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capas teoria da geografia - ftc ead

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Teoria <strong>da</strong><br />

Geografia<br />

1


TEORIA DA<br />

GEOGRAFIA<br />

2<br />

SOMESB<br />

Socie<strong>da</strong>de Mantenedora de Educação Superior <strong>da</strong> Bahia S/C Lt<strong>da</strong>.<br />

Presidente ♦ Gervásio Meneses de Oliveira<br />

Vice-Presidente ♦ William Oliveira<br />

Superintendente Administrativo e Financeiro ♦ Samuel Soares<br />

Superintendente de Ensino, Pesquisa e Extensão ♦ Germano Tabacof<br />

Superintendente de Desenvolvimento e>><br />

Planejamento Acadêmico ♦ Pedro Daltro Gusmão <strong>da</strong> Silva<br />

FTC - EaD<br />

Facul<strong>da</strong>de de Tecnologia e Ciências - Ensino a Distância<br />

Diretor Geral ♦<br />

Diretor Acadêmico ♦<br />

Diretor de Tecnologia ♦<br />

Gerente Acadêmico ♦<br />

Gerente de Ensino ♦<br />

Gerente de Suporte Tecnológico ♦<br />

Coord. de Softwares e Sistemas ♦<br />

Coord. de Telecomunicações e Hardware ♦<br />

Coord. de Produção de Material Didático ♦<br />

EQUIPE DE ELABORAÇÃO/PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO:<br />

Waldeck Ornelas<br />

Roberto Frederico Merhy<br />

Reinaldo de Oliveira Borba<br />

Ronaldo Costa<br />

Jane Freire<br />

Jean Carlo Nerone<br />

Romulo Augusto Merhy<br />

Osmane Chaves<br />

João Jacomel<br />

♦PRODUÇÃO ACADÊMICA♦<br />

Gerente de Ensino ♦ Jane Freire<br />

Autores(a) ♦ Ângelo Sérgio S. <strong>da</strong> Silva, Carlos Eduardo Oliveira<br />

Supervisão ♦ Ana Paula Amorim<br />

♦PRODUÇÃO TÉCNICA ♦<br />

Revisão Final ♦ Carlos Magno e I<strong>da</strong>lina Neta<br />

Coordenação ♦ João Jacomel<br />

Equipe ♦ Ana Carolina Alves, Cefas Gomes, Delmara Brito,<br />

Ederson Paixão, Fabio Gonçalves, Francisco França Júnior,<br />

Israel Dantas, Lucas do Vale e Marcus Bacelar<br />

Imagens ♦ Corbis/Image100/Imagemsource<br />

Ilustrações ♦ Fábio Gonçalves<br />

copyright © FTC EaD<br />

Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/98.<br />

É proibi<strong>da</strong> a reprodução total ou parcial, por quaisquer meios, sem autorização prévia, por escrito,<br />

<strong>da</strong> FTC EaD - Facul<strong>da</strong>de de Tecnologia e Ciências - Ensino a Distância.<br />

www.<strong>ftc</strong>.br/<strong>ead</strong>


Sumário<br />

ANÁLISE ESPACIAL: O ESTUDO GEOGRAFICO<br />

DA SOCIEDADE<br />

As Ações Humanas Sobre os Espaços<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

A ANÁLISE DA DIMENSÃO ESPACIAL DA SOCIEDADE<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

O Espaço e as Ativi<strong>da</strong>des Produtivas 06<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

As Relações Espaço Socie<strong>da</strong>de 08<br />

O Espaço e a Reprodução <strong>da</strong>s Relações Sociais ○<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○09<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ O Trabalho Como Força de Produção 10<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

O Papel do Estado 11<br />

O Espaço e a Constituição dos valores,<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

Hábitos e atitudes 13<br />

A Contrução <strong>da</strong> Cultura<br />

O Espaço e a Contrução <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia<br />

Democracia e Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia<br />

BASE E CONCEITOS DA GEOGRAFIA<br />

Bases Teóricas e Conceituais <strong>da</strong> Geografia<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

A História <strong>da</strong> Geografia (Linha do Tempo) 22<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○ ○ ○<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

Obras de Quali<strong>da</strong>des Relevantes ao Estudo <strong>da</strong> Geografia 23<br />

As Contribuições de Kropotkin e Rclus 24<br />

A Origem e o Desenvolvimento <strong>da</strong> Geografia Moderna 25<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

A Geografia Moderna 26<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

As Contribuições de Humboldt para a Geografia Moderna 27<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

As Reflexões no Processo Formativo dos Professores 28<br />

As Perspectivas Filosóficas Relaciona<strong>da</strong>s às<br />

Tradições Geográficas<br />

A Abor<strong>da</strong>gem Filosófica<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

Os Pólos Epistemológicos 31<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

A INVESTIGAÇÃO GEOGRÁFICA NO<br />

PASSADO E NA CONTEPORANEIDADE<br />

HISTÓRIA DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

A Corrente Determinista do Pensamento Geográfico 33<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

O Determinismo Fora <strong>da</strong> Alenha 35<br />

06<br />

07<br />

14<br />

17<br />

18<br />

20<br />

29<br />

30<br />

33<br />

3


TEORIA DA<br />

GEOGRAFIA<br />

4<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○35<br />

○<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Principais Críticas ao Determinismo 35<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

A Corrente Possibilista do Pensamento Geográfico 37<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

Possiblismo x Determinismo 38<br />

As Bases Filosóficas do Possibilitismo<br />

(O Papel de La Blache) 39<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

O Método Regional 42<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

Contribuição de Hartshorne Para o Método Regional 42<br />

Objeto de Estudo do Método Regional 43<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

A Geografia Teórica-Quantitativa 45<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

A Presneça <strong>da</strong> Corrente Teórica-Quantitativa em Sala de Aula 46<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

Metas <strong>da</strong> Nova Geografia 46<br />

A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

A Geografia Crítica 48<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○ ○<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 55<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○<br />

A Evolução <strong>da</strong> Geografia Crítica 48<br />

A Geografia Crítica no Brasil 50<br />

A Geografia Humanística 52<br />

O Papel <strong>da</strong> Fenomenologia Existencial 52<br />

Principais Caracteristicas <strong>da</strong> Geografia Humanística 52<br />

Os Principais Pensadores Humanístas 54<br />

A Corrente Ecológica e os Problemas Ambientais ○54<br />

O Papel dos Geógrafos na Corrente<br />

Ecológica ○55<br />

A Preocupação com os Problemas ambientais do Brasil<br />

Os Problemas Ambientais ○55<br />

Os Impactos Ambientais ○56<br />

Capitalismo x Meio Ambiente<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○58<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

O Pensamento Geográfico na Contemporanei<strong>da</strong>de 59<br />

A Renovação <strong>da</strong> Geografia ○<br />

O Ensino <strong>da</strong> Geografia na Contemporanei<strong>da</strong>de ○<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

O Ensino Diante <strong>da</strong>s Diferentes Correntes Geográficas ○<br />

Ativi<strong>da</strong>de Orienta<strong>da</strong> ○<br />

Principais Pensadores ○<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○63<br />

59<br />

60<br />

60


Apresentação <strong>da</strong> disciplina<br />

Caro (a) Aluno (a),<br />

O conteúdo deste material apresenta introdutoriamente o modo como a ciência<br />

geográfica contribui para a análise e a interpretação do mundo contemporâneo.<br />

A via geográfica de entendimento do mundo é o espaço geográfico, uma<br />

reali<strong>da</strong>de que os homens reconstroem permanentemente com os seus atos<br />

pessoais e a partir de suas vivências coletivas.<br />

O objetivo principal <strong>da</strong> disciplina é o desenvolvimento <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de de utilizar<br />

os conhecimentos teóricos <strong>da</strong> Geografia no exercício de reflexão sobre a<br />

reali<strong>da</strong>de humana no atual momento histórico. Para a formação do professor<br />

de Geografia, é fun<strong>da</strong>mental o domínio dos conceitos e dos procedimentos <strong>da</strong><br />

análise espacial. Isto permite ao professor apoiar com consistência o processo<br />

de formação crítica dos alunos como agentes construtores do espaço.<br />

No mundo de hoje, nossa vi<strong>da</strong> cotidiana é ca<strong>da</strong> vez mais influencia<strong>da</strong> por fatos<br />

que ocorrem em outras partes do país e do mundo. Nas ci<strong>da</strong>des ou na zona<br />

rural, os processos sociais, econômicos, políticos, culturais e ambientais de<br />

que participamos mundializam-se crescentemente, desafiando a nossa<br />

capaci<strong>da</strong>de de nos posicionarmos como ci<strong>da</strong>dãos, em vista de um futuro mais<br />

promissor.<br />

É como um instrumento para enfrentar esse desafio que as noções geográficas<br />

aqui apresenta<strong>da</strong>s podem enriquecer a sua formação docente em Geografia.<br />

O domínio <strong>da</strong>s <strong>teoria</strong>s nos permite reestruturar nossas experiências de vi<strong>da</strong><br />

em patamares mais elevados. O exercício conceitual nos dá suporte para<br />

continuar aprendendo e para auxiliar a construção <strong>da</strong> autonomia dos<br />

educandos.<br />

Portanto, explore ao máximo este material, mas nunca deixe de consultar outras<br />

fontes, pois qualquer texto é sempre parcial e incompleto. E, no fundo, é o<br />

enfrentamento incessante de nossa incompletude o sentido maior <strong>da</strong> educação.<br />

Bons estudos.<br />

Profº Ângelo Sérgio Santos <strong>da</strong> Silva<br />

5


TEORIA DA<br />

GEOGRAFIA<br />

6<br />

Introdução<br />

ANÁLISE ESPACIAL: O ESTUDO<br />

GEOGRÁFICO DA SOCIEDADE<br />

A ANÁLISE DA DIMENSÃO ESPACIAL DA SOCIEDADE<br />

Por que uma empresa realiza profundos estudos antes de decidir onde localizar uma<br />

nova filial? Como se explicam as desigual<strong>da</strong>des de infraestrutura que observamos nos<br />

centros urbanos? Por que ?<br />

To<strong>da</strong>s essas perguntas, dentre outras, remetem para o fato de que o espaço<br />

construído pelo homem exerce um papel nas suas condições de existência. O espaço<br />

geográfico condiciona a produção industrial e a agrícola, a circulação <strong>da</strong>s mercadorias, o<br />

exercício <strong>da</strong> política, a moradia, o lazer e todos os contextos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> priva<strong>da</strong> e coletiva.<br />

Além disso, o espaço também influencia a formação <strong>da</strong>s identi<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s pessoas e<br />

dos grupos, pois é no lugar onde vivemos e trabalhamos que incorporamos os hábitos,<br />

atitudes, valores, as linguagens e tudo o mais que constitui a nossa forma de ser.<br />

Por isso, o espaço é a via geográfica de análise <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de. Seu estudo na escola<br />

pode ser muito enriquecedor se as práticas educativas levarem em consideração o espaço<br />

vivido pelos alunos. Utilizar os conhecimentos geográficos na reflexão <strong>da</strong>s vivências<br />

espaciais é uma condição para se formar como um sujeito crítico <strong>da</strong> construção do espaço.<br />

Vejamos como a <strong>geografia</strong> contemporânea utiliza essa ferramenta conceitual.<br />

O Espaço e as Ativi<strong>da</strong>des Produtivas<br />

No mundo atual, as socie<strong>da</strong>des<br />

contam com a existência de vários objetos<br />

geográficos. Casas, edifícios, estra<strong>da</strong>s,<br />

pontes, hospitais, escolas, campos de<br />

cultivo, fábricas, etc são construções que o<br />

homem realiza transformando a natureza.<br />

Um rio pode também ser um objeto<br />

geográfico quando o homem o utiliza como<br />

meio de transporte ou como fonte de<br />

geração de energia. Da mesma forma uma<br />

O espaço geográfico é o conjunto indissociável formado pelo<br />

conjunto dos objetos que o homem constrói ou se apropria <strong>da</strong><br />

natureza e as ações que por meio deles são realiza<strong>da</strong>s.


montanha, quando uma comuni<strong>da</strong>de a transforma num local sagrado.<br />

Tanto as construções humanas como os elementos que o homem se apropria <strong>da</strong><br />

natureza <strong>da</strong>ndo-lhe uma finali<strong>da</strong>de são objetos geográficos. As ações humanas que originam<br />

as culturais e políticas realizam-se por meio desses objetos. Ca<strong>da</strong> um deles cumpre uma<br />

função determina<strong>da</strong>, variando de um período histórico para outro.<br />

As Ações Humanas Sobre o Espaço<br />

Quando falamos de ações humanas não nos limitamos às ações dos indivíduos,<br />

mas também as que são executa<strong>da</strong>s por empresas, instituições, órgãos públicos,<br />

organizações políticas, dentre outras. As ações visam à realização de intenções relaciona<strong>da</strong>s<br />

à satisfação de interesses e necessi<strong>da</strong>des que são variáveis conforme a socie<strong>da</strong>de e a<br />

época histórica em que vivemos.<br />

Os interesses e as necessi<strong>da</strong>des dos povos que habitavam o Brasil na época colonial<br />

eram bem diferentes dos que temos hoje. Logo, as ações e os objetos que formam o espaço<br />

geográfico apresentam características diversas no passado e no presente. Socie<strong>da</strong>des<br />

diferentes também se diferenciam quanto às características espaciais. Como podemos<br />

distinguir o espaço geográfico dos indígenas do espaço <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de moderna – urbana e<br />

industrial?<br />

SOCIEDADE<br />

ACÕES HUMANAS<br />

NATUREZA<br />

ESPAÇO GEOGRÁFICO<br />

OBJETOS E AÇÃO<br />

É preciso esclarecer que em outras temporali<strong>da</strong>des o espaço geográfico era<br />

construído principalmente a partir do trabalho humano, realizado diretamente sobre a natureza<br />

primitiva. Isso ain<strong>da</strong> ocorre. Assistimos aos efeitos <strong>da</strong>s ações humanas sobre as florestas,<br />

os rios, mares, solos, atmosfera e demais elementos naturais.<br />

Mas, nos tempos atuais as ativi<strong>da</strong>des humanas recaem acima de tudo sobre a<br />

natureza já transforma<strong>da</strong>. Hoje, mais de 80% <strong>da</strong> população brasileira e de todo o mundo<br />

moderno mora e trabalha em ci<strong>da</strong>des. Logo, o meio sobre o qual o homem exerce, na<br />

atuali<strong>da</strong>de, a maior parte <strong>da</strong>s suas ações é o meio construído e não o natural.<br />

Se as relações sociais se dão no presente, sobretudo por meio dos objetos<br />

construídos, a ciência geográfica se propõe a revelar as formas de interação entre a<br />

socie<strong>da</strong>de e o espaço. As relações entre a socie<strong>da</strong>de e a natureza primitiva, que não<br />

deixaram de existir, constituem apenas um capítulo dos estudos e investigações geográficas.<br />

Podemos, então, afirmar que a Geografia se ocupa não <strong>da</strong> descrição de tudo que<br />

existe na superfície <strong>da</strong> Terra e nem simplesmente <strong>da</strong>s relações entre o homem e a natureza.<br />

A Geografia estu<strong>da</strong> o espaço geográfico, uma produção humana histórica, um componente<br />

<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de que interfere em todos os seus contextos.<br />

7


TEORIA DA<br />

GEOGRAFIA<br />

8<br />

Foto A<br />

Foto B<br />

Ao lado <strong>da</strong> sociologia, <strong>da</strong> história, <strong>da</strong> antropologia, <strong>da</strong> economia e <strong>da</strong>s demais ciências<br />

humanas, a <strong>geografia</strong> contribui para a análise <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de utilizando o conceito de<br />

espaço geográfico.<br />

As Relações Espaço Socie<strong>da</strong>de<br />

O espaço geográfico integra a socie<strong>da</strong>de <strong>da</strong> mesma forma que a economia, a cultura<br />

e a organização sócio-política. Por isso, não podemos pensar o espaço simplesmente como<br />

um palco onde as ativi<strong>da</strong>des humanas se desenvolvem. O espaço é o meio formado pelas<br />

construções humanas, por meio do qual a dinâmica social se realiza.<br />

Uma dinâmica fun<strong>da</strong>mental <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> em socie<strong>da</strong>de é a <strong>da</strong> produção. Trata-se de uma<br />

ativi<strong>da</strong>de indispensável à sobrevivência de todos, que se desenvolve sempre de forma<br />

coletiva. Pela produção, buscamos satisfazer às nossas necessi<strong>da</strong>des e criamos uma vi<strong>da</strong><br />

em comum, repleta de tensões, contradições e conflitos.<br />

É a produção coletiva, realiza<strong>da</strong> pelo o trabalho social que transforma a natureza em<br />

espaço geográfico. As características espaciais decorrem, portanto, dos objetivos e <strong>da</strong><br />

maneira como a produção ocorre. Quando a produção visava principalmente a sobrevivência,<br />

as interações humanas geravam menos desigual<strong>da</strong>des, os instrumentos de trabalho eram<br />

simples, a transformação <strong>da</strong> natureza era pouco intensa e o espaço de vi<strong>da</strong> do homem era<br />

predominantemente natural.<br />

Em nossa socie<strong>da</strong>de, a produção visa principalmente o lucro e a interação entre os<br />

homens produz desequilíbrios sociais e várias formas de privação. Nesse contexto, as<br />

técnicas são crescentemente decisivas na construção do espaço, que passa a ser ca<strong>da</strong><br />

vez mais artificial, como as ci<strong>da</strong>des e os campos de cultivo, refletindo o grau de transformação<br />

<strong>da</strong> natureza.<br />

No momento histórico atual, a produção de um bem envolve normalmente uma<br />

distribuição de tarefas que são realiza<strong>da</strong>s por diversos ramos produtivos e em vários lugares.<br />

É o que chamamos de divisão do trabalho. As ativi<strong>da</strong>des produtoras que existem em um<br />

lugar são um elo do circuito produtivo que<br />

hoje se estende em nível mundial. Por isso,<br />

muitas modificações que observamos em<br />

nosso espaço de vivência decorrem de<br />

decisões e necessi<strong>da</strong>des origina<strong>da</strong>s em<br />

outras partes do país e até em outros<br />

continentes.<br />

Os componentes de um produto<br />

como o automóvel são freqüentemente<br />

fabricados em lugares diferentes, às vezes<br />

bem distantes uns dos outros. Essa


epartição <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de produtiva permite que as empresas aproveitem as vantagens locais,<br />

que podem ser os baixos salários dos trabalhadores, a presença de uma matéria prima, a<br />

oferta de benefícios feita pelos governantes ou os baixos custos com os cui<strong>da</strong>dos ambientais.<br />

A produção de um bem como um automóvel provoca uma integração entre os lugares,<br />

contando com os meios de transporte e comunicação.<br />

Você poderia identificar vantagens aproveita<strong>da</strong>s por uma ou mais empresas no<br />

município ou na região onde você mora?<br />

Na Bahia, podemos identificar muitas mu<strong>da</strong>nças espaciais relaciona<strong>da</strong>s com o<br />

desenvolvimento <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des produtivas. Tais mu<strong>da</strong>nças podem ser objeto de<br />

interessantes trabalhos interdisciplinares na escola. O setor agrícola, a indústria e a<br />

mineração, a geração de energia, o comércio e a circulação de produtos, os vários serviços<br />

são ativi<strong>da</strong>des que transformam o espaço e as condições de vi<strong>da</strong> do lugar onde se<br />

desenvolvem.<br />

Essas transformações podem ser observa<strong>da</strong>s diretamente nas ci<strong>da</strong>des, na zona<br />

rural, nas vias de acesso, na natureza, na vi<strong>da</strong> cotidiana, complementando-se com pesquisas<br />

nas diversas fontes de <strong>da</strong>dos e informações e contando com o suporte dos conhecimentos<br />

<strong>da</strong> ciência geográfica.<br />

Todos nós somos atingidos pelos efeitos dessas mu<strong>da</strong>nças. Estudá-las é importante<br />

porque nos permite identificar os interesses e as formas de ação dos agentes produtivos e<br />

do poder público, tornando possível o nosso posicionamento crítico como ci<strong>da</strong>dãos e como<br />

agentes participantes <strong>da</strong> produção do espaço.<br />

Ativi<strong>da</strong>des<br />

Complementares<br />

Identifique uma ativi<strong>da</strong>de produtiva em sua ci<strong>da</strong>de ou região e descreva as<br />

modificações espaciais que ela provocou. Refira-se, quando for o caso, às mu<strong>da</strong>nças<br />

ocorri<strong>da</strong>s na ci<strong>da</strong>de, na zona rural, nas relações entre o campo e a ci<strong>da</strong>de e nos elementos<br />

<strong>da</strong> natureza. Mencione o produto produzido e, se possível, o local de origem <strong>da</strong>s matérias<br />

primas ou dos insumos utilizados na produção. Explique como o poder público contribuiu<br />

para o desenvolvimento dessa ativi<strong>da</strong>de e analise os benefícios e os problemas que ela<br />

trouxe para a população<br />

O Espaço e a Reprodução <strong>da</strong>s Relações Sociais<br />

Os problemas que afetam a nossa vi<strong>da</strong>, que comprometem<br />

a nossa realização plena como seres humanos, são decorrentes<br />

<strong>da</strong> forma de organização <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de a qual pertencemos.<br />

Vivemos numa socie<strong>da</strong>de capitalista na qual a interação entre<br />

os homens tem como objetivo primordial a geração de lucro.<br />

Em nossa socie<strong>da</strong>de, os meios de produção (terras<br />

cultiváveis, máquinas, equipamentos, matérias primas, etc) são<br />

No Brasil os<br />

10% mais ricos <strong>da</strong><br />

população concentram<br />

quase metade <strong>da</strong> ren<strong>da</strong><br />

nacional, enquanto os<br />

60% mais pobres ficam<br />

apenas com 18%<br />

<strong>da</strong> ren<strong>da</strong>.<br />

9


TEORIA DA<br />

GEOGRAFIA<br />

10<br />

proprie<strong>da</strong>de priva<strong>da</strong>, fato que origina a estrutura social em classes. A classe<br />

dos proprietários subordina a dos não proprietários, pois estes últimos, não<br />

tendo outra forma de garantir a sua subsistência, são obrigados a vender a<br />

sua força de trabalho aos primeiros, fazendo-os concentrar ca<strong>da</strong> vez mais<br />

ren<strong>da</strong> e poder.<br />

O Trabalho Como Força de Produção<br />

A força que aciona os meios de produção é o trabalho, e o resultado desse processo<br />

não é um produto qualquer, mas uma mercadoria, um produto destinado a aumentar a riqueza<br />

dos proprietários dos meios de produção. É lógico que um pequeno proprietário também visa o<br />

lucro, mas ele não pode ser considerado um capitalista, pois o seu lucro não lhe permite acumular<br />

riqueza e poder.<br />

As mercadorias são produzi<strong>da</strong>s para satisfazer às várias necessi<strong>da</strong>des, mas a lógica<br />

geral que preside a sua produção é a geração de lucro. É por isso que é grande a produção de<br />

automóveis e moradias de luxo, mas faltam alimentos e casas populares. Isso explica também<br />

porque os bens são produzidos para se desgastar tão rapi<strong>da</strong>mente, visando forçar o consumo.<br />

Ou porque tantas substâncias químicas entram na composição dos alimentos que consumimos.<br />

É a sede de lucro que está por trás dos principais problemas ambientais que hoje afligem a<br />

humani<strong>da</strong>de. É a crescente acumulação de riquezas em poucas mãos a origem <strong>da</strong> pobreza, <strong>da</strong><br />

fome, <strong>da</strong> baixa quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> educação pública, <strong>da</strong> precarie<strong>da</strong>de <strong>da</strong> infra-estrutura nos locais de<br />

moradia, <strong>da</strong> dificul<strong>da</strong>de para ter acesso aos bens e serviços, fatos que expressam o que<br />

chamamos de desigual<strong>da</strong>de social.<br />

Nascemos e nos criamos convivendo<br />

com essa reali<strong>da</strong>de e por isso tendemos a<br />

achar que ela é natural, que sempre foi assim<br />

e sempre será. Tal pensamento é fonte de<br />

imobilismo e desesperança. Se<br />

compreendermos bem como esse sistema se<br />

reproduz, como as desigual<strong>da</strong>des<br />

permanecem existindo e até se agravam<br />

através dos tempos, podemos nos posicionar<br />

de forma mais conseqüente diante <strong>da</strong><br />

reali<strong>da</strong>de. Somos parte do sistema,<br />

desempenhamos variados papéis e, como<br />

seres humanos, somos conscientes e temos<br />

alguma liber<strong>da</strong>de, logo podemos ser sujeitos<br />

e nos responsabilizarmos pelos nossos<br />

destinos individuais e coletivos.<br />

Como podemos compreender a<br />

reprodução ou a permanência de um sistema<br />

produtivo gerador de desigual<strong>da</strong>des? Esta<br />

pergunta tem resposta muito ampla porque são<br />

múltiplos os mecanismos <strong>da</strong> reprodução. Mas,<br />

podemos afirmar resumi<strong>da</strong>mente que a<br />

apropriação, por uma classe, <strong>da</strong> riqueza<br />

coletivamente produzi<strong>da</strong> é possibilita<strong>da</strong> pela<br />

ação do Estado e pelo conjunto de crenças,<br />

valores e hábitos que possuímos no momento<br />

Região Metropolitana de Salvador-BA<br />

histórico em que vivemos.<br />

Camaçari


O Papel do Estado<br />

O Estado é um conjunto de instituições que assegura a uni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de dividi<strong>da</strong><br />

em classes, por seu poder de instituir e garantir o exercício dos direitos, criar as leis, as<br />

normas e punir quem não as cumpre, além de se responsabilizar pela unificação econômica<br />

dos mercados, <strong>da</strong> moe<strong>da</strong> e <strong>da</strong> língua. Essas atribuições são exerci<strong>da</strong>s originalmente pelo<br />

