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Sindicato Nacional dos Servidores Federais da<br />

Educação Básica, Profissional e Tecnológica<br />

SINASEFE<br />

26º CONSINASEFE<br />

Tema central:<br />

“Os desafios do SINASEFE diante da expansão da<br />

rede”<br />

29 de março a 1º de abril de 2012<br />

Brasília-DF<br />

Caderno de Teses<br />

OBSERVAÇÕES IMPORTANTES:<br />

1. As Teses contidas neste documento serão debatidas e apreciadas<br />

durante o 26º CONSINASEFE, e para tal, encaminhadas e discutidas<br />

junto às bases que compõem o Sindicato Nacional;<br />

2. O conteúdo dessas Teses é de responsabilidade dos seus autores,<br />

inclusive não tendo sofrido qualquer tipo de correção ortográfica ou<br />

de conteúdo, procurando garantir e preservar, assim, as idéias<br />

originais dos seus autores;<br />

3. A ordem de apresentação foi baseada no recebimento das teses.<br />

Brasília-DF, 08 de fevereiro de 2012.


Páginas Título Autor (a) Base Data recebimento<br />

01-12 SAÚDE DO TRABALHADOR: Campo que<br />

privilegia a fala do Trabalhador através<br />

do MAPA DE RISCO, com a intervenção<br />

do sindicato.<br />

13-17 REESTRUTURAÇÃO DA CARGA<br />

HORÁRIA DOCENTE: Contribuições<br />

para uma Regulamentação Nacional<br />

Democrática da Prática Docente nas<br />

lFE’s.<br />

18-21 “REORGANIZANDO O SINASEFE PARA O<br />

ENFRENTAMENTO DOS DESAFIOS”<br />

22 e 23 Diminuição do percentual de<br />

contribuição Sindical das Seções para o<br />

SINASEFE - DN.<br />

24-27 Organização por local de trabalho e a<br />

expansão da Rede Federal de Ensino<br />

Índice dos textos<br />

Élcio Amaral Belém-PA 10 de novembro de 2011<br />

23h24<br />

Bruno Andrade da Silva Belém-PA 14 de novembro de 2011<br />

12h23<br />

João Batista Oliveira<br />

Silva<br />

Rio Pomba -<br />

MG<br />

29 de janeiro de 2012<br />

22h20<br />

Joilson Cruz Salvador-BA 31 de janeiro de 2012<br />

01h06<br />

Carmem Lucia Werneck Barbacena-MG 31 de janeiro de 2012<br />

09h53<br />

28-36 6 HORAS DE TRABALHO Marcos Dorval Schmitz CEFET-SC 31 de janeiro de 2012<br />

16h56<br />

37-41 A Função Social da Escola e a Formação Tânia Guerra Pelotas-RS 31 de janeiro de 2012<br />

Continuada<br />

18h19<br />

42-51 “A constituição dos Institutos Federais Hugo Manso Junior Natal-RN 1 de fevereiro de 2012<br />

de Educação, Ciência e Tecnologia:<br />

Uma iniciativa positiva na perspectiva<br />

de superação do ambiente neoliberal<br />

na educação brasileira e os novos<br />

desafios ao Movimento Sindical”.<br />

17h19<br />

52-57 O PRIMEIRO ANO JÁ PASSOU, O QUE Luiz Sérgio e mais 26 Diversas bases 1 de fevereiro de 2012<br />

MAIS PODEMOS ESPERAR DO<br />

GOVERNO DILMA EM2012?<br />

19h50<br />

58-73 A EXPANSÃO DA REDE FEDERAL DE Marival Coan e mais 5 IF-SC<br />

1 de fevereiro de 2012<br />

EDUCAÇÃO PROFISSIONAL:<br />

aspectos econômicos e políticos e os<br />

desafios ao movimento sindical<br />

21h04<br />

74-90 INTERSINDICAL – INSTRUMENTO DE Ricardo Velho e mais 2 Diversas 1 de fevereiro de 2012<br />

LUTA E ORGANIZAÇÃO DA CLASSE<br />

TRABALHADORA<br />

21h22<br />

91 e92 Expansão Quantitativa da Rede Federal Augusto Miceno Mato Grosso 1 de fevereiro de 2012<br />

e Diversidade “Qualitativa” do Assédio<br />

Moral e Psicológico<br />

do Sul 21h42<br />

93-97 POR UM SINDICALISMO COM<br />

Katia Motta e<br />

Sindscope-RJ 1 de fevereiro de 2012<br />

PRINCÍPIOS<br />

Alexandre Samis<br />

23h02


TESE 01<br />

SAÚDE DO TRABALHADOR: Campo que privilegia a fala do<br />

Trabalhador através do MAPA DE RISCO, com a intervenção do<br />

sindicato.<br />

Autoria: Professor Antonio Élcio Padilha do Amaral<br />

Instituto Federal de educação, Ciência e Tecnologia do Pará, Campus Belém, Av.<br />

Almirante Barroso, 1155, Marco, Belém-Pará, CEP. 66.093-020, Tel. (91) 3201 1798,<br />

Resumo<br />

(91) 81428001. e-mail: elcioamaral@yahoo.com.br<br />

Esta tese se propõe a fazer conceituações sobre o trabalho, colocando-o como<br />

atividade inerente ao ser humano, historicizando o homem enquanto trabalhador. Colocando o<br />

trabalho como uma condição inerente à existência humana, caracterizando-o desde suas<br />

formas mais rudimentares até os dias atuais, relacionando-o com o desenvolvimento de<br />

técnicas e com a distribuição de tarefas entre os indivíduos ou entre grupo deles. Para<br />

exemplificar essa afirmativa fazemos um resgate histórico do trabalho desde a antiguidade até<br />

os dias atuais caracterizando em cada momento histórico, político e cultural, suas<br />

precariedades, dificuldades, lutas sindicais e o surgimento das primeiras Leis Trabalhistas que<br />

garantiram direitos com vistas a melhoria das condições de trabalho e sua importância como<br />

fator de inclusão social. Na seqüência o trabalho se vale dos estudos feitos por MENDES, R &<br />

DIAS (1991) abordando os aspectos histórico-conceitual desde a medicina do trabalho,<br />

passando pela saúde ocupacional até a atualidade, com a denominação de saúde do<br />

trabalhador, caracterizando cada uma dessas fases. Por fim, conceituamos MAPA DE RISCO<br />

dentro dos três princípios primordiais que norteiam esse instrumento: Grupo homogêneo, Não<br />

delegação; e Validação consensual. Destacando que o MAPA DE RISCO é uma alternativa<br />

sindical que se sustenta na máxima participação e decisão dos trabalhadores com relação a<br />

discussão do seu ambiente de trabalho, se colocando como sujeito das ações e intervenções<br />

para sua melhoria, visando a prevenção de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho.<br />

Finalizamos definindo oito grupos de risco, por categoria e agrupados, quais sejam: Grupo 1 -<br />

Fatores Físicos, Grupo 2 - Fatores Químicos; Grupo 3 - Fatores Biossanitários; Grupo 4 -<br />

Fatores Psicológicos; Grupo 5 - Fatores Ergonômicos; Grupo 6 - Fatores de Segurança; Grupo<br />

7 - Fatores Sociais e Grupo 8 - Fatores Ambientais. Cada um desses fatores de risco são<br />

colocados de maneira clara identificando e reconhecendo cada um deles. Concluindo que,<br />

somente através da percepção dos riscos por parte dos(as) trabalhadores(as) e a participação<br />

do sindicato, poderemos elaborar o MAPA DE RISCOS e melhorar a qualidade de vida da<br />

classe trabalhadora da educação (docente e técnico-administrativo) e as condições de<br />

trabalho, em especial nos ambientes laborais do Campus Belém - Instituto Federal de<br />

Educação Ciência e Tecnologia do Pará.<br />

Palavras chaves: riscos, segurança, saúde, trabalho.<br />

O TRABALHO<br />

O trabalho pode ser entendido como toda atividade pela qual o homem, no exercício de<br />

suas forças físicas e mentais, direta ou indiretamente, transfigura a natureza para colocá-la a<br />

1


seu serviço. Por outro lado, tão ligado está o trabalho à definição de nossa identidade que,<br />

quando somos apresentados a uma pessoa, a pergunta mais imediata que fazemos não é de<br />

onde ela vem ou quem é sua família, mas o que ela faz. O trabalho é a atividade humana<br />

aplicada à produção, à criação e ao entretenimento. Do ponto de vista econômico, o dispêndio<br />

de energias físicas e mentais ocorre para a produção de valores de uso ou de troca. Hoje nos<br />

preocupamos também com o que ele faz de nós trabalhadores, como ele nos transforma e traz<br />

felicidade. A mais notável característica do trabalho moderno talvez esteja em nossa mente, na<br />

difundida crença de que o trabalho deve nos tornar felizes, no entanto percebemos que existem<br />

várias causa de infelicidade e queixas dos trabalhadores, entre elas destacamos: Salários<br />

abaixo do razoável; Pouco desenvolvimento pessoal; Falta de reconhecimento; Chefia fraca<br />

que não orienta; Idéias ignoradas com esforço não percebido; Ausência de propósitos;<br />

Benefícios insuficientes; e Trabalho desagradável, inseguro para a saúde e qualidade de vida<br />

no ambiente laboral. Verificando o breve histórico do trabalho por milênios nota-se que o<br />

trabalho é considerado uma maldição, destinado apenas aos homens tidos como “inferiores”. A<br />

coisa se repete quando analisarmos a evolução histórica conceitual desde a Medicina do<br />

Trabalho, passando pela Saúde ocupacional até os dias de hoje com a Saúde do trabalhador,<br />

no entanto, percebe-se que nessa última conceituação dá-se mais valor a fala do trabalhador<br />

enquanto sujeito das ações para a promoção e segurança no ambiente de trabalho, se valendo<br />

de um instrumento importante para a prevenção de acidentes e doenças relacionadas ao<br />

trabalho, denominado MAPA DE RISCO. Nessa concepção ampliam-se os agentes de riscos<br />

previstos na Lei 3214/1971 do Ministério do Trabalho e Emprego, para oito fatores de riscos,<br />

conceituando, caracterizando, identificando e reconhecendo cada um deles no ambiente<br />

laboral e seus agravos na saúde do trabalhador.<br />

1. EVOLUÇÃO DO TRABALHO ATRAVÉS DOS TEMPOS<br />

Desde a pré-história, o homem vem trabalhando para suprir suas necessidades vitais. A<br />

princípio, para ter acesso aos alimentos, utilizou-se da coleta. Mais tarde, quando começou a<br />

sentir que era preciso defender-se de animais ferozes e de outros homens, iniciou-se na<br />

fabricação de armas para a caça e de instrumentos de defesa, para o duelo com seus<br />

semelhantes. Utilizou-se, para isso, de ossos de animais e, posteriormente, de pedras,<br />

começando, assim, a atividade industrial. Com a escassez de carne, passou ao cultivo da terra,<br />

mudando, inclusive, os seus hábitos. Do pouco relacionamento com os outros habitantes,<br />

passou a organizar-se social e politicamente, e, à medida que a população crescia, as<br />

sociedades foram tornando-se mais complexas.<br />

Das batalhas que os homens travavam entre si, restavam os prisioneiros. Aqueles que<br />

não eram eliminados eram escravizados, subjugados, sendo explorados em seu trabalho.<br />

Surgia, então, a escravidão, caracterizada pela dominação do homem sobre o homem. O<br />

escravo era considerado uma coisa, sem qualquer dignidade nem direitos, inclusive o de sua<br />

própria vida. Essa forma de trabalho teve um estágio significativo na história, principalmente<br />

entre romanos, egípcios e gregos, onde: O trabalho manual era considerado um fardo<br />

destinado apenas aos escravos e camadas pobres da população. Os homens livres, uma<br />

minoria, podiam se dedicar a guerra, filosofia, administração pública e às artes.<br />

2


Com as peculiaridades próprias às diversas épocas históricas, depois da escravidão, o<br />

trabalho assumiu a forma de servidão: a economia estava centrada na agricultura e na<br />

pecuária. O trabalho, realizado por servos, visava, basicamente, à alimentação, à habitação e<br />

ao vestuário. Apesar de não se encontrarem na condição de escravos, os servos estavam<br />

sujeitos a severas restrições e a pesados impostos e dependiam, inclusive para proteção, do<br />

senhor da terra, dotado de um poder absoluto. Nessa fase os servos eram responsáveis por<br />

produzir tudo o que a sociedade medieval consumia, de alimentos a utensílios e armas. O<br />

Clero se dedicava à teologia e os nobres eram encarregados das guerras.<br />

Foi no final da Idade Média, que os trabalhadores começaram a libertar-se do senhor da<br />

terra. Unidos, os trabalhadores passaram a formar corporações de oficio, grupos profissionais<br />

com suas próprias leis. No entanto, a liberdade dos trabalhadores não era total, pois essas leis<br />

eram estabelecidas de forma unilateral. Dentro das corporações, estabeleceu-se uma rígida<br />

hierarquia entre mestres, companheiros (operários dependentes) e aprendizes. Os mestres<br />

eram os proprietários das oficinas e mantinham o controle do trabalho, cabendo aos<br />

companheiros realizá-lo em troca de um salário. Nesta fase, Renascentista, inicia-se uma<br />

valorização do homem e seus atos mundanos, inclusive o trabalho, passa a ser bem vistos.<br />

A partir do século XVIII, com a Revolução Industrial, o mundo passou a viver uma nova<br />

etapa. Caracterizada, inicialmente, pelo desenvolvimento da técnica na produção e nas<br />

comunicações, seus desdobramentos alcançaram, posteriormente, todas as áreas da<br />

sociedade. A utilização da força motriz veio substituir a força muscular dos homens e dos<br />

animais, ocasionando uma verdadeira revolução nas relações de trabalho. Os ideais de<br />

liberdade e de igualdade, vitoriosos na Revolução Francesa, expandiram-se pelo mundo.<br />

Tendo início na Grã-Bretanha, as novas invenções técnicas, o desenvolvimento<br />

considerável do maquinismo, a implantação de manufaturas e usinas propiciou a produção em<br />

massa. O intenso movimento migratório do campo em direção às cidades, com o abandono das<br />

propriedades rurais em favor da indústria, o excesso de oferta de mão de obra e os salários<br />

reduzidos causaram problemas sociais, ainda agravados pela excessiva jornada de trabalho,<br />

pela exploração do trabalho de crianças e de mulheres, pelas péssimas condições de trabalho,<br />

de saúde e da vida em geral, que se apresentavam à época. As moléstias profissionais, bem<br />

como as mutilações e as mortes de trabalhadores, aconteciam sempre, dado o despreparo<br />

para lidar com os novos mecanismos e os impróprios ambientes de trabalho. Com a criação<br />

das máquinas, nessa época, um número maior de trabalhadores era necessário para fabricar<br />

produtos industrializados, daí então:<br />

A mão de obra abundante e barata, sofria com as péssimas condições de trabalho,<br />

insalubres das fábricas além das longas jornadas de trabalho repetitivo, gerando um exército<br />

de trabalhadores doentes e acidentados.<br />

3


Reações fizeram-se sentir e surgiu o marco inicial da normatização das relações<br />

trabalhistas, com o Direito do Trabalho, no final do século XVIII.<br />

E as primeiras leis trabalhistas surgiram, beneficiando crianças e mulheres, visando<br />

coibir os abusos que se praticavam com relação à idade mínima para o trabalho e à duração de<br />

sua jornada diária lei de Peel, na Inglaterra, em 1802. Na mesma época, surgiram as leis<br />

relativas à previdência e assistência social.<br />

No pós-guerra um modelo de organizações e especializações dos funcionários se<br />

consolida e: O empregado é protegido por leis trabalhistas, com alguma melhora no ambiente<br />

de trabalho e satisfação pessoal. Um dos efeitos da guerra foi a entrada em massa das<br />

mulheres no mercado do trabalho.<br />

No período contemporâneo, as normas trabalhistas são relevantes e não somente<br />

regulamentam as relações de trabalho, mas também protegem quem está desempregado e<br />

visam à ampliação das negociações coletivas e do sindicalismo, adequando-se às novas<br />

formas de trabalho e ao procedimento produtivo. Nesse momento o trabalho mecanizado é<br />

cada vez mais relegado às máquinas, e valorizam-se as tarefas mais complexas que exigem<br />

criatividade e emoção. Abre-se mais espaço para realização pessoal no trabalho. Por outro<br />

lado as pessoas são mais exigidas, e a tecnologia permite que o trabalho nos alcance a<br />

qualquer hora do dia, através dessa era digital.<br />

No século XX, a evolução do mundo foi muito rápida e conturbada socialmente,<br />

propondo novos desafios a cada momento, levando o homem a uma constante necessidade de<br />

aprender e de adaptar-se às novas situações e circunstâncias, assimilando novos valores,<br />

culturas e posicionamentos políticos, sociais e econômicos.<br />

A mudança radical nas relações econômicas entre os países, com diversas integrações<br />

econômicas e monetárias (como a Comunidade Européia e o Mercosul), facilitadas pelos meios<br />

de comunicação, que destruíram fronteiras e aproximaram os povos e as culturas, trouxe<br />

consigo a flexibilidade e a necessidade de uma maior abertura comercial, com graves<br />

consequências para os trabalhadores e para as sociedades menos protegidas e despreparadas<br />

para este forte impacto social.<br />

As mudanças no mundo do trabalho produzem alterações nas estruturas e na<br />

engenharia produtiva das empresas com repercussões econômicas e sociais. Novas<br />

competências são exigidas dos trabalhadores. Não basta saber fazer, é preciso saber mudar e<br />

adentra-se na era do conhecimento.<br />

Novas formas de trabalho e de contrato modificam as tradicionais relações de trabalho,<br />

adequando-se às exigências econômicas e de produtividade. No entanto, a necessidade de se<br />

proteger os direitos básicos permanece, pois eles estão relacionados à justiça social. Paralelo<br />

a esse resgate histórico, político e social do trabalho, verificamos que os mecanismos de<br />

4


proteção ao trabalhador também foram evidentes e contextualizados a cada momento histórico,<br />

político e social, se não veremos na sequencia essas fases no item seguinte.<br />

2. DA MEDICINA DO TRABALHO A SAÚDE DO TRABALHADOR<br />

Com a Revolução Industrial, o trabalhador “livre” para vender sua força de trabalho, se<br />

vê submetido aos ritmos de produção determinados pelo capital. A condição de trabalho<br />

precária, ambiente extremamente desfavorável à saúde, frequentemente incompatíveis com a<br />

vida, às quais se submetiam também mulheres e crianças, foi quando implantaram primeiro<br />

serviço de medicina do trabalho nas fábricas, em 1830, sendo Robert Baker, o primeiro médico<br />

do trabalho. Daí surgem as primeiras leis de saúde pública que marcadamente abordavam a<br />

questão da saúde dos trabalhadores (Act Factory, 1933 na Inglaterra). A Medicina do Trabalho<br />

tinha aí seu marco legal inicial, com as seguintes características: Serviços dirigidos por<br />

pessoas de inteira confiança do empresário; Serviços centrados na figura do médico; Cabia ao<br />

médico a responsabilidade exclusiva pela prevenção dos danos à saúde decorrentes dos riscos<br />

do trabalho; A responsabilidade pela ocorrência dos problemas de saúde ficava transferida ao<br />

médico; Paralelo ao processo de industrialização ocorreu à expansão dos serviços médicos<br />

com esse modelo; A fragilidade dos sistemas de assistência à saúde fortaleceu os serviços<br />

médicos da empresa, que se tornam instrumentos para manter a dependência do trabalhador e<br />

estabelecer o controle sobre os mesmos; A partir da década de 50, a OIT, propõe o fomento à<br />

formação de médicos do trabalho e o estudo da organização de Serviços de Medicina do<br />

Trabalho; A Medicina do Trabalho é uma atividade exclusivamente médica e sua prática dão-se<br />

nos locais de trabalho; Ocupa-se da adaptação física e mental dos trabalhadores no sentido de<br />

colocá-los em lugares ou tarefas correspondentes às suas aptidões/adequação do trabalho ao<br />

trabalhador, com o objetivo de escolher de mão de obra menos geradora de problemas,<br />

Controlando o absenteísmo e suas consequências, garantindo o retorno mais rápido à<br />

produção.<br />

No período pós-guerra houve um esforço industrial para reestruturação dos países<br />

gerando condições extremamente adversas de trabalho (aumento do número de acidentes e<br />

doenças do trabalho), afetando a produtividade e trazendo impacto para o setor previdenciário,<br />

com o avanço tecnológico surgem novos processos industriais, novos equipamentos, nova<br />

organização do trabalho, nova divisão internacional do trabalho. Então somente a medicina do<br />

trabalho se torna impotente para intervir na nova conjuntura e dessa forma aumenta a<br />

insatisfação dos trabalhadores e empregadores, particularmente as companhias de seguro,<br />

dados os custos das indenizações provocadas pelas indenizações por incapacidade provocada<br />

pelos acidentes e doenças.<br />

Surge a Saúde ocupacional com algumas características: Se configura na ampliação da<br />

atuação médica direcionada ao trabalhador, sendo voltada para a intervenção sobre o<br />

5


ambiente de trabalho, com o instrumental oferecido por outras disciplinas e outras profissões;<br />

Sob a influência da Saúde Ambiental (Saúde Pública) / controle dos riscos ambientais e da<br />

Higiene Industrial, surge como um avanço na perspectiva da interdisciplinaridade, relacionando<br />

ambiente-corpo do trabalhador; Incorpora a teoria da multicausalidade, na qual um conjunto de<br />

fatores de risco é considerado na produção da doença, avaliada através da clínica médica e de<br />

indicadores ambientais e biológicos de exposição e efeito; Mantém-se o referencial da<br />

Medicina do Trabalho (visão racional, mecanicista); Desconsidera os chamados riscos<br />

invisíveis (sofrimento psíquico, organização do trabalho, assédio moral etc.).<br />

Na década de 60 os movimentos sociais iniciam-se nos países industrializados como<br />

Alemanha, Inglaterra, França, Estados Unidos e Itália, atingindo o mundo afora, questionando<br />

sobre a liberdade, o uso do corpo, o sentido do trabalho na vida, valores tradicionais, levando a<br />

participação dos trabalhadores nas questões de saúde e segurança.<br />

Mudanças nas políticas sociais e especificamente na legislação do trabalho (Ex:<br />

Estatuto dos Trabalhadores na Itália/não delegação da vigilância da saúde ao Estado, não<br />

monetarização do risco, validação do saber do trabalhador, realização de estudos e<br />

investigações independentes). No campo da saúde ganha corpo a teoria da determinação<br />

social do processo saúde-doença. Especificamente na sua relação com o trabalho, as novas<br />

discussões no campo da saúde questionam a medicina do trabalho e a saúde ocupacional,<br />

criando-se o novo paradigma no campo da saúde abre espaço para efetiva participação do<br />

trabalhador, entendido agora como sujeito, repercutindo na área da Saúde Pública que tem<br />

como objeto de estudo e intervenção as relações entre o trabalho e a saúde, tendo como<br />

objetivo: a promoção e a proteção da saúde do trabalhador, por meio do desenvolvimento de<br />

ações de vigilância dos riscos presentes nos ambientes e condições de trabalho; dos agravos à<br />

saúde do trabalhador e a organização e prestação da assistência, compreendendo diagnóstico,<br />

tratamento e reabilitação.<br />

Nesse sentido a saúde do trabalhador caracteriza-se por ser: Campo do saber que visa<br />

compreender a complexa relação entre o trabalho e o processo saúde-doença; Considera a<br />

saúde e a doença como processos dinâmicos, estreitamente articulados com os modos<br />

produtivos e de desenvolvimento da humanidade em determinado momento histórico; Parte do<br />

princípio de que a forma de inserção dos indivíduos nos espaços de trabalho contribui<br />

decisivamente para formas específicas de adoecer e morrer; Pela complexidade de seu objeto<br />

propõe a construção de saberes e ações que só são possíveis na articulação multiprofissional,<br />

interdisciplinar e intersetorial; Campo que privilegia o conhecimento e a fala do próprio<br />

trabalhador sobre sua realidade laborativa, através do MAPA DE RISCO.<br />

3. O MAPEAMENTO DE RISCOS E A FALA DO TRABALHADOR<br />

No final dos anos 60 e início da década de 70 o movimento sindical italiano definiu como<br />

6


uma de suas prioridades a luta pela democratização dos locais de trabalho e a defesa da<br />

saúde no trabalho, isto porque os anos 60 na Itália apresentavam um gravíssimo quadro da<br />

falta de condições de trabalho, 7 (sete) mortes por dia. A ação sindical foi dirigida ao controle<br />

do processo de trabalho e à conquista de um poder real dos trabalhadores, de suas<br />

representações nos locais de trabalho e dos sindicatos, na busca de soluções para os graves<br />

problemas da nocividade, objetivando transformar o local de trabalho em um ambiente seguro<br />

e um espaço democrático.<br />

Trabalhadores, Conselhos de Fábrica, Sindicatos e técnicos se aliaram desenvolvendo<br />

uma metodologia de intervenção nas condições de trabalho que veio a ser chamada de Modelo<br />

Operário Italiano, o qual se baseia em três princípios: grupo homogêneo, não delegação e<br />

validação consensual. Concretamente criaram uma técnica de amostragem ou esquema de<br />

análise chamada MAPA DE RISCO.<br />

No Brasil a metodologia começou a ser utilizada no início dos anos 80 com a troca de<br />

experiência entre sindicalistas e técnicos brasileiros e italianos e, de forma mais sistemática, a<br />

partir de 1990 através de entidades sindicais, que desenvolveram, com base em estudos<br />

práticos, a metodologia do mapa de risco tendo como referência a experiência sindical italiana.<br />

O mapa de risco é uma representação gráfica (esboço, croqui, layout ou outro), de uma<br />

das partes ou de todo o processo produtivo, onde se registram os riscos e fatores de risco a<br />

que os trabalhadores estão sujeitos e que são vinculados, direta ou indiretamente, ao processo<br />

e organização do trabalho e às condições de trabalho.<br />

O registro dos fatores de risco no desenho deve ser feito da forma mais simples<br />

possível, para que seja facilmente entendido por todos aqueles que o consultarem. Os riscos e<br />

fatores de risco podem ser registrados através de figuras, cores, ou outros símbolos que os<br />

trabalhadores considerarem a forma mais fácil de ser entendida. A representação adotada<br />

deve ser compreendida e usada por todos, de forma a tornar homogêneo os registros e as<br />

análises.<br />

A elaboração do mapa de risco como uma alternativa sindical que se sustente na<br />

máxima participação e decisão dos trabalhadores, deve levar em conta alguns princípios que<br />

fundamentam uma linha operativa de transformação da organização do processo de trabalho<br />

ou, ao menos, eliminação ou redução dos riscos. Nesse sentido a metodologia destaca três<br />

princípios fundamentais para elaboração do mapa de risco:<br />

a) Grupo Homogêneo<br />

O grupo homogêneo é uma estrutura organizativa de base através da qual se realiza a<br />

direta participação dos trabalhadores em tudo aquilo que esteja relacionado às suas condições<br />

de trabalho, podendo ser destacado como a menor parte organizativa que mantém todas as<br />

características específicas da classe trabalhadora. Por Grupo Homogêneo se entende a menor<br />

unidade social de trabalho existente em um setor ou área, onde os trabalhadores estão<br />

7


submetidos às mesmas condições, resultantes da organização do trabalho, tendo em comum<br />

as suas atividades, os riscos e os fatores de risco a eles relacionados.<br />

Através da discussão sobre as próprias condições de trabalho e com a socialização das<br />

experiências, é que cada trabalhador, em particular, descobre a dimensão social dos próprios<br />

problemas. É por este processo - discussão e socialização - que a dimensão puramente<br />

individual da condição de trabalho transforma-se em uma questão coletiva, que compromete<br />

todo o grupo na busca de soluções. Um momento posterior, também unificador, é aquele<br />

quando se reúnem os representantes dos grupos homogêneos.<br />

No interior destes organismos é que se faz a análise completa do processo de trabalho<br />

e a forma como está organizado, segundo a experiência dos trabalhadores. O objetivo é, num<br />

primeiro momento, analisar como o trabalho compromete a integridade física e psíquica dos<br />

trabalhadores.<br />

O critério usado pelo grupo homogêneo para prever riscos, ou identificar e avaliar<br />

fatores de risco, é um critério epidemiológico, baseado na análise do potencial de ocorrência de<br />

um evento ou a presença de um fenômeno desencadeador de danos no grupo e não no<br />

individual. Portanto uma abordagem de saúde coletiva, que torna este critério o de maior<br />

validade para o estudo da nocividade no trabalho.<br />

b) Não Delegação<br />

Não delegação significa, antes de tudo, um profundo convencimento dos trabalhadores<br />

e suas representações, de não poder mais entregar a ninguém o controle sobre as suas<br />

condições de trabalho. Não delegação é a recusa, pelos trabalhadores e suas representações,<br />

de repassar a outros as responsabilidades que lhes são próprias.<br />

Não haverá alternativas ou “soluções técnicas” enquanto o desgaste físico e o desgaste<br />

psicológico, provocados pela carga e pelo ritmo de trabalho, não forem quantificados<br />

objetivamente. Portanto, o único elemento que serve como parâmetro é o ser humano, aqueles<br />

homens e mulheres que compõem o grupo de trabalhadores em um local de trabalho.<br />

Não delegação também significa opor-se ao “direito patronal”, até há pouco tempo<br />

incontestado, de organizar o processo de trabalho sem responsabilizar-se por resguardar a<br />

saúde dos trabalhadores. Isto representa, por um lado, uma tomada de consciência de classe<br />

pelos trabalhadores, mas, por outro lado, cria a exigência, para estes e suas representações,<br />

de serem capazes de exercitarem autonomaticamente este controle e de proporem, com base<br />

na própria experiência e naquela dos técnicos com eles comprometidos, novas formas e modos<br />

de organizar o processo de trabalho tornando-o incapaz de gerar nocividade.<br />

c) Validação Consensual<br />

A classe trabalhadora na defesa da sua saúde, afirma, com a não delegação, a própria<br />

vontade de não demandar a outros a tarefa básica para a sua emancipação e identifica na<br />

validação consensual uma modalidade para o exercício desta tarefa.<br />

8


A validação consensual estabelecida pelo grupo homogêneo representa um ponto de<br />

referência para a ação preventiva, isso para todas as suas fases de intervenção na<br />

organização e nas condições de trabalho: conhecimento, negociação e controle. Por validação<br />

consensual se entende o julgamento sobre o nível de bem-estar ou de incômodo, de<br />

tolerabilidade ou de intolerabilidade que uma determinada situação de trabalho é expressa<br />

pelos trabalhadores.<br />

Somente o trabalhador, ou melhor, o grupo de trabalhadores, que vive em um<br />

determinado ambiente de trabalho e sob determinadas condições oito horas ou mais por dia<br />

pode, portanto, validar a nocividade que este ambiente provoca durante as horas trabalhados,<br />

ou mais, de exposição.<br />

Trata-se da criação de um sistema eficiente, do ponto de vista científico, no qual a<br />

organização no local de trabalho e o sindicato devem assumir a responsabilidade de coordenar<br />

a ação dos diversos grupos de trabalhadores, de tal modo que o conceito de grupo seja<br />

equivalente ao conceito de classe trabalhadora. Do sindicato é que se espera o cumprimento<br />

da difícil tarefa de fazer com que a validação consensual, inicialmente um instrumento de<br />

julgamento, venha a se constituir em um instrumento de suporte para uma nova prática na<br />

ação sindical e para a implementação de uma estratégia sindical alternativa à estratégia<br />

patronal.<br />

4. CLASSIFICAÇÃO DOS RISCOS<br />

O processo de análise, pelos trabalhadores, tanto da organização como das condições de<br />

trabalho, é fundamentado em uma concepção classista de atuação sindical, quando define e adota<br />

oito grupos de risco, onde estão aglutinados, por categoria, com diversos determinantes de<br />

nocividade no trabalho, os quais os trabalhadores estão sujeitos cotidianamente. É importante<br />

salientar que o rol de fatores, citados em cada um dos grupos, é os mais comuns e outros podem<br />

ser acrescentados.<br />

Nos oito grupos de fatores estão representados os já tradicionais: físicos, químicos e<br />

biológicos, que junto com os fatores de higiene compuseram um grupo de fatores biossanitários,<br />

além da fadiga ou esforço que foram introduzidos em um grupo de fatores chamado de<br />

ergonômicos. A estes grupos de fatores foi acrescentado outro grupo vinculado ao desgaste mental<br />

provocado pela organização do processo de trabalho, que foi chamado de fatores psicológicos. Dois<br />

outros grupos refletem as especificidades brasileiras relativas aos acidentes no trabalho e às<br />

condições de vida do trabalhador, nominados respectivamente de fatores de segurança e sociais.<br />

