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comunicação, literatura e poder: uma análise da influencia ... - Unesp

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COMUNICAÇÃO, LITERATURA E PODER: UMA ANÁLISE DA<br />

INFLUENCIA DOS PERSONAGENS DE MAURICIO DE SOUSA<br />

NO FOMENTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS NO BRASIL<br />

MACEDO, Roberto Gondo 1<br />

CASTILHO, Alessandra de 2<br />

RESUMO<br />

O contexto literário possui representativo <strong>poder</strong> no que tange promover estímulos e<br />

posicionamentos políticos sociais por intermédio de seus enredos e personagens. Esse<br />

modo comunicacional pode ser desenvolvido e dirigido nos mais diversos públicos<br />

etários. To<strong>da</strong>via, o público infanto juvenil é a proporcionali<strong>da</strong>de analítica presente na<br />

pesquisa, que possui o objetivo de explanar a influência de personagens infantis no<br />

fomento de políticas públicas, principalmente inclusivas em viés de necessi<strong>da</strong>des<br />

especiais e apoio em assuntos econômicos e ambientais. Para fun<strong>da</strong>mentar esse<br />

pensamento, foi escolhido o trabalho notório de Maurício de Sousa, que por intermédio<br />

de sua prática profissional como desenhista e cartunista, construiu <strong>uma</strong> trajetória<br />

empresarial de expressivo sucesso e respeitabili<strong>da</strong>de social, fato esse que é explorado<br />

em alguns de seus personagens que apresentam conjunturas inclusivas de portadores de<br />

necessi<strong>da</strong>des especiais: auditivas, locomotoras, dentre outros, corroborativos para<br />

envolver e conscientizar leitores <strong>da</strong> relevância do processo e debate de convívio<br />

inclusivo de minorias.<br />

PALAVRAS-CHAVE: Comunicação, Literatura infantil, Consumo, Poder, Maurício<br />

de Sousa Produções, Marketing.<br />

INTRODUÇÃO<br />

Um dos pontos mais relevantes no contexto corporativo e social é a credibili<strong>da</strong>de<br />

que um ator social, seja <strong>uma</strong> organização pública ou priva<strong>da</strong>, tanto em representação<br />

jurídica ou física, exerce nos seus públicos, principalmente na difusão de seus<br />

princípios, ideologias e ideias.<br />

O universo <strong>da</strong> <strong>literatura</strong> e seus potenciais personagens criados por inúmeros<br />

escritores e cartunistas corroboram para a promoção de um canal de identi<strong>da</strong>de com a<br />

1 Doutor em Comunicação Social, Mestre em Administração Pública e MBA Executivo em Marketing.<br />

Docente dos cursos de Pós-Graduação Lato Sensu <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Metodista de São Paulo e<br />

Universi<strong>da</strong>de Presbiteriana Mackenzie. Docente de graduação FAMA e CEETEPS. Preside a Socie<strong>da</strong>de<br />

Brasileira de Pesquisadores e Profissionais de Comunicação e Marketing Político – POLITICOM (Triênio<br />

2011-2014).<br />

2 Mestran<strong>da</strong> em Comunicação Social pela Universi<strong>da</strong>de Metodista de São Paulo. Pós-gradua<strong>da</strong> em<br />

Comunicação Empresarial e Bacharel em Relações Públicas. Responsável pela Coordenação <strong>da</strong><br />

Assessoria de Comunicação <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal do ABC e <strong>da</strong> Assessoria de Comunicação <strong>da</strong><br />

Socie<strong>da</strong>de Brasileira dos Pesquisadores e Profissionais de Comunicação e Marketing Político –<br />

POLITICOM (Triênio 2011-2014).


socie<strong>da</strong>de. Grande parte dos indivíduos contemporâneos, diante de um amplo leque de<br />

opções de entretenimento e lazer, se envolvem e apreciam personagens, que apesar de<br />

serem fictícios, são estabelecidos no imaginário de muitos como agentes <strong>influencia</strong>dores<br />

de tendências e opiniões.<br />

Ações mercadológicas desenvolvi<strong>da</strong>s pelos estúdios de criação optam por<br />

promovem campanhas publicitárias que enaltecem essas práticas, envolvendo os leitores<br />

em um contexto muito mais amplo do que <strong>uma</strong> trama ou fábula limita<strong>da</strong> em apenas um<br />

determinado momento <strong>da</strong> história.<br />

Atualmente a indústria do entretenimento promove <strong>uma</strong> relação de<br />

acompanhamento do leitor com a vi<strong>da</strong> dos personagens, que possuem sentimentos,<br />

emoções e interagem com outras criações e cenários. Como exemplo de um estúdio<br />

internacional é possível citar as ações de <strong>comunicação</strong> <strong>da</strong> Marvel Comics Inc, que<br />

promove produções cinematográficas dos seus personagens e propicia <strong>uma</strong> interação de<br />

diferentes histórias em um único ambiente de ação, misturando diferentes enredos e<br />

linhas de espaço/tempo.<br />

O objetivo do artigo e promover <strong>uma</strong> investigação de um estúdio brasileiro que<br />

