Di.rio fim-de-semana 4876 : Plano 56 : 1 : P.gina 1 - Económico - Sapo

10 Diário Económico Sábado 24 Abril 2010
DESTAQUE CRISE NA GRÉCIA
DÍVIDAPÚBLICAÉONOVOOBJECTODECARIDADE
Os cidadãos gregos e norte-americanos,
bons samaritanos,
podem agora
canalizar os seus donativos
de caridade para uma
novacausa–adívidapública.
O Banco Nacional
da Grécia estabeleceu
uma “Conta de
Solidariedade”, enquanto
os Estados Unidos, mais
tecnológicos, permitem
aos seus cidadãos confortavelmente
doar ‘on line’.
Será uma nova tendência?
Saiba como vai funcionar a ajuda à
O FMI vai impor condições e há o risco de nem todos os parlamentos dos países do euro aceitarem conceder em
António Albuquerque
antonio.albuquerque@economico.pt
Agora que a Grécia já pediu ajuda,
saiba como vai ser accionada
a ajuda do Fundo Monetário
Internacional e da Comissão
Europeia. Erik Nielsen, analista
da Goldman Sachs, responde a
estas questões.
1
QUAISASCONDIÇÕESDE
DESEMBOLSO PARA OS
EMPRÉSTIMOS DO FMI E DA
COMISSÃO EUROPEIA, E
QUANDO SERÁ
DISPONIBILIZADO O DINHEIRO?
Para activar o empréstimo do
FMI, o Governo grego terá de
acordar todo um conjunto de
condições macro-económicas.
Concluída esta fase, o esquiço do
acordo será entregue à equipa de
gestão do FMI e, depois de aprovado,
será submetido à Administração
do Fundo para análise. A
aprovaçãopelagestãoeadministração
pode ser considerada
uma formalidade nesta etapa. Já
os governos europeus terão de
fazer aprovar as suas propostas
de empréstimo bilateral nos res-
pectivos parlamentos, processo
que se encontra em curso. Só a
Alemanha anunciou que não ia,
alegadamente, apresentar a proposta
no Parlamento antes de a
Grécia solicitar oficialmente o
empréstimo. Uma vez aprovado
pelos parlamentos, a Grécia terá
de fazer um pedido formal para o
pacote no seu conjunto. O desembolso
dos empréstimos será
decidido por unanimidade pelos
15 governos.
2
QUAIS AS CONDICIONANTES
DO FMI?
O FMI deverá concentrar-se em
três áreas: (1) Planos de contingência
orçamental para 2010,
isto é, se a implementação do
Orçamento para este ano ficar
aquém do esperado em termos
de défice nominal de 4% do PIB,
então, será necessário implementar
medidas adicionais préacordadas.
(2) As medidas orçamentais
para 2011 e 2012 com
vista a garantir a redução do défice
para 3% do PIB em três anos.
O FMI deverá exigir medidas
mais rigorosas do que as actualmente
consideradas pelo Gover-
no grego, uma vez que o seu plano
orçamental a médio prazo padece
do mesmo optimismo que
levou ao adiamento dos ajustamentos
previstos para este ano.
(3) Adoptar medidas estruturais
para repor a competitividade e o
crescimento a médio prazo. Por
outras palavras, o objectivo do
FMI nesta fase é repor a sustentabilidade
da dívida através de
ajustamentos e não de uma reestruturação
forçada da dívida.
3
O GOVERNO GREGO VAI
ACATAR ESTAS MEDIDAS?
Espera-se que o Governo concorde
com estas medidas, visto serem
necessárias para a reposição da
sustentabilidade da dívida a médio
prazo. As declarações do primeiro-ministro
grego, Papandreou,
são preocupantes, em particular
no que respeita às reformas
estruturais e à reposição da competitividade.
Se esta questão se
tornar premente, o FMI poderá
definir um programa mais pequenoecurtoparaajudaraGrécianos
pagamentos de Maio, situação
essa que os investidores devem
encarar com preocupação.
4
EXISTE A POSSIBILIDADE DE
ALGUMA COISA CORRER MAL?
Existe, mas não é provável que
isso venha a acontecer no caso
dos pagamentos em Maio. O empréstimo
do FMI poderá ser suspenso
se o Governo grego não
aceitar as condicionalidades necessárias.
Se assim for, o FMI
O FMI deverá exigir
medidas mais
rigorosas do
que as actualmente
consideradas pelo
Governo grego.
pode acordar um plano que ajude
aGréciaafazerfaceàiminente
crise de liquidez, situação essa
extremamente preocupante no
que respeita à sustentabilidade a
longo prazo. Do lado europeu,
um ou mais parlamentos poderão
recusar-se a aprovar os empréstimos.
Se isso acontecer
num país pequeno, provavelmente
os outros avançarão sem
eles, pelo que o pacote seria proporcionalmente
mais pequeno.
Se isso acontecer num dos quatro
países grandes, então, teremos
em mãos uma crise ainda mais
grave. Nesse caso, a principal vítima
seria o euro.
5
O EMPRÉSTIMO DO FMI ESTÁ
DEPENDENTE DO EMPRÉSTIMO
DA EUROPA E VICE-VERSA?
Legalmente não. Embora o FMI
possa avançar sem os governos
europeus. O contrário seria mais
difícil. Primeiro, porque se mencionou
o envolvimento do FMI
de forma explícita na declaração
da cimeira. Segundo, teria implícito
que as condicionalidades
macroeconómicas do FMI não
eram suficientemente robustas.