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Direcional Escolas, agosto/06<br />

2<br />

Editores<br />

Sônia Inakake<br />

Almir C. Almeida<br />

Jornalista Responsável<br />

Luiza C. Oliva<br />

MTB 16.935<br />

jornalista@condominio.inf.br<br />

Colunistas<br />

Cassiano Zeferino de Carvalho Neto<br />

Maria Irene de Matos Maluf<br />

Maria Taís de Melo<br />

Colaboraram nesta edição<br />

Anna Maria Pessoa de Carvalho<br />

Beatriz Rizek<br />

Edmilson de Castro<br />

José Silvério Edmundo Germano<br />

Luis Fabio Simões Pucci<br />

Maria Cristina Motta de Toledo<br />

Maria Inês Carniato<br />

Mary Grace Martins<br />

N. Omote<br />

Roberto von Puttkammer Prado<br />

Teresa Gallotti Florenzano<br />

Viviane Scarpelo Comin<br />

Diretor de Arte<br />

Thais Moro<br />

Gabriel Borges<br />

Assistentes de Arte<br />

Adriano Costa Vespa<br />

Juliana Cavalheiro<br />

Rodrigo Trevizan<br />

Atendimento ao Leitor e Circulação<br />

Emilly Tabuço<br />

João Elias Pereira<br />

Impressão<br />

Duo Graf<br />

Filiada à<br />

Apoio<br />

A Direcional Escolas é uma publicação mensal da Exclusiva Publicações<br />

Ltda., com circulação nacional.<br />

Dirigida a diretores, educadores, coordenadores e todos os profissionais<br />

que atuam na área da educação.<br />

Não é permitida a reprodução total ou parcial das matérias, sujeitando<br />

os infratores às penalidades legais. As matérias assinadas são de inteira<br />

responsabilidade de seus autores e não expressam, necessariamente, a<br />

opinião da revista Direcional Escolas.<br />

R. Vergueiro, 2556 8º Andar<br />

Vila Mariana 04102-000 São Paulo SP<br />

Tel.: (11) 5573-8110 - Fax: (11) 5084-3807<br />

faleconosco@direcionalescolas.com.br<br />

www.direcionalescolas.com.br<br />

Caro leitor,<br />

Edição 19<br />

Agosto 2006<br />

EDITORIAL<br />

Um time de peso de colunistas e colaboradores ajudou a construir esta edição<br />

muito especial de Direcional Escolas. Oito artigos foram escritos por palestrantes da<br />

10ª edição do Congresso e Feira de Educação Saber, evento que reunirá educadores,<br />

entre os próximos dias 1, 2 e 3 de setembro, no ITM Centro de Convenções, em São<br />

Paulo, em torno do tema “Ensinar menos <strong>para</strong> aprender mais: o conhecimento que leva<br />

ao saber”. Ciências, física, geografia, produção de vídeos, o uso de jogos eletrônicos em<br />

sala de aula, a criança de seis anos e a transição da Educação Infantil <strong>para</strong> o Ensino<br />

Fundamental estão entre os focos desses artigos.<br />

Grande parte de nossos autores estará ministrando oficinas relacionadas aos temas<br />

de seus artigos num novo espaço do Saber, a Sala Inteligente. A proposta da sala, fruto<br />

de estudos do educador Cassiano Zeferino de Carvalho Neto, é agregar num único<br />

espaço da sala de aula todos os recursos pedagógicos. Uma revolução na educação, aliás,<br />

é o que propõe Cassiano no artigo de capa desta edição, “Por uma escola inteligente”,<br />

uma escola aberta aos novos tempos.<br />

Mudanças, aliás, parecem ser um tema constante desta edição. Na Entrevista,<br />

Cesar Callegari, conselheiro do Conselho Nacional de Educação e ex-secretário de<br />

educação de Taboão da Serra, defende mudanças urgentes <strong>para</strong> que a educação<br />

brasileira avance em qualidade. Valorização do magistério, diminuição do número de<br />

alunos por sala de aula, investimentos em recursos didáticos e fixação do professor<br />

na escola, fortalecendo a equipe escolar, estão entre as providências urgentes a serem<br />

tomadas, na opinião de Callegari.<br />

Direcional Escolas traz ainda muita informação de qualidade. O artigo de Maria<br />

Inês Carniato discute a atual identidade do ensino religioso, intercultural e inter-<br />

religiosa, conforme o modelo definido pelos Parâmetros Curriculares Nacionais de<br />

Ensino Religioso. O fantasma do bullying, que invade as escolas com medo, humilhação<br />

e violência, é apresentado na reportagem de Luiza Oliva. E na seção Perfil da Escola,<br />

não deixe de conhecer a história da Escola Estadual Nelson Fernandes que, no interior<br />

paulista, é exemplo de escola pública de qualidade, investindo em projetos voltados<br />

<strong>para</strong> a comunidade e na recuperação dos espaços físicos.<br />

Boa leitura e esperamos vocês no Saber 2006!<br />

Um abraço,<br />

Os Editores<br />

Direcional Escolas, agosto/06<br />

3


Direcional Escolas, agosto/06<br />

4<br />

SUMÁRIO<br />

13<br />

PÁGINA DO<br />

18<br />

ENTREVISTA<br />

Cesar Callegari<br />

Por Luiza Oliva<br />

PSICOPEDAGOGO<br />

O novo papel dos avós na educação<br />

Por Maria Irene Maluf<br />

16<br />

DIDÁTICA<br />

16<br />

Aulas animadas: mais movimento<br />

ao que acontece dentro da escola<br />

Por Mary Grace Martins<br />

PERFIL<br />

DA ESCOLA<br />

21<br />

Escola Estadual Nelson<br />

Fernandes<br />

Por Luiza Oliva<br />

06<br />

13<br />

21<br />

26<br />

EDUCAÇÃO<br />

INFANTIL<br />

Crianças de seis anos: a transição da<br />

Educação Infantil <strong>para</strong> o Ensino<br />

Fundamental<br />

Por Maria Taís de Melo<br />

10<br />

10<br />

10<br />

CAPA<br />

Por uma escola inteligente<br />

Por Cassiano Zeferino de<br />

Carvalho Neto<br />

14 EDUCAÇÃO<br />

AMBIENTAL<br />

Processos geológicos e o<br />

homem como responsáveis pela<br />

transformação da terra<br />

Por Maria Cristina Motta<br />

de Toledo<br />

14<br />

18 Ensinar ciências <strong>para</strong> promover a<br />

enculturação científi ca<br />

Por Anna Maria Pessoa de<br />

Carvalho<br />

ENSINO FUNDAMENTAL<br />

18<br />

24<br />

GESTÃO<br />

O futuro da escola privada<br />

Por Roberto von<br />

Puttkammer Prado<br />

28<br />

EDUCAÇÃO<br />

TECNOLÓGICA<br />

Desmistifi cando o micro: a inteligência<br />

artifi cial aliada no planejamento escolar<br />

Por Beatriz Rizek<br />

34<br />

EDUCAÇÃO CIENTÍFICA<br />

Imagens de satélite como recurso didático<br />

Por Teresa Gallotti Florenzano<br />

BULLYING<br />

Quando a escola é sofrimento<br />

Por Luiza Oliva<br />

40<br />

ESPAÇO<br />

INTERDISCIPLINAR<br />

Histórias que encantam crianças<br />

Por Viviane Scarpelo Comin<br />

50<br />

AGENDA<br />

28<br />

34<br />

40<br />

46<br />

50<br />

30 ENSINO MÉDIO<br />

36<br />

48<br />

Ciências com ênfase em<br />

física vivencial<br />

Por José Silvério Edmundo Germano,<br />

N. Omote e Luis Fabio Simões Pucci<br />

ENSINO RELIGIOSO<br />

Ensino religioso, componente da<br />

formação cidadã<br />

Por Maria Inês Carniato<br />

36<br />

44<br />

44<br />

As sucatas como ponto de<br />

SALA DE AULA<br />

partida <strong>para</strong> a imaginação no<br />

processo educativo<br />

Por Érika Ratkevícius<br />

48<br />

LANÇAMENTOS<br />

Os mais recentes lançamentos<br />

de livros voltados à educação.<br />

Direcional Escolas, agosto/06<br />

5


Direcional Escolas, agosto/06<br />

6<br />

ENTREVISTA<br />

CESAR CALLEGARI<br />

Mudanças possíveis, em busca da qualidade<br />

O conselheiro do CNE considera que o Brasil não tem mais<br />

tempo a perder na busca pela qualidade da educação.<br />

Por Luiza Oliva<br />

Foto: Almir Almeida<br />

Como conselheiro do Conselho Nacional de Educação (CNE), órgão ligado ao Ministério da<br />

Educação, Cesar Callegari está envolvido com os assuntos mais atuais em relação à educação.<br />

É o caso da aprovação da inclusão das disciplinas de fi losofi a e sociologia no Ensino Médio e<br />

da criação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valoriza-<br />

ção dos Profi ssionais da Educação (Fundeb), que substituirá o atual Fundo de Manutenção e<br />

Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef) e atenderá<br />

os alunos da Educação Infantil, do Ensino Fundamental e Médio e da Educação de Jovens e<br />

Adultos (EJA).<br />

A obrigatoriedade do ensino de fi losofi a e sociologia no Ensino Médio é inclusive o tema de<br />

sua palestra, que acontece no próximo dia 2 de setembro, na 10ª edição do Congresso de<br />

Educação Saber. Callegari foi o relator do parecer do CNE que aprovou por unanimidade a<br />

inclusão das disciplinas nas escolas públicas e privadas de Ensino Médio. Para Cesar, o fato<br />

representa um avanço na qualidade do Ensino Médio. “Jovens brasileiros precisam ter espírito<br />

crítico, uma ampla visão de mundo e condições de se tornarem cidadãos atuantes e protago-<br />

nistas do seu tempo”, justifi ca.<br />

A experiência como conselheiro do CNE tem mostrado a Cesar que é possível fazer educação<br />

de qualidade no Brasil. “Tenho contatos com escolas e educadores do Brasil inteiro e vejo<br />

um misto de inacreditável entusiasmo, até de veteranos. As difi culdades são enormes e eles<br />

persistem em fazer uma prática inventiva, renovadora todo dia, buscando coisas novas e com<br />

resultados fantásticos. É claro que há muitas difi culdades, mas há muitas saídas”, admite.<br />

Nesta entrevista a Direcional Escolas, Cesar Callegari avalia o que precisa mudar <strong>para</strong> termos<br />

uma educação de qualidade, também com base em sua experiência prática como Secretário<br />

de Educação de Taboão da Serra, cidade da região metropolitana de São Paulo, cargo que<br />

exerceu entre 2005 e 2006. O Programa de Interação Família e Escola que desenvolveu na ci-<br />

dade ganhou prêmio do PNUD (Programa das Nações Unidas <strong>para</strong> o Desenvolvimento), órgão<br />

da ONU, como um dos melhores programas educacionais do país.<br />

DIRECIONAL ESCOLAS - No contato que o senhor tem com<br />

práticas educacionais positivas, vê algum perfi l comum a esses<br />

educadores? Que características têm essas escolas?<br />

A característica comum a todas elas é o fato da escola ter poder,<br />

um nível maior de autonomia. Um ingrediente permanente que<br />

determina essa autonomia é a conexão com a comunidade. E há<br />

várias formas de fazer isso. A comunidade é conectada com a escola<br />

de maneira reagente, por exemplo, a partir de um empenho pessoal<br />

do diretor ou da própria equipe da escola que acaba criando uma<br />

conexão. Outras vezes, é a própria comunidade que faz com que a<br />

escola reaja, ela é ativa. Toda vez que percebemos uma escola boa,<br />

ela tem participação intensa da comunidade, seja ela decorrente da<br />

iniciativa da direção ou coordenação ou ao contrário. A comunidade<br />

é de tal forma organizada e presente que a escola vai <strong>para</strong> frente.<br />

As escolas que não se mobilizam são levadas a isso por falta<br />

de verba? Essas escolas que dão certo também enfrentam<br />

falta de recursos?<br />

Elas acabam superando barreiras. O problema da falta de estrutura é<br />

muito severo. Ele joga um balde de água fria em muita gente animada.<br />

A própria sustentação de certos projetos sem o apoio da fonte estrutural<br />

de recursos, seja uma secretaria, no caso de escolas públicas, seja a<br />

própria família, quando se trata de escolas particulares, acaba limitando<br />

muito a ação. É freqüente encontrarmos casos em que a limitação<br />

estrutural é superada pelo resultado de um empreendedorismo. Há<br />

muitos profi ssionais da educação que são empreendedores no sentido<br />

mais amplo, que procuram encontrar em cada difi culdade um desafi o<br />

até pedagógico <strong>para</strong> o conjunto da escola. Tenho<br />

visto isso em escolas públicas, particulares,<br />

pequenas, grandes. Isso nos anima. Porque se<br />

olharmos apenas os índices da educação brasileira,<br />

é de desanimar.<br />

Uma outra fonte de problemas em relação<br />

às políticas educacionais é uma invencionice<br />

permanente. Muitos, sem terem condições<br />

de enfrentar problemas estruturais, acabam criando uma vertigem<br />

permanente, como se isso fosse capaz de anestesiar a necessidade de<br />

enfrentamento dos problemas estruturais. Sou muito crítico em relação<br />

a essa idéia de sacudir as escolas a cada dia, a cada mês, com um projeto<br />

novo. Frequentemente, são projetos que vêm de pára-quedas, de fora<br />

do ambiente escolar. Esse é um processo que mais atrapalha do que<br />

resolve. Existem ingredientes básicos de uma educação de qualidade,<br />

o be-a-bá, o feijão com arroz, que deve ser perseguido, embora de<br />

maneira criativa e inovadora. Senão, há um tsunami a cada mês, que<br />

vai tirando da escola a possibilidade dela encontrar o seu eixo.<br />

O senhor foi secretário de educação de Taboão da Serra até março<br />

de 2006 e idealizou um projeto premiado pela ONU. O que pensa<br />

da descontinuidade das políticas educacionais no Brasil?<br />

As mudanças de governo são um entrave <strong>para</strong> a educação. A<br />

descontinuidade das políticas educacionais é um problema<br />

crônico no país, uma infelicidade. Muita coisa boa é desfeita,<br />

sem a devida avaliação. A alternância do poder faz parte do<br />

processo democrático. Como em educação temos políticas de<br />

longo prazo, que demandam tempos longos de maturação, esses<br />

tempos frequentemente são superiores aos tempos dos governos.<br />

Nem sempre os sistemas de ensino são fortes o sufi ciente <strong>para</strong><br />

resistir a esse processo de desmanche, de revanchismo, de uma<br />

visão pequena de gestores que acham que a secretaria virou<br />

uma propriedade particular ou a escola virou uma propriedade<br />

particular de um novo diretor. A escola é algo público, construído<br />

por muita gente. Antes das políticas serem alteradas, pelo menos<br />

deveriam merecer uma avaliação criteriosa e generosa. O novo<br />

governante, o novo dirigente, o novo diretor quer colocar de<br />

qualquer maneira sua impressão digital e esquece, ou ignora,<br />

praticamente todos os avanços construídos ao longo dos anos e<br />

quer inventar a roda. Isso representa perda de recursos, desalento<br />

por parte dos criadores dos programas. Qual é o antídoto maior<br />

<strong>para</strong> isso? É o fortalecimento da estrutura, seja da escola, seja<br />

dos sistemas de escolas. Se houver enraizamento de uma política<br />

educacional numa determinada cidade ou numa determinada<br />

escola, e portanto uma política defendida por muitos, fruto de<br />

um contrato social e educacional entre muitas pessoas, é menos<br />

provável que essa escola seja afetada por mudanças bruscas das<br />

alternâncias de poder.<br />

Existem ingredientes<br />

básicos de uma educação<br />

de qualidade que<br />

devem ser perseguidos, de<br />

maneira criativa.<br />

É uma tendência a escola se abrir <strong>para</strong> a comunidade?<br />

A escola não pode ser uma escola-<br />

conservatório, tem que ser dinâmica e essa<br />

característica vem exatamente da interação<br />

que ela estabelece com o processo educativo,<br />

que não é apenas escolar. O Programa<br />

Interação Família e Escola de Taboão da Serra<br />

partiu do conceito que valorizar o magistério<br />

é valorizar uma função social muito mais<br />

ampla. Abrimos condições <strong>para</strong> que o professor tivesse uma relação<br />

mais profunda com o outro pólo de desenvolvimento educacional,<br />

que é a família. Os resultados são extraordinários e imediatos.<br />

É uma forma inovadora de realizar algo que qualquer educador<br />

sabe que é importante, que é a relação com a família. O inovador,<br />

que é bem simples, é proporcionar condições <strong>para</strong> que o professor<br />

visite a casa da família dos seus alunos. Todos os alunos, não os que<br />

têm algum tipo de problema. O professor ganha R$ 30 por visita,<br />

que é feita fora do horário de trabalho, a qualquer momento que o<br />

professor quiser, pré-agendado com a família. Durante a visita não<br />

há preenchimento de fi cha, o professor não anota nada, não há uma<br />

inquisição. A idéia é criar um espaço mais próximo, mutuamente<br />

afetivo, <strong>para</strong> que a família se sinta encorajada a comentar aspectos da<br />

criança, do seu processo educativo e do seu ambiente familiar, e que<br />

a criança se sinta valorizada por seu professor visitar o seu território,<br />

Direcional Escolas, agosto/06<br />

7


Direcional Escolas, agosto/06<br />

8<br />

ENTREVISTA<br />

o seu domínio. Isso acaba defl agrando uma relação quase mágica.<br />

Temos depoimentos de crianças que dizem que o professor virou seu<br />

amigo, ela conheceu sua casa, sua turma. Essa criança é estimulada<br />

a ser muito mais colaborativa e cooperativa no seu próprio processo<br />

educacional. Temos inúmeros casos de crianças que eram ou muito<br />

apáticas ou muito irriquietas em sala de aula e passam a colaborar.<br />

Essas crianças mais ativas, que frequentemente exercem um papel<br />

de liderança na classe, exercem transformações imediatas não só na<br />

relação dela com o professor mas com o conjunto da classe.<br />

E fi nalmente, e talvez o aspecto mais importante, é que o professor<br />

passa a ter um conjunto de elementos que ele não tinha antes,<br />

por mais atento e sensível que fosse. Passa a ter elementos<br />

da realidade de seus alunos, tem condições de aprender a<br />

singularidade de cada um desses indivíduos, reconhecendo nessas<br />

singularidades todas as possibilidades de<br />

desenvolvimento educacional. A agenda<br />

da escola muda a partir disso. Os horários<br />

de trabalho pedagógico e o próprio plano<br />

ativo da escola mudam totalmente. Não é<br />

mais a agenda que vem de cima <strong>para</strong> baixo,<br />

como o secretário da educação quer. As<br />

próprias atividades relacionadas à formação<br />

continuada de professores passam a ser impregnadas por um<br />

novo tipo de demanda, que não é só a demanda da equipe técnica<br />

de uma secretaria de educação, mas são propostas derivadas de<br />

necessidades que a própria equipe escolar percebe.<br />

Não houve problemas relacionados à segurança dos<br />

professores ou recusa das famílias em recebê-los?<br />

É claro que <strong>para</strong> agendar o encontro deve haver um acordo mútuo.<br />

Nos pouquíssimos casos em que isso não aconteceu não foi por<br />

acanhamento das famílias em função de sua precariedade social e<br />

econômica. Paradoxalmente, a recusa partiu de famílias de classe<br />

média, e não sei por qual motivo. De junho de 2005 até hoje foram<br />

realizadas cerca de 1600 visitas na cidade e não houve um só caso<br />

relacionado à segurança dos professores. Mesmo em locais onde nem<br />

a polícia entra, os professores entraram escoltados pelas crianças.<br />

E por parte dos professores, aconteceram recusas?<br />

O programa é optativo, o professor não é obrigado a fazer as visitas.<br />

Mas há uma pressão dos próprios alunos. Mesmo no relacionamento<br />

entre os professores, o repertório dos que participam se enriquece<br />

numa mesa de planejamento. Não é penoso <strong>para</strong> o professor, ele pode<br />

programar com muita fl exibilidade suas visitas. E sempre deixamos<br />

claro que não se pretende do professor nenhum trabalho na área de<br />

assistência social. Temos a ativação de uma rede de proteção à criança<br />

quando ela se faz necessária, mas por outros órgãos da prefeitura<br />

e com extremo cuidado. Houve um caso muito marcante de um<br />

menino de nove anos que vivia num barraco com sete irmãos, todos<br />

vivendo numa mesma cama, com a mãe alcoólatra. Eles viviam com<br />

uma cesta básica doada por uma comunidade religiosa. A professora se<br />

emocionou com a situação. Ela pessoalmente tomou algumas atitudes e<br />

nos acionou. Era uma família em condição de risco total e ativamos uma<br />

rede de proteção social com a secretaria de assistência social. A própria<br />

escola desenvolveu uma estratégia mais adequada <strong>para</strong> lidar com aquela<br />

criança, que mudou totalmente. Era retraída, envergonhada, vinha <strong>para</strong> a<br />

escola sem tomar banho. Os professores são afetados por esse conjunto<br />

de informações novas, mas eles mesmos acham que é muito melhor ter<br />

consciência da origem dos problemas, <strong>para</strong> sobrepujá-los, do que lidar com<br />

eles sem conhecer a origem. O programa é um enorme sucesso mas eu<br />

não quero dizer que é perfeito. Essa própria rede de proteção social precisa<br />

sempre ser aperfeiçoada. Mas é uma excelente estratégia. Poucas coisas em<br />

uma cidade são mais tentaculares em relação às famílias do que a escola.<br />

Difi cilmente você encontra algo que chega tão diretamente às famílias do<br />

que a rede escolar.<br />

Foi difícil a aprovação da obrigatoriedade<br />

das disciplinas de fi losofi a e sociologia no<br />

Ensino Médio?<br />

Esse assunto é extremamente polêmico, mesmo<br />

dentro da Câmara de Educação Básica do CNE. Está<br />

muito longe de ser uma matéria pacífi ca. Encontrei<br />

um caminho <strong>para</strong> esse processo ser aprovado. A maior crítica é que não<br />

cabe a um órgão normativo do sistema nacional de educação, que é o<br />

CNE, impor nada no que se refere a estruturação da legislação curricular.<br />

Temos que estabelecer orientações gerais em termos de diretrizes<br />

curriculares, mas não impor a formatação fi nal da grade curricular.<br />

Guiomar Namo de Mello, por exemplo, acredita que fi losofi a e sociologia<br />

são conteúdos curriculares que devem ser tratados em outras disciplinas,<br />

como história e geografi a. Propus que nas escolas que organizem seu<br />

currículo de maneira fl exível, inovadora, não por disciplina, os conteúdos<br />

curriculares de fi losofi a e sociologia devem ser organizados de maneira<br />

fl exível, não disciplinar. Aliás, essa é uma recomendação da LDB. Nas<br />

escolas que adotam um sistema de organização curricular por disciplina,<br />

aí sim os conteúdos de fi losofi a e sociologia precisam ser ministrados<br />

por disciplina, obrigatoriamente. Essa foi a saída formal. A sociologia e<br />

a fi losofi a estão explicitamente referidas na LDB. Elas não são tratadas<br />

como disciplinas, mas como conteúdos curriculares.<br />

Historicamente, já houve épocas em que elas eram disciplinas.<br />

O que ocorreu?<br />

Sociologia e fi losofi a foram vítimas preferenciais em alguns momentos.<br />

O primeiro foi o da época da ditadura militar. O aparelho repressivo<br />

imaginava que essas aulas, com seus professores, eram verdadeiros<br />

ninhos de comunistas e subversivos. Mais recentemente, de 1995 <strong>para</strong><br />

cá, em São Paulo principalmente, acorreu um fortíssimo enxugamento<br />

da grade curricular do Ensino Médio. Havia uma concepção, que eu<br />

considero totalmente equivocada, que, como não se podia fazer tudo<br />

razoavelmente bem, concentrar-se a grade curricular no ensino de<br />

português e matemática. Esse foi basicamente o pressuposto da política<br />

pública desenvolvida pelo governo do Estado de São Paulo nesse período.<br />

O resultado dessa política foi a adoção de várias medidas de eliminação de<br />

uma quantidade incrível de aulas de história, geografi a, fi losofi a, sociologia,<br />

remanescentes de psicologia e mesmo diminuição de aulas de química,<br />

física e biologia. Os resultados podem ser medidos pelo SAEB (Sistema<br />

Nacional de Avaliação da Educação Básica), que de 1995 até 2003 mostra<br />

uma queda permanente das curvas de qualidade da educação paulista.<br />

É claro que isso tem que ser melhor investigado mas eu suspeito que o<br />

enxugamento da grade curricular do Ensino Médio, com a eliminação de<br />

uma enorme quantidade de aulas de disciplinas mais contextualizantes,<br />

levou a um empobrecimento inclusive do aprendizado da matemática e<br />

do português. Outro argumento no que se refere a sociologia e fi losofi a é<br />

que nós devemos estar pre<strong>para</strong>dos <strong>para</strong> um processo de enriquecimento<br />

curricular do Ensino Médio. A demanda por mais vagas será declinante nos<br />

próximos anos, assim como já tem acontecido no Ensino Fundamental, o<br />

que abre possibilidades reais de investimentos maiores em qualidade. Entre<br />

os critérios de qualidade está o enriquecimento gradativo dos componentes<br />

curriculares oferecidos aos estudantes.<br />

De maneira geral, e não só no Ensino Médio, essa seria a<br />

necessidade premente da escola no Brasil?<br />

Eu diria que é avançar na qualidade. Essa qualidade deriva de alguns pontos<br />

centrais. Primeiro, uma política efetiva de valorização do magistério. Temos<br />

que inverter esse sinal perverso que é o salário do professor. Que vida eu<br />

terei se escolher ser professor? Quando hoje um jovem percebe que o salário<br />

médio do professor no Brasil é R$ 700, nós estamos dando o seguinte sinal:<br />

fora aqueles que são vocacionados e que têm paixão<br />

pela atividade do magistério, escolherão a carreira<br />

de professor os que não encontrarem outra opção<br />

no mercado de trabalho. Essa é a realidade brasileira<br />

e temos que inverte-la. Temos que considerar que,<br />

em poucos anos, um jovem estudante que tenha<br />

interesse por biologia considere ser professor de<br />

biologia com a mesma intensidade que considera ser médico, por exemplo.<br />

Ele tem que saber que essa é uma opção viável <strong>para</strong> o seu projeto de vida.<br />