promoveu nas últimas quatro déca<strong>da</strong>s <strong>uma</strong> vasta gama de personagens infantis, que<br />

transitaram e atualmente ain<strong>da</strong> exercem influência de gostos e preferências em diversas<br />

faixas de i<strong>da</strong>de. Criado por Maurício de Sousa, a Maurício de Sousa Produções possui<br />

atualmente centenas de personagens que agra<strong>da</strong>m diversas faixas etárias <strong>da</strong> população e<br />

possuem alto nível de credibili<strong>da</strong>de por intermédio de seus personagens, principalmente<br />

os relacionados à “Turma <strong>da</strong> Mônica”.<br />

De modo mais acentuado nas duas últimas déca<strong>da</strong>s, a postura do cartunista foi<br />

de promover, através de personagens existentes e novos arquétipos, estímulos sociais a<br />

favor de políticas públicas inclusivas, alimentando movimentos favoráveis às causas,<br />

como: inclusão de portadores de necessi<strong>da</strong>des especiais e até mesmo em manifestações<br />

de veto presidencial, como ocorrido recentemente com a possibili<strong>da</strong>de de veto no<br />

relatório aprovado pela Câmara Federal do Novo Código Florestal.<br />

Essa forma de interação com a socie<strong>da</strong>de, apesar de parecer <strong>uma</strong> ação limita<strong>da</strong> e<br />

despretensiosa, possui um representativo <strong>poder</strong> de <strong>comunicação</strong> e <strong>poder</strong> de influência<br />

em muitas cama<strong>da</strong>s de formadores de opinião que interpretam o posicionamento do<br />

cartunista como idôneo e influente.<br />

Esse elo dos personagens com o cotidiano do ci<strong>da</strong>dão, intensificado pelas redes<br />

sociais e demais instrumentos tecnológicos de interativi<strong>da</strong>de, propicia <strong>uma</strong> veloci<strong>da</strong>de


intensa e rápi<strong>da</strong> na divulgação <strong>da</strong> posição do criador (desenhista) mediante interlocução<br />

dos seus personagens mais respeitados e conhecidos na socie<strong>da</strong>de de interação e<br />

consumo.<br />

A pesquisa salienta a importância estratégica de construção de <strong>uma</strong> evolução<br />

com a socie<strong>da</strong>de com o passar dos anos, porque grande parte <strong>da</strong> parcela adulta que<br />

aprecia as ações do estúdio de Maurício de Sousa possui experiências literárias desde<br />

sua infância, mantendo ativa a preferência e credibili<strong>da</strong>de exerci<strong>da</strong> pela empresa durante<br />

esse longo período.<br />

Outro fator relevante e estratégico apontado no artigo é a importância de manter<br />

ações que envolvam gerações, com o intento de garantir que personagens possam ser<br />

perpetuados e acompanhados por pessoas por sua fase evolutiva <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.<br />

O licenciamento de produtos é <strong>uma</strong> prática que foi mais acentua<strong>da</strong> nos últimos<br />

quinze anos e permite que os personagens transitem em to<strong>da</strong> a fase de crescimento do<br />

consumidor, favorecendo que a linha de arquétipos não entre no ostracismo, pois está<br />

presente em produtos de crianças recém nasci<strong>da</strong>s, como frau<strong>da</strong>s e demais itens de<br />

gestante e bebê, como em brinquedos, roupas e demais itens usados no decorrer dos<br />

anos, por pais e filhos.<br />

PAPEL SOCIAL DA LITERATURA INFANTIL<br />

O acesso à leitura abre as portas do mundo para novas descobertas e<br />

desenvolvimento do conhecimento, tornando-se instrumento importante para atenuar a<br />

desigual<strong>da</strong>de social. Quem detém o saber e a informação, detém também a arma que<br />

pode fazê-lo sobressair no atual contexto globalizado.<br />

Como afirma Silva (1985, p.22-23), “a leitura, se leva<strong>da</strong> a efeito crítica e<br />

reflexivamente, levanta-se como um trabalho de combate à alienação (não-<br />

racionali<strong>da</strong>de), capaz de facilitar ao gênero h<strong>uma</strong>no a realização de sua plenitude<br />

(liber<strong>da</strong>de)”. Lajolo e Zilberman (1999, p.14) reforçam essa relevância ao defender que<br />

“ser leitor, papel que, enquanto pessoa física, exercemos, é função social, para a qual se<br />

canalizam ações individuais, esforços coletivos e necessi<strong>da</strong>des econômicas”.<br />

Candido (2000) defende que a <strong>literatura</strong> desempenha o papel de instituição social,<br />

<strong>uma</strong> vez que utiliza a linguagem como meio específico de <strong>comunicação</strong>, e a linguagem<br />

é criação social. Enxerga também que o conteúdo social <strong>da</strong>s obras em si próprias e a<br />

influência que a linguagem exerce no receptor fazem <strong>da</strong> <strong>literatura</strong> um instrumento<br />

