12.04.2013 Views

A perda de distinção fonética entre –l e –u em fim de sílaba e ... - UFF

A perda de distinção fonética entre –l e –u em fim de sílaba e ... - UFF

A perda de distinção fonética entre –l e –u em fim de sílaba e ... - UFF

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> Letras da <strong>UFF</strong> – Dossiê: Palavra e imag<strong>em</strong> n o 44, p. 359-380, 2012 359<br />

A PErdA dE diSTiNÇÃo foNéTicA ENTrE –L E –U<br />

Em <strong>fim</strong> dE SÍLABA E coNSEQuÊNciAS PArA A<br />

PLurALiZAÇÃo<br />

introdução<br />

Ana Paula Huback e Gisele Bre<strong>de</strong>r<br />

RESUMO<br />

Este artigo analisa como a <strong>perda</strong> <strong>de</strong> <strong>distinção</strong> <strong>fonética</strong><br />

<strong>entre</strong> <strong>–l</strong> e <strong>–u</strong> <strong>em</strong> posição <strong>de</strong> coda no português brasileiro<br />

está interferindo nos processos <strong>de</strong> pluralização <strong>de</strong> palavras<br />

terminadas <strong>em</strong> <strong>–l</strong> e <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>. Experimentos<br />

psicolinguísticos foram realizados para i<strong>de</strong>ntificar os<br />

fatores que interfer<strong>em</strong> nas variações <strong>de</strong> plurais observadas.<br />

Como base teórica, adotamos o Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Re<strong>de</strong>s,<br />

proposto por Bybee (2001, 2010).<br />

PALAVRAS-CHAVE: Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Re<strong>de</strong>s, léxico mental,<br />

pluralização<br />

Este artigo discute, primeiramente, a <strong>perda</strong> <strong>de</strong> <strong>distinção</strong> <strong>fonética</strong> <strong>entre</strong><br />

<strong>–l</strong> e <strong>–u</strong> <strong>em</strong> <strong>fim</strong> <strong>de</strong> <strong>sílaba</strong> no português brasileiro (doravante PB). Na<br />

maioria dos dialetos do PB (Cf. Cristófaro-Silva, 2002; Quandt, 2004,<br />

Hora, 2007), pares como “mel” / “véu” ou “sal” / “mau” têm o <strong>–l</strong> ou <strong>–u</strong> final<br />

realizados foneticamente como [w]. Essa <strong>perda</strong> <strong>de</strong> <strong>distinção</strong> <strong>fonética</strong> <strong>em</strong> posição<br />

<strong>de</strong> coda t<strong>em</strong> causado consequências para a morfologia <strong>de</strong> plural <strong>de</strong>sses<br />

itens. Assim sendo, já se po<strong>de</strong> constatar, <strong>em</strong> corpora do português falado, a<br />

ocorrência <strong>de</strong> itens como “troféis” ou “<strong>de</strong>grais”, casos <strong>em</strong> que o plural <strong>de</strong> palavras<br />

terminadas <strong>em</strong> <strong>–l</strong> está sendo aplicado a itens que terminam <strong>em</strong> ditongo<br />

<strong>em</strong> <strong>–u</strong>. Neste artigo, vamos discutir experimentos psicolinguísticos que foram<br />

realizados para analisar o status cognitivo <strong>de</strong>sses dois grupos <strong>de</strong> plurais no léxico


360<br />

Bre<strong>de</strong>r, Gisele e Huback, Ana Paula<br />

A <strong>perda</strong> <strong>de</strong> <strong>distinção</strong> <strong>fonética</strong> <strong>entre</strong> <strong>–l</strong> e <strong>–u</strong> <strong>em</strong> <strong>fim</strong> <strong>de</strong> <strong>sílaba</strong> e consequências para a pluralização<br />

mental dos falantes. Os objetivos <strong>de</strong> tais experimentos e, consequent<strong>em</strong>ente,<br />

<strong>de</strong>ste artigo, são:<br />

n Determinar que consequências morfológicas estão ocorrendo <strong>em</strong><br />

função da <strong>perda</strong> <strong>de</strong> <strong>distinção</strong> <strong>fonética</strong> <strong>entre</strong> <strong>–l</strong> e <strong>–u</strong> <strong>em</strong> <strong>fim</strong> <strong>de</strong> palavra;<br />

n I<strong>de</strong>ntificar fatores linguísticos e não-linguísticos que estão motivando<br />

a variação;<br />

n Verificar se a frequência <strong>de</strong> uso dos itens léxicos interfere nos processos<br />

<strong>de</strong> variação linguística.<br />

Na subseção seguinte, vamos discutir os pressupostos do Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Re<strong>de</strong>s,<br />

adotado como base teórica para nosso artigo.<br />

Fundamentação teórica<br />

O Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Re<strong>de</strong>s (cf. BYBEE, 1985, 2001, 2010) questiona os postulados<br />

da Teoria Gerativa, proposta por Chomsky e Halle (1968). Grosso<br />

modo, a Teoria Gerativa propõe que o conhecimento linguístico é algo tão<br />

específico que a mente humana possui um módulo próprio somente para lidar<br />

com informações linguísticas. Tal teoria propõe também a separação <strong>entre</strong><br />

competência e <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho. Competência seria o conhecimento internalizado<br />

que o falante t<strong>em</strong> sobre a língua que fala; <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho seria a capacida<strong>de</strong><br />

individual <strong>de</strong> utilizar esse conhecimento para se comunicar. À linguística cabe<br />

o estudo da competência, já que o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho é variável <strong>de</strong>mais para ser<br />

analisado cientificamente.<br />

O Gerativismo postula também que a unida<strong>de</strong> básica <strong>de</strong> estocag<strong>em</strong><br />

linguística é o fon<strong>em</strong>a ou morf<strong>em</strong>a. A formação <strong>de</strong> palavras é feita através<br />

<strong>de</strong> duas formas específicas: quando o it<strong>em</strong> é <strong>de</strong>rivável por regras, como o<br />

plural <strong>de</strong> vocábulos regulares do português (casa-casas, telefone-telefones), a<br />

palavra não é estocada no léxico mental do falante. Armazenar palavras cuja<br />

formação é regular seria <strong>de</strong>snecessário, já que regras po<strong>de</strong>m ser aplicadas para<br />

<strong>de</strong>rivar esses itens. Por outro lado, no caso <strong>de</strong> palavras irregulares, como a<br />

flexão dos verbos “ser” e “ir”, não há maneira <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivá-los através <strong>de</strong> regras,<br />

por isso esses itens seriam estocados na m<strong>em</strong>ória lexical do falante (PINKER,<br />

1991, 1999).


Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> Letras da <strong>UFF</strong> – Dossiê: Palavra e imag<strong>em</strong> n o 44, p. 359-380, 2012 361<br />

O Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Re<strong>de</strong>s, conforme afirmamos, surge como uma corrente<br />

teórica contrária ao Gerativismo. Abaixo vamos apresentar algumas características<br />

do Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Re<strong>de</strong>s que o difer<strong>em</strong> da Teoria Gerativa.<br />

O Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Re<strong>de</strong>s (“Network Mo<strong>de</strong>l”) recebe este nome porque pressupõe<br />

a existência <strong>de</strong> um léxico mental plástico e r<strong>em</strong>o<strong>de</strong>lável a partir do uso<br />

da língua <strong>em</strong> situações cotidianas. Para esse mo<strong>de</strong>lo, os processos cognitivos<br />

utilizados pelo falante interfer<strong>em</strong> <strong>em</strong> fenômenos <strong>de</strong> variação e mudança linguística.<br />

De acordo com Bybee (2001, 2010), o léxico mental do falante é<br />

composto, basicamente, por palavras inteiras que são categorizadas <strong>em</strong> termos<br />

<strong>de</strong> similarida<strong>de</strong>s <strong>fonética</strong>s e s<strong>em</strong>ânticas. A partir <strong>de</strong>ssas s<strong>em</strong>elhanças, conexões<br />

morfológicas <strong>em</strong>erg<strong>em</strong> e re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> palavras são formadas. Essa é a orig<strong>em</strong> da<br />

terminologia “Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Re<strong>de</strong>s”.<br />

Basicamente, o Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Re<strong>de</strong>s tenta <strong>de</strong>monstrar que não exist<strong>em</strong><br />

diferenças significativas <strong>entre</strong> a forma como a mente humana lida com informações<br />

linguísticas e outras informações <strong>de</strong> domínio mais geral (BYBEE,<br />

2010). Sendo assim, o processamento <strong>de</strong> informações linguísticas <strong>de</strong>ve ser<br />

norteado pelos mesmos princípios que reg<strong>em</strong> outras ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhadas<br />

pelos seres humanos. A forma como categorizamos cores, por ex<strong>em</strong>plo, é<br />

análoga à maneira como processamos informações linguísticas. Categorizamos<br />

as cores a partir das similarida<strong>de</strong>s que elas partilham <strong>entre</strong> si. Com base<br />

nessas s<strong>em</strong>elhanças, utilizamos rótulos como “ver<strong>de</strong>”, “azul”, “amarelo”, etc.,<br />

para um grupo <strong>de</strong> nuances que nos parec<strong>em</strong> análogas. No entanto, mesmo<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> cada uma <strong>de</strong>ssas categorias, existe armazenag<strong>em</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhes com<br />

relação às cores. T<strong>em</strong>os, por ex<strong>em</strong>plo, tipos diferentes <strong>de</strong> azul: azul cobalto,<br />

azul esver<strong>de</strong>ado, azul marinho, azul turquesa, etc. O fato <strong>de</strong> todos esses tons<br />

