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Identidade Roubada - Editora Arqueiro

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Não me leve a mal. O fato de você parecer uma avó – devia estar tricotando,<br />

não anotando o que os outros falam – não quer dizer que eu goste de estar aqui.<br />

E por que eu deveria chamá-la de Nadine? Não sei aonde quer chegar, mas tenho<br />

um palpite: ao usar seu nome, seria como se fôssemos grandes amigas, logo<br />

poderia contar coisas das quais não quero me lembrar... e muito menos falar a<br />

respeito! Desculpe, não estou lhe pagando para ser minha amiguinha, então é<br />

melhor aceitar que eu a chame de doutora.<br />

E, já que estamos acertando os ponteiros, vamos estabelecer algumas regras<br />

básicas antes de começarmos nossa brincadeira. Vai ter que ser do meu jeito.<br />

Isso quer dizer que você não vai perguntar nada. Nem mesmo “Como se sentiu<br />

quando blá-blá-blá...?”. Vou contar a história desde o começo e, quando quiser<br />

ouvir sua opinião, eu peço.<br />

Ah! E, caso queira saber, não, nem sempre fui uma pessoa amarga.<br />

8<br />

<br />

Naquela manhã do primeiro domingo de agosto fiquei na cama até mais<br />

tarde, enquanto Emma, minha golden retriever, roncava no meu ouvido. Eram<br />

poucas as minhas horas de descanso. Naquele mês eu vinha me matando de<br />

trabalhar para ter exclusividade na venda de um condomínio à beira-mar.<br />

Nos padrões de Clayton Falls, um complexo de 100 unidades é algo fora do<br />

comum, e àquela altura a concorrência havia se reduzido a outro corretor e eu.<br />

Não sabia quem era meu concorrente, mas o construtor tinha me telefonado<br />

na sexta-feira, dizendo-se impressionado com minha apresentação e informando<br />

que a decisão final seria anunciada em poucos dias. Eu me senti tão perto<br />

do sucesso que podia até saborear o gostinho do champanhe. Na verdade, eu<br />

tinha provado champanhe uma única vez, numa festa de casamento, e acabei<br />

trocando a bebida por uma cerveja: não existe nada mais chique do que uma<br />

dama de honra bebendo cerveja no gargalo. Mas eu tinha certeza de que aquela<br />

venda me transformaria numa mulher sofisticada. Algo do tipo “da água para<br />

o vinho”. Ou, no caso, da cerveja para o champanhe.<br />

Depois de uma semana de chuva, o sol finalmente apareceu e a temperatura<br />

subiu o bastante para eu usar meu tailleur favorito. Era amarelo-claro e feito<br />

de um tecido bem leve. Eu adorava como a tonalidade do conjunto suavizava<br />

o castanho dos meus olhos. Em geral evito saias, pois, com um pouco mais de<br />

um metro e meio de altura, eu fico parecida com uma anã. Mas algo no corte<br />

daquela saia alongava minhas pernas. Resolvi usar salto. Eu tinha acabado de<br />

aparar os cabelos, que balançavam com perfeição na altura do queixo. Depois<br />

de uma última olhadinha no espelho do hall de entrada, à procura dos fios

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