate teórico y <strong>en</strong> <strong>la</strong> ag<strong>en</strong>da política del Estado 1 , pero también alos paradigmas de vida y de cultura con los que se ha posibilitado <strong>la</strong> capacidadde g<strong>en</strong>erar espacios <strong>en</strong> constante reorganización y conflicto. Por ello, hay quedistinguir por un <strong>la</strong>do el feminismo como ética y como política para hab<strong>la</strong>r comoGracie<strong>la</strong> Hierro 2 y el feminismo como un movimi<strong>en</strong>to social, es decir, como focoprimario de <strong>la</strong>s demandas de <strong>la</strong>s mujeres y espacio donde se articu<strong>la</strong>n un conjuntode vindicaciones, que más que ser un agregado o una acumu<strong>la</strong>ción de propuestas,son por lo m<strong>en</strong>os <strong>en</strong> el terr<strong>en</strong>o teórico, el lugar desde el que se proyecta<strong>la</strong> diversidad cont<strong>en</strong>ida <strong>en</strong> <strong>la</strong> categoría mujeres.1 Conceptos tales como sociedad civil o ciudadanía, ésta última con otras dim<strong>en</strong>siones conceptualescomo sujeto y espacio público y privado. Dichas abstracciones como bi<strong>en</strong> se sabe, no adolec<strong>en</strong>de una historia, de un contexto y de un s<strong>en</strong>tido discursivo-político. Además, han ocupado un lugarpromin<strong>en</strong>te <strong>en</strong> los debates contemporáneos y aquí nos interesan <strong>en</strong> su re<strong>la</strong>ción con el feminismo, portratarse de abstracciones producto de <strong>la</strong> modernidad, pero que a <strong>la</strong> vez, parecieran ser los primeroscon respecto al último, excluy<strong>en</strong>tes. Es decir, unos se reconoc<strong>en</strong> <strong>en</strong> su carácter histórico y el otro estodavía como un fantasma al que cuesta trabajo nombrar. A este respecto, consúltese, De Villota,Paloma, Las mujeres y <strong>la</strong> ciudadanía <strong>en</strong> el umbral del siglo XXI, Universidad Complut<strong>en</strong>se, España,1998, 254pp.2 Hierro, Gracie<strong>la</strong>, Ética y feminismo, UNAM, México, 1990.<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es75


Así pues, preguntarnos por los desafíos pres<strong>en</strong>tes para el movimi<strong>en</strong>to feminista<strong>en</strong> un siglo que marca su pauta por una crisis económica, que se ha estado avizorandocomo una crisis del sistema capitalista 3 , invita a <strong>la</strong> lectura de <strong>la</strong>s ideologíasque <strong>en</strong>cu<strong>en</strong>tran su caldo de cultivo <strong>en</strong> un contexto <strong>en</strong> el que <strong>la</strong> t<strong>en</strong>d<strong>en</strong>cia alegitimar <strong>la</strong> lógica de que todo fluye del mercado, ha v<strong>en</strong>ido a constituir <strong>la</strong>s másde <strong>la</strong>s veces, una de <strong>la</strong>s condiciones de desarticu<strong>la</strong>ción y desmante<strong>la</strong>mi<strong>en</strong>to demovimi<strong>en</strong>tos sociales. Sobre todo, <strong>en</strong> mom<strong>en</strong>tos de actualidad <strong>en</strong> que <strong>la</strong> t<strong>en</strong>d<strong>en</strong>ciaapunta a <strong>la</strong> hegemonía de grupos políticos de derecha, cuya arbitrariedadafirma prejuicios acerca de <strong>la</strong>s mujeres, de sus derechos y de su importancia <strong>en</strong><strong>la</strong> vindicación de los mismos.Un aspecto importante, es que el movimi<strong>en</strong>to feminista como movimi<strong>en</strong>to social,<strong>en</strong>tre sus diversas vindicaciones, ti<strong>en</strong>e como supuesto, el de ser reconocidocomo actor político, aunque su legitimación dep<strong>en</strong>da <strong>en</strong> gran medida de los obstáculosimpuestos por los paradigmas dominantes <strong>la</strong>rvados no sólo al exteriordel mismo feminismo, sino que al formar parte de <strong>la</strong> ideología que constituye<strong>la</strong>s jerarquías y <strong>la</strong>s estructuras de p<strong>en</strong>sami<strong>en</strong>to y acción, hac<strong>en</strong> de esta tarea undoble esfuerzo, primero por erradicar de <strong>la</strong> organización y actuación interna delp<strong>en</strong>sami<strong>en</strong>to mismo y del movimi<strong>en</strong>to algunas concepciones sexistas, así comode <strong>la</strong> sociedad y <strong>la</strong>s instituciones todas.Los desafíos del feminismo, son múltiples porque <strong>en</strong> <strong>la</strong> lucha por ser reconocidocomo actor político, el movimi<strong>en</strong>to ti<strong>en</strong>e fr<strong>en</strong>te a sí un mundo de jerarquías donde elhecho de ser lugar de articu<strong>la</strong>ción de difer<strong>en</strong>tes vindicaciones - pero parti<strong>en</strong>do deser creado por mujeres - ti<strong>en</strong>e <strong>en</strong>tre sus cometidos el debate y <strong>la</strong> acción para afrontarlos viejos prejuicios y los que se han v<strong>en</strong>ido gestando al paso del desarrollo delmovimi<strong>en</strong>to mismo, pero sobre todo, los que han sido reforzados por los mediosde comunicación, por el Estado, por <strong>la</strong> religión, por el mercado, por <strong>la</strong>s institucioneseducativas y ahora <strong>en</strong> un ambi<strong>en</strong>te de militarización abierta o disimu<strong>la</strong>da, está también<strong>la</strong> necesidad imperante de analizar <strong>en</strong> profundidad los sistemas democráticosde <strong>la</strong> región. Esto último, daría para un trabajo de investigación ext<strong>en</strong>so y de <strong>la</strong>rgosalcances, para el cual no hay espacio <strong>en</strong> este pequeño <strong>en</strong>sayo.II. El hijo no deseado de <strong>la</strong> Ilustración.Actualm<strong>en</strong>te, no se puede hab<strong>la</strong>r del movimi<strong>en</strong>to feminista, sin hacer refer<strong>en</strong>ciaal feminismo como política, como ética, como proyecto epistémico de desapr<strong>en</strong>sióndel paradigma androc<strong>en</strong>trista. En este s<strong>en</strong>tido, el feminismo dice Amelia Valcárcel,“Es el hijo no deseado del igualitarismo Ilustrado” 4 , y con ello recordamos3 A este respecto se puede consultar. Amir, Samin, Más a allá del capitalismo s<strong>en</strong>il: por un siglo XXIno norteamericano. Paidós. Bu<strong>en</strong>os Aires, 2003.4 Consúltese, Valcárcel, Amelia, Las filosofías políticas <strong>en</strong> pres<strong>en</strong>cia del feminismo, En, Amorós,Celia, Feminismo y Filosofía, Síntesis, España, 2000, p.116.76 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


el comportami<strong>en</strong>to teórico y político de los b<strong>en</strong>efactores de un Estado modernoque se construyó con <strong>la</strong> participación de hombres y mujeres, pero <strong>en</strong> el que hansido incluidos sólo algunos de ellos y del que <strong>la</strong>s mujeres han sido excluidastotalm<strong>en</strong>te. Un pacto de caballeros lo l<strong>la</strong>mará Celia Amorós, baste con citar aLocke o a Rousseau, cuyos argum<strong>en</strong>tos dan fuerza al ideario político democrático<strong>en</strong> torno al cual se construye el primer Estado democrático moderno (el Estadofrancés), podremos <strong>en</strong>t<strong>en</strong>der quiénes son los excluidos.Rousseau <strong>en</strong>cu<strong>en</strong>tra <strong>en</strong> <strong>la</strong> propiedad privada el fundam<strong>en</strong>to de <strong>la</strong>s desigualdades<strong>en</strong>tre los hombres y, <strong>en</strong> <strong>la</strong> naturaleza de <strong>la</strong>s mujeres <strong>la</strong> razón de su inferioridad 5 .Locke reafirma <strong>la</strong> lógica del paterfamilias muy ext<strong>en</strong>dida <strong>en</strong> <strong>la</strong> Roma antigua, dondeel hombre es el sujeto c<strong>en</strong>tral, <strong>la</strong> mujer procrea 6 . Locke y Rousseau analizan<strong>la</strong> transición a <strong>la</strong> sociedad civil y <strong>en</strong> ambos casos <strong>la</strong> ciudadanía es un status queda cabida o anu<strong>la</strong> el goce y <strong>la</strong> pres<strong>en</strong>cia <strong>en</strong> dicho espacio, por lo tanto, no todoslos hombres pued<strong>en</strong> ser ciudadanos y m<strong>en</strong>os aún <strong>la</strong>s mujeres. Locke reafirma<strong>la</strong> nuclearidad de <strong>la</strong> familia <strong>en</strong> <strong>la</strong> composición de <strong>la</strong> sociedad y sus instituciones,pero a su vez, este núcleo se funda <strong>en</strong> <strong>la</strong> idea de que los hombres son sujetos depoder fr<strong>en</strong>te a <strong>la</strong> falta de poder de <strong>la</strong>s mujeres.Para Rousseau, por medio del pacto el hombre transita de <strong>la</strong> libertad natural, esdecir, de lo que Hobbes había d<strong>en</strong>ominado “guerra de todos contra todos” parainsta<strong>la</strong>rse <strong>en</strong> <strong>la</strong> libertad civil-moral. Se puede notar <strong>la</strong> invisibilización de <strong>la</strong>s mujeres<strong>en</strong> el discurso político moderno más difundido, aunque c<strong>la</strong>ro, Locke y Rousseauson sólo dos ejemplos del discurso que hizo época. Sin embargo, tambiénse ti<strong>en</strong>e refer<strong>en</strong>cia del filósofo cartesiano François Pou<strong>la</strong>in de <strong>la</strong> Barre cuyasaportaciones para <strong>la</strong> discusión de <strong>la</strong> igualdad de los sexos son un hito 7 .Hay que t<strong>en</strong>er pres<strong>en</strong>te que <strong>en</strong>tre otras cosas, Pou<strong>la</strong>in afirmaba <strong>la</strong> necesidadde erradicar los prejuicios <strong>en</strong> torno a <strong>la</strong> condición natural de <strong>la</strong>s mujeres, ideaque estaba <strong>en</strong> boga <strong>en</strong> esa época, pero no sólo hacía <strong>la</strong> crítica, <strong>en</strong> <strong>la</strong> propuestade educación para <strong>la</strong>s mujeres, ya se vislumbraba el interés del filósofo por <strong>la</strong>ciudadanización de <strong>la</strong>s mismas. Pou<strong>la</strong>in de <strong>la</strong> Barre se preguntaba ¿Hay algode todo lo que se <strong>en</strong>seña a <strong>la</strong>s mujeres que contribuya a darles una instrucciónsólida? 8 No obstante que <strong>la</strong>s condiciones no daban para grandes contribuciones,5 Este tipo de desigualdad es l<strong>la</strong>mada por Rousseau: “desigualdad moral o política”, y <strong>la</strong> definecomo “Los difer<strong>en</strong>tes privilegios de que gozan unos <strong>en</strong> perjuicio de los otros, como el de ser másricos, más respetados, más poderosos o de hacerse obedecer”. Consultar, Rousseau Juan Jacobo.Discurso sobre el orig<strong>en</strong> de <strong>la</strong> desigualdad, En El Contrato Social o principios de derecho político,Porrúa, México, 1992, p.109.6 Locke, John, Ensayo sobre el gobierno civil, Porrúa, México, 1992.7 Ver Barre Pou<strong>la</strong>in, François de <strong>la</strong>, La igualdad de los sexos. Discurso físico y moral <strong>en</strong> el que sedesataca <strong>la</strong> importancia de deshacerse de los prejuicios, Edición crítica de Daniel Cazés M<strong>en</strong>ache,UNAM, México, 2007, 153 pp.8 Ibíd., p 133<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es77


se cu<strong>en</strong>ta <strong>en</strong> <strong>la</strong> historia con <strong>la</strong> figura de mujeres como Olimpia de Gouges o MaryWollstonecraft que contribuy<strong>en</strong> a <strong>la</strong> crítica de <strong>la</strong>s formas dominantes de concebirlos derechos civiles y políticos. De Gouges terminó <strong>en</strong> 1793 <strong>en</strong> <strong>la</strong> guillotina yWollstonecraft aún con su “Vindicación de los derechos de <strong>la</strong> <strong>Mujer</strong>”, obra quea consideración de Amelia Valcárcel, es fundacional del feminismo ilustrado 9 , noescapó a <strong>la</strong> difamación. En este s<strong>en</strong>tido Mary Nash afirma que Wollstonecraft fuel<strong>la</strong>mada <strong>la</strong> “hi<strong>en</strong>a de <strong>en</strong>aguas negras” 10 .III. Algunos desafíos para el movimi<strong>en</strong>to feminista <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>Hab<strong>la</strong>r de los desafíos del movimi<strong>en</strong>to feminista <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> implica m<strong>en</strong>cionarpor lo m<strong>en</strong>os dos consideraciones: a) <strong>en</strong> el capitalismo ningún sujeto seemancipa y b) no existe un solo feminismo, ahí radica su complejidad teórico-política.Se ha anotado <strong>en</strong> alguna cita de este trabajo, que el concepto ciudadaníati<strong>en</strong>e dos ejes, uno de ellos es el sujeto y el otro, <strong>la</strong> dicotomía público-privado,sin embargo, no se había m<strong>en</strong>cionado que <strong>la</strong> categoría sujeto también es excluy<strong>en</strong>te,no sólo porque gramaticalm<strong>en</strong>te repres<strong>en</strong>te lo masculino, sino porque <strong>en</strong>sí misma es una categoría a partir de <strong>la</strong> cual <strong>en</strong> algunos ámbitos se sigue discuti<strong>en</strong>dosi el feminismo es un movimi<strong>en</strong>to social y, aunque hay evid<strong>en</strong>cias de <strong>la</strong>incid<strong>en</strong>cia del feminismo como práctica, como política, como experi<strong>en</strong>cia, comoepistemología y como dialéctica social que al desidealizar a hombres y mujerescontribuye a visibilizar que el sujeto epistémico universal 11 y por lo tanto el sujetode ciudadanía, no es neutro, no por ello, sino sobre todo por ello sigue si<strong>en</strong>dopuesto <strong>en</strong> te<strong>la</strong> de juicio.a) El síndrome de <strong>la</strong> supersticiónEl síndrome de <strong>la</strong> superstición es <strong>la</strong> vía por <strong>la</strong> cual se arraigan un conjunto deprejuicios acerca del feminismo y del movimi<strong>en</strong>to feminista. Sigue aún <strong>en</strong> el sigloXXI, <strong>la</strong> discusión acerca de <strong>la</strong> ci<strong>en</strong>tificidad del feminismo, <strong>la</strong> cual hay que tomar<strong>en</strong> cu<strong>en</strong>ta, no porque <strong>la</strong> calidad de <strong>la</strong>s argum<strong>en</strong>taciones sea sólida, sino porqueti<strong>en</strong>e su impronta <strong>en</strong> el s<strong>en</strong>tido común, hasta ahora, una de <strong>la</strong>s armas más poderosaspara <strong>la</strong> consolidación de concepciones corri<strong>en</strong>tes que han influido <strong>en</strong> <strong>la</strong>desarticu<strong>la</strong>ción de movimi<strong>en</strong>tos sociales. Este prejuicio que se ha convertido <strong>en</strong>parte de <strong>la</strong> construcción de género, manti<strong>en</strong>e a mujeres y hombres feministascon <strong>la</strong>s <strong>mirada</strong>s sobre sí. No se deja de escuchar “t<strong>en</strong>ían que ser <strong>la</strong>s feministas”,“No, no soy feminista”.9 Ver, Valcárcel, Amelia, La memoria colectiva y los retos del feminismo, CEPAL, Santiago de Chile,2001, p 8. 10 Ver Nash, Mary, <strong>Mujer</strong>es <strong>en</strong> el mundo. Historia, retos y movimi<strong>en</strong>tos, Alianza, España,2004, p. 71-74.11 A este respecto, ver <strong>la</strong> argum<strong>en</strong>tación de Maffía Diana acerca del sujeto epistémico universal y<strong>la</strong> exclusión de <strong>la</strong>s mujeres <strong>en</strong> <strong>la</strong> ci<strong>en</strong>cia. Consultar, Epistemología feminista: <strong>la</strong> subversión semióticade <strong>la</strong>s mujeres <strong>en</strong> <strong>la</strong> ci<strong>en</strong>cia, En Revista V<strong>en</strong>ezo<strong>la</strong>na de Estudios de <strong>la</strong> <strong>Mujer</strong> N. 28.78 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


Así pues, el feminismo como sujeto de transformación aún no emancipado, ti<strong>en</strong>eque acelerar <strong>la</strong> ruptura de simu<strong>la</strong>cros de conci<strong>en</strong>cia de algunos grupos progresistasal interior de los cuales se fom<strong>en</strong>ta el mujerismo, el sexismo, el machismo, <strong>la</strong>misoginia, o sea, <strong>la</strong> supremacía política de los hombres versus <strong>la</strong> invisibilizaciónde <strong>la</strong>s mujeres, pero también el descuido <strong>en</strong> <strong>la</strong> <strong>la</strong>bor de militancia y <strong>la</strong> separacióncasi tajante <strong>en</strong>tre <strong>la</strong>s corri<strong>en</strong>tes feministas <strong>en</strong>tre sí (como <strong>la</strong>bor propiam<strong>en</strong>te intelectual),y luego con respecto al movimi<strong>en</strong>to feminista como ampliación de <strong>la</strong>scontribuciones teóricas <strong>en</strong> el ámbito concreto de <strong>la</strong> acción.b) Aperturas sesgadas: <strong>la</strong>s mujeres y <strong>la</strong> subrepres<strong>en</strong>tación políticaNo obstante, que <strong>en</strong> algunos países de <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> como <strong>en</strong> Chile, MichelleBachelet, o Cristina Fernández <strong>en</strong> Arg<strong>en</strong>tina asuman <strong>la</strong> presid<strong>en</strong>cia, y quevayan accedi<strong>en</strong>do al par<strong>la</strong>m<strong>en</strong>to, a ministerios de gobierno, <strong>la</strong>s mujeres sigu<strong>en</strong>subrepres<strong>en</strong>tadas <strong>en</strong> <strong>la</strong> política 12 , <strong>en</strong>tre otras cosas, porque <strong>la</strong> paridad aún noforma parte sustancial de <strong>la</strong> democracia y porque <strong>la</strong> r<strong>en</strong>ovación de los sistemaspolíticos muestra <strong>la</strong> t<strong>en</strong>d<strong>en</strong>cia a una apertura, sí, pero sesgada por el género ydonde el techo de cristal 13 , <strong>en</strong> verdad, forma uno de los ejes de <strong>la</strong> rigidez institucionalcon <strong>la</strong> que se legitima <strong>la</strong> supremacía política de los hombres. En <strong>la</strong>s másde <strong>la</strong>s ocasiones, se percibe como parte de una política asist<strong>en</strong>cialista y no semira <strong>en</strong> su dim<strong>en</strong>sión real, es decir, se anu<strong>la</strong> esa participación como resultado de<strong>la</strong> incid<strong>en</strong>cia de <strong>la</strong>s mujeres <strong>en</strong> <strong>la</strong>s difer<strong>en</strong>tes dim<strong>en</strong>siones de organización, seadesde <strong>la</strong> movilización popu<strong>la</strong>r hasta <strong>la</strong>s ONG, pasando por asociaciones civiles,<strong>la</strong> academia y el par<strong>la</strong>m<strong>en</strong>to, se invisibiliza el impacto del movimi<strong>en</strong>to feminista<strong>en</strong> estos cambios de dirección.Decir que <strong>en</strong> el capitalismo ningún sujeto se emancipa es un p<strong>la</strong>nteami<strong>en</strong>to radical,que bajo ninguna circunstancia se visualiza como un dejar que pase lo quet<strong>en</strong>ga que pasar, sino como un eje para el análisis de los obstáculos que ti<strong>en</strong>eque librar cualquier sujeto inmerso <strong>en</strong> el sistema capitalista. Sobre todo, uno queti<strong>en</strong>e <strong>la</strong> particu<strong>la</strong>ridad de ser construido por mujeres, <strong>en</strong>tre otras cosas, porqueser mujer es factor de riesgo 14 sea desde su propia vida cotidiana, sea por <strong>la</strong>repres<strong>en</strong>tación social <strong>en</strong> <strong>la</strong> que se <strong>la</strong>s ti<strong>en</strong>e, sea porque sigu<strong>en</strong> primando unconjunto de prejuicios y mitos como matrices de organización de <strong>la</strong> vida social,12 Consultar, Montaño, Sonia (coord.), El aporte de <strong>la</strong>s mujeres a <strong>la</strong> igualdad <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> y elCaribe, CEPAL, 2008, 145pp.13 Según Mabel Burin, el techo de cristal es una barrera invisible que impide el desarrollo profesionalde <strong>la</strong>s mujeres, así como su aspiración a cargos directivos. A pesar de <strong>la</strong>s transformaciones <strong>en</strong>el <strong>en</strong>torno familiar e institucional, sigu<strong>en</strong> permeando un conjunto de estereotipos sobre el ejerciciodel poder y sobre <strong>la</strong>s asignaciones de género, que también constituy<strong>en</strong> obstáculos para <strong>la</strong>s mujeres,sobre todo cuando ti<strong>en</strong><strong>en</strong> que combinar <strong>la</strong> militancia, con <strong>la</strong> profesionalización, <strong>la</strong> maternidad, etc.14 Esta tesis es desarrol<strong>la</strong>da por varios autores <strong>en</strong> el texto editado por Bunster, Xim<strong>en</strong>a, La mujeraus<strong>en</strong>te. Derechos Humanos <strong>en</strong> el Mundo, Isis, Universidad de Michigan, 2007, 210 pp.<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es79


