Relatório Final - PETI
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Caracterização das Actividades Desenvolvidas<br />
Pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
<strong>Relatório</strong> <strong>Final</strong><br />
Volume I<br />
Texto<br />
SociNova<br />
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas<br />
Universidade Nova de Lisboa<br />
Novembro, 2007
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
INTRODUÇÃO..............................................................................................................4<br />
SÍNTESE DOS PRINCIPAIS RESULTADOS ..............................................................10<br />
A. CONCEITOS E ESTRATÉGIAS DE INVESTIGAÇÃO ............................................18<br />
1. Explicitação dos conceitos: conceitos orientadores da investigação empírica e<br />
enquadramento jurídico.......................................................................................... 18<br />
1.1. Conceitos e Enquadramento jurídico .......................................................20<br />
2. Aspectos metodológicos................................................................................. 27<br />
2.1. Pesquisa bibliográfica ..............................................................................27<br />
2.2. Recolha e análise de dados relevantes....................................................28<br />
2.2.1. Estatísticas da Educação .................................................................28<br />
2.2.2. Bases de dados do <strong>PETI</strong>..................................................................28<br />
2.2.3. Dados da Comissão Nacionais de Protecção de Crianças e Jovens<br />
em Risco 31<br />
2.3. Questionários...........................................................................................31<br />
2.3.1. Questionário aos alunos...................................................................31<br />
2.3.2. Questionários aos professores e às escolas ....................................33<br />
2.4. População inquirida e amostra.................................................................33<br />
2.5. Trabalho de campo..................................................................................36<br />
2.6. Administração dos questionários .............................................................40<br />
2.7. Validação, tratamento e análise dos dados..............................................44<br />
2.8. Operacionalização do conceito de Trabalho Infantil .................................46<br />
2.8.1. Trabalho infantil na última semana...................................................47<br />
2.8.2. Trabalho infantil anterior à última semana........................................49<br />
2.9. Notas metodológicas para tratamento estatístico dos dados ...................50<br />
B. CONTEXTO ENVOLVENTE E FACTORES CONDICIONANTES DO TRABALHO<br />
INFANTIL (demográficos, económicos, sociais e culturais).........................................52<br />
1. Apresentação ................................................................................................. 52<br />
2. As noções de abandono e saída escolar precoce........................................... 53<br />
3. Os números do abandono e da saída escolar precoce para Portugal............. 60<br />
4. Os contextos sociais locais............................................................................. 78<br />
5. Matriz de Correlações..................................................................................... 95<br />
6. Análise das Componentes Principais.............................................................. 98<br />
7. A análise dos “clusters” regionais ................................................................. 103<br />
8. Conclusão .................................................................................................... 107<br />
C. ANÁLISE SOCIOCULTURAL DAS SITUAÇÕES DE TRABALHO INFANTIL<br />
SINALIZADO.............................................................................................................109<br />
1. Caracterização sociocultural dos inquiridos .................................................. 109<br />
1.1. As escolas e os alunos de PIEF.............................................................109<br />
1.2. Indicadores tradicionais de caracterização ............................................110<br />
1.3. Características do agregado familiar......................................................113<br />
1.4. A situação face à escola ........................................................................124<br />
1.4.1. Insucesso e abandono ...................................................................124<br />
1.5. Expectativas de vida ..............................................................................130<br />
1.6. Análise de comportamentos desviantes.................................................131<br />
1
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
2. Trabalho infantil no passado......................................................................... 133<br />
2.1. Das actividades em geral ao trabalho infantil no passado......................133<br />
2.2. Trabalho infantil no passado por região e situação actual nos PIEF ......134<br />
2.3. Idade e sexo dos inquiridos que estiveram em situação de trabalho infantil<br />
no passado........................................................................................................135<br />
2.4. Trabalho infantil no passado e actividades realizadas na última semana<br />
137<br />
2.5. Alguns elementos de caracterização das situações que indiciam trabalho<br />
infantil no passado: intensidade, frequência, interferência com a escola,<br />
remuneração e vínculo contratual......................................................................138<br />
2.6. Trabalho infantil no passado e núcleo familiar e redes de sociabilidade 142<br />
2.7. Trabalho infantil no passado e condições de habitabilidade...................143<br />
2.8. Trabalho infantil no passado e vida escolar antes e depois do PIEF......144<br />
2.9. Trabalho infantil no passado e expectativas de vida ..............................147<br />
2.10. Trabalho infantil no passado e desvio ................................................148<br />
3. Actividades desenvolvidas na semana de referência.................................... 149<br />
3.1. Actividades económicas e tarefas domésticas desenvolvidas pelos<br />
inquiridos na semana de referência...................................................................150<br />
3.1.1. Actividade económica em geral......................................................153<br />
3.1.2. Tarefas domésticas........................................................................155<br />
3.2. Actividade económica e tarefas domésticas por região..........................157<br />
3.3. Tipo de actividade económica por sector; tipo de tarefas domésticas<br />
realizadas..........................................................................................................160<br />
3.4. Dias por semana, horas diárias e altura do dia ......................................163<br />
3.5. Grau de dificuldade atribuída pelo inquirido, gosto e motivos apontados<br />
para o exercício da actividade económica e das tarefas domésticas.................171<br />
3.6. Interferência da actividade económica e das tarefas domésticas com a<br />
frequência escolar .............................................................................................174<br />
3.7. Compensações pela actividade económica realizada e celebração de<br />
contrato de trabalho...........................................................................................178<br />
4. As situações de trabalho infantil na última semana ...................................... 181<br />
4.1. Trabalho infantil devido ao exercício de actividade económica ..............182<br />
4.2. Trabalho infantil devido a tarefas domésticas ........................................184<br />
4.3. Trajectórias de trabalho no passado ......................................................186<br />
4.4. Núcleo familiar e redes de sociabilidade ................................................188<br />
4.5. Condições de habitabilidade ..................................................................189<br />
4.6. Vida escolar antes e depois do PIEF .....................................................189<br />
4.7. Desvio à norma e sanções.....................................................................191<br />
4.8. Expectativas para o futuro .....................................................................192<br />
D. SITUAÇÕES EMERGENTES E ANÁLISE DAS CONDICIONANTES SOCIAIS DO<br />
TRABALHO INFANTIL..............................................................................................194<br />
1. Critérios de emparelhamento: idade, ano escolar, sexo e escola ................. 195<br />
2. Dinâmicas de trabalho infantil nos alunos do PIEF e do ensino regular........ 196<br />
3. Núcleo familiar e redes de sociabilidade....................................................... 198<br />
4. Condições de habitabilidade......................................................................... 205<br />
5. Percursos escolares ..................................................................................... 206<br />
6. Expectativas de vida..................................................................................... 211<br />
E. BREVE ANÁLISE DAS PIORES FORMAS DE TRABALHO INFANTIL (dados da<br />
CNPCJR) ..................................................................................................................214<br />
2
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
1. Crítica das fontes.......................................................................................... 215<br />
2. Distribuição por sexo e por idade das crianças envolvidas nas problemáticas<br />
mais directamente associadas às Piores Formas do Trabalho Infantil.................. 216<br />
3. Distribuição geográfica das situações de perigo assinaladas pelas Comissões<br />
de Protecção........................................................................................................ 220<br />
3.1. Exploração do trabalho infantil...............................................................220<br />
3.2. Mendicidade ..........................................................................................222<br />
3.3. Pornografia infantil.................................................................................224<br />
3.4. Prostituição Infantil.................................................................................226<br />
F. BIBLIOGRAFIA E FONTES ..................................................................................228<br />
1. Bibliografia.................................................................................................... 228<br />
2. Fontes .......................................................................................................... 230<br />
3
INTRODUÇÃO<br />
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
O presente relatório tem em vista apresentar os resultados relativos ao estudo<br />
das actividades desenvolvidas pelas crianças e jovens em Portugal, através da<br />
análise das situações já sinalizadas. A análise deste fenómeno deu lugar a um<br />
projecto de investigação intitulado “Caracterização das Actividades Económicas<br />
desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal” e que surge no âmbito de<br />
uma parceria entre a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da<br />
Universidade Nova de Lisboa - através do SociNova - o Programa para a<br />
Prevenção e Eliminação da Exploração do Trabalho Infantil (<strong>PETI</strong>) e o Instituto<br />
Nacional de Estatística (INE). O estudo contou ainda com a colaboração do<br />
Ministério da Educação, para a realização dos inquéritos às escolas, e da<br />
CPCJ, no que se refere às “piores formas”.<br />
O trabalho infantil continua a ser uma preocupação das sociedades modernas.<br />
É normalmente percepcionado como um fenómeno que pode estar relacionado<br />
com a menor eficiência do sistema de ensino e também da relação que este<br />
estabelece com as estruturas económicas e sociais envolventes. Em geral,<br />
pensa-se que a existência de trabalho infantil compromete o futuro das<br />
sociedades por, de alguma forma, se estar a desperdiçar o talento dos jovens<br />
que trabalham em detrimento de maior formação intelectual e profissional.<br />
Por outro lado, actualmente, assume-se também que nem todo o exercício de<br />
actividade económica por parte de jovens é prejudicial. É do conhecimento<br />
corrente que nos países economicamente desenvolvidos muitos jovens<br />
procuram ocupações remuneradas, sobretudo nas férias, que acabam por ter<br />
uma dimensão socializadora e integradora.<br />
Também nos países desenvolvidos se tem assistido a alterações demográficas,<br />
económicas e sociais que contribuem para o aparecimento de novas<br />
actividades que, ao serem um obstáculo ao pleno desenvolvimento dos jovens,<br />
poderão eventualmente ser integradas na análise do trabalho infantil.<br />
O principal objectivo desta investigação é o estudo das actividades<br />
desenvolvidas por crianças e jovens em Portugal, através da análise das<br />
4
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
situações de trabalho infantil já sinalizadas pelo <strong>PETI</strong>. Procura-se produzir um<br />
conhecimento rigoroso e quantitativo deste fenómeno nas suas diferentes<br />
formas, níveis de ilicitude e espaços de ocorrência, permitam compreender as<br />
dinâmicas e processos sociais que lhes estão subjacentes. Igualmente,<br />
pretende-se recolher informação sobre as situações emergentes que podem<br />
conduzir ao trabalho infantil, bem como identificar factores, a nível económico,<br />
social e/ou cultural que contribuam para a sua produção e reprodução.<br />
A relação entre sistema de ensino e trabalho infantil é outro dos aspectos<br />
contemplados neste estudo, nomeadamente no que respeita ao percurso<br />
escolar e à construção das trajectórias profissionais e de vida de jovens que<br />
tenham estado em situação de trabalho infantil.<br />
Desde já, importa referir que o estudo assenta numa explicitação exaustiva do<br />
conceito de trabalho infantil, nas suas múltiplas formas e graus de<br />
perigosidade. São também tidas em conta outras actividades com as quais este<br />
fenómeno possa estar relacionado (e.g. actividades de tempos livres, tarefas<br />
domésticas trabalhos leves – no espaço familiar ou não – que não ocupem<br />
mais de 14 horas por semana).<br />
A escola é um local estratégico para a análise do trabalho infantil até porque,<br />
nas sociedades modernas, por lá passam praticamente todos os jovens,<br />
mesmo os que abandonam o sistema de ensino. A estratégia de investigação<br />
seguida teve em consideração este aspecto, pelo que procurou combinar uma<br />
abordagem macro do fenómeno, com uma observação mais próxima centrada<br />
nos alunos.<br />
Assim, começou-se por abordar o fenómeno a partir de dados estatísticos do<br />
INE (estatísticas dos sensos de 2001, estatísticas ao emprego, etc.), do<br />
Ministério da Educação (estatísticas da educação, a nível nacional e europeu,<br />
etc.), do <strong>PETI</strong> (bases de dados de sinalizações e intervenções), do Ministério<br />
do Trabalho e Solidariedade Social, OIT e das CNPCJR.<br />
Da análise estatística e cartográfica destes dados, foi possível detectar os<br />
contextos onde é mais provável a ocorrência do fenómeno, bem como a sua<br />
relação com o insucesso e abandono escolar e um conjunto amplo de variáveis<br />
5
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
demográficas, económicas e sociais. Todavia, a análise realizada neste<br />
capítulo não se esgota no tratamento dos dados estatísticos; ela questiona a<br />
responsabilidade social dos vários actores sociais envolvidos, e equaciona o<br />
seu papel na definição de políticas públicas e na adopção de medidas de<br />
âmbito geral.<br />
Mas, neste estudo, a escola é também utilizada como meio de acesso e de<br />
observação próxima dos jovens que já estiveram em situação de trabalho<br />
infantil (uma vez que se está a estudar as situações já sinalizadas, de jovens<br />
que regressaram ao sistema de ensino através do programa PIEF) e que são<br />
objecto de um inquérito sociológico. De modo a ser possível uma análise mais<br />
aprofundada e cientificamente controlada do fenómeno, e para as variáveis<br />
pertinentes para o objecto, utiliza-se uma população de controlo, constituída<br />
por alunos do ensino regular, que frequentam as escolas onde funcionam as<br />
turmas PIEF (apenas nos casos em que os programas PIEF decorrem no<br />
espaço da escola).<br />
A escola é assim considerada como um local adequado para a compreensão<br />
mais aprofundada das dinâmicas socioculturais associadas ao trabalho infantil<br />
já sinalizado e também emergente, bem como das representações sociais de<br />
técnicos e professores acerca deste fenómeno. Nesse sentido, esta pesquisa<br />
integra ainda um outro inquérito sociológico, dirigido aos Conselhos Executivos<br />
das escolas seleccionadas na amostra e a Técnicos que trabalham de perto<br />
com estes jovens.<br />
Refira-se ainda que este estudo procurou também fazer uma abordagem ao<br />
trabalho infantil nas suas “piores formas”. Deste modo, o tratamento e a análise<br />
dos dados das CNPCJR permitiu definir os contornos do problema e identificar<br />
as suas principais características.<br />
Para finalizar, gostaríamos de endereçar os nossos agradecimentos a todos e<br />
todas que nos apoiaram. De facto, sem a sua colaboração, este trabalho não<br />
seria possível. Mesmo correndo o risco de alguma omissão, não posso deixar<br />
de citar a Dra. Joaquina Cadete, que deste a primeira hora é o grande esteio<br />
institucional deste estudo, mas ao qual também entregou todo o seu<br />
6
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
conhecimento e empenhamento pessoais. Do <strong>PETI</strong>, os agradecimentos<br />
também para a Dra. Paula Monteiro e Dra. Inês Pereira, para os coordenadores<br />
regionais dos PIEF Dr. António Santos (Lisboa e Vale do Tejo), Dr. Fernando<br />
Coelho (Norte), Dr. Rui Jerónimo (Algarve), Dra. Lurdes Pinto (Centro) e Dra.<br />
Clara Dimas (Alentejo). No INE, também parceiro deste projecto, foi igualmente<br />
imprescindível a colaboração atenta e rigorosa do Prof. Dr. Pedro Corte Real,<br />
da Dra. Leonor Pereira e da Dra. Maria José Correia. No Ministério da<br />
Educação, gostaria de destacar o apoio dado desde a primeira hora do Sr.<br />
Secretário de Estado, Prof. Dr. Jorge Pedreira, da então Directora do Gabinete<br />
de Informação e Avaliação do Sistema Educativo (GIASE) Prof. Dra. Maria<br />
João Valente Rosa, bem como dos membros dos Conselhos Executivos,<br />
professores e técnicos das escolas onde estão sedeados os programas PIEF 1 .<br />
Na CPCJ, uma palavra de gratidão muito sentida para o Dr. Armando Leandro.<br />
1 Colégio de Campos; ES/3 Joaquim Dias Rebelo; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos Afonso de<br />
Paiva; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos Aires Barbosa; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos<br />
António Correia de Oliveira; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos António Dias Simões; Escola<br />
Básica dos 2.º e 3.º ciclos Aranguês; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos Arcos de Valdevez;<br />
Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos Arqueólogo Mário Cardoso; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos<br />
c/ Ensino Secundário Aquilino Ribeiro; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos c/ Ensino Secundário<br />
da Chamusca; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos c/ Ensino Secundário de Arcozelo; Escola<br />
Básica dos 2.º e 3.º ciclos c/ Ensino Secundário de Melgaço; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos<br />
c/ Ensino Secundário de Mondim de Basto; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos c/ Ensino<br />
Secundário de Tarouca; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos c/ Ensino Secundário José Gomes<br />
Ferreira; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos D. José I; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos D.<br />
Martinho de Castelo Branco; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos D. Paio Peres Correia; Escola<br />
Básica dos 2.º e 3.º ciclos D. Pedro II; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos da Agrela; Escola<br />
Básica dos 2.º e 3.º ciclos da Branca; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos de Abação; Escola<br />
Básica dos 2.º e 3.º ciclos de Alcabideche; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos de Alfena; Escola<br />
Básica dos 2.º e 3.º ciclos de Alfornelos; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos de Areosa; Escola<br />
Básica dos 2.º e 3.º ciclos de Cabeceiras de Basto; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos de<br />
Carteado Mena; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos de Castro Daire; Escola Básica dos 2.º e 3.º<br />
ciclos de Ceira; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos de Fernando Pessoa; Escola Básica dos 2.º e<br />
3.º ciclos de Lagares; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos de Lamaçães; Escola Básica dos 2.º e<br />
3.º ciclos de Lustosa; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos de Marecos - Penafiel n.º 2; Escola<br />
Básica dos 2.º e 3.º ciclos de Matosinhos; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos de Miragaia;<br />
Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos de Reguengos de Monsaraz; Escola Básica dos 2.º e 3.º<br />
ciclos de Resende; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos de Santa Clara; Escola Básica dos 2.º e<br />
3.º ciclos de Santa Maria; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos de Santa Marinha; Escola Básica<br />
dos 2.º e 3.º ciclos de Telheiras nº 2; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos de Vila N. Tazem;<br />
Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos de Vila Pouca de Aguiar; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos de<br />
Vila Verde; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos do Bairro Padre Cruz; Escola Básica dos 2.º e 3.º<br />
ciclos do Marco de Canaveses; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos do Teixoso; Escola Básica<br />
dos 2.º e 3.º ciclos Domingos Capela; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos Dr. João Lúcio –<br />
Fuseta; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos Fernando Caldeira; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos<br />
Fernando Távora; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos Forte da Casa; Escola Básica dos 2.º e 3.º<br />
ciclos Gonçalo Sampaio; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos Grão Vasco; Escola Básica dos 2.º<br />
e 3.º ciclos Guilherme C. Carvalho; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos João de Meira; Escola<br />
Básica dos 2.º e 3.º ciclos José Neves Júnior; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos José Régio;<br />
Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos José Tagarro; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos Júlio Saúl<br />
7
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Ainda um agradecimento se deve ao Arq. Vítor Reis, pelo tratamento que deu<br />
às bases de dados do <strong>PETI</strong>, num trabalho exemplar pela sua eficiência e rigor,<br />
bem como à Dra. Luísa Janeirinho e ao Prof. Abílio Amiguinho, pelo apoio<br />
prestado no recrutamento dos inquiridores para as regiões do Alentejo e do<br />
Algarve.<br />
A todos os professores, membros dos Conselhos Executivos das escolas e<br />
responsáveis dos PIEF um igual agradecimento pelo apoio dado desde a<br />
construção da amostra dos alunos do ensino regular, até à fase da<br />
administração dos questionários.<br />
Na equipa, gostaria de destacar a dedicação e conhecimento do Prof. Dr.<br />
Manuel Sarmento, um esteio científico do estudo, da Prof. Dra. Fátima<br />
Miguens, responsável científica pela área da Estatística, do Prof. Dr. David<br />
Justino e Prof. Dra. Maria João Valente Rosa, que trabalharam as estatísticas<br />
oficiais, bem como da equipa executiva, que dia-a-dia ia fazendo autênticos<br />
“milagres”, tentando “vencer o tempo” e resolvendo inúmeros imponderáveis<br />
que iam surgindo num trabalho desta amplitude. Destaco a Dra. Joana Malta,<br />
que coordenou o trabalho de campo e a recolha, tratamento e análise dos<br />
dados dos inquéritos, a Dra. Graça Frias, a Dra. Dalila Cerejo, a Dra. Ana Lúcia<br />
Dias; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos Matilde Rosa Araújo; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos<br />
Monsenhor Jerónimo do Amaral; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos Nadir Afonso; Escola Básica<br />
dos 2.º e 3.º ciclos nº2 de Elvas; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos Paços Ferreira; Escola<br />
Básica dos 2.º e 3.º ciclos Pedro Nunes; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos Prof. Agostinho da<br />
Silva; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos Quinta de Marrocos; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos<br />
S. Pedro da Cova; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos Visconde de Vila Maior; Escola Básica dos<br />
2º e 3º ciclos das Naus; Escola Básica dos 2º e 3º Ciclos de Marinhais; Escola Básica dos 2º e<br />
3º ciclos Dr. Pedro Barbosa; Escola Básica Integrada Charneca da Caparica; Escola Básica<br />
integrada de Pias; Escola Básica Integrada do EIXO; Escola Básica Integrada Gualdim Pais<br />
Escola do 1º Ciclo Arq. Gonçalo Ribeiro Telles; Escola Secundária Afonso de Albuquerque;<br />
Escola Secundária c/ 2.º e 3.º ciclos CEB Artur Gonçalves; Escola Secundária c/ 3.º ciclo CEB<br />
Alfredo dos Reis Silveira; Escola Secundária c/ 3.º ciclo CEB do Bombarral; Escola Secundária<br />
c/ 3.º ciclo CEB Dr. Ginestal Machado; Escola Secundária c/ 3.º ciclo CEB Dr. Manuel<br />
Fernandes; Escola Secundária c/ 3.º ciclo CEB Lima de Freitas; Escola Secundária c/ 3.º ciclo<br />
CEB Marquês de Pombal; Escola Secundária c/ 3.º ciclo CEB Matias Aires; Escola Secundária<br />
c/ 3.º ciclo CEB Monte da Caparica; Escola Secundária c/ 3.º ciclo de Mirandela; Escola<br />
Secundária c/ 3.º ciclo de Ponte da Barca; Escola Secundária c/ 3º ciclo Madeira Torres; Escola<br />
Secundária com 3º Ciclo do Ensino Básico Dr. João Araújo Correia; Escola Secundária da<br />
Trofa; Escola Secundária de Loulé; Escola Secundária de Lousada; Escola Secundária de<br />
Reguengos de Monsaraz (Conde de Monsaraz); Escola Secundária de Trancoso; Escola<br />
Secundária de Vilela; Escola Secundária Felismina Alcântara; Escola Secundária Jaime<br />
Cortesão; Escola Secundária Joaquim de Carvalho; Escola Secundária Loureiro Botas; Escola<br />
Secundária Marco Canaveses.<br />
8
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Teixeira Dias, a Dra. Alexandra Leandro, a Dra. Zélia Barroso e o Dr. Ricardo<br />
Santana.<br />
Uma palavra de reconhecimento também para os inquiridores e inquiridoras da<br />
Universidade do Minho, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da<br />
Universidade de Lisboa, da Escola Superior de Educação de Portalegre, de<br />
Évora e do Algarve, bem como para os informáticos da CrazyDog.<br />
Por fim, um agradecimento especial a todos os alunos que participaram neste<br />
estudo, dispondo-se a contar-nos as suas histórias e os seus percursos. No fim<br />
de contas, são eles que dão significado a todo o trabalho realizado, quer como<br />
fonte, quer como recipientes, esperamos nós, dos benefícios e vantagens que<br />
daqui decorrerão.<br />
9
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
SÍNTESE DOS PRINCIPAIS RESULTADOS<br />
Esta síntese procura elencar os principais resultados a que foi possível chegar<br />
ao longo do estudo sobre as “actividades desenvolvidas por crianças e jovens<br />
em Portugal, na actualidade”. Trouxemos as conclusões para ao início do texto,<br />
pois julgamos que tal poderá ser de maior utilidade para o <strong>PETI</strong>, já que se trata<br />
de um <strong>Relatório</strong> <strong>Final</strong> de uma “investigação aplicada”, que, estamos certos,<br />
será utilizada como instrumento de apoio à decisão e intervenção. De qualquer<br />
modo, para uma análise mais detalhada das múltiplas variáveis e indicadores<br />
trabalhados, deverá consultar-se o corpo do texto e os anexos.<br />
Numa pesquisa com esta dimensão, elaborar uma síntese conclusiva é uma<br />
tarefa que peca sempre por defeito, sobretudo quando a riqueza dos resultados<br />
obtidos permite múltiplas análises do fenómeno. Assim, convém relembrar os<br />
principais objectivos do projecto, de modo a descrever as conclusões nesse<br />
sentido. Nomeadamente, o da análise rigorosa das situações de trabalho<br />
infantil já sinalizadas e sua relação com o Sistema de Ensino, no sentido de:<br />
a) Produzir um conhecimento rigoroso e quantitativo do trabalho infantil<br />
actualmente existente nas suas diferentes formas, níveis de ilicitude e<br />
espaços de ocorrência ao nível nacional e regional;<br />
b) Recolher informação sobre as situações emergentes que podem<br />
conduzir ao trabalho infantil;<br />
c) Analisar os factores envolventes que têm contribuído para a sua<br />
produção e reprodução ao longo do tempo, a nível demográfico,<br />
económico, social e cultural;<br />
A estratégia de investigação seguida para atingir tais objectivos privilegia uma<br />
abordagem ao objecto de estudo a partir de três níveis de observação: o da<br />
escala macro, que contempla uma análise de âmbito nacional, ainda que<br />
parametrizada, sempre que possível, a nível internacional; uma escala<br />
intermédia, que poderemos designar de “mezo”, e que atingirá o nível<br />
concelhio; e, finalmente, uma escala micro, ao nível dos actores sociais<br />
individuais, suas instituições, dinâmicas e processos sociais.<br />
10
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Comecemos pela análise dos padrões de comportamento dos jovens em<br />
termos de trabalho infantil, a partir da associação entre o abandono escolar, a<br />
saída precoce do sistema de ensino e formação e vários factores de ordem<br />
demográfica e social.<br />
Conclui-se que uma parte do insucesso escolar é uma “antecipação” da<br />
decisão de “abandonar”, resultante muitas vezes de baixas expectativas, de<br />
alunos e famílias, quanto à utilidade da conclusão da escolaridade obrigatória.<br />
Assim, o insucesso pode ser, também, um indicador indirecto da possibilidade<br />
de emergência de trabalho infantil.<br />
Ora, não só o insucesso escolar, o abandono e a “saída escolar precoce” são<br />
elevados no nosso Sistema de Ensino, e crescentes nos últimos anos da<br />
escolaridade obrigatória, quando comparados com os dos parceiros<br />
comunitários, como também se verificou que, por um lado, os alunos do PIEF<br />
têm maior probabilidade de ter retenção e abandono escolares do que os<br />
alunos do ensino regular e, por outro lado, que ocorre o mesmo com os do<br />
PIEF que conheceram situações de trabalho infantil, se comparados com os<br />
que não tiveram tais experiências.<br />
Deste modo, tudo leva a concluir que, quer o abandono escolar, quer o<br />
insucesso, são factores associados à emergência e reprodução do trabalho<br />
infantil. Todavia, a questão que se coloca é a de saber quais são as dinâmicas<br />
que podem accionar tais processos.<br />
Sem pretender, neste nível de análise, sub-avaliar o papel da Escola e das<br />
famílias, os resultados mostram que há uma forte relação entre o abandono e<br />
os níveis de desenvolvimento económico e de emprego 2 .<br />
A análise da evolução SEP (saída escolar precoce) ao longo de vários anos, e<br />
em comparação com outros países, revela que ela tende a aumentar sempre<br />
que diminui o desemprego e há crescimento económico. Nota-se assim, uma<br />
relação forte entre o mercado de emprego, sobretudo jovem, e a SEP.<br />
2 Esta lógica é reforçada pelo o facto de Portugal ser até há bem poucos anos um país com<br />
elevadas taxas de empregabilidade de jovens e activos desqualificados. Decorrente da<br />
estrutura produtiva dominante nas últimas quatro décadas, assente em baixos salários e em<br />
mão-de-obra desqualificada, a pressão da oferta deste tipo de emprego constitui um travão ao<br />
aumento da escolarização, especialmente porque faz diminuir o retorno marginal por cada ano<br />
adicional de escolaridade.<br />
11
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
À semelhança do que ocorre na maioria dos países europeus, nota-se ainda<br />
que a “saída escolar precoce” é mais frequente entre os rapazes que entre as<br />
raparigas. Situação que se verifica também no trabalho infantil.<br />
Por outro lado, conclui-se que o abandono e a SEP tendem a ser maiores onde<br />
for maior a empregabilidade dos jovens e a desigualdade educativa “dos pais”.<br />
Inversamente, tende a ser menor nos concelhos de maior concentração<br />
urbana, com maior poder de compra, maior nível de escolarização e maior<br />
desenvolvimento social.<br />
<strong>Final</strong>mente, nas zonas menos urbanizadas, com maior envelhecimento e um<br />
peso mais elevado de activos no sector primário, nota-se um fenómeno de<br />
“insistência escolar”, traduzida em insucesso, mas não em abandono nem em<br />
SEP, já que o maior peso de jovens na escola com idade superior ao normal<br />
pode decorrer de não pretenderem repetir o modelo de vida dos pais na<br />
agricultura, muitas vezes de subsistência.<br />
Assim, de um ponto de vista da distribuição geográfica no Continente, é<br />
possível identificar uma mancha de concelhos com elevados níveis de<br />
abandono escolar, saída escolar precoce e igual inserção precoce no mercado<br />
de trabalho, baixos níveis de escolarização das gerações activas e elevadas<br />
desigualdades educativas. Esse agrupamento identifica-se com uma vasta<br />
região ao norte do país que assume funções de periferia da área Metropolitana<br />
do Porto, conhecida pela sua industrialização difusa e assente em elevada<br />
incorporação de trabalho desqualificado. É nesta região que a tradição do<br />
trabalho infantil e da inserção precoce no mercado de trabalho ganhou algum<br />
relevo, mantendo, à entrada do século XXI, as características de uma das<br />
regiões mais pobres do país. Alguns concelhos isolados mais a sul completam<br />
este agrupamento.<br />
Nota-se ainda uma dicotomia entre os concelhos mais urbanizados, conhecidos<br />
pelo peso da classe média e pela concentração de infra-estruturas públicas, e<br />
os concelhos com um peso da ruralidade mais acentuado. Todavia, em<br />
qualquer deles o “abandono escolar precoce” é manifestamente inferior ao do<br />
primeiro conjunto de concelhos, bem como os indícios de trabalho infantil.<br />
12
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Passemos agora às conclusões obtidas numa escala micro, a partir dos<br />
inquéritos aos alunos e às escolas e dos dados das “piores formas”.<br />
Considerando só os alunos que frequentam o PIEF, a percentagem dos que<br />
tiveram uma actividade classificável como sendo de trabalho infantil antes da<br />
semana de referência (última semana relativa á aplicação do questionário) é de<br />
26,3% 3 . Trata-se de um valor compreensível, se tivermos em consideração que<br />
uma das finalidades do PIEF é justamente a intervenção nos alunos que antes<br />
estavam em situação de trabalho infantil.<br />
As actividades que prevalecem são a “empresa/negócio” (22,1%), o<br />
“campo/agricultura” (21,1%), o “negócio/empresa familiar” (18,0%), as<br />
“obras/construção civil” (14,9%), a “fábrica” (7,6%), as “tarefas domésticas”<br />
(1,4%) e depois, com valores que não ultrapassam 1%, o desporto de<br />
competição, os espectáculos, na rua e “a dias em casa de outra pessoa”.<br />
No que se refere à última semana, os valores obtidos são manifestamente<br />
inferiores, representando 22 casos (2,0%) em “actividades económicas” e 19<br />
casos (1,7%) em “tarefas domésticas”.<br />
Todavia, na mesma semana de referência, há um número considerável de<br />
alunos que, mesmo sem ser em actividades classificáveis de trabalho infantil,<br />
desenvolveu “tarefas domésticas” (61,4%) e actividades no sector económico<br />
(21,2%).<br />
No que concerne a estas últimas, e se tivermos em consideração o que se<br />
referiu anteriormente sobre a importância do mercado económico, deverá mais<br />
uma vez chamar-se à atenção para a existência de equilíbrios precários ao<br />
nível do mercado de emprego e da economia das famílias, que podem tornar<br />
uma parte daquelas actividades em casos emergentes de trabalho infantil. Tal<br />
facto adquire ainda maior significado, considerando que há um número muito<br />
significativo destes jovens que diz que aceitaria um trabalho remunerado se lho<br />
oferecessem. Por outro lado, praticamente todos os inquiridos que estiveram<br />
em situação de trabalho infantil na semana de referência, dizem tê-lo feito para<br />
ajudar a família ou as pessoas com quem vivem.<br />
3 Do total de alunos PIEF inquiridos, 50,1% tiveram uma actividade em geral.<br />
13
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Relativamente às “tarefas domésticas”, nas descrições efectuadas pelos<br />
alunos, tudo indica inscreverem-se entre as actividades aceitáveis, e mesmo<br />
necessárias, em termos de socialização, como sejam arrumar o quarto,<br />
pôr/levantar a mesa, ir às compras. Relativamente às restante, a licitude<br />
depende da intensidade com que são realizadas, nomeadamente<br />
limpar/arrumar a casa, fazer reparações domésticas, cozinha/aquecer comida,<br />
lavar/passar a roupa. Mesmo o tomar conta de crianças/idosos/deficientes<br />
representa de 5,5% dos alunos PIEF que realizaram este tipo de tarefas na<br />
semana de referência. As suas implicações, ao nível de faltar à escola são<br />
igualmente reduzidas (3%).<br />
Todavia, quando analisamos esta variável segundo o sexo dos inquiridos,<br />
verifica-se que apesar dos rapazes terem um papel importante na realização<br />
das tarefas domésticas, a maioria das que se prendem com a casa é efectuada<br />
pelas raparigas. Tudo indica que se está perante mais um processo de<br />
reprodução dos papéis sociais de género, diferenciando o que é atribuível e<br />
expectável do “masculino” e do “feminino.<br />
Já no que se refere às “actividades económicas”, é interessante salientar que<br />
se verifica o contrário: agora são as raparigas que têm a primazia no “trabalho<br />
por conta de outrem”, enquanto que no “trabalho familiar não remunerado” são<br />
os rapazes.<br />
Ainda no que se refere aos alunos dos PIEF, e em relação às situações de<br />
trabalho infantil, nota-se que a probabilidade de tal ocorrer é muito maior nos<br />
rapazes (75,8%) do que nas raparigas (24,2%). Confirma-se assim uma<br />
diferenciação segundo o sexo, que vem reforçar a conclusão já referida na<br />
análise obtida anteriormente na escala macro.<br />
O trabalho infantil efectuado no passado pelos alunos PIEF ocupava grande<br />
parte do seu tempo, já que 25,3% o fazia todos os dias e 41,5% só não<br />
trabalhava ao fim-de-semana.<br />
De um modo geral, os alunos afirmam que gostaram do que fizeram (87%) e<br />
foram pagos sobretudo em dinheiro (87% dos que disseram ter recebido uma<br />
14
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
recompensa). Nos que receberam directamente o dinheiro, só uma minoria o<br />
deu à família; a maioria gastou-o em objectos de consumo não essenciais 4 .<br />
No que concerne à relação entre o trabalho infantil no passado e o abandono e<br />
insucesso escolares, verifica-se que há uma dependência estreita entre estas<br />
variáveis, sendo mais provável que aquela actividade ocorra em situações de<br />
abandono ou insucesso.<br />
Ao analisar as trajectórias dos alunos antes e depois de estarem no PIEF, tanto<br />
para os que estiveram em situação de trabalho infantil, como para os que não<br />
estiveram, é evidente em todos os indicadores uma avaliação positiva em<br />
relação à experiência PIEF.<br />
Nas múltiplas situações analisadas no trabalho infantil dos alunos PIEF, no<br />
passado ou na semana de referência, nota-se que apesar de haver algum<br />
acompanhamento por parte dos pais (reagindo ao insucesso e abandono<br />
escolar dos filhos, indo à escola), há um claro défice no apoio escolar em casa.<br />
De facto, o baixo capital escolar dos pais e mães terá, a esse nível, uma<br />
importância decisiva.<br />
A análise das entrevistas realizadas a todos os responsáveis das escolas onde<br />
decorrem os PIEF, onde se aplicou o inquérito, permite-nos reforçar esta<br />
conclusão. De facto, também ao nível da sua percepção, há factores<br />
envolventes de natureza económica e social, por parte das famílias dos alunos,<br />
que podem condicionar não só a opção pelo trabalho infantil, como o abandono<br />
e insucesso escolares.<br />
Como dissemos anteriormente, a análise das expectativas destes jovens é<br />
fundamental para compreendermos a sua acção, tanto ao nível do investimento<br />
escolar, como na construção do futuro profissional. Os resultados mostram que<br />
as expectativas são relativamente baixas e estão maioritariamente circunscritas<br />
ao universo do capital social e cultural da família de origem, tanto a nível<br />
escolar, como profissional.<br />
4 Roupa, ténis e sapatos (49,2%), computadores, consolas de jogos e telemóveis (19,1%) ou<br />
bicicletas e motos (6,3%).<br />
15
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Comparando os alunos de PIEF com os do ensino regular, e apesar destes<br />
também conhecerem situações de trabalho infantil no passado, a probabilidade<br />
de tal ocorrer entre os primeiros é significativamente maior (cerca de duas<br />
vezes mais) 5 . Igualmente se notam assimetrias sociais que indiciam dinâmicas<br />
e processos sociais diferenciados.<br />
Assim, a análise comparativa entre os dois tipos de alunos ajudar-nos-á a<br />
compreender as condicionantes económicas, pessoais e culturais que terão<br />
conduzido ao trabalho infantil, bem como a detectar possíveis situações<br />
emergentes.<br />
Ao efectuar essa comparação, verifica-se que os alunos de PIEF têm maior<br />
probabilidade de mobilidade geográfica, mudando várias vezes de concelho, de<br />
pertenceram a famílias alargadas, de estarem institucionalizados, de morarem<br />
em bairros socais, em casas alugadas e com menores condições de<br />
habitabilidades. Tal falta de condições alarga-se ainda à menor probabilidade<br />
de terem Internet e telemóvel.<br />
Do ponto de vista do capital social e cultural da família de origem, os resultados<br />
mostram que os alunos PIEF têm mais dificuldades a esse nível. De facto, os<br />
seus pais têm níveis de instrução formal mais baixos, são mais velhos, com<br />
idades superiores a 55 anos, pertencem a grupos profissionais como<br />
Agricultores, Trabalhadores não Qualificados da Agricultura e Pescas e<br />
Trabalhadores não Qualificados em geral e estão mais desempregados. As<br />
mães dos alunos PIEF têm também maior probabilidade de serem mães<br />
domésticas.<br />
O quotidiano dos alunos PIEF é igualmente mais irregular: deitam-se depois da<br />
meia-noite, ou a hora incerta, mas levantam-se mais cedo, antes das 7 horas<br />
da manhã. Por outro lado, demoram mais tempo a chegar à escola.<br />
De uma forma geral, os alunos de PIEF têm percursos escolares mais<br />
problemáticos, com maior probabilidade de conhecerem retenção escolar, de<br />
faltarem às aulas, de terem processos disciplinares, de serem expulsos;<br />
todavia, têm menor probabilidade de serem ajudados em casa pelos pais. Por<br />
outro lado, os seus encarregados de educação têm maior probabilidade de<br />
5 Há uma forte dependência estatística entre as duas variáveis.<br />
16
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
serem chamados à escola por razões que ultrapassam as reuniões habituais.<br />
No que se refere aos espaços e redes de socialização entre amigos, e ainda<br />
quando comparados com os do ensino regular, os alunos PIEF têm menor<br />
probabilidade de desenvolver actividades culturais ou de estudar nos tempos<br />
livres, mas é mais frequente que ocupem o tempo no café, a passear, ou que<br />
estejam fora de casa, em geral.<br />
A análise da rede de amigos é igualmente reveladora de alguns indícios de<br />
trabalho infantil. De facto, ainda que a maioria diga não conhecer amigos que<br />
pratiquem trabalho infantil, dos que dizem conhecer, mais do dobro são alunos<br />
PIEF. Tudo indica haver um certo espaço social, com características<br />
semelhantes, que é favorável à produção de trabalho infantil. Quanto à<br />
possibilidade de reprodução desse tipo de trabalho, ela está bem patente no<br />
facto dos alunos PIEF dizerem aceitar um trabalho remunerado 2,5 vezes mais<br />
do que os do ensino regular.<br />
As expectativas em relação ao futuro são igualmente diferentes. De facto,<br />
quando enquanto os alunos PIEF não almejam mais do que o 9º ano de<br />
escolaridade, os do ensino regular pretendem ir até à licenciatura.<br />
17
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
A. CONCEITOS E ESTRATÉGIAS DE INVESTIGAÇÃO<br />
1. Explicitação dos conceitos: conceitos orientadores da investigação<br />
empírica e enquadramento jurídico<br />
O trabalho infantil continua a ser uma preocupação das sociedades modernas.<br />
É normalmente percepcionado como um fenómeno que pode ser consequência<br />
de uma menor eficiência do sistema de ensino e também da relação que este<br />
estabelece com as estruturas económicas e sociais envolventes. Em geral,<br />
pensa-se que a existência de trabalho infantil compromete o futuro das<br />
sociedades por, de alguma forma, se estar a desperdiçar o talento dos jovens<br />
que trabalham em detrimento de maior formação intelectual e profissional.<br />
Por outro lado, assume-se também actualmente que nem todo o exercício de<br />
actividade económica por parte de jovens é prejudicial. É do conhecimento<br />
corrente que nos países economicamente desenvolvidos muitos jovens<br />
procuram ocupações remuneradas, sobretudo nas férias, que acabam por ter<br />
uma dimensão socializadora e integradora.<br />
Também nos países desenvolvidos se tem assistido a alterações demográficas,<br />
económicas e sociais que contribuem para o aparecimento de novas<br />
actividades que, ao serem um obstáculo ao pleno desenvolvimento dos jovens,<br />
poderão eventualmente ser integradas na análise do trabalho infantil.<br />
Torna-se assim necessário ter uma visão ampla e precisa do fenómeno, em<br />
que as diversas formas de actividade desenvolvidas pelos jovens sejam<br />
analisadas e devidamente explicitadas. Este é o ponto de partida deste projecto<br />
de investigação intitulado “Caracterização das Actividades Económicas<br />
desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal” e que surge no âmbito de<br />
uma parceria entre a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da<br />
Universidade Nova de Lisboa - através do SociNova - o Programa para a<br />
Prevenção e Eliminação da Exploração do Trabalho Infantil (<strong>PETI</strong>) e o Instituto<br />
Nacional de Estatística (INE).<br />
O principal objectivo desta investigação é o estudo das actividades<br />
desenvolvidas por crianças e jovens em Portugal, através da análise das<br />
18
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
situações de trabalho infantil já sinalizadas pelo <strong>PETI</strong>. Procura-se assim<br />
produzir um conhecimento rigoroso e quantitativo deste fenómeno nas suas<br />
diferentes formas, níveis de ilicitude e espaços de ocorrência. Para além disso,<br />
pretende-se recolher informação sobre as situações emergentes que podem<br />
conduzir ao trabalho infantil, bem como identificar factores, a nível económico,<br />
social e/ou cultural que contribuam para a sua produção e reprodução.<br />
A relação entre sistema de ensino e trabalho infantil é outro dos aspectos<br />
contemplados neste estudo, nomeadamente no que respeita ao percurso<br />
escolar e à construção das trajectórias profissionais e de vida de jovens que<br />
tenham estado em situação de trabalho infantil.<br />
Desde já, importa referir que o estudo assenta numa explicitação exaustiva do<br />
conceito de trabalho infantil, nas suas múltiplas formas e graus de<br />
perigosidade. São também tidas em conta outras actividades com as quais este<br />
fenómeno possa estar relacionado (e.g. actividades de tempos livres, tarefas<br />
domésticas trabalhos leves – no espaço familiar ou não – que não ocupem<br />
mais de 14 horas por semana).<br />
A escola é um local estratégico para a análise do trabalho infantil até porque<br />
por lá passam praticamente todos os jovens, mesmo os que abandonam o<br />
sistema de ensino. Neste estudo, é utilizada como meio de acesso aos jovens<br />
que já estiveram em situação de trabalho infantil (uma vez que se está a<br />
estudar as situações já sinalizadas, pelo que os jovens regressaram ao sistema<br />
de ensino através do programa PIEF) e que são objecto de um inquérito<br />
sociológico. Por outro lado, considera-se ser também um local adequado para<br />
uma compreensão mais aprofundada dos contornos de situações de trabalho<br />
infantil já sinalizadas e também das emergentes, bem como das<br />
representações sociais acerca deste fenómeno. Assim, esta pesquisa integra<br />
também um outro inquérito sociológico, dirigido aos Conselhos Executivos das<br />
escolas seleccionadas na amostra e a Técnicos que trabalham de perto com<br />
estes jovens.<br />
19
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
1.1. Conceitos e Enquadramento jurídico<br />
A expressão “trabalho infantil” tem imediatamente associada uma conotação<br />
pejorativa, de exploração indevida de crianças. Sabe-se que com frequência<br />
muitos empregadores consideram o exercício de actividade económica por<br />
parte de crianças como fonte de trabalho barato e de lucro rápido (Sharma e<br />
Mittar, 1990). Em geral, tende a considerar-se que a presença de crianças na<br />
força de trabalho é um problema apenas de um grupo específico de países (Mc<br />
Kechnie, 1999), nomeadamente dos países subdesenvolvidos ou em vias de<br />
desenvolvimento, onde frequentemente os pais dependem economicamente<br />
dos filhos que são a principal ou até mesmo a sua única fonte de rendimento.<br />
Porém, também em países como o Reino Unido há crianças que trabalham por<br />
salários muito baixos, por muitas horas, em más condições de trabalho e em<br />
ocupações não permitidas por lei (Leonard, 1999)<br />
Ainda no Reino Unido, um a dois terços de jovens entre 14 e 16 anos que<br />
frequentam a escola já terá trabalhado (Leonard, 1999). Assim, neste país, a<br />
escolaridade obrigatória não terminou com o trabalho das crianças, mas<br />
transformou-o, uma vez que muitas combinam a frequência escolar com um<br />
trabalho a tempo parcial. Também nos EUA o emprego dos adolescentes<br />
atingiu o nível mais elevado de sempre, esperando-se que em 2010 haja 21,6<br />
milhões de menores a trabalhar naquele país (Levine, 2003).<br />
Apesar de também nos países desenvolvidos o trabalho das crianças ser<br />
associado a situações de pobreza e/ou exclusão social (à excepção do<br />
exercício de actividade em algumas áreas como audiovisuais, espectáculos em<br />
geral e publicidade) essa representação coexiste frequentemente com a de<br />
uma cultura que valoriza favoravelmente a utilização do trabalho de menores<br />
(Sarmento, 2005). Afinal, tal como afirma Levine (2003), muitos, incluindo pais<br />
acreditam que é positivo que as crianças desenvolvam bons hábitos e que é<br />
preferível estarem a trabalhar do que nas ruas a vender droga.<br />
Parte-se assim do pressuposto que nem todo o tipo de trabalho será prejudicial<br />
e que inclusivamente o exercício de algumas actividades por parte de menores,<br />
em determinadas circunstâncias, pode até ser entendido como um factor com<br />
20
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
consequências positivas na socialização dos jovens. O que importa será assim<br />
estabelecer uma distinção entre o trabalho das crianças que é produtivo e o<br />
que é abusivo. (Levine, 2003). Ou, como afirma Sarmento (2005: 98), “as<br />
posições teóricas sobre trabalho infantil oscilam entre a sua condenação como<br />
patologia e a consideração do trabalho das crianças como algo inerente à sua<br />
condição como actores sociais plenos”, o que implica, de certa forma, que o<br />
direito ao trabalho está entre os direitos que têm de ser protegidos. Aliás, na<br />
perspectiva de Levine (2003), a própria legislação que regula o trabalho infantil<br />
não terá sido criada tanto para impedir as crianças de trabalhar “mas para<br />
evitar que elas sacrifiquem a sua educação em prol de um futuro limitado em<br />
termos de oportunidades, objectivos de carreira e potencial de crescimento<br />
pessoal”.<br />
Mas o que se entende afinal por trabalho infantil? Atendendo apenas à<br />
definição proposta pela OIT, o trabalho infantil compreende todas as<br />
actividades desenvolvidas por crianças entre 6 e 15 anos que possam ter<br />
consequências negativas na educação, saúde e desenvolvimento da criança”.<br />
Antes de prosseguir, importa ter em conta que definir o que constitui trabalho<br />
infantil é uma tarefa bastante complexa, dadas as suas múltiplas dimensões e<br />
contextos socioculturais em que ocorre. Desde já várias questões se levantam,<br />
nomeadamente quanto aos tipos de actividades/trabalhos a ter em conta na<br />
análise do trabalho infantil e à questão da infância ou do conceito de criança.<br />
Relativamente às actividades/trabalhos exercidos, a ideia generalizada é a de<br />
que se deve considerar o trabalho no sentido amplo do termo e não apenas as<br />
actividades económicas. Com efeito, é redutor associar situações de trabalho<br />
infantil apenas a empregos remunerados na economia formal. Conforme<br />
relembra Sarmento (2005), nem todo o trabalho desempenhado por crianças<br />
constitui uma violação de direitos e o próprio trabalho escolar e as tarefas<br />
domésticas podem estar ligadas a formas de exploração do trabalho infantil. O<br />
mesmo sucede, por exemplo, com actividades de tempos livres em excesso ou<br />
com formas de actividade económica não remuneradas como as exercidas em<br />
empresas familiares.<br />
Nestes casos, torna-se por vezes difícil traçar o limite a partir do qual a ajuda<br />
que o menor presta no negócio dos pais/familiares ou em tarefas em casa<br />
21
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
deixa de ser pontual, aceitável e/ou até formativa para passar a ser algo que<br />
lhe pode trazer prejuízos em termos de lazer, educacionais ou de<br />
desenvolvimento. No que respeita às tarefas domésticas, a sua não inclusão<br />
neste tipo de análise pode subestimar seriamente situações de exploração de<br />
trabalho de raparigas.<br />
Para além do trabalho desempenhado em permanência, deve contemplar-se<br />
ainda o realizado ocasional ou sazonalmente, sob pena de se poder estar a<br />
descurar um conjunto de casos onde também existe exploração de crianças.<br />
A própria definição de criança também não é consensual: se todos concordam<br />
que a partir do nascimento se é criança, o mesmo não sucede com a idade a<br />
partir da qual se deixa de o ser, pelo que a infância acaba por ser uma<br />
categoria algo arbitrária e sujeita a interpretações várias (Leonard, 1999). De<br />
acordo com a Convenção dos Direitos da Criança, criança é todo o ser humano<br />
até aos 18 anos de idade; todavia em algumas situações pode atingir-se mais<br />
cedo a maioridade ou pelo menos a emancipação, altura em que o indivíduo<br />
atinge a plena capacidade do exercício dos seus direitos, rege a sua pessoa e<br />
dispõe dos seus bens.<br />
E quanto ao trabalho? A partir de que idade se atinge o direito de aceder a um<br />
emprego? A Convenção nº 138 da Organização Internacional do Trabalho<br />
sobre a Idade Mínima de Admissão ao Emprego é o documento que serve de<br />
referência aos vários países que a ratificaram para legislar acerca desta<br />
matéria.<br />
De acordo com esta Convenção, adoptada em 1973, a idade mínima de<br />
admissão ao trabalho “não deverá ser inferior à idade em que terminar a<br />
escolaridade obrigatória, nem, em qualquer caso, a 15 anos” (Convenção 138<br />
da OIT, Artº 1º). Porém, partindo do pressuposto que em muitos países o<br />
sistema escolar não tem capacidade para absorver jovens até essa idade,<br />
estipula que em Estados-Membros cujas economias e sistemas de ensino não<br />
estejam bastante desenvolvidos, poder-se-á, sob determinadas condições,<br />
“especificar, numa primeira fase, uma idade mínima de 14 anos” (Convenção<br />
138 da OIT, Artº 1º).<br />
22
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Se assim não fosse, tal poderia gerar um problema difícil de contornar no que<br />
respeita a um conjunto de jovens que não tendo obrigatoriedade de estudar<br />
também não podem trabalhar, até porque, como recorda Levine (2003), em<br />
muitos países há crianças que se vêem efectivamente a braços com o dilema<br />
de ter de trabalhar para sustentar as suas famílias.<br />
