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Sindicato Nacional dos Servidores Federais da<br />
Educação Básica, Profissional e Tecnológica<br />
SINASEFE<br />
26º CONSINASEFE<br />
Tema central:<br />
“Os desafios do SINASEFE diante da expansão da<br />
rede”<br />
29 de março a 1º de abril de 2012<br />
Brasília-DF<br />
Caderno de Teses<br />
OBSERVAÇÕES IMPORTANTES:<br />
1. As Teses contidas neste documento serão debatidas e apreciadas<br />
durante o 26º CONSINASEFE, e para tal, encaminhadas e discutidas<br />
junto às bases que compõem o Sindicato Nacional;<br />
2. O conteúdo dessas Teses é de responsabilidade dos seus autores,<br />
inclusive não tendo sofrido qualquer tipo de correção ortográfica ou<br />
de conteúdo, procurando garantir e preservar, assim, as idéias<br />
originais dos seus autores;<br />
3. A ordem de apresentação foi baseada no recebimento das teses.<br />
Brasília-DF, 08 de fevereiro de 2012.
Páginas Título Autor (a) Base Data recebimento<br />
01-12 SAÚDE DO TRABALHADOR: Campo que<br />
privilegia a fala do Trabalhador através<br />
do MAPA DE RISCO, com a intervenção<br />
do sindicato.<br />
13-17 REESTRUTURAÇÃO DA CARGA<br />
HORÁRIA DOCENTE: Contribuições<br />
para uma Regulamentação Nacional<br />
Democrática da Prática Docente nas<br />
lFE’s.<br />
18-21 “REORGANIZANDO O SINASEFE PARA O<br />
ENFRENTAMENTO DOS DESAFIOS”<br />
22 e 23 Diminuição do percentual de<br />
contribuição Sindical das Seções para o<br />
SINASEFE - DN.<br />
24-27 Organização por local de trabalho e a<br />
expansão da Rede Federal de Ensino<br />
Índice dos textos<br />
Élcio Amaral Belém-PA 10 de novembro de 2011<br />
23h24<br />
Bruno Andrade da Silva Belém-PA 14 de novembro de 2011<br />
12h23<br />
João Batista Oliveira<br />
Silva<br />
Rio Pomba -<br />
MG<br />
29 de janeiro de 2012<br />
22h20<br />
Joilson Cruz Salvador-BA 31 de janeiro de 2012<br />
01h06<br />
Carmem Lucia Werneck Barbacena-MG 31 de janeiro de 2012<br />
09h53<br />
28-36 6 HORAS DE TRABALHO Marcos Dorval Schmitz CEFET-SC 31 de janeiro de 2012<br />
16h56<br />
37-41 A Função Social da Escola e a Formação Tânia Guerra Pelotas-RS 31 de janeiro de 2012<br />
Continuada<br />
18h19<br />
42-51 “A constituição dos Institutos Federais Hugo Manso Junior Natal-RN 1 de fevereiro de 2012<br />
de Educação, Ciência e Tecnologia:<br />
Uma iniciativa positiva na perspectiva<br />
de superação do ambiente neoliberal<br />
na educação brasileira e os novos<br />
desafios ao Movimento Sindical”.<br />
17h19<br />
52-57 O PRIMEIRO ANO JÁ PASSOU, O QUE Luiz Sérgio e mais 26 Diversas bases 1 de fevereiro de 2012<br />
MAIS PODEMOS ESPERAR DO<br />
GOVERNO DILMA EM2012?<br />
19h50<br />
58-73 A EXPANSÃO DA REDE FEDERAL DE Marival Coan e mais 5 IF-SC<br />
1 de fevereiro de 2012<br />
EDUCAÇÃO PROFISSIONAL:<br />
aspectos econômicos e políticos e os<br />
desafios ao movimento sindical<br />
21h04<br />
74-90 INTERSINDICAL – INSTRUMENTO DE Ricardo Velho e mais 2 Diversas 1 de fevereiro de 2012<br />
LUTA E ORGANIZAÇÃO DA CLASSE<br />
TRABALHADORA<br />
21h22<br />
91 e92 Expansão Quantitativa da Rede Federal Augusto Miceno Mato Grosso 1 de fevereiro de 2012<br />
e Diversidade “Qualitativa” do Assédio<br />
Moral e Psicológico<br />
do Sul 21h42<br />
93-97 POR UM SINDICALISMO COM<br />
Katia Motta e<br />
Sindscope-RJ 1 de fevereiro de 2012<br />
PRINCÍPIOS<br />
Alexandre Samis<br />
23h02
TESE 01<br />
SAÚDE DO TRABALHADOR: Campo que privilegia a fala do<br />
Trabalhador através do MAPA DE RISCO, com a intervenção do<br />
sindicato.<br />
Autoria: Professor Antonio Élcio Padilha do Amaral<br />
Instituto Federal de educação, Ciência e Tecnologia do Pará, Campus Belém, Av.<br />
Almirante Barroso, 1155, Marco, Belém-Pará, CEP. 66.093-020, Tel. (91) 3201 1798,<br />
Resumo<br />
(91) 81428001. e-mail: elcioamaral@yahoo.com.br<br />
Esta tese se propõe a fazer conceituações sobre o trabalho, colocando-o como<br />
atividade inerente ao ser humano, historicizando o homem enquanto trabalhador. Colocando o<br />
trabalho como uma condição inerente à existência humana, caracterizando-o desde suas<br />
formas mais rudimentares até os dias atuais, relacionando-o com o desenvolvimento de<br />
técnicas e com a distribuição de tarefas entre os indivíduos ou entre grupo deles. Para<br />
exemplificar essa afirmativa fazemos um resgate histórico do trabalho desde a antiguidade até<br />
os dias atuais caracterizando em cada momento histórico, político e cultural, suas<br />
precariedades, dificuldades, lutas sindicais e o surgimento das primeiras Leis Trabalhistas que<br />
garantiram direitos com vistas a melhoria das condições de trabalho e sua importância como<br />
fator de inclusão social. Na seqüência o trabalho se vale dos estudos feitos por MENDES, R &<br />
DIAS (1991) abordando os aspectos histórico-conceitual desde a medicina do trabalho,<br />
passando pela saúde ocupacional até a atualidade, com a denominação de saúde do<br />
trabalhador, caracterizando cada uma dessas fases. Por fim, conceituamos MAPA DE RISCO<br />
dentro dos três princípios primordiais que norteiam esse instrumento: Grupo homogêneo, Não<br />
delegação; e Validação consensual. Destacando que o MAPA DE RISCO é uma alternativa<br />
sindical que se sustenta na máxima participação e decisão dos trabalhadores com relação a<br />
discussão do seu ambiente de trabalho, se colocando como sujeito das ações e intervenções<br />
para sua melhoria, visando a prevenção de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho.<br />
Finalizamos definindo oito grupos de risco, por categoria e agrupados, quais sejam: Grupo 1 -<br />
Fatores Físicos, Grupo 2 - Fatores Químicos; Grupo 3 - Fatores Biossanitários; Grupo 4 -<br />
Fatores Psicológicos; Grupo 5 - Fatores Ergonômicos; Grupo 6 - Fatores de Segurança; Grupo<br />
7 - Fatores Sociais e Grupo 8 - Fatores Ambientais. Cada um desses fatores de risco são<br />
colocados de maneira clara identificando e reconhecendo cada um deles. Concluindo que,<br />
somente através da percepção dos riscos por parte dos(as) trabalhadores(as) e a participação<br />
do sindicato, poderemos elaborar o MAPA DE RISCOS e melhorar a qualidade de vida da<br />
classe trabalhadora da educação (docente e técnico-administrativo) e as condições de<br />
trabalho, em especial nos ambientes laborais do Campus Belém - Instituto Federal de<br />
Educação Ciência e Tecnologia do Pará.<br />
Palavras chaves: riscos, segurança, saúde, trabalho.<br />
O TRABALHO<br />
O trabalho pode ser entendido como toda atividade pela qual o homem, no exercício de<br />
suas forças físicas e mentais, direta ou indiretamente, transfigura a natureza para colocá-la a<br />
1
seu serviço. Por outro lado, tão ligado está o trabalho à definição de nossa identidade que,<br />
quando somos apresentados a uma pessoa, a pergunta mais imediata que fazemos não é de<br />
onde ela vem ou quem é sua família, mas o que ela faz. O trabalho é a atividade humana<br />
aplicada à produção, à criação e ao entretenimento. Do ponto de vista econômico, o dispêndio<br />
de energias físicas e mentais ocorre para a produção de valores de uso ou de troca. Hoje nos<br />
preocupamos também com o que ele faz de nós trabalhadores, como ele nos transforma e traz<br />
felicidade. A mais notável característica do trabalho moderno talvez esteja em nossa mente, na<br />
difundida crença de que o trabalho deve nos tornar felizes, no entanto percebemos que existem<br />
várias causa de infelicidade e queixas dos trabalhadores, entre elas destacamos: Salários<br />
abaixo do razoável; Pouco desenvolvimento pessoal; Falta de reconhecimento; Chefia fraca<br />
que não orienta; Idéias ignoradas com esforço não percebido; Ausência de propósitos;<br />
Benefícios insuficientes; e Trabalho desagradável, inseguro para a saúde e qualidade de vida<br />
no ambiente laboral. Verificando o breve histórico do trabalho por milênios nota-se que o<br />
trabalho é considerado uma maldição, destinado apenas aos homens tidos como “inferiores”. A<br />
coisa se repete quando analisarmos a evolução histórica conceitual desde a Medicina do<br />
Trabalho, passando pela Saúde ocupacional até os dias de hoje com a Saúde do trabalhador,<br />
no entanto, percebe-se que nessa última conceituação dá-se mais valor a fala do trabalhador<br />
enquanto sujeito das ações para a promoção e segurança no ambiente de trabalho, se valendo<br />
de um instrumento importante para a prevenção de acidentes e doenças relacionadas ao<br />
trabalho, denominado MAPA DE RISCO. Nessa concepção ampliam-se os agentes de riscos<br />
previstos na Lei 3214/1971 do Ministério do Trabalho e Emprego, para oito fatores de riscos,<br />
conceituando, caracterizando, identificando e reconhecendo cada um deles no ambiente<br />
laboral e seus agravos na saúde do trabalhador.<br />
1. EVOLUÇÃO DO TRABALHO ATRAVÉS DOS TEMPOS<br />
Desde a pré-história, o homem vem trabalhando para suprir suas necessidades vitais. A<br />
princípio, para ter acesso aos alimentos, utilizou-se da coleta. Mais tarde, quando começou a<br />
sentir que era preciso defender-se de animais ferozes e de outros homens, iniciou-se na<br />
fabricação de armas para a caça e de instrumentos de defesa, para o duelo com seus<br />
semelhantes. Utilizou-se, para isso, de ossos de animais e, posteriormente, de pedras,<br />
começando, assim, a atividade industrial. Com a escassez de carne, passou ao cultivo da terra,<br />
mudando, inclusive, os seus hábitos. Do pouco relacionamento com os outros habitantes,<br />
passou a organizar-se social e politicamente, e, à medida que a população crescia, as<br />
sociedades foram tornando-se mais complexas.<br />
Das batalhas que os homens travavam entre si, restavam os prisioneiros. Aqueles que<br />
não eram eliminados eram escravizados, subjugados, sendo explorados em seu trabalho.<br />
Surgia, então, a escravidão, caracterizada pela dominação do homem sobre o homem. O<br />
escravo era considerado uma coisa, sem qualquer dignidade nem direitos, inclusive o de sua<br />
própria vida. Essa forma de trabalho teve um estágio significativo na história, principalmente<br />
entre romanos, egípcios e gregos, onde: O trabalho manual era considerado um fardo<br />
destinado apenas aos escravos e camadas pobres da população. Os homens livres, uma<br />
minoria, podiam se dedicar a guerra, filosofia, administração pública e às artes.<br />
2
Com as peculiaridades próprias às diversas épocas históricas, depois da escravidão, o<br />
trabalho assumiu a forma de servidão: a economia estava centrada na agricultura e na<br />
pecuária. O trabalho, realizado por servos, visava, basicamente, à alimentação, à habitação e<br />
ao vestuário. Apesar de não se encontrarem na condição de escravos, os servos estavam<br />
sujeitos a severas restrições e a pesados impostos e dependiam, inclusive para proteção, do<br />
senhor da terra, dotado de um poder absoluto. Nessa fase os servos eram responsáveis por<br />
produzir tudo o que a sociedade medieval consumia, de alimentos a utensílios e armas. O<br />
Clero se dedicava à teologia e os nobres eram encarregados das guerras.<br />
Foi no final da Idade Média, que os trabalhadores começaram a libertar-se do senhor da<br />
terra. Unidos, os trabalhadores passaram a formar corporações de oficio, grupos profissionais<br />
com suas próprias leis. No entanto, a liberdade dos trabalhadores não era total, pois essas leis<br />
eram estabelecidas de forma unilateral. Dentro das corporações, estabeleceu-se uma rígida<br />
hierarquia entre mestres, companheiros (operários dependentes) e aprendizes. Os mestres<br />
eram os proprietários das oficinas e mantinham o controle do trabalho, cabendo aos<br />
companheiros realizá-lo em troca de um salário. Nesta fase, Renascentista, inicia-se uma<br />
valorização do homem e seus atos mundanos, inclusive o trabalho, passa a ser bem vistos.<br />
A partir do século XVIII, com a Revolução Industrial, o mundo passou a viver uma nova<br />
etapa. Caracterizada, inicialmente, pelo desenvolvimento da técnica na produção e nas<br />
comunicações, seus desdobramentos alcançaram, posteriormente, todas as áreas da<br />
sociedade. A utilização da força motriz veio substituir a força muscular dos homens e dos<br />
animais, ocasionando uma verdadeira revolução nas relações de trabalho. Os ideais de<br />
liberdade e de igualdade, vitoriosos na Revolução Francesa, expandiram-se pelo mundo.<br />
Tendo início na Grã-Bretanha, as novas invenções técnicas, o desenvolvimento<br />
considerável do maquinismo, a implantação de manufaturas e usinas propiciou a produção em<br />
massa. O intenso movimento migratório do campo em direção às cidades, com o abandono das<br />
propriedades rurais em favor da indústria, o excesso de oferta de mão de obra e os salários<br />
reduzidos causaram problemas sociais, ainda agravados pela excessiva jornada de trabalho,<br />
pela exploração do trabalho de crianças e de mulheres, pelas péssimas condições de trabalho,<br />
de saúde e da vida em geral, que se apresentavam à época. As moléstias profissionais, bem<br />
como as mutilações e as mortes de trabalhadores, aconteciam sempre, dado o despreparo<br />
para lidar com os novos mecanismos e os impróprios ambientes de trabalho. Com a criação<br />
das máquinas, nessa época, um número maior de trabalhadores era necessário para fabricar<br />
produtos industrializados, daí então:<br />
A mão de obra abundante e barata, sofria com as péssimas condições de trabalho,<br />
insalubres das fábricas além das longas jornadas de trabalho repetitivo, gerando um exército<br />
de trabalhadores doentes e acidentados.<br />
3
Reações fizeram-se sentir e surgiu o marco inicial da normatização das relações<br />
trabalhistas, com o Direito do Trabalho, no final do século XVIII.<br />
E as primeiras leis trabalhistas surgiram, beneficiando crianças e mulheres, visando<br />
coibir os abusos que se praticavam com relação à idade mínima para o trabalho e à duração de<br />
sua jornada diária lei de Peel, na Inglaterra, em 1802. Na mesma época, surgiram as leis<br />
relativas à previdência e assistência social.<br />
No pós-guerra um modelo de organizações e especializações dos funcionários se<br />
consolida e: O empregado é protegido por leis trabalhistas, com alguma melhora no ambiente<br />
de trabalho e satisfação pessoal. Um dos efeitos da guerra foi a entrada em massa das<br />
mulheres no mercado do trabalho.<br />
No período contemporâneo, as normas trabalhistas são relevantes e não somente<br />
regulamentam as relações de trabalho, mas também protegem quem está desempregado e<br />
visam à ampliação das negociações coletivas e do sindicalismo, adequando-se às novas<br />
formas de trabalho e ao procedimento produtivo. Nesse momento o trabalho mecanizado é<br />
cada vez mais relegado às máquinas, e valorizam-se as tarefas mais complexas que exigem<br />
criatividade e emoção. Abre-se mais espaço para realização pessoal no trabalho. Por outro<br />
lado as pessoas são mais exigidas, e a tecnologia permite que o trabalho nos alcance a<br />
qualquer hora do dia, através dessa era digital.<br />
No século XX, a evolução do mundo foi muito rápida e conturbada socialmente,<br />
propondo novos desafios a cada momento, levando o homem a uma constante necessidade de<br />
aprender e de adaptar-se às novas situações e circunstâncias, assimilando novos valores,<br />
culturas e posicionamentos políticos, sociais e econômicos.<br />
A mudança radical nas relações econômicas entre os países, com diversas integrações<br />
econômicas e monetárias (como a Comunidade Européia e o Mercosul), facilitadas pelos meios<br />
de comunicação, que destruíram fronteiras e aproximaram os povos e as culturas, trouxe<br />
consigo a flexibilidade e a necessidade de uma maior abertura comercial, com graves<br />
consequências para os trabalhadores e para as sociedades menos protegidas e despreparadas<br />
para este forte impacto social.<br />
As mudanças no mundo do trabalho produzem alterações nas estruturas e na<br />
engenharia produtiva das empresas com repercussões econômicas e sociais. Novas<br />
competências são exigidas dos trabalhadores. Não basta saber fazer, é preciso saber mudar e<br />
adentra-se na era do conhecimento.<br />
Novas formas de trabalho e de contrato modificam as tradicionais relações de trabalho,<br />
adequando-se às exigências econômicas e de produtividade. No entanto, a necessidade de se<br />
proteger os direitos básicos permanece, pois eles estão relacionados à justiça social. Paralelo<br />
a esse resgate histórico, político e social do trabalho, verificamos que os mecanismos de<br />
4
proteção ao trabalhador também foram evidentes e contextualizados a cada momento histórico,<br />
político e social, se não veremos na sequencia essas fases no item seguinte.<br />
2. DA MEDICINA DO TRABALHO A SAÚDE DO TRABALHADOR<br />
Com a Revolução Industrial, o trabalhador “livre” para vender sua força de trabalho, se<br />
vê submetido aos ritmos de produção determinados pelo capital. A condição de trabalho<br />
precária, ambiente extremamente desfavorável à saúde, frequentemente incompatíveis com a<br />
vida, às quais se submetiam também mulheres e crianças, foi quando implantaram primeiro<br />
serviço de medicina do trabalho nas fábricas, em 1830, sendo Robert Baker, o primeiro médico<br />
do trabalho. Daí surgem as primeiras leis de saúde pública que marcadamente abordavam a<br />
questão da saúde dos trabalhadores (Act Factory, 1933 na Inglaterra). A Medicina do Trabalho<br />
tinha aí seu marco legal inicial, com as seguintes características: Serviços dirigidos por<br />
pessoas de inteira confiança do empresário; Serviços centrados na figura do médico; Cabia ao<br />
médico a responsabilidade exclusiva pela prevenção dos danos à saúde decorrentes dos riscos<br />
do trabalho; A responsabilidade pela ocorrência dos problemas de saúde ficava transferida ao<br />
médico; Paralelo ao processo de industrialização ocorreu à expansão dos serviços médicos<br />
com esse modelo; A fragilidade dos sistemas de assistência à saúde fortaleceu os serviços<br />
médicos da empresa, que se tornam instrumentos para manter a dependência do trabalhador e<br />
estabelecer o controle sobre os mesmos; A partir da década de 50, a OIT, propõe o fomento à<br />
formação de médicos do trabalho e o estudo da organização de Serviços de Medicina do<br />
Trabalho; A Medicina do Trabalho é uma atividade exclusivamente médica e sua prática dão-se<br />
nos locais de trabalho; Ocupa-se da adaptação física e mental dos trabalhadores no sentido de<br />
colocá-los em lugares ou tarefas correspondentes às suas aptidões/adequação do trabalho ao<br />
trabalhador, com o objetivo de escolher de mão de obra menos geradora de problemas,<br />
Controlando o absenteísmo e suas consequências, garantindo o retorno mais rápido à<br />
produção.<br />
No período pós-guerra houve um esforço industrial para reestruturação dos países<br />
gerando condições extremamente adversas de trabalho (aumento do número de acidentes e<br />
doenças do trabalho), afetando a produtividade e trazendo impacto para o setor previdenciário,<br />
com o avanço tecnológico surgem novos processos industriais, novos equipamentos, nova<br />
organização do trabalho, nova divisão internacional do trabalho. Então somente a medicina do<br />
trabalho se torna impotente para intervir na nova conjuntura e dessa forma aumenta a<br />
insatisfação dos trabalhadores e empregadores, particularmente as companhias de seguro,<br />
dados os custos das indenizações provocadas pelas indenizações por incapacidade provocada<br />
pelos acidentes e doenças.<br />
Surge a Saúde ocupacional com algumas características: Se configura na ampliação da<br />
atuação médica direcionada ao trabalhador, sendo voltada para a intervenção sobre o<br />
5
ambiente de trabalho, com o instrumental oferecido por outras disciplinas e outras profissões;<br />
Sob a influência da Saúde Ambiental (Saúde Pública) / controle dos riscos ambientais e da<br />
Higiene Industrial, surge como um avanço na perspectiva da interdisciplinaridade, relacionando<br />
ambiente-corpo do trabalhador; Incorpora a teoria da multicausalidade, na qual um conjunto de<br />
fatores de risco é considerado na produção da doença, avaliada através da clínica médica e de<br />
indicadores ambientais e biológicos de exposição e efeito; Mantém-se o referencial da<br />
Medicina do Trabalho (visão racional, mecanicista); Desconsidera os chamados riscos<br />
invisíveis (sofrimento psíquico, organização do trabalho, assédio moral etc.).<br />
Na década de 60 os movimentos sociais iniciam-se nos países industrializados como<br />
Alemanha, Inglaterra, França, Estados Unidos e Itália, atingindo o mundo afora, questionando<br />
sobre a liberdade, o uso do corpo, o sentido do trabalho na vida, valores tradicionais, levando a<br />
participação dos trabalhadores nas questões de saúde e segurança.<br />
Mudanças nas políticas sociais e especificamente na legislação do trabalho (Ex:<br />
Estatuto dos Trabalhadores na Itália/não delegação da vigilância da saúde ao Estado, não<br />
monetarização do risco, validação do saber do trabalhador, realização de estudos e<br />
investigações independentes). No campo da saúde ganha corpo a teoria da determinação<br />
social do processo saúde-doença. Especificamente na sua relação com o trabalho, as novas<br />
discussões no campo da saúde questionam a medicina do trabalho e a saúde ocupacional,<br />
criando-se o novo paradigma no campo da saúde abre espaço para efetiva participação do<br />
trabalhador, entendido agora como sujeito, repercutindo na área da Saúde Pública que tem<br />
como objeto de estudo e intervenção as relações entre o trabalho e a saúde, tendo como<br />
objetivo: a promoção e a proteção da saúde do trabalhador, por meio do desenvolvimento de<br />
ações de vigilância dos riscos presentes nos ambientes e condições de trabalho; dos agravos à<br />
saúde do trabalhador e a organização e prestação da assistência, compreendendo diagnóstico,<br />
tratamento e reabilitação.<br />
Nesse sentido a saúde do trabalhador caracteriza-se por ser: Campo do saber que visa<br />
compreender a complexa relação entre o trabalho e o processo saúde-doença; Considera a<br />
saúde e a doença como processos dinâmicos, estreitamente articulados com os modos<br />
produtivos e de desenvolvimento da humanidade em determinado momento histórico; Parte do<br />
princípio de que a forma de inserção dos indivíduos nos espaços de trabalho contribui<br />
decisivamente para formas específicas de adoecer e morrer; Pela complexidade de seu objeto<br />
propõe a construção de saberes e ações que só são possíveis na articulação multiprofissional,<br />
interdisciplinar e intersetorial; Campo que privilegia o conhecimento e a fala do próprio<br />
trabalhador sobre sua realidade laborativa, através do MAPA DE RISCO.<br />
3. O MAPEAMENTO DE RISCOS E A FALA DO TRABALHADOR<br />
No final dos anos 60 e início da década de 70 o movimento sindical italiano definiu como<br />
6
uma de suas prioridades a luta pela democratização dos locais de trabalho e a defesa da<br />
saúde no trabalho, isto porque os anos 60 na Itália apresentavam um gravíssimo quadro da<br />
falta de condições de trabalho, 7 (sete) mortes por dia. A ação sindical foi dirigida ao controle<br />
do processo de trabalho e à conquista de um poder real dos trabalhadores, de suas<br />
representações nos locais de trabalho e dos sindicatos, na busca de soluções para os graves<br />
problemas da nocividade, objetivando transformar o local de trabalho em um ambiente seguro<br />
e um espaço democrático.<br />
Trabalhadores, Conselhos de Fábrica, Sindicatos e técnicos se aliaram desenvolvendo<br />
uma metodologia de intervenção nas condições de trabalho que veio a ser chamada de Modelo<br />
Operário Italiano, o qual se baseia em três princípios: grupo homogêneo, não delegação e<br />
validação consensual. Concretamente criaram uma técnica de amostragem ou esquema de<br />
análise chamada MAPA DE RISCO.<br />
No Brasil a metodologia começou a ser utilizada no início dos anos 80 com a troca de<br />
experiência entre sindicalistas e técnicos brasileiros e italianos e, de forma mais sistemática, a<br />
partir de 1990 através de entidades sindicais, que desenvolveram, com base em estudos<br />
práticos, a metodologia do mapa de risco tendo como referência a experiência sindical italiana.<br />
O mapa de risco é uma representação gráfica (esboço, croqui, layout ou outro), de uma<br />
das partes ou de todo o processo produtivo, onde se registram os riscos e fatores de risco a<br />
que os trabalhadores estão sujeitos e que são vinculados, direta ou indiretamente, ao processo<br />
e organização do trabalho e às condições de trabalho.<br />
O registro dos fatores de risco no desenho deve ser feito da forma mais simples<br />
possível, para que seja facilmente entendido por todos aqueles que o consultarem. Os riscos e<br />
fatores de risco podem ser registrados através de figuras, cores, ou outros símbolos que os<br />
trabalhadores considerarem a forma mais fácil de ser entendida. A representação adotada<br />
deve ser compreendida e usada por todos, de forma a tornar homogêneo os registros e as<br />
análises.<br />
A elaboração do mapa de risco como uma alternativa sindical que se sustente na<br />
máxima participação e decisão dos trabalhadores, deve levar em conta alguns princípios que<br />
fundamentam uma linha operativa de transformação da organização do processo de trabalho<br />
ou, ao menos, eliminação ou redução dos riscos. Nesse sentido a metodologia destaca três<br />
princípios fundamentais para elaboração do mapa de risco:<br />
a) Grupo Homogêneo<br />
O grupo homogêneo é uma estrutura organizativa de base através da qual se realiza a<br />
direta participação dos trabalhadores em tudo aquilo que esteja relacionado às suas condições<br />
de trabalho, podendo ser destacado como a menor parte organizativa que mantém todas as<br />
características específicas da classe trabalhadora. Por Grupo Homogêneo se entende a menor<br />
unidade social de trabalho existente em um setor ou área, onde os trabalhadores estão<br />
7
submetidos às mesmas condições, resultantes da organização do trabalho, tendo em comum<br />
as suas atividades, os riscos e os fatores de risco a eles relacionados.<br />
Através da discussão sobre as próprias condições de trabalho e com a socialização das<br />
experiências, é que cada trabalhador, em particular, descobre a dimensão social dos próprios<br />
problemas. É por este processo - discussão e socialização - que a dimensão puramente<br />
individual da condição de trabalho transforma-se em uma questão coletiva, que compromete<br />
todo o grupo na busca de soluções. Um momento posterior, também unificador, é aquele<br />
quando se reúnem os representantes dos grupos homogêneos.<br />
No interior destes organismos é que se faz a análise completa do processo de trabalho<br />
e a forma como está organizado, segundo a experiência dos trabalhadores. O objetivo é, num<br />
primeiro momento, analisar como o trabalho compromete a integridade física e psíquica dos<br />
trabalhadores.<br />
O critério usado pelo grupo homogêneo para prever riscos, ou identificar e avaliar<br />
fatores de risco, é um critério epidemiológico, baseado na análise do potencial de ocorrência de<br />
um evento ou a presença de um fenômeno desencadeador de danos no grupo e não no<br />
individual. Portanto uma abordagem de saúde coletiva, que torna este critério o de maior<br />
validade para o estudo da nocividade no trabalho.<br />
b) Não Delegação<br />
Não delegação significa, antes de tudo, um profundo convencimento dos trabalhadores<br />
e suas representações, de não poder mais entregar a ninguém o controle sobre as suas<br />
condições de trabalho. Não delegação é a recusa, pelos trabalhadores e suas representações,<br />
de repassar a outros as responsabilidades que lhes são próprias.<br />
Não haverá alternativas ou “soluções técnicas” enquanto o desgaste físico e o desgaste<br />
psicológico, provocados pela carga e pelo ritmo de trabalho, não forem quantificados<br />
objetivamente. Portanto, o único elemento que serve como parâmetro é o ser humano, aqueles<br />
homens e mulheres que compõem o grupo de trabalhadores em um local de trabalho.<br />
Não delegação também significa opor-se ao “direito patronal”, até há pouco tempo<br />
incontestado, de organizar o processo de trabalho sem responsabilizar-se por resguardar a<br />
saúde dos trabalhadores. Isto representa, por um lado, uma tomada de consciência de classe<br />
pelos trabalhadores, mas, por outro lado, cria a exigência, para estes e suas representações,<br />
de serem capazes de exercitarem autonomaticamente este controle e de proporem, com base<br />
na própria experiência e naquela dos técnicos com eles comprometidos, novas formas e modos<br />
de organizar o processo de trabalho tornando-o incapaz de gerar nocividade.<br />
c) Validação Consensual<br />
A classe trabalhadora na defesa da sua saúde, afirma, com a não delegação, a própria<br />
vontade de não demandar a outros a tarefa básica para a sua emancipação e identifica na<br />
validação consensual uma modalidade para o exercício desta tarefa.<br />
8
A validação consensual estabelecida pelo grupo homogêneo representa um ponto de<br />
referência para a ação preventiva, isso para todas as suas fases de intervenção na<br />
organização e nas condições de trabalho: conhecimento, negociação e controle. Por validação<br />
consensual se entende o julgamento sobre o nível de bem-estar ou de incômodo, de<br />
tolerabilidade ou de intolerabilidade que uma determinada situação de trabalho é expressa<br />
pelos trabalhadores.<br />
Somente o trabalhador, ou melhor, o grupo de trabalhadores, que vive em um<br />
determinado ambiente de trabalho e sob determinadas condições oito horas ou mais por dia<br />
pode, portanto, validar a nocividade que este ambiente provoca durante as horas trabalhados,<br />
ou mais, de exposição.<br />
Trata-se da criação de um sistema eficiente, do ponto de vista científico, no qual a<br />
organização no local de trabalho e o sindicato devem assumir a responsabilidade de coordenar<br />
a ação dos diversos grupos de trabalhadores, de tal modo que o conceito de grupo seja<br />
equivalente ao conceito de classe trabalhadora. Do sindicato é que se espera o cumprimento<br />
da difícil tarefa de fazer com que a validação consensual, inicialmente um instrumento de<br />
julgamento, venha a se constituir em um instrumento de suporte para uma nova prática na<br />
ação sindical e para a implementação de uma estratégia sindical alternativa à estratégia<br />
patronal.<br />
4. CLASSIFICAÇÃO DOS RISCOS<br />
O processo de análise, pelos trabalhadores, tanto da organização como das condições de<br />
trabalho, é fundamentado em uma concepção classista de atuação sindical, quando define e adota<br />
oito grupos de risco, onde estão aglutinados, por categoria, com diversos determinantes de<br />
nocividade no trabalho, os quais os trabalhadores estão sujeitos cotidianamente. É importante<br />
salientar que o rol de fatores, citados em cada um dos grupos, é os mais comuns e outros podem<br />
ser acrescentados.<br />
Nos oito grupos de fatores estão representados os já tradicionais: físicos, químicos e<br />
biológicos, que junto com os fatores de higiene compuseram um grupo de fatores biossanitários,<br />
além da fadiga ou esforço que foram introduzidos em um grupo de fatores chamado de<br />
ergonômicos. A estes grupos de fatores foi acrescentado outro grupo vinculado ao desgaste mental<br />
provocado pela organização do processo de trabalho, que foi chamado de fatores psicológicos. Dois<br />
outros grupos refletem as especificidades brasileiras relativas aos acidentes no trabalho e às<br />
