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<strong>Música</strong> com<br />

e sem palavr<strong>as</strong><br />

<strong>Música</strong>, a nossa música, vem do canto.<br />

Tal como nos lembra o maestro granadino<br />

Pablo Her<strong>as</strong>-C<strong>as</strong>ado quando diz que “tudo<br />

é canto na música”. Com os seus instrumentos,<br />

uma orquestra pode acompanhar um cantor<br />

para fazer voar a longa linha melódica<br />

de um Wagner sobre uma paisagem.<br />

A estrela sueca Irene Theorin, que já cantou<br />

melodi<strong>as</strong> apaixonad<strong>as</strong> com a Orquestra<br />

<strong>Gulbenkian</strong> no Festival d<strong>as</strong> Artes,<br />

em Coimbra, diz na nossa entrevista<br />

que na música wagneriana tudo é possível.<br />

É possível até cantar sem palavr<strong>as</strong>, e mesmo<br />

sem cantores, como o prova a versão<br />

de O Anel do Nibelungo de Lorin Maazel.<br />

O maestro concentra <strong>as</strong> 17 hor<strong>as</strong> da Tetralogia<br />

em intens<strong>as</strong> cen<strong>as</strong> instrumentais que durante<br />

75 minutos nos dão conta do desejo, da traição<br />

e do amor que partilhamos com os heróis<br />

do compositor de Bayreuth.<br />

Assim, a música não necessita de palavr<strong>as</strong><br />

para cantar. M<strong>as</strong> <strong>as</strong> palavr<strong>as</strong> podem conduzir-nos<br />

a nós, ouvintes, a viagens imaginári<strong>as</strong>.<br />

Exemplos para <strong>as</strong> seman<strong>as</strong> que se seguem?<br />

<strong>Música</strong> que estimula a nossa alma e a nossa<br />

mente? Aqui vão <strong>as</strong> noss<strong>as</strong> sugestões.<br />

Angelique Ionatos, artista grega enriquecida<br />

pela diversidade cultural mediterrânica,<br />

canta o eros e a morte, sabendo que um não<br />

pode existir sem a outra. Uma outra paixão,<br />

também ela humana, é a de Cristo, segundo<br />

São João, tal como foi imortalizada pelo Kantor<br />

da Igreja de São Tomé, em Leipzig. Quem melhor<br />

pode evocar os grandes sentimentos inerentes<br />

na música de J. S. Bach do que o nosso estimado<br />

Michel Corboz, maestro do nosso coro<br />

há mais de 40 anos, homem que respira<br />

a música de Bach como qualquer um de nós<br />

respira o ar. Estamos no que é a essência<br />

da música e da vida.<br />

Grandes paixões, sem palavr<strong>as</strong> desta vez,<br />

m<strong>as</strong> não menos apaixonantes, são <strong>as</strong> da Sonata<br />

Kreutzer. Inspirado pela novela de Tolstoi,<br />

Beethoven criou uma obra que conta<br />

uma história. M<strong>as</strong> porque não tem palavr<strong>as</strong>,<br />

a história pode ser diferente para cada pessoa.<br />

Para mim, a interpretação da violinista<br />

Viktoria Mullova e do forte-pianista Kristian<br />

Bezuidenhuit é insuperável.<br />

Num registo diferente, ligando os grandes<br />

movimentos da história recente,<br />

encontra-se a 7ª Sinfonia de Chostakovitch.<br />

Sem uma única palavra, a peça reflete<br />

os sofrimentos do povo russo durante o cerco<br />

a Leninegrado. Depois de ouvir esta música,<br />

interpretada pela fantástica orquestra<br />

de jovens profissionais, a Gustav Mahler<br />

Jugendorchester, com direção do maestro<br />

Ingo Metzmacher, nós ficamos com<br />

essa garantia. Foi uma história verdadeira.<br />

risto nieminen<br />

diretor / serviço de música<br />

03


Orquestra <strong>Gulbenkian</strong><br />

Coragem<br />

para dizer não<br />

Fanny Ardant vem a Lisboa participar na oratória «Jeanne d’Arc au Bûcher»,<br />

que Honegger e Claudel escreveram em 1935. A <strong>Gulbenkian</strong> <strong>Música</strong> falou<br />

com a estrela numa pausa da rodagem do seu próximo filme.<br />

«Adoro música. É um mundo diferente.<br />

Sinto-me como um <strong>as</strong>tronauta no meio<br />

da orquestra», diz a voz ao telefone, desde Paris.<br />

É de noite e há música no fundo. Fanny Ardant<br />

pede licença e corre para baixar o volume.<br />

No regresso, continua: «Sou uma atriz,<br />

m<strong>as</strong> por um momento pertenço ao mundo<br />

dos músicos.» Est<strong>as</strong> declarações têm uma<br />

razão de ser. É que a grande atriz francesa,<br />

a musa de Truffaut, virá a Lisboa integrar<br />

o elenco da oratória Jeanne d’Arc au Bûcher,<br />

que Arthur Honegger, o compositor,<br />

e Paul Claudel, o poeta, escreveram em 1935.<br />

M<strong>as</strong> quem é Joana d’Arc segundo Honegger<br />

e Claudel? «É um espírito livre, alguém<br />

que não diz ‘sim’ ao poder. É uma rebelde,<br />

que vai morrer. Eu gosto da sua veia lírica.<br />

Mesmo quando perde tudo, quando já não<br />

há esperança, não se perde a si própria.<br />

Mantém o seu espírito», responde Fanny<br />

Ardant. Para ela, que há anos interpreta<br />

esta personagem, a sua rebeldia não possui<br />

um pendor moral: «No nosso mundo, falamos<br />

sempre em termos da maioria, d<strong>as</strong> m<strong>as</strong>s<strong>as</strong>.<br />

E Joana d’Arc representa o ser humano sozinho<br />

04<br />

perante o seu dever e a sua consciência.<br />

Ela diz não, o que é muito corajoso. No nosso<br />

tempo, um tempo de medo, é preciso muita<br />

coragem para dizer não. Joana d’Arc, para mim,<br />

é uma personagem épica. O seu equivalente<br />

em Inglaterra é Thom<strong>as</strong> Moore. Ele também<br />

diz que não e é, por isso, abandonado.»<br />

Fanny Ardant é uma mulher comprometida<br />

politicamente. E este é um dos motivos pelos<br />

quais Joana d’Arc lhe <strong>as</strong>senta como uma luva.<br />

«O compromisso político não tem bilhete<br />

de volta», dirá, salientando que acredita<br />

mais na ação de pequenos grupos do que n<strong>as</strong><br />

palavr<strong>as</strong> subscrit<strong>as</strong> por milhares de pesso<strong>as</strong>.<br />

«As palavr<strong>as</strong> nunca são suficientes, mesmo<br />

que congreguem uma multidão de gente.<br />

É muito fácil <strong>as</strong>sinar um papel. O difícil é agir,<br />

é sair do nosso egoísmo e da nossa vida e fazer<br />

qualquer coisa por outro.»<br />

A voz ao telefone, de início serena, revestiu-se<br />

de veemência e entusi<strong>as</strong>mo. Fanny Ardant<br />

remata: «Estou sempre do lado dos fracos.<br />

Os fracos são os heróis. Quando alguém<br />

está só à frente de todos, eu pertenço a ele.»<br />

Honegger e Claudel agradecem.


fanny ardant © carole bellaïche<br />

14<br />

03<br />

15<br />

16 03<br />

quarta 14 Março 2012 18:00h — Auditório Três<br />

quinta 15 Março 2012<br />

21:00h — Grande Auditório<br />

sexta 16 Março 2012<br />

19:00h — Grande Auditório<br />

Joana d’Arc – uma heroína musical?<br />

Conferência por Paulo Ferreira de C<strong>as</strong>tro<br />

19:00h — Auditório Três<br />

La p<strong>as</strong>sion de Jeanne d’Arc<br />

realização – Carl Dreyer • 1928<br />

drama • legend<strong>as</strong> em inglês • 1h50<br />

Coro <strong>Gulbenkian</strong><br />

Orquestra <strong>Gulbenkian</strong><br />

Simone Young maestrina<br />

Fanny Ardant atriz<br />

Joana d’Arc na fogueira<br />

Honegger — Jeanne d’Arc au bûcher<br />

Oratória em francês<br />

legend<strong>as</strong> em português<br />

€37,50 / €32,00 / €24,00 / €16,00<br />

05


Orquestra <strong>Gulbenkian</strong><br />

Eu creio em Bach,<br />

Beethoven e Brahms<br />

Entre Bach, Beethoven e Brahms há uma relação de paternidade musical,<br />

de transmissão de legados, de linhagem artística.<br />

Apresentamos em três concertos, três obr<strong>as</strong> emblemátic<strong>as</strong> da história da música.<br />

