1 A PREVENÇÃO EO CONTROLE DA VIOLÊNCIA E CRIMINALIDADE
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1 A PREVENÇÃO EO CONTROLE DA VIOLÊNCIA E CRIMINALIDADE
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A <strong>PREVENÇÃO</strong> E O <strong>CONTROLE</strong> <strong>DA</strong> <strong>VIOLÊNCIA</strong> E CRIMINALI<strong>DA</strong>DE:<br />
1. INTRODUÇÃO<br />
PROGRAMAS EXITOSOS<br />
1<br />
Francisco Gelinski Neto<br />
fgelneto@cse.ufsc.br<br />
UFSC<br />
Jediael Emanoel Pereira da Silva<br />
jediaelemanoel@gmail.com<br />
O objetivo deste artigo é resgatar políticas e/ou ações de sucesso na prevenção e<br />
combate da violência e criminalidade utilizadas em outros países, no Brasil e em Santa<br />
Catarina.<br />
Na esteira de urbanização acelerada e de problemas relacionados ao crime e à sensação<br />
de impunidade a sociedade brasileira preocupa-se cada vez mais com a violência. Segundo a<br />
Organização Mundial de Saúde (OMS), a taxa nacional de homicídios no Brasil é de 27 por<br />
cem mil habitantes, muito superior a de países desenvolvidos. No Japão, Canadá e Estados<br />
Unidos a taxa atinge respectivamente apenas um, dois e oito homicídios por cem mil<br />
habitantes respectivamente (BELCHIOR, 2007) 1 .<br />
Segundo Waiselfisz (2011), as políticas desenvolvidas pelo governo brasileiro a partir<br />
de 2003 conseguiram estancar o número de homicídios que vinham crescendo desde 1980.<br />
Entretanto, os índices ainda continuam muito altos se comparados com outros países do<br />
mundo. Além disso, se percebe que o decréscimo ou, pelo menos, o estancamento da<br />
quantidade de homicídios na última década deve-se, em grande parte, ao fato de o Estado de<br />
São Paulo ter reduzido substancialmente o número de homicídios.<br />
Outro fator que preocupa, segundo Waiselfisz (2011), é que esse tipo de violência<br />
continua a ter como principal ator e vítima a juventude 2 . É na faixa etária 14 – 30 anos 3 , que<br />
duas em cada três mortes se originam de violência, seja ela homicídio, suicídio ou acidente de<br />
transporte.<br />
1<br />
Estatísticas do Estudo Global de Homicídios 2011 - Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime<br />
(Unodc) (ME, 2011).<br />
2<br />
De acordo cm Soares (2007) a maioria dos afetados por homicídios são homens negros e jovens.<br />
3<br />
Está sendo considerada esta faixa etária por abranger o período que é mais adotado pelos autores analisados.<br />
Entretanto,Na literatura não há consenso quanto à faixa etária que abrange a juventude. Órgãos como o IBGE,<br />
por exemplo delimitam essa fase entre os 15 e os 24 anos.
Para Santa Catarina antes do ano 2000, a taxa de homicídios no interior do estado era<br />
superior à das regiões metropolitanas e da capital. A partir do ano 2001 essa situação se<br />
inverte e atinge, em 2010, o patamar de 16,9 por 100 mil habitantes para as regiões<br />
metropolitanas e capital, contra 9,6 por 100 mil habitantes no interior. Deve-se tributar isso à<br />
continuidade das migrações e conseqüente crescimento de aglomerações urbanas com frágil<br />
estrutura além do crescimento do tráfico de drogas. Embora o índice médio para o estado<br />
tenha se elevado o Estado continua com um dos menores índices do país, por que os demais<br />
Estados tiveram maior crescimento neste quesito (Gráfico 1).<br />
Gráfico 1. Taxas de homicídio por área. Santa Catarina 1980/2010<br />
Fonte:Waiselfisz (2012, p. 214).<br />
O nível da taxa e a continuidade de seu crescimento é um problema para as localidades<br />
onde isto ocorre com reflexos nos indicadores econômicos e sociais. Em Santa Catarina, além<br />
dos crimes comuns, persistem os elevados índices de mortalidade no trânsito decorrentes em<br />
sua maioria do consumo de álcool. Outro problema são os roubos a caixas eletrônicos com<br />
explosões dos referidos em várias cidades do Estado. A problemática do crime tem<br />
sensibilizado a sociedade a ponto de o grupo RBS estar em permanente campanha contra o<br />
crack (“Crack nem pensar”).<br />
A ampliação do conhecimento das causas e possível prevenção ao crescimento da<br />
violência e criminalidade é importante pois, afeta diretamente os gastos públicos com saúde,<br />
afasta investimentos e turismo e significa perdas humanas. A prevenção parece ser a principal<br />
e mais eficiente maneira para o controle da violência e/ou criminalidade.<br />
2
Tendo essa discussão como pano de fundo pretende-se aqui resgatar experiências de<br />
prevenção e combate à violência e à criminalidade. Discussão que, necessariamente, tem que<br />
tentar responder as alguns questionamentos, tais como: quanto custa a violência e a<br />
criminalidade? Por que fazer a prevenção? O que fizeram as experiências de sucesso na<br />
redução da violência e da criminalidade?<br />
A respeito desta última questão a preocupação é verificar se há experiências de<br />
sucesso que pudessem servir de modelo para o estado de Santa Catarina. E nesse sentido, o<br />
artigo destacará o Programa Segurança Cidadã da Colômbia e o Programa Bares de São<br />
Paulo.<br />
2. CUSTOS <strong>DA</strong> <strong>VIOLÊNCIA</strong> E CRIMINALI<strong>DA</strong>DE<br />
Dos diversos problemas associados à violência e criminalidade Soares (2007) e<br />
Carvalho (2006) apontam que:<br />
i. À medida que o crime vai aumentando numa determinada região, a atratividade deste<br />
local diminui. Um exemplo disso é o México, que por conta do alto índice de pessoas<br />
envolvidas com o narcotráfico, transmite insegurança para várias empresas que tem por<br />
objetivo instalar fábricas no país. Receosos de colocar seus funcionários num local<br />
considerado arriscado, empresas como a Electrolux, por exemplo, escolhem outros locais para<br />
investir. Esse processo gera um aumento de desemprego na região afetada pelo crime e se não<br />
forem tomadas medidas para aumentar a segurança pública, pode gerar grandes problemas<br />
sociais e econômicos 4 ;<br />
ii. À medida que se combate a criminalidade priorizando-se a prevenção, futuramente<br />
irão diminuir os gastos com mecanismos para combater o crime, como a construção de<br />
presídios;<br />
iii. A prevenção da criminalidade também reduz os gastos públicos com a saúde. Menor<br />
número de vítimas utilizará recursos públicos para tratarem suas seqüelas físicas e ou<br />
psicológicas;<br />
iv. O turismo de uma região também é recuperado quando se combate a criminalidade.<br />
Em cidades alvos de ataques violentos cai a capacidade de atrair turistas.<br />
4 No México, Luhnow (2010) aponta que morreram aproximadamente 31.000 pessoas mortas, devido ao<br />
narcotráfico no período 2006 a 2010 (11.000 mortes somente nesse último ano). Em razão da violência<br />
ocasionada pelas drogas calcula-se que deixaram de ser investidos US$ 4 bilhões. Com menos investimentos,<br />
diminui a quantidade de emprego o que pressiona o governo para resolver esse problema que também é<br />
econômico. A violência no México e em outros lugares do mundo, inclusive no Brasil, mostra que, além de ser<br />
um problema social, a criminalidade é, também, um problema econômico e que deve ser tratado com prioridade.<br />
3
Não são apenas as elevadas taxas de criminalidade que trazem preocupação, mas as<br />
diversas conseqüências envolvidas desde os efeitos tangíveis tais como os elevados gastos dos<br />