condições de vida do trabalhador, nominados respectivamente de fatores de segurança e sociais.<br />
Por último foi criado um grupo, fatores ambientais, que aglutinou os riscos ao meio ambiente<br />
externo decorrente do funcionamento de determinados processos produtivos e de determinadas<br />
formas de organização da produção e do trabalho. Na seqüência destacamos cada um desses<br />
grupos, elencando os agentes agressivos por categoria:<br />
Grupo 1 - Fatores Físicos: Calor, Frio, Iluminação, Pressões Anormais, Radiação<br />
9
Ionizante, Radiação não Ionizante, Ruído, Ventilação, Vibração, Umidade.<br />
Grupo 2 - Fatores Químicos: Dentre o grande número de produtos químicos nocivos,<br />
largamente utilizados na indústria, deve ser destacado os Solventes: substâncias líquidas, voláteis,<br />
que pertencem a diversos grupos químicos, utilizadas para extrair, deslocar, aplicar, tratar, dissolver<br />
outras substâncias sem reagir com elas. Os solventes pertencem às seguintes classes químicas:<br />
álcoois, glicóis, cetonas, éteres, ésteres, hidrocarbonetos aromáticos e alifáticos, aldeídos, amino-<br />
nitro-compostos e derivados halogenados.<br />
Grupo 3 - Fatores Biossanitários: Vírus, Bactérias, Protozoários, Fungos, Parasitas,<br />
Animais, Refeitório, Lixo, Esgoto, Banheiros, Vestiários e Bebedouros.<br />
Grupo 4 - Fatores Psicológicos: Estado psicológico que caracteriza-se pela incapacidade<br />
de discriminar e manifestar emoções: dificuldade de expressar sentimentos tomando por físicas as<br />
manifestações emocionais, Estresse, Rebaixamento da auto-estima.<br />
Grupo 5 - Fatores Ergonômicos: São os fatores de risco ligados às atividades motrizes<br />
responsáveis pela ocorrência da fadiga no ser humano, gerada pelo esforço das estruturas<br />
musculares e esqueléticas próprio da ação, uso e gasto, no trabalho, respectivamente dos<br />
movimentos, da força e da energia do corpo ou de seus segmentos. Exemplos: esforços físicos,<br />
posturas corporais, movimentos repetitivos, ritmos de trabalho, etc.<br />
Grupo 6 - Fatores de Segurança: São aqueles fatores de risco que comprometem a<br />
segurança dos trabalhadores nos locais de trabalho e que são desencadeadores de acidentes.<br />
Estes fatores estão vinculados ao seguinte: condições das máquinas, dos equipamentos, das<br />
ferramentas, das instalações elétricas, do piso, dos elevadores, também de manuseio das<br />
substâncias e materiais inflamáveis e explosivos etc.<br />
Grupo 7 - Fatores Sociais: Este grupo engloba aqueles fatores de risco decorrentes das<br />
condições de vida enfrentadas pelos trabalhadores, de natureza social do processo de<br />
saúde/doença. Fatores sociais da saúde como: transporte, alimentação, lazer, moradia etc.<br />
Grupo 8 - Fatores Ambientais: Os fatores de risco ambientais são aqueles oriundos dos<br />
empreendimentos ou unidades produtivas e que agridem o meio ambiente comprometendo o<br />
equilíbrio entre os fatores abióticos e os fatores bióticos, cujos efeitos atingem várias coletividades<br />
humanas, inclusive consumidores. Entre eles: os rejeitos sólidos, os resíduos líquidos, dutos,<br />
transporte de produtos e materiais etc. Trata-se de uma questão que também tem importância para<br />
as organizações sindicais, estabelecendo forte conexão entre o local de trabalho e o meio externo,<br />
considerando o meio ambiente como algo não desligado do lugar de trabalho, mas fazendo parte<br />
dele.<br />
5. CONCLUSÃO<br />
A nossa tese faz um passeio histórico no mundo do trabalho, resume a evolução desde a<br />
Medicina do Trabalho até a Saúde do trabalhador, passando pelos conceitos de saúde ocupacional,<br />
extraído do artigo de MENDES, R & DIAS (1991). Posteriormente destaca os princípios que norteiam o<br />
mapa de riscos, identificando e reconhecendo os fatores de riscos, no sentido de fundamentar e<br />
10
despertar os(as) trabalhadores(as) para a percepção dos riscos no seu ambiente de trabalho e os<br />
possíveis danos a segurança e saúde, de modo a atuar com mais efetividade e consciência na<br />
prevenção de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho. Dessa forma entendemos que, o(a)<br />
trabalhador(a) orientado(a) nessa perspectiva, pode tornar seu trabalho compatível com a preservação<br />
da vida e a promoção da saúde dos(as) trabalhador(as) enquanto sujeitos de ações que promovam a<br />
melhoria das condições de trabalho.<br />
Por outro lado chamamos atenção do sindicato - SINASEFE-Pará, enquanto entidade<br />
representativa das categorias de docentes e técnicos-administrativo, a continuar com seu papel na luta<br />
pela melhoria das condições de trabalho, entendendo ser uma das atribuições primordiais de qualquer<br />
entidade sindical, em detrimento a pouca preocupação do governo, enquanto patrão, com a saúde,<br />
segurança e qualidade de vida de seus servidores.<br />
Destacamos no texto que a fala e depoimentos dos(as) trabalhadores(as), passam a ser<br />
importante e fundamental instrumento formativo na identificação e reconhecimento dos fatores de riscos,<br />
na construção do MAPA DE RISCO. Levando-se em consideração essas contribuições, estaremos<br />
enriquecendo e dando outro significado à dinâmica do MAPA DE RISCO e ao mesmo tempo em que<br />
promove o diálogo entre o grupo, entendendo-os como homens concretos e não vazios, ou seja,<br />
participativos e sujeitos de sua própria história laboral. Ao levantar os agentes agressivos a segurança e<br />
a saúde por parte dos(as) trabalhadores(as) e apoiado pela ação do sindicato no local de trabalho,<br />
estaremos garantindo qualidade de vida a toda categoria de professores e técnicos-administrativos, base<br />
de nossa entidade. Entendendo que, somente através da percepção dos riscos por parte dos(as)<br />
trabalhadores(as) e a participação do sindicato, poderemos mudar os ambientes de trabalho, reduzindo<br />
e/ou minimizando os danos a saúde e segurança dos trabalhadores e trabalhadoras da educação, em<br />
especial a categoria de docentes e técnicos administrativos, que atuam dentro do Campus Belém do<br />
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará - IFPA.<br />
Essa tese propõe a constituição de um grupo multiprofissional, com visão interdisciplinar,<br />
capazes de se apropriar dos conhecimentos técnicos e da fala dos(as) trabalhadores(as) para<br />
elaboração do MAPA DE RISCO em todos os ambientes de trabalho do campus a ser estudado. Na<br />
elaboração do MAPA DE RISCO utilizaremos uma metodologia, onde assinalaremos, de forma clara, na<br />
planta ou croqui de cada setor do campus, os fatores de risco de acordo com as oito categorias,<br />
elencados anteriormente, devidamente identificados, reconhecidos e validados consensualmente pelos<br />
grupos homogêneos. A seguir, esses riscos serão sistematizados pelo grupo multiprofissional,<br />
estabelecendo prioridade aos mais graves e com maior frequência, utilizando para isso círculos com<br />
tamanhos e cores diferenciadas por grupo de risco.<br />
Ao final, o MAPA DE RISCO deverá indicar aqueles agentes de riscos a serem eliminados de<br />
imediato, fazendo a correlação entre eles e os danos ocorridos, através das consultas aos prontuários<br />
médicos, dos estudos técnicos realizados e das pesquisas sobre os riscos existentes. Neste trabalho de<br />
levantamento, devem participar todos os trabalhadores, sejam através do grupo homogêneo, seja<br />
através de questionários, entrevistas ou outras formas de informação e consulta, onde serão analisadas<br />
as condições de trabalho, a nocividade existente, registrando a situação epidemiológica de cada setor do<br />
campus em estudo. Por fim, proporemos correções e/ou intervenções de caráter preventivo, destacando<br />
11
as medidas de controle para reduzir e/ou minimizar os agentes de riscos agressivos a saúde e<br />
segurança dos (as) trabalhadores(as).<br />
A partir desse projeto piloto no Campus Belém do IFPA, defenderemos a hipótese de<br />
ampliarmos a toda Rede Federal com abrangência nacional, atingindo todos os campi (implantados e em<br />
expansão) dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia do Brasil, com a participação e<br />
intervenção do SINASEFE nacional, através de um Grupo de trabalho para acompanhamento das ações.<br />
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
LEGISLACAO DE SEGURANCA E SAÚDE DO TRABALHADOR – Brasília: Ministério do Trabalho e<br />
Emprego/SSST, 1999.<br />
MENDES, R & DIAS, E. C., 1991. Da medicina do trabalho à saúde do trabalhador. Revista de saúde<br />
pública, 25:3-11.<br />
RAMAZINI, Bernardino – As doenças dos trabalhadores; Tradução de Raimundo Estrêla. 3. Ed. São<br />
Paulo: FUNDACENTRO, 2000. 325p.<br />
SAUDE DO TRABALHADOR - Ministério da Saúde, Departamento de Atenção Básica, Departamento<br />
de Ações Programáticas e Estratégicas, Área Técnica de Saúde do Trabalhador – Brasília: Ministério da<br />
Saúde, 2001.<br />
LIDA, Itiro. Ergonomia: Projeto e produção. Edgard Blücher Ltda: 1993 – São Paulo/SP;<br />
CAMPOS, Armando A. Martins. Cipa: uma nova abordagem. Editora SENAC: 1999 – São Paulo/SP;<br />
SERRANO, Ricardo. Ergonomia e Segurança na Empresa - FUNDACENTRO<br />
WISNER, ALAIN. A INTELIGÊNCIA NO TRABALHO. EDITORA UNESP: 1994;<br />
MENDES, R. – Patologia do Trabalho. Rio de Janeiro: Atheneu, 1995;<br />
BRASIL. Ministério da Previdência e Assistência Social – Seguro de Acidente do Trabalho no Brasil.<br />
Brasília: MPAS,1997;<br />
Legislação de Segurança e Medicina do Trabalho – Brasília: MTE, SSST, 1999;<br />
Ministério da Saúde, Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária – Manual de Vigilância da Saúde de<br />
Populações Expostas a Agrotóxicos – Brasília – OPAS – REPRESENTAÇÃO DO BRASIL, 1997;<br />
SIVIERI, Luiz Humberto. Saúde no Trabalho e Mapeamento dos Riscos. In Saúde, Meio Ambiente e<br />
Condições de Trabalho: conteúdos básicos para uma ação sindical. São Paulo: FUNDACENTRO/CUT,<br />
1996;<br />
OLIVEIRA, João Cândido de. Gestão de Riscos no trabalho, uma proposta alternativa,<br />
FUNDACENTRO / CEMG,1999;<br />
ARAÚJO. Nelma Mirian Chagas de. Custos da implantação do PCMAT na ponta do lápis,<br />
FUNDACENTRO, 2002;<br />
TORLONI, Maurício. Programa de Proteção Respiratória, seleção e uso de respiradores -<br />
coordenação de Maurício Torloni; São Paulo: FUNDACENTRO, 2002.<br />
SAAD, Eduardo Gabriel, org. Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho; textos básicos<br />
para estudantes de engenharia. São Paulo, FUNDACENTRO. 1981.<br />
12
TESE 03<br />
TITULO:<br />
“REORGANIZANDO O SINASEFE PARA O ENFRENTAMENTO DOS DESAFIOS”<br />
AUTOR<br />
João Batista Oliveira Silva<br />
APRESENTAÇÃO:<br />
Talvez o fato de, não raras vezes, valorizarmos excessivamente conceitos<br />
aclamados em outros países e em outras culturas e até mesmo em outras instituições,<br />
esquecemos de adaptá-las para nossa cultura, nosso jeito de ser e de viver, nossos<br />
valores e crenças. A evolução das organizações em termos de modelos<br />
estruturais e tecnológicos, tendo as mudanças e o conhecimento como novos<br />
paradigmas; exige uma nova postura nos estilos pessoais e gerenciais voltados<br />
para uma realidade diferenciada e emergente.<br />
A principal preocupação desta tese é o conceito de equipe, que<br />
acreditamos não existir na eleição para a direção executiva do SINASEFE<br />
nacional. Isso ocorre, dada a forma em que é proposta em nosso estatuto,<br />
notadamente no TÍTULO IV, DAS ELEIÇÕES, na formação da Diretoria Executiva<br />
com a distribuição proporcional dos cargos em função do número de votos<br />
obtidos quando há mais de uma chapa.<br />
No atual sistema, se apresentadas mais de uma chapa na eleição, em função<br />
dos votos conquistados e de um quociente mínimo alcançado, cada uma das chapas<br />
“vitoriosas” apresentam os que farão parte da Direção Nacional, ou seja, seus<br />
“eleitos”. Se junta pessoas, às vezes com pensamentos, estilo e objetivos<br />
diferentes, impondo-se aos associados um grupo e não uma equipe no comando<br />
de nossa entidade, eliminando-se o conceito de maioria<br />
Grupo é um conjunto de pessoas com objetivos comuns, mas que nem sempre,<br />
se reúnem com todas as afinidades. Mesmo neste caso, havendo respeito, os<br />
benefícios que os membros encontram, em geral, produzem resultados aceitáveis. No<br />
entanto este grupo não é uma equipe. Equipe é um conjunto de pessoas não apenas<br />
com objetivos comuns, mas também com afinidades suficientes para atuar de forma<br />
harmônica e objetiva no cumprimento de metas pré- estabelecidas.<br />
No caso do SINASEFE apresentar uma chapa mostra-se uma equipe. Após o<br />
resultado, ela vira um grupo, pela falta de afinidade pessoal ou política de seus<br />
“ungidos”, descaracterizando a montagem da equipe.<br />
O trabalho em equipe pode ser entendido como uma estratégia concebida pelo<br />
homem para melhorar a efetividade do trabalho e elevar seu grau de satisfação,<br />
maximizando o potencial de cada um, ensinando-os a conviver com diferenças e<br />
extraindo o melhor que existe dentro de cada individuo. Trabalhando em equipe temos<br />
mais chances reais de superar nossos limites.<br />
Na formação da equipe para compor uma chapa, leva-se em conta objetivos,<br />
competências e afinidades individuais necessárias para o desenvolvimento das<br />
atividades e o alcance das metas. O respeito ao conceito de equipe, a interação entre<br />
18
seus membros e especialmente o reconhecimento da interdependência entre seus<br />
membros no alcance dos resultados, favorece ainda mais o processo como um todo.<br />
Ao misturar pessoas com notáveis desavenças para a composição da Direção<br />
Nacional, o SINASEFE passa a prejudicar a si mesmo, dado que se perde a<br />
proposição de trabalho na visão da chapa vencedora e cria-se uma luta de grupos<br />
conforme se vê hoje na relação entre seus membros, que passa a impressão de falta<br />
de companheirismo, de insatisfação em trabalhar juntos e de que suportar o convívio é<br />
um peso muito grande. Prevalecem vários estereótipos nocivos ao trabalho, tanto no<br />
aspecto pessoal quanto político.<br />
Não podemos querer transformar sem nos unificar para a luta. Existe uma<br />
necessidade histórica do homem de somar esforços para alcançar objetivos que,<br />
isoladamente, não seriam alcançados ou seriam de forma mais trabalhosa ou<br />
inadequada. Uma diretoria dividida é uma instituição sem comando.<br />
OBJETIVOS<br />
Mudar o estatuto nas regras de proposição, inscrição e eleição de chapas<br />
para a Direção do SINASEFE NACIONAL. Substituir no estatuto, todas as regras<br />
de composição da DN, que obriga a proporcionalidade ao número de votos que<br />
cada chapa obtiver no pleito, quando houver mais de uma chapa concorrendo,<br />
previsto no artigo 41 e seus parágrafos e todos os outros que se fizerem<br />
necessários e consagrar o direito de eleger a chapa completa que conseguir a<br />
maioria dos votos. Proporcionar a oportunidade de eleição de uma chapa para o<br />
Conselho Fiscal independente da chapa apresentada para a Diretoria Executiva.<br />
PROPOSTA<br />
Mudar no estatuto, a redação no titulo TÍTULO IV DAS ELEIÇÕES em todos os<br />
artigos e parágrafos, alterando os que se mostrarem em contrário e as competências<br />
que se fizerem necessárias para permitir que cada chapa seja apresentada completa,<br />
e que seja eleita aquela mais votada. Pela nossa proposição, cada chapa deverá<br />
apresentar:<br />
I - Uma Diretoria Executiva (DIREX)<br />
II - Um Conselho Fiscal (COFISC)<br />
A Diretoria Executiva (DIREX) deverá ser composta por:<br />
I - Presidente;<br />
- Vice-Presidente;<br />
II - Secretário-Geral;<br />
- Secretário-Adjunto;<br />
III - Tesoureiro-Geral;<br />
- Tesoureiro-adjunto;<br />
19
IV - Secretário de Política e Formação Sindical;<br />
- Secretário Adjunto Região Sul;<br />
- Secretário Adjunto Região Sudeste;<br />
- Secretário Adjunto Região Centro Oeste<br />
- Secretário Adjunto Região Norte;<br />
- Secretário Adjunto Região Nordeste;<br />
V - Secretário de Imprensa e Divulgação;<br />
- Secretário Adjunto de Imprensa e Divulgação<br />
VI - Secretário de Assuntos Legislativos e Jurídicos;<br />
- Secretário Adjunto de Assuntos Legislativos e Jurídicos;<br />
VII - Secretário de Políticas Educacionais e Culturais;<br />
- Secretário Adjunto de Políticas Educacionais e Culturais<br />
Considera-se o adjunto, como um suplente em exercício, sem necessidade de<br />
posse em caso de auxilio ou substituição do titular em qualquer período ou<br />
circunstancia. Por esta proposição, fica extinto o cargo de Coordenação de Pessoal,<br />
que será passado a funcionário de carreira do SINASEFE.<br />
O Conselho Fiscal (COFISC) deverá ser composto por:<br />
- três membros titulares;<br />
- três membros suplentes,<br />
A eleição do Conselho Fiscal acontecerá simultaneamente à eleição da<br />
Diretoria Executiva, mas em chapas independentes. Embora cada chapa<br />
apresentada para candidatar-se a Diretoria Executiva seja obrigada a apresentar uma<br />
chapa para o Conselho Fiscal, poderá o associado, havendo mais de uma chapa<br />
inscrita, optar pelo voto em uma Diretoria Executiva apresentada por uma chapa e no<br />
Conselho Fiscal apresentado por outra. .<br />
A chapa a ser apresentada para o Conselho Fiscal deve obrigatoriamente<br />
contemplar pelo menos um associado com lotação em cada região do país, ou seja;<br />
um de cada região (sul, norte, sudeste, centro oeste e Nordeste) mais um segundo de<br />
qualquer destas regiões. O mandato do Conselho Fiscal será coincidente com o da<br />
Diretoria Executiva.<br />
Para nossa orientação (http://jus.com.br):<br />
“Acima de nosso estatuto, a CLT, no art. 522, dispõe que a administração do<br />
sindicato será exercida por uma diretoria constituída, no máximo, de sete e, no<br />
mínimo, de três membros, eleitos pela assembléia geral. O art. 1º da Constituição<br />
20
Federal de 1988 veda a interferência e a intervenção do Poder Público na organização<br />
sindical. O problema jurídico que surgiu está em saber se fere o princípio<br />
constitucional da não-interferência do Estado na organização sindical, a lei que limita o<br />
número de dirigentes de um sindicato.<br />
A Lei Magna faz consignar um princípio de não-interferência, a lei ordinária faz<br />
exatamente o contrário. Esta dicotomia implica na habitual controvérsia quanto ao<br />
tema, pois afeta inexoravelmente o contrato individual de trabalho mantido com o<br />
empregador. As entidades sindicais ultrapassam sem solenidade os números mínimos<br />
estabelecidos legislados ordinariamente a as empresas oficiam os sindicatos para que<br />
indiquem aqueles que gozarão das prerrogativas legais, a fim de considerar a<br />
estabilidade de emprego e garantia de inamovibilidade tão-somente a estes.<br />
A fim de fulminar com a dúvida, a Seção de Dissídios Individuais do Colendo<br />
Tribunal Superior do Trabalho e o Supremo Tribunal Federal já cristalizaram o<br />
entendimento de que a Constituição Federal de 1988 recepcionou a redação do art.<br />
522 da Consolidação das Leis do Trabalho, mantendo os limites ali estabelecidos.<br />
O fundamento jurisdicional para a chegada ao mencionado convencimento<br />
esclareceu que o que deve ser entendido é que a Constituição Federal, que assegura<br />
a liberdade sindical, no sentido de que "a lei não poderá exigir autorização do Estado<br />
para a formação de sindicato, ressalvado o registro no órgão competente, vedadas ao<br />
poder público a interferência e intervenção na organização sindical", não tem o condão<br />
de permitir à entidade de classe que fixe abusivamente um número excessivo de<br />
dirigentes a conceder indiscriminadamente a estabilidade de emprego.<br />
No entendimento de Amauri Mascaro Nascimento, "restringir a sete o número<br />
máximo de diretores de uma entidade sindical, independentemente do seu tamanho,<br />
natureza ou número de associados, é uniformizar o que por natureza não é uniforme:<br />
sindicatos nacionais com estaduais ou municipais, sindicatos de categoriais grandes<br />
com os de categorias pequenas, sindicatos por categoria com sindicatos por profissão,<br />
enfim, situações díspares.<br />
O princípio constitucional da não-interferência do Estado na organização<br />
sindical não é restrito ao direito de fundar sindicatos. É dirigido, também, à liberdade<br />
de auto-organização interna do sindicato. Se assim não fosse, os fins visados pelo<br />
princípio em questão não seriam atingidos quanto o Estado resolvesse dificultar a<br />
administração do sindicato pela limitação do número de dirigentes, contrariando,<br />
assim, o preceito da liberdade sindical.<br />
Logo, saber, se um sindicato deve ter sete, dez ou vinte diretores deve ser, no<br />
sistema de autonomia sindical, questão interna corporis, a ser resolvida no âmbito do<br />
próprio sindicato. No entanto, como os dirigentes sindicais têm estabilidade no<br />
emprego, o sindicato teria meios para estabilizar o maior número possível de<br />
empregados. Bastaria ter uma diretoria com número elevado de integrantes."<br />
Rio Pomba, janeiro de 2012<br />
João Batista Oliveira Silva, servidor publico, IF SUDESTE MG, campus Rio Pomba<br />
21
TESE 04<br />
Tese: Diminuição do percentual de contribuição Sindical das Seções para o<br />
SINASEFE - DN.<br />
O objetivo desta tese é colocar para os sindicalizados do SINASEFE a necessidade de<br />
reforçar as seções sindicais, principalmente neste momento de expansão da rede dos<br />
Institutos Federais, onde necessariamente as nossas seções sindicais têm a<br />
necessidade de se fazer presente nos diversos campi, criados no processo de<br />
expansão da rede, criando e construído novas seções sindicais ou sindicalizando os<br />
novos servidores ingressos na rede.<br />
Hoje grande parte das seções sindicais do SINASEFE encontra-se em uma situação<br />
de colapso financeiro, não por uma questão de má gestão das suas finanças, mas<br />
pela constante necessidade de fazer frente a uma nova realidade surgida com a<br />
ampliação da rede.<br />
A atividade sindical das seções, não esta afeita só ao campus-sede, como ocorria<br />
antigamente, hoje com a ampliação dos institutos, o número de deslocamentos em<br />
visita as novas seções aumentaram significativamente, havendo assim<br />
conseqüentemente também uma ampliação das despesas com passagens, diárias,<br />
estádias em hotel, material de divulgação e outras despesas diversas. Ocorreu<br />
também consideravelmente o acréscimo com gastos administrativos, com contas<br />
telefônicas, correspondências, assessorias jurídicas, contábil e imprensa e etc, sem<br />
falar com os gastos com o pessoal administrativo que é essencial nesta nova<br />
realidade, onde o sindicato deve estar disponível diariamente em seu horário de<br />
expediente comercial, para atender as demandas dos seus associados.<br />
O repasse de 20% para a entidade nacional, frente a esta nova realidade tem sido um<br />
fator de dificuldades, uma vez que as seções, ainda têm que atender as convocações<br />
da DN quando é convocada para as plenas, congressos, Gts, seminários, plantões de<br />
base, reuniões da CNESF e outros eventos que surgem e que são do interesse da<br />
categoria. Isto tem representado para as seções um gasto financeiro, superior aquele<br />
que ela pode arcar, o resultado disto é que vemos em muitos eventos uma baixa<br />
participação das nossas seções, existindo até a figura dos rodízios de participação nas<br />
plenas, uma vez que existem seções que só participam deste evento em datas<br />
alternadas.<br />
A DN hoje, não carece de um repasse tão elevado (20%), uma vez que já possui um<br />
patrimônio que a tranqüiliza no encaminhamento e no suporte das nossas atividades<br />
em Brasília, é preciso fortalecer as seções e a questão do fortalecimento financeiro é<br />
crucial para que estas possam estar realizando a efetivação de suas demandas em<br />
prol dos sindicalizados, bem como o seu trabalho de conscientização e de<br />
sindicalização de novos associados.<br />
Sendo assim, proponho que seja gradativamente reduzido o repasse das seções para<br />
a DN da seguinte forma:<br />
A) Até Dezembro de 2012, que o repasse seja de 17%;<br />
22
B) De janeiro de 2013 a dezembro de 2013, o repasse seja de 15%;<br />
C) De janeiro 2014 a dezembro de 2014 seja de 13%;<br />
D) Que a partir de janeiro de 2015 o repasse seja de 10%.<br />
Acreditamos que assim as seções sindicais poderão desenvolver as suas atividades a<br />
contento nas suas bases, estando mais perto e atendendo satisfatoriamente os<br />
anseios dos sindicalizados.<br />
Tese construída por: Joilson Cruz da Silva<br />
Seção Sindical Salvador - Bahia<br />
23
TESE 05<br />
Organização por local de trabalho e a expansão da Rede Federal de<br />
Ensino<br />
24<br />
Carmem Lucia Werneck<br />
MI – Movimento dos Inconfidentes.<br />
O SINASEFE historicamente sempre se organizou por local de trabalho,<br />
nas antigas Escolas Agrotécnicas, os CEFETs, as Escolas Técnicas e escolas<br />
vinculadas, pois é senso comum que o local de trabalho é onde acontecem<br />
todas as relações de trabalho. E evidente que como as instituições onde se<br />
encontram as seções da rede federal tem um entrave que precisa de uma<br />
representação significativa de um órgão que centraliza todas as aspirações das<br />
seções e as represente junto ao governo, que faz as políticas macro para as<br />
categorias envolvidas no ensino, tais como Plano de Carreiras, Aumento<br />
salarial, dentre outros.<br />
Recentemente, com a edição da Lei 11892, na qual foram criados os<br />
Institutos Federais, houve uma fusão destas várias instituições, com<br />
autonomia, passando a ser uma única instituição, que não tem mais a mesma<br />
autonomia administrativa, e ainda com várias mudanças na área do ensino.<br />
Alem dos cursos técnicos que sempre foi a vocação destas instituições,<br />
passaram a ter como objetivo o ensino superior, nas modalidades de<br />
bacharelado, licenciaturas e tecnólogos, podendo expandir até mestrado é<br />
doutorado. Outra grande mudança ocorrida foi a criação dos novos campus,<br />
em cidades pólos, descentralizando assim o ensino e centralizando a parte<br />
administrativa.<br />
Como os trabalhadores e trabalhadoras em educação poderão se<br />
organizar neste novo contexto? Observa-se que com esta nova configuração o<br />
SINASEFE precisa se adequar para melhor representar seus sindicalizados,<br />
numa perspectiva classista e mais dinâmica, visando atender as novas<br />
necessidades as quais os trabalhadores e trabalhadoras que antes faziam<br />
parte desta instituições antigas, algumas delas até seculares e os novos<br />
trabalhadores e trabalhadoras recém ingressos nestas “novas instituições, com<br />
identidades antigas, e até mesmo unidades inauguradas recentemente, sem<br />
ainda ter uma estrutura montada, e as vezes nem alunos ainda possuem.<br />
A grande maioria das seções sindicais foram criadas antes de 2008, e<br />
foram institucionalizadas em cada local de trabalho. Normalmente representava<br />
ou um CEFET, ou uma Escola Agrotécnica. Para a seção funcionar<br />
adequadamente, com toda a estrutura burocrática, e até mesmo sindical, as<br />
seções precisam ter um número médio de sindicalizados, que após alguns<br />
estudos sobre as várias instâncias do SINASEFE Nacional a qual deve<br />
participar cada seção, tal como Plenárias e Congresso, torna-se necessário um<br />
número de aproximadamente 100 sindicalizados. Também entende-se que<br />
uma estrutura de sindicato como é o caso de alguns que fazem parte da atual<br />
estrutura do SINASEFE Nacional que representa vários campi que as vezes<br />
são muito distantes, fica inviável sindicalmente a representação, pois em uma<br />
plenária, uma seção que representa 1000 sindicalizados tem a mesma<br />
representatividade que uma de 20 sindicalizados. Esta situação, compromete
as tomadas de decisão por parte do sindicato como um todo. Financeiramente<br />
esta representação torna-se centralizadora, parecendo com a representação<br />
administrativa dos institutos.<br />
Parece-me interessante a proposta de alguns sindicatos maiores, de<br />
terem coordenadores em cada campus, este fato facilita as ações locais, mas,<br />
a seção continua com problemas de representação junto ao SINASEFE<br />
Nacional. Outro fato observado em relação ao número de sindicalizados o fato<br />
é que as seções pequenas não tem recurso para bancar todos as atribuições a<br />
qual esta sujeita, podendo virar massa de manobra de seções maiores,<br />
comprometendo assim a democracia sindical.<br />
Chegamos a um impasse. Com a expansão da rede federal de educação<br />
como deve se estruturar o SINASEFE, para cumprir com eficiência seus<br />
princípios e compromissos?<br />
Relembrando estes princípios e compromissos, temos:<br />
I. Princípios:<br />
a) Defender que os servidores federais da Educação Básica, Profissional e<br />
Tecnológica se organizem com total independência frente ao Estado e às<br />
instituições de ensino, mantendo a sua autonomia frente aos partidos políticos<br />
ou a qualquer outro tipo de organização da sociedade civil, devendo decidir<br />
livremente suas formas de organização, sindicalização e sustentação material;<br />
b) Garantir o exercício da mais ampla democracia em todas as suas instâncias,<br />
assegurando completa liberdade de expressão aos seus sindicalizados(as),<br />
combinada com a unidade de ação;<br />
c) Solidarizar-se com todos os movimentos da classe trabalhadora, no país ou<br />
no exterior, desde que os objetivos e princípios desses movimentos não<br />
colidam com os deste Estatuto;<br />
d) Defender que as Instituições de Ensino devam ser públicas e que garantam<br />
a oferta de uma educação gratuita, laica, de qualidade, com referência social,<br />
em consonância com os legítimos e reais interesses da classe trabalhadora; e,<br />
e) Defender a liberdade de pensamento como direito inalienável do cidadão,<br />
nas contratações e nomeações para as Instituições Federais de Ensino, assim<br />
como no exercício das funções e atividades administrativas e acadêmicas.<br />
II. Compromissos:<br />
a) Lutar pela unificação internacional da classe trabalhadora, visando à<br />
construção de uma sociedade socialista;<br />
b) Desenvolver, organizar e apoiar, nos aspectos políticos, educacionais,<br />
econômicos, sociais e culturais, todas as ações que visem às conquistas de<br />
melhores condições de vida e de trabalho;<br />
c) Promover a unidade dos servidores ativos e aposentados, baseada na<br />
vontade, na consciência e na ação concreta;<br />
d) Promover a solidariedade entre os servidores federais da Educação Básica,<br />
Profissional e Tecnológica, desenvolvendo e fortalecendo a consciência de<br />
classe;<br />
e) Lutar pela defesa do meio ambiente e pela qualidade de vida; e,<br />
f) Implementar a formação político-sindical da categoria.<br />
Acreditamos que as seções devam ter no mínimo 100 Sindicalizados, e<br />
até atingir este número deva ficar atrelada a uma seção próxima. Que quando<br />
atingir 100 filiados sejam automáticas a desvinculação e conseqüente criação<br />
da nova seção. Que no local onde ainda não tenha 100 filiados, tenha uma<br />
25
coordenação local, garantindo todos os direitos dos sindicalizados e<br />
sindicalizadas que ali estão lotados. Quanto à retirada dos delegados, que seja<br />
proporcional ao número de sindicalizados, sindicalizadas, conforme previsto no<br />
Estatuto do SINASEFE, ou seja, a cada 50 sindicalizados(as) um delegado.<br />
Nas demais representações como nos encontros de aposentadoria, Regionais,<br />