Precisamos de políticas muito mais corajosas de valorização do professor,<br />

não apenas do ponto de vista salarial mas das suas condições de trabalho<br />

e de desenvolvimento profi ssional permanente. O mercado profi ssional<br />

<strong>para</strong> educadores vai se ampliar vertiginosamente no país nos próximos<br />

anos, o que é bom. Com a adoção da nova sistemática de fi nanciamento<br />

da educação básica, o Fundeb, os sistemas de ensino, particularmente os<br />

municipais, vão fi car muito estimulados a ampliar sua rede de escolas<br />

de Educação Infantil e aumentar suas atividades de EJA. Apenas 8% das<br />

crianças brasileiras de zero a três anos são atendidas em creches. Esse é o<br />

principal problema político-educacional dos prefeitos brasileiros. A grande<br />

pressão política da opinião pública é pela abertura de creches. A matrícula<br />

de uma criança numa creche será condição <strong>para</strong> que o prefeito traga<br />

recursos <strong>para</strong> o seu município através do Fundeb.<br />

E o que mais a escola brasileira precisa <strong>para</strong> melhorar<br />

de qualidade?<br />

Um segundo ponto requer investimentos <strong>para</strong> diminuir fortemente<br />

o número de alunos por sala de aula. Isso é essencial, representa<br />

condição de uma assistência educacional mais adequada. Com classes<br />

de 45, 46 alunos, em séries iniciais do Ensino Fundamental, não há<br />

boa pedagogia que resista. Esse processo de diminuição é factível, não<br />

só nas séries iniciais, e se dá pela diminuição da taxa de natalidade e<br />

do êxito de algumas políticas de progressão e correção de fl uxo dos<br />

alunos pelo Ensino Fundamental, permitindo uma quantidade menor<br />

de alunos principalmente no Ensino Fundamental. Outras estratégias<br />

adequadas, como escolas de tempo integral, passam a ser possíveis:<br />

temos professores, salas de aula, e até ociosidade em algumas escolas,<br />

então é possível ter a complementação do processo educativo do<br />

aluno na própria escola.<br />

Nós não temos tempo<br />

histórico <strong>para</strong> esperar a<br />

formação de uma nova<br />

geração de professores<br />

Um terceiro ponto que demanda investimentos é a questão dos<br />

próprios recursos didáticos. O livro didático, uma tecnologia do<br />

século XIII, ainda não chegou ao século XXI na maioria das escolas do<br />

Ensino Médio. Agora o governo federal está indo <strong>para</strong> o terceiro livro.<br />

Aplausos porque fi nalmente isso está começando. Alguns professores<br />

adaptavam um arremedo de apostila <strong>para</strong> ter algum material de<br />

suporte. A situação mais comum é, à noite, um professor cansado se<br />

resignar a colocar na lousa, onde o giz mal pega, um ponto da sua<br />

disciplina que provavelmente não será sequer copiado pelos alunos,<br />

igualmente cansados, e que jamais será discutido. O resultado do SAEB<br />

mostra que 70% dos alunos que concluem o Ensino Médio no Brasil<br />

hoje, e mesmo em São Paulo, são classifi cados<br />

entre os níveis crítico e muito crítico, e apenas<br />

7% são classifi cados no nível adequado em<br />

profi ciência em matemática. Não é de causar<br />

surpresa. Nós não temos tempo histórico <strong>para</strong><br />

esperar a formação de uma nova geração de<br />

professores ou esperar 20 anos <strong>para</strong> acertar<br />

a educação no Brasil. Em 20 anos, se continuar assim, o Brasil será<br />

condenado a ser uma nação de segunda classe no planeta. Como não<br />

temos esse tempo, precisamos recorrer a novas tecnologias de apoio<br />

ao professor e ao aluno, e entre elas está o livro didático. Não podemos<br />

esperar uma política vagarosa de livro didático <strong>para</strong> os estudantes do<br />

Ensino Médio. Isso tem que ir com muito mais velocidade, e associada<br />

a tecnologias do século XXI.<br />

Um quarto ponto remete à dimensão da estruturação das escolas<br />

e dos sistemas de ensino, o que envolve uma teia de providências,<br />

entre elas fi xar o professor na escola. Escola é equipe escolar. Escola<br />

em que a equipe é volante se sente frágil. Fixar o professor na escola,<br />

como forma de organização do sistema de ensino, tem que ser meta<br />

perseguida pelos gestores. Acredito nesses quatro pontos como a base<br />

da revolução educacional necessária e urgente.<br />

Contatos com Cesar Callegari: cesarcallegari@uol.com.br;<br />

www.cesarcallegari.com.br<br />

Direcional Escolas, agosto/06<br />

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Direcional Escolas, agosto/06<br />

10<br />

CAPA<br />

Por uma escola inteligente<br />

É chegada a hora, ensaiada por séculos.<br />

Não mais os muros da prisão intelectual,<br />

Mas a visão de um mundo global,<br />

Ávido por ser reinventado e inovado,<br />

A cada instante.<br />

Ao gestor o cuidado,<br />

Ao educador a realização,<br />

Ao estudante o direito à vida,<br />

À sociedade a oportunidade de ver-se,<br />

E rever-se a si mesma...<br />

A Escola Inteligente<br />

Não é a escola do futuro,<br />

Mas a escola do presente.<br />

O futuro passa por aqui.<br />

Por Cassiano Zeferino de Carvalho Neto<br />

O contexto histórico e seus reflexos na educação<br />

contemporânea<br />

As concepções político-educacionais têm experimentado crises<br />

profundas nas últimas décadas. Am<strong>para</strong>das em significativos avanços<br />

da Psicologia, Pedagogia, Psicopedagogia, Neurobiologia, Sociologia,<br />

Direito e Política, dentre outras ciências recorrentes, as maneiras<br />

de conceituar, organizar e promover a educação formal vêm se<br />

transformando e exigindo novas respostas a antigos problemas.<br />

Centrados nas perspectivas político-institucionais, nas relações<br />

sócio-pedagógicas docente-discente, nos ambientes e mídias e nas<br />

condições de contorno da própria comunidade em que se constitui e<br />

que a constitui, a escola não pode e nem consegue mais permanecer<br />

no pedestal de singularidade acadêmica em que um dia se postou.<br />

Assim, deslocada de sua posição de instituição guardiã dos<br />

saberes seculares, recolocada agora <strong>para</strong> um mundo que a ressitua<br />

como espaço e lugar planetário e destituída de poder a priori que<br />

gozava desde suas origens, a escola colapsou. Na verdade nunca<br />

foi pre<strong>para</strong>da <strong>para</strong> experimentar mudanças <strong>para</strong>digmáticas tão<br />

profundas e bruscas como a que experimentou em poucas décadas,<br />

principalmente desde o final do século XX. Ao longo da história da<br />

educação a escola, como instituição formal de ensino, repetidamente<br />

veio a reboque das inovações de caráter científico, artístico e<br />

tecnológico. Enquanto os saberes epistemológicos avançaram com a<br />

velocidade de um jato, a escola mal e mal conseguiu se “atualizar” na<br />

velocidade de uma bicicleta a ser pedalada sem <strong>para</strong>r, pois se não por<br />

si só não se manteria em movimento.<br />

Conceber uma escola que venha atender às efetivas demandas de<br />

uma sociedade planetária, mas em nível local, rompendo sem cinismo<br />

com as próprias barreiras e limitações, requer não só ousadia, mas<br />

também novos referenciais tão confiáveis quanto possíveis. Em outras<br />

palavras, poderíamos dizer que é essencial reinventar a escola, sem que ela<br />

perca a sua identidade; pelo contrário, fazendo-a conquistar seus novos<br />

espaços e tempos, reconstruindo seu caráter de contemporaneidade.<br />

A pedagogia contemporânea busca construir modelos consistentes<br />

capazes de responder aos desafios educacionais deste tempo, sabendo de<br />

antemão que serão provisórios, passíveis de aprimoramentos e requintes,<br />

críticas e ajustes, melhoria contínua enfim.<br />

Portanto podemos arriscar dizer que estamos diante de uma<br />

situação ímpar na história recente da educação brasileira. Se,<br />

por um lado, muitos clamam por mudanças nem todos podem<br />

promovê-las, pelas mais variadas razões. É preciso levar em conta<br />

ainda que somente com boas intenções isoladas não se chegará<br />

longe, na verdade pouco poderá ser efetivamente feito. As políticas<br />

públicas carecem de atitudes responsáveis no sentido de ir além<br />

das aparências e das formas, superando as fachadas que querem<br />

mostrar serviço, mas que, de fato, muito pouco ou nada contribuem<br />

<strong>para</strong> a construção de novos modelos de educação e de escola. Assim<br />

o tempo passa e gerações e gerações de brasileiros se perdem no<br />

abismo das aparências disfarçadas de realizações sociais e políticas<br />

bem intencionadas.<br />

O que parece muito longe pode estar mais perto<br />

do que se imagina ou supõe<br />

Consideramos indispensável buscar estabelecer algumas<br />

categorias <strong>para</strong> auxiliar na compreensão dos fenômenos de<br />

natureza histórico-social que preponderantemente contribuíram,<br />

e vem contribuindo, de forma intensa com a escola, obrigando-<br />

a a relativizar, de forma aceleradíssima, seu papel secular, suas<br />

especialidades e especificidades.<br />

Ainda que carecendo de um aprofundamento impossível de ser<br />

aqui detalhado, podemos dizer que a descentralização e a pulverização<br />

da informação e sua atual multicomplexidade, alcançando os sujeitos<br />

sociais por variados canais, como o rádio, a televisão, a internet e as<br />

mídias do jornalismo, dentre outros meios, foram e continuam sendo<br />

os fatores mais importantes <strong>para</strong> compreendermos a crise institucional<br />

da escola. Certamente outros aspectos de natureza social que passam<br />

pela instituição familiar, religiosa, política e mesmo a educacional, têm<br />

sofrido mudanças intensas o que acaba por afetar os antigos modelos<br />

e padrões escolares: as necessidades são outras, as respostas também.<br />

Assim, mesmo que de um modo não rigoroso, podemos dizer que<br />

o acesso à informação, que se intensificou nos anos de 1980 <strong>para</strong> cá,<br />

provocou e continua a provocar uma verdadeira revolução. A diferença<br />

entre uma revolução e uma reforma está, justamente, nos tempos em<br />

que cada uma se dá. Enquanto que uma revolução trata de mudanças<br />

profundas em tempos curtos, uma reforma pode significar mudanças<br />

não tão profundas em tempos longos. Dessa forma se estabelece e<br />

permanece a crise na Educação: o entorno social à escola caminha no<br />

passo revolucionário e a escola no passo das reformas.<br />

Se este quadro de fato puder representar, ainda que de modo<br />

aproximativo, o cenário em que hoje vive a escola podemos mais<br />

bem compreender o contexto em que estamos inseridos, enquanto<br />

responsáveis por políticas públicas e privadas, por gestão e docência ou<br />

por discência e entorno escolar. Com isso podemos nos lançar à busca<br />

de soluções, aqui entendidas, de forma rigorosa, como tecnologias. Aliás,<br />

vale dizer que há diferenças fundamentais entre tecnologia, técnica e<br />

mídia. O primeiro conceito se refere ao por que, no sentido de buscar<br />

soluções a um determinado problema e isto envolve inteligências e<br />

criatividade (arte); o segundo trata de como as soluções apresentadas<br />

podem ser implementadas, interconectando as mídias, isto é, o “que”<br />

responsável pela implementação final do processo. Numa sala de aula<br />

tradicional o quadro e as carteiras, juntamente com cadernos, lápis,<br />

borracha etc. se constituem em mídias (o que); o modo como se<br />

relacionam e interconectam são as técnicas utilizadas (por exemplo,<br />

não se colocam as carteiras de modo que os estudantes fiquem de<br />

costas <strong>para</strong> o quadro de giz!) e a tecnologia está oculta, pois representa<br />

o conjunto de problemas e suas possíveis respostas aproximativas que<br />

foram, ao longo do tempo, precisando ser enfrentados <strong>para</strong> que o<br />

fenômeno educacional e seus processos pudessem se estabelecer.<br />

Por uma escola inteligente<br />

Tendo como referência as considerações feitas até aqui<br />

procuramos responder aos problemas centrais da educação básica<br />

e superior. A escola deve ser capaz, antes de tudo, de criar um<br />

ambiente de acolhimento não só afetivo, mas também em sintonia<br />

com a contemporaneidade da vida social, com todos os desafios<br />

e oportunidades que encerra, <strong>para</strong> além dos discursos vazios e<br />

carregados de falso ufanismo. A esta escola chamaremos de Escola<br />

Inteligente.<br />

Se <strong>para</strong> muitos uma Escola Inteligente pode ser um avanço,<br />

um alto degrau do ponto de vista tecnológico, <strong>para</strong> outros<br />

representará o presente com sua ambientação <strong>para</strong> o futuro. Entre<br />

tais extremos se inclui um espetacular universo de jovens e adultos<br />

que vivem na sociedade do conhecimento, uma sociedade na qual<br />

a miscigenação cultural é de natureza complexa, ampla e irrefreável<br />

por se sustentar na democratização das tecnologias da informação<br />

e comunicação, no âmbito planetário.<br />

Não há mais opção de natureza romântica do tipo “participo,<br />

ou não participo da inclusão digital”! De fato, esta questão pode ser<br />

alterada: “<strong>para</strong> existir devo me incluir” e retornamos à necessidade<br />

fundamental da espécie humana: “só existo e me constituo homem<br />

na interação com o outro”.<br />

Direcional Escolas, agosto/06<br />

11


Direcional Escolas, agosto/06<br />

12<br />

CAPA<br />

•<br />

NA INTERNET<br />

• www.intelligentschool.com.br<br />

• www.salainteligente.com.br<br />

• www.aulainteligente.com.br<br />

• www.ciaedu.com.br/home.htm<br />

• www.ifce.com.br<br />

• www.igge.org.br<br />

CONVITE ESPECIAL<br />

Visite a Sala Inteligente, célula vital da Escola Inteligente,<br />

na SABER – 2006 (www.feirasaber.com.br).<br />

Enquanto interagir representou estar perto fi sicamente, as<br />

características das relações humanas tinham um determinado<br />

protocolo e modo de ocorrer, mas na medida em que “estar<br />

próximo” transcendeu a dimensão unicamente física e alcançou<br />

a esfera virtual, o contexto passou a mudar e novas confi gurações<br />

foram se estabelecendo. Podemos dizer, com pequena margem de<br />

erro, que tanto o mundo quanto a humanização e as relações sociais<br />

por ela responsáveis estão sendo reinventadas a todo instante. O<br />

que era circunscrito a um local, ou área física, hoje se converte num<br />

espaço cibernético que, literalmente, representa o mundo, ou ainda no<br />

conceito de Pierre Levy, na Cibercultura.<br />

Este é um dos principais cenários do cidadão do século XXI. Sua<br />

cidadania não deve e nem pode ser mero discurso político, desprovido<br />

de signifi cado efetivo. Como dissemos há pouco, não mais se trata de<br />

uma escolha ingênua, e sim de uma necessidade tão imperativa ao<br />

ser humano quanto o domínio da linguagem, em suas mais diferentes<br />

esferas de manifestação. É nesta perspectiva e dimensão que se insere<br />

uma Escola Inteligente, que se recusa em ser uma colcha de retalhos<br />

pedagógicos, <strong>para</strong> assumir-se enquanto instituição de seu tempo e do<br />

futuro da civilização.<br />

Mas os muros da Escola Inteligente são baixos, ou praticamente<br />

inexistem! Não nos referimos aos muros de tijolos e concreto, mas<br />

aqueles que podem representar barreiras culturais. Nesta perspectiva<br />

a escola está na casa do estudante e do professor, e cada um deles se<br />

encontra na escola, a qualquer hora do dia ou da noite, 365 dias e seis<br />

horas por ano. A comunidade Escola Inteligente é, portanto, altamente<br />

interativa, social-dialógica, crítico-criativa e desenvolve a consciência<br />

da cidadania como fator essencial à vida.<br />

Longe da fragmentação, a Escola Inteligente é antes um elo<br />

integrador <strong>para</strong> os sujeitos, na seara de sua trajetória cultural. É fonte<br />

de informação e desafi o; é partilha, mas é também o obstáculo e o<br />

confl ito construtivo das personalidades capazes de hoje, <strong>para</strong> no futuro<br />

lidarem com as divergências e adversidades que se apresentarem ao<br />

longo da vida.<br />

A escola estratifi cada, estanque e engessada que pretende<br />

transmitir a qualquer custo valores, totalmente questionáveis, deve<br />

ceder lugar a uma escola fl exível, mas não frouxa; intensa, mas<br />

não massacrante; provocadora da construção dos saberes e rica em<br />

possibilidades pedagógicas, mas sem ostentações inúteis; democrática,<br />

mas não demagógica e contemporânea sem perder de vista os<br />

horizontes de futuro. Enfi m, plena, mas sem jamais estar pronta.<br />

Ao educador resgata-se a dimensão da autoria. Por ter à disposição<br />

nada menos do que um universo de informações, poderá tanto contar<br />

com as bibliotecas da aula inteligente, como ir buscar em qualquer sítio<br />

da web a informação documental que possa ser elemento constitutivo<br />

<strong>para</strong> a elaboração de autoria. Em outras palavras, passará o educador<br />

a exercer sua dimensão de autor e não mais de mero reprodutor de<br />

conteúdos impostos, por razões discutíveis e nada democráticas. Assim,<br />

os potenciais criativos e inovadores dos educadores poderão, neste<br />

novo cenário, emergir mais plenamente, trazendo um clima salutar,<br />

rico, vivo e desafi ador, que em última instância propiciará o resgate<br />

da identidade responsável, perante os objetos da cultura e do saber, na<br />

arte de mediar.<br />

Ao gestor de uma escola inteligente estará reservada a missão<br />

de cuidar <strong>para</strong> que a qualidade total seja um processo com início,<br />

avaliação, reinício diário, sem fi m.<br />

A Escola Inteligente deve ser o local da descoberta, da criatividade,<br />

do poder da emoção, das relações humanas em toda sua plenitude, da<br />

revisão crítica da sociedade e do cidadão como construtor inseparável<br />

desta mesma sociedade.<br />

Referências bibliográfi cas:<br />

CARVALHO NETO, C. Z. Por onde caminha a Educação? IFCE – <strong>Instituto</strong><br />

<strong>para</strong> a Formação Continuada em Educação: São Paulo, 2003.<br />

___________________ e MELO M. T. E agora, Professor? (Por<br />

uma Pedagogia Vivencial). Obra em multimídia. IFCE – <strong>Instituto</strong> <strong>para</strong> a<br />

Formação Continuada em Educação: São Paulo, 2004.<br />

CARVALHO NETO, C. Z. Por uma Escola Inteligente. <strong>Instituto</strong> Galileo Galilei<br />

<strong>para</strong> a Educação (IGGE): São Paulo, 2005.<br />

Cassiano Zeferino de Carvalho Neto é Educador, presidente do IGGE<br />

– <strong>Instituto</strong> Galileo Galilei <strong>para</strong> a Educação (www.igge.org.br). Email:<br />

presidente@igge.org.br<br />

O novo papel dos avós<br />

na educação<br />

A fi gura dos avós mudou radicalmente nas últimas décadas. Muitos<br />

de nós lembramos com grande saudade daquelas pessoas de cabelos<br />

grisalhos ou brancos, que visitávamos aos domingos e amorosamente<br />

nos cobriam de mimos e vontades.<br />

A casa da avó era repleta de cheiros bons que vinham da cozinha, de<br />

brinquedos que não se precisavam guardar, de bichinhos de estimação<br />

que não se podiam criar nas nossas casas, de horários muito fl exíveis<br />

<strong>para</strong> dormir e acordar, de colos, abraços, afagos e beijos sem fi m. Era<br />

onde se conseguia exercer uma certa tirania sem repreensão e sem<br />

repressão, pois a visita ao <strong>para</strong>íso era limitada pela segunda-feira, quando<br />

invariavelmente começavam os deveres, as regras e a escola <strong>para</strong> onde<br />

nossos pais nos levavam .<br />

Com o passar dos anos, os avós foram estendendo sua responsabilidade<br />

na vida das famílias por eles iniciadas, deixando de ser apenas um esteio<br />

emocional, <strong>para</strong> serem parceiros no cuidado direto com os netos, quando<br />

não se tornam seus verdadeiros educadores.<br />

Mesmo em jovens famílias bem estruturadas e com recursos<br />

econômicos sufi cientes, podemos atualmente verifi car com facilidade<br />

a importância que a presença praticamente diária dos avós tem<br />

na educação dos netos. Com as mães trabalhando fora, as crianças<br />

precisam da presença de alguém de confi ança <strong>para</strong> cuidar delas, dando-<br />

lhes amparo afetivo e se responsabilizando por parte de sua criação<br />

e educação, não só quando estes são bebês, mas também por toda<br />

infância e adolescência .<br />

O aparecimento da nova estrutura da família em nossa sociedade,<br />

construída também a partir dos múltiplos casamentos, a ausência de<br />

um dos pais, quer devido a se<strong>para</strong>ções matrimoniais, à morte, às diversas<br />

doenças, assim como ao abuso de drogas, incapacidades momentâneas,<br />

desemprego, etc., colocou muitos avós como protagonistas e não mais<br />

como coadjuvantes na educação das novas gerações.<br />

Porém, é importantíssimo lembrar que, numa época da vida<br />

onde provavelmente as pessoas pensam em passar e não em assumir<br />

responsabilidades, esse voltar no tempo pode representar um ônus<br />

difícil de ser pago, apesar de haver um lado afetivo importante e<br />

positivo <strong>para</strong> todos. Assim, os mais velhos, por terem companhia de<br />

seus netos, revivem experiências, criam novos hábitos pessoais, sente-<br />

se revigorar pela oportunidade de doar o tempo e a atenção que não<br />

tiveram oportunidade de vivenciar com seus próprios fi lhos. Muitos se<br />

sentem impulsionados a rejuvenescer , a atualizar-se <strong>para</strong> acompanhar<br />

o crescimento dos netos.<br />

Por Maria Irene Maluf<br />

Mas a situação pode também criar áreas de atrito e de risco <strong>para</strong> os<br />

dois lados, provocando o aparecimento de sentimentos contraditórios,<br />

de perda, ressentimento, culpa, além de representar uma privação da<br />

liberdade pessoal, a qual, tendo os fi lhos já adultos, as pessoas almejam<br />

usufruir. É diferente cuidar das crianças nos fi nais de semana e de se<br />

colocar no lugar de pais, de educadores, que têm de impor limites,<br />

estabelecer controles e providenciar recursos fi nanceiros <strong>para</strong> fazer frente<br />

aos novos compromissos. As diferenças tornam-se ainda mais evidentes<br />

quando os netos, já crescidos e com hábitos e costumes arraigados, vão<br />

<strong>para</strong> a guarda defi nitiva de seus avós.<br />

Muitos pais acabam também por se ressentir da intimidade e do<br />

afeto dos fi lhos com os seus sogros e pais. As crianças podem sentir a<br />

fragilidade física de seus novos cuidadores, a falta da presença e atenção<br />

de seus pais e a inevitável mudança da linha educativa nem sempre é<br />

recebida com tranqüilidade.<br />

Acostumados com avós muito condescendentes quando eram<br />

apenas visitas de domingo, há crianças que se ressentem da mudança<br />

necessária de papéis: no lugar dos doces ilimitados surge a escova de<br />

dentes, a alimentação balanceada; em vez das brincadeiras e folguedos<br />

livres de obrigações com a realidade, surgem às reclamações, os horários,<br />

as exigências. Não é mais possível ser “mãe e pai com açúcar”: agora<br />

cabe aos avós a tarefa de conferir o banho, a lição de casa, o horário<br />

das refeições, da escola, das aulas de inglês, música, judô.... entre outras<br />

atividades do dia-a-dia.<br />

Além disso, acrescentam-se ao choque inevitável das gerações as<br />

diferenças culturais familiares, fatos que costumam ser subestimados.<br />

Acredito ser importantíssimo que os avós, imbuídos dessa nova<br />

responsabilidade, recebam sempre que necessário, além do carinho e da<br />

gratidão de seus fi lhos, o apoio e assistência às suas novas necessidades,<br />

através da consulta a profi ssionais especializados que os ajudem a<br />

compreender seu novo papel, lhes dêem subsídios <strong>para</strong> desempenhar a<br />

tarefa de modo adequado e prazeroso <strong>para</strong> eles, <strong>para</strong> seus fi lhos e netos.<br />

