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A Ética como valor Fundamental...Cristiane, Edmilson, Marcos

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Universidade Federal da Bahia – UFBA<br />

Centro de Pós-graduação Avançada – CPA<br />

Especialização em Gestão de Pessoas<br />

A ÉTICA COMO VALOR FUNDAMENTAL<br />

NA IMAGEM CORPORATIVA DA<br />

ORGANIZAÇÃO JOHNSONDIVERSEY/BA<br />

CRISTIANE PINTO REBOUÇAS<br />

EDIMILSON BONFIM ESTRELA MARTINS<br />

MANOEL MARCOS FREIRE D’AGUIAR NETO<br />

SALVADOR – BAHIA<br />

2005<br />

1


Universidade Federal da Bahia – UFBA<br />

Centro de Pós-graduação Avançada – CPA<br />

Especialização em Gestão de Pessoas<br />

A ÉTICA COMO VALOR FUNDAMENTAL NA<br />

IMAGEM CORPORATIVA DA ORGANIZAÇÃO<br />

JOHNSONDIVERSEY/BA<br />

CRISTIANE PINTO REBOUÇAS<br />

Pesquisa apresentada à Universidade<br />

Federal da Bahia – UFBA, <strong>como</strong><br />

requisito parcial para aprovação na<br />

Especialização em Gestão de Pessoas,<br />

sob orientação do professor Robinson<br />

Tenório.<br />

EDIMILSON BONFIM ESTRELA MARTINS<br />

MANOEL MARCOS FREIRE D’AGUIAR NETO<br />

SALVADOR – BAHIA<br />

2005<br />

2


Universidade Federal da Bahia – UFBA<br />

Centro de Pós-graduação Avançada – CPA<br />

Especialização em Gestão de Pessoas<br />

A ÉTICA COMO VALOR FUNDAMENTAL NA<br />

IMAGEM CORPORATIVA DA ORGANIZAÇÃO<br />

JOHNSONDIVERSEY/BA<br />

CRISTIANE PINTO REBOUÇAS<br />

Pesquisa apresentada à Universidade<br />

Federal da Bahia - UFBA, <strong>como</strong><br />

requisito parcial para aprovação na<br />

Especialização em Gestão de Pessoas,<br />

sob orientação do professor Robinson<br />

Tenório.<br />

EDIMILSON BONFIM ESTRELA MARTINS<br />

MANOEL MARCOS FREIRE D’AGUIAR NETO<br />

Examinador ________________________________<br />

Data de aprovação _____ / ______ / _____<br />

SALVADOR – BAHIA<br />

2005<br />

3


RESUMO<br />

A influência das diversas pressões oriundas das mudanças contemporâneas nas relações de<br />

mercado, tem forçado as organizações a incorporar <strong>valor</strong>es universais, dentre os quais, a ética,<br />

nas relações comerciais. Isto significa dizer que a adoção de padrões éticos para as<br />

organizações passou a ser fator que agrega <strong>valor</strong>es à imagem da empresa. Tendo <strong>como</strong><br />

campo de estudo a empresa JohnsonDiversey do Brasil Ltda., esse trabalho, buscou analisar a<br />

efetiva observância dos padrões éticos adotados no seu planejamento estratégico, procurando<br />

identificar se a conduta ética posta em prática influenciou efetivamente na composição da<br />

imagem corporativa da empresa contribuindo para os altos índices de credibilidade e<br />

lucratividade por ela alcançados. A abordagem foi constituída por duas enquetes: a primeira<br />

junto aos gestores da JohnsonDiversey, principais atores internos na definição do<br />

comportamento ético empresarial e a segunda junto aos principais representantes das<br />

empresas dos parceiros/clientes. A fundamentação teórica do trabalho baseou-se em extensa<br />

pesquisa bibliográfica voltada para a utilização de ferramentas concernente à área de Gestão<br />

de Pessoas. Como instrumentos de coleta de dados, foram utilizados análise da documentação<br />

disponibilizada pela JohnsonDiversey, realizadas entrevistas estruturadas e gravadas com os<br />

seus gestores no estado da Bahia e aplicados questionários (87) com perguntas fechadas e<br />

mistas aos principais representantes das 30 empresas clientes preferenciais. A clareza das<br />

respostas assim <strong>como</strong> a firmeza dos seus gestores foi determinante em relacionar a ética <strong>como</strong><br />

principal <strong>valor</strong> agregado à imagem corporativa da organização, no entanto, enfatizaram<br />

também que a responsabilidade social deve ser incorporado com mais vigor no planejamento<br />

estratégico da organização e divulgado no seu balanço social os frutos que possivelmente<br />

serão colhidos daí em benefício de alguma comunidade ou mesmo do meio ambientes <strong>como</strong><br />

um todo. Nesse caminho e juntando todas essa considerações e variáveis os gestores<br />

idealizaram e conceituaram a JohnsonDiversey <strong>como</strong> uma organização que se preocupa com a<br />

qualidade de vida dos seus funcionários observando as leis vigentes do país, respeita o meio-<br />

ambiente e acima de tudo, enxerga em seus clientes a base de sustentação e longevidade do<br />

seu negócio. No contexto contemporâneo de mudanças e de transformações comportamentais,<br />

sociais, econômicas e tecnológicas, pelo qual passam as organizações, percebe-se na<br />

JohnsonDiversey uma grande preocupação em manter padrões de ética e responsabilidade<br />

social.<br />

Palavras-Chave: <strong>Ética</strong>; Imagem Corporativa; <strong>Ética</strong> Empresarial.<br />

4


ABSTRACT<br />

The influence of several pressures originated from changes in contemporaneous market<br />

relations, has forced organizations to absorb universal values such as ethics into their<br />

commercial transactions. This means that the adoption of ethical standards for the<br />

organizations became a factor that adds value to the company public image. Using as an case<br />

study the Johnson Diversey do Brasil Ltda, this work had the aim of analyzing the effective<br />

observance of ethical standards adopted by such a company in its strategic planning, trying to<br />

identify weather its practical ethical conduct has influenced the company image, then<br />

contributing to its credibility and profitability. The used approach was through two<br />

questionnaires: the first one submitted to the company’s managers, responsible for the internal<br />

definition of the enterprise’s ethical behavior, and the second one to the most important<br />

representatives of the company’s clients and partners. The work theoretical basis was a result<br />

of an extensive bibliographical search, specifically related to the managerial of working<br />

people. Specific data collection was done using documentation made available by the<br />

company and interviews, structured and recorded, with their its representatives in the State of<br />