seminário de educação, ha de se observar as finanças da seção. Quanto as<br />
seções maiores, que representam vários campi, deve-se funcionar como<br />
coordenadoria, tendo sempre uma coordenadoria por local de trabalho, e a<br />
proposta que deverá ser feita para o próximo congresso e que em cada campi<br />
que tiver mais de 100 sindicalizados possa ter 1 delegado nas plenárias, para<br />
melhorar a representatividade nas PLENAS. Ainda precisamos organizar uma<br />
fórum local, que congregue vários sindicatos locais, para uma discussão mais<br />
ampla dos problemas enfrentados pela categoria. Pode-se observar que nosso<br />
sindicato esta precisando fazer Formação Sindical para melhorar nossas ações<br />
e torná-las mais efetivas. Precisamos dar um passo a frente da expansão da<br />
rede e dar conta da expansão do sindicato, aprender como poderemos melhor<br />
atuar nas novas atribuições que foram introduzidas na carreira após a Lei<br />
11784/08, e cuidar da precarização do trabalho que vem ocorrendo nos<br />
Institutos que tem uma carga horária docente, maior que nas universidades,<br />
mas tem uma carga maior de atribuições, tais como os cursos técnicos, as<br />
licenciaturas, os bacharelados, especialização, mestrado, doutorado, ensino a<br />
distância, educação profissionalizante para jovens e adultos, além da extensão<br />
e da pesquisa. No mínimo necessitam de mesma carga horária e investimento<br />
igual. Para que a organização da base aconteça efetivamente, é necessário<br />
que todas as seções participem das instâncias do SINASEFE Nacional. Para<br />
isto estamos propondo que todas as Seções depositem 3% da arrecadação e<br />
a DN 2% da arrecadação em conta separada para a participação no<br />
Congresso, sendo a contribuição compulsória para toda as seções, que<br />
participem ou não do congresso, pois as decisões beneficiam a todos.<br />
Proposições:<br />
1- seções devam ter no mínimo 100 Sindicalizados, e até atingir este<br />
número deva ficar atrelada a uma seção próxima;<br />
2- que quando atingir 100 filiados sejam automáticas a desvinculação e<br />
conseqüente criação da nova seção;<br />
3- que no local onde ainda não tenha 100 filiados, tenha uma coordenação<br />
local, garantindo todos os direitos dos sindicalizados e sindicalizadas<br />
que ali estão lotados;<br />
4- quanto à retirada dos delegados, que seja proporcional ao número de<br />
sindicalizados, sindicalizadas, conforme previsto no Estatuto do<br />
SINASEFE, ou seja, a cada 50 sindicalizados(as) um delegado;<br />
5- quanto as seções maiores, que representam vários campi, deve-se<br />
funcionar como coordenadoria, tendo sempre uma coordenadoria por<br />
local de trabalho;<br />
6- proposta que deverá ser feita para o próximo congresso e que em cada<br />
campi que tiver mais de 100 sindicalizados possa ter 1 delegado nas<br />
plenárias,<br />
7- formação Sindical nas bases para melhorar nossas ações e torná-las<br />
mais efetivas;<br />
26
8- que todas as seções participem das instâncias do SINASEFE Nacional<br />
e,<br />
9- Seções depositem 3% da arrecadação e a DN 2% da arrecadação em<br />
conta separada para a participação no Congresso, sendo a contribuição<br />
compulsória para toda as seções.<br />
27
TESE 06<br />
Autor: Marcos Dorval Schmitz<br />
6 HORAS DE TRABALHO<br />
Sindicalizado na Seção Sindical CEFETSC e Membro do Coletivo Sindical,<br />
INCONFIDENTES: Avançando na Luta e na Democracia;<br />
EMAIL: dorval@ifsc.edu.br<br />
1. INTRODUÇÃO<br />
Este trabalho é fruto de duas décadas de luta pela redução da jornada de trabalho dos<br />
servidores técnicos administrativos das Instituições Federais de Ensino, e porque não<br />
dizer, dos Servidores Públicos Federais. Nesse pequeno texto serão abordados os<br />
fundamentos legais que permitirão a adoção da jornada de trabalho flexibilizada em 6<br />
horas diárias em vários órgãos, bem como parte da luta sindical em torno dessa questão.<br />
2. OBJETIVOS<br />
Debater nas assembleias de base e no CONSINASEFE a necessidade de estabelecer a<br />
jornada de trabalho flexibilizada de 6 horas, como elemento de melhoria nas condições de<br />
vida dos trabalhadores e trabalhadoras da educação pública federal brasileira.<br />
3. DESENVOLVIMENTO<br />
A jornada de 6 horas diárias além de aumentar a produtividade do trabalhador melhora<br />
sua qualidade de vida, propiciando tempo “livre” para sua melhor capacitação, para cuidar<br />
de sua saúde, enfim, para descanso, lazer, etc.<br />
3.1 – A JORNADA DE TRABALHO – RESUMO HISTÓRICO<br />
Na maioria dos países do continente Europeu, por volta de 1800, as jornadas eram de 12<br />
a 16 horas por dia, principalmente entre mulheres e menores. Nos Estados Unidos era<br />
entre 11 e 13 horas.<br />
Com o início dos movimentos reivindicatórios visando a diminuição desta jornada, foi que<br />
os países começaram a fixar normas, sendo o primeiro deles na Inglaterra em 1847,<br />
28
fixando em 10 horas diárias, depois seguida por vários outros países.<br />
A primeira convenção da OIT em 1919 estabeleceu que os países contratantes deveriam<br />
adotar jornada de 8 horas diárias e 48 horas semanais.<br />
No Brasil, o primeiro Decreto que regulamentou a jornada de trabalho é de 1932, em<br />
relação ao trabalho no comércio, fixando em 8 horas diárias. Seguiram-se, também, com<br />
limitação de 8 horas, a indústria, as farmácias, os transportes terrestres, frigoríficos, hotéis<br />
e restaurantes.<br />
A CF de 1937 especificou "dia de trabalho de 8 horas, que poderá ser reduzido, e<br />
somente suscetível de aumento nos casos previstos em lei". (artigo 137).<br />
A CF de 1988 modificou a orientação até então seguida pelas constituições anteriores,<br />
estabelecendo no seu artigo 7º, XIII "duração de trabalho normal não superior a 8 horas<br />
diárias e 44 semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada,<br />
mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho" e no inciso XIV " jornada de trabalho<br />
de 6 horas para o trabalho em turnos ininterruptos de revezamento, salvo negociação<br />
coletiva".<br />
3.2 – O SERVIDOR PÚBLICO E A JORNADA DE TRABALHO<br />
Com a aprovação da lei 8.112 de 1990, o Regime Jurídico dos Servidores Públicos<br />
Civis da União, das Autarquias e das Fundações Públicas Federais, restou aprovado em<br />
seu artigo 19 a seguinte redação:<br />
O ocupante de cargo de provimento efetivo fica sujeito a 40 (quarenta) horas semanais<br />
de trabalho, salvo quando a lei estabelecer duração diversa.<br />
Parágrafo único. Além do cumprimento do estabelecido neste artigo, o exercício de<br />
cargo em comissão exigirá de seu ocupante integral dedicação ao serviço, podendo o<br />
servidor ser convocado sempre que houver interesse da administração.<br />
Em 17 de dezembro de 1991, a lei 8.270 em seu artigo 22 deu a seguinte redação<br />
ao artigo 19 da lei 8.112:<br />
Art. 22. Os arts. 19 e 93 da Lei n° 8.112, de 1990, passam a vigorar com a seguinte<br />
redação:<br />
Art. 19. Os servidores cumprirão jornada de trabalho fixada em razão das atribuições<br />
pertinentes aos respectivos cargos, respeitada a duração máxima do trabalho semanal<br />
de quarenta horas e observados os limites mínimo e máximo de seis horas e oito<br />
horas diárias, respectivamente.<br />
Em 10 de agosto de 1995 o Decreto nº 1.590/1995, em seu art. 3º, assim regulamentou a<br />
jornada de 6 horas:<br />
29
Art. 3º. Quando os serviços exigirem atividades contínuas de regime de turnos ou<br />
escalas em período igual ou superior a quatorze horas ininterruptas, é facultado ao<br />
dirigente máximo do órgão ou da entidade autorizar os servidores que trabalham<br />
no período noturno a cumprir jornada de trabalho de seis horas diárias e carga<br />
horária de trinta horas semanais, devendo-se, neste caso, dispensar o intervalo<br />
para refeições. (grifo nosso)<br />
§ 1º. Entende-se por período noturno aquele que ultrapassar às 21 horas.<br />
§ 2º. Os dirigentes máximos dos órgãos ou entidades farão publicar no Diário Oficial<br />
da União, a cada seis meses, a relação e a jornada de trabalho dos servidores aos<br />
quais se aplique o disposto neste artigo.<br />
Em 2003 o Art. 1º do decreto n° 4.836 alterou a red ação do art. 3º do Decreto nº 1.590, de<br />
10 de agosto de 1995, que passou a vigorar com a seguinte redação:<br />
Art. 3º Quando os serviços exigirem atividades contínuas de regime de turnos ou<br />
escalas, em período igual ou superior a doze horas ininterruptas, em função de<br />
atendimento ao público ou trabalho no período noturno, é facultado ao dirigente<br />
máximo do órgão ou da entidade autorizar os servidores a cumprir jornada de trabalho<br />
de seis horas diárias e carga horária de trinta horas semanais, devendo-se, neste<br />
caso, dispensar o intervalo para refeições.<br />
§ 1 º Entende-se por período noturno aquele que ultrapassar às vinte e uma horas.<br />
§ 2 º Os dirigentes máximos dos órgãos ou entidades que autorizarem a flexibilização<br />
da jornada de trabalho a que se refere o caput deste artigo deverão determinar a<br />
afixação, nas suas dependências, em local visível e de grande circulação de usuários<br />
dos serviços, de quadro, permanentemente atualizado, com a escala nominal dos<br />
servidores que trabalharem neste regime, constando dias e horários dos seus<br />
expedientes.<br />
3.3 – A DISCUSSÃO NO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA<br />
Em 4 de outubro de 2004, o presidente do Superior Tribunal de Justiça, usando as<br />
prerrogativas do regimento interno daquele órgão, e considerando o disposto no artigo 19<br />
da lei nº 8.112 de 11 de dezembro de 1990, bem como as alterações promovida pela lei nº<br />
8.270, de 17 de dezembro de 1991, expede a resolução nº 19, que dispõe sobre o<br />
expediente e a jornada de trabalho dos servidores no âmbito do Superior Tribunal de<br />
Justiça. O Ministério Público interpõe ação de impugnação do ato do presidente, o que<br />
levou o caso ao Conselho Nacional de Justiça que julgou vários procedimentos de<br />
controle administrativo e que concluiu pela validade e legalidade dos atos uma vez que<br />
30
integra a discricionariedade da administração pública. (discricionariedade alternativas<br />
válidas perante o direito (e não somente perante a lei), entre várias hipóteses legais e<br />
constitucionalmente possíveis ao caso concreto. Essa escolha se faz segundo critérios<br />
próprios como oportunidade, conveniência, justiça, equidade, razoabilidade, interesse<br />
público, sintetizados no chamado mérito do ato administrativo.<br />
Do voto do relator extrai-se os seguintes conceitos:<br />
- Essa carga horária se revelou mais adequada, aumentando comprovadamente a<br />
qualificação e eficiência dos serviços prestados, em atendimento aos princípios que<br />
regem a Administração Pública e dentro dos limites estabelecidos pela Lei nº 8.112/90;<br />
- A jornada reduzida e contínua tem o mérito de fazer confluir os interesses, tanto<br />
dos trabalhadores, como da própria Administração: no caso dos servidores, pelo tempo<br />
livre de que poderão usufruir, utilizando-o para sua capacitação e crescimento<br />
profissionais, lazer, cultura, e convívio familiar. No caso da Administração, esta contará<br />
com servidores mais produtivos pois estarão mais saudáveis (mental e fisicamente), com<br />
maior capacidade de concentração no cumprimento de suas funções e mais eficiência;<br />
- Portanto, o que se verifica é que os órgãos ou entidades com servidores regidos<br />
pela Lei nº 8.112/90, incluídos os integrantes do Poder Judiciário da União, não poderão<br />
fixar jornadas de trabalho de seus servidores acima ou abaixo do permissivo legal<br />
(máximo de quarenta horas semanais e oito diárias e mínimo de trinta horas semanais e<br />
seis horas diárias), pois quanto a esses limites o ato administrativo está vinculado. No<br />
entanto, poderão fixar a duração laboral dentro desses limites, em face da conveniência e<br />
da oportunidade de cada órgão ou entidade, porque a lei assim permite;<br />
- No âmbito do STJ e do CJF, todos os indicadores de produtividade melhoraram<br />
após a adoção daquela jornada de trabalho, que se revela triplamente benéfica, pois:<br />
(i) beneficia o servidor, que tem mais qualidade de vida e mais tempo para a<br />
qualificação pessoal e o convívio com a família, reduzindo-se as doenças relacionadas ao<br />
trabalho;<br />
(ii) beneficia o usuário do serviço público, já que há acréscimo de eficiência no<br />
desempenho do servidor;<br />
e eficiência;<br />
(iii) beneficia o órgão público, melhorando os seus indicadores de produtividade<br />
- Por outro lado, repita-se, a adoção da jornada de 6 (seis) horas diárias também<br />
é meio hábil para permitir o atendimento ao público, que no âmbito desse e. Tribunal deve<br />
ser de 8 (oito) horas diárias.<br />
- Em relação aos princípios que regem a Administração Pública, vale observar<br />
31
que todos são atendidos na fixação da jornada em 6 (seis) horas diárias, em especial:<br />
- Princípio da Legalidade – Tendo em conta que a administração pública está<br />
adstrita ao comando da lei, há a necessidade de previsão legislativa como condição de<br />
validade da atuação administrativa. Aqui a previsão advém do próprio Regime Jurídico<br />
Único, instituído pela Lei nº 8.112/90 (artigo 19). Assim, a discricionariedade conferida por<br />
lei ao administrador público, o legitima para adotar a jornada de trabalho entre o mínimo e<br />
o máximo permitido no texto legal.<br />
- Princípio da Moralidade – O princípio da moralidade contempla a observância<br />
de preceitos éticos, como a confiança, boa-fé, probidade etc. In casu, a medida que se<br />
defende, além de estar expressamente prevista em lei, busca o bem estar e a saúde do<br />
trabalhador, exigindo do mesmo uma carga de trabalho menor, em número de horas,<br />
diminuindo os riscos de doenças profissionais e, ao mesmo tempo, fornecendo à<br />
sociedade um serviço público melhor qualidade.<br />
- Princípio da Eficiência – Este princípio tornou-se expresso a partir da Emenda<br />
Constitucional nº19/88 e foi acrescido aos demais princípios originalmente previstos no<br />
art. 37 da Constituição Federal. É de suma importância na medida em que busca atender<br />
ao interesse público. Importa dizer que a autoridade administrativa deve estar atenta à<br />
superação de conceitos burocráticos ou formais em benefício da eficiência. Deve-se ter<br />
em conta que, com a informatização de todos os setores da Administração, hoje o<br />
servidor produz duas ou três vezes mais do que o fazia há alguns anos atrás, mas essa<br />
tecnologia tem um preço que é o stress, a depressão e as doenças profissionais que se<br />
contrapõem à eficiência. A redução da jornada devolve o equilíbrio necessário para que o<br />
trabalho não cause o desgaste que prejudica o atendimento ao usuário do serviço público.<br />
- Princípio da finalidade – Quando se defende a fixação da jornada entre seis a<br />
oito horas diárias, o objetivo principal deve ser um serviço de melhor qualidade, portanto a<br />
redução que se situa dentro desses limites atende ao interesse público. Assim, a norma<br />
deve ser interpretada e aplicada garantindo a realização do fim público a que se dirige. O<br />
fim público deve conciliar o interesse da coletividade e da Administração Pública que, por<br />
certo, será mais eficiente se contar com um quadro funcional formado de servidores mais<br />
produtivos.<br />
- Princípio da Motivação - A motivação é uma exigência do Estado de Direito.<br />
Entre outros direitos dos administrados, está o direito a uma decisão fundada, motivada.<br />
Mesmo o ato discricionário deve ser motivado de modo que se possa aferir a verdadeira<br />
intenção do Agente Público. Quando se busca a preservação da saúde do trabalhador e a<br />
melhoria no fornecimento dos serviços públicos à sociedade, têm-se os mais relevantes<br />
32
motivos a justificar a medida adotada.<br />
- Princípio Razoabilidade – O bom-senso se faz necessário à medida que as<br />
exigências formais que decorrem dos demais princípios (legalidade, interesse público,<br />
finalidade) tendem a reforçar mais o texto da lei do que o seu espírito. O princípio da<br />
razoabilidade exige do Administrador um atuar sob critérios aceitáveis do ponto de vista<br />
racional. Então: é razoável preservar-se o bem-estar e a saúde do trabalhador ao mesmo<br />
tempo em que se busca qualidade e eficiência do serviço oferecido à comunidade?<br />
Certamente que sim.<br />
- Princípio da Preservação do Interesse Público - A finalidade da lei é a<br />
realização do interesse público, assim entendido o interesse da coletividade. A norma<br />
deve satisfazer o interesse público em sentido amplo, de todos os cidadãos, ao conjunto<br />
de interesses. Portanto, a redução de jornada, dentro dos limites de 6 a 8 horas diárias,<br />
pelos fundamentos já expostos, atende integralmente à preservação do interesse público.<br />
Como elementos para a aplicação da Flexibilização temos:<br />
É forçoso reconhecer que nestes 18 anos do Regime Jurídico Único, o serviço público<br />
passou por imensas transformações, informatizou-se e passou a exigir de seus servidores<br />
maior agilidade e flexibilidade, além de maior preparo profissional.<br />
O mesmo trabalho que até então demandava dias passou a ser feito em horas, o que<br />
demandava horas passou a ser feito em minutos. O volume duplicou ou triplicou em<br />
pouquíssimo tempo. A população cresceu, com ela os problemas que exigem atenção e<br />
soluções pelo Poder Público. O servidor permanece horas e horas diante de um<br />
microcomputador, mas o seu desgaste não se corrige em oficinas.<br />
3.4 - A EXPERIÊNCIA NA ESCOLA TÉCNICA FEDERAL DE SANTA CATARINA<br />
Em meados da década de 90, a então diretora da Escola Técnica Federal de Santa<br />
Catarina, Soni de Carvalho, após ser eleita pelo voto da comunidade escola, expediu<br />
portaria reduzindo a jornada de trabalho dos servidores técnicos administrativos para 6<br />
horas diárias, de lá para cá, passaram-se 16 anos e várias foram as tentativas de se<br />
retroceder neste grande avanço para os trabalhadores do atual IF-SC.<br />
Nos últimos anos ganhou força a palavra “flexibilização” da jornada de trabalho, ou seja o<br />
correto é utilizar o decreto nº 4.836 onde o dirigente máximo em função das necessidades<br />
do órgão estabelece a jornada flexibilizada de 6 horas diárias.<br />
No ano de 2011, após uma longa luta da Seção Sindical do CEFETSC, a então reitora,<br />
Consuelo Aparecida Sielski dos Santos, nomeou um grupo de trabalho formado por<br />
33
epresentantes do SINASEFE e Representantes da Reitoria e do Colégio de Dirigentes,<br />
após 4 meses de trabalho produziu-se a minuta de resolução que segue abaixo, que não<br />
foi acatada pelo reitor pro-tempore, mas que garantiu a continuidade da jornada de<br />
trabalho flexibilizada no IF-SC.<br />
“ MINUTA DE RESOLUÇÃO<br />
Florianópolis, XX de junho de 2011.<br />
A REITORA DO INSTITUTO FEDERAL DE SANTA CATARINA, no uso das atribuições<br />
que lhe são conferidas pelos artigos 10, § 4º e 11, da lei 11.892, de 29/12/2008, bem assim pelo<br />
artigo 20 da Resolução 028/2009/CS, de 31/08/2009,<br />
CONSIDERANDO a autonomia administrativa de que goza o IFSC em razão da sua<br />
personalidade jurídica prevista na Lei 11.892, de 29/12/2008, e o art.1º da Resolução<br />
028/2009/CS, de 31/08/2009;<br />
CONSIDERANDO o disposto no Decreto n° 4.836, de 09 de setembro de 2003, que<br />
alterou a redação do art. 3º do Decreto n° 1.590, d e 10 de agosto de 1995, que dispõe sobre a<br />
jornada de trabalho dos servidores da administração pública federal direta, das autarquias e das<br />
fundações públicas federais;<br />
CONSIDERANDO os objetivos e finalidades estatutárias do IFSC, bem como a sua<br />
função social e a busca incessante pelo aumento da qualidade do serviço público ofertado pela<br />
Instituição à comunidade, que exigem a adoção de procedimentos administrativos mais modernos<br />
e eficientes;<br />
CONSIDERANDO a ampliação dos horários de atendimento ao público usuário, com<br />
reflexos no regime de trabalho dos servidores, tendo em vista o funcionamento da Instituição em<br />
período igual ou superior a 12 (doze) horas diárias ininterruptas;<br />
CONSIDERANDO, o cumprimento dos dispositivos constitucionais em que a<br />
Administração Pública direta e indireta obedecerá aos princípios da legalidade, impessoalidade,<br />
moralidade, publicidade, razoabilidade, proporcionalidade, motivação, finalidade, eficiência e<br />
preservação do interesse público;<br />
CONSIDERANDO, o art. 19 da Lei n° 8.112, de 11/12/1 990, bem como as alterações<br />
promovidas pela Lei 8.270, de 17/12/1991, em seu art. 93: “Os servidores cumprirão jornada de<br />
34
trabalho fixada em razão das atribuições pertinentes aos respectivos cargos, respeitada a duração<br />
máxima do trabalho semanal de quarenta horas e observados os limites mínimo e máximo de seis<br />
horas e oito horas diárias, respectivamente”;<br />
CONSIDERANDO, por fim, que as atividades administrativas de apoio à oferta de<br />
educação funcionam e estão disponíveis ao público usuário nos três turnos, diariamente, com a<br />
missão de desenvolver e difundir conhecimento científico e tecnológico.<br />
diariamente.<br />
RESOLVE:<br />
ESTABELECER como horário de funcionamento da instituição o período entre 7h e 23h,<br />
AUTORIZAR a flexibilização da jornada de trabalho dos servidores técnico-<br />
administrativos a partir de xx de junho de 2011.<br />
APROVAR o Regulamento da Jornada de Trabalho dos servidores técnico-<br />
administrativos do IFSC, conforme Regulamento específico.<br />
Publique-se e Cumpra-se<br />
4 – CONCLUSÃO<br />
Como podemos observar não há impedimento legal para a adoção da jornada de trabalho<br />
Flexibilizada em 6 horas diárias, hoje várias instituições já adotaram essa jornada, há<br />
quem diga, inclusive, que o IFSC vem se destacando entre as melhores do país em<br />
virtude dessa jornada, fato que não pode ser mensurado assim de forma isolada, mas que<br />
certamente contribui para isso.<br />
Outra questão que parece bastante evidente é a de que o dirigente máximo pode optar, ou<br />
pela jornada de 8 horas em dois turnos ou pelo turno ininterrupto de 6 horas, não havendo<br />
margem para outras criações, tais como 7 horas ou banco de horas, já que a lei não<br />
delegou tal faculdade. Em relação ao banco de horas, vale ressaltar que para ser aplicado<br />
carece de acordo entre sindicato e governo, após negociação coletiva, que por hora<br />
inexiste no serviço público, tornando assim essa modalidade não aplicável ao caso do<br />
servidor público.<br />
Por fim, esse trabalho pretende ajudar a subsidiar os companheiros e<br />
companheiras das Seções Sindicais para que realizem esse debate em seus locais de<br />
35
trabalho, bem como iniciar no SINASEFE uma discussão sobre a necessidade de<br />
mudança no decreto 4.836, de forma que os trabalhadores não fiquem a mercê da<br />
vontade do dirigente máximo da instituição, mas que a Flexibilização seja uma realidade<br />
que permita melhores condições de vida dos trabalhadores e trabalhadoras de nossa<br />
rede.<br />
5. BIBLIOGRAFIA<br />
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm<br />
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2003/D4836.htm<br />
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D1590.htm<br />
http://www.cursosnocd.com.br/direito-do-trabalho/historia-da-jornada-de-trabalho.htm<br />
27/01/2012 8:42<br />
36
TESE 07<br />
A Função Social da Escola e a Formação Continuada<br />
Autora:Tania Guerra<br />
Secretária Geral do SINASEFE - Integrante do Conselho Coordenador e Consultivo da<br />
CEA, Integrante do Conselho Internacional de Educação do Fórum Mundial de<br />
Educação e Coordenadora de Políticas Educacionais da Seção Sindical de Pelotas<br />
taguerra@terra.com.br<br />
Objetivo:<br />
O trabalho procura mostrar que a educação emancipadora e inclusiva, princípio do<br />
SINASEFE, tem responsabilidade com a formação da cidadania através dos princípios<br />
da solidariedade, da tolerância e do respeito com o planeta e com os demais seres<br />
vivos. Busca inserir na discussão sobre a Carreira do Magistério do Sistema Federal de<br />
Ensino a necessidade de valorizar a formação continuada atendendo a função social da<br />
escola de contribuir com a inclusão social, a busca do padrão unitário de qualidade<br />
entre as instituições federais de ensino e a construção de uma sociedade justa e<br />
igualitária.<br />
Considerações iniciais:<br />
Quando defendemos que na construção de um outro mundo possível, outra educação,<br />
emancipadora e inclusiva é possível e necessária, precisamos nos reportar a Leonardo<br />
Boff, que em seu livro “Saber Cuidar” questiona: “o saber nos confere poder. Mas a<br />
serviço de que projeto de ser humano, de sociedade e de mundo utilizaremos o poder<br />
da ciência e da técnica?”<br />
É obrigação do Estado promover a inclusão social e superar as desigualdades sociais,<br />
promover a qualidade de vida, a cidadania e fazer a justa distribuição da riqueza<br />
econômica, social e cultural do país.<br />
A exclusão social está muito mais associada à desigualdade do que à pobreza.<br />
Em nossa sociedade, embora a Constituição garanta a igualdade entre homens e<br />
mulheres e combata a discriminação, ainda temos nossas instituições, e entre estas a<br />
escola da sociedade capitalista, permeada pelo preconceito e pela desigualdade. A<br />
escola reproduz esta desigualdade por aceitar sua naturalidade. Como aceita naturais<br />
os modelos culturais historicamente construídos dos papéis sociais do homem e da<br />
mulher e como é natural o negro ser mais pobre e ter uma posição social inferior.<br />
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Esta visão precisa ser desconstruída porque desqualifica e discrimina a mulher, o<br />
negro, o velho o homossexual e o portador de necessidades especiais. A escola<br />
necessita formar seres humanos que não tolerem ações discriminatórias por não<br />
aceitarem como naturais tais construções.<br />
É papel da escola identificar que esta naturalização traz dor e sofrimento,<br />
comprometendo a formação integral para a cidadania.<br />
Valorizar a diversidade exige lidar com ela cotidianamente entendendo que as<br />
diferenças devem ser respeitadas e promovidas, superando o seu uso como critério de<br />
exclusão social hoje aceito e praticado em nossas instituições, como de resto, na<br />
sociedade.<br />
Paulo Freire, Piaget e tantos outros e outras enfatizaram a totalidade do ser humano e<br />
sua capacidade de se construir socialmente através de significados socialmente<br />
importantes. Alem de reconhecer o outro/a como desigual é necessário reconhecer<br />
suas relações e direitos como tal.<br />
Aí está incorporada a função social do educador/a com sua responsabilidade em<br />
transmitir valores éticos que referendem a cidadania.<br />
Nossos educadores/as precisam ser capacitados/as para enfrentar esta<br />
responsabilidade de transmitir a necessidade de cuidar do outro/a e do planeta, para<br />
garantir que a escola cumpra o seu papel social.<br />
O papel do Sindicato:<br />
O SINASEFE, sensível a esta responsabilidade, em sua última reunião do GT-carreira<br />
propôs às suas bases discutir a incorporação à carreira docente a valorização de níveis<br />
de capacitação. Nosso desafio é definir como esta nova estrutura de careira pode<br />
simultaneamente capacitar o professor/a atendendo a estas novas demandas sociais e<br />
estimular seu crescimento profissional.<br />
Entendendo que a humanidade vive um momento de profunda preocupação com o<br />
planeta e a sustentabilidade, e que a sociedade brasileira, representada pelas 30<br />
milhões de pessoas que discutiram o PNE nas Conferências municipais, estaduais e<br />
nacional, ao criar um novo eixo no PNE sobre os Direitos Humanos, a justiça social e a<br />
inclusão, nos leva a apontar o cuidado ambiental, a superação de preconceitos e a<br />
prevenção da violência como o conteúdo a ser proposto para estes cursos de<br />
capacitação.<br />
É necessário que nossas instituições tenham em suas bases curriculares, conteúdos<br />
capazes de darem conta desta necessidade. Educar dentro do respeito aos Direitos<br />
Humanos, e na perspectiva do combate à violência sexista e à homofobia, o respeito às<br />
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elações étnico-raciais, geracionais e a valorização da diversidade, deve ser hoje uma<br />
prioridade da educação brasileira.<br />
A Lei 10639/03 que trata da História e Cultura Afro-Brasileira e a Lei 11340/06, Lei<br />
Maria da Penha que trata da violência doméstica e familiar contra a mulher, embora já<br />
tenham algum tempo de vigência ainda não chegaram às nossas instituições.<br />
Hoje tramitam no Congresso vários projetos de lei que tratam do assunto. Em especial<br />
temos o PL 2431-A/07 e o PL 3361/08 das deputadas Maria do Rosário e Lídice da<br />
Mata, respectivamente, que incluem nos currículos escolares conteúdos e práticas que<br />
contribuam para o combate à violência doméstica, cumprindo assim, o art. 8º da Lei<br />
Maria da Penha. A relatora do 2º PL diz: sabemos que “romper a visão que rebaixa,<br />
desqualifica e discrimina a mulher e o/a negro/a, exige políticas de longo prazo, exige a<br />
formação de indivíduos que não considerem naturais ou não tolerem ações<br />
discriminatórias em relação a quaisquer formas de diversidade: raça e etnia, geracional,<br />
orientação sexual, deficiências e gênero”. Os dois PLs enfatizam a necessidade desta<br />
questão ser tratada em todos os níveis e modalidades de ensino.<br />
Os conteúdos e práticas deverão abordar temas relacionados aos direitos humanos e<br />
disseminar valores éticos de respeito à dignidade humana na perspectiva de gênero,<br />
raça/etnia e opção sexual.<br />
O Conselho Nacional de Educação - CNE ao preparar o Parecer que subsidiou as<br />
discussões para a construção do novo Plano Nacional de Educação – PNE, em 2009<br />
apontou a necessidade de o novo Plano ter diretrizes referenciadas nos Direitos<br />
Humanos. Ainda em maio de 2011, o Parecer número 04 do CNE, homologado pelo<br />
Ministro da Educação traçou diretrizes para a educação nas prisões, reforçando o<br />
direito de todos e todas à educação, independente de terem, ou, não direito à liberdade.<br />
Parece que o poder público, através de seus ministérios e do CNE, despertam para a<br />
necessidade de ter políticas de inclusão e valorização da diversidade como política de<br />
Estado, única forma de responder a demanda maior da sociedade brasileira, medida<br />
em todas as pesquisas, que é a preocupação com a segurança e com a violência.<br />
No Brasil nós que queremos construir uma escola justa, livre de preconceito e<br />
discriminação, precisamos identificar nossas dificuldades e elencar nossos<br />
instrumentos para enfrentá-las.<br />
As dificuldades são aquelas próprias de nossa realidade social e cultural que permeiam<br />
nosso cotidiano e que trazem a incompreensão acerca da homofobia e de seus efeitos.<br />
Esta dificuldade não é só dos professores/as consultados/as, uma vez que está<br />
presente na dificuldade de formulação de políticas públicas para o assunto. Esta<br />
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dificuldade nos leva muitas vezes a reproduzir esta discriminação em vez de enfrentála.<br />
Muito tem ajudado estudos de Bourdieu, Passeron e outros/as que alertam para a<br />
necessidade de desmistificar o poder da educação de sozinha, transformar o mundo,<br />