política, cultural e ideológica de <strong>la</strong>s mujeres, etc. Desde luego, <strong>la</strong> matriz de esosprejuicios sigue si<strong>en</strong>do <strong>la</strong> dicotomía público-privado, como espacios excluy<strong>en</strong>tesque por antonomasia dan vida y significado a <strong>la</strong> exclusión, <strong>la</strong> discriminación, elsexismo y el machismo.Ahora bi<strong>en</strong>, si <strong>en</strong>t<strong>en</strong>demos que dicha dicotomía es una construcción social, históricay política y que por tanto no adolece de los recursos de los que provee el pactodel que se ha hab<strong>la</strong>do antes, <strong>en</strong> este punto <strong>en</strong> particu<strong>la</strong>r <strong>en</strong>contramos que a <strong>la</strong>smujeres no sólo se <strong>la</strong>s expropia de su condición humana. Franca Basaglia hac<strong>en</strong>otar que <strong>en</strong> esa expropiación de <strong>la</strong> condición humana radica el que <strong>la</strong>s mujeresestén construidas como “seres de otros y para otros” 15 y a su vez, <strong>en</strong> ello se conti<strong>en</strong>esu experi<strong>en</strong>cia social como producto de un imaginario de género moderno, <strong>en</strong>que el conflicto aparece al buscar <strong>la</strong> articu<strong>la</strong>ción de <strong>la</strong> subjetividad (lo privado) y <strong>la</strong>vida práctica (lo público), <strong>en</strong>tre otras cosas, porque el supremacismo de género delos hombres, se convierte <strong>en</strong> un obstáculo para <strong>la</strong> construcción de poderes donde<strong>la</strong>s difer<strong>en</strong>cias no se conviertan <strong>en</strong> <strong>la</strong> base de <strong>la</strong>s desigualdades 16 .c) Dinámica de interre<strong>la</strong>ción: teoría prácticaSigue privando aunque con algunas modificaciones <strong>la</strong> disyuntiva <strong>en</strong>tre <strong>la</strong> razóny <strong>la</strong> emoción, <strong>en</strong> una falsa lógica que desprovee de s<strong>en</strong>sibilidad a los hombres(traduciéndose <strong>en</strong> viol<strong>en</strong>cia legitimada por <strong>la</strong>s estructuras de poder) y alim<strong>en</strong>ta<strong>la</strong> emocionalidad de <strong>la</strong>s mujeres incluso como factor de su carácter social, eseobrar como ti<strong>en</strong><strong>en</strong> que obrar, del que hab<strong>la</strong> Erich Fromm 17 . Quizás sea, porquelos cambios no se produc<strong>en</strong> sin dis<strong>en</strong>so y porque <strong>en</strong> sistemas democráticoscomo los <strong>la</strong>tinoamericanos, que no han carecido de anteced<strong>en</strong>tes dictatoriales,a m<strong>en</strong>udo <strong>la</strong>s oportunidades son restringidas <strong>en</strong> g<strong>en</strong>eral, es decir, <strong>la</strong> inequidadde género que priva <strong>en</strong> <strong>la</strong> jerarquización del poder muestra t<strong>en</strong>d<strong>en</strong>cia a dejarfuera a más mujeres que a hombres, pero no por ello todos los hombres quedanlibres de <strong>la</strong> discriminación y <strong>la</strong> exclusión, de modo tal, que cuando se propone <strong>la</strong>participación equitativa y ante <strong>la</strong> falta de estructuras de mediación, ese espacio15 A este respecto ver, Basaglia, Franca, <strong>Mujer</strong>, locura y sociedad, Universidad Autónoma de Pueb<strong>la</strong>,México, 1987.16 Respecto al ámbito de lo público y lo privado, Diana Maffía rescata <strong>la</strong> tesis de Carol Pateman <strong>en</strong>torno al pacto sexual como jerarquía de poder previa al pacto social y donde Maffía afirma que elprimero “Queda escondido <strong>en</strong> el l<strong>en</strong>guaje universal de derechos y explica por qué <strong>la</strong>s mujeres hanquedado fuera de <strong>la</strong> ciudadanía”. Ver, Maffía, Diana, El contrato sexual, En Carrió E y Maffía, Diana,Búsquedas de S<strong>en</strong>tido para una nueva política, Paidos, Bu<strong>en</strong>os Aires, 2005, p 20.17 Carácter social, es una categoría que Fromm emplea para definir <strong>la</strong> función de <strong>la</strong> conducta social,digamos inconci<strong>en</strong>te, pues afirma que el seguir o no <strong>la</strong> norma social puede no ser un asunto de decisiónconci<strong>en</strong>te, aunque reconoce que también se hal<strong>la</strong> p<strong>la</strong>cer <strong>en</strong> actuar como <strong>la</strong> cultura lo requiere.Así pues, “La función del carácter social consiste <strong>en</strong> moldear y canalizar <strong>la</strong> <strong>en</strong>ergía humana d<strong>en</strong>tro deuna sociedad determinada a fin de que pueda seguir funcionando aquel<strong>la</strong> sociedad”, Véase, Fromm,Erich, Psicoanálisis de <strong>la</strong> sociedad contemporánea. F.C.E. México, 12ª reimpresión, 1981, p. 72.80 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


que ocupan <strong>la</strong>s mujeres, ti<strong>en</strong>e que ser dejado por los hombres, sobre todo <strong>en</strong> elpar<strong>la</strong>m<strong>en</strong>to, <strong>en</strong> <strong>la</strong>s instituciones educativas, esto <strong>en</strong> el ámbito del s<strong>en</strong>tido comúnse mira como una am<strong>en</strong>aza hacia los hombres.Esperando no se tome por juicio de valor lo antes dicho, sigue <strong>la</strong> ac<strong>la</strong>ración. Ladinámica de interre<strong>la</strong>ción <strong>en</strong>tre teoría y práctica no se perfi<strong>la</strong> <strong>en</strong> movimi<strong>en</strong>tosunidireccionales, es decir, tanto un concepto como el otro, no carec<strong>en</strong> de contradicción,<strong>la</strong> dificultad se <strong>en</strong>cu<strong>en</strong>tra <strong>en</strong> distinguir el proceso que acontece al interiordel concepto y de <strong>la</strong> teoría <strong>en</strong> g<strong>en</strong>eral, y el proceso de <strong>la</strong> realidad. En esta última,los avances teóricos ti<strong>en</strong><strong>en</strong> su incid<strong>en</strong>cia, sin embargo es tardía y cohabitacon dogmas, es decir, el movimi<strong>en</strong>to dinámico de <strong>la</strong> realidad es producto de unconjunto de fragm<strong>en</strong>tos de cada cosa, que se van uni<strong>en</strong>do y articu<strong>la</strong>ndo bajo contextosparticu<strong>la</strong>res, lo cual vi<strong>en</strong>e a darle más complejidad al trabajo de vincu<strong>la</strong>r losdistintos niveles de participación y organización feminista, con <strong>la</strong> vida cotidianade mujeres y hombres.d) Una pregunta¿Cuántos hombres y mujeres son partidarios de concepciones sexistas? No existeuna estadística que dé respuesta concreta a esta pregunta. Pero, se puedeconstatar <strong>en</strong> <strong>la</strong> desigual participación de <strong>la</strong>s mujeres <strong>en</strong> los puestos de decisión,<strong>en</strong> <strong>la</strong> feminización de <strong>la</strong> pobreza, del VIH/Sida, <strong>en</strong> el discurso misógino clericalcont<strong>en</strong>ido <strong>en</strong> <strong>la</strong> instrucción “Dignitas personae” 18 , que al afirmar <strong>la</strong> dignidad humanadesde <strong>la</strong> concepción, p<strong>la</strong>ntea c<strong>la</strong>ram<strong>en</strong>te <strong>la</strong> posición antiaborto no sólode <strong>la</strong> Iglesia Católica, sino de un conjunto de fuerzas políticas que muestran unemparejami<strong>en</strong>to con dicha lógica; a <strong>la</strong> lista se suma <strong>la</strong> militarización que <strong>en</strong> casoscomo el de México ha implicado una serie de abusos contra <strong>la</strong>s mujeres 19 .La instrucción “Dignitas personae” es un regreso al discurso por el que el sistemade sanciones posibilitó normas basadas <strong>en</strong> <strong>la</strong> lógica de <strong>la</strong> culpa, del castigo eterno20 . Desde luego, <strong>la</strong> participación y el protagonismo de <strong>la</strong>s mujeres <strong>en</strong> el ámbitopúblico implica el reforzami<strong>en</strong>to de <strong>la</strong> dominación masculina, primero porque se18 Dicha instrucción emitida por el Vaticano p<strong>la</strong>ntea que toda persona ti<strong>en</strong>e dignidad humana desde<strong>la</strong> concepción.19 Exist<strong>en</strong> casos reci<strong>en</strong>tes como el de <strong>la</strong> mujer indíg<strong>en</strong>a Ernestina Asc<strong>en</strong>cio Rosario qui<strong>en</strong> fuevio<strong>la</strong>da por miembros del ejército y tras una polémica originada <strong>en</strong>tre <strong>la</strong> versión de que <strong>la</strong> causa desu deceso había sido una <strong>en</strong>fermedad gastrointestinal y <strong>la</strong> versión de que había sido víctima de unavio<strong>la</strong>ción tumultuaria, <strong>la</strong> única acción que se empr<strong>en</strong>dió fue <strong>la</strong> publicación de su caso <strong>en</strong> <strong>la</strong> páginaweb de <strong>la</strong> Comisión Nacional de Derechos Humanos. Ver. www.cndh.org. Caso de Ernestina Asc<strong>en</strong>cioRosario.20 Según Amelia Valcárcel, <strong>la</strong>s sociedades son “sociedades de culpa” por oposición a <strong>la</strong>s antiguas“sociedades de vergü<strong>en</strong>za”, “Esto supone que <strong>la</strong> culpa está interiorizada por medio de una sanciónde ord<strong>en</strong> distinto; no externa, sino interna”. Véase, Valcárcel, Amelia, “Ética para un mundo global.Una apuesta por el humanismo fr<strong>en</strong>te al fanatismo, Temas de hoy”, Madrid, 2002, p 191.<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es81


considera como una am<strong>en</strong>aza y luego porque no todas <strong>la</strong>s mujeres ti<strong>en</strong><strong>en</strong> unaformación <strong>en</strong> materia de género. Así, pues, al reconocer dignidad de persona alembrión por <strong>en</strong>cima de <strong>la</strong> dignidad de <strong>la</strong>s mujeres, se busca el reforzami<strong>en</strong>to delcontrol de sus cuerpos, que si bi<strong>en</strong> es cierto no ha logrado una expresión ampliada,sí ha constituido el <strong>en</strong>cu<strong>en</strong>tro de muchas mujeres con dinámicas sexualesdiversas, distintas.Dicha práctica social, sería poco posible de no ser porque <strong>en</strong> <strong>la</strong> segunda o<strong>la</strong> delfeminismo, <strong>en</strong> <strong>la</strong> década de los 70, se comi<strong>en</strong>zan a p<strong>la</strong>ntear <strong>en</strong>tre otras cosas, <strong>la</strong>viol<strong>en</strong>cia contra <strong>la</strong>s mujeres y el aborto legal 21 . Recordemos, por otro <strong>la</strong>do, queel tema de <strong>la</strong> viol<strong>en</strong>cia, emergió a finales de <strong>la</strong> década de los 70 como productode <strong>la</strong> reflexión feminista durante el Dec<strong>en</strong>io de <strong>la</strong>s Naciones Unidas para <strong>la</strong> <strong>Mujer</strong>(Conv<strong>en</strong>ción Belem do Pará) 22 que <strong>en</strong> su artículo 1º tipifica <strong>la</strong> viol<strong>en</strong>cia contra<strong>la</strong> mujer como “Cualquier acción o conducta, basada <strong>en</strong> su género, que causemuerte, daño o sufrimi<strong>en</strong>to físico, sexual o psicológico a <strong>la</strong> mujer, tanto <strong>en</strong> el ámbitopúblico como <strong>en</strong> el privado” 23 .La m<strong>en</strong>ción de instrum<strong>en</strong>tos internacionales vi<strong>en</strong>e al caso, porque como lo seña<strong>la</strong>Nieves Rico, <strong>la</strong> reflexión feminista ti<strong>en</strong>e gran incid<strong>en</strong>cia <strong>en</strong> estos procesosjurídicos, pero también porque ti<strong>en</strong>e razón al afirmar que guarda re<strong>la</strong>ción con<strong>la</strong> construcción de nuevas formas de ciudadanía 24 . En cuanto a <strong>la</strong> participaciónde <strong>la</strong>s mujeres como fuerza activa <strong>en</strong> <strong>la</strong> construcción de un piso jurídico, cabedestacar que no siempre es reconocido el impacto que ti<strong>en</strong>e su participación seacomo parte de organizaciones y movimi<strong>en</strong>tos propiam<strong>en</strong>te feministas, o desdecriterios más g<strong>en</strong>erales como los de sindicatos, partidos políticos, movimi<strong>en</strong>tosnacionalistas, etc 25 .21 En realidad es el movimi<strong>en</strong>to feminista el que comi<strong>en</strong>za <strong>en</strong> <strong>la</strong> década de los 70 a realizar diagnósticossobre <strong>la</strong> necesidad de legalizar el aborto, <strong>en</strong> esta <strong>la</strong> lucha confluyeron mujeres feministasy no feministas, desde los diversos niveles organizativos, desde <strong>la</strong> academia, desde <strong>la</strong> movilizaciónpopu<strong>la</strong>r, desde <strong>la</strong> sociedad civil, etc.22 Ver, Rico, Nieves. Viol<strong>en</strong>cia de género: Un problema de Derechos Humanos, Serie <strong>Mujer</strong> y Desarrollo,CEPAL, 1996, p 11.23 Ver, Conv<strong>en</strong>ción Interamericana para Prev<strong>en</strong>ir, Sancionar y Erradicar <strong>la</strong> viol<strong>en</strong>cia contra <strong>la</strong> <strong>Mujer</strong>,IIDH, San José Costa Rica, 2003, p 7. Entre los Estados de <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> que han firmadoy ratificado dicho pacto están Arg<strong>en</strong>tina, Bolivia, Brasil, Colombia, Guatema<strong>la</strong>, México, Nicaragua,Paraguay, Uruguay, V<strong>en</strong>ezue<strong>la</strong>, etc. Consultar, Camacho Rosalía, “Acercándonos a los Instrum<strong>en</strong>tosInternacionales de Protección de los Derechos Humanos de <strong>la</strong>s <strong>Mujer</strong>es”, IIDH, San José, C.R, 2003,p. 94. El anteced<strong>en</strong>te de Belem do Pará, es <strong>la</strong> Conv<strong>en</strong>ción para <strong>la</strong> Eliminación de <strong>la</strong> Discriminacióncontra <strong>la</strong> <strong>Mujer</strong>, después de <strong>la</strong> cual vi<strong>en</strong>e <strong>la</strong> Confer<strong>en</strong>cia Mundial Derechos Humanos de <strong>la</strong>s NacionesUnidas, celebrada <strong>en</strong> Vi<strong>en</strong>a.24 Rico, Nieves, op, cit, p. 1325 Consultar, Molyneux, Maxine, Movimi<strong>en</strong>tos de mujeres <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>. Estudio teórico comparado,Cátedra, Val<strong>en</strong>cia, 2003, p. 22682 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


e) La e<strong>la</strong>sticidad del l<strong>en</strong>guajeEn estos mom<strong>en</strong>tos <strong>en</strong> que parece que el l<strong>en</strong>guaje feminista, particu<strong>la</strong>rm<strong>en</strong>te elprov<strong>en</strong>i<strong>en</strong>te de <strong>la</strong> perspectiva de género ha t<strong>en</strong>ido aceptación a nivel gubernam<strong>en</strong>taly <strong>en</strong> algunos aspectos de <strong>la</strong> vida cotidiana de mujeres y hombres, otro delos desafíos para el feminismo como movimi<strong>en</strong>to social, es buscar mecanismospara que algunos conceptos c<strong>en</strong>trales no caigan <strong>en</strong> <strong>la</strong> ubicuidad. Por ejemplo, <strong>la</strong>noción de género se convirtió <strong>en</strong> l<strong>en</strong>guaje corri<strong>en</strong>te 26 , sobre todo <strong>en</strong> el s<strong>en</strong>tido <strong>en</strong>que Adorno se p<strong>la</strong>ntea <strong>la</strong> noción de opinión infectada como repres<strong>en</strong>tación sinfondo 27 . Desde luego estos matices que adopta un concepto cuando forma partede concepciones conti<strong>en</strong>e el ejercicio legítimo del control.Por lo anterior, <strong>la</strong> e<strong>la</strong>sticidad de l<strong>en</strong>guaje implica <strong>la</strong> adquisición de conceptos ycategorías como p<strong>la</strong>taforma política de acción, sobre todo cuando <strong>la</strong> participaciónpolítica se da <strong>en</strong> contextos donde <strong>la</strong> ciudadanía es incompleta para <strong>la</strong>s mujeres,pero también aunque <strong>en</strong> m<strong>en</strong>or medida, para algunos hombres. Equidad de género,igualdad, paridad, cuotas, brechas, son términos corri<strong>en</strong>tes <strong>en</strong> el discursocuando el ambi<strong>en</strong>te es de coyuntura, sobre todo electoral e incluso, es utilizadoindistintam<strong>en</strong>te por mujeres y hombres, lo cual quiere decir que otro gran reto es<strong>la</strong> re-educación y esto no se logra únicam<strong>en</strong>te con teoría, sino que se requiere de<strong>la</strong> articu<strong>la</strong>ción con <strong>la</strong> movilización.f) Un nuevo pacto socialEn pa<strong>la</strong>bras de Epsy Campell Barr, es necesario “P<strong>la</strong>ntear un nuevo pactosocial” 28 esta tarea es de una complejidad importante, porque <strong>la</strong> transformaciónde estructuras formales ti<strong>en</strong>e que ir de <strong>la</strong> mano de <strong>la</strong> reflexión de los alcancesy significados profundos que el feminismo y el movimi<strong>en</strong>to feminista han t<strong>en</strong>idoa nivel de <strong>la</strong> vida cotidiana de <strong>la</strong>s mujeres todas. Ello requiere <strong>en</strong> un primermom<strong>en</strong>to <strong>la</strong> autocrítica para <strong>la</strong> articu<strong>la</strong>ción de dim<strong>en</strong>siones tales como <strong>la</strong> intelectual,<strong>la</strong> política y <strong>la</strong> cotidiana. Erradicar <strong>la</strong> lógica de <strong>la</strong> excepcionalidad y abrir elcamino a nuevas g<strong>en</strong>eraciones de mujeres feministas y no feministas que ti<strong>en</strong><strong>en</strong>inquietudes y que pued<strong>en</strong> compartir sus experi<strong>en</strong>cias, es un trabajo difícil, aúnmás considerando que el contexto <strong>en</strong> el cual se ti<strong>en</strong><strong>en</strong> que construir alternativases poco al<strong>en</strong>tador.26 A este respecto, consultar Stolke, Ver<strong>en</strong>a. La mujer es puro cu<strong>en</strong>to: <strong>la</strong> cultura del género. Rev.Estudios. <strong>Feministas</strong>., Ago 2004, vol.12, no.2, p.77-105.27 Consultar, Adorno, Theodor, Filosofía y superstición, Alianza, Madrid, 1972, 183 pp.28 Campell Barr, Epsy, “El movimi<strong>en</strong>to de mujeres afrodesc<strong>en</strong>di<strong>en</strong>tes”, Confer<strong>en</strong>cia pres<strong>en</strong>tada <strong>en</strong>el marco del Diplomado Internacional El feminismo <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>; teoría y vindicaciones políticas.C<strong>en</strong>tro de Investigaciones Interdisciplinaria <strong>en</strong> Ci<strong>en</strong>cias y Humanidades, UNAM, México, 8 de <strong>en</strong>erode 2009.<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es83


Podemos observar que <strong>la</strong> globalización y el avance de gobiernos de derecha,tra<strong>en</strong> para <strong>la</strong>s mujeres, <strong>la</strong> complejización de su vida, <strong>en</strong>tre otras cosas por elimpacto que ti<strong>en</strong>e para el<strong>la</strong>s, <strong>la</strong> negativa a una política migratoria, <strong>la</strong> car<strong>en</strong>ciade una conci<strong>en</strong>cia de género si no g<strong>en</strong>eral, por lo m<strong>en</strong>os sí mayoritaria <strong>en</strong> <strong>la</strong>sinstituciones educativas, de salud, de comunicación y por <strong>la</strong> naturalización def<strong>en</strong>óm<strong>en</strong>os tales como <strong>la</strong> trata de b<strong>la</strong>ncas, <strong>la</strong> viol<strong>en</strong>cia feminicida, <strong>la</strong> precariedad<strong>la</strong>boral 29 , que afectan <strong>en</strong> su mayoría a <strong>la</strong>s mujeres. Y si a todo ello le sumamos<strong>la</strong> expansión del fundam<strong>en</strong>talismo religioso que vi<strong>en</strong>e a dotar de s<strong>en</strong>tido <strong>la</strong> importanciade echar atrás los avances <strong>en</strong> materia de aborto legal y <strong>en</strong> g<strong>en</strong>eral delreconocimi<strong>en</strong>to de los derechos humanos de <strong>la</strong>s mujeres, confirmamos que e<strong>la</strong>mbi<strong>en</strong>te es poco al<strong>en</strong>tador, pero sobre todo, que hay mucho trabajo para atraera nuevas g<strong>en</strong>eraciones de mujeres a esta lucha por <strong>la</strong> equidad, <strong>la</strong> paridad y <strong>en</strong>g<strong>en</strong>eral por <strong>la</strong> construcción de una democracia g<strong>en</strong>érica.g) ¿Por qué el feminismo no es atractivo para algunas mujeres?Esta pregunta se p<strong>la</strong>ntea a manera de conclusión, y es de <strong>la</strong>s tantas que se pued<strong>en</strong>p<strong>en</strong>sar como parte del ejercicio de autocrítica, porque quizás <strong>en</strong> <strong>la</strong> ejecuciónde esta reflexión se puedan <strong>en</strong>contrar nuevas variables no sólo para el análisis,sino y sobre todo, para <strong>la</strong> acción política. Hasta ahora <strong>la</strong> articu<strong>la</strong>ción de <strong>la</strong> sociedadcivil, con el par<strong>la</strong>m<strong>en</strong>to, <strong>la</strong> academia y el movimi<strong>en</strong>to feminista, ha t<strong>en</strong>ido unahistoria poco fluida. El discurso de género ha sido adoptado <strong>en</strong> estos espacios deacción y por algunas instituciones gubernam<strong>en</strong>tales, se han creado Institutos oSecretarías de <strong>la</strong> <strong>Mujer</strong>, se ha construido un piso jurídico para el reconocimi<strong>en</strong>tode los derechos humanos de <strong>la</strong>s mujeres, pero queda <strong>la</strong> tarea de contestar a <strong>la</strong>pregunta ¿cómo llevar todos estos avances hasta donde se <strong>en</strong>cu<strong>en</strong>tran <strong>la</strong>s mujerescuyo rezago social, político, económico y cultural <strong>la</strong>s manti<strong>en</strong>e <strong>en</strong> <strong>la</strong> opresióny <strong>la</strong> exclusión total o casi total?Esta interpe<strong>la</strong>ción es suger<strong>en</strong>te y provocativa, invita a <strong>la</strong> revaloración de <strong>la</strong> prácticapolítica <strong>en</strong> cualquiera de sus modalidades, expresa y cond<strong>en</strong>sa <strong>la</strong> re<strong>la</strong>ción <strong>en</strong>trelo social y lo político, pero sobre todo, incita a no p<strong>en</strong>sar <strong>la</strong> teoría y <strong>la</strong> prácticacomo dicotomía, es decir, a no p<strong>en</strong>sar estas dim<strong>en</strong>siones de <strong>la</strong> reflexión-accióncomo si fues<strong>en</strong> excluy<strong>en</strong>tes, porque <strong>en</strong> ese principio, se fundan algunas prácticas<strong>en</strong> que al ponderar el reconocimi<strong>en</strong>to de <strong>la</strong> excepcionalidad, o sea de <strong>la</strong> exist<strong>en</strong>ciade “mujeres excepcionales” se reproduce <strong>la</strong> norma de dominación, con algunoscambios, pero <strong>la</strong> matriz de opresión continúa indiscutiblem<strong>en</strong>te operante.29 En este s<strong>en</strong>tido, como lo afirma Margarita Iglesias, <strong>la</strong> liberación del comercio trae consigo “Latransformación de <strong>la</strong>s re<strong>la</strong>ciones productivas <strong>en</strong>tre sectores formales e informales que forman <strong>la</strong>seconomías actuales, lo que provoca efectos difer<strong>en</strong>tes <strong>en</strong>tre hombres y mujeres”. Ver. Iglesias, Margarita,Género y globalización neoliberal: <strong>la</strong>s nuevas <strong>en</strong>crucijadas neocoloniales que <strong>en</strong>fr<strong>en</strong>tan <strong>la</strong>smujeres. En, Iglesias, Margarita, et.al, Género y globalización. <strong>Mujer</strong>es. Feminismo, paridad, discriminación,viol<strong>en</strong>cia, sexismo. Aún creemos <strong>en</strong> los sueños, Santiago Chile, 2004, p.13.84 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