Estado em favor <strong>da</strong> conservação <strong>da</strong>s relações sociais. É possível desenvolver várias<br />

pesquisas na escola com o objetivo de desven<strong>da</strong>r como o Estado cumpre um papel<br />

fun<strong>da</strong>mental na manutenção <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des, constituindo-se desta forma como um<br />

ver<strong>da</strong>deiro campo de lutas.<br />

Mas a dominação política exerci<strong>da</strong> pelo Estado não seria possível se nós não<br />

compartilhássemos um conjunto de crenças, valores e hábitos que nos fazem achar justo e<br />

aceitável o modo como o Estado atua. Nossas próprias concepções e juízos formam um<br />

terreno fértil para a ação dos mecanismos que nos mantêm subordinados aos poderes.<br />

Quando pensamos, por exemplo, que as desigual<strong>da</strong>des sociais são naturais, que a função<br />

do governante é man<strong>da</strong>r no povo ou que a política é algo maléfico e perigoso, estamos<br />

contribuindo para a nossa própria submissão ao poder. Aliás, desenvolver estudos na escola<br />

para desfazer esses e outros enganos é uma prática educativa que favorece a construção<br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia.<br />

Enfim, vivemos em uma socie<strong>da</strong>de em que a luta <strong>da</strong> maioria <strong>da</strong>s<br />

pessoas pela sobrevivência resulta na concentração de riqueza e poder,<br />

tornando ca<strong>da</strong> vez mais difícil a própria sobrevivência. O que o espaço<br />

geográfico tem a ver com tudo isso?<br />

O espaço desempenha um papel fun<strong>da</strong>mental na reprodução <strong>da</strong>s relações sociais<br />

porque as construções humanas e os elementos <strong>da</strong> natureza, que o compõem, são utilizados<br />

no processo de concentração de riquezas. Fábricas, campos de cultivo, minas, usinas de<br />

energia, etc, são objetos geográficos diretamente relacionados à produção. As vias de<br />

transporte, as redes de telecomunicação, os portos e aeroportos, são meios de circulação<br />

dos produtos e de integração do território. As ci<strong>da</strong>des concentram os trabalhadores e os<br />

consumidores dos produtos, sendo um importante meio de circulação e de consumo de<br />

bens, além de local de trabalho e moradia <strong>da</strong> maior parte <strong>da</strong> população no mundo moderno.<br />

Os rios e os mares, os solos e as matas, a água, a atmosfera e as montanhas não<br />

são obras humanas e não surgiram com uma finali<strong>da</strong>de previamente defini<strong>da</strong>. São elementos<br />

<strong>da</strong> natureza também valorizados como meios de produção. As paisagens naturais são objeto<br />

de especulação pelos setores imobiliário e de turismo. As superfícies líqui<strong>da</strong>s são<br />

transforma<strong>da</strong>s em lugares de lazer, fontes de energia, meios de transporte, fontes de<br />

alimentos e local de despejo de resíduos industriais e domésticos. Estas são algumas <strong>da</strong>s<br />

inúmeras formas de como a natureza passa a fazer parte do mundo humano, aproveita<strong>da</strong><br />

como recurso natural.<br />

Nas socie<strong>da</strong>des em que vivemos as obras resultantes do trabalho humano sobre a<br />

natureza não estão a serviço <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des coletivas, e sim do desenvolvimento do<br />

capital.<br />

As obras humanas e os bens naturais se tornam meios de produção a partir de sua<br />

apropriação priva<strong>da</strong> por um segmento <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de. Os objetos que constituem o espaço<br />

são produzidos como mercadoria e o seu controle é a fonte <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de de fazer o<br />

trabalho coletivo produzir outras mercadorias e gerar lucro. Esse processo repete-se<br />

11


TEORIA DA<br />

GEOGRAFIA<br />

12<br />

continuamente, ampliando a acumulação de riquezas e reproduzindo as<br />

dispari<strong>da</strong>des sociais.<br />

PRODUÇÃO SOCIAL MERCADORIA<br />

GERAÇÃO DE LUCROS<br />

ESPAÇO<br />

GEOGRÁFICO<br />

REPRODUÇÃO DAS<br />

DESIGUALDADES SOCIAIS<br />

ACUMULAÇÃO<br />

DE REQUEZA<br />

Dizemos que em nossa socie<strong>da</strong>de o espaço tem um papel relevante na conservação<br />

<strong>da</strong>s relações sociais porque a sua própria produção visa primordialmente a satisfação dos<br />

interesses dominantes. Os objetos que compõem o espaço e os arranjos que eles formam<br />

constituem o meio sobre o qual recai o trabalho social no processo de produção de<br />

mercadorias. O trabalho realizado no processo de produção do espaço e <strong>da</strong>s mercadorias<br />

é coletivo, mas os produtos são apropriados priva<strong>da</strong>mente.<br />

Isto é uma contradição de nossa socie<strong>da</strong>de que provoca muitas tensões e conflitos.<br />

De um lado, a necessi<strong>da</strong>de de que o espaço seja construído de modo a favorecer a<br />

realização <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> humana. Do outro, os interesses relacionados com a acumulação. Daí<br />

surgem os movimentos sindicais, os movimentos dos sem terra e dos sem teto, as greves,<br />

as ações coletivas em torno <strong>da</strong>s questões ambientais, etc.<br />

Para que as pessoas possam se posicionar convictamente diante <strong>da</strong>s contradições<br />

que originam esses conflitos é necessário desenvolver uma consciência geográfica, uma<br />

compreensão de como o espaço é produzido e apropriado, sendo este um objetivo básico<br />

do ensino escolar de Geografia.<br />

[<br />

<br />

]<br />

Agora é hora de<br />

TRABALHAR<br />

1.<br />

Identifique em seu município ou região uma forma de utilização dos elementos do<br />

espaço que reproduz desigual<strong>da</strong>des sociais, mobilizando a força de trabalho no processo<br />

de acumulação de riquezas.


O Espaço e a Constituição dos Valores,<br />

Hábitos e Atitude<br />

Por que freqüentemente perguntarmos de onde é uma pessoa quando queremos<br />

conhecê-la? Porque é no lugar onde habitamos que adquirimos a nossa forma de ser no<br />

mundo. Onde assimilamos as referências pelas quais fazemos julgamentos, onde<br />

aprendemos a estabelecer o que é certo e o que é errado, o que é belo ou feio.<br />

Quando afirmamos que uma empresa, uma pessoa ou um grupo social encontramse<br />

inseridos num espaço, não pretendemos simplesmente localizá-los. Queremos dizer que<br />

esses atores fazem parte do conjunto de relações que se realizam por meio dos objetos<br />

que constituem esse espaço, pois é assim que eles espacializam as suas vi<strong>da</strong>s.<br />

No espaço vivido, onde moramos e trabalhamos, interagimos uns com os outros e<br />

incorporamos as normas e os padrões de comportamento. É interessante notar que a palavra<br />

hábito, que designa repetição e freqüência, tem o mesmo radical <strong>da</strong> palavra habitar, que<br />

quer dizer morar e freqüentar. É no lugar onde vivemos o cotidiano que formamos a nossa<br />

identi<strong>da</strong>de, os pensamentos que orientam e justificam as nossas ações, nossos sentimentos<br />

e atitudes.<br />

A vi<strong>da</strong> cotidiana, reali<strong>da</strong>de comum a todos, é um nível de análise <strong>da</strong> nossa condição<br />

de existência. Constitui-se na<br />

repetição diária de gestos e de<br />

ativi<strong>da</strong>des que em nossa<br />

socie<strong>da</strong>de são crescentemente<br />

programados e administrados<br />

segundo as lógicas do poder. O<br />

bombardeio de informações<br />

que atinge diariamente as<br />

pessoas através dos meios de<br />

comunicação é um exemplo de<br />

situação cotidiana alienante.<br />

Que outros exemplos surgiriam<br />

em um debate em sala de aula?<br />

Em nossa socie<strong>da</strong>de, o cotidiano é ca<strong>da</strong> vez mais programado.<br />

Como encaminhar ativi<strong>da</strong>des que problematizem essas situações?<br />

Mas no cotidiano também se exercita a soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, a convivência com o outro e a<br />

capaci<strong>da</strong>de de <strong>da</strong>r bom encaminhamento aos conflitos. As experiências do dia-a-dia que<br />

formam as subjetivi<strong>da</strong>des, os hábitos e os anseios podem ser reestrutura<strong>da</strong>s de modo a<br />

fun<strong>da</strong>mentar posturas de contestação às injustiças e de resistência aos mecanismos de<br />

dominação.<br />

O estudo <strong>da</strong>s vivências cotidianas nos revela as ligações entre as nossas práticas<br />

diárias e os processos que se estabelecem nos níveis nacional e global, permitindo-nos<br />

detectar a presença do mundo no nosso lugar. Para compreendermos a forma de vi<strong>da</strong> que<br />

se leva em um lugar é necessário entender as ligações dos fatos particulares com o contexto<br />

global, situando as relações próximas no âmbito <strong>da</strong>s relações mundializa<strong>da</strong>s.<br />

13


TEORIA DA<br />

GEOGRAFIA<br />

14<br />

IMPORTANTE:<br />

Uma prática pe<strong>da</strong>gógica enriquecedora que o professor de<br />

Geografia pode desenvolver é criar oportuni<strong>da</strong>de para que os<br />

alunos relatem situações do seu cotidiano em seu espaço de<br />

vivência. Mas não basta limitar-se aos relatos. É necessário<br />

problematizar as situações trazi<strong>da</strong>s pelos alunos de maneira a<br />

detectar as determinações sociais dessas experiências espaciais<br />

cotidianas.<br />

A Construção <strong>da</strong> Cultura<br />

Os fatos, as situações, os elementos <strong>da</strong> natureza, os artefatos criados pelos homens,<br />

as idéias e os sentimentos são por nós interpretados a partir dos significados e dos sentidos<br />

que criamos e recriamos no lugar onde realizamos a nossas práticas diárias. O que somos<br />

traz a marca do nosso lugar, envolvendo um sentimento de pertencer, que integra a nossa<br />

identi<strong>da</strong>de e nos distingue dos outros do ponto de vista cultural.<br />

A palavra cultura tem vários significados. Às vezes<br />

quer se referir a um cultivo agrícola, em outras diz respeito<br />

ao nível de escolari<strong>da</strong>de de uma pessoa, havendo ain<strong>da</strong><br />

contextos em que este vocábulo pretende designar o conjunto<br />

<strong>da</strong>s obras de arte produzi<strong>da</strong>s: músicas, peças de teatro,<br />

literatura, etc.<br />

Mas o sentido em que empregamos aqui a palavra<br />

cultura é bem mais amplo. Com este termo, pretendemos<br />

indicar a forma específica, her<strong>da</strong><strong>da</strong> e recria<strong>da</strong>, com que os<br />

grupos sociais atribuem significado ao mundo e exercem<br />

as suas práticas sociais. É a maneira de viver que<br />

caracteriza um grupo ou uma socie<strong>da</strong>de que, sendo<br />

compartilha<strong>da</strong> pelos seus membros, constitui-se como um elemento de coesão entre eles.<br />

A cultura ou o modo de vi<strong>da</strong> pode variar muito de um lugar para outro. A forma de<br />

criar e de educar as crianças, o significado dos fenômenos <strong>da</strong> natureza, o padrão alimentar,<br />

as formas de lazer e diversão, as vestimentas, o modo de relacionamento com o poder<br />

instituído, os hábitos de consumo, as regras <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de são exemplos de aspectos <strong>da</strong><br />

identi<strong>da</strong>de social que podem ser diferentes nos diversos lugares.<br />

Mas os lugares apresentam também muitas semelhanças. Por exemplo: come-se<br />

hamburguer e usa-se calça jeans em Paulo Afonso, em Nova York e em Nairobi. A produção<br />

econômica nestas três ci<strong>da</strong>des obedece à mesma lógica de lucrar para acumular riquezas,’<br />

e elas também apresentam problemas parecidos de moradia, saneamento, transportes<br />

etc. Com o processo de globalização, a maior parte do mundo habitado apresenta reali<strong>da</strong>des<br />

como estas. É nessas condições que as identi<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s pessoas, dos grupos e <strong>da</strong>s<br />

socie<strong>da</strong>des são cria<strong>da</strong>s no atual momento histórico. Antes, os fatores que interferiam na<br />

constituição <strong>da</strong>s formas de ser <strong>da</strong>s pessoas eram principalmente locais. Hoje, somos<br />

influenciados por relações e processos que se desenvolvem na escala do país e do mundo.<br />

Há quem enten<strong>da</strong> que no futuro formaremos uma socie<strong>da</strong>de global, com um modo de vi<strong>da</strong><br />

quase homogêneo. O que se observa, entretanto, é que em todos os lugares há resistências<br />

à uniformização, ocorrendo lutas pela preservação <strong>da</strong>s identi<strong>da</strong>des.<br />

A compreensão dessa reali<strong>da</strong>de é fun<strong>da</strong>mental no processo educativo e a Geografia<br />

pode contribuir nesse sentido. Quando estu<strong>da</strong>mos geograficamente o mundo ou parte dele,


podemos estabelecer comparações entre os lugares no que se refere a determina<strong>da</strong>s<br />

questões que nos interessam. Isto nos permite descobrir o que há de generali<strong>da</strong>de e de<br />

singulari<strong>da</strong>de nos lugares, o que é comum e o que difere. Examinando as experiências do<br />

outro, podemos aprender novas formas de resolvermos nossos problemas e atingirmos<br />

nossos objetivos, podemos nos antecipar a certos fatos indesejáveis e evitá-los, podemos<br />

distinguir as influências positivas <strong>da</strong>quelas que vêm para manter a dominação.<br />

Este é o sentido de estu<strong>da</strong>rmos outros países e outras socie<strong>da</strong>des a partir <strong>da</strong>s aulas<br />

de Geografia. Ao invés de buscarmos a memorização de informações relativas à natureza,<br />

à economia ou à socie<strong>da</strong>de dos países, estu<strong>da</strong>dos, seria mais enriquecedor focalizar uma<br />

problemática de real interesse para todos, tal como ocorre nesses países e desenvolver as<br />

ativi<strong>da</strong>des de modo a ampliar a compreensão de nossa própria reali<strong>da</strong>de.<br />

FIQUE ATENTO<br />

Considerações Finais<br />

Aproveitando o acesso que os alunos têm aos meios de comunicação, o<br />

professor de Geografia pode solicitar que eles identifiquem, em outros lugares do<br />

Brasil e do mundo, semelhanças e diferenças em relação ao nosso modo de vi<strong>da</strong> e<br />

às características do espaço geográfico em que vivemos. O passo seguinte é a<br />

construção <strong>da</strong>s explicações. No mundo globalizado, o conhecimento <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de<br />

de outros povos é um requisito importante do auto-conhecimento.<br />

Importantes problemas que as pessoas enfrentam para satisfazer suas necessi<strong>da</strong>des,<br />

numerosos limites que se impõem para a sua realização plena como seres humanos,<br />

decorrem de valores, hábitos e padrões de comportamento, criados no espaço vivido, onde<br />

se formam as identi<strong>da</strong>des. Na região Nordeste do Brasil, por exemplo, é comum as pessoas<br />

acharem que no interior <strong>da</strong> região todos os habitantes têm os mesmos interesses e<br />

necessi<strong>da</strong>des.<br />

Diante <strong>da</strong>s graves condições de vi<strong>da</strong>, difunde-se a idéia de que há uma soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de<br />

geral entre todos os nordestinos, independente do poder econômico e <strong>da</strong> classe social a<br />

que ca<strong>da</strong> um pertence. É como se formássemos uma grande família, sem contradições ou<br />

conflitos internos, possuindo uma uni<strong>da</strong>de pretensamente decorrente do fato de termos<br />

nascido todos na mesma região. Este posicionamento é conhecido como regionalismo.<br />

Mas um olhar mais atento e crítico pode facilmente desfazer tal equívoco. O fato de a<br />

região ser o lugar de origem comum a todos os nordestinos não significa que eles<br />

compartilham os seus projetos e perspectivas. Pelo contrário, o que há são conflitos de<br />

interesses. As altas taxas de mortali<strong>da</strong>de infantil, os baixos níveis de escolari<strong>da</strong>de e de<br />

ren<strong>da</strong>, por exemplo, só podem ser entendidos se considerarmos a concentração <strong>da</strong><br />

proprie<strong>da</strong>de <strong>da</strong> terra, a apropriação socialmente desigual <strong>da</strong> água e os mecanismos políticos<br />

que mantêm a população subalterna e asseguram transferências contínuas de recursos<br />

públicos para os setores privados.<br />

15


TEORIA DA<br />

GEOGRAFIA<br />

16<br />

Conduzindo uma reflexão como essa na escola, o professor de<br />

Geografia pode contribuir para a criação de uma consciência ci<strong>da</strong>dã entre os<br />

educandos. Desven<strong>da</strong>ndo as relações sociais que dão conteúdo ao espaço<br />

<strong>da</strong> região Nordeste, podemos descobrir porque esta parte do Brasil apresenta<br />

os mais desfavoráveis indicadores sociais do país. É isso que nos permite<br />

abandonar a idéia de que no sertão os problemas sociais são decorrentes <strong>da</strong><br />

falta de chuva, além de nos possibilitar combater com convicção os<br />

preconceitos e os estereótipos em relação aos nordestinos.<br />

LUGAR<br />

COTIDIANO<br />

HÁBITOS VALORES VISÕES DE MUNDO<br />

PRÁTICAS DIÁRIAS<br />

REPRODUÇÃO E CONTESTAÇÃO DAS RELAÇÕES SOCIAIS<br />

Estu<strong>da</strong>ndo o processo histórico de constituição do espaço geográfico, como no<br />

caso <strong>da</strong> região Nordeste, o sujeito torna-se capaz de evitar que a comunhão com o seu<br />

lugar de vi<strong>da</strong> seja um fator de alienação. A identi<strong>da</strong>de homem-lugar pode ser cria<strong>da</strong> em<br />

bases críticas. Nosso sentimento de pertencer a um lugar e a uma cultura não pode nos<br />

cegar quanto às tensões e aos conflitos que as desigual<strong>da</strong>des acarretam.<br />

[<br />

<br />

]<br />

Agora é hora de<br />

TRABALHAR<br />

1.<br />

Indique uma situação cotidianamente vivi<strong>da</strong> pelos habitantes de sua ci<strong>da</strong>de ou região<br />

que você considera ser um meio de reprodução <strong>da</strong>s relações sociais. Explique como as<br />

estruturas sociais mantêm as condições de vi<strong>da</strong> do lugar a partir <strong>da</strong> vivência <strong>da</strong> situação<br />

indica<strong>da</strong>.


2.<br />

Mencione e explique alguns fatos ou situações ocorridos em sua ci<strong>da</strong>de e região como<br />

resultado de processos que se desenvolvem em nível nacional ou mundial<br />

O Espaço e a Construção <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia<br />

Como o conceito de espaço geográfico pode ser útil em nossa formação para o<br />

exercício <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia? Para responder a esta pergunta é necessário esclarecer o sentido<br />

desta palavra e refletir sobre a reali<strong>da</strong>de espacial concreta, buscando entender em que ela<br />

potencializa, dificulta ou impede a realização <strong>da</strong> convivência ci<strong>da</strong>dã democrática.<br />

O conceito de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia pode ser dividido em três partes referi<strong>da</strong>s aos direitos civis,<br />

políticos e sociais. Os direitos civis são os necessários à liber<strong>da</strong>de individual e englobam o<br />

direito de ir e vir, o direito à proprie<strong>da</strong>de e ao estabelecimento de contratos, a liber<strong>da</strong>de de<br />

expressão, pensamento e crença e o direito à justiça. Os direitos políticos são aqueles<br />

ligados ao exercício do poder, tanto como membro <strong>da</strong>s instituições políticas como na<br />

condição de eleitores desses membros. E os direitos sociais são os que asseguram<br />

condição material de vi<strong>da</strong> satisfatória por meio do acesso à herança social para se incluir<br />

nos modos civilizados de existência, conforme os valores que prevalecem na socie<strong>da</strong>de<br />

Marshall (1967).<br />

A ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia é uma condição na qual se encontra um membro <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de humana,<br />

quando exerce plenamente os direitos pessoais e universais, historicamente considerados<br />

inalienáveis. O ci<strong>da</strong>dão é sujeito de sua história e <strong>da</strong> história <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de a qual pertence<br />

juntamente com os outros. Sua digni<strong>da</strong>de e seus direitos são garantidos frente às estruturas<br />

e às instituições, inclusive o Estado que só pode exercer o governo com o seu consentimento,<br />

pois o poder político emana do conjunto dos ci<strong>da</strong>dãos e seu exercício só pode ser concebido<br />

se voltado para os seus interesses. Nestas condições, todos os componentes <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de<br />

humana são considerados iguais por serem humanos, o que, por princípio, torna inadmissível<br />

todo e qualquer tipo de discriminação.<br />

Neste sentido, o processo educativo deve<br />

proporcionar o reconhecimento de que é próprio aos<br />

seres humanos o exercício, por todos, de direitos e<br />

deveres independentemente de credo, nação, raça ou<br />

classe social. Educar-se para a ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia significa<br />

aprender a reconhecer e respeitar as diferenças e<br />

combater os preconceitos, as dispari<strong>da</strong>des e os<br />

privilégios <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, sendo necessário para isso<br />

que ca<strong>da</strong> um crie convicção do seu próprio potencial<br />

para transformar a vi<strong>da</strong> e o mundo em sua volta. Significa ser capaz e se dispor a posicionarse<br />

na prática contra to<strong>da</strong> a estrutura que impeça ou ameace qualquer um <strong>da</strong> plenitude <strong>da</strong><br />

condição de ci<strong>da</strong>dão, de maneira que todos se sintam prejudicados e se mobilizem para a<br />

luta se apenas um tiver comprometido o pleno gozo dessa condição.<br />

17


TEORIA DA<br />

GEOGRAFIA<br />

18<br />

O aprendizado dessas noções e o sentimento de responsabili<strong>da</strong>de pela<br />

sua concretização constituem finali<strong>da</strong>de básica <strong>da</strong> educação, especialmente<br />

no Brasil onde vários fatores se conjugam para o seu comprometimento.<br />

A Geografia está qualifica<strong>da</strong> para contribuir teoricamente com a<br />

formação do ci<strong>da</strong>dão, pois dispõe de um arcabouço explicativo <strong>da</strong>s lógicas<br />

que presidem a ocupação do espaço. O espaço é, ao mesmo tempo, condição<br />

e meio do exercício <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, cuja vivência se relaciona ao Estado-Nação<br />

e ao cotidiano.<br />

Democracia e Ci<strong>da</strong>dânia<br />

“Conhecer o espaço é conhecer a rede de relações a que<br />

se está sujeito, <strong>da</strong> qual se é sujeito” (DAMIANI, 1999 p.50).<br />

A construção <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia exige a toma<strong>da</strong> de consciência<br />

dessas relações que dão conteúdo ao espaço.<br />

A possibili<strong>da</strong>de de realizar um regime político assentado nos valores de liber<strong>da</strong>de e<br />

igual<strong>da</strong>de reside, em grande medi<strong>da</strong>, nas formas de organização e instrumentação do<br />

espaço. Santos (1987) afirma que o tratamento <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des sociais não pode deixar<br />

de considerar as reali<strong>da</strong>des territoriais porque o lugar em que ca<strong>da</strong> um se encontra é<br />

determinante <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong>de de realização<br />

pessoal e coletiva <strong>da</strong>s potenciali<strong>da</strong>des humanas.<br />

Sendo o ci<strong>da</strong>dão um indivíduo num lugar e a<br />

socie<strong>da</strong>de também território, a democracia só<br />

pode se desenvolver se todos forem<br />

considerados iguais independentemente do<br />

lugar onde estejam.<br />

É necessário um arranjo espacial que<br />

assegure igual acessibili<strong>da</strong>de aos bens e<br />

serviços imprescindíveis a uma vi<strong>da</strong> digna<br />

conforme os padrões culturais do lugar. Quando<br />

o mercado é o fator regulador dessa<br />

acessibili<strong>da</strong>de, as desigual<strong>da</strong>des tendem a<br />

aumentar. Como os negócios só se instalam nos<br />

lugares onde o lucro é possível, determina<strong>da</strong>s áreas ficam desprovi<strong>da</strong>s, encarecendo os<br />

produtos para as suas populações que têm que arcar com os custos do deslocamento aos<br />

locais onde se encontra o que precisam.<br />

A distribuição espacial dos bens e serviços considerados essenciais deve se basear<br />

numa lógica não mercantil, exclusivamente liga<strong>da</strong> ao interesse público, para possibilitar a<br />

geração do bem-estar e a multiplicação <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des. A criação <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des num lugar,<br />

acompanha<strong>da</strong> do aumento do nível de emprego e <strong>da</strong> massa salarial, suscita o aparecimento<br />

de outras, ampliando a oferta, reduzindo os preços e aumentando o número de compradores.<br />

Assim, a incorporação do <strong>da</strong>do geográfico ao enfrentamento dos problemas sociais<br />

proporcionaria eficácia social, econômica e política.