criar a sociedade que queremos. Entretanto, como dizia Paulo Freire, sem a educação<br />
não há transformação.<br />
As escolas, hoje alem de produzir e difundir o conhecimento, reproduzem padrões<br />
sociais, concepções de Estado e de mundo, legitima relações de poder, processos de<br />
acumulação e não aponta para o desejo de derrubar o modelo capitalista ou de<br />
construir o socialismo.<br />
A escola é, historicamente, um espaço disciplinador e responsável pela permanência do<br />
“status quo”. Ela isola o “diferente”, o “doente” o “pervertido” o “não normal”. É um lugar<br />
de opressão, discriminação e preconceitos.<br />
Cabe ao cotidiano escolar criar pedagogias de combate ao racismo e ao preconceito,<br />
conhecer esta história, fazendo as ligações necessárias, para que tenhamos a inclusão<br />
social devida há 500 anos a esta população e que somente acontecerá com a<br />
articulação entre processos educativos, políticas públicas e movimentos sociais uma<br />
vez que qualquer mudança de comportamento acontece alem dos muros da escola.<br />
Conclusão:<br />
Uma educação de qualidade, emancipadora e inclusiva, alem de construir e divulgar o<br />
conhecimento científico deve reconhecer que a diversidade é pedagógica e libertadora<br />
e sua valorização garante a formação integral do ser humano com justiça social e<br />
formação de cidadania.<br />
Com estas reflexões proponho que estudemos a possibilidade de trazer para a<br />
estrutura tanto do PCCTAE, como da Carreira do Magistério do Sistema Federal de<br />
Ensino níveis de capacitação dentro dos eixos aqui propostos.<br />
Referências Bibliográficas:<br />
1 – Boff, Leonardo - Saber Cuidar<br />
2 – Freire, Paulo - A Pedagogia da Autonomia<br />
3 –Boff, Leonardo -Virtudes para um outro Mundo Possível<br />
4 – Guerra, Tania - A Educação e a Diversidade<br />
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5– Guerra, Tania - Construindo a Cultura ou Pedagogia da Paz<br />
6 – Junqueira, Rogério Diniz – Homofobia nas Escolas<br />
7 – Pareceres do CNE<br />
8 – Lei 9394/96, Lei 10639/03 e Lei 11340/06<br />
9 - Plano Nacional de Educação – diretrizes propostas pela CONAE<br />
10 - Projetos em tramitação no Congresso<br />
11 – Orientações e Ações para a Educação das Relações Étnico-Raciais –<br />
SECAD/MEC<br />
12 – Educação em Direitos Humanos – Educação Profissional e Tecnológica –<br />
SETEC/MEC<br />
13 – Diversidade Sexual na Educação : Problematização sobre a Homofobia nas<br />
Escolas – 2009 – MEC/UNESCO.<br />
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TESE 08<br />
“A constituição dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia:<br />
Uma iniciativa positiva na perspectiva de superação do ambiente neoliberal na educação<br />
brasileira e os novos desafios ao Movimento Sindical”.<br />
Autor: Hugo Manso Junior<br />
Natal, Fevereiro de 2012<br />
RESUMO<br />
Integrantes da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação, os<br />
Centros Federais de Educação Tecnológica, foram transformados em Institutos Federais de Educação,<br />
Ciência e Tecnologia, em dezembro de 2008. A evolução da Rede Federal propiciou o<br />
desenvolvimento de uma escola de ensino médio integrado a EPT, com muita qualidade. A aplicação<br />
da política neoliberal a partir dos anos 90 atingiu fortemente a educação brasileira. O decreto 2.208/97<br />
refletiu, na legislação, a forma subordinada como foi conduzida nossa inserção no mundo globalizado.<br />
As vitórias eleitorais dos setores democráticos e populares, combinadas com a crise internacional da<br />
globalização neoliberal, permitem debater a caracterização de um novo período político no país, aqui<br />
denominada “Revolução Democrática”. Este texto se propõe a discutir como a expansão da Rede<br />
Federal pode contribuir positivamente numa perspectiva de superação do ambiente neoliberal<br />
na educação brasileira e como o movimento sindical deve reorganizar-se diante o novo modelo<br />
institucional.<br />
PALAVRAS CHAVE: Educação Profissional e Tecnológica; Sindicalismo; Neoliberalismo;<br />
Revolução Democrática.<br />
1. APRESENTAÇÃO<br />
Após um século de prestação de serviços educacionais, integrando a Rede Federal de Educação<br />
Profissional e Tecnológica (EPT) do Ministério da Educação, os Centros Federais de Educação<br />
Tecnológica foram transformados em Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, através<br />
da lei n.º 11.892, de 29/12/2008. Esta mudança é decorrente da construção de um novo paradigma para<br />
esta modalidade da educação, o que tem provocado um forte processo de expansão da EPT no país.<br />
Com origem na Europa, a ideologia neoliberal criticou e colocou-se como alternativa ao modelo<br />
desenvolvimentista, ainda nos anos 30. Trata-se de uma volta aos ideais liberais com muita energia,<br />
intransigência teórica e dinamismo. Seu objetivo no plano econômico é o de alcançar maiores índices<br />
de crescimento e maiores taxas de lucro mantendo a inflação sob controle e tendo no combate aos<br />
sindicatos e abolição dos direitos trabalhistas uma de suas receitas; no plano político propõe um estado<br />
restrito ao fornecimento do marco jurídico, garantindo o livre funcionamento do mercado, respeito dos<br />
contratos e preservação da propriedade privada.<br />
No Brasil esta ideologia firmou-se quando já estavam sistematizados no “Consenso de Washington”<br />
seus princípios e objetivos. Não apenas no plano econômico e político, mas principalmente nos<br />
aspectos sociais e culturais, a ideologia neoliberal, devidamente encaixada no processo de globalização<br />
dominou a cena política brasileira na década de 1990. Na educação os efeitos foram devastadores.<br />
Sucateamento das escolas públicas em todos os níveis, incentivos e facilidades de ampliação da rede<br />
privada, em particular no ensino superior. Foi neste contexto que a Rede Federal de EPT sofreu o<br />
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golpe do decreto 2.208 de 17/04/97 que congelou todas e quaisquer iniciativas pedagógicas e<br />
administrativas.<br />
A vitória eleitoral do presidente Lula da Silva em 2002 gerou uma grande expectativa no sentido da<br />
mudança deste quadro. A continuidade deste projeto, combinada com a crise internacional da<br />
globalização neoliberal permite o debate sobre a caracterização de um novo período político no país, a<br />
ideia de uma Revolução Democrática i e consequentemente uma nova perspectiva educacional.<br />
“Qual a educação para a sociedade deste começo de milênio, marcada pelos fenômenos da<br />
globalização da economia, da política e da cultura, e pelo discurso da pós modernidade?<br />
O que fazer com a modernidade inconclusa e com as tentativas de compreensão racional<br />
da sociedade, da economia, da política, da cultura e da educação?”(GAMBOA, 2009, p.<br />
86).<br />
Nesta década, o governo brasileiro deu inicio a transição do neoliberalismo para o modelo socialdesenvolvimentista.<br />
O Estado passou a fazer parte da solução dos problemas. Reafirmou-se a<br />
soberania nacional, reorientou-se a política internacional, formou-se uma grande reserva cambial,<br />
redirecionou-se o comércio externo e foi estabelecida uma nova dinâmica de cooperação internacional.<br />
Houve ampliação do gasto social com a inclusão de mais de um terço da população brasileira em<br />
programas de garantia de renda. Há um evidente contraste entre o Brasil da década de 1990 e este que<br />
vivemos. O papel do Estado foi reformulado para a reconstrução de um projeto de desenvolvimento<br />
econômico com distribuição de renda. A política nacional de valorização do salário mínimo é um<br />
marco neste sentido. A partir do acordo conquistado entre as centrais sindicais e o governo, foi<br />
estabelecida uma regra de longo prazo para a valorização do salário mínimo que têm impacto na<br />
redução da desigualdade, na diminuição da pobreza, dinamizando o mercado de consumo interno.<br />
Discutir o impacto positivo desta transformação na perspectiva da superação do ambiente<br />
neoliberal implica, em refletir sobre aspectos da economia brasileira e o novo papel que cabe ao<br />
movimento sindical.<br />
2. INSTITUTOS DE ENSINO TÉCNICO E PROFISSIONAL<br />
A Revolução Industrial (1760) e a Revolução Francesa (1789) modificaram a forma de produzir<br />
bens materiais e a forma de pensar e agir. Durante toda segunda metade do século XVIII e século XIX<br />
houve um deslocamento de camponeses para as cidades e nelas de trabalhadores das guildas ii para as<br />
fábricas. Diante esta mobilidade, conflitos e problemas sociais foram além da luta pela subsistência<br />
material. A disputa por concepções e direitos se fez presente em toda Europa.<br />
Segundo Saviani (1992) “A partir do advento da sociedade de classe, com o aparecimento de uma<br />
classe que não precisa trabalhar para viver, surge uma educação diferenciada. E é aí que está localizada<br />
a origem da escola”. Esta educação diferenciada está no centro de todas as disputas em torno das<br />
concepções e nas mudanças de modelo, paradigmas e legislações educacionais ao longo da história da<br />
sociedade capitalista. O capitalismo possibilitou a universalização e a socialização de crianças e<br />
adultos na escola.<br />
(...) o sistema de ensino se bifurcou entre as escolas de formação geral e as escolas<br />
profissionais. Estas, por não estarem diretamente ligadas à produção, tenderam a<br />
enfatizar as qualificações gerais (intelectuais) em detrimento da qualificação específica,<br />
ao passo que os cursos profissionalizantes, diretamente ligados à produção, enfatizaram<br />
os aspectos operacionais vinculados ao exercício de tarefas especificas (intelectuais e<br />
manuais) no processo produtivo considerado em sua particularidade. (SAVIANI, 1992<br />
pag. 11).<br />
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A sociedade industrial passou a requerer um trabalhador qualificado, ao invés do artesão<br />
generalista. Na contradição inerente a evolução do capitalismo, a fábrica moderna passou a necessitar<br />
de especialistas em manutenção, pessoas capazes de operar máquinas e equipamentos e pessoas<br />
capazes de promover modificações e desenvolver novas máquinas e equipamentos.<br />
O reflexo destas necessidades na produção ao nível da escola é o surgimento dos cursos<br />
profissionalizantes. Nesse período, enquanto a Europa vivia a ebulição pré e pós-revolucionária, o<br />
Brasil permanecia até 1822, como colônia portuguesa. Sem atravessar pelo processo de revolução<br />
industrial, nossa economia manteve a organização manufatureira do trabalho, seja nos engenhos de<br />
açúcar, seja na incipiente indústria urbana. Assim, o ensino técnico formal não se apresentava como<br />
uma necessidade imediata. A própria educação propedêutica era ainda muito insipiente, visto que no<br />
Brasil a educação ainda era tratada como assunto de poucos, voltando-se para formação clássica de<br />
filhos e filhas das camadas dirigentes.<br />
Na virada do século XIX para o século XX, o Brasil entrava para uma fase de capitalismo<br />
concorrencial, formando suas indústrias. Segundo Silva (1991) “(...) isso motivou o governo federal a<br />
criar, em quase todos os estados brasileiros, Escolas de Aprendizes Artífices, com finalidade de<br />
preparar o homem para o processo produtivo”. O exemplo do Instituto Federal de Educação, Ciência e<br />
Tecnologia do Rio Grande do Norte que passou por sete denominações em 102 anos de existência, é<br />
bastante representativo da evolução da Rede Federal. Vinculada inicialmente ao Ministério da<br />
Agricultura, Indústria e Comércio, a Escola de Aprendizes e Artífices de Natal teve como público alvo<br />
meninos de baixa renda, com idade entre 10 e 13 anos, aos quais eram ministrados curso primário, de<br />
desenho e os ofícios de marceneiro, sapateiro, funileiro, alfaiate e serralheiro. Está, pois na origem da<br />
Instituição, sua vinculação com o mundo do trabalho, sua vocação para auxiliar os governos a<br />
realizarem suas proposições desenvolvimentistas e seu modelo de escola unitária, através de cursos<br />
profissionalizantes integrados ao ensino regular.<br />
Responsável pela formação profissional de gerações a Instituição desenvolveu durante 90 anos suas<br />
atividades em Natal, inaugurando em 1994 em Mossoró, sua primeira Unidade Descentralizada de<br />
Ensino em função da presença da indústria de petróleo e gás na região oeste do estado. Sua história,<br />
coerência do projeto político pedagógico e representatividade social lhe conferem elevados níveis de<br />
aprovação e reconhecimento. A presença do IFRN em todo estado potencializa o debate de um novo<br />
modelo de desenvolvimento, geração de trabalho e renda, potencializando o desenvolvimento local e<br />
regional. Atividades como economia solidária, produção cultural, agricultura familiar, pesca oceânica<br />
e de interior, produção de energia eólica, mineração, turismo, controle e gestão ambiental estão a<br />
exigir pesquisa e formação de profissionais em nível médio e superior. Segundo o relatório de gestão<br />
de 2010 são 20.244 alunos matriculados, 814 docentes efetivos e 72 temporários, 583 técnicos<br />
administrativos e 132 trabalhadores terceirizados, números em constante crescimento. Quanto aos<br />
servidores aposentados, são 310 e mais 80 pensionistas.<br />
3. OBJETIVO DA TESE<br />
Temos um alvo fundamental a atingir: superar a natureza liberal do Estado brasileiro. Natureza que é<br />
reafirmada pelos privilégios de renda, mercantis, tributários, patronais e de propriedade, patriarcais e<br />
racistas, na ausência ou fragilidade do princípio da soberania popular, em geral avessos aos princípios<br />
republicanos mais fundamentais.<br />
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A natureza liberal do Estado brasileiro fica evidenciada no peso e influência que tem o capital<br />
financeiro, núcleo das classes dominantes brasileiras. Os bancos continuaram acumulando recordes nas<br />
taxas de lucratividade. O Banco Central continua restringindo suas decisões em função estritamente da<br />
estabilidade inflacionária. É fundamental que a mais importante instituição do sistema financeiro<br />
nacional incorpore em suas ações a preocupação com o crescimento e o emprego.<br />
No contexto da EPT, o Presidente Fernando Henrique logo após sua posse, buscou desmontar a Rede<br />
Federal. Primeiro sugeriu a transferência das instituições para estados ou municípios. Em seguida<br />
apresentou projeto de lei junto ao Congresso Nacional, o PL 1603/96. Nas duas oportunidades<br />
conseguiu desagradar estudantes, profissionais da área e parlamentares. O decreto lei 2.208/97 refletiu<br />
a forma subordinada como foi sendo conduzida nossa inserção no mundo globalizado. A resistência e<br />
as lutas contra estas iniciativas marcaram fortemente a Rede e o CEFET RN em particular.<br />
Desde o debate da transformação da Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte em CEFET, em<br />
1994, que os movimentos estudantil e sindical apresentaram resistência as mudanças anunciadas.<br />
Muita desconfiança com o novo modelo: seria CEFET com C de Centro, voltado à formação do<br />
técnico cidadão numa perspectiva de escola unitária ou com S de Serviço, focado em cursos<br />
aligeirados, de curta duração, financiados através de convênios e na perspectiva de fortalecimento do<br />
modelo dual do sistema S?<br />
As lutas sindicais da década de 1990 foram derrotadas, contudo contribuíram no acumulo de forças e<br />
a construção de um novo período político no país. Na secção sindical de Natal do SINASEFE, a<br />
mobilização em torno da derrubada do decreto lei 2.208/97 foi de grande intensidade. Abaixo assinado<br />
com mais de 40 mil adesões foi entregue na Assembleia Legislativa após a maior passeata de nossa<br />
história, saindo da Instituição praticamente todos os estudantes, professores e técnicos administrativos.<br />
Contudo o decreto prevaleceu.<br />
O novo governo, identificado com as lutas históricas das classes trabalhadoras e a trajetória pessoal<br />
do presidente Lula, deu-lhe a condição de representar socialmente os anseios da maioria da população<br />
do país. Assim a mudança no ambiente da Rede Federal começou a materializar-se com a publicação<br />
do Decreto 5.154, de 23/07/2004, revogando o 2.208/97 e dando início a expansão da EPT iii .<br />
Vivemos hoje um novo período político marcado por dupla possibilidade: a plena superação do<br />
neoliberalismo e a construção de nova hegemonia no Brasil. Esta superação do neoliberalismo é<br />
condição imprescindível para o fortalecimento do movimento sindical e das conquistas<br />
econômicas, políticas e sociais da classe trabalhadora.<br />
3.1. O debate econômico:<br />
A transição do neoliberalismo para o social-desenvolvimentismo permitiu que o Brasil pudesse<br />
iniciar a retomada de uma sociedade salarial. Trata-se de um quadro social fortemente impulsionado<br />
pelo avanço do emprego assalariado, especialmente com carteira assinada. O novo ciclo de<br />
desenvolvimento nacional permitiu a ampliação generalizada do consumo popular, sobretudo no terço<br />
de menor renda.<br />
No cenário internacional, a 3ª Revolução Industrial consolida a microeletrônica na produção,<br />
possibilita novas formas de comunicação e informação, desenvolvendo novas formas de organização<br />
do trabalho e da produção. Se no fordismo ocorrera a transferência de determinadas funções manuais<br />
para as máquinas, nessa nova etapa ocorre a transferência de determinadas operações intelectuais para<br />
as máquinas. Estes acontecimentos provocam um forte debate teórico e prático sobre a elevação dos<br />
níveis de qualificação profissional. E é neste cenário que a expansão da Rede Federal se apresenta<br />
como iniciativa positiva.<br />
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O novo modelo institucional, com investimentos em edificações, equipamentos, concursos públicos,<br />
num processo irreversível de criação de novos cursos e ampliação de matriculas nas diversas<br />
modalidades de ensino, caracteriza o rompimento com o passado recente de influencia neoliberal. Esta<br />
realidade cobra do Estado brasileiro uma escolha que, a nosso ver, deva ser pela universalização de<br />
uma escola unitária responsável não apenas pela formação do técnico, do profissional, mas a formação<br />
do cidadão.<br />
3.2. O debate político:<br />
Ao movimento sindical cabe um novo e qualificado debate político a cerca de suas tarefas, sua<br />
independência diante o Estado e os governos. Relacionar a luta econômica com a busca de igualdade<br />
social e política. O feminismo, a igualdade étnica e a livre orientação sexual não são apêndices do<br />
programa, mas partes constitutivas dele. Os trabalhadores em educação precisam refletir sobre a<br />
formação de jovens, aptos a integrarem-se na luta pela construção de uma sociedade para além do<br />
neoliberalismo.<br />
No Brasil, a conquista do princípio mínimo de soberania popular através da universalização do<br />
direito de voto só foi alcançada em 1988. Nossa primeira democracia de massas, de 1946 a 1964, não<br />
permitia o direito de voto da maioria nem o pluralismo político pleno. A ditadura militar conduziu o<br />
grande ciclo da “modernização conservadora” durante os 21 anos seguintes. O neoliberalismo<br />
pretendeu uma nova refundação conservadora do Estado, argumentando contra a sua falência<br />
burocrática, corporativa e nacional.<br />
A economia brasileira, desde o período colonial, desenvolveu-se a partir de um princípio predador<br />
da natureza. Até 1990, não houve no Brasil um padrão mínimo de regulação ambiental. Na última<br />
década, a diminuição do desmatamento da Amazônia, o amadurecimento de padrões baseados em<br />
energia renovável, a adoção do Tratado de Kyoto, o reconhecimento e fortalecimento da agricultura<br />
familiar significaram uma inflexão positiva para o país. Hoje, a retomada do crescimento da economia<br />
trás novas tensões na definição das matrizes energéticas, no debate em torno do código florestal, no<br />
processo de mobilidade urbana e na perspectiva de melhoria da qualidade vida.<br />
Superar estas tensões implica entender a natureza liberal do Estado brasileiro. Esta natureza se<br />
evidencia através do peso e influência que tem o capital financeiro nas relações entre capitalistas e as<br />
classes trabalhadoras. Outras evidências estão no peso do agronegócio, na privatização do processo de<br />
formação da opinião pública e na inaceitável mercantilização da educação e da saúde. Contudo a maior<br />
evidência da matriz liberal do Estado brasileiro está em seu elitismo.<br />
“Em nossas discussões tenho enfatizado a força - tanto intelectual quanto política – do<br />
neoliberalismo. (...) Se olharmos as perspectivas que poderiam emergir além do<br />
neoliberalismo vigente, como deveríamos orientar-nos na luta contra o neoliberalismo,<br />
não devemos esquecer três lições básicas, dadas pelo próprio neoliberalismo: não ter<br />
nenhum medo de estar absolutamente contra a corrente política do nosso tempo. Não<br />
transigir em ideias, não aceitar nenhuma diluição de princípios e não aceitar nenhuma<br />
instituição estabelecida como imutável”. (ANDERSON, 1992, p.94).<br />
3.3. O ambiente a ser superado:<br />
Mesmo após as conquistas democráticas da constituição de 1988, o Estado brasileiro continua a<br />
funcionar com base no princípio da democracia representativa alicerçada em fortes distorções de<br />
representação. A democracia participativa ainda é inicial e em pleno século XXI ainda se pratica<br />
trabalho escravo e mulheres, negros, indígenas, crianças e idosos continuam a sofrer discriminação.<br />
Esse é o ambiente a ser superado. A continuidade da revolução democrática e a constituição de um<br />
novo Estado precisarão do aprofundamento da democracia, da solidariedade e do pluralismo.<br />
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Um novo Estado que reafirme a soberania nacional, os direitos dos trabalhadores, das mulheres, das<br />
raças e etnias e da comunidade LGBT.<br />
Um novo Estado que apresente uma política afirmativa para a EPT no país, olhando para o<br />
desenvolvimento de suas potencialidades. O Brasil deve viver pelos próximos anos uma situação<br />
demográfica que precisará ampliar a proteção social sobre a imensa massa juvenil, reduzindo a entrada<br />
de jovens no mercado de trabalho antes de concluir sua formação acadêmica ou técnica científica. A<br />
emancipação de jovens é a sua não dependência do trabalho para fins de sobrevivência. O Estado deve<br />
assumir, assim, a proteção da juventude diante da demanda pela exploração do trabalho juvenil.<br />
Um novo Estado que aplique as novas tecnologias olhando o desenvolvimento humano e sua relação<br />
com o meio ambiente. Aonde a agricultura e a produção de alimentos se associem a vida humana no<br />
campo, nas pequenas e médias cidades. Aonde a política industrial assegure convivência com a<br />
dignidade de morar, locomover-se e ter acesso à saúde, educação, lazer e cultura pela população.<br />
Um novo Estado que, superando as amarras neoliberais, insira o Brasil de forma solidaria no novo<br />
ambiente internacional. Em 2011, movimentos sociais e populares radicalizados levaram milhares de<br />
pessoas às ruas que não voltam às suas casas sem que alcancem o que desejam. As redes sociais<br />
assumem papel destacado nas mobilizações que unem classe média, jovens empobrecidos,<br />
desempregados, estudantes, mulheres, trabalhadores e intelectualidade. Estas mobilizações partem do<br />
enfrentamento local e vão até o centro político dos governos.<br />
A revolução democrática do mundo árabe que teve início na Tunísia e no Egito é uma expressão<br />
direta da crise econômica de 2008. Os EUA vivem enorme disputa entre o partido democrata do<br />
presidente Obama e a maioria republicana no Congresso prolongando a crise econômica que também<br />
atinge a Europa e ameaça a economia do capitalismo central de recessão. As democracias europeias<br />
estão fortemente ameaçadas pela ânsia do capital em busca da sobrevivência do sistema. Os novos<br />
primeiros-ministros da Itália e da Grécia são oriundos do Banco Goldman Sachs. Não há mais<br />
intermediários, a gestão dos governos nacionais é direta dos funcionários do mercado financeiro.<br />
O processo de Revolução Democrática no Brasil terá que dialogar com todas estas experiências, em<br />
particular com as que ocorrem na América Latina, Espanha e Portugal valorizando o nosso imenso<br />
mercado interno e as relações multilaterais, em especial no MERCOSUL e no BRICS.<br />
4. A CRISE NEOLIBERAL E A EDUCAÇÃO<br />
Numa sociedade pautada pela economia neoliberal, a educação não se constitui exceção, ao<br />
contrário. A década de noventa foi particularmente neoliberal para a educação brasileira. No âmbito<br />
das Instituições da Rede Federal e no IFRN em particular, o período foi marcado por muitas mudanças<br />
e contradições. A tradição institucional se modificou. A forte expressão local e nacional na formação<br />
de técnicos de nível médio, no desenvolvimento de esporte e na formação de grupos culturais<br />
exemplares na antiga ETFRN sofreu um lento e continuo esvaziamento. Enquanto o mundo do<br />
trabalho informatizava-se e buscava novas formas de organização, visando superar o modelo de<br />
organização da produção fordista, a nossa educação mantinha-se voltada para desenvolver<br />
competências especificas, visando formar especialistas para o mercado.<br />
O Brasil demorou muito para assimilar, mesmo de forma incompleta, o ideário de generalização do<br />
acesso à escola. Por muito tempo, permaneceu como um país em que a educação era assunto de<br />
poucos. Apesar de a sociedade brasileira ter se desenvolvido sob a hegemonia conservadora, os<br />
projetos educacionais até elaboração da constituição de 1988 desempenharam um papel integrador. O<br />
regime militar deu inicio a privatização do ensino superior, a partir de 1968. Com a Lei 5692, de 1971,<br />
47
que subordinava explicitamente a educação às necessidades econômicas, a ditadura rompe com a<br />
tradição clássica, que vê a educação como um direito subjetivo. Esta reforma proponha criar uma<br />
escola para ser cursada pelos que precisam entrar precocemente no mercado de trabalho. No período, a<br />
sociedade brasileira demonstrou significativa capacidade de resistência, de modo que, no dia a dia da<br />
escola, a nova orientação não foi aplicada. “Pelo menos, não tanto quanto pretendia o regime. Por isso,<br />
sucederam-se depois várias reformas da reforma”. (FRIGOTTO, 2003, p. 74)<br />
A fragmentação, descontinuidade e privatizações produzidas neste ambiente precisam ser<br />
enfrentadas num processo de revolução democrática que associe mudanças profundas na educação<br />
com o fortalecimento da agricultura familiar, que dê a industrialização uma perspectiva não predatória,<br />
que incorpore princípios de uma reforma urbana que devolva aos homens e as mulheres dignidade em<br />
morar, locomover-se e cuidar de si e das gerações futuras.<br />
Em discussões da globalização em nível político, a questão predominante é a do estadonação.<br />
Ele acabou de vez, ou será que ainda tem um papel vital a desempenhar?<br />
(JAMENSON, 2002, p.18).<br />
Esta é uma questão chave para a discussão que nos propomos. O Brasil demonstrou independência<br />
política, econômica e cultural no debate sobre a formação de blocos econômicos. O fortalecimento do<br />
MERCOSUL e o consequente esvaziamento da ALCA - Área de Livre Comércio das Américas -<br />
posicionaram positivamente nossas relações internacionais. Desde a campanha eleitoral de 2002 até<br />
hoje, o fortalecimento do Brasil no cenário internacional tem se dado a partir de seu papel como nação<br />
independente e solidaria. A crise econômica de 2008 colocou em xeque a continuidade do programa<br />
neoliberal a partir da maciça intervenção estatal para salvar grandes bancos nos EUA e Europa. Gerou<br />
ainda redução do poder dos EUA diante a economia global, possibilitando a ascensão de novas<br />
articulações como o G20 e o BRICS. Abriu-se assim, uma fissura na hegemonia do pensamento único.<br />
No Brasil as iniciativas para o enfrentamento desta crise, deram origem a um conjunto de fatores<br />
anti neoliberais. Entre elas o crescimento quantitativo e qualitativo do sistema financeiro público com<br />
a redução da autonomia do BC. O aumento do salário mínimo em plena crise, a sustentação e mesmo<br />
ampliação dos programas sociais, como Bolsa Família e, a nosso ver, a ampliação da expansão da EPT<br />
são indicadores positivos na perspectiva de superação do ambiente neoliberal no Brasil.<br />
Apesar da continuidade da crise econômica de 2008 e a possibilidade de recessão nos EUA e<br />
Europa, a economia brasileira será empurrada nos próximos anos pelo pré-sal, pela crescente classe<br />
média e seu potencial de consumo, pelo aumento da produção de energias renováveis e pelas imensas<br />
possibilidades de produção de alimentos. O gigantesco mercado interno brasileiro tem induzido a<br />
geração de empregos e os investimentos de capitalistas nacionais e internacionais.<br />
5. NOSSA PROPOSTA<br />
Desta forma a demanda para a formação de mão de obra qualificada e, portanto a urgência da<br />
expansão da EPT em particular, está na ordem do dia. Não há retorno para os investimentos em<br />
curso na EPT. Dar prosseguimento a expansão é nesta conjuntura a melhor escolha no sentido<br />
de enfrentar a crise econômica através de novos investimentos que venham a qualificar<br />
habilidades para o trabalho, dinamizando economias locais já potencializadas pelas construções<br />
dos diversos campi ao lado de outras obras estruturantes. Ao capital público, investido<br />
diretamente, soma-se incentivos e oportunidades para as empresas privadas que giram no<br />
entorno deste processo de instalação dos Institutos Federais.<br />
48
A afirmação da positividade da constituição dos Institutos Federais, não nega neste contexto, outras<br />
disputas em curso na educação brasileira. A esta positividade, serão necessárias outras iniciativas<br />
como o fortalecimento da Universidade Aberta do Brasil; a ampliação dos Centros Profissionalizantes<br />
pelos estados e municípios e uma redefinição de metodologias e objetivos pelo governo federal quanto<br />
ao PRONATEC (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego). Pensado como<br />
ferramenta para melhorar o ensino médio, com a formação do aluno em cursos profissionalizantes<br />
integrados ao ensino regular, o programa sofre pressões privatistas no sentido do fortalecimento da<br />
escola dual.<br />
Esse é um debate que o movimento sindical e o SINASEFE em particular, precisam abraçar em toda<br />
a sua complexidade. A Conferência Nacional de Educação - CONAE, produziu as diretrizes do Plano<br />
Nacional de Educação – PNE e que deverá estabelecer compromissos e metas para a próxima década.<br />
Em maio de 2012 será realizada a I Conferencia Nacional de Emprego e Trabalho Decente, pautando a<br />
geração de mais e melhores empregos, a erradicação do trabalho escravo e a eliminação do trabalho<br />
infantil.<br />
A conclusão destes debates e uma nova e efetiva relação entre educação e trabalho poderão<br />
associar-se a positividade da constituição dos Institutos Federias na superação do ambiente<br />
neoliberal na educação brasileira.<br />
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
Ainda que seja difícil prever o desfecho das transformações em curso na cena mundial, é evidente<br />
