Absorvente vira Cartão de Ponto Violência contra A experiência de ...
Absorvente vira Cartão de Ponto Violência contra A experiência de ...
Absorvente vira Cartão de Ponto Violência contra A experiência de ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
EDIÇÃO N 0 3, ANO<br />
<strong>Absorvente</strong><br />
<strong>vira</strong> <strong>Cartão</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>Ponto</strong><br />
<strong>Violência</strong> <strong>contra</strong><br />
ABRIL/MAIO DE 1991<br />
/T -<br />
^l<br />
i ' i i i<br />
" 'SN<br />
1111<br />
| 1 1 M<br />
r~ ~\ i i<br />
1 ; i i<br />
1 1 1 1<br />
-<br />
' ' ' '11<br />
s<br />
A <strong>experiência</strong> <strong>de</strong><br />
^olta para o campo<br />
^
02<br />
NA COZINHA<br />
* A fotógrafa norte-americana Pamela Duffy<br />
apresentou em São Paulo, no final <strong>de</strong> março,<br />
uma exposição com o titulo 'Mulheres Invi-<br />
síveis', na qual retrata um pouco da situa-<br />
ção das empregadas domésticas no Brasil.<br />
Elas somam três milhões, das quais 500 mil<br />
no Estado <strong>de</strong> São Paulo e 300 mil na Gran<strong>de</strong><br />
São Paulo, e são apontadas como a categoria<br />
mais <strong>de</strong>sintegrada do Pais. O entendimento<br />
entre patroa e empregada ainda é regido por<br />
relações pessoais e não profissionais.<br />
* A pesquisadora Patrícia Baird, do Departa-<br />
mento <strong>de</strong> Genética Médica da Universida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> British Columbia (Canadá) que vem <strong>de</strong>-<br />
senvolvendo estudos sobre gravi<strong>de</strong>z tardia,<br />
indica — com dados ainda não conclusivos<br />
—, que está diminuindo a incidência <strong>de</strong> nas-<br />
cimentos <strong>de</strong> crianças com <strong>de</strong>feitos fisicos<br />
congênitos á medida que aumenta a ida<strong>de</strong><br />
da mãe.<br />
* Dados do censo IBGE <strong>de</strong> 1980 indicam que<br />
a mulher negra, incluindo a mulata, repre-<br />
senta 45% da população feminina. Um total<br />
<strong>de</strong> 99% <strong>de</strong>ssas mulheres ganham até cinco<br />
salários-mínimos e 42% têm um ano ou me-<br />
nos <strong>de</strong> instrução, ou seja, são, na sua maio-<br />
ria, mulheres analfabetas. Enfrentam tripla<br />
carga <strong>de</strong> opressão por serem negras, mulhe-<br />
res e pertencerem às camadas mais pobres<br />
da população.<br />
* Em circulação, em todo o País, a publica-<br />
ção 'ABC DO ESTATUTO' - uma síntese do<br />
Estatuto da Criança e do Adolescente com<br />
dados especiais para cidadãos-estadistas. O<br />
ABC, uma espécie <strong>de</strong> cartilha com 16 pági-<br />
nas, foi organizado pelo advogado Edson Se-<br />
da, assessor técnico do Centro Brasileiro pa-<br />
ra a Infância e a Adolescência e membro da<br />
comissão redatora do Estatuto.<br />
* A Universida<strong>de</strong> do Amazonas e a CUT/AM<br />
realizarão, nos dias 31 <strong>de</strong> maio e I o <strong>de</strong> ju-<br />
nho, no mini-campus, o seminário 'A UNI-<br />
VERSIDADE E OS TRABALHADORES'.<br />
* No mês <strong>de</strong> julho, a CUT/AM realizará o 4 o<br />
Encontro Estadual <strong>de</strong> Trabalhadores, cujo<br />
tema central versará sobre 'Meio Ambiente<br />
e os Trabalhadores'.<br />
* O Banco Mundial estima que cerca <strong>de</strong> 630<br />
milhões <strong>de</strong> pessoas pobres em todo o Mun-<br />
do não têm uma alimentação saudável. Os<br />
1,25 bilhão <strong>de</strong> humanos que comem carne<br />
consomem três vezes mais gordura por pes-<br />
soa do que os restantes quatro bilhões. O<br />
Brasil consumiu, no ano passado, 22 quilos<br />
<strong>de</strong> carne vermelha por cabeça — um quilo a<br />
mais que a China, que tem uma população<br />
muito maior. Cada alemão e cada america-<br />
no consumiu, respectivamente, 96 e 76 qui-<br />
los <strong>de</strong> carne vermelha.<br />
* Ao confrontar a mulher, o homem<br />
confronta-se a si próprio num espelho on<strong>de</strong><br />
a imagem não aparece e é claro, que esta la-<br />
cuna <strong>de</strong>le próprio, seu anverso freudiano,<br />
vai incomodá-lo até que, sabe-se lá que dia,<br />
ele ren<strong>de</strong>rá a fobia da razão à plenitu<strong>de</strong> do<br />
sentimento — trecho do artigo 'Dia Interna-<br />
cional da Mulher — mulher: no tempo e no<br />
espaço' —, da presi<strong>de</strong>nte da Associação Bra-<br />
sileira das Mulheres <strong>de</strong> Carreira Jurídica —<br />
Comissão do Amazonas, Alvarina Miranda<br />
<strong>de</strong> Almeida.<br />
ART-MULHERES<br />
A linha <strong>de</strong> fronteira caiu<br />
No início <strong>de</strong> março, mulheres<br />
trabalhadoras dos Estados que<br />
formam a parte oci<strong>de</strong>ntal da<br />
Amazônia estiveram reunidas<br />
em Manaus. Pela primeira vez, o<br />
grupo, em torno <strong>de</strong> 40 mulheres,<br />
reunia-se além das fronteiras es-<br />
taduais, para discutir e apontar<br />
saídas aos seus gran<strong>de</strong>s proble-<br />
mas. Entre o <strong>de</strong>sfile <strong>de</strong> <strong>de</strong>nún-<br />
cias — <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o controle para ir<br />
ao banheiro, feito por empresas<br />
do Distrito Industrial da Zona<br />
Franca <strong>de</strong> Manaus, passando<br />
pela coerçáo dos chefes imedia-<br />
tos, até à imposição oficiosa pa-<br />
ra tornarem-se estéreis —, o en-<br />
contro viabilizou o início <strong>de</strong><br />
uma articulação capaz <strong>de</strong> revi-<br />