Por último foi criado um grupo, fatores ambientais, que aglutinou os riscos ao meio ambiente<br />

externo decorrente do funcionamento de determinados processos produtivos e de determinadas<br />

formas de organização da produção e do trabalho. Na seqüência destacamos cada um desses<br />

grupos, elencando os agentes agressivos por categoria:<br />

Grupo 1 - Fatores Físicos: Calor, Frio, Iluminação, Pressões Anormais, Radiação<br />

9


Ionizante, Radiação não Ionizante, Ruído, Ventilação, Vibração, Umidade.<br />

Grupo 2 - Fatores Químicos: Dentre o grande número de produtos químicos nocivos,<br />

largamente utilizados na indústria, deve ser destacado os Solventes: substâncias líquidas, voláteis,<br />

que pertencem a diversos grupos químicos, utilizadas para extrair, deslocar, aplicar, tratar, dissolver<br />

outras substâncias sem reagir com elas. Os solventes pertencem às seguintes classes químicas:<br />

álcoois, glicóis, cetonas, éteres, ésteres, hidrocarbonetos aromáticos e alifáticos, aldeídos, amino-<br />

nitro-compostos e derivados halogenados.<br />

Grupo 3 - Fatores Biossanitários: Vírus, Bactérias, Protozoários, Fungos, Parasitas,<br />

Animais, Refeitório, Lixo, Esgoto, Banheiros, Vestiários e Bebedouros.<br />

Grupo 4 - Fatores Psicológicos: Estado psicológico que caracteriza-se pela incapacidade<br />

de discriminar e manifestar emoções: dificuldade de expressar sentimentos tomando por físicas as<br />

manifestações emocionais, Estresse, Rebaixamento da auto-estima.<br />

Grupo 5 - Fatores Ergonômicos: São os fatores de risco ligados às atividades motrizes<br />

responsáveis pela ocorrência da fadiga no ser humano, gerada pelo esforço das estruturas<br />

musculares e esqueléticas próprio da ação, uso e gasto, no trabalho, respectivamente dos<br />

movimentos, da força e da energia do corpo ou de seus segmentos. Exemplos: esforços físicos,<br />

posturas corporais, movimentos repetitivos, ritmos de trabalho, etc.<br />

Grupo 6 - Fatores de Segurança: São aqueles fatores de risco que comprometem a<br />

segurança dos trabalhadores nos locais de trabalho e que são desencadeadores de acidentes.<br />

Estes fatores estão vinculados ao seguinte: condições das máquinas, dos equipamentos, das<br />

ferramentas, das instalações elétricas, do piso, dos elevadores, também de manuseio das<br />

substâncias e materiais inflamáveis e explosivos etc.<br />

Grupo 7 - Fatores Sociais: Este grupo engloba aqueles fatores de risco decorrentes das<br />

condições de vida enfrentadas pelos trabalhadores, de natureza social do processo de<br />

saúde/doença. Fatores sociais da saúde como: transporte, alimentação, lazer, moradia etc.<br />

Grupo 8 - Fatores Ambientais: Os fatores de risco ambientais são aqueles oriundos dos<br />

empreendimentos ou unidades produtivas e que agridem o meio ambiente comprometendo o<br />

equilíbrio entre os fatores abióticos e os fatores bióticos, cujos efeitos atingem várias coletividades<br />

humanas, inclusive consumidores. Entre eles: os rejeitos sólidos, os resíduos líquidos, dutos,<br />

transporte de produtos e materiais etc. Trata-se de uma questão que também tem importância para<br />

as organizações sindicais, estabelecendo forte conexão entre o local de trabalho e o meio externo,<br />

considerando o meio ambiente como algo não desligado do lugar de trabalho, mas fazendo parte<br />

dele.<br />

5. CONCLUSÃO<br />

A nossa tese faz um passeio histórico no mundo do trabalho, resume a evolução desde a<br />

Medicina do Trabalho até a Saúde do trabalhador, passando pelos conceitos de saúde ocupacional,<br />

extraído do artigo de MENDES, R & DIAS (1991). Posteriormente destaca os princípios que norteiam o<br />

mapa de riscos, identificando e reconhecendo os fatores de riscos, no sentido de fundamentar e<br />

10


despertar os(as) trabalhadores(as) para a percepção dos riscos no seu ambiente de trabalho e os<br />

possíveis danos a segurança e saúde, de modo a atuar com mais efetividade e consciência na<br />

prevenção de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho. Dessa forma entendemos que, o(a)<br />

trabalhador(a) orientado(a) nessa perspectiva, pode tornar seu trabalho compatível com a preservação<br />

da vida e a promoção da saúde dos(as) trabalhador(as) enquanto sujeitos de ações que promovam a<br />

melhoria das condições de trabalho.<br />

Por outro lado chamamos atenção do sindicato - SINASEFE-Pará, enquanto entidade<br />

representativa das categorias de docentes e técnicos-administrativo, a continuar com seu papel na luta<br />

pela melhoria das condições de trabalho, entendendo ser uma das atribuições primordiais de qualquer<br />

entidade sindical, em detrimento a pouca preocupação do governo, enquanto patrão, com a saúde,<br />

segurança e qualidade de vida de seus servidores.<br />

Destacamos no texto que a fala e depoimentos dos(as) trabalhadores(as), passam a ser<br />

importante e fundamental instrumento formativo na identificação e reconhecimento dos fatores de riscos,<br />

na construção do MAPA DE RISCO. Levando-se em consideração essas contribuições, estaremos<br />

enriquecendo e dando outro significado à dinâmica do MAPA DE RISCO e ao mesmo tempo em que<br />

promove o diálogo entre o grupo, entendendo-os como homens concretos e não vazios, ou seja,<br />

participativos e sujeitos de sua própria história laboral. Ao levantar os agentes agressivos a segurança e<br />

a saúde por parte dos(as) trabalhadores(as) e apoiado pela ação do sindicato no local de trabalho,<br />

estaremos garantindo qualidade de vida a toda categoria de professores e técnicos-administrativos, base<br />

de nossa entidade. Entendendo que, somente através da percepção dos riscos por parte dos(as)<br />

trabalhadores(as) e a participação do sindicato, poderemos mudar os ambientes de trabalho, reduzindo<br />

e/ou minimizando os danos a saúde e segurança dos trabalhadores e trabalhadoras da educação, em<br />

especial a categoria de docentes e técnicos administrativos, que atuam dentro do Campus Belém do<br />

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará - IFPA.<br />

Essa tese propõe a constituição de um grupo multiprofissional, com visão interdisciplinar,<br />

capazes de se apropriar dos conhecimentos técnicos e da fala dos(as) trabalhadores(as) para<br />

elaboração do MAPA DE RISCO em todos os ambientes de trabalho do campus a ser estudado. Na<br />

elaboração do MAPA DE RISCO utilizaremos uma metodologia, onde assinalaremos, de forma clara, na<br />

planta ou croqui de cada setor do campus, os fatores de risco de acordo com as oito categorias,<br />

elencados anteriormente, devidamente identificados, reconhecidos e validados consensualmente pelos<br />

grupos homogêneos. A seguir, esses riscos serão sistematizados pelo grupo multiprofissional,<br />

estabelecendo prioridade aos mais graves e com maior frequência, utilizando para isso círculos com<br />

tamanhos e cores diferenciadas por grupo de risco.<br />

Ao final, o MAPA DE RISCO deverá indicar aqueles agentes de riscos a serem eliminados de<br />

imediato, fazendo a correlação entre eles e os danos ocorridos, através das consultas aos prontuários<br />

médicos, dos estudos técnicos realizados e das pesquisas sobre os riscos existentes. Neste trabalho de<br />

levantamento, devem participar todos os trabalhadores, sejam através do grupo homogêneo, seja<br />

através de questionários, entrevistas ou outras formas de informação e consulta, onde serão analisadas<br />

as condições de trabalho, a nocividade existente, registrando a situação epidemiológica de cada setor do<br />

campus em estudo. Por fim, proporemos correções e/ou intervenções de caráter preventivo, destacando<br />

11


as medidas de controle para reduzir e/ou minimizar os agentes de riscos agressivos a saúde e<br />

segurança dos (as) trabalhadores(as).<br />

A partir desse projeto piloto no Campus Belém do IFPA, defenderemos a hipótese de<br />

ampliarmos a toda Rede Federal com abrangência nacional, atingindo todos os campi (implantados e em<br />

expansão) dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia do Brasil, com a participação e<br />

intervenção do SINASEFE nacional, através de um Grupo de trabalho para acompanhamento das ações.<br />

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

LEGISLACAO DE SEGURANCA E SAÚDE DO TRABALHADOR – Brasília: Ministério do Trabalho e<br />

Emprego/SSST, 1999.<br />

MENDES, R & DIAS, E. C., 1991. Da medicina do trabalho à saúde do trabalhador. Revista de saúde<br />

pública, 25:3-11.<br />

RAMAZINI, Bernardino – As doenças dos trabalhadores; Tradução de Raimundo Estrêla. 3. Ed. São<br />

Paulo: FUNDACENTRO, 2000. 325p.<br />

SAUDE DO TRABALHADOR - Ministério da Saúde, Departamento de Atenção Básica, Departamento<br />

de Ações Programáticas e Estratégicas, Área Técnica de Saúde do Trabalhador – Brasília: Ministério da<br />

Saúde, 2001.<br />

LIDA, Itiro. Ergonomia: Projeto e produção. Edgard Blücher Ltda: 1993 – São Paulo/SP;<br />

CAMPOS, Armando A. Martins. Cipa: uma nova abordagem. Editora SENAC: 1999 – São Paulo/SP;<br />

SERRANO, Ricardo. Ergonomia e Segurança na Empresa - FUNDACENTRO<br />

WISNER, ALAIN. A INTELIGÊNCIA NO TRABALHO. EDITORA UNESP: 1994;<br />

MENDES, R. – Patologia do Trabalho. Rio de Janeiro: Atheneu, 1995;<br />

BRASIL. Ministério da Previdência e Assistência Social – Seguro de Acidente do Trabalho no Brasil.<br />

Brasília: MPAS,1997;<br />

Legislação de Segurança e Medicina do Trabalho – Brasília: MTE, SSST, 1999;<br />

Ministério da Saúde, Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária – Manual de Vigilância da Saúde de<br />

Populações Expostas a Agrotóxicos – Brasília – OPAS – REPRESENTAÇÃO DO BRASIL, 1997;<br />

SIVIERI, Luiz Humberto. Saúde no Trabalho e Mapeamento dos Riscos. In Saúde, Meio Ambiente e<br />

Condições de Trabalho: conteúdos básicos para uma ação sindical. São Paulo: FUNDACENTRO/CUT,<br />

1996;<br />

OLIVEIRA, João Cândido de. Gestão de Riscos no trabalho, uma proposta alternativa,<br />

FUNDACENTRO / CEMG,1999;<br />

ARAÚJO. Nelma Mirian Chagas de. Custos da implantação do PCMAT na ponta do lápis,<br />

FUNDACENTRO, 2002;<br />

TORLONI, Maurício. Programa de Proteção Respiratória, seleção e uso de respiradores -<br />

coordenação de Maurício Torloni; São Paulo: FUNDACENTRO, 2002.<br />

SAAD, Eduardo Gabriel, org. Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho; textos básicos<br />

para estudantes de engenharia. São Paulo, FUNDACENTRO. 1981.<br />

12


TESE 03<br />

TITULO:<br />

“REORGANIZANDO O SINASEFE PARA O ENFRENTAMENTO DOS DESAFIOS”<br />

AUTOR<br />

João Batista Oliveira Silva<br />

APRESENTAÇÃO:<br />

Talvez o fato de, não raras vezes, valorizarmos excessivamente conceitos<br />

aclamados em outros países e em outras culturas e até mesmo em outras instituições,<br />

esquecemos de adaptá-las para nossa cultura, nosso jeito de ser e de viver, nossos<br />

valores e crenças. A evolução das organizações em termos de modelos<br />

estruturais e tecnológicos, tendo as mudanças e o conhecimento como novos<br />

paradigmas; exige uma nova postura nos estilos pessoais e gerenciais voltados<br />

para uma realidade diferenciada e emergente.<br />

A principal preocupação desta tese é o conceito de equipe, que<br />

acreditamos não existir na eleição para a direção executiva do SINASEFE<br />

nacional. Isso ocorre, dada a forma em que é proposta em nosso estatuto,<br />

notadamente no TÍTULO IV, DAS ELEIÇÕES, na formação da Diretoria Executiva<br />

com a distribuição proporcional dos cargos em função do número de votos<br />

obtidos quando há mais de uma chapa.<br />

No atual sistema, se apresentadas mais de uma chapa na eleição, em função<br />

dos votos conquistados e de um quociente mínimo alcançado, cada uma das chapas<br />

“vitoriosas” apresentam os que farão parte da Direção Nacional, ou seja, seus<br />

“eleitos”. Se junta pessoas, às vezes com pensamentos, estilo e objetivos<br />

diferentes, impondo-se aos associados um grupo e não uma equipe no comando<br />

de nossa entidade, eliminando-se o conceito de maioria<br />

Grupo é um conjunto de pessoas com objetivos comuns, mas que nem sempre,<br />

se reúnem com todas as afinidades. Mesmo neste caso, havendo respeito, os<br />

benefícios que os membros encontram, em geral, produzem resultados aceitáveis. No<br />

entanto este grupo não é uma equipe. Equipe é um conjunto de pessoas não apenas<br />

com objetivos comuns, mas também com afinidades suficientes para atuar de forma<br />

harmônica e objetiva no cumprimento de metas pré- estabelecidas.<br />

No caso do SINASEFE apresentar uma chapa mostra-se uma equipe. Após o<br />

resultado, ela vira um grupo, pela falta de afinidade pessoal ou política de seus<br />

“ungidos”, descaracterizando a montagem da equipe.<br />

O trabalho em equipe pode ser entendido como uma estratégia concebida pelo<br />

homem para melhorar a efetividade do trabalho e elevar seu grau de satisfação,<br />

maximizando o potencial de cada um, ensinando-os a conviver com diferenças e<br />

extraindo o melhor que existe dentro de cada individuo. Trabalhando em equipe temos<br />

mais chances reais de superar nossos limites.<br />

Na formação da equipe para compor uma chapa, leva-se em conta objetivos,<br />

competências e afinidades individuais necessárias para o desenvolvimento das<br />

atividades e o alcance das metas. O respeito ao conceito de equipe, a interação entre<br />

18


seus membros e especialmente o reconhecimento da interdependência entre seus<br />

membros no alcance dos resultados, favorece ainda mais o processo como um todo.<br />

Ao misturar pessoas com notáveis desavenças para a composição da Direção<br />

Nacional, o SINASEFE passa a prejudicar a si mesmo, dado que se perde a<br />

proposição de trabalho na visão da chapa vencedora e cria-se uma luta de grupos<br />

conforme se vê hoje na relação entre seus membros, que passa a impressão de falta<br />

de companheirismo, de insatisfação em trabalhar juntos e de que suportar o convívio é<br />

um peso muito grande. Prevalecem vários estereótipos nocivos ao trabalho, tanto no<br />

aspecto pessoal quanto político.<br />

Não podemos querer transformar sem nos unificar para a luta. Existe uma<br />

necessidade histórica do homem de somar esforços para alcançar objetivos que,<br />

isoladamente, não seriam alcançados ou seriam de forma mais trabalhosa ou<br />

inadequada. Uma diretoria dividida é uma instituição sem comando.<br />

OBJETIVOS<br />

Mudar o estatuto nas regras de proposição, inscrição e eleição de chapas<br />

para a Direção do SINASEFE NACIONAL. Substituir no estatuto, todas as regras<br />

de composição da DN, que obriga a proporcionalidade ao número de votos que<br />

cada chapa obtiver no pleito, quando houver mais de uma chapa concorrendo,<br />

previsto no artigo 41 e seus parágrafos e todos os outros que se fizerem<br />

necessários e consagrar o direito de eleger a chapa completa que conseguir a<br />

maioria dos votos. Proporcionar a oportunidade de eleição de uma chapa para o<br />

Conselho Fiscal independente da chapa apresentada para a Diretoria Executiva.<br />

PROPOSTA<br />

Mudar no estatuto, a redação no titulo TÍTULO IV DAS ELEIÇÕES em todos os<br />

artigos e parágrafos, alterando os que se mostrarem em contrário e as competências<br />

que se fizerem necessárias para permitir que cada chapa seja apresentada completa,<br />

e que seja eleita aquela mais votada. Pela nossa proposição, cada chapa deverá<br />

apresentar:<br />

I - Uma Diretoria Executiva (DIREX)<br />

II - Um Conselho Fiscal (COFISC)<br />

A Diretoria Executiva (DIREX) deverá ser composta por:<br />

I - Presidente;<br />

- Vice-Presidente;<br />

II - Secretário-Geral;<br />

- Secretário-Adjunto;<br />

III - Tesoureiro-Geral;<br />

- Tesoureiro-adjunto;<br />

19


IV - Secretário de Política e Formação Sindical;<br />

- Secretário Adjunto Região Sul;<br />

- Secretário Adjunto Região Sudeste;<br />

- Secretário Adjunto Região Centro Oeste<br />

- Secretário Adjunto Região Norte;<br />

- Secretário Adjunto Região Nordeste;<br />

V - Secretário de Imprensa e Divulgação;<br />

- Secretário Adjunto de Imprensa e Divulgação<br />

VI - Secretário de Assuntos Legislativos e Jurídicos;<br />

- Secretário Adjunto de Assuntos Legislativos e Jurídicos;<br />

VII - Secretário de Políticas Educacionais e Culturais;<br />

- Secretário Adjunto de Políticas Educacionais e Culturais<br />

Considera-se o adjunto, como um suplente em exercício, sem necessidade de<br />

posse em caso de auxilio ou substituição do titular em qualquer período ou<br />

circunstancia. Por esta proposição, fica extinto o cargo de Coordenação de Pessoal,<br />

que será passado a funcionário de carreira do SINASEFE.<br />

O Conselho Fiscal (COFISC) deverá ser composto por:<br />

- três membros titulares;<br />

- três membros suplentes,<br />

A eleição do Conselho Fiscal acontecerá simultaneamente à eleição da<br />

Diretoria Executiva, mas em chapas independentes. Embora cada chapa<br />

apresentada para candidatar-se a Diretoria Executiva seja obrigada a apresentar uma<br />

chapa para o Conselho Fiscal, poderá o associado, havendo mais de uma chapa<br />

inscrita, optar pelo voto em uma Diretoria Executiva apresentada por uma chapa e no<br />

Conselho Fiscal apresentado por outra. .<br />

A chapa a ser apresentada para o Conselho Fiscal deve obrigatoriamente<br />

contemplar pelo menos um associado com lotação em cada região do país, ou seja;<br />

um de cada região (sul, norte, sudeste, centro oeste e Nordeste) mais um segundo de<br />

qualquer destas regiões. O mandato do Conselho Fiscal será coincidente com o da<br />

Diretoria Executiva.<br />

Para nossa orientação (http://jus.com.br):<br />

“Acima de nosso estatuto, a CLT, no art. 522, dispõe que a administração do<br />

sindicato será exercida por uma diretoria constituída, no máximo, de sete e, no<br />

mínimo, de três membros, eleitos pela assembléia geral. O art. 1º da Constituição<br />

20


Federal de 1988 veda a interferência e a intervenção do Poder Público na organização<br />

sindical. O problema jurídico que surgiu está em saber se fere o princípio<br />

constitucional da não-interferência do Estado na organização sindical, a lei que limita o<br />

número de dirigentes de um sindicato.<br />

A Lei Magna faz consignar um princípio de não-interferência, a lei ordinária faz<br />

exatamente o contrário. Esta dicotomia implica na habitual controvérsia quanto ao<br />

tema, pois afeta inexoravelmente o contrato individual de trabalho mantido com o<br />

empregador. As entidades sindicais ultrapassam sem solenidade os números mínimos<br />

estabelecidos legislados ordinariamente a as empresas oficiam os sindicatos para que<br />

indiquem aqueles que gozarão das prerrogativas legais, a fim de considerar a<br />

estabilidade de emprego e garantia de inamovibilidade tão-somente a estes.<br />

A fim de fulminar com a dúvida, a Seção de Dissídios Individuais do Colendo<br />

Tribunal Superior do Trabalho e o Supremo Tribunal Federal já cristalizaram o<br />

entendimento de que a Constituição Federal de 1988 recepcionou a redação do art.<br />

522 da Consolidação das Leis do Trabalho, mantendo os limites ali estabelecidos.<br />

O fundamento jurisdicional para a chegada ao mencionado convencimento<br />

esclareceu que o que deve ser entendido é que a Constituição Federal, que assegura<br />

a liberdade sindical, no sentido de que "a lei não poderá exigir autorização do Estado<br />

para a formação de sindicato, ressalvado o registro no órgão competente, vedadas ao<br />

poder público a interferência e intervenção na organização sindical", não tem o condão<br />

de permitir à entidade de classe que fixe abusivamente um número excessivo de<br />

dirigentes a conceder indiscriminadamente a estabilidade de emprego.<br />

No entendimento de Amauri Mascaro Nascimento, "restringir a sete o número<br />

máximo de diretores de uma entidade sindical, independentemente do seu tamanho,<br />

natureza ou número de associados, é uniformizar o que por natureza não é uniforme:<br />

sindicatos nacionais com estaduais ou municipais, sindicatos de categoriais grandes<br />

com os de categorias pequenas, sindicatos por categoria com sindicatos por profissão,<br />

enfim, situações díspares.<br />

O princípio constitucional da não-interferência do Estado na organização<br />

sindical não é restrito ao direito de fundar sindicatos. É dirigido, também, à liberdade<br />

de auto-organização interna do sindicato. Se assim não fosse, os fins visados pelo<br />

princípio em questão não seriam atingidos quanto o Estado resolvesse dificultar a<br />

administração do sindicato pela limitação do número de dirigentes, contrariando,<br />

assim, o preceito da liberdade sindical.<br />

Logo, saber, se um sindicato deve ter sete, dez ou vinte diretores deve ser, no<br />

sistema de autonomia sindical, questão interna corporis, a ser resolvida no âmbito do<br />

próprio sindicato. No entanto, como os dirigentes sindicais têm estabilidade no<br />

emprego, o sindicato teria meios para estabilizar o maior número possível de<br />

empregados. Bastaria ter uma diretoria com número elevado de integrantes."<br />

Rio Pomba, janeiro de 2012<br />

João Batista Oliveira Silva, servidor publico, IF SUDESTE MG, campus Rio Pomba<br />

21


TESE 04<br />

Tese: Diminuição do percentual de contribuição Sindical das Seções para o<br />

SINASEFE - DN.<br />

O objetivo desta tese é colocar para os sindicalizados do SINASEFE a necessidade de<br />

reforçar as seções sindicais, principalmente neste momento de expansão da rede dos<br />

Institutos Federais, onde necessariamente as nossas seções sindicais têm a<br />

necessidade de se fazer presente nos diversos campi, criados no processo de<br />

expansão da rede, criando e construído novas seções sindicais ou sindicalizando os<br />

novos servidores ingressos na rede.<br />

Hoje grande parte das seções sindicais do SINASEFE encontra-se em uma situação<br />

de colapso financeiro, não por uma questão de má gestão das suas finanças, mas<br />

pela constante necessidade de fazer frente a uma nova realidade surgida com a<br />

ampliação da rede.<br />

A atividade sindical das seções, não esta afeita só ao campus-sede, como ocorria<br />

antigamente, hoje com a ampliação dos institutos, o número de deslocamentos em<br />

visita as novas seções aumentaram significativamente, havendo assim<br />

conseqüentemente também uma ampliação das despesas com passagens, diárias,<br />

estádias em hotel, material de divulgação e outras despesas diversas. Ocorreu<br />

também consideravelmente o acréscimo com gastos administrativos, com contas<br />

telefônicas, correspondências, assessorias jurídicas, contábil e imprensa e etc, sem<br />

falar com os gastos com o pessoal administrativo que é essencial nesta nova<br />

realidade, onde o sindicato deve estar disponível diariamente em seu horário de<br />

expediente comercial, para atender as demandas dos seus associados.<br />

O repasse de 20% para a entidade nacional, frente a esta nova realidade tem sido um<br />

fator de dificuldades, uma vez que as seções, ainda têm que atender as convocações<br />

da DN quando é convocada para as plenas, congressos, Gts, seminários, plantões de<br />

base, reuniões da CNESF e outros eventos que surgem e que são do interesse da<br />

categoria. Isto tem representado para as seções um gasto financeiro, superior aquele<br />

que ela pode arcar, o resultado disto é que vemos em muitos eventos uma baixa<br />

participação das nossas seções, existindo até a figura dos rodízios de participação nas<br />

plenas, uma vez que existem seções que só participam deste evento em datas<br />

alternadas.<br />

A DN hoje, não carece de um repasse tão elevado (20%), uma vez que já possui um<br />

patrimônio que a tranqüiliza no encaminhamento e no suporte das nossas atividades<br />

em Brasília, é preciso fortalecer as seções e a questão do fortalecimento financeiro é<br />

crucial para que estas possam estar realizando a efetivação de suas demandas em<br />

prol dos sindicalizados, bem como o seu trabalho de conscientização e de<br />

sindicalização de novos associados.<br />

Sendo assim, proponho que seja gradativamente reduzido o repasse das seções para<br />

a DN da seguinte forma:<br />

A) Até Dezembro de 2012, que o repasse seja de 17%;<br />

22


B) De janeiro de 2013 a dezembro de 2013, o repasse seja de 15%;<br />

C) De janeiro 2014 a dezembro de 2014 seja de 13%;<br />

D) Que a partir de janeiro de 2015 o repasse seja de 10%.<br />

Acreditamos que assim as seções sindicais poderão desenvolver as suas atividades a<br />

contento nas suas bases, estando mais perto e atendendo satisfatoriamente os<br />

anseios dos sindicalizados.<br />

Tese construída por: Joilson Cruz da Silva<br />

Seção Sindical Salvador - Bahia<br />

23


TESE 05<br />

Organização por local de trabalho e a expansão da Rede Federal de<br />

Ensino<br />

24<br />

Carmem Lucia Werneck<br />

MI – Movimento dos Inconfidentes.<br />

O SINASEFE historicamente sempre se organizou por local de trabalho,<br />

nas antigas Escolas Agrotécnicas, os CEFETs, as Escolas Técnicas e escolas<br />

vinculadas, pois é senso comum que o local de trabalho é onde acontecem<br />

todas as relações de trabalho. E evidente que como as instituições onde se<br />

encontram as seções da rede federal tem um entrave que precisa de uma<br />

representação significativa de um órgão que centraliza todas as aspirações das<br />

seções e as represente junto ao governo, que faz as políticas macro para as<br />

categorias envolvidas no ensino, tais como Plano de Carreiras, Aumento<br />

salarial, dentre outros.<br />

Recentemente, com a edição da Lei 11892, na qual foram criados os<br />

Institutos Federais, houve uma fusão destas várias instituições, com<br />

autonomia, passando a ser uma única instituição, que não tem mais a mesma<br />

autonomia administrativa, e ainda com várias mudanças na área do ensino.<br />

Alem dos cursos técnicos que sempre foi a vocação destas instituições,<br />

passaram a ter como objetivo o ensino superior, nas modalidades de<br />

bacharelado, licenciaturas e tecnólogos, podendo expandir até mestrado é<br />

doutorado. Outra grande mudança ocorrida foi a criação dos novos campus,<br />

em cidades pólos, descentralizando assim o ensino e centralizando a parte<br />

administrativa.<br />

Como os trabalhadores e trabalhadoras em educação poderão se<br />

organizar neste novo contexto? Observa-se que com esta nova configuração o<br />

SINASEFE precisa se adequar para melhor representar seus sindicalizados,<br />

numa perspectiva classista e mais dinâmica, visando atender as novas<br />

necessidades as quais os trabalhadores e trabalhadoras que antes faziam<br />

parte desta instituições antigas, algumas delas até seculares e os novos<br />

trabalhadores e trabalhadoras recém ingressos nestas “novas instituições, com<br />

identidades antigas, e até mesmo unidades inauguradas recentemente, sem<br />

ainda ter uma estrutura montada, e as vezes nem alunos ainda possuem.<br />

A grande maioria das seções sindicais foram criadas antes de 2008, e<br />

foram institucionalizadas em cada local de trabalho. Normalmente representava<br />

ou um CEFET, ou uma Escola Agrotécnica. Para a seção funcionar<br />

adequadamente, com toda a estrutura burocrática, e até mesmo sindical, as<br />

seções precisam ter um número médio de sindicalizados, que após alguns<br />

estudos sobre as várias instâncias do SINASEFE Nacional a qual deve<br />

participar cada seção, tal como Plenárias e Congresso, torna-se necessário um<br />

número de aproximadamente 100 sindicalizados. Também entende-se que<br />

uma estrutura de sindicato como é o caso de alguns que fazem parte da atual<br />

estrutura do SINASEFE Nacional que representa vários campi que as vezes<br />

são muito distantes, fica inviável sindicalmente a representação, pois em uma<br />

plenária, uma seção que representa 1000 sindicalizados tem a mesma<br />

representatividade que uma de 20 sindicalizados. Esta situação, compromete


as tomadas de decisão por parte do sindicato como um todo. Financeiramente<br />

esta representação torna-se centralizadora, parecendo com a representação<br />

administrativa dos institutos.<br />

Parece-me interessante a proposta de alguns sindicatos maiores, de<br />

terem coordenadores em cada campus, este fato facilita as ações locais, mas,<br />

a seção continua com problemas de representação junto ao SINASEFE<br />

Nacional. Outro fato observado em relação ao número de sindicalizados o fato<br />

é que as seções pequenas não tem recurso para bancar todos as atribuições a<br />

qual esta sujeita, podendo virar massa de manobra de seções maiores,<br />

comprometendo assim a democracia sindical.<br />

Chegamos a um impasse. Com a expansão da rede federal de educação<br />

como deve se estruturar o SINASEFE, para cumprir com eficiência seus<br />

princípios e compromissos?<br />

Relembrando estes princípios e compromissos, temos:<br />

I. Princípios:<br />

a) Defender que os servidores federais da Educação Básica, Profissional e<br />

Tecnológica se organizem com total independência frente ao Estado e às<br />

instituições de ensino, mantendo a sua autonomia frente aos partidos políticos<br />

ou a qualquer outro tipo de organização da sociedade civil, devendo decidir<br />

livremente suas formas de organização, sindicalização e sustentação material;<br />

b) Garantir o exercício da mais ampla democracia em todas as suas instâncias,<br />

assegurando completa liberdade de expressão aos seus sindicalizados(as),<br />

combinada com a unidade de ação;<br />

c) Solidarizar-se com todos os movimentos da classe trabalhadora, no país ou<br />

no exterior, desde que os objetivos e princípios desses movimentos não<br />

colidam com os deste Estatuto;<br />

d) Defender que as Instituições de Ensino devam ser públicas e que garantam<br />

a oferta de uma educação gratuita, laica, de qualidade, com referência social,<br />

em consonância com os legítimos e reais interesses da classe trabalhadora; e,<br />

e) Defender a liberdade de pensamento como direito inalienável do cidadão,<br />

nas contratações e nomeações para as Instituições Federais de Ensino, assim<br />

como no exercício das funções e atividades administrativas e acadêmicas.<br />

II. Compromissos:<br />

a) Lutar pela unificação internacional da classe trabalhadora, visando à<br />

construção de uma sociedade socialista;<br />

b) Desenvolver, organizar e apoiar, nos aspectos políticos, educacionais,<br />

econômicos, sociais e culturais, todas as ações que visem às conquistas de<br />

melhores condições de vida e de trabalho;<br />

c) Promover a unidade dos servidores ativos e aposentados, baseada na<br />

vontade, na consciência e na ação concreta;<br />

d) Promover a solidariedade entre os servidores federais da Educação Básica,<br />

Profissional e Tecnológica, desenvolvendo e fortalecendo a consciência de<br />

classe;<br />

e) Lutar pela defesa do meio ambiente e pela qualidade de vida; e,<br />

f) Implementar a formação político-sindical da categoria.<br />

Acreditamos que as seções devam ter no mínimo 100 Sindicalizados, e<br />

até atingir este número deva ficar atrelada a uma seção próxima. Que quando<br />

atingir 100 filiados sejam automáticas a desvinculação e conseqüente criação<br />

da nova seção. Que no local onde ainda não tenha 100 filiados, tenha uma<br />

25


coordenação local, garantindo todos os direitos dos sindicalizados e<br />

sindicalizadas que ali estão lotados. Quanto à retirada dos delegados, que seja<br />

proporcional ao número de sindicalizados, sindicalizadas, conforme previsto no<br />