que um mundo distinto está surgindo, mais democrático, multilateral e multipolar. Como expressão<br />
política de um período de globalização financeira, o neoliberalismo vive hoje um impasse. Há, de um<br />
lado, uma enorme dimensão econômica da crise e por outro, uma evidente dimensão política. Os EUA<br />
não mais lideram a cena mundial e o dólar perde peso como padrão monetário. A crise de perspectivas<br />
da social democracia europeia é resultado da opção de integração hegemonicamente liberal. Diante<br />
estas crises, cresce o poder geopolítico do Brasil, da Rússia, da Índia, da China e da África do Sul,<br />
denominados BRICS.<br />
Ao longo dos anos, além da intervenção militar e da guerra, o imperialismo provocou aumento do<br />
aquecimento global e das desigualdades. Os movimentos sociais resistem às barbáries capitalistas<br />
desde a guerra do Vietnam na década de 60. A derrubada das ditaduras militares na América Latina, as<br />
vitórias eleitorais e a construção do Fórum Social Mundial, a partir das mobilizações em Seattle (1999)<br />
marcaram fortes disputas com o neoliberalismo. Somadas as manifestações desde dezembro passado<br />
na Tunísia passando pelos estudantes chilenos e jovens londrinos de Agosto até o Fórum Social<br />
temático de Porto Alegre em janeiro de 2012, já passam de milhões os manifestantes pelo fim do<br />
neoliberalismo.<br />
Assim, o movimento sindical brasileiro, precisa aprofundar seu dialogo com a juventude e a nova<br />
classe média formadora de opinião e detentora de enorme força social e econômica. A expansão da<br />
EPT em plena crise de 2008 é um elemento que o SINASEFE precisa compreender visando seu<br />
fortalecimento. É fato que em cada recanto do país as atenções para as novas Instituições, seus novos<br />
campi e concursos são muito fortes. Nas reuniões dos colegiados territoriais do Programa Territórios<br />
da Cidadania, nos fóruns das associações dos municípios, na imprensa, nas redes sociais e na<br />
motivação de jovens e seus familiares. A perspectiva de ingresso na Instituição seja como estudante,<br />
servidor concursado ou mesmo como trabalhador terceirizado constitui-se fator de autoestima, orgulho<br />
e sucesso profissional.<br />
49
Numa visão estratégica, o fortalecimento da Rede Federal de EPT, através de uma maior amplitude<br />
na oferta de vagas, qualificação permanente de docentes e técnicos administrativos e da boa qualidade<br />
do ensino, pesquisa e extensão, irá se constituir numa iniciativa positiva na perspectiva de superação<br />
do ambiente neoliberal na educação brasileira. A relação positiva dos campi com a comunidade onde<br />
estão situados potencializa a presença de mestres e doutores em contato com estudantes, representantes<br />
do poder local, das empresas e da sociedade civil, particularmente nos campi afastados das capitais.<br />
Estes profissionais contribuem na formação dos futuros professores através das respectivas<br />
licenciaturas auxiliando a rede estadual e aos municípios a melhoria das condições do ensino médio e<br />
fundamental.<br />
No âmbito da economia, os novos cursos técnicos e tecnológicos estabelecem um dialogo inédito<br />
entre o saber científico, a pesquisa e a extensão com a cultura local, seu empreendedorismo, suas<br />
reservas naturais e potenciais econômicos. Educação Profissional e Tecnológica de qualidade e com<br />
compromisso social induz desenvolvimento, constrói cidadania e sinaliza positivamente para a<br />
sociedade lutar pelos seus direitos. Mantendo sua organização de escola unitária através da educação<br />
propedêutica e cientifica integrada a formação profissional sob um mesmo projeto político pedagógico<br />
os Institutos Federais, espalhados em 404 campi iv se constituem num gigantesco instrumento de<br />
disputa de hegemonia.<br />
Para acompanhar a dinâmica institucional, desenvolver lutas sociais e fortalecer a categoria, o<br />
SINASEFE precisa estar atento e com organicidade em cada recanto do país. Neste sentido<br />
acredito ser o sindicato de base em cada Instituto a melhor forma de potencializar nossa<br />
organização. Nos estados em que só temos um Instituto, a constituição de um único sindicato<br />
estadual. Nos estados em que há mais de um Instituto, acredito que o debate deva ser entre um único<br />
sindicato estadual ou sindicato por Instituto. De toda forma, nossa organização nacional deve ser<br />
redefinida, a luz desta nova realidade da rede.<br />
i Visa transformar o Estado, a partir de fundamentos distintos do paradigma neoliberal. Trata-se de um<br />
processo de refundação institucional, com incorporação de valores do feminismo na superação das<br />
dimensões patriarcais do liberalismo. A Revolução Democrática retoma conceitos de Gramsci e da luta<br />
permanente pela conquista da hegemonia. Trata-se de um conjunto de processos que considera o acúmulo<br />
das vitórias, o sentido democrático e a natureza do bloco histórico, tendo a classe trabalhadora como eixo e<br />
seu objetivo é constituir uma dinâmica favorável à transição socialista.<br />
ii As guildas, corporações artesanais ou corporações de oficio, eram associações de artesãos de um mesmo<br />
ramo, isto é, pessoas que desenvolviam a mesma atividade profissional. Ocorreram na Europa, onde cada<br />
cidade tinha sua própria corporação.<br />
iii No RN esta expansão teve início com as unidades de Ipanguaçu, Currais Novos e Zona Norte de Natal<br />
(2006) ampliando-se na segunda fase a partir de 2009 novos campi em Caicó, Pau dos Ferros, Apodi,<br />
Macau, João Câmara, Santa Cruz, Cidade Alta (Natal), Nova Cruz, Parnamirim, São Gonçalo do Amarante<br />
e de Educação à Distância.<br />
iv Na 3ª etapa da expansão, foram anunciados novos 208 campi de Institutos Federais, no RN os campi de<br />
São Paulo do Potengi, Canguaretama e Ceará Mirim.<br />
7. REFERENCIAS<br />
ANDERSON, Perry. Além do neoliberalismo. In SADER, Emir e GENTIL, Pablo. Pós-neoliberalismo<br />
(org.). As políticas sociais no Brasil. São Paulo: Ed. Paz e Terra, 1995.<br />
FRIGOTTO, Gaudêncio. Educação e a crise do capitalismo real. 5ª Edição. São Paulo: Cortez, 2003.<br />
50
GAMBOA, Silvio Sanches. A globalização e os desafios da educação no limiar do novo século. In<br />
LOMBARDI, José Claudinei (org.). Globalização, pós modernidade e educação. 3ª Edição. São Paulo:<br />
Autores Associados, 2009.<br />
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO CIENCIA E TECNOLOGIA DO RIO GRANDE DO<br />
NORTE. In Relatório de gestão 2010. Março de 2011. Disponível em<br />
http://portal.ifrn.edu.br/institucional/relatorios_gestao Acesso em 30/02/2012.<br />
JAMERSON, Fredric. A cultura do dinheiro: ensaios sobre a globalização. 3ª Edição. São Paulo: Editora<br />
Vozes Ltda, 2002.<br />
SAVIANI, Dermeval. O trabalho como princípio educativo frente as novas tecnologias. Mimeo 1992.<br />
SILVA, Maria das Graças Baracho. Da arte do ofício à especialização: um breve histórico sobre a função<br />
social do ensino técnico industrial. Dissertação. Natal-RN: Universidade Federal do Rio Grande do Norte,<br />
1991.<br />
www.csd.org.br – site consultado em 30 de fevereiro de 2012.<br />
51
TESE 09<br />
O PRIMEIRO ANO JÁ PASSOU, O QUE MAIS PODEMOS ESPERAR DO GOVERNO DILMA EM<br />
2012?<br />
O governo Dilma é uma continuidade dos dois governos Lula, representando um terceiro<br />
mandato da chamada “Frente Popular”, capitaneada pelo PT e agora com a clara intervenção do<br />
PMDB, um dos principais responsáveis por todos os ataques aos trabalhadores (as)<br />
implementados pelo governo federal, desde o fim da Ditadura Militar.<br />
E essa continuidade se dá também por outras razões além do fato de ser uma segunda<br />
reeleição do projeto petista. Estamos diante da combinação entre a colaboração estreita entre as<br />
grandes empresas e a maior parte da representação dos movimentos sindical e popular, com o<br />
apoio da maioria dos trabalhadores (as) do nosso país. Nesse momento é aplaudida pelos bancos<br />
e multinacionais instaladas no país e conta com apoio de 71% do povo brasileiro. O crescimento<br />
econômico e o caráter desse governo que, aos olhos dos trabalhadores (as), aparece como "seu<br />
governo", reforçam ainda mais esse apoio e a expectativa de que dias melhores virão. Entretanto,<br />
com a crise mundial e com o alastramento do Tsunami econômico que vem varrendo antigas<br />
economias no velho mundo, para além dos EUA, nos fazem crer que o que estava e está ruim<br />
pode muito bem piorar. Não sendo possível outra coisa, Dilma e sua equipe continuam<br />
organizando seus pacotes buscando dar continuidade ao seu projeto populista e agora de país<br />
promissor do bloco dos emergentes, ampliando ainda mais o que já foi feito para retirada de<br />
direitos e conquistas históricas que ainda restavam desde constituição de 1988. Quanto mais a<br />
economia brasileira vier a ser afetada pela crise mundial, maiores serão os ataques, mesmo que<br />
de maneira “suave”, em doses homeopáticas, como já vem ocorrendo. Talvez não tenhamos<br />
grandes reformas para combater, mas com certeza teremos projetos pretensamente menos<br />
ofensivos sendo aprovados e implementados através dos “leões de chácara” de Dilma nos<br />
Ministérios do Planejamento, Fazenda e Banco Central.<br />
Dilma já deu mostras do que é capaz: termina seu primeiro ano de governo acumulando<br />
alguns recordes nos ataques aos trabalhadores (as) e o favorecimento ao capital e às grandes<br />
empresas. Já nos primeiros dias Dilma aplicou todo o receituário neoliberal para supostamente<br />
“combater a inflação”. Fez um corte de R$ 50 bilhões de reais no orçamento federal, o maior de<br />
toda a história. Nem FHC tinha conseguido fazer isso, e o maior corte dos governos Lula tinha sido<br />
de R$ 21,8 bilhões, em 2010. Esses cortes foram sentidos nos gastos sociais, com redução de 3,1<br />
bilhões na educação e R$ 5 bilhões no programa de habitação “Minha casa Minha Vida”.<br />
Logo depois impôs um arrocho no salário mínimo. Pela primeira vez, desde 1997, o mínimo<br />
foi reajustado abaixo da inflação (-1,3%). Ou seja, uma postura pior do que os governos FHC e os<br />
dois mandatos de Lula, e fez isso exatamente quando os deputados tinham reajustado os seus<br />
salários em 62% e a própria Dilma teve um reajuste de 132% no seu salário. Além da Presidente<br />
Dilma continuar impondo o comprometimento de toda a economia brasileira para o pagamento da<br />
dívida pública, o que acaba deixando para trás aquele discurso do seu antecessor de reduzir os<br />
gastos com o pagamento dos encargos da dívida. O que não passava de uma falácia, comprovada<br />
pelas ações da sua sucessora e pupila. Nada menos que 49,15% de todo o orçamento da união<br />
em 2011 foi destinado ao pagamento dos juros e amortização da dívida, segundo a Auditoria<br />
Cidadã da Dívida. O orçamento para 2012 repete a mesma situação, com o governo prevendo um<br />
gasto de R$ 1,06 trilhão, ou seja, 48% de todo o orçamento, para pagamento aos banqueiros.<br />
Gastará muito mais com a dívida pública do que com o funcionalismo (R$ 203 bilhões),<br />
investimentos (R$ 165 bi) e Previdência Social (R$ 308 bi), todos juntos.<br />
Durante as últimas eleições presidenciais, mais precisamente no segundo turno, Dilma<br />
denunciou largamente que Serra era o candidato das privatizações de FHC e que, portanto, não<br />
deveria ser eleito. O que realmente era uma afirmativa calcada na verdade, entretanto hoje<br />
estamos verificando a continuidade e ampliação das privatizações no Brasil. Sob a<br />
52
excepcionalidade da Copa Fifa e das Olimpíadas, Dilma já iniciou a entrega dos aeroportos ao<br />
capital privado, sabe-se lá com a quantidade de recursos públicos que ainda serão aplicados nas<br />
obras destes mesmos aeroportos. Os argumentos utilizados são os mesmos utilizados pelo<br />
governo FHC para privatizar as estatais: o setor público nestas áreas tem sido ineficiente e<br />
incompetente, e para que tais eventos possam ser um sucesso será preciso o “apoio” e o<br />
dinamismo da iniciativa privada.<br />
Como se não bastasse, o governo privatizou a Empresa dos Correios e Telégrafos, por meio<br />
da criação da Correios S. A., através da Medida Provisória 532. A medida ameaça o chamado<br />
monopólio postal, ou seja, a exclusividade na prestação de serviços de postagem e entrega de<br />
cartas, telegramas e correspondências em malotes. Também põe fim à universalização dos<br />
serviços postais.<br />
Dilma privatizou até a área da saúde, fazendo aprovar no Congresso Nacional um Projeto<br />
de Lei nº 1749/2011 que entrega os Hospitais Universitários à iniciativa privada, desmembrando-os<br />
da estrutura administrativa das Universidades Federais e possibilitando o repasse dessas<br />
Instituições de Saúde a empresas gestoras nesta área.<br />
Ou seja, os Eikes da vida agradecem todo este reconhecimento de competência para<br />
centralizar ainda mais a riqueza em nosso país.<br />
O ano de 2011 também foi marcado por notórios escândalos de corrupção que atingiram em<br />
cheio o governo e derrubaram seis ministros ao longo do ano. Mais um recorde da pupila de Lula.<br />
A lista começou com Antônio Palocci, ministro da Casa Civil da Presidência, e avançou para<br />
Alfredo Nascimento, dos Transportes, Wagner Rossi, da agricultura, Pedro Novais, do Turismo,<br />
Orlando Silva, do esporte, e Carlos Lupi, do Trabalho. Agora, com o início das chuvas arrasadoras<br />
de verão, começou a “fritação” do Ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, em função<br />
das denúncias de favorecimento político na distribuição das verbas de sua pasta. Como se isso<br />
não fosse uma prática de todo o governo. E novamente vamos conviver com um governo corrupto,<br />
mas sob a defesa ética de uma Presidente que não sabe e não participa de nada disso. Será<br />
possível?<br />
Os escândalos que derrubaram os ministros explicitaram, mais uma vez, as relações<br />
espúrias entre o governo e a inciativa privada, levando ao velho discurso da necessidade das<br />
Reformas e organização e eficiência nos setores públicos. Empresários, banqueiros e<br />
latifundiários, financiadores das campanhas e dos grandes partidos que estão no poder, em troca<br />
continuam como sempre abocanhando contratos e a aprovação de leis no Congresso, local dos<br />
seus legítimos representantes.<br />
A mídia burguesa apressou-se em anunciar que o governo Dilma estaria fazendo uma<br />
“faxina ética”. Porém, se nos detivermos com mais atenção neste processo, veremos que não<br />
existe "faxina" nenhuma, existe uma política de preservação de Dilma, assim como nos governos<br />
Lula, que se repete a cada escândalo. Quando se descobre o roubo de um de seus ministros,<br />
Dilma tenta defendê-lo na medida do possível, mas logo se afasta quando percebe que pode sair<br />
desgastada do escândalo público, forçando automaticamente a saída do ministro “enrolado”.<br />
No governo Dilma, a corrupção terá uma forte base nos investimentos que estão sendo feitos<br />
para a preparação da Copa e da Olimpíada. Os estádios, assim como todas as obras, estão sendo<br />
construídos com base em uma nova legislação imposta pelo governo federal, que impede que os<br />
orçamentos sejam controlados publicamente. Se tais gastos fossem públicos já haveria a<br />
corrupção de sempre, imaginem com um negócio de cerca de 20 bilhões de reais sendo construído<br />
dessa maneira. Todos nós podemos imaginar como tudo acabará.<br />
NOVOS ATAQUES AOS TRABALHADORES ESTÃO SENDO PREPARADOS PARA<br />
ATRAVESSAR MAIS UMA ETAPA DA CRISE INTERNACIONAL<br />
Apesar da crise mundial, o Brasil ainda goza neste momento de um crescimento da sua<br />
economia. As grandes multinacionais apostam no país como plataforma de exportações de<br />
matérias primas para todo o mundo e de automóveis e eletrodomésticos para a América Latina.<br />
53
Os planos de investimentos dessas empresas seguem sendo aplicados no país, que tem<br />
uma mão de obra barata e um governo completamente alinhado às multinacionais. Crescimento<br />
econômico e superexploração dos trabalhadores (as) caminham juntos. Os lucros obtidos aqui são<br />
importantes para compensar parcialmente a crise nos países imperialistas. Além disso, a<br />
perspectiva da exploração do petróleo com o pré-sal e as obras para a Copa e Olimpíada são<br />
elementos a mais para manter o crescimento.<br />
Entretanto, tais questões não impediram a desaceleração da nossa economia, fazendo cair<br />
um crescimento de 7,5% em 2010 para algo próximo a 3% em 2011. Essa desaceleração deve<br />
seguir em 2012, não estando claro quando e aonde tudo isso irá nos levar e se virá ou não a<br />
ocorrer uma nova recessão no país, fruto da crise internacional em curso. E esta desaceleração já<br />
é um reflexo das consequências dessa crise mundial.<br />
Dilma e sua base de sustentação já estão preocupados, e por isso repetem preventivamente<br />
o receituário de Lula para enfrentar a crise, como em 2008, quando mesmo antes de a economia<br />
brasileira viver uma clara recessão várias medidas foram antecipadas. A taxa de juros, que<br />
aumentou no início de seu governo, de 10,75 para 12%, passou a ser reduzida, chegando a 11%.<br />
Repete o mesmo de seu antecessor que baixou de 13,5%, em 2008, para 8,75%, em 2009. Em<br />
todos esses casos, não se mudou o essencial da política econômica: os juros seguem sendo os<br />
maiores do planeta e o governo continua aplicando a redução de impostos para as empresas,<br />
tentando segurar o consumo em queda, como a redução do IPI para a linha branca, como já<br />
dissemos uma das reedições da política de Lula.<br />
Por outro lado, não anunciou nenhuma iniciativa real em defesa dos trabalhadores (as). Ao<br />
contrário, hoje tramitam no Congresso Nacional projetos que representam graves ataques aos<br />
direitos desses trabalhadores (as). Um exemplo é o PL 549/2009 que propõe o congelamento dos<br />
salários dos servidores públicos. Outro ataque está no Projeto de Lei 1992/2007 que visa privatizar<br />
a Previdência dos servidores. Medida que o governo só não votou ainda no ano de 2011 por uma<br />
divergência na base aliada dentro do Congresso, mas com certeza estará na ordem de prioridades<br />
para votação após o recesso parlamentar. Além do já citado projeto de privatização dos Hospitais<br />
Universitários, já votado e aprovado pelo Congresso Nacional.<br />
Não podemos nos esquecer da possibilidade do governo aplicar uma nova reforma da<br />
Previdência no caso do país sofrer com os efeitos da crise mundial. O projeto que está na mesa da<br />
Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda, desde 2010, prevê uma nova regra<br />
draconiana que estabelece que a soma do tempo de contribuição e da idade do segurado deve<br />
atingir 105 para homens e 95 para as mulheres. Na prática, a regra proposta estabelece a<br />
ampliação da idade mínima para as novas aposentadorias.<br />
O governo Dilma vai calibrar o ataque em função da realidade internacional e seus reflexos<br />
sobre a economia brasileira. Pode ser que se dê em 2012, ninguém ao certo pode saber, até<br />
porque com as eleições municipais pode ser que isso fique para além de outubro desse ano.<br />
DIANTE DOS POSSÍVEIS ATAQUES OS TRABALHADORES DEVEM BUSCAR A MAIOR<br />
UNIDADE NA LUTA POSSÍVEL<br />
Como já percebemos pelo exposto acima, não devemos alimentar ilusões quanto ao<br />
governo Dilma e precisamos estar conscientes da necessidade de dar continuidade à resistência<br />
aos ataques de caráter neoliberal que virão. Para isso a tática da unidade na ação pela base, ao<br />
nosso ver é ainda uma das tarefas prioritárias nesta conjuntura. Sabemos que nesses tempos de<br />
Frente Popular tem sido acidentada a construção desta tática entre os trabalhadores, não pelos<br />
companheiros (as) em cada local de trabalho, mas pela lógica da divisão de espaço entre aqueles<br />
(as) que procuraram demonstrar oposição ao governo Lula e agora ao governo Dilma. O<br />
sentimento comum entre os trabalhadores (as) é de que todos devem se unir para enfrentar os<br />
patrões, mas os obstáculos para esta unidade estão no nível das direções, como já dissemos<br />
antes.<br />
54
São dois aspectos que comprometem as ações de algumas dessas direções para a<br />
construção da unidade. O primeiro, mais sentido por todos nós, é o atrelamento da grande maioria<br />
das direções do movimento, em especial daquelas organizações de maior prestígio e tradição,<br />
como CUT, UNE e MST. Essas entidades continuam como base de sustentação do governo Dilma,<br />
assim como o foram durante os dois governos Lula. Essas direções relutam em construir uma<br />
jornada de luta unificada, pois não querem atacar o “seu governo”. Por muitas vezes se omitem e<br />
tentam continuar gerando ilusões, para se manterem no poder, com “negociações” estéreis com<br />
representantes governamentais, o que acaba por impedir que na maioria das vezes as lutas e,<br />
principalmente, a unidade aconteçam.<br />
O segundo aspecto, em parte decorrente do primeiro, é que entre muitas organizações e<br />
companheiros (as) combativos, desenvolve-se uma concepção, a partir da caracterização do<br />
governismo daquelas direções, de que não é possível alguma estratégia unificada e, portanto, os<br />
setores autônomos e independentes devem fazer a luta de forma isolada. O que por muitas vezes<br />
acaba nos levando à falsa ideia de que podemos arrancar algum resultado de caráter estrutural<br />
somente com as nossas forças, o que historicamente está comprovado que não é possível. E isso<br />
não é uma novidade dos governos petistas, mas uma realidade diferenciada apenas, pois antes<br />
todos estavam “do mesmo lado”.<br />
Neste sentido, é preciso fazermos um balanço menos apaixonado da nossa última greve<br />
com o objetivo de aclararmos mais a discussão para a construção das nossas próximas lutas, até<br />
porque não nos resta outra tarefa a não ser a construção do movimento e do enfrentamento contra<br />
o nosso patrão e contra o nosso verdadeiro inimigo: o capital, seja ele nacional ou internacional.<br />
Fizemos a maior greve da história do nosso sindicato em termos quantitativos e realizamos<br />
algumas atividades de peso em Brasília e nos estados, entretanto não conseguimos furar o<br />
bloqueio do governo e a falta de unidade mesmo entre aqueles setores que ousaram marchar<br />
contra um governo que acabara de ser eleito e de tomar posse. Contudo, chegamos ao final de<br />
nossa greve com um resultado muito limitado em relação a tanto esforço e tenacidade. Ficam as<br />
perguntas: o problema está em nossas fileiras? Está naqueles que fazem a “greve do pijama”? Não<br />
somos uma categoria com garra, “sangue nas veias” ou de “moral elevada”? As direções e<br />
lideranças no SINASEFE traíram a luta?<br />
Para nós nenhuma dessas respostas é a correta. Não conseguimos um resultado melhor<br />
porque não saímos em uma greve unificada de todo o serviço público federal. Também não<br />
conseguimos construir uma greve unificada da Educação federal, como alternativa à unidade mais<br />
ampla; e, por último, diante dessa realidade, não percebemos que deveríamos ter construído pelo<br />
menos uma unidade, seja para a continuidade radicalizada da greve ou para uma saída unificada<br />
das nossas fileiras. Essa última alternativa seria uma tentiva de garantir para o ano seguinte uma<br />
continuidade da vontade daquele movimento, expressa em mais de 60 dias de greve na Rede<br />
Federal de Educação Básica, Profissional e Tecnológica, para este ano de 2012.<br />
Entendemos que a luta fragmentada continuará nos servindo apenas para a retirada do<br />
foco, principalmente em momentos como os que virão com ataques aos nossos direitos e postos<br />
de trabalho. É verdade que as direções governistas não são conseqüentes em sua luta contra o<br />
governo, porém, acumulam contradições, já que não podem fugir de uma realidade: representam<br />
setores dos trabalhadores (as) na eterna luta entre estes explorados e os exploradores, que estão<br />
e que sustentam o poder. Precisam se desdobrar em militância e organização para continuar<br />
enganando as suas bases quanto ao que é preciso para realmente trazer resultados concretos<br />
nesta luta. Devemos explorar ao máximo estas contradições e, junto com um trabalho nas bases<br />
destas organizações, forçá-los o mais que possível irem para a luta e para a construção da<br />
unidade no movimento. Quanto mais setores da classe entrarem em luta declarada contra o<br />
governo e quanto mais esta luta ganhar a forma de luta unificada, estaremos mais fortes para<br />
impedir novos avanços do governo em suas intenções. Do contrário, tendemos a nos fragilizar<br />
nesta atual conjuntura.<br />
55
A CONSTRUÇÃO DA UNIDADE COMEÇA NA NOVA DIREÇÃO DE NOSSO SINDICATO<br />
Entendemos, a partir do que apresentamos até aqui, que a necessidade de construir um<br />
movimento de resistência aos ataques do governo é premente. E isso começa por garantir a<br />
construção de direções que sejam combativas e que priorizem a autonomia e a independência dos<br />
trabalhadores (as) diante de qualquer governo.<br />
Neste aspecto, o 26º CONSINASEFE tem especial importância para a nossa base e nossa<br />
organização nacional. Iremos eleger no início do ano uma nova Direção Nacional para o<br />
SINASEFE o que possibilitará direcionar o seu trabalho para aquilo que vier a ser estabelecido<br />
pelo fórum máximo do nosso Sindicato Nacional, claramente voltado na última década para uma<br />
trajetória marcada pela ruptura com o governismo.<br />
Achamos que este não é qualquer marco. Somos uma das poucas entidades dos servidores<br />
públicos federais filiados a uma Central Combativa, a CSP-CONLUTAS, que organiza os<br />
trabalhadores (as) e os movimentos populares, e rompemos desde a primeira hora com a CUT, a<br />
partir da sua cooptação pelo governo Lula.<br />
Outra questão que nos diferencia e que nos leva a protagonizar a construção do processo<br />
de unidade é a forma com que sempre apostamos e priorizamos a CNESF. Precisamos continuar a<br />
nossa construção, fortalecimento e organização daquele fórum para que possamos dar corpo à<br />
unidade no setor que atuamos mais diretamente. A criação do fórum de entidades não pode ser<br />
deixada nas mãos dos governistas, porém devemos continuar entendendo a sua construção como<br />
mais um obstáculo deixado por aqueles que querem arrefecer as lutas e a unidade entre os<br />
setores dos federais.<br />
Somos uma Entidade que além da desfiliação da CUT, como já dissemos acima, buscamos<br />
desde a primeira hora construir a unidade da classe trabalhadora para o enfrentamento a um<br />
governo e projeto que acabam de completar uma década no poder. Participamos da construção de<br />
uma nova ferramenta de luta para os trabalhadores (as), a CONLUTAS (2004 a 2008), e,<br />
posteriormente, com a nossa reafirmação no campo sindical/popular, com a filiação a CSP-<br />
CONLUTAS. Precisamos ampliar os esforços para essa construção, também, até porque se a falta<br />
de unidade entre os servidores públicos é um obstáculo bastante prejudicial para a nossa causa, a<br />
deficiência que ainda temos no SINASEFE e em vários setores quanto à unidade entre os<br />
sindicatos e movimentos sociais, nos deixa cada vez mais isolados e passíveis dos ataques dos<br />
governos que passaram e aqueles que virão.<br />
Portanto, convocamos a todos que ajudem na construção da unidade entre os servidores<br />
públicos através da CNESF e dos lutadores que pretendem impedir os avanços dos ataques do<br />
governo Dilma sob toda a Classe Trabalhadora Brasileira, a partir da filiação das Seções do<br />
SINASEFE a CSP- Conlutas.<br />
Que neste Congresso consigamos pelos menos esta unidade, garantindo compromissos da<br />
próxima direção no sentido desse fortalecimento, sem a lógica da política de gabinetes e da<br />
fragilização da luta a partir do crédito que se procura dar aos acordos e negociações que sequer<br />
estão acontecendo ou que não tem nenhuma serventia para os trabalhadores (as).<br />
1) FORTALECER A CNESF E REAFIRMAR O COMPROMISSO DO SINASEFE COM AS<br />
DELIBERAÇÕES E ENCAMINHAMENTOS DAQUELE FÓRUM;<br />
2) ESTABELECER UM PERÍODO PARA QUE AS SEÇÕES SINDICAIS DISCUTAM E<br />
DELIBEREM SOBRE A FILIAÇÃO À CSP-CONLUTAS, PROMOVENDO O DEBATE<br />
COM A PRESENÇA DA REPRESENTAÇÃO DA CENTRAL. HOUVE A DELIBERAÇÃO<br />
DA FILIAÇÃO DO SINASEFE À CENTRAL E VÁRIAS SEÇÕES AINDA NÃO FIZERAM<br />
O DEBATE SOBRE A SUA FILIAÇÃO;<br />
3) AMPLIAÇÃO DAS AÇÕES E CONSTRUÇÃO CONJUNTA COM ORGANISMOS E<br />
SETORES DOS MOVIMENTOS POPULARES E ESTUDANTIS QUE QUEIRAM FAZER<br />
56
ENFRENTAMENTO COM O GOVERNO DILMA, ATÉ MESMO DAQUELES QUE AINDA<br />
NÃO ESTEJAM ORGANIZADOS PELA CSP CONLUTAS.<br />
ASSINAM ESTA TESE: LUIZ SERGIO RIBEIRO (CPII/RJ), WILLIAM DO NASCIMENTO<br />
CARVALHO (CPII/RJ), MARCELO SAIÃO (IFRJ - PARACAMBI), MAGDA FURTADO (CPII/RJ),<br />
MARIA ELISA GUIMARÃES, ALBANO TEIXEIRA (CPII/RJ), FLAVIA MARIA DE CARVALHO<br />
(IFGO), SILVIO DE JESUS ROTTER (IFCE), FÁBIO DOS SANTOS (IFBAIANO – GUANAMBI),<br />
MARCELO COSTA (CPII/RJ), GUSTAVO SIQUEIRO (IFFLUMINENSE - CAMPOS/RJ), PAULO<br />
CESAR MARQUES/CAXINGUELE (IFFLUMINENSE – CAMPOS RJ), ADRIANO CARMELO<br />
(INES/RJ), ADRIANA OLIVEIRA (IFBA – JEQUIÉ), ALEXANDRE ELIAS (IFFLUMINENSE -<br />
MACAÉ/RJ), CLAUDICEA DURANS (IFMA – MONTE CASTELO), DANIEL ROMERO (IFBA –<br />
SALVADOR), FABIANO (IFRJ - CAXIAS), PHILIPE MURILO DE CARVALHO (IFBA – ILHÉUS),<br />
RICARDO COSTA (IFRJ - SÃO GONÇALO), ROSELI AFONSO (IFBA - JEQUIÉ), THIAGO<br />
BARRETO (IFMG - BARBACENA), ARIOVAN DA SILVA (IFMG – BARBACENA), JOSÉ DE<br />
ARAUJO PEREIRA (IFPB-CAJAZEIRAS), LUIZ VICENTE SOBRINHO (IFCE - IGUATU) E JOSÉ<br />
CARLOS SOUZA (IFPE - RECIFE).<br />
57
TESE 10<br />
A EXPANSÃO DA REDE FEDERAL DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL:<br />
aspectos econômicos e políticos e os desafios ao movimento sindical<br />
1<br />
Todos os signatários dessa tese trabalham no IF-SC<br />
58<br />
Assinam a tese:<br />
Marival Coan<br />
Luiz Alberto Azevedo<br />
Michele Conceição<br />
Marcos neves<br />
João Pacheco<br />
Mario Cesar Sedrez 1<br />
Em 2008 o governo Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2011), pela Lei n. o<br />
11.892/2008 iniciou grande mudança na Rede Federal de Educação<br />
Tecnológica, conforme reconhecido por este governo no Decreto n o 6.095, de<br />
24 de abril de 2007, com a criação da Rede Federal de Educação Profissional,<br />
Científica e Tecnológica e dos Institutos Federais de Educação Ciência e<br />
tecnologia (IFETs). O entendimento da governança atual era a de que uma<br />
nova institucionalidade estava sendo criada e a mesma estaria centrada na<br />
oferta de cursos técnicos, devendo garantir o mínimo de 50% de suas vagas,<br />
inciso I do caput do artigo 7. o da referida Lei e, no mínimo, 20% de suas vagas<br />
para atender aos cursos de licenciatura, alínea b do inciso VI do caput do<br />
mesmo artigo citado. Os restantes, 30% de suas vagas, podem ser destinadas<br />
aos cursos superiores de tecnologia, aos cursos de bacharelado e engenharia,<br />
aos cursos de pós-graduação lato sensu de aperfeiçoamento e especialização<br />
e, ainda, aos cursos de pós-graduação stricto sensu de mestrado e doutorado.<br />
Todo esse cenário se projeta, no entendimento da equipe do MEC em<br />
“Institutos Federais” (2009, p. 17), a um contexto de desenvolvimento científico<br />
e tecnológico, “associado ao desenvolvimento econômico, político e social<br />
numa perspectiva progressista”, na visão desses, “basta lembrar que o<br />
desenvolvimento tecnológico está associado ao processo de nascimento e<br />
expansão do sistema capitalista”.