Assim, mesmo assumindo esse desafi ante compromisso, ainda<br />

conseguirão com maior facilidade, continuar a ser os avós queridos que<br />

tanto têm a oferecer em termos de afetividade e experiência de vida às<br />

novas gerações.<br />

Maria Irene Maluf é Pedagoga, especialista em Educação Especial e<br />

Psicopedagogia, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia<br />

(ABPp) e editora da revista Psicopedagogia.<br />

e-mail irenemaluf@uol.com.br<br />

Direcional Escolas, agosto/06<br />

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Direcional Escolas, agosto/06<br />

14<br />

EDUCAÇÃO AMBIENTAL<br />

Processos geológicos e o homem como<br />

responsáveis pela transformação da terra<br />

A espécie humana é a única que não apenas usufrui o ambiente<br />

favorável <strong>para</strong> sua sobrevivência, mas também se apropria dele<br />

e o modifica <strong>para</strong> suprir suas necessidades. O intenso uso da<br />

superfície terrestre pelo ser humano já mostra sinais de mudanças<br />

desfavoráveis à manutenção da vida. Por isso, é necessário<br />

aproximar as crianças do conhecimento da dinâmica do Planeta e<br />

das possíveis conseqüências da interferência humana sobre o meio<br />

físico. Assim, poderemos continuar...<br />

Se refletirmos, podemos estudar a História Natural e escolher<br />

que caminho seguir: o do respeito à Natureza e seus ciclos, usufruindo<br />

os recursos naturais hoje, sem comprometê-los <strong>para</strong> o uso das<br />

futuras gerações, ou o do imediatismo, explorando o ambiente e os<br />

recursos naturais de forma indiscriminada e predatória.<br />

É importante conhecer como funciona o Planeta, de onde vêm<br />

os recursos naturais, e os aspectos lúdicos e cognitivos que podem<br />

ser explorados com a Geologia, tendo como resultado mudar a<br />

perspectiva imediatista e individualista das crianças <strong>para</strong> uma<br />

perspectiva holística e de longo prazo na compreensão da Natureza.<br />

Conhecimentos sobre como a Terra funciona podem causar uma<br />

modificação real nas relações que cada pessoa tem com o ambiente. A<br />

pessoa consciente do significado dos processos naturais sente que faz<br />

parte da Natureza e passa a ter um cuidado maior em suas atividades<br />

cotidianas. Todas elas interferem nos processos naturais e trazem<br />

conseqüências desejáveis ou indesejáveis, em prazos mais longos ou<br />

mais curtos. Antes de tratar de questões ambientais globais, como<br />

poluição, efeito estufa, aquecimento global e diminuição da camada<br />

de ozônio, processos que fazem parte do cotidiano das crianças<br />

podem ter um efeito educativo maior.<br />

Nesse contexto, o livro Cinco pedrinhas saem em aventura,<br />

editado pela Oficina de Textos, conta uma parte do ciclo geológico<br />

por meio da viagem de alguns grãos e evidencia algumas noções<br />

de processos geológicos, ou seja, processos naturais envolvendo<br />

materiais da Terra. Com isso, a criança pode despertar <strong>para</strong> a<br />

dinâmica natural e também <strong>para</strong> as interferências que as atividades<br />

humanas têm nessa dinâmica, já que, na história, algumas ações<br />

antrópicas estão incorporadas à história dos grãos.<br />

Atividades que educam e ampliam esse conhecimento de<br />

forma simples são sugeridas a seguir. Para saber mais, acesse:<br />

http://www.ofitexto.com.br/5pedrinhas/<br />

Por Maria Cristina Motta de Toledo<br />

1. Ciclo da água<br />

O ciclo da água pode ser observado em escala diminuída<br />

em montagens simples. Por exemplo, pode-se pegar um aquário<br />

pequeno, com terra e areia secas. No meio da terra, coloca-se uma<br />

planta com bastante folhas, retirada de um vaso.<br />

Coloque bastante água no aquário e observe pelas paredes<br />

transparentes que a terra e a areia vão mudando de cor conforme<br />

ficam umedecidas. Quando a parte inferior do material fica saturada<br />

em água, temos a formação do lençol de água subterrânea. Nesse<br />

momento, já se faz uma observação muito importante, pois muitas<br />

pessoas não sabem que o lençol de água subterrânea não é um<br />

espaço contínuo ocupado por água, mas o conjunto de vazios entre<br />

os grãos minerais ocupados por água.<br />

À medida que se acrescenta água, observa-se a infiltração<br />

e a subida do nível freático. Esse processo reproduz uma fase<br />

fundamental que é a alimentação da água subterrânea.<br />

Quando quase tudo estiver saturado, fecha-se o aquário<br />

com um saco plástico transparente que envolva toda a beirada do<br />

aquário e que seja alto o suficiente <strong>para</strong> deixar um espaço vazio<br />

acima das folhas da planta. O plástico deve ser grudado com fita<br />

adesiva nas paredes do aquário <strong>para</strong> que não haja troca de ar com<br />

o exterior. Esperam-se algumas horas <strong>para</strong> que a água evapore do<br />

solo e a planta transpire, de modo que a parte interna do plástico<br />

condense o vapor de água vindo desses processos. Com pequenos<br />

golpes com os dedos sobre o plástico, as gotículas precipitarão<br />

sobre a planta e o solo, simulando a chuva.<br />

2. Intemperismo<br />

• Físico (congelamento): fragmentos de rocha colocados no<br />

congelador à noite e retirados de dia. Após alguns dias, semanas ou<br />

meses, dependendo da rocha, os fragmentos estarão se esfarelando.<br />

Sugestão: “pedra mineira” e arenito sofrerão fragmentação rápida;<br />

granito sofrerá fragmentação lenta.<br />

• Químico (dissolução): fragmento de mármore mergulhado em<br />

água com vinagre, água com limão ou em Coca-Cola. A superfície<br />

polida ficará áspera pela progressiva dissolução dos cristais.<br />

Sugestão: verificar pias de cozinha feitas de mármore, granito ou<br />

outras rochas. Após alguns anos de uso, apresentarão perda do<br />

Foto: Almir Cândido<br />

polimento nos locais mais sujeitos a agentes de dissolução, como<br />

sabonete, detergente, vinagre, limão etc.<br />

3. Identificando a importância<br />

da Geologia no cotidiano<br />

Simule o dia-a-dia desde a hora de acordar até o momento de<br />

dormir. Para cada ação - escovar os dentes, fazer xixi, tomar banho,<br />

comer pão no café da manhã etc. - identifique a NÃO existência de<br />

um material de origem geológica.<br />

É importante identificar tudo o que é utilizado na produção do<br />

bem ou serviço que utilizamos. A fabricação do pão, por exemplo,<br />

exige trigo adubado, e o adubo é feito a partir da apatita - mineral<br />

utilizado <strong>para</strong> fabricação de fertilizantes. O solo em que o trigo é<br />

plantado também é constituído por minerais e matéria orgânica.<br />

O vaso sanitário que usamos é fabricado a partir de material de<br />

origem geológica.<br />

4. Erosão e transporte<br />

• Pelo vento: pegue um punhado de areia e assopre. Pegue um<br />

punhado de terra de jardim e assopre. Verifique as diferenças,<br />

como os tipos de grãos que foram retirados pelo sopro. É possível<br />

demonstrar influência da umidade, da presença de raízes no solo<br />

etc. Havendo espaço, mais tipos de materiais e um ventilador<br />

podem ser utilizados. Os materiais de diferentes granulometrias<br />

podem ser misturados. Com o ventilador ligado, os materiais serão<br />

levantados (erosão), transportados e sedimentados a diferentes<br />

distâncias, conforme seu tamanho e massa. Com o ventilador<br />

desligado, verifica-se que grãos mais finos foram levados mais <strong>para</strong><br />

longe, e grãos maiores ficaram mais próximos do monte inicial.<br />

• Pela água: coloque uma mistura de terra de jardim, areia e<br />

pedregulhos sobre uma superfície cimentada ou revestida. Jogue<br />

água com um regador ou uma mangueira. Com pouca água, veja<br />

que o monte se desmonta, mas somente os grãos menores (portanto,<br />

mais leves) são transportados. Com maior quantidade de água e/<br />

ou aumentando a pressão na mangueira, grãos progressivamente<br />

maiores serão retirados do monte e transportados.<br />

Maria Cristina Motta de Toledo é geóloga, livre-docente pelo<br />

<strong>Instituto</strong> de Geociências (IGc) da USP, e Professora Associada<br />

deste <strong>Instituto</strong> e da Escola de Artes, Ciências e Humanidades<br />

(EACH) da USP. Foi responsável por um programa de<br />

divulgação das Geociências na Secretaria Estadual de Cultura<br />

e Secretarias Municipais de Cultura e Escolas de 1º e 2º graus<br />

no Estado de São Paulo, de 1991 a 1995. Realiza pesquisas<br />

em Geoquímica de Superfície. Foi coordenadora do programa<br />

de pós-graduação em Geoquímica e Geotectônica e do curso<br />

de Licenciatura em Geociências e Educação Ambiental do<br />

IGc-USP. É coordenadora do curso de Licenciatura em<br />

Ciências da Natureza da EACH e co-autora dos livros Cinco<br />

Pedrinhas Saem em Aventura (M. Cristina M. Toledo e Rosely<br />

A. Imbernon) e Decifrando a Terra (Wilson Teixeira, M.<br />

Cristina M. Toledo, Thomas R. Fairchild, Fabio Taioli), ambos<br />

pela Editora Oficina de Textos (www.ofitexto.com.br)<br />

Direcional Escolas, agosto/06<br />

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Direcional Escolas, agosto/06<br />

16<br />

DIDÁTICA<br />

Aulas animadas:<br />

mais movimento ao que<br />

acontece dentro da escola<br />

Por Mary Grace Martins<br />

A palavra ânimo, do latim “anima”, está ligada a alma e significa “sopro de vida”. A animação é um dos sinais<br />

que nos dá a sensação de vida nos seres vivos e até mesmo em imagens (desenhos animados).<br />

Nesse sentido, as aulas “<strong>para</strong>das” em que o professor tenta “ensinar” e os alunos fazem de conta que “prestam<br />

atenção”, além de contribuírem com o desânimo dos alunos, ainda permitem que o professor acredite, por alguns<br />

momentos, que conseguiu cumprir o seu objetivo. Uma proposta de aula animada é exatamente o oposto:<br />

• Os alunos são envolvidos em um desafio que não é exclusivamente escolar, mas sim algo que eles vêem<br />

acontecer fora da escola.<br />

• O protagonista é o próprio aluno. Ele é autor e ator.<br />

• A tarefa não é <strong>para</strong> entregar ao professor, mas sim <strong>para</strong> ser reconhecida tanto na escola quanto fora dela.<br />

• O aluno é membro importante dentro de um grupo. Assume papéis fundamentais e dessa forma é responsável.<br />

• Há movimento na sala de aula. Algo que é possível observar tanto pela liberdade que os alunos têm em<br />

circular nos diferentes espaços, como também em sua expressão corporal e facial.<br />

• O professor não fica preocupado em ensinar, mas em mediar o processo <strong>para</strong> que os alunos aprendam.<br />

Como desenvolver uma proposta com estas características? O que pode ser feito de modo que o aluno<br />

perceba significado, aprenda, colabore, sinta-se desafiado e envolvido?<br />

Há várias possibilidades, principalmente quando aproveitamos o potencial que as TICs (tecnologias de<br />

comunicação e informação) podem trazer à prática pedagógica.<br />

Os alunos gostam e envolvem-se em tarefas quando podem produzir e socializar algo que é reconhecido<br />

socialmente. Por isso podem aprender muito quando têm a oportunidade de criar um blog, um programa de<br />

rádio (ou Podcast), um jornal da escola ou um vídeo. Isso porque todas estas mídias podem ser socializadas<br />

dentro e fora da escola e o aluno ser reconhecido pela sua atuação, o que é de fundamental importância.<br />

Para o Congresso Saber 2006, optamos por trabalhar com educadores a produção de vídeos. Esta oficina<br />

vivencial, intitulada Aulas animadas: produção colaborativa de vídeos na educação, terá como ponto de partida<br />

a criação de um produto a partir dos diversos recursos que serão disponibilizados (massinha, peças de lego,<br />

bonecos e outros materiais) <strong>para</strong> a elaboração, produção e apresentação de uma propaganda em vídeo do<br />

produto criado.<br />

Esta proposta tem como principal intenção promover a aprendizagem baseada na resolução de problemas (KASTRUP,<br />

2002), propiciando o trabalho em grupo e a aprendizagem colaborativa por meio das seguintes estratégias:<br />

• Envolvimento do grupo em um desafio colaborativo em que todos terão uma tarefa <strong>para</strong> que possam contribuir.<br />

• Uso do espaço da Sala Inteligente que possibilita integrar diferentes recursos e mídias em um mesmo local.<br />

• Proposta pedagógica baseada em algo que é produzido socialmente fora da escola: elaboração, construção,<br />

edição e socialização de um vídeo utilizando o software Windows Movie Maker.<br />

• Uso de material de apoio e consulta com animações que possibilitam maior autonomia <strong>para</strong> uso dos<br />

recursos tecnológicos disponíveis. Desta forma, o trabalho do mediador da oficina será apenas de orientação,<br />

Adriano Costa Vespa<br />

acompanhamento e incentivo a participação, sem precisar “ensinar”<br />

passo-a-passo cada etapa das atividades.<br />

Nosso objetivo é vivenciar e refletir a respeito do trabalho com<br />

diferentes habilidades e linguagens de modo ativo/participativo.<br />

Ao dividir com o grupo a tarefa de produzir um vídeo, os participantes<br />

compartilharão responsabilidades diferenciadas, terão que lidar com<br />

desafios que envolvem a relação com o outro e sua diversidade e até<br />

mesmo a resolução de problemas próprios da tarefa.<br />

O trabalho com múltiplas inteligências (GARDNER, 1995), é<br />

contemplado em diferentes momentos: <strong>para</strong> elaborar o roteiro é<br />

necessário inteligência lingüística, <strong>para</strong> se relacionar com o grupo<br />

durante todo o processo haverá envolvimento das inteligências intra<br />

e interpessoal, o trabalho de atuação no vídeo exigirá inteligência<br />

corporal, na criação do StoryBoard também deverá ser pensado nos sons<br />

que este vídeo terá e portanto a inteligência musical será fundamental,<br />

<strong>para</strong> pensar o cenário de produção é necessária a inteligência espacial.<br />

Ao trabalharem em grupos, os alunos aprenderão também uns com os<br />

outros, podendo partir das habilidades que já possuem e ao mesmo<br />

tempo despertarem o interesse por outras áreas.<br />

Com certeza maiores aspectos de cada uma destas inteligências<br />

serão utilizados no processo e este deverá propiciar uma reflexão aos<br />

participantes sobre o próprio desenvolvimento e aprendizagem.<br />

Outro fator importante é que em projetos como estes todos os<br />

alunos podem participar, independente de faixa etária, nível de<br />

conhecimento tecnológico ou até mesmo intelectual. É possível<br />

formar grupos contemplando a diversidade que há na escola e em<br />

nosso dia-dia, reunindo interesses e idéias de alunos surdos, cegos<br />

ou com qualquer outro tipo de limitação. Cada um pode contribuir,<br />

sentir-se importante e valorizado no projeto desenvolvido.<br />

O diferencial é o quanto a proposta foge do que comumente é<br />

apresentado na escola. Este novo contexto permite até que os alunos<br />

esqueçam que são “alunos”, daqueles que precisam fazer atividades<br />

“<strong>para</strong>-entregar-ao-professor”, pois podem atuar como inventores,<br />

cineastas, produtores, roteiristas, atores, dentre outros. O fato de<br />

assumir um novo papel ou personagem também traz um certo<br />

encantamento que permite maior envolvimento na atividade.<br />

Em suma, acreditamos que uma proposta capaz de contemplar<br />

o uso inteligente dos recursos disponíveis na escola, a diversidade<br />

de interesses e conhecimentos nas mais diversas áreas, o uso de<br />

mídias presentes em nosso cotidiano, a aprendizagem colaborativa e<br />

a perspectiva de ser agente do próprio processo de aprendizagem é o<br />

que precisamos <strong>para</strong> tornar nossas aulas e alunos mais animados.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

FRANCO, Marília S. A natureza pedagógica das linguagens audiovisuais in<br />

Coletânea Lições com cinema. São Paulo, FDE, 1993.<br />

GARDNER, Howard. Inteligências Múltiplas: a Teoria na Prática. Porto<br />

Alegre: Artes Médicas, 1995.<br />

KASTRUP, V. Aprendizagem, arte e invenção. Em Daniel Lins (Org).<br />

Nietzsche e Deleuze: intensidade e paixão. Rio de Janeiro: Relume-<br />

Dumará, 2002<br />

Martins, Mary Grace. Criando Histórias Digitais. Disponível em http://<br />

www.vivenciapedagogica.com.br . Acesso em 10/05/2006<br />

MORAN, José Manuel, MASETTO, Marcos e BEHRENS, Marilda. Novas<br />

Tecnologias e Mediação <strong>Pedagógica</strong>. 7ª ed., Campinas: Papirus, 2003<br />

PENTEADO, Heloisa Dupas. Televisão e escola: conflito ou cooperação?.<br />

São Paulo: Cortez, 1991<br />

Mary Grace Martins é Pedagoga pela USP. Atua como tutora/formadora e<br />

consultora na formação de professores em ensino à distância nos projetos<br />

da Microsoft Educação e <strong>Instituto</strong> <strong>Crescer</strong>. Designer Instrucional da QI<br />

Learning Tecnologia. Assessora em projetos de educação on-line e formação<br />

de educadores em instituições públicas e privadas pela empresa Vivência<br />

<strong>Pedagógica</strong> e responsável pelo site e comunidade virtuais de educadores<br />

desta empresa.<br />

e-mail: mary@vivenciapedagogica.com.br<br />

www.vivenciapedagogica.com.br<br />

Direcional Escolas, agosto/06<br />

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Direcional Escolas, agosto/06<br />

18<br />

ENSINO FUNDAMENTAL<br />

Ensinar Ciências <strong>para</strong> Promover a<br />

Enculturação Científica<br />

Ju Cavalheiro<br />

Por Anna Maria Pessoa de Carvalho<br />

A Proposta de Ensino<br />

Nestes últimos 30 anos, as pesquisas em ensino de Ciências vêm<br />

produzindo conhecimento e dando suporte <strong>para</strong> o planejamento<br />

de cursos cujas propostas seriam levar os alunos a produzirem<br />

conhecimento significativo não só sobre o conteúdo das disciplinas<br />

científicas como também, e principalmente, sobre o processo da<br />

construção da própria ciência.<br />

Entretanto, se de um lado os referenciais teóricos <strong>para</strong> o<br />

planejamento do ensino são aceitos por uma grande parcela da<br />

sociedade que trabalha em ensino de Ciências, os dados empíricos<br />

sobre o conhecimento realmente produzido pelos alunos nos cursos,<br />

principalmente no que se refere à aquisição do processo de construção<br />

da ciência, ou seja, a enculturação científica, ainda está sendo obtida,<br />

sendo que numerosos estudos têm mostrado que o ensino – inclusive o<br />

universitário – tem transmitido visões empírico-indutivistas da ciência<br />

que se distancia largamente de como se constroem e se produzem os<br />

conhecimentos científicos.<br />

Driver, Newton e Osborne (1999) propõem a metáfora de<br />

aprendizagem de Ciências como um processo de enculturação. A<br />

Ciência, como mostra os autores, pode ser entendida como uma cultura<br />

que tem suas regras, valores e linguagem própria e, portanto, o ensino<br />

da ciência como uma enculturação deve levar os alunos a entender e<br />

praticar essa cultura, pois é importante que o ensino leve os alunos a<br />

produzirem conhecimento significativo não só sobre o conteúdo das<br />

disciplinas científicas como também, e principalmente, sobre o processo<br />

da construção da própria ciência. É preciso, como mostra Lemke (1997),<br />

ensinar os alunos à “falar ciências”.<br />

Outros autores (Cobem e Aikenhead, 1998, Duit e Treagust, 1998) têm<br />

caminhado <strong>para</strong> a criação de meios que proporcionam a construção de<br />

explicações contextualizadas por parte dos alunos, estudando situações<br />

em que o aprendiz transpõe as fronteiras entre sua cultura cotidiana e a<br />

cultura científica. Nesse mesmo caminho encontramos trabalhos como<br />

Capecchi (2003) e Capecchi e Carvalho (2006), que identificam algumas<br />

práticas em sala de aula que facilitam as mudanças nas concepções<br />

de ciência dos estudantes, tais como: freqüentes interações professor<br />

– aluno, participação ativa dos estudantes na resolução de problemas,<br />

ênfase em questionamentos orientados pelo professor dentro de um<br />

ambiente encorajador e livre de riscos <strong>para</strong> os mesmos.<br />

No LaPEF – Laboratório de Pesquisa e Ensino de Física – estruturamos<br />

o curso de ‘Conhecimento Físico’ (Carvalho et al. 1998) <strong>para</strong> as séries<br />

iniciais do Ensino Fundamental, sendo que o nosso objetivo principal<br />

é que os alunos construam os conhecimentos específicos e que nossas<br />

aulas criem oportunidades <strong>para</strong> que estes adquiram as habilidades e<br />

atitudes próprias das ciências.<br />

Planejamos 15 atividades, que foram delineadas como problemas<br />

abertos, possibilitando a resolução pelos alunos em pequenos grupos.<br />

Nestas atividades, além de focalizarmos o conhecimento de física,<br />

procuramos também propor uma metodologia de ensino que leve em<br />

conta os conhecimentos produzidos pelas pesquisas na área de ensino<br />

de ciências.<br />

Ao propormos situações problemáticas em atividades de ensino<br />

e proporcionarmos espaço e tempo <strong>para</strong> a sistematização coletiva do<br />

conhecimento e da tomada de consciência do que foi feito, criamos<br />

oportunidade <strong>para</strong> o ‘aprender a falar ciência’ (Lemke 1997). É nessa<br />

etapa que existe a possibilidade de ampliação do vocabulário dos alunos<br />

e, com a ajuda por parte do professor, da melhora na argumentação<br />

dos alunos.<br />

Procuramos, ao planejarmos nossas atividades de ensino de física,<br />

restabelecer a humanidade e as incertezas da Ciência produzida pelo<br />

homem. Foi procurando esse objetivo que organizamos o ensino <strong>para</strong><br />

que nossos alunos experimentem, hipotetizem e argumentem sobre os<br />

conceitos científicos.<br />

Depois de elaborada a Proposta de Ensino, de propormos sua<br />

divulgação em livro (Carvalho et al 1998), vídeos www.lapef.fe.br, e<br />

muitos cursos de formação continuada <strong>para</strong> professores e coordenadores,<br />

o nosso foco foi o estudo do ensino propriamente dito. Procurando<br />

saber o que realmente as nossas Atividades ensinavam, passamos a<br />

gravar as aulas e analisá-las com o objetivo de descrever os aspectos da<br />

enculturação científica que pudessem aparecer nas falas dos alunos.<br />

1- Os aspectos da enculturação científica que<br />

aparecem quando os alunos estão resolvendo o<br />

problema em pequenos grupos.<br />

Na primeira etapa, quando os alunos estão, em pequenos<br />

grupos, manipulando os objetos <strong>para</strong> resolverem o problema,<br />

pudemos observar que esta ação não se limitou a uma simples<br />

manipulação. Na discussão entre os elementos do grupo aparece<br />

a construção e o teste de suas hipóteses. Estas são levantadas a<br />

partir das observações realizadas e/ou a partir de conhecimentos<br />

prévios trazidos <strong>para</strong> o grupo, e vão direcionando a atenção dos<br />

alunos <strong>para</strong> a seleção das variáveis relevantes do fenômeno que<br />

está sendo estudado. À medida que os alunos vão testando suas<br />

hipóteses, argumentando com seus colegas sobre suas idéias,<br />

procurando justificativas <strong>para</strong> suas ações, explicando, assim, o<br />

que estão fazendo <strong>para</strong> os outros alunos do grupo, observa-se, em<br />

muitas dessas participações, o início do raciocínio compensatório.<br />

Esta etapa do trabalho prático é fundamental <strong>para</strong> a criação de<br />

um sistema conceitual coerente e nos mostra que, quando a aula<br />

propõe um problema experimental nos quais os alunos se envolvem<br />

buscando a solução, ela proporciona <strong>para</strong> estes alunos um ambiente<br />

onde encontramos o raciocínio por trás da manipulação.<br />

Muitas discussões entre os alunos visando à resolução do<br />

problema proposto são feitas nessa parte da aula, e é principalmente<br />

nessas trocas de experiências e de proposições, quando os alunos<br />

vêem suas idéias confrontadas e precisam lidar com opiniões e<br />

atitudes diferentes das suas, que se dá a construção da autonomia<br />

moral. Essa construção dos aspectos morais durante o ensino é<br />

importante <strong>para</strong> a estruturação de uma escola cidadã.<br />

2- Os aspectos da enculturação científica que<br />

aparecem quando os alunos estão respondendo<br />

ao ‘como’ e ao ‘por que’.<br />

A atribuição de conceitos nas explicações, logo no início<br />

da discussão, já denunciava o empenho dos alunos em buscar<br />

justificativas. É durante essas duas últimas etapas, a reflexão sobre<br />

o ‘como’ - a fase da tomada de consciência de suas próprias ações<br />

- e a procura do ‘por que’ - fase das explicações causais -, que os<br />

alunos têm a oportunidade de construírem a sua compreensão dos<br />

fenômenos físicos. E, quando os alunos vão contando o que fizeram,<br />

<strong>para</strong> o professor e <strong>para</strong> a classe, descrevendo suas ações, ouvindo os<br />

colegas, eles vão estabelecendo, em pensamento, as suas próprias<br />

coordenações conceituais, lógico-matemáticas e causais, como<br />

mostram as análises de nossos dados.<br />

Quando os alunos são incitados a contar como resolveram o<br />

problema, eles começam a tomar consciência das coordenações dos<br />

eventos. A tomada de consciência está, pois, longe de constituir apenas<br />

uma simples leitura: ela é uma reconstrução feita pelo aluno de suas<br />

ações e do que ele conseguiu observar durante a experiência.<br />

Pensando no que fez, <strong>para</strong> poder falar, <strong>para</strong> contar <strong>para</strong> o<br />

professor e <strong>para</strong> a classe, o aluno vai fazendo ligações lógicas do tipo<br />

