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revista Comunicação 360

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comunicação<br />

Nº 4 • Dezembro • 2006<br />

Uma publicação da<br />

ISSN 1809-5704<br />

Nós, para além dos nós<br />

Por uma comunicação humanista


2 comunicação


comunicação<br />

Nó na garganta<br />

Para desatá-lo, um pouco de sonho e circo<br />

Nó de gravata<br />

A elegância da liderança servidora<br />

Nó de rede<br />

Por dentro da trama digital<br />

Nó de marinheiro<br />

<strong>Comunicação</strong> ancorada na responsabilidade social<br />

Nó górdio<br />

Sob o corte preciso do alinhamento estratégico<br />

Laco<br />

A arte de amarrar relacionamentos<br />

Nó da questão<br />

Como você avalia a comunicação corporativa?<br />

Ent<strong>revista</strong><br />

Antropologia empresarial sob o ângulo de uma mestra<br />

Artigo<br />

Nós & o desafio contemporâneo<br />

Expressão<br />

Amarrado de lembranças do 3° Simpósio de <strong>Comunicação</strong> Integrada<br />

Cartas<br />

Com a palavra, os nossos leitores<br />

3 comunicação<br />

6<br />

12<br />

18<br />

26<br />

34<br />

40<br />

46<br />

52<br />

56<br />

58<br />

61


comunicação<br />

Conselho Editorial:<br />

Alexandre Soares, Cristina Mello,<br />

Eliane Levy de Souza, Jaíra Reis, Paulo Clemen<br />

e Vanessa Aguiar<br />

Jornalista Responsável:<br />

Jaíra Reis MTB 1581<br />

Realização:<br />

Casa do Cliente <strong>Comunicação</strong> <strong>360</strong>º<br />

Edição:<br />

Eliane Levy de Souza e Vanessa Aguiar<br />

Direção de arte:<br />

Gina Mesquita<br />

Redação:<br />

Francielle Pinho, Heloisa Espósito, Katia Costa,<br />

Luís Lima, Maíra Abrahão, Malu Gallas Brasil,<br />

Mônica Manfredini, Renata Cabral<br />

e Vanessa Aguiar<br />

Produção gráfica:<br />

Adriano Cardozo<br />

Revisão:<br />

Cristina Mota e Wanda Santos<br />

Fotografia:<br />

Luiz Frota, Marcus David, Moskow e banco de<br />

imagens da Casa do Cliente <strong>Comunicação</strong> <strong>360</strong>°<br />

Colaboração:<br />

Tatiana Falcão<br />

CTP e impressão:<br />

Gráfica Minister<br />

Tiragem:<br />

2.000 exemplares<br />

<strong>Comunicação</strong> <strong>360</strong>º é uma publicação<br />

da Casa do Cliente <strong>Comunicação</strong> <strong>360</strong>º.<br />

Todos os direitos reservados.<br />

Proibida a reprodução.<br />

Atendimento ao leitor:<br />

comunicacao<strong>360</strong>@casadocliente.com.br<br />

Assinaturas:<br />

assinaturacomunicacao<strong>360</strong>@casadocliente.com.br<br />

Casa do Cliente <strong>Comunicação</strong> <strong>360</strong>º<br />

• R. Figueiredo de Magalhães 219, cobertura,<br />

Copacabana – CEP 22031-010<br />

Rio de Janeiro – RJ<br />

Tel.: (21) 2549-1217<br />

• R. Pará 50, conjunto 23<br />

Higienópolis – CEP 01243-020<br />

São Paulo – SP<br />

Tel.: (11) 3120-3524 – Fax: (11) 3120-3461<br />

www.casadocliente.com.br<br />

4 comunicação<br />

<strong>Comunicação</strong> por todos os ângulos.<br />

Filiada à<br />

ISSN 1809-5704<br />

As opiniões reunidas nesta publicação<br />

não representam necessariamente<br />

nosso ponto de vista.<br />

Opinião<br />

Francielle Pinho<br />

Ana Cristina Gonzáles<br />

Jornalista do Senac Nacional<br />

“O nó da questão para nós, profissionais<br />

de comunicação, é fazer<br />

com que as diretorias se comprometam<br />

mais e sejam integradas ao<br />

nosso trabalho.”<br />

Andréa Rosa<br />

Coordenadora de <strong>Comunicação</strong> Interna da<br />

Coca-Cola Brasil<br />

“O nó da questão para mim é fazer<br />

uma comunicação interna voltada<br />

para a estratégia do negócio. Precisamos<br />

usar este fantástico canal, que<br />

é a <strong>Comunicação</strong> Interna, a voz oficial<br />

da Companhia, para informar,<br />

conscientizar e promover a<br />

interatividade da maneira mais criativa<br />

e objetiva possível.”<br />

Durante o 3º Simpósio de <strong>Comunicação</strong> Integrada<br />

da Casa do Cliente <strong>Comunicação</strong> <strong>360</strong>º,<br />

perguntamos a alguns profissionais qual é o<br />

nó da questão. Confira as respostas, que sugerem<br />

soluções para desatar os nós e melhorar o<br />

processo comunicacional nas empresas<br />

Telma Marques<br />

Gestora de <strong>Comunicação</strong> da Embelleze<br />

“O grande desafio na área de comunicação<br />

é saber se comunicar<br />

com todos – desde o operário até o<br />

presidente –, e passar a mesma informação<br />

com clareza, objetividade,<br />

transparência e coerência.”<br />

Paulo Carneiro<br />

Gerente de <strong>Comunicação</strong><br />

da TVE e Rádio MEC<br />

“As empresas costumavam ver a comunicação<br />

apenas como uma técnica<br />

capaz de solucionar qualquer<br />

problema, às vezes até de enganar.<br />

Atualmente, estão reconhecendo que<br />

a comunicação deve ser transparente<br />

e ética para gerar resultado.”


exercício<br />

de<br />

O<br />

ouvir<br />

dialogar<br />

e<br />

A quarta edição de <strong>Comunicação</strong> <strong>360</strong>° é<br />

lançada com uma responsabilidade especial:<br />

fazer a reflexão do 3° Simpósio de <strong>Comunicação</strong><br />

Integrada, promovido pela Casa do<br />

Cliente <strong>Comunicação</strong> <strong>360</strong>°. Se por um lado<br />

a pauta já nasceu pronta, por outro foi fascinante<br />

para nós viver o desafio de<br />

multifacetá-la, aprofundando e desdobrando<br />

o tema Nós da <strong>Comunicação</strong><br />

– Transformando problemas em oportunidades<br />

no meio empresarial e acadêmico.<br />

Confirmando a vocação de <strong>Comunicação</strong> <strong>360</strong>°,<br />

procuramos construir um painel multidisciplinar<br />

sobre os nós que, curiosamente,<br />

guardam uma analogia entre obstáculos e<br />

pessoas. E, para explorar essa significação,<br />

cumprimos nossa missão de ouvir para além<br />

da <strong>Comunicação</strong>. Procuramos esgotar o<br />

tema transpondo as fronteiras de nosso país,<br />

em diferentes visões, da filosófica à científica,<br />

incluindo uma instigante ent<strong>revista</strong> sob<br />

o ângulo da antropologia empresarial, que<br />

propõe uma moderna abordagem social para<br />

as organizações.<br />

Sem defender ou criticar, como comunicadores,<br />

cumprimos nosso dever de ouvir e<br />

divulgar diferentes opiniões, contribuindo<br />

para difundir conhecimento e valorizar o<br />

exercício da profissão. Por isso mesmo, não<br />

podemos deixar de registrar um sentimento<br />

que marcou nosso 3° Simpósio de <strong>Comunicação</strong><br />

Integrada e se confirmou nos<br />

artigos e reportagens desta <strong>revista</strong>. Há, nas<br />

empresas, uma demanda muito forte por<br />

humanismo. Uma notícia que arremata de<br />

forma singular os dois nós temáticos desta<br />

edição: precisamos transformar os nós<br />

em laços, consolidando os relacionamentos,<br />

humanizando as organizações. E, desta<br />

vez, de maneira verdadeira, para além<br />

do discurso.<br />

Jaíra Reis,<br />

diretora executiva da Casa do Cliente<br />

<strong>Comunicação</strong> <strong>360</strong>°<br />

5 comunicação<br />

carta ao leitor


nó na garganta<br />

6 comunicação<br />

O circo chegou às empresas.<br />

E olha que não estamos falando<br />

daquele seu colega de baia meio<br />

palhaço, que adora fazer graça sempre<br />

que se levanta para pegar um<br />

cafezinho. Nem do seu chefe, rugindo<br />

como um leão quando não consegue<br />

convencer você de alguma coisa.<br />

A que horas o domador chega mesmo?<br />

O circo chegou às empresas para<br />

desatar um dos nós que mais aperta a<br />

garganta de muito colaborador.<br />

Afinal, quem nunca se sentiu um pouco<br />

malabarista, mágico, homem-bala,<br />

contorcionista, engolidor<br />

de fogo para atender<br />

a todas as demandas<br />

organizacionais?<br />

Malu Gallas Brasil


Pausa<br />

para<br />

emocionar<br />

7 comunicação


8 comunicação<br />

Calma. Ninguém vai montar um picadeiro na<br />

sala de reunião. Você vai continuar tendo um<br />

PC à sua frente e uma cadeira giratória, que,<br />

vá lá, até permitiria algumas evoluções se você<br />

tivesse tempo para isso. Mas nada que mereça<br />

um rufar de tambores. O circo chegou<br />

ao ambiente organizacional<br />

para liberar as emoções.<br />

E trabalhar habilidades<br />

como persistência,<br />

capacidade de superar<br />

desafios, confiança<br />

no outro,<br />

auto-estima,<br />

ajudando todos<br />

nós a conviver<br />

melhor com as<br />

exigências das<br />

organizações do<br />

nosso tempo.<br />

Quem assistiu ao<br />

ator Marcos Frota,<br />

embaixador do circo<br />

no Brasil e mentor da<br />

Universidade Livre do<br />

Circo (Unicirco), o palhaço<br />

Muzzarela (representado por<br />

Rafael Senna) e a contorcionista Érika Martinelli<br />

já entendeu tudo. A trupe deu expediente na<br />

abertura do 3º Simpósio de <strong>Comunicação</strong><br />

Integrada da Casa do Cliente <strong>Comunicação</strong> <strong>360</strong>º.<br />

E, sob o tema Nós e laços – Alegorias de<br />

relacionamentos, levando a graça, a técnica e,<br />

principalmente, a emoção do picadeiro para o<br />

ambiente corporativo, mostrou ao nosso<br />

respeitável público que é disso que as empresas<br />

precisam.<br />

Se o nó está<br />

na comunicação,<br />

o circo desata<br />

O circo traz novas possibilidades de promover<br />

a comunicação nas empresas. Segundo o<br />

diretor artístico da Unicirco, Neto Frota, uma<br />

das propostas da instituição é ajudar quem<br />

está atrás de uma mesa de escritório a ter<br />

graça, alegria, humor para lidar com<br />

as diversas situações do dia-adia,<br />

a ter coragem para se<br />

superar, romper os<br />

próprios limites.<br />

Segundo Neto<br />

– que em seus<br />

contatos com o<br />

mundo organizacionalpercebe<br />

o quanto<br />

as pessoas<br />

estão “travadas”emocionalmente<br />

–, as<br />

atividades circenses<br />

trabalham<br />

equilíbrio, desafio,<br />

segurança, cumplicidade,<br />

confiança, ousadia,<br />

coragem. “O circo<br />

ensina”, resume.<br />

Marcos Frota, pedagogo por formação, vê<br />

no circo uma força despretensiosa e, por isso<br />

mesmo, responsável por arrebatar de forma<br />

natural uma legião de fãs ao longo do tempo.<br />

“O circo comunica sem palavras, desperta<br />

sentimentos. Vale como uma pausa na loucura<br />

do mundo, uma sobremesa.<br />

A brincadeira é a força que o conduz.<br />

E a brincadeira quebra resistências, destrói<br />

os preconceitos”, destaca.


9 comunicação


10 comunicação<br />

Uma força<br />

motivacional<br />

Tatiana Melamed, gerente de Recursos Humanos<br />

da Glaxo SmithKline, é uma das entusiastas<br />

do circo como instrumento de motivação.<br />

Sua empresa levou a Unicirco para<br />

o evento Movidos pela Paixão, voltado para<br />

a área de vendas. “A repercussão foi extremamente<br />

positiva. Sentimos como as equipes<br />

ficaram sensibilizadas pela iniciativa”, destaca<br />

a gerente. Com a palestra e a apresentação<br />

da Unicirco, criou-se naturalmente<br />

uma correlação entre as dificuldades dos<br />

vendedores e dos artistas. Ambos precisam<br />

ser incansáveis e ter paixão e determinação<br />

para vencer inúmeros desafios.<br />

“As pessoas têm de fazer muito malabarismo<br />

no dia-a-dia. Em geral, tudo acontece<br />

diferente do que foi planejado, precisamos<br />

nos motivar o tempo todo e, principalmente,<br />

estarmos atentos às mudanças constantes<br />

na organização. O circo mostra como<br />

explorar melhor nosso potencial, que é muito<br />

maior do que pensamos, reforçando a<br />

importância de persistirmos em nossos objetivos<br />

sempre”, destaca.<br />

Para a gerente, a pressão gerada nos profissionais<br />

por tantas exigências pode ser aliviada<br />

com a melhoria da comunicação<br />

interpessoal. “Se a empresa não se comunica<br />

bem com o funcionário, cabe a ele tentar<br />

o caminho inverso, gerenciando sua própria<br />

existência na organização. Somos responsáveis<br />

pelo rumo das nossas carreiras, temos<br />

de aprender a nos comunicar melhor tanto<br />

verbalmente quanto por escrito”, observa.<br />

‘As pessoas estão mais<br />

“travadas”emocionalmente.<br />

Deixam sua essência de lado<br />

e perdem a autenticidade.<br />

O resultado é um<br />

trabalho superficial’<br />

Neto Frota<br />

‘O circo nas empresas<br />

inspira a persistência<br />

humana. A capacidade<br />

de não desistir nunca’<br />

Tatiana Melamed<br />

‘O circo oferece<br />

a oportunidade e o<br />

instrumento do sonho.<br />

Sem o sonho, e aquele<br />

combustível<br />

essencialmente<br />

brasileiro que é a<br />

alegria, não há nó que<br />

seja desatado’<br />

Marcos Frota<br />

Habilidade<br />

de trapezista.<br />

Sem malabarismos<br />

Marcia Scalercio, superintendente de Recursos<br />

Humanos da Ediouro, também vê a comunicação<br />

como elemento atenuante das<br />

pressões internas. “Conduzida de forma<br />

estruturada, alinhada aos diferentes públicos,<br />

a comunicação pode motivar os<br />

colaboradores a atuarem de forma mais<br />

produtiva, em qualquer circunstância”,<br />

observa.<br />

Ela ressalta que, para a eficácia das ações<br />

de comunicação, é preciso entender que<br />

os profissionais estão processando um<br />

número cada vez maior de informações ligadas<br />

a seus projetos, mercado e clientes, e que<br />

eles terão um tempo mínimo para prestar<br />

atenção às mensagens corporativas. “É preciso<br />

que a organização tenha a habilidade de<br />

conhecer de forma ampla essa audiência para<br />

saber aproveitar todas as oportunidades de<br />

maneira eficiente, sem ter de implementar<br />

grandes esforços para que os colaboradores<br />

percebam a mensagem”, ressalta.