A perspectiva de atuação dos institutos está, portanto, no atendimento<br />
dos arranjos produtivos locais, cuja medida governamental relaciona-se a uma<br />
distribuição de campi fundada numa dinâmica que possibilite, conforme<br />
entende o MEC em “Institutos Federais” (2009, p. 36), “ouvir e articular as<br />
demandas do território nos quais essas instituições estão inseridas, com suas<br />
possibilidades científicas e tecnológicas, tendo como foco a melhoria da<br />
qualidade de vida, a inclusão social e a construção da cidadania”, em sua<br />
compreensão, “é imprescindível”. A dinâmica instituída pela equipe ministerial<br />
com relação à implantação dos Institutos, portanto, está completamente<br />
esboçada, ou seja, sua arquitetura organizacional a ser inserida num<br />
determinado espaço da territorialidade do Estado brasileiro deve estar voltada<br />
para essa visão apresentada e justificada.<br />
A referida alteração na Educação Profissional e Tecnológica imprimiu<br />
simultaneamente a necessidade do governo intervir na vida profissional dos<br />
trabalhadores e isso foi feito pela reestruturação da carreira de Magistério de 1 o<br />
e 2 o Graus, Anexo ao Decreto n o 94.664/1987, em carreira do Magistério de<br />
Ensino Básico, Técnico e Tecnológico (EBTT), Medida Provisória n o 431/2008.<br />
Nesse sentido o governo Lula, que se intitulou “o governo dos trabalhadores”,<br />
resolveu alguns problemas administrativos por intermédio da norma legal,<br />
como: legalizou a oferta de cursos vinculados ao ensino superior pelos IFETs,<br />
estamos nos referindo aos cursos de bacharelado e engenharia, os quais já<br />
eram trabalhados pelos três tradicionais Centros Federais de Educação<br />
Tecnológica (CEFTs) de Minas Gerais, Paraná e do Rio de Janeiro, porque os<br />
tecnólogos já eram entendidos no governo José Sarney (1995-1990) como<br />
cursos pós-médios; impôs uma barreira estrutural na carreira de EBBT para<br />
evitar que os professores que não tivessem título de mestrado ou doutorado<br />
chegassem ao final da carreira, imputando no interior das autarquias um<br />
confronto direto entre professores; continuou tratando a carreira de EBTT como<br />
duas carreiras porque manteve o cargo isolado de Professor Titular do Ensino<br />
Básico, Técnico e Tecnológico como outra carreira; deslocou os professores<br />
aposentados que estavam no topo da carreira de 1 o e 2 o graus para outra<br />
região da carreira de EBTT com vistas a reduzir gastos com os professores<br />
aposentados; utilizou o artifício da reestruturação de carreira como um<br />
59
instrumento para recompor salário; e manteve a visão de uma carreira dirigida<br />
à educação com uma visão idêntica a processos produtivos, desconsiderando<br />
a natureza do tipo da atividade desenvolvida pelo professor.<br />
Está posto que o governo Lula imprimiu nova dinâmica a Educação<br />
Profissional e Tecnológica e que afeta diretamente o dia-a-dia da instituição e<br />
que exige nosso posicionamento. As ações desenvolvidas a partir do governo<br />
Lula com a Lei n o 11.892/2008 instituindo, inicialmente, 38 IFETs e definindo<br />
que em cada uma dessas autarquias deverá ser estruturado uma reitoria com<br />
sede própria, talvez, porque tenha sido definido na norma legal que estes se<br />
equiparam a universidade 2 e deveriam estar distribuídos em cada estado da<br />
federação de acordo com as suas mesorregiões socioeconômicas. No caso de<br />
Santa Catarina, por exemplo, o governo Lula instituiu dois IFETs, o IFSC que<br />
foi transformado a partir do CEFETSC e o Instituto Federal de Educação,<br />
Ciência e Tecnologia Catarinense (IFC) que se origina da integração das<br />
escolas agrotécnicas de Concórdia, Rio do Sul e Sombrio, mais os colégios<br />
agrícolas de Araquari e Camboriú, que eram vinculados à Universidade Federal<br />
de Santa Catarina (UFSC). A justificativa era a de que os IFETs iriam atender<br />
os arranjos produtivos e culturais locais.<br />
Analisando o que ocorre em santa Catarina e, por extensão, no restante<br />
dos outros estados da federação porque a política é a mesma, constata-se<br />
haver um descompasso entre o que a Lei n o 11.892/2008 apregoa e o que está<br />
sendo construído nos diversos institutos porque o MEC nega a sua própria<br />
legislação duplicando desnecessariamente infraestruturas e pulverizando<br />
recursos públicos que deveriam estar sendo aplicados na densidade da sua<br />
“educação profissional e tecnológica”. Com os IFETs o MEC está imbuído do<br />
propósito de organizar uma rede estadual em cada estado, mantida pela esfera<br />
federal, foi neste sentido que o ministério definiu as mesorregiões como uma<br />
diretriz para a irradiação de IFETs em cada estado, mediante uma estrutura de<br />
campus e campus avançado, a serem administrados por uma reitoria. Observa-<br />
se, entretanto, que o que os reitores pro tempore fizeram foi organizar reitorias<br />
2<br />
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) de acordo com o<br />
artigo 12 do Decreto n<br />
60<br />
o 5.773/2006 classifica as instituições que atuam no ensino superior em:<br />
universidades, centros universitários e faculdades, estando os IFETs inclusos na categoria “Faculdades”,<br />
portanto rebaixados porque na época em que eram CEFETs, estes eram compreendidos pelo INEP como<br />
inclusos na categoria “Centros Universitários”.
como castelos irradiadores do poder divino que, no caso do IFSC, mantêm os<br />
diretores de campus ligados a sua magnificência por um cordão umbilical que<br />
se chama orçamento, inclusive minando princípios democráticos legitimamente<br />
conquistados pela comunidade para a escolha do dirigente da autarquia, em<br />
face da megaestrutura que continua em processo de expansão sustentada em<br />
Cargos de Direção (CD) e Funções Gratificadas (FG), mantém a estrutura<br />
multicampi debaixo do manto real.<br />
A atual estrutura pesada dos IFETs, contudo, não condiz com os<br />
propósitos de sua criação, que como anteriormente dito foram criados para<br />
garantir o mínimo de 50% de suas vagas para cursos técnicos e 20% para<br />
cursos de licenciatura, sobretudo nas áreas de ciências e matemática,<br />
conforme disciplina o artigo 8 o da Lei n o 11.892/2008, tendo por foco, de acordo<br />
com Pacheco e Rezende (2009, p. 8) “a promoção da justiça social, da<br />
equidade, do desenvolvimento sustentável com vistas à inclusão social, bem<br />
como a busca de soluções técnicas e geração de novas tecnologias”, tudo isto<br />
numa sociedade de forte viés capitalista onde a busca pela “mais valia” se<br />
constitui como fundamento imperioso. 3 Estes autores ainda definem que os<br />
IFETs “devem responder, de forma ágil e eficaz, às demandas crescentes por<br />
formação profissional, por difusão de conhecimentos científicos e de suporte<br />
aos arranjos produtivos locais” (2009, p. 8), revelando o fim para o qual essa<br />
institucionalidade foi instituída ao juntar termos como formação, difusão e<br />
atendimento.<br />
Verifica-se no discurso de Pacheco e Rezende (2009) que a formação é<br />
profissional porque está dirigida ao trabalhador, constituindo-se como uma<br />
reivindicação constante por parte dos detentores do capital, portanto,<br />
direcionada aos arranjos produtivos que necessitam cada vez mais, na relação<br />
temporal, difusão de conhecimentos científicos, todavia, não relativo a uma<br />
formação educativa que possibilite a este trabalhador sua compreensão, mas<br />
sim sua utilização, mediante um processo de escolarização, a “educação<br />
3<br />
Para contrapor o discurso apresentado por Pacheco e Rezende (2009) faz-se referência à compreensão<br />
de Marx (2001), cujo autor entende que o trabalhador se torna mais pobre quanto mais riqueza ele produz,<br />
inclusive se tornando uma mercadoria que tende a baratear-se à medida que a sua produção aumenta em<br />
poder e extensão. O autor destaca que “com a valorização do mundo das coisas, aumenta em proporção<br />
direta a desvalorização do mundo dos homens” (MARX, 2001, p. 111).<br />
61
profissional e tecnológica” do MEC que está garantido na imposição da sua<br />
norma legal: 50% de vagas para cursos técnicos de nível médio. 4<br />
Constata-se que essa construção constitui-se a partir de uma ação de<br />
pessoas vinculadas ou mesmo simpatizantes do Partido dos Trabalhadores<br />
(PT) e seus aliados do capital, transcorrida no segundo mandato do governo<br />
Lula (2007-2011) e vinculado ao seu Plano de Desenvolvimento da Educação<br />
(PDE), o qual foi gestado como uma política de governo, portanto, contrária ao<br />
que se poderia entender por uma política de Estado. 5 Pacheco e Rezende<br />
(2009) vinculam a instituição dos IFETs com os princípios do PDE, como:<br />
“visão sistêmica da educação; enlace da educação com o ordenamento e o<br />
desenvolvimento territorial; aprofundamento do regime de cooperação entre os<br />
entes federados em busca da qualidade e da equidade” (p. 8), numa tentativa<br />
de patentear uma amplitude que não se realiza. Primeiro porque o PDE não se<br />
caracteriza como um plano de educação; 6 segundo porque no Brasil não se<br />
tem um “sistema nacional de educação” e sim estruturas educacionais<br />
desconexas e particularizadas; 7 e terceiro porque o regime de cooperação<br />
entre os entes federados na área educacional é praticamente nulo: de acordo<br />
com a Lei n o 9.394/1996 (LDBEN) cada estado da federação e cada município<br />
de um determinado estado tem o seu “sistema educacional” constituído por<br />
órgãos e instituições, inclusive com a possibilidade de baixar normas<br />
complementares para o seu sistema.<br />
Segundo dados do governo federal (BRASIL, 2010) a estrutura político-<br />
administrativa do Brasil é composta por 26 estados e 5.564 municípios o que<br />
representaria, pelo que está normatizado na Lei n o 9.394/1996, algo como<br />
4<br />
Esse horizonte apresentado por Pacheco e Rezende (2009) não possibilita a passagem de um contexto de<br />
mero adestramento em técnicas produtivas, ou seja, de técnicos especializados para politécnicos, de forma<br />
a assegurar “o domínio dos fundamentos das técnicas diversificadas utilizadas na produção” (SAVIANI,<br />
2007, p. 161).<br />
5<br />
Saviani (2010) compreende que a educação não é uma tarefa apenas de governo, mas sim de toda a<br />
sociedade que se faz representar pela constituição de um Estado que é, “como guardião do bem público”<br />
(p. 777), a expressão da sua forma de vida porque o vive, não é estranho a ele.<br />
6<br />
Para embasar esta afirmação, apropria-se da análise desenvolvida por Saviani (2007) sobre o PDE, cujo<br />
autor ao confrontar a estrutura deste com o Plano Nacional de Educação (PNE), conclui que o PDE “se<br />
define, antes, como um conjunto de ações que, teoricamente, se constituiriam em estratégias para a<br />
realização dos objetivos e metas previstos no PNE” (p. 9), e que o mesmo foi realizado paralelamente ao<br />
PNE e sem levar em conta o que já estava disposto neste.<br />
7<br />
Para se ter um “sistema educacional”, na avaliação de Saviani (2009), é necessário preencher três<br />
condições: “intencionalidade (sujeito-objeto), conjunto (unidade-variedade), coerência (interna-externa) –<br />
é preciso acrescentar às condições impostas à atividade sistematizadora (educação sistematizada), esta<br />
outra exigência: a formulação de uma teoria educacional” (p. 9).<br />
62
5.590 “sistemas educacionais” para promover a educação dos brasileiros,<br />
numa autêntica “torre de Babel”. É nesse contexto que Pacheco e Rezende<br />
(2009) advogam a implantação dos IFETs, a constituição de uma nova<br />
estrutura educativa que desponta em cada estado da federação como uma<br />
rede estadual com o objetivo de promover a “educação profissional e<br />
tecnológica” do MEC, porém em regime de cooperação entre os entes<br />
federados.<br />
Para gerir os processos de gestão, considerando a administração e o<br />
ensino, Pacheco e Rezende (2009) enaltecem como ponto positivo da Lei n o<br />
11.892/2008 a constituição de uma reitoria em um espaço neutro da<br />
territorialidade do estado, ou seja, sua instalação deverá ocorrer desvinculada<br />
de qualquer campus ou campus avançado. O IFSC, de acordo com as<br />
informações disponibilizadas em seu website, apresenta sua reitoria<br />
estruturada mediante cinco pró-reitorias remuneradas com o CD-2, dez<br />
diretorias remuneradas com CD-3, seis assessorias remuneradas com FG-2,<br />
oito departamentos remunerados com CD-4 e 39 coordenadorias remuneradas<br />
como FG-1, FG-2 ou FG-4, além do gabinete da reitoria composto de um CD-1<br />
e uma assessoria especial remunerada com CD-3.<br />
Quanto ao investimento relativo à remuneração de cargos e funções<br />
realizadas pelo Estado brasileiro nessas autarquias, elabora-se um recorte<br />
mediante o Decreto n. o 4.310/2002, em que o governo FHC promove uma<br />
majoração no número de CDs, instituindo novos cargos de CD-2; CD-3e CD-4.<br />
Em 2006 o governo Lula, mediante a Lei n. o 11.352, repete a medida alterando<br />
os quantitativos de CDs e FGs, assim compostos para a Rede: a) CD-3, 150<br />
cargos; b) CD-4, 297 cargos; c) FG-1, 1.057 funções; e d) FG-2, 839 funções.<br />
Ao chegar-se às vésperas da institucionalização dos IFETs, mais uma<br />
vez o governo Lula se utiliza dos mesmos procedimentos políticos do governo<br />
FHC, Lei n o 11.740, de 16 de julho de 2008, acrescendo um novo quantitativo<br />
de cargos para as autarquias da Rede: a) CD-1, 38 cargos; b) CD-2, 435<br />
cargos; c) CD-3, 255 cargos; d) CD-4, 508 cargos; e) FG-1, 920 funções; e f)<br />
FG-2, 2.139 funções. Para ter-se uma noção dos valores financeiros,<br />
apresenta-se na Tabela 1 o impacto financeiro das medidas desenvolvidas pelo<br />
governo Lula que fez a opção por organizar em cada uma dessas autarquias<br />
63
uma reitoria composta, não por profissionais remunerados de acordo com o<br />
nível de trabalho reivindicado pelo conjunto da sociedade, mas sim decorrente<br />
do cooptação de uma remuneração extra, advinda de cargos e funções,<br />
contrariando sua autointitulação como “o governo dos trabalhadores”.<br />
Tabela 1: Número de Cargos e Funções destinadas às autarquias vinculadas à<br />
Rede.<br />
CD e FG Composição Remuneração Despesa Despesa em<br />
do Cargo mensal 12 meses<br />
CD-1 78 8.889,52 693.382,56 8.320.590,72<br />
CD-2 736 7.431,09 5.469.282,24 65.631.386,88<br />
CD-3 1.360 5.833,75 7.933.900,00 95.206.800,00<br />
CD-4 3.045 4.236,41 12.899.868,45 154.798.421,40<br />
FG-1 6.117 421,01 2.575.318,17 3.090.381,04<br />
FG-2 4.251 323,87 1.376.771,37 16.521.256,44<br />
TOTAL em R$: 30.948.522,79 343.568.836,48<br />
Fonte: Decreto n o 4.310, de 23 de julho de 2002; Lei n o 11.352, de 11 de<br />
outubro de 2006; Lei n o 11.526, de 4 de outubro de 2007; e Lei n o 11.740, de<br />
16 de julho de 2008.<br />
A projeção inicial de gasto anual, de acordo com a Lei n o 11.526/2007, é<br />
de R$ 343.568.836,48 sendo destinada ao pagamento de cargos públicos nas<br />
autarquias que integravam a Rede Federal de Educação Tecnológica,<br />
contemporaneamente, Rede Federal de Educação Profissional, Científica e<br />
Tecnológica. Os governos FHC e Lula, de 1998 a 2008, de acordo com as<br />
normas legais pesquisadas, dobraram as despesas com cargos públicos. A<br />
pergunta é: O que mudou na educação “profissional e tecnológica” do MEC,<br />
após o governo Lula ter encampado a mesma medida política do governo<br />
FHC? Aumentou o número de aprovados nessas autarquias? Reduziu-se a<br />
evasão escolar? Tem-se instituído um processo educativo que transpasse a<br />
escolarização dirigida a formação de uma força de trabalho direcionada<br />
exclusivamente para o mercado? Superou-se a condição de uma formação<br />
rotulada pelo MEC como de “educação profissional e tecnológica” a reboque<br />
dos arranjos produtivos? 8<br />
8<br />
A pesquisa desenvolvida, em 2008, pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em parceria com a<br />
Confederação Nacional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CONFEA) junto ao empresariado<br />
brasileiro destaca o pensamento dos empresários sobre as universidades, compreendendo-as como pouco<br />
participantes nos processos de geração e inovação tecnológica e com dificuldades para acompanhar o<br />
ritmo da indústria, em face de não disponibilizar aos engenheiros formados uma base teórica sólida que<br />
64
Uma nova investida na ampliação de CDs e FGs para as instituições<br />
federais de ensino está em processo de gestação no Congresso Nacional,<br />
mediante proposição de Projeto de Lei 9 encaminhado pelo governo Rousseff,<br />
em 15 de agosto de 2011, que prevê a instituição de 77.178 cargos e funções,<br />
com uma projeção de gasto para 2012 de R$ 877 milhões e de R$ 1,8 bilhões<br />
para cada um dos exercícios subsequentes: 2013 e 2014. Seria esta a<br />
metodologia a ser utilizada pelo governo Rousseff para fazer funcionar a<br />
máquina pública da “educação profissional e tecnológica” do MEC?<br />
Se todo esse investimento em CDs e FGs surtiram efeito produzindo os<br />
números que o governo Lula perseguiu porque o governo Rousseff lançou o<br />
Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC)<br />
materializado na Lei n o 12.513/2011 que se configura como um<br />
reesquentamento de medidas similares já implantadas por outros governos,<br />
como o Programa de Expansão e Melhoria do Ensino Técnico (PROTEC) e o<br />
Programa de Empreendimentos Conjuntos para a Expansão da Educação<br />
Tecnológica (PROENCO) do governo Sarney. O que o governo Rousseff<br />
almeja com o PRONATEC 10 , produzir os números de certificações que o<br />
governo Lula não deu conta de produzir com os IFETs e assim responder ao<br />
pactuado com organismos multilaterais? 11<br />
O Banco Mundial (2007) entende a educação como um serviço prestado,<br />
seja este público ou privado, e “não como um direito de todos à transmissão e<br />
troca de saberes, culturas e valores” (p. 17), nesta perspectiva o organismo<br />
multilateral avalia que os professores se constituem no sujeito responsável por<br />
fazer com que este serviço oferecido aos “clientes”, os pais dos alunos, ocorra<br />
possibilite a estes inovar e criar soluções. Apresenta-se este destaque da pesquisa, por entender-se que se<br />
as universidades que se caracterizam como instituições de ponta, no que se refere à discussão científicotecnológica<br />
o que se poderia dizer dos IFETs que promovem a formação de tecnólogos?<br />
9<br />
O projeto de lei “dispõe sobre a criação de cargos efetivos, cargos de direção e funções gratificadas no<br />
âmbito do Ministério da Educação, destinados às Instituições Federais de Ensino, e dá outras<br />
providências” (BRASIL, 2012).<br />
10<br />
O MEC divulga em seu website (2012) que o PRONATEC “tem como objetivo principal expandir,<br />
interiorizar e democratizar a oferta de cursos de Educação Profissional e Tecnológica (EPT) para a<br />
população brasileira. Para tanto, prevê uma série de subprogramas, projetos e ações de assistência técnica<br />
e financeira que juntos oferecerão oito milhões de vagas a brasileiros de diferentes perfis nos próximos<br />
quatro anos”, sendo colocado como elemento inovador deste programa “a criação da Bolsa-Formação,<br />
que permitirá a oferta de vagas em cursos técnicos e de Formação Inicial e Continuada (FIC), também<br />
conhecidos como cursos de qualificação”.<br />
11<br />
A influência do Banco Mundial está destaca por Leher (2003), ao salientar que “um breve levantamento<br />
das políticas de Estado para a educação na América Latina atesta que os diversos países da região<br />
assimilaram” (p. 46) as suas diretrizes.<br />
65
e seja o mais eficiente possível. A visão sobre o propósito da educação está<br />
clara quando o Banco Mundial (2007) declara que “a afirmação da educação<br />
como um direito universal é subsumida ante a perspectiva economicista em<br />
mais de um sentido” (p. 17), cujo mote dá sustentação a declaração de<br />
representantes do governo Rousseff ao negarem a instituição da Carreira do<br />
Magistério Federal apresentado pelo ANDES, assim como a instituição dos<br />
IFETs do governo Lula, não rompendo com uma lógica de escolarização<br />
dirigida, unilateralmente, ao mercado de trabalho.<br />
OS IFET’S E A LUTA PELA DEMOCRATIZAÇÃO E AUTONOMIA NO<br />
COTIDIANO DA INSTITUIÇÃO<br />
Outro ponto a ser discutido diz respeito a aspectos de gestão e<br />
democracia dessa nova institucionalidade. O sindicato dos trabalhadores da<br />
educação básica, técnica tecnológica (SINASEFE) tem por finalidade, princípio,<br />
objetivo e compromisso lutar pela democracia. É assim que se apresenta à<br />
comunidade nos artigos 2º e 6º de seu estatuto com muita clareza. Desta<br />
premissa decorre que é compromisso de todos os seus filiados zelar e lutar<br />
para que, de fato, tal projeto se materialize na vida concretos de seus<br />
participantes.<br />
A democracia é hoje um tema central, amplamente debatido e, por<br />
vezes, até mesmo excessivamente adjetivado. Deste modo, floresce uma<br />
consciência global de valorização dos postulados básicos do método<br />
democrático, tanto para as ações de governo, como também, para outros<br />
espaços do convívio humano - mesmo sabendo que a mesma, sob as<br />
determinações do capital, se apresenta como democracia burguesa.<br />
Embora o conceito e as formas de democracia sejam polissêmicos,<br />
podemos afirmar que há uma compreensão unânime quando se fala de<br />
democracia como sinônimo de participação e representação dos membros de<br />
uma determinada comunidade.<br />
Esta é, por exemplo, a constatação de Norberto Bobbio de que nos<br />
últimos anos a exigência de uma maior democracia requer que a democracia<br />
representativa seja ladeada ou mesmo substituída pela direta. O autor também<br />
66
eclama uma reflexão acerca das possibilidades e relações da democracia<br />
direta em sociedades tão complexas como as atuais.<br />
A luta, portanto, é pela democracia direta; participação direta e decisiva<br />
dos membros da comunidade em tudo o que lhe diz respeito, na qual cada um<br />
decide diretamente os rumos de sua comunidade. Explicitando mais: cada um<br />
participa diretamente com seu voto - um cidadão, um voto. Esta não parece ser<br />
a compreensão e a prática de muitos dos atuais dirigentes dos Institutos<br />
Federais de educação ciência e Tecnologia.<br />
Para exemplificar cita-se o exemplo do que ocorreu no IF-SC por<br />
ocasião da elaboração de seu estatuto. Por mais que a sessão sindical do<br />
SINASEFE e a própria direção do Campus Florianópolis fizessem todo o<br />
esforço com vista a sensibilizar os membros da Comissão instituída pelo<br />
Conselho Superior com vista a gerir o processo da Estatuinte de modo<br />
democrático representativo, não se obteve êxito e, de fato, adotou-se uma<br />
relação de proporcionalidade entre os Campi distorcida entre o número de<br />
representantes e representados.<br />
Para ilustrar o que está sendo afirmado, acompanhem as tabelas a<br />
seguir que mostra o número dos delegados, por segmento e por campus,<br />
conforme proposta da Comissão do Estatuto IF-SC, a fim de participarem da<br />
Audiência Pública:<br />
Campus 1 delegado<br />
discente...<br />
Araranguá …representa 112<br />
estudantes<br />
Chapecó …representa 202,3<br />
estudantes<br />
Continente …representa 103,8<br />
estudantes<br />
Florianópol<br />
is<br />
Jaraguá do<br />
Sul<br />
…representa 465,3<br />
estudantes<br />
…representa 187,2<br />
estudantes<br />
Joinville …representa 226,3<br />
estudantes<br />
1 delegado dos<br />
TAs...<br />
67<br />
1 delegado docente...<br />
…representa 15 TAs …representa 18<br />
professores<br />
…representa 16,5 TAs …representa 16,5<br />
professores<br />
…representa 14 TAs …representa 15,5<br />
professores<br />
…representa 28,2 TAs …representa 40,8<br />
professores<br />
…representa 11 TAs …representa 13,7<br />
professores<br />
…representa 16,5 TAs …representa 17,5<br />
professores<br />
São José …representa 329 …representa 27,3 TAs …representa 26
estudantes professores<br />
Está explicito que o pressuposto básico da representação foi alijado.<br />
Portanto, muito mais distante ainda ficou a possibilidade de uma democracia<br />
direta.<br />
O que está em jogo, não é um interesse mesquinho de um ou outro<br />
campus ou interesses localizados, corporativos ou ainda sustentados em<br />
procedimentos menores e equivocados, mais sim a construção de uma gestão<br />
institucional transparente.<br />
Assim sendo, estamos postulando o princípio basilar da democracia,<br />
segundo o qual CADA UM VALE UM, ou seja, cada participante da<br />
comunidade deve ter o mesmo valor. Assim, além da paridade entre<br />
professores, técnicos e estudantes, também deve ser garantida a<br />
proporcionalidade interna a cada segmento.<br />
Este é um ponto de uma trama maior que está ocorrendo ou poderá<br />
ocorrer em qualquer um dos Institutos o que nos deve deixar de sobreaviso.<br />
Todo o alardeado processo de expansão da rede federal de educação<br />
tecnológica pode estar comprometido por dentro se não forem respeitados os<br />
pressupostos básicos da gestão democrática.<br />
É justamente a gestão democrática que permitirá a toda comunidade<br />
interna e externa intervir nos rumos da Instituição. Neste sentido, se um<br />
pequeno grupo toma de assalto a direção, simplesmente porque foram eleitos<br />
pela comunidade e, logo após dão as costas a mesma e praticam atos de suas<br />
próprias vontades toda e qualquer possibilidade de efetiva participação da<br />
comunidade fica obstruída.<br />
É necessário refletirmos acerca da democratização de nossas<br />
instituições escolares. A escola pública é uma instituição pertencente ao<br />
Estado, mas que é atravessada pelos conflitos da sociedade civil e pelos<br />
próprios interesses dos grupos dirigentes. No tocante a sua autonomia em<br />
relação ao Estado e a participação da comunidade em sua gestão, ambas<br />
precisam ser constantemente avaliadas.<br />
Sob certo aspecto, a autonomia da escola e a efetiva participação de<br />
sua comunidade pode se constituir em um vetor de vitalização de sua dinâmica<br />
68
interna. Especialmente em sistemas educacionais centralizados, a forte<br />
unificação e sistematização de suas partes tendem a inibir a participação dos<br />
interesses locais em cada unidade de ensino, privilegiando com isso as<br />
decisões do centro político.<br />
Um capítulo interessante da história da democratização da educação<br />
brasileira diz respeito à autonomia da Instituição. No caso dos Institutos,<br />
também a autonomia de cada um dos campi. Como proposição teórica, o tema<br />
não é novo, mas, como proposta, a data de sua inclusão na agenda de debates<br />
educacionais aconteceu mais recentemente. Tal bandeira é coetânea à outras<br />
bandeiras do movimento sindical, como, por exemplo, a luta por uma educação<br />
pública gratuita, de qualidade e com autonomia para gerir seus destinos.<br />
No debate sobre a autonomia da escola, as atenções têm se voltado<br />
para a participação de novos personagens nos processos de tomada de<br />
decisão no interior das instituições educacionais. A gestão da escola no Brasil<br />
tem obedecido a um padrão marcadamente centralizado. Em épocas não tão<br />
distantes, os professores, como “embaixadores” do Estado, pouca ou nenhuma<br />
consideração deviam aos interesses dos alunos e de suas famílias. Mais tarde,<br />
o período autoritário fez da centralização administrativa seu suporte para<br />
introduzir instrumentos modernizantes de administração dos sistemas de<br />
ensino (administração científica) e interditou uma maior participação da<br />
comunidade escolar na gestão das escolas.<br />
A luta contra o regime militar, então, levantou bem alto a bandeira da<br />
gestão democrática da escola pública. A constituição de espaços no interior<br />
das escolas para a participação democrática da comunidade nas decisões<br />
(implantação de colegiados e escolha de diretores por eleição) passou a se<br />
confundir com a contestação do padrão tecnocrático de administração legado<br />
pelo período ditatorial. Nesse momento, a autonomia da escola foi<br />
praticamente equacionada à sua independência com relação às autoridades<br />
públicas.<br />
No entanto, a noção de autonomia da escola, como independência do<br />
poder público, é um equívoco. Nada pode garantir que a predominância dos<br />
interesses dos atores locais no interior do espaço escolar irá, por si só,<br />
assegurar a democratização das decisões em seu interior, preservando a<br />
69
dimensão pública da instituição escolar. A escola não é e nem deve ser<br />
concebida como uma família abstrata. Claro está que nela há tensões e<br />
desequilíbrios entre os seus diferentes atores (governo, direções, professores e<br />
comunidade) que devem contar com espaços de mediação, dotados de<br />
densidade institucional suficiente para a formação de consensos. Tanto a<br />
sociedade civil como o Estado podem ser portadores de interesses cuja<br />
solidariedade se assenta tão somente no atendimento de demandas ordinárias.<br />
Na prática, tensões entre os interesses dos/as professores/as, os das<br />
autoridades públicas e os da comunidade (esta não raras vezes representada<br />
por seus membros mais organizados) sucedem-se rotineiramente no âmbito<br />
das escolas, como, aliás, não poderia deixar de ser em uma instituição<br />
democrática. Por isso, a questão da política é aqui fundamental.<br />
Não devemos temer disputar os espaços com quem quer que seja. Não<br />
devemos abrir mão de nossos princípios e bandeiras e lutarmos para assegurar<br />
o espaço público e autônomo da escola e superar todas as tentativas de<br />
interesses individualistas ou mesmo corporativistas.<br />
Queremos refletir acerca da necessidade da gestão<br />
democrática para garantir a transparência que se traduz na melhor aplicação<br />
dos recursos, a igualdade distributiva destes entre os campi. Isto implica<br />
também à participação de todos no planejamento, aplicação e prestação de<br />
contas dos recursos públicos destinados às instituições.<br />
A LUTA POR UMA EDUCAÇÃO COMPROMETIDA COM OS INTERESSES<br />
DA CLASSE TRABALHADORA.<br />
Postulamos uma Educação Profissional e Tecnológica<br />
compreendidacom os conceitos de omnilateralidade e de politecnia (Marx 1977,<br />
Marx e Engels, 1971, 1986, Manacorda 1991), e para além das determinações<br />
do mercado sob a lógica do capital, conforme Mészáros, 2005. Entendemos<br />
como relevante sempre colocarmos esta discussão acerca de que educação,<br />
que homem e que sociedade temos e queremos?<br />
Tampouco julgamos suficiente dizer que queremos uma educação que<br />
forme para o mundo do trabalho em oposição à educação que forma para o<br />
mercado, para a empregabilidade. Sob a materialidade e determinações do<br />
