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3. ESSAS MINIATURAS DO MUNDO: a cartografia histórica - cchla

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<strong>ESSAS</strong> <strong>MINIATURAS</strong> <strong>DO</strong> MUN<strong>DO</strong>:<br />

a <strong>cartografia</strong> <strong>histórica</strong> e o processo de ocupação<br />

do território na América portuguesa<br />

Fernanda Borges de Moraes<br />

Professora do Departamento de Urbanismo da Escola de Arquitetura da UFMG.<br />

Resumo<br />

Os mapas não podem ser considerados tão somente uma<br />

representação de informações geográficas, nem reduzidos a uma<br />

técnica ou a um conjunto de metodologias de caráter estritamente<br />

geométrico, pois assumem diferentes funções e significações em<br />

cada época. Se, em suas origens, a <strong>cartografia</strong> estava voltada para<br />

a construção de uma imagem do mundo, estreitamente articulada a<br />

teorias cosmogônicas, passou, paulatinamente, a assumir o caráter<br />

de instrumento geopolítico de administração, organização e<br />

controle de territórios. Procuramos discutir, neste artigo, o uso da<br />

<strong>cartografia</strong> <strong>histórica</strong> como fonte documental privilegiada para o<br />

entendimento dos processos de conquista e ocupação territorial na<br />

América Portuguesa, tomando como referência o chamado Ciclo do<br />

Ouro e do Diamante nas Minas Gerais coloniais.<br />

Palavras-chave: <strong>cartografia</strong>; América portuguesa; ocupação<br />

territorial.<br />

Abstract<br />

Maps should not be considered only as representation of<br />

geographical information, nor reduced to a technique or a group of<br />

strictly geometric methodologies, since it is a product that is not<br />

imune to the perceptions, values and world views of those who<br />

elaborate them and of the societies of their time. If, in its origins,<br />

cartography´s goal was to build an image of the world articulated<br />

only to cosmogonic theories, it progressively absorbed the<br />

character of a geopolitical instrument for the administration,<br />

organization and control of territories. In this article I discuss the use<br />

of the historic cartography as a privileged documental source for the<br />

understanding of the processes of conquest and territorial<br />

occupation in Portuguese America, using as a reference the colonial<br />

Gold and Diamond economies of Minas Gerais.<br />

Keywords: cartography; Portuguese America; territorial occupation.<br />

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Introdução<br />

Diante da possibilidade de acesso a imagens digitais de toda a extensão<br />

do planeta, atualizadas continuamente por meio dos inúmeros satélites em órbita,<br />

pode parecer anacrônico o interesse pelas representações cartográficas de<br />

outrora. Certamente não o é para pesquisadores e acadêmicos da História, da<br />

Geografia, da Arquitetura, do Urbanismo e de tantas outras áreas afins, embora<br />

freqüentemente esses profissionais lamentem, por vezes desolados, as<br />

dificuldades de acesso a esses documentos, que se encontram dispersos em<br />

inúmeras instituições no Brasil e no exterior, muitas vezes em precário estado de<br />

conservação.<br />

Os registros iconográficos, contudo, têm atraído não só pesquisadores e<br />

acadêmicos. Exposições e edições sobre o assunto vêm despertando, cada vez<br />

mais, não só o interesse desses profissionais, mas também o de muitos leigos, que<br />

se mostram fascinados pela iconografia produzida sobre o Brasil, em especial,<br />

pelos mapas, “essas miniaturas gráficas do mundo”. De fato, diante dessas<br />

representações do passado, chega a ser irresistível explorá-los, buscando<br />

identificar os lugares de nossa história e confrontando-os, sobretudo, com as<br />

feições com que se apresentam no presente.<br />

Possuindo uma linguagem própria, os documentos cartográficos são<br />

muito mais eloqüentes do que o senso comum supõe, revelando não só a geografia<br />

de um lugar ou região, mas também um determinado tempo, que ficou aprisionado<br />

na base material em que foram desenhados ou impressos. Tempo em que eram<br />

outras as técnicas e unidades de medição e representação; tempo em que os<br />

lugares que conhecemos tinham outros nomes; tempo em que nem tudo era<br />

conhecido, fazendo com que extensas áreas em branco falassem de sertões a<br />

desbravar e que refinadas iluminuras e vinhetas revelassem o sonho de encontrar<br />

o Eldorado, o medo de monstros medonhos que povoavam os mares e as florestas,<br />

ou mesmo o assombro dos primeiros aventureiros frente à exuberância e ao<br />

exotismo de terras recém-descobertas.<br />

São também peças de rara beleza, alguns apresentando desenhos<br />

caprichosos de pequenas povoações, plantas e animais exóticos, figuras<br />

mitológicas, pessoas em suas lides cotidianas... são registros valiosos porque<br />

únicos, raros e eloqüentes...<br />

Ao utilizar a <strong>cartografia</strong> como fonte documental é fundamental destacar<br />

que se trata de um tipo de representação cuja produção não está alheia às<br />

percepções, aos valores e concepções de mundo daqueles que a produziram bem<br />

como das sociedades em que viveram. Tucci (1984) afirma, e com bastante<br />

pertinência, que os mapas não podem ser tomados como uma mera materialização<br />

de conhecimentos geográficos, nem reduzidos a uma técnica, ou a um conjunto de<br />

metodologias adotado na superação de problemas de representação estritamente<br />

geométricos, porque assumem significações e atendem a propósitos os mais<br />

variados em razão do contexto em que foram produzidos. É o que também aponta<br />

Lavedan (1993) ao confrontar as origens da <strong>cartografia</strong> – quando a construção de<br />

uma imagem do mundo estava estreitamente vinculada a teorias cosmogônicas –<br />

com o Renascimento, contexto das grandes empresas marítimas, em que a<br />

exatidão, o detalhamento e o uso de métodos científicos tornaram-se<br />

imprescindíveis para a navegação segura em “mares nunca antes navegados” e<br />

em terras ainda por desbravar. E isso não ocorreu tão somente em razão de<br />

progressos alcançados no campo da técnica. Aspectos políticos, administrativos e<br />

estratégicos condicionaram as mudanças ocorridas na própria concepção da<br />

representação do mundo e de suas regiões.<br />

Mas há ainda outros aspectos a considerar nas lides com as<br />

representações do espaço em suas várias escalas:<br />

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“É preciso ter cuidado ao analisá-los [os desenhos], pois as<br />

armadilhas são inúmeras. Embora anseiem pela máxima<br />

exatidão possível, apresentam recortes da realidade, sob<br />

uma determinada ótica, e limites impostos pelo<br />

instrumental da época. [...] Longe de serem uma<br />

reprodução fidedigna do real, são projetos, nem sempre<br />

realizados. Nesse aspecto, é imprescindível a leitura dos<br />

ofícios que acompanhavam esses desenhos ou que<br />

prestavam conta de sua execução” (Bueno, 2001, p.665-<br />

666).<br />

Portanto, o esforço de comparar, cotejar e confrontar os registros<br />

iconográficos com outras fontes documentais e estudos diversos possibilita, por<br />

um lado, uma contextualização mais segura de idéias e fatos e, por outro, distinguir<br />

as variantes entre o imaginário e o real, e entre o explícito e o implícito, inerentes a<br />

esses registros.<br />

Pautando-se por essas questões, neste artigo procura-se discutir o uso<br />

da <strong>cartografia</strong> – tomando-a também como uma espécie de fio condutor – como<br />

instrumental privilegiado para o entendimento dos processos de conquista e<br />

ocupação do território brasileiro, tendo como referência o Ciclo do Ouro e do<br />

Diamante em Minas Gerais, quando foi produzido um montante bastante<br />

expressivo e diversificado de registros cartográficos, por meio dos quais se pode<br />

melhor compreender um dos fenômenos mais intensos de ocupação e expansão<br />

territorial na América Portuguesa.<br />

Os lugares do maravilhoso e do prodigioso<br />

Sendo os mapas basicamente uma representação – gráfica,<br />

bidimensional e em escala reduzida – de informações obtidas por meio de<br />

levantamentos ou de relatos e descrições daqueles que percorreram determinado<br />

território, sua produção desenvolveu-se atrelada à construção de uma linguagem<br />

específica, na qual técnica, significante e significado se misturam e se<br />

complementam.<br />

Até o século XVI, pouco se avançou no sentido de uma padronização da<br />

linguagem dos mapas, prevalecendo nas cartas o estilo de cada cartógrafo. Os<br />

esforços no sentido de sua uniformização se iniciaram no século XVI na Itália e<br />

Holanda, mas foi ao longo dos séculos XVII e XVIII que se consolidou todo um<br />

sistema de padronização de representação cartográfica (Bueno, 2001, p.710).<br />