‘No ambiente cada vez<br />

mais competitivo e<br />

dinâmico das<br />

organizações, é necessário<br />

possibilitar aos<br />

profissionais conhecerem<br />

suas forças e fraquezas.<br />

Esse autoconhecimento<br />

torna melhores as pessoas<br />

e as empresas’<br />

Marcia Scalercio<br />

Ousadia capaz<br />

de mudar paradigmas<br />

Elaine Ventura, gerente de Recursos Humanos<br />

da Assim, vê na metáfora do circo<br />

a oportunidade para fazer pensar sobre<br />

valores imprescindíveis ao sucesso<br />

profissional e organizacional, como segurança,<br />

confiança e ousadia.<br />

Para Elaine, o circo e outras formas de promover<br />

as relações humanas são muito bemvindos<br />

nas organizações, pois levam a uma<br />

reflexão sobre o ser e a essência da vida e<br />

ajudam a mudar paradigmas e equilibrar<br />

fatores como evolução tecnológica, trabalho<br />

em equipe, humanização, gerando<br />

profissionais mais preparados, comprometidos<br />

e unidos.<br />

Um espetáculo de treinamento<br />

A proposta da Unicirco no ambiente<br />

corporativo é levar a vivência circense para<br />

as empresas, traçando um paralelo entre o<br />

circo e a alta performance profissional para<br />

desenvolver e aprimorar habilidades como<br />

auto-estima, concentração, determinação,<br />

confiança, cumplicidade, equilíbrio emocional,<br />

organização, coletividade, superação de limites,<br />

espírito de equipe, comprometimento<br />

e capacidade de vencer desafios.<br />

Uma proposta artístico-pedagógica que tem<br />

‘A abordagem lúdica nas<br />

empresas facilita o<br />

aprendizado, nos remete<br />

a vivências do dia-a-dia e<br />

nos aproxima do tema<br />

em questão. Além de<br />

contribuir para uma<br />

melhor fixação do que se<br />

deseja transmitir’<br />

Elaine Ventura<br />

sido responsável pelo desenvolvimento e pela<br />

transformação de pessoas nos mais variados<br />

cenários.<br />

Lúdicas e criativas, as atividades circenses<br />

nas empresas são desenvolvidas a partir de<br />

um diagnóstico da Unicirco, que identifica<br />

o que é pertinente para pessoas e equipes<br />

naquele contexto, como oficinas de malabarismo,<br />

cambalhota e alongamento;<br />

programas customizados; palestras<br />

complementadas com performance.<br />

11 comunicação


nó de gravata<br />

12 comunicação<br />

Entrelaço firme, porém<br />

leve e natural.<br />

Com a mesma habilidade<br />

com que ajusta o nó da<br />

gravata, o líder dos nossos<br />

tempos precisa construir<br />

seu relacionamento com a<br />

equipe. Diferente do<br />

tradicional, autocrático, o<br />

modelo de gestão que se<br />

impõe hoje é o da<br />

liderança servidora, que se<br />

consolida no respeito e na<br />

cumplicidade e<br />

torna-se condição<br />

básica para garantir<br />

resultados sustentáveis<br />

às organizações<br />

Luís Lima


Novos<br />

tempos,<br />

Novos<br />

líderes<br />

13 comunicação


14 comunicação<br />

Liderança pede reflexão constante, como um<br />

exercício inerente ao novo perfil do gestor na<br />

tomada de decisões. A liderança servidora visa<br />

a inspirar e estimular os colaboradores em busca<br />

de objetivos e metas em comum, desenvolvendo,<br />

além do respeito, características como<br />

responsabilidade, confiança e cooperação entre<br />

chefes e chefiados. Nesse contexto, a comunicação<br />

ganha papel de destaque, como meio<br />

de envolver toda a equipe e demonstrar<br />

transparência.<br />

Entretanto, como mudar um<br />

comportamento consagrado<br />

ao longo dos<br />

anos? E de que forma<br />

a comunicação<br />

pode contribuir<br />

para firmar esse<br />

novo modelo de<br />

líder? Com essas<br />

e outras perguntas,<br />

a palestra<br />

magna A arte<br />

de desatar nós<br />

– O papel da liderança<br />

na <strong>Comunicação</strong><br />

– apresentada<br />

pelo diretor-geral da<br />

Sodexho Pass do Brasil, empresa<br />

especializada em cheques<br />

e cartões de serviços, Sergio Borges<br />

Chaia, no 3° Simpósio de <strong>Comunicação</strong> Integrada<br />

da Casa do Cliente <strong>Comunicação</strong> <strong>360</strong>°,<br />

sugeriu como conciliar resultados com uma postura<br />

servidora para os colaboradores.<br />

Com apenas 41 anos e uma vasta vivência profissional,<br />

Sergio Borges Chaia desenvolveu seis<br />

instrumentos práticos para o exercício da liderança<br />

servidora (veja na página 16). Ele lembra<br />

que por volta dos 35 anos teve a crise dos 40.<br />

“Comecei a refletir e me fiz a pergunta: ‘o que<br />

quero de mim e da minha vida?’ Percebi, então,<br />

a existência de duas dimensões: a materialista<br />

(que me estimula a fazer sucesso, ganhar<br />

dinheiro etc.) e a humana (ter um papel construtivo<br />

na vida das pessoas, ser um bom pai e<br />

filho etc.). Esses instrumentos que desenvolvi<br />

e tento pôr em prática me ajudam a conciliar<br />

os dois lados. Ser um cara bonzinho e viver à<br />

base de copo de água não é meu<br />

caso. Mas ser focado apenas<br />

no profissional, como<br />

um ‘trator’ que massacra<br />

as pessoas, também<br />

não quero”,<br />

explica Chaia.<br />

Porém, a prática<br />

do poder hierárquico,<br />

tão enraizado<br />

na nossa<br />

sociedade e nas<br />

organizações, é<br />

um obstáculo a<br />

mais no caminho<br />

da liderança servidora.<br />

“Reconheço<br />

que mandar é bom<br />

demais. Fomos mandados<br />

a nossa vida toda e<br />

pensamos: ‘chegou a nossa<br />

vez’. O problema passa a ser o seguinte:<br />

mandar traz resultados? Mandar<br />

atinge meus objetivos? Eu senti que não”,<br />

resume Chaia. Mas ele admite que só consegue<br />

aplicar esses instrumentos em 40% das<br />

vezes: “O meu desafio é praticar isso em 100%<br />

das situações”. Mesmo assim, os resultados<br />

são expressivos: a Sodexho Pass do Brasil superou<br />

em 7% sua meta de crescimento, de<br />

20%, no ano fiscal de 2006.


15 comunicação


16 comunicação<br />

‘É possível você ter<br />

ambição, sucesso<br />

profissional, conseguir<br />

resultados e ser uma pessoa<br />

que constrói e que marca a<br />

vida dos outros, inclusive<br />

como um bom pai, um bom<br />

filho e uma pessoa alegre.<br />

Acredito e luto para<br />

que essas duas<br />

dimensões estejam<br />

presentes na minha vida’<br />

Sergio Borges Chaia<br />

Os instrumentos da liderança servidora<br />

Antes de praticar os seis instrumentos, aparentemente simples, que criou para a<br />

liderança servidora, Sergio Borges Chaia recomenda aos gestores aplicarem a<br />

técnica do espelho: olhar-se ininterruptamente, durante 15 segundos. Com o<br />

objetivo de tentar descobrir os próprios nós e desafios, é preciso primeiro reconhecer-se<br />

para depois interagir com os demais como um líder eficiente.<br />

1 - Brilhar através dos outros<br />

Trabalhe pelo sucesso profissional da equipe. Dessa forma, seu trabalho será valorizado<br />

e reconhecido. É o poder da influência e não da autoridade ou do medo.<br />

2 - Cadeira na solução de problemas<br />

Os problemas são representados pelo móvel: observando-o sem sentar-se, você<br />

pode enxergar e analisar a situação de fora e percebe que essa visão distanciada é<br />

o melhor caminho para resolvê-la. Lembrando que a segunda alternativa de solução<br />

é geralmente melhor do que a primeira.<br />

3 - Regra de ouro<br />

Em qualquer situação (admissão, demissão, promoção etc.), trate as pessoas como<br />

você gostaria de ser tratado.<br />

4 - Transparência e paciência<br />

Estas são duas qualidades essenciais ao líder servidor. A primeira gera confiança, é<br />

uma necessidade intrínseca do ser humano acreditar em alguém. A segunda, por<br />

sua vez, atrai a gentileza, que aproxima as pessoas.<br />

5 - Interdependência<br />

É a consciência e a responsabilidade do líder pelos efeitos construtivos ou destrutivos<br />

de suas palavras e ações na vida de seus colaboradores.<br />

6 - Técnica dos óculos<br />

Sempre que surgirem problemas, ponha óculos de lentes coloridas, de acordo com<br />

a cor que você quer enxergá-los. O exercício ajuda a entender que a realidade não<br />

existe, tudo depende da nossa percepção. Como aquela impressão diante de um<br />

copo d’água: ele pode parecer meio cheio ou meio vazio.


Servir faz a diferença<br />

A discussão sobre liderança servidora é ainda<br />

recente, um assunto que nem se imaginava<br />

debater, por exemplo, no início dos<br />

anos 90. Entretanto, já naquele momento,<br />

a varejista Magazine Luiza demonstrou ser<br />

uma empresa visionária, ao começar a questionar<br />

a tradicional liderança autocrática e<br />

a adotar os conceitos da liderança servidora.<br />

Qual foi o resultado dessa mudança, reforçado,<br />

é claro, por outros fatores? A Magazine<br />

Luiza deixou de lado o perfil regional e<br />

tornou-se a terceira maior rede de varejo<br />

do Brasil, com mais de 350 lojas em cerca<br />

de 250 cidades, no total de sete estados.<br />

Hoje, são aproximadamente 10 mil colaboradores.<br />

O faturamento pulou de<br />

R$ 90 milhões, em 1991, para R$ 2,4 bilhões,<br />

no ano passado.<br />

“A liderança servidora traz impactos diretos<br />

nos resultados e agrega valor à marca. Nosso<br />

crescimento vertiginoso nos últimos anos é<br />

fruto de um trabalho em equipe e da adoção<br />

dessa postura. A cada ano, vem aumentando<br />

o número de lojas, de funcionários e a própria<br />

receita. Estamos presentes no ranking das Dez<br />

Melhores Empresas para se Trabalhar desde<br />

que ele foi criado”, destaca Telma Geron, diretora<br />

de Recursos Humanos da rede varejista,<br />

que complementa: “Esse foi o nosso diferencial.<br />

Se tivéssemos iniciado esse processo de<br />

liderança em 2000, hoje não estaríamos na<br />

posição que alcançamos”.<br />

Ela lembra que sentiu resistências dentro da<br />

empresa para mudar o perfil de liderança.<br />

Mas, hoje, a postura servidora é vista com<br />

naturalidade dentro da organização.<br />

“Todos nós queremos ser respeitados e nos<br />

sentirmos envolvidos nas decisões. Os funcionários<br />

são os primeiros a conhecê-las, o<br />

que gera três respostas – lealdade, compromisso<br />

e produtividade – e motiva a equipe”,<br />

observa Geron.<br />

‘No modelo tradicional,<br />

o líder guarda a<br />

informação para si,<br />

como o dono dela, e se<br />

sente com poder.<br />

Com a postura<br />

servidora, valorizada<br />

pela comunicação, ele<br />

disponibiliza essa<br />

informação para que<br />

todos possam agir da<br />

melhor forma’<br />

Telma Geron<br />

‘O exemplo precisa vir<br />

de cima. O líder está a<br />

serviço da equipe,<br />

como modelo de<br />

empatia e humildade.<br />

Não tem mais como<br />

fugirmos da liderança<br />

servidora. Quem a<br />

plantou, está colhendo<br />

os frutos. Se não for por<br />

missão, ela deve ser<br />

praticada pelo menos<br />

por inteligência’<br />

T. G.<br />

Divulgação<br />

‘Com uma missão a cumprir,<br />

que não é deles e sim da<br />

organização, para terem<br />

autoridade os gestores<br />

precisam rever<br />

sua idéia de poder’<br />

Isa Oliveira e Silva<br />

Pausa para reflexão<br />

Além de contribuir para os resultados da<br />

organização, o novo perfil da liderança busca<br />

desenvolver o trabalho em equipe, extraindo<br />

ao máximo a potencialidade de cada integrante,<br />

sem conflitos e interesses próprios.<br />

“O líder precisa comunicar de forma eficaz a<br />

visão, as metas e a intenção da organização,<br />

para que as pessoas se alinhem e dêem resultados.<br />

Para isso, é preciso criar um significado<br />

para elas – o que fazem, para quem fazem e<br />

para onde vão”, explica a psicóloga Isa Oliveira<br />

e Silva, sócia-diretora da Yago Desenvolvimento<br />

Pessoal e Organizacional e membro da<br />

Diretoria da Associação Brasileira de Recursos<br />

Humanos (ABRH-RJ).<br />

Isa não aponta vantagens ou desvantagens<br />

da liderança servidora, mas observa que<br />

essa postura exige reflexão. “Percebo que<br />

essa forma de liderar veio como um alerta<br />

para os gestores. Eles deixam de gerenciar<br />

(comandar) para liderar (influenciar). Com uma<br />

missão a cumprir, que não é deles e sim da<br />

organização, para terem autoridade, os gestores<br />

precisam rever sua idéia de poder”.<br />

17 comunicação


nó de rede<br />

Na era do conhecimento, o<br />

excesso de informação e a<br />

renovação constante dos<br />

artifícios tecnológicos podem<br />

produzir um verdadeiro<br />

embaraço na rotina<br />

corporativa. Sem o domínio<br />

dessa linguagem, é fácil perderse<br />

numa trama cheia de nós.<br />

Mas, de acordo com a<br />

sabedoria grega, nada melhor<br />

do que um fio condutor para<br />

nos orientar num labirinto.<br />

Assim como o novelo de<br />

Ariadne guiou o herói ateniense<br />

Teseu na luta contra o<br />

Minotauro, a área de<br />

<strong>Comunicação</strong> é essencial para<br />

explorar nas empresas este<br />

canal aberto pela rede.<br />

Com ferramentas como blogs e<br />

sites de relacionamento, a<br />

revolução trazida pela internet<br />

continua a ocorrer no dia-a-dia,<br />

aplainando a hierarquia nas<br />

empresas e envolvendo os<br />

stakeholders num diálogo cada<br />

vez mais rápido e abrangente.<br />

É preciso conhecer a trama<br />

dessa rede em que se cruzam<br />

dados pessoais e profissionais<br />

para desatar seus nós e escapar<br />

de suas amarras. Para orientar<br />

os profissionais nessa tarefa, o<br />

painel Nós na rede – desafios<br />

de uma nova linguagem, do<br />

3° Simpósio de <strong>Comunicação</strong><br />

Integrada da Casa do Cliente<br />

<strong>Comunicação</strong> <strong>360</strong>°, apresentou<br />

cases das empresas<br />

O Boticário, HSBC e Senac Rio,<br />

que apostaram na<br />

modernização de seus veículos<br />

de comunicação e já percebem<br />

os bons resultados. E, para<br />

enriquecer a discussão,<br />

apresentamos a nova intranet<br />

do Grupo Telemar e contamos<br />

com a visão de um especialista<br />

em tecnologia<br />

Renata Cabral<br />

Colaborou Francielle Pinho<br />

18 comunicação


Em<br />

linha<br />

com o<br />

futuro<br />

19 comunicação


20 comunicação<br />

“Para se comunicar pela internet, entenda de<br />

internet”, exalta Cora Rónai, jornalista e editora<br />

do caderno Info Etc do jornal O Globo,<br />

que mediou o painel Nós na rede. O conselho<br />

da especialista visa prevenir pequenos deslizes<br />

que podem comprometer a reputação ou a<br />

marca de uma empresa. Isso porque a<br />

rede potencializou a voz de quem<br />

quer se comunicar, seja para<br />

fazer elogios ou críticas.<br />

Se um serviço não agradou,<br />

basta destacálo<br />

num blog ou<br />

numa comunidade<br />

do site de relacionamentos<br />

Orkut para que<br />

milhares de<br />

usuários tenham<br />

acesso<br />

imediato às reclamações,<br />

sem<br />

que a organização<br />

exerça qualquer<br />

controle sobre isso.<br />

“A conversa que antes se<br />

dava em praças ou em bares<br />

passa a ter escala mundial.<br />

Mas ainda somos muito poucos na<br />

rede. O impacto potencial da ferramenta é<br />

muito maior do que o real”, acredita o professor<br />

titular de Engenharia de Software da<br />

Universidade Federal de Pernambuco e cientista-chefe<br />

do Centro de Estudos e Sistemas<br />

Avançados do Recife (Cesar), Silvio Meira.<br />

Orkut:<br />

cheiro de novidade<br />

Prova do alcance da rede é a experiência de<br />

O Boticário em seu Centro de Relacionamento<br />

com o Cliente. A empresa identificou que, à<br />

medida que diminuíam os acessos a seus canais<br />

tradicionais de atendimento aos usuários – telefone,<br />

fax e cartas –, crescia o contato via e-mail<br />

e multiplicavam-se os comentários espontâneos<br />

em blogs e no Orkut.<br />

No site de relacionamentos, os profissionais encontraram<br />

elogios a O Boticário, mas também<br />

identificaram comunidades como a “Órfãos do<br />

One of Us”, que reúne cerca de 200 descontentes<br />

com a descontinuação da deo-colônia produzida<br />

pela empresa. “O desafio principal foi<br />

não sermos invasivos. Respondemos à criadora<br />

da comunidade por e-mail, explicando de maneira<br />

informativa, e não comercial, o motivo<br />

pelo qual um produto sai de linha. Até<br />

que fomos surpreendidos pela<br />

publicação da resposta na<br />

comunidade, agradecendo<br />

a atenção da<br />

companhia. Outros<br />

membros também<br />

enviaram<br />

comentários,<br />

elogiando nossa<br />

postura”,<br />

comemora Ana<br />

Julia Baumel,<br />

gestora de Relacionamento<br />

com o Cliente de<br />

O Boticário.<br />

A marca percebeu<br />

uma nova forma de se<br />

comunicar, muito mais<br />

interativa. Desde então, comentários<br />

de clientes na rede são<br />

monitorados por uma empresa parceira<br />

e separados em três grupos: neutros, positivos e<br />

negativos – com preferência de resposta para<br />

estes. As mensagens são divulgadas em toda a<br />

organização, mas apenas um dos profissionais<br />

do Centro de Relacionamento com o Cliente faz<br />

o contato com o consumidor. “Em nosso caso,<br />

a tecnologia facilitou o exercício da cidadania,<br />

fortalecendo também a relação de consumo”,<br />

avalia Ana Julia. A profissional destaca que,<br />

na empresa, nenhuma manifestação de usuário<br />

fica sem resposta.<br />

“Em nenhum momento da história, as empresas<br />

tiveram chance de ter um contato tão direto<br />

com o público. Hoje, todos têm acesso ao computador<br />

– pelo menos quem representa o mercado<br />

consumidor. E essas pessoas se manifestam.<br />

É muito importante estar atento ao que<br />

elas estão falando sobre seu negócio. É tão fácil<br />

e muito mais barato do que antigamente, nos<br />

tempos dos correios”, analisa Cora Rónai.