gorar o movimento feminista na<br />
região e, com esse revígoramen-<br />
to, encurtar a distância entre a<br />
<strong>de</strong>núncia, a averiguação e a pu-<br />
nição <strong>de</strong> tantos crimes cometi-<br />
dos <strong>contra</strong> a mulher amazônica.<br />
O caminho, entretanto, é um<br />
<strong>de</strong>safio difícil, pela própria his-<br />
tória do movimento feminista<br />
na região e os estágios que ora<br />
experimenta nas suas mais di-<br />
versas concepções. Cabe às mu-<br />
lheres militantes, principalmen-<br />
te, a tarefa <strong>de</strong> dar saltos mais<br />
consistentes, indo além <strong>de</strong> arti-<br />
culação da conveniência,<br />
negando-se a exercitar o papel<br />
anônimo <strong>de</strong> tarefeira sindical,<br />
que a impe<strong>de</strong> <strong>de</strong> avançar na sua<br />
própria luta e somar, <strong>de</strong> fato, pa-<br />
ra Q avanço da luta <strong>de</strong> todos os<br />
trabalhadores. Algumas entida-<br />
<strong>de</strong>s sindicais estão começando a<br />
criar os seus <strong>de</strong>partamentos fe-<br />
mininos o que, <strong>de</strong> um lado, re-<br />
presenta um significativo espa-<br />
ço para a atuação mais ousada<br />
da mulher filiada e, <strong>de</strong> outro, ca-<br />
so a força feminina não perceba<br />
o seu papel nesse contexto, ser-,<br />
virá tão somente para entulhar<br />
papéis, evitar o chavão <strong>de</strong> ma-<br />
chistas às diretorias sindicais e<br />
garantir mão-<strong>de</strong>-obra para a ela-<br />
boração <strong>de</strong> tarefas imediatas.<br />
Ao mergulhar em suas histórias<br />
pessoais e coletivas, esse grupo<br />
<strong>de</strong> mulheres teve a chance <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>scobrir que é preciso ir muito<br />
MULHERES PARLAMENTARES NA COMUNIDADE<br />
EUROPÉIA<br />
Total %<br />
ftob Miilh«r«s ramlnino<br />
■<br />
■<br />
Dinamarca 17?<br />
56<br />
31,3<br />
Holanda 150 38 25,3<br />
■■■■:-V-;:-::<br />
Alwnemha<br />
Itália<br />
m<br />
630<br />
135<br />
82<br />
20,3<br />
13,0<br />
E$portho<br />
4$<br />
13.0<br />
* Luxemburgo 64 8 12,5<br />
«MM<br />
Bélgica<br />
Irlanda<br />
Grã-Bretanha<br />
frança<br />
Grécia<br />
250<br />
212<br />
m<br />
650<br />
m<br />
300<br />
<br />
18<br />
13<br />
44<br />
33<br />
14<br />
10,0<br />
8.5<br />
7JS<br />
6,7<br />
4,7<br />
O jornal ART-MULHERES é uma publicação<br />
bimensal <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> do grupo -<br />
ARTICULAÇÃO DE MULHERES DO<br />
AMAZONAS. Os artigos assinados sáo <strong>de</strong><br />
inteira responsabilida<strong>de</strong> dos autores. É<br />
permitida a reprodução total ou parcial das<br />
matérias, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que citada a fonte.<br />
Jornalista responsável — Ivânia Vieira (Reg.<br />
Prof. n o 10)<br />
Redatores: Terezinha Patrícia Viana (Reg.<br />
Prof. n 0 287)<br />
Rosha (Reg. Prof. n 0 199)<br />
Marcus Stoyanovith<br />
Fotógrafo: João Luiz<br />
Diagramação: Rosário Reis (Reg. Prof. n 0 148)<br />
Fotocomposição: Mara Hidaka<br />
Revisão: Edson Mello (Reg. Prof. n 0 125)<br />
En<strong>de</strong>reço para correspondência: Rua 47,<br />
- Casa 953, Conjunto 31 <strong>de</strong> Março - CEP .<br />
69068 — Japiim I — Manaus/Am.<br />
4k<br />
mais longe, carregar um fardo<br />
maior e mais pesado do que as<br />
'ban<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> luta' dos trabalha-<br />
dores; resgatar o sentimento da<br />
solidarieda<strong>de</strong>, completamente<br />
engolido pela violência pratica-<br />
da em todos os espaços da socíe- 1<br />
da<strong>de</strong>; e criar o respeito por si e<br />
por seus pares. Não é fácil. Entre<br />
os filhos, a tensão pré-<br />
menstrual, a roupa para lavar e<br />
passar, as atribuições sindicais,<br />
e à busca da sobrevivência ter-<br />
mina ppr optar por aquilo que,<br />
inconscientemente, é mais tra-<br />
dicional. Porém, é nessa articu-<br />
lação, que resi<strong>de</strong> o futuro do<br />
movimento e, não apenas <strong>de</strong>le,<br />
mas <strong>de</strong> todas as lutas nele em-<br />
butidas. Não é só o combate a in-<br />
flação, a geração <strong>de</strong> mais empre-<br />
gos e <strong>de</strong> mais moradias; é, tam-<br />
bém, a dignida<strong>de</strong> do homem, da<br />
criança, a paternida<strong>de</strong> respon-<br />
sável, o prazer sexual comparti-<br />
lhado, o carinho. Isso tudo junto<br />
representa VIDA e já não se po-<br />
<strong>de</strong>, como mulher, apoiar proje-<br />
tos que não contemplem a sua<br />
própria dignida<strong>de</strong> humana.<br />
REGISTRO<br />
A equipe responsável pela<br />
produção do ART-<br />
MULHERES recebeu uma<br />
verda<strong>de</strong>ira injeção <strong>de</strong> ânimo<br />
<strong>de</strong> leitores dos mais diversos<br />
locais do País. Todos eles<br />
nos parabenizam pela con-<br />
cretização do jornal e nos es-<br />
timulam a prosseguir, mes-<br />
mo com o 'mar <strong>de</strong> dificulda-<br />
<strong>de</strong>s' que enfrentamos para<br />
garantir publicações <strong>de</strong>ste<br />
tipo. Registramos e agra<strong>de</strong>-<br />
cemos o apoio <strong>de</strong> Cleusa Ma-<br />
ria Corrêa, Luíza <strong>de</strong> Marilac,<br />
Terezinha, Wilson Nogueira,<br />
D. Clóvis Frainer, Guarace-<br />
ma Tupinambá, Flávia Car-<br />
neiro, D. José Rodrigues <strong>de</strong><br />
Souza e Severino Ribeiro <strong>de</strong><br />
Amorím. Vamos em frente!
