EducAção 5 - SME/DOT - Secretaria Municipal de Educação
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Revista <strong>EducAção</strong> 5 – GESTÃO, CURRÍCULO E DIVERSIDADE - PMSP<br />
“O sonho é assim uma exigência ou<br />
uma condição que se vem fazendo<br />
permanente na história que fazemos e que<br />
nos faz e re – faz” (Paulo Freire)<br />
1
SUMÁRIO<br />
APRESENTAÇÃO______________________________________________03<br />
INTRODUÇÃO_________________________________________________04<br />
CURRÍCULO NA PERSPECTIVA DA<br />
DIVERSIDADE_________________________________________________06<br />
CICLO NA REDE MUNICIPAL DE<br />
ENSINO______________________________________________________16<br />
GESTÃO DEMOCRÁTICA,<br />
CURRÍCULO E A CONSTRUÇÃO DO PROJETO POLÍTICO–<br />
PEDAGÓGICO_________________________________________________23<br />
FORMAÇÃO E<br />
ACOMPANHAMENTO___________________________________________33<br />
O CEU, A CIDADE E A<br />
EDUCAÇÃO___________________________________________________40<br />
AVALIAÇÃO - SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO<br />
2003_________________________________________________________45<br />
2
Apresentação<br />
Este documento apresenta parte das reflexões e do<br />
aprofundamento acerca dos temas priorizados pela Política Educacional da<br />
<strong>Secretaria</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> <strong>Educação</strong> (<strong>SME</strong>) na revista <strong>EducAção</strong> nº 4 e no<br />
Ca<strong>de</strong>rno Temático <strong>de</strong> Formação 1, estabelecendo uma interlocução entre eles<br />
e aten<strong>de</strong>ndo à diretriz Qualida<strong>de</strong> Social <strong>de</strong> <strong>Educação</strong>, compreendida na<br />
integração entre a Democratização do Acesso e Garantia da Permanência e a<br />
Democratização da Gestão.<br />
Os temas aqui apresentados não são novos, pois os mesmos<br />
permeiam o cotidiano das Unida<strong>de</strong>s Educacionais da Re<strong>de</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong><br />
Ensino e trazem questões conhecidas pelos educadores e educadoras,<br />
educandos e educandas. O que há <strong>de</strong> novo é a busca <strong>de</strong> caminhos, em<br />
conjunto, para avançar na qualida<strong>de</strong> da educação oferecida à população da<br />
cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo.<br />
Esses temas <strong>de</strong>ram sustentação ao processo <strong>de</strong> Formação e<br />
Acompanhamento <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ado na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2001, sendo reorganizados<br />
no Plano <strong>de</strong> Metas/2003-2004, na perspectiva da consolidação dos princípios e<br />
dos eixos presentes nas diretrizes traçadas pela <strong>Secretaria</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>Educação</strong> para esta gestão (2001-2004).<br />
Destaca-se o caráter reflexivo dos textos, na busca do diálogo<br />
com educadores e educadoras, educandos e educandas sobre os temas aqui<br />
apresentados e a construção coletiva dos mesmos, envolvendo as equipes da<br />
Diretoria <strong>de</strong> Orientação Técnica e das Coor<strong>de</strong>nadorias <strong>de</strong> <strong>Educação</strong> das<br />
Subprefeituras, durante o processo <strong>de</strong> formação <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ado em 2003 pela<br />
<strong>SME</strong>.<br />
Assim, a <strong>Secretaria</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> <strong>Educação</strong>, aten<strong>de</strong>ndo aos<br />
princípios <strong>de</strong> <strong>de</strong>scentralização, autonomia e participação e na perspectiva <strong>de</strong><br />
fortalecer as diretrizes <strong>de</strong> inclusão, humanização e <strong>de</strong> cidadania ativa, convida<br />
a todos e a todas a partilharem <strong>de</strong>ste diálogo, buscando garantir a apropriação,<br />
manifestação e produção cultural das crianças, adolescentes, jovens, adultos e<br />
idosos.<br />
Cida Perez<br />
Secretária <strong>de</strong> <strong>Educação</strong><br />
3
INTRODUÇÃO<br />
O diálogo proposto neste documento, presente nos<br />
questionamentos <strong>de</strong> cada um dos textos, traz <strong>de</strong>finições e indagações com<br />
relação aos temas priorizados pela Política Educacional da <strong>Secretaria</strong><br />
<strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> <strong>Educação</strong> (<strong>SME</strong>) na revista <strong>EducAção</strong> nº 4 e no Ca<strong>de</strong>rno<br />
Temático <strong>de</strong> Formação 1, estabelecendo uma interlocução entre eles.<br />
O conjunto dos temas constitui-se em instrumento para garantir<br />
as discussões curriculares, integradas à gestão e à formação, a partir da<br />
problematização das práticas, para que o currículo vivido possa consi<strong>de</strong>rar os<br />
princípios da inclusão social.<br />
Iniciamos este diálogo com o texto “Currículo na Perspectiva da<br />
Diversida<strong>de</strong>”, no qual o currículo é <strong>de</strong>finido como a construção sócio-cultural e<br />
histórica e instrumento privilegiado da constituição <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s e<br />
subjetivida<strong>de</strong>s.<br />
A educação, neste sentido, está voltada para a humanização e<br />
contribui com a construção <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> que assegura direitos sociais,<br />
políticos, econômicos e culturais a todos e a todas e garante ações que<br />
rompam com as práticas <strong>de</strong> exclusão.<br />
O currículo constitui-se, assim, na Re<strong>de</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Ensino,<br />
pela totalida<strong>de</strong> das relações das Unida<strong>de</strong>s Educacionais, envolvendo todos e<br />
todas como educadores e educadoras, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do espaço que<br />
ocupam na construção da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> da Comunida<strong>de</strong> Educativa.<br />
Com o texto “Os Ciclos na Re<strong>de</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Ensino”, reiniciamos<br />
a interlocução sobre o tema tratado na <strong>EducAção</strong> nº 4, i<strong>de</strong>ntificando e<br />
contextualizando os diferentes mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> organização escolar existentes e<br />
propondo um olhar sobre o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> ciclos na Re<strong>de</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Ensino<br />
(ciclos com blocos <strong>de</strong> séries), na perspectiva <strong>de</strong> avançar rumo à concretização<br />
dos ciclos <strong>de</strong> formação.<br />
Destacamos, no texto “Gestão Democrática, Currículo e a<br />
Construção do Projeto Político Pedagógico”, a importância <strong>de</strong> tornar todos<br />
protagonistas das situações <strong>de</strong>cisivas e questionadoras dos processos<br />
instaurados nas Unida<strong>de</strong>s Educacionais. Preten<strong>de</strong>mos o diálogo que articule os<br />
diferentes papéis exercidos pelos autores/atores da Comunida<strong>de</strong> Educativa,<br />
possibilitando que todas as vozes sejam ouvidas e suas idéias consi<strong>de</strong>radas. A<br />
Gestão Democrática refere-se principalmente ao direito à aprendizagem <strong>de</strong><br />
todos e todas na perspectiva da emancipação social, da inclusão, do diálogo e<br />
da construção <strong>de</strong> novas marcas para a participação e para o protagonismo.<br />
4
No texto “Formação e Acompanhamento”, consi<strong>de</strong>ramos a<br />
concepção freiriana <strong>de</strong> Formação Permanente por acreditarmos na<br />
possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> todos e <strong>de</strong> todas, pela práxis, explicitarem as suas opções<br />
quanto aos saberes eruditos, saberes da experiência e saberes instituídos<br />
propondo a transformação da ação educativa.<br />
Acreditamos que as Unida<strong>de</strong>s Educacionais são pólos <strong>de</strong><br />
manifestação e produção cultural e histórica e que possibilitam a culminância<br />
do exercício da tarefa <strong>de</strong> construir algo que pertence a vários e que não é<br />
posse <strong>de</strong> um único sujeito. Nesse espaço, a formação preten<strong>de</strong> transformar as<br />
relações <strong>de</strong> exclusão e <strong>de</strong> alienação dos sujeitos, para que não permaneçam<br />
na condição <strong>de</strong> silenciados e <strong>de</strong> oprimidos.<br />
No texto, “O CEU, a Cida<strong>de</strong> e a <strong>Educação</strong>”, apontamos o Projeto<br />
CEU (Centro Educacional Unificado) como pólo <strong>de</strong> integração local <strong>de</strong><br />
diferentes <strong>Secretaria</strong>s, concretizando a perspectiva da intersetorialida<strong>de</strong> local e<br />
preten<strong>de</strong>ndo romper com as situações antagônicas vividas simultaneamente na<br />
cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo. Esse texto nos <strong>de</strong>safia a pensar na concretização da<br />
interação dos espaços <strong>de</strong> esporte, <strong>de</strong> lazer e <strong>de</strong> irradiação e produção cultural<br />
no sentido da construção curricular, potencializando, assim, os pensares e<br />
fazeres <strong>de</strong> todas as Unida<strong>de</strong>s Educacionais para que transformem todos os<br />
ambientes internos e externos em espaços pedagógicos. Concretiza, assim, o<br />
atendimento integral e integrado prescrito no corpo da legislação construída:<br />
Constituição Fe<strong>de</strong>ral, Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei <strong>de</strong> Diretrizes e<br />
Bases, Lei Orgânica da Assistência Social e Lei Orgânica do Município.<br />
Apresentamos também, neste documento, alguns <strong>de</strong>staques<br />
referentes à avaliação da trajetória da <strong>SME</strong>, nesta gestão, realizada em<br />
diferentes espaços <strong>de</strong> atuação e <strong>de</strong> reflexão <strong>de</strong> todos os seus integrantes,<br />
bem como propostas para 2004.<br />
Portanto, dando continuida<strong>de</strong> ao diálogo iniciado pelas revistas<br />
<strong>EducAção</strong> nos 1, 2, 3 e 4 e pelo Ca<strong>de</strong>rno Temático <strong>de</strong> Formação 1, propomos<br />
refletir sobre as marcas apontadas em direção à construção do currículo sóciocultural<br />
e histórico sob a perspectiva da diversida<strong>de</strong>.<br />
Marívia P. S. Torelli<br />
Diretora <strong>de</strong> Orientação Técnica<br />
5
CURRÍCULO NA PERSPECTIVA DA DIVERSIDADE<br />
“Não basta criar um novo conhecimento, é preciso que alguém se reconheça nele. De nada<br />
valerá inventar alternativas <strong>de</strong> realização pessoal e coletiva, se elas não são apropriáveis por<br />
aqueles a quem se <strong>de</strong>stinam”<br />
Milton Santos<br />
A ausência <strong>de</strong> uma preocupação efetiva com a escolarização das<br />
mulheres, negros, indígenas e brancos pobres é uma das marcas mais<br />
significativas das ações da metrópole portuguesa, no período colonial, séculos<br />
XV-XVIII, bem como do Estado Brasileiro a partir da sua constituição, ou seja,<br />
no Império ou na República, século XIX. Tal fato se altera apenas no começo<br />
do século XX, quando da expansão industrial e urbana, obe<strong>de</strong>cendo à lógica<br />
dos interesses do capital industrial que, naquele momento, necessitava <strong>de</strong><br />
mão-<strong>de</strong>-obra minimamente qualificada para o trabalho.<br />
As primeiras preocupações com o currículo, no Brasil, datam dos anos 20. Des<strong>de</strong> então,<br />
até a década <strong>de</strong> 1980, o campo foi marcado pela transferência instrumental <strong>de</strong> teorizações<br />
americanas.<br />
(Lopes e Macedo,<br />
2002:13)<br />
A presença <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> contingente <strong>de</strong> pessoas estudando em<br />
escolas públicas, incluindo as creches, é um fenômeno ainda muito recente<br />
entre nós, datando dos anos 60 e 70, um ato <strong>de</strong> preparação das classes<br />
populares como mão-<strong>de</strong>-obra qualificada e barata.<br />
Simultaneamente, o conceito <strong>de</strong> currículo passa a ser objeto <strong>de</strong><br />
discussões entre os pesquisadores da educação brasileira. Apenas em 1980,<br />
uma instituição <strong>de</strong>svinculada do governo e ligada às questões da educação, a<br />
Associação Nacional <strong>de</strong> Pesquisa em <strong>Educação</strong> (ANPED), criou um grupo <strong>de</strong><br />
trabalho sobre currículo. Foi realizado o primeiro Seminário <strong>de</strong> Tendências e<br />
Priorida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Currículo na Realida<strong>de</strong> Brasileira em 1984, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São<br />
Paulo, ligado ao programa <strong>de</strong> pós-graduação em currículo e supervisão da<br />
PUC-SP.<br />
Essa cronologia nos ajuda a enten<strong>de</strong>r a relativa novida<strong>de</strong> das<br />
discussões curriculares no Brasil e aponta a gran<strong>de</strong> contribuição daqueles<br />
preocupados em problematizar os arranjos hegemônicos da socieda<strong>de</strong><br />
capitalista, colocando o <strong>de</strong>do numa lógica que sempre respon<strong>de</strong>u aos<br />
interesses das elites <strong>de</strong>ste país.<br />
Pensar educação hoje, do ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong>mocrático, é pensá-la na<br />
perspectiva <strong>de</strong> construir uma socieda<strong>de</strong> capaz <strong>de</strong> assegurar direitos sociais,<br />
políticos, econômicos e culturais a todos os brasileiros e brasileiras. É garantir<br />
que as diferenças <strong>de</strong> classe, raça/étnicas, etárias, <strong>de</strong> gênero e sexualida<strong>de</strong> não<br />
6
signifiquem processos <strong>de</strong> legitimação <strong>de</strong> hierarquias sociais e exclusão. A<br />
educação <strong>de</strong>ve, necessariamente, estar voltada para a humanização.<br />
É nesse contexto que se inserem as reflexões e provocações que<br />
faremos sobre currículo. Conceituamos currículo como construção sóciocultural<br />
e histórica. Aqui, não estamos falando <strong>de</strong> currículo como gra<strong>de</strong><br />
curricular ou rol <strong>de</strong> disciplinas. Sobre o que estamos falando então?<br />
Refletir sobre currículo no Brasil nos remete à origem etimológica da<br />
palavra currículo que, no latim curriculum, significa pista <strong>de</strong> corrida. Esta pista<br />
<strong>de</strong> corrida, que corta e recorta o Brasil em todas as direções, nos revela como<br />
tem sido construída a (in)visibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atores e autores sociais como negros,<br />
indígenas, mulheres, crianças, adolescentes, idosos e dos trabalhadores com<br />
seus marcadores i<strong>de</strong>ntitários plurais (gênero, sexualida<strong>de</strong>, religiosida<strong>de</strong>,<br />
classe, raça/etnias, região e pessoas com <strong>de</strong>ficiência sensorial, física, mental<br />
e distúrbios globais do <strong>de</strong>senvolvimento) .<br />
É como se olhássemos uma tela <strong>de</strong> pintura on<strong>de</strong> diversas pessoas<br />
estivessem presentes, mas poucos conseguissem enxergá-las. As diversas<br />
formas <strong>de</strong> registro não enfatizam a presença <strong>de</strong>ssas pessoas nessa pista on<strong>de</strong><br />
nos formamos.<br />
O silêncio e o silenciamento constituem uma forte marca sobre a<br />
presença <strong>de</strong>sses sujeitos. Mas não os vimos, não encontramos registros que<br />
dão conta <strong>de</strong>sse percurso. É como se não tivessem maior importância na<br />
constituição <strong>de</strong> nossa formação histórica. A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> assegurar visibilida<strong>de</strong><br />
aos silenciados na construção curricular, está articulada a um movimento mais geral <strong>de</strong><br />
mudanças na socieda<strong>de</strong>.<br />
O Movimento <strong>de</strong> Alfabetização <strong>de</strong> Jovens e Adultos do Município <strong>de</strong> São Paulo – MOVA-SP é um verda<strong>de</strong>iro<br />
exercício <strong>de</strong> cidadania, em parceria com os movimentos populares.<br />
Neste sentido, os saberes acumulados com a participação da<br />
socieda<strong>de</strong> (trabalhadores, li<strong>de</strong>ranças comunitárias, movimentos populares e<br />
sociais, ONG - organizações não-governamentais, grupos religiosos e partidos<br />
políticos) inserem-se na Unida<strong>de</strong> Educacional a partir <strong>de</strong>: crianças,<br />
adolescentes, jovens, adultos e idosos, que interagem construindo uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
relações com o território.<br />
Inserimos os objetivos do Projeto Vida, Recreio nas Férias e<br />
Programas Especiais da <strong>Secretaria</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> <strong>Educação</strong> no bojo <strong>de</strong>sta<br />
discussão, assim como outros projetos e programas que constituem,<br />
efetivamente, currículo. Na maioria das vezes a Unida<strong>de</strong> Educacional<br />
consi<strong>de</strong>ra isso à parte, um hiato na vida <strong>de</strong> educandos e educandas que não<br />
influencia no seu ser e estar na Unida<strong>de</strong>.<br />
7
As ações do Projeto Escola Aberta ou do Recreio nas Férias, do<br />
Educom.rádio colocam em foco atores e autores da Comunida<strong>de</strong> Educativa<br />
que participam da construção curricular, explicitam princípios da diversida<strong>de</strong><br />
cultural, praticam a gestão <strong>de</strong>mocrática, mobilizam as relações da escola com<br />
a região, fortalecem vínculos, mas são <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rados como currículo pela Unida<strong>de</strong><br />
Educacional.<br />
Os Centros Educacionais Unificados (CEU), sem dúvida, se inserem<br />
nesta perspectiva <strong>de</strong> currículo, pois “a arquitetura do CEU, ao integrar<br />
diferentes ativida<strong>de</strong>s, forma um ambiente propício para o letramento, não só <strong>de</strong><br />
crianças, mas também <strong>de</strong> jovens e adultos; permite novas relações (formas <strong>de</strong><br />
convivência) e, conseqüentemente, novas formas <strong>de</strong> aprendizagem”. (gestores<br />
do CEU - Formação <strong>de</strong> Formadores, 13/8/2003).<br />
A concepção do Projeto CEU potencializa a constituição da Re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Proteção Social, fundamental para consolidação da Cida<strong>de</strong> Educadora, cujo<br />
Projeto Político-Pedagógico do CEU, necessariamente, efetiva a relação com<br />
a cultura local, com práticas <strong>de</strong> letramento existentes, com expectativas <strong>de</strong><br />