21 comunicação


22 comunicação<br />

‘A internet demole as<br />

fronteiras físicas’<br />

Silvio Meira<br />

Divulgação<br />

Conhecimento,<br />

o diferencial<br />

competitivo<br />

‘De certa forma, uma<br />

organização tem de se<br />

portar hoje como uma<br />

pessoa física. Se existe<br />

uma comunidade sobre<br />

seus produtos, alguém da<br />

<strong>Comunicação</strong> deve estar<br />

presente, prestando<br />

atenção e tentando<br />

descobrir o que está certo<br />

ou errado’<br />

Cora Rónai<br />

Para o Senac Rio, a informação que gera<br />

conhecimento é um diferencial competitivo<br />

nas organizações. Por isso, a área<br />

corporativa da instituição se aproxima cada<br />

vez mais de grandes empresas, visando descobrir<br />

que competências os profissionais<br />

precisam ter hoje para gerar resultados. E<br />

oferece um método diferenciado, que alia<br />

tecnologia e educação. Além de capacitar<br />

funcionários, ele permite reter o conhecimento<br />

dentro das empresas. O Senac Rio<br />

ensina como é possível contar com novas<br />

tecnologias para articular conteúdos e fazer<br />

com que as pessoas aprendam, e não<br />

apenas memorizem as informações.<br />

“Essa aproximação com as empresas permite<br />

não só que o Senac entenda melhor o<br />

mundo empresarial como ajuste seu<br />

portfolio a ele. Isso nos ajuda a garantir que<br />

os alunos do Senac alcancem seu objetivo:<br />

empregar-se ou abrir seu próprio negócio.<br />

Ao mesmo tempo, contribuímos para o<br />

aumento de produtividade nas empresas”,<br />

garante Fernando Amaro, gerente<br />

Corporativo e de Marketing e Desenvolvimento<br />

do Senac Rio.<br />

Segundo Adriane Gazzola, gerente do Centro<br />

de Cultura e <strong>Comunicação</strong> do Senac, em todo<br />

o portfolio da organização trabalha-se a comunicação<br />

de forma estratégica para que os<br />

profissionais ingressem e permaneçam no<br />

mercado de trabalho. “Em nosso centro especializado<br />

em assessoria de comunicação,<br />

abordamos da fotografia à convergência de<br />

mídias, para mostrar aos profissionais da área<br />

as ferramentas disponíveis”, completa.


‘É preciso transformar<br />

a informação em<br />

conhecimento e<br />

resultados’<br />

Fernando Amaro<br />

A vanguarda<br />

dos ‘blogs’<br />

‘Em nosso caso, a tecnologia<br />

facilitou o exercício da<br />

cidadania, fortalecendo também<br />

a relação de consumo’<br />

Ana Julia Baumel<br />

Eles começaram como diários virtuais de<br />

adolescentes em busca de relacionamentos<br />

ou exposição. Hoje, são uma importante<br />

ferramenta de relações públicas para muitas<br />

organizações. Segundo Silvio Meira, os<br />

blogs democratizaram a capacidade de publicação<br />

e criaram uma lista de discussão<br />

com memória – as mensagens, chamadas<br />

de posts, podem ser acessadas tempos<br />

depois de serem publicadas. Mas são mera<br />

extensão da revolução gerada pelo e-mail<br />

e pela internet, acredita o especialista.<br />

“Noventa e nove por cento dos blogs são<br />

irrelevantes, fragmentados ou não têm<br />

uma filosofia por trás de sua criação”,<br />

completa.<br />

Já no mundo empresarial, a novidade se<br />

mostra cada vez mais eficaz como canal de<br />

aproximação com o público interno.<br />

No HSBC, desde a criação do ‘Blog do CEO’<br />

na intranet da empresa, em abril deste ano,<br />

mais de 1 milhão de acessos foram<br />

contabilizados. A iniciativa de criar a página<br />

partiu do próprio CEO, Emílio Alonso, que,<br />

por sugestão da filha, já havia se aventurado<br />

no site de relacionamentos Orkut.<br />

Convencido da necessidade de estabelecer<br />

uma comunicação direta com seus mais de<br />

28 mil colaboradores, Alonso encontrou no<br />

blog um meio seguro para discutir assuntos<br />

estratégicos e ouvir a base de sua organização.<br />

Segundo pesquisa, 89% de seus colaboradores<br />

se informam sobre a empresa<br />

pela internet e pela intranet.<br />

23 comunicação


24 comunicação<br />

Para manter a página atualizada, o executivo<br />

conta com o apoio da equipe de <strong>Comunicação</strong><br />

Interna, mas faz questão de<br />

participar de seu dia-a-dia, definindo muitas<br />

vezes o tom e o tema das discussões,<br />

assim como a estratégia da ferramenta.<br />

“Com o blog, alcançamos a interatividade.<br />

Pela primeira vez, temos um canal altamente<br />

democrático em que tanto nosso<br />

presidente como os operadores de<br />

telemarketing podem publicar mensagens.<br />

Não importa sua formação, área ou cidade:<br />

você é importante, tem voz e será<br />

ouvido pelos executivos que tomam as<br />

decisões estratégicas para o negócio”,<br />

destaca Juliana Marques, gerente de<br />

<strong>Comunicação</strong> e E-business do HSBC.<br />

A ferramenta define termos e política<br />

de uso e todas as mensagens são identificadas.<br />

Mas apenas comentários que<br />

contenham ofensas ou palavrões são retirados<br />

do ar. “Tratamos os temas negativos<br />

com maturidade. Não queremos ouvir<br />

apenas os elogios. Os problemas são<br />

apontados e é muito importante que o<br />

sejam, para receberem tratamento”,<br />

ressalta Juliana.<br />

Para unificar a cultura da organização que,<br />

em dez anos de Brasil, englobou outras<br />

empresas e estendeu sua atuação a 550<br />

municípios, o HSBC também conta com<br />

uma TV Corporativa, informativos impressos<br />

e duas intranets: uma corporativa e<br />

outra para as agências bancárias. “É caro<br />

manter essa estrutura, mas você tem de<br />

decidir se quer realmente ser um corpo<br />

único ou não”, justifica a gerente.<br />

‘Antigamente, quem não gostava de<br />

matemática ou de tecnologia fazia<br />

comunicação. Tenho uma má notícia:<br />

nosso futuro de comunicólogos exige<br />

conhecimento em tecnologia’<br />

Juliana Marques<br />

‘Ainda bem que tratar as pessoas<br />

com respeito e fazer uma boa<br />

comunicação gera resultado<br />

financeiro. Se não for uma<br />

questão de crença, tem de ser<br />

de sobrevivência’<br />

J.M.


Quatro<br />

ferramentas num<br />

só lugar<br />

Em busca da unificação dos dados da empresa<br />

e da aproximação com seu público<br />

interno, o Grupo Telemar também apostou<br />

na tecnologia para comunicar com mais eficiência.<br />

Em parceria com a área de<br />

Tecnologia da Informação (TI), a <strong>Comunicação</strong><br />

Interna foi responsável por reformular<br />

a intranet da organização, batizada de<br />

Interativa. “Apesar do nome, nossa ferramenta<br />

tinha pouca interatividade. O fluxo de informações<br />

intenso tornava nosso conteúdo<br />

obsoleto muito rapidamente e era preciso<br />

pedir ao administrador da rede para modificálo<br />

com freqüência. Com mais de 8 mil colaboradores,<br />

distribuídos em diferentes estados,<br />

dar vazão a tantas mudanças era difícil. Sem<br />

contar as experiências de navegação, que<br />

mudavam conforme a área de negócio”, afirma<br />

Sandro Moore, analista de Recursos Humanos<br />

da área de <strong>Comunicação</strong> Interna.<br />

No ar desde novembro, a nova Interativa<br />

nasceu a partir da idéia de criar uma ferramenta<br />

baseada em pessoas, humanizando<br />

seu conteúdo, sem perder o foco do negócio.<br />

“Queríamos desenvolver uma inteligência<br />

e uma memória corporativas mais fortes”,<br />

conta Sandro. Entre muitas novidades,<br />

a Interativa usou o exemplo de quatro<br />

‘A graça do projeto foi<br />

convergir todas as<br />

demandas das áreas para<br />

uma única ferramenta’<br />

Sandro Moore<br />

(descrevendo a reformulação da<br />

Interativa, intranet do<br />

Grupo Telemar)<br />

grandes casos de sucesso do mercado de<br />

internet. Detalhando: existe uma ferramenta<br />

de busca no estilo Google; os colaboradores<br />

têm páginas pessoais que lembram o<br />

Orkut; na home page há um portal de vídeo<br />

na linha do YouTube; e a ferramenta de<br />

Mensagem Instantânea é inspirada no MSN.<br />

Os próprios colaboradores modificam o conteúdo<br />

das páginas e podem optar por quatro<br />

tipos de layout. É possível enviar, sem<br />

restrições, uma mensagem instantânea, em<br />

SMS ou um e-mail – tanto para o colega da<br />

mesa ao lado quanto para o presidente da<br />

empresa. Para garantir a transparência, todo<br />

conteúdo ou mensagem é identificado.<br />

“Nosso manual de normatização evita que<br />

percamos o padrão da ferramenta ou que o<br />

conteúdo se disperse”, explica Sandro.<br />

“Nosso grande desafio era tornar esses sistemas<br />

funcionais, numa navegação uniforme,<br />

para que a curva de aprendizado dos<br />

usuários fosse rápida e intuitiva. Conseguimos.<br />

E o salto que vamos dar com esta<br />

ferramenta é qualitativo e quantitativo:<br />

ganhamos tempo com comunicação e com o<br />

fluxo de informações. Nossa intranet hoje está<br />

entre as melhores e é muito adequada ao negócio<br />

de telecomunicações”, exalta Sandro.<br />

25 comunicação<br />

www.casadocliente.com.br


nó de marinheiro<br />

26 comunicação<br />

Um nó que, ao mesmo<br />

tempo em que une,<br />

é difícil desatar.<br />

O nó de marinheiro<br />

representa a situação<br />

por que passam as<br />

empresas brasileiras que<br />

trabalham seriamente<br />

sua responsabilidade<br />

social. De um lado da<br />

corda, a chamada<br />

“corrente do bem”,<br />

rede que mobiliza<br />

grandes organizações<br />

em torno desse<br />

compromisso, que tem<br />

como um importante<br />

ponto de convergência<br />

e união o Instituto<br />

Ethos, com seus mais<br />

de 1,2 mil associados<br />

– empresas de<br />

diferentes setores e<br />

portes, que empregam<br />

cerca de 2 milhões de<br />

pessoas e somam um<br />

faturamento anual<br />

correspondente a<br />

aproximadamente 35%<br />

do PIB brasileiro.<br />

Muitas delas já<br />

contemplam, no seu<br />

modelo de gestão,<br />

a responsabilidade<br />

de promover<br />

diálogo, riqueza e<br />

transformação na<br />

comunidade onde<br />

estão inseridas,<br />

e, em contrapartida,<br />

também exigem um<br />

comportamento ético<br />

de seus fornecedores.<br />

De outro lado, a difícil<br />

decisão sobre como<br />

comunicar as ações de<br />

responsabilidade<br />

social sem despertar<br />

desconfiança no<br />

grande público<br />

Heloisa Espósito<br />

Colaborou Mônica Manfredini


O<br />

desafio de<br />

comunicar a<br />

responsabilidade<br />

social<br />

27 comunicação


28 comunicação<br />

Um nó de marinheiro que especialistas em ética<br />

podem ajudar a desatar, ampliando o olhar sobre<br />

a questão. A comunicação das ações de<br />

responsabilidade social foi um dos questionamentos<br />

levantados no painel Percepções,<br />

valores e ética – A sustentabilidade do laço, do<br />

3° Simpósio de <strong>Comunicação</strong> Integrada da Casa<br />

do Cliente <strong>Comunicação</strong> <strong>360</strong>°, que<br />

reuniu Glauco Humai, gerente de<br />

Responsabilidade Social da<br />

Souza Cruz; Elcio Trajano<br />

Junior, gerente corporativo<br />

de Educação e<br />

Planejamento de<br />

Pessoas da Serasa;<br />

e Luiz Sergio Cardoso,<br />

diretor superintendente<br />

de<br />

Desenvolvimento<br />

Social da Embraer<br />

e do Instituto<br />

Embraer de Educação<br />

e Pesquisa.<br />

O debate contou com<br />

a mediação de Wilma<br />

Resende Araujo Santos, diretora<br />

superintendente da<br />

Junior Achievement Brasil.<br />

Antes de mais nada, vale a pena registrar<br />

como as empresas têm divulgado suas<br />

iniciativas de responsabilidade social. Pesquisa da<br />

consultoria Market Analysis, realizada entre 1999 e<br />

2005 em parceria com o Instituto GlobeScan,<br />

mostra que, embora o balanço anual seja,<br />

por excelência, o instrumento utilizado<br />

pelas empresas para divulgar essas<br />

ações, o público toma conhecimento delas<br />

basicamente por meio de notícias na mídia,<br />

anúncios e propagandas de massa e pelo<br />

boca-a-boca entre amigos.<br />

De acordo com o levantamento, um em<br />

cada oito consumidores informados sobre<br />

as ações sociais no Brasil (apenas 16% do<br />

público total da pesquisa) fica sabendo<br />

do assunto pelo balanço<br />

anual das empresas.<br />

Tal cenário contrasta<br />

com a situação<br />

verificada nos<br />

demais países,<br />

quando esse<br />

percentual<br />

sobe para 24%<br />

(ou seja, um a<br />

cada quatro)<br />

na América Latina,<br />

39% nos<br />

Estados Unidos<br />

e 33% no mundo<br />

(isto é, um terço nos<br />

33 países consultados<br />

na pesquisa).<br />

No Brasil, o boca-a-boca<br />

é muito mais forte como canal<br />

de divulgação dos investimentos<br />

sociais e ambientais do que nos outros<br />

países: aqui, quase metade (48%) dos consumidores<br />

informados aproveitam as conversas com<br />

amigos ou parentes para saber das atividades<br />

empresariais; enquanto nos Estados Unidos, essa<br />

fonte de informação informal só alcança 36%<br />

dos consumidores.


