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A cidade colonial era um<br />

centro de negócios que<br />

permanecia quase sempre<br />

vazio, exceto em ocasiões<br />

especiais, sendo seu maior<br />

problema o abastecimento,<br />

resolvido através de<br />

pomares e hortas.<br />

A partir do século XVII, as<br />

entradas e bandeiras<br />

possibilitaram o ocupação<br />

do interior brasileiro,<br />

fazendo surgir um novo tipo<br />

de habitação, verdadeira<br />

recriação vinculada às novas<br />

condições ambientais.


Casa Bandeirista<br />

No interior paulista, as<br />

condições diversas do litoral<br />

e Nordeste, somadas ao<br />

isolamento e à mestiçagem<br />

cultural, possibilitaram um<br />

novo partido.<br />

O uso sistemático da taipa, a<br />

adoção de amplos beirais e a<br />

existência do anti-alpendre,<br />

além de particularidades<br />

programáticas,<br />

caracterizaram um novo tipo<br />

de habitação rural.


Sítio do Pe. Inácio, Cotia SP<br />

(Séc. XVI)<br />

No período bandeirista, a hospitalidade era<br />

questão de sobrevivência, o que conduziu à<br />

criação do quarto de hóspedes, ligado ao antialpendre.<br />

E a capela ou oratório particular era<br />

ideal para as rezas do clã agrícola (moradores,<br />

índios, agregados e hóspedes).


No partido arquitetônico da<br />

casa bandeirista, é possível<br />

identificar:<br />

Influências lusitanas<br />

(volumetria alternando cheios<br />

e vazios, beirais e telhas<br />

cerâmicas)<br />

Influências hispânicas<br />

(presença de varandas<br />

decoradas, balaústres e<br />

rendilhados de madeira)<br />

Influências árabes<br />

(partido centrípeto, muxarabis,<br />

azulejos e pequenas aberturas)<br />

Influências indígenas<br />

(técnica da taipa, existência de<br />

tacaniças e urupemas).<br />

Fazenda Sto. Antonio<br />

São Roque SP (Séc. XVI)


Antonio Francisco Lisboa,<br />

o Aleijadinho (1738-1814)<br />

Igreja de São<br />

Francisco de Assis<br />

(1766, Ouro<br />

Preto MG)<br />

Casa Barroca<br />

O barroco brasileiro,<br />

mesmo apresentando<br />

um atraso temporal<br />

em relação ao europeu<br />

e uma deficiência em<br />

diversas técnicas e<br />

materiais, possibilitou<br />

recriações nacionais<br />

que simbolizavam o<br />

anseio pela liberdade<br />

a partir de meados do<br />

século XVIII.<br />

Forro<br />

Manuel da Costa Ataíde (1762-1830)


Quanto à arquitetura<br />

residencial, alterações<br />

gradativas ocorreram,<br />

como a incorporação do<br />

PORÃO que se tornou<br />

habitável, além de<br />

mudanças no conforto e<br />

na ornamentação interior,<br />

que passou a apresentar<br />

elementos em rocaille.<br />

Ouro Preto MG


Servindo de palco de eventos<br />

sociais, onde a mulher passou a<br />

participar, a ÁREA SOCIAL se<br />

desenvolveu, passando de um<br />

único aposento ou varanda para<br />

dois ambientes: uma sala de<br />

receber e outra de comer.<br />

1 Sala de visitas<br />

2 Sala de jantar<br />

3 Dormitórios<br />

4 Pátio<br />

5 Sala de estar<br />

6 Sala de banho<br />

7 Cozinha e<br />

dormitório de criados<br />

Casa urbana (Séc. XVII-XVIII)


Poltrona D. João V<br />

(1706/50)<br />

Cadeira D. José I<br />

(1750/77)<br />

O uso de técnicas mestiças (brancas, indígenas e<br />

mamelucas) na cerâmica, tecelagem, vestuário e<br />

construção, acabou atingindo o espaço<br />

habitacional. Paralelamente, houve a criação de<br />

vestíbulos térreos situados ao lado das lojas dos<br />

artífices mineiros.


Casa Neoclássica Brasileira<br />

A chegada da Coroa portuguesa (1808) no Rio<br />

de Janeiro provocou uma série de modificações,<br />

tais como a abertura dos portos, a implantação<br />

da imprensa, a criação de novas escolas e a<br />

chegada de profissionais qualificados.<br />

Durante o século XIX, especialmente depois da<br />

Independência (1822), ocorreu a europeização<br />

da cultura brasileira, assim como seu<br />

aburguesamento, pela adoção de usos e<br />

costumes urbanos inclusive nas casas rurais.


