13.04.2013 Views

A importância da disciplina Metodologia da Pesquisa Científica

A importância da disciplina Metodologia da Pesquisa Científica

A importância da disciplina Metodologia da Pesquisa Científica

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

A IMPORTÂNCIA DA DISCIPLINA DE<br />

METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTÍFICA<br />

NA UNIVERSIDADE<br />

RESUMO<br />

Marivete Bassetto de QUADROS 1<br />

Um dos parâmetros usuais para a categorização dos países, em avançados ou<br />

em desenvolvimento, ou <strong>da</strong>s instituições de Ensino Superior, em boas ou<br />

regulares é, sempre e invariavelmente, a ênfase que imprimem à pesquisa<br />

científica. Esta questão, por sua vez, está vincula<strong>da</strong> ao ensino de graduação. No<br />

caso brasileiro, a deficiência que se observa no binômio pesquisa científica x<br />

graduação decorre de fatores diversos. Neste sentido, é na graduação que as<br />

imprecisões terminológicas precisam ser discuti<strong>da</strong>s: O que é ciência? O que é<br />

pesquisa científica? Quando um estudo pode ser classificado como científico?<br />

Quem é ou o que é pesquisador? Diante de pesquisas efetiva<strong>da</strong>s e resultados<br />

divulgados temos as seguintes problematizações: Como mensurar o caráter<br />

científico de uma pesquisa? Como mensurar coerência, originali<strong>da</strong>de,<br />

objetivação? Na nossa opinião, o distanciamento do mundo <strong>da</strong> pesquisa se inicia,<br />

ain<strong>da</strong> na graduação, e prossegue na pós-graduação lato sensu, como decorrência<br />

<strong>da</strong> forma como o conteúdo <strong>da</strong> <strong>disciplina</strong> de <strong>Metodologia</strong> <strong>Científica</strong> (ou<br />

denominações similares) é transmitido. Sem a pretensão de exaurir a temática,<br />

objetivamos discutir e analisar neste artigo alguns pontos de estreitamento para<br />

o desenvolvimento <strong>da</strong> pesquisa na graduação.<br />

Palavras-chave: <strong>Metodologia</strong>. <strong>Pesquisa</strong>. Universi<strong>da</strong>de. Graduação. Importância.<br />

INTRODUÇÃO<br />

Um dos parâmetros usuais para a categorização dos países, em<br />

avançados ou em desenvolvimento, ou <strong>da</strong>s instituições de Ensino Superior, em<br />

boas ou regulares é, sempre e invariavelmente, a ênfase que imprimem à<br />

pesquisa científica. Esta questão, por sua vez, está vincula<strong>da</strong> ao ensino de<br />

graduação.<br />

1 Professora <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Jacarezinho – FAFIJA e <strong>da</strong><br />

Facul<strong>da</strong>de do Norte Pioneiro – FANORPI nas <strong>disciplina</strong>s de <strong>Metodologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Pesquisa</strong> <strong>Científica</strong> e<br />

Orientação de Trabalho de Conclusão de Curso.<br />

88


No caso brasileiro, a deficiência que se observa no binômio pesquisa<br />

científica x graduação decorre de fatores diversos. Neste sentido, é na graduação<br />

que as imprecisões terminológicas precisam ser discuti<strong>da</strong>s: O que é ciência? O<br />

que é pesquisa científica? Quando um estudo pode ser classificado como<br />

científico? Quem é ou o que é pesquisador?<br />

To<strong>da</strong>s estas questões e seus elementos não são de fácil conceituação.<br />

Objeto de estudo <strong>da</strong> psicologia <strong>da</strong> aprendizagem, o processo de aprendizagem<br />

dos conceitos é bastante abrangente. Incorpora a permanente mutação do nosso<br />

repertório conceitual, e há conceitos de maior complexi<strong>da</strong>de, por representarem<br />

inferências em nível elevado de abstração, cujo sentido não é facilmente<br />

visualizado, como é o caso dos conceitos embutidos nas questões formula<strong>da</strong>s.<br />

