Pedagógica 19.indd - Instituto Crescer para a Cidadania
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Direcional Escolas, agosto/06<br />
2<br />
Editores<br />
Sônia Inakake<br />
Almir C. Almeida<br />
Jornalista Responsável<br />
Luiza C. Oliva<br />
MTB 16.935<br />
jornalista@condominio.inf.br<br />
Colunistas<br />
Cassiano Zeferino de Carvalho Neto<br />
Maria Irene de Matos Maluf<br />
Maria Taís de Melo<br />
Colaboraram nesta edição<br />
Anna Maria Pessoa de Carvalho<br />
Beatriz Rizek<br />
Edmilson de Castro<br />
José Silvério Edmundo Germano<br />
Luis Fabio Simões Pucci<br />
Maria Cristina Motta de Toledo<br />
Maria Inês Carniato<br />
Mary Grace Martins<br />
N. Omote<br />
Roberto von Puttkammer Prado<br />
Teresa Gallotti Florenzano<br />
Viviane Scarpelo Comin<br />
Diretor de Arte<br />
Thais Moro<br />
Gabriel Borges<br />
Assistentes de Arte<br />
Adriano Costa Vespa<br />
Juliana Cavalheiro<br />
Rodrigo Trevizan<br />
Atendimento ao Leitor e Circulação<br />
Emilly Tabuço<br />
João Elias Pereira<br />
Impressão<br />
Duo Graf<br />
Filiada à<br />
Apoio<br />
A Direcional Escolas é uma publicação mensal da Exclusiva Publicações<br />
Ltda., com circulação nacional.<br />
Dirigida a diretores, educadores, coordenadores e todos os profissionais<br />
que atuam na área da educação.<br />
Não é permitida a reprodução total ou parcial das matérias, sujeitando<br />
os infratores às penalidades legais. As matérias assinadas são de inteira<br />
responsabilidade de seus autores e não expressam, necessariamente, a<br />
opinião da revista Direcional Escolas.<br />
R. Vergueiro, 2556 8º Andar<br />
Vila Mariana 04102-000 São Paulo SP<br />
Tel.: (11) 5573-8110 - Fax: (11) 5084-3807<br />
faleconosco@direcionalescolas.com.br<br />
www.direcionalescolas.com.br<br />
Caro leitor,<br />
Edição 19<br />
Agosto 2006<br />
EDITORIAL<br />
Um time de peso de colunistas e colaboradores ajudou a construir esta edição<br />
muito especial de Direcional Escolas. Oito artigos foram escritos por palestrantes da<br />
10ª edição do Congresso e Feira de Educação Saber, evento que reunirá educadores,<br />
entre os próximos dias 1, 2 e 3 de setembro, no ITM Centro de Convenções, em São<br />
Paulo, em torno do tema “Ensinar menos <strong>para</strong> aprender mais: o conhecimento que leva<br />
ao saber”. Ciências, física, geografia, produção de vídeos, o uso de jogos eletrônicos em<br />
sala de aula, a criança de seis anos e a transição da Educação Infantil <strong>para</strong> o Ensino<br />
Fundamental estão entre os focos desses artigos.<br />
Grande parte de nossos autores estará ministrando oficinas relacionadas aos temas<br />
de seus artigos num novo espaço do Saber, a Sala Inteligente. A proposta da sala, fruto<br />
de estudos do educador Cassiano Zeferino de Carvalho Neto, é agregar num único<br />
espaço da sala de aula todos os recursos pedagógicos. Uma revolução na educação, aliás,<br />
é o que propõe Cassiano no artigo de capa desta edição, “Por uma escola inteligente”,<br />
uma escola aberta aos novos tempos.<br />
Mudanças, aliás, parecem ser um tema constante desta edição. Na Entrevista,<br />
Cesar Callegari, conselheiro do Conselho Nacional de Educação e ex-secretário de<br />
educação de Taboão da Serra, defende mudanças urgentes <strong>para</strong> que a educação<br />
brasileira avance em qualidade. Valorização do magistério, diminuição do número de<br />
alunos por sala de aula, investimentos em recursos didáticos e fixação do professor<br />
na escola, fortalecendo a equipe escolar, estão entre as providências urgentes a serem<br />
tomadas, na opinião de Callegari.<br />
Direcional Escolas traz ainda muita informação de qualidade. O artigo de Maria<br />
Inês Carniato discute a atual identidade do ensino religioso, intercultural e inter-<br />
religiosa, conforme o modelo definido pelos Parâmetros Curriculares Nacionais de<br />
Ensino Religioso. O fantasma do bullying, que invade as escolas com medo, humilhação<br />
e violência, é apresentado na reportagem de Luiza Oliva. E na seção Perfil da Escola,<br />
não deixe de conhecer a história da Escola Estadual Nelson Fernandes que, no interior<br />
paulista, é exemplo de escola pública de qualidade, investindo em projetos voltados<br />
<strong>para</strong> a comunidade e na recuperação dos espaços físicos.<br />
Boa leitura e esperamos vocês no Saber 2006!<br />
Um abraço,<br />
Os Editores<br />
Direcional Escolas, agosto/06<br />
3
Direcional Escolas, agosto/06<br />
4<br />
SUMÁRIO<br />
13<br />
PÁGINA DO<br />
18<br />
ENTREVISTA<br />
Cesar Callegari<br />
Por Luiza Oliva<br />
PSICOPEDAGOGO<br />
O novo papel dos avós na educação<br />
Por Maria Irene Maluf<br />
16<br />
DIDÁTICA<br />
16<br />
Aulas animadas: mais movimento<br />
ao que acontece dentro da escola<br />
Por Mary Grace Martins<br />
PERFIL<br />
DA ESCOLA<br />
21<br />
Escola Estadual Nelson<br />
Fernandes<br />
Por Luiza Oliva<br />
06<br />
13<br />
21<br />
26<br />
EDUCAÇÃO<br />
INFANTIL<br />
Crianças de seis anos: a transição da<br />
Educação Infantil <strong>para</strong> o Ensino<br />
Fundamental<br />
Por Maria Taís de Melo<br />
10<br />
10<br />
10<br />
CAPA<br />
Por uma escola inteligente<br />
Por Cassiano Zeferino de<br />
Carvalho Neto<br />
14 EDUCAÇÃO<br />
AMBIENTAL<br />
Processos geológicos e o<br />
homem como responsáveis pela<br />
transformação da terra<br />
Por Maria Cristina Motta<br />
de Toledo<br />
14<br />
18 Ensinar ciências <strong>para</strong> promover a<br />
enculturação científi ca<br />
Por Anna Maria Pessoa de<br />
Carvalho<br />
ENSINO FUNDAMENTAL<br />
18<br />
24<br />
GESTÃO<br />
O futuro da escola privada<br />
Por Roberto von<br />
Puttkammer Prado<br />
28<br />
EDUCAÇÃO<br />
TECNOLÓGICA<br />
Desmistifi cando o micro: a inteligência<br />
artifi cial aliada no planejamento escolar<br />
Por Beatriz Rizek<br />
34<br />
EDUCAÇÃO CIENTÍFICA<br />
Imagens de satélite como recurso didático<br />
Por Teresa Gallotti Florenzano<br />
BULLYING<br />
Quando a escola é sofrimento<br />
Por Luiza Oliva<br />
40<br />
ESPAÇO<br />
INTERDISCIPLINAR<br />
Histórias que encantam crianças<br />
Por Viviane Scarpelo Comin<br />
50<br />
AGENDA<br />
28<br />
34<br />
40<br />
46<br />
50<br />
30 ENSINO MÉDIO<br />
36<br />
48<br />
Ciências com ênfase em<br />
física vivencial<br />
Por José Silvério Edmundo Germano,<br />
N. Omote e Luis Fabio Simões Pucci<br />
ENSINO RELIGIOSO<br />
Ensino religioso, componente da<br />
formação cidadã<br />
Por Maria Inês Carniato<br />
36<br />
44<br />
44<br />
As sucatas como ponto de<br />
SALA DE AULA<br />
partida <strong>para</strong> a imaginação no<br />
processo educativo<br />
Por Érika Ratkevícius<br />
48<br />
LANÇAMENTOS<br />
Os mais recentes lançamentos<br />
de livros voltados à educação.<br />
Direcional Escolas, agosto/06<br />
5
Direcional Escolas, agosto/06<br />
6<br />
ENTREVISTA<br />
CESAR CALLEGARI<br />
Mudanças possíveis, em busca da qualidade<br />
O conselheiro do CNE considera que o Brasil não tem mais<br />
tempo a perder na busca pela qualidade da educação.<br />
Por Luiza Oliva<br />
Foto: Almir Almeida<br />
Como conselheiro do Conselho Nacional de Educação (CNE), órgão ligado ao Ministério da<br />
Educação, Cesar Callegari está envolvido com os assuntos mais atuais em relação à educação.<br />
É o caso da aprovação da inclusão das disciplinas de fi losofi a e sociologia no Ensino Médio e<br />
da criação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valoriza-<br />
ção dos Profi ssionais da Educação (Fundeb), que substituirá o atual Fundo de Manutenção e<br />
Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef) e atenderá<br />
os alunos da Educação Infantil, do Ensino Fundamental e Médio e da Educação de Jovens e<br />
Adultos (EJA).<br />
A obrigatoriedade do ensino de fi losofi a e sociologia no Ensino Médio é inclusive o tema de<br />
sua palestra, que acontece no próximo dia 2 de setembro, na 10ª edição do Congresso de<br />
Educação Saber. Callegari foi o relator do parecer do CNE que aprovou por unanimidade a<br />
inclusão das disciplinas nas escolas públicas e privadas de Ensino Médio. Para Cesar, o fato<br />
representa um avanço na qualidade do Ensino Médio. “Jovens brasileiros precisam ter espírito<br />
crítico, uma ampla visão de mundo e condições de se tornarem cidadãos atuantes e protago-<br />
nistas do seu tempo”, justifi ca.<br />
A experiência como conselheiro do CNE tem mostrado a Cesar que é possível fazer educação<br />
de qualidade no Brasil. “Tenho contatos com escolas e educadores do Brasil inteiro e vejo<br />
um misto de inacreditável entusiasmo, até de veteranos. As difi culdades são enormes e eles<br />
persistem em fazer uma prática inventiva, renovadora todo dia, buscando coisas novas e com<br />
resultados fantásticos. É claro que há muitas difi culdades, mas há muitas saídas”, admite.<br />
Nesta entrevista a Direcional Escolas, Cesar Callegari avalia o que precisa mudar <strong>para</strong> termos<br />
uma educação de qualidade, também com base em sua experiência prática como Secretário<br />
de Educação de Taboão da Serra, cidade da região metropolitana de São Paulo, cargo que<br />
exerceu entre 2005 e 2006. O Programa de Interação Família e Escola que desenvolveu na ci-<br />
dade ganhou prêmio do PNUD (Programa das Nações Unidas <strong>para</strong> o Desenvolvimento), órgão<br />
da ONU, como um dos melhores programas educacionais do país.<br />
DIRECIONAL ESCOLAS - No contato que o senhor tem com<br />
práticas educacionais positivas, vê algum perfi l comum a esses<br />
educadores? Que características têm essas escolas?<br />
A característica comum a todas elas é o fato da escola ter poder,<br />
um nível maior de autonomia. Um ingrediente permanente que<br />
determina essa autonomia é a conexão com a comunidade. E há<br />
várias formas de fazer isso. A comunidade é conectada com a escola<br />
de maneira reagente, por exemplo, a partir de um empenho pessoal<br />
do diretor ou da própria equipe da escola que acaba criando uma<br />
conexão. Outras vezes, é a própria comunidade que faz com que a<br />
escola reaja, ela é ativa. Toda vez que percebemos uma escola boa,<br />
ela tem participação intensa da comunidade, seja ela decorrente da<br />
iniciativa da direção ou coordenação ou ao contrário. A comunidade<br />
é de tal forma organizada e presente que a escola vai <strong>para</strong> frente.<br />
As escolas que não se mobilizam são levadas a isso por falta<br />
de verba? Essas escolas que dão certo também enfrentam<br />
falta de recursos?<br />
Elas acabam superando barreiras. O problema da falta de estrutura é<br />
muito severo. Ele joga um balde de água fria em muita gente animada.<br />
A própria sustentação de certos projetos sem o apoio da fonte estrutural<br />
de recursos, seja uma secretaria, no caso de escolas públicas, seja a<br />
própria família, quando se trata de escolas particulares, acaba limitando<br />
muito a ação. É freqüente encontrarmos casos em que a limitação<br />
estrutural é superada pelo resultado de um empreendedorismo. Há<br />
muitos profi ssionais da educação que são empreendedores no sentido<br />
mais amplo, que procuram encontrar em cada difi culdade um desafi o<br />
até pedagógico <strong>para</strong> o conjunto da escola. Tenho<br />
visto isso em escolas públicas, particulares,<br />
pequenas, grandes. Isso nos anima. Porque se<br />
olharmos apenas os índices da educação brasileira,<br />
é de desanimar.<br />
Uma outra fonte de problemas em relação<br />
às políticas educacionais é uma invencionice<br />
permanente. Muitos, sem terem condições<br />
de enfrentar problemas estruturais, acabam criando uma vertigem<br />
permanente, como se isso fosse capaz de anestesiar a necessidade de<br />
enfrentamento dos problemas estruturais. Sou muito crítico em relação<br />
a essa idéia de sacudir as escolas a cada dia, a cada mês, com um projeto<br />
novo. Frequentemente, são projetos que vêm de pára-quedas, de fora<br />
do ambiente escolar. Esse é um processo que mais atrapalha do que<br />
resolve. Existem ingredientes básicos de uma educação de qualidade,<br />
o be-a-bá, o feijão com arroz, que deve ser perseguido, embora de<br />
maneira criativa e inovadora. Senão, há um tsunami a cada mês, que<br />
vai tirando da escola a possibilidade dela encontrar o seu eixo.<br />
O senhor foi secretário de educação de Taboão da Serra até março<br />
de 2006 e idealizou um projeto premiado pela ONU. O que pensa<br />
da descontinuidade das políticas educacionais no Brasil?<br />
As mudanças de governo são um entrave <strong>para</strong> a educação. A<br />
descontinuidade das políticas educacionais é um problema<br />
crônico no país, uma infelicidade. Muita coisa boa é desfeita,<br />
sem a devida avaliação. A alternância do poder faz parte do<br />
processo democrático. Como em educação temos políticas de<br />
longo prazo, que demandam tempos longos de maturação, esses<br />
tempos frequentemente são superiores aos tempos dos governos.<br />
Nem sempre os sistemas de ensino são fortes o sufi ciente <strong>para</strong><br />
resistir a esse processo de desmanche, de revanchismo, de uma<br />
visão pequena de gestores que acham que a secretaria virou<br />
uma propriedade particular ou a escola virou uma propriedade<br />
particular de um novo diretor. A escola é algo público, construído<br />
por muita gente. Antes das políticas serem alteradas, pelo menos<br />
deveriam merecer uma avaliação criteriosa e generosa. O novo<br />
governante, o novo dirigente, o novo diretor quer colocar de<br />
qualquer maneira sua impressão digital e esquece, ou ignora,<br />
praticamente todos os avanços construídos ao longo dos anos e<br />
quer inventar a roda. Isso representa perda de recursos, desalento<br />
por parte dos criadores dos programas. Qual é o antídoto maior<br />
<strong>para</strong> isso? É o fortalecimento da estrutura, seja da escola, seja<br />
dos sistemas de escolas. Se houver enraizamento de uma política<br />
educacional numa determinada cidade ou numa determinada<br />
escola, e portanto uma política defendida por muitos, fruto de<br />
um contrato social e educacional entre muitas pessoas, é menos<br />
provável que essa escola seja afetada por mudanças bruscas das<br />
alternâncias de poder.<br />
Existem ingredientes<br />
básicos de uma educação<br />
de qualidade que<br />
devem ser perseguidos, de<br />
maneira criativa.<br />
É uma tendência a escola se abrir <strong>para</strong> a comunidade?<br />
A escola não pode ser uma escola-<br />
conservatório, tem que ser dinâmica e essa<br />
característica vem exatamente da interação<br />
que ela estabelece com o processo educativo,<br />
que não é apenas escolar. O Programa<br />
Interação Família e Escola de Taboão da Serra<br />
partiu do conceito que valorizar o magistério<br />
é valorizar uma função social muito mais<br />
ampla. Abrimos condições <strong>para</strong> que o professor tivesse uma relação<br />
mais profunda com o outro pólo de desenvolvimento educacional,<br />
que é a família. Os resultados são extraordinários e imediatos.<br />
É uma forma inovadora de realizar algo que qualquer educador<br />
sabe que é importante, que é a relação com a família. O inovador,<br />
que é bem simples, é proporcionar condições <strong>para</strong> que o professor<br />
visite a casa da família dos seus alunos. Todos os alunos, não os que<br />
têm algum tipo de problema. O professor ganha R$ 30 por visita,<br />
que é feita fora do horário de trabalho, a qualquer momento que o<br />
professor quiser, pré-agendado com a família. Durante a visita não<br />
há preenchimento de fi cha, o professor não anota nada, não há uma<br />
inquisição. A idéia é criar um espaço mais próximo, mutuamente<br />
afetivo, <strong>para</strong> que a família se sinta encorajada a comentar aspectos da<br />
criança, do seu processo educativo e do seu ambiente familiar, e que<br />
a criança se sinta valorizada por seu professor visitar o seu território,<br />
Direcional Escolas, agosto/06<br />
7
Direcional Escolas, agosto/06<br />
8<br />
ENTREVISTA<br />
o seu domínio. Isso acaba defl agrando uma relação quase mágica.<br />
Temos depoimentos de crianças que dizem que o professor virou seu<br />
amigo, ela conheceu sua casa, sua turma. Essa criança é estimulada<br />
a ser muito mais colaborativa e cooperativa no seu próprio processo<br />
educacional. Temos inúmeros casos de crianças que eram ou muito<br />
apáticas ou muito irriquietas em sala de aula e passam a colaborar.<br />
Essas crianças mais ativas, que frequentemente exercem um papel<br />
de liderança na classe, exercem transformações imediatas não só na<br />
relação dela com o professor mas com o conjunto da classe.<br />
E fi nalmente, e talvez o aspecto mais importante, é que o professor<br />
passa a ter um conjunto de elementos que ele não tinha antes,<br />
por mais atento e sensível que fosse. Passa a ter elementos<br />
da realidade de seus alunos, tem condições de aprender a<br />
singularidade de cada um desses indivíduos, reconhecendo nessas<br />
singularidades todas as possibilidades de<br />
desenvolvimento educacional. A agenda<br />
da escola muda a partir disso. Os horários<br />
de trabalho pedagógico e o próprio plano<br />
ativo da escola mudam totalmente. Não é<br />
mais a agenda que vem de cima <strong>para</strong> baixo,<br />
como o secretário da educação quer. As<br />
próprias atividades relacionadas à formação<br />
continuada de professores passam a ser impregnadas por um<br />
novo tipo de demanda, que não é só a demanda da equipe técnica<br />
de uma secretaria de educação, mas são propostas derivadas de<br />
necessidades que a própria equipe escolar percebe.<br />
Não houve problemas relacionados à segurança dos<br />
professores ou recusa das famílias em recebê-los?<br />
É claro que <strong>para</strong> agendar o encontro deve haver um acordo mútuo.<br />
Nos pouquíssimos casos em que isso não aconteceu não foi por<br />
acanhamento das famílias em função de sua precariedade social e<br />
econômica. Paradoxalmente, a recusa partiu de famílias de classe<br />
média, e não sei por qual motivo. De junho de 2005 até hoje foram<br />
realizadas cerca de 1600 visitas na cidade e não houve um só caso<br />
relacionado à segurança dos professores. Mesmo em locais onde nem<br />
a polícia entra, os professores entraram escoltados pelas crianças.<br />
E por parte dos professores, aconteceram recusas?<br />
O programa é optativo, o professor não é obrigado a fazer as visitas.<br />
Mas há uma pressão dos próprios alunos. Mesmo no relacionamento<br />
entre os professores, o repertório dos que participam se enriquece<br />
numa mesa de planejamento. Não é penoso <strong>para</strong> o professor, ele pode<br />
programar com muita fl exibilidade suas visitas. E sempre deixamos<br />
claro que não se pretende do professor nenhum trabalho na área de<br />
assistência social. Temos a ativação de uma rede de proteção à criança<br />
quando ela se faz necessária, mas por outros órgãos da prefeitura<br />
e com extremo cuidado. Houve um caso muito marcante de um<br />
menino de nove anos que vivia num barraco com sete irmãos, todos<br />
vivendo numa mesma cama, com a mãe alcoólatra. Eles viviam com<br />
uma cesta básica doada por uma comunidade religiosa. A professora se<br />
emocionou com a situação. Ela pessoalmente tomou algumas atitudes e<br />
nos acionou. Era uma família em condição de risco total e ativamos uma<br />