<strong>poder</strong>oso de mobilização social. Carvalho (1982, p.18) vai mais longe e defende que “é


necessário ter-se em mente que todo o patrimônio cultural <strong>da</strong> H<strong>uma</strong>ni<strong>da</strong>de vem <strong>da</strong><br />

Literatura. Ela, mais do que as armas mortíferas do engenho bélico, tem feito as grandes<br />

revoluções”.<br />

Se esta afirmação cabe a to<strong>da</strong>s as faixas etárias, ela se torna ain<strong>da</strong> mais consistente<br />

quando pensa<strong>da</strong> sobre luz <strong>da</strong> leitura infantil, que tem papel fun<strong>da</strong>mental e grande<br />

influência na formação <strong>da</strong>s crianças e, consequentemente, dos adultos, por meio <strong>da</strong>s<br />

produções literárias infantis.<br />

[...] não é arriscado afirmar a função social <strong>da</strong> <strong>literatura</strong> infantil, pois é<br />

na infância que se forma o hábito <strong>da</strong> leitura e a base <strong>da</strong> personali<strong>da</strong>de,<br />

sendo um ótimo momento para trabalhar o respeito e a sensibili<strong>da</strong>de<br />

ressaltando a importância do ser h<strong>uma</strong>no. (SILVA e SOUZA, 2009,<br />

p.5)<br />

Mas nem sempre a <strong>literatura</strong> infantil foi vista com tal relevância na formação do<br />

ator civil. Surgiu de um costume antigo de contar histórias, a<strong>da</strong>ptando contos populares,<br />

narrados por pessoas comuns em ro<strong>da</strong>s de história, mas antes disso, essa preocupação<br />

não existia porque a infância era totalmente desconsidera<strong>da</strong>.<br />

As crianças viviam e participavam <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> social e política junto aos adultos.<br />

Lajolo e Zilberman (1985, p.13) lembram que “[...] antes não se escrevia para elas,<br />

porque não existia infância”.<br />

É no século XVIII, no seio <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de burguesa europeia, que o ser infantil<br />

começa a surgir no âmbito pe<strong>da</strong>gógico, <strong>da</strong>ndo início à criação de <strong>literatura</strong>s específicas<br />

para este público. Daí em diante, a Literatura Infantil passa a ser <strong>uma</strong> vertente literária,<br />

fortalecendo-se inclusive com a Revolução Industrial, que foi marca<strong>da</strong> pelas ativi<strong>da</strong>des<br />

renovadoras nos setores econômicos, sociais, políticos e ideológicos <strong>da</strong> época.<br />

No século seguinte, com a “popularização” <strong>da</strong> escola, a <strong>literatura</strong> infantil ganha<br />

grande força e surgem novos autores que consagram essa vertente literária com a<br />

produção de contos que se tornam clássicos.<br />

Nesse contexto de relação espaço e tempo, é possível afirmar que somente neste<br />

século, em viés contemporâneo, que a criança começa a ser vista e interpreta<strong>da</strong> como<br />

um ser que deve ser cui<strong>da</strong>do e orientado de modo envolvente e respeitoso, visando<br />

promover seus estímulos, no foco de desenvolvimento físico, mental e cognitivo.<br />

“Pode se dizer que é nesse momento que a criança entra como um valor a ser<br />

levado em consideração no processo social e no contexto h<strong>uma</strong>no” (COELHO, 1985,<br />

p.108).<br />

No Brasil, a <strong>literatura</strong> infantil foi originaria <strong>da</strong> <strong>literatura</strong> didática/escolar, quando,<br />

segundo Mortatti (2001, p.180),


[...] começou a ser produzi<strong>da</strong> sistematicamente por professores<br />

brasileiros, com a finali<strong>da</strong>de de ensinar às nossas crianças, de maneira<br />

agradável, valores morais e sociais, assim como padrões de conduta<br />

relacionados com o engendramento de <strong>uma</strong> cultura escolar urbana e<br />

necessários do ponto de vista de um modelo republicano de instrução<br />

do povo.<br />

A produção e publicação de livros infantis só se fortaleceram no final do século<br />

XIX e início do século XX, quando a nova visão de educação estabeleci<strong>da</strong> no país<br />

ressaltou a necessi<strong>da</strong>de de <strong>uma</strong> produção literária própria, <strong>uma</strong> vez que se consumiam<br />

aqui traduções e a<strong>da</strong>ptações de livros internacionais.<br />

A <strong>literatura</strong> infantil brasileira desenvolveu-se, segundo Riche (1999, p.130), “na<br />

vira<strong>da</strong> <strong>da</strong> moderni<strong>da</strong>de para a pós-moderni<strong>da</strong>de e vai refletir esteticamente esse sistema<br />

social complexo vivendo entre o pré-capitalismo de alg<strong>uma</strong>s regiões [...] e as grandes<br />

ci<strong>da</strong>des”.<br />

Vários autores surgiram no Brasil e aju<strong>da</strong>ram a popularizar os livros para<br />

crianças, porém o principal escritor, que marcou a história <strong>da</strong> <strong>literatura</strong> infantil no país,<br />

