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A representação feminina nos lendários gaúcho e quebequense

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libertar o sacristão da prisão na furna encantada. E o fato de ambos se encontrarem marca o<br />

início da narrativa, visto serem eles que basicamente descrevem tudo o que irá acontecer, até<br />

mesmo as ações da Teiniaguá.<br />

A referência ao substantivo salamanca por si só já é uma marca importante no texto.<br />

Percebe-se nitidamente a relação que salamanca mantém com as práticas de bruxaria e os<br />

mistérios escondidos no sobrenatural; pode aqui ser entendida como o lugar em que a bruxaria<br />

é praticada. Tais práticas e mistérios, conforme o próprio texto <strong>nos</strong> deixa claro, estão<br />

intimamente ligadas com a miscigenação entre árabes e cristãos, simbolizada no encontro da<br />

Teiniaguá com o Santão.<br />

Outra marca importante nesta narrativa reside nas questões ideológicas que são, ao<br />

mesmo tempo, de oposição entre mouros e cristãos. Pensar nessas diferenças, que não são<br />

apenas religiosas e ideológicas, mas abrangem o social, é importante para que se entenda o<br />

pecado, ato transgressor do Santão. A Teiniaguá é moura e o Santão, segundo a própria<br />

nomenclatura denuncia, é cristão, o que já torna a relação entre eles impossível, passível de<br />

severa condenação; é um ato transgressor que Santão comete por ser sacristão e, como<br />

católico, por não ter em seus dogmas e normas a permissão de se relacionar com uma figura<br />

<strong>feminina</strong>. Ela, por sua vez, transgride ao seduzir o sacristão, mas sua grande marca<br />

transgressora está justamente em representar um ser feminino.<br />

Ao começar a reproduzir a narrativa de sua avó, Blau Nunes diz: “Na terra dos<br />

espanhóis do outro lado do mar, havia uma cidade chamada Salamanca – onde viveram os<br />

mouros...” No momento em que os mouros saem de sua terra e chegam ao sul, deparam-se<br />

com espanhóis, da mesma forma que eles, renegados. Isso acontece porque ambos buscam a<br />

dominação de uma terra que está sob domínio dos portugueses e são vistos por estes como<br />

inimigos, seguindo interesses de colonização. O encontro dos mouros com a Teiniaguá e o<br />

sacristão marcará a afirmativa da miscigenação entre árabes e cristãos.<br />

Segundo Flávio Loureiro Chaves (1982, p. 78-79), o verdadeiro objetivo de Simões<br />

Lopes Neto em “A Salamanca do Jarau” é a invenção de uma personagem 15 e a observação da<br />

situação limite em que ela se encontra. O tema da viagem aqui entendido pelo caminho<br />

percorrido pela Teiniaguá, da Península Ibérica para a América do Sul, e o percorrido por<br />

Blau, na busca pelo Boi Barroso, assume um duplo sentido, indicando a ambigüidade da qual<br />

15 Nosso trabalho não entende nem a Teiniaguá, nem o Santão como personagens, e sim como representações<br />

que assumem papéis sociais; são marcas de interditos, de comportamentos que devem ser seguidos e daqueles<br />

que devem ser evitados a todo custo.<br />

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