<strong>de</strong> azul partilhar<strong>em</strong> proprieda<strong>de</strong>s similares não faz com que armazen<strong>em</strong>os somente<br />

um tipo <strong>de</strong> azul. Ao contrário disso, nossa m<strong>em</strong>ória cognitiva registra<br />

todos os ex<strong>em</strong>plares <strong>de</strong> azul com o qual tiv<strong>em</strong>os contato <strong>em</strong> nossas vidas. A<br />

representação cognitiva é, portanto, redundante e rica <strong>em</strong> <strong>de</strong>talhes sobre os<br />

eventos que experenciamos no cotidiano. Princípios similares são aplicados<br />

à categorização <strong>de</strong> itens linguísticos. As palavras que ouvimos são estocadas<br />

no léxico mental a partir <strong>de</strong> similarida<strong>de</strong>s <strong>fonética</strong>s e s<strong>em</strong>ânticas. Ocorrências<br />

idênticas do mesmo it<strong>em</strong>, <strong>de</strong>talhamento fonético e informações sobre o<br />

contexto <strong>de</strong> uso <strong>de</strong> cada palavra também são estocados. Provavelmente todos<br />

nós já ouvimos as palavras “probl<strong>em</strong>a”, “pobl<strong>em</strong>a”, “pobr<strong>em</strong>a” como variações


362<br />

Bre<strong>de</strong>r, Gisele e Huback, Ana Paula<br />

A <strong>perda</strong> <strong>de</strong> <strong>distinção</strong> <strong>fonética</strong> <strong>entre</strong> <strong>–l</strong> e <strong>–u</strong> <strong>em</strong> <strong>fim</strong> <strong>de</strong> <strong>sílaba</strong> e consequências para a pluralização<br />

para o it<strong>em</strong> lexical “probl<strong>em</strong>a”. Nosso léxico mental guarda todas as diferentes<br />

pronúncias para essa palavra, b<strong>em</strong> como informações socioculturais associadas<br />

a cada uma <strong>de</strong>las. O falante escolarizado geralmente sabe que “probl<strong>em</strong>a” é a<br />

variante padrão, ao passo que as outras são consi<strong>de</strong>radas não-padrão e, por<br />

isso, sofr<strong>em</strong> estigma social. Ao ouvirmos um falante pronunciar “pobl<strong>em</strong>a”,<br />

automaticamente <strong>de</strong>duzimos a informação sobre a classe social ou o nível <strong>de</strong><br />

escolarida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse indivíduo. Todos esses dados são indícios <strong>de</strong> que o léxico<br />

mental do falante guarda informações redundantes e probabilísticas sobre<br />

cada it<strong>em</strong> lexical com que t<strong>em</strong>os contato. Se não armazenáss<strong>em</strong>os esses dados<br />

<strong>em</strong> nosso léxico mental, como seríamos capazes <strong>de</strong> atribuir julgamentos <strong>de</strong><br />

valor às variantes da palavra “probl<strong>em</strong>a”? Todas as informações linguísticas<br />

a que t<strong>em</strong>os acesso são mentalmente organizadas pelo falante e compõ<strong>em</strong> a<br />

gramática que cada um <strong>de</strong> nós possui sobre a língua que falamos. Sendo assim,<br />

o uso da língua <strong>em</strong> situações cotidianas s<strong>em</strong>pre t<strong>em</strong> impacto na categorização<br />

e acesso a informações linguísticas.<br />

Outro ponto importante a mencionar quanto ao Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Re<strong>de</strong>s é<br />

o fato <strong>de</strong> que nossas representações mentais sobre itens linguísticos vão mudando<br />

à medida que apren<strong>de</strong>mos palavras novas. A tarefa <strong>de</strong> categorizar e<br />

estocar itens linguísticos é inerente à vida humana, assim como a habilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r coisas novas. Nesse sentido, a repetição <strong>de</strong> palavras é muito importante<br />

para que o léxico mental seja atualizado conforme adquirimos novos<br />

ex<strong>em</strong>plares linguísticos e <strong>de</strong>scartamos outros. O Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Re<strong>de</strong>s <strong>de</strong>fine duas<br />

medidas diferentes para frequência: frequência <strong>de</strong> tipo (“type”) e <strong>de</strong> ocorrência<br />

(“token”). A frequência <strong>de</strong> tipo refere-se à repetição <strong>de</strong> padrões linguísticos no<br />

dicionário da língua. Se fizermos uma busca no Dicionário Eletrônico Houaiss<br />

da Língua Portuguesa para verificar quantos verbos pertenc<strong>em</strong> à terceira<br />

conjugação do PB, encontramos o número 742. Essa é a frequência <strong>de</strong> tipo<br />

da <strong>de</strong>sinência –ir <strong>em</strong> verbos do PB. Por outro lado, se procuramos no Corpus<br />

Lael 1 a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vezes que a palavra “computador” aparece, ter<strong>em</strong>os o<br />

número 117. Essa é a frequência <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong>sse it<strong>em</strong>. Na tarefa <strong>de</strong> atualização<br />

do léxico mental do falante, essas duas medidas <strong>de</strong> frequência geram as<br />

seguintes consequências:<br />

1 O Corpus LAEL, disponível <strong>em</strong> , é composto por<br />

1.182.994 dados extraídos <strong>de</strong> língua falada e escrita.


Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> Letras da <strong>UFF</strong> – Dossiê: Palavra e imag<strong>em</strong> n o 44, p. 359-380, 2012 363<br />

n A alta frequência <strong>de</strong> tipo faz com que uma classe linguística se torne<br />

mais forte e possa exercer efeitos analógicos sobre outras classes cuja frequência<br />

<strong>de</strong> tipo seja mais baixa 2 ;<br />

n Classes <strong>de</strong> baixa frequência <strong>de</strong> tipo po<strong>de</strong>m ter itens “atraídos” por<br />

re<strong>de</strong>s que tenham frequência <strong>de</strong> tipo mais alta. Para que isso ocorra, é imprescindível<br />

que haja algum tipo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>fonética</strong> <strong>entre</strong> as duas classes<br />

(HARE; ELMAN, 1995);<br />

n A alta frequência <strong>de</strong> ocorrência geralmente faz com que os itens linguísticos<br />

se torn<strong>em</strong> mais imunes à variação linguística. Palavras altamente<br />

frequentes têm representação autônoma no léxico mental do falante e não<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da re<strong>de</strong> a que pertenc<strong>em</strong>, por isso são analisadas separadamente<br />

e sofr<strong>em</strong> menos o efeito da analogia; por outro, itens <strong>de</strong> alta frequência <strong>de</strong><br />

ocorrência são mais propensos a reduções <strong>fonética</strong>s <strong>em</strong> geral (BROWMAN;<br />

GOLDSTEIN, 1992, PAGLIUCA; MOWREY, 1987). Isso acontece porque<br />

palavras que são muito usadas tornam-se muito previsíveis no discurso e,<br />

por isso, são mais sujeitas à redução e sobreposição <strong>de</strong> gestos articulatórios;<br />

n Palavras <strong>de</strong> baixa frequência <strong>de</strong> ocorrência geralmente são as primeiras<br />

a sofrer variações linguísticas <strong>em</strong> que exist<strong>em</strong> efeitos analógicos. Isso ocorre<br />

porque palavras pouco frequentes <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> sua classe para que sejam rel<strong>em</strong>bradas.<br />

Se sua frequência <strong>de</strong> ocorrência é baixa, o falante não t<strong>em</strong> m<strong>em</strong>ória<br />

suficiente para acessá-las. Por isso, quando vai utilizá-las, o falante po<strong>de</strong><br />

flexioná-las <strong>de</strong> acordo com tipos mais frequentes da língua.<br />

Com relação ao objeto <strong>de</strong> estudo que estamos analisando neste artigo<br />

(plural das palavras terminadas <strong>em</strong> <strong>–l</strong> e ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>), vamos observar se<br />

efeitos <strong>de</strong> frequência po<strong>de</strong>m justificar eventuais variações ocorridas com essas<br />

classes. Na próxima subseção <strong>de</strong>ste artigo, vamos apresentar informações sobre<br />

os dois grupos <strong>de</strong> plural sob análise.<br />

Objeto <strong>de</strong> estudo<br />

Nesta subseção, vamos apresentar informações sobre os grupos <strong>de</strong> plurais<br />

terminados <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> ou <strong>em</strong> <strong>–l</strong>. Como um dos objetivos <strong>de</strong> nosso<br />