Então, diante de pesquisas efetiva<strong>da</strong>s e resultados divulgados temos as<br />

seguintes problematizações:<br />

Como mensurar o seu caráter científico? Como mensurar coerência,<br />

originali<strong>da</strong>de, objetivação?<br />

Diante do exposto, sem a pretensão de exaurir a temática, objetivamos<br />

discutir, a seguir, pontos de estreitamento para o desenvolvimento <strong>da</strong> pesquisa<br />

na graduação.<br />

1 O ENSINO DA METODOLOGIA CIENTÍFICA E AS QUESTÕES CONCEITUAIS<br />

Na nossa opinião, o distanciamento do mundo <strong>da</strong> pesquisa se inicia,<br />

ain<strong>da</strong> na graduação, e prossegue na pós-graduação lato sensu, como decorrência<br />

<strong>da</strong> forma como o conteúdo <strong>da</strong> <strong>disciplina</strong> de <strong>Metodologia</strong> <strong>Científica</strong> (ou<br />

denominações similares) é transmitido. Salvo algumas exceções, qualquer<br />

docente, independente de sua área de atuação, é designado para ministrá-la.<br />

Ora, se o professor não desenvolve, sistematicamente, trabalhos de<br />

investigação científica, não tem como desven<strong>da</strong>r com o discente o mundo mágico<br />

<strong>da</strong> ciência e termina por impor teorias e métodos científicos, normas e regras,<br />

sem discutir a lógica <strong>da</strong> ciência enquanto processo vital à humani<strong>da</strong>de.<br />

Em vez de a metodologia <strong>da</strong> pesquisa ser comunica<strong>da</strong> como um processo<br />

de toma<strong>da</strong> de decisões e opções que “[...] estruturam a investigação em níveis e<br />

em fases e que se realizam num espaço determinado que é o espaço epistêmico”<br />

(LOPES, 2004, p. 15), tudo ou quase tudo é posto e imposto em nome de uma<br />

pseudociência, que assume caráter de inacessível, incompreensível,<br />

89


impenetrável, enfadonho ou “muito chata”. Conforme Ferreira (2005)<br />

epistemologia é o “Conjunto de conhecimentos que têm por objeto o<br />

conhecimento científico, visando a explicar os seus condicionamentos (sejam eles<br />

técnicos, históricos, ou sociais, sejam lógicos, matemáticos, ou lingüísticos)”.<br />

A ciência precisa ser vista como elemento de vi<strong>da</strong>, termo em si de difícil<br />

concepção. A nossa concepção de ciência reitera, pois, a visão de Rubem Alves,<br />

educador, e como todo e qualquer bom educador, um sonhador. Para ele, num<br />

texto magnífico, intitulado Ciência, coisa boa..., a vi<strong>da</strong> é muito mais do que a<br />

ciência. A ciência é tão somente uma coisa, entre muitas outras, “[...] que<br />

empregamos na aventura de viver, que é a única coisa que importa” (1998,<br />

p.17).<br />

A ciência é, essencialmente, o fascínio do conhecimento, a busca<br />

incessante para compreensão dos fenômenos que nos cercam. É a resposta para<br />

nossas in<strong>da</strong>gações diante <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, <strong>da</strong> natureza, dos males que afligem as<br />

espécies e assim por diante. A busca <strong>da</strong>s suas ver<strong>da</strong>des, sempre instáveis e<br />

mutáveis. Ver<strong>da</strong>de e certeza absolutas são inatingíveis. Aquilo que temos são<br />

apenas modelos provisórios, que construímos, para entrar um pouco no mundo<br />

misterioso do desconhecido.<br />

Logo, a ciência é, em sua essência, é um processo social, dinâmico,<br />

contínuo, volátil e cumulativo. Há séculos, influencia a humani<strong>da</strong>de, rompe<br />

fronteiras e convicções, modifica hábitos, gera leis, provoca acontecimentos, e,<br />

mais do que tudo amplia, de forma contínua, as fronteiras do conhecimento.<br />

(TARGINO, 2005).<br />

Em meio a este ciclo que posiciona a ciência como um continuum, está o<br />

que denominamos de comunicação científica. Independente do campo de<br />

conhecimento consiste na troca de informações entre os pares <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de<br />

científica, recorrendo-se, para tanto, a quaisquer recursos formais, informais e<br />

eletrônicos, envolvendo publicações, eventos, inovações tecnológicas etc. Na<br />

ver<strong>da</strong>de, a comunicação científica fun<strong>da</strong>menta-se na informação científica,<br />

matéria-prima do conhecimento, ou seja, a informação transmuta-se em<br />

conhecimento, quando apreendi<strong>da</strong> e assimila<strong>da</strong>.<br />