Mas a Geografia também se ocupa dos<br />

fun<strong>da</strong>mentos políticos <strong>da</strong> organização do<br />

espaço. Na base de um regime democrático<br />

há uma concepção de espaço público como<br />

uma condição necessária. O espaço público é<br />

o lugar onde os problemas se apresentam,<br />

tomam forma, ganham dimensão pública e são<br />

resolvidos. Ruas, praias, praças, shopping<br />

centers são algumas de suas expressões<br />

físicas, assim como várias outras onde não haja<br />

restrições ao acesso e à participação de<br />

qualquer pessoa e onde as diferenças sejam submeti<strong>da</strong>s às regras de civili<strong>da</strong>de. Mas na<br />

atuali<strong>da</strong>de podemos observar uma redução do espaço público comprometendo a ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia<br />

democrática. Por exemplo, a ocupação, pelo setor informal <strong>da</strong> economia, de locais públicos<br />

de circulação mais intensa ou de alta valorização comercial; a ocupação <strong>da</strong>s calça<strong>da</strong>s por<br />

prédios residenciais são exemplos de privatização do público. Fechamento de ruas,<br />

transformação de quadras ou quarteirões em condomínios fechados, veículos com<br />

equipamento de som em alto volume, bares que espalham suas bancas pelas calça<strong>da</strong>s são<br />

variações do mesmo problema.<br />

Além disso, verifica-se uma tendência ao confinamento social, uma utilização ca<strong>da</strong><br />

vez menor do espaço comum. A crescente possibili<strong>da</strong>de de acesso aos bens e serviços<br />

sem sair de casa, a difusão do uso do automóvel, o fenômeno dos shopping centers, os<br />

edifícios de classe média com seus aparatos de segurança e infra-estrutura de lazer, os<br />

condomínios fechados, bem como a ocupação do espaço público pelos pobres são<br />

diferentes situações expressivas <strong>da</strong> redução do espaço público, o espaço <strong>da</strong> convivência<br />

entre os diferentes, onde se constrói a ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia democrática.<br />

No que se refere à negação dos direitos sociais do espaço <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, as limitações<br />

de acesso à moradia, a negação do direito a um ambiente sadio e agradável, os transtornos<br />

relacionados ao ir e vir, dentre outras dificul<strong>da</strong>des sofri<strong>da</strong>s pela população, combinam-se<br />

na “elaboração brasileira do não-ci<strong>da</strong>dão”, reali<strong>da</strong>de cujo enfrentamento por todos os<br />

interessados, cabe à Geografia escolar instrumentalizar conceitualmente.<br />

Parcelas crescentes <strong>da</strong> população se vêem-se excluí<strong>da</strong>s do acesso tanto à riqueza<br />

material produzi<strong>da</strong> como a uma sociabili<strong>da</strong>de ci<strong>da</strong>dã e democrática. Diante desse quadro,<br />

a toma<strong>da</strong> do espaço como objeto de estudos e pesquisas na educação básica adquire o<br />

sentido de eluci<strong>da</strong>r os processos sociais, como um requisito para que as pessoas se<br />

descubram como agentes construtores do espaço e de sua ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia.<br />

Ativi<strong>da</strong>des<br />

Complementares<br />

1.<br />

Identifique e explique algumas situações de comprometimento <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia que<br />

ocorrem na sua ci<strong>da</strong>de ou região, em que haja alguma forma de redução do espaço público.<br />

19


TEORIA DA<br />

GEOGRAFIA<br />

20<br />

2.<br />

Mencione situações de comprometimento <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia em que haja<br />

carência de infra-estrutura ou dificul<strong>da</strong>de de acesso aos bens e serviços<br />

básicos.<br />

BASES E CONCEITOS DA GEOGRAFIA<br />

Nesta seção estu<strong>da</strong>remos as principais bases e conceitos <strong>da</strong> Geografia a partir de<br />

algumas idéias introdutórias.<br />

Um conceito é uma elaboração <strong>da</strong> mente humana que explicita as características<br />

gerais do objeto, fornecendo sua descrição, classificação e a previsão do seu<br />

comportamento. Desta forma, o conceito funciona como uma ferramenta para tratar <strong>da</strong>s<br />

situações-problema toma<strong>da</strong>s como objeto <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des escolares.<br />

Ca<strong>da</strong> um dos conceitos geográficos corresponde a um recorte espacial, ou seja, a<br />

uma forma específica de ver ou de apreender o espaço.<br />

Exercitando a utilização dos conceitos no enfrentamento <strong>da</strong>s situações de real<br />

interesse, os educandos vão construindo as competências geográficas, a capaci<strong>da</strong>de de<br />

explicar, analisar, compreender e se posicionar com autonomia diante <strong>da</strong>s reali<strong>da</strong>des<br />

espaciais.<br />

Além dos conceitos espaciais, que são ferramentas forma<strong>da</strong>s por idéias, outro<br />

instrumento utilizado nos estudos e nas pesquisas geográficas são os mapas, que serão<br />

aqui abor<strong>da</strong>dos como um meio de expressão ou de comunicação de fenômenos<br />

relacionados com o espaço.<br />

Bases Teóricas e Conceituais <strong>da</strong> Geografia<br />

O CONCEITO<br />

A Geografia é uma ciência que se dedica ao estudo <strong>da</strong>s relações entre a socie<strong>da</strong>de<br />

e a natureza, e as mu<strong>da</strong>nças realiza<strong>da</strong>s pelas socie<strong>da</strong>des estabelecendo novos valores<br />

sociais, criando novos espaços geográficos. É a ciência que estu<strong>da</strong> a distribuição dos<br />

fenômenos físicos, biológicos e humanos, as causas desta distribuição e as relações locais<br />

desses fenômenos. Geografia é a ciência que estu<strong>da</strong> a organização do espaço: local,


municipal, regional, mundial, como resultado <strong>da</strong>s ações conjuntas de fatores naturais e<br />

humanos.<br />

De maneira geral, podemos dizer que a Geografia estu<strong>da</strong> a distribuição e a<br />

ordenação dos elementos na superfície terrestre. A palavra <strong>geografia</strong> foi adota<strong>da</strong> no século<br />

II a.C. por Eratóstenes e significa literalmente ‘descrição <strong>da</strong> Terra’. O estudo geográfico<br />

compreende o meio físico <strong>da</strong> superfície terrestre e a relação dos seres humanos com esse<br />

meio.<br />

Quem foi Eratóstenes?<br />

Eratóstenes (c. 284-c. 192 a.C.), matemático, astrônomo, geógrafo,<br />

filósofo e poeta grego. Mediu a circunferência <strong>da</strong> Terra com uma precisão<br />

extraordinária ao determinar, através <strong>da</strong> astronomia, a diferença de latitude<br />

entre as ci<strong>da</strong>des de Siena e Alexandria, no Egito. Eratóstenes também mediu<br />

a inclinação <strong>da</strong> eclíptica e criou um catálogo de 675 estrelas fixas. Sua obra<br />

mais importante é um tratado de <strong>geografia</strong> geral.<br />

As Divisões <strong>da</strong> Geografia<br />

A <strong>geografia</strong> pode ser dividi<strong>da</strong> em dois ramos fun<strong>da</strong>mentais: a <strong>geografia</strong> geral e a<br />

<strong>geografia</strong> regional.<br />

A <strong>geografia</strong> geral estu<strong>da</strong> os elementos humanos e físicos <strong>da</strong> Terra de maneira<br />

individual. Já a <strong>geografia</strong> regional estu<strong>da</strong> as diversas áreas <strong>da</strong> Terra e se concentra,<br />

sobretudo, nas combinações únicas e particulares dos traços humanos e físicos que<br />

caracterizam ca<strong>da</strong> região e que diferenciam uma região de outra.<br />

GEOGRAFIA<br />

A Geografia Humana:<br />

GEOGRAFIA GERAL<br />

GEOGRAFIA REGIONAL<br />

GEOGRAFIA HUMANA<br />

GEOGRAFIA FÍSICA<br />

Geografia Geral Engloba a<br />

Geografia Humanae a Geografia Física.<br />

Essa divisão <strong>da</strong> Geografia abrange to<strong>da</strong>s as fases <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> social humana em relação<br />

ao meio físico: a <strong>geografia</strong> econômica, a <strong>geografia</strong> política, que é uma aplicação <strong>da</strong> ciência<br />

política, visto que estu<strong>da</strong> as ativi<strong>da</strong>des sociais dos seres humanos que estão diretamente<br />

relaciona<strong>da</strong>s às localizações e aos limites <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des, Estados e grupos de Estados.<br />

Existem muitos outros campos na <strong>geografia</strong> humana como a etnografia, a <strong>geografia</strong> histórica,<br />

a <strong>geografia</strong> urbana, a demografia e a <strong>geografia</strong> lingüística.<br />

21


TEORIA DA<br />

GEOGRAFIA<br />

22<br />

A Geografia Física:<br />

Esse ramo <strong>da</strong> Geografia dedica-se aos seguintes campos:<br />

geomorfologia (estudo científico <strong>da</strong> forma do terreno e <strong>da</strong>s paisagens. O termo<br />

costuma ser aplicado à morfologia dinâmica - mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong> estrutura e <strong>da</strong> forma<br />

- <strong>da</strong>s superfícies <strong>da</strong> Terra), que utiliza a geologia para estu<strong>da</strong>r a forma e a<br />

estrutura <strong>da</strong> superfície terrestre; climatologia, em que se encontra a<br />

meteorologia; bio<strong>geografia</strong>, que utiliza a biologia e estu<strong>da</strong> a distribuição <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong> animal e vegetal; <strong>geografia</strong> dos solos, que estu<strong>da</strong> sua distribuição; hidrografia, que se<br />

ocupa <strong>da</strong> distribuição dos mares, lagos, rios e arroios em relação à sua utilização;<br />

oceanografia, que estu<strong>da</strong> as on<strong>da</strong>s, as marés, as correntes dos oceanos e os fundos<br />

marinhos, e a cartografia.<br />

A Geografia Regional:<br />

Estu<strong>da</strong> as características gerais (diferenças e semelhanças) entre as regiões <strong>da</strong><br />

Terra. Esse ramo <strong>da</strong> <strong>geografia</strong> explica as diferenças entre os lugares a partir dos estudos<br />

<strong>da</strong> combinação entre os elementos e os espaços que os distinguem e caracterizam.<br />

Os métodos usados pelos geógrafos para descrever o meio físico e humano <strong>da</strong><br />

Terra baseiam-se na coleta de <strong>da</strong>dos no campo ou na sua obtenção de fontes<br />

secundárias, como censos, estudos estatísticos, mapas e fotografias; na confecção<br />

de mapas (que podem ser utilizados para registrar um simples <strong>da</strong>do ou os resultados<br />

de um estudo geográfico complexo); e na análise de informações geográficas, que<br />

são as técnicas utiliza<strong>da</strong>s pela matemática ou pela estatística para analisar os <strong>da</strong>dos<br />

quantitativos.<br />

A História <strong>da</strong> Geografia (Linha do Tempo)<br />

Os gregos antigos forneceram ao mundo ocidental seus primeiros conhecimentos<br />

importantes sobre a forma, o tamanho e as características gerais <strong>da</strong> Terra.<br />

No século IV a.C., o filósofo e cientista grego Aristóteles foi o primeiro a demostrar<br />

que a Terra era redon<strong>da</strong>. O geógrafo grego Eratóstenes foi o primeiro a calcular com certa<br />

precisão a circunferência <strong>da</strong> Terra.<br />

O geógrafo e historiador grego Estrabão escreveu uma enciclopédia de 17 volumes,<br />

intitula<strong>da</strong> Geografia, que foi uma importante fonte de informação no Império romano.<br />

No século II d.C., Ptolomeu contribuiu para a ciência geográfica com mapas e<br />

descrições muito úteis do mundo conhecido. Seus mapas<br />

indicavam, com clareza, os problemas envolvidos na<br />

representação <strong>da</strong> Terra de forma esférica em uma<br />

superfície plana.<br />

Após o fim do Império Romano, os árabes<br />

destacaram- se como os grandes herdeiros <strong>da</strong> <strong>geografia</strong><br />

grega. Diversas obras e trabalhos foram traduzidos do<br />

grego para o árabe. Mas, nesse período ocorreram<br />

alguns retrocessos, elementos como latitude e longitude<br />

já não apareciam mais nos mapas. Mesmo assim, os<br />

árabes acabaram recuperando e aprofun<strong>da</strong>ndo o estudo<br />

<strong>da</strong> <strong>geografia</strong>.


No século XII, Al-Idrisi apresenta um sofisticado sistema de classificação climática,<br />

desenvolvido a partir de suas viagens à África e à Ásia. Ibn Battuta foi outro explorador<br />

árabe de destaque, ele encontrou a evidência concreta de que, ao contrário do que afirmara<br />

Aristóteles, as regiões quentes do mundo eram perfeitamente habitáveis<br />

As viagens do explorador italiano Marco Polo, no século XIII, as cruza<strong>da</strong>s cristãs, nos<br />

séculos XII e XIII, e as viagens de exploração dos espanhóis e portugueses, nos séculos XV<br />

e XVI, abriram novos horizontes para os europeus e estimularam o aparecimento de obras<br />

e tratados geográficos. No século XV, Henrique, o Navegador de Portugal, impulsionou e<br />

apoiou as explorações <strong>da</strong>s costas africanas.<br />

No século XV, grandes navegadores europeus (Fernão de Magalhães, Cristóvão<br />

Colombo, Bartolomeu Dias) reavivaram o interesse pela exploração e pela descrição<br />

geográfica. Foi feito, então, o mapeamento de vastas áreas <strong>da</strong> superfície terrestre.<br />

Com a confirmação do formato global <strong>da</strong> Terra, uma viagem de circunavegação foi<br />

realiza<strong>da</strong> pelo navegador português Fernando Magalhães, isso permitiu uma maior precisão<br />

nas medi<strong>da</strong>s e observações para a construção de Cartas Geográficas.<br />

Grandes nomes empenharam-se no estudo <strong>da</strong>s várias áreas <strong>da</strong> <strong>geografia</strong>. A <strong>geografia</strong><br />

social, por exemplo, recebeu a dedicação de nomes como Goethe, Kant,<br />

e Montesquieu, preocupados em estabelecer em seu estudo a relação<br />

entre a humani<strong>da</strong>de e o meio ambiente.<br />

No século XIX, surge a Escola Alemã, apresentando o<br />

determinismo, que sustentava a idéia de que o clima era capaz de<br />

estimular ou não a força física e o desenvolvimento intelectual <strong>da</strong>s<br />

pessoas. Já nos anos 1930, a Escola Francesa lançava o<br />

possibilismo, que afirmava que as pessoas poderiam determinar<br />

seu desenvolvimento a partir de seu ambiente físico, ou seja, sua<br />

escolha, determinaria a extensão de seu avanço cultural.<br />

Nos anos 60, depois de várias revoluções, a <strong>geografia</strong> adota<br />

novos métodos, como a estatística, que se torna um importante<br />

recurso de apoio. Nos anos 70, a Revolução Técnico-Científica<br />

transforma os computadores e os satélites em instrumentos de grande<br />

utili<strong>da</strong>de na <strong>geografia</strong>. Hoje, com o uso de complexos sistemas como o Sistema de<br />

Informação Geográfica, ou SIG, é possível criar imagens de uma área em duas ou três<br />

dimensões e utilizá-las como modelos em estudos geográficos.<br />

Obras de Quali<strong>da</strong>des Relevantes ao Estudo <strong>da</strong> Geografia<br />

Grandes nomes empenharam-se no estudo <strong>da</strong>s várias áreas <strong>da</strong> <strong>geografia</strong>. A <strong>geografia</strong><br />

social, por exemplo, recebeu a dedicação de nomes como Goethe, Kant, e Montesquieu,<br />

preocupados em estabelecer em seu estudo a relação entre a humani<strong>da</strong>de e o meio<br />

ambiente. A <strong>geografia</strong> recebeu novas subdivisões, entre as quais, a <strong>geografia</strong> antropológica<br />

e a <strong>geografia</strong> política. Com a utilização do método geográfico, cabe destacar a obra<br />

Geographia generalis (Geografia geral, 1650) do geógrafo alemão Bernhardus Varenius.<br />

Sua obra foi um dogma indiscutível durante mais de um século.<br />

23


TEORIA DA<br />

GEOGRAFIA<br />

24<br />

Alexander von Humboldt e Carl Ritter, ambos alemães, forneceram<br />

grandes contribuições à <strong>teoria</strong> geográfica no início do século XIX.<br />

Outro geógrafo alemão, Friedrich Ratzel, célebre por sua obra<br />

Antropo<strong>geografia</strong> (1882-1891), tentou demonstrar que as forças naturais<br />

determinam a distribuição <strong>da</strong>s pessoas na Terra. Os geógrafos alemães<br />

Ferdinand von Richthofen e Alfred Hettner introduziram as idéias de Humboldt,<br />

Ritter e Ratzel em um sistema coerente.<br />

Entre os geógrafos franceses do final do século XIX destaca-se Paul<br />

Vi<strong>da</strong>l de La Blache, que se opôs à idéia de que o meio físico determina de um modo estrito<br />

as ativi<strong>da</strong>des humanas.No século XIX, com o desenvolvimento do imperialismo europeu,<br />

surgiram muitas socie<strong>da</strong>des geográficas. As socie<strong>da</strong>des mais antigas desse tipo se<br />

estabeleceram em Paris, Berlim e Londres, entre 1820 e 1830. Nos Estados Unidos foi<br />

fun<strong>da</strong><strong>da</strong> a Socie<strong>da</strong>de Geográfica dos Estados Unidos em 1851 e a Socie<strong>da</strong>de Nacional<br />

Geográfica em 1888.<br />

No início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1950, os geógrafos começaram a utilizar ca<strong>da</strong> vez mais os<br />

métodos quantitativos, que tiveram grande utili<strong>da</strong>de ao serem aplicados à <strong>teoria</strong> <strong>da</strong><br />

localização; Walter Christaller deu importantes contribuições a essa <strong>teoria</strong>.<br />

Na déca<strong>da</strong> de 1960, a <strong>geografia</strong> foi dividi<strong>da</strong> em diferentes escolas: por um lado, as<br />

que apoiavam os métodos quantitativos e por outro, as que defendiam um enfoque descritivo.<br />

As Contribuições de Kropotkin e Reclus<br />

A <strong>geografia</strong> libertária ou anarquista desenvolvem-se em paralelo à consoli<strong>da</strong>ção<br />

<strong>da</strong> <strong>geografia</strong> enquanto disciplina científica, na segun<strong>da</strong> metade do século XIX. Com a difusão<br />

do positivismo nos meios acadêmicos e com a expansão <strong>da</strong>s potências européias, a<br />

<strong>geografia</strong> nascia no seio <strong>da</strong>s Socie<strong>da</strong>des Geográficas que buscavam, então, definí-la, pondoa<br />

a serviço dos projetos imperialistas.<br />

Num movimento contrário, a <strong>geografia</strong> anarquista desenvolvia-se como uma<br />

alternativa às formas de entender esta disciplina, desliga<strong>da</strong> do poder instituído tanto quanto<br />

de sua vertente oficial. PETER KROPOTKIN E ELISÉE RECLUS foram os precursores<br />

desse movimento.<br />

Piotr Alexeyvich Kropotkin -1842 a 1921- Foi um dos<br />

principais anarquistas <strong>da</strong> Rússia e um dos primeiros a<br />

defender o que ele chamava de “comunismo libertário”:<br />

O modelo de socie<strong>da</strong>de que ele defendeu durante quase<br />

to<strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong> foi o de uma socie<strong>da</strong>de comunista livre<br />

de um governo central.Por causa de seu título e sua<br />

proeminência como um anarquista no final do século<br />

XIX e começo do XX, ele foi conhecido por alguns como<br />

“o Príncipe Anarquista”. Ele deixou muitos livros,<br />

panfletos e artigos; os mais conhecidos trabalhos foram<br />

A Conquista do Pão e Campos, Fábricas e Oficinas e<br />

seu principal produto científico, Aju<strong>da</strong> Mútua: Um Fator<br />

em Evolução. Ele também foi um dos contribuidores<br />

<strong>da</strong> Encyclopædia Britannica de 1911.


Elisèe Reclus -1830 a 1905 - Geógrafo francês,<br />

foi militante anarquista obrigado a deixar o seu<br />

país em 1851 por conta de seus ideais. Em<br />

exílio, seguiu para Berlim onde teve aulas com<br />

Carl Ritter, esteve também na América, inclusive<br />

no Brasil<br />

Ativi<strong>da</strong>des<br />

Complementares<br />

1.<br />

Com base na análise do conceito de Geografia, estabeleça as principais diferenças<br />

entre os objetos de estudo <strong>da</strong> Geografia Física e <strong>da</strong> Geografia Humana, dentro do contexto<br />

<strong>da</strong> Geografia Geral.<br />

A Origem e o Desenvolvimento <strong>da</strong> Geografia Moderna.<br />

As constantes transformações que ocorrem de formas sucessivas no conhecimento<br />

científico e, sobretudo, no contexto sócio-econômico levam a uma contínua mu<strong>da</strong>nça de<br />

paradigmas sobre os desafios e problemas enfrentados pelos homens. Buscando<br />

compreender e explicar tais problemas, com o intuito de propor soluções e também prever<br />

as possíveis conseqüências futuras, o conhecimento científico está sempre aceitando<br />

desafios e concorrendo para superar as questões relevantes para as socie<strong>da</strong>des.<br />

Levando em consideração as mais varia<strong>da</strong>s ciências, que se constituem como<br />

parcelas <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de científica global, podemos observar que ca<strong>da</strong> ciência em particular<br />

reage de modo diferente a esse desafio e à solicitação, e o seu momento histórico pode<br />

colocá-la na posição de vanguar<strong>da</strong> ou na posição de acompanhante do cortejo <strong>da</strong>s ciências,<br />

conforme a valorização que a elas é destina<strong>da</strong>.<br />

25


TEORIA DA<br />

GEOGRAFIA<br />

26<br />

Por que estu<strong>da</strong>r a história de uma ciência? Que<br />

importância tem o conhecimento sobre a evolução de um<br />

ramo <strong>da</strong> ciência para o exercício do magistério num certo<br />

campo disciplinar?<br />

O desenvolvimento de um campo científico constitui-se de mu<strong>da</strong>nças<br />

nas formas de construir e de investigar o seu objeto de estudo. Os conceitos e<br />

os seus encadeamentos lógicos, os procedimentos e as técnicas com os quais<br />

os cientistas pesquisam a reali<strong>da</strong>de, vinculam-se às visões de mundo, aos projetos sóciopolíticos<br />

e aos modelos de ciência adotados por quem produz o conhecimento científico.<br />

Todos esses condicionantes <strong>da</strong> produção científica estão sempre enraizados<br />

num certo contexto social e se transformam, acompanhando as<br />

mu<strong>da</strong>nças históricas. Logo, sua compreensão exige o entendimento<br />

<strong>da</strong>s circunstâncias econômicas, políticas e culturais que marcaram<br />

o momento de sua produção.<br />

Precisamos ter uma visão retrospectiva <strong>da</strong> área científica<br />

em que atuamos para nos <strong>da</strong>rmos conta <strong>da</strong>s heranças vin<strong>da</strong>s<br />

dos tempos passados. No caso <strong>da</strong> Geografia, são essas heranças<br />

que estão por trás do caráter decorativo com o qual a maioria <strong>da</strong>s<br />

pessoas identificam esse ramo científico. É preciso questionarmos,<br />

permanentemente, as idéias com as quais interpretamos o mundo<br />

de hoje, pois só assim podemos ter consciência <strong>da</strong>s implicações<br />

sociais e políticas que elas acarretam.<br />

Além disso, o estudo <strong>da</strong> evolução de uma área científica nos revela que se trata<br />

de um processo de construção, engendrado por atores concretos, seres humanos que<br />

possuem valores, ideologias, sentimentos e anseios, determinados pelo contexto histórico<br />

em que vivem.<br />

A Geografia Moderna<br />

Mesmo tendo lançando bases históricas ao longo dos séculos, foi somente no Século<br />

XIX que a Geografia começou a usufruir do status de conhecimento organizado, penetrando<br />

nas universi<strong>da</strong>des. As primeiras cadeiras <strong>da</strong> academia ocupa<strong>da</strong>s pela Geografia foram<br />

cria<strong>da</strong>s na Alemanha, em 1870, e, logo em segui<strong>da</strong>, na França.<br />

Estrutura<strong>da</strong> em função <strong>da</strong>s obras de Alexandre von Humboldt e de Carl Ritter,<br />

desabrochando na Alemanha e na França, pouco a pouco a Geografia foi-se difundindo<br />

para os demais países. As contribuições e as idéias apresenta<strong>da</strong>s pelos geógrafos alemães<br />

e franceses tiveram grande influência no desenvolvimento dessa ciência na primeira metade<br />

do Século XX. Se na Alemanha os trabalhos mais significativos são os de Alfred Hettner; na<br />

França, os trabalhos básicos são os de Paul Vi<strong>da</strong>l de La Blache.<br />

Definir Geografia é um assunto delicado. Em 1925, Alfred Hettner considerava como<br />

objetivo fun<strong>da</strong>mental <strong>da</strong> Geografia o estudo <strong>da</strong> diferenciação regional <strong>da</strong> superfície terrestre.<br />

Esta definição foi acata<strong>da</strong> e elabora<strong>da</strong> de modo minucioso por Hartshorne (será estu<strong>da</strong>do<br />

no Conteúdo 4 desse TEMA), em 1939, em sua obra The Nature of Geography.<br />

Uma outra definição referia-se à análise <strong>da</strong>s influências e interações entre o homem<br />

e o meio, que se expressou de modo claro na proposição de Albert Demangeon, em 1942:<br />

“é o estudo dos grupos humanos nas suas relações com o meio geográfico”. Muito


menciona<strong>da</strong> também é a definição elabora<strong>da</strong> por Emmanuel de Martonne, em sua obra<br />

Traité de Géographie Physique, cuja primeira edição surgiu em 1909; e a última, em 1951.<br />