Direcional Escolas, agosto/06<br />

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Direcional Escolas, agosto/06<br />

20<br />

ENSINO FUNDAMENTAL<br />

se..., então..., portanto..., estabelecendo conexões entre as suas ações<br />

e reações dos objetos.<br />

Pudemos ver essa seqüência em todas as atividades que analisamos,<br />

isto é, o aluno vai além do ‘se eu fi z isso, então aquilo aconteceu’. Ele<br />

vai tomando consciência das etapas intermediárias, vendo os atributos<br />

físicos da experiência, e procurando uma explicação, uma justifi cativa<br />

<strong>para</strong> o seu problema, empregando, então, uma palavra nova que ainda<br />

não tinha sido utilizada – pressão, peso, força, impulso etc. É nessa<br />

etapa que existe a possibilidade de ampliação do vocabulário dos<br />

alunos e, com a ajuda por parte do professor, a aula pode proporcionar<br />

uma real comunicação entre eles. É o início da aprendizagem da<br />

linguagem científi ca.<br />

3- A Escrita dos Alunos<br />

Escrever ciências também é uma das etapas da enculturação<br />

científi ca que deve ser trabalhada na escola. O nosso Projeto,<br />

apesar de ser dirigido <strong>para</strong> alunos da primeira etapa do Ensino<br />

Fundamental, procurou desenvolver esta habilidade que realça a<br />

construção pessoal do conhecimento. A escrita é um instrumento<br />

de aprendizagem que requer um maior esforço do aluno por ser<br />

convergente e focalizado, bem diferente da argumentação oral que<br />

é fl exível enquanto explora as idéias coletivamente. Desta maneira,<br />

a escrita é uma atividade complementar à argumentação que<br />

ocorre em sala de aula, mas ambas são fundamentais em um ensino<br />

de ciências que procura criar nos alunos as principais habilidades<br />

do mundo das ciências.<br />

Nossos alunos organizaram seus textos dentro de uma ordem<br />

cronológica semelhante à ocorrida durante a atividade, o que mostra<br />

uma objetividade bastante grande tendo em vista suas idades. Além<br />

disso, eles usaram os verbos de ação na primeira pessoa do plural,<br />

refl etindo que o seu trabalho em grupo foi coletivo e não uma somatória<br />

de ações individuais. O fato intrigante das análises do material escrito<br />

pelos alunos foi que encontramos uma taxa muito maior de explicações<br />

legais do que causais, mesmo quando essas explicações causais tinham<br />

aparecido nas aulas e sido discutido pela classe.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:<br />

Cappechi, M.C.M. 2004. Argumentação numa Aula de Física in Carvalho<br />

A.M.P. (org) Ensino de ciências:Unindo a Pesquisa e a Prática.<br />

Thomson Learning. São Paulo.<br />

Cappechi, M.C.M. e Carvalho A.M.P. 2006. Atividades de Laboratório como<br />

Instrumento <strong>para</strong> a Abordagem de Aspectos da Cultura Científi ca,<br />

Pro-Posições, UNICAMP, São Paulo<br />

Carvalho, A.M.P et. All. 1998. Ciências no Ensino Fundamental: O<br />

conhecimento físico, Editora Scipione, São Paulo.<br />

Cobern, W. W. e Aikenhead, G. S., 1998. Cultural Aspects of Learning<br />

Science.<br />

In: Fraser, B. J. e Tobin, K. G(Ed.) International Handbook of Science<br />

Education. Klower Academic Publishes.<br />

Driver, R.;Newton,P. e Osborne,J. (1999) The place of argumentation in<br />

the pedagogy of school science. International Journal of Science<br />

Education,21(5), p.556-576.<br />

Duit, R.; Treagust, D. F., 1998. Learning in Science – From Behaviourism<br />

Towards Social Construtivism and Beyond. In: Fraser, B. J. e<br />

Tobin, K.G.(Ed.) International Handbook of Science Education. Klower<br />

Academic Publishes.<br />

Lemke, J (1997) Aprendendo a hablar ciencias: linguagem, aprendizajem<br />

y valores., Paidos, Barcelona.<br />

Anna Maria Pessoa de Carvalho é Professora titular da<br />

Faculdade de Educação da USP. Graduou-se em Física e<br />

é doutorada na área de Ensino de Física. Coordena o<br />

Laboratório de Pesquisa e Ensino de Física (LaPEF) da FEUSP<br />

onde desenvolve vários projetos <strong>para</strong> os cursos Fundamental<br />

e Médio. É orientadora nos Programas de Pós-Graduação<br />

e foi representante brasileira na Interamerican Coucil on<br />

Physics Education sendo atualmente representante na<br />

International Commission on Physics Education.<br />

Direcional Escolas, agosto/06<br />

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Direcional Escolas, agosto/06<br />

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PERFIL DA ESCOLA<br />

Escola Estadual<br />

Nelson Fernandes<br />

Em Santa Rita do Passa Quatro, escola investe em projetos voltados<br />

<strong>para</strong> a comunidade e na recuperação dos espaços físicos.<br />

Por Luiza Oliva<br />

Fotos: Divulgação<br />

Uma escola permanentemente antenada com a comunidade. Assim<br />

pode ser defi nida a Escola Estadual Nelson Fernandes, localizada em<br />

Santa Rita do Passa Quatro, interior paulista. A escola, que nasceu em<br />

1947 como Ginásio Estadual de Santa Rita, frequentemente envolve<br />

seus alunos em projetos ligados à comunidade local. “Acredito que se<br />

o aluno não valoriza e conhece seu próprio município, não adianta<br />

desenvolvermos ações globais”, pondera Rosa Maria Gasparini Nazar,<br />

diretora da escola há 16 anos.<br />

Com inúmeras ações voltadas <strong>para</strong> esse foco, a escola tem<br />

conseguido bons resultados. O projeto “As coisas boas da nossa terra”,<br />

desenvolvido em 2005 por alunos do Ensino Médio, recebeu este ano<br />

o prêmio Construindo a Nação, promovido pelo <strong>Instituto</strong> <strong>Cidadania</strong><br />

Brasil. A idéia foi valorizar a história de Santa Rita e transmiti-la <strong>para</strong><br />

a comunidade com a publicação de um almanaque. Parcerias da<br />

escola com o jornal da cidade e empresas patrocinadoras viabilizaram<br />

a impressão do livreto. Através de pesquisas feitas pelos alunos, foi<br />

reunido o material que compõe o almanaque, como as festas de cada<br />

mês e os melhores restaurantes da cidade. “Os alunos foram à Vigilância<br />

Sanitária <strong>para</strong> conhecer os critérios exigidos quanto à higiene. Hoje, o<br />

guia de restaurantes do almanaque serve como ponto de referência<br />

<strong>para</strong> turistas e <strong>para</strong> a própria população”, conta a diretora.<br />

Outra idéia de sucesso é o Projeto Mananciais. Rosa lembra que<br />

ele teve origem em 2001, através do Projeto Preservando o Futuro,<br />

com o objetivo de alertar pais, alunos e comunidade da necessidade de<br />

preservar o meio ambiente. Em 2002, a idéia cresceu e se transformou<br />

no Projeto Meio Ambiente. Os alunos mapearam as áreas de mananciais<br />

do município, visitando os locais mais críticos e encaminhando às<br />

autoridades da cidade as possíveis soluções. No ano seguinte, professores<br />

das áreas de História, Geografi a e Matemática da Nelson Fernandes<br />

assumiram a coordenação do Projeto Mananciais, em parceria com o<br />

soldado da Polícia Ambiental Rogério Leme, que já realizava na escola<br />

o Projeto Beija-Flor, onde alunos das 7ª séries participam de várias ações<br />

em favor do meio ambiente. Depois de feito um diagnóstico do estado<br />

em que se encontravam os mananciais da região, a escola optou por<br />

recuperar o manancial da Lagoinha. “Ele foi escolhido por ser o mais<br />

próximo da escola, já que os alunos se deslocaram frequentemente até o<br />

local, e também por estar numa comunidade menos favorecida, o bairro<br />

de Lagoinha”, relembra Rosa.<br />

Pontos positivos da Nelson Fernandes: recuperação dos espaços<br />

físicos e projetos envolvendo a comunidade.<br />

Inicialmente, a escola começou a plantar mudas no local. “Sem cercar<br />

a área, nós plantávamos e os animais comiam. Fizemos então um estudo<br />

junto com a Prefeitura <strong>para</strong> demarcar a área. Os alunos pesquisaram as<br />

mudas da região e que seriam consideradas mata ciliar <strong>para</strong> a proteção<br />

do manancial. Eles partici<strong>para</strong>m até da produção das mudas no viveiro<br />

da Polícia Ambiental”, explica. O local foi cercado e mais de 1.300 mudas<br />

nativas plantadas. Panfl etos de conscientização, elaborados pelos alunos<br />

e professores, foram distribuídos <strong>para</strong> a comunidade da Lagoinha.<br />

Rosa explica que projetos que exigem mais saídas dos alunos da<br />

escola são desenvolvidos pela turma do Ensino Médio. Mas, a questão do<br />

meio ambiente começa a ser trabalhada desde a 5ª série (a escola atende<br />

alunos do Ensino Fundamental II e Médio). “Com eles, começamos o<br />

trabalho chamado de ‘Escola Limpa’. Nessa faixa etária a preocupação<br />

começa com o ambiente escolar”, diz. Os cuidados com as instalações da<br />

escola são, aliás, um dos focos da gestão da diretora Rosa Maria. “Desde<br />

que assumi a direção da escola, sempre me preocupei com a reforma<br />

e a adequação dos espaços físicos <strong>para</strong> atender a melhoria do projeto<br />

pedagógico. A melhoria pedagógica só se concretiza se professor e alunos<br />

tiverem espaços e materiais adequados e disponíveis <strong>para</strong> a execução de<br />

suas ações”, acredita.<br />

A escola tem passado por reformas e foram recuperados<br />

recentemente o refeitório, o pátio, a biblioteca, a sala de som e imagem<br />

e a sala de informática. Foi criada ainda a sala de pre<strong>para</strong>ção física.<br />

Segundo Rosa Maria, a iniciativa da sala de pre<strong>para</strong>ção física é inédita<br />

e a única da Diretoria de Ensino de Pirassununga, a qual pertence a<br />

Nelson Fernandes. A sala conta com 10 bicicletas ergométricas, 14<br />

aparelhos <strong>para</strong> abdominais, 45 colchonetes <strong>para</strong> exercícios físicos e<br />

materiais esportivos diversos. É utilizada pelos alunos a partir de 8ª série,<br />

por professores e funcionários, sempre sob orientação e supervisão<br />

dos professores de Educação Física, e também no Programa Escola da<br />

Família. O programa do Governo do Estado, que abre as escolas aos<br />

fi nais de semana <strong>para</strong> as famílias, tem ajudado, na opinião da diretora,<br />

na melhoria do relacionamento entre a escola e as famílias. “Os pais<br />

têm colaborado e participado de atividades nos fi nais de semana, o que<br />

desperta o sentimento de pertencimento do espaço escolar por parte<br />

de todos”, avalia.<br />

A metodologia de projetos e a recuperação dos espaços físicos<br />

voltados <strong>para</strong> os objetivos pedagógicos da escola são dois dos aspectos<br />

que vêm somando pontos positivos <strong>para</strong> a Nelson Fernandes. Segundo<br />

Rosa, a conquista do Prêmio Construindo a Nação elevou a auto-estima<br />

de toda a comunidade escolar. “O envolvimento de toda a comunidade<br />

com a Unidade Escolar e o sentimento de pertencer a ela por parte<br />

de todos tem melhorado os cuidados com o patrimônio público e os<br />

resultados nos desempenhos escolares”, aponta.<br />

O número signifi cativo de novos alunos que a escola recebe<br />

anualmente exige, porém, um esforço grande <strong>para</strong> criar e obter mais<br />

recursos, espaços e materiais complementares. Conforme a diretora, a<br />

escola busca novas parcerias constantemente através da Associação de<br />

Pais e Mestres <strong>para</strong> arrecadar fundos. Em busca de aprimoramentos na<br />

sua gestão, e visando ser conhecida como referência em excelência em<br />

educação na região, a equipe elaborou o projeto “Redimensionando<br />

Caminhos <strong>para</strong> a Melhoria da Escola”, com ações previstas <strong>para</strong> serem<br />

realizadas durante um semestre letivo. Entre os principais aspectos que<br />

precisam ser melhorados e levantados pela equipe estão a divulgação<br />

dos resultados educacionais junto aos pais, a implementação da busca<br />

por parcerias na comunidade <strong>para</strong> possibilitar a execução de ações<br />

escolares e pedagógicas, garantir a participação de alunos e pais nas<br />

decisões pedagógicas e promover ações concretas visando a diminuição<br />

da evasão escolar no Ensino Médio regular e na Educação de Jovens<br />

e Adultos no período noturno. Sem dúvida, uma meta ambiciosa mas<br />

possível de ser alcançada. No aspecto gestão, a Nelson Fernandes foi<br />

inclusive classifi cada pela Diretoria de Ensino de Pirassununga <strong>para</strong><br />

participar do prêmio Gestão Escolar. “A Diretoria vem acompanhando<br />

de perto as unidades escolares e está descobrindo o nosso trabalho”,<br />

fi naliza a diretora.<br />

Raio-X da Escola<br />

• Uma unidade em Santa Rita do Passa Quatro, interior<br />

de São Paulo.<br />

• 1113 alunos<br />

• 74 funcionários (incluindo professores).<br />

• Cursos: Ensino Fundamental II, Ensino Médio e Educação<br />

de Jovens e Adultos Fundamental e Médio.<br />

• Instalações: 18 salas de aulas, duas quadras cobertas,<br />

gabinete dentário, duas cozinhas, área coberta e área<br />

descoberta <strong>para</strong> intervalo, zeladoria, refeitório, biblioteca,<br />

sala de som e imagem, sala de informática, cinco ofi cinas<br />

pedagógicas, sala de pre<strong>para</strong>ção física, sala do grêmio e<br />

salas específi cas <strong>para</strong> o programa Escola da Família.<br />

• e-mail: seceenelsonf@linkway.com.br e e024284a@see.<br />

sp.gov.br<br />

• site: www.escoladafamilianelsonfernandes.nafoto.net<br />

Direcional Escolas, agosto/06<br />

23


Direcional Escolas, agosto/06<br />

24<br />

GESTÃO<br />

O<br />

O futuro da<br />

escola privada<br />

passado todos conhecemos. E as lembranças são as melhores<br />

possíveis! A escola privada de educação básica sempre foi a<br />

vanguarda da educação brasileira, motivo de disputa das famílias<br />

na procura de vagas <strong>para</strong> seus fi lhos.<br />

O presente também é conhecido pelos educadores. Ainda forte<br />

e importante no cenário nacional, procurada por todas as camadas<br />

da população, mas diante de uma crise que já perdura por alguns<br />

anos, principalmente no Estado de São Paulo. Por quê?<br />

Sendo ainda hoje um “objeto de consumo” do brasileiro, é<br />

interessante determo-nos sobre a opinião dos usuários da escola<br />

privada de educação básica. O que eles têm a nos dizer?<br />

Em pesquisa encomendada pela Fenep e realizada pelo Ibope( 1 ),<br />

as famílias com fi lhos na escola privada foram ouvidas. E 82% acham<br />

que a escola privada, de maneira geral, é satisfatória. A avaliação,<br />

neste e em outros quesitos, mostra-se muito positiva. Mas alguns<br />

detalhes chamam a atenção, que resumidamente transcrevo:<br />

• Com<strong>para</strong>ndo-se com a escola pública, qual o diferencial<br />

da escola privada? Na resposta espontânea a esta pergunta,<br />

39% apontam <strong>para</strong> “qualidade de ensino”, 27% <strong>para</strong> “professores<br />

qualifi cados”, 15% <strong>para</strong> “falta de greves” e 14% <strong>para</strong> “segurança”.<br />

• Qual a principal razão <strong>para</strong> escolha da escola em que seu<br />

fi lho(a) estuda? Dentre as várias respostas, destacam-se “qualidade<br />

de ensino” com 57% e “localização da escola”, com 38% (lembre-se<br />

que a pesquisa foi realizada em grandes centros urbanos).<br />

A partir destes dados, faço uma afi rmação: atualmente, a escola<br />

privada é opção por conta da defi ciência da escola pública, e não<br />

por suas qualidades. Só assim entende-se como critério de escolha<br />

a inexistência de greves, por exemplo. Professores qualifi cados é<br />

diferencial? Só por, segundo os entrevistados, não haver professores<br />

tão qualifi cados na pública. Qualidade de ensino é diferencial? A meu<br />

ver, ter qualidade é obrigação de qualquer empresa...<br />

Alguns números do Censo Escolar( 2 ) também podem nos ajudar<br />

na análise. Entre 1996 e 2005, as matrículas na escola privada de<br />

educação básica cresceram 17,2% no Estado de São Paulo. Mas,<br />

no mesmo período, o número de escolas cresce 159,1%! Há,<br />

portanto, um claro descompasso entre crescimento da demanda<br />

com o crescimento da oferta, e este fato se torna um dos principais<br />

Por Roberto von Puttkammer Prado<br />

motivos da crise que hoje nos afeta. Mesmo havendo mais alunos<br />

na escola privada em geral, há menos alunos em cada escola,<br />

gerando sérios problemas fi nanceiros <strong>para</strong> muitas delas.<br />

Há ainda outros fatores importantes, como crescimento<br />

populacional menor (as famílias têm menos fi lhos) e a crise<br />

econômica que atinge a classe média há anos. Talvez isto explique<br />

o resultado da pesquisa realizada pelo Inep com famílias de alunos<br />

de escolas públicas( 3 ), onde 18% dos entrevistados afi rmam que<br />

seus fi lhos já estudaram em escolas privadas – dos quais mais de<br />

70% saíram por motivos econômicos. E as escolas privadas, entre<br />

sensibilizar-se por esta situação ou cuidar da sua própria crise, têm<br />

optado por aumentar as anuidades escolares em níveis superiores<br />

aos da infl ação em geral...<br />

Embora pudéssemos continuar a discorrer sobre o presente,<br />

chega a hora de “usarmos a bola de cristal”: diante desta realidade,<br />

qual o futuro da escola privada de educação básica?<br />

Não consigo enxergar futuro promissor – se nada for alterado, se<br />

continuarmos na mesmice de sempre. Enquanto formos todos iguais e<br />

tivermos como diferencial a qualidade (ao menos perante os olhos de<br />

nossos alunos e respectivos pais), o valor de nossa anuidade será sempre<br />

alto demais, por menor que seja. Até por que acredito, espero e luto <strong>para</strong><br />

que o Brasil tenha um ensino público de qualidade. E quanto melhor<br />

a qualidade do ensino público, mais “desleal” será a concorrência, pois<br />

nunca conseguiremos competir em valor da anuidade...<br />

Como competir com a escola pública de qualidade? Somente<br />

tendo mais a oferecer do que qualidade de ensino. A escola pública,<br />

por defi nição e legislação, é <strong>para</strong> todos. O ideal <strong>para</strong> a escola<br />

privada, então, é ser “<strong>para</strong> alguns” – é ter seu nicho de mercado,<br />

seu público-alvo. Como afi rma Gustavo Ioschpe( 4 ): “A educação<br />

nunca será monopólio de governos: as pessoas devem ter o direito<br />

de pagar por um ensino diferenciado”.<br />

Atenção: antes que alguns me perguntem como fi ca a inclusão<br />

nesta concepção, quero esclarecer. Ser <strong>para</strong> alguns não signifi ca ser<br />

somente <strong>para</strong> a elite. Signifi ca ser especial <strong>para</strong> a sua comunidade,<br />

pobre ou rica, elite ou não. Signifi ca especializar-se em ser ótimo<br />

<strong>para</strong> uma parcela da sociedade. Nem todos irão preferir sua escola,<br />

mas aqueles que a preferem não a trocam por nada!<br />

A escola privada de ensino básico precisa, de certa forma, voltar às origens.<br />

Não querer ser boa em tudo e <strong>para</strong> todos – isto é muito difícil de conseguir e mais<br />

difícil ainda será fazer com que a sociedade reconheça.<br />

Especialize-se em um segmento, por exemplo. Se a escola é muito boa em<br />

Educação Infantil, fato reconhecido pela comunidade, não invista tudo na criação<br />

do Ensino Médio, mas em ser cada vez melhor na Educação Infantil.<br />

Especialize-se em atender bem uma parcela específi ca da sociedade. Pela língua<br />

(escolas bilíngues), pela fé (escolas confessionais), pela linha educacional.<br />

Descubra seu nicho de mercado, descubra a quem você quer atender e quem quer<br />

ser atendido por você. Para essa comunidade, sua escola deverá ser especial. Outra<br />

escola não serve, ainda que ofereça desconto na anuidade.<br />

Falamos da crise por que passa a educação de modo geral e a privada em<br />

especial. Há anos estamos falando - e sentindo - a crise. Temos duas opções: ou<br />

aguardamos a luz no fi m do túnel, ou nos adaptamos <strong>para</strong> conviver com ela.<br />

Para isso existe um termo, emprestado da física. Resiliência é a capacidade de<br />

resistir fl exivelmente à adversidade, utilizando-a <strong>para</strong> o desenvolvimento pessoal,<br />

profi ssional e social.<br />

Traduzindo: ou a escola cresce com a crise (e apesar da crise) ou será<br />

fechada por ela!<br />

Optei por analisar a escola privada sob o prisma da gestão econômica e<br />

administrativa. Mas num olhar pedagógico, chegaríamos a resultados semelhantes.<br />

Rui Canário( 5 ) faz um análise da escola atual com a qual comungo. Segundo<br />

ele, a escola de hoje está obsoleta, pois:<br />

• está baseada na “pedagogia da revelação”, onde o professor ensina; a<br />

escola está programada <strong>para</strong> ensinar, não <strong>para</strong> que o aluno aprenda;<br />