ART-MULHERES 03<br />
Empresas exigem<br />
ponto biológico<br />
para operárias<br />
As quase três mil operárias das<br />
fábricas <strong>de</strong> castanha em Belém<br />
(PÁ) são, anualmente, submeti-<br />
das a um ritual, no mínimo, in-<br />
concebível <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um país,<br />
cujo governo tem como meta<br />
fazê-lo sentar-se á mesa dos pai<br />
ses do Primeiro Mundo. Só são<br />
admitidas nessas fábricas se<br />
comprovarem que estão<br />
menstruadas.<br />
'São mulheres acima dos 30<br />
anos que não têm nenhuma<br />
qualificação profissional e vi-<br />
vem em um nível <strong>de</strong> extrema<br />
pobreza, daí se submeterem a<br />
tal constrangimento', revela a<br />
presi<strong>de</strong>nte da Comissão Provisó-<br />
ria do Movimento <strong>de</strong> Mulheres<br />
do Campo e da Cida<strong>de</strong>, Elisety<br />
Veiga Maia, 25 anos, há três par-<br />
ticipando do MMCC. 'Essas mu-<br />
lheres trabalham por produção,<br />
com uma jornada que tem iní-<br />
cio às 4h30min da madrugada e<br />
encerra-se ás 19 horas, com in-<br />
tervalo <strong>de</strong> uma hora para o al-<br />
moço. Recebem um salário-<br />
mínímo, pago por semana, com<br />
um <strong>contra</strong>to <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> no-<br />
ve meses', explica..<br />
Em Belém, segundo Elisety,<br />
existem cinco fábricas <strong>de</strong> casta-<br />
nha. As mulheres são convoca-<br />
das para <strong>de</strong>scascar e selecionar<br />
as castanhas, com uma média<br />
<strong>de</strong> produção <strong>de</strong> 16 quilos/dia<br />
(somente castanhas inteiras) du-<br />
rante a safra. O cadastramento<br />
ou o '<strong>contra</strong>to' entre a empresa e<br />
a operária só é feito mediante a<br />
certeza <strong>de</strong> que a mulher está<br />
menstruada ou tenha sido este-<br />
rilizada. Com tais cuidados, as<br />
empresas livram-se do 'fantas-<br />
ma' da gravi<strong>de</strong>z e, consequente-<br />
mente, <strong>de</strong> alguns<br />
compromissos.<br />
'A família Mutran domina a<br />
produção <strong>de</strong> castanha nos Esta-<br />
dos do Pará, Acre, Amazonas e<br />
até na Bolívia. 90% do que é pro-<br />
duzido pelos castanhais da re-<br />
gião, são adquiridos por essa fa-<br />
mília', comenta Elisety Veiga<br />
Maia.<br />
CHAVÕES E SUBMISSÃO<br />
Finalista do curso <strong>de</strong> História,<br />
da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Pa-<br />
rá, e responsável pelo serviço <strong>de</strong><br />
assessoria às operárias da casta-<br />
nha, <strong>de</strong>ntro do Sindicato dos<br />
Trabalhadores em Alimentação,<br />
Elisety não vislumbra gran<strong>de</strong>s<br />
avanços na luta da mulher na<br />
Amazônia. 'Gran<strong>de</strong> parte dos<br />
municípios amazônicos é rural,<br />
on<strong>de</strong> a socieda<strong>de</strong> se caracteriza<br />
pelo patriarcado e, neste contex-<br />
to, a mulher amazônica ainda é<br />
muito dominada', aponta.<br />
Animada com o MMCC, Elisety<br />
acha, entretanto, que passou a<br />
hora <strong>de</strong> cruzar os braços e che-<br />
gou o momento <strong>de</strong> investir na<br />
luta. 'É verda<strong>de</strong> que nós, mulhe-<br />
res, continuamos a fazer os ser-<br />
viços domésticos <strong>de</strong>ntro dos sin-<br />
éà '0 monopdllo da produção do casta-<br />
nha impe<strong>de</strong> avanços sociais'.<br />
dicatos e isso só vai mudar se<br />
quisermos efetivamente que<br />
mu<strong>de</strong>. É possível apontar avan-<br />
ços, mas temos que reconhecer<br />
que eles são pequenos. Na Ama-<br />
zônia, o nossos atraso é tão<br />
gran<strong>de</strong> quanto o tamanho da re-<br />
gião', sentencia.<br />
'Muitos dos nossos companhei-<br />
ros, equivocados, preferem <strong>de</strong>-<br />
nominar as reuniões <strong>de</strong> mulhe-<br />
res como clube da luluzlnha, clube<br />
<strong>de</strong> fofoca, ou nos i<strong>de</strong>ntificar co-<br />
mo mulheres mal amadas, isso —<br />
exemplifica —, é um dos ranços<br />
do atraso'. Ela cita, ainda, a 'ex-<br />
cessiva' presença masculina na<br />
direção das entida<strong>de</strong>s sindicais<br />
e observa: 'Nós temos que ir pa-<br />
Elisety ff<br />
ra a briga, com inteligência e<br />
<strong>de</strong>terminação'.<br />
Para a presi<strong>de</strong>nte do MMCC, al-<br />
gumas 'questões urgentes' estão<br />
a exigir respostas, a curto prazo,<br />
<strong>de</strong> mulheres e homens. 'Nós te-<br />
mos dados <strong>de</strong> que a gran<strong>de</strong> par-<br />
te das filhas dos camponeses as-<br />
sassinados no Pará está cami-<br />
nhando para a prostituição', <strong>de</strong>-<br />
nuncia, citando o trabalho da gi-<br />
necologista Suzy Serruia, que<br />
<strong>de</strong>senvolve uma tese <strong>de</strong> mestra-<br />
do sobre 'A Mulher na Amazô-<br />
nia'. 'A prostituição vem sendo<br />
uma das saídas para a mulher<br />
amazônica. Nós temos que bus-<br />
car alternativas mais dignas e<br />
enten<strong>de</strong>r claramente o que se<br />
passa neste momento',<br />
conclama.
04 ART-MULHEBES<br />
Des<strong>de</strong> março do ano passado a<br />
Previdência Social vem <strong>de</strong>sen-<br />
volvendo em Manaus o Plane-<br />
jamento Familiar como parte <strong>de</strong><br />
Programa <strong>de</strong> Atenção à Saú<strong>de</strong> da<br />
Mulher, nos postos da rua Codajás,<br />
Cachoeirinha, e av. Getúlio Vargas,<br />
centro, além <strong>de</strong> centros <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> alguns bairros. Cerca <strong>de</strong> 80%<br />
das mulheres não conhecem o pró-<br />
prio corpo e consequentemente<br />
não sabem como acontece a gravi-<br />
<strong>de</strong>z, observa a assistente social Ro-<br />
seli Ramalho <strong>de</strong> Faria Men<strong>de</strong>s, que<br />
trabalha com Planejamento Fami-<br />
liar no PAM-Cachoeirinha.<br />
Às segundas e quartas-feiras Rose-<br />
li faz palestras mostrando que 'o<br />
amor íaz parte da vida <strong>de</strong> todos<br />