Estatuto do SINASEFE, ou seja, a cada 50 sindicalizados(as) um delegado.<br />

Nas demais representações como nos encontros de aposentadoria, Regionais,<br />

seminário de educação, ha de se observar as finanças da seção. Quanto as<br />

seções maiores, que representam vários campi, deve-se funcionar como<br />

coordenadoria, tendo sempre uma coordenadoria por local de trabalho, e a<br />

proposta que deverá ser feita para o próximo congresso e que em cada campi<br />

que tiver mais de 100 sindicalizados possa ter 1 delegado nas plenárias, para<br />

melhorar a representatividade nas PLENAS. Ainda precisamos organizar uma<br />

fórum local, que congregue vários sindicatos locais, para uma discussão mais<br />

ampla dos problemas enfrentados pela categoria. Pode-se observar que nosso<br />

sindicato esta precisando fazer Formação Sindical para melhorar nossas ações<br />

e torná-las mais efetivas. Precisamos dar um passo a frente da expansão da<br />

rede e dar conta da expansão do sindicato, aprender como poderemos melhor<br />

atuar nas novas atribuições que foram introduzidas na carreira após a Lei<br />

11784/08, e cuidar da precarização do trabalho que vem ocorrendo nos<br />

Institutos que tem uma carga horária docente, maior que nas universidades,<br />

mas tem uma carga maior de atribuições, tais como os cursos técnicos, as<br />

licenciaturas, os bacharelados, especialização, mestrado, doutorado, ensino a<br />

distância, educação profissionalizante para jovens e adultos, além da extensão<br />

e da pesquisa. No mínimo necessitam de mesma carga horária e investimento<br />

igual. Para que a organização da base aconteça efetivamente, é necessário<br />

que todas as seções participem das instâncias do SINASEFE Nacional. Para<br />

isto estamos propondo que todas as Seções depositem 3% da arrecadação e<br />

a DN 2% da arrecadação em conta separada para a participação no<br />

Congresso, sendo a contribuição compulsória para toda as seções, que<br />

participem ou não do congresso, pois as decisões beneficiam a todos.<br />

Proposições:<br />

1- seções devam ter no mínimo 100 Sindicalizados, e até atingir este<br />

número deva ficar atrelada a uma seção próxima;<br />

2- que quando atingir 100 filiados sejam automáticas a desvinculação e<br />

conseqüente criação da nova seção;<br />

3- que no local onde ainda não tenha 100 filiados, tenha uma coordenação<br />

local, garantindo todos os direitos dos sindicalizados e sindicalizadas<br />

que ali estão lotados;<br />

4- quanto à retirada dos delegados, que seja proporcional ao número de<br />

sindicalizados, sindicalizadas, conforme previsto no Estatuto do<br />

SINASEFE, ou seja, a cada 50 sindicalizados(as) um delegado;<br />

5- quanto as seções maiores, que representam vários campi, deve-se<br />

funcionar como coordenadoria, tendo sempre uma coordenadoria por<br />

local de trabalho;<br />

6- proposta que deverá ser feita para o próximo congresso e que em cada<br />

campi que tiver mais de 100 sindicalizados possa ter 1 delegado nas<br />

plenárias,<br />

7- formação Sindical nas bases para melhorar nossas ações e torná-las<br />

mais efetivas;<br />

26


8- que todas as seções participem das instâncias do SINASEFE Nacional<br />

e,<br />

9- Seções depositem 3% da arrecadação e a DN 2% da arrecadação em<br />

conta separada para a participação no Congresso, sendo a contribuição<br />

compulsória para toda as seções.<br />

27


TESE 06<br />

Autor: Marcos Dorval Schmitz<br />

6 HORAS DE TRABALHO<br />

Sindicalizado na Seção Sindical CEFETSC e Membro do Coletivo Sindical,<br />

INCONFIDENTES: Avançando na Luta e na Democracia;<br />

EMAIL: dorval@ifsc.edu.br<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

Este trabalho é fruto de duas décadas de luta pela redução da jornada de trabalho dos<br />

servidores técnicos administrativos das Instituições Federais de Ensino, e porque não<br />

dizer, dos Servidores Públicos Federais. Nesse pequeno texto serão abordados os<br />

fundamentos legais que permitirão a adoção da jornada de trabalho flexibilizada em 6<br />

horas diárias em vários órgãos, bem como parte da luta sindical em torno dessa questão.<br />

2. OBJETIVOS<br />

Debater nas assembleias de base e no CONSINASEFE a necessidade de estabelecer a<br />

jornada de trabalho flexibilizada de 6 horas, como elemento de melhoria nas condições de<br />

vida dos trabalhadores e trabalhadoras da educação pública federal brasileira.<br />

3. DESENVOLVIMENTO<br />

A jornada de 6 horas diárias além de aumentar a produtividade do trabalhador melhora<br />

sua qualidade de vida, propiciando tempo “livre” para sua melhor capacitação, para cuidar<br />

de sua saúde, enfim, para descanso, lazer, etc.<br />

3.1 – A JORNADA DE TRABALHO – RESUMO HISTÓRICO<br />

Na maioria dos países do continente Europeu, por volta de 1800, as jornadas eram de 12<br />

a 16 horas por dia, principalmente entre mulheres e menores. Nos Estados Unidos era<br />

entre 11 e 13 horas.<br />

Com o início dos movimentos reivindicatórios visando a diminuição desta jornada, foi que<br />

os países começaram a fixar normas, sendo o primeiro deles na Inglaterra em 1847,<br />

28


fixando em 10 horas diárias, depois seguida por vários outros países.<br />

A primeira convenção da OIT em 1919 estabeleceu que os países contratantes deveriam<br />

adotar jornada de 8 horas diárias e 48 horas semanais.<br />

No Brasil, o primeiro Decreto que regulamentou a jornada de trabalho é de 1932, em<br />

relação ao trabalho no comércio, fixando em 8 horas diárias. Seguiram-se, também, com<br />

limitação de 8 horas, a indústria, as farmácias, os transportes terrestres, frigoríficos, hotéis<br />

e restaurantes.<br />

A CF de 1937 especificou "dia de trabalho de 8 horas, que poderá ser reduzido, e<br />

somente suscetível de aumento nos casos previstos em lei". (artigo 137).<br />

A CF de 1988 modificou a orientação até então seguida pelas constituições anteriores,<br />

estabelecendo no seu artigo 7º, XIII "duração de trabalho normal não superior a 8 horas<br />

diárias e 44 semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada,<br />

mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho" e no inciso XIV " jornada de trabalho<br />

de 6 horas para o trabalho em turnos ininterruptos de revezamento, salvo negociação<br />

coletiva".<br />

3.2 – O SERVIDOR PÚBLICO E A JORNADA DE TRABALHO<br />

Com a aprovação da lei 8.112 de 1990, o Regime Jurídico dos Servidores Públicos<br />

Civis da União, das Autarquias e das Fundações Públicas Federais, restou aprovado em<br />

seu artigo 19 a seguinte redação:<br />

O ocupante de cargo de provimento efetivo fica sujeito a 40 (quarenta) horas semanais<br />

de trabalho, salvo quando a lei estabelecer duração diversa.<br />

Parágrafo único. Além do cumprimento do estabelecido neste artigo, o exercício de<br />

cargo em comissão exigirá de seu ocupante integral dedicação ao serviço, podendo o<br />

servidor ser convocado sempre que houver interesse da administração.<br />

Em 17 de dezembro de 1991, a lei 8.270 em seu artigo 22 deu a seguinte redação<br />

ao artigo 19 da lei 8.112:<br />

Art. 22. Os arts. 19 e 93 da Lei n° 8.112, de 1990, passam a vigorar com a seguinte<br />

redação:<br />

Art. 19. Os servidores cumprirão jornada de trabalho fixada em razão das atribuições<br />

pertinentes aos respectivos cargos, respeitada a duração máxima do trabalho semanal<br />

de quarenta horas e observados os limites mínimo e máximo de seis horas e oito<br />

horas diárias, respectivamente.<br />

Em 10 de agosto de 1995 o Decreto nº 1.590/1995, em seu art. 3º, assim regulamentou a<br />

jornada de 6 horas:<br />

29


Art. 3º. Quando os serviços exigirem atividades contínuas de regime de turnos ou<br />

escalas em período igual ou superior a quatorze horas ininterruptas, é facultado ao<br />

dirigente máximo do órgão ou da entidade autorizar os servidores que trabalham<br />

no período noturno a cumprir jornada de trabalho de seis horas diárias e carga<br />

horária de trinta horas semanais, devendo-se, neste caso, dispensar o intervalo<br />

para refeições. (grifo nosso)<br />

§ 1º. Entende-se por período noturno aquele que ultrapassar às 21 horas.<br />

§ 2º. Os dirigentes máximos dos órgãos ou entidades farão publicar no Diário Oficial<br />

da União, a cada seis meses, a relação e a jornada de trabalho dos servidores aos<br />

quais se aplique o disposto neste artigo.<br />

Em 2003 o Art. 1º do decreto n° 4.836 alterou a red ação do art. 3º do Decreto nº 1.590, de<br />

10 de agosto de 1995, que passou a vigorar com a seguinte redação:<br />

Art. 3º Quando os serviços exigirem atividades contínuas de regime de turnos ou<br />

escalas, em período igual ou superior a doze horas ininterruptas, em função de<br />

atendimento ao público ou trabalho no período noturno, é facultado ao dirigente<br />

máximo do órgão ou da entidade autorizar os servidores a cumprir jornada de trabalho<br />

de seis horas diárias e carga horária de trinta horas semanais, devendo-se, neste<br />

caso, dispensar o intervalo para refeições.<br />

§ 1 º Entende-se por período noturno aquele que ultrapassar às vinte e uma horas.<br />

§ 2 º Os dirigentes máximos dos órgãos ou entidades que autorizarem a flexibilização<br />

da jornada de trabalho a que se refere o caput deste artigo deverão determinar a<br />

afixação, nas suas dependências, em local visível e de grande circulação de usuários<br />

dos serviços, de quadro, permanentemente atualizado, com a escala nominal dos<br />

servidores que trabalharem neste regime, constando dias e horários dos seus<br />

expedientes.<br />

3.3 – A DISCUSSÃO NO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA<br />

Em 4 de outubro de 2004, o presidente do Superior Tribunal de Justiça, usando as<br />

prerrogativas do regimento interno daquele órgão, e considerando o disposto no artigo 19<br />

da lei nº 8.112 de 11 de dezembro de 1990, bem como as alterações promovida pela lei nº<br />

8.270, de 17 de dezembro de 1991, expede a resolução nº 19, que dispõe sobre o<br />

expediente e a jornada de trabalho dos servidores no âmbito do Superior Tribunal de<br />

Justiça. O Ministério Público interpõe ação de impugnação do ato do presidente, o que<br />

levou o caso ao Conselho Nacional de Justiça que julgou vários procedimentos de<br />

controle administrativo e que concluiu pela validade e legalidade dos atos uma vez que<br />

30


integra a discricionariedade da administração pública. (discricionariedade alternativas<br />

válidas perante o direito (e não somente perante a lei), entre várias hipóteses legais e<br />

constitucionalmente possíveis ao caso concreto. Essa escolha se faz segundo critérios<br />

próprios como oportunidade, conveniência, justiça, equidade, razoabilidade, interesse<br />

público, sintetizados no chamado mérito do ato administrativo.<br />

Do voto do relator extrai-se os seguintes conceitos:<br />

- Essa carga horária se revelou mais adequada, aumentando comprovadamente a<br />

qualificação e eficiência dos serviços prestados, em atendimento aos princípios que<br />

regem a Administração Pública e dentro dos limites estabelecidos pela Lei nº 8.112/90;<br />

- A jornada reduzida e contínua tem o mérito de fazer confluir os interesses, tanto<br />

dos trabalhadores, como da própria Administração: no caso dos servidores, pelo tempo<br />

livre de que poderão usufruir, utilizando-o para sua capacitação e crescimento<br />

profissionais, lazer, cultura, e convívio familiar. No caso da Administração, esta contará<br />

com servidores mais produtivos pois estarão mais saudáveis (mental e fisicamente), com<br />

maior capacidade de concentração no cumprimento de suas funções e mais eficiência;<br />

- Portanto, o que se verifica é que os órgãos ou entidades com servidores regidos<br />

pela Lei nº 8.112/90, incluídos os integrantes do Poder Judiciário da União, não poderão<br />

fixar jornadas de trabalho de seus servidores acima ou abaixo do permissivo legal<br />

(máximo de quarenta horas semanais e oito diárias e mínimo de trinta horas semanais e<br />

seis horas diárias), pois quanto a esses limites o ato administrativo está vinculado. No<br />

entanto, poderão fixar a duração laboral dentro desses limites, em face da conveniência e<br />

da oportunidade de cada órgão ou entidade, porque a lei assim permite;<br />

- No âmbito do STJ e do CJF, todos os indicadores de produtividade melhoraram<br />

após a adoção daquela jornada de trabalho, que se revela triplamente benéfica, pois:<br />

(i) beneficia o servidor, que tem mais qualidade de vida e mais tempo para a<br />

qualificação pessoal e o convívio com a família, reduzindo-se as doenças relacionadas ao<br />

trabalho;<br />

(ii) beneficia o usuário do serviço público, já que há acréscimo de eficiência no<br />

desempenho do servidor;<br />

e eficiência;<br />

(iii) beneficia o órgão público, melhorando os seus indicadores de produtividade<br />

- Por outro lado, repita-se, a adoção da jornada de 6 (seis) horas diárias também<br />

é meio hábil para permitir o atendimento ao público, que no âmbito desse e. Tribunal deve<br />

ser de 8 (oito) horas diárias.<br />

- Em relação aos princípios que regem a Administração Pública, vale observar<br />

31


que todos são atendidos na fixação da jornada em 6 (seis) horas diárias, em especial:<br />

- Princípio da Legalidade – Tendo em conta que a administração pública está<br />

adstrita ao comando da lei, há a necessidade de previsão legislativa como condição de<br />

validade da atuação administrativa. Aqui a previsão advém do próprio Regime Jurídico<br />

Único, instituído pela Lei nº 8.112/90 (artigo 19). Assim, a discricionariedade conferida por<br />

lei ao administrador público, o legitima para adotar a jornada de trabalho entre o mínimo e<br />

o máximo permitido no texto legal.<br />

- Princípio da Moralidade – O princípio da moralidade contempla a observância<br />

de preceitos éticos, como a confiança, boa-fé, probidade etc. In casu, a medida que se<br />

defende, além de estar expressamente prevista em lei, busca o bem estar e a saúde do<br />

trabalhador, exigindo do mesmo uma carga de trabalho menor, em número de horas,<br />

diminuindo os riscos de doenças profissionais e, ao mesmo tempo, fornecendo à<br />

sociedade um serviço público melhor qualidade.<br />

- Princípio da Eficiência – Este princípio tornou-se expresso a partir da Emenda<br />

Constitucional nº19/88 e foi acrescido aos demais princípios originalmente previstos no<br />

art. 37 da Constituição Federal. É de suma importância na medida em que busca atender<br />

ao interesse público. Importa dizer que a autoridade administrativa deve estar atenta à<br />

superação de conceitos burocráticos ou formais em benefício da eficiência. Deve-se ter<br />

em conta que, com a informatização de todos os setores da Administração, hoje o<br />

servidor produz duas ou três vezes mais do que o fazia há alguns anos atrás, mas essa<br />

tecnologia tem um preço que é o stress, a depressão e as doenças profissionais que se<br />

contrapõem à eficiência. A redução da jornada devolve o equilíbrio necessário para que o<br />

trabalho não cause o desgaste que prejudica o atendimento ao usuário do serviço público.<br />

- Princípio da finalidade – Quando se defende a fixação da jornada entre seis a<br />

oito horas diárias, o objetivo principal deve ser um serviço de melhor qualidade, portanto a<br />

redução que se situa dentro desses limites atende ao interesse público. Assim, a norma<br />

deve ser interpretada e aplicada garantindo a realização do fim público a que se dirige. O<br />

fim público deve conciliar o interesse da coletividade e da Administração Pública que, por<br />

certo, será mais eficiente se contar com um quadro funcional formado de servidores mais<br />

produtivos.<br />

- Princípio da Motivação - A motivação é uma exigência do Estado de Direito.<br />

Entre outros direitos dos administrados, está o direito a uma decisão fundada, motivada.<br />

Mesmo o ato discricionário deve ser motivado de modo que se possa aferir a verdadeira<br />

intenção do Agente Público. Quando se busca a preservação da saúde do trabalhador e a<br />

melhoria no fornecimento dos serviços públicos à sociedade, têm-se os mais relevantes<br />

32


motivos a justificar a medida adotada.<br />

- Princípio Razoabilidade – O bom-senso se faz necessário à medida que as<br />

exigências formais que decorrem dos demais princípios (legalidade, interesse público,<br />

finalidade) tendem a reforçar mais o texto da lei do que o seu espírito. O princípio da<br />

razoabilidade exige do Administrador um atuar sob critérios aceitáveis do ponto de vista<br />

racional. Então: é razoável preservar-se o bem-estar e a saúde do trabalhador ao mesmo<br />

tempo em que se busca qualidade e eficiência do serviço oferecido à comunidade?<br />

Certamente que sim.<br />

- Princípio da Preservação do Interesse Público - A finalidade da lei é a<br />

realização do interesse público, assim entendido o interesse da coletividade. A norma<br />

deve satisfazer o interesse público em sentido amplo, de todos os cidadãos, ao conjunto<br />

de interesses. Portanto, a redução de jornada, dentro dos limites de 6 a 8 horas diárias,<br />

pelos fundamentos já expostos, atende integralmente à preservação do interesse público.<br />

Como elementos para a aplicação da Flexibilização temos:<br />

É forçoso reconhecer que nestes 18 anos do Regime Jurídico Único, o serviço público<br />

passou por imensas transformações, informatizou-se e passou a exigir de seus servidores<br />

maior agilidade e flexibilidade, além de maior preparo profissional.<br />

O mesmo trabalho que até então demandava dias passou a ser feito em horas, o que<br />

demandava horas passou a ser feito em minutos. O volume duplicou ou triplicou em<br />

pouquíssimo tempo. A população cresceu, com ela os problemas que exigem atenção e<br />

soluções pelo Poder Público. O servidor permanece horas e horas diante de um<br />

microcomputador, mas o seu desgaste não se corrige em oficinas.<br />

3.4 - A EXPERIÊNCIA NA ESCOLA TÉCNICA FEDERAL DE SANTA CATARINA<br />

Em meados da década de 90, a então diretora da Escola Técnica Federal de Santa<br />

Catarina, Soni de Carvalho, após ser eleita pelo voto da comunidade escola, expediu<br />

portaria reduzindo a jornada de trabalho dos servidores técnicos administrativos para 6<br />

horas diárias, de lá para cá, passaram-se 16 anos e várias foram as tentativas de se<br />

retroceder neste grande avanço para os trabalhadores do atual IF-SC.<br />

Nos últimos anos ganhou força a palavra “flexibilização” da jornada de trabalho, ou seja o<br />

correto é utilizar o decreto nº 4.836 onde o dirigente máximo em função das necessidades<br />

do órgão estabelece a jornada flexibilizada de 6 horas diárias.<br />

No ano de 2011, após uma longa luta da Seção Sindical do CEFETSC, a então reitora,<br />

Consuelo Aparecida Sielski dos Santos, nomeou um grupo de trabalho formado por<br />

33


epresentantes do SINASEFE e Representantes da Reitoria e do Colégio de Dirigentes,<br />

após 4 meses de trabalho produziu-se a minuta de resolução que segue abaixo, que não<br />

foi acatada pelo reitor pro-tempore, mas que garantiu a continuidade da jornada de<br />

trabalho flexibilizada no IF-SC.<br />

“ MINUTA DE RESOLUÇÃO<br />

Florianópolis, XX de junho de 2011.<br />

A REITORA DO INSTITUTO FEDERAL DE SANTA CATARINA, no uso das atribuições<br />

que lhe são conferidas pelos artigos 10, § 4º e 11, da lei 11.892, de 29/12/2008, bem assim pelo<br />

artigo 20 da Resolução 028/2009/CS, de 31/08/2009,<br />

CONSIDERANDO a autonomia administrativa de que goza o IFSC em razão da sua<br />

personalidade jurídica prevista na Lei 11.892, de 29/12/2008, e o art.1º da Resolução<br />

028/2009/CS, de 31/08/2009;<br />

CONSIDERANDO o disposto no Decreto n° 4.836, de 09 de setembro de 2003, que<br />

alterou a redação do art. 3º do Decreto n° 1.590, d e 10 de agosto de 1995, que dispõe sobre a<br />

jornada de trabalho dos servidores da administração pública federal direta, das autarquias e das<br />

fundações públicas federais;<br />

CONSIDERANDO os objetivos e finalidades estatutárias do IFSC, bem como a sua<br />

função social e a busca incessante pelo aumento da qualidade do serviço público ofertado pela<br />

Instituição à comunidade, que exigem a adoção de procedimentos administrativos mais modernos<br />

e eficientes;<br />

CONSIDERANDO a ampliação dos horários de atendimento ao público usuário, com<br />

reflexos no regime de trabalho dos servidores, tendo em vista o funcionamento da Instituição em<br />

período igual ou superior a 12 (doze) horas diárias ininterruptas;<br />

CONSIDERANDO, o cumprimento dos dispositivos constitucionais em que a<br />

Administração Pública direta e indireta obedecerá aos princípios da legalidade, impessoalidade,<br />

moralidade, publicidade, razoabilidade, proporcionalidade, motivação, finalidade, eficiência e<br />

preservação do interesse público;<br />

CONSIDERANDO, o art. 19 da Lei n° 8.112, de 11/12/1 990, bem como as alterações<br />

promovidas pela Lei 8.270, de 17/12/1991, em seu art. 93: “Os servidores cumprirão jornada de<br />

34


trabalho fixada em razão das atribuições pertinentes aos respectivos cargos, respeitada a duração<br />

máxima do trabalho semanal de quarenta horas e observados os limites mínimo e máximo de seis<br />

horas e oito horas diárias, respectivamente”;<br />

CONSIDERANDO, por fim, que as atividades administrativas de apoio à oferta de<br />

educação funcionam e estão disponíveis ao público usuário nos três turnos, diariamente, com a<br />

missão de desenvolver e difundir conhecimento científico e tecnológico.<br />

diariamente.<br />

RESOLVE:<br />

ESTABELECER como horário de funcionamento da instituição o período entre 7h e 23h,<br />

AUTORIZAR a flexibilização da jornada de trabalho dos servidores técnico-<br />

administrativos a partir de xx de junho de 2011.<br />

APROVAR o Regulamento da Jornada de Trabalho dos servidores técnico-<br />

administrativos do IFSC, conforme Regulamento específico.<br />

Publique-se e Cumpra-se<br />

4 – CONCLUSÃO<br />

Como podemos observar não há impedimento legal para a adoção da jornada de trabalho<br />

Flexibilizada em 6 horas diárias, hoje várias instituições já adotaram essa jornada, há<br />

quem diga, inclusive, que o IFSC vem se destacando entre as melhores do país em<br />

virtude dessa jornada, fato que não pode ser mensurado assim de forma isolada, mas que<br />

certamente contribui para isso.<br />

Outra questão que parece bastante evidente é a de que o dirigente máximo pode optar, ou<br />

pela jornada de 8 horas em dois turnos ou pelo turno ininterrupto de 6 horas, não havendo<br />

margem para outras criações, tais como 7 horas ou banco de horas, já que a lei não<br />

delegou tal faculdade. Em relação ao banco de horas, vale ressaltar que para ser aplicado<br />

carece de acordo entre sindicato e governo, após negociação coletiva, que por hora<br />

inexiste no serviço público, tornando assim essa modalidade não aplicável ao caso do<br />

servidor público.<br />

Por fim, esse trabalho pretende ajudar a subsidiar os companheiros e<br />

companheiras das Seções Sindicais para que realizem esse debate em seus locais de<br />

35


trabalho, bem como iniciar no SINASEFE uma discussão sobre a necessidade de<br />

mudança no decreto 4.836, de forma que os trabalhadores não fiquem a mercê da<br />

vontade do dirigente máximo da instituição, mas que a Flexibilização seja uma realidade<br />

que permita melhores condições de vida dos trabalhadores e trabalhadoras de nossa<br />

rede.<br />

5. BIBLIOGRAFIA<br />

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm<br />

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2003/D4836.htm<br />

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D1590.htm<br />

http://www.cursosnocd.com.br/direito-do-trabalho/historia-da-jornada-de-trabalho.htm<br />

27/01/2012 8:42<br />

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TESE 07<br />

A Função Social da Escola e a Formação Continuada<br />

Autora:Tania Guerra<br />

Secretária Geral do SINASEFE - Integrante do Conselho Coordenador e Consultivo da<br />

CEA, Integrante do Conselho Internacional de Educação do Fórum Mundial de<br />

Educação e Coordenadora de Políticas Educacionais da Seção Sindical de Pelotas<br />

taguerra@terra.com.br<br />

Objetivo:<br />

O trabalho procura mostrar que a educação emancipadora e inclusiva, princípio do<br />

SINASEFE, tem responsabilidade com a formação da cidadania através dos princípios<br />

da solidariedade, da tolerância e do respeito com o planeta e com os demais seres<br />

vivos. Busca inserir na discussão sobre a Carreira do Magistério do Sistema Federal de<br />

Ensino a necessidade de valorizar a formação continuada atendendo a função social da<br />

escola de contribuir com a inclusão social, a busca do padrão unitário de qualidade<br />

entre as instituições federais de ensino e a construção de uma sociedade justa e<br />

igualitária.<br />

Considerações iniciais:<br />

Quando defendemos que na construção de um outro mundo possível, outra educação,<br />

emancipadora e inclusiva é possível e necessária, precisamos nos reportar a Leonardo<br />

Boff, que em seu livro “Saber Cuidar” questiona: “o saber nos confere poder. Mas a<br />

serviço de que projeto de ser humano, de sociedade e de mundo utilizaremos o poder<br />

da ciência e da técnica?”<br />

É obrigação do Estado promover a inclusão social e superar as desigualdades sociais,<br />

promover a qualidade de vida, a cidadania e fazer a justa distribuição da riqueza<br />

econômica, social e cultural do país.<br />

A exclusão social está muito mais associada à desigualdade do que à pobreza.<br />

Em nossa sociedade, embora a Constituição garanta a igualdade entre homens e<br />

mulheres e combata a discriminação, ainda temos nossas instituições, e entre estas a<br />

escola da sociedade capitalista, permeada pelo preconceito e pela desigualdade. A<br />

escola reproduz esta desigualdade por aceitar sua naturalidade. Como aceita naturais<br />

os modelos culturais historicamente construídos dos papéis sociais do homem e da<br />

mulher e como é natural o negro ser mais pobre e ter uma posição social inferior.<br />

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Esta visão precisa ser desconstruída porque desqualifica e discrimina a mulher, o<br />

negro, o velho o homossexual e o portador de necessidades especiais. A escola<br />

necessita formar seres humanos que não tolerem ações discriminatórias por não<br />

aceitarem como naturais tais construções.<br />

É papel da escola identificar que esta naturalização traz dor e sofrimento,<br />

comprometendo a formação integral para a cidadania.<br />

Valorizar a diversidade exige lidar com ela cotidianamente entendendo que as<br />

diferenças devem ser respeitadas e promovidas, superando o seu uso como critério de<br />

exclusão social hoje aceito e praticado em nossas instituições, como de resto, na<br />

sociedade.<br />

Paulo Freire, Piaget e tantos outros e outras enfatizaram a totalidade do ser humano e<br />

sua capacidade de se construir socialmente através de significados socialmente<br />

importantes. Alem de reconhecer o outro/a como desigual é necessário reconhecer<br />

suas relações e direitos como tal.<br />

Aí está incorporada a função social do educador/a com sua responsabilidade em<br />

transmitir valores éticos que referendem a cidadania.<br />

Nossos educadores/as precisam ser capacitados/as para enfrentar esta<br />

responsabilidade de transmitir a necessidade de cuidar do outro/a e do planeta, para<br />

garantir que a escola cumpra o seu papel social.<br />

O papel do Sindicato:<br />

O SINASEFE, sensível a esta responsabilidade, em sua última reunião do GT-carreira<br />

propôs às suas bases discutir a incorporação à carreira docente a valorização de níveis<br />

de capacitação. Nosso desafio é definir como esta nova estrutura de careira pode<br />

simultaneamente capacitar o professor/a atendendo a estas novas demandas sociais e<br />

estimular seu crescimento profissional.<br />

Entendendo que a humanidade vive um momento de profunda preocupação com o<br />

planeta e a sustentabilidade, e que a sociedade brasileira, representada pelas 30<br />

milhões de pessoas que discutiram o PNE nas Conferências municipais, estaduais e<br />

nacional, ao criar um novo eixo no PNE sobre os Direitos Humanos, a justiça social e a<br />

inclusão, nos leva a apontar o cuidado ambiental, a superação de preconceitos e a<br />

prevenção da violência como o conteúdo a ser proposto para estes cursos de<br />

capacitação.<br />

É necessário que nossas instituições tenham em suas bases curriculares, conteúdos<br />

capazes de darem conta desta necessidade. Educar dentro do respeito aos Direitos<br />

Humanos, e na perspectiva do combate à violência sexista e à homofobia, o respeito às<br />

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elações étnico-raciais, geracionais e a valorização da diversidade, deve ser hoje uma<br />

prioridade da educação brasileira.<br />

A Lei 10639/03 que trata da História e Cultura Afro-Brasileira e a Lei 11340/06, Lei<br />

Maria da Penha que trata da violência doméstica e familiar contra a mulher, embora já<br />

tenham algum tempo de vigência ainda não chegaram às nossas instituições.<br />

Hoje tramitam no Congresso vários projetos de lei que tratam do assunto. Em especial<br />

temos o PL 2431-A/07 e o PL 3361/08 das deputadas Maria do Rosário e Lídice da<br />

Mata, respectivamente, que incluem nos currículos escolares conteúdos e práticas que<br />

contribuam para o combate à violência doméstica, cumprindo assim, o art. 8º da Lei<br />

Maria da Penha. A relatora do 2º PL diz: sabemos que “romper a visão que rebaixa,<br />

desqualifica e discrimina a mulher e o/a negro/a, exige políticas de longo prazo, exige a<br />

formação de indivíduos que não considerem naturais ou não tolerem ações<br />

discriminatórias em relação a quaisquer formas de diversidade: raça e etnia, geracional,<br />

orientação sexual, deficiências e gênero”. Os dois PLs enfatizam a necessidade desta<br />

questão ser tratada em todos os níveis e modalidades de ensino.<br />

Os conteúdos e práticas deverão abordar temas relacionados aos direitos humanos e<br />

disseminar valores éticos de respeito à dignidade humana na perspectiva de gênero,<br />

raça/etnia e opção sexual.<br />

O Conselho Nacional de Educação - CNE ao preparar o Parecer que subsidiou as<br />

discussões para a construção do novo Plano Nacional de Educação – PNE, em 2009<br />

apontou a necessidade de o novo Plano ter diretrizes referenciadas nos Direitos<br />

Humanos. Ainda em maio de 2011, o Parecer número 04 do CNE, homologado pelo<br />

Ministro da Educação traçou diretrizes para a educação nas prisões, reforçando o<br />

direito de todos e todas à educação, independente de terem, ou, não direito à liberdade.<br />

Parece que o poder público, através de seus ministérios e do CNE, despertam para a<br />

necessidade de ter políticas de inclusão e valorização da diversidade como política de<br />

Estado, única forma de responder a demanda maior da sociedade brasileira, medida<br />

em todas as pesquisas, que é a preocupação com a segurança e com a violência.<br />

No Brasil nós que queremos construir uma escola justa, livre de preconceito e<br />

discriminação, precisamos identificar nossas dificuldades e elencar nossos<br />

instrumentos para enfrentá-las.<br />

As dificuldades são aquelas próprias de nossa realidade social e cultural que permeiam<br />

nosso cotidiano e que trazem a incompreensão acerca da homofobia e de seus efeitos.<br />

Esta dificuldade não é só dos professores/as consultados/as, uma vez que está<br />

presente na dificuldade de formulação de políticas públicas para o assunto. Esta<br />

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dificuldade nos leva muitas vezes a reproduzir esta discriminação em vez de enfrentála.<br />