2 Na subseção seguinte vamos apresentar ex<strong>em</strong>plos sobre esse ponto.


364<br />

Bre<strong>de</strong>r, Gisele e Huback, Ana Paula<br />

A <strong>perda</strong> <strong>de</strong> <strong>distinção</strong> <strong>fonética</strong> <strong>entre</strong> <strong>–l</strong> e <strong>–u</strong> <strong>em</strong> <strong>fim</strong> <strong>de</strong> <strong>sílaba</strong> e consequências para a pluralização<br />

artigo é avaliar efeitos <strong>de</strong> frequência nas variações <strong>de</strong> plural, vamos <strong>em</strong>basar<br />

nossa análise com informações sobre os quantitativos <strong>de</strong> palavras terminadas<br />

<strong>em</strong> <strong>–l</strong> ou ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> no léxico do PB.<br />

As palavras que terminam <strong>em</strong> <strong>–l</strong> no singular formam um grupo bastante<br />

significativo no léxico do PB. A tabela abaixo, baseada no Dicionário Eletrônico<br />

Houaiss da Língua Portuguesa 3 , mostra quantitativos para itens terminados<br />

<strong>em</strong> vogal + <strong>–l</strong> final:<br />

Tabela 1: Quantitativo <strong>de</strong> itens terminados <strong>em</strong> <strong>–l</strong> no PB<br />

Terminação Número <strong>de</strong> % no grupo <strong>de</strong> itens % no dicionário<br />

ocorrências terminados <strong>em</strong> <strong>–l</strong><br />

–AL 3.054 49,1 1,33<br />

–[ɛ]L4 253 4,1 0,11<br />

–[E]L5 2.066 33,2 0,9<br />

–iL 403 6,5 0,17<br />

–[ɔ]L 302 4,8 0,13<br />

–[O]L 7 0,1 0,003<br />

–UL 140 2,2 0,06<br />

TOTAL 6.225 100 2,7<br />

De acordo com a tabela acima, os itens terminados <strong>em</strong> <strong>–l</strong> representam<br />

2,7% do total do léxico do PB. Nesse grupo, a terminação mais frequente é –al<br />

(quase meta<strong>de</strong> do grupo) e a segunda mais frequente é –[e]l (33,2% do grupo).<br />

As outras terminações apresentam quantitativos b<strong>em</strong> menores que –al e –[e]l.<br />

A regra básica <strong>de</strong> pluralização para essas palavras se faz r<strong>em</strong>ovendo o<br />

<strong>–l</strong> do singular e acrescentando –is: carnaval/carnavais, anel/anéis, etc. Uma<br />

característica marcante <strong>de</strong>sse grupo <strong>de</strong> palavras é a forte presença <strong>de</strong> sufixos.<br />

Abaixo listamos alguns sufixos <strong>de</strong>ssa classe, juntamente com o valor s<strong>em</strong>ântico<br />

que agregam ao radical das palavras:<br />

n –al: relação ou coletivo, como <strong>em</strong> cafezal, milharal, vital;<br />

n –il: diminutivo ou lugar on<strong>de</strong> se guardam animais, como <strong>em</strong> canil,<br />

covil, pernil;<br />

3<br />

O Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa (2001) é composto por aproximadamente<br />

228.500 verbetes.<br />

4<br />

Enquadram-se nesse grupo palavras oxítonas, como “anel”, “pastel”, “pincel”, etc.<br />

5<br />

A esse grupo pertenc<strong>em</strong> itens paroxítonos, como “amável”, “móvel”, “responsável”, etc.


Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> Letras da <strong>UFF</strong> – Dossiê: Palavra e imag<strong>em</strong> n o 44, p. 359-380, 2012 365<br />

n –vel: possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> praticar ou sofrer uma ação, como <strong>em</strong> amável,<br />

incrível, perecível.<br />

O grupo <strong>de</strong> palavras terminadas <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> é mais reduzido<br />

que o <strong>de</strong> itens terminados <strong>em</strong> <strong>–l</strong>. A tabela abaixo, também feita com base no<br />

Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa, mostra os quantitativos<br />

das palavras terminadas <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>, <strong>de</strong> acordo com a vogal prece<strong>de</strong>nte:<br />

Tabela 2: Quantitativo <strong>de</strong> itens terminados <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> no PB<br />

Terminação Número <strong>de</strong> ocorrências % no grupo <strong>de</strong> itens<br />

terminados <strong>em</strong> <strong>–u</strong><br />

% no dicionário<br />

–AU 207 28 0,09<br />

–[ɛ]U 132 17,8 0,05<br />

–[E]U 360 48,5 0,16<br />

–iU 17 2,3 0,007<br />

–[ɔ]U 0 0 0<br />

–OU 18 2,4 0,007<br />

–UU 07 1 0,003<br />

TOTAL 741 100 0,32<br />

Conforme a tabela acima <strong>de</strong>monstra, o grupo terminado <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong><br />

<strong>–u</strong> compõe 0,32% do léxico do PB. Esse total é b<strong>em</strong> menor que o dos itens<br />

<strong>em</strong> <strong>–l</strong> (2,7%, conforme Tab. 1). No grupo <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>, observamos<br />

que a terminação mais frequente é –[e]u, com quase meta<strong>de</strong> das ocorrências<br />

da classe. Em segundo lugar está a terminação –au, com 28% <strong>de</strong> ocorrências.<br />

A terminação –[ɛ]u correspon<strong>de</strong> a 17,8% do grupo. As terminações –iu, –ou<br />

e <strong>–u</strong>u são praticamente inexistentes no grupo <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>.<br />

A regra <strong>de</strong> pluralização para esse grupo <strong>de</strong> palavras é a canônica do PB.<br />

Como todos os itens terminam <strong>em</strong> vogal, basta que se acrescente o morf<strong>em</strong>a<br />

–s ao <strong>fim</strong> da palavra: céu/céus, museu/museus, etc. O grupo <strong>de</strong> palavras<br />

terminadas <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> não t<strong>em</strong> muitos sufixos no PB. Consultando<br />

gramáticas da nossa língua, os únicos dois sufixos a que se faz referência são<br />

–eu, indicando nacionalida<strong>de</strong>, como <strong>em</strong> europeu, ju<strong>de</strong>u; –aréu, <strong>de</strong>notando<br />

aumentativo, como <strong>em</strong> fogaréu, povaréu.<br />

Várias pesquisas sobre o PB (cf. CRISTÓFARO-SILVA, 2002;<br />

QUANDT, 2004, HORA, 2007) documentam a vocalização <strong>de</strong> <strong>–l</strong> <strong>em</strong> <strong>fim</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>sílaba</strong>. Niveladas as distinções <strong>fonética</strong>s <strong>entre</strong> <strong>–l</strong> e ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> <strong>em</strong>


366<br />

Bre<strong>de</strong>r, Gisele e Huback, Ana Paula<br />

A <strong>perda</strong> <strong>de</strong> <strong>distinção</strong> <strong>fonética</strong> <strong>entre</strong> <strong>–l</strong> e <strong>–u</strong> <strong>em</strong> <strong>fim</strong> <strong>de</strong> <strong>sílaba</strong> e consequências para a pluralização<br />

<strong>fim</strong> <strong>de</strong> palavra, per<strong>de</strong>-se o correlato sobre que tipo <strong>de</strong> pluralização aplicar<br />

a cada um dos itens. Quando uma palavra é escrita frequent<strong>em</strong>ente, sua<br />

grafia po<strong>de</strong> ser m<strong>em</strong>orizada e, consequent<strong>em</strong>ente, sua pluralização po<strong>de</strong><br />

ser preservada. Por outro lado, palavras que não são escritas com frequência<br />

po<strong>de</strong>m gerar dúvidas quanto à pluralização. É o caso <strong>de</strong> itens como<br />

berimbau ou jirau. Por ser<strong>em</strong> palavras pouco frequentes na fala e também<br />

na escrita, sua grafia não favorece a manutenção do plural consi<strong>de</strong>rado<br />

correto pela gramática padrão.<br />

Na subseção seguinte, vamos <strong>de</strong>screver a metodologia adotada para a<br />

coleta <strong>de</strong> dados.<br />

Metodologia para a coleta e classificação <strong>de</strong> dados<br />

Por se tratar <strong>de</strong> um estudo que atribui importância crucial ao uso real das<br />

formas linguísticas, o i<strong>de</strong>al seria que nosso trabalho <strong>de</strong> campo contasse com<br />

<strong>entre</strong>vistas sociolinguísticas <strong>em</strong> que as formas analisadas pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> ser espontaneamente<br />

registradas a partir da fala dos informantes. No entanto, os itens<br />

terminados <strong>em</strong> <strong>–l</strong> ou ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> constitu<strong>em</strong> um percentual pequeno no<br />

léxico do PB (cf. Tabs. 1 e 2). Por causa disso, resolv<strong>em</strong>os fazer experimentos<br />

psicolinguísticos com palavras pré-selecionadas. Agindo assim garantiríamos a<br />

produção dos itens sob análise neste artigo.<br />

Selecionamos três faixas diferentes <strong>de</strong> frequência e alocamos palavras<br />

terminadas <strong>em</strong> <strong>–l</strong> ou ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> <strong>em</strong> cada uma <strong>de</strong>ssas faixas. Os números<br />

para frequência <strong>de</strong> ocorrência foram medidos no Corpus NILC/São Carlos<br />

6 . 4 Abaixo apresentamos uma tabela com as palavras selecionadas organizadas<br />

<strong>em</strong> or<strong>de</strong>m crescente <strong>de</strong> frequência <strong>de</strong> ocorrência:<br />

6<br />

O Corpus NILC/São Carlos () é composto por 41.372.943<br />

dados extraídos somente <strong>de</strong> textos escritos.


Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> Letras da <strong>UFF</strong> – Dossiê: Palavra e imag<strong>em</strong> n o 44, p. 359-380, 2012 367<br />

Tabela 3: Palavras adotadas nos experimentos<br />

Palavras terminadas <strong>em</strong> <strong>–l</strong><br />

Frequência baixa (0-99) Frequência baixa (100-500) Frequência baixa (+ <strong>de</strong> 500)<br />

Palavras Ocorrências Palavras Ocorrências Palavras Ocorrências<br />

mel 0 farol 100 espanhol 501<br />

cachecol 02 anel 110 difícil 654<br />

funil 02 lençol 118 móvel 728<br />

anzol 08 sal 129 útil 783<br />

avental 17 acessível 165 sinal 1.422<br />

sol 27 míssil 237 hospital 1.513<br />

gentil 31 azul 280 responsável 1.894<br />

pincel 37 infantil 328 jornal 2.490<br />

pastel 63<br />

agradável 74<br />

Palavras terminadas <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong><br />

Frequência Baixa (0-99) Frequência Média (100-500) Frequência Alta (+ <strong>de</strong> 500)<br />

Palavras Ocorrências Palavras Palavras Ocorrências Palavras<br />

berimbau 0 <strong>de</strong>grau 109 pneu 554<br />

jirau 1 chapéu 125 ju<strong>de</strong>u 808<br />

mausoléu 4 céu 163 grau 916<br />

ateu 24 réu 309 europeu 1.119<br />

véu 33 mau 346 meu 2.139<br />

pau 46 museu 424 seu 29.682<br />

troféu 72<br />

Para realizar a coleta <strong>de</strong> dados, utilizamos os seguintes experimentos psicolinguísticos:<br />

a) Conjunto <strong>de</strong> figuras: selecionamos figuras <strong>em</strong> que as palavras sob<br />

análise apareciam <strong>em</strong> quantida<strong>de</strong> plural. Mostramos as figuras individualmente<br />

aos informantes e pedimos que eles fizess<strong>em</strong> um comentário<br />

sobre a figura que viam 7 ; 5<br />

b) Leitura <strong>de</strong> frases: elaboramos frases <strong>em</strong> que os itens sob análise eram<br />

inseridos <strong>em</strong> forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhos <strong>em</strong> uma frase. A tarefa dos informantes<br />

era ler essas frases pluralizando as palavras representadas pela figura 8 ; 6<br />

7 Em cada um dos experimentos foram utilizadas também “palavras distratoras”, ou seja, itens<br />

que não seriam analisados, mas cuja função era fazer com que o informante não percebesse<br />

exatamente que tipos <strong>de</strong> palavras estavam sendo investigados.<br />

8 Dois ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong>sse experimento são: “Quantos (figura <strong>de</strong> dois anéis) você t<strong>em</strong>?” e “O<br />

pessoal da capoeira estava tocando os (figura <strong>de</strong> dois berimbaus).”


368<br />

Bre<strong>de</strong>r, Gisele e Huback, Ana Paula<br />

A <strong>perda</strong> <strong>de</strong> <strong>distinção</strong> <strong>fonética</strong> <strong>entre</strong> <strong>–l</strong> e <strong>–u</strong> <strong>em</strong> <strong>fim</strong> <strong>de</strong> <strong>sílaba</strong> e consequências para a pluralização<br />

c) Teste <strong>de</strong> reação: formulamos uma lista <strong>de</strong> palavras e perguntamos aos<br />

informantes o plural <strong>de</strong> cada uma das palavras.<br />

Os dados foram coletados <strong>em</strong> 2006, no estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Depois<br />

<strong>de</strong> realizados os experimentos, contamos com 954 dados para palavras terminadas<br />

<strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> e 1.077 dados para palavras terminadas <strong>em</strong> <strong>–l</strong>. Essas ocorrências<br />

foram codificadas a partir <strong>de</strong> fatores externos e internos <strong>de</strong>scritos a seguir.<br />

Fatores externos (ou sociais):<br />

n Faixa etária: 15-30 anos, 31-45 anos, 46-60 anos;<br />

n Escolarida<strong>de</strong>: nível fundamental ou superior;<br />

n Gênero: f<strong>em</strong>inino ou masculino.<br />

Fatores internos (ou linguísticos):<br />

n Estrutura morfológica: sufixo (“europeu”, “agradável”), não-sufixo<br />

(“<strong>de</strong>grau”, “sal”);<br />

n Número <strong>de</strong> <strong>sílaba</strong>s: monossílabos (“mau”, “sol”), polissílabos (“chapéu”,<br />

“responsável”);<br />

n Vogal prece<strong>de</strong>nte: [a] (“<strong>de</strong>grau”, “avental”), [ɛ] (“chapéu”, “pincel”),<br />

[e] (“meu”, “móvel”), [i] (“funil 97 ”), [ɔ] (“sol”), [u] (“azul”);<br />

n Frequência <strong>de</strong> ocorrência: baixa, média, alta (cf. Tabela 3).<br />

Para fazer a análise estatística, utilizamos o programa SPSS. Através <strong>de</strong>sse<br />

software, alcançamos resultados <strong>de</strong> porcentag<strong>em</strong> e probabilida<strong>de</strong> para cada<br />

um dos fatores analisados. Fiz<strong>em</strong>os uma análise binária cuja variável <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

consi<strong>de</strong>rada foi adoção (pelo informante) <strong>de</strong> plural <strong>em</strong> <strong>–u</strong> ou <strong>em</strong> <strong>–l</strong>. Na<br />

subseção a seguir apresentamos os resultados da análise estatística.<br />

Resultados<br />

Nesta subseção vamos apresentar os resultados gerais para os dois tipos<br />

<strong>de</strong> plural. Na subseção seguinte, far<strong>em</strong>os comentários mais extensos sobre o<br />

9 Os itens terminados <strong>em</strong> –iu, –ou e <strong>–u</strong>u são <strong>em</strong> número extr<strong>em</strong>amente reduzido no léxico do<br />

PB (cf. Tab. 1). Por causa disso, <strong>de</strong>cidimos não incluí-los <strong>em</strong> nossa pesquisa.


Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> Letras da <strong>UFF</strong> – Dossiê: Palavra e imag<strong>em</strong> n o 44, p. 359-380, 2012 369<br />

quadro amplo <strong>de</strong> variação apresentado pelos dados. Vamos apresentar primeiro<br />

estatísticas gerais <strong>de</strong> itens do grupo <strong>em</strong> <strong>–l</strong> que foram pluralizados como<br />

ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> e vice-versa. Vejamos a tabela abaixo:<br />

Tabela 4: Resultados gerais <strong>de</strong> palavras que sofreram variação <strong>de</strong> plural<br />

Palavras <strong>em</strong> <strong>–l</strong><br />

pluralizadas como dit. <strong>–u</strong><br />

Palavras <strong>em</strong> dit. <strong>–u</strong> pluralizadas<br />

como <strong>–l</strong><br />

N % N %<br />

60/1.077 5,6 193/954 20<br />

Os resultados acima <strong>de</strong>monstram que houve mais palavras terminadas<br />

<strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> migrando para <strong>–l</strong> (20%) do que o oposto. Apenas 5,6%<br />

dos itens terminados <strong>em</strong> <strong>–l</strong> foram pluralizados como se terminass<strong>em</strong> <strong>em</strong> ditongo<br />

<strong>em</strong> <strong>–u</strong>. Esses resultados apontam para efeitos <strong>de</strong> frequência <strong>de</strong> tipo.<br />

Como vimos nas tabelas 1 e 2, o grupo <strong>em</strong> <strong>–l</strong> é mais numeroso no PB que o<br />

grupo <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>. Os itens terminados <strong>em</strong> <strong>–l</strong> compõ<strong>em</strong> 2,7% do Dicionário<br />

Eletrônico Houaiss, ao passo que as palavras terminadas <strong>em</strong> ditongo<br />

<strong>em</strong> <strong>–u</strong> representam apenas 0,32% do mesmo dicionário. Por causa <strong>de</strong>ssa alta<br />

frequência <strong>de</strong> tipo e também <strong>de</strong>vido à falta <strong>de</strong> diferenciação <strong>fonética</strong> <strong>entre</strong> <strong>–l</strong> e<br />