Bahia. It was applied 87 questionnaires with questions conceived in different ways, together<br />

with 30 other applied to the company’s most prominent clients. The answers clarity, together<br />

with the firm commitment of the company’s representatives was a determinant factor in<br />

relating ethics as the most important added value to the organization image, simultaneously<br />

emphasizing that the social responsibility is a factor that should be more strongly incorporated<br />

into the company’s strategic planning and make public in their social budget the social<br />

benefits in favor of the community and environment as a whole. Along this road, by putting<br />

together these considerations and variables, the company’s representatives have conceived<br />

Jonhson Diversey as an organization that cares about the life quality of its employees, is<br />

concerned with the physical environment and, above all, sees its clients as its foundation and<br />

reason for the longevity of its business. Within the present context of changing and behavior<br />

transformations, as well social, economical and technological, together affecting the<br />

organizations, its is possible to evaluate in the Johnson Diversey a great worry with respect to<br />

keeping ethical standards and social responsibility.<br />

Keywords: Ethics; Company Public Image; Corporation Ethics.<br />

5


SUMÁRIO<br />

1. INTRODUÇÃO 07<br />

2. HISTÓRICO DA EMPRESA 13<br />

3. REFERENCIAL TEÓRICO 14<br />

4. METODOLOGIA 22<br />

5. RESULTADOS E ANÁLISES 24<br />

6. REFERÊNCIAS 34<br />

APÊNDICES 36<br />

01. POPULAÇÃO DA PESQUISA 36<br />

02. AMOSTRAGEM DA PESQUISA 37<br />

03. QUESTIONÁRIO 39<br />

04. ENTREVISTA 42<br />

6


1. INTRODUÇÃO<br />

A influência das diversas pressões oriundas das mudanças contemporâneas nas relações<br />

de mercado, tais <strong>como</strong>: código de defesa dos consumidores, pressões ecológicas,<br />

governamentais e privadas e políticas macroeconômicas, tende a crescer e evoluir forçando<br />

ainda mais as organizações a adequarem os seus produtos e serviços a <strong>valor</strong>es universais,<br />

dentre os quais se destaca a ética, a ser considerada <strong>como</strong> <strong>valor</strong> fundamental nas relações<br />

comerciais.<br />

Contudo, antes de analisar a ética nesse contexto empresarial, impõe-se a necessidade de<br />

uma revisão, se não rigorosamente cronológica e histórica, ao menos sob o ponto de vista do<br />

reconhecimento da sua importância <strong>como</strong> <strong>valor</strong> balisador da conduta humana para ações<br />

voltadas para um máximo de harmonia, universalidade e perfeição sempre em benefício do<br />

indivíduo e da sociedade. Não se pretende, por outro lado, apresentar uma revisão profunda e<br />

detalhada do tema, mas, apenas apresentar uma abordagem que permita, paulatinamente,<br />

contextualizá-la no ambiente empresarial de forma lógica e evolutiva.<br />

Conceitualmente, ética é ciência que estuda os juízos morais referentes à conduta<br />

humana, tendo <strong>como</strong> princípio fundamental e objetivo o bem de todos. É freqüentemente<br />

confundida com moral quando, na verdade, a ética é a reflexão e o questionamento, de caráter<br />

teórico sobre a moral, está definida <strong>como</strong> o conjunto de <strong>valor</strong>es, de regras de comportamentos<br />

adotados por um grupo, por uma coletividade. Embora na prática a ética seja tão antiga quanto<br />

a criação da humanidade, a primeira obra sobre o assunto que a resumia a um tratado sobre as<br />

virtudes deve-se a Aristóteles (384-322 a.C.) A sua <strong>Ética</strong> a Nicômacos que por séculos foi um<br />

modelo inquestionável e influenciou uma das três mais importantes escolas e correntes<br />

filosóficas, privilegia as virtudes justiça, caridade e generosidade, tidas <strong>como</strong> propensas a<br />

provocar um sentimento de realização pessoal àquele que age quanto simultaneamente<br />

beneficiar a sociedade em que o mesmo vive. Por <strong>valor</strong>izar a harmonia entre a moralidade e a<br />

natureza humana, concebendo a moralidade e a natureza <strong>como</strong> parte da ordem natural do<br />

7


mundo foi qualificada <strong>como</strong> naturalista. Uma segunda corrente filosófica representada de<br />

mais sistemático e profundo por Kant, Immanuel (1724-1804), filósofo alemão, faz do<br />

conceito de dever o ponto central da moralidade. Kant dizia que a única coisa que se pode<br />

afirmar que seja boa em si mesmo á a boa vontade ou boa intenção, aquela que se põe<br />

livremente de acordo com o dever. O conhecimento do dever é conseqüência da percepção<br />

pelo sujeito de que ele é um ser racional e que está obrigado a obedecer ao que chamou de<br />

imperativo categórico. Em outras palavras, a virtude é definida <strong>como</strong> a força de vontade<br />

necessária para o cumprimento do dever, <strong>como</strong> a força moral de que o homem necessita para<br />

combater os vícios que se opõem ao cumprimento do dever. Se a ética aristotélica é definida<br />

<strong>como</strong> a ética da virtude, a ética kantiana é a ética do dever. A terceira vertente dentro da<br />

filosofia da ética é o “utilitarismo” segundo o qual o objetivo da moral é o de proporcionar o<br />

máximo de felicidade ao maior número de pessoas.<br />

Nos últimos séculos, segundo Bobbio (1998, p.30) o tema tradicional das virtudes e,<br />

respectivamente dos vícios, transformou-se em tratados sobre paixões enquanto que a<br />

doutrina da ética encontrou o seu lugar na doutrina do direito natural, na qual prevaleceu, no<br />

tratamento dos elementos da moral, o ponto de vista das leis ou das regras morais, jurídicas ou<br />

dos costumes. Hoje, seja no plano analítico, seja no propositivo os filósofos morais discutem<br />

a respeito dos <strong>valor</strong>es, opções e de sua maior ou menor racionalidade, bem <strong>como</strong> a respeito de<br />

regras e normas e, conseqüentemente, de direitos e deveres.<br />

É nesse de embate e confronto entre direitos e deveres que nasce e evolui o conceito de<br />

