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inevitavelmente corroer a legitimidade dos funcionários eleitos e enfraquecer ainda mais<br />
a participação e os valores democráticos na definição de políticas, na eficácia das<br />
instituições públicas e no estado de direito.<br />
A expressão da corrupção de Robert Klitgaard – de que ela é resultado do monopólio do<br />
poder, mais o poder discricionário dos funcionários, menos a responsabilização –<br />
constitui uma rubrica útil para entender a corrupção em Moçambique, onde:<br />
• O poder se encontra altamente concentrado num único partido político e poucos<br />
grupos da sociedade são razoavelmente capazes de contestar esse poder;<br />
• O poder discricionário dos funcionários do Estado não é controlado e o estado de<br />
direito é respeitado apenas minimamente; e<br />
• Existe pouca responsabilização (quando existe) dos funcionários perante os<br />
cidadãos (Klitgaard, Maclean-Abaroa e Parris, 2000).<br />
Embora existam leis e regulamentos no papel que constituem o quadro para uma boa<br />
governação, poucos mecanismos de controlo foram estabelecidos ou funcionam na<br />
prática garantir que este quadro funcione de uma forma honesta, transparente e para o<br />
bem do público.<br />
Esta dinâmica funciona ao nível da elite e administrativo. Contudo, é a grande corrupção<br />
ao nível da elite que define e limita a capacidade até mesmo dos indivíduos corajosos que<br />
pretendem fazer a diferença.<br />
Constituem motivo de preocupação contínua em relação à corrupção em Moçambique as<br />
alegações da possível conivência, ou mesmo envolvimento activo de indivíduos do<br />
governo ou do partido no poder em actividades criminosas, nomeadamente no tráfico de<br />
drogas, lavagem de dinheiro e desvio de fundos públicos. Os assassinatos de pessoas<br />
importantes parecem estar directamente ligados aos esforços de silenciar os que<br />
pretendem desmascarar esta actividade. Esta atmosfera de ilegalidade não melhorou nos<br />
últimos anos e exacerba ainda mais a capacidade reduzida de governação.<br />
A capacidade e a responsabilização serão particularmente importantes num futuro<br />
próximo, à medida que Moçambique for desenvolvendo e expandindo as suas indústrias<br />
de extracção e metalúrgica. O alumínio, a energia, o carvão e o gás natural tornaram-se<br />
recentemente nas novas fontes de receitas de que o país tanto necessita. Elas já<br />
representam mais de 75 por cento das exportações nacionais brutas de Moçambique.<br />
Estas “vacas leiteiras” representam novas oportunidades de corrupção e aumentam o<br />
interesse de controlo por parte do Estado, em especial se estes empreendimentos forem<br />
controlados por poucas empresas ou ministérios. À medida que estas indústrias se vão<br />
expandindo e novas são desenvolvidas, será crucial garantir que o seu funcionamento e as<br />
suas receitas sejam transparentes e conhecidos e que os seus proventos beneficiem todos<br />
os cidadãos de Moçambique.<br />
O uso abusivo dos cargos públicos para ganhos particulares em Moçambique é incitado<br />
por vários factores no ambiente institucional e político, nomeadamente:<br />
RELATÓRIO FINAL 2