<strong>–u</strong> <strong>em</strong> <strong>fim</strong> <strong>de</strong> <strong>sílaba</strong>, itens terminados <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> estão migrando para<br />

a classe <strong>em</strong> <strong>–l</strong> 10 . 8<br />

O SPSS selecionou os fatores significativos para cada um dos grupos<br />

<strong>de</strong> plural. Para as palavras terminadas <strong>em</strong> <strong>–l</strong>, as variáveis significantes foram<br />

escolarida<strong>de</strong>, número <strong>de</strong> <strong>sílaba</strong>s, vogal prece<strong>de</strong>nte e estrutura morfológica.<br />

Para os itens <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>, os fatores significativos foram<br />

escolarida<strong>de</strong>, gênero, número <strong>de</strong> <strong>sílaba</strong>s, vogal prece<strong>de</strong>nte e frequência<br />

<strong>de</strong> ocorrência. Vamos começar comentando os resultados para fatores extralinguísticos.<br />

A variável escolarida<strong>de</strong> foi significativa para os dois grupos <strong>de</strong> plural.<br />

10 Esse ponto será melhor explorado na discussão geral <strong>de</strong> dados.<br />

11 “Plural <strong>em</strong> <strong>–l</strong>” refere-se a palavras terminadas <strong>em</strong> <strong>–l</strong> que foram pluralizadas como ditongo<br />

<strong>em</strong> <strong>–u</strong>; “plural <strong>em</strong> <strong>–u</strong>” refere-se a palavras terminadas <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> que foram pluralizadas<br />

como se terminass<strong>em</strong> <strong>em</strong> <strong>–l</strong>.


370<br />

Bre<strong>de</strong>r, Gisele e Huback, Ana Paula<br />

A <strong>perda</strong> <strong>de</strong> <strong>distinção</strong> <strong>fonética</strong> <strong>entre</strong> <strong>–l</strong> e <strong>–u</strong> <strong>em</strong> <strong>fim</strong> <strong>de</strong> <strong>sílaba</strong> e consequências para a pluralização<br />

Tabela 5: Efeito da escolarida<strong>de</strong> nos plurais <strong>em</strong> <strong>–l</strong> e <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong><br />

Escolarida<strong>de</strong> Dados obtidos % P.R.<br />

Plural <strong>–l</strong> 11 Plural <strong>–u</strong> Plural <strong>–l</strong> Plural <strong>–u</strong> Plural <strong>–l</strong> Plural <strong>–u</strong><br />

Fundamental 45/527 123/478 8,5 25,7 0.717 0.625<br />

Superior 15/550 70/476 2,7 14,7 0.291 0.374<br />

Para os dois tipos <strong>de</strong> plural, falantes com nível fundamental <strong>de</strong> educação<br />

formal favoreceram as formas variantes (<strong>em</strong> negrito na tabela). Por outro lado,<br />

também nos dois plurais, falantes pertencentes ao ensino superior ten<strong>de</strong>ram<br />

a preservar os plurais. Nossas hipóteses para justificar esse resultado são duas:<br />

1) Primeiro, o falante com mais anos <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser, <strong>em</strong> geral, mais<br />

atento a questões relacionadas à linguag<strong>em</strong>. Consequent<strong>em</strong>ente, tal indivíduo<br />

teria um cuidado maior com a fala e evitaria formas linguísticas consi<strong>de</strong>radas<br />

não-padrão pela gramática normativa; 2) Em segundo lugar, o nível mais<br />

alto <strong>de</strong> escolarização po<strong>de</strong> levar os falantes a um contato maior com a língua<br />

escrita, modalida<strong>de</strong> essa <strong>em</strong> que há mais preocupação gramatical e as formas<br />

padronizadas prevalec<strong>em</strong>. A escrita, <strong>em</strong> geral, preserva as formas <strong>de</strong> plural<br />

padrão, por isso apresenta menos palavras <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> pluralizadas <strong>em</strong><br />

<strong>–l</strong> e vice-versa. O falante menos escolarizado geralmente t<strong>em</strong> menos acesso à<br />

língua escrita, por isso po<strong>de</strong> ser que seu léxico mental contenha mais formas<br />

<strong>de</strong> plural generalizadas, já que, normalmente, é na modalida<strong>de</strong> falada que se<br />

originam as variações linguísticas.<br />

A variável gênero foi significativa somente para os plurais <strong>em</strong> ditongo<br />

<strong>em</strong> <strong>–u</strong>.<br />

Tabela 6: Efeito do gênero nos plurais <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong><br />

Gênero Dados Obtidos % P.R.<br />

F<strong>em</strong>inino 74/481 15,4 0.391<br />

Masculino 119/473 25,2 0.611<br />

Aqui observamos que os homens favoreceram a aplicação <strong>de</strong> plurais <strong>em</strong><br />

<strong>–l</strong> para palavras terminadas <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> (peso relativo <strong>de</strong> 0.611). Existe<br />

vasta literatura linguística (LABOV:1972, 2001; CHAMBERS:1995) <strong>de</strong>monstrando<br />

que as mulheres costumam ser mais conservadoras <strong>em</strong> relação a processos<br />

linguísticos estigmatizados. Po<strong>de</strong> ser que as mulheres tenham consciência <strong>de</strong>


Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> Letras da <strong>UFF</strong> – Dossiê: Palavra e imag<strong>em</strong> n o 44, p. 359-380, 2012 371<br />

que o uso <strong>de</strong> plural <strong>em</strong> <strong>–l</strong> para itens <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> sofra estigma social e<br />

por isso evit<strong>em</strong> o fenômeno.<br />

Começando com os fatores linguísticos, a variável estrutura morfológica<br />

foi selecionada somente para os plurais <strong>em</strong> <strong>–l</strong>. Os resultados são apresentados<br />

abaixo:<br />

Tabela 7: Efeito da estrutura morfológica nos plurais <strong>em</strong> <strong>–l</strong><br />

Estrutura Morfológica N % P.R.<br />

Sufixo 2/336 0,6 0.067<br />

Não-Sufixo 58/741 7,8 0.768<br />

Esta tabela mostra que a estrutura morfológica é um fator <strong>de</strong>terminante<br />

para que haja migrações <strong>de</strong> plural <strong>–l</strong> <strong>em</strong> direção a ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>. Os resultados<br />

<strong>de</strong>monstram que palavras que não têm sufixo favorec<strong>em</strong> a variação <strong>de</strong><br />

plural (0.768) e palavras com sufixo a <strong>de</strong>sfavorec<strong>em</strong> (0.067). Provavelmente,<br />

esse resultado ocorreu porque, no grupo <strong>de</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>, exist<strong>em</strong> poucos<br />

sufixos (–aréu e –eu e são os mais produtivos), ao passo que, no grupo <strong>em</strong> <strong>–l</strong>,<br />

há mais sufixos, como –al, –el, –il, –ol, –vel, etc. A partir da estocag<strong>em</strong> <strong>de</strong> palavras<br />

inteiras no léxico mental, a informação <strong>de</strong> que os itens <strong>em</strong> <strong>–l</strong> têm mais<br />

sufixos que os <strong>em</strong> <strong>–u</strong> <strong>em</strong>erge e faz com que os informantes preserv<strong>em</strong> a forma<br />

<strong>de</strong> plural <strong>em</strong> <strong>–l</strong>.<br />

Analisamos agora o efeito do número <strong>de</strong> <strong>sílaba</strong>s para os dois tipos <strong>de</strong><br />

plural.<br />

Tabela 8: Efeito do número <strong>de</strong> <strong>sílaba</strong>s para plurais <strong>em</strong> <strong>–l</strong> e <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong><br />

Número <strong>de</strong><br />

<strong>sílaba</strong>s<br />

Dados obtidos % P.R.<br />

Plural <strong>–l</strong> Plural <strong>–u</strong> Plural <strong>–l</strong> Plural <strong>–u</strong> Plural <strong>–l</strong> Plural <strong>–u</strong><br />

Monossílabos 47/138 21/328 34,1 6,4 0.995 0.195<br />

Polissílabos 13/939 172/626 1,4 27,5 0.311 0.678<br />

Aqui observamos que as palavras monos<strong>sílaba</strong>s terminadas <strong>em</strong> <strong>–l</strong> favorec<strong>em</strong><br />

plurais <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> (peso relativo <strong>de</strong> 0.995). Por outro lado,<br />

palavras polis<strong>sílaba</strong>s terminadas <strong>em</strong> <strong>–u</strong> favorec<strong>em</strong> o plural <strong>em</strong> <strong>–l</strong> (peso relativo<br />

<strong>de</strong> 0.678). Para justificar esses resultados, fiz<strong>em</strong>os uma busca no Dicionário<br />

Houaiss da Língua Portuguesa para <strong>de</strong>scobrir quantos itens monossílabos ter-


372<br />

Bre<strong>de</strong>r, Gisele e Huback, Ana Paula<br />

A <strong>perda</strong> <strong>de</strong> <strong>distinção</strong> <strong>fonética</strong> <strong>entre</strong> <strong>–l</strong> e <strong>–u</strong> <strong>em</strong> <strong>fim</strong> <strong>de</strong> <strong>sílaba</strong> e consequências para a pluralização<br />

minados <strong>em</strong> <strong>–l</strong> ou <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> nossa língua possui. Os resultados são<br />

apresentados abaixo:<br />

Tabela 9: Número <strong>de</strong> monossílabos <strong>em</strong> <strong>–l</strong> e ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> no<br />