De modo que si <strong>la</strong> categoría mujeres conti<strong>en</strong>e <strong>la</strong> diversidad de situaciones <strong>en</strong> <strong>la</strong>sque cada una se des<strong>en</strong>vuelve (c<strong>la</strong>se, etnia, raza, etc), no hay razón para que <strong>la</strong>pres<strong>en</strong>cia de <strong>la</strong>s mujeres de <strong>la</strong> movilización sea sil<strong>en</strong>ciosa fr<strong>en</strong>te a <strong>la</strong>s mujeresexcepcionales que construy<strong>en</strong> teoría, que acced<strong>en</strong> al par<strong>la</strong>m<strong>en</strong>to, porque ello esuna repres<strong>en</strong>tación del esquema tradicional 30 . Quizás muchas veces lo que hacambiado es el l<strong>en</strong>guaje, pero esto no implica necesariam<strong>en</strong>te un cambio <strong>en</strong> <strong>la</strong>sestructuras ideológicas de qui<strong>en</strong>es ahora se atrev<strong>en</strong> a hab<strong>la</strong>r de igualdad <strong>en</strong>tremujeres y hombres, o de equidad de género, por poner solo algunos ejemplos.Además esta interpe<strong>la</strong>ción provocativa, no puede terminar sin m<strong>en</strong>cionar que <strong>la</strong>integración de nuevas g<strong>en</strong>eraciones al movimi<strong>en</strong>to feminista es fundam<strong>en</strong>tal, yno para su crecimi<strong>en</strong>to numérico, sino para que con esas nuevas experi<strong>en</strong>ciasse busqu<strong>en</strong> nuevas formas de repres<strong>en</strong>tación, organización y acción feminista,sobre todo <strong>en</strong> mom<strong>en</strong>tos de actualidad <strong>en</strong> que se ha reforzado <strong>la</strong> dominaciónmasculina a través del ejercicio de otras formas de viol<strong>en</strong>cia contra <strong>la</strong>s mujeres,<strong>en</strong> <strong>la</strong>s cuales se vi<strong>en</strong>e materializando <strong>la</strong> misoginia y <strong>la</strong> indifer<strong>en</strong>cia de <strong>la</strong>s institucioneshacia dicha problemática. Queda mucho camino por construir y recorrer,y no carece de obstáculos, por ello es que se muestra imprescindible <strong>la</strong> difusiónde los Derechos Humanos de <strong>la</strong>s <strong>Mujer</strong>es, sobre todo, buscar los mecanismospara que <strong>la</strong> abstracción jurídica se convierta <strong>en</strong> forma de vida, <strong>en</strong> materia primapara <strong>la</strong> construcción de espacios cotidianos sin viol<strong>en</strong>cia de género, con equidad,con igualdad.Fu<strong>en</strong>tes BibliográficasAdorno, Theodor. Filosofía y superstición, Alianza, Madrid, 1972.Amir, Samin, Más a allá del capitalismo s<strong>en</strong>il: por un siglo XXI no norteamericano. Paidós.Bu<strong>en</strong>os Aires, 2003.Amorós, Celia, Feminismo y Filosofía, Síntesis, España, 2000.Basaglia, Franca, <strong>Mujer</strong>, locura y sociedad, Universidad Autónoma de Pueb<strong>la</strong>, México,1987.Barre Pou<strong>la</strong>in, François de <strong>la</strong>, La igualdad de los sexos. Discurso físico y moral <strong>en</strong> el quese desataca <strong>la</strong> importancia de deshacerse de los prejuicios, Edición crítica de Daniel CazésM<strong>en</strong>ache, UNAM, México, 2007.Bunster, Xim<strong>en</strong>a, La mujer aus<strong>en</strong>te. Derechos Humanos <strong>en</strong> el Mundo, Isis, Universidadde Michigan, 2007.Camacho, Rosalía, Acercándonos a los Instrum<strong>en</strong>tos Internacionales de Protección de losDerechos Humanos de <strong>la</strong>s <strong>Mujer</strong>es, IIDH, San José, C.R, 2003.30 Esto no quiere decir que <strong>la</strong>s mujeres t<strong>en</strong>gan que r<strong>en</strong>unciar a acceder a cargos de importancia,sino que desde el ámbito del feminismo se construya una lógica donde ese acceso no constituya elreforzami<strong>en</strong>to de <strong>la</strong> dominación masculina a través de <strong>la</strong> idea de que sólo a partir de <strong>la</strong> excepcionalidadse pueda construir otro ord<strong>en</strong>.<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es85


Fromm, Erich, Psicoanálisis de <strong>la</strong> sociedad contemporánea. F.C.E. México, 12ª reimpresión,1981.Hierro, Gracie<strong>la</strong>, Ética y feminismo, UNAM, México, 1990.Iglesias, Margarita, et.al, Género y globalización. <strong>Mujer</strong>es. Feminismo, paridad, discriminación,viol<strong>en</strong>cia, sexismo. Aún creemos <strong>en</strong> los sueños, Santiago Chile, 2004.Maffía, Diana, El contrato sexual, En Carrió E y Maffía, Diana, Búsquedas de S<strong>en</strong>tido parauna nueva política, Paidós, Bu<strong>en</strong>os Aires, 2005.Molyneux, Maxine, Movimi<strong>en</strong>tos de mujeres <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>. Estudio teórico comparado,Cátedra, Montaño, Sonia (coord.), El aporte de <strong>la</strong>s mujeres a <strong>la</strong> igualdad <strong>en</strong> <strong>América</strong><strong>Latina</strong> y el Caribe, CEPAL, 2008.Nash, Mary, <strong>Mujer</strong>es <strong>en</strong> el mundo. Historia, retos y movimi<strong>en</strong>tos, Alianza, España, 2004.Locke, John, Ensayo sobre el gobierno civil, Porrúa, México, 1992Rousseau, Juan Jacobo. Discurso sobre el orig<strong>en</strong> de <strong>la</strong> desigualdad, En El Contrato Socialo principios de derecho político, Porrúa, México, 1992.Valcárcel, Amelia, Ética para un mundo global. Una apuesta por el humanismo fr<strong>en</strong>te alfanatismo, Temas de hoy, Madrid, 2002.Villota, Paloma de, Las mujeres y <strong>la</strong> ciudadanía <strong>en</strong> el umbral del siglo XXI, comparado,Cátedra.Wollstonecraft, Mary, Vindicación de los derechos de <strong>la</strong> <strong>Mujer</strong>.HemerográficasMaffía Diana, Epistemología feminista: <strong>la</strong> subversión semiótica de <strong>la</strong>s mujeres <strong>en</strong> <strong>la</strong> ci<strong>en</strong>cia,En Revista V<strong>en</strong>ezo<strong>la</strong>na de Estudios de <strong>la</strong> <strong>Mujer</strong> N. 28.Stolke, Ver<strong>en</strong>a. La mujer es puro cu<strong>en</strong>to: <strong>la</strong> cultura del género. Rev. Estudios. <strong>Feministas</strong>.,Ago 2004, vol.12, no.2.Conv<strong>en</strong>cionesConv<strong>en</strong>ción Interamericana para Prev<strong>en</strong>ir, Sancionar y Erradicar <strong>la</strong> viol<strong>en</strong>cia contra <strong>la</strong><strong>Mujer</strong>, IIDH, San José Costa Rica, 2003.Electrónicaswww.cndh.org. Caso de Ernestina Asc<strong>en</strong>cio Rosario.Docum<strong>en</strong>tos CEPALMontaño, Sonia (coord.), El aporte de <strong>la</strong>s mujeres a <strong>la</strong> igualdad <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> y elCaribe, CEPAL, 2008 Universidad Complut<strong>en</strong>se, España, 1998.Rico, Nieves. Viol<strong>en</strong>cia de género: Un problema de Derechos Humanos, Serie <strong>Mujer</strong> yDesarrollo, CEPAL, 1996.Valcárcel, Amelia, La memoria colectiva y los retos del feminismo, CEPAL, Santiago deChile, 2001.Confer<strong>en</strong>ciasCampell Barr, Epsy. “El movimi<strong>en</strong>to de mujeres afrodesc<strong>en</strong>di<strong>en</strong>tes”, Confer<strong>en</strong>cia pres<strong>en</strong>tada<strong>en</strong> el marco del Diplomado Internacional El feminismo <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>; teoría yvindicaciones políticas. C<strong>en</strong>tro de Investigaciones Interdisciplinarias <strong>en</strong> Ci<strong>en</strong>cias y Humanidades,UNAM, México, 8 de <strong>en</strong>ero de 2009.86 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


Pasar por b<strong>la</strong>ncaPara V. F.Sandra del Valle25 años - CubaHoy me debo haber s<strong>en</strong>tido ufana. No ha sido un elogio cualquiera: un hombreha decidido no sos<strong>la</strong>yar <strong>la</strong> ocasión de t<strong>en</strong>er a una hembra cruzando fr<strong>en</strong>te a sípara consolidar su posición de macho beligerante ante el grupo de congéneres:“Mira a <strong>la</strong> b<strong>la</strong>nca esa”. Pero <strong>en</strong> realidad todo es m<strong>en</strong>tira o, más bi<strong>en</strong>, es doble:ser birracial 1 .La piel b<strong>la</strong>nca, los rasgos “finos” 2 , <strong>la</strong> esbeltez de <strong>la</strong> figura, y el pelo estirado apar<strong>en</strong>tem<strong>en</strong>te<strong>la</strong>cio, cuyo brillo y ondu<strong>la</strong>ción con el vi<strong>en</strong>to lo hacían ver natural,condujeron a que este hombre de tez negra eligiera y resaltara <strong>en</strong>tre los atributosexteriores disponibles para mi cualificación el de ser una “b<strong>la</strong>nca bu<strong>en</strong>a”, <strong>en</strong>tiéndase,“que está bu<strong>en</strong>a”. Es decir, “bu<strong>en</strong>a y b<strong>la</strong>nca”.Para este hombre, después de que doblé <strong>la</strong> esquina, sólo fui otra más que leposibilitó exaltar su ego performático fr<strong>en</strong>te al grupo. Sin embargo, yo no pudemás que p<strong>en</strong>sar <strong>en</strong> el proceso de simu<strong>la</strong>cro exist<strong>en</strong>cial que padec<strong>en</strong> con másagresividad <strong>la</strong>s mujeres que ti<strong>en</strong><strong>en</strong> esta especie de dualidad racial, y que muchasveces se convierte <strong>en</strong> desarraigo e indefinición a una raza. El descubrimi<strong>en</strong>to de<strong>la</strong> falsa b<strong>la</strong>ncura siempre ti<strong>en</strong>de a ser descrito como “el<strong>la</strong> es b<strong>la</strong>nca de piel; perocon el pelo rizado o ‘malo’ 3 ”.Es el pelo el elem<strong>en</strong>to difer<strong>en</strong>ciador para <strong>la</strong>s mujeresbirraciales 4 .1 Ser birracial es un término que utilizo para designar un estado dual de acuerdo a <strong>la</strong> id<strong>en</strong>tidad racial,donde <strong>la</strong> posibilidad de ser reconocido como pert<strong>en</strong>eci<strong>en</strong>te tanto a <strong>la</strong> raza negra como a <strong>la</strong> b<strong>la</strong>ncacoloca al individuo fuera de los órd<strong>en</strong>es raciales establecidos. Ser birracial es un estado intermedioy, por tanto, indefinido.2 Utilizo <strong>la</strong>s comil<strong>la</strong>s no porque mi rostro no t<strong>en</strong>ga un perfil <strong>la</strong>tino (griego); sino por <strong>la</strong> connotaciónsemántica discriminatoria que oculta este adjetivo: no es sólo lo delgado o estrecho de <strong>la</strong> apari<strong>en</strong>ciafisonómica; sino lo distinguido y distinguible, y <strong>en</strong> consecu<strong>en</strong>cia, socialm<strong>en</strong>te superior.3 Este adjetivo, al igual que fino, <strong>en</strong>cierra una significación más allá de <strong>la</strong>s texturas del pelo; puesse le asigna una condición execrable al pelo rizado y al pasudo, <strong>en</strong> contraposición a <strong>la</strong> “bu<strong>en</strong>a” del<strong>la</strong>cio.4 Hablo del género fem<strong>en</strong>ino porque <strong>en</strong> éste se c<strong>en</strong>tra mi objeto de estudio; pero <strong>en</strong> el caso de loshombres se verifica <strong>la</strong> misma realidad. Para ellos, el pe<strong>la</strong>do bi<strong>en</strong> corto será <strong>la</strong> vía para simu<strong>la</strong>r <strong>la</strong>b<strong>la</strong>ncura.<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es87


Pelo de b<strong>la</strong>ncaDe ahí que todo los esfuerzos y angustias estén conc<strong>en</strong>trados <strong>en</strong> el b<strong>la</strong>nqueami<strong>en</strong>todel cabello, puesto que los modelos de belleza y s<strong>en</strong>sualidad fem<strong>en</strong>inas<strong>en</strong>altec<strong>en</strong> al pelo <strong>la</strong>cio ante el pasudo 5 . Recuerdo <strong>la</strong> vez <strong>en</strong> que probé t<strong>en</strong>er mipelo natural y lo corté para dejarlo crecer. S<strong>en</strong>tí que perdía poderes de atracciónsobre los hombres, y era porque había roto con el canon de feminidad dominanteque focaliza el pelo como un dispositivo del erotismo fem<strong>en</strong>ino 6 . Sólo hay queremitirse a <strong>la</strong> repres<strong>en</strong>tación <strong>en</strong> una secu<strong>en</strong>cia audiovisual cualquiera del ritosexual <strong>en</strong>tre un hombre y una mujer, donde éste le soltará o ésta se soltará sucabello —si es que no lo está ya— <strong>en</strong> el mom<strong>en</strong>to climático de <strong>la</strong> seducción comoexaltación erótica de <strong>la</strong> imag<strong>en</strong> fem<strong>en</strong>ina o como dominio erótico sobre el otro.De hecho, el pelo deberá ser revuelto o revolverse durante el acto, ac<strong>en</strong>tuar el“salvajismo” fem<strong>en</strong>ino o <strong>la</strong> subordinación al macho cuando éste tire de él.Este imaginario crea un s<strong>en</strong>timi<strong>en</strong>to de una feminidad rebajada o inferior, que obligaa <strong>la</strong>s mujeres birraciales a acudir a mecanismos de estirami<strong>en</strong>to del pelo 7 parasatisfacer el canon b<strong>la</strong>nco hegemónico de belleza 8 . Un antiguo refrán s<strong>en</strong>t<strong>en</strong>ciaque “para lucir hay que sufrir”. Son pa<strong>la</strong>bras que tratan aliviar psicológicam<strong>en</strong>te e<strong>la</strong>rdor que produce <strong>en</strong> el cuero cabelludo <strong>la</strong> potasa del desriz que ayuda a pasarpor b<strong>la</strong>nca. Ahora mismo no estoy segura de <strong>la</strong> primera vez que me aplicaronesa crema estiradora; evid<strong>en</strong>tem<strong>en</strong>te no t<strong>en</strong>ía mucha conci<strong>en</strong>cia aún o quizá loincorporé como parte de los ritos de iniciación <strong>en</strong> <strong>la</strong> condición de mujer de los quehab<strong>la</strong>ba hooks 9 . Pero t<strong>en</strong>go una prima negra que se <strong>la</strong> untó superficialm<strong>en</strong>te a suhija de dos años para que pareciera una “mu<strong>la</strong>tica de pelo bu<strong>en</strong>o”. Es <strong>la</strong> angustiapor “ade<strong>la</strong>ntar <strong>la</strong> raza” y m<strong>en</strong>os estigma social para una criatura que todavía nove el mundo <strong>en</strong> b<strong>la</strong>nco y negro 10 .5 Otros elem<strong>en</strong>tos fisonómicos son re<strong>la</strong>cionados con determinada raza, como <strong>la</strong> nariz ñata o los <strong>la</strong>biosbembudos. Sin embargo, estos elem<strong>en</strong>tos no <strong>en</strong>negrec<strong>en</strong>, mi<strong>en</strong>tras que el pelo sí emb<strong>la</strong>nquece.6 Sobretodo <strong>la</strong> textura del pelo que nacía subvertía <strong>la</strong> belleza tradicionalm<strong>en</strong>te aupada por <strong>la</strong> supremacíab<strong>la</strong>nca.7 Prefiero el término estirar al de alisar que utilizan estudiosos como bell hooks o Paul C. Taylor. Creoque el estirami<strong>en</strong>to no supone <strong>la</strong> <strong>la</strong>situd y sí remite a cierta tiesura que marca a los pelos desrizados.8 Llevar el pelo rizo es asumido hoy como una vuelta a los oríg<strong>en</strong>es, una onda “afro”; sobre todo más ost<strong>en</strong>sible<strong>en</strong> mujeres visiblem<strong>en</strong>te negras; pero que <strong>en</strong> muchos casos más que una negación de <strong>la</strong> dictatorialidadde una feminidad b<strong>la</strong>nca y/o el consecu<strong>en</strong>te autorreconocimi<strong>en</strong>to y autovaloración de <strong>la</strong> condiciónde negra, es el amparo <strong>en</strong> un gremio social que toma esta difer<strong>en</strong>cia como reacción cultural y política.9 Cf. bell hooks: “V<strong>en</strong>di<strong>en</strong>do bollitos cali<strong>en</strong>tes. Repres<strong>en</strong>taciones de <strong>la</strong> sexualidad fem<strong>en</strong>ina negra”,revista Criterios, No. 34, 2003. Sin dudas, el desriz, como acto de iniciación como lo viv<strong>en</strong>ciara bellhooks, se asocia indirectam<strong>en</strong>te con los patrones de belleza b<strong>la</strong>ncos, pues <strong>la</strong> jov<strong>en</strong>cita apr<strong>en</strong>derá quepara “ser bel<strong>la</strong>” y “lucir bi<strong>en</strong>”, “arreg<strong>la</strong>da”, es necesario estirarse el pelo.10 Un libro cubano paradigmático sobre los recursos para el “ade<strong>la</strong>ntami<strong>en</strong>to racial” es Reyita, s<strong>en</strong>cil<strong>la</strong>m<strong>en</strong>te,de Daisy Rubiera, hija de <strong>la</strong> protagonista qui<strong>en</strong> narra el proceso de b<strong>la</strong>nqueami<strong>en</strong>to de su familiacomo proyecto ideológico para sus hijos. “Ade<strong>la</strong>ntar <strong>la</strong> raza” es para Reyita no sufrir: “No quise que loshijos que tuviera sufrieran lo que sufrí yo. Por eso quise ade<strong>la</strong>ntar <strong>la</strong> raza, por eso me casé con un b<strong>la</strong>nco”.Su voz es símbolo de un imaginario donde aún se perpetúa “lo atrasado” vs. “lo ade<strong>la</strong>ntado”.88 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


Me imagino —y estoy segura— <strong>la</strong> satisfacción que tuvieron mi abue<strong>la</strong> negray mi madre mu<strong>la</strong>ta cuando nací, al ver que me veía b<strong>la</strong>nca, que era b<strong>la</strong>nca.De hecho, así figura <strong>en</strong> mi carné de id<strong>en</strong>tidad para aut<strong>en</strong>tificar mi color depiel, y mi abue<strong>la</strong> no se cansa de repetirlo como una (falsa) cualidad más.El dramaturgo Abe<strong>la</strong>rdo Estorino supo seña<strong>la</strong>r desde el título de su obrateatral “Parece b<strong>la</strong>nca”, el conflicto exist<strong>en</strong>cial y social que había funcionadocomo atributo y anatema a <strong>la</strong> Cecilia Valdés, personaje c<strong>en</strong>tral de <strong>la</strong> nove<strong>la</strong>homónima de Cirilo Vil<strong>la</strong>verde, que inspiró su pieza, y que se exti<strong>en</strong>de <strong>en</strong> <strong>la</strong>sproyecciones de <strong>la</strong>s mujeres birraciales sobre <strong>la</strong> condición y el deseo de serb<strong>la</strong>nca 11 .Cecilia pasa por un apr<strong>en</strong>dizaje de su racialidad y del privilegio de <strong>la</strong> b<strong>la</strong>ncura.Es precisam<strong>en</strong>te <strong>la</strong> abue<strong>la</strong> negra <strong>la</strong> que <strong>la</strong> inicia de niña <strong>en</strong> esta cultura del colory de <strong>la</strong> discriminación racial. En un pasaje se hace evid<strong>en</strong>te el discurso racista yautof<strong>la</strong>ge<strong>la</strong>dor de <strong>la</strong> abue<strong>la</strong> y <strong>la</strong> ponderación del ser casi b<strong>la</strong>nca:CECILIA. Yo estaba jugando a <strong>la</strong> lunita con N<strong>en</strong>e.CHEPILLA. ¡Bu<strong>en</strong>a pieza! Una pardita andrajosa y chancletera.[…]CHEPILLA. No ti<strong>en</strong>es que mezc<strong>la</strong>rte con esos negros.NEMESIA. Esta vieja odia a los negros como si hubiera nacido <strong>en</strong> Galicia.CHEPILLA. Tú pareces b<strong>la</strong>nca. Mírate. Mira esa cara. ¿Ves <strong>la</strong> piel? B<strong>la</strong>nca.Y fíjate <strong>en</strong> <strong>la</strong> nariz, afi<strong>la</strong>da como <strong>la</strong> de una señorita. Y ese pelo, ese dice queti<strong>en</strong>es sangre b<strong>la</strong>nca.CECILIA. La piel y el pelo bu<strong>en</strong>o no me sirv<strong>en</strong> de nada.CHEPILLA. Cuando seas una mujer y te llegue el mom<strong>en</strong>to de buscar maridov<strong>en</strong>drá un caballero b<strong>la</strong>nco y te pedirá <strong>en</strong> matrimonio y te llevará a una casacon pisos que bril<strong>la</strong>n como espejos y t<strong>en</strong>drás coche…CECILIA. ¡Coche!CHEPILLA. …y vestidos…CECILIA. ¡De París!CHEPILLA. …y yo no diré nunca que soy tu abue<strong>la</strong> y te veré de lejos, siemprede lejos.[…]CECILIA. Yo quiero vivir siempre contigo.CHEPILLA. Oh, si supieras lo que significa ser b<strong>la</strong>nco <strong>en</strong> esta tierra. […].11 Resulta l<strong>la</strong>mativo <strong>en</strong> Estorino su at<strong>en</strong>ción a <strong>la</strong> cuestión racializada y al b<strong>la</strong>nqueami<strong>en</strong>to que se resaltan<strong>en</strong> su versión. Como parte de una descripción de <strong>la</strong>s re<strong>la</strong>ciones interraciales <strong>en</strong> el contexto de<strong>la</strong> esc<strong>la</strong>vitud, el personaje de Cecilia aparece analizado desde el conflicto de <strong>la</strong> lucha de c<strong>la</strong>ses <strong>en</strong> elestudio que hace el crítico literario Salvador Bu<strong>en</strong>o sobre <strong>la</strong> nove<strong>la</strong>. Ver: Salvador Bu<strong>en</strong>o, “Esc<strong>la</strong>vitudy re<strong>la</strong>ciones interraciales <strong>en</strong> Cecilia Valdés”, Ensayos sobre cubanos, Ediciones Unión, 1994.<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es89