setores público e privado para correção de danos, mas também os elementos intangíveis tais<br />
como os traumas e problemas psicológicos diversos que acabam afetando vítimas, parentes e<br />
amigos trazendo ônus para o sistema de saúde entre outros. Em razão disso as autoridades,<br />
pesquisadores e sociedade têm buscado solução ao grave problema da violência e<br />
criminalidade. (BELCHIOR, 2007)<br />
A pesquisa Análise dos Custos e Conseqüências da Violência no Brasil 5 realizada pelo<br />
IPEA revela que, em 2004, o custo da violência foi de R$ 92,2 bilhões, o que representava<br />
5,09% do Produto Interno Bruto (PIB), ou R$ 519,40 per capita. (BELCHIOR, 2007).<br />
Para o ano de 2004 do valor de R$ 92,2 bilhões, R$ 31,9 bilhões (cerca de um terço)<br />
referem-se a gastos públicos e dois terços (R$ 60,3 bilhões) correspondem a despesas do setor<br />
privado. Os desembolsos do setor público destinaram-se à manutenção da segurança pública<br />
(R$ 28,1 bilhões), mais R$ 2,8 bilhões com o sistema prisional e R$ 998 milhões com o<br />
sistema de saúde, aí incluídos agressões e acidentes de transportes. (BELCHIOR, 2007).<br />
Destaque-se que os gastos do sistema público de saúde no atendimento às vitimas de violência<br />
estão subestimados. Utilizando-se de informações indiretas, o IPEA obteve outra estimativa<br />
com resultados bem superiores de gastos com a violência: para 2004 o atendimento às vitimas<br />
de causas externas, de agressões e dos acidentes de trânsito, o sistema público de saúde teria<br />
gasto R$ 4,7 bilhões ao invés de apenas R$ 998 milhões. Só de internações hospitalares entre<br />
1998-2004, o SUS realizou cerca de 12,2 milhões de internações hospitalares anuais, o que<br />
gerou um custo médio de aproximadamente 8 bilhões de reais por ano. (RODRIGUES et al.,<br />
2007).<br />
Para Rodrigues et al (2007), esses valores poderiam ser reduzidos caso houvesse uma<br />
maior preocupação com a prevenção da criminalidade. Esta evitaria acidentes e ou violências<br />
causadoras de óbitos e lesões que culminam em uma série de custos quer seja pré-hospitalares<br />
ou hospitalares, sem contar os custos intangíveis 6 para as vítimas, familiares e amigos.<br />
(...) para cada vítima de morte violenta, calcula-se entre quatro e dez vítimas ocultas (familiares<br />
mais próximos e parentes não primários). Nos últimos oito anos, concluiu-se que houve meio<br />
milhão de vítimas da violência no Brasil,o que,multiplicado por uma média de seis pessoas que<br />
sofrem reflexos, gerou algo entre três e quatro milhões de vítimas ocultas. (SOARES, 2007, apud<br />
BELCHIOR, 2007, s.p).<br />
5 O projeto final compôs uma trilogia que se iniciou com o estudo Custo com as mortes por causas externas, na<br />
seqüência houve aprofundamentos no trabalho Custo da violência para o sistema público de saúde, culminando<br />
com Análise dos custos e conseqüências da violência no Brasil (BELCHIOR,2007).<br />
6 A análise desses custos e outros foram publicados no livro: As vítimas ocultas da violência. 2006.<br />
4
Belchior (2007) ainda relaciona os problemas psicológicos que acometem os parentes<br />
das vítimas de mortes por violência: depressão, insônia, lembranças de fatos passados<br />
vinculados ao crime, estresse, aspectos que terão reflexos financeiros referentes a interrupções<br />
no trabalho ou educação, além de desestruturação familiar.<br />
Se de um lado existem os custos decorrentes da criminalidade, de outro ocorrem<br />
despesas para combatê-la, ou seja, com a segurança pública 7 . No período 2003 a 2009 o<br />
governo teria mais que dobrado o valor dos gastos aumentando de R$ 22,5 bilhões para R$<br />
47,6 bilhões (Gráfico 2). Isso pode ter contribuído para a ligeira queda na taxa de homicídios<br />
de 2003 em diante. Os gastos com segurança pública são relativamente elevados, pois, em<br />
2008 da arrecadação total brasileira foram gastos 8,51% com esta rubrica. Não obstante<br />
esforços feitos na construção de presídios de segurança máxima, ainda existe um déficit<br />
elevado de vagas nos presídios brasileiros o que tem obrigado a flexibilização exacerbada de<br />
penas fragilizando o aspecto pedagógico da pena dado o “baixo custo ao agente infrator”.<br />
Gráfico 2 Gastos na função Segurança Pública<br />
Brasil, 2003-2009 (em bilhões de reais)<br />
Fonte: Elaboração com base em Lima (2010)<br />
Utilizando-se ainda os dados de Lima et al (2010) sublinhe-se que os percentuais<br />
gastos com informação e inteligência são pífios comparativamente às demais subfunções da<br />
Segurança Pública representando apenas 0,84% do total de gastos em 2009. Obviamente a<br />
prevenção depende muito desta atividade e não somente do policiamento.<br />
3. POR QUE OCORRE O CRIME?<br />
Segundo a Organização Mundial da Saúde (2000), violência é “a imposição de um<br />
grau significativo de dor e sofrimento evitáveis”. Porém, é importante observar que nem toda<br />
violência pode ser considerada como um crime.<br />
7 Os gastos com segurança pública são as despesas relacionadas ao policiamento, defesa civil, informação e<br />
inteligência, custódia e reintegração social.<br />
5
O crime configura uma ruptura de regras e normas pré-estabelecidas puníveis pela lei.<br />
No código penal brasileiro estão designados os seguintes crimes: contra a vida, contra a<br />
integridade física, contra a liberdade pessoal, contra a liberdade sexual, contra a propriedade<br />
com sub-tipologias em cada um deles.<br />
De forma simplificada, há duas óticas de abordagem sobre a violência e crime. Uma<br />
que considera a aplicação de maior rigor segundo lei e ordem e outra que considera necessário<br />
tratar as razões de fundo para reduzir a violência e a criminalidade.<br />
A primeira estaria mais propensa a exigir maior rigor na aplicação das penas e também<br />
penas mais longas, criando um custo elevado ao criminoso (punição) frente à possibilidade de<br />
benefício que o crime proporcionaria ao mesmo. Segundo Ehrlich (1973), a criminalidade é<br />
fruto de um modelo de decisão que se baseia na racionalidade humana. Ou seja, um indivíduo,<br />
quando comete um crime, ele faz um cálculo, mesmo que impensado, da otimização da<br />
utilidade do crime. O mesmo verifica o custo de oportunidade e se entender que é mais<br />
vantajoso cometer o crime, então a atividade ilegal é exercida. Nesse contexto, a desigualdade<br />
de renda parece estar encaixada no modelo haja vista que quanto mais desigual for a<br />
sociedade e menor probabilidade de punição, mais “recompensador” pode ser o crime.<br />
A segunda visão considera que ao melhorar a situação social e econômica, o indivíduo<br />
é afastado da criminalidade. Essa segunda visão não acredita tanto em punição como fator<br />
inibidor da criminalidade. Ela entende a violência e criminalidade como conseqüência de um<br />
Estado neoliberal que propõe menos políticas públicas e sociais e mais ações policiais e<br />
penitenciárias 8 . Nesse sentido, Wacquant (2001) considera que haveria a emergência de um<br />
Estado Penitenciário. Seibel (2005), por sua vez, considera que o fenômeno da violência 9<br />
estaria associado a mudanças no sistema produtivo capitalista das quais derivariam as baixas<br />
perspectivas de inclusão social e de trabalho profissional, associada à precarização do sistema<br />
público de proteção social contribuidoras para práticas de incivilidades públicas.<br />
