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Elas por elas 2009

A revista sobre gênero Elas por Elas foi criada, em 2007, com o objetivo de dar voz às mulheres e incentivar a luta pela emancipação feminina. A revista enfatiza as questões de gênero e todos os temas que perpassam por esse viés. Elas por Elas traz reportagens sobre mulheres que vivenciam histórias de superação e incentivam outras a serem protagonistas das mudanças, num processo de transformação da sociedade. A revista aborda temas políticos, comportamentais, históricos, culturais, ambientais, literatura, educação, entre outros, para reflexão sobre a história de luta de mulheres que vivem realidades diversas.

A revista sobre gênero Elas por Elas foi criada, em 2007, com o objetivo de dar voz às mulheres e incentivar a luta pela emancipação feminina. A revista enfatiza as questões de gênero e todos os temas que perpassam por esse viés. Elas por Elas traz reportagens sobre mulheres que vivenciam histórias de superação e incentivam outras a serem protagonistas das mudanças, num processo de transformação da sociedade. A revista aborda temas políticos, comportamentais, históricos, culturais, ambientais, literatura, educação, entre outros, para reflexão sobre a história de luta de mulheres que vivem realidades diversas.

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diferente do outro, uma cor de pele diferente de outra,

h abitamos u m t erritório d iferente d o o utro,

porque temos uma orientação do desejo sexual

diferente do outro, porque temos hábitos culturais e

religiosos diferentes de outros.

Somos a um só tempo, de modo simultâneo e

paradoxal, iguais e diferentes. Todo o século XX foi

um período marcado pelo esforço político de chegar

a essa conclusão. Assim como a luta pela igualdade

marcou os séculos XVIII e XIX, através da luta de

classes, do sufragismo, da luta contra o tráfico negreiro

e a escravidão etc., a luta pelas diferenças

marcou o século XX: o movimento feminista e suas

“Cada um de nós tem

pertencimentos identitários

e coletivos múltiplos e,

certamente, em ocasiões

distintas e paradoxais e

tensamente disputados”

diferenciações – mulheres negras, lésbicas, pobres,

rurais, heterossexuais, de classe média...; o movimento

LGBT – uma variedade infinita de ser sexualmente

no mundo: gays, lésbicas, travestis, transgêneros,

transexuais...; o movimento racial – negros e negras,

pobres, intelectuais, quilombolas, afrodescendentes,

de classe média...; as lutas da juventude – numa

miríade de diferenciações: do Hip Hop, do Funk, do

Rap, das igrejas, do grafite, do movimento estudantil,

dos partidos... e pelo reconhecimento da população

idosa: aposentados/as, “melhor idade”, a dos grupos

de ginástica e alongamento etc.. Acredito ser neste

século XXI que seremos capazes de efetuar uma “nova

síntese” e trabalhar, desta vez, não de forma linear

e binária, mas tendo a certeza de que é necessário

operar num campo complexo de relações de força

onde cada um/único é ao mesmo tempo muitos/plural.

Cada um de nós tem pertencimentos identitários e

coletivos múltiplos e, certamente, em ocasiões

distintas paradoxais e tensamente disputados. Eu sou

a um só tempo: professora universitária, mulher ,

feminista, branca, de classe média, cética, militante

acadêmica dos direitos humanos e da diversidade,

heterossexual, mãe, de “meia idade” e daí vai...

Sabemos que é no espaço da cultura que todas

estas dimensões ganham contornos, definições,

sentidos e significados. Especialmente as diferenças

de gênero, raciais, sexuais compõem elementos

importantes do mosaico de diversidades que o

mundo contemporâneo vem afirmando cultural,

social e politicamente, mas desta vez, numa tentativa

explícita de romper com a idéia – tão frequentemente

essencializada e naturalizada – de “normalidade”. E

é t ambém a través d a c onstrução s ócio p olíticocultural

que o machismo, o sexismo, a

heterossexualidade compulsória, o racismo, a

homofobia e a lesbofobia (entre outros) são construídos

e transformados, muitas vezes, em categorias

cristalizadoras da diversidade e tudo que não se

conforme ao padrão hegemônico – homens brancos,

de classes altas e médias, heterossexuais e ocidentais

– se alinha ao negativo. Neste nosso mundo não é rara

a associação, num único sujeito ou através de um

mesmo coletivo, de mais de um tipo destes de discriminação

e de preconceito.

Muitas leis, programas e ações do Estado ou das

organizações da sociedade civil (como os movimentos

sociais, as ONGs etc.) vêem sendo implementadas

para combater práticas discriminatórias já

mencionadas mas é perfeitamente compreensível que

acreditemos que, sem a efetiva transformação de

mentalidades e das práticas, ou seja, sem uma

mudança cultural, social e política, pouco será

efetivamente transformado. Daí o papel estruturante

que adquirem ações que promovam a discussão

desses temas, motivem a reflexão individual e

coletiva e contribuam para a superação e eliminação

de qualquer tratamento preconceituoso e opressivo.

Gostaria de complementar esta discussão in-

ELAS POR ELAS - AGOSTO DE 2009 27

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