Com o exposto, respondemos à segun<strong>da</strong> in<strong>da</strong>gação – O que é pesquisa<br />

científica? – Indo além, diante do termo científica, lembramos que a demarcação<br />

científica incorpora parâmetros. Os critérios de caráter interno compreendem:<br />

consistência, coerência, originali<strong>da</strong>de, objetivação, racionali<strong>da</strong>de,<br />

90


cumulativi<strong>da</strong>de, capaci<strong>da</strong>de de predição, verificabili<strong>da</strong>de, dentre outros. Os<br />

critérios externos referem-se à análise do texto produzido pela comuni<strong>da</strong>de<br />

científica, o que gera a possibili<strong>da</strong>de de reconhecimento generalizado ou relativo.<br />

Isto retoma a premissa irrefutável de que inexiste pesquisa científica sem<br />

divulgação de resultados. (TARGINO, 2005).<br />

<strong>Pesquisa</strong> científica e divulgação de resultados são ativi<strong>da</strong>des<br />

indissociáveis. Divulgar resultados é etapa <strong>da</strong> pesquisa, e não mero acessório.<br />

Como seria possível falar em evolução <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de, se Einstein, Newton,<br />

Lavoisier, Darwin ou a equipe do Projeto Genoma Humano tivessem guar<strong>da</strong>do<br />

para si suas descobertas?<br />

Se nas ciências <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e nas ciências exatas, em geral, as conseqüências<br />

<strong>da</strong>s descobertas são mais perceptíveis, também nas ciências humanas e sociais,<br />

as pesquisas efetiva<strong>da</strong>s, se divulga<strong>da</strong>s de forma apropria<strong>da</strong>, surtem efeitos<br />

sociais relevantes.<br />

A questão – Quem é pesquisador? – não comporta uma resposta unívoca,<br />

como antes discutido (TARGINO, 2004). Quem pode ser considerado<br />

pesquisador? O aluno de graduação vinculado à iniciação científica ? O docente<br />

universitário que ca<strong>da</strong>strou o seu projeto de pesquisa há anos em sua IES, mas<br />

nunca apresentou resultados significativos? O pós-graduando ou graduando que<br />

escreve ou escreveu sua monografia para cumprir mera formali<strong>da</strong>de? O<br />

pesquisador de um instituto de pesquisa, em cuja carteira de trabalho, consta –<br />

pesquisador júnior, pesquisador sênior etc. – mas que, no dia-a-dia, limita-se a<br />

funções burocráticas?<br />

O máximo que conseguimos assegurar é que o pesquisador busca,<br />

incessantemente, a ver<strong>da</strong>de na ciência, consciente de que jamais se tornará o<br />

detentor <strong>da</strong> “ver<strong>da</strong>de”, seguindo ao longo desse percurso normas peculiares à<br />

comuni<strong>da</strong>de cientifica.<br />

2 O ENSINO DE METODOLOGIA NA GRADUAÇÃO<br />

Ora, se falta aos docentes, em geral, sensibili<strong>da</strong>de para compartir com a<br />

graduação a riqueza conceitual presente no mundo <strong>da</strong> metodologia científica, há<br />

outra questão ain<strong>da</strong> mais séria, responsável pela pobreza <strong>da</strong>s pesquisas em<br />

comunicação científica.<br />

91


Uma questão séria, responsável pela pobreza <strong>da</strong> pesquisa na graduação.<br />

Salvo as <strong>disciplina</strong>(s) obrigatória(s), o aluno enfrenta o desafio de desenvolver<br />

sua primeira pesquisa, com freqüência, tão-somente em seu último semestre, ou<br />

quando em cursos anuais no último ano, com a obrigatorie<strong>da</strong>de <strong>da</strong> monografia<br />

final ou o denominado TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO.<br />