29 comunicação


‘O consumidor tem o<br />

direito de saber quem<br />

pratica seriamente a<br />

responsabilidade social<br />

na hora de sua<br />

decisão de compra’<br />

George Barcat<br />

‘O século XXI<br />

será ético e espiritual<br />

ou não será’<br />

Heloisa Leite,<br />

reproduzindo o pensador<br />

francês André Malraux<br />

30 comunicação<br />

‘Fazer o bem<br />

gratifica e dá lucro.<br />

E obter lucro não é<br />

falta de ética’<br />

H. L.<br />

Notícias na mídia<br />

Propaganda/<br />

anúncio<br />

Amigos/família<br />

Internet<br />

Pontos-de-venda<br />

Website<br />

Balanço Social<br />

Como o consumidor se mantém informado<br />

sobre responsabilidade social<br />

17%<br />

16%<br />

16%<br />

28%<br />

26%<br />

25%<br />

21%<br />

21%<br />

Divulgação<br />

24%<br />

29%<br />

36%<br />

39%<br />

48%<br />

43%<br />

45%<br />

52%<br />

53%<br />

61%<br />

EUA<br />

72%<br />

Brasil<br />

América Latina<br />

Fonte: site da Market Analysis<br />

92%<br />

89%<br />

O quadro, refletindo o período nov-dez/2005, reúne pesquisa<br />

face a face, realizada com 800 adultos nas oito<br />

principais capitais do Brasil, pela Market Analysis, e pesquisas<br />

coordenadas pela rede GlobeScan em mais<br />

32 países, incluindo EUA (1.000 casos) e América Latina<br />

(4.000 casos), totalizando 30.782 casos no mundo.<br />

A margem de erro é de mais ou menos 3,46%.<br />

Ética, uma questão de DNA<br />

Os especialistas em ética Heloisa Leite, do Instituto de<br />

Pós-Graduação e Pesquisa em Administração da Universidade<br />

Federal do Rio de Janeiro (Coppead/UFRJ), e George<br />

Barcat, do Banco Itaú, consideram divulgar as ações de<br />

responsabilidade social um procedimento ético e, muitas<br />

vezes, necessário. “A divulgação estimula outras empresas a<br />

fazerem o mesmo. Na comunicação, deve-se informar qual<br />

o público impactado pela ação e porque a iniciativa é importante<br />

para aquelas pessoas”, destaca Barcat, acrescentando<br />

que o consumidor tem o direito de saber quem<br />

pratica seriamente a responsabilidade social para exercer<br />

sua decisão de compra.<br />

Heloisa Leite ressalta que essa informação só deve ser<br />

considerada como não-ética se não for o resultado de<br />

um verdadeiro comprometimento das empresas com seus<br />

vários públicos – do interno à sociedade –, mas simplesmente<br />

o que se costuma chamar de uma ação de<br />

marketing social, em favor de sua imagem.


“Não me parece inteligente, e muito menos<br />

ética, a empresa que investe em ações sociais<br />

visando apenas melhorar sua imagem.<br />

Antes, deve inocular em sua cultura a verdadeira<br />

responsabilidade social, até porque, conforme<br />

ensina o professor e especialista em<br />

marketing Christian Grönroos, ‘uma vez que<br />

imagem é realidade, se a comunicação com o<br />

mercado não se encaixar na realidade, a realidade<br />

normalmente vence’”, diz Heloisa.<br />

Os especialistas concordam que o orçamento<br />

dos projetos sociais deve contemplar sua<br />

comunicação. “Tal prática permitirá que se<br />

avalie o valor dos recursos a serem alocados<br />

na divulgação dos projetos face ao investimento<br />

nas ações propriamente ditas”,<br />

reforça Heloisa.<br />

‘Em minhas palestras,<br />

nem faço aquela clássica<br />

apresentação falando<br />

sobre a empresa’<br />

Luiz Sergio Cardoso<br />

‘Escolhemos a mídia<br />

quando queremos<br />

mobilizar a sociedade<br />

em torno de uma causa’<br />

Antonio Matias<br />

Divulgação<br />

Estratégias<br />

de divulgação<br />

Balanço social, palestras e fóruns de entidade<br />

de classe são os meios utilizados por empresas<br />

como Embraer, Banco Itaú, White<br />

Martins, Serasa e Souza Cruz para divulgarem<br />

sua responsabilidade social.<br />

Luiz Sergio Cardoso, diretor superintendente<br />

de Desenvolvimento Social da Embraer e do<br />

Instituto Embraer de Educação e Pesquisa,<br />

chega a ser radical: “Considero a divulgação<br />

um grande nó na responsabilidade social do<br />

País. Tanto que em minhas palestras nem<br />

faço aquela clássica apresentação da<br />

Embraer que todos costumam fazer quando<br />

vão falar de suas empresas. Estou ali<br />

para falar sobre o nosso investimento em<br />

educação: um colégio de excelência no<br />

Ensino Médio, localizado nos arredores de<br />

São José dos Campos, que tem um dos maiores<br />

índices de aprovação no vestibular”.<br />

Antonio Matias, vice-presidente de Desenvolvimento<br />

e Marketing do Banco Itaú e<br />

vice-presidente da Fundação Itaú Social, lembra<br />

que o Itaú sempre manteve um forte<br />

investimento social, mas nunca foi um grande<br />

divulgador de suas ações sociais na mídia.<br />

“Mas houve uma escolha feita há alguns<br />

anos de levar para a mídia apenas projetos<br />

que, de alguma forma, se beneficiariam com<br />

a divulgação. Utilizamos a mídia para chegar<br />

aos professores e educadores de todo o<br />

Brasil que se inscrevem voluntariamente para<br />

fazer parte dos nossos projetos Prêmio<br />

Escrevendo o Futuro e Prêmio Itaú-Unicef”,<br />

ressalta Matias.<br />

O Banco também se utiliza da mídia quando<br />

faz campanhas de mobilização da sociedade<br />

em torno de uma causa, como é o caso<br />

dos atuais comerciais de televisão sobre os<br />

direitos da criança e do adolescente.<br />

“Com essa campanha, nosso principal objetivo<br />

é dar luz às questões fundamentais na<br />

vida das crianças e adolescentes brasileiros<br />

que precisam ser enfrentadas: se o nosso<br />

país não cuida da sua nova geração, não há<br />

como falar em desenvolvimento sustentável”.<br />

Nesses dois casos, o orçamento dos<br />

projetos já contempla a verba para a comunicação<br />

massiva.<br />

31 comunicação


32 comunicação<br />

‘O meio é a mensagem’<br />

Marshall McLuhan<br />

Divulgação<br />

Divulgação<br />

‘É melhor investir para<br />

diminuir as lacunas<br />

eventualmente existentes<br />

entre as expectativas dos<br />

diversos stakeholders da<br />

empresa e sua gestão<br />

empresarial do<br />

que simplesmente fazer<br />

propaganda’<br />

Carlos Victor Costa<br />

‘Quando estamos<br />

envolvidos em alguma<br />

causa, criamos fóruns<br />

de discussão para<br />

compartilhar<br />

conhecimento em<br />

torno do assunto’<br />

Tomás Carmona<br />

Na White Martins, a melhor forma de<br />

divulgação é definida por Carlos Victor<br />

Costa, gerente de <strong>Comunicação</strong>, como<br />

“um trabalho de formiguinha”, ou seja,<br />

diretamente com os públicos envolvidos:<br />

clientes, comunidade e outros. “Acreditamos<br />

que a credibilidade dos resultados<br />

e sua repercussão nos públicos afetados<br />

têm maior valor do que uma divulgação<br />

mais ampla e meramente publicitária, até<br />

porque não dispomos de verba para esse<br />

tipo de divulgação”, diz Carlos Victor.<br />

Na Serasa – líder brasileira em informações<br />

e análises para decisões de crédito<br />

e apoio a negócios – a comunicação da<br />

responsabilidade social se dá em palestras<br />

para públicos específicos. “Muitas<br />

vezes, quando estamos envolvidos em<br />

alguma causa, criamos fóruns de discussão<br />

para compartilhar conhecimento<br />

em torno do assunto, como a inclusão<br />

e a empregabilidade da pessoa com<br />

deficiência”, diz Tomás Carmona, gerente<br />

de Cidadania Empresarial.


‘O que forma a<br />

reputação da<br />

companhia é o seu<br />

comportamento e a sua<br />

comunicação’<br />

Glauco Humai<br />

Uma visão diferente é apresentada por<br />

Glauco Humai, gerente de Responsabilidade<br />

Social da Souza Cruz. Ele registra que<br />

faz parte da gestão estratégica da companhia<br />

não investir na propaganda dos projetos<br />

sociais que desenvolve. “A empresa aplica<br />

o dinheiro que seria gasto em publicidade<br />

nos próprios projetos e acredita que essa<br />

é a melhor forma de se comunicar com os<br />

públicos de interesse.”<br />

A partir dessas diferentes visões, é possível<br />

concluir que a comunicação das ações sociais<br />

no Brasil também é feita de forma cada<br />

vez mais responsável. A simples escolha do<br />

canal de divulgação – por balanço, pela<br />

mídia, por palestras e fóruns – precisa estar<br />

alinhada com a estratégia de responsabilidade<br />

social da empresa.<br />

‘Queiramos ou não,<br />

somos os responsáveis<br />

pela próxima geração’<br />

Wilma Resende Araujo Santos<br />

33 comunicação


nó górdio<br />

34 comunicação<br />

Planejamento, direcionamento,<br />

objetivos, metas, indicadores,<br />

mensuração, resultados<br />

positivos. Já é consenso para<br />

os profissionais e para as<br />

organizações: mais do que<br />

agregar valor ao negócio, estes<br />

conceitos representam os eixos<br />

de uma longa vida da<br />

<strong>Comunicação</strong> nas empresas.<br />

Nestas páginas, especialistas<br />

mostram como desatar um<br />

verdadeiro nó górdio da<br />

comunicação corporativa:<br />

o alinhamento estratégico<br />

Maíra Abrahão<br />

Colaborou Francielle Pinho


Comunicacão<br />

estratégica:<br />

a arte de<br />

desembaracar<br />

resultados<br />

35 comunicação


36 comunicação<br />

A seguir, um breve bate-papo com Ayrton<br />

Ferreira, sócio-diretor da Rochedo Ferreira &<br />

Consultores, um dos instrutores do workshop<br />

<strong>Comunicação</strong> estratégica – Planejamento e<br />

construção de indicadores da Casa do<br />

Cliente <strong>Comunicação</strong> <strong>360</strong>° em setembro,<br />

como extensão do 3º Simpósio de <strong>Comunicação</strong><br />

Integrada.<br />

<strong>Comunicação</strong> <strong>360</strong>° – Como podemos definir<br />

direcionamento estratégico e qual a sua<br />

importância para a permanência<br />

bem-sucedida de uma<br />

empresa no mercado?<br />

Ayrton Ferreira –<br />

Direcionamento<br />

estratégico é o<br />

estabelecimento<br />

de uma direção<br />

para a empresa,<br />

em relação ao<br />

seu futuro.<br />

Ele se dá pela<br />

explicitação de<br />

diversos componentes,<br />

como:<br />

1- Definição<br />

do negócio<br />

2 - Missão<br />

3 - Visão de futuro<br />

4 - Valores, que também influenciam<br />

o ambiente externo<br />

5 - Posicionamento estratégico da empresa<br />

em relação aos seus stakeholders que, por<br />

sua vez, é definido pelas intenções estratégicas<br />

da empresa.<br />

<strong>Comunicação</strong> <strong>360</strong>° – Qual o papel da <strong>Comunicação</strong><br />

no bom desempenho dessa estratégia<br />

organizacional?<br />

A.F. – A <strong>Comunicação</strong> tem dois componentes<br />

igualmente importantes, dos quais depende o<br />

sucesso da estratégia organizacional: o processo<br />

e a atitude. Se pensarmos em processo<br />

Alinhamento em três tempos<br />

de comunicação, ele é inquestionável para alinhar<br />

as pessoas, mantendo-as em convergência<br />

em torno de metas, desafios, projetos e até<br />

no compartilhamento de valores.<br />

A disseminação de idéias e intenções também<br />

pode receber contribuição preciosa de processos<br />

estruturados de comunicação. No entanto,<br />

comunicação também depende de atitude. A<br />

vontade de comunicar, de dizer, de “re-significar”<br />

para o outro o mundo do trabalho, de estimular<br />

reflexão e encorajar a visão crítica depende<br />

muito da palavra do gestor, que<br />

deve nutrir em sua equipe a<br />

atitude da comunicação,<br />

reconhecendo no outro<br />

aquele que precisa<br />

ouvir e ser ouvido<br />

nas relações<br />

interpessoais.<br />

O processo não<br />

pode substituir<br />

a atitude, ambos<br />

precisam<br />

coexistir.<br />

<strong>Comunicação</strong> <strong>360</strong>°<br />

– Como você define<br />

a importância da<br />

mensuração de resultados<br />

em comunicação<br />

aliada ao direcionamento<br />

estratégico de uma organização?<br />

A.F. – Toda mensuração é importante. Só se<br />

muda o que se mede. Como aferir recursos<br />

investidos (que não nos pertencem, pois são<br />

ativos dos controladores) sem indicadores?<br />

É como dirigir um carro sem painel. Neste sentido,<br />

vejo com muito entusiasmo metodologias<br />

e ferramentas que ofereçam aos gestores a possibilidade<br />

de medirem os benefícios dos recursos<br />

investidos em comunicação e, mais importante,<br />

de corrigirem seus investimentos por<br />

meio de indicadores eficazes. É a comunicação<br />

no mundo dos negócios, tratada de<br />

fato como negócio.


