A perda de distinção fonética entre –l e –u em fim de sílaba e ... - UFF
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Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> Letras da <strong>UFF</strong> – Dossiê: Palavra e imag<strong>em</strong> n o 44, p. 359-380, 2012 359<br />
A PErdA dE diSTiNÇÃo foNéTicA ENTrE –L E –U<br />
Em <strong>fim</strong> dE SÍLABA E coNSEQuÊNciAS PArA A<br />
PLurALiZAÇÃo<br />
introdução<br />
Ana Paula Huback e Gisele Bre<strong>de</strong>r<br />
RESUMO<br />
Este artigo analisa como a <strong>perda</strong> <strong>de</strong> <strong>distinção</strong> <strong>fonética</strong><br />
<strong>entre</strong> <strong>–l</strong> e <strong>–u</strong> <strong>em</strong> posição <strong>de</strong> coda no português brasileiro<br />
está interferindo nos processos <strong>de</strong> pluralização <strong>de</strong> palavras<br />
terminadas <strong>em</strong> <strong>–l</strong> e <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>. Experimentos<br />
psicolinguísticos foram realizados para i<strong>de</strong>ntificar os<br />
fatores que interfer<strong>em</strong> nas variações <strong>de</strong> plurais observadas.<br />
Como base teórica, adotamos o Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Re<strong>de</strong>s,<br />
proposto por Bybee (2001, 2010).<br />
PALAVRAS-CHAVE: Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Re<strong>de</strong>s, léxico mental,<br />
pluralização<br />
Este artigo discute, primeiramente, a <strong>perda</strong> <strong>de</strong> <strong>distinção</strong> <strong>fonética</strong> <strong>entre</strong><br />
<strong>–l</strong> e <strong>–u</strong> <strong>em</strong> <strong>fim</strong> <strong>de</strong> <strong>sílaba</strong> no português brasileiro (doravante PB). Na<br />
maioria dos dialetos do PB (Cf. Cristófaro-Silva, 2002; Quandt, 2004,<br />
Hora, 2007), pares como “mel” / “véu” ou “sal” / “mau” têm o <strong>–l</strong> ou <strong>–u</strong> final<br />
realizados foneticamente como [w]. Essa <strong>perda</strong> <strong>de</strong> <strong>distinção</strong> <strong>fonética</strong> <strong>em</strong> posição<br />
<strong>de</strong> coda t<strong>em</strong> causado consequências para a morfologia <strong>de</strong> plural <strong>de</strong>sses<br />
itens. Assim sendo, já se po<strong>de</strong> constatar, <strong>em</strong> corpora do português falado, a<br />
ocorrência <strong>de</strong> itens como “troféis” ou “<strong>de</strong>grais”, casos <strong>em</strong> que o plural <strong>de</strong> palavras<br />
terminadas <strong>em</strong> <strong>–l</strong> está sendo aplicado a itens que terminam <strong>em</strong> ditongo<br />
<strong>em</strong> <strong>–u</strong>. Neste artigo, vamos discutir experimentos psicolinguísticos que foram<br />
realizados para analisar o status cognitivo <strong>de</strong>sses dois grupos <strong>de</strong> plurais no léxico
360<br />
Bre<strong>de</strong>r, Gisele e Huback, Ana Paula<br />
A <strong>perda</strong> <strong>de</strong> <strong>distinção</strong> <strong>fonética</strong> <strong>entre</strong> <strong>–l</strong> e <strong>–u</strong> <strong>em</strong> <strong>fim</strong> <strong>de</strong> <strong>sílaba</strong> e consequências para a pluralização<br />
mental dos falantes. Os objetivos <strong>de</strong> tais experimentos e, consequent<strong>em</strong>ente,<br />
<strong>de</strong>ste artigo, são:<br />
n Determinar que consequências morfológicas estão ocorrendo <strong>em</strong><br />
função da <strong>perda</strong> <strong>de</strong> <strong>distinção</strong> <strong>fonética</strong> <strong>entre</strong> <strong>–l</strong> e <strong>–u</strong> <strong>em</strong> <strong>fim</strong> <strong>de</strong> palavra;<br />
n I<strong>de</strong>ntificar fatores linguísticos e não-linguísticos que estão motivando<br />
a variação;<br />
n Verificar se a frequência <strong>de</strong> uso dos itens léxicos interfere nos processos<br />
<strong>de</strong> variação linguística.<br />
Na subseção seguinte, vamos discutir os pressupostos do Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Re<strong>de</strong>s,<br />
adotado como base teórica para nosso artigo.<br />
Fundamentação teórica<br />
O Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Re<strong>de</strong>s (cf. BYBEE, 1985, 2001, 2010) questiona os postulados<br />
da Teoria Gerativa, proposta por Chomsky e Halle (1968). Grosso<br />
modo, a Teoria Gerativa propõe que o conhecimento linguístico é algo tão<br />
específico que a mente humana possui um módulo próprio somente para lidar<br />
com informações linguísticas. Tal teoria propõe também a separação <strong>entre</strong><br />
competência e <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho. Competência seria o conhecimento internalizado<br />
que o falante t<strong>em</strong> sobre a língua que fala; <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho seria a capacida<strong>de</strong><br />
individual <strong>de</strong> utilizar esse conhecimento para se comunicar. À linguística cabe<br />
o estudo da competência, já que o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho é variável <strong>de</strong>mais para ser<br />
analisado cientificamente.<br />
O Gerativismo postula também que a unida<strong>de</strong> básica <strong>de</strong> estocag<strong>em</strong><br />
linguística é o fon<strong>em</strong>a ou morf<strong>em</strong>a. A formação <strong>de</strong> palavras é feita através<br />
<strong>de</strong> duas formas específicas: quando o it<strong>em</strong> é <strong>de</strong>rivável por regras, como o<br />
plural <strong>de</strong> vocábulos regulares do português (casa-casas, telefone-telefones), a<br />
palavra não é estocada no léxico mental do falante. Armazenar palavras cuja<br />
formação é regular seria <strong>de</strong>snecessário, já que regras po<strong>de</strong>m ser aplicadas para<br />
<strong>de</strong>rivar esses itens. Por outro lado, no caso <strong>de</strong> palavras irregulares, como a<br />
flexão dos verbos “ser” e “ir”, não há maneira <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivá-los através <strong>de</strong> regras,<br />
por isso esses itens seriam estocados na m<strong>em</strong>ória lexical do falante (PINKER,<br />
1991, 1999).
Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> Letras da <strong>UFF</strong> – Dossiê: Palavra e imag<strong>em</strong> n o 44, p. 359-380, 2012 361<br />
O Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Re<strong>de</strong>s, conforme afirmamos, surge como uma corrente<br />
teórica contrária ao Gerativismo. Abaixo vamos apresentar algumas características<br />
do Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Re<strong>de</strong>s que o difer<strong>em</strong> da Teoria Gerativa.<br />
O Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Re<strong>de</strong>s (“Network Mo<strong>de</strong>l”) recebe este nome porque pressupõe<br />
a existência <strong>de</strong> um léxico mental plástico e r<strong>em</strong>o<strong>de</strong>lável a partir do uso<br />
da língua <strong>em</strong> situações cotidianas. Para esse mo<strong>de</strong>lo, os processos cognitivos<br />
utilizados pelo falante interfer<strong>em</strong> <strong>em</strong> fenômenos <strong>de</strong> variação e mudança linguística.<br />
De acordo com Bybee (2001, 2010), o léxico mental do falante é<br />
composto, basicamente, por palavras inteiras que são categorizadas <strong>em</strong> termos<br />
<strong>de</strong> similarida<strong>de</strong>s <strong>fonética</strong>s e s<strong>em</strong>ânticas. A partir <strong>de</strong>ssas s<strong>em</strong>elhanças, conexões<br />
morfológicas <strong>em</strong>erg<strong>em</strong> e re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> palavras são formadas. Essa é a orig<strong>em</strong> da<br />
terminologia “Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Re<strong>de</strong>s”.<br />
Basicamente, o Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Re<strong>de</strong>s tenta <strong>de</strong>monstrar que não exist<strong>em</strong><br />
diferenças significativas <strong>entre</strong> a forma como a mente humana lida com informações<br />
linguísticas e outras informações <strong>de</strong> domínio mais geral (BYBEE,<br />
2010). Sendo assim, o processamento <strong>de</strong> informações linguísticas <strong>de</strong>ve ser<br />
norteado pelos mesmos princípios que reg<strong>em</strong> outras ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhadas<br />
pelos seres humanos. A forma como categorizamos cores, por ex<strong>em</strong>plo, é<br />
análoga à maneira como processamos informações linguísticas. Categorizamos<br />
as cores a partir das similarida<strong>de</strong>s que elas partilham <strong>entre</strong> si. Com base<br />
nessas s<strong>em</strong>elhanças, utilizamos rótulos como “ver<strong>de</strong>”, “azul”, “amarelo”, etc.,<br />
para um grupo <strong>de</strong> nuances que nos parec<strong>em</strong> análogas. No entanto, mesmo<br />
<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> cada uma <strong>de</strong>ssas categorias, existe armazenag<strong>em</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhes com<br />
relação às cores. T<strong>em</strong>os, por ex<strong>em</strong>plo, tipos diferentes <strong>de</strong> azul: azul cobalto,<br />
azul esver<strong>de</strong>ado, azul marinho, azul turquesa, etc. O fato <strong>de</strong> todos esses tons<br />
<strong>de</strong> azul partilhar<strong>em</strong> proprieda<strong>de</strong>s similares não faz com que armazen<strong>em</strong>os somente<br />
um tipo <strong>de</strong> azul. Ao contrário disso, nossa m<strong>em</strong>ória cognitiva registra<br />
todos os ex<strong>em</strong>plares <strong>de</strong> azul com o qual tiv<strong>em</strong>os contato <strong>em</strong> nossas vidas. A<br />
representação cognitiva é, portanto, redundante e rica <strong>em</strong> <strong>de</strong>talhes sobre os<br />
eventos que experenciamos no cotidiano. Princípios similares são aplicados<br />
à categorização <strong>de</strong> itens linguísticos. As palavras que ouvimos são estocadas<br />
no léxico mental a partir <strong>de</strong> similarida<strong>de</strong>s <strong>fonética</strong>s e s<strong>em</strong>ânticas. Ocorrências<br />
idênticas do mesmo it<strong>em</strong>, <strong>de</strong>talhamento fonético e informações sobre o<br />
contexto <strong>de</strong> uso <strong>de</strong> cada palavra também são estocados. Provavelmente todos<br />
nós já ouvimos as palavras “probl<strong>em</strong>a”, “pobl<strong>em</strong>a”, “pobr<strong>em</strong>a” como variações
362<br />
Bre<strong>de</strong>r, Gisele e Huback, Ana Paula<br />
A <strong>perda</strong> <strong>de</strong> <strong>distinção</strong> <strong>fonética</strong> <strong>entre</strong> <strong>–l</strong> e <strong>–u</strong> <strong>em</strong> <strong>fim</strong> <strong>de</strong> <strong>sílaba</strong> e consequências para a pluralização<br />
para o it<strong>em</strong> lexical “probl<strong>em</strong>a”. Nosso léxico mental guarda todas as diferentes<br />
pronúncias para essa palavra, b<strong>em</strong> como informações socioculturais associadas<br />
a cada uma <strong>de</strong>las. O falante escolarizado geralmente sabe que “probl<strong>em</strong>a” é a<br />
variante padrão, ao passo que as outras são consi<strong>de</strong>radas não-padrão e, por<br />
isso, sofr<strong>em</strong> estigma social. Ao ouvirmos um falante pronunciar “pobl<strong>em</strong>a”,<br />
automaticamente <strong>de</strong>duzimos a informação sobre a classe social ou o nível <strong>de</strong><br />
escolarida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse indivíduo. Todos esses dados são indícios <strong>de</strong> que o léxico<br />
mental do falante guarda informações redundantes e probabilísticas sobre<br />
cada it<strong>em</strong> lexical com que t<strong>em</strong>os contato. Se não armazenáss<strong>em</strong>os esses dados<br />
<strong>em</strong> nosso léxico mental, como seríamos capazes <strong>de</strong> atribuir julgamentos <strong>de</strong><br />
valor às variantes da palavra “probl<strong>em</strong>a”? Todas as informações linguísticas<br />
a que t<strong>em</strong>os acesso são mentalmente organizadas pelo falante e compõ<strong>em</strong> a<br />
gramática que cada um <strong>de</strong> nós possui sobre a língua que falamos. Sendo assim,<br />
o uso da língua <strong>em</strong> situações cotidianas s<strong>em</strong>pre t<strong>em</strong> impacto na categorização<br />
e acesso a informações linguísticas.<br />
Outro ponto importante a mencionar quanto ao Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Re<strong>de</strong>s é<br />
o fato <strong>de</strong> que nossas representações mentais sobre itens linguísticos vão mudando<br />
à medida que apren<strong>de</strong>mos palavras novas. A tarefa <strong>de</strong> categorizar e<br />
estocar itens linguísticos é inerente à vida humana, assim como a habilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r coisas novas. Nesse sentido, a repetição <strong>de</strong> palavras é muito importante<br />
para que o léxico mental seja atualizado conforme adquirimos novos<br />
ex<strong>em</strong>plares linguísticos e <strong>de</strong>scartamos outros. O Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Re<strong>de</strong>s <strong>de</strong>fine duas<br />
medidas diferentes para frequência: frequência <strong>de</strong> tipo (“type”) e <strong>de</strong> ocorrência<br />
(“token”). A frequência <strong>de</strong> tipo refere-se à repetição <strong>de</strong> padrões linguísticos no<br />
dicionário da língua. Se fizermos uma busca no Dicionário Eletrônico Houaiss<br />
da Língua Portuguesa para verificar quantos verbos pertenc<strong>em</strong> à terceira<br />
conjugação do PB, encontramos o número 742. Essa é a frequência <strong>de</strong> tipo<br />
da <strong>de</strong>sinência –ir <strong>em</strong> verbos do PB. Por outro lado, se procuramos no Corpus<br />
Lael 1 a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vezes que a palavra “computador” aparece, ter<strong>em</strong>os o<br />
número 117. Essa é a frequência <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong>sse it<strong>em</strong>. Na tarefa <strong>de</strong> atualização<br />
do léxico mental do falante, essas duas medidas <strong>de</strong> frequência geram as<br />
seguintes consequências:<br />
1 O Corpus LAEL, disponível <strong>em</strong> , é composto por<br />
1.182.994 dados extraídos <strong>de</strong> língua falada e escrita.
Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> Letras da <strong>UFF</strong> – Dossiê: Palavra e imag<strong>em</strong> n o 44, p. 359-380, 2012 363<br />
n A alta frequência <strong>de</strong> tipo faz com que uma classe linguística se torne<br />
mais forte e possa exercer efeitos analógicos sobre outras classes cuja frequência<br />
<strong>de</strong> tipo seja mais baixa 2 ;<br />
n Classes <strong>de</strong> baixa frequência <strong>de</strong> tipo po<strong>de</strong>m ter itens “atraídos” por<br />
re<strong>de</strong>s que tenham frequência <strong>de</strong> tipo mais alta. Para que isso ocorra, é imprescindível<br />
que haja algum tipo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>fonética</strong> <strong>entre</strong> as duas classes<br />
(HARE; ELMAN, 1995);<br />
n A alta frequência <strong>de</strong> ocorrência geralmente faz com que os itens linguísticos<br />
se torn<strong>em</strong> mais imunes à variação linguística. Palavras altamente<br />
frequentes têm representação autônoma no léxico mental do falante e não<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da re<strong>de</strong> a que pertenc<strong>em</strong>, por isso são analisadas separadamente<br />
e sofr<strong>em</strong> menos o efeito da analogia; por outro, itens <strong>de</strong> alta frequência <strong>de</strong><br />
ocorrência são mais propensos a reduções <strong>fonética</strong>s <strong>em</strong> geral (BROWMAN;<br />
GOLDSTEIN, 1992, PAGLIUCA; MOWREY, 1987). Isso acontece porque<br />
palavras que são muito usadas tornam-se muito previsíveis no discurso e,<br />
por isso, são mais sujeitas à redução e sobreposição <strong>de</strong> gestos articulatórios;<br />
n Palavras <strong>de</strong> baixa frequência <strong>de</strong> ocorrência geralmente são as primeiras<br />
a sofrer variações linguísticas <strong>em</strong> que exist<strong>em</strong> efeitos analógicos. Isso ocorre<br />
porque palavras pouco frequentes <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> sua classe para que sejam rel<strong>em</strong>bradas.<br />
Se sua frequência <strong>de</strong> ocorrência é baixa, o falante não t<strong>em</strong> m<strong>em</strong>ória<br />
suficiente para acessá-las. Por isso, quando vai utilizá-las, o falante po<strong>de</strong><br />
flexioná-las <strong>de</strong> acordo com tipos mais frequentes da língua.<br />
Com relação ao objeto <strong>de</strong> estudo que estamos analisando neste artigo<br />
(plural das palavras terminadas <strong>em</strong> <strong>–l</strong> e ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>), vamos observar se<br />
efeitos <strong>de</strong> frequência po<strong>de</strong>m justificar eventuais variações ocorridas com essas<br />
classes. Na próxima subseção <strong>de</strong>ste artigo, vamos apresentar informações sobre<br />
os dois grupos <strong>de</strong> plural sob análise.<br />
Objeto <strong>de</strong> estudo<br />
Nesta subseção, vamos apresentar informações sobre os grupos <strong>de</strong> plurais<br />
terminados <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> ou <strong>em</strong> <strong>–l</strong>. Como um dos objetivos <strong>de</strong> nosso<br />
