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Editorial Revista Entre Lagos • Edição 82 • DEZ-2012 2 O novo ano que começa, para os brasileiros, não traz até agora nenhuma novidade, nada que o País ainda não conheça. Norte, Sul, Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste entram 2013 enfrentando os mesmos problemas que décadas atrás também eram as mesmas preocupações. Incrível a nossa capacidade de saber repetir, com a mesma incompetência, as providências erradas que nunca trazem para a comunidade as respostas esperadas. O mês de janeiro, nos últimos dez ou vinte anos, traz para as populações dos Estados do Rio de Janeiro, Santa Catarina, Minas Gerais, Espírito Santo e vizinhos chuvas e trovoadas e toda sorte de problemas que se possa imaginar. Os jornais, revistas e as TVs mostram o tempo todo fotos e imagens desalentadoras de bairros inteiros tragados pelas águas, rios transbordando, casas inundadas e centenas de pessoas desabrigadas e sem ter onde ficar. Cenas de muita tristeza, retratos em branco e preto de comunidades inteiras jogadas a mercê da sorte, num triste cenário que envergonha um País. O mesmo Brasil, que nunca encontra uma forma adequada para estancar e parar tanta água que invade o que encontra pela frente nessas regiões, também não consegue sequer anunciar uma só medida que amenize o drama dos nordestinos sem água em quatro ou cinco estados, os mesmos que entra ano sai ano lá vão eles, com a lata d’água na cabeça na busca do líquido que mata a sede e alimenta o corpo. Defesa civil, Ministério da Integração, Ministério da Justiça, entidades sociais e governos estaduais anunciam todos os anos as mesmas providências para os mesmos problemas, e eles se repetem com na mesma frequência, mesma intensidade. Se há água em excesso no Sudeste, e as carências regionais não conseguem dar um rumo certo a essas enxurradas que surgem a cada chuva, a escassez do Nordeste emagrece os reservatórios, e o eterno fantasma do racionamento assusta as autoridade em todas as escalas. É falta de planejamento, esbraveja um crítico ambientalista que nunca saiu de sua casa na praia. Que nada, o que há é falta de vontade política, de determinação de governo, esbraveja a oposição, encastelada em Brasília curtindo o ar condicionado. Da discussão desordenada também participam técnicos e teóricos que nunca se entendem sobre o que fazer, fiscais do dinheiro público que nunca sabem explicar o que liberam e o que proibem e ainda os abnegados e voluntários que, estes sim, atolam seus pés na lama e no barro e vão socorrer vítimas que não sabem o que fazer, para onde ir e em quem acreditar. A repetição dessas cenas, que acabam ilustrando o roteiro de um repetitivo filme macabro, onde poucos mocinhos conseguem salvar pobres e desvalidos, tornam todo começo de ano o Brasil previsível e desanimador. As tragédias se repetem, as medidas anunciadas não saem do papel e os prejudicados são sempre os mesmos, as vítimas tem como recompensa apenas lágrimas. Alguém, de alguma forma, em algum lugar, algum dia vai ter que achar uma solução para amenizar o drama dessas famílias. Acionar botões que fazem soar sirenes pode ser até uma solução provisória, um aviso para que as pessoas corram. Mas, na verdade, elas precisam de quem as socorram. De verdade. Expediente Diretor Responsável: José Natal Edição: Kátia Maia Projeto gráfico e diagramação: Evaldo Gomes de Abreu Impressão: Gráfica e Editora Ideal Colaboradores: Alexandre Garcia, Luís Natal, Ricardo Noblat, José Fonseca, Sheila D´Amorim, Wilson Ibiapina, Milton Seligman, MônicaWaldvolgel, Mayrluce Vilella, Paulo Pestana, Silvestre Gorgulho, Heraldo Pereira, Gilnei Rampazzo, Fernando Guedes, Christiane Samarco, Greicy Pessoa, Fernando Isoppo e Silvia Caetano. ChRIS NASCIMENTO/SÃO PAULO FABIANA FERNANDES/CURITIBA ENTRE LAGOS/RIO Editora: Cecilia Brant Colaboradores: Carlos Sampaio, Cássia Olival, Ronsangela Alvarenga, Paulo César Feital, Daisy Nascimento e Luis Augusto Gollo. www.revistaentrelagos.com.br Rio Grande Comunicação S/S Ltda SHCN CL quadra 211 Bloco A Nº 10 - Sala 218 - Brasília - DF. CNPJ: 33.459.231/0001-17 Tel.: (61) 8170.3702 - 3366.2393 ***** Rua Republica do Peru, 81 Apto. 202 - Copacabana Rio de Janeiro - RJ - CEP 22021-040 Anuncie conosco Ligue (BSB) 61 8170 3702 / (RIO) 21 8101 5887 ou acesse www.revistaentrelagos.com.br A Revista Entre Lagos possui 10 anos de tradição. É distribuída gratuitamente em pontos comerciais e órgãos públicos.