Houve, assim, uma progressiva evolução de uma representação mais<br />

naturalista ou figurativa para uma mais abstrata, com o uso de símbolos gráficos<br />

capazes de expressar informações de forma compacta e objetiva. Serras,<br />

montanhas e falésias, por exemplo, eram representadas perspectivadas e de<br />

forma pictórica nos séculos XVI e XVII, mas, ao final desse último, já eram adotados<br />

grafismos de caráter mais abstrato até chegar nas linhas de cotas utilizadas no<br />

século XX (Figura 1). Toda essa esquematização gráfica visava ao<br />

estabelecimento de convenções inteligíveis universalmente e que hoje se<br />

apresentam como corriqueiras.<br />

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Figura 1. Exemplo da evolução das formas de representação cartográfica: na carta de<br />

Giovanni Battista Ramusio, datada de 1557 (1), os elementos geográficos são<br />

representados de forma figurativa. A linguagem cartográfica, aos poucos, vai se tornando<br />

mais simplificada, como indica o detalhe da serra da Mantiqueira (2), presente no mapa de<br />

José Joaquim da Rocha (1778). Na <strong>cartografia</strong> do Barão de Eschwege (1821), o relevo é<br />

representado em planta, com grafismos que conferem profundidade ao desenho (3). Por<br />

fim, na carta de 1972 (4), a representação da altimetria é feita por meio de curvas de nível e<br />

da escala de cores ipsométricas e batimétricas.<br />

Fonte: Tesouro... (2002, p.236); Rocha (1995); Costa (2004, p.191); IBGE (1972).<br />

Mas quando o mundo não era ainda uma aldeia global, os espaços<br />

situados para além das fronteiras do conhecido eram representados de forma<br />

muito mais simbólica do que geográfica. Mantendo ainda tradições medievais, os<br />

mapas assumiam também o papel de veículo do imaginário e do maravilhoso, do<br />

exótico e do mítico, onde a representação de um mundo exterior se misturava às<br />

projeções de teor simbólico de um mundo interior, curioso, especulativo e, porque<br />

não dizer, criativo.<br />

Em mapas encomendados pela nobreza e geralmente destinados à<br />

exposição, podem ser encontradas ilustrações as mais diversas, desde as<br />

alegorias representando os quatro continentes – Europa, Ásia, África e América –<br />

até imagens da fauna, flora, povos e figuras mitológicas. Essa tradição de<br />

decoração artística, adotada pelos cartógrafos franceses do século XVI, e que<br />

ainda perdurou nos dois séculos seguintes, também esteve presente em mapas<br />

destinados a propósitos mais objetivos e práticos, como a navegação ou o registro<br />

de territórios conquistados (Figura 2).<br />

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Figura 2. A Quarta Orbis Pars. Mundus Novus (1558), de Diogo Homem, registra<br />

informações sobre a ocupação litorânea da América Portuguesa, sendo que nos sertões<br />

ainda não desbravados figuram imagens da fauna, flora, povos e entes mitológicos.<br />

Fonte: Belluzzo (1999, p.69).<br />

Para além do deleite estético, essas representações – nos quais teor<br />

artístico e registro histórico-geográfico se articulam e se complementam – são<br />

fonte inesgotável de reflexões e reinterpretações à luz das inquietações,<br />

demandas e perguntas que ainda nos impõe a contemporaneidade. Imagens<br />

literárias como as de A Utopia de Morus – que se somaram às evocadas em obras<br />

como as de Shakespeare, Erasmus, Rabelais, Montaigne, Camões, Campanella e<br />

tantos outros – inspiraram e foram inspiradas por pintores, ilustradores e<br />

cartógrafos, alimentando de sonhos, desejos e cobiças uma Europa que se<br />

confrontava perplexa e maravilhada com o “outro”: os povos reais e imaginários<br />

que habitavam as terras recém-descobertas.<br />

Na medida em que as fronteiras do mundo conhecido avançavam e o<br />

conhecimento sobre seus territórios se ampliava, essas figurações mais livres aos<br />

poucos foram relegadas a espaços periféricos como os de ornamentação, legenda<br />

e títulos, dando lugar a registros mais próximos da realidade.<br />

Éden, Eldorado, Sabarabuçu ... as (M)minas<br />

Sérgio Buarque de Holanda (1959, p.3) já chamava a atenção para o<br />

espaço reduzido que as maravilhas e os mistérios sobre o Novo Mundo ocupavam<br />

nos escritos quinhentistas portugueses. Se o maior domínio das técnicas de<br />

navegação, o contato mais estreito com povos do oriente e da costa africana, e até<br />

um certo pragmatismo os tornaram alheios, quiçá desencantados, frente aos<br />

exotismos e fascínios das terras recém-descobertas, o mesmo parece não ter<br />

ocorrido em outras nações européias.<br />

O mundo tropical – com suas exuberâncias que não conhecem os rigores<br />

do inverno, com sua fauna e flora exóticas e homens e mulheres desnudos como<br />

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Adão e Eva – realimentou de novas imagens as tradições medievais do paraíso<br />

terrestre que, convencionalmente situado nas terras do oriente, ressurgiu no<br />

imaginário do mundo ocidental dos primeiros tempos das descobertas, fazendo<br />

proliferarem, nos mapas, elementos de paisagens paradisíacas.<br />

Na persistência dessas visões edênicas, o Novo Mundo figurava no<br />

imaginário europeu também como terra de riquezas ocultas – uma recompensa<br />

material à qual se associava o paraíso terrestre –, o que, de uma certa maneira, foi<br />

corroborado pela descoberta de tesouros na América Espanhola. A presença de<br />

um componente de realidade como este foi, muitas vezes, necessária para suscitar<br />

e (re)alimentar de lendas as mais fabulosas o imaginário dos aventureiros<br />

europeus.<br />

Assim, não é improvável que a hipótese de que o Eldorado fosse uma<br />

elaboração européia, figurando como atrativo para, ao mesmo tempo, incentivar a<br />

conquista e a ocupação de terras cada vez mais interiores e desviar as atenções<br />

sobre as notícias dos perigos e das atrocidades praticadas pelos indígenas das<br />

terras de além-mar (Vainfas, 2000, p.198). Por outro lado, as histórias sobre um<br />

ritual de aclamação de um chefe indígena que, com o corpo untado, se cobria de pó<br />

de ouro – el hombre dorado – e dele se desfazia ao mergulhar num lago, poderiam<br />

ser apenas um subterfúgio das populações autóctones para enganar os<br />

aventureiros. Seja como for, da lenda del hombre dorado surgiu a idéia de um lugar,<br />

uma região ou uma cidade magnífica – o Eldorado – onde “o ouro era coisa tão<br />

comum quanto a lama do chão” ou onde fulgurava uma imensa montanha de ouro e<br />

prata (Ley; De Camp, 1961, p.202-203).<br />

É curiosa a extraordinária mobilidade geográfica que o Eldorado adquiriu<br />

e que Holanda (1959, p.40-42) destaca:<br />

“O próprio sítio onde se supusera existir o 'Príncipe<br />

Dourado', com sua lagoa e seus tesouros infindos, passa a<br />

deslocar-se sucessivamente a cada avanço novo e a cada<br />

novo desengano dos conquistadores espanhóis, ou<br />

mesmo alemães, como Ambrósio Ehinger, Federmann,<br />

Georg Hohermuth, Philipp von Huten, mais tarde também<br />

ingleses como Raleigh, até meter-se, com o das<br />

amazonas, em lugares ínvios que guardariam melhor o seu<br />

mistério.”<br />

Na América Espanhola, a geografia do Eldorado passou por Nova<br />

Granada, pelo vale do Cauca, pela Guiana, chegando até ao país dos Omáguas.<br />

Essa geografia imaginária também alcançou os territórios da América Portuguesa<br />

na figura também de uma lagoa, como podemos verificar numa carta de 1596 –<br />

Delineatio Totius Australis Partis Americae... – elaborada por Arnold Florent van<br />

Langren (Tesouro..., 2002, p.108-109). Nela está representada a Laguna del<br />

doralo, localizada, aparentemente, no que seria hoje a região central do Brasil<br />

(Figura 3). Em vários mapas do século XVI, essa lagoa recebeu nomes diversos –<br />

Eupana, Xarayes ou Parapitingaa –, figurando, muitas vezes, como nascente dos<br />

rios São Francisco, Prata e/ou Amazonas.<br />

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Figura <strong>3.</strong> Nesta carta de Arnold Florent van Langren, datada de 1596, está representada a<br />

Laguna del doralo, localizada, aparentemente, no que seria hoje a região central do Brasil.<br />

Fonte: Tesouro... (2002, p.108).<br />

A essa mobilidade geográfica associavam-se também transformações na<br />

própria natureza do objeto lendário. Junto a essa lagoa, dizia-se haver montanha<br />

(ou serra) resplandecente – de muitos nomes, sendo Sabarabuçu o mais<br />

conhecido – onde haveria ouro, prata e pedras preciosas. Em outros mapas, era<br />

representada não uma lagoa ou montanha, mas uma ilha fluvial, situada no rio São<br />