Dicionário Houaiss<br />

Tipos Monossílabos % no grupo <strong>–l</strong> ou <strong>–u</strong> % no dicionário<br />

Ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> 36/741 4,8 0,015<br />

<strong>–l</strong> 29/6.225 0,46 0,012<br />

Esta tabela <strong>de</strong>monstra que, apesar <strong>de</strong> o grupo <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> ser reduzido<br />

no português, ele apresenta mais monossílabos (0,015% do dicionário<br />

ou 4,8% do grupo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>) do que palavras terminadas <strong>em</strong> <strong>–l</strong> (os monossílabos<br />

<strong>em</strong> <strong>–l</strong> representam 0,012% do dicionário ou apenas 0,46% <strong>de</strong> todo o grupo<br />

terminado <strong>em</strong> <strong>–l</strong>). Esses quantitativos suger<strong>em</strong> que os falantes utilizaram<br />

as informações <strong>de</strong> que monossílabos <strong>em</strong> geral pertenc<strong>em</strong> ao grupo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> e<br />

polissílabos, à classe <strong>em</strong> <strong>–l</strong>. Mais uma vez, observamos uma evidência para a estocag<strong>em</strong><br />

<strong>de</strong> palavras inteiras no léxico mental. A partir da comparação <strong>entre</strong> os itens<br />

armazenados, a informação sobre número <strong>de</strong> <strong>sílaba</strong>s para os dois grupos <strong>de</strong><br />

plural analisados <strong>em</strong>erge e faz com que os falantes pluraliz<strong>em</strong> itens monossílabos<br />

como <strong>–u</strong> e itens polissílabos como <strong>–l</strong>.<br />

A seguir vamos analisar os resultados para vogal prece<strong>de</strong>nte, fator consi<strong>de</strong>rado<br />

<strong>de</strong>terminante para os dois tipos <strong>de</strong> plural sob análise.<br />

Tabela 10: Efeito da vogal prece<strong>de</strong>nte para plurais <strong>em</strong> <strong>–l</strong> e <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong><br />

Vogal Dados obtidos % P.R.<br />

prece<strong>de</strong>nte Plural <strong>–l</strong> Plural <strong>–u</strong> Plural <strong>–l</strong> Plural <strong>–u</strong> Plural <strong>–l</strong> Plural <strong>–u</strong><br />

[a] 7/234 65/327 3 19,9 0.067 0.637<br />

[ɛ] 25/205 122/346 12,2 35,3 0.479 0.778<br />

[e] 2/160 6/281 1,2 2,1 0.987 0.1<br />

[i] 9/195 12 4,6 0.918<br />

[ɔ] 16/249 6,4 0.088<br />

[u] 1/34 2,9 0.792<br />

A tabela acima <strong>de</strong>monstra que, no grupo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>, a vogal [ɛ] foi a que<br />

mais favoreceu os plurais <strong>em</strong> <strong>–l</strong> (peso relativo <strong>de</strong> 0.778) e a vogal [e] <strong>de</strong>sfavoreceu<br />

muito o fenômeno (peso relativo <strong>de</strong> 0.1). Retornando às tabelas 1 e 2, se


Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> Letras da <strong>UFF</strong> – Dossiê: Palavra e imag<strong>em</strong> n o 44, p. 359-380, 2012 373<br />

compararmos as terminações –[ɛ]u com –[ɛ]l, –[e]u com [e]l, vamos observar<br />

que a terminação –[e]u correspon<strong>de</strong> a quase 50% dos itens terminados <strong>em</strong> <strong>–u</strong>.<br />

Essa po<strong>de</strong> ser uma justificativa para os falantes preservar<strong>em</strong> os plurais das palavras<br />

terminadas <strong>em</strong> –[e]u. As terminações –au e –[ɛ]u são menos frequentes<br />

no grupo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>, por isso sua frequência <strong>de</strong> tipo não garante a manutenção<br />

<strong>de</strong> seus plurais e elas ten<strong>de</strong>ram a ser pluralizadas como <strong>–l</strong>. No grupo <strong>em</strong> <strong>–l</strong>,<br />

perceb<strong>em</strong>os que as terminações –[e]l e –il foram as que mais favoreceram<br />

plurais <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> (pesos relativos <strong>de</strong> 0.987 e 0.918, respectivamente).<br />

Conforme afirmamos anteriormente, a terminação –[e]u é a mais frequente<br />

no grupo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>, provavelmente por isso os falantes pluralizaram a terminação<br />

–[e]l como <strong>–u</strong>. Por outro lado, a terminação <strong>em</strong> –iu é bastante incipiente no<br />

grupo <strong>de</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> (apenas 2,3% do grupo), por isso não se esperava que<br />

fosse uma das lí<strong>de</strong>res na migração <strong>de</strong> plural. 129<br />

Finalmente, vamos analisar os dados para frequência <strong>de</strong> ocorrência, que<br />

foi relevante somente para os plurais terminados <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>.<br />

Tabela 11: Efeito da frequência <strong>de</strong> ocorrência nos plurais <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong><br />

Frequência Dados obtidos % P.R.<br />

Baixa 112/339 33 0.609<br />

Média 75/327 22,9 0.502<br />

Alta 6/288 2,1 0.370<br />

Esta tabela corrobora nossa hipótese principal <strong>de</strong> trabalho: na classe<br />

<strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>, palavras <strong>de</strong> baixa frequência <strong>de</strong> ocorrência favorec<strong>em</strong> o<br />

processo <strong>de</strong> migração <strong>de</strong> plural (0.609), palavras <strong>de</strong> frequência média têm<br />

efeito neutro (0.502) e palavras <strong>de</strong> frequência alta <strong>de</strong>sfavorec<strong>em</strong> o fenômeno<br />

(0.370). No grupo <strong>em</strong> <strong>–l</strong>, por outro lado, frequência <strong>de</strong> ocorrência não foi<br />

<strong>de</strong>terminante para as variações <strong>de</strong> plural. Já sab<strong>em</strong>os que os itens terminados<br />

<strong>em</strong> <strong>–l</strong> compõ<strong>em</strong> um quantitativo maior no léxico do PB que os itens terminados<br />

<strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> (cf. Tabs. 1 e 2). Por causa disso, a frequência <strong>de</strong><br />

tipo da classe <strong>em</strong> <strong>–l</strong> está atraindo os itens <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> (<strong>em</strong> 20% dos<br />

dados dos nossos experimentos). No entanto, como a classe <strong>em</strong> <strong>–l</strong> já t<strong>em</strong><br />

maior frequência <strong>de</strong> tipo <strong>de</strong> que a <strong>de</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>, a variação linguística<br />

12 Os itens terminados <strong>em</strong> –iu, –ou e <strong>–u</strong>u não foram incluídos <strong>em</strong> nossa pesquisa (cf. Tabelas 1 e 2).


374<br />

Bre<strong>de</strong>r, Gisele e Huback, Ana Paula<br />

A <strong>perda</strong> <strong>de</strong> <strong>distinção</strong> <strong>fonética</strong> <strong>entre</strong> <strong>–l</strong> e <strong>–u</strong> <strong>em</strong> <strong>fim</strong> <strong>de</strong> <strong>sílaba</strong> e consequências para a pluralização<br />

nesse grupo (<strong>em</strong> <strong>–l</strong>) é b<strong>em</strong> menor: apenas 5,6% dos nossos dados. A alta<br />

frequência <strong>de</strong> tipo da classe <strong>em</strong> <strong>–l</strong> já faz com que ela tenha seus plurais preservados,<br />

por isso a frequência <strong>de</strong> ocorrência atua menos nesse grupo que no<br />

grupo <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>. Na classe <strong>de</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>, <strong>em</strong> que a variação <strong>de</strong><br />

plurais realmente ocorre, a frequência <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong>termina que itens vão<br />

mudar primeiro e quais serão preservados. No grupo <strong>em</strong> <strong>–l</strong>, no entanto, a<br />

frequência <strong>de</strong> tipo já mantém os plurais, por isso a frequência <strong>de</strong> ocorrência<br />

é menos significativa.<br />

Para finalizar nossa análise, fiz<strong>em</strong>os gráficos que mostram a variação <strong>de</strong><br />

palavras individualmente, tanto no grupo <strong>em</strong> <strong>–l</strong> quanto <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>.<br />

Em cada gráfico, as palavras estão organizadas <strong>em</strong> or<strong>de</strong>m crescente por frequência<br />

<strong>de</strong> ocorrência. À frente <strong>de</strong> cada uma das palavras há uma letra que indica<br />

a faixa <strong>de</strong> frequência a que elas pertenc<strong>em</strong>: (B) baixa, (M) média, (A) alta.<br />

Gráfico 1: Efeito <strong>de</strong> frequência <strong>de</strong> ocorrência nas palavras terminadas <strong>em</strong> <strong>–l</strong><br />

Neste gráfico sobre itens <strong>em</strong> <strong>–l</strong>, observamos que os efeitos <strong>de</strong> frequência<br />

não são muito significativos, ou seja, não se percebe visualmente uma variação<br />

das palavras <strong>em</strong> função da frequência <strong>de</strong> ocorrência. O dado mais interessante<br />

é o fato <strong>de</strong> que as palavras que mais sofreram variação <strong>de</strong> plural são as monos<strong>sílaba</strong>s<br />

(mel, sol e sal). Conforme vimos nas tabela 9, o grupo <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong><br />

<strong>–u</strong> t<strong>em</strong> mais porcentag<strong>em</strong> <strong>de</strong> monossílabos que o grupo <strong>em</strong> <strong>–l</strong>. Por causa disso,<br />

itens monossílabos <strong>em</strong> <strong>–l</strong> são ocasionalmente pluralizados como <strong>–u</strong>. Outro fato<br />

interessante a notar é que, <strong>de</strong>ntre os três monossílabos analisados, a frequência<br />

<strong>de</strong> ocorrência atuou. Mel e sol pertenc<strong>em</strong> à frequência baixa e foram as mais afetadas;<br />

sal pertence à frequência alta e foi a que sofreu menos variação <strong>de</strong> plural.


Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> Letras da <strong>UFF</strong> – Dossiê: Palavra e imag<strong>em</strong> n o 44, p. 359-380, 2012 375<br />

Vamos comentar agora as palavras terminadas <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>.<br />

Gráfico 2: Efeito <strong>de</strong> frequência <strong>de</strong> ocorrência nas palavras terminadas <strong>em</strong><br />

ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong><br />

No gráfico <strong>de</strong> palavras <strong>em</strong> <strong>–u</strong>, observamos claramente os efeitos <strong>de</strong> frequência<br />

<strong>de</strong> ocorrência: a migração <strong>de</strong> plurais diminui conforme aumenta a<br />

frequência <strong>de</strong> ocorrência das palavras. Dois itens que pertenc<strong>em</strong> à frequência<br />

baixa e não sofreram nenhuma migração <strong>de</strong> plural foram ateu e pau. Já vimos<br />

que a terminação –[e]u é a mais frequente no grupo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>, por isso as palavras<br />

com essa terminação (como ateu) costumam preservar seus plurais; por outro<br />

lado, o quantitativo <strong>de</strong> monossílabos no grupo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> também é percentualmente<br />

maior, por isso itens <strong>de</strong> uma <strong>sílaba</strong> (como pau) também ten<strong>de</strong>m a<br />

manter seus plurais. Excluindo-se esses dois itens, os efeitos <strong>de</strong> frequência <strong>de</strong><br />

ocorrência são bastante claros.<br />

Na subseção seguinte vamos fazer comentários gerais sobre os resultados.<br />

Discussão geral dos dados<br />

A partir da análise dos grupos <strong>de</strong> plurais terminados <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong><br />

e <strong>em</strong> <strong>–l</strong>, pu<strong>de</strong>mos traçar algumas conclusões interessantes sobre os processos<br />

cognitivos que os falantes adotam para estocar e acessar itens léxicos.<br />

Em primeiro lugar, observamos que, por causa da <strong>perda</strong> <strong>de</strong> <strong>distinção</strong><br />

<strong>fonética</strong> <strong>entre</strong> <strong>–l</strong> e <strong>–u</strong> <strong>em</strong> coda, as duas classes <strong>de</strong> plural começaram a sofrer<br />

variação linguística. Essa variação é mais recorrente no grupo <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong>


376<br />

Bre<strong>de</strong>r, Gisele e Huback, Ana Paula<br />

A <strong>perda</strong> <strong>de</strong> <strong>distinção</strong> <strong>fonética</strong> <strong>entre</strong> <strong>–l</strong> e <strong>–u</strong> <strong>em</strong> <strong>fim</strong> <strong>de</strong> <strong>sílaba</strong> e consequências para a pluralização<br />

<strong>–u</strong>, justamente por esse ter frequência <strong>de</strong> tipo menor do que o grupo <strong>em</strong> <strong>–l</strong> (cf.<br />

Tabs. 1 e 2). Niveladas as distinções <strong>fonética</strong>s <strong>entre</strong> <strong>–l</strong> e <strong>–u</strong> <strong>em</strong> <strong>fim</strong> <strong>de</strong> <strong>sílaba</strong>,<br />

não há referência significativa para que o plural <strong>em</strong> <strong>–u</strong>s ou –is seja adotado.<br />

No caso <strong>de</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>, <strong>em</strong> que a variação é mais frequente (20% dos<br />

casos), efeitos <strong>de</strong> frequência <strong>de</strong> ocorrência são bastante claros. Convém notar<br />

que esse grupo adota pluralização regular no PB (adição <strong>de</strong> –s). No entanto,<br />

por causa da similarida<strong>de</strong> <strong>fonética</strong> com a classe <strong>em</strong> <strong>–l</strong>, essas palavras (<strong>em</strong> <strong>–u</strong>)<br />

estão adotando pluralização diferente da regular. Esse fato nos faz hipotetizar<br />

que, ao pluralizar uma palavra, o falante não consi<strong>de</strong>ra somente a terminação<br />

final, mas a palavra como um todo e suas peculiarida<strong>de</strong>s (se é monos<strong>sílaba</strong>, se<br />

t<strong>em</strong> sufixo, qual a vogal prece<strong>de</strong>nte, qual a frequência <strong>de</strong> ocorrência, etc.). É<br />

claro que esse processo é inconsciente, mas, conforme vimos, afeta significativamente<br />

as respostas dos informantes.<br />

Com nossos experimentos, encontramos evidências para a estocag<strong>em</strong> <strong>de</strong><br />

palavras inteiras no léxico mental do falante. Se as palavras não foss<strong>em</strong> armazenadas<br />

como unida<strong>de</strong>s inteiras, como seria possível justificar que os fatores<br />

mencionados acima (número <strong>de</strong> <strong>sílaba</strong>s, estrutura morfológica, vogal prece<strong>de</strong>nte)<br />

<strong>de</strong>terminass<strong>em</strong> a propensão ou não propensão dos itens à variação <strong>de</strong><br />

plural? Nossos experimentos, portanto, fornec<strong>em</strong> indícios <strong>de</strong> que os falantes estocam<br />

palavras inteiras no léxico mental e as organizam através <strong>de</strong> similarida<strong>de</strong>s<br />

<strong>fonética</strong>s e s<strong>em</strong>ânticas. A partir <strong>de</strong> comparações <strong>entre</strong> os itens léxicos estocados,<br />

informações morfológicas <strong>em</strong>erg<strong>em</strong> e se tornam características associadas a <strong>de</strong>terminados<br />

grupos <strong>de</strong> palavras. Assim, vimos que as classes terminadas <strong>em</strong> <strong>–l</strong><br />

e ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> já sofreram certo grau <strong>de</strong> fusão, por isso características <strong>de</strong> um<br />

grupo estão sendo aplicadas ao outro. Observamos, por ex<strong>em</strong>plo, que itens monossílabos<br />

foram pluralizados como ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> e itens polissílabos foram<br />

pluralizados <strong>em</strong> <strong>–l</strong>. Esse resultado provém do fato que monossílabos são mais<br />

frequentes na classe <strong>em</strong> <strong>–u</strong> e polissílabos, no grupo <strong>em</strong> <strong>–l</strong>. Da mesma maneira,<br />

itens com sufixo mantiveram seu plural <strong>em</strong> <strong>–l</strong>, ao passo que itens s<strong>em</strong> sufixo<br />

favoreceram plural <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>. Isso <strong>de</strong>monstra que o falante possui<br />

informação <strong>de</strong>talhada no léxico mental e sabe (mesmo inconscient<strong>em</strong>ente) que<br />

os sufixos são mais frequentes na classe <strong>em</strong> <strong>–l</strong> que na classe <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong><br />

<strong>–u</strong>. Finalmente, no caso das vogais prece<strong>de</strong>ntes, palavras terminadas <strong>em</strong> –[e]u<br />

foram preservadas por ser<strong>em</strong> o subgrupo mais frequente <strong>de</strong>ntro da classe <strong>em</strong><br />

ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>. Por outro lado, as palavras terminadas <strong>em</strong> –[e]l foram as que


Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> Letras da <strong>UFF</strong> – Dossiê: Palavra e imag<strong>em</strong> n o 44, p. 359-380, 2012 377<br />

mais sofreram variação <strong>de</strong> plural, justamente porque a terminação <strong>em</strong> –eu é<br />

uma informação forte para itens terminados <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>.<br />

Todos esses resultados apontam para a existência <strong>de</strong> um léxico mental<br />

rico <strong>em</strong> informações probabilísticas sobre as palavras. Esqu<strong>em</strong>as locais<br />

(BYBEE; MODER 1983) são formados a partir <strong>de</strong> características partilhadas<br />

por itens lexicais. Além disso, o léxico mental também preserva <strong>de</strong>talhes fonéticos<br />

e morfológicos sobre as palavras, caso contrário não veríamos variações<br />

linguísticas <strong>de</strong>terminadas por sufixos, número <strong>de</strong> <strong>sílaba</strong>s e vogal prece<strong>de</strong>nte.<br />