Muito tem ajudado estudos de Bourdieu, Passeron e outros/as que alertam para a<br />

necessidade de desmistificar o poder da educação de sozinha, transformar o mundo,<br />

criar a sociedade que queremos. Entretanto, como dizia Paulo Freire, sem a educação<br />

não há transformação.<br />

As escolas, hoje alem de produzir e difundir o conhecimento, reproduzem padrões<br />

sociais, concepções de Estado e de mundo, legitima relações de poder, processos de<br />

acumulação e não aponta para o desejo de derrubar o modelo capitalista ou de<br />

construir o socialismo.<br />

A escola é, historicamente, um espaço disciplinador e responsável pela permanência do<br />

“status quo”. Ela isola o “diferente”, o “doente” o “pervertido” o “não normal”. É um lugar<br />

de opressão, discriminação e preconceitos.<br />

Cabe ao cotidiano escolar criar pedagogias de combate ao racismo e ao preconceito,<br />

conhecer esta história, fazendo as ligações necessárias, para que tenhamos a inclusão<br />

social devida há 500 anos a esta população e que somente acontecerá com a<br />

articulação entre processos educativos, políticas públicas e movimentos sociais uma<br />

vez que qualquer mudança de comportamento acontece alem dos muros da escola.<br />

Conclusão:<br />

Uma educação de qualidade, emancipadora e inclusiva, alem de construir e divulgar o<br />

conhecimento científico deve reconhecer que a diversidade é pedagógica e libertadora<br />

e sua valorização garante a formação integral do ser humano com justiça social e<br />

formação de cidadania.<br />

Com estas reflexões proponho que estudemos a possibilidade de trazer para a<br />

estrutura tanto do PCCTAE, como da Carreira do Magistério do Sistema Federal de<br />

Ensino níveis de capacitação dentro dos eixos aqui propostos.<br />

Referências Bibliográficas:<br />

1 – Boff, Leonardo - Saber Cuidar<br />

2 – Freire, Paulo - A Pedagogia da Autonomia<br />

3 –Boff, Leonardo -Virtudes para um outro Mundo Possível<br />

4 – Guerra, Tania - A Educação e a Diversidade<br />

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5– Guerra, Tania - Construindo a Cultura ou Pedagogia da Paz<br />

6 – Junqueira, Rogério Diniz – Homofobia nas Escolas<br />

7 – Pareceres do CNE<br />

8 – Lei 9394/96, Lei 10639/03 e Lei 11340/06<br />

9 - Plano Nacional de Educação – diretrizes propostas pela CONAE<br />

10 - Projetos em tramitação no Congresso<br />

11 – Orientações e Ações para a Educação das Relações Étnico-Raciais –<br />

SECAD/MEC<br />

12 – Educação em Direitos Humanos – Educação Profissional e Tecnológica –<br />

SETEC/MEC<br />

13 – Diversidade Sexual na Educação : Problematização sobre a Homofobia nas<br />

Escolas – 2009 – MEC/UNESCO.<br />

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TESE 08<br />

“A constituição dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia:<br />

Uma iniciativa positiva na perspectiva de superação do ambiente neoliberal na educação<br />

brasileira e os novos desafios ao Movimento Sindical”.<br />

Autor: Hugo Manso Junior<br />

Natal, Fevereiro de 2012<br />

RESUMO<br />

Integrantes da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação, os<br />

Centros Federais de Educação Tecnológica, foram transformados em Institutos Federais de Educação,<br />

Ciência e Tecnologia, em dezembro de 2008. A evolução da Rede Federal propiciou o<br />

desenvolvimento de uma escola de ensino médio integrado a EPT, com muita qualidade. A aplicação<br />

da política neoliberal a partir dos anos 90 atingiu fortemente a educação brasileira. O decreto 2.208/97<br />

refletiu, na legislação, a forma subordinada como foi conduzida nossa inserção no mundo globalizado.<br />

As vitórias eleitorais dos setores democráticos e populares, combinadas com a crise internacional da<br />

globalização neoliberal, permitem debater a caracterização de um novo período político no país, aqui<br />

denominada “Revolução Democrática”. Este texto se propõe a discutir como a expansão da Rede<br />

Federal pode contribuir positivamente numa perspectiva de superação do ambiente neoliberal<br />

na educação brasileira e como o movimento sindical deve reorganizar-se diante o novo modelo<br />

institucional.<br />

PALAVRAS CHAVE: Educação Profissional e Tecnológica; Sindicalismo; Neoliberalismo;<br />

Revolução Democrática.<br />

1. APRESENTAÇÃO<br />

Após um século de prestação de serviços educacionais, integrando a Rede Federal de Educação<br />

Profissional e Tecnológica (EPT) do Ministério da Educação, os Centros Federais de Educação<br />

Tecnológica foram transformados em Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, através<br />

da lei n.º 11.892, de 29/12/2008. Esta mudança é decorrente da construção de um novo paradigma para<br />

esta modalidade da educação, o que tem provocado um forte processo de expansão da EPT no país.<br />

Com origem na Europa, a ideologia neoliberal criticou e colocou-se como alternativa ao modelo<br />

desenvolvimentista, ainda nos anos 30. Trata-se de uma volta aos ideais liberais com muita energia,<br />

intransigência teórica e dinamismo. Seu objetivo no plano econômico é o de alcançar maiores índices<br />

de crescimento e maiores taxas de lucro mantendo a inflação sob controle e tendo no combate aos<br />

sindicatos e abolição dos direitos trabalhistas uma de suas receitas; no plano político propõe um estado<br />

restrito ao fornecimento do marco jurídico, garantindo o livre funcionamento do mercado, respeito dos<br />

contratos e preservação da propriedade privada.<br />

No Brasil esta ideologia firmou-se quando já estavam sistematizados no “Consenso de Washington”<br />

seus princípios e objetivos. Não apenas no plano econômico e político, mas principalmente nos<br />

aspectos sociais e culturais, a ideologia neoliberal, devidamente encaixada no processo de globalização<br />

dominou a cena política brasileira na década de 1990. Na educação os efeitos foram devastadores.<br />

Sucateamento das escolas públicas em todos os níveis, incentivos e facilidades de ampliação da rede<br />

privada, em particular no ensino superior. Foi neste contexto que a Rede Federal de EPT sofreu o<br />

42


golpe do decreto 2.208 de 17/04/97 que congelou todas e quaisquer iniciativas pedagógicas e<br />

administrativas.<br />

A vitória eleitoral do presidente Lula da Silva em 2002 gerou uma grande expectativa no sentido da<br />

mudança deste quadro. A continuidade deste projeto, combinada com a crise internacional da<br />

globalização neoliberal permite o debate sobre a caracterização de um novo período político no país, a<br />

ideia de uma Revolução Democrática i e consequentemente uma nova perspectiva educacional.<br />

“Qual a educação para a sociedade deste começo de milênio, marcada pelos fenômenos da<br />

globalização da economia, da política e da cultura, e pelo discurso da pós modernidade?<br />

O que fazer com a modernidade inconclusa e com as tentativas de compreensão racional<br />

da sociedade, da economia, da política, da cultura e da educação?”(GAMBOA, 2009, p.<br />

86).<br />

Nesta década, o governo brasileiro deu inicio a transição do neoliberalismo para o modelo socialdesenvolvimentista.<br />

O Estado passou a fazer parte da solução dos problemas. Reafirmou-se a<br />

soberania nacional, reorientou-se a política internacional, formou-se uma grande reserva cambial,<br />

redirecionou-se o comércio externo e foi estabelecida uma nova dinâmica de cooperação internacional.<br />

Houve ampliação do gasto social com a inclusão de mais de um terço da população brasileira em<br />

programas de garantia de renda. Há um evidente contraste entre o Brasil da década de 1990 e este que<br />

vivemos. O papel do Estado foi reformulado para a reconstrução de um projeto de desenvolvimento<br />

econômico com distribuição de renda. A política nacional de valorização do salário mínimo é um<br />

marco neste sentido. A partir do acordo conquistado entre as centrais sindicais e o governo, foi<br />

estabelecida uma regra de longo prazo para a valorização do salário mínimo que têm impacto na<br />

redução da desigualdade, na diminuição da pobreza, dinamizando o mercado de consumo interno.<br />

Discutir o impacto positivo desta transformação na perspectiva da superação do ambiente<br />

neoliberal implica, em refletir sobre aspectos da economia brasileira e o novo papel que cabe ao<br />

movimento sindical.<br />

2. INSTITUTOS DE ENSINO TÉCNICO E PROFISSIONAL<br />

A Revolução Industrial (1760) e a Revolução Francesa (1789) modificaram a forma de produzir<br />

bens materiais e a forma de pensar e agir. Durante toda segunda metade do século XVIII e século XIX<br />

houve um deslocamento de camponeses para as cidades e nelas de trabalhadores das guildas ii para as<br />

fábricas. Diante esta mobilidade, conflitos e problemas sociais foram além da luta pela subsistência<br />

material. A disputa por concepções e direitos se fez presente em toda Europa.<br />

Segundo Saviani (1992) “A partir do advento da sociedade de classe, com o aparecimento de uma<br />

classe que não precisa trabalhar para viver, surge uma educação diferenciada. E é aí que está localizada<br />

a origem da escola”. Esta educação diferenciada está no centro de todas as disputas em torno das<br />

concepções e nas mudanças de modelo, paradigmas e legislações educacionais ao longo da história da<br />

sociedade capitalista. O capitalismo possibilitou a universalização e a socialização de crianças e<br />

adultos na escola.<br />

(...) o sistema de ensino se bifurcou entre as escolas de formação geral e as escolas<br />

profissionais. Estas, por não estarem diretamente ligadas à produção, tenderam a<br />

enfatizar as qualificações gerais (intelectuais) em detrimento da qualificação específica,<br />

ao passo que os cursos profissionalizantes, diretamente ligados à produção, enfatizaram<br />

os aspectos operacionais vinculados ao exercício de tarefas especificas (intelectuais e<br />

manuais) no processo produtivo considerado em sua particularidade. (SAVIANI, 1992<br />

pag. 11).<br />

43


A sociedade industrial passou a requerer um trabalhador qualificado, ao invés do artesão<br />

generalista. Na contradição inerente a evolução do capitalismo, a fábrica moderna passou a necessitar<br />

de especialistas em manutenção, pessoas capazes de operar máquinas e equipamentos e pessoas<br />

capazes de promover modificações e desenvolver novas máquinas e equipamentos.<br />

O reflexo destas necessidades na produção ao nível da escola é o surgimento dos cursos<br />

profissionalizantes. Nesse período, enquanto a Europa vivia a ebulição pré e pós-revolucionária, o<br />

Brasil permanecia até 1822, como colônia portuguesa. Sem atravessar pelo processo de revolução<br />

industrial, nossa economia manteve a organização manufatureira do trabalho, seja nos engenhos de<br />

açúcar, seja na incipiente indústria urbana. Assim, o ensino técnico formal não se apresentava como<br />

uma necessidade imediata. A própria educação propedêutica era ainda muito insipiente, visto que no<br />

Brasil a educação ainda era tratada como assunto de poucos, voltando-se para formação clássica de<br />

filhos e filhas das camadas dirigentes.<br />

Na virada do século XIX para o século XX, o Brasil entrava para uma fase de capitalismo<br />

concorrencial, formando suas indústrias. Segundo Silva (1991) “(...) isso motivou o governo federal a<br />

criar, em quase todos os estados brasileiros, Escolas de Aprendizes Artífices, com finalidade de<br />

preparar o homem para o processo produtivo”. O exemplo do Instituto Federal de Educação, Ciência e<br />

Tecnologia do Rio Grande do Norte que passou por sete denominações em 102 anos de existência, é<br />

bastante representativo da evolução da Rede Federal. Vinculada inicialmente ao Ministério da<br />

Agricultura, Indústria e Comércio, a Escola de Aprendizes e Artífices de Natal teve como público alvo<br />

meninos de baixa renda, com idade entre 10 e 13 anos, aos quais eram ministrados curso primário, de<br />

desenho e os ofícios de marceneiro, sapateiro, funileiro, alfaiate e serralheiro. Está, pois na origem da<br />

Instituição, sua vinculação com o mundo do trabalho, sua vocação para auxiliar os governos a<br />

realizarem suas proposições desenvolvimentistas e seu modelo de escola unitária, através de cursos<br />

profissionalizantes integrados ao ensino regular.<br />

Responsável pela formação profissional de gerações a Instituição desenvolveu durante 90 anos suas<br />

atividades em Natal, inaugurando em 1994 em Mossoró, sua primeira Unidade Descentralizada de<br />

Ensino em função da presença da indústria de petróleo e gás na região oeste do estado. Sua história,<br />

coerência do projeto político pedagógico e representatividade social lhe conferem elevados níveis de<br />

aprovação e reconhecimento. A presença do IFRN em todo estado potencializa o debate de um novo<br />

modelo de desenvolvimento, geração de trabalho e renda, potencializando o desenvolvimento local e<br />

regional. Atividades como economia solidária, produção cultural, agricultura familiar, pesca oceânica<br />

e de interior, produção de energia eólica, mineração, turismo, controle e gestão ambiental estão a<br />

exigir pesquisa e formação de profissionais em nível médio e superior. Segundo o relatório de gestão<br />

de 2010 são 20.244 alunos matriculados, 814 docentes efetivos e 72 temporários, 583 técnicos<br />

administrativos e 132 trabalhadores terceirizados, números em constante crescimento. Quanto aos<br />

servidores aposentados, são 310 e mais 80 pensionistas.<br />

3. OBJETIVO DA TESE<br />

Temos um alvo fundamental a atingir: superar a natureza liberal do Estado brasileiro. Natureza que é<br />

reafirmada pelos privilégios de renda, mercantis, tributários, patronais e de propriedade, patriarcais e<br />

racistas, na ausência ou fragilidade do princípio da soberania popular, em geral avessos aos princípios<br />

republicanos mais fundamentais.<br />

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A natureza liberal do Estado brasileiro fica evidenciada no peso e influência que tem o capital<br />

financeiro, núcleo das classes dominantes brasileiras. Os bancos continuaram acumulando recordes nas<br />

taxas de lucratividade. O Banco Central continua restringindo suas decisões em função estritamente da<br />

estabilidade inflacionária. É fundamental que a mais importante instituição do sistema financeiro<br />

nacional incorpore em suas ações a preocupação com o crescimento e o emprego.<br />

No contexto da EPT, o Presidente Fernando Henrique logo após sua posse, buscou desmontar a Rede<br />

Federal. Primeiro sugeriu a transferência das instituições para estados ou municípios. Em seguida<br />

apresentou projeto de lei junto ao Congresso Nacional, o PL 1603/96. Nas duas oportunidades<br />

conseguiu desagradar estudantes, profissionais da área e parlamentares. O decreto lei 2.208/97 refletiu<br />

a forma subordinada como foi sendo conduzida nossa inserção no mundo globalizado. A resistência e<br />

as lutas contra estas iniciativas marcaram fortemente a Rede e o CEFET RN em particular.<br />

Desde o debate da transformação da Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte em CEFET, em<br />

1994, que os movimentos estudantil e sindical apresentaram resistência as mudanças anunciadas.<br />

Muita desconfiança com o novo modelo: seria CEFET com C de Centro, voltado à formação do<br />

técnico cidadão numa perspectiva de escola unitária ou com S de Serviço, focado em cursos<br />

aligeirados, de curta duração, financiados através de convênios e na perspectiva de fortalecimento do<br />

modelo dual do sistema S?<br />

As lutas sindicais da década de 1990 foram derrotadas, contudo contribuíram no acumulo de forças e<br />

a construção de um novo período político no país. Na secção sindical de Natal do SINASEFE, a<br />

mobilização em torno da derrubada do decreto lei 2.208/97 foi de grande intensidade. Abaixo assinado<br />

com mais de 40 mil adesões foi entregue na Assembleia Legislativa após a maior passeata de nossa<br />

história, saindo da Instituição praticamente todos os estudantes, professores e técnicos administrativos.<br />

Contudo o decreto prevaleceu.<br />

O novo governo, identificado com as lutas históricas das classes trabalhadoras e a trajetória pessoal<br />

do presidente Lula, deu-lhe a condição de representar socialmente os anseios da maioria da população<br />

do país. Assim a mudança no ambiente da Rede Federal começou a materializar-se com a publicação<br />

do Decreto 5.154, de 23/07/2004, revogando o 2.208/97 e dando início a expansão da EPT iii .<br />

Vivemos hoje um novo período político marcado por dupla possibilidade: a plena superação do<br />

neoliberalismo e a construção de nova hegemonia no Brasil. Esta superação do neoliberalismo é<br />

condição imprescindível para o fortalecimento do movimento sindical e das conquistas<br />

econômicas, políticas e sociais da classe trabalhadora.<br />

3.1. O debate econômico:<br />

A transição do neoliberalismo para o social-desenvolvimentismo permitiu que o Brasil pudesse<br />

iniciar a retomada de uma sociedade salarial. Trata-se de um quadro social fortemente impulsionado<br />

pelo avanço do emprego assalariado, especialmente com carteira assinada. O novo ciclo de<br />

desenvolvimento nacional permitiu a ampliação generalizada do consumo popular, sobretudo no terço<br />

de menor renda.<br />

No cenário internacional, a 3ª Revolução Industrial consolida a microeletrônica na produção,<br />

possibilita novas formas de comunicação e informação, desenvolvendo novas formas de organização<br />

do trabalho e da produção. Se no fordismo ocorrera a transferência de determinadas funções manuais<br />

para as máquinas, nessa nova etapa ocorre a transferência de determinadas operações intelectuais para<br />

as máquinas. Estes acontecimentos provocam um forte debate teórico e prático sobre a elevação dos<br />

níveis de qualificação profissional. E é neste cenário que a expansão da Rede Federal se apresenta<br />

como iniciativa positiva.<br />

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O novo modelo institucional, com investimentos em edificações, equipamentos, concursos públicos,<br />

num processo irreversível de criação de novos cursos e ampliação de matriculas nas diversas<br />

modalidades de ensino, caracteriza o rompimento com o passado recente de influencia neoliberal. Esta<br />

realidade cobra do Estado brasileiro uma escolha que, a nosso ver, deva ser pela universalização de<br />

uma escola unitária responsável não apenas pela formação do técnico, do profissional, mas a formação<br />

do cidadão.<br />

3.2. O debate político:<br />

Ao movimento sindical cabe um novo e qualificado debate político a cerca de suas tarefas, sua<br />

independência diante o Estado e os governos. Relacionar a luta econômica com a busca de igualdade<br />

social e política. O feminismo, a igualdade étnica e a livre orientação sexual não são apêndices do<br />

programa, mas partes constitutivas dele. Os trabalhadores em educação precisam refletir sobre a<br />

formação de jovens, aptos a integrarem-se na luta pela construção de uma sociedade para além do<br />

neoliberalismo.<br />

No Brasil, a conquista do princípio mínimo de soberania popular através da universalização do<br />

direito de voto só foi alcançada em 1988. Nossa primeira democracia de massas, de 1946 a 1964, não<br />

permitia o direito de voto da maioria nem o pluralismo político pleno. A ditadura militar conduziu o<br />

grande ciclo da “modernização conservadora” durante os 21 anos seguintes. O neoliberalismo<br />

pretendeu uma nova refundação conservadora do Estado, argumentando contra a sua falência<br />

burocrática, corporativa e nacional.<br />

A economia brasileira, desde o período colonial, desenvolveu-se a partir de um princípio predador<br />

da natureza. Até 1990, não houve no Brasil um padrão mínimo de regulação ambiental. Na última<br />

década, a diminuição do desmatamento da Amazônia, o amadurecimento de padrões baseados em<br />

energia renovável, a adoção do Tratado de Kyoto, o reconhecimento e fortalecimento da agricultura<br />

familiar significaram uma inflexão positiva para o país. Hoje, a retomada do crescimento da economia<br />

trás novas tensões na definição das matrizes energéticas, no debate em torno do código florestal, no<br />

processo de mobilidade urbana e na perspectiva de melhoria da qualidade vida.<br />

Superar estas tensões implica entender a natureza liberal do Estado brasileiro. Esta natureza se<br />

evidencia através do peso e influência que tem o capital financeiro nas relações entre capitalistas e as<br />

classes trabalhadoras. Outras evidências estão no peso do agronegócio, na privatização do processo de<br />

formação da opinião pública e na inaceitável mercantilização da educação e da saúde. Contudo a maior<br />

evidência da matriz liberal do Estado brasileiro está em seu elitismo.<br />

“Em nossas discussões tenho enfatizado a força - tanto intelectual quanto política – do<br />

neoliberalismo. (...) Se olharmos as perspectivas que poderiam emergir além do<br />

neoliberalismo vigente, como deveríamos orientar-nos na luta contra o neoliberalismo,<br />

não devemos esquecer três lições básicas, dadas pelo próprio neoliberalismo: não ter<br />

nenhum medo de estar absolutamente contra a corrente política do nosso tempo. Não<br />

transigir em ideias, não aceitar nenhuma diluição de princípios e não aceitar nenhuma<br />

instituição estabelecida como imutável”. (ANDERSON, 1992, p.94).<br />

3.3. O ambiente a ser superado:<br />

Mesmo após as conquistas democráticas da constituição de 1988, o Estado brasileiro continua a<br />

funcionar com base no princípio da democracia representativa alicerçada em fortes distorções de<br />

representação. A democracia participativa ainda é inicial e em pleno século XXI ainda se pratica<br />

trabalho escravo e mulheres, negros, indígenas, crianças e idosos continuam a sofrer discriminação.<br />

Esse é o ambiente a ser superado. A continuidade da revolução democrática e a constituição de um<br />

novo Estado precisarão do aprofundamento da democracia, da solidariedade e do pluralismo.<br />

46


Um novo Estado que reafirme a soberania nacional, os direitos dos trabalhadores, das mulheres, das<br />

raças e etnias e da comunidade LGBT.<br />

Um novo Estado que apresente uma política afirmativa para a EPT no país, olhando para o<br />

desenvolvimento de suas potencialidades. O Brasil deve viver pelos próximos anos uma situação<br />

demográfica que precisará ampliar a proteção social sobre a imensa massa juvenil, reduzindo a entrada<br />

de jovens no mercado de trabalho antes de concluir sua formação acadêmica ou técnica científica. A<br />

emancipação de jovens é a sua não dependência do trabalho para fins de sobrevivência. O Estado deve<br />

assumir, assim, a proteção da juventude diante da demanda pela exploração do trabalho juvenil.<br />

Um novo Estado que aplique as novas tecnologias olhando o desenvolvimento humano e sua relação<br />

com o meio ambiente. Aonde a agricultura e a produção de alimentos se associem a vida humana no<br />

campo, nas pequenas e médias cidades. Aonde a política industrial assegure convivência com a<br />

dignidade de morar, locomover-se e ter acesso à saúde, educação, lazer e cultura pela população.<br />

Um novo Estado que, superando as amarras neoliberais, insira o Brasil de forma solidaria no novo<br />

ambiente internacional. Em 2011, movimentos sociais e populares radicalizados levaram milhares de<br />

pessoas às ruas que não voltam às suas casas sem que alcancem o que desejam. As redes sociais<br />

assumem papel destacado nas mobilizações que unem classe média, jovens empobrecidos,<br />

desempregados, estudantes, mulheres, trabalhadores e intelectualidade. Estas mobilizações partem do<br />

enfrentamento local e vão até o centro político dos governos.<br />

A revolução democrática do mundo árabe que teve início na Tunísia e no Egito é uma expressão<br />

direta da crise econômica de 2008. Os EUA vivem enorme disputa entre o partido democrata do<br />

presidente Obama e a maioria republicana no Congresso prolongando a crise econômica que também<br />

atinge a Europa e ameaça a economia do capitalismo central de recessão. As democracias europeias<br />

estão fortemente ameaçadas pela ânsia do capital em busca da sobrevivência do sistema. Os novos<br />

primeiros-ministros da Itália e da Grécia são oriundos do Banco Goldman Sachs. Não há mais<br />

intermediários, a gestão dos governos nacionais é direta dos funcionários do mercado financeiro.<br />

O processo de Revolução Democrática no Brasil terá que dialogar com todas estas experiências, em<br />

particular com as que ocorrem na América Latina, Espanha e Portugal valorizando o nosso imenso<br />

mercado interno e as relações multilaterais, em especial no MERCOSUL e no BRICS.<br />

4. A CRISE NEOLIBERAL E A EDUCAÇÃO<br />

Numa sociedade pautada pela economia neoliberal, a educação não se constitui exceção, ao<br />

contrário. A década de noventa foi particularmente neoliberal para a educação brasileira. No âmbito<br />

das Instituições da Rede Federal e no IFRN em particular, o período foi marcado por muitas mudanças<br />

e contradições. A tradição institucional se modificou. A forte expressão local e nacional na formação<br />

de técnicos de nível médio, no desenvolvimento de esporte e na formação de grupos culturais<br />

exemplares na antiga ETFRN sofreu um lento e continuo esvaziamento. Enquanto o mundo do<br />

trabalho informatizava-se e buscava novas formas de organização, visando superar o modelo de<br />

organização da produção fordista, a nossa educação mantinha-se voltada para desenvolver<br />

competências especificas, visando formar especialistas para o mercado.<br />

O Brasil demorou muito para assimilar, mesmo de forma incompleta, o ideário de generalização do<br />

acesso à escola. Por muito tempo, permaneceu como um país em que a educação era assunto de<br />

poucos. Apesar de a sociedade brasileira ter se desenvolvido sob a hegemonia conservadora, os<br />

projetos educacionais até elaboração da constituição de 1988 desempenharam um papel integrador. O<br />

regime militar deu inicio a privatização do ensino superior, a partir de 1968. Com a Lei 5692, de 1971,<br />

47


que subordinava explicitamente a educação às necessidades econômicas, a ditadura rompe com a<br />

tradição clássica, que vê a educação como um direito subjetivo. Esta reforma proponha criar uma<br />

escola para ser cursada pelos que precisam entrar precocemente no mercado de trabalho. No período, a<br />

sociedade brasileira demonstrou significativa capacidade de resistência, de modo que, no dia a dia da<br />

escola, a nova orientação não foi aplicada. “Pelo menos, não tanto quanto pretendia o regime. Por isso,<br />

sucederam-se depois várias reformas da reforma”. (FRIGOTTO, 2003, p. 74)<br />

A fragmentação, descontinuidade e privatizações produzidas neste ambiente precisam ser<br />

enfrentadas num processo de revolução democrática que associe mudanças profundas na educação<br />

com o fortalecimento da agricultura familiar, que dê a industrialização uma perspectiva não predatória,<br />

que incorpore princípios de uma reforma urbana que devolva aos homens e as mulheres dignidade em<br />

morar, locomover-se e cuidar de si e das gerações futuras.<br />

Em discussões da globalização em nível político, a questão predominante é a do estadonação.<br />

Ele acabou de vez, ou será que ainda tem um papel vital a desempenhar?<br />

(JAMENSON, 2002, p.18).<br />

Esta é uma questão chave para a discussão que nos propomos. O Brasil demonstrou independência<br />

política, econômica e cultural no debate sobre a formação de blocos econômicos. O fortalecimento do<br />

MERCOSUL e o consequente esvaziamento da ALCA - Área de Livre Comércio das Américas -<br />

posicionaram positivamente nossas relações internacionais. Desde a campanha eleitoral de 2002 até<br />

hoje, o fortalecimento do Brasil no cenário internacional tem se dado a partir de seu papel como nação<br />

independente e solidaria. A crise econômica de 2008 colocou em xeque a continuidade do programa<br />

neoliberal a partir da maciça intervenção estatal para salvar grandes bancos nos EUA e Europa. Gerou<br />

ainda redução do poder dos EUA diante a economia global, possibilitando a ascensão de novas<br />

articulações como o G20 e o BRICS. Abriu-se assim, uma fissura na hegemonia do pensamento único.<br />

No Brasil as iniciativas para o enfrentamento desta crise, deram origem a um conjunto de fatores<br />

anti neoliberais. Entre elas o crescimento quantitativo e qualitativo do sistema financeiro público com<br />

a redução da autonomia do BC. O aumento do salário mínimo em plena crise, a sustentação e mesmo<br />

ampliação dos programas sociais, como Bolsa Família e, a nosso ver, a ampliação da expansão da EPT<br />

são indicadores positivos na perspectiva de superação do ambiente neoliberal no Brasil.<br />

Apesar da continuidade da crise econômica de 2008 e a possibilidade de recessão nos EUA e<br />

Europa, a economia brasileira será empurrada nos próximos anos pelo pré-sal, pela crescente classe<br />

média e seu potencial de consumo, pelo aumento da produção de energias renováveis e pelas imensas<br />

possibilidades de produção de alimentos. O gigantesco mercado interno brasileiro tem induzido a<br />

geração de empregos e os investimentos de capitalistas nacionais e internacionais.<br />

5. NOSSA PROPOSTA<br />

Desta forma a demanda para a formação de mão de obra qualificada e, portanto a urgência da<br />

expansão da EPT em particular, está na ordem do dia. Não há retorno para os investimentos em<br />

curso na EPT. Dar prosseguimento a expansão é nesta conjuntura a melhor escolha no sentido<br />

de enfrentar a crise econômica através de novos investimentos que venham a qualificar<br />

habilidades para o trabalho, dinamizando economias locais já potencializadas pelas construções<br />

dos diversos campi ao lado de outras obras estruturantes. Ao capital público, investido<br />

diretamente, soma-se incentivos e oportunidades para as empresas privadas que giram no<br />

entorno deste processo de instalação dos Institutos Federais.<br />

48


A afirmação da positividade da constituição dos Institutos Federais, não nega neste contexto, outras<br />

disputas em curso na educação brasileira. A esta positividade, serão necessárias outras iniciativas<br />

como o fortalecimento da Universidade Aberta do Brasil; a ampliação dos Centros Profissionalizantes<br />

pelos estados e municípios e uma redefinição de metodologias e objetivos pelo governo federal quanto<br />

ao PRONATEC (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego). Pensado como<br />

ferramenta para melhorar o ensino médio, com a formação do aluno em cursos profissionalizantes<br />

integrados ao ensino regular, o programa sofre pressões privatistas no sentido do fortalecimento da<br />

escola dual.<br />

Esse é um debate que o movimento sindical e o SINASEFE em particular, precisam abraçar em toda<br />

a sua complexidade. A Conferência Nacional de Educação - CONAE, produziu as diretrizes do Plano<br />

Nacional de Educação – PNE e que deverá estabelecer compromissos e metas para a próxima década.<br />

Em maio de 2012 será realizada a I Conferencia Nacional de Emprego e Trabalho Decente, pautando a<br />

geração de mais e melhores empregos, a erradicação do trabalho escravo e a eliminação do trabalho<br />

infantil.<br />

A conclusão destes debates e uma nova e efetiva relação entre educação e trabalho poderão<br />

associar-se a positividade da constituição dos Institutos Federias na superação do ambiente<br />

neoliberal na educação brasileira.<br />

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Ainda que seja difícil prever o desfecho das transformações em curso na cena mundial, é evidente<br />

que um mundo distinto está surgindo, mais democrático, multilateral e multipolar. Como expressão<br />

política de um período de globalização financeira, o neoliberalismo vive hoje um impasse. Há, de um<br />

lado, uma enorme dimensão econômica da crise e por outro, uma evidente dimensão política. Os EUA<br />

não mais lideram a cena mundial e o dólar perde peso como padrão monetário. A crise de perspectivas<br />

da social democracia europeia é resultado da opção de integração hegemonicamente liberal. Diante<br />

estas crises, cresce o poder geopolítico do Brasil, da Rússia, da Índia, da China e da África do Sul,<br />

denominados BRICS.<br />

Ao longo dos anos, além da intervenção militar e da guerra, o imperialismo provocou aumento do<br />

aquecimento global e das desigualdades. Os movimentos sociais resistem às barbáries capitalistas<br />

desde a guerra do Vietnam na década de 60. A derrubada das ditaduras militares na América Latina, as<br />

vitórias eleitorais e a construção do Fórum Social Mundial, a partir das mobilizações em Seattle (1999)<br />

marcaram fortes disputas com o neoliberalismo. Somadas as manifestações desde dezembro passado<br />

na Tunísia passando pelos estudantes chilenos e jovens londrinos de Agosto até o Fórum Social<br />

temático de Porto Alegre em janeiro de 2012, já passam de milhões os manifestantes pelo fim do<br />

neoliberalismo.<br />

Assim, o movimento sindical brasileiro, precisa aprofundar seu dialogo com a juventude e a nova<br />

classe média formadora de opinião e detentora de enorme força social e econômica. A expansão da<br />