rede de proteção social com a secretaria de assistência social. A própria<br />
escola desenvolveu uma estratégia mais adequada <strong>para</strong> lidar com aquela<br />
criança, que mudou totalmente. Era retraída, envergonhada, vinha <strong>para</strong> a<br />
escola sem tomar banho. Os professores são afetados por esse conjunto<br />
de informações novas, mas eles mesmos acham que é muito melhor ter<br />
consciência da origem dos problemas, <strong>para</strong> sobrepujá-los, do que lidar com<br />
eles sem conhecer a origem. O programa é um enorme sucesso mas eu<br />
não quero dizer que é perfeito. Essa própria rede de proteção social precisa<br />
sempre ser aperfeiçoada. Mas é uma excelente estratégia. Poucas coisas em<br />
uma cidade são mais tentaculares em relação às famílias do que a escola.<br />
Difi cilmente você encontra algo que chega tão diretamente às famílias do<br />
que a rede escolar.<br />
Foi difícil a aprovação da obrigatoriedade<br />
das disciplinas de fi losofi a e sociologia no<br />
Ensino Médio?<br />
Esse assunto é extremamente polêmico, mesmo<br />
dentro da Câmara de Educação Básica do CNE. Está<br />
muito longe de ser uma matéria pacífi ca. Encontrei<br />
um caminho <strong>para</strong> esse processo ser aprovado. A maior crítica é que não<br />
cabe a um órgão normativo do sistema nacional de educação, que é o<br />
CNE, impor nada no que se refere a estruturação da legislação curricular.<br />
Temos que estabelecer orientações gerais em termos de diretrizes<br />
curriculares, mas não impor a formatação fi nal da grade curricular.<br />
Guiomar Namo de Mello, por exemplo, acredita que fi losofi a e sociologia<br />
são conteúdos curriculares que devem ser tratados em outras disciplinas,<br />
como história e geografi a. Propus que nas escolas que organizem seu<br />
currículo de maneira fl exível, inovadora, não por disciplina, os conteúdos<br />
curriculares de fi losofi a e sociologia devem ser organizados de maneira<br />
fl exível, não disciplinar. Aliás, essa é uma recomendação da LDB. Nas<br />
escolas que adotam um sistema de organização curricular por disciplina,<br />
aí sim os conteúdos de fi losofi a e sociologia precisam ser ministrados<br />
por disciplina, obrigatoriamente. Essa foi a saída formal. A sociologia e<br />
a fi losofi a estão explicitamente referidas na LDB. Elas não são tratadas<br />
como disciplinas, mas como conteúdos curriculares.<br />
Historicamente, já houve épocas em que elas eram disciplinas.<br />
O que ocorreu?<br />
Sociologia e fi losofi a foram vítimas preferenciais em alguns momentos.<br />
O primeiro foi o da época da ditadura militar. O aparelho repressivo<br />
imaginava que essas aulas, com seus professores, eram verdadeiros<br />
ninhos de comunistas e subversivos. Mais recentemente, de 1995 <strong>para</strong><br />
cá, em São Paulo principalmente, acorreu um fortíssimo enxugamento<br />
da grade curricular do Ensino Médio. Havia uma concepção, que eu<br />
considero totalmente equivocada, que, como não se podia fazer tudo<br />
razoavelmente bem, concentrar-se a grade curricular no ensino de<br />
português e matemática. Esse foi basicamente o pressuposto da política<br />
pública desenvolvida pelo governo do Estado de São Paulo nesse período.<br />
O resultado dessa política foi a adoção de várias medidas de eliminação de<br />
uma quantidade incrível de aulas de história, geografi a, fi losofi a, sociologia,<br />
remanescentes de psicologia e mesmo diminuição de aulas de química,<br />
física e biologia. Os resultados podem ser medidos pelo SAEB (Sistema<br />
Nacional de Avaliação da Educação Básica), que de 1995 até 2003 mostra<br />
uma queda permanente das curvas de qualidade da educação paulista.<br />
É claro que isso tem que ser melhor investigado mas eu suspeito que o<br />
enxugamento da grade curricular do Ensino Médio, com a eliminação de<br />
uma enorme quantidade de aulas de disciplinas mais contextualizantes,<br />
levou a um empobrecimento inclusive do aprendizado da matemática e<br />
do português. Outro argumento no que se refere a sociologia e fi losofi a é<br />
que nós devemos estar pre<strong>para</strong>dos <strong>para</strong> um processo de enriquecimento<br />
curricular do Ensino Médio. A demanda por mais vagas será declinante nos<br />
próximos anos, assim como já tem acontecido no Ensino Fundamental, o<br />
que abre possibilidades reais de investimentos maiores em qualidade. Entre<br />
os critérios de qualidade está o enriquecimento gradativo dos componentes<br />
curriculares oferecidos aos estudantes.<br />
De maneira geral, e não só no Ensino Médio, essa seria a<br />
necessidade premente da escola no Brasil?<br />
Eu diria que é avançar na qualidade. Essa qualidade deriva de alguns pontos<br />
centrais. Primeiro, uma política efetiva de valorização do magistério. Temos<br />
que inverter esse sinal perverso que é o salário do professor. Que vida eu<br />
terei se escolher ser professor? Quando hoje um jovem percebe que o salário<br />
médio do professor no Brasil é R$ 700, nós estamos dando o seguinte sinal:<br />
fora aqueles que são vocacionados e que têm paixão<br />
pela atividade do magistério, escolherão a carreira<br />
de professor os que não encontrarem outra opção<br />
no mercado de trabalho. Essa é a realidade brasileira<br />
e temos que inverte-la. Temos que considerar que,<br />
em poucos anos, um jovem estudante que tenha<br />
interesse por biologia considere ser professor de<br />
biologia com a mesma intensidade que considera ser médico, por exemplo.<br />
Ele tem que saber que essa é uma opção viável <strong>para</strong> o seu projeto de vida.<br />
Precisamos de políticas muito mais corajosas de valorização do professor,<br />
não apenas do ponto de vista salarial mas das suas condições de trabalho<br />
e de desenvolvimento profi ssional permanente. O mercado profi ssional<br />
<strong>para</strong> educadores vai se ampliar vertiginosamente no país nos próximos<br />
anos, o que é bom. Com a adoção da nova sistemática de fi nanciamento<br />
da educação básica, o Fundeb, os sistemas de ensino, particularmente os<br />
municipais, vão fi car muito estimulados a ampliar sua rede de escolas<br />
de Educação Infantil e aumentar suas atividades de EJA. Apenas 8% das<br />
crianças brasileiras de zero a três anos são atendidas em creches. Esse é o<br />
principal problema político-educacional dos prefeitos brasileiros. A grande<br />
pressão política da opinião pública é pela abertura de creches. A matrícula<br />
de uma criança numa creche será condição <strong>para</strong> que o prefeito traga<br />
recursos <strong>para</strong> o seu município através do Fundeb.<br />
E o que mais a escola brasileira precisa <strong>para</strong> melhorar<br />
de qualidade?<br />
Um segundo ponto requer investimentos <strong>para</strong> diminuir fortemente<br />
o número de alunos por sala de aula. Isso é essencial, representa<br />
condição de uma assistência educacional mais adequada. Com classes<br />
de 45, 46 alunos, em séries iniciais do Ensino Fundamental, não há<br />
boa pedagogia que resista. Esse processo de diminuição é factível, não<br />
só nas séries iniciais, e se dá pela diminuição da taxa de natalidade e<br />
do êxito de algumas políticas de progressão e correção de fl uxo dos<br />
alunos pelo Ensino Fundamental, permitindo uma quantidade menor<br />
de alunos principalmente no Ensino Fundamental. Outras estratégias<br />
adequadas, como escolas de tempo integral, passam a ser possíveis:<br />
temos professores, salas de aula, e até ociosidade em algumas escolas,<br />
então é possível ter a complementação do processo educativo do<br />
aluno na própria escola.<br />
Nós não temos tempo<br />
histórico <strong>para</strong> esperar a<br />
formação de uma nova<br />
geração de professores<br />
Um terceiro ponto que demanda investimentos é a questão dos<br />
próprios recursos didáticos. O livro didático, uma tecnologia do<br />
século XIII, ainda não chegou ao século XXI na maioria das escolas do<br />
Ensino Médio. Agora o governo federal está indo <strong>para</strong> o terceiro livro.<br />
Aplausos porque fi nalmente isso está começando. Alguns professores<br />
adaptavam um arremedo de apostila <strong>para</strong> ter algum material de<br />
suporte. A situação mais comum é, à noite, um professor cansado se<br />
resignar a colocar na lousa, onde o giz mal pega, um ponto da sua<br />
disciplina que provavelmente não será sequer copiado pelos alunos,<br />
igualmente cansados, e que jamais será discutido. O resultado do SAEB<br />
mostra que 70% dos alunos que concluem o Ensino Médio no Brasil<br />
hoje, e mesmo em São Paulo, são classifi cados<br />
entre os níveis crítico e muito crítico, e apenas<br />
7% são classifi cados no nível adequado em<br />
profi ciência em matemática. Não é de causar<br />
surpresa. Nós não temos tempo histórico <strong>para</strong><br />
esperar a formação de uma nova geração de<br />
professores ou esperar 20 anos <strong>para</strong> acertar<br />
a educação no Brasil. Em 20 anos, se continuar assim, o Brasil será<br />
condenado a ser uma nação de segunda classe no planeta. Como não<br />
temos esse tempo, precisamos recorrer a novas tecnologias de apoio<br />
ao professor e ao aluno, e entre elas está o livro didático. Não podemos<br />
esperar uma política vagarosa de livro didático <strong>para</strong> os estudantes do<br />
Ensino Médio. Isso tem que ir com muito mais velocidade, e associada<br />
a tecnologias do século XXI.<br />
Um quarto ponto remete à dimensão da estruturação das escolas<br />
e dos sistemas de ensino, o que envolve uma teia de providências,<br />
entre elas fi xar o professor na escola. Escola é equipe escolar. Escola<br />
em que a equipe é volante se sente frágil. Fixar o professor na escola,<br />
como forma de organização do sistema de ensino, tem que ser meta<br />
perseguida pelos gestores. Acredito nesses quatro pontos como a base<br />
da revolução educacional necessária e urgente.<br />
Contatos com Cesar Callegari: cesarcallegari@uol.com.br;<br />
www.cesarcallegari.com.br<br />
Direcional Escolas, agosto/06<br />
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Direcional Escolas, agosto/06<br />
10<br />
CAPA<br />
Por uma escola inteligente<br />
É chegada a hora, ensaiada por séculos.<br />
Não mais os muros da prisão intelectual,<br />
Mas a visão de um mundo global,<br />
Ávido por ser reinventado e inovado,<br />
A cada instante.<br />
Ao gestor o cuidado,<br />
Ao educador a realização,<br />
Ao estudante o direito à vida,<br />
À sociedade a oportunidade de ver-se,<br />
E rever-se a si mesma...<br />
A Escola Inteligente<br />
Não é a escola do futuro,<br />
Mas a escola do presente.<br />
O futuro passa por aqui.<br />
Por Cassiano Zeferino de Carvalho Neto<br />
O contexto histórico e seus reflexos na educação<br />
contemporânea<br />
As concepções político-educacionais têm experimentado crises<br />
profundas nas últimas décadas. Am<strong>para</strong>das em significativos avanços<br />
da Psicologia, Pedagogia, Psicopedagogia, Neurobiologia, Sociologia,<br />
Direito e Política, dentre outras ciências recorrentes, as maneiras<br />
de conceituar, organizar e promover a educação formal vêm se<br />
transformando e exigindo novas respostas a antigos problemas.<br />
Centrados nas perspectivas político-institucionais, nas relações<br />
sócio-pedagógicas docente-discente, nos ambientes e mídias e nas<br />
condições de contorno da própria comunidade em que se constitui e<br />
que a constitui, a escola não pode e nem consegue mais permanecer<br />
no pedestal de singularidade acadêmica em que um dia se postou.<br />
Assim, deslocada de sua posição de instituição guardiã dos<br />
saberes seculares, recolocada agora <strong>para</strong> um mundo que a ressitua<br />
como espaço e lugar planetário e destituída de poder a priori que<br />
gozava desde suas origens, a escola colapsou. Na verdade nunca<br />
foi pre<strong>para</strong>da <strong>para</strong> experimentar mudanças <strong>para</strong>digmáticas tão<br />
profundas e bruscas como a que experimentou em poucas décadas,<br />
principalmente desde o final do século XX. Ao longo da história da<br />
educação a escola, como instituição formal de ensino, repetidamente<br />
veio a reboque das inovações de caráter científico, artístico e<br />
tecnológico. Enquanto os saberes epistemológicos avançaram com a<br />
velocidade de um jato, a escola mal e mal conseguiu se “atualizar” na<br />
velocidade de uma bicicleta a ser pedalada sem <strong>para</strong>r, pois se não por<br />
si só não se manteria em movimento.<br />
Conceber uma escola que venha atender às efetivas demandas de<br />
uma sociedade planetária, mas em nível local, rompendo sem cinismo<br />
com as próprias barreiras e limitações, requer não só ousadia, mas<br />
também novos referenciais tão confiáveis quanto possíveis. Em outras<br />
palavras, poderíamos dizer que é essencial reinventar a escola, sem que ela<br />
perca a sua identidade; pelo contrário, fazendo-a conquistar seus novos<br />
espaços e tempos, reconstruindo seu caráter de contemporaneidade.<br />
A pedagogia contemporânea busca construir modelos consistentes<br />
capazes de responder aos desafios educacionais deste tempo, sabendo de<br />
antemão que serão provisórios, passíveis de aprimoramentos e requintes,<br />
críticas e ajustes, melhoria contínua enfim.<br />
Portanto podemos arriscar dizer que estamos diante de uma<br />
situação ímpar na história recente da educação brasileira. Se,<br />
por um lado, muitos clamam por mudanças nem todos podem<br />
promovê-las, pelas mais variadas razões. É preciso levar em conta<br />
ainda que somente com boas intenções isoladas não se chegará<br />
longe, na verdade pouco poderá ser efetivamente feito. As políticas<br />
públicas carecem de atitudes responsáveis no sentido de ir além<br />
das aparências e das formas, superando as fachadas que querem<br />
mostrar serviço, mas que, de fato, muito pouco ou nada contribuem<br />
<strong>para</strong> a construção de novos modelos de educação e de escola. Assim<br />
o tempo passa e gerações e gerações de brasileiros se perdem no<br />
abismo das aparências disfarçadas de realizações sociais e políticas<br />
bem intencionadas.<br />
O que parece muito longe pode estar mais perto<br />
do que se imagina ou supõe<br />
Consideramos indispensável buscar estabelecer algumas<br />
categorias <strong>para</strong> auxiliar na compreensão dos fenômenos de<br />
natureza histórico-social que preponderantemente contribuíram,<br />
e vem contribuindo, de forma intensa com a escola, obrigando-<br />
a a relativizar, de forma aceleradíssima, seu papel secular, suas<br />
especialidades e especificidades.<br />
Ainda que carecendo de um aprofundamento impossível de ser<br />
aqui detalhado, podemos dizer que a descentralização e a pulverização<br />
da informação e sua atual multicomplexidade, alcançando os sujeitos<br />
sociais por variados canais, como o rádio, a televisão, a internet e as<br />
mídias do jornalismo, dentre outros meios, foram e continuam sendo<br />
os fatores mais importantes <strong>para</strong> compreendermos a crise institucional<br />
da escola. Certamente outros aspectos de natureza social que passam<br />
pela instituição familiar, religiosa, política e mesmo a educacional, têm<br />
sofrido mudanças intensas o que acaba por afetar os antigos modelos<br />
e padrões escolares: as necessidades são outras, as respostas também.<br />
Assim, mesmo que de um modo não rigoroso, podemos dizer que<br />
o acesso à informação, que se intensificou nos anos de 1980 <strong>para</strong> cá,<br />
provocou e continua a provocar uma verdadeira revolução. A diferença<br />
entre uma revolução e uma reforma está, justamente, nos tempos em<br />
que cada uma se dá. Enquanto que uma revolução trata de mudanças<br />
profundas em tempos curtos, uma reforma pode significar mudanças<br />
não tão profundas em tempos longos. Dessa forma se estabelece e<br />
permanece a crise na Educação: o entorno social à escola caminha no<br />
passo revolucionário e a escola no passo das reformas.<br />
Se este quadro de fato puder representar, ainda que de modo<br />
aproximativo, o cenário em que hoje vive a escola podemos mais<br />
bem compreender o contexto em que estamos inseridos, enquanto<br />
responsáveis por políticas públicas e privadas, por gestão e docência ou<br />
por discência e entorno escolar. Com isso podemos nos lançar à busca<br />
de soluções, aqui entendidas, de forma rigorosa, como tecnologias. Aliás,<br />
vale dizer que há diferenças fundamentais entre tecnologia, técnica e<br />
mídia. O primeiro conceito se refere ao por que, no sentido de buscar<br />
soluções a um determinado problema e isto envolve inteligências e<br />
criatividade (arte); o segundo trata de como as soluções apresentadas<br />
podem ser implementadas, interconectando as mídias, isto é, o “que”<br />
responsável pela implementação final do processo. Numa sala de aula<br />
tradicional o quadro e as carteiras, juntamente com cadernos, lápis,<br />
borracha etc. se constituem em mídias (o que); o modo como se<br />
relacionam e interconectam são as técnicas utilizadas (por exemplo,<br />
não se colocam as carteiras de modo que os estudantes fiquem de<br />
costas <strong>para</strong> o quadro de giz!) e a tecnologia está oculta, pois representa<br />
o conjunto de problemas e suas possíveis respostas aproximativas que<br />
foram, ao longo do tempo, precisando ser enfrentados <strong>para</strong> que o<br />
fenômeno educacional e seus processos pudessem se estabelecer.<br />
Por uma escola inteligente<br />
Tendo como referência as considerações feitas até aqui<br />
procuramos responder aos problemas centrais da educação básica<br />
e superior. A escola deve ser capaz, antes de tudo, de criar um<br />
ambiente de acolhimento não só afetivo, mas também em sintonia<br />
com a contemporaneidade da vida social, com todos os desafios<br />
e oportunidades que encerra, <strong>para</strong> além dos discursos vazios e<br />
carregados de falso ufanismo. A esta escola chamaremos de Escola<br />
Inteligente.<br />
Se <strong>para</strong> muitos uma Escola Inteligente pode ser um avanço,<br />
um alto degrau do ponto de vista tecnológico, <strong>para</strong> outros<br />
representará o presente com sua ambientação <strong>para</strong> o futuro. Entre<br />
tais extremos se inclui um espetacular universo de jovens e adultos<br />
que vivem na sociedade do conhecimento, uma sociedade na qual<br />
a miscigenação cultural é de natureza complexa, ampla e irrefreável<br />
por se sustentar na democratização das tecnologias da informação<br />
e comunicação, no âmbito planetário.<br />
Não há mais opção de natureza romântica do tipo “participo,<br />
ou não participo da inclusão digital”! De fato, esta questão pode ser<br />
alterada: “<strong>para</strong> existir devo me incluir” e retornamos à necessidade<br />
fundamental da espécie humana: “só existo e me constituo homem<br />
na interação com o outro”.<br />
Direcional Escolas, agosto/06<br />
11
Direcional Escolas, agosto/06<br />
12<br />
CAPA<br />
•<br />
NA INTERNET<br />
• www.intelligentschool.com.br<br />
• www.salainteligente.com.br<br />
• www.aulainteligente.com.br<br />
• www.ciaedu.com.br/home.htm<br />
• www.ifce.com.br<br />
• www.igge.org.br<br />
CONVITE ESPECIAL<br />
Visite a Sala Inteligente, célula vital da Escola Inteligente,<br />