Francisco, no Prata ou no Paraguai.<br />

Curiosamente, Sabarabuçu foi uma representação que, aos poucos, se<br />

deslocaria no espaço das geografias imaginárias, até se concretizar com a<br />

descoberta de ouro na região das Minas Gerais, em fins do século XVII. A lenda,<br />

cuja difusão foi atribuída a Filipe Guilhen, foi se alimentando de fatos, associandose<br />

a relatos, bebendo constantemente de experiências concretas e imaginárias.<br />

Guilhen, em carta a d. João III, de 20 de julho de 1550, não usa o nome<br />

Sabarabuçu, mas descreve uma serra resplandescente:<br />

“Socedeu agora que este março pasado vierõ a Porto<br />

Seguro negros dos que viuem junto de hû gram rio, alem do<br />

qual dizem que esta hûa sera junto delle que resprandece<br />

muito e que he muito amarella, da qual serra vão ter ao dito<br />

rio pedras da mesma cor, a que nos chamamos pedaço<br />

douro, que dellla caem, e os negros, quando vão a guerra<br />

polla banda de aquem, apanham do dito rio os ditos<br />

pedaços de que dizem que fazem gamellas pera nellas<br />

darem de comer aos porcos que pera si não osam fazer<br />

cousa algûa, porque dizem que aquelle metal edoença<br />

pella qual rezam nam ousam pasar a ella e dizem qué<br />

muyto temerosa por causa de seu resprandor, e chamãolhe<br />

sole da tera”. (Dias; Vasconcellos; Gameiro, 1924, p.358).<br />

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A expressão “serra que resplandece”, com algumas variações, teria<br />

correspondência, nas línguas indígenas, com os nomes Itaberaba ou no<br />

aumentativo Itaberaba-oçu, passando a corruptelas como Taberaboçu,<br />

Tuberabuçu, Sabrá-boçu, e se firmando, por fim, como Sabarabuçu (Holanda,<br />

1959, p.46). Em duas cartas de Vicenzo Coronelli, uma de 1691 e outra do ano<br />

seguinte – ambas denominadas America Meridionale (Figura 4) –, uma serra, de<br />

nome Sarabassu, figurava junto a uma lagoa situada no rio Paraná.<br />

Figura 4. Na carta de Vicenzo Coronelli, datada de 1692, é representada a serra de<br />

“Sarabassu”, próxima a uma grande lagoa no rio Paraná.<br />

Fonte: Tesouro... (2002, p.253).<br />

Pero Magalhães Gandavo, num registro da expedição de Martim de<br />

Carvalho (1567) constante de seu Tratado da terra do Brasil (ca. 1570), também<br />

menciona uma serra “mui fermosa e resplandescente”, provavelmente se<br />

reportando ao relato de Guillén (Abreu, 1963, p.333-334). Mas, na sua História da<br />

Província de Sãta Cruz (1576), foi a uma grande lagoa que Gandavo se referia:<br />

“[...] que ha uma lagoa mui grande no interior da terra,<br />

donde procede o rio de Sam Francisco, de que já tratei;<br />

dentro da qual dizem haver algumas ilhas, e nellas<br />

edificadas muitas povoações, e outras orredor dellas mui<br />

grandes, onde tambem ha muito ouro, e mais quantidades<br />

(segundo se afirma) que em nenhuma outra parte desta<br />

Provincia.” (Abreu, 1963, p.336-337) (grifo nosso).<br />

Certamente, essas notícias que chegavam, sobretudo, à vila de Porto<br />

Seguro influenciaram muitas das expedições rumo aos sertões, inseridas no que<br />

Magalhães (1935, p.41-46) denominou “ciclo baiano” e que marcariam as primeiras<br />

tentativas de desbravamento do território da futura Minas Gerais, no século XVI.<br />

Ainda que essas tentativas não tivessem sido exitosas, não se arrefeceu<br />

o ritmo das expedições, nem tampouco se desvaneceram os sonhos de riqueza.<br />

Também os paulistas foram movidos por tais notícias e empreenderam várias<br />

expedições, ao longo do século XVII, intensificadas, sobretudo, em suas últimas<br />

décadas. O Sabarabuçu mítico – às vezes associado à chamada serra das<br />

Esmeraldas – esteve no horizonte das bandeiras de Fernão Dias Pais e de seus<br />

companheiros. Mesmo não tendo encontrado as pedras verdes e as minas de ouro<br />

e prata, a Fernão Dias se deveu o esforço de desbravamento dos sertões do<br />

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território mineiro, abrindo caminho para as bandeiras que se seguiram até que<br />

finalmente se encontrasse ouro em fins do século XVII. O sonho do Eldorado de<br />

Sabarabuçu se realizava, enfim, no território mineiro.<br />

Embora não se tenha notícia de que as expedições quinhentistas, nem<br />

tampouco as realizadas ao longo de todo século seguinte, tivessem gerado<br />

registros cartográficos específicos, verifica-se que, sobretudo a partir da<br />

descoberta do ouro, paulatinamente a geografia do real viria a substituir a do<br />

imaginário nos mapas do sertão. Mas, mesmo já tendo se iniciado o rush em<br />

direção às minas, já em fins do século XVII, as serras de Soberabosu [sic] e das<br />

Esmeraldas aparecem representadas no Mapa da maior parte da Costa, e Sertão,<br />

do Brazil, extrahido do original do Pe. Cocleo (ca. 1699-1702). A primeira<br />

localizando-se próxima à confluência dos rios Piranga e Gualaxo, representados<br />

equivocadamente como afluentes do rio Grande (Jequitinhonha), e a segunda<br />

junto às nascentes do rio Doce.<br />

Com a descoberta do ouro, para a Coroa portuguesa as questões que se<br />

colocavam como prioritárias não eram tanto aquelas relacionadas às rotas<br />

marítimas, mas à geografia das terras descobertas e de suas riquezas. Se, como<br />

afirmou Holanda (1959), o imaginário do paraíso, ou mesmo do Eldorado, não<br />

chegou a contaminar o pragmatismo português, a descoberta do ouro fez com que,<br />

para a Coroa, a colônia emergisse como um outro tipo de terra prometida, aquela<br />

capaz de provocar a regeneração econômica e mercantil do Reino. Impunha-se,<br />

então, a instauração de um sistema eficiente de gestão, organização e, sobretudo,<br />

controle do território e de suas riquezas, no qual a <strong>cartografia</strong> desempenhou um<br />

papel decisivo.<br />

A geopolítica do território<br />

Nos séculos XVI e XVII, a <strong>cartografia</strong> portuguesa estava<br />

predominantemente voltada para a produção de cartas náuticas, buscando maior<br />

precisão nos caminhos do mar e o maior conhecimento das costas do Brasil e da<br />

África. Era um saber que conjugava ciência e experiência empírica. Nos principais<br />

portos portugueses, tais cartas iam sendo atualizadas na medida em que as<br />

embarcações regressavam de suas viagens e os navegantes traziam novas<br />

informações, fundamentais no desenvolvimento e aperfeiçoamento de técnicas<br />

que colocaram Portugal na posição de vanguarda no descobrimento de terras de<br />

além-mar (Guedes, 2004, p.38-44). No entanto, Portugal acabou por perder a<br />

supremacia sobre esse conhecimento que, no século XVII estava<br />

predominantemente nas mãos da Inglaterra e da França (Bicalho, 1999, p.77).<br />

Com as descobertas de riquezas nos sertões da América portuguesa – na<br />

região das minas, desde o final do século XVII; alcançando os rios Caxipó e Cuiabá,<br />

em 1718; e, em 1728, os sertões da Bahia – ao mesmo tempo em que era<br />

imprescindível ampliar o conhecimento sobre esses sertões, as informações sobre<br />

sua geografia deveriam ser mantidas sob sigilo, preocupação que a Coroa<br />

portuguesa demonstrou, por exemplo, ao recolher e destruir com presteza a obra<br />

do padre jesuíta André João Antonil – Cultura e opulência do Brasil por suas drogas<br />

e minas – escrita no início do século XVIII e publicada em 1711, que apresentava,<br />

entre outros aspectos, descrições detalhadas dos caminhos para as minas<br />

(Antonil, 1982, p.161-195).<br />

As autoridades portuguesas procuraram também estabelecer um maior<br />

controle sobre as terras e os caminhos para as minas, impedindo a abertura de<br />

rotas alternativas e picadas, bem como o acesso de estrangeiros, restringindo<br />

ainda a circulação de viajantes e mercadorias, por meio de passagens e de<br />

registros. Nesse sentido, também apresenta uma clara intenção estratégica a<br />

criação, nas primeiras duas décadas do século XVIII, de oito vilas – Vila de Nossa<br />

Senhora do Carmo, Vila Rica e Vila Real do Sabará, em 1711; São João del Rei, em<br />

1713; Vila Nova da Rainha e Vila do Príncipe, em 1714; Pitangui, em 1715 e São<br />