acesso e inserção da comunida<strong>de</strong>. Deve ser planejado no coletivo, com<br />
contribuições dos grupos organizados da região, articulando com a<br />
Coor<strong>de</strong>nadoria <strong>de</strong> <strong>Educação</strong>, com as Unida<strong>de</strong>s Educacionais próximas e com<br />
as diferentes iniciativas educacionais.<br />
Esse processo <strong>de</strong> participação coletiva, constitui o CEU como pólo na<br />
interlocução com todas as Unida<strong>de</strong>s Educacionais do entorno, como locus <strong>de</strong><br />
participação <strong>de</strong> todos e todas nas práticas educacionais problematizadoras e<br />
propositivas. Processo que se esten<strong>de</strong> a todas as Unida<strong>de</strong>s Educacionais da<br />
Re<strong>de</strong>.<br />
Esse quadro evi<strong>de</strong>ncia o currículo que está presente nos diversos<br />
tempos e espaços escolares como a convivência entre as pessoas, o intervalo,<br />
os pátios, as refeições, a sala dos professores e professoras, os parques, as<br />
quadras, o portão, a piscina, as <strong>de</strong>mais salas da Unida<strong>de</strong> Educacional, além da<br />
manifestação e produção <strong>de</strong> saberes. Currículo como instrumento privilegiado<br />
<strong>de</strong> construção <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s - que não se constroem senão na relação com os<br />
outros (crianças e crianças, adultos e crianças, adultos e adultos) - e<br />
subjetivida<strong>de</strong>s, num contexto sócio-cultural, político e histórico.Manifesta-se na<br />
relação entre sujeitos, permeada pelo exercício do po<strong>de</strong>r.<br />
Historicamente, a critica às relações verticalizadas, muitas vezes, foi<br />
respondida com exílio, exposição pública, objetivando fragilizar o ato <strong>de</strong><br />
divergir. Para que falas dominantes e vozes silenciadas sejam efetivamente<br />
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superadas como um <strong>de</strong>safio que mobiliza todos os atores e autores presentes<br />
nos fazeres da escola, é necessário “... um sensível olhar pensante”<br />
(Martins,1992), assim como ouvidos atentos.<br />
Como respon<strong>de</strong>mos às críticas em nosso fazer pedagógico?<br />
Partindo do pressuposto que currículo não está <strong>de</strong>svinculado da<br />
gestão, como está a Gestão na nossa escola? Como exercemos o po<strong>de</strong>r?<br />
Nessa visão <strong>de</strong> currículo, todos e todas são educadores e educadoras,<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do espaço que ocupem na Unida<strong>de</strong> Educacional. Então,<br />
na nossa perspectiva, currículo é a totalida<strong>de</strong> das relações que se estabelecem<br />
nesses espaços. A centralida<strong>de</strong> está nos sujeitos e nos processos vividos, em<br />
que se compreen<strong>de</strong>m, reconhecem, consi<strong>de</strong>ram e incorporam as diferenças<br />
como i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> dos sujeitos, na perspectiva histórica da transformação social.<br />
Tem a ver fundamentalmente com o nosso fazer pedagógico, com nossas<br />
práticas.<br />
Então, é necessário perguntar: como estão nossas práticas? Como<br />
a diversida<strong>de</strong> está presente no Projeto Político-Pedagógico da <strong>Secretaria</strong><br />
<strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> <strong>Educação</strong> - órgão central, Coor<strong>de</strong>nadorias e Unida<strong>de</strong>s<br />
Educacionais?<br />
Nos diferentes espaços educativos, por exemplo: Como educadores e<br />
educadoras consi<strong>de</strong>ram a diversida<strong>de</strong>? Essa diversida<strong>de</strong> é tematizada?<br />
Pensa-se em construir materiais pedagógicos que contemplem a<br />
diversida<strong>de</strong> presente na socieda<strong>de</strong> brasileira? Consi<strong>de</strong>ram que a<br />
exclusão e a invisibilida<strong>de</strong> influenciam no processo <strong>de</strong> ensino e<br />
aprendizagem?<br />
O processo <strong>de</strong> discussão curricular vivido pela <strong>Secretaria</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>Educação</strong>, tendo como uma <strong>de</strong> suas produções o Ca<strong>de</strong>rno Temático <strong>de</strong><br />
Formação 1, problematiza a prática dos educadores, educadoras, educandos e<br />
educandas no que diz respeito à diversida<strong>de</strong>.<br />
Um exemplo é a prática do racismo, da discriminação racial e do<br />
preconceito explícito ou velado que provocam a expulsão <strong>de</strong> educandos e<br />
educandas <strong>de</strong> nossas Unida<strong>de</strong>s Educacionais.<br />
Po<strong>de</strong>ríamos também falar <strong>de</strong> diferentes integrantes da Comunida<strong>de</strong><br />
Educativa (professores, auxiliares <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento infantil, diretores,<br />
coor<strong>de</strong>nadores pedagógicos, agentes escolares, vigias, família e comunida<strong>de</strong>)<br />
que contribuem para a expulsão da Unida<strong>de</strong> Educacional <strong>de</strong> educandos ou <strong>de</strong><br />
educandas em função <strong>de</strong> sua orientação sexual (heterossexual, homossexual<br />
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ou bissexual) ou <strong>de</strong> gestos corporais, vividos por esses, que não condizem com<br />
o padrão imposto pela socieda<strong>de</strong> para menino ou menina.<br />
Para além da <strong>de</strong>núncia com base na legislação anti-discriminatória nós,<br />
educadores e educadoras, temos que nos perguntar: como resolver esses<br />
casos numa perspectiva pedagógica?<br />
Existem, ainda, os que categorizam os educandos e as educandas pelo<br />
seu modo <strong>de</strong> vestir, não consi<strong>de</strong>rando calças largas, bonés, miniblusas e tênis<br />
como manifestações culturais e i<strong>de</strong>ntitárias próprias <strong>de</strong> uma geração,<br />
encaixando-os em critérios <strong>de</strong> marginalida<strong>de</strong> ou promiscuida<strong>de</strong>.<br />
Sob a perspectiva da diversida<strong>de</strong>, é fundamental pensarmos naquela<br />
criança, adolescente, jovem, adulto ou idoso com <strong>de</strong>ficiências físicas,<br />
sensoriais ou com distúrbios globais <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, invisíveis nas últimas<br />
carteiras da sala <strong>de</strong> aula ou nos cantos da Unida<strong>de</strong> Educacional,<br />
<strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rados ou <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>radas no processo <strong>de</strong> ensino e <strong>de</strong><br />
aprendizagem quer pelo preconceito <strong>de</strong> percebê-los incapazes, quer pelo fato<br />
<strong>de</strong> não sabermos o que fazer com eles e elas.<br />
A visão <strong>de</strong> currículo, na perspectiva da inclusão, consi<strong>de</strong>ra as crianças<br />
e os adolescentes cumprindo medidas sócio-educativas. Eles, muitas vezes,<br />
têm visibilida<strong>de</strong> extrema nas Unida<strong>de</strong>s Educacionais, mas são colocados à<br />
margem quando pensamos uma Unida<strong>de</strong> Educacional para todos e todas.<br />
Po<strong>de</strong>ríamos também falar no caso <strong>de</strong> nossos educandos e educandas,<br />
família, ou mesmo, educadores e educadoras nor<strong>de</strong>stinos ou <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes<br />
que escon<strong>de</strong>m sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> para não serem submetidos a situações<br />
vexatórias e humilhantes nas nossas Unida<strong>de</strong>s Educacionais, vítimas <strong>de</strong><br />
preconceitos quanto à sua região <strong>de</strong> origem.<br />
Para além das situações apresentadas, a concepção <strong>de</strong> currículo como<br />
construção sócio-cultural e histórica problematiza essas situações <strong>de</strong> exclusão<br />
e invisibilida<strong>de</strong> vivenciadas na relação entre educadores e educadoras, entre<br />
educandos e educandas.<br />
Essas situações e tantas outras apresentam o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> reconhecêlas<br />
em todas as modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensino e espaços das Unida<strong>de</strong>s Educacionais:<br />
salas <strong>de</strong> aula, <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação, <strong>de</strong> direção, <strong>de</strong> informática e <strong>de</strong> leitura,<br />
secretaria, parques, berçário, ambientes <strong>de</strong> recreio e <strong>de</strong> jogos <strong>de</strong> faz <strong>de</strong> conta,<br />
enfim, em todos os espaços relacionais.<br />
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Pensando essas situações, po<strong>de</strong>ríamos perguntar: a prática<br />
pedagógica tem sido transformada nas Unida<strong>de</strong>s Educacionais na visão<br />
<strong>de</strong> educação inclusiva proposta na revista <strong>EducAção</strong> 4?<br />
A formação inicial e permanente que propomos tem sido orientada para<br />
o diálogo com o tema da diversida<strong>de</strong>. Pensamos que a formação do educador<br />
exerce influência direta na sua visão sobre os sujeitos (negros, indígenas,<br />
mulheres, homossexuais, pessoas com necessida<strong>de</strong>s especiais e os vários<br />
agrupamentos urbanos).<br />
Educadores e educadoras, <strong>de</strong> várias regiões do Brasil, estão repensando o seu fazer<br />
pedagógico, propondo e <strong>de</strong>senvolvendo experiências <strong>de</strong> promoção da igualda<strong>de</strong> no ambiente<br />
escolar.<br />
Essas experiências têm se constituído como referencial no processo <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> formadores, na<br />
construção <strong>de</strong> materiais pedagógicos, nas discussões <strong>de</strong> currículo e na construção do Projeto Político<br />
Pedagógico nas Unida<strong>de</strong>s Educacionais.<br />
Se a formação inicial que os educadores trazem não dá conta <strong>de</strong> uma<br />
visão positiva sobre o africano ou a população negra brasileira, as<br />
comunida<strong>de</strong>s indígenas, os migrantes, a mulher, as diferentes orientações<br />
sexuais, a invisibilida<strong>de</strong> da pessoa com <strong>de</strong>ficiência sensorial, física, mental e<br />
distúrbios globais do <strong>de</strong>senvolvimento, consi<strong>de</strong>ramos <strong>de</strong> fundamental<br />
importância que os momentos <strong>de</strong> formação permanente sejam pautados por<br />
essa discussão, no sentido <strong>de</strong> educar o olhar <strong>de</strong> nossos educadores e<br />
educadoras para a diversida<strong>de</strong> presente na socieda<strong>de</strong> brasileira, contribuindo<br />
para a melhoria dos processos <strong>de</strong> ensino e <strong>de</strong> aprendizagem, bem como das<br />
relações sociais.<br />
Uma iniciativa da <strong>Secretaria</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> <strong>Educação</strong> para fortalecer a<br />
tradição e a cultura guarani é o Projeto CECI – Centro <strong>de</strong> <strong>Educação</strong> e Cultura<br />
Indígena, que aten<strong>de</strong>rá crianças e adolescentes indígenas em cada uma das<br />
três al<strong>de</strong>ias guaranis existentes na Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo: Al<strong>de</strong>ia Krucutu e<br />
Al<strong>de</strong>ia Tenondé Porã em Parelheiros e a Al<strong>de</strong>ia Jaraguá Ytu no Jaraguá.<br />
O CECI será uma extensão das comunida<strong>de</strong>s indígenas, tendo como proposta fundamental: o fortalecimento<br />
do modo <strong>de</strong> ser e <strong>de</strong> vida Guarani (nhan<strong>de</strong>reko); a reafirmação da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> indígena Guarani; a valorização<br />
do saber e do conhecimento dos mais velhos (xe ramói); a recuperação <strong>de</strong> suas histórias, lendas, memórias<br />
dos Guaranis; o fortalecimento das formas <strong>de</strong> transmissão da cultura oral; o resgate da educação Guarani,<br />
através <strong>de</strong> currículo próprio, especificamente indígena; a valorização da língua materna, como forma <strong>de</strong><br />
preservação da realida<strong>de</strong> sociolingüística do povo Guarani e a divulgação da realida<strong>de</strong> e da cultura Guarani<br />
para os não índios (juruás).<br />
Educar o olhar na visão <strong>de</strong> currículo que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>mos significa dialogar<br />
com a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cultural do educador e da educadora, do educando e da<br />
educanda, com a concepção <strong>de</strong> ensinar e <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, com a <strong>de</strong>mocratização<br />
das relações e, sobretudo, dialogar com a mentalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> exclusão e<br />
invisibilida<strong>de</strong> que perpassa a socieda<strong>de</strong>.<br />
Educar a escuta na nossa visão <strong>de</strong> currículo, significa incorporar a<br />
necessida<strong>de</strong> visceral da leitura e do exercício cotidiano <strong>de</strong> elaborar análise <strong>de</strong><br />
11
conjuntura. É fundamental compreen<strong>de</strong>r as bases da formação do povo<br />
brasileiro e se opor, explicitamente, a qualquer forma <strong>de</strong> discriminação, no<br />
contexto nacional e internacional.<br />
As escolas ora recusam as perguntas, ora burocratizam o ato <strong>de</strong> perguntar. A questão não está simplesmente<br />
em introduzir no currículo o momento das perguntas ... A questão nossa não é burocratização das perguntas,<br />
mas reconhecer a existência como um ato <strong>de</strong> perguntar! ... Radicalmente, a existência humana implica<br />
assombro, pergunta e risco. E, por tudo isso, implica ação, transformação. (Freire, 1988:51).<br />
Pensamos que tudo isso é possível a partir <strong>de</strong> uma metodologia com<br />
base na dialogicida<strong>de</strong> a partir <strong>de</strong>:<br />
a) A investigação, como primeiro momento, envolve o levantamento preliminar<br />
com base em dados qualitativos e quantitativos coletados na Unida<strong>de</strong> Educacional e na<br />
realida<strong>de</strong> local. Trata-se também <strong>de</strong> recolher informações divulgadas na socieda<strong>de</strong> (livros,<br />
institutos <strong>de</strong> pesquisa, produção acadêmica) e colocá-las a serviço da implementação da<br />
política educacional, do ponto <strong>de</strong> vista da diversida<strong>de</strong>.<br />
b) A problematização, ao utilizar a pesquisa participante como<br />
elemento fundamental, objetiva caracterizar a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> relações que perpassa a<br />
Comunida<strong>de</strong> Educativa, <strong>de</strong>svelando a intencionalida<strong>de</strong> dos sujeitos históricos e<br />
<strong>de</strong> suas ações. O cerne da questão é perceber os limites explicativos da<br />
Comunida<strong>de</strong> Educativa, suas contradições e a tomada <strong>de</strong> consciência das<br />
diferenças na forma <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r e atuar na realida<strong>de</strong>. Essa<br />
problematização visa a análise das práticas em busca das soluções e<br />
superações <strong>de</strong> situações <strong>de</strong>spercebidas ou percebidas parcialmente e não<br />
analisadas.<br />
c) A sistematização é estabelecida a partir do diálogo entre<br />
educadores, educandos e a produção teórica, criando uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> relações,<br />
ultrapassando o que aparece como “senso comum”, possibilitando análise e<br />
produção <strong>de</strong> sínteses <strong>de</strong> situações vivenciadas individualmente ou<br />
coletivamente. Essa ação provocará, sem dúvida, um diálogo com o currículo<br />
estabelecido, reavaliando-o na perspectiva da construção da Qualida<strong>de</strong> Social<br />
da <strong>Educação</strong> e da escolha <strong>de</strong> conteúdos significativos das diferentes áreas <strong>de</strong><br />
conhecimento que contribuam para a emancipação dos sujeitos envolvidos no<br />
processo.<br />
d) Apreensão crítica é a escolha do ponto <strong>de</strong> partida para a construção<br />
da prática pedagógica. Significa dar consistência à prática, conceber todos<br />
como sujeitos históricos em emancipação, referência fundamental para a<br />
compreensão das práticas. Compreen<strong>de</strong>r a realida<strong>de</strong> vivenciada como re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
relações e elaborar um plano <strong>de</strong> ação que articule as “práticas pedagógicas<br />
transformadoras da realida<strong>de</strong> concreta”. (Gouvêa, 2003).<br />
12
e) A avaliação, a partir dos registros e subsídios da prática (vivências<br />
cotidianas), da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> forjada, das sínteses produzidas provisoriamente,<br />
das pesquisas, dos livros, da produção acadêmica, tendo como foco os<br />
espaços educativos e o trabalho com os educandos e educandas. Ela é um<br />
diálogo entre os atores e autores do processo educacional.<br />
A educação é base para a transformação da dinâmica <strong>de</strong> uma<br />
socieda<strong>de</strong>, em que as oportunida<strong>de</strong>s reais <strong>de</strong> inserção no mercado <strong>de</strong> trabalho<br />
e a manifestação e produção cultural são <strong>de</strong>terminadas, em parte, pelo grau <strong>de</strong><br />
instrução. O fato <strong>de</strong> sermos her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> uma educação <strong>de</strong> matizes culturais<br />
europeus faz com que questões relativas à diversida<strong>de</strong> sejam <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>radas<br />
e suas especificida<strong>de</strong>s abortadas. Raramente concepções <strong>de</strong> mundo<br />
relacionadas à territorialida<strong>de</strong> dos educandos e educandas estão presentes no<br />
currículo.<br />
“O papel do lugar é <strong>de</strong>terminante. Ele não é apenas um quadro <strong>de</strong> vida, mas um espaço vivido,<br />
isto é, <strong>de</strong> experiência sempre renovada, o que permite, ao mesmo tempo, a reavaliação das<br />
heranças e a indagação sobre o presente e o futuro. A existência naquele espaço exerce um<br />
papel revelador sobre o mundo.” (Santos, 2000:114)<br />
Como os espaços micro e macro dialogam na construção do<br />
currículo?<br />
Viabilizar a proposta <strong>de</strong> currículo tem a ver, fundamentalmente, com<br />
o reconhecimento dos sujeitos e sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e a potencialização do ler e<br />
escrever como <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> todos, a construção da cultura da infância, do<br />
adolescente, do jovem, do adulto e do idoso. Inserir questões relativas à<br />