Por conseguinte, este assume o caráter de “monstro” aterrador, haja<br />

vista que o primeiro contato entre futuro profissional e pesquisa científica se dá<br />

dentro de um clima, por si só antagônico, diante <strong>da</strong> pressão <strong>da</strong> formatura que se<br />

aproxima e do contato com o desconhecido.<br />

Habituados, desde o ensino fun<strong>da</strong>mental e médio, a encarar a autoria<br />

como ato banal, o universitário costuma “brincar de autor”, através <strong>da</strong><br />

compilação de ver<strong>da</strong>deiras “colchas de retalho”, deixando para trás a elaboração<br />

dos projetos como instrumento de mensuração <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de crítica, criativa e<br />

ética do formando.<br />

Sem a pretensão de macular o bom ensino <strong>da</strong> graduação, presente em<br />

algumas universi<strong>da</strong>des e facul<strong>da</strong>des, afirmamos que muitos dos problemas<br />

envolvidos na execução dos TCCs sejam na forma monográfica, artigos<br />

científicos, paper entre outros estão vinculados à pouca ênfase que é concedi<strong>da</strong><br />

ao ensino <strong>da</strong> metodologia científica, alia<strong>da</strong> a questões outras, como: (TARGINO,<br />

2005)<br />

a) Desarticulação entre a grade curricular, relegando a inter e<br />

trans<strong>disciplina</strong>ri<strong>da</strong>de, incorpora<strong>da</strong>s, em nível teórico, nos foros de<br />

debate acerca do ensino em graduação;<br />

b) Discussões evasivas sobre a possibili<strong>da</strong>de de as monografias<br />

substituírem os estágios curriculares ou extracurriculares, se for o<br />

caso, embora constituam esferas distintas;<br />

c) Tendência para que os TCC reflitam a dicotomia presente em muitos<br />

cursos de graduação – teórico ou prático? prático ou teórico?;<br />

d) Complexi<strong>da</strong>de inerente ao processo de autoria em torno <strong>da</strong>s<br />

(des)vantagens <strong>da</strong> autoria individual x múltipla;<br />

e) Controversa relação entre orientador x orientador;<br />

f) Questões técnico-administrativas, envolvendo carência e/ou<br />

inadequação dos recursos humanos, materiais, tecnológicos e<br />

financeiros <strong>da</strong>s instituições;<br />

g) Complexo processo de acompanhamento e avaliação dos TCC;<br />

92


h) Registro, arquivamento e processo de divulgação dos TCC, muitas<br />

vezes, deficientes.<br />

O estudo de <strong>Metodologia</strong> <strong>Científica</strong> nas universi<strong>da</strong>des raramente é bem<br />

aceito pelos alunos. As perguntas cruciais advêm do por que e para que estu<strong>da</strong>r<br />

tantas regras, tantos detalhes, indicações rígi<strong>da</strong>s para digitação e formatação do<br />

texto, que parecem cercear a liber<strong>da</strong>de do aluno em pensar e escrever sem<br />

nenhuma exigência metodológica.<br />

Num mundo marcado pela pressa, pela falta de tempo, pelo tic-tac do<br />

relógio, falar de <strong>disciplina</strong> e de método é realmente desanimador. Acostumamo-<br />

nos a um necessário e exacerbado ativismo, a agir como robôs mecanizados, a<br />

copiar idéias e posturas e deixamos de lado uma <strong>da</strong>s maiores riquezas humanas<br />

que é a capaci<strong>da</strong>de de pensar.<br />

O primeiro objetivo <strong>da</strong> <strong>disciplina</strong> de <strong>Metodologia</strong> <strong>Científica</strong> é resgatar em<br />

nossos alunos a capaci<strong>da</strong>de de pensar. Pensar significa passar de um nível<br />

espontâneo, primeiro e imediato a um nível reflexivo, segundo, mediado. O<br />

pensamento pensa o próprio pensamento, para melhor captá-lo, distinguir a<br />

ver<strong>da</strong>de do erro. Aprende-se a pensar à medi<strong>da</strong> que se souber fazer perguntas<br />

sobre o que se pensa. (LIBÂNIO, 2001).<br />

Uma segun<strong>da</strong> meta a ser alcança<strong>da</strong> pela <strong>Metodologia</strong> <strong>Científica</strong> é<br />

aprender a arte <strong>da</strong> leitura, <strong>da</strong> análise e interpretação de textos. Vivemos o<br />