André Gustavo Jornalista Apocalipse Vi a perspectiva de fim do mundo, na época da guerra fria, quando viajei aos Estados Unidos a convite do governo daquele país. Estive no Instituto hudson e ouvi um dos pesquisadores dizer que trabalhavam com a seguinte hipótese de guerra. Se ao final do conflito, restassem dois americanos vivos e um russo, eles teriam vencido. É bom lembrar que um e outro estado beligerante alardeava ter capacidade para destruir o planeta cinquenta ou sessenta vezes. Nunca entendi essa conta. Achei que bastava uma única e decisiva rodada de bombardeios nucleares. Depois visitei instalações estratégicas. Lá foi exibido um enorme painel que mostrava a possível localização, em tempo real ou perto disso, de três submarinos soviéticos na costa leste. Um ao norte, perto de Boston, outro em frente a Washington e Nova Iorque e o terceiro no sul. Na costa oeste o cenário se repetia. Outros três submarinos nucleares. Cada submarino tinha 14 tubos lançadores de mísseis e em cada um deles haveria cinco ogivas nucleares. Total: setentas bombas atômicas por embarcação. 210 de um lado, 210 de outro. Seriam 420 artefatos nucleares. Para completar o cenário de horror me foi dito que se o ataque partisse de um dos submarinos levaria entre três e quatro minutos para atingir Washington. Apocalipse - Não haveria tempo para defender a população. Mas, sim, para promover um contra-ataque fulminante que arrasaria a União Soviética em questão de minutos. Os mísseis partiriam da Europa e do território continental dos Estados Unidos. A segunda hipótese de guerra mostrava o ataque dos comunistas partindo da União Soviética com mísseis intercontinentais. Neste caso, levaria cerca de trinta minutos para arrasar o adversário. Mas o tempo era suficiente para organizar contra-ataque ainda mais devastador. Não haveria tempo nem para se despedir da família. Mas o assunto era tratado com naturalidade pelos militares. Depois dessa demonstração de insanidade nunca mais me incomodei com a perspectiva de fim de mundo. Se o mundo não acabou naquele momento, quando bastava um militar ensandecido apertar o botão fatídico (lembram-se do filme Dr. Strangelove, com Peter Sellers, direção de Stanley Kubrick?), tornou-se mais fácil exterminar a vida humana por ação natural do tempo. É verdade que a natureza é incompleta, faz correções periódicas de rumo, de temperatura, e o homem colabora com poluição para destruir o seu meio-ambiente. Não sou especialista na matéria e não pretendo me aventurar nesta seara. Mas, enfim, o mundo não acabou. O que preocupa neste início de 2013 é o Brasil perder oportunidades. Vai deixar a posição de sexta maior economia do mundo para os ingleses. Os resultados econômicos são frágeis e o crescimento do PIB ficará em 1% ou menos. Os norteamericanos, que estão vivendo uma recessão, vão emplacar expansão de três por cento. Vizinhos como Chile, Peru e Colômbia terão resultados melhores. Eles estão submetidos aos mesmos problemas internacionais. Recessão por todos os lados, desaquecimento no mercado europeu e sérios problemas políticos na China. No momento em que escrevo essas mal traçadas linhas, caíram raios, numa tempestade forte, e a energia foi cortada. 3 Revista Entre Lagos • Edição 82 • DEZ-2012 Mundo afora Saliva - Final de ano serve para essas reflexões. Os políticos brasileiros que já foram considerados de primeira linha estão, agora, se revelando de baixo extrato. Sem soluções razoáveis, partem para conflitos desnecessários e esquecem a arte de negociar. Os desgastes de final da legislatura poderiam ter sido evitados se houvesse mais saliva, que, como dizia Dr. Ulysses, é o combustível da política. E os interlocutores do governo não compreenderam a extensão da crise em torno dos royalties. Além da potencial crise federativa, o desentendimento tem o poder de paralisar a prospecção de petróleo no país. O Partido dos Trabalhadores está vivendo seu inferno astral, embora esteja há dez anos no poder. O julgamento do mensalão foi sinal claro de que as campanhas políticas no Brasil vão mudar de qualidade. Será mais difícil praticar o caixa dois e ainda mais complexo usar verbas de publicidade para outros fins. Não esquecer que na crise do governo Arruda, aqui em Brasília, o pessoal dessa área foi preso e passou uma temporada na Papuda. No nível federal, os articuladores das agências de publicidade receberam penas pesadas. Deverão passar um bom tempo atrás das grades. Algo mudou e os políticos precisam abrir seus olhos. A chamada judicialização da política, aliás, decorre de alguma preguiça parlamentar. Na medida em que não conseguem solucionar seus problemas, deputados e senadores jogam o assunto para debaixo do tapete. Alguém, inconformado, recorre ao Supremo Tribunal Federal e ocorre o que aconteceu com a decisão do ministro Fux. O regimento interno é claro em afirmar que cada veto deve ser apreciado em separado. Ele não tinha alternativa a não ser conceder a segurança para suspender a votação. Em retaliação, os parlamentares não votaram o orçamento. O governo vai ter que liberar dinheiro por medida provisória. Talvez seja necessário conhecer o fundo do poço para emergir com mais vitalidade nos próximos tempos. O expresidente Lula ameaça ser candidato novamente. Não disse a que. Mas pode ser ao governo de São Paulo ou à presidência da República. Tudo é risco neste 2013. Há
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