Este sólo fragm<strong>en</strong>to del libreto teatral sobre el clásico de <strong>la</strong> literatura cubana delsiglo XIX sirve para describir un conjunto de prácticas e ideologías que es instauradoy opera <strong>en</strong> <strong>la</strong>s mujeres que parec<strong>en</strong> b<strong>la</strong>ncas o que pued<strong>en</strong> pasar por b<strong>la</strong>ncas.En primera instancia se verifica el rechazo, <strong>la</strong> negación y <strong>la</strong> inferiorización de<strong>la</strong> abue<strong>la</strong> para con su propia raza, <strong>la</strong> raza negra, y <strong>la</strong> celebración de <strong>la</strong> apari<strong>en</strong>ciab<strong>la</strong>nca de <strong>la</strong> nieta. Mezc<strong>la</strong>rse con los negros funcionaría, según Chepil<strong>la</strong>, comouna especie de contaminación, un rebajami<strong>en</strong>to de status que le confiere <strong>la</strong> pielb<strong>la</strong>nca, aunque no sea b<strong>la</strong>nca.En <strong>la</strong> nove<strong>la</strong> 12 , cuando a <strong>la</strong> niña Cecilia —término, como es conocido, sólo empleable<strong>en</strong> <strong>la</strong> época para <strong>la</strong>s señoritas b<strong>la</strong>ncas—, un hombre negro le desmi<strong>en</strong>tesu condición de b<strong>la</strong>nca: “Debo decirle a <strong>la</strong> niña, sin embargo, que <strong>la</strong> niña me despreciaporque se figura que como ti<strong>en</strong>e el pellejo b<strong>la</strong>nco es b<strong>la</strong>nca. La niña no loes. Si a otros puede <strong>en</strong>gañar, a mí no”, ésta lo asume como un insulto.Recuerdo mi frustración cuando de niña me dijeron por primera vez “jabá” y objetaronmi condición de b<strong>la</strong>nca, y <strong>la</strong>s contradicciones posteriores para mostrar miraíz negra a qui<strong>en</strong>es p<strong>en</strong>saban que era b<strong>la</strong>nca. Ser l<strong>la</strong>mada “jabá” es, <strong>en</strong> definitiva,el modo de demostrar mi b<strong>la</strong>ncura fraudul<strong>en</strong>ta, mi mascarada b<strong>la</strong>nca. Estedes<strong>en</strong>mascarami<strong>en</strong>to actúa como una devaluación de status. De hecho, han sidomujeres negras <strong>la</strong>s que han detectado mi falsa imag<strong>en</strong> de b<strong>la</strong>nca 13 —puesto queson mujeres que también se estiran el pelo y están <strong>en</strong>tr<strong>en</strong>adas <strong>en</strong> los códigosculturales que circu<strong>la</strong>n <strong>en</strong>tre <strong>la</strong>s personas que se hac<strong>en</strong> el desriz— y me seña<strong>la</strong>ncomo infiltrada, <strong>la</strong>s que reconoc<strong>en</strong> que yo “paso por”; o personas <strong>en</strong> un contextodonde conoc<strong>en</strong> a mi mamá mu<strong>la</strong>ta y a mi abue<strong>la</strong> negra.Es el pelo lo que marca <strong>la</strong> frontera hacia el ser b<strong>la</strong>nca; razón para que se convierta<strong>en</strong> <strong>la</strong> obsesión principal de <strong>la</strong>s mujeres birraciales, pues resulta <strong>la</strong> limitantepara parecer b<strong>la</strong>nca. Una mujer negra con pelo <strong>la</strong>cio o procesado se si<strong>en</strong>teb<strong>la</strong>nqueada, y una mujer birracial con pelo estirado es b<strong>la</strong>nca 14 . Cada vez que12 No es fortuito que utilice como crédito a <strong>la</strong> constatación de este imaginario <strong>la</strong> nove<strong>la</strong> y sus versiones—así como más ade<strong>la</strong>nte otras piezas de <strong>la</strong> cultura cubana— puesto que es una de <strong>la</strong>s primerasobras donde está incorporado y se reve<strong>la</strong>n los conflictos de <strong>la</strong> birracialidad fem<strong>en</strong>ina —all<strong>en</strong>de, yademás, del tema del negro—, que está <strong>en</strong> <strong>la</strong> base de <strong>la</strong> conformación de <strong>la</strong> nación cubana por <strong>la</strong>propia naturaleza del criollo; aunque mezc<strong>la</strong>dos y subsumidos <strong>en</strong> el mérito por el que ha pasado aser reconocida <strong>en</strong> <strong>la</strong> historia de <strong>la</strong> literatura nacional como una obra cumbre: <strong>la</strong> captación de <strong>la</strong>s costumbres,t<strong>en</strong>siones y conflictos de <strong>la</strong> sociedad c<strong>la</strong>sista del siglo XIX. (Es de suponer que utilizo comorefer<strong>en</strong>cia <strong>la</strong> versión final de esta obra publicada <strong>en</strong> 1882).13 Y aquí pi<strong>en</strong>so <strong>en</strong> <strong>la</strong>s reflexiones de Richard Dryer cuando <strong>en</strong> “La cuestión de <strong>la</strong> b<strong>la</strong>ncura”, explica que “<strong>la</strong>raza <strong>en</strong> sí misma —<strong>en</strong> <strong>la</strong> medida <strong>en</strong> que es algo <strong>en</strong> sí misma— se refiere a algunas difer<strong>en</strong>cias geográfico/físicas intrínsecam<strong>en</strong>te insignificantes <strong>en</strong>tre <strong>la</strong>s personas, son <strong>la</strong>s imág<strong>en</strong>es de <strong>la</strong> raza lo que está operando”.(El subrayado es mío). Ver: Richard Dryer: “La cuestión de <strong>la</strong> b<strong>la</strong>ncura”, revista Criterios, No. 34, 2003.14 Aunque el desrizami<strong>en</strong>to puede ser visto y vivido <strong>en</strong> un ord<strong>en</strong> desideologizado, como procesocultural refleja cierta ansiedad y deseo por “lo otro” —curiosam<strong>en</strong>te seña<strong>la</strong>do como superior—, quees lo que interesa com<strong>en</strong>tar <strong>en</strong> este <strong>en</strong>sayo.90 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


termino de desrizar mi pelo, <strong>la</strong> peluquera exc<strong>la</strong>ma con admiración: “Ahora sí queeres b<strong>la</strong>nca” 15 . Mi abue<strong>la</strong> negra, con orgullo, me narró <strong>la</strong> anécdota que le hizo<strong>la</strong> peluquera cuando el<strong>la</strong> fue a estirarse su pelo: Una de <strong>la</strong>s cli<strong>en</strong>tas que llegabacuando yo me iba preguntó extrañada: “¿Y esa b<strong>la</strong>nca qué hacía aquí?”.T<strong>en</strong>eruna nieta casi b<strong>la</strong>nca, que puede pasar por b<strong>la</strong>nca, es, <strong>en</strong> cierta medida, su vindicaciónracial. En <strong>la</strong> nove<strong>la</strong>, <strong>la</strong> abue<strong>la</strong> negra de Cecilia, manifiesta también suadmiración para con su nieta: “Aunque esté mal decirlo, es lo más lindo <strong>en</strong> verbode mujer que se ha visto <strong>en</strong> el mundo. Nadie diría que ti<strong>en</strong>e de color ni un tantico.Parece b<strong>la</strong>nca”.Sin dudas <strong>la</strong> búsqueda y el anhelo del pelo <strong>la</strong>cio han sido más asociados a mujeresde piel negra. Pocas de <strong>la</strong>s imág<strong>en</strong>es cinematográficas cubanas que hanevid<strong>en</strong>ciado este imaginario están <strong>en</strong> <strong>la</strong> ópera prima <strong>en</strong> el <strong>la</strong>rgometraje de ficciónde Enrique Colina, “Entre ciclones” 16 . Aunque como parte de su discurso satíricoe irónico, <strong>la</strong> pelícu<strong>la</strong> muestra cómo a una mujer negra le pasan el peine cali<strong>en</strong>te17 —método <strong>en</strong> realidad superado por tratami<strong>en</strong>tos químicos, aunque muchasmujeres lo preferían por su transitoriedad—, donde se conjuga ese mom<strong>en</strong>to desocialización fem<strong>en</strong>ina del que hab<strong>la</strong>ba bell hooks 18 con <strong>la</strong> explicitación de unasubjetividad que no asume su cabello como hermoso o atractivo: una le dirá a<strong>la</strong> peluquera: “Tú sabes bi<strong>en</strong> que yo soy negra a todo; pero con <strong>la</strong>s pasas nopuedo…”; mi<strong>en</strong>tras que <strong>la</strong> otra, con su cabello a<strong>la</strong>rgado gracias a <strong>la</strong>s tr<strong>en</strong>zashechas con pelo postizo, proyecta su anhelo por el cabello <strong>la</strong>cio mi<strong>en</strong>tras ojeauna revista extranjera donde <strong>la</strong>s modelos exhib<strong>en</strong> una cabellera <strong>la</strong>rga, rubia y deaspecto sedoso atribuida a los productos promocionados. De hecho, este personajese s<strong>en</strong>tirá satisfecho y embellecido cuando su amiga <strong>la</strong> peluquera ocultasu pelo con tr<strong>en</strong>citas bajo una peluca rubia. Y no sólo <strong>la</strong> compara con un iconosexual: “Te pareces a Madonna”; sino que le asegura <strong>la</strong> victoria de una conquistasexual-amorosa: “…el mediquito ese va a comer de tu mano”. Es <strong>la</strong> reafirmaciónde un patrón de belleza racista que exalta los cabellos <strong>la</strong>cios y rubios como losparadigmáticos 19 .15 El “arreglo” del pelo devi<strong>en</strong>e mom<strong>en</strong>to de socialización fem<strong>en</strong>ina <strong>en</strong>tre mujeres que se re<strong>la</strong>cionandesde códigos culturales simi<strong>la</strong>res <strong>en</strong> re<strong>la</strong>ción con el cabello. El trabajo de <strong>la</strong> peluquera que hacedesriz, ha t<strong>en</strong>ido un carácter invisible, secreto, ve<strong>la</strong>do, de puertas cerradas y funciona por canalessumam<strong>en</strong>te subterráneos, sólo para <strong>la</strong>s iniciadas.16 En esta pelícu<strong>la</strong> también se explicita <strong>la</strong> birracialidad de un personaje masculino, Tomás: “El saliócapirro…[…] ‘jabao’, que parece b<strong>la</strong>nco pero no es”.17 Ya <strong>en</strong> el docum<strong>en</strong>tal Los del baile (1965) Nicolás Guillén Landrián había registrado imág<strong>en</strong>es demujeres negras “pasándose el peine cali<strong>en</strong>te” —ese ut<strong>en</strong>silio popu<strong>la</strong>rizado <strong>en</strong> los albores del siglo XXpor Madame C. J. Walker—, y <strong>en</strong> Retornar a Baracoa (1966) a una mujer negra poniéndose los rolos,como rituales de embellecimi<strong>en</strong>to.18 “V<strong>en</strong>di<strong>en</strong>do bollitos cali<strong>en</strong>tes. Repres<strong>en</strong>taciones de <strong>la</strong> sexualidad fem<strong>en</strong>ina negra”, Op. Cit.19 bell hooks hace un notable desmontaje al respecto <strong>en</strong> su <strong>en</strong>sayo citado <strong>en</strong> este texto a partir de<strong>la</strong>s imág<strong>en</strong>es de <strong>la</strong>s artistas Diana Ross y Tina Turner.<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es91


Pero justam<strong>en</strong>te esta asociación instantánea de <strong>la</strong>s “pasas” estiradas con <strong>la</strong>smujeres negras, deja a <strong>la</strong> mujer birracial <strong>en</strong> un estado de ambigüedad, de indefinición,de invisibilización de sus conflictos raciales. En <strong>la</strong>s mujeres birracialesel estirami<strong>en</strong>to del pelo funciona sobre todo como forma de ocultami<strong>en</strong>to de <strong>la</strong>asc<strong>en</strong>d<strong>en</strong>cia negra y ponderación del poder b<strong>la</strong>nco. No obstante, estas estrategiasde b<strong>la</strong>nqueami<strong>en</strong>to no se basan <strong>en</strong> prácticas sexuales 20 , sino que ti<strong>en</strong><strong>en</strong>un s<strong>en</strong>tido más simbólico y, por tanto, trasgresor: resultan una desobedi<strong>en</strong>cia alord<strong>en</strong> racial.En nuestra cultura, el pelo pasudo es visto como atraso y es descrito comoun pelo “crudo” —<strong>en</strong> vez de natural— que necesita ser “suavizado”, tratado.Crudeza que se id<strong>en</strong>tifica con lo prosaico asociado a <strong>la</strong> raza negra. Pa<strong>la</strong>braspeyorativas como <strong>la</strong>s greñas o <strong>la</strong>s pasas para referirse al pelo pasudo o bembapara los <strong>la</strong>bios gruesos, han contribuido a <strong>la</strong> construcción y reafirmación deun imaginario que ubica a <strong>la</strong> belleza de <strong>la</strong> raza negra, y no-b<strong>la</strong>nca <strong>en</strong> g<strong>en</strong>eral,como inferior 21 , parte de un imaginario que valoriza lo b<strong>la</strong>nco como lo bello 22 .El propio Cirilo Vil<strong>la</strong>verde describe <strong>la</strong> hermosura de Cecilia <strong>en</strong> un s<strong>en</strong>tido positivoal basarse <strong>en</strong> valores de belleza b<strong>la</strong>nca: armonía <strong>en</strong>cantadora, regu<strong>la</strong>ridadde sus facciones, simetría de sus formas, lo estrecho del talle. En 1959, JuanR<strong>en</strong>é Betancourt, intelectual cubano negro, <strong>en</strong> su char<strong>la</strong> “El concepto racial debelleza” se explicaba con un cariz economicista <strong>la</strong> supremacía de los patronesb<strong>la</strong>ncos de belleza: “<strong>la</strong> hembra de cualquier raza, y hasta de cualquier especie,busca <strong>en</strong> el macho siempre <strong>la</strong> fortaleza, el poder, y no cabe duda de que el de<strong>la</strong> raza v<strong>en</strong>cedora lo es mucho más que <strong>en</strong> <strong>la</strong> v<strong>en</strong>cida”, y <strong>en</strong> el caso masculino:“el hombre busca <strong>en</strong> <strong>la</strong> mujer, <strong>en</strong>tre otras cosas, el refinami<strong>en</strong>to, el perfumeexquisito y costoso, el vestido elegante, etc., atributos de los que <strong>la</strong> mujer negraestá privada. 23 ”20 La frase “<strong>la</strong>var el vi<strong>en</strong>tre” ha servido para significar este proceso de “ade<strong>la</strong>ntami<strong>en</strong>to” racial fem<strong>en</strong>ino,cuando se casa a <strong>la</strong> hija negra o mu<strong>la</strong>ta con un b<strong>la</strong>nco.21 En su notable texto “¿Hay razas o no hay razas?”, Gastón Baquero, para hacer pat<strong>en</strong>te <strong>la</strong> percepciónde que lo negro afea, desestetiza, narra <strong>la</strong> anécdota ocurrida <strong>en</strong> un colegio religioso para niñaspobres, cuando a <strong>la</strong> madre, una visitante le preguntó al no ver ninguna niña negra si era que no <strong>la</strong>sadmitían: “No es que no <strong>la</strong>s admitamos —respondió <strong>la</strong> madre—, que nosotras no t<strong>en</strong>emos prejuiciosraciales. Es, ¿sabe usted?, que yo me mato mucho preparando el coro de ángeles. ¿Ha visto ustedqué lindo se ve? Pues imagínese, una negrita ahí, <strong>en</strong> el medio o <strong>en</strong> cualquier lugar del coro, me loecharía a perder, me lo desluciría… ¡Se v<strong>en</strong> tan lindas <strong>la</strong>s niñas y es tan perfecto el coro!”. Ver: GastónBaquero, “¿Hay razas o no hay razas?”, Ensayo cubano del siglo XX, Rafael Hernández y RafaelRojas (comp.), Fondo de Cultura Económica, México, 2002. pp. 282-303.22 No obstante hay que destacar el f<strong>en</strong>óm<strong>en</strong>o de <strong>la</strong> mu<strong>la</strong>ta al que se le asocia <strong>la</strong> voluptuosidad proporcionadapor <strong>la</strong> esteatopigia de <strong>la</strong>s negras y <strong>la</strong> belleza de <strong>la</strong>s b<strong>la</strong>ncas. La mu<strong>la</strong>ta está reconocidacomo “el mejor inv<strong>en</strong>to de los españoles”, frase que <strong>en</strong>uncia un rictus colonialista y sexual.23 Citado <strong>en</strong> Víctor Fowler: “Estrategias para cuerpos t<strong>en</strong>sos: po(li)(é)ticas del cruce interracial”. Ensayocubano del siglo XX, Op. Cit. pp. 658-688.92 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


Ser b<strong>la</strong>nca pero noSer b<strong>la</strong>nco es más una posición de poder y de privilegios per se, que una condiciónracial. De ahí que <strong>la</strong> Cecilia de Estorino, ya dotada de una conci<strong>en</strong>cia de<strong>la</strong>s razas, le diga a <strong>la</strong> Nemesia: “B<strong>la</strong>nco no es un color: es que te vean b<strong>la</strong>nca,te salud<strong>en</strong> b<strong>la</strong>nca, te pi<strong>en</strong>s<strong>en</strong> b<strong>la</strong>nca”. Es <strong>la</strong> distinción social y cultural que otorgael patrón de supremacía b<strong>la</strong>nco 24 . La b<strong>la</strong>nquitud da impunidad. Ser b<strong>la</strong>ncoes un status social <strong>en</strong> sí mismo 25 . Seguimos bajo el presupuesto aristotélicode que hay una re<strong>la</strong>ción directa <strong>en</strong>tre etnicidad y status social. Las mujeres ylos negros, como grupos, han t<strong>en</strong>ido que vivir bajo el axioma: “t<strong>en</strong>ía que ser”.Los ape<strong>la</strong>dores, los hombres b<strong>la</strong>ncos, son excusados. Ti<strong>en</strong><strong>en</strong> <strong>la</strong> v<strong>en</strong>taja delsexo-género y de <strong>la</strong> raza. Sin embargo, sobre determinadas personas negrasopera cierto b<strong>la</strong>nqueami<strong>en</strong>to moral, ya sea por su estatus económico, su nivelintelectual o simplem<strong>en</strong>te por proximidad s<strong>en</strong>tim<strong>en</strong>tal, que lo exime de estereotiposnegativos impuestos a <strong>la</strong> raza negra, desde expresiones como “tú no tecomportas como los negros”; “tú no eres igual a ellos”. Son estereotipos racialesnegativos que asocian el cuerpo a lo moral. Como apar<strong>en</strong>tem<strong>en</strong>te b<strong>la</strong>nca,es común que me incluyan <strong>en</strong> frases plurales como “vamos a hacer <strong>la</strong>s cosascomo los b<strong>la</strong>ncos”, así como que hagan com<strong>en</strong>tarios racistas al asumirme comob<strong>la</strong>nca 26 . Hay una moral racial que regu<strong>la</strong> los comportami<strong>en</strong>tos, sistema de valoresy (pre)juicios.T<strong>en</strong>er piel b<strong>la</strong>nca y pelo bu<strong>en</strong>o sí le servirán a Cecilia <strong>en</strong> su futuro; de hecho, estascaracterísticas son <strong>la</strong>s que le permit<strong>en</strong> soñar con un sino de b<strong>la</strong>nca y, a su vez,b<strong>la</strong>nco 27 . El futuro b<strong>la</strong>nco será el que sólo es permitido a <strong>la</strong>s personas b<strong>la</strong>ncas yel paradigma anhe<strong>la</strong>do. Cecilia sueña con vivir <strong>en</strong> “una casa con pisos que brill<strong>en</strong>como espejos”, vestir trajes “de muselina b<strong>la</strong>nca y <strong>en</strong>cajes”, y además librar a su24 Es interesante cómo lo que es <strong>en</strong> realidad privilegio y poder, es asumido por muchos b<strong>la</strong>ncos comoalgo natural, inher<strong>en</strong>te a su humanidad —ni siquiera a su b<strong>la</strong>ncura—; sin embargo, los no-b<strong>la</strong>ncosadviert<strong>en</strong> c<strong>la</strong>ram<strong>en</strong>te esta difer<strong>en</strong>cia. De ahí que qui<strong>en</strong>es sólo por no t<strong>en</strong>er el pelo “indicado” dejan degozar de estas ex<strong>en</strong>ciones, busqu<strong>en</strong> todos los mecanismos para pasar por b<strong>la</strong>ncos.25 En el imaginario popu<strong>la</strong>r circuló un refrán que decía: “Ser b<strong>la</strong>nco ya es una carrera”.26 En su <strong>en</strong>sayo “Passing for White, Passing for B<strong>la</strong>ck”, Adrian Piper narra los múltiples conflictosque le trajo que <strong>la</strong> p<strong>en</strong>saran b<strong>la</strong>nca. Ver: Passing and the fictions of id<strong>en</strong>tity. Editado por E<strong>la</strong>ine K.Ginsberg, Duke University Press, 1996.27 Con esta marca me gustaría remitirme a <strong>la</strong> contraposición semántica que se establece con un“negro porv<strong>en</strong>ir”, muy asociado a <strong>la</strong> condición de negro. Eso se ve c<strong>la</strong>ram<strong>en</strong>te <strong>en</strong> <strong>la</strong> obra cuando <strong>la</strong>abue<strong>la</strong> le infunde a Cecilia el miedo al negro, a lo negro: “El caballero le agarró <strong>la</strong> mano y caminaron,caminaron y cruzaron <strong>la</strong> mural<strong>la</strong>. Y mi<strong>en</strong>tas se alejaban el hombre se fue poni<strong>en</strong>do negro: el pelo rubiose le volvió pasas y los colmillos le crecieron. Ese negro era el diablo. La arrastró [a <strong>la</strong> niña] hasta elcampanario de <strong>la</strong> iglesia del Ángel, un campanario sin cruz, y desde allí <strong>la</strong> tiró <strong>en</strong> un pozo que cadavez se hacía más hondo y más hondo y más hondo. Un pozo sin fondo, ¡un abismo!, y nunca pudosalir”. Y Cecilia, asustada, responde: “Abue<strong>la</strong>, yo no quiero que me lleve un negro”. En <strong>la</strong> nove<strong>la</strong>, elnegro, lo negro, es comparado con el diablo.<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es93