nós, em diferentes ida<strong>de</strong>s e situa-<br />
ções. Ter ou não ter filhos como re-<br />
sultado do amor é uma escolha<br />
que todas as pessoas adultas po-<br />
<strong>de</strong>m fazer, mas a <strong>de</strong>cisão é difícil.<br />
Pouco sabemos do nosso corpo e o<br />
direito <strong>de</strong> escolha nem sempre é<br />
respeitado'.<br />
Através <strong>de</strong> cartazes os participan-<br />
tes das palestras tomam conheci-<br />
mento <strong>de</strong> como é o corpo da mu-<br />
lher e do homem, como ocorre a<br />
gravi<strong>de</strong>z; <strong>de</strong>pois são apresentadas<br />
alternativas para quem não quer<br />
ter filhos. Uma <strong>de</strong>las é a mulhei<br />
não ter relações sexuais no seu pe-<br />
ríodo fértil, ou apelar para os mé-<br />
todos anticoncepcionais on<strong>de</strong> es-<br />
tão incluídas as pílulas, espermíci-<br />
das, diafragma e DIU-Disposítivo<br />
Intro-Uterino.<br />
Após a palestra há o atendimento<br />
individual pela assistente social<br />
que encaminha as mulheres para<br />
exames ginecológico e colpocitoló-<br />
gico (preventivo). É o médico quem<br />
Mulheres cutistas pousa-<br />
ram no 8 <strong>de</strong> março em<br />
Manaus. Representan-<br />
tes <strong>de</strong> sindicatos e movimen-<br />
tos populares da Amazônia<br />
Ociaental participaram das<br />
ativida<strong>de</strong>s da Semana da<br />
Mulher <strong>de</strong>sconhece<br />
seu próprio corpo<br />
vai dizer, após o exame, qual o mé-<br />
todo mais indicado, uma vez que<br />
todos eles têm suas vantagens e<br />
<strong>de</strong>svantagens, enfatiza Roseli Men-<br />
<strong>de</strong>s. Dos métodos artificiais o mais<br />
popular ainda é a pílula anticon-<br />
cepcional, mas muitas mulheres<br />
chegam mesmo preten<strong>de</strong>ndo fazer<br />
a ligadura <strong>de</strong> trompas (laqueadu-<br />
ra) por acharem que esta é a ma-<br />
neira mais segura <strong>de</strong> não ter filhos.<br />
Um outro dado interessante é que<br />
a tarefa <strong>de</strong> controlar o número <strong>de</strong><br />
filhos ainda é quase que exclusíva-<br />
Mulher, organizada pela<br />
CUT/AM, com apoio <strong>de</strong> várias<br />
entida<strong>de</strong>s. À noite, na Praça<br />
da Polícia, homens e crian-<br />
ças iuntaram-se às mulheres<br />
na luta pela vida, <strong>contra</strong> a<br />
guerra.<br />
mente da mulher.<br />
MÉTODOS NATURAIS<br />
As mulheres que preferem utilizar<br />
os métodos naturais para não en-<br />
gravidar são orientadas pela enfer-<br />
meira Ester Bárbara, no PAM-<br />
Cachoeirinha. Dentre os. métodos<br />
naturais há a tabela, o método do<br />
Billíngs e o da temperatura, ne-<br />
nhum <strong>de</strong>les faz mal a saú<strong>de</strong>, mas<br />
seu funcionamento exige<br />
disciplina.<br />
A tabela é um método que ajuda a<br />
mulher a <strong>de</strong>scobrir o seu período<br />
fértil, através do controle dos dias<br />
<strong>de</strong> seu ciclo menstrual, mas não é<br />
recomendado para mulheres ado-<br />
lescentes que ainda não têm um<br />
ciclo regular, às mulheres que aca-<br />
baram <strong>de</strong> parir ou abortar, que pa-<br />
raram recentemente <strong>de</strong> tomar pílu-<br />
la, que acabaram <strong>de</strong> tirar o DIU,<br />
em processo <strong>de</strong> menopausa ou que<br />
estão amamentando.<br />
Billíngs é um método que indica a<br />
época do dclo menstrual erri que a<br />
mulher po<strong>de</strong> ficar grávida (período<br />
da ovolução) e para isso ela <strong>de</strong>ve<br />
observar diariamente o muco. O<br />
método é seguro quando bem<br />
compreendido e praticado, e é<br />
bom para quem está amamentan-<br />
do, mas exige observações cons-<br />
tantes e um período <strong>de</strong> aprendiza-<br />
gem. O terceiro método é o da tem-<br />
peratura, que ajuda a conhecer a<br />
época do ciclo menstrual em que a<br />
mulher po<strong>de</strong> ficar grávida, através<br />
da tomada diária da temperatura<br />
do corpo.<br />
Antes <strong>de</strong> iniciar qualquer um <strong>de</strong>s-<br />
ses métodos, a mulher precisa sa-<br />
ber se o seu ciclo é curto, médio ou<br />
longo. Isso é feito com a ajuda da<br />
enfermeira que fornece todas as<br />
informações necessárias. Após as<br />
dificulda<strong>de</strong>s iniciais surgem as<br />
vantagens, como a <strong>de</strong> conhecer<br />
melhor o corpo, além <strong>de</strong> nenhum<br />
<strong>de</strong>les representar risco à saú<strong>de</strong>. E<br />
seja qual for o método indicado, a<br />
mulher recebe o material necessá-<br />
rio inteiramente gratuito. São<br />
clientes do Planejamento Familiar<br />
mulheres na faixa etária <strong>de</strong> 16 a 40<br />
anos.
H<br />
ART-MULHERES 05<br />
* Cinco milhões <strong>de</strong> crianças <strong>de</strong> menos <strong>de</strong> cinco<br />
anos — do Iraque, Kuwait, Jordânia, lêmen e<br />
dos territórios árabes ocupados por Israel —,<br />
formarão uma geração perdida <strong>de</strong>vido às con-<br />
seqüências da <strong>de</strong>struição dos sistemas <strong>de</strong> Edu-<br />
cação, Saú<strong>de</strong> e fornecimento <strong>de</strong> alimentos. A<br />
<strong>de</strong>núncia foi formulada pelo chefe do Departa-<br />
mento <strong>de</strong> Oriente Médio do Fundo da ONU pa-<br />
ra a infância (UNICEF), Richard Reid (Jornal do<br />
Brasil, março).<br />
* A dona-<strong>de</strong>-casa Rosângela Novais dos Santos,<br />
<strong>de</strong> 27 anos, foi con<strong>de</strong>nada a um ano <strong>de</strong> <strong>de</strong>ten-<br />
ção, pelo juiz do Tribunal <strong>de</strong> Justiça do Distrito<br />
Fe<strong>de</strong>ral, Gilberto <strong>de</strong> Souza Sá, por ter se subme-<br />
tido a um aborto, no dia 10 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong><br />
1986. Em quase <strong>de</strong>z anos, Rosângela foi a única<br />
mulher a sentar no banco dos réus por prática<br />
<strong>de</strong> aborto. A con<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> Rosângela provo-<br />