A Convenção refere ainda que os Estados Parte podem autorizar os menores<br />
entre 13 e 15 anos a desempenhar trabalhos leves, ou seja aqueles que não<br />
prejudicam as crianças no que respeita à saúde, desenvolvimento, frequência<br />
escolar e/ou de programas de formação vocacional ou de formação, bem como<br />
a capacidade de beneficiar da instrução recebida (Convenção 138 da OIT, artº<br />
7º). Por trabalho leve, a OIT entende também o que não é perigoso e não tem<br />
duração superior a 14 horas semanais (em média duas horas por dia).<br />
No entanto, apesar de genericamente a idade mínima de acesso ao emprego<br />
se situar nos 15 anos, há alguns tipos de trabalho interditos a menores de 18<br />
anos, como sejam “as piores formas de trabalho infantil” e os trabalhos<br />
perigosos. As primeiras, tal como definidas pela Convenção nº 182 da OIT,<br />
incluem:<br />
a) “todas as formas de escravatura ou práticas análogas (…) a servidão por<br />
dívidas e a servidão, bem como o trabalho forçado ou obrigatório, incluindo o<br />
recrutamento forçado ou obrigatório das crianças com vista à sua utilização em<br />
conflitos armados”;<br />
b) “a utilização, o recrutamento ou a oferta de uma criança para fins de<br />
prostituição, de produção de material pornográfico ou de espectáculos<br />
pornográficos”;<br />
c) “a utilização o recrutamento ou a oferta de uma criança para actividades<br />
ilícitas, nomeadamente para a produção e o tráfico de estupefacientes (…)“.<br />
Por sua vez, os trabalhos perigosos são aqueles que “pela sua natureza ou<br />
pelas condições em que são exercidos, são susceptíveis de prejudicar a saúde,<br />
a segurança ou a moralidade da criança” (Convenção 182, artº 3º).<br />
A Recomendação 190 relativa às Piores Formas de Trabalho das Crianças e à<br />
Acção Imediata com Vista à sua Eliminação estabelece que na definição de<br />
23
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
trabalho perigoso, cada país deva ter particularmente em atenção critérios<br />
como:<br />
- a exposição de crianças a abusos de tipo físico, psicológico ou sexual;<br />
- os trabalhos prestados em condições adversas (ex: trabalhos subterrâneos,<br />
subaquáticos, em alturas perigosas, espaços confinados ou ambientes pouco<br />
saudáveis, em que as crianças possam estar expostas a substâncias<br />
perigosas, temperaturas, níveis de ruído ou vibrações que possam ter efeitos<br />
negativos sobre a sua saúde);<br />
- trabalho por longas horas ou durante a noite;<br />
- manuseamento de máquinas, equipamentos, ferramentas perigosas e<br />
transporte de cargas pesadas.<br />
Embora, para além da Convenção 182 e da Recomendação 190, ambas da<br />
OIT, os países devam ter também em conta na definição de trabalho perigosos<br />
a sua legislação nacional, em geral há algum consenso relativamente aos<br />
sectores de actividade e ocupações considerados perigosos para os menores e<br />
por isso proibidos. Estes incluem as indústrias marítima e mineira, os trabalhos<br />
com máquinas em movimento e/ou envolvendo grandes pesos e cargas e as<br />
actividades ligadas à construção, demolição e transportes.<br />
Assim, em resumo, para proceder à estimativa da incidência do trabalho infantil<br />
no mundo, a OIT utiliza como medição: todas as crianças entre os 5 e os 11<br />
anos que desempenhem uma actividade económica; todas as crianças entre os<br />
12 e os 15 anos que desempenhem trabalhos que não possam ser<br />
considerados como leves; e ainda todas as crianças entre os 16 e os 17 anos<br />
envolvidas em trabalhos perigosos ou nas piores formas de trabalho infantil<br />
Em Portugal, a idade mínima prevista na lei para se poder ser admitido<br />
emprego é de 16 anos, aumentando para 18 anos nas relações de emprego<br />
público. As restantes condições que devem ser cumpridas para que um menor<br />
possa trabalhar são:<br />
- ter cumprido a escolaridade obrigatória;<br />
- dispor de capacidade física e psíquica adequada ao posto de trabalho,<br />
certificada por exame médico;<br />
24
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
- não haver oposição escrita por parte dos representantes legais do menor6.<br />
Há, no entanto, excepções, quer no que respeita à idade mínima de admissão<br />
quer ao requisito de cumprimento da escolaridade obrigatória. No que respeita<br />
à idade, um menor de 16 anos poderá trabalhar, se para além de ter concluído<br />
a escolaridade obrigatória cumprir outras duas condições; dispor de<br />
autorização escrita por parte dos seus representantes legais e efectuar<br />
trabalhos leves, ou seja, “que integrem tarefas simples e definidas, que<br />
pressuponham conhecimentos elementares e que não impliquem esforços<br />
físicos ou mentais inadequados” 7 .<br />
De acordo com a legislação portuguesa, o trabalho leve exclui todo aquele que<br />
for proibido ou condicionado a menores; cuja duração exceda 7 horas diárias e<br />
35 semanais; que inclua um período de trabalho de mais de 4 horas<br />
consecutivas sem um intervalo de 1 a 2 horas; em que não seja assegurado<br />
um período de descanso mínimo de 14 horas entre os períodos de trabalho de<br />
dois dias consecutivos; que integre um período de descanso semanal inferior a<br />
2 dias; e que implique trabalho nocturno (na ausência de fixação colectiva,<br />
considera-se o exercido entre as 20h de um dia e as 7h do dia seguinte) 8 .<br />
Em casos excepcionais, o menor poderá também trabalhar se não tiver<br />
cumprido a escolaridade obrigatória desde que frequente um estabelecimento<br />
de ensino ou esteja integrado num programa de aprendizagem ou formação<br />
que lhe confira equivalência à escolaridade obrigatório e, ainda, que o horário<br />
de trabalho não prejudique a sua assiduidade escolar e a sua participação em<br />
programas de formação profissional. Deverá também dispor de autorização<br />
escrita por parte dos seus representantes legais 9 .<br />
O trabalho artístico é objecto de regulamentação especial (conforme Lei nº<br />
35/2004, artº 138 a artº 146): os menores de 11 anos podem ter uma actividade<br />
nestas áreas, embora sujeitos a um limite horário que não deverá exceder as<br />
três horas por dia e as seis horas por semana. Ainda assim, a participação dos<br />
6<br />
Conforme o Regime Jurídico do Contrato Individual de Trabalho (LCT), artº 123º, nº 3 (Guia<br />
de Legislação e Recursos, 1999, p. 24).<br />
7<br />
Guia de Legislação e Recursos (1999).<br />
8<br />
Portaria 715%93, de 03 de Agosto; Decreto-Lei 409/71, de 27 de Setembro, artº 9º-A, nº 1,<br />
artº 10º-A, nº 1 e 3 e artº 33º.<br />
9<br />
Regime Jurídico do Contrato Individual de Trabalho (LCT), artº 122, nº 4.<br />
25
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
menores está sujeita a autorização por parte da Comissão de Protecção de<br />
Crianças e Jovens da área de residência do menor.<br />
Tal como referido anteriormente, não é tarefa simples determinar se muitas das<br />
actividades desenvolvidas por menores podem ser consideradas como trabalho<br />
infantil. Em Portugal, nas investigações desenvolvidas sobre esta temática<br />
(SIETI, Sarmento) tem sido utilizado um amplo conjunto de indicadores para a<br />
avaliação deste fenómeno. Conforme afirma Sarmento (2005: 102), estes<br />
indicadores “são particularmente pertinentes para crianças com idade superior<br />
a 12 anos”, uma vez que não é aceitável que crianças abaixo deste nível etário<br />
realizem actividades laborais numa base regular.<br />
Assim, tem-se habitualmente em conta aspectos como:<br />
- tipo de trabalho exercido, suas características e o contexto em que se realiza:<br />
o trabalho é penoso ou simples? É monótono e repetitivo ou permite realizar<br />
várias tarefas, podendo até estimular servir de estímulo à curiosidade e ao<br />
desenvolvimento da criatividade por parte do menor? As tarefas são perigosas<br />
ou o local é inadequado/sem condições? Qual o sector de actividade?<br />
- o seu ritmo, intensidade e duração: é realizado de forma contínua? Todos os<br />
dias ou somente alguns? Tem carácter permanente ou temporário? Inclui<br />
períodos de trabalho nocturno? Permite que o menor tenha tempo para outras<br />
actividades, como brincar, dormir, conviver com outras pessoas?<br />
- efeitos do trabalho: o exercício dessa actividade prejudica a aquisição de<br />
competências por parte da criança ou as suas perspectivas de futuro?<br />
Pressupõe a reprodução de um trabalho desqualificado? Que tipo de relação<br />
existe entre o trabalho, a frequência e o sucesso escolar? Para além disso, o<br />
trabalho afecta, de alguma forma, o desenvolvimento biopsicológico e motor da<br />
criança?<br />
- a vontade/desejo de trabalhar: o trabalho é realizado de forma voluntária por<br />
parte da criança ou esta é forçada a fazê-lo?<br />
26
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
2. Aspectos metodológicos<br />
O conhecimento objectivo e aprofundado do trabalho infantil remete para o<br />
estudo simultâneo de um conjunto amplo de variáveis específicas do fenómeno<br />
e de outras de natureza económica, social e cultural, que só ganham uma<br />
dimensão compreensiva se integradas a partir da observação de processos<br />
sociais concretos que ajudem a compreender as dinâmicas socais que lhe<br />
estão subjacentes. Ou seja, para além de uma análise estatística, de natureza<br />
mais quantitativa, pretende-se também compreender os contextos<br />
socioculturais que produzem, reproduzem, e em certos casos dissolvem<br />
situações de trabalho infantil.<br />
Nesse sentido, o estudo tem sido desenvolvido de acordo com uma estratégia<br />
de investigação que articula instrumentos metodológicos diferenciados em<br />
função da especificidade dos objectos de estudo, com vista a uma observação<br />
gradual de uma realidade complexa ao nível do conteúdo e da acessibilidade<br />
aos agentes sociais envolvidos.<br />
A metodologia de investigação desenvolveu-se segundo duas dimensões: uma,<br />
em que se procura articular as abordagens quantitativas com as qualitativas; e<br />
outra, em que a observação macro, de âmbito nacional, é aprofundada ao nível<br />
micro, a partir da análise de situações particulares (eg. situações mais difíceis,<br />
casos emergentes e boas práticas).<br />
2.1. Pesquisa bibliográfica<br />
Procedeu-se à recolha e análise de bibliografia específica sobre a temática,<br />
abrangendo os vários domínios do estudo, em particular o da Sociologia, da<br />
Educação, da Economia e da Gestão.<br />
Desta elaboração teórica e conceptual resultaram as linhas de orientação<br />
científica que nortearam a construção dos instrumentos de recolha, tratamento<br />
e análise dos dados deste estudo.<br />
27
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
A análise documental foi especialmente relevante para a construção e<br />
aperfeiçoamento do inquérito por questionário a aplicar aos alunos inseridos<br />
nos Programas Integrados de Educação e Formação.<br />
2.2. Recolha e análise de dados relevantes<br />
Para além dos procedimentos com vista à preparação e execução do trabalho<br />
de campo, foi feita a recolha e tratamento de dados fornecidos por várias<br />
instituições parceiras do projecto.<br />
2.2.1. Estatísticas da Educação<br />
Foi feita a recolha e tratamento de dados sobre a Educação a nível europeu e<br />
nacional, disponibilizados pelo Ministério da Educação, bem como o seu<br />
cruzamento com os indicadores estatísticos fornecidos pelo INE, com vista à<br />
análise macro dos contextos demográficos, económicos, sociais e culturais<br />
potencialmente conducentes a situações de Trabalho Infantil. Numa primeira<br />
fase, a análise efectuada permitiu a identificação de clusters de variáveis<br />
relevantes e numa segunda fase o estudo aprofundado das relações mais<br />
pertinentes.<br />
2.2.2. Bases de dados do <strong>PETI</strong><br />
No <strong>PETI</strong> foram consultados dois tipos de bases de dados: uma base de dados<br />
relativa aos alunos sinalizados em trabalho infantil; outra base de dados com<br />
os alunos que frequentam o programa PIEF.<br />
Os dados fornecidos relativamente aos casos sinalizados foram-nos cedidos<br />
em Access, e encontravam-se organizados em vários ficheiros, relativos a<br />
dimensões diferentes da intervenção do <strong>PETI</strong> (alternativa PIEF, diligências<br />
28
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
feitas, casos sinalizados, casos intervencionados, etc.), e diziam respeito a um<br />
período bastante largo de tempo 10 .<br />
Face à pluralidade de fontes e natureza das variáveis, foi necessário construir<br />
uma nova base de dados de uniformização da informação fiável para os<br />
objectivos do estudo.<br />
Nesse sentido, procedeu-se a uma rigorosa “crítica das fontes”, e recorreu-se a<br />
um especialista informático em Access, que trabalhou a informação da base de<br />
dados de forma a tornar viável o seu tratamento. A base de dados construída<br />
permite referenciar os casos de trabalho infantil sinalizados pelo <strong>PETI</strong>,<br />
efectivos ou indiciados.<br />
O tratamento e análise da base de dados do <strong>PETI</strong> foi feito através da<br />
construção de uma matriz de agregação de várias tabelas e sua importação<br />
para o programa de análise estatística SPSS, com vista ao apuramento<br />
estatístico de indicadores que permitam a construção de uma amostra<br />
estatisticamente representativa de crianças e jovens sinalizados por esta<br />
instituição.<br />
Muitos dos casos chegam ao conhecimento do <strong>PETI</strong> exactamente através de<br />
outras instituições: as escolas são quem mais sinaliza (pelo menos em<br />
algumas regiões), mas há também sinalizações por parte de Comissões<br />
Nacionais de Protecção de Crianças e Jovens em Risco, da Segurança Social,<br />
do Instituto de Reinserção Social, da Inspecção-Geral do Trabalho (no Alentejo,<br />
fonte de muitas sinalizações), dos Departamentos de Acção Social de<br />
Autarquias ou até mesmo de hospitais.<br />
Na sua maioria, as sinalizações dizem respeito a situações de abandono<br />
escolar (ou mesmo absentismo, retenções repetidas e mau comportamento) e<br />
não tanto de trabalho infantil. Contudo, após diagnóstico e avaliação das<br />
situações, verifica-se que o trabalho infantil coexiste com o abandono e/ou<br />
insucesso escolar. O <strong>PETI</strong> não intervém portanto apenas em situações<br />
evidentes de trabalho infantil, mas também quando o menor se encontra em<br />
risco disso: situações em que está há dois ou três anos em abandono (mesmo<br />
que não formal), faça ou não “biscates” ou tarefas de apoio à família. O <strong>PETI</strong><br />
10 Na base de dados cedida encontravam-se dados desde os finais dos anos 90 até 2006.<br />
29
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
também poderá intervir em casos em que os menores se encontrem em<br />
situação de risco socioeconómico e/ou apresentem comportamentos de risco.<br />
A análise desta fonte foi um instrumento fundamental para a definição de<br />
estratégias de investigação a seguir para o estudo dos processos e dinâmicas<br />
sociais subjacentes ao trabalho infantil. De facto, a percepção da dimensão dos<br />
casos sinalizados ajudou-nos a definir o universo do estudo. Foi a partir daqui<br />
que ficou mais clara a opção metodológica de inquirir os alunos de PIEF, bem<br />
como de construir uma amostra emparelhada, através da qual poderíamos<br />
contextualizar os percursos dos alunos inseridos nestes programas.<br />
As bases construídas a partir dos dados do <strong>PETI</strong> vão em anexo, em suporte<br />
informático.<br />
Quanto à informação sobre os alunos PIEF, e segundo os ficheiros fornecidos<br />
pelos coordenadores regionais do <strong>PETI</strong>, foram considerados todos os<br />
estabelecimentos de ensino do Continente onde decorre aquele programa. No<br />
seu conjunto, foram inquiridos alunos de 107 escolas, repartidas pelas cinco<br />
regiões (Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve) abrangendo,<br />
à data do fornecimento das listagens, 1740 alunos PIEF, excluindo todos os<br />
que, calculando a idade ao início do trabalho de campo (1 de Maio de 2007),<br />
tinham 18 anos. Nestas escolas, e de forma a ser possível a constituição das<br />
amostras emparelhadas, foi ainda efectuado um levantamento dos alunos do<br />
ensino regular aí existentes em 2006.<br />
Há dois tipos de PIEF: um confere formação até ao 6º ano (PIEF tipo 1), outro<br />
até ao 9º ano (PIEF tipo 2). Os professores deste programa são normalmente<br />
destacados, embora haja muitos que se dedicam só a PIEF. O referencial dos<br />
curricula dos PIEF é o ensino regular, havendo todavia alguma flexibilidade a<br />
nível dos conteúdos programáticos, que se devem adaptar às realidades dos<br />
alunos. A formação engloba várias áreas, desde a de cariz sociocultural à<br />
vocacional (é feito uma avaliação vocacional, com a colaboração de instituições<br />
várias, como creches, centros de dia, corporações de bombeiros), passando<br />
pela elaboração de um projecto de vida.<br />
A região de Lisboa e Vale do Tejo tem um modelo de intervenção algo<br />
diferenciado a nível curricular. Alguns dos alunos de PIEF (maiores de 16 anos)<br />
30
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
estão inseridos em “<strong>PETI</strong> empresa”, ou seja, passam apenas 40% do tempo<br />
em formação na escola e os restantes 60% em formação em contexto de<br />
trabalho, numa empresa (dispõem de uma bolsa de formação, paga pelas<br />
empresas). Existe também o “<strong>PETI</strong> comunidade” (tanto a nível dos PIEF tipo 1<br />
como dos de tipo 2): os menores em PIEF dedicam uma tarde por semana a<br />
actividades de voluntariado, úteis para si e para os outros – em lares, jardins-<br />
de-infância, associações várias, corporações de bombeiros, etc.<br />
Relativamente a estes dados ver anexos em cd-rom.<br />
2.2.3. Dados da Comissão Nacionais de Protecção de Crianças e Jovens<br />
em Risco<br />
Foi feita a recolha e tratamento de dados sobre as Comissões de Nacionais de<br />
Protecção de Crianças e Jovens em Risco (CNPCJR), cujas linhas<br />
orientadoras e principais resultados serão apresentados num outro capítulo<br />
deste relatório.<br />
Foram igualmente efectuadas entrevistas exploratórias aos coordenadores<br />
regionais do <strong>PETI</strong>, cujos resultados serão objecto de análise ao longo do<br />
relatório<br />
Em seguida, far-se-á uma descrição pormenorizada dos instrumentos<br />
metodológicos utilizados nos inquéritos aos alunos das escolas onde decorrem<br />
os PIEF (alunos dos PIEF e do ensino regular), bem como aos Presidentes dos<br />
Conselhos Executivos e responsáveis pelos programas PIEF nas escolas.<br />
2.3. Questionários<br />
2.3.1. Questionário aos alunos<br />
A construção dos questionários foi feita ao longo de vários meses, durante os<br />
quais foram realizadas pesquisas documentais e reuniões periódicas com<br />
consultores especializados em várias áreas relevantes para a problemática em<br />
31
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
estudo. O seu contributo foi central para a formulação das questões e para o<br />
processo de selecção de categorias de resposta.<br />
A estrutura do questionário aplicado aos alunos é constituída por 6 módulos: A.<br />
Sobre ti e a tua família / pessoas com quem vives; B. Tu e a tua escola; C. A<br />
tua vida fora da escola; D. E daqui para a frente…; E. Outras questões; F. A<br />
família / pessoas com quem vive.<br />
O questionário passou por várias versões 11 , que foram periodicamente revistas<br />
e reformuladas, com introdução permanente de sugestões dos parceiros e<br />
consultores deste projecto. O diálogo permanente com os parceiros neste<br />
projecto foi essencial também nesta fase, onde as sugestões metodológicas<br />
por parte do INE, e de conteúdo por parte do <strong>PETI</strong> enriqueceram a qualidade<br />
dos instrumentos de recolha de informação.<br />
A necessidade de fechar a grande maioria das questões do inquérito resultou<br />
de uma opção metodológica que veio facilitar o trabalho de recolha, inserção e<br />
tratamento dos dados, mas também criar novos desafios de adaptação e<br />
criação de métodos inovadores para o processo que se seguiu ao trabalho de<br />
campo.<br />
A aplicação dos questionários com recurso a PDA (Personal Digital Assistent),<br />
se por um lado reduziu substancialmente os erros não probabilísticos, por outro<br />
lado, e uma vez que se trata de um meio relativamente novo em Portugal,<br />
implicou também uma adaptação por parte dos vários investigadores que<br />
participaram neste projecto.<br />
A programação dos questionários foi feita por uma empresa especializada e<br />
contratada para o efeito (CrazyDog – Paradigmas Tecnológicos). Durante todo<br />
este processo houve um acompanhamento permanente por parte da equipa de<br />
investigação, que testou periodicamente a aplicação informatizada,<br />
assegurando uma atempada correcção de falhas e erros na introdução das<br />
questões para este formato. Prestou-se especial atenção à coerência interna e<br />
capacidade operacional do questionário.<br />
11 As sugestões e correcções dos parceiros e consultores do projecto foram sendo inseridas ao<br />
longo de 26 versões por que passou o questionário aos jovens e crianças. Procurou-se também<br />
actualizar permanentemente a versão do questionário em papel, de forma a reproduzir<br />
integralmente a versão informatizada, que foi aplicada em PDA.<br />
32
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Por outro lado, a utilização deste instrumento de recolha implicou uma<br />
pesquisa exaustiva no sentido de fechar as questões colocadas com categorias<br />
pertinentes.<br />
Para além deste esforço, outra importante etapa foi a de familiarizar todos os<br />
intervenientes directos no processo de recolha e tratamento dos dados com<br />
este novo método.<br />
2.3.2. Questionários aos professores e às escolas<br />
O questionário às escolas, que continha duas partes, foi aplicado em todas as<br />
escolas em que existem turmas de PIEF. A primeira parte foi concebida para<br />
ser preenchida por um elemento do Conselho Executivo da Escola; a segunda<br />
parte foi aplicada por inquiridores a um docente indicado pelo Conselho<br />
Executivo (pediu-se que indicassem um docente da(s) turma(s) PIEF, que<br />
preferencialmente fosse também docente de turmas do ensino regular, de<br />
modo a que se pudesse ter a percepção de alguém mais familiarizado com a<br />
realidade da escola em geral).<br />
No seu conjunto, tratam-se de questionários relativamente extensos, com 139<br />
variáveis, no caso do questionário ao conselho executivo da escola, e 242<br />
variáveis no caso do questionário aos professores.<br />
2.4. População inquirida e amostra<br />
Tendo-se privilegiado os alunos PIEF como o espaço social de referência para<br />
o estudo do trabalho infantil potencial ou efectivo, optou-se por inquirir todos os<br />
alunos das escolas onde decorriam os programas PIEF existentes em 2006, no<br />
Continente.<br />
Deste modo, não foi construída uma amostra, mas considerou-se todo o<br />
universo de alunos PIEF, de acordo com a listagem fornecida pelo <strong>PETI</strong>.<br />
33
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Fazem parte deste universo 107 escolas e 1740 alunos. Este era o número de<br />
alunos inscritos em turmas de PIEF em Dezembro de 2006.<br />
De facto, estes alunos abrangem as situações de abandono escolar indiciado<br />
ou efectivo, ou situações de Trabalho Infantil indiciado ou efectivo. Deste modo,<br />
tornar-se-ia possível a análise das dinâmicas e dos processos sociais<br />
“produtores ou reprodutores” do trabalho infantil. Definiu-se ainda que, para<br />
além da aplicação de questionários ao universo de alunos dos PIEF, ir-se-ia<br />
também inquirir alunos do Ensino Regular, através da construção de uma<br />
amostra emparelhada.<br />
A necessidade de construção de uma amostra emparelhada, constituída pelos<br />
alunos do Ensino Regular, resultou da constatação de que, para retirar<br />
conclusões sustentadas acerca dos alunos inseridos nos programas PIEF,<br />
teríamos de ter um grupo de controlo, com características homólogas. Assim, a<br />
construção da amostra obedeceu a três critérios fundamentais: a frequência do<br />
mesmo estabelecimento de ensino; o sexo; e a idade.<br />
A recolha das listas dos alunos em PIEF, cedida pelos coordenadores regionais<br />
dos programas, foi o instrumento que serviu de base à definição desta amostra.<br />
Através da construção de uma base de dados destes alunos, na qual<br />
constavam as três variáveis acima referidas (escola a que pertence o PIEF;<br />
sexo; e data de nascimento), agregaram-se as idades à data de inscrição no<br />
ano lectivo de 2006/2007 (15 de Setembro de 2006) segundo escalões etários<br />
correspondentes aos ciclos escolares, obtendo assim três escalões: menores<br />
de 12 anos, que corresponde à idade de frequência do 2º ciclo; entre 13 e 15<br />
anos, correspondente à idade de frequência do 3º ciclo; e entre 16 e 17 anos,<br />
ou seja, a idade de frequência do ensino secundário (excluíram-se os alunos<br />
com 18 e mais anos já que, a partir desta idade, deixam de poder ser<br />
considerados como casos de trabalho infantil potencial ou efectivo). A<br />
metodologia de emparelhamento foi aplicada apenas nos casos em que os<br />
programas PIEF decorriam pelo menos parcialmente no espaço da escola.<br />
Há ainda a referir que, no que diz respeito ao emparelhamento etário, a<br />
selecção dos alunos do Ensino Regular partiu do pressuposto de que estes<br />
nunca ficaram retidos, i.e., os alunos foram seleccionados exclusivamente pela<br />
frequência dos ciclos de ensino, independentemente de terem ou não as<br />
34
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
idades correspondentes, pelo que não se tiveram em conta possíveis retenções<br />
nos seus percursos escolares.<br />
Para a selecção dos alunos do Ensino Regular a inquirir pediu-se às escolas as<br />
listas dos alunos inscritos descriminadas por ano escolar, turma e sexo 12 . Fez-<br />
se uma selecção aleatória dos alunos a inquirir, através de um método de<br />
lotaria (controlando as variáveis ‘ciclo escolar’ e sexo). Este método foi aplicado<br />
às listas dos alunos de cada escola (a escola foi também um critério de<br />
emparelhamento, como já se referiu antes). Sempre que não tivemos acesso<br />
às listas dos alunos numa determinada escola, através dos dados recolhidos<br />
on-line na página do Ministério da Educação 13 relativos ao número de alunos<br />
inscritos em cada escola, fez-se uma estimativa do número de turmas, partindo<br />
da dimensão máxima da turma para cada ciclo escolar instituída pelo Ministério<br />
da Educação 14 .<br />
Sempre que um aluno não podia ou não aceitava responder ao questionário,<br />
estabeleceu-se que se passaria para o aluno seguinte na lista de alunos, com a<br />
condição de pertencer ao mesmo ciclo escolar e ter o mesmo sexo.<br />
Esta metodologia de substituição repetiu-se relativamente às turmas: sempre<br />
que uma turma não estava na escola ou os alunos não estavam disponíveis<br />
para responder ao inquérito, retiravam-se os alunos da turma seguinte, desde<br />
que fosse uma turma do mesmo ciclo de escolaridade. Nos casos em que a<br />
turma seguinte era já uma turma de outro ciclo, reiniciava-se a contagem das<br />
turmas.<br />
A construção da amostra de alunos do Ensino Regular, bem como as<br />
operações necessárias à sua selecção em cada escola, ou mesmo substituição<br />
de alunos em falta, foi sempre orientada cientificamente durante o trabalho de<br />
campo pela Prof. Doutora Fátima Miguens.<br />
12<br />
A construção e execução da metodologia para os emparelhamentos foi realizada pela profª<br />
Fátima Miguens.<br />
13<br />
http://www.min-edu.pt/outerFrame.jsp?link=http%3A//www.giase.min-edu.pt/<br />
14<br />
As turmas do 5º ao 12º ano não devem ter menos de 24 alunos nem mais de 28, com a<br />
excepção de turmas com alunos com necessidades especiais (nestes casos não devem<br />
exceder os 20 alunos), turmas de cursos profissionais (que devem ter entre 18 e 23 alunos) e<br />
turmas dos Cursos de Educação e Formação (devem ter entre 10 e 20 alunos). Despacho n°<br />
14026/07. "D. R. 2ª série", nº 126, 3 de Julho 2007, 18807 (http://www.dgidc.minedu.pt/fichdown/Despacho%2014026-07.pdf.<br />
Consultada em Outubro 2007).<br />
35
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Apresentamos em anexo as fichas metodológicas construídas para cada<br />
escola.<br />
Em todos os casos pediu-se às escolas o envio das listas dos alunos para que<br />
a selecção aleatória pudesse ser executada em tempo útil, para que os<br />
inquiridores tivessem acesso a essa informação antes de se deslocarem às<br />
escolas. Nos casos em que isso não foi possível, fez-se uma estimativa do<br />
número de turmas existentes na escola por ciclo de ensino, feita através do<br />
número total de alunos da escola (esta informação este disponível online, na<br />
página do Ministério da Educação referida na nota 1).<br />
Procurou-se sempre que a lista final de alunos do Ensino Regular a inquirir<br />
fosse feita nas bases de coordenação, antes da ida do inquiridor à escola. No<br />
entanto, esta tarefa nem sempre foi possível (muitas vezes, as escolas nunca<br />
chegavam a enviar a listas pedidas). Foi relativamente recorrente o acesso às<br />
listas dos alunos inscritos no Ensino Regular apenas quando o inquiridor<br />
chegava à escola, o que implicou a selecção dos alunos in loco. Nestes casos,<br />
a metodologia de selecção a aplicar na escola era enviada ao inquiridor, que<br />
faria a lista dos alunos, recorrendo à ajuda dos coordenadores sempre que tal<br />
se justificasse.<br />
2.5. Trabalho de campo<br />
A preparação do trabalho de campo passou por várias etapas importantes, das<br />
quais se destaca o contacto com as escolas, a selecção e formação de<br />
inquiridores e inquiridoras, e finalmente a realização de pré-testes e a<br />
administração dos questionários. Falaremos de seguida acerca de cada uma<br />
destas fases com maior detalhe.<br />
O contacto com as escolas aconteceu em vários momentos, e foi o primeiro<br />
passo para a preparação do trabalho de campo.<br />
Antes do contacto com as escolas, foi necessário proceder a uma inventariação<br />
daquelas a que estavam vinculados os PIEF. A partir dessa listagem,<br />
recorremos a informação do Ministério da Educação disponível on-line para a<br />
36
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
construção de uma base de dados de onde constavam os contactos, moradas<br />
e informações relevantes acerca dessas escolas; instrumento que se revelou<br />
da maior importância de forma a tornar todo este processo mais eficiente e<br />
menos moroso.<br />
No primeiro contacto com as escolas procurámos informar e sensibilizar os<br />
responsáveis dos vários estabelecimentos de ensino para a relevância do<br />
estudo. Foi enviada uma carta endereçada aos presidentes dos vários<br />
Conselhos Executivos, onde se enunciavam os objectivos do estudo e dos<br />
questionários a aplicar e se pedia autorização para a aplicação destes no<br />
espaço da escola.<br />
A este nível foi fundamental o apoio institucional do Ministério da Educação, de<br />
forma a facilitar a abordagem e colaboração dos estabelecimentos de ensino<br />
onde iria decorrer o trabalho de campo.<br />
Os pré-testes realizados forneceram elementos fundamentais para o<br />
aperfeiçoamento dos instrumentos de recolha de informação, permitindo<br />
detectar e corrigir aspectos de linguagem dos questionários, reforçar as<br />
recomendações aos inquiridores e decidir a melhor forma de colocar as<br />
questões.<br />
Foram realizados pré-testes em duas fases da preparação do trabalho de<br />
campo: o primeiro com vista ao aperfeiçoamento do conteúdo do questionário<br />
aos jovens e crianças, que foi aplicado em suporte de papel a alunos inseridos<br />
nos programas PIEF sedeados na Escola Básica dos 2º e 3º ciclos do Ensino<br />
Básico Fernando Pessoa; a segunda fase de pré-teste serviu essencialmente<br />
para testar a aplicação dos questionários com recurso ao PDA. Permitiu ainda<br />
introduzir alterações importantes aos questionários, que tornaram o processo<br />
de inquirição mais rápido e compreensível para os alunos, corrigindo falhas que<br />
só poderiam ser detectadas no terreno.<br />
A participação dos consultores foi fundamental no processo de recrutamento e<br />
selecção dos inquiridores. Para as regiões Norte e Centro, foram recrutados 10<br />
inquiridores, licenciados ou mestrandos em áreas relacionadas com a<br />
Educação.<br />
37
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
O recrutamento de inquiridores para as regiões do Alentejo e Algarve foi feito<br />
com a ajuda de técnicos superiores do Ministério da Educação e de<br />
professores das Escolas Superiores de Educação.<br />
Para a região de Lisboa e Vale do Tejo o recrutamento foi feito entre<br />
licenciados, formados sobretudo em Sociologia e em áreas da Educação. No<br />
total, foram recrutados 9 inquiridores para a realização dos questionários nesta<br />
região.<br />
Após o recrutamento foram feitas várias acções de formação, que decorreram<br />
em Lisboa e em Braga, no sentido de dotar os inquiridores de instrumentos<br />
teóricos e metodológicos essenciais ao desenvolvimento do trabalho de campo.<br />
As acções de formação tiveram em conta alguns pontos essenciais: a<br />
explicitação teórica das principais temáticas em causa no projecto; uma<br />
exposição acerca dos principais objectivos; uma análise dos questionários a<br />
aplicar; e uma explicação acerca das funcionalidades e aplicações do PDA.<br />
Após uma primeira formação de todos os inquiridores, deu-se uma semana<br />
para a exploração da utilização do PDA, e para o estudo dos questionários e<br />
dos guiões para a sua aplicação. Terminado este período fez-se nova acção de<br />
formação, com vista ao esclarecimento de questões.<br />
Nestas acções de formação foi dado a cada inquiridor um PDA e cópias dos<br />
questionários em papel. Cada PDA estava já dotado de um cartão de telefone e<br />
de saldo para a realização de contactos com as escolas e com os<br />
coordenadores e para o envio dos questionários através de ligações à internet.<br />
Foram ainda dadas instruções para que cada inquiridor elaborasse um diário<br />
de campo, onde deveriam constar as discrepâncias entre o número de<br />
questionários previstos para cada escola e os que foram efectivamente<br />
realizados. Nos casos em que os valores não eram coincidentes, era<br />
necessário explicitar as razões para que tal se verificasse (por exemplo,<br />
desistências de alunos dos programas de PIEF ou fraca colaboração por parte<br />
das escolas, invalidando assim a realização de questionários aos alunos do<br />
Ensino Regular, entre outros).<br />
No seu conjunto, participaram no trabalho de campo 24 inquiridores(as).<br />
38
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Para a execução do trabalho de campo optámos por organizar e dividir a<br />
coordenação por grupos de regiões. Para além destas coordenações mais<br />
operacionais, esteve sempre disponível um membro da equipa do projecto,<br />
com um conhecimento teórico das temáticas em estudo mais aprofundado,<br />
permanentemente contactável para a resolução de questões de índole<br />
metodológica ou de conteúdo dos questionários.<br />
A coordenação do trabalho de campo foi partilhada por duas pessoas<br />
contratadas para o efeito, responsáveis por dois grandes grupos regionais: um<br />
coordenador operacional para as regiões Norte e Centro; outro para as regiões<br />
de Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve.<br />
A totalidade de questionários a realizar em cada um destes grupos regionais<br />
era sensivelmente o mesmo, repartido por um número também idêntico de<br />
escolas.<br />
A coordenação da área regional de Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve<br />
foi directamente assegurada pela Dra. Dalila Cerejo, membro da equipa do<br />
SociNova.<br />
Esta coordenação foi realizada em duas etapas distintas. A primeira etapa<br />
consistiu no contacto directo com os Presidentes dos Conselhos Executivos<br />
das escolas, a fim de prestar esclarecimentos sobre o projecto, obter<br />
autorizações das escolas para a realização dos inquéritos aos alunos do ensino<br />
regular e articular agendas de forma a evitar perturbar a vida escolar dos<br />
inquiridos, sem atrasar em demasia a recolha da informação.<br />
Os inquiridores que realizaram inquéritos nas áreas regionais mencionadas<br />
deslocaram-se em pares, permitindo assim uma maior rapidez na inquirição do<br />
número total dos alunos em cada escola.<br />
Em média, os inquiridores necessitaram de dois dias para realizar o número de<br />
inquéritos estabelecido para as escolas para as quais foram destacados, muito<br />
embora se tenham registado alguns atrasos nas escolas que acharam<br />
necessário pedir autorização aos encarregados de educação dos alunos do<br />
ensino regular.<br />
A coordenação das regiões Norte e Centro foi assegurada pela Dra. Saidatina<br />
Khadidiatou Dias, uma investigadora da área das Ciências da Educação<br />
39
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
indicada pelo Prof. Manuel Sarmento, que teve formação específica para fazer<br />
o contacto com as escolas. Uma vez que esta coordenação não foi feita<br />
directamente no espaço do SociNova, onde se encontrava sedeada a<br />
coordenação científica e metodológica do trabalho de campo, criámos uma<br />
plataforma de cooperação e ajuda permanente, no sentido de dar respostas<br />
rápidas e sustentadas aos múltiplos problemas que surgem ao longo de um<br />
trabalho desta natureza.<br />
O planeamento de todo o trabalho realizado nas escolas do Norte e Centro foi<br />
feito pela coordenadora regional, em parceria com os vários inquiridores. Após<br />
o primeiro contacto com as escolas, realizado pela equipa do projecto,<br />
transmitiu-se a informação necessária para que esses contactos pudessem ser<br />
retomados pelas coordenadoras, no sentido de agilizar todo o processo de<br />
recolha de informação (marcação de datas para a ida dos inquiridores às<br />
escolas, envio de informações complementares, etc.).<br />
O trabalho de campo decorreu de 2 Maio a 8 Junho de 2007. As provas globais<br />
dos alunos dos 2º e 3º ciclos do Ensino Regular tiveram lugar durante o<br />
trabalho de campo, o que implicou um ligeiro atraso relativamente ao<br />
inicialmente previsto.<br />
2.6. Administração dos questionários<br />
Os questionários foram sempre administrados por um inquiridor num espaço<br />
reservado pelo Conselho Executivo da escola, com a presença exclusiva do<br />
inquirido, de forma a evitar eventuais constrangimentos nas respostas às<br />
questões colocadas.<br />
A duração média da aplicação dos questionários foi de 29 minutos,<br />
aproximadamente 20 minutos aos alunos do Ensino Regular e 40 minutos aos<br />
alunos inseridos nos programas de PIEF. Esta diferença de tempo médio de<br />
aplicação dos questionários resulta da necessidade de se colocarem questões<br />
relativas às especificidades dos programas de PIEF, que não poderiam ser<br />
respondidas pelos alunos do Ensino Regular.<br />
40
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
A parte A do questionário às escolas foi entregue no Conselho Executivo das<br />
escolas, onde foi preenchido e entregue ao inquiridor. Nos casos em que este<br />
questionário não estava ainda preenchido na altura em que o inquiridor<br />
terminou o trabalho naquela escola, foi entregue um envelope pré-pago e<br />
endereçado, de forma a facilitar o envio para a equipa de investigação.<br />
A parte B dos questionários foi sempre aplicada por um inquiridor a um docente<br />
indicado pelo Conselho Executivo.<br />
Os inquéritos foram aplicados em todas as escolas onde decorriam os PIEF, ou<br />
às quais estavam vinculados (refira-se que, embora todos os PIEF tenham um<br />
vínculo a uma escola, nem todos decorrem no espaço da escola), e um dos<br />
nossos objectivos iniciais foi o de aplicar os questionários ao universo dos<br />
alunos inseridos nestes programas. Todavia, nem sempre o número de alunos<br />
inscritos correspondia ao número efectivo de alunos a frequentar as aulas.<br />
Muitos destes alunos estavam a faltar por longos períodos, outros faltaram<br />
durante o tempo de aplicação dos questionários, outros ainda recusaram-se a<br />
responder. No entanto, fez-se um esforço suplementar no sentido dos<br />
inquiridores voltarem à escola para concluir a aplicação dos questionários;<br />
contudo, muitos dos alunos que deveriam responder nesse dia não<br />
compareciam novamente na escola.<br />
Como já referimos, a colaboração dos coordenadores regionais destes<br />
programas permitiu compilar uma lista de 107 escolas de Norte a Sul do país.<br />
Em cada escola foi-nos dada a lista dos alunos inscritos nas turmas de PIEF,<br />
com especificação do sexo e data de nascimento de cada aluno, que viriam a<br />
ser os critérios centrais para a construção da amostra emparelhada. Foi<br />
inicialmente previsto que iríamos aplicar os questionários a 1740 alunos de<br />
PIEF (a distribuição inicial por escola encontra-se em anexo).<br />
Deste total previsto de alunos a frequentar as aulas de PIEF no início do<br />
trabalho de campo, foram realizados questionários a 1098 alunos (cerca de<br />
63% do que ficou estipulado pela consulta das listas de alunos inseridos nos<br />
programas de PIEF em Dezembro de 2006).<br />
Dado que o número de alunos inscritos em PIEF varia ao longo do ano lectivo,<br />
segundo a informação fornecida pelos coordenadores regionais, no momento<br />
41
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
de realização do inquérito (Maio / Junho de 2007) estavam inscritos em 103<br />
escolas 15 , 1404 alunos de PIEF 16 . Todavia, nestas escolas só foram inquiridos<br />
1074 alunos, o que resulta numa taxa de realização de questionários de<br />
76,5% 17 .<br />
Se excluirmos as escolas acerca das quais não temos informação do número<br />
de alunos em PIEF à data da realização do trabalho de campo, da comparação<br />
entre a percentagem de alunos inscritos em Dezembro de 2006 e em Maio /<br />
Junho de 2007, teremos a distribuição percentual por região que se apresenta<br />
no gráfico abaixo, e que mostra a discrepância entre as listagens de alunos de<br />
PIEF por região que nos foi inicialmente cedida e a situação que encontrámos<br />
ao partir para o terreno:<br />
Gráfico 1 – Percentagem de alunos inscritos nos PIEF em Dezembro de 2006 e em Maio /<br />
Junho de 2007, por região<br />
%<br />
45<br />
40<br />
35<br />
30<br />
25<br />
20<br />
15<br />
10<br />
5<br />
0<br />
35,5<br />
41,0<br />
12,2<br />
12,5<br />
42<br />
8,2<br />
NORTE CENTRO ALENTEJO ALGARVE LVT<br />
alunos inscritos em Dezembro de 2006 alunos inscritos em Maio/Junho de 2007<br />
8,0<br />
FONTE: Dados fornecidos pelo <strong>PETI</strong><br />
Desta forma, partimos destes valores actualizados para avaliar as taxas de<br />
realização dos questionários por região. Comparando agora a percentagem de<br />
questionários realizados com o número de alunos inscritos em PIEF no início<br />
do trabalho de campo (Maio / Junho de 2007), as discrepâncias entre o previsto<br />
15 A informação acerca dos alunos que deveriam estar inscritos em PIEF entre Maio e Junho de<br />
2007 foi-nos fornecida apenas para 103 das 107 escolas. Esta lista segue em anexo.<br />
16 As escolas acerca das quais não temos estes valores são: EB 23 Fernando Caldeira, EB 23<br />
António Dias Simões, EB Integrada do Eixo e EB 23 Branca, todas da região Centro.<br />
17 O que representa um aumento da taxa de realização em relação ao estipulado nos primeiros<br />
cálculos efectuados a partir do número de alunos inscritos em PIEF em Dezembro de 2006.<br />
6,6<br />
6,3<br />
37,5<br />
32,1
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
e realizado deixam de ser tão grandes como as que se verificavam<br />
relativamente aos questionários previstos com base no número de alunos que<br />
estavam em PIEF em Dezembro de 2006:<br />
%<br />
Gráfico 2 – Percentagem de alunos de PIEF inscritos em Maio / Junho de 2007<br />
relativamente à percentagem de questionários realizados, por região<br />
45<br />
40<br />
35<br />
30<br />
25<br />
20<br />
15<br />
10<br />
5<br />
0<br />
41,0<br />
30,2<br />
12,5<br />
10,5<br />
43<br />
8,0<br />
NORTE CENTRO ALENTEJO ALGARVE LVT<br />
alunos inscritos em Maio/junho de 2007 questionários realizados<br />
5,6<br />
FONTE: Dados fornecidos pelo <strong>PETI</strong><br />
Em 14 escolas realizaram-se todos os questionários aos alunos que estavam<br />
inscritos nos PIEF 18 . Em 55 escolas onde isso não aconteceu, e acerca das<br />
quais temos informação quanto aos motivos pelos quais os alunos não<br />
estavam presentes ou não responderam ao questionário, apurou-se que, dos<br />
705 questionários que deveriam ter sido realizados (tendo agora em conta o<br />
número de alunos que estavam efectivamente inscritos na altura de realização<br />
do trabalho de campo), foram feitos 547 questionários 19 . Das razões apontadas<br />
para a não realização de 158 questionários nestas escolas 20 , destacam-se: as<br />
faltas nos dias da aplicação do questionário (67 alunos) 21 ; as desistências dos<br />
18 Escola Secundária de Lousada, EB 23 de Resende, Escola Secundária de Marco<br />
Canaveses, EB 23 António Correia de Oliveira, EB 23 de Alfena, EB 23 de Ceira, Escola<br />
Secundária Afonso de Albuquerque, EB 23 de Vila Nova Tázem, EB 23de Castro Daire, Escola<br />
Secundária de Reguengos de Monsaraz, EB 23 D. José I, EB 23 de Alfornelos, EB 23 Matilde<br />
Rosa Araújo, Escola Secundária c/ 3º ciclo Lima de Freitas.<br />
19 Para estas 55 escolas, a taxa de realização é de 77,5%.<br />
20 Este valor equivale à diferença entre os questionários previstos (a partir do número de alunos<br />
à data de realização do trabalho de campo) e o número de questionários realizados.<br />
21 Destes, não conseguimos apurar quantos já estavam a faltar regularmente há algum tempo.<br />
Assumiu-se assim que faltaram no dia da aplicação dos questionários. Diga-se a este respeito<br />
6,3<br />
5,2<br />
32,1<br />
25,0
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
PIEF (38 alunos); as faltas regulares (35 alunos); alunos que atingiram a<br />
maioridade (9 alunos); encaminhamento / transição para outras respostas<br />
formativas (5 alunos); recusas em responder ao questionário (3 alunos); e 1<br />
expulsão / processo disciplinar.<br />
Neste ponto, resta salientar o profissionalismo e a colaboração dos<br />
professores, técnicos e presidentes dos Conselhos Executivos das escolas,<br />
bem como a disponibilidade e a pronta adesão dos alunos que responderam ao<br />
inquérito.<br />
2.7. Validação, tratamento e análise dos dados<br />
O envio dos questionários a aplicar aos alunos foi sendo feito ao longo de todo<br />
o trabalho de campo. Cada inquiridor recebeu instruções para que enviasse via<br />
Internet os questionários diariamente durante a primeira semana de trabalho, e<br />
posteriormente de dois em dois dias.<br />
A informação ficou armazenada em base sedeada em Lisboa, e<br />
especificamente construída para o efeito.<br />
A aplicação informática permitiu a passagem imediata da informação para uma<br />
base de dados previamente construída, da qual constam 626 variáveis<br />
correspondentes às várias questões do questionário. Esta funcionalidade<br />
permitiu que se corrigissem erros que foram surgindo à medida que o trabalho<br />
ia sendo desenvolvido.<br />
Terminado o trabalho de campo, procedeu-se à primeira fase de validação da<br />
base de dados através do programa de cálculo estatístico SPSS (Statistical<br />
Package for Social Sciences).<br />
Do primeiro processo de validação resultaram 48 questionários inválidos, que<br />
tinham mais de 90% de não respostas ou não respostas às questões centrais<br />
do nosso estudo 22 .<br />
que os inquiridores voltaram sempre à escola no sentido de realizar a totalidade dos inquéritos<br />
previstos.<br />
22 A maioria dos questionários com taxas de resposta muito elevadas é essencialmente<br />
resultante de testes à aplicação informatizada que, por razões técnicas, foram indevidamente<br />
enviados para a nossa base de dados. Os restantes questionários foram invalidados por terem<br />
44
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Após a eliminação destes questionários chegou-se a uma base de dados<br />
constituída por 2147 casos, dos quais 1098 eram alunos dos programas de<br />
PIEF e 1047 alunos do Ensino Regular. Depois do processo de selecção<br />
aleatória dos questionários aos alunos do ER que iriam ser utilizados para a<br />
amostra emparelhada, chegámos a uma base de emparelhamentos com 684<br />
alunos dos programas PIEF e do ER 23 . Esta base de dados servirá para<br />
aumentar a profundidade analítica do estudo, em relação aos percursos dos<br />
alunos de PIEF; a sua utilização contemplará os indicadores seleccionados<br />
com base na sua pertinência para o objectivo do estudo. Independentemente<br />
do número de emparelhamentos, todos os questionários realizados aos alunos<br />
PIEF serão alvo de tratamento estatístico.<br />
Ainda relativamente ao processo de validação da base de dados, importa<br />
referir que neste trabalho se adoptou uma metodologia que permitiu evitar<br />
todos os “erros não probabilísticos” resultantes da introdução dos dados. De<br />
facto, a base de dados resultou da importação dos dados à medida que iam<br />
sendo recolhidos. Nesse sentido, a metodologia utilizada teve de ser adaptada<br />
a esta nova técnica de recolha. Consequentemente, adoptámos uma estratégia<br />
de validação que passou pela leitura dos outputs de todas as variáveis, onde<br />
identificámos todos os questionários com erros ou falhas de informação. Esta<br />
informação foi posteriormente compilada numa outra base de dados, à qual foi<br />
aplicado um tratamento estatístico no sentido de apurar que questionários<br />
viriam a ser eliminados ou, por outro lado, quais os questionários que, mesmo<br />
tendo erros pontuais, poderiam mesmo assim ser utilizados para a nossa<br />
análise.<br />
Conseguimos, através deste processo, não apenas chegar a uma base de<br />
dados final mais estruturada e consolidada, mas também averiguar, não só no<br />
final mas também ao longo do processo, as assimetrias entre os métodos de<br />
faltas generalizadas de informação, ou falta de informação relativamente a variáveis centrais do<br />
questionário (não respostas às questões acerca da realização ou não de actividades na última<br />
semana e no passado).<br />
23 Uma vez que o número final de alunos de PIEF inquiridos foi menor do que o inicialmente<br />
previsto, e que se inquiriram, por razões práticas, praticamente todos os alunos do ER<br />
previstos no início do trabalho de campo, ficámos com um excedente de questionários aos<br />
alunos do ER, que teve de ser reduzido ao número de emparelhamentos possíveis, segundo os<br />
critérios inicialmente estabelecidos. Isto implica que, exclusivamente para fins de<br />
emparelhamento, trabalharemos apenas com 684 alunos de PIEF e 684 alunos do ER. Tal não<br />
invalida que se faça uma análise estatística dos 1098 alunos de PIEF inquiridos.<br />
45
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
aplicação dos questionários por parte dos inquiridores. Desta forma,<br />
conseguimos ir corrigindo erros na aplicação por parte dos inquiridores, e<br />
perceber o nível de qualidade da informação recolhida por parte de cada um<br />
deles.<br />
Nesta primeira fase de exploração da base de dados que resultou do trabalho<br />
de campo, pretendemos apresentar alguns elementos de caracterização da<br />
população inquirida.<br />
Tendo retirado da base de dados inicial todos os questionários feitos a alunos<br />
do Ensino Regular que não emparelhavam (segundo os critérios referidos na<br />
metodologia), bem como todos aqueles que, segundo os critérios de validação<br />
descritos acima, não satisfaziam os requisitos mínimos de validade, ficámos<br />
com um total de 1098 alunos dos programas de PIEF e 684 alunos do Ensino<br />
Regular.<br />
Apresentaremos uma caracterização de todos os alunos de PIEF e,<br />
posteriormente, para as variáveis que nos pareçam pertinentes, faremos um<br />
estudo comparativo, entre os alunos de PIEF e os alunos do ER (utilizando,<br />
nestes casos, apenas 684 alunos de PIEF, onde cada aluno emparelha com<br />
outro aluno do ER).<br />
2.8. Operacionalização do conceito de Trabalho Infantil<br />
Antes de entrarmos na análise dos dados propriamente dita, devemos explicitar<br />
algumas noções importantes, nomeadamente os critérios que nos guiaram na<br />
operacionalização do conceito de trabalho infantil.<br />
Quem estuda dinâmicas e processos sociais conhece bem as dificuldades na<br />
construção de indicadores que nos permitam ‘medir’ fenómenos<br />
multidimensionais e dinâmicos, cujo conhecimento não pára de nos levar à<br />
reformulação e reestruturação conceptual.<br />
A necessidade de operacionalização do conceito de Trabalho Infantil ao nível<br />
da investigação empírica implicou a definição de limites precisos na sua<br />
46
GRUPOS<br />
ETÁRIOS<br />
Menores de 11<br />
anos<br />
Dos 12-15<br />
anos<br />
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
definição. Foi necessário estabelecer limites etários, de durabilidade e de<br />
intensidade.<br />
2.8.1. Trabalho infantil na última semana<br />
Para efeitos de análise dos dados, foi utilizada a definição de trabalho infantil<br />
adoptada pela Organização Internacional do Trabalho. Estabeleceram-se os<br />
limites etários, de intensidade e durabilidade estabelecidos pela OIT para a<br />
construção das variáveis de trabalho infantil, tal como apresentamos na tabela<br />
abaixo (esta definição está adaptada aos limites etários para o trabalho<br />
estabelecidos pela legislação nacional).<br />
Tabela 1 – Definição de Trabalho Infantil dada pela OIT, atendendo à legislação nacional<br />
actual<br />
(menos de 15<br />
horas semanais)<br />
TIPOS DE TRABALHO<br />
Trabalhos não perigosos<br />
(locais e ocupações não perigosas)<br />
Trabalhos leves Trabalho regular<br />
(de 15 a 35 horas<br />
semanais<br />
(menos de 15 horas<br />
semanais)<br />
47<br />
(de 15 a 35 horas<br />
semanais<br />
Trabalhos<br />
perigosos<br />
(locais e tarefas<br />
perigosas)<br />
>=35 horas<br />
semanais<br />
Trabalho Infantil Trabalho Infantil Trabalho Infantil Trabalho Infantil Trabalho Infantil<br />
Trabalho aceitável Trabalho Infantil Trabalho Infantil Trabalho Infantil Trabalho Infantil<br />
16-17 anos Trabalho aceitável Trabalho aceitável Trabalho aceitável Trabalho aceitável Trabalho Infantil<br />
FONTE: Convenção nº 138 da OIT sobre a Idade Mínima de Admissão ao Emprego, artº 1º<br />
Para a construção do indicador de trabalho infantil, começámos por agregar as<br />
idades dos inquiridos à data de aplicação dos questionários em 5 escalões<br />
etários: =18 anos.<br />
Paralelamente, procurámos estabelecer exactamente que tipo de trabalho tinha<br />
sido realizado pelos inquiridos na semana de referência (a semana anterior à<br />
aplicação do questionário). Para isto, fizemos uma distinção entre actividade
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
económica em sentido estrito (entendida como uma actividade desenvolvida<br />
num sector da economia formal) e tarefas domésticas (que, muito embora<br />
sejam desenvolvidas no espaço da família, e não possam ser inseridas em<br />
nenhum sector formal da economia, devem ainda assim ser analisadas).<br />
Relativamente às actividades económicas em sentido estrito, fez-se também a<br />
distinção entre trabalho por conta de outrem e trabalho familiar não<br />
remunerado. O trabalho por conta de outrem é aqui entendido como uma<br />
actividade que se encontra dependente economicamente de um empresário,<br />
com um vínculo contratual que pode ou não estar formalizado.<br />
Por outro lado, por trabalho familiar não remunerado entende-se todo o<br />
trabalho em que o empregador é um familiar ou pessoa com quem o inquirido<br />
vive, em que o trabalho realizado em espaço familiar, e, muito embora possa<br />
ser incluído num sector de actividade específico, não é remunerado. Dentro<br />
desta categoria podemos fazer a distinção entre trabalho em empresa familiar e<br />
trabalho em contexto familiar. Na primeira destas categorias encontram-se<br />
todas as actividades em empresas ou negócios familiares, e na segunda o<br />
trabalho agrícola realizado num contexto de ajuda familiar.<br />
Para determinar as situações de trabalho infantil no espaço da casa, onde as<br />
actividades desenvolvidas não são susceptíveis de ser inseridas num qualquer<br />
sector de actividade (as tarefas domésticas), utilizaram-se os mesmos critérios<br />
de idade e intensidade (número de horas semanais de trabalho) a que se<br />
recorreu para a definição de trabalho infantil em sentido estrito proposta pela<br />
OIT (onde estão apenas as actividades económicas que são simultaneamente<br />
situações de trabalho infantil). Assim, todos os inquiridos que cumpram<br />
simultaneamente os critérios de idade e horas semanais de trabalho, que<br />
delimitam as situações de trabalho infantil tal como consta na tabela acima,<br />