desc<strong>en</strong>d<strong>en</strong>cia de <strong>la</strong> discriminación, t<strong>en</strong>er una hija que no t<strong>en</strong>ga que pasar porb<strong>la</strong>nca: “sacará su piel [<strong>la</strong> de Leonardo], <strong>la</strong>s mejil<strong>la</strong>s rosadas y el pelo <strong>la</strong>cio” 28 .Cecilia incorpora una política sexual que naturaliza el cuerpo de <strong>la</strong> mujer comoforma de movilidad social asc<strong>en</strong>d<strong>en</strong>te al estatus b<strong>la</strong>nco. Ya <strong>la</strong> abue<strong>la</strong> le había advertido<strong>la</strong> contraposición de un futuro b<strong>la</strong>nco a un futuro negro, con re<strong>la</strong>ción a subelleza y <strong>la</strong> fealdad de <strong>la</strong> casa que habitaban: “Hija, contemp<strong>la</strong> lo que serás y sémás cuerda”. Es a partir de esta educación racializada y c<strong>la</strong>sista que “a <strong>la</strong> sombradel b<strong>la</strong>nco, por ilícita que fuese su unión, creía y esperaba Cecilia asc<strong>en</strong>der siempre,salir de <strong>la</strong> humilde esfera <strong>en</strong> que había nacido, sino el<strong>la</strong>, sus hijos” 29 .Pero Cecilia sufre <strong>en</strong> carne propia su hibridez, como l<strong>la</strong>ma Cirilo Vil<strong>la</strong>verde <strong>en</strong> sunove<strong>la</strong> a <strong>la</strong> birracialidad de su protagonista fem<strong>en</strong>ina, de ahí que dec<strong>la</strong>re ésta: “Nosoy de tu condición Leonardo. Soy pobre y, lo peor, no soy b<strong>la</strong>nca.” Desde pequeñaChepil<strong>la</strong> había trazado el proyecto de esca<strong>la</strong>mi<strong>en</strong>to sociorracial para su nieta. Despuésde repr<strong>en</strong>der<strong>la</strong> por estar jugando con su amiga Nemesia, “una pardita andrajosa,callejera y mal criada”, le dice: “Tú eres mejor que el<strong>la</strong>. Tu padre es un caballerob<strong>la</strong>nco, y algún día has de ser rica y andar <strong>en</strong> carruaje. ¿Quién sabe? Pero Nemesiano será más de lo que es. Se casará, si se casa, con un mu<strong>la</strong>to como el<strong>la</strong>, porque supadre ti<strong>en</strong>e más de negro que de otra cosa. Tú, al contrario, eres casi b<strong>la</strong>nca y puedesaspirar a casarte con un b<strong>la</strong>nco”. Ya adulta Cecilia le dirá a su amiga Nemesia:“No lo niego mucho que sí me gustan más los b<strong>la</strong>ncos que los pardos. Se me caería<strong>la</strong> cara de vergü<strong>en</strong>za si me casara con un pardo y tuviera un hijo saltoatrás”.Como Cecilia, he crecido y me he culturizado como b<strong>la</strong>nca <strong>en</strong> rechazo a todaevid<strong>en</strong>cia de mi patrimonio negro. Desde <strong>la</strong> adolesc<strong>en</strong>cia siempre he escuchadoque me t<strong>en</strong>go que casar y parirle —sobre todo eso— a un b<strong>la</strong>nco “legítimo” 30 ,porque así mi desc<strong>en</strong>d<strong>en</strong>cia sí será b<strong>la</strong>nca. En su historia sobre el proceso de28 El gesto de definir el género de su desc<strong>en</strong>d<strong>en</strong>cia como fem<strong>en</strong>ino, sin dudas docum<strong>en</strong>ta que somos<strong>la</strong>s mujeres <strong>la</strong>s que más viv<strong>en</strong>ciamos el conflicto racial, puesto que pert<strong>en</strong>ecemos además al estigmatizadocomo “sexo débil”. De hecho, muchas veces, el ser negra se traga al ser mujer. Conversandocon una amiga negra me confesaba cómo <strong>en</strong> su desarrollo profesional y personal ha t<strong>en</strong>ido que <strong>en</strong>fr<strong>en</strong>tarmás subvaloraciones por su piel negra, que por su género, a lo que se le agregaría su volum<strong>en</strong>corporal, que <strong>la</strong> excluye de todos los patrones de feminidad regu<strong>la</strong>dos por <strong>la</strong> supremacía b<strong>la</strong>nca.29 Alos varones del siglo XVII les era permitida <strong>la</strong> compra, bajo determinadas circunstancias, del “Títulode B<strong>la</strong>nco” o “Carta de B<strong>la</strong>nco” que le otorgaba ciertos privilegios a su poseedor, como ser consideradooficialm<strong>en</strong>te b<strong>la</strong>nco, vestir como caballero y ser nombrado como señor, y heredar. Otro de loscertificados del ord<strong>en</strong> racial de <strong>la</strong> época era el de “limpieza de sangre”, docum<strong>en</strong>to que probaba qu<strong>en</strong>o t<strong>en</strong>ía sangre negra, simi<strong>la</strong>r al de <strong>la</strong> Ley de ni una gota de sangre negra <strong>en</strong> los Estados Unidos.30 Esta vigi<strong>la</strong>ncia sobre <strong>la</strong> legitimidad de <strong>la</strong> raza b<strong>la</strong>nca se ha traducido <strong>en</strong> marcas refr<strong>en</strong>dadoras delos b<strong>la</strong>ncos de “verdad”: ir a <strong>la</strong> p<strong>la</strong>ya y ponerse rosado-colorado <strong>en</strong> vez de oscurecerse <strong>la</strong> piel, nohacer queloide <strong>la</strong>s cicatrices o <strong>la</strong> revisión de <strong>la</strong>s niñas y los niños cuando nac<strong>en</strong> para ver si ti<strong>en</strong><strong>en</strong> <strong>la</strong>“jaba” <strong>en</strong> <strong>la</strong>s nalgas o sus g<strong>en</strong>itales externos más prietos, donde se verifica su verdadera raza. Cirilodemuestra <strong>la</strong> mu<strong>la</strong>tez de Cecilia al deve<strong>la</strong>r “que sus <strong>la</strong>bios rojos t<strong>en</strong>ían un borde o filete oscuro, y que<strong>la</strong> iluminación del rostro terminaba <strong>en</strong> una especie de p<strong>en</strong>umbra hacia el nacimi<strong>en</strong>to del cabello”.94 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


<strong>la</strong>nqueami<strong>en</strong>to racial, Reyita cu<strong>en</strong>ta que “Los negros, y sobre todo los viejos,siempre consideraron que <strong>la</strong> unión con b<strong>la</strong>nco era importante, porque mi<strong>en</strong>trasmás c<strong>la</strong>ro se fuera, se pasaba m<strong>en</strong>os vicisitudes con <strong>la</strong> discriminación”.En mi familia materna se reproduce una secu<strong>en</strong>cia simi<strong>la</strong>r a <strong>la</strong> que <strong>en</strong>umera Chepil<strong>la</strong><strong>en</strong> Parece b<strong>la</strong>nca: “Madal<strong>en</strong>a negra, tuvo con un hombre b<strong>la</strong>nco a Chepil<strong>la</strong>A<strong>la</strong>rcón, parda; y Chepil<strong>la</strong> A<strong>la</strong>rcón tuvo con otro hombre b<strong>la</strong>nco a Charito A<strong>la</strong>rcón,parda c<strong>la</strong>ra; y Charito tuvo con otro hombre b<strong>la</strong>nco a Cecilia Valdés, b<strong>la</strong>nca” 31 . Estosfragm<strong>en</strong>tos reve<strong>la</strong>n <strong>la</strong> g<strong>en</strong>ealogía del “passing” <strong>en</strong> <strong>la</strong> explotación sexual de <strong>la</strong>smujeres negras esc<strong>la</strong>vas por los hombres b<strong>la</strong>ncos, esc<strong>la</strong>vistas, colonizadores.Los mecanismos del “passing” —<strong>en</strong> este caso poder pasar por b<strong>la</strong>nco— estuvieronhistóricam<strong>en</strong>te re<strong>la</strong>cionados con alcanzar <strong>la</strong> libertad, era un modo de serlibre. Como parte de un antagonismos de razas (b<strong>la</strong>nco vs. negros) asociado auna condición legal (libre vs. esc<strong>la</strong>vo), los oríg<strong>en</strong>es del “passing” <strong>en</strong> los EstadosUnidos los “casi b<strong>la</strong>ncos” les permitía salir de <strong>la</strong> esc<strong>la</strong>vitud y pasar de un estadode subordinación y opresión a uno de libertad o privilegio. Ser b<strong>la</strong>nco se ha construido<strong>en</strong> es<strong>en</strong>cia sobre esos significados 32 .El “passing” —como explica E<strong>la</strong>ine K. Ginsberg 33 — es sobre <strong>la</strong>s id<strong>en</strong>tidades, sucreación y su imposición, su asunción o negación, sus recomp<strong>en</strong>sas y sus p<strong>en</strong>alizaciones.Es también sobre <strong>la</strong>s fronteras establecidas <strong>en</strong>tre <strong>la</strong>s categorías de id<strong>en</strong>tidady <strong>la</strong>s ansiedades individuales y culturales inducidas por cruzar esas fronteras 34 .Aunque <strong>la</strong> lógica cultural del “passing” sugiere que está motivado por el deseo demudar <strong>la</strong> id<strong>en</strong>tidad de un grupo oprimido para ganar acceso a oportunidades económicasy sociales (importante ante <strong>la</strong> persist<strong>en</strong>cia del racismo), <strong>la</strong> racionalidaddel “passing” puede ser más o m<strong>en</strong>os compleja o ambigua y motivada por otrasformas de percibir gratificaciones 35 .El “passing”, sin embargo, es <strong>en</strong> sí un acto de subversión, de manipu<strong>la</strong>ción, dondelos individuos pued<strong>en</strong> re-hacer su id<strong>en</strong>tidad a través de estrategias sobre elcuerpo. Pero sobre todo, el “passing”, más que una falsificación, un fraude repres<strong>en</strong>ta<strong>la</strong> invalidez de <strong>la</strong> categoría raza, su crisis.31 Esta g<strong>en</strong>ealogía reproduce casi textualm<strong>en</strong>te <strong>la</strong> que es narrada <strong>en</strong> <strong>la</strong> nove<strong>la</strong> por el personaje deMaría de Reg<strong>la</strong>. p. 242.32 Ver: Passing and the fictions of id<strong>en</strong>tity. Editado por E<strong>la</strong>ine K. Ginsberg, Duke University Press,1996. especialm<strong>en</strong>te el <strong>en</strong>sayo “Passing for White, Passing for B<strong>la</strong>ck”, de Adrian Piper.33 Op. Cit.34 Un elem<strong>en</strong>to importante d<strong>en</strong>tro de <strong>la</strong> lógica del passing es <strong>la</strong> deslocalización geoterritorial de losindividuos donde no los puedan reconocer. Es curiosos como Cecilia le condiciona a <strong>la</strong> abue<strong>la</strong> que siLeonardo “se casa conmigo, me colma de riquezas y me da muchos túnicos de seda, y me hace unaseñora y me lleva a otra tierra donde nadie me conoce, ¿qué diría su merced?” (El subrayado es mío).35 Op. Cit.<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es95


Estamos fr<strong>en</strong>te a sujetos transraciales, extrafronterizos, de id<strong>en</strong>tidades movedizas,transitorias, coyunturales —puesto que el color de <strong>la</strong> piel es <strong>en</strong> sí mismo unelem<strong>en</strong>to inestable—, que ti<strong>en</strong><strong>en</strong> un carácter conting<strong>en</strong>te, preformativo, volitivoy político-ideológico re<strong>la</strong>tivo a <strong>la</strong> manera <strong>en</strong> que han sido construidos, asumidos,negociados y negados. Sin embargo, está operando <strong>en</strong> el nivel subjetivo <strong>la</strong> her<strong>en</strong>ciacultural que dota <strong>la</strong> raza.Mi piel es b<strong>la</strong>nca, pero mi raza no: el negro invisible <strong>en</strong> mi piel sólo pres<strong>en</strong>tefisonómicam<strong>en</strong>te <strong>en</strong> mi pelo, también <strong>en</strong> mi her<strong>en</strong>cia cultural y <strong>en</strong> mi g<strong>en</strong>ealogíafamiliar 36 . Ya el conflicto no está <strong>en</strong> una presunta condición legal, pues mi carnéde id<strong>en</strong>tidad me ava<strong>la</strong> como b<strong>la</strong>nca 37 , sino <strong>en</strong> el legado cultural, <strong>en</strong> definirme 38 .En <strong>la</strong> propia nove<strong>la</strong>, Cirilo Vil<strong>la</strong>verde se pregunta: “¿A qué raza, pues, pert<strong>en</strong>ecíaesta muchacha?” Alrededor de <strong>la</strong>s personas birraciales se da un ejercicioespecu<strong>la</strong>tivo sobre <strong>la</strong> ambigüedad de su raza <strong>en</strong> una sociedad donde hay queser inequívocam<strong>en</strong>te negro o b<strong>la</strong>nco, donde <strong>la</strong>s indefiniciones no se aceptan. Labirracialidad alude a cuerpos racialm<strong>en</strong>te ilegibles.El sujeto birracial no sólo conflictuará los límites/fronteras establecidas, sino quevivirá él mismo <strong>en</strong> conflicto. Pero aún más, pone <strong>en</strong> conflicto <strong>la</strong> certeza de <strong>la</strong>scategorías de id<strong>en</strong>tidad y sus fronteras: <strong>la</strong> posibilidad de re-crear nuevas id<strong>en</strong>tidades,de bur<strong>la</strong>r los márg<strong>en</strong>es establecidos. El proceso y el discurso de “pasarpor” es una interrogación, un cuestionami<strong>en</strong>to a <strong>la</strong> ontología de <strong>la</strong>s categorías de<strong>la</strong> id<strong>en</strong>tidad y su construcción.“S<strong>en</strong>tirme b<strong>la</strong>nca” es lo que rec<strong>la</strong>ma Cecilia, p<strong>la</strong>nteami<strong>en</strong>to que abandona el p<strong>la</strong>nofisonómico para traspasar a lo psicológico y lo moral. Y lo real es que aunqueuna parezca que pueda pasar por b<strong>la</strong>nca, se viv<strong>en</strong> y experim<strong>en</strong>tan interiorm<strong>en</strong>teconflictos simi<strong>la</strong>res de <strong>la</strong>s mujeres negras, desde <strong>la</strong> muti<strong>la</strong>ción del cuerpo conel estirami<strong>en</strong>to del cabello hasta <strong>la</strong> construcción del mito racial que provoca e<strong>la</strong>nhelo b<strong>la</strong>nco.36 El carácter de her<strong>en</strong>cia cultural ya lo había seña<strong>la</strong>do Víctor Fowler <strong>en</strong> su memorable <strong>en</strong>sayo “Estrategiaspara cuerpos t<strong>en</strong>sos: po(lí)(é)ticas del cruce interracial”: “¿Qué dualidad es ésta si no <strong>la</strong> mismaque subyace <strong>en</strong> <strong>la</strong> raíz de <strong>la</strong> nación cubana, partida <strong>en</strong>tre sus dos her<strong>en</strong>cias contrapuestas, africana ahispana?”. Op. Cit.37 En voz de un personaje literario se ha aludido a que “con lo fácil que es hoy ponerse un color b<strong>la</strong>nco<strong>en</strong> el carné de id<strong>en</strong>tidad, eso es una revolución <strong>en</strong> el campo de <strong>la</strong> g<strong>en</strong>ealogía”. Ver Víctor Fowler,“Estrategias para cuerpos t<strong>en</strong>sos: po(lí)(é)ticas del cruce interracial”, Op. Cit.38 Con agudeza, <strong>en</strong> una de sus confer<strong>en</strong>cias radiofónicas sobre el negro <strong>en</strong> Cuba, Gustavo Urrutiahabía seña<strong>la</strong>do como “prejuicio de colores”: “Obsérvese que no digo prejuicio de razas, sino de colores,puesto que <strong>en</strong> Cuba es b<strong>la</strong>nco todo el que no parezca negro”.96 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


As contribuições da perspectiva dialógica ao movim<strong>en</strong>tofeminista. Respeito à difer<strong>en</strong>ça e diálogo <strong>en</strong>tre mulheresCarolina OrquizaBrasilVivemos em uma sociedade em que é nítida a desigualdade <strong>en</strong>tre hom<strong>en</strong>s e mulheres,conferindo poder ao homem e gerando prejuízos para o des<strong>en</strong>volvim<strong>en</strong>tohumano especialm<strong>en</strong>te das mulheres. Foi a partir da luta das mulheres e suaorganização em movim<strong>en</strong>tos próprios, ou seja, movim<strong>en</strong>tos de mulheres, que aautoridade masculina e as difer<strong>en</strong>ças exclusoras <strong>en</strong>tre os sexos foram d<strong>en</strong>unciadascomo uma construção social injusta.O Movim<strong>en</strong>to Feminista se caracteriza como um movim<strong>en</strong>to sociopolítico queluta pe<strong>la</strong> defesa e ampliação dos direitos da mulher. Surgiu na primeira metadedo século XIX, na Ing<strong>la</strong>terra e nos EUA, com o objetivo principal de conquistardireitos civis, como o voto e o acesso ao <strong>en</strong>sino superior. Ressurgiu na décadade 60, nos EUA, com reivindicações mais amp<strong>la</strong>s, como o direito à sexualidade eà igualdade com os hom<strong>en</strong>s no mercado de trabalho.Assim, o movim<strong>en</strong>to feminista tem lutado no mundo e na <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> embusca de melhores condições para a vida das mulheres. Este movim<strong>en</strong>to d<strong>en</strong>uncioua desigualdade, revelou-se contra as re<strong>la</strong>ções de gênero baseadas nadominação versus submissão e mostrou que e<strong>la</strong> não é natural, mas construídaideológica e historicam<strong>en</strong>te. Revelou o duro cotidiano vivido por milhares de mulherese sali<strong>en</strong>tou temas que incomodaram os valores estabelecidos, tais como, aviolência sexual, a violência doméstica, o direito a opção de ter ou não ter filhos,o direito ao prazer: “O feminismo desnudou a realidade das mulheres trabalhadoras.Deu-lhes visibilidade e apontou a aliança <strong>en</strong>tre exploração de c<strong>la</strong>sse eopressão de sexo: salários m<strong>en</strong>ores, dup<strong>la</strong> jornada, falta de profissionalização,falta de creche” (GIULANE, 1997, p. 650).São várias as vert<strong>en</strong>tes do movim<strong>en</strong>to feminista, tais como o feminismo libertário,o feminismo marxista, o feminismo pós-moderno, o feminismo dialógico, todoscom importantes aportes para a resolução de questões que dizem respeito à vidae ao cotidiano das mulheres. Na <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>, por exemplo, vários movim<strong>en</strong>tosde mulheres se implicaram na reivindicação de seus direitos, podemos citar asMães da Praça de Maio na Arg<strong>en</strong>tina, as mulheres do Movim<strong>en</strong>to Sem Terra noBrasil, a Organização Política das Mulheres Mayas na Guatema<strong>la</strong>, <strong>en</strong>tre outros.<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es97


A partir destas organizações, observamos que são muitos os avanços conquistados,mas ainda id<strong>en</strong>tificamos limitações e oportunidades apres<strong>en</strong>tadas de formasdifer<strong>en</strong>tes para hom<strong>en</strong>s e mulheres. Somado a isto, vale acresc<strong>en</strong>tar que, às desigualdadesexist<strong>en</strong>tes historicam<strong>en</strong>te <strong>en</strong>tre hom<strong>en</strong>s e mulheres, é preciso consideraras desigualdades <strong>en</strong>tre difer<strong>en</strong>tes grupos de mulheres. Segundo Safiotti(2004), há complexidades quando compre<strong>en</strong>demos o conceito de gênero comoum “nó”, abarcando re<strong>la</strong>ções qualitativas de uma simbiose da qual participamgênero, c<strong>la</strong>sse social e etnia/raça e que tornam a situação de algumas mulheresmuito mais desiguais do que a vivida por outras mulheres.Há, assim, dois grandes elem<strong>en</strong>tos a se considerar nos estudos feministas: asdesigualdades sociais históricas exist<strong>en</strong>tes <strong>en</strong>tre hom<strong>en</strong>s e mulheres, mas também<strong>en</strong>tre mulheres de difer<strong>en</strong>tes c<strong>la</strong>sses sociais e de difer<strong>en</strong>tes raças/etnias;e o direito à diversidade e à difer<strong>en</strong>ça id<strong>en</strong>titária nos processos de vida. “Tratasedo princípio de igualdade de difer<strong>en</strong>ças: nem homog<strong>en</strong>eização id<strong>en</strong>titária emnome de igualdade social, nem justificação de processos de desigualdade sociale violência em nome da preservação de id<strong>en</strong>tidades” (Mello, 2008).Flecha (1997), e<strong>la</strong>bora o princípio da “igualdade de difer<strong>en</strong>ças”, em que as pessoassão iguais e difer<strong>en</strong>tes, porque têm o direito de viver e p<strong>en</strong>sar de maneiradifer<strong>en</strong>te e serem respeitadas por isso. Nesse s<strong>en</strong>tido, destaca-se que todas etodos somos difer<strong>en</strong>tes e é importante que cada um viva na difer<strong>en</strong>ça, desde quehaja respeito. Porém, podemos observar que, em meio a tantas exclusões, nemsempre temos as mesmas oportunidades e direitos à difer<strong>en</strong>ça e, por isso, não épossível considerar todas as pessoas iguais, sem refletirmos as difer<strong>en</strong>ças.A igualdade sozinha comporta um alto grau de homog<strong>en</strong>eização das pessoas ea difer<strong>en</strong>ça, iso<strong>la</strong>da, re<strong>la</strong>tiviza as desigualdades, naturalizando-as e atribuindo aresponsabilidade total aos sujeitos e, desse modo, desautorizando lutas igualitáriaspor direitos universais (FLECHA, 1997, p, 44). A igualdade na difer<strong>en</strong>ça, porsua vez, busca outros discursos: a verdadeira igualdade inclui o mesmo direito detoda pessoa a viver de forma difer<strong>en</strong>te.Em diálogo, podemos refletir sobre essas difer<strong>en</strong>ças para a criação de acordos epossibilidades de superação das desigualdades. O diálogo, para Flecha (1997),apres<strong>en</strong>ta-se como uma via que favorece a inclusão dos grupos desfavorecidossocial e culturalm<strong>en</strong>te, no usufruto dos direitos e b<strong>en</strong>s sociais e como forma deconstruir coletivam<strong>en</strong>te o convívio nos difer<strong>en</strong>tes espaços sociais.Feminismo DialógicoEm consonância com o conceito de igualdade de difer<strong>en</strong>ças está a teoria dofeminismo dialógico, construída pe<strong>la</strong> autora Lídia Puigvert (2001-a) e que serábase teórica do pres<strong>en</strong>te <strong>en</strong>saio, ao refletirmos obstáculos apres<strong>en</strong>tados ao98 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


movim<strong>en</strong>to feminista no século XXI. O feminismo dialógico apres<strong>en</strong>ta em suasbases as teorias da Apr<strong>en</strong>dizagem Dialógica, contida nas e<strong>la</strong>borações de Habermas(1987), em torno da Ação Comunicativa, e de Paulo Freire (1994, 2005),em torno da Dialogicidade, uma vez que supõem que os sujeitos, por meio dodiálogo, são capazes de <strong>en</strong>t<strong>en</strong>dim<strong>en</strong>to e de atuarem para a transformação doscontextos e das re<strong>la</strong>ções.Para maior compre<strong>en</strong>são da leitora e do leitor, esc<strong>la</strong>recemos o conceito de Apr<strong>en</strong>dizagemDialógica, e<strong>la</strong>borado pelo C<strong>en</strong>tro Especial de Investigação em Teorias ePráticas Superadoras de Desigualdades – CREA, da Universidade de Barcelona,o qual corresponde a uma maneira de conceber a apr<strong>en</strong>dizagem inscrita nasre<strong>la</strong>ções <strong>en</strong>tre sujeitos que se propõem ao diálogo.Habermas, a partir de uma estrutura dual de sociedade, sistema e mundo davida, realiza uma crítica à redução dos espaços de comunicação que colonizamo mundo da vida, apontando que “a racionalidade tem m<strong>en</strong>os a ver com o conhecim<strong>en</strong>toe sua aquisição, que com o uso que fazem dele os sujeitos capazesde linguagem e ação” (HABERMAS, 1987, p. 24). Nesse paradigma, Habermasapres<strong>en</strong>ta que a realidade é uma construção humana que não dep<strong>en</strong>de do significadoque as pessoas, individualm<strong>en</strong>te, atribuem ao mundo, mas sim dos significadosconstruídos intersubjetivam<strong>en</strong>te, mediados pe<strong>la</strong> interação das pessoascom os mundos objetivo (refere-se às coisas materiais e é idêntico para todas/os); social (refere às normas vig<strong>en</strong>tes, aos valores e opiniões compartilhadosintersubjetivam<strong>en</strong>te); e subjetivo (som<strong>en</strong>te o sujeito tem acesso, refere-se à expressãodos desejos e s<strong>en</strong>tim<strong>en</strong>tos).Em re<strong>la</strong>ção às teorias de Paulo Freire em torno da dialogicidade, temos que oautor problematiza os desafios de uma realidade opressora a fim de superar essare<strong>la</strong>ção, t<strong>en</strong>do como foco o diálogo e a capacidade das pessoas de estarem noe com o mundo e poderem nele intervir. Nessa direção, o diálogo, em Freire,pode ser <strong>en</strong>t<strong>en</strong>dido como f<strong>en</strong>ôm<strong>en</strong>o humano constituído pe<strong>la</strong> pa<strong>la</strong>vra verdadeira,a qual guarda duas dim<strong>en</strong>sões radicalm<strong>en</strong>te imbricadas: a ação e a reflexão(FREIRE, 2005-a).Dessa forma, seguindo tais perspectivas, o feminismo dialógico se dá pe<strong>la</strong> açãocoord<strong>en</strong>ada de todas as mulheres, sem discriminação de nível de estudo, geração,c<strong>la</strong>sse social e raça/etnia, na luta por direitos para mulheres, incluído oat<strong>en</strong>dim<strong>en</strong>to de necessidades específicas da vida feminina nos difer<strong>en</strong>tes grupos,gerações e culturas. Compre<strong>en</strong>de que o discurso feminista deve contemp<strong>la</strong>ra existência da voz “das outras mulheres”, àque<strong>la</strong>s que estão nos movim<strong>en</strong>tos debase e que muitas vezes são esquecidas pe<strong>la</strong>s discussões do feminismo.Mulheres que muitas transformações cotidianas constroem em suas interações,mas que não são consideradas, ou que não estão completam<strong>en</strong>te protegidas<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es99