cou protesto <strong>de</strong> grupos feministas <strong>de</strong> Brasília<br />
(O Estado <strong>de</strong> São Paulo, março).<br />
* O professor Derrick Bell foi indicado para re-<br />
ceber o prêmio 'Feminista do Ano', patrocina-<br />
do por uma entida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Arlington, nos EUA, a<br />
Fundação pela Maioria Feminista. Bell se recu-<br />
sou a dar aulas na Escola <strong>de</strong> Direito <strong>de</strong> Harvard<br />
até que fosse <strong>contra</strong>tada professora que <strong>de</strong>fen-<br />
<strong>de</strong> as minorias americanas (Istoe Senhor,<br />
janeiro).<br />
* A faxineira Maria das Graças da Conceição,<br />
31 anos — que ficou cega, muda, com as pernas<br />
e mãos paralisadas após uma cesariana, na Ca-<br />
sa <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> e Maternida<strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> Agosto, em<br />
Belford Roxo (Baixada Fluminense) —, entrou<br />
com ação ordinária na Justiça Fe<strong>de</strong>ral <strong>contra</strong> o<br />
INSS (Instituto Nacional <strong>de</strong> Segurida<strong>de</strong> Social)<br />
exigindo in<strong>de</strong>nização <strong>de</strong> Cr$ 200 milhões, cin-<br />
co salários-minimos por mês durante todo o<br />
tempo <strong>de</strong> vida que lhe resta e outros ressarci-<br />
mentos por danos morais. Maria das Graças<br />
que chegou a ficar com um pedaço <strong>de</strong> dreno na<br />
barriga, tem três filhos menores (Jornal do Bra-<br />
sil, fevereiro).<br />
* A <strong>de</strong>putada Lúcia Souto (PDT) apoiada por<br />
mais quatro <strong>de</strong>putados, anunciou que vai pe-<br />
dir a abertura <strong>de</strong> uma Comissão Parlamentar<br />
<strong>de</strong> Inquérito (CPI) para apurar as responsabili-<br />
da<strong>de</strong>s pelo elevado indice <strong>de</strong> esterilização <strong>de</strong><br />
mulheres no Brasil. (Amazonas Em Tempo,<br />
março).<br />
* O feminismo alcançou a Zona Norte, a Zona<br />
da Mata, o Território das Missões, o ABC,<br />
embrenhou-se pelo interior do País e convive,<br />
também, coní as palafitas nas favelas. Está nos<br />
mutirões do sem teto e dos sem terfa. Há mu-<br />
lheres organizadas em todo o País, mesmo que<br />
a l"ta por uma existência mais digna não seja<br />
alar<strong>de</strong>ada nas manchetes dos jornais e exija<br />
ainda muitos esforços (Suplemento IDÉIAS, Jor-<br />
nal do Brasil, março).<br />
* Para o DIAP (Departamento Inter-sindical <strong>de</strong><br />
Assessoria Parlamentar) a última campanha<br />
eleitoral 'foi a mais cara da história do País,<br />
com 80 <strong>de</strong> seus candidatos gastando acima <strong>de</strong><br />
US$ 1 milhão, ou Cr$ 83 milhões (ao câmbio co-<br />
mercial da época). Só para a Câmara, o po<strong>de</strong>r<br />
econômico elegeu diretamente mais <strong>de</strong> 200<br />
empresários'. (Amazonas Em Tempo, janeiro).<br />
\<br />
'Eu queria ser livre, trabalhar, estudar,<br />
dividir as tarefas domésticas, mas sei<br />
que se fosse assim sobraria mais para mim;<br />
além disso, não tenho on<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar<br />
meus filhos'. Maria Raimundo<br />
Souza, dona-<strong>de</strong>-casa.<br />
Fisgada pela militância<br />
Há cinco anos a mineira Matil<strong>de</strong><br />
Oliveira <strong>de</strong> Araújo Lima <strong>de</strong>sem-<br />
barcou em Rondônia, acompanha-<br />
da pelos pais e os irmãos. A família en-<br />
contro" na Amazônia uma alternativa<br />
<strong>de</strong> recomeçar suas ativida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>pois<br />
<strong>de</strong> o pai ter <strong>contra</strong>ído um empréstimo<br />
que o fez ven<strong>de</strong>r tudo que tinha em<br />
Men<strong>de</strong>s Pímentel (MG). Em Ouro Preto,<br />
um dos tantos projetos <strong>de</strong> colonização<br />
implantados em Rondônia, o pai <strong>de</strong><br />
Matil<strong>de</strong> comprou 17 alqueires <strong>de</strong> terra<br />
e lá enfincou a ban<strong>de</strong>ira da sobrevi-<br />
vência, com o apoio <strong>de</strong> nove dos seus<br />
onze filhos — dois permaneceram em<br />
Minas. Matil<strong>de</strong>, á época, noiva '<strong>de</strong><br />
aliança e tudo' com um mineiro, só es-<br />
perava a hora do casamento para co-<br />
meçar (a sua) vida nova. 'Meu noivo di-<br />
zia: quando a gente casar você não pre-<br />
cisará trabalhar mais, e eu concorda-<br />
va', relembra sorrindo, para <strong>de</strong>pois co-<br />
mentar: 'Eu não me conheço'. Esta fra-<br />
se, ela repete sempre como se procu-<br />
rasse estabelecer o fim <strong>de</strong> uma mulher<br />
e o começo <strong>de</strong> outra. É sobre este pro-<br />
cesso que Matil<strong>de</strong>, pequena, olhar agu-<br />
çado e gestos rápidos, fala nesta<br />
entrevista:<br />
P — Como você <strong>de</strong>scobriu a<br />
militância?<br />
R — Antes, eu era cheia <strong>de</strong> frescuri-<br />
nhas. Um dia, em Ouro Preto, aconte-<br />
ceu uma reunião nas linhas (o mesmo<br />
que glebas, on<strong>de</strong> os trabalhadores ru-<br />
rais <strong>de</strong>senvolvem ativida<strong>de</strong>s). Nessa<br />
reunião, falaram sobre partidos políti-<br />
cos, sindicatos e a importância da mu-<br />
lher nestes setores. Eu fui pescada<br />
num <strong>de</strong>sses encontros. As companhei-<br />
ras falavam que eu fiz muitas pergun-<br />
tas, eu não me lembro disso e, em se-<br />
guida, já estava fazendo parte da coor-<br />
<strong>de</strong>nação, promovendo reuniões em ou-<br />
tras linhas. Não parei mais.<br />
P — E a mudança em sua vida, como<br />
se <strong>de</strong>u?<br />
R — Levei o maior choque quando che-<br />
guei a Ouro Preto. Do local on<strong>de</strong> ficava<br />
o terreno do meu pai até a se<strong>de</strong> do mu-<br />
nicípio tínhamos que andar 36 km. Tá<br />
certo que Men<strong>de</strong>s Pímentel era muito<br />
atrasada, o primeiro posto telefônico<br />
foi colocado em 1990. Mas, em Ouro<br />