serão contabilizados como tal, e deverão constar da variável ‘Trabalho Infantil<br />
em tarefas domésticas’.<br />
Por fim, chegaremos a um último indicador de trabalho infantil na semana de<br />
referência, onde deverão constar todos os inquiridos em situação de trabalho<br />
infantil, independentemente do tipo de trabalho realizado.<br />
48
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Devemos chamar a atenção para o facto de esta nova variável não<br />
corresponder necessariamente à soma do número de situações de trabalho<br />
infantil que encontramos nos dois tipos de actividades anteriormente definidas<br />
(actividade económica e tarefa doméstica). De facto, pela forma como foi<br />
recolhida a informação, podemos encontrar inquiridos que estão<br />
simultaneamente em situação de trabalho infantil nos dois tipos de trabalho<br />
definidos.<br />
2.8.2. Trabalho infantil anterior à última semana<br />
Devemos ter especial cautela na operacionalização do conceito de trabalho<br />
infantil; neste caso quando mudamos o momento a que se referem estas<br />
práticas da última semana para um tempo não objectivado, anterior à semana<br />
de referência. A única forma de saber se estas foram situações de trabalho<br />
infantil (utilizando os mesmos critérios anteriormente definidos) é através da<br />
memória dos inquiridos acerca da idade aproximada em que terão começado a<br />
trabalhar. Se, relativamente ao trabalho realizado na última semana, o critério<br />
estabelecido estava perfeitamente definido e delimitado (a pergunta colocada<br />
dizia apenas respeito às actividades realizadas concretamente na última<br />
semana, independentemente de já as ter realizado anteriormente), aqui o único<br />
limite era ser anterior à semana de referência. Isto implica uma alteração<br />
importante na forma como o inquirido estrutura a sua resposta: se, no primeiro<br />
caso, ele recordará o que fez no espaço de tempo a que se refere a pergunta,<br />
no segundo caso terá necessariamente de procurar recordar primeiro o que<br />
fez, e só depois inserir essa memória no tempo. Esta alteração reflecte-se<br />
directamente na precisão do indicador construído. Por isso mesmo, a variável<br />
resultante do cruzamento dos vários indicadores importantes para a<br />
identificação das situações de trabalho infantil dá-nos um indício de que<br />
estamos de facto perante situações de trabalho infantil num tempo anterior à<br />
última semana.<br />
Para a construção deste indicador, utilizou-se a idade em que o inquirido<br />
afirmou ter começado a exercer a actividade, agregada nos mesmos escalões<br />
49
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
utilizados para a construção da variável relativa ao trabalho infantil da última<br />
semana.<br />
Muito embora fosse expectável que os inquiridos que estão em situação de<br />
trabalho infantil na semana de referência respondessem afirmativamente à<br />
questão relativa às actividades anteriores, isso não é necessariamente<br />
verdade. No módulo de questões relativo ao trabalho realizado na última<br />
semana, procurou-se recolher informação acerca do momento em que o<br />
inquirido terá iniciado o tipo de actividade que afirmou ter feito. Assim, na<br />
formulação da questão relativa ao trabalho num passado mais distante,<br />
especificou-se que não deveriam ser incluídas quaisquer actividades que<br />
tivessem já sido referidas anteriormente (o módulo de questões acerca das<br />
actividades realizadas na última semana precede o módulo relativo ao tempo<br />
anterior). Isto significa que todos os trabalhos e tarefas que os inquiridos<br />
afirmaram ter realizado antes da última semana, não forma realizados na<br />
semana de referência. Ou seja, todas as situações de trabalho infantil<br />
verificadas para a semana anterior à aplicação dos questionários são<br />
independentes daquelas em que temos indícios de trabalho infantil antes dessa<br />
semana. Consequentemente, nas situações em que se detectem práticas de<br />
trabalho infantil na semana de referência e no passado, podemos estar em<br />
presença da reprodução de dinâmicas incorporadas, mesmo que assumam<br />
contornos diferentes.<br />
2.9. Notas metodológicas para tratamento estatístico dos dados<br />
A apresentação dos dados do questionário está dividida em cinco pontos: o<br />
primeiro apresenta informação relativa à caracterização sociocultural e<br />
económica dos alunos e dos seus agregados familiares; no segundo ponto<br />
apresentaremos dados relativos à vida escolar dos inquiridos, onde se<br />
encontrarão indicadores de sucesso e insucesso escolar, abandono,<br />
participação na vida escolar, etc.; a terceira parte tratará das questões relativas<br />
à vida fora da escola, onde estão inseridas as questões relativas às rotinas<br />
diárias, às actividades desenvolvidas fora do espaço escolar, e também às<br />
50
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
actividades económicas; no quarto ponto analisaremos as questões relativas às<br />
expectativas de vida; por fim, na quinta parte trataremos as questões que<br />
remetem para os comportamentos desviantes.<br />
O cruzamento de todas estas dimensões com as variáveis que remetem para<br />
as actividades económicas desenvolvidas pelos alunos inquiridos são da maior<br />
importância para perceber quais as condicionantes que mais provavelmente<br />
poderão conduzir a situações de trabalho infantil, bem como as simetrias e<br />
assimetrias entre os alunos que se encontram ou estiveram em situação de<br />
trabalho infantil e os restantes alunos, quer ao nível das expectativas de vida,<br />
quer ao nível do rendimento escolar e grau de envolvimento nos processos de<br />
aprendizagem.<br />
51
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
B. CONTEXTO ENVOLVENTE E FACTORES CONDICIONANTES DO<br />
TRABALHO INFANTIL (demográficos, económicos, sociais e culturais)<br />
1. Apresentação<br />
O presente estudo constitui um primeiro ensaio de tipificação de contextos<br />
sociais associados com o abandono escolar e com a saída precoce do sistema<br />
de ensino. Partindo das formulações teóricas que tendem a associar o<br />
fenómeno do abandono escolar e da saída precoce do sistema de ensino e<br />
formação com factores de ordem social, pretende-se com base na informação<br />
estatística disponível identificar as relações significativas dessa associação e<br />
os padrões de comportamento que tendem a assumir para contextos sociais<br />
regionalmente diferenciados.<br />
Admitindo que o problema do abandono só é compreensível quando analisado<br />
a partir de modelos multifactoriais, considera-se como hipótese o facto de a<br />
combinatória desses factores não ser idêntica em contextos sociais<br />
diferenciados e ser susceptível de tipificação.<br />
Serão considerados dois níveis de análise: um primeiro que poderemos<br />
designar como macro que privilegiará a análise dos indicadores nacionais no<br />
contexto da União Europeia; e um segundo nível que designaremos por mezo<br />
que considerará a informação reportada aos concelhos portugueses.<br />
Sendo a decisão subjacente ao abandono ou à saída precoce do sistema de<br />
ensino e formação resultado de uma opção individual, geralmente<br />
contextualizada pelas relações familiares e escolares, poderemos dizer que a<br />
dimensão mais relevante será a que designaremos por escala micro, a que<br />
tende a privilegiar os comportamentos e as relações do indivíduo com os<br />
grupos e instituições que possam condicionar ou potenciar aquela opção.<br />
Neste sentido, o presente estudo apenas pretende fornecer os referenciais do<br />
problema, privilegiando o que é comum designar-se por análise dos contextos<br />
sociais, remetendo para uma segunda parte do projecto de investigação a<br />
análise à escala micro.<br />
52
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
2. As noções de abandono e saída escolar precoce<br />
A noção de abandono escolar está geralmente identificada com a interrupção<br />
da frequência do sistema de ensino por um período considerado suficiente para<br />
que essa ausência possa transformar-se num afastamento praticamente<br />
irreversível. Porém, esta definição lata é geralmente enquadrada pelo carácter<br />
compulsório do ensino obrigatório e pelas consequências legais do seu não<br />
cumprimento. Nesta perspectiva o abandono escolar reportado à interrupção<br />
prolongada da escolaridade obrigatória e à saída definitiva do sistema de<br />
ensino sem a ter concluído, tende a constituir-se como ilícito,<br />
independentemente da eficácia sancionatória ou da maior ou menor<br />
recriminação social que lhe estiver associada.<br />
Daqui decorre o facto de o conceito de abandono escolar estar intimamente<br />
relacionado com os objectivos de escolarização compulsória e universal que as<br />
instituições de um determinado país possam definir como meta ou como<br />
imperativo, traduzido em norma coerciva. Nesta perspectiva o conceito de<br />
abandono escolar evoluirá de acordo com os sucessivos prolongamentos dos<br />
períodos ou idades de escolarização obrigatória e da maior ou menor<br />
adequação da norma às dinâmicas sociais que sustentam a maior ou menor<br />
procura de educação.<br />
De uma forma geral, nos países que conheceram, desde, pelo menos, o século<br />
XIX, o envolvimento crescente dos respectivos Estado nos processos de<br />
escolarização massificada da população, as sucessivas metas do ensino<br />
obrigatório, sempre a acção normativa precedeu e tentou enquadrar as<br />
dinâmicas sociais escolares e familiares. Da diferença entre o estabelecido na<br />
norma e o socialmente concretizado, resulta o problema do abandono escolar,<br />
aqui entendido como medida da eficácia normativa e institucional na<br />
mobilização social para a concretização dos objectivos de desenvolvimento dos<br />
sistemas de ensino, o mesmo é dizer que o Estado e a sociedade por seu<br />
intermédio, assume a norma e define o desvio.<br />
A legitimação da acção do Estado fora da esfera tradicional do que se designa<br />
de funções de soberania assentou sempre no princípio da salvaguarda e<br />
defesa dos direitos do cidadão, neste caso no que se estabeleceu como<br />
53
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
princípio da igualdade de oportunidades de acesso ao ensino e à escola,<br />
independentemente das suas capacidades económicas e sociais. Essa<br />
legitimação decorre do compromisso socialmente reconhecido que competiria<br />
ao Estado assegurar as condições da oferta de ensino e de acessibilidade a<br />
esse bem público, correspondendo, da parte do cidadão, não só a<br />
concretização de um direito de acesso à educação, mas também o dever de<br />
frequência, desempenho e conclusão de uma escolarização, definida pelo<br />
próprio Estado, a desenvolver ao longo de um determinado período da vida de<br />
uma criança.<br />
Se a mera concretização de um direito remete para o indivíduo e para a sua<br />
família a opção de o exercer na sua plenitude, já a observação do<br />
correspondente dever remete para o Estado a responsabilidade de fazer<br />
respeitar a lei e de prevenir, dissuadir e sancionar o seu não cumprimento.<br />
Se numa lógica estritamente formal o problema do abandono pode ser<br />
colocado nos termos acima, é bem mais complexa a relação do Estado com o<br />
indivíduo e com as famílias tendo em vista a prossecução de objectivos sociais<br />
de mais e melhor escolarização. A observância de um dever cívico decorre não<br />
só da acção coerciva do Estado e das instituições, mas pressupõe também<br />
uma consciência social da sua necessidade e dos valores que lhe estão<br />
subjacentes. É neste contexto que importa invocar a noção de<br />
responsabilidade social que envolve não só a participação do indivíduo, mas<br />
igualmente da família e da própria comunidade em que está inserido, no<br />
sentido de os mobilizar e consciencializar para os benefícios individuais e<br />
sociais de uma escolarização alargada.<br />
Nesta segunda perspectiva, o problema do abandono escolar deixa de ser<br />
apenas uma expressão da (in)eficácia normativa e institucional para se tornar<br />
também a expressão da capacidade de uma determinada sociedade para se<br />
mobilizar para a generalização dos valores que alicerçam essa opção e para<br />
concretizar os direitos e deveres consagrados na norma.<br />
Se estivéssemos numa sociedade em que o acesso à educação, enquanto<br />
bem social, se sujeitasse às mais elementares regras do mercado e ao<br />
exercício da liberdade de escolha, o problema do abandono escolar não se<br />
colocava. Cada indivíduo e cada família “consumiriam” esse bem (ensino /<br />
54
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
educação) na quantidade e qualidade que entendessem como mais adequados<br />
à sua satisfação, capacidade aquisitiva, bem como às suas aspirações e<br />
expectativas.<br />
O problema reside no facto de nem os indivíduos – neste caso crianças e<br />
adolescentes – disporem da autonomia e da informação indispensáveis para<br />
uma opção consciente e racional, nem mesmo as próprias famílias, pela sua<br />
condição social e cultural, poderem concretizar uma escolha livre em condições<br />
de acesso não equitativas. O problema das crianças é parcialmente superado<br />
pela responsabilização dos pais na concretização do dever de educação. Já o<br />
das famílias remete-nos para uma dimensão mais complexa mas que há muito<br />
foi formulada por filósofos, sociólogos ou economistas.<br />
John Stuart Mill foi um dos percursores da tese que considera a educação<br />
como um exemplo das limitações do funcionamento do mercado, atendendo ao<br />
facto de nem sempre o “consumidor” ser um actor suficientemente competente<br />
e informado para avaliar o bem (mercadoria) a adquirir 24 . Nesta como em<br />
outras situações justificar-se-ia uma intervenção do Estado, exercendo de<br />
forma coerciva o cumprimento de um dever, que de alguma forma não<br />
estivesse a ser observado:<br />
Education,…, is one of those things which it is admissible in principle that<br />
a government should provide for the people. The case is one to which<br />
the reasons of the non-interference principle do not necessarily or<br />
universally extend. 25<br />
A excepção teria ainda maior justificação caso se tratasse de grupos sociais<br />
desfavorecidos em que o reconhecimento do valor social da educação e a<br />
capacidade de a assegurar fossem tão reduzidos que a sociedade, através do<br />
Estado, teria a responsabilidade de garantir o acesso a esse bem e de<br />
promover a ruptura da cadeia de dependência entre baixa condição social e<br />
baixo valor social da educação:<br />
24<br />
Hollander, Samuel, The Economics of John Stuart Mill, Oxford, Basil Blackwell, 1985, vol.II, p.<br />
700-703.<br />
25<br />
Mill, John Stuart, Principles of Political Economy with Some of Their Applications to Social<br />
Philosophy, London, Longman, 1865, vol. II, p.577.<br />
55
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Education is not compatible with extreme poverty. It is impossible<br />
effectually to teach an indigent population. And it is difficult to make those<br />
feel the value of comfort who have never enjoyed it, or those appreciate<br />
the wretchedness of a precarious subsistence, who have been made<br />
reckless by always living from hand to mouth. 26<br />
O debate sobre o ensino obrigatório marcou profundamente as sociedades<br />
ocidentais durante o século XIX. Mesmo nos contextos políticos mais liberais a<br />
necessidade do Estado criar condições para que se concretizasse a<br />
universalização da instrução básica foi uma realidade que precedeu o<br />
desenvolvimento posterior do Estado como “educador”, ou seja, para além de<br />
garante de um direito e do correspondente dever, assumiu-se como instituição<br />
responsável por conceptualizar e implementar uma “instrução pública”<br />
acessível, uniforme e obrigatória para todos.<br />
A legitimação da intervenção do Estado na educação processou-se a partir de<br />
três argumentos teóricos distintos:<br />
1. O primeiro, que recupera parte do raciocínio de Stuart Mill, retira a<br />
educação à lógica da escolha racional, em parte por se considerar um<br />
bem público. O sociólogo James Coleman invoca essa característica ao<br />
destacar a dupla função de despesa e investimento que a educação de<br />
uma criança representa para uma família. Enquanto a despesa<br />
efectuada confere uma baixa satisfação imediata, essa mesma despesa<br />
quando entendida como investimento poderá significar no futuro um<br />
elevado retorno apenas usufruído pela criança quando se torna adulto.<br />
Then why, collectively, should members of a society decide to<br />
restrict themselves in ways that bring about lower satisfaction?<br />
The answer probably lies in part in the public good character of<br />
education. The family will not experience many of the costs and<br />
benefits that the child, as an adult, will bring, and thus these costs<br />
and benefits will not influence the family’s current decisions<br />
concerning expenditures. 27<br />
26 Idem, vol. I, p.466.<br />
27 Coleman, James S., Foundations of Social Theory, Cambridge Mss., Belknap Press, 1990,<br />
p.62.<br />
56
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Ainda que os requisitos de “bem público” não sejam inteiramente<br />
satisfeitos, como lembra James Tooley 28 , a legitimação da intervenção<br />
coerciva do Estado neste domínio é justificada pelas limitações do<br />
próprio mercado ao induzir a opção de muitas famílias que tendem a<br />
rejeitar o que são custos certos e imediatos em detrimento de benefícios<br />
incertos e diferidos.<br />
2. O segundo tipo de argumento relança o retorno do investimento<br />
educativo da dimensão individual e familiar para o valor social acrescido<br />
que uma maior e mais generalizada escolarização poderá significar para<br />
o desenvolvimento da sociedade. Ou seja, os pressupostos benefícios<br />
colectivos da escolarização alargada tendem a sobrepor-se aos ganhos<br />
individuais e à liberdade subjacente ao mecanismo da escolha racional.<br />
Neste contexto, o balanço entre o respeito de um direito individual de<br />
escolher a duração e o tipo de escolarização e o dever de contribuir para<br />
o desenvolvimento económico e social da sociedade em que está<br />
integrado, pende claramente para este em detrimento daquele. O<br />
objectivo a atingir, poderá ser diferenciado: desde o “formar cidadãos”<br />
livres e conscientes como preconizavam de forma pioneira Condorcet e<br />
Fichte, ou acumular “capital humano”, como preconizam as modernas<br />
teorias do desenvolvimento. O propósito do recurso à acção coerciva do<br />
Estado sempre se fundou sobre o primado do valor social da educação<br />
em detrimento da lógica da escolha racional ou a do retorno individual<br />
do investimento educativo.<br />
3. O terceiro argumento remete para os fundamentos do princípio da<br />
igualdade de oportunidades, especialmente a aplicada à educação<br />
enquanto instância de socialização e promotora de oportunidades de<br />
mobilidade social ascendente. A profusa investigação que se seguiu à<br />
publicação, em 1966, do chamado <strong>Relatório</strong> Coleman 29 sobre a<br />
igualdade de oportunidades educativas nos Estados Unidos, relançou o<br />
debate em torno do papel do Estado no combate à descriminação e às<br />
28 Tooley, James, The Changing Role of Government in Education, Encyclopaedia of Education,<br />
2002, pp. 2-4, http://www.ncl.ac.uk/egwest/pdfs/Encyclopdia%20of%20education.pdf .<br />
29 Coleman, J.S., et al., Equality of educational opportunity, Washington, US Government<br />
Printing Office, 1966. Ver ainda Gamoran, Adam e Long, Daniel A., Equality of Educational<br />
Opportunity: a 40-Year Retrospective, WCER Working-paper, n.º 2006-9, December 2006.<br />
57
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
desigualdades sociais através da escolarização. O problema que então<br />
se colocou já não se circunscrevia à igualdade de acesso à educação,<br />
mas à igualdade de resultados para alunos provenientes de meios<br />
sociais diferenciados:<br />
A fifth type of inequality may be defined in terms of consequences<br />
of the school for individuals of unequal backgrounds and abilities.<br />
In this definition, equality of educational opportunity is equality of<br />
results given different individual inputs. 30<br />
Ou seja, ao Estado como garante da igualdade de acesso à educação<br />
apunha-se a responsabilidade desse mesmo Estado e da Escola pública<br />
por ele patrocinada de esbater as desigualdades sociais expressas pela<br />
diferença de capital familiar, tornando a escola um instrumento de<br />
integração e de nivelamento social. A evidência do peso decisivo da<br />
origem social dos alunos no seu sucesso escolar e no nível de<br />
escolarização atingido conferiu ao Estado e à Escola uma<br />
responsabilidade acrescida, valorizando assim o problema do combate<br />
ao abandono e ao insucesso escolares.<br />
A acção normativa do Estado não se restringe, entretanto, ao quadro legal do<br />
sistema educativo, antes tende a complementar a sua acção através da<br />
regulação do acesso ao mercado de trabalho de que o combate ao trabalho<br />
infantil é a expressão mais visível.<br />
Desde muito cedo foi perceptível o facto de o principal obstáculo à<br />
universalização do ensino obrigatório ser a inserção precoce no mercado de<br />
trabalho, quantas vezes precedida por um progressivo envolvimento e<br />
aprendizagem no seio do grupo doméstico.<br />
Foi neste contexto que a acção conjunta de combate ao trabalho infantil no<br />
meio produtivo foi geralmente associado a orientações cada vez mais<br />
impositivas de prolongamento da frequência escolar. Esta associação entre<br />
abandono escolar e inserção no mercado de trabalho na estruturação das<br />
políticas públicas mais não reflectia que o fundamental da opção colocada aos<br />
30 Coleman (1996), Gamoran et al. (2006), p. 18.<br />
58
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
indivíduos e às famílias entre um ano adicional de escolarização e um ano de<br />
trabalho efectivo, melhor ou pior remunerado. Como teremos oportunidade de<br />
desenvolver mais adiante essa opção não se limita a um mero “trade off” entre<br />
dois percursos ocupacionais, porém ele constitui-se, na maior parte dos casos,<br />
como um ponto de partida inevitável.<br />
Por último, importa identificar como a noção de abandono escolar foi<br />
operacionalizada, nomeadamente quer em termos estatísticos quer analíticos.<br />
Oficialmente o conceito estatístico de abandono escolar é referenciado à saída<br />
do sistema de ensino antes da conclusão da escolaridade obrigatória, dentro<br />
dos limites etários previstos na lei. A medida é definida por uma taxa calculada<br />
a partir do total de indivíduos, no momento censitário, com 10-15 anos que não<br />
concluíram o 3º ciclo do Ensino Básico e não se encontram a frequentar a<br />
escola, por cada 100 indivíduos do mesmo grupo etário. Como é evidente, a<br />
medida incide sobre o conjunto dos indivíduos que não concluíram a<br />
escolaridade obrigatória, estando ainda em idade de frequência dessa mesma<br />
escolaridade, ou seja, a idade a partir da qual a não frequência escolar deixa<br />
de constituir um ilícito.<br />
Em termos internacionais, os indicadores estatísticos relativos à frequência<br />
escolar tendem a descontextualizar o abandono escolar da escolaridade<br />
obrigatória, associando-o à não obtenção de um diploma de nível secundário.<br />
Mesmo o conceito anglo-saxónico de “dropout” que mais se identifica com o de<br />
abandono tende a ser aplicado para os diferentes níveis de qualificação e de<br />
obtenção de um diploma, independentemente de saber qual o requisito mínimo<br />
obrigatório. É nesta perspectiva que surge o conceito estatístico de saída<br />
escolar precoce (correspondente ao indicador internacional de “early school<br />
leavers”) que identifica a percentagem da população do grupo etário 18-24 que<br />
tendo concluído o primeiro ciclo do ensino secundário (“lower secondary”<br />
correspondente ao 3.º ciclo e à escolaridade obrigatória em Portugal) não se<br />
encontra a frequentar um curso de ensino ou formação profissional 31 .<br />
31 Não deixa de ser interessante a diferença registada entre o grupo etário de referência para o<br />
Eurostat (18-24 anos) e para a OCDE (20-24 anos), traduzindo diferentes preocupações<br />
quanto ao fenómeno a medir, mas também quanto à compatibilização conceptual e de<br />
desenvolvimento educativo entre os diferentes países membros de cada organização.<br />
59
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
A utilização cada vez mais generalizada do conceito de saída escolar precoce<br />
reflecte bem a preocupação crescente com os problemas da transição da<br />
escola para o mercado de trabalho e de avaliação comparativa dos níveis de<br />
escolarização e menos intensa – porque já mais circunscrita – relativamente ao<br />
problema da não conclusão da escolaridade obrigatória, traduzida pela taxa de<br />
abandono escolar.<br />
3. Os números do abandono e da saída escolar precoce para Portugal<br />
Só muito recentemente se publicaram os indicadores de abandono e saída<br />
escolar precoce para Portugal. A iniciativa partiu do Ministério da Educação<br />
que em 2003 divulgou uma síntese elaborada por Maria João Valente Rosa<br />
que calculou as respectivas taxas a partir dos dados dos Recenseamentos da<br />
População de 1991 e 2001.<br />
Os valores calculados sobre a informação dos dois recenseamentos constituem<br />
os indicadores mais seguros que até ao presente se calcularam. Da<br />
comparação entre os dois períodos retiram-se tendências cuja leitura permite<br />
aferir a profunda mudança operada durante a década de 90, não obstante os<br />
níveis pouco animadores que a comparação internacional deixa revelar.<br />
60
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
QUADRO 1: População até aos 15 anos sem o 9.º ano de escolaridade<br />
Grupos<br />
etários<br />
completo e sem frequência escolar (Continente)<br />
Número de<br />
abandonos<br />
1991 e 2001<br />
População na idade Taxa de abandono<br />
1991 2001 1991 2001 1991 2001<br />
10 anos 4.803 23 136.943 106.693 3,51 0,02<br />
11 anos 5.907 1.538 140.709 106.675 4,20 1,44<br />
12 anos 7.145 1.842 143.506 108.082 4,98 1,70<br />
13 anos 15.097 2.345 153.223 108.904 9,85 2,15<br />
14 anos 31.372 3.823 160.898 113.142 19,50 3,38<br />
15 anos 48.185 8.303 164.740 116.662 29,25 7,12<br />
Total 10-<br />
15 anos<br />
112.509 17.874 900.019 660.158 12,50 2,71<br />
Fonte: XIIIº e XIVº Recenseamento Geral da População, INE.<br />
61
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
A evolução registada torna-se mais evidente se representarmos graficamente<br />
as taxas de abandono por cada grupo etário:<br />
Taxa de abandono escolar %<br />
35<br />
30<br />
25<br />
20<br />
15<br />
10<br />
5<br />
0<br />
GRÁFICO 1: Portugal Continente - Taxas de abandono por idades, 1991-2001<br />
1991 2001<br />
10 anos 11 anos 12 anos 13 anos 14 anos 15 anos<br />
As reduções são sensíveis em todos os grupos etários considerados, mas<br />
tornam-se mais evidentes nas três idades correspondentes ao 3.º ciclo do<br />
ensino básico. A interpretação destes resultados não deixa grandes dúvidas: o<br />
prolongamento da escolaridade obrigatória do 6.º para o 9.º ano que foi<br />
aprovado pela Lei de Bases do Sistema Educativo (LBSE,1986), traduziu-se<br />
numa quebra da taxa de abandono escolar de 12,50% para 2,71%, quase dez<br />
pontos percentuais numa década.<br />
Aparentemente, o aumento da duração do ensino obrigatório teve efeitos<br />
positivos na frequência escolar, facto que reflecte não só a acção do Estado no<br />
apetrechamento e cobertura da rede escolar e dos variados recursos<br />
necessários, mas também na resposta dada pelas famílias à elevação das<br />
expectativas de escolarização que esse aumento do ensino obrigatório<br />
representou. Mesmo considerando a taxa de abandono registada para 2001<br />
(2,71%) como atendível – mas claramente residual – é razoável considerar<br />
que, quer do lado da procura, quer do lado da oferta, o objectivo enunciado<br />
62<br />
Idades<br />
pela LBSE teve um nível de prossecução elevado.<br />
Trata-se de um caso evidente de uma procura de educação que foi, em parte,<br />
induzida pela oferta, situação que encontra paralelo em alguns casos mais
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
tradicionais de desenvolvimento dos sistemas educativos sob forte mobilização<br />
de recursos por parte do Estado 32<br />
Será importante realçar o facto de esta quebra nas taxas de abandono ser<br />
paralela a um movimento de diminuição da população escolar o que facilitou<br />
essa boa resposta por parte da oferta e da procura. Se atendermos aos valores<br />
absolutos e às variações percentuais listados no Quadro 1, concluiremos que<br />
em todos os grupos etários a população escolar registou quebras uniformes.<br />
QUADRO 2: População a frequentar o ensino básico, segundo os ciclos<br />
(Continente) – 1991 e 2001<br />
1991 2001 Variação (%) Diferença<br />
1º ciclo 610.593 476.633 -22 -133.960<br />
2º ciclo 332.378 259.291 -22 -73.087<br />
3º ciclo 423.362 326.959 -23 -96.403<br />
Fonte: XIIIº e XIVº Recenseamento Geral da População, INE.<br />
O novo ensino básico perdeu cerca de 300 mil alunos face ao registado dez<br />
anos antes, mas fez subir a taxa de conclusão da escolaridade básica de 9<br />
anos, da população com 15 a 19 anos, dos 35% registados em 1991 para os<br />
67%, dez anos depois.<br />
De destacar ainda a persistência das maiores taxas de abandono escolar nas<br />
idades de 14 e 15 anos o que coloca como factores associados dois problemas<br />
que vale a pena abordar: o do insucesso escolar e o da inserção precoce no<br />
mercado de trabalho.<br />
As elevadas taxas de insucesso escolar são geralmente associadas ao<br />
abandono. O senso comum consagrou a relação entre as duas variáveis, em<br />
muitos casos, como uma relação de causa e efeito. Ou seja, o insucesso<br />
precederia o abandono e a sua acumulação “empurraria” os alunos para fora<br />
do sistema de ensino.<br />
32 Grácio, Sérgio, Dinâmicas de Escolarização e das Oportunidades Individuais, Lisboa, Educa,<br />
1997, pp. 29-31.<br />
63
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
O efeito de selecção social que estes dois fenómenos poderão traduzir<br />
concentrar-se-ia numa autêntica cadeia de discriminação que começaria na<br />
origem social dos alunos, passaria por trajectos escolares de sucesso ou<br />
insucesso e acabaria na exclusão progressiva dos socialmente “menos<br />
favorecidos”. O sistema de ensino funcionaria assim como reprodutor das<br />
desigualdades sociais e a sua organização e propósito seriam claramente<br />
identificados com a promoção dos mais apetrechados culturalmente e com a<br />
exclusão dos detentores de um menor capital familiar.<br />
A existência de uma associação estreita entre os dois fenómenos é admissível.<br />
Porém a relação causal apresenta-se muito duvidosa. A análise das taxas de<br />
retenção deixa revelar que os factores de insucesso tendem a ser múltiplos e<br />
com uma distribuição ao longo dos diferentes anos de escolaridade que não<br />
reporta exclusivamente a factores sociais, quer a montante quer a jusante da<br />
escolarização.<br />
64
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
QUADRO 3: Taxas de Retenção nos Ensinos Básico e Secundário (Total, Ensino Público e Privado)<br />
Ano lectivo 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º 10º 11º 12º<br />
1994/1995 15,9 9,2 15,8 12,5 11,7 19,4 16,6 13,6 27,9 9,9 29,6<br />
1995/1996 16,6 8,7 14,6 14,9 11,7 21,3 18,2 15,3 39,7 19,2 37,5<br />
1996/1997 19,2 9,4 14,6 16,0 13,9 22,2 19,1 19,6 38,5 19,5 48,9<br />
1997/1998 17,0 9,3 13,1 14,2 13,4 21,7 16,8 16,2 35,8 20,4 49,2<br />
1998/1999 16,4 8,4 11,8 14,0 13,0 20,8 16,4 15,4 36,4 20,3 49,7<br />
1999/2000 15,8 7,8 10,7 13,7 12,5 20,1 16,3 14,8 36,9 20,8 49,8<br />
2000/2001 14,8 8,7 10,2 12,6 12,8 21,2 17,2 15,8 39,4 24,4 52,5<br />
2001/2002 14,9 8,1 9,8 15,1 16,1 22,3 18,0 16,7 38,9 21,9 48,8<br />
2002/2003 13,8 7,5 8,4 14,9 14,6 24,4 17,0 15,3 34,8 19,2 45,3<br />
2003/2004 12,3 5,8 8,0 14,0 13,9 22,8 16,4 13,1 33,4 17,8 48,7<br />
Média 15,7 8,3 11,7 14,2 13,4 21,6 17,2 15,6 36,2 19,3 46,0<br />
Fonte: Ministério da Educação.<br />
65
%<br />
50<br />
45<br />
40<br />
35<br />
30<br />
25<br />
20<br />
15<br />
10<br />
5<br />
0<br />
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
GRÁFICO 2: Média das Taxas de Retenção nos 12 anos de escolaridade,<br />
1994-2003<br />
1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º 10º 11º 12º<br />
Anos<br />
As duas principais características no comportamento das taxas de retenção ao longo<br />
dos doze anos de escolaridade são:<br />
1. As taxas tendem a aumentar à medida que avançamos nos níveis de<br />
escolaridade.<br />
2. Os anos a seguir à transição de ciclo apresentam taxas acima da tendência 33 .<br />
Destas duas evidências poderemos retirar a ideia de que há sintomaticamente<br />
razões do insucesso que decorrem da organização do sistema. Quer a mudança de<br />
ciclo, quer a mudança de escola, são factores propícios ao insucesso e à<br />
consequente retenção 34 . É este tipo de distribuição que deve ser tida em conta e que<br />
nos levanta algumas dúvidas sobre a tese corrente que relaciona mecânica e quase<br />
exclusivamente insucesso com abandono.<br />
Em primeiro lugar, importa questionar a neutralidade selectiva do sistema de ensino.<br />
Por mais que o discurso político e educativo se esforce por afirmar a escola como<br />
33 Lembre-se que o valor elevado registado para o 2.º ano de escolaridade se deve ao facto de não<br />
ser permitida retenção dos alunos no primeiro. Da mesma forma torna-se compreensível o facto de o<br />
12.º ano, porque ano de conclusão, apresentar taxas de retenção mais elevadas.<br />
34 Considere-se a abordagem privilegiando a análise dos trajectos escolares ensaiada por Margarida<br />
Chagas Lopes, “Transições e Pontos Críticos das Trajectórias de Escolaridade: Estudo de Caso em<br />
Seis Escolas Secundárias da Grande Lisboa”, in Revista Interacções, n.º 1 (2005), pp. 55-75. Veja-se<br />
ainda na mesma publicação o estudo de Pedro Abrantes, “As Transições entre Ciclos de Ensino:<br />
entre Problema Social e Objecto Sociológico”, pp. 25-53.<br />
66
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
instrumento de promoção do princípio da igualdade de oportunidades, é geralmente<br />
reconhecido que não está concebida nem é a sua cultura encontrar os instrumentos<br />
que possam concretizar esse princípio. O que é verificável, não só em Portugal,<br />
como em tantos outros países que se confrontaram com a experiência, é que o<br />
processo de massificação rápida do acesso à escolarização é geralmente<br />
acompanhado de uma desqualificação não só dos diplomas, mas também da própria<br />
qualidade de ensino. Não foi pela “democratização” do sistema nem pela profissão<br />
de fé numa educação para a igualdade que se superaram as elevadas taxas de<br />
insucesso e de abandono escolares. Há factores de insucesso e de abandono que<br />
vão para além da lógica da origem social dos alunos ou da transição mais ou menos<br />
precoce para o mercado trabalho. Muitos desses factores são inerentes ao próprio<br />
sistema, à sua organização, à sua cultura, às expectativas (ou falta delas) que os<br />
agentes educativos têm da sua acção e das consequências do seu trabalho.<br />
Nesta perspectiva, importaria avaliar quanto do insucesso se deve à organização do<br />
sistema – desde a duração e sucessão dos ciclos à organização da rede escolar, da<br />
tipologia das escolas às mudanças sucessivas de ambiente escolar, dos curricula à<br />
formação pedagógica dos professores – e quanto do abandono se refere a uma<br />
clara inadequação aos objectivos e expectativas dos alunos, das suas famílias e dos<br />
interesses do próprio país. É natural que num sistema mal organizado sejam os<br />
alunos provenientes dos grupos sociais de menores rendimentos e mais reduzido<br />
capital cultural, a revelar maiores dificuldades. Confundir a consequência com a<br />
causa poderá ser um erro irreparável.<br />
Em segundo lugar, a tese de que o abandono é consequência do insucesso escolar<br />
é tão admissível quanto o seu inverso: o insucesso poderá ser uma antecipação da<br />
decisão de abandonar. Esse processo de antecipação decorre, em muitos casos de<br />
uma baixa expectativa quanto à capacidade e, quantas vezes, da utilidade de<br />
conclusão da escolaridade obrigatória. A partir da altura em que a esperança ou<br />
interesse em atingir um determinado nível de escolarização são drasticamente<br />
reduzidos, é natural que a capacidade de resiliência e de empenho escolar sejam<br />
também reduzidos 35 .<br />
35 Canavarro, José Manuel, Para a Compreensão do Abandono Escolar, Lisboa, Texto Editores,<br />
2006.<br />
67
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Quando falamos de expectativas não nos restringimos só às dos alunos: como é<br />
natural as baixas expectativas dos pais, do meio familiar ou mesmo da escola<br />
completam esse ambiente.<br />
Nestas situações, a consequência imediata da opção pode não ser o abandono. A<br />
idade legal para o exercício de uma actividade no mercado de trabalho constitui um<br />
dissuasor do abandono, mas não consegue ser um dissuasor do insucesso que<br />
continua a ser uma expressão de uma desistência já assumida.<br />
Esta lógica é tanto mais aceitável quanto percebermos o facto de Portugal ser até há<br />
bem poucos anos um país com elevadas taxas de empregabilidade de jovens e<br />
activos desqualificados. Decorrente da estrutura produtiva dominante nas últimas<br />
quatro décadas, assente em baixos salários e em mão-de-obra desqualificada, a<br />
pressão da oferta deste tipo de emprego constitui um travão ao aumento da<br />
escolarização, especialmente porque faz diminuir o retorno marginal por cada ano<br />
adicional de escolaridade.<br />
Sem querer desviar o foco das origens sociais do aluno e da respectiva família, nem<br />
do papel da escola quando “promotora de insucesso”, a lógica das expectativas de<br />
inserção e da escolha “racional” entre prolongamento da escolarização versus<br />
exercício de actividade remunerada, não deve nem pode ser menosprezada.<br />
A análise comparada do caso português com os dos seus parceiros europeus ajuda-<br />
nos a compreender um pouco mais estas relações. Para o efeito recorreremos ao<br />
indicador mais utilizado em estudos internacionais. Trata-se da Saída Escolar<br />
Precoce (SEP), conceito que atrás já enunciámos, medida – de acordo com a<br />
definição utilizada pelo Eurostat – pela percentagem da população com 18-24 anos<br />
com pelo menos o 3.º ciclo de escolaridade e que não frequentam qualquer curso de<br />
educação ou formação profissional 36 .<br />
36 Impõe-se uma precisão relativamente à fonte primária da informação de maneira a evitar leituras<br />
que se poderão considerar abusivas. O estudo já citado do Ministério da Educação da autoria de<br />
Maria João Valente Rosa, obtém o valor de SEP a partir dos dados do Recenseamento Geral da<br />
População. Os valores publicados pelo Eurostat baseiam-se nas amostras nacionais trimestrais que<br />
as entidades estatísticas oficiais fornecem para a elaboração das Labour Force Statistics. Ainda que<br />
as diferenças sejam insignificantes para os anos mais recentes, quando trabalhamos com valores<br />
reportados a períodos mais afastados detectam-se pequenas diferenças. Recorde-se ainda que o<br />
indicador correspondente utilizado pelos serviços de estatística da OCDE e pelos serviços da<br />
Comissão Europeia encarregados de acompanhar os padrões de referência dos Objectivos da<br />
68
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
A posição de Portugal conta-se entre os países europeus que mais elevadas taxas<br />
de SEP apresentam, como se poderá constatar pelo GRÁFICO 3. As duas medidas<br />
referem-se à média registada nos dez anos compreendidos entre 1997 e 2006, bem<br />
como ao respectivo valor de 2006, como último ano completo para que dispomos de<br />
informação. O confronto entre as duas medidas dá igualmente uma aproximação da<br />
dinâmica de redução ou aumento deste indicador face à média registada na última<br />
década.<br />
60,00<br />
50,00<br />
40,00<br />
30,00<br />
20,00<br />
10,00<br />
0,00<br />
GRÁFICO 3: Saída Escolar Precoce (ESL)<br />
ESL Média 1997-2006 ESL 2006<br />
si cz sk pl hr no fi se at dk lt be ee de hu fr ie nl uk lv gr lu cy bg ro it es pt mt tr<br />
É patente a existência de um padrão regional que se poderá identificar com os<br />
países da Europa mediterrânica a que se poderão juntar a Bulgária e a Roménia,<br />
bem como Luxemburgo a cujos valores não será estranha a presença de fortes<br />
comunidades de imigrantes meridionais. Neste grupo associam-se os países<br />
europeus com maior saída escolar precoce.<br />
Portugal apresenta uma das taxas mais elevadas, senso apenas ultrapassado por<br />
Malta e Turquia. Correspondem estes valores ao facto de Portugal apresentar de há<br />
muito uma das mais baixas taxas de escolarização do ensino secundário entre o<br />
mesmo conjunto de países.<br />
Estratégia de Lisboa, reportam-se a um grupo etário ligeiramente diferente, dos 20 aos 24 anos e não<br />
dos 18 aos 24 como aqui utilizamos.<br />
69
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
A evolução deste indicador reflecte bem o grau de atraso em que o país se encontra,<br />
não obstante as manifestas melhorias registadas, pelo menos, nos últimos quinze<br />
anos. A comparação dos valores da SEP, calculados sobre os dados dos<br />
recenseamentos populacionais, permite avaliar o que pode representar uma quebra<br />
de 63,7% de SEP, registada em 1991, para 44,8% dez anos depois.<br />
Esta diminuição da saída precoce foi acompanhada por um aumento das taxas reais<br />
de escolarização do ensino secundário. Nota-se, entretanto, um ritmo mais<br />
acentuado dessa escolarização e de alguma estabilização em torno dos 60%, a<br />
partir daquela data.<br />
65,0<br />
60,0<br />
55,0<br />
50,0<br />
45,0<br />
40,0<br />
35,0<br />
30,0<br />
GRÁFICO 4: Taxa Real de Escolarização do Ensino Secundário<br />
Anos Lectivos de 1990/91 - 2004/05<br />
1990/91 1991/92 1992/93 1993/94 1994/95 1995/96 1996/97 1997/98 1998/99 1999/00 2000/01 2001/02 2002/03 2003/04 2004/05<br />
Fonte: Ministério da Educação, GIASE, Os números da educação.<br />
O confronto destes dois indicadores permite agora compreender a dinâmica da<br />
evolução anual e trimestral da SEP medida pelo Inquérito ao Emprego, bem como a<br />
relação entre o fenómeno do abandono e da saída precoce com a conjuntura do<br />
mercado de trabalho, nomeadamente a maior ou menor procura de trabalho não<br />
qualificado.<br />
Para o efeito representámos no GRÁFICO 5 as taxas de SEP desde 1992 bem<br />
como as taxas anuais de desemprego da população com idades inferiores aos 25<br />
anos.<br />
70
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
GRÁFICO 5: Desemprego Jovem e Saída Escolar Precoce<br />
SEP TX Desemprego
SEP<br />
50,0<br />
48,0<br />
46,0<br />
44,0<br />
42,0<br />
40,0<br />
38,0<br />
36,0<br />
34,0<br />
32,0<br />
30,0<br />
1ºT 1998<br />
1ºT 1999<br />
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
1ºT 2000<br />
QUADRO 5A: Saída Escolar Precoce e Desemprego dos Jovens, em Portugal 1998-2007<br />
Dados Trimestrais Fonte: INE<br />
1ºT 2001<br />
SEP Desemp 15-24<br />
1ºT 2002<br />
1ºT 2003<br />
Fonte: INE<br />
Estes números revelam ainda que a pressão do mercado de trabalho sobre a<br />
escolarização não deve ser menosprezada. Arrisco mesmo a afirmar que o efeito da<br />
diminuição da procura de trabalho sobre a Saída Escolar Precoce e, por<br />
conseguinte, sobre os níveis de escolarização secundária, é muito mais relevante<br />
que os efeitos de qualquer política educativa visando diminuir os níveis de<br />
abandono.<br />
Por outro lado, o facto de nos últimos anos se assistir a uma quebra aparentemente<br />
sustentada da SEP não garante que essa tendência não possa ser invertida como<br />
consequência de um relançamento do crescimento económico e da oferta de<br />
trabalho. O que está a acontecer na Espanha ou na Suécia, países onde se nota<br />
uma inversão na tendência descendente da SEP, não é mais do que o resultado das<br />
relativamente elevadas taxas de crescimento económico com o consequente<br />
aumento da procura de trabalho e diminuição da escolarização dos jovens.<br />
No caso Português, a situação é ainda agravada pelos baixos níveis de<br />
escolarização da população em que o ensino secundário nunca mereceu uma<br />
valorização social. O facto de o actual ensino secundário ser socialmente<br />
72<br />
1ºT 2004<br />
1ºT 2005<br />
1ºT 2006<br />
1ºT 2007<br />
19<br />
17<br />
15<br />
13<br />
11<br />
9<br />
7<br />
5<br />
TXDESEMP %
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
percepcionado como um ciclo propedêutico do ensino superior conduz às elevadas<br />
taxas de SEP e de elevada retenção e insucesso escolares naqueles anos.<br />
A comparação com o registado em outros países revela-nos o nível de atraso<br />
educativo e a reduzida dinâmica da escolarização secundária, conforme se pode<br />
analisar a partir da leitura do GRÁFICO 6. Portugal sendo dos países com os mais<br />
baixos níveis de escolarização secundária é ainda daqueles, entre os que partem<br />
das posições mais desfavoráveis, o que apresenta menor dinâmica de<br />
escolarização, expressa pelo diferencial entre os sucessivos grupos etários.<br />
O caso da Coreia do Sul é o que apresenta maior dinâmica de escolarização<br />
secundária e, mais perto de nós, os casos da Irlanda, da Grécia, da Itália e da<br />
Espanha, revelam que tendo partido de níveis mais próximos do nosso, registam<br />
mudanças intergeracionais mais acentuadas.<br />
120<br />
100<br />
80<br />
60<br />
40<br />
20<br />
0<br />
United States<br />
Norway<br />
Slovak Republic<br />
Czech Republic<br />
Japan<br />
GRÁFICO 6: Percentagem da População que concluiu o Ensino Secundário,<br />
por Grupos Etários, Países da OCDE, em 2003.<br />
Canada<br />
Germany<br />
Sweden<br />
Denmark<br />
Austria<br />
New Zealand<br />
25-34 35-44 45-54 55-64<br />
Finland<br />
Hungary<br />
Korea<br />
Switzerland<br />
Netherlands<br />
73<br />
United Kingdom<br />
France<br />
Fonte: EUROSTAT<br />
Apresentando Portugal uma das taxas de escolarização secundária mais baixas<br />
entre os países europeus e os países membros da OCDE, não deixa de merecer<br />
destaque o facto de os diferenciais entre gerações ser comparativamente muito<br />
reduzido. Uma das hipóteses que poderá justificar esta relativa falta de dinamismo<br />
no desenvolvimento educativo português é a de o retorno pelo acesso a empregos<br />
Australia<br />
Belgium<br />
Ireland<br />
Luxembourg<br />
Iceland<br />
Greece<br />
Poland<br />
Italy<br />
Spain<br />
Turkey<br />
Portugal<br />
Mexico
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
melhor remunerados não ser suficientemente compensador que motive um aumento<br />
da procura nos níveis mais elevados de educação.<br />
Ora, dos trabalhos desenvolvidos, entre outros, por Pedro Telhado Pereira e Pedro<br />
Silva Martins 37 , poder-se-á concluir que essa hipótese não tem acolhimento:<br />
Portugal é um dos países com maior taxa de retorno marginal da educação entre os<br />
países ocidentais mais desenvolvidos. Para uma média que ronda os 8%, Portugal<br />
apresenta uma taxa de retorno marginal de 12,6%, a mais alta no conjunto dos16<br />
países representados.<br />
Entretanto é necessário considerar que esse retorno marginal não é idêntico para os<br />
diferentes níveis de escolarização. Considerando as taxas de retorno diferencial<br />
entre os vários ciclos de ensino, Pedro Telhado Pereira e Pedro Silva Martins<br />
demonstram que para os anos 1982, 1991 e 1995 elas são sempre positivas,<br />
claramente superiores à média para as formações superiores, mas inferiores a essa<br />
média na comparação entre o nível secundário e a escolaridade obrigatória.<br />
20%<br />
18%<br />
16%<br />
14%<br />
12%<br />
10%<br />
8%<br />
6%<br />
4%<br />
2%<br />
0%<br />
Graph 8 - Average Marginal Returns to School Degrees , 1982, 1991 and 1998<br />
2nd/1st cycles 3rd/2nd cycles Sec/3rd cycle Bachar/Sec. Licenc/Sec.<br />
School Degrees Compared<br />
1982 1991 1998<br />
37 Pereita, P. T. e Martins, P. S. , Portugal, in C. Harmon, I. Walker and N. W. Nielsen (editors),<br />
Education and Earnings in Europe – A Cross Country Analysis of Returns to Education, Edward Elgar,<br />
Cheltenham, 2001. Um documento de trabalho apresentado numa conferência promovida pelo Banco<br />
de Portugal sobre esta problemática está disponível em<br />
http://www.uma.pt/Privado/ppereira/bportugal.doc .<br />
74
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Fonte: Extraída de Pedro Telhado Pereira e Pedro Silva Martins, “Education and Earnings in Portugal”, p.12.<br />
Ou seja, comparando os sucessivos graus de escolarização deduz-se que o retorno<br />
marginal da educação é positivo e sempre superior a 6%, mas enquanto as<br />
formações superiores apresentam os ganhos mais consideráveis e com sentido<br />
crescente, a conclusão do ensino secundário é, em termos relativos, a menos<br />
valorizada no mercado de trabalho.<br />
Esta conclusão está em linha com o que atrás identificámos como fraco dinamismo e<br />
pouca atractabilidade da escolarização de nível secundário em Portugal. O seu valor<br />
social só é significativo como requisito de acesso ao ensino superior, esse sim, o<br />
que proporciona maior retorno marginal entre os diferentes graus de ensino. Deduz-<br />
se ainda do que atrás enunciámos que qualquer orientação visando um aumento da<br />
escolarização secundária em Portugal, ela terá de vir mais do lado da oferta do que<br />
da procura.<br />
É nesta perspectiva que importa destacar o papel potencial que o Estado e as<br />
empresas poderão desempenhar na valorização social das formações secundárias<br />
com os consequentes efeitos na diminuição do abandono e da saída escolar<br />
precoce.<br />
Uma característica particular da saída escolar precoce que não é exclusiva de<br />
Portugal é o diferencial entre o grupo masculino e o feminino. Na esmagadora<br />
maioria dos países europeus a SEP masculina é superior à feminina e nesta<br />
particular característica Portugal não foge à regra. Considerando período de 1992 a<br />
2006 a evolução comparada dos indicadores revela algumas oscilações, sem que se<br />
altere o padrão.<br />
75
60<br />
55<br />
50<br />
45<br />
40<br />
35<br />
30<br />
25<br />
20<br />
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Saída Escolar Precoce, Portugal 1992-2006, total e por sexo<br />
SEPTotal SEPM SEPH<br />
1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006<br />
Fonte: INE<br />
O quase paralelismo no comportamento das curvas não deixa de revelar que o<br />
diferencial se acentuou um pouco nos últimos anos devido, eventualmente, a um<br />
alteração da conjuntura económica e de uma maior dificuldade de acesso ao<br />
mercado de trabalho.<br />
Uma tentativa de explicação deste diferencial não cabe neste nível de análise, mas<br />
não será decerto impertinente considerar os diferentes papéis sociais, a diferença<br />
nas taxas de actividade feminina e uma maior resiliência feminina no processo de<br />
escolarização, como factores a serem ponderados numa futura investigação. O jogo<br />
de expectativas de escolarização diferenciadas entre os dois sexos bem como a<br />
diferente capacidade de inserção no mercado de trabalho continuam a constituir um<br />
quadro de referência não negligenciável.<br />
Num estudo recente de dois investigadores do Departamento de Economia da<br />
OCDE 38 , o retrato traçado não podia ser mais esclarecedor:<br />
The traditional bias of upper secondary towards general education - intended to lead<br />
to tertiary education – has lowered the added value of completing upper secondary<br />
education for those who did not want to go on to university and did not find training<br />
opportunities matching their needs. Moreover, although measured returns to upper<br />
38 Guichard, Stéphanie and Larre, Bénédicte, Enhancing Portugal’s Human Capital, OCDE,<br />
Economics Department Working Papers n.º 505, de 28 de Julho de 2006, pp. 8-9.<br />
76
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
secondary education are in line with the rest of the EU, in an economy that until<br />
recently created enough unskilled jobs, education was not highly valued by the labour<br />
market at the beginning of the career. Some surveys show that completing upper<br />
secondary would not have necessarily helped young workers to get better jobs right<br />
after they left school. On the other hand, returns to education tend to increase over<br />
the professional career as a better initial education gives better chances of career<br />
progression, notably via a strong ability to benefit from on-the-job training.5 The often<br />
uneducated and poor parents and their children might be short-sighted and not be<br />
fully aware of all the long-term benefits to continuing education and focus only on the<br />
easy entrance in the labour market. They might not fully appreciate either the<br />
potential benefits of more education or the likelihood that, in the new global<br />
environment, labour prospects for the less educated in Portugal will deteriorate<br />
significantly in coming years.<br />
Todos os indicadores convergem para o baixo valor social da educação como factor<br />
preponderante nas opções por uma inserção precoce no mercado de trabalho e<br />
pelas elevadas taxas de abandono, saída precoce e insucesso escolar em Portugal.<br />
Este é um cenário que justifica plenamente o recurso excepcional à acção do Estado<br />
como regulador e promotor de uma escolarização mais alargada, ainda que de<br />
forma coerciva.<br />
Mas o que estes indicadores sugerem também é a inadequação do próprio sistema<br />
de ensino, em especial na sua organização curricular, a esse objectivo de maior<br />
escolarização.<br />
Sem negar a importância de factores que se relacionam com o papel do aluno, a sua<br />
origem social, os contextos comunitários e escolares, o que esta abordagem permite<br />
identificar como hipótese de trabalho é que existe uma margem suficientemente<br />
considerável de ganhos de eficiência do sistema de ensino que, a ser utilizada,<br />
permitiriam uma qualificação efectiva dos níveis de adequação desse sistema aos<br />
objectivos de desenvolvimento económico e tecnológico que têm vindo a ser<br />
enunciados nas últimas décadas pela maior parte dos actores mais destacados da<br />
sociedade portuguesa.<br />
77
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Por último e ao contrário do que parece ser o senso comum, o abandono escolar<br />
parece ajustar-se menos ao trajecto escolar passado do aluno e muito mais às<br />
expectativas e objectivos futuros que os orientam e condicionam.<br />
4. Os contextos sociais locais<br />
Feito o enquadramento problemático para o que designámos de nível macro,<br />
importa ver como é que o problema se projecta a nível local. Conforme tivemos<br />
oportunidade de explicar na apresentação deste trabalho, partimos de três hipótese<br />
de trabalho, a saber:<br />
1. Que os fenómenos expressos pelo abandono e pela saída escolar precoce<br />
são multifactoriais, ou seja, há vários factores de ordem económica, social e<br />
cultural que se combinam de forma diversificada, consoante os contextos<br />
familiares, escolares e locais.<br />
2. Que esses fenómenos e essas combinatórias de factores são susceptíveis de<br />
tipificação.<br />
3. Que essa tipificação é susceptível se ser associada a grupos de comunidades<br />
locais e, assim, ser projectada para espaços sociais territorializados,<br />
associados a conjuntos de variáveis identificadoras de contextos sociais<br />
significantes daqueles dois fenómenos.<br />
A partir destas hipóteses construímos para todos os concelhos do Continente 12<br />
variáveis que passamos de imediato a caracterizar.<br />
78
ABAND: Abandono Escolar (2001)<br />
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Total de indivíduos com 10-15 anos que não concluíram o 3º ciclo e não se encontram a frequentar o sistema educativo, por<br />
cada 100 indivíduos do mesmo grupo etário.<br />
Fonte (dados): Censos 2001 (INE)<br />
Portugal (2001) = 2,8%<br />
79<br />
Continente:<br />
Máximo = 9,5% (Mondim de<br />
Basto)<br />
Mínimo = 0,0% (Arronches,<br />
Marvão)<br />
Desvio Padrão = 1,6<br />
Coeficiente de Variação = 186%<br />
Sendo um fenómeno já pouco<br />
expressivo em Portugal,<br />
persistem manchas territoriais<br />
onde os seus níveis ainda são<br />
críticos, como é o caso do Norte<br />
Interior, em especial a região do<br />
Tâmega (concelhos de Mondim<br />
de Basto, de Resende, de Cinfães<br />
e de Marco de Canaveses) e do<br />
Douro (concelho de Mesão Frio).<br />
Estes concelhos apresentaram,<br />
em 2001, os valores de Abandono<br />
Escolar mais altos do território<br />
continental, com pelo menos 8%<br />
das crianças em idade de<br />
escolaridade obrigatória sem o 3º<br />
ciclo completo e sem<br />
frequentarem a escola.