Outros autores englobam ambas as visões (lei – e – ordem e razões de fundo) em sua<br />
análise. Para Soares (apud Cardoso, 2008), por exemplo, o excesso de violência na América<br />
Latina deriva da alta desigualdade de renda, do pequeno contingente policial e da baixa taxa<br />
de encarceramento. A solução seria maior número de encarceramento. Porém, o próprio<br />
Soares (2007) afirma que no Brasil nenhuma generalização se aplicaria para o problema da<br />
8 O Estado Leviatã manteria a ordem pública sendo incapaz de evitar a decomposição do trabalho assalariado e<br />
nem a hipermobilidade do capital (...) desestabilizadores da sociedade fragilizando-a (WACQUANT, 2001).<br />
9 Uma conseqüência do aumento da violência/criminalidade e problemas penitenciários é a doença mental. Em<br />
diversos países, as pessoas estão adoecendo e apresentado sintomas de estresse pós-traumático. Os autores<br />
Almeida (2007) e Waiselfisz (2011) estudaram isso.<br />
6
criminalidade. Existem diversas práticas criminosas associadas a dinâmicas sociais e<br />
regionais diferentes não sendo possível, portanto, atribuir a criminalidade a apenas uma causa.<br />
Saliente-se, também, que muitos crimes são de razão emocional 10 , ou seja, originados<br />
por discussões e ou desavenças que podem culminar em violência. Note-se que neste caso o<br />
alcoolismo pode ser um fator desencadeador, bem como, por exemplo, má organização do<br />
trânsito, que é outra fonte de violência e stress na vida moderna.<br />
Desde já, vale destacar que a experiência internacional recente da Colômbia 11 (Bogotá<br />
e Medelin) mostrou que a junção das duas visões resulta em excelente resultado. Ou seja,<br />
rigor nas penas e punições aliado a um programa amplo de melhorias sociais e inclusão da<br />
juventude e mais estrutura física tais como transporte público, escolas em período integral,<br />
computação para jovens, bibliotecas públicas etc., atendendo as regiões periféricas fazem<br />
muita diferença.<br />
4. FATORES INFLUENCIADORES <strong>DA</strong> CRIMINALI<strong>DA</strong>DE<br />
A literatura tem apontado cinco fatores relacionados à criminalidade: desemprego,<br />
educação, renda, idade e drogas.<br />
Em altos níveis de desemprego haveria maior ocorrência de crimes. Com relação a<br />
educação e crime verifica-se que os criminosos são, em média, menos educados 12 .<br />
Desigualdade de renda causa crime. Dessas variáveis, a idade e o gênero talvez sejam as que<br />
têm mais forte correlação com a criminalidade. “Quanto maior a proporção de jovens do sexo<br />
masculino entre 15 e 25 anos, maior será a criminalidade” Mello (2007, p. 15).<br />
A educação que reduz a criminalidade deve ser incentivada e priorizada desde a<br />
infância. É a permanência da criança na escola, mesmo que não esteja aprendendo as<br />
disciplinas conforme os objetivos pré-estabelecidos, afinal de contas, só o fato de a criança<br />
estar na escola é algo que deve ser considerado, já que ela está se socializando e tendo a<br />
oportunidade de aprender. (SOARES, 2007).<br />
10 Diferentemente dos agentes de segurança pública que consideram o tráfico de drogas o principal motor para<br />
realização de crimes, Stüpp (2011) atribui a realização dos crimes às brigas e discussões, ou seja, motivos<br />
emocionais que acabariam por envolver os cidadãos em atos de violência. Note-se que muitas vezes as brigas são<br />
desencadeadas justamente por dívidas ao tráfico e ainda, sob o efeito das mesmas quer seja lícita (álcool) ou<br />
ilícita (opiáceos).<br />
11 Ver mais em Gelinski Neto e Cezário (2010).<br />
12 Em 2007, 90% dos adolescentes brasileiros que foram internados porque fizeram algum crime não terminaram<br />
o Ensino Fundamental e, além disto, 51% deles não freqüentavam a escola. (ALVES, 2007).<br />
7
Além disso, dar educação é mais barato do que custear a manutenção dos presos. Em<br />
média, cada indivíduo preso custa ao governo R$ 1.100 por mês. No caso de adolescente<br />
internado o custo é de R$ 2.300. Comparativamente, o ILANUD (Instituto das Nações Unidas<br />
para a Prevenção do Delito e Tratamento do Delinquente), constatou que uma criança na<br />
escola pública custa, em média, R$ 700 por ano ao Estado. Além disso, o Brasil gasta 10% do<br />
Produto Interno Bruto (PIB) com segurança pública e privada. No entanto, investe menos de<br />
4% do PIB em educação, conforme o próprio Ministério da Educação. (ALVES, 2007).<br />
Os Fatores Idade e renda<br />
A fragilidade juvenil frente à violência pode ser verificada utilizando-se do Índice de<br />
Vitimização. É obtido relacionando-se a taxa de mortes por homicídio da população jovem<br />
(15 a 24 anos) e as taxas correspondentes ao restante da população – considerada não jovem.<br />
Gráfico 3 Índice de Vitimização Juvenil (15 a 24 anos). Brasil, 1998/2008<br />
Fonte: WAISELFISZ (2011)<br />
Conforme observado no gráfico 3, o processo de vitimização juvenil só aumenta. Em<br />
2008, por exemplo, teve-se duas vezes e meia mais homicídios juvenis do que nas restantes<br />
faixas etárias. Segundo Carvalho (2006) há uma contradição entre a criminalidade juvenil e<br />
as políticas públicas utilizadas pelo governo com o objetivo de diminuir os problemas sociais.<br />
Por um lado, há um crescente número de ações públicas voltadas para a juventude. Por outro<br />
lado, aumenta, também, a vulnerabilidade juvenil diante da criminalidade.<br />
Peres (2007, apud MOURA, 2010) considera que não se deveria estabelecer uma<br />
relação causal entre pobreza e violência, mas sim haveria que se considerar como o principal<br />
problema a associação entre violência e a situação de exclusão social. Esta seria evidenciada<br />
pela ausência do poder público (ausência de políticas sociais, de segurança e acesso às<br />
instituições de justiça criminal). Há carência de instituições mediadoras de conflitos<br />
legitimando a violência como meio de resolução dos conflitos. Além disso, no Brasil percebe-<br />
8
se que não necessariamente as regiões mais pobres são as mais violentas e vice-versa<br />
(ZALUAR et al,1994).<br />
Com relação à renda da população jovem, Silva (2007) constata que quase 70% dos<br />
jovens brasileiros vivem em famílias com renda per capita inferior a um salário mínimo. A<br />
juventude brasileira é predominantemente urbana: 84% dela vivem nas cidades e 31% em<br />
regiões metropolitanas. A situação da pobreza da população é algo que deve ser analisado<br />
mais criteriosamente. O crime, muitas vezes, é a “melhor” solução no curto prazo para<br />
resolver seus problemas de renda. Portanto, a falta de alternativas de ocupação e de renda são<br />
facilitadores à queda do jovem no crime ligado às drogas e tráfico.<br />
As drogas e o crime<br />
Para Chalub (2006), a grande maioria de estudos voltados para a relação entre drogas e<br />
criminalidade, comprovam que há, sim, uma correlação entre transtornos desenvolvidos por<br />
efeitos de drogas e a criminalidade. É possível verificar que existe uma grande quantidade de<br />
atos violentos quando o álcool ou as drogas ilícitas estão presentes entre agressores, suas<br />
vítimas ou em ambos. “Para sustentar o vício, os indivíduos se predispõem a cometer crimes<br />
de motivação econômica, e na maioria das vezes, com violência por conta do uso da droga”<br />
(FRANCISQUINHO, 2008, p. 22).<br />