Preto era tudo muito diferente. Nós<br />
sentíamos muitas sauda<strong>de</strong>s dos nos-<br />
sos amigos, dos nossos passeios, da<br />
nossa vidinha. Entretanto, nunca<br />
questionamos os nossos pais, talvez<br />
entendêssemos que era preciso fazer o<br />
que estávamos fazendo.<br />
P — E no sindicato?<br />
R — Na minha cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> origem o sin-<br />
dicato era muito atrasado. Em Ouro<br />
Preto, pela primeira vez, vi e ouvi uma<br />
mulher falar sobre partido político e<br />
sindicato. No ano seguinte, 1986, me fi-<br />
liei ao PT. Hoje, sou secretária do Sindi-<br />
cato dos Trabalhadores Rurais <strong>de</strong> Ouro<br />
Preto e secretária <strong>de</strong> Organização do<br />
Departamento Rural da CUT/Rondônia.<br />
P — Você falou <strong>de</strong> um noivo, em Mi-<br />
nas Gerais, como ficou essa história?<br />
R — Umâ re<strong>vira</strong>volta danada. Conheci<br />
Zé Pinto (José Pinto <strong>de</strong> Lima, atual com-<br />
panheiro <strong>de</strong> Matil<strong>de</strong>), mas o namoro só<br />
começou em 87. Até então, estávamos<br />
juntos nas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> militância.<br />
Era encontro pra lá e pra cá. Meu noivo<br />
não entendia o meu comportamento.<br />
Eu, também, não tinha muito claro<br />
porque me metia nas tarefas, sabia,<br />
simplesmente, que era uma coisa certa<br />
e gostosa. Não consegui explicar para o<br />
noivo e ele foi embora. Eu continuei. O<br />
fim do noivado me <strong>de</strong>u a sensação <strong>de</strong><br />
tirar enorme peso das costas, e o namo-<br />
ro com Zé Pinto, o direito <strong>de</strong> experi-<br />
mentar a felicida<strong>de</strong>. A vida é dura, po-<br />
rém, eu sou feliz ao lado do meu<br />
companheiro.<br />
P — A Matil<strong>de</strong> companheira do Zé Pin-<br />
to, quer ter filhos?<br />
R — Nós temos uma 'vonta<strong>de</strong> imensa<br />
<strong>de</strong> ter filhos, e eu acho que ser mãe é<br />
uma coisa gostosa. Entretanto, existem<br />
alguns aspectos para serem refletidos:<br />
o meu salário é <strong>de</strong> um mínimo. Nos úl-<br />
timos seis meses ficamos sem receber<br />
nada. Numa situação <strong>de</strong>ssa, é muito di-<br />
fícil ter filhos. Nós agüentamos ficar, o<br />
dia inteiro, sem comer, e as crianças?<br />
Por outro lado, temos as tarefas para<br />
cumprir. Nosso barraco fica a 16 km da<br />
se<strong>de</strong> do município. Como po<strong>de</strong>ríamos<br />
<strong>de</strong>ixar a criança? Essa realida<strong>de</strong> com-<br />
plica o nosso sonho.<br />
P — Você acha que a mulher já alcan-<br />
çou o seu espaço, por exemplo, <strong>de</strong>ntro<br />
do sindicato? Como se dá essa presen-<br />
ça em Rondônia?<br />
R — É muito pequena em quantida<strong>de</strong>,<br />
mas se <strong>de</strong>staca em qualida<strong>de</strong>. Vejo que<br />
as companheiras quando <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>m-se a<br />
participar, <strong>de</strong>sempenham bem o seu<br />
papel. Por outro lado, ainda vejo muita<br />
mulher se preocupar em saber o que<br />
os homens vão pensar <strong>de</strong>las. Isso é<br />
ruim. Eu acho que temos <strong>de</strong> participar,<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do que eles pensam. Eu<br />
faço o meu papel.<br />
P — No sindicato, você sente que há<br />
respeito pela mulher?<br />
K — Não. E a gente percebe o quanto as<br />
coisas são complicadas no meio urba-<br />
no. No rural, os companheiros respei-<br />
tam mais, há mais solidarieda<strong>de</strong>. Pen-<br />
so, contudo, que o respeito pela mu-<br />
lher, não se conquistará apenas com<br />
as leis, mas com uma educação dife-<br />
rente. O homem foi educado para cor-<br />
rer atrás da mulher e estuprá-la, e nós<br />
para sermos submissas. O homem tem<br />
que apren<strong>de</strong>r a ter um relacionamento<br />
humano, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> qualquer<br />
coisa e cabe, também, às mulheres<br />
contribuir para que esse novo homem<br />
seja construído.<br />
P — Um tema — a sexualida<strong>de</strong> —, tem<br />
<strong>de</strong>spertado o interesse das mulheres.<br />
Na militância empreendida por vocês,<br />
há espaço para ele?<br />
R — Em Rondônia, lá em Ouro Preto,<br />
temos cinco companheiras com as<br />
quais discutimos esse assunto. Nós te-<br />
mos problemas e tabus, sentimos ne-<br />
cessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprofundar o tema que<br />
acaba sendo atropelado por outros.<br />
Nós insistimos. A liberda<strong>de</strong> da mulher<br />
passa por aí. O que é ter prazer sexual?<br />
Se eu e meu companheiro nos relacio-<br />
namos bem no sindicato, no partido<br />
político, mas na cama não consegui-<br />
mos socializar o prazer, então não esta-<br />
mos crescendo, algo está errado.<br />
P — Você acha que aumentou a disputa<br />
entre homens e mulheres? Ou há<br />
con<strong>de</strong>scendência?<br />
R — É perigoso que algumas compa-<br />
nheiras caiam na besteira <strong>de</strong> culpar os<br />
homens por não terem espaços. Nem<br />
homens, nem mulheres, aevem apro-<br />
var alguma proposta — seja <strong>de</strong> homem<br />
ou <strong>de</strong> mulher —, se esta não for a me-<br />
lhor proposta. Nós precisamos nos ca»<br />
pacitar, se náo vamos continuar dizen-<br />
do sim ou não simplesmente. Esta histó-<br />
ria <strong>de</strong> dizer que não faz nada porque os<br />
homens não <strong>de</strong>ixam, ou porque são<br />
maioria no sindicato, é <strong>de</strong>sculpa, é<br />
comodismo.<br />
P — A militância feminina no meio ru-<br />
ral é mais complicada?<br />
R — Eu achava que sim. Agora, penso<br />
que a mulher, na cida<strong>de</strong>, tem uma bri-<br />
ga bem maior e muito mais diversifica-<br />
da. Veja uma coisa, nós no meio rural,<br />
não estamos muito preocupadas com<br />
as tendências, mas com o movimento<br />
sindical e as nossas conquistas. Na ci-<br />
da<strong>de</strong>, a coisa é mais complicada.