EPT em plena crise de 2008 é um elemento que o SINASEFE precisa compreender visando seu<br />

fortalecimento. É fato que em cada recanto do país as atenções para as novas Instituições, seus novos<br />

campi e concursos são muito fortes. Nas reuniões dos colegiados territoriais do Programa Territórios<br />

da Cidadania, nos fóruns das associações dos municípios, na imprensa, nas redes sociais e na<br />

motivação de jovens e seus familiares. A perspectiva de ingresso na Instituição seja como estudante,<br />

servidor concursado ou mesmo como trabalhador terceirizado constitui-se fator de autoestima, orgulho<br />

e sucesso profissional.<br />

49


Numa visão estratégica, o fortalecimento da Rede Federal de EPT, através de uma maior amplitude<br />

na oferta de vagas, qualificação permanente de docentes e técnicos administrativos e da boa qualidade<br />

do ensino, pesquisa e extensão, irá se constituir numa iniciativa positiva na perspectiva de superação<br />

do ambiente neoliberal na educação brasileira. A relação positiva dos campi com a comunidade onde<br />

estão situados potencializa a presença de mestres e doutores em contato com estudantes, representantes<br />

do poder local, das empresas e da sociedade civil, particularmente nos campi afastados das capitais.<br />

Estes profissionais contribuem na formação dos futuros professores através das respectivas<br />

licenciaturas auxiliando a rede estadual e aos municípios a melhoria das condições do ensino médio e<br />

fundamental.<br />

No âmbito da economia, os novos cursos técnicos e tecnológicos estabelecem um dialogo inédito<br />

entre o saber científico, a pesquisa e a extensão com a cultura local, seu empreendedorismo, suas<br />

reservas naturais e potenciais econômicos. Educação Profissional e Tecnológica de qualidade e com<br />

compromisso social induz desenvolvimento, constrói cidadania e sinaliza positivamente para a<br />

sociedade lutar pelos seus direitos. Mantendo sua organização de escola unitária através da educação<br />

propedêutica e cientifica integrada a formação profissional sob um mesmo projeto político pedagógico<br />

os Institutos Federais, espalhados em 404 campi iv se constituem num gigantesco instrumento de<br />

disputa de hegemonia.<br />

Para acompanhar a dinâmica institucional, desenvolver lutas sociais e fortalecer a categoria, o<br />

SINASEFE precisa estar atento e com organicidade em cada recanto do país. Neste sentido<br />

acredito ser o sindicato de base em cada Instituto a melhor forma de potencializar nossa<br />

organização. Nos estados em que só temos um Instituto, a constituição de um único sindicato<br />

estadual. Nos estados em que há mais de um Instituto, acredito que o debate deva ser entre um único<br />

sindicato estadual ou sindicato por Instituto. De toda forma, nossa organização nacional deve ser<br />

redefinida, a luz desta nova realidade da rede.<br />

i Visa transformar o Estado, a partir de fundamentos distintos do paradigma neoliberal. Trata-se de um<br />

processo de refundação institucional, com incorporação de valores do feminismo na superação das<br />

dimensões patriarcais do liberalismo. A Revolução Democrática retoma conceitos de Gramsci e da luta<br />

permanente pela conquista da hegemonia. Trata-se de um conjunto de processos que considera o acúmulo<br />

das vitórias, o sentido democrático e a natureza do bloco histórico, tendo a classe trabalhadora como eixo e<br />

seu objetivo é constituir uma dinâmica favorável à transição socialista.<br />

ii As guildas, corporações artesanais ou corporações de oficio, eram associações de artesãos de um mesmo<br />

ramo, isto é, pessoas que desenvolviam a mesma atividade profissional. Ocorreram na Europa, onde cada<br />

cidade tinha sua própria corporação.<br />

iii No RN esta expansão teve início com as unidades de Ipanguaçu, Currais Novos e Zona Norte de Natal<br />

(2006) ampliando-se na segunda fase a partir de 2009 novos campi em Caicó, Pau dos Ferros, Apodi,<br />

Macau, João Câmara, Santa Cruz, Cidade Alta (Natal), Nova Cruz, Parnamirim, São Gonçalo do Amarante<br />

e de Educação à Distância.<br />

iv Na 3ª etapa da expansão, foram anunciados novos 208 campi de Institutos Federais, no RN os campi de<br />

São Paulo do Potengi, Canguaretama e Ceará Mirim.<br />

7. REFERENCIAS<br />

ANDERSON, Perry. Além do neoliberalismo. In SADER, Emir e GENTIL, Pablo. Pós-neoliberalismo<br />

(org.). As políticas sociais no Brasil. São Paulo: Ed. Paz e Terra, 1995.<br />

FRIGOTTO, Gaudêncio. Educação e a crise do capitalismo real. 5ª Edição. São Paulo: Cortez, 2003.<br />

50


GAMBOA, Silvio Sanches. A globalização e os desafios da educação no limiar do novo século. In<br />

LOMBARDI, José Claudinei (org.). Globalização, pós modernidade e educação. 3ª Edição. São Paulo:<br />

Autores Associados, 2009.<br />

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO CIENCIA E TECNOLOGIA DO RIO GRANDE DO<br />

NORTE. In Relatório de gestão 2010. Março de 2011. Disponível em<br />

http://portal.ifrn.edu.br/institucional/relatorios_gestao Acesso em 30/02/2012.<br />

JAMERSON, Fredric. A cultura do dinheiro: ensaios sobre a globalização. 3ª Edição. São Paulo: Editora<br />

Vozes Ltda, 2002.<br />

SAVIANI, Dermeval. O trabalho como princípio educativo frente as novas tecnologias. Mimeo 1992.<br />

SILVA, Maria das Graças Baracho. Da arte do ofício à especialização: um breve histórico sobre a função<br />

social do ensino técnico industrial. Dissertação. Natal-RN: Universidade Federal do Rio Grande do Norte,<br />

1991.<br />

www.csd.org.br – site consultado em 30 de fevereiro de 2012.<br />

51


TESE 09<br />

O PRIMEIRO ANO JÁ PASSOU, O QUE MAIS PODEMOS ESPERAR DO GOVERNO DILMA EM<br />

2012?<br />

O governo Dilma é uma continuidade dos dois governos Lula, representando um terceiro<br />

mandato da chamada “Frente Popular”, capitaneada pelo PT e agora com a clara intervenção do<br />

PMDB, um dos principais responsáveis por todos os ataques aos trabalhadores (as)<br />

implementados pelo governo federal, desde o fim da Ditadura Militar.<br />

E essa continuidade se dá também por outras razões além do fato de ser uma segunda<br />

reeleição do projeto petista. Estamos diante da combinação entre a colaboração estreita entre as<br />

grandes empresas e a maior parte da representação dos movimentos sindical e popular, com o<br />

apoio da maioria dos trabalhadores (as) do nosso país. Nesse momento é aplaudida pelos bancos<br />

e multinacionais instaladas no país e conta com apoio de 71% do povo brasileiro. O crescimento<br />

econômico e o caráter desse governo que, aos olhos dos trabalhadores (as), aparece como "seu<br />

governo", reforçam ainda mais esse apoio e a expectativa de que dias melhores virão. Entretanto,<br />

com a crise mundial e com o alastramento do Tsunami econômico que vem varrendo antigas<br />

economias no velho mundo, para além dos EUA, nos fazem crer que o que estava e está ruim<br />

pode muito bem piorar. Não sendo possível outra coisa, Dilma e sua equipe continuam<br />

organizando seus pacotes buscando dar continuidade ao seu projeto populista e agora de país<br />

promissor do bloco dos emergentes, ampliando ainda mais o que já foi feito para retirada de<br />

direitos e conquistas históricas que ainda restavam desde constituição de 1988. Quanto mais a<br />

economia brasileira vier a ser afetada pela crise mundial, maiores serão os ataques, mesmo que<br />

de maneira “suave”, em doses homeopáticas, como já vem ocorrendo. Talvez não tenhamos<br />

grandes reformas para combater, mas com certeza teremos projetos pretensamente menos<br />

ofensivos sendo aprovados e implementados através dos “leões de chácara” de Dilma nos<br />

Ministérios do Planejamento, Fazenda e Banco Central.<br />

Dilma já deu mostras do que é capaz: termina seu primeiro ano de governo acumulando<br />

alguns recordes nos ataques aos trabalhadores (as) e o favorecimento ao capital e às grandes<br />

empresas. Já nos primeiros dias Dilma aplicou todo o receituário neoliberal para supostamente<br />

“combater a inflação”. Fez um corte de R$ 50 bilhões de reais no orçamento federal, o maior de<br />

toda a história. Nem FHC tinha conseguido fazer isso, e o maior corte dos governos Lula tinha sido<br />

de R$ 21,8 bilhões, em 2010. Esses cortes foram sentidos nos gastos sociais, com redução de 3,1<br />

bilhões na educação e R$ 5 bilhões no programa de habitação “Minha casa Minha Vida”.<br />

Logo depois impôs um arrocho no salário mínimo. Pela primeira vez, desde 1997, o mínimo<br />

foi reajustado abaixo da inflação (-1,3%). Ou seja, uma postura pior do que os governos FHC e os<br />

dois mandatos de Lula, e fez isso exatamente quando os deputados tinham reajustado os seus<br />

salários em 62% e a própria Dilma teve um reajuste de 132% no seu salário. Além da Presidente<br />

Dilma continuar impondo o comprometimento de toda a economia brasileira para o pagamento da<br />

dívida pública, o que acaba deixando para trás aquele discurso do seu antecessor de reduzir os<br />

gastos com o pagamento dos encargos da dívida. O que não passava de uma falácia, comprovada<br />

pelas ações da sua sucessora e pupila. Nada menos que 49,15% de todo o orçamento da união<br />

em 2011 foi destinado ao pagamento dos juros e amortização da dívida, segundo a Auditoria<br />

Cidadã da Dívida. O orçamento para 2012 repete a mesma situação, com o governo prevendo um<br />

gasto de R$ 1,06 trilhão, ou seja, 48% de todo o orçamento, para pagamento aos banqueiros.<br />

Gastará muito mais com a dívida pública do que com o funcionalismo (R$ 203 bilhões),<br />

investimentos (R$ 165 bi) e Previdência Social (R$ 308 bi), todos juntos.<br />

Durante as últimas eleições presidenciais, mais precisamente no segundo turno, Dilma<br />

denunciou largamente que Serra era o candidato das privatizações de FHC e que, portanto, não<br />

deveria ser eleito. O que realmente era uma afirmativa calcada na verdade, entretanto hoje<br />

estamos verificando a continuidade e ampliação das privatizações no Brasil. Sob a<br />

52


excepcionalidade da Copa Fifa e das Olimpíadas, Dilma já iniciou a entrega dos aeroportos ao<br />

capital privado, sabe-se lá com a quantidade de recursos públicos que ainda serão aplicados nas<br />

obras destes mesmos aeroportos. Os argumentos utilizados são os mesmos utilizados pelo<br />

governo FHC para privatizar as estatais: o setor público nestas áreas tem sido ineficiente e<br />

incompetente, e para que tais eventos possam ser um sucesso será preciso o “apoio” e o<br />

dinamismo da iniciativa privada.<br />

Como se não bastasse, o governo privatizou a Empresa dos Correios e Telégrafos, por meio<br />

da criação da Correios S. A., através da Medida Provisória 532. A medida ameaça o chamado<br />

monopólio postal, ou seja, a exclusividade na prestação de serviços de postagem e entrega de<br />

cartas, telegramas e correspondências em malotes. Também põe fim à universalização dos<br />

serviços postais.<br />

Dilma privatizou até a área da saúde, fazendo aprovar no Congresso Nacional um Projeto<br />

de Lei nº 1749/2011 que entrega os Hospitais Universitários à iniciativa privada, desmembrando-os<br />

da estrutura administrativa das Universidades Federais e possibilitando o repasse dessas<br />

Instituições de Saúde a empresas gestoras nesta área.<br />

Ou seja, os Eikes da vida agradecem todo este reconhecimento de competência para<br />

centralizar ainda mais a riqueza em nosso país.<br />

O ano de 2011 também foi marcado por notórios escândalos de corrupção que atingiram em<br />

cheio o governo e derrubaram seis ministros ao longo do ano. Mais um recorde da pupila de Lula.<br />

A lista começou com Antônio Palocci, ministro da Casa Civil da Presidência, e avançou para<br />

Alfredo Nascimento, dos Transportes, Wagner Rossi, da agricultura, Pedro Novais, do Turismo,<br />

Orlando Silva, do esporte, e Carlos Lupi, do Trabalho. Agora, com o início das chuvas arrasadoras<br />

de verão, começou a “fritação” do Ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, em função<br />

das denúncias de favorecimento político na distribuição das verbas de sua pasta. Como se isso<br />

não fosse uma prática de todo o governo. E novamente vamos conviver com um governo corrupto,<br />

mas sob a defesa ética de uma Presidente que não sabe e não participa de nada disso. Será<br />

possível?<br />

Os escândalos que derrubaram os ministros explicitaram, mais uma vez, as relações<br />

espúrias entre o governo e a inciativa privada, levando ao velho discurso da necessidade das<br />

Reformas e organização e eficiência nos setores públicos. Empresários, banqueiros e<br />

latifundiários, financiadores das campanhas e dos grandes partidos que estão no poder, em troca<br />

continuam como sempre abocanhando contratos e a aprovação de leis no Congresso, local dos<br />

seus legítimos representantes.<br />

A mídia burguesa apressou-se em anunciar que o governo Dilma estaria fazendo uma<br />

“faxina ética”. Porém, se nos detivermos com mais atenção neste processo, veremos que não<br />

existe "faxina" nenhuma, existe uma política de preservação de Dilma, assim como nos governos<br />

Lula, que se repete a cada escândalo. Quando se descobre o roubo de um de seus ministros,<br />

Dilma tenta defendê-lo na medida do possível, mas logo se afasta quando percebe que pode sair<br />

desgastada do escândalo público, forçando automaticamente a saída do ministro “enrolado”.<br />

No governo Dilma, a corrupção terá uma forte base nos investimentos que estão sendo feitos<br />

para a preparação da Copa e da Olimpíada. Os estádios, assim como todas as obras, estão sendo<br />

construídos com base em uma nova legislação imposta pelo governo federal, que impede que os<br />

orçamentos sejam controlados publicamente. Se tais gastos fossem públicos já haveria a<br />

corrupção de sempre, imaginem com um negócio de cerca de 20 bilhões de reais sendo construído<br />

dessa maneira. Todos nós podemos imaginar como tudo acabará.<br />

NOVOS ATAQUES AOS TRABALHADORES ESTÃO SENDO PREPARADOS PARA<br />

ATRAVESSAR MAIS UMA ETAPA DA CRISE INTERNACIONAL<br />

Apesar da crise mundial, o Brasil ainda goza neste momento de um crescimento da sua<br />

economia. As grandes multinacionais apostam no país como plataforma de exportações de<br />

matérias primas para todo o mundo e de automóveis e eletrodomésticos para a América Latina.<br />

53


Os planos de investimentos dessas empresas seguem sendo aplicados no país, que tem<br />

uma mão de obra barata e um governo completamente alinhado às multinacionais. Crescimento<br />

econômico e superexploração dos trabalhadores (as) caminham juntos. Os lucros obtidos aqui são<br />

importantes para compensar parcialmente a crise nos países imperialistas. Além disso, a<br />

perspectiva da exploração do petróleo com o pré-sal e as obras para a Copa e Olimpíada são<br />

elementos a mais para manter o crescimento.<br />

Entretanto, tais questões não impediram a desaceleração da nossa economia, fazendo cair<br />

um crescimento de 7,5% em 2010 para algo próximo a 3% em 2011. Essa desaceleração deve<br />

seguir em 2012, não estando claro quando e aonde tudo isso irá nos levar e se virá ou não a<br />

ocorrer uma nova recessão no país, fruto da crise internacional em curso. E esta desaceleração já<br />

é um reflexo das consequências dessa crise mundial.<br />

Dilma e sua base de sustentação já estão preocupados, e por isso repetem preventivamente<br />

o receituário de Lula para enfrentar a crise, como em 2008, quando mesmo antes de a economia<br />

brasileira viver uma clara recessão várias medidas foram antecipadas. A taxa de juros, que<br />

aumentou no início de seu governo, de 10,75 para 12%, passou a ser reduzida, chegando a 11%.<br />

Repete o mesmo de seu antecessor que baixou de 13,5%, em 2008, para 8,75%, em 2009. Em<br />

todos esses casos, não se mudou o essencial da política econômica: os juros seguem sendo os<br />

maiores do planeta e o governo continua aplicando a redução de impostos para as empresas,<br />

tentando segurar o consumo em queda, como a redução do IPI para a linha branca, como já<br />

dissemos uma das reedições da política de Lula.<br />

Por outro lado, não anunciou nenhuma iniciativa real em defesa dos trabalhadores (as). Ao<br />

contrário, hoje tramitam no Congresso Nacional projetos que representam graves ataques aos<br />

direitos desses trabalhadores (as). Um exemplo é o PL 549/2009 que propõe o congelamento dos<br />

salários dos servidores públicos. Outro ataque está no Projeto de Lei 1992/2007 que visa privatizar<br />

a Previdência dos servidores. Medida que o governo só não votou ainda no ano de 2011 por uma<br />

divergência na base aliada dentro do Congresso, mas com certeza estará na ordem de prioridades<br />

para votação após o recesso parlamentar. Além do já citado projeto de privatização dos Hospitais<br />

Universitários, já votado e aprovado pelo Congresso Nacional.<br />

Não podemos nos esquecer da possibilidade do governo aplicar uma nova reforma da<br />

Previdência no caso do país sofrer com os efeitos da crise mundial. O projeto que está na mesa da<br />

Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda, desde 2010, prevê uma nova regra<br />

draconiana que estabelece que a soma do tempo de contribuição e da idade do segurado deve<br />

atingir 105 para homens e 95 para as mulheres. Na prática, a regra proposta estabelece a<br />

ampliação da idade mínima para as novas aposentadorias.<br />

O governo Dilma vai calibrar o ataque em função da realidade internacional e seus reflexos<br />

sobre a economia brasileira. Pode ser que se dê em 2012, ninguém ao certo pode saber, até<br />

porque com as eleições municipais pode ser que isso fique para além de outubro desse ano.<br />

DIANTE DOS POSSÍVEIS ATAQUES OS TRABALHADORES DEVEM BUSCAR A MAIOR<br />

UNIDADE NA LUTA POSSÍVEL<br />

Como já percebemos pelo exposto acima, não devemos alimentar ilusões quanto ao<br />

governo Dilma e precisamos estar conscientes da necessidade de dar continuidade à resistência<br />

aos ataques de caráter neoliberal que virão. Para isso a tática da unidade na ação pela base, ao<br />

nosso ver é ainda uma das tarefas prioritárias nesta conjuntura. Sabemos que nesses tempos de<br />

Frente Popular tem sido acidentada a construção desta tática entre os trabalhadores, não pelos<br />

companheiros (as) em cada local de trabalho, mas pela lógica da divisão de espaço entre aqueles<br />

(as) que procuraram demonstrar oposição ao governo Lula e agora ao governo Dilma. O<br />

sentimento comum entre os trabalhadores (as) é de que todos devem se unir para enfrentar os<br />

patrões, mas os obstáculos para esta unidade estão no nível das direções, como já dissemos<br />

antes.<br />

54


São dois aspectos que comprometem as ações de algumas dessas direções para a<br />

construção da unidade. O primeiro, mais sentido por todos nós, é o atrelamento da grande maioria<br />

das direções do movimento, em especial daquelas organizações de maior prestígio e tradição,<br />

como CUT, UNE e MST. Essas entidades continuam como base de sustentação do governo Dilma,<br />

assim como o foram durante os dois governos Lula. Essas direções relutam em construir uma<br />

jornada de luta unificada, pois não querem atacar o “seu governo”. Por muitas vezes se omitem e<br />

tentam continuar gerando ilusões, para se manterem no poder, com “negociações” estéreis com<br />

representantes governamentais, o que acaba por impedir que na maioria das vezes as lutas e,<br />

principalmente, a unidade aconteçam.<br />

O segundo aspecto, em parte decorrente do primeiro, é que entre muitas organizações e<br />

companheiros (as) combativos, desenvolve-se uma concepção, a partir da caracterização do<br />

governismo daquelas direções, de que não é possível alguma estratégia unificada e, portanto, os<br />

setores autônomos e independentes devem fazer a luta de forma isolada. O que por muitas vezes<br />

acaba nos levando à falsa ideia de que podemos arrancar algum resultado de caráter estrutural<br />

somente com as nossas forças, o que historicamente está comprovado que não é possível. E isso<br />

não é uma novidade dos governos petistas, mas uma realidade diferenciada apenas, pois antes<br />

todos estavam “do mesmo lado”.<br />

Neste sentido, é preciso fazermos um balanço menos apaixonado da nossa última greve<br />

com o objetivo de aclararmos mais a discussão para a construção das nossas próximas lutas, até<br />

porque não nos resta outra tarefa a não ser a construção do movimento e do enfrentamento contra<br />

o nosso patrão e contra o nosso verdadeiro inimigo: o capital, seja ele nacional ou internacional.<br />

Fizemos a maior greve da história do nosso sindicato em termos quantitativos e realizamos<br />

algumas atividades de peso em Brasília e nos estados, entretanto não conseguimos furar o<br />

bloqueio do governo e a falta de unidade mesmo entre aqueles setores que ousaram marchar<br />

contra um governo que acabara de ser eleito e de tomar posse. Contudo, chegamos ao final de<br />

nossa greve com um resultado muito limitado em relação a tanto esforço e tenacidade. Ficam as<br />

perguntas: o problema está em nossas fileiras? Está naqueles que fazem a “greve do pijama”? Não<br />

somos uma categoria com garra, “sangue nas veias” ou de “moral elevada”? As direções e<br />

lideranças no SINASEFE traíram a luta?<br />

Para nós nenhuma dessas respostas é a correta. Não conseguimos um resultado melhor<br />

porque não saímos em uma greve unificada de todo o serviço público federal. Também não<br />

conseguimos construir uma greve unificada da Educação federal, como alternativa à unidade mais<br />

ampla; e, por último, diante dessa realidade, não percebemos que deveríamos ter construído pelo<br />

menos uma unidade, seja para a continuidade radicalizada da greve ou para uma saída unificada<br />

das nossas fileiras. Essa última alternativa seria uma tentiva de garantir para o ano seguinte uma<br />

continuidade da vontade daquele movimento, expressa em mais de 60 dias de greve na Rede<br />

Federal de Educação Básica, Profissional e Tecnológica, para este ano de 2012.<br />

Entendemos que a luta fragmentada continuará nos servindo apenas para a retirada do<br />

foco, principalmente em momentos como os que virão com ataques aos nossos direitos e postos<br />

de trabalho. É verdade que as direções governistas não são conseqüentes em sua luta contra o<br />

governo, porém, acumulam contradições, já que não podem fugir de uma realidade: representam<br />

setores dos trabalhadores (as) na eterna luta entre estes explorados e os exploradores, que estão<br />

e que sustentam o poder. Precisam se desdobrar em militância e organização para continuar<br />

enganando as suas bases quanto ao que é preciso para realmente trazer resultados concretos<br />

nesta luta. Devemos explorar ao máximo estas contradições e, junto com um trabalho nas bases<br />

destas organizações, forçá-los o mais que possível irem para a luta e para a construção da<br />

unidade no movimento. Quanto mais setores da classe entrarem em luta declarada contra o<br />

governo e quanto mais esta luta ganhar a forma de luta unificada, estaremos mais fortes para<br />

impedir novos avanços do governo em suas intenções. Do contrário, tendemos a nos fragilizar<br />

nesta atual conjuntura.<br />

55


A CONSTRUÇÃO DA UNIDADE COMEÇA NA NOVA DIREÇÃO DE NOSSO SINDICATO<br />

Entendemos, a partir do que apresentamos até aqui, que a necessidade de construir um<br />

movimento de resistência aos ataques do governo é premente. E isso começa por garantir a<br />

construção de direções que sejam combativas e que priorizem a autonomia e a independência dos<br />

trabalhadores (as) diante de qualquer governo.<br />

Neste aspecto, o 26º CONSINASEFE tem especial importância para a nossa base e nossa<br />

organização nacional. Iremos eleger no início do ano uma nova Direção Nacional para o<br />

SINASEFE o que possibilitará direcionar o seu trabalho para aquilo que vier a ser estabelecido<br />

pelo fórum máximo do nosso Sindicato Nacional, claramente voltado na última década para uma<br />

trajetória marcada pela ruptura com o governismo.<br />

Achamos que este não é qualquer marco. Somos uma das poucas entidades dos servidores<br />

públicos federais filiados a uma Central Combativa, a CSP-CONLUTAS, que organiza os<br />

trabalhadores (as) e os movimentos populares, e rompemos desde a primeira hora com a CUT, a<br />

partir da sua cooptação pelo governo Lula.<br />

Outra questão que nos diferencia e que nos leva a protagonizar a construção do processo<br />

de unidade é a forma com que sempre apostamos e priorizamos a CNESF. Precisamos continuar a<br />

nossa construção, fortalecimento e organização daquele fórum para que possamos dar corpo à<br />

unidade no setor que atuamos mais diretamente. A criação do fórum de entidades não pode ser<br />

deixada nas mãos dos governistas, porém devemos continuar entendendo a sua construção como<br />

mais um obstáculo deixado por aqueles que querem arrefecer as lutas e a unidade entre os<br />

setores dos federais.<br />

Somos uma Entidade que além da desfiliação da CUT, como já dissemos acima, buscamos<br />

desde a primeira hora construir a unidade da classe trabalhadora para o enfrentamento a um<br />

governo e projeto que acabam de completar uma década no poder. Participamos da construção de<br />

uma nova ferramenta de luta para os trabalhadores (as), a CONLUTAS (2004 a 2008), e,<br />

posteriormente, com a nossa reafirmação no campo sindical/popular, com a filiação a CSP-<br />

CONLUTAS. Precisamos ampliar os esforços para essa construção, também, até porque se a falta<br />

de unidade entre os servidores públicos é um obstáculo bastante prejudicial para a nossa causa, a<br />

deficiência que ainda temos no SINASEFE e em vários setores quanto à unidade entre os<br />

sindicatos e movimentos sociais, nos deixa cada vez mais isolados e passíveis dos ataques dos<br />

governos que passaram e aqueles que virão.<br />

Portanto, convocamos a todos que ajudem na construção da unidade entre os servidores<br />

públicos através da CNESF e dos lutadores que pretendem impedir os avanços dos ataques do<br />

governo Dilma sob toda a Classe Trabalhadora Brasileira, a partir da filiação das Seções do<br />

SINASEFE a CSP- Conlutas.<br />

Que neste Congresso consigamos pelos menos esta unidade, garantindo compromissos da<br />

próxima direção no sentido desse fortalecimento, sem a lógica da política de gabinetes e da<br />

fragilização da luta a partir do crédito que se procura dar aos acordos e negociações que sequer<br />

estão acontecendo ou que não tem nenhuma serventia para os trabalhadores (as).<br />

1) FORTALECER A CNESF E REAFIRMAR O COMPROMISSO DO SINASEFE COM AS<br />

DELIBERAÇÕES E ENCAMINHAMENTOS DAQUELE FÓRUM;<br />

2) ESTABELECER UM PERÍODO PARA QUE AS SEÇÕES SINDICAIS DISCUTAM E<br />

DELIBEREM SOBRE A FILIAÇÃO À CSP-CONLUTAS, PROMOVENDO O DEBATE<br />

COM A PRESENÇA DA REPRESENTAÇÃO DA CENTRAL. HOUVE A DELIBERAÇÃO<br />

DA FILIAÇÃO DO SINASEFE À CENTRAL E VÁRIAS SEÇÕES AINDA NÃO FIZERAM<br />

O DEBATE SOBRE A SUA FILIAÇÃO;<br />

3) AMPLIAÇÃO DAS AÇÕES E CONSTRUÇÃO CONJUNTA COM ORGANISMOS E<br />

SETORES DOS MOVIMENTOS POPULARES E ESTUDANTIS QUE QUEIRAM FAZER<br />

56


ENFRENTAMENTO COM O GOVERNO DILMA, ATÉ MESMO DAQUELES QUE AINDA<br />

NÃO ESTEJAM ORGANIZADOS PELA CSP CONLUTAS.<br />

ASSINAM ESTA TESE: LUIZ SERGIO RIBEIRO (CPII/RJ), WILLIAM DO NASCIMENTO<br />

CARVALHO (CPII/RJ), MARCELO SAIÃO (IFRJ - PARACAMBI), MAGDA FURTADO (CPII/RJ),<br />

MARIA ELISA GUIMARÃES, ALBANO TEIXEIRA (CPII/RJ), FLAVIA MARIA DE CARVALHO<br />

(IFGO), SILVIO DE JESUS ROTTER (IFCE), FÁBIO DOS SANTOS (IFBAIANO – GUANAMBI),<br />

MARCELO COSTA (CPII/RJ), GUSTAVO SIQUEIRO (IFFLUMINENSE - CAMPOS/RJ), PAULO<br />

CESAR MARQUES/CAXINGUELE (IFFLUMINENSE – CAMPOS RJ), ADRIANO CARMELO<br />

(INES/RJ), ADRIANA OLIVEIRA (IFBA – JEQUIÉ), ALEXANDRE ELIAS (IFFLUMINENSE -<br />

MACAÉ/RJ), CLAUDICEA DURANS (IFMA – MONTE CASTELO), DANIEL ROMERO (IFBA –<br />

SALVADOR), FABIANO (IFRJ - CAXIAS), PHILIPE MURILO DE CARVALHO (IFBA – ILHÉUS),<br />

RICARDO COSTA (IFRJ - SÃO GONÇALO), ROSELI AFONSO (IFBA - JEQUIÉ), THIAGO<br />

BARRETO (IFMG - BARBACENA), ARIOVAN DA SILVA (IFMG – BARBACENA), JOSÉ DE<br />

ARAUJO PEREIRA (IFPB-CAJAZEIRAS), LUIZ VICENTE SOBRINHO (IFCE - IGUATU) E JOSÉ<br />

CARLOS SOUZA (IFPE - RECIFE).<br />

57


TESE 10<br />

A EXPANSÃO DA REDE FEDERAL DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL:<br />

aspectos econômicos e políticos e os desafios ao movimento sindical<br />

1<br />

Todos os signatários dessa tese trabalham no IF-SC<br />

58<br />

Assinam a tese:<br />

Marival Coan<br />

Luiz Alberto Azevedo<br />

Michele Conceição<br />

Marcos neves<br />

João Pacheco<br />

Mario Cesar Sedrez 1<br />

Em 2008 o governo Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2011), pela Lei n. o<br />

11.892/2008 iniciou grande mudança na Rede Federal de Educação<br />

Tecnológica, conforme reconhecido por este governo no Decreto n o 6.095, de<br />

24 de abril de 2007, com a criação da Rede Federal de Educação Profissional,<br />

Científica e Tecnológica e dos Institutos Federais de Educação Ciência e<br />

tecnologia (IFETs). O entendimento da governança atual era a de que uma<br />

nova institucionalidade estava sendo criada e a mesma estaria centrada na<br />

oferta de cursos técnicos, devendo garantir o mínimo de 50% de suas vagas,<br />

inciso I do caput do artigo 7. o da referida Lei e, no mínimo, 20% de suas vagas<br />

para atender aos cursos de licenciatura, alínea b do inciso VI do caput do<br />

mesmo artigo citado. Os restantes, 30% de suas vagas, podem ser destinadas<br />

aos cursos superiores de tecnologia, aos cursos de bacharelado e engenharia,<br />

aos cursos de pós-graduação lato sensu de aperfeiçoamento e especialização<br />

e, ainda, aos cursos de pós-graduação stricto sensu de mestrado e doutorado.<br />

Todo esse cenário se projeta, no entendimento da equipe do MEC em<br />

“Institutos Federais” (2009, p. 17), a um contexto de desenvolvimento científico<br />

e tecnológico, “associado ao desenvolvimento econômico, político e social<br />

numa perspectiva progressista”, na visão desses, “basta lembrar que o<br />

desenvolvimento tecnológico está associado ao processo de nascimento e<br />

expansão do sistema capitalista”.