SEP: Saída Escolar Precoce (2001)<br />
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Total de indivíduos com 18-24 anos que não concluíram o ensino secundário e não se encontram a frequentar o sistema<br />
educativo, por cada 100 indivíduos do mesmo grupo etário.<br />
Fonte (dados): Censos 2001 (INE)<br />
Portugal (2001) = 44,8%<br />
80<br />
Continente:<br />
Máximo = 73,9% (Lousada)<br />
Mínimo = 23,8% (Oeiras)<br />
Desvio Padrão = 8,8<br />
Coeficiente de Variação =<br />
547%<br />
A incidência da Saída Escolar<br />
Precoce apresenta uma diversidade<br />
muito acentuada no território<br />
continental (C.V. de 547%). Os níveis<br />
mais baixos detectam-se nas áreas<br />
metropolitanas, merecendo também<br />
destaque outras manchas<br />
espalhadas pelo território (casos dos<br />
concelhos de Coimbra,<br />
Entroncamento, Porto, Condeixa - a -<br />
Nova, Faro, Torres Novas, Castelo<br />
Branco, Évora, Tomar, Bragança,<br />
Guarda e Portalegre) com níveis de<br />
SEP inferiores a 35%. Em<br />
contrapartida, existem regiões com<br />
níveis extremamente elevados, no<br />
Norte Interior (Tâmega, Ave, Cavado<br />
e Entre Douro e Vouga). Deste grupo<br />
podem destacar-se os concelhos de<br />
Lousada, Baião, Paços de Ferreira e<br />
Felgueiras, com níveis de SP<br />
superiores a 70%, em 2001.
ESCOL35-59: Escolaridade Média aos 35-59 anos (2001)<br />
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Número médio de anos de escolaridade da população com 35-59 anos, obtido através da média ponderada 39 entre o nível<br />
máximo de instrução (concluído) e a duração normal de cada ciclo de estudos.<br />
Fonte (dados): Censos 2001 (INE)<br />
Este indicador foi construído visando traduzir os níveis médios de escolarização da geração dos pais dos alunos residentes<br />
num determinado concelho. Trata-se de reflectir na análise a importância do capital cultural familiar no comportamento das<br />
variáveis escolares de abandono, saída precoce e insucesso.<br />
39 As ponderações correspondem ao número médio de anos que se esteve no sistema para quem já não o frequenta e baseiam-se na duração<br />
normal de cada ciclo de estudos:<br />
Não sabe<br />
ler/escrever<br />
1º ciclo<br />
incompleto<br />
1º ciclo<br />
completo<br />
2º ciclo<br />
incompleto<br />
2º ciclo<br />
completo<br />
Ponder<br />
Ponderaçã<br />
ação<br />
o<br />
0 3º ciclo 7,5 Médio<br />
incompleto<br />
completo<br />
2 3º ciclo completo 9 Bacharelato<br />
Incompleto<br />
4 Secundário 10,5 Bacharelato<br />
incompleto<br />
completo<br />
5 Secundário 12 Superior<br />
Completo<br />
incompleto<br />
6 Médio incompleto 10,5 Superior<br />
completo<br />
81<br />
Pondera<br />
ção<br />
12<br />
13,5<br />
15<br />
14<br />
16
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Portugal (2001) = 6,7 anos<br />
82<br />
Continente:<br />
Máximo = 9,6 (Oeiras)<br />
Mínimo = 4,2 (Baião)<br />
Desvio Padrão = 0,9<br />
Coeficiente de Variação =<br />
611%<br />
Com uma variação territorial<br />
significativa (C.V. de 611%), os níveis<br />
de escolaridade média da população<br />
adulta opõem a faixa litoral (entre o<br />
Minho e Setúbal), a região do Algarve<br />
e os concelhos mais urbanos do<br />
interior aos concelhos<br />
predominantemente localizados no<br />
Norte interior menos urbanos e<br />
economicamente mais pobres.<br />
Nestas regiões a escolaridade média<br />
da população adulta é<br />
significativamente baixa, chegando a<br />
corresponder a menos de metade do<br />
número médio de anos observado<br />
nos concelhos ou nas regiões mais<br />
urbanas do país.
DESEDU35-59: Desigualdade educativa aos 35-59 anos (2001)<br />
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Razão entre o total de anos de escolarização dos 20% mais escolarizados e o total de anos da escolarização dos 20% menos<br />
escolarizados 40 , no grupo etário 35-59 anos.<br />
Fonte (dados): Censos 2001 (INE)<br />
Este indicador foi construído por analogia com o indicador de desigualdade de distribuição de rendimentos utilizado pelo<br />
Eurostat e sinteticamente designado por S20-S80. Na presente situação, em vez de compararmos rendimentos, comparamos<br />
níveis médios de escolarização, confrontando os valores dos quintis superior e inferior através de um quociente.<br />
Na abordagem das desigualdades educativas pretendemos destacar a maior ou menor diferença entre níveis sociais como<br />
factor condicionador do abandono, da saída precoce ou mesmo do insucesso. Teoricamente poderemos colocar o problema<br />
de em sociedades com grandes desigualdades sociais e educativas as expectativas de mobilidade social ascendente são<br />
mais reduzidas, verificando-se o inverso em sociedades geralmente mais equilibradas e mais desenvolvidas. Se a educação,<br />
para além do retorno expresso em oportunidades e em remunerações que propicia, tende a propiciar o acesso a grupos<br />
sociais e a níveis de status mais elevados, então o seu valor social tende a ser maior e as expectativas de mais escolarização<br />
mais facilmente concretizáveis. Em situações inversas, as desigualdades sociais tentem a sustentar baixas expectativas e<br />
oportunidades de mobilidade social ascendente, baixo valor social da educação e menor procura por parte dos indivíduos e<br />
das famílias.<br />
40 Escolarização = N pessoas x número médio de anos de escolarização<br />
Fórmula: Valor Percentil (Escolarização ≥ 80%) / Valor Percentil (Escolarização ≤ 20%)<br />
As ponderações são idênticas às utilizadas para o cálculo da escolaridade média, salvo no caso da situação “Não sabe ler/escrever” em que a<br />
ponderação foi de 1.<br />
83
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Portugal (2001) = 9,8<br />
84<br />
Continente:<br />
Máximo = 108,5 (Penalva do<br />
Castelo)<br />
Mínimo = 4,3 (Porto)<br />
Desvio Padrão = 17,7<br />
Coeficiente de Variação =<br />
152%<br />
Verifica-se alguma<br />
complementaridade territorial entre os<br />
níveis de desigualdade educativa e<br />
de escolaridade média das<br />
populações. Se bem que estejamos<br />
perante duas variáveis diferentes em<br />
termos substantivos, o coeficiente de<br />
correlação entre ambas é elevado (de<br />
-0,76), significando que são<br />
essencialmente as regiões onde a<br />
escolaridade média da população<br />
adulta é menor que os níveis de<br />
desigualdade educativa se<br />
manifestam mais acentuados.
INSEBA: Insistência Escolar no ensino básico (2001)<br />
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Total de indivíduos, com 15 e mais anos de idade, a frequentar qualquer ano de escolaridade do ensino básico, por cada 100<br />
indivíduos com 6 e mais anos de idade que se encontram a frequentar o ensino básico.<br />
Dado que o limite de idade normal para a frequência de ensino básico é 14 anos, o indicador Taxa de Insistência permite,<br />
assim, avaliar a importância de todos aqueles que para além de já não estarem abrangidos pela obrigatoriedade de<br />
frequência escolar e de, em princípio, já terem ficado retidos pelo menos um ano, persistem em frequentar o ensino. A leitura<br />
que se poderá fazer deste indicador poderá induzir uma medida de resiliência escolar ou, pelo contrário, menores<br />
oportunidades de inserção precoce no mercado de trabalho. Entre uma e outra, poderemos ainda admitir que se trata de uma<br />
expressão no sentido de diferir essa inserção laboral, pela reduzida atractabilidade das oportunidades de emprego.<br />
O cruzamento desta variável quer com variáveis de carácter escolar (por exemplo, abandono ou insucesso) quer com as de<br />
contexto económico e social poderá dar algumas pistas de interpretação interessantes.<br />
Fonte (dados): Censos 2001 (INE)<br />
85
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Portugal (2001) = 15,2%<br />
86<br />
Continente:<br />
Máximo = 34,4 (Ourique)<br />
Mínimo = 10,0 (Lousada)<br />
Desvio Padrão = 2,9<br />
Coeficiente de Variação =<br />
570%<br />
A variação territorial do indicador é<br />
significativa (C.V. de 570%), sendo<br />
essencialmente nas regiões do<br />
Interior Norte e Centro e do Alentejo<br />
que os níveis de insistência escolar<br />
atingem valores mais elevados. No<br />
território, a insistência escolar não<br />
remete para a face complementar do<br />
Abandono Escolar ou da Saída<br />
Escolar Precoce. Com efeito, baixos<br />
níveis de insistência escolar podem<br />
coexistir com baixos níveis de<br />
abandono e de Saída Escolar<br />
Precoce (como acontece, por<br />
exemplo, com alguns concelhos da<br />
região de Lisboa) mas também<br />
podem coexistir com elevados níveis<br />
de abandono e de Saída Escolar<br />
Precoce (como acontece, por<br />
exemplo, com alguns concelhos da<br />
região do Tâmega). Essa relativa<br />
independência fica, aliás, confirmada<br />
pela fraca relação estatística da taxa<br />
de insistência escolar com o<br />
Abandono Escolar (Coeficiente de<br />
Correlação de 0,1) e com a Saída<br />
Escolar Precoce (Coeficiente de<br />
Correlação de -0,2).
RETBAS: Insucesso Escolar no ensino básico (1999/00)<br />
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Total de alunos do ensino básico (1º, 2º e 3º ciclos) que não transitou para o ano de escolaridade seguinte por cada 100<br />
alunos matriculados no ensino básico.<br />
Fonte (dados): Estatísticas da Educação (Ministério da Educação, Gabinete de informação e Avaliação do Sistema Educativo)<br />
Portugal (99/00) = 12,6%<br />
87<br />
Continente:<br />
Máximo = 26,9% (Monforte)<br />
Mínimo = 6,9% (Ansião)<br />
Desvio Padrão = 3,0<br />
Coeficiente de Variação =<br />
448%<br />
Os níveis de retenção no ensino<br />
básico são, em Portugal,<br />
relativamente altos, embora com uma<br />
significativa variação de valores no<br />
território.. Os valores mais altos da<br />
retenção observam-se em múltiplos<br />
concelhos do Norte e do Sul,<br />
podendo assinalar-se uma maior<br />
incidência deste fenómeno no interior<br />
destas regiões, nomeadamente em<br />
Trás-os-Montes, no Douro e no<br />
Alentejo Central. Em contrapartida, é<br />
na região Centro que predominam os<br />
concelhos com níveis de retenção<br />
mais baixos.
CONCURB: Concentração Urbana (2001)<br />
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Total de indivíduos a residir em aglomerados com 2000 e + habitantes por cada 100 residentes no território.<br />
Fonte (dados): Censos 2001<br />
Portugal (2001) = 57,6%<br />
88<br />
Continente:<br />
Máximo = 100% (vários)<br />
Mínimo = 0% (vários)<br />
Desvio Padrão = 28,9<br />
Coeficiente de Variação =<br />
111%<br />
Os mais elevados níveis de<br />
concentração urbana são evidentes<br />
nos concelhos das duas áreas<br />
metropolitanas e nas principais<br />
cidades do litoral e do interior. Em<br />
contrapartida, cerca de ¼ dos<br />
concelhos (79 concelhos) não têm<br />
população a residir em aglomerados<br />
com mais de 2000 habitantes, traço<br />
que se afigura particularmente mais<br />
significativo nos concelhos do interior,<br />
em especial do Norte.
IPC: Poder de Compra per capita (2002)<br />
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Número índice que compara o poder de compra manifestado nos diferentes concelhos com o poder de compra médio de<br />
Portugal, assumindo o país o valor de referência de 100.<br />
Fonte: “Estudo sobre o poder de compra concelhio” (INE)<br />
Portugal (2002) = 100<br />
89<br />
Continente:<br />
Máximo = 220,2 (Lisboa)<br />
Mínimo = 36,2 (Celorico de<br />
Basto)<br />
Desvio Padrão = 27,3<br />
Coeficiente de Variação =<br />
186%<br />
A relação deste indicador com a<br />
concentração urbana é elevada<br />
(coeficiente de correlação de +0,75)<br />
sendo muito evidente a coincidência<br />
entre os principais centros urbanos do<br />
território continental e os concelhos<br />
com níveis de IPC mais elevados. É<br />
no Norte interior que se localizam<br />
predominantemente os concelhos<br />
com níveis mais baixos de IPC,<br />
embora deste grupo também façam<br />
parte outros concelhos do Interior<br />
Centro e Sul, como é o caso de<br />
Serpa, Alcoutim, Mértola e Santarém.
IDS: Índice de Desenvolvimento Social (2001)<br />
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Índice composto por 3 componentes: longevidade (esperança de vida); educação (taxa de alfabetização); conforto<br />
(disponibilidade de água, electricidade e instalações sanitárias)<br />
Fonte: “Índices de Desenvolvimento para as Regiões Portuguesas - 2001” (Departamento de Prospectiva e Planeamento)<br />
Portugal (2001) = 0,915<br />
90<br />
Continente:<br />
Máximo = 0,943<br />
(Entroncamento)<br />
Mínimo = 0,802 (Alcoutim)<br />
Desvio Padrão = 0,01<br />
Coeficiente de Variação =<br />
3441%<br />
A variação dos níveis do IDS no<br />
território é significativa,<br />
nomeadamente em comparação com<br />
a variação do IPC. Os mais elevados<br />
níveis de IDS observam-se na faixa<br />
Litoral Ocidental até ao Sado, em<br />
especial nas Áreas Metropolitanas de<br />
Lisboa e Porto, orla Algarvia e<br />
principais pólos urbanos do interior.<br />
Em contrapartida, é no interior que<br />
se localizam os territórios com níveis<br />
de IDS mais baixos, com especial<br />
destaque para os concelhos das<br />
regiões do Baixo Alentejo, do<br />
Alentejo Litoral, da Beira Interior e de<br />
Trás-os-Montes.
EMPJOV: Emprego Jovem (2001)<br />
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Percentagem de empregados com menos de 25 anos relativamente ao total da população empregada.<br />
Fonte (dados): Censos 2001 (INE)<br />
Portugal (2001) = 13,7%<br />
91<br />
Continente:<br />
Máximo = 24,6% (Celorico de<br />
Basto)<br />
Mínimo = 8,5% (Miranda do<br />
Douro)<br />
Desvio Padrão = 3,1<br />
Coeficiente de Variação =<br />
458%<br />
O Norte contrasta claramente com as<br />
outras regiões do Continente em<br />
termos do comportamento deste<br />
indicador. Com efeito, é a Norte (em<br />
especial nas regiões em torno do<br />
Grande Porto) que os níveis de<br />
emprego jovem se assumem mais<br />
elevados. O caso da região do<br />
Tâmega merece, neste contexto,<br />
evidência pelo facto de, na larga<br />
maioria dos concelhos que integra,<br />
mais de 1/5 da população empregada<br />
ter menos de 25 anos. Acresce ainda<br />
a evidente proximidade territorial<br />
entre este fenómeno (emprego<br />
jovem) e a Saída Escolar Precoce,<br />
associação que corresponde ao<br />
coeficiente de correlação de +0,78.
ACTPRI: Activos no Sector Primário (2001)<br />
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Percentagem de activos no sector primário com 15 e mais anos relativamente ao total da população activa com 15 e mais<br />
anos.<br />
Fonte (dados): Censos 2001 (INE)<br />
Portugal (2001) = 5,0%<br />
92<br />
Continente:<br />
Máximo = 47,5% (S. João da<br />
Pesqueira)<br />
Mínimo = 0,3% (Amadora)<br />
Desvio Padrão = 8,8<br />
Coeficiente de Variação =<br />
133%<br />
É fundamentalmente no Interior Norte<br />
e Sul que localizam os concelhos<br />
onde a importância de activos no<br />
sector primário é maior. Estas regiões<br />
revelam simultaneamente baixos<br />
níveis de desenvolvimento social,<br />
sendo a relação estatística entre esta<br />
variável e o IDS bastante significativa<br />
(coeficiente de correlação de +0,70).
INDENV: Índice de Envelhecimento (2001)<br />
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Número total de pessoas com 65 e mais anos por cada 100 pessoas com menos de 15 anos.<br />
Fonte (dados): Censos 2001 (INE)<br />
Portugal (2001) = 102,2%<br />
93<br />
Continente:<br />
Máximo = 522,5% (Vila<br />
Velha de Rodão)<br />
Mínimo = 39,3% (Paços de<br />
Ferreira)<br />
Desvio Padrão = 77,7<br />
Coeficiente de Variação =<br />
200%<br />
Em Portugal o número de pessoas<br />
em idade idosa (com 65 e mais<br />
anos) já é superior ao número de<br />
pessoas em idade jovem (com<br />
menos de 15 anos). É no Interior<br />
que se localizam as regiões mais<br />
envelhecidas do Continente, com<br />
concelhos a atingirem níveis de<br />
envelhecimento extremos, como é o<br />
caso de Penamacor, do Gavião, de<br />
Idanha-a-Nova, de Alcoutim e de<br />
Vila Velha de Ródão, onde o número<br />
de idosos é, pelo menos, 4 vezes<br />
maior que o número o número de<br />
jovens. No outro extremo (menos<br />
envelhecidos) estão os concelhos<br />
predominantemente localizados no<br />
Norte Litoral e na região da Grande<br />
Lisboa (excepto o concelho de<br />
Lisboa).
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Este conjunto de doze variáveis podem associar-se em dois grupos significativos:<br />
um primeiro grupo que integra indicadores educacionais e o segundo que reúne os<br />
restantes seis indicadores de contexto económico e social.<br />
QUADRO 4: Síntese das variáveis seleccionadas<br />
Indicadores educacionais Indicadores de contexto<br />
ABAND Abandono Escolar CONCURB Concentração<br />
SEP Saída Escolar<br />
Precoce<br />
ESCOL35-59 Escolaridade Média<br />
aos 35-59 anos<br />
DESEDU35-59 Desigualdade<br />
Educativa aos 35-59<br />
anos<br />
INSEBA Insistência Escolar<br />
no Ensino Básico<br />
RETBAS Insucesso Escolar<br />
no Ensino Básico<br />
94<br />
Urbana<br />
IPC Índice de Poder de<br />
Compra<br />
IDS Índice de<br />
Desenvolvimento<br />
Social<br />
EMPJOV Emprego Jovem<br />
ACTPRI Activos no Sector<br />
Primário<br />
INDENV Índice de<br />
Envelhecimento<br />
Houve o cuidado de cada variável seleccionada se reportar a um mesmo período.<br />
Dado que as informações mais consistentes e sistemáticas foram extraídas do<br />
Recenseamento Geral da População de 2001, este ao foi tomado como referência<br />
para todas as variáveis, à excepção das taxas de retenção no ensino básico que se<br />
reportam ao ano lectivo de 1999-2000 e ao Índice de Poder de Compra per capita<br />
que se refere a 2002.<br />
Para cada uma das variáveis reuniu-se a informação de 278 concelhos do<br />
Continente, na configuração da divisão administrativa de 1998 que considera já os<br />
novos concelhos criados naquele ano.<br />
Sobre estas doze variáveis aplicaram-se uma bateria de instrumentos de análise<br />
estatística multivariada cujos resultados passamos a apresentar.
5. Matriz de Correlações<br />
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Os coeficientes de correlação entre as 12 variáveis dão uma primeira aproximação à<br />
identidade de características que entre elas se estabelece. Um coeficiente de<br />
correlação de 1 (unidade) significa uma correlação perfeita, podendo ser positiva<br />
(variação no mesmo sentido e na mesma proporção) ou negativa (variação e<br />
proporção inversas).<br />
95
QUADRO 5: Matriz de Correlações das 12 variáveis seleccionadas<br />
ABAND SEP<br />
ESC35-<br />
59<br />
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
DEDU35-<br />
59 INSEBA RETBA CONCURB IPC IDS EMPJOV ACTPRI INDENV<br />
2001 2001 2001 2001 2001 _1999-2000 2001 2002 2001 2001 2001 2001<br />
ABAND 1,000 0,616 -0,502 0,499 -0,051 0,462 -0,271 -0,386 -0,244 0,542 0,417 -0,153<br />
SEP 0,616 1,000 -0,696 0,659 -0,200 0,264 -0,459 -0,569 -0,225 0,822 0,241 -0,171<br />
ESC35-59 -0,502 -0,696 1,000 -0,761 -0,207 -0,221 0,726 0,934 0,599 -0,521 -0,609 -0,295<br />
DEDU35-59 0,499 0,659 -0,761 1,000 0,019 0,132 -0,591 -0,643 -0,366 0,634 0,322 0,106<br />
INSEBA -0,051 -0,200 -0,207 0,019 1,000 0,151 -0,245 -0,276 -0,552 -0,435 0,498 0,650<br />
RETBA 0,462 0,264 -0,221 0,132 0,151 1,000 -0,070 -0,186 -0,224 0,115 0,356 0,010<br />
CONCURB -0,271 -0,459 0,726 -0,591 -0,245 -0,070 1,000 0,746 0,499 -0,358 -0,420 -0,363<br />
IPC -0,386 -0,569 0,934 -0,643 -0,276 -0,186 0,746 1,000 0,608 -0,385 -0,607 -0,379<br />
IDS -0,244 -0,225 0,599 -0,366 -0,552 -0,224 0,499 0,608 1,000 0,044 -0,706 -0,659<br />
EMPJOV 0,542 0,822 -0,521 0,634 -0,435 0,115 -0,358 -0,385 0,044 1,000 -0,024 -0,434<br />
ACTPRI 0,417 0,241 -0,609 0,322 0,498 0,356 -0,420 -0,607 -0,706 -0,024 1,000 0,484<br />
INDENV -0,153 -0,171 -0,295 0,106 0,650 0,010 -0,363 -0,379 -0,659 -0,434 0,484 1,000<br />
Valores mais significantes: [± 0,445, ± 0,644], [± 0,645, ± 0,844], [± 0,845, ± 1,000]<br />
96
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Um coeficiente de correlação igual a 0 (zero) significa inexistência de correlação. Na<br />
leitura do QUADRO 5, escalonámos os diferentes coeficientes da matriz em valores<br />
mais ou menos significantes em três níveis: razoável, bom e muito bom,<br />
distinguindo-os pela cor da respectiva célula.<br />
Desta primeira leitura poderemos retirar algumas linhas de interpretação dos dados,<br />
focando a análise sobre o conjunto das variáveis educacionais, na sua relação com<br />
as restantes variáveis de contexto:<br />
1. A variável Abandono Escolar apresenta apenas correlações razoáveis, sendo<br />
a mais acentuada com o indicador SEP (o que é compreensível dado<br />
tratarem-se de um mesmo fenómeno medido sobre momentos e grupos<br />
etários diferentes), seguindo-se o Emprego Jovem, a Desigualdade Educativa<br />
“dos pais” e o Insucesso Escolar, estas duas variáveis já no limite da<br />
“razoabilidade”. Há correlação negativa com o nível médio de escolarização<br />
“dos pais”, ou seja, quanto maior a escolarização “dos pais” menor a<br />
probabilidade de abandono escolar dos filhos.<br />
2. A variável Saída Escolar Precoce (SEP) apresenta coeficientes de correlação<br />
mais significativos do que o Abandono. Os valores mais elevados revelam-se<br />
nas correlações com o Emprego Jovem (o mais elevado), a Desigualdade<br />
Educativa e o Abandono. Significativas são as correlações negativas com o<br />
Nível Médio de Escolarização “dos pais”, a Concentração Urbana e o Índice<br />
de Poder de Compra. As conclusões que se podem tirar destes valores são<br />
pertinentes. A SEP está fortemente associada à empregabilidade dos jovens,<br />
a situações de maior desigualdade educativa das gerações activas de maior<br />
idade e menos escolarizadas, e em concelhos de menor concentração urbana<br />
e de menor poder de compra.<br />
3. O valor mais elevado da matriz de coeficientes de correlação relaciona a<br />
escolarização média no grupo etário 35-59 anos com o índice de poder de<br />
compra concelhio, com um coeficiente muito próximo da unidade: elevados<br />
níveis de escolarização “dos pais” associa-se estatisticamente com maior<br />
poder de compra.<br />
97
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
4. A maior desigualdade educativa tende a ser inversa dos níveis de<br />
escolarização, concentração urbana e de poder de compra, mas tende a<br />
associar-se à SEP, ao Emprego Jovem e ao Abandono Escolar.<br />
5. O que designámos por Insistência Escolar é um fenómeno identificado com<br />
as zonas rurais: maior peso dos Activos do Sector Primário e do<br />
Envelhecimento. Sugere uma rejeição da actividade primária “dos pais”,<br />
mantendo-se mais tempo na escola, retardando o abandono e a saída<br />
precoce.<br />
6. A Taxa de Insucesso no Ensino Básico é de todas as variáveis a que<br />
apresenta menores coeficientes de correlação com as restantes. Este facto<br />
sugere alguma dissociação com as restantes variáveis escolares e de<br />
contexto, à excepção do Abandono em que apresenta um coeficiente de<br />
correlação modesto (0,462). Na perspectiva do que pudemos explicitar, este<br />
facto sugere que o insucesso escolar tende a resultar de factores inerentes ao<br />
próprio sistema de ensino e não aos factores de contexto económico ou<br />
social.<br />
6. Análise das Componentes Principais<br />
O segundo passo de análise consiste na aplicação de um instrumento de análise<br />
multivariada designada por Análise Factorial, método das Componentes Principais.<br />
Este método permite reduzir a um conjunto reduzido de factores uma parte<br />
significativa da variância das 12 variáveis em análise. A hierarquia desses factores e<br />
o seu poder explicativo determinam os conjuntos com maior variância, tal como<br />
permitem associar as diferentes variáveis pela sua proximidade de comportamento.<br />
Os resultados da aplicação desta técnica podem ser analisados a partir do quadro<br />
seguinte:<br />
98
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
QUADRO 6: Análise das Componentes Principais – Valores próprios<br />
e proporção da variância explicada.<br />
Componente Valor Próprio % Explicação % Acumulada<br />
1 5,373791433 44,8% 44,8%<br />
2 2,954814907 24,6% 69,4%<br />
3 1,277002741 10,6% 80,0%<br />
4 0,484249965 4,0% 84,1%<br />
5 0,402121357 3,4% 87,4%<br />
6 0,360805601 3,0% 90,4%<br />
7 0,312787865 2,6% 93,0%<br />
8 0,286460534 2,4% 95,4%<br />
9 0,221495861 1,8% 97,3%<br />
10 0,181947361 1,5% 98,8%<br />
11 0,104329807 0,9% 99,7%<br />
12 0,040192438 0,3% 100,0%<br />
Como se pode constatar existem três componentes que apresentam valores próprios<br />
superiores à unidade, ou seja, têm uma capacidade explicativa superior à de cada<br />
uma das variáveis. Essas três primeiras componentes – também designadas por<br />
vectores característicos – explicam em conjunto 80% da variância total (os 100%<br />
são só explicáveis pelas 12 componentes tantas quantas as variáveis em análise).<br />
Estes resultados são estatisticamente consistentes, considerando-se os 80% da<br />
variância explicada como uma boa proporção do total que se pretende explicar.<br />
O problema agora é saber como é que as diferentes componentes se associam com<br />
as diferentes variáveis. A matriz de saturações (ou “loadings”) permite para cada<br />
uma das componentes identificar qual o peso que tem em cada uma das variáveis,<br />
conforme se pode constatar no QUADRO 7.<br />
Variável a variável identifica-se em que componente se situa o maior peso. A partir<br />
deste exercício é possível associar componentes com variáveis, agrupando estas<br />
com cada uma das três componentes com valor próprio superior à unidade.<br />
Convém, entretanto, distinguir as variáveis que têm associação positiva ou negativa<br />
para se perceber o sentido do contributo de cada uma para a variância da<br />
componente, conforme se poderá verificar pela representação no sistema de eixos<br />
factoriais nos GRÁFICO 7.<br />
99
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
São claramente identificáveis 3 grupos de variáveis, ficando uma variável isolada.<br />
Esta, a retenção no ensino básico, identifica-se com a componente três e não tem<br />
qualquer peso significativo em qualquer outra componente. Este resultado vem<br />
confirmar que o insucesso escolar expresso pela retenção tem muito pouco a ver<br />
com qualquer das onze variáveis restantes, sugerindo factores outros que os<br />
contextos sociais ou os níveis de escolarização. Só a proximidade com a variável<br />
Abandono é que é significativa (mesmo assim, com uma saturação na componente 3<br />
de apenas 0,4858) confirmando a associação estatística que já havíamos relevado.<br />
Dos restantes três grupos de variáveis comece-se por destacar os dois identificados<br />
com a componente 1: um grupo com elevadas saturações positivas (ABAND, SEP,<br />
DEDU35-59 e EMPJOV) e outro na posição oposta com elevadas saturações<br />
negativas (ESC35-59, CONCURB, IPC e IDS). O terceiro grupo associa as restantes<br />
três variáveis (INSEBA, INDENV e ACTPRI).<br />
100
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
QUADRO 7: Análise das Componentes Principais – Matriz de Saturações<br />
Variáveis Componentes<br />
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12<br />
ABAND 0,6173 0,3834 0,4858 0,2895 0,1728 -0,1266 -0,2477 -0,0934 0,1518 -0,1144 -0,0015 0,0007<br />
SEP 0,7193 0,5624 0,0132 -0,0058 -0,0085 0,1030 0,2144 -0,2086 0,1171 0,1570 -0,1645 0,0212<br />
ESC35-59 -0,9499 -0,0463 0,1438 -0,0029 0,0958 0,0209 -0,1132 -0,1193 -0,0669 0,0910 0,0039 0,1597<br />
DEDU35-59 0,7845 0,2870 -0,2076 -0,0132 0,3339 0,1789 -0,0969 0,2928 -0,1205 0,0340 -0,0617 0,0283<br />
INSEBA 0,2875 -0,7899 0,1125 -0,0747 0,3897 -0,2370 0,2491 -0,0686 -0,0063 -0,0002 0,0204 0,0013<br />
RETBA 0,3473 0,0205 0,8171 -0,4378 -0,0661 0,1011 -0,0134 0,0620 -0,0287 -0,0026 0,0135 -0,0025<br />
CONCURB -0,7697 0,0789 0,3605 0,2868 0,0557 0,2545 0,2798 0,1647 0,1011 -0,0658 0,0358 0,0076<br />
IPC -0,8991 0,0879 0,1944 0,0641 0,2015 0,1023 -0,1128 -0,1259 -0,1229 0,1838 -0,0189 -0,1144<br />
IDS -0,6939 0,5371 -0,0445 -0,1504 0,0533 -0,2719 -0,0113 0,2262 0,2326 0,1525 0,0069 -0,0058<br />
EMPJOV 0,5157 0,7919 -0,1045 -0,0191 0,0606 0,0301 0,0951 -0,1026 -0,0567 0,0669 0,2525 0,0077<br />
ACTPRI 0,6958 -0,4348 0,2977 0,3012 -0,2084 -0,1308 0,0109 0,1410 -0,1019 0,2362 0,0247 0,0137<br />
INDENV 0,3492 -0,8150 -0,1656 -0,0546 0,0406 0,2611 -0,1440 -0,0335 0,2681 0,1144 0,0825 -0,0007<br />
101
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
GRÁFICO 7: Análise das Componentes Principais – Associação das<br />
Componentes 1 e 2 com as Variáveis.<br />
IDS<br />
IPC CONCURB<br />
102<br />
Componente 2<br />
1,0<br />
0,5<br />
0,0<br />
-1,0<br />
ESC35-59<br />
-0,5 0,0 0,5 1,0<br />
-0,5<br />
-1,0<br />
RETBA<br />
INSEBA<br />
INDENV<br />
EMPJOV<br />
ACTPRI<br />
SEP<br />
ABAND<br />
DEDU35-59<br />
Não perdendo o sentido dos objectivos desta análise, precisamente os de<br />
tipificar os contextos sociais do abandono e da saída escolar precoce, a<br />
identificação das variáveis associadas positivamente àquelas duas são o<br />
Emprego Jovem e a Desigualdade Educativa no Grupo etário dos 35-59. Ou<br />
seja Abandono e SEP tendem a ser maiores onde for maior a empregabilidade<br />
dos jovens e a desigualdade educativa “dos pais”. Inversamente, tende a ser<br />
menor nos concelhos de maior concentração urbana, com maior poder de<br />
compra, maior nível de escolarização e maior desenvolvimento social. Ou seja,<br />
a análise das componentes principais vem reforçar e precisar a dualidade entre<br />
zonas mais urbanizadas e menos urbanizadas que a análise da matriz das<br />
correlações já havia sugerido.<br />
O terceiro grupo distingue, entre as zonas menos urbanizadas, aquelas com<br />
maior envelhecimento e com um peso dos activos no sector primário mais<br />
Componente 1
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
relevante. A variável escolar que se associa a este grupo, significativamente, é<br />
o que designámos de insistência escolar, ou seja, o maior peso de<br />
adolescentes e jovens para além da idade normal de frequência da escola.<br />
Nestes casos há insucesso, mas não há necessariamente abandono nem<br />
saída precoce, ou por falta de empregabilidade dos jovens ou pela pouco<br />
atractabilidade da actividade dominante, o sector primário.<br />
7. A análise dos “clusters” regionais<br />
Tal como foi possível e pertinente identificar grupos de variáveis com<br />
comportamento mais próximo, estamos em condições de ensaiar uma<br />
tipificação das observações, ou seja dos concelhos do Continente português. A<br />
técnica estatística de que nos iremos socorrer é a análise de “clusters”. Este<br />
instrumento permite associar os diferentes concelhos (observações) em função<br />
das suas saturações com as diferentes variáveis.<br />
Esta técnica deixa ao investigador a possibilidade de definir previamente o<br />
número de agrupamentos significantes. O critério que utilizámos foi o de<br />
considerar 3 agrupamentos de forma a podermos associá-los com as três<br />
componentes que identificámos na análise factorial.<br />
QUADRO 8: Matriz das Médias dos Clusters<br />
Cluster 1 Cluster 2 Cluster 3<br />
ABAND -0,0514 -0,5187 1,4903<br />
SEP -0,0358 -0,5899 1,6260<br />
ESC35-59 -0,4732 0,9374 -0,9683<br />
DEDU35-<br />
59 0,1772 -0,7431 1,3707<br />
INSEBA 0,6071 -0,4328 -0,7373<br />
RETBA 0,1579 -0,3528 0,4260<br />
CONCURB -0,4225 0,7862 -0,7341<br />
IPC -0,5396 0,9274 -0,7402<br />
IDS -0,6593 0,8218 -0,1038<br />
EMPJOV -0,2885 -0,3787 1,8530<br />
ACTPRI 0,5941 -0,7750 0,1821<br />
INDENV 0,7090 -0,5621 -0,7155<br />
103
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Identificámos para cada agrupamento de concelhos os valores médios de cada<br />
variável mais elevados o que permite associar a esses agrupamentos os<br />
grupos de variáveis já identificados. O caso da variável Taxa de Retenção no<br />
Ensino Básico, mantivemo-la isolada, de acordo com os resultados da análise<br />
factorial pelo método das componentes principais, ainda que o seu valor mais<br />
elevado – mas, o mais baixo entre os valores significantes - seja no cluster 3.<br />
A representação cartográfica dos três agrupamentos de concelhos está<br />
expressa no mapa seguinte.<br />
104
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Com a visualização dos três agrupamentos e a sua identificação com as<br />
diferentes variáveis, são evidentes os tipos de desigualdades regionais, bem<br />
como essas desigualdades se projectam em termos das variáveis educativas.<br />
Sendo fenómenos presentes, com maior ou menor incidência, em todo o<br />
território, o abandono escolar e a saída precoce tendem a concentrar-se num<br />
105
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
conjunto muito bem definido de concelhos em que o papel da inserção precoce<br />
no mercado de trabalho, os baixos níveis de escolarização das gerações<br />
activas e as elevadas desigualdades educativas, atingem proporções mais<br />
elevadas.<br />
Esse agrupamento identifica-se com uma vasta região ao norte do país que<br />
assume funções de periferia da área Metropolitana do Porto, conhecida pela<br />
sua industrialização difusa e assente em elevada incorporação de trabalho<br />
desqualificado. É nesta região que a tradição do trabalho infantil e da inserção<br />
precoce no mercado de trabalho ganhou algum relevo, mantendo à entrada do<br />
século XXI as características de uma das regiões mais pobres do país. Alguns<br />
concelhos isolados mais a sul completam este agrupamento.<br />
Os dois outros agrupamentos distinguem os concelhos mais urbanizados,<br />
conhecidos pelo peso da classe média e pela concentração de infra-estruturas<br />
públicas, dos concelhos com um peso da ruralidade mais acentuado. Não se<br />
pode dizer que seja uma projecção da dicotomia litoral-interior: no litoral<br />
encontramos concelhos com características idênticas à maioria dos do interior,<br />
e nesta parte do país poderemos encontrar, em especial nas sedes de distrito e<br />
outras concentrações urbanas, características idênticas às dos seus<br />
congéneres do litoral. A concentração urbana e os níveis de rendimento e de<br />
escolarização “dos pais” são decisivos para diferenciar concelhos com melhor<br />
ou pior desempenho educativo.<br />
106
8. Conclusão<br />
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
A hipótese de que partimos estruturou-se em torno da multifactorialidade dos<br />
fenómenos do abandono e da saída escolar precoce, bem como das diferentes<br />
combinatórias desses factores poderem projectar-se de forma diferenciada em<br />
contextos sociais regionalmente identificados.<br />
Os resultados obtidos permitem confirmar a hipótese de as causas e contextos<br />
do abandono e da saída escolar precoce poderem diferenciar-se no espaço<br />
nacional e expressar-se através de lógicas e processos sociais e educativos<br />
sujeitos a dinâmicas diferenciadas.<br />
A partir daqui tem sentido colocar o problema do confronto entre a<br />
universalidade das medidas e políticas de combate ao abandono escolar e a<br />
especificidade regional que contextualizam o fenómeno. Ou seja, à unicidade<br />
das acções do lado da oferta de ensino contrapõe-se a diversidade dos<br />
contextos sociais e das respostas a essas acções.<br />
Nesta perspectiva, tem sentido identificar quais os tipos de combinatórias dos<br />
diferentes factores sociais bem como associá-los a espaços regionais onde a<br />
incidência dessas combinatórias poderá ser mais relevante. Também neste<br />
domínio, os resultados obtidos sustentam a tese da territorialização desses<br />
fenómenos e da necessidade de diferenciar as políticas e a acção preventiva<br />
ou remediadora em função das particulares características de cada um dos<br />
conjuntos identificados.<br />
Em qualquer desses conjuntos os chamados “factores sociais” são relevantes<br />
na associação com os fenómenos do abandono e da saída escolar precoce.<br />
Porém, ao decompor na sua diversidade esses factores, o complexo de<br />
interacções identificadas parece afastar as leituras mais lineares, geralmente<br />
sintetizadas na fórmula: baixo capital familiar ou comunitário (económico,<br />
cultural ou social) baixo desempenho escolar (insucesso) abandono ou<br />
saída precoce inserção desfavorável no mercado de trabalho. Para além<br />
dos efeitos de retroacção e da acção orientada por expectativas educativas<br />
mais ou menos elevadas, os vários contextos identificados nem sempre<br />
confirmam esse encadeamento causal. As baixas correlações entre as<br />
107
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
variáveis associadas ao insucesso ou ao abandono e destas ao capital familiar<br />
obrigam a ter alguma contenção com a generalização apressada daquele<br />
raciocínio causal. Por outro lado, o princípio da universalidade e o carácter<br />
homogeneizador do sistema de ensino tente a potenciar as desigualdades de<br />
capacidade adaptativa dos diferentes actores e nos diferentes contextos<br />
sociais.<br />
Por último, mas não menos importante, importa relembrar e reforçar que tanto<br />
as hipóteses de trabalho quanto os resultados obtidos só têm sentido e<br />
validade para níveis de análise macro e mezo, mantendo-se a focagem<br />
privilegiada do fenómeno do abandono e da saída precoce no nível micro, o<br />
dos contextos da decisão, das atitudes e dos comportamentos face aos valores<br />
e ao retorno individual da escolarização.<br />
108
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
C. ANÁLISE SOCIOCULTURAL DAS SITUAÇÕES DE TRABALHO<br />
INFANTIL SINALIZADO<br />
Neste capítulo, far-se-á uma descrição dos resultados obtidos em relação aos<br />
seguintes pontos: caracterização sociocultural dos inquiridos; trabalho infantil<br />
no passado; actividades desenvolvidas pelos inquiridos na última semana; e<br />
situações de trabalho infantil na última semana.<br />
Em anexo, poder-se-á encontrar todas as tabelas e valores estatísticos que<br />
possibilitaram a análise descritiva efectuada ao longo do texto, bem como dos<br />
gráficos construídos que evidenciam os aspectos mais relevantes.<br />
1. Caracterização sociocultural dos inquiridos<br />
1.1. As escolas e os alunos de PIEF<br />
No que se refere à tipologia das escolas onde decorrem os programas PIEF<br />
(ou às quais estão sedeados), podemos observar que 71% são escolas dos 2º<br />
e 3º ciclos do ensino básico. Encontramos, de seguida, escolas secundárias<br />
com o 3º ciclo, com 14% e 11% são escolas secundárias. Com uma<br />
percentagem muito residual (4%) encontramos as escolas Básicas Integradas.<br />
10,8%<br />
4,0%<br />
Gráfico 3 – tipologia das escolas<br />
14,3%<br />
0,4%<br />
70,5%<br />
E1 EB23 EBI ES ES3<br />
109<br />
Gráfico 4 – alunos de PIEF inseridos em<br />
programas PIEF empresa ou afins<br />
66,2%<br />
4,6%<br />
Sim Não Não sabe<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />
29,2%
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
A maioria dos alunos (66,2%) não está inserida em nenhum programa PIEF<br />
empresa ou programas afins, 4,6% não soube responder, e os restantes 29,2%<br />
respondeu afirmativamente.<br />
Em relação ao tipo de PIEF que os alunos frequentavam na altura do inquérito,<br />
53,8% deles frequentavam turmas de PIEF tipo 1 e 46,2% frequentavam<br />
turmas de PIEF tipo 2 (ver gráfico 3).<br />
Gráfico 5 - Inquiridos por tipo de PIEF frequentado<br />
46,2%<br />
Tipo 1 Tipo 2<br />
110<br />
53,8%<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />
1.2. Indicadores tradicionais de caracterização<br />
Como já referimos, inquiriram-se 1098 alunos PIEF. A caracterização que se<br />
segue diz respeito a estes alunos.<br />
A distribuição destes alunos por sexo é bastante assimétrica, com cerca de<br />
70% de rapazes e aproximadamente 30% de raparigas, como podemos ver<br />
pelo gráfico 4.<br />
Gráfico 6 - Alunos PIEF por sexo<br />
29,7%<br />
M F<br />
70,3%<br />
Quanto à idade dos inquiridos, importa<br />
antes de mais referir que, na<br />
construção do questionário, tivemos a<br />
preocupação de colocar esta questão<br />
de forma a podermos saber as idades
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
dos alunos em dois momentos diferentes. Pedimos sempre aos alunos para<br />
nos dizerem a data de nascimento, e apenas nos (poucos) casos em que não<br />
soubessem a resposta é que se assinalava a idade 41 .<br />
A média das idades dos alunos de PIEF à data de aplicação dos questionários<br />
é de aproximadamente 15 anos e meio (15,51) e o desvio-padrão de cerca de 1<br />
ano e meio (1,432). Se calcularmos esta média à data de inscrição, ela é<br />
naturalmente menor, em pouco menos de um ano (14,86), mas o desvio-<br />
padrão mantém-se sensivelmente o mesmo (1, 434).<br />
As idades à data de aplicação dos questionários, com escalões etários<br />
definidos a partir das idades correspondentes à frequência dos ciclos de<br />
ensino, mostram uma distribuição bastante desequilibrada, como se pode ver<br />
no gráfico abaixo.<br />
Gráfico 7 - Escalão etário dos alunos PIEF à data de aplicação<br />
51,2%<br />
2,4% 0,6%<br />
=18<br />
111<br />
45,8%<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />
Uma vez que, por razões que já explicitámos, procurámos excluir à partida os<br />
alunos que tinham atingido a maioridade, dando instruções aos inquiridores<br />
para não realizarem questionários aos alunos nessas condições, encontramos<br />
41 Quanto ao tratamento desta variável, fizemos uma recodificação em dois tipos de escalões<br />
etários: no primeiro tivemos em conta as idades dos alunos à data de inscrição no ano lectivo<br />
de 2006-2007 (15 de Setembro de 2006), e definimos os escalões segundo os ciclos de ensino,<br />
tal como fizemos para a definição da nossa amostra emparelhada; na segunda variável<br />
utilizámos a idade à data de aplicação do questionário e definimos escalões segundo os limites<br />
definidos pela OIT para trabalho infantil e trabalho aceitável. A primeira recodificação foi feita<br />
com o intuito de perceber e readaptar o emparelhamento dos alunos de PIEF com os alunos do<br />
ER. Será o escalão etário construído a partir da idade à data de aplicação e definido a partir<br />
das idades estabelecidas pela OIT como limites ao trabalho infantil, aquele que aqui mais nos<br />
interessa explorar.