fenômeno do aluno-copista, vivemos a era do Ctrl C e Ctrl V, que reproduz em<br />

suas pesquisas e trabalhos acadêmicos aquilo que outros disseram, sem nenhum<br />

juízo de valor, de crítica ou apreciação. Reproduz sem ética sem <strong>da</strong>r o devido<br />

crédito intelectual e autoral.<br />

Sabemos <strong>da</strong> dificul<strong>da</strong>de que a leitura e hermenêutica - arte de interpretar<br />

o sentido <strong>da</strong>s palavras - de um texto apresentam em relação à interpretação de<br />

um autor, a sua real intenção e que um texto/palavra é um mundo aberto a ser<br />

lido e interpretado e, exatamente por isso o texto linguagem significa, antes de<br />

tudo, o meio intermediário, pelo quais duas consciências se comunicam. Ele é o<br />

código que cifra a mensagem (SEVERINO, 2002).<br />

E um terceiro ponto que norteia o ensino <strong>da</strong> <strong>Metodologia</strong> é aprender a<br />

fazer, que significa colocar-se num movimento histórico em que o presente<br />

assume continuamente uma instância crítica em relação ao passado. Aprender a<br />

fazer captando o lado ético de todo agir humano implica um senso de<br />

93


esponsabili<strong>da</strong>de, pois quanto mais cui<strong>da</strong>mos de vislumbrar o futuro nos atos<br />

presentes, mais aprendemos a fazer. Aprender a fazer e a pensar não é privilégio<br />

de inteligências.<br />

Grandes gênios se perderam no encurralamento de seu saber<br />

fragmentado e hiperespecializado, desenvolvendo experiências que terminaram<br />

em produtos nefastos para a humani<strong>da</strong>de. Não se pode entender o investimento<br />

de inteligências na pesquisa de armamentos de morte, a não ser porque essas<br />

pessoas nunca aprenderam a pensar e a fazer. (LIBÂNIO, 2002).<br />

Vemos, portanto, que a <strong>Metodologia</strong> objetiva bem mais que levar o aluno<br />

a elaborar projetos, a desenvolver um trabalho monográfico ou um artigo<br />

científico como requisito final e conclusivo de um curso acadêmico. Ela pode<br />

levar o/a aluno/a a comunicar-se de forma correta, inteligível, demonstrando um<br />

pensamento estruturado, plausível e convincente.<br />

O conteúdo <strong>da</strong> <strong>disciplina</strong> <strong>Metodologia</strong> <strong>Científica</strong> pode ser classificado<br />

como conceitual e procedimental, uma vez que não basta memorizar as ações ou<br />

as normas <strong>da</strong> ABNT sem uma construção de sentidos, pois é preciso<br />

compreender sua lógica de funcionali<strong>da</strong>de, bem como, realizar as etapas - que<br />

comporta o saber fazer – para isso as condições de aprendizagem são: a reflexão<br />

sobre a ação que o sujeito está fazendo, a exercitação constante, é preciso fazer<br />

uso deste conhecimento com freqüência e a descontextualização – saber aplicar<br />

em outras situações que se apresenta como necessi<strong>da</strong>de (ZABALA, 2001).<br />

Tendo claro esta questão, que os alunos (as) aprenderão a fazer, fazendo<br />

em um contexto pleno de significados, propiciando espaços onde os alunos e<br />

alunas, têm oportuni<strong>da</strong>de de realizar ativi<strong>da</strong>des num processo experimental a<br />

partir dos textos <strong>da</strong>s outras <strong>disciplina</strong>s, como o exercício de sublinhar textos,<br />

produzir esquemas e resumos, estruturar um trabalho exigido na graduação<br />

considerando as normas <strong>da</strong> ABNT, entre outros.<br />

O desenvolvimento progressivo <strong>da</strong>s competências relaciona<strong>da</strong>s ao ler e<br />

escrever que nossos alunos e alunas precisam <strong>da</strong>r conta de construir no percurso<br />

<strong>da</strong> graduação, não é objetivo de apenas uma <strong>disciplina</strong> ou de um professor, mas<br />

deve ser um compromisso de todos e to<strong>da</strong>s que como enfatiza Edgar Morin<br />