A perspectiva de atuação dos institutos está, portanto, no atendimento<br />

dos arranjos produtivos locais, cuja medida governamental relaciona-se a uma<br />

distribuição de campi fundada numa dinâmica que possibilite, conforme<br />

entende o MEC em “Institutos Federais” (2009, p. 36), “ouvir e articular as<br />

demandas do território nos quais essas instituições estão inseridas, com suas<br />

possibilidades científicas e tecnológicas, tendo como foco a melhoria da<br />

qualidade de vida, a inclusão social e a construção da cidadania”, em sua<br />

compreensão, “é imprescindível”. A dinâmica instituída pela equipe ministerial<br />

com relação à implantação dos Institutos, portanto, está completamente<br />

esboçada, ou seja, sua arquitetura organizacional a ser inserida num<br />

determinado espaço da territorialidade do Estado brasileiro deve estar voltada<br />

para essa visão apresentada e justificada.<br />

A referida alteração na Educação Profissional e Tecnológica imprimiu<br />

simultaneamente a necessidade do governo intervir na vida profissional dos<br />

trabalhadores e isso foi feito pela reestruturação da carreira de Magistério de 1 o<br />

e 2 o Graus, Anexo ao Decreto n o 94.664/1987, em carreira do Magistério de<br />

Ensino Básico, Técnico e Tecnológico (EBTT), Medida Provisória n o 431/2008.<br />

Nesse sentido o governo Lula, que se intitulou “o governo dos trabalhadores”,<br />

resolveu alguns problemas administrativos por intermédio da norma legal,<br />

como: legalizou a oferta de cursos vinculados ao ensino superior pelos IFETs,<br />

estamos nos referindo aos cursos de bacharelado e engenharia, os quais já<br />

eram trabalhados pelos três tradicionais Centros Federais de Educação<br />

Tecnológica (CEFTs) de Minas Gerais, Paraná e do Rio de Janeiro, porque os<br />

tecnólogos já eram entendidos no governo José Sarney (1995-1990) como<br />

cursos pós-médios; impôs uma barreira estrutural na carreira de EBBT para<br />

evitar que os professores que não tivessem título de mestrado ou doutorado<br />

chegassem ao final da carreira, imputando no interior das autarquias um<br />

confronto direto entre professores; continuou tratando a carreira de EBTT como<br />

duas carreiras porque manteve o cargo isolado de Professor Titular do Ensino<br />

Básico, Técnico e Tecnológico como outra carreira; deslocou os professores<br />

aposentados que estavam no topo da carreira de 1 o e 2 o graus para outra<br />

região da carreira de EBTT com vistas a reduzir gastos com os professores<br />

aposentados; utilizou o artifício da reestruturação de carreira como um<br />

59


instrumento para recompor salário; e manteve a visão de uma carreira dirigida<br />

à educação com uma visão idêntica a processos produtivos, desconsiderando<br />

a natureza do tipo da atividade desenvolvida pelo professor.<br />

Está posto que o governo Lula imprimiu nova dinâmica a Educação<br />

Profissional e Tecnológica e que afeta diretamente o dia-a-dia da instituição e<br />

que exige nosso posicionamento. As ações desenvolvidas a partir do governo<br />

Lula com a Lei n o 11.892/2008 instituindo, inicialmente, 38 IFETs e definindo<br />

que em cada uma dessas autarquias deverá ser estruturado uma reitoria com<br />

sede própria, talvez, porque tenha sido definido na norma legal que estes se<br />

equiparam a universidade 2 e deveriam estar distribuídos em cada estado da<br />

federação de acordo com as suas mesorregiões socioeconômicas. No caso de<br />

Santa Catarina, por exemplo, o governo Lula instituiu dois IFETs, o IFSC que<br />

foi transformado a partir do CEFETSC e o Instituto Federal de Educação,<br />

Ciência e Tecnologia Catarinense (IFC) que se origina da integração das<br />

escolas agrotécnicas de Concórdia, Rio do Sul e Sombrio, mais os colégios<br />

agrícolas de Araquari e Camboriú, que eram vinculados à Universidade Federal<br />

de Santa Catarina (UFSC). A justificativa era a de que os IFETs iriam atender<br />

os arranjos produtivos e culturais locais.<br />

Analisando o que ocorre em santa Catarina e, por extensão, no restante<br />

dos outros estados da federação porque a política é a mesma, constata-se<br />

haver um descompasso entre o que a Lei n o 11.892/2008 apregoa e o que está<br />

sendo construído nos diversos institutos porque o MEC nega a sua própria<br />

legislação duplicando desnecessariamente infraestruturas e pulverizando<br />

recursos públicos que deveriam estar sendo aplicados na densidade da sua<br />

“educação profissional e tecnológica”. Com os IFETs o MEC está imbuído do<br />

propósito de organizar uma rede estadual em cada estado, mantida pela esfera<br />

federal, foi neste sentido que o ministério definiu as mesorregiões como uma<br />

diretriz para a irradiação de IFETs em cada estado, mediante uma estrutura de<br />

campus e campus avançado, a serem administrados por uma reitoria. Observa-<br />

se, entretanto, que o que os reitores pro tempore fizeram foi organizar reitorias<br />

2<br />

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) de acordo com o<br />

artigo 12 do Decreto n<br />

60<br />

o 5.773/2006 classifica as instituições que atuam no ensino superior em:<br />

universidades, centros universitários e faculdades, estando os IFETs inclusos na categoria “Faculdades”,<br />

portanto rebaixados porque na época em que eram CEFETs, estes eram compreendidos pelo INEP como<br />

inclusos na categoria “Centros Universitários”.


como castelos irradiadores do poder divino que, no caso do IFSC, mantêm os<br />

diretores de campus ligados a sua magnificência por um cordão umbilical que<br />

se chama orçamento, inclusive minando princípios democráticos legitimamente<br />

conquistados pela comunidade para a escolha do dirigente da autarquia, em<br />

face da megaestrutura que continua em processo de expansão sustentada em<br />

Cargos de Direção (CD) e Funções Gratificadas (FG), mantém a estrutura<br />

multicampi debaixo do manto real.<br />

A atual estrutura pesada dos IFETs, contudo, não condiz com os<br />

propósitos de sua criação, que como anteriormente dito foram criados para<br />

garantir o mínimo de 50% de suas vagas para cursos técnicos e 20% para<br />

cursos de licenciatura, sobretudo nas áreas de ciências e matemática,<br />

conforme disciplina o artigo 8 o da Lei n o 11.892/2008, tendo por foco, de acordo<br />

com Pacheco e Rezende (2009, p. 8) “a promoção da justiça social, da<br />

equidade, do desenvolvimento sustentável com vistas à inclusão social, bem<br />

como a busca de soluções técnicas e geração de novas tecnologias”, tudo isto<br />

numa sociedade de forte viés capitalista onde a busca pela “mais valia” se<br />

constitui como fundamento imperioso. 3 Estes autores ainda definem que os<br />

IFETs “devem responder, de forma ágil e eficaz, às demandas crescentes por<br />

formação profissional, por difusão de conhecimentos científicos e de suporte<br />

aos arranjos produtivos locais” (2009, p. 8), revelando o fim para o qual essa<br />

institucionalidade foi instituída ao juntar termos como formação, difusão e<br />

atendimento.<br />

Verifica-se no discurso de Pacheco e Rezende (2009) que a formação é<br />

profissional porque está dirigida ao trabalhador, constituindo-se como uma<br />

reivindicação constante por parte dos detentores do capital, portanto,<br />

direcionada aos arranjos produtivos que necessitam cada vez mais, na relação<br />

temporal, difusão de conhecimentos científicos, todavia, não relativo a uma<br />

formação educativa que possibilite a este trabalhador sua compreensão, mas<br />

sim sua utilização, mediante um processo de escolarização, a “educação<br />

3<br />

Para contrapor o discurso apresentado por Pacheco e Rezende (2009) faz-se referência à compreensão<br />

de Marx (2001), cujo autor entende que o trabalhador se torna mais pobre quanto mais riqueza ele produz,<br />

inclusive se tornando uma mercadoria que tende a baratear-se à medida que a sua produção aumenta em<br />

poder e extensão. O autor destaca que “com a valorização do mundo das coisas, aumenta em proporção<br />

direta a desvalorização do mundo dos homens” (MARX, 2001, p. 111).<br />

61


profissional e tecnológica” do MEC que está garantido na imposição da sua<br />

norma legal: 50% de vagas para cursos técnicos de nível médio. 4<br />

Constata-se que essa construção constitui-se a partir de uma ação de<br />

pessoas vinculadas ou mesmo simpatizantes do Partido dos Trabalhadores<br />

(PT) e seus aliados do capital, transcorrida no segundo mandato do governo<br />

Lula (2007-2011) e vinculado ao seu Plano de Desenvolvimento da Educação<br />

(PDE), o qual foi gestado como uma política de governo, portanto, contrária ao<br />

que se poderia entender por uma política de Estado. 5 Pacheco e Rezende<br />

(2009) vinculam a instituição dos IFETs com os princípios do PDE, como:<br />

“visão sistêmica da educação; enlace da educação com o ordenamento e o<br />

desenvolvimento territorial; aprofundamento do regime de cooperação entre os<br />

entes federados em busca da qualidade e da equidade” (p. 8), numa tentativa<br />

de patentear uma amplitude que não se realiza. Primeiro porque o PDE não se<br />

caracteriza como um plano de educação; 6 segundo porque no Brasil não se<br />

tem um “sistema nacional de educação” e sim estruturas educacionais<br />

desconexas e particularizadas; 7 e terceiro porque o regime de cooperação<br />

entre os entes federados na área educacional é praticamente nulo: de acordo<br />

com a Lei n o 9.394/1996 (LDBEN) cada estado da federação e cada município<br />

de um determinado estado tem o seu “sistema educacional” constituído por<br />

órgãos e instituições, inclusive com a possibilidade de baixar normas<br />

complementares para o seu sistema.<br />

Segundo dados do governo federal (BRASIL, 2010) a estrutura político-<br />

administrativa do Brasil é composta por 26 estados e 5.564 municípios o que<br />

representaria, pelo que está normatizado na Lei n o 9.394/1996, algo como<br />

4<br />

Esse horizonte apresentado por Pacheco e Rezende (2009) não possibilita a passagem de um contexto de<br />

mero adestramento em técnicas produtivas, ou seja, de técnicos especializados para politécnicos, de forma<br />

a assegurar “o domínio dos fundamentos das técnicas diversificadas utilizadas na produção” (SAVIANI,<br />

2007, p. 161).<br />

5<br />

Saviani (2010) compreende que a educação não é uma tarefa apenas de governo, mas sim de toda a<br />

sociedade que se faz representar pela constituição de um Estado que é, “como guardião do bem público”<br />

(p. 777), a expressão da sua forma de vida porque o vive, não é estranho a ele.<br />

6<br />

Para embasar esta afirmação, apropria-se da análise desenvolvida por Saviani (2007) sobre o PDE, cujo<br />

autor ao confrontar a estrutura deste com o Plano Nacional de Educação (PNE), conclui que o PDE “se<br />

define, antes, como um conjunto de ações que, teoricamente, se constituiriam em estratégias para a<br />

realização dos objetivos e metas previstos no PNE” (p. 9), e que o mesmo foi realizado paralelamente ao<br />

PNE e sem levar em conta o que já estava disposto neste.<br />

7<br />

Para se ter um “sistema educacional”, na avaliação de Saviani (2009), é necessário preencher três<br />

condições: “intencionalidade (sujeito-objeto), conjunto (unidade-variedade), coerência (interna-externa) –<br />

é preciso acrescentar às condições impostas à atividade sistematizadora (educação sistematizada), esta<br />

outra exigência: a formulação de uma teoria educacional” (p. 9).<br />

62


5.590 “sistemas educacionais” para promover a educação dos brasileiros,<br />

numa autêntica “torre de Babel”. É nesse contexto que Pacheco e Rezende<br />

(2009) advogam a implantação dos IFETs, a constituição de uma nova<br />

estrutura educativa que desponta em cada estado da federação como uma<br />

rede estadual com o objetivo de promover a “educação profissional e<br />

tecnológica” do MEC, porém em regime de cooperação entre os entes<br />

federados.<br />

Para gerir os processos de gestão, considerando a administração e o<br />

ensino, Pacheco e Rezende (2009) enaltecem como ponto positivo da Lei n o<br />

11.892/2008 a constituição de uma reitoria em um espaço neutro da<br />

territorialidade do estado, ou seja, sua instalação deverá ocorrer desvinculada<br />

de qualquer campus ou campus avançado. O IFSC, de acordo com as<br />

informações disponibilizadas em seu website, apresenta sua reitoria<br />

estruturada mediante cinco pró-reitorias remuneradas com o CD-2, dez<br />

diretorias remuneradas com CD-3, seis assessorias remuneradas com FG-2,<br />

oito departamentos remunerados com CD-4 e 39 coordenadorias remuneradas<br />

como FG-1, FG-2 ou FG-4, além do gabinete da reitoria composto de um CD-1<br />

e uma assessoria especial remunerada com CD-3.<br />

Quanto ao investimento relativo à remuneração de cargos e funções<br />

realizadas pelo Estado brasileiro nessas autarquias, elabora-se um recorte<br />

mediante o Decreto n. o 4.310/2002, em que o governo FHC promove uma<br />

majoração no número de CDs, instituindo novos cargos de CD-2; CD-3e CD-4.<br />

Em 2006 o governo Lula, mediante a Lei n. o 11.352, repete a medida alterando<br />

os quantitativos de CDs e FGs, assim compostos para a Rede: a) CD-3, 150<br />

cargos; b) CD-4, 297 cargos; c) FG-1, 1.057 funções; e d) FG-2, 839 funções.<br />

Ao chegar-se às vésperas da institucionalização dos IFETs, mais uma<br />

vez o governo Lula se utiliza dos mesmos procedimentos políticos do governo<br />

FHC, Lei n o 11.740, de 16 de julho de 2008, acrescendo um novo quantitativo<br />

de cargos para as autarquias da Rede: a) CD-1, 38 cargos; b) CD-2, 435<br />

cargos; c) CD-3, 255 cargos; d) CD-4, 508 cargos; e) FG-1, 920 funções; e f)<br />

FG-2, 2.139 funções. Para ter-se uma noção dos valores financeiros,<br />

apresenta-se na Tabela 1 o impacto financeiro das medidas desenvolvidas pelo<br />

governo Lula que fez a opção por organizar em cada uma dessas autarquias<br />

63


uma reitoria composta, não por profissionais remunerados de acordo com o<br />

nível de trabalho reivindicado pelo conjunto da sociedade, mas sim decorrente<br />

do cooptação de uma remuneração extra, advinda de cargos e funções,<br />

contrariando sua autointitulação como “o governo dos trabalhadores”.<br />

Tabela 1: Número de Cargos e Funções destinadas às autarquias vinculadas à<br />

Rede.<br />

CD e FG Composição Remuneração Despesa Despesa em<br />

do Cargo mensal 12 meses<br />

CD-1 78 8.889,52 693.382,56 8.320.590,72<br />

CD-2 736 7.431,09 5.469.282,24 65.631.386,88<br />

CD-3 1.360 5.833,75 7.933.900,00 95.206.800,00<br />

CD-4 3.045 4.236,41 12.899.868,45 154.798.421,40<br />

FG-1 6.117 421,01 2.575.318,17 3.090.381,04<br />

FG-2 4.251 323,87 1.376.771,37 16.521.256,44<br />

TOTAL em R$: 30.948.522,79 343.568.836,48<br />

Fonte: Decreto n o 4.310, de 23 de julho de 2002; Lei n o 11.352, de 11 de<br />

outubro de 2006; Lei n o 11.526, de 4 de outubro de 2007; e Lei n o 11.740, de<br />

16 de julho de 2008.<br />

A projeção inicial de gasto anual, de acordo com a Lei n o 11.526/2007, é<br />

de R$ 343.568.836,48 sendo destinada ao pagamento de cargos públicos nas<br />

autarquias que integravam a Rede Federal de Educação Tecnológica,<br />

contemporaneamente, Rede Federal de Educação Profissional, Científica e<br />

Tecnológica. Os governos FHC e Lula, de 1998 a 2008, de acordo com as<br />

normas legais pesquisadas, dobraram as despesas com cargos públicos. A<br />

pergunta é: O que mudou na educação “profissional e tecnológica” do MEC,<br />

após o governo Lula ter encampado a mesma medida política do governo<br />

FHC? Aumentou o número de aprovados nessas autarquias? Reduziu-se a<br />

evasão escolar? Tem-se instituído um processo educativo que transpasse a<br />

escolarização dirigida a formação de uma força de trabalho direcionada<br />

exclusivamente para o mercado? Superou-se a condição de uma formação<br />

rotulada pelo MEC como de “educação profissional e tecnológica” a reboque<br />

dos arranjos produtivos? 8<br />

8<br />

A pesquisa desenvolvida, em 2008, pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em parceria com a<br />

Confederação Nacional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CONFEA) junto ao empresariado<br />

brasileiro destaca o pensamento dos empresários sobre as universidades, compreendendo-as como pouco<br />

participantes nos processos de geração e inovação tecnológica e com dificuldades para acompanhar o<br />

ritmo da indústria, em face de não disponibilizar aos engenheiros formados uma base teórica sólida que<br />

64


Uma nova investida na ampliação de CDs e FGs para as instituições<br />

federais de ensino está em processo de gestação no Congresso Nacional,<br />

mediante proposição de Projeto de Lei 9 encaminhado pelo governo Rousseff,<br />

em 15 de agosto de 2011, que prevê a instituição de 77.178 cargos e funções,<br />

com uma projeção de gasto para 2012 de R$ 877 milhões e de R$ 1,8 bilhões<br />

para cada um dos exercícios subsequentes: 2013 e 2014. Seria esta a<br />

metodologia a ser utilizada pelo governo Rousseff para fazer funcionar a<br />

máquina pública da “educação profissional e tecnológica” do MEC?<br />

Se todo esse investimento em CDs e FGs surtiram efeito produzindo os<br />

números que o governo Lula perseguiu porque o governo Rousseff lançou o<br />

Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC)<br />

materializado na Lei n o 12.513/2011 que se configura como um<br />

reesquentamento de medidas similares já implantadas por outros governos,<br />

como o Programa de Expansão e Melhoria do Ensino Técnico (PROTEC) e o<br />

Programa de Empreendimentos Conjuntos para a Expansão da Educação<br />

Tecnológica (PROENCO) do governo Sarney. O que o governo Rousseff<br />

almeja com o PRONATEC 10 , produzir os números de certificações que o<br />

governo Lula não deu conta de produzir com os IFETs e assim responder ao<br />

pactuado com organismos multilaterais? 11<br />

O Banco Mundial (2007) entende a educação como um serviço prestado,<br />

seja este público ou privado, e “não como um direito de todos à transmissão e<br />

troca de saberes, culturas e valores” (p. 17), nesta perspectiva o organismo<br />

multilateral avalia que os professores se constituem no sujeito responsável por<br />

fazer com que este serviço oferecido aos “clientes”, os pais dos alunos, ocorra<br />

possibilite a estes inovar e criar soluções. Apresenta-se este destaque da pesquisa, por entender-se que se<br />

as universidades que se caracterizam como instituições de ponta, no que se refere à discussão científicotecnológica<br />

o que se poderia dizer dos IFETs que promovem a formação de tecnólogos?<br />

9<br />

O projeto de lei “dispõe sobre a criação de cargos efetivos, cargos de direção e funções gratificadas no<br />

âmbito do Ministério da Educação, destinados às Instituições Federais de Ensino, e dá outras<br />

providências” (BRASIL, 2012).<br />

10<br />

O MEC divulga em seu website (2012) que o PRONATEC “tem como objetivo principal expandir,<br />

interiorizar e democratizar a oferta de cursos de Educação Profissional e Tecnológica (EPT) para a<br />

população brasileira. Para tanto, prevê uma série de subprogramas, projetos e ações de assistência técnica<br />

e financeira que juntos oferecerão oito milhões de vagas a brasileiros de diferentes perfis nos próximos<br />

quatro anos”, sendo colocado como elemento inovador deste programa “a criação da Bolsa-Formação,<br />

que permitirá a oferta de vagas em cursos técnicos e de Formação Inicial e Continuada (FIC), também<br />

conhecidos como cursos de qualificação”.<br />

11<br />

A influência do Banco Mundial está destaca por Leher (2003), ao salientar que “um breve levantamento<br />

das políticas de Estado para a educação na América Latina atesta que os diversos países da região<br />

assimilaram” (p. 46) as suas diretrizes.<br />

65


e seja o mais eficiente possível. A visão sobre o propósito da educação está<br />

clara quando o Banco Mundial (2007) declara que “a afirmação da educação<br />

como um direito universal é subsumida ante a perspectiva economicista em<br />

mais de um sentido” (p. 17), cujo mote dá sustentação a declaração de<br />

representantes do governo Rousseff ao negarem a instituição da Carreira do<br />

Magistério Federal apresentado pelo ANDES, assim como a instituição dos<br />

IFETs do governo Lula, não rompendo com uma lógica de escolarização<br />

dirigida, unilateralmente, ao mercado de trabalho.<br />

OS IFET’S E A LUTA PELA DEMOCRATIZAÇÃO E AUTONOMIA NO<br />

COTIDIANO DA INSTITUIÇÃO<br />

Outro ponto a ser discutido diz respeito a aspectos de gestão e<br />

democracia dessa nova institucionalidade. O sindicato dos trabalhadores da<br />

educação básica, técnica tecnológica (SINASEFE) tem por finalidade, princípio,<br />

objetivo e compromisso lutar pela democracia. É assim que se apresenta à<br />

comunidade nos artigos 2º e 6º de seu estatuto com muita clareza. Desta<br />

premissa decorre que é compromisso de todos os seus filiados zelar e lutar<br />

para que, de fato, tal projeto se materialize na vida concretos de seus<br />

participantes.<br />

A democracia é hoje um tema central, amplamente debatido e, por<br />

vezes, até mesmo excessivamente adjetivado. Deste modo, floresce uma<br />

consciência global de valorização dos postulados básicos do método<br />

democrático, tanto para as ações de governo, como também, para outros<br />

espaços do convívio humano - mesmo sabendo que a mesma, sob as<br />

determinações do capital, se apresenta como democracia burguesa.<br />

Embora o conceito e as formas de democracia sejam polissêmicos,<br />

podemos afirmar que há uma compreensão unânime quando se fala de<br />

democracia como sinônimo de participação e representação dos membros de<br />

uma determinada comunidade.<br />

Esta é, por exemplo, a constatação de Norberto Bobbio de que nos<br />

últimos anos a exigência de uma maior democracia requer que a democracia<br />

representativa seja ladeada ou mesmo substituída pela direta. O autor também<br />

66


eclama uma reflexão acerca das possibilidades e relações da democracia<br />

direta em sociedades tão complexas como as atuais.<br />

A luta, portanto, é pela democracia direta; participação direta e decisiva<br />

dos membros da comunidade em tudo o que lhe diz respeito, na qual cada um<br />

decide diretamente os rumos de sua comunidade. Explicitando mais: cada um<br />

participa diretamente com seu voto - um cidadão, um voto. Esta não parece ser<br />

a compreensão e a prática de muitos dos atuais dirigentes dos Institutos<br />

Federais de educação ciência e Tecnologia.<br />

Para exemplificar cita-se o exemplo do que ocorreu no IF-SC por<br />

ocasião da elaboração de seu estatuto. Por mais que a sessão sindical do<br />

SINASEFE e a própria direção do Campus Florianópolis fizessem todo o<br />

esforço com vista a sensibilizar os membros da Comissão instituída pelo<br />

Conselho Superior com vista a gerir o processo da Estatuinte de modo<br />

democrático representativo, não se obteve êxito e, de fato, adotou-se uma<br />

relação de proporcionalidade entre os Campi distorcida entre o número de<br />

representantes e representados.<br />

Para ilustrar o que está sendo afirmado, acompanhem as tabelas a<br />

seguir que mostra o número dos delegados, por segmento e por campus,<br />

conforme proposta da Comissão do Estatuto IF-SC, a fim de participarem da<br />

Audiência Pública:<br />

Campus 1 delegado<br />

discente...<br />

Araranguá …representa 112<br />

estudantes<br />

Chapecó …representa 202,3<br />

estudantes<br />

Continente …representa 103,8<br />

estudantes<br />

Florianópol<br />

is<br />

Jaraguá do<br />

Sul<br />

…representa 465,3<br />

estudantes<br />

…representa 187,2<br />

estudantes<br />

Joinville …representa 226,3<br />

estudantes<br />

1 delegado dos<br />

TAs...<br />

67<br />

1 delegado docente...<br />

…representa 15 TAs …representa 18<br />

professores<br />

…representa 16,5 TAs …representa 16,5<br />

professores<br />

…representa 14 TAs …representa 15,5<br />

professores<br />

…representa 28,2 TAs …representa 40,8<br />

professores<br />

…representa 11 TAs …representa 13,7<br />

professores<br />

…representa 16,5 TAs …representa 17,5<br />

professores<br />

São José …representa 329 …representa 27,3 TAs …representa 26


estudantes professores<br />

Está explicito que o pressuposto básico da representação foi alijado.<br />

Portanto, muito mais distante ainda ficou a possibilidade de uma democracia<br />

direta.<br />

O que está em jogo, não é um interesse mesquinho de um ou outro<br />

campus ou interesses localizados, corporativos ou ainda sustentados em<br />

procedimentos menores e equivocados, mais sim a construção de uma gestão<br />

institucional transparente.<br />

Assim sendo, estamos postulando o princípio basilar da democracia,<br />

segundo o qual CADA UM VALE UM, ou seja, cada participante da<br />

comunidade deve ter o mesmo valor. Assim, além da paridade entre<br />

professores, técnicos e estudantes, também deve ser garantida a<br />

proporcionalidade interna a cada segmento.<br />

Este é um ponto de uma trama maior que está ocorrendo ou poderá<br />

ocorrer em qualquer um dos Institutos o que nos deve deixar de sobreaviso.<br />

Todo o alardeado processo de expansão da rede federal de educação<br />

tecnológica pode estar comprometido por dentro se não forem respeitados os<br />

pressupostos básicos da gestão democrática.<br />

É justamente a gestão democrática que permitirá a toda comunidade<br />

interna e externa intervir nos rumos da Instituição. Neste sentido, se um<br />

pequeno grupo toma de assalto a direção, simplesmente porque foram eleitos<br />

pela comunidade e, logo após dão as costas a mesma e praticam atos de suas<br />

próprias vontades toda e qualquer possibilidade de efetiva participação da<br />

comunidade fica obstruída.<br />

É necessário refletirmos acerca da democratização de nossas<br />

instituições escolares. A escola pública é uma instituição pertencente ao<br />

Estado, mas que é atravessada pelos conflitos da sociedade civil e pelos<br />

próprios interesses dos grupos dirigentes. No tocante a sua autonomia em<br />

relação ao Estado e a participação da comunidade em sua gestão, ambas<br />

precisam ser constantemente avaliadas.<br />

Sob certo aspecto, a autonomia da escola e a efetiva participação de<br />

sua comunidade pode se constituir em um vetor de vitalização de sua dinâmica<br />

68


interna. Especialmente em sistemas educacionais centralizados, a forte<br />

unificação e sistematização de suas partes tendem a inibir a participação dos<br />

interesses locais em cada unidade de ensino, privilegiando com isso as<br />

decisões do centro político.<br />

Um capítulo interessante da história da democratização da educação<br />

brasileira diz respeito à autonomia da Instituição. No caso dos Institutos,<br />

também a autonomia de cada um dos campi. Como proposição teórica, o tema<br />

não é novo, mas, como proposta, a data de sua inclusão na agenda de debates<br />

educacionais aconteceu mais recentemente. Tal bandeira é coetânea à outras<br />

bandeiras do movimento sindical, como, por exemplo, a luta por uma educação<br />

pública gratuita, de qualidade e com autonomia para gerir seus destinos.<br />

No debate sobre a autonomia da escola, as atenções têm se voltado<br />

para a participação de novos personagens nos processos de tomada de<br />

decisão no interior das instituições educacionais. A gestão da escola no Brasil<br />

tem obedecido a um padrão marcadamente centralizado. Em épocas não tão<br />

distantes, os professores, como “embaixadores” do Estado, pouca ou nenhuma<br />

consideração deviam aos interesses dos alunos e de suas famílias. Mais tarde,<br />

o período autoritário fez da centralização administrativa seu suporte para<br />

introduzir instrumentos modernizantes de administração dos sistemas de<br />

ensino (administração científica) e interditou uma maior participação da<br />

comunidade escolar na gestão das escolas.<br />

A luta contra o regime militar, então, levantou bem alto a bandeira da<br />

gestão democrática da escola pública. A constituição de espaços no interior<br />

das escolas para a participação democrática da comunidade nas decisões<br />

(implantação de colegiados e escolha de diretores por eleição) passou a se<br />

confundir com a contestação do padrão tecnocrático de administração legado<br />

pelo período ditatorial. Nesse momento, a autonomia da escola foi<br />

praticamente equacionada à sua independência com relação às autoridades<br />

públicas.<br />

No entanto, a noção de autonomia da escola, como independência do<br />

poder público, é um equívoco. Nada pode garantir que a predominância dos<br />

interesses dos atores locais no interior do espaço escolar irá, por si só,<br />

assegurar a democratização das decisões em seu interior, preservando a<br />

69


dimensão pública da instituição escolar. A escola não é e nem deve ser<br />

concebida como uma família abstrata. Claro está que nela há tensões e<br />

desequilíbrios entre os seus diferentes atores (governo, direções, professores e<br />

comunidade) que devem contar com espaços de mediação, dotados de<br />

densidade institucional suficiente para a formação de consensos. Tanto a<br />

sociedade civil como o Estado podem ser portadores de interesses cuja<br />

solidariedade se assenta tão somente no atendimento de demandas ordinárias.<br />

Na prática, tensões entre os interesses dos/as professores/as, os das<br />

autoridades públicas e os da comunidade (esta não raras vezes representada<br />

por seus membros mais organizados) sucedem-se rotineiramente no âmbito<br />

das escolas, como, aliás, não poderia deixar de ser em uma instituição<br />

democrática. Por isso, a questão da política é aqui fundamental.<br />

Não devemos temer disputar os espaços com quem quer que seja. Não<br />

devemos abrir mão de nossos princípios e bandeiras e lutarmos para assegurar<br />

o espaço público e autônomo da escola e superar todas as tentativas de<br />

interesses individualistas ou mesmo corporativistas.<br />

Queremos refletir acerca da necessidade da gestão<br />

democrática para garantir a transparência que se traduz na melhor aplicação<br />

dos recursos, a igualdade distributiva destes entre os campi. Isto implica<br />

também à participação de todos no planejamento, aplicação e prestação de<br />

contas dos recursos públicos destinados às instituições.<br />

A LUTA POR UMA EDUCAÇÃO COMPROMETIDA COM OS INTERESSES<br />

DA CLASSE TRABALHADORA.<br />

Postulamos uma Educação Profissional e Tecnológica<br />

compreendidacom os conceitos de omnilateralidade e de politecnia (Marx 1977,<br />

Marx e Engels, 1971, 1986, Manacorda 1991), e para além das determinações<br />

do mercado sob a lógica do capital, conforme Mészáros, 2005. Entendemos<br />

como relevante sempre colocarmos esta discussão acerca de que educação,<br />

que homem e que sociedade temos e queremos?<br />

Tampouco julgamos suficiente dizer que queremos uma educação que<br />

forme para o mundo do trabalho em oposição à educação que forma para o<br />

mercado, para a empregabilidade. Sob a materialidade e determinações do<br />

70


capital precisamos discernir muito bem o que estamos a fazer: se reforçando a<br />

lógica perversa da produção da mais-valia para poucos, ou construindo a<br />

contra-hegemonia para a superação da lógica do capital na perspectiva da<br />

verdadeira emancipação humana.<br />

Frigotto (2007, p. 243) discursando na I CONFETEC informa que “um<br />

dos equívocos mais frequentes e recorrentes nas análises da educação no<br />

Brasil, em todos os seus níveis e modalidades, tem sido o de tratá-la em si<br />

mesma e não como constituída e constituinte de um projeto dentro de uma<br />

sociedade”. Na compreensão do autor, “cindida em classes, frações de classes<br />

e grupos sociais desiguais e com marcas históricas específicas”, sendo que<br />

“esse equívoco se explica tanto nas visões iluministas, quanto nas<br />

economicistas e reprodutivistas, em face de que “no primeiro caso, a educação<br />

é concebida como o elemento libertador da ignorância e constitutiva da<br />

cidadania”, e “no segundo, sob os auspícios do economicismo, a educação é<br />

propalada como capital humano e produtora de competências”, ou seja, “uma<br />

espécie de galinha dos ovos de ouro, capaz de nos tirar do atraso e nos<br />

colocar entre os países desenvolvidos e de facultar mobilidade social”.<br />

Referências<br />

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Profissional e<br />

Tecnológica. Anais e deliberações da I Conferência Nacional de Educação<br />

Profissional e Tecnológica. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de<br />

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______. Ministério da Educação. Expansão da Rede Federal de Educação<br />