Para ZALUAR et al (1994), o principal motivo pelo qual os jovens, em especial,<br />
cometem homicídios é devido ao tráfico de drogas e de armas. Juntando-se os problemas de<br />
desemprego, má qualidade da educação, falta de programas sociais e falta de uma estrutura<br />
familiar sólida, as drogas acabam por se tornar um caminho viável para se escolher. Portanto,<br />
a pobreza em si não gera crime contra a vida. O que torna uma pessoa disposta a matar, são,<br />
na maioria das vezes, o uso e o tráfico de drogas.<br />
5. A <strong>PREVENÇÃO</strong> À <strong>VIOLÊNCIA</strong> E CRIMINALI<strong>DA</strong>DE<br />
Não basta apenas aderir à severidade no controle das ações criminosas. Os adeptos da<br />
idéia de que o crime deve ser prevenido entendem que é importante a compreensão da<br />
essência do trabalho da polícia, no que tange a prevenção, através da educação, instrução e<br />
qualificação da vida do cidadão para que nem mesmo seja necessário chegar ao campo da<br />
repressão, muito menos da punição. O crime pode ser combatido com eficiência pelas técnicas<br />
de prevenção geradas em longo prazo (SANTOS, 2011; CARVALHO, 2001; ALVES, 2007;<br />
CASOY, 2010).<br />
9
O foco são ações que previnam a exclusão e marginalização do indivíduo auxiliando-o<br />
a alcançar condições de subsistência digna, que evitem a degradação e desestruturação de<br />
elementos basilares da sociedade como a família, por exemplo, e ações que fomentem a<br />
educação e a qualificação profissional e social desenvolvendo consciência social e coletiva<br />
para a verdadeira comunidade. Enquanto a prevenção é anterior ao fato, a repressão seria ex-<br />
post, ou seja, é a mão pesada de justiça para demover outros de trilharem o mesmo caminho<br />
do crime considerando os ricos a que se sujeitariam se assim o fizessem. Enquanto muitos<br />
consideram a prevenção uma ótima solução com efetividade a média e longo prazo, outros<br />
consideram que a repressão aceitável em curto prazo para se estabelecer a ordem perdida.<br />
(SANTOS, 2011).<br />
Alves (2007) mostra que a prioridade para a prevenção da criminalidade deve estar<br />
envolta, portanto, na elevação da qualidade do sistema educacional brasileiro, que deve<br />
começar na infância.<br />
6. EXPERIÊNCIAS DE <strong>PREVENÇÃO</strong> E COMBATE À CRIMINALI<strong>DA</strong>DE<br />
O quadro a seguir lista diversos programas e experiências de prevenção e controle da<br />
violência e criminalidade<br />
Quadro 1 – Programas e Experiências de controle da violência e criminalidade<br />
Programa de Nova York – Qualidade de Vida ou Tolerância Zero<br />
Programa Segurança Cidadã da Colômbia<br />
Programas Brasileiros e órgãos de gestão (lista não exaustiva)<br />
a) Âmbito nacional<br />
Programa Nacional de Direitos Humanos – PNDH<br />
Secretaria Nacional de Segurança Pública - SENASP<br />
Centro de Estudos de Segurança e Cidadania - CESEC<br />
Programa Nacional de Educação Profissional<br />
Secretaria Nacional de Juventude – SNJUV (2005)<br />
Conselho Nacional da Juventude – CONJUV (2005)<br />
Programa Nacional de Inclusão de Jovens – PROJOVEM (2005)<br />
10
) Âmbitos estaduais 13 e outros<br />
Programa Bolsa Trabalho Renda – Governo SP (2001)<br />
Instituto Sou da Paz (1999) - São Paulo<br />
Pacto de Cidadania – São Paulo (2004)<br />
Programa Operação Bares – SP ((2004)<br />
Programa Fica Vivo - Crisp/UFMG (2002) – Em 2003 o governo mineiro<br />
incorpora o programa como política estadual<br />
Projeto Sonhos – Rio de Janeiro - ONG Inmed Brasil (2005)<br />
Pacto pela Vida (PPV) – Pernambuco (2007)<br />
Tolerância Zero, Cidadania Dez – Petrolina - Pernambuco (2010)<br />
c) Programas e projetos catarinenses e de Florianópolis<br />
Consórcio Social da Juventude de Florianópolis – Aroeira<br />
Programa Aprendiz;<br />
Esporte Aventura;<br />
CEAV – Centro de Atendimento a Vítimas de Crimes;<br />
Casa da Criança;<br />
O Bom Samaritano;<br />
Instituto Pe. Vilson Groh.<br />
O Programa Tolerância Zero é um dos mais antigos e muito defendido e combatido<br />
sobretudo pela sua ênfase na ótica de lei e ordem. Sustenta-se na Teoria das Janelas<br />
Quebradas. O texto do Promotor Público Rubin (2003) esclarece os ganhos advindos com a<br />
aplicação do programa, em especial em sua análise na seção: A Operação Tolerância Zero –<br />
A Retomada do Metrô e das Ruas para o Povo de Nova Iorque. Alí ele mostra a gradual<br />
recuperação do espaço público tanto do metrô quanto das ruas dessa cidade ao convencer os<br />
policiais a agirem e inibirem os “crimes menores” tais como pular catraca do metrô ou a ação<br />
de “flanelinhas” que infernizavam os motoristas por meio de intimidação e ação de gangues.<br />
O combate a esses crimes reduziu os mais violentos por remover e modificar a ação de<br />
elementos que se valiam da situação anterior para circular livremente e atuar no caos formado.<br />
Os críticos aos programas nos moldes do Tolerância Zero apontam outras cidades que<br />
também tiveram queda na criminalidade embora não tivessem adotado o mesmo programa.<br />
Nessa direção, assinalam que a utilização rigorosa de punições estaria levando os EUA e<br />
13 Ainda na década dos 90 diversos estados criaram os Conselhos Estaduais de Segurança e alguns da Cidania.<br />
Além disto, surgiram diversas ONGs e associações e assemelhados para tratarem dos jovens e excluídos.<br />
Diversas Universidades Federais e particulares desenvolveram parcerias na área. O trabalho de Freitas e Ramires<br />
(2011) descreve a ação de diversos deles.<br />
11
outros países à emergência de em estado prisional, sendo que nas prisões estariam os<br />
excluídos da sociedade (WACQUANT, 2011). Belli (s..d.), também, assinala:<br />
O problema da violência urbana é reduzido a uma questão de polícia, não no sentido tradicional da<br />
repressão “ex post facto”, mas repressão aliada às novas estratégias de organização policial<br />
inspiradas em técnicas de gestão empresarial “pós-fordistas”. Baseada em uma criminologia<br />
conservadora como ponto de partida, a tolerância zero se afigura como uma nova forma de gerir o<br />
espaço urbano e as relações entre polícia e comunidade. Em vez da repressão pura e simples, a<br />
vigilância constante e a escolha de alvos preferenciais. No lugar de burocracias centralizadas,<br />
atribuição de responsabilidade aos distritos e aos policiais (Belli, s.d.,s.p.)<br />
Entende-se aqui que no combate à violência e à criminalidade, programas que<br />
combinam ações de prevenção e repressão aliados a toda uma visão sistêmica dos problemas<br />
sociais tem tido resultados significativos. É o caso paradigmático da experiência colombiana.<br />
6.1 O caso da Colômbia<br />
Bogotá detinha a infeliz fama de ser uma das cidades mais violentas do mundo. Em<br />
1990 ocorreram 83 homicídios para cada cem mil pessoas. Em dez anos, as políticas adotadas<br />
reduziram este indicador para 34,8 homicídios para cada cem mil habitantes. Bogotá<br />
atualmente está, no ranking de homicídios, abaixo de outras importantes capitais envolvidas<br />
com esse problema, como São Paulo, Washington ou Rio de Janeiro (CARVALHO, 2001).<br />
Em 1990 o governo, em conjunto com os departamentos de segurança e com a ajuda<br />
da sociedade, começou a formular projetos e políticas para enfrentar a violência<br />
(CARVALHO,2001).<br />