2 Na subseção seguinte vamos apresentar ex<strong>em</strong>plos sobre esse ponto.
364<br />
Bre<strong>de</strong>r, Gisele e Huback, Ana Paula<br />
A <strong>perda</strong> <strong>de</strong> <strong>distinção</strong> <strong>fonética</strong> <strong>entre</strong> <strong>–l</strong> e <strong>–u</strong> <strong>em</strong> <strong>fim</strong> <strong>de</strong> <strong>sílaba</strong> e consequências para a pluralização<br />
artigo é avaliar efeitos <strong>de</strong> frequência nas variações <strong>de</strong> plural, vamos <strong>em</strong>basar<br />
nossa análise com informações sobre os quantitativos <strong>de</strong> palavras terminadas<br />
<strong>em</strong> <strong>–l</strong> ou ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> no léxico do PB.<br />
As palavras que terminam <strong>em</strong> <strong>–l</strong> no singular formam um grupo bastante<br />
significativo no léxico do PB. A tabela abaixo, baseada no Dicionário Eletrônico<br />
Houaiss da Língua Portuguesa 3 , mostra quantitativos para itens terminados<br />
<strong>em</strong> vogal + <strong>–l</strong> final:<br />
Tabela 1: Quantitativo <strong>de</strong> itens terminados <strong>em</strong> <strong>–l</strong> no PB<br />
Terminação Número <strong>de</strong> % no grupo <strong>de</strong> itens % no dicionário<br />
ocorrências terminados <strong>em</strong> <strong>–l</strong><br />
–AL 3.054 49,1 1,33<br />
–[ɛ]L4 253 4,1 0,11<br />
–[E]L5 2.066 33,2 0,9<br />
–iL 403 6,5 0,17<br />
–[ɔ]L 302 4,8 0,13<br />
–[O]L 7 0,1 0,003<br />
–UL 140 2,2 0,06<br />
TOTAL 6.225 100 2,7<br />
De acordo com a tabela acima, os itens terminados <strong>em</strong> <strong>–l</strong> representam<br />
2,7% do total do léxico do PB. Nesse grupo, a terminação mais frequente é –al<br />
(quase meta<strong>de</strong> do grupo) e a segunda mais frequente é –[e]l (33,2% do grupo).<br />
As outras terminações apresentam quantitativos b<strong>em</strong> menores que –al e –[e]l.<br />
A regra básica <strong>de</strong> pluralização para essas palavras se faz r<strong>em</strong>ovendo o<br />
<strong>–l</strong> do singular e acrescentando –is: carnaval/carnavais, anel/anéis, etc. Uma<br />
característica marcante <strong>de</strong>sse grupo <strong>de</strong> palavras é a forte presença <strong>de</strong> sufixos.<br />
Abaixo listamos alguns sufixos <strong>de</strong>ssa classe, juntamente com o valor s<strong>em</strong>ântico<br />
que agregam ao radical das palavras:<br />
n –al: relação ou coletivo, como <strong>em</strong> cafezal, milharal, vital;<br />
n –il: diminutivo ou lugar on<strong>de</strong> se guardam animais, como <strong>em</strong> canil,<br />
covil, pernil;<br />
3<br />
O Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa (2001) é composto por aproximadamente<br />
228.500 verbetes.<br />
4<br />
Enquadram-se nesse grupo palavras oxítonas, como “anel”, “pastel”, “pincel”, etc.<br />
5<br />
A esse grupo pertenc<strong>em</strong> itens paroxítonos, como “amável”, “móvel”, “responsável”, etc.
Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> Letras da <strong>UFF</strong> – Dossiê: Palavra e imag<strong>em</strong> n o 44, p. 359-380, 2012 365<br />
n –vel: possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> praticar ou sofrer uma ação, como <strong>em</strong> amável,<br />
incrível, perecível.<br />
O grupo <strong>de</strong> palavras terminadas <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> é mais reduzido<br />
que o <strong>de</strong> itens terminados <strong>em</strong> <strong>–l</strong>. A tabela abaixo, também feita com base no<br />
Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa, mostra os quantitativos<br />
das palavras terminadas <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>, <strong>de</strong> acordo com a vogal prece<strong>de</strong>nte:<br />
Tabela 2: Quantitativo <strong>de</strong> itens terminados <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> no PB<br />
Terminação Número <strong>de</strong> ocorrências % no grupo <strong>de</strong> itens<br />
terminados <strong>em</strong> <strong>–u</strong><br />
% no dicionário<br />
–AU 207 28 0,09<br />
–[ɛ]U 132 17,8 0,05<br />
–[E]U 360 48,5 0,16<br />
–iU 17 2,3 0,007<br />
–[ɔ]U 0 0 0<br />
–OU 18 2,4 0,007<br />
–UU 07 1 0,003<br />
TOTAL 741 100 0,32<br />
Conforme a tabela acima <strong>de</strong>monstra, o grupo terminado <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong><br />
<strong>–u</strong> compõe 0,32% do léxico do PB. Esse total é b<strong>em</strong> menor que o dos itens<br />
<strong>em</strong> <strong>–l</strong> (2,7%, conforme Tab. 1). No grupo <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>, observamos<br />
que a terminação mais frequente é –[e]u, com quase meta<strong>de</strong> das ocorrências<br />
da classe. Em segundo lugar está a terminação –au, com 28% <strong>de</strong> ocorrências.<br />
A terminação –[ɛ]u correspon<strong>de</strong> a 17,8% do grupo. As terminações –iu, –ou<br />
e <strong>–u</strong>u são praticamente inexistentes no grupo <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>.<br />
A regra <strong>de</strong> pluralização para esse grupo <strong>de</strong> palavras é a canônica do PB.<br />
Como todos os itens terminam <strong>em</strong> vogal, basta que se acrescente o morf<strong>em</strong>a<br />
–s ao <strong>fim</strong> da palavra: céu/céus, museu/museus, etc. O grupo <strong>de</strong> palavras<br />
terminadas <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> não t<strong>em</strong> muitos sufixos no PB. Consultando<br />
gramáticas da nossa língua, os únicos dois sufixos a que se faz referência são<br />
–eu, indicando nacionalida<strong>de</strong>, como <strong>em</strong> europeu, ju<strong>de</strong>u; –aréu, <strong>de</strong>notando<br />
aumentativo, como <strong>em</strong> fogaréu, povaréu.<br />
Várias pesquisas sobre o PB (cf. CRISTÓFARO-SILVA, 2002;<br />
QUANDT, 2004, HORA, 2007) documentam a vocalização <strong>de</strong> <strong>–l</strong> <strong>em</strong> <strong>fim</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>sílaba</strong>. Niveladas as distinções <strong>fonética</strong>s <strong>entre</strong> <strong>–l</strong> e ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> <strong>em</strong>
366<br />
Bre<strong>de</strong>r, Gisele e Huback, Ana Paula<br />
A <strong>perda</strong> <strong>de</strong> <strong>distinção</strong> <strong>fonética</strong> <strong>entre</strong> <strong>–l</strong> e <strong>–u</strong> <strong>em</strong> <strong>fim</strong> <strong>de</strong> <strong>sílaba</strong> e consequências para a pluralização<br />
<strong>fim</strong> <strong>de</strong> palavra, per<strong>de</strong>-se o correlato sobre que tipo <strong>de</strong> pluralização aplicar<br />
a cada um dos itens. Quando uma palavra é escrita frequent<strong>em</strong>ente, sua<br />
grafia po<strong>de</strong> ser m<strong>em</strong>orizada e, consequent<strong>em</strong>ente, sua pluralização po<strong>de</strong><br />
ser preservada. Por outro lado, palavras que não são escritas com frequência<br />
po<strong>de</strong>m gerar dúvidas quanto à pluralização. É o caso <strong>de</strong> itens como<br />
berimbau ou jirau. Por ser<strong>em</strong> palavras pouco frequentes na fala e também<br />
na escrita, sua grafia não favorece a manutenção do plural consi<strong>de</strong>rado<br />
correto pela gramática padrão.<br />
Na subseção seguinte, vamos <strong>de</strong>screver a metodologia adotada para a<br />
coleta <strong>de</strong> dados.<br />
Metodologia para a coleta e classificação <strong>de</strong> dados<br />
Por se tratar <strong>de</strong> um estudo que atribui importância crucial ao uso real das<br />
formas linguísticas, o i<strong>de</strong>al seria que nosso trabalho <strong>de</strong> campo contasse com<br />
<strong>entre</strong>vistas sociolinguísticas <strong>em</strong> que as formas analisadas pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> ser espontaneamente<br />
registradas a partir da fala dos informantes. No entanto, os itens<br />
terminados <strong>em</strong> <strong>–l</strong> ou ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> constitu<strong>em</strong> um percentual pequeno no<br />
léxico do PB (cf. Tabs. 1 e 2). Por causa disso, resolv<strong>em</strong>os fazer experimentos<br />
psicolinguísticos com palavras pré-selecionadas. Agindo assim garantiríamos a<br />
produção dos itens sob análise neste artigo.<br />
Selecionamos três faixas diferentes <strong>de</strong> frequência e alocamos palavras<br />
terminadas <strong>em</strong> <strong>–l</strong> ou ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> <strong>em</strong> cada uma <strong>de</strong>ssas faixas. Os números<br />
para frequência <strong>de</strong> ocorrência foram medidos no Corpus NILC/São Carlos<br />
6 . 4 Abaixo apresentamos uma tabela com as palavras selecionadas organizadas<br />
<strong>em</strong> or<strong>de</strong>m crescente <strong>de</strong> frequência <strong>de</strong> ocorrência:<br />
6<br />
O Corpus NILC/São Carlos () é composto por 41.372.943<br />
dados extraídos somente <strong>de</strong> textos escritos.
Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> Letras da <strong>UFF</strong> – Dossiê: Palavra e imag<strong>em</strong> n o 44, p. 359-380, 2012 367<br />
Tabela 3: Palavras adotadas nos experimentos<br />
Palavras terminadas <strong>em</strong> <strong>–l</strong><br />
Frequência baixa (0-99) Frequência baixa (100-500) Frequência baixa (+ <strong>de</strong> 500)<br />
Palavras Ocorrências Palavras Ocorrências Palavras Ocorrências<br />
mel 0 farol 100 espanhol 501<br />
cachecol 02 anel 110 difícil 654<br />
funil 02 lençol 118 móvel 728<br />
anzol 08 sal 129 útil 783<br />
avental 17 acessível 165 sinal 1.422<br />
sol 27 míssil 237 hospital 1.513<br />
gentil 31 azul 280 responsável 1.894<br />
pincel 37 infantil 328 jornal 2.490<br />
pastel 63<br />
agradável 74<br />
Palavras terminadas <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong><br />
Frequência Baixa (0-99) Frequência Média (100-500) Frequência Alta (+ <strong>de</strong> 500)<br />
Palavras Ocorrências Palavras Palavras Ocorrências Palavras<br />
berimbau 0 <strong>de</strong>grau 109 pneu 554<br />
jirau 1 chapéu 125 ju<strong>de</strong>u 808<br />
mausoléu 4 céu 163 grau 916<br />
ateu 24 réu 309 europeu 1.119<br />
véu 33 mau 346 meu 2.139<br />
pau 46 museu 424 seu 29.682<br />
troféu 72<br />
Para realizar a coleta <strong>de</strong> dados, utilizamos os seguintes experimentos psicolinguísticos:<br />
a) Conjunto <strong>de</strong> figuras: selecionamos figuras <strong>em</strong> que as palavras sob<br />
análise apareciam <strong>em</strong> quantida<strong>de</strong> plural. Mostramos as figuras individualmente<br />
aos informantes e pedimos que eles fizess<strong>em</strong> um comentário<br />
sobre a figura que viam 7 ; 5<br />
b) Leitura <strong>de</strong> frases: elaboramos frases <strong>em</strong> que os itens sob análise eram<br />
inseridos <strong>em</strong> forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhos <strong>em</strong> uma frase. A tarefa dos informantes<br />
era ler essas frases pluralizando as palavras representadas pela figura 8 ; 6<br />
7 Em cada um dos experimentos foram utilizadas também “palavras distratoras”, ou seja, itens<br />
que não seriam analisados, mas cuja função era fazer com que o informante não percebesse<br />
exatamente que tipos <strong>de</strong> palavras estavam sendo investigados.<br />
8 Dois ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong>sse experimento são: “Quantos (figura <strong>de</strong> dois anéis) você t<strong>em</strong>?” e “O<br />
pessoal da capoeira estava tocando os (figura <strong>de</strong> dois berimbaus).”
368<br />
Bre<strong>de</strong>r, Gisele e Huback, Ana Paula<br />
A <strong>perda</strong> <strong>de</strong> <strong>distinção</strong> <strong>fonética</strong> <strong>entre</strong> <strong>–l</strong> e <strong>–u</strong> <strong>em</strong> <strong>fim</strong> <strong>de</strong> <strong>sílaba</strong> e consequências para a pluralização<br />
c) Teste <strong>de</strong> reação: formulamos uma lista <strong>de</strong> palavras e perguntamos aos<br />
informantes o plural <strong>de</strong> cada uma das palavras.<br />
Os dados foram coletados <strong>em</strong> 2006, no estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Depois<br />
<strong>de</strong> realizados os experimentos, contamos com 954 dados para palavras terminadas<br />
<strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> e 1.077 dados para palavras terminadas <strong>em</strong> <strong>–l</strong>. Essas ocorrências<br />
foram codificadas a partir <strong>de</strong> fatores externos e internos <strong>de</strong>scritos a seguir.<br />
Fatores externos (ou sociais):<br />
n Faixa etária: 15-30 anos, 31-45 anos, 46-60 anos;<br />
n Escolarida<strong>de</strong>: nível fundamental ou superior;<br />
n Gênero: f<strong>em</strong>inino ou masculino.<br />
Fatores internos (ou linguísticos):<br />
n Estrutura morfológica: sufixo (“europeu”, “agradável”), não-sufixo<br />
(“<strong>de</strong>grau”, “sal”);<br />
n Número <strong>de</strong> <strong>sílaba</strong>s: monossílabos (“mau”, “sol”), polissílabos (“chapéu”,<br />
“responsável”);<br />
n Vogal prece<strong>de</strong>nte: [a] (“<strong>de</strong>grau”, “avental”), [ɛ] (“chapéu”, “pincel”),<br />
[e] (“meu”, “móvel”), [i] (“funil 97 ”), [ɔ] (“sol”), [u] (“azul”);<br />
n Frequência <strong>de</strong> ocorrência: baixa, média, alta (cf. Tabela 3).<br />
Para fazer a análise estatística, utilizamos o programa SPSS. Através <strong>de</strong>sse<br />
software, alcançamos resultados <strong>de</strong> porcentag<strong>em</strong> e probabilida<strong>de</strong> para cada<br />
um dos fatores analisados. Fiz<strong>em</strong>os uma análise binária cuja variável <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />
consi<strong>de</strong>rada foi adoção (pelo informante) <strong>de</strong> plural <strong>em</strong> <strong>–u</strong> ou <strong>em</strong> <strong>–l</strong>. Na<br />
subseção a seguir apresentamos os resultados da análise estatística.<br />
Resultados<br />
Nesta subseção vamos apresentar os resultados gerais para os dois tipos<br />
<strong>de</strong> plural. Na subseção seguinte, far<strong>em</strong>os comentários mais extensos sobre o<br />
9 Os itens terminados <strong>em</strong> –iu, –ou e <strong>–u</strong>u são <strong>em</strong> número extr<strong>em</strong>amente reduzido no léxico do<br />
PB (cf. Tab. 1). Por causa disso, <strong>de</strong>cidimos não incluí-los <strong>em</strong> nossa pesquisa.
Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> Letras da <strong>UFF</strong> – Dossiê: Palavra e imag<strong>em</strong> n o 44, p. 359-380, 2012 369<br />
quadro amplo <strong>de</strong> variação apresentado pelos dados. Vamos apresentar primeiro<br />
estatísticas gerais <strong>de</strong> itens do grupo <strong>em</strong> <strong>–l</strong> que foram pluralizados como<br />
ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> e vice-versa. Vejamos a tabela abaixo:<br />
Tabela 4: Resultados gerais <strong>de</strong> palavras que sofreram variação <strong>de</strong> plural<br />
Palavras <strong>em</strong> <strong>–l</strong><br />
pluralizadas como dit. <strong>–u</strong><br />
Palavras <strong>em</strong> dit. <strong>–u</strong> pluralizadas<br />
como <strong>–l</strong><br />
N % N %<br />
60/1.077 5,6 193/954 20<br />
Os resultados acima <strong>de</strong>monstram que houve mais palavras terminadas<br />
<strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> migrando para <strong>–l</strong> (20%) do que o oposto. Apenas 5,6%<br />
dos itens terminados <strong>em</strong> <strong>–l</strong> foram pluralizados como se terminass<strong>em</strong> <strong>em</strong> ditongo<br />
<strong>em</strong> <strong>–u</strong>. Esses resultados apontam para efeitos <strong>de</strong> frequência <strong>de</strong> tipo.<br />
Como vimos nas tabelas 1 e 2, o grupo <strong>em</strong> <strong>–l</strong> é mais numeroso no PB que o<br />
grupo <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>. Os itens terminados <strong>em</strong> <strong>–l</strong> compõ<strong>em</strong> 2,7% do Dicionário<br />
Eletrônico Houaiss, ao passo que as palavras terminadas <strong>em</strong> ditongo<br />
<strong>em</strong> <strong>–u</strong> representam apenas 0,32% do mesmo dicionário. Por causa <strong>de</strong>ssa alta<br />
frequência <strong>de</strong> tipo e também <strong>de</strong>vido à falta <strong>de</strong> diferenciação <strong>fonética</strong> <strong>entre</strong> <strong>–l</strong> e<br />
<strong>–u</strong> <strong>em</strong> <strong>fim</strong> <strong>de</strong> <strong>sílaba</strong>, itens terminados <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> estão migrando para<br />
a classe <strong>em</strong> <strong>–l</strong> 10 . 8<br />
O SPSS selecionou os fatores significativos para cada um dos grupos<br />
<strong>de</strong> plural. Para as palavras terminadas <strong>em</strong> <strong>–l</strong>, as variáveis significantes foram<br />
escolarida<strong>de</strong>, número <strong>de</strong> <strong>sílaba</strong>s, vogal prece<strong>de</strong>nte e estrutura morfológica.<br />
Para os itens <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>, os fatores significativos foram<br />
escolarida<strong>de</strong>, gênero, número <strong>de</strong> <strong>sílaba</strong>s, vogal prece<strong>de</strong>nte e frequência<br />
<strong>de</strong> ocorrência. Vamos começar comentando os resultados para fatores extralinguísticos.<br />
A variável escolarida<strong>de</strong> foi significativa para os dois grupos <strong>de</strong> plural.<br />
10 Esse ponto será melhor explorado na discussão geral <strong>de</strong> dados.<br />
11 “Plural <strong>em</strong> <strong>–l</strong>” refere-se a palavras terminadas <strong>em</strong> <strong>–l</strong> que foram pluralizadas como ditongo<br />
<strong>em</strong> <strong>–u</strong>; “plural <strong>em</strong> <strong>–u</strong>” refere-se a palavras terminadas <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> que foram pluralizadas<br />
como se terminass<strong>em</strong> <strong>em</strong> <strong>–l</strong>.
370<br />
Bre<strong>de</strong>r, Gisele e Huback, Ana Paula<br />
A <strong>perda</strong> <strong>de</strong> <strong>distinção</strong> <strong>fonética</strong> <strong>entre</strong> <strong>–l</strong> e <strong>–u</strong> <strong>em</strong> <strong>fim</strong> <strong>de</strong> <strong>sílaba</strong> e consequências para a pluralização<br />
Tabela 5: Efeito da escolarida<strong>de</strong> nos plurais <strong>em</strong> <strong>–l</strong> e <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong><br />
Escolarida<strong>de</strong> Dados obtidos % P.R.<br />
Plural <strong>–l</strong> 11 Plural <strong>–u</strong> Plural <strong>–l</strong> Plural <strong>–u</strong> Plural <strong>–l</strong> Plural <strong>–u</strong><br />
Fundamental 45/527 123/478 8,5 25,7 0.717 0.625<br />
Superior 15/550 70/476 2,7 14,7 0.291 0.374<br />
Para os dois tipos <strong>de</strong> plural, falantes com nível fundamental <strong>de</strong> educação<br />
formal favoreceram as formas variantes (<strong>em</strong> negrito na tabela). Por outro lado,<br />
também nos dois plurais, falantes pertencentes ao ensino superior ten<strong>de</strong>ram<br />
a preservar os plurais. Nossas hipóteses para justificar esse resultado são duas:<br />
1) Primeiro, o falante com mais anos <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser, <strong>em</strong> geral, mais<br />
atento a questões relacionadas à linguag<strong>em</strong>. Consequent<strong>em</strong>ente, tal indivíduo<br />
teria um cuidado maior com a fala e evitaria formas linguísticas consi<strong>de</strong>radas<br />
não-padrão pela gramática normativa; 2) Em segundo lugar, o nível mais<br />
alto <strong>de</strong> escolarização po<strong>de</strong> levar os falantes a um contato maior com a língua<br />
escrita, modalida<strong>de</strong> essa <strong>em</strong> que há mais preocupação gramatical e as formas<br />
padronizadas prevalec<strong>em</strong>. A escrita, <strong>em</strong> geral, preserva as formas <strong>de</strong> plural<br />
padrão, por isso apresenta menos palavras <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> pluralizadas <strong>em</strong><br />
<strong>–l</strong> e vice-versa. O falante menos escolarizado geralmente t<strong>em</strong> menos acesso à<br />
língua escrita, por isso po<strong>de</strong> ser que seu léxico mental contenha mais formas<br />
<strong>de</strong> plural generalizadas, já que, normalmente, é na modalida<strong>de</strong> falada que se<br />
originam as variações linguísticas.<br />
A variável gênero foi significativa somente para os plurais <strong>em</strong> ditongo<br />
<strong>em</strong> <strong>–u</strong>.<br />
Tabela 6: Efeito do gênero nos plurais <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong><br />
Gênero Dados Obtidos % P.R.<br />
F<strong>em</strong>inino 74/481 15,4 0.391<br />
Masculino 119/473 25,2 0.611<br />
Aqui observamos que os homens favoreceram a aplicação <strong>de</strong> plurais <strong>em</strong><br />
<strong>–l</strong> para palavras terminadas <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> (peso relativo <strong>de</strong> 0.611). Existe<br />
vasta literatura linguística (LABOV:1972, 2001; CHAMBERS:1995) <strong>de</strong>monstrando<br />
que as mulheres costumam ser mais conservadoras <strong>em</strong> relação a processos<br />
linguísticos estigmatizados. Po<strong>de</strong> ser que as mulheres tenham consciência <strong>de</strong>
Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> Letras da <strong>UFF</strong> – Dossiê: Palavra e imag<strong>em</strong> n o 44, p. 359-380, 2012 371<br />
que o uso <strong>de</strong> plural <strong>em</strong> <strong>–l</strong> para itens <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> sofra estigma social e<br />
por isso evit<strong>em</strong> o fenômeno.<br />
Começando com os fatores linguísticos, a variável estrutura morfológica<br />
foi selecionada somente para os plurais <strong>em</strong> <strong>–l</strong>. Os resultados são apresentados<br />
abaixo:<br />
Tabela 7: Efeito da estrutura morfológica nos plurais <strong>em</strong> <strong>–l</strong><br />
Estrutura Morfológica N % P.R.<br />
Sufixo 2/336 0,6 0.067<br />
Não-Sufixo 58/741 7,8 0.768<br />
Esta tabela mostra que a estrutura morfológica é um fator <strong>de</strong>terminante<br />
para que haja migrações <strong>de</strong> plural <strong>–l</strong> <strong>em</strong> direção a ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>. Os resultados<br />
<strong>de</strong>monstram que palavras que não têm sufixo favorec<strong>em</strong> a variação <strong>de</strong><br />
plural (0.768) e palavras com sufixo a <strong>de</strong>sfavorec<strong>em</strong> (0.067). Provavelmente,<br />
esse resultado ocorreu porque, no grupo <strong>de</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>, exist<strong>em</strong> poucos<br />
sufixos (–aréu e –eu e são os mais produtivos), ao passo que, no grupo <strong>em</strong> <strong>–l</strong>,<br />
há mais sufixos, como –al, –el, –il, –ol, –vel, etc. A partir da estocag<strong>em</strong> <strong>de</strong> palavras<br />
inteiras no léxico mental, a informação <strong>de</strong> que os itens <strong>em</strong> <strong>–l</strong> têm mais<br />