De Martonne ponderou que a “<strong>geografia</strong> moderna encara a distribuição à superfície<br />

do globo dos fenômenos físicos, biológicos e humanos, as causas dessa distribuição e as<br />

relações locais desses fenômenos”. Embora houvesse acordo de que a superfície terrestre<br />

era o domínio específico do trabalho geográfico, essas definições e a prática <strong>da</strong> pesquisa<br />

geográfica estavam eiva<strong>da</strong>s de contradições dicotômicas.<br />

Entre elas, duas merecem ser destaca<strong>da</strong>s nesta oportuni<strong>da</strong>de. A primeira dicotomia<br />

estava relaciona<strong>da</strong> com a Geografia Física e a Geografia Humana. Representando os<br />

conjuntos meio geográfico e ativi<strong>da</strong>des humanas, a Geografia Física destinava-se ao estudo<br />

do quadro natural, enquanto a Geografia Humana preocupava-se com a distribuição dos<br />

aspectos originados pelas ativi<strong>da</strong>des humanas. A segun<strong>da</strong> dicotomia refere-se à <strong>geografia</strong><br />

geral e à <strong>geografia</strong> regional. Objetivando estu<strong>da</strong>r a distribuição dos fenômenos na superfície<br />

<strong>da</strong> Terra, a <strong>geografia</strong> geral analisava ca<strong>da</strong> categoria de fenômenos de maneira autônoma.<br />

Essa focalização resultou na <strong>geografia</strong> sistemática ou tópica e na subdivisão <strong>da</strong> <strong>geografia</strong><br />

(geomorfologia, hidrologia, climatologia, bio<strong>geografia</strong>, <strong>geografia</strong> <strong>da</strong> população, <strong>da</strong> energia,<br />

urbana, industrial, <strong>da</strong> circulação e outras).<br />

As Contribuições de Humboldt para a Geografia Moderna<br />

Quem foi Humboldt ?<br />

Friedrich Heinrich Alexander, Barão von Humboldt, (14 de setembro de 1769, Berlim<br />

- 6 de Maio de 1859, Berlim), mais conhecido como Alexander von Humboldt, foi um<br />

naturalista e explorador alemão. Foi dono de uma polivalência única, nunca mais<br />

vista desde sua morte, haja vista como a ciência se desenvolveu e especializou,<br />

certamente nunca mais o será. Ele era etnógrafo, antropólogo, físico, geólogo,<br />

mineralogista, botanista, vulcanólogo, humanista e lançou as bases de ciências<br />

como a Geologia, Climatologia e Oceanografia. Apesar de ter pesquisado diversas<br />

coisas em seus mínimos detalhes, sempre o fez com uma visão geral e sem<br />

preconceitos do mundo.<br />

Os estudiosos, a partir do século XVIII, procuraram dividir a ciência em<br />

vários ramos; porém, “[…] o conhecimento científico não pode ser<br />

compartimentado, ele é um só, e a divisão <strong>da</strong>s ciências é apenas<br />

uma tentativa de compatibilizar a vastidão deste conhecimento com<br />

a capaci<strong>da</strong>de de acumulação de conhecimentos pelo homem”<br />

(Andrade, 1989, p. 11).<br />

Intelectuais como Kant e Comte são notados pelas suas<br />

classificações científicas; contudo, as ciências humanas (com<br />

exceção <strong>da</strong> Sociologia) foram excluí<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s suas classificações,<br />

inclusive a Geografia, que “só conquistaria a posição de ciência<br />

autônoma nas últimas déca<strong>da</strong>s do século XIX”. (Andrade, 1989, p.<br />

11). Meramente prático, empírico e descritivo até o final do século XVIII,<br />

o conhecimento geográfico somente adquire seu caráter científico a partir dos estudos de<br />

Alexander von Humboldt e Karl Ritter, no século XIX.<br />

27


TEORIA DA<br />

GEOGRAFIA<br />

28<br />

Humboldt, como naturalista e grande viajante, percorreu a Europa, a<br />

Rússia asiática, o México, a América Central, a Colômbia e a Venezuela,<br />

observando os grandes fenômenos físicos e biológicos; seus trabalhos são<br />

todos de natureza científica, sem qualquer finali<strong>da</strong>de pe<strong>da</strong>gógica. Humboldt<br />

também foi animador <strong>da</strong>s chama<strong>da</strong>s Socie<strong>da</strong>des de Geografia, que<br />

organizavam expedições e pesquisas em diversas partes do mundo,<br />

especialmente nas regiões domina<strong>da</strong>s pelos grandes impérios coloniais<br />

europeus. “Foi assim que os ingleses, os franceses, os belgas e, em segui<strong>da</strong>,<br />

os alemães fizeram o levantamento de amplos territórios na Ásia e na África e organizaram<br />

suas colônias” (Andrade, 1989, p. 13). Humboldt também aplicou em seus<br />

estudos o princípio <strong>da</strong> casuali<strong>da</strong>de, além do chamado princípio de <strong>geografia</strong> geral, ou seja,<br />

nenhum lugar <strong>da</strong> Terra pode ser estu<strong>da</strong>do sem o conhecimento do seu conjunto, sendo que<br />

um fenômeno verificado em determina<strong>da</strong> região pode ser generalizado para to<strong>da</strong>s as outras<br />

áreas do globo com características semelhantes.<br />

As Reflexões no Processo Formativo dos Professores<br />

Tendo uma visão crítica dos conhecimentos que formam a<br />

tradição de uma área do saber, os docentes podem escolher<br />

com mais convicção os conteúdos e as formas de conduzir a<br />

sua prática pe<strong>da</strong>gógica, tendo em vista os objetivos educacionais<br />

que perseguem com o seu trabalho.<br />

Entendendo o conhecimento científico como um<br />

processo contínuo de construção historicamente<br />

contextualizado, criamos bases para evitar a adesão imediata às<br />

ver<strong>da</strong>des e para flagrar valores e idéias origina<strong>da</strong>s em outras épocas,<br />

mas que permanecem justificando e orientando as nossas práticas no<br />

presente. A Geografia surgiu no século XIX como disciplina escolar no momento <strong>da</strong> formação<br />

do sistema educacional, mol<strong>da</strong><strong>da</strong> pelas condições sócio-históricas características <strong>da</strong> época<br />

histórica moderna.<br />

“<br />

Considerações Finais<br />

Se pretendermos entender qual o papel <strong>da</strong> Geografia, precisamos lembrar<br />

que o atual sistema escolar é contemporâneo, no campo político, à<br />

formação dos estados nacionais; no econômico, à Revolução Industrial;<br />

no filosófico, ao Iluminismo; e no científico, à formação <strong>da</strong> ciência<br />

moderna. (CARVALHO, 1998, p. 32).<br />

”<br />

Segundo essa autora, o desenvolvimento do capitalismo industrial e a formação dos<br />

Estados Nação levaram a burguesia a apoiar as idéias iluministas de massificação <strong>da</strong><br />

educação escolar, devido à necessi<strong>da</strong>de de formar a mão-de-obra do ponto de vista técnico<br />

e ideológico.


Os conteúdos veiculados pela Geografia para a efetivação desses objetivos voltavamse<br />

para a criação de um sentimento nacionalista, buscando divulgar a idéia de país, por<br />

meio de descrições dos aspectos naturais e humanos dos territórios. Com isso, pretendiase<br />

naturalizar a vinculação do povo com um quadro territorial e com o poder que o controla,<br />

a fim de assegurar a consoli<strong>da</strong>ção dos Estados Nacionais.<br />

Por outro lado, a Geografia vinha produzindo um conhecimento que pretendia abarcar<br />

a extensão de todo o planeta. Levantando um vasto conjunto de informações sobre os<br />

diferentes lugares e aprimorando as técnicas cartográficas, a Geografia contribuiu para a<br />

expansão planetária <strong>da</strong>s relações capitalistas e o início <strong>da</strong> formação de um espaço<br />

mundializado.<br />

No plano do pensamento, a ciência geográfica nascente vinculou-se aos modelos<br />

de ciência predominantes na época. Foi influencia<strong>da</strong> pelo racionalismo, uma crença na<br />

possibili<strong>da</strong>de de explicação racional do mundo; pelas idéias iluministas, particularmente no<br />

que se refere às formas de poder e de estruturação do Estado; pela Economia política, que<br />

inaugurou a sistematização de estudos sobre a vi<strong>da</strong> social; e pelo Evolucionismo, que se<br />

empenhou em esclarecer o papel <strong>da</strong>s condições ambientais no processo de evolução <strong>da</strong>s<br />

espécies (MORAES, 1986).<br />

A formação <strong>da</strong> Geografia como uma disciplina acompanhou as mu<strong>da</strong>nças sociais<br />

que ocorreram na Europa, no final do século XIX, com o advento do sistema capitalista<br />

industrial moderno. Constituiu-se, na ver<strong>da</strong>de, como um instrumento para o desenvolvimento<br />

desse modo de produção, produzindo e veiculando conhecimentos coerentes com os<br />

interesses <strong>da</strong> burguesia de manter a ordem social vigente.<br />

Foi na Alemanha que surgiram as primeiras academias dedica<strong>da</strong>s à produção e ao<br />

ensino dessa disciplina (veremos isso adiante). Os autores conhecidos como os pais <strong>da</strong><br />

Geografia – Alexandre von Humboldt e Karl Ritter – eram naturais desse país, sendo este<br />

também o berço <strong>da</strong>s primeiras correntes do pensamento geográfico.<br />

IMPORTANTE:<br />

As diversas filiações filosóficas e os compromissos sóciopolíticos<br />

dos primeiros geógrafos suscitaram a constituição de<br />

diferentes perspectivas de análise geográfica nas primeiras<br />

déca<strong>da</strong>s de existência desse campo científico, que conhecemos<br />

genericamente como Geografia Tradicional. Assim, as três partes<br />

seguintes deste ponto dos nossos estudos dedicam-se às<br />

filosofias de base <strong>da</strong> tradição geográfica e às suas três principais<br />

correntes de pensamento: o determinismo, o possibilismo e o<br />

método regional.<br />

As Perspectivas Filosóficas Relaciona<strong>da</strong>s às Tradições<br />

Geográficas<br />

De acordo com Gomes (1996), a análise do desenvolvimento <strong>da</strong> Geografia revela a<br />

presença de dois grandes sistemas de pensamento servindo de base para as formulações<br />

científicas <strong>da</strong> área: um de caráter matemático-geral e outro de caráter histórico-descritivo,<br />

sendo uma preocupação permanente dos geógrafos a união dessas duas tendências.<br />

29


TEORIA DA<br />

GEOGRAFIA<br />

30<br />

Os estudos acerca <strong>da</strong>s relações entre o homem e o meio deram<br />

oportuni<strong>da</strong>de para elaborar, ao mesmo tempo, abor<strong>da</strong>gens generalizantes e<br />

descrições de quadros regionais particulares. Mas essa união sempre foi<br />

problemática, pois as investigações sempre se realizavam segundo uma linha<br />

ou outra.<br />

Assim, formou-se uma dicotomia entre esses dois modelos,<br />

“apresentados também como sistemático e ideográfico, ou ain<strong>da</strong>, como<br />

<strong>geografia</strong> geral e <strong>geografia</strong> regional” (GOMES, 1996, p.131). Essa dicotomia<br />

também se manifestou na oposição entre a abor<strong>da</strong>gem física, mais próxima <strong>da</strong>s ciências<br />

naturais e que são mais generalizantes, e a abor<strong>da</strong>gem humana, que não pode deixar de<br />

considerar as particulari<strong>da</strong>des culturais e históricas<br />

A Abor<strong>da</strong>gem Filosófica<br />

O problema filosófico que persistiu por trás<br />

dessa oposição diz respeito à possibili<strong>da</strong>de de<br />

estabelecer generalizações sem deixar escapar as<br />

singulari<strong>da</strong>des e, se é possível, compreender uma<br />

situação em si mesma sem recorrer a um modelo<br />

genérico. Esses dois procedimentos ficaram<br />

conhecidos como nomotético (nomo= norma, o que é<br />

geral) e idiográfico (idio= o que é próprio, singular); o<br />

primeiro, racionalista, geral e objetivo; e o segundo,<br />

bas<strong>ead</strong>o na descrição do particular.<br />

Essa duali<strong>da</strong>de marcou o pensamento<br />

filosófico <strong>da</strong> moderni<strong>da</strong>de refletindo-se na<br />

Geografia, que se dividiu entre uma abor<strong>da</strong>gem<br />

geral ou sistemática e outra regional. A razão<br />

passou a ser “a fonte de to<strong>da</strong> generalização, <strong>da</strong><br />

norma, do direito e <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de. A ordem, o<br />

equilíbrio, a civilização, o progresso são noções<br />

saí<strong>da</strong>s diretamente deste sistema moderno” (GOMES,<br />

1996, p. 25).<br />

Ao mesmo tempo, várias contracorrentes<br />

desafiaram o poder hegemônico <strong>da</strong> razão, estabelecendo<br />

outras formas de estruturação do pensamento para contestar<br />

os modelos e os métodos <strong>da</strong> ciência institucionaliza<strong>da</strong> e o espírito científico universalizante.<br />

De qualquer maneira, o traço marcante do pensamento predominante no advento <strong>da</strong><br />

moderni<strong>da</strong>de, quando a Geografia se constituiu como ramo científico, foi o lugar de destaque<br />

conferido à ciência. Os geógrafos se esforçaram para <strong>da</strong>r ao discurso geográfico um caráter<br />

científico e moderno.<br />

Esse discurso reproduz as características <strong>da</strong>s formas dominantes de pensar <strong>da</strong> época<br />

e acompanha to<strong>da</strong>s as suas modificações. Nele estão presentes “dois pólos<br />

epistemológicos” que se opõem e são concorrentes, mas formam um conjunto, um todo.<br />

Sem a pretensão de estabelecer qual o melhor, vamos detalhar um pouco as características<br />

de um e de outro, para nos tornarmos capazes de reconhecer as suas manifestações no<br />

campo <strong>da</strong> Geografia.


O Debate Epistemológico<br />

A Ciência Geográfica constitui-se, desde sua formação, em um saber eminentemente<br />

empírico, não chegando a apresentar, durante o seu desenvolvimento (pelo menos na maior<br />

parte do tempo), uma preocupação com explicações e questões mais gerais referentes ao<br />

campo teórico, mais propriamente, ao campo epistemológico.<br />

Exceto em alguns casos, a busca teórica é praticamente inexistente, aparecendo<br />

apenas em poucos e pontuados períodos de sua história. Se nos transportarmos à Geografia<br />

dos viajantes do século XVII, ou dos geógrafos do século XIX, podemos perceber o<br />

predomínio de estudos informativos e poucas referências sobre os estudos dos mecanismos<br />

ou <strong>da</strong> natureza do conhecimento geográfico. Os geógrafos e os viajantes eram, acima de<br />

tudo, agentes de coleta e mapeamento de informações deman<strong>da</strong><strong>da</strong>s diretamente pelas<br />

autori<strong>da</strong>des coloniais, pelos estrategistas, negociantes ou donos dos meios de produção.<br />

Ao analisarmos a Geografia institucionaliza<strong>da</strong>, o saber geográfico a partir de m<strong>ead</strong>os<br />

do século XIX, percebemos que a herança informativa se torna evidente e significativa pelo<br />

menos até 1950, embora seja possível, nesse período, perceber momentos importantes de<br />

reflexão teórica, e mesmo epistemológica, como, por exemplo, os estudos de Alfred Hettner,<br />

Richard Hartshorne ou de Carl Sauer, que desenvolvem um plano de investigação<br />

epistemológica sob a forma de uma análise conceitual.<br />

Mesmo que na contemporanei<strong>da</strong>de a Geografia continue, ain<strong>da</strong>, em falta de tais<br />

reflexões, o que é destacado por Brunet (1992), alguns autores têm chamado a atenção, e<br />

mesmo concentrado esforços, no sentido de trazer para o interior <strong>da</strong> ciência geográfica<br />

to<strong>da</strong> uma discussão que valorize a perspectiva teórica. Yves Lacoste (1985), não obstante<br />

situe na déca<strong>da</strong> de 1960 o surgimento <strong>da</strong> preocupação epistemológica em Geografia,<br />

conferindo-lhe importância, ressalta o retardo desse debate.<br />

Os Pólos Epistemológicos<br />

A) O primeiro pólo é uma herança do Iluminismo e tem como idéia central a<br />

universali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> razão. Nessa visão, o pensamento humano tende a ser sempre<br />

coerente, sendo a argumentação lógica e ordena<strong>da</strong> a base <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de. O<br />

pensamento é uma elaboração lógica sobre a reali<strong>da</strong>de, e a ciência é a âmbito de<br />

sistematização dessa elaboração.<br />

SAIBA MAIS<br />

O que foi o ILUMINISMO - Foi um movimento intelectual surgido na segun<strong>da</strong> metade do século XVIII<br />

(o chamado “século <strong>da</strong>s luzes”) que enfatizava a razão e a ciência como formas de explicar o<br />

universo. Foi um dos movimentos impulsionadores do capitalismo e <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de moderna. Também<br />

propunha que o universo estava em constante movimento, ao contrário dos conceitos introduzidos<br />

pela Igreja Católica.<br />

O nome se explica porque os filósofos <strong>da</strong> época acreditavam estar iluminando as mentes <strong>da</strong>s<br />

pessoas. É, de certo modo, um pensamento herdeiro <strong>da</strong> tradição do Renascimento e do Humanismo<br />

por defender a valorização do Homem e <strong>da</strong> Razão. Os iluministas acreditavam que a Razão seria a<br />

explicação para to<strong>da</strong>s as coisas no universo, e se contrapunham à fé.<br />

31


Para que a argumentação seja cientificamente vali<strong>da</strong><strong>da</strong>, é necessária<br />

a sua demonstração pública para por à prova o seu potencial explicativo. O<br />

controle <strong>da</strong> linguagem e <strong>da</strong> lógica científica deve proporcionar uma<br />

TEORIA DA aproximação ca<strong>da</strong> vez maior à ver<strong>da</strong>de, o que coloca a idéia de progresso no<br />

GEOGRAFIA centro <strong>da</strong>s preocupações dos cientistas.<br />

Segundo Aranha e Martins (1993), o filósofo considerado “pai <strong>da</strong><br />

filosofia moderna” foi René Descartes (1596-1650). Sua preocupação principal<br />

era encontrar um método de pensar a reali<strong>da</strong>de que conduzisse a uma ver<strong>da</strong>de<br />

sobre a qual não se pudesse duvi<strong>da</strong>r. Considerando o ser pensante, Descartes<br />

distingue as idéias confusas e duvidosas <strong>da</strong>s que ele considerava claras e distintas.<br />

As idéias claras e distintas são idéias gerais e funcionam como base para a<br />

apreensão de outras ver<strong>da</strong>des. Não estão sujeitas ao erro porque vêm <strong>da</strong> razão,<br />

não sendo forma<strong>da</strong>s pela ação dos sentidos ou pela imaginação. Isso significa<br />

uma valorização <strong>da</strong> razão, do entendimento e do intelecto. Acentua-se, na ver<strong>da</strong>de,<br />

o caráter absoluto e universal <strong>da</strong> razão, como única possibili<strong>da</strong>de de alcançar a<br />

ver<strong>da</strong>de.<br />

Com esse princípio, o que o racionalismo pretendia era construir explicações<br />

sobre o real. Explicar significa ligar, com a orientação de um método, fenômenos ou<br />

fatos entre si, conhecer o comportamento e prever acontecimentos relacionados ao<br />

objeto <strong>da</strong> explicação. A explicação resulta, portanto, <strong>da</strong> análise <strong>da</strong>s regulari<strong>da</strong>des<br />

de um fenômeno e sua finali<strong>da</strong>de é estabelecer afirmações universais (GOMES,<br />

1996).<br />

32<br />

B) O outro pólo epistemológico também deriva do Iluminismo, mas se<br />

opõe ao racionalismo a partir de diversos posicionamentos filosóficos. Um traço<br />

comum que marca essa diversi<strong>da</strong>de é uma postura de oposição à primazia <strong>da</strong><br />

razão na elaboração do conhecimento.<br />

A razão humana não é considera<strong>da</strong> universal, pois o sentido, o significado e<br />

o valor atribuído às coisas dependem do período histórico em que se vive e <strong>da</strong><br />

cultura a qual se pertence. Logo, contra a pretensão universalizante dos racionalistas,<br />

este pólo focaliza o que é particular, uma vez que o significado de algo só pode ser<br />

revelado se associado a um contexto singular, não podendo ser explicitado<br />

conceitualmente.<br />

Essa perspectiva se opõe à pretensão de criar explicações sobre os fatos e<br />

propõe que a ciência tenha como objetivo compreender o sentido <strong>da</strong>s coisas e a<br />

riqueza <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de dos fenômenos. Os fatos devem ser interpretados<br />

enfatizando-se os seus conteúdos, pois o saber resulta <strong>da</strong> sensibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

interpretação e não de algum método previamente vali<strong>da</strong>do.<br />

Outra característica importante <strong>da</strong>s visões que contrariam os princípios<br />

racionalistas é a aceitação <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong>de no processo de aquisição do<br />

conhecimento. Enquanto o pensamento racional procurava, através do método, um<br />

saber objetivo, livre <strong>da</strong>s particulari<strong>da</strong>des dos sujeitos, essas visões mais humanistas<br />

valorizavam justamente os valores e demais traços culturais no processo de busca<br />

<strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de científica.<br />

O debate entre essas duas correntes filosóficas desenvolveu-se em função<br />

<strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de estabelecer critérios, maneiras e métodos para garantir ao<br />

homem a possibili<strong>da</strong>de de alcançar o conhecimento ver<strong>da</strong>deiro. Sua presença no<br />

interior <strong>da</strong> Geografia pode ser nota<strong>da</strong> nos momentos de transformação dos padrões<br />

do pensamento geográfico ou nos processos de discussão de caráter metodológico.


Ativi<strong>da</strong>des<br />

Complementares<br />

1. Apresente as principais diferenças entre os pólos epistemológicos <strong>da</strong> ciência<br />

geográfica mostrados nessa seção e discuta a influência do Iluminismo nesses pólos.<br />

A INVESTIGAÇÃO GEOGRÁFICA NO<br />

PASSADO E NA CONTEMPORANEIDADE<br />

HISTÓRIA DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO<br />

Esse tema tem como objetivo apresentar uma visão ampla <strong>da</strong> ciência geográfica a<br />

partir <strong>da</strong>s principais correntes do pensamento geográfico apresentando algumas <strong>da</strong>s<br />

questões às quais se liga a Geografia e os aspectos gerais <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>gem geográfica.<br />

A Corrente Determinista do Pensamento Geográfico<br />

É só nos anos 1870 que a Geografia passa a ser instituí<strong>da</strong> como uma disciplina<br />

universitária, e “foi o determinismo ambiental o primeiro paradigma a caracterizar a Geografia<br />

que emerge no final do século XIX” (Corrêa, 1991, p. 9). Os teóricos deterministas afirmam<br />

que as condições naturais, em especial as climáticas, são determinantes para a evolução<br />

do homem; portanto, desenvolver-se-iam apenas os povos ou países que estivessem<br />

localizados em áreas climáticas mais favoráveis.<br />

O filósofo inglês Herbert Spencer foi o grande defensor de idéias naturalistas nas<br />

ciências sociais, sobretudo as <strong>teoria</strong>s de Lamack (sobre a hereditarie<strong>da</strong>de dos caracteres<br />

adquiridos) e Darwin (sobre a a<strong>da</strong>ptação dos indivíduos mais bem<br />

preparados para sobreviverem no meio natural). Essas duas <strong>teoria</strong>s<br />

serviram como fun<strong>da</strong>mentação para a tese do determinismo ambiental.<br />

O naturalista e etnógrafo alemão Ratzel torna-se o grande nome<br />

<strong>da</strong> <strong>teoria</strong> determinista. Ele viveu no período <strong>da</strong> unificação alemã,<br />

estando, portanto, muito voltado para as aspirações <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de<br />

alemã <strong>da</strong> época. Em seu livro Antropo<strong>geografia</strong>, Ratzel fun<strong>da</strong>menta<br />

to<strong>da</strong> a sua <strong>teoria</strong> determinista, sendo por isso apontado como o fun<strong>da</strong>dor<br />

<strong>da</strong> escola determinista alemã. Também é considerado um dos<br />

precursores <strong>da</strong> Geopolítica, devido às suas idéias que originaram<br />

a política do “espaço vital”² e do direito de conquista dos povos<br />

“inferiores” pelos “superiores”. Essa política foi, mais tarde, utiliza<strong>da</strong><br />

por Hitler para justificar sua expansão nazista através <strong>da</strong> Europa.<br />

33


TEORIA DA<br />

GEOGRAFIA<br />

34<br />

Friedrich Ratzel nasceu em 30 de agosto de 1844,<br />

em Karlsruhe, Alemanha. Após cursar universi<strong>da</strong>de<br />

em Heidelberg, Ratzel publicou, em 1869, seu<br />

primeiro livro, um texto sobre Darwin e sua Teoria<br />

<strong>da</strong> Evolução. Depois de formado, Ratzel começou<br />

a empreender viagens que fariam do biólogo e<br />

zoólogo,um geógrafo. Depois de viagens ao longo<br />

do Mar Mediterrâneo , Ratzel viaja para os Estados<br />

Unidos e México em 1874. Essa viagem foi decisiva<br />

na carreira do intelectual alemão. Ele estudou a<br />

colonização alemã nos Estados Unidos e no resto<br />

<strong>da</strong> América do Norte, especialmente na região<br />

centro-oeste do continente, chegando à conclusão de que o homem vivia<br />

sujeito às leis <strong>da</strong> natureza com propagação <strong>da</strong>s idéias deterministas, que<br />

consideravam a existência de uma grande influência do meio natural sobre o<br />

homem.<br />

Ratzel voltou <strong>da</strong> viagem “convencido <strong>da</strong> importância do estudo geográfico”,<br />

o que iria mol<strong>da</strong>r sua carreira <strong>da</strong>í para frente, claramente representado na<br />

frase “O homem seria influenciado pelo meio”.<br />

Após seu retorno, no ano de 1875, Ratzel tornou-se professor de Geografia<br />

em Munique e foi sendo promovido na Facul<strong>da</strong>de alemã até chegar a<br />

professor com livre-docência. Sua fama crescia na medi<strong>da</strong> em que seus<br />

livros eram publicados: foi convi<strong>da</strong>do, em 1876, para ser professor em Leipzig,<br />

então uma referência na Geografia mundial. No dia 9 de agosto de 1904,<br />

morre Ratzel, na ci<strong>da</strong>de alemã de Ammerland.<br />

Ratzel <strong>da</strong>va aulas para grandes públicos, chegando a ter 500 ouvintes numa<br />

mesma sala-de-aula, o que lhe trouxe muitos seguidores e influenciou o<br />

pensamento de muitos geógrafos. As idéias de Ratzel levaram ain<strong>da</strong> os<br />

geógrafos a se preocuparem com os problemas de povo, raça, estado,<br />

O Determinismo Fora <strong>da</strong> Alemanha<br />

Um dos principais representantes do determinismo fora <strong>da</strong> Alemanha foi a escola<br />

estadunidense. A sua formação também se deu como na Alemanha, ou seja, ocorreu por<br />

uma necessi<strong>da</strong>de de afirmação nacional e expansão territorial.<br />

Os estadunidenses justificaram sua expansão e domínio sobre territórios mexicanos<br />

e indígenas através <strong>da</strong> <strong>teoria</strong> determinista. Quase metade do território do México foi<br />

conquistado pelos Estados Unidos, e milhões de índios pereceram na conquista do Oeste<br />

estadunidense.<br />

Ellen Semple (veja item 3), discípula de Ratzel, foi o principal nome do determinismo<br />

nos Estados Unidos.<br />

FIQUE ATENTO<br />

A EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA<br />

No decorrer do século XX, a ciência geográfica no Ocidente passou<br />

por quatro fases importantes: determinismo geográfico, <strong>geografia</strong><br />

regional, revolução quantitativa e <strong>geografia</strong> radical.