Paraíba do Sul (1866)<br />

Almeida Reis<br />

(1838-89)<br />

Pedro Américo (1843-1905)<br />

O Grito do Ipiranga<br />

(1888)<br />

Implantado com a<br />

Missão francesa (1816),<br />

o NEOCLASSICISMO<br />

tomou conta do país, no<br />

qual se desconsiderava<br />

as condições brasileiras<br />

de existência para<br />

reproduzir conceitos<br />

europeus, totalmente<br />

ausentes de qualquer<br />

originalidade ou valor<br />

artístico próprio.<br />

Museu do Ipiranga<br />

(Séc. XIX, São Paulo SP)


Primeira Praça do Comércio<br />

Atual casa França-Brasil<br />

(1820, Rio de Janeiro RJ)<br />

A partir de então, os<br />

proprietários rurais<br />

e a burguesia urbana<br />

começaram a imitar os<br />

costumes da Corte,<br />

adotando seus padrões<br />

artísticos oficiais, como<br />

que tentando exteriorizar<br />

os vínculos do seu poder<br />

local com o central.<br />

Solar Grandjean de Montigny<br />

Centro Cultural da PUC-RJ<br />

(1828, Rio de Janeiro RJ)<br />

A. H. V. Grandjean<br />

de Montigny (1776-1850)


A abertura dos portos<br />

possibilitou a importação<br />

de novos produtos, que<br />

contribuíram para a<br />

alteração das<br />

construções:<br />

Uso de platibandas com<br />

condutores e calhas<br />

metálicas ao invés de<br />

beirais;<br />

Uso de vidros simples ou<br />

coloridos nas bandeiras das<br />

portas e janelas;<br />

Uso racional da alvenaria<br />

de tijolos (maiores vãos e<br />

vazios) e da madeira<br />

(estrutura de cobertura<br />

calculada).<br />

Palácio do Itamarati<br />

(1850, Rio de Janeiro RJ)<br />

José Jacinto Rabelo (1821-71)


Palácio Campo das Princesas<br />

Sede Governamental (Recife PE)<br />

Palácio Piratini (Porto Alegre RS)<br />

Intensificou-se a vida<br />

social, na qual a mulher<br />

devia aparecer em<br />

público, cujos modos e<br />

vestimentas expressavam<br />

o status da família de<br />

bases francesas.<br />

Surgiram os PALACETES<br />

URBANOS onde o<br />

alpendre retraiu-se ou<br />

anulou-se, aparecendo um<br />

pátio colunado à maneira<br />

de um átrio. Ao mesmo<br />

tempo, o jardim tem seu<br />

uso aumentado como<br />

continuidade do interior.


De composição simétrica<br />

e altamente contida, as<br />

casas neoclássicas eram<br />

feitas em pedra ou tijolo,<br />

apresentando elementos<br />

greco-romanos, em<br />

especial frontões, arcos,<br />

colunas e pilastras.<br />

Apareceu um novo tipo<br />

de residência, que<br />

representava a transição<br />

entre os velhos sobrados<br />

coloniais e as casas<br />

térreas, a casa de porão<br />

alto, localizada em<br />

bairros exclusivamente<br />

residenciais.


1 Salas de receber e jantar<br />

2 Alcovas<br />

3 Sala de viver ou varanda<br />

4 Cozinha e serviços<br />

Casa de porão alto<br />

(Séc. XIX)


Palácio Piratini<br />

(Porto Alegre RS)<br />

Utilizadas no pavimento térreo,<br />

as casas de porão alto<br />

possuíam:<br />

Porões mais elevados, revelandose<br />

na fachada através de óculos ou<br />

seteiras com gradis;<br />

Pequena escada com porta<br />

almofadada, dando acesso a um<br />

patamar em mármore xadrez que<br />

se abria a outra porta em meiaaltura,<br />

de vidro ou madeira<br />

recortada;<br />

Ânforas, estátuas ou fruteiras de<br />

louça sobre a platibanda da<br />

cobertura;<br />

<strong>Mobiliário</strong> junto às paredes<br />

decoradas com papel e constituído<br />

de sofás, poltronas, pianos,<br />

espelhos, jarros de louça, etc.


Estilo<br />

D. João VI<br />

Canapé<br />

Meia-cômoda<br />

D. Maria I<br />

Cadeira<br />

de bordar<br />

Toucador<br />

O aumento da vida social fez com que surgissem<br />

salas de recepção, jantar, música, biblioteca e<br />

escritório, com uma grande valorização<br />

decorativa (papéis de paredes, tapeçarias,<br />

prataria, cristais, porcelanas, etc.).