Na música – como em tudo – existe a noção<br />

de herança, de paternidade. Dos modelos<br />

que se transmitem, do legado, da linhagem.<br />

E, na grande família dos músicos, há pelo<br />

menos três aos quais esta noção se aplica de<br />

forma incontestável: Bach, Beethoven e Brahms.<br />

A expressão «os três B», cunhada em 1854<br />

por Peter Cornelius, substituía o último por<br />

Berlioz. Porém, em 1880, Hans von Bülow<br />

alterou-a, excluindo Berlioz e introduzindo<br />

Brahms. À laia de justificação, escreveu:<br />

«Eu creio em Bach, o Pai, em Beethoven,<br />

o Filho, e em Brahms, o Espírito Santo<br />

da música.» Se a metáfora recorre à religião,<br />

ela <strong>as</strong>senta em dados bem terrenos.<br />

Estes alemães marcaram a História da <strong>Música</strong><br />

de tal forma que nunca mais foi possível<br />

falar de música sem, direta ou indiretamente,<br />

os nomear.<br />

Ao concluir a Sinfonia Nº 3, Beethoven<br />

dedicou-a a Napoleão Bonaparte,<br />

m<strong>as</strong> recuou quando, em maio de 1804,<br />

este se autoproclamou imperador. Desiludido,<br />

o compositor r<strong>as</strong>gou a folha de rosto<br />

do manuscrito, dando à obra o título<br />

de Sinfonia Heroica com que é hoje conhecida.<br />

Anos mais tarde, ao ouvir que Bonaparte<br />

06<br />

morrera na ilha de Santa Helena, Beethoven<br />

recordou: «Eu escrevi a música para este<br />

triste evento 17 anos atrás». Referia-se,<br />

é claro, ao 2º andamento ou Marcha Fúnebre.<br />

A sonoridade envolvente e o clima emocional<br />

da obra <strong>as</strong>sinalariam o início do período<br />

romântico na música, m<strong>as</strong> isso não impediu<br />

que, à época, <strong>as</strong> opiniões se dividissem.<br />

Johannes Brahms sentiu na pele o peso<br />

dessa tradição. Desde os primeiros esboços<br />

até aos retoques finais, a sua 1ª Sinfonia<br />

demorou 21 anos a ficar acabada. Esta longa<br />

gestação deveu-se a dois fatores intimamente<br />

relacionados: por um lado, o espírito<br />

auto-crítico do compositor, que o levava<br />

a destruir o material que estivesse abaixo<br />

d<strong>as</strong> su<strong>as</strong> elevad<strong>as</strong> exigênci<strong>as</strong>; e, pelo outro,<br />

a expectativa de que Brahms se torn<strong>as</strong>se<br />

no continuador da obra de Beethoven.<br />

J.S. Bach, por sua parte, enquanto elo inaugural<br />

da linhagem, estava sempre presente,<br />

em surdina, n<strong>as</strong> realizações daqueles que<br />

lhe sucederam. Obr<strong>as</strong> como a Paixão segundo<br />

São João, escrita para <strong>as</strong> festividades p<strong>as</strong>cais<br />

de 1724, permanecem exemplos do que<br />

a inteligência e a alma humana podem gerar<br />

quando tentad<strong>as</strong> à perfeição.


michel corboz © dr<br />

08<br />

09 03<br />

29<br />

31 03<br />

19<br />

20 04<br />

quinta 8 Março 2012<br />

21:00h — Grande Auditório<br />

sexta 9 Março 2012<br />

19:00h — Grande Auditório<br />

quinta 29 Março 2012<br />

21:00h — Grande Auditório<br />

sexta 30 Março 2012<br />

19:00h — Grande Auditório<br />

sábado 31 Março 2012<br />

21:00h — Grande Auditório<br />

quinta 19 Abril 2012<br />

21:00h — Grande Auditório<br />

sexta 20 Abril 2012<br />

19:00h — Grande Auditório<br />

Orquestra <strong>Gulbenkian</strong><br />

Pietari Inkinen maestro<br />

Dmitri Makhtin violino<br />

Sibelius — Finlândia / Concerto para Violino<br />

e Orquestra<br />

Beethoven — Sinfonia nº 3, Heroica<br />

€21,50 / €18,50 / €16,00 / €10,50<br />

Coro <strong>Gulbenkian</strong><br />

Orquestra <strong>Gulbenkian</strong><br />

Michel Corboz maestro<br />

Concerto de Páscoa<br />

J. S. Bach — Paixão segundo São João<br />

Legend<strong>as</strong> em português<br />

€32,00 / €26,50 / €21,50 / €13,50<br />

Orquestra <strong>Gulbenkian</strong><br />

Lionel Bringuier maestro<br />

Debussy — Prélude à l’après-midi d’un faune<br />

P. Amaral — Transmutations pour Orchestre (Nr. 5.3) *<br />

Brahms — Sinfonia nº 1<br />

* Estreia Mundial – Encomenda da Cidade<br />

de Matosinhos<br />

€21,50 / €18,50 / €16,00 / €10,50


Orquestra <strong>Gulbenkian</strong> / Orquestra Sinfónica Portuguesa<br />

Troca<br />

de orquestr<strong>as</strong><br />

<strong>Gulbenkian</strong> e Teatro São Carlos convidam <strong>as</strong> su<strong>as</strong> orquestr<strong>as</strong><br />

a visitarem-se mutuamente, numa parceria repleta de cumplicidade.<br />

No princípio era a orquestra. Para um sinfonista,<br />

nada há de mais verdadeiro. Os maiores<br />

talentos musicais debruçaram-se sobre aquele<br />

organismo vivo e multifacetado, na tentativa<br />

de conhecerem <strong>as</strong> su<strong>as</strong> zon<strong>as</strong> de sombra<br />

e de luz, <strong>as</strong> su<strong>as</strong> sinuosidades. O resultado ficou<br />

pl<strong>as</strong>mado em págin<strong>as</strong> geniais que <strong>as</strong> orquestr<strong>as</strong>,<br />

agradecid<strong>as</strong>, não se cansam de reinterpretar.<br />

Joly Braga Santos, o maior sinfonista português,<br />

considerava-se acima de tudo – e parafr<strong>as</strong>eando<br />

Stravinsky - «um inventor de música».<br />

E como tal compôs seis sinfoni<strong>as</strong>, sendo<br />

que <strong>as</strong> primeir<strong>as</strong> quatro foram escrit<strong>as</strong> em<br />

sete anos, entre 1944 e 1951. A 4ª, que culmina<br />

com um Hino à Juventude, está impregnada de<br />

sonoridades provenientes da tradição popular.<br />

Um compositor é resultado do seu tempo<br />

e do seu lugar. Por isso, a produção musical de<br />

Sergei Rachmaninov decaiu significativamente<br />

após se ter estabelecido em Nova Iorque,<br />

em 1918. Residia ainda em Moscovo quando<br />

se estreou como pianista naquela metrópole<br />

norte-americana em 1909, com o seu<br />

Concerto Nº 3, que treinou durante a viagem<br />

num teclado sem som. Mal sabia que a obra<br />

apen<strong>as</strong> se tornaria francamente conhecida<br />

em 1930, graç<strong>as</strong> a Vladimir Horowitz.<br />

08<br />

O russo d<strong>as</strong> mãos gigantesc<strong>as</strong> (e de enorme<br />

el<strong>as</strong>ticidade) viveu, no início da carreira,<br />

tempos conturbados. Rachmaninov pediu<br />

a ajuda do psicólogo Nikolai Dahl ao longo<br />

da crise depressiva desencadeada pelo frac<strong>as</strong>so<br />

da sua Sinfonia Nº 1 (comparada pela crítica<br />

ao retrato d<strong>as</strong> dez prag<strong>as</strong> do Egito), em 1896,<br />

e pela oposição da Igreja Ortodoxa a que<br />

contraísse matrimónio com a sua prima,<br />

Natália Satina – com quem c<strong>as</strong>aria em 1902.<br />

Outro russo, 33 anos mais novo que<br />

Rachmaninov, que viria a deixar um legado<br />

grandioso e a viver uma vida em parte<br />

silenciada, tocava o piano numa sala<br />

de cinema mudo para ajudar a sua mãe viúva<br />

quando era apen<strong>as</strong> um talentoso estudante<br />

de composição. Tal experiência despertou-lhe<br />

o interesse pela relação entre a música<br />

e a imagem e instou-o a compor para cinema.<br />

Assinou a primeira banda sonora<br />

aos 22 anos, em 1928. M<strong>as</strong> o hábito<br />

faz o monge: aos 49 anos, Chostakovitch<br />

escreveu a música para The Gadfly,<br />

filme b<strong>as</strong>eado no romance homónimo<br />

do escritor inglês Ethel Lilian Voynich.