diversida<strong>de</strong> no Projeto Político-Pedagógico das Unida<strong>de</strong>s Educacionais e<br />
propor a participação <strong>de</strong>sses sujeitos na vida política e social da região e da<br />
cida<strong>de</strong> significa melhorar as condições básicas <strong>de</strong> vida, bem como <strong>de</strong> ensino e<br />
<strong>de</strong> aprendizagem. Neste sentido, o papel dos educadores é prepon<strong>de</strong>rante,<br />
sobretudo na construção da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> da Comunida<strong>de</strong> Educativa.<br />
A Unida<strong>de</strong> Educacional é local <strong>de</strong> exposição <strong>de</strong> idéias, diálogo <strong>de</strong><br />
saberes, <strong>de</strong>bates, reflexões e não espaço <strong>de</strong> omissão e negação das<br />
contradições existentes nas relações educacionais, sociais e étnicas. Ela não<br />
po<strong>de</strong> negar as diferenças e <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s e, muito menos, <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> pon<strong>de</strong>rar<br />
sobre os fatores históricos, sociais, políticos e econômicos como <strong>de</strong>terminantes<br />
da situação <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> parcela significativa da população brasileira.<br />
- Como estão as práticas educativas na nossa Unida<strong>de</strong><br />
Educacional? Como a diversida<strong>de</strong> está presente no Projeto Político-<br />
Pedagógico?<br />
13
- Que espaços vocês educandos e educandas consi<strong>de</strong>ram<br />
importantes para sua participação na Unida<strong>de</strong> Educacional?<br />
- Que espaço a <strong>Secretaria</strong> da Escola ocupa no currículo da<br />
Unida<strong>de</strong> Educacional?<br />
- Como são construídas alternativas <strong>de</strong> formação dos educadores,<br />
consi<strong>de</strong>rando todos os segmentos da Unida<strong>de</strong> Educacional?<br />
- Como vocês educadores ou educadoras pensam o currículo? O<br />
que está sendo construído nos espaços educativos do ponto <strong>de</strong> vista do<br />
currículo?<br />
- Como os Auxiliares Técnicos Educacionais I, Vigias, Agentes<br />
Escolares e Auxiliares <strong>de</strong> Direção compreen<strong>de</strong>m sua função como ação<br />
educativa?<br />
- Como vocês, educandas e educandos e as famílias, participam<br />
da discussão e <strong>de</strong>finição do currículo?<br />
Essas e outras questões apontam para que pensemos currículo sob a<br />
perspectiva da diversida<strong>de</strong> e exige <strong>de</strong> nós uma reflexão sobre a organização<br />
da Unida<strong>de</strong> Educacional em ciclos.<br />
Referências:<br />
CARDOSO, SANTANA, BARROS e MOREIRA. Os livros tradicionais <strong>de</strong><br />
currículo. In: Ca<strong>de</strong>rnos CEDES 13. 1984. p. 3-25.<br />
FREIRE, P. e FAUNDEZ, A. Por uma pedagogia da pergunta. Rio <strong>de</strong> Janeiro :<br />
Paz e Terra, 1985.<br />
FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. Rio <strong>de</strong> Janeiro : Paz e Terra, 1984.<br />
LOPES, A. C. e MACEDO, E. Currículo: <strong>de</strong>bate contemporâneo. São Paulo :<br />
Cortez, 2002.<br />
MARTINS, M. C. Aprendiz da arte: do sensível olhar pensante. São Paulo :<br />
Espaço Pedagógico, 1992.<br />
MOREIRA, A.F.B. Currículos e Programas no Brasil. Campinas: Papirus, 1990.<br />
______________. Currículo: Questões atuais. Campinas : Papirus, 1997.<br />
14
______________. Currículo: Políticas e Práticas. Campinas. Papirus, 1999.<br />
PORTINARI, C. Escravos. 1943. http://<br />
www.portinariorg.br/IMGS/ipgobras/Oam_4941.jpg. Acesso em 24/12/2003.<br />
SANTOS, M. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência<br />
universal. Rio <strong>de</strong> Janeiro : Record, 2000.<br />
SILVA, A.G. Reorientação Curricular na perspectiva crítica e da <strong>Educação</strong><br />
Popular. São Paulo : 2003.<br />
<strong>Secretaria</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> <strong>Educação</strong> <strong>de</strong> São Paulo. Revistas <strong>EducAção</strong> 1, 2, 3 e<br />
4. São Paulo : <strong>SME</strong>/SP, 2001-2003.<br />
<strong>Secretaria</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> <strong>Educação</strong> <strong>de</strong> São Paulo. Ca<strong>de</strong>rno Temático 1 “Leitura<br />
<strong>de</strong> Mundo, letramento e alfabetização: diversida<strong>de</strong> cultural, gênero,<br />
sexualida<strong>de</strong> e etnia. São Paulo : <strong>SME</strong>/SP, 2003.<br />
15
OS CICLOS NA REDE MUNICIPAL DE ENSINO<br />
“Os tempos e espaços escolares <strong>de</strong>vem ser reorganizados, liberando as unida<strong>de</strong>s<br />
escolares da ‘prisão’ a que se sentem submetidas por força das ‘gra<strong>de</strong>s horárias e<br />
curriculares’ e permitindo a flexibilização na apresentação dos conteúdos<br />
programáticos.” Programa para área da educação - Governo Lula<br />
A forma <strong>de</strong> organização do Ensino Fundamental em ciclos tem sido<br />
tema <strong>de</strong> <strong>de</strong>bates, tanto no âmbito dos grupos que elaboram políticas públicas<br />
<strong>de</strong> educação quanto nos grupos <strong>de</strong> professores e equipes técnicas das escolas<br />
que trabalham com crianças, adolescentes, jovens e adultos. Essa discussão<br />
chega também aos grupos <strong>de</strong> pais e mães <strong>de</strong> alunos que, ao ouvir críticas ao<br />
mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> organização do ensino em ciclos, trazem questões para as escolas<br />
que ainda permanecem sem resposta. Dessa forma, a organização da escola<br />
em ciclos é um dos eixos do programa <strong>de</strong> formação assumido por nós e<br />
<strong>de</strong>scrito na revista <strong>EducAção</strong> nº 4.<br />
Atualmente, no Brasil, são três os mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> organização escolar<br />
mais freqüentes: a escola estruturada em séries, em ciclos (bloco <strong>de</strong> séries) ou<br />
progressão continuada e a estruturada em ciclos <strong>de</strong> formação. Nossas escolas<br />
<strong>de</strong> Ensino Fundamental estão organizadas em ciclos (blocos <strong>de</strong> séries) e aqui<br />
estamos propondo iniciar o caminho rumo aos ciclos <strong>de</strong> formação.<br />
Os ciclos <strong>de</strong> formação requerem esforços no sentido <strong>de</strong> uma efetivação<br />
do currículo sócio-cultural e histórico, dos tempos e dos espaços <strong>de</strong><br />
escolarização (liberando-os das “gra<strong>de</strong>s” a que se encontram tradicionalmente<br />
submetidos), consi<strong>de</strong>rando os educandos e educandas reais <strong>de</strong> nossas<br />
Unida<strong>de</strong>s Educacionais, tanto sob o ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> seus processos <strong>de</strong><br />
aprendizagem, como dos diferentes tempos <strong>de</strong> vida (infância, adolescência,<br />
juventu<strong>de</strong> e mundo adulto) e <strong>de</strong> suas culturas <strong>de</strong> origem.<br />
A estrutura escolar seriada<br />
A escola organizada em séries reflete a mesma lógica <strong>de</strong> uma linha <strong>de</strong><br />
montagem industrial: a organização taylorista/fordista do trabalho. O Ensino<br />
Fundamental, no final do século XIX, <strong>de</strong>veria encarregar-se <strong>de</strong> formatar os<br />
trabalhadores ou “homens-boi”, segundo Taylor, tornando-os disciplinados,<br />
dóceis e <strong>de</strong> fácil adaptação.<br />
16
Em <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong>ssa lógica, o currículo foi tratado <strong>de</strong> forma<br />
estritamente técnica: as disciplinas consi<strong>de</strong>radas essenciais para o mundo do<br />
trabalho mo<strong>de</strong>rno foram divididas ao longo da semana, cabendo a cada uma<br />
<strong>de</strong>las a duração <strong>de</strong> um tempo que permitisse ter mais do que uma matéria a<br />
cada dia. A divisão do ensino em séries foi planejada para que as provas finais<br />
antece<strong>de</strong>ssem o período <strong>de</strong> contratação <strong>de</strong> novos operários. Com tais<br />
objetivos, os tempos estabelecidos para a escolarização foram tratados <strong>de</strong><br />
forma absolutamente alheia às necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> formação humana e cidadã.<br />
Do professor exigia-se que fosse um mero técnico em reproduzir<br />
conteúdos pré-estabelecidos. Os professores passaram a ser objetos <strong>de</strong><br />
controle externo: enquanto os livros didáticos <strong>de</strong>finiam a quantida<strong>de</strong> e o ritmo<br />
<strong>de</strong> conteúdos a serem repassados, o trabalho <strong>de</strong>senvolvido passou a ser<br />
controlado por meio dos diários <strong>de</strong> classe e o rendimento <strong>de</strong> sua produção<br />
(quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alunos preparados para ingressar no mercado <strong>de</strong> trabalho, a<br />
cada ano) controlado por inspetores. Portanto, não cabia ao professor produzir<br />
e planejar os conteúdos e procedimentos <strong>de</strong> aprendizagem, o que resultava (e<br />
resulta) na fragmentação dos conhecimentos escolares: produto típico da<br />
escola organizada em séries.<br />
Cerca <strong>de</strong> 80% das escolas brasileiras são organizadas em séries e 20% em ciclos e em ciclos<br />
<strong>de</strong> formação. Esses dados <strong>de</strong>monstram a falácia <strong>de</strong> se atrelar aos ciclos e ciclos <strong>de</strong> formação a<br />
presença <strong>de</strong> alunos e alunas com dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> leitura e escrita ao final do Ensino<br />
Fundamental.<br />
Em síntese, sob tal estrutura, o currículo foi (e é) entendido como<br />
listagens <strong>de</strong> conteúdos a serem transmitidos aos alunos. Ensinar foi (e é)<br />
sinônimo <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong> informações seqüenciadas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as mais simples<br />
até as mais complexas. Avaliar foi (e é), pois, selecionar os que apren<strong>de</strong>ram, o<br />
que foi transmitido pelo professor. Quem consegue provar que apren<strong>de</strong>u<br />
continua a seqüência <strong>de</strong> conteúdos estabelecidos para a próxima série. Caso<br />
contrário, repete <strong>de</strong> ano, sendo abandonado <strong>de</strong>ntro ou fora da Unida<strong>de</strong><br />
Educacional, gerando um histórico <strong>de</strong> fracasso que vai muito além do escolar -<br />
repercute na história <strong>de</strong> vida pessoal e profissional <strong>de</strong>ssas pessoas. Po<strong>de</strong>mos<br />
dizer que a organização do ensino <strong>de</strong> forma seriada é exclu<strong>de</strong>nte, por<br />
natureza.<br />
A estrutura escolar<br />
por ciclos (blocos <strong>de</strong> séries)<br />
A partir da década <strong>de</strong> 90, com a educação em pauta nos círculos<br />
políticos mundiais, governos estaduais, municipais e até o fe<strong>de</strong>ral, <strong>de</strong> matizes<br />
17
i<strong>de</strong>ológicos diversos, questionaram a estrutura seriada propondo novos<br />
mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> organização do tempo escolar.<br />
Alguns sistemas educacionais flexibilizaram a rigi<strong>de</strong>z do sistema<br />
seriado organizando o Ensino Fundamental em ciclos que agrupam blocos <strong>de</strong><br />
séries, propondo compreen<strong>de</strong>r currículo para além <strong>de</strong> listagens <strong>de</strong> conteúdos.<br />
Na Re<strong>de</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Ensino, a implementação dos ciclos se<br />
concretizou a partir <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> ações da política educacional, à época,<br />
quais sejam: as discussões sobre avaliação como processual, contínua e<br />
como referencial ao processo <strong>de</strong> planejamento e replanejamento das<br />
ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensino marcadas pela concepção sócio-construtivista. O trabalho<br />
coletivo foi concebido tanto como forma <strong>de</strong> construção curricular, como <strong>de</strong><br />
formação profissional. O que levou à efetivação da jornada <strong>de</strong> trabalho dos<br />
professores contemplando momentos <strong>de</strong> trabalho coletivo nas Unida<strong>de</strong>s<br />
Educacionais, uma conquista significativa.<br />
A organização da escola em ciclos foi um avanço significativo na<br />
direção da construção da Qualida<strong>de</strong> Social da <strong>Educação</strong>, interferindo<br />
diretamente no campo conceitual e metodológico das áreas do conhecimento,<br />
consolidando o respeito aos diferentes tempos e espaços do ensinar e do<br />
apren<strong>de</strong>r.<br />
Assim, acreditamos que po<strong>de</strong>mos (re)iniciar nosso percurso em direção<br />
aos ciclos <strong>de</strong> formação, em que o centro da construção curricular são os<br />
educandos e educandas, consi<strong>de</strong>rando a concepção <strong>de</strong> territorialida<strong>de</strong> já<br />
expressa neste documento, não as áreas do conhecimento.<br />
A estrutura escolar<br />
por ciclos <strong>de</strong> formação<br />
Ao perguntarmos qual a origem do ciclo <strong>de</strong> formação, teremos uma<br />
série <strong>de</strong> respostas voltadas para administrações ou alguns educadores e<br />
educadoras i<strong>de</strong>ntificados como progressistas. Mas é importante lembrar que a<br />
proposta <strong>de</strong> organizar os tempos escolares em ciclos <strong>de</strong> formação surgiu na<br />
França, em 1936, com Jean Zay, e ganhou novo impulso, anos mais tar<strong>de</strong>,<br />
após a 2ª Guerra Mundial, na reforma francesa Langevin-Wallon.<br />
Na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, na gestão 89/92, <strong>de</strong>stacamos as reflexões e ações pioneiras<br />
realizadas no sentido <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r a organização da escola em ciclos <strong>de</strong> formação.A<br />
implantação <strong>de</strong> ciclos em 1992, da forma como estão <strong>de</strong>lineados no Regimento Comum das<br />
Escolas Municipais, veio consolidar as discussões sobre a integração gestão - currículo -<br />
18
interdisciplinarida<strong>de</strong>, realizadas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1989. Nos anos que se seguiram a essa gestão, a falta<br />
<strong>de</strong> implementação da organização político-pedagógica das escolas em ciclos, que possibilitaria<br />
reflexões permanentes sobre sua concretização, provocou o retorno e a permanência <strong>de</strong><br />
muitas escolas, explícita ou implicitamente, às estruturas seriadas ou em blocos <strong>de</strong> séries.<br />
A escola organizada em ciclos <strong>de</strong> formação rompeu com a estrutura<br />
seriada e seus princípios ao re<strong>de</strong>finir o tempo escolar a partir dos educandos e<br />
educandas: <strong>de</strong> seus <strong>de</strong>sejos, interesses e necessida<strong>de</strong>s, a partir das interações<br />
<strong>de</strong> cada tempo <strong>de</strong> vida, ou seja, infância, adolescência, juventu<strong>de</strong> e ida<strong>de</strong> adulta.<br />
Com Miguel Arroyo (1996) afirmamos que a Unida<strong>de</strong> Educacional, na<br />
perspectiva dos ciclos <strong>de</strong> formação, precisa ser compreendida como um tempo<br />
e espaço bastante especial, um palco em que as gerações se encontram, em<br />
que todos são, simultaneamente, educadores, educadoras e aprendizes. E<br />
mais, nos faz pensar que o cotidiano escolar, <strong>de</strong>ntro e fora das salas <strong>de</strong> aula, é<br />
ocasião permanente <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> currículo e <strong>de</strong> aprendizado, <strong>de</strong> como<br />
lidar com pessoas, como perceber e acompanhar seus processos complexos<br />
<strong>de</strong> formação, manifestação e produção <strong>de</strong> saberes.<br />
Esse aprendizado em serviço efetiva a formação dos educadores e<br />
educadoras como profissionais dinamizadores <strong>de</strong> uma política educacional<br />
inclusiva e <strong>de</strong> uma ética vivida no dia-a-dia. Desta forma,“(...) no fundo, o que<br />
está em questão é uma maior sintonia com a dinâmica <strong>de</strong> construção social,<br />
reconhecer a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sujeitos históricos. Superar uma visão <strong>de</strong>masiado<br />
verticalizada que termina por fazer <strong>de</strong> todos nós vítimas e não sujeitos da<br />
história. Nossa função não é apenas resistir a políticas verticais, mas construir<br />
políticas <strong>de</strong>mocráticas” (Arroyo: 1996).<br />
Assim, a concepção <strong>de</strong> ciclos <strong>de</strong> formação pressupõe o direito a uma<br />
formação permanente e, para tanto, é preciso uma organização mais flexível e<br />
coletiva em seus tempos e espaços, que consi<strong>de</strong>re a diversida<strong>de</strong> presente no<br />
seu interior e exterior, buscando uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> profissional <strong>de</strong> cooperação,<br />
participação e luta em <strong>de</strong>fesa dos direitos dos educandos e educandas,<br />
visando à apreensão da realida<strong>de</strong>, incentivando a pesquisa e a reflexão crítica.<br />
O pensamento <strong>de</strong> Wallon é referencial na construção dos ciclos <strong>de</strong><br />
formação. Para ele, essa organização ressignifica o processo <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r. Ela<br />
surge como a estrutura que possibilita a formação do ser humano, tanto como<br />
ser cultural e histórico, como ator e autor social.<br />
Os ciclos <strong>de</strong> formação, na perspectiva do currículo, passam a ser<br />
entendidos como um projeto <strong>de</strong> formação dos sujeitos. O processo <strong>de</strong><br />
aprendizagem não ocorre fora do contato com o ambiente sócio-cultural e<br />
19
histórico que fornece aos sujeitos, e com eles (re) elabora, conteúdos culturais<br />
(materiais ou simbólicos), interpretações, modos <strong>de</strong> agir, pensar, sentir, ser e<br />
intervir no mundo.<br />
É importante <strong>de</strong>stacar que a organização escolar em ciclos <strong>de</strong><br />
formação continua a encontrar no registro um instrumento privilegiado. O<br />
compartilhar entre educadores e educadoras registros contínuos do processo<br />
<strong>de</strong> ensino e <strong>de</strong> aprendizagem <strong>de</strong> seus educandos e educandas possibilita o<br />
levantamento <strong>de</strong> hipóteses a respeito do que tem garantido ou dificultado a<br />
relação dos educandos e educandas com o saber, com a manifestação e<br />
construção <strong>de</strong> conhecimento. A concepção <strong>de</strong> ciclos <strong>de</strong> formação reforça a<br />