foi Monteiro Lobato, que com o livro “A Menina do Narizinho Arrebitado” passou a<br />

envere<strong>da</strong>r por um mundo até então desconhecido pelo autor. “Ando com ideias de entrar<br />

por esse caminho: livros para crianças. De escrever para marmanjos já me enjoei. Bicho<br />

sem graça. Mas para crianças um livro é todo um mundo [...]” (LOBATO apud<br />

COELHO, 1985, p.187).<br />

Depois de Monteiro Lobato, outros autores contribuíram para que a <strong>literatura</strong><br />

infantil tivesse sua importância pe<strong>da</strong>gógica valoriza<strong>da</strong> e seu papel no desenvolvimento<br />

intelectual reconhecido, entre eles Ziraldo, com “O Menino Maluquinho”, Ruth Rocha,<br />

com “Marcelo Marmelo”, Chico Buarque, com “Chapeuzinho Amarelo”, Vinícius de<br />

Moraes, com “A Arca de Noé”, entre outros.<br />

Voltando ao papel social <strong>da</strong> <strong>literatura</strong> infantil, hoje está claro que ela não só<br />

fomenta o gosto pela leitura, como também é por meio <strong>da</strong> aprendizagem lúdica que ela<br />

torna-se importante ferramenta para alfabetização, conhecimento do mundo e<br />

autoconhecimento.<br />

“[...] na atuali<strong>da</strong>de, o livro infantil apresenta a reali<strong>da</strong>de – os<br />

problemas sociais, políticos e econômicos. Ao assim fazer, não foge<br />

do lúdico, pois continua a transmitir emoções, a despertar curiosi<strong>da</strong>de<br />

e a produzir novas experiências. Por outro lado, desempenha <strong>uma</strong><br />

importante função social que é fazer com que a criança perceba<br />

intensamente a reali<strong>da</strong>de que a cerca” (CALDIN, 2003, p.5)


Conclui-se na discussão desse tema que, em meio à avalanche de informações<br />

disponíveis atualmente, o papel <strong>da</strong> <strong>literatura</strong> é de desenvolver na socie<strong>da</strong>de, e<br />

principalmente nas crianças, um espírito analítico e crítico, o que seguramente não<br />

acontece quando a oportuni<strong>da</strong>de de acesso a este rico material lhes é nega<strong>da</strong>.<br />

A INFLUÊNCIA DOS PERSONAGENS EM POLÍTICAS PÚBLICAS<br />

Na forma especulativa, o personagem serve como um espelho para a criança, que<br />

vê no outro sua própria imagem. Neste caso o personagem atua como alter ego,<br />

representando os desejos inconscientes do “ser como ele” <strong>da</strong> criança, fazendo com que<br />

ela vivencie sentimentos e situações do personagem.<br />

Montigneaux (2003) defende que a criança procura um personagem que possua<br />

semelhanças em relação a ela, ou um personagem que possua quali<strong>da</strong>des h<strong>uma</strong>nas e<br />

físicas que a levem querer ser como ele. O autor trabalha, portanto, com duas formas de<br />

identificação: a especulativa, descrita acima, e a parcial, que mu<strong>da</strong> de acordo com a<br />

percepção de ca<strong>da</strong> criança. Na forma parcial, a criança enxerga no personagem alguns<br />

traços em comum, mas sabe que se trata de outra pessoa, diferente dela. Neste caso a<br />

criança procura interiorizar inconscientemente os atributos do personagem tidos como<br />

modelo.<br />

Em qualquer um dos casos citados acima, fica clara a relevância do papel do<br />

personagem na vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> criança, que busca neles <strong>uma</strong> referência no qual ela pode se<br />

espelhar. Sobre as histórias em quadrinho em especial, parte do objeto desse estudo,<br />

Mendes (1990, p.25) afirma que<br />

[...] além de informar e entreter, tem junto a outros meios de<br />

<strong>comunicação</strong> de massa um papel na formação <strong>da</strong> criança. A história<br />

em quadrinhos é transmissora de ideologia e, portanto, afeta a<br />

educação de seu público leitor.<br />

To<strong>da</strong>via, o contexto infantil não envolve somente a criança, mas sim todos os<br />

pares envolvidos em seu cotidiano. Por esse motivo que a identificação infantil com um<br />

personagem literário também transita no universo adulto, seja em caráter<br />

mercadológico, com o claro interesse de promoção de estímulos de consumo de<br />

produtos e serviços, como também na forma de conscientização de ações ci<strong>da</strong>dãs<br />

relaciona<strong>da</strong>s ao âmbito social, concomitante com práticas e políticas públicas.<br />