socialm<strong>en</strong>te para assumirem suas escolhas. Nas pa<strong>la</strong>vras de Puigvert (2001-b,p. 42), as outras mulheres são todas aque<strong>la</strong>s que “têm sido deixada à margemde nossos discursos e lutas feministas por não serem acadêmicas ou pert<strong>en</strong>cera uma minoria cultural”, ou seja, a im<strong>en</strong>sa maioria de mulheres excluídas da formu<strong>la</strong>çãode prioridades e temas selecionados pelo movim<strong>en</strong>to que temos geradoas acadêmicas e ocid<strong>en</strong>tais.No des<strong>en</strong>volvim<strong>en</strong>to desta teoria, a autora destaca suas inquietações ao participarde c<strong>en</strong>tros de educação de mulheres jov<strong>en</strong>s e adultas e observar a distânciaque havia <strong>en</strong>tre as conquistas cotidianas dessas mulheres e a teoria des<strong>en</strong>volvidana universidade. A autora narra a participação em um <strong>en</strong>contro de mulheresrurais, decisivo para sua trajetória pessoal e intelectual: “descobri a força e transformaçãodaque<strong>la</strong>s mulheres sem formação universitária, sua capacidade de organizaçãoem movim<strong>en</strong>tos de mulheres e seu conv<strong>en</strong>cim<strong>en</strong>to de que, através deles,podiam mudar o rumo de suas vidas” (PUIGVERT, 2001-b, p. 31). Cita aindao contraste <strong>en</strong>tre a literatura feminista que lia e a problemática daque<strong>la</strong>s outrasmulheres: “mais do que as difer<strong>en</strong>ças de salários <strong>en</strong>tre economistas hom<strong>en</strong>s eeconomistas mulheres, protestavam as desigualdades <strong>en</strong>tre economistas e mulheresda limpeza” (ibid). Tais inquietações, a impulsionou ao des<strong>en</strong>volvim<strong>en</strong>to deuma teoria que buscasse repres<strong>en</strong>tar uma pluralidade de mulheres, capazes dedecidir o s<strong>en</strong>tido de suas vidas.Nessa direção, observa-se que, muitas vezes, o feminismo <strong>en</strong>quanto movim<strong>en</strong>tosocial, tem sido principalm<strong>en</strong>te visibilizado como um movim<strong>en</strong>to das sociedadesocid<strong>en</strong>tais. A maioria de suas teóricas são mulheres, brancas, de c<strong>la</strong>sse média,com estudos acadêmicos, da Europa Ocid<strong>en</strong>tal e da <strong>América</strong> do Norte, decidindosobre o que é feminismo por meio de parâmetros academicistas e de superioridadesculturais. Desde os anos 1980, algumas feministas argum<strong>en</strong>tam que omovim<strong>en</strong>to devia dirigir sua at<strong>en</strong>ção há questões globais, como a vio<strong>la</strong>ção, o incesto,a prostituição, além das questões culturalm<strong>en</strong>te específicas, como a muti<strong>la</strong>çãog<strong>en</strong>ital feminina em algumas partes da África e Ori<strong>en</strong>te Médio (FARIA, 2005). Asocióloga marroquina, Fátima Mernissi, reflete que uma mulher que se considerafeminista, não deveria vangloriar-se de sua superioridade com respeito a mulheresde outras culturas e por haver tomado consciência de sua situação, mas deveriaperguntar-se se “é capaz de compartilhar isto com as mulheres de outras c<strong>la</strong>ssessociais de sua cultura. A solidariedade das mulheres será global quando se eliminaremas barreiras <strong>en</strong>tre c<strong>la</strong>sses e culturas” (GALLART, et al, 2002, p. 5).Observa-se que, atualm<strong>en</strong>te o movim<strong>en</strong>to feminista possui uma diversidade emultiplicidade muito grande, o que é bastante positivo. Porém, muitas vezes, essadifer<strong>en</strong>ça não <strong>en</strong>contra espaço para o respeito e diálogo. Sabe-se que as articu<strong>la</strong>çõesnão podem se dar a partir de um eixo exclusivo e privilegiado, mas sim apartir das racionalidades múltip<strong>la</strong>s e diversas que se insta<strong>la</strong>ram no movim<strong>en</strong>to,<strong>en</strong>t<strong>en</strong>d<strong>en</strong>do que n<strong>en</strong>huma difer<strong>en</strong>ça deve servir de base à discriminação.100 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


É nesse s<strong>en</strong>tido que se apres<strong>en</strong>ta o feminismo dialógico como uma forma deorganização das contribuições e discussões do movim<strong>en</strong>to feminista, refletindosobre igualdade de gênero baseada na inclusão das vozes de todas as mulheres,na luta por acordos <strong>en</strong>tre os difer<strong>en</strong>tes movim<strong>en</strong>tos feministas, pelo respeito àsdifer<strong>en</strong>ças e pelos direitos globais que atingem a todas as mulheres, buscandoreconhecer as distintas id<strong>en</strong>tidades <strong>en</strong>tre as mulheres.Em re<strong>la</strong>ção a problemática das difer<strong>en</strong>ças id<strong>en</strong>titárias, Puigvert (2001-b) sali<strong>en</strong>taque é fundam<strong>en</strong>tal o respeito a necessidade de transformar as categorias id<strong>en</strong>titáriasque tem ori<strong>en</strong>tado as re<strong>la</strong>ções de gênero, fugindo do “ess<strong>en</strong>cialismo que nos fazvítima de<strong>la</strong>s” (p. 96). Porém, aponta o diálogo e a reflexão como forma de aberturade ditas categorias. Segundo a autora, as transformações sociais das re<strong>la</strong>ções degênero nos mostram que, para além da superação das categorias id<strong>en</strong>titárias tradicionaisde masculino e feminino, temos também que p<strong>en</strong>sar os difer<strong>en</strong>tes tipos defeminismos, tais como das feministas libertárias ou das feministas donas de casa.Para Puigvert, seguindo uma visão foucaultiana, em que “a id<strong>en</strong>tidade se estabeleceem função do normal possível, resultado de poder, limitação da nossacapacidade de ação, constituindo, portanto, algo a combater” (ibid, p. 96), é precisodesconstruir (destruir) a nossa id<strong>en</strong>tidade e todas as normas que a regem.Porém, a partir da significação das reivindicações protagonizadas por difer<strong>en</strong>tesmovim<strong>en</strong>tos sociais, os quais partem de características comuns consideradastraços id<strong>en</strong>titários, a autora questiona se, como mulheres, as normas de gêneroque constituem nossa id<strong>en</strong>tidade “são um peso morto que devemos nos desfazer,ou se podemos esgrimi-<strong>la</strong>s para construir uma sociedade onde o plural não sejaexclud<strong>en</strong>te; onde não sejamos vítimas, mas artífices das normas que regem asre<strong>la</strong>ções <strong>en</strong>tre os gêneros” (PUIGVERT, 2001-b , p. 96).Dessa forma, compre<strong>en</strong>de a necessidade de reflexões a partir de uma categoriaaberta, flexível, que seja resultado de diálogo <strong>en</strong>tre difer<strong>en</strong>tes id<strong>en</strong>tidades possíveise não destruição de id<strong>en</strong>tidades, considerando sempre a existência do outroe a pluralidade de vozes: “desta maneira o outro não se define em contraposiçãoa, mas complem<strong>en</strong>tario a” (ibid). É precisam<strong>en</strong>te neste processo de pluralidadede vozes e de reconhecim<strong>en</strong>to do outro que as id<strong>en</strong>tidades se reformu<strong>la</strong>m, quese abrem novos elem<strong>en</strong>tos: “a causa de nossa opressão não são as id<strong>en</strong>tidades,mas o contexto em que estas têm lugar” (ibid, p. 103).Distintas fases do feminismoNessa direção, o princípio da igualdade de difer<strong>en</strong>ças, em re<strong>la</strong>ção às categoriasde gênero, pret<strong>en</strong>de dois objetivos: (1) des<strong>en</strong>har um novo panorama de convivência<strong>en</strong>tre difer<strong>en</strong>tes id<strong>en</strong>tidades não c<strong>en</strong>trado no desconstrucionismo dooutro, e (2) c<strong>la</strong>rear os mecanismos que possam colocar em prática o processo dereformu<strong>la</strong>ção de normas de gênero (PUIGVERT, 2001-b, p. 99).<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es101


Para maior compre<strong>en</strong>são, analisamos distintas fases do feminismo, a partir dasconquistas das mulheres com os avanços da Modernidade. A primeira fase correspondeàs posições que as feministas adotaram no século XX, d<strong>en</strong>ominadofeminismo da igualdade, o qual, sem dúvida, foi revolucionário para a sociedadeao lutar pelo direito ao sufrágio feminino, pelo acesso igualitário à educação, pelodireito ao trabalho, equiparação dos salários, etc. Tal feminismo baseia-se principalm<strong>en</strong>teem tudo o que a igualdade com respeito ao homem se refere, partindode interesses individuais, coletivos, sociais e políticos das mulheres, mas levouum grupo reduzido a p<strong>en</strong>sar por todas.Esta concepção, considerada homog<strong>en</strong>eizadora da igualdade, em que som<strong>en</strong>tealgumas mulheres (as acadêmicas) consideravam-se portadoras dos valoresprogressistas, pret<strong>en</strong>deu integrar as mulheres como se todas fossem iguais, desconsiderandoos difer<strong>en</strong>tes conhecim<strong>en</strong>tos e reduzindo a igualdade de oportunidades.Assim, “confundiram homogeinização com o direito de ser igual e liberdadede escolha com difer<strong>en</strong>ça” (PUIGVERT, 2001-a, p. 166).Há que se considerar que a modernidade mudou de forma radical a vida das mulheres,as quais mostraram a sua capacidade de ação e, ainda, que o ba<strong>la</strong>nço geraldesta fase é positivo, t<strong>en</strong>do em vista o início de propostas de muitos coletivossociais para a mudança. A crítica de Puigvert é que “a modernidade se converteunum projeto onde uma pequ<strong>en</strong>a minoria se s<strong>en</strong>tia portadora da verdade”. Verdadeesta conc<strong>en</strong>trada nas mãos de poucas lideranças, as quais se esqueciam detemas importantes que afetavam todas as mulheres até o mom<strong>en</strong>to sil<strong>en</strong>ciadas(2001-b, p. 33). O feminismo dessa fase desconsiderava que todas as mulherestinham capacidades para refletir sobre suas transformações.Numa segunda fase do feminismo, o feminismo da difer<strong>en</strong>ça, outra postura dasfeministas do século XX, Puigvert (ibid) destaca a influência das corr<strong>en</strong>tes pósmodernas,partindo das id<strong>en</strong>tidades femininas a partir das difer<strong>en</strong>ças, def<strong>en</strong>d<strong>en</strong>douma mulher mais autônoma, c<strong>en</strong>trando-se nas difer<strong>en</strong>ças <strong>en</strong>tre os hom<strong>en</strong>s ee<strong>la</strong>s mesmas. Essa fase surge como crítica ao conceito de igualdade homog<strong>en</strong>eizante,negando as regras masculinas para todas as mulheres.O debate deste feminismo destaca primeiram<strong>en</strong>te as preferências sexuais e id<strong>en</strong>tidadesfamiliares e mais tarde a diversidade de etnias, sexualidades e c<strong>la</strong>sses,contra um único modelo de ser mulher. A crítica de Puigvert (2001-a, p.167) a essafase é que reconhecia unicam<strong>en</strong>te as difer<strong>en</strong>ças, pod<strong>en</strong>do aum<strong>en</strong>tar as desigualdades,uma vez que reivindicava a afirmação das “s<strong>en</strong>sações e os desejos individuaiscomo as melhores vias de des<strong>en</strong>volver um novo feminismo livre de imposições”.Embora também reconheçamos os avanços desta corr<strong>en</strong>te de p<strong>en</strong>sam<strong>en</strong>to, adificuldade estava em esquecer o marco da luta igualitária pe<strong>la</strong> não possibilidadede diálogo e comunicação <strong>en</strong>tre as pessoas, desconsiderando que nem todas102 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


as pessoas têm o mesmo direito de ser difer<strong>en</strong>te, o que, a nosso ver, torna aluta fragm<strong>en</strong>tada surgindo um “determinismo derrotista e imobilista” (CAMISÓN,2006, p. 2). Aprofundando a crítica, Puigvert destaca que são teorias desconstrucionistas,à medida que destroem tanto os postu<strong>la</strong>dos etnoc<strong>en</strong>tristas da desigualdade,como a afirmação da igualdade de direitos das mulheres. Def<strong>en</strong>deseum direito de difer<strong>en</strong>ça desvincu<strong>la</strong>do do direito de igualdade, o que implicatransformações som<strong>en</strong>te para pequ<strong>en</strong>os grupos determinados, “sem coord<strong>en</strong>arações conjuntas para transformar as re<strong>la</strong>ções de gênero e a sociedade em geral”(PUIGVERT, 2001-b, p. 52).Dessa forma, o feminismo dialógico também def<strong>en</strong>de que as mulheres possamdes<strong>en</strong>volver seus s<strong>en</strong>tim<strong>en</strong>tos, porém, a partir da igualdade e não simplesm<strong>en</strong>tedas individualidades e dos desejos que esquecem das “outras mulheres”. Comoexemplo, podemos destacar as mulheres que se <strong>en</strong>t<strong>en</strong>dem emancipadas, trabalhamfora, mas exploram outras mulheres em suas casas, nos serviços delimpeza.Vale considerar que é ilusória a visão de libertação das mulheres quando aindaexploram outras mulheres. Segundo Freire (2005-b), a pessoa oprimida aose libertar liberta também o opressor, “a liberdade amadurece no confrontocom outras liberdades, na defesa de seus direitos em face de autoridades”(p. 105).Fa<strong>la</strong>mos ainda de uma terceira fase do feminismo, o feminismo da diversidade,iniciada no início do século XXI e protagonizada por jov<strong>en</strong>s feministas que radicalizaramo uso da diversidade. Corresponde a uma continuação da segunda fasedo feminismo. A esta fase, Puigvert (2001-b) diz não se opor radicalm<strong>en</strong>te, masreflete que t<strong>en</strong>tou retroceder os avanços dos movim<strong>en</strong>tos feministas, desconsiderandoas emancipações que tanto custaram às mulheres de outras gerações.Esta corr<strong>en</strong>te apres<strong>en</strong>ta a diversidade como um novo valor, mas a diversidade jáexistia durante a história da humanidade.Observamos assim, que o feminismo dessas últimas t<strong>en</strong>dências passou por umafase de monopólio de mulheres acadêmicas, as quais consideram as outras mulherescomo tradicionais, ou até mesmo, submissas. É a partir destas reflexõesque Puigvert des<strong>en</strong>volve a teoria do feminismo dialógico, seguindo o desejo deradicalizar os valores democráticos no feminismo.A partir disto, temos que uma pequ<strong>en</strong>a parce<strong>la</strong> de mulheres tem obtido ganhossignificativos, tanto no mercado de trabalho quanto no acesso às liberdades individuaise em termos de participação na vida pública. Por outro <strong>la</strong>do, uma grandemaioria de mulheres experim<strong>en</strong>ta trabalhos precarizados, arcam sozinhas com osust<strong>en</strong>to dos/as filhos/as, além de sofrer todas as conseqüências da diminuiçãodos serviços sociais e do aum<strong>en</strong>to da violência.<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es103


Faria (2005, p. 17), analisa que as mulheres pobres são tratadas como mais umadas “patologias sociais”, alvo de políticas comp<strong>en</strong>satórias, pois <strong>en</strong>t<strong>en</strong>dem quese são mais educadas cuidarão melhor da família. São vistas como melhoresgestoras dos recursos governam<strong>en</strong>tais porque estariam mais preocupadas como bem-estar dos filhos do que de<strong>la</strong>s próprias, e por isso, são as b<strong>en</strong>eficiárias daspolíticas, tais como r<strong>en</strong>da mínima, acesso ao microcrédito, título de propriedadeda casa. O que é também importante para as mulheres, diante das desigualdadeshistóricas, porém “não são vistas como cidadãs, com direito a auto-determinaçãoe autonomia pessoal, mas a partir da sua responsabilidade com a família”.Exatam<strong>en</strong>te por isso é que o feminismo dialógico preocupa-se em incorporar asmulheres no diálogo sobre a igualdade, sobre os difer<strong>en</strong>tes modos de ser mulher,sobre suas necessidades e interesses. Parte da concepção que não existe umamaneira única de ser mulher e que compartilhar distintas experiências é <strong>en</strong>riquecedorpara as mulheres, desde a teoria à prática, ou por pert<strong>en</strong>cer a difer<strong>en</strong>tesrealidades culturais ou grupos sociais. A incorporação de outras realidades, permiterecuperar temas fundam<strong>en</strong>tais que apar<strong>en</strong>tem<strong>en</strong>te estão superados. Dessaforma, sali<strong>en</strong>tamos o cuidado para que os debates sobre as mulheres nãoestejam re<strong>la</strong>cionados com as necessidades de ap<strong>en</strong>as um grupo de mulheres,principalm<strong>en</strong>te som<strong>en</strong>te das acadêmicas, pois pode ter como conseqüência acriação de um mito que a igualdade está conquistada. Para que mais mulheres seid<strong>en</strong>tifiquem com os movim<strong>en</strong>tos feministas é necessário incorporar suas vozes,suas necessidades e seus pontos de vista em um p<strong>la</strong>no de igualdade.Nessa direção, compre<strong>en</strong>de-se que a luta pe<strong>la</strong> liberação feminista é uma lutaconjunta de todas as mulheres que desejam melhorar suas formas de vida e querec<strong>la</strong>mam a autoridade que exercem os hom<strong>en</strong>s sobre e<strong>la</strong>s, e ainda, que nãodesejam inverter <strong>en</strong>tre as mulheres tal autoridade. “Formam parte dessa luta,desde as trabalhadoras que foram obrigadas a deixar os estudos e trabalhar noscampos e fábricas em péssimas condições, até as burguesas, educadas primeiropara serem perfeitas s<strong>en</strong>horitas e logo s<strong>en</strong>horas” (PUIGVERT, ibid, p. 31). Assim,é preciso valorizar tanto a luta realizada pe<strong>la</strong>s mulheres burguesas para melhoraras condições de trabalho de muitas trabalhadoras, como é preciso compre<strong>en</strong>derque a luta feminista não se originou som<strong>en</strong>te com e<strong>la</strong>s.Visualizamos a escolha política do feminismo dialógico como uma possibilidadede reafirmação da mulher <strong>en</strong>quanto protagonista social, como uma busca paraque um maior número de mulheres possa escolher como quer que seja sua vidae seja respeitada por isso. Em outras pa<strong>la</strong>vras, como possibilidade de conquistasde re<strong>la</strong>ções mais igualitárias de gênero, a partir do diálogo, sem que limitem asalternativas e que possibilite reflexões de melhores oportunidades. A proposta éque as mulheres possam ser autônomas e indep<strong>en</strong>d<strong>en</strong>tes, s<strong>en</strong>tindo mais apoio epod<strong>en</strong>do compartilhar idéias com outras mulheres, para, em solidariedade, iniciaras transformações dos contextos e das re<strong>la</strong>ções.104 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


A repercussâo do feminismo e a pesquissa do Pirituba IISobre esta perspectiva, a repercussão do feminismo dep<strong>en</strong>derá de sua capacidadepara oferecer ferram<strong>en</strong>tas de transformação das estruturas sociais aos movim<strong>en</strong>tose grupos de mulheres. Por este motivo, é que as discussões apres<strong>en</strong>tammaiores pot<strong>en</strong>cialidades pautadas pelo diálogo, permitindo maior aproximaçãodas lutas feministas e da realidade em que vivem as mulheres, a partir de suasnecessidades. Temos assim, com o feminismo dialógico, uma utilidade prática narealidade social das pesquisas e estudos de gênero.A fim de exemplificar, mostrando como difer<strong>en</strong>tes mulheres participam daluta feminista e realizam transformações de gênero a partir de suas organizações,citamos aqui a pesquisa que realizamos com um grupo de mulheresmarc<strong>en</strong>eiras do ass<strong>en</strong>tam<strong>en</strong>to rural Pirituba II, localizado no município deItapeva/SP, num contexto de <strong>en</strong>gajam<strong>en</strong>to de mulheres no movim<strong>en</strong>to daeconomia solidária, o qual ganha cada vez mais significado, apres<strong>en</strong>tandosecomo oportunidade para muitas mulheres, em especial na <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>.Tal pesquisa teve por objetivo, refletir e dialogar com as marc<strong>en</strong>eiras, o processode incubação da Madeirarte, com ênfase nas re<strong>la</strong>ções de gênero, id<strong>en</strong>tificandoos elem<strong>en</strong>tos transformadores e os que se apres<strong>en</strong>tam como obstáculos, afim de buscar formas de melhorias na prática cotidiana do trabalho das marc<strong>en</strong>eiras.Para maior compre<strong>en</strong>são esc<strong>la</strong>recemos o contexto desta pesquisa e do trabalhorealizado pe<strong>la</strong>s marc<strong>en</strong>eiras. A Madeirarte iniciou-se a partir de um projetode habitação social realizado no ass<strong>en</strong>tam<strong>en</strong>to Pirituba II. Este Projeto consistiuna construção de 49 habitações sociais e, paralelo à construção, priorizou-se aimportância de integrar a possibilidade de geração de trabalho e r<strong>en</strong>da, a partirda imp<strong>la</strong>ntação de uma marc<strong>en</strong>aria para produzir os compon<strong>en</strong>tes em madeiradas habitações. Esta marc<strong>en</strong>aria foi assumida por um grupo de quatro mulheres,agricultoras, com mais de 45 anos, as quais iniciaram o empre<strong>en</strong>dim<strong>en</strong>to coletivoautogestionário d<strong>en</strong>ominado Madeirate.O processo de incubação referido corresponde ao acompanham<strong>en</strong>to, assessoriae formação técnica, administrativa e política por parte da universidade aos gruposque pret<strong>en</strong>dem trabalhar coletivam<strong>en</strong>te, na perspectiva da economia solidária.Tal processo é des<strong>en</strong>volvido pe<strong>la</strong>s Incubadoras Tecnológicas de CooperativasPopu<strong>la</strong>res (ITCPs), as quais se inserem nas universidades públicas, realizandoprojetos que vincu<strong>la</strong>m <strong>en</strong>sino, pesquisa e ext<strong>en</strong>são, à medida que utilizam osrecursos humanos e conhecim<strong>en</strong>to da universidade num processo de formação.Neste processo, as práticas de solidariedade se transformam em instrum<strong>en</strong>tos deemancipação (SINGER, 2002).<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es105