idéia <strong>de</strong> que todos po<strong>de</strong>m ensinar e apren<strong>de</strong>r.<br />
Fazer valer os ciclos <strong>de</strong> formação:<br />
um <strong>de</strong>safio para a<br />
Re<strong>de</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Ensino<br />
O Ensino Fundamental, na Re<strong>de</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Ensino, está, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
1992, organizado em ciclos: inicialmente, três ciclos e, após 1998, inclusive na<br />
modalida<strong>de</strong> <strong>Educação</strong> <strong>de</strong> Jovens e Adultos, em dois ciclos, agrupando o<br />
equivalente a quatro séries em cada um.<br />
A implementação dos ciclos <strong>de</strong> formação exige mudança no olhar e na<br />
postura <strong>de</strong> todos e todas que atuam nas diferentes instâncias da Re<strong>de</strong><br />
<strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Ensino no sentido <strong>de</strong> subsidiar os educadores e educadoras para<br />
as transformações na direção da opção político pedagógica que assumimos.<br />
Exige uma transformação na organização dos tempos e dos espaços,<br />
envolvendo a Comunida<strong>de</strong> Educativa em busca <strong>de</strong> sentido e <strong>de</strong> saídas para os<br />
problemas enfrentados nessa construção. Exige a inclusão radical <strong>de</strong> todos e<br />
todas no processo <strong>de</strong> apropriação, manifestação e produção <strong>de</strong> saberes<br />
significativos, levando em conta as perspectivas <strong>de</strong> classe social, gênero,<br />
sexualida<strong>de</strong>, raça/etnia e regionalida<strong>de</strong>, entre outros.<br />
Mas, como nos aproximarmos <strong>de</strong>ssa lógica <strong>de</strong> organização<br />
escolar? Como planejar o cotidiano da Unida<strong>de</strong> Educacional sob a<br />
perspectiva <strong>de</strong> ciclos <strong>de</strong> formação, consi<strong>de</strong>rando os ambientes<br />
pedagógicos e <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> educadores e <strong>de</strong> educadoras? Quais<br />
práticas curriculares seriam, prioritariamente, revistas? Como envolver o<br />
Conselho <strong>de</strong> Escola nessa discussão?<br />
20
A mudança <strong>de</strong> olhar da Comunida<strong>de</strong> Educativa sobre ensinar e<br />
apren<strong>de</strong>r, na perspectiva freiriana, propõe também a mudança <strong>de</strong> olhar sobre a<br />
forma como esses processos se organizam. Fazer valer os ciclos <strong>de</strong> formação<br />
na Re<strong>de</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Ensino exige efetivarmos as mudanças no sentido <strong>de</strong><br />
garantir que o educando e a educanda sejam o foco da construção curricular,<br />
rompendo com o esquema tradicional <strong>de</strong> organização escolar a partir das áreas<br />
<strong>de</strong> conhecimento.<br />
Conhecer e validar a cultura da criança, do adolescente, do jovem, do<br />
adulto e do idoso no nosso saber e fazer pedagógico é um dos passos para a<br />
inclusão <strong>de</strong> todos no processo educacional. Entretanto, precisamos refletir<br />
sobre o exercício do direito participativo e da criação <strong>de</strong> direitos, rompendo ou<br />
não com a perpetuação das vozes dominantes.<br />
Essas e outras problematizações po<strong>de</strong>m alicerçar a Gestão Democrática<br />
pretendida em bases sólidas, sustentadas pela inclusão, diálogo e avaliação<br />
contínua, fortalecendo a construção <strong>de</strong> novos horizontes, no qual a<br />
participação e o protagonismo sejam marcas inovadoras, revolucionárias e<br />
in<strong>de</strong>léveis <strong>de</strong>sta administração.<br />
Referências<br />
ARROYO, Luís Carlos <strong>de</strong>. Ciclos, seriação e avaliação: confrontos <strong>de</strong> lógicas.<br />
São Paulo: Mo<strong>de</strong>rna, 2003.<br />
FREITAS, Luiz Carlos <strong>de</strong>. Ciclos, seriação e avaliação: confrontos <strong>de</strong> lógicas.<br />
São Paulo : Mo<strong>de</strong>rna, 2003.<br />
GALVÃO, Izabel. Henri Wallon: uma concepção dialética do <strong>de</strong>senvolvimento<br />
infantil. Petrópolis : Vozes, 1995.<br />
LIMA, Elvira Souza. Ciclos e formação: numa reorganização do tempo escolar.<br />
São Paulo : Sobradinho, 2002.<br />
KRUG, Andréa. Ciclos <strong>de</strong> formação: uma proposta político-pedagógica<br />
transformadora. Porto Alegre : Mediação, 2001.<br />
LA TAILLE, Yves <strong>de</strong>. Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em<br />
discussão. São Paulo : Summus, 1992.<br />
FREIRE, Ana Maria Araújo (org.). A pedagogia da libertação em Paulo Freire.<br />
São Paulo : Unesp, 2001.<br />
21
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE PORTO ALEGRE. Ciclos <strong>de</strong><br />
formação: proposta político-pedagógica da escola cidadã. In: Ca<strong>de</strong>rno<br />
Pedagógico nº 9. Porto Alegre : <strong>SME</strong>/PA, maio/2003.<br />
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE SÃO PAULO. Regimento<br />
Comum das Escolas Municipais. São Paulo: <strong>SME</strong>/SP, 1992.<br />
CD Rom – Encontro Nacional do Ensino Fundamental. Toda Criança<br />
Apren<strong>de</strong>ndo. Repensando o tempo e o espaço escolar. Ministério da<br />
<strong>Educação</strong>. <strong>Secretaria</strong> da <strong>Educação</strong> Infantil e Fundamental.<br />
22
GESTÃO DEMOCRÁTICA, CURRÍCULO E A CONSTRUÇÃO<br />
DO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO<br />
“ A vida é uma teia intrincada em que cada ser se relaciona com muitíssimos<br />
outros, numa coexistência <strong>de</strong> complementarida<strong>de</strong> e inter<strong>de</strong>pendência” Darcy Ribeiro<br />
Assumir e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r uma gestão <strong>de</strong>mocrática exige <strong>de</strong> nós um<br />
compromisso maior, muito mais ético, com a construção intencional <strong>de</strong> um<br />
trabalho coletivo, no qual a participação não seja, simplesmente, o estar<br />
fisicamente, mas sim, assumir uma postura embasada no ser sujeito <strong>de</strong> cada<br />
um, na participação ativa, isto é, na co-autoria, na construção do coletivo e na<br />
emancipação. A recente reorganização da cida<strong>de</strong> em Subprefeituras, com o<br />
processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scentralização do governo,tem dado um bom exemplo e,<br />
embora ainda muito recente, já se po<strong>de</strong> sentir quais serão os reais benefícios<br />
para a população em geral.<br />
A gestão <strong>de</strong>mocrática como diretriz da <strong>Secretaria</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>Educação</strong> não se resume ao movimento promovido nas Unida<strong>de</strong>s<br />
Educacionais por meio do conjunto das ações propostas pelos diferentes<br />
projetos, como é o caso do Projeto Escola Aberta.<br />
Na construção da Proposta Pedagógica da <strong>SME</strong>, <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>amos um<br />
movimento <strong>de</strong> construção coletiva entre os educadores e educadoras que<br />
compõem as atuais Coor<strong>de</strong>nadorias <strong>de</strong> <strong>Educação</strong> e as <strong>de</strong>mais instâncias<br />
<strong>de</strong>ssa <strong>Secretaria</strong> – Assessoria Técnica <strong>de</strong> Planejamento e Diretoria <strong>de</strong><br />
Orientação Técnica – que objetivou refletir sobre as realizações do atual Ensino<br />
<strong>Municipal</strong> e projetar as metas para 2003 e 2004. Esse movimento constituiu –<br />
se <strong>de</strong> plenárias e <strong>de</strong> momentos <strong>de</strong> sínteses provisórias que culminaram na<br />
escrita da revista <strong>EducAção</strong> nº4.<br />
Esta trajetória percorrida, caracterizada pelo exercício da <strong>de</strong>mocracia,<br />
consolidou – se como marca no processo <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões por meio <strong>de</strong><br />
colegiados, consi<strong>de</strong>rando o princípio da participação <strong>de</strong>mocrática nas<br />
diferentes instâncias da <strong>Secretaria</strong>.<br />
Assim, buscando problematizar nossas práticas gestionárias, rumo a<br />
uma gestão <strong>de</strong>mocrática, crítica e libertadora e trabalhando para a superação<br />
da injustiça e da exclusão social na perspectiva <strong>de</strong> uma metodologia<br />
investigativa, apresentamos algumas questões:<br />
Quais as práticas <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong>mocrática crítica e libertadora que<br />
realizamos?<br />
23
Nós, educadores e educadoras, como temos nos comprometido<br />
com a gestão do Projeto Político Pedagógico da nossa Unida<strong>de</strong><br />
Educacional?<br />
Os questionamentos se fazem necessários, pois temos atravessado,<br />
especialmente nos últimos vinte anos, momentos na história brasileira <strong>de</strong><br />
gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>safios sociais e políticos, para firmar nossas reivindicações <strong>de</strong><br />
direitos como cidadãos. Contextualizadas no momento histórico, político e<br />
social, das décadas <strong>de</strong> 1970 e 1980, ocorreram gran<strong>de</strong>s mobilizações da<br />
população por meio <strong>de</strong> movimentos sociais e populares tais como: o contra a<br />
carestia, o <strong>de</strong> moradia, por saú<strong>de</strong>, por educação, por creches.<br />
É importante distinguir direitos humanos – inerentes a toda<br />
pessoa humana – dos direitos do cidadão, que po<strong>de</strong>m variar <strong>de</strong> acordo com leis e vínculos <strong>de</strong><br />
nacionalida<strong>de</strong> (Benevi<strong>de</strong>s, 1994:8)<br />
Nesse mesmo período, houve a intensificação das reivindicações da<br />
população que lutava por mais participação nas instâncias <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões do<br />
po<strong>de</strong>r público, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> eleições diretas <strong>de</strong> diretores <strong>de</strong> escola até presi<strong>de</strong>nte da<br />
república. (Camargo, 1997).<br />
Muitas foram as formas <strong>de</strong> organização para viabilizar a participação.<br />
Os conselhos, inclusive o <strong>de</strong> escola, surgiram nessa perspectiva, apresentando<br />
avanços e retrocessos, <strong>de</strong> acordo com os princípios das administrações<br />
municipais que se suce<strong>de</strong>ram.<br />
Tomaremos aqui como exemplo o Conselho <strong>de</strong> Escola, que no seu<br />
início tinha um caráter consultivo e, na gestão 89 - 92, adquiriu caráter<br />
<strong>de</strong>liberativo e tem hoje, garantido legalmente aos seus representantes a<br />
participação nas tomadas <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões da escola, um verda<strong>de</strong>iro palco <strong>de</strong><br />
disputas <strong>de</strong> interesses dos diferentes segmentos. Entretanto, <strong>de</strong> um modo<br />
geral, não tem garantido condições <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> aos participantes.<br />
Retomar a construção crítica <strong>de</strong> uma cidadania cada vez mais<br />
participativa, com cidadãos comprometidos com suas comunida<strong>de</strong>s é ação que<br />
se <strong>de</strong>ve fazer no chão da Unida<strong>de</strong> Educacional. Para tanto, necessitamos <strong>de</strong><br />
diretores, coor<strong>de</strong>nadores, vigias, agentes escolares, professores, auxiliares <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento infantil e famílias, ou seja, educadores e educadoras, que se<br />
comprometam em construir permanentemente a participação crítica e ativa <strong>de</strong><br />
todos os segmentos envolvidos com suas práticas educacionais.<br />
Esse fazer é difícil mas necessário. A história brasileira tem<br />
conduzido as relações humanas, respaldada em valores autoritários, acríticos,<br />
por meio <strong>de</strong> gestões verticalizadas, sustentadas por po<strong>de</strong>res econômicos,<br />
políticos e privilégios, portanto, muito distante da dimensão da realização<br />
24
humana com dignida<strong>de</strong>. Apesar <strong>de</strong> nossos conceitos estarem presentes em<br />
nossos diálogos, tal traço histórico, não raro, manifesta–se em nossas práticas<br />
pedagógicas cotidianas, que revelam não apenas o que sabemos fazer, mas os<br />
valores que orientam nossos posicionamentos político–pedagógicos ao nos<br />
confrontarmos com pontos <strong>de</strong> vista diferentes do nosso.<br />
Assim, adquire importância a reflexão sobre saberes, fazeres e<br />
valores verticalizados, que muitas vezes vêm à tona, quando nos utilizamos <strong>de</strong><br />
instrumentos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r na resolução <strong>de</strong> inúmeras situações cotidianas.<br />
Realizamos uma gestão educacional voltada para a inclusão e para a<br />
promoção dos direitos, fazendo valer o papel social da educação e garantindo<br />
uma gestão que possibilite em todos os espaços da Unida<strong>de</strong> Educacional, o<br />
exercício do direito participativo <strong>de</strong> todos os segmentos nas tomadas <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>cisões no que diz respeito aos <strong>de</strong>stinos da Comunida<strong>de</strong> Educativa.<br />
Este talvez seja o gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio da educação: <strong>de</strong>senvolver exercícios<br />
<strong>de</strong> práticas cidadãs, pela consolidação da autonomia na realização <strong>de</strong> projetos<br />
educacionais em que todos se sintam sujeitos na manifestação e construção<br />
coletiva do conhecimento.<br />
Assumimos o compromisso ético e a ousadia inovadora na forma <strong>de</strong><br />
gerir os espaços, os saberes, os tempos e as relações humanas, ao propormos<br />
uma prática educacional comprometida com a emancipação individual e<br />
coletiva e com as ações transformadoras das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s e injustiças<br />
sociais. Esse fazer educativo, que objetiva romper com as estruturas políticas e<br />
econômicas que promovem a exclusão, nos <strong>de</strong>safia a buscar uma práxis que<br />
responda às <strong>de</strong>mandas postas por este tempo histórico.<br />
Nesta perspectiva, indagamos: Qual/quais a(s) concepção /<br />
concepções que sustentam as práticas <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>mos?<br />
Com base nessa pergunta, dialogamos com e sobre as nossas<br />
possibilida<strong>de</strong>s, no contexto das condições reais em que vivemos. Ao<br />
verificarmos como estamos agindo em nossas organizações (estruturas,<br />
normas e conhecimentos), muitas vezes, po<strong>de</strong>mos reconhecer que limitamos<br />
e/ou excluimos crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos da participação<br />
ativa nos processos <strong>de</strong>cisórios da comunida<strong>de</strong>.<br />
Participação<br />
A temática participação aqui consi<strong>de</strong>rada refere-se a como são e estão<br />
sendo construídas as relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> cada instância do sistema<br />
25
público, o que vivenciamos como participação e qual a implicação do<br />
aprofundamento do tema para a construção do Projeto Político Pedagógico e<br />
seus <strong>de</strong>sdobramentos no Currículo praticado pelas Unida<strong>de</strong>s Educacionais.<br />
Participação Ativa é aquela “que institui o cidadão como portador <strong>de</strong> direitos e<br />
<strong>de</strong>veres, mas essencialmente criador <strong>de</strong> direitos para abrir novos espaços <strong>de</strong><br />
participação política”. ( Benevi<strong>de</strong>s, 1994 p.9)<br />
Para Bor<strong>de</strong>nave (1985:22) participação é fazer parte, tomar parte, ter<br />
parte ou sentir-se parte. Ocorre que há vivências diferenciadas <strong>de</strong> participação<br />
nos espaços educativos, porque há também tipos e níveis diferenciados <strong>de</strong><br />
participação. Como é possível fazer parte sem tomar parte, na elaboração<br />
do Projeto Político Pedagógico, na constituição do Conselho <strong>de</strong> Escola,<br />
do Grêmio Estudantil e <strong>de</strong>mais conselhos/colegiados? As formas <strong>de</strong><br />
participação que predominam nas instâncias <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão revelam a<br />
concepção <strong>de</strong> currículo <strong>de</strong> que estamos tratando?<br />
Em muitos casos, a participação está vinculada apenas à execução <strong>de</strong><br />
tarefas (limpar a escola, cortar a grama, costurar e lavar cortinas, auxiliar <strong>de</strong><br />
diferentes formas nas festas), em horários e situações estratégicas<br />
estabelecidas pela Unida<strong>de</strong> Educacional. É urgente que em nossas discussões<br />
a participação tenha como eixo o envolvimento <strong>de</strong> todos e todas nas tomadas<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões <strong>de</strong> forma direta e indireta.<br />
O Projeto Político Pedagógico, discutido e revisitado, <strong>de</strong>ve ter na sua<br />
centralida<strong>de</strong> todos autores e atores que utilizam e atuam nos espaços<br />
educativos.<br />
Por que mães e pais, geralmente, participam nas execuções <strong>de</strong><br />
tarefas e estão distantes das assembléias e das discussões do Projeto<br />
Político Pedagógico e do Regimento Escolar? Como preencher esse<br />
espaço pela comunida<strong>de</strong>?<br />
Que canais <strong>de</strong> comunicação são estabelecidos entre educadores e<br />
educadoras nas salas, nos berçários, no pátio, na secretaria, na cozinha,<br />
tendo em vista um currículo que compreenda a manifestação e<br />
construção <strong>de</strong> conhecimento, conteúdos, valores, atitu<strong>de</strong>s e<br />
emancipação? Como nossa Unida<strong>de</strong> Educacional trabalha com a<br />
diferença diante <strong>de</strong> tantas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s?<br />
Que formação vem ocorrendo para garantir a participação ativa <strong>de</strong><br />
todos segmentos da socieda<strong>de</strong>?<br />
Conselhos: um exercício participativo<br />
26
Uma gestão pública que vem consolidando, em suas vivências<br />
práticas, conceitos que sustentam a participação <strong>de</strong> todos os segmentos da<br />
socieda<strong>de</strong> tem como compromisso ético, em especial na área educacional,<br />
aprofundar experiências e exercitar inovações participativas, superadoras <strong>de</strong><br />
qualquer ato que signifique exclusão.<br />
Assim, <strong>de</strong>vemos organizar Conselhos nas Subprefeituras, nas<br />
Coor<strong>de</strong>nadorias <strong>de</strong> <strong>Educação</strong>, entre outros, que sejam expressões dos<br />
interesses populares, possibilitando aos novos segmentos, que vêm se<br />
constituindo como autores sociais em nossas comunida<strong>de</strong>s, integrar-se nessa<br />