na SABER – 2006 (www.feirasaber.com.br).<br />
Enquanto interagir representou estar perto fi sicamente, as<br />
características das relações humanas tinham um determinado<br />
protocolo e modo de ocorrer, mas na medida em que “estar<br />
próximo” transcendeu a dimensão unicamente física e alcançou<br />
a esfera virtual, o contexto passou a mudar e novas confi gurações<br />
foram se estabelecendo. Podemos dizer, com pequena margem de<br />
erro, que tanto o mundo quanto a humanização e as relações sociais<br />
por ela responsáveis estão sendo reinventadas a todo instante. O<br />
que era circunscrito a um local, ou área física, hoje se converte num<br />
espaço cibernético que, literalmente, representa o mundo, ou ainda no<br />
conceito de Pierre Levy, na Cibercultura.<br />
Este é um dos principais cenários do cidadão do século XXI. Sua<br />
cidadania não deve e nem pode ser mero discurso político, desprovido<br />
de signifi cado efetivo. Como dissemos há pouco, não mais se trata de<br />
uma escolha ingênua, e sim de uma necessidade tão imperativa ao<br />
ser humano quanto o domínio da linguagem, em suas mais diferentes<br />
esferas de manifestação. É nesta perspectiva e dimensão que se insere<br />
uma Escola Inteligente, que se recusa em ser uma colcha de retalhos<br />
pedagógicos, <strong>para</strong> assumir-se enquanto instituição de seu tempo e do<br />
futuro da civilização.<br />
Mas os muros da Escola Inteligente são baixos, ou praticamente<br />
inexistem! Não nos referimos aos muros de tijolos e concreto, mas<br />
aqueles que podem representar barreiras culturais. Nesta perspectiva<br />
a escola está na casa do estudante e do professor, e cada um deles se<br />
encontra na escola, a qualquer hora do dia ou da noite, 365 dias e seis<br />
horas por ano. A comunidade Escola Inteligente é, portanto, altamente<br />
interativa, social-dialógica, crítico-criativa e desenvolve a consciência<br />
da cidadania como fator essencial à vida.<br />
Longe da fragmentação, a Escola Inteligente é antes um elo<br />
integrador <strong>para</strong> os sujeitos, na seara de sua trajetória cultural. É fonte<br />
de informação e desafi o; é partilha, mas é também o obstáculo e o<br />
confl ito construtivo das personalidades capazes de hoje, <strong>para</strong> no futuro<br />
lidarem com as divergências e adversidades que se apresentarem ao<br />
longo da vida.<br />
A escola estratifi cada, estanque e engessada que pretende<br />
transmitir a qualquer custo valores, totalmente questionáveis, deve<br />
ceder lugar a uma escola fl exível, mas não frouxa; intensa, mas<br />
não massacrante; provocadora da construção dos saberes e rica em<br />
possibilidades pedagógicas, mas sem ostentações inúteis; democrática,<br />
mas não demagógica e contemporânea sem perder de vista os<br />
horizontes de futuro. Enfi m, plena, mas sem jamais estar pronta.<br />
Ao educador resgata-se a dimensão da autoria. Por ter à disposição<br />
nada menos do que um universo de informações, poderá tanto contar<br />
com as bibliotecas da aula inteligente, como ir buscar em qualquer sítio<br />
da web a informação documental que possa ser elemento constitutivo<br />
<strong>para</strong> a elaboração de autoria. Em outras palavras, passará o educador<br />
a exercer sua dimensão de autor e não mais de mero reprodutor de<br />
conteúdos impostos, por razões discutíveis e nada democráticas. Assim,<br />
os potenciais criativos e inovadores dos educadores poderão, neste<br />
novo cenário, emergir mais plenamente, trazendo um clima salutar,<br />
rico, vivo e desafi ador, que em última instância propiciará o resgate<br />
da identidade responsável, perante os objetos da cultura e do saber, na<br />
arte de mediar.<br />
Ao gestor de uma escola inteligente estará reservada a missão<br />
de cuidar <strong>para</strong> que a qualidade total seja um processo com início,<br />
avaliação, reinício diário, sem fi m.<br />
A Escola Inteligente deve ser o local da descoberta, da criatividade,<br />
do poder da emoção, das relações humanas em toda sua plenitude, da<br />
revisão crítica da sociedade e do cidadão como construtor inseparável<br />
desta mesma sociedade.<br />
Referências bibliográfi cas:<br />
CARVALHO NETO, C. Z. Por onde caminha a Educação? IFCE – <strong>Instituto</strong><br />
<strong>para</strong> a Formação Continuada em Educação: São Paulo, 2003.<br />
___________________ e MELO M. T. E agora, Professor? (Por<br />
uma Pedagogia Vivencial). Obra em multimídia. IFCE – <strong>Instituto</strong> <strong>para</strong> a<br />
Formação Continuada em Educação: São Paulo, 2004.<br />
CARVALHO NETO, C. Z. Por uma Escola Inteligente. <strong>Instituto</strong> Galileo Galilei<br />
<strong>para</strong> a Educação (IGGE): São Paulo, 2005.<br />
Cassiano Zeferino de Carvalho Neto é Educador, presidente do IGGE<br />
– <strong>Instituto</strong> Galileo Galilei <strong>para</strong> a Educação (www.igge.org.br). Email:<br />
presidente@igge.org.br<br />
O novo papel dos avós<br />
na educação<br />
A fi gura dos avós mudou radicalmente nas últimas décadas. Muitos<br />
de nós lembramos com grande saudade daquelas pessoas de cabelos<br />
grisalhos ou brancos, que visitávamos aos domingos e amorosamente<br />
nos cobriam de mimos e vontades.<br />
A casa da avó era repleta de cheiros bons que vinham da cozinha, de<br />
brinquedos que não se precisavam guardar, de bichinhos de estimação<br />
que não se podiam criar nas nossas casas, de horários muito fl exíveis<br />
<strong>para</strong> dormir e acordar, de colos, abraços, afagos e beijos sem fi m. Era<br />
onde se conseguia exercer uma certa tirania sem repreensão e sem<br />
repressão, pois a visita ao <strong>para</strong>íso era limitada pela segunda-feira, quando<br />
invariavelmente começavam os deveres, as regras e a escola <strong>para</strong> onde<br />
nossos pais nos levavam .<br />
Com o passar dos anos, os avós foram estendendo sua responsabilidade<br />
na vida das famílias por eles iniciadas, deixando de ser apenas um esteio<br />
emocional, <strong>para</strong> serem parceiros no cuidado direto com os netos, quando<br />
não se tornam seus verdadeiros educadores.<br />
Mesmo em jovens famílias bem estruturadas e com recursos<br />
econômicos sufi cientes, podemos atualmente verifi car com facilidade<br />
a importância que a presença praticamente diária dos avós tem<br />
na educação dos netos. Com as mães trabalhando fora, as crianças<br />
precisam da presença de alguém de confi ança <strong>para</strong> cuidar delas, dando-<br />
lhes amparo afetivo e se responsabilizando por parte de sua criação<br />
e educação, não só quando estes são bebês, mas também por toda<br />
infância e adolescência .<br />
O aparecimento da nova estrutura da família em nossa sociedade,<br />
construída também a partir dos múltiplos casamentos, a ausência de<br />
um dos pais, quer devido a se<strong>para</strong>ções matrimoniais, à morte, às diversas<br />
doenças, assim como ao abuso de drogas, incapacidades momentâneas,<br />
desemprego, etc., colocou muitos avós como protagonistas e não mais<br />
como coadjuvantes na educação das novas gerações.<br />
Porém, é importantíssimo lembrar que, numa época da vida<br />
onde provavelmente as pessoas pensam em passar e não em assumir<br />
responsabilidades, esse voltar no tempo pode representar um ônus<br />
difícil de ser pago, apesar de haver um lado afetivo importante e<br />
positivo <strong>para</strong> todos. Assim, os mais velhos, por terem companhia de<br />
seus netos, revivem experiências, criam novos hábitos pessoais, sente-<br />
se revigorar pela oportunidade de doar o tempo e a atenção que não<br />
tiveram oportunidade de vivenciar com seus próprios fi lhos. Muitos se<br />
sentem impulsionados a rejuvenescer , a atualizar-se <strong>para</strong> acompanhar<br />
o crescimento dos netos.<br />
Por Maria Irene Maluf<br />
Mas a situação pode também criar áreas de atrito e de risco <strong>para</strong> os<br />
dois lados, provocando o aparecimento de sentimentos contraditórios,<br />
de perda, ressentimento, culpa, além de representar uma privação da<br />
liberdade pessoal, a qual, tendo os fi lhos já adultos, as pessoas almejam<br />
usufruir. É diferente cuidar das crianças nos fi nais de semana e de se<br />
colocar no lugar de pais, de educadores, que têm de impor limites,<br />
estabelecer controles e providenciar recursos fi nanceiros <strong>para</strong> fazer frente<br />
aos novos compromissos. As diferenças tornam-se ainda mais evidentes<br />
quando os netos, já crescidos e com hábitos e costumes arraigados, vão<br />
<strong>para</strong> a guarda defi nitiva de seus avós.<br />
Muitos pais acabam também por se ressentir da intimidade e do<br />
afeto dos fi lhos com os seus sogros e pais. As crianças podem sentir a<br />
fragilidade física de seus novos cuidadores, a falta da presença e atenção<br />
de seus pais e a inevitável mudança da linha educativa nem sempre é<br />
recebida com tranqüilidade.<br />
Acostumados com avós muito condescendentes quando eram<br />
apenas visitas de domingo, há crianças que se ressentem da mudança<br />
necessária de papéis: no lugar dos doces ilimitados surge a escova de<br />
dentes, a alimentação balanceada; em vez das brincadeiras e folguedos<br />
livres de obrigações com a realidade, surgem às reclamações, os horários,<br />
as exigências. Não é mais possível ser “mãe e pai com açúcar”: agora<br />
cabe aos avós a tarefa de conferir o banho, a lição de casa, o horário<br />
das refeições, da escola, das aulas de inglês, música, judô.... entre outras<br />
atividades do dia-a-dia.<br />
Além disso, acrescentam-se ao choque inevitável das gerações as<br />
diferenças culturais familiares, fatos que costumam ser subestimados.<br />
Acredito ser importantíssimo que os avós, imbuídos dessa nova<br />
responsabilidade, recebam sempre que necessário, além do carinho e da<br />
gratidão de seus fi lhos, o apoio e assistência às suas novas necessidades,<br />
através da consulta a profi ssionais especializados que os ajudem a<br />
compreender seu novo papel, lhes dêem subsídios <strong>para</strong> desempenhar a<br />
tarefa de modo adequado e prazeroso <strong>para</strong> eles, <strong>para</strong> seus fi lhos e netos.<br />
Assim, mesmo assumindo esse desafi ante compromisso, ainda<br />
conseguirão com maior facilidade, continuar a ser os avós queridos que<br />
tanto têm a oferecer em termos de afetividade e experiência de vida às<br />
novas gerações.<br />
Maria Irene Maluf é Pedagoga, especialista em Educação Especial e<br />
Psicopedagogia, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia<br />
(ABPp) e editora da revista Psicopedagogia.<br />
e-mail irenemaluf@uol.com.br<br />
Direcional Escolas, agosto/06<br />
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Direcional Escolas, agosto/06<br />
14<br />
EDUCAÇÃO AMBIENTAL<br />
Processos geológicos e o homem como<br />
responsáveis pela transformação da terra<br />
A espécie humana é a única que não apenas usufrui o ambiente<br />
favorável <strong>para</strong> sua sobrevivência, mas também se apropria dele<br />
e o modifica <strong>para</strong> suprir suas necessidades. O intenso uso da<br />
superfície terrestre pelo ser humano já mostra sinais de mudanças<br />
desfavoráveis à manutenção da vida. Por isso, é necessário<br />
aproximar as crianças do conhecimento da dinâmica do Planeta e<br />
das possíveis conseqüências da interferência humana sobre o meio<br />
físico. Assim, poderemos continuar...<br />
Se refletirmos, podemos estudar a História Natural e escolher<br />
que caminho seguir: o do respeito à Natureza e seus ciclos, usufruindo<br />
os recursos naturais hoje, sem comprometê-los <strong>para</strong> o uso das<br />
futuras gerações, ou o do imediatismo, explorando o ambiente e os<br />
recursos naturais de forma indiscriminada e predatória.<br />
É importante conhecer como funciona o Planeta, de onde vêm<br />
os recursos naturais, e os aspectos lúdicos e cognitivos que podem<br />
ser explorados com a Geologia, tendo como resultado mudar a<br />
perspectiva imediatista e individualista das crianças <strong>para</strong> uma<br />
perspectiva holística e de longo prazo na compreensão da Natureza.<br />
Conhecimentos sobre como a Terra funciona podem causar uma<br />
modificação real nas relações que cada pessoa tem com o ambiente. A<br />
pessoa consciente do significado dos processos naturais sente que faz<br />
parte da Natureza e passa a ter um cuidado maior em suas atividades<br />
cotidianas. Todas elas interferem nos processos naturais e trazem<br />
conseqüências desejáveis ou indesejáveis, em prazos mais longos ou<br />
mais curtos. Antes de tratar de questões ambientais globais, como<br />
poluição, efeito estufa, aquecimento global e diminuição da camada<br />
de ozônio, processos que fazem parte do cotidiano das crianças<br />
podem ter um efeito educativo maior.<br />
Nesse contexto, o livro Cinco pedrinhas saem em aventura,<br />
editado pela Oficina de Textos, conta uma parte do ciclo geológico<br />
por meio da viagem de alguns grãos e evidencia algumas noções<br />
de processos geológicos, ou seja, processos naturais envolvendo<br />
materiais da Terra. Com isso, a criança pode despertar <strong>para</strong> a<br />
dinâmica natural e também <strong>para</strong> as interferências que as atividades<br />
humanas têm nessa dinâmica, já que, na história, algumas ações<br />
antrópicas estão incorporadas à história dos grãos.<br />
Atividades que educam e ampliam esse conhecimento de<br />
forma simples são sugeridas a seguir. Para saber mais, acesse:<br />
http://www.ofitexto.com.br/5pedrinhas/<br />
Por Maria Cristina Motta de Toledo<br />
1. Ciclo da água<br />
O ciclo da água pode ser observado em escala diminuída<br />
em montagens simples. Por exemplo, pode-se pegar um aquário<br />
pequeno, com terra e areia secas. No meio da terra, coloca-se uma<br />
planta com bastante folhas, retirada de um vaso.<br />
Coloque bastante água no aquário e observe pelas paredes<br />
transparentes que a terra e a areia vão mudando de cor conforme<br />
ficam umedecidas. Quando a parte inferior do material fica saturada<br />
em água, temos a formação do lençol de água subterrânea. Nesse<br />
momento, já se faz uma observação muito importante, pois muitas<br />
pessoas não sabem que o lençol de água subterrânea não é um<br />
espaço contínuo ocupado por água, mas o conjunto de vazios entre<br />
os grãos minerais ocupados por água.<br />
À medida que se acrescenta água, observa-se a infiltração<br />
e a subida do nível freático. Esse processo reproduz uma fase<br />
fundamental que é a alimentação da água subterrânea.<br />
Quando quase tudo estiver saturado, fecha-se o aquário<br />
com um saco plástico transparente que envolva toda a beirada do<br />
aquário e que seja alto o suficiente <strong>para</strong> deixar um espaço vazio<br />
acima das folhas da planta. O plástico deve ser grudado com fita<br />
adesiva nas paredes do aquário <strong>para</strong> que não haja troca de ar com<br />
o exterior. Esperam-se algumas horas <strong>para</strong> que a água evapore do<br />
solo e a planta transpire, de modo que a parte interna do plástico<br />
condense o vapor de água vindo desses processos. Com pequenos<br />
golpes com os dedos sobre o plástico, as gotículas precipitarão<br />
sobre a planta e o solo, simulando a chuva.<br />
2. Intemperismo<br />
• Físico (congelamento): fragmentos de rocha colocados no<br />
congelador à noite e retirados de dia. Após alguns dias, semanas ou<br />
meses, dependendo da rocha, os fragmentos estarão se esfarelando.<br />
Sugestão: “pedra mineira” e arenito sofrerão fragmentação rápida;<br />
granito sofrerá fragmentação lenta.<br />
• Químico (dissolução): fragmento de mármore mergulhado em<br />
água com vinagre, água com limão ou em Coca-Cola. A superfície<br />
polida ficará áspera pela progressiva dissolução dos cristais.<br />
Sugestão: verificar pias de cozinha feitas de mármore, granito ou<br />
outras rochas. Após alguns anos de uso, apresentarão perda do<br />
Foto: Almir Cândido<br />
polimento nos locais mais sujeitos a agentes de dissolução, como<br />
sabonete, detergente, vinagre, limão etc.<br />
3. Identificando a importância<br />
da Geologia no cotidiano<br />
Simule o dia-a-dia desde a hora de acordar até o momento de<br />
dormir. Para cada ação - escovar os dentes, fazer xixi, tomar banho,<br />
comer pão no café da manhã etc. - identifique a NÃO existência de<br />
um material de origem geológica.<br />
É importante identificar tudo o que é utilizado na produção do<br />
bem ou serviço que utilizamos. A fabricação do pão, por exemplo,<br />
exige trigo adubado, e o adubo é feito a partir da apatita - mineral<br />
utilizado <strong>para</strong> fabricação de fertilizantes. O solo em que o trigo é<br />
plantado também é constituído por minerais e matéria orgânica.<br />
O vaso sanitário que usamos é fabricado a partir de material de<br />
origem geológica.<br />
4. Erosão e transporte<br />
• Pelo vento: pegue um punhado de areia e assopre. Pegue um<br />
punhado de terra de jardim e assopre. Verifique as diferenças,<br />
como os tipos de grãos que foram retirados pelo sopro. É possível<br />
demonstrar influência da umidade, da presença de raízes no solo<br />
etc. Havendo espaço, mais tipos de materiais e um ventilador<br />
podem ser utilizados. Os materiais de diferentes granulometrias<br />
podem ser misturados. Com o ventilador ligado, os materiais serão<br />
levantados (erosão), transportados e sedimentados a diferentes<br />
distâncias, conforme seu tamanho e massa. Com o ventilador<br />
desligado, verifica-se que grãos mais finos foram levados mais <strong>para</strong><br />
longe, e grãos maiores ficaram mais próximos do monte inicial.<br />
• Pela água: coloque uma mistura de terra de jardim, areia e<br />
pedregulhos sobre uma superfície cimentada ou revestida. Jogue<br />
água com um regador ou uma mangueira. Com pouca água, veja<br />
que o monte se desmonta, mas somente os grãos menores (portanto,<br />
mais leves) são transportados. Com maior quantidade de água e/<br />
ou aumentando a pressão na mangueira, grãos progressivamente<br />
maiores serão retirados do monte e transportados.<br />
Maria Cristina Motta de Toledo é geóloga, livre-docente pelo<br />
<strong>Instituto</strong> de Geociências (IGc) da USP, e Professora Associada<br />
deste <strong>Instituto</strong> e da Escola de Artes, Ciências e Humanidades<br />
(EACH) da USP. Foi responsável por um programa de<br />
divulgação das Geociências na Secretaria Estadual de Cultura<br />
e Secretarias Municipais de Cultura e Escolas de 1º e 2º graus<br />
no Estado de São Paulo, de 1991 a 1995. Realiza pesquisas<br />
em Geoquímica de Superfície. Foi coordenadora do programa<br />
de pós-graduação em Geoquímica e Geotectônica e do curso<br />
de Licenciatura em Geociências e Educação Ambiental do<br />
IGc-USP. É coordenadora do curso de Licenciatura em<br />
Ciências da Natureza da EACH e co-autora dos livros Cinco<br />
Pedrinhas Saem em Aventura (M. Cristina M. Toledo e Rosely<br />
A. Imbernon) e Decifrando a Terra (Wilson Teixeira, M.<br />
Cristina M. Toledo, Thomas R. Fairchild, Fabio Taioli), ambos<br />
pela Editora Oficina de Textos (www.ofitexto.com.br)<br />
Direcional Escolas, agosto/06<br />
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Direcional Escolas, agosto/06<br />
16<br />
DIDÁTICA<br />