José del Rei, em 1718 – junto às principais áreas mineradoras. Sua ereção estava<br />

diretamente relacionada à necessidade de instalação de uma estrutura<br />

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administrativa e judiciária capaz de exercer controle sobre a exploração mineral,<br />

sobretudo diante das ações de contrabando e dos motins e turbulências que<br />

caracterizaram aquelas primeiras décadas da corrida do ouro.<br />

Mesmo estando atenta aos interesses cobiçosos pelas riquezas de sua<br />

colônia, a Coroa portuguesa não conseguiu manter completo sigilo a respeito.<br />

Boxer (1969, p.109) aponta que as invasões francesas no Rio de Janeiro, tanto a de<br />

Jean-François Duclerc (1710) quanto a de Du Guay-Trouin (1711), tinham por<br />

objetivo o controle do principal porto para onde era canalizado o ouro da região das<br />

minas, o que lhes asseguraria um rico butim. Alguns autores aventam, inclusive, a<br />

hipótese de que a decisão de invasão do Rio de Janeiro orientou-se por<br />

informações fornecidas por Ambrozio Jauffret ao Governador da Guiana Francesa,<br />

o Conde de Pont Chartrein, constantes de um relatório enviado em junho de 1704,<br />

que indicava a localização das minas e seu acesso por caminhos que partiam da<br />

cidade do Rio de Janeiro e da vila de São Paulo (Costa, 2004, p.18).<br />

Por outro lado, alguns mapas produzidos por estrangeiros, ao longo de<br />

todo o século XVIII, sequer indicavam a existência da Capitania de Minas Gerais ou<br />

de algum de seus principais núcleos urbanos, mesmo se tratando de uma região, à<br />

época, já bastante importante e populosa para passar desapercebida. É o que se<br />

observa em documentos cartográficos tais como: a Carte de La Terre Ferme, du<br />

Perou, du Bresil et du Pays dês Amazonas, Dressée sur Mémoire les plus<br />

nouveaux & les observations les plus exactes (1720), de autoria de Henri Châtelain;<br />

Nova Orbis sive América Meredionalis et Septentrionalis... (1740), de George<br />

Mattäus Seutter; South América Drawn from The Best Maps by T. Jefferys (1749),<br />

etc. (Tesouro..., 2002).<br />

Mesmo sem uma abordagem mais detida sobre o contexto histórico e<br />

político em que foram produzidos estes e outros mapas coevos, as poucas<br />

informações neles representadas são indícios da relativa eficiência do controle e<br />

sigilo mantido sobre a ocupação dos territórios interiores da América Portuguesa.<br />

Não é por acaso que, somente a partir de meados do século XVIII, quando o<br />

Tratado de Madri (1750) fixou os limites dos territórios de Portugal e Espanha na<br />

América, utilizando-se de uma base cartográfica – o Mapa das Cortes –,<br />

informações mais precisas e completas da ocupação dos sertões da colônia<br />

passaram a figurar nos mapas produzidos por estrangeiros.<br />

É o que se observa, por exemplo, no mapa Suíte du Bresil Depuis La Baye<br />

de Tous les Saints Jusqu'a... (1761), de Jean Baptiste Bourguignon D'Anville, que<br />

não registra o nome da Capitania de Minas Gerais, mas revela um conhecimento<br />

relativamente detalhado de seu território. D'Anville registrou e nomeou os principais<br />

afluentes dos rios São Francisco (margem direita) e Doce; indicando seis das nove<br />

vilas criadas até então – Vila do Carmo, Vila Rica, Sabará, São João Del Rei, Vila do<br />

Príncipe e São José – e ainda algumas pequenas povoações (Figura 5).<br />

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163-187


Figura 5. Neste mapa de D'Anville, editado em seu Atlas da América do Sul, em 1748, e dele<br />

reproduzido em 1761, são representadas seis das nove vilas já criadas na Capitania de<br />

Minas Gerais e alguns dos povoados então existentes.<br />

Fonte: Tesouro... (2002, 262).<br />

Toda essa preocupação de se manter sigilo sobre os territórios da<br />

América Portuguesa talvez tenha sido responsável por haver tão poucos registros<br />

cartográficos remanescentes relativos às primeiras décadas que se sucederam às<br />

descobertas das minas. Há menções a um Mapa da costa do Brasil, produzido pelo<br />

jesuíta francês, Jacobo Cocleo, corruptela de Jaques Cocle, que aqui viveu entre<br />

1660 e 1710, vindo a falecer na Bahia. Supõe-se que o propósito deste mapa<br />

estaria ligado à administração eclesiástica, subsidiando a definição dos limites<br />

entre o Arcebispado da Bahia e o Bispado do Rio de Janeiro, razão pela qual se<br />

estima a sua datação entre 1699 e 1702 (Costa, 2004, p.139).<br />

Contudo, não se tem notícia do original, mas apenas de uma cópia – o<br />

Mapa da maior parte da Costa, e Sertão, do Brazil, extrahido do original do Pe.<br />

Cocleo – já mencionado. Trata-se, sem dúvida, de um mapa bastante raro e de um<br />

dos grandes momentos da <strong>cartografia</strong> da América Portuguesa, tornando-se uma<br />

referência para vários outros mapas produzidos posteriormente, sobretudo os<br />

referentes à região das minas. De dimensões consideráveis (224 x 120cm), nele<br />

está registrada a geografia da costa do Brasil – desde a ilha do Maranhão até<br />

Laguna – e de parte considerável de seu imenso sertão (Figura 6).<br />

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173


174<br />

Figura 6. No Mapa da maior parte da Costa, e Sertão, do Brazil, extrahido do original do Pe.<br />

Cocleo (ca. 1699-1702), são representadas as serras de Soberabosu (sic), próxima à<br />

confluência dos rios Piranga e Gualaxo, e das Esmeraldas, junto às nascentes do rio Doce.<br />

Fonte: Costa (2004, p.140-141).<br />

No que tange à região das minas, nele estão representados apenas dois<br />

povoados, com indicações de áreas de mineração, com dizeres tais como “Minas<br />

achadas em 1699”, “Minas do Rio das Velhas”, “aqui [h]a muito ouro, mas [h]ouve<br />

muita peste”. Destaca ainda alguns dos principais eixos de penetração no sertão,<br />

com a indicação do “Caminho novo do gado”, ao longo do rio São Francisco, e do<br />

“Caminho de Garcia Roiz para as Minas”, ligando o Rio de Janeiro às minas do rio<br />

das Velhas.<br />

Observa-se ainda, sobretudo numa extensa região abrangendo o vale do<br />

rio São Francisco e alguns de seus afluentes – Carinhanha, Verde, Urucuia,<br />

Paracatu e das Velhas – a presença de inúmeras fazendas, indicando que já havia<br />

alguma ocupação humana à época, ainda que pontual e esparsa. Vale lembrar que<br />

a produção e a circulação do ouro e pedras preciosas estimulou o desenvolvimento<br />

de atividades agropecuárias necessárias ao abastecimento das áreas<br />

mineradoras, favorecendo a articulação não só entre as regiões das minas, como<br />

também com as capitanias limítrofes. Da Bahia, os criadores trouxeram o gado,<br />

subindo o rio São Francisco – região de pastos, depósitos salinos e barreiros de sal<br />

–, que ficou conhecido como “rio dos currais”.<br />

Esse mapa, porém, traz uma série de equívocos, especialmente na<br />

representação dos rios situados mais ao Leste – Pardo, Jequitinhonha, Mucuri e<br />

Doce –, cujos desaguadouros eram bem conhecidos à época, mas seus percursos<br />

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nem tanto, o que se deveu, certamente, à presença do gentio bravio nessa região.<br />

O Jequitinhonha, por exemplo, apresentava como afluentes os rios Mucuri – que<br />

curiosamente também deságua no mar –, e o Piranga e o Gualaxo, que pertencem,<br />

na verdade, à bacia do rio Doce. Este último representado sem destaque e pouco<br />

interiorizado.<br />

É curioso o fato de que, principalmente nos primeiros anos da descoberta<br />

do ouro, informações detalhadas sobre as riquezas e a geografia da América<br />

Portuguesa tivessem sido registradas, sobretudo, por estrangeiros como Cocleo, e<br />

também Antonil. Porém, ao pioneirismo de Portugal na <strong>cartografia</strong> náutica e no<br />

desenho das regiões costeiras, verificado no século XVI e início do XVII, sucedeuse<br />

uma situação de poucos progressos científicos, com rebatimentos negativos na<br />

qualificação de seus cartógrafos, necessária a um reconhecimento e registro mais<br />

rigoroso dos territórios continentais.<br />

Essa situação tornar-se-ia ainda mais desconfortável para a Coroa<br />

portuguesa, na medida em que a cobiça pelas riquezas do território sul-americano,<br />

sobretudo a partir do século XVII, implicou inúmeros conflitos com outras nações<br />

européias, em especial com a Espanha. Para possibilitar a formação de novos<br />

quadros técnicos internos – desenvolvendo e consolidando um conhecimento<br />

científico que viria a ter um papel decisivo nos campos da política, da diplomacia e<br />

da economia ibérica – não havia outra solução senão a recorrer a astrônomos,<br />