sufixos que os <strong>em</strong> <strong>–u</strong> <strong>em</strong>erge e faz com que os informantes preserv<strong>em</strong> a forma<br />
<strong>de</strong> plural <strong>em</strong> <strong>–l</strong>.<br />
Analisamos agora o efeito do número <strong>de</strong> <strong>sílaba</strong>s para os dois tipos <strong>de</strong><br />
plural.<br />
Tabela 8: Efeito do número <strong>de</strong> <strong>sílaba</strong>s para plurais <strong>em</strong> <strong>–l</strong> e <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong><br />
Número <strong>de</strong><br />
<strong>sílaba</strong>s<br />
Dados obtidos % P.R.<br />
Plural <strong>–l</strong> Plural <strong>–u</strong> Plural <strong>–l</strong> Plural <strong>–u</strong> Plural <strong>–l</strong> Plural <strong>–u</strong><br />
Monossílabos 47/138 21/328 34,1 6,4 0.995 0.195<br />
Polissílabos 13/939 172/626 1,4 27,5 0.311 0.678<br />
Aqui observamos que as palavras monos<strong>sílaba</strong>s terminadas <strong>em</strong> <strong>–l</strong> favorec<strong>em</strong><br />
plurais <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> (peso relativo <strong>de</strong> 0.995). Por outro lado,<br />
palavras polis<strong>sílaba</strong>s terminadas <strong>em</strong> <strong>–u</strong> favorec<strong>em</strong> o plural <strong>em</strong> <strong>–l</strong> (peso relativo<br />
<strong>de</strong> 0.678). Para justificar esses resultados, fiz<strong>em</strong>os uma busca no Dicionário<br />
Houaiss da Língua Portuguesa para <strong>de</strong>scobrir quantos itens monossílabos ter-
372<br />
Bre<strong>de</strong>r, Gisele e Huback, Ana Paula<br />
A <strong>perda</strong> <strong>de</strong> <strong>distinção</strong> <strong>fonética</strong> <strong>entre</strong> <strong>–l</strong> e <strong>–u</strong> <strong>em</strong> <strong>fim</strong> <strong>de</strong> <strong>sílaba</strong> e consequências para a pluralização<br />
minados <strong>em</strong> <strong>–l</strong> ou <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> nossa língua possui. Os resultados são<br />
apresentados abaixo:<br />
Tabela 9: Número <strong>de</strong> monossílabos <strong>em</strong> <strong>–l</strong> e ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> no<br />
Dicionário Houaiss<br />
Tipos Monossílabos % no grupo <strong>–l</strong> ou <strong>–u</strong> % no dicionário<br />
Ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> 36/741 4,8 0,015<br />
<strong>–l</strong> 29/6.225 0,46 0,012<br />
Esta tabela <strong>de</strong>monstra que, apesar <strong>de</strong> o grupo <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> ser reduzido<br />
no português, ele apresenta mais monossílabos (0,015% do dicionário<br />
ou 4,8% do grupo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>) do que palavras terminadas <strong>em</strong> <strong>–l</strong> (os monossílabos<br />
<strong>em</strong> <strong>–l</strong> representam 0,012% do dicionário ou apenas 0,46% <strong>de</strong> todo o grupo<br />
terminado <strong>em</strong> <strong>–l</strong>). Esses quantitativos suger<strong>em</strong> que os falantes utilizaram<br />
as informações <strong>de</strong> que monossílabos <strong>em</strong> geral pertenc<strong>em</strong> ao grupo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> e<br />
polissílabos, à classe <strong>em</strong> <strong>–l</strong>. Mais uma vez, observamos uma evidência para a estocag<strong>em</strong><br />
<strong>de</strong> palavras inteiras no léxico mental. A partir da comparação <strong>entre</strong> os itens<br />
armazenados, a informação sobre número <strong>de</strong> <strong>sílaba</strong>s para os dois grupos <strong>de</strong><br />
plural analisados <strong>em</strong>erge e faz com que os falantes pluraliz<strong>em</strong> itens monossílabos<br />
como <strong>–u</strong> e itens polissílabos como <strong>–l</strong>.<br />
A seguir vamos analisar os resultados para vogal prece<strong>de</strong>nte, fator consi<strong>de</strong>rado<br />
<strong>de</strong>terminante para os dois tipos <strong>de</strong> plural sob análise.<br />
Tabela 10: Efeito da vogal prece<strong>de</strong>nte para plurais <strong>em</strong> <strong>–l</strong> e <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong><br />
Vogal Dados obtidos % P.R.<br />
prece<strong>de</strong>nte Plural <strong>–l</strong> Plural <strong>–u</strong> Plural <strong>–l</strong> Plural <strong>–u</strong> Plural <strong>–l</strong> Plural <strong>–u</strong><br />
[a] 7/234 65/327 3 19,9 0.067 0.637<br />
[ɛ] 25/205 122/346 12,2 35,3 0.479 0.778<br />
[e] 2/160 6/281 1,2 2,1 0.987 0.1<br />
[i] 9/195 12 4,6 0.918<br />
[ɔ] 16/249 6,4 0.088<br />
[u] 1/34 2,9 0.792<br />
A tabela acima <strong>de</strong>monstra que, no grupo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>, a vogal [ɛ] foi a que<br />
mais favoreceu os plurais <strong>em</strong> <strong>–l</strong> (peso relativo <strong>de</strong> 0.778) e a vogal [e] <strong>de</strong>sfavoreceu<br />
muito o fenômeno (peso relativo <strong>de</strong> 0.1). Retornando às tabelas 1 e 2, se
Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> Letras da <strong>UFF</strong> – Dossiê: Palavra e imag<strong>em</strong> n o 44, p. 359-380, 2012 373<br />
compararmos as terminações –[ɛ]u com –[ɛ]l, –[e]u com [e]l, vamos observar<br />
que a terminação –[e]u correspon<strong>de</strong> a quase 50% dos itens terminados <strong>em</strong> <strong>–u</strong>.<br />
Essa po<strong>de</strong> ser uma justificativa para os falantes preservar<strong>em</strong> os plurais das palavras<br />
terminadas <strong>em</strong> –[e]u. As terminações –au e –[ɛ]u são menos frequentes<br />
no grupo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>, por isso sua frequência <strong>de</strong> tipo não garante a manutenção<br />
<strong>de</strong> seus plurais e elas ten<strong>de</strong>ram a ser pluralizadas como <strong>–l</strong>. No grupo <strong>em</strong> <strong>–l</strong>,<br />
perceb<strong>em</strong>os que as terminações –[e]l e –il foram as que mais favoreceram<br />
plurais <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> (pesos relativos <strong>de</strong> 0.987 e 0.918, respectivamente).<br />
Conforme afirmamos anteriormente, a terminação –[e]u é a mais frequente<br />
no grupo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>, provavelmente por isso os falantes pluralizaram a terminação<br />
–[e]l como <strong>–u</strong>. Por outro lado, a terminação <strong>em</strong> –iu é bastante incipiente no<br />
grupo <strong>de</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> (apenas 2,3% do grupo), por isso não se esperava que<br />
fosse uma das lí<strong>de</strong>res na migração <strong>de</strong> plural. 129<br />
Finalmente, vamos analisar os dados para frequência <strong>de</strong> ocorrência, que<br />
foi relevante somente para os plurais terminados <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>.<br />
Tabela 11: Efeito da frequência <strong>de</strong> ocorrência nos plurais <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong><br />
Frequência Dados obtidos % P.R.<br />
Baixa 112/339 33 0.609<br />
Média 75/327 22,9 0.502<br />
Alta 6/288 2,1 0.370<br />
Esta tabela corrobora nossa hipótese principal <strong>de</strong> trabalho: na classe<br />
<strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>, palavras <strong>de</strong> baixa frequência <strong>de</strong> ocorrência favorec<strong>em</strong> o<br />
processo <strong>de</strong> migração <strong>de</strong> plural (0.609), palavras <strong>de</strong> frequência média têm<br />
efeito neutro (0.502) e palavras <strong>de</strong> frequência alta <strong>de</strong>sfavorec<strong>em</strong> o fenômeno<br />
(0.370). No grupo <strong>em</strong> <strong>–l</strong>, por outro lado, frequência <strong>de</strong> ocorrência não foi<br />
<strong>de</strong>terminante para as variações <strong>de</strong> plural. Já sab<strong>em</strong>os que os itens terminados<br />
<strong>em</strong> <strong>–l</strong> compõ<strong>em</strong> um quantitativo maior no léxico do PB que os itens terminados<br />
<strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> (cf. Tabs. 1 e 2). Por causa disso, a frequência <strong>de</strong><br />
tipo da classe <strong>em</strong> <strong>–l</strong> está atraindo os itens <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> (<strong>em</strong> 20% dos<br />
dados dos nossos experimentos). No entanto, como a classe <strong>em</strong> <strong>–l</strong> já t<strong>em</strong><br />
maior frequência <strong>de</strong> tipo <strong>de</strong> que a <strong>de</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>, a variação linguística<br />
12 Os itens terminados <strong>em</strong> –iu, –ou e <strong>–u</strong>u não foram incluídos <strong>em</strong> nossa pesquisa (cf. Tabelas 1 e 2).