Aulas animadas:<br />
mais movimento ao que<br />
acontece dentro da escola<br />
Por Mary Grace Martins<br />
A palavra ânimo, do latim “anima”, está ligada a alma e significa “sopro de vida”. A animação é um dos sinais<br />
que nos dá a sensação de vida nos seres vivos e até mesmo em imagens (desenhos animados).<br />
Nesse sentido, as aulas “<strong>para</strong>das” em que o professor tenta “ensinar” e os alunos fazem de conta que “prestam<br />
atenção”, além de contribuírem com o desânimo dos alunos, ainda permitem que o professor acredite, por alguns<br />
momentos, que conseguiu cumprir o seu objetivo. Uma proposta de aula animada é exatamente o oposto:<br />
• Os alunos são envolvidos em um desafio que não é exclusivamente escolar, mas sim algo que eles vêem<br />
acontecer fora da escola.<br />
• O protagonista é o próprio aluno. Ele é autor e ator.<br />
• A tarefa não é <strong>para</strong> entregar ao professor, mas sim <strong>para</strong> ser reconhecida tanto na escola quanto fora dela.<br />
• O aluno é membro importante dentro de um grupo. Assume papéis fundamentais e dessa forma é responsável.<br />
• Há movimento na sala de aula. Algo que é possível observar tanto pela liberdade que os alunos têm em<br />
circular nos diferentes espaços, como também em sua expressão corporal e facial.<br />
• O professor não fica preocupado em ensinar, mas em mediar o processo <strong>para</strong> que os alunos aprendam.<br />
Como desenvolver uma proposta com estas características? O que pode ser feito de modo que o aluno<br />
perceba significado, aprenda, colabore, sinta-se desafiado e envolvido?<br />
Há várias possibilidades, principalmente quando aproveitamos o potencial que as TICs (tecnologias de<br />
comunicação e informação) podem trazer à prática pedagógica.<br />
Os alunos gostam e envolvem-se em tarefas quando podem produzir e socializar algo que é reconhecido<br />
socialmente. Por isso podem aprender muito quando têm a oportunidade de criar um blog, um programa de<br />
rádio (ou Podcast), um jornal da escola ou um vídeo. Isso porque todas estas mídias podem ser socializadas<br />
dentro e fora da escola e o aluno ser reconhecido pela sua atuação, o que é de fundamental importância.<br />
Para o Congresso Saber 2006, optamos por trabalhar com educadores a produção de vídeos. Esta oficina<br />
vivencial, intitulada Aulas animadas: produção colaborativa de vídeos na educação, terá como ponto de partida<br />
a criação de um produto a partir dos diversos recursos que serão disponibilizados (massinha, peças de lego,<br />
bonecos e outros materiais) <strong>para</strong> a elaboração, produção e apresentação de uma propaganda em vídeo do<br />
produto criado.<br />
Esta proposta tem como principal intenção promover a aprendizagem baseada na resolução de problemas (KASTRUP,<br />
2002), propiciando o trabalho em grupo e a aprendizagem colaborativa por meio das seguintes estratégias:<br />
• Envolvimento do grupo em um desafio colaborativo em que todos terão uma tarefa <strong>para</strong> que possam contribuir.<br />
• Uso do espaço da Sala Inteligente que possibilita integrar diferentes recursos e mídias em um mesmo local.<br />
• Proposta pedagógica baseada em algo que é produzido socialmente fora da escola: elaboração, construção,<br />
edição e socialização de um vídeo utilizando o software Windows Movie Maker.<br />
• Uso de material de apoio e consulta com animações que possibilitam maior autonomia <strong>para</strong> uso dos<br />
recursos tecnológicos disponíveis. Desta forma, o trabalho do mediador da oficina será apenas de orientação,<br />
Adriano Costa Vespa<br />
acompanhamento e incentivo a participação, sem precisar “ensinar”<br />
passo-a-passo cada etapa das atividades.<br />
Nosso objetivo é vivenciar e refletir a respeito do trabalho com<br />
diferentes habilidades e linguagens de modo ativo/participativo.<br />
Ao dividir com o grupo a tarefa de produzir um vídeo, os participantes<br />
compartilharão responsabilidades diferenciadas, terão que lidar com<br />
desafios que envolvem a relação com o outro e sua diversidade e até<br />
mesmo a resolução de problemas próprios da tarefa.<br />
O trabalho com múltiplas inteligências (GARDNER, 1995), é<br />
contemplado em diferentes momentos: <strong>para</strong> elaborar o roteiro é<br />
necessário inteligência lingüística, <strong>para</strong> se relacionar com o grupo<br />
durante todo o processo haverá envolvimento das inteligências intra<br />
e interpessoal, o trabalho de atuação no vídeo exigirá inteligência<br />
corporal, na criação do StoryBoard também deverá ser pensado nos sons<br />
que este vídeo terá e portanto a inteligência musical será fundamental,<br />
<strong>para</strong> pensar o cenário de produção é necessária a inteligência espacial.<br />
Ao trabalharem em grupos, os alunos aprenderão também uns com os<br />
outros, podendo partir das habilidades que já possuem e ao mesmo<br />
tempo despertarem o interesse por outras áreas.<br />
Com certeza maiores aspectos de cada uma destas inteligências<br />
serão utilizados no processo e este deverá propiciar uma reflexão aos<br />
participantes sobre o próprio desenvolvimento e aprendizagem.<br />
Outro fator importante é que em projetos como estes todos os<br />
alunos podem participar, independente de faixa etária, nível de<br />
conhecimento tecnológico ou até mesmo intelectual. É possível<br />
formar grupos contemplando a diversidade que há na escola e em<br />
nosso dia-dia, reunindo interesses e idéias de alunos surdos, cegos<br />
ou com qualquer outro tipo de limitação. Cada um pode contribuir,<br />
sentir-se importante e valorizado no projeto desenvolvido.<br />
O diferencial é o quanto a proposta foge do que comumente é<br />
apresentado na escola. Este novo contexto permite até que os alunos<br />
esqueçam que são “alunos”, daqueles que precisam fazer atividades<br />
“<strong>para</strong>-entregar-ao-professor”, pois podem atuar como inventores,<br />
cineastas, produtores, roteiristas, atores, dentre outros. O fato de<br />
assumir um novo papel ou personagem também traz um certo<br />
encantamento que permite maior envolvimento na atividade.<br />
Em suma, acreditamos que uma proposta capaz de contemplar<br />
o uso inteligente dos recursos disponíveis na escola, a diversidade<br />
de interesses e conhecimentos nas mais diversas áreas, o uso de<br />
mídias presentes em nosso cotidiano, a aprendizagem colaborativa e<br />
a perspectiva de ser agente do próprio processo de aprendizagem é o<br />
que precisamos <strong>para</strong> tornar nossas aulas e alunos mais animados.<br />
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
FRANCO, Marília S. A natureza pedagógica das linguagens audiovisuais in<br />
Coletânea Lições com cinema. São Paulo, FDE, 1993.<br />
GARDNER, Howard. Inteligências Múltiplas: a Teoria na Prática. Porto<br />
Alegre: Artes Médicas, 1995.<br />
KASTRUP, V. Aprendizagem, arte e invenção. Em Daniel Lins (Org).<br />
Nietzsche e Deleuze: intensidade e paixão. Rio de Janeiro: Relume-<br />
Dumará, 2002<br />
Martins, Mary Grace. Criando Histórias Digitais. Disponível em http://<br />
www.vivenciapedagogica.com.br . Acesso em 10/05/2006<br />
MORAN, José Manuel, MASETTO, Marcos e BEHRENS, Marilda. Novas<br />
Tecnologias e Mediação <strong>Pedagógica</strong>. 7ª ed., Campinas: Papirus, 2003<br />
PENTEADO, Heloisa Dupas. Televisão e escola: conflito ou cooperação?.<br />
São Paulo: Cortez, 1991<br />
Mary Grace Martins é Pedagoga pela USP. Atua como tutora/formadora e<br />
consultora na formação de professores em ensino à distância nos projetos<br />
da Microsoft Educação e <strong>Instituto</strong> <strong>Crescer</strong>. Designer Instrucional da QI<br />
Learning Tecnologia. Assessora em projetos de educação on-line e formação<br />
de educadores em instituições públicas e privadas pela empresa Vivência<br />
<strong>Pedagógica</strong> e responsável pelo site e comunidade virtuais de educadores<br />
desta empresa.<br />
e-mail: mary@vivenciapedagogica.com.br<br />
www.vivenciapedagogica.com.br<br />
Direcional Escolas, agosto/06<br />
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Direcional Escolas, agosto/06<br />
18<br />
ENSINO FUNDAMENTAL<br />
Ensinar Ciências <strong>para</strong> Promover a<br />
Enculturação Científica<br />
Ju Cavalheiro<br />
Por Anna Maria Pessoa de Carvalho<br />
A Proposta de Ensino<br />
Nestes últimos 30 anos, as pesquisas em ensino de Ciências vêm<br />
produzindo conhecimento e dando suporte <strong>para</strong> o planejamento<br />
de cursos cujas propostas seriam levar os alunos a produzirem<br />
conhecimento significativo não só sobre o conteúdo das disciplinas<br />
científicas como também, e principalmente, sobre o processo da<br />
construção da própria ciência.<br />
Entretanto, se de um lado os referenciais teóricos <strong>para</strong> o<br />
planejamento do ensino são aceitos por uma grande parcela da<br />
sociedade que trabalha em ensino de Ciências, os dados empíricos<br />
sobre o conhecimento realmente produzido pelos alunos nos cursos,<br />
principalmente no que se refere à aquisição do processo de construção<br />
da ciência, ou seja, a enculturação científica, ainda está sendo obtida,<br />
sendo que numerosos estudos têm mostrado que o ensino – inclusive o<br />
universitário – tem transmitido visões empírico-indutivistas da ciência<br />
que se distancia largamente de como se constroem e se produzem os<br />
conhecimentos científicos.<br />
Driver, Newton e Osborne (1999) propõem a metáfora de<br />
aprendizagem de Ciências como um processo de enculturação. A<br />
Ciência, como mostra os autores, pode ser entendida como uma cultura<br />
que tem suas regras, valores e linguagem própria e, portanto, o ensino<br />
da ciência como uma enculturação deve levar os alunos a entender e<br />
praticar essa cultura, pois é importante que o ensino leve os alunos a<br />
produzirem conhecimento significativo não só sobre o conteúdo das<br />
disciplinas científicas como também, e principalmente, sobre o processo<br />
da construção da própria ciência. É preciso, como mostra Lemke (1997),<br />
ensinar os alunos à “falar ciências”.<br />
Outros autores (Cobem e Aikenhead, 1998, Duit e Treagust, 1998) têm<br />
caminhado <strong>para</strong> a criação de meios que proporcionam a construção de<br />
explicações contextualizadas por parte dos alunos, estudando situações<br />
em que o aprendiz transpõe as fronteiras entre sua cultura cotidiana e a<br />
cultura científica. Nesse mesmo caminho encontramos trabalhos como<br />
Capecchi (2003) e Capecchi e Carvalho (2006), que identificam algumas<br />
práticas em sala de aula que facilitam as mudanças nas concepções<br />
de ciência dos estudantes, tais como: freqüentes interações professor<br />
– aluno, participação ativa dos estudantes na resolução de problemas,<br />
ênfase em questionamentos orientados pelo professor dentro de um<br />
ambiente encorajador e livre de riscos <strong>para</strong> os mesmos.<br />
No LaPEF – Laboratório de Pesquisa e Ensino de Física – estruturamos<br />
o curso de ‘Conhecimento Físico’ (Carvalho et al. 1998) <strong>para</strong> as séries<br />
iniciais do Ensino Fundamental, sendo que o nosso objetivo principal<br />
é que os alunos construam os conhecimentos específicos e que nossas<br />
aulas criem oportunidades <strong>para</strong> que estes adquiram as habilidades e<br />
atitudes próprias das ciências.<br />
Planejamos 15 atividades, que foram delineadas como problemas<br />
abertos, possibilitando a resolução pelos alunos em pequenos grupos.<br />
Nestas atividades, além de focalizarmos o conhecimento de física,<br />
procuramos também propor uma metodologia de ensino que leve em<br />
conta os conhecimentos produzidos pelas pesquisas na área de ensino<br />
de ciências.<br />
Ao propormos situações problemáticas em atividades de ensino<br />
e proporcionarmos espaço e tempo <strong>para</strong> a sistematização coletiva do<br />
conhecimento e da tomada de consciência do que foi feito, criamos<br />
oportunidade <strong>para</strong> o ‘aprender a falar ciência’ (Lemke 1997). É nessa<br />
etapa que existe a possibilidade de ampliação do vocabulário dos alunos<br />
e, com a ajuda por parte do professor, da melhora na argumentação<br />
dos alunos.<br />
Procuramos, ao planejarmos nossas atividades de ensino de física,<br />
restabelecer a humanidade e as incertezas da Ciência produzida pelo<br />
homem. Foi procurando esse objetivo que organizamos o ensino <strong>para</strong><br />
que nossos alunos experimentem, hipotetizem e argumentem sobre os<br />
conceitos científicos.<br />
Depois de elaborada a Proposta de Ensino, de propormos sua<br />
divulgação em livro (Carvalho et al 1998), vídeos www.lapef.fe.br, e<br />
muitos cursos de formação continuada <strong>para</strong> professores e coordenadores,<br />
o nosso foco foi o estudo do ensino propriamente dito. Procurando<br />
saber o que realmente as nossas Atividades ensinavam, passamos a<br />
gravar as aulas e analisá-las com o objetivo de descrever os aspectos da<br />
enculturação científica que pudessem aparecer nas falas dos alunos.<br />
1- Os aspectos da enculturação científica que<br />
aparecem quando os alunos estão resolvendo o<br />
problema em pequenos grupos.<br />
Na primeira etapa, quando os alunos estão, em pequenos<br />
grupos, manipulando os objetos <strong>para</strong> resolverem o problema,<br />
pudemos observar que esta ação não se limitou a uma simples<br />
manipulação. Na discussão entre os elementos do grupo aparece<br />
a construção e o teste de suas hipóteses. Estas são levantadas a<br />
partir das observações realizadas e/ou a partir de conhecimentos<br />
prévios trazidos <strong>para</strong> o grupo, e vão direcionando a atenção dos<br />
alunos <strong>para</strong> a seleção das variáveis relevantes do fenômeno que<br />
está sendo estudado. À medida que os alunos vão testando suas<br />
hipóteses, argumentando com seus colegas sobre suas idéias,<br />
procurando justificativas <strong>para</strong> suas ações, explicando, assim, o<br />
que estão fazendo <strong>para</strong> os outros alunos do grupo, observa-se, em<br />
muitas dessas participações, o início do raciocínio compensatório.<br />
Esta etapa do trabalho prático é fundamental <strong>para</strong> a criação de<br />
um sistema conceitual coerente e nos mostra que, quando a aula<br />
propõe um problema experimental nos quais os alunos se envolvem<br />
buscando a solução, ela proporciona <strong>para</strong> estes alunos um ambiente<br />
onde encontramos o raciocínio por trás da manipulação.<br />
Muitas discussões entre os alunos visando à resolução do<br />
problema proposto são feitas nessa parte da aula, e é principalmente<br />
nessas trocas de experiências e de proposições, quando os alunos<br />
vêem suas idéias confrontadas e precisam lidar com opiniões e<br />
atitudes diferentes das suas, que se dá a construção da autonomia<br />
moral. Essa construção dos aspectos morais durante o ensino é<br />
importante <strong>para</strong> a estruturação de uma escola cidadã.<br />
2- Os aspectos da enculturação científica que<br />
aparecem quando os alunos estão respondendo<br />
ao ‘como’ e ao ‘por que’.<br />
A atribuição de conceitos nas explicações, logo no início<br />
da discussão, já denunciava o empenho dos alunos em buscar<br />
justificativas. É durante essas duas últimas etapas, a reflexão sobre<br />
o ‘como’ - a fase da tomada de consciência de suas próprias ações<br />
- e a procura do ‘por que’ - fase das explicações causais -, que os<br />
alunos têm a oportunidade de construírem a sua compreensão dos<br />
fenômenos físicos. E, quando os alunos vão contando o que fizeram,<br />
<strong>para</strong> o professor e <strong>para</strong> a classe, descrevendo suas ações, ouvindo os<br />
colegas, eles vão estabelecendo, em pensamento, as suas próprias<br />
coordenações conceituais, lógico-matemáticas e causais, como<br />
mostram as análises de nossos dados.<br />
Quando os alunos são incitados a contar como resolveram o<br />
problema, eles começam a tomar consciência das coordenações dos<br />
eventos. A tomada de consciência está, pois, longe de constituir apenas<br />
uma simples leitura: ela é uma reconstrução feita pelo aluno de suas<br />
ações e do que ele conseguiu observar durante a experiência.<br />
Pensando no que fez, <strong>para</strong> poder falar, <strong>para</strong> contar <strong>para</strong> o<br />
professor e <strong>para</strong> a classe, o aluno vai fazendo ligações lógicas do tipo<br />
Direcional Escolas, agosto/06<br />
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Direcional Escolas, agosto/06<br />
20<br />
ENSINO FUNDAMENTAL<br />
se..., então..., portanto..., estabelecendo conexões entre as suas ações<br />
e reações dos objetos.<br />
Pudemos ver essa seqüência em todas as atividades que analisamos,<br />
isto é, o aluno vai além do ‘se eu fi z isso, então aquilo aconteceu’. Ele<br />
vai tomando consciência das etapas intermediárias, vendo os atributos<br />
físicos da experiência, e procurando uma explicação, uma justifi cativa<br />
<strong>para</strong> o seu problema, empregando, então, uma palavra nova que ainda<br />
não tinha sido utilizada – pressão, peso, força, impulso etc. É nessa<br />
etapa que existe a possibilidade de ampliação do vocabulário dos<br />
alunos e, com a ajuda por parte do professor, a aula pode proporcionar<br />
uma real comunicação entre eles. É o início da aprendizagem da<br />
linguagem científi ca.<br />
3- A Escrita dos Alunos<br />
Escrever ciências também é uma das etapas da enculturação<br />
científi ca que deve ser trabalhada na escola. O nosso Projeto,<br />
apesar de ser dirigido <strong>para</strong> alunos da primeira etapa do Ensino<br />
Fundamental, procurou desenvolver esta habilidade que realça a<br />
construção pessoal do conhecimento. A escrita é um instrumento<br />
de aprendizagem que requer um maior esforço do aluno por ser<br />
convergente e focalizado, bem diferente da argumentação oral que<br />
é fl exível enquanto explora as idéias coletivamente. Desta maneira,<br />
a escrita é uma atividade complementar à argumentação que<br />
ocorre em sala de aula, mas ambas são fundamentais em um ensino<br />
de ciências que procura criar nos alunos as principais habilidades<br />
do mundo das ciências.<br />
Nossos alunos organizaram seus textos dentro de uma ordem<br />
cronológica semelhante à ocorrida durante a atividade, o que mostra<br />
uma objetividade bastante grande tendo em vista suas idades. Além<br />
disso, eles usaram os verbos de ação na primeira pessoa do plural,<br />
refl etindo que o seu trabalho em grupo foi coletivo e não uma somatória<br />
de ações individuais. O fato intrigante das análises do material escrito<br />
pelos alunos foi que encontramos uma taxa muito maior de explicações<br />
legais do que causais, mesmo quando essas explicações causais tinham<br />
aparecido nas aulas e sido discutido pela classe.<br />
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:<br />
Cappechi, M.C.M. 2004. Argumentação numa Aula de Física in Carvalho<br />
A.M.P. (org) Ensino de ciências:Unindo a Pesquisa e a Prática.<br />
Thomson Learning. São Paulo.<br />
Cappechi, M.C.M. e Carvalho A.M.P. 2006. Atividades de Laboratório como<br />
Instrumento <strong>para</strong> a Abordagem de Aspectos da Cultura Científi ca,<br />
Pro-Posições, UNICAMP, São Paulo<br />