artur pizarro © sven arnstein<br />

12<br />

13<br />

04<br />

04<br />

quinta 12 Abril 2012<br />

21:00h — Teatro Nacional<br />

de São Carlos<br />

sexta 13 Abril 2012<br />

21:00h — Grande Auditório<br />

Orquestra <strong>Gulbenkian</strong><br />

Pedro Neves maestro<br />

Sequeira Costa piano<br />

A <strong>Gulbenkian</strong> visita<br />

o Teatro Nacional de São Carlos<br />

Rachmaninov — Concerto para Piano e Orquestra nº 3<br />

J. B. Santos — Sinfonia nº 4<br />

Concerto integrado na temporada do Teatro Nacional<br />

de São Carlos – bilhetes à venda nesse local<br />

Orquestra<br />

Sinfónica Portuguesa<br />

Martin André maestro<br />

Artur Pizarro piano<br />

O Teatro Nacional de São Carlos<br />

visita a <strong>Gulbenkian</strong><br />

Chostakovitch — The Gadfly: Suite, op. 97a<br />

(nos 1, 2, 3, 8, 10, 11)<br />

Rachmaninov — Concerto para Piano e Orquestra nº 1<br />

Tchaikovsky — Sinfonia nº 1, Sonhos de Inverno<br />

€21,50 / €18,50 / €16,00 / €10,50


Wagner +<br />

Wagner, onde<br />

tudo é possível<br />

Três concertos revelam a frescura e atualidade do compositor<br />

cuja influência revolucionou a História da <strong>Música</strong>.<br />

Falta mais de um ano para o «ano Wagner»,<br />

em que se celebram dois séculos do seu<br />

n<strong>as</strong>cimento. M<strong>as</strong> a Fundação <strong>Gulbenkian</strong><br />

antecipa a efeméride, ou não se trat<strong>as</strong>se<br />

da vinda ao mundo do homem que protagonizou<br />

uma d<strong>as</strong> maiores revoluções musicais<br />

da História. «A imaginação cria a realidade»,<br />

disse ele um dia, e tinha razão: o que Wagner<br />

imaginou ser a música – e, em especial,<br />

a ópera – foi o ponto de chegada de tudo quanto<br />

até então fora escrito e o ponto de partida<br />

para o futuro. «Ele sabia que a sua música não<br />

ia ser aceite de imediato pelo público, que<br />

o mundo não estava preparado, e que precisava<br />

de tempo. E chegou a dizê-lo, quando estreou<br />

o ciclo do Anel», relata a soprano Iréne Theorin,<br />

que, ao lado da Gustav Mahler Jugendorchester,<br />

vem a Lisboa emprestar a voz ao compositor<br />

que a acompanha ininterruptamente desde<br />

os primórdios da sua carreira.<br />

«Nunca estive sem ele, não sei o que isso é.<br />

Tenho vindo a estudar e a cantar a sua música<br />

desde o início da minha vida profissional, fiz<br />

todos os seus papéis mais importantes. É uma<br />

música muito rica, inteligente, intelectual, não<br />

há nada que esteja lá por coincidência.» Iréne<br />

Theorin, que já foi aplaudida pela sua inspirada<br />

10<br />

interpretação de Brühnnilde e de Isolda, du<strong>as</strong><br />

d<strong>as</strong> mais complex<strong>as</strong> heroín<strong>as</strong> wagnerian<strong>as</strong>, diz<br />

que a música de Wagner «é aberta, pois admite<br />

que seja feita de modos diferentes. É possível<br />

ter nov<strong>as</strong> idei<strong>as</strong> acerca d<strong>as</strong> personagens,<br />

e nisso é sempre fresca e moderna».<br />

M<strong>as</strong> como se constrói uma Isolda? Constrói-se,<br />

sobretudo, com disciplina e controlo, conta<br />

Iréne Theorin: «Cantar é uma questão<br />

de disciplina, de ter controlo, de ser responsável.<br />

Se, ao fazer um papel como Isolda, perdes<br />

a disciplina, não consegues chegar ao fim.<br />

É necessária uma grande energia física<br />

e psicológica. Eu gosto de cantar sempre<br />

de forma diferente, gosto de cores, por isso<br />

preciso que a técnica vocal esteja intacta.<br />

Preciso de vigiar o modo como uso a voz.<br />

Há tantos momentos que se prestam<br />

à criatividade! Quanto mais canto esta música,<br />

mais quero cantá-la. Porque, nela, tudo<br />

é possível.» Hoje, reforça a soprano, Wagner<br />

é tão popular que «mesmo aqueles que não<br />

são wagnerianos o acham interessante».<br />

Quando, em 1987, o maestro Lorin Maazel<br />

empreendeu a hercúlea tarefa de escrever<br />

uma ‘síntese’ da tetralogia O Anel do Nibelungo<br />

– obra que conhecia como a palma da sua mão


– quis «revelar o essencial do seu código»<br />

seguindo alguns critérios: tocar a obra sem<br />

paragens, respeitar a ordem cronológica<br />

do ciclo, «começando na primeira nota<br />

do Ouro do Reno e culminando na última<br />

do Crepúsculo dos Deuses», e garantir que cada<br />

nota da partitura pertencesse ao próprio<br />

Wagner. O resultado, que recebeu o título<br />

de Ring Without Words e condensa em 75 minutos<br />

<strong>as</strong> 17 hor<strong>as</strong> do Anel original, poderá ser<br />

ouvido no Grande Auditório pela Orquestra<br />

<strong>Gulbenkian</strong> sob a batuta de Michael Boder.<br />

No mesmo dia 23 de Março Max Reger<br />

e Richard Strauss são os compositores escolhidos<br />

pelos Solist<strong>as</strong> da Orquestra <strong>Gulbenkian</strong>,<br />

num concerto de entrada livre, às 21:30h.<br />

Tal como Maazel nos tempos recentes, muitos<br />

compositores posteriores a Wagner foram<br />

influenciados pel<strong>as</strong> revelações da sua música.<br />

Um deles foi sem dúvida Richard Strauss,<br />

que aos dez anos ouviu o seu primeiro Lohengrin<br />

e aos 16 obteve a partitura de Tristão e Isolda.<br />

O maestro e pianista Hans von Bülow, discípulo<br />

de Liszt e primeiro marido de Cosima Wagner,<br />

afirmara sobre Strauss: «Wagner é Richard I.<br />

Como não há Richard II, Strauss é Richard III.»<br />

Ainda na juventude, chegou a prometer<br />

a Cosima, a viúva de Wagner, que divulgaria<br />

sem trégu<strong>as</strong> a sua música, ao que ela<br />

respondeu: «Aprecio que esteja a levar a<br />

sua promessa tão a sério.» A amizade entre<br />

ambos perdurou sem mácula até Strauss ser<br />

convidado, em 1894, a dirigir o Tannhäuser<br />

em Bayreuth. Não só <strong>as</strong> su<strong>as</strong> sugestões sobre a<br />