374<br />
Bre<strong>de</strong>r, Gisele e Huback, Ana Paula<br />
A <strong>perda</strong> <strong>de</strong> <strong>distinção</strong> <strong>fonética</strong> <strong>entre</strong> <strong>–l</strong> e <strong>–u</strong> <strong>em</strong> <strong>fim</strong> <strong>de</strong> <strong>sílaba</strong> e consequências para a pluralização<br />
nesse grupo (<strong>em</strong> <strong>–l</strong>) é b<strong>em</strong> menor: apenas 5,6% dos nossos dados. A alta<br />
frequência <strong>de</strong> tipo da classe <strong>em</strong> <strong>–l</strong> já faz com que ela tenha seus plurais preservados,<br />
por isso a frequência <strong>de</strong> ocorrência atua menos nesse grupo que no<br />
grupo <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>. Na classe <strong>de</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>, <strong>em</strong> que a variação <strong>de</strong><br />
plurais realmente ocorre, a frequência <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong>termina que itens vão<br />
mudar primeiro e quais serão preservados. No grupo <strong>em</strong> <strong>–l</strong>, no entanto, a<br />
frequência <strong>de</strong> tipo já mantém os plurais, por isso a frequência <strong>de</strong> ocorrência<br />
é menos significativa.<br />
Para finalizar nossa análise, fiz<strong>em</strong>os gráficos que mostram a variação <strong>de</strong><br />
palavras individualmente, tanto no grupo <strong>em</strong> <strong>–l</strong> quanto <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>.<br />
Em cada gráfico, as palavras estão organizadas <strong>em</strong> or<strong>de</strong>m crescente por frequência<br />
<strong>de</strong> ocorrência. À frente <strong>de</strong> cada uma das palavras há uma letra que indica<br />
a faixa <strong>de</strong> frequência a que elas pertenc<strong>em</strong>: (B) baixa, (M) média, (A) alta.<br />
Gráfico 1: Efeito <strong>de</strong> frequência <strong>de</strong> ocorrência nas palavras terminadas <strong>em</strong> <strong>–l</strong><br />
Neste gráfico sobre itens <strong>em</strong> <strong>–l</strong>, observamos que os efeitos <strong>de</strong> frequência<br />
não são muito significativos, ou seja, não se percebe visualmente uma variação<br />
das palavras <strong>em</strong> função da frequência <strong>de</strong> ocorrência. O dado mais interessante<br />
é o fato <strong>de</strong> que as palavras que mais sofreram variação <strong>de</strong> plural são as monos<strong>sílaba</strong>s<br />
(mel, sol e sal). Conforme vimos nas tabela 9, o grupo <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong><br />
<strong>–u</strong> t<strong>em</strong> mais porcentag<strong>em</strong> <strong>de</strong> monossílabos que o grupo <strong>em</strong> <strong>–l</strong>. Por causa disso,<br />
itens monossílabos <strong>em</strong> <strong>–l</strong> são ocasionalmente pluralizados como <strong>–u</strong>. Outro fato<br />
interessante a notar é que, <strong>de</strong>ntre os três monossílabos analisados, a frequência<br />
<strong>de</strong> ocorrência atuou. Mel e sol pertenc<strong>em</strong> à frequência baixa e foram as mais afetadas;<br />
sal pertence à frequência alta e foi a que sofreu menos variação <strong>de</strong> plural.
Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> Letras da <strong>UFF</strong> – Dossiê: Palavra e imag<strong>em</strong> n o 44, p. 359-380, 2012 375<br />
Vamos comentar agora as palavras terminadas <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>.<br />
Gráfico 2: Efeito <strong>de</strong> frequência <strong>de</strong> ocorrência nas palavras terminadas <strong>em</strong><br />
ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong><br />
No gráfico <strong>de</strong> palavras <strong>em</strong> <strong>–u</strong>, observamos claramente os efeitos <strong>de</strong> frequência<br />
<strong>de</strong> ocorrência: a migração <strong>de</strong> plurais diminui conforme aumenta a<br />
frequência <strong>de</strong> ocorrência das palavras. Dois itens que pertenc<strong>em</strong> à frequência<br />
baixa e não sofreram nenhuma migração <strong>de</strong> plural foram ateu e pau. Já vimos<br />
que a terminação –[e]u é a mais frequente no grupo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>, por isso as palavras<br />
com essa terminação (como ateu) costumam preservar seus plurais; por outro<br />
lado, o quantitativo <strong>de</strong> monossílabos no grupo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> também é percentualmente<br />
maior, por isso itens <strong>de</strong> uma <strong>sílaba</strong> (como pau) também ten<strong>de</strong>m a<br />
manter seus plurais. Excluindo-se esses dois itens, os efeitos <strong>de</strong> frequência <strong>de</strong><br />
ocorrência são bastante claros.<br />
Na subseção seguinte vamos fazer comentários gerais sobre os resultados.<br />
Discussão geral dos dados<br />
A partir da análise dos grupos <strong>de</strong> plurais terminados <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong><br />
e <strong>em</strong> <strong>–l</strong>, pu<strong>de</strong>mos traçar algumas conclusões interessantes sobre os processos<br />
cognitivos que os falantes adotam para estocar e acessar itens léxicos.<br />
Em primeiro lugar, observamos que, por causa da <strong>perda</strong> <strong>de</strong> <strong>distinção</strong><br />
<strong>fonética</strong> <strong>entre</strong> <strong>–l</strong> e <strong>–u</strong> <strong>em</strong> coda, as duas classes <strong>de</strong> plural começaram a sofrer<br />
variação linguística. Essa variação é mais recorrente no grupo <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong>
376<br />
Bre<strong>de</strong>r, Gisele e Huback, Ana Paula<br />
A <strong>perda</strong> <strong>de</strong> <strong>distinção</strong> <strong>fonética</strong> <strong>entre</strong> <strong>–l</strong> e <strong>–u</strong> <strong>em</strong> <strong>fim</strong> <strong>de</strong> <strong>sílaba</strong> e consequências para a pluralização<br />
<strong>–u</strong>, justamente por esse ter frequência <strong>de</strong> tipo menor do que o grupo <strong>em</strong> <strong>–l</strong> (cf.<br />
Tabs. 1 e 2). Niveladas as distinções <strong>fonética</strong>s <strong>entre</strong> <strong>–l</strong> e <strong>–u</strong> <strong>em</strong> <strong>fim</strong> <strong>de</strong> <strong>sílaba</strong>,<br />
não há referência significativa para que o plural <strong>em</strong> <strong>–u</strong>s ou –is seja adotado.<br />
No caso <strong>de</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>, <strong>em</strong> que a variação é mais frequente (20% dos<br />
casos), efeitos <strong>de</strong> frequência <strong>de</strong> ocorrência são bastante claros. Convém notar<br />
que esse grupo adota pluralização regular no PB (adição <strong>de</strong> –s). No entanto,<br />
por causa da similarida<strong>de</strong> <strong>fonética</strong> com a classe <strong>em</strong> <strong>–l</strong>, essas palavras (<strong>em</strong> <strong>–u</strong>)<br />
estão adotando pluralização diferente da regular. Esse fato nos faz hipotetizar<br />
que, ao pluralizar uma palavra, o falante não consi<strong>de</strong>ra somente a terminação<br />
final, mas a palavra como um todo e suas peculiarida<strong>de</strong>s (se é monos<strong>sílaba</strong>, se<br />
t<strong>em</strong> sufixo, qual a vogal prece<strong>de</strong>nte, qual a frequência <strong>de</strong> ocorrência, etc.). É<br />
claro que esse processo é inconsciente, mas, conforme vimos, afeta significativamente<br />
as respostas dos informantes.<br />
Com nossos experimentos, encontramos evidências para a estocag<strong>em</strong> <strong>de</strong><br />