Principais Pensadores<br />

Como vimos, o determinismo geográfico defendia a premissa que as características<br />

dos povos se devem à influência do meio físico (natural). Os principais pensadores <strong>da</strong><br />

corrente determinista foram:<br />

Carl Ritter - (07/08/1779, Quedlinburg – 28/09/1859, Berlim) foi<br />

um geógrafo alemão, nascido em Quedlinburg, então pertencente<br />

à Prússia, de grande importância para a <strong>geografia</strong> humana. Entre<br />

suas descobertas destaca-se a dos raios ultra-violeta<br />

Ellsworth Huntington - (1876-1947) Geógrafo americano,<br />

professor de economia na Universi<strong>da</strong>de de Yale no começo do<br />

século XX, notou que as áreas setentrionais, regiões frias como<br />

EUA, Ilhas Britâncias, Europa e Japão tinham uma performance<br />

econômica superior, enquanto que nos países tropicias ocorria o<br />

contrário - o então chamado paradoxo tropical. Huntington associava<br />

as diferencas de performance às diferenças climáticas.<br />

Ellen Churchill Semple - (1863-1932) Estudou em Leipzig com<br />

Ratzel. Foi Professora de antropo<strong>geografia</strong> em Clarck (de 1923 a<br />

1932). Considera que man is the product of the earth’s surface: o<br />

homem é produto <strong>da</strong> terra …<br />

Principais Críticas ao Determinismo<br />

Hipóteses populares como “o calor torna os habitantes dos trópicos preguiçosos” e<br />

“mu<strong>da</strong>nças freqüentes na pressão atmosférica tornam os habitantes <strong>da</strong>s latitudes médias<br />

(regiões de clima temperado, como Europa e América do Norte ) mais inteligentes” eram<br />

assim defendi<strong>da</strong>s e fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong>s.<br />

Os geógrafos deterministas tentaram estu<strong>da</strong>r cientificamente a importância de tais<br />

influências. Nos anos trinta (séc. XX), esta escola de pensamento foi largamente repudia<strong>da</strong><br />

por lhe faltarem bases científicas sustentáveis e por ser propensa (freqüentemente<br />

intolerante) a generalizações. O determinismo geográfico constitui um embaraço para muitos<br />

geógrafos contemporâneos e leva ao ceticismo sobre aqueles que defendem a influência<br />

do meio na cultura.<br />

Se há uma noção geográfica plenamente supera<strong>da</strong> no plano teórico em nossos dias,<br />

esta noção é a do determinismo geográfico. Hoje não há mais lugar, sequer para discussão,<br />

acerca de uma determinação do meio natural sobre a socie<strong>da</strong>de ou grupos humanos e<br />

suas possibili<strong>da</strong>des de progresso. A fim de ilustrar o que significa o determinismo geográfico<br />

ou ambiental, vejamos esta declaração de Montesquieu:<br />

35


TEORIA DA<br />

GEOGRAFIA<br />

36<br />

“ Não nos devemos, pois, espantar que a covardia<br />

dos povos de clima quente os tenha, quase sempre,<br />

tornado escravos, e que a coragem dos povos de<br />

clima frio os tenha mantido livres. É uma<br />

conseqüência que deriva de sua causa natural.<br />

”<br />

Inúmeras e contundentes críticas foram levanta<strong>da</strong>s contra esta vertente, ora opondo-<br />

se à transposição mecânica de <strong>teoria</strong>s <strong>da</strong>s ciências naturais para análise dos fatos<br />

humanos, ora denunciando o seu caráter ideológico vinculado à dominação imperialista.<br />

Embora o senso comum, os meios de comunicação, a educação básica, organismos<br />

governamentais e até o meio acadêmico ain<strong>da</strong> reproduzam certas idéias essenciais do<br />

determinismo, ninguém consegue obter concordância na comuni<strong>da</strong>de científica acerca de<br />

uma relação de causa e efeito entre o meio natural e as relações sociais.<br />

O determinismo fez história numa época em que as ciências naturais gozavam de<br />

todo o prestígio na academia. Segundo Gomes (1996, p.186),”no fim do séc. XIX, a biologia<br />

foi considera<strong>da</strong> como um novo paradigma para as outras ciências em razão do sucesso <strong>da</strong><br />

<strong>teoria</strong> evolucionista.” Hoje, temos a compreensão de que as noções <strong>da</strong>s ciências naturais<br />

não podem ser utiliza<strong>da</strong>s nos estudos sobre o homem e a socie<strong>da</strong>de. Tanto as condições<br />

em que são produzidos os conhecimentos, como a natureza do objeto, são diferentes nas<br />

ciências <strong>da</strong> natureza e nas ciências do homem.<br />

Nas ciências naturais, o objeto do conhecimento tem um comportamento mais<br />

previsível por ser constante ou muito pouco variável. Além disso, podendo fazer<br />

experimentações e demonstrações, é possível reduzir muito a influência dos valores pessoais<br />

dos cientistas na produção do conhecimento.<br />

Já nas ciências sociais, os fenômenos estu<strong>da</strong>dos não são igualmente previsíveis,<br />

pois variam conforme a época histórica e a cultura e o homem tem a capaci<strong>da</strong>de de inovar,<br />

não fazendo as mesmas coisas sempre do mesmo jeito. Por outro lado, não há neutrali<strong>da</strong>de<br />

nas ciências sociais, pois neste campo as preferências ideológicas, teóricas e filosóficas<br />

dos atores científicos sempre estão presentes em suas análises.<br />

Assim, os estudos sociais e os <strong>da</strong> natureza exigem arsenal teórico-metodológico<br />

diferenciado e to<strong>da</strong> tentativa de intercâmbio acarreta simplificações, generalizações<br />

apressa<strong>da</strong>s e preconceitos. É exatamente isso o que acontece com o determinismo<br />

geográfico. Ao estabelecer relação de causali<strong>da</strong>de entre o meio natural e o grupamento<br />

humano nele inserido, Ratzel, inspirado no evolucionismo de Darwin e na ecologia de<br />

Haeckel, pretendia criar leis regulares explicativas para a cultura humana, identificando uma<br />

“determinação produzi<strong>da</strong> ao longo de um processo de evolução e de diferenciação”(GOMES,<br />

1996 p.185).<br />

A despeito do mérito de Ratzel de ter aproximado a Geografia dos padrões <strong>da</strong> ciência<br />

moderna, com a sua tentativa de criar <strong>teoria</strong>s explicativas, não podemos deixar de registrar<br />

a sua vinculação com os interesses imperialistas, <strong>da</strong> qual emana o caráter ideológico de<br />

suas teses. Tendo o capitalismo se estabelecido tardiamente na Alemanha e o Estadonação<br />

alemão só se constituído no final do século XIX, era necessário criar um saber<br />

legitimador <strong>da</strong>s intenções expansionistas, tarefa para a qual as explicações ratzelianas se<br />

prestaram.<br />

E como as formulações de base determinista serviram aos propósitos expansionistas<br />

do capitalismo alemão na época? Elas tinham um caráter ideológico, ou seja, representavam


o ponto de vista <strong>da</strong>s classes sociais hegemônicas mas eram amplamente aceitas como<br />

ver<strong>da</strong>deiras, pelo fato de terem sido elabora<strong>da</strong>s no âmbito <strong>da</strong> ciência.<br />

Vejamos o conceito de espaço vital de Ratzel. “Este representaria uma proporção<br />

de equilíbrio, entre a população de uma <strong>da</strong><strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de e os recursos disponíveis para<br />

suprir suas necessi<strong>da</strong>des, definindo assim suas potenciali<strong>da</strong>des de progredir e suas<br />

premências territoriais” (MORAES, 1986. p. 56).<br />

Fica clara a intenção de <strong>da</strong>r um ar científico a uma idéia que serve a um projeto<br />

imperialista. Se uma socie<strong>da</strong>de tem uma vocação natural para progredir, devido ao seu<br />

clima favorável, é inevitável que ela expan<strong>da</strong> as áreas sob o seu domínio. A fim de assegurar<br />

os recursos necessários à continui<strong>da</strong>de do seu progresso, é natural que conquiste outras<br />

nações, considera<strong>da</strong>s menos propensas ao desenvolvimento.<br />

Considerações Finais<br />

Para o Determinismo Geográfico é como se o mundo humano fosse regido pelas<br />

mesmas leis <strong>da</strong> natureza, onde sobrevivem aqueles que são melhor a<strong>da</strong>ptados ao ambiente.<br />

Trata-se também de uma pretensão de superiori<strong>da</strong>de racial e uma visão etnocêntrica, que<br />

elege a sua própria cultura como privilegia<strong>da</strong> frente às outras. E, além disso, essa noção<br />

faz parecer que no interior dessas socie<strong>da</strong>des dominantes todos usufruem igualmente dos<br />

benefícios gerados pelo colonialismo.<br />

Teorias de base determinista foram usa<strong>da</strong>s por grandes ditadores, para fun<strong>da</strong>mentar<br />

suas idéias preconceituosas de superiori<strong>da</strong>de, o maior exemplo disto foi o terrível genocídio<br />

praticado pelos nazistas sob a liderança de Hitler.<br />

É preciso estar atento para evitar a reprodução inconsciente <strong>da</strong>s idéias deterministas.<br />

Quando se afirma que as condições desfavoráveis de vi<strong>da</strong> no sertão nordestino, por exemplo,<br />

deve-se à irregulari<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s chuvas, incorre-se num erro, pois, ao invés de focalizar as<br />

contradições <strong>da</strong> estrutura <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, atribui-se a fome e a pobreza a uma causa natural.<br />

A Corrente Possiblista do Pensamento Geográfico<br />

O Possibilismo é uma outra forma de entendimento acerca de como se dá as relações<br />

entre o homem e o meio natural. Essa corrente marcou os primórdios <strong>da</strong> ciência geográfica.<br />

A corrente possibilista surgiu em reação ao determinismo ambiental, inicialmente na<br />

França (final do século XIX) e, posteriormente, na Alemanha (início do século XX) e Estados<br />

Unidos (déca<strong>da</strong> de 20).<br />

Não foi por acaso que esta corrente nasceu na França. “O possibilismo, francês em<br />

sua origem, opõe-se ao determinismo ambiental germânico (alemão). Esta oposição<br />

fun<strong>da</strong>menta-se nas diferenças entre os dois países” (Corrêa, 1991, p. 12). As rivali<strong>da</strong>des<br />

existentes entre França e Alemanha, existentes há muito tempo, aumentaram com a per<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> região francesa <strong>da</strong> Alsácia-Lorena para a Prússia, durante a guerra franco-prussiana.<br />

Esse fato impulsionou o crescimento <strong>da</strong> Geografia na França, visto que a per<strong>da</strong> <strong>da</strong> guerra<br />

pela França foi atribuí<strong>da</strong> não ao exército alemão, mas sim à sua Geografia.<br />

Sob a égide possibilista, a Geografia francesa se desenvolve, tendo em Vi<strong>da</strong>l de La<br />

Blache seu grande mestre. A natureza passou a ser encara<strong>da</strong> como uma fornecedora de<br />

37


TEORIA DA<br />

GEOGRAFIA<br />

Para que possamos compreender melhor o processo que desencadeou a formulação<br />

do pensamento geográfico na França e as correntes que dele se desenvolveram é de<br />

fun<strong>da</strong>mental importância analisar o processo histórico <strong>da</strong> França no século XIX.<br />

A França se destacou como um país que realizou de forma plena uma revolução de<br />

origem burguesa. Os possíveis componentes de uma socie<strong>da</strong>de feu<strong>da</strong>l foram completamente<br />

exterminados, e a socie<strong>da</strong>de de forma plena, pode instalar um governo com a sua face.<br />

Esse quadro foi importante para o desencadeamento <strong>da</strong>s idéias possibilistas.<br />

38<br />

possibili<strong>da</strong>des para a modificação humana, e não determinando sua evolução,<br />

sendo o homem o principal agente geográfico. La Blache também redefine o<br />

conceito de gênero de vi<strong>da</strong>, her<strong>da</strong>do do determinismo: trata-se não mais de<br />

uma conseqüência inevitável <strong>da</strong> natureza, mas de “um acervo de técnicas,<br />

hábitos, usos e costumes, que lhe permitiram utilizar os recursos naturais<br />

disponíveis” (Corrêa, 1991, p. 13 apud Claval, 1974).<br />

Os gêneros de vi<strong>da</strong> ocorrem em uma paisagem geográfica – aquela<br />

que já foi natural e passou a ser modifica<strong>da</strong> pela ação humana –, que possui<br />

uma extensão territorial razoavelmente identificável. Assim, uma região “é a expressão<br />

espacial <strong>da</strong> ocorrência de uma mesma paisagem geográfica” (Corrêa, 1991, p. 13); portanto,<br />

sendo o objeto <strong>da</strong> Geografia possibilista a região, ela se confunde com a Geografia<br />

Regional.<br />

Possiblismo x Determinismo<br />

O geógrafo francês Paul Vi<strong>da</strong>l de La Blache, publicou os<br />

seus principais textos na França, entre o final do século<br />

XIX e o início do século XX, num contexto de confronto<br />

interimperialista com a Alemanha.<br />

Na segun<strong>da</strong> metade do século XIX, Alemanha<br />

(ain<strong>da</strong> chama<strong>da</strong> de Prússia) e França estavam em disputa<br />

sobre a hegemonia no controle do continente europeu.<br />

Essa disputa culminou com a Guerra franco-prussiana em<br />

1870, na qual a Prússia sagrou-se<br />

vencedora. A França teve um grande<br />

prejuízo, pois perdeu os territórios <strong>da</strong><br />

Alsácia e Lorena, fato que prejudicou a<br />

Região <strong>da</strong><br />

Alsácia - Lorena<br />

industrialização do país, já que essa região é rica em<br />

carvão mineral.<br />

REGIÃO DA ALSÁCIA-LORENA


A guerra colocou para a classe dominante francesa a necessi<strong>da</strong>de de “pensar o<br />

espaço”, ou seja, a Geografia precisava fornecer fun<strong>da</strong>mentos para o expansionismo francês<br />

e também reagir frente a reflexão geográfica alemã, visto que a Geografia de Ratzel<br />

legitimava a ação imperialista <strong>da</strong> Alemanha ( Prússia na época ). O PENSAMENTO<br />

GEOGRÁFICO FRANCÊS NASCE ENTÃO COM ESSA TAREFA – Vi<strong>da</strong>l de La Blache foi<br />

o principal articulador desse processo.<br />

La Blache<br />

Escola Possibilista<br />

x<br />

Ratzel<br />

Escola Determinista<br />

As Bases Filosóficas do Possibilismo (O Papel de La Blache)<br />

As bases filosóficas do pensamento desse autor, que orientam o método de<br />

formulação dos seus principais conceitos e <strong>teoria</strong>s, são diversas, conforme Santos (1980,<br />

p. 30) e Gomes (1996, p.206) e reúne, no mesmo arcabouço de saber, explicação e<br />

descrição, racionalismo e positivismo, procedimentos e visões de mundo considera<strong>da</strong>s<br />

díspares.<br />

A expressão possibilismo, que designa esta corrente, decorre <strong>da</strong> idéia “vi<strong>da</strong>liana”<br />

de que o homem cria um gênero de vi<strong>da</strong> e uma paisagem contando com as possibili<strong>da</strong>des<br />

que a natureza oferece. Trata-se de uma síntese <strong>da</strong>s relações entre o homem e o meio, que<br />

constitui, para La Blache, o próprio objeto <strong>da</strong> Geografia.<br />

Ao geógrafo caberia descrever, enumerar, medir e classificar as paisagens e seus<br />

elementos naturais e humanos. Numa perspectiva mais particularista, pouco preocupa<strong>da</strong><br />

em estabelecer relações universalizantes, esses procedimentos de investigação fizeram<br />

escola e foram amplamente aplica<strong>da</strong>s em estudos na Ásia e na África, onde a França<br />

mantinha várias colônias.<br />

Aí se origina uma tradição quanto à forma de fazer Geografia que até hoje está<br />

presente nas práticas escolares, quando se pretende transmitir aos alunos uma série de<br />

informações e <strong>da</strong>dos, do mundo físico-natural ou humano, a partir <strong>da</strong>s aulas de Geografia.<br />

39


TEORIA DA<br />

GEOGRAFIA<br />

Ou seja, La Blache não se preocupava com a dinâmica social, mas apenas com os<br />

seus efeitos na paisagem. Ele não falava de socie<strong>da</strong>de, mas de população ou de<br />

grupamentos humanos. Falava de técnicas, mas não analisava o modo de produção, pois<br />

isso revelaria o processo de exploração de um homem sobre outro e as origens <strong>da</strong>s<br />

desigual<strong>da</strong>des sociais.<br />

Para La Blache, o conceito de gênero de vi<strong>da</strong> era de fun<strong>da</strong>mental importância. Tratavase,<br />

segundo ele, de uma forma singular de vi<strong>da</strong> e de desenvolvimento de um grupo social ou<br />

comuni<strong>da</strong>de, dentro de um certo quadro natural. O gênero de vi<strong>da</strong> reúne as técnicas, hábitos<br />

e costumes que um povo estabelece, a partir de um relacionamento constante, longo e<br />

cumulativo com o seu ambiente imediato. Desta forma, representaria uma situação,<br />

historicamente construí<strong>da</strong>, de harmonia e de equilíbrio entre a população e os recursos do<br />

território.<br />

À medi<strong>da</strong> que se estabelecem, a partir do enfrentamento dos desafios postos pela<br />

natureza, os gêneros de vi<strong>da</strong> criam uma paisagem, uma combinação específica entre<br />

elementos naturais e humanos, realizando a ver<strong>da</strong>deira obra geográfica do homem, cuja<br />

extensão coincide com o que La Blache entende por região.<br />

40<br />

Distinguindo-se <strong>da</strong> perspectiva determinista na qual o homem era visto<br />

apenas como mais um elemento <strong>da</strong> paisagem, em La Blache o homem se<br />

destaca por sua capaci<strong>da</strong>de de transformação e de a<strong>da</strong>ptação ao meio.<br />

Intermediado pelas técnicas que desenvolve a partir do seu esforço a<strong>da</strong>ptativo,<br />

o homem entra em contato com a natureza, atribuindo-lhe sentido e<br />

transformando-a em seu benefício. Logo, “a ação humana não seria apenas<br />

uma resposta às imposições do meio” (MORAES, 1986), como as teses<br />

deterministas afirmavam.<br />

O resultado dessa interação entre as comuni<strong>da</strong>des, com seu acervo de técnicas e<br />

costumes, e o ambiente natural em sua volta, seria uma paisagem, uma feição configura<strong>da</strong><br />

pela ação humana aproveitando as possibili<strong>da</strong>des <strong>da</strong> natureza. Com La Blache, a paisagem<br />

se tornou o objeto <strong>da</strong> Geografia, que para ele “é uma ciência dos lugares, não dos homens”.<br />

FIQUE ATENTO<br />

A região lablacheana é a uni<strong>da</strong>de de estudo geográfico por<br />

excelência e expressa a forma singular de uma comuni<strong>da</strong>de organizar<br />

o espaço. Não se trata apenas de um recurso analítico, mas de uma<br />

enti<strong>da</strong>de concreta que se autoevidencia, cabendo ao geógrafo<br />

delimitá-la, descrevê-la e explicá-la. O objetivo era encontrar a<br />

singulari<strong>da</strong>de, uma forma específica de uni<strong>da</strong>de entre o homem e a<br />

natureza para a qual devia-se elaborar uma síntese regional, que<br />

acabou por se afirmar como uma <strong>da</strong>s principais tradições <strong>da</strong><br />

Geografia.<br />

Embora Vi<strong>da</strong>l de La Blache tenha criticado a politização explícita do discurso científico<br />

de Ratzel, num debate que expressou a disputa colonial entre a França e a Alemanha, também<br />

não deixou de refletir, em suas formulações, os interesses <strong>da</strong> burguesia francesa. Mesmo<br />

se dizendo politicamente neutro em suas formulações, ele trabalhou pela legitimação<br />

ideológica dos propósitos capitalistas em seu país.


Ao definir o gênero de vi<strong>da</strong> como uma situação de harmonia entre um povo e o seu<br />

meio, tendo o seu estabelecimento durado séculos de história, o que La Blache pretendeu<br />

foi naturalizar as fronteiras dos países europeus, visando deslegitimar as ações<br />

expansionistas alemãs. Seria considera<strong>da</strong> agressão, qualquer tentativa de mu<strong>da</strong>r as<br />

fronteiras, pois elas seriam fruto de um longo processo de civilização (MORAES, 1996).<br />

Mas ao mesmo tempo, esse geógrafo francês elaborou uma explicação que <strong>da</strong>va<br />

margem à legitimação do imperialismo. Segundo ele, o gênero de vi<strong>da</strong> de um povo progride<br />

quando este povo entra em contato com outros, mantendo uma relação enriquecedora. Essa<br />

idéia foi amplamente utiliza<strong>da</strong> para justificar a ação colonialista <strong>da</strong> França sobre a África,<br />

com o argumento de que se tratava de uma missão civilizadora.<br />

A fim de esclarecer e caracterizar as diversas perspectivas atuantes nos estudos<br />

geográficos, procuramos estabelecer o seguinte esquema seqüencial em nossa exposição:<br />

a fase tradicional (pré-1950), a Nova Geografia, a Geografia Humanística, a Geografia<br />

Idealista, a Geografia Radical e a Geografia Têmporo-Espacial.<br />

Ativi<strong>da</strong>des<br />

Complementares<br />

1.<br />

A partir do que você entendeu sobre o determinismo geográfico e sobre o possibilismo,<br />

como você justifica o estudo de idéias geográficas produzi<strong>da</strong>s em épocas passa<strong>da</strong>s?<br />

41


TEORIA DA<br />

GEOGRAFIA<br />

42<br />

O Método Regional<br />

O MÉTODO REGIONAL constitui-se como a terceira corrente do<br />

pensamento geográfico, ele opõe-se às duas anteriores (DETERMINISMO E<br />

POSSIBILISMO), já que “a diferenciação de áreas não é vista a partir <strong>da</strong>s<br />

relações entre o homem e a natureza, mas sim <strong>da</strong> integração de fenômenos<br />

heterogêneos em uma <strong>da</strong><strong>da</strong> porção <strong>da</strong> superfície <strong>da</strong> Terra” (Corrêa, 1991, p.<br />

14). Esse paradigma é voltado, portanto, para o estudo de áreas, regiões.<br />

Essa corrente do pensamento geográfico tem sido estu<strong>da</strong><strong>da</strong> desde o século XVII,<br />

por Bernardo Varenius, que em 1650 escreveu Geografia General (en la que se explican<br />

las proprie<strong>da</strong>des generales de la Tierra) passando por Kant e Ritter, nos séculos XVIII e XIX,<br />

respectivamente. Contudo, esse método foi esquecido na passagem do século XIX para o<br />

XX, em função <strong>da</strong> disputa vigente entre determinismo e possibilismo. Somente a partir dos<br />

anos 40, especialmente nos Estados Unidos, esse paradigma voltou a ser valorizado, tendo<br />

no centro dessa valorização o geógrafo estadunidense Richard Hartshorne.<br />

Para conhecer parte <strong>da</strong> obra de Bernardo Varenius – Geografia Geral - traduzi<strong>da</strong>,<br />

visite o link para o site no AVA.<br />

O MÉTODO REGIONAL evidencia a necessi<strong>da</strong>de de se produzir uma Geografia<br />

regional, isto é, um conhecimento sintético sobre as diferentes áreas do globo. O pensamento<br />

de Hartshorne é de que o “norte” <strong>da</strong> Geografia é a regional. Porém, não considera que a<br />

região é o objeto <strong>da</strong> Geografia: o que importa é o método de identificação <strong>da</strong>s diferenciações<br />

de áreas, que resultam de uma integração única de fenômenos heterogêneos.<br />

Contribuição de Hartshorne Para o Método Regional<br />

Essa corrente contribuiu para consoli<strong>da</strong>r a tradição <strong>da</strong>s descrições dos lugares como<br />

forma de construção do conhecimento geográfico. O principal pensador desta corrente -<br />

Richard Hartshorne - publicou as suas obras mais importantes entre as déca<strong>da</strong>s de trinta e<br />

sessenta do século XX nos Estados Unidos.<br />

Este autor foi considerado um marco <strong>da</strong> <strong>geografia</strong><br />

americana por ter introduzido neste país o debate teóricometodológico<br />

deste campo disciplinar. Para Hartshorne, não<br />

havia fenômenos particularmente geográficos ou um objeto<br />

específico deste campo do saber.<br />

Em seu entendimento, a Geografia era uma ciência<br />

destina<strong>da</strong> a estu<strong>da</strong>r as diferenciações entre as áreas <strong>da</strong><br />

superfície terrestre, sendo uma ciência, ao mesmo tempo,<br />

<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> natureza. Ca<strong>da</strong> área seria defini<strong>da</strong> por<br />

uma combinação singular de elementos cujos<br />

relacionamentos deviam ser objeto de estudo dos<br />

geógrafos.