• está baseada na cumulatividade, onde o professor oferece a cada dia mais<br />

<strong>para</strong> o aluno aprender cada vez mais;<br />

• está baseada na repetição, onde o aluno repete o que o professor faz, fala<br />

e ensina;<br />

• está programada <strong>para</strong> trabalhar com grupos homogêneos, <strong>para</strong> ensinar a<br />

classes, e não aos indivíduos (eis aqui a verdadeira difi culdade da inclusão, a<br />

meu ver).<br />

A escola do futuro deverá romper com esta obsolescência. Deverá responder<br />

a uma sociedade em constante mudança. Deverá responder à nova era que se<br />

vislumbra, a Era do Conhecimento. E, <strong>para</strong> tanto, não basta “ter qualidade”...<br />

1 Pesquisa realizada em dezembro de 2005 em 8 macro-regiões brasileiras,<br />

ecomendada pela Federação Nacional de Escolas Particulares.<br />

2 Realizado anualmente pelo MEC/Inep. Dados disponíveis até 2005, neste<br />

artigo referem-se ao Estado de São Paulo.<br />

3 Pesquisa Nacional Qualidade da Educação, realizada em maio de 2005 pelo<br />

MEC/Inep.<br />

4 Mestre em desenvolvimento econômico com especialização em economia<br />

da educação.<br />

5 Doutor em ciências da educação pela Universidade de Lisboa e professor,<br />

desde 1991, dessa universidade.<br />

Roberto von Puttkammer Prado é Diretor Executivo do Sieeesp (Sindicato dos<br />

Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo), Presidente da AEC-SP (Associação de<br />

Educação Católica do Estado de São Paulo) e consultor de escolas de Educação Básica.<br />

Adriano Costa Vespa<br />

Direcional Escolas, agosto/06<br />

25


Direcional Escolas, agosto/06<br />

26<br />

EDUCAÇÃO INFANTIL<br />

Uma das temáticas mais discutidas no contexto da legislação<br />

educacional em 2006 tem sido a ampliação do Ensino Fundamental <strong>para</strong><br />

nove anos de duração.<br />

Com a aprovação da Lei no 11.274/2006, ficou regulamentada a<br />

inclusão de crianças a partir dos seis anos no Ensino Fundamental. O<br />

Ministério da Educação defende o fato de que especialmente as crianças<br />

pertencentes aos setores populares se beneficiarão desta medida, uma<br />

vez que as crianças de seis anos de idade das classes média e alta já se<br />

encontram, majoritariamente, incorporadas ao sistema de ensino – na<br />

pré-escola ou na primeira série do Ensino Fundamental.<br />

O Ministro, na abertura do documento que apresenta a política<br />

pública de ampliação dos anos obrigatórios do Ensino Fundamental,<br />

ressalta a importância dessa decisão política e relaciona-a, também, ao<br />

fato de recentes pesquisas mostrarem que 81,7% das crianças de seis<br />

anos estão na escola, sendo que 38,9% freqüentam a Educação Infantil,<br />

13,6% pertencem às classes de alfabetização e 29,6% estão no Ensino<br />

Fundamental (IBGE, Censo Demográfico 2000).<br />

O MEC ressalta que o ingresso da criança de seis anos no Ensino<br />

Fundamental não pode constituir uma medida meramente administrativa.<br />

É preciso atenção ao processo de desenvolvimento e aprendizagem<br />

das crianças, o que implica, segundo a abordagem sócio-histórica de<br />

Vygotsky, conhecimento e respeito às suas características etárias, sociais,<br />

psicológicas e cognitivas.<br />

Por Maria Taís de Melo<br />

Crianças de seis anos:<br />

a transição da Educação Infantil <strong>para</strong><br />

o Ensino Fundamental<br />

Nesse sentido, o MEC, por meio da Secretaria de Educação Básica<br />

(SEB) e do Departamento de Políticas da Educação Infantil e do Ensino<br />

Fundamental (DPE), buscando fortalecer um processo de debate com<br />

professores e gestores sobre a infância na Educação Básica, colocou<br />

à disposição do público, pela internet, a versão digital do documento<br />

Ensino Fundamental de Nove Anos: Orientação <strong>para</strong> a Inclusão da<br />

Criança de Seis Anos de Idade. Com o documento, as escolas terão<br />

informações relevantes <strong>para</strong> o atendimento adequado aos estudantes.<br />

Nele são desenvolvidos temas como a infância e sua singularidade;<br />

a infância na escola e na vida: uma relação fundamental; o brincar<br />

como um modo de ser e estar no mundo; as diversas expressões e o<br />

desenvolvimento da criança na escola; as crianças de seis anos e as<br />

áreas do conhecimento; letramento e alfabetização: pensando a prática<br />

pedagógica; a organização do trabalho pedagógico: alfabetização e<br />

letramento como eixos organizadores; avaliação e aprendizagem na<br />

escola: a prática pedagógica como eixo da reflexão e modalidades<br />

organizativas do trabalho pedagógico: uma possibilidade.<br />

A lei estabeleceu prazo de cinco anos <strong>para</strong> que todos os sistemas se<br />

adaptem à ampliação do Ensino Fundamental. Nesse prazo, devem ser<br />

tomadas providências, como a adaptação da estrutura física das escolas,<br />

a construção de salas de aula e a formação continuada de professores e<br />

gestores de educação.<br />

Ressalte-se que, <strong>para</strong> que esta mudança traga benefícios reais<br />

às crianças incluídas no processo, é necessário estarmos atentos ao<br />

fato de que a aprendizagem não depende apenas do aumento do<br />

tempo de permanência na escola, mas também do emprego mais<br />

eficaz desse tempo.<br />

Para a legitimidade e a efetividade dessa política educacional, são<br />

necessárias ações de ordem pedagógica, administrativa e financeira.<br />

Partindo destes pressupostos, ressaltamos a importância das<br />

escolas estarem proporcionando momentos de estudo e discussão deste<br />

documento, como forma de estar se pre<strong>para</strong>ndo <strong>para</strong> a implantação<br />

e implementação desta política pública de maneira que as crianças<br />

realmente se sintam incluídas de forma respeitosa e democrática.<br />

Uma grande preocupação quanto à inclusão de crianças de seis<br />

anos no Ensino Fundamental é a da escola estar pre<strong>para</strong>da <strong>para</strong> respeitar<br />

as necessidades subjetivas destas crianças, que estão em processo<br />

de construção de suas identidades e em pleno desenvolvimento.<br />

Dentro deste contexto, a garantia do espaço <strong>para</strong> atividades lúdicas é<br />

fundamental. Vygotsky afirma que, na idade que vai até os seis anos,<br />

algumas modificações ocorrem no desenvolvimento da criança. Ela<br />

passa a se interessar por uma esfera mais ampla da realidade e sente<br />

necessidade de agir sobre ela; tal ato é a principal forma de que a criança<br />

dispõe <strong>para</strong> conhecê-la e compreendê-la.<br />

Nesse período, a criança tenta atuar não apenas sobre as coisas às<br />

quais tem acesso, mas esforça-se <strong>para</strong> agir como um adulto e é isso que<br />

se torna motivo de brincadeira.<br />

Para Vygotsky, a situação imaginária da brincadeira decorre da<br />

ação da criança, ou seja, <strong>para</strong> imaginar precisa agir. Vygotsky vê a<br />

brincadeira infantil como um recurso que possibilita a transição da<br />

estreita vinculação entre significado e objeto concreto à operação com<br />

significado se<strong>para</strong>do do objeto.<br />

O autor ressalta que na brincadeira a criança ainda utiliza um<br />

objeto concreto <strong>para</strong> promover a se<strong>para</strong>ção entre significado e objeto e,<br />

ao substituir no lúdico, opera com significado das coisas e dá um passo<br />

importante em direção ao pensamento conceitual.<br />

Desta maneira, as maiores aquisições de uma criança são<br />

conseguidas no brinquedo que no futuro se tornarão seu nível básico de<br />

ação real e de moralidade. O brinquedo contém todas as tendências do<br />

desenvolvimento sob forma condensada sendo, ele mesmo, uma grande<br />

fonte de desenvolvimento.<br />

Para finalizar ressaltamos que este processo trará ganhos às crianças<br />

se forem respeitadas as necessidades inerentes aos seis anos de idade.<br />

Caso contrário, se esta criança for submetida a uma carga de exigências<br />

acima do que está pre<strong>para</strong>da e afastada da mediação lúdica, correremos<br />

o risco de estar roubando um ano da infância destes sujeitos em pleno<br />

processo de desenvolvimento bio-psico-social.<br />

Referências bibliográficas<br />

MEC. www.mec.gov.br<br />

VYGOTSKY, L. S. (1991). A formação social da mente. São<br />

Paulo: Martins Fontes.<br />

Maria Taís de Melo é Mestre em Psicologia e Doutora em<br />

Mídia e Conhecimento pelo PPGEP da UFSC. Professora do<br />

Curso de Pedagogia da UNIVALI. Consultora Educacional. Email:<br />

diretoria@igge.org.br<br />

Direcional Escolas, agosto/06<br />

27


Direcional Escolas, agosto/06<br />

28<br />

EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA<br />

A<br />

Desmistificando o micro:<br />

a inteligência artificial como<br />

aliada no planejamento escolar<br />

inclusão digital tem sido incansavelmente defendida e perseguida<br />

por incontáveis instituições de ensino e pesquisa e também por<br />

empresas, como forma de atender às demandas de mercado interno<br />

e externo. Entretanto, a Organização das Nações Unidas <strong>para</strong> a<br />

Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e o Conselho Internacional<br />

de União Científica (ISCU) destacam que o saber científico também é<br />

um elemento de exclusão, sobretudo social e digital, considerando a<br />

presença e o avanço das tecnologias de comunicação e informação.<br />

O simples acesso a um computador e seus recursos pouco acrescenta<br />

ao conhecimento do sujeito se algumas ferramentas virtuais -como<br />

bibliotecas, livros eletrônicos e interessantes sistemas de inteligência<br />

artificial -, não estiverem, igualmente, disponíveis.<br />

A preocupação da UNESCO e do ISCU está ratificada por meio<br />

da Declaração sobre Ciência e o Uso do Conhecimento Científico,<br />

mais conhecida como Declaração de Budapeste, datada de 1999. No<br />

documento, são defendidos não apenas o acesso aos conhecimentos<br />

prontos, aceitos e reconhecidos pela comunidade científica e pelas<br />

diversas sociedades, mas o processo metodológico como um todo,<br />

envolvendo problematização, investigação, hipóteses, estudos e<br />

pesquisas provenientes de vários países.<br />

Ainda segundo o documento, a ciência deve responder às<br />

Por Beatriz Rizek<br />

Não sabemos como será a vida durante o século XXI, e qualquer predição nesse<br />

sentido é apenas uma extrapolação do presente. Podemos pensar num futuro<br />

definido desde esse presente como uma continuação dele?<br />

Nós, os seres humanos, fazemos o mundo em que vivemos ao longo do nosso<br />

viver. Ele surge conosco. Como poderíamos especificar um futuro que não nos<br />

pertencerá?.<br />

Humberto Maturana 1<br />

necessidades da sociedade <strong>para</strong> possibilitar a melhoria das condições<br />

de vida da população mundial, especialmente daquela que vive em<br />

situação de pobreza extrema. Tal compromisso pode, perfeitamente,<br />

começar a ser honrado nos anos iniciais da educação formal / escolar,<br />

por meio da aplicação de jogos criados a partir dos princípios da<br />

inteligência artificial.<br />

Embora polêmico, o uso de jogos em sala de aula desperta o<br />

interesse por vários motivos: ambientes virtuais, imagens, armas com<br />

efeitos especiais, alienígenas e personagens que prendem a atenção, de<br />

acordo com o perfil de cada público, costumam ser elementos bastante<br />

atraentes <strong>para</strong> inspirar a resolução de problemas, minimizando as<br />

chances de desistência, por parte do jogador. O segredo está em utilizar<br />

jogos que ofereçam situações existentes no cotidiano dos alunos, longe<br />

da ficção científica. Questões como a violência urbana, por exemplo,<br />

podem se transformar em lições de cidadania por meio de jogos que<br />

simulam salvamentos de vidas.<br />

O universo dos jogos eletrônicos oferece as seguintes variações:<br />

Jogos de Aventura - apresentam desafios a serem solucionados pelo<br />

jogador, etapa por etapa. A história se desenvolve à medida que os<br />

problemas com maiores graus de complexidade forem sendo resolvidos.<br />

Jogos de Ação – Exigem, basicamente, habilidade em manejar os controles, já que a idéia é derrubar<br />

alvos, eliminar inimigos, desviar de obstáculos, entre outras situações que exigem agilidade.<br />

Shooter – Combinação de jogo de ação e aventura que se destaca por oferecer uma visão do cenário<br />

pela perspectiva do personagem principal, em substituição à tradicional visão externa e geral.<br />

Simulação - Os temas a serem simulados variam de jogo <strong>para</strong> jogo, indo desde a construção de<br />

modelos de crescimento de uma cidade até a “invenção” de um relacionamento.<br />

Particularmente, os jogos e sistemas de simulação são bastante utilizados, na educação, <strong>para</strong> o<br />

ensino de Ciências – Biologia, Química, Física e Matemática – seguindo três princípios básicos:<br />

• O princípio da veracidade: professores e alunos devem trabalhar com problemas verídicos<br />

e não com simples demonstrações de princípios. Devem realizar pesquisas de verdade, <strong>para</strong><br />

as quais não existe, de imediato, uma resposta pronta. Encontrar locais de proliferação de<br />

mosquitos da dengue, por exemplo, ou analisar os níveis de metais pesados em corpos d´água<br />

por meio de simulações são problemas verídicos que se constituem em verdadeiros desafios<br />

tanto <strong>para</strong> alunos como <strong>para</strong> professores.<br />

• O princípio da realidade: alunos e professores devem utilizar os equipamentos disponíveis<br />

em laboratório <strong>para</strong> iniciar ou refazer o experimento sempre que necessário, complementando<br />

a testagem de hipóteses por meio de simulações feitas no computador. Isto porque alguns<br />

elementos, muitas vezes, podem ser perigosos ou mesmo impróprios <strong>para</strong> manipulação leiga,<br />

como misturas de ácidos ou de substâncias inflamáveis. Na simulação, obtém-se resultados sem<br />

que haja riscos à integridade física do experimentador.<br />

• O princípio da solidariedade: Através da internet, que oferece, dentre outros recursos de<br />

comunicação, comunidades virtuais, blogs, fóruns e listas de discussões, alunos e professores<br />

trocam informações entre si, permitindo uma compreensão mais ampla dos fenômenos estudados,<br />

tanto pela ampliação de bases de dados como pelo enriquecimento de vivências pessoais.<br />

Por fim, até o momento, temos o Quiz – jogo de perguntas e respostas que testa o conhecimento<br />

do usuário em determinados assuntos – e o Role Playing Game, mais conhecido como RPG, criado<br />

originalmente fora dos meios computacionais, como jogo de interpretação de dados. Na versão<br />

tecnológica, o jogador transita por um mundo fictício e pode controlar um ou vários personagens.<br />

Nessa categoria, os jogos mais recentes são os Massive Multiplayer OnLine – mmo – jogos on-<br />

line de interpretação, <strong>para</strong> múltiplos jogadores. Os mmo´s permitem que milhares de jogadores<br />

criem personagens num mundo virtual dinâmico, ao mesmo tempo, na internet.<br />

A próxima geração de jogos eletrônicos será baseada na mobilidade, rompendo o preconceito<br />

de que jogos eletrônicos estimulam o isolamento: no Japão, já existem games que obrigam<br />

o usuário a sair de casa, interagir com o mundo e executar tarefas externas em diferentes<br />

etapas do jogo. Esta geração de jogos destina-se aos telefones celulares, permitindo que<br />

o participante seja localizado, geograficamente, e lhe seja atribuída uma tarefa. Só depois<br />

de sair de casa e cumpri-la é que ele muda de fase.<br />

1 Professor de Ciências na Universidade do Chile<br />

Beatriz Rizek é Pedagoga, Mestre em Ciências da Comunicação pela Escola<br />

de Comunicações e Artes da USP, pós-graduada em Psicopedagogia,<br />

agosto/06<br />

pesquisadora da Faculdade de Educação e da Escola do Futuro da USP,<br />

coordenadora pedagógica da Estudo, Estratégia e Informação/Escolanet e<br />

Escolas,<br />

da PMKT - perfect marketing em projetos de marketing de causas, com<br />

ações educativas e sócio-ambientais. Direcional<br />

Adriano Costa Vespa<br />

29


Direcional Escolas, julho/06<br />

30<br />

ENSINO MÉDIO<br />

Por uma física vivencial<br />

“Aula de laboratório”: um grupo de alunos realiza um<br />

experimento sobre conservação de energia. Ao final, os resultados<br />

fazem explodir aos olhos uma constrangedora constatação: “deu<br />

tudo errado!”.<br />

Pressupor que uma vivência ou um experimento “deu errado”<br />

equivale a ouvir o seguinte: a natureza falhou, conspirou! Decidiu<br />

não colaborar... Acaso, de uma hora <strong>para</strong> outra, as constantes<br />

universais foram alteradas e a Física perdeu sua validade?<br />

Que absurdo...<br />

É necessário ouvir e refletir, criticamente, a imprecisão<br />

conceitual, ou mais, a improcedência fundamental daquele “deu<br />

errado”. Olhando criticamente veremos que o equívoco pode ser de<br />

caráter metodológico e ligado ao tipo de abordagem pedagógica<br />

que foi levada a efeito.<br />

Na base dessas situações acríticas há uma dicotomia,<br />

a se<strong>para</strong>ção entre teoria e prática. Em outras palavras, os<br />

modelos matemáticos que os livros ou apostilas trazem, tão<br />

bem organizados e apresentados, simplesmente “furam” quando<br />

diretamente submetidos à experimentação, já que não carregam<br />

considerações metrológicas que devem ser levadas em conta<br />

quanto ao instrumental, os processos, as incertezas, os desvios e as<br />

imprecisões nas medidas.<br />

Para superar esta distância entre teoria e prática é preciso<br />

Ciências com ênfase<br />

em física vivencial<br />

resgatar o processo de construção do próprio conhecimento<br />

científico e tecnológico trazendo-os <strong>para</strong> o dia-a-dia da escola.<br />

Nesse processo um dos objetivos a ser atingido é a construção<br />

de um modelo, primeiramente dentro de um caso particular e,<br />

posteriormente, <strong>para</strong> o caso geral, por exemplo.<br />

Esta re-elaboração metodológica pressupõe que se leve<br />

em conta, desde o início do processo, a importância que uma<br />

sensibilização adequada do aluno <strong>para</strong> o tema poderá conferir ao<br />

processo educacional.<br />

Por sensibilização chamamos o conjunto de procedimentos<br />

capazes de dar forma e contorno ao assunto que queremos tratar. O<br />

ponto de partida pode ser um texto polêmico, uma atividade lúdica,<br />

a observação direta de um fenômeno, um vídeo, uma simulação<br />

feita no computador, uma palestra, uma visita, um debate e<br />

assim por diante. Em resumo: um ponto de partida socialmente<br />

significativo, do ponto de vista ético.<br />

Um tema não é significativo só porque pode cair no<br />

vestibular, ou na próxima avaliação. Um tema é significativo<br />

quando tem a ver com a vida de cada um, com a existência. E<br />

como praticamente tudo é relevante, porque tanta resistência<br />

pelos alunos em “querer aprender?”.<br />

A investigação desse problema nos arremete, com freqüência<br />

elevada, à dimensão da valoração intrínseca da contextualização.<br />

Sem que se possa criar uma atmosfera envolvente, desafiadora,<br />

motivadora enfim, o processo não se deflagra na totalidade dos<br />

sujeitos envolvidos. Naturalmente existem cenários instantâneos<br />

que, de alguma forma, interferem e inibem a plena realização<br />

de uma vivência pela totalidade dos estudantes. Mas é preciso,<br />

neste caso, avaliar com<strong>para</strong>tivamente ao grau de envolvimento<br />

de estudantes que foram devidamente acolhidos e motivados<br />

e daqueles que não passaram por este contexto e que, de um<br />

salto, partiram <strong>para</strong> o enfrentamento de conteúdos verbalmente<br />

apresentados por seu professor.<br />

Em outras palavras, podemos propiciar um ambiente e uma<br />

atmosfera tal que estimule o aluno a atingir o “liminar de interesse”,<br />

antes de despejarmos “trocentas” fórmulas e um milhão de palavras,<br />

inúteis, sobre ele.<br />

Um dos aspectos de uma metodologia vivencial é exatamente<br />

esse. Não estarmos fixados à descrição formal, e morta, de teorias.<br />

Nosso intuito é ampliar a percepção e o trato do aluno <strong>para</strong> esferas<br />

do mundo físico que ele nem desconfia existir. Mas <strong>para</strong> isso é preciso,<br />

indispensável, que o professor já tenha se inserido em processos<br />

de desenvolvimento de suas competências enquanto mediador<br />

educacional. Sem esta prerrogativa, com a subida de tal degrau<br />

a favor do processo, provavelmente nada se dará de novo e tudo<br />

voltará a cair na mesmice (geralmente insuportável!) de sempre.<br />

Por José Silvério Edmundo Germano,<br />

N. Omote e Luis Fabio Simões Pucci<br />

Todas as áreas e componentes curriculares podem se prestar<br />

magnificamente <strong>para</strong> este rico processo de sensibilização, por<br />

contar com a possibilidade de produção de variados fenômenos,<br />

com relativa facilidade quando as fontes de informação se<br />

encontram ao alcance dos dedos, desde que o professor esteja se<br />

pre<strong>para</strong>ndo <strong>para</strong> isso.<br />

Neste ponto falta um esclarecimento preciso em que ainda<br />

poucos percebem a diferença: não se quer “experimentação” ou<br />

“laboratório”. O que se objetiva é ampliar o universo de percepção e<br />

pensamentos criativos dos alunos, o que envolve nível de consciência.<br />

Para isso, ao professor compete a criação de Espaços Laboratoriais. O<br />

Laboratório é, antes, uma dimensão de competências do educador.<br />

Onde estiver um educador verdadeiramente comprometido com a<br />

educação do seu aluno, ali estará à disposição deles um laboratório<br />

que pode ser até mesmo a cabeça de um palito de fósforo, um<br />

selo, um jornal do ano passado, uma formiga, um rinoceronte<br />

no zoológico ou um site com simuladores, na web. Tudo é mídia<br />

<strong>para</strong> experimentar, o que fará a diferença serão as concepções<br />

educacionais a partir das quais nascem as estratégias e as<br />

metodologias construídas conjuntamente por discentes e docentes,<br />

no enfrentamento de problemas e suas possíveis soluções.<br />

Naturalmente, à medida que avançamos em direção ao Ensino<br />

Médio, é possível e desejável que aspectos ligados à medição<br />

Ju Cavalheiro<br />

Direcional Escolas, agosto/06<br />

31


Direcional Escolas, agosto/06<br />

32<br />

ENSINO MÉDIO<br />

de magnitudes de grandezas em geral, durante um processo<br />

experimental, cresçam em importância. Isto se deve ao fato<br />

de não só ser possível como também desejável a instauração<br />

de processos de refinamento e maior alcance na elaboração<br />

de modelos físicos, químicos ou biológicos pelos alunos, com<br />

trato matemático um pouco mais sofisticado. Para tanto, é<br />

indispensável um processo de medidas relativo ao experimento<br />

realizado, não com o intuito de “provar” leis, mas como meio de<br />

elaboração e construção cognitivas. A interpretação de resultados<br />

e medidas, já nesta fase de desenvolvimento do aluno, propicia<br />

a prática da criticidade e esta pressupõe a constituição de<br />

referenciais mais acurados, desenvolvidas ao longo de processos<br />

educacionais anteriores.<br />

É justamente através desta postura, que não visa “ajustar” o<br />

experimento à teoria mas, sim, construí-la, que o estudante começa<br />

a desenvolver um pensar cada vez mais elaborado. Em suas ações<br />

haverá algo de Galileu, Newton ou Pasteur, mas principalmente<br />

haverá muito de si mesmo e de seu professor. Como ativo<br />

participante de um processo interativo, o aluno é estimulado a criar<br />

estruturas de pensamento fundamentais <strong>para</strong> aprender, desenvolver<br />

e aplicar o conhecimento adquirido.<br />

Para educar (e não apenas “ensinar”), é fundamental focar no<br />

desenvolvimento de competências ligadas ao investigar, mas dentro<br />

de uma perspectiva crítica. Autores como John Dewey e Matthew<br />

Lipman trabalharam conceitos ligados ao chamado pensamento<br />

refl exivo, que se distingue do pensamento comum por ser dotado<br />

de uma consciência quanto as suas causas e conseqüências. Esse<br />

tipo de pensamento é aquele capaz de criar condições <strong>para</strong> que o<br />

indivíduo escolha entre diferentes alternativas, agindo sobre elas e<br />

prevendo suas possíveis implicações (Lipman, p. 158-159). Nessa<br />

linha, Isabel Alarcão afi rma que a formação de professores precisa<br />

estar centrada no desenvolvimento de educadores refl exivos, que<br />

será o profi ssional consciente da sua capacidade humana de criador<br />

e não mero reprodutor de idéias e práticas exteriores, já que esse<br />

modelo é cada vez mais falho dentro da sociedade da informação,<br />

que exige indivíduos aptos <strong>para</strong> enfrentar o novo, autônomo,<br />

agindo com fl exibilidade diante de novos problemas.<br />

Lipman diz que a autonomia só pode ser desenvolvida<br />

através do modelo refl exivo de educação, já que o aluno capaz<br />

de “pensar por si mesmo” é capaz de ir além do simples repetir<br />

o que outros dizem ou pensam (seus professores, seus colegas, as<br />

mídias de comunicação de massa etc). Ele passa a estar habilitado<br />

a fazer seus próprios julgamentos a partir de provas e evidências,<br />

desenvolvendo uma visão própria de indivíduo que quer ser e de<br />

mundo que gostaria de ter.<br />

Dentro dessa perspectiva, estamos diante de novos modelos<br />

<strong>para</strong> a educação, centrados no aluno e na aprendizagem, e que<br />

não comportam mais extremismos ou modas, tão comuns na área.<br />

Portanto, nem “certo”, nem “errado”; nem “teoria” de um lado e<br />

“prática” do outro, mas o pensamento e o agir vivenciados, numa<br />

perspectiva integradora de disciplinas, saberes e competências.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:<br />