matemáticos e cartógrafos estrangeiros.<br />

Não tendo o Tratado de Utrecht (1715) conseguido superar de vez as<br />

contendas entre Portugal e Espanha na demarcação de seus respectivos domínios<br />

em território americano, o avanço das descobertas de ouro certamente contribuiu<br />

para acirrá-las ainda mais. Enquanto os desdobramentos diplomáticos dessas<br />

questões ocorriam nas cortes ibéricas, no território americano, tanto os colonos<br />

espanhóis quanto os portugueses se queixavam de avanços de parte a parte sobre<br />

domínios que julgavam seus, considerando que, para quem se lançava na<br />

aventura do desbravamento, a linha imaginária de Tordesilhas pouco sentido<br />

prático tinha.<br />

Era preciso conhecer melhor esses sertões, registrar com rigor sua<br />

geografia e identificar elementos naturais que poderiam servir de limites,<br />

estabelecendo, sob bases científicas, os argumentos necessários para enfrentar<br />

as freqüentes contestações da soberania de Portugal no território americano. Esse<br />

rigor, no entanto, implicava na contratação de especialistas que tivessem<br />

conhecimento da “sciencia particular da cosmographia, para poder arrumar as<br />

terras, os rios e montes pelos graos”. Por outro lado, num contexto políticodiplomático<br />

tão delicado, tal tarefa deveria ser feita sob o maior sigilo possível, e<br />

não teria sido outra a razão da recomendação – constante da Consulta do<br />

Conselho Ultramarino, de 23 de agosto de 1720 – de que fossem indicados “dous<br />

religiosos mathematicos alemães ou italianos, por serem duas nações menos<br />

suspeitosas a esta Coroa” (Almeida, 2001, p.78).<br />

A esse quadro já instável veio se somar o alarde causado, em novembro<br />

de 1720, pelas afirmações de Guilhaume Delisle, geógrafo do rei da França, que,<br />

na leitura de sua dissertação Determination géographique de la situation et de<br />

l'étendue des differentes parties de la terre, na Academia Real das Ciências de<br />

Paris, comprovava, por meio de cálculos mais precisos de longitude, a ilegitimidade<br />

da expansão portuguesa no ocidente sul-americano, deslocando indevidamente o<br />

meridiano de Tordesilhas para oeste.<br />

Assim, não foi por acaso que, ainda em 1720, o então rei de Portugal, D.<br />

João V (1706-1750), dava início à implementação de uma série de ações, que<br />

viriam a promover um verdadeiro esforço de modernização científica no Reino,<br />

com claros desdobramentos no que respeita aos conflitos territoriais mencionados.<br />

Fundou, em 8 de dezembro, a Academia Real de História Portuguesa, investindo<br />

ainda na aquisição de instrumentos científicos, livros de astronomia, atlas e mapas,<br />

e na contratação de especialistas estrangeiros, que pudessem ensinar as artes de<br />

manuseio desses instrumentos, bem como os conhecimentos de matemática e de<br />

astronomia.<br />

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175


176<br />

Entre esses especialistas figuravam dois jesuítas italianos – Giovanni<br />

Battista Carbone e Domenico Capassi – que chegaram a Lisboa em 19 de<br />

setembro de 1722, vindo a realizar uma série de observações astronômicas e<br />

aperfeiçoando ainda seus conhecimentos matemáticos e cartográficos.<br />

Permaneceriam em Portugal até 1729, quando partiriam então para o Rio de<br />

Janeiro. Seriam esses os “dous religiosos mathematicos” mencionados e<br />

indicados para realizar um levantamento cartográfico completo da América<br />

Portuguesa. Porém, estando Carbone envolvido com serviços na Corte, foram<br />

designados, pelo alvará de 18 de novembro de 1729, para realizar essa missão<br />

Domenico Capassi e o jesuíta português Diogo Soares, que passariam a ser<br />

conhecidos como os “padres matemáticos” (Almeida, 2001, p.97-100).<br />

Tratou-se de um projeto pioneiro e ambicioso, denominado Novo Atlas da<br />

América Portuguesa, cuja natureza dos serviços a serem feitos – descritos no<br />

referido alvará e detalhados minuciosamente em provisão régia de mesma data –<br />

indica, considerando a extensão a ser percorrida pelos jesuítas e a complexidade<br />

do trabalho a ser realizado, como era precário o conhecimento então existente<br />

sobre os territórios da América Portuguesa:<br />

“Os mapas que fizeres devem ser graduados pela latitud e<br />

longitud geografica assim na marinha como no certão,<br />

sinelando as cidades, villas, lugares e povoaçoens dos<br />

portugueses, e dos indios, e as catas do ouro em sua<br />

verdadeira latetud e longetud geografica, praticando o<br />

mesmo nos portos, rios enceadas e abras, tendo entendido<br />

que não basta reprezentar todas estas couzas por linhas e<br />

pontos em mapas, mas que estes devem ser estoreados<br />

expondose nelles por escripto a clareza que for possível, e<br />

em livro à parte per extenço tudo o que houver maes digno<br />

de notar em cada hua das capitanias cenalladas nos ditos<br />

mapas” (Almeida, 2001, p.105).<br />

Além da tarefa de produzir os mapas, Capassi e Soares deveriam<br />

apresentar ainda propostas para as divisões administrativo-eclesiásticas,<br />

“sinelando os limites que estão em pratica com linhas de huã cor, e os que vos<br />

parecerem milhor com linhas de outra [...]” (Almeida, 2001, p.108).<br />

Após dez anos das primeiras menções a este projeto, em reunião do<br />

Conselho Ultramarino, ainda se mantinham, por um lado, os objetivos<br />

geoestratégicos de “se evitarem as duvidas e controvérsias que se tem originado<br />

dos novos descobrimentos, que se tem feito nos sertões daquelle Estado [...]”<br />

(Almeida, 2001, p.104) e, por outro, os ligados mais diretamente a questões de<br />

administração e controle interno do território. Frente aos novos descobertos de<br />

ouro e diamantes nos sertões de Goiás, Mato Grosso, Bahia e Minas; e ao intenso<br />

povoamento da Capitania de Minas Gerais, cuja produção aurífera alcançava seu<br />

ápice e a descoberta de diamantes fora oficialmente anunciada, era necessário<br />

implementar ações – entre as quais o registro cartográfico dos sertões – que, entre<br />

outros propósitos, contribuíssem para coibir o contrabando e a conseqüente<br />

evasão dessas riquezas.<br />

Como seria de se esperar, o projeto do Novo Atlas da América Portuguesa<br />

não foi concluído. Mas apesar das imensas dificuldades enfrentadas, foram<br />

elaborados aproximadamente vinte mapas, abrangendo parte das capitanias do<br />

Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, a costa brasileira desde Cabo Frio até<br />

Laguna, as campanhas do Rio Grande de São Pedro e a região da Colônia do<br />

Sacramento e do rio da Prata. A esses mapas devem acrescentar-se oito plantas<br />

dos fortes do Rio de Janeiro e a planta da referida colônia.<br />

Entre 1730 e 1737, esses padres produziram também a Tabuada das<br />

Latitudes dos principais portos, cabos e ilhas do mar do sul na América austral e<br />

portuguesa pelos padres Diogo Soares e Domingos Capaci, matemáticos régios no<br />

Estado do Brasil (Códice..., 1999, p.159-166), registrando 184 latitudes tomadas<br />

pela costa e pelo sertão, entre as quais se sobressaem 116 localizações, referentes<br />

a vilas, arraiais, passagens, registros, lavras, engenhos e elementos geográficos<br />

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do território da Capitania de Minas Gerais. Certamente também fizeram o<br />

levantamento das longitudes – sem as quais seria impossível lançar nos mapas as<br />

localizações corretas – mantidas, contudo, sob sigilo.<br />

Quanto aos registros cartográficos específicos da Capitania de Minas<br />

Gerais, foram elaborados cinco mapas regionais e três pequenas plantas de<br />

arraiais. Quatro desses mapas, em razão de semelhanças de escala e<br />

complementaridade de conteúdos, podem ser articulados, tomando-se como<br />

o<br />

referência o meridiano de origem (0 ), coincidente com a cidade do Rio de Janeiro<br />

(Figura 7).<br />

Figura 7. Articulação dos mapas da Capitania de Minas Gerais (ca. 1734-5), referentes à<br />

região cartografada pelos padres matemáticos Diogo Soares e Domênico Capassi, com<br />

o<br />

indicação do Meridiano do Rio de Janeiro (0 ).<br />

Fonte: Costa (2002); Almeida (2001).<br />

Há especulações em relação à escolha desta referência, considerada<br />

uma estratégia para garantir o sigilo sobre o espaço ocupado pelos portugueses<br />