construção <strong>de</strong>mocrática. Decisões coletivas sinalizarão os rumos políticos,<br />
culturais e econômicos <strong>de</strong> nossas organizações sociais e políticas.<br />
O Conselho <strong>de</strong> Escola é um colegiado formado por todos os segmentos da comunida<strong>de</strong><br />
escolar: pais, alunos, professores, direção e <strong>de</strong>mais funcionários. Através <strong>de</strong>le, todas as<br />
pessoas ligadas à escola po<strong>de</strong>m se fazer representar e <strong>de</strong>cidir sobre aspectos<br />
administrativos, financeiros e pedagógicos. Assim, esse colegiado torna-se não só um<br />
canal <strong>de</strong> participação, mas também um instrumento <strong>de</strong> gestão para a própria escola.<br />
(Antunes, 2002 :21)<br />
O Conselho Gestor dos Centros <strong>de</strong> Educacionais Unificados -<br />
CEU, os Conselhos <strong>de</strong> Escola, os Conselhos do Centro <strong>de</strong> <strong>Educação</strong> Infantil,<br />
os CRECE, que foram <strong>de</strong>scobertos por muitos como instâncias <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, e que<br />
têm como responsabilida<strong>de</strong> maior, constituir <strong>de</strong>cisões que atendam às<br />
<strong>de</strong>mandas públicas, <strong>de</strong>vem estar abertos a alterações, mudanças que<br />
possibilitem corrigir possíveis <strong>de</strong>svios dos caminhos <strong>de</strong>mocráticos,<br />
contemplando assim a diversida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>mandas <strong>de</strong> nosso tempo.<br />
A gestão do CEU, em particular, que acontece <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primeiros<br />
momentos <strong>de</strong> sua organização, articula seus diferentes colegiados (Conselho<br />
Gestor do CEU, Grupo <strong>de</strong> Ações Integradas, Conselhos e Grêmios)<br />
representativos das diferentes unida<strong>de</strong>s que o constitui. Tal gestão<br />
fundamenta–se numa perspectiva dialógica, socializada e ascen<strong>de</strong>nte com um<br />
caráter permanentemente comunicativo e interativo entre os diferentes<br />
equipamentos, respeitando suas especificida<strong>de</strong>s educacionais.<br />
A representação no Brasil permanece, efetivamente, uma representação no sentido<br />
teatral: a representação do po<strong>de</strong>r diante do povo e não a representação do povo diante<br />
do po<strong>de</strong>r. (Benevi<strong>de</strong>s, 1994:12)<br />
Diante da realida<strong>de</strong> vivida no exercício da gestão, as dificulda<strong>de</strong>s<br />
se evi<strong>de</strong>nciam principalmente em relação às questões da representativida<strong>de</strong> e<br />
da parida<strong>de</strong>. Assim, a concepção <strong>de</strong> gestão, que se constrói a partir do CEU e<br />
<strong>de</strong> experiências que ocorrem na RME, aponta para a ousadia <strong>de</strong> passos mais<br />
radicais no exercício <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>mocracia direta, por meio <strong>de</strong> assembléias<br />
27
setoriais e ou gerais, em que os cidadãos possam <strong>de</strong>cidir e avaliar nossas<br />
diretrizes e políticas educacionais.<br />
Na certeza <strong>de</strong> nossa coerência ética, <strong>de</strong>vemos respon<strong>de</strong>r, na<br />
prática, às questões que firmamos em nossos discursos.<br />
O Conselho da Unida<strong>de</strong> Educacional tem garantido uma<br />
proporcionalida<strong>de</strong> entre servidores públicos e população? Como?<br />
Quanto ao funcionamento/reuniões: os horários, os dias, a pauta<br />
(e sua elaboração) têm atendido os interesses e possibilida<strong>de</strong>s da<br />
comunida<strong>de</strong>?<br />
Como a <strong>Educação</strong> Infantil, o Ensino Fundamental e a <strong>Educação</strong> <strong>de</strong><br />
Jovens e Adultos têm sido representados nos espaços <strong>de</strong> gestão?<br />
Protagonismo infanto-juvenil<br />
O tema do protagonismo infanto-juvenil nos remete ao contido na<br />
reflexão <strong>de</strong> uma adolescente, aluna da Re<strong>de</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Ensino, realizada<br />
num encontro entre os Coor<strong>de</strong>nadores Pedagógicos das EMEF com o<br />
professor César Muñoz (consultor espanhol da infância e da juventu<strong>de</strong> e da<br />
participação cidadã na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Barcelona)::<br />
“Eu acho muito estranho vocês falarem sobre o que nós adolescentes<br />
queremos e <strong>de</strong>cidir o que seria bom pra gente. Nunca ninguém pergunta pra<br />
gente o que queremos ou do que nós gostamos. Nesses encontros, que são<br />
pra falar da gente, nunca somos convidados para ajudar a <strong>de</strong>cidir ou, pelo<br />
menos, falar o que realmente nos interessa...”<br />
Nós, adultos, geralmente, quando pensamos ou tratamos sobre<br />
protagonismo infanto-juvenil, nos reportamos a um mundo que é o nosso, com<br />
nossas idéias, com nossos valores, sem, em geral, ouvirmos, percebermos ou<br />
mesmo enxergarmos a voz dos interessados.<br />
Retomar os temas da infância e da adolescência possibilita consi<strong>de</strong>rar<br />
o que crianças e adolescentes pensam, sentem e querem.<br />
O que sabemos nós <strong>de</strong>sse universo?<br />
Muitos <strong>de</strong> nós, partindo <strong>de</strong>ste questionamento, interpretamos, ou<br />
tentamos compreen<strong>de</strong>r o mundo das crianças e dos adolescentes <strong>de</strong>ssa<br />
maneira. Entretanto, não po<strong>de</strong>mos nos esquecer que o ambiente coletivo, ou<br />
28
dos grupos nas Unida<strong>de</strong>s Educacionais, diferencia-se do ambiente do jeito <strong>de</strong><br />
operar do grupo familiar.<br />
A cidadania exige instituições, mediações e comportamentos próprios, constituindo-se<br />
na criação <strong>de</strong> espaços sociais <strong>de</strong> lutas (movimentos sociais, sindicais e populares) e na<br />
<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> instituições permanentes para a expressão política, como partidos,<br />
legislação e órgãos do po<strong>de</strong>r público (Benevi<strong>de</strong>s,1994:9)<br />
Além disso, o protagonismo é a semente, a fagulha, a faísca, como nos<br />
diz o professor César Muñoz, para a participação cidadã, um compromisso<br />
político da Unida<strong>de</strong> Educacional. Falamos tanto em cidadania e que queremos<br />
que nossos educandos e educandas sejam cidadãos, mas não nos<br />
perguntamos, por exemplo, quais são os educadores da Re<strong>de</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong><br />
Ensino que discutem ou já discutiram com seus educandos e educandas a<br />
Constituição do nosso país? Quem <strong>de</strong> nós já discutiu o Estatuto da Criança e<br />
do Adolescente, tanto coletivamente, com nossos pares na escola como com<br />
nossos educandos e educandas? O que temos nesses documentos são as<br />
bases para pensarmos a cidadania ativa e <strong>de</strong>vemos, portanto, reportarmo-nos<br />
com mais freqüência a esses documentos.<br />
Se quisermos, <strong>de</strong> fato, que nossas crianças e adolescentes colaborem<br />
na <strong>de</strong>finição dos rumos da sua Unida<strong>de</strong> Educacional, do seu bairro, da sua<br />
cida<strong>de</strong> e do seu país, temos que lhes oferecer instrumentos para tal.<br />
O protagonismo infanto-juvenil se dá, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a infância e a<br />
adolescência, com o apoio dos educadores, educadoras e adultos. Todos<br />
somos imprescindíveis no processo <strong>de</strong> mudança social. As crianças,<br />
adolescentes e jovens necessitam ter voz para que possam construir sua<br />
autonomia, promovendo a consciência crítica e a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> novos<br />
olhares sobre sua forma <strong>de</strong> ver o mundo e as relações que nele se constituem.<br />
Coerente com essa concepção, a <strong>SME</strong> <strong>de</strong>senvolve projetos que<br />
possibilitam a concretização da idéia do protagonismo infanto-juvenil, tais<br />
como: o Orçamento Participativo Criança, o Educom.rádio, o Grêmio Estudantil,<br />
o Recreio nas Férias, o Escola Aberta ou, ainda, a construção coletiva da<br />
brinca<strong>de</strong>ira, do esporte, da cultura.<br />
Neste sentido, nossa meta é a formação dos Grêmios Estudantis em<br />
todas as EMEF. Na <strong>Educação</strong> Infantil, a criança como protagonista é princípio,<br />
ou seja, as práticas educativas <strong>de</strong>vem consi<strong>de</strong>rá-las, pois <strong>de</strong>s<strong>de</strong> muito<br />
pequenas são capazes <strong>de</strong> emitir suas opiniões e fazer suas escolhas.<br />
Assim, seja na formação dos Grêmios Estudantis nas EMEF, seja na<br />
constituição <strong>de</strong> fóruns <strong>de</strong> participação na <strong>Educação</strong> Infantil, o protagonismo<br />
infanto – juvenil rompe com a lógica que con<strong>de</strong>na crianças e jovens ao<br />
29
individualismo, à competitivida<strong>de</strong>, ao consumismo e ao discurso único do<br />
adulto.<br />
No protagonismo infantil e juvenil vivido em nossas Unida<strong>de</strong>s<br />
Educacionais, há impedimento, tutela ou autonomia? Como estão sendo<br />
constituídos?<br />
Como po<strong>de</strong>mos efetivar o protagonismo dos bebês?<br />
Gestão dos Espaços <strong>de</strong> Aprendizagem<br />
A amorosida<strong>de</strong> da ação <strong>de</strong> ser educadora e educador resi<strong>de</strong> no <strong>de</strong>sejo<br />
permanente do exercício da aprendizagem crítica, alegre e humanizadora. Ato<br />
fundado na construção dos valores da vida, no compromisso maior da<br />
realização <strong>de</strong> cada criança, <strong>de</strong> cada cidadão.<br />
Nesta perspectiva, nos cabe indagar sobre o que consi<strong>de</strong>ramos<br />
relevante ou não em nossas práticas educativas cotidianas, questionando as<br />
dimensões e valores diversos que organizam o funcionamento da socieda<strong>de</strong><br />
brasileira: quem tem po<strong>de</strong>r? quem <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>? que concepção <strong>de</strong> cultura<br />
infantil validamos? que escuta praticamos? que concepção <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong><br />
e <strong>de</strong> ser humano <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>mos? que valores <strong>de</strong> convivência<br />
consolidamos? por que, como e para que realizamos nossas ações<br />
educativas?<br />
O imprescindível, nessa ação gestora da aprendizagem, é refletir<br />
sempre a partir <strong>de</strong> nossas práticas institucionais, problematizando-as na<br />
direção <strong>de</strong> criar e recriar diferentes canais <strong>de</strong> articulação <strong>de</strong> saberes,<br />
consi<strong>de</strong>rando os contextos sociais e culturais em que estas estão inseridas e<br />
indagar se essas consolidam a emancipação, autonomia e criticida<strong>de</strong>.<br />
Vivemos novas exigências, tempos, espaços, valores e organizações.<br />
Portanto, exige-se mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> gestão com características diferenciadas, mais<br />
participativas e horizontalizadas.<br />
Na gestão dos ambientes pedagógicos, dos espaços e tempos das<br />
Unida<strong>de</strong>s Educacionais, dos conselhos e comissões, temos vivenciado<br />
princípios participativos?<br />
Assim, praticar a Democratização da Gestão exige subverter a lógica<br />
perversa da educação tradicional, nas Unida<strong>de</strong>s Educacionais, rompendo<br />
com as concepções, com as práticas cristalizadas ao longo da história <strong>de</strong><br />
nosso país, investigando–as e problematizando–as à luz <strong>de</strong> um novo<br />
conhecimento. A organização <strong>de</strong> sínteses provisórias sistematizadas e a sua<br />
30
apreensão crítica possibilitam a transformação <strong>de</strong>sta realida<strong>de</strong>, articulando os<br />
atores e autores da Comunida<strong>de</strong> Educativa, a fim <strong>de</strong> que todos e todas tenham<br />
suas vozes ouvidas, suas idéias acatadas e/ou dialogadas e suas coresponsabilida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong>finidas.<br />
As transformações permanentes que ocorrem com este movimento<br />
instauram em todos os espaços <strong>de</strong>cisórios a avaliação permanente e coletiva<br />
<strong>de</strong> nossas práticas institucionais. Comprometemo–nos com a investigação,<br />
problematização, sistematização, apreensão crítica e os processos<br />
avaliativos das práticas gestionárias?<br />
Todos estes questionamentos nos remetem à relevância da Formação<br />
e do Acompanhamento, para que as reflexões sobre currículo e diversida<strong>de</strong>,<br />
sob a ótica dos temas até aqui tratados, possam verda<strong>de</strong>iramente penetrar nos<br />
espaços das Unida<strong>de</strong>s Educacionais. Constituir territórios implica na integração<br />
interna e externa, global e local e no rompimento das relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />
estabelecidas.<br />
Referências<br />
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Constituição Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> 1988 e PARO, Vitor Henrique. O princípio da gestão<br />
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Paulo: Xamã, 2001, pp. 69-78 e 79-88.<br />
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BENEVIDES, Maria Victória <strong>de</strong> Mesquita. Cidadania e Democracia. Lua Nova-<br />
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__________________A luta por creches. São Paulo: Brasiliense, 1980.<br />
CAMPOS, Maria Malta. As lutas sociais e a educação. Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> pesquisa –<br />
FCC. São Paulo, n.79, p. 56 – 64, nov. 1991.<br />
31
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da cidadania dos brasileiros. São Paulo: Loyola, 1995.<br />
_________________. A força da periferia: a luta das mulheres por creche em<br />
São Paulo. Petrópolis: Vozes, 1985.<br />
MUNÕZ,César. Viver, Educar: <strong>de</strong>s<strong>de</strong> la seducción, el amory la pasion.<br />
Barcelona: Centro <strong>de</strong> Investigaciones Pedagógicas<strong>de</strong> la Infância, la<br />
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PARO, Vitor Henrique. Gestão Democrática da escola pública São Paulo:<br />
Ática, 1997.<br />
PARO, Vitor Henrique. Por <strong>de</strong>ntro da Escola Pública. São Paulo: 3ª ed. Xamã,<br />
2000.<br />
SPOSITO, Marília Pontes. A ilusão fecunda: A luta por educação nos<br />
movimentos populares. São Paulo: Hucitec, 1991.<br />
RIBEIRO, Darcy. Noções <strong>de</strong> Coisas. São Paulo: FTD, 2000<br />
32
FORMAÇÃO E ACOMPANHAMENTO<br />
Adianta querer saber muita coisa?<br />
O senhor sabia, lá para cima, me disseram.<br />
Mas, <strong>de</strong> repente, chegou neste sertão,<br />
viu tudo diverso, diferente, o que nunca tinha visto.<br />
Sabença aprendida não adiantou para nada... Serviu algum?<br />
Guimarães Rosa<br />
A construção da Qualida<strong>de</strong> Social <strong>de</strong> <strong>Educação</strong> na Política Educacional<br />
da atual gestão diferencia-se da política neoliberal, pois compreen<strong>de</strong> a Unida<strong>de</strong><br />
Educacional como espaço coletivo privilegiado <strong>de</strong> manifestação, apropriação,<br />
transformação e produção <strong>de</strong> cultura e <strong>de</strong> conhecimento, organizado e<br />
intencionalizado - lugar educativo, mais que meramente instrutivo. Nesse<br />
espaço, a formação <strong>de</strong>ve transformar as relações <strong>de</strong> exclusão e <strong>de</strong><br />
invisibilida<strong>de</strong> dos sujeitos e possibilitar a criação <strong>de</strong> formas e indicadores da<br />
avaliação do fazer e do pensar pedagógico, para que não permaneçam na<br />
condição <strong>de</strong> silenciados e <strong>de</strong> oprimidos. (Freire, 2001)<br />
Buscar pistas na história da educação recente nos possibilita<br />
compreen<strong>de</strong>r qual a concepção <strong>de</strong> formação mais coerente com a concepção<br />
<strong>de</strong> currículo que queremos.<br />
Todos nós já passamos por processos <strong>de</strong> formação em diferentes<br />
momentos e contextos históricos, com pressupostos que nos orientaram.<br />
Nesse percurso, já “fomos reciclados”, “fomos capacitados”, “fomos treinados”<br />
e hoje perseguimos a idéia <strong>de</strong> formação. O que aconteceu? Só o nome <strong>de</strong>ssa<br />
ação foi mudada? Será que são os mesmos pressupostos que iluminam a<br />
reciclagem, o repasse, a capacitação e a formação? O que precisamos saber e<br />
fazer para ressignificar a ação formadora aten<strong>de</strong>ndo às necessida<strong>de</strong>s<br />
colocadas aos educadores hoje, sujeitos <strong>de</strong> sua ação?<br />
Ampliando essas questões, na perspectiva das diretrizes da <strong>SME</strong>, e<br />
trazendo para o bojo das discussões curriculares que fazemos hoje, nos<br />
perguntamos ainda: as discussões e reflexões dos sujeitos envolvidos apontam<br />
em direção à leitura <strong>de</strong> mundo, letramento e alfabetização, ciclo, avaliação em<br />
todas as instâncias, à participação ativa, às manifestações culturais como<br />
produção <strong>de</strong> conhecimento, à reflexão sobre os espaços e tempos da e na<br />
Unida<strong>de</strong> Educacional?<br />
Qualida<strong>de</strong> Social da <strong>Educação</strong>, aqui, é compreendida como a garantia<br />
do acesso e da permanência e o compromisso com a gestão <strong>de</strong>mocrática em<br />
33
espaços coletivos, nos quais educadores e educandos, sujeitos históricos,<br />
sociais e culturais, constroem suas trajetórias. Esses espaços <strong>de</strong>vem promover<br />
novas relações sociais constituídas pela construção compartilhada, envolvendo<br />
a Comunida<strong>de</strong> Educativa.<br />
As histórias dos autores e atores do cenário educacional tornam–se<br />
elementos preciosos na medida que explicitam seus referenciais, suas matrizes<br />
pedagógicas, entendidas por Furlaneto (2003) como “espaços, nos quais a<br />
prática dos professores é gestada. Conteúdos do mundo interno encontram-se<br />
com os do mundo externo e são por eles fecundados originando o novo”. A<br />
autora ainda nos remete para as seguintes questões:<br />
Como essas matrizes são constituídas? Elas po<strong>de</strong>m ser<br />
modificadas?<br />
Que formatos construímos para que elas sejam avaliadas?<br />
Nesse processo <strong>de</strong> construção i<strong>de</strong>ntitária, formar pressupõe o resgate<br />
das trajetórias dos educadores, contextualizadas na história sócio-cultural,<br />
abrangendo a memória documental e a não documental, que, ao se<br />
entrelaçarem, dinamizam todas as ações no interior da Unida<strong>de</strong> Educacional.<br />