Com a Independência<br />

(1822), inaugurou-se<br />

o ESTILO IMPÉRIO<br />

BRASILEIRO, em<br />

que se reproduziram<br />

as composições<br />

simétricas e altamente<br />

contidas, respeitando<br />

as normas vitruvianas,<br />

através do uso de<br />

elementos e<br />

decoração clássica.<br />

Palácio Imperial de Petrópolis<br />

(1850/3, Petrópolis RJ)<br />

José Jacinto Rabelo (1821-71)<br />

Trono<br />

D. Pedro II


Canapé<br />

Mesa<br />

Estilo Império<br />

Brasileiro<br />

Em paralelo à adoção<br />

de comportamentos<br />

cerimoniais, aos<br />

poucos, ocorria uma<br />

melhoria da<br />

privacidade das áreas<br />

íntimas da casa<br />

(dormitórios e sala de<br />

almoço), passando o<br />

quarto a se comunicar<br />

com um boudoir ou<br />

quarto de se trocar.<br />

Boudoir (Séc. XIX)


Casa Eclética<br />

A supressão do tráfico<br />

negreiro (1850), a<br />

cultura cafeeira, a<br />

imigração européia e a<br />

implantação das<br />

ferrovias entre 1868 e<br />

1878 modificaram a<br />

cidade brasileira,<br />

acelerando o processo<br />

de urbanização e<br />

transferindo o pólo<br />

econômico para o<br />

Sudeste e Sul do país.


Enquanto a classe média<br />

passou a ocupar casas de<br />

aluguel com porões altos<br />

habitáveis, a elite<br />

(latifundiários do café e<br />

industriais em ascensão)<br />

começaram a viver em<br />

mansões ecléticas,<br />

caracterizadas pela<br />

mistura de estilos.<br />

Avenida Paulista<br />

(São Paulo SP)<br />

Casa das Rosas (São Paulo SP)


1 Jardim<br />

2 Sala de visitas<br />

3 Sala de jantar<br />

4 Cozinha<br />

5 Quintal<br />

6 Dormitório de criados<br />

7 Dormitórios<br />

8 Banheiro<br />

Casa republicana<br />

urbana (Séc. XIX)


Poltrona e mesa<br />

Neorococó<br />

Estilo<br />

Eclético<br />

Poltrona sanitária<br />

Canapé Béranger<br />

Na República (1889) ,<br />

a casa eclética reunia<br />

referências a vários<br />

estilos – de europeus a<br />

exóticos –, inspirando-se<br />

superficialmente em<br />

chalés e cottages.<br />

Aparecem os corredoresalpendrados,<br />

onde<br />

ocorriam os saraus e os<br />

namoros; fumava-se ou<br />

lia-se. As mulheres<br />

passaram a sair de casa<br />

para desfrutar da vida e<br />

lazer urbanos. Surgiram<br />

os balcões de ferro, a luz<br />

elétrica e a garagem.


Pré-Modernismo<br />

Na Europa, as últimas décadas do século XIX<br />

foram marcadas por muitas declarações de<br />

insatisfação geral em relação ao ECLETISMO e<br />

seus estilos historicistas, as quais alegavam sua<br />

deterioração por causas técnicas e culturais.<br />

Apontava-se a falta de poder criativo e a<br />

necessidade de encontrar um estilo novo e<br />

original, abandonando a tentativa frustrada de<br />

reviver modos de vida e tradições antigas, o que<br />

fez surgir correntes pré-modernistas.


A CASA BRITÂNICA<br />

passou a ser reconhecida<br />

pelo seu sentido prático, a<br />

liberdade espacial, o<br />

conforto e a intimidade,<br />

influenciando toda a<br />

arquitetura doméstica.<br />

Ao invés de se preocupar<br />

com as aparências cortesãs,<br />

os ingleses valorizavam o<br />

uso sábio dos materiais, a<br />

composição articulada, a<br />

continuidade dos ambientes<br />

e a noção de privacidade.<br />

British House (1887, London GB)<br />

M.H. Baillie Scott (1865-1945)


Goddards House<br />

(1899/1910, Abinger GB)<br />

Edwin Lutyens (1869-1944)<br />

Produto de uma alta qualidade técnica, sem<br />

pórticos, loggias ou terraços, as casas inglesas<br />

eram pequenas e modestas por fora, mas ricas e<br />

despojadas por dentro. Com base na matéria, sua<br />

construção era voltada ao conforto e praticidade<br />

dos ambientes, evitando o exibicionismo.