(2001), tem a compreensão que o conhecimento deve ser transversal.<br />

O método, quando incorporado a uma forma de trabalho ou de<br />

pensamento, leva o indivíduo a adquirir hábitos e posturas diante de si mesmo,<br />

do outro e do mundo que só têm a beneficiar a sua vi<strong>da</strong> tanto profissional quanto<br />

94


social, afetiva, econômica e cultural. Por método entendemos caminho que se<br />

trilha para alcançar um determinado fim, atingir-se um objetivo; para os filósofos<br />

gregos, metodologia era a arte de dirigir o espírito na investigação <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de.<br />

Ora, as regras e passos metodológicos que são ensinados na<br />

universi<strong>da</strong>de, visando à inserção do estu<strong>da</strong>nte no mundo acadêmico-científico -<br />

que são pertinentes e necessárias - objetivam também, e sobretudo, a criar<br />

hábitos que o acompanharão por to<strong>da</strong> a sua vi<strong>da</strong>, como o gosto pela leitura, a<br />

compreensão dos diferentes interlocutores, um espírito crítico maduro e<br />

responsável, o diálogo claro e profundo com os outros e com o mundo, a<br />

auto<strong>disciplina</strong>, o respeito à alteri<strong>da</strong>de e ao diferente, uma postura de humil<strong>da</strong>de<br />

diante do pouco que se sabe e <strong>da</strong> infini<strong>da</strong>de de saberes existentes, o exercício <strong>da</strong><br />

ética e do respeito a quem pensa diferente, a ousadia/coragem de expor o<br />

próprio pensar.<br />

A <strong>disciplina</strong> de <strong>Metodologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Pesquisa</strong> <strong>Científica</strong> nas universi<strong>da</strong>des deve<br />

aju<strong>da</strong>r os alunos na experiência de sentirem-se ci<strong>da</strong>dãos, livres e responsáveis, a<br />

administrar suas emoções e exercitar o bom senso e a eqüi<strong>da</strong>de. De um modo<br />

peculiar, os alunos muito se enriquecem quando assimilam bem tudo que foi<br />

exposto, estes saem <strong>da</strong> facul<strong>da</strong>de cheios de teorias, de idéias para<br />

revolucionarem as empresas, levá-las a patamares recordes de lucro e eficiência;<br />

acumulam teorias dos mais renomados especialistas em marketing, em controle<br />

de quali<strong>da</strong>de, logística, organização empresarial, enfim, administração pública,<br />

reserva de mercado. Deparam-se, muitas vezes, com a questão do método. Por<br />

onde começar? Qual o primeiro passa a ser <strong>da</strong>do? O que é mais urgente? Entre<br />

teoria e método há uma grande diferença, ain<strong>da</strong> que sejam interdependentes.<br />

Ambos buscam realizar o objetivo proposto, a teoria pode gerar e <strong>da</strong>r forma ao<br />

método e vice-versa; o método quando alimentado de estratégia, de iniciativa,<br />

invenção e arte estabelece uma relação com a teoria capaz de propiciar a ambos<br />

regenerarem-se mutuamente pela organização de <strong>da</strong>dos e informações (MORIN<br />

apud VERGARA, 2005, p. 335).<br />

O método numa empresa ou instituição abre caminhos, aponta ou intui<br />

soluções, minimiza tempo e gastos, estimula o diálogo entre opiniões contrárias<br />

e/ou diferentes, resgata a postura ética, cria o espírito de participação e<br />

responsabili<strong>da</strong>de comuns na solução de problemas, no enfrentamento de<br />

desafios e na conquista de metas.<br />

95


O profissional que pauta sua vi<strong>da</strong> por princípios metodológicos adquiridos<br />

na universi<strong>da</strong>de adquire possibili<strong>da</strong>des de pensar e ver para além do que lhe é<br />

mostrado e exigido; ele/a pode levar a instituição ou empresa a se destacar e<br />

até mesmo inovar em áreas específicas, pois aprendeu a traçar metas e<br />

objetivos claros, convencidos <strong>da</strong>s hipóteses levanta<strong>da</strong>s, apoiados em referenciais<br />

de análise seguros que justificam os argumentos expostos. Tudo isto como fruto<br />

de alguém que aprendeu a pensar, aprendeu a ler, analisar e interpretar - não só<br />