Quem são esses autores e atores?<br />
Pensando na construção compartilhada, autores e atores são todos os<br />
integrantes da Comunida<strong>de</strong> Educativa, protagonistas do conhecimento, da<br />
investigação, da sistematização e da reflexão sobre as práticas educativas.<br />
A Formação Permanente dos educadores pressupõe reconhecimento<br />
da práxis como ponto <strong>de</strong> referência para o <strong>de</strong>bate da Qualida<strong>de</strong> Social <strong>de</strong><br />
<strong>Educação</strong>. Nesse sentido, é preciso consi<strong>de</strong>rar os saberes da experiência, os<br />
saberes do instituído; saberes da erudição, saberes relacionais, assim como as<br />
escolhas que o educador faz <strong>de</strong>les e como os prioriza na construção do<br />
saber-fazer pedagógico.<br />
Enten<strong>de</strong>mos, como Paulo Freire, que<br />
“A educação é permanente não porque certa linha i<strong>de</strong>ológica ou<br />
certa posição política ou certo interesse econômico o exijam. A educação<br />
é permanente na razão, <strong>de</strong> um lado, da finitu<strong>de</strong> do ser humano, <strong>de</strong> outro,<br />
da consciência que ele tem <strong>de</strong> sua finitu<strong>de</strong>. Mais ainda, pelo fato <strong>de</strong> ao<br />
longo da história, ter incorporado à sua natureza não apenas saber que<br />
vivia, mas saber que sabia e, assim, saber que podia saber mais. A<br />
educação e a formação permanente se fundam aí (...) o ser humano jamais<br />
34
pára <strong>de</strong> educar-se (...) A melhora da qualida<strong>de</strong> da educação implica a<br />
formação permanente dos educadores. E a formação permanente se<br />
fun<strong>de</strong> na prática <strong>de</strong> analisar a prática. É pensando sua prática,<br />
naturalmente com a presença <strong>de</strong> pessoal altamente qualificado, que é<br />
possível perceber embutida na prática uma teoria não percebida ainda,<br />
pouco percebida ou já percebida, mas pouco assumida”<br />
(Freire, 1997:20-72).<br />
Assim, propomos um Programa <strong>de</strong> Formação Permanente e<br />
Acompanhamento, enten<strong>de</strong>ndo que “formar é acompanhar” e “acompanhar é<br />
formar” objetivando reconhecer e consi<strong>de</strong>rar as especificida<strong>de</strong>s sociais,<br />
econômicas e culturais <strong>de</strong> cada localida<strong>de</strong> a favor da aprendizagem <strong>de</strong> todos e<br />
implementar a Política Educacional <strong>de</strong> uma Cida<strong>de</strong> que se preten<strong>de</strong><br />
Educadora.<br />
Os sentidos da formação<br />
A <strong>SME</strong>, na revista <strong>EducAção</strong> nº 4, anunciou a sua política <strong>de</strong> formação e<br />
apontou a implementação <strong>de</strong>sta por meio do Plano <strong>de</strong> Metas, nela contido. As<br />
diferentes regiões da cida<strong>de</strong> e os encontros da Diretoria <strong>de</strong> Orientação<br />
Técnica/<strong>SME</strong> com as Coor<strong>de</strong>nadorias <strong>de</strong> <strong>Educação</strong> das Subprefeituras têm<br />
<strong>de</strong>senvolvido ações relacionadas a este Plano com seminários, mesasredondas<br />
e grupos <strong>de</strong> formação com vistas à ação política <strong>de</strong> todos e todas em<br />
relação à Qualida<strong>de</strong> Social da <strong>Educação</strong>. Essa formação, subsidiada também<br />
pelo Ca<strong>de</strong>rno Temático <strong>de</strong> Formação 1, exigiu um posicionamento em relação<br />
aos processos gestionários e ao currículo, no sentido <strong>de</strong> romper com as<br />
<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s e com a exclusão presentes na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo e em seu<br />
Sistema Educacional <strong>de</strong> Ensino .<br />
Nessa formação, acreditamos que os sujeitos em suas relações<br />
cotidianas flagram suas incompletu<strong>de</strong>s, gerando a necessida<strong>de</strong> e o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong><br />
ampliarem conhecimentos que contribuam para a construção da autonomia,<br />
constituindo-os autores <strong>de</strong> sua prática e fortalecendo-os em suas <strong>de</strong>cisões<br />
político-pedagógicas.<br />
Nesse sentido, autoria e autonomia se constituem nas vivências das<br />
relações que permitem conflitos, construções e reconstruções. Em outras<br />
palavras, permitem refletir sobre o vivido, proporcionando a transformação das<br />
vivências em experiências. Sob essa perspectiva, a formação permanente<br />
possibilita a tomada <strong>de</strong> consciência em relação à realida<strong>de</strong> e ao momento<br />
histórico, explicitando as opções teóricas e práticas do educador.<br />
35
A Unida<strong>de</strong> Educacional, on<strong>de</strong> se produzem diferentes narrativas e<br />
diferentes fazeres, torna-se, portanto, locus privilegiado <strong>de</strong>sta formação. Olhar<br />
para esse cenário implica num distanciamento que possibilite transformar a<br />
ação educativa em objeto <strong>de</strong> estudo. O processo <strong>de</strong> formação e<br />
acompanhamento não po<strong>de</strong> prescindir da opção metodológica que<br />
<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>mos, nem da criação <strong>de</strong> indicadores que permitam avaliar o quanto<br />
nossas intervenções têm possibilitando a efetivação das diferentes diretrizes da<br />
<strong>SME</strong>. Po<strong>de</strong>ríamos, então nos perguntar: a formação e o acompanhamento<br />
que estamos <strong>de</strong>senvolvendo têm provocado a transformação das práticas<br />
e a melhoria da aprendizagem?<br />
Os diferentes olhares sobre esse objeto são fundamentais parao<br />
redimensionamento das práticas mediadas pelo diálogo provocado pelos<br />
educadores, nos momentos coletivos, e também pelo olhar do Grupo <strong>de</strong><br />
Acompanhamento da Ação Educativa (GAAE).<br />
O Grupo <strong>de</strong> Acompanhamento<br />
da Ação Educativa (GAAE) iniciou sua trajetória em 2001<br />
e, hoje, foi <strong>de</strong>finido<br />
como priorida<strong>de</strong> pelas Coor<strong>de</strong>nadorias <strong>de</strong> <strong>Educação</strong>,<br />
constituindo–se como fundamental na formação <strong>de</strong> formadores e na discussão das<br />
práticas em todas as modalida<strong>de</strong>s. Esse processo vem consolidando a parceria entre os<br />
diferentes atores e autores da instância regional e <strong>de</strong>stes com as Unida<strong>de</strong>s<br />
Educacionais, “propiciando a vivência <strong>de</strong> uma parceria pautada nas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
diálogo entre profissionais que <strong>de</strong>sempenham, em espaços múltiplos, diferentes<br />
funções. Diálogo por meio do qual as experiências concretas e plurais dos participantes<br />
serão inseridas no processo <strong>de</strong> formação como objeto <strong>de</strong> discussão e reflexão” (Revista<br />
<strong>EducAção</strong> 2, 2001:10)<br />
Compreen<strong>de</strong>mos o GAAE como forma <strong>de</strong> potencializar a formação nas<br />
diferentes instâncias, constituindo-se como ação <strong>de</strong> formação. Os temas ciclo,<br />
gestão, leitura <strong>de</strong> mundo/letramento/alfabetização, cultura da<br />
criança/adolescente/adulto/idoso e avaliação integram a Política Educacional<br />
<strong>de</strong>sta administração e <strong>de</strong>vem estar presentes na problematização do cotidiano,<br />
na perspectiva da construção do Mapa da Inclusão Social.<br />
Acompanhar pressupõe a atitu<strong>de</strong> presencial e contínua com<br />
intencionalida<strong>de</strong> e intervenções. Pressupõe também uma metodologia que<br />
inclui a investigação, a escuta e o olhar atentos para a ação e para o discurso;<br />
a problematização das práticas <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro e fora do contexto; a sistematização,<br />
em sínteses provisórias, os encaminhamentos e registros; a apreensão crítica,<br />
como ponto <strong>de</strong> partida para a construção da prática pedagógica, concebendo<br />
todos como sujeitos históricos em emancipação; avaliação como um olhar<br />
crítico da práxis pedagógica.<br />
36
Esse movimento reitera o caráter <strong>de</strong> construção coletiva no interior das<br />
Unida<strong>de</strong>s Educacionais, fortalecendo o papel das equipes pedagógicas,<br />
provocando a articulação entre os diferentes segmentos e a interlocução entre<br />
os diferentes espaços <strong>de</strong> ensino e <strong>de</strong> aprendizagem e os diferentes saberes.<br />
Assim, a formação e o acompanhamento não se limitam aos pensares<br />
e fazeres “intra-muros”, ampliam-se significativamente para todos os espaços<br />
públicos da cida<strong>de</strong>, possiblitando o distanciamento do cotidiano imediato e<br />
experiências que constituem sujeitos no coletivo como educadores e<br />
educadoras.<br />
Essas reflexões nos remetem à questão: Atualmente os espaços<br />
coletivos no interior da Unida<strong>de</strong> Educacional vêm se constituindo efetivamente<br />
em espaços <strong>de</strong> formação?<br />
Coletivo pressupõe estabelecer vínculos entre todos e todas que <strong>de</strong>le<br />
fazem parte. Pressupõe <strong>de</strong>spojamento para o <strong>de</strong>bate, oferecendo espaço para<br />
a dúvida das próprias certezas. É espaço privilegiado para que os educadores<br />
flagrem-se diante <strong>de</strong> suas incoerências na busca da superação. É a partir do<br />
coletivo que o distanciamento <strong>de</strong> nossas ações cotidianas torna-se possível,<br />
transformando-as, conseqüentemente, em objeto <strong>de</strong> estudo do educador e,<br />
portanto, do grupo.<br />
Coletivo refere-se a grupo, que refere-se à discussão, que refere-se à<br />
argumentação, que refere-se a conhecimento que, por sua vez, refere-se a<br />
grupo. O círculo que se constitui a partir <strong>de</strong>sse movimento traz, no seu enredo,<br />
a experiência dos educadores e educadoras como protagonistas do texto<br />
tecido pela possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> encontro no grupo. Coletivo imprime o caráter <strong>de</strong><br />
negociação dos pontos <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> forma muitas vezes sofrida, dura, marcada<br />
pela rigi<strong>de</strong>z <strong>de</strong> fronteiras <strong>de</strong> cada um dos que ingressam nesse movimento,<br />
que inclui ensinar e apren<strong>de</strong>r. A Unida<strong>de</strong> Educacional como pólo <strong>de</strong> produção<br />
cultural e histórica, produtora <strong>de</strong> saberes, é espaço que possibilita a<br />
culminância do exercício da difícil tarefa <strong>de</strong> construir algo que é communis, que<br />
pertence a vários, que não é posse <strong>de</strong> um único sujeito.<br />
Como a formação po<strong>de</strong> subsidiar a todos os envolvidos na ação<br />
educativa (educadores, crianças, adolescentes, jovens, adultos, idosos e<br />
famílias) para que sejam sujeitos da manifestação e construção <strong>de</strong><br />
conhecimento e produtores <strong>de</strong> história e cultura?<br />
Como articular as ações <strong>de</strong> formação e <strong>de</strong> acompanhamento na<br />
perspectiva do fortalecimento do grupo social?<br />
37
Como articularas reflexões <strong>de</strong> formação, acompanhamento,<br />
currículo, gestão e Projeto Político Pedagógico?<br />
As ações <strong>de</strong> formação <strong>de</strong>senvolvidas pela Unida<strong>de</strong> Educacional<br />
estão efetivamente voltadas à humanização dos sujeitos, reeducando os<br />
diferentes olhares e respeitando os diferentes tempos dos educadores e<br />
educandos?<br />
Como a formação preocupa-se em subsidiar a todos e a todas<br />
envolvidos na ação educativa para que essa ação garanta o direito à<br />
aprendizagem <strong>de</strong> todos e <strong>de</strong> todas ?<br />
Referências<br />
CATANI, Denice Bárbara. Lembrar, narrar, escrever: memória e autobiografia<br />
em história da educação e em processos <strong>de</strong> formação.<br />
In: BARBOSA (Org.). Formação <strong>de</strong> educadores: <strong>de</strong>safios e perspectivas. São<br />
Paulo : UNESP, 2003.<br />
FREIRE, Madalena (Org.) (1996). Observação, registro e reflexão:<br />
instrumentos metodológicos. 2. ed. São Paulo : Espaço Pedagógico, 1996.<br />
FREIRE, Ana Maria Araújo (Org). Pedagogia dos Sonhos Possíveis/Paulo<br />
Freire. São Paulo : UNESP, 2001.<br />
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 10. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro : Paz e Terra,<br />
1981.<br />
_____________. Política e <strong>Educação</strong>. São Paulo : Cortez, 2001.<br />
FURLANETTO, Eclei<strong>de</strong> C. Como nasce um professor. São Paulo : Paulus,<br />
2003<br />
GANDIN, Danilo; GANDIN, Luiz Armando. Temas para um projeto políticopedagógico.<br />
2. ed. Petrópolis, Rio <strong>de</strong> Janeiro : Vozes, 2000.<br />
KRAMER, Sonia. Infância e <strong>Educação</strong> Infantil. Rio <strong>de</strong> Janeiro : Papirus, 1999.<br />
NETO, Elydio dos Santos. Aspectos humanos da competência docente:<br />
problemas e <strong>de</strong>safios para a formação <strong>de</strong> professores. In: FAZENDA, Ivani<br />
(Org.) Formação docente: rupturas e possibilida<strong>de</strong>s. Campinas, São Paulo :<br />
Papirus, 2002.<br />
38
REALI, Aline Maria <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros Rodrigues; MIZUKAMI, Maria da Graça N.<br />
(Orgs.). Formação <strong>de</strong> Professores: práticas pedagógicas e escola. São Carlos<br />
: EdUFSCar, 2002.<br />
SECRETARIA MUNICIPAL DE SÃO PAULO. Diretoria <strong>de</strong> Orientação Técnica.<br />
Revista <strong>EducAção</strong> nº2. São Paulo: <strong>SME</strong>/SP, 2001.<br />
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. 6. ed. São Paulo : Martins<br />
Fontes, 1998.<br />
39
O CEU, A CIDADE E A EDUCAÇÃO<br />
“A possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser cidadão <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> como se dá a nossa inserção no espaço<br />
habitado, no território da cida<strong>de</strong>; <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da forma <strong>de</strong> apropriação <strong>de</strong>ste território, das<br />
relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r estabelecidas entre as pessoas e esse lugar”. (Milton Santos)<br />
A cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo vive hoje uma situação antagônica, herdada <strong>de</strong><br />
um mo<strong>de</strong>lo econômico exclu<strong>de</strong>nte: abriga equipamentos resi<strong>de</strong>nciais, <strong>de</strong><br />
comunicação e <strong>de</strong> movimentação financeira capazes <strong>de</strong> competir com o mundo<br />
globalizado ao mesmo tempo em que convive com uma situação <strong>de</strong> pobreza da<br />
população das periferias, marcada pela falta <strong>de</strong> moradia digna, <strong>de</strong><br />
equipamentos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong> lazer e entretenimento, bem como pelo gran<strong>de</strong><br />
número <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempregados ou sub-empregados. Há uma concentração <strong>de</strong><br />
espaços culturais com teatros, cinemas, artes plásticas e música na região<br />
central em <strong>de</strong>trimento da escassez <strong>de</strong>ssas ofertas nos bairros da periferia.<br />
”O agravamento dos problemas que afetam a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida da população <strong>de</strong> São<br />
Paulo não atinge a cida<strong>de</strong> em geral. Sobretudo a partir das últimas três ou quatro décadas,<br />
surgem e se expan<strong>de</strong>m os bairros periféricos que, conjuntamente aos tradicionais cortiços e<br />
favelas, alojam a população trabalhadora. É nessas áreas que se concentra a pobreza da<br />
cida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> seus habitantes” (KOWARICK: 1993, 34)<br />
Essa forma <strong>de</strong> ocupação e <strong>de</strong> distribuição dos espaços urbanos da<br />
cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo foi melhor diagnosticada a partir do Mapa da Exclusão<br />
Social, <strong>de</strong> 2000, coor<strong>de</strong>nado por Aldaíza Sposati 1 e amplamente utilizado nesta<br />
gestão para pensar um Mapa <strong>de</strong> Inclusão.<br />
Esse diagnóstico da cida<strong>de</strong> constituiu –se como um referencial <strong>de</strong><br />
aplicação <strong>de</strong> políticas públicas, afinadas com uma visão <strong>de</strong> currículo que<br />
<strong>de</strong>safia as Unida<strong>de</strong>s Educacionais à construção do Projeto Político<br />
Pedagógico, a partir da leitura da região e da apropriação <strong>de</strong> seus espaços<br />
públicos.<br />
Um dos principais projetos da <strong>Secretaria</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> <strong>Educação</strong> que<br />
traduz tal visão é a criação do Centro Educacional Unificado – CEU, que po<strong>de</strong><br />
ser consi<strong>de</strong>rado um dos maiores projetos <strong>de</strong> inclusão social do País. É um<br />
projeto que viabiliza espaços e equipamentos públicos <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>;<br />
mecanismos <strong>de</strong> gestão e <strong>de</strong> participação que ampliam o exercício dos direitos<br />
políticos, constituindo-se também em pólos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento das<br />
comunida<strong>de</strong>s locais e em pólos <strong>de</strong> difusão <strong>de</strong> experiências educacionais para<br />
a Re<strong>de</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Ensino.<br />
1 Professora Universitária e atual Secretária da Assistência Social da PMSP.<br />
40
O Centro Educacional Unificado, como todas as Unida<strong>de</strong>s<br />
Educacionais da Re<strong>de</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Ensino, é um espaço <strong>de</strong> educação<br />
inclusiva, <strong>de</strong> formação permanente e <strong>de</strong> humanização das relações sociais. A<br />
elaboração do seu Projeto Político Pedagógico implica uma construção<br />
processual que permite atualização das suas próprias experiências e<br />
contextos, <strong>de</strong> modo a reconhecer, consi<strong>de</strong>rar e trabalhar com as diferenças.<br />
A concepção <strong>de</strong> Centro Educacional Unificado integra no mesmo<br />
espaço físico, equipamentos das <strong>Secretaria</strong>s <strong>de</strong> <strong>Educação</strong>, <strong>de</strong> Cultura e <strong>de</strong><br />
Esporte Lazer e Recreação, com a presença efetiva ainda das <strong>Secretaria</strong>s <strong>de</strong><br />
Assistência Social, da Saú<strong>de</strong> e da Segurança Urbana, na construção do<br />
conceito <strong>de</strong> intersetorialida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>monstrando como o po<strong>de</strong>r local das<br />