Objeto de Estudo do Método Regional<br />

Diferentemente dos historiadores, que se ocupam com a gênese e desenvolvimento<br />

dos fenômenos, aos geógrafos caberia apreender, por meio <strong>da</strong> descrição, como certos<br />

fenômenos se articulam no presente, definindo o caráter <strong>da</strong>s áreas. O objetivo era interpretar<br />

o caráter variável <strong>da</strong> superfície <strong>da</strong> Terra. Sem uma preocupação com os processos, e<br />

voltados para as singulari<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s áreas, os geógrafos dessa corrente, não valorizavam<br />

a construção de generalizações ou <strong>teoria</strong>s com explicações gerais.<br />

Ao contrário <strong>da</strong>s correntes anteriores, para as quais a reali<strong>da</strong>de era exterior ao sujeito<br />

e a ele se impunha, devendo o observador registrar o que estivesse ao alcance dos seus<br />

olhos independentemente de suas escolhas, no estudo de diferenciação de áreas, apenas<br />

alguns fenômenos do lugar, tidos como significativos para a sua caracterização, é que seriam<br />

incluídos no estudo, o que significa que a área é uma construção mental do pesquisador,<br />

delimita<strong>da</strong> com base em <strong>da</strong>dos previamente selecionados.<br />

IMPORTANTE:<br />

Segundo Lencione (2003), ao entender que os recortes<br />

que são feitos na reali<strong>da</strong>de decorrem de uma operação<br />

mental, Hartshorne considera que “as divisões regionais<br />

são reproduzi<strong>da</strong>s pelo intelecto, segundo objetivos determinados<br />

pelo pesquisador.”<br />

Hartshorne não estava preocupado em estabelecer padrões de relação entre o<br />

homem e o seu meio, como no determinismo e no possibilismo, mas em precisar, através<br />

de um método bem definido, em que as áreas se singularizavam e que combinações<br />

específicas distinguiam umas <strong>da</strong>s outras.<br />

Qualquer fenômeno que tivesse dimensão espacial teria interesse para a Geografia.<br />

Esta ciência não se definiria por um objeto particular, já que foi considera<strong>da</strong> como uma<br />

ciência de síntese, mas por um método próprio, o de diferenciar áreas, por um procedimento<br />

corológico que permitiria uma interseção entre os diversos domínios disciplinares.<br />

Com esta formulação, Hartshorne se propôs a superar duas dicotomias presentes<br />

na produção geográfica: a que opunha a <strong>geografia</strong> geral à regional e a que se verificava<br />

entre os estudos físicos e os do homem. O estudo regional feito por intermédio de um método<br />

objetivo, produziria uma síntese dessas perspectivas, elevando a Geografia a um novo<br />

patamar científico. Neste sentido, os estudos geográficos teriam, ao mesmo tempo, caráter<br />

idiográfico e nomotético.<br />

No primeiro, a busca empreendi<strong>da</strong> é pela identi<strong>da</strong>de do lugar, aquilo que faz com<br />

que o lugar seja único e irrepetível, sendo uma perspectiva mais adequa<strong>da</strong> aos estudos dos<br />

fatos humanos <strong>da</strong><strong>da</strong> a sua singulari<strong>da</strong>de incontornável.<br />

No segundo, procura-se determinar padrões de relações entre elementos, no sentido<br />

de estabelecer normas gerais, perspectiva que acabou prevalecendo no restante do século<br />

XX e considera<strong>da</strong> adequa<strong>da</strong> para os estudos <strong>da</strong> natureza, em vista <strong>da</strong> regulari<strong>da</strong>de dos<br />

seus fenômenos. Assim sendo, o estudo regional, voltado para as sínteses <strong>da</strong>s relações<br />

complexas, consiste tanto no trabalho empírico de observação como no de estabelecer<br />

relações gerais.<br />

43


TEORIA DA<br />

GEOGRAFIA<br />

44<br />

Embora Hartshorne tenha defendido esse procedimento, que combina<br />

o estudo <strong>da</strong>s particulari<strong>da</strong>des com o estabelecimento de esquemas universais,<br />

ele ficou conhecido como um geógrafo do singular, ou seja, um geógrafo<br />

interessado apenas naquilo que torna um lugar único, um conjunto de aspectos<br />

integrados com uma única localização, irredutíveis a qualquer generalização.<br />

A seguinte formulação de Hartshorne, feita em 1939, justifica essa visão que<br />

se difundiu a seu respeito.<br />

NÃO ESQUEÇA<br />

O objeto <strong>da</strong> <strong>geografia</strong> regional é unicamente o caráter variável <strong>da</strong> superfície <strong>da</strong><br />

Terra – uma uni<strong>da</strong>de que só pode ser dividi<strong>da</strong> arbitrariamente em partes, as quais,<br />

em qualquer nível <strong>da</strong> divisão, são como as partes temporais <strong>da</strong> história, únicas em<br />

suas características (HARTSHORNE, 1939, apud. CORRÊA, 1986, p. 16).<br />

De todo modo, Hartshorne é tido como um dos principais responsáveis pela transição<br />

de uma fase clássica <strong>da</strong> Geografia para uma fase moderna. Suas proposições, conforme<br />

Moraes (1986), finalizam o ciclo <strong>da</strong> chama<strong>da</strong> <strong>geografia</strong> tradicional que havia se caracterizado<br />

como uma ciência de síntese e desenvolvi<strong>da</strong> a partir do trabalho empírico.<br />

Considerações Finais<br />

Concluímos então que Geografia Regional procura estu<strong>da</strong>r as uni<strong>da</strong>des componentes<br />

<strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de areal <strong>da</strong> superfície terrestre. Em ca<strong>da</strong> lugar, área ou região a combinação e<br />

a interação <strong>da</strong>s diversas categorias de fenômenos se refletem na elaboração de uma<br />

paisagem distinta, que surge de modo objetivo e concreto.<br />

O estudo <strong>da</strong>s regiões e <strong>da</strong>s áreas favorece a expansão <strong>da</strong> perspectiva regional ou<br />

cronológica, que teve como êmulo e padrão as clássicas monografias <strong>da</strong> escola francesa.<br />

Com isso ficou claro que o geógrafo, preocupado em compreender as características<br />

regionais, desenvolveu a habili<strong>da</strong>de descritiva, exercendo a caracterização já estabeleci<strong>da</strong><br />

por La Blache, em 1913. Defrontando-se com os casos, a explicação se baseia no destrinchar<br />

a evolução histórica e estabelecer a seqüência <strong>da</strong>s fases que culminaram nas características<br />

atuais <strong>da</strong> referi<strong>da</strong> área ou região. E, também, levando em conta as concepções de que o<br />

globo é um organismo coerente, com as suas partes funcionando de modo integrador,<br />

admite-se que muitas uni<strong>da</strong>des areais executavam uma “função” em termos do conjunto.<br />

OBSERVE O EXEMPLO:<br />

O desenvolvimento <strong>da</strong> cultura canavieira no Nordeste brasileiro era para abastecer o<br />

mercado europeu; os países-colônias são abastecedores de matérias-primas para os países<br />

imperialistas, e outras explicações similares podem ser arrola<strong>da</strong>s para os mais diversos<br />

aspectos e categorias de fenômenos.<br />

* Para saber mais sobre esse assunto acesse um link interessante a partir do AVA.


Ativi<strong>da</strong>des<br />

Complementares<br />

1.<br />

Enquanto o determinismo e o possibilismo se ocupam <strong>da</strong> relação entre o homem e o<br />

meio, o método regional propõe que a Geografia estude o caráter variável <strong>da</strong> superfície<br />

terrestre. Como você entende esta diferença?<br />

A Geografia Teórica-Quantitativa<br />

A Geografia Teorética-Quantitativa também pode ser chama<strong>da</strong> de Nova Geografia.<br />

A terminologia “Nova Geografia” foi primeiramente proposta por Manley (1966), baseandose<br />

num conjunto de idéias e de abor<strong>da</strong>gens que começaram a se difundir e a ganhar<br />

desenvolvimento durante a déca<strong>da</strong> de 1950.<br />

Essa corrente do pensamento geográfico<br />

surgiu em m<strong>ead</strong>os do século XX, após a 2ª. Guerra<br />

Mundial, na Inglaterra, Estados Unidos e Suécia. Foi<br />

o período <strong>da</strong> chama<strong>da</strong> “Guerra Fria”, <strong>da</strong> recuperação<br />

econômica <strong>da</strong> Europa, do descolonização <strong>da</strong> África<br />

e <strong>da</strong> Ásia e <strong>da</strong> expansão <strong>da</strong> tecnologia.<br />

A Nova Geografia surgiu num momento<br />

histórico marcado pela intensa urbanização,<br />

industrialização e expansão de<br />

capital, gerando<br />

modificações profun<strong>da</strong>s na organização espacial; essas<br />

modificações inviabilizaram a aplicação dos três<br />

paradigmas tradicionais – determinismo, possibilismo<br />

e método regional –, propiciando o surgimento <strong>da</strong> Nova<br />

Geografia, na qual utilizaram-se freqüentemente<br />

técnicas estatísticas e matemáticas com o emprego <strong>da</strong><br />

geometria e de modelos normativos. Por essa razão,<br />

passou a ser conheci<strong>da</strong> também como Geografia<br />

quantitativa ou teorética. Esse conjunto de regras e<br />

princípios é resultado direto de um compromisso ideológico <strong>da</strong><br />

Nova Geografia, o de justificar a expansão capitalista e seu poder<br />

imperialista; através dessa metodologia, poderia se esconder a situação<br />

real, apresentando estudos que na<strong>da</strong> exprimiam. Essa foi a Geografia oficial do Brasil durante<br />

o período <strong>da</strong> ditadura militar, regime que teve grande apoio dos grandes Estados capitalistas,<br />

principalmente dos Estados Unidos.<br />

45


TEORIA DA<br />

GEOGRAFIA<br />

46<br />

Aula<br />

A Presença <strong>da</strong> Corrente Teórica-Quantitativa em Sala de<br />

Essa Geografia, <strong>da</strong> mesma forma que as demais Ciências Humanas<br />

(principalmente nos anos 1960 e 1970), foi sustenta<strong>da</strong> metodologicamente<br />

pelo Positivismo. Tendia-se a um estudo que procurava explicações objetivas<br />

e quantitativas <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de. A análise geográfica do espaço deveria ser<br />

“asséptica” e não politiza<strong>da</strong>, já que, na visão <strong>da</strong> escola francesa, o discurso<br />

científico era “neutro”. As relações do homem com a natureza eram estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s de forma<br />

objetiva, desprezando-se as relações sociais, abstraindo assim do homem o seu caráter<br />

social.<br />

No ensino, essa visão <strong>da</strong> Geografia traduziu-se pelo estudo descritivo <strong>da</strong>s paisagens<br />

naturais ou humaniza<strong>da</strong>s. A didática baseava-se principalmente na descrição e na<br />

memorização dos elementos que compõem as paisagens, tendo em vista que esses<br />

constituem a dimensão passível de observação do território ou lugar. Eliminava-se qualquer<br />

forma de compreensão ou subjetivi<strong>da</strong>de que comprometesse a análise “neutra” <strong>da</strong> paisagem<br />

estu<strong>da</strong><strong>da</strong>. O aluno podia descrever, relacionar os fatos naturais, fazer analogias, elaborar<br />

sínteses ou generalizações, mas objetivamente.<br />

No pós-guerra o mundo tornou-se mais complexo. O capitalismo tornou-se<br />

monopolista, a urbanização intensificou-se, começando a surgir as megalópoles, o espaço<br />

agrário subordinou-se à industrialização, sendo organizado a partir desta, as reali<strong>da</strong>des<br />

locais passam a se articular a uma rede de escala mundial. Ca<strong>da</strong> lugar passou a estar<br />

conectado a uma reali<strong>da</strong>de maior, perdendo sua capaci<strong>da</strong>de de explicar-se por si mesmo.<br />

A Geografia Tradicional, com seus métodos e <strong>teoria</strong>s descritivos, não era mais suficiente<br />

para explicar a complexi<strong>da</strong>de do espaço.<br />

Metas <strong>da</strong> Nova Geografia<br />

Na tentativa de superar as dicotomias e os procedimentos metodológicos <strong>da</strong><br />

Geografia Regional, a Nova Geografia desenvolveu-se procurando incentivar e buscar um<br />

enquadramento maior <strong>da</strong> Geografia no contexto científico global. A fim de traçar um panorama<br />

genérico sobre a Nova Geografia, podemos especificar algumas de suas metas básicas:<br />

Maior rigor na aplicação <strong>da</strong><br />

metodologia científica<br />

Basea<strong>da</strong> na filosofia do positivismo lógico, a metodologia científica representa o<br />

conjunto dos procedimentos aplicáveis à execução <strong>da</strong> pesquisa científica. Pressupondo<br />

que haja a uni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> ciência, todos os seus ramos devem-se pautar conforme os mesmos<br />

procedimentos. Não há metodologia específica para uma ciência, mas para o conjunto <strong>da</strong>s<br />

ciências. Há métodos científicos para a pesquisa geográfica, mas não métodos geográficos<br />

de pesquisa.<br />

Desenvolvimento de <strong>teoria</strong>s<br />

A falta de <strong>teoria</strong>s explicitamente expostas na Geografia Tradicional foi veementemente<br />

critica<strong>da</strong> por inúmeros geógrafos. Por essa razão, sob o paradigma <strong>da</strong> metodologia científica,<br />

a Nova Geografia também procurou estimular o desenvolvimento de <strong>teoria</strong>s relaciona<strong>da</strong>s<br />

com as características <strong>da</strong> distribuição e arranjo espaciais dos fenômenos. E deve-se notar


a grande facili<strong>da</strong>de com que os geógrafos passaram a usar e a trabalhar com as <strong>teoria</strong>s<br />

disponíveis em outras ciências, como as <strong>teoria</strong>s econômicas, mormente as relaciona<strong>da</strong>s<br />

com a distribuição; localização e hierarquia de eventos (as <strong>teoria</strong>s de Christaller, von Thunen,<br />

Losch, Weber).<br />

O uso de técnicas estatísticas<br />

e matemáticas<br />

O uso de técnicas matemáticas e estatísticas para analisar os <strong>da</strong>dos coletados e<br />

as distribuições espaciais dos fenômenos foi uma <strong>da</strong>s primeiras características que se<br />

salientou na Nova Geografia. E o seu carisma foi tão grande que se refletiu, na adjetivação<br />

emprega<strong>da</strong> por muitos trabalhos, a denominação de “Geografia Quantitativa”.<br />

A abor<strong>da</strong>gem sistêmica<br />

A abor<strong>da</strong>gem sistêmica serve ao geógrafo como instrumento conceitual que lhe facilita<br />

tratar dos conjuntos complexos, como os <strong>da</strong> organização espacial. A preocupação em<br />

focalizar as questões geográficas sob a perspectiva sistêmica representou característica<br />

que favoreceu e dinamizou o desenvolvimento <strong>da</strong> Nova Geografia.<br />

O uso de modelos<br />

Diretamente relaciona<strong>da</strong> com a verificação <strong>da</strong>s <strong>teoria</strong>s, com a quantificação e com<br />

a abor<strong>da</strong>gem sistêmica, desenvolveu-se o uso e a construção de modelos. A construção de<br />

modelos pode ser considera<strong>da</strong> como estruturação seqüencial de idéias relaciona<strong>da</strong>s com<br />

o funcionamento do sistema. O modelo permite estruturar o funcionamento do sistema, a<br />

fim de torná-lo compreensível e expressar as relações entre os seus diversos componentes.<br />

O estudo do espaço, dentro dessa perspectiva, procura a explicação nas relações<br />

entre a socie<strong>da</strong>de , o trabalho e a natureza na produção e apropriação dos lugares e<br />

territórios.<br />

Agora, não é mais suficiente explicar o mundo, é preciso também transformá-lo. Assim,<br />

a Geografia ganhou conteúdos políticos que passaram a ser significativos na formação do<br />

ci<strong>da</strong>dão. É por meio deles que se poderá chegar a compreender as desigual<strong>da</strong>des na<br />

distribuição <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> e <strong>da</strong> riqueza que se manifestam no espaço pelas contradições entre<br />

o espaço produzido pelo trabalhador e aquele de que ele se apropria, tanto no campo quanto<br />

na ci<strong>da</strong>de.<br />

1.<br />

Ativi<strong>da</strong>des<br />

Complementares<br />

Explique em que condições se desenvolveu a Nova Geografia e de que forma ela<br />

serviu a países que adotaram regimes políticos ditatoriais como o Brasil<br />

47


TEORIA DA<br />

GEOGRAFIA<br />

Se a Nova Geografia representa, na evolução do pensamento<br />

geográfico, retoma<strong>da</strong> e aplicação consciente <strong>da</strong> metodologia científica aos<br />

seus problemas, também se compenetrou de muitas <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des e<br />

exigências metodológicas, procurando soluções para resolvê-las. A questão <strong>da</strong> proposição<br />

de leis em Geografia Humana, por exemplo, serve de alerta. Procurando seguir outras sen<strong>da</strong>s<br />

filosóficas, que contestam e procuram substituir os preceitos de metodologia científica de<br />

linhagem positivista, a Geografia Radical ou Crítica, a Geografia Humanística e a Geografia<br />

Idealista são três tendências que ganharam ímpeto nos últimos anos.<br />

48<br />

A Geografia Crítica<br />

A Geografia Crítica foi uma tendência nos estudos geográficos, que se iniciou na<br />

déca<strong>da</strong> de 1960, está relaciona<strong>da</strong> com a Geografia Radical. Em decorrência do ambiente<br />

contestatório que se estabeleceu nos Estados Unidos (anos 1960), em função <strong>da</strong> guerra do<br />

Vietnã, <strong>da</strong> luta pelos direitos civis, <strong>da</strong> crise <strong>da</strong> poluição e <strong>da</strong> urbanização, surgiu uma corrente<br />

geográfica preocupa<strong>da</strong> em ser crítica e atuante.<br />

Diversos são os elementos utilizados para caracterizá-la, tais como <strong>geografia</strong> crítica,<br />

de relevância social, marxista e radical. Dentre eles, considera-se ser a denominação<br />

Geografia Radical mais abrangente e significativa, pois designa tudo o que seja de tendência<br />

esquerdista e de postura contestatória.<br />

A Evolução <strong>da</strong> Geografia Crítica<br />

A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO<br />

GEOGRÁFICO<br />

Através de pequenos grupos de professores e alunos em diversas universi<strong>da</strong>des<br />

americanas (John Hopkins, Clark, Simon Fraser e outras), a leitura e a análise <strong>da</strong>s obras de<br />

Marx e Engels foram aspectos destacados no movimento <strong>da</strong> Geografia Radical, a fim de<br />

procurar focalizações para a análise marxista do espaço.<br />

Karl Heinrich Marx: 1818 a 1883.<br />

Marxismo é o conjunto <strong>da</strong>s idéias filosóficas, econômicas,<br />

políticas e sociais que Marx e Engels elaboraram e que<br />

mais tarde foram desenvolvi<strong>da</strong>s por seguidores. Interpreta<br />

a vi<strong>da</strong> social conforme a dinâmica <strong>da</strong> luta de classes e<br />

prevê a transformação <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des de acordo com as<br />

leis do desenvolvimento histórico de seu sistema produtivo.


Em 1974 fundou-se a União dos Geógrafos Socialistas (Union of Socialist<br />

Geographers), em Toronto, que se encontra organiza<strong>da</strong> com base em federações locais e<br />

sem possuir uma sede central. A partir de 1975, ela se tornou responsável pela publicação<br />

<strong>da</strong> revista U. S. G. Newsletter.<br />

Outro ponto importante na evolução <strong>da</strong> Geografia Radical foi a publicação do livro de<br />

David Harvey - Social Justice and the City, 1973 -, que foi a primeira tentativa de apresentar<br />

uma síntese e um marco teórico para a análise marxista do espaço urbano. Representando<br />

a linha <strong>da</strong> relevância social surgiu em 1977 a obra de David M. Smith - Human Geography:<br />

a welfare approach -, propondo a reformulação <strong>da</strong> Geografia Humana. Nos Estados Unidos<br />

desde 1969 está em circulação a revista Antipode: a radical journal of Geography, com<br />

periodici<strong>da</strong>de semestral, que representa o veículo mais constante desse movimento<br />

geográfico, embora importantes contribuições tenham sido publica<strong>da</strong>s por diversas outras<br />

revistas geográficas.<br />

IMPORTANTE:<br />

Na França, o movimento <strong>da</strong> Geografia Radical é liderado por<br />

Yves Lacoste, cujo grupo se tornou responsável pela revista<br />

Hérodote, que vem sendo edita<strong>da</strong> desde 1976.<br />

Yves Lacoste é o geógrafo francês que se dedica à<br />

refun<strong>da</strong>ção e à democratização <strong>da</strong> geopolítica. Para ele, a<br />

geopolítica não é apenas um produto <strong>da</strong> <strong>geografia</strong> e, em<br />

sua abor<strong>da</strong>gem, não se podem privilegiar apenas os fatores<br />

geográficos e desconsiderar o contexto político. À <strong>geografia</strong>,<br />

ele acrescenta os conceitos de territoriali<strong>da</strong>de e de<br />

representação (idéias, percepções e imaginários coletivos).<br />

É professor na Universi<strong>da</strong>de de Paris-VIII, fun<strong>da</strong>dor <strong>da</strong><br />

revista Hérodote, a revista de <strong>geografia</strong> e geopolítica do<br />

Institut Français de Géopolitique e diretor do CRAG (Centre<br />

de Recherches et d’Analyses Géopolitiques).<br />

No Canadá, recentemente o Cahiers de Géographie de Québec (vol. 22, n° 56, 1978)<br />

dedicou um número especial ao estudo do marxismo e <strong>geografia</strong>. Na Inglaterra, diversos<br />

trabalhos significativos estão inseridos em seus tradicionais periódicos. Richard Peet, um<br />

dos mais eminentes geógrafos radicais, organizou uma coletânea a propósito <strong>da</strong> Radical<br />

Geography, em 1978, exemplificando os vários temas analisados pelos geógrafos radicais.<br />

O desenvolvimento <strong>da</strong> Geografia Radical nos Estados Unidos foi delin<strong>ead</strong>o por Richard<br />

Peet, em 1977.<br />

A Geografia Radical também visa ultrapassar e substituir a Nova Geografia. Os seus<br />

propugnadores consideram a Nova Geografia como sendo pragmática, aliena<strong>da</strong>, objetiva<strong>da</strong><br />

no estudo dos padrões espaciais e não nos processos e problemas sócio-econômicos e<br />

com grande função ideológica. Desta maneira, ela procura analisar em primeiro os processos<br />

sociais, e não os espaciais, ao inverso do que se costumava praticar na <strong>geografia</strong> teoréticoquantitativa.<br />

Nessa focalização, encontra-se implícito o esforço na tentativa de integrar os<br />

49


TEORIA DA<br />

GEOGRAFIA<br />

50<br />

processos sociais e os espaciais no estudo <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de. A Geografia Radical<br />

interessa-se pela análise dos modos de produção e <strong>da</strong>s formações sócioeconômicas.<br />

Isto porque o marxismo considera como fun<strong>da</strong>mental os modos<br />

de produção, enquanto as formações sócio-econômicas espaciais (ou<br />

formações econômicas e sociais) são as resultantes. As ativi<strong>da</strong>des dos modos<br />

de produção constróem e geram formações diferentes. Ca<strong>da</strong> modo de<br />

produção, capitalista ou socialista, por exemplo, reflete-se em formações sócioeconômicas<br />

espaciais distintas, cujas características <strong>da</strong> paisagem geográfica<br />

devem ser analisa<strong>da</strong>s e compreendi<strong>da</strong>s.<br />

Em língua portuguesa encontram-se disponíveis diversas obras e artigos<br />

relacionados com a Geografia Radical. Entre as traduções, convém mencionar as obras de<br />

Yves Lacoste (A Geografia Serve Antes de Mais Na<strong>da</strong> para Fazer a Guerra, 1977), de<br />

Massimo Quaine (Marxismo e Geografia, 1979) e de David Harvey (Justiça Social e a<br />

Ci<strong>da</strong>de, 1980), além do artigo de James Anderson (1977), sobre a ideologia na Geografia.<br />

Entre os geógrafos brasileiros, Milton Santos vem-se salientando nessa perspectiva<br />

geográfica, através de diversos artigos e de duas obras mais expressivas, denomina<strong>da</strong>s<br />