A prefeitura de Bogotá oficializou dois programas: as unidades de mediação e<br />
conciliação e os comitês de violência familiar. Nesses programas, encontram-se ações<br />
específicas que atacavam a violência de maneira indireta, tais como: construção de parques<br />
públicos que promovessem o contato da população entre si; fechamento das casas noturnas, à<br />
uma hora da manhã; divulgação de programas de prevenção de acidentes de trânsito, através<br />
de propagandas na televisão, no rádio, e nas próprias rodovias; controle de condutores<br />
embriagados, uso de jaleco numerado pelos motociclistas; e, por fim, um eficiente programa<br />
de desarmamento. Em paralelo, criou um amplo sistema de tratamento de dados, o Sistema<br />
Unificado de Informação e Violência e Delinquência, do qual a Prefeitura, o setor de<br />
Medicina Legal e a Polícia Metropolitana fazem parte. Depois destas atitudes tomadas,<br />
percebeu-se que a população começou a associar a autoridade da política de segurança à<br />
polícia e não ao prefeito, embora tivesse sido ele quem coordenou o processo<br />
(CARVALHO,2001).<br />
12
Os dois programas antes mencionados compreendem 16 tópicos essenciais do<br />
denominado Programa Cultura Cidadã formalizado em 1995 por Antanas Mockus, prefeito de<br />
Bogotá e Hugo Acero, Subsecretário de Assuntos para a Convivência e Cidadania de Bogotá,<br />
que criou uma nova cultura de prevenção e enfrentamento da criminalidade :<br />
Os dois programas antes mencionados compreendem do denominado:<br />
O Programa Cultura Cidadã, formalizado em 1995 por Antanas Mockus, prefeito de<br />
Bogotá e Hugo Acero, Subsecretário de Assuntos para a Convivência e Cidadania de Bogotá,<br />
criaria uma nova cultura de prevenção e enfrentamento da criminalidade, a partir de 16<br />
tópicos essenciais:<br />
1. Gestão institucional do tema por parte do município. O município seria o<br />
responsável por cuidar da segurança pública da região. Eram conduzidas reuniões<br />
trimestrais com todos os envolvidos 14 para analisarem o desenvolvimento dos novos<br />
projetos de cada região, com destaque para as ações de combate ao crime.<br />
2. Informaçãoconfiável 15 . Criou-se o Sistema Unificado de Informação de Violência e<br />
Delinquência (SUIVD) para dar embasamento as reuniões do grupo gestor.<br />
3. Justiça próxima do cidadão 16 . Criação de programas de justiça alternativa.<br />
4. Recuperação do espaço público. Os espaços públicos que estavam deteriorados ou<br />
que serviam de ponto de encontro para o tráfico de drogas, foram recuperados e<br />
transformados em parques, áreas de lazer e esporte, alamedas, escolas, para que a<br />
população pudesse usar esses espaços de maneira mais agradável. Além de melhorar a<br />
segurança no local, essa atitude contribuiu para fortalecer e melhorar o meio-ambiente<br />
da localidade. Para o Subsecretário Hugo Acero democracia é fortalecida através dessa<br />
inter-relação entre os indivíduos. Por isso, alguns eventos como o Rock no Parque, o<br />
Jazz no Parque, os festivais latino-americanos de teatro e cinema, e o festival de verão,<br />
começam a serem realizados nestes pontos de encontro da população.<br />
5. Atenção à população deslocada de suas residências pela violência. Para ajudar as<br />
famílias afetadas pelo crime criou-se a Unidade de Atenção Integral à População.<br />
14<br />
Conselheiros, comandantes de polícia, governos e outros órgãos como Secretarias de Saúde, Educação,<br />
Trânsito, Cultura e Turismo.<br />
15<br />
Os relatórios eram importantes, pois mostravam o caminho que os governos deveriam seguir, ou seja, as ações<br />
que deveriam ser tomadas para que o objetivo principal fosse alcançado.<br />
16<br />
Capacitação de líderes comunitários, mediadores, conciliadores, juízes de paz e juízes de segunda instância,<br />
entre outros.<br />
13
6. Fortalecimento da Polícia Metropolitana. Esse ponto é importante destacar porque<br />
mostra que mais importante do que aumentar o quadro de efetivos de policiais, é<br />
necessário priorizar o capital humano. Esse tema foi bem valorizado, pois as despesas<br />
com a segurança pública foram ampliadas grandemente. Assim, de 1992-1994, do<br />
valor inicial de 12.157 milhões de pesos passaram para 49.533 milhões no período<br />
1995-1997. Já de 1998-2000 o investimento chegou a 116.107 milhões. Por fim, no<br />
último governo de Antanas Mockus (2001-2003), o investimento foi de 111.605<br />
milhões de pesos. Porém, o efetivo de policiais foi reduzido 17 entre 1995 a 2003 de<br />
10500 reduziu-se para 10320 policiais e, não obstante, as taxas de homicídios só<br />
caíram, o que prova que um aumento na quantidade de policiais não necessariamente<br />
significa uma redução da taxa de criminalidade<br />
7. Participação comunitária. Em 1995 criaram-se programas sociais para envolver as<br />
comunidades. As Escolas de Segurança Cidadã capacitaram líderes comunitários e as<br />
Frentes Locais de Segurança, buscavam aumentar a relação e melhorar a convivência<br />
entre vizinhos em uma determinada região.<br />
8. Zonas Seguras. Eram localidades escolhidas propositalmente (geralmente áreas<br />
comerciais) onde a polícia ficava de forma permanente para prover proteção.<br />
9. Boletim de Violência e Delinquência. Com a ajuda de diversas instituições, o<br />
governo começou a apresentar relatórios trimestrais detalhados sobre os dados da<br />
criminalidade, os quais eram apresentados nas reuniões para a fundamentação das<br />
ações para se atingir os objetivos pretendidos.<br />
10. Lei Zanahoria. (lei da cenoura - Cenoura é uma gíria colombiana para significar as<br />
condutas ou pessoas sãs). Devido a mortes decorrentes do alcoolismo e drogas: no<br />
trânsito, brigas, homicídios, suícidios o governo promulgou lei restringindo o<br />
consumo de bebida alcoolicas em alguns locais e horários específicos. Depois dessa<br />
lei, se observou que os homicídios nos quais existia associação com o consumo de<br />
álcool diminuíram 9,5% em 1995. Esse decréscimo verificou-se, também, nos dois<br />
anos seguintes. Em 1996, 26,7% dos homicídios regrediram em relação a 1995 e em<br />
1997, diminuiu 15% em relação a 1996.<br />
11. Plano de Desarmamento. Restrição do porte de arma, em 1996 e a proibição do porte<br />
de arma em 2007.<br />
17 O governo deu maior infra-estrutura para os policiais e trouxe-os para maior proximidade com a comunidade.<br />
14
12. Policiais formadores de cidadãos: Essa mudança teve como objetivo principal<br />
proporcionar e melhorar a relação entre a polícia e os cidadãos...<br />
13. Polícia Comunitária: A criação da Polícia Comunitária, a qual mantém uma inter-<br />
relação com a população local através do trabalho em conjunto da polícia fazendo a<br />
ação repressiva e a sociedade, através de seus líderes comunitários, promovendo a<br />
manutenção das ações policiais. Uma das primeiras atitudes tomadas pelo governo foi<br />
colocar novamente na cultura da sociedade a ideia de ver na polícia uma instituição<br />
que tem como principal papel proteger a população. Ou seja, o governo quis devolver<br />
à população a confiança na polícia, que até 1990 estava prejudicada. Atitudes como<br />
melhorar a imagem do policial na mídia, envolver a polícia em trabalhos sociais para<br />
ficar mais perto da sociedade, são exemplos de formas para tentar devolver a<br />
confiança da polícia na sociedade.<br />
