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Ações afirmativas e combate ao racismo nas Américas

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1<br />

Sales Augusto dos Santos<br />

A posição do presidente Fernando Henrique a favor da ação de cotas para<br />

facilitar o acesso de negros à universidade é sem dúvida um dos pontos<br />

altos da luta contra o preconceito racial no Brasil. Ao encampar a proposta,<br />

autorizando sua inclusão no documento que o Brasil levará à 3º Conferência<br />

internacional contra o Racismo, em Durban, na África do Sul, é como se<br />

estivesse, apesar de algumas resistências inter<strong>nas</strong>, dando o pontapé inicial<br />

numa nova era. 20<br />

Apesar de alguns poucos meios de comunicação impressa (de prestígio)<br />

do país, como o Jornal do Brasil, concordarem com a implementação de<br />

cotas para os negros ingressarem no ensino público superior brasileiro,<br />

prevaleceu, e tem prevalecido até hoje, entre a maioria absoluta dos meios<br />

de comunicação uma posição contrária a esse tipo de política de ação<br />

afirmativa 21 , mesmo havendo o reconhecimento explícito, entre os jornais de<br />

grande circulação nacional, de que os negros são discriminados racialmente<br />

no Brasil. O jornal Folha de S. Paulo, um dos mais lidos e prestigiados<br />

meios de comunicação impressa do país, publicou mais de um editorial<br />

posicionando-se contra cotas para os negros ingressarem <strong>nas</strong> universidades<br />

públicas brasileiras 22 . Segundo esse jornal, a implementação de cotas para<br />

negros implicaria reparar uma injustiça com a criação de outra:<br />

O governo brasileiro, por exemplo, leva a Durban a proposta de criar cotas<br />

para negros e seus descendentes <strong>nas</strong> universidades públicas. Esta Folha se<br />

opõe <strong>ao</strong> sistema de cotas. Isso não significa, entretanto, que todo tipo de ação<br />

afirmativa, de discriminação positiva, deva ser descartada. A idéia de instituir<br />

cursos pré-vestibulares dirigidos a negros, por exemplo, parece oportuna. (...)<br />

O Brasil precisa sem dúvida envidar esforços para promover a integração<br />

racial. <strong>Ações</strong> <strong>afirmativas</strong> devem ser consideradas e implementadas. O limite<br />

deve ser o da justiça. Admitir que se deve reparar uma injustiça com a criação<br />

de outra, uma variação de “os fins justificam os meios”, é um argumento<br />

filosoficamente tíbio e historicamente complicado. 23<br />

Foram entrevistados e/ou convidados a se pronunciar sobre a questão racial no<br />

Brasil e/ou sobre as cotas, <strong>nas</strong> pági<strong>nas</strong> dos jornais de grande circulação nacional,<br />

militantes dos movimentos sociais negros, políticos de expressão nacional, ministros<br />

de Estado, magistrados e intelectuais, entre outros. Entre eles, o ex-vice-presidente<br />

da república, Marco Maciel; o ex-ministro da Educação, Paulo Renato de Souza; o<br />

ex-governador de Brasília e atual senador da república, Cristovam Buarque; o ex-<br />

20 Idem, Ibidem, p.8.<br />

21 Vide o texto de André Ricardo N. Martins publicado neste livro.<br />

22 Vide o editorial do dia 28 de janeiro de 2002, entre outros.<br />

23 Folha de S. Paulo, 30 de agosto de 2001, p. A2.

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