os textos como a vi<strong>da</strong> - aprendeu, assim, a fazer!<br />

Acreditamos que o mundo acadêmico-científico é uma cartilha - um<br />

pouco mais elabora<strong>da</strong> - para aprender a arte de com-viver. E viver-com é a arte<br />

de ser. Quando assimilarmos no cotidiano <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, não apenas as regras<br />

metodológicas <strong>da</strong> ABNT e suas infinitas exceções e peculiari<strong>da</strong>des, com o<br />

objetivo de elaborar um trabalho científico de excelência, mas avançarmos,<br />

transformando as mesmas regras frias e intelectuais em hábitos que integralizam<br />

a pessoa, então estaremos, também, aprendendo a ser. Entrar nesse processo<br />

significa superarmos a tentação de medir tudo em termos de eficiência e de<br />

interesses e substituirmos esses critérios quantitativos por intensi<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

comunicação, pela difusão dos conhecimentos e <strong>da</strong>s culturas, pelo serviço<br />

recíproco e a boa harmonia para levar adiante uma tarefa comum (LIBÂNIO,<br />

2002, p. 85).<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Em suma, julgamos imprescindível gerar atitudes comportamentais<br />

conscientes e internaliza<strong>da</strong>s quanto às operações inclusas no processo de<br />

pesquisa científica, a partir <strong>da</strong> graduação. Afinal, é este o estágio mais propício<br />

para começar a preparação de um cientista capacitado, rompendo o estereótipo<br />

<strong>da</strong> pesquisa como monstro submisso a formas e fórmulas mecânicas,<br />

burocráticas e maçantes. Isto significa investir em medi<strong>da</strong>s aparentemente<br />

simples, mas decisivas, como: minimizar as distorções do ensino <strong>da</strong> metodologia<br />

científica; enfatizar a prática <strong>da</strong> Iniciação <strong>Científica</strong>; estimular a transformação<br />

dos Trabalhos de Conclusão (TCC) em pesquisas significativas para o avanço <strong>da</strong><br />

área; e ressaltar a divulgação de resultados como elemento essencial dos<br />

trabalhos desenvolvidos.<br />

96


Avaliamos que muitas são as dificul<strong>da</strong>des de aprendizagem para os<br />

acadêmicos e acadêmicas na <strong>disciplina</strong> de <strong>Metodologia</strong> <strong>Científica</strong>. Seja em função<br />

<strong>da</strong> idéia equivoca<strong>da</strong> que têm <strong>da</strong> pesquisa, considerando o modelo adotado na<br />

escolarização básica, a pura reprodução <strong>da</strong>s fontes, ou mesmo por causa <strong>da</strong><br />

prática insuficiente de leitura e capaci<strong>da</strong>de de construção interpretativa.<br />

Entretanto, uma contribuição fun<strong>da</strong>mental nesta questão é o trabalho coletivo<br />

entre os docentes no sentido de fazer as regulações necessárias contribuindo<br />

para o avanço do saber em estudo.<br />

Um dos grandes méritos desta <strong>disciplina</strong> é a reflexão sobre a inconstância<br />

do conhecimento, pois permite a compreensão <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de do ser humano<br />

produzir perguntas e respostas relaciona<strong>da</strong>s às dúvi<strong>da</strong>s e questionamentos<br />

postos, objetivando a interpretação e a explicação <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de, <strong>da</strong>s coisas e dos<br />

fenômenos. Neste sentido, o conhecimento que hoje nós vali<strong>da</strong>mos, amanhã<br />

podemos refutá-lo, constitui-se num aspecto fantástico que se traduz na sua<br />

própria inconclusão do ser, na idéia do provisório. Isso nos remete ao campo <strong>da</strong><br />

produção <strong>da</strong>s explicações e <strong>da</strong>s ver<strong>da</strong>des. É comum os alunos e alunas terem um<br />

conceito de ver<strong>da</strong>de absoluto, uma única referência. No processo de leituras e<br />

debates a desconstrução destas idéias, é algo que se torna inevitável. (NEVES,<br />