ALARCÃO, Isabel. Professores refl exivos em escola refl exiva. 3. ed. São<br />

Paulo: Cortez, 2004.<br />

BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Secretaria de Educação Média<br />

e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais - Ensino Médio.<br />

Brasília: SEMTEC/MEC, 1999.<br />

BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Secretaria de Educação Média e<br />

Tecnológica. PCN + Ensino Médio - Orientações Complementares aos<br />

Parâmetros Curriculares Nacionais. Ciências da Natureza, Matemática e<br />

suas Tecnologias. Brasília: MEC; SEMTEC, 2002.<br />

CARVALHO, A. M. P.; GIL - PÉREZ, D. Formação de professores de<br />

ciências. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2003.<br />

CARVALHO, Cassiano Z. Por uma escola inteligente. São Paulo:<br />

<strong>Instituto</strong> Galileo Galilei, 2005.<br />

KENSKI, Vani M. As tecnologias invadem nosso cotidiano. In:<br />

Integração das tecnologias na educação. Brasília: MEC, Seed, 2005.<br />

LIPMAN, Matthew. O pensar na educação. 3. ed. Petrópolis: Vozes,<br />

2001.<br />

José Silvério Edmundo Germano é graduado em Física pela<br />

UFRJ, tem Mestrado e Doutorado em Física pelo <strong>Instituto</strong><br />

Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Professor Adjunto do<br />

Departamento de Física do ITA.<br />

N. Omote é Físico pelo <strong>Instituto</strong> de Física da USP, autor pelas<br />

editoras Moderna e Laborciência, com larga experiência em<br />

programas de formação continuada de docentes.<br />

Luis Fabio Simões Pucci é Engenheiro Mecânico pela Mauá-<br />

SP, Físico pelo <strong>Instituto</strong> de Física da USP, Matemático pela<br />

Uniban-SP e Mestrando em Educação pela Uninove-SP.<br />

Autor da editora Escala Educacional, coordenador da área de<br />

Física da Coordenadoria de Estudos e Normas <strong>Pedagógica</strong>s<br />

(CENP) da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo.<br />

Direcional Escolas, agosto/06<br />

33


34<br />

Foto: Google Earth<br />

EDUCAÇÃO CIENTÍFICA<br />

U<br />

Imagens de satélite<br />

como recurso didático<br />

m grande número de imagens da superfície terrestre é captado<br />

por sensores a bordo de satélites de sensoriamento remoto.<br />

Podemos, assim, defi nir o sensoriamento remoto como a tecnologia<br />

de aquisição de dados da superfície terrestre à distância, isto é, a<br />

partir de satélites artifi ciais. Embora cada vez mais freqüentes na<br />

mídia, em atlas e livros, as imagens de satélites são ainda pouco<br />

exploradas, tanto no Ensino Fundamental e Médio como no ensino<br />

superior. Isso se deve, em grande parte, ao pouco conhecimento<br />

sobre o uso dessas imagens. A difusão do uso do sensoriamento<br />

remoto no ensino é o objetivo deste artigo e parte integrante da<br />

obra de minha autoria, Imagens de satélite <strong>para</strong> estudos ambientais,<br />

editado pela Ofi cina de Textos.<br />

Os parâmetros curriculares reforçam a importância do uso de<br />

novas tecnologias, como a do sensoriamento remoto, que se destaca<br />

da maioria dos recursos educacionais pela possibilidade de se extraírem<br />

informações multidisciplinares, uma vez que dados contidos em uma<br />

única imagem podem ser utilizados <strong>para</strong> multifi nalidades.<br />

As imagens possibilitam determinar confi gurações que vão da<br />

visão do planeta Terra a de um Estado, região ou localidade. Quanto<br />

aos aspectos físicos, pode-se observar a repartição entre terras e<br />

oceanos, a distribuição de grandes unidades estruturais, como<br />

cadeias de montanhas, localização de cursos d’água e meandros,<br />

deltas; ao relevo continental (escarpas, cristas, morros, colinas)<br />

e litorâneo (falésias, dunas, praias, ilhas, golfos, baías), cobertura<br />

vegetal; à confi guração, organização e expansão das grandes<br />

cidades, a conurbação e a evolução das áreas agropecuárias.<br />

Como tempo e espaço são dimensões essenciais <strong>para</strong> a<br />

compreensão dos problemas ambientais, a contribuição da Geografi a<br />

e da História é indispensável ao estudo do processo de ocupação e<br />

Por Teresa Gallotti Florenzano<br />

transformação do espaço, das mudanças e inovações tecnológicas<br />

ocorridas ao longo do tempo e do modelo de desenvolvimento<br />

adotado. Imagens de diferentes períodos ajudam na compreensão<br />

do processo de organização e transformação do espaço. A<br />

partir da interpretação de imagens de diferentes datas, de uma<br />

mesma região, é possível reconstituir o processo de ocupação e<br />

desenvolvimento de uma região. Na falta de imagens e fotografi as<br />

aéreas mais antigas, podem ser utilizados mapas antigos e até<br />

cartões-postais.<br />

As Ciências de modo geral, e mais especifi camente a Física, podem<br />

explorar os princípios físicos do sensoriamento remoto, que<br />

envolvem o estudo da energia eletromagnética, interação dessa<br />

energia com as propriedades físico-químicas dos componentes da<br />

superfície terrestre; como são obtidos as imagens e o processo de<br />

formação das cores. Dessa forma, ao mesmo tempo em que o aluno<br />

está apreendendo conceitos de Física, ele se torna mais capacitado<br />

<strong>para</strong> explorar os dados de sensores remotos.<br />

Imagens de satélite podem contribuir <strong>para</strong> o estudo dos<br />

problemas de saúde pública, relacionados com a contaminação das<br />

águas, como a cólera e a leptospirose, e a poluição atmosférica,<br />

como as doenças respiratórias. A partir da interpretação desses<br />

dados e com os fundamentos teóricos da Biologia, Química,<br />

Geografi a e História, é possível relacionar a distribuição dessas<br />

doenças e das condições que as favorecem com as características<br />

ambientais, econômicas e sociais da área em estudo.<br />

Com conhecimentos da Química e dos dados de sensores<br />

remotos, pode-se explorar a correlação existente entre a qualidade<br />

da água (de rios, lagos, represas e do oceano), representada em uma<br />

imagem por diferentes tonalidades ou cores, e os componentes<br />

químicos e orgânicos dessa água, determinados por análises<br />

químicas de laboratório.<br />

Com a ajuda da Matemática, é possível calcular ângulos,<br />

distâncias, proporções (escalas), áreas (urbanas, agrícolas, inundadas,<br />

queimadas), taxas ou índices (o índice de área verde de uma cidade,<br />

taxas de crescimento urbano, de desmatamento).<br />

A Educação Artística contribui <strong>para</strong> a elaboração de mapas,<br />

maquetes e outros produtos cartográfi cos de expressão artística, a<br />

partir da interpretação de fotografi as aéreas e imagens de satélites.<br />

A maior ou menor contribuição do sensoriamento remoto no<br />

ensino das disciplinas específi cas, dos temas transversais, como Meio<br />

Ambiente, ou em atividades e projetos interdisciplinares, vai depender<br />

da motivação e criatividade dos professores e alunos envolvidos, das<br />

características da área de estudo, da disponibilidade de dados e do<br />

tema utilizado como fi o condutor do estudo. O livro infanto-juvenil A<br />

nave espacial Noé, da editora Ofi cina de Textos, é um bom exemplo da<br />

aplicação do ensino de sensoriamento remoto às crianças. Para saber<br />

mais, acesse: http://www.ofi texto.com.br/anaveespacialnoe/<br />

Tanto os alunos como os professores sem familiaridade com<br />

o sensoriamento remoto têm uma facilidade maior com relação às<br />

fotografi as aéreas, que retratam uma realidade mais próxima. Nesse<br />

aspecto, as imagens de alta resolução dos novos sensores a bordo<br />

de satélites como o SPOT-5, IKONOS-2 e o QuickBird, entre outros,<br />

mais próximas àquelas das fotografi as aéreas, deverão contribuir<br />

sensivelmente <strong>para</strong> a difusão do uso do sensoriamento remoto<br />

como recurso didático.<br />

A disponibilidade das imagens por sensoriamento remoto<br />

é cada vez maior. Atualmente, podem ser encontradas em livros,<br />

atlas, revistas, jornais, cds e na Internet. Imagens de satélite no<br />

formato digital podem ser obtidas gratuitamente nos endereços:<br />

http://www.dgi.inpe.br;http://www.inpe.br/unidades/cep/<br />

atividadescep/educasere/; http://www.cdbrasil.cnpm.embrapa.br;<br />

http://glcf.umiacs.umd.edu/data e no Google: http://earth.google.<br />

com/, entre outros. Portanto, a difi culdade de acesso aos dados de<br />

sensores remotos não serve mais como justifi cativa <strong>para</strong> a sua não<br />

utilização em sala de aula. Como conhecer a área representada em<br />

uma imagem facilita a sua análise e interpretação, recomenda-se,<br />

inicialmente, explorar imagens da própria região.<br />

Sugestões de atividades com imagens de satélite<br />

1. Utilize fotografi as aéreas ou imagens de satélites <strong>para</strong> ensinar<br />

o conceito de escala, que é fundamental <strong>para</strong> o uso de dados de<br />

sensores remotos e de mapas.<br />

2. A partir de fotografi as ou imagens de seu município, de diferentes<br />

períodos, destaque as principais transformações ocorridas nos<br />

ambientes urbano e rural.<br />

Teresa Gallotti Florenzano é geógrafa, com mestrado em<br />

Sensoriamento Remoto pelo <strong>Instituto</strong> Nacional de Pesquisas<br />

Espaciais - INPE e doutorado em Geografi a Física pela Universidade<br />

de São Paulo. Atua como pesquisadora no INPE há mais de 20 anos,<br />

com destacada colaboração também na área didática, ministrando<br />

cursos de interpretação de imagens de satélite <strong>para</strong> diversos públicos,<br />

entre os quais professores do ensino fundamental, médio e superior,<br />

na modalidade presencial e à distância. É autora dos livros: A Nave<br />

Espacial Noé e Imagens de Satélite <strong>para</strong> Estudos Ambientais, ambos<br />

pela Editora Ofi cina de Textos (www.ofi texto.com.br).<br />

Direcional Escolas, agosto/06<br />

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Direcional Escolas, agosto/06<br />

36<br />

ENSINO RELIGIOSO<br />

Há 10 anos o Ensino Religioso é componente curricular<br />

obrigatório do Ensino Fundamental nos sistemas públicos do País.<br />

A aprovação do artigo 33 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação<br />

de 1996, baseado no artigo 210 da Constituição, foi resultado de<br />

um longo processo de prática e reflexão de educadores. Durante<br />

mais de 30 anos o Ensino Religioso vem mudando de enfoque,<br />

em sintonia com a cultura e as novas exigências pluralistas da<br />

sociedade, passando de confessional cristão <strong>para</strong> ecumênico, depois<br />

<strong>para</strong> antropológico e centralizado em valores e atitudes, até chegar<br />

à identidade atual: inter-cultural e inter-religiosa, conforme o<br />

modelo definido pelos Parâmetros Curriculares Nacionais de Ensino<br />

Religioso, apresentados ao MEC pelo Fórum Nacional Permanente<br />

de Ensino Religioso.<br />

Por Maria Inês Carniato<br />

Ensino Religioso,<br />

componente da<br />

formação cidadã<br />

É longa a trajetória do Ensino Religioso no País, porém sua<br />

evolução é pouco conhecida, não só fora, como também dentro<br />

dos sistemas de educação e da própria escola. Muitas pessoas<br />

ainda o consideram doutrinal e confessional, portanto, excludente,<br />

em uma escola pluralista como a de hoje. Conhecer melhor seus<br />

novos <strong>para</strong>digmas é indispensável <strong>para</strong> quem tem qualquer tipo de<br />

envolvimento com a Educação de Base no Brasil.<br />

Paradigma antropológico:<br />

Patrimônio da Humanidade<br />

Pessoas dos mais variados níveis de cultura, ao ouvir falar<br />

em Ensino Religioso, têm despertado no próprio subconsciente o<br />

arquétipo “catecismo”, “igreja”, “Bíblia” ou algo equivalente que<br />

vivenciou na infância. Digamos que o “catecismo” ou qualquer<br />

outro título que se dê à instrução específica praticada em uma<br />

tradição religiosa corresponde à milésima parte do potencial de<br />

conhecimento que se encerra no termo Ensino Religioso.<br />

Esse potencial, praticamente infinito, por se tratar de uma ciência<br />

humana, não é acervo particular de nenhuma religião. É patrimônio<br />

da humanidade. A Unesco, órgão das Nações Unidas <strong>para</strong> a educação<br />

e a cultura, há décadas vem desenvolvendo o projeto Patrimônio<br />

Cultural da Humanidade, pelo qual, em dezenas de países em todos os<br />

continentes, são preservados lugares arqueológicos da pré-história, da<br />

idade antiga e construções ou ruínas da época medieval. Uma imensa<br />

porcentagem, talvez mais de 80% destes lugares, foram, ou ainda são,<br />

espaços sagrados, nos quais se realizaram rituais, cerimônias, cultos e<br />

sacrifícios ou se levantaram monumentais templos e santuários, até<br />

com desconhecidas ou inacreditáveis técnicas de construção, que<br />

atestam a genialidade, os múltiplos conhecimentos e a persistência dos<br />

antepassados. Essas pessoas geniais dedicaram vidas inteiras à causa de<br />

materializar a experiência religiosa, dando-lhe visibilidade na rocha, na<br />

pedra, e nas mega-construções, na esperança de vê-la eternizada. Este,<br />

pode-se dizer, é um “inconsciente coletivo” do Fenômeno Religioso,<br />

que, por outro lado, continua hoje mais vivo do que nunca, em milhares<br />

de diferentes manifestações.<br />

Um breve olhar panorâmico sobre a história mostra que a dimensão<br />

religiosa do espírito humano está no alicerce do saber universal e é um<br />

dos principais moventes da produção cultural da humanidade.<br />

• A primeira educação foi iniciática: os indivíduos eram iniciados no<br />

conhecimento e na prática de tabus, mitos, símbolos, costumes e<br />

rituais mágicos que regiam a vida dos clãs em relação aos totens e aos<br />

espíritos protetores.<br />

• A arte, a dança, o esporte, o teatro, a pintura, a escultura, a música, a<br />

arquitetura, a medicina, a química, a metalurgia começaram em rituais<br />

religiosos xamânicos, iniciáticos, sacerdotais e litúrgicos, e na confecção<br />

de objetos sagrados das religiões primordiais ou das grandes civilizações.<br />

• A literatura clássica universal, cujas obras imortais são estudadas<br />

perenemente, tem grande número de narrativas míticas e épicas, nas<br />

quais os deuses e os heróis se apresentam por meio da linguagem<br />

simbólica, capaz de assumir a projeção de sentimentos, angústias,<br />

interrogações, limites, sonhos e grandiosidades do espírito humano<br />

de todos os tempos.<br />

• A origem da gramática e da escrita é religiosa. Provam isso a<br />

captação da idéia e sua expressão material nos desenhos rupestres<br />

dos recintos sagrados das cavernas, bem como os segredos dos<br />

deuses registrados em colunas e paredes de templos nas civilizações.<br />

E o que dizer de textos religiosos tão antigos cuja autoria se perde na<br />

névoa dos tempos como os Vedas da Índia, por exemplo? Em tempos<br />

imemoriais, pessoas de inteligência brilhante criaram sistemas de<br />

escrita exclusivos <strong>para</strong> produzí-los, sem mesmo saber que estavam<br />

cultivando “a flor de lótus” da cultura da humanidade.<br />

• O modelo da escola ocidental vem da educação grega, a<br />

scolé – clube dos ociosos – onde os jovens das famílias ricas se<br />

reuniam ao redor dos didáscolos – mestres – e passavam o tempo<br />

prazerosamente, conhecendo os deuses do Olimpo e os heróis<br />

épicos da Grécia ou cultivando a semelhança com os deuses por<br />

meio do cultivo da mente e da perfeita estética corporal. Por sinal,<br />

as olimpíadas têm origem nas competições esportivas feitas ao<br />

redor dos santuários gregos, por ocasião das festas religiosas.<br />

Os pressupostos antropológicos universais ajudam a<br />

compreender os termos da legislação brasileira, que parte da cultura<br />

Adriano Costa Vespa<br />

Direcional Escolas, agosto/06<br />

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Direcional Escolas, agosto/06<br />

38<br />

ENSINO RELIGIOSO<br />

nacional e reconhece a necessidade de valorizá-la na educação <strong>para</strong> a<br />

cidadania, tornando obrigatório o Ensino Religioso durante o Ensino<br />

Fundamental, nos sistemas públicos de educação.<br />

Paradigma legal: parte integrante da<br />

formação básica<br />

A Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da<br />

Educação de 1996 (com o inciso do artigo 33 em 1997) definem o<br />

Ensino Religioso como disciplina curricular nas escolas públicas de<br />

Ensino Fundamental:<br />

• Artigo 210 - Serão fixados conteúdos mínimos <strong>para</strong> o Ensino<br />

Fundamental, de maneira a assegurar formação básica comum e<br />

respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais.<br />

§ 1º - O Ensino Religioso, de matrícula facultativa, constituirá<br />

disciplina dos horários normais das escolas públicas de Ensino<br />

Fundamental (Constituição da República Federativa do Brasil).<br />

• Artigo 33 - O Ensino Religioso, de matrícula facultativa, é parte<br />

integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina<br />

dos horários normais das escolas públicas de Ensino Fundamental,<br />

assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil,<br />

vedadas quaisquer formas de proselitismo.<br />

§ 1º - Os sistemas de ensino regulamentarão os procedimentos <strong>para</strong><br />

a definição dos conteúdos do Ensino Religioso e estabelecerão as<br />

normas <strong>para</strong> a habilitação e admissão dos professores.<br />

§ 2º - Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída pelas<br />

diferentes denominações religiosas, <strong>para</strong> a definição dos conteúdos<br />

do ensino religioso (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional<br />

– inciso nº 9.475/97).<br />

A formação básica comum e (o) respeito aos valores culturais e<br />

artísticos nacionais e regionais remete necessariamente <strong>para</strong> o Ensino<br />

Religioso, como se vê no parágrafo 1º. do artigo, porque os valores<br />

culturais e artísticos da população brasileira derivam da miscigenação<br />

de culturas matrizes essencialmente religiosas: a indígena, a africana,<br />

a cristã medieval e também das tradições cristãs e orientais mais<br />

tardias. Retirado o componente religioso, o folclore e a arte colonial<br />

barroca, por exemplo, praticamente desapareceriam.<br />

As atuais Diretrizes Curriculares da Educação apontam <strong>para</strong><br />

a prioridade da inclusão e da valorização da etnia, da cultura, dos<br />

costumes e das experiências dos alunos. A pertença religiosa é uma<br />

das principais causadoras de atitudes de desprezo, temor, rivalidade e<br />

exclusão na sala de aula. Neste sentido, o primeiro objetivo do Ensino<br />

Religioso é favorecer a objetividade no conhecimento das tradições<br />

religiosas. Só o conhecimento liberta de preconceitos e de tabus.<br />

Para isso, o Ensino Religioso, enquanto componente curricular, tem<br />

parâmetros que especificam sua identidade e função.<br />

Paradigma científico: estudo do Fenômeno Religioso<br />

Conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Religioso,<br />

o objeto de estudo científico da disciplina é o Fenômeno Religioso,<br />

isto é: os sinais da religiosidade presentes na cultura estabelecida e na<br />

sociedade atual. Edgar Morin, professor da Universidade de Paris, no<br />

livro Os sete saberes necessários <strong>para</strong> a educação do futuro, escrito<br />

a pedido da Unesco, sobre os novos <strong>para</strong>digmas da educação <strong>para</strong> o<br />

Terceiro Milênio, assim diz: O saber científico sobre o qual este texto<br />

se apóia <strong>para</strong> situar a condição humana não só é provisório, mas<br />

também desemboca em profundos mistérios referentes ao Universo,<br />

à Vida, ao nascimento do ser humano. Aqui se abre um indecidível,<br />

no qual intervêm opções filosóficas e crenças religiosas através de<br />

culturas e civilizações (op.cit. p. 13).<br />

O Ensino Religioso oferece a possibilidade de desenvolver as duas<br />

dimensões propostas pelo professor Morin: um saber que resulte<br />

do rigor científico e que conduza à humanização e à superação do<br />

preconceito derivado da ignorância ante o mistério presente nos<br />

horizontes humanos.<br />

Paradigma curricular: os cinco eixos temáticos<br />

A sociedade pós-moderna é marcada por uma procura<br />

intensa de experiências transcendentes e até pseudo-místicas.<br />

Os alunos trazem <strong>para</strong> a escola uma variedade, às vezes caótica,<br />

de informações desconexas e de vivências religiosas nem sempre<br />

assimiladas. O papel da escola é aplicar, sobre esse potencial de<br />

saber, um método científico e torná-lo organizado e inteligível e<br />

significativo, proporcionando a superação do temor, do tabu, da<br />

mentalidade mágica, da indiferença, do preconceito e da rivalidade.<br />

Os PCNERS (Parâmetros Curriculares Nacionais <strong>para</strong> o Ensino<br />