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
neste escalão uma parcela muito pequena dos inquiridos (2,4% dos inquiridos,<br />
que corresponde a 26 alunos).<br />
No entanto, a parcela menor do gráfico representa os alunos com 12 ou menos<br />
anos (7 alunos, que representam 0,6% do jovens inquiridos), o que não é<br />
senão o resultado de este ser um estudo acerca de uma população com<br />
características muito particulares, nomeadamente no que respeita aos seus<br />
percursos escolares. De facto, os alunos inseridos nos programas de PIEF são,<br />
na generalidade dos casos, jovens com grandes taxas de insucesso escolar.<br />
Seria expectável que os alunos fossem maioritariamente mais velhos.<br />
Se cruzarmos estes escalões com o tipo de PIEF frequentado, verificamos que<br />
38,8% dos inquiridos com 16 ou 17 anos à data de aplicação dos questionários<br />
frequentava aulas PIEF de tipo 1, que dá equivalência ao 6º ano do ensino<br />
básico.<br />
Esta percentagem evidencia a persistência das retenções nos percursos<br />
escolares destes alunos (todos estes alunos terão de ter ficado retidos pelo<br />
menos três vezes, se partirmos do pressuposto de que entraram para o<br />
sistema escolar aos 6 anos e que a frequência do 2º ciclo corresponde a<br />
idades entre os 10 e os 12 anos).<br />
Assim, verificamos que, à excepção dos inquiridos com mais de 18 anos, os<br />
escalões etários dos 13-15 anos e dos 16-17 anos apresentam percentagens<br />
bastante próximas (45,8% e 51,2%, respectivamente), e juntos somam 97%<br />
dos alunos.<br />
Os escalões etários que utilizámos para a análise do trabalho infantil foram<br />
definidos com base nas idades relativas aos limites ao trabalho de crianças e<br />
jovens definidos pela OIT. Isto implica que, por razões de consistência e<br />
coerência, utilizaremos esse escalonamento para todas as análises que se<br />
farão daqui para a frente (=18<br />
anos). A distribuição dos inquiridos por estes escalões apresenta as seguintes<br />
percentagens: 0,1% tem menos de 11 anos; 19,3% tem entre 12 e 14 anos;<br />
26,9% tem 15 anos; 51,1% tem entre 16 e 17 anos; e 2,4% tem 18 ou mais<br />
anos.<br />
112
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
O cruzamento da idade com o sexo mostra que as distribuições etárias dos<br />
rapazes e raparigas são ligeiramente diferentes nos escalões etários dos 15<br />
anos e de 16-17 anos. Se no primeiro escalão encontramos uma maior<br />
percentagem de rapazes, a maioria das raparigas está no escalão dos 16-17<br />
anos (apesar de serem em menor número que os rapazes em valor absoluto, a<br />
sua distribuição por escalões revela uma preponderância de inquiridas neste<br />
escalão).<br />
Gráfico 8 – distribuição dos escalões etários dos alunos de PIEF por sexo<br />
%<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
0,1<br />
0,0<br />
20,0<br />
17,8<br />
113<br />
27,6<br />
=18<br />
25,5<br />
M F<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />
Quanto à naturalidade dos inquiridos, 94,3% nasceu em Portugal e 5,7% no<br />
estrangeiro.<br />
Os 5,7% dos alunos de PIEF inquiridos que não nasceram em Portugal<br />
corresponde a 63 alunos, dos quais 36,5% são provenientes de países não<br />
categorizados, 22,2% de Cabo-Verde, 19,5% de Angola, 11,1% da Guiné, 9,5%<br />
do Brasil e 1,6% da Roménia.<br />
1.3. Características do agregado familiar<br />
Relativamente ao tipo de agregado familiar, 56,1% dos alunos fazem parte<br />
duma família nuclear (mãe/madrasta, pai/padrasto e irmãos, caso tenha),<br />
49,9<br />
54,3<br />
2,3<br />
2,5
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
24,2% duma família alargada, 16,3% família monoparental e 3,5% dos alunos<br />
encontram-se institucionalizados 42 .<br />
Gráfico 9 – Tipo de família a que<br />
pertencem os alunos de PIEF<br />
24,2%<br />
3,5%<br />
16,3%<br />
Família monoparental Família nuclear<br />
Família alargada Institucionalizado<br />
56,1%<br />
Gráfico 10 – Número de irmãos do inquirido<br />
114<br />
%<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
45,2<br />
28,0<br />
13,6<br />
7,2<br />
2,5 3,5<br />
1 2 3 4 5 Mais<br />
de 5<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />
Os alunos que afirmaram ter irmãos correspondem a 73,1% dos inquiridos.<br />
Destes alunos, 45,2% tem 1 irmão(a), 28% tem 2, 13,6% tem 3, 7,2% tem 4,<br />
3,5% tem mais que 5 e 2,5% tem 5 irmãos(as) (ver gráfico acima).<br />
Quanto à idade relativamente aos irmãos, a distribuição dos alunos é muito<br />
semelhante (37,4% tem apenas irmãos mais velhos; 29,4 tem irmãos mais<br />
novos; e 33,2% tem irmãos mais novos e mais velhos).<br />
Se olharmos agora para o número de pessoas com quem vive o inquirido<br />
(gráfico 9), verificamos que a categoria que concentra maior número de<br />
respostas corresponde a famílias com 3 pessoas (sem contar com o inquirido).<br />
Será interessante verificar que tais valores são claramente superiores aos<br />
observados nas estatísticas oficiais a nível nacional.<br />
42 Os dados recolhidos não nos revelam as instituições que acolhem estes alunos.
%<br />
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Gráfico 11 – Total de pessoas que habitam com o inquirido<br />
30<br />
25<br />
20<br />
15<br />
10<br />
5<br />
0<br />
5,9<br />
19,5<br />
28,3<br />
115<br />
22,3<br />
11,8<br />
12,1<br />
1 pessoa 2 pessoas 3 pessoas 4 pessoas 5 pessoas Mais de 5<br />
pessoas<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />
As características sociais, culturais e económicas do meio de socialização<br />
primária são reconhecidamente factores relevantes para o estudo das<br />
problemáticas aqui em causa. Faremos neste ponto uma caracterização do<br />
agregado familiar dos inquiridos, utilizando para isso algumas características<br />
da mãe e do pai.<br />
Como já vimos, a maioria dos inquiridos vive numa família nuclear. Por outro<br />
lado, das pessoas com quem vivem, a mãe, o pai e os irmãos representam as<br />
maiores percentagens de resposta, apresentando as restantes categorias<br />
apenas valores residuais. Optámos, então, por caracterizar aqui apenas a mãe<br />
e o pai 43 .<br />
Assim, e quanto à nacionalidade da mãe, 90,8% das mães dos alunos PIEF<br />
são de nacionalidade portuguesa. Valerá a pena fazer referência a 3% de mães<br />
Cabo-Verdianas. As restantes nacionalidades são residuais. Nos pais<br />
encontramos valores muito parecidos: 92,2% são de nacionalidade portuguesa<br />
e, novamente, a outra nacionalidade com maior representação (ainda que<br />
residual) é a Cabo-verdiana com 4%.<br />
43 As categorias residuais às quais nos referimos (no que diz respeito às pessoas que vivem<br />
com os alunos PIEF), e os seus respectivos valores, são os seguintes: alunos PIEF que não<br />
vivem nem com a mãe nem com o pai, 8,1% e alunos PIEF institucionalizados, 3,5%. As<br />
características do pai e da mãe dos alunos PIEF que vivem, por exemplo, com o pai e com a<br />
madrasta ou com a mãe e o padrasto (1,6% e 10,7% respectivamente), são igualmente<br />
contempladas na análise (excluindo-se apenas, e nestes casos, as características da madrasta<br />
e do padrasto ou outros elementos que possam habitar com os inquiridos PIEF, uma vez que,<br />
como já foi referenciado, falamos de percentagens residuais).
%<br />
60<br />
40<br />
20<br />
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Gráfico 12 – Escalão etário da mãe<br />
0<br />
13,0<br />
59,0<br />
25,4<br />
25-34 35-44 45-54 >=55<br />
2,7<br />
116<br />
%<br />
60<br />
40<br />
20<br />
0<br />
Gráfico 13 – Escalão etário do pai<br />
2,8<br />
50,9<br />
35,5<br />
10,8<br />
25-34 35-44 45-54 >=55<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />
A maioria dos pais das crianças e jovens inquiridos tem idades entre os 35 e os<br />
44 anos (59% das mães e 50,9% dos pais). No entanto, no escalão dos 25-34<br />
anos, encontramos um peso de mulheres relativamente superior (13% das<br />
mães e 2,8% dos pais têm uma idade compreendida entre os 25 e os 34 anos),<br />
inversamente ao que se verifica no escalão que agrega os 55 ou mais anos<br />
(aqui encontramos apenas 2,7% das mães e 10,8% dos pais).<br />
Quanto ao estado civil dos pais dos alunos PIEF, apresentamos os seguintes<br />
dados: 73,5% das mães são casadas ou juntas, seguidas de 12,1% que estão<br />
divorciadas/separadas. As restantes categorias do estado civil apresentam<br />
valores residuais. No que diz respeito aos pais dos alunos PIEF, 89,7% estão<br />
casados/juntos e apenas 4,3% estão divorciados/separados.<br />
Se olharmos, agora, para o nível de instrução dos pais, rapidamente<br />
percebemos que estamos perante famílias com baixos capitais escolar formal.
%<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Gráfico 14 – Grau de instrução da mãe de alunos de PIEF inquiridos<br />
5,5<br />
Não<br />
estudou<br />
2,4<br />
Sabe ler e<br />
escrever<br />
50,9<br />
16,9<br />
1º Ciclo do 2º Ciclo do<br />
ensino ensino<br />
básico (4ªa básico (6º<br />
classe) Ano)<br />
117<br />
10,7<br />
3º Ciclo do<br />
ensino<br />
básico<br />
3,1<br />
Ensino<br />
secundário<br />
ou pós<br />
secundário<br />
0,8<br />
Ensino<br />
superior<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />
9,5<br />
Não sabe<br />
No que se refere ao nível de instrução da mãe, podemos ver que 50,9% das<br />
mães dos alunos PIEF têm o 1º ciclo do ensino básico, de resto percentagem<br />
parecida encontramos nos pais, uma vez que 57,2% deles têm também o 1º<br />
ciclo do ensino básico. O nível de instrução seguinte com maior representação<br />
é o 2º ciclo do ensino básico: 16,9% das mães de alunos PIEF têm este nível<br />
de escolaridade, enquanto que os pais perfazem 14%.<br />
%<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
Gráfico 15 – Grau de instrução do pai dos alunos de PIEF inquiridos<br />
4,8<br />
Não<br />
estudou<br />
1,5<br />
Sabe ler e<br />
escrever<br />
57,2<br />
1º Ciclo do<br />
ensino<br />
básico (4ªa<br />
classe)<br />
14,0<br />
2º Ciclo do<br />
ensino<br />
básico (6º<br />
Ano)<br />
7,5<br />
3º Ciclo do<br />
ensino<br />
básico<br />
2,8<br />
Ensino<br />
secundário<br />
ou pós<br />
secundário<br />
0,3<br />
Ensino<br />
superior<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />
12,0<br />
Não sabe
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
A nível profissional, e, em primeiro lugar, quanto à situação na profissão, 47%<br />
das mães dos alunos PIEF estão empregadas. A percentagem seguinte, e mais<br />
representativa, são as mães domésticas com 38,2%. De referir, ainda, 10,3%<br />
de mães de alunos PIEF que estão desempregadas. Relativamente à<br />
profissão, 23,5% das mães são Trabalhadoras não Qualificadas e 16,7%<br />
pertencem ao Pessoal de Serviços e Vendedores, sendo as restantes<br />
categorias residuais.<br />
Quanto à situação perante a profissão dos pais, 76,2% estão empregados,<br />
10,9% desempregados e 6,4% reformados. No que se refere às profissões, a<br />
grande maioria dos pais dos alunos PIEF (41,6%) insere-se no grupo<br />
profissional Operários, Artífices e Trabalhadores Similares, seguidos de 20%<br />
de Trabalhadores não Qualificados. Com igual percentagem (10,7%),<br />
encontramos pais que pertencem ao grupo profissional de Pessoal de Serviços<br />
e Vendedores e os Agricultores e Trabalhadores Qualificados da Agricultura e<br />
Pescas.<br />
Em 69,7% dos casos, o encarregado de educação dos alunos inquiridos é a<br />
mãe, em 16% dos casos é o pai, 4,4% a avó/avô, 4% outro não familiar, 2,4% o<br />
tio ou a tia, 1,8% o irmão ou a irmã, 0,7% o padrasto, 0,6% outros familiares<br />
não categorizados e por fim em 0,4% dos casos o encarregado de educação<br />
dos alunos é a madrasta.<br />
Gráfico 16 – Encarregado de Educação dos alunos de PIEF inquiridos<br />
16,0%<br />
14,3%<br />
Mãe Pai Outros<br />
118<br />
69,7%<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Será interessante constatar esta particular responsabilidade das mães pela<br />
educação dos filhos, sobretudo se aliada ao facto de em quase metade dos<br />
casos elas trabalharem fora de casa e terem níveis de instrução formal<br />
bastante baixos.<br />
De facto, tudo indica que os alunos PIEF transportam para a escola os<br />
problemas sociais e culturais existentes na família de origem, pelo que a acção<br />
da escola deveria ser reforçada no sentido da sua superação.<br />
Quanto às condições de habitabilidade, a maior parte dos alunos (47,5%) vive<br />
numa casa que é propriedade da família/pessoas com quem vive, 45,3% reside<br />
numa casa alugada (arrendada), 3,7% vive numa instituição de acolhimento,<br />
1,9% afirmou que não sabia e 1,5% vive num outro tipo de habitação.<br />
45%<br />
Gráfico 17 – Tipo de residência<br />
4%<br />
2% 2%<br />
Alugada(arrendada) Instituição de acolhimento<br />
119<br />
47%<br />
Propriedade da família / das pessoas com quem vives Outra situação<br />
Não sei<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />
Quanto ao número de divisões que tem a casa onde vivem, 38% respondeu<br />
que a sua casa tinha mais 4 divisões, 24,6% 3 divisões, 18% disse 5, 7,1% 6,<br />
4,3% mais de 7, 3,9% 7 divisões, 3% tem 2, 0,5% tem 1 e a mesma<br />
percentagem afirmou que não sabia.
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Gráfico 18 – Sem contar com a cozinha e casa-de-banho, quantas divisões tem a casa<br />
onde moram os inquiridos<br />
40<br />
35<br />
30<br />
25<br />
20<br />
15<br />
10<br />
5<br />
0<br />
1<br />
0,5<br />
2<br />
3,0<br />
24,6<br />
3<br />
4<br />
38,0<br />
18,0<br />
5<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />
Gráfico 19 – Tem um quarto só para si<br />
61%<br />
Sim Não<br />
120<br />
6<br />
7,1<br />
7<br />
3,9<br />
Mais de 7<br />
4,3<br />
Não sei<br />
0,5<br />
Gráfico 20 – Mora num bairro social?<br />
30%<br />
5%<br />
Sim Não Não sei<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />
A maior parte (61%) dos inquiridos tem um quarto só para si, os restantes<br />
(39%) partilham-no com outros indivíduos.<br />
Relativamente ao tipo de residência/bairro em que reside, 65,7% dos alunos<br />
inquiridos não mora num bairro social, 29,7% reside num bairro deste tipo e<br />
4,6% disse que não sabia.<br />
39%<br />
65%
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
No que se refere à existência de infraestruturas nas suas habitações, a grande<br />
maioria afirmou ter casa de banho (99%), água canalizada fria (98,5%), água<br />
canalizada quente (95,1%), electricidade (99,8%), máquina de lavar roupa<br />
(97,6%), frigorífico (99,2%), fogão (99,6%) e gás (98%).<br />
Quanto a outro tipo de equipamentos, que não se incluem na categoria de bens<br />
de primeira necessidade, verifica-se que o acesso não é tão generalizado.<br />
62%<br />
0,2% afirmou não ter nenhuma televisão.<br />
121<br />
De acordo com a informação do<br />
gráfico 19, e tendo em conta as<br />
respostas obtidas, 61,7% dos alunos<br />
tem aquecimento em casa, mas<br />
38,3% não tem.<br />
A televisão é o equipamento mais<br />
acessível a todos os inquiridos. De<br />
facto, 99,8% dos alunos tem uma ou<br />
mais televisões em casa, e apenas<br />
Aos que afirmaram que tinham televisão em casa, foi-lhes questionado quantas<br />
tinham, e apurou-se que 30,9% tem três televisões, 29% tem duas, 17,8% tem<br />
quatro, 12,7% tem uma, 6,8% tem cinco, 2,1% tem seis, 0,4% tem 7 e 0,3%<br />
tem oito.<br />
Gráfico 21 – Tem aquecimento?<br />
Sim Não<br />
comunicação privilegiado.<br />
38%<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-<br />
38%<br />
UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />
Gráfico 22 – Tem telefone fixo?<br />
Sim Não<br />
62%<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-<br />
UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />
Quanto à existência de telefone fixo<br />
nas suas casas, 62,3% dos<br />
inquiridos afirmou não dispor deste<br />
equipamento, contra 37,7% que<br />
respondeu afirmativamente.<br />
A taxa elevada de inquiridos sem<br />
telefone fixo contrasta com a<br />
grande percentagem que afirmou<br />
ter telemóvel (86,9%), que é, como<br />
se sabe, cada vez mais um meio de
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
No que diz respeito à posse de computador em casa, 50,4% dos alunos de<br />
PIEF inquiridos afirmou não ter computador em casa, os restantes 49,6%<br />
disseram que sim.<br />
50%<br />
Gráfico 23 – Tem computador?<br />
Sim Não<br />
122<br />
50%<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />
Aos que responderam afirmativamente à existência de computador na sua<br />
residência foi lhes questionado quantos equipamentos é que tinham, 78% tem<br />
1 computador apenas, 15,8% tem 2, 3,2% tem 3, 1,1% tem 8, 0,8% tem 5 e<br />
0,4% tem 4, 6 ou 7 computadores.<br />
Gráfico 24 – Tem internet?<br />
18%<br />
Sim Não<br />
82%<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-<br />
UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />
A este propósito, é interessante<br />
notar que a maioria (81,5%) das<br />
residências dos alunos não está<br />
equipada com Internet, as<br />
restantes (18,5%) têm este tipo de<br />
equipamento.<br />
Em 87,2% das residências há um<br />
ou mais sistemas áudio, em 12,8%<br />
não existe nenhum.<br />
Em relação a um qualquer outro<br />
tipo equipamento não especificado, 68,4% dos alunos disse que não tinha mais<br />
nada a referir na casa onde mora, 31,6% afirmou que sim, sem contudo<br />
especificar que tipo de equipamento se poderia tratar.
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Gráfico 25 – Tem telemóvel?<br />
87%<br />
Sim Não<br />
13%<br />
há 4 anos e 1,9% disse que não sabia.<br />
Como foi já referido, uma grande maioria<br />
dos inquiridos afirmou ter telemóvel. A<br />
estes foi ainda perguntado há quanto<br />
tempo tem ou usa este tipo de<br />
equipamento, e 35,3% disse que há mais<br />
de 4 anos, 17,8% há 3 anos, 12,9% há 2<br />
anos, 12,3% há menos de um ano, 9,3%<br />
Relativamente ao uso que dão ao telemóvel, 52,8% dos inquiridos não usa o<br />
telemóvel para outras funções para além de telefonemas e mensagens, os<br />
restantes 47,2% usam-nos para outras funções para além das referidas.<br />
Gráfico 26 – Há quanto tempo tem telemóvel?<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
12,3 10,5<br />
Há menos de 1 ano<br />
Há 1 ano<br />
12,9<br />
Há 2 anos<br />
Há 3 anos<br />
123<br />
17,8<br />
Há 4 anos<br />
9,3<br />
35,3<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />
Os resultados descritos revelam que, no essencial, as necessidades básicas<br />
relacionadas com alojamento e condições sanitárias estão satisfeitas. A maioria<br />
tem mesmo um quarto só para si e uma percentagem considerável tem acesso<br />
a bens de consumo não essenciais, como o telemóvel, várias televisões, e<br />
computadores. No entanto, o acesso à Internet é ainda um bem pouco<br />
acessível a uma pequena percentagem de alunos.<br />
Há mais de 4 anos<br />
Não sei<br />
1,9
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
1.4. A situação face à escola<br />
Uma questão que se coloca várias vezes é a de saber em que medida a<br />
distância que separa a residência do aluno da escola pode ser um factor<br />
condicionante do seu sucesso escolar, e eventual abandono. No caso dos<br />
alunos PIEF analisados, a maioria (cerca de 80%) faz trajectos curtos até à<br />
escola, de até meia hora, 41,1% refere levar entre 15 minutos e meia hora e<br />
39,2% menos de 15 minutos. A maioria (59,5%) utiliza os transportes públicos<br />
e 21,2% vai a pé.<br />
Gráfico 27 – Quanto tempo demora a chegar à escola<br />
15,9%<br />
41,1%<br />
3,7%<br />
124<br />
39,2%<br />
Menos de 15<br />
minutos<br />
Entre 15 minutos<br />
e meia hora<br />
Entre meia hora e<br />
uma hora<br />
Mais de uma hora<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />
Conclui-se ainda que a maioria dos inquiridos (58,9%) frequentou a educação<br />
pré-escolar; o que significa que nestes casos, a influência actual da escola<br />
deve ser entendida também como uma etapa de uma trajectória escolar que<br />
também é necessário analisar.<br />
1.4.1. Insucesso e abandono<br />
Tratando-se de alunos PIEF, era expectável que o insucesso escolar fosse<br />
elevado. Realmente, os valores observados, de quase 100%, são<br />
particularmente significativos.<br />
O insucesso escolar apresenta valores bastante elevados, com 97,1% dos<br />
inquiridos a referirem ter reprovado em anos anteriores. Para a maior parte dos
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
inquiridos (36,8%) tal aconteceu por três vezes, seguindo-se as categorias<br />
“duas vezes” (23,5%) e “quatro vezes” (20,5%).<br />
40<br />
35<br />
30<br />
25<br />
20<br />
15<br />
10<br />
5<br />
0<br />
8,7<br />
Gráfico 28 – Quantas vezes ficou retido<br />
23,5<br />
125<br />
36,8<br />
20,5<br />
10,4<br />
1 vez 2 vezes 3 vezes 4 vezes 5 ou mais<br />
vezes<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />
Na opinião dos alunos, a grande maioria das famílias reagiu mal: 68,6%<br />
falaram com o jovem ou ralharam-lhe e 24,6% castigaram-nos mesmo. As<br />
razões mais referidas para ter chumbado foram faltar muito às aulas e mau<br />
comportamento.<br />
Todavia, apesar da elevada taxa de insucesso escolar, 75% dos inquiridos<br />
afirma nunca ter deixado de se matricular, contra 25% que já o fez.<br />
Gráfico 29 – Alguma vez abandonou a escola<br />
75%<br />
Sim Não<br />
25%<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />
Entre os que alunos que formalmente abandonaram a escola, a grande maioria<br />
(78,5%) fê-lo num ano lectivo. Durante o período de abandono, 50,4% dizem<br />
não ter feito nada, 36,9% que estiveram a trabalhar e 12,8% refere outra
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
actividade. Interessaria questionar se as actividades dos 36,9% se prendem ou<br />
não com trabalho infantil.<br />
Gráfico 30 – O que esteve a fazer quando abandonou a escola<br />
50%<br />
13%<br />
126<br />
37%<br />
Estive a trabalhar Nada Outra<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />
Os principais motivos de abandono alegados foram sobretudo não gostarem<br />
das aulas e acharem que a escola não servia para nada.<br />
É de notar ainda que a maioria (59,7%) dos menores que não abandonaram a<br />
escola reconhecem que, mesmo nunca tendo deixado de se matricular, não<br />
compareceram nas aulas durante um grande período de tempo.<br />
Gráfico 31 – Mesmo tendo-se matriculado sempre, alguma vez deixou de ir à escola<br />
40,3%<br />
Sim Não<br />
59,7%<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />
Relativamente aos que, embora se tenham sempre matriculado, não<br />
compareceram na escola durante um longo período de tempo, 65,2% refere<br />
que tal aconteceu numa ocasião e 16,1% em duas.
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Gráfico 32 – Quantas vezes deixou de ir à escola por um longo período (%)<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
65,4<br />
16,2<br />
127<br />
9,0<br />
1 vez 2 vezes 3 vezes 4 vezes 5 ou mais<br />
vezes<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />
A grande maioria (68,9%) dos menores que não compareciam regularmente à<br />
escola diz não ter feito nada em alternativa, com apenas 16,6% a afirmar terem<br />
estado a trabalhar. A principal razão apontada para as faltas prolongadas foi<br />
não gostar das aulas.<br />
Gráfico 33 – O que esteve a fazer quando deixou de ir à escola<br />
14,5%<br />
68,9%<br />
16,6%<br />
2,2<br />
Estive a trabalhar Nada Outra<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />
A mudança para o programa PIEF alterou algumas destes comportamentos.<br />
Agora, quase dois terços dos alunos refere que muito raramente ou nunca falta<br />
às aulas (50,7% e 19,1%, respectivamente) 44 , porque querem acabar o 9º ano<br />
e gostam das aulas.<br />
44 Há, ainda assim, 15,3% que falta às aulas pelo menos uma vez por semana e 2,8% quase<br />
todos os dias, por razões como quererem fazer outras coisas, sentirem-se cansados e<br />
quererem estar com os amigos.<br />
7,2
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Gráfico 34 – Frequência com que falta às aulas desde que está em PIEF (%)<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
19,1<br />
nunca<br />
falto<br />
50,7<br />
muito<br />
raro<br />
128<br />
12,0<br />
1/2<br />
vezes /<br />
mês<br />
15,3<br />
pelo<br />
menos 1<br />
vez /<br />
semana<br />
2,8<br />
quase<br />
todos<br />
os dias<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />
A grande maioria dos jovens (84,5%) diz ter disciplinas preferidas: destacam-se<br />
a educação física, seguida da matemática e do português. Entre os aspectos<br />
de que os alunos mais gostam na escola estão os amigos/colegas, alguns<br />
professores, brincar/conviver e os intervalos. Por outro lado, afirmam gostar<br />
menos sobretudo de algumas disciplinas, das aulas e de alguns professores.<br />
A quase totalidade (97,7%) dos jovens acha que o que aprende na escola é<br />
importante para a vida, por uma multiplicidade de razões, entre as quais se<br />
destacam o facto de acharem que escola os pode ajudar a ter um emprego e<br />
um bom futuro e por mais tarde irem precisar do que aprenderam.<br />
A avaliação que fazem do programa PIEF é também bastante positiva. Com<br />
efeito, mais de 90% dos alunos pensam que o que aprendem é importante para<br />
a vida futura e que aprendem coisas mais práticas (96,9% e 93,1%,<br />
respectivamente). Ainda, cerca de 80% a 85% dos alunos afirmam gostar mais<br />
de ir às aulas, aprender mais, ter melhores notas e estar mais interessado;<br />
além disso, 64,4% diz ter agora mais vontade de estudar e cerca de 51%<br />
admite ajudar mais a família e falar mais sobre a escola em casa.
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
84,5<br />
80,3<br />
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
37,4<br />
50,9<br />
11,4 12,5 11,7<br />
7,2<br />
4,1<br />
Gosta mais ir<br />
às aulas<br />
Aprende mais<br />
nas aulas<br />
Mais<br />
obrigações<br />
escolares<br />
93,1<br />
2,8 4,1<br />
Aprende<br />
coisas mais<br />
práticas<br />
Gráfico 35 – Avaliação de PIEF (%)<br />
78,2<br />
11,7 10,0<br />
Ttem menos<br />
trabalho<br />
85,0<br />
3,4<br />
Tem melhores<br />
notas<br />
11,6<br />
4,5<br />
129<br />
87,9<br />
Falta mais<br />
7,7<br />
56,9<br />
31,7<br />
Mais tempo<br />
livre<br />
11,3<br />
Sim Não Não influencia<br />
64,4<br />
11,7<br />
Mais vontade<br />
estudar<br />
24,0<br />
81,0<br />
12,2<br />
6,8 6,0<br />
Mais<br />
interessado<br />
escola<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />
51,0 51,1<br />
Entre a percentagem dos jovens que está ao corrente de que a escola tem<br />
actividades de tempos livres, um pouco mais do que a metade (56,9%) diz que<br />
costuma participar nelas.<br />
Quanto ao acompanhamento que os encarregados de educação fazem das<br />
actividades escolares dos filhos, a grande maioria dos alunos (82,9%) afirma<br />
que eles costumam ir às reuniões na escola, sendo 17,1% os que referem o<br />
contrário.<br />
Em relação aos que são chamados à escola, em 57,7% isso aconteceu por<br />
motivos rotineiros.<br />
Um outro indicador importante é o facto dos encarregados de educação serem<br />
chamados à escola e comparecerem. No nosso caso, 95% dos alunos dizem<br />
que os pais comparecem.<br />
Ajuda mais<br />
família<br />
43,0<br />
13,3<br />
Fala mais<br />
família<br />
35,6<br />
44,1<br />
10,9<br />
Tem menos<br />
brigas<br />
45,0
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
1.5. Expectativas de vida<br />
As expectativas dos alunos PIEF inquiridos em relação à importância do<br />
sistema de ensino para o seu futuro não excedem muito o 9º ano de<br />
escolaridade. De facto, 39,7% considera suficiente estudar até ao 9º ano para<br />
exercer a profissão desejada, 21,6% acha que será necessário atingir o 12º<br />
ano e apenas 10% considera que necessita de chegar até à universidade.<br />
É interessante notar que 41,8% destes alunos diz que aceitaria um trabalho<br />
remunerado, caso lhes fosse proposto, enquanto que 39,7% respondeu<br />
negativamente e 18,5% referiu não saber se aceitaria ou não.<br />
Quando analisamos mais de perto as condições em que aceitariam tal trabalho,<br />
verifica-se o seguinte:<br />
• 78,9% considera que o facto de não interferir com a escola e o sucesso<br />
escolar influenciaria a decisão;<br />
• 55,8% considera que o facto de ser bem pago influenciaria a decisão;<br />
• cerca de um terço (63,2%) considera que o facto de não ter de trabalhar<br />
todos os dias influenciaria a decisão;<br />
• 68,1% considera que o facto de não ter de trabalhar aos fins-de-semana<br />
influenciaria a decisão;<br />
• 53,5% considera que o facto de trabalhar apenas ao fim-de-semana<br />
influenciaria a decisão;<br />
• 72% considera que o facto de trabalhar apenas depois das aulas<br />
influenciaria a decisão;<br />
• 73,7% considera que o facto de ter tempo para estar com os amigos<br />
influenciaria a decisão;<br />
• 82,3% considera que o facto de ter tempo livre influenciaria a decisão<br />
130
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Ao nível do discurso dos alunos inquiridos, a escola assume uma grande<br />
importância para o seu futuro. De facto, a grande maioria (84,7%) considera<br />
que precisa de continuar a estudar para concretizar os seus principais sonhos.<br />
Contudo, por um lado, o facto de quase metade dos alunos PIEF inquiridos<br />
(41,8%) referir que aceitaria um trabalho remunerado, e por outro lado, a<br />
importância que atribuem ao montante da remuneração e aos espaços e<br />
tempos relativos à diversão e convivência com os amigos, são um indicador da<br />
existência de factores exteriores ao sistema de ensino, relacionados com o<br />
sistemas económico e social do contexto local, e que poderão condicionar as<br />
dinâmicas do trabalho infantil.<br />
Este resultado obtido numa escala mais micro torna-se ainda significativo, pois<br />
vem de encontro a algumas das conclusões obtidas com a análise<br />
anteriormente efectuada na escala macro, a partir das estatísticas oficiais.<br />
1.6. Análise de comportamentos desviantes<br />
Ainda que os resultados sobre a inquirição de “auto-revelação” de<br />
comportamentos desviantes devam ser interpretados com os cuidados<br />
metodológicos inerentes a este tipo de pesquisas 45 , as respostas revelam que<br />
quase metade dos alunos de PIEF inquiridos (47,2%) afirmam já ter tido um<br />
processo disciplinar.<br />
Quanto aos alunos que disseram ter tido processos disciplinares, 28% deles<br />
tiveram-no uma vez. No entanto, 27,1% destes alunos PIEF já teve processos<br />
disciplinares mais de 5 vezes. Encontramos ainda 16,4% que já teve um<br />
processo disciplinar 2 vezes e 9,7% com 3 processos disciplinares.<br />
A maioria dos alunos PIEF (83,3%) diz nunca ter sido expulso da escola, contra<br />
16,7% que confessou o contrário.<br />
45 Cf. Gersão, Eliana, e Lisboa, Manuel, “The Self-Report Delinquency Study In Portugal”, in<br />
Delinquent Behavior among Young People in The western World- First Results Of The<br />
International Self-Report Delinquency Study, Kugler Publications, Amsterdam/New York, 1994.<br />
131
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Dos alunos PIEF que já foram expulsos da escola, cerca de dois terços (64,5%)<br />
foi-o uma vez; 19,7% foram-no por duas vezes. De realçar, ainda, que 8,7%<br />
dos alunos PIEF já foram expulsos 3 vezes.<br />
A maioria dos alunos (66,2%) diz nunca ter tido problemas com a polícia. Mas<br />
uma percentagem ainda considerável (33,8%), confessou o contrário.<br />
Dos alunos que já tiveram problemas com a polícia, 46,1% tiveram-nos por<br />
uma vez, 17% por duas vezes e 14% por mais de 5 vezes.<br />
132
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
2. Trabalho infantil no passado<br />
A análise que se segue diz respeito aos alunos de PIEF inquiridos, cujos<br />
indicadores recolhidos remetem para a existência de trabalho infantil num<br />
tempo anterior à última semana 46 .<br />
2.1. Das actividades em geral ao trabalho infantil no passado<br />
A percentagem de alunos de PIEF que afirmou ter realizado algum tipo de<br />
actividade antes da semana de referência é de 50,1% (que corresponde a 550<br />
alunos). Destes 550, 76% são do sexo masculino e 24% do sexo feminino.<br />
A distribuição tipológica das tarefas permitiu detectar quatro formas<br />
predominantes de actividades: trabalho numa empresa/negócio (26,4%), no<br />
campo (18,4%), ajuda num negócio familiar (16%) e nas “obras” (15,8%).<br />
De forma a ter uma noção mais aproximada da proporção de casos que<br />
poderão corresponder a situações de trabalho infantil no passado, foi criado um<br />
índice que agrega informação relativa ao grupo etário do inquirido, à<br />
quantidade de dias por semana que este afirmou ter trabalhado e ao número<br />
de horas de actividade por dia. Assim, e de acordo com o estabelecido pela<br />
OIT, podemos dizer que 52,5% dos casos que afirmam ter tido uma actividade<br />
no passado (550) poderão corresponder a situações de trabalho infantil. Esta<br />
percentagem refere-se a 289 alunos, cujo peso relativo à totalidade de<br />
indivíduos inquiridos que constituem a nossa base de dados corresponde a<br />
26,3%.<br />
Passaremos de seguida a analisar algumas das características das crianças e<br />
jovens nesta situação.<br />
Ao olharmos simultaneamente para o peso relativo das actividades realizadas<br />
no passado em termos totais e em termos de possível trabalho infantil, vemos<br />
46 A caracterização das situações de trabalho infantil no passado deve ser efectuada com a<br />
reserva decorrente do facto da informação recolhida dizer respeito a respostas de alunos que<br />
obrigam a um exercício de memória.<br />
133
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
algumas diferenças interessantes. Apesar das três actividades com maior<br />
percentagem de respostas serem as mesmas nas duas situações, o trabalho<br />
no campo e a ajuda num negócio familiar ganham preponderância na situação<br />
de trabalho infantil; o mesmo se passa com o trabalho numa fábrica. As<br />
situações em que se nota uma diminuição quando comparamos o trabalho<br />
infantil com a prática genérica de uma actividade são as tarefas em casa,<br />
trabalho a dias, o trabalho nas obras e o trabalho numa empresa ou negócio<br />
não familiar.<br />
Gráfico 36 – Tipo de actividades e trabalho infantil realizado no passado pelos alunos de<br />
PIEF inquiridos<br />
outra<br />
desporto competição<br />
castings/tv<br />
na rua<br />
obras<br />
campo<br />
a dias em casa de outra pessoa<br />
empresa/negócio<br />
fábrica<br />
tarefas domésticas<br />
negócio/empresa familiar<br />
1,0<br />
0,9<br />
0,2<br />
0,7<br />
0,5<br />
0,7<br />
1,5<br />
1,4<br />
1,5<br />
7,6<br />
6,4<br />
134<br />
12,5<br />
12,5<br />
14,9<br />
15,8<br />
18,4<br />
18,0<br />
16,0<br />
21,1<br />
22,1<br />
26,4<br />
0 5 10 15 20 25 30<br />
actividade no passado trabalho infantil no passado<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />
2.2. Trabalho infantil no passado por região e situação actual nos PIEF<br />
A distribuição regional dos alunos passíveis de serem considerados como<br />
tendo estado em situação de trabalho infantil é a seguinte: 45% dos alunos<br />
%
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
pertencem a escolas da região Norte; a região de Lisboa e Vale do Tejo acolhe<br />
a segunda maior percentagem (26,6%), seguida da zona Centro com 16,6%;<br />
por outro lado, as regiões do Alentejo e Algarve reúnem 11,8% de alunos nesta<br />
situação.<br />
Destes alunos em provável situação de trabalho infantil no passado, 48,9%<br />
frequentam turmas de PIEF tipo 1 e 51,1% turmas de PIEF tipo 2.<br />
Quanto à inserção em programas de formação em empresas (do tipo PIEF<br />
empresa ou programas afins) verificamos que, actualmente, cerca de um terço<br />
frequenta este tipo de formação. De facto, 31,5% afirmou desenvolver algum<br />
tipo de trabalho como parte da sua formação em PIEF (o que corresponde a 91<br />
alunos de PIEF inquiridos onde se detectaram situações prováveis de trabalho<br />
infantil anterior à última semana). Por contraste, 65,4% afirmou não estar<br />
inserido em qualquer tipo de formação em empresas (ou programas afins) 47 .<br />
2.3. Idade e sexo dos inquiridos que estiveram em situação de trabalho<br />
infantil no passado<br />
Dos 289 alunos passíveis de estarem em situação de trabalho infantil no<br />
passado, 75,8% são rapazes e 24,2% raparigas (respectivamente 219 e 70).<br />
Utilizando a variável idade agregada segundo os escalões etários com que<br />
temos estado a trabalhar, vemos que 51,2% dos 289 alunos tinham, à data de<br />
administração do questionário, idades compreendidas entre os 16 e 17 anos.<br />
Quanto à idade com que começaram a trabalhar, verifica-se que 44,6% afirmou<br />
tê-lo feito com idades entre os 12 e os 14 anos, 24,9% com menos de 11 anos<br />
e 30,4% com 15 anos.<br />
47 Apenas 3,1% afirmou não saber responder a esta questão.<br />
135
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Gráfico 37 – Distribuição dos alunos de PIEF inquiridos em situação de trabalho infantil<br />
no passado pelo escalão etário à data em que começou a trabalhar, segundo a idade que<br />
tinha na altura de aplicação dos questionários (agregada em escalões)<br />
% 70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
49,0<br />
24,1<br />
16,9<br />
33,3<br />
49,0<br />
58,6<br />
34,5<br />
136<br />
66,7<br />
2,0<br />
17,2<br />
=18<br />
48,6<br />
0,0<br />
Idade no início<br />
da actividade<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />
A leitura do gráfico anterior, relativo à idade em que começaram a trabalhar em<br />
função dos escalões etários actuais, permite-nos retirar algumas conclusões<br />
interessantes. Os inquiridos que actualmente têm 15 anos afirmaram na sua<br />
maioria (58,6%) ter iniciado o exercício da actividade com uma idade incluída<br />
no escalão dos 12 aos 14 anos, muito embora uma percentagem não<br />
negligenciável (24,1%) afirme tê-lo feito com idades inferiores aos 11 anos, e<br />
17,2% tenha começado a trabalhar com a idade que tem actualmente.<br />
Em quase metade dos casos (48,6%), os alunos com 16 e 17 anos afirmam ter<br />
iniciado a sua actividade com 15 anos, seguidos dos que afirmam ter<br />
começado com idades entre os 12 e os 14 anos (34,5%). Ainda neste grupo,<br />
continuamos a observar uma percentagem expressiva (16,9%) que diz ter<br />
começado a actividade com idade igual ou inferior a 11 anos.<br />
Por fim, 66,7% dos inquiridos que tinham 18 ou mais anos na altura da<br />
realização dos questionários afirmou ter iniciado a actividade com 12 a 14 anos<br />
e 33,3% disse ter sido com 11 ou menos anos.