Subprefeituras, <strong>de</strong> forma integrada, po<strong>de</strong> atuar mais próximo das comunida<strong>de</strong>s<br />
locais e mais sintonizado com as reais necessida<strong>de</strong>s do cidadão.<br />
Dentro da nossa concepção <strong>de</strong> educação para a cida<strong>de</strong>, o Centro<br />
Educacional Unificado propõe a articulação <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> relações, que<br />
promova o diálogo entre os diferentes equipamentos que o compõem: as<br />
Unida<strong>de</strong>s Educacionais, as Unida<strong>de</strong>s da Cultura e do Esporte e o Telecentro,<br />
concretizando em seu projeto o currículo proposto para a Re<strong>de</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong><br />
Ensino.<br />
A organização e o funcionamento <strong>de</strong> cada Centro Educacional<br />
Unificado reflete um novo conceito na gestão do espaço público, propondo a<br />
articulação das forças atuantes nas comunida<strong>de</strong>s locais e, <strong>de</strong> modo especial,<br />
na composição do Conselho Gestor e pela constituição <strong>de</strong> instâncias <strong>de</strong><br />
participação que contemplem as necessida<strong>de</strong>s e os interesses dos diversos<br />
segmentos ali representados. Reiteramos que esse mesmo conceito <strong>de</strong> gestão<br />
<strong>de</strong>ve estar presente nas nossas Unida<strong>de</strong>s Educacionais e que o Conselho <strong>de</strong><br />
Escola seja <strong>de</strong> fato instância <strong>de</strong> participação e representação dos segmentos<br />
escolares.<br />
O Conselho Gestor no Centro Educacional Unificado, constitui uma<br />
instância, ao mesmo tempo, <strong>de</strong> ampliação da participação política e <strong>de</strong><br />
exercício da cidadania ativa, como também <strong>de</strong> controle social sobre a<br />
educação, a arte a cultura, o esporte e todos os <strong>de</strong>mais serviços públicos que<br />
po<strong>de</strong>m ser oferecidos.<br />
Formação e Acompanhamento - CEU: em 2003, foi constituído o Grupo <strong>de</strong> Trabalho<br />
Intersecretarial - GTI, com a participação <strong>de</strong>: gestores dos CEU, representantes das<br />
Coor<strong>de</strong>nadorias <strong>de</strong> <strong>Educação</strong> das Subprefeituras e representantes das <strong>Secretaria</strong>s Municipais<br />
<strong>de</strong> <strong>Educação</strong>, <strong>de</strong> Esportes, Lazer e Recreação e <strong>de</strong> Cultura. O GTI consolidou-se como espaço<br />
<strong>de</strong> formação e <strong>de</strong> acompanhamento das ações nos CEU.<br />
41
Cada Centro Educacional Unificado constituirá sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> a partir<br />
do contexto sociocultural em que está inserido, mas garantirá a unicida<strong>de</strong> do<br />
projeto em relação aos fundamentos e princípios que orientam seu<br />
funcionamento:<br />
1- Garantia dos direitos constitucionais <strong>de</strong> acesso aos bens e serviços<br />
socialmente produzidos: educação, lazer, cultura e esporte.<br />
2- Fortalecimento <strong>de</strong> uma política pública regionalizada, no contexto da<br />
<strong>de</strong>scentralização da gestão municipal, articulada nos vários setores da<br />
administração pública e da socieda<strong>de</strong> civil, no atendimento às necessida<strong>de</strong>s<br />
das crianças, jovens, adultos e idosos da localida<strong>de</strong>.<br />
3- Constituição <strong>de</strong> uma Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Proteção Social e <strong>de</strong> educação<br />
permanente, articulando o po<strong>de</strong>r público e as organizações da socieda<strong>de</strong> civil<br />
na sua área <strong>de</strong> abrangência.<br />
4- Oferta <strong>de</strong> educação com qualida<strong>de</strong> social que pressupõe a<br />
conjugação <strong>de</strong> diferentes espaços <strong>de</strong> aprendizagem e <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong>mocrática.<br />
5- Constituição <strong>de</strong> pólo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento humano e social da<br />
comunida<strong>de</strong> na qual está inserido como projeto <strong>de</strong> educação popular inclusiva<br />
e, portanto, para uma Cida<strong>de</strong> Educadora.<br />
Nessa perspectiva, a <strong>SME</strong> dá importante passo na construção da Re<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Proteção Social para a cida<strong>de</strong>, passo fundamental para constituir São Paulo<br />
como uma Cida<strong>de</strong> Educadora, fortalecendo as Subprefeituras, no contexto da<br />
<strong>de</strong>scentralização da gestão municipal.<br />
O envolvimento e a organização da comunida<strong>de</strong> do entorno são<br />
essenciais para garantir os objetivos educacionais, socioculturais e esportivos<br />
<strong>de</strong>sse equipamento público nas suas dimensões ética, estética e cognitiva,<br />
bem como favorecer a apropriação <strong>de</strong> diferentes linguagens pela população<br />
como forma <strong>de</strong> ampliar suas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> manifestação e <strong>de</strong> produção<br />
cultural, tornando-se, ao final, um pólo mobilizador e reorganizador das<br />
relações sociais do bairro que estimule o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />
local.<br />
O sentimento <strong>de</strong> pertencimento é fundamental para garantir a<br />
participação da população!<br />
A gestão do Centro Educacional Unificado e das Unida<strong>de</strong>s<br />
Educacionais, a construção do projeto político pedagógico, a apropriação dos<br />
espaços e equipamentos públicos por parte da população organizada, a<br />
42
integração intersecretarial e a integração com equipamentos públicos do<br />
entorno certamente possibilitarão novas relações sociais e humanas, novas<br />
possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem e novas formas <strong>de</strong> práticas políticas locais,<br />
configurando-se então como um espaço <strong>de</strong> formação.<br />
A Unida<strong>de</strong> Educacional, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da proximida<strong>de</strong> ou não do<br />
Centro Educacional Unificado, <strong>de</strong>ve dialogar com a região, apropriar-se dos<br />
equipamentos públicos e usar as potencialida<strong>de</strong>s culturais e <strong>de</strong> lazer da região.<br />
As Unida<strong>de</strong>s Educacionais da Re<strong>de</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Ensino e o Centro<br />
Educacional Unificado se constituem como pólo cultural para a Comunida<strong>de</strong><br />
Educativa, permitindo a construção individual e coletiva da ação pedagógica e,<br />
ao mesmo tempo, propondo a participação e organização dos diferentes<br />
segmentos e movimentos sociais.<br />
Buscam a constituição <strong>de</strong> espaço <strong>de</strong> intercâmbio <strong>de</strong> experiências,<br />
<strong>de</strong>senvolvidas, promovendo o acesso, a produção e a divulgação <strong>de</strong><br />
conhecimento, bem como interlocução entre educadores e educadoras,<br />
educandos e educandas, propiciando a reflexão no que diz respeito à<br />
Qualida<strong>de</strong> Social da <strong>Educação</strong>.<br />
Visam também promover a organização e a articulação no que se<br />
refere aos projetos sociais e às ações <strong>de</strong> interesse local, contribuindo para<br />
integrar as políticas públicas e os movimentos sociais organizados, no âmbito<br />
das Subprefeituras, a favor dos interesses que emergem da comunida<strong>de</strong>.<br />
As políticas sociais planejadas para a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo têm no<br />
Centro Educacional Unificado um espaço para o entrelaçamento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> formação que ampliam a troca <strong>de</strong> saberes referentes ao mundo do trabalho<br />
e da cultura, bem como possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> realizar ativida<strong>de</strong>s que valorizam<br />
suas experiências anteriores e propiciam novos conhecimentos, inclusive do<br />
mundo da tecnologia.<br />
Um dos importantes objetivos do Centro Educacional Unificado é que,<br />
sendo um espaço <strong>de</strong> formação para e pela cidadania, preocupa-se com a<br />
condição contemporânea das crianças, dos adolescentes, jovens, adultos e<br />
idosos, implementando programas educativos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> e com esses atores e<br />
autores.<br />
O Centro Educacional Unificado constitui-se, portanto, como uma<br />
nova referência nos bairros, uma nova centralida<strong>de</strong> urbana e, portanto, pólo <strong>de</strong><br />
criação <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cultural. Por ser um equipamento<br />
nunca antes oferecido à população local, ele provoca o estabelecimento <strong>de</strong><br />
novas relações entre estes equipamentos e a comunida<strong>de</strong>, interferindo em seu<br />
43
“além-muros”, modificando o <strong>de</strong>senho do bairro, qualificando o espaço urbano<br />
<strong>de</strong> regiões da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo on<strong>de</strong> mora a maior parte <strong>de</strong> seus<br />
trabalhadores.<br />
Que compreensão temos dos Centros Educacionais Unificados<br />
(CEU) como espaço <strong>de</strong> construção curricular?<br />
Como as todas as Unida<strong>de</strong>s Educacionais da Re<strong>de</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong><br />
Ensino po<strong>de</strong>m transformar os espaços públicos <strong>de</strong> lazer e <strong>de</strong><br />
manifestação e produção cultural da região em espaços <strong>de</strong> construção<br />
curricular?<br />
Referências<br />
GUIMARÃES, Samuel Pinheiro. Quinhentos anos <strong>de</strong> Periferia: uma<br />
contribuição ao estudo da política internacional. Porto Alegre/RJ:Editora da<br />
Universida<strong>de</strong> UFRGS/Contraponto. 1999.<br />
KOWARICK, Lúcio. A espoliação urbana. São Paulo: Paz e Terra. 1993.<br />
SANTOS, Milton. Por uma globalização: do pensamento único à consciência<br />
universal. RJ: Record. 2003.<br />
SPOSATI, Aldaíza. Cida<strong>de</strong> em Pedaços. SP: Brasiliense. 2001.<br />
44
AVALIAÇÃO – SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO 2003<br />
“O mundo não é. O mundo está sendo. Como subjetivida<strong>de</strong> curiosa, inteligente,<br />
interferidora na objetivida<strong>de</strong> com que dialeticamente me relaciono, meu papel no mundo não é<br />
só o <strong>de</strong> quem constata o que ocorre mas também o <strong>de</strong> quem intervém como sujeito das<br />
ocorrências.” Paulo Freire<br />
Ao chegar no quarto ano <strong>de</strong>sta gestão, trilhamos um caminho<br />
significativo no movimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>scentralização do po<strong>de</strong>r público municipal e na<br />
busca da unicida<strong>de</strong> do Sistema <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Ensino, tendo <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ado<br />
ações na busca da concretização das diretrizes propostas no início <strong>de</strong>ssa<br />
administração. Entretanto, ainda temos um caminho a percorrer e acreditamos<br />
no caráter processual e permanente da avaliação como instrumento <strong>de</strong><br />
investigação, problematização, sistematização e apreensão crítica, provocador<br />
<strong>de</strong> novas avaliações e reorganizações em nossos pensares e fazeres.<br />
Iniciamos nossa reflexão, pensando na perspectiva <strong>de</strong> constituir a<br />
cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo como Cida<strong>de</strong> Educadora. Cabe a todos e a todas<br />
tecerem a Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Proteção Social em diferentes espaços formais e não<br />
formais, permitindo a experiência <strong>de</strong> sujeitos sócio-históricos em espaços<br />
públicos e coletivos, potencializando suas histórias na produção conjunta <strong>de</strong><br />
cultura e conhecimento.<br />
Esse movimento requer uma articulação entre parte e todo, exigindo<br />
complementarida<strong>de</strong> entre as Subprefeituras das diversas regiões da cida<strong>de</strong>,<br />
entre as diferentes Coor<strong>de</strong>nadorias <strong>de</strong> cada Subprefeitura, entre as<br />
Coor<strong>de</strong>nadorias <strong>de</strong> <strong>Educação</strong> e, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ssas, a complementarida<strong>de</strong> entre as<br />
Diretorias (Técnico–pedagógica, Programas Especiais e Planejamento). Exige<br />
também a integração entre os pólos <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong>s Educacionais em que atua o<br />
Grupo <strong>de</strong> Acompanhamento da Ação Educativa - GAAE e entre os diferentes<br />
integrantes da Comunida<strong>de</strong> Educativa.<br />
Pensar nessas inter-relações nos remete à necessida<strong>de</strong> constatada <strong>de</strong><br />
lidar com a exclusão social na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo e ao compromisso <strong>de</strong> todos<br />
em efetivar uma proposta para a inclusão social concretizada no currículo das<br />
diferentes instâncias.<br />
Nesse sentido, a Diretoria <strong>de</strong> Orientação Técnica da <strong>SME</strong>, junto às<br />
Coor<strong>de</strong>nadorias <strong>de</strong> <strong>Educação</strong> das Subprefeituras, busca a articulação e o<br />
acompanhamento das ações <strong>de</strong> formação, os pensares e os fazeres das<br />
localida<strong>de</strong>s para que o todo não seja apenas uma somatória das partes, mas<br />
que essas sejam potencializadas nessa totalida<strong>de</strong>, a ponto <strong>de</strong> que cada<br />
localida<strong>de</strong> esteja fortalecida para realizar suas ações e reflexões específicas.<br />
45
Acreditamos em uma autonomia constituída na experiência das práticas sociais<br />
intencionalmente <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>adas e refletidas no conjunto da cida<strong>de</strong>.<br />
O caminho que percorremos até aqui foi avaliado em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong><br />
2003. Desta avaliação, <strong>de</strong>stacamos algumas questões a serem consi<strong>de</strong>radas<br />
no planejamento <strong>de</strong> 2004, requerendo uma integração entre a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
cada região e a totalida<strong>de</strong> da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo.<br />
1. Formação e Acompanhamento (<strong>de</strong>lineados na Revista <strong>EducAção</strong> nº 4)<br />
A Formação que refletiu sobre as dicotomias teoria/prática;<br />
discurso/ação; proposta/realida<strong>de</strong>.<br />
Cada vez mais as Coor<strong>de</strong>nadorias <strong>de</strong> <strong>Educação</strong> das Subprefeituras<br />
agem visando o fortalecimento do trabalho coletivo nas diferentes instâncias,<br />
objetivando romper com essas dicotomias:<br />
“Este movimento reflexivo (...)<br />
<strong>de</strong>verá ter continuida<strong>de</strong> em 2004, <strong>de</strong> forma que o<br />
professor, problematizando a sua prática, refletindo sobre<br />
ela, planejando coletivamente, possa pensar o currículo<br />
<strong>de</strong> forma mais abrangente, ou seja, como currículo sóciohistórico-cultural<br />
(...) uma formação (...) que não seja<br />
apenas teórica, mas tenha um movimento <strong>de</strong> açãoreflexão-ação...”<br />
(C.E. Perus)<br />
“É importante perceber a<br />
preocupação com os horários coletivos na discussão do<br />
Projeto Político Pedagógico,<br />
fortalecendo as relações e refletindo<br />
na melhoria do processo ensino<br />
aprendizagem.”<br />
(C.E. Jaçanã/Tremembé)<br />
Destacaram a conquista da apropriação <strong>de</strong>sse espaço coletivo como<br />
momentos privilegiados <strong>de</strong> formação:<br />
“O processo <strong>de</strong> formação contribuiu<br />
para a articulação coletiva <strong>de</strong>ntro das unida<strong>de</strong>s. As<br />
equipes técnicas<br />
46
essaltaram que percebem a<br />
revitalização da JEI enquanto espaço <strong>de</strong> formação <strong>de</strong>ntro<br />
das unida<strong>de</strong>s escolares”<br />
(C.E. São Miguel Paulista).<br />
As ações <strong>de</strong> formação favoreceram espaços <strong>de</strong> reflexão sobre o<br />
processo ensino e aprendizagem, subsidiando<br />
discussões nos horários coletivos.<br />
Esse movimento, conforme<br />
avaliações realizadas junto às U.E.s, provocou mudanças<br />
significativas na ação pedagógica, além da valorização da<br />
teoria como complemento da prática”<br />
(C.E. Freguesia do Ó/Brasilândia)<br />
E ampliaram a concepção <strong>de</strong> Formação, integrando a todos e a todas<br />
nesse processo:<br />
“A Qualida<strong>de</strong> Social que vem sendo<br />
construída pela Coor<strong>de</strong>nadoria <strong>de</strong> <strong>Educação</strong> e pelas<br />
Unida<strong>de</strong>s Educacionais<br />
Municipais compreen<strong>de</strong> dois<br />
movimentos articulados: por um lado, propõe-se ao amplo<br />
<strong>de</strong>bate envolvendo a Comunida<strong>de</strong> Educacional e a<br />
Socieda<strong>de</strong> Civil nas diferentes localida<strong>de</strong>s da cida<strong>de</strong>; por<br />
outro lado, enfatiza a Formação Permanente dos<br />
educadores”<br />
(C.E. Vila Maria/Vila Guilherme)<br />
As Coor<strong>de</strong>nadorias <strong>de</strong> <strong>Educação</strong> das Subprefeituras perceberam<br />
como os princípios e os procedimentos metodológicos possibilitaram a<br />
transformação das práticas educativas nas diferentes instâncias. O Grupo <strong>de</strong><br />
Formação constituiu–se, assim, na metodologia que concretizou tal<br />
transformação:<br />
“Já po<strong>de</strong>mos ver que em algumas<br />
escolas criou–se um movimento <strong>de</strong> problematização e<br />
reflexão, em que o professor que participa <strong>de</strong> grupo <strong>de</strong><br />
formação faz um diferencial nas discussões”<br />
(C.E. Casa Ver<strong>de</strong>/Cachoeirinha).<br />
Os grupos <strong>de</strong> formação repercutiram também na potencialização dos<br />
coletivos com todos os segmentos:<br />
47
“A formação tem buscado não<br />
apenas apurar o olhar do professor para sua criança, sua<br />
sala <strong>de</strong> aula; mas também ampliar a idéia <strong>de</strong> coletivo,<br />
saindo dos espaços ‘intra-muros’. Em nossa região,a<br />
formação alcança grupos <strong>de</strong> alunos adolescentes /<br />
adultos e grupos <strong>de</strong> mães / pais, que nos ajudam a<br />
repensar a escola e a formação <strong>de</strong> seus educadores a<br />
partir da perspectiva da população,do olhar <strong>de</strong> outros<br />
trabalhadores.”<br />