Tecnológica. Brasília: MEC, 2005. Disponível em:<br />

. Acesso em:<br />

20 jan. de 2012.<br />

______. 2009. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Profissional e<br />

Tecnológica. Institutos Federais: comentários e reflexões. Organização,<br />

Caetana Juracy Resende Silva. Natal: IFRN, 2009. 70p.<br />

_____. Senado Federal. Decreto n o 6.095, de 24 de abril de 2007. Estabelece<br />

diretrizes para o processo de integração de instituições federais de<br />

educação tecnológica, para fins de constituição dos Institutos Federais<br />

de Educação, Ciência e Tecnologia - IFET, no âmbito da Rede Federal de<br />

Educação Tecnológica. Disponível em:<br />

71


. Acesso em: Acesso em: 22 jan. 2012.<br />

______. Senado Federal. Legislação Federal. Lei n. o 11.184, de 7 de outubro<br />

de 2005. Dispõe sobre a transformação do Centro Federal de Educação<br />

Tecnológica do Paraná em Universidade Tecnológica Federal do Paraná e dá<br />

outras providências. Disponível em: .<br />

Acesso em: 22 jan. 2010.<br />

______. Senado Federal. Legislação Federal. Lei n. o 11.892, de 29 de<br />

dezembro de 2008. Institui a Rede Federal de Educação Profissional,<br />

Científica e Tecnológica, cria os Institutos Federais de Educação, Ciência e<br />

Tecnologia, e dá outras providências. Disponível em:<br />

. Acesso em: 22 jan. 2010.<br />

CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE SANTA CATARINA<br />

(CEFETSC). Projeto de Credenciamento: Universidade Tecnológica Federal<br />

de Santa Catarina (UTFSC). 2006. 28p.<br />

FRIGOTTO, Gaudêncio. Projeto societário, ensino médio integrado e<br />

educação profissional: o paradoxo da falta e sobre de jovens qualificados.<br />

Disponível em: . Acesso em: 17<br />

mar. 2010.<br />

FRIGOTTO, Gaudêncio; CIAVATTA, Maria; RAMOS, Marise. A Gênese do<br />

Decreto n o 5.154/2004. Trabalho Necessário, ano 3, n. 3 – 2005, 26p. (mimeo).<br />

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE<br />

SANTA CATARINA. Diretoria de Expansão. Florianópolis: IFSC, 2011.<br />

______. Relatório de Gestão Exercício 2006. Florianópolis: CEFETSC, 2007.<br />

279p. Disponível em:<br />

. Acesso<br />

em: 21 jan. 2012.<br />

______. Relatório de Gestão Exercício 2007. Florianópolis: CEFETSC, 2008.<br />

75p. Disponível em:<br />

. Acesso em: 21 jan. 2012.<br />

______. Relatório de Gestão 2008. Florianópolis: CEFETSC, 2009. 115p.<br />

Disponível em:<br />

. Acesso em: 21 jan. 2012.<br />

72


______. Relatório de Gestão 2009. Florianópolis: IFSC, 2010. 108p. Disponível<br />

em:<br />

. Acesso em: 21 jan. 2012.<br />

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE<br />

SANTA CATARINA (IFSC). Plano de Desenvolvimento Institucional.<br />

Disponível em:<br />

. Acesso em: 12 mar. 2010.<br />

KUENZER, Acacia Zeneida. Exclusão includente e inclusão excludente: a<br />

nova forma de dualidade estrutural que objetiva as novas relações entre<br />

educação e trabalho. Disponível em:<br />

. Acesso em: 21 jan. 2001.<br />

KUENZER, Acácia Zeneida. Da dualidade assumida à dualidade negada: o<br />

discurso da flexibilização justifica a inclusão excludente. Educação &<br />

Sociedade, Campinas, v. 28, n. 100 – Especial, p. 1153-1178, out. 2007.<br />

MANACORDA, Mario Alighiero. Marx e a pedagogia moderna. Tradução de<br />

Newton Ramos-de-Oliveira. São Paulo (SP): Cortex: Autores Associados, 1991.<br />

198p.<br />

MARX, Karl. Contribuição à crítica da economia política, São Paulo: Martins<br />

Fontes, 1977.<br />

MARX, Karl e Engels. Obras escolhidas, 3 Volume. Editora Alfa-Omega: São<br />

Paulo. 1971.<br />

______. A ideologia alemã. 5. Ed. São Paulo, Editora Hucitec, 1986.<br />

MÉSZÁROS, István. Educação para além do capital. Tradução de Isa<br />

Tavares. São Paulo: Boitempo, 2005. 80p.<br />

MOURA, Dante Henrique. A relação entre a educação profissional e a<br />

educação básica no CONAE 2010: possibilidades e limites para a<br />

construção do novo plano nacional de educação. Educação & Sociedade,<br />

Campinas, v. 31, n. 112, p. 875-894, jul.-set. 2010.<br />

PACHECO, Eliezer; REZENDE, Caetana. Institutos Federais: um futuro por<br />

amar. In: Institutos Federais: comentários e reflexões. Organização, Caetana<br />

Juracy Resende Silva. Natal: IFRN, 2009. 70p.<br />

VIDOR et al. Institutos Federais lei 11.892, de 29/11/2008 comentários e<br />

reflexões. Organizado por Caetana Juracy Rezende Silva. Natal: IFRN, 2009.<br />

73


TESE11<br />

INTERSINDICAL – INSTRUMENTO DE LUTA E ORGANIZAÇÃO DA CLASSE<br />

Conjuntura<br />

TRABALHADORA<br />

Ricardo Scopel Velho - Seção sindical Rio do Sul/SC<br />

Dalton Luiz de Menezes Reis – Campus Blumenau IFC<br />

Paula Andrea GrawieskiCiviero -Seção sindical Rio do Sul/SC<br />

1. É PRECISO MOSTRAR O QUE OS INIMIGOS DE CLASSE TENTAM OCULTAR<br />

As aparências enganam. Mais do que olhar as formas como as coisas aparecem e se<br />

expressam é preciso ir além e ver seu conteúdo. Assim devemos ver o movimento cíclico e<br />

periódico das crises produzidas na sociedade capitalista em que vivemos.<br />

O Capital, seu Estado, seus ideólogos e muitos que se dizem representar os trabalhadores<br />

tentam afirmar que a última crise é o exemplo para afirmar sua tese de um novo momento no<br />

capitalismo mundial, ou seja, a predominância do capital financeiro, sobre o industrial.<br />

Do que estamos a falar? Justamente do que os patrões, seus governos e os diversos<br />

instrumentos que eles têm a sua disposição tentaram impor como verdade absoluta nas últimas<br />

décadas. Que a concentração de lucros e riqueza não se dá no processo de produção de valor,<br />

mas sim em outro espaço, ou seja, na esfera da circulação, em outras palavras, são os bancos e<br />

a especulação do sistema financeiro que garante muitos com muito pouco, e poucos com muito.<br />

É como se afirmassem que as mercadorias que são transportadas de um país a outro, que<br />

são comercializadas, que circulam a cada segundo no mundo, não fossem produto direto do<br />

trabalho de homens e mulheres trabalhadores, como se ninguém os produzisse e já viessem ao<br />

mundo sem produção nem valor.<br />

Confundem forma com conteúdo. Tentam ocultar que a cada crise de superprodução do<br />

capital, a sua expressão se mostra de uma maneira: na década de 70 crise do petróleo, no final<br />

da década de 90 crise dos Tigres asiáticos e essa última, crise da bolha imobiliária nos EUA. Elas<br />

têm formas de se expressar diferentes, mas carregam o mesmo conteúdo.<br />

Ou seja, dão nomes diferentes para o mesmo movimento do Capital, que entra em crise de<br />

maneira periódica e em espaços de tempos cada vez menores.<br />

É preciso ver e compreender o que tentam ocultar, pois ao sabermos de fato como se dá o<br />

processo de exploração a que somos submetidos no dia a dia, podemos avançar em nossa<br />

organização e luta para enfrentar os patrões, suas explicações superficiais e suas medidas para<br />

sair da crise.<br />

74


Quando falamos em crise de superprodução estamos falando que os capitalistas para<br />

vencerem a concorrência entre si investem cada vez mais na parte constante do seu capital,<br />

maquinas, equipamentos, novas tecnologias e cada vez menos em seu capital variável, que é<br />

justamente a força de trabalho dos trabalhadores aquela que gera o valor de todas as<br />

mercadorias. Só o trabalho produz valor e mais valor do que ele mesmo vale.<br />

O resultado disso é uma super produção de mercadorias e o capitalista que conseguiu<br />

vencer a concorrência tendo uma mercadoria com valor mais reduzido que seus concorrentes, vê<br />

sua taxa de lucro cair. Pois maquinas e equipamentos por mais modernos que sejam não geram<br />

valor, apenas auxiliam, potencializam o aumento da produtividade. O que gera valor é o trabalho<br />

dos trabalhadores e é por isso que as taxas de lucro despencam e a sociedade capitalista entra<br />

em crise.<br />

Na forma de produção capitalista os que detêm os meios de produção compram a<br />

capacidade de trabalho dos trabalhadores, através de um contrato, com uma determinada jornada<br />

de trabalho, que será paga na forma de salário.<br />

Mas no processo de produção o trabalhador é capaz de gerar mais valor do que vale sua<br />

força de trabalho, em outras palavras: máquinas, prédios, matéria prima não geram valor e se<br />

desgastam no processo de produção. A única mercadoria capaz de gerar outras mercadorias,<br />

carregadas de valor novo é a força de trabalho que quanto mais se desgasta no processo de<br />

produção mais valor novo produz.<br />

O valor gerado pelo trabalhador será apropriado pelo capitalista, que investirá parte desse<br />

valor na manutenção dos meios de produção, aproximadamente 30% do resultado da produção.<br />

Uma outra pequena parte que na maioria das vezes não chega a 10% pagará salários e o<br />

restante, ou seja, a maior parte será seu lucro.<br />

A crise está sendo produzida em pleno vapor no momento em que a produção está em<br />

alta, a capacidade instalada da indústria está completa, as contratações aumentam, a produção<br />

aumenta. Em outras palavras quando tudo está bombando para o patrão é nesse momento que<br />

ele está entrando em crise. No momento de maior aceleração tem que frear bruscamente o<br />

processo de produção.<br />

Demissões, redução de direitos e salários, pátios cheios é o que a maioria da sociedade<br />

olha como crise e não consegue enxergar que isso nada mais é do que a busca dos capitalistas<br />

para saírem da crise que eles mesmos produziram.<br />

O Estado na sociedade capitalista funciona exclusivamente para atender as necessidades<br />

de concentração de lucro e para garantir as saídas das crises cíclicas e periódicas produzidas<br />

pelo Capital. Além desse importante instrumento outros se colocam em movimento para<br />

administrar os problemas dos patrões que para se recuperarem vão intensificar o ataque ao<br />

conjunto da classe trabalhadora.<br />

75


É preciso enxergar esse movimento do Capital, para entender a última crise e dessa forma<br />

dar o necessário salto de qualidade na luta que temos para fazer contra aqueles que se<br />

enriquecem na exata medida que nos exploram cada vez mais.<br />

A formulação que vê crise onde deveria se enxergar os efeitos das saídas da crise de<br />

2008/2009, na qual os Estados Nacionais assumiram as demandas do Capital, transformando as<br />

dividas privadas em dívida pública. Os pacotes na Europa nada mais são do que o Estado<br />

investindo contra os básicos direitos da classe trabalhadora para tentar tampar parte do rombo<br />

provocado por uma crise que já acabou.<br />

A crise acabou, mas a recuperação é pífia, a curva de elevação, mostra uma<br />

recuperação muito pequena, são dados da analise que demonstram que estamos diante de um<br />

novo ciclo que deve ser monitorado hora a hora, ou seja, certeza é de que até o fim do ano nada<br />

que se conforme em nova crise, a partir do próximo ano o cenário pode mudar. Os efeitos das<br />

saídas da última crise foram extensos e intensos, olhar para a Europa, para recuperação sem<br />

sustância nos EUA e para o movimento do governo Dilma nesse final de ano, ajuda a entender<br />

como parte das organizações da esquerda conseguem tão facilmente, por conta da analise<br />

superficial, confundir expressão com conteúdo. Outras organizações, que na representação da<br />

classe, são de fato mediadores dos interesses do Capital vão se utilizar dessa confusão funcional<br />

para frear e ocultar a luta de classes.<br />

2. SERVIDORES PÚBLICOS E O ESTADO<br />

Primeiramente é preciso desembaçar nosso olhar para com esse grande fetiche que é o<br />

Estado. Ao nos colocar o problema da luta contra o capitalismo, precisamos saber claramente<br />

quem é nosso inimigo. E dessa resposta parte boa parte de nossa ação. O Capital é a relação<br />

social que cria e recria uma estrutura econômica e uma super-estrutura jurídica, política e<br />

ideológica para reproduzir-se como forma social dominante. Esse é nosso inimigo: o sistema do<br />

capital. A burguesia e o Estado são personificações desse sistema, e sua ação é no sentido de<br />

manter as estruturas de poder. Por isso é importante perceber como a lógica dominante também<br />

age sobre os servidores públicos<br />

Os trabalhadores que atuam a serviço do Estado em todos os setores e nos âmbitos<br />

municipal, estadual e federal, são chamados de Servidores Públicos. Os servidores que atendem<br />

diretamente a população trabalhadora nas áreas da educação, da saúde, previdência, assistência<br />

social e reforma agrária, são os que recebem os menores salários nesta estrutura hierarquizada.<br />

Mesmo submetidos a condições cada vez piores para execução do trabalho, com salários<br />

congelados e arrochados ainda permanece em suas consciências a ideologia que são<br />

trabalhadores “diferenciados”, pois são funcionários públicos.<br />

76


Nada melhor do que a realidade para se contrapor a ideologia dominante. Nas últimas<br />

duas décadas os servidores têm vivido intensas mudanças na organização do trabalho e sofrendo<br />

ataques nas diversas reformas. As sucessivas crises cíclicas vão impondo aos estados a<br />

necessidade de agir com coerção e consentimento, esse é basicamente o papel do estado. Os<br />

servidores estão nessa contradição, deve atender a população, mas isso na verdade serve para<br />

“amenizar” os efeitos do sistema capitalista. Por isso mesmo sofrem as reestruturações típicas do<br />

setor privado.<br />

Estas medidas adotadas têm uma história iniciada no governo Pinochet do Chile (após o<br />

violento golpe militar que destituiu o socialista Salvador Allende em 1973). O Chile serviu de<br />

laboratório para os experimentos que depois se generalizaram pelo mundo com Margareth<br />

Thatcher na Inglaterra em 1979 e com Ronald Reagan nos Estados Unidos em 1980.<br />

No Brasil a abertura das portas para o fim da estabilidade, a utilização de métodos<br />

gerencias comuns na administração privada, o trabalho e o salário por metas, adoção de índices<br />

de produtividade e o aumento da jornada, começaram com Fernando Collor (1990), Fernando<br />

Henrique Cardoso (1994-2002) e Lula (2002-2010). Contudo as grandes mudanças foram mais<br />

desenvolvidas no governo FHC, quando foi criado o Ministério de Administração e Reforma do<br />

Estado encabeçado por Luiz Carlos Bresser Pereira.<br />

Isso no contexto de flexibilização das leis trabalhistas; políticas públicas assistencialistas,<br />

dificultando o acesso aos serviços públicos essenciais; criação de gratificações por desempenho,<br />

cumprimento de metas; salário flexível atrelado à avaliação de desempenho, exigência de<br />

produtividade, aumento da jornada de trabalho são alguns exemplos dessa reestruturação que<br />

atingirá o conjunto do funcionalismo público nas esferas municipal, estadual e federal.<br />

Das mudanças que atingiram os trabalhadores neste período a terceirização merece<br />

especial atenção de nossa parte. Não é necessário muito aprofundamento para perceber que os<br />

trabalhadores terceirizados possuem as piores condições de trabalho e salariais dentre os que<br />

atendem direta ou indiretamente a esfera pública. As experiências utilizadas na reestruturação<br />

das empresas capitalistas são transpostas para o Estado. O processo se desenvolve através de<br />

vários mecanismos como a criação de Organizações Sociais, organizações sem fins lucrativos,<br />

fundações de interesses coletivos, entre outros nomes, que pretendem esconder os interesses<br />

em privatizar os setores estatais descartados pelos projetos dos que governaram o país nestes<br />

últimos 20 anos.<br />

Do tele atendimento da Previdência aos Serviços de Emergência, o atendimento nos<br />

postos de saúde, nas agências do INSS, chegando aos serviços de água, esgoto e saneamento,<br />

até as escolas é cada vez maior o número de trabalhadores terceirizados e submetidos à<br />

77


condições de trabalho ainda mais precarizadas. Tendo por resultado serviços à população de<br />

baixíssima qualidade expressando o descaso com as reais necessidades desses trabalhadores.<br />

Sendo este, um Estado da classe dominante o seu objetivo é o de garantir a plena<br />

acumulação de valor pelos capitalistas. Isto acontece diretamente fora da estrutura<br />

governamental, garantindo a infra-estrutura que dinamiza o movimento do capital ou nos<br />

momentos de crise, como o principal salvador da quebradeira entre os capitalistas, ou ainda,<br />

permitindo a entrada na máquina estatal de formas de acumulação de valor como a terceirização.<br />

Empresas como a Companhia Siderúrgica Paulista – Cosipa, Empresa Brasileira de<br />

Aeronáutica – Embraer, Vale do Rio Doce, Companhia Siderúrgica Nacional – CSN, as empresas<br />

do ramo das telecomunicações, do setor energético e as rodovias são exemplos da infra-estrutura<br />

criada para atender o capital que em seguida, foram entregues a este mesmo capital para a<br />

continuidade de sua reprodução.<br />

2.1 Um Estado máximo para o capital e mínimo para os trabalhadores<br />

Essa é a essência do Estado do Capital, maximizar os lucros do setor privado reduzindo os<br />

custos dasempresas com a reprodução da força de trabalho e da infra-estrutura material. Ilusão e<br />

mediocridade daqueles que tentam convencer a classe trabalhadora que é no espaço do Estado,<br />

com as eleições ou com a criação de leis, onde os trabalhadores podem avançar em novas<br />

conquistas.<br />

Isso não quer dizer que não há brechas nesses espaços do Estado para termos<br />

representações compromissadas em defender os trabalhadores. Sim, elas existem, mas é preciso<br />

reconhecer o limite da atuação que se pode ter nesses espaços. Em outras palavras, leis só<br />

mudam a favor dos trabalhadores, governantes só executam leis para os trabalhadores e a<br />

repressão oficial do Estado só recua, quando os trabalhadores se colocam em luta.<br />

Isso quer dizer que aqueles que trabalham como funcionários desse Estado na maior parte<br />

de suas atividades estarão aplicando as políticas definidas nos espaços de interesse da<br />

burguesia, e serão contra os trabalhadores.<br />

2.2 Servidor público???<br />

Mas ao final, quem é o “servidor público”?. É um trabalhador a serviço do Estado. Em<br />

primeiro lugar é fundamental compreender que todos os trabalhadores vinculados aos governos,<br />

aos legislativos, aos judiciários, às forças armadas e as policias, seja no âmbito municipal,<br />

estadual e federal, são trabalhadores do Estado.<br />

Entendemos que o trabalhador público é parte da classe social trabalhadora que vende<br />

sua força de trabalho, estando na particularidade do Estado, ou seja, na esfera da reprodução<br />

78


ampliada do capital. Contribui na constituição do sistema extrator de mais valia e exatamente por<br />

isso está inserido do conjunto das contradições inerentes ao sistema. O que quer dizer que<br />

estamos tratando de uma parcela da classe que pode e deve contribuir para a elevação da<br />

consciência dos trabalhadores e da efetivação da luta de classes.<br />

2.3 Reformas da previdência: diminuição dos direitos e divisão entre a classe<br />

trabalhadora<br />

A partir desses elementos podemos procurar entender o ataque ora desferido contra os<br />

trabalhadores dos serviços públicos. É evidente que essas e outras operações não são realizadas<br />

sem que haja reação por parte das organizações sindicais. Greves e outras formas de<br />

mobilização reivindicando melhores salários, melhores condições de trabalho, contra retirada de<br />

direitos históricos, contra implantação de mecanismos da lógica privada nos serviços estatais e<br />

contra a privatização do patrimônio publico, tem sido uma constante nos últimos anos.<br />

O objetivo dos sucessivos governos é continuar mantendo o superávit primário. Isto é,<br />

manter a lucratividade dos capitalistas em seus diferentes momentos. Com isso, o governa não<br />

negocia reajustes para o funcionalismo público, mas garante do capital financeiro. Um exemplo<br />

disto foi a PLP 549/2010. Tratava-se de uma proposta de limitação dos gastos com pessoal e<br />

outros gastos sociais da União, mediante alteração de dispositivo da Lei de Responsabilidade<br />

Fiscal – LRF.<br />

O governo não admite a crise da dívida, mas executa Reformas da Previdência, e faz<br />

propostas de congelamento dos salários do funcionalismo público (como foi o PLP 1 549).<br />

Observamos que o discurso do governo é de que os gastos com servidores (e gastos públicos em<br />

geral) têm aumentado de forma assustadora, e isso representa uma ameaça às contas públicas.<br />

Desta forma, este discurso cria a imagem de que servidor público não trabalha, que só quer<br />

aumento, e impede a mobilização e sensibilização da sociedade;<br />

Segundo apresentação realizada por Maria Lucia Fattorelliem 14.03.10 (Encontro em<br />

Brasília da CNESF – Confederação Nacional das Entidades dos Servidores Federais),<br />

observamos que o dinheiro está indo para pagar a dívida pública. Isto é, a Dívida Pública é a que<br />

consome o orçamento da União:<br />

Orçamento Geral da União em 2009 (por função). R$ 1,068 trilhão<br />

1 PLP: Projeto de Lei Complementar.<br />

79


A reforma da Previdência do governo FHC foi capaz de atacar os direitos dos<br />

trabalhadores nas empresas privadas de forma direta e eficaz. As diretrizes adotadas por esta<br />

praticamente acabaram com a aposentadoria especial, acabaram com o direito às aposentadorias<br />

por tempo de serviço e a substituíram pelas aposentadorias por tempo de contribuição, além de<br />

dificultar ainda mais a caracterização dos acidentes e doenças provocadas pelo trabalho. Mas<br />

não se resumiu somente a isto.<br />

Da mesma forma que o governo FHC impôs uma propaganda na Reforma Administrativa<br />

que abriu portas para o fim da estabilidade do funcionalismo público dizendo ser essa uma forma<br />

de combater privilégios, tentando assim colocar trabalhadores das empresas privadas contra<br />

funcionários públicos, na Reforma da Previdência tentou e conseguiu a indiferença de parcela<br />

expressiva do funcionalismo em relação aos ataques sofridos pelos trabalhadores nas empresas<br />

privadas.<br />

Uma das principais ações do governo Lula em inicio de mandato foi a proposta de reforma<br />

de Previdência para o funcionalismo público. Gestada pelo governo federal com a participação<br />

dos governadores dos estados, a reforma atacou os servidores que atendem diretamente à<br />

população trabalhadora: professores, servidores no INSS, na saúde e nos vários serviços de<br />

atendimento dos serviços públicos básicos.<br />

A propaganda do governo para aprovação da Reforma era carregada do mesmo conteúdo<br />

das outras: combate aos privilégios e a divisão entre trabalhadores nas empresas privadas e<br />

servidores.<br />

80


O resultado foi o aumento da idade para aposentadoria para os que ainda estão no<br />

trabalho e a instituição de contribuição para os servidores aposentados. Quem foi atingido pela<br />

reforma da previdência foram justamente aqueles que há muito tempo já se encontram em<br />

situação extremamente precária de trabalho.<br />

Sendo esse governo um grande conhecedor do movimento sindical, além de submeter um<br />

dos principais instrumentos dos trabalhadores, a CUT 2 , conseguiu também dividir a classe no<br />

enfrentamento contra a Reforma da Previdência.<br />

A CUT num primeiro momento quis emendar o que não tinha conserto na Reforma. Junto a<br />

isto, freou qualquer tentativa de trazer os trabalhadores produtivos para a luta pela manutenção<br />

dos direitos que estavam sendo ameaçados. Contudo, apenas na véspera da votação do projeto,<br />

a CUT se colocou contra a reforma que já estava consumada.<br />

2.4 Os servidores e o Estado<br />

Algumas questões aparentemente óbvias para o conjunto dos trabalhadores públicos<br />

devem ser preliminarmente colocadas, mesmo que de forma apenas provocativa: quem é o<br />

empregador do trabalhador público (ESTADO)? Quais são as motivações e objetivos gerenciais<br />

desse grande e legitimado empregador? Quais são as necessidades mais atuais dele?<br />

Aprendemos desde cedo que o Estado é um ente neutro e serve a todos. Esta forma<br />

alienada impede que vejamos esse Estado como ele realmente é: um Estado de classe, que<br />

existe para servir única e exclusivamente a classe economicamente dominante (burguesia) na<br />

manutenção do lucro. Todo este colossal poder de controle e coerção esta a serviço direto das<br />

corporações capitalistas em todos os cantos do mundo.<br />

Vivemos hoje dentro da máquina do Estado uma forma de organização do trabalho que<br />

tem como base a mesma reestruturação que houve nos locais de produção de valor.<br />

Avaliação de desempenho acompanhada de produtividade, ou seja um/as professor/a que<br />

consegue passar mais rapidamente o conteúdo, que aprova os alunos mesmo que não saibam<br />

ler, escrever, interpretar um texto. Um professor cansado que para tentar diminuir a diferença do<br />

que recebe como salário e das contas que tem a pagar, trabalha em mais de duas escolas.<br />

Outro exemplo é da Previdência Social. Vamos ver que só o muda a forma, o conteúdo<br />

continua o mesmo: são servidores que têm a maior parte de seu salário composto pelas<br />

gratificações que ao longo da “carreira” são muito maiores que o próprio salário, mas agora têm<br />

metas a cumprir.<br />

2 CUT – Central Única dos Trabalhadores.<br />

81


Vejam como o exemplo demonstra isso:Um/a trabalhador/a ao procurar a Previdência<br />

Social para requerer seja sua aposentadoria, auxilio doença, auxilio acidente de trabalho, licença<br />

maternidade, enfim qualquer que seja seu direito, só vai ter seu pedido deferido se o “programa<br />

de informática” da Previdência julgá-lo dentro dos critérios estabelecidos pelo governo.<br />

Se o programa recusar o deferimento o servidor tem duas opções: indeferir o pedido e aí<br />

vai restar ao trabalhador entrar com recurso contra essa decisão e se ela se manter processar<br />

judicialmente o INSS, ou então o servidor reconhecendo que aquele trabalhador está sendo<br />

atacado em seus direitos deixará o processo em aberto e solicitará novos documentos que<br />

completem as informações.<br />

Só que ao fazer isso esse servidor estará diminuindo a pontuação dos servidores da<br />

Agência e da Gerência do INSS em que trabalha. Em outras palavras, se um servidor encaminhar<br />

em seu trabalho que o trabalhador quer requerer seu Beneficio, pode significar diminuir seu<br />

salário e de seus colegas de trabalho, por conta da imposição da produtividade.<br />

Outro exemplo na educação: Criou-se o conceito de Arranjo Produtivo Local (APL), que<br />

pretende ser o critério para o atendimento de demandas das escolas técnicas federais. Na<br />

verdade quando vão se criar cursos profissionalizantes que levem em conta os APL 3 ’s, está se<br />

atrelando os objetivos da educação à necessidade dos empresários locais em suprir de força de<br />

trabalho bem treinada suas empresas, gratuitamente pelo Estado. Desta maneira não se tem<br />

autonomia para pensar a educação como um processo emancipador dentro da sociedade<br />

capitalista, mas apenas como um treinamento do trabalhador para ser esfolado cotidianamente<br />

por algum burguês sortudo.<br />

2.5 Precarização<br />

Duas formas vão se espalhar diferentemente nas mais diversas funções e em todas as<br />

esferas do Estado, mas com o mesmo conteúdo: transformar os serviços públicos que atendem a<br />

população em serviçoscada vez mais privados e os servidores em “operadores da linha de<br />

produção do Estado a serviço do Capital”. Levando ao aumento da jornada de trabalho que já é<br />

constante entre os trabalhadores da Previdência, Saúde e Educação.<br />

Tudo parece singular, mas só parece. Na realidade nas cidades, estados e nacionalmente<br />

os servidores estão cortados na carne em relação às novas formas de organização do trabalho,<br />

podem mudar um nome ali, uma normatização aqui, um projeto de lei sobre o funcionalismo<br />

acolá, mas o conteúdo é o mesmo: terceirizar, precarizar, aumentar a jornada, impor novas<br />

formas de trabalho onde o salário esteja vinculado: “a atender mais e ao mesmo tempo negar<br />

3 Arranjo Produtivo Local.<br />

82


mais serviços àpopulação trabalhadora”.<br />

É flagrante que o conjunto dos trabalhadores das instituições públicas esta sofrendo um<br />

brutal ataque, seja através do histórico arrocho salarial, pela acelerada retirada de direitos, pela<br />

investida contra as suas organizações sindicais, ou pela substituição destes por trabalhadores de<br />

empresas lucrativas, como as de terceirização e privatizações ou, através daquelas camufladas<br />

de OS (Organizações Sociais: celebram contratos para a prestação de serviços privados ao<br />

Estado para a garantia de um direito social previsto na Constituição.), OSCIP 4 s e similares.<br />

2.6 Um espaço para ousar e nos reconhecer como parte da classe trabalhadora<br />

A capacidade de mudar essa dura realidade passa por enfrentar a desarticulação que hoje<br />

impera entre os diversos setores de trabalhadores do Estado e também destes com os<br />

trabalhadores do setor privado. É urgente a criação de fóruns intersetoriais que possibilitem uma<br />

análise conjunta da realidade, a intensificação da formação política e de ações políticas<br />

conjuntas, por exemplo, campanhas salariais unificadas, greves gerais e outras.<br />

Somos uma parte que luta por não se submeter à falsa e hipócrita análise que somos<br />

“diferenciados”, “superiores” ao conjunto da classe trabalhadora, mais do que isso ousamos a<br />

reconhecer nossa função nessa sociedade capitalista.<br />

Não somos produtores de valor, mas estamos num espaço onde se ousarmos podemos<br />

contribuir para a luta estratégica da classe trabalhadora que nos reconhecemos como parte.<br />

Ousar em construir movimentos, greves e lutas que avancem para nos aproximar da classe<br />

trabalhadora produtora de valor e mais valor, ousar em reconhecer que não somos nós a<br />

vanguarda de um processo de enfrentamento contra o Capital e seu Estado, mas que podemos<br />

ser parte desse enfretamento.<br />

É essa ousadia que estamos construindo na Intersindical. Sem abandonar a demanda<br />

diária, as mobilizações que temos dentro da corporação do serviço público, trabalhar para ir além<br />

dela. Construir uma organização e ação do conjunto do funcionalismo para combater a ação do<br />

Estado e junto à classe que nos reconhecemos como parte, nos somarmos à luta dos produtores<br />

de valor contra o Capital.<br />

3. FIM DE PERÍODO HISTÓRICO NO MOVIMENTO DOS TRABALHADORES<br />

Nesse ano instrumentos de representação da classe como CUT, CTB, UGT, Força Sindical<br />

entre outros se uniram a representação mais organizada do Capital (FIESP) na construção de<br />

uma plataforma a serentregue ao governo federal com objetivo de “ajudar” a indústria, o<br />

desenvolvimento e potencializar a produção para um “ Brasil Maior”, em outras palavras, uma<br />

4 Organização da Sociedade Civil de Interesse Público.<br />

83


nova Câmara Setorial que vá além de um determinado ramo, mais do que isso, o conteúdo<br />

central da proposta é envolver os trabalhadores, atraí-los para o movimento de concertação com<br />

o Capital. Então a tarefa é manter o rigor na analise, acompanhar o movimento do capital e junto<br />

à classe organizar as ações que sejam mais do que campanhas de mobilização temporais.<br />

Reconstruir a solidariedade ativa da classe trabalhadora, rompendo as cercas das<br />

nações, a luta internacional de nossa classe<br />

-Apoio ativo a todas as greves e manifestações dos trabalhadores em curso na<br />

Europa, América e Ásia, estreitar e consolidar ações em comum com as organizações que se<br />

estão em luta contra os pacotes de redução de salários e direitos.<br />

Palestina.<br />

-Contra o genocídio promovido por Israel ao povo Palestino e apoio ativo à causa<br />

-Apoio ao povo cubano que se mantêm em luta pelas conquistas da Revolução<br />

Cubana e resistindo com todas as forças ao embargo promovido pelos EUA.<br />

ajuda humanitária.<br />

conquistas<br />

-Apoio a luta dos trabalhadores haitianos, pelo fim da ocupação militar travestida de<br />

