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o humanismo português entre o latim eo astrolábio - Núcleo de ...

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ao fim do dia 3 , além <strong>de</strong> recolher alguma renda na praia, on<strong>de</strong>, vez ou outra, fazia serviços<br />

adicionais. Caminhava pela cida<strong>de</strong> com o pagamento, sempre em busca <strong>de</strong> “pa<strong>de</strong>iras e<br />

fructeiras” que fornecessem os mantimentos necessários ao seu sustento.<br />

Um dia, após carregar uma pipa <strong>de</strong> vinho a pedido <strong>de</strong> um <strong>português</strong>, não obteve em<br />

troca a recompensa prometida, pois – argumentou o empregador – tratava-se <strong>de</strong> uma<br />

encomenda da fortaleza. Martinho sabia que o procedimento adotado pelo <strong>português</strong> era<br />

incorreto, e que, portanto, havia sido enganado, convencido a trabalhar <strong>de</strong> graça. Sua fúria foi<br />

enorme, tão gran<strong>de</strong> quanto a injustiça a que fora submetido.<br />

Descartada a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> diálogo com um facínora daquele calibre, Martinho<br />

perseguiu seu adversário, que refugiou-se em casa. Com a porta fechada, a única solução<br />

encontrada foi <strong>de</strong>struir uma das pare<strong>de</strong>s do local, feito não muito difícil <strong>de</strong> se alcançar para<br />

um tão forte servo do Venturoso. Mesmo assim, foi incapaz <strong>de</strong> encontrá-lo; contudo, a pipa<br />

carregada <strong>de</strong> vinho ainda estava pelas redon<strong>de</strong>zas. Não hesitou quando a viu: tomou-a, “a<br />

lançou tam alta pera o ar, que ao cair se fez em pedaços […]”(GÓIS, 1749, p. 489).<br />

Diz-se que, noutra ocasião, foi-lhe pedido que lançasse ao mar uma galé. Como<br />

estivesse doente à época, foi obrigado a <strong>de</strong>clinar. Seu superior, ao saber disso, solicitou ao rei<br />

<strong>de</strong> Cochim que enviasse um <strong>de</strong> seus seguidores, alguém capaz <strong>de</strong> resolver o problema. O<br />

índio que acompanhava Martinho não pô<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> mencionar tal fato, dizendo que era<br />

motivo <strong>de</strong> vergonha ver a galé partir graças ao esforço do um súdito <strong>de</strong> governante tão<br />

simplório como o era o <strong>de</strong> Cochim, sobretudo quando comparado a D. Manuel. “Ouuindo,<br />

remet<strong>eo</strong> a ella [a galé] com tanta força, que como se fora um barco pequeno a lançou no mar,<br />

mas como andaua fraco da doença rend<strong>eo</strong> polas costas, <strong>de</strong> que <strong>de</strong>pois esteve muitos dias em<br />

cura […]” (GÓIS, 1749, p. 489).<br />

Góis afirma, em sua crônica, haver muito mais a dizer sobre Martinho, e que, dada a<br />

quantida<strong>de</strong> e magnanimida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus feitos, <strong>de</strong>mandariam gran<strong>de</strong> esforço <strong>de</strong> compilação.<br />

Parece-nos, no entanto, que <strong>de</strong>u-nos a conhecer o suficiente sobre aquele honrado e leal<br />

elefante.<br />

2. Histórias como a supracitada não foram incomuns nos quatrocentos e nos<br />

quinhentos, que estiveram às voltas com inúmeros relatos <strong>de</strong> criaturas estranhas ou perigosas.<br />

3 É curioso notar que há várias cartas na Torre do Tombo que dão conta dos cuidados com a alimentação <strong>de</strong> um<br />

elefante em Cochim, <strong>entre</strong> 1510 e 1512. Cf. Arquivos Nacionais/Torre do Tombo, documentos simples PT-TT-<br />

CC/2/20/40, PT-TT-CC/2/23/29, PT-TT-CC/2/34/45, PT-TT-CC/2/35/96, PT-TT-CC/2/35/186, PT-TT-<br />

CC/2/35/262.<br />

2

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