Por uma Geografia Nova (1978) e Economia Espacial (1979). Carlos Gonçalves (1978) e<br />

Ruy Moreira (1979) também já elaboraram artigos engajados nessa temática.<br />

FIQUE ATENTO<br />

A Geografia tradicional, fun<strong>da</strong><strong>da</strong> no positivismo clássico, certamente já pertence<br />

ao passado. Mas se a crítica a ela chegou a bom termo, o mesmo não se pode<br />

dizer <strong>da</strong>s novas linhas de investigação em Geografia. Falta-lhes um fun<strong>da</strong>mento<br />

sólido. Geografia Crítica é um primeiro passo em direção a tal fun<strong>da</strong>mento,<br />

abor<strong>da</strong>ndo a Geografia Humana à luz do materialismo histórico e dialético.<br />

A Geografia Crítica no Brasil<br />

O seu aparecimento ocorreu no segundo lustro <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de setenta. Nesta época,<br />

a Geografia Crítica iniciou sua influência no âmbito universitário e teve decisiva participação<br />

nas disputas verifica<strong>da</strong>s na Associação de Geógrafos Brasileiros-AGB. Podemos afirmar<br />

que o Encontro Nacional de Geógrafos Brasileiros<br />

realizado em Fortaleza ( Ceará ), no ano de 1978,<br />

demarcou o início <strong>da</strong> Geografia Crítica a nível<br />

nacional, sendo o encontro seguinte, o de 1980,<br />

no Rio de Janeiro, a vitória desta corrente frente<br />

às tendências existentes.<br />

Com o estabelecimento <strong>da</strong> abertura política<br />

brasileira a partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de setenta, o<br />

marxismo tornou-se um ver<strong>da</strong>deiro ponto de<br />

referência na Geografia para aju<strong>da</strong>r a<br />

compreender o que se passava e o que passou.<br />

Cabe destacar, no entanto, que este vigor <strong>da</strong> Geografia Crítica foi mais fácil ser verificado<br />

no ambiente universitário e muito menos nos órgãos de planejamento do governo. Já Armando<br />

Corrêa <strong>da</strong> Silva observa que o processo de renovação tem, também, a concorrência de


uma velha instituição, a saber: o Departamento de Geografia <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de São Paulo (<br />

1984, p.73)<br />

Mas, acreditamos que o grande gestor <strong>da</strong> Geografia Crítica foi o momento histórico<br />

que compreendeu o início de abertura política, a volta dos exilados políticos e a realização<br />

devárias greves de operários, sobretudo no Estado de São Paulo ( o principal pólo industrial<br />

do país ), enfim, uma época propícia à contestação !<br />

Importa frisar que a primeira instituição que passou a divulgar a Geografia Crítica foi<br />

a AGB, a universi<strong>da</strong>de enquanto instituição, foi mais lenta em adotar a Geografia Crítica .<br />

Aliás, a presença <strong>da</strong> Geografia Crítica nas universi<strong>da</strong>des é menos marcante que o verificado<br />

na AGB. Esta maior receptivi<strong>da</strong>de, à época, pela AGB, decorreu de sua maior<br />

permeabili<strong>da</strong>de aos episódios que então marcavam a política nacional.<br />

O resgate <strong>da</strong>s franquias democráticas ( que<strong>da</strong> do AI-5 em dezembro de 1978,<br />

promulgação <strong>da</strong> anistia e quebra do sistema bipolar <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> partidária em 1979, etc. )<br />

propiciaram um clima em que as enti<strong>da</strong>des civis se viram convoca<strong>da</strong>s a participarem do<br />

processo. Inicialmente, a própria estrutura de poder então vigente na AGB foi avessa à<br />

adoção de uma nova conduta que só ocorreu a partir <strong>da</strong> entra<strong>da</strong> de novos elementos em<br />

sua estrutura, entre 1978 e 1980.<br />

Um outro fator importante para compreendermos o vigor <strong>da</strong> Geografia Crítica, à época,<br />

foi a volta do exílio do Prof. Milton Santos. A sua obra Por uma Geografia Nova , combina<strong>da</strong><br />

ao seu estilo carismático, atraiu para si a atenção <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de acadêmica e novos adeptos<br />

para a nova corrente de pensamento, de tal modo que mesmo aqueles que não somaram<br />

com o movimento, reconheceram a sua importância em função <strong>da</strong> estatura intelectual deste<br />

professor. 2[22] Mas ele não estava sozinho, diversos professores somaram com os seus<br />

esforços, destaca<strong>da</strong>mente os professores Armen Mamigonian e Armando Corrêa <strong>da</strong> Silva<br />

e uma série de outros mais jovens que ain<strong>da</strong> não tinham suficiente influência na estrutura de<br />

poder dos meios universitários, órgãos de planejamento e de pesquisa.<br />

As <strong>teoria</strong>s de Milton Santos são grandes responsáveis pela renovação crítica <strong>da</strong><br />

<strong>geografia</strong> brasileira e mundial. Sua morte privou a nova geração <strong>da</strong>s palestras nas<br />

quais ele expunha suas idéias e visões de mundo. A relevância de sua obra ain<strong>da</strong><br />

influenciará por muito tempo os estudiosos <strong>da</strong> <strong>geografia</strong> humana.<br />

[<br />

<br />

]<br />

Agora é hora de<br />

TRABALHAR<br />

1.<br />

Explique a evolução <strong>da</strong> Geografia Crítica e a sua relação com as <strong>teoria</strong>s Marxistas.<br />

51


TEORIA DA<br />

GEOGRAFIA<br />

52<br />

1.<br />

Comente o papel de Milton Santos na expansão <strong>da</strong> Geografia Crítica<br />

A Geografia Humanística<br />

A corrente humanística do pensamento geográfico tem como base os trabalhos<br />

realizados por Yi-Fu Tuan, Anne Buttimer, Edward Relph e Mercer e Powell, e possui a<br />

fenomenologia existencial como a filosofia subjacente. Embora possuindo raízes mais<br />

antigas, em Kant e em Hegel, os significados contemporâneos <strong>da</strong> fenomenologia são<br />

atribuídos à filosofia de Edmund Husserl (1859-1939). Evidentemente, esse movimento<br />

filosófico foi ampliado e vários autores forneceram subsídios importantes, tais como<br />

Heidegger, Merleau-Ponty e Sartre, entre outros.<br />

O Papel <strong>da</strong> Fenomenologia Existencial<br />

A fenomenologia preocupa-se em analisar os aspectos essenciais dos objetos <strong>da</strong><br />

consciência, através <strong>da</strong> supressão de todos os preconceitos que um indivíduo possa ter<br />

sobre a natureza dos objetos, como os provenientes <strong>da</strong>s perspectivas científica, naturalista<br />

e do senso comum. Preocupando-se em verificar a apreensão <strong>da</strong>s essências, pela<br />

percepção e intuição <strong>da</strong>s pessoas, a fenomenologia utiliza como fun<strong>da</strong>mental a experiência<br />

vivi<strong>da</strong> e adquiri<strong>da</strong> pelo indivíduo. Desta maneira, contrapõe-se às observações de base<br />

empírica, pois não se interessa pelo objeto nem pelo sujeito. “A fenomenologia não é nem<br />

uma ciência de objetos, nem uma ciência do sujeito: ela é uma ciência <strong>da</strong> experiência”<br />

(Edie, 1962, citado in Entrikin, 1976).<br />

Na fenomenologia existencial o espaço é concebido como espaço presente, diferente<br />

do espaço representativo <strong>da</strong> geometria e <strong>da</strong> ciência. Para a perspectiva científica o espaço<br />

é algo dimensional que se expressa por uma representação. Para o fenomenólogo o espaço<br />

é um contexto, experienciado como sendo de certa espessura, em oposição aos pontos<br />

adimensionais do espaço mensurável. A espessura do espaço é vista na concepção do<br />

“aqui”, que é um sistema de relações com outros lugares, semelhante à espessura dos<br />

conceitos temporais, tais como “agora”, que envolve aspectos do passado, presente e futuro.<br />

Principais Caracteristicas <strong>da</strong> Geografia Humanística<br />

A corrente geográfica Humanística busca valorizar a experiência do indivíduo ou do<br />

grupo, visando compreender o comportamento e as formas de sentir dos indivíduos em<br />

relação aos seus lugares. Para ca<strong>da</strong> indivíduo, para ca<strong>da</strong> grupo humano, existe uma visão<br />

do mundo, que se expressa através <strong>da</strong>s suas atitudes e valores para com o quadro ambiente.<br />

É o contexto pelo qual o indivíduo valoriza e organiza o seu espaço e o seu mundo, e nele se<br />

relaciona. Nessa perspectiva, os geógrafos humanistas argumentam que sua abor<strong>da</strong>gem<br />

merece o rótulo de “humanística”, pois estu<strong>da</strong>m os aspectos do homem que são mais<br />

distintamente humanos: significações, valores, metas e propósitos (Entrikin, 1976).


Para esta tendência geográfica as noções de espaço e lugar são muito importantes.<br />

O lugar é aquele em que o indivíduo se encontra ambientado e no qual está integrado.<br />

Ele faz parte do seu mundo e dos seus sentimentos; constitui-se como o “centro de<br />

significância ou um foco de ação emocional do homem”. O lugar não é to<strong>da</strong> e qualquer<br />

locali<strong>da</strong>de, mas aquela que tem significância afetiva para uma pessoa ou grupo de pessoas.<br />

Em 1974, ao tentar estruturar o setor de estudos relacionados com a percepção, atitudes e<br />

valores ambientais, Yi-Fu Tuan propôs o termo Topofilia definindo-o como “o elo afetivo<br />

entre a pessoa e o lugar ou quadro físico”.<br />

A idéia de espaço envolve um conjunto de noções. A percepção visual, o tato, o<br />

movimento e o pensamento se combinam para <strong>da</strong>r-nos o nosso sentido característico de<br />

espaço, possibilitando a capaci<strong>da</strong>de para reconhecer e estruturar a disposição dos objetos.<br />

A percepção dos objetos implica o reconhecimento de intervalos e relações de<br />

distância entre os objetos e, pois, de espaço (Tuan, 1974). A distância é de âmbito espaçotemporal,<br />

pois envolve não só as noções de “perto” e “longe”, mas também as de passado,<br />

presente e futuro. Porém, para a Geografia Humanística, a integração espacial faz-se mais<br />

pela dimensão afetiva do que pela métrica. Estar junto, não significa a proximi<strong>da</strong>de física,<br />

mas o relacionamento afetivo com outra pessoa ou com outro lugar. Posso estar morando<br />

na ci<strong>da</strong>de A, mas me sentir muito mais ligado à ci<strong>da</strong>de B, na qual residi por muito tempo e<br />

onde se encontram meus laços familiares. Os acontecimentos <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de B são mais<br />

significativos e tocantes para mim que os <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de na qual atualmente resido. Lugares e<br />

pessoas fisicamente distantes podem estar afetivamente muito próximos. Portanto, o estudo<br />

do espaço é a análise dos sentimentos e idéias espaciais <strong>da</strong>s pessoas.<br />

A TAREFA DO GEÓGRAFO HUMANISTA<br />

Yi-Fu Tuan (1974) observa que o “espaço e lugar estão no<br />

âmago <strong>da</strong> nossa disciplina”. Diante <strong>da</strong> perspectiva positivista<br />

a <strong>geografia</strong> é a análise <strong>da</strong> organização espacial. Já diante <strong>da</strong><br />

perspectiva humanística o espaço e o lugar assumem<br />

características bastante diferentes. Isso nos permite afirmar<br />

que a tarefa básica do geógrafo humanista é mostrar o que<br />

eles são através de uma estrutura coerente.<br />

Do valor que se dá a percepção e as atitudes, decorre a preocupação de verificar os<br />

gostos, as preferências, as características e as particulari<strong>da</strong>des dos lugares. Valoriza-se<br />

também a perspectiva ambiental e os aspectos que redun<strong>da</strong>m no encanto e na magia dos<br />

lugares, na sua personali<strong>da</strong>de e distinção. Há o entrelaçamento entre o grupo e o lugar.<br />

Quantos lugares nos encantam pelo típico que possuem? Entretanto, com a expansão ca<strong>da</strong><br />

vez maior <strong>da</strong> tecnologia, <strong>da</strong> massificação, <strong>da</strong>s facili<strong>da</strong>des de transporte e <strong>da</strong> organização<br />

do consumo, encontramos elementos idênticos em quase to<strong>da</strong>s as locali<strong>da</strong>des. Os mesmos<br />

cartazes de propagan<strong>da</strong>, os mesmos produtos alimentícios, os mesmos meios de transporte,<br />

os mesmos tipos de construções e edifícios, as mesmas figuras para o divertimento infantil<br />

são encontrados de modo generalizado, nas grandes e pequenas ci<strong>da</strong>des, nas mais varia<strong>da</strong>s<br />

regiões e países. Isso representa o processo de universalização, o <strong>da</strong> descaracterização<br />

do lugar, que foi tema de um dos trabalhos de Edward Relph (1976).<br />

53


TEORIA DA<br />

GEOGRAFIA<br />

[<br />

<br />

]<br />

Agora é hora de<br />

TRABALHAR<br />

1.<br />

Discuta o papel <strong>da</strong> fenomenologia no desenvolvimento <strong>da</strong> corrente geográfica<br />

Humanística.<br />

54<br />

Os Principais Pensadores Humanístas<br />

Evidentemente, existem nuanças internas. Os trabalhos de Yi-Fu Tuan<br />

são mais candentes de humanismo, enquanto os de Anne Buttimer e Edward<br />

Relph são mais expressivos pela aplicação <strong>da</strong> perspectiva fenomenológica.<br />

Como representativos dessa perspectiva geográfica humanística inserimos o<br />

trabalho pioneiro de David Lowenthal (1961), complementado pelos artigos de<br />

Anne Buttimer (1976) e Yi-Fu Tuan (1976). Para uma ampliação do conhecimento<br />

desse setor, são úteis as leituras <strong>da</strong>s obras de Edward Relph (Place and placelessness, 1976),<br />

as de Yi-Fu Tuan (Topophilia, 1974; Space and place, 1976; Landscape of fear, 1979),a<br />

coletânea Humanistic Geography, de Ley e Samuels(1978 ).<br />

A Corrente Ecológica e os Problemas Ambientais<br />

A perspectiva de degra<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>s condições de vi<strong>da</strong> diante <strong>da</strong> problemática<br />

ambiental disposta nas últimas déca<strong>da</strong>s, tornou-se um dos principais problemas para a<br />

humani<strong>da</strong>de. Cientistas, em geral; e geógrafos, em particular, não poderiam ficar de braços<br />

cruzados sobre o risco de conveniência com os crimes que sucessivamente vem sendo<br />

cometidos contra a natureza. Com isso, um grupo de geógrafos fundou uma corrente, onde<br />

a preocupação com os problemas ambientais é o cerne de seus estudos.<br />

Como figuras de grande importância dessa corrente podemos citar o agrônomo René<br />

Dumont e o economista Ignacy Sachs. Estes possuem um grande contato com expressivos<br />

geógrafos.<br />

René Dumont é um especialista em agricultura socialista e agricultura do mundo<br />

subdesenvolvido. Ele escreveu inúmeros livros de observação e crítica sobre esses temas.<br />

Ignacy Sachs, polonês naturalizado francês, viveu durante muitos anos no Brasil e na Índia,<br />

dirigindo na França o Centre Internacional de Recherches sur I’Environnement et le<br />

Développement (CIRED), que publica a revista Nouvelles de I’Ecodéveloppement


O Papel dos Geógrafos na Corrente Ecológica<br />

Os geógrafos passaram a se preocupar seriamente com a questão ambiental,<br />

percebendo que na área de Geografia Física muitos evoluíram de trabalhos específicos<br />

sobre morfologia, clima, hidrografia, etc, para a realização de pesquisas mais amplas sobre<br />

meio ambiente ou mu<strong>da</strong>ndo os trabalhos em áreas específicas para uma perspectiva volta<strong>da</strong><br />

para o estudo de impactos ambientais.<br />

Jean Tricart, geógrafo francês e um dos reformuladores <strong>da</strong> geomorfologia, utilizando<br />

o método dialético, trabalhou em países subdesenvolvidos e publicou um livro que apresenta<br />

uma visão global de uma <strong>geografia</strong> ecológica ( TRICART, J. & KILLIAN, J. L’Ecogeographie.<br />

Paris, FM-Herodote, 1979.). Paskoff, após anos de trabalho na Tunísia, com observações<br />

em áreas desérticas publicou o livro de caráter geográfico sobre o tema ( PASKOFF.<br />

Géographie. De I’environnement. Exempls tunisiennes. Tunis, Université de Tunis, 1985.<br />

A Preocupação com os Problemas Ambientais do Brasil<br />

No Brasil, essa preocupação não é recente. Inclusive, essa discussão tem sido feita<br />

sobre várias regiões geográficas brasileiras, como a Amazônia, principalmente devido ao<br />

processo de degra<strong>da</strong>ção verificado nesse espaço.<br />

O geógrafo Hilgard O’Railly Sternberg, que durante muitos anos lecionou na<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal do Rio de Janeiro, apesar de está vivendo hoje na Califórnia, continua<br />

a desenvolver trabalhos de pesquisa na Amazônia, apresentando preocupações tanto com<br />

os recursos naturais, quanto com os impactos ambientais causados pelas explorações<br />

desses recursos.<br />

Os Problemas Ambientais<br />

Ao perguntarmos a uma pessoa do que trata a Geografia, é comum obtermos como<br />

resposta “os aspectos físicos <strong>da</strong> Terra – os rios, mares, formas de relevo, atmosfera,<br />

formações vegetais”, que formam os “acidentes geográficos”. O entendimento comum é<br />

que a Geografia descreve esses elementos <strong>da</strong> natureza, estabelecendo classificações e<br />

as localizações de suas ocorrências.<br />

Essa visão não é fruto do acaso. Trata-se de uma tradição relaciona<strong>da</strong> à forma de<br />

fazer Geografia que vem <strong>da</strong> época de sua origem como campo científico. Isso ocorreu na<br />

Europa, entre o final do século XIX e as primeiras déca<strong>da</strong>s do século XX, na época do<br />

neocolonialismo, que foi um processo impulsionado pelas necessi<strong>da</strong>des do capitalismo<br />

industrial.<br />

A Geografia, que nessa época estava nascendo como ciência, cumpriu vários papéis:<br />

produziu conhecimentos sobre os lugares para orientar as investi<strong>da</strong>s coloniais; legitimou a<br />

ação colonial, procurando <strong>da</strong>r uma justificativa científica para o domínio dos territórios <strong>da</strong><br />

Ásia e <strong>da</strong> África; e elaborou um quadro territorial dos próprios países europeus para que o<br />

povo o identificasse como a sua pátria.<br />

Formou-se, então, a tradição dos estudos geográficos de descrever os lugares em<br />

seus aspectos naturais e humanos. Visando submeter as nações domina<strong>da</strong>s e explorar<br />

seus recursos, era necessário conhecer as potenciali<strong>da</strong>des naturais, bem como os caminhos<br />

55


TEORIA DA<br />

GEOGRAFIA<br />

56<br />

IMPORTANTE:<br />

A Geografia tradicional se caracterizou pelos estudos descritivos<br />

<strong>da</strong>s condições fisiográficas dos lugares. Para a maior parte dos<br />

geógrafos, eram essas condições que determinavam ou<br />

influenciavam o comportamento dos povos e suas possibili<strong>da</strong>des<br />

de progresso.<br />

Hoje, os estudos geográficos são realizados em outra perspectiva. Nosso objeto de<br />

investigação é o espaço geográfico, um produto do trabalho humano, que se constitui<br />

historicamente como meio para a realização <strong>da</strong>s relações sociais.<br />

Entendemos que o trabalho social recai sobre a natureza transformando-a e o<br />

resultado desse processo é uma segun<strong>da</strong> natureza, uma natureza humaniza<strong>da</strong>, socializa<strong>da</strong>,<br />

que chamamos de espaço geográfico. É pela ativi<strong>da</strong>de humana produtiva que o espaço é<br />

construído.<br />

para se chegar até elas. Daí os estudos sobre os mares e a atmosfera, para<br />

estabelecer as rotas e navegar com segurança e economia.<br />

Foi esse tipo de conhecimento que se firmou como conhecimento<br />

geográfico desde os primórdios desse campo científico, quando ain<strong>da</strong> era<br />

apenas uma disciplina escolar. É <strong>da</strong>í que vem o hábito de ensinar Geografia<br />

transmitindo informações sobre nomes de rios, altura de montanhas, tipos de<br />

clima, ci<strong>da</strong>des, ativi<strong>da</strong>des econômicas, etc, sempre procurando localizá-los.<br />

Mas não podemos esquecer que a produção é um processo social, que em nossa<br />

socie<strong>da</strong>de tem como principal objetivo a geração de<br />

lucro e a acumulação priva<strong>da</strong> de riquezas e não a<br />

satisfação <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des dos seres humanos.<br />

Logo, para compreendermos as alterações que vêm<br />

ocorrendo na natureza, é necessário aprofun<strong>da</strong>rmos o<br />

conhecimento sobre a socie<strong>da</strong>de em que vivemos,<br />

sendo este o ponto de parti<strong>da</strong> dos estudos geográficos<br />

sobre os problemas ambientais.<br />

Sendo o espaço produto e meio <strong>da</strong>s relações<br />

sociais, a problemática ambiental decorre do modo de<br />

produção e <strong>da</strong>s formas pelas quais ocorre na socie<strong>da</strong>de a apropriação <strong>da</strong> natureza.<br />

A Geografia não estu<strong>da</strong> a natureza em si, mas os efeitos ambientais <strong>da</strong> forma desigual<br />

de apropriação social <strong>da</strong> natureza no processo de produção do espaço.<br />

Os Impactos Ambientais<br />

Define-se impacto ambiental como sendo uma mu<strong>da</strong>nça sensível nas condições de<br />

saúde e bem-estar <strong>da</strong>s pessoas e na estabili<strong>da</strong>de do ecossistema do qual depende a<br />

sobrevivência humana. Essas mu<strong>da</strong>nças podem resultar de ações acidentais ou planeja<strong>da</strong>s,<br />

provocando alterações direta ou indiretamente.


A partir <strong>da</strong> Revolução Industrial, os problemas ambientais começaram a se agravar<br />

ca<strong>da</strong> vez mais, primeiro nos países desenvolvidos e depois em todo o mundo. Isso porque<br />

a degra<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> natureza é decorrência típica do desenvolvimento do capitalismo e <strong>da</strong><br />

industrialização. A questão ambiental, pelo menos na sua grande amplitude atual, é uma<br />

conseqüência ou um subproduto <strong>da</strong> moderni<strong>da</strong>de (VESENTINI, 2000).<br />

As ci<strong>da</strong>des cresceram e se industrializaram no mesmo processo que originou as<br />

grandes dispari<strong>da</strong>des sociais presentes até os nossos dias. Conforme Moreira (1998), os<br />

ricos, que têm acesso ilimitado aos bens e serviços, são responsáveis pela maior parcela<br />

do consumo de recursos, enquanto que os pobres estão submetidos à porção degra<strong>da</strong><strong>da</strong><br />

do ambiente, sem recursos básicos. Muitas vezes, constroem suas moradias em áreas de<br />

mananciais, despejando o esgoto doméstico na nascente de um rio. Também no meio rural<br />

ocorre a relação entre desigual<strong>da</strong>de e degra<strong>da</strong>ção. Os agricultores mais abastados utilizam<br />

agrotóxicos e pestici<strong>da</strong>s para combater pragas. Os mais pobres, sem recursos, utilizam as<br />

queima<strong>da</strong>s e derrubam áreas florestais.<br />

Mas as dispari<strong>da</strong>des não param por aí. As desigual<strong>da</strong>des econômicas, sociais,<br />

políticas, culturais e espaciais <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de capitalista determinam, também, formas<br />

desiguais de recepção dos impactos ambientais entre os ricos e os pobres. Não é todo<br />

mundo que sofre com o acúmulo de lixo, enchentes, deslizamentos ou escassez de água.<br />

As grandes e médias ci<strong>da</strong>des em geral são muito mais poluí<strong>da</strong>s que as pequenas<br />

ou que o meio rural, devido ao fato de nelas se concentrarem indústrias, veículos e pessoas,<br />

agravando o problema do lixo, dos resíduos e emissões industriais, do congestionamento,<br />

do barulho, etc. Nelas, todos os elementos do ecossistema são alterados. A retira<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

vegetação, as construções, a produção de calor e o lançamento de poluentes na atmosfera<br />

produzem os mais variados efeitos sobre o meio ambiente. Além disso, as alterações<br />

ecológicas causa<strong>da</strong>s pelas ativi<strong>da</strong>des urbanas se espalham para muito além dos limites<br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de. A poluição <strong>da</strong> água de um rio que atravessa uma área urbaniza<strong>da</strong> pode afetar<br />

uma bacia hidrográfica inteira.<br />

Degra<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> atmosfera,<br />

com a poluição do ar gerando efeito<br />

estufa, chuvas áci<strong>da</strong>s, destruição <strong>da</strong><br />

cama<strong>da</strong> de ozônio e mu<strong>da</strong>nças<br />

climáticas e erosão dos solos,<br />

desmatamento, poluição <strong>da</strong>s águas,<br />

acúmulo de lixo nas ci<strong>da</strong>des, etc,<br />

são alguns dos problemas<br />

ambientais a serem vistos em<br />

relação às formas de apropriação<br />

<strong>da</strong> natureza e a produção social do<br />

espaço.<br />

No atual momento histórico,<br />

à medi<strong>da</strong> que os lugares se tornam<br />

ca<strong>da</strong> vez mais interdependentes com o processo de globalização, o padrão de produção e<br />

de consumo, que vê a natureza como fonte inesgotável de recursos, mundializa os impactos<br />

ambientais. Os problemas que afetam a humani<strong>da</strong>de ultrapassam as fronteiras e tornamse<br />

globais, exigindo que os ci<strong>da</strong>dãos reflitam e se posicionem sobre fatos que ocorrem em<br />

lugares às vezes bem distantes.<br />

57


TEORIA DA<br />

GEOGRAFIA<br />

58<br />

Capitalismo x Meio Ambiente<br />

É ca<strong>da</strong> vez mais evidente para todos que o desenvolvimento do<br />

capitalismo é incompatível com as estratégias ecológicas de preservação do<br />

meio ambiente. Isso indica a necessi<strong>da</strong>de imperiosa de discutir a fundo os<br />

modelos de desenvolvimento vigentes e as conseqüências sócio-ambientais<br />

que acarretam, como uma condição para conceber outras formas socialmente<br />

justas e ecologicamente equilibra<strong>da</strong>s de<br />

convívio social.<br />

É preciso fazer esse debate se<br />

estender e a escola é um espaço<br />

privilegiado para contribuir nesse sentido.<br />

Os jovens são normalmente muito<br />

sensíveis a essa problemática e tendem<br />

a se envolver facilmente em ativi<strong>da</strong>des que<br />

levem ao esclarecimento de suas causas.<br />

Por isso não faz sentido<br />

desenvolver ativi<strong>da</strong>des na escola para<br />

fazer os alunos reproduzirem <strong>da</strong>dos e<br />

informações sobre clima, relevo, vegetação ou quaisquer outros aspectos naturais ou<br />

humanos do espaço. Se a ambição formativa é a de desenvolver a capaci<strong>da</strong>de de reflexão<br />

crítica, é melhor identificar um problema concreto de real interesse e conduzir as ativi<strong>da</strong>des<br />

escolares com o objetivo de aprofun<strong>da</strong>r o conhecimento desse problema, focalizando os<br />

impactos ecológicos <strong>da</strong>s dinâmicas sociais.<br />

Mobilizando-se na escola os conhecimentos geográficos, que esclarecem o processo<br />

contraditório de produção do espaço, torna-se possível para ca<strong>da</strong> um posicionar-se como<br />

ci<strong>da</strong>dãos críticos diante <strong>da</strong> progressiva destruição do ambiente, que se processa em nome<br />

dos interesses econômicos privados, conflitantes com as necessi<strong>da</strong>des coletivas.<br />

[<br />

<br />

]<br />

Agora é hora de<br />

TRABALHAR<br />

1.<br />

Identifique um problema ambiental que vem ocorrendo em seu local de moradia e<br />

considere a dinâmica social para explicar as causas e as conseqüências que acarreta.<br />

Avalie se todos são igualmente atingidos, independentemente <strong>da</strong> classe social a que ca<strong>da</strong><br />

um pertence e do lugar onde mora ou trabalha.