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177


178<br />

em relação ao Tratado de Tordesilhas. A adoção do meridiano do Rio de Janeiro – e<br />

não o de Paris, como era de praxe – causaria confusão nos estrangeiros,<br />

principalmente espanhóis. Também convém considerar que a adoção do meridiano<br />

mais próximo reduziria a possibilidade de erros (Almeida, 2001, p.138-139;<br />

Bicalho, 1999, p.84).<br />

Notadamente incompletos, esses quatro mapas não podem ser<br />

considerados fruto exclusivo de levantamentos científicos. Diante da extensão<br />

o o<br />

territorial cartografada – aproximadamente 550km entre as latitudes 16 30' e 21<br />

30' sul, abrangendo parte do sul da capitania até o rio Araçuaí (Figura 7) –, era<br />

simplesmente impossível atender à risca às determinações expressas pelo próprio<br />

rei. E, certamente, os jesuítas recorreram a informações de segunda mão, seja<br />

pela consulta à <strong>cartografia</strong> até então produzida, seja por meio de relatos fornecidos<br />

por índios, sertanistas e colonizadores, aos quais podem estar relacionados vários<br />

dos equívocos registrados nesses mapas.<br />

Neles não há informações sobre os limites conhecidos da capitania à<br />

época, não constando nenhuma referência às capitanias adjacentes. Contudo, é<br />

certo que porções do território de maior interesse econômico – as áreas que<br />

concentravam intensa atividade de mineração – receberam maior atenção. Isto<br />

não se põe como novidade, considerando que D. João V não escondia os<br />

interesses específicos da Coroa por essa região.<br />

É de se lamentar que o projeto joanino tenha sido interrompido com as<br />

mortes de Domenico Capassi, em São Paulo, em 1736; e de Diogo Soares, nas<br />

minas de Goiás, em 1748. Mas, sem sombra de dúvida, o legado por eles deixado<br />

foi bastante substantivo. Aos padres matemáticos deveu-se a instalação do<br />

primeiro observatório astronômico da colônia, no Colégio dos Jesuítas, no Rio de<br />

Janeiro; como também foram responsáveis pelo primeiro levantamento<br />

sistemático de parte do território da América Portuguesa. Certamente seu trabalho<br />

veio subsidiar a elaboração do Mapa das Cortes, base das negociações que<br />

resultaram na assinatura do Tratado de Madri, cujos limites demarcados deram ao<br />

Brasil uma conformação bastante aproximada da atual (Figura 8).<br />

Figura 8. O Mapa dos confins do Brazil com as terras da Coroa de Espa.[nha] na America<br />

Meridion. ou Mapa das Cortes (1751) constituiu uma das bases para negociações da<br />

demarcação das posses de Espanha e Portugal na América do Sul.<br />

Fonte: Costa (2004, p.29).<br />

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As inexatidões identificadas no Mapa das Cortes são eloqüentes o<br />

suficiente para demonstrar que os portugueses – de posse de dados bastante<br />

precisos sobre a ocupação dos territórios a oeste – alteraram as longitudes,<br />

deslocando-as para leste. Naquele momento, os esforços de modernização<br />

científica, empreendidos três décadas antes, garantiram aos portugueses um tal<br />

domínio da geografia da América Portuguesa, que tornava difícil contestar suas<br />

informações.<br />

Pode-se dizer que, ao longo da primeira metade do século XVIII e num<br />

contexto de preponderância das questões diplomáticas e geoestratégicas, o<br />

imaginário do maravilhoso e do prodigioso já teria sido praticamente banido da<br />

<strong>cartografia</strong>, até mesmo dos elementos decorativos que restaram nas áreas<br />

periféricas dos mapas. O pragmatismo português, sobre o qual nos alertou Sérgio<br />

Buarque de Holanda, continuaria preponderando, ora latente ora vigoroso, no<br />

pensamento e na atuação dos vassalos do rei, tanto na colônia como na Metrópole,<br />

ciosos de que:<br />

“[...] só pelo conhecimento geográfico detalhado do<br />

território e pela realização de mapas rigorosos, com<br />

indicação de latitudes e longitudes, onde o espaço<br />

estivesse claramente definido e delimitado, era possível<br />

intervir no território e administrá-lo de uma forma eficaz...”<br />

(Almeida, 2001, p.177).<br />

Embora os conflitos em Portugal e Espanha sobre a posse dos territórios<br />

americanos não houvessem ainda se encerrado com o Tratado de Madri, a partir de<br />

meados do século XVIII, a queda da produção aurífera – considerando que, em<br />

1763, a cota de cem arrobas anuais de ouro foi completada pela última vez –<br />

começava a preocupar a Coroa portuguesa, que centrou ainda mais suas atenções<br />

para as questões internas da colônia (Furtado, 1994, p.13).<br />

Concomitantemente, mudanças políticas já se anunciavam na Europa<br />

com a difusão de um movimento intelectual – o Iluminismo – orientado pela razão,<br />

como base para o conhecimento da natureza e da sociedade. Em Portugal,<br />

contudo, os ideais iluministas assumiram um conteúdo mais reformista do que<br />

revolucionário. Foram apropriados pelo próprio Estado na busca da superação dos<br />

problemas econômicos pelos quais passava o Reino, entre os quais se<br />

destacavam a crise da mineração e o atraso de Portugal em relação à<br />

industrialização.<br />

Se “conhecer para garantir a posse e orientar a ocupação do território”<br />

talvez tenha sido o principal propósito da política de D. João V ao contratar os<br />

trabalhos de Capassi e Soares, o princípio de “conhecer para melhor gerir”<br />

marcaria, nas décadas que se seguiram, as políticas metropolitana e colonial, sob a<br />

égide da política pombalina. Esse conhecimento, necessário para subsidiar as<br />

reformas necessárias em uma economia em que se anunciavam sinais de crise,<br />

viria da produção de inúmeros estudos – espontâneos ou encomendados pela<br />

Coroa – pautados pela razão e utilidade e destinados a fornecer uma ampla<br />

avaliação da situação econômica de Portugal e suas colônias.<br />

Sobretudo a partir de meados do século XVIII, se intensifica a produção,<br />

tanto para a Capitania de Minas Gerais quanto para outras regiões da colônia,<br />

desses trabalhos – instruções, memórias, relatórios, diagnósticos, geografias<br />

<strong>histórica</strong>s – muitas vezes acrescidos de sugestões destinadas a subsidiar decisões<br />

políticas e administrativas. Entre os relacionados à capitania, destacam-se: a<br />

Instrução para o governo da Capitania de Minas Gerais (ca. 1780), do<br />

desembargador José João Teixeira Coelho; a Geografia <strong>histórica</strong> da Capitania de<br />

Minas Gerais (1780), de José Joaquim da Rocha; a Memória sobre a Capitania de<br />

Minas Gerais: seu território, clima e produções metálicas (1799/1801), de José<br />

Vieira Couto; a Memória sobre o estado atual da Capitania de Minas... (1798), de<br />

José Elói Ottoni; a Breve descrição geográfica, física e política da capitania de<br />

Minas Gerais (1807), de Diogo Pereira Ribeiro de Vasconcelos, etc.<br />

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179


180<br />

As avaliações, presentes nesses estudos, apontavam várias razões para<br />

a situação de decadência em que se encontrava a Capitania de Minas Gerais,<br />

algumas delas diretamente associadas às idéias iluministas. Na percepção de<br />

alguns desses autores, a redução da arrecadação estaria diretamente ligada aos<br />

descaminhos das riquezas minerais, ou seja, aos extravios que ocorriam nas<br />

diversas etapas da exploração do ouro e dos diamantes, desde a extração, muitas<br />

vezes clandestina, passando pela cobrança de dívidas e pela ação dos<br />

intermediários, até sua exportação.<br />

Havia, contudo, aqueles que atribuíam aos antiquados métodos e<br />

técnicas de extração mineral a principal razão da diminuição da produção e,<br />

conseqüentemente, da arrecadação. Alertavam ainda para a necessidade de se<br />

buscar outras alternativas econômicas para a capitania, como a exploração das<br />

salitreiras e do minério de ferro, abrindo espaço para a metalurgia do ferro e/ou<br />

para liberação das atividades manufatureiras, até então proibidas. Também a<br />

percepção da fugacidade das riquezas provenientes da extração do ouro e dos<br />

diamantes fazia com que a agricultura – fonte de toda a riqueza, segundo os ideais<br />

fisiocratas – fosse identificada como a principal alternativa na reversão desse<br />

quadro econômico.<br />

É nesse amplo contexto, que se inscrevem os trabalhos de José Joaquim<br />

da Rocha, um militar português, que chegou a Minas por volta de 176<strong>3.</strong> Ao longo de<br />

sua carreira como cabo-de-esquadra do Regimento da Cavalaria Regular de Minas<br />

Gerais, Rocha teve a oportunidade de percorrer e conhecer com profundidade a<br />

capitania, desenvolvendo suas habilidades de cartógrafo e de estrategista. A<br />

natureza de suas funções permitiu-lhe produzir uma série de anotações que<br />

resultaram em trabalhos tanto cartográficos quanto de memorialística <strong>histórica</strong>.<br />