Ao contrário das representações econômicas e não-redundantes propostas por<br />

Chomsky, nossos resultados <strong>de</strong>monstram a existência <strong>de</strong> um léxico mental<br />

rico <strong>em</strong> <strong>de</strong>talhes fonéticos e com estocag<strong>em</strong> redundante <strong>de</strong> informação sobre<br />

palavras e suas idiossincrasias. A<strong>de</strong>mais, os resultados também corroboram<br />

os postulados da Difusão Lexical (WANG; CHENG:1977; HSIEH:1977;<br />

OLIVEIRA:1997), no sentido <strong>de</strong> que as palavras são afetadas uma a uma pela<br />

variação lexical, não havendo, necessariamente, regularida<strong>de</strong> nesse processo.<br />

Na subseção seguinte apresentamos as principais conclusões alcançadas<br />

com nossos experimentos.<br />

Conclusões finais<br />

Os experimentos psicolinguísticos sobre palavras terminadas <strong>em</strong> <strong>–l</strong> e <strong>em</strong><br />

ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> nos permitiram alcançar as seguintes conclusões:<br />

n A <strong>perda</strong> <strong>de</strong> <strong>distinção</strong> <strong>fonética</strong> <strong>entre</strong> <strong>–l</strong> e <strong>–u</strong> <strong>em</strong> coda criou um ambiente<br />

propício para que variações <strong>de</strong>correntes da analogia <strong>entre</strong> as duas classes ocorress<strong>em</strong>;<br />

n A alta frequência <strong>de</strong> tipo <strong>de</strong> <strong>–l</strong> <strong>em</strong> <strong>fim</strong> <strong>de</strong> palavra está atraindo itens<br />

terminados <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>;<br />

n Na classe <strong>de</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>, a frequência <strong>de</strong> ocorrência atua, fazendo<br />

com que itens <strong>de</strong> baixa frequência sejam os primeiros a sofrer variação linguística,<br />

ao passo que palavras <strong>de</strong> alta frequência resist<strong>em</strong> mais ao processo;<br />

n Nas duas classes <strong>de</strong> plural, observamos a formação <strong>de</strong> esqu<strong>em</strong>as locais,<br />

como o <strong>de</strong> palavras monos<strong>sílaba</strong>s, com sufixos ou vogais prece<strong>de</strong>ntes específicas;<br />

n Em geral, esses resultados <strong>de</strong>monstram processos cognitivos <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhados<br />

por falantes que possu<strong>em</strong> um léxico mental rico <strong>em</strong> informações<br />

sobre as probabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> padrões linguísticos encontrados no PB.


378<br />

Bre<strong>de</strong>r, Gisele e Huback, Ana Paula<br />

A <strong>perda</strong> <strong>de</strong> <strong>distinção</strong> <strong>fonética</strong> <strong>entre</strong> <strong>–l</strong> e <strong>–u</strong> <strong>em</strong> <strong>fim</strong> <strong>de</strong> <strong>sílaba</strong> e consequências para a pluralização<br />

Futuramente, um <strong>de</strong>sdobramento interessante para essa pesquisa seria fazer<br />

novos experimentos linguísticos com palavras inventadas. Dessa forma, po<strong>de</strong>ríamos<br />

verificar se os falantes também preservariam as informações sobre sufixos,<br />

palavras monos<strong>sílaba</strong>s e o favorecimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas vogais prece<strong>de</strong>ntes.<br />

ABSTRACT<br />

This article analyzes how the loss of phonetic distinction<br />

between <strong>–l</strong> and <strong>–u</strong> in final syllable position in Brazilian<br />

Portuguese is affecting the pluralization of words<br />

ending in <strong>–l</strong> and in <strong>–u</strong> dipthong. Psicolinguistic experiments<br />

were carried out in or<strong>de</strong>r to i<strong>de</strong>ntify the factors<br />

which interfere in the plural variation. As for the theoretical<br />

background, the Network Mo<strong>de</strong>l, proposed by<br />

Bybee (2001, 2010), was adopted.<br />

KEYWORDS: Network Mo<strong>de</strong>l, mental lexicon, pluralization.<br />

Referências:<br />

BROWMAN, Catherine; GOLDSTEIN, Louis. Articulatory phonology: An<br />

overview. Phonetica, [S.l.], n. 49 (3-4), p. 155-80, 1992.<br />

BYBEE, Joan. Morphology: A study of the relation between meaning and<br />

form. Phila<strong>de</strong>lphia: John Benjamins, 1985. 234p.<br />

______. Phonology and language use. Cambridge: Cambridge University Press,<br />

2001. (Cambridge Studies in Linguistics, 94). 260p.<br />

______. Mechanisms of change in grammaticization: the role of frequency. In:<br />

JANDA, R.; JOSEPH, B. (Eds.). Handbook of historical linguistics. Oxford:<br />

Blackwell, 2002. p. 602-623.<br />

______. Language, usage and cognition. New York: Cambridge University<br />

Press, 2010. 252p.<br />

BYBEE, Joan; MODER, Carol. Morphological classes as natural categories.<br />

Language, Washington, n. 59, p. 251-270, 1983.


Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> Letras da <strong>UFF</strong> – Dossiê: Palavra e imag<strong>em</strong> n o 44, p. 359-380, 2012 379<br />

CHAMBERS, J. K. Sociolinguistic theory: linguistic variation and its social<br />

significance. Oxford: Blackwell, 1995. (Language in society). 336p.<br />

CHOMSKY, Noam; HALLE, Morris. The sound pattern of English. New York:<br />

Harper and Row, 1968 apud BYBEE, Joan. Morphology: a study of the relation<br />

between meaning and form. Phila<strong>de</strong>lphia: John Benjamins, 1985.<br />

Corpus LAEL. Disponível <strong>em</strong> .<br />

Corpus NILC/São Carlos. Disponível <strong>em</strong> .<br />

CRISTÓFARO-SILVA, Thaïs. Fonética e fonologia do português: Roteiro <strong>de</strong><br />

estudos e guia <strong>de</strong> exercícios. 6. ed. São Paulo: Contexto, 2002. 261p.<br />

Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Objetiva,<br />

2001.<br />

HARE, Mary; ELMAN, Jeffrey. Learning and morphological change. Cognition,<br />

[S.l.], v. 56, p. 61-98, 1995.<br />

LABOV, William. Sociolinguistic patterns. Phila<strong>de</strong>lphia: University of Pennsylvania<br />

Press, 1972. 362p.<br />

______. Principles of linguistic change: social factors. Oxford: Blackwell, 2001.<br />

(v.2) 592p.<br />

HORA, Dermeval. Vocalização da lateral /l/: correlação <strong>entre</strong> restrições sociais<br />

e estruturais. Scripta 09 (18), 29-44. 2007.<br />

HSIEH, H.-I. Lexical diffusion: evi<strong>de</strong>nce from child language acquisition. In:<br />

WANG, W. (Ed.). The lexicon in phonological change. The Hague: Mouton,<br />

1977. p. 133-147.<br />

OLIVEIRA, Marco Antônio. Reanalisando o processo <strong>de</strong> cancelamento do<br />

(r) <strong>em</strong> final <strong>de</strong> <strong>sílaba</strong>. Revista <strong>de</strong> estudos da linguag<strong>em</strong> 6 (2), p. 31-58. 1997.<br />

PAGLIUCA, William; MOWREY, Richard. Articulatory evolution. In: RA-<br />

MAT, Anna Giacalone; CARRUBA, Onofrio; BERNINI, Giuliano. Papers<br />

from the 7th International Conference on Historical Linguistics. Amsterdam:<br />

Benjamins, 1987. p. 459-72.<br />

PINKER, Steven. Rules of language. Science, [S.l.], n. 253, p. 530-535, 1991.<br />

______. Words and rules: the ingredients of language. New York: Perennial,<br />

1999.


380<br />

Bre<strong>de</strong>r, Gisele e Huback, Ana Paula<br />

A <strong>perda</strong> <strong>de</strong> <strong>distinção</strong> <strong>fonética</strong> <strong>entre</strong> <strong>–l</strong> e <strong>–u</strong> <strong>em</strong> <strong>fim</strong> <strong>de</strong> <strong>sílaba</strong> e consequências para a pluralização<br />

QUANDT, V. O. O comportamento da lateral anterior na fala do norte-noroeste<br />

fluminense, 2004. 178f. Dissertação (Mestrado <strong>em</strong> Letras Vernáculas)<br />

– Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro, Rio <strong>de</strong> Janeiro, 2004.<br />

WANG, W. S.-Y.; CHENG, C.-C. Impl<strong>em</strong>entation of phonological change:<br />

the Shaung-feng Chinese case. In: WANG, W. (Ed.) The lexicon in phonological<br />

change, The Hague: Mouton, 1977. p. 148-158.<br />

Recebido <strong>em</strong>: 21/09/11<br />

Aprovado <strong>em</strong>: 13/06/12

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!