palavras inteiras no léxico mental do falante. Se as palavras não foss<strong>em</strong> armazenadas<br />
como unida<strong>de</strong>s inteiras, como seria possível justificar que os fatores<br />
mencionados acima (número <strong>de</strong> <strong>sílaba</strong>s, estrutura morfológica, vogal prece<strong>de</strong>nte)<br />
<strong>de</strong>terminass<strong>em</strong> a propensão ou não propensão dos itens à variação <strong>de</strong><br />
plural? Nossos experimentos, portanto, fornec<strong>em</strong> indícios <strong>de</strong> que os falantes estocam<br />
palavras inteiras no léxico mental e as organizam através <strong>de</strong> similarida<strong>de</strong>s<br />
<strong>fonética</strong>s e s<strong>em</strong>ânticas. A partir <strong>de</strong> comparações <strong>entre</strong> os itens léxicos estocados,<br />
informações morfológicas <strong>em</strong>erg<strong>em</strong> e se tornam características associadas a <strong>de</strong>terminados<br />
grupos <strong>de</strong> palavras. Assim, vimos que as classes terminadas <strong>em</strong> <strong>–l</strong><br />
e ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> já sofreram certo grau <strong>de</strong> fusão, por isso características <strong>de</strong> um<br />
grupo estão sendo aplicadas ao outro. Observamos, por ex<strong>em</strong>plo, que itens monossílabos<br />
foram pluralizados como ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> e itens polissílabos foram<br />
pluralizados <strong>em</strong> <strong>–l</strong>. Esse resultado provém do fato que monossílabos são mais<br />
frequentes na classe <strong>em</strong> <strong>–u</strong> e polissílabos, no grupo <strong>em</strong> <strong>–l</strong>. Da mesma maneira,<br />
itens com sufixo mantiveram seu plural <strong>em</strong> <strong>–l</strong>, ao passo que itens s<strong>em</strong> sufixo<br />
favoreceram plural <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>. Isso <strong>de</strong>monstra que o falante possui<br />
informação <strong>de</strong>talhada no léxico mental e sabe (mesmo inconscient<strong>em</strong>ente) que<br />
os sufixos são mais frequentes na classe <strong>em</strong> <strong>–l</strong> que na classe <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong><br />
<strong>–u</strong>. Finalmente, no caso das vogais prece<strong>de</strong>ntes, palavras terminadas <strong>em</strong> –[e]u<br />
foram preservadas por ser<strong>em</strong> o subgrupo mais frequente <strong>de</strong>ntro da classe <strong>em</strong><br />
ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>. Por outro lado, as palavras terminadas <strong>em</strong> –[e]l foram as que
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mais sofreram variação <strong>de</strong> plural, justamente porque a terminação <strong>em</strong> –eu é<br />
uma informação forte para itens terminados <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>.<br />
Todos esses resultados apontam para a existência <strong>de</strong> um léxico mental<br />
rico <strong>em</strong> informações probabilísticas sobre as palavras. Esqu<strong>em</strong>as locais<br />
(BYBEE; MODER 1983) são formados a partir <strong>de</strong> características partilhadas<br />
por itens lexicais. Além disso, o léxico mental também preserva <strong>de</strong>talhes fonéticos<br />
e morfológicos sobre as palavras, caso contrário não veríamos variações<br />
linguísticas <strong>de</strong>terminadas por sufixos, número <strong>de</strong> <strong>sílaba</strong>s e vogal prece<strong>de</strong>nte.<br />
Ao contrário das representações econômicas e não-redundantes propostas por<br />
Chomsky, nossos resultados <strong>de</strong>monstram a existência <strong>de</strong> um léxico mental<br />
rico <strong>em</strong> <strong>de</strong>talhes fonéticos e com estocag<strong>em</strong> redundante <strong>de</strong> informação sobre<br />
palavras e suas idiossincrasias. A<strong>de</strong>mais, os resultados também corroboram<br />
os postulados da Difusão Lexical (WANG; CHENG:1977; HSIEH:1977;<br />
OLIVEIRA:1997), no sentido <strong>de</strong> que as palavras são afetadas uma a uma pela<br />
variação lexical, não havendo, necessariamente, regularida<strong>de</strong> nesse processo.<br />
Na subseção seguinte apresentamos as principais conclusões alcançadas<br />
com nossos experimentos.<br />
Conclusões finais<br />
Os experimentos psicolinguísticos sobre palavras terminadas <strong>em</strong> <strong>–l</strong> e <strong>em</strong><br />
ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong> nos permitiram alcançar as seguintes conclusões:<br />
n A <strong>perda</strong> <strong>de</strong> <strong>distinção</strong> <strong>fonética</strong> <strong>entre</strong> <strong>–l</strong> e <strong>–u</strong> <strong>em</strong> coda criou um ambiente<br />
propício para que variações <strong>de</strong>correntes da analogia <strong>entre</strong> as duas classes ocorress<strong>em</strong>;<br />
n A alta frequência <strong>de</strong> tipo <strong>de</strong> <strong>–l</strong> <strong>em</strong> <strong>fim</strong> <strong>de</strong> palavra está atraindo itens<br />
terminados <strong>em</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>;<br />
n Na classe <strong>de</strong> ditongo <strong>em</strong> <strong>–u</strong>, a frequência <strong>de</strong> ocorrência atua, fazendo<br />
com que itens <strong>de</strong> baixa frequência sejam os primeiros a sofrer variação linguística,<br />
ao passo que palavras <strong>de</strong> alta frequência resist<strong>em</strong> mais ao processo;<br />
n Nas duas classes <strong>de</strong> plural, observamos a formação <strong>de</strong> esqu<strong>em</strong>as locais,<br />
como o <strong>de</strong> palavras monos<strong>sílaba</strong>s, com sufixos ou vogais prece<strong>de</strong>ntes específicas;<br />
n Em geral, esses resultados <strong>de</strong>monstram processos cognitivos <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhados<br />
por falantes que possu<strong>em</strong> um léxico mental rico <strong>em</strong> informações<br />
sobre as probabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> padrões linguísticos encontrados no PB.
378<br />
Bre<strong>de</strong>r, Gisele e Huback, Ana Paula<br />
A <strong>perda</strong> <strong>de</strong> <strong>distinção</strong> <strong>fonética</strong> <strong>entre</strong> <strong>–l</strong> e <strong>–u</strong> <strong>em</strong> <strong>fim</strong> <strong>de</strong> <strong>sílaba</strong> e consequências para a pluralização<br />
Futuramente, um <strong>de</strong>sdobramento interessante para essa pesquisa seria fazer<br />
novos experimentos linguísticos com palavras inventadas. Dessa forma, po<strong>de</strong>ríamos<br />
verificar se os falantes também preservariam as informações sobre sufixos,<br />
palavras monos<strong>sílaba</strong>s e o favorecimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas vogais prece<strong>de</strong>ntes.<br />
ABSTRACT<br />
This article analyzes how the loss of phonetic distinction<br />
between <strong>–l</strong> and <strong>–u</strong> in final syllable position in Brazilian<br />
Portuguese is affecting the pluralization of words<br />
ending in <strong>–l</strong> and in <strong>–u</strong> dipthong. Psicolinguistic experiments<br />
were carried out in or<strong>de</strong>r to i<strong>de</strong>ntify the factors<br />
which interfere in the plural variation. As for the theoretical<br />
background, the Network Mo<strong>de</strong>l, proposed by<br />
Bybee (2001, 2010), was adopted.<br />
KEYWORDS: Network Mo<strong>de</strong>l, mental lexicon, pluralization.<br />
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Recebido <strong>em</strong>: 21/09/11<br />
Aprovado <strong>em</strong>: 13/06/12