‘ética nos negócios e nas empresas e ganhou importância à locução ética empresarial que<br />

atinge as empresas e organizações em geral e que, “em termos simples, compreende<br />

princípios e padrões que orientam o comportamento do mundo dos negócios”. Ferrel ( 2000,<br />

p.7).<br />

Como contam Ferrel et al (2000, pp. 9-13) e o Instituto Ethos (2004), ao estabelecerem a<br />

historicidade da evolução do tema, até 1960, praticamente todas as discussões sobre questões<br />

éticas nas empresas eram em termos teológicos com a participação de líderes religiosos<br />

questionando salários, práticas trabalhistas e moralidade capitalista. Encíclicos papais, de<br />

forte conteúdo ético social católico, traziam a preocupação com a moralidade nos negócios,<br />

direito dos trabalhadores, salário mínimo, melhoria da qualidade de vida do trabalhador e<br />

defesa de <strong>valor</strong>es humanistas em contraposição com <strong>valor</strong>es materialistas. No âmbito<br />

eminentemente empresarial, já no início da década de 60, as primeiras preocupações éticas se<br />

manifestam nos países de origem alemã, através de debates sobre a pretensão de se elevar o<br />

trabalhador à condição de participantes dos conselhos de administração das empresas. Nos<br />

8


Estados Unidos começa a crescer a importância das questões sociais no mundo dos negócios,<br />

com críticas ferrenhas ao chamado sistema militar-industrial que controlava a economia a e a<br />

política e surgem os primeiros movimentos do de grupos e organizações em defesa dos<br />

direitos dos consumidores que resultaram, mais tarde, na publicação de leis de proteção<br />

variadas.<br />

Ainda nessa década e na seguinte, a década de 70, toma impulso o ensino de ética nas<br />

faculdades de administração com uma forte contribuição dos filósofos que ao aliaram sua<br />

formação teórica com a vivência empresarial, aplicando os conceitos de ética e análise<br />

filosófica à realidade dos negócios provocou a o surgimento de um novo campo de estudo, a<br />

ética empresarial. É dessa época as primeiras pesquisas sobre o tema, envolvendo<br />

empresários, mas o seu enfoque resumia-se à conduta ética pessoal e profissional. Não s e<br />

abordava ainda o processo ético das tomada de decisões.<br />

As expansões das empresas multinacionais americanas e européias trazem consigo, para<br />

os países onde passam a operar, conflitos de <strong>valor</strong>es éticos e culturais que incentivam a<br />

criação dos chamados códigos de ética.<br />

A década de 80 foi a da consolidação da ética empresarial <strong>como</strong> campo de estudo.<br />

Multiplicaram-se os cursos universitários com milhares de estudantes, centro de ética<br />

empresarial foram criados os quais promoveram cursos, conferências seminários e<br />

publicações e de todo esse movimento surgiu a primeira revista científica específica na área<br />

de Administração chamada “Journal of Business Ethics”. Surgem os programas de MBA –<br />

Master of Busines Administration. Empresas importantes <strong>como</strong> a General Eletric Co. e o<br />

Chase Manhattan Corporation e muitas outras, criaram as suas comissões internas de ética e<br />

política social. A década termina com a crença de que a auto regulamentação, que inclui<br />

códigos de ética e de conduta, e não a regulamentação pelo estado, era de interesse público.<br />

A década de 90 é a da institucionalização da ética empresarial com a universalização do<br />

conceito, conseqüência da criação e atuação de redes acadêmicas de estudo nos Estados<br />

Unidos, a International Society for Business, Econimics and Ethics (ISBEE) e na Europa, a<br />

European Business Ethics Network (EBEN) que passaram a se constituir no fórum adequada<br />

para as discussões pertinentes ao assunto. Essa redes deram origem a duas novas revistas<br />

científicas: a Business Ethics Quarterly (1991) e a Business Ethics: a European Review<br />

(1992). Os resultados mais relevantes das pesquisas desenvolvidas em âmbito mundial foram<br />

apresentadas e discutidas no 1º Congresso Mundial da ISBEE, no Japão, em 1996. Trabalhos<br />

importantes, informativos e de cunho cientifico ressaltaram os tr6es modos inter-relacionados<br />

de abordagem da ética nas empresas: A Semântica- falar sobre ética – a Prática – atuar<br />

9


eticamente e a Teoria – pensar sobre ética.<br />

No fim do milênio observou-se a criação das Organizações Não Governamentais (ONG)<br />

- instituições sem fins lucrativos - que, em geral, surgem com uma concepção mais moderna<br />

de administração incorporando posturas mais responsáveis quanto à observância dos direitos<br />

dos cidadãos, particularmente dos parceiros e clientes, um maior respeito às regras de<br />

convivência social, uma preocupação com a preservação do meio ambiente e, ao menos, com<br />

algum tipo de ação social quando não trazem dentre os seus princípios uma responsabilidade<br />

social ativa. As ONGs desempenham importante papel no desenvolvimento econômico,<br />

social e cultural de muitos países e, via de regra, trazem na sua constituição, entre os seus<br />

documentos regulatórios códigos de ética elaborados <strong>como</strong> parte integrante dos respectivos<br />

planejamentos estratégicos e que tem também influenciado a conduta e a atitude das outras<br />

empresas. A tendência atual nas empresas é passar de iniciativas éticas de base estritamente<br />

legal, para iniciativas cujas raízes estejam na cultura da empresa na qual a ética está entre os<br />

seus <strong>valor</strong>es fundamentais. As empresas reconhecem que programas eficazes de ética são<br />

bons para os negócios e já é possível identificar-se um clima empresarial ético e de confiança<br />

entre empresas. A “abordagem aristotélica” dos negócios, em que se privilegia a virtude <strong>como</strong><br />

diretriz das negociações, vem sendo recuperada. A boa empresa não é mais somente aquela<br />