encenação e a escolha dos cantores não foram<br />

atendid<strong>as</strong>, como a vontade de aí fazer a sua<br />

Salomé foi contrariada, por se tratar de uma<br />

personagem judia. Sobreveio a rutura: Strauss<br />

só regressaria a Bayreuth 39 anos depois.<br />

Na sua digressão ibérica com a Göteborgs<br />

Symfoniker, à qual está ligada desde 2006,<br />

Gustavo Dudamel p<strong>as</strong>sa por Lisboa e vem<br />

à <strong>Gulbenkian</strong> lançar luz sobre a forte ligação<br />

de Richard Strauss à música de Wagner.<br />

11


22<br />

23 03<br />

quinta 22 Março 2012<br />

21:00h — Grande Auditório<br />

sexta 23 Março 2012<br />

19:00h — Grande Auditório<br />

sexta 23 — 21:30h — Grande Auditório<br />

Solist<strong>as</strong> da Orquestra <strong>Gulbenkian</strong><br />

Reger — Lyrisches Andante<br />

R. Strauss — Metamorfoses<br />

entrada livre<br />

Orquestra <strong>Gulbenkian</strong><br />

Michael Boder maestro<br />

O anel sem palavr<strong>as</strong><br />

Wagner — Prelúdio da ópera Lohengrin / Prelúdio<br />

do 3º acto e Karfreitagszauber da ópera Parsifal<br />

Ligeti — Atmospheres<br />

Wagner / Maazel — Ring Without Words<br />

€21,50 / €18,50 / €16,00 / €10,50


© dr<br />

27<br />

15<br />

16<br />

03<br />

04<br />

04<br />

terça 27 Março 2012<br />

21:00h — Grande Auditório<br />

domingo 15 Abril 2012<br />

19:00h — Grande Auditório<br />

segunda 16 Abril 2012<br />

19:00h — Grande Auditório<br />

Göteborgs Symfoniker<br />

Gustavo Dudamel maestro<br />

R. Strauss — Don Juan / Assim falou Zaratustra<br />

Haydn — Sinfonia nº 103, Rufo de timbales<br />

€69,50 / €58,50 / €42,50 / €26,50<br />

Gustav Mahler<br />

Jugendorchester<br />

Ingo Metzmacher maestro<br />

Iréne Theorin soprano<br />

Wagner — Tristão e Isolda: Prelúdio / Liebestod<br />

Webern — Seis peç<strong>as</strong> para Orquestra, op. 6<br />

(rev. de 1928)<br />

Zimmermann — Photoptosis<br />

Scriabin — Le Poème de l’ext<strong>as</strong>e, op. 54<br />

€48,00 / €42,50 / €32,00 / €18,50<br />

Gustav Mahler<br />

Jugendorchester<br />

Ingo Metzmacher maestro<br />

Iréne Theorin soprano<br />

Wagner — O Crepúsculo dos Deuses<br />

(excertos e cena final)<br />

Chostakovitch — Sinfonia nº 7, Leninegrado<br />

€48,00 / €42,50 / €32,00 / €18,50<br />

13


Concertos para a Família<br />

O jovem Mozart<br />

num espetáculo<br />

para jovens<br />

«B<strong>as</strong>tien e B<strong>as</strong>tienne» foi composta por um rapaz de 12 anos<br />

que já era um grande talento. A ópera sobe ao palco da <strong>Gulbenkian</strong><br />

com encenação de Marie Mignot.<br />

Quando escreveu B<strong>as</strong>tien e B<strong>as</strong>tienne,<br />

Wolfgang Amadeus tinha apen<strong>as</strong> 12 anos.<br />

Era 1768 e, apesar da sua juventude, o rapaz<br />

já havia empreendido algum<strong>as</strong> viagens,<br />

tocando para a realeza e mostrando ao público<br />

<strong>as</strong> su<strong>as</strong> aptidões. A sua vida estava longe<br />

de retratar a simples existência de um miúdo<br />

de 12 anos – da mesma forma que o seu<br />

enorme talento nunca foi equiparável ao ‘jeito’<br />

que se reconhece n<strong>as</strong> crianç<strong>as</strong> medianamente<br />

dotad<strong>as</strong>. Ele era Mozart, desde o primeiro<br />

dia. E era Mozart quando, após ter contacto<br />

com a peça Le Devin du Village, de Jean-Jacques<br />

Rousseau, decidiu transformá-la numa ópera<br />

em um ato de contornos simples, despojada<br />

e concisa.<br />

«Mesmo sendo uma ópera de juventude,<br />

os traços que viriam a caracterizar Mozart<br />

ao longo da sua vida estão todos lá. Está lá<br />

a frescura, está lá a melodia, a fluidez.», refere<br />

o maestro Jorge Matta, que <strong>as</strong>sume a direção<br />

musical da produção que a <strong>Gulbenkian</strong><br />

leva a palco para toda a família, no âmbito<br />

do programa Descobrir. «Claro que se nota<br />

algum desequilíbrio juvenil, m<strong>as</strong> isso<br />

14<br />

é compensado pela melodia e pela própria<br />

construção da peça, acrescenta. Na opinião<br />

de Jorge Matta, os seus não mais<br />

de 50 minutos servem perfeitamente<br />

os propósitos do argumento, que relata<br />

<strong>as</strong> desventur<strong>as</strong> de B<strong>as</strong>tienne, uma jovem<br />

camponesa que perde o seu amado B<strong>as</strong>tien<br />

para uma nobre dama e, desesperada, recorre<br />

ao Mago Col<strong>as</strong>, seguindo os seus conselhos.<br />

«O facto de ser uma peça pequena faz com<br />

que tudo dentro dela seja uma miniatura,<br />

em que nada está a mais. É, por <strong>as</strong>sim dizer,<br />

um Mozart puro, em embrião. Sem a sofisticação<br />

posterior, m<strong>as</strong> já com a beleza que lhe é própria.<br />

É a ópera de um rapaz», frisa o maestro.<br />

A versão aqui proposta será cantada<br />

integralmente em português, para a qual<br />

foi feita uma nova tradução – que tem,<br />

no entanto, como b<strong>as</strong>e, outra já existente<br />

da autoria de Maria de Lurdes Martins.<br />

Os papéis principais foram atribuídos<br />

a três jovens elementos do Coro <strong>Gulbenkian</strong>.<br />

A encenação, a cargo de Marie Mignot,<br />

é «simples e criativa», revela Jorge Matta.<br />

E mais não diz. O melhor é vir e…descobrir.


© dr<br />

02<br />

03 03<br />

sexta 2 Março 2012<br />

19:00h — Grande Auditório<br />

sábado 3 Março 2012<br />

16:00h — Grande Auditório<br />

B<strong>as</strong>tien e B<strong>as</strong>tienne<br />

Mozart<br />

Orquestra <strong>Gulbenkian</strong><br />

Jorge Matta maestro<br />

Ópera em um ato<br />

Cantada em português<br />

€6,50


Ciclo de <strong>Música</strong> Antiga<br />

Tudo é canto<br />

na música<br />

O maestro espanhol Pablo Her<strong>as</strong>-C<strong>as</strong>ado dirige Schubert, Schumann<br />

e Mendelssohn, num concerto à frente da Freiburger Barockorchester.<br />

«Para mim, o mais importante é a música,<br />

sem importar se se trata de uma grande<br />

orquestra sinfónica ou de um grupo vocal<br />

de câmara, se é polifonia ren<strong>as</strong>centista ou<br />

o Gruppen de Stockhausen: tudo é orgânico e<br />

fluído.» As palavr<strong>as</strong> são de Pablo Her<strong>as</strong>-C<strong>as</strong>ado,<br />

um jovem maestro, que tanto se dedica<br />

à música antiga como à contemporânea<br />

e ao repertório romântico, saltitando entre<br />

um e outros, com a liberdade dos verdadeiros<br />

exploradores. Diz este espanhol n<strong>as</strong>cido em<br />

1977, em Granada: «Evoluí da minha posição<br />

de cantor em ensembles para um lugar onde<br />

podia tomar decisões e partilhar idei<strong>as</strong>. Mais<br />

tarde fui ampliando o repertório e progredindo<br />

tecnicamente, o que me levou a reger formações<br />

maiores. É o meu interesse pelo repertório<br />

e o seu estudo o que me levou a ser maestro.»<br />

Her<strong>as</strong>-C<strong>as</strong>ado, que em Outubro p<strong>as</strong>sado se<br />

estreou à frente da Filarmónica de Berlim<br />

e será, até 2015, maestro principal da Orquestra<br />

nova-iorquina de St. Luke, <strong>as</strong>sume que foge<br />

d<strong>as</strong> especialidades: «Não se poderia conceber<br />

que um arquiteto fosse capaz de construir um<br />

aeroporto e não uma c<strong>as</strong>a ou que um pintor não<br />

domin<strong>as</strong>se vári<strong>as</strong> técnic<strong>as</strong> pictóric<strong>as</strong>. Qualquer<br />

música é resultado e génese, e forma parte<br />

16<br />

de uma evolução. Claro que é preciso trabalhar<br />

muitíssimo, estudar, investigar, manter-me em<br />

contacto com tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> form<strong>as</strong> e époc<strong>as</strong> musicais.<br />