14. Atenção a jovens envolvidos com casos de violência e o consumo de drogas. Além<br />
da penalização do crime, o governo também trabalhou com prevenção da<br />
criminalidade. Em 1998, criou-se um projeto voltado para a juventude, no qual 20.000<br />
jovens foram inscritos. Dentre outras opções, o programa oferecia ocupação do tempo<br />
livre, alternativas para a geração de renda por meio de atividades legais, curso de<br />
segundo grau curto com ênfase em convivência, para jovens pertencentes a quadrilhas<br />
e em processo de reinserção, formação para o trabalho, desenvolvimento de hábitos e<br />
competências básicas, atividades culturais, entre outros.<br />
15. “Vacinação Contra a Violência”. Esse trabalho consistia em deixar uma opção de<br />
caminho alternativo para as pessoas que alguma vez já sofreram violência exacerbada<br />
ou quisessem ajuda para não cometer violência. Esse trabalho - acompanhado por<br />
psicólogos ou psiquiatras - visava extrair a raiva de dentro da pessoa através de<br />
descarregar, verbal ou fisicamente, esse sentimento num boneco ou saco de pancadas.<br />
16. Combate à corrupção policial. Em Bogotá, cerca de dois mil policiais foram<br />
demitidos por estarem envolvidos com corrupção. O fato de haver uma punição para<br />
esse tipo de ato é de extrema importância porque coloca na justiça maior credibilidade<br />
e acaba por forçar a instituição investigada, no caso a polícia, a trabalhar de forma<br />
justa e honesta.<br />
No entanto, para o funcionamento do programa foi necessário um investimento forte<br />
por parte do governo. Em Bogotá, enquanto de 1987 a 1990 se gastou US$ 10 milhões em<br />
segurança pública, de 2004 a 2007, foram gastos US$ 150 milhões. É necessário, portanto,<br />
priorizar a segurança e a educação. Conforme palavras de Acero: “É um problema econômico.<br />
15
Sem isso, não há emprego, não há investimento, não há bem-estar” (VELASQUEZ,1995,<br />
s.p.).<br />
Quanto aos resultados obtidos na cidade de Bogotá 18 , podem ser destacados os<br />
seguintes: i) diminuição do índice de homicídio: de 80 homicídios a cada 100.000 habitantes<br />
em 1993 para 23 em 2003; ii) redução dos óbitos por acidente de trânsito: de 25 a cada<br />
100.000 habitantes em 1995 para 8,7 em 2003; e iii) decréscimos de outros delitos: entre 1998<br />
e 2003, as demais infrações reduziram suas taxas em torno de 40%.<br />
Em razão da experiência exitosa de Bogotá, em 2004 criou-se o Programa<br />
Departamentos e Municípios Seguros, o qual tinha como objetivo fortalecer os municípios<br />
colombianos, utilizando as técnicas usadas em Bogotá para melhorar a convivência e<br />
segurança cidadã no país 19 .<br />
Em síntese, a Colômbia mostrou que mais do que aumentar o aparelho repressor do<br />
crime, representado pela polícia, é necessário investir em eventos culturais, incentivar o<br />
ensino, promover maior integração entre os cidadãos e investir na prevenção da<br />
criminalidade. E, ao invés de existirem polícias governamentais, que em muitas vezes estão<br />
mais preocupadas com o governo vigente e interesses de partidos políticos do que com a<br />
segurança cidadã, mostrou-se na Colômbia, principalmente em Bogotá, que as polícias devem<br />
ser estatais e descentralizadas a fim de sanar ou reduzir os problemas de segurança pública na<br />
comunidade.<br />
O combate à criminalidade necessita que uma nova cultura, um novo aprendizado seja<br />
formado inicialmente com repressão dura da polícia contra os marginais e, posteriormente,<br />
com investimento em infraestrutura de segurança pública. Essa mudança de cultura começou<br />
a ser escrita por um grupo de pessoas da própria Secretaria da Cultura com atitudes como a<br />
proibição do consumo de álcool em qualquer show público; realização de dramatizações sobre<br />
questões referentes ao trânsito; lei seca em áreas de alta criminalidade; restrição de menores<br />
na rua desacompanhados à noite; demissão de dois mil policiais suspeitos de envolvimento<br />
em corrupção, entre outros. Foram criados ainda outros projetos, como a Casa da Justiça, que<br />
18 Foram necessárias três gestões municipais para que as boas consequências aparecessem. Dentre muitas outras<br />
pessoas que merecem destaque, os prefeitos Antanas Mockus e Paul Bronberge (1995-1997), Enrique Peñalosa<br />
(1998 - 2000) e Antanas Mockus (2001-2003) devem ser mencionados por estarem à frente deste projeto. Este<br />
trabalho em conjunto com as várias gestões comprova que o combate à criminalidade não deve ser prioridade de<br />
governo, mas sim, preocupação e prioridade de Estado.<br />
19 Ssegurança cidadã é a segurança que o Estado proporciona ao cidadão, que traz para este, uma maior<br />
possibilidade de desenvolvimento social e familiar. Porém, o que diferencia a segurança cidadã ou segurança<br />
humana da segurança pública nacional é o fato de que a primeira está vinculada às autoridades locais, sendo<br />
estes, órgãos com autonomia para desenvolver e implantar políticas próprias que objetivem o combate à<br />
criminalidade. Portanto, a segurança deverá ser focada por região, deixando as autoridades nacionais para fixar<br />
as linhas gerais de ação, como ele mesmo relata. (Velasquez, 2004).<br />
16
funciona na periferia. Este projeto ajuda os moradores a resolver problemas civis,<br />
profissionais e familiares, desafogando a Justiça e criando um conceito de cidadania. Foi a<br />
cultura, portanto, que serviu com um acelerador social no primeiro governo da reforma na<br />
Segurança Pública. (Carvalho, 2001).<br />
O êxito do Programa Colombiano também é atestado pela parceria realizada com o<br />
Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) na edição do "Congresso Internacional para<br />
autoridades territoriais: A segurança cidadã, um compromisso de todos" que iniciou no dia 15<br />
de fevereiro de 2012 no centro de exposições Corferias, em Bogotá com oito paineis, dezenas<br />
de estudiosos e especialistas na área de segurança pública do mundo todo. Neste o governador<br />
Eduardo Campos expôs o programa Pacto Pela Vida, de Pernambuco.<br />
6.2 Experiências brasileiras<br />
A ONG Inmed Brasil,de São Paulo iniciou em 2005 o Projeto Sonhos que trabalha com<br />
análise de sonhos de crianças que foram atingidas pela violência na Favela de Jacarezinho do<br />
RJ e alcançaram até 200 450 crianças de 4 a 13 anos com ótimos resultados, segundo Joyce<br />
Capelli, diretora da entidade (BELCHIOR, 2007).<br />
Em razão dos alarmantes índices de homicídios em Belo Horizonte, em 2002, o Centro<br />
de Estudos de Criminalística e Segurança Pública (Crisp), da UFMG, conseguiu desenvolver<br />
o Programa Fica Vivo, que acabou sendo incorporado em 2003 como política do governo do<br />
Estado de Minas Gerais. As entidades envolvidas foram: participantes de organizações<br />
sociais, tais como as Polícias Militar e Civil, administradores municipais representando<br />
assistências sociais e de cidadania, Departamento Público Estadual e organizações não-<br />
governamentais quando se discutiu a questão dos homicídios. (BELCHIOR, 2007).<br />
Considerando que o Crisp já havia identificado no período 1990 a 2000 que os casos<br />
de homicídios concentravam-se em favelas, com uma grande participação de homens jovens,<br />
entre 14 e 24 anos de idade, e ligados ao uso de armas e ao tráfico de drogas. O grupo de<br />