06 ART-MULHERES<br />
Maria Emílio Martins Mestrínho, 43<br />
anos, divi<strong>de</strong> com o <strong>de</strong>putado Se-<br />
bastião Reis a Secretaria <strong>de</strong> Esta-<br />
do do Trabalho e Ação Comunitária.<br />
Maria Emilia, que é a primeira dama<br />
do Amazonas, cuida da Ação Social,<br />
coor<strong>de</strong>nando e integrando todos os ór-<br />
gãos da área social. No dia da posse ela<br />
anunciou que suas linhas <strong>de</strong> ação se-<br />
riam baseadas no trabalho, na <strong>de</strong>dica-<br />
ção e no bem servir. Ela nasceu em<br />
Braga, Portugal, e chegou ao Rio <strong>de</strong> Ja-<br />
neiro, aos 18 anos. Sua união com Gil-<br />
berto Mestrinho já tem 25 anos. Maria<br />
Emilia não quis ficar na posição <strong>de</strong><br />
primeira dama, explicando que 'a pri-<br />
meira dama está por quatro anos, mas<br />
como secretária <strong>de</strong> Estado po<strong>de</strong>rá ficar<br />
na história do Amazonas, se fizer um<br />
bom trabalho'.<br />
A médica oftalmologista Ano Moria<br />
Carcla Leitão é outra mulher na<br />
equipe <strong>de</strong> governo. Ela é presi<strong>de</strong>n-<br />
te do Instituto <strong>de</strong> Previdência e Assis-<br />
tência do Servidor Público do Amazo-<br />
nas (Ipasea). Ao assumir o cargo, ela se<br />
comprometeu em reor<strong>de</strong>nar o Institu-<br />
to, garantindo, principalmente, o aten-<br />
dimento básico médico e odontológico<br />
aos servidores. O Ipasea presta assis-<br />
tência a 313 mil pessoas, entre segura-<br />
dos e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes.<br />
Todas as Mulheres do Governo<br />
No período <strong>de</strong> 04 a 08 <strong>de</strong> março<br />
último, 38 mulheres dos Estados do<br />
Amazonas, Roraima, Amapá e Acre<br />
participaram, em Manaus, do I Curso<br />
<strong>de</strong> Formação sobre a Questão da<br />
Mulher Trabalhadora, promovido pela<br />
Central Única dos Trabalhadores. Na<br />
foto, a socióloga Marilene Corrêa, da<br />
Universida<strong>de</strong> do Amazonas, que fez<br />
conferência sobre a 'Divisão<br />
Internacional do Trabalho: Classes<br />
Sociais'. O curso marcou, também, o<br />
início <strong>de</strong> uma articulação entre as<br />
mulheres trabalhadoras da Amazônia.<br />
Dolores Garcia Rodrigues é secreta<br />
ria <strong>de</strong> Administração. Advoga-<br />
da, formada pela Universida<strong>de</strong><br />
do Amazonas, ela <strong>de</strong>sempenhou<br />
várias funções nos governos <strong>de</strong> He-<br />
noch Reis, José Lindoso, Amazoni-<br />
no Men<strong>de</strong>s e Vivaldo Frota. Na ad-<br />
ministração passada <strong>de</strong> Gilberto<br />
Mestrinho comandou a subsecre-<br />
tária <strong>de</strong> governo. Agora na Sead,<br />
Dolores promete a moralização do<br />
serviço público, dinamizando a Es-<br />
cola <strong>de</strong> Serviço Público (Espea) pa-<br />
ra treinamento do servidor.<br />
F Ótima Gusmão Aftonso, 36 anos, é a<br />
secretária <strong>de</strong> Planejamento e Arti-<br />
culação dos Municípios. Enge-<br />
nheira civil, engenheira eletrônica e<br />
administradora <strong>de</strong> empresas, ela já <strong>de</strong>-<br />
sempenhou várias funções na Prefei-<br />
tura Municipal, como coor<strong>de</strong>nadora<br />
do Sistema <strong>de</strong> Análise do Uso do Solo,<br />
diretora da Divisão <strong>de</strong> Controle Urba-<br />
nístico e secretária municipal <strong>de</strong> Pla-<br />
nejamento. Fátima preten<strong>de</strong> resgatar o<br />
planejamento no governo e trabalhar<br />
para melhorar as condições <strong>de</strong> vida do<br />
homem do Interior, evitando assim o<br />
êxodo rural.<br />
(...) Ninguém voi atrás da vida afetiva dos ministros, sejam elos soltelps, casa-<br />
dos, <strong>de</strong>squitados, viúvos. Mas, vão atrás do vido pessoal do ministra. E uma <strong>de</strong>-<br />
corrência do machismo, do preconceito, do inveja. Eu quero o dovo ser cobrado<br />
pela minha atuação como ministra, fora disso, ninguém tem nada a ver com o que<br />
eu faço'. Zôlla Morta Cardoso <strong>de</strong> Mello, ministra da Economia.<br />
Na Fundação <strong>de</strong> Assistência So-<br />
cial e Comunitária (antiga Fun-<br />
dac) está Luclmar dos Santos Viei-<br />
ra, que ao assumir o cargo reativou<br />
o 'sacolão do peixe' dirigido à co-<br />
munida<strong>de</strong> carente.<br />
m
ART-MULHERES 07<br />
1<br />
Essa coisa <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> apareceu<br />
com a televisão, só para <strong>vira</strong>r a<br />
cabeça da muiherada'. José<br />
Agnaldo <strong>de</strong><br />
Oliveira, sucateiro.<br />
1<br />
ASSINE 0 ART-MULHERES<br />
A mensageira do campo<br />
A trabalhadora rural Maria<br />
Sara Souza da Silva, 27 anos,<br />
dois filhe ', saiu do interior do<br />
Acre, pela primeira vez, no<br />
inicio <strong>de</strong> março, para um vôo '<br />
mais longo e pousou em<br />
Manaus (AM) junto com outras<br />
mulheres, on<strong>de</strong> participou <strong>de</strong><br />
um curso <strong>de</strong> formação,<br />
promovido e organizado pela<br />
Comissão da Questão da<br />
Mulher Trabalhadora da<br />
Central Única dos<br />
Trabalhadores (CUT). 'Nós<br />
precisamos crescer, avançar na<br />
nossa forma <strong>de</strong> participação',<br />
<strong>de</strong>fen<strong>de</strong> Sara, entusiasmada<br />
com as <strong>experiência</strong>s vividas na<br />
capital amazonense. 'Quando<br />
eu chegar ao Acre vou passar,<br />
para as outras mulheres, tudo<br />
que aprendi por aqui', garante.<br />
Simpática e <strong>de</strong>terminada. Sara<br />
conta que ficou muito nervosa<br />
quando foi indicada para fazer<br />
o curso. 'O local mais distante<br />
que an<strong>de</strong>i foi Rio Branco, por<br />
outro lado, tenho dois filhos —<br />
um <strong>de</strong> três anos e outro <strong>de</strong> um<br />
ano, que ainda mama —, mas<br />
meu marido comprometeu-se<br />
em tomar conta das crianças e<br />
eu, disse a mim mesma, não<br />
vou per<strong>de</strong>r essa oportunida<strong>de</strong>',<br />
conta. Moradora do ramal<br />
Gujari — a 43 km <strong>de</strong> Rio Branco<br />
—, Sara costuma andar oito<br />
quilômetros todas as vezes que<br />
precisa apanhar um transporte<br />
para chegar até a capital do<br />
Acre, e assim fazem, também,<br />
todas as famílias que vivem<br />
nos ramais do interior acreano.<br />
'Eu tenho esperança <strong>de</strong> que<br />
nós chegaremos a uma nova<br />
socieda<strong>de</strong>', anuncia a<br />
trabalhadora rural. 'Não<br />
po<strong>de</strong>mos é baixar a cabeça,<br />
aceitar as coisas do jeito que<br />
estão. Ninguém vai fazer por<br />
nós, e se queremos mudanças,<br />
essa tarefa <strong>de</strong>ve ser feita por<br />