Esc<strong>la</strong>recemos ainda o conceito de economia solidária, contexto que permeia a Madeirarte.Nascida das crises do capitalismo como respostas à exploração dos/as trabalhadores/ase ao desemprego, esta economia vem s<strong>en</strong>do construída como uma buscade formas alternativas para a construção de um processo produtivo que contemple asolidariedade, capaz de re<strong>la</strong>cionar o trabalho à possibilidade de melhores condiçõesde vida. Apres<strong>en</strong>ta, portanto, uma outra proposta de organização, a qual rompe comos valores da ideologia capitalista dominante, visando <strong>en</strong>tão a geração de r<strong>en</strong>da nãoap<strong>en</strong>as para acúmulo dos/as trabalhadores/as, mas como uma re<strong>la</strong>ção para além dodinheiro e do poder, uma re<strong>la</strong>ção em que a geração de r<strong>en</strong>da é fundam<strong>en</strong>tal para asobrevivência, mas que a forma de organização para conquista desta r<strong>en</strong>da seja desolidariedade, autonomia, honestidade, democracia e autogestão. A economia solidáriabusca uma sociedade mais igualitária partindo do princípio da distribuição aoinvés da acumu<strong>la</strong>ção, da solidariedade ao invés da competição, buscando formas deassociação para produzir, comercializar e consumir (SINGER, 2002).Dessa forma, foi a partir do projeto de habitação social citado, somado a umtrabalho de incubação realizado, que as mulheres do ass<strong>en</strong>tam<strong>en</strong>to Pirituba IIapr<strong>en</strong>deram o ofício de marc<strong>en</strong>aria e iniciaram um empre<strong>en</strong>dim<strong>en</strong>to. Mulheresestas que nunca haviam viv<strong>en</strong>ciado outras atividades distintas do trabalho agríco<strong>la</strong>e doméstico e acabam por contrariar muitos preconceitos e desigualdadessociais, na medida em que passam a des<strong>en</strong>volver a atividade de marc<strong>en</strong>aria,historicam<strong>en</strong>te realizada por hom<strong>en</strong>s.Os resultados alcançados nesta pesquisa, realizada no diálogo <strong>en</strong>tre pesquisadorae marc<strong>en</strong>eiras, permitiram interpretar a realidade viv<strong>en</strong>ciada pe<strong>la</strong>s mulheresmarc<strong>en</strong>eiras em suas práticas cotidianas, re<strong>la</strong>cionando as possibilidades do trabalhoàs transformações pessoais conquistadas, bem como no <strong>en</strong>torno do ass<strong>en</strong>tam<strong>en</strong>to.Os resultados também permitiram id<strong>en</strong>tificar os elem<strong>en</strong>tos transformadorespres<strong>en</strong>tes na Madeirarte, reve<strong>la</strong>ndo inúmeras apr<strong>en</strong>dizag<strong>en</strong>s adquiridase processos educativos construídos por mulheres no trabalho autogestionário.Além disso, a pesquisa id<strong>en</strong>tificou os elem<strong>en</strong>tos que se colocam como obstáculosnesta prática, indicando possibilidades para a sua superação.Ao longo desta pesquisa foi possível id<strong>en</strong>tificar transformações das re<strong>la</strong>ções de gêneroque cotidianam<strong>en</strong>te são construídas d<strong>en</strong>tro e fora da Madeirarte. As marc<strong>en</strong>eirasapontaram que no contexto de suas vidas t<strong>en</strong>taram estudar, ou buscar outrostrabalhos, além das atividades rurais, mas sempre foram impedidas, porque esteseram trabalhos para hom<strong>en</strong>s e não para mulheres. A partir da inserção na marc<strong>en</strong>ariapudemos observar quantas oportunidades se est<strong>en</strong>deram às mulheres, as quaisatualm<strong>en</strong>te podem ser protagonistas de suas vidas, contro<strong>la</strong>r o dinheiro que recebeme decidir os seus destinos, contribuir nas despesas de suas casas, dividir as tarefasdomésticas com os seus maridos, bem como apr<strong>en</strong>der novas habilidades que pareciamimpossíveis. As mulheres passaram a ser valorizadas pelo fruto do trabalhoque realizam e, para e<strong>la</strong>s, tal valorização é o principal resultado da Madeirarte.106 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


Na medida em que puderam se abrir a novos apr<strong>en</strong>dizados, essas mulheres conquistaramuma visão crítica em re<strong>la</strong>ção ao papel da mulher na sociedade, o quepossibilitou a conquista de autonomia de mulheres, além das mudanças em seus<strong>la</strong>res, desde a re<strong>la</strong>ção com os maridos à educação das pessoas mais próximasque convivem com as marc<strong>en</strong>eiras, bem como mudança de muitas re<strong>la</strong>ções nopróprio ass<strong>en</strong>tam<strong>en</strong>to, o qual passou a apoiar outras iniciativas de mulheres ecompre<strong>en</strong>der a necessidade da mobilização feminina.Pudemos analisar ainda como a economia solidária tem se apres<strong>en</strong>tado comooportunidade às mulheres, vislumbrando novas possibilidades para as mulherestrabalhadoras, na medida em que acolhe difer<strong>en</strong>tes mulheres, mesmo àque<strong>la</strong>sque não tiveram oportunidades de estudo e/ou que não apres<strong>en</strong>tam experiênciasanteriores no d<strong>en</strong>ominado mercado de trabalho.De qualquer forma, observamos que, mesmo nos empre<strong>en</strong>dim<strong>en</strong>tos de economiasolidária, faz-se necessário reflexões profundas das re<strong>la</strong>ções de gênero,visto que por si só o empre<strong>en</strong>dim<strong>en</strong>to não garante re<strong>la</strong>ções mais igualitárias<strong>en</strong>tre hom<strong>en</strong>s e mulheres. No <strong>en</strong>tanto, apres<strong>en</strong>ta-se como uma possibilidadede superar as difer<strong>en</strong>ças de gênero, por se tratar de uma organização queprima pe<strong>la</strong> solidariedade e cooperação <strong>en</strong>tre seus membros, que prima pe<strong>la</strong>democracia e divisão igualitária das tarefas, das perdas e dos ganhos do empre<strong>en</strong>dim<strong>en</strong>to,bem como dos salários e, ainda, onde o cuidado com o outro nãose coloca ap<strong>en</strong>as como preocupação da mulher, mas como uma luta diária daspessoas <strong>en</strong>volvidas nos empre<strong>en</strong>dim<strong>en</strong>tos solidários (ANGELIN & BERNARDI,2007).Portanto, acreditamos que discussões em torno das re<strong>la</strong>ções de gênero a partirdo feminismo dialógico, somadas às oportunidades que se apres<strong>en</strong>tam pelo movim<strong>en</strong>tode economia solidária, podem contribuir para o diálogo sobre o processohistórico de dominação em que vivem as mulheres, de forma a poderem transformare/ou criar novas práticas sociais capazes de am<strong>en</strong>izar as desigualdades degênero e as desigualdades <strong>en</strong>tre as mulheres.As marc<strong>en</strong>eiras sabem que ainda são muitas as desigualdades a serem <strong>en</strong>fr<strong>en</strong>tadas,mas estão contribuindo nesta luta a partir da iniciativa de trabalharem namarc<strong>en</strong>aria. Dessa forma, à luz de Puigvert (2001-a), compre<strong>en</strong>demos a t<strong>en</strong>tativade buscarmos caminhos de superação das re<strong>la</strong>ções de opressão sofridas pe<strong>la</strong>smulheres, bem como na re<strong>la</strong>ção de opressão <strong>en</strong>tre as mulheres, o que pode serp<strong>en</strong>sado a partir da ação coord<strong>en</strong>ada das mulheres, sem discriminações, emespaços em que o diálogo seja igualitário e não sil<strong>en</strong>cie vozes. Assim, temosaqui a necessidade de incorporar as vozes das mulheres marc<strong>en</strong>eiras nos discursosfeministas, seguindo as possibilidades que estão conquistando a partir dotrabalho realizado e construído cotidianam<strong>en</strong>te na Madeirarte, no ass<strong>en</strong>tam<strong>en</strong>toPirituba II.<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es107


Refer<strong>en</strong>cias BibliográficasANGELIN, Rosânge<strong>la</strong>; BERNADI, Cecília Margarida. Mulheres na Economia Popu<strong>la</strong>r eSolidária: desafios para a emancipação feminina e a igualdade de gênero. Revista EspaçoAcadêmico, v. 6, n. 70, São Paulo, mar. 2007.CAMISÓN, Mir<strong>en</strong> Goi<strong>en</strong>etxea. Feminismo Dialógico. In Recrearte: Revista Internacionalde Creatividad Aplicada Total, Ano 2008, Barcelona: Grupo IACAT.FARIA, Nalu. Exclusão e Mulheres na <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>. In TERRIBILLI, Alessandra, FARIA,Nalu, COELHO, Sônia (orgs.). Feminismo e Luta das Mulheres: Análises e Debates. SãoPaulo: SOF Semprevida Organização Feminista, 2005.FLECHA Ramón. Comparti<strong>en</strong>do Pa<strong>la</strong>bras: El apr<strong>en</strong>dizaje de <strong>la</strong>s personas adultas a travésdel diálogo. Barcelona: Paidós, 1997.FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1994. 3 ed._______. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005 (a). 43 ed._______. À Sombra desta Mangueira. São Paulo: Editora Olho d’água, 2005 (b). 7 ed.GALLART, Marta Soler; FLECHA, Ainoa, SERRANO, Ángeles; COSTA, Laia. Repercusión<strong>en</strong> Estados Unidos del debate sobre <strong>la</strong>s otras mujeres. XVº Congreso Mundial de Sociologíapor <strong>la</strong> International Sociological Association, 2002, Brisbane (Australia). In http://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo/codigo=1410015.GIULANI, Pao<strong>la</strong> Cappellin. Os movim<strong>en</strong>tos de trabalhadoras e a sociedade brasileira.In PRIORE, Mary Del (org.). História das Mulheres no Brasil. São Paulo: EditoraContexto;Editora Unesp, 1997. p. 640 - 668.HABERMAS, Jurg<strong>en</strong>. Teoria de <strong>la</strong> Acción Comunicativa. Vol.1. Racionalidad de <strong>la</strong> accióny racionalización social. Madrid: Taurus, 1987.MELLO, Roseli, Rodrigues de. Feminismo Dialógico e Grupo de Mulheres: em busca dere<strong>la</strong>ções mais igualitárias de gênero, raciais e geracionais. E<strong>la</strong>borações para Edital MCT/CNPq/SPM-PR/MDA Nº 57/2008.PUIGVERT, Lídia. Las otras mujeres. Barcelona: El Roure editorial, 2001 (a).__________. Igualdade de Difer<strong>en</strong>ças. In BECK-GERNSHEIM, Elisabeth; BUTLER, Judith;PUIGVERT, Lídia. <strong>Mujer</strong>es y transformaciones sociales. Barcelona: El Roure, 2001(b). p. 93-107.SAFFIOTI, Heleieth Iara Bongiovani. Gênero, Patriarcado, Violência. São Paulo: EditoraFundação Perseu Abramo, 2004.SINGER, Paul. Introdução a Economia Solidária. São Paulo: Fundação Perseu Abramo,2002.108 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


A construção do direito ao aborto como uma questãode cidadania na <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>Fernanda P. Amaral28 años - BrasilA problemática do aborto tem sido bastante discutida no âmbito internacionalcom base na defesa dos direitos reprodutivos. Essa abordagem foi discutidapelos movim<strong>en</strong>tos feministas dos países des<strong>en</strong>volvidos, e consequ<strong>en</strong>tem<strong>en</strong>te,disseminadas aos demais países, também através de suas organizações demulheres. Entretanto, sua aceitação como um direito humano não foi bem recebidopor diversos países na <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>. Fatores culturais e religiosos contribuírampara a marginalização do aborto e sua ilegalidade. Soma-se a esse fato, a fracapolítica de p<strong>la</strong>nejam<strong>en</strong>to familiar que deveria evitar a gravidez indesejada dapopu<strong>la</strong>ção, diminuindo o risco dessas gravidezes.Em boa parte da <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> o aborto provocado é c<strong>la</strong>ndestino devido à suailegalidade, o que permite outra divisão conceitual: abortos provocados segurose inseguros. Tal divisão reve<strong>la</strong> a desigualdade social exist<strong>en</strong>te <strong>en</strong>tre as mulheresno país, pois as mulheres grávidas com maiores recursos financeiros podemrealizar seus abortos em boas condições de higi<strong>en</strong>e, em clínicas particu<strong>la</strong>resou até mesmo em outros países, nos quais o aborto esteja descriminalizado elegalizado. As mulheres grávidas com m<strong>en</strong>ores recursos financeiros submetemsea procedim<strong>en</strong>tos perigosos, medicam<strong>en</strong>tos proibidos, profissionaisdesqualificados, t<strong>en</strong>do como resultado conseqüências perigosas para a saúde,que podem ocasionar perda parcial ou total do útero, ou até mesmo a morte. Talfato foi motivo de debates e de preocupação do governo com os altos índices demortalidade materna oriundos de abortos inseguros. O Movim<strong>en</strong>to Feminista foi oresponsável por colocar o assunto em discussão na sociedade e no Congresso,através, primeiram<strong>en</strong>te, da abordagem do aborto como uma questão que dizrespeito à autonomia do corpo feminino, constituindo-se um direito reprodutivo.Porém, o debate por essa via não produziu os resultados esperados. Dessa forma,o Movim<strong>en</strong>to decidiu debater o aborto a partir da d<strong>en</strong>úncia das conseqüênciasdanosas do aborto inseguro na saúde e vida das mulheres, introduzindo essaperspectiva d<strong>en</strong>tro da Casa Legis<strong>la</strong>tiva.1. Os procedim<strong>en</strong>tos e as mortes evitáveis: uma questão de saúde públicaDe acordo com a pesquisa da World Health Organization (2007), os procedim<strong>en</strong>tosutilizados para realizar o aborto inseguro dividem-se em quatro categorias. Aprimeira de<strong>la</strong>s <strong>en</strong>globa remédios orais ou injetáveis; a segunda, preparações<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es109


vaginais, como misturas químicas; a terceira, introdução de algum corpoestranho no útero, como agulhas, talos de p<strong>la</strong>ntas, sondas por profissionais nãoqualificados,<strong>en</strong>tre outros; e a quarta, trauma no abdôm<strong>en</strong>, como chutes, esforçofísico, <strong>en</strong>tre outros. Segundo as pesquisadoras Barbosa e Arilha (1993), o Cytotec 1tem sua preferência <strong>en</strong>tre as mulheres que optam pelo aborto, de qualquer c<strong>la</strong>ssesocial, por que quando comparado com outras formas de indução de aborto,ele é o método economicam<strong>en</strong>te mais viável. É importante observarmos que há,d<strong>en</strong>tre os difer<strong>en</strong>tes métodos de abortam<strong>en</strong>to, uma questão social permeando adiscussão. Enquanto as mulheres que possuem melhores condições financeiraspodem realizar seus abortos em clínicas, com procedim<strong>en</strong>tos cirúrgicos (e <strong>en</strong>treessas, há ainda as que podem emigrar para países nos quais as leis são m<strong>en</strong>osou nada restritivas e realizar o procedim<strong>en</strong>to em segurança e com higi<strong>en</strong>e), asque não o possuem são obrigadas a ingerir medicam<strong>en</strong>tos, misturas de ervas,utilizar objetos cortantes, <strong>en</strong>tre outros, para realizar seus abortos inseguros. Umadup<strong>la</strong> complicação, pois as mulheres já carregam uma culpa pelo ato socialm<strong>en</strong>tecond<strong>en</strong>ável, e ainda se sujeitam a vio<strong>la</strong>ções em seus corpos em nome dodesespero pelo qual passam.De acordo com a pesquisa da World Health Organization - “Unsafe Abortion”(2007), o aborto quando realizado por profissionais compet<strong>en</strong>tes e em condiçõessatisfatórias de higi<strong>en</strong>e e com técnicas adequadas, não repres<strong>en</strong>ta riscos paraa paci<strong>en</strong>te. A pesquisa informa que nos EUA a mortalidade materna re<strong>la</strong>tiva aoaborto induzido está em 0,6 para cada 100.000 procedim<strong>en</strong>tos cirúrgicos (p. 05).Os riscos do aborto inseguro devem-se as seguintes condições: medicam<strong>en</strong>tousado, geralm<strong>en</strong>te sem informação; o método utilizado; a saúde geral da mulhere o estágio da gravidez. Ou seja, quando realizado de forma correta, o aborto éum procedim<strong>en</strong>to seguro. Difer<strong>en</strong>tem<strong>en</strong>te do que ocorre na <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>, ondesua prática é ilegal. A seguir, revemos como alguns fatores culturais influ<strong>en</strong>ciamnessa discussão sobre o aborto na região.2. A Igreja CatólicaA Igreja Católica tem sido um importante ator no debate sobre o aborto na sociedade<strong>la</strong>tino-americana. Id<strong>en</strong>tificada com o conservadorismo, sua doutrina tem por mot<strong>en</strong>a questão do aborto inseguro um de seus mandam<strong>en</strong>tos que afirma o poder de“Deus” sobre a “criação” e que o ser humano não tem direito a matar o outro, eisso, para a Igreja Católica, aplica-se ao aborto. O Catolicismo dotou o embriãode vida humana, estabelec<strong>en</strong>do até mesmo o Estatuto do Nascituro. Nascituro,para a Igreja Católica, é o “indivíduo” que está para nascer, ou seja, pelo Estatuto1 O Cytotec foi introduzido no Brasil em 1986. Este é o nome g<strong>en</strong>érico do misoprostol, des<strong>en</strong>volvidope<strong>la</strong> Searle e distribuído no Brasil para utilização no combate a úlceras gástricas. Ele possui umaação estimu<strong>la</strong>nte sobre a muscu<strong>la</strong>tura uterina, provocando contrações. S<strong>en</strong>do assim utilizado naindução do parto e no aborto provocado (Barbosa & Arilha, 1993).110 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


a vida é protegida desde a concepção até a sua morte natural. A formu<strong>la</strong>çãodo direito a vida desde a concepção ganhou visibilidade política a partir dosanos 1970, quando diversos países industrializados ac<strong>en</strong>aram positivam<strong>en</strong>te àliberalização do aborto, para restringir esse acesso legal. Sônia Correa e MariaBetânia Ávi<strong>la</strong> (2003) informaram que a Carta das Nações Unidas e a Dec<strong>la</strong>raçãoUniversal de 1948 não incluem essa afirmação, e sim que o “direito à vida é umaprerrogativa de seres humanos ‘que nascem livres e iguais’, e não de seres aindanão nascidos” (p.67).A Igreja Católica num primeiro mom<strong>en</strong>to se aliou com o feminismo <strong>la</strong>tino-americanoem suas demandas, num contexto histórico de ditadura militar, lutando ao <strong>la</strong>do dasativistas por direitos humanos, pe<strong>la</strong> anistia. Num segundo mom<strong>en</strong>to, o feminismoamplia sua margem de luta questionando, <strong>en</strong>tre outras coisas, a autonomia docorpo feminino, portanto o direito ao aborto, e a Igreja Católica rompe com aaliança outrora feita com o Movim<strong>en</strong>to. A igreja admite que o feto seja uma vidahumana e que a mulher não possui direitos sobre ele, pois “Deus” deu a vida e só“Ele” pode retirá-<strong>la</strong>. O aborto também significa a prática do sexo desvincu<strong>la</strong>da dareprodução, fora do casam<strong>en</strong>to e, assim uma afronta à família. Estes são valoresda igreja, valores que e<strong>la</strong> def<strong>en</strong>de não ap<strong>en</strong>as aos seus membros, mas a todaa sociedade. Porém, Rosado-Nunes (2006) em seu texto “Teologia feminista e arazão da crítica patriarcal: <strong>en</strong>trevista com Ivone Gebara” apontou a ramificaçãodo feminismo <strong>en</strong>tre as teólogas católicas, destacando a “Teologia Feminista(TF)”, repres<strong>en</strong>tada por Ivone Gebara 2 . Gebara é def<strong>en</strong>sora do aborto comoopção, t<strong>en</strong>do sido cond<strong>en</strong>ada a dois anos de silêncio pelo Vaticano por esseseu p<strong>en</strong>sam<strong>en</strong>to 3 . Segundo Gebara, o que caracteriza e difer<strong>en</strong>cia, portanto, aTF brasileira das TFs norte-americanas e européias é o seu caráter acadêmico,pois as pesquisadoras nem sempre pert<strong>en</strong>cem a alguma instituição religiosa, etrazem uma visão mais abrang<strong>en</strong>te das re<strong>la</strong>ções de gênero para a discussãoda teologia. Apesar de a teóloga ter contribuído para a base da “Teologia daLibertação”, e<strong>la</strong> criticou essa corr<strong>en</strong>te porque “é ainda patriarcal e está repletade imag<strong>en</strong>s masculinas de Deus” (Rosado-Nunes, 2006 p. 295). Nesse artigo,Rosado-Nunes expõe a reflexão de Gebara sobre a difícil conciliação <strong>en</strong>tre sercatólica e feminista, diante de uma instituição marcadam<strong>en</strong>te patriarcal. A autoratambém observou que uma das ênfases do p<strong>en</strong>sam<strong>en</strong>to de Gebara recai sobrea preocupação excessiva da Igreja Católica com o “espírito” em detrim<strong>en</strong>to damulher, reduzindo-a a mero organismo biológico, com funções determinadas emque a maternidade torna-se o destino obrigatório. A rejeição desse discurso, talcomo Gebara o fez, leva ao questionam<strong>en</strong>to crítico sobre os pi<strong>la</strong>res da Igreja2 Ivone Gebara pert<strong>en</strong>ce à Congregação das Irmãs de Nossa S<strong>en</strong>hora Cônegas de Santo Agostinho,doutora em Filosofia e Ciências Religiosas.3 Gebara afirmou que a dominação masculina sobre a sexualidade feminina “manifesta-se, igualm<strong>en</strong>te,nas questões de descriminalização e legalização do aborto, como se os hom<strong>en</strong>s, ou a sociedade que repres<strong>en</strong>tam, tivessem a última pa<strong>la</strong>vra sobre nossas decisões e escolhas” (Rosado-Nunes, 2006, p. 301).<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es111