Por Mais Direitos e Para Todos. Por Nenhum direito a menos e avançar nas<br />

-Com a Intersindical ampliar nossa organização nos locais de trabalho, moradia e estudo,<br />

continuando a ter as iniciativas de unidade de ação com todas as organizações e movimentos<br />

que não sucumbiram ao pacto com os patrões e seus aliados para ampliar a luta pela:<br />

- Redução da jornada sem redução dos salários, contra o banco de horas e a flexibilização<br />

da jornada<br />

- Combate a terceirização e todas as formas de precarização do trabalho<br />

- Ampliar a Luta pelo fim do Fator Previdenciário, da Alta Programada e dos mecanismos<br />

criados pelo governo para dificultar ainda mais a garantia aos direitos previdenciários<br />

- Lutar contra qualquer tentativa de reformas que tenham o objetivo de retirar direitos<br />

- No avanço das lutas nossa resposta a criminalização ao movimento sindical e popular<br />

- Manter apoio ativo a luta do Movimento Sem Terra, Sem Teto e continuarmos presentes<br />

nas mobilizações por saúde, educação, terra e moradia<br />

- Intensificar nossas ações a partir da base, que vão além das questões imediatas e<br />

corporativas pois, têm se transformado em lutas que combatem as diversas formas que o Capital<br />

busca para ampliar a exploração e junto com o conjunto da classe trabalhadora.<br />

4. REORGANIZAÇÃO DO MOVIMENTO, NOSSA CONCEPÇÃO E PRATICA.<br />

nome<br />

84<br />

Com a classe trabalhadora e não em seu


A classe trabalhadora a cada momento histórico se coloca em movimento e constrói as<br />

formas e instrumentos para sua organização e luta. Portanto nossa luta não começa e nem<br />

termina no ciclo que se fecha no Brasil, ela vem antes de nossa conformação como classe e<br />

acentua-se a partir disso. Uma luta que não começa e nem termina nos limites geográficos do<br />

País.<br />

Portanto a construção da CUT é fruto das intensas lutas e das formas organizativas que<br />

nossa classe foi capaz de realizar. Devemos isso aos que vieram antes de nós e nos deixaram<br />

uma contribuição nada pequena. As lutas dos indígenas e negros, contra opressão e a<br />

escravidão. Já na fase capitalista a garra e determinação dos Anarquistas e em seguida dos que<br />

se organizavam no Partido Comunista.<br />

Herdeiros dessas lutas no final da década de 70, a classe trabalhadora mais uma vez se<br />

coloca em movimento. Greves gerais contra o arrocho salarial, as péssimas condições de<br />

trabalho e contra a ditadura militar se alastram pelo país inteiro e os trabalhadores das mais<br />

diversas categorias se colocam em luta. É nesse intenso ascenso da luta de classes que<br />

construímos a CUT.<br />

Uma central que nasce com a classe a partir de suas lutas, afirmando a independência em<br />

relação aos patrões, governos e autonomia em relação aos partidos, uma CUT pela base, que<br />

lutava pelo fim da estrutura sindical oficial e do imposto sindical, rompendo o corporativismo<br />

avançando numa luta do conjunto da classe trabalhadora.<br />

A década de 90 será o momento onde a mudança de rumo na central começa com força<br />

total. A central nascida com a classe bem antes do Congresso que reuniu mais de 5 mil<br />

delegados vindos da base, em 1983, passa a privilegiar as representações dos sindicatos, tanto<br />

que o famoso congresso no Anhembi/SP ocorrido em 1991 terá pouco mais de 1.500 delegados.<br />

É nesse Congresso onde mais uma vez a aparência ficou evidente e não a essência. A<br />

CUT deixará de ser a Central com a classe, para ser a Central pela classe. Mais do que a<br />

representação formal ganhar espaço em detrimento da ação a partir da base, uma nova<br />

formulação se consolida na CUT. Ao invés de enfrentar o Capital e trabalhar para acentuar a luta<br />

de classes, essa nova concepção busca o pacto com o Capital mediado pelo Estado. Ao invés de<br />

avançar no acumulo de forças para destruir a sociedade de classes, agora a tentativa é<br />

“humanizar” o capital.<br />

Nada melhor do que conhecer a história, para não ser enganado por aqueles que tentam<br />

ocultar a realidade das coisas. Mais do que uma disputa em relação à proporcionalidade, que<br />

significava garantir a presença do conjunto das organizações que construíam a CUT nos espaços<br />

de direção, a grande batalha no Congresso de 91 foi tentar manter os princípios e as ações que<br />

fundaram a Central.<br />

A década de 90 será o momento onde o Capital aproveitando-se de mais uma de suas<br />

85


crises cíclicas, implementará uma reestruturação produtiva que além das demissões,<br />

reorganizará o processo produtivo com a polivalência, a terceirização, a precarização ainda maior<br />

das condições de trabalho. Mas junto a isso sua forma de frear a luta dos trabalhadores mesclará<br />

a repressão às mobilizações ao mesmo tempo em que disputará com os sindicatos e demais<br />

movimentos a consciência da classe.<br />

A maioria da direção que se consolida dentro da CUT nesse período lança uma nova<br />

formulação e a coloca em prática, dirigirá a classe em direção a conciliação com o Capital. A partir<br />

daí: câmara setorial no ABC, tentativa de pacto social com os patrões mediados por Collor,<br />

aceitação da reforma da previdência de FHC, trocando tempo de serviço, por tempo de<br />

contribuição, comissões tripartites onde direitos serão reduzidos com anuência da central,<br />

dinheiro do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) dentro da central e com isso a Formação que<br />

era um instrumento para potencializar o saber e a luta dos trabalhadores se transformará num<br />

espaço de formar “bons negociadores” capazes de mediar com os patrões e os governos.<br />

Também se transformará no espaço para enganar os trabalhadores com os cursos de qualificação<br />

profissional afirmando ser esse o caminho para que o desempregado voltasse a ter emprego.<br />

Portanto é falso afirmar que os problemas na CUT começam com a chegada do PT na<br />

presidência da Republica. As políticas gestadas no PT e implementadas pela CUT, a partir do final<br />

da década de 80 e durante toda a década de 90 fizeram com que a Central que nasceu com os<br />

trabalhadores hoje faça contra os trabalhadores.<br />

Durante o governo Lula vamos ver mais do que dependência, mas sim aliança e<br />

submissão ao governo. Reforma da Previdência que atacou o funcionalismo, tentativa de reforma<br />

sindical e trabalhista com o objetivo de centralizar as decisões nas centrais sindicais e não<br />

respeitar as decisão da base, para flexibilizar e eliminar direitos. Marchas a Brasília dizendo<br />

reivindicar aumento do salário mínimo que nada mais eram que um momento de confraternização<br />

com o governo federal.<br />

A Intersindical nasce com a tarefa de retomar as tarefas abandonadas propositalmente<br />

pelos instrumentos que nasceram com a classe e depois se viraram contra ela. A partir das ações<br />

nos locais de trabalho, moradia e estudo a organização da luta para enfrentar o Capital e seu<br />

Estado. Um Instrumento independente em relação aos patrões e governos e autônoma em<br />

relação aos partidos, que tem a Formação dos trabalhadores como arma que potencializa nossa<br />

organização e luta, um Instrumento que restabelece a solidariedade ativa da classe para além das<br />

cercas das categorias e nações. Um Instrumento que vai além das questões imediatas da classe<br />

e coloca a necessidade de uma outra sociedade socialista.<br />

Participaram junto conosco no inicio desse processo de construção, algumas correntes que<br />

também foram parte da CUT, com os companheiros do PCB que se organizam no movimento<br />

sindical como Unidade Classista, as correntes internas do Psol; APS, Enlace e Csol, os<br />

86


companheiros da Resistência Popular e vários coletivos independentes.<br />

Em 2007, o governo Lula no mesmo dia em que dá um tapa nos trabalhadores no comércio<br />

liberando o trabalho aos domingos em todo o território nacional, também envia projeto de lei<br />

garantindo reconhecimento legal às centrais sindicais, mantendo o imposto sindical e garantindo<br />

uma fatia do mesmo às centrais.<br />

O alvoroço começa entre aqueles que já se submeteram a parceria com os patrões e ao<br />

governo, mas também entre uma parcela daqueles que dentro e fora da CUT se mantinham em<br />

luta, todos buscando desesperadamente o reconhecimento oficial do Estado para sua Central.<br />

O PCdoB que desde a década de 90 estava na CUT, rompe com a Central para criar a<br />

CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), não porque tinham divergências com<br />

o rumo que tomou a CUT, mas sim porque agora tinham a possibilidade de criar uma central sob<br />

seu total controle e o mais importante tendo estrutura garantida através do imposto sindical.<br />

O PSTU que dirige a Conlutas e rompeu com a CUT em 2004, rapidamente tratou de se<br />

registrar no Ministério do Trabalho e como sempre lançou mais um chamado a todos, que dessa<br />

vez tinha como conteúdo a construção de mais uma nova central que segundo sua analise seria a<br />

solução para os problemas de fragmentação da classe trabalhadora.<br />

Dentro da Intersindical as correntes do Psol submetidas à intervenção do Partido no<br />

movimento sindical e afoitas por também buscar o reconhecimento do Estado, rompem com a<br />

Intersindical e se juntam a Conlutas para tentarem decretar mais uma nova central.<br />

A Intersindical em seu II Encontro Nacional realizado em 2008 não sucumbiu à tentativa de<br />

repetir velhas fórmulas ao novo que apesar das dificuldades insiste em nascer. Não permitimos a<br />

interferência partidária do PSOL e do PSTU que tentaram impor uma unificação meramente<br />

formal e pautada pelo governo Lula através do reconhecimento legal das centrais sindicais. A<br />

proposta desses setores parte de sua lógica institucionalizada afirmando a representação em<br />

detrimento da organização junto à classe.<br />

Seguimos ampliando e consolidando a Intersindical- um instrumento de luta e organização<br />

da classe trabalhadora, que já está presente em 14 estados do país, reunindo metalúrgicos,<br />

sapateiros, operários na construção civil, professores, funcionários públicos, bancários,<br />

radialistas, vidreiros, trabalhadores no ramos plástico e químico, urbanitários, trabalhadores nos<br />

Correios, motoristas, vigilantes, têxteis entre outros. Sem ser central sindical fazendo boa parte<br />

das tarefas abandonadas conscientemente pela maioria delas: reconstruir a unidade da classe a<br />

partir da lutas para que possamos romper com as formas que nos dividem em categorias, entre<br />

formais e informais, entre trabalhadores da cidade e do campo e avançarmos na luta da classe<br />

para si.<br />

Já os que foram para o mais do mesmo, se chafurdando na disputa interna não<br />

conseguiram sequer decretar a nova central.<br />

87


As correntes do Psol que romperam com a Intersindical hoje não reivindicam a<br />

Intersindical, mas sim tentam ficar a sombra do nome desse Instrumento que se amplia e<br />

contribui no processo de reorganização do movimento.<br />

Essas correntes, junto à Conlutas e outros setores gastaram os últimos dois anos em<br />

reuniões, seminários e mais reuniões para chegarem a Santos no que tentaram chamar de<br />

CONCLAT.<br />

Ao se pautarem pela disputa interna e burocrática, sua estratégia busca respostas<br />

superficiais e somente na institucionalidade para afirmar que têm a solução para o problema da<br />

fragmentação. Mais uma vez, foram em nome da classe, sem a classe e sequer conseguiram<br />

decretar a sua nova central.<br />

O que impediu a decretação da central é de ordem distinta do que listam para se acusarem<br />

mutuamente, nos espaços virtuais. A diferença não está no que tentam mostrar em suas notas,<br />

onde afirmam que a unidade na forma organizativa não se consolidou por conta do caráter da<br />

central, ou de seu nome. O problema está na formação da coordenação, ou seja, as correntes<br />

órfãs de cargos divergiram sobre o espaço que cada uma teria na central.<br />

Os que romperam com o congresso em Santos e continuam afirmando a necessidade<br />

imediata de construção de uma central, tentam ocultar que parte significativa ainda estão em<br />

sindicatos filiados à CUT, como bancários de Santos e Espírito Santo, ao mesmo tempo em que<br />

se auto-proclamam independentes dos patrões e governos, alguns seguem em federações<br />

orgânicas da CUT para receberem o imposto sindical e outros recebem taxa negocial paga pelos<br />

patrões durante as campanhas salariais como os Sindicatos dos Químicos que estão sob a<br />

direção de correntes internas do Psol no estado de São Paulo.<br />

Os que ficaram em Santos no lugar onde tentaram fazer um Congresso que de igual ao<br />

Conclat que construiu a CUT só tem o nome, afirmam que uma Central Sindical e Popular foi<br />

criada e se chama Central Sindical e Popular-Conlutas, demonstrando que saem do mesmo jeito<br />

que entraram. Os que foram embora de Santos seguem em reuniões intermináveis para definir as<br />

condições para retornarem ao espaço dessa pretensa central que de novo nem o nome tem.<br />

Se tivessem conseguido resolver suas divergências, acomodando as reivindicações de<br />

cada corrente, a central seria decretada e isso não passaria de um decreto, completamente<br />

distante da classe<br />

Ao afirmamos isso ao contrário do que muitos tentam nos acusar, não estamos negando a<br />

necessidade e a importância da construção de uma nova central. A central sindical necessária<br />

será fruto da ação que fizermos a partir da base da classe, que não se pauta no espontaneísmo e<br />

nem espera pelo ascenso, mas se prepara e trabalha para que o mesmo se recoloque em lutas<br />

que avancem para além da consciência em si e dêem o salto de qualidade da consciência para si.<br />

A Intersindical - Instrumento de Luta e Organização da Classe Trabalhadora não esteve em<br />

88


nenhum dos conclat's. Não temos tempo a perder e nem concordância com os espaços que se<br />

pautam pela disputa interna dos aparatos, ou se colocam em movimento para tentar eleger a<br />

sucessora de Lula, como foi o que reuniu CUT, CTB, Força Sindical entre outras centrais sindicais<br />

e movimentos populares para construir uma agenda que tem como objetivo “impedir a volta do<br />

neoliberalismo ao País”. Como se essa forma do capital se manifestar a partir da década de 90 (e<br />

nada mais do que forma, aparência, pois no conteúdo é o Capital intensificando a exploração ao<br />

conjunto da classe) tenha sido superada com a vitória do PT em 2002, ou seja, essa encontro<br />

teve como objetivo colocar em campanha eleitoral as entidades que o convocam para tentar<br />

emplacar a sucessora de Lula.<br />

Não serão nas discussões com as representações descoladas da luta real da classe<br />

trabalhadora que a necessária central sindical se concretizará, bem como a urgência do momento<br />

em que vivemos não está na construção da nova central, mas sim na reconstrução da unidade da<br />

classe.<br />

Temos a exata dimensão de nossas ações, sabemos que a Intersindical é ainda pequena<br />

diante da enormidade de nossa classe que hoje se encontra sob a direção daqueles que estão a<br />

serviço do Capital e seu Estado. Por isso seguiremos firmes com unidade e coerência entre nossa<br />

formulação e ação que se afirmaram corretas. Avançaremos em nosso processo de ampliação e<br />

ao mesmo tempo seguiremos nas iniciativas que potencializam a unidade nas lutas com todas as<br />

demais organizações que estejam dispostas a concretizá-la para além da retórica, na pratica.<br />

É nessa direção que a Intersindical seguirá. Ampliando-se como instrumento de<br />

organização e luta e ao mesmo tempo reconstruindo a unidade na luta junto com as<br />

organizações que não se submeteram aos patrões, aos governos e seus aliados<br />

Para construir a necessária Greve Geral, aqui está a INTERSINDICAL<br />

PORQUE CANTAMOS<br />

cantamos pela infância e porque tudo<br />

e porque algum futuro e porque o povo<br />

cantamos porque os sobreviventes<br />

e nossos mortos querem que cantemos<br />

cantamos porque o grito só não basta<br />

e já não basta o pranto nem a raiva<br />

cantamos porque cremos nessa gente<br />

e porque venceremos a derrota<br />

cantamos porque o sol nos reconhece<br />

e porque o campo cheira a primavera<br />

89


e porque nesse talo e lá no fruto<br />

cada pergunta tem a sua resposta<br />

cantamos porque chove sobre o sulco<br />

e somos militantes desta vida<br />

e porque não podemos nem queremos<br />

deixar que a canção se torne cinzas.<br />

Mário Benedetti (1920-2009), poeta uruguaio<br />

90


TESE 12<br />

Expansão Quantitativa da Rede Federal e Diversidade “Qualitativa” do Assédio<br />

Moral e Psicológico<br />

Apresentação<br />

Augusto Miceno, 26,<br />

Assistente Administrativo do Campus Três Lagoas do IFMS.<br />

Meu nome é Augusto Miceno, 26 anos, dedicado assistente administrativo do campus<br />

Três Lagoas do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul, há 1 ano em exercício no<br />

Serviço Público Federal brasileiro depois de anos de subemprego.<br />

Desde quando recebi e li o boletim 493 do <strong>Sinasefe</strong>, que menciona o Consinasefe e o<br />

envio de teses, objetivei enviar minha 'sugestão de pauta', ainda que desgastado não<br />

tenha condições de constituir uma Tese propriamente dita.<br />

Todavia, as referências são a lida diária, o cansaço excessivo e a experiência de<br />

sofrimento e resistência pela manutenção da alegria e de minha identidade como ser<br />

humano, cidadão e servidor público deste país nos últimos 13 meses.<br />

Propostas<br />

Assim, sugiro:<br />

- O estabelecimento, se é que não existe, de um grupo de trabalho da Seção Nacional<br />

que trate com profundidade e precisão o assédio moral e psicológico na esfera do<br />

trabalho no serviço público, de modo a conscientizar servidores e dirigentes e mapear<br />

a diversidade de procedimentos, atitudes e mecanismos empregados para intimidar,<br />

silenciar, vigiar, oprimir, perseguir, ameaçar, massacrar e anular pessoas corretas,<br />

funcionalmente capazes e zelosas do patrimônio público, que têm sofrido por se<br />

manifestar, por exercer o direito de crítica e por demonstar criatividade e brilhantismo,<br />

mesmo em meio a condições de trabalho desfavoráveis e até precárias, como se tem<br />

visto nos casos dos servidores da educação, pressionados pela expansão quantitativa<br />

da chamada Rede Federal de Educação Profissional e pela política do "fazer o<br />

máximo com o mínimo";<br />

- Também, a produção de uma cartilha-referência de assédio moral, psicológico e<br />

burnout para o <strong>Sinasefe</strong>, atualizando conceitos e ancorando o texto nas experiências e<br />

casos a serem coletados e investigados, ou seja, advindos do dia-a-dia de quem<br />

convive com o quadro de assédio, e não somente nas orientações dos escritórios<br />

jurídicos. Por exemplo, sabe-se que hoje o assédio já não acontece apenas por<br />

bilhetes (exemplo recorrente e consagrado das cartilhas), mas por mensagens<br />

eletrônicas capciosas e táticas, e que chefias intencionam estabelecer sistemas de<br />

Olhos e Ouvidos, para vigilância e monitoramento de determinados servidores, seja<br />

para perseguir ou para simplesmente medir a satisfação ou controlar a Informação.<br />

91


- Debater a concessão de Dedicação Exclusiva que acontece apenas após aprovação<br />

e trâmite de projeto, clara ferramenta de controle e de chantagem moral e emocional,<br />

seja para forçar a exoneração a pedido, a 'entrega' de um cargo de confiança, ou<br />

mesmo a aceitação de um cargo de um cargo de confiança, situações recorrentes em<br />

diversos campi da Rede;<br />

Objetivo<br />

Sugiro tal "tese" objetivando a interiorização do mapeamento dos casos de assédio,<br />

apontando a necessidade de afixar cartazes, de realizar reuniões, de estabelecer<br />

comissões, de entregar cartilhas, sensibilizar a mídia, de modo a promover a<br />

solidariedade entre os trabalhadores e a denúncia (e ação jurídica) das práticas de<br />

assédio moral e psicológico, além da conscientização dirigentes e servidores, do<br />

âmbito da capital federal até o mais distante campi.<br />

Na minha opinião, o tema proposto é tão fundamental quanto a campanha salarial,<br />

pois é luta por respeito e condições de trabalho.<br />

Mensagem<br />

Eu agradeço, muitíssimo, a atenção dos companheiros que me leem, pedindo atenção<br />

e ajuda para a fundação do <strong>Sinasefe</strong> Base Mato Grosso do Sul, hoje "hospedado" na<br />

Seção São Paulo e desejoso de existir juridicamente.<br />

92<br />

Com alegria e força,<br />

Augusto Miceno.


TESE 13<br />

POR UM SINDICALISMO COM PRINCÍPIOS<br />

Alexandre Samis e Katia Motta (Sindscope)<br />

Muito se tem discutido sobre uma “crise” do sindicalismo mundial e,<br />

consequentemente, também do brasileiro. Há os que defendem até mesmo que a<br />

atividade sindical esteja em franco declínio nas últimas três décadas. Como<br />

justificativa para sustentar tais afirmações, em geral, se apontam fatores como a<br />

mecanização crescente do trabalho, a queda nos níveis de empregos formais, a<br />

pulverização das categorias laborais entre outros aspectos. BOITO (2010) elenca<br />

cinco grupos de argumentos dos que defendem a crise: econômicas, reorganização<br />

das formas de produção, o funcionamento das estruturas sindicais, político-ideológicas<br />

e composição da força de trabalho.<br />

Entretanto, as análises do DIEESE sobre os movimentos reivindicatórios no<br />

país refutam a idéia de declínio. Dados divulgados pelo órgão mostram claramente<br />

que atividade sindical tem passado por ciclos de expansão e retração, considerando<br />

um período que se estende da década de 1960 à primeira década do século atual. Os<br />

anos 2000 trouxeram a atividade sindical a níveis próximos aos da década de 1980.<br />

Para BOITO, esse quadro aponta para o fato de que os defensores do esgotamento<br />

total do sindicalismo subestimam, em suas análises, o papel da conjuntura política e<br />

econômica mundial na determinação do recuo ou expansão dos movimentos<br />

paredistas.<br />

Ocorre que, sendo a crise do sindicalismo real ou apenas uma interpretação<br />

desfocada de suas mudanças cíclicas, as consequências são danosas às<br />

organizações sindicais. Cada vez mais premidos pela crescente deterioração das<br />

condições de trabalho impostas pelo neoliberalismo, os sindicatos passaram a agir<br />

cada vez mais defensivamente, sem avançar nas pautas, sempre retornando a um<br />

estágio anterior para garantir o que já fora conquistado antes com muita luta.<br />

Conforme avançaram as políticas neoliberais de flexibilização das leis<br />

trabalhistas, terceirização da mão-de-obra, redução da máquina estatal, arrocho<br />

salarial e desemprego acelerado, mais recuaram as entidades sindicais. Diante desse<br />

quadro, segundo ANTUNES (2008) referindo-se em especial à CUT:<br />

“O culto da negociação, das câmaras setoriais, do programa econômico<br />

para gerir pelo capital a sua crise, tudo isso está inserido num projeto de<br />

maior fôlego, cujo oxigênio é dado pelo ideário e pela prática social-<br />

democráticas.”<br />

93


Esse quadro de arrefecimento do caráter classista e anticapitalista de parte do<br />

movimento sindical expandiu-se grandemente nos anos do Governo Lula, com a<br />

participação de diversos líderes sindicais em vários escalões do governo e com a<br />

cooptação total da CUT e sua adesão ao projeto de Estado daquela gestão.<br />

Nesse sentido, hoje a distinção entre o perfil do que alguns chamam de “novo<br />

sindicalismo” brasileiro, correlacionado ao ciclo grevista do ABC paulista na década de<br />

70, e o sindicalismo pelego, remanescente da era Vargas, é muito tênue.<br />

SAMIS (2010) propõe uma categorização do panorama sindical, atualmente,<br />

em três grupos de entidades sindicais distintos por suas práticas frente aos desafios<br />

que se apresentam à classe trabalhadora:<br />

- os colaboracionistas ou chapa-branca, cuja ação se limita à mediação entre<br />

patrão e trabalhador e cuja postura é de total subserviência às políticas de governo,<br />

seja ele qual for;<br />

- os corporativos cujo entendimento de seu papel na luta de classes – o de<br />

trabalhadores – não é o suficiente para impedir que se tornem, de certa forma, presas<br />

da agenda de governo, ainda que a contestando;<br />

- os de resistência que incorporam à defesa da categoria e à busca por ganhos<br />

imediatas o viés do combate ao Estado, por entender que, a longo prazo, só<br />

derrotando o sistema a classe trabalhadora terá melhores condições.<br />

Como se pode observar, a partir do contexto delineado pelo governo Lula, o<br />

colaboracionismo e o corporativismo praticamente se igualam, no que concerne à<br />

legitimação do Governo como instância determinante para a construção de sua pauta<br />

políticossindical. O que diferencia os organismos sindicais de resistência dos demais é<br />

a consistência ideológica do viés classista e combativo que, para além das<br />

necessidades momentâneas (e urgentes!), mantém a perspectiva de derrotar o<br />

capitalismo – um princípio!<br />

Princípio: s.m – o primeiro momento de uma ação ou processo, início, começo;<br />

o que serve de base para alguma coisa. (HOUAISS, 2009)<br />

Pela definição acima, evidencia-se que a defesa de uma coerência a certos<br />

princípios no movimento sindical, longe de ser uma “quimera”, uma demonstração de<br />

inabilidade política ou idealismo, é uma necessidade estratégica - estratégia entendida<br />

aqui como planejamento para se alcançar um resultado, um fim.<br />

Não há dicotomia entre princípio e estratégia; eles não se anulam, mas antes<br />

se relacionam de tal forma que o segundo é determinado pelo primeiro. Uma<br />

determinação que não é hierárquica, mas de interdependência, de alinhamento, e de<br />

94


orientação pedagógica para a utilização da própria classe trabalhadora. Na luta pelos<br />

direitos da categoria, podemos adotar várias táticas para materializar um mesmo<br />

princípio. O que não podemos é subordinar os princípios à flutuação das estratégias<br />

sob pena de nos distanciar do que pretendemos.<br />

Vale ainda inferir que, quando os princípios emanam de uma base ideológica, e<br />

isso quase sempre acontece, tornam-se a expressão mais evidente de um projeto,<br />

parte constitutiva de uma matriz. E que a elaboração de novos princípios, muito mais<br />

que uma simples consulta, ou alteração programática, representa o rompimento com a<br />

matriz original, sua mais clara negação e imediata substituição por outra “mais<br />

adequada”.<br />

Assim pensando, um princípio não pode variar de forma casuística, da mesma<br />

maneira que não podemos separar a intenção do gesto. A distorção dos princípios<br />

pode levar a fragmentação, fenômeno, aliás, bastante contemporâneo, falseamento de<br />

propósitos e pulverização da ideologia. A alteração dos princípios ou a sua<br />

relativização, como por exemplo na confusa relação destes com as estratégias, não<br />

leva a outra parte senão à mais completa perda da identidade de classe.<br />

Uma breve consulta aos principais documentos do SINASEFE – o estatuto e o<br />

plano de lutas – torna possível reconhecer, entre os objetivos e bandeiras defendidos<br />

por esse Sindicato, inúmeros princípios que o situam na esfera do sindicalismo de<br />

resistência. Lê-se no estatuto:<br />

DOS OBJETIVOS, PRINCÍPIOS, COMPROMISSOS E PRERROGATIVAS<br />

Art. 6º. O SINASEFE tem como objetivos fundamentais organizar, representar e dirigir<br />

a luta<br />

dos servidores federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica, em caráter<br />

sindical,<br />

numa perspectiva classista, autônoma, democrática e participativa, por melhores<br />

condições<br />

de vida e de trabalho, a partir de seus interesses imediatos e históricos e dentro dos<br />

limites<br />

deste Estatuto.<br />

Art. 7º. Para cumprir seus objetivos, o SINASEFE se rege pelos seguintes princípios e<br />

compromissos:<br />

I. Princípios:<br />

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a) Defender que os servidores federais da Educação Básica, Profissional e<br />

Tecnológica se organizem com total independência frente ao Estado e às instituições<br />

de ensino, mantendo a<br />

sua autonomia frente aos partidos políticos ou a qualquer outro tipo de organização da<br />

sociedade civil, devendo decidir livremente suas formas de organização, sindicalização<br />

e sustentação material;<br />

b) Garantir o exercício da mais ampla democracia em todas as suas instâncias,<br />

assegurando completa liberdade de expressão aos seus sindicalizados(as),<br />

combinada com a unidade de ação;<br />

c) Solidarizar-se com todos os movimentos da classe trabalhadora, no país ou no<br />

exterior, desde que os objetivos e princípios desses movimentos não colidam com os<br />

deste Estatuto;<br />

d) Defender que as Instituições de Ensino devam ser públicas e que garantam a oferta<br />

de uma educação gratuita, laica, de qualidade, com referência social, em consonância<br />

com os legítimos e reais interesses da classe trabalhadora; e,<br />

e) Defender a liberdade de pensamento como direito inalienável do cidadão, nas<br />

contratações e nomeações para as Instituições Federais de Ensino, assim como no<br />

exercício das funções e atividades administrativas e acadêmicas.<br />

II. Compromissos:<br />

a) Lutar pela unificação internacional da classe trabalhadora, visando à construção de<br />

uma sociedade socialista;<br />

b) Desenvolver, organizar e apoiar, nos aspectos políticos, educacionais, econômicos,<br />

sociais<br />

e culturais, todas as ações que visem às conquistas de melhores condições de vida e<br />

de trabalho;<br />

c) Promover a unidade dos servidores ativos e aposentados, baseada na vontade, na<br />

consciência e na ação concreta;<br />

d) Promover a solidariedade entre os servidores federais da Educação Básica,<br />

Profissional e Tecnológica, desenvolvendo e fortalecendo a consciência de classe;<br />

e) Lutar pela defesa do meio ambiente e pela qualidade de vida; e,<br />

f) Implementar a formação político-sindical da categoria.<br />

A observância a esses compromissos expressos no Estatuto, enquanto eles<br />

forem válidos ou acordados pela categoria, precisa ser balizadora de nossas ações –<br />

estratégias. Pode parecer óbvio e o é, entretanto, as obviedades são como óculos que<br />

96


procuramos por toda a parte, embora eles sempre tenham estado em nossas cabeças;<br />

depois que nos mostram, perguntamos: como não vi antes? Por isso, em um<br />

Congresso que vai compor a Direção Nacional para dirigir o Sindicato, em um<br />

panorama desfavorável às reivindicações da categoria e dos servidores públicos em<br />

geral, como o do atual Governo, é fundamental trazer à luz essa discussão basilar.<br />

Por fim, reproduzimos os questionamentos de ANTUNES (2010):<br />

“Qual caminho o novo sindicalismo brasileiro vai adotar: irá negociar dentro da<br />

Ordem ou contra a Ordem? Procurará elaborar um programa de emergência<br />

para simplesmente gerir a crise do capital ou tentará avançar na elaboração de<br />

um programa econômico alternativo, formulado sob a ótica dos trabalhadores,<br />

capaz de responder às reivindicações imediatas do mundo do trabalho, mas<br />

tendo como horizonte uma organização societária fundada nos valores<br />

socialistas efetivamente emancipadores? Pode-se responder que para tanto é<br />

preciso muito mais que ação sindical. É verdade. Mas pode-se responder que a<br />

ação sindical no Brasil dos nossos dias seguramente auxiliará, numa ou noutra<br />

direção, o que lhe confere uma enorme responsabilidade.”<br />

Não percamos tais reflexões de vista, companheiros!<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:<br />

ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a<br />

centralidade do mundo do trabalho. 13ª Ed. Cortez, 2010, São Paulo.<br />

BOITO, Armando & MARCELINO, Paula. “O sindicalismo deixou a crise para trás? Um<br />

novo ciclo de greves na década de 2000.” CADERNO CRH, Salvador, v. 23, n. 59, p.<br />

323-338, Maio/Ago. 2010<br />

HOUAISS, Antonio. Minidicionário da língua portuguesa.3ª Ed. Objetiva, 2009, Rio de<br />

Janeiro.<br />

SAMIS, Alexandre. Sindicalismo e movimentos sociais. Sindscope, <strong>Sinasefe</strong>, Faísca,<br />

2010, São Paulo.<br />

SINASEFE. Estatuto do <strong>Sinasefe</strong>. Mimeo, Brasília, 2009. In: www.sinasefe.org.br.<br />

Acessado em 01/02/2012<br />

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