37 comunicação


38 comunicação<br />

<strong>Comunicação</strong><br />

sob medida<br />

Para reforçar a experiência do consultor<br />

Ayrton Ferreira, é inevitável fazer um rápido<br />

giro pelo 3º Simpósio de <strong>Comunicação</strong> Integrada<br />

da Casa do Cliente <strong>Comunicação</strong> <strong>360</strong>°.<br />

Mediado pela consultora Cristina Mello, o<br />

terceiro e último painel do Simpósio, Agregando<br />

valor ao negócio – A prática de<br />

mensurar para prevenir nós na <strong>Comunicação</strong><br />

reuniu experiências bem-sucedidas de<br />

três grandes empresas com atuação global<br />

em torno da adoção de uma metodologia<br />

para medir resultados e prevenir possíveis<br />

nós na comunicação e na estratégia<br />

organizacional. A seguir, um extrato da apresentação<br />

de cada participante.<br />

‘A comunicação tem dois componentes<br />

igualmente importantes, dos quais depende<br />

o sucesso na realização da estratégia<br />

organizacional: o processo e a atitude’<br />

Ayrton Ferreira<br />

‘Nós, profissionais de <strong>Comunicação</strong>, temos<br />

de começar a criar essa cultura de<br />

mensuração. Não queremos ser engenheiros,<br />

mas precisamos nos acostumar a<br />

colocar os números em tudo. Só assim vamos<br />

ganhar credibilidade e ser vistos e respeitados<br />

como uma área estratégica dentro<br />

da organização.’<br />

Cristina Mello, consultora<br />

‘A Basf adotou a ferramenta mundial Value<br />

based Management para trabalhar a cultura<br />

de mensuração na empresa em todos<br />

os níveis – parte da estratégia 2015. E como<br />

o princípio de <strong>Comunicação</strong> está baseado<br />

no planejamento estratégico – aliás, não tem<br />

outra forma de ser –, a empresa possui iniciativas<br />

e objetivos definidos também para<br />

essa diretriz. Eu sempre digo isto, aprendi<br />

com meus mestres: <strong>Comunicação</strong> é uma<br />

ciência. Não basta ter bom senso. <strong>Comunicação</strong><br />

é uma ciência e precisamos, então,<br />

entender essa ciência do ponto de vista estratégico<br />

– quais os seus objetivos, para que<br />

ela existe. Tudo tem de fazer parte de um<br />

planejamento estratégico.’<br />

Gislaine Rossetti, diretora de <strong>Comunicação</strong><br />

Social da Basf para a América do Sul<br />

Cristina Mello<br />

‘O mundo mudou, o acesso à informação é<br />

imenso e a segmentação também tem de<br />

ser valorizada. Tenho de me colocar no lugar<br />

do outro. Não faço comunicação para<br />

nós, comunicadores. Precisamos ouvir, esclarecer,<br />

interagir e reconhecer. E só conseguimos<br />

isso se o processo de comunicação<br />

estiver diretamente ligado à estratégia da<br />

empresa. Não posso mais fazer comunicação<br />

pela comunicação. Não posso estar baseado<br />

nos meus produtos, eles não são fins,<br />

são meios para atingir a estratégia da empresa.<br />

E diante de tanta diversidade, como<br />

fazer da comunicação interna um elemento<br />

de agregação de valor? A Vale acredita que<br />

é preciso traçar um planejamento. Precisamos<br />

de avaliação e de melhoria contínua.<br />

Por isso adotamos metodologias de<br />

mensuração.’<br />

Paulo Henrique Soares, gerente geral de<br />

<strong>Comunicação</strong> da Companhia Vale do Rio Doce<br />

‘O investimento em programas e campanhas<br />

é importante para que o público interno<br />

se alinhe à orientação estratégica da<br />

empresa. Ao mensurarmos esse indicador<br />

junto a nosso público, tivemos uma boa resposta:<br />

81% acreditam que é importante investir<br />

nas campanhas de comunicação interna.<br />

Avaliação e mensuração são parte<br />

integrante de nosso processo de planejamento.<br />

Só assim é possível criar parâmetros<br />

de comparação, gerando normas para uma<br />

comunicação realmente eficaz.’<br />

Raquel Cunha, gerente de Marketing<br />

Corporativo da Coca-Cola Brasil


‘Avaliação e mensuração são partes<br />

integrantes de nosso processo de<br />

planejamento. Só assim é possível<br />

criar parâmetros de comparação,<br />

gerando normas para uma<br />

comunicação realmente eficaz’<br />

Raquel Cunha<br />

Desate o seu nó górdio<br />

Alexandre cortando o nó górdio, tela de<br />

Jean-Simon Berthélemy – École des Beaux-Arts, Paris<br />

Conta a lenda que o rei de Frigia, atual Turquia,<br />

morreu sem deixar herdeiro, e que um<br />

oráculo profetizou a chegada do próximo rei:<br />

ele deveria aportar na cidade num carro pu-<br />

Reprodução<br />

‘Não basta ter bom senso.<br />

<strong>Comunicação</strong> é uma ciência e<br />

precisamos, então, entender essa<br />

ciência do ponto de vista<br />

estratégico – quais os seus<br />

objetivos, para que ela existe.<br />

Tudo tem de fazer parte de um<br />

planejamento estratégico’<br />

Gislaine Rossetti<br />

‘A Vale acredita que é preciso<br />

traçar um planejamento.<br />

Precisamos de avaliação e de<br />

melhoria contínua. Por isso<br />

adotamos metodologias<br />

de mensuração’<br />

Paulo Henrique Soares<br />

xado por bois. Foi assim que, trazendo mulher<br />

e filho e oferecendo sua carroça a Zeus, o<br />

deus dos deuses, Górdio foi aclamado rei. Para<br />

se lembrar diariamente de sua humilde origem,<br />

ele amarrou o veículo com um enorme<br />

e complicado nó a um poste em frente<br />

a seu palácio.<br />

Seu filho e sucessor, Midas, conhecido na<br />

mitologia grega por converter em ouro<br />

tudo o que tocasse, trouxe grande prosperidade<br />

ao reino, mas também morreu sem<br />

deixar herdeiro. Foi então que, consultado,<br />

o oráculo revelou que quem resolvesse o nó<br />

de Górdio se tornaria o rei de toda a Ásia<br />

Menor. Em 333 a.C. Alexandre, o Grande,<br />

decidiu conferir a profecia e ver o que tinha<br />

o tal nó de tão especial. Após analisá-lo em<br />

silêncio, desembainhou sua espada e, de um<br />

único forte golpe, cortou o nó, tornandose<br />

assim o líder da Ásia Menor.<br />

Moral da história: criatividade e decisão<br />

fazem de estrategistas verdadeiros<br />

conquistadores.<br />

Quem lê<br />

não dá ponto<br />

sem nó.<br />

A GERAÇÃO DO<br />

CINEMA NOVO<br />

de Pedro Simonard<br />

Um estudo profundo<br />

sobre o movimento que<br />

marcou a cinematografia<br />

nacional nos anos<br />

1960 1970. Ent<strong>revista</strong>s<br />

com Cacá Diegues,<br />

Walter Lima Junior,<br />

Paulo César Saraceni,<br />

Saulo Pereira de Melo,<br />

Mário Carneiro<br />

e Zelito Viana,<br />

entre outros.<br />

LIMIARES DA IMAGEM<br />

de Antonio Fatorelli e<br />

Fernanda Bruno<br />

(organizadores)<br />

Investiga a natureza e<br />

o destino das imagens<br />

na atualidade.<br />

As mutações estéticas e<br />

éticas promovidas pela<br />

cultura digital, a partir<br />

do ano de 1970,<br />

são analisadas<br />

neste livro.<br />

CONSTRUÇÕES DO<br />

TEMPO E DO OUTRO<br />

de João Freire Filho<br />

e Paulo Vaz<br />

(organizadores)<br />

Com esta obra, será<br />

possível entender melhor<br />

a natureza e as<br />

implicações éticas,<br />

sociais e políticas<br />

das incontáveis<br />

representações e<br />

discursos midiáticos sobre<br />

o tempo e o outro que<br />

informam a nossa<br />

vida cotidiana.<br />

Livros que valorizam o seu tempo<br />

www.mauad.com.br<br />

39 comunicação


laço<br />

40 comunicação<br />

União entre o bem-estar<br />

da instituição e o bemestar<br />

da sociedade de<br />

forma concreta e material.<br />

A identidade de uma<br />

empresa é resultado desse<br />

laço. Defini-lo e transmitilo<br />

é algo que gera<br />

significado e cria valor,<br />

resultando em mais<br />

comprometimento por<br />

parte dos empregados,<br />

clientes e investidores.<br />

O laço precisa estar claro<br />

e bem alinhado.<br />

E o equilíbrio entre<br />

suas duas pontas<br />

– instituição<br />

e sociedade – busca<br />

alcançar a satisfação<br />

nesse relacionamento.<br />

Ou seja, a satisfação<br />

entre as pessoas<br />

Katia Costa


O<br />

poder<br />

da<br />

na construcão<br />

da<br />

identidade<br />

marca<br />

41 comunicação


42 comunicação<br />

A noção de identidade, no campo do comportamento<br />

humano e da Psicologia, seja de<br />

uma pessoa ou de uma organização, diz respeito<br />

às características que as tornam únicas e<br />

especiais. Como força motriz, identidade gera<br />

a fortuna das empresas e das pessoas que vivem<br />

em sintonia com ela. É também a força<br />

com a qual, nós, seres humanos, agimos no<br />

dia-a-dia, que se transforma em valor,<br />

gerando saúde financeira de um<br />

empreendimento, proporcionando<br />

estabilidade<br />

familiar ou o bemestar<br />

de uma comunidade.<br />

Para entendermos<br />

o potencial<br />

de criação<br />

de valor das<br />

empresas, precisamos,primeiro,compreender<br />

a identidade<br />

que elas<br />

têm no seu íntimo.<br />

Ao conceituarmos<br />

identidade<br />

de forma superficial<br />

– nomes, logotipos e<br />

frases de anúncio – apenas<br />

como componentes básicos do<br />

marketing corporativo, poderemos<br />

causar um grande prejuízo aos negócios e desperdiçar<br />

o potencial produtivo que aflora no<br />

interior das empresas.<br />

Mas como se constrói a identidade<br />

corporativa? Qual é a relação entre pessoas e<br />

a marca de uma empresa? E qual é<br />

o papel da comunicação corporativa?<br />

Essas questões, relativas à <strong>Comunicação</strong> e<br />

Marketing, foram levantadas durante a palestra<br />

magna Nós, pessoas, fazemos a diferença na <strong>Comunicação</strong>,<br />

realizada por Fernando Byington Egydio<br />

Martins, vice-presidente executivo de Estratégia da<br />

Marca e <strong>Comunicação</strong> Corporativa para toda a<br />

América Latina do Banco Real ABN AMRO, no<br />

encerramento do 3º Simpósio de <strong>Comunicação</strong><br />

Integrada da Casa do Cliente <strong>Comunicação</strong> <strong>360</strong>º.<br />

Fernando Byington cita dados da<br />

Fundação Carnegie, centro de<br />

pesquisa sobre ensino superior<br />

nos Estados Unidos,<br />

para indicar que<br />

o sucesso profissional<br />

depende 15%<br />

do conhecimento<br />

técnico especializado<br />

e 85%<br />

da capacidade<br />

em lidar com<br />

pessoas. De acordo<br />

com o executivo,<br />

isso demonstra<br />

que em um<br />

mundo em transição<br />

– da sociedade industrial<br />

para a sociedade do conhecimento<br />

– no qual valores<br />

como transparência e consumo<br />

consciente se impõem cada vez mais,<br />

são as pessoas que fazem a diferença no centro<br />

e no eixo desses processos, principalmente na<br />

área de <strong>Comunicação</strong>. “Nós, no Banco Real, acreditamos<br />

que o entendimento da marca começa<br />

com os nossos funcionários e somente, então,<br />

se constrói um ciclo de relacionamento com os<br />

outros parceiros estratégicos”, afirma.


43 comunicação


44 comunicação<br />

‘Nós, no Banco Real,<br />

acreditamos que o<br />

entendimento da marca<br />

começa com os nossos<br />

funcionários e somente,<br />

então, se constrói um<br />

ciclo de relacionamento<br />

com os outros parceiros<br />

estratégicos’<br />

Fernando Byington<br />

Divulgação<br />

‘Os funcionários<br />

devem acreditar na<br />

cultura corporativa<br />

e conhecer<br />

profundamente a<br />

marca da companhia<br />

para serem capazes<br />

de passá-la a seus<br />

stakeholders’<br />

Lale Ergin Yolcu<br />

A construção da<br />

imagem institucional<br />

Como a imagem de uma organização é formada<br />

a partir de sua própria identidade, é preciso<br />

defini-la de dentro para fora para que seus<br />

empregados trabalhem a favor da marca ao<br />

invés de sabotá-la. Para Lale Ergin Yolcu, vicepresidente<br />

de Serviços em Marketing do<br />

Finansbank S.A. em Istambul (Turquia), os funcionários<br />

devem acreditar na cultura<br />

corporativa e conhecer profundamente a marca<br />

da companhia para serem capazes de passála<br />

a seus stakeholders. “Eles possuem emoções<br />

e sentimentos, por isso é necessário conhecer<br />

a opinião deles sobre como se sentem a<br />

respeito da marca pela qual trabalham, mas,<br />

provavelmente, eles não serão tão neutros<br />

como o público externo e podem expressar<br />

opiniões tendenciosas, pois exercem funções<br />

em um determinado setor e trabalham para<br />

toda a organização”, alerta Lale. Para diagnosticar<br />

as opiniões da equipe, ela aconselha fazer<br />

as mesmas perguntas destinadas ao público<br />

externo: “Anote o que faz sentido e não fique<br />

cego ou muito fascinado com os comentários<br />

deles de imediato, abra os olhos e escute cuidadosamente<br />

o que os outros pensam sobre<br />

você, principalmente aqueles que não compartilham<br />

sua rotina de negócios.”<br />

Segundo Larry Ackerman, diretor da Siegel &<br />

Gate (EUA) – uma empresa internacional de<br />

consultoria especializada em transformação<br />

comercial por meio de administração de marcas<br />

corporativas –, os empregados desempenham<br />

função primordial em dar forma à marca.<br />

“São eles que, por décadas, moldam a identidade<br />

e, conseqüentemente, a marca. O grande<br />

erro das empresas é achar que ela pode ser<br />

simplesmente inventada. Grandes marcas são<br />

autênticas representações das empresas que<br />

criam valor, pois geram lucros baseados na eficiência<br />

com que servem à sociedade”, acredita.<br />

Para Ackerman, é preciso desmistificar a identidade,<br />

torná-la compreensível, abrangente e<br />

administrável. “Estruturar a organização de<br />

forma integrada com a mente, com o corpo e<br />

com o coração de todos os seres humanos<br />

que ela, de maneira tão apaixonada, busca:<br />

clientes, funcionários e investidores”, explica o<br />

consultor no livro de sua autoria, Identidade é<br />

destino (ed. Cultrix, 2000). Para isso, ele sugere<br />

a avaliação da performance de uma organização<br />

por meio das Leis da Identidade (leia<br />

boxe). O exame atento das leis, uma a uma e<br />

obedecendo a uma seqüência, contribui para<br />

o alinhamento da empresa em torno da sua<br />

própria identidade. “As organizações deveriam<br />

ser estruturadas para capitalizar as capacidades<br />

humanas que lhes são inatas. Algo como<br />

olhar a própria imagem no espelho”, afirma.