Um exemplo que pode ser citado como forma estratégica desse uso, por<br />

intermédios de seus canais de <strong>comunicação</strong>, é o canal por assinatura destinado para<br />

crianças do grupo Discovery, denominado Discovery Kids. Abor<strong>da</strong>ndo e apoiando


campanhas de uso consciente dos recursos do planeta, os personagens inerentes do<br />

contexto do canal, intitulados como membros <strong>da</strong> “Turma do Doki”, estimulam por<br />

intermédio de situações e contextos a prática saudável de consumo preocupação com o<br />

planeta.<br />

Obviamente, adultos envolvidos com o cotidiano <strong>da</strong> criança também são<br />

envolvidos com esses estímulos e podem ampliar o leque de ações corroborativas <strong>da</strong>s<br />

práticas de políticas públicas. Personagens que também transitam em outros tipos de<br />

mídias, como livros impressos e quadrinhos são formas tradicionais, porém ativas de<br />

interação com o público contemporâneo, em menor intensi<strong>da</strong>de de envolvimentos, mas<br />

que não podem ser despreza<strong>da</strong>s como ferramentas de estímulo mercadológico e social.<br />

Cirne (1974, p.3) já defendia que as histórias em quadrinho são os melhores<br />

instrumentos que representam no universo literário a presença de personagens com<br />

características especiais, ao afirmar que “enquanto <strong>literatura</strong> gráfico-visual possui<br />

mecanismos intrínsecos que permitem <strong>uma</strong> abor<strong>da</strong>gem de sua narrativa capaz de<br />

contribuir para o desenvolvimento <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de de <strong>análise</strong>, interpretação e reflexão do<br />

leitor”.<br />

Estrategicamente no <strong>poder</strong> público, promover práticas de políticas públicas<br />

inclusivas é um fenômeno que envolve diversos atores sociais na composição social. As<br />

iniciativas podem partir por intermédio de manifestações e mobilizações <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de<br />

civil e conquistar adeptos em <strong>poder</strong>es de intervenção maior, em viés burocrático e<br />

público.<br />

As mobilizações ocorrem por diversas motivações, mas normalmente as que<br />

conquistam mais adeptos são ações macro, normalmente vincula<strong>da</strong>s com temáticas<br />

transdisciplinares e transversais, tais como: sustentabili<strong>da</strong>de, processos de inclusão<br />

social, digital, corporativa, dentre outras.<br />

O uso dos diversos meios de <strong>comunicação</strong> também ocorre pelo fato de promover<br />

potencialização informacional e favorecer o maior envolvimento de pessoas nos<br />

movimentos de reinvindicação ou conscientização. Nesse sentido, personagens de<br />

grande respeitabili<strong>da</strong>de no cenário regional, seja real ou fictício, podem ser usados<br />

como agentes contributivos na construção de credibili<strong>da</strong>de do movimento.<br />

O apoio de empresas vincula<strong>da</strong>s ao contexto literário com causas sociais não é<br />

inédito ou inovador, em contraparti<strong>da</strong>, as formas de exposição dos personagens são<br />

a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong>s com recursos disponíveis, normalmente integrados em redes de <strong>comunicação</strong><br />

fortaleci<strong>da</strong>s com o avanço tecnológico <strong>da</strong>s duas últimas déca<strong>da</strong>s.


Uma tendência <strong>da</strong> <strong>literatura</strong> infantil atual é a incorporação de um novo modelo<br />

de interação com os leitores, principalmente no perfil dos personagens, que possuem<br />

hábitos sociais e posicionamentos diante de conceitos sociais, obviamente adequados à<br />

linguagem infantil e ao público pré-determinado.<br />

Esse formato permite aos editores e criadores dos mesmos fomentar seus<br />

posicionamentos sócio-políticos e contribuir de modo mais acentuado com mobilizações<br />

e conscientizações sociais, com intermédio de seu trabalho e de suas criações, que<br />

possuem, por sua vez, leitores fidelizados e propensos a receber tais mensagens.<br />

PERSONAGENS INCLUSIVOS E MAURÍCIO DE SOUSA PRODUÇÕES<br />

Com mais de quarenta anos de existência de seu estúdio, produzindo e criando<br />

centenas de personagens infantis que margearam o cotidiano de gerações, Maurício de<br />

Sousa indubitavelmente corroborou para o desenvolvimento literário infantil brasileiro.<br />

Dos seus personagens mais famosos, estão os relacionados à “Turma <strong>da</strong> Mônica”, com<br />

seus quatro personagens marcantes, inspirados em seus filhos e rede pessoal: Mônica,<br />

Cebolinha, Cascão e Magali.<br />

To<strong>da</strong>via, os demais personagens do cartunista também desempenham papel<br />

relevante no sentido de promover diversi<strong>da</strong>de de contextos e posicionamentos sociais,<br />

como o exemplo <strong>da</strong> “Turma do Chico Bento”, inspirado em um ambiente rural e com<br />

contrapontos comportamentais <strong>da</strong> relação ci<strong>da</strong>de/campo.<br />