E isto requer desejo e capacidade de síntese.»<br />

Harry Christophers, Pierre Boulez e Peter<br />

Eötvös são três figur<strong>as</strong> capitais na carreira<br />

deste maestro: «São personalidades muito<br />

diferentes, m<strong>as</strong> transmitiram-me cois<strong>as</strong><br />

fundamentais: o respeito pelo texto, pelo<br />

génio criador, pela partitura; a disciplina<br />

aliada à humanidade; e que a honestidade<br />

como artista e como pessoa é uma e a mesma<br />

coisa. Aprendi-o com eles e com os meus<br />

pais, embora estes não fossem artist<strong>as</strong>...».<br />

Her<strong>as</strong>-C<strong>as</strong>ado cedo percebeu que «tudo é<br />

canto na música», incluindo <strong>as</strong> obr<strong>as</strong> que vem<br />

dirigir à <strong>Gulbenkian</strong>, à frente da Freiburger<br />

Barockorchester: «É um programa que<br />

apresenta uma coesão fabulosa, apresentando<br />

os três compositores mais importantes<br />

da 1ª parte do Romantismo alemão. Ao mesmo<br />

tempo, oferece um contr<strong>as</strong>te colorido e qu<strong>as</strong>e<br />

‘pictórico-poético’ entre a 4ª Sinfonia<br />

de Schubert e a 4ª Sinfonia de Mendelssohn.<br />

São obr<strong>as</strong> muito conhecid<strong>as</strong> e indispensáveis,<br />

m<strong>as</strong> mostrá-l<strong>as</strong> em contr<strong>as</strong>te e com instrumentos<br />

de época lança sobre el<strong>as</strong> uma nova luz.»


pablo her<strong>as</strong>-c<strong>as</strong>ado © jean-françois leclercq<br />

20<br />

03<br />

terça 20 Março 2012<br />

21:00h — Grande Auditório<br />

Freiburger Barockorchester<br />

Pablo Her<strong>as</strong>-C<strong>as</strong>ado maestro<br />

Kristian Bezuidenhout pianoforte<br />

Em demanda da flor azul<br />

Schubert — Sinfonia nº 4, Trágica<br />

Schumann — Introdução e Allegro app<strong>as</strong>sionato<br />

Mendelssohn-Bartholdy — Sinfonia nº 4, Italiana<br />

€42,50 / €37,50 / €26,50 / €16,00


14<br />

04<br />

sábado 14 Abril 2012<br />

19:00h — Grande Auditório<br />

Radu Lupu piano<br />

Schubert — Improvisos D. 935<br />

C. Franck — Prelúdio, Coral e Fuga<br />

Debussy — Prelúdios (Livro II)<br />

€42,50 / €37,50 / €26,50 / €16,00<br />

radu lupu © matthi<strong>as</strong> creutziger


Ciclo de Piano<br />

O génio<br />

enigmático<br />

O Ciclo de Piano traz-nos, a 14 de Abril, o misterioso e notável pianista<br />

romeno Radu Lupu. A sua aura de recluso é apen<strong>as</strong> suplantada pelo génio<br />

que emprega de forma obsessiva nos seus compositores de eleição.<br />

Radu Lupu pertence àquela estirpe de músicos<br />

que conjugam em doses semelhantes talento<br />

e mistério. N<strong>as</strong>cido na pequena povoação<br />

romena de Galati, em 1945, Lupu estreou-se<br />

em concerto aos 12 anos, interpretando<br />

uma mão-cheia de composições da sua<br />

autoria. Quatro anos mais tarde seguiria<br />

a sua formação no Conservatório de Moscovo<br />

e, de uma penada, acumularia vários<br />

prestigiantes prémios – entre os quais<br />

os respeitantes às competições de Van Cliburn<br />

e Leeds, conquistados ambos antes dos 25 anos<br />

– impondo a sua capacidade técnica e a sua<br />

sensibilidade invulgar. No entanto, à medida<br />

que a sua reputação de extraordinário<br />

pianista se foi sedimentando, esta foi<br />

acompanhada por uma recusa crescente<br />

em dar-se a conhecer ao mundo através dos<br />

canais mediáticos, alegadamente por querer<br />

concentrar-se por inteiro na música.<br />

Daí que nos últimos 30 anos os dedos<br />

de uma mão cheguem para contabilizar<br />

o número de entrevist<strong>as</strong> de Lupu. O facto,<br />

isoladamente, poderia pouco significar.<br />

M<strong>as</strong> a reputação de recluso do pianista<br />

é acrescentada de pormenores invulgares<br />

como a escolha de uma cadeira de escritório<br />

no lugar do habitual banco de piano para<br />

<strong>as</strong> su<strong>as</strong> actuações, <strong>as</strong>sim como uma relação<br />

muito particular com o seu público –<br />

comentando-se frequentemente que não<br />

faz particular questão de olhar a audiência,<br />

a menos que oiça algum barulho que<br />

o incomode. Ao contrário do que faz com<br />

os outros músicos, havendo quem ache que Lupu<br />

se substitui frequentemente aos maestros.<br />

O absoluto rigor com que Lupu encara cada<br />

atuação levou-o, ao longo dos anos, a dedicar-se<br />

sobretudo a compositores como Mozart,<br />

Schubert, Beethoven e Brahms, ao mesmo<br />

tempo que se revela pouco <strong>as</strong>síduo dos<br />

estúdios de gravação. Aliás, ao contrário<br />

do que acontece com qu<strong>as</strong>e todos os pianist<strong>as</strong><br />

de topo, Radu Lupu nunca registou <strong>as</strong> su<strong>as</strong><br />

leitur<strong>as</strong> de Chopin ou Liszt, uma vez<br />

que gosta apen<strong>as</strong> de tocar <strong>as</strong> obr<strong>as</strong> d<strong>as</strong> quais<br />

se sente próximo.<br />

Se Março e Abril terão em Radu Lupu<br />

a estrela do Ciclo de Piano, há igualmente<br />

que estar atento à p<strong>as</strong>sagem dupla de Kristian<br />

Bezuidenhout pelo palco da <strong>Gulbenkian</strong>,<br />

primeiro na companhia da violinista<br />

Viktoria Mullova (dia 6), depois juntando-se<br />

à Freiburger Barockorchester (dia 20).<br />

19


Ciclo <strong>Música</strong> de Câmara<br />

Um caminho<br />

de libertação<br />

Viktoria Mullova junta o seu violino ao pianoforte de Bezuidenhout em três<br />

sonat<strong>as</strong> de Beethoven. Um encontro entre a experiência de uma intérprete<br />

de rigor e o fulgor de um jovem talento.<br />

N<strong>as</strong>cida em Moscovo em 1959, Viktoria<br />

Mullova começou a conhecer o mundo a partir<br />

de um berço pouco próximo da música.<br />

M<strong>as</strong> tudo se alterou quando, aos quatro anos,<br />

os pais lhe ofereceram um violino, por ser<br />

o mais pequeno e barato instrumento que<br />

conseguiram encontrar. Mullova desenvolveu<br />

então uma fixação tal na aprendizagem do<br />

violino que hoje reconhece ter sido a infância<br />

o maior sacrifício que fez pela sua arte.<br />

M<strong>as</strong> o sacrifício seria mais tarde recompensado,<br />

em 1982, ao vencer a Competição Tchaikovsky,<br />

que a tornaria instantaneamente conhecida<br />

em todo o mundo.<br />

Pouco depois, Viktoria Mullova fugiria<br />

da União Soviética e procuraria <strong>as</strong>ilo político<br />

na Suécia. Conhecida por uma técnica<br />

sublime e uma disciplina austera, a violinista<br />

tornar-se-ia progressivamente adepta<br />

de uma abordagem mais livre, em grande<br />

parte por influência do seu marido,<br />

o violoncelista Matthew Barley, que a aproximou<br />

do mundo do jazz. Ao mesmo tempo,<br />

Mullova não esconde o seu f<strong>as</strong>cínio<br />

pela tradição cigana na prática do violino,<br />

que a tem inspirado a libertar-se do peso<br />

da alegada frieza – segundo a própria era<br />

20<br />

o medo absoluto de cometer algum erro –<br />

que antes aplicava às su<strong>as</strong> interpretações.<br />

Em 2001, por exemplo, a violinista declinou<br />

o convite para voltar a apresentar –<br />

por oc<strong>as</strong>ião do Festival Schöenberg,<br />

em Los Angeles – o concerto para violino<br />

do compositor austríaco, por acreditar que<br />

não valia a pena reviver o desespero que dela<br />

se apoderara quando, no final dos anos 80,<br />

tocou a exigente peça pela primeira vez.<br />

Adepta da procura de nov<strong>as</strong> parceri<strong>as</strong> que<br />

permitam enriquecer a sua musicalidade,<br />

Mullova formou recentemente um duo<br />

com o sul-africano Kristian Bezuidenhout,<br />

um dos mais talentosos jovens pianist<strong>as</strong> –<br />

tem 32 anos – da atualidade. Em 2010, os dois<br />

gravaram para a Onyx Cl<strong>as</strong>sics <strong>as</strong> Sonat<strong>as</strong><br />