Sinal de alerta Divulgação<br />

Pesquisa realizada em 25 países com 55 mil<br />

funcionários feita pela Enterprise IG, voltada<br />

para a área de marcas e estratégias com 22<br />

escritórios distribuídos pelo mundo, revela que<br />

somente um terço dos empregados acredita<br />

na cultura corporativa, interioriza a marca<br />

corretamente e é capaz de passá-la adiante.<br />

Mais de 70% dos empregados trabalham contra<br />

a empresa, em relação ao uso da logo da<br />

companhia e à crença na cultura corporativa.<br />

Cabe à <strong>Comunicação</strong> Corporativa minimizar<br />

os ruídos internos, coordenando todos os aspectos<br />

do desenvolvimento da marca, integrando<br />

suas atividades com as áreas de Recursos<br />

Humanos, Marketing, Vendas e outros<br />

setores estratégicos dentro da empresa.<br />

“O gestor de <strong>Comunicação</strong> é o maestro da<br />

orquestra no processo de construção da imagem<br />

da marca. É ele quem deve agregar os<br />

diversos talentos dentro da empresa, criar um<br />

comitê ou uma força-tarefa para coordenar<br />

o processo e manter informada a alta administração”,<br />

diz Ackerman.<br />

Com mais de um século de atuação no mercado,<br />

o AMRO Bank mantém os mesmos<br />

valores. “Evidentemente, eles foram se adaptando<br />

e se organizando de outra forma, mas<br />

se você olha a história da organização, isso é<br />

parte do que praticamos no dia-a-dia; e a<br />

missão e os valores estão representados no<br />

nosso modelo de negócios”, explica Fernando<br />

Byington. Ele destaca que a marca tem de ser<br />

entendida como um ativo estratégico para<br />

acompanhar a velocidade da sociedade digital.<br />

“A marca é o princípio organizador dessa<br />

visão de negócio, de aspectos tangíveis e<br />

intangíveis, presentes em nossas relações.<br />

De instrumento de marketing, passamos a<br />

tratá-la como um instrumento de gestão<br />

estratégica”, complementa.<br />

De acordo com Byington, a comunicação<br />

corporativa possui um papel primordial na<br />

perpetuação da imagem de uma organização<br />

e em sua sobrevivência ao longo dos anos.<br />

“Identidade reflete imagem e imagem ajuda a<br />

construir identidade, pois elas caminham juntas<br />

em um círculo virtuoso e dinâmico.”<br />

‘O gestor de<br />

<strong>Comunicação</strong> é o<br />

maestro da orquestra no<br />

processo de construção<br />

da imagem da marca.<br />

É ele quem deve agregar<br />

os diversos talentos<br />

dentro da empresa, criar<br />

um comitê ou uma<br />

força-tarefa para<br />

coordenar o processo e<br />

manter informada a alta<br />

administração’<br />

Larry Ackerman<br />

As Leis da Identidade<br />

1 – A Lei do Ser<br />

Toda organização composta de um ou<br />

mais seres humanos tem o direito de<br />

estar viva, exibir capacidades físicas,<br />

mentais e emocionais distintas, que não<br />

apenas derivam das pessoas que a<br />

compõem ao longo do tempo como<br />

também as transcendem.<br />

“Eu estou vivo,<br />

2 – A Lei da Individualidade<br />

As capacidades humanas de uma<br />

organização invariavelmente se fundem<br />

numa identidade distinta que torna essa<br />

organização algo único.<br />

sou único,<br />

3 – A Lei da Constância<br />

A identidade é algo fixo, transcende<br />

tempo e lugar, ao passo que suas<br />

manifestações estão em constante<br />

transformação.<br />

e imutável, mesmo quando cresço<br />

e me desenvolvo.<br />

4 – A Lei da Vontade<br />

Toda organização é obrigada, por<br />

necessidade, a criar valor de acordo com<br />

a própria identidade.<br />

No entanto, para de fato viver,<br />

devo me expressar por completo,<br />

5 – A Lei da Possibilidade<br />

A identidade prenuncia o potencial.<br />

e, ao fazê-lo, terei muito o<br />

que proporcionar.<br />

6 – A Lei do Relacionamento<br />

As organizações são inerentemente<br />

relacionais, mas as relações estabelecidas<br />

por elas só terão força se o alinhamento<br />

natural entre as identidades das partes<br />

também o tiver.<br />

Mas, para tanto, preciso dos<br />

outros, e sou mais produtivo ao<br />

lado daqueles que também<br />

precisam de mim.<br />

7 – A Lei do Entendimento<br />

O valor dos talentos individuais de uma<br />

organização depende do valor observado<br />

no todo dessa mesma organização.<br />

Para estabelecer esses<br />

relacionamentos, devo<br />

primeiro ser reconhecido por<br />

aquilo que sou,<br />

8 – A Lei do Ciclo<br />

A identidade determina o valor, o valor<br />

produz a riqueza, e a riqueza, por sua<br />

vez, preenche a identidade.<br />

para em seguida receber<br />

de acordo com aquilo que<br />

proporciono.”<br />

(Fonte: Identidade é destino, Ackerman,<br />

Laurence D., Ed. Cultrix, SP, 2000)<br />

45 comunicação


nó da questão<br />

46 comunicação<br />

A comunicação<br />

corporativa está se<br />

tornando mais estratégica.<br />

Esta é a principal<br />

conclusão da pesquisa<br />

realizada pela Casa do<br />

Cliente <strong>Comunicação</strong> <strong>360</strong>º<br />

com os participantes do<br />

3º Simpósio de<br />

<strong>Comunicação</strong> Integrada.<br />

A enquete, com<br />

profissionais de<br />

<strong>Comunicação</strong>, Marketing e<br />

Recursos Humanos – e<br />

também de Administração,<br />

Psicologia e outras áreas<br />

do saber –, aponta os<br />

principais nós da<br />

<strong>Comunicação</strong> Corporativa<br />

na opinião dos<br />

responsáveis pelo<br />

processo em grandes<br />

organizações<br />

Vanessa Aguiar


As<br />

muitas<br />

de um<br />

pontas<br />

mesmo<br />

nó<br />

47 comunicação


Boa notícia para os profissionais de<br />

<strong>Comunicação</strong> Corporativa. A maioria<br />

dos ent<strong>revista</strong>dos na enquete Qual é<br />

o nó da questão? revela que o planejamento<br />

de comunicação da sua empresa<br />

é baseado no planejamento estratégico<br />

do negócio (57%), e boa<br />

parte deles atua na elaboração das<br />

metas e objetivos desse plano (48%).<br />

Para Alexandre Soares, coordenador<br />

de Planejamento e Pesquisa da Casa<br />

do Cliente <strong>Comunicação</strong> <strong>360</strong>º, a informação<br />

ganha ainda mais relevância<br />

se considerarmos que a comunicação<br />

só pode atingir seu pleno<br />

potencial quando auxilia a organização<br />

a desenvolver e alcançar as metas<br />

e os objetivos traçados no plano de<br />

negócio. Um dado preocupante, porém,<br />

é a parcela de 33% de profissionais<br />

que apontam a falta de um programa<br />

estruturado de comunicação<br />

na organização, e dos que não participam<br />

da construção do planejamento<br />

estratégico ou simplesmente disseminam<br />

as informações sem colaborar<br />

na estratégia, que somam 40%.<br />

“Esses índices mostram que a área tem<br />

conquistado espaço nas empresas,<br />

sim, mas que ainda há um bom caminho<br />

a percorrer para que os departamentos<br />

de comunicação possam efetivamente<br />

contribuir para a conquista<br />

de resultados para a organização”,<br />

diagnostica Soares.<br />

48 comunicação<br />

Como a área de <strong>Comunicação</strong> participa<br />

da construção do Planejamento<br />

Estratégico da sua empresa?<br />

No suporte de<br />

informações<br />

11,9%<br />

Exclusivamente<br />

disseminando as<br />

informações<br />

28,6%<br />

Não participa<br />

11,9%<br />

<strong>Comunicação</strong> integrada:<br />

um emaranhado de interpretações<br />

Grande parte dos ent<strong>revista</strong>dos trabalha em empresas cujo departamento<br />

de <strong>Comunicação</strong> atua nos segmentos de <strong>Comunicação</strong> Interna<br />

(67%) e <strong>Comunicação</strong> Institucional (41%). Embora a maioria da amostra<br />

afirme que as organizações praticam a <strong>Comunicação</strong> Integrada (57%),<br />

muitos admitem que sua aplicação é moderada (42%).<br />

E é justamente este conceito que dá margem às mais variadas interpretações<br />

(veja gráfico “O que você entende por comunicação integrada?”).<br />

Enquanto a maioria dos ouvidos entende que <strong>Comunicação</strong> Integrada<br />

é o alinhamento das diversas áreas de <strong>Comunicação</strong>, a pesquisa<br />

aponta uma outra tendência, que considera como integrada a comunicação<br />

desenvolvida em parceria com as demais áreas da organização.<br />

Na elaboração das<br />

estratégias e objetivos<br />

47,6%<br />

Como é desenvolvido o planejamento<br />

de comunicação da sua empresa?<br />

Exclusivamente com base<br />

no expertise da área<br />

4,8%<br />

Não há planejamento,<br />

as ações são desenvolvidas<br />

para atender às demandas<br />

que surgem<br />

33,3%<br />

Em qual(is) esfera(s) de comunicação o seu<br />

departamento atua?<br />

<strong>Comunicação</strong><br />

Mercadológica<br />

28,6%<br />

Eventos Corporativos 2,4%<br />

<strong>Comunicação</strong><br />

Institucional<br />

40,5%<br />

Outros 4,8%<br />

RH 2,4%<br />

Com base no histórico da área<br />

de <strong>Comunicação</strong><br />

4,8%<br />

Com base no planejamento<br />

estratégico do negócio<br />

57,1%<br />

<strong>Comunicação</strong> Interna<br />

66,7%


O que você entende<br />

por <strong>Comunicação</strong><br />

Integrada?<br />

As várias definições sobre<br />

<strong>Comunicação</strong> Integrada foram<br />

agrupadas em seis vertentes,<br />

detalhadas ao lado.<br />

Sob a ótica de quem faz<br />

Agrupamento de todas as<br />

possibilidades de comunicação<br />

da organização<br />

11,9%<br />

<strong>Comunicação</strong> baseada<br />

no planejamento<br />

estratégico da<br />

empresa, alinhada com<br />

os valores e objetivos<br />

corporativos<br />

14,3%<br />

<strong>Comunicação</strong> única<br />

entre os departamentos e<br />

com o núcleo gestor<br />

19,1%<br />

Não compreendem o<br />

termo ou não<br />

responderam<br />

7,1%<br />

A maioria dos ent<strong>revista</strong>dos pela pesquisa Qual é o nó da questão? é do sexo feminino<br />

(76%), tem entre 25 e 40 anos de idade (55%), atua pelo menos há sete anos na área de<br />

<strong>Comunicação</strong> (52%) e tem formação acadêmica em uma das habilitações de <strong>Comunicação</strong><br />

Social (59%): Jornalismo, Publicidade e Relações Públicas. No quesito formação,<br />

ainda, chama a atenção o número de profissionais de Administração (11,9%) e de<br />

Psicologia (11,9%) presentes ao evento, o que confirma a crescente tendência do<br />

trabalho multidisciplinar na área de <strong>Comunicação</strong>.<br />

Entre os ent<strong>revista</strong>dos, 71% trabalham na iniciativa privada; 61% em organizações com<br />

mais de 500 funcionários. Ainda segundo os ouvidos, em muitas organizações<br />

o departamento de <strong>Comunicação</strong> está ligado à área de Recursos Humanos (38%) e de<br />

Marketing (outros 38%).<br />

Integração entre setores de comunicação<br />

(externa e interna) da empresa em prol do<br />

mesmo objetivo<br />

26,2%<br />

Trabalhar de forma integrada<br />

todas as ferramentas e veículos de<br />

comunicação<br />

21,4%<br />

‘Ainda há um bom<br />

caminho a percorrer para<br />

que os departamentos de<br />

<strong>Comunicação</strong> possam<br />

efetivamente contribuir<br />

para a conquista<br />

de resultados para<br />

a organização’<br />

Alexandre Soares<br />

49 comunicação


<strong>Comunicação</strong><br />

Institucional<br />

14,3%<br />

50 comunicação<br />

Redes corporativas<br />

A exemplo do que acontece na relação<br />

com os consumidores, observa-se um<br />

considerável crescimento da utilização da<br />

mídia virtual dentro das empresas. A pesquisa<br />

demonstra que os meios digitais<br />

(e-mail marketing e internet) têm a preferência<br />

de 95,2% dos participantes, perdendo<br />

apenas para os eventos<br />

corporativos, que representam 97,6%<br />

das ferramentas em comunicação.<br />

“Como a empresa é um microcosmo da<br />

sociedade, a mídia digital também entrou<br />

no dia-a-dia das corporações de<br />

forma impactante”, afirma Paulo Clemen,<br />

diretor de Atendimento e Planejamento<br />

da Casa do Cliente <strong>Comunicação</strong> <strong>360</strong>º.<br />

<strong>Comunicação</strong><br />

Mercadológica<br />

11,9%<br />

Principal Nó<br />

<strong>Comunicação</strong> Interna<br />

30,9%<br />

<strong>Comunicação</strong><br />

Interpessoal<br />

42,9%<br />

Paulo Clemen<br />

Faz parte da estratégia de<br />

comunicação da empresa<br />

30,9%<br />

Avaliação das ferramentas de comunicação<br />

(Notas de 1 a 5, sendo 1 para pouco eficiente e 5 para muito eficiente)<br />

Eventos corporativos<br />

Entre nós<br />

Além da intensificação do uso das mídias digitais, a avaliação das ferramentas de comunicação<br />

aponta uma preferência por atividades e veículos que facilitem a comunicação interpessoal.<br />

Não é à toa que o principal nó, segundo os ent<strong>revista</strong>dos, seja a comunicação face a face<br />

(43%), seguida pela comunicação interna (31%). Para a consultora de <strong>Comunicação</strong> Empresarial<br />

Cristina Mello, essas respostas são bastante significativas. “Quando cruzamos esses<br />

índices com as respostas sobre a comunicação face a face, em que 43% dos ent<strong>revista</strong>dos<br />

afirmam que o processo depende da vontade dos líderes ou da sua capacidade de reproduzir<br />

as diretrizes da organização, percebemos por que este é o grande nó da questão”.<br />

Com o objetivo de otimizar a comunicação entre líderes e seus públicos internos, a Casa do<br />

Cliente <strong>Comunicação</strong> <strong>360</strong>º desenvolveu o Internal Communication Training (ICT). “Até a<br />

década de 90, os executivos eram meramente técnicos e tinham como foco apenas a<br />

produção nas organizações. A atenção especial às pessoas é recente e necessita de aprendizado”,<br />

conclui Paulo Clemen, que, ao lado de Cristina Mello, coordena o treinamento.<br />

Processo Face a Face<br />

Não é desenvolvido<br />

de modo estruturado<br />

26,2<br />

Internet<br />

E-mail marketing<br />

Treinamentos<br />

Cartaz 3,5<br />

Revista 3,4<br />

Boletim<br />

Cartilha<br />

Depende da iniciativa de<br />

cada gestor/líder de equipe<br />

42,9%<br />

3,2<br />

3,1<br />

Desata-me<br />

4,2<br />

4,1<br />

4,1<br />

4,0<br />

Os ent<strong>revista</strong>dos conferiram nota média<br />

de 6,3 à comunicação de suas empresas,<br />

e apontaram alguns caminhos<br />

para a melhoria do processo. Entre as<br />

várias sugestões, algumas se destacam:<br />

implantar uma estratégia de comunicação<br />

integrada; aproximar e<br />

conscientizar os gerentes para o processo<br />

de comunicação; desenvolver<br />

mais os canais de comunicação; melhorar<br />

o planejamento das atividades; e<br />

aumentar a reciclagem e capacitação<br />

dos profissionais de <strong>Comunicação</strong>.<br />

Caminhos ao alcance de todos nós.


Alinhavando os resultados<br />

A pesquisa submeteu algumas afirmativas aos ent<strong>revista</strong>dos, que as classificaram de acordo<br />

com uma escala de 1 a 5 (sendo 1 para “discordo plenamente” e 5 para “concordo plenamente”).<br />

O coordenador do trabalho, Alexandre Soares, traçou um diagnóstico para cada<br />