Com o decorrer <strong>da</strong>s déca<strong>da</strong>s, seus personagens conviveram com os desafios<br />

sociais, políticos, econômicos e tecnológicos, no qual exigiu grande <strong>poder</strong> de<br />

a<strong>da</strong>ptabili<strong>da</strong>de e sobrevivência empresarial em um mercado altamente competitivo e<br />

atualmente, com alto grau de interação multimídia e tecnológica.<br />

Empresarial, Maurício de Sousa passou por crises econômicas e conturbações<br />

políticas em um Brasil ain<strong>da</strong> não redemocratizado. To<strong>da</strong>via, essas considerações foram<br />

pertinentes para que seu trabalho perpetuasse no cotidiano social de milhares de pessoas<br />

e promovesse <strong>uma</strong> aproximação salutar nas mensagens estabeleci<strong>da</strong>s por intermédio de<br />

suas criações.<br />

Nas duas últimas déca<strong>da</strong>s, seu portfólio de criação promoveu <strong>uma</strong> reconquista<br />

de mercado, usando de modo mais agressivo e estratégico as ações de licenciamento de<br />

produtos e entretenimento, se aproveitando de um momento nacional de estabili<strong>da</strong>de<br />

econômica e social.


Seu comportamento político e social sempre foi direcionado à defesa de práticas<br />

governamentais e políticas públicas foca<strong>da</strong>s no critério de inclusão de minorias,<br />

conota<strong>da</strong>s em necessi<strong>da</strong>des fisiológicas ou econômicas. Em dezenas de situações,<br />

utilizou de seus personagens e enredos de quadrinhos para posicionar sua opinião acerca<br />

de debates sociais ocorridos na história recente do país.<br />

Como processo de exemplificação <strong>da</strong> fun<strong>da</strong>mentação, a pesquisa focou esforços<br />

em um exemplo contemporâneo, onde Maurício de Sousa promove seu posicionamento<br />

diante de um debate acerca <strong>da</strong> aprovação de um Projeto de Lei relacionado ao novo<br />

Código Florestal Brasileiro, temática deveras relevante para a proteção de áreas de mata<br />

nacional, com intensa diversi<strong>da</strong>de de flora e fauna.<br />

Ao analisar os quadros desenvolvidos por Maurício de Sousa, que circularam<br />

nas redes sociais, em especial no Facebook, percebe-se claramente a preocupação do<br />

autor neste sentido, ao apostar em temas que valorizam e priorizam a formação dos<br />

conhecimentos e dos valores morais e éticos, portanto o papel social <strong>da</strong> <strong>literatura</strong><br />

mostra-se concreto no case.<br />

As peças abaixo, desenvolvi<strong>da</strong>s por Maurício de Sousa, circularam de modo<br />

mais intenso nos meses de fevereiro até maio de 2012 na rede social Facebook:<br />

FIGURA 1 - Posicionamento <strong>da</strong> Produtora quanto a aprovação do Novo Código Florestal<br />

FONTE – Portal Turma <strong>da</strong> Mônica (2012)<br />

Mais do que valorizar temas considerados politicamente corretos, é importante<br />

verificar como assuntos presentes na agen<strong>da</strong> setting pautam também as mensagens<br />

elabora<strong>da</strong>s pelo autor de <strong>literatura</strong> infantil, possibilitando que além dos adultos, as<br />

crianças também participem e enten<strong>da</strong>m o contexto <strong>da</strong>s discussões mais relevantes na<br />

contemporanei<strong>da</strong>de.


Essa participação <strong>da</strong> <strong>literatura</strong> nos temas cotidianos ganha mais força com o<br />

advento <strong>da</strong>s redes sociais de internet que torna possível o que Castells defende de<br />

socie<strong>da</strong>de organiza<strong>da</strong>, tendo a tecnologia como mediadora <strong>da</strong> <strong>comunicação</strong> entre as<br />

pessoas. Para Nunes (2009),<br />

[...] as redes sociais fizeram com que as pessoas tivessem maior<br />

liber<strong>da</strong>de de expressão. (...) as pessoas <strong>poder</strong>iam usar isso de forma<br />

mais interessante. Existem na rede movimentos bastante positivos, por<br />

exemplo, em apoio à saúde <strong>da</strong> mulher. Então, utilizar as redes sociais<br />

para <strong>da</strong>r vazão à indignação pode ser ruim, mas tem lados positivos.<br />

As redes sociais têm essa dimensão que é muito boa. É a possibili<strong>da</strong>de<br />

de expressão.<br />

É importante observar neste caso o papel cívico não só <strong>da</strong> <strong>literatura</strong>, mas também<br />

<strong>da</strong> Internet que, como foi possível notar, comprovou que as redes sociais podem<br />

funcionar como <strong>uma</strong> ferramenta eficaz para a disseminação de ideias e organização de<br />

campanhas em prol de um objetivo maior, neste caso a discussão sobre o Novo Código<br />

Florestal. A possibili<strong>da</strong>de de “compartilhar”, “curtir” ou “comentar” ideias e opiniões<br />

corrobora para que a rede seja percebi<strong>da</strong> como um espaço para debates, aberto para<br />

qualquer tipo de “manifestação”.<br />

É possível afirmar que a <strong>literatura</strong> consegue hoje participar e incentivar<br />

discussões nas redes sociais <strong>da</strong> internet trazendo à esfera pública, importantes debates<br />

de questões de interesse dos atores civis. Gomes (2006, p. 56) apresenta como proposta<br />

de interpretação para o significado de esfera pública: “esfera pública como o domínio<br />