que apresenta bons lucros, mas também aquela que oferece um ambiente moralmente<br />

gratificante, em que as pessoas podem desenvolver seus conhecimentos especializados, suas<br />

habilidades e competências e também suas virtudes. Todos os anos a revista Fortune, das mais<br />

importantes e lidas no mundo empresarial, avalia as empresas mais admiradas e as<br />

características responsáveis por esse reconhecimento e em termos globais as empresas<br />

trabalham par criar padrões de conduta mais aceitáveis.<br />

No Brasil, do ponto de vista acadêmico pelo menos, a questão da ética nos negócios é<br />

preocupação antiga; a Escola Superior de Administração de Negócios, primeira faculdade de<br />

administração do país fundada em 1941, já incluía o ensino da ética nos seus cursos de<br />

graduação, desde o início. Em 1992, o Ministério da Educação recomendou a inclusão dessa<br />

disciplina em todo os cursos de graduação e pós-graduação em administração. Neste mesmo<br />

ano, a Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo, criou o Centro de Estudo de <strong>Ética</strong> nos<br />

Negócios, o CENE, que cinco anos mais tarde foi ampliado para abarcar organizações<br />

governamentais e não governamentais e passou a se chamar Centro de Estudo de <strong>Ética</strong> nas<br />

Organizações. O CENE foi um pólo de irradiação da ética empresarial pela suas atividade de<br />

ensino, pesquisas, publicações e promoções de eventos e hoje várias Faculdades de<br />

Administração de Empresas e de Economia, em todo o Brasil, incluem o ensino da ética em<br />

10


seus currículos.<br />

Observa-se que a sociedade contemporânea erigida fortemente influenciada pelos setores<br />

acadêmicos e científicos, incorporando <strong>como</strong> nunca ao seu cotidiano os resultados dos<br />

avanços tecnológicos, usuária de informações obtidas em tempo real está, cada vez mais,<br />

procurando resgatar comportamentos que possibilitem o cultivo de relações éticas;<br />

desenvolve-se no cidadão uma maior percepção pelos <strong>valor</strong>es morais <strong>como</strong> o respeito<br />

individual e coletivo.<br />

Os líderes empresariais, por sua vez, estão percebendo que a credibilidade das empresas<br />

é reflexo da prática efetiva de <strong>valor</strong>es <strong>como</strong> integridade, honestidade, transparência, qualidade<br />

do produto, eficiência do serviço e respeito ao consumidor e ao meio ambiente que provoca<br />

um engajamento das organizações em defesa do chamado desenvolvimento sustentado.<br />

Todas essas considerações permitem observar, <strong>como</strong> conseqüência, o surgimento de uma<br />

nova estrutura organizacional que leva em conta os interesses do homem, da sociedade e do<br />

meio ambiente, com significativa influência na construção da imagem de qualquer<br />

organização. Dentro dessa nova realidade, pode-se dizer que a competitividade do mercado, o<br />

avanço tecnológico, a globalização, a lucratividade, a existência de profissionais bem<br />

treinados e motivados - expressivos componentes do mundo empresarial - exigem<br />

adicionalmente a adoção de um código de ética que norteie os relacionamentos internos e<br />

externos das organizações. Cresce daí a tendência em se utilizar a ética <strong>como</strong> premissa básica<br />

nas estratégias de gestão de negócio.<br />

É indiscutível que a ética, enquanto princípio filosófico e arcabouço da consciência<br />

moral, é essencial à vida em todos os seus aspectos, sejam pessoais, familiares, sociais ou<br />

profissionais. Assim, os indivíduos são analisados pelos seus atos e podem colocar seriamente<br />

em risco a própria reputação individual, as empresas nas quais trabalham e o sucesso dos<br />

negócios.<br />

A sobrevivência e evolução das empresas e de seus negócios, portanto, estão associadas<br />

cada vez mais à sua capacidade de adotar e aperfeiçoar condutas marcadas pela integridade,<br />

seriedade, honestidade, justiça, transparência, qualidade do produto ofertado, eficiência do<br />

serviço, bem <strong>como</strong> pela preservação da integridade e dos direitos das pessoas e respeito ao<br />

consumidor.<br />

A credibilidade de uma empresa é, portanto, reflexo da prática efetiva dos <strong>valor</strong>es<br />

mencionados e a mesma cobrança que vem se estabelecendo na sociedade para a clareza dos<br />

relacionamentos pessoais vem se impondo igualmente no relacionamento empresarial. Isto<br />

significa dizer que a adoção de padrões éticos para as organizações passou a ser fator que<br />

11


agrega <strong>valor</strong>es à imagem da empresa.<br />

Tendo <strong>como</strong> campo de estudo a empresa JohnsonDiversey do Brasil Ltda., ao longo<br />

desse trabalho, buscou-se analisar a efetiva observância e adoção de padrões éticos<br />

empresarias pela organização. O foco principal era identificar se a conduta ética posta em<br />

prática pela JohnsonDiversey influenciou efetivamente na composição da imagem corporativa<br />

da empresa contribuindo para os altos índices de credibilidade por ela alcançados.<br />

2. HISTÓRICO DA EMPRESA<br />

A JohnsonDiversey foi constituída em 2002, quando a Johnson Wax Professional,<br />

empresa integrante do conglomerado norte-americano Johnson Professional Holding, Inc,<br />

comprou a divisão Diversey Lever pertencente ao Grupo Unilever de nacionalidade anglo-<br />

holandesa.<br />

Dentre os ativos adquiridos pela Johnson Professional estão máquinas, equipamentos e<br />

instalações industriais, além de marcas institucionais e participação acionária em algumas<br />

empresas pertencentes à divisão Diversey Lever. O <strong>valor</strong> da operação foi de cerca de US$<br />

1,638 bilhão de dólares e parte do pagamento foi efetuado mediante a cessão ao Grupo<br />

Unilever de ações da Johnson Professional, representando aproximadamente 33% do seu<br />

capital social. O Grupo Unilever está recebendo esta participação na Johnson Professional<br />

primordialmente para assisti-la na condução do negócio Diversey Lever e pretende encerrar<br />

sua participação em um período de 5 a 8 anos. Quando isso acontecer, a Johnson Professional<br />

terá a possibilidade de exercer a opção de compra (call option) das ações pertencentes ao<br />