Carvalho, A.M.P et. All. 1998. Ciências no Ensino Fundamental: O<br />
conhecimento físico, Editora Scipione, São Paulo.<br />
Cobern, W. W. e Aikenhead, G. S., 1998. Cultural Aspects of Learning<br />
Science.<br />
In: Fraser, B. J. e Tobin, K. G(Ed.) International Handbook of Science<br />
Education. Klower Academic Publishes.<br />
Driver, R.;Newton,P. e Osborne,J. (1999) The place of argumentation in<br />
the pedagogy of school science. International Journal of Science<br />
Education,21(5), p.556-576.<br />
Duit, R.; Treagust, D. F., 1998. Learning in Science – From Behaviourism<br />
Towards Social Construtivism and Beyond. In: Fraser, B. J. e<br />
Tobin, K.G.(Ed.) International Handbook of Science Education. Klower<br />
Academic Publishes.<br />
Lemke, J (1997) Aprendendo a hablar ciencias: linguagem, aprendizajem<br />
y valores., Paidos, Barcelona.<br />
Anna Maria Pessoa de Carvalho é Professora titular da<br />
Faculdade de Educação da USP. Graduou-se em Física e<br />
é doutorada na área de Ensino de Física. Coordena o<br />
Laboratório de Pesquisa e Ensino de Física (LaPEF) da FEUSP<br />
onde desenvolve vários projetos <strong>para</strong> os cursos Fundamental<br />
e Médio. É orientadora nos Programas de Pós-Graduação<br />
e foi representante brasileira na Interamerican Coucil on<br />
Physics Education sendo atualmente representante na<br />
International Commission on Physics Education.<br />
Direcional Escolas, agosto/06<br />
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Direcional Escolas, agosto/06<br />
22<br />
PERFIL DA ESCOLA<br />
Escola Estadual<br />
Nelson Fernandes<br />
Em Santa Rita do Passa Quatro, escola investe em projetos voltados<br />
<strong>para</strong> a comunidade e na recuperação dos espaços físicos.<br />
Por Luiza Oliva<br />
Fotos: Divulgação<br />
Uma escola permanentemente antenada com a comunidade. Assim<br />
pode ser defi nida a Escola Estadual Nelson Fernandes, localizada em<br />
Santa Rita do Passa Quatro, interior paulista. A escola, que nasceu em<br />
1947 como Ginásio Estadual de Santa Rita, frequentemente envolve<br />
seus alunos em projetos ligados à comunidade local. “Acredito que se<br />
o aluno não valoriza e conhece seu próprio município, não adianta<br />
desenvolvermos ações globais”, pondera Rosa Maria Gasparini Nazar,<br />
diretora da escola há 16 anos.<br />
Com inúmeras ações voltadas <strong>para</strong> esse foco, a escola tem<br />
conseguido bons resultados. O projeto “As coisas boas da nossa terra”,<br />
desenvolvido em 2005 por alunos do Ensino Médio, recebeu este ano<br />
o prêmio Construindo a Nação, promovido pelo <strong>Instituto</strong> <strong>Cidadania</strong><br />
Brasil. A idéia foi valorizar a história de Santa Rita e transmiti-la <strong>para</strong><br />
a comunidade com a publicação de um almanaque. Parcerias da<br />
escola com o jornal da cidade e empresas patrocinadoras viabilizaram<br />
a impressão do livreto. Através de pesquisas feitas pelos alunos, foi<br />
reunido o material que compõe o almanaque, como as festas de cada<br />
mês e os melhores restaurantes da cidade. “Os alunos foram à Vigilância<br />
Sanitária <strong>para</strong> conhecer os critérios exigidos quanto à higiene. Hoje, o<br />
guia de restaurantes do almanaque serve como ponto de referência<br />
<strong>para</strong> turistas e <strong>para</strong> a própria população”, conta a diretora.<br />
Outra idéia de sucesso é o Projeto Mananciais. Rosa lembra que<br />
ele teve origem em 2001, através do Projeto Preservando o Futuro,<br />
com o objetivo de alertar pais, alunos e comunidade da necessidade de<br />
preservar o meio ambiente. Em 2002, a idéia cresceu e se transformou<br />
no Projeto Meio Ambiente. Os alunos mapearam as áreas de mananciais<br />
do município, visitando os locais mais críticos e encaminhando às<br />
autoridades da cidade as possíveis soluções. No ano seguinte, professores<br />
das áreas de História, Geografi a e Matemática da Nelson Fernandes<br />
assumiram a coordenação do Projeto Mananciais, em parceria com o<br />
soldado da Polícia Ambiental Rogério Leme, que já realizava na escola<br />
o Projeto Beija-Flor, onde alunos das 7ª séries participam de várias ações<br />
em favor do meio ambiente. Depois de feito um diagnóstico do estado<br />
em que se encontravam os mananciais da região, a escola optou por<br />
recuperar o manancial da Lagoinha. “Ele foi escolhido por ser o mais<br />
próximo da escola, já que os alunos se deslocaram frequentemente até o<br />
local, e também por estar numa comunidade menos favorecida, o bairro<br />
de Lagoinha”, relembra Rosa.<br />
Pontos positivos da Nelson Fernandes: recuperação dos espaços<br />
físicos e projetos envolvendo a comunidade.<br />
Inicialmente, a escola começou a plantar mudas no local. “Sem cercar<br />
a área, nós plantávamos e os animais comiam. Fizemos então um estudo<br />
junto com a Prefeitura <strong>para</strong> demarcar a área. Os alunos pesquisaram as<br />
mudas da região e que seriam consideradas mata ciliar <strong>para</strong> a proteção<br />
do manancial. Eles partici<strong>para</strong>m até da produção das mudas no viveiro<br />
da Polícia Ambiental”, explica. O local foi cercado e mais de 1.300 mudas<br />
nativas plantadas. Panfl etos de conscientização, elaborados pelos alunos<br />
e professores, foram distribuídos <strong>para</strong> a comunidade da Lagoinha.<br />
Rosa explica que projetos que exigem mais saídas dos alunos da<br />
escola são desenvolvidos pela turma do Ensino Médio. Mas, a questão do<br />
meio ambiente começa a ser trabalhada desde a 5ª série (a escola atende<br />
alunos do Ensino Fundamental II e Médio). “Com eles, começamos o<br />
trabalho chamado de ‘Escola Limpa’. Nessa faixa etária a preocupação<br />
começa com o ambiente escolar”, diz. Os cuidados com as instalações da<br />
escola são, aliás, um dos focos da gestão da diretora Rosa Maria. “Desde<br />
que assumi a direção da escola, sempre me preocupei com a reforma<br />
e a adequação dos espaços físicos <strong>para</strong> atender a melhoria do projeto<br />
pedagógico. A melhoria pedagógica só se concretiza se professor e alunos<br />
tiverem espaços e materiais adequados e disponíveis <strong>para</strong> a execução de<br />
suas ações”, acredita.<br />
A escola tem passado por reformas e foram recuperados<br />
recentemente o refeitório, o pátio, a biblioteca, a sala de som e imagem<br />
e a sala de informática. Foi criada ainda a sala de pre<strong>para</strong>ção física.<br />
Segundo Rosa Maria, a iniciativa da sala de pre<strong>para</strong>ção física é inédita<br />
e a única da Diretoria de Ensino de Pirassununga, a qual pertence a<br />
Nelson Fernandes. A sala conta com 10 bicicletas ergométricas, 14<br />
aparelhos <strong>para</strong> abdominais, 45 colchonetes <strong>para</strong> exercícios físicos e<br />
materiais esportivos diversos. É utilizada pelos alunos a partir de 8ª série,<br />
por professores e funcionários, sempre sob orientação e supervisão<br />
dos professores de Educação Física, e também no Programa Escola da<br />
Família. O programa do Governo do Estado, que abre as escolas aos<br />
fi nais de semana <strong>para</strong> as famílias, tem ajudado, na opinião da diretora,<br />
na melhoria do relacionamento entre a escola e as famílias. “Os pais<br />
têm colaborado e participado de atividades nos fi nais de semana, o que<br />
desperta o sentimento de pertencimento do espaço escolar por parte<br />
de todos”, avalia.<br />
A metodologia de projetos e a recuperação dos espaços físicos<br />
voltados <strong>para</strong> os objetivos pedagógicos da escola são dois dos aspectos<br />
que vêm somando pontos positivos <strong>para</strong> a Nelson Fernandes. Segundo<br />
Rosa, a conquista do Prêmio Construindo a Nação elevou a auto-estima<br />
de toda a comunidade escolar. “O envolvimento de toda a comunidade<br />
com a Unidade Escolar e o sentimento de pertencer a ela por parte<br />
de todos tem melhorado os cuidados com o patrimônio público e os<br />
resultados nos desempenhos escolares”, aponta.<br />
O número signifi cativo de novos alunos que a escola recebe<br />
anualmente exige, porém, um esforço grande <strong>para</strong> criar e obter mais<br />
recursos, espaços e materiais complementares. Conforme a diretora, a<br />
escola busca novas parcerias constantemente através da Associação de<br />
Pais e Mestres <strong>para</strong> arrecadar fundos. Em busca de aprimoramentos na<br />
sua gestão, e visando ser conhecida como referência em excelência em<br />
educação na região, a equipe elaborou o projeto “Redimensionando<br />
Caminhos <strong>para</strong> a Melhoria da Escola”, com ações previstas <strong>para</strong> serem<br />
realizadas durante um semestre letivo. Entre os principais aspectos que<br />
precisam ser melhorados e levantados pela equipe estão a divulgação<br />
dos resultados educacionais junto aos pais, a implementação da busca<br />
por parcerias na comunidade <strong>para</strong> possibilitar a execução de ações<br />
escolares e pedagógicas, garantir a participação de alunos e pais nas<br />
decisões pedagógicas e promover ações concretas visando a diminuição<br />
da evasão escolar no Ensino Médio regular e na Educação de Jovens<br />
e Adultos no período noturno. Sem dúvida, uma meta ambiciosa mas<br />
possível de ser alcançada. No aspecto gestão, a Nelson Fernandes foi<br />
inclusive classifi cada pela Diretoria de Ensino de Pirassununga <strong>para</strong><br />
participar do prêmio Gestão Escolar. “A Diretoria vem acompanhando<br />
de perto as unidades escolares e está descobrindo o nosso trabalho”,<br />
fi naliza a diretora.<br />
Raio-X da Escola<br />
• Uma unidade em Santa Rita do Passa Quatro, interior<br />
de São Paulo.<br />
• 1113 alunos<br />
• 74 funcionários (incluindo professores).<br />
• Cursos: Ensino Fundamental II, Ensino Médio e Educação<br />
de Jovens e Adultos Fundamental e Médio.<br />
• Instalações: 18 salas de aulas, duas quadras cobertas,<br />
gabinete dentário, duas cozinhas, área coberta e área<br />
descoberta <strong>para</strong> intervalo, zeladoria, refeitório, biblioteca,<br />
sala de som e imagem, sala de informática, cinco ofi cinas<br />
pedagógicas, sala de pre<strong>para</strong>ção física, sala do grêmio e<br />
salas específi cas <strong>para</strong> o programa Escola da Família.<br />
• e-mail: seceenelsonf@linkway.com.br e e024284a@see.<br />
sp.gov.br<br />
• site: www.escoladafamilianelsonfernandes.nafoto.net<br />
Direcional Escolas, agosto/06<br />
23
Direcional Escolas, agosto/06<br />
24<br />
GESTÃO<br />
O<br />
O futuro da<br />
escola privada<br />
passado todos conhecemos. E as lembranças são as melhores<br />
possíveis! A escola privada de educação básica sempre foi a<br />
vanguarda da educação brasileira, motivo de disputa das famílias<br />
na procura de vagas <strong>para</strong> seus fi lhos.<br />
O presente também é conhecido pelos educadores. Ainda forte<br />
e importante no cenário nacional, procurada por todas as camadas<br />
da população, mas diante de uma crise que já perdura por alguns<br />
anos, principalmente no Estado de São Paulo. Por quê?<br />
Sendo ainda hoje um “objeto de consumo” do brasileiro, é<br />
interessante determo-nos sobre a opinião dos usuários da escola<br />
privada de educação básica. O que eles têm a nos dizer?<br />
Em pesquisa encomendada pela Fenep e realizada pelo Ibope( 1 ),<br />
as famílias com fi lhos na escola privada foram ouvidas. E 82% acham<br />
que a escola privada, de maneira geral, é satisfatória. A avaliação,<br />
neste e em outros quesitos, mostra-se muito positiva. Mas alguns<br />
detalhes chamam a atenção, que resumidamente transcrevo:<br />
• Com<strong>para</strong>ndo-se com a escola pública, qual o diferencial<br />
da escola privada? Na resposta espontânea a esta pergunta,<br />
39% apontam <strong>para</strong> “qualidade de ensino”, 27% <strong>para</strong> “professores<br />
qualifi cados”, 15% <strong>para</strong> “falta de greves” e 14% <strong>para</strong> “segurança”.<br />
• Qual a principal razão <strong>para</strong> escolha da escola em que seu<br />
fi lho(a) estuda? Dentre as várias respostas, destacam-se “qualidade<br />
de ensino” com 57% e “localização da escola”, com 38% (lembre-se<br />
que a pesquisa foi realizada em grandes centros urbanos).<br />
A partir destes dados, faço uma afi rmação: atualmente, a escola<br />
privada é opção por conta da defi ciência da escola pública, e não<br />
por suas qualidades. Só assim entende-se como critério de escolha<br />
a inexistência de greves, por exemplo. Professores qualifi cados é<br />
diferencial? Só por, segundo os entrevistados, não haver professores<br />
tão qualifi cados na pública. Qualidade de ensino é diferencial? A meu<br />
ver, ter qualidade é obrigação de qualquer empresa...<br />
Alguns números do Censo Escolar( 2 ) também podem nos ajudar<br />
na análise. Entre 1996 e 2005, as matrículas na escola privada de<br />
educação básica cresceram 17,2% no Estado de São Paulo. Mas,<br />
no mesmo período, o número de escolas cresce 159,1%! Há,<br />
portanto, um claro descompasso entre crescimento da demanda<br />
com o crescimento da oferta, e este fato se torna um dos principais<br />
Por Roberto von Puttkammer Prado<br />
motivos da crise que hoje nos afeta. Mesmo havendo mais alunos<br />
na escola privada em geral, há menos alunos em cada escola,<br />
gerando sérios problemas fi nanceiros <strong>para</strong> muitas delas.<br />
Há ainda outros fatores importantes, como crescimento<br />
populacional menor (as famílias têm menos fi lhos) e a crise<br />
econômica que atinge a classe média há anos. Talvez isto explique<br />
o resultado da pesquisa realizada pelo Inep com famílias de alunos<br />
de escolas públicas( 3 ), onde 18% dos entrevistados afi rmam que<br />
seus fi lhos já estudaram em escolas privadas – dos quais mais de<br />
70% saíram por motivos econômicos. E as escolas privadas, entre<br />
sensibilizar-se por esta situação ou cuidar da sua própria crise, têm<br />
optado por aumentar as anuidades escolares em níveis superiores<br />
aos da infl ação em geral...<br />
Embora pudéssemos continuar a discorrer sobre o presente,<br />
chega a hora de “usarmos a bola de cristal”: diante desta realidade,<br />
qual o futuro da escola privada de educação básica?<br />
Não consigo enxergar futuro promissor – se nada for alterado, se<br />
continuarmos na mesmice de sempre. Enquanto formos todos iguais e<br />
tivermos como diferencial a qualidade (ao menos perante os olhos de<br />
nossos alunos e respectivos pais), o valor de nossa anuidade será sempre<br />
alto demais, por menor que seja. Até por que acredito, espero e luto <strong>para</strong><br />
que o Brasil tenha um ensino público de qualidade. E quanto melhor<br />
a qualidade do ensino público, mais “desleal” será a concorrência, pois<br />
nunca conseguiremos competir em valor da anuidade...<br />
Como competir com a escola pública de qualidade? Somente<br />
tendo mais a oferecer do que qualidade de ensino. A escola pública,<br />
por defi nição e legislação, é <strong>para</strong> todos. O ideal <strong>para</strong> a escola<br />
privada, então, é ser “<strong>para</strong> alguns” – é ter seu nicho de mercado,<br />
seu público-alvo. Como afi rma Gustavo Ioschpe( 4 ): “A educação<br />
nunca será monopólio de governos: as pessoas devem ter o direito<br />
de pagar por um ensino diferenciado”.<br />
Atenção: antes que alguns me perguntem como fi ca a inclusão<br />
nesta concepção, quero esclarecer. Ser <strong>para</strong> alguns não signifi ca ser<br />
somente <strong>para</strong> a elite. Signifi ca ser especial <strong>para</strong> a sua comunidade,<br />
pobre ou rica, elite ou não. Signifi ca especializar-se em ser ótimo<br />
<strong>para</strong> uma parcela da sociedade. Nem todos irão preferir sua escola,<br />
mas aqueles que a preferem não a trocam por nada!<br />
A escola privada de ensino básico precisa, de certa forma, voltar às origens.<br />
Não querer ser boa em tudo e <strong>para</strong> todos – isto é muito difícil de conseguir e mais<br />
difícil ainda será fazer com que a sociedade reconheça.<br />
Especialize-se em um segmento, por exemplo. Se a escola é muito boa em<br />
Educação Infantil, fato reconhecido pela comunidade, não invista tudo na criação<br />
do Ensino Médio, mas em ser cada vez melhor na Educação Infantil.<br />
Especialize-se em atender bem uma parcela específi ca da sociedade. Pela língua<br />
(escolas bilíngues), pela fé (escolas confessionais), pela linha educacional.<br />
Descubra seu nicho de mercado, descubra a quem você quer atender e quem quer<br />
ser atendido por você. Para essa comunidade, sua escola deverá ser especial. Outra<br />
escola não serve, ainda que ofereça desconto na anuidade.<br />
Falamos da crise por que passa a educação de modo geral e a privada em<br />
especial. Há anos estamos falando - e sentindo - a crise. Temos duas opções: ou<br />
aguardamos a luz no fi m do túnel, ou nos adaptamos <strong>para</strong> conviver com ela.<br />
Para isso existe um termo, emprestado da física. Resiliência é a capacidade de<br />
resistir fl exivelmente à adversidade, utilizando-a <strong>para</strong> o desenvolvimento pessoal,<br />
profi ssional e social.<br />
Traduzindo: ou a escola cresce com a crise (e apesar da crise) ou será<br />
fechada por ela!<br />
Optei por analisar a escola privada sob o prisma da gestão econômica e<br />
administrativa. Mas num olhar pedagógico, chegaríamos a resultados semelhantes.<br />
Rui Canário( 5 ) faz um análise da escola atual com a qual comungo. Segundo<br />
ele, a escola de hoje está obsoleta, pois:<br />
• está baseada na “pedagogia da revelação”, onde o professor ensina; a<br />
escola está programada <strong>para</strong> ensinar, não <strong>para</strong> que o aluno aprenda;<br />
• está baseada na cumulatividade, onde o professor oferece a cada dia mais<br />
<strong>para</strong> o aluno aprender cada vez mais;<br />
• está baseada na repetição, onde o aluno repete o que o professor faz, fala<br />
e ensina;<br />
• está programada <strong>para</strong> trabalhar com grupos homogêneos, <strong>para</strong> ensinar a<br />
classes, e não aos indivíduos (eis aqui a verdadeira difi culdade da inclusão, a<br />
meu ver).<br />
A escola do futuro deverá romper com esta obsolescência. Deverá responder<br />
a uma sociedade em constante mudança. Deverá responder à nova era que se<br />
vislumbra, a Era do Conhecimento. E, <strong>para</strong> tanto, não basta “ter qualidade”...<br />
1 Pesquisa realizada em dezembro de 2005 em 8 macro-regiões brasileiras,<br />
ecomendada pela Federação Nacional de Escolas Particulares.<br />
2 Realizado anualmente pelo MEC/Inep. Dados disponíveis até 2005, neste<br />
artigo referem-se ao Estado de São Paulo.<br />
3 Pesquisa Nacional Qualidade da Educação, realizada em maio de 2005 pelo<br />
MEC/Inep.<br />
4 Mestre em desenvolvimento econômico com especialização em economia<br />
da educação.<br />
5 Doutor em ciências da educação pela Universidade de Lisboa e professor,<br />
desde 1991, dessa universidade.<br />
Roberto von Puttkammer Prado é Diretor Executivo do Sieeesp (Sindicato dos<br />
Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo), Presidente da AEC-SP (Associação de<br />
Educação Católica do Estado de São Paulo) e consultor de escolas de Educação Básica.<br />
Adriano Costa Vespa<br />
Direcional Escolas, agosto/06<br />
25