Envie Vale Postal ou Cheque nominal para:<br />
W.R.D. Prodi<br />
Rua 47 Ca<br />
Assir^ r.-<br />
Ass"<br />
Af<br />
Aí<br />
ões<br />
953, Jápüm I, CEP 69068 Manaus/AM<br />
mal) Cr$ 1.200,00<br />
: apoio Cr$ 1.500,00<br />
.rã países da América Latina US$ 20,00<br />
ira outros países US$ 50,00<br />
todos que sofremos os efeitos<br />
da injustiça', indica. Membro<br />
da equipe <strong>de</strong> Formação<br />
Política, do Sindicato dos<br />
Seringueiros e Assalariados<br />
Rurais <strong>de</strong> Rio Branco, do qual o<br />
marido, Raimundo Nonato da<br />
Silva, 33 anos, é presi<strong>de</strong>nte,<br />
Maria Sara gosta <strong>de</strong> citar o seu<br />
próprio exemplo <strong>de</strong><br />
crescimento político: 'Antes, eu<br />
morria <strong>de</strong> ciúmes das reuniões<br />
no sindicato. Achava que era<br />
muita reunião e'ficava<br />
<strong>de</strong>sconfiada. Comecei a<br />
freqüentar o sindicato e, agora,<br />
não me afasto mais, e comigo<br />
outras mulheres <strong>de</strong>scobriram a<br />
entida<strong>de</strong>'. Hoje, as reuniões<br />
contam com um número<br />
expressivo <strong>de</strong> mulheres 'que<br />
participam mesmo'. Afora as<br />
ativida<strong>de</strong>s políticas, as<br />
mulheres trabalhadoras rurais<br />
do Acre também estão se<br />
organizando em grupos <strong>de</strong><br />
costureiras e doceiras. 'É uma<br />
forma <strong>de</strong> aumentarmos os<br />
nossos rendimentos e nos<br />
ajudarmos mutuamente',<br />
explica.<br />
Sara: esperanças <strong>de</strong> chegada <strong>de</strong><br />
uma nova socieda<strong>de</strong><br />
Militante petista, ainda é com<br />
uma ponta <strong>de</strong> tristeza que<br />
Maria Sara fala sobre a <strong>de</strong>rrota<br />
<strong>de</strong> Jorge Viana na últimas<br />
eleições. 'A campanna do<br />
Viam inesquecível. As<br />
pessoas iam para rua<br />
espontaneamente. Cada um<br />
fazia o que podia fazer.<br />
Ninguém recebeu dinheiro,<br />
rancho ou qualquer outra<br />
coisa. Era uma questão <strong>de</strong><br />
acreditar. No dia da eleição, o<br />
governador do Estado colocou,<br />
pelos quatro cantos do Estado,<br />
que o Presi<strong>de</strong>nte da República<br />
tinha assumido o compromisso<br />
<strong>de</strong> tirar o Acre do isolamento,<br />
se o candidato <strong>de</strong>le ganhasse.<br />
As pessoas acreditam nessas<br />
histórias', relembra.
08<br />
Casamentos/<br />
Separações<br />
Em 1988, os casamentos<br />
realizados no mês <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro<br />
superaram os <strong>de</strong> maio. Segundo<br />
o IBGE, dos 951 mil casamentos<br />
registrados naquele ano, 20%<br />
ocorreram nos meses <strong>de</strong><br />
setembro e <strong>de</strong>zembro; 9% em<br />
maio' e 4,5% em agosto. Ainda<br />
com oase nas pesquisas<br />
realizadas nesse ano, o IBGE<br />
indica que a maioria das<br />
separações ocorre antes <strong>de</strong> 10<br />
anos <strong>de</strong> casamento. Do montante<br />
<strong>de</strong> separações judiciais em 88,<br />
15% entre casais com mais <strong>de</strong> 10<br />
anos <strong>de</strong> vida conjunta; 30% com<br />
menos <strong>de</strong> 5 anos; e 55% com<br />
menos <strong>de</strong> 10 anos.<br />
'Ele agarrou com toda força na mi-<br />
nha costa, tapando com uma das<br />
mãos minha boca para eu não gritar,<br />
assim aproveitando minha condição<br />
fisica <strong>de</strong> mulher me agredindo para<br />
satisfazer seus <strong>de</strong>sejos sexuais'. As-<br />
sim a india tukano Maria Âguida Lo<br />
pes <strong>de</strong>screve o momento em que seu<br />
patrão, o funcionário da Funai, Jorge<br />
Alberto Figueiredo Fernan<strong>de</strong>s, a<br />
violentou.<br />
Maria Âguida veio para Manaus,<br />
proce<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> São Gabriel da Ca-<br />
choeira, município on<strong>de</strong> habitam 19<br />
nações indígenas, entre as quais, os<br />
tukano. A exemplo do que ocorre com<br />
<strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> mulheres indígenas, ela<br />
foi indicada para trabalhar como em<br />
pregada doméstica, na casa do fun-<br />
cionário da Funai. Segundo seu rela-<br />
1<br />
Mulheres indígenas<br />
<strong>de</strong>nunciam violência<br />
to, após sete meses <strong>de</strong> trabalho o seu<br />
patrão a agrediu e violentou.<br />
Em janeiro, nasceu a criança, <strong>de</strong> se-<br />
xo masculino. Maria Âguida, que<br />
não tem parentes e, <strong>de</strong>vido as cir-<br />
cunstâncias, per<strong>de</strong>u o emprego, não<br />
tem como sustentar o filho que Jorge<br />
Alberto nega que seja seu. Por não ter<br />
assumido a paternida<strong>de</strong> da criança,<br />
Jorge Alberto, que ocupa o cargo <strong>de</strong><br />
chefe da Divisão Administrativo-<br />
Financeira da Funai, está sendo<br />
processado.<br />
A agressão a Maria Âguida foi <strong>de</strong>-<br />
nunciada na Câmara Municipal <strong>de</strong><br />
Manaus pela também tukano Regina<br />
Duarte coor<strong>de</strong>nadora da Associação<br />
<strong>de</strong> Mulheres Indígenas <strong>de</strong> Taracuá,<br />
Rios Uaupés e Tíquié (Amitrut). Regi-<br />
na <strong>de</strong>nunciou aos vereadores que o<br />
projeto Calha Norte causou sérios da-<br />
nos às comunida<strong>de</strong>s indígenas, espe-<br />
cialmente às mulheres. 'As índias<br />
são as primeiras vítimas, caindo na<br />
prostituição ou sendo empregadas<br />
domésticas e os homens tornam-se<br />
recrutas, servindo <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra<br />
barata', <strong>de</strong>nunciou Regina Duarte.<br />
A coor<strong>de</strong>nadora da Amitrut, falando<br />
aos vereadores <strong>de</strong> Manaus no dia 6<br />
<strong>de</strong> março passado, por ocasião das<br />
comemorações da Semana da Mu-<br />
lher, criticou a Funai por 'fechar os<br />
olhos e aproveitar a oportunida<strong>de</strong>,<br />
através <strong>de</strong> seus funcionários, para<br />
trazer mulheres índias, muitas das<br />
quais casadas, para trabalhar como<br />
empregadas domésticas nas casas <strong>de</strong><br />
seus amigos'.<br />
Comida Escassa<br />
Estudos do Departamento Intersindical <strong>de</strong><br />
Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos<br />
(DIEESE) revelaram que, em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 90,<br />
o salário-minimo atingiu seu valor real mais<br />
baixo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua criação, em iulho <strong>de</strong><br />
1940. No período, a queda foi ae 78% já<br />
<strong>de</strong>scontada a inflação. Os brasileiros, no ano<br />
passado, comeram 11,9% a menos <strong>de</strong> feijão<br />
e 1,9% a menos <strong>de</strong> arroz. Para 1991, a<br />
expectativa é ainda pior.