<strong>da</strong>quilo que é público, isto é, <strong>da</strong>quilo sobre a qual se pode falar sem reservas e em<br />

circunstâncias de visibili<strong>da</strong>de social”.<br />

Olhando do ponto de vista <strong>da</strong> Internet como espaço de discussão, <strong>uma</strong><br />

consideração vali<strong>da</strong> é que a <strong>literatura</strong> soube aproveitar a abertura desse ambiente para<br />

debates mais sérios, reforçando seu papel de instituição social, adequando a linguagem,<br />

aproximando seus personagens <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de socioeconômica atual e, principalmente,<br />

contribuindo com discussões públicas importantes para o bem estar social.<br />

Além de utilizar o discurso dos personagens para trazer a tona questões de<br />

relevância pública, o autor Maurício de Sousa procura também aproximar suas criações<br />

de questões de políticas públicas desenvolvendo personagens voltados à inclusão social.<br />

A criação dos personagens “Dorinha” e “Luca” mostram a preocupação de Sousa em<br />

tratar temas <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de cotidiana <strong>da</strong> criança apresentando a questão <strong>da</strong> inclusão social<br />

de maneira natural e bem-humora<strong>da</strong>.


Dorinha é a primeira personagem deficiente visual de Sousa, inspira<strong>da</strong> em Dorina<br />

Nowil, <strong>uma</strong> mulher que perdeu a visão quando criança e hoje dá nome à Fun<strong>da</strong>ção<br />

Dorina Nowil, instituição referência que trata de cegos. Cria<strong>da</strong> em 2004, a personagem<br />

surgiu nas histórias <strong>da</strong> Turma <strong>da</strong> Mônica com o objetivo de mostrar as crianças <strong>uma</strong><br />

nova forma de ver a vi<strong>da</strong>.<br />

O criador <strong>da</strong> Turma <strong>da</strong> Mônica, Maurício de Sousa, decidiu abor<strong>da</strong>r a<br />

inclusão em seus quadrinhos para mostrar que as crianças portadoras<br />

de necessi<strong>da</strong>des especiais têm a mesma capaci<strong>da</strong>de de aprender, sentir<br />

e brincar como as outras. No Brasil, as crianças com deficiência são<br />

segrega<strong>da</strong>s. Nos quadrinhos elas são capazes, tanto que a Dorinha<br />

participa <strong>da</strong>s aventuras como qualquer outro personagem, afirma o<br />

desenhista (GURGELL, 2002, p.6)<br />

A primeira aparição de Dorinha nas histórias <strong>da</strong> Turma <strong>da</strong> Mônica acontece no<br />

momento em que os personagens estão brincando de cabra-cega e surpreende os amigos<br />

ao mostrar a facili<strong>da</strong>de com que executa a ativi<strong>da</strong>de. No decorrer <strong>da</strong> história, o autor<br />

apresenta as características dos portadores de necessi<strong>da</strong>des especiais visuais, bem como<br />

essas pessoas tem suas habili<strong>da</strong>des e sentidos aguçados como o tato, a audição e o<br />

olfato, e os instrumentos que lhes dão apoio nas ativi<strong>da</strong>des cotidianas: a bengala, os<br />

óculos e o cão-guia.<br />

O personagem Luca, apresentado no mesmo ano, é um garoto cadeirante, amante<br />

dos esportes, principalmente de basquete, que foi apeli<strong>da</strong>do carinhosamente pelos<br />

amigos de “Da Ro<strong>da</strong>”. A ideia de Maurício de Sousa foi de desenvolver um personagem<br />

que pudesse mostras às crianças que é possível ter <strong>uma</strong> infância feliz e interativa<br />

independente de qualquer deficiência física.<br />

Nas histórias, detalhes como marcas de pneus no gramado; barras de apoio no<br />

banheiro; pia, cesta de basquete e espelho instalados em altura menor que a<br />

convencional aparecem nos quadrinhos e são explicados com naturali<strong>da</strong>de pelo menino,<br />

que utiliza cadeira de ro<strong>da</strong>s. Fã do cantor Herbert Vianna e <strong>da</strong> ban<strong>da</strong> Paralamas do<br />

Sucesso, o personagem recebe também dos amigos o apelido de “Paralaminha”.<br />

Mauricio de Sousa desenvolveu ain<strong>da</strong> outros personagens com deficiências, como<br />

um menino chamado Humberto, que não fala, mas vive as aventuras com a turma, a<br />

garotinha Tati com Síndrome de Down, André, o menino autista, Almir, outro<br />

deficiente físico e Marina, a superdota<strong>da</strong> que adora desenhar. Referencia-se aqui o que<br />

Aguiar e Bordini (1993) salientam sobre a importância de relacionar leitor e reali<strong>da</strong>de,<br />

ou seja, aproximar ao máximo o leitor <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de que está estampa<strong>da</strong> na narrativa.


