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Untitled - Universidade do Minho

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Primeiramente, destaca-se que as questões abarcavam a vida cotidiana, privilegian<strong>do</strong>-se<br />

a inquirição sobre os hábitos pessoais, nomeadamente, no que diz respeito à conduta moral, à<br />

decência, à provocação de escândalos, aos conflitos com os membros da comunidade e à<br />

opinião <strong>do</strong>s irmãos a respeito da gestão <strong>do</strong> sodalício. 41<br />

Como se depreende <strong>do</strong> interrogatório, escândalo constituía-se na palavra mencionada<br />

por diversas vezes, sugerin<strong>do</strong> ser uma preocupação central para a instituição. Zelar pelo<br />

prestígio <strong>do</strong> sodalício na comunidade, evitan<strong>do</strong> escandalizar a população se mostrava uma da<br />

principais obrigações <strong>do</strong>s irmãos seculares, evitan<strong>do</strong> denegrir a imagem da Ordem. Neste<br />

senti<strong>do</strong>, exigia-se <strong>do</strong>s seus membros uma vivência moderada e disciplinada, de acor<strong>do</strong> com os<br />

preceitos religiosos.<br />

Inicialmente, sublinha-se a averiguação <strong>do</strong> viver desonesto, em diversificadas esferas <strong>do</strong><br />

cotidiano. A ingerência sobre as relações afetivas e sexuais <strong>do</strong>s irmãos fazia parte <strong>do</strong>s objetivos<br />

da devassa. Uma preocupação constante de distintas instituições <strong>do</strong> perío<strong>do</strong>, não excluin<strong>do</strong> as<br />

Ordens Terceiras franciscanas, consistia em regulamentar as práticas sexuais <strong>do</strong>s fiéis. Para a<br />

Igreja, principalmente no pós-Trento, a fornicação, mesmo que simples, “entre um homem e<br />

uma mulher, sem causar dano a terceiros, como no adultério ou na bigamia, ia contra a ordem<br />

natural porque a reprodução deveria estar restrita à condição matrimonial para a geração de<br />

descendentes”. 42 Neste senti<strong>do</strong>, os contatos entre os gêneros eram vigia<strong>do</strong>s, regula<strong>do</strong>s, sen<strong>do</strong><br />

fundamental os irmãos terceiros manterem-se distantes de comportamentos desviantes em suas<br />

relações, evitan<strong>do</strong> provocar escândalos.<br />

Buscava-se também conhecer a prática de ações menos dignas e impuras, sen<strong>do</strong> as<br />

brigas e a frequencia a tabernas, implican<strong>do</strong> no uso de bebidas alcólicas, igualmente atitudes<br />

desprestigiantes para a instituição, provocan<strong>do</strong> o “des<strong>do</strong>uro da Ordem”.<br />

A convivência social, principalmente masculina, proporcionada pelas tabernas<br />

implicavam muitas vezes na ingestão de bebidas alcólicas. Como um espaço de sociabilidade,<br />

41 A análise desse interrogatório também foi realizada pela investiga<strong>do</strong>ra Maria Ivone da Paz Soares, contu<strong>do</strong> o<br />

resulta<strong>do</strong> das inquirições e as devassas posteriores não foram abordadas em seu estu<strong>do</strong>. SOARES, Maria Ivone da Paz<br />

– E a sombra se fez verbo. Quotidiano feminino setecentista por Braga. Braga: Associação Comercial de Braga, 2009.<br />

pp. 123-131.<br />

42 A respeito da perspectiva tomista a<strong>do</strong>tada pela Igreja pós-tridentina no que se refere às práticas sexuais <strong>do</strong>s fiéis<br />

consultar SCHWARTZ, Stuart B. – Cada um na sua lei. Tolerância religiosa e salvação no mun<strong>do</strong> ibérico. São Paulo:<br />

Companhia das Letras, 2009. p. 51.<br />

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