O Pensamento Geográfico na Contemporanei<strong>da</strong>de<br />

O advento do processo de Globalização, os avanços técnico-científicos e o<br />

desenvolvimento de novas linhas de pensamentos nas mais diversas áreas do conhecimento<br />

científico, foram necessariamente acompanha<strong>da</strong>s pelos adeptos <strong>da</strong>s mais varia<strong>da</strong>s correntes<br />

geográficas.<br />

Na contemporanei<strong>da</strong>de, desenvolveram-se contribuições valiosas para revigoramento<br />

do pensamento geográfico. Isso é relevante no sentido de afirmar sua importância como<br />

parte integrante dos conhecimentos fun<strong>da</strong>mentais que pautam os problemas <strong>da</strong>s existências<br />

dos homens e do mundo em geral.<br />

A Renovação <strong>da</strong> Geografia<br />

Globalização<br />

O termo globalização designa a crescente integração <strong>da</strong>s diferentes partes do mundo<br />

sob o efeito <strong>da</strong> aceleração <strong>da</strong>s trocas, do impulso <strong>da</strong>s novas<br />

tecnologias de informação e comunicação e dos meios<br />

de transporte. Para uns, trata-se de um<br />

prolongamento de tendências antigas. Para outros,<br />

estamos diante um novo período histórico, em<br />

que a relação espaço/tempo se transforma de<br />

modo incontestável.<br />

No mundo globalizado, o espaço<br />

geográfico assume continuamente novas<br />

configurações e passa a adquirir uma nova<br />

importância, uma vez que a eficácia <strong>da</strong>s ações<br />

<strong>da</strong>s pessoas, <strong>da</strong>s empresas e <strong>da</strong>s organizações<br />

está estreitamente liga<strong>da</strong> com a sua localização.<br />

A globalização pode ser entendi<strong>da</strong> como o<br />

auge do processo de internacionalização do mundo<br />

capitalista. Para entendê-la há dois aspectos fun<strong>da</strong>mentais:<br />

o nível de desenvolvimento <strong>da</strong>s técnicas e o jogo do poder político no mundo.<br />

O movimento de renovação <strong>da</strong> <strong>geografia</strong>, iniciado na metade déca<strong>da</strong> de 1970,<br />

procura tornar a <strong>geografia</strong> uma ciência social. “O ponto de parti<strong>da</strong> é considerar que o espaço<br />

produzido pelas socie<strong>da</strong>des contribui para o entendimento delas”, explica Fonseca.<br />

A idéia de renovar a <strong>geografia</strong> clássica tem grande força nos países anglo-saxões e<br />

na França. No Brasil, o principal defensor do movimento foi o geógrafo Milton Santos (1926-<br />

2001). Seus defensores queriam acabar com ambigüi<strong>da</strong>de epistemológica <strong>da</strong> <strong>geografia</strong>,<br />

situa<strong>da</strong> entre ciências naturais e humanas, embora, na prática, tratasse as questões humanas<br />

como uma ciência <strong>da</strong> natureza.<br />

“As ciências <strong>da</strong> natureza não oferecem elementos para analisarmos o complexo espaço<br />

geográfico, construído pelas ações e relações humanas”, compara Fonseca. Além<br />

disso, os críticos <strong>da</strong> <strong>geografia</strong> clássica condenavam o excesso de descrição e a<br />

ausência de rigor científico, sobretudo na forma como ela era ensina<strong>da</strong> nas escolas.<br />

59


TEORIA DA<br />

GEOGRAFIA<br />

60<br />

O Ensino <strong>da</strong> Geografia na Contemporanei<strong>da</strong>de<br />

O Desafio <strong>da</strong> Ação Docente<br />

A busca pela melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de do ensino deve ser uma constante<br />

na vi<strong>da</strong> dos educadores. Partindo desta concepção, entende-se que repensar<br />

a ação docente é um desafio cotidiano, principalmente quando se almeja formar<br />

um aluno ci<strong>da</strong>dão, consciente, crítico, ético, criativo e atuante na socie<strong>da</strong>de<br />

em que vive. Esse desafio se intensifica diante <strong>da</strong>s rápi<strong>da</strong>s e profun<strong>da</strong>s transformações<br />

nos mais variados setores <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> contemporânea, acentua<strong>da</strong>s com a Terceira Revolução<br />

Técnico-Científica, acelerando a produção e disseminação de novos produtos e informações.<br />

Neste sentido, a docência, por excelência, é uma ativi<strong>da</strong>de profissional de alta<br />

responsabili<strong>da</strong>de técnica, política e social, pressupondo-se, portanto, que a formação do<br />

educador requer compromisso e competência.<br />

É sabido, to<strong>da</strong>via, que o cenário educacional denuncia, insistentemente, dicotomias<br />

existentes na prática educativa, as quais comprometem e, não raro, profun<strong>da</strong>mente, o alcance<br />

dos objetivos mais amplos <strong>da</strong> educação, especialmente quando se deseja uma educação<br />

para a formação do sujeito consciente no exercício de sua ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, almejando a<br />

transformação qualitativa <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de em que vive.<br />

O Ensino Diante <strong>da</strong>s Diferentes Correntes Geográficas<br />

No caso específico <strong>da</strong> disciplina <strong>geografia</strong>, estabelece-se uma grande oportuni<strong>da</strong>de<br />

de trabalhar estas questões, porém percebe-se que a mesma tem sido, numa primeira<br />

análise, principalmente por parte dos alunos do ensino fun<strong>da</strong>mental e médio, vista como<br />

uma disciplina inútil e decorativa.<br />

De acordo com PEREIRA :<br />

“ No mundo <strong>da</strong> escola, a sensação de inutili<strong>da</strong>de advém do senso comum e do<br />

fato de muitos professores de <strong>geografia</strong> não terem conseguido, ain<strong>da</strong>,<br />

desvencilhar-se do papel através do qual essa disciplina consagrou-se: o <strong>da</strong><br />

descrição dos fenômenos, sobretudo “físicos” e paisagísticos. (1996: 48)<br />

”<br />

Acrescenta-se, ain<strong>da</strong>, o entendimento, enquanto senso comum, de que o<br />

conhecimento geográfico é apenas contemplativo, fugindo de qualquer possibili<strong>da</strong>de de<br />

intervenção na reali<strong>da</strong>de. Tal situação demonstra que, não obstante as discussões<br />

acentua<strong>da</strong>s a partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1970 no Brasil, especialmente no meio acadêmico - com<br />

o surgimento <strong>da</strong> Geografia Crítica -, questionando-se a Geografia Clássica (Tradicional) e<br />

a Geografia Quantitativa, de raízes positivistas e pragmáticas, não se alcançou o<br />

desdobramento desejável no nível de sua aplicação no ensino, nota<strong>da</strong>mente, nos níveis<br />

fun<strong>da</strong>mental e médio, muito embora essa nova perspectiva ressaltasse a necessi<strong>da</strong>de de<br />

se fazer uma crítica permanente, seja quanto ao propósito político, seja quanto ao<br />

epistemológico e metodológico <strong>da</strong> Ciência Geográfica.<br />

A não aplicação desejável conduz ao descontentamento, fruto de constatações e<br />

análise sobre o ensino <strong>da</strong> Geografia que ain<strong>da</strong> se trabalha no Brasil; uma Geografia, nos<br />

aspectos teórico-metodológicos, não atrativa para os alunos e, muitas vezes, desvincula<strong>da</strong><br />

de questões sociais básicas de classe, ocultando seus conflitos e suas contradições.


Esse suposto caráter politicamente neutro <strong>da</strong> Ciência Geográfica demonstra,<br />

pelo contrário, o seu papel eminentemente político em sua essência histórica: o seu<br />

(não raro) comprometimento com os interesses <strong>da</strong>s classes dominantes, servindo<br />

como instrumento ideológico de dominação e poder, contribuindo, sobremaneira,<br />

para a perpetuação <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de de classes vigente, embora, cabe ressaltar, por<br />

outro lado, que seus conhecimentos também podem e devem contribuir para a<br />

emancipação social <strong>da</strong> grande maioria, ou seja, para a conquista e construção de<br />

uma socie<strong>da</strong>de com digni<strong>da</strong>de e quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong>, uma vez que ela permite conhecer<br />

o espaço para melhor nele atuar e organizar-se.<br />

Acreditamos que seja justamente no aspecto político que se pode buscar<br />

subsídios para compreender o papel <strong>da</strong> Geografia nas escolas e, ain<strong>da</strong>, a quem<br />

servem seus conteúdos e sua forma de ensinar.<br />

LACOSTE, confirma:<br />

“ ...a forma socialmente dominante <strong>da</strong> Geografia escolar e<br />

universitária, na medi<strong>da</strong> em que ela enuncia uma nomenclatura e que<br />

inculca elementos de conhecimento enumerados sem ligação entre si (o<br />

relevo - o clima - a vegetação - a população...) tem o resultado não só de<br />

mascarar a trama política de tudo aquilo que se refere ao espaço, mas<br />

também de impor, implicitamente, que não é preciso senão memória...<br />

(1988: 32).<br />

Acrescenta-se, ain<strong>da</strong>, que:<br />

A Geografia dos professores, tal como ela se manifesta nos manuais<br />

antes dos anos vinte, oculta já, com certeza, os problemas políticos internos<br />

<strong>da</strong> nação, mas ela não dissimula jamais os sentimentos patrióticos que são,<br />

muito freqüentemente, do mais belo chauvinismo (Idem, 1988: 57,58).<br />

”<br />

Assim, apesar dos esforços provenientes do debate <strong>da</strong>s tendências de renovação<br />

na Geografia, contrapondo os paradigmas <strong>da</strong> Geografia Tradicional e Quantitativa com a<br />

Geografia Crítica, buscando repensar as relações sociais e entre socie<strong>da</strong>de e natureza,<br />

procurando entendê-las sob uma visão dialética, é preciso ressaltar que a visão e prática<br />

clássica, pragmática e positivista não acabou, e continua ain<strong>da</strong> muito forte. Sinal de sua<br />

resistência é que continua como disciplina fun<strong>da</strong>mental dos currículos escolares ou como<br />

subsídio do planejamento estatal, configurando-se como instrumento de pensamento, trabalho<br />

e ação de muitos profissionais.<br />

IMPORTANTE:<br />

De acordo com o exposto, CALLAI (1999) afirma que o<br />

conteúdo <strong>da</strong> Geografia escolar tem sido, na atuali<strong>da</strong>de, o de<br />

descrever alguns lugares e problemas, não conseguindo <strong>da</strong>r<br />

conta de pensar o espaço, visto que:<br />

Pensar o espaço supõe <strong>da</strong>r ao aluno condições de<br />

construir um instrumento tal que seja capaz de permitir-lhe<br />

buscar e organizar informações para refletir em cima delas. Não<br />

apenas para entender determinado conteúdo, mas para usá-lo<br />

como possibili<strong>da</strong>de de construir a sua ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia (1999: 68).<br />

61


TEORIA DA<br />

GEOGRAFIA<br />

62<br />

Considerações Finais<br />

Na busca de uma prática que valorize o Pensamento Geográfico e o<br />

Ensino <strong>da</strong> Geografia, diante <strong>da</strong>s tendências contemporâneas <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de,<br />

pode-se sugerir a adoção de algumas medi<strong>da</strong>s:<br />

Necessi<strong>da</strong>de de formação permanente e contínua numa prática reflexiva,<br />

a qual permite não apenas a constante atualização e produção de novos<br />

saberes ao docente, como, primordialmente, que este possa refletir sobre a<br />

sua ação, conduzindo-a a uma postura crítica e autônoma;<br />

Estreitamento <strong>da</strong>s relações entre Ensino e Prática, de modo a se cumprir o papel<br />

fun<strong>da</strong>mental do professor enquanto mediador de conhecimentos.<br />

Mobilização de saberes - o que implica renovar o pensamento, não se apegando à<br />

rígi<strong>da</strong>s fronteiras acadêmicas, e mesmo disciplinares, dentro de uma mesma área do<br />

conhecimento. A reali<strong>da</strong>de que vivemos é multidimensional; este fato, por si só, exige que<br />

se faça uma mobilização de diversos saberes, não apenas os necessários ao ofício <strong>da</strong><br />

docência como também o contato/ troca, entre diferentes profissionais e áreas do<br />

conhecimento, conduzindo a uma outra forma de “ler” e “interagir” o/no mundo.<br />

Ativi<strong>da</strong>des<br />

Complementares<br />

1. Qual a importância de conhecer a história do Pensamento Geográfico para se formar<br />

um professor competente ?<br />

2.<br />

Descreva to<strong>da</strong>s as formas possíveis pelas quais a sua ci<strong>da</strong>de ou região se insere no<br />

mundo globalizado. A presença de alguma empresa estrangeira (de qualquer setor <strong>da</strong><br />

economia); produtos que o lugar exporta e/ou importa; contatos através dos meios de<br />

comunicação, dentre outras são expressões <strong>da</strong> relação do lugar com outras partes do<br />

mundo. Que mu<strong>da</strong>nças espaciais, econômicas, culturais e políticas os fatos que você<br />

descreveu provocaram no seu espaço de vi<strong>da</strong>?


Ativi<strong>da</strong>de Orienta<strong>da</strong><br />

Etapa 1<br />

É importante considerar que os jovens não aprendem a mesma coisa e nem <strong>da</strong><br />

mesma forma pois, “só há saber em uma certa relação com o saber, só há aprender em<br />

uma certa relação com o aprender” (CHARLOT – 21-2001) , sendo que o que é aprendido<br />

só pode ser interiorizado pelo sujeito se fizer algum sentido para ele.<br />

É neste momento que aparece o papel do professor. É dele a função de estabelecer<br />

a ligação entre o que se aprende e o que faz sentido ao jovem, e mostrar a importância de<br />

determinado(s) saber(es), pois, ensinar é uma ação que se inicia fora do sujeito, mas, só<br />

tem êxito, se produzir um movimento interior do sujeito. Aprender, desta forma, é uma<br />

construção que só é possível com a intervenção do outro, onde o professor é o mediador<br />

entre o jovem e o saber.<br />

• Baseando-se nessas afirmações e nos conhecimentos adquiridos sobre ESPAÇO<br />

E SOCIEDADE no TEMA 1 desse bloco de estudos faça o seguinte:<br />

Desenvolva um projeto para um trabalho que possa ser realizado pelos alunos do<br />

Ensino Fun<strong>da</strong>mental onde possa ser utilizado o conhecimento empírico sobre o espaço<br />

onde a escola está inseri<strong>da</strong>, e assim estabelecer relações com a cultura local, de forma que<br />

se destaque a riqueza cultural (música, <strong>da</strong>nça, folclore, artesanato, etc) <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de na<br />

qual esses alunos estão inseridos.<br />

OBS: As conclusões obti<strong>da</strong>s com esse trabalho, podem muito bem ser utiliza<strong>da</strong>s<br />

pelo professor para desenvolver com os alunos noções de espaço, cultura e ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia e<br />

dessa maneira aproximar o conteúdo pe<strong>da</strong>gógico do cotidiano, <strong>da</strong>ndo significado ao<br />

aprender.<br />

CHARLOT Bernard. Os jovens e o saber. Porto Alegre: Artmed, 2001<br />

2<br />

Etapa<br />

Analise com atenção os objetivos, segundo os PCN’s, para a disciplina de Geografia<br />

no segundo ciclo:<br />

Espera-se que ao final do segundo ciclo os alunos sejam capazes de:<br />

• reconhecer, no lugar no qual se encontram inseridos, as relações existentes<br />

entre o mundo urbano e o mundo rural, bem como as relações que sua<br />

coletivi<strong>da</strong>de estabelece com coletivi<strong>da</strong>des de outros lugares e regiões, focando<br />

tanto o presente e como o passado;<br />

• conhecer e compreender algumas <strong>da</strong>s conseqüências <strong>da</strong>s transformações<br />

<strong>da</strong> natureza causa<strong>da</strong>s pelas ações humanas, presentes na paisagem local e<br />

em paisagens urbanas e rurais;<br />

63


TEORIA DA<br />

GEOGRAFIA<br />

64<br />

• reconhecer o papel <strong>da</strong>s tecnologias, <strong>da</strong> informação, <strong>da</strong> comunicação e<br />

dos transportes na configuração de paisagens urbanas e rurais e na<br />

estruturação <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> em socie<strong>da</strong>de;<br />

• reconhecer, no lugar no qual se encontram inseridos, as relações existentes<br />

entre o mundo urbano e o mundo rural, bem como as relações que sua<br />

coletivi<strong>da</strong>de estabelece com coletivi<strong>da</strong>des de outros lugares e regiões,<br />

focando tanto o presente e como o passado;<br />

• conhecer e compreender algumas <strong>da</strong>s conseqüências <strong>da</strong>s transformações<br />

<strong>da</strong> natureza causa<strong>da</strong>s pelas ações humanas, presentes na paisagem local<br />

e em paisagens urbanas e rurais; saber utilizar os procedimentos básicos<br />

de observação, descrição, registro, comparação, análise e síntese na coleta<br />

e tratamento <strong>da</strong> informação, seja mediante fontes escritas ou imagéticas;<br />

• reconhecer, no lugar no qual se encontram inseridos, as relações existentes<br />

entre o mundo urbano e o mundo rural, bem como as relações que sua<br />

coletivi<strong>da</strong>de estabelece com coletivi<strong>da</strong>des de outros lugares e regiões,<br />

focando tanto o presente e como o passado;<br />

• conhecer e compreender algumas <strong>da</strong>s conseqüências <strong>da</strong>s transformações<br />

<strong>da</strong> natureza causa<strong>da</strong>s pelas ações humanas, presentes na paisagem local<br />

e em paisagens urbanas e rurais; utilizar a linguagem cartográfica para<br />

representar e interpretar informações em linguagem cartográfica, observando<br />

a necessi<strong>da</strong>de de indicações de direção, distância, orientação e proporção<br />

para garantir a legibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> informação;<br />

• reconhecer, no lugar no qual se encontram inseridos, as relações existentes<br />

entre o mundo urbano e o mundo rural, bem como as relações que sua<br />

coletivi<strong>da</strong>de estabelece com coletivi<strong>da</strong>des de outros lugares e regiões,<br />

focando tanto o presente e como o passado;<br />

• conhecer e compreender algumas <strong>da</strong>s conseqüências <strong>da</strong>s transformações<br />

<strong>da</strong> natureza causa<strong>da</strong>s pelas ações humanas, presentes na paisagem local<br />

e em paisagens urbanas e rurais;valorizar o uso refletido <strong>da</strong> técnica e <strong>da</strong><br />

tecnologia em prol <strong>da</strong> preservação e conservação do meio ambiente e <strong>da</strong><br />

manutenção <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong>;<br />

• reconhecer, no lugar no qual se encontram inseridos, as relações existentes<br />

entre o mundo urbano e o mundo rural, bem como as relações que sua<br />

coletivi<strong>da</strong>de estabelece com coletivi<strong>da</strong>des de outros lugares e regiões,<br />

focando tanto o presente e como o passado;<br />

• conhecer e compreender algumas <strong>da</strong>s conseqüências <strong>da</strong>s transformações<br />

<strong>da</strong> natureza causa<strong>da</strong>s pelas ações humanas, presentes na paisagem local<br />

e em paisagens urbanas e rurais; adotar uma atitude responsável em relação<br />

ao meio ambiente, reivindicando, quando possível, o direito de todos a uma<br />

vi<strong>da</strong> plena num ambiente preservado e saudável;


• reconhecer, no lugar no qual se encontram inseridos, as relações existentes<br />

entre o mundo urbano e o mundo rural, bem como as relações que sua<br />

coletivi<strong>da</strong>de estabelece com coletivi<strong>da</strong>des de outros lugares e regiões,<br />

focando tanto o presente e como o passado;<br />

• conhecer e compreender algumas <strong>da</strong>s conseqüências <strong>da</strong>s transformações<br />

<strong>da</strong> natureza causa<strong>da</strong>s pelas ações humanas, presentes na paisagem local e<br />

em paisagens urbanas e rurais; conhecer e valorizar os modos de vi<strong>da</strong> de<br />

diferentes grupos sociais, como se relacionam e constituem o espaço e a<br />

paisagem no qual se encontram inseridos.<br />

Escolha um ou mais desses objetivos e construa um plano de aula, de forma que fique clara<br />

a relação entre o uso <strong>da</strong>s BASES e CONCEITOS <strong>da</strong> <strong>geografia</strong> para a compreensão do<br />

conteúdo programático abor<strong>da</strong>do.<br />

Etapa 3<br />

Estu<strong>da</strong>mos o processo de formação do conhecimento geográfico <strong>da</strong> antigui<strong>da</strong>de ao<br />

Renascimento, analisamos as correntes determinista e possibilista, movimento de renovação<br />

<strong>da</strong> <strong>geografia</strong> no século XIX. A <strong>geografia</strong> no decorrer do século XX - opção entre ciência<br />

técnica e ciência crítica além <strong>da</strong> <strong>geografia</strong> na contemporanei<strong>da</strong>de.<br />

Com base na evolução histórica do pensamento geográfico, construa uma LINHA<br />

DO TEMPO com as principais correntes geográficas associando às mesmas conceitos,<br />

pensadores e obras de relevância.<br />

65


TEORIA DA<br />

GEOGRAFIA<br />

66<br />

Referências<br />

Bibliográficas<br />

ARANHA, M. L. A. e MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução à Filosofia. São Paulo:<br />

Moderna, 1993.<br />

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(1996)<br />

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UNIJUÍ, 1998.<br />

CASTROGIOVANNI, A. C; et al (orgs.) Geografia em sala de aula: práticas e reflexões.<br />

Porto Alegre: Ed. <strong>da</strong> UFRGS/AGB, 2002.<br />

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OLIVA, J. e GIANSANTI, R. Espaço e Moderni<strong>da</strong>de: temas <strong>da</strong> <strong>geografia</strong> mundial. São<br />

Paulo: Atual, 1995.<br />

Espaço e Moderni<strong>da</strong>de: temas <strong>da</strong> <strong>geografia</strong> <strong>da</strong> Brasil. São Paulo: Atual, 1999.<br />

SANTOS, M. Por uma Geografia Nova. 2 ed. São Paulo: Hucitec(1980)<br />

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A Natureza do Espaço: técnica e tempo; razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1996.<br />

Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de<br />

Janeiro: Record, 2002. (2000)<br />

SENE, E. Globalização e espaço geográfico. São Paulo: Contexto, 2003.<br />

VISENTINI, J. W. Brasil Socie<strong>da</strong>de e Espaço: <strong>geografia</strong> do Brasil. São Paulo, Ática,<br />

2001.


Anotações<br />

67


TEORIA DA<br />

GEOGRAFIA<br />

68<br />

FTC - EaD<br />

Facul<strong>da</strong>de de Tecnologia e Ciências - Educação a Distância<br />

Democratizando a Educação.<br />

www.<strong>ftc</strong>.br/<strong>ead</strong>

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