Vale ressaltar que tanto no caso de Luca e Dorinha, como dos demais, a presença<br />

de personagens com deficiências em histórias infantis, sem ressaltar a deficiência e sim<br />

suas potenciali<strong>da</strong>des, reforçam muito positivamente a questão <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de h<strong>uma</strong>na<br />

presente em todos os ambientes, infantis e adultos, frequentados no dia-a-dia.<br />

Desempenham <strong>uma</strong> função social importante ao comunicarem que as crianças<br />

portadoras de necessi<strong>da</strong>des especiais também podem levar <strong>uma</strong> vi<strong>da</strong> normal,<br />

desmitificando preconceitos, estereótipos e discriminações tão presentes ain<strong>da</strong> na<br />

socie<strong>da</strong>de.<br />

a noção de preconceito refere-se a <strong>uma</strong> atitude injusta e negativa em<br />

relação a um grupo ou a <strong>uma</strong> pessoa que se supõe ser membro do<br />

grupo, enquanto o conceito de discriminação, apesar de literalmente<br />

signifique ´tratar alguém de <strong>uma</strong> forma diferente´, no seu sentido mais<br />

explícito, pode ser definido como um comportamento manifesto,<br />

geralmente apresentado por <strong>uma</strong> pessoa preconceituosa, que se<br />

exprime através <strong>da</strong> adoção de padrões de preferência em relação aos<br />

membros do próprio grupo e/ou de rejeição em relação aos membros<br />

dos grupos externos (PEREIRA, 2002, p.77)<br />

Nesse sentido, observa-se o esforço <strong>da</strong> <strong>literatura</strong> infantil, em especial no caso dos<br />

personagens desenvolvidos por Maurício de Sousa, no sentido de contribuir para <strong>uma</strong><br />

educação infantil inclusiva, na medi<strong>da</strong> em que transmite, ain<strong>da</strong> que de forma<br />

simplifica<strong>da</strong>, importantes informações sobre portadores de necessi<strong>da</strong>des especiais para<br />

as crianças.<br />

Essas ações permitem que, ao mesmo tempo em que as diferenças sejam vistas<br />

como fatores importantes para a formação <strong>da</strong>s singulari<strong>da</strong>des, elas sejam também<br />

compreendi<strong>da</strong>s com naturali<strong>da</strong>de pelo público infantil e que, consequentemente, levarão<br />

para a vi<strong>da</strong> adulta.<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Os personagens infantis sempre transitaram no lúdico dos leitores de modo<br />

intenso e representativo. O universo literário é secular e sempre foi <strong>uma</strong> forma direta de<br />

promoção <strong>da</strong> reflexão e do entretenimento do individuo, sendo inclusive um dos<br />

principais pontos de combate e controle social em regimes controladores e não<br />

democráticos.<br />

O contexto tecnológico e interativo, com novas mídias e interfaces digitais é um<br />

grande aliado na divulgação em tempo real de informações e posicionamento dos


usuários, que de modo concomitante, replicam suas predileções e estimulam a<br />

manifestação social, fun<strong>da</strong>mental para a prática de políticas públicas reais e pertinentes<br />

para a melhoria <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de.<br />

Personagens podem ser utilizados também como <strong>uma</strong> ferramenta de expressão<br />

de seus criadores no campo social e político, por intermédio de posicionamentos<br />

expressados no enredo <strong>da</strong>s histórias cria<strong>da</strong>s. Quanto maior for a credibili<strong>da</strong>de dos<br />

personagens, mais aderente será a mensagem transmiti<strong>da</strong> aos públicos específicos.<br />

Muitos personagens naturalmente assumem posicionamentos reflexivos <strong>da</strong><br />

socie<strong>da</strong>de, mesmo que de forma não explícita. Seja em quadrinhos ou charges, <strong>uma</strong> <strong>da</strong>s<br />

formas mais utiliza<strong>da</strong>s no sentido de transmitir ideias sociais e apoio em movimentos<br />

políticos é o humor, que remete <strong>uma</strong> sensação menos impactante interpretativamente.<br />

Maurício de Sousa, por intermédio de sua vasta linha de personagens infantis<br />

desenvolvi<strong>da</strong>s nas últimas quatro déca<strong>da</strong>s, sempre contribuiu para o alinhamento de<br />

mensagens e apoio em temas globais, utilizando seus personagens mais famosos como<br />

agentes informacionais de seu posicionamento político e social.<br />

Os temas normalmente envolvidos e identificados pelo desenhista contribuíram<br />

para grandes e representativas proposituras de políticas públicas, principalmente na<br />

questão de inclusão de portadores de necessi<strong>da</strong>des especiais e defesa de macro temática,<br />

como: meio ambiente, no comportamento vinculado à sustentabili<strong>da</strong>de e<br />

conscientização do voto em eleições brasileiras.<br />

Esse posicionamento social <strong>da</strong>s produtoras infantis corrobora para um maior<br />

envolvimento <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de em temas relevantes para a melhoria política e social.<br />

Contribui para o aumento de conscientização em temas normalmente complexos, porém<br />

de modo mais ameno e harmonioso, direcionado ao perfil de seus públicos.<br />

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