entidades estabeleceu estrategicamente as seguintes ações:<br />
1) fortalecer a mobilização da comunidade na solução de problemas de segurança pública; 2)<br />
mobilizar órgãos públicos e organizações não-governamentais que operam nessa área, prestando<br />
serviços de saúde, educação, assistência social, segurança pública, e criar um sistema de proteção<br />
social voltado para os membros da comunidade com idade entre 12 e 24 anos; 3) oferecer<br />
oportunidades de desenvolvimento nas áreas de educação, cultura e lazer, assim como qualificar<br />
profissionalmente o público-alvo do programa; 4) possibilitar um ambiente propício à discussão<br />
das questões que dizem respeito à segurança e propagar a cultura da paz; 5) reduzir o medo; 6)<br />
apoiar e valorizar manifestações culturais locais; e 7) melhorar o patrulhamento na<br />
comunidade. (BELCHIOR, 2007s.p.).<br />
17
“Houve (...) redução significativa dos homicídios (-47%) nas comunidades que se<br />
tornaram alvo do trabalho. Foram 21 áreas atendidas, envolvendo um universo de 12 mil<br />
crianças”. Além de outros ganhos para a comunidade. (BELCHIOR, 2007s.p.).<br />
Operação Bares<br />
O Programa Operação Bares 20 , realizado em São Paulo teve como principal objetivo a<br />
diminuição do índice de homicídios relacionados com o consumo de bebidas alcoólicas.<br />
Através do programa, a subprefeitura de São Paulo em conjunto com o Ministério Público<br />
determinou o fechamento dos bares após as 22h (MOURA, 2010).<br />
A justificativa do governo de São Paulo, para a implementação deste programa,<br />
apontou que o gasto dos recursos públicos com ações repressivas só faz crescer a impunidade<br />
e não muda a realidade da violência urbana. Além disso, as ações repressivas não modificam<br />
as causas do crime. Portanto, seria melhor a prevenção do que a repressão (MOURA, 2010).<br />
O que se viu em São Paulo, assim como em Bogotá, só que em proporções menores, foi uma<br />
ação conjunta entre o Estado e a sociedade visando formar políticas locais para diminuir o<br />
nível de homicídios na região.<br />
A abordagem aos donos de bares era feita de forma amistosa. Caso não aderissem à<br />
proposta de fechamento após as 22h, era exercida ação coercitiva por parte da subprefeitura<br />
por meio de processo administrativo para fechamento dos bares. O resultado foi positivo,<br />
pois, de novembro de 2004 até janeiro de 2005, houve uma diminuição de 34,1% na taxa de<br />
homicídios em relação ao mesmo período entre 2003 e 2004. (MOURA, 2010).<br />
O Programa contava ainda em seu bojo com diversas ações de cunho mais amplo nas<br />
quais cada instituição desempenhava papéis próprios. Dessa forma, por exemplo, a Polícia<br />
Militar informava aos órgãos públicos as necessidades essenciais da região. A SABESP<br />
(Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) ficou encarregada de aumentar a<br />
tubulação de esgotos e fazer a limpeza de córregos. A subprefeitura de M’Boi Mirim ficou<br />
encarregada de fazer a manutenção da iluminação pública. Além disso, o governo buscou<br />
diminuir o nível da evasão escolar incentivando os jovens a participarem de atividades<br />
extracurriculares, como aulas de música, computação, esportes, entre outras. (MOURA,<br />
2010).<br />
20 A Operação Bares foi um projeto elaborado pelo tenente-coronel Renato Aldarvis e baseava-se nas estatísticas<br />
policiais que apontavam uma associação entre a quantidade de jovens que morriam nos finais de semana e o<br />
consumo de álcool (Moura, 2010).<br />
18
Para os donos dos estabelecimentos, o projeto Operação Bares tinha algumas<br />
vantagens como a possibilidade de regularização do alvará de funcionamento de seus<br />
estabelecimentos; a proximidade com os órgãos públicos que antes se encontravam<br />
praticamente inacessíveis; e a promoção da segurança pública na sociedade da qual eles fazem<br />
parte (MOURA, 2010).<br />
Entre os resultados positivos obtidos com a Operação Bares estão:<br />
i. Os donos dos bares tinham consciência de que o projeto poderia ajudar a comunidade;<br />
ii. Como era menos custoso por parte dos bares aderirem ao pacto do que manter os<br />
estabelecimentos abertos após as 22hs, a aceitação ao programa foi satisfatória;<br />
iii. A estabilidade e a boa delimitação do grupo de participantes, junto com a articulação entre<br />
os participantes facilitaram o diálogo e a troca de informações necessárias que a ação fosse<br />
eficiente;<br />
iv. Os donos de bares estavam cientes de que estabelecimentos em situação irregular seriam<br />
fiscalizados pelos órgãos públicos, especialmente se deixassem de participar da operação.<br />
Como a experiência da Operação Bares em São Paulo gerou resultados positivos,<br />
outros estados brasileiros também começaram a aderir ao programa. Um exemplo disso é o<br />
município de Camboriú 21 , em Santa Catarina. Enquanto para a sociedade, o Programa<br />
Operação Bares é sinônimo de segurança, para os comerciantes que devem fechar as portas<br />
após as 22hs, o programa é sinônimo de prejuízo. No entanto, mesmo com as reclamações dos<br />
donos dos bares, o Ministério Público não abriu mão do projeto e determinou que os bares<br />
fossem fechados após as 22h (AUTH, 2011).<br />
Esse programa, porém, não é exclusividade do Brasil. Outros países no mundo já<br />
aderiram ou estão por aderir ao projeto. Além da Colômbia, a Rússia é outro exemplo de país<br />
que está se ajustando à proibição da venda de bebidas alcoólicas a partir das 23h. Há que se<br />
recordar que o álcool é o grande responsável por acidentes fatais com automóveis sobretudo<br />
no caso de atropelamentos em pontos de ônibus que freqüentemente ocorrem pelo Brasil<br />
afora. Além disto, é responsável por desencadear conflitos de ordem emocional que culminam<br />
em violência e mesmo morte nos bares ou nos arredores dos mesmos.<br />
21 O Município adotou o programa na tentativa de conter a quantidade exorbitante de homicídios. A cidade de<br />
Camboriú registrou 19 homicídios no período Janeiro de 2011 até Julho de 2011. Isso foi equivalente a<br />
quantidade de homicídios em todo ano de 2010.<br />
19
Projetos sociais em Santa Catarina<br />
Em Santa Catarina, mais especificamente em Florianópolis são desenvolvidos projetos<br />
sociais voltados à juventude. Esses projetos visam, através de incentivos à cultura e esporte e<br />
aumento nas oportunidades de emprego, dar uma perspectiva de vida diferente aos jovens das<br />
comunidades carentes, proporcionando-lhes um novo caminho que não seja o das drogas nem<br />
o do crime.<br />
Os projetos foram desenvolvidos com o apoio do Governo Federal e os que mais se<br />
destacaram são os seguintes Schefer (2009):<br />
Consórcio Social da Juventude de Florianópolis – Aroeira: o principal objetivo desse<br />
programa consiste em melhorar as qualificações escolar e profissional dos jovens (16 a 24<br />
anos). O projeto estende-se à Grande Florianópolis e já ajudou, desde 2005, cerca de 3200<br />
Neste programa, o jovem recebe uma bolsa de R$ 600,00/semestre para fazer os cursos 22<br />
oferecidos pelas instituições. Após o término do curso, faz parte das metas desse programa,<br />
inserir esse jovem no mercado de trabalho 23 .<br />
Programa Aprendiz: este programa atende jovens de 14 a 24 anos de comunidades<br />
carentes de Florianópolis para oferecer o primeiro emprego. A carga horária é de 20 horas<br />