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
2.4. Trabalho infantil no passado e actividades realizadas na última semana<br />
Com o objectivo de analisar as dinâmicas sociais inerentes ao trabalho infantil,<br />
analisaram-se as actividades actuais dos alunos que anteriormente tinham<br />
efectuado trabalho infantil.<br />
É certo que tais actividades não são necessariamente trabalho infantil, nem<br />
podem ser um indicador das trajectórias que têm seguido ao longo do tempo.<br />
Assim, observou-se que 24,9% dos inquiridos que estão em situação de<br />
trabalho infantil no passado, realizaram uma actividade económica na semana<br />
de referência (o que corresponde a 72 inquiridos). Destes 72, 44 trabalharam<br />
por conta de outrem na última semana e 28 fizeram um trabalho familiar não<br />
remunerado (que corresponde, respectivamente, a 15,2% e 9,7% dos<br />
inquiridos em situação de trabalho infantil no passado).<br />
Quanto ao tipo de trabalho familiar não remunerado realizado na semana de<br />
referência por estes inquiridos, 26 realizaram trabalho agrícola, apenas 2<br />
trabalharam numa empresa ou negócio familiar e um inquirido trabalhou em<br />
ambos os sectores.<br />
No que respeita ao tipo de actividade económica por conta de outrem realizada<br />
pelos 72 inquiridos na semana de referência 48 , 38 trabalharam na agricultura, 8<br />
no sector dos serviços (que incluir o sector da restauração), 5 na construção, 4<br />
afirmaram fazer desporto de competição, apenas 1 trabalhou em feiras ou<br />
mercados, e em 10 casos não temos especificação da actividade realizada. A<br />
caracterização das actividades económicas e das tarefas domésticas<br />
realizadas pelos inquiridos na semana de referência, bem como as situações<br />
de trabalho infantil, serão apresentadas nos pontos 3 e 4 deste capítulo. Nessa<br />
altura, será feita uma articulação entre as situações de trabalho infantil no<br />
passado e na semana anterior à aplicação dos questionários.<br />
48 Não esqueçamos que estas actividades e trabalhos foram realizados na última semana por<br />
inquiridos em situação de trabalho infantil no passado. Estas actividades realizadas na última<br />
semana não são as mesmas do passado, nem trabalhos que colocaram os inquiridos em<br />
situação de trabalho infantil na semana de referência.<br />
137
quando<br />
começav<br />
a a<br />
trabalhar<br />
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
2.5. Alguns elementos de caracterização das situações que indiciam trabalho<br />
infantil no passado: intensidade, frequência, interferência com a escola,<br />
remuneração e vínculo contratual<br />
Relativamente aos dias em que os inquiridos afirmaram ter estado a trabalhar<br />
(referimo-nos às situações contabilizadas como trabalho infantil no passado),<br />
25,3% dos alunos na situação referida trabalharam todos os dias da semana e<br />
41,5% trabalhou todos os dias menos ao fim-de-semana.<br />
Quanto às horas dispendidas no trabalho realizado, 75,8% destes inquiridos<br />
declarou ter trabalhado mais de 6 horas por dia.<br />
O cruzamento da altura do dia em que começavam a trabalhar com a altura do<br />
dia em que afirmaram geralmente terminar mostra uma clara preponderância<br />
de trabalho diurno que termina ao fim do dia.<br />
Tabela 2 – Distribuição dos alunos de PIEF inquiridos em situação de trabalho infantil no<br />
passado, pela altura do dia em que começava a trabalhar segundo a altura em que<br />
terminava<br />
de manhã<br />
ao fim da tarde<br />
depois do jantar / novela<br />
varia, não tem hora fixa<br />
para começar<br />
ns/nr<br />
Total<br />
quando acabava de trabalhar<br />
depois do<br />
varia, não<br />
tem hora fixa<br />
para<br />
de manhã ao fim da tarde jantar / novela começar ns/nr Total<br />
N 15 188 17 12 1 233<br />
% 6,4% 80,7% 7,3% 5,2% ,4% 100,0%<br />
N 2 19 11 1 0 33<br />
% 6,1% 57,6% 33,3% 3,0% ,0% 100,0%<br />
N 3 0 2 1 0 6<br />
% 50,0% ,0% 33,3% 16,7% ,0% 100,0%<br />
N 1 2 1 11 0 15<br />
% 6,7% 13,3% 6,7% 73,3% ,0% 100,0%<br />
N 0 1 0 0 1 2<br />
% ,0% 50,0% ,0% ,0% 50,0% 100,0%<br />
N 21 210 31 25 2 289<br />
% 7,3% 72,7% 10,7% 8,7% ,7% 100,0%<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />
138
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
O cruzamento representado na tabela acima permite-nos constatar que a<br />
maioria dos inquiridos que esteve em situação de trabalho infantil no passado<br />
(dentro dos limites que se impõem a esta análise, que já foram estabelecidos<br />
anteriormente) se recorda ter iniciado o trabalho de manhã. De entre estes 233<br />
inquiridos, a maioria afirmou terminar habitualmente o trabalho ao final da<br />
tarde.<br />
Estes valores indicam que a maioria dos inquiridos que estão aqui em análise<br />
trabalhou antes das 8 da noite. De facto, 234 inquiridos de entre o total de 289<br />
afirmou ter trabalhado antes das 8 horas da noite (que representa 81%).<br />
Relativamente à interferência com a frequência escolar, 62,6% destes alunos<br />
afirmau não ter tido de faltar às aulas para fazer o trabalho, 5,5% respondeu<br />
que teve de faltar, e uns expressivos 31,8% afirmou não estar a frequentar a<br />
escola na altura em que esteve a trabalhar.<br />
Praticamente metade dos inquiridos (49,1%) afirmou ter trabalhado durante um<br />
determinado período do ano. Os restantes repartem-se pelos que afirmaram ter<br />
trabalhado: apenas “daquela vez” (14,1%); de vez em quando (15,8%); e todas<br />
as semanas (16,2%). As categorias ‘só quando conseguia arranjar trabalho’ e<br />
‘outra’ apresentam valores residuais.<br />
No que respeita à execução das tarefas e à sua morosidade, 61,2% dos<br />
inquiridos considerou-as fáceis, 19% nem fáceis nem difíceis e 18,7% difíceis.<br />
Daqueles que as consideraram difíceis (que corresponde a 55 inquiridos), 36<br />
justificaram a penosidade das tarefas pelo cansaço que causavam, 10<br />
referiram a perigosidade, e 5 responderam que não gostaram de as fazer (4<br />
disseram que as razões eram outras que não as especificadas).<br />
Em relação à satisfação retirada do trabalho realizado, 75,8% afirmou ter<br />
gostado de o fazer, 10,4% respondeu negativamente e 13,8% gostou ‘mais ou<br />
menos’.<br />
139
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
No que respeita ao tempo dispendido a trabalhar relativamente ao tempo<br />
escolar, 48,8% disse ter trabalhado nas férias 49 . A restante distribuição reparte-<br />
se em categorias com as seguintes percentagens: 1,4% antes e depois das<br />
aulas; 8,3% antes ou depois das aulas; 3,8% durante o tempo de escola; e<br />
6,9% durante o fim-de-semana. É também expressivo o número de inquiridos<br />
que afirmou que a questão não se aplicava, já que, na altura, não<br />
frequentavam a escola (29,4%, que corresponde a 85 inquiridos). Este valor é<br />
especialmente relevante se tivermos em conta que, na altura a que estão a<br />
fazer referência, os inquiridos não teriam mais de 15 anos. De facto, 3 destes<br />
85 inquiridos tinham 11 ou menos anos, 46 tinham entre 12 e 14 anos, e 36<br />
tinham 15 anos.<br />
Gráfico 38 – Distribuição do tempo dispendido a trabalhar relativamente ao tempo<br />
escolar, por escalão etário relativo à altura em que esteve a trabalhar<br />
% 60,0<br />
50,0<br />
40,0<br />
30,0<br />
20,0<br />
10,0<br />
0,0<br />
5,6<br />
18,1<br />
1,4<br />
23,6<br />
44,4<br />
4,2<br />
2,8<br />
0,0<br />
3,9<br />
5,4<br />
2,3<br />
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Outro factor a ter em conta na caracterização do trabalho infantil detectado nos<br />
alunos de PIEF inquiridos remete para as recompensas recebidas pelo trabalho<br />
realizado.<br />
A grande maioria dos alunos (85,5%) afirmou ter recebido algum tipo de<br />
recompensa pelos trabalhos realizados, e 14,5% diz não ter sido<br />
recompensado. Quanto à forma como foi paga essa recompensa, a maioria dos<br />
entrevistados (87% dos 247 inquiridos que afirmaram ter recebido alguma<br />
recompensa) recebeu-a em dinheiro. Os restantes 32 inquiridos que foram<br />
pagos distribuem-se igualmente entre os que receberam em géneros e os que<br />
receberam em dinheiro e géneros.<br />
Dos inquiridos que receberam em géneros, a maioria (23 dos 32) foi pago pela<br />
família ou pessoas com quem vive, e apenas 9 foram pagos pelo empregador<br />
(dos quais 2 disseram ter recebido os géneros do empregador e da família ou<br />
pessoas com quem vivem).<br />
Igualmente se verifica que 78,6% dos inquiridos afirma ter ficado com a<br />
totalidade da remuneração, enquanto que 7,1% assegura que entregou tudo à<br />
família/pessoas com quem vive. Cerca de 14% refere que reparte com a<br />
família/pessoas com quem vive.<br />
Ainda relativamente àqueles que receberam em géneros, 26 ficaram com a<br />
totalidade dos géneros recebidos e 6 deram tudo ou parte à família / pessoas<br />
com quem vivem.<br />
Dos 231 inquiridos que receberam dinheiro como compensação<br />
(independentemente de terem recebido também géneros), 73,6% foram pagos<br />
pelo empregador e 20,8% foram pagos pela família / pessoas com quem vivem.<br />
Apenas 2 receberam o dinheiro de clientes e 7 não especificaram.<br />
A maioria daqueles que receberam dinheiro pelo trabalho realizado comprou<br />
roupa, ténis ou sapatos (49,2%), 19,1% comprou computador, consola de jogos<br />
ou telemóvel, 6,3% comprou uma bicicleta ou uma mota, e 25,4% não<br />
especificou em que é que gastou o dinheiro.<br />
141
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Quanto ao modo de pagamento, 65,4% dos 231 inquiridos que receberam<br />
dinheiro foram pagos à hora, à semana ou ao mês. Os restantes receberam no<br />
fim do trabalho ou à tarefa.<br />
Em 70,6% dos casos (204 situações) o dinheiro foi recebido pelos próprios<br />
inquiridos. Nas restantes situações, recebeu a família ou as pessoas com quem<br />
vivem.<br />
Dos 204 inquiridos que receberam o dinheiro pelo trabalho realizado, apenas<br />
10,4% (21) deram a totalidade à família, e 47% não deram nada (95). Dos<br />
restantes 88, 17,5% (35) deu a maior parte, 25,2% (51) apenas uma pequena<br />
parcela, e 2 não responderam.<br />
Dos 27 inquiridos que afirmam ter sido a família a receber o dinheiro, 14<br />
disseram que a família lhes deu uma pequena parte, 8 que lhes deu a<br />
totalidade e 4 que não lhes deu nada. Apenas 1 afirmou ter recebido da família<br />
a maior parte do pagamento pelo seu trabalho.<br />
Olhando agora para a questão da formalização contratual do trabalho<br />
desempenhado pelos alunos de PIEF inquiridos, a esmagadora maioria<br />
trabalhou sem qualquer tipo de vínculo contratual (97,9%).<br />
2.6. Trabalho infantil no passado e núcleo familiar e redes de sociabilidade<br />
Uma grande maioria dos inquiridos que esteve em situação de trabalho infantil<br />
no passado vive com a mãe e/ou com o pai (86,9%) e 39,4% vive numa família<br />
nuclear com irmãos. Refira-se ainda que 10 destes inquiridos estão<br />
actualmente institucionalizados. Quanto aos inquiridos que não vivem com<br />
nenhum dos pais, a percentagem que representam é residual (30 inquiridos,<br />
que corresponde a 10,4%)<br />
Olhando agora para esta variável agregada por tipo de família a que pertence o<br />
inquirido, 59,9% afirmou viver numa família de tipo nuclear (mãe/madrasta e<br />
142
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
pai/padrasto, com ou sem irmãos), 14,2% vive apenas com um dos pais, 22,5%<br />
pertence a uma família alargada, e os restantes estão institucionalizados.<br />
17,2% dos inquiridos referiu que pelo menos um membro do agregado familiar<br />
costuma estar ausente (não dormir em casa), dos quais 22 disseram ser o pai e<br />
4 referiram a mãe.<br />
Relativamente ao encarregado de educação, 70,9% disse ser a mãe a<br />
desempenhar essa função e 13,1% o pai. As restantes percentagens, todas<br />
residuais, referem um dos avós (4,8%), um irmão ou irmã (2,1%), a madrasta<br />
ou padrasto (1,4%), um tio ou tia (3,1%), e um outro familiar ou não familiar<br />
(4,5%).<br />
O espaço onde os inquiridos passam a maioria dos seus tempos livres distribui-<br />
se de forma muito semelhante entre os que ficam em casa e os que saem<br />
(54,3% e 45,7%, respectivamente).<br />
No que se refere às pessoas com quem se dão melhor, as categorias que<br />
apresentam as percentagens mais elevadas são a mãe (23,4%), os amigos<br />
(16,3%), os irmãos/irmãs (15,8%) e o pai (15,7%).<br />
A maioria afirmou ter por hábito passar tempo com os pais (84,1%). Mas, no<br />
que toca à ajuda dos pais nos estudos destes inquiridos (medida<br />
exclusivamente pela ajuda nos trabalhos de casa ou a tirar dúvidas sobre as<br />
matérias ensinadas na escola), ela é maioritariamente ausente (64% dos<br />
inquiridos afirmou que os pais não os ajudam nestas tarefas escolares).<br />
2.7. Trabalho infantil no passado e condições de habitabilidade<br />
O tipo de habitação dos alunos com trabalho infantil no passado reparte-se<br />
entre alugada (41,9%) e propriedade da família (51,9%).<br />
Por outro lado, relativamente ao bairro onde moram, 74,7% diz não ser um<br />
bairro social.<br />
Quanto às infraestruturas da casa onde moram, os que não têm equipamentos<br />
que podemos considerar básicos (casa de banho, água canalizada fria e<br />
143
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
quente, electricidade, gás, máquina de lavar a roupa, frigorífico, fogão e, para<br />
todos os efeitos, televisão) apresentam valores muito residuais. O aquecimento<br />
não está incluído no conjunto dos indicadores referidos acima por se verificar<br />
que uma percentagem expressiva de inquiridos diz não o ter em sua casa<br />
(43,6%).<br />
Telefone fixo e acesso à Internet são os bens que os inquiridos menos<br />
possuem (56,7% e 78,9%, respectivamente, diz que não tem estes<br />
equipamentos).<br />
É de referir que, apesar de 44,6% afirmar não ter computador em casa, a<br />
percentagem daqueles que têm é superior à dos que afirmaram ter telefone<br />
fixo.<br />
A percentagem elevada de inquiridos que não tem telefone fixo contrasta com a<br />
percentagem dos que nos disseram ter telemóvel – 87,2%. Esta poderá ser<br />
esta uma das principais razões para que não tenham telefone em casa.<br />
Verificou-se também que 64,4% destes alunos de PIEF tem um quarto só para<br />
si.<br />
2.8. Trabalho infantil no passado e vida escolar antes e depois do PIEF<br />
Se tivermos em conta que estamos perante alunos de PIEF, não ficaremos<br />
admirados com as taxas de insucesso escolar anterior à sua inserção neste<br />
programa integrado de educação e formação. De facto, 99,3% afirmou ter já<br />
sido alvo de pelo menos uma retenção escolar.<br />
Olhando para o número retenções escolares, 70,9% diz já ter ficado retido pelo<br />
menos 3 vezes (dos quais 8,8% só repetiu um ano escolar) e 9,5% (27<br />
inquiridos) afirmou já ter ficado retido 5 ou mais vezes.<br />
144
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Muito embora a percentagem de abandonos escolares 50 seja expressiva<br />
(31,1%, que corresponde a 90 alunos), a percentagem de desistências é maior<br />
(43,3%).<br />
A maioria dos abandonos escolares ocorreram apenas uma vez, e 53,3%<br />
destes inquiridos ocuparam o tempo daí resultante a trabalhar (48 dos 90<br />
inquiridos que abandonaram a escola). 33,6% dos alunos que desistiram (que<br />
podemos chamar de abandonos não oficializados) ocuparam o tempo daí<br />
resultante a trabalhar.<br />
Os dados analisados revelam existir uma relação entre o insucesso e<br />
abandono escolares e o trabalho infantil no passado. De facto, o cruzamento<br />
entre estas variáveis e a realização ou não de trabalho infantil no passado<br />
mostra não só que elas são dependentes, como que há uma maior<br />
probabilidade de se verificarem situações de abandono e insucesso escolar em<br />
alunos que já estiveram em situação de trabalho infantil 51 . No entanto, o<br />
mesmo não se verifica no cruzamento das situações de trabalho infantil com as<br />
desistências escolares (ou abandonos não oficializados)<br />
Relativamente à autoavaliação do desempenho escolar, 45,5% dos inquiridos<br />
considerou satisfatório; 34,6% bom; 14,4% muito bom ou excelente e 5,4%<br />
insuficiente ou mau.<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
Gráfico 39 – Como avalia o seu desempenho escolar (%)<br />
4,2<br />
10,2<br />
34,6<br />
145<br />
45,5<br />
Excelente Muito bom Bom Satisfatório Insuficiente Mau<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />
50 Recorde-se que a definição de abandono escolar implica a desistência da escola sem que<br />
haja uma inscrição no ano seguinte, e sem que o aluno ingresse em qualquer tipo de programa<br />
de educação ou formação alternativo ao ensino regular.<br />
51 Resíduos ajustados estandardizados de 2,6 relativamente ao insucesso e 2,8 relativamente<br />
aos abandonos escolares.<br />
3,6<br />
1,8
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Quanto ao apoio escolar, 199 dos 289 inquiridos em análise neste ponto<br />
beneficiam de Serviços de Apoio Social Escolar.<br />
Nas questões relativas à frequência dos PIEF, começou por se perguntar se<br />
estes alunos recebiam alguma bolsa de formação. A maioria (69,9%)<br />
respondeu negativamente e 29,8% afirmou receber alguma ajuda no âmbito<br />
deste programa (que corresponde a 86 alunos). Nestes casos, a maioria das<br />
bolsas são de carácter monetário (nunca superior a 75 Euros mensais), muito<br />
embora 36 inquiridos tenham recebido algum tipo de apoio em géneros<br />
(alimentação, material escolar ou vestuário).<br />
A avaliação expressa por estes alunos, que conheceram experiências de<br />
trabalho infantil no passado, é bastante positiva para o programa PIEF onde<br />
estão inseridos, quer no que se refere à vida escolar, quer em relação à vida<br />
com a família e amigos.<br />
De facto, a maioria afirmou considerar o que aprende em PIEF importante para<br />
a sua vida futura (97,2%).<br />
Igualmente, os indicadores relativos à satisfação e envolvimento na vida<br />
escolar após inserção nos programas PIEF revelam uma tendência geral para<br />
uma melhoria e maior participação nos processos de aprendizagem por parte<br />
destes inquiridos.<br />
De facto, uma expressiva maioria afirmou que, desde que está inserida nos<br />
programas integrados de educação e formação, gosta mais de ir às aulas<br />
(84,4%), acha que aprende mais do que anteriormente (82,7%), considera<br />
aprender coisas de carácter mais prático (94,8%), sente que tem menos<br />
trabalho (78,2%), tem melhores notas (86,9%), está mais interessado na escola<br />
(82%), e não falta mais às aulas (90%). Com valores mais reduzidos, mas<br />
ainda assim maioritários, estão a maior vontade de estudar (67,5%), a ajuda à<br />
família (50,9%) e o falar mais com os pais/pessoas com quem vive (50,2%).<br />
A variável relativa à ida dos encarregados de educação à escola revela uma<br />
tendência muito expressiva. De facto, os resultados mostram que 82% dos<br />
encarregados de educação têm o hábito de se deslocar com regularidade à<br />
escola para reuniões.<br />
146
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Quanto às idas dos encarregados de educação à escola por razões<br />
excepcionais, a distribuição entre as respostas positivas e negativas não é<br />
muito díspar (45,3% diz que o encarregado já foi chamado à escola por outras<br />
razões que não as reuniões e 52,6% diz que não).<br />
2.9. Trabalho infantil no passado e expectativas de vida<br />
Relativamente à profissão que desejam ter no futuro, 30,4% diz sonhar com um<br />
trabalho que não exige a obtenção de qualificações escolares superiores ao<br />
12º ano (mecânico, agricultor, etc.), o que pode indiciar que, apesar dos<br />
indicadores favoráveis em relação ao PIEF, a Escola continua a ser um espaço<br />
pouco desejado.<br />
Praticamente metade dos inquiridos (45,6%) acredita necessitar, pelo menos,<br />
do 9º ano de escolaridade para vir a exercer a profissão desejada e apenas<br />
9,3% considera o diploma universitário como requisito básico para tal.<br />
Os resultados apurados mostram que mais de metade destes jovens (52,1%)<br />
pensa estudar até ao 9º ano de escolaridade, 21,8% até ao 12º, e que os<br />
estudos universitários fazem parte das ambições somente de 5,1% dos alunos<br />
inquiridos.<br />
Perguntou-se ainda se, para realizarem alguns sonhos de vida, os inquiridos<br />
achavam que precisam de estudar, de forma a tentar perceber se as<br />
representações acerca da escolaridade os levavam ou não a ver<br />
consequências menos directas noutras dimensões das suas vidas, que não<br />
apenas a profissional. A grande maioria respondeu afirmativamente (70,9%).<br />
É relevante que 77,9% dos alunos não ponderam levar os estudos além do 12º<br />
ano de escolaridade (56,1% diz mesmo pretender estudar apenas até ao 9º<br />
ano do ensino básico). Por outro lado, os que pretendem ir para a universidade<br />
representam apenas 4,2% dos 289 inquiridos em situação de trabalho infantil<br />
no passado.<br />
147
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
2.10. Trabalho infantil no passado e desvio<br />
Esta parte da análise incide sobre um conjunto de indicadores onde se<br />
pretende averiguar até que ponto os inquiridos tiveram ou têm comportamentos<br />
que se afastam da “norma”.<br />
Começando pelos processos disciplinares, 53,6% declarou já ter tido pelo<br />
menos um, valores um pouco mais expressivos do que se encontrou<br />
anteriormente para os alunos que tinham tido uma actividade,<br />
independentemente de ter sido trabalho infantil (50,3% dos inquiridos com uma<br />
actividade no passado já tiveram processos disciplinares).<br />
O cruzamento entre a situação de trabalho infantil e os processos disciplinares<br />
permite-nos ainda verificar que estas duas variáveis são dependentes, e que a<br />
os alunos que estiveram em situação de trabalho infantil no passado têm maior<br />
probabilidade de ter tido processos disciplinares 52 .<br />
As expulsões são menos frequentes, mas ainda assim com uma percentagem<br />
próxima dos 20%.<br />
A maioria dos inquiridos (63,7%) afirma nunca ter tido qualquer tipo de<br />
problema com a polícia.<br />
52 Resíduo ajustado estandardizado de 2,5.<br />
148
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
3. Actividades desenvolvidas na semana de referência<br />
Neste capítulo far-se-á uma caracterização das actividades em geral realizadas<br />
pelos inquiridos na semana de referência.<br />
A semana de referência corresponde à semana anterior à data de<br />
administração do questionário aos alunos.<br />
A partir desta análise procurar-se-á chegar às dinâmicas conducentes às<br />
situações de trabalho infantil, distinguindo o trabalho feito apenas no espaço da<br />
família (o que chamamos de tarefas domésticas) e o trabalho em sentido<br />
estritamente económico (que tem por base a definição da OIT).<br />
Dos 1098 alunos de PIEF inquiridos, 162 (14,8%) afirmaram ter realizado um<br />
trabalho na última semana, exclusivamente fora do seio familiar (apenas<br />
trabalho por conta de outrem). Este valor corresponde aos número de<br />
inquiridos que disse ter realizado algum trabalho na última semana, que não<br />
tivesse sido realizado em casa ou em negócio ou empresa familiar.<br />
O trabalho familiar não remunerado está inserido num módulo de questões<br />
relativas ao trabalho realizado em âmbito familiar. Assim, tivemos de fazer a<br />
distinção entre trabalho familiar não remunerado (nas duas dimensões de que<br />
falámos anteriormente – trabalho em empresa familiar e trabalho em contexto<br />
familiar) e tarefa doméstica, de forma a poder analisar estas duas formas de<br />
trabalho separadamente. A forma como foram agregadas estas respostas<br />
numa só categoria vem explicada abaixo.<br />
Relativamente às tarefas domésticas, agregaram-se as respostas que diziam<br />
apenas respeito às ajudas familiares realizadas no espaço da casa, onde<br />
61,4% do total de alunos de PIEF inquiridos respondeu afirmativamente.<br />
Esta grande percentagem de inquiridos que afirmou ter participado / realizado<br />
tarefas domésticas engloba todo o tipo de ajudas familiares, que passam,<br />
também, pela participação nas tarefas da casa que podemos entender como<br />
fazendo parte de um processo de socialização na família (ajudar a pôr a mesa,<br />
fazer a cama, etc.). Não devemos, portanto, precipitar-nos na análise destes<br />
valores.<br />
149
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Faremos a breve caracterização destas situações, de forma a distinguir entre o<br />
apoio familiar que não interfere na vida escolar ou no saudável<br />
desenvolvimento das crianças e jovens inquiridos (não ocupando um número<br />
de horas excessivo, ou que não interfira directamente com a frequência<br />
escolar), e as tarefas domésticas que, pela sua intensidade ou duração, devem<br />
ser motivo de uma maior atenção.<br />
Em cada ponto, apresentamos os resultados relativos à realização de<br />
actividade económica na última semana, seguida da análise dos resultados<br />
relativos às tarefas domésticas.<br />
3.1. Actividades económicas e tarefas domésticas desenvolvidas pelos<br />
inquiridos na semana de referência<br />
Relembramos a distinção entre actividade económica em sentido estrito,<br />
entendida como uma actividade desenvolvida num sector da economia formal,<br />
e tarefas domésticas, que são desenvolvidas no espaço da família, e não<br />
podem ser inseridas em nenhum sector formal da economia (dizem respeito ao<br />
trabalho realizado exclusivamente no espaço da casa).<br />
Dentro do que se denominou de actividades económicas em sentido estrito,<br />
fez-se a distinção entre trabalho por conta de outrem e trabalho familiar não<br />
remunerado. O trabalho por conta de outrem (TCO) diz respeito a uma<br />
actividade que se encontra dependente economicamente de um empresário,<br />
com um vínculo contratual que pode ou não estar formalizado. O trabalho<br />
familiar não remunerado (TFNR) remete para todo o trabalho em que o<br />
empregador é um familiar ou pessoa com quem o inquirido vive, e que, não<br />
sendo remunerado, pode ser incluído num sector de actividade concreto.<br />
Dentro desta categoria fazemos ainda a distinção entre trabalho em empresa<br />
familiar e trabalho em contexto familiar, onde na primeira destas vertentes de<br />
TFNR se encontram todas as actividades em empresas ou negócios familiares,<br />
e na segunda o trabalho agrícola realizado num contexto de ajuda familiar.<br />
Relembramos ainda que, para determinar as situações de trabalho infantil no<br />
espaço da casa, onde as actividades desenvolvidas não são susceptíveis de<br />
150
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
ser inseridas num qualquer sector de actividade (as tarefas domésticas),<br />
utilizaram-se os mesmos critérios de idade e intensidade (número de horas<br />
semanais de trabalho) a que se recorreu para a definição de trabalho infantil<br />
em sentido estrito proposta pela OIT. Assim, todos os inquiridos que cumpram<br />
simultaneamente os critérios de idade e horas semanais de trabalho, que<br />
delimitam as situações de trabalho infantil, serão contabilizados como tal, mas<br />
agora enquanto situações de trabalho infantil pela realização de tarefas<br />
domésticas.<br />
Começando por caracterizar as actividades desenvolvidas pelos inquiridos na<br />
semana de referência, devemos estabelecer qual o volume de inquiridos que<br />
está nestas condições.<br />
Importa neste ponto clarificar a forma como, a partir do nosso questionário,<br />
construímos duas novas variáveis, onde numa diferenciámos os alunos<br />
inquiridos por exercício ou não de actividade económica na última semana, e<br />
noutra fizemos a distinção entre trabalho familiar não remunerado e trabalho<br />
por conta de outrem.<br />
Uma vez que as questões foram colocadas aos alunos em separado, o primeiro<br />
passo foi perceber, nos casos em que os inquiridos afirmaram<br />
simultaneamente ter desempenhado trabalho familiar (numa empresa ou<br />
negócio, no campo, etc.) e trabalho por conta de outrem, qual destas duas<br />
respostas deveria ser considerada. Nestas situações, utilizámos o critério do<br />
tempo despendido em cada uma das actividades, privilegiando aquela onde<br />
despendeu mais tempo.<br />
Construídas as duas variáveis (denominámos de ‘AE’ aquela que indica se o<br />
aluno desenvolveu uma actividade económica na última semana ou não, e<br />
‘tipo_AE’ para diferenciar o tipo de actividade económica exercida), tivemos de<br />
agregar todos os indicadores relativos à caracterização da actividade exercida,<br />
que se encontravam separados, consoante o inquirido tivesse trabalhado na<br />
família ou por conta de outrem.<br />
Construímos, assim, 15 novas variáveis, através das quais podemos<br />
caracterizar a actividade económica segundo os seguintes indicadores: sector<br />
de actividade (‘AE_sector’); tempo despendido no exercício da actividade<br />
151
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
(‘AE_horas’, ‘AE_início’ e ‘AE_termo’); dias em que exerceu a actividade<br />
(‘AE_dias’); altura do dia em que esteve a trabalhar (‘AE_alturaDia’); se o<br />
exercício da actividade económica interferiu com a frequência das aulas<br />
(‘AE_faltarAulas’); grau de dificuldade atribuído pelo inquirido ao trabalho<br />
desenvolvido (‘AE_dificuldade’); razão pela qual o inquirido trabalhou<br />
(‘AE_razão’); se gostou ou não de exercer as actividades (‘AE_gosto’); se as<br />
actividades que realizou na última semana são novas ou se já as fazia antes<br />
(‘AE_novas); no caso de já as fazer antes, desde que idade faz a actividade<br />
económica que referiu (‘AE_IdadeInício’); e por fim, se, antes da última<br />
semana, alguma vez teve de faltar às aulas para cumprir as tarefas referidas<br />
(AE_faltava).<br />
Como já referimos, nas situações em que o inquirido afirmou ter desenvolvido<br />
simultaneamente trabalho por conta de outrem e trabalho familiar não<br />
remunerado, foi considerada a actividade na qual despendeu mais tempo.<br />
Olhando para os dados relativos à prática de uma actividade económica na<br />
última semana, aqueles que responderam afirmativamente representam pouco<br />
mais de um quinto dos alunos de PIEF inquiridos (o que corresponde a 240<br />
alunos).<br />
Gráfico 40 – Distribuição dos alunos de PIEF inquiridos segundo o exercício de uma<br />
actividade económica (em sentido estrito) na última semana<br />
78,1%<br />
152<br />
21,9%<br />
Exerceu uma AE Não exerceu uma AE<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />
Far-se-á de seguida a caracterização dos inquiridos que realizaram uma<br />
actividade económica na última semana.
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Tendo em conta o objectivo deste estudo, não nos interessa neste ponto<br />
estudar os indivíduos que atingiram a maioridade. Assim, faremos uma<br />
caracterização destas actividades para os inquiridos com idades inferiores ou<br />
iguais a 17 anos, distribuídos por três escalões etários: entre 12 e 14 anos; 15<br />
anos; e entre 16 e 17 anos (verificou-se não existirem inquiridos com menos de<br />
11 anos que tenham realizado uma actividade económica na última semana).<br />
3.1.1. Actividade económica em geral<br />
Tendo em conta a totalidade dos alunos de PIEF inquiridos menores de 18<br />
anos, que exerceram uma actividade económica na última semana (233<br />
inquiridos, que representam 21,2% da totalidade dos alunos que responderam<br />
ao questionário), vemos a partir do gráfico 39 que têm maioritariamente entre<br />
16 e 17 anos.<br />
Por outro lado, a percentagem das raparigas que exerceu actividade<br />
económica na última semana com idades entre os 12 e os 14 anos tem um<br />
peso superior ao dos rapazes.<br />
Gráfico 41 – Distribuição dos alunos de PIEF inquiridos < 18 anos que realizaram uma<br />
AE (em sentido estrito) na última semana por escalões etários e sexo<br />
%<br />
60<br />
40<br />
20<br />
0<br />
22,3<br />
28,9 27,1 26,7<br />
153<br />
50,5<br />
12-14 15 16-17<br />
M F<br />
44,4<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />
Quanto ao tipo de actividade económica exercida por estes inquiridos, 65,2%<br />
trabalhou por conta de outrem e 34,8% fez trabalhos familiares não<br />
remunerados.
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Vejamos agora como se distribuem estes inquiridos relativamente ao tipo de<br />
actividade económica realizada, segundo o sexo e o escalão etário.<br />
Gráfico 42 – Distribuição dos alunos de PIEF<br />
inquiridos < 18 anos que exerceram uma AE (em<br />
sentido estrito) na última semana pelo tipo de<br />
actividade, segundo o escalão etário<br />
%<br />
80<br />
60<br />
40<br />
20<br />
0<br />
65,5<br />
61,9 67,0<br />
34,5<br />
TCO TFNR<br />
38,1 33,0<br />
12-14 15 16-17<br />
154<br />
Gráfico 43 – Distribuição dos alunos de PIEF<br />
inquiridos < 18 anos que exerceram uma AE (em<br />
sentido estrito) na última semana pelo tipo de<br />
actividade, segundo o sexo<br />
%<br />
80<br />
60<br />
40<br />
20<br />
0<br />
63,3<br />
73,3<br />
36,7<br />
TCO TFNR<br />
M F<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />
Nos gráficos anteriores vemos que, muito embora o trabalho por conta de<br />
outrem (TCO) seja preponderante, a proporção de raparigas é superior neste<br />
tipo de actividade, mas inferior no que respeita ao trabalho familiar não<br />
remunerado (TFNR). Inversamente, encontramos um maior peso de rapazes a<br />
realizar trabalho familiar não remunerado.<br />
Dos 233 inquiridos com idades inferiores ou iguais a 17 anos que afirmaram ter<br />
desenvolvido pelo menos uma actividade económica durante a última<br />
semana 53 , apenas 4 afirmam ter realizado dois ou mais trabalhos por conta de<br />
outrem.<br />
A caracterização das actividades que faremos diz apenas respeito à primeira<br />
que foi referida pelo inquirido, segundo o critério de tempo destinado ao seu<br />
cumprimento (foi especificado aos inquiridos que a primeira actividade a<br />
considerar teria de ser aquela na qual tinham despendido mais tempo).<br />
53 Como já vimos, este valor representa 21,3% do total de alunos de PIEF que constam da<br />
nossa base de dados.<br />
26,7
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
3.1.2. Tarefas domésticas<br />
A análise do indicador relativo às tarefas domésticas realizadas na última<br />
semana implicou a construção de seis novas variáveis, onde se agregaram as<br />
respostas dos inquiridos segundo alguns critérios. A primeira variável agregou<br />
ajudas familiares que podem ser consideradas leves, e que remetem, por<br />
exemplo, para a responsabilização dos menores pela arrumação do seu<br />
espaço individual (arrumar o quarto, fazer a cama, etc.). Na segunda<br />
agregámos tarefas de limpeza do espaço da casa (arrumar/limpar a casa). A<br />
terceira variável engloba as tarefas que implicam uma responsabilização pelo<br />
cuidado de familiares / pessoas com quem vivem (tomar conta de crianças,<br />
idosos ou deficientes). A variável seguinte inclui apenas as reparações<br />
domésticas. As outras duas variáveis englobam a preparação de refeições<br />
(cozinhar/aquecer a comida) e os trabalhos de tratamento da roupa<br />
(lavar/passar roupa).<br />
A maioria dos alunos PIEF inquiridos revela ter realizado algum tipo de tarefa<br />
doméstica na última semana (61,4%), que corresponde a 674 casos.<br />
Para a caracterização das tarefas domésticas, tal como fizemos anteriormente<br />
para as actividades económicas realizadas na semana de referência,<br />
excluiremos todos os inquiridos com 18 ou mais anos. Assim, 61,3% afirmou<br />
ter realizado alguma tarefa doméstica durante a semana anterior à aplicação<br />
do questionário (que corresponde a 655 inquiridos, todos com idades inferiores<br />
a 18 anos).<br />
Relativamente ao tipo de tarefas realizadas, 79,9% afirmou ter arrumado o<br />
quarto, posto e levantado a mesa ou ido às compras, 53,2% disse ter limpo o<br />
pó ou arrumado a casa, 24,7% cozinhou ou aqueceu a comida, 15,7% lavou ou<br />
passou a roupa, 10,1% tomou conta de crianças, idosos ou deficientes e<br />
apenas 0,9% afirmou ter feito reparações domésticas. Estas percentagens<br />
representam a proporção de inquiridos que fez as tarefas referidas,<br />
relativamente aos que não as fizeram (as categorias não são mutuamente<br />
exclusivas, os inquiridos podem ter realizado mais de uma das tarefas<br />
referidas).<br />
155
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
A proporção de cada tipo de tarefa relativamente à totalidade de tarefas<br />
domésticas referidas pelos inquiridos é apresentada no gráfico abaixo.<br />
Gráfico 44 – Tarefas domésticas realizadas pelos inquiridos menores de 18 anos na<br />
última semana<br />
43,3% 28,8%<br />
8,5%<br />
13,4%<br />
156<br />
0,5%<br />
5,5%<br />
arrumar o quarto/pôr ou levantar a mesa/ir às compras<br />
limpar o pó/arrumar a casa<br />
tomar conta de crianças/idosos/deficientes<br />
fazer reparações domésticas<br />
cozinhar/aquecer a comida<br />
lavar/passar a roupa<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />
Como dissemos acima, as tarefas que se consideram leves, como arrumar o<br />
quarto, pôr e levantar a mesa ou ir às compras, são entendidas como trabalho<br />
aceitável, que fazem parte de um processo de socialização na família. Os<br />
inquiridos que tenham apenas realizado este tipo de tarefa doméstica não<br />
estão em situação de trabalho infantil, o que significa que, no ponto onde se<br />
apresenta a caracterização das situações de trabalho infantil, estes alunos<br />
nunca estarão incluídos.<br />
Há diferenças significativas entre rapazes e raparigas quanto à realização<br />
destas tarefas. De facto, muito embora se verifique, em termos absolutos, um<br />
maior número de rapazes a realizar tarefas domésticas, a proporção das<br />
raparigas que afirmou ter feito tarefas em casa é muito superior à verificada<br />
entre os rapazes (apenas 11% das raparigas responderam não ter ajudado em<br />
casa em nenhuma medida, por oposição à maioria dos rapazes).
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
A análise do cruzamento entre estas duas variáveis revelou efectivamente uma<br />
maior probabilidade de as raparigas terem realizado tarefas domésticas<br />
(resíduo ajustado de 12,1).<br />
Quanto aos escalões etários, verifica-se que foram os mais velhos quem mais<br />
participou em actividades domésticas na última semana (27,5% tem 15 anos e<br />
55% tem 16-17 anos). Este aumento verifica-se tanto entre os rapazes como<br />
entre as raparigas. No entanto, a percentagem de raparigas aumenta mais<br />
acentuadamente entre os 15 anos e o escalão dos 16-17.<br />
3.2. Actividade económica e tarefas domésticas por região<br />
A distribuição das respostas relativas à realização de uma actividade<br />
económica na última semana apresenta uma distribuição interessante em<br />
termos geográficos. Se olharmos para a distribuição dos alunos com actividade<br />
económica por região, verificamos que a maior percentagem se encontra na<br />
região Norte, seguida das regiões de Lisboa e Vale do Tejo e do Centro. As<br />
regiões do Alentejo e do Algarve apresentam percentagens muito mais<br />
reduzidas.<br />
Gráfico 45 – Distribuição dos alunos de PIEF inquiridos < 18 anos com AE (em sentido<br />
estrito) na última semana por região<br />
5,6%<br />
9,0%<br />
21,9%<br />
19,7%<br />
NORTE CENTRO<br />
ALENTEJO ALGARVE<br />
Lisboa e Vale do Tejo<br />
157<br />
43,8%<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Curiosamente, se caminharmos de Norte para Sul verificamos que as<br />
percentagens vão diminuindo, independentemente do tipo de actividade<br />
económica exercida. A única excepção é a região de Lisboa e Vale do Tejo,<br />
que é, como vimos acima, a segunda região com maior prevalência de<br />
inquiridos a exercer uma actividade económica.<br />
Gráfico 46 – Distribuição dos alunos de PIEF inquiridos < 18 anos com AE (em sentido<br />
estrito) na última semana por região, segundo o tipo de actividade<br />
Lisboa e Vale do Tejo<br />
ALGARVE<br />
ALENTEJO<br />
CENTRO<br />
NORTE<br />
3,7<br />
6,6<br />
8,6<br />
9,2<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />
A distribuição do tipo de actividade económica por região permite-nos perceber<br />
que mais de metade dos inquiridos que realizaram um trabalho familiar não<br />
remunerado é da região Norte.<br />
14,8<br />
21,0<br />
19,1<br />
Por outro lado, a segunda região com mais inquiridos a realizar trabalho<br />
familiar não remunerado é a região centro, que é a terceira região com maior<br />
incidência de inquiridos com actividade económica. Na região de Lisboa e Vale<br />
do Tejo, o trabalho por conta de outrem é preponderante.<br />
É ainda de salientar o facto de, no Centro e Norte, as maiores prevalências<br />
corresponderem ao trabalho familiar não remunerado, ao contrário do que se<br />
verifica nas regiões de Lisboa e Vale do Tejo, Algarve e Alentejo, onde<br />
predominam aos trabalhos por conta de outrem.<br />
158<br />
25,7<br />
39,5<br />
51,9<br />
0 10 20 30 40 50 60<br />
TCO TFNR<br />
%
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Olhando agora para a distribuição por região dos alunos que realizaram tarefas<br />
domésticas na última, continua a verificar-se um peso muito superior das<br />
regiões Norte e LVT, seguidas da região do Centro.<br />
Gráfico 47 – Distribuição dos alunos de PIEF inquiridos < 18 anos que realizaram tarefas<br />
domésticas na última semana por região<br />
34,2%<br />
6,6%<br />
7,6%<br />
159<br />
15,0%<br />
NORTE CENTRO<br />
ALENTEJO ALGARVE<br />
Lisboa e Vale do Tejo<br />
36,6%<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />
Quanto ao tipo de tarefa doméstica por região, verifica-se que predominam em<br />
todas elas as tarefas mais leves, como arrumar o quarto ou fazer a cama. A<br />
limpeza da casa é o segundo tipo de tarefas que se destacam em todas as<br />
regiões. Quanto à preparação de refeições e ao tratamento da roupa, a região<br />
do Alentejo apresenta uma alteração nas percentagens relativas. Mesmo<br />
assim, podemos dizer que, de forma geral, as distribuições regionais do tipo de<br />
tarefas realizadas pelos alunos são muito semelhantes.
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Gráfico 48 – Distribuição do tipo de tarefa doméstica realizada na última semana pelos<br />
inquiridos
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Por outro lado, o peso das actividades segundo o sexo é bastante diferentes.<br />
As raparigas têm uma maior percentagem no sector dos serviços e nas feiras<br />
ou mercados, não têm qualquer tipo de expressão na construção, que é um<br />
tipo de trabalho mais frequentemente realizado por rapazes 54 . Por outro lado, o<br />
trabalho realizado em feiras ou mercados ocupa poucos rapazes, e é no sector<br />
da agricultura que encontramos a maior parcela destes inquiridos.<br />
O desporto de alta competição e a indústria são categorias residuais.<br />
Gráfico 49 – Distribuição dos alunos de PIEF inquiridos < 18 anos que trabalharam por<br />
conta de outrem na última semana pelos sectores de actividade, segundo o sexo<br />
%<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
23,5<br />
12,1<br />
21,1<br />
7,6<br />
6,1<br />
7,2<br />
16,8<br />
39,4<br />
Agricultura Indústria Serviços Construção Feiras /<br />
mercados<br />
21,7<br />
17,6<br />
161<br />
0,0<br />
13,8<br />
4,2<br />
30,3<br />
M F Total<br />
9,9<br />
9,2<br />
0,0<br />
7,2<br />
Desporto de<br />
alta<br />
competição<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />
21,0<br />
12,1<br />
19,1<br />
Observando agora o tipo de trabalho familiar não remunerado realizado pelos<br />
inquiridos, percebemos que a maioria trabalhou em contexto familiar, que se<br />
refere exclusivamente ao trabalho agrícola realizado no espaço da família.<br />
Apenas 11 dos 78 inquiridos que disseram ter realizado TFNR (com respostas<br />
válidas relativamente ao tipo de TFNR) fizeram-no numa empresa familiar.<br />
Quanto às distribuições do tipo de TFNR segundo o sexo, podemos verificar<br />
que são muito semelhantes, com uma percentagem ligeiramente maior de<br />
raparigas a realizar trabalho em contexto familiar.<br />
54 Vejam-se as conclusões do estudo pelo SIETI de 2001, p. 80 (SIETI, Trabalho Infantil em<br />
Portugal 2001: caracterização social dos agregados familiares portugueses com menores em<br />
idade escolar, Lisboa, Ministério da Segurança Social e do Trabalho, IEFP, 2003)<br />
Outro
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Gráfico 50 – Distribuição dos alunos de PIEF inquiridos < 18 anos que realizaram TFNR<br />
pelo tipo de trabalho realizado, segundo o sexo<br />
%<br />
100<br />
80<br />
60<br />
40<br />
20<br />
0<br />
85,1 90,9 85,9<br />
162<br />
14,9<br />
9,1<br />
14,1<br />
Trabalho em contexto familiar Trabalho em empresa familiar<br />
M F Total<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />
Olhando agora para o tipo de tarefas que os inquiridos afirmaram ter realizado<br />
na semana anterior à aplicação dos questionários segundo o sexo, verificamos<br />
que, embora os rapazes participem nas tarefas domésticas mais do que os<br />
estereótipos de género fariam supor (se olharmos para os resultados de outras<br />
pesquisas, as assimetrias entre rapazes e raparigas relativamente às tarefas<br />
domésticas é bastante mais acentuada), a percentagem de raparigas que ajuda<br />
nas tarefas da casa é superior em todas as categorias, com a excepção da<br />
arrumação do quarto e das reparações domésticas.<br />
Gráfico 51 – Distribuição dos alunos de PIEF inquiridos
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
A natureza das tarefas domésticas deve ser motivo de especial atenção. Uma<br />
criança que arrume o próprio quarto ou ajude a pôr e levantar a mesa faz um<br />
tipo de tarefas que dificilmente poderá ser considerada pesada, e que ocupará<br />
um tempo reduzido. A natureza deste tipo de tarefas faz com que não possam<br />
ser consideradas trabalho infantil, muito embora a sua caracterização possa<br />
ser importante, mas agora funcionando essencialmente como um factor de<br />
integração e participação na vida familiar. Assim, o cruzamento entre o tipo de<br />
tarefas e os vários indicadores que as caracterizam é essencial.<br />
3.4. Dias por semana, horas diárias e altura do dia<br />
A distribuição dos inquiridos pelos dias em que estiveram a exercer a<br />
actividade económica permite-nos facilmente perceber que a maioria destes<br />
alunos não está em situação de trabalho infantil. De facto, se olharmos para o<br />
critérios que delimitam o conceito de trabalho infantil tal como é aqui<br />
operacionalizado, e se tivermos em conta que não temos inquiridos com menos<br />
de 11 anos com uma actividade económica na última semana, percebemos que<br />
todos aqueles que afirmaram ter exercido a actividade económica apenas<br />
durante o fim-de-semana ou durante apenas um dia da semana não estão em<br />
situação de trabalho infantil, uma vez que as horas de trabalho semanal e os<br />
dias de trabalho na semana não ultrapassam os limites definidos (o que<br />
corresponde a 49,4% ou 115 inquiridos com exercício de uma actividade<br />
económica na última semana) 55 .<br />
É de referir que cerca de 16% destes inquiridos (que corresponde a 37<br />
inquiridos) afirmam ter realizado as actividades económicas durante os sete<br />
dias da semana. Importa agora saber quantas horas foram dispendidas nestas<br />
actividades.<br />
55 Também aqueles que estão na categoria ‘Outra’ não podem ser incluídos no conjunto de<br />
situações de trabalho infantil, por uma óbvia impossibilidade em medir o tempo despendido nas<br />
actividades económicas da última semana.<br />
163
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Gráfico 52 – Distribuição dos alunos de PIEF inquiridos < 18 anos com AE (em sentido<br />
estrito) na última semana pelos dias em que estiveram a trabalhar<br />
%<br />
35<br />
30<br />
25<br />
20<br />
15<br />
10<br />
5<br />
0<br />
15,9<br />
Todos os<br />
dias,<br />
incluindo<br />
fim-desemana<br />
3,9<br />
Todos os<br />
dias,<br />
menos ao<br />
fim-desemana<br />
3,0<br />
Seis dias<br />
por<br />
semana<br />
164<br />
13,7<br />
Dia sim dia<br />
não<br />
30,9<br />
Só ao fim<br />
de semana<br />
18,5<br />
14,2<br />
Um dia Outra<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />
Antes de mais, note-se que, do total de inquiridos com actividade económica na<br />
última semana, houve um que não respondeu às questões relativas ao tempo<br />
diário despendido nestas actividades. Por isso, estamos a considerar apenas<br />
232 respostas válidas.<br />
Verifica-se que apenas 18 dos inquiridos na situação em análise estiveram<br />
ocupados menos de uma hora por dia em actividades económicas (que<br />
corresponde a 7,8%).<br />
Gráfico 53 – Distribuição dos alunos de PIEF inquiridos < 18 anos com AE (em sentido<br />
estrito) na última semana por horas diárias de trabalho, segundo o escalão etário<br />
%<br />
35<br />
30<br />
25<br />
20<br />
15<br />
10<br />
5<br />
0<br />
9,1<br />
8,1<br />
7,0<br />
Menos de 1<br />
hora<br />
21,8<br />
19,4<br />
18,3<br />
Entre 1 a 2<br />
horas<br />
25,5<br />
30,6<br />
23,5<br />
Entre 2 a 4<br />
horas<br />
16,4<br />
12,9<br />
18,3<br />
Entre 4 a 6<br />
horas<br />
12-14 15 16-17<br />
27,3<br />
29,0<br />
33,0<br />
Mais de 6<br />
horas<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Os resultados revelam que 30,6% dos inquiridos afirma ter despendido mais de<br />
6 horas diárias a cumprir as actividades referidas.<br />
Com a excepção da categoria de 4 a 6 horas, que sofre um decréscimo em<br />
todos os escalões etários, verifica-se um acréscimo na percentagem de<br />
inquiridos com actividade económica à medida que as horas de trabalho diárias<br />
aumentam. Este resultado verifica-se independentemente do sexo.<br />
No caso dos inquiridos com 15 anos, destacam-se aqueles que trabalharam<br />
entre 2 e 4 horas diárias. Relativamente aos inquiridos com idades entre os 12<br />
e os 14 anos, destacam-se os que afirmaram ter trabalhado mais de 6 horas<br />
por dia, tal como acontece no escalão dos 16-17 anos (embora neste caso a<br />
percentagem dos que afirmaram ter trabalhado esse número de horas por dia<br />
seja superior àquele verificado nos outros dois escalões etários).<br />
É claro que não basta sabermos o número de horas diárias para perceber se<br />
os inquiridos estão ou não em situação de trabalho infantil. Sabemos no<br />
entanto que, dentro do conjunto dos indicadores que seleccionámos para a<br />
operacionalização do conceito, o número de horas diárias despendidas a<br />
trabalhar é um indicador importante. Assim, é pouco provável que os inquiridos<br />
que afirmaram ter trabalhado 2 ou menos horas por dia estejam em situação de<br />
trabalho infantil na última semana, o que exclui à partida 27,2% dos 232 alunos<br />
de PIEF que responderam a esta questão (que corresponde a 63 inquiridos).<br />
Mas não podemos já afirmar quantos são os inquiridos em situação de trabalho<br />
infantil. Para isso, temos de cruzar este indicador com outras variáveis (importa<br />
nomeadamente saber durante quantos dias da semana trabalharam o número<br />
165
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Gráfico 54 – Distribuição dos alunos de PIEF<br />
inquiridos < 18 anos com AE (em sentido estrito)<br />
na última semana, pela altura do dia em que<br />
estiveram a cumprir essas actividades<br />
14,2%<br />
7,7%<br />
78,1%<br />
Antes das 8 da noite<br />
Antes das 8 da noite|Depois das 8 da noite<br />
Depois das 8 da noite<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-<br />
UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />
166<br />
de horas diárias referido).<br />
Se olharmos agora para a<br />
altura do dia em que os<br />
inquiridos afirmam ter<br />
trabalhado, uma grande<br />
maioria afirmou tê-lo feito<br />
antes das 8 horas da noite. No<br />
entanto, 21,9% disse ter<br />
trabalhado antes e depois, ou<br />
apenas depois das 8 da noite.<br />
Estas situações devem ser<br />
analisadas com alguma<br />
cautela, já que, como foi já referido na discussão teórica apresentada, este é<br />
também um critério importante na definição das situações de trabalho infantil.<br />
Falaremos sobre isto mais adiante.<br />
Olhando agora para a altura do dia em que afirmaram ter começado a<br />
trabalhar, 46,4% diz ter começado de manhã, e apenas 4,7% afirmou ter sido<br />
depois do jantar ou depois da novela.<br />
O cruzamento da altura do dia em que afirmaram ter começado a trabalhar com<br />
a variável que nos indica a altura do dia em que terão terminado o trabalho<br />
permite-nos perceber/controlar as respostas dadas a algumas questões que<br />
foram já tratadas, como o número de horas diárias que os inquiridos disseram<br />
ter trabalhado, ou se foi antes ou depois das 8 horas da noite.
Quando<br />
iniciou a<br />
actividade<br />
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Tabela 3 – Distribuição dos alunos de PIEF inquiridos < 18 anos com AE (em sentido<br />
estrito) pela altura do dia em que começou a trabalhar segundo a altura em que acabou<br />
de trabalhar<br />
de manhã<br />
ao fim da tarde<br />
depois do jantar /<br />
novela<br />
varia, não tem hora<br />
fixa para começar<br />
não sabe<br />
Total<br />
Quando acabou a actividade<br />
depois do varia, não tem<br />
ao fim da jantar / hora fixa para<br />
de manhã tarde novela terminar não sabe Total<br />
N 29 68 7 4 0 108<br />
% 26,9% 63,0% 6,5% 3,7% ,0% 100,0%<br />
N 1 54 20 5 0 80<br />
% 1,3% 67,5% 25,0% 6,3% ,0% 100,0%<br />
N 3 0 8 0 0 11<br />
% 27,3% ,0% 72,7% ,0% ,0% 100,0%<br />
N 0 5 1 26 1 33<br />
% ,0% 15,2% 3,0% 78,8% 3,0% 100,0%<br />
N 0 1 0 0 0 1<br />
% ,0% 100,0% ,0% ,0% ,0% 100,0%<br />
N 33 128 36 35 1 233<br />
% 14,2% 54,9% 15,5% 15,0% ,4% 100,0%<br />
Dos 11 inquiridos que afirmaram ter começado a trabalhar depois do jantar, 8<br />
disseram-nos que acabaram antes de ir para a cama, e 3 só de manhã. De<br />
facto, no cruzamento entre a hora em que terminaram de trabalhar e a altura do<br />
dia em que estiveram a trabalhar (antes ou depois das 8 da noite), verificamos<br />
que existem três inquiridos que terminaram o trabalho de manhã, e estiveram a<br />
trabalhar depois das 8 horas da noite. Também no cruzamento com o número<br />
de horas diárias de trabalho verificamos que existem 4 inquiridos que<br />
terminaram o trabalho de manhã e trabalharam mais de 6 horas diárias.<br />
Estes quatro inquiridos que aqui referimos (dos quais três são os mesmos de<br />
que falámos acima, que começaram a trabalhar depois do jantar e acabaram<br />
de manhã) trabalharam depois ou antes e depois das 8 da noite, e terminaram<br />
o trabalho de manhã cedo. Cruzando esta informação com o escalão etário dos<br />
inquiridos, ficamos a saber que 2 têm 15 anos e os outros 2 têm entre 16-17<br />
anos. Estes últimos não estão em situação de trabalho infantil (estão fora dos<br />
limites etários estabelecidos pela OIT), mas os outros dois inquiridos<br />
hipoteticamente poderão estar. Se olharmos para o número de dias em que<br />
167
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
estiveram a trabalhar vemos que, tanto um como outro, trabalharam apenas um<br />
dia durante a última semana e que não consideraram o trabalho difícil 56 .<br />
Refira-se ainda que, com a excepção dos inquiridos que afirmaram ter iniciado<br />
o exercício da actividade de manhã, a maioria dos restantes afirma ter<br />
concluído as actividades no mesmo período do dia em que as iniciaram.<br />
Se olharmos para os dias ocupados pelos inquiridos na realização de tarefas<br />
domésticas e os compararmos com as respostas dadas relativamente às<br />
actividades económicas, verifica-se que, no caso das tarefas domésticas, o<br />
número de dias que ocupam é bastante superior.<br />
De facto, 36,9% dos alunos inquiridos afirmou ter realizado tarefas domésticas<br />
todos os dias, incluindo ao fim-de-semana (relativamente às actividades<br />
económicas esta categoria correspondia a 15,9% das respostas). No entanto,<br />
como veremos mais adiante, encontramos menos situações de trabalho infantil<br />
em tarefas domésticas do que nas actividades económicas.<br />
Gráfico 55 – Distribuição dos alunos de PIEF inquiridos < 18 anos que realizaram tarefas<br />
domésticas na última semana pelos dias em que realizaram as tarefas<br />
%<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
36,9<br />
Todos os<br />
dias,<br />
incluindo o<br />
fim de<br />
semana<br />
6,0<br />
Todos os<br />
dias,<br />
menos ao<br />
fim de<br />
semana<br />
1,1<br />
Seis dias<br />
por<br />
semana<br />
168<br />
20,3<br />
12,4<br />
Só ao fim Dia sim, dia<br />
de semana não<br />
13,7<br />
9,6<br />
Um dia Outra<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />
56 Dois destes inquiridos são das regiões Norte (município de Moimenta da Beira e Resende),<br />
um do Algarve (município de Tavira) e um de LVT (município de Sintra). Três frequentam PIEF<br />
de tipo 2, e um PIEF de tipo 1, são todos rapazes, dois têm 15 anos, e dois entre 16 e 17 anos.<br />
Quanto ao tipo de trabalho realizado, todos trabalharam por conta de outrem, um no sector dos<br />
serviços e três não especificaram o que fizeram.