alternativa, como você confere abaixo.<br />

Afirmativa: A ação planejada da área<br />

de <strong>Comunicação</strong> é capaz de modificar<br />

a comunicação interpessoal da<br />

empresa – 3,9<br />

Alexandre Soares – A média é um sinal<br />

de que os profissionais da área consideram<br />

possível solucionar o principal nó dentro das<br />

organizações. O setor de <strong>Comunicação</strong> deve<br />

liderar o processo face a face, organizando<br />

e padronizando a prática na empresa, de<br />

forma a reduzir o peso do carisma pessoal<br />

dos gestores nesta questão.<br />

Afirmativa: O processo de comunicação<br />

organizacional depende do<br />

perfil do líder da empresa – 4<br />

A.S. – Um reconhecimento da força do<br />

líder e da dinâmica que ele pode empreender<br />

ao processo de comunicação.<br />

Complementando o pensamento exposto<br />

na afirmativa anterior, o consenso dos profissionais<br />

demonstra que a área de <strong>Comunicação</strong><br />

deve se aproximar cada vez mais do<br />

núcleo gestor da organização.<br />

Afirmativa: Os setores da minha<br />

empresa estão voltados para a<br />

mensuração dos resultados – 3,5<br />

A.S. – As respostas se concentraram entre<br />

a neutralidade e a concordância. Como o<br />

tema é novo para a área de <strong>Comunicação</strong>,<br />

não há uma linha de pensamento definida,<br />

embora o senso geral aponte para uma cultura<br />

de resultados em toda a organização.<br />

Alexandre Soares<br />

Afirmativa: Os gestores da minha empresa<br />

conduzem a comunicação face<br />

a face com suas equipes, são verdadeiros<br />

gestores de pessoas – 3<br />

A.S. – A neutralidade marcou a resposta dos<br />

profissionais, confirmando que a comunicação<br />

face a face depende da iniciativa dos<br />

gestores, uma atribuição pessoal independente<br />

do fluxo de comunicação da empresa.<br />

Afirmativa: Os setores da minha<br />

empresa (como Financeiro, <strong>Comunicação</strong>,<br />

RH) trabalham de forma menos<br />

integrada do que seria a situação<br />

ideal – 3,7<br />

A.S. – Embora alguns profissionais discordem<br />

da afirmativa, a maioria confirma que<br />

sua empresa se encontra nesse estágio. Esta<br />

realidade apresenta um amplo espaço para<br />

que a <strong>Comunicação</strong> atue na aproximação<br />

dos setores, complementando o esforço<br />

para a melhoria da comunicação interpessoal.<br />

Afirmativa: A comunicação interpessoal<br />

na minha empresa é precisa e construtiva,<br />

impedindo a disseminação de<br />

boatos e a “rádio corredor” – 2,5<br />

A.S. – A maior parte dos ent<strong>revista</strong>dos<br />

discorda desta afirmativa. As falhas na comunicação<br />

interpessoal e a dificuldade em<br />

implementar um programa face a face de qualidade<br />

possibilitam a disseminação de boatos e<br />

a institucionalização da temida “rádio peão”.<br />

Afirmativa: A comunicação na minha<br />

empresa tem o seu resultado<br />

mensurado – 2,9<br />

A.S. – Por ser um tema novo, a neutralidade<br />

abre um viés para discordância, mostrando<br />

que o tema precisa ser mais difundido<br />

nas empresas.<br />

Afirmativa: As ações de comunicação<br />

da minha empresa estão alinhadas<br />

ao planejamento estratégico do<br />

negócio – 3,8<br />

A.S. – O resultado confirma que os profissionais<br />

de <strong>Comunicação</strong> estão alinhados ao<br />

planejamento estratégico da empresa. É um<br />

reconhecimento do papel da área na construção<br />

do branding, e não apenas como<br />

disseminadora ou “divulgadora” da estratégia<br />

da organização.<br />

51 comunicação


mundo<br />

empresarial<br />

52 comunicação<br />

Um olhar<br />

crítico<br />

sobre o<br />

Há tempos, há uma visão acadêmica do<br />

mundo corporativo. Mas apenas agora<br />

ela começa a exercer influência direta<br />

sobre as decisões estratégicas das<br />

empresas. Mestre em Ciências Sociais<br />

pela Universidade de Chicago, doutora<br />

em Antropologia Social pela<br />

Universidade Federal do Rio de Janeiro<br />

(UFRJ), além de pesquisadora da Escola<br />

Superior de Propaganda e Marketing<br />

(ESPM) e professora de Antropologia da<br />

Universidade Federal Fluminense (UFF),<br />

Lívia Barbosa confirma uma nova<br />

tendência das organizações: utilizar<br />

conceitos da Antropologia para<br />

entender a dinâmica e as diferenças<br />

culturais no ambiente de trabalho.<br />

A disciplina, que tem por objeto de<br />

estudo o homem, dirige seu foco para o<br />

profissional corporativo e traz à luz as<br />

contradições do mundo empresarial.<br />

Autora de livros como O jeitinho<br />

brasileiro; Igualdade e meritocracia;<br />

Cultura e empresas; e Sociedade de<br />

consumo, nossa ent<strong>revista</strong>da aborda<br />

temas como cultura organizacional,<br />

desenvolvimento sustentável e<br />

identidade, sempre com<br />

espírito crítico e questionador<br />

Renata Cabral


<strong>Comunicação</strong> <strong>360</strong>º – Nos últimos anos,<br />

percebemos a aproximação entre a Antropologia<br />

e o mundo corporativo, numa tendência<br />

que já vem sendo conhecida como antropologia<br />

empresarial. De que forma a disciplina<br />

pode auxiliar as empresas a atingirem melhores<br />

resultados?<br />

Lívia Barbosa – A Antropologia não é algo<br />

que se possa associar à cultura organizacional.<br />

Ela oferece um olhar diferenciado do universo<br />

empresarial. Não se trata de uma abordagem<br />

psicanalítica nem psicológica nem econômica.<br />

Ela visa entender e reconstruir a lógica<br />

e os valores que orientam e organizam a<br />

vida no interior de uma organização, as relações<br />

interpessoais e as relações com o trabalho.<br />

Assim como nós, antropólogos, estudamos<br />

isso numa sociedade indígena, estudamos<br />

também numa empresa.<br />

Antigamente, o paradigma que orientava<br />

educação, administração e marca era econômico:<br />

produção, técnica de administração,<br />

aferição etc. De 1950 a 1970, houve uma<br />

grande influência da Psicologia para desvendar<br />

as motivações do consumidor e das pessoas<br />

no trabalho. Hoje, o paradigma em voga<br />

é a Antropologia. Na UFF, começamos a estudar<br />

essa dimensão do universo corporativo<br />

ainda na década de 90.<br />

‘Tenho profunda<br />

antipatia por campanhas<br />

motivacionais,<br />

psicológicas, dessas em<br />

que todos choram, dão<br />

as mãos ou botam a<br />

alma para fora. Apesar<br />

de toda a ideologia de<br />

mudança, o ambiente de<br />

trabalho se modifica<br />

muito lentamente’<br />

Com a globalização, o contato entre culturas<br />

e interculturas aumenta cada vez mais. Mais<br />

do que nunca é necessário compreender a<br />

relação entre essas múltiplas lógicas. Como as<br />

pessoas constroem suas realidades de forma<br />

diferenciada, isso se torna mais importante<br />

para os negócios.<br />

<strong>Comunicação</strong> <strong>360</strong>º – No Brasil, a cultura<br />

organizacional tem uma conotação diferente<br />

em empresas privadas ou públicas?<br />

L.B. – Certamente. Um exemplo é a prestação<br />

de contas. No setor público, embora<br />

teoricamente se preste contas à sociedade,<br />

no dia-a-dia essa noção é muito difusa, por<br />

conta do próprio tipo de autoridade e de<br />

hierarquia funcional. Na verdade, o chefe do<br />

servidor é o presidente da República. Na empresa<br />

privada, todos sabem a quem respondem.<br />

Assim como é claro que você é pago<br />

para resolver problemas, para imaginar como<br />

pode fazer melhor ou como pode se antecipar a<br />

tendências e estar preparado para responder de<br />

forma mais rápida e efetiva a elas. No setor público,<br />

eu diria que há zero de proatividade.<br />

Ao contrário, há uma reatividade. Outro aspecto<br />

é a organização do tempo. Na empresa privada,<br />

existe uma noção clara de tempo e de prazos.<br />

Hoje, isso é muito vago na administração<br />

pública. Sem ninguém cobrando, cria-se uma<br />

zona de conforto.<br />

<strong>Comunicação</strong> <strong>360</strong>º – E em que aspectos<br />

somos diferentes de americanos e europeus,<br />

por exemplo?<br />

L.B. – Os resultados são obtidos independentemente<br />

do tipo de cultura da empresa<br />

– a lógica de negócios não se altera. As maiores<br />

diferenças residem na forma como os processos<br />

são desenvolvidos, em como o trabalho<br />

é visto e nas relações interpessoais.<br />

Esses fatores interferem na noção de tempo,<br />

de proatividade.<br />

Além disso, existem diferenças enganosas<br />

– quando você imagina que está falando a<br />

mesma coisa que o outro. Às vezes a palavra<br />

é a mesma, mas o conteúdo cultural é<br />

muito distinto. Pode haver dificuldades em<br />

ajustar esse universo semântico para que<br />

tudo funcione a contento.<br />

Entre empresas norte-americanas e européias<br />

há muitas diferenças quanto a demandas, ritmo<br />

e prazos. As americanas são mais agressivas,<br />

mais duras. Cada vez invadem mais a vida<br />

privada, ocupando um maior número de horas.<br />

As empresas brasileiras seguem mais o<br />

modelo americano do que o europeu. Trabalhar<br />

12 horas tornou-se praxe. Mas uma característica<br />

nossa é o “papo”. Há muita<br />

interação humana, o que faz com que o ambiente<br />

de trabalho no Brasil seja bom, gostoso.<br />

Já nos Estados Unidos o clima é competitivo.<br />

Consideramos a competição um mecanismo<br />

social negativo mas, para o americano, o modo<br />

natural de estar no mundo é competindo.<br />

O europeu tem menos interação no trabalho.<br />

E tem uma noção muito clara de que há algo<br />

além da empresa. Após as 17 horas, mesmo<br />

sem concluir a agenda p<strong>revista</strong>, volta para casa.<br />

Ele se dedicou e entende que, se o tempo não<br />

foi suficiente, alguém dimensionou mal o tamanho<br />

da tarefa.<br />

<strong>Comunicação</strong> <strong>360</strong>º – Em ent<strong>revista</strong> ao site<br />

Talentos e Resultados, você destacou que para<br />

grande parte dos brasileiros o trabalho não é<br />

elemento de identidade e, sim, de sobrevivência.<br />

De que forma as empresas podem reverter<br />

esta percepção de seus funcionários?<br />

A comunicação corporativa pode contribuir<br />

neste processo?<br />

L.B. – Em primeiro lugar, não acho que as<br />

empresas têm condições de serem instituições<br />

totais, de englobarem todas as dimensões da<br />

vida pessoal de seus funcionários. Isso é um<br />

grande equívoco. Não faz sentido implantar<br />

um programa de qualidade de vida com este<br />

objetivo. A qualidade de vida advém justamente<br />

do equilíbrio de várias esferas.<br />

O fato de o trabalho ser “uma” identidade e<br />

não “a” identidade no Brasil tem implicações.<br />

No universo acadêmico, certamente ele é uma<br />

fonte de identidade, assim como no meio executivo.<br />

Mas o trabalho não era, ainda não é, e<br />

eu espero que nunca se torne a única identidade,<br />

como, por exemplo, no Japão, onde<br />

você se define muito mais pelo trabalho que<br />

desempenha do que como indivíduo. Ou mesmo<br />

nos Estados Unidos, onde grande parte<br />

de sua identidade está centrada na atividade<br />

profissional.<br />

<strong>Comunicação</strong> <strong>360</strong>º – Que fatores determinam<br />