CASA ITALIANA<br />

Visão idealista<br />

Concepção que parte de um<br />

modelo unitário e abstrato,<br />

que é desmaterializado e<br />

revelado totalmente em sua<br />

imagem exterior<br />

Prevalece a forma do<br />

conjunto<br />

Bases palladianas<br />

Villa Rotunda (1566, Vincenza It.)<br />

Andrea Palladio (1508-1580)<br />

Charles F. A. Voysey (1857-1941)<br />

Newplace House (1897, Surrey GB)<br />

CASA INGLESA<br />

Visão realista<br />

Agregação de espaços<br />

definidos em si mesmos e<br />

organizados livremente no<br />

interior através de um<br />

contínuo processo de<br />

articulação<br />

Prevalece a forma de seus<br />

elementos<br />

Movimento Arts & Crafts


Philip Webb (1831-1915)<br />

Red House<br />

(1859/60,Kent GB)<br />

No livro Das englische<br />

haus (1904/05),<br />

Hermann Muthesius<br />

(1861-1927) traçou um<br />

perfil detalhado do<br />

universo arquitetônico<br />

da casa britânica.<br />

Isto acabou por<br />

influenciar toda a<br />

arquitetura residencial da<br />

Europa, principalmente<br />

devido aos conceitos de<br />

privacidade e conforto<br />

nos ambientes familiares.<br />

Poltrona<br />

sanitária


Distinção entre acesso principal<br />

e de serviços;<br />

Espaços interconectados e<br />

articulados em plantas de<br />

diferentes níveis, ligados por<br />

degraus suaves;<br />

Pé-direito baixo nas áreas sociais<br />

de modo a tornar mais cômoda a<br />

subida para a área íntima;<br />

Alturas duplas, terraços interiores<br />

e extremidades arredondadas<br />

destinadas a criar<br />

individualismos;<br />

Acentralidade compositiva e<br />

inexistência de corredores,<br />

evitando hierarquia espacial da<br />

casa;<br />

Elevado grau de acabamento e<br />

instalações ligadas estritamente<br />

ao modo de vida doméstica.


cozinha<br />

despensas<br />

hall<br />

Grims Dyke House<br />

Harrow Weald (1870/2, London)<br />

Richard Norman Shaw<br />

(1831-1912)<br />

salas<br />

copa


Arts & Crafts<br />

Consistiu na primeira<br />

iniciativa artística de criação<br />

original, surgida entre 1880<br />

e 1890, na Inglaterra,<br />

através da ação de um<br />

grupo de literatos e<br />

artesãos que visava a<br />

renovação do artesanato,<br />

em menosprezo às artes<br />

industriais, inspirando-se<br />

no artesanato e nas<br />

associações medievais.


Bird<br />

(1878)<br />

Wandle<br />

(1883)<br />

Brother Rabbit<br />

(1882)<br />

C.R. Ashbee<br />

Crafts<br />

Suas bases estavam nas<br />

idéias do escritor John<br />

Ruskin (1819-1900) , que<br />

buscava soluções para a<br />

degenerescência da arte de<br />

seu tempo, colocando<br />

como sua causa o regime<br />

econômico burguês e o<br />

industrialismo, defendendo<br />

a classe trabalhadora e o<br />

artesanato.


Seu discípulo William Morris<br />

(1834-96) procurou aplicar<br />

os ideais do mestre,<br />

defendendo uma “arte do<br />

povo para o povo”, negando a<br />

máquina e organizando<br />

grupos para a revificação do<br />

trabalho artesanal, através<br />

da sensibilidade e<br />

originalidade.<br />

Marigold (1875)<br />

Daisy<br />

(1864)<br />

Morris Armchair (1865)


Através de artífices como<br />

Ernest Gimson (1864-<br />

1920), sir Ambrose Heal<br />

(1872-1959), Walter Crane<br />

(1845-1915), C. R. Ashbee<br />

(1863-1942) e Arthur H.<br />

Mackmurdo (1851-1942) ,<br />

iniciou-se a renovação das<br />

artes aplicadas.<br />

A maior contribuição do<br />

ARTS & CRAFTS foi o<br />

desenvolvimento de<br />

padronagens estilizadas e<br />

límpidas; além da ênfase<br />

que foi dada ao trabalho<br />

funcional, simples e<br />

dedicado junto à natureza<br />

própria dos materiais.<br />

C.R. Ashbee (1863-1942)<br />

Bookcase & Chair


Bibliografia<br />

CORNOLDI, A. La arquitectura de la vivienda<br />

unifamiliar. Barcelona: Gustavo Gilli, 1999.<br />

LEMOS, C. A. C. História da casa brasileira. São<br />

Paulo: Contexto, 1996.<br />

PEVSNER, N. Origens da arquitetura moderna e do<br />

design. São Paulo: Martins Fontes, 1981.<br />

POUNDS, N. G. J. O mundo doméstico. Rio de<br />

Janeiro: Abril, 1993.<br />

REIS FILHO, N. G. Quadro da arquitetura no<br />

Brasil. 8a. ed. São Paulo: Perspectiva, 1997.<br />

VERÍSSIMO, F. S.; BITTAR, W. S. M. 500 anos da<br />

casa no Brasil. Rio de Janeiro: Ediouro, 1999.

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