70
capital precisamos discernir muito bem o que estamos a fazer: se reforçando a<br />
lógica perversa da produção da mais-valia para poucos, ou construindo a<br />
contra-hegemonia para a superação da lógica do capital na perspectiva da<br />
verdadeira emancipação humana.<br />
Frigotto (2007, p. 243) discursando na I CONFETEC informa que “um<br />
dos equívocos mais frequentes e recorrentes nas análises da educação no<br />
Brasil, em todos os seus níveis e modalidades, tem sido o de tratá-la em si<br />
mesma e não como constituída e constituinte de um projeto dentro de uma<br />
sociedade”. Na compreensão do autor, “cindida em classes, frações de classes<br />
e grupos sociais desiguais e com marcas históricas específicas”, sendo que<br />
“esse equívoco se explica tanto nas visões iluministas, quanto nas<br />
economicistas e reprodutivistas, em face de que “no primeiro caso, a educação<br />
é concebida como o elemento libertador da ignorância e constitutiva da<br />
cidadania”, e “no segundo, sob os auspícios do economicismo, a educação é<br />
propalada como capital humano e produtora de competências”, ou seja, “uma<br />
espécie de galinha dos ovos de ouro, capaz de nos tirar do atraso e nos<br />
colocar entre os países desenvolvidos e de facultar mobilidade social”.<br />
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reflexões. Organizado por Caetana Juracy Rezende Silva. Natal: IFRN, 2009.<br />
73
TESE11<br />
INTERSINDICAL – INSTRUMENTO DE LUTA E ORGANIZAÇÃO DA CLASSE<br />
Conjuntura<br />
TRABALHADORA<br />
Ricardo Scopel Velho - Seção sindical Rio do Sul/SC<br />
Dalton Luiz de Menezes Reis – Campus Blumenau IFC<br />
Paula Andrea GrawieskiCiviero -Seção sindical Rio do Sul/SC<br />
1. É PRECISO MOSTRAR O QUE OS INIMIGOS DE CLASSE TENTAM OCULTAR<br />
As aparências enganam. Mais do que olhar as formas como as coisas aparecem e se<br />
expressam é preciso ir além e ver seu conteúdo. Assim devemos ver o movimento cíclico e<br />
periódico das crises produzidas na sociedade capitalista em que vivemos.<br />
O Capital, seu Estado, seus ideólogos e muitos que se dizem representar os trabalhadores<br />
tentam afirmar que a última crise é o exemplo para afirmar sua tese de um novo momento no<br />
capitalismo mundial, ou seja, a predominância do capital financeiro, sobre o industrial.<br />
Do que estamos a falar? Justamente do que os patrões, seus governos e os diversos<br />
instrumentos que eles têm a sua disposição tentaram impor como verdade absoluta nas últimas<br />
décadas. Que a concentração de lucros e riqueza não se dá no processo de produção de valor,<br />
mas sim em outro espaço, ou seja, na esfera da circulação, em outras palavras, são os bancos e<br />
a especulação do sistema financeiro que garante muitos com muito pouco, e poucos com muito.<br />
É como se afirmassem que as mercadorias que são transportadas de um país a outro, que<br />
são comercializadas, que circulam a cada segundo no mundo, não fossem produto direto do<br />
trabalho de homens e mulheres trabalhadores, como se ninguém os produzisse e já viessem ao<br />
mundo sem produção nem valor.<br />
Confundem forma com conteúdo. Tentam ocultar que a cada crise de superprodução do<br />
capital, a sua expressão se mostra de uma maneira: na década de 70 crise do petróleo, no final<br />
da década de 90 crise dos Tigres asiáticos e essa última, crise da bolha imobiliária nos EUA. Elas<br />
têm formas de se expressar diferentes, mas carregam o mesmo conteúdo.<br />
Ou seja, dão nomes diferentes para o mesmo movimento do Capital, que entra em crise de<br />
maneira periódica e em espaços de tempos cada vez menores.<br />
É preciso ver e compreender o que tentam ocultar, pois ao sabermos de fato como se dá o<br />
processo de exploração a que somos submetidos no dia a dia, podemos avançar em nossa<br />
organização e luta para enfrentar os patrões, suas explicações superficiais e suas medidas para<br />
sair da crise.<br />
74
Quando falamos em crise de superprodução estamos falando que os capitalistas para<br />
vencerem a concorrência entre si investem cada vez mais na parte constante do seu capital,<br />
maquinas, equipamentos, novas tecnologias e cada vez menos em seu capital variável, que é<br />
justamente a força de trabalho dos trabalhadores aquela que gera o valor de todas as<br />
mercadorias. Só o trabalho produz valor e mais valor do que ele mesmo vale.<br />
O resultado disso é uma super produção de mercadorias e o capitalista que conseguiu<br />
vencer a concorrência tendo uma mercadoria com valor mais reduzido que seus concorrentes, vê<br />
sua taxa de lucro cair. Pois maquinas e equipamentos por mais modernos que sejam não geram<br />
valor, apenas auxiliam, potencializam o aumento da produtividade. O que gera valor é o trabalho<br />
dos trabalhadores e é por isso que as taxas de lucro despencam e a sociedade capitalista entra<br />
em crise.<br />
Na forma de produção capitalista os que detêm os meios de produção compram a<br />
capacidade de trabalho dos trabalhadores, através de um contrato, com uma determinada jornada<br />
de trabalho, que será paga na forma de salário.<br />
Mas no processo de produção o trabalhador é capaz de gerar mais valor do que vale sua<br />
força de trabalho, em outras palavras: máquinas, prédios, matéria prima não geram valor e se<br />
desgastam no processo de produção. A única mercadoria capaz de gerar outras mercadorias,<br />
carregadas de valor novo é a força de trabalho que quanto mais se desgasta no processo de<br />
produção mais valor novo produz.<br />
O valor gerado pelo trabalhador será apropriado pelo capitalista, que investirá parte desse<br />
valor na manutenção dos meios de produção, aproximadamente 30% do resultado da produção.<br />
Uma outra pequena parte que na maioria das vezes não chega a 10% pagará salários e o<br />
restante, ou seja, a maior parte será seu lucro.<br />
A crise está sendo produzida em pleno vapor no momento em que a produção está em<br />
alta, a capacidade instalada da indústria está completa, as contratações aumentam, a produção<br />
aumenta. Em outras palavras quando tudo está bombando para o patrão é nesse momento que<br />
ele está entrando em crise. No momento de maior aceleração tem que frear bruscamente o<br />
processo de produção.<br />
Demissões, redução de direitos e salários, pátios cheios é o que a maioria da sociedade<br />
olha como crise e não consegue enxergar que isso nada mais é do que a busca dos capitalistas<br />
para saírem da crise que eles mesmos produziram.<br />
O Estado na sociedade capitalista funciona exclusivamente para atender as necessidades<br />
de concentração de lucro e para garantir as saídas das crises cíclicas e periódicas produzidas<br />
pelo Capital. Além desse importante instrumento outros se colocam em movimento para<br />
administrar os problemas dos patrões que para se recuperarem vão intensificar o ataque ao<br />
conjunto da classe trabalhadora.<br />
75
É preciso enxergar esse movimento do Capital, para entender a última crise e dessa forma<br />
dar o necessário salto de qualidade na luta que temos para fazer contra aqueles que se<br />
enriquecem na exata medida que nos exploram cada vez mais.<br />
A formulação que vê crise onde deveria se enxergar os efeitos das saídas da crise de<br />
2008/2009, na qual os Estados Nacionais assumiram as demandas do Capital, transformando as<br />
dividas privadas em dívida pública. Os pacotes na Europa nada mais são do que o Estado<br />
investindo contra os básicos direitos da classe trabalhadora para tentar tampar parte do rombo<br />
provocado por uma crise que já acabou.<br />
A crise acabou, mas a recuperação é pífia, a curva de elevação, mostra uma<br />
recuperação muito pequena, são dados da analise que demonstram que estamos diante de um<br />
novo ciclo que deve ser monitorado hora a hora, ou seja, certeza é de que até o fim do ano nada<br />
que se conforme em nova crise, a partir do próximo ano o cenário pode mudar. Os efeitos das<br />
saídas da última crise foram extensos e intensos, olhar para a Europa, para recuperação sem<br />
sustância nos EUA e para o movimento do governo Dilma nesse final de ano, ajuda a entender<br />
como parte das organizações da esquerda conseguem tão facilmente, por conta da analise<br />
superficial, confundir expressão com conteúdo. Outras organizações, que na representação da<br />
classe, são de fato mediadores dos interesses do Capital vão se utilizar dessa confusão funcional<br />
para frear e ocultar a luta de classes.<br />
2. SERVIDORES PÚBLICOS E O ESTADO<br />
Primeiramente é preciso desembaçar nosso olhar para com esse grande fetiche que é o<br />
Estado. Ao nos colocar o problema da luta contra o capitalismo, precisamos saber claramente<br />
quem é nosso inimigo. E dessa resposta parte boa parte de nossa ação. O Capital é a relação<br />
social que cria e recria uma estrutura econômica e uma super-estrutura jurídica, política e<br />
ideológica para reproduzir-se como forma social dominante. Esse é nosso inimigo: o sistema do<br />
capital. A burguesia e o Estado são personificações desse sistema, e sua ação é no sentido de<br />
manter as estruturas de poder. Por isso é importante perceber como a lógica dominante também<br />
age sobre os servidores públicos<br />
Os trabalhadores que atuam a serviço do Estado em todos os setores e nos âmbitos<br />
municipal, estadual e federal, são chamados de Servidores Públicos. Os servidores que atendem<br />
diretamente a população trabalhadora nas áreas da educação, da saúde, previdência, assistência<br />
social e reforma agrária, são os que recebem os menores salários nesta estrutura hierarquizada.<br />
Mesmo submetidos a condições cada vez piores para execução do trabalho, com salários<br />
congelados e arrochados ainda permanece em suas consciências a ideologia que são<br />
trabalhadores “diferenciados”, pois são funcionários públicos.<br />
76
Nada melhor do que a realidade para se contrapor a ideologia dominante. Nas últimas<br />
duas décadas os servidores têm vivido intensas mudanças na organização do trabalho e sofrendo<br />
ataques nas diversas reformas. As sucessivas crises cíclicas vão impondo aos estados a<br />
necessidade de agir com coerção e consentimento, esse é basicamente o papel do estado. Os<br />
servidores estão nessa contradição, deve atender a população, mas isso na verdade serve para<br />
“amenizar” os efeitos do sistema capitalista. Por isso mesmo sofrem as reestruturações típicas do<br />
setor privado.<br />
Estas medidas adotadas têm uma história iniciada no governo Pinochet do Chile (após o<br />
violento golpe militar que destituiu o socialista Salvador Allende em 1973). O Chile serviu de<br />
laboratório para os experimentos que depois se generalizaram pelo mundo com Margareth<br />
Thatcher na Inglaterra em 1979 e com Ronald Reagan nos Estados Unidos em 1980.<br />
No Brasil a abertura das portas para o fim da estabilidade, a utilização de métodos<br />
gerencias comuns na administração privada, o trabalho e o salário por metas, adoção de índices<br />
de produtividade e o aumento da jornada, começaram com Fernando Collor (1990), Fernando<br />
Henrique Cardoso (1994-2002) e Lula (2002-2010). Contudo as grandes mudanças foram mais<br />
desenvolvidas no governo FHC, quando foi criado o Ministério de Administração e Reforma do<br />
Estado encabeçado por Luiz Carlos Bresser Pereira.<br />
Isso no contexto de flexibilização das leis trabalhistas; políticas públicas assistencialistas,<br />
dificultando o acesso aos serviços públicos essenciais; criação de gratificações por desempenho,<br />
cumprimento de metas; salário flexível atrelado à avaliação de desempenho, exigência de<br />
produtividade, aumento da jornada de trabalho são alguns exemplos dessa reestruturação que<br />
atingirá o conjunto do funcionalismo público nas esferas municipal, estadual e federal.<br />
Das mudanças que atingiram os trabalhadores neste período a terceirização merece<br />
especial atenção de nossa parte. Não é necessário muito aprofundamento para perceber que os<br />
trabalhadores terceirizados possuem as piores condições de trabalho e salariais dentre os que<br />
atendem direta ou indiretamente a esfera pública. As experiências utilizadas na reestruturação<br />
das empresas capitalistas são transpostas para o Estado. O processo se desenvolve através de<br />
vários mecanismos como a criação de Organizações Sociais, organizações sem fins lucrativos,<br />
fundações de interesses coletivos, entre outros nomes, que pretendem esconder os interesses<br />
em privatizar os setores estatais descartados pelos projetos dos que governaram o país nestes<br />
últimos 20 anos.<br />
Do tele atendimento da Previdência aos Serviços de Emergência, o atendimento nos<br />
postos de saúde, nas agências do INSS, chegando aos serviços de água, esgoto e saneamento,<br />
até as escolas é cada vez maior o número de trabalhadores terceirizados e submetidos à<br />
77
condições de trabalho ainda mais precarizadas. Tendo por resultado serviços à população de<br />
baixíssima qualidade expressando o descaso com as reais necessidades desses trabalhadores.<br />
Sendo este, um Estado da classe dominante o seu objetivo é o de garantir a plena<br />
acumulação de valor pelos capitalistas. Isto acontece diretamente fora da estrutura<br />
governamental, garantindo a infra-estrutura que dinamiza o movimento do capital ou nos<br />
momentos de crise, como o principal salvador da quebradeira entre os capitalistas, ou ainda,<br />
permitindo a entrada na máquina estatal de formas de acumulação de valor como a terceirização.<br />
Empresas como a Companhia Siderúrgica Paulista – Cosipa, Empresa Brasileira de<br />
Aeronáutica – Embraer, Vale do Rio Doce, Companhia Siderúrgica Nacional – CSN, as empresas<br />
do ramo das telecomunicações, do setor energético e as rodovias são exemplos da infra-estrutura<br />
criada para atender o capital que em seguida, foram entregues a este mesmo capital para a<br />
continuidade de sua reprodução.<br />
2.1 Um Estado máximo para o capital e mínimo para os trabalhadores<br />
Essa é a essência do Estado do Capital, maximizar os lucros do setor privado reduzindo os<br />
custos dasempresas com a reprodução da força de trabalho e da infra-estrutura material. Ilusão e<br />
mediocridade daqueles que tentam convencer a classe trabalhadora que é no espaço do Estado,<br />
com as eleições ou com a criação de leis, onde os trabalhadores podem avançar em novas<br />
conquistas.<br />
Isso não quer dizer que não há brechas nesses espaços do Estado para termos<br />
representações compromissadas em defender os trabalhadores. Sim, elas existem, mas é preciso<br />
reconhecer o limite da atuação que se pode ter nesses espaços. Em outras palavras, leis só<br />
mudam a favor dos trabalhadores, governantes só executam leis para os trabalhadores e a<br />
repressão oficial do Estado só recua, quando os trabalhadores se colocam em luta.<br />
Isso quer dizer que aqueles que trabalham como funcionários desse Estado na maior parte<br />
de suas atividades estarão aplicando as políticas definidas nos espaços de interesse da<br />
burguesia, e serão contra os trabalhadores.<br />
2.2 Servidor público???<br />
Mas ao final, quem é o “servidor público”?. É um trabalhador a serviço do Estado. Em<br />
primeiro lugar é fundamental compreender que todos os trabalhadores vinculados aos governos,<br />
aos legislativos, aos judiciários, às forças armadas e as policias, seja no âmbito municipal,<br />
estadual e federal, são trabalhadores do Estado.<br />
Entendemos que o trabalhador público é parte da classe social trabalhadora que vende<br />
sua força de trabalho, estando na particularidade do Estado, ou seja, na esfera da reprodução<br />
78
ampliada do capital. Contribui na constituição do sistema extrator de mais valia e exatamente por<br />
isso está inserido do conjunto das contradições inerentes ao sistema. O que quer dizer que<br />
estamos tratando de uma parcela da classe que pode e deve contribuir para a elevação da<br />
consciência dos trabalhadores e da efetivação da luta de classes.<br />
2.3 Reformas da previdência: diminuição dos direitos e divisão entre a classe<br />
trabalhadora<br />
A partir desses elementos podemos procurar entender o ataque ora desferido contra os<br />
trabalhadores dos serviços públicos. É evidente que essas e outras operações não são realizadas<br />
sem que haja reação por parte das organizações sindicais. Greves e outras formas de<br />
mobilização reivindicando melhores salários, melhores condições de trabalho, contra retirada de<br />
direitos históricos, contra implantação de mecanismos da lógica privada nos serviços estatais e<br />
contra a privatização do patrimônio publico, tem sido uma constante nos últimos anos.<br />
O objetivo dos sucessivos governos é continuar mantendo o superávit primário. Isto é,<br />
manter a lucratividade dos capitalistas em seus diferentes momentos. Com isso, o governa não<br />
negocia reajustes para o funcionalismo público, mas garante do capital financeiro. Um exemplo<br />
disto foi a PLP 549/2010. Tratava-se de uma proposta de limitação dos gastos com pessoal e<br />
outros gastos sociais da União, mediante alteração de dispositivo da Lei de Responsabilidade<br />
Fiscal – LRF.<br />
O governo não admite a crise da dívida, mas executa Reformas da Previdência, e faz<br />
propostas de congelamento dos salários do funcionalismo público (como foi o PLP 1 549).<br />
Observamos que o discurso do governo é de que os gastos com servidores (e gastos públicos em<br />
geral) têm aumentado de forma assustadora, e isso representa uma ameaça às contas públicas.<br />
Desta forma, este discurso cria a imagem de que servidor público não trabalha, que só quer<br />
aumento, e impede a mobilização e sensibilização da sociedade;<br />
Segundo apresentação realizada por Maria Lucia Fattorelliem 14.03.10 (Encontro em<br />
Brasília da CNESF – Confederação Nacional das Entidades dos Servidores Federais),<br />
observamos que o dinheiro está indo para pagar a dívida pública. Isto é, a Dívida Pública é a que<br />
consome o orçamento da União:<br />
Orçamento Geral da União em 2009 (por função). R$ 1,068 trilhão<br />
1 PLP: Projeto de Lei Complementar.<br />
79
A reforma da Previdência do governo FHC foi capaz de atacar os direitos dos<br />
trabalhadores nas empresas privadas de forma direta e eficaz. As diretrizes adotadas por esta<br />
praticamente acabaram com a aposentadoria especial, acabaram com o direito às aposentadorias<br />
por tempo de serviço e a substituíram pelas aposentadorias por tempo de contribuição, além de<br />
dificultar ainda mais a caracterização dos acidentes e doenças provocadas pelo trabalho. Mas<br />
não se resumiu somente a isto.<br />
Da mesma forma que o governo FHC impôs uma propaganda na Reforma Administrativa<br />
que abriu portas para o fim da estabilidade do funcionalismo público dizendo ser essa uma forma<br />
de combater privilégios, tentando assim colocar trabalhadores das empresas privadas contra<br />
funcionários públicos, na Reforma da Previdência tentou e conseguiu a indiferença de parcela<br />
expressiva do funcionalismo em relação aos ataques sofridos pelos trabalhadores nas empresas<br />
privadas.<br />
Uma das principais ações do governo Lula em inicio de mandato foi a proposta de reforma<br />
de Previdência para o funcionalismo público. Gestada pelo governo federal com a participação<br />
dos governadores dos estados, a reforma atacou os servidores que atendem diretamente à<br />
população trabalhadora: professores, servidores no INSS, na saúde e nos vários serviços de<br />
atendimento dos serviços públicos básicos.<br />
A propaganda do governo para aprovação da Reforma era carregada do mesmo conteúdo<br />
das outras: combate aos privilégios e a divisão entre trabalhadores nas empresas privadas e<br />
servidores.<br />
80
O resultado foi o aumento da idade para aposentadoria para os que ainda estão no<br />
trabalho e a instituição de contribuição para os servidores aposentados. Quem foi atingido pela<br />
reforma da previdência foram justamente aqueles que há muito tempo já se encontram em<br />
situação extremamente precária de trabalho.<br />
Sendo esse governo um grande conhecedor do movimento sindical, além de submeter um<br />
dos principais instrumentos dos trabalhadores, a CUT 2 , conseguiu também dividir a classe no<br />
enfrentamento contra a Reforma da Previdência.<br />
A CUT num primeiro momento quis emendar o que não tinha conserto na Reforma. Junto a<br />
isto, freou qualquer tentativa de trazer os trabalhadores produtivos para a luta pela manutenção<br />
dos direitos que estavam sendo ameaçados. Contudo, apenas na véspera da votação do projeto,<br />
a CUT se colocou contra a reforma que já estava consumada.<br />
2.4 Os servidores e o Estado<br />
Algumas questões aparentemente óbvias para o conjunto dos trabalhadores públicos<br />
devem ser preliminarmente colocadas, mesmo que de forma apenas provocativa: quem é o<br />
empregador do trabalhador público (ESTADO)? Quais são as motivações e objetivos gerenciais<br />
desse grande e legitimado empregador? Quais são as necessidades mais atuais dele?<br />
Aprendemos desde cedo que o Estado é um ente neutro e serve a todos. Esta forma<br />
alienada impede que vejamos esse Estado como ele realmente é: um Estado de classe, que<br />
existe para servir única e exclusivamente a classe economicamente dominante (burguesia) na<br />
manutenção do lucro. Todo este colossal poder de controle e coerção esta a serviço direto das<br />
corporações capitalistas em todos os cantos do mundo.<br />
Vivemos hoje dentro da máquina do Estado uma forma de organização do trabalho que<br />
tem como base a mesma reestruturação que houve nos locais de produção de valor.<br />
Avaliação de desempenho acompanhada de produtividade, ou seja um/as professor/a que<br />
consegue passar mais rapidamente o conteúdo, que aprova os alunos mesmo que não saibam<br />
ler, escrever, interpretar um texto. Um professor cansado que para tentar diminuir a diferença do<br />
que recebe como salário e das contas que tem a pagar, trabalha em mais de duas escolas.<br />
Outro exemplo é da Previdência Social. Vamos ver que só o muda a forma, o conteúdo<br />
continua o mesmo: são servidores que têm a maior parte de seu salário composto pelas<br />
gratificações que ao longo da “carreira” são muito maiores que o próprio salário, mas agora têm<br />
metas a cumprir.<br />
2 CUT – Central Única dos Trabalhadores.<br />
81
Vejam como o exemplo demonstra isso:Um/a trabalhador/a ao procurar a Previdência<br />
Social para requerer seja sua aposentadoria, auxilio doença, auxilio acidente de trabalho, licença<br />
maternidade, enfim qualquer que seja seu direito, só vai ter seu pedido deferido se o “programa<br />
de informática” da Previdência julgá-lo dentro dos critérios estabelecidos pelo governo.<br />
Se o programa recusar o deferimento o servidor tem duas opções: indeferir o pedido e aí<br />
vai restar ao trabalhador entrar com recurso contra essa decisão e se ela se manter processar<br />
judicialmente o INSS, ou então o servidor reconhecendo que aquele trabalhador está sendo<br />
atacado em seus direitos deixará o processo em aberto e solicitará novos documentos que<br />
completem as informações.<br />
Só que ao fazer isso esse servidor estará diminuindo a pontuação dos servidores da<br />
Agência e da Gerência do INSS em que trabalha. Em outras palavras, se um servidor encaminhar<br />
em seu trabalho que o trabalhador quer requerer seu Beneficio, pode significar diminuir seu<br />
salário e de seus colegas de trabalho, por conta da imposição da produtividade.<br />
Outro exemplo na educação: Criou-se o conceito de Arranjo Produtivo Local (APL), que<br />
pretende ser o critério para o atendimento de demandas das escolas técnicas federais. Na<br />
verdade quando vão se criar cursos profissionalizantes que levem em conta os APL 3 ’s, está se<br />
atrelando os objetivos da educação à necessidade dos empresários locais em suprir de força de<br />
trabalho bem treinada suas empresas, gratuitamente pelo Estado. Desta maneira não se tem<br />
autonomia para pensar a educação como um processo emancipador dentro da sociedade<br />
capitalista, mas apenas como um treinamento do trabalhador para ser esfolado cotidianamente<br />
por algum burguês sortudo.<br />
2.5 Precarização<br />
Duas formas vão se espalhar diferentemente nas mais diversas funções e em todas as<br />
esferas do Estado, mas com o mesmo conteúdo: transformar os serviços públicos que atendem a<br />
população em serviçoscada vez mais privados e os servidores em “operadores da linha de<br />
produção do Estado a serviço do Capital”. Levando ao aumento da jornada de trabalho que já é<br />
constante entre os trabalhadores da Previdência, Saúde e Educação.<br />
Tudo parece singular, mas só parece. Na realidade nas cidades, estados e nacionalmente<br />
os servidores estão cortados na carne em relação às novas formas de organização do trabalho,<br />
podem mudar um nome ali, uma normatização aqui, um projeto de lei sobre o funcionalismo<br />
acolá, mas o conteúdo é o mesmo: terceirizar, precarizar, aumentar a jornada, impor novas<br />
formas de trabalho onde o salário esteja vinculado: “a atender mais e ao mesmo tempo negar<br />
3 Arranjo Produtivo Local.<br />
82
mais serviços àpopulação trabalhadora”.<br />
É flagrante que o conjunto dos trabalhadores das instituições públicas esta sofrendo um<br />
brutal ataque, seja através do histórico arrocho salarial, pela acelerada retirada de direitos, pela<br />
investida contra as suas organizações sindicais, ou pela substituição destes por trabalhadores de<br />
empresas lucrativas, como as de terceirização e privatizações ou, através daquelas camufladas<br />
de OS (Organizações Sociais: celebram contratos para a prestação de serviços privados ao<br />
Estado para a garantia de um direito social previsto na Constituição.), OSCIP 4 s e similares.<br />
2.6 Um espaço para ousar e nos reconhecer como parte da classe trabalhadora<br />
A capacidade de mudar essa dura realidade passa por enfrentar a desarticulação que hoje<br />
impera entre os diversos setores de trabalhadores do Estado e também destes com os<br />
trabalhadores do setor privado. É urgente a criação de fóruns intersetoriais que possibilitem uma<br />
análise conjunta da realidade, a intensificação da formação política e de ações políticas<br />
conjuntas, por exemplo, campanhas salariais unificadas, greves gerais e outras.<br />
Somos uma parte que luta por não se submeter à falsa e hipócrita análise que somos<br />
“diferenciados”, “superiores” ao conjunto da classe trabalhadora, mais do que isso ousamos a<br />
reconhecer nossa função nessa sociedade capitalista.<br />
Não somos produtores de valor, mas estamos num espaço onde se ousarmos podemos<br />
contribuir para a luta estratégica da classe trabalhadora que nos reconhecemos como parte.<br />
Ousar em construir movimentos, greves e lutas que avancem para nos aproximar da classe<br />
trabalhadora produtora de valor e mais valor, ousar em reconhecer que não somos nós a<br />
vanguarda de um processo de enfrentamento contra o Capital e seu Estado, mas que podemos<br />
ser parte desse enfretamento.<br />
É essa ousadia que estamos construindo na Intersindical. Sem abandonar a demanda<br />
diária, as mobilizações que temos dentro da corporação do serviço público, trabalhar para ir além<br />
dela. Construir uma organização e ação do conjunto do funcionalismo para combater a ação do<br />
Estado e junto à classe que nos reconhecemos como parte, nos somarmos à luta dos produtores<br />
de valor contra o Capital.<br />
3. FIM DE PERÍODO HISTÓRICO NO MOVIMENTO DOS TRABALHADORES<br />
Nesse ano instrumentos de representação da classe como CUT, CTB, UGT, Força Sindical<br />
entre outros se uniram a representação mais organizada do Capital (FIESP) na construção de<br />
uma plataforma a serentregue ao governo federal com objetivo de “ajudar” a indústria, o<br />
desenvolvimento e potencializar a produção para um “ Brasil Maior”, em outras palavras, uma<br />
4 Organização da Sociedade Civil de Interesse Público.<br />
83
nova Câmara Setorial que vá além de um determinado ramo, mais do que isso, o conteúdo<br />
central da proposta é envolver os trabalhadores, atraí-los para o movimento de concertação com<br />
o Capital. Então a tarefa é manter o rigor na analise, acompanhar o movimento do capital e junto<br />
à classe organizar as ações que sejam mais do que campanhas de mobilização temporais.<br />
Reconstruir a solidariedade ativa da classe trabalhadora, rompendo as cercas das<br />
nações, a luta internacional de nossa classe<br />
-Apoio ativo a todas as greves e manifestações dos trabalhadores em curso na<br />
Europa, América e Ásia, estreitar e consolidar ações em comum com as organizações que se<br />
estão em luta contra os pacotes de redução de salários e direitos.<br />
Palestina.<br />
-Contra o genocídio promovido por Israel ao povo Palestino e apoio ativo à causa<br />
-Apoio ao povo cubano que se mantêm em luta pelas conquistas da Revolução<br />
Cubana e resistindo com todas as forças ao embargo promovido pelos EUA.<br />
ajuda humanitária.<br />
conquistas<br />
-Apoio a luta dos trabalhadores haitianos, pelo fim da ocupação militar travestida de<br />
Por Mais Direitos e Para Todos. Por Nenhum direito a menos e avançar nas<br />
-Com a Intersindical ampliar nossa organização nos locais de trabalho, moradia e estudo,<br />
continuando a ter as iniciativas de unidade de ação com todas as organizações e movimentos<br />
que não sucumbiram ao pacto com os patrões e seus aliados para ampliar a luta pela:<br />
- Redução da jornada sem redução dos salários, contra o banco de horas e a flexibilização<br />
da jornada<br />
- Combate a terceirização e todas as formas de precarização do trabalho<br />
- Ampliar a Luta pelo fim do Fator Previdenciário, da Alta Programada e dos mecanismos<br />
criados pelo governo para dificultar ainda mais a garantia aos direitos previdenciários<br />
- Lutar contra qualquer tentativa de reformas que tenham o objetivo de retirar direitos<br />
- No avanço das lutas nossa resposta a criminalização ao movimento sindical e popular<br />
- Manter apoio ativo a luta do Movimento Sem Terra, Sem Teto e continuarmos presentes<br />
nas mobilizações por saúde, educação, terra e moradia<br />
- Intensificar nossas ações a partir da base, que vão além das questões imediatas e<br />
corporativas pois, têm se transformado em lutas que combatem as diversas formas que o Capital<br />
busca para ampliar a exploração e junto com o conjunto da classe trabalhadora.<br />
4. REORGANIZAÇÃO DO MOVIMENTO, NOSSA CONCEPÇÃO E PRATICA.<br />
nome<br />
84<br />
Com a classe trabalhadora e não em seu
A classe trabalhadora a cada momento histórico se coloca em movimento e constrói as<br />
formas e instrumentos para sua organização e luta. Portanto nossa luta não começa e nem<br />
termina no ciclo que se fecha no Brasil, ela vem antes de nossa conformação como classe e<br />