2006)<br />

Aprender e ensinar <strong>Metodologia</strong> <strong>Científica</strong>, não pode se limitar a uma<br />

ativi<strong>da</strong>de distancia<strong>da</strong> <strong>da</strong> práxis pe<strong>da</strong>gógica, senão nosso papel em sala de aula<br />

será apenas o de exigir o cumprimento de normas que não compreendemos,<br />

bem como, solicitar dos alunos e alunas algo que não fazemos, como por<br />

exemplo, o exercício <strong>da</strong> reflexão escrita.<br />

Freire (1997) sinaliza que como docentes nós não podemos aju<strong>da</strong>r os<br />

alunos e alunas a superarem suas ignorâncias se não superamos<br />

permanentemente a nossa, pois não podemos ensinar o que não sabemos, o que<br />

não aprendemos. Que legitimi<strong>da</strong>de temos, então de solicitar um artigo científico,<br />

quando não conseguimos escrever nenhuma linha, não temos intimi<strong>da</strong>de com a<br />

publicação? Questões como esta dialogam cotidianamente com a minha prática,<br />

interrogam o meu fazer e certamente tem me aju<strong>da</strong>do a ensinar melhor.<br />

Esta forma de ver e aprender <strong>Metodologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Pesquisa</strong> <strong>Científica</strong> talvez<br />

possa contribuir para um maior desempenho dos professores que se<br />

responsabilizam pelo seu ensino, uma melhor aceitação <strong>da</strong> <strong>disciplina</strong>/matéria por<br />

parte dos alunos - nem sempre muito receptivos -, e poderá, finalmente,<br />

97


proporcionar uma dinâmica inter<strong>disciplina</strong>r com as demais matérias visando um<br />

ensino eficaz e integrador.<br />

REFERÊNCIAS<br />

ALVES, Rubem. Ciência coisa boa... In: MARCELLINO, N. C. (Org.). Introdução<br />

às ciências sociais. Campinas: Papirus, 1998. p. 11-17.<br />

FREIRE, Paulo. A educação na ci<strong>da</strong>de. São Paulo: Cortez, 1991.<br />

______. Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> autonomia: saberes necessários à prática educativa.<br />

São Paulo: Paz e Terra, 1997.<br />

LIBÂNIO, João Batista. Introdução à vi<strong>da</strong> intelectual. 2. ed. São Paulo:<br />

Loyola, 2001.<br />

______. A arte de formar-se. São Paulo: Loyola, 2002.<br />

LOPES, Maria Immacolata Vassallo de. <strong>Pesquisa</strong> de comunicação: questões<br />

epistemológicas, teóricas e metodológicas. Revista Brasileira de Ciências <strong>da</strong><br />

Comunicação, São Paulo, v. 27, n. 1, p. 13-39, jan./jun. 2004.<br />

MEDEIROS, João Bosco. Re<strong>da</strong>ção científica: a prática de fichamentos, resumos<br />

e resenhas. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003.<br />

MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 3. ed.<br />

São Paulo: Cortez, 2001.<br />

NEVES, Josélia Gomes. <strong>Metodologia</strong> científica ou a dor e a delícia de aprender a<br />

ler e escrever na graduação. Revista Virtual Partes. Disponível em:<br />

http://www.partes.com.br/educacao/metodologia.asp. Acesso dia 15mar2006.<br />

SEVERINO, Antônio Joaquim. <strong>Metodologia</strong> do trabalho científico. 22. ed. São<br />

Paulo: Cortez, 2002.<br />

TARGINO, Maria <strong>da</strong>s Graças. A pesquisa cientifica é uma ativi<strong>da</strong>de criativa?<br />

(2005) Disponível em: www.imes.edu.br/revistasacademicas.com. Acesso dia<br />

20/jul/2006.<br />

VERGARA, Sylvia Constant. Métodos de pesquisa em Administração. São<br />

Paulo: Atlas, 2005.<br />

Para citar este artigo:<br />

QUADROS, Marivete Bassetto de. A <strong>importância</strong> <strong>da</strong> <strong>disciplina</strong> de <strong>Metodologia</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Pesquisa</strong> <strong>Científica</strong> na universi<strong>da</strong>de. In: ANAIS - VII CONGRESSO DE EDUCAÇÃO DO<br />

NORTE PIONEIRO – Educação e Inter<strong>disciplina</strong>ri<strong>da</strong>de. 2007. FAFIJA, Jacarezinho, 2007.<br />

p. 88 - 98. ISSN 18083579.<br />

98

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!