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Ao contrário do que se verificava na análise homóloga da actividade económica<br />
desenvolvida, aqui apercebemo-nos, conforme se pode observar no gráfico<br />
seguinte, que há um decréscimo na percentagem de inquiridos que realizaram<br />
tarefas domésticas na última semana à medida que as horas de trabalho<br />
diárias aumentam.<br />
É de salientar que, independentemente do escalão etário que observarmos, a<br />
maior percentagem de inquiridos se concentra nas categorias ‘menos de 1<br />
hora’ e ‘entre 1 a 2 horas’, sendo que os alunos que despendem mais de 6<br />
horas a realizar tarefas domésticas apresentam percentagens residuais.<br />
Gráfico 56 – Distribuição dos alunos de PIEF inquiridos < 18 anos que realizaram tarefas<br />
domésticas na última semana pelas horas diárias de trabalho, segundo o escalão etário<br />
%<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
41,2<br />
42,7<br />
38,7<br />
Menos de 1<br />
hora<br />
36,0<br />
33,7<br />
36,5<br />
Entre 1 a 2<br />
horas<br />
14,0<br />
17,4<br />
19,5<br />
169<br />
Entre 2 a 4<br />
horas<br />
7,9<br />
4,5<br />
4,2<br />
Entre 4 a 6<br />
horas<br />
12-14 15 16-17<br />
0,9<br />
1,7<br />
1,1<br />
Mais de 6<br />
horas<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />
Gráfico 57 – Distribuição dos alunos de PIEF inquiridos < 18 anos que realizaram tarefas<br />
domésticas na última semana, pela altura do dia em que estiveram a cumprir essas<br />
tarefas<br />
12,7%<br />
8,5%<br />
78,8%<br />
Antes das 8 da noite<br />
Antes das 8 da noite|Depois das 8 da noite<br />
Depois das 8 da noite<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007
Quando<br />
começou a<br />
cumprir as<br />
tarefas<br />
domésticas<br />
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Se olharmos agora para a altura do dia em que os inquiridos afirmam ter<br />
realizado tarefas domésticas, à semelhança do que se verificava na actividade<br />
económica, uma grande maioria afirmou tê-lo feito antes das 8 horas da noite,<br />
21,2% diz tê-la realizado antes e depois, ou apenas depois das 8 da noite.<br />
Observando agora o cruzamento da informação dada acerca da altura do dia<br />
em que começaram e acabaram de cumprir as tarefas domésticas, podemos<br />
ver que existe uma maior concentração de percentagens nas células que<br />
indicam terem começado no mesmo período do dia em que terminaram as<br />
tarefas. Isto vem corroborar o que já foi dito anteriormente na análise do<br />
número de horas despendido e do período do dia em que foram realizadas as<br />
tarefas; ou seja, a maioria terá efectivamente despendido poucas horas nas<br />
tarefas e tê-las-á efectuado, também, maioritariamente, em período diurno.<br />
Tabela 4 – Distribuição dos alunos de PIEF inquiridos < 18 anos que realizaram tarefas<br />
domésticas na última semana pela altura do dia em que começaram, segundo a altura<br />
em que acabaram as tarefas<br />
de manhã<br />
ao fim da tarde<br />
depois do jantar /<br />
novela<br />
varia, não tem hora<br />
fixa para começar<br />
não sabe<br />
Total<br />
Quando terminou de cumprir as tarefas domésticas<br />
depois do varia, não tem<br />
ao fim da jantar / hora fixa para<br />
de manhã tarde novela terminar não sabe Total<br />
N 158 41 9 9 2 219<br />
% 72,1% 18,7% 4,1% 4,1% 0,9% 100<br />
N 2 181 59 13 1 256<br />
% 0,8% 70,7% 23,0% 5,1% 0,4% 100<br />
N 0 0 42 2 0 44<br />
% 0% 0% 95,5% 4,5% 0% 100<br />
N 4 8 3 116 0 131<br />
% 3,1% 6,1% 2,3% 88,5% 0% 100<br />
N 0 0 0 1 2 3<br />
% 0% 0% 0% 33,3% 66,7% 100<br />
N 164 230 113 141 5 653<br />
% 25,1% 35,2% 17,3% 21,6% 0,8% 100<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />
170
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
3.5. Grau de dificuldade atribuída pelo inquirido, gosto e motivos apontados<br />
para o exercício da actividade económica e das tarefas domésticas<br />
No que se refere ao grau de dificuldade atribuído pelos inquiridos à actividade<br />
desempenhada na última semana, a maioria afirmou considerar a actividade<br />
fácil (68,7%), 19,7% disse não ter sido nem fácil nem difícil, e 11,6% (que<br />
corresponde a 27 inquiridos) diz que foi difícil.<br />
Gráfico 58 – Distribuição dos alunos de PIEF inquiridos < 18 anos com AE (em sentido<br />
estrito) pelo grau de dificuldade atribuído à actividade, segundo o escalão etário<br />
%<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
61,8<br />
69,8<br />
71,3<br />
12,7<br />
171<br />
6,3<br />
13,9<br />
25,5<br />
23,8<br />
14,8<br />
Fácil Difícil Nem fácil nem difícil<br />
12-14 15 16-17<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />
Relativamente àqueles que afirmaram ter sido um trabalho difícil, 4 disseram<br />
que era perigoso e os restantes que foi cansativo ou simplesmente não<br />
gostaram de o fazer.<br />
Se olharmos para a distribuição do grau de dificuldade atribuído pelos<br />
inquiridos à actividades em cada um dos escalões etários, rapidamente<br />
confirmamos que a maioria considerou o trabalho fácil.<br />
Quanto aos motivos apontados para o exercício da actividade, a observação do<br />
gráfico seguinte revela que a maioria o fez para ajudar a família / pessoas com<br />
quem vive. Ter sido obrigado(a) a trabalhar e não estar interessado(a) na<br />
escola são os dois motivos que apresentam percentagens mais residuais.
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Gráfico 59 – Distribuição dos alunos de PIEF inquiridos < 18 anos com AE (em sentido<br />
estrito) pelos motivos apontados para a realização da actividade<br />
outra<br />
foi obrigado(a)<br />
para ganhar dinheiro<br />
não está interessado(a) na escola<br />
para aprender um ofício<br />
tem obrigação disso<br />
para a judar a família/pessoas com quem vive<br />
1,4<br />
0,7<br />
5,0<br />
172<br />
8,2<br />
15,0<br />
18,9<br />
50,7<br />
0 10 20 30 40 50 60 %<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />
A análise dos motivos apontados para o exercício da actividade na última<br />
semana, por sexo, não revelou grandes assimetrias entre as respostas dos<br />
rapazes e das raparigas.<br />
Quando inquiridos acerca de terem ou não gostado de realizar as actividades<br />
que referiram, a maioria afirmou ter gostado (81,5%), e apenas 6% respondeu<br />
que não.<br />
Quanto às tarefas domésticas, na totalidade, apenas 3,2% dos 655 alunos de<br />
PIEF que disseram ter realizado tarefas domésticas na última semana, afirmou<br />
considerá-las difíceis (o que corresponde a 21 alunos). Se olharmos para os<br />
motivos apontados, verificamos que 14 referiram o facto de serem muito<br />
cansativas, 6 não gostaram de as fazer e apenas 1 referiu a sua perigosidade.<br />
Independentemente do escalão etário, a maioria dos inquiridos afirmou<br />
considerar fáceis as tarefas domésticas que realizou na última semana (83%).<br />
As distribuições dos graus de dificuldade atribuídos às tarefas domésticas<br />
desempenhadas na semana de referência pelos escalões etários mostra que,<br />
muito embora as percentagens daqueles que consideraram essas tarefas<br />
difíceis sejam sempre muito residuais, os inquiridos com idades entre os 12 e<br />
os 14 anos representam, neste caso, a maior fatia (ver gráfico 58).
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Gráfico 60 – Distribuição dos alunos de PIEF inquiridos < 18 anos que realizaram tarefas<br />
domésticas na última semana pelo grau de dificuldade às tarefas, segundo o escalão<br />
etário<br />
%<br />
100<br />
80<br />
60<br />
40<br />
20<br />
0<br />
78,1<br />
86,0<br />
83,1<br />
5,3<br />
173<br />
2,2<br />
3,1<br />
Fáceis Difíceis Nem fáceis nem difíceis<br />
12-14 15 16-17<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />
Olhando agora para os motivos apontados para a realização das tarefas<br />
domésticas, vemos que são menos diversos do que os apontados para o<br />
exercício da actividade económica.<br />
Gráfico 61 – Distribuição dos alunos de PIEF inquiridos < 18 anos que realizaram tarefas<br />
domésticas na última semana pelos motivos apontados para a realização das tarefas<br />
outra<br />
para ajudar a família / pessoas com quem vive<br />
porque acha que tem obrigação disso<br />
porque o(a) obrigaram<br />
4,2<br />
14,9<br />
26,6<br />
16,7<br />
11,7<br />
13,9<br />
54,3<br />
0 10 20 30 40 50 60 %<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />
Dos quatro tipos de respostas dadas a esta questão, destaca-se a ajuda<br />
familiar como principal motivo. Por outro lado, são poucos os que afirmaram<br />
terem sido obrigados a cumprir as tarefas referidas (34 inquiridos deram esta<br />
resposta).
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Quanto à questão relativa ao gosto pelas tarefas realizadas, verificamos que,<br />
tal como aconteceu relativamente às actividades económicas, a maioria dos<br />
inquiridos afirmou ter gostado das tarefas domésticas (69,9%). No entanto,<br />
9,8% dos inquiridos respondeu não ter gostado das tarefas; um valor bastante<br />
superior, em termos absolutos, ao verificado para as actividades económicas.<br />
Do cruzamento desta variável com o sexo, verifica-se que as raparigas têm<br />
maior probabilidade de dizer que gostam das tarefas domésticas do que os<br />
rapazes (resíduo ajustado de 2,1).<br />
3.6. Interferência da actividade económica e das tarefas domésticas com a<br />
frequência escolar<br />
Perguntou-se ainda se o trabalho realizado na última semana interferiu<br />
directamente com a frequência escolar, com o objectivo de avaliar se o<br />
exercício da actividade referida implicou alguma vez, durante a última semana,<br />
a necessidade de faltar às aulas.<br />
Apenas 13 inquiridos responderam afirmativamente a esta questão (o que<br />
representa 5,6% dos inquiridos com exercício de uma actividade económica na<br />
última semana) 57 .<br />
Para além de todo o conjunto de questões necessárias à caracterização do<br />
trabalho, o questionário contemplava ainda alguns indicadores relativos aos<br />
seus antecedentes, permitindo assim traçar o historial do trabalho realizado na<br />
última semana e a sua articulação com prática presente e passada. Para isto,<br />
perguntou-se aos inquiridos se a actividade que afirmaram ter exercido na<br />
última semana era nova, ou se a teriam iniciado num tempo anterior a essa<br />
semana.<br />
Apenas 18 inquiridos afirmaram que a actividade económica referida foi<br />
realizada apenas na última semana. Os restantes 215 inquiridos disseram que<br />
estas actividades vinham do passado.<br />
57 Para uma comparação do volume de inquiridos que afirmou ter de faltar às aulas na última<br />
semana e num tempo anterior a essa semana (nos casos em que a actividade económica<br />
tenha sido também realizada antes da semana de referência) por motivos relacionados com a<br />
actividade económica, ver gráfico 61 da página 171.<br />
174
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Olhando agora apenas para as situações em que a actividade económica foi<br />
realizada num tempo anterior à última semana, perguntou-se ainda se se<br />
recordavam da idade com que tinham começado a praticá-las.<br />
Gráfico 62 – Distribuição dos alunos de PIEF inquiridos < 18 anos com AE (em sentido<br />
estrito) pelo escalão etário quando iniciou o exercício da actividade, segundo o escalão<br />
etário actual<br />
% 80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
69,8<br />
36,8<br />
32,4<br />
24,5<br />
49,1<br />
27,6<br />
0,0<br />
10,5<br />
18,1<br />
175<br />
0,0<br />
0,0<br />
20,0<br />
5,7<br />
3,5<br />
1,9<br />
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Estes dados permitem-nos perceber a importância do trabalho que foi realizado<br />
na última semana, muito embora não possamos retirar conclusões acerca dos<br />
contornos que essas actividades assumiam no passado, já que as questões<br />
relativas à caracterização da actividade diziam apenas respeito à última<br />
semana.<br />
Quando analisamos a interferência da actividade na frequência escolar num<br />
tempo anterior à última semana, verificamos que a necessidade de faltar às<br />
aulas era maior (percentualmente) no passado do que foi na última semana. De<br />
facto, se na última semana apenas 5,6% dos inquiridos afirmou ter tido<br />
necessidade de faltar às aulas para trabalhar (o que corresponde a 13<br />
indivíduos), aqueles que responderam da mesma forma para o passado<br />
representam 12,1% (da totalidade de inquiridos que afirmou ter realizado a<br />
mesma actividade num tempo anterior à última semana).<br />
Gráfico 63 – Distribuição dos alunos de PIEF inquiridos < 18 anos que realizaram uma<br />
actividade económica e que tiveram de faltar às aulas na última semana e no passado<br />
(nos casos em que a actividade económica foi também realizada antes da última<br />
semana)<br />
%<br />
100<br />
80<br />
60<br />
40<br />
20<br />
0<br />
5,6<br />
12,1<br />
176<br />
94,4<br />
Sim Não<br />
última semana passado<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />
Relativamente às tarefas domésticas, é de salientar que a esmagadora maioria<br />
dos inquiridos afirma que já realizava anteriormente as tarefas domésticas<br />
referidas, sendo que apenas 8 jovens em PIEF afirmam serem tarefas novas.<br />
87,9
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Como podemos observar pelo gráfico seguinte, uma percentagem reduzida<br />
(cerca de 3%) afirma ter tido de faltar às aulas para cumprir as tarefas<br />
domésticas na semana de referência. É interessante ainda fazer uma análise<br />
comparativa com a necessidade de faltar às aulas no passado. Assim,<br />
verificamos que cerca de 6% dos alunos (40 casos) em PIEF que afirmaram ter<br />
realizado tarefas domésticas tiveram para tal de faltar às aulas no passado,<br />
exactamente o dobro dos alunos que afirmam ter tido de faltar às aulas na<br />
semana anterior à realização do inquérito.<br />
Gráfico 64 – Distribuição dos alunos de PIEF inquiridos < 18 anos que realizaram tarefas<br />
domésticas e que tiveram de faltar às aulas na última semana e no passado (nos casos<br />
em que as tarefas foram também realizada antes da última semana)<br />
120<br />
100<br />
80<br />
60<br />
40<br />
20<br />
0<br />
3,1<br />
6,2<br />
177<br />
96,9<br />
93,8<br />
Sim Não teve de faltar<br />
às aulas<br />
última semana passado<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />
Ao analisarmos o cruzamento das idades com que os alunos começaram as<br />
tarefas domésticas com a sua idade actual, podemos ver que a maioria dos<br />
inquiridos afirma ter iniciado a actividade com idades inferiores às actuais.<br />
Note-se que 50,8% dos inquiridos que tinham 15 anos à data de aplicação dos<br />
questionários afirmou ter começado a fazer as tarefas domésticas com 11 ou<br />
menos anos, e 40,1% com uma idade compreendida entre os 12 e os 14 anos.<br />
Também aqueles com idades entre os 16 e os 17 anos começaram a cumprir<br />
as tarefas domésticas que realizaram na última semana com 14 ou menos
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
anos (43,7% destes inquiridos afirmou ter começado com menos de 11 anos e<br />
38,4% com idades dos 12 aos 14 anos).<br />
Gráfico 65 – Distribuição dos alunos de PIEF inquiridos < 18 anos que realizaram tarefas<br />
domésticas na última semana pelo escalão etário em que iniciou, segundo o escalão<br />
etário actual<br />
% 80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
74,1<br />
50,8<br />
43,7<br />
22,3<br />
40,1<br />
38,4<br />
0,0<br />
1,7<br />
8,7<br />
178<br />
0,0<br />
0,0<br />
3,4<br />
3,6<br />
7,3<br />
5,9<br />
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Gráfico 66 – Distribuição dos alunos de<br />
PIEF inquiridos < 18 anos com AE (em<br />
sentido estrito) na última semana, pelo<br />
recebimento de compensação<br />
33,6%<br />
recebeu recompensa<br />
não recebeu recompensa<br />
66,4%<br />
179<br />
Gráfico 67 – Distribuição dos alunos de<br />
PIEF inquiridos < 18 anos que receberam<br />
uma recompensa pelo tipo de recompensa<br />
recebida (TCO)<br />
5,9%<br />
9,9%<br />
84,2%<br />
Dinheiro Géneros Dinheiro e géneros<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />
A distribuição do tipo de recompensas não revelou assimetrias entre rapazes e<br />
raparigas.<br />
Relativamente aos géneros recebidos, apenas 2 receberam ajudas de<br />
alimentação e 7 receberam vestuário. Os restantes receberam brinquedos ou<br />
telemóveis.<br />
Olhando agora para os inquiridos que afirmaram ter recebido dinheiro (85 que<br />
receberam apenas em dinheiro e 10 que receberam em dinheiro e géneros, ou<br />
seja, 94,1% do total de inquiridos que afirmaram ter recebido alguma<br />
recompensa pela actividade realizada), 63,4% recebeu menos de 50 Euros (59<br />
inquiridos) e apenas 7 inquiridos receberam mais de 300 Euros. Os restantes<br />
receberam quantias entre estes dois valores (2 dos inquiridos não<br />
responderam).<br />
Ainda relativamente aos inquiridos que receberam uma recompensa monetária<br />
pela actividade económica exercida, 89 afirmaram ter sido eles próprios a<br />
receber e apenas 6 disseram que foi a família / pessoas com quem vivem.
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Daqueles que ganharam dinheiro, 22 deram a maior parte ou todo o dinheiro<br />
que receberam à família / pessoas com quem vivem e 67 deram uma pequena<br />
parte ou nada.<br />
Nos 6 casos em que foi a família a receber o dinheiro pelo trabalho do<br />
inquirido, eles repartem-se igualmente entre os que deram a totalidade do<br />
dinheiro ao inquirido, os que lhe deram uma pequena parte e os que não deram<br />
nada.<br />
Quanto à celebração de contratos de trabalho, apenas 7 dos 152 inquiridos que<br />
afirmaram ter trabalhado por conta de outrem dizem tê-lo celebrado.<br />
180
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
4. As situações de trabalho infantil na última semana<br />
Neste ponto procede-se a uma análise detalhada da trajectória de vida dos<br />
jovens que foram detectados em situação de trabalho infantil na semana de<br />
referência do inquérito, devido ao excessivo número de horas em que<br />
desempenharam actividade económica e/ou tarefas domésticas.<br />
O total de alunos detectados em situação de trabalho infantil na semana de<br />
referência do inquérito é de 39. Estes alunos residem nos seguintes distritos:<br />
Vila Real (7 casos), Porto (6 casos), Viana do Castelo (5 casos), Braga e<br />
Lisboa (4 casos cada), Guarda, Santarém e Viseu (3 casos cada), Évora (2<br />
casos) e Beja e Castelo Branco (1 caso cada).<br />
A maioria destes jovens (21) são rapazes, havendo 18 raparigas. No que<br />
respeita à idade, 25 deles tinham 15 anos à data de aplicação do questionário,<br />
10 tinham 14 anos e havia ainda 4 com 13. Vinte e um dos menores<br />
frequentam PIEF tipo 1 (para conclusão do 6º ano) e 16 estão em PIEF tipo 2<br />
(para conclusão do 9º ano).<br />
Dos 39 jovens que na semana de referência estavam em situação de trabalho<br />
infantil, 20 resultavam do desempenho de uma actividade económica, 17 da<br />
realização de tarefas domésticas e dois estão em situação de trabalho infantil<br />
pelo exercício de uma actividade económica e de tarefas domésticas.<br />
Apesar de esta ser uma análise do conjunto das situações de trabalho infantil,<br />
parece pertinente para um conhecimento mais detalhado dos contornos de<br />
cada uma das situações, analisar alguns aspectos em separado (sector de<br />
actividade, remuneração, motivação para trabalhar, dias e horas em que o<br />
fizeram, até que ponto isso prejudicou a frequência escolar), consoante os<br />
menores se enquadrem na situação de trabalho infantil por actividade<br />
económica ou por tarefas domésticas.<br />
181
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
4.1. Trabalho infantil devido ao exercício de actividade económica<br />
Nos casos em que os jovens estavam em trabalho infantil devido ao exercício<br />
de uma actividade económica (22) 58 , a agricultura foi o sector de actividade em<br />
que a maior parte trabalhou na semana de referência. Houve ainda jovens que<br />
trabalharam nos serviços (estabelecimentos comerciais), um na indústria<br />
(numa fábrica de calçado 59 ) e dois em actividades não especificadas.<br />
Relativamente ao jovem detectado como podendo estar em situação de<br />
trabalho infantil no sector da indústria, que afirmou ter trabalhado numa fábrica<br />
de calçado, importa esclarecer que este trabalho foi realizado numa fábrica<br />
familiar, propriedade do pai do jovem, e que esse trabalho foi remunerado.<br />
Catorze destes jovens eram trabalhadores familiares não remunerados. Os<br />
restantes desenvolveram actividade por conta de outrem, ainda que bastante<br />
relacionada com o contexto familiar. Cinco dos oito jovens que tinham<br />
actividade por conta de outrem referem receber o pagamento de<br />
pais/familiares; há um caso em que a inquirida afirma mesmo não receber<br />
qualquer remuneração. Nenhum destes jovens celebrou qualquer contrato de<br />
trabalho.<br />
Dos sete jovens que desempenharam actividade por conta de outrem e<br />
receberam remuneração, apenas uma recebeu em dinheiro e géneros (5 a 10<br />
euros por semana, roupas e uma bicicleta). Nas situações em que os inquiridos<br />
receberam valores mais elevados (mais de 500 euros por mês) esses<br />
pagamentos foram efectuados pelo empregador.<br />
Apenas num caso foi a família que recebeu o pagamento pelo trabalho do<br />
menor. Nos restantes o pagamento foi feito aos próprios jovens. Apesar disso,<br />
praticamente todos deram dinheiro à família ou compraram coisas para a casa.<br />
Para si próprios compraram artigos como ténis, roupa e sapatos (num dos<br />
casos, também um telemóvel).<br />
58<br />
Destes 22 casos, 20 referem-se só a actividade económica e 2 a esta actividade mais o<br />
desempenho de tarefas domésticas.<br />
59<br />
Este inquirido é um rapaz de 15 anos, de Felgueiras.<br />
182
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Relativamente ao número de dias da semana em que trabalharam, 9 inquiridos<br />
referem tê-lo feito todos os dias, incluindo ao fim-de-semana. Oito dão<br />
respostas algo contraditórias, uma vez que referem numa das perguntas ter<br />
trabalhado só ao fim-de-semana e na outra afirmam tê-lo feito dia sim, dia não.<br />
Há ainda dois jovens que respondem “seis dias por semana” e outros dois “de<br />
2ª a 6ª”.<br />
A grande razão apontada por praticamente todos os inquiridos para terem<br />
trabalhado na última semana foi para ajudar a família/pessoas com quem<br />
vivem. Apenas um afirma que foi por ter querido ganhar algum dinheiro e outro<br />
que foi obrigado pela família. A grande maioria dos jovens afirmou ter gostado<br />
de fazer esse trabalho.<br />
Só um dos inquiridos refere ter faltado à escola 60 na última semana por causa<br />
do exercício da actividade. Sete referem ter realizado trabalho também após as<br />
oito da noite 61 e um afirmou só trabalhar depois dessa hora 62 .<br />
Os oito inquiridos que trabalharam depois das oito da noite<br />
(independentemente de terem também trabalhado antes dessa hora)<br />
realizaram os seguintes trabalhos: três trabalharam para a família, dos quais<br />
um rapaz e uma rapariga, ambos com 15 anos, e realizaram trabalho<br />
agrícola 63 , e um rapaz de 14 anos trabalhou num negócio ou empresa familiar,<br />
a tender clientes 64 ; os restantes cinco trabalharam por conta de outrem, dois no<br />
sector dos serviços (um rapaz de 15 anos trabalhou num negócio ou empresa,<br />
a atender clientes 65 , e uma rapariga, também com 15 anos, trabalhou num<br />
restaurante ou café, a servir à mesa e a atender clientes 66 ), dois no sector da<br />
agricultura (dois rapazes, um com 14 e outro com 15 anos, que disseram ter<br />
trabalhado nas vindimas, na apanha da fruta, a tratar de animais, a semear e<br />
60 Este aluno trabalhou por conta de outrem, mas não especificou o trabalho que fez.afirmou<br />
ainda ter faltado outras vezes à escola para trabalhar. Este aluno é um rapaz de 15 anos de do<br />
município de Seia, que frequenta um PIEF de tipo 1 na Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos<br />
Guilherme Carvalho<br />
61 Destes sete, dois são do distrito de Santarém, 3 de Vila Real, um de Trancoso e um de<br />
Évora. Quatro são rapazes e três são raparigas; quatro têm 15 anos e três têm 14.<br />
62 É uma rapariga, do distrito de Serpa, com 15 anos.<br />
63 Ambos afirmaram ter começado a trabalhar com menos de 11 anos.<br />
64 Este rapaz afirmou ter começado a trabalhar com menos de 11 anos.<br />
65 Este rapaz afirmou fazer este trabalho desde os 12 anos.<br />
66 Esta rapariga disse ter iniciado este trabalho com 13 anos.<br />
183
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
na apanha da azeitona 67 ), e uma rapariga de 14 anos não especificou o<br />
trabalho que fez. O rapaz de 15 anos que trabalhou por conta de outrem no<br />
sector da agricultura foi o único destes oito que considerou o trabalho difícil, e<br />
atribuiu o grau de dificuldade à perigosidade.<br />
4.2. Trabalho infantil devido a tarefas domésticas<br />
Conforme foi referido anteriormente, há 19 jovens em situação de trabalho<br />
infantil devido a tarefas domésticas em excesso. A tarefa doméstica mais<br />
referida foi limpar o pó/arrumar a casa (por 17 dos jovens) 68 . As tarefas<br />
“cozinhar/aquecer comida”, “lavar/passar roupa”, “tomar conta de<br />
crianças/idosos” e “fazer reparações domésticas” foram mencionadas por 7, 6,<br />
3 e 2 jovens, respectivamente 69 .<br />
Praticamente todos estes inquiridos cumpriram estas tarefas todos os dias,<br />
incluindo fim-de-semana; só um refere tê-lo feito seis dias por semana e outro<br />
de 2ª a 6ª. A maioria (13) ocupou duas a quatro horas diárias a fazê-lo; quatro<br />
respondem “entre 4 a 6 horas” e dois “mais de 6 horas”. Nenhum refere ter<br />
faltado às aulas na última semana devido ao desempenho destas tarefas,<br />
embora seis já tivessem faltado à escola por este motivo no passado.<br />
Apesar de a maioria dos inquiridos (11) ter realizado estas tarefas durante o<br />
dia, há dois que as fizeram exclusivamente depois das oito da noite e seis<br />
também à noite.<br />
No que respeita às razões pelas quais fizeram estas tarefas, 17 dos jovens<br />
referem “para ajudar a família”, 4 consideram ter esse dever e um afirma ter<br />
sido obrigado 70 .<br />
67<br />
Ambos disseram fazer este trabalho desde os 10 anos de idade.<br />
68<br />
16 destes jovens fizeram ainda tarefas leves em casa, como arrumar o quarto, fazer a cama<br />
ou ir às compras.<br />
69<br />
O total de resposta ultrapassa as 19 por esta ser uma pergunta de resposta múltipla.<br />
70<br />
O total de resposta ultrapassa as 19 por esta ser uma pergunta de resposta múltipla.<br />
184
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Apenas um considerou as tarefas domésticas difíceis, por as achar cansativas<br />
e não ter gostado de as fazer; três disseram que não eram fáceis nem difíceis e<br />
os restantes acharam-nas fáceis. A grande maioria (14) gostou de as realizar.<br />
Todos já desempenhavam estas tarefas antes da última semana. A idade em<br />
que as raparigas começaram a desempenhar essas tarefas varia entre os 5 e<br />
os 11 anos, enquanto a dos rapazes varia entre os 7 e os 14 anos.<br />
Os dados revelam também que cinco destes jovens realizaram algum outro tipo<br />
de trabalho em paralelo (para além das tarefas domésticas) na semana de<br />
referência - um na agricultura, três nos serviços (dois dos quais num<br />
restaurante/café) e um noutra ocupação não especificada.<br />
Quanto à periodicidade do trabalho em actividade económica, feito em paralelo<br />
com as tarefas domésticas aqui em análise, dois deles fizeram-no todos os<br />
dias, incluindo fim-de-semana (durante mais de 6 horas por dia) e outros dois<br />
trabalharam um dia por semana (um de 2 a 4 horas e outro de 4 a 6 horas). Um<br />
destes jovens realizou trabalho exclusivamente nocturno 71 , enquanto dois o<br />
fizeram tanto de dia como após as oito da noite 72 .<br />
A principal razão invocada por estes cinco inquiridos para ter trabalhado na<br />
última semana foi o ajudar a família. Um dos inquiridos refere tê-lo feito por não<br />
estar interessado na escola. A maioria considera que o trabalho que efectuou<br />
era fácil e já o fazia antes da última semana. As idades de início desta<br />
actividade foram 5, 8 e 13 anos. Um afirma já ter faltado à escola por causa<br />
desta actividade.<br />
Apenas um dos jovens recebeu alguma recompensa por este trabalho (50 a 60<br />
Euros por tarefa, que lhe foram pagos pelos pais/familiares). Apesar de ter<br />
ficado com todo o dinheiro, comprou coisas para a casa e para a família,<br />
nomeadamente roupas.<br />
Voltando à análise das tarefas domésticas no seu sentido mais estrito (apenas<br />
realizadas na esfera do lar), nota-se claramente que as raparigas têm muito<br />
mais atribuições neste campo que os rapazes. Praticamente todas as raparigas<br />
71 Uma rapariga, de 14 anos, do distrito de Lisboa.<br />
72 Estes estão tanto em situação de trabalho por actividade económica e por tarefas<br />
domésticas.<br />
185
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
referiram arrumar o quarto, ajudar na cozinha em tarefas como lavar e limpar<br />
loiça ou pô-la na máquina e outras, havendo apenas um rapaz que afirmou<br />
desempenhar várias tarefas no lar e três que deram ajudas pontuais, tipo fazer<br />
a cama e arrumar o quarto.<br />
4.3. Trajectórias de trabalho no passado<br />
Dezoito dos inquiridos referem que já tiveram pelo menos outra actividade no<br />
passado (16 mencionam ter tido apenas uma actividade no passado, e 2<br />
disseram ter já tido dois ou mais trabalhos). Destes, 12 são rapazes e 6 são<br />
raparigas. Os sectores de actividades em que trabalharam foram a agricultura,<br />
a construção civil (apenas os rapazes), os serviços e a indústria: seis<br />
trabalharam nas obras (quatro começaram com 12 anos, um com 13 e um com<br />
14), seis no campo (três começaram com 8 anos e os restantes três entre os<br />
12-14 anos), dois numa empresa ou negócio (começaram com 13 e 14 anos),<br />
dois numa fábrica (começaram com 14 anos) e um num negócio familiar<br />
(começou com 9 anos).<br />
Os que trabalharam nas obras desempenharam funções como carregar<br />
cimento e tijolos; um destes revela ainda que serrava e pintava. As tarefas<br />
desempenhadas no âmbito do trabalho agrícola incluíram trabalhar nas<br />
vindimas, apanhar fruta, azeitonas, tratar de animais e semear, entre outras.<br />
Os que trabalhavam na fábrica faziam embrulhos e embalagens e outros<br />
serviam às mesas e atendiam clientes, num restaurante ou café.<br />
A razão mais invocada para terem trabalhado foi o ajudar a família (11 casos).<br />
O “querer ganhar algum dinheiro” foi mencionado por oito jovens. Dois referem<br />
ter o dever de o fazer e um diz ter sido obrigado.<br />
Só um inquirido refere ter trabalhado exclusivamente ao fim de semana. Todos<br />
os outros trabalharam pelo menos cinco dias por semana (7 respondem de<br />
segunda a sexta, 4 seis dias por semana e 7 todos os dias incluindo fim-de-<br />
semana). No que respeita ao número de horas que trabalham por dia, a maior<br />
parte dos inquiridos (10) fê-lo mais de 6 horas; cinco referem 4 a 6 horas, dois<br />
186
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
2 a 4 horas e um 1 a 2 horas. Três dos inquiridos realizavam também trabalho<br />
nocturno (após as oito da noite) e apenas um celebrou contrato de trabalho,<br />
com a duração de 3 meses.<br />
Igualmente se nota que 11 só trabalhavam nas férias escolares, cinco todas as<br />
semanas, um de vez em quando e outro diz que apenas uma única vez: só um<br />
diz ter tido de faltar à escola para fazer esse trabalho. No entanto, há 3 que<br />
nessa altura estavam em situação de abandono escolar, ou pelo menos de<br />
absentismo, uma vez que, quando se lhes pergunta “quando é que realizavam<br />
esse trabalho relativamente ao tempo escolar”, optam pela resposta “não se<br />
aplica porque não andava na escola”.<br />
Quanto ao grau de dificuldade do trabalho, a maior parte dos jovens (10)<br />
avalia-o como fácil, 4 como difícil e 4 como nem fácil nem difícil. Os que o<br />
consideram difícil são três dos que trabalharam nas obras e um no campo;<br />
todos referem que era muito cansativo e dois consideram ainda que era<br />
perigoso. Ainda assim, a maioria dos jovens (11) diz ter gostado de o fazer,<br />
com apenas dois a responder que não e cinco que mais ou menos.<br />
A grande maioria destes jovens (16) recebeu alguma recompensa pelo trabalho<br />
que realizou no passado. Quatro dizem ter recebido em géneros (um destes<br />
recebeu também algum dinheiro). Os géneros recebidos foram comida,<br />
telemóvel e vestuário, na sua maioria pagos pela família. Apenas um deu tudo<br />
o que recebeu a membros da família.<br />
Nos casos em que o pagamento foi feito em dinheiro, foram sempre os próprios<br />
jovens que o receberam, à excepção de uma situação. Os pagamentos foram<br />
quase sempre efectuados pelo empregador. Apesar disso, metade deu pelo<br />
menos algum dinheiro à família. Todos os menores referem ter comprado<br />
coisas para si (vestuário, telemóvel, entre outras), à excepção de um que diz<br />
não ter gasto nada porque está a poupar.<br />
187
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
4.4. Núcleo familiar e redes de sociabilidade<br />
A situação mais frequente é aquela em que os inquiridos vivem pelo menos<br />
com a mãe e pai (27 dos 39 casos). Oito dizem viver com a mãe ou com o pai,<br />
três vivem com outros familiares e um está institucionalizado. A maioria (11<br />
jovens) tem apenas um irmão, seguindo-se os que têm dois (8) e os que têm<br />
três (7). A maior parte dos jovens (12) vive com três pessoas; seguem-se os<br />
que vivem com quatro (8) e os que vivem com cinco (7). Apenas em dois casos<br />
há um membro da família (o pai) que costuma estar ausente de casa.<br />
Na grande maioria dos casos (28), são as mães as encarregadas de educação.<br />
Só em 5 casos essa responsabilidade é do pai, em três de um irmão ou irmã,<br />
em dois de avós e em um de um não familiar. Os encarregados de educação<br />
costumam também ir às reuniões na escola (em 30 dos casos).<br />
Relativamente à profissão e instrução dos pais, as mães são na maioria<br />
domésticas (13) e trabalhadoras não qualificadas (10) e têm instrução ao nível<br />
do 1º ciclo do ensino básico (19); seguem-se as que têm o 2º ciclo (7) e há uma<br />
com o ensino superior e três que não estudaram. Os pais são essencialmente<br />
operários, artífices e similares (12), trabalhadores da agricultura e pescas (5) e<br />
trabalhadores não qualificados (4). Apresentam um nível de instrução muito<br />
baixo, semelhante ao das mães: vinte têm o 1º ciclo do básico e quatro o 2º<br />
ciclo do básico.<br />
Em geral, os jovens dizem manter boas relações com vários membros da<br />
família (20 pelo menos com o pai e com a mãe e 14 pelo menos com a mãe).<br />
Apenas dois referem pessoas de fora da família como aquelas com quem se<br />
relacionam melhor. Em cerca de metade dos casos, os pais ajudam-nos nos<br />
trabalhos da escola e a estudar. Todos dizem passar tempo com os pais<br />
durante a semana e apenas quatro não o fazem ao fim-de-semana.<br />
Embora a maioria dos inquiridos refira que passa grande parte dos seus<br />
tempos livres em casa, todos têm amigos (na maioria vizinhos e/ou colegas de<br />
188
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
escola) e ocupações de tempos livres; entre as quais conversar, passear, ir ao<br />
café, praticar desporto, entre outras.<br />
A maioria destes jovens (28) diz não ter amigos que trabalhem e sejam pagos<br />
por isso; o que pode revelar a reduzida escala do fenómeno, ou, tratando-se de<br />
actividades socialmente condenáveis, preferem omiti-las.<br />
4.5. Condições de habitabilidade<br />
A maioria dos inquiridos (28) diz viver numa casa que é propriedade da família;<br />
10 vivem numa casa alugada e um numa instituição de acolhimento. Apenas<br />
quatro vivem num bairro social.<br />
As condições de habitabilidade são em geral boas. Ainda assim, três dos<br />
menores revelaram não ter casa de banho e água canalizada, dois não têm<br />
gás, um não tem máquina de lavar roupa e outro não tem frigorífico.<br />
Os equipamentos mais em falta são o computador (em 20 casos), aquecimento<br />
(19) e telefone fixo (18). Apenas sete dispõem de ligação à Internet. Quase<br />
todos os jovens (33) dispõem de telemóvel próprio.<br />
Na maioria dos alunos (28) as casas onde habitam têm três ou mais<br />
assoalhadas e cada aluno tem um quarto só para si.<br />
4.6. Vida escolar antes e depois do PIEF<br />
A inserção na vida escolar fez-se, para a cerca de metade destes alunos, no<br />
ensino pré-escolar, pela frequência de um infantário ou jardim de infância.<br />
Em termos de insucesso escolar, apenas dois destes alunos afirmaram nunca<br />
ter tido uma retenção escolar 73 . A maior parte (14) ficou retido três vezes, 10<br />
73 No entanto, estes dois alunos estiveram em situação de abandono não formalizado uma vez,<br />
um no 6º ano e outro no 5º ano de escolaridade; um aponta como causa deste absentismo<br />
escolar o facto de “não gostar do ambiente da escola” e o outro não especifica as razões. O<br />
189
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
ficaram-no duas vezes e 8 uma vez. Só 8 destes jovens nunca chumbaram<br />
durante o 1º ciclo.<br />
Os resultados revelam uma certa dispersão nos motivos referidos para terem<br />
ficado retidos: não gostar da escola, faltar muito, mau comportamento, entre<br />
outros.<br />
As famílias reagiram a esta situação de insucesso de várias formas: a maioria<br />
(27) ralhou ao jovem ou pelo menos falou com ele e algumas (10) chegaram a<br />
castigá-los.<br />
Relativamente ao abandono escolar, 10 fizeram-no formalmente (um por ter<br />
estado doente, outro por ter um familiar doente, outro por ter de ir trabalhar e<br />
os restantes por razões como não gostar das aulas, dos colegas ou ter<br />
dificuldades de aprendizagem). Na maioria dos casos (7), os inquiridos<br />
abandonaram a escola uma vez; nenhum o fez durante o 1º ciclo.<br />
Mesmo entre os 29 que não abandonaram formalmente a escola, há 17 que<br />
deixaram de ir às aulas por um longo período de tempo; na maioria das<br />
situações tal aconteceu durante um ano lectivo. Apenas três dos menores<br />
disseram tê-lo feito por se encontrarem doentes. As principais razões<br />
apontadas estão ligadas ao não gostar da escola ou dos colegas, não<br />
aprender/dificuldades de aprendizagem ou mau comportamento, entre outras.<br />
Apesar destes percursos de insucesso, é visível que a ida para PIEF permitiu<br />
uma mudança de perspectiva face à escola. Desde que estes alunos estão em<br />
PIEF, a maioria diz que actualmente muito raramente ou nunca falta às aulas<br />
(19 respostas nos dois casos), essencialmente porque querem acabar o 9º<br />
ano/continuar a estudar. Assim, afirmam faltar apenas quando estão doentes<br />
ou vão ao médico. Os 10 inquiridos que faltam pelo menos uma a duas vezes<br />
por mês alegam que querem fazer outras coisas (ex: estar com amigos) e/ou<br />
não gostam de ter aulas; um destes diz que é por ir à feira e outro porque está<br />
muitas vezes doente.<br />
aluno que deixou de ir à escola durante o 5º ano falta regularmente às aulas porque “quer fazer<br />
outras coisas (estar com os amigos, etc.)”.<br />
190
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Aliás, quase todos (36) reconhecem que o que aprendem em PIEF é<br />
importante para a vida futura 74 , sobretudo porque lhes ensina “coisas práticas<br />
que os podem ajudar a arranjar um emprego”. A avaliação que fazem do PIEF<br />
é globalmente positiva: 37 dos 39 jovens referem estar mais interessados na<br />
escola, 36 dizem que têm melhores notas, 35 que aprendem coisas mais<br />
práticas e 34 que aprendem mais nas aulas.<br />
Note-se ainda que a maioria afirma que agora ajuda mais a família e fala mais<br />
com ela sobre a escola (24 e 25 respostas positivas, respectivamente), bem<br />
como que sente que têm menos trabalho e mais tempo livre. É ainda de<br />
acrescentar que apenas um destes jovens avalia o seu desempenho escolar<br />
como mau: 21 consideram-no que satisfatório, 14 bom e 3 avaliam o seu<br />
desempenho escolar de excelente.<br />
A maioria destes jovens não recebe bolsa de formação por estar em PIEF. Dos<br />
10 que respondem afirmativamente, oito recebem em géneros (alimentação,<br />
material escolar e vestuário), um recebe apenas em dinheiro e outro em<br />
dinheiro e géneros.<br />
4.7. Desvio à norma e sanções<br />
No que se refere às condutas desviantes e inerentes sanções, verifica-se que a<br />
maioria (26) nunca teve um processo disciplinar, contra treze que respondem<br />
afirmativamente (destes, 10 são rapazes e 3 são raparigas). A maior parte (5)<br />
dos que tiveram refere que isso aconteceu uma vez e as categorias “2 vezes” e<br />
“mais de 5 vezes” têm cada uma três respostas. As raparigas respondem todas<br />
“uma vez”.<br />
Dos 39 alunos, três (todos rapazes) já foram expulsos da escola por uma vez.<br />
As razões que justificaram as expulsões são: ter estragado material escolar;<br />
agressão/insultos a professores; e mau comportamento nas aulas.<br />
74 Dos três que respondem negativamente, um refere que não aprende nada de novo e os<br />
restantes dizem que não sabem explicar porque é que o que aprendem em PIEF não é<br />
importante.<br />
191
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Igualmente os problemas com a polícia são referidos por uma minoria. De<br />
facto, 9 dos inquiridos (5 rapazes e 4 raparigas) disseram que já tiveram<br />
problemas com a polícia. Quanto às razões pelas quais tal aconteceu, uma das<br />
raparigas diz ter sido por faltar muito/abandono escolar, duas por outras razões<br />
e uma não responde. Dois dos rapazes mencionam disseram que os<br />
problemas com a polícia resultaram de faltas regulares às aulas, abandono<br />
escolar e agressão (um destes refere ainda roubo), um refere problemas<br />
relacionados com droga, um apenas agressão e outro justifica-o por outra<br />
razão, que não especifica.<br />
4.8. Expectativas para o futuro<br />
Relativamente à profissão que desejam ter no futuro, os rapazes referem<br />
sobretudo profissões como mecânico, motorista das obras, jogador de futebol,<br />
agricultor, médico e outras, havendo ainda dois que não sabem. As raparigas<br />
optam por educadora de infância, cabeleireira, massagista, médica, arquitecta<br />
e outras.<br />
Quando se lhes pergunta quais as qualificações que julgam necessárias para<br />
ter a profissão que gostavam, a maior parte (13) responde ser 9º ano,<br />
seguindo-se os que referem o 12º ano (8), a universidade (6) e os que pensam<br />
que têm de tirar um curso profissional (4).<br />
Já quando se lhes pergunta até onde pensam estudar, quinze referem “até ao<br />
9º ano”, onze “até ao 12º ano”, seis querem tirar um “curso profissional” e dois<br />
apenas “até ao o 6º ano”.<br />
A maioria destes inquiridos (18) afirma que se nesta altura das suas vidas lhes<br />
oferecessem trabalho remunerado aceitá-lo-iam. Dos restantes, há 12 que não<br />
mudariam de ideias em circunstância nenhuma. Os aspectos que mais<br />
pesariam na decisão de aceitar trabalho remunerado são ter tempo livre, ser<br />
bem pago e ter tempo para estar com os amigos.<br />
192
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Os sonhos explicitados por estes jovens para o futuro são essencialmente ter<br />
uma casa (23 respostas), tirar a carta de condução (15), ter filhos/família (14),<br />
casar (13), viajar e ter dinheiro (11 respostas cada) e ter saúde (10).<br />
193
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
D. SITUAÇÕES EMERGENTES E ANÁLISE DAS CONDICIONANTES<br />
SOCIAIS DO TRABALHO INFANTIL<br />
As escolas onde decorrem os PIEF são igualmente frequentadas por alunos do<br />
ensino regular. A coexistência numa mesma escola de alunos com as duas<br />
características, permite-nos assegurar um conjunto de características mínimas<br />
de homogeneidade destes alunos para o mesmo local.<br />
Estão assim reunidas as condições metodológicas necessárias para que seja<br />
possível uma análise comparativa entre duas amostras: aluno de PIEF e alunos<br />
do ensino regular.<br />
Uma vez que entre os alunos PIEF vamos encontrar uma percentagem elevada<br />
de jovens que já experimentaram o trabalho infantil, a análise comparativa 75<br />
entre os alunos de PIEF e os alunos do ensino regular será importante para<br />
perceber quais as condições sociais, económicas e culturais que com maior<br />
probabilidade podem conduzir a situações de trabalho infantil.<br />
A construção da amostra emparelhada foi feita com base nos valores iniciais de<br />
questionários a realizar aos alunos de PIEF. Tínhamos inicialmente previsto o<br />
emparelhamento de 1228 alunos de PIEF com alunos do ER. Este valor ficou<br />
reduzido a 684 parelhas (cerca de 56% relativamente à nossa previsão inicial).<br />
Os pressupostos metodológicos da construção de duas amostras<br />
emparelhadas são descritos de seguida.<br />
75 A análise comparativa das múltiplas variáveis objecto de estudo foi efectuada a partir de<br />
testes não-paramétricos, como o cálculo do Qui 2 , V de Cramer, Phi, tabelas cruzadas e, dentro<br />
destas, o resíduo ajustado e estandardizado da diferença entre o valor observado e o esperado<br />
célula a célula (só foram considerados significativos os que são superiores, em módulo, a 1,96,<br />
valor a partir do qual a assimetria da distribuição é estatisticamente significativa).<br />
194
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
1. Critérios de emparelhamento: idade, ano escolar, sexo e escola<br />
Como se referiu no capítulo metodológico 76 , os emparelhamentos foram feitos<br />
com base em três critérios: o sexo, o ciclo de escolaridade e a escola.<br />
Relativamente ao ciclo de escolaridade, relembramos que os alunos de PIEF<br />
emparelham com os alunos de ensino regular a partir da sua idade no início do<br />
ano lectivo, agregada em escalões etários correspondentes às idades de<br />
frequência dos ciclos escolares (
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
2. Dinâmicas de trabalho infantil nos alunos do PIEF e do ensino regular<br />
Como vimos na caracterização e análise das actividades desenvolvidas pelos<br />
jovens e crianças inseridos em PIEF, o número de alunos em situação de<br />
trabalho infantil na semana de referência não ultrapassava os 3,6% da<br />
totalidade de alunos de PIEF inquiridos (que corresponde, como já vimos, a 39<br />
alunos de PIEF). Isto significa que, uma vez que os 684 alunos de PIEF que<br />
constam na base de dados de emparelhamentos foram retirados da totalidade<br />
de alunos já estudada, não encontraremos aqui outras situações para além das<br />
que foram analisadas em pontos anteriores deste relatório.<br />
A questão subjacente à análise a efectuar neste ponto é a de saber se os<br />
alunos do ensino regular têm uma probabilidade de conhecer práticas de<br />
trabalho infantil diferente dos que frequentam o programa PIEF. De facto, por<br />
um lado, a penalização do trabalho infantil enquanto problema social e, por<br />
outro lado, a estigmatização dos jovens que o praticam face aos “outros”, que<br />
seriam os “normais”, apontaria nesse sentido.<br />
Vejamos a evidência empírica resultante do estudo comparativo entre alunos<br />
PIEF e do ensino regular, que constituem a base de dados emparelhada.<br />
Fazendo a análise para os alunos que conheceram situações de trabalho<br />
infantil no passado, já que este é numericamente mais relevante que o da<br />
semana de referência, verifica-se que há uma relação estatística de<br />
dependência entre a “prática de trabalho infantil” e o “ser aluno PIEF ou do<br />
ensino regular”.<br />
Só por si, tal facto é significativo da pertinência da questão colocada<br />
inicialmente, o que vai ter implicações no nível da análise dos pontos<br />
seguintes. Mas centremo-nos agora na análise mais detalhada da estrutura da<br />
relação entre estas duas variáveis.<br />
Em primeiro lugar, refira-se que a percentagem dos alunos que conheceram<br />
trabalho infantil no passado é menor do que a dos que não tiveram tal<br />
experiência, tanto nos alunos PIEF, como nos do ensino regular<br />
(respectivamente, 27,3% e 14,5%).<br />
196
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Todavia, a diferença existente entre tais percentagens nos dois tipos de alunos<br />
é estatisticamente significativa (resíduo ajustado e estandardizado igual a 5,9),<br />
podendo mesmo calcular-se que a probabilidade de haver trabalho infantil nos<br />
alunos PIEF é cerca de duas vezes superior à dos do ensino regular 77 . No que<br />
se refere ao tipo de trabalho efectuado, a única situação estatisticamente<br />
significativa consiste na maior probabilidade dos alunos PIEF terem trabalhado<br />
numa empresa e dos do ensino regular em tarefas de casa ou no campo.<br />
Centremos agora a análise só nos alunos do ensino regular que praticaram<br />
trabalho infantil no passado e na semana de referência, já que os do PIEF<br />
foram objecto de tratamento em alíneas anteriores.<br />
Começando pelo trabalho infantil no passado, e de um ponto de vista<br />
geográfico, nota-se que a região Norte tem a maior percentagem de alunos do<br />
ensino regular com tal situação. Este fenómeno é igualmente mais frequente<br />
entre os rapazes (82.8%), afecta o sucesso escolar de cerca de metades dos<br />
alunos (45,5%), mas apenas 15,2% diz ter abandonado a escola.<br />
No que se refere às expectativas, a prática de trabalho infantil parece não<br />
afectar significativamente as intenções de continuar os estudos até à<br />
licenciatura universitária de 48,5% dos alunos, já que só 10,1% diz não<br />
pretende ultrapassar o 9º ano da escolaridade obrigatória. Estes valores<br />
contrastam com os obtidos para os alunos PIEF, onde encontramos mais<br />
alunos que referiam o contrario. A maioria diz, também, que nunca teve um<br />
processo disciplinar (76,8%), nem que foi expulsa da escola (98%).<br />
Os valores obtidos para os alunos do ensino regular que praticaram trabalho<br />
infantil na semana de referência, ainda que menos expressivos em algumas<br />