Direcional Escolas, agosto/06<br />
26<br />
EDUCAÇÃO INFANTIL<br />
Uma das temáticas mais discutidas no contexto da legislação<br />
educacional em 2006 tem sido a ampliação do Ensino Fundamental <strong>para</strong><br />
nove anos de duração.<br />
Com a aprovação da Lei no 11.274/2006, ficou regulamentada a<br />
inclusão de crianças a partir dos seis anos no Ensino Fundamental. O<br />
Ministério da Educação defende o fato de que especialmente as crianças<br />
pertencentes aos setores populares se beneficiarão desta medida, uma<br />
vez que as crianças de seis anos de idade das classes média e alta já se<br />
encontram, majoritariamente, incorporadas ao sistema de ensino – na<br />
pré-escola ou na primeira série do Ensino Fundamental.<br />
O Ministro, na abertura do documento que apresenta a política<br />
pública de ampliação dos anos obrigatórios do Ensino Fundamental,<br />
ressalta a importância dessa decisão política e relaciona-a, também, ao<br />
fato de recentes pesquisas mostrarem que 81,7% das crianças de seis<br />
anos estão na escola, sendo que 38,9% freqüentam a Educação Infantil,<br />
13,6% pertencem às classes de alfabetização e 29,6% estão no Ensino<br />
Fundamental (IBGE, Censo Demográfico 2000).<br />
O MEC ressalta que o ingresso da criança de seis anos no Ensino<br />
Fundamental não pode constituir uma medida meramente administrativa.<br />
É preciso atenção ao processo de desenvolvimento e aprendizagem<br />
das crianças, o que implica, segundo a abordagem sócio-histórica de<br />
Vygotsky, conhecimento e respeito às suas características etárias, sociais,<br />
psicológicas e cognitivas.<br />
Por Maria Taís de Melo<br />
Crianças de seis anos:<br />
a transição da Educação Infantil <strong>para</strong><br />
o Ensino Fundamental<br />
Nesse sentido, o MEC, por meio da Secretaria de Educação Básica<br />
(SEB) e do Departamento de Políticas da Educação Infantil e do Ensino<br />
Fundamental (DPE), buscando fortalecer um processo de debate com<br />
professores e gestores sobre a infância na Educação Básica, colocou<br />
à disposição do público, pela internet, a versão digital do documento<br />
Ensino Fundamental de Nove Anos: Orientação <strong>para</strong> a Inclusão da<br />
Criança de Seis Anos de Idade. Com o documento, as escolas terão<br />
informações relevantes <strong>para</strong> o atendimento adequado aos estudantes.<br />
Nele são desenvolvidos temas como a infância e sua singularidade;<br />
a infância na escola e na vida: uma relação fundamental; o brincar<br />
como um modo de ser e estar no mundo; as diversas expressões e o<br />
desenvolvimento da criança na escola; as crianças de seis anos e as<br />
áreas do conhecimento; letramento e alfabetização: pensando a prática<br />
pedagógica; a organização do trabalho pedagógico: alfabetização e<br />
letramento como eixos organizadores; avaliação e aprendizagem na<br />
escola: a prática pedagógica como eixo da reflexão e modalidades<br />
organizativas do trabalho pedagógico: uma possibilidade.<br />
A lei estabeleceu prazo de cinco anos <strong>para</strong> que todos os sistemas se<br />
adaptem à ampliação do Ensino Fundamental. Nesse prazo, devem ser<br />
tomadas providências, como a adaptação da estrutura física das escolas,<br />
a construção de salas de aula e a formação continuada de professores e<br />
gestores de educação.<br />
Ressalte-se que, <strong>para</strong> que esta mudança traga benefícios reais<br />
às crianças incluídas no processo, é necessário estarmos atentos ao<br />
fato de que a aprendizagem não depende apenas do aumento do<br />
tempo de permanência na escola, mas também do emprego mais<br />
eficaz desse tempo.<br />
Para a legitimidade e a efetividade dessa política educacional, são<br />
necessárias ações de ordem pedagógica, administrativa e financeira.<br />
Partindo destes pressupostos, ressaltamos a importância das<br />
escolas estarem proporcionando momentos de estudo e discussão deste<br />
documento, como forma de estar se pre<strong>para</strong>ndo <strong>para</strong> a implantação<br />
e implementação desta política pública de maneira que as crianças<br />
realmente se sintam incluídas de forma respeitosa e democrática.<br />
Uma grande preocupação quanto à inclusão de crianças de seis<br />
anos no Ensino Fundamental é a da escola estar pre<strong>para</strong>da <strong>para</strong> respeitar<br />
as necessidades subjetivas destas crianças, que estão em processo<br />
de construção de suas identidades e em pleno desenvolvimento.<br />
Dentro deste contexto, a garantia do espaço <strong>para</strong> atividades lúdicas é<br />
fundamental. Vygotsky afirma que, na idade que vai até os seis anos,<br />
algumas modificações ocorrem no desenvolvimento da criança. Ela<br />
passa a se interessar por uma esfera mais ampla da realidade e sente<br />
necessidade de agir sobre ela; tal ato é a principal forma de que a criança<br />
dispõe <strong>para</strong> conhecê-la e compreendê-la.<br />
Nesse período, a criança tenta atuar não apenas sobre as coisas às<br />
quais tem acesso, mas esforça-se <strong>para</strong> agir como um adulto e é isso que<br />
se torna motivo de brincadeira.<br />
Para Vygotsky, a situação imaginária da brincadeira decorre da<br />
ação da criança, ou seja, <strong>para</strong> imaginar precisa agir. Vygotsky vê a<br />
brincadeira infantil como um recurso que possibilita a transição da<br />
estreita vinculação entre significado e objeto concreto à operação com<br />
significado se<strong>para</strong>do do objeto.<br />
O autor ressalta que na brincadeira a criança ainda utiliza um<br />
objeto concreto <strong>para</strong> promover a se<strong>para</strong>ção entre significado e objeto e,<br />
ao substituir no lúdico, opera com significado das coisas e dá um passo<br />
importante em direção ao pensamento conceitual.<br />
Desta maneira, as maiores aquisições de uma criança são<br />
conseguidas no brinquedo que no futuro se tornarão seu nível básico de<br />
ação real e de moralidade. O brinquedo contém todas as tendências do<br />
desenvolvimento sob forma condensada sendo, ele mesmo, uma grande<br />
fonte de desenvolvimento.<br />
Para finalizar ressaltamos que este processo trará ganhos às crianças<br />
se forem respeitadas as necessidades inerentes aos seis anos de idade.<br />
Caso contrário, se esta criança for submetida a uma carga de exigências<br />
acima do que está pre<strong>para</strong>da e afastada da mediação lúdica, correremos<br />
o risco de estar roubando um ano da infância destes sujeitos em pleno<br />
processo de desenvolvimento bio-psico-social.<br />
Referências bibliográficas<br />
MEC. www.mec.gov.br<br />
VYGOTSKY, L. S. (1991). A formação social da mente. São<br />
Paulo: Martins Fontes.<br />
Maria Taís de Melo é Mestre em Psicologia e Doutora em<br />
Mídia e Conhecimento pelo PPGEP da UFSC. Professora do<br />
Curso de Pedagogia da UNIVALI. Consultora Educacional. Email:<br />
diretoria@igge.org.br<br />
Direcional Escolas, agosto/06<br />
27
Direcional Escolas, agosto/06<br />
28<br />
EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA<br />
A<br />
Desmistificando o micro:<br />
a inteligência artificial como<br />
aliada no planejamento escolar<br />
inclusão digital tem sido incansavelmente defendida e perseguida<br />
por incontáveis instituições de ensino e pesquisa e também por<br />
empresas, como forma de atender às demandas de mercado interno<br />
e externo. Entretanto, a Organização das Nações Unidas <strong>para</strong> a<br />
Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e o Conselho Internacional<br />
de União Científica (ISCU) destacam que o saber científico também é<br />
um elemento de exclusão, sobretudo social e digital, considerando a<br />
presença e o avanço das tecnologias de comunicação e informação.<br />
O simples acesso a um computador e seus recursos pouco acrescenta<br />
ao conhecimento do sujeito se algumas ferramentas virtuais -como<br />
bibliotecas, livros eletrônicos e interessantes sistemas de inteligência<br />
artificial -, não estiverem, igualmente, disponíveis.<br />
A preocupação da UNESCO e do ISCU está ratificada por meio<br />
da Declaração sobre Ciência e o Uso do Conhecimento Científico,<br />
mais conhecida como Declaração de Budapeste, datada de 1999. No<br />
documento, são defendidos não apenas o acesso aos conhecimentos<br />
prontos, aceitos e reconhecidos pela comunidade científica e pelas<br />
diversas sociedades, mas o processo metodológico como um todo,<br />
envolvendo problematização, investigação, hipóteses, estudos e<br />
pesquisas provenientes de vários países.<br />
Ainda segundo o documento, a ciência deve responder às<br />
Por Beatriz Rizek<br />
Não sabemos como será a vida durante o século XXI, e qualquer predição nesse<br />
sentido é apenas uma extrapolação do presente. Podemos pensar num futuro<br />
definido desde esse presente como uma continuação dele?<br />
Nós, os seres humanos, fazemos o mundo em que vivemos ao longo do nosso<br />
viver. Ele surge conosco. Como poderíamos especificar um futuro que não nos<br />
pertencerá?.<br />
Humberto Maturana 1<br />
necessidades da sociedade <strong>para</strong> possibilitar a melhoria das condições<br />
de vida da população mundial, especialmente daquela que vive em<br />
situação de pobreza extrema. Tal compromisso pode, perfeitamente,<br />
começar a ser honrado nos anos iniciais da educação formal / escolar,<br />
por meio da aplicação de jogos criados a partir dos princípios da<br />
inteligência artificial.<br />
Embora polêmico, o uso de jogos em sala de aula desperta o<br />
interesse por vários motivos: ambientes virtuais, imagens, armas com<br />
efeitos especiais, alienígenas e personagens que prendem a atenção, de<br />
acordo com o perfil de cada público, costumam ser elementos bastante<br />
atraentes <strong>para</strong> inspirar a resolução de problemas, minimizando as<br />
chances de desistência, por parte do jogador. O segredo está em utilizar<br />
jogos que ofereçam situações existentes no cotidiano dos alunos, longe<br />
da ficção científica. Questões como a violência urbana, por exemplo,<br />
podem se transformar em lições de cidadania por meio de jogos que<br />
simulam salvamentos de vidas.<br />
O universo dos jogos eletrônicos oferece as seguintes variações:<br />
Jogos de Aventura - apresentam desafios a serem solucionados pelo<br />
jogador, etapa por etapa. A história se desenvolve à medida que os<br />
problemas com maiores graus de complexidade forem sendo resolvidos.<br />
Jogos de Ação – Exigem, basicamente, habilidade em manejar os controles, já que a idéia é derrubar<br />
alvos, eliminar inimigos, desviar de obstáculos, entre outras situações que exigem agilidade.<br />
Shooter – Combinação de jogo de ação e aventura que se destaca por oferecer uma visão do cenário<br />
pela perspectiva do personagem principal, em substituição à tradicional visão externa e geral.<br />
Simulação - Os temas a serem simulados variam de jogo <strong>para</strong> jogo, indo desde a construção de<br />
modelos de crescimento de uma cidade até a “invenção” de um relacionamento.<br />
Particularmente, os jogos e sistemas de simulação são bastante utilizados, na educação, <strong>para</strong> o<br />
ensino de Ciências – Biologia, Química, Física e Matemática – seguindo três princípios básicos:<br />
• O princípio da veracidade: professores e alunos devem trabalhar com problemas verídicos<br />
e não com simples demonstrações de princípios. Devem realizar pesquisas de verdade, <strong>para</strong><br />
as quais não existe, de imediato, uma resposta pronta. Encontrar locais de proliferação de<br />
mosquitos da dengue, por exemplo, ou analisar os níveis de metais pesados em corpos d´água<br />
por meio de simulações são problemas verídicos que se constituem em verdadeiros desafios<br />
tanto <strong>para</strong> alunos como <strong>para</strong> professores.<br />
• O princípio da realidade: alunos e professores devem utilizar os equipamentos disponíveis<br />
em laboratório <strong>para</strong> iniciar ou refazer o experimento sempre que necessário, complementando<br />
a testagem de hipóteses por meio de simulações feitas no computador. Isto porque alguns<br />
elementos, muitas vezes, podem ser perigosos ou mesmo impróprios <strong>para</strong> manipulação leiga,<br />
como misturas de ácidos ou de substâncias inflamáveis. Na simulação, obtém-se resultados sem<br />
que haja riscos à integridade física do experimentador.<br />
• O princípio da solidariedade: Através da internet, que oferece, dentre outros recursos de<br />
comunicação, comunidades virtuais, blogs, fóruns e listas de discussões, alunos e professores<br />
trocam informações entre si, permitindo uma compreensão mais ampla dos fenômenos estudados,<br />
tanto pela ampliação de bases de dados como pelo enriquecimento de vivências pessoais.<br />
Por fim, até o momento, temos o Quiz – jogo de perguntas e respostas que testa o conhecimento<br />
do usuário em determinados assuntos – e o Role Playing Game, mais conhecido como RPG, criado<br />
originalmente fora dos meios computacionais, como jogo de interpretação de dados. Na versão<br />
tecnológica, o jogador transita por um mundo fictício e pode controlar um ou vários personagens.<br />
Nessa categoria, os jogos mais recentes são os Massive Multiplayer OnLine – mmo – jogos on-<br />
line de interpretação, <strong>para</strong> múltiplos jogadores. Os mmo´s permitem que milhares de jogadores<br />
criem personagens num mundo virtual dinâmico, ao mesmo tempo, na internet.<br />
A próxima geração de jogos eletrônicos será baseada na mobilidade, rompendo o preconceito<br />
de que jogos eletrônicos estimulam o isolamento: no Japão, já existem games que obrigam<br />
o usuário a sair de casa, interagir com o mundo e executar tarefas externas em diferentes<br />
etapas do jogo. Esta geração de jogos destina-se aos telefones celulares, permitindo que<br />
o participante seja localizado, geograficamente, e lhe seja atribuída uma tarefa. Só depois<br />
de sair de casa e cumpri-la é que ele muda de fase.<br />
1 Professor de Ciências na Universidade do Chile<br />
Beatriz Rizek é Pedagoga, Mestre em Ciências da Comunicação pela Escola<br />
de Comunicações e Artes da USP, pós-graduada em Psicopedagogia,<br />
agosto/06<br />
pesquisadora da Faculdade de Educação e da Escola do Futuro da USP,<br />
coordenadora pedagógica da Estudo, Estratégia e Informação/Escolanet e<br />
Escolas,<br />
da PMKT - perfect marketing em projetos de marketing de causas, com<br />
ações educativas e sócio-ambientais. Direcional<br />
Adriano Costa Vespa<br />
29
Direcional Escolas, julho/06<br />
30<br />
ENSINO MÉDIO<br />
Por uma física vivencial<br />
“Aula de laboratório”: um grupo de alunos realiza um<br />
experimento sobre conservação de energia. Ao final, os resultados<br />
fazem explodir aos olhos uma constrangedora constatação: “deu<br />
tudo errado!”.<br />
Pressupor que uma vivência ou um experimento “deu errado”<br />
equivale a ouvir o seguinte: a natureza falhou, conspirou! Decidiu<br />
não colaborar... Acaso, de uma hora <strong>para</strong> outra, as constantes<br />
universais foram alteradas e a Física perdeu sua validade?<br />
Que absurdo...<br />
É necessário ouvir e refletir, criticamente, a imprecisão<br />
conceitual, ou mais, a improcedência fundamental daquele “deu<br />
errado”. Olhando criticamente veremos que o equívoco pode ser de<br />
caráter metodológico e ligado ao tipo de abordagem pedagógica<br />
que foi levada a efeito.<br />
Na base dessas situações acríticas há uma dicotomia,<br />
a se<strong>para</strong>ção entre teoria e prática. Em outras palavras, os<br />
modelos matemáticos que os livros ou apostilas trazem, tão<br />
bem organizados e apresentados, simplesmente “furam” quando<br />
diretamente submetidos à experimentação, já que não carregam<br />
considerações metrológicas que devem ser levadas em conta<br />
quanto ao instrumental, os processos, as incertezas, os desvios e as<br />
imprecisões nas medidas.<br />
Para superar esta distância entre teoria e prática é preciso<br />
Ciências com ênfase<br />
em física vivencial<br />
resgatar o processo de construção do próprio conhecimento<br />
científico e tecnológico trazendo-os <strong>para</strong> o dia-a-dia da escola.<br />
Nesse processo um dos objetivos a ser atingido é a construção<br />
de um modelo, primeiramente dentro de um caso particular e,<br />
posteriormente, <strong>para</strong> o caso geral, por exemplo.<br />
Esta re-elaboração metodológica pressupõe que se leve<br />
em conta, desde o início do processo, a importância que uma<br />
sensibilização adequada do aluno <strong>para</strong> o tema poderá conferir ao<br />
processo educacional.<br />
Por sensibilização chamamos o conjunto de procedimentos<br />
capazes de dar forma e contorno ao assunto que queremos tratar. O<br />
ponto de partida pode ser um texto polêmico, uma atividade lúdica,<br />
a observação direta de um fenômeno, um vídeo, uma simulação<br />
feita no computador, uma palestra, uma visita, um debate e<br />
assim por diante. Em resumo: um ponto de partida socialmente<br />
significativo, do ponto de vista ético.<br />
Um tema não é significativo só porque pode cair no<br />
vestibular, ou na próxima avaliação. Um tema é significativo<br />
quando tem a ver com a vida de cada um, com a existência. E<br />
como praticamente tudo é relevante, porque tanta resistência<br />
pelos alunos em “querer aprender?”.<br />
A investigação desse problema nos arremete, com freqüência<br />
elevada, à dimensão da valoração intrínseca da contextualização.<br />
Sem que se possa criar uma atmosfera envolvente, desafiadora,<br />
motivadora enfim, o processo não se deflagra na totalidade dos<br />
sujeitos envolvidos. Naturalmente existem cenários instantâneos<br />
que, de alguma forma, interferem e inibem a plena realização<br />
de uma vivência pela totalidade dos estudantes. Mas é preciso,<br />
neste caso, avaliar com<strong>para</strong>tivamente ao grau de envolvimento<br />
de estudantes que foram devidamente acolhidos e motivados<br />
e daqueles que não passaram por este contexto e que, de um<br />
salto, partiram <strong>para</strong> o enfrentamento de conteúdos verbalmente<br />
apresentados por seu professor.<br />
Em outras palavras, podemos propiciar um ambiente e uma<br />
atmosfera tal que estimule o aluno a atingir o “liminar de interesse”,<br />
antes de despejarmos “trocentas” fórmulas e um milhão de palavras,<br />
inúteis, sobre ele.<br />
Um dos aspectos de uma metodologia vivencial é exatamente<br />
esse. Não estarmos fixados à descrição formal, e morta, de teorias.<br />
Nosso intuito é ampliar a percepção e o trato do aluno <strong>para</strong> esferas<br />
do mundo físico que ele nem desconfia existir. Mas <strong>para</strong> isso é preciso,<br />
indispensável, que o professor já tenha se inserido em processos<br />
de desenvolvimento de suas competências enquanto mediador<br />
educacional. Sem esta prerrogativa, com a subida de tal degrau<br />
a favor do processo, provavelmente nada se dará de novo e tudo<br />
voltará a cair na mesmice (geralmente insuportável!) de sempre.<br />
Por José Silvério Edmundo Germano,<br />
N. Omote e Luis Fabio Simões Pucci<br />
Todas as áreas e componentes curriculares podem se prestar<br />
magnificamente <strong>para</strong> este rico processo de sensibilização, por<br />
contar com a possibilidade de produção de variados fenômenos,<br />