a motivação e a satisfação profissional?<br />

L.B. – Na minha opinião, eles estão nas situações<br />

de desafio – com noções como a de<br />

responsabilidade social, que hoje qualquer trabalho<br />

tem. Há várias formas de motivar as<br />

pessoas. Por exemplo, uma tarefa bem feita é<br />

motivo de orgulho. Obviamente, é preciso ter<br />

condições de trabalho justas.<br />

Tenho profunda antipatia por campanhas<br />

motivacionais, psicológicas, dessas em que<br />

todos choram, dão as mãos ou botam a alma<br />

para fora. Apesar de toda a ideologia de mudança,<br />

o ambiente de trabalho se modifica muito<br />

lentamente. As mesmas situações de crise e de<br />

dificuldade anteriores àquele grande encontro<br />

emocional vão continuar perdurando, só que<br />

agora numa situação em que a pessoa já se<br />

fragilizou e se expôs. Do ponto de vista afetivo,<br />

não vejo resultado nisso. Andar em cima de brasa,<br />

gritar em cima da mesa “o cliente é nosso”...<br />

Isso para mim é lavagem cerebral, não tem valor<br />

algum. O ambiente da organização não se altera,<br />

porque a estrutura e as práticas são as mesmas e<br />

não se modificam por um estado emocional.<br />

No dia seguinte, os mesmos problemas vão<br />

estar sobre a mesa.<br />

Há muita onda em torno de criatividade e de motivação,<br />

o que surte efeito, certamente, em tarefas<br />

que intrinsecamente já têm tudo para ser<br />

motivadoras. Isso não tira a dignidade desse trabalho<br />

do ponto de vista social.<br />

53 comunicação


54 comunicação<br />

‘No Brasil, temos uma<br />

cultura de oralidade,<br />

preferimos a comunicação<br />

oral à escrita. Por isso a<br />

“rádio corredor” aqui tem<br />

uma eficiência fantástica.<br />

Pode ser que essa<br />

geração digital, que está<br />

construindo seus próprios<br />

meios de comunicação,<br />

faça a diferença’<br />

‘Para a empresa dizer que tem<br />

valores como a ética ou que tem<br />

como prioridade seu funcionário é<br />

melhor não dizer nada. Hoje, virou<br />

moda dizer que a empresa é ética.<br />

Eu tenho todo o direito de pensar<br />

que antes ela não era. E ser ético<br />

não é um valor. É uma obrigação’<br />

Mas devemos ter cuidado com essa idéia,<br />

porque não basta estar motivado. Há funções<br />

burocráticas que não motivam as pessoas.<br />

Não posso imaginar qual é o estímulo<br />

ou a criatividade que você possa ter como<br />

ascensorista, não pela perspectiva profissional,<br />

mas pela tarefa em si, embora haja ascensoristas<br />

muito bem-humorados. Às vezes,<br />

a tarefa em si já é um limite concreto.<br />

Outro dado é que nem todo mundo gosta<br />

de trabalhar. Há pessoas que têm uma relação<br />

de sobrevivência com o trabalho, o que<br />

também é um direito legítimo. Elas provavelmente<br />

se entusiasmam com outras<br />

relações, na vida privada. As empresas têm<br />

de perceber isso.<br />

<strong>Comunicação</strong> <strong>360</strong>º – É possível mudar<br />

uma cultura organizacional?<br />

L.B. – Hoje, há uma grande ideologia de<br />

mudança. Mas entro nas empresas e ouço<br />

as mesmas questões há 15 anos. Podem ter<br />

mudado os procedimentos tecnológicos,<br />

mas os problemas continuam os mesmos:<br />

brigas por poder, por território, dificuldades<br />

de implementar mudanças por conta<br />

de mil regras.<br />

Mas mudança e novidade têm diferentes<br />

significados. A empresa é a instituição mais<br />

dinâmica do mundo contemporâneo: ela<br />

incorpora novidades – como tecnologias –<br />

com uma rapidez incrível, mas não necessariamente<br />

mudanças.<br />

<strong>Comunicação</strong> <strong>360</strong>º – E qual seria o papel<br />

dos gestores e da comunicação nesse<br />

processo de mudança?<br />

L.B. – Vejo a comunicação corporativa<br />

como um problema em todo lugar. Até em<br />

empresas de comunicação você ouve aquela<br />

piadinha de que os profissionais se comunicam<br />

mal. Eu não sei bem o que é uma boa<br />

comunicação corporativa. Há várias novas<br />

tecnologias de comunicação: intranet, informes<br />

institucionais e informações internas<br />

que circulam. A questão é: as pessoas<br />

lêem? Estão interessadas em ser informadas?<br />

Quando se implanta um processo de mudança<br />

organizacional, a comunicação se<br />

torna vital, porque as pessoas têm de entender<br />

o que acontece, não só do ponto<br />

de vista racional, mas o quanto isso afeta o<br />

cotidiano delas. É nesse momento que a<br />

comunicação é essencial e é nesse momento<br />

que ela falha. As empresas enviam todo<br />

tipo de aviso. Mas na hora H há sempre<br />

alguém que nunca havia ouvido falar disso.<br />

Sei que a comunicação corporativa é fundamental,<br />

e que é mal usada, não por falta<br />

de recursos técnicos. No Brasil, temos uma<br />

cultura de oralidade, preferimos a comunicação<br />

oral à escrita. Por isso a “rádio corredor”<br />

aqui tem uma eficiência fantástica.<br />

Pode ser que essa geração digital, que está<br />

construindo seus próprios meios de comunicação,<br />

faça a diferença. São novas gramáticas<br />

com outras lógicas de comunicação.<br />

<strong>Comunicação</strong> <strong>360</strong>º – Como trabalhar a<br />

comunicação institucional de uma empresa<br />

de forma que ela seja percebida de uma<br />

única maneira pelos stakeholders, com suas<br />

muitas diferenças culturais?<br />

L.B. – Geralmente, os valores que a em-<br />

presa quer exprimir para fora estão muito relacionados<br />

com a identidade organizacional<br />

que ela quer projetar, o modo como quer ser<br />

vista pelo mercado, e que necessariamente<br />

não são os valores que ela precisa reproduzir<br />

internamente. Para a empresa dizer que tem<br />

valores como a ética ou que tem como prioridade<br />

seu funcionário é melhor não dizer nada.<br />

Isso é o nada. Hoje, virou moda dizer que a<br />

empresa é ética. Eu tenho todo o direito de<br />

pensar que antes ela não era. E ser ético não é<br />

um valor. É uma obrigação. Dizer que seu<br />

funcionário é seu maior capital, mas fazê-lo<br />

trabalhar 14 horas por dia e depois inseri-lo<br />

num programa de qualidade de vida? Eu me<br />

sentiria enganada. Mais ainda: dizer hoje que<br />

seu funcionário é seu grande capital é dizer<br />

nada. Hoje, na era da informação, do conhecimento,<br />

as pessoas são, sempre, o maior capital.<br />

Aliás, sempre deveriam ter sido.<br />

Esses são valores que aparentemente dizem<br />

muito, mas não dizem nada porque são destituídos<br />

de conteúdo concreto e geralmente<br />

contradizem em grande parte a realidade cotidiana<br />

da empresa. E o Estado, como tem<br />

coragem de falar em meio ambiente quando<br />

há dez anos ele não faz sua parte no que diz<br />

respeito à poluição, ou a fez de uma forma<br />

absolutamente lenta ou inoperante na Baía de<br />

Guanabara? Como um Estado pode falar em<br />

cotas raciais se ele obriga a universidade priva-


da a ter rampas para pessoas com deficiência<br />

física e numa universidade pública não há nada<br />

disso? São valores vazios, absolutamente<br />

irrelevantes, tanto na empresa quanto no<br />

governo. Isso, que faz parte do tratamento<br />

digno do outro, deveria ser intrínseco<br />

à condição humana.<br />

Se formos discutir aspectos relevantes para<br />

administração não vamos discutir missão, valores<br />

etc. Ética, sinceramente, eu já não agüento<br />

mais. E o “agora somos uma empresa<br />

diversa?” Então, antes discriminávamos?<br />

<strong>Comunicação</strong> <strong>360</strong>º – Quando há fusão<br />

ou aquisição de empresas, a área de <strong>Comunicação</strong><br />

costuma desempenhar um papel estratégico<br />

no planejamento e na implementação<br />

de um plano para promover a unificação ou a<br />

implantação de uma nova cultura. Em sua<br />

opinião, o que é essencial para que esse trabalho,<br />

de longo prazo, seja bem-sucedido?<br />

L.B. – Nesse momento, a <strong>Comunicação</strong> é<br />

fundamental. Se são duas empresas de diferentes<br />

nacionalidades, há duas culturas<br />

organizacionais, duas línguas, e a linguagem<br />

pode dar margem a equívocos. Uma das<br />

melhores saídas é sempre conferir autonomia<br />

às pontas, deixar as pessoas gerenciarem o<br />

processo. Claro que parâmetros mínimos precisam<br />

ser estabelecidos – com concordância<br />

de objetivos e de formas de atuação socialmente<br />

responsáveis. Eles são sua marca enquanto<br />

empresa, sua base.<br />

Mudar significa redefinir a realidade. Isso,<br />

de início, já é um problema. Será preciso<br />

redefinir sua relação com o trabalho, com<br />

seus colegas, com territórios, com poderes<br />

e, do ponto de vista intelectual, isso é fácil.<br />

Mas mudar, na prática, é difícil. E ninguém<br />

compra uma empresa para ignorá-la.<br />

Você não pode comprar uma usina que polui<br />

o ambiente e não encarar isso. Você tem de<br />

saber o tamanho do problema que<br />

está comprando.<br />

Antes da função da <strong>Comunicação</strong>, há justamente<br />

a da Antropologia, de traduzir esses<br />

códigos. Para comunicar corretamente, é<br />

preciso ter certeza de que as pessoas estão<br />

– não do ponto de vista lingüístico, mas do<br />

cultural – falando sobre as mesmas coisas.<br />

<strong>Comunicação</strong> <strong>360</strong>º – Como atender à<br />

exigência do mercado de medir resultados<br />

e avaliar desempenho numa sociedade em<br />

que a avaliação é, com freqüência, percebida<br />

de forma negativa?<br />

L.B. – Esse processo sempre será tenso em<br />

qualquer lugar. No Brasil, detestamos avaliação<br />

e desempenho. Escrevi um livro especificamente<br />

sobre isso, Igualdade e<br />

Meritocracia. Para o brasileiro, uma posição<br />

numa hierarquia de mérito significa uma<br />

inferioridade moral, e não meramente um<br />

resultado contextual. A lógica brasileira é<br />

de distribuição eqüitativa de resultados.<br />

Na esfera pública ninguém quer medir resultados,<br />

certamente. Embora ali você tenha,<br />

talvez, os maiores desequilíbrios.<br />

Há pessoas que “carregam as instituições”:<br />

conhecem seu funcionamento, são<br />

dedicadas, estão lá o tempo todo e fazem<br />

o negócio andar. E há aquelas que pensam:<br />

“ninguém vai me mandar embora, e,<br />

portanto, faço no ritmo que eu quiser”.<br />

Por outro lado, as pessoas se acham<br />

injustiçadas. Querem ser reconhecidas por seu<br />

mérito até serem avaliadas e verem que não<br />

ocuparam o primeiro lugar. No Brasil se avalia,<br />

mas não se recompensa. É a única meritocracia<br />

do mundo que não dá prêmio nem punição,<br />

na maioria dos casos.<br />

<strong>Comunicação</strong> <strong>360</strong>º – Segundo sua avaliação,<br />

anteriormente entendia-se por função<br />

social da empresa compartilhar os deveres<br />

do Estado. Hoje, qual é o comportamento<br />

esperado de uma empresa socialmente<br />

responsável?<br />

L.B. – Antes, as empresas se negavam a ter<br />

uma responsabilidade social. Elas tinham responsabilidade<br />

econômica. Hoje, a função delas<br />

é criar riquezas de forma responsável.<br />

Não podem dar emprego, ter lucro e destruir<br />

o meio ambiente. Uma empresa socialmente<br />

responsável tem noção do impacto que causa<br />

onde chega, e é responsável por ele tanto do<br />

ponto de vista social quanto ecológico.<br />

As políticas de restrição e o controle ambiental<br />

vão ser cada vez maiores, e as empresas vão<br />

responder a isso: colocando filtros, não emitindo<br />

fumaça, procurando elementos menos<br />

poluentes etc. Essas medidas, por incrível que<br />

pareça, são fáceis de serem resolvidas e controladas.<br />

Trazer o discurso da sustentabilidade<br />

para a vida cotidiana, aí, sim, é difícil.<br />

Nas empresas, houve uma mudança imposta<br />

pela sociedade. Espontaneamente, elas não<br />

mudariam, tanto que ouvi a afirmação de que<br />

o custo seria repassado ao consumidor, ou<br />

seja, era mais fácil poluir e depois recuperar.<br />

Esse argumento foi usado durante anos, também<br />

por países em desenvolvimento, como o<br />

Brasil. Hoje, já sabemos que há impactos sociais<br />

que transcendem as fronteiras nacionais, impactos<br />

ecológicos que no fim afetam a todos.<br />

E, em algum momento, todos vão perder.<br />

Ainda assim, nas empresas, o controle é mais<br />

fácil. Na vida cotidiana, isso significa o<br />

monitoramento da vida privada, que levaria a<br />

uma situação de muita tensão social. Fala-se<br />

em sustentabilidade da grande agricultura.<br />

Faça agricultura individual, familiar, e veja se<br />

você sustenta o mundo. Tire o agrotóxico. O<br />

mundo não tem problemas de alimentos, mas<br />

de distribuição de alimentos. E a grande quan-<br />

tidade de produção que se tem é fruto da<br />

revolução verde, a dos pesticidas na década<br />

de 60. A terra não suporta uma revolução<br />

para a agricultura familiar. Será preciso ajustar<br />

a sociedade ao ritmo da natureza.<br />

Aí teremos de falar de assuntos que ninguém<br />

quer ouvir, como o controle da natalidade.<br />

Não conseguiríamos sustentar o mundo com<br />

uma agricultura orgânica. Esses são os problemas<br />

da sustentabilidade. É um discurso generoso,<br />

envolvente, que se aplica bem ao controle<br />

empresarial, mas está longe de resolver o<br />

problema da humanidade. A não ser que fôssemos<br />

viver num estado totalitário.<br />

‘Antes da função da<br />

<strong>Comunicação</strong>, há justamente<br />

a da Antropologia,<br />

de traduzir os códigos.<br />

Para comunicar corretamente,<br />

é preciso ter certeza de que as<br />

pessoas estão – não do ponto<br />

de vista lingüístico, mas do<br />

cultural – falando sobre as<br />

mesmas coisas’<br />

55 comunicação


artigo<br />

quem?<br />

Regina Migliori, educadora, advogada e escritora,<br />

é Diretora Presidente do Instituto Migliori e consultora de<br />

Cultura de Paz da Unesco. No Brasil, é pioneira na criação<br />

de Programas de Educação e Gestão centrados<br />

em Valores Humanos Universais<br />

56 comunicação<br />

Sob o<br />

ângulode<br />

Regina Migliori<br />

Divulgação<br />

N<br />

ós,


Estamos habituados a lidar com desafios.<br />

Há desafios menores, como acordar cedo,<br />

fazer ginástica, comer de forma saudável,<br />

lidar com o congestionamento nas ruas.<br />

Há também os mais complexos, como lidar<br />

com o que os outros sentem e pensam,<br />

com o que nós mesmos sentimos e pensamos;<br />

pagar as contas em dia; harmonizar o<br />

tempo entre o que é prioritário e o que não é.<br />

Eu diria que estas são as preocupações de<br />

muita gente no dia-a-dia.<br />

Há também os desafios das organizações,<br />

buscando alinhamento entre a natureza de<br />

seu negócio e todos os seus stakeholders;<br />

desafios políticos, econômicos, sociais. Tudo<br />

isso já é bastante conhecido.<br />

Mas o que caracteriza os dias de hoje não é<br />

somente um conjunto de desafios que se<br />

renova a cada dia. Isso pode até ser novo,<br />

mas já é conhecido. O que temos<br />

de realmente desafiador no século XXI<br />

são os desafios do “nós”: uma nova<br />

categoria de desafios.<br />

Pela primeira vez na nossa história estamos<br />

diante de um conjunto de desafios que se<br />

apresenta simultaneamente para toda a<br />

humanidade. A causa ambiental, a miséria<br />

humana, o desequilíbrio social, a<br />

globalização econômica, o mercado financeiro,<br />

as questões políticas são problemas<br />

que não se solucionam somente pela boa<br />

vontade ou iniciativa de um só. Estamos<br />

sendo desafiados a nos entendermos<br />

como humanidade.<br />

As questões da atualidade exigem que nos<br />

posicionemos, antes de qualquer outra coisa,<br />

como seres humanos. É identificando o<br />

que existe de humano em nós que temos<br />

alguma chance de sobreviver como humanidade.<br />

É acionando nossas inteligências e<br />

com muito esforço comum que vamos superar<br />

essa nova categoria de desafios. Isso é<br />

muito novo. Nossa geração precisa conseguir<br />

se perceber atuando e impactando em<br />

todos esses aspectos desafiadores.<br />

Estamos sendo desafiados a nos entendermos<br />

e a sermos competentes como seres<br />

humanos capazes de resolver os desafios da<br />

questão ambiental, do distanciamento social,<br />

dos novos modelos econômicos, das novas<br />

formas de trabalhar aqui e do outro lado do<br />

mundo. Isso nunca foi visto. É novo, é<br />

urgente. E depende de NÓS.<br />

57 comunicação


expressão<br />

Lugar de destaque<br />

Criada por Felipe Franca e Tatianna Togashi,<br />

diretores de arte da Casa do Cliente<br />

<strong>Comunicação</strong> <strong>360</strong>°, exclusivamente para o<br />

3º Simpósio de <strong>Comunicação</strong> Integrada e<br />

distribuída a todos os participantes, a pasta<br />

produzida com o apoio da gráfica Minister<br />

abrigou muitas idéias e conhecimentos<br />

58 comunicação<br />

Entrando no clima<br />

A decoração ganhou um<br />

toque especial com<br />

verdadeiros móbiles de<br />

palha sugerindo o tema<br />

proposto pelo Simpósio:<br />

os nós da comunicação<br />

Bons<br />

Nós. Pessoas e laços. Os objetos de desejo do<br />

3º Simpósio de <strong>Comunicação</strong> Integrada foram além<br />

dos bens materiais. Não faltaram pasta para guardar sonhos,<br />

iguarias para alimentar a alma, elementos<br />

artísticos para iluminar os olhos nem santa para invocar a fé<br />

Francielle Pinho<br />

relacionamentos


melhores<br />

e as<br />

lembrancas<br />

Bom demais<br />

Só de olhar dá vontade de saborear<br />

novamente. Todos que participaram<br />

do encontro puderam aliviar o<br />

“nó da garganta” com este<br />

maravilhoso brunch servido no<br />

Simpósio, assinado pelo Senac Bistrô<br />

Estica e puxa!<br />

Enquanto todos aguardavam<br />

ansiosos a abertura do Simpósio, a<br />

contorcionista Érika Martinelli se<br />

aquecia para impressionar<br />

a todos com sua destreza.<br />

O palhaço Muzzarela<br />

(Rafael Senna) pintava literalmente o<br />

rosto para encantar a platéia com<br />

suas brincadeiras<br />

Uma questão de fé<br />

No fim do evento, os<br />

participantes ganharam<br />

um santinho com a<br />

oração e a imagem de<br />

Nossa Senhora<br />

Desatadora dos Nós,<br />

invocada para desatar os<br />

nós que atrapalham<br />

nossa vida. A festa da<br />

santa é celebrada dia<br />

8 de dezembro<br />

Nó artístico e transparente<br />

“Quem não se comunica se enrola” – a frase deu<br />

um tom bem-humorado ao objeto que<br />

transformou o nó em arte. Envolvida por um cubo<br />

de acrílico, a peça, concebida pela equipe de<br />

Criação da Casa do Cliente <strong>Comunicação</strong> <strong>360</strong>°, foi<br />

a lembrança oferecida aos palestrantes do evento<br />

59 comunicação


Não é à toa que todo<br />

bom negócio começa com<br />

uma assinatura.<br />

Assine a <strong>revista</strong> <strong>Comunicação</strong> <strong>360</strong>º<br />

e tenha uma visão completa<br />

do mercado de<br />

comunicação corporativa.<br />

Informações:<br />

(21) 2549-1217 com Luiza Santana<br />

assinaturacomunicacao<strong>360</strong>@casadocliente.com.br<br />

60 comunicação<br />

cartas<br />

‘O profissionalismo e a criatividade com que<br />

a <strong>Comunicação</strong> <strong>360</strong>º é editada fazem com<br />

que ela seja, de fato, uma inovação, um<br />

exemplo concreto – tangível – do que são<br />

capazes aqueles que assumem seu poder de<br />

transformação. O fato é que a escuta de<br />

vocês mostrou-me melhor o que eu penso,<br />

tornando meu pensamento ainda mais claro.<br />

Ah, se toda mídia fosse assim.<br />

<strong>Comunicação</strong> <strong>360</strong>º está fazendo História.<br />

Com H maiúsculo.’<br />

Prof. Dr. Evandro Vieira Ouriques<br />

Escola de <strong>Comunicação</strong>, UFRJ<br />

‘A palavra adolescente vem do grego – de<br />

ados: fervente, quente, alta temperatura e<br />

de cente: crescente, em crescimento. E foi<br />

assim que me senti ao ler a última edição da<br />

<strong>revista</strong> <strong>Comunicação</strong> <strong>360</strong>°: o layout, a escolha<br />

das cores, as imagens, o grafismo, a<br />

gramatura do papel, o cuidado primoroso<br />

na impressão; o conteúdo, os conceitos de<br />

marketing e management, o desafio nos<br />

conceitos, o conhecimento construído, o<br />

empreendedorismo; o endomarketing, a<br />

mudança cultural interna e externa, a<br />

valorização de gente. Há uma história na<br />

<strong>Comunicação</strong> Organizacional em construção,<br />

cada vez com maior intensidade, ousadia<br />

e novos paradigmas. Vocês estão<br />

sendo mais do que a parte, estão sendo a<br />

própria construção.’<br />

JC Portella<br />

Inca<br />

‘Tive o prazer de ter em mãos a edição de<br />

agosto da <strong>Comunicação</strong> <strong>360</strong>º. Ainda não<br />

consegui ler todos os artigos, mas não me<br />

contive em enviar um e-mail para parabenizálos<br />

pela publicação. Muito bom gosto da<br />

primeira à última página! Fiquei orgulhosa de<br />

ter tido a Casa do Cliente nos atendendo em<br />

nosso projeto de mural que, aliás, foi e continua<br />

sendo um sucesso internamente.’<br />

Eliane Dal Colleto<br />

ACNielsen Brasil<br />

‘Aproveitamos para cumprimentá-los pelas<br />

duas últimas edições da <strong>revista</strong> <strong>Comunicação</strong><br />

<strong>360</strong>°, que apresentam conteúdo extremamente<br />

útil e de excelente qualidade editorial,<br />

além de um belo apelo visual.’<br />

Gilceana Soares Moreira Galerani<br />

Embrapa Soja<br />

Nós queremos ouvir você<br />

O que você gostaria de ler na <strong>revista</strong><br />

<strong>Comunicação</strong> <strong>360</strong>º ? Escreva pra gente:<br />

comunicacao<strong>360</strong>@casadocliente.com.br


62 comunicação

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