para violino e piano nº 3 e nº 9 de Beethoven –<br />

na <strong>Gulbenkian</strong> juntam-lhe ainda<br />

a Sonata nº4 –, disco saudado com r<strong>as</strong>gados<br />

elogios e que Bezuidenhout <strong>as</strong>sim descreveu:<br />

«Estamos ambos f<strong>as</strong>cinados com a gigantesca<br />

dificuldade da composição de Beethoven,<br />

m<strong>as</strong> igualmente convencidos de que a luta<br />

por tocar est<strong>as</strong> peç<strong>as</strong> em instrumentos antigos<br />

é absolutamente essencial para o sucesso<br />

e o impacto emocional desta música».


viktoria mullova © alessandro marcofulli<br />

06<br />

03<br />

terça 6 Março 2012<br />

19:00h — Grande Auditório<br />

Viktoria Mullova violino<br />

Kristian Bezuidenhout pianoforte<br />

Sonata Kreutzer<br />

Beethoven — Sonat<strong>as</strong> para Violino e Piano n os 4, 3 e 9<br />

€32,00 / €21,50 / €16,00


Percurso Descoberta<br />

Obra<br />

a pedido<br />

A violoncelista Sonia Wieder-Atherton junta-se ao Remix Ensemble<br />

num programa de Wolfgang Rihm e Emmanuel Nunes. Wieder-Atherton<br />

explica-nos como n<strong>as</strong>ceu «Versuchung», obra que lhe foi dedicada por Rihm.<br />

Foram du<strong>as</strong> seman<strong>as</strong> em Julho de 2005.<br />

Em Metz, no Centre Acanthes, vários músicos<br />

sorveram conhecimento d<strong>as</strong> conferênci<strong>as</strong><br />

de compositores como P<strong>as</strong>cal Dusapin<br />

e Wolfgang Rihm, bem como dos workshops<br />

ministrados por músicos de topo – Arditti<br />

Quartet e a violoncelista Sonia Wieder-Atherton,<br />

por exemplo. M<strong>as</strong> nem só os mais inexperientes,<br />

sedentos de informação, beneficiaram dos<br />

encontros de Metz. Instalados no mesmo<br />

hotel, Rihm e Wieder-Atherton começaram<br />

a falar cada vez mais à mesa do pequeno-almoço.<br />

«Foram du<strong>as</strong> seman<strong>as</strong> em que fui<br />

completamente engolida pelo universo<br />

de Rihm», explica-nos a violoncelista.<br />

«Ouvia cada coisa que ele dizia, <strong>as</strong> pintur<strong>as</strong><br />

de que falava e fiquei seduzida por aquilo<br />

tudo. No último dia, perguntei-lhe se estaria<br />

disposto a compor para mim e ele disse<br />

simplesmente que sim. Despedimo-nos e dois<br />

anos mais tarde o concerto tinha n<strong>as</strong>cido».<br />

Esse concerto, Versuchung: Hommage<br />

à Max Beckmann, será na noite de 18 de Março<br />

acompanhado por uma nova criação de Rihm<br />

encomendada pela C<strong>as</strong>a da <strong>Música</strong> e uma peça<br />

de Emmanuel Nunes. Sonia Wieder-Atherton<br />

subirá ao palco com o Remix Ensemble.<br />

22<br />

Para a violoncelista, é libertador tocar obr<strong>as</strong><br />

de compositores vivos: «Não existe o peso<br />

da tradição, algo de que temos de nos livrar<br />

quando entramos na composição ao tocar<br />

música clássica. Aqui, é-se subitamente livre.<br />

Claro que tem igualmente de se perceber,<br />

adivinhar e avançar tanto quanto se pode<br />

na direção do que o compositor queria».<br />

E, por vezes, é mesmo de adivinhação<br />

que se trata. Rihm não lhe forneceu grandes<br />

pist<strong>as</strong> para decifrar o que havia da pintura<br />

de Beckmann em Versuchung. Daí que Wieder-<br />

-Atherton tenha procurado impregnar-se da sua<br />

pintura m<strong>as</strong> tenha optado por fazê-lo «de um<br />

ponto de vista sensitivo», negando-se qualquer<br />

elaboração intelectual que estabelecesse<br />

uma ponte tripartida entre a obra do pintor,<br />

a linguagem de Rihm e <strong>as</strong> su<strong>as</strong> característic<strong>as</strong><br />

de instrumentista. «Há algo terrível na sua<br />

pintura, embora totalmente ligada à vida e até<br />

ao humor, e que coexistem a toda a hora. M<strong>as</strong> foi<br />

curioso porque ele nunca me falou da ligação<br />

entre os dois». Aliás, quando se encontraram<br />

os dois em Amsterdão, Rihm levou-a a beber<br />

um copo no sítio onde Beckmann tinha vivido.<br />

«M<strong>as</strong> não disse nada», recorda a violoncelista.<br />

«Ficámos lá sentados e ele a sorrir, feliz».


emix ensemble © dr<br />

18<br />

03<br />

domingo 18 Março 2012<br />

19:00h — Grande Auditório<br />

Remix Ensemble<br />

Peter Rundel maestro<br />

Sonia Wieder-Atherton violoncelo<br />

Rihm — Nova obra encomendada<br />

pela C<strong>as</strong>a da <strong>Música</strong><br />

Versuchung: Hommage à Max Beckmann<br />

(para violoncelo e orquestra)<br />

E. Nunes — Improvisation I - für ein Monodram<br />

€16,00


01<br />

03 03<br />

29<br />

04<br />

1,2 e 3 Março 2012<br />

21:30h — Teatro Maria Matos Nature Theater<br />

of Oklahoma<br />

Life and Times – Episode 2<br />

Em inglês<br />

legend<strong>as</strong> em português<br />

conceção e direção<br />

Pavol Liska e Kelly Copper<br />

música original<br />

Robert M. Johanson e Julie Lamendola<br />

€15,00<br />

Bilhetes à venda no Teatro Maria Matos<br />

domingo 29 Abril 2012<br />

19:00h — Grande Auditório<br />

Danza Preparata<br />

Rui Horta<br />

coreografia, cenografia, desenho de luzes<br />

Rolf Hind piano<br />

Silvia Bertoncelli bailarina<br />

John Cage: Sonat<strong>as</strong> e Interlúdios<br />

para piano preparado<br />

€21,50 / €18,50 / €16,00 / €10,50<br />

nature theater of oklahoma / life and times © dr


Teatro / <strong>Música</strong><br />

Possibilidades<br />

de desconstrução<br />

Em ano de centenário do n<strong>as</strong>cimento de John Cage, Rui Horta inspira-se<br />