acentua-se a partir disso. Uma luta que não começa e nem termina nos limites geográficos do<br />
País.<br />
Portanto a construção da CUT é fruto das intensas lutas e das formas organizativas que<br />
nossa classe foi capaz de realizar. Devemos isso aos que vieram antes de nós e nos deixaram<br />
uma contribuição nada pequena. As lutas dos indígenas e negros, contra opressão e a<br />
escravidão. Já na fase capitalista a garra e determinação dos Anarquistas e em seguida dos que<br />
se organizavam no Partido Comunista.<br />
Herdeiros dessas lutas no final da década de 70, a classe trabalhadora mais uma vez se<br />
coloca em movimento. Greves gerais contra o arrocho salarial, as péssimas condições de<br />
trabalho e contra a ditadura militar se alastram pelo país inteiro e os trabalhadores das mais<br />
diversas categorias se colocam em luta. É nesse intenso ascenso da luta de classes que<br />
construímos a CUT.<br />
Uma central que nasce com a classe a partir de suas lutas, afirmando a independência em<br />
relação aos patrões, governos e autonomia em relação aos partidos, uma CUT pela base, que<br />
lutava pelo fim da estrutura sindical oficial e do imposto sindical, rompendo o corporativismo<br />
avançando numa luta do conjunto da classe trabalhadora.<br />
A década de 90 será o momento onde a mudança de rumo na central começa com força<br />
total. A central nascida com a classe bem antes do Congresso que reuniu mais de 5 mil<br />
delegados vindos da base, em 1983, passa a privilegiar as representações dos sindicatos, tanto<br />
que o famoso congresso no Anhembi/SP ocorrido em 1991 terá pouco mais de 1.500 delegados.<br />
É nesse Congresso onde mais uma vez a aparência ficou evidente e não a essência. A<br />
CUT deixará de ser a Central com a classe, para ser a Central pela classe. Mais do que a<br />
representação formal ganhar espaço em detrimento da ação a partir da base, uma nova<br />
formulação se consolida na CUT. Ao invés de enfrentar o Capital e trabalhar para acentuar a luta<br />
de classes, essa nova concepção busca o pacto com o Capital mediado pelo Estado. Ao invés de<br />
avançar no acumulo de forças para destruir a sociedade de classes, agora a tentativa é<br />
“humanizar” o capital.<br />
Nada melhor do que conhecer a história, para não ser enganado por aqueles que tentam<br />
ocultar a realidade das coisas. Mais do que uma disputa em relação à proporcionalidade, que<br />
significava garantir a presença do conjunto das organizações que construíam a CUT nos espaços<br />
de direção, a grande batalha no Congresso de 91 foi tentar manter os princípios e as ações que<br />
fundaram a Central.<br />
A década de 90 será o momento onde o Capital aproveitando-se de mais uma de suas<br />
85
crises cíclicas, implementará uma reestruturação produtiva que além das demissões,<br />
reorganizará o processo produtivo com a polivalência, a terceirização, a precarização ainda maior<br />
das condições de trabalho. Mas junto a isso sua forma de frear a luta dos trabalhadores mesclará<br />
a repressão às mobilizações ao mesmo tempo em que disputará com os sindicatos e demais<br />
movimentos a consciência da classe.<br />
A maioria da direção que se consolida dentro da CUT nesse período lança uma nova<br />
formulação e a coloca em prática, dirigirá a classe em direção a conciliação com o Capital. A partir<br />
daí: câmara setorial no ABC, tentativa de pacto social com os patrões mediados por Collor,<br />
aceitação da reforma da previdência de FHC, trocando tempo de serviço, por tempo de<br />
contribuição, comissões tripartites onde direitos serão reduzidos com anuência da central,<br />
dinheiro do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) dentro da central e com isso a Formação que<br />
era um instrumento para potencializar o saber e a luta dos trabalhadores se transformará num<br />
espaço de formar “bons negociadores” capazes de mediar com os patrões e os governos.<br />
Também se transformará no espaço para enganar os trabalhadores com os cursos de qualificação<br />
profissional afirmando ser esse o caminho para que o desempregado voltasse a ter emprego.<br />
Portanto é falso afirmar que os problemas na CUT começam com a chegada do PT na<br />
presidência da Republica. As políticas gestadas no PT e implementadas pela CUT, a partir do final<br />
da década de 80 e durante toda a década de 90 fizeram com que a Central que nasceu com os<br />
trabalhadores hoje faça contra os trabalhadores.<br />
Durante o governo Lula vamos ver mais do que dependência, mas sim aliança e<br />
submissão ao governo. Reforma da Previdência que atacou o funcionalismo, tentativa de reforma<br />
sindical e trabalhista com o objetivo de centralizar as decisões nas centrais sindicais e não<br />
respeitar as decisão da base, para flexibilizar e eliminar direitos. Marchas a Brasília dizendo<br />
reivindicar aumento do salário mínimo que nada mais eram que um momento de confraternização<br />
com o governo federal.<br />
A Intersindical nasce com a tarefa de retomar as tarefas abandonadas propositalmente<br />
pelos instrumentos que nasceram com a classe e depois se viraram contra ela. A partir das ações<br />
nos locais de trabalho, moradia e estudo a organização da luta para enfrentar o Capital e seu<br />
Estado. Um Instrumento independente em relação aos patrões e governos e autônoma em<br />
relação aos partidos, que tem a Formação dos trabalhadores como arma que potencializa nossa<br />
organização e luta, um Instrumento que restabelece a solidariedade ativa da classe para além das<br />
cercas das categorias e nações. Um Instrumento que vai além das questões imediatas da classe<br />
e coloca a necessidade de uma outra sociedade socialista.<br />
Participaram junto conosco no inicio desse processo de construção, algumas correntes que<br />
também foram parte da CUT, com os companheiros do PCB que se organizam no movimento<br />
sindical como Unidade Classista, as correntes internas do Psol; APS, Enlace e Csol, os<br />
86
companheiros da Resistência Popular e vários coletivos independentes.<br />
Em 2007, o governo Lula no mesmo dia em que dá um tapa nos trabalhadores no comércio<br />
liberando o trabalho aos domingos em todo o território nacional, também envia projeto de lei<br />
garantindo reconhecimento legal às centrais sindicais, mantendo o imposto sindical e garantindo<br />
uma fatia do mesmo às centrais.<br />
O alvoroço começa entre aqueles que já se submeteram a parceria com os patrões e ao<br />
governo, mas também entre uma parcela daqueles que dentro e fora da CUT se mantinham em<br />
luta, todos buscando desesperadamente o reconhecimento oficial do Estado para sua Central.<br />
O PCdoB que desde a década de 90 estava na CUT, rompe com a Central para criar a<br />
CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), não porque tinham divergências com<br />
o rumo que tomou a CUT, mas sim porque agora tinham a possibilidade de criar uma central sob<br />
seu total controle e o mais importante tendo estrutura garantida através do imposto sindical.<br />
O PSTU que dirige a Conlutas e rompeu com a CUT em 2004, rapidamente tratou de se<br />
registrar no Ministério do Trabalho e como sempre lançou mais um chamado a todos, que dessa<br />
vez tinha como conteúdo a construção de mais uma nova central que segundo sua analise seria a<br />
solução para os problemas de fragmentação da classe trabalhadora.<br />
Dentro da Intersindical as correntes do Psol submetidas à intervenção do Partido no<br />
movimento sindical e afoitas por também buscar o reconhecimento do Estado, rompem com a<br />
Intersindical e se juntam a Conlutas para tentarem decretar mais uma nova central.<br />
A Intersindical em seu II Encontro Nacional realizado em 2008 não sucumbiu à tentativa de<br />
repetir velhas fórmulas ao novo que apesar das dificuldades insiste em nascer. Não permitimos a<br />
interferência partidária do PSOL e do PSTU que tentaram impor uma unificação meramente<br />
formal e pautada pelo governo Lula através do reconhecimento legal das centrais sindicais. A<br />
proposta desses setores parte de sua lógica institucionalizada afirmando a representação em<br />
detrimento da organização junto à classe.<br />
Seguimos ampliando e consolidando a Intersindical- um instrumento de luta e organização<br />
da classe trabalhadora, que já está presente em 14 estados do país, reunindo metalúrgicos,<br />
sapateiros, operários na construção civil, professores, funcionários públicos, bancários,<br />
radialistas, vidreiros, trabalhadores no ramos plástico e químico, urbanitários, trabalhadores nos<br />
Correios, motoristas, vigilantes, têxteis entre outros. Sem ser central sindical fazendo boa parte<br />
das tarefas abandonadas conscientemente pela maioria delas: reconstruir a unidade da classe a<br />
partir da lutas para que possamos romper com as formas que nos dividem em categorias, entre<br />
formais e informais, entre trabalhadores da cidade e do campo e avançarmos na luta da classe<br />
para si.<br />
Já os que foram para o mais do mesmo, se chafurdando na disputa interna não<br />
conseguiram sequer decretar a nova central.<br />
87
As correntes do Psol que romperam com a Intersindical hoje não reivindicam a<br />
Intersindical, mas sim tentam ficar a sombra do nome desse Instrumento que se amplia e<br />
contribui no processo de reorganização do movimento.<br />
Essas correntes, junto à Conlutas e outros setores gastaram os últimos dois anos em<br />
reuniões, seminários e mais reuniões para chegarem a Santos no que tentaram chamar de<br />
CONCLAT.<br />
Ao se pautarem pela disputa interna e burocrática, sua estratégia busca respostas<br />
superficiais e somente na institucionalidade para afirmar que têm a solução para o problema da<br />
fragmentação. Mais uma vez, foram em nome da classe, sem a classe e sequer conseguiram<br />
decretar a sua nova central.<br />
O que impediu a decretação da central é de ordem distinta do que listam para se acusarem<br />
mutuamente, nos espaços virtuais. A diferença não está no que tentam mostrar em suas notas,<br />
onde afirmam que a unidade na forma organizativa não se consolidou por conta do caráter da<br />
central, ou de seu nome. O problema está na formação da coordenação, ou seja, as correntes<br />
órfãs de cargos divergiram sobre o espaço que cada uma teria na central.<br />
Os que romperam com o congresso em Santos e continuam afirmando a necessidade<br />
imediata de construção de uma central, tentam ocultar que parte significativa ainda estão em<br />
sindicatos filiados à CUT, como bancários de Santos e Espírito Santo, ao mesmo tempo em que<br />
se auto-proclamam independentes dos patrões e governos, alguns seguem em federações<br />
orgânicas da CUT para receberem o imposto sindical e outros recebem taxa negocial paga pelos<br />
patrões durante as campanhas salariais como os Sindicatos dos Químicos que estão sob a<br />
direção de correntes internas do Psol no estado de São Paulo.<br />
Os que ficaram em Santos no lugar onde tentaram fazer um Congresso que de igual ao<br />
Conclat que construiu a CUT só tem o nome, afirmam que uma Central Sindical e Popular foi<br />
criada e se chama Central Sindical e Popular-Conlutas, demonstrando que saem do mesmo jeito<br />
que entraram. Os que foram embora de Santos seguem em reuniões intermináveis para definir as<br />
condições para retornarem ao espaço dessa pretensa central que de novo nem o nome tem.<br />
Se tivessem conseguido resolver suas divergências, acomodando as reivindicações de<br />
cada corrente, a central seria decretada e isso não passaria de um decreto, completamente<br />
distante da classe<br />
Ao afirmamos isso ao contrário do que muitos tentam nos acusar, não estamos negando a<br />
necessidade e a importância da construção de uma nova central. A central sindical necessária<br />
será fruto da ação que fizermos a partir da base da classe, que não se pauta no espontaneísmo e<br />
nem espera pelo ascenso, mas se prepara e trabalha para que o mesmo se recoloque em lutas<br />
que avancem para além da consciência em si e dêem o salto de qualidade da consciência para si.<br />
A Intersindical - Instrumento de Luta e Organização da Classe Trabalhadora não esteve em<br />
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nenhum dos conclat's. Não temos tempo a perder e nem concordância com os espaços que se<br />
pautam pela disputa interna dos aparatos, ou se colocam em movimento para tentar eleger a<br />
sucessora de Lula, como foi o que reuniu CUT, CTB, Força Sindical entre outras centrais sindicais<br />
e movimentos populares para construir uma agenda que tem como objetivo “impedir a volta do<br />
neoliberalismo ao País”. Como se essa forma do capital se manifestar a partir da década de 90 (e<br />
nada mais do que forma, aparência, pois no conteúdo é o Capital intensificando a exploração ao<br />
conjunto da classe) tenha sido superada com a vitória do PT em 2002, ou seja, essa encontro<br />
teve como objetivo colocar em campanha eleitoral as entidades que o convocam para tentar<br />
emplacar a sucessora de Lula.<br />
Não serão nas discussões com as representações descoladas da luta real da classe<br />
trabalhadora que a necessária central sindical se concretizará, bem como a urgência do momento<br />
em que vivemos não está na construção da nova central, mas sim na reconstrução da unidade da<br />
classe.<br />
Temos a exata dimensão de nossas ações, sabemos que a Intersindical é ainda pequena<br />
diante da enormidade de nossa classe que hoje se encontra sob a direção daqueles que estão a<br />
serviço do Capital e seu Estado. Por isso seguiremos firmes com unidade e coerência entre nossa<br />
formulação e ação que se afirmaram corretas. Avançaremos em nosso processo de ampliação e<br />
ao mesmo tempo seguiremos nas iniciativas que potencializam a unidade nas lutas com todas as<br />
demais organizações que estejam dispostas a concretizá-la para além da retórica, na pratica.<br />
É nessa direção que a Intersindical seguirá. Ampliando-se como instrumento de<br />
organização e luta e ao mesmo tempo reconstruindo a unidade na luta junto com as<br />
organizações que não se submeteram aos patrões, aos governos e seus aliados<br />
Para construir a necessária Greve Geral, aqui está a INTERSINDICAL<br />
PORQUE CANTAMOS<br />
cantamos pela infância e porque tudo<br />
e porque algum futuro e porque o povo<br />
cantamos porque os sobreviventes<br />
e nossos mortos querem que cantemos<br />
cantamos porque o grito só não basta<br />
e já não basta o pranto nem a raiva<br />
cantamos porque cremos nessa gente<br />
e porque venceremos a derrota<br />
cantamos porque o sol nos reconhece<br />
e porque o campo cheira a primavera<br />
89
e porque nesse talo e lá no fruto<br />
cada pergunta tem a sua resposta<br />
cantamos porque chove sobre o sulco<br />
e somos militantes desta vida<br />
e porque não podemos nem queremos<br />
deixar que a canção se torne cinzas.<br />
Mário Benedetti (1920-2009), poeta uruguaio<br />
90
TESE 12<br />
Expansão Quantitativa da Rede Federal e Diversidade “Qualitativa” do Assédio<br />
Moral e Psicológico<br />
Apresentação<br />
Augusto Miceno, 26,<br />
Assistente Administrativo do Campus Três Lagoas do IFMS.<br />
Meu nome é Augusto Miceno, 26 anos, dedicado assistente administrativo do campus<br />
Três Lagoas do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul, há 1 ano em exercício no<br />
Serviço Público Federal brasileiro depois de anos de subemprego.<br />
Desde quando recebi e li o boletim 493 do <strong>Sinasefe</strong>, que menciona o Consinasefe e o<br />
envio de teses, objetivei enviar minha 'sugestão de pauta', ainda que desgastado não<br />
tenha condições de constituir uma Tese propriamente dita.<br />
Todavia, as referências são a lida diária, o cansaço excessivo e a experiência de<br />
sofrimento e resistência pela manutenção da alegria e de minha identidade como ser<br />
humano, cidadão e servidor público deste país nos últimos 13 meses.<br />
Propostas<br />
Assim, sugiro:<br />
- O estabelecimento, se é que não existe, de um grupo de trabalho da Seção Nacional<br />
que trate com profundidade e precisão o assédio moral e psicológico na esfera do<br />
trabalho no serviço público, de modo a conscientizar servidores e dirigentes e mapear<br />
a diversidade de procedimentos, atitudes e mecanismos empregados para intimidar,<br />
silenciar, vigiar, oprimir, perseguir, ameaçar, massacrar e anular pessoas corretas,<br />
funcionalmente capazes e zelosas do patrimônio público, que têm sofrido por se<br />
manifestar, por exercer o direito de crítica e por demonstar criatividade e brilhantismo,<br />
mesmo em meio a condições de trabalho desfavoráveis e até precárias, como se tem<br />
visto nos casos dos servidores da educação, pressionados pela expansão quantitativa<br />
da chamada Rede Federal de Educação Profissional e pela política do "fazer o<br />
máximo com o mínimo";<br />
- Também, a produção de uma cartilha-referência de assédio moral, psicológico e<br />
burnout para o <strong>Sinasefe</strong>, atualizando conceitos e ancorando o texto nas experiências e<br />
casos a serem coletados e investigados, ou seja, advindos do dia-a-dia de quem<br />
convive com o quadro de assédio, e não somente nas orientações dos escritórios<br />
jurídicos. Por exemplo, sabe-se que hoje o assédio já não acontece apenas por<br />
bilhetes (exemplo recorrente e consagrado das cartilhas), mas por mensagens<br />
eletrônicas capciosas e táticas, e que chefias intencionam estabelecer sistemas de<br />
Olhos e Ouvidos, para vigilância e monitoramento de determinados servidores, seja<br />
para perseguir ou para simplesmente medir a satisfação ou controlar a Informação.<br />
91
- Debater a concessão de Dedicação Exclusiva que acontece apenas após aprovação<br />
e trâmite de projeto, clara ferramenta de controle e de chantagem moral e emocional,<br />
seja para forçar a exoneração a pedido, a 'entrega' de um cargo de confiança, ou<br />
mesmo a aceitação de um cargo de um cargo de confiança, situações recorrentes em<br />
diversos campi da Rede;<br />
Objetivo<br />
Sugiro tal "tese" objetivando a interiorização do mapeamento dos casos de assédio,<br />
apontando a necessidade de afixar cartazes, de realizar reuniões, de estabelecer<br />
comissões, de entregar cartilhas, sensibilizar a mídia, de modo a promover a<br />
solidariedade entre os trabalhadores e a denúncia (e ação jurídica) das práticas de<br />
assédio moral e psicológico, além da conscientização dirigentes e servidores, do<br />
âmbito da capital federal até o mais distante campi.<br />
Na minha opinião, o tema proposto é tão fundamental quanto a campanha salarial,<br />
pois é luta por respeito e condições de trabalho.<br />
Mensagem<br />
Eu agradeço, muitíssimo, a atenção dos companheiros que me leem, pedindo atenção<br />
e ajuda para a fundação do <strong>Sinasefe</strong> Base Mato Grosso do Sul, hoje "hospedado" na<br />
Seção São Paulo e desejoso de existir juridicamente.<br />
92<br />
Com alegria e força,<br />
Augusto Miceno.
TESE 13<br />
POR UM SINDICALISMO COM PRINCÍPIOS<br />
Alexandre Samis e Katia Motta (Sindscope)<br />
Muito se tem discutido sobre uma “crise” do sindicalismo mundial e,<br />
consequentemente, também do brasileiro. Há os que defendem até mesmo que a<br />
atividade sindical esteja em franco declínio nas últimas três décadas. Como<br />
justificativa para sustentar tais afirmações, em geral, se apontam fatores como a<br />
mecanização crescente do trabalho, a queda nos níveis de empregos formais, a<br />
pulverização das categorias laborais entre outros aspectos. BOITO (2010) elenca<br />
cinco grupos de argumentos dos que defendem a crise: econômicas, reorganização<br />
das formas de produção, o funcionamento das estruturas sindicais, político-ideológicas<br />
e composição da força de trabalho.<br />
Entretanto, as análises do DIEESE sobre os movimentos reivindicatórios no<br />
país refutam a idéia de declínio. Dados divulgados pelo órgão mostram claramente<br />
que atividade sindical tem passado por ciclos de expansão e retração, considerando<br />
um período que se estende da década de 1960 à primeira década do século atual. Os<br />
anos 2000 trouxeram a atividade sindical a níveis próximos aos da década de 1980.<br />
Para BOITO, esse quadro aponta para o fato de que os defensores do esgotamento<br />
total do sindicalismo subestimam, em suas análises, o papel da conjuntura política e<br />
econômica mundial na determinação do recuo ou expansão dos movimentos<br />
paredistas.<br />
Ocorre que, sendo a crise do sindicalismo real ou apenas uma interpretação<br />
desfocada de suas mudanças cíclicas, as consequências são danosas às<br />
organizações sindicais. Cada vez mais premidos pela crescente deterioração das<br />
condições de trabalho impostas pelo neoliberalismo, os sindicatos passaram a agir<br />
cada vez mais defensivamente, sem avançar nas pautas, sempre retornando a um<br />
estágio anterior para garantir o que já fora conquistado antes com muita luta.<br />
Conforme avançaram as políticas neoliberais de flexibilização das leis<br />
trabalhistas, terceirização da mão-de-obra, redução da máquina estatal, arrocho<br />
salarial e desemprego acelerado, mais recuaram as entidades sindicais. Diante desse<br />
quadro, segundo ANTUNES (2008) referindo-se em especial à CUT:<br />
“O culto da negociação, das câmaras setoriais, do programa econômico<br />
para gerir pelo capital a sua crise, tudo isso está inserido num projeto de<br />
maior fôlego, cujo oxigênio é dado pelo ideário e pela prática social-<br />
democráticas.”<br />
93
Esse quadro de arrefecimento do caráter classista e anticapitalista de parte do<br />
movimento sindical expandiu-se grandemente nos anos do Governo Lula, com a<br />
participação de diversos líderes sindicais em vários escalões do governo e com a<br />
cooptação total da CUT e sua adesão ao projeto de Estado daquela gestão.<br />
Nesse sentido, hoje a distinção entre o perfil do que alguns chamam de “novo<br />
sindicalismo” brasileiro, correlacionado ao ciclo grevista do ABC paulista na década de<br />
70, e o sindicalismo pelego, remanescente da era Vargas, é muito tênue.<br />
SAMIS (2010) propõe uma categorização do panorama sindical, atualmente,<br />
em três grupos de entidades sindicais distintos por suas práticas frente aos desafios<br />
que se apresentam à classe trabalhadora:<br />
- os colaboracionistas ou chapa-branca, cuja ação se limita à mediação entre<br />
patrão e trabalhador e cuja postura é de total subserviência às políticas de governo,<br />
seja ele qual for;<br />
- os corporativos cujo entendimento de seu papel na luta de classes – o de<br />
trabalhadores – não é o suficiente para impedir que se tornem, de certa forma, presas<br />
da agenda de governo, ainda que a contestando;<br />
- os de resistência que incorporam à defesa da categoria e à busca por ganhos<br />
imediatas o viés do combate ao Estado, por entender que, a longo prazo, só<br />
derrotando o sistema a classe trabalhadora terá melhores condições.<br />
Como se pode observar, a partir do contexto delineado pelo governo Lula, o<br />
colaboracionismo e o corporativismo praticamente se igualam, no que concerne à<br />
legitimação do Governo como instância determinante para a construção de sua pauta<br />
políticossindical. O que diferencia os organismos sindicais de resistência dos demais é<br />
a consistência ideológica do viés classista e combativo que, para além das<br />
necessidades momentâneas (e urgentes!), mantém a perspectiva de derrotar o<br />
capitalismo – um princípio!<br />
Princípio: s.m – o primeiro momento de uma ação ou processo, início, começo;<br />
o que serve de base para alguma coisa. (HOUAISS, 2009)<br />
Pela definição acima, evidencia-se que a defesa de uma coerência a certos<br />
princípios no movimento sindical, longe de ser uma “quimera”, uma demonstração de<br />
inabilidade política ou idealismo, é uma necessidade estratégica - estratégia entendida<br />
aqui como planejamento para se alcançar um resultado, um fim.<br />
Não há dicotomia entre princípio e estratégia; eles não se anulam, mas antes<br />
se relacionam de tal forma que o segundo é determinado pelo primeiro. Uma<br />
determinação que não é hierárquica, mas de interdependência, de alinhamento, e de<br />
94
orientação pedagógica para a utilização da própria classe trabalhadora. Na luta pelos<br />
direitos da categoria, podemos adotar várias táticas para materializar um mesmo<br />
princípio. O que não podemos é subordinar os princípios à flutuação das estratégias<br />
sob pena de nos distanciar do que pretendemos.<br />
Vale ainda inferir que, quando os princípios emanam de uma base ideológica, e<br />
isso quase sempre acontece, tornam-se a expressão mais evidente de um projeto,<br />
parte constitutiva de uma matriz. E que a elaboração de novos princípios, muito mais<br />
que uma simples consulta, ou alteração programática, representa o rompimento com a<br />
matriz original, sua mais clara negação e imediata substituição por outra “mais<br />
adequada”.<br />
Assim pensando, um princípio não pode variar de forma casuística, da mesma<br />
maneira que não podemos separar a intenção do gesto. A distorção dos princípios<br />
pode levar a fragmentação, fenômeno, aliás, bastante contemporâneo, falseamento de<br />
propósitos e pulverização da ideologia. A alteração dos princípios ou a sua<br />
relativização, como por exemplo na confusa relação destes com as estratégias, não<br />
leva a outra parte senão à mais completa perda da identidade de classe.<br />
Uma breve consulta aos principais documentos do SINASEFE – o estatuto e o<br />
plano de lutas – torna possível reconhecer, entre os objetivos e bandeiras defendidos<br />
por esse Sindicato, inúmeros princípios que o situam na esfera do sindicalismo de<br />
resistência. Lê-se no estatuto:<br />
DOS OBJETIVOS, PRINCÍPIOS, COMPROMISSOS E PRERROGATIVAS<br />
Art. 6º. O SINASEFE tem como objetivos fundamentais organizar, representar e dirigir<br />
a luta<br />
dos servidores federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica, em caráter<br />
sindical,<br />
numa perspectiva classista, autônoma, democrática e participativa, por melhores<br />
condições<br />
de vida e de trabalho, a partir de seus interesses imediatos e históricos e dentro dos<br />
limites<br />
deste Estatuto.<br />
Art. 7º. Para cumprir seus objetivos, o SINASEFE se rege pelos seguintes princípios e<br />
compromissos:<br />
I. Princípios:<br />
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a) Defender que os servidores federais da Educação Básica, Profissional e<br />
Tecnológica se organizem com total independência frente ao Estado e às instituições<br />
de ensino, mantendo a<br />
sua autonomia frente aos partidos políticos ou a qualquer outro tipo de organização da<br />
sociedade civil, devendo decidir livremente suas formas de organização, sindicalização<br />
e sustentação material;<br />
b) Garantir o exercício da mais ampla democracia em todas as suas instâncias,<br />
assegurando completa liberdade de expressão aos seus sindicalizados(as),<br />
combinada com a unidade de ação;<br />
c) Solidarizar-se com todos os movimentos da classe trabalhadora, no país ou no<br />
exterior, desde que os objetivos e princípios desses movimentos não colidam com os<br />
deste Estatuto;<br />
d) Defender que as Instituições de Ensino devam ser públicas e que garantam a oferta<br />
de uma educação gratuita, laica, de qualidade, com referência social, em consonância<br />
com os legítimos e reais interesses da classe trabalhadora; e,<br />
e) Defender a liberdade de pensamento como direito inalienável do cidadão, nas<br />
contratações e nomeações para as Instituições Federais de Ensino, assim como no<br />
exercício das funções e atividades administrativas e acadêmicas.<br />
II. Compromissos:<br />
a) Lutar pela unificação internacional da classe trabalhadora, visando à construção de<br />
uma sociedade socialista;<br />
b) Desenvolver, organizar e apoiar, nos aspectos políticos, educacionais, econômicos,<br />
sociais<br />
e culturais, todas as ações que visem às conquistas de melhores condições de vida e<br />
de trabalho;<br />
c) Promover a unidade dos servidores ativos e aposentados, baseada na vontade, na<br />
consciência e na ação concreta;<br />
d) Promover a solidariedade entre os servidores federais da Educação Básica,<br />
Profissional e Tecnológica, desenvolvendo e fortalecendo a consciência de classe;<br />
e) Lutar pela defesa do meio ambiente e pela qualidade de vida; e,<br />
f) Implementar a formação político-sindical da categoria.<br />
A observância a esses compromissos expressos no Estatuto, enquanto eles<br />
forem válidos ou acordados pela categoria, precisa ser balizadora de nossas ações –<br />
estratégias. Pode parecer óbvio e o é, entretanto, as obviedades são como óculos que<br />
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procuramos por toda a parte, embora eles sempre tenham estado em nossas cabeças;<br />
depois que nos mostram, perguntamos: como não vi antes? Por isso, em um<br />
Congresso que vai compor a Direção Nacional para dirigir o Sindicato, em um<br />
panorama desfavorável às reivindicações da categoria e dos servidores públicos em<br />
geral, como o do atual Governo, é fundamental trazer à luz essa discussão basilar.<br />
Por fim, reproduzimos os questionamentos de ANTUNES (2010):<br />
“Qual caminho o novo sindicalismo brasileiro vai adotar: irá negociar dentro da<br />
Ordem ou contra a Ordem? Procurará elaborar um programa de emergência<br />
para simplesmente gerir a crise do capital ou tentará avançar na elaboração de<br />
um programa econômico alternativo, formulado sob a ótica dos trabalhadores,<br />
capaz de responder às reivindicações imediatas do mundo do trabalho, mas<br />
tendo como horizonte uma organização societária fundada nos valores<br />
socialistas efetivamente emancipadores? Pode-se responder que para tanto é<br />
preciso muito mais que ação sindical. É verdade. Mas pode-se responder que a<br />
ação sindical no Brasil dos nossos dias seguramente auxiliará, numa ou noutra<br />
direção, o que lhe confere uma enorme responsabilidade.”<br />
Não percamos tais reflexões de vista, companheiros!<br />
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:<br />
ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a<br />
centralidade do mundo do trabalho. 13ª Ed. Cortez, 2010, São Paulo.<br />
BOITO, Armando & MARCELINO, Paula. “O sindicalismo deixou a crise para trás? Um<br />
novo ciclo de greves na década de 2000.” CADERNO CRH, Salvador, v. 23, n. 59, p.<br />
323-338, Maio/Ago. 2010<br />
HOUAISS, Antonio. Minidicionário da língua portuguesa.3ª Ed. Objetiva, 2009, Rio de<br />
Janeiro.<br />
SAMIS, Alexandre. Sindicalismo e movimentos sociais. Sindscope, <strong>Sinasefe</strong>, Faísca,<br />
2010, São Paulo.<br />
SINASEFE. Estatuto do <strong>Sinasefe</strong>. Mimeo, Brasília, 2009. In: www.sinasefe.org.br.<br />
Acessado em 01/02/2012<br />
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