Grupo Unilever.<br />

Foi celebrado ainda entre as Requerentes um contrato de representação comercial<br />

mediante o qual a Johnson Professional se comprometeu a vender no mercado de higiene<br />

profissional aqueles produtos que, embora se destinem ao mercado institucional, utilizam<br />

marcas de uso doméstico do Grupo Unilever, os chamados “produtos de marca<br />

compartilhada”.<br />

A Johnson Professional é fornecedora de produtos de limpeza e higiene e de serviços a<br />

consumidores institucionais/industriais, tais <strong>como</strong> hotéis, restaurantes, escolas e fábricas<br />

enquanto o Grupo Unilever, por sua vez, atua também nos mercados de alimentos, de higiene<br />

e limpeza e de aplicações domésticas e profissionais. A divisão Diversey Lever embora tenha<br />

uma área responsável pelo atendimento a redes de lavanderias, tem seu maior volume de<br />

vendas no segmento industrial, possuindo uma linha completa de composta por 29 produtos<br />

12


de limpeza, entre detergentes, alvejantes, amaciantes, removedores de gordura e graxa e<br />

neutralizadores diversos.<br />

A resultante dessa transação comercial multinacional, a JohnsonDiversey do Brasil Ltda.,<br />

é igualmente uma empresa de higienização profissional atuando nos segmentos de industrias<br />

alimentícias, concessionárias de cozinhas, hospitais, lavanderias, supermercados, hotéis,<br />

plataformas petrolíferas, limpadoras e de tratamento de águas. Ademais, está<br />

JohnsonDiversey empenhada em se destacar <strong>como</strong> a empresa que mais contribui para<br />

simplificar a vida dos seus clientes. Para isso, se compromete a ouvir, procurar entender e<br />

responder às respectivas necessidades específicas. Busca assegurar, pessoalmente, um<br />

consistente estado de limpeza, segurança e atratividade das instalações dos clientes, inovando<br />

em tudo aquilo que pode simplificar e tornar mais lucrativas as suas atividades; procura<br />

estabelecer parcerias de modo a atender as expectativas dos clientes, todos os dias, em todos<br />

os lugares.<br />

Diretamente ou através dos seus distribuidores autorizados, a JohnsonDiversey, presente<br />

em todo o território nacional, assegura o seu atendimento por uma equipe técnico-comercial<br />

altamente qualificada, independente da sua localização geográfica.<br />

A JohnsonDiversey adotou um código de ética <strong>como</strong> parte do seu planejamento<br />

estratégico e procura disseminá-lo entre os seus colaboradores externos e internos, buscando<br />

com isso criar uma imagem corporativa diferenciada.<br />

Pauta as suas relações empresarias e sociais com a observância do código certa de que a<br />

organização empresarial, <strong>como</strong> agente mais dinâmico da sociedade, deve participar<br />

ativamente do reclamado e contemporâneo processo de transformação dessa mesma sociedade<br />

sem perder, contudo, a capacidade competitiva, a sustentabilidade financeira e a lucratividade.<br />

Ao decidir adotar um código de ética a empresa buscou o envolvimento de todos, incluindo os<br />

seus controladores, sua administração e seus empresados, a partir mesmo da concepção do<br />

documento e definição dos <strong>valor</strong>es e princípios nele contidos, de modo a assegurar a ampla e<br />

efetiva identificação, defesa e exercício dos seus propósitos <strong>como</strong> padrão ético de conduta<br />

empresarial. Com essa atitude a JD espera que os profissionais se integrem à empresa<br />

procurando aplicar os princípios éticos definidos a cada uma das suas atividades e a cada<br />

grupo de relacionamento da organização; enfim, a empresa trabalha para que o código de ética<br />

seja reconhecido <strong>como</strong> expressão da sua cultura e na prática esteja sempre associado ao<br />

comportamento e atitudes dos gestores e que permeie as relações com os seus clientes,<br />

compondo assim a imagem da empresa junto à sociedade em geral.<br />

13


3. REFERENCIAL TEÓRICO<br />

“O conhecimento ético, quando aplicado às moralidades, capta os fundamentos das<br />

tomadas de decisão, não importa seu âmbito – políticas públicas, gestão de empresas,<br />

comando de órgãos estatais ou direção de organizações voluntárias” (Srour, 1998, p. 271).<br />

Com essa afirmação, o autor mostra-nos que os elementos fundamentais da ética, neles tendo<br />

<strong>como</strong> base de sustentação a moralidade, servem <strong>como</strong> condutores de negociações comerciais,<br />

modelo de liderança que certamente estabelecerá princípios de qualificação para fortalecer<br />

primeiro a transparência, confiança e, posteriormente a relação de parceira comercial quando<br />

efetivada dentro do comportamento ético.<br />

No universo empresarial as relações comerciais e tomadas de decisões, nem sempre são<br />

fáceis de se conceber. O dilema do certo ou errado sempre criará zonas desconfortáveis para<br />

as partes envolvidas, e essas situações são carente de normalização, pois, desembocam na<br />

subjetividade humana. Diante dele, as opiniões e visões se dividem porque sempre irão<br />

confrontar-se com total oposição, de <strong>como</strong>, por exemplo, quem irá se beneficiar ou<br />

prejudicar-se? Eis aí, uma reflexão do comportamento ético (Srour, 1998, p. 275).<br />

Essa situação remete-nos à principal reflexão desta pesquisa, pois, em momentos de<br />

decisão e condução de um negócio, o agente deve saber o que é certo fazer, porém, o limiar<br />

desta transição pode modificar-se fazendo com que o agente deixe de tomar a decisão certa,<br />

justificando mediante a possíveis vantagens que vislumbrou diante do desconhecimento do<br />

outro e, a partir daí, desliza-se na incerteza moral às vezes peculiar do comportamento<br />

humano.<br />

Segundo Srour (1998, p. 274), existem três inferências que nos ajudam a entender uma<br />

situação <strong>como</strong> esta: as pessoas não são inteiriças, totalmente boas ou totalmente más; não<br />

basta enunciar normas morais, pautas de decência, para que os agentes ajam com probidade;<br />

controles permanentes e sanções intimidadoras são indispensáveis para que as normas morais<br />

prosperem.<br />

Com isso, as organizações contemporâneas buscam cada vez mais nos seus processos de<br />

recrutamento e seleção, <strong>valor</strong>es essenciais nas pessoas dentre eles a honestidade e integridade<br />

moral que não são <strong>valor</strong>es venais e nem se pode ensiná-los aos indivíduos. Apesar do senso<br />

comum afirmar que todos os mortais têm um preço cujo <strong>valor</strong> corresponde a suas aspirações e<br />