no piano preparado para coreografar um corpo preparado.<br />

Uma dupla homenagem a Cage e a Merce Cunningham, no Grande Auditório.<br />

John Cage não é uma novidade no percurso<br />

de Rui Horta. Já por divers<strong>as</strong> vezes o coreógrafo<br />

juntou os seus movimentos à música do<br />

compositor norte-americano. A razão é simples<br />

e explica-a o próprio Rui Horta: «Em geral,<br />

na dança contemporânea temos uma relação<br />

próxima com o Cage devido ao Merce<br />

Cunningham. A nossa cultura está imbuída<br />

nesta relação entre música e movimento».<br />

Por isso mesmo, é impossível ao criador<br />

português não reconhecer que Danza Preparata,<br />

partindo da música de Cage, funciona como<br />

uma dupla homenagem, para a qual puxa<br />

naturalmente Cunningham. «Quando faço<br />

esta obra sinto um grande orgulho e uma<br />

grande alegria de ter esta cultura em mim,<br />

de ter feito este percurso de coreógrafo que<br />

se cruza também com um percurso musical.<br />

O Cage e o Cunningham são muito marcantes<br />

no sentido de aquilo que ainda hoje<br />

é paradigmático da nossa forma de fazer dança».<br />

Sentindo-se a integrar uma privilegiada árvore<br />

genealógica, Rui Horta confessa dedicar-se<br />

a esta obra «com um grande sentido<br />

de responsabilidade e com muito amor».<br />

Danza Preparata, como o seu nome sugere,<br />

inspira-se n<strong>as</strong> Sonat<strong>as</strong> e Interlúdios de Cage<br />

para piano preparado e parte dest<strong>as</strong> para<br />

uma reflexão sobre o que é, o que pode ser<br />

um corpo preparado. «Há uma comparação<br />

muito grande entre <strong>as</strong> potencialidades<br />

e a desconstrução daquele piano e <strong>as</strong><br />

potencialidades e desconstrução deste<br />

corpo», sustenta o coreógrafo. O facto<br />

de ter à sua disposição uma «intérprete<br />

de primeira água», a bailarina italiana<br />

Silvia Bertoncelli, abre igualmente todo<br />

um campo de estimulantes possibilidades.<br />

Bertoncelli dançará ao som d<strong>as</strong> not<strong>as</strong><br />

de Cage interpretad<strong>as</strong> pelo pianista Rolf Hind.<br />

Para Rui Horta, a chave da peça está nesta<br />

«redução gigantesca» que propõe: «é o início<br />

de tudo, pega-se numa folha branca,<br />

desenha-se um ponto e é <strong>as</strong>sim que isto começa –<br />

é um solo, um espaço e uma música».<br />

Entre 1 e 3 de Março, a <strong>Gulbenkian</strong> apresenta<br />

em parceria com o Teatro Maria Matos<br />

o segundo episódio da saga Life and Times.<br />

Trata-se de uma ambiciosa obra da companhia<br />

vanguardista de teatro nova-iorquina Nature<br />

Theater of Oklahoma e que parte em dez<br />

episódios a história da vida de uma mulher<br />

da cl<strong>as</strong>se média americana. Depois da infância,<br />

Episode 2 leva-nos até à pré-adolescência.<br />

25


Músic<strong>as</strong> do Mundo<br />

Antídoto<br />

para a morte<br />

Amor e poem<strong>as</strong> de Pablo Neruda alimentam o espetáculo Eros y Muerte,<br />

da cantora grega Angelique Ionatos. Em Abril, teremos Alireza Ghorbani<br />

e Dorsaf Hamdani e a apresentação do novo trabalho de António Zambujo.<br />

Angelique Ionatos deixou a Grécia aos 15 anos,<br />

rumo a Paris. M<strong>as</strong> não deixou os seus poet<strong>as</strong>,<br />

aos quais tem dedicado qu<strong>as</strong>e todos os 40 anos<br />

de carreira. Mesmo antes da sua partida,<br />

na adolescência, andava tão maravilhada<br />

com a descoberta dos Beatles quanto<br />

com a canção grega de Mikis Theodorakis<br />

e de Manos Hatzidakis. M<strong>as</strong> a descoberta<br />

do seu caminho artístico levou-a a prescindir<br />

dos instrumentos tradicionais, como o bouzouki.<br />

«Sou uma grega da diáspora e não me interessa<br />

muito repetir aquilo que já foi feito»,<br />

justifica-nos Ionatos a partir de Paris, cidade<br />

onde vive desde então. E acrescenta: «A minha<br />

música é um espelho também dos meus amores<br />

– tanto a música clássica quanto <strong>as</strong> músic<strong>as</strong><br />

do mundo; adoro tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> músic<strong>as</strong> autêntic<strong>as</strong>.<br />

Sou mediterrânica antes de ser grega».<br />

Este sentir mediterrânico, Angelique Ionatos<br />

identifica-o num amor comum pela poesia<br />

partilhado por gregos, espanhóis e latino-<br />

-americanos, e que acaba por infiltrar-se<br />

neste espetáculo intitulado Eros y Muerte<br />

(Amor e Morte), em que a poesia do chileno<br />

Pablo Neruda se junta às dos gregos Kost<strong>as</strong><br />

Karyotakis e Kostis Palam<strong>as</strong>, todos musicados<br />

pela própria Angelique Ionatos. «Pablo Neruda<br />

26<br />

é o meu poeta preferido e quando<br />

foi traduzido para grego foi evidente para mim<br />

a semelhança que existe entre o seu estilo<br />

e o dos poet<strong>as</strong> gregos», explica. «A língua<br />

espanhola e a língua grega amam-se imenso».<br />

O espetáculo, apresentado a 24 de Março,<br />

carrega a ideia de que amor e morte não são<br />

contrários. «Canta-se porque a vida continua,<br />

a memória persiste e não esquecemos<br />

os mortos. Havendo memória não há morte».<br />

Para Ionatos, de resto, «o amor terá sido<br />

inventado pela humanidade porque existe<br />

a morte. É uma forma de vencer a morte».<br />

A poesia – m<strong>as</strong> desta vez do persa<br />

Omar Khayyam – está também na b<strong>as</strong>e<br />

do concerto Ivresses, na <strong>Gulbenkian</strong> a 9 de Abril.<br />

O espetáculo junta <strong>as</strong> vozes do iraniano<br />

Alireza Ghorbani e da tunisina Dorsaf<br />

Hamdani, transformando a embriaguez<br />

descrita por Khayyam numa viagem delirante<br />

dos sentidos pelo Oriente. Mais tarde,<br />

a 24, será a vez de António Zambujo subir<br />

ao Grande Auditório, naquela que constituirá<br />

a estreia do seu quinto álbum. Oportunidade<br />

para escutar um fado devedor da tradição<br />

lisboeta e do cante alentejano, m<strong>as</strong> também<br />

de Chet Baker e João Gilberto.


antónio zambujo © rita carmo<br />

24<br />

03<br />

09<br />

04<br />

24<br />

04<br />

sábado 24 Março 2012<br />

21:00h — Grande Auditório<br />

segunda 9 Abril 2012<br />

21:00h — Grande Auditório<br />

terça 24 Abril 2012<br />

21:00h — Grande Auditório<br />

Angelique Ionatos<br />

cantora / guitarra<br />

Eros y Muerte<br />

€21,50 / €18,50 / €16,00<br />

Alireza Ghorbani<br />

& Dorsaf Hamdani<br />

Ivresses<br />

Em torno da poesia de Omar Khayyam<br />

€21,50 / €18,50 / €16,00<br />

António Zambujo<br />

voz e guitarra clássica<br />

€21,50 / €18,50 / €16,00


Met Opera Live in HD<br />

A estrela<br />

Netrebko<br />

Abril traz-nos du<strong>as</strong> obr<strong>as</strong> imperdíveis: Anna Netrebko no papel de Manon,<br />

no dia 7, e du<strong>as</strong> seman<strong>as</strong> depois Natalie Dessay vestindo a pele de Violetta,<br />

em La Traviata.<br />

Histoire du Chevalier Des Grieux et de Manon<br />

Lescaut é um conto do abade Prévost, incluído<br />

n<strong>as</strong> su<strong>as</strong> volumos<strong>as</strong> Mémoires et Aventures<br />

d’un Homme de Qualité qui s’est Retiré du<br />

Monde, escrit<strong>as</strong> entre 1728 e 1731. Manon<br />

Lescaut, a forma abreviada com que ficou<br />

conhecido o livro editado autonomamente,<br />

foi um escândalo literário à época, tendo<br />

inclusivamente sido incentivada a sua<br />

destruição. M<strong>as</strong> a história de Manon havia<br />

de erguer-se e conquistar uma enorme<br />

popularidade. Nela, Manon é uma noviça<br />

enviada para um convento m<strong>as</strong> que é colocada<br />

na carruagem errada, tendo <strong>as</strong>sim como<br />

destino um romance tórrido com um nobre,<br />

o cavaleiro de Grieux. Depois, a ambição<br />

de se tornar uma estrela dos palcos acaba<br />

transformada por um deslumbramento<br />

por fest<strong>as</strong>, sedução e luxúria, acabando<br />

atingida por má fama.<br />

A personagem há muito que seduziu<br />

a super-estrela Anna Netrebko, que volta<br />

a encarná-la pela terceira vez na sua carreira,<br />

com a música de Jules M<strong>as</strong>senet. A diferença<br />

28<br />

nesta produção de Laurent Pelly, afirmou<br />

Netrebko em entrevista, é que «aqui Manon<br />

e o seu irmão são verdadeiramente malvados,<br />

manipulando toda a gente. São como<br />

que alm<strong>as</strong> vazi<strong>as</strong>». Algo que Netrebko<br />

acredita estar já sugerido n<strong>as</strong> not<strong>as</strong> firmad<strong>as</strong><br />

pelo punho de M<strong>as</strong>senet e que a soprano<br />

interpreta como sequênci<strong>as</strong> particularmente<br />

sensuais, apaixonad<strong>as</strong> e, por vezes, ásper<strong>as</strong>.<br />