variáveis (p. ex., o peso dos rapazes é de 57,1%) são em tudo semelhantes<br />
aos descritos anteriormente.<br />
Passemos em seguida à análise comparativa de alunos PIEF e do ensino<br />
regular.<br />
77 Ainda que com valores menos expressivos, os resultados em relação à semana de referência<br />
também revelam uma maior incidência de trabalho infantil entre os alunos PIEF. Refira-se que,<br />
mesmo tendo um menor peso, na amostra emparelhada também se detectaram 21 casos<br />
classificáveis como trabalho infantil, entre os alunos do ensino regular.<br />
197
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
3. Núcleo familiar e redes de sociabilidade<br />
Os contextos sociais, culturais e económicos em que se inserem os alunos de<br />
PIEF e os alunos do ER apresentam características muito diferentes. A análise<br />
comparada destas dimensões é central para a problematização das questões<br />
do insucesso e abandono escolar, bem como do trabalho infantil.<br />
O primeiro factor que aponta para uma assimetria nos dois grupos de alunos<br />
diz respeito à mobilidade geográfica, que é um elemento do contexto<br />
envolvente que nos pode indicar a presença ou ausência de alguma<br />
estabilidade, nomeadamente no que respeita aos percursos escolares (uma<br />
maior mobilidade pode implicar a mudança de escola que, como se sabe, é um<br />
factor destabilizador na vida escolar dos jovens e crianças). Verifica-se que a<br />
maioria dos alunos viveu sempre no mesmo município (o total marginal de<br />
inquiridos que deu esta resposta corresponde a 77,6% dos 1368 inquiridos).<br />
Mas, relativamente àqueles que afirmaram não ser assim, os alunos de PIEF<br />
destacam-se (59,3% dos inquiridos que afirmaram não ter vivido sempre no<br />
mesmo município são alunos de PIEF). A esta assimetria está associada ainda<br />
uma significativa probabilidade dos alunos com maior mobilidade geográfica<br />
serem alunos de PIEF 78 .<br />
Se olharmos para as características das famílias destes alunos, encontramos<br />
algumas assimetrias importantes. O tipo de agregado familiar onde se insere a<br />
maioria destes alunos (independentemente do tipo de ensino frequentado) tem<br />
características de família nuclear 79 . No entanto, olhando para a distribuição dos<br />
inquiridos com famílias alargadas ou que estão institucionalizados (que<br />
representam, respectivamente, 20% e 2% da nossa amostra emparelhada),<br />
percebemos existir uma maior probabilidade de os alunos de PIEF se inserirem<br />
nestas categorias 80 (o que se traduz numa maioria de alunos de PIEF que<br />
78 O resíduo ajustado estandardizado é de 3,7, que indica um volume de respostas nesta<br />
categoria muito superior ao esperado se a distribuição fosse simétrica.<br />
79 Tínhamos já visto também que, para os alunos de PIEF cujas características foram tratadas<br />
em capítulos anteriores, a maioria pertencia a uma família nuclear.<br />
80 Resíduos ajustados estandardizados de 3,7 e 4,6, respectivamente.<br />
198
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
afirmaram viver numa família alargada ou numa instituição, uma vez que<br />
estamos a trabalhar com amostras de igual dimensão).<br />
Na análise das respostas relativas ao número de pessoas com quem vive, as<br />
conclusões que podemos retirar vão no mesmo sentido: no que respeita aos<br />
alunos inquiridos que afirmaram viver apenas com uma pessoa, não<br />
encontramos grandes assimetrias entre aluno de PIEF e alunos do ER; nos<br />
agregados constituídos por 2 a 3 pessoas, os alunos do ensino regular estão<br />
em maioria; e, há medida que aumenta o número de membros pertencentes<br />
aos agregados familiares, muito embora se verifique um decréscimo em valor<br />
absoluto do número de alunos de PIEF pertencentes a agregados mais<br />
numerosos, a probabilidade de estes alunos fazerem parte destas famílias<br />
aumenta progressivamente, quando comparados com os alunos do ER.<br />
Esta análise repete-se ainda relativamente ao número de irmãos que estes<br />
inquiridos afirmaram ter. Do total dos 1368 alunos de PIEF e do ER que<br />
constituem a nossa amostra, 70,8 afirmou ter irmãos. Olhando agora apenas<br />
para os alunos que têm irmãos, 60,3% disse ter apenas um irmão. No entanto,<br />
o cruzamento desta variável com o tipo de ensino frequentado aponta para<br />
uma probabilidade significativamente alta de serem os alunos do ER aqueles<br />
com menos irmãos. De facto, muito embora os valores absolutos nos indiquem<br />
que, independentemente do tipo de ensino frequentado, estes inquiridos têm<br />
um número reduzido de irmãos, à medida que este número cresce, aumenta<br />
também o peso relativo de alunos de PIEF. Isto significa que, relativamente aos<br />
alunos que afirmaram ter dois ou mais irmãos, a probabilidade de estarem<br />
inseridos em PIEF é maior.<br />
Noutro capítulo deste relatório, fez-se uma caracterização breve dos pais dos<br />
alunos de PIEF inquiridos, e chegou-se à conclusão que eram, na sua maioria,<br />
detentores de fracos capitais escolares. Se voltarmos a olhar para esses<br />
indicadores, mas agora recorrendo ao emparelhamento como instrumento de<br />
controlo, que nos permite fazer uma análise comparativa dos factores de<br />
contexto envolvente dos alunos que constituem as duas amostras com que<br />
temos vindo a trabalhar, encontramos alguns elementos interessantes.<br />
199
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Do total de inquiridos que constam da nossa base de dados de<br />
emparelhamentos, 91,8% vive com a mãe e/ou o pai (independentemente de<br />
viver com mais familiares ou não familiares) 81 .<br />
Relativamente à idade da mãe, as distribuições são semelhantes para os dois<br />
grupos, com a maioria das mães a terem idades entre os 35 e os 44 anos<br />
(62,4%).<br />
Quanto à idade do pai, verificamos que a maioria tem também entre 35 e 44<br />
anos (53,8%). No entanto, os alunos de PIEF têm uma maior probabilidade de<br />
terem pais mais velhos, com idades superiores a 55 anos 82 .<br />
A maioria das mães e pais destes alunos são casados, muito embora esta<br />
percentagem seja superior nos alunos do ER, que surgem aqui com uma maior<br />
probabilidade associada.<br />
Se olharmos agora para as habilitações dos pais destes alunos, encontramos<br />
assimetrias significativas. Os gráficos abaixo representam as distribuições dos<br />
níveis de instrução da mãe e do pai de alunos de PIEF e alunos do ER.<br />
A ausência de instrução, que está representada nas duas primeiras categorias,<br />
apresenta percentagens muito residuais, mas que ainda assim são mais<br />
elevadas nos pais de aluno de PIEF.<br />
81 Destes inquiridos que vivem com a mãe e/ou o pai, 65,9% vive com os dois, 87,9% vivem<br />
com a mãe (independentemente de viver com outros familiares ou não familiares) e 69,9% vive<br />
com o pai (independentemente de viver também com outros familiares ou não familiares).<br />
82 Encontramos 45 alunos de PIEF e apenas 16 do ER cujo pai tem 55 ou mais anos. Nesta<br />
categoria, o resíduo ajustado estandardizado de 5,0 indica existir uma maior probabilidade de<br />
estes serem pais de alunos de PIEF.<br />
200
%<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Gráfico 68 – Grau de instrução da mãe de alunos de PIEF e do ER e total<br />
5,5<br />
0,2<br />
2,7<br />
Não<br />
estudou<br />
2,8<br />
0,5<br />
1,6<br />
Sabe ler /<br />
escrever<br />
51,2<br />
29,8<br />
39,8<br />
15,3<br />
19,4<br />
17,5<br />
201<br />
11,0<br />
23,6<br />
17,7<br />
2,8<br />
14,5<br />
9,1<br />
1º Ciclo EB 2º Ciclo EB 3º Ciclo EB Ensino<br />
secundário<br />
PIEF ER TOTAL<br />
1,1<br />
7,3<br />
4,4<br />
Ensino<br />
superior<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />
10,3<br />
4,7<br />
7,3<br />
Não sabe<br />
Os pais dos alunos de PIEF estudaram na sua maioria apenas até ao 1º ciclo<br />
do Ensino Básico. Encontramos efectivamente uma maior probabilidade de<br />
alunos de PIEF terem pais com níveis de instrução mais baixos.<br />
Quanto aos alunos do ER, não encontramos nenhuma categoria que agregue a<br />
maioria dos pais destes alunos. No entanto, comparando os diferentes níveis<br />
de qualificação, continua a ser o 1º ciclo aquele com percentagem mais alta,<br />
quer relativamente às mães, quer relativamente aos pais.<br />
%<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
Gráfico 69 – Grau de instrução do pai de alunos de PIEF e do ER e total<br />
4,1<br />
0,4<br />
2,0<br />
Não<br />
estudou<br />
1,7<br />
0,2<br />
0,8<br />
Sabe ler /<br />
escrever<br />
57,5<br />
28,8<br />
41,2<br />
13,3<br />
18,2<br />
16,1<br />
7,3<br />
23,1<br />
16,3<br />
3,4<br />
16,1<br />
10,7<br />
1º Ciclo EB 2º Ciclo EB 3º Ciclo EB Ensino<br />
secundário<br />
PIEF ER TOTAL<br />
0,2<br />
7,2<br />
4,2<br />
Ensino<br />
superior<br />
FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />
12,4<br />
6,1<br />
8,8<br />
Não sabe
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Numa leitura mais transversal, verifica-se que, muito embora os capitais<br />
escolares dos pais destes inquiridos sejam globalmente baixos (a percentagem<br />
de alunos que afirmou ter pai ou mãe com licenciatura é muito reduzida, tanto<br />
relativamente aos alunos de PIEF – onde é quase nula –, como relativamente<br />
aos alunos do ER), os alunos do ER tendem a ter pais com níveis de<br />
escolaridade mais altos, verificando-se a mesma tendência relativamente à<br />
mãe e ao pai.<br />
Outros dois indicadores de caracterização socioeconómica e cultural das<br />
famílias igualmente importantes, que estão intimamente relacionados com os<br />
graus de instrução, são a profissão e a situação na profissão. Muito embora a<br />
percentagem de pais com profissões que se enquadram nas primeiras quatro<br />
categorias da Classificação Nacional de Profissões, que correspondem a<br />
profissões a que estão associados lugares mais elevados na estrutura social de<br />
classe, bem como níveis de qualificação mais altos 83 (a tendência é hierárquica<br />
decrescente), seja sempre reduzida, ela é superior em pais de alunos do<br />
ensino regular. Por outro lado, é maior a probabilidade de pais de alunos de<br />
PIEF se inserirem nos grupos profissionais de Agricultores e Trabalhadores<br />
não Qualificados da Agricultura e Pescas e dos Trabalhadores não<br />
Qualificados 84 .<br />
Ainda relativamente à profissão das mães, as domésticas representam a<br />
categoria com maior percentagem de resposta (28,3%). No entanto, também<br />
aqui a probabilidade de serem alunos de PIEF a ter mães domésticas é maior<br />
relativamente aos alunos do ER.<br />
Uma grande parcela dos pais destes alunos tem um emprego (85,1% dos pais<br />
e 56,5% das mães). Esta percentagem é inferior relativamente às mães, já que<br />
muitas são domésticas (30,5%). No entanto, verifica-se novamente uma<br />
discrepância entre as respostas em função do tipo de ensino frequentado pelos<br />
83 Sabemos que a relação entre a profissão e a posição de classe ou o nível de instrução não é<br />
directa, mas apenas indicativa e, no máximo, provável. As primeiras quatro categorias da<br />
Classificação Nacional de Profissões são: Quadros Superiores da Administração Pública,<br />
Dirigentes e Quadros Superiores de Empresa; Especialistas das Profissões Intelectuais e<br />
Científicas; Técnicos e Profissionais de Nível Intermédio; e Pessoal Administrativo e Similares.<br />
84 Relativamente às mães, as categorias dos Agricultores e Trabalhadores não Qualificados da<br />
Agricultura e Pescas e dos Trabalhadores não Qualificados apresentam resíduos ajustados<br />
estandardizados de 2,5 e 3,1. Quanto aos pais, estes resíduos são 3,6 e 5,9, respectivamente.<br />
202
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
inquiridos. De entre os pais empregados, a maior percentagem (e também<br />
maior probabilidade associada 85 ) corresponde a pais de alunos do ER (62,4%<br />
das mães e 60,9% dos pais empregados são pais de alunos do ER). Por outro<br />
lado, o pai desempregado é uma situação mais comum em alunos de PIEF 86 .<br />
O encarregado de educação é, na maioria dos casos, a mãe. Na análise<br />
comparada, verificamos que é mais comum a mãe ser encarregada de<br />
educação de alunos do ER. De facto, todas as restantes categorias de resposta<br />
que distinguem os alunos dos dois tipos de currículo escolar são mais<br />
frequentemente referidas pelos alunos de PIEF 87 .<br />
Relativamente às rotinas diárias destes alunos, a análise comparada de alunos<br />
de PIEF e alunos do ER mostra também algumas assimetrias interessantes.<br />
Começando por olhar para a hora a que se costumam deitar, percebemos que<br />
a maioria dos alunos costuma ir para a cama depois das 10 de noite (55,6%).<br />
No entanto, dentro da categoria dos alunos que se deitam a estas horas, os<br />
alunos do ER estão em maioria. Isto significa também que são os alunos do ER<br />
aqueles com maior probabilidade de se deitarem a esta hora. No entanto, o que<br />
é mais relevante na leitura do cruzamento destas variáveis é que os alunos que<br />
se deitam depois da meia-noite ou que não têm uma hora fixa para se deitar<br />
são sempre maioritariamente alunos de PIEF. Muito embora estas categorias<br />
agreguem apenas 14,3% e 11,3% do total de respostas dos alunos inquiridos<br />
(o que corresponde, respectivamente, a 196 e 155 alunos), os alunos de PIEF<br />
têm sempre uma maior probabilidade de estar aqui incluídos.<br />
No que respeita à hora de levantar, o comportamento desta variável é muito<br />
semelhante à anterior, mas agora com uma alteração importante: os alunos de<br />
PIEF, se atrás eram aqueles com maior probabilidade de se deitar mais tarde,<br />
são agora aqueles com maior probabilidade de se levantar mais cedo (antes<br />
85<br />
Resíduo ajustado estandardizado de 7,3 nos alunos do ensino regular cuja mãe está<br />
empregada e 5,9 cujo pai está empregado.<br />
86<br />
Muito embora a percentagem de pais desempregados seja reduzida nos dois grupos (10,2%<br />
em alunos de PIEF e 2,9% em alunos do ER), o resíduo ajustado estandardizado aponta para<br />
uma maior probabilidade de serem os pais de alunos de PIEF que estão nesta situação<br />
profissional.<br />
87<br />
As categorias que apresentam resultados distintivos entre alunos PIEF e ER referem os<br />
avós, os tios e outros familiares como encarregados de educação. Em todas estas categorias<br />
os totais marginais apresentam percentagens reduzidas, mas significativamente maiores em<br />
alunos de PIEF.<br />
203
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
das 7 horas da manhã). Isto não significa que a maioria dos alunos de PIEF<br />
acorde a estas horas 88 , mas sim que, daqueles que o fazem, é mais provável<br />
que sejam alunos de PIEF.<br />
A maioria dos alunos afirmou tomar pequeno-almoço antes das aulas. No<br />
entanto, é bastante mais provável que aqueles alunos que afirmaram não o<br />
fazer por hábito (16,1%, que corresponde a 220 alunos) sejam alunos<br />
integrados em programas PIEF 89 .<br />
Para além da socialização na família, a utilização de indicadores relativos às<br />
redes de amizade é também importante para a problematização dos processos<br />
de produção e reprodução de práticas e representações sociais, que nos<br />
permitem enquadrar a análise dos percursos escolares e das expectativas de<br />
vida destes alunos.<br />
A forma como ocupam os tempos livres com os amigos mostra que os alunos<br />
do ER fazem mais actividades culturais (ir ao cinema, teatro ou outros<br />
espectáculos) do que os alunos de PIEF. Também são estes alunos que mais<br />
ocupam o seu tempo livre a estudar. Por outro lado, os alunos de PIEF passam<br />
mais tempo nos cafés ou a passear.<br />
Ainda relativamente aos tempos livres, os alunos de PIEF afirmaram passá-los<br />
menos em casa do que os alunos do ER 90 .<br />
Quando se perguntou a estes alunos se tinham amigos da mesma idade que<br />
trabalhavam e eram pagos por isso, a maioria respondeu negativamente. É no<br />
entanto relevante que, daqueles que nos disseram que sim, mais do dobro<br />
sejam alunos de PIEF (65,1%). Esta diferença é muito significativa, com um<br />
número de respostas afirmativas dos alunos de PIEF muito superior ao<br />
esperado se a distribuição fosse simétrica para os dois grupos de alunos 91 .<br />
88<br />
De facto, a maioria dos alunos de PIEF (e também do ER), acorda por norma entre as 7 e as<br />
8 da manhã.<br />
89<br />
Dos alunos que não tomam o pequeno-almoço antes das aulas, 65% são alunos de PIEF<br />
(que corresponde a 143 alunos). O resíduo ajustado estandardizado assume o valor de 4,9.<br />
90<br />
Relativamente a esta variável, verifica-se que os alunos do ER têm maior probabilidade de<br />
passar o tempo livre em casa (resíduo ajustado estandardizado de 2,2).<br />
91<br />
De facto, o valor do resíduo ajustado estandardizado é de 6,5, que aponta para uma grande<br />
assimetria das respostas de alunos de PIEF e do ER, o que nos leva a concluir que alunos de<br />
PIEF têm maior probabilidade de terem amigos da mesma idade que trabalham e são pagos<br />
por isso.<br />
204
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
4. Condições de habitabilidade<br />
Os indicadores relativos ao tipo de casa onde moram e às condições das<br />
habitações revelam também alguns elementos de diferenciação entre os alunos<br />
que frequentam os dois currículos escolares.<br />
As casas que são propriedade da família ou das pessoas com quem vive o<br />
inquirido são maioritariamente habitações onde moram alunos do ER. Nestes<br />
casos, verificamos ainda que a distribuição dos alunos é muito assimétrica, e<br />
que a probabilidade de este ser um tipo de habitação de alunos do ER é muito<br />
significativa 92 . Por outro lado, aqueles que moram numa casa alugada são na<br />
sua maioria alunos de PIEF. Relativamente à relação entre estas duas<br />
variáveis (tipo de propriedade sobre a habitação e currículo escolar<br />
frequentado), verifica-se que elas são dependentes, com um grau de<br />
associação fraco, mas ainda assim significativo.<br />
Dos 259 inquiridos que moram num bairro social (18,9% do total de inquiridos<br />
de PIEF e do ER), 69,5% são alunos de PIEF e 30,5% alunos do ER. A esta<br />
grande diferença está também associada uma probabilidade não negligenciável<br />
de aqueles que moram em bairros sociais serem alunos de PIEF.<br />
Os inquiridos que disseram ter um quarto só para si são a maioria, e destes<br />
destacam-se os alunos do ER. A análise da relação entre estas duas variáveis<br />
indica que elas não são independentes, e que têm um grau de associação<br />
fraco mas significativo.<br />
Analisando agora os indicadores de qualidade de vida, praticamente todos os<br />
alunos inquiridos referiram ter em casa algumas infra-estruturas habitacionais,<br />
como casa de banho, água canalizada fria, electricidade, gás, máquina de lavar<br />
roupa, frigorífico, fogão e televisão. Relativamente aos restantes indicadores<br />
(ter água canalizada quente, aquecimento, telefone fixo, computador, sistema<br />
92 Neste caso, o resíduo ajustado estandardizado é de 11,7.<br />
205
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
áudio e Internet), são os alunos de PIEF aqueles que mais afirmam não ter na<br />
casa onde vivem os equipamentos e infra-estruturas referidos 93 .<br />
De todos estes indicadores, aqueles que mostraram um grau de associação<br />
maior relativamente ao tipo de ensino frequentado pelos inquiridos foram a<br />
posse de computador e de Internet. De facto, não só se rejeita a hipótese de<br />
independência destas variáveis, como as medidas de associação nos levam à<br />
conclusão de que elas são dependentes, com um grau de associação<br />
significativo, muito embora não seja muito forte.<br />
Olhando para as respostas dos inquiridos segundo o tipo de ensino<br />
frequentado, os alunos do ensino regular têm uma probabilidade bastante<br />
superior de ter Internet ou computador, quando comparados com os alunos que<br />
frequentam os PIEF.<br />
Perguntou-se ainda aos inquiridos se tinham telemóvel, e a maioria respondeu<br />
afirmativamente. Também aqui, as variáveis estão associadas, e verifica-se<br />
que, apesar de muitos alunos de PIEF afirmarem ter telemóvel, há um<br />
desfasamento grande entre as respostas segundo o tipo de ensino<br />
frequentado, sendo em alunos do ensino regular que encontramos a maior<br />
percentagem a ter telemóvel.<br />
5. Percursos escolares<br />
Dizer que os percursos dos alunos de PIEF são problemáticos não deixa de ser<br />
redundante, uma vez que a finalidade destes programas passa por trazê-los de<br />
volta à escola, o que acontece, logicamente, em situações em que se detectam<br />
grandes níveis de insucesso ou abandono escolares, que podem ocorrer por<br />
uma multiplicidade de factores. Apesar de sabermos isto, não deixa de ser<br />
93 Dos 39 inquiridos que afirmaram não ter água canalizada quente, 29 são alunos de PIEF;<br />
dos 429 alunos inquiridos que referiram não ter aquecimento em casa (que corresponde a<br />
31,4% do total de inquiridos, alunos de PIEF e do ER), mais de metade são alunos de PIEF<br />
(62% dos 429 que não têm aquecimento em casa); dos 698 alunos inquiridos que afirmaram<br />
não ter telefone fixo em casa (51% da totalidade de inquiridos), 61,3% são alunos de PIEF; dos<br />
152 alunos inquiridos que afirmaram não ter sistema áudio em casa (11,1% do total de<br />
inquiridos), 57,9% são alunos de PIEF.<br />
206
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
pertinente a análise comparada dos percursos de alunos de PIEF e alunos do<br />
ER.<br />
O tempo que os alunos levam a chegar à escola é um indicador interessante a<br />
analisar neste ponto, que indicia diferentes graus de acessibilidade geográfica<br />
da escola. De facto, o tempo que os alunos demoram a chegar à escola<br />
depende do currículo escolar frequentado, e são os alunos do PIEF aqueles<br />
que têm maior probabilidade de demorar mais tempo (mais de meia hora).<br />
Os alunos do ER têm uma maior probabilidade de ter frequentado um<br />
infantário, o que aponta para uma inserção dos alunos de PIEF na vida escolar<br />
mais tardia. De facto, a frequência dos dois programas escolares (PIEF e ER)<br />
não é independente de uma inserção tardia na escola (frequência ou não do<br />
ensino pré-escolar). Quanto às percentagens, verifica-se que, dos 70,3% de<br />
alunos que frequentaram um infantário ou jardim-de-infância (960 alunos<br />
inquiridos), 57,6% são alunos do ER. Por outro lado, se olharmos para a<br />
distribuição dos alunos de PIEF pela frequência ou não do ensino pré-escolar,<br />
68,1% afirmou não ter sido inserido em nenhum infantário ou jardim-de-<br />
infância.<br />
De uma forma geral, os alunos de PIEF têm percursos escolares mais<br />
problemáticos, com níveis muito superiores de retenções escolares (dos alunos<br />
que disseram ter ficado retidos pelo menos uma vez, 73,2% são alunos de<br />
PIEF). Efectivamente, a variável que mede o sucesso ou insucesso escolares<br />
depende do plano curricular frequentado pelos alunos inquiridos (PIEF ou ER),<br />
e a associação que se estabelece entre estas duas variáveis é estatisticamente<br />
relevante. Por outro lado, o resíduo ajustado é muito elevado (24,2), o que<br />
indica que os alunos inseridos nestes programas têm uma probabilidade<br />
bastante maior de terem percursos escolares de insucesso.<br />
Relativamente ao número de retenções escolares, e tendo em conta que, muito<br />
embora os alunos de PIEF tenham uma maior taxa insucesso escolar<br />
(encontramos 26,8% de alunos do ER que já tiveram pelo menos uma retenção<br />
escolar) verificamos que, à medida que aumenta o número de vezes que o<br />
aluno não passou de ano, a discrepância na percentagem de respostas dos<br />
alunos de PIEF e do ER vai sendo cada vez maior. Isto significa que,<br />
207
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
relativamente aos alunos que já tiveram alguma retenção escolar, é mais<br />
provável que isto aconteça mais vezes a alunos de PIEF do que a alunos do<br />
ER.<br />
Esta assimetria entre os alunos de PIEF e do ER repete-se relativamente aos<br />
abandonos e às desistências escolares. Nos casos de abandono escolar,<br />
verificamos que está muito associado ao tipo de ensino frequentado pelos<br />
alunos, e que, muito embora a percentagem marginal seja reduzida (10,5% dos<br />
alunos inquiridos abandonou a escola, independentemente do plano curricular<br />
frequentado, o que corresponde a 114 alunos), os alunos de PIEF representam<br />
quase a totalidade (apenas 2 alunos do ER afirmaram já ter abandonado a<br />
escola). A esta grande diferença percentual está associada uma probabilidade<br />
muito superior de serem alunos de PIEF aqueles que alguma vez<br />
abandonaram a escola.<br />
As situações de abandono não formalizado (ou seja, situações em que os<br />
alunos deixaram de ir à escola por longos períodos de tempo, mas que não<br />
deixaram de se inscrever no ano escolar seguinte) são mais frequentes do que<br />
aquelas de abandono efectivo. Nestes casos, os alunos que alguma vez<br />
deixaram de ir à escola por grandes períodos de tempo representam 32,1%<br />
dos alunos de PIEF e do ER inquiridos (que corresponde a 393 alunos<br />
inquiridos). Destes alunos, uma grande maioria são alunos de PIEF (83,7%).<br />
Esta assimetria entre os dois grupos de alunos permite-nos ainda concluir que<br />
os alunos de PIEF têm uma probabilidade maior de estar numa situação de<br />
absentismo escolar 94 . A esta análise podemos ainda acrescentar que as<br />
variáveis têm uma relação de dependência e o grau de associação entre elas é<br />
significativo.<br />
A frequência com que os alunos faltam às aulas depende dos planos<br />
curriculares frequentados. Embora a associação entre as duas variáveis seja<br />
relativamente fraca, podemos ainda assim dizer que os alunos de PIEF têm<br />
uma maior probabilidade de faltar com mais frequência, pelo menos uma vez<br />
94 O resíduo ajustado estandardizado toma aqui o valor de 19,1.<br />
208
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
por semana 95 . Note-se no entanto que, independentemente de serem alunos<br />
de PIEF ou do ER, o total marginal daqueles que afirmaram raramente ou<br />
nunca faltar representa 77,6% dos alunos que constituem a nossa amostra<br />
emparelhada.<br />
Os alunos de PIEF têm uma menor probabilidade de ter uma disciplina favorita.<br />
Este pode ser um indicador indirecto do grau de envolvimento dos alunos na<br />
vida escolar. Por outro lado, não podemos esquecer que o professor é<br />
geralmente um factor determinante nas preferências dos alunos.<br />
Quanto à frequência com que os alunos fazem os trabalhos de casa, ela é<br />
muito dependente do tipo de ensino frequentado pelos alunos. De facto, uma<br />
vez que, por razões que se prendem com a natureza dos planos curriculares<br />
adaptados aos alunos de PIEF (que tendem a privilegiar o trabalho na sala de<br />
aula e uma formação mais prática), os alunos que frequentam estes programas<br />
educativos não levam, por regra, trabalhos para casa. Por isto, esta é a<br />
resposta mais frequentemente referida pelos alunos de PIEF (84,2% destes<br />
alunos não têm trabalhos de casa). Apesar da associação que se estabelece<br />
entre o trabalho escolar feito em casa e os programas educativos dos alunos,<br />
esta relação pouco nos diz acerca dos hábitos de estudo dos inquiridos.<br />
As relações mais problemáticas dos alunos de PIEF com a escola<br />
transparecem ainda na análise de indicadores relativos à transgressão e ao<br />
desvio. Olhando para os alunos que afirmaram já ter tido algum processo<br />
disciplinar, verificamos não só que quase metade dos alunos de PIEF entra<br />
nesta categoria (48,1% dos alunos de PIEF que são contabilizados nesta<br />
análise comparada já tiveram pelo menos um processo disciplinar), como que<br />
aproximadamente três quartos dos alunos que já tiveram algum processo<br />
disciplinar são alunos de PIEF (mais exactamente, 74,7% dos alunos que<br />
afirmaram já ter tido um processo disciplinar são alunos de PIEF 96 ).<br />
95 O resíduo ajustado estandardizado assume o valor de 9,4 (ou seja, o valor observado é<br />
bastante superior ao valor esperado de respostas nesta categoria). Os alunos de PIEF que<br />
faltam pelo menos uma vez por semana representam 20,4% do total de alunos de PIEF que<br />
constituem a nossa amostra emparelhada.<br />
96 Os alunos que afirmaram já ter tido algum processo disciplinar correspondem a 32,1% do<br />
total de alunos que constituem a nossa amostra emparelhada (o que corresponde a 439<br />
alunos).<br />
209
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Também no que respeita ao número de processos disciplinares que os alunos<br />
tiveram, encontramos uma relação de dependência com o tipo de ensino, onde<br />
os alunos de PIEF têm maior probabilidade de ter mais de um processo<br />
disciplinar, e aqueles que tiveram apenas um são mais provavelmente alunos<br />
do ER. Note-se ainda que a maioria dos alunos de PIEF teve mais de um<br />
processo disciplinar ao longo do seu percurso escolar.<br />
Podemos ainda estabelecer uma relação de dependência entre as expulsões<br />
escolares e o plano educativo frequentado pelos alunos. Mesmo observando-<br />
se uma reduzida percentagem de alunos que afirmou já ter sido expulso da<br />
escola (apenas 9%, que corresponde a 123 alunos), os alunos de PIEF estão<br />
em grande maioria, com uma maior probabilidade associada.<br />
Os alunos que beneficiam de Serviços de Acção Social Escolar são<br />
maioritariamente alunos de PIEF, que representam 67,2% dos alunos com<br />
acesso a este tipo de apoio social. Podemos aliás afirmar que são estes alunos<br />
que mais provavelmente estão abrangidos por esta medida de ajuda social.<br />
O envolvimento da família na vida escolar dos jovens e crianças que estão<br />
inseridos nos processos educativos pode ser um elemento central para a<br />
percepção da importância que a educação assume nos vários contextos<br />
sociais, económicos e culturais em que se inserem os alunos.<br />
A valorização que assumem os capitais educacionais formais nos meios<br />
envolventes, percebida através da participação dos encarregados de educação<br />
e dos pais e familiares na escolaridade destes jovens (explicitadas pelas idas a<br />
reuniões de encarregados de educação ou a ajuda nos trabalhos da escola, por<br />
exemplo), pode ser uma variável explicativa importante para interpretar as<br />
diferentes práticas e representações que os inquiridos têm acerca da escola e<br />
do seu papel.<br />
Olhando para a participação regular dos encarregados de educação em<br />
reuniões na escola, verificamos que esta variável não é independente do tipo<br />
de ensino frequentado pelos alunos, muito embora a associação entre elas seja<br />
fraca. Isto significa que não vamos ter uma distribuição semelhante quanto à<br />
frequência com que os encarregados de educação dos alunos de PIEF e do ER<br />
vão a reuniões na escola. De facto, se por um lado é verdade que a maioria<br />
210
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
dos encarregados de educação dos alunos de ambos os programas escolares<br />
vão frequentemente à escola, os alunos de PIEF têm menor probabilidade de<br />
serem representados pelo encarregado de educação em reuniões desta<br />
natureza.<br />
Ainda relativamente à ida dos encarregados de educação à escola, perguntou-<br />
se aos alunos se houve razões excepcionais para tal acontecer, e verificou-se<br />
que os encarregados de educação de alunos de PIEF têm uma maior<br />
probabilidade de serem chamados à escola por outras razões que ultrapassam<br />
as reuniões habituais 97 .<br />
No que diz respeito às ajudas familiares nas tarefas escolares destes jovens e<br />
crianças, a assimetria entre alunos de PIEF e alunos do ER é ainda maior. Em<br />
termos percentuais, os alunos que afirmaram que os pais ou pessoas com<br />
quem vivem costumam ajudar nos trabalhos ou dúvidas escolares representam<br />
45,5% do total de inquiridos do ensino regular e de PIEF que estão a ser aqui<br />
analisados (o que corresponde a 620 alunos). No entanto, são os alunos do ER<br />
que mais contribuem para esta percentagem, já que, daqueles que contam com<br />
a ajuda dos pais ou familiares na aprendizagem escolar, 61,1% são alunos do<br />
ER.<br />
6. Expectativas de vida<br />
Hoje sabemos pela Sociologia que uma parte significativa da acção dos actores<br />
sociais é condicionada pelas expectativas que eles têm em relação à sua vida<br />
no futuro.<br />
De facto, as representações sociais que eles fazem dos contextos em que<br />
vivem e percepcionam à sua volta tendem a estruturar-se em valores, atitudes,<br />
que funcionam como grelhas de leitura do real e marcam os seus<br />
comportamentos (Jodelet, 1984).<br />
97 60% dos alunos que afirmaram que os encarregados de educação foram chamados à escola<br />
por outras razões que não as reuniões habituais são alunos de PIEF, e o cruzamento destas<br />
duas categorias apresenta um resíduo ajustado estandardizado de 4,9<br />
211
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Frequentemente, as expectativas formadas contribuem para a construção de<br />
um “clima comportamental”, onde os vários tipos de acção podem ocorrer: seja<br />
de maior empenhamento no percurso escolar e saída profissional, seja no<br />
alheamento destes meios e na adopção de soluções imediatamente<br />
percepcionadas como mais fáceis, seja na aceitação de um trabalho<br />
remunerado, ou no recurso a práticas de laxismo, ou mesmo desviantes.<br />
É neste contexto que ganha pertinência a análise comparativa entre os alunos<br />
PIEF e de ensino regular., relativamente a alguns indicadores sobre as<br />
expectativas futuras.<br />
Começando pela oferta de trabalho remunerado, a maioria dos alunos<br />
inquiridos com base nos dados do emparelhamento dizia que não (49,6%),<br />
contra 30,7% que referia que sim e 19,8% que não sabe.<br />
Todavia, quando comparamos os alunos PIEF com os do ensino regular, é<br />
evidente a maior probabilidade dos primeiros aceitarem um trabalho<br />
remunerado 98 . Tal probabilidade é de cerca de 2,5 vezes maior nos alunos<br />
PIEF.<br />
Tratando-se de alunos que se encontram ainda a estudar, a aceitação de tal<br />
trabalho não só poderá ter consequências ao nível escolar, como, para uma<br />
parte deles, implicar trabalho infantil.<br />
Quando analisamos os factores que os poderiam fazer mudar de ideias em<br />
relação à aceitação do trabalho remunerado, nota-se que, enquanto os alunos<br />
PIEF referem essencialmente o ser bem pago (resíduo ajustado e<br />
estandardizado de 2,4), nos do ensino regular a principal razão é o não<br />
interferir com o rendimento escolar (resíduo ajustado e estandardizado de 4,8).<br />
Aliás, a importância diferenciada atribuída pelos alunos PIEF e do ER em<br />
relação à escola está bem patente na pergunta “se para concretizar as<br />
expectativas/desejos futuros achavam que precisavam de continuar na escola”.<br />
A maioria dos alunos diz que sim (88,5%). Todavia, enquanto os alunos PIEF é<br />
mais provável acharem que não (resíduo ajustado e estandardizado de 3,2), os<br />
alunos do ER dizem o contrário (resíduo ajustado e estandardizado igual a 2,3).<br />
98 Resíduo ajustado e estandardizado de PIEF que dizem sim ao trabalho remunerado é de 9,5.<br />
212
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Esta percepção em relação à importância da escola é igualmente patente no<br />
número de anos até onde pensam estudar: enquanto os alunos PIEF não<br />
ultrapassam o 9º ano de escolaridade (resíduo ajustado e estandardizado de<br />
5,3 e 17,6, relativamente ao sim no 6º e 9º ano, respectivamente), os alunos do<br />
ensino regular referem sobretudo a licenciatura (resíduo ajustado e<br />
estandardizado de 20,8).<br />
De facto, a menor importância atribuída pelos alunos PIEF ao que aprendem<br />
na escola para a vida futura, quando comparada com os do ensino regular, é<br />
bem patente quando a questão lhes é colocada directamente, sendo mais<br />
provável encontrar respostas negativas nos alunos PIEF do que nos do ER<br />
(resíduo ajustado e estandardizado de 2,9).<br />
213
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
E. BREVE ANÁLISE DAS PIORES FORMAS DE TRABALHO INFANTIL<br />
(dados da CNPCJR)<br />
Este capítulo tem como objectivo a análise das “Piores formas de trabalho<br />
infantil”, pelo que convém relembrar novamente as implicações empíricas da<br />
explicitação do conceito.<br />
Caixa 1 – Definição das Piores Formas de Trabalho Infantil, segundo a Convenção 189/99 da OIT<br />
Piores formas de Trabalho Infantil (Convenção 182/99 da OIT):<br />
Todas as formas de escravatura ou práticas análogas: venda e tráfico de<br />
crianças, servidão por dívidas ou por outra qualquer razão, utilização de<br />
crianças em conflitos armados;<br />
Utilização de crianças para prostituição, produção de<br />
materiais/espectáculos pornográficos;<br />
Utilização de crianças para actividades ilícitas, nomeadamente produção e<br />
tráfico de estupefacientes;<br />
Trabalhos susceptíveis de prejudicar gravemente a saúde, segurança e<br />
desenvolvimento moral da criança.<br />
Atendendo à especificidade deste tipo de trabalho infantil, a sua observação é<br />
particularmente difícil. Daí que seja compreensível a ausência de referências a<br />
estes tipos de actividades no inquérito realizado nas escolas onde decorrem<br />
programas PIEF.<br />
Assim, a estratégia de investigação deverá orientar-se para espaços de<br />
intervenção onde à partida não seja tão problemática a sua observação.<br />
Sem dúvida que os dados existentes na CNPCJR, pela amplitude a nível<br />
nacional e pelo tipo de actividades que normalmente chegam ao seu<br />
conhecimento, constituem uma fonte da maior importância.<br />
Deste modo, e mesmo tendo em consideração as limitações metodológicas dos<br />
dados existentes na base de dados, que serão objecto de “crítica das fontes”, a<br />
214
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
informação permite ter uma visão “macro” do fenómeno a nível nacional e com<br />
desagregações regionais.<br />
Nesse sentido, a análise dos dados fornecidos pela Comissão Nacional de<br />
Protecção de Crianças e Jovens, respeitantes ao ano de 2006 procurará<br />
cumprir os seguintes objectivos:<br />
1. Analisar a distribuição geográfica das situações assinaladas pelas<br />
Comissões de Protecção, em todo o território nacional (Portugal<br />
Continental e Ilhas);<br />
2. Analisar a distribuição por Sexo e por Idade das crianças envolvidas nas<br />
problemáticas mais directamente associadas às Piores Formas do<br />
Trabalho Infantil.<br />
Em anexo, far-se-á uma breve caracterização do universo global de crianças e<br />
jovens que foram objecto da actuação das Comissões de Protecção, e<br />
respectivos agregados familiares, por forma a contextualizar, de algum modo, a<br />
informação analisada com maior pormenor.<br />
1. Crítica das fontes<br />
A base empírica com a qual trabalhamos apenas permite a produção de<br />
análises parcelares, tendo em conta a natureza das bases de dados<br />
disponíveis.<br />
Estas bases de dados, embora contenham informação relevante para a<br />
pesquisa que se pretende desenvolver, não permitem a contabilização caso a<br />
caso e um cruzamento mais alargado das variáveis, tendo em conta que a<br />
informação já vem agregada, em conjuntos de apuramentos autónomos 99 .<br />
O primeiro problema com que nos deparámos diz respeito às diferenças de<br />
apuramentos encontradas entre as bases de dados relativas aos processos<br />
instaurados, transitados e reabertos, e a base de dados relativa ao volume<br />
99 A estrutura destas bases de dados podem ser consultadas em anexo - Estrutura das bases<br />
de dados da CNPCJR<br />
215
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
global de processos. Embora o volume global constitua a soma dos processos<br />
transitados, instaurados e reabertos, os apuramentos apresentados não<br />
coincidem 100 . Optou-se, então, por utilizar, de forma agregada, as bases de<br />
dados primárias, dos processos transitados, instaurados e reabertos.<br />
Os restantes problemas – a impossibilidade de contabilizar caso a caso e a<br />
impossibilidade de cruzar os diferentes conjuntos de apuramentos – não<br />
puderam ser ultrapassados, ditando a natureza e alcance da análise<br />
desenvolvida.<br />
2. Distribuição por sexo e por idade das crianças envolvidas nas<br />
problemáticas mais directamente associadas às Piores Formas do<br />
Trabalho Infantil<br />
Das 54 746 situações inventariadas pela CNPCPCJ, 53,3% dizem respeito a<br />
rapazes e as restantes a raparigas.<br />
Igualmente, a partir dos mesmos dados, e tendo em conta a tipologia de<br />
situações de perigo utilizada pela CNCPCJ e respectivas Comissões de<br />
Protecção 101 , vemos que a negligência é, de longe, o tipo mais reportado. O<br />
abandono escolar surge em segundo lugar, seguido da exposição a modelos<br />
de comportamento desviante (ver Gráfico 1) 102 .<br />
100 Estas diferenças podem ser consultadas no anexo – Teste Base de Dados.<br />
101 A Tipologia das situações de perigo pode ser consultada em anexo.<br />
102 Uma mesma criança pode estar associada a mais do que uma problemática, o que implica<br />
que o número de problemáticas sinalizadas (50190) é superior ao número de crianças e jovens<br />
abrangidos (47977).<br />
216
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Gráfico 70 – Problemáticas assinaladas (%)<br />
Uso de estupefacientes<br />
Prostituição infantil<br />
Problemas de saúde<br />
Prática de facto qualificado como crime<br />
Pornografia infantil<br />
Negligência<br />
Mendicidade<br />
Maus tratos psicológicos / abuso emocional<br />
Maus tratos físicos<br />
Ingestão de bebidas alcoólicas<br />
Exposição a modelos de comportamento desviante<br />
Exploração do trabalho infantil<br />
Exercício abusivo de autoridade<br />
Corrupção de menores<br />
Abuso sexual<br />
Abandono escolar<br />
Abandono<br />
0,8%<br />
0,2%<br />
1,6%<br />
0,2%<br />
0,9%<br />
0,8%<br />
0,4%<br />
1,2%<br />
0,4%<br />
2,4%<br />
2,3%<br />
217<br />
3,5%<br />
9,7%<br />
9,4%<br />
13,6%<br />
16,0%<br />
36,5%<br />
0,0% 5,0% 10,0% 15,0% 20,0% 25,0% 30,0% 35,0% 40,0%<br />
FONTE: <strong>Relatório</strong> CPCJ, 2006<br />
Cruzando agora a tipologia acima referida com a definição das “Piores formas<br />
de Trabalho Infantil” (Convenção 189/99 da OIT) (ver Caixa 1), foram<br />
seleccionados os seguintes tipos, para uma análise mais pormenorizada:<br />
Mendicidade, Exploração do trabalho infantil, Pornografia Infantil e Prostituição<br />
Infantil 103 .<br />
As situações de perigo mais directamente associadas às Piores Formas do<br />
Trabalho Infantil representam 1,7% do total de problemáticas reportadas no<br />
ano de 2006 (ver Gráfico 1). Destas 978 sinalizações, 50% correspondem a<br />
situações de mendicidade (ver Gráfico 2).<br />
103 Embora os tipos Corrupção de menores e Prática de facto qualificado como crime podem<br />
pela sua descrição, estar associados às Piores Formas, não serão objecto de análise mais<br />
pormenorizada, tendo em conta a impossibilidade de uma maior explicitação das situações<br />
assinaladas (consultar anexo).
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Gráfico 71 – Situações de Perigo mais directamente associadas às Piores Formas<br />
Pornografia<br />
infantil<br />
14%<br />
Prostituição<br />
infantil<br />
13%<br />
Mendicidade<br />
49%<br />
FONTE: <strong>Relatório</strong> CPCJ, 2006<br />
218<br />
Exploração do<br />
trabalho infantil<br />
24%<br />
Quando comparamos os dados por sexo, a Pornografia Infantil aparece mais<br />
associada aos rapazes e a Exploração do Trabalho Infantil, e em menor grau a<br />
Prostituição infantil, às raparigas.<br />
Gráfico 72 – Situações de perigo mais directamente associadas às Piores Formas por sexo<br />
80,0<br />
70,0<br />
60,0<br />
50,0<br />
40,0<br />
30,0<br />
20,0<br />
10,0<br />
0,0<br />
42,3<br />
57,7<br />
Exploração do<br />
trabalho infantil<br />
50,3<br />
49,7<br />
66,9<br />
33,1<br />
Mendicidade Pornografia<br />
infantil<br />
Rapazes Raparigas<br />
FONTE: <strong>Relatório</strong> CPCJ, 2006<br />
46,7<br />
53,3<br />
Prostituição<br />
infantil
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
No que respeita à distribuição por grupos de idade, os dados revelam que a as<br />
crianças mais jovens surgem menos associadas à Exploração do Trabalho<br />
Infantil. A Prostituição Infantil apresenta um padrão diferenciado: rapazes dos<br />
0-5 anos e raparigas dos 13-14 e mais 15 anos.<br />
Relativamente à Exploração do trabalho infantil, as raparigas com 11 e 12 anos<br />
situam-se sobretudo no Distrito de Santarém, mais concretamente na área de<br />
actuação da CPCJ de Abrantes.<br />
219
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
3. Distribuição geográfica das situações de perigo assinaladas pelas<br />
Comissões de Protecção<br />
Em seguida far-se-á uma descrição cartográfica das piores formas, pelos vários<br />
concelhos do Continente.<br />
3.1. Exploração do trabalho infantil<br />
Quando falamos em Exploração do trabalho infantil, estamos a falar de<br />
situações em que, para obter benefícios económicos, a criança/jovem é<br />
obrigada à realização de trabalhos (sejam ou não domésticos) que excedem os<br />
limites do habitual, que deveriam ser realizados por adultos e que interferem<br />
claramente na vida escolar da criança, excluindo-se a utilização da criança em<br />
tarefas específicas por temporadas.<br />
Pelo menos um período de tempo concreto, a criança não pode participar nas<br />
actividades da sua idade (escola, etc.) por se encontrar a trabalhar 104 .<br />
Relativamente a esta problemática, a única CPCJ que se destaca é a de<br />
Lisboa, sendo que Abrantes, Sintra Ocidental, Leiria, Montijo, Oeiras, Maia e<br />
Seixal apresentam apuramentos entre 10 e 20 casos.<br />
104 Descrição constante da TIPOLOGIA DAS SITUAÇÕES DE PERIGO da CNPCJR.<br />
220
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Mapa 1 – Exploração do trabalho infantil<br />
FONTE: <strong>Relatório</strong> CPCJ, 2006<br />
221
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
3.2. Mendicidade<br />
Quando falamos de Mendicidade, estamos a falar de situações em que a<br />
criança/jovem é utilizada habitualmente ou esporadicamente para mendigar, ou<br />
é a criança que exerce a mendicidade por sua iniciativa 105 .<br />
Relativamente a esta problemática, são as CPCJ de Abrantes e Lisboa que<br />
surgem com algum destaque.<br />
105 Descrição constante da TIPOLOGIA DAS SITUAÇÕES DE PERIGO da CNPCJR.<br />
222
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Mapa 2 – Mendicidade<br />
FONTE: <strong>Relatório</strong> CPCJ, 2006<br />
223
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
3.3. Pornografia infantil<br />
Quando falamos de Pornografia infantil, estamos a falar da oferta, distribuição,<br />
difusão, importação, exportação, venda ou posse para os fins de pornografia<br />
infantil, de qualquer representação, por qualquer meio, de uma criança no<br />
desempenho de actividades sexuais explícitas reais ou simuladas ou qualquer<br />
representação dos órgãos sexuais de uma criança para fins<br />
predominantemente sexuais 106 .<br />
Relativamente a esta problemática, destacam-se a CPCJ de Vila Nova de<br />
Famalicão e Barcelos, a Norte, e Lisboa e Almada, na Área da Grande Lisboa.<br />
Abrantes e Caldas da Rainha aparecem com algum destaque.<br />
106 Descrição constante da TIPOLOGIA DAS SITUAÇÕES DE PERIGO da CNPCJR.<br />
224
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Mapa 3 – Pornografia infantil<br />
FONTE: <strong>Relatório</strong> CPCJ, 2006<br />
225
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
3.4. Prostituição Infantil<br />
A prostituição infantil aqui analisada refere-se à utilização de uma criança em<br />
actividades sexuais contra remuneração ou qualquer outra retribuição,<br />
implicando a oferta, obtenção, procura ou entrega de uma criança para fins de<br />
prostituição infantil.<br />
Relativamente a esta problemática 107 , destaca-se a CPCJ de Vila Nova de<br />
Famalicão, a Norte, e as CPCJ de Lisboa e Vila Franca de Xira, na Área<br />
Metropolitana de Lisboa.<br />
Surge, ainda, uma pequena mancha no Interior Norte de Portugal,<br />
correspondente à CPCJ de Celorico de Basto.<br />
107 Descrição constante da TIPOLOGIA DAS SITUAÇÕES DE PERIGO da CNPCJR.<br />
226
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Mapa 4 – Prostituição infantil<br />
FONTE: <strong>Relatório</strong> CPCJ, 2006<br />
227
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
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http://www.gddc.pt/direitos-humanos/textos-internacionais-<br />
dh/tidhuniversais/emp-conv-oit-138.html<br />
230
Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />
Convenção nº 182 da OIT Relativa à Interdição das Piores Formas de Trabalho<br />
das Crianças e à Acção Imediata com Vista à sua Eliminação:<br />
http://www.gddc.pt/direitos-humanos/textos-internacionais-<br />
dh/tidhuniversais/emp-conv-oit-182.html<br />
Despacho n° 14026/07. "D. R. 2ª série", nº 126, 3 de Julho 2007, 18807<br />
(http://www.dgidc.min-edu.pt/fichdown/Despacho%2014026-07.pdf. Consultado<br />
em Outubro 2007).<br />
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Estatística sobre o Trabalho Infantil (SIMPOC), Genebra, Bureau Internacional<br />
do Trabalho.<br />
Guia de Legislação e Recursos sobre Trabalho Infantil (1999), Ministério do<br />
Trabalho e da Solidariedade Social e PEETI – Plano para Eliminação da<br />
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Lei nº 35/2004 (Capítulo VIII, relativo à Participação de Menores em<br />
Espectáculos e Outras Actividades) –<br />
http://www.dre.pt/pdfgratis/2004/07/177a00.pdf<br />
Manual para Análise de Dados sobre o Trabalho Infantil e Redacção de<br />
<strong>Relatório</strong>s Estatísticos. Programa de Monitorização e Informação Estatística<br />
sobre o Trabalho Infantil (SIMPOC), Genebra, Bureau Internacional do<br />
Trabalho.<br />
Recomendação 190 da OIT relativa às Piores Formas de Trabalho das<br />
Crianças e à Acção Imediata com Vista à sua Eliminação -<br />
http://www.cnpcjr.pt/preview_documentos.asp?r=1168&m=PDF<br />
231