semanais e tem duração de até 2 anos não prorrogáveis. Até 2009, 34 jovens estavam<br />
sendo atendidos pelo programa.<br />
Esporte Aventura: o principal objetivo desse projeto é fortalecer a inclusão social através<br />
de práticas esportivas gratuitas disponíveis à comunidade, tais como futebol, remo,<br />
voleibol, entre outros. Atende a Grande Florianópolis.<br />
CEAV – Centro de Atendimento a Vítimas de Crimes: esse programa foi iniciado em<br />
2008 e abrange as cidades de Florianópolis, Joinville e Lages. A principal meta desse<br />
projeto é atender, tanto juridicamente quanto psicologicamente aquelas pessoas que foram<br />
vítimas de algum crime.<br />
Casa da Criança: atende 163 crianças e adolescentes em Florianópolis. Entre os objetivos<br />
do programa, estão o apoio pedagógico e oficinas de artesanato, esporte e lazer e cursos de<br />
informática.<br />
22<br />
Os curso são de: ética e cidadania; informática; educação ambiental ou até mesmo cursos profissionalizantes,<br />
como marcenaria e panificação.<br />
23<br />
Como resultado positivo do projeto, no final da primeira edição (Dezembro de 2006), 28% dos jovens inscritos<br />
conseguiram empregos formais após o curso, sem contar estágios e empregos informais. Na 2ª edição (2007),<br />
esse percentual aumentou para 29,7% de empregos formais gerados. Por fim, na terceira edição (final de 2008<br />
até Março de 2009), houve um aumento bastante considerável na quantidade de empregos formais.<br />
20
O Bom Samaritano 24 : Outra instituição que é voltada para a ajuda dos jovens que estão<br />
envolvidos, principalmente com as drogas, em Florianópolis é o “O Bom Samaritano”.<br />
Segundo o site da instituição, a Sociedade de Assistência Social e Educacional O Bom<br />
Samaritano é uma Casa de Apoio Social, mais conhecida como Desafio Jovem. A instituição<br />
é vinculada à Igreja Evangélica Assembleia de Deus e atende atualmente 85 homens e 16<br />
mulheres. Destes, a maioria são ex-drogados, mendigos, andarilhos e outros que andavam a<br />
margem da sociedade. No processo de tratamento recebem alfabetização, encaminhamento<br />
para supletivo de ensino fundamental 25 e médio, aulas de panificação, olaria, entalhamento<br />
em madeira, tricô, crochê e costura, dentre outras oficinas.<br />
Instituto Pe. Vilson Groh: trabalho desenvolvido em Florianópolis há 30 anos por esse<br />
instituto com bons resultados 26 . O padre Vilson e seu instituto tem sido referência nacional<br />
por proporcionar diversas ações sociais e ajudado a mudar a vida de crianças, adolescentes,<br />
jovens e comunidades empobrecidas. Isso tudo por meio da construção em um processo de<br />
autonomia propositura de políticas públicas com foco nessas comunidades encontradas na<br />
Região da Grande Florianópolis e mesmo em outras regiões de Santa Catarina. O resultado<br />
desse trabalho é o afastamento do mundo do tráfico e da violência dos jovens cuidados pela<br />
instituição. O Instituto e o Pe. Vilson trabalham com jovens em conflito com a lei, crianças<br />
e adolescentes em situação de abandono e violência, adolescentes e jovens envolvidos com o<br />
universo da criminalidade oferecendo-lhes oportunidades sociais e educativas para promover<br />
sua inclusão efetiva na sociedade. O Instituto trabalha em parceria com diversas<br />
instituições, são elas: Centro Cultural Escrava Anastácia, associação de Amigos da Casa da<br />
Criança e do Adolescente do Morro do Mocotó, Centro Social Elizabeth Zarkamp Futuro<br />
das Crianças, Centro Social Marista Celso Conte, Centro Social Marista São José, Cento<br />
Social Marista Mont Serrat e CEDP (Centro de Estudos e Projetos em Educação, Cidadania<br />
e Desenvolvimento Social).<br />
24 Sobre a estrutura da Organização, existem duas chácaras mantidas por doações voluntárias e não há nenhum<br />
tipo de cobrança de mensalidade. A Casa aceita qualquer indivíduo que manifeste verdadeiro interesse em uma<br />
mudança de vida. Todos seguem uma rotina que envolve organização pessoal, terapia ocupacional,<br />
aconselhamento, oração e estudos bíblicos.<br />
25 Além da profissionalização em olaria e panificação o estímulo aos estudo prevê aulas de reforço são<br />
ministradas por uma professora do município de São José e as provas são aplicadas anualmente na própria<br />
chácara pela Secretaria Municipal de Educação. Aqueles que já possuem o Ensino Médio são incentivados a<br />
ingressar na faculdade.<br />
26 O fruto do trabalho de inclusão social e cidadania resultou em mais de 3.600 jovens participando dos cursos<br />
pré-vestibulares, 450 cursando universidades, 3.200 participaram de cursos de qualificação profissional nos<br />
últimos 5 anos e, cerca de 2.000 crianças, adolescentes e jovens participam de projetos sócio educativos,<br />
desenvolvendo atividades nas áreas de cultura, lazer e esporte, com apoio pedagógico e alimentação<br />
21
Embora a relação anterior pareça suficiente ela não consegue atender às necessidades<br />
dos jovens em situação de exclusão das Regiões Metropolitanas de Santa Catarina. Neste<br />
sentido Ana Maria Blanco (presidente da criança e do adolescente da Ordem dos Advogados<br />
do Brasil), declarou: “Não há políticas públicas, oferecendo-se oficinas e cursos<br />
profissionalizantes para esses jovens terem mais oportunidade” A raridade de ações de<br />
políticas públicas voltadas à prevenção da criminalidade, segundo Blanco, é um dos fatores<br />
para o aumento da criminalidade entre jovens no estado catarinense. Um exemplo disso é o<br />
que ocorreu com a casa São Lucas, fundada na cidade de São José (SC) que tinha por<br />
objetivo manter e tentar reabilitar os menores infratores. Porém, devido a problemas de<br />
infraestrutura, teve que ser destruído e ainda não foi arrumado nenhum outro local para<br />
colocar esses menores (Triste..., 2011).<br />
Mesmo com poucos projetos sociais e políticas públicas no estado quanto à prevenção<br />
e combate da criminalidade, alguns projetos tem se mantido. Para o Pe. Vilson Groh, faltam<br />
políticas públicas que estejam associadas aos interesses dos jovens. Se houvessem políticas<br />
assim, as chances de os jovens verem a vida de forma diferente aumentariam. Conforme<br />
menciona o padre Vilson Groh: Por trás do ato de violência existe um grito de socorro. Não se<br />
tem um sistema de garantia de direitos. Temos experiências de jovens que tiveram<br />
oportunidade de educação, lazer, cultura e saíram desse meio. (SCHEFER, 2009).<br />
CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
A solução à violência e criminalidade não pode contar simplesmente com repressão ou<br />
punição, mas sim com um processo coordenado pelo poder público de interação com a<br />
comunidade a exemplo do que aconteceu na Colômbia. Destaque-se que nada se faz sem<br />
substanciais aportes de recursos, conforme se viu no Programa Segurança Cidadã e, uma<br />
imensa vontade política de dar fim à escalada da violência.<br />
Deve-se considerar ainda que investimentos em prevenção junto principalmente ao<br />
público jovem reduzirão os custos associados à violência e criminalidade tais como os<br />
tangíveis e intangíveis e sobretudo e reduzirão a repulsão a investimentos diretos estrangeiros<br />
e turismo nos Estados e Cidades Brasileiras.<br />
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