Religioso), que foram elaborados mediante longo trabalho de base<br />

entre professores e apresentados ao MEC pelo Fórum Nacional<br />

Permanente de Ensino Religioso, oferecem esse método.<br />

Os PCNERS organizam-se em cinco blocos temáticos de abordagem<br />

do Fenômeno Religioso que podem ser com<strong>para</strong>dos a um armário de<br />

laboratório, no qual se organizam e se classificam os elementos de<br />

determinado fenômeno a serem estudados. Os cinco eixos são:<br />

• Tradições e culturas religiosas;<br />

• Textos sagrados orais e escritos;<br />

• Teologias das tradições religiosas;<br />

• Ritos e símbolos religiosos;<br />

• Etos e valores dos povos e das culturas.<br />

No âmbito das matrizes culturais brasileiras, quais conteúdos<br />

pertencem a cada um dos eixos? Vejamos alguns exemplos:<br />

• Tradições e culturas religiosas: indígenas, cristãs européias medievais,<br />

africanas, orientais (judeus, xintoístas, budistas...), cristãs européias<br />

modernas (protestantes, pentecostais...) e, atualmente, novos movimentos<br />

religiosos ecléticos e sincréticos.<br />

• Textos sagrados: orais: mitos e cosmovisões das tradições indígenas<br />

e africanas; escritos: livros sagrados do cristianismo e do judaísmo (a<br />

Bíblia), do xintoísmo e do budismo, do islamismo etc.<br />

• Teologias das tradições religiosas: os diferentes nomes atribuídos a<br />

Deus, as diferenças doutrinais entre as tradições religiosas: a crença<br />

indígena e africana nos espíritos dos antepassados, a crença oriental e<br />

espírita na reencarnação, a crença bíblico cristã na ressurreição etc.<br />

• Ritos e símbolos religiosos: os ritos e símbolos universais, presentes<br />

em todas as tradições religiosas: a música, a dança, a oferenda, a água,<br />

o fogo etc; ritos e símbolos que caracterizam cada uma das tradições<br />

e se manifestam nas cerimônias: centros religiosos, templos, igrejas,<br />

sinagogas, mesquitas, terreiros, casas de reza; cerimônias: oferendas a<br />

Iemanjá à beira do mar, os cultos, a missa, os rituais indígenas etc.<br />

• Etos dos povos e das culturas: costumes e valores dos povos<br />

indígenas, por exemplo, o senso de comunidade, valorização dos<br />

anciãos, cuidado com as crianças, respeito ao meio-ambiente; das<br />

religiões afro-descendentes, o sentido de partilha e de festa, a utopia<br />

de uma terra de vida e liberdade... O que essas tradições têm a ensinar<br />

à sociedade? Quais os valores que elas guardam como etos sagrado?<br />

Enfim, o resgate de valores que caracteriza a vivência de cada etnia e o<br />

que uma tradição religiosa tem a ensinar às outras.<br />

Os cinco blocos temáticos são organizados contemporaneamente<br />

no currículo das nove séries do Ensino Fundamental por meio de<br />

conteúdos e atividades adaptados a cada idade e série. Através deles<br />

pode ser trabalhada qualquer manifestação do Fenômeno Religioso,<br />

todas as informações e também todas as experiências e práticas que os<br />

alunos trazem da família e da convivência social.<br />

As editoras têm lançado material didático de apoio aos professores,<br />

como por exemplo, a coleção Ensino Religioso Fundamental, revista<br />

Diálogo de Ensino Religioso, ambas da editora Paulinas, dentre outras.<br />

Porém é indispensável que o profissional professor de Ensino Religioso<br />

seja habilitado e pre<strong>para</strong>do <strong>para</strong> lidar com conhecimentos novos que<br />

antes não faziam parte do currículo e nem estiveram presentes em<br />

sua formação docente. Para isso, o caminho viável é que os sistemas<br />

estaduais de ensino façam convênios com as universidades <strong>para</strong> a<br />

criação de cursos de licenciatura em Ensino Religioso, vinculados ao<br />

departamento de Ciências da Religião.<br />

Além do conteúdo estabelecido, o Ensino Religioso tem um<br />

tratamento pedagógico diferenciado. Presta-se <strong>para</strong> atividades<br />

interdisciplinares interativas e participativas que proporcionem não só<br />

pesquisa rigorosa, re-elaboração de dados e produção de formas literárias<br />

e artísticas de expressar o conhecimento, como também experiências<br />

significativas na educação integral, pois nenhuma disciplina como o<br />

Ensino Religioso lida com as questões humanas, universais e particulares.<br />

E estas, por sua vez, refletidas e dialogadas, podem se transformar em<br />

construção da sabedoria de vida, levar à cidadania e ao protagonismo na<br />

humanização e na transformação do mundo.<br />

Maria Inês Carniato é autora da Coleção didática “Ensino Religioso<br />

Fundamental” e diretora de redação da Revista “Diálogo de Ensino<br />

Religioso”, ambas da editora Paulinas. Bacharel em filosofia pela<br />

Universidade Estadual do Ceará, Bacharel em Teologia pastoral<br />

pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção,<br />

de São Paulo (SP), Mestra em teologia sistemática pelo Centro de<br />

Estudos Superiores da Companhia de Jesus, de Belo Horizonte (MG),<br />

e especializada em Comunicação e Educação pela Universidade São<br />

Francisco, de Bragança Paulista (SP). Ministra cursos, palestras e<br />

oficinas de Ensino Religioso com educadores dos sistemas públicos<br />

e particulares de educação do País.<br />

E-mail: dialogo@paulinas.org.br<br />

Direcional Escolas, agosto/06<br />

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Direcional Escolas, agosto/06 junho/06<br />

40<br />

BULLYING<br />

Quando a escola<br />

é sofrimento<br />

O bullying não é um fenômeno novo. Nas escolas, sempre existiu o<br />

valentão pronto a humilhar o mais fraco. A violência, porém, tem<br />

ganhado contornos mais fortes e invadido até a internet.<br />

Por Luiza Oliva<br />

Ju Cavalheiro<br />

A menina boa aluna, que tira excelentes notas, gera ciúmes nas<br />

colegas. Espalham boatos sobre sua sexualidade, chamando-a de<br />

sapatão, e deixam a garota de lado, excluindo-a do grupo.<br />

O garoto de 5ª série, que não gosta de jogar futebol, é tímido<br />

e sensível e chora com facilidade, ganha da turma o apelido de<br />

“bicha”. Perseguido e humilhado no horário do recreio, passa a faltar<br />

às aulas com frequência e fi ca com aspecto triste e deprimido.<br />

Já um menino cursando a 3ª série sentia-se sozinho e<br />

abandonado. Buscou ajuda da direção escolar pois não suportava<br />

mais ser chamado de Gordo. Sem amigos, sentia-se rejeitado em<br />

decorrência de sua obesidade.<br />

O adolescente de 16 anos ganhou apelidos como Bob Esponja e<br />

Bom Bril por causa dos seus cabelos crespos e do seu jeito calado e<br />

tímido. Rejeitado, isolou-se da turma.<br />

Casos como esses são descritos no livro Fenômeno Bullying<br />

(Editora Verus), da educadora Cleo Fante. As histórias foram<br />

relatadas por educadores, alunos de diversos cursos ministrados<br />

por Cleo, inclusive de pós-graduação, e mostram que o bullying<br />

está mais perto de nós do que imaginamos. O termo se origina da<br />

palavra inglesa bully, ou valentão, tirano. Na forma de verbo, indica<br />

a ação de brutalizar, tiranizar, amedrontar.<br />

Nas últimas décadas, o bullying vem sendo alvo de pesquisas e<br />

estudos. No fi nal de 1982, um fato causou grande divulgação nos meios<br />

de comunicação: o suicídio de três crianças, com idades entre 10 e 14<br />

anos, no norte da Noruega. Segundo Cleo Fante, muito provavelmente<br />

o ato foi motivado pela situação de maus tratos a que eram submetidas<br />

pelos seus companheiros de escola. Dan Olweus, pesquisador da<br />

Universidade de Bergen, desenvolveu então os primeiros critérios <strong>para</strong><br />

detectar o bullying, diferenciando-o de incidentes, gozações ou relações<br />

de brincadeiras entre iguais. Em seu estudo, Olweus constatou que a<br />

cada sete alunos, um estava envolvido em casos de bullying. No Brasil,<br />

uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira Multiprofi ssional de<br />

Proteção à Infância e Adolescência (Abrapia) em 2003, com 5875 alunos<br />

de 5ª a 8ª séries de escolas municipais do Rio de Janeiro, mostrou que<br />

40,5% desses alunos admitiram estar envolvidos com bullying.<br />

O fenômeno vai além das brincadeiras comuns e aceitáveis entre<br />

crianças e jovens. Acontece com alunos de diversas faixas sociais e<br />

econômicas, principalmente envolvendo pré-adolescentes. O fato<br />

do bullying atingir um amplo leque de classes sócio-econômicas<br />

deve-se, conforme Cleo, principalmente aos modelos educativos que<br />

são introjetados pela criança, especialmente na primeira infância.<br />

“Crianças que têm como modelos educativos as diversas formas de<br />

maus-tratos e as explosões emocionais violentas tendem a reproduzi-<br />

las na escola, contra seus colegas. Há ainda a exposição às inúmeras<br />

cenas de violência, deboche e indiferença apresentados na mídia<br />

e nos jogos de games”, avalia. Conforme Cleo, a idade média das<br />

vítimas está entre 11 e 12 anos. “Mas podemos encontrar o bullying<br />

em faixas etárias menores, lá pelos quatro anos”, adverte.<br />

“O bullying ocorre dentro e fora das escolas, ultrapassando os<br />

confl itos e brigas normais que ocorrem entre estudantes, com a<br />

característica de ser planejado, repetitivo e se constituir por atos<br />

de intimidação sobre indivíduos mais vulneráveis e incapazes<br />

de se defender, o que acarreta sérios problemas psicológicos,<br />

isolamento, marginalização e até mesmo suicídio”, constata a<br />

psicopedagoga Maria Irene Maluf, presidente da Associação Brasileira<br />

de Psicopedagogia (ABPp), completando que a prática do bullying<br />

depende da existência de um núcleo problemático no qual não se<br />

desenvolveram positivamente as relações entre seus membros.<br />

O psicólogo do Ensino Médio do Colégio Santo Américo,<br />

Alexandre Trinca, afi rma que a agressão do bullying é um<br />

comportamento manifesto relacionado a profundas questões<br />

psíquicas que são revertidas em uma agressividade direcionada ao<br />

outro. “Como um sintoma psíquico, não deveríamos compreender<br />

o bullying em decorrência de classes econômicas e sociais, pois<br />

ele pode ocorrer em qualquer ambiente onde haja convívio entre<br />

as pessoas”, diz. Por outro lado, Alexandre acredita que nossa<br />

sociedade, que valoriza o mais forte, o que detém o poder, é um<br />

campo fértil <strong>para</strong> a expressão do bullying. “Vivemos em uma cultura<br />

excludente, narcísica e extremamente competitiva. Um fenômeno<br />

baseado no estabelecimento do poder sobre o outro, como é o<br />

bullying, encontra um campo fértil <strong>para</strong> se expressar”, arremata.<br />

Como identificar o bullying<br />

Surge, então, uma questão importante <strong>para</strong> a escola: como<br />

identifi car o bullying em meio às brincadeiras e atitudes próprias<br />

de crianças e adolescentes sem conseqüências mais sérias? Para<br />

ser considerado bullying, os maus tratos e humilhações devem ser<br />

repetitivos contra a mesma vítima, informa a pesquisadora Cleo<br />

Fante, e ocorrerem num período prolongado de tempo. “O professor<br />

deve saber o que é brincadeira, pois todos se divertem. Mas, quando<br />

vários se divertem às custas daqueles que sofrem, deixa de ter graça<br />

e se transforma em violência”, esclarece Cleo, que dirige o Centro<br />

Multidisciplinar de Estudos e Orientação sobre o Bullying Escolar<br />

(Cemeobes), entidade que tem como objetivo desenvolver estudos,<br />

pesquisas e material didático sobre o bullying.<br />

“Para uma atitude ser considerada bullying é necessário que<br />

sejam verifi cados alguns fatores: a sistematização e a continuidade do<br />

comportamento agressivo, bem como a relação desigual de poder entre<br />

o agressor e o alvo”, defi ne o psicólogo Alexandre Trinca. Para Maria<br />

Irene Maluf, o que distingue o bullying das brincadeiras próprias do<br />

desenvolvimento infantil e juvenil é o fato de que, neste último caso, os<br />

comportamentos indesejados não são constantes e são esquecidos em<br />

pouco tempo, já que não afetam de forma profunda a auto-estima das<br />

vítimas. Conforme a psicopedagoga, cabe aos pais e à escola a tarefa<br />

de observarem com cuidado as crianças que apresentam crescente<br />

Direcional Escolas, agosto/06<br />

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Direcional Escolas, agosto/06 junho/06<br />

42<br />

BULLYING<br />

Nas escolas, prevenção<br />

Na luta contra o bullying, muitas escolas já estão levando o assunto <strong>para</strong> sala de aula com objetivos preventivos.<br />

O Colégio Santa Maria há três anos mantém um programa inserido na grade curricular, voltado contra o bullying.<br />

Os orientadores realizam com os alunos debates, análises de texto e até dramatizações. Segundo Selma Pietrocolla,<br />

orientadora da 7ª série do Santa Maria, nas dramatizações são utilizadas inclusive técnicas de psicodrama, com um<br />

estudante vivenciando a situação do outro.<br />

No Colégio Pueri Domus também é feito um projeto com alunos de 5ª a 8ª séries, visando melhorar as relações.<br />

“Levamos aos alunos de 7ª e 8ª séries a existência de casos graves, que acarretaram doenças, mudanças de escola e<br />

até suicídio das vítimas. Assim, eles fi cam sabendo as conseqüências da prática do bullying e se conscientizam que<br />

o que parece divertido causa um grande mal ao outro”, conta a coordenadora pedagógica e educacional de 7ª e<br />

8ª séries Leylah Carvalhaes. Os estudantes do Ensino Fundamental II divulgam suas pesquisas e conclusões <strong>para</strong> as<br />

turmas de 4ª série. O projeto já acontece há cerca de três anos no Pueri Domus. “É um trabalho de base. A escola<br />

deve tocar no assunto abertamente com seus alunos e não apenas por ser um tema da moda. Todos precisamos<br />

estar de olhos bem abertos, pois muitos sofrem o bullying calados. Não dá <strong>para</strong> pintar o cenário de cor-de-rosa<br />

e dizer que não acontece”, concordam Leylah e Rose Pugliesi, coordenadora pedagógica e educacional de 5ª e 6ª<br />

séries do colégio.<br />

Segundo as coordenadoras, tem sido decisivo <strong>para</strong> o sucesso do projeto no Pueri Domus o papel do professor<br />

tutor, responsável por questões de aprendizagem e de relacionamento. O tutor avalia como a classe se comporta<br />

fora da sala, se todos têm amigos com quem almoçar, por exemplo. Outra preocupação é que os grupos de estudos<br />

não sejam fi xos, aproximando mais os alunos e evitando a criação de grupos fechados <strong>para</strong> a entrada de novos<br />

estudantes. “Fazemos um trabalho de valores preventivo. Um aluno tem direito a não ter empatia por outro mas<br />

não a desrespeitá-lo”, afi rmam.<br />

Rejeições a algum aluno em sala de aula existem em toda escola. O bullying, porém, está extrapolando os limites<br />

físicos dos colégios e entrando na rede mundial de computadores. Não são raros os casos em que as humilhações<br />

e agressões a um colega invadem páginas da internet. Cleide Fernandes Ruy, psicóloga e coordenadora pedagógica<br />

do Colégio Magno, afi rma que há dois anos a escola desenvolve projetos preventivos ao bullying. Este ano, porém, o<br />

colégio enriqueceu a discussão introduzindo a questão do chamado cyberbullying. “Ou seja, é a expressão do bullying<br />

por meio de recursos eletrônicos que, entre outras características, permite a agressão oculta sob o anonimato. É o<br />

caso das comunidades de orkuts, por exemplo, que muitas vezes servem como instrumento de perseguição”, conta.<br />

Uma das atividades elaboradas pelos alunos foi uma espécie de manual de ética dos orkuts.<br />

Mariluce Lourenço, diretora de curso de 1ª a 7ª séries do Colégio Augusto Laranja, concorda que, com a<br />

utilização da internet, o bullying está fugindo do alcance verbal e partindo <strong>para</strong> o registro escrito das agressões.<br />

“Com a internet, o bullying foge da classe e vai <strong>para</strong> o mundo. O fenômeno não é novo, só que agora temos<br />

um perfi l mais apurado de quem sofre e de quem age. O novo é divulgar esse registro pela internet e a escola<br />

não pode fi car <strong>para</strong>da, assistindo isso acontecer”, atesta. Para Mariluce, o pré-adolescente não tem noção dos<br />

problemas que causa ao “zoar” um colega, colocando apelidos ou criando uma página na internet <strong>para</strong> perpetuar<br />

as agressões. No regimento interno do colégio foi, inclusive, inserida uma cláusula que aponta, entre os deveres do<br />

aluno, “não difamar alunos, professores e demais funcionários sobre qualquer pretexto e uso de qualquer forma<br />

de comunicação”. Num artigo específi co, fi ca estabelecido que o representante legal do aluno é responsável por<br />

eventuais informações difamatórias, veiculadas por ele, por qualquer meio, inclusive internet. Seja qual for a forma<br />

de transmissão do bullying, Mariluce confi rma que a escola deve agir rápido. “Devemos mostrar aos agressores,<br />

sempre agindo de maneira educacional, que eles não têm o direito de causar sofrimento a um aluno”, fi naliza.<br />

receio de ir ao colégio, negando-se ou pedindo <strong>para</strong> serem sempre<br />

acompanhadas, e que demonstram baixa auto-estima, problemas de<br />

aprendizagem, perda freqüente de material escolar ou objetos pessoais,<br />

ou ainda que dão explicações pouco razoáveis <strong>para</strong> esses fatos, assim<br />

como <strong>para</strong> o aparecimento de ferimentos corporais e danos ao<br />

uniforme. “A violência escolar leva a vítima a se isolar ainda mais,<br />

sentir-se insegura e discriminada”, defi ne Maria Irene.<br />

Para o psicólogo do Colégio Santo Américo, o bullying tem como<br />

característica ser um comportamento velado, que ocorre longe do<br />

olhar do adulto, tornando-se muito difícil identifi cá-lo. “Geralmente,<br />

o aluno-alvo se inibe, ou é inibido pelo grupo, em expor sua condição<br />

e não consegue dividir seu sofrimento com um adulto”, afi rma.<br />

Trinca enumera alguns refl exos da vivência de bullying no aluno-<br />

alvo que podem ser identifi cados pelos professores: surgimento de<br />

súbitos problemas de saúde, insucesso escolar, depressão, ansiedade e<br />

distúrbios de conduta. “O aluno-alvo pode se tornar calado e retraído,<br />

apresentando falta de concentração nas atividades. Pode ainda se<br />

sentir perturbado ou afl ito antes da hora do intervalo e seus colegas<br />

não quererem se sentar perto dele”, completa.<br />

A escola deve ter muita cautela ao fazer qualquer diagnóstico,<br />

evitando julgamentos precipitados, concordam os especialistas. “O<br />

fato de o aluno apresentar tais sinais não quer dizer, necessariamente,<br />

que sofre bullying”, sustenta Trinca. Maria Irene Maluf constata que<br />

vítima e agressor precisam do apoio da escola, de suas famílias e da<br />

orientação de profi ssionais especializados. Segundo a psicopedagoga,<br />

as vítimas do bullying têm por característica pessoal a difi culdade de<br />

reagir. “Em geral, são escolhidas por seus agressores justamente por<br />

aparentar certa fragilidade, ansiedade, difi culdade de relacionamento<br />

com o grupo e termina por ter ainda maiores problemas com sua<br />

auto-estima, podendo vir a desenvolver depressão e apresentar baixo<br />

rendimento escolar”, aponta.<br />

O agressor normalmente também é alguém com problemas de<br />

insegurança, de relacionamento social, que aprendeu com adultos<br />

essa forma de resolver suas questões. “Frequentemente ele é vítima<br />

de rejeição, de pouco cuidado por parte de famílias desestruturadas,<br />

em que a agressão é o modelo usado <strong>para</strong> impor o poder. Torna-se<br />

um valentão na aparência, mas é uma criança ou jovem que precisa<br />

de assistência <strong>para</strong> conseguir se expressar e se relacionar de forma<br />

socialmente adequada”, diz a psicopedagoga.<br />

O simples fato de trocar a vítima do bullying de escola não signifi ca<br />

que ela se verá livre do problema. “Aconselhamos tanto a escola quanto<br />

os pais a capacitar a criança <strong>para</strong> que se torne assertiva, ou seja, <strong>para</strong><br />

que expresse os seus sentimentos, o que gosta ou não, como quer ser<br />

tratada pelos colegas, que trabalhe sua auto-estima e desenvolva seu<br />

processo de socialização. Se a criança não consegue se defender, ser<br />

assertiva e relacionar-se, em qualquer escola que vá, terá difi culdades”,<br />

acredita Cleo Fante.<br />

Em busca da prevenção do bullying e da resolução de confl itos que<br />

por acaso já existam na escola, é fundamental munir os professores<br />

de informações. Na opinião de Cleo, a escola deve primeiramente<br />

conscientizar seus profi ssionais <strong>para</strong> a relevância do bullying, depois<br />

capacitá-los a identifi car, diagnosticar e encaminhar os casos de forma<br />

ética-profi ssional, além de desenvolver estratégias preventivas.<br />

“O professor pode se apropriar do tema por meio de palestras,<br />

grupos de estudo e de discussão sobre o assunto, de levantamento e<br />

identifi cação de casos e de elaboração de estratégias <strong>para</strong> lidar com o<br />

problema”, enumera Alexandre Trinca. Entre as sugestões de Alexandre<br />

aos professores estão aproximar os alunos do tema bullying através<br />

de aulas, palestras e dinâmicas apropriadas, proporcionar momentos<br />

refl exivos focalizando questões de relacionamento e criar um espaço<br />

aberto <strong>para</strong> a convivência com as diferenças.<br />

PARA MAIS INFORMAÇÕES<br />

Alexandre Trinca/Colégio Santo Américo<br />

trinca@csasp.g12.br<br />

www.colegiosantoamerico.com.br<br />

Cleo Fante<br />

cleofante@hotmail.com<br />

www.bullying.pro.br<br />

Colégio Augusto Laranja<br />

colegio@augustolaranja.com.br<br />

www.augustolaranja.com.br<br />

Colégio Magno<br />

magno@colmagno.com.br<br />

www.colmagno.com.br<br />

Colégio Pueri Domus<br />

ombuds@pueridomus.br<br />

www.pueridomus.br<br />

Colégio Santa Maria<br />

santamaria@colsantamaria.com.br<br />

www.colsantamaria.com.br<br />

Maria Irene Maluf<br />

irenemaluf@uol.com.br<br />

Direcional Escolas, agosto/06<br />

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Direcional Escolas, agosto/06<br />

44<br />

SALA DE AULA<br />

Não transformamos sucatas em objetos úteis e bonitos da noite<br />

<strong>para</strong> o dia. Para tanto, um dos pontos principais <strong>para</strong> o início desse<br />

processo é a mudança de visão a respeito da antiga tradição popular<br />

de que sucata é lixo! Assim, devemos utilizar um novo conceito,<br />

no qual a sucata representa um rico material, acessível <strong>para</strong> todos<br />

diariamente e, além de tudo, barato.<br />

Hoje, aos poucos, temos uma onda que cresce cada vez mais em<br />

relação ao uso das sucatas não só na educação como no cotidiano<br />

das pessoas. Na educação, conquista uma ampla aceitação, pois<br />

quem se permite a chance de vivenciar a experiência da criação de<br />

jogos, brinquedos, enfeites, presentes etc. desenvolvidos a partir do<br />

material de sucata, adquire um olhar mais abrangente, plantando<br />

uma semente encantada, que crescerá e dará frutos até fazer uma<br />

conexão com todo o processo educacional.<br />

O ponto de partida <strong>para</strong> a imaginação pode, assim, iniciar por<br />

meio dessa semente que floresce e toma conta de todos os nossos<br />

cantinhos e prateleiras em sala de aula, tornando útil aquilo que,<br />

antes, iria <strong>para</strong> o lixo.<br />

O encanto que nasce ao manipular as sucatas e, a partir delas,<br />

criar algo diferente, é único, pois acabamos tendo a certeza de<br />

que valeu a pena tentar. Cada pessoa encontrará uma maneira de<br />

adaptar-se a essa nova onda, que irá jorrar muita água durante o<br />

ano e, certamente, ajudará a matar a sede e a ânsia de produção<br />

criativa das crianças e, principalmente, dos adultos, que muitas<br />

vezes se negam a tentar.<br />

As sucatas como ponto de partida<br />

<strong>para</strong> a imaginação no processo educativo<br />

Essa provocação positiva ficará marcada profundamente no<br />

professor e fará desabrochar a incrível característica da boa vontade<br />

e do desafio, que sempre nos faz experimentar e, acrescente-se, terá<br />

uma repercussão intensa no trabalho com os alunos e, sobretudo, na<br />

participação desse polêmico movimento que se está desencadeando<br />

Por Érika Ratkevícius<br />

e se espalhando nas escolas, interferindo diretamente na prática do<br />

educador, com muitas chances de prosperar enquanto estímulo e<br />

incentivo <strong>para</strong> todos.<br />

O trabalho com sucatas propicia um desenvolvimento gradativo<br />

de um conceito artístico construído pela própria criança, estimulada<br />

pela nova maneira de descobrir uma mesma idéia. As sucatas serão,<br />

a partir de agora, sempre bem vindas, desde que abordem a faixa<br />

etária adequada e sejam apresentadas de forma consistente, com<br />

variedade de materiais, técnicas e uma boa dose de entusiasmo.<br />

Elas não podem tornar-se apenas objetos ornamentais; devem,<br />

sim, possibilitar percepções e sensações estéticas, sonoras, visuais,<br />

plásticas, gestuais, sentimentais e até fantasias da turma.<br />

A sucata é, acima de tudo, de natureza lúdica, assim, responsável<br />

pelo aprimoramento das experiências vividas, favorecendo o<br />

exercício sensório-motor; portanto, cabe ao educador selecioná-las<br />

de acordo com o local, idade e intenção que se pretende atingir.<br />

Para finalizar, pode-se dizer que esse trabalho e suas dimensões<br />

requerem profissionais dispostos a construir e imaginar, bem como<br />

descobrir que o mundo que vivemos tem um motor muito potente<br />

que é acelerado num processo violentamente rápido, e as formas<br />

de expressão com as sucatas, com certeza, farão parte, muito em<br />

breve, da vida dos educadores.<br />

Érika Ratkevícius é Pedagoga, educadora especializada em<br />

Educação Infantil, atuante na rede pública municipal de<br />

ensino, com extensão em educação ambiental e políticas<br />

educacionais (USP); desenvolve oficinas periodicamente. Site:<br />

www.caee.com.br<br />

Direcional Escolas, agosto/06<br />

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Direcional Escolas, agosto/06<br />