Contudo, não foram trabalhos especificamente encomendados, como os<br />

dos padres matemáticos. Em 1778, ano em que deu baixa na carreira militar, Rocha<br />

concluiu cinco mapas, um, abrangendo toda a capitania e os demais, de caráter<br />

regional, específicos e mais detalhados para cada uma de quatro comarcas então<br />

existentes: Vila Rica, Rio das Mortes, Sabará e Serro Frio. Passou a se dedicar à<br />

organização de seus registros, complementando-os ainda com dados de arquivo<br />

do governo, notícias da capitania, testemunhos orais, para enfim elaborar a<br />

Geografia <strong>histórica</strong> da Capitania de Minas Gerais.<br />

O texto da Geografia <strong>histórica</strong> deu origem a um segundo manuscrito –<br />

Descrição geográfica, topográfica, <strong>histórica</strong> e política da Capitania de Minas<br />

Gerais: seu descobrimento, estado civil, e político, e das rendas reais, escrito entre<br />

1781 e 1783 – e, em 1788, Rocha elabora seu terceiro manuscrito, o da Memória<br />

<strong>histórica</strong> da Capitania de Minas Gerais. Rocha concluiu ainda, em 1796, o Mapa do<br />

julgado das cabeceiras do Rio das Velhas e, em 1798, um mapa referente à região<br />

do Rio Doce, vindo a falecer em 1804.<br />

Com certeza, o conjunto de sua obra e, sobretudo, os cinco mapas<br />

datados de 1778, constituem o levantamento cartográfico mais completo da<br />

Capitania de Minas Gerais, realizado no século XVIII. Praticamente quarenta anos<br />

depois, Rocha realizava para a Capitania de Minas Gerais, o levantamento<br />

minucioso que havia sido solicitado a Capassi e Soares, em relação a toda a<br />

colônia. Quiçá, tenha ido mais além, pois:<br />

“[...] ele elabora um verdadeiro inventário da Capitania de<br />

Minas Gerais, que constrói em torno dela e a partir de sua<br />

representação cartográfica. Numa grande descrição geral,<br />

agrega dados referentes a origens <strong>histórica</strong>s, topografia,<br />

limites, urbanização, divisão administrativa, judiciária e<br />

eclesiástica, recolhimentos e misericórdias, situação e<br />

distribuição da força militar, dados de demografia, situação<br />

dos registros das entradas e passagens, formas de<br />

cobrança do quinto, rendas da Coroa, impostos, despesas,<br />

folhas de pagamento eclesiástico, civil e militar, produção<br />

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agrícola, caça, pesca, pecuária, comércio interno,<br />

condições do solo, vegetação, clima, animais, pedras<br />

preciosas, tintas e rios. Tudo entra no inventário de Rocha”<br />

(Resende, 1995, p.52).<br />

Em seus cinco mapas de 1778, agregando-se as informações contidas<br />

nas geografias descritivas, foram registrados e classificados 566 assentamentos<br />

humanos – uma cidade, Mariana; 8 vilas, 58 freguesias, 128 arraiais, 71 registros,<br />

292 fazendas e 9 aldeias de gentio – além de caminhos e elementos da hidrografia<br />

e do relevo (Moraes, 2003). Deles pode-se depreender a notável urbanização da<br />

sua região centro-sul da capitania – comarcas de Vila Rica e do Rio das Mortes –,<br />

concentrada na área de influência de seus principais núcleos mineradores. Por<br />

outro lado, as comarcas de Sabará e do Serro Frio apresentavam ainda grandes<br />

áreas desocupadas, à exceção do expressivo número de fazendas, localizadas<br />

junto aos principais rios, sobretudo o São Francisco e seus afluentes. Tanto os<br />

limites a oeste, com a Capitania de Goiás, quanto a leste, com a do Espírito Santo,<br />

ainda permaneciam fluidos, e a representação, muitas vezes equivocada, de<br />

elementos da hidrografia e do relevo indicava o pouco conhecimento que se tinha<br />

dessas regiões (Figura 9).<br />

Figura 9. Mapa da Capitania de Minas Gerais com a divisa de suas comarcas (1778), de<br />

José Joaquim da Rocha, com indicação dos assentamentos humanos, caminhos e<br />

elementos da geografia da capitania<br />

Fonte: Rocha (1995).<br />

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182<br />

Nos mapas de Rocha, a concentração de registros, guardas e patrulhas de<br />

soldados – junto à Demarcação Diamantina; na região de Paracatu, junção de quatro<br />

diferentes caminhos para Goiás; e na serra da Mantiqueira – era indicativa das<br />

regiões que estrategicamente exigiam maior controle, seja no sentido da coibição do<br />

contrabando, seja para possibilitar a arrecadação de propinas e impostos.<br />

De posse de estudos como os de Rocha, as autoridades da Coroa tinham<br />

em mãos um amplo diagnóstico da capitania em toda sua extensão e diversidade.<br />

No episódio da Inconfidência Mineira, ficou evidente que alguns de seus trabalhos<br />

circulavam livremente na capitania, ao menos um mapa de população que Rocha,<br />

em seus depoimentos, mencionou ter dado ao alferes Joaquim José da Silva Xavier,<br />

o Tiradentes, depois que uma pessoa lho havia devolvido. Certamente, para se fazer<br />

um levante, o conhecimento da distribuição das forças militares, dos caminhos e de<br />

tantas outras informações de que dispunha Rocha seria bastante útil. Se os<br />

inconfidentes tiveram acesso ou se utilizaram dessas informações, não há outros<br />

registros que não esse.<br />

Ao findar do século XVIII, merecem também destaque três importantes<br />

registros cartográficos – a Carta Geográfica de projeção Esférica Ortogonal da Nova<br />

Lusitânia ou América Portuguesa e Estado do Brasil (1798), de Antônio Pires da Silva<br />

Pontes Leme; a Planta Geral da Capitania de Minas Gerais (ca. 1800), autoria<br />

desconhecida, e a Carta Geográfica da Capitania de Minas Gerais (1804), de<br />

Caetano Luís de Miranda – produções que ainda se inserem nesse contexto de<br />

trabalhos destinados a subsidiar a administração da colônia.<br />

O mapa de Pontes Leme (Figura 10) constitui, com bem classificou Costa<br />

(2004, p.151), “a mais importante síntese dos conhecimentos geográficos<br />

acumulados durante o século XVIII”. Trata-se de uma carta gigante (1,98 x 1,98cm)<br />

abrangendo toda a América Portuguesa. Esse doutor em Matemática, junto a uma<br />

equipe de especialistas e auxiliares, foi incumbido, por D. Rodrigo de Sousa<br />

Coutinho, Ministro da Marinha e Domínio Ultramarino, da elaboração de um novo<br />

mapa do Brasil, coligindo e agregando as informações produzidas pela <strong>cartografia</strong> e<br />

estudos correlatos produzidos até então. Os mapas de Capassi e Soares constavam<br />

das referências utilizadas e há indícios de que os Rocha também tenham sido<br />

consultados.<br />

Figura 10. A Carta Geográfica de projeção Esférica Ortogonal da Nova Lusitânia ou América<br />

Portuguesa e Estado do Brasil (1798), de Antônio Pires da Silva Pontes Leme, constitui “a<br />

mais importante síntese dos conhecimentos geográficos acumulados durante o século<br />

XVIII”, abrangendo toda a América Portuguesa.<br />

Fonte: Costa (2004, p.167).<br />

n. 29 2006 p.<br />

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Os dois outros mapas, específicos para a Capitania de Minas Gerais e<br />

com datação bastante próxima, apresentam, nesse contexto, alguns aspectos no<br />

mínimo intrigantes, sobretudo se confrontados com as produções cartográficas<br />

anteriores. Com o avanço e disseminação das técnicas cartográficas, é de se<br />

estranhar a persistência de distorções de escala, semelhantes às verificadas nos<br />

mapas de Joaquim José da Rocha.<br />

Também em ambos o número de assentamentos humanos é bem menor<br />

do que os registrados por Rocha, apesar da constatação do surgimento, em<br />

relação a 1778, de novos núcleos (Moraes, 2004b e c). As discrepâncias mais<br />

expressivas referem-se, sobretudo, ao número de freguesias e fazendas. Vale<br />

lembrar que, ainda que se verificasse uma redução populacional nas principais<br />

áreas mineradoras, a população da capitania, então a mais populosa da colônia,<br />

continuava crescendo: de 320.769 habitantes, em 1776, para 492.436, em 1721<br />

(Maxwell, 1985, p.300-301), estimativas que, provavelmente estavam aquém da<br />

realidade.<br />

Esses mapas apontam também algumas transformações importantes<br />

ocorridas na rede urbana, indicando o fortalecimento político da Comarca do Rio<br />

das Mortes, com a elevação de dois arraiais – Campanha (1798) e Queluz (1791) –<br />

e de duas freguesias – Tamanduá (atual Itapecerica, em 1789) e Barbacena (1791)<br />