14


anseios mais profundos, uma indagação merece ser feita: a vulnerabilidade do caráter humano<br />

existente pode emergir de uma herança genética? ou de uma deformação psicológica? Essa<br />

situação empírica pode ser respondida de observações em pessoas que tem em seu caráter e<br />

honestidade os pilares de sustentação e proteção para as tentações maliciosas das cirandas no<br />

universo dos negócios, e não se curvam aos seus apelos.<br />

Por isso, Sócrates (et al, p. 38) afirma, “Conhecimento e agir bem não são separados. O<br />

homem só age bem quando conhece os fundamentos de sua ação, não podendo deixar de<br />

praticá-la. E ao praticá-la é feliz, por ser plenamente consciente de que suas ações visam o<br />

bem. Para ele, consciência e virtude são inseparáveis. E o ato só é moral quando o indivíduo<br />

tem plena convicção da ação praticada”. Com base nessa afirmação, é possível inferir sobre a<br />

importância da transparência e responsabilidade de uma organização ao transferir poderes aos<br />

seus empregados. A prática lícita do negócio deve ser vetor determinante de uma prática<br />

mercantil; o lucro é primordial até para a sobrevivência e manutenção de uma organização<br />

diante do modelo macro-econômico capitalista e cada vez mais globalizado, porém, fazer o<br />

bem com parte dele deve ser motivo de satisfação e orgulho de todos envolvidos nos<br />

processos das relações comerciais independentes do nível hierárquico, e, praticando-as, o<br />

homem tem plena consciência das suas ações. Assim sendo, Aristóteles, (et al, p. 39),<br />

“Construiu seu pensamento ético a partir da idéia de que o homem potencialmente tende para<br />

o bem. Como para ele, o bem é aquilo que naturalmente todos desejam e não o que deveriam<br />

desejar, o bem não é caracterizado <strong>como</strong> uma observância cega a uma lei imperativa e<br />

exterior, mas <strong>como</strong> uma concretização da natureza humana, que é o seu fim último, o seu bem<br />

maior”.<br />

Dessa forma, tanto Aristóteles <strong>como</strong> Sócrates convergem nas suas afirmações, de que<br />

fazer o bem e praticá-los fortalece as pessoas e, por extensão, as organizações sendo que essa<br />

concordância dos filósofos pode ser um dos <strong>valor</strong>es fundamentais se adotada por uma<br />

empresa. Essa conduta quando praticada, certamente diminui a probabilidade do homem<br />

colocar a sua postura ética exposta as tentações dos negócios ilícitos. Percebe-se, que essa<br />

situação quando efetivamente praticada e disseminada por uma organização, irá influenciar<br />

positivamente na sua imagem corporativa com reflexos também positivos na fidelidade e<br />

confiabilidade dos seus clientes, e a partir daí cria-se um ambiente favorável à conquista de<br />

outros e consolida uma zona de crescimento sustentável em longo prazo.<br />

Segundo Srour (1998, p. 291) a moral não entrelaça ao mundo dos negócios, porque não<br />

se ganha dinheiro sem ser pragmático e, nesse sentido, os argumentos filosóficos ou religiosos<br />

só atrapalham e, ainda argumentando, o autor mostra sua visão:<br />

15


“Ora, pode-se contra-argumentar dizendo que toda a organização – e<br />

sobretudo toda empresa capitalista – opera em um ambiente hostil em que os<br />

stakeholders defendem interesses próprios. Uma vez que as contra-partes<br />

são vulneráveis a produtos, ações e mensagens, as decisões organizacionais<br />

não podem ser neutras. Quem decide faz escolhas entre diferentes cursos de<br />

ação e deflagra conseqüências. Aí entra a reflexão ética. Ela antecipa o que<br />

poderia ser danoso aos negócios e responde a algumas indagações tais <strong>como</strong>:<br />

o que afeta o meio ambiente?, quais os efeitos colaterais os produtos geram<br />

nos consumidores?, <strong>como</strong> as políticas corporativas atingem empregados e<br />

clientes?, quem se beneficia e quem sai prejudicado?<br />

A razão de ser desta reflexão ética do autor mostra-nos que as empresas estão com fortes<br />

tendências a não operarem mais com tomadas de decisões em curto prazo principalmente as<br />

que podem expor ao risco sua imagem. Cada vez mais as ações e decisões empresarias,<br />

consideradas <strong>como</strong> responsabilidade social, são submetidas ao crivo do cidadão disposto a<br />

retaliar as empresas que negligenciem da confiança e credibilidade dos seus parceiros e<br />

sociedade. Ainda se pode afirmar que as decisões das empresas não são amorais, pois, suas<br />

atividades não estão acima do bem e do mal, se desta forma fosse, as operações econômicas<br />

ilícitas seriam legitimadas dentro da normalidade do mercado e os efeitos colaterais gerados<br />

de seus produtos seriam desconsiderados e sem repercussão da responsabilidade caso<br />

atingisse de forma maléfica o meio ambiente ou o ser humano.<br />

Podemos perceber que além de oferecer uma estrutura para análise, a reflexão acima a<br />

despeito da imagem das organizações é de extrema responsabilidade e aponta a importância<br />

de resguardar e zelar por ela, pois, a imagem, representa a sustentação e continuidade dos<br />

negócios, e, além disso, é o patrimônio essencial para o reconhecimento no mercado<br />

globalizado. E dentro desta análise, Srour (1998, p. 292) confirma que:<br />

“A imagem da empresa não pode ser vilipendiada impunemente, nem pode<br />

ser reduzida à mera moeda publicitária, porque ela representa um ativo<br />

econômico sensível a credibilidade que inspira. Então, afirmar sem mais<br />

nem menos que as empresa simulam serem morais apenas para manterem as<br />

aparências ou para não sofrer penalidades legais, seria pressupor que elas<br />

estariam dispostas a quaisquer imoralidades para obter lucros”.<br />

Pode-se ainda, dentro dessa reflexão do autor, aprofundar a análise e concluir que é<br />