46<br />

ESPAÇO INTERDISCIPLINAR<br />

Histórias que<br />

Encantam Crianças<br />

A auto-estima precisa ser sempre polida <strong>para</strong> que a pessoa sinta-se<br />

capaz e consiga pequenas e grandes realizações em sua vida. A virtude é<br />

algo que aprendemos e que quando praticada nos dá uma sensação de<br />

prazer em viver. O amor, a amizade, a tolerância podem gerar paz interior.<br />

A raiva e a inveja são sentimentos humanos, que podem ser entendidos e<br />

trabalhados psicologicamente. Estes são temas abordados nesta edição,<br />

que traz a história de duas formiguinhas, uma feliz com práticas do<br />

bem, e a outra que passa por momentos de tristeza por sentir inveja e<br />

frustração no contato com as outras formigas.<br />

Vamos conhecer a história da Formiguinha Zóz.<br />

Formiguinha Zóz<br />

Era uma vez uma vila onde moravam muitas formiguinhas. Uma<br />

delas era Zóz, muito especial, inteligente e rápida. Sua mãe lhe deu<br />

uma correntinha com um pingente brilhante, e ao entregá-lo disse<br />

que era o símbolo do amor que ela tinha por ele. Toda vez que Zóz<br />

passava por algum tipo de problema, segurava por alguns instantes no<br />

pingente brilhante e sentia a presença de sua mãe, algo que a acalmava<br />

e o encorajava.<br />

Na vila todos gostavam de Zóz devido a bondade e a felicidade que<br />

transmitia. Zóz tinha um primo chamado Nóc, era muito tímido e quando<br />

alguém tentava conversar com ele, não dava atenção. Todos o achavam<br />

estranho por não querer se comunicar e compartilhar suas idéias.<br />

Como Zóz era bem quisto, Nóc sentia muita inveja e raiva, pois<br />

nunca ninguém havia dito a ele que pelo menos o achava agradável.<br />

Nóc sentia-se sozinho e triste, andava sempre com a cabeça baixa e não<br />

conseguia olhar nos olhos de alguém e dizer um belo bom dia, coisa que<br />

Zóz fazia todas as manhãs, quando passeava pelas ruas da vila.<br />

A vila tinha 379 anos, muito bonita, cheia de flores e árvores onde<br />

as formiguinhas buscavam sua alimentação. Todas trabalhavam muito,<br />

eram esforçadas e buscavam estar sempre unidas.<br />

Zóz participava de todas as aulas que eram ministradas pelo<br />

professor Bonji, um senhor que ensinava aos jovens como serem úteis<br />

aos outros. Nóc também participava das aulas, mas não acreditava que<br />

um dia poderia ajudar alguém.<br />

Numa tarde de sol brilhante, as formiguinhas da vila estavam<br />

cansadas do dia de trabalho, porém felizes, pois agora poderiam se reunir<br />

na praça e perto de uma fogueira contar histórias. Também poderiam se<br />

Por Viviane Scarpelo Comin<br />

Ilustração: Eklisleno Ximenes<br />

divertir com as piadas do Formigão, um velho engraçado que sempre se<br />

dispusera a animar a vila.<br />

Nem imaginavam que aquela tarde poderia ser fatal. Lá estavam<br />

elas, 35 formiguinhas amigas reunidas, dançando e cantando felizes,<br />

próximo à fogueira. Nóc não saía de casa quando havia festa na praça.<br />

Porém, ele não sabia que estavam festejando. Saiu e quando chegou<br />

ao centro da praça, levou um susto, pois todos estavam lá. Disse bem<br />

baixinho a si mesmo: “Não acredito! Uma festa na praça e eu estou<br />

aqui. Preciso ir embora.”<br />

Antes de partir ficou curioso e resolveu olhar o que estavam fazendo.<br />

Viu sorrisos, brincadeiras e dança. Nesse momento teve raiva de todos por<br />

não estar participando e por se sentir excluído. Pensou que a alegria delas<br />

deveria acabar rapidinho. Dizia a si mesmo, “já que não posso ser feliz, elas<br />

também não podem”. Enquanto todos dançavam, disfarçadamente se<br />

aproximou da fogueira e pegou um pouco de brasa sem ser percebido.<br />

Nóc pensou que colocando fogo na floresta chamaria a atenção das<br />

formigas, e que assim elas <strong>para</strong>riam de dançar e a festa acabaria. Nóc<br />

não contava com o vento que fez o fogo se alastrar pela floresta, indo<br />

em direção às casas. Em instantes as labaredas começaram a subir. Nóc<br />

abaixou a cabeça despedindo-se de boa parte da natureza de que tanto<br />

as formiguinhas precisavam <strong>para</strong> viver.<br />

Na vila as formiguinhas dançavam e, de repente, Zóz percebeu uma<br />

fumaça forte. Olhou e gritou:<br />

- Fogo, fogo na floresta!<br />

Todas as formiguinhas começaram a gritar. Zóz correu <strong>para</strong> ver o que<br />

estava acontecendo de perto. O fogo já tomava conta de boa parte da<br />

mata e se alastrava em direção a vila, coisa que Nóc não havia previsto<br />

que aconteceria.<br />

Zóz pediu <strong>para</strong> que as formigas lhe ajudassem a pegar baldes de<br />

água <strong>para</strong> apagar o fogo. Enquanto isso, Nóc começou a ficar apavorado,<br />

pois o fogo estava indo em direção à sua casa. Por segundos pensou em<br />

sua vida: concluiu que não tinha amigos, que ninguém gostava dele e<br />

que a única coisa que ainda lhe restava era a sua casinha. Sentou-se<br />

próximo a mesa de jantar, abaixou a cabeça como de costume e ficou<br />

esperando o fogo chegar. Dentro de si já havia tomado a decisão de ficar<br />

na casa, mesmo que ela se incendiasse. Pouco tempo depois, o fogo já<br />

cercava a casa de Nóc.<br />

A formiguinha mais rápida da vila, Zóz, não pensou duas vezes, pulou<br />

por sobre fogo e foi retirar Nóc da casa demonstrando muita coragem<br />

e determinação. Nóc não queria sair de lá de jeito algum. Zóz, tentando<br />

convence-lo, disse que o ajudaria na construção de uma nova casa. O<br />

local ficou cada vez mais quente e o fogo já estava entrando no quarto,<br />

quando Zóz pegou Nóc a força, colocando-o nos ombros e saindo numa<br />

rapidez incrível. Nóc, ao visualizar o lado de fora, se espantou com a<br />

quantidade de formigas espalhadas ao redor da casa tentando apagar o<br />

fogo com alguns baldes de água.<br />

Em meio a todo aquele fogo, Zóz passou a mão no pescoço e não<br />

percebeu sua corrente. Procurou novamente, mas a correntinha havia<br />

se perdido, provavelmente no momento em que foi salvar Nóc. Assim,<br />

desesperado, pulou novamente por sobre o fogo que já havia avançado<br />

mais um pouco, na tentativa de encontrá-la. A fumaça cobria quase<br />

todas as partes da casa - Zóz não agüentou, desmaiando no centro<br />

da sala.<br />

Nóc, do lado de fora, se pôs a chorar, pois não acreditava que havia<br />

criado tão grande problema. A mãe de Zóz chegou e disse:<br />

- Não pode ser, Zóz está lá dentro.<br />

Nóc lembrou-se das aulas do professor Bonji e pensou que era a sua<br />

chance de ajudar alguém. Levantou a cabeça, enxugou as lágrimas que já<br />

salgavam sua boca e disse pela primeira vez em voz alta:<br />

- Vou ajudar.<br />

Bravamente Nóc correu o mais rápido que pôde, de forma que<br />

conseguisse entrar pela porta de trás da casa. Com muito esforço,<br />

rastejando pelo chão como uma forma de se livrar da fumaça, encontrou<br />

Zóz e o puxou <strong>para</strong> fora. Voltou ainda abaixado e, no meio da fumaça,<br />

encontrou a correntinha que brilhava.<br />

Saiu da casa e foi ao encontro de Zóz que já estava sendo<br />

atendido por formiguinhas médicas. Todos deram um viva à bravura<br />

e coragem de Nóc. Naquele momento, sentiu-se extremamente feliz<br />

e chorou de alegria.<br />

Além do agradecimento que recebeu das formigas, percebeu que se<br />

elas estavam do lado de fora de sua casa, tentando apagar o fogo, é<br />

porque de alguma forma ele era importante. Sentiu-se amado e querido<br />

percebendo os amigos que tinha na vila. Passado todo o problema referente<br />

àquela noite, como havia prometido, Zóz o ajudou na construção de<br />

uma nova casa, que ele dizia ter ficado linda, bem melhor que a antiga.<br />

Nóc, além de ganhar um novo lar, ganhou uma nova vida, pois passou a<br />

cumprimentar todos. Conversava, contava “causos” e procurava sempre<br />

estar disponível <strong>para</strong> ajudar e servir, mesmo que fosse apenas abrindo<br />

uma porta ou segurando uma sacola <strong>para</strong> uma formiga mais velha.<br />

Nóc nunca mais havia ficado sozinho e triste, dizia que se sentia útil<br />

e feliz naquele lugar. Percebeu que oferecendo amor também receberia.<br />

A inveja e a raiva se esvaíram mediante tantos sentimentos bons que<br />

agora estavam em seu coração. Nóc e Zóz se tornaram grandes amigos e<br />

viveram na vila felizes <strong>para</strong> sempre.<br />

Fim!<br />

Sugestão de Atividades:<br />

Antigamente as pessoas sentavam-se em círculo <strong>para</strong> contarem histórias e com os<br />

mais diversos títulos, divertiam-se. O contador da história é quem dava emoção e vida<br />

aos personagens. Na escola, o professor pode utilizar-se desta forma, interpretando a<br />

história, garantindo a atenção dos alunos que podem ficar sentados em círculo. No<br />

término, poderá sugerir um teatrinho improvisado, com os personagens “Formiguinha<br />

Zóz e a sua prima Nóc”. Uma encenação rápida, no meio do círculo, com a parte da<br />

história em que Nóc vê a possibilidade de ajudar alguém e salva Zóz. Os demais<br />

alunos serão as formiguinhas que ajudarão apagar o fogo da casa de Nóc. Depois da<br />

encenação de todos, o professor poderá fazer perguntas ao grupo como: o que vocês<br />

acham que a formiguinha sentiu quando ajudou sua prima? O que será que Nóc sentiu<br />

ao ver que todos da vila estavam ajudando apagar o fogo de sua casa? Alguém aqui<br />

já sentiu que não era amado e depois percebeu o contrário? Quem já sentiu inveja, por<br />

que e como resolveu? O que vocês entendem sobre raiva? Como você se sente quando<br />

ajuda um amigo? Outras perguntas que o educador considere adequadas ao tema<br />

podem ser colocadas.<br />

Outra forma <strong>para</strong> trabalhar estas questões com as crianças é solicitar que as<br />

mesmas levem <strong>para</strong> a escola jornais, revistas e gibis e que façam colagens do que<br />

SENTIRAM ao ouvir a história, eliciando nas crianças a percepção de si mesmas e o<br />

auto-conhecimento. Depois, se quiserem poderão comentar sobre seus trabalhos.<br />

Dica:<br />

O professor não precisa preocupar-se com discursos <strong>para</strong> os alunos. Poderá usar<br />

poucas palavras, dando oportunidade <strong>para</strong> as crianças se expressarem, permitindo que<br />

explorem seus próprios pensamentos e sentimentos de forma clara e construtiva.<br />

Viviane Scarpelo Comin. CRP: 06/75424. Psicóloga Clínica,<br />

Hipnoterapeuta e Orientadora Vocacional. Atendimento a<br />

crianças, adolescentes, casais e famílias.<br />

Site: www.delphospsicologia.com.br<br />

E-mail: vivianecomin@portaldelphos.com.br<br />

Direcional Escolas, agosto/06<br />

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Direcional Escolas, agosto/06<br />

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LANÇAMENTOS<br />

Conheça alguns dos mais recentes lançamentos de literatura infanto-juvenil e<br />

de livros voltados à educação.<br />

Fotos: Divulgação<br />

Para melhorar<br />

a escola<br />

Juana Maria Sancho e Fernando Hernández são professores da<br />

Universidade de Barcelona conhecidos no Brasil devido às inúmeras<br />

participações em congressos e consultorias na formação docente.<br />

O lançamento da Artmed reúne textos da dupla e de outros autores<br />

espanhóis. A obra engloba um conjunto de saberes, ferramentas<br />

e formas de fazer que são subsídios valiosos <strong>para</strong> se repensar<br />

e melhorar o ensino, dando atenção particular ao papel das<br />

Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) na educação e sua<br />

influência na configuração da escola do amanhã.<br />

Livro: Tecnologias <strong>para</strong> Transformar<br />

a Educação<br />

Autor: Juana Maria Sancho e<br />

Fernando Hernández<br />

Editora: Artmed<br />

Preço: R$ 38,00<br />

Páginas: 200<br />

Conceitos de educação em Paulo Freire é um instrumento prático de<br />

acesso aos textos do educador. Não deixa de ser uma homenagem<br />

a Paulo Freire, mas acima de tudo é um manual baseado em<br />

conhecimentos adquiridos por ele. O livro pretende, sobretudo, ser<br />

um provocador de discussões e dar voz às supostas indagações que<br />

surgem quando Freire é lido.<br />

Discutindo<br />

Paulo Freire<br />

Livro: Conceitos de educação em Paulo<br />

Freire<br />

Autor: Maria Lucia Marcondes Carvalho<br />

Vasconcelos e Regina Helena Pires de Brito<br />

Editora: Vozes<br />

Preço: R$ 25,00<br />

Páginas: 198<br />

Orientação<br />

profissional<br />

Livro: Orientação profissional – Uma<br />

experiência psicodramática<br />

Autor: Lucila Camargo<br />

Editora: Ágora<br />

Preço: R$ 28,90<br />

Páginas: 152<br />

Lucila Camargo é jornalista, educadora, psicodramatista e especialista<br />

em orientação profissional. Ela sugere o psicodrama como proposta<br />

<strong>para</strong> a orientação vocacional. Lucila desenvolveu uma metodologia que<br />

valoriza a flexibilidade, a sensibilidade e o autoconhecimento. “Aliado à<br />

disposição do jovem em descobrir-se, o programa favorece o despertar<br />

dos talentos individuais”, afirma. O psicodrama surge como ferramenta<br />

<strong>para</strong> que os jovens percebam suas aptidões e identifiquem os sinais que<br />

os conduzirão a uma carreira profissional satisfatória.<br />

O mundo do tamanho<br />

da imaginação<br />

Livro: A Menina que inventou o<br />

branco-invisível<br />

Autor: José Carlos Aragão<br />

Editora: Paulinas<br />

Preço: R$19,80<br />

Páginas: 40<br />

A menina do livro tinha duas broncas: morar em apartamento<br />

e não ter um bichinho de estimação. A menina que vivia no<br />

mundinho pequeno de um apartamento criou na sua imaginação<br />

um companheiro perfeito. E assim nasceu um elefante branco-<br />

invisível, que ninguém via. A história ensina às crianças e relembra<br />

aos adultos como lidar com as limitações impostas pela vida: se não<br />

dá <strong>para</strong> vencê-las, drible-as com boas idéias, usando a imaginação.<br />

Laço duradouro<br />

Livro: Pais ocupados, filhos distantes<br />

– Investindo no relacionamento<br />

Autor: Gordon Neufeld e Gabor<br />

Mate<br />

Editora: Melhoramentos<br />

Preço: R$ 39,00<br />

Páginas: 400<br />

Gordon Neufeld, psicólogo clínico, e Gabor Mate, médico, ambos<br />

canadenses, definem que a criação dos filhos nada mais é do que<br />

fomentar um bom relacionamento. O foco principal do livro não<br />

é mostrar aos pais o que eles devem fazer <strong>para</strong> seus filhos, mas sim<br />

quem eles devem ser <strong>para</strong> eles. Os autores oferecem um programa <strong>para</strong><br />

a criação de um laço duradouro com os filhos e um auxílio visando<br />

preveni-los <strong>para</strong> que o mundo dos pares (os amigos do colégio, os<br />

colegas do bairro, os ídolos, entre outros), não os seduza.<br />

Poemas musicados<br />

Livro: Amigos do Peito<br />

Autor: Cláudio Thebas<br />

Editora: Formato<br />

Preço: R$29,90<br />

Páginas: 28<br />

Amigos do Peito chega à sua 15ª edição e traz um CD de áudio com os<br />

poemas musicados. Ilustrado por Eva Furnari, o livro de poemas conta a<br />

história de um menino e a sua rotina durante um dia inteiro, desde a hora<br />

que ele se levanta, até suas atividades na escola, brincadeiras, o almoço e<br />

o banho, com muito bom humor e criatividade. A obra recebeu o prêmio<br />

da Fundação Nacional do Livro Infanto-Juvenil (FNLIJ) de Altamente<br />

Recomendável <strong>para</strong> Crianças na categoria poesia em 1996.<br />

Educação<br />

nutricional<br />

Livro: Brincando com os alimentos<br />

Autor: Juliana de Almeida Queiróz<br />

Parra e Julliana Augusto Sanches<br />

Bonato<br />

Editora: Metha<br />

Preço: R$ 59,00<br />

Páginas: 76<br />

Festa popular<br />

Livro: O Congo vem aí!<br />

Autor: Sérgio Capparelli<br />

Editora: Global<br />

Preço: R$25,00<br />

Páginas: 24<br />

O premiado autor Sérgio Capparelli (já ganhou cinco vezes o Prêmio<br />

Jabuti) mostra, neste livro, a tradição da Congada, de origem<br />

africana, que ainda hoje sobrevive principalmente no Sul de Minas,<br />

Nordeste de São Paulo e interior de Goiás. A festa é dedicada a Nossa<br />

Senhora do Rosário e a São Benedito e esperada com ansiedade<br />

pelos moradores. Carlos Eduardo Cinelli e Warley Goulart utilizaram<br />

nas ilustrações desenhos recortados em tecidos das mais variadas<br />

cores e texturas, montagem de cena e fotografia.<br />

Revolução<br />

da educação<br />

Livro: Por uma Escola inteligente<br />

Autor: Cassiano Zeferino de<br />

Carvalho Neto<br />

Editora: IGGE<br />

Preço: R$35,00<br />

Páginas: 128<br />

O autor é defensor de uma pedagogia vivencial, onde o estudante<br />

vivencie situações, construa conhecimentos e crie novas soluções.<br />

Defende também a idéia de que o professor precisa repensar seu<br />

papel e seus métodos de ensino. A escola inteligente proposta<br />

na obra tem conotação de inovação, vivência e autoria, capaz de<br />

provocar a tão esperada revolução da Educação. O livro pode ser<br />

encomendado na Livraria Cortez: vendas@livrariacortez.com.br .<br />

O livro transmite às crianças em idade pré-escolar,<br />

com recursos lúdicos, conhecimentos básicos sobre<br />

alimentação. Através da educação nutricional, as<br />

autoras buscam despertar na criança o prazer de se<br />

alimentar e a consciência de que uma boa alimentação<br />

pode proporcionar benefícios presentes e futuros.<br />

Direcional Escolas, agosto/06<br />

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Direcional Escolas, agosto/06<br />

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AGENDA<br />

II WORKSHOP - A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA<br />

EMBASADA NA TEORIA SISTÊMICA<br />

Data: 26 de Agosto de 2006.<br />

Realização: ABPP– Associação Brasileira de Psicopedagogia<br />

Informações: (11) 3085-2716<br />

www.abpp.com.br<br />

psicoped@uol.com.br<br />

VII BIENAL INTERNACIONAL DO LIVRO<br />

DO CEARÁ<br />

Data: 18 a 27/08/2006<br />

Local: Centro de Convenções – Fortaleza – CE<br />

Realização: RPS Feiras<br />

Informações: (11) 3333-7878<br />

www.rpsfeiras.com.br<br />

X CONGRESSO E FEIRA DE EDUCAÇÃO<br />

SABER 2006<br />

Data: 01 a 03 de Setembro de 2006<br />

Local: ITM EXPO – SP. Av Eng Roberto Zuccolo, 555<br />

Realização: SIEEESP<br />

Informações: (11) 5583 5500<br />

www.feirasaber.com.br<br />

comercial@sieeesp.org.br<br />

CONGRESSO CONHECER 2006 ES<br />

Data: 01 a 03 de Setembro de 2006.<br />

Local: SESC Praia Formosa - Aracruz – ES.<br />

Realização: Máxima Eventos<br />

Contato: (27) 3339-5984<br />

www.maxima.art.br<br />

FENALBA 2006 - V FEIRA NACIONAL DO LIVRO DA<br />

BAIXADA SANTISTA<br />

CONECTAINTELIGÊNCIA – CONGRESSO<br />

INTERNACIONAL DE ENSINO E APRENDIZAGEM<br />

SALÃO DA EDUCAÇÃO DA BAIXADA SANTISTA<br />

DATA: 5 a 8 de Outubro de 2006<br />

LOCAL: Mendes Convention Center – Santos – SP.<br />

REALIZAÇÃO: Grupo Promofair<br />

INFORMAÇÕES: www.promofair.com.br<br />

VII CONGRESSO DE PSICOPEDAGOGIA<br />

III CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO DE PSICOPEDAGOGIA<br />

I CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO DE PSICOPEDAGOGIA<br />

X ENCONTRO BRASILEIRO DE PSICOPEDAGOGOS<br />

II EXPO PSICOPED<br />

Data: 12 a 15 de Outubro de 2006.<br />

Local: Universidade São Judas Tadeu – Mooca – SP.<br />

Realização: ABPP – Associação Brasileira de Psicopedagogia<br />

Contato: (11) 3361-3056<br />

www.abpp.com.br<br />

II CONGRESSO DE EDUCAÇÃO INFANTIL -<br />

SEDIN / 2006<br />

Educadores da Infância: Cientistas da Prática rumo à<br />

Profissionalização<br />

DATA: 25 a 27 de Outubro de 2006.<br />

Local: Anhembi - São Paulo<br />

Realização: SEDIN - Sindicato dos Trab. em Estab. de<br />

Educação Infantil<br />

Informações: (11) 3258 3878<br />

www.sedin.com.br<br />

sedin@sedin.com.br<br />

II LITERAMERICA – FEIRA SUL-AMERICANA<br />

DO LIVRO<br />

Data: 16 a 24/09/2006<br />

Local: Centro de Eventos do Pantanal – Cuaiabá – MT<br />

Realização: Governo do Estado do Mato Grosso<br />

Contato: (65) 3613-9211<br />

www.literamericana.com.br<br />

X FEIRA PAN-AMAZÔNICA DO LIVRO<br />

Data: 15 a 24/09/2006<br />

Local: Centro de Convenções Júlio César – Belém – PA<br />

Realização: RPS Feiras<br />

Contato: (11) 3333-7878<br />

www.rpsfeiras.com.br<br />

CURSOS<br />

COMO TRANSFORMAR MATERIAIS ECOLÓGICOS EM MATERIAL<br />

PEDAGÓGICO<br />

Profissional: Laedir Aparecido Antonio<br />

Data: 12/08/2006 das 09 às 15 horas<br />

Público Alvo: Professores de Educação Infantil e Fundamental e demais<br />

interessados<br />

REALIZAÇÃO: CAEE – Centro de Atendimento a Empresas e Escolas<br />

INFORMAÇÕES: (11) 5532-1512 - FAX (11) 5049-3317<br />

www.caee.com.br<br />

caee@caee.com.br<br />

CONFECÇÃO DE INSTRUMENTOS MUSICAIS COM SUCATA E<br />

BANDINHA RÍTMICA<br />

Profissional – Leila Maria Grillo<br />

Data: 19/08/2006 das 09 às 15 horas<br />

Público Alvo: Professores de educação infantil e fundamental I, professores<br />

de educação artística, pedagogos alunos de pedagogia e recreacionistas.<br />

REALIZAÇÃO: CAEE – Centro de Atendimento a Empresas e Escolas<br />

INFORMAÇÕES: (11) 5532-1512 - FAX (11) 5049-3317<br />

www.caee.com.br<br />

caee@caee.com.br<br />

COMO ENSINAR CIÊNCIAS UTILIZANDO SUCATA<br />

Profissional - Hernani Facundo Leite<br />

Data: 26/08/2006 das 09 às 15 horas<br />

Público Alvo: Professores de ensino fundamental I, ensino fundamental II,<br />

coordenadores pedagógicos, orientadores<br />

REALIZAÇÃO: CAEE – Centro de Atendimento a Empresas e Escolas<br />

INFORMAÇÕES: (11) 5532-1512 - FAX (11) 5049-3317<br />

www.caee.com.br<br />

caee@caee.com.br


Direcional Escolas, agosto/06<br />

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