Católica fr<strong>en</strong>te à contemporaneidade. Sobre a manipu<strong>la</strong>ção religiosa do corpofeminino (por ser ele que <strong>en</strong>g<strong>en</strong>dra), a teóloga observou que: “Essa manipu<strong>la</strong>çãonão se faz necessariam<strong>en</strong>te a partir dos repres<strong>en</strong>tantes das hierarquias religiosas,mas também através de políticos, através da medicina e do direito” (Rosado-Nunes, 2006, p. 298).Nesse s<strong>en</strong>tido, percebemos que mesmo no interior da igreja não há cons<strong>en</strong>sosquanto às questões que permeiam os problemas de gênero na sociedade.Foi necessário <strong>en</strong>g<strong>en</strong>drar uma teologia própria para poder debater a fundo osproblemas que a sexualização e biologização das mulheres acarretavam em suasvidas. Foi necessário haver uma espécie de ruptura <strong>en</strong>tre os valores tradicionaisdo catolicismo e a aproximação de algumas teólogas com os movim<strong>en</strong>tosfeministas para se constituir uma nova linha de p<strong>en</strong>sam<strong>en</strong>to d<strong>en</strong>tro da esferareligiosa brasileira que contemp<strong>la</strong>sse a pluralidade da sociedade. Emborapoucos avanços, de fato, ocorreram, há boas expectativas quanto a essa novaconcepção religiosa.3. A Sacralização da mulher/mãe na sociedade <strong>la</strong>tino-americanaA pesquisadora Maria Lúcia Rocha-Coutinho (1994) investigou a mulher nasociedade e mostrou que o amor romântico foi o principal ag<strong>en</strong>te da valorizaçãoda maternidade no século XVIII na Europa e no século XIX no Brasil, naturalizandoassim um f<strong>en</strong>ôm<strong>en</strong>o puram<strong>en</strong>te social, “iner<strong>en</strong>te à ordem cultural que hom<strong>en</strong>s emulheres instauraram sobre a natureza” (p.27). Os membros dessa sociedadefamiliar estão coesos por regras específicas, direitos e deveres próprios, e <strong>la</strong>çosafetivos socialm<strong>en</strong>te construídos baseados na legis<strong>la</strong>ção e na Igreja. O novocasam<strong>en</strong>to baseado no amor romântico inaugura uma nova formação familiar,na qual surge o amor materno. Desta forma, “a criança adquire um novo valor eimportância, s<strong>en</strong>do agora elem<strong>en</strong>to indisp<strong>en</strong>sável da vida cotidiana, uma vez queé o produto por excelência desta nova unidade, razão de sua subsistência” (p.28-29). Assim, a mulher passa agora a viver para o amor: a seu parceiro, a seusfilhos/as e à sua própria casa, sempre impecável - ambi<strong>en</strong>te que passou a serdomínio feminino. Rocha-Coutinho afirmou que:O amor materno é a origem e o ponto fundam<strong>en</strong>tal da criação do espaço s<strong>en</strong>tim<strong>en</strong>talizado do <strong>la</strong>r,em cujo interior a família vem se refugiar. A família moderna, portanto, c<strong>en</strong>tra-se em torno damãe que adquire uma importância que jamais tivera. Sua casa, fechada às influências externas,passa a constituir o novo “reino” da mulher e a maternidade seu mais almejado desejo.No percurso a respeito da maternidade tivemos mom<strong>en</strong>tos em que foi necessáriaa “susp<strong>en</strong>são temporária” dessa permanência da mulher no <strong>la</strong>r, como nas GuerrasMundiais, nas quais e<strong>la</strong> foi inc<strong>en</strong>tivada a participar da vida industrial. Entretanto,essa pausa logo cessou. Com o fim da II Guerra, a mulher foi inc<strong>en</strong>tivadanovam<strong>en</strong>te a voltar ao âmbito privado de seu <strong>la</strong>r e viv<strong>en</strong>ciar seu reinado, para112 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


que seus maridos reassumissem seus postos de trabalho afinal, o destino detoda mulher era ser mãe como apregoava a sua natureza biológica, seu “instintomaternal”. A id<strong>en</strong>tidade feminina deste período se ass<strong>en</strong>ta no tripé: marido, casae criação dos/as filhos/as.Os anos 60 foram fecundos para se duvidar dessa natureza da mulher, <strong>en</strong>tretanto,pouca coisa mudou. Mas, as sem<strong>en</strong>tes da inquietação foram p<strong>la</strong>ntadas. Asmulheres estavam confusas com o modelo tradicional e o modelo que começavaa ganhar formas: a dup<strong>la</strong> jornada, a possibilidade de realização profissional. Aomesmo tempo em que havia essa inquietação no ar, também se reproduzia asacralidade da maternidade, a importância da casa e de seu cuidado extremoconfiado às mulheres.Nos anos 70 houve uma revolução no comportam<strong>en</strong>to em geral e maior visibilidadedos movim<strong>en</strong>tos feministas para a sociedade. A liberdade da mulher foi s<strong>en</strong>domais desejada pe<strong>la</strong>s mesmas: a revolução sexual e a pílu<strong>la</strong> anticoncepcionalforam elem<strong>en</strong>tos importantes dessa fase (já questionando a sacralidade damaternidade). A luta pelo direito ao aborto se fez pres<strong>en</strong>te na Europa e nosEstados Unidos com ressonância na <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>. Assim s<strong>en</strong>do, a mulherpassou a ter a opção e o direito de um modelo alternativo ao da “rainha-do-<strong>la</strong>r”,um modelo que valorizasse sua id<strong>en</strong>tidade, seus novos desejos, sua carreira esua conquista da esfera pública. Entretanto, esse modelo ap<strong>en</strong>as se adequouàs novas necessidades do mercado que absorveu a mão-de-obra feminina. Ouseja, além de se preocupar e de se ocupar com o tripé: marido, casa e filhos/as, também <strong>en</strong>traram a carreira, o trabalho: a concretização da dup<strong>la</strong> jornadade trabalho. Isto explica a cond<strong>en</strong>ação social do aborto provocado em grandeparte da sociedade. A esse discurso da família, da proteção e “instinto maternal”,não cabe a defesa do direito de escolha da mulher que não deseja ou não podeter aquele/a filho/a, uma vez que e<strong>la</strong> nasceu fundam<strong>en</strong>talm<strong>en</strong>te para ser mãe,para se reproduzir e reproduzir a sociedade com todos os seus valores. Comoassina<strong>la</strong> Rocha-Coutinho (1994):Assim, do mesmo modo que os hom<strong>en</strong>s não nascem pais, as mulheres, apesar de seu aparatobiológico, também não nascem mães. E, do mesmo modo que a paternidade não satisfaz oprojeto de vida do homem, a maternidade, por si só, pode não pre<strong>en</strong>cher o projeto de vida damulher. Para ambos, ter filhos não é, ou não deveria ser uma determinação biológica, mas simuma escolha pessoal. (p.45).Desta forma, e após o que aqui foi exposto, podemos afirmar que o processo deformação da família <strong>la</strong>tino-americana baseada na exaltação da sexualidade, nodon juanismo dos garotos, na erotização das mulheres simples e, ao contrário,na condução sexualm<strong>en</strong>te moral das mulheres brancas, européias, foi a basepara a sacralização da mulher como mãe. A mulher-mãe não-erotizada, sublime,dadivosa, católica e devota à religião. A cultura de uma sociedade - como bem<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es113


trabalhou Roque de Laraia em “Cultura: um conceito antropológico” - define-amoldando-a e, portanto, por meio da própria cultura é que valores podem seralterados, direitos incorporados e comportam<strong>en</strong>tos mudados. Assim, Laraia(2001) sali<strong>en</strong>tou que nossa herança cultural nos condicionou a postarmosnosde forma estigmatizadora quando nos deparamos com comportam<strong>en</strong>tosdifer<strong>en</strong>tes dos padrões instaurados na sociedade. Assim, o ser humano tema prop<strong>en</strong>são de considera seu modo de viver como perfeitam<strong>en</strong>te normal <strong>en</strong>atural (etnoc<strong>en</strong>trismo), o que não é. A cultura por si só é dinâmica, mudandoconstantem<strong>en</strong>te. O que hoje marca uma determinada cultura pode vir a sofrermudança de valores ou paradigmas, <strong>en</strong>tretanto, essa mudança não é radicale nem feita sem acarretar conflitos. A esse respeito, Laraia (2001) inferiu queas sociedades, em determinados mom<strong>en</strong>tos “são palco do embate <strong>en</strong>tre ast<strong>en</strong>dências conservadoras e as inovadoras”, e que <strong>en</strong>quanto as primeirasinsistem na manut<strong>en</strong>ção de determinados valores naturalizando-os, as demaist<strong>en</strong>tam inserir o novo, o difer<strong>en</strong>te (Laraia, 2001, p.99). É nesse s<strong>en</strong>tido quepercebemos a perpetuação da figura santificada da mulher-mãe <strong>la</strong>tino-americana,e <strong>en</strong>t<strong>en</strong>demos a cond<strong>en</strong>ação ao aborto, pois o aborto admitido como um direitoda mulher nega essa santificação construída culturalm<strong>en</strong>te sobre a maternidade.Ou seja, a maternidade é um valor <strong>en</strong>raizado na nossa cultura, e o aborto s<strong>en</strong>dodescriminalizado e legalizado, visa à desconstrução desse mito, portanto, umnovo valor inserido que questiona a naturalização do mitificado amor materno, eda natural vocação feminina à maternidade.4. O Movim<strong>en</strong>to Feminista e o direito de cidadaniaO feminismo foi des<strong>en</strong>volvido como uma espécie de protesto contra a exclusão dasmulheres da vida política, do meio público, com o objetivo de eliminar a difer<strong>en</strong>çasexual na política (Scott, 2005). Entretanto, como é um conceito que forneceubases a uma teoria, está sujeito a interpretações e reinterpretações de acordocom o contexto histórico no qual ele se des<strong>en</strong>volve. E, s<strong>en</strong>do assim, é o lugar,ou ar<strong>en</strong>a (Schimidt, 2004) onde são escutadas as vozes daque<strong>la</strong>s que rec<strong>la</strong>mamseu espaço, onde discursos são proferidos, analisados e passíveis de ação. Osmovim<strong>en</strong>tos de mulheres e os movim<strong>en</strong>tos feministas emergiram como uma forçaem pot<strong>en</strong>cial por toda a <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> devastada pe<strong>la</strong> ditadura. A existência deuma “dominação masculina” nos termos de Bourdieu 4 em ambi<strong>en</strong>tes domésticos4 As difer<strong>en</strong>ças <strong>en</strong>tre os gêneros são naturalizadas através da biologia, ou seja, os órgãos reprodutoresditam o lugar na sociedade a qual os gêneros pert<strong>en</strong>cem. Esse p<strong>en</strong>sam<strong>en</strong>to naturalizador permiteque as difer<strong>en</strong>ças <strong>en</strong>tre os sexos seja o mote funda m<strong>en</strong>tal para a predominação do homem sobrea mulher na sociedade. A dominação masculina é uma hierarquia historicam<strong>en</strong>te criada do homemsobre a mulher, baseada nessas naturalizações superficiais. Essa hierarquia relegou ao gênero femininoos recônditos da esfera privada, <strong>en</strong>quanto para o gênero masculino a esfera pública era seureino. Bourdieu, em A dominação masculina, pret<strong>en</strong>de reve<strong>la</strong>r como essa estrutura de dominaçãomasculina foi construída, se naturaliza e se mantém na sociedade, s<strong>en</strong>do reproduzida por e<strong>la</strong>.114 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


e na ar<strong>en</strong>a pública levou as feministas a proc<strong>la</strong>marem a autonomia de seusmovim<strong>en</strong>tos e a criação de instituições verticais, como <strong>en</strong>contros e Congressosespecíficos, nos quais estavam pres<strong>en</strong>tes: operárias metalúrgicas, empregadasdomésticas, mulheres politizadas, mulheres da periferia, ativistas políticas, etc. queproduziam p<strong>la</strong>taformas de lutas que incluíam direitos específicos (Moraes, 2003).A pesquisadora Elizabeth Jelin (1994), trouxe uma reflexão importante parap<strong>en</strong>sarmos o aborto como um direito de cidadania. E<strong>la</strong> iniciou seu artigoquestionando a existência de duas histórias parale<strong>la</strong>s nos Direitos Humanos: umarefer<strong>en</strong>te à mobilização de mulheres e o feminismo na luta pelo reconhecim<strong>en</strong>tode direitos, e a outra refer<strong>en</strong>te ao des<strong>en</strong>volvim<strong>en</strong>to e ampliação, através deredes não-governam<strong>en</strong>tais internacionais, das demandas por direitos humanos.O problema insere-se na escrita dessas duas histórias quando se juntam.Segundo Jelin, “trata-se das mulheres perante os direitos humanos ou dosdireitos humanos de as mulheres; as mulheres em (o movim<strong>en</strong>to dos) direitoshumanos ou as mulheres e os direitos humanos?” (Jelin, 1994, p. 117). Aindanessa linha de reflexão a autora questiona se os direitos humanos são direitosque priorizam o ideal de igualdade universal, ou de re<strong>la</strong>tivismo cultural? 5 Comodef<strong>en</strong>der o universalismo para os difer<strong>en</strong>tes? Como conciliar o re<strong>la</strong>tivismocultural com a universalidade de direitos? Essa universalidade tem por baseuma cultura impositiva e discriminatória? Koerner (2002) ressaltou que “ore<strong>la</strong>tivismo cultural questiona a possibilidade de que as difer<strong>en</strong>ças possam serreduzidas a um mínimo d<strong>en</strong>ominador cultural comum” (p.96). Não pret<strong>en</strong>demosaqui dar respostas a essas perguntas, pois nosso objetivo não é este, mas sãoquestionam<strong>en</strong>tos importantes quando p<strong>en</strong>samos nos direitos das mulheres, emais fortem<strong>en</strong>te no direito ao aborto e sua re<strong>la</strong>ção com a cidadania. Entretanto, éimportante lembrarmos que os governos autoritários e os “autoritarismos sociais”t<strong>en</strong>dem a minar a capacidade consci<strong>en</strong>te dos/as cidadãos/ãs quanto aos seusdireitos (Jelin, 1994) 6 . Como observou a autora:... O conceito de cidadania refere-se a uma prática conflitiva vincu<strong>la</strong>da ao poder, que refleteas lutas em torno de quem poderá dizer o quê no processo de definir quais são os problemascomuns e de que forma serão abordados. Tanto a cidadania quanto os direitos estão sempre emprocesso de construção e de transformação (Jelin, 1994 p.119) 7 .A autora deu prosseguim<strong>en</strong>to à sua análise <strong>en</strong>fatizando que ao fa<strong>la</strong>r em direitoshumanos para categorias específicas da popu<strong>la</strong>ção que estiveram marginalizadasdurante o processo histórico (como as mulheres), significava reconhecer5 Para Koerner, “outra justificação é a de que os direitos humanos são universais e absolutos, poissão determinados pe<strong>la</strong> razão, a partir de princípios como a liberdade e a dignidade de todo ser humano”(Koerner, 2002).6 Grifos da autora.7 Grifos da autora.<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es115


mecanismos de opressão e dominação dessas categorias, e comprometer-sea reverter essa situação. Entretanto, pode haver um embate <strong>en</strong>tre os direitosuniversais e os direitos coletivos. Para um melhor <strong>en</strong>t<strong>en</strong>dim<strong>en</strong>to da questão, Jelin(1994) explicou que a crítica feita por alguns pesquisadores sobre essa questão,versou sobre dois aspectos: “a crítica à definição individualista e universal dosdireitos humanos e a sua id<strong>en</strong>tificação com os valores ocid<strong>en</strong>tais e masculinos”(Jelin, 1994, p. 124). Porém, Jelin apontou uma contradição nos discursosfeministas sobre direitos, mas que, mesmo assim, é fértil para se debater a questão.A autora observou que quando o feminismo dec<strong>la</strong>ra que exige a universalidadedos direitos, isto é, direitos iguais para hom<strong>en</strong>s e mulheres, ele reserva, nessemom<strong>en</strong>to, a questão tão debatida por esse ator que é a respeitabilidade dasdifer<strong>en</strong>ças <strong>en</strong>tre os gêneros, um “conflito inevitável <strong>en</strong>tre o princípio da igualdadee o direito à difer<strong>en</strong>ça” (Jelin, 1994, p. 125):Entretanto, o reverso da realidade social impõe-se: os indivíduos não são todosiguais e, em última instância, ocultar ou negar as difer<strong>en</strong>ças serve para perpetuaro sub<strong>en</strong>t<strong>en</strong>dido de que há duas categorias de pessoas ess<strong>en</strong>cialm<strong>en</strong>te distintas,as “normais” e as “difer<strong>en</strong>tes”. (...) Uma das grandes contribuições do feminismotem sido a profunda crítica e o desmascaram<strong>en</strong>to dos suportes do paradigmadominante, que coloca os hom<strong>en</strong>s (ocid<strong>en</strong>tais) como ponto de referência universale que transforma as mulheres (e outros) em difer<strong>en</strong>tes ou invisíveis (Jelin, 1994,p. 125). Contudo, a autora explicou que os direitos humanos referem-se àsmulheres e não à mulher 8 , destacando que a própria categoria mulher é passívelde várias id<strong>en</strong>tificações e n<strong>en</strong>hum cons<strong>en</strong>so quanto à unidade. Corroborando essaafirmação, Judith Butler (1998) afirmou que o termo “mulheres” “designa um campode difer<strong>en</strong>ças indesignável”, e que não deve ser interpretado de forma totalizadoraou meram<strong>en</strong>te descritivo, pois “o próprio termo se torna um lugar de perman<strong>en</strong>teabertura e re-significação” (Butler, 1998, p. 36). Daí, o questionam<strong>en</strong>to a respeito dauniversalização dos direitos humanos que não contemp<strong>la</strong>ria as difer<strong>en</strong>ças contidas,por exemplo, quando se trabalham as categorias mulher, homem, gênero, etc. Jelin(1994, p.126) ressaltou que o grande problema dos direitos humanos reside em que“os direitos civis e políticos dos indivíduos estão situados na vida pública; ficam defora as vio<strong>la</strong>ções a esses direitos na esfera privada das re<strong>la</strong>ções familiares”.A resolução def<strong>en</strong>dida por Jelin (1994) para resolver essa contraposiçãonão é manter a separação e o confrontam<strong>en</strong>to <strong>en</strong>tre a universalização dosdireitos e a manut<strong>en</strong>ção da pluralidade exist<strong>en</strong>te na diversidade, mas simuma nova via na qual as duas percepções caminhem unidas a fim de reduziras desigualdades (que não são <strong>en</strong>t<strong>en</strong>didas como difer<strong>en</strong>ças) oriundas dasociedade e das instituições. Desta forma, p<strong>en</strong>sar no direito ao aborto como8 Grifos da autora.116 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


um direito de cidadania das mulheres é relevante no s<strong>en</strong>tido em que ainda nãoexistem respostas concretas para indagações filosóficas sobre a origem davida e sobre a individualização do feto, mas o concreto aqui reside no fato deque as mulheres ainda não são proprietárias de seus corpos, de si mesmas.Portanto, como gozar de cidadania pl<strong>en</strong>a se nem de seus corpos e<strong>la</strong>s sãodonas? Como considerar-se cidadã num contexto em que e<strong>la</strong> se vê, por vezes,obrigada a abortar porque sua realidade social a força a tal? E ao abortar, ofaz ilegalm<strong>en</strong>te pod<strong>en</strong>do ser presa e cond<strong>en</strong>ada. Ao abortar inseguram<strong>en</strong>te,e<strong>la</strong> tem novam<strong>en</strong>te sua cidadania em xeque, pois e<strong>la</strong> arrisca a própria vidautilizando métodos perigosos à sua saúde, e “saúde é um direito de todos”.Portanto, há que se discutir melhor o que é a cidadania para as mulheres, oque e<strong>la</strong>s consideram como cidadania, o que e<strong>la</strong>s desejam. Há que se discutiro aborto como um direito de cidadania na <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>, incorporando auniversalidade e a diversidade na quais as mulheres estão inseridas. Desafiospara o século XXI.Considerações FinaisNeste <strong>en</strong>saio pret<strong>en</strong>demos discutir um assunto antigo, mas que ainda fere osdireitos de cidadania das mulheres <strong>la</strong>tino-americanas que é a negação ao direitoao aborto, à autonomia de seus corpos. O Feminismo <strong>la</strong>tino-americano <strong>en</strong>controubarreiras para discutir esse assunto devido às características culturais da região,que marcaram fortem<strong>en</strong>te a vocação da mulher <strong>la</strong>tino-americana como a mãesantificada, quase como referência ao mito da Virgem Maria. Assim s<strong>en</strong>do, fazs<strong>en</strong>ecessária a discussão mais aprofundada dessa particu<strong>la</strong>ridade atribuída àmulher <strong>la</strong>tino-americana para se avançar nas conquistas e direitos. Percebemosque a partir dos anos 1990 houve uma diminuição quanto à discussão do abortod<strong>en</strong>tro do Movim<strong>en</strong>to, pois outros temas começaram a ter destaque nas ag<strong>en</strong>dasfeministas, como: a crítica à esterilização feminina indiscriminada e as novastecnologias reprodutivas. Nas pa<strong>la</strong>vras de Costa:O feminismo brasileiro, e também o mundial, de fato mudou, e não mudou som<strong>en</strong>te em re<strong>la</strong>çãoàquele movim<strong>en</strong>to sufragista, emancipacionista do século XIX, mudou também em re<strong>la</strong>ção aosanos 1960, 1970, até mesmo aos 1980 e 1990. Na verdade, vem mudando cotidianam<strong>en</strong>te, acada <strong>en</strong>fr<strong>en</strong>tam<strong>en</strong>to, a cada conquista, a cada nova demanda, em uma dinâmica impossível deser acompanhada por quem não viv<strong>en</strong>cia suas <strong>en</strong>tranhas. No movim<strong>en</strong>to feminista a dialéticaviaja na velocidade da luz (Costa, 2005 p.9).Este é um problema a ser abordado pelos feminismos nesse século XXI aindaé a repres<strong>en</strong>tação da mulher no imaginário social. Pesquisando nossa cultura,percebemos a construção da mulher <strong>la</strong>tino-americana como volúvel, altam<strong>en</strong>teerotizada, feiticeira de hom<strong>en</strong>s. E, por essa razão, houve uma valorização extremada repres<strong>en</strong>tação da mulher-mãe. Simbolizada nas européias que auxiliaram nacolonização, e<strong>la</strong>s eram modelos de mulheres, pois estavam sempre aos serviços<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es117


do marido e dos seus filhos. Não era afeita a atividades intelectuais (posto que talnão fosse designada a e<strong>la</strong>s), cultivava ap<strong>en</strong>as aque<strong>la</strong>s faculdades que as faziamtão dedicadas a seus <strong>en</strong>tes queridos. O Feminismo revolucionou aspectos dasociedade <strong>la</strong>tino-americana, mas outros ainda permanecem bastante <strong>en</strong>raizados,se constituindo um desafio para esse novo século. Um desafio para a construçãoda cidadania. Entretanto, não há uma única via para se construir a cidadania, poise<strong>la</strong> é construída de acordo com o contexto histórico de cada país, t<strong>en</strong>do comocim<strong>en</strong>to de sua construção a cultura de cada nação. Portanto, para que possamosassegurar uma cidadania pl<strong>en</strong>a às mulheres, temos que modificar nossa culturaque edifica mulheres-deusas, erotizadas ou mulheres-mães, santificadas.Referências BibliográficasBARBOSA, Regina Maria. ARILHA, Margareth. A experiência brasileira com o Cytotec.Rev. Estudos <strong>Feministas</strong>, Ano 1, 2º sem., 1993.BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007.BUTTLER, Judith. Fundam<strong>en</strong>tos Conting<strong>en</strong>tes: o feminismo e a questão do pósmodernismo.Cadernos Pagu, v. 11, Campinas, 1998, p.11-42.CORREA, Sonia. ÁVILA, Maria Betânia. Direitos sexuais e reprodutivos: pauta globale percursos brasileiros, in: BERQUÓ, Elza (org.) Sexo & Vida: panorama da saúdereprodutiva no Brasil. Campinas, SP: Editora da Unicamp/NEPO, 2003.COSTA, Ana Alice Alcântara. O movim<strong>en</strong>to feminista no Brasil: Dinâmicas de umainterv<strong>en</strong>ção política. Revista Gênero. Niterói, v.5, n.2, p. 9-35, 1. sem. 2005.JELIN, Elizabeth. Mulheres e direitos humanos. Rev. Estudos <strong>Feministas</strong>, ano 2, 1semestre de 1994, p. 117-149.KOERNER, Andrei. Ordem política e sujeito de direito no debate sobre direitos humanos.Rev. Lua Nova, n 57, 2002.LARAIA. Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 14ª ed. Rio de Janeiro:Jorge Zahar, 2001.MORAES, Maria Lygia Quartim. Feminismo, movim<strong>en</strong>tos de mulheres e a (re) construçãoda democracia em três países da <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>. Primeira Versão. Campinas: IFCH/Unicamp, 2003.ROCHA-COUTINHO, Maria Lúcia. Tec<strong>en</strong>do por trás dos panos: a mulher brasileira nasre<strong>la</strong>ções familiares. Rio de Janeiro: Rocco, 1994.ROSADO-NUNES, Maria José. Teologia Feminista e a crítica à razão patriarcal: <strong>en</strong>trevistacom Ivone Gebara. Rev. Estudos <strong>Feministas</strong>, Florianópolis, 14 (1) 336, janeiro-abril, 2006.SCOTT, Joan. O <strong>en</strong>igma da igualdade. Estudos <strong>Feministas</strong>, Florianópolis, 13, janeiro-abril,2005. p. 11-30.SCHIMIDT, Simone Pereira. Como e por que somos feministas. Estudos <strong>Feministas</strong>,Florianópolis, 12:264, setembro-dezembro, 2004. p.17-22.WORLD HEALTH ORGANIZATION. Unsafe abortion: global and regional estimates ofincid<strong>en</strong>ce of unsafe abortion and associated mortality in 2003. 5th ed., 2007.118 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es


<strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es119


120 <strong>Desafíos</strong> <strong>Feministas</strong> <strong>en</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>la</strong> <strong>mirada</strong> de <strong>la</strong>s jóv<strong>en</strong>es

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!