com relativa facilidade quando as fontes de informação se<br />
encontram ao alcance dos dedos, desde que o professor esteja se<br />
pre<strong>para</strong>ndo <strong>para</strong> isso.<br />
Neste ponto falta um esclarecimento preciso em que ainda<br />
poucos percebem a diferença: não se quer “experimentação” ou<br />
“laboratório”. O que se objetiva é ampliar o universo de percepção e<br />
pensamentos criativos dos alunos, o que envolve nível de consciência.<br />
Para isso, ao professor compete a criação de Espaços Laboratoriais. O<br />
Laboratório é, antes, uma dimensão de competências do educador.<br />
Onde estiver um educador verdadeiramente comprometido com a<br />
educação do seu aluno, ali estará à disposição deles um laboratório<br />
que pode ser até mesmo a cabeça de um palito de fósforo, um<br />
selo, um jornal do ano passado, uma formiga, um rinoceronte<br />
no zoológico ou um site com simuladores, na web. Tudo é mídia<br />
<strong>para</strong> experimentar, o que fará a diferença serão as concepções<br />
educacionais a partir das quais nascem as estratégias e as<br />
metodologias construídas conjuntamente por discentes e docentes,<br />
no enfrentamento de problemas e suas possíveis soluções.<br />
Naturalmente, à medida que avançamos em direção ao Ensino<br />
Médio, é possível e desejável que aspectos ligados à medição<br />
Ju Cavalheiro<br />
Direcional Escolas, agosto/06<br />
31
Direcional Escolas, agosto/06<br />
32<br />
ENSINO MÉDIO<br />
de magnitudes de grandezas em geral, durante um processo<br />
experimental, cresçam em importância. Isto se deve ao fato<br />
de não só ser possível como também desejável a instauração<br />
de processos de refinamento e maior alcance na elaboração<br />
de modelos físicos, químicos ou biológicos pelos alunos, com<br />
trato matemático um pouco mais sofisticado. Para tanto, é<br />
indispensável um processo de medidas relativo ao experimento<br />
realizado, não com o intuito de “provar” leis, mas como meio de<br />
elaboração e construção cognitivas. A interpretação de resultados<br />
e medidas, já nesta fase de desenvolvimento do aluno, propicia<br />
a prática da criticidade e esta pressupõe a constituição de<br />
referenciais mais acurados, desenvolvidas ao longo de processos<br />
educacionais anteriores.<br />
É justamente através desta postura, que não visa “ajustar” o<br />
experimento à teoria mas, sim, construí-la, que o estudante começa<br />
a desenvolver um pensar cada vez mais elaborado. Em suas ações<br />
haverá algo de Galileu, Newton ou Pasteur, mas principalmente<br />
haverá muito de si mesmo e de seu professor. Como ativo<br />
participante de um processo interativo, o aluno é estimulado a criar<br />
estruturas de pensamento fundamentais <strong>para</strong> aprender, desenvolver<br />
e aplicar o conhecimento adquirido.<br />
Para educar (e não apenas “ensinar”), é fundamental focar no<br />
desenvolvimento de competências ligadas ao investigar, mas dentro<br />
de uma perspectiva crítica. Autores como John Dewey e Matthew<br />
Lipman trabalharam conceitos ligados ao chamado pensamento<br />
refl exivo, que se distingue do pensamento comum por ser dotado<br />
de uma consciência quanto as suas causas e conseqüências. Esse<br />
tipo de pensamento é aquele capaz de criar condições <strong>para</strong> que o<br />
indivíduo escolha entre diferentes alternativas, agindo sobre elas e<br />
prevendo suas possíveis implicações (Lipman, p. 158-159). Nessa<br />
linha, Isabel Alarcão afi rma que a formação de professores precisa<br />
estar centrada no desenvolvimento de educadores refl exivos, que<br />
será o profi ssional consciente da sua capacidade humana de criador<br />
e não mero reprodutor de idéias e práticas exteriores, já que esse<br />
modelo é cada vez mais falho dentro da sociedade da informação,<br />
que exige indivíduos aptos <strong>para</strong> enfrentar o novo, autônomo,<br />
agindo com fl exibilidade diante de novos problemas.<br />
Lipman diz que a autonomia só pode ser desenvolvida<br />
através do modelo refl exivo de educação, já que o aluno capaz<br />
de “pensar por si mesmo” é capaz de ir além do simples repetir<br />
o que outros dizem ou pensam (seus professores, seus colegas, as<br />
mídias de comunicação de massa etc). Ele passa a estar habilitado<br />
a fazer seus próprios julgamentos a partir de provas e evidências,<br />
desenvolvendo uma visão própria de indivíduo que quer ser e de<br />
mundo que gostaria de ter.<br />
Dentro dessa perspectiva, estamos diante de novos modelos<br />
<strong>para</strong> a educação, centrados no aluno e na aprendizagem, e que<br />
não comportam mais extremismos ou modas, tão comuns na área.<br />
Portanto, nem “certo”, nem “errado”; nem “teoria” de um lado e<br />
“prática” do outro, mas o pensamento e o agir vivenciados, numa<br />
perspectiva integradora de disciplinas, saberes e competências.<br />
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:<br />
ALARCÃO, Isabel. Professores refl exivos em escola refl exiva. 3. ed. São<br />
Paulo: Cortez, 2004.<br />
BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Secretaria de Educação Média<br />
e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais - Ensino Médio.<br />
Brasília: SEMTEC/MEC, 1999.<br />
BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Secretaria de Educação Média e<br />
Tecnológica. PCN + Ensino Médio - Orientações Complementares aos<br />
Parâmetros Curriculares Nacionais. Ciências da Natureza, Matemática e<br />
suas Tecnologias. Brasília: MEC; SEMTEC, 2002.<br />
CARVALHO, A. M. P.; GIL - PÉREZ, D. Formação de professores de<br />
ciências. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2003.<br />
CARVALHO, Cassiano Z. Por uma escola inteligente. São Paulo:<br />
<strong>Instituto</strong> Galileo Galilei, 2005.<br />
KENSKI, Vani M. As tecnologias invadem nosso cotidiano. In:<br />
Integração das tecnologias na educação. Brasília: MEC, Seed, 2005.<br />
LIPMAN, Matthew. O pensar na educação. 3. ed. Petrópolis: Vozes,<br />
2001.<br />
José Silvério Edmundo Germano é graduado em Física pela<br />
UFRJ, tem Mestrado e Doutorado em Física pelo <strong>Instituto</strong><br />
Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Professor Adjunto do<br />
Departamento de Física do ITA.<br />
N. Omote é Físico pelo <strong>Instituto</strong> de Física da USP, autor pelas<br />
editoras Moderna e Laborciência, com larga experiência em<br />
programas de formação continuada de docentes.<br />
Luis Fabio Simões Pucci é Engenheiro Mecânico pela Mauá-<br />
SP, Físico pelo <strong>Instituto</strong> de Física da USP, Matemático pela<br />
Uniban-SP e Mestrando em Educação pela Uninove-SP.<br />
Autor da editora Escala Educacional, coordenador da área de<br />
Física da Coordenadoria de Estudos e Normas <strong>Pedagógica</strong>s<br />
(CENP) da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo.<br />
Direcional Escolas, agosto/06<br />
33
34<br />
Foto: Google Earth<br />
EDUCAÇÃO CIENTÍFICA<br />
U<br />
Imagens de satélite<br />
como recurso didático<br />
m grande número de imagens da superfície terrestre é captado<br />
por sensores a bordo de satélites de sensoriamento remoto.<br />
Podemos, assim, defi nir o sensoriamento remoto como a tecnologia<br />
de aquisição de dados da superfície terrestre à distância, isto é, a<br />
partir de satélites artifi ciais. Embora cada vez mais freqüentes na<br />
mídia, em atlas e livros, as imagens de satélites são ainda pouco<br />
exploradas, tanto no Ensino Fundamental e Médio como no ensino<br />
superior. Isso se deve, em grande parte, ao pouco conhecimento<br />
sobre o uso dessas imagens. A difusão do uso do sensoriamento<br />
remoto no ensino é o objetivo deste artigo e parte integrante da<br />
obra de minha autoria, Imagens de satélite <strong>para</strong> estudos ambientais,<br />
editado pela Ofi cina de Textos.<br />
Os parâmetros curriculares reforçam a importância do uso de<br />
novas tecnologias, como a do sensoriamento remoto, que se destaca<br />
da maioria dos recursos educacionais pela possibilidade de se extraírem<br />
informações multidisciplinares, uma vez que dados contidos em uma<br />
única imagem podem ser utilizados <strong>para</strong> multifi nalidades.<br />
As imagens possibilitam determinar confi gurações que vão da<br />
visão do planeta Terra a de um Estado, região ou localidade. Quanto<br />
aos aspectos físicos, pode-se observar a repartição entre terras e<br />
oceanos, a distribuição de grandes unidades estruturais, como<br />
cadeias de montanhas, localização de cursos d’água e meandros,<br />
deltas; ao relevo continental (escarpas, cristas, morros, colinas)<br />
e litorâneo (falésias, dunas, praias, ilhas, golfos, baías), cobertura<br />
vegetal; à confi guração, organização e expansão das grandes<br />
cidades, a conurbação e a evolução das áreas agropecuárias.<br />
Como tempo e espaço são dimensões essenciais <strong>para</strong> a<br />
compreensão dos problemas ambientais, a contribuição da Geografi a<br />
e da História é indispensável ao estudo do processo de ocupação e<br />
Por Teresa Gallotti Florenzano<br />
transformação do espaço, das mudanças e inovações tecnológicas<br />
ocorridas ao longo do tempo e do modelo de desenvolvimento<br />
adotado. Imagens de diferentes períodos ajudam na compreensão<br />
do processo de organização e transformação do espaço. A<br />
partir da interpretação de imagens de diferentes datas, de uma<br />
mesma região, é possível reconstituir o processo de ocupação e<br />
desenvolvimento de uma região. Na falta de imagens e fotografi as<br />
aéreas mais antigas, podem ser utilizados mapas antigos e até<br />
cartões-postais.<br />
As Ciências de modo geral, e mais especifi camente a Física, podem<br />
explorar os princípios físicos do sensoriamento remoto, que<br />
envolvem o estudo da energia eletromagnética, interação dessa<br />
energia com as propriedades físico-químicas dos componentes da<br />
superfície terrestre; como são obtidos as imagens e o processo de<br />
formação das cores. Dessa forma, ao mesmo tempo em que o aluno<br />
está apreendendo conceitos de Física, ele se torna mais capacitado<br />
<strong>para</strong> explorar os dados de sensores remotos.<br />
Imagens de satélite podem contribuir <strong>para</strong> o estudo dos<br />
problemas de saúde pública, relacionados com a contaminação das<br />
águas, como a cólera e a leptospirose, e a poluição atmosférica,<br />
como as doenças respiratórias. A partir da interpretação desses<br />
dados e com os fundamentos teóricos da Biologia, Química,<br />
Geografi a e História, é possível relacionar a distribuição dessas<br />
doenças e das condições que as favorecem com as características<br />
ambientais, econômicas e sociais da área em estudo.<br />
Com conhecimentos da Química e dos dados de sensores<br />
remotos, pode-se explorar a correlação existente entre a qualidade<br />
da água (de rios, lagos, represas e do oceano), representada em uma<br />
imagem por diferentes tonalidades ou cores, e os componentes<br />
químicos e orgânicos dessa água, determinados por análises<br />
químicas de laboratório.<br />
Com a ajuda da Matemática, é possível calcular ângulos,<br />
distâncias, proporções (escalas), áreas (urbanas, agrícolas, inundadas,<br />
queimadas), taxas ou índices (o índice de área verde de uma cidade,<br />
taxas de crescimento urbano, de desmatamento).<br />
A Educação Artística contribui <strong>para</strong> a elaboração de mapas,<br />
maquetes e outros produtos cartográfi cos de expressão artística, a<br />
partir da interpretação de fotografi as aéreas e imagens de satélites.<br />
A maior ou menor contribuição do sensoriamento remoto no<br />
ensino das disciplinas específi cas, dos temas transversais, como Meio<br />
Ambiente, ou em atividades e projetos interdisciplinares, vai depender<br />
da motivação e criatividade dos professores e alunos envolvidos, das<br />
características da área de estudo, da disponibilidade de dados e do<br />
tema utilizado como fi o condutor do estudo. O livro infanto-juvenil A<br />
nave espacial Noé, da editora Ofi cina de Textos, é um bom exemplo da<br />
aplicação do ensino de sensoriamento remoto às crianças. Para saber<br />
mais, acesse: http://www.ofi texto.com.br/anaveespacialnoe/<br />
Tanto os alunos como os professores sem familiaridade com<br />
o sensoriamento remoto têm uma facilidade maior com relação às<br />
fotografi as aéreas, que retratam uma realidade mais próxima. Nesse<br />
aspecto, as imagens de alta resolução dos novos sensores a bordo<br />
de satélites como o SPOT-5, IKONOS-2 e o QuickBird, entre outros,<br />
mais próximas àquelas das fotografi as aéreas, deverão contribuir<br />
sensivelmente <strong>para</strong> a difusão do uso do sensoriamento remoto<br />
como recurso didático.<br />
A disponibilidade das imagens por sensoriamento remoto<br />
é cada vez maior. Atualmente, podem ser encontradas em livros,<br />
atlas, revistas, jornais, cds e na Internet. Imagens de satélite no<br />
formato digital podem ser obtidas gratuitamente nos endereços:<br />
http://www.dgi.inpe.br;http://www.inpe.br/unidades/cep/<br />
atividadescep/educasere/; http://www.cdbrasil.cnpm.embrapa.br;<br />
http://glcf.umiacs.umd.edu/data e no Google: http://earth.google.<br />
com/, entre outros. Portanto, a difi culdade de acesso aos dados de<br />
sensores remotos não serve mais como justifi cativa <strong>para</strong> a sua não<br />
utilização em sala de aula. Como conhecer a área representada em<br />
uma imagem facilita a sua análise e interpretação, recomenda-se,<br />
inicialmente, explorar imagens da própria região.<br />
Sugestões de atividades com imagens de satélite<br />
1. Utilize fotografi as aéreas ou imagens de satélites <strong>para</strong> ensinar<br />
o conceito de escala, que é fundamental <strong>para</strong> o uso de dados de<br />
sensores remotos e de mapas.<br />
2. A partir de fotografi as ou imagens de seu município, de diferentes<br />
períodos, destaque as principais transformações ocorridas nos<br />
ambientes urbano e rural.<br />
Teresa Gallotti Florenzano é geógrafa, com mestrado em<br />
Sensoriamento Remoto pelo <strong>Instituto</strong> Nacional de Pesquisas<br />
Espaciais - INPE e doutorado em Geografi a Física pela Universidade<br />
de São Paulo. Atua como pesquisadora no INPE há mais de 20 anos,<br />
com destacada colaboração também na área didática, ministrando<br />
cursos de interpretação de imagens de satélite <strong>para</strong> diversos públicos,<br />
entre os quais professores do ensino fundamental, médio e superior,<br />
na modalidade presencial e à distância. É autora dos livros: A Nave<br />
Espacial Noé e Imagens de Satélite <strong>para</strong> Estudos Ambientais, ambos<br />
pela Editora Ofi cina de Textos (www.ofi texto.com.br).<br />
Direcional Escolas, agosto/06<br />
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Direcional Escolas, agosto/06<br />
36<br />
ENSINO RELIGIOSO<br />
Há 10 anos o Ensino Religioso é componente curricular<br />
obrigatório do Ensino Fundamental nos sistemas públicos do País.<br />
A aprovação do artigo 33 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação<br />
de 1996, baseado no artigo 210 da Constituição, foi resultado de<br />
um longo processo de prática e reflexão de educadores. Durante<br />
mais de 30 anos o Ensino Religioso vem mudando de enfoque,<br />
em sintonia com a cultura e as novas exigências pluralistas da<br />
sociedade, passando de confessional cristão <strong>para</strong> ecumênico, depois<br />
<strong>para</strong> antropológico e centralizado em valores e atitudes, até chegar<br />
à identidade atual: inter-cultural e inter-religiosa, conforme o<br />
modelo definido pelos Parâmetros Curriculares Nacionais de Ensino<br />
Religioso, apresentados ao MEC pelo Fórum Nacional Permanente<br />
de Ensino Religioso.<br />
Por Maria Inês Carniato<br />
Ensino Religioso,<br />
componente da<br />
formação cidadã<br />
É longa a trajetória do Ensino Religioso no País, porém sua<br />
evolução é pouco conhecida, não só fora, como também dentro<br />
dos sistemas de educação e da própria escola. Muitas pessoas<br />
ainda o consideram doutrinal e confessional, portanto, excludente,<br />
em uma escola pluralista como a de hoje. Conhecer melhor seus<br />
novos <strong>para</strong>digmas é indispensável <strong>para</strong> quem tem qualquer tipo de<br />
envolvimento com a Educação de Base no Brasil.<br />
Paradigma antropológico:<br />
Patrimônio da Humanidade<br />
Pessoas dos mais variados níveis de cultura, ao ouvir falar<br />
em Ensino Religioso, têm despertado no próprio subconsciente o<br />
arquétipo “catecismo”, “igreja”, “Bíblia” ou algo equivalente que<br />
vivenciou na infância. Digamos que o “catecismo” ou qualquer<br />
outro título que se dê à instrução específica praticada em uma<br />
tradição religiosa corresponde à milésima parte do potencial de<br />
conhecimento que se encerra no termo Ensino Religioso.<br />
Esse potencial, praticamente infinito, por se tratar de uma ciência<br />
humana, não é acervo particular de nenhuma religião. É patrimônio<br />
da humanidade. A Unesco, órgão das Nações Unidas <strong>para</strong> a educação<br />
e a cultura, há décadas vem desenvolvendo o projeto Patrimônio<br />
Cultural da Humanidade, pelo qual, em dezenas de países em todos os<br />
continentes, são preservados lugares arqueológicos da pré-história, da<br />
idade antiga e construções ou ruínas da época medieval. Uma imensa<br />
porcentagem, talvez mais de 80% destes lugares, foram, ou ainda são,<br />
espaços sagrados, nos quais se realizaram rituais, cerimônias, cultos e<br />
sacrifícios ou se levantaram monumentais templos e santuários, até<br />
com desconhecidas ou inacreditáveis técnicas de construção, que<br />
atestam a genialidade, os múltiplos conhecimentos e a persistência dos<br />
antepassados. Essas pessoas geniais dedicaram vidas inteiras à causa de<br />
materializar a experiência religiosa, dando-lhe visibilidade na rocha, na<br />
pedra, e nas mega-construções, na esperança de vê-la eternizada. Este,<br />
pode-se dizer, é um “inconsciente coletivo” do Fenômeno Religioso,<br />
que, por outro lado, continua hoje mais vivo do que nunca, em milhares<br />
de diferentes manifestações.<br />
Um breve olhar panorâmico sobre a história mostra que a dimensão<br />
religiosa do espírito humano está no alicerce do saber universal e é um<br />
dos principais moventes da produção cultural da humanidade.<br />
• A primeira educação foi iniciática: os indivíduos eram iniciados no<br />
conhecimento e na prática de tabus, mitos, símbolos, costumes e<br />
rituais mágicos que regiam a vida dos clãs em relação aos totens e aos<br />
espíritos protetores.<br />
• A arte, a dança, o esporte, o teatro, a pintura, a escultura, a música, a<br />
arquitetura, a medicina, a química, a metalurgia começaram em rituais<br />
religiosos xamânicos, iniciáticos, sacerdotais e litúrgicos, e na confecção<br />
de objetos sagrados das religiões primordiais ou das grandes civilizações.<br />
• A literatura clássica universal, cujas obras imortais são estudadas<br />
perenemente, tem grande número de narrativas míticas e épicas, nas<br />
quais os deuses e os heróis se apresentam por meio da linguagem<br />
simbólica, capaz de assumir a projeção de sentimentos, angústias,<br />
interrogações, limites, sonhos e grandiosidades do espírito humano<br />
de todos os tempos.<br />