– à categoria de vila.<br />

Após a criação da vila de Nossa Senhora do Bom Sucesso das Minas<br />

Novas, em 1730, 59 anos se passaram sem que nenhum outro título fosse<br />

concedido, apesar de haver registros de reivindicações pelos títulos, não só de vila<br />

como também de cidade, da parte de outros núcleos, como Tejuco, Santa Luzia,<br />

Santa Bárbara, Conceição do Mato Dentro, etc. (Fonseca, 2004, p.39-51). As<br />

razões dessa recusa estariam, entre outros aspectos, relacionadas a uma política<br />

deliberada da Coroa Portuguesa de evitar a instalação de câmaras em áreas<br />

estratégicas como as regiões mineradoras, o que conferiria maior poder às elites<br />

locais, muitas vezes simpáticas às rebeliões fiscais e às insubordinações da<br />

população.<br />

Contudo, parece ter sido também um ato político-estratégico, visando<br />

acalmar os ânimos, sobretudo das elites locais, a concessão do título de vila para<br />

aqueles quatro núcleos da Comarca do Rio das Mortes, que concentrava 58% dos<br />

inconfidentes, em sua maioria envolvidos com atividades agropecuárias, e cuja<br />

população estava em franco crescimento (Furtado, 2002, p.99).<br />

Em 1808, a chegada da família real ao Brasil e a conseqüente abertura<br />

dos portos às nações amigas possibilitou o acesso de estrangeiros, sobretudo<br />

artistas e naturalistas, a Minas, privilégio concedido até então somente<br />

portugueses e colonos, ou estrangeiros com permissão expressa da Coroa.<br />

Em 1816, a pedido de D. João VI, veio ao Brasil a chamada missão<br />

artística francesa, chefiada por Joachim Lebreton e composta pelos artistas Jean-<br />

Baptiste Debret, Charles-Henri Lavasseur, Charles Simon Pradier, Nicolas Antoine<br />

Taunay e seus filhos Felix Emile e Thomas Marie Hippolyte, August Henri Victor de<br />

Grandjean Montigny, François Bonrepos, Segismond Neukomm, Louis<br />

Symphorien Meunié e François Ovide, aos quais se juntaram posteriormente Marc<br />

e Zepherin Ferrez.<br />

Além desses artistas, outros estrangeiros aqui estiveram no mesmo<br />

período. Nesse mesmo ano, o francês Claude-François Fortier, conde de Clarac,<br />

chegou ao Brasil, acompanhado do naturalista Auguste de Sanit-Hilaire. No ano<br />

seguinte, integrando a missão austríaca, chegaram ao Rio de Janeiro os<br />

naturalistas Johann Natterer, Johann Baptiste von Spix, Carl Friedrich Philipp von<br />

Martius, Rochus Schüch, Johann Christian Mikan, Johann Emanuel Pohl,<br />

Giuseppe Raddi; os desenhistas e pintores Thomas Ender, Johan Buchberger,<br />

Franz Joseph Frühbech, etc. (Belluzzo, 1999, p.154-159, p.178-183).<br />

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183


184<br />

Percorrendo os territórios de várias capitanias, esses artistas e<br />

naturalistas retrataram, por meio de relatos de viagem e iconografias, vários de<br />

seus aspectos, desde aqueles ligados aos costumes e à vida cotidiana, passando<br />

por registros sobre a mineralogia, geologia e espeleologia; até observações da<br />

fauna e da flora. Essas viagens, articuladas ou não a missões oficiais, constituíram<br />

um claro índice do interesse europeu pela diversidade dos cenários tropicais,<br />

expresso no desejo dos viajantes de se embrearem pelos sertões, desviando-se<br />

propositalmente dos principais caminhos em busca das trilhas que os<br />

aproximassem de uma natureza ainda desconhecida, experimentando-a e, por que<br />

não dizer, desbravando-a.<br />

Nesse ambiente, com o Brasil integrando o Reino Unido e sediando a<br />

corte, destacam-se os trabalhos realizados pelo Barão Wilhelm Ludwig von<br />

Eschwege, que representaram mais um importante salto qualitativo na produção<br />

cartográfica, no sentido da aplicação de métodos e instrumentos científicos que<br />

garantissem maior precisão e exatidão, aspectos ainda mais valorizados e<br />

incentivados nos mapas que seriam elaborados no período provincial que se<br />

anunciava. Além das razões geopolíticas e administrativas já mencionadas,<br />

também se colocavam entre as preocupações da administração colonial os<br />

movimentos migratórios, que vinham ocorrendo em razão da exaustão das minas.<br />

Em 1811, Eschwege, devido aos seus conhecimentos de mineralogista e<br />

metalurgista, veio à Capitania de Minas Gerais fazer observações geológicas,<br />

sobretudo no Distrito Diamantino. Entre seus inúmeros trabalhos então produzidos<br />

sobre a capitania, destacam-se alguns bastante representativos de suas<br />

pesquisas e preocupações: o Relatório sobre a ocorrência de cassiterita no Rio<br />

Paraopeba e seu aproveitamento em fundição de estanho (1813); a Descrição<br />

florestal da coleção de madeiras dos sertões do Rio Abaeté (1819); as Instrucções<br />

para os Mineiros e Officiaes Engenheiros que se houverem de applicar à<br />

Administração das Minas – 1821; o relatório Sobre abusos dos Comandantes dos<br />

destacamentos militares do Distrito Diamantino do Indaiá contra os moradores,<br />

visinhos da Real Mina de Galena (1820) e, finalmente, o Novo Mapa da Capitania<br />

de Minas Gerais (1821).<br />

Ao propor a contratação dos trabalhos de Eschwege para realização<br />

deste último mapa, o então governador da capitania, D. Manoel de Portugal e<br />

Castro, em carta de 29 de maio de 1815, salientou suas qualificações técnicas<br />

(Costa, 2004, p.151), e, de fato, seus trabalhos – uma síntese que agrega<br />

informações colhidas ao longo de onze anos de observações – primavam pelo rigor<br />

científico.<br />

Analisando Theil der neuen Karte der Capitania von Minas Geraes ou<br />

Parte do Novo Mapa da Capitania de Minas Geraes – que compreende a<br />

representação da parte central de seu território – pode-se verificar, além desse<br />

rigor, aspectos que nos permitem avaliar a situação da capitania às vésperas da<br />

Independência (Figura 11).<br />

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Figura 11. Theil der neuen Karte der Capitania von Minas Geraes, ou Parte do Novo Mapa<br />

da Capitania de Minas Geraes (1821), do mineralogista e metalurgista Barão Wilhelm<br />

Ludwig von Eschwege<br />

Fonte: Costa (2002).<br />

Trata-se do primeiro mapa a registrar a toponímia Serra do Espinhaço.<br />

Em legenda escrita em alemão, apresenta uma classificação dos assentamentos<br />

humanos, destacando ainda os limites da Demarcação Diamantina. Também<br />

aponta – com a indicação da letra “B” – as localidades onde foram efetuadas<br />

observações barométricas. Nele foram registrados mais de 700 núcleos urbanos,<br />

demonstrando a vitalidade de uma rede urbana em franca expansão (Moraes,<br />

2004c).<br />

É importante ressaltar que nesse levantamento, mesmo referindo-se<br />

somente a parte da Capitania de Minas Gerais, se verificou, em comparação com a<br />

carta de 1804, um acréscimo de mais de 200 assentamentos humanos,<br />

notadamente com uma expansão significativa do número de fazendas. Contudo,<br />

se o influxo da atividade mineradora implicou uma tendência à ruralização, ela não<br />

viria a comprometer o vigor da rede urbana constituída até então e em franca<br />

expansão.<br />

Com a instituição do Império do Brasil, em 1822, deu-se seqüência aos<br />

investimentos na produção de informações precisas sobre o seu território, não só<br />

no que respeitava à extração mineral, mas estendendo-se a outros aspectos de<br />

uma economia e de uma sociedade que se diversificava e se expandia.<br />

Transformada em província e tendo ampliando sua autonomia política com a<br />

Constituição de 1824, Minas Gerais, em seus limites, já havia incorporado a região<br />

do chamado Triângulo Mineiro, aproximando-se de suas feições atuais. Mas<br />

somente com a a solução dada à zona de litígio com o Espírito Santo, em 1963,<br />

adquiriu sua conformação final.<br />

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185


186<br />

Se, ao final do período colonial, foram erigidas na capitania apenas uma<br />

cidade e quinze vilas, conformando uma estrutura urbana altamente<br />

concentradora, no período imperial irá se impor uma outra lógica ao sistema urbano<br />

da província, marcada por uma crescente descentralização proporcionada pela<br />

criação de novos municípios e pela emergência de novas centralidades e<br />

polarizações até chegar à complexa rede urbana que é hoje o estado, com seus<br />

853 municípios. Nesse processo, a <strong>cartografia</strong> continuou se desenvolvendo e se<br />

consolidando como um importante instrumento de subsídio às ações de<br />

administração e planejamento territorial.<br />

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