16


extremamente difícil desvencilhar moral e interesses organizacionais e desvinculá-las também<br />

das pressões exercidas pela sociedade civil. Desta forma, o que importa mesmo não é saber se<br />

as organizações têm um código de ética ou se suas ações são oriundas de uma essência moral<br />

do seu estatuto, mas se os reflexos de suas tomadas de decisões são ou não legais e benéficas<br />

para os seus parceiros comerciais, seres humanos e meio ambiente. No entanto, não cabe<br />

entrarmos no processo das intenções. Ou se suas ações são resultados de deliberação<br />

estratégica, ou simplesmente de convicções de seu diretor presidente ou principal acionista,<br />

essas questões certamente escapam de uma análise fundamentada e caem no resultado final<br />

através do senso comum.<br />

Diante dos fatos, não podemos imaginar que todas as empresas são instituições de<br />

caridade sem fins lucrativos. O meio capitalista é regido em um ambiente hostil e as<br />

organizações se movimentam mostrando suas forças e presença nos negócios e, se não fizer,<br />

certamente será sobrepujada por outras ou padece. A partir daí, o risco aumenta com a idéia<br />

de orientar-se pela maximização dos lucros e torna-se uma estratégia cada vez mais perigosa,<br />

sobretudo pelas pressões que a sociedade e o sistema capitalista social exercem atuando <strong>como</strong><br />

indicadores da gestão de negócios. Entretanto, quando uma organização encontra o equilíbrio<br />

entre o lucro, sobrevivência e responsável social, acaba formando a sua identidade ética que<br />

terá reflexos nos negócios e na sua imagem corporativa.<br />

Dentro dessa ótica reflexiva, Srour (1998, p. 294) consolida afirmando:<br />

“... praticar uma moral da integridade não eqüivale sempre a bom negócio<br />

<strong>como</strong> prega a máxima e good ethics is good business, mas significa<br />

sabedoria preventiva no campo em que forças se enfrentam sem cessar.<br />

Reconhecer tal fato representa um passo decisivo para a saúde das empresas.<br />

Implica abandonar o velho registro da maximização do lucro em benefício<br />

do lucro com a responsabilidade social. Trocado em miúdos, as empresas<br />

não mais desempenham apenas uma função econômica, mas também uma<br />

função ética”.<br />

Percebe-se que dentro desta análise do autor, as empresas que atuam dentro do modelo<br />

capitalista, embora na sua maioria se movimentem por códigos morais, só passam a se<br />

comportar conforme o código rege, quando se coloca em risco a sua continuidade ou mesmo<br />

sua sobrevivência e também quando as relações de poder estão postas à medição de força no<br />

momento que se almeja ganhar um negócio lucrativo para a organização. Evidenciam-se tais<br />

fatos que na sua essência, alguns paradigmas do modelo capitalista do passado começa a<br />

17


curvar-se diante do contexto ético que começa a representar um dos principais “ativos”<br />

permanentes de uma organização.<br />

O autor também se refere ao lucro sim, todavia com responsabilidade social. Nota-se que<br />

a responsabilidade social deve ser compreendida <strong>como</strong> orientação para a necessidade humana<br />

e do ecossistema, e não deve ser confundida <strong>como</strong> produto de interesses empresariais em<br />

“jogos” comerciais. Sabe-se que tornar compatíveis lucros e respeito a parceiros, meio<br />

ambiente, empregados e clientes, é uma equação complexa. Contudo, a responsabilidade<br />

transcende a propaganda e divulgação em mídia, deve ser a constituição de uma cultura<br />

organizacional disseminando a sua implementação para o ambiente externo da empresa, e<br />

que na sua essência sejam respeitados os direitos sociais. Certamente que essa conduta terá<br />

efeitos benéficos na imagem corporativa de uma organização desde que praticada na sua<br />

essência.<br />

Para Gilles (1994, p. 95), parte das relações econômicas estão sendo regidas pela ética e<br />

responsabilidade social e exigem de parte dos envolvidos respeito às regras de conduta e até à<br />

biodiversidade pois ela faz parte do nosso sistema social e econômico e não pode ser<br />

manipulada de forma camuflada pelas organizações em benefício próprio e de forma que<br />

comprometa sua imagem corporativa.<br />

Os negócios assumem hoje dimensões muito complexas. Os fenômenos da globalização,<br />

das inovações tecnológicas e da informação apresentam-se <strong>como</strong> desafios aos empresários, já<br />

que altera comportamentos, e também serve <strong>como</strong> um novo paradigma na busca de melhor<br />

entendimento sobre as mudanças que estamos enfrentando.<br />

O atual ambiente empresarial aponta para dois pontos extremos: o aumento da<br />

produtividade, em função das novas tecnologias e da difusão de novos conhecimentos, que<br />

leva as empresas a investir mais em novos processos de gestão, buscando a competitividade;<br />

ao mesmo tempo, temos um aumento nas disparidades e desigualdades de nossa sociedade,<br />

que obrigam a repensar os sistemas econômicos, sociais e ambientais.<br />

Neste contexto de mudanças e de transformações sociais, econômicas e tecnológicas,<br />

pelo qual passam as organizações, percebe-se uma grande preocupação em estabelecer<br />

padrões de ética e responsabilidade social em suas atividades. Conforme coloca Ashley (2002,<br />

p.50), "parece lícito afirmar, que hoje em dia as organizações precisam estar atentas não só a<br />

suas responsabilidades econômicas e legais, mas também as suas responsabilidades éticas,<br />

morais e sociais".<br />

Nos últimos anos, esses conceitos têm sido incorporados à vida das organizações,<br />

procurando estabelecer uma harmonia entre o lucro e a sua atuação diante de seus públicos.<br />