(C.E. Capela do Socorro)<br />
Os educadores e educadoras revelaram suas concepções no resgate<br />
das memórias:<br />
Iniciamos com as memórias da<br />
aprendizagem <strong>de</strong> cada professor, registramos, lemos,<br />
contamos e fomos revelando ao grupo as lembranças que<br />
guardamos <strong>de</strong> como fomos alfabetizadas. Muitas foram<br />
boas lembranças, outras sofridas, mas nos permitiram<br />
iniciar a discussão <strong>de</strong> como se apren<strong>de</strong> e <strong>de</strong> como se<br />
ensina”<br />
(C.E. Ipiranga)<br />
Organizaram a formação integrando as diretrizes gerais e as<br />
necessida<strong>de</strong>s locais:<br />
“Os investimentos em formações<br />
pautadas nas diretrizes educadionais do governo e nas<br />
necessida<strong>de</strong>s locais procuraram valorizar a humanização<br />
na educação, estimulando os educadores a refletirem<br />
sobre as transformações <strong>de</strong> sua prática, educativa,<br />
contribuindo assim, para a Qualida<strong>de</strong> Social da educação”<br />
(C.E. Itaim Paulista).<br />
Destaca-se o espaço significativo das experiências construídas:<br />
“Reconhece-se a importância dada<br />
pela administração às práticas/experiências das Unida<strong>de</strong>s<br />
Educacionais, valorizando isso nos processos <strong>de</strong><br />
formação”<br />
(C.E. Guaianases)<br />
48
O processo <strong>de</strong> formação contribuiu para romper com os paradigmas:<br />
“A prática educativa <strong>de</strong>sta<br />
Coor<strong>de</strong>nadoria, com relação à formação permanente,<br />
proporcionou a ruptura<br />
do paradigma <strong>de</strong> multiplicadores,<br />
isto é, todos educadores pu<strong>de</strong>ram participar <strong>de</strong> todos os<br />
eventos”<br />
(C.E. Cida<strong>de</strong> Tira<strong>de</strong>ntes).<br />
As formações nas diferentes instâncias integraram os temas presentes<br />
na Revista <strong>EducAção</strong> nº 4 e no Ca<strong>de</strong>rno Temático <strong>de</strong> Formação 1 . Esses<br />
temas constituíram-se em contextos para as discussões curriculares:<br />
“As ações <strong>de</strong> formação, que têm<br />
sido <strong>de</strong>senvolvidas pela Coor<strong>de</strong>nadoria <strong>de</strong> <strong>Educação</strong>,<br />
levam em consi<strong>de</strong>ração o eixo apontado na Revista<br />
<strong>EducAção</strong> nº 4 e no Ca<strong>de</strong>rno Temático 1. Enten<strong>de</strong>mos<br />
que o planejamento e a execução dos trabalhos a respeito<br />
das questões <strong>de</strong> gênero e sexualida<strong>de</strong>, etnias,<br />
alfabetização, leitura <strong>de</strong> mundo, letramento e avaliação<br />
fazem parte do trabalho específico da educação no<br />
esforço <strong>de</strong> construção da Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Proteção Social no<br />
contexto da Cida<strong>de</strong> Educadora”<br />
(C.E. Pirituba)<br />
“Percebemos a ampliação do olhar<br />
dos educadores em relação às diversida<strong>de</strong>s, elas existem,<br />
não só em relação às diferenças econômicas, políticas e<br />
sociais, mas também em relação ao gênero, à orientação<br />
sexual e à etnia”.<br />
(C.E. Vila Pru<strong>de</strong>nte/Sapopemba).<br />
“... priorizar os seguintes temas:<br />
letramento e as diferentes linguagens nas diferentes<br />
áreas do conhecimento, atrelados às temáticas propostas<br />
por <strong>SME</strong> – letramento, gênero, sexualida<strong>de</strong>, diversida<strong>de</strong><br />
cultural e etnia”<br />
49
(C.E. Santo Amaro)<br />
E provocaram discussões que também fortaleceram o Projeto Político<br />
Pedagógico:<br />
“...as ações promovidas pela<br />
Coor<strong>de</strong>nadoria <strong>de</strong> <strong>Educação</strong> da Subprefeitura da Mooca<br />
propiciaram o fortalecimento do Projeto Político<br />
Pedagógico e o trabalho coletivo, bem como uma maior<br />
proximida<strong>de</strong> das equipes das escolas, havendo uma<br />
sensibilização para o respeito à diversida<strong>de</strong>, à inclusão, à<br />
alfabetização e para o letramento como responsabilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> todos”<br />
(C.E. Mooca).<br />
Buscou-se o fortalecimento do GAAE, tendo como foco o Projeto<br />
Político Pedagógico da Unida<strong>de</strong> Educacional, aprofundando questões <strong>de</strong><br />
currículo.<br />
O grupo <strong>de</strong> Acompanhamento da Ação Educativa integra diferentes<br />
autores e atores da Coor<strong>de</strong>nadoria <strong>de</strong> <strong>Educação</strong>, na perspectiva <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r à<br />
complexida<strong>de</strong> dos movimentos da Unida<strong>de</strong> Educacional. Ele é a ponte entre as<br />
intenções políticas e a formação.<br />
Destaca–se a importância da dialogicida<strong>de</strong> na sua ação, procurando<br />
uma apuração do olhar, do observar e do ler as manifestações e produções<br />
culturais da Unida<strong>de</strong> Educacional, que é o caminho da intervenção/diálogo. O<br />
registro da memória do GAAE na Coor<strong>de</strong>nadoria <strong>de</strong> <strong>Educação</strong> assume um<br />
papel essencial, trazendo as marcas da sua história.<br />
A idéia <strong>de</strong> GAAE remete também à idéia <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> dos<br />
encontros <strong>de</strong> pólo e inter-pólos.<br />
As Coor<strong>de</strong>nadorias <strong>de</strong> <strong>Educação</strong> das Subprefeituras apontam os<br />
avanços alcançados em relação ao movimento provocado pelo GAAE nas<br />
Unida<strong>de</strong>s Educacionais:<br />
“As Unida<strong>de</strong>s apontaram que as<br />
reuniões <strong>de</strong> pólo e o acompanhamento in locus<br />
contribuem<br />
50
para a construção coletiva do<br />
Projeto Político Pedagógico, possibilitando que ele se<br />
torne<br />
um documento vivo para elas. As<br />
ativida<strong>de</strong>s Propostas no GAAE fortaleceram o trabalho<br />
coletivo das<br />
unida<strong>de</strong>s e contribuíram para a<br />
reflexão sobre a prática e sobre o processo <strong>de</strong> ensino e<br />
<strong>de</strong> aprendizagem”<br />
(C.E. Penha).<br />
“As nossas escolas apontam o<br />
acompanhamento da ação educativa pela Supervisão e<br />
STEs, bem como as oficinas e cursos <strong>de</strong> formação, como<br />
passos importantes <strong>de</strong> revitalização do trabalho escolar,<br />
da melhoria nas relações dos grupos (coletivos das<br />
U.E.s.)”<br />
(C.E. Cida<strong>de</strong> A<strong>de</strong>mar)<br />
Frente aos avanços, as Coor<strong>de</strong>nadorias <strong>de</strong> <strong>Educação</strong> propuseram a<br />
continuida<strong>de</strong> do trabalho <strong>de</strong> integração das Unida<strong>de</strong>s Educacionais, rompendo<br />
com a fragmentação e possibilitando, assim, um sentido para o Projeto Político<br />
Pedagógico.<br />
2. Gestão Democrática<br />
“É nosso objetivo integrar as<br />
escolas do pólo, consubstanciando as ações<br />
anteriormente pensadas<br />
<strong>de</strong> modo isolado, dando, assim,<br />
sentido e significado às ações <strong>de</strong>senvolvidas no interior<br />
da Unida<strong>de</strong> Educacional, referendando com isso o Projeto<br />
Pedagógico das escolas”<br />
(C.E. Butantã).<br />
A gestão <strong>de</strong>ve ser alvo <strong>de</strong> atenção do sistema da <strong>SME</strong> à Unida<strong>de</strong><br />
Educacional. Houve um <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>amento do Movimento <strong>de</strong> Gestão na Cida<strong>de</strong><br />
com a responsabilida<strong>de</strong> central e regional, consi<strong>de</strong>rando: o Grupo das<br />
Unida<strong>de</strong>s Educacionais como espaços <strong>de</strong> gestão; a consolidação da autoria da<br />
Comunida<strong>de</strong> Educativa na discussão <strong>de</strong> Currículo e Projeto Político<br />
Pedagógico; a ampliação das discussões e ações do Conselho <strong>de</strong> Escola, do<br />
51
Conselho Regional dos Conselhos <strong>de</strong> Escola (CRECE) e dos Grêmios; a<br />
Escola Aberta; o fortalecimento do coletivo dos diferentes segmentos:<br />
envolvimento na Reunião Geral <strong>de</strong> Pólo (RGP) e nas ações do GAAE; a<br />
participação <strong>de</strong> representantes <strong>de</strong> todas as Unida<strong>de</strong>s Educacionais no<br />
Conselho da Coor<strong>de</strong>nadoria, fortalecendo a ampliação das discussões do<br />
Conselho <strong>de</strong> Escola; a gestão dos CEU e suas relações intersecretariais e<br />
com a comunida<strong>de</strong>.<br />
Em vários espaços da cida<strong>de</strong>, as Coor<strong>de</strong>nadorias <strong>de</strong> <strong>Educação</strong> das<br />
Subprefeituras apontaram os avanços das Unida<strong>de</strong>s Educacionais em relação<br />
à gestão:<br />
“É importante registrar que, com a<br />
garantia das reuniões bimestrais dos Grêmios Estudantis,<br />
ocorreu o fortalecimento <strong>de</strong>ssas organizações e,<br />
conseqüentemente, incentivou-se a participação dos<br />
alunos nos diversos espaços das EMEF, nos diferentes<br />
projetos <strong>de</strong>senvolvidos pela <strong>SME</strong> e pela Coor<strong>de</strong>nadoria<br />
da Juventu<strong>de</strong>”<br />
(C.E. Campo Limpo).<br />
Entre eles, o diálogo com as famílias, na perspectiva da construção<br />
curricular:<br />
“... as Unida<strong>de</strong>s Educacionais têm se<br />
afirmado como um ponto <strong>de</strong> encontro, on<strong>de</strong> as famílias se<br />
articulam, não apenas para conseguir uma vaga para<br />
seus filhos, mas também para saborear suas alegrias,<br />
socializar suas dores e construir, juntas, os caminhos que<br />
<strong>de</strong>sejam percorrer. Essa trajetória tem tornado o currículo<br />
vivo na rotina das Unida<strong>de</strong>s Educacionais: EMEF, EMEI,<br />
CEI e CIEJA”<br />
(C.E. São Mateus).<br />
Foram explicitadas propostas <strong>de</strong> ação para 2004, em que as Unida<strong>de</strong>s<br />
Educacionais são compreendidas como espaços públicos privilegiados <strong>de</strong><br />
inclusão, pertencimento e gestão <strong>de</strong>mocrática:<br />
52
“Estabelecer parcerias e ações<br />
melhorando a ampliação e participação da comunida<strong>de</strong> na<br />
escola... Estimular maior participação da comunida<strong>de</strong> no<br />
Conselho <strong>de</strong> Escola”<br />
(C.E. Jabaquara).<br />
“Abrir os espaços com as escolas<br />
que permita problematizar experiências, conhecer os<br />
projetos <strong>de</strong>senvolvidos em cada Unida<strong>de</strong> Educacional,<br />
como pensam as escolas e suas concepções <strong>de</strong><br />
educação são <strong>de</strong> suma importância para a <strong>de</strong>struição <strong>de</strong><br />
relações autoritárias no âmbito escolar e social e,<br />
essencial, para uma gestão <strong>de</strong>mocrática<br />
(C.E. Vila Mariana)<br />
“A possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> optar ou não por<br />
algum projeto, permitiu o exercício da <strong>de</strong>mocracia nas<br />
Unida<strong>de</strong>s Educacionais, que pu<strong>de</strong>ram discutir e <strong>de</strong>cidir<br />
pela participação”<br />
(C.E. Aricanduva)<br />
3. Articulação intersecretarial nas Subprefeituras, tendo a Re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Proteção Social e a Cida<strong>de</strong> Educadora como projetos comuns.<br />
As Coor<strong>de</strong>nadorias <strong>de</strong> <strong>Educação</strong> iniciam um caminho para a<br />
aproximação com outras Coor<strong>de</strong>nadorias intra e inter Subprefeitura, ampliando<br />
os espaços <strong>de</strong> discussão na perspectiva <strong>de</strong> construção da Cida<strong>de</strong> Educadora:<br />
“A parceria entre as Coor<strong>de</strong>nadorias<br />
<strong>de</strong> Ermelino Matarazzo e <strong>de</strong> São Miguel Paulista, na<br />
formação <strong>de</strong> professores, diretores e coor<strong>de</strong>nadores, foi<br />
muito valiosa para inclusão dos educadores dos CEI na<br />
<strong>Educação</strong> e para todos os envolvidos na ação pedagógica<br />
das Unida<strong>de</strong>s Educacionais”<br />
(C.E. Ermelino Matarazzo).<br />
“... temos feito um trabalho <strong>de</strong><br />
aproximação e por algumas vezes, <strong>de</strong> integração com as<br />
Coor<strong>de</strong>nadorias <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> e Ação Social e<br />
53
gestão:<br />
Desenvolvimento) (...) a busca por um equilíbrio neste<br />
processo e por uma construção <strong>de</strong> fato, verda<strong>de</strong>ira, ainda<br />
é maior do que os problemas e dificulda<strong>de</strong>s vivenciados”<br />
(C.E. Lapa).<br />
“Em 2003, realizamos reuniões <strong>de</strong><br />
formação dos conselheiros do CRECE, focando o eixo<br />
‘Cida<strong>de</strong> Educadora e Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Proteção Social’(...). Por<br />
enten<strong>de</strong>r que o princípio da Cida<strong>de</strong> Educadora é algo<br />
concebido no âmbito do governo local, uma vez que <strong>de</strong>ve<br />
envolver todas as Coor<strong>de</strong>nadorias das Subprefeituras,<br />
propusemos para 2004 a realização <strong>de</strong> um seminário<br />
interno sobre o tema e o planejamento <strong>de</strong> ações comuns<br />
rumo à Cida<strong>de</strong> Educadora”<br />
(C.E. Itaquera).<br />
E envolveram autores e atores da região, ampliando os espaços <strong>de</strong> formação e <strong>de</strong><br />
“A participação <strong>de</strong> todos os<br />
segmentos das Unida<strong>de</strong>s Educacionais nos processos <strong>de</strong><br />
formação foram metas <strong>de</strong>sta Coor<strong>de</strong>nadoria. No<br />
<strong>de</strong>senvolvimento do Fórum Regional <strong>de</strong> <strong>Educação</strong> <strong>de</strong>mos<br />
o gran<strong>de</strong> salto quando trouxemos os movimentos sociais<br />
organizados da região, as escolas particulares, o<br />
Conselho da Coor<strong>de</strong>nadoria e as <strong>de</strong>mais Coor<strong>de</strong>nadorias<br />
da Subprefeitura <strong>de</strong> M’Boi Mirim para pensar a educação<br />
na região, apontando a Cida<strong>de</strong> Educadora”<br />
(C.E. M’Boi Mirim).<br />
Aconteceram, no processo <strong>de</strong> integração dos espaços públicos da<br />
cida<strong>de</strong>, ações <strong>de</strong> governo que romperam efetivamente com os muros das<br />
Unida<strong>de</strong>s Educacionais e têm contribuído para transformar o coletivo dos<br />
diferentes segmentos e dialogar com o Projeto Político Pedagógico:<br />
Educom.rádio, Escola Aberta, Recreio nas Férias, entre outros.<br />
54
Nesse sentido, as Coor<strong>de</strong>nadorias <strong>de</strong> <strong>Educação</strong> das Subprefeituras<br />
manifestaram suas experiências em relação às repercussões <strong>de</strong>sses projetos<br />
nas Unida<strong>de</strong>s Educacionais:<br />
“Gostaríamos <strong>de</strong> chamar a atenção<br />
sobre esses projetos, pois os mesmos ampliam um<br />
processo educativo <strong>de</strong> participação e inserção da<br />
comunida<strong>de</strong> local que vai além dos espaços<br />
escolarizados, alcançando até mesmo as regiões on<strong>de</strong><br />
não existem espaços instituídos para tal (Comunida<strong>de</strong><br />
Engenheiro Marsilac, Ponte Seca e comunida<strong>de</strong>s<br />
indígenas)”<br />
(C.E. Parelheiros)<br />
As Coor<strong>de</strong>nadorias <strong>de</strong> <strong>Educação</strong> das Subprefeituras apontam também<br />
para a necessida<strong>de</strong> das reflexões curriculares em torno <strong>de</strong>sses Projetos:<br />
“Em relação aos Projetos<br />
Educom.radio e Recreio nas Férias (...) O trabalho <strong>de</strong><br />
expansão está feito, há que se<br />
efetivar sua consolidação na<br />
dimensão da reorientação curricular que<br />
potencialmente apresentam”<br />
(Santana/ Tucuruvi)<br />
E consi<strong>de</strong>raram a apropriação dos espaços <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão da cida<strong>de</strong> como<br />
forma <strong>de</strong> constituição do sentimento <strong>de</strong> pertencimento e <strong>de</strong> inclusão <strong>de</strong> todos e<br />
<strong>de</strong> todas:<br />
“Nos <strong>de</strong>paramos diante <strong>de</strong> um<br />
quadro <strong>de</strong> marcantes <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais e uma das<br />
propostas para mudança é a <strong>de</strong> nos incluirmos ao grupo<br />
das Cida<strong>de</strong>s Educadoras que acreditam na educação<br />
.<br />
55
inclusiva como possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transformação social e<br />
educação para a Paz”.<br />
(C.E. Sé).<br />
“Acreditamos que esse trabalho só<br />
po<strong>de</strong>ria ter sucesso com a participação <strong>de</strong> todos, com as<br />
pessoas realmente envolvidas na discussão, expondo<br />
suas idéias e sugestões sobre a” sua cida<strong>de</strong>...” Durante<br />
esse processo, uma das falas mais constantes do grupo<br />
era a <strong>de</strong> que estávamos sendo” chamados “para o” novo<br />
“. Para nós, um” novo “olhar, um” novo “modo <strong>de</strong> viver,<br />
agir, sentir... a cida<strong>de</strong>, na cida<strong>de</strong> e da cida<strong>de</strong>”<br />
(C.E. Pinheiros).<br />
A população tem avaliado positivamente a educação na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São<br />
Paulo, o que po<strong>de</strong>mos perceber nas últimas pesquisas divulgadas pela<br />
imprensa. Esse fato reafirma o nosso compromisso com a educação que<br />
queremos para a cida<strong>de</strong> e que retomamos no texto da Revista Educ Ação nº 4<br />
- Cida<strong>de</strong> Educadora, <strong>Educação</strong> Inclusiva: Um Sonho Possível.<br />
Nesse sentido, propormo-nos a avaliar o impacto do Programa <strong>de</strong><br />
Formação assumido e que aponta fundamentalmente para: <strong>Educação</strong> Infantil -<br />
“Cultura da Infância” e Ensino Fundamental, Médio, EJA: “Ler e Escrever –<br />
<strong>de</strong>safio <strong>de</strong> todos”.<br />
Que ações <strong>de</strong> formação <strong>de</strong>ste programa foram <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>adas?<br />
Qual o impacto da realização do Programa na transformação das<br />
práticas educativas e na manifestação e produção <strong>de</strong> saberes?<br />
Referências<br />
“Avaliação(...) é um ato político. É um processo permanente <strong>de</strong><br />
ação-reflexão- ação”(Jussara Margareth <strong>de</strong> Paula Loch)<br />
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática<br />
educativa.Rio <strong>de</strong> Janeiro: Paz e Terra. 2001.<br />
56
ESTEBAN, Maria Teresa (org). Avaliação: uma prática em busca <strong>de</strong> novos<br />
sentidos. Rio <strong>de</strong> Janeiro: DP&A. 2001.<br />
57