• A origem da gramática e da escrita é religiosa. Provam isso a<br />
captação da idéia e sua expressão material nos desenhos rupestres<br />
dos recintos sagrados das cavernas, bem como os segredos dos<br />
deuses registrados em colunas e paredes de templos nas civilizações.<br />
E o que dizer de textos religiosos tão antigos cuja autoria se perde na<br />
névoa dos tempos como os Vedas da Índia, por exemplo? Em tempos<br />
imemoriais, pessoas de inteligência brilhante criaram sistemas de<br />
escrita exclusivos <strong>para</strong> produzí-los, sem mesmo saber que estavam<br />
cultivando “a flor de lótus” da cultura da humanidade.<br />
• O modelo da escola ocidental vem da educação grega, a<br />
scolé – clube dos ociosos – onde os jovens das famílias ricas se<br />
reuniam ao redor dos didáscolos – mestres – e passavam o tempo<br />
prazerosamente, conhecendo os deuses do Olimpo e os heróis<br />
épicos da Grécia ou cultivando a semelhança com os deuses por<br />
meio do cultivo da mente e da perfeita estética corporal. Por sinal,<br />
as olimpíadas têm origem nas competições esportivas feitas ao<br />
redor dos santuários gregos, por ocasião das festas religiosas.<br />
Os pressupostos antropológicos universais ajudam a<br />
compreender os termos da legislação brasileira, que parte da cultura<br />
Adriano Costa Vespa<br />
Direcional Escolas, agosto/06<br />
37
Direcional Escolas, agosto/06<br />
38<br />
ENSINO RELIGIOSO<br />
nacional e reconhece a necessidade de valorizá-la na educação <strong>para</strong> a<br />
cidadania, tornando obrigatório o Ensino Religioso durante o Ensino<br />
Fundamental, nos sistemas públicos de educação.<br />
Paradigma legal: parte integrante da<br />
formação básica<br />
A Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da<br />
Educação de 1996 (com o inciso do artigo 33 em 1997) definem o<br />
Ensino Religioso como disciplina curricular nas escolas públicas de<br />
Ensino Fundamental:<br />
• Artigo 210 - Serão fixados conteúdos mínimos <strong>para</strong> o Ensino<br />
Fundamental, de maneira a assegurar formação básica comum e<br />
respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais.<br />
§ 1º - O Ensino Religioso, de matrícula facultativa, constituirá<br />
disciplina dos horários normais das escolas públicas de Ensino<br />
Fundamental (Constituição da República Federativa do Brasil).<br />
• Artigo 33 - O Ensino Religioso, de matrícula facultativa, é parte<br />
integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina<br />
dos horários normais das escolas públicas de Ensino Fundamental,<br />
assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil,<br />
vedadas quaisquer formas de proselitismo.<br />
§ 1º - Os sistemas de ensino regulamentarão os procedimentos <strong>para</strong><br />
a definição dos conteúdos do Ensino Religioso e estabelecerão as<br />
normas <strong>para</strong> a habilitação e admissão dos professores.<br />
§ 2º - Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída pelas<br />
diferentes denominações religiosas, <strong>para</strong> a definição dos conteúdos<br />
do ensino religioso (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional<br />
– inciso nº 9.475/97).<br />
A formação básica comum e (o) respeito aos valores culturais e<br />
artísticos nacionais e regionais remete necessariamente <strong>para</strong> o Ensino<br />
Religioso, como se vê no parágrafo 1º. do artigo, porque os valores<br />
culturais e artísticos da população brasileira derivam da miscigenação<br />
de culturas matrizes essencialmente religiosas: a indígena, a africana,<br />
a cristã medieval e também das tradições cristãs e orientais mais<br />
tardias. Retirado o componente religioso, o folclore e a arte colonial<br />
barroca, por exemplo, praticamente desapareceriam.<br />
As atuais Diretrizes Curriculares da Educação apontam <strong>para</strong><br />
a prioridade da inclusão e da valorização da etnia, da cultura, dos<br />
costumes e das experiências dos alunos. A pertença religiosa é uma<br />
das principais causadoras de atitudes de desprezo, temor, rivalidade e<br />
exclusão na sala de aula. Neste sentido, o primeiro objetivo do Ensino<br />
Religioso é favorecer a objetividade no conhecimento das tradições<br />
religiosas. Só o conhecimento liberta de preconceitos e de tabus.<br />
Para isso, o Ensino Religioso, enquanto componente curricular, tem<br />
parâmetros que especificam sua identidade e função.<br />
Paradigma científico: estudo do Fenômeno Religioso<br />
Conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Religioso,<br />
o objeto de estudo científico da disciplina é o Fenômeno Religioso,<br />
isto é: os sinais da religiosidade presentes na cultura estabelecida e na<br />
sociedade atual. Edgar Morin, professor da Universidade de Paris, no<br />
livro Os sete saberes necessários <strong>para</strong> a educação do futuro, escrito<br />
a pedido da Unesco, sobre os novos <strong>para</strong>digmas da educação <strong>para</strong> o<br />
Terceiro Milênio, assim diz: O saber científico sobre o qual este texto<br />
se apóia <strong>para</strong> situar a condição humana não só é provisório, mas<br />
também desemboca em profundos mistérios referentes ao Universo,<br />
à Vida, ao nascimento do ser humano. Aqui se abre um indecidível,<br />
no qual intervêm opções filosóficas e crenças religiosas através de<br />
culturas e civilizações (op.cit. p. 13).<br />
O Ensino Religioso oferece a possibilidade de desenvolver as duas<br />
dimensões propostas pelo professor Morin: um saber que resulte<br />
do rigor científico e que conduza à humanização e à superação do<br />
preconceito derivado da ignorância ante o mistério presente nos<br />
horizontes humanos.<br />
Paradigma curricular: os cinco eixos temáticos<br />
A sociedade pós-moderna é marcada por uma procura<br />
intensa de experiências transcendentes e até pseudo-místicas.<br />
Os alunos trazem <strong>para</strong> a escola uma variedade, às vezes caótica,<br />
de informações desconexas e de vivências religiosas nem sempre<br />
assimiladas. O papel da escola é aplicar, sobre esse potencial de<br />
saber, um método científico e torná-lo organizado e inteligível e<br />
significativo, proporcionando a superação do temor, do tabu, da<br />
mentalidade mágica, da indiferença, do preconceito e da rivalidade.<br />
Os PCNERS (Parâmetros Curriculares Nacionais <strong>para</strong> o Ensino<br />
Religioso), que foram elaborados mediante longo trabalho de base<br />
entre professores e apresentados ao MEC pelo Fórum Nacional<br />
Permanente de Ensino Religioso, oferecem esse método.<br />
Os PCNERS organizam-se em cinco blocos temáticos de abordagem<br />
do Fenômeno Religioso que podem ser com<strong>para</strong>dos a um armário de<br />
laboratório, no qual se organizam e se classificam os elementos de<br />
determinado fenômeno a serem estudados. Os cinco eixos são:<br />
• Tradições e culturas religiosas;<br />
• Textos sagrados orais e escritos;<br />
• Teologias das tradições religiosas;<br />
• Ritos e símbolos religiosos;<br />
• Etos e valores dos povos e das culturas.<br />
No âmbito das matrizes culturais brasileiras, quais conteúdos<br />
pertencem a cada um dos eixos? Vejamos alguns exemplos:<br />
• Tradições e culturas religiosas: indígenas, cristãs européias medievais,<br />
africanas, orientais (judeus, xintoístas, budistas...), cristãs européias<br />
modernas (protestantes, pentecostais...) e, atualmente, novos movimentos<br />
religiosos ecléticos e sincréticos.<br />
• Textos sagrados: orais: mitos e cosmovisões das tradições indígenas<br />
e africanas; escritos: livros sagrados do cristianismo e do judaísmo (a<br />
Bíblia), do xintoísmo e do budismo, do islamismo etc.<br />
• Teologias das tradições religiosas: os diferentes nomes atribuídos a<br />
Deus, as diferenças doutrinais entre as tradições religiosas: a crença<br />
indígena e africana nos espíritos dos antepassados, a crença oriental e<br />
espírita na reencarnação, a crença bíblico cristã na ressurreição etc.<br />
• Ritos e símbolos religiosos: os ritos e símbolos universais, presentes<br />
em todas as tradições religiosas: a música, a dança, a oferenda, a água,<br />
o fogo etc; ritos e símbolos que caracterizam cada uma das tradições<br />
e se manifestam nas cerimônias: centros religiosos, templos, igrejas,<br />
sinagogas, mesquitas, terreiros, casas de reza; cerimônias: oferendas a<br />
Iemanjá à beira do mar, os cultos, a missa, os rituais indígenas etc.<br />
• Etos dos povos e das culturas: costumes e valores dos povos<br />
indígenas, por exemplo, o senso de comunidade, valorização dos<br />
anciãos, cuidado com as crianças, respeito ao meio-ambiente; das<br />
religiões afro-descendentes, o sentido de partilha e de festa, a utopia<br />
de uma terra de vida e liberdade... O que essas tradições têm a ensinar<br />
à sociedade? Quais os valores que elas guardam como etos sagrado?<br />
Enfim, o resgate de valores que caracteriza a vivência de cada etnia e o<br />
que uma tradição religiosa tem a ensinar às outras.<br />
Os cinco blocos temáticos são organizados contemporaneamente<br />
no currículo das nove séries do Ensino Fundamental por meio de<br />
conteúdos e atividades adaptados a cada idade e série. Através deles<br />
pode ser trabalhada qualquer manifestação do Fenômeno Religioso,<br />
todas as informações e também todas as experiências e práticas que os<br />
alunos trazem da família e da convivência social.<br />
As editoras têm lançado material didático de apoio aos professores,<br />
como por exemplo, a coleção Ensino Religioso Fundamental, revista<br />
Diálogo de Ensino Religioso, ambas da editora Paulinas, dentre outras.<br />
Porém é indispensável que o profissional professor de Ensino Religioso<br />
seja habilitado e pre<strong>para</strong>do <strong>para</strong> lidar com conhecimentos novos que<br />
antes não faziam parte do currículo e nem estiveram presentes em<br />
sua formação docente. Para isso, o caminho viável é que os sistemas<br />
estaduais de ensino façam convênios com as universidades <strong>para</strong> a<br />
criação de cursos de licenciatura em Ensino Religioso, vinculados ao<br />
departamento de Ciências da Religião.<br />
Além do conteúdo estabelecido, o Ensino Religioso tem um<br />
tratamento pedagógico diferenciado. Presta-se <strong>para</strong> atividades<br />
interdisciplinares interativas e participativas que proporcionem não só<br />
pesquisa rigorosa, re-elaboração de dados e produção de formas literárias<br />
e artísticas de expressar o conhecimento, como também experiências<br />
significativas na educação integral, pois nenhuma disciplina como o<br />
Ensino Religioso lida com as questões humanas, universais e particulares.<br />
E estas, por sua vez, refletidas e dialogadas, podem se transformar em<br />
construção da sabedoria de vida, levar à cidadania e ao protagonismo na<br />
humanização e na transformação do mundo.<br />
Maria Inês Carniato é autora da Coleção didática “Ensino Religioso<br />
Fundamental” e diretora de redação da Revista “Diálogo de Ensino<br />
Religioso”, ambas da editora Paulinas. Bacharel em filosofia pela<br />
Universidade Estadual do Ceará, Bacharel em Teologia pastoral<br />
pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção,<br />
de São Paulo (SP), Mestra em teologia sistemática pelo Centro de<br />
Estudos Superiores da Companhia de Jesus, de Belo Horizonte (MG),<br />
e especializada em Comunicação e Educação pela Universidade São<br />
Francisco, de Bragança Paulista (SP). Ministra cursos, palestras e<br />
oficinas de Ensino Religioso com educadores dos sistemas públicos<br />
e particulares de educação do País.<br />
E-mail: dialogo@paulinas.org.br<br />
Direcional Escolas, agosto/06<br />
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Direcional Escolas, agosto/06 junho/06<br />
40<br />
BULLYING<br />
Quando a escola<br />
é sofrimento<br />
O bullying não é um fenômeno novo. Nas escolas, sempre existiu o<br />
valentão pronto a humilhar o mais fraco. A violência, porém, tem<br />
ganhado contornos mais fortes e invadido até a internet.<br />
Por Luiza Oliva<br />
Ju Cavalheiro<br />
A menina boa aluna, que tira excelentes notas, gera ciúmes nas<br />
colegas. Espalham boatos sobre sua sexualidade, chamando-a de<br />
sapatão, e deixam a garota de lado, excluindo-a do grupo.<br />
O garoto de 5ª série, que não gosta de jogar futebol, é tímido<br />
e sensível e chora com facilidade, ganha da turma o apelido de<br />
“bicha”. Perseguido e humilhado no horário do recreio, passa a faltar<br />
às aulas com frequência e fi ca com aspecto triste e deprimido.<br />
Já um menino cursando a 3ª série sentia-se sozinho e<br />
abandonado. Buscou ajuda da direção escolar pois não suportava<br />
mais ser chamado de Gordo. Sem amigos, sentia-se rejeitado em<br />
decorrência de sua obesidade.<br />
O adolescente de 16 anos ganhou apelidos como Bob Esponja e<br />
Bom Bril por causa dos seus cabelos crespos e do seu jeito calado e<br />
tímido. Rejeitado, isolou-se da turma.<br />
Casos como esses são descritos no livro Fenômeno Bullying<br />
(Editora Verus), da educadora Cleo Fante. As histórias foram<br />
relatadas por educadores, alunos de diversos cursos ministrados<br />
por Cleo, inclusive de pós-graduação, e mostram que o bullying<br />
está mais perto de nós do que imaginamos. O termo se origina da<br />
palavra inglesa bully, ou valentão, tirano. Na forma de verbo, indica<br />
a ação de brutalizar, tiranizar, amedrontar.<br />
Nas últimas décadas, o bullying vem sendo alvo de pesquisas e<br />
estudos. No fi nal de 1982, um fato causou grande divulgação nos meios<br />
de comunicação: o suicídio de três crianças, com idades entre 10 e 14<br />
anos, no norte da Noruega. Segundo Cleo Fante, muito provavelmente<br />
o ato foi motivado pela situação de maus tratos a que eram submetidas<br />
pelos seus companheiros de escola. Dan Olweus, pesquisador da<br />
Universidade de Bergen, desenvolveu então os primeiros critérios <strong>para</strong><br />
detectar o bullying, diferenciando-o de incidentes, gozações ou relações<br />
de brincadeiras entre iguais. Em seu estudo, Olweus constatou que a<br />
cada sete alunos, um estava envolvido em casos de bullying. No Brasil,<br />
uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira Multiprofi ssional de<br />
Proteção à Infância e Adolescência (Abrapia) em 2003, com 5875 alunos<br />
de 5ª a 8ª séries de escolas municipais do Rio de Janeiro, mostrou que<br />
40,5% desses alunos admitiram estar envolvidos com bullying.<br />
O fenômeno vai além das brincadeiras comuns e aceitáveis entre<br />
crianças e jovens. Acontece com alunos de diversas faixas sociais e<br />
econômicas, principalmente envolvendo pré-adolescentes. O fato<br />
do bullying atingir um amplo leque de classes sócio-econômicas<br />
deve-se, conforme Cleo, principalmente aos modelos educativos que<br />
são introjetados pela criança, especialmente na primeira infância.<br />
“Crianças que têm como modelos educativos as diversas formas de<br />
maus-tratos e as explosões emocionais violentas tendem a reproduzi-<br />
las na escola, contra seus colegas. Há ainda a exposição às inúmeras<br />
cenas de violência, deboche e indiferença apresentados na mídia<br />
e nos jogos de games”, avalia. Conforme Cleo, a idade média das<br />
vítimas está entre 11 e 12 anos. “Mas podemos encontrar o bullying<br />
em faixas etárias menores, lá pelos quatro anos”, adverte.<br />
“O bullying ocorre dentro e fora das escolas, ultrapassando os<br />
confl itos e brigas normais que ocorrem entre estudantes, com a<br />
característica de ser planejado, repetitivo e se constituir por atos<br />
de intimidação sobre indivíduos mais vulneráveis e incapazes<br />
de se defender, o que acarreta sérios problemas psicológicos,<br />
isolamento, marginalização e até mesmo suicídio”, constata a<br />
psicopedagoga Maria Irene Maluf, presidente da Associação Brasileira<br />
de Psicopedagogia (ABPp), completando que a prática do bullying<br />
depende da existência de um núcleo problemático no qual não se<br />
desenvolveram positivamente as relações entre seus membros.<br />
O psicólogo do Ensino Médio do Colégio Santo Américo,<br />
Alexandre Trinca, afi rma que a agressão do bullying é um<br />
comportamento manifesto relacionado a profundas questões<br />
psíquicas que são revertidas em uma agressividade direcionada ao<br />
outro. “Como um sintoma psíquico, não deveríamos compreender<br />
o bullying em decorrência de classes econômicas e sociais, pois<br />
ele pode ocorrer em qualquer ambiente onde haja convívio entre<br />
as pessoas”, diz. Por outro lado, Alexandre acredita que nossa<br />
sociedade, que valoriza o mais forte, o que detém o poder, é um<br />
campo fértil <strong>para</strong> a expressão do bullying. “Vivemos em uma cultura<br />
excludente, narcísica e extremamente competitiva. Um fenômeno<br />
baseado no estabelecimento do poder sobre o outro, como é o<br />
bullying, encontra um campo fértil <strong>para</strong> se expressar”, arremata.<br />
Como identificar o bullying<br />
Surge, então, uma questão importante <strong>para</strong> a escola: como<br />
identifi car o bullying em meio às brincadeiras e atitudes próprias<br />
de crianças e adolescentes sem conseqüências mais sérias? Para<br />
ser considerado bullying, os maus tratos e humilhações devem ser<br />
repetitivos contra a mesma vítima, informa a pesquisadora Cleo<br />
Fante, e ocorrerem num período prolongado de tempo. “O professor<br />
deve saber o que é brincadeira, pois todos se divertem. Mas, quando<br />
vários se divertem às custas daqueles que sofrem, deixa de ter graça<br />
e se transforma em violência”, esclarece Cleo, que dirige o Centro<br />
Multidisciplinar de Estudos e Orientação sobre o Bullying Escolar<br />
(Cemeobes), entidade que tem como objetivo desenvolver estudos,<br />
pesquisas e material didático sobre o bullying.<br />
“Para uma atitude ser considerada bullying é necessário que<br />
sejam verifi cados alguns fatores: a sistematização e a continuidade do<br />
comportamento agressivo, bem como a relação desigual de poder entre<br />
o agressor e o alvo”, defi ne o psicólogo Alexandre Trinca. Para Maria<br />
Irene Maluf, o que distingue o bullying das brincadeiras próprias do<br />
desenvolvimento infantil e juvenil é o fato de que, neste último caso, os<br />
comportamentos indesejados não são constantes e são esquecidos em<br />
pouco tempo, já que não afetam de forma profunda a auto-estima das<br />
vítimas. Conforme a psicopedagoga, cabe aos pais e à escola a tarefa<br />
de observarem com cuidado as crianças que apresentam crescente<br />
Direcional Escolas, agosto/06<br />
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Direcional Escolas, agosto/06 junho/06<br />
42<br />
BULLYING<br />
Nas escolas, prevenção<br />
Na luta contra o bullying, muitas escolas já estão levando o assunto <strong>para</strong> sala de aula com objetivos preventivos.<br />
O Colégio Santa Maria há três anos mantém um programa inserido na grade curricular, voltado contra o bullying.<br />
Os orientadores realizam com os alunos debates, análises de texto e até dramatizações. Segundo Selma Pietrocolla,<br />
orientadora da 7ª série do Santa Maria, nas dramatizações são utilizadas inclusive técnicas de psicodrama, com um<br />
estudante vivenciando a situação do outro.<br />
No Colégio Pueri Domus também é feito um projeto com alunos de 5ª a 8ª séries