12.03.2017 Views

FuoriAsse #19

Officina della cultura

Officina della cultura

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

eferências que lhe (re)compõem o cânone<br />

e a memória (autores e obras) 6 , de<br />

funções 7 , etc..<br />

… no centro dela, o Cânone Literário<br />

e a controvérsia que o informa<br />

No centro, o Cânone, espécie de panteão<br />

dos representativos, das referências, da<br />

constelação da nossa memória estética.<br />

Autores como Harold Bloom, mas<br />

também George Steiner, Italo Calvino,<br />

Umberto Eco, Daniela Marcheschi, etc.,<br />

no plano internacional, ou Vítor Manuel<br />

de Aguiar e Silva, no nacional, são Mestres<br />

com que vamos realizando a nossa<br />

reflexão, com incontornável bibliografia.<br />

Cada Literatura nacional elenca os<br />

seus e os das outras. Há listas de instituições<br />

académicas e culturais prestigiadas<br />

e de autores, teóricos e/ou críticos<br />

respeitados. Há as enunciadas com<br />

um carácter mais definitivo (O Cânone<br />

Ocidental, 1994, de Harold Bloom) e há<br />

as que vão sendo revistas periodicamente.<br />

Há autores e obras que resistem mais<br />

longamente às oscilações do gosto e às<br />

mudanças de paradigma cultural e<br />

estético, outros/as que soçobram e<br />

muitos que, depois, são redescobertos.<br />

A definição do Cânone Literário está<br />

estreitamente dependente do auto/hetero-reconhecimento<br />

estético culturalmente<br />

moldado.<br />

Alguma controvérsia.<br />

No rigor da correspondência dos conceitos<br />

(cânone, nacional, europeu, ocidental,<br />

lusófono, autoral, etc.) à realidade<br />

que elas designam, assunto sobre que<br />

me ocupei noutro lugar 8 . E na sua existência<br />

de facto: se uns partem desse<br />

princípio, outros há que propõem que se<br />

definam/fixem esse(s) cânone(s).<br />

Nas listas. Divergência de critérios de<br />

selecção e de constituição, como tive já<br />

ocasião de assinalar e exemplificar no<br />

caso de exemplos mais representativos,<br />

quer entre listas, quer na sua constituição<br />

(p.ex., Bloom integra obras não literárias<br />

na lista, atendendo à sua influência<br />

cultural), quer entre os diferentes<br />

momentos da cartografia do mesmo<br />

autor 9 .<br />

6 É eminentemente metamórfica: as suas fronteiras estão em permanente mutação, quer no plano teórico (da<br />

sua conceptualização), quer no plano criativo. Reconfigura-se e é reconfigurada diversamente, em função de<br />

factores intrínsecos e extrínsecos legitimadores. É território movediço, onde os valores e as sensibilidades se<br />

confrontam e onde o que hoje é considerado literário pode ser relegado para as suas margens amanhã.<br />

Vive a dupla vocação de querer ser diferente (original, singular, surpreendente) e de desejar, (in)confessadamente,<br />

assemelhar-se ao(s) modelo(s) que elege, à tradição e linhagem com que se identifica. Nessa tensão, revela-se<br />

subtil, mas profundamente paródica e tabular: a memória estética e cultural informa-a. Da alusão à assumida<br />

citação, do pastiche à reescrita, todas as variantes lhe modulam o verbo, suspenso de pregnância, vibrante de<br />

suspeição.<br />

E a palavra impõe-se iconicamente: é imagem em trânsito, dominada pela arte da fuga, em que se transforma,<br />

medusante e encantatória na sua (re)configuração e na das imagens que promove na nossa imaginação. Nesse<br />

trânsito, inscreve-se e grafa-se enlutada pela perda experimentada, eufórica pela novidade que incorpora, tranquilizada<br />

pela memória preservada: constitui-se como detalhe ou sinal de programas estéticos que codifica e<br />

cristaliza, que atravessa e em que se metamorfoseia.<br />

Releva de protocolos de escrita e promove pactos de leitura: sugere, impede ou dificulta itinerários analíticos,<br />

insinua a sua inesgotabilidade, seduz e fascina pelo modo como se impõe como alfa e ómega de si própria.<br />

7 É plurifuncional. Assume diversas funções, desde a de representar ou reflectir sobre o real até à de promover<br />

a alienação dele, questionando a existência ou questionando-se a si mesma, denunciando ou assinalando,<br />

observando ou observando-se, etc.. E a escrita desenvolve-se oscilando entre elas, jogando com elas, deixando<br />

sinais mais ou menos dominantes ou hesitando em comprometer-se decididamente com uma delas, estética,<br />

social, ética, filosófica ou outra. Ao longo dos tempos e das histórias literárias, poderemos detectar predominâncias,<br />

mas é a pluralidade que a caracteriza.<br />

8 Luz & Sombras no Cânone Literário, Lisboa, Esfera do Caos, Lisboa, Esfera do Caos, 2014.<br />

9 ibidem, especialmente, pp. 35-38.<br />

FUOR ASSE 48<br />

Redazione Diffusa

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!