«Acho que é possível fazê-la muito... má»,<br />

revelou na mesma entrevista. A comprovar<br />

em mais uma transmissão da Metropolitan<br />

Opera, a partir de Nova Iorque, a 7 de Abril.<br />

Du<strong>as</strong> seman<strong>as</strong> depois, o mesmo maestro,<br />

Fabio Luisi, que dirigirá Manon, regressará<br />

à Met Opera Series com La Traviata, de Verdi,<br />

pel<strong>as</strong> vozes de Natalie Dessay, Matthew<br />

Polenzani e Dmitri Hvorostovsky.<br />

O maior desafio em <strong>as</strong>sumir a pele<br />

de Violetta, diz Dessay, foi trabalhar a culpa.<br />

Quando chegar à tela da <strong>Gulbenkian</strong>,<br />

dia 21, terão p<strong>as</strong>sado qu<strong>as</strong>e três anos desde<br />

que começou a aperfeiçoar o papel. Momento<br />

certo de maturação para o descobrirmos.


manon © bill cooper<br />

07<br />

04<br />

21<br />

04<br />

transmissão em direto<br />

da metropolitan opera<br />

sábado 7 Abril 2012<br />

17:00h — Grande Auditório<br />

transmissão em diferido<br />

da metropolitan opera<br />

sábado 21 Abril 2012<br />

18:00h — Grande Auditório<br />

Manon<br />

Jules M<strong>as</strong>senet<br />

Fabio Luisi maestro<br />

Laurent Pelly produção<br />

Anna Netrebko, Piotr Beczala, Paulo Szot, David Pittsinger<br />

€16,00<br />

La Traviata<br />

Giuseppe Verdi<br />

Fabio Luisi maestro<br />

Willy Decker produção<br />

Natalie Dessay, Matthew Polenzani, Dmitri Hvorostovsky<br />

€16,00


Agenda de Concertos<br />

março 2012<br />

1 quinta / 2 sexta / 3 sábado 21:30h — Teatro Maria Matos 1<br />

Nature Theater of Oklahoma<br />

Life and Times – Episode 2<br />

2 sexta 19:00h/ 3 sábado 16:00h — Grande Auditório<br />

Orquestra <strong>Gulbenkian</strong><br />

Jorge Matta maestro<br />

Wolfgang Amadeus Mozart B<strong>as</strong>tien e B<strong>as</strong>tienne<br />

6 terça 19:00h — Grande Auditório<br />

Viktoria Mullova violino<br />

Kristian Bezuidenhout pianoforte<br />

Ludwig van Beethoven<br />

8 quinta 21:00h/ 9 sexta 19:00h — Grande Auditório<br />

Orquestra <strong>Gulbenkian</strong><br />

Pietari Inkinen maestro, Dmitri Makhtin violino<br />

Jean Sibelius, Ludwig van Beethoven<br />

15 quinta 21:00h/ 16 sexta 19:00h — Grande Auditório<br />

Coro e Orquestra <strong>Gulbenkian</strong><br />

Simone Young maestrina, Fanny Ardant atriz<br />

Arthur Honegger Joana d’Arc na fogueira<br />

18 domingo 19:00h — Grande Auditório<br />

Remix Ensemble<br />

Peter Rundel maestro, Sonia Wieder-Atherton violoncelo<br />

Wolfgang Rihm, Emmanuel Nunes<br />

20 terça 21:00h — Grande Auditório<br />

Freiburger Barockorchester<br />

Pablo Her<strong>as</strong>-C<strong>as</strong>ado maestro, Kristian Bezuidenhout pianoforte<br />

Franz Schubert, Robert Schumann, Felix Mendelssohn-Bartholdy<br />

22 quinta 21:00h/ 23 sexta 19:00h — Grande Auditório<br />

Orquestra <strong>Gulbenkian</strong><br />

Michael Boder maestro<br />

Richard Wagner, György Ligeti, Wagner / Maazel<br />

23 sexta 21:30h — Grande Auditório — Entrada Livre<br />

Solist<strong>as</strong> da Orquestra <strong>Gulbenkian</strong><br />

Max Reger, Richard Strauss<br />

24 sábado 21:00h — Grande Auditório<br />

Angelique Ionatos cantora / guitarra<br />

Eros y Muerte<br />

27 terça 21:00h — Grande Auditório<br />

Göteborgs Symfoniker<br />

Gustavo Dudamel maestro<br />

Richard Strauss, Joseph Haydn<br />

29 quinta 21:00h / 30 sexta 19:00h / 31 sábado 21:00h —<br />

Grande Auditório<br />

Coro e Orquestra <strong>Gulbenkian</strong><br />

Michel Corboz maestro<br />

Johann Seb<strong>as</strong>tian Bach Paixão segundo São João<br />

30<br />

abril 2012<br />

7 sábado 17:00h — Grande Auditório<br />

Transmissão em directo da Metropolitan Opera<br />

Jules M<strong>as</strong>senet Manon<br />

9 segunda 21:00h — Grande Auditório<br />

Alireza Ghorbani & Dorsaf Hamdani<br />

Alireza Ghorbani canto clássico persa, Dorsaf Hamdani<br />

canto clássico árabe<br />

Ivresses<br />

12 quinta 21:00h — Teatro Nacional de São Carlos 2<br />

Orquestra <strong>Gulbenkian</strong><br />

Pedro Neves maestro, Sequeira Costa piano<br />

Joly Braga Santos, Sergei Rachmaninov<br />

13 sexta 21:00h — Grande Auditório<br />

Orquestra Sinfónica Portuguesa<br />

Martin André maestro, Artur Pizarro piano<br />

Dmitri Chostakovitch, Sergei Rachmaninov, Piotr Ilitch<br />

Tchaikovsky<br />

14 sábado 19:00h — Grande Auditório<br />

Radu Lupu piano<br />

César Franck, Franz Schubert, Claude Debussy<br />

15 domingo 19:00h — Grande Auditório<br />

Gustav Mahler Jugendorchester<br />

Ingo Metzmacher maestro, Iréne Theorin soprano<br />

Richard Wagner, Anton Webern , Bernd Alois Zimmermann,<br />

Alexander Scriabin<br />

16 segunda 19:00h — Grande Auditório<br />

Gustav Mahler Jugendorchester<br />

Ingo Metzmacher maestro, Iréne Theorin soprano<br />

Richard Wagner, Dmitri Chostakovitch<br />

19 quinta 21:00h/ 20 sexta 19:00h — Grande Auditório<br />

Orquestra <strong>Gulbenkian</strong><br />

Lionel Bringuier maestro<br />

Claude Debussy, Pedro Amaral, Johannes Brahms<br />

21 sábado 18:00h — Grande Auditório<br />

Transmissão em direto da Metropolitan Opera<br />

Giuseppe Verdi La Traviata<br />

24 terça 21:00h — Grande Auditório<br />

António Zambujo voz e guitarra clássica<br />

29 domingo 19:00h — Grande Auditório<br />

Rui Horta coreografia, cenografia desenho de luzes<br />

Rolf Hind piano, Silvia Bertoncelli bailarina<br />

John Cage Danza Preparata<br />

1 Bilhetes à venda no Teatro Maria Matos<br />

2 Bilhetes à venda no Teatro Nacional de São Carlos

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