18


Ao afirmarmos que a ética estuda os costumes podemos dizer que os <strong>valor</strong>es éticos podem se<br />

transformar, assim <strong>como</strong> a sociedade se modifica. Lógico, que a ética não retrata apenas os<br />

costumes, pois trata-se de uma reflexão teórica com validade universal. Portanto,<br />

imaginarmos que um comportamento ético nada mais é do que um comportamento adequado<br />

aos costumes vigentes é uma visão equivocada e simplista.<br />

O tema da ética nos negócios tem se tornado algo presente no universo corporativo. Não<br />

se trata apenas de uma preocupação de poucos líderes, mas de todos nas organizações. São<br />

inúmeras as razões para o surgimento de organizações preocupadas em promover a ética e<br />

entre elas destacam-se os altos custos de escândalos nas empresas, acarretando perda de<br />

confiança na reputação da organização, multas elevadas, desmotivação dos empregados, entre<br />

outros.<br />

Para analisarmos a ética no universo corporativo, precisamos compreender, inicialmente,<br />

sua dimensão nas empresas. Para Nash (1993, p.06), "<strong>Ética</strong> dos negócios é o estudo da forma<br />

pela qual normas morais pessoais se aplicam às atividades e aos objetivos da empresa<br />

comercial. Não se trata de um padrão moral separado, mas do estudo de <strong>como</strong> o contexto dos<br />

negócios cria seus problemas próprios e exclusivos à pessoa moral que atua <strong>como</strong> um gerente<br />

desse sistema."<br />

Downsizing, reengenharia, just-in-time, não são apenas técnicas de gestão <strong>como</strong> essas<br />

que irão garantir a competitividade sustentada das empresas. Srour, Nash, Gilles, Guerra,<br />

entre outros autores, têm destacado a ética <strong>como</strong> um fator relevante para garantir a<br />

competitividade da empresa. Ter padrões éticos, para eles, significa ter bons negócios a longo<br />

prazo.<br />

No entanto, para Moreira (1999, p. 28), a ética empresarial é o comportamento da<br />

empresa quando ela age de conformidade com os princípios morais e as regras do bem<br />

proceder aceitas pela coletividade (regras éticas). Seria improcedente se dentro de um<br />

organismo empresarial, não mencionássemos o lucro. O advento do conceito do lucro <strong>como</strong><br />

finalidade das operações econômicas, representou uma dificuldade para a moral. No<br />

capitalismo feudal, por exemplo, os pensadores da época estavam regidos pela economia de<br />

troca, na qual, se assumiam <strong>valor</strong>es idênticos para os bens intercambiados. Por esta razão, o<br />

lucro era considerado inicialmente, <strong>como</strong> um acréscimo indevido, sob a ótica da moralidade.<br />

Contestando a visão de Moreira (1999, p. 28) sobre o lucro, no século de XVII, Adam<br />

Smith, na sua obra A Riqueza das Nações, conceitua o lucro <strong>como</strong> um montante necessário<br />

para sobrevivência, porém, não indevido tratando-se de um vetor de distribuição de renda e<br />

bem estar social. Com isso, o autor demonstrou pela primeira vez a compatibilidade entre a<br />

19


atividade comercial e a ética.<br />

Outros pontos relevantes que os autores acima citados concordam nos seus pensamentos<br />

são que as empresas estão preocupadas com os lucros, contudo, também com padrões de<br />

conduta ética em seu relacionamento com clientes, fornecedores, funcionários e governantes,<br />

e com isso ganham a confiança de seus clientes e melhoram o desempenho dos funcionários.<br />

Diante do exposto, percebe-se que inclusão ética no comportamento organizacional dá<br />

lucro às empresas. Os padrões éticos são à base do comportamento dos funcionários e<br />

favorece a criação de uma cultura organizacional, porém os perigos que atrapalham a tica<br />

nas organizações, pode estar na burocracia das empresas. As organizações precisam estar<br />

alerta, e permanentemente criando condições e espaço para a ética sem perder o foco na sua<br />

produtividade e agilidade nas respostas para as necessidades que o mercado, sociedade e o<br />

meio ambiente colocam frequentemente.<br />

“(...) dentro do capitalismo brasileiro, estamos caminhando em direção a uma nova<br />

forma de trabalho. Nela, a ética se insere <strong>como</strong> elemento de fundamental importância para o<br />

interesse empresarial e fator de competitividade, por atribuir ao processo de decisões<br />

gerenciais maior confiabilidade e consistência." (Guerra, 1995, p. 16)<br />

Para Guerra (1995, p. 27), os <strong>valor</strong>es (bens) intangíveis da organização, onde se inserem<br />

talentos, processos, informações, relacionamento, imagem, são importantes. Tais <strong>valor</strong>es<br />

dependem fundamentalmente dos atributos morais da organização. E, nessa visão o autor se<br />

refere a tais atributos que são relacionados com os princípios éticos das pessoas. Ao<br />

analisarmos o pensamento do autor, podemos enquadra-lo na teoria do relativismo, segundo a<br />

qual cada indivíduo deve decidir sobre o que é ou não ético, tomando <strong>como</strong> base de<br />

sustentação, as suas próprias convicções e a sua própria concepção do bem e do mal.<br />

Moreira (1999, p. 22) apud Kant, propõe na sua teoria do dever ético, que tal conceito<br />

seja substanciado na razão de cada pessoa justificar sua conduta de acordo com os princípios<br />

universais. O autor exemplifica esse compromisso universal <strong>como</strong> o dever de atender um<br />

compromisso assumido. Desta forma, baseada na sua teoria, podemos classificar <strong>como</strong><br />

vantagem competitiva das organizações quando utiliza, as vezes em seu código de ética ou<br />

não, o comprometimento em atender o que foi previamente acordado, seja regido por contrato<br />

formal ou verbal, com os seus clientes ou parceiros comerciais.<br />

Kant propôs ainda que os conceitos éticos sejam alcançados através da aplicação de duas<br />

regras: qualquer conduta aceita <strong>como</strong> padrão ético deve valer para todos os que se encontrem<br />

na mesma situação, sem exceções; só se deve exigir dos outros o que exigimos de nós<br />

mesmos. Percebe-se que dentro destas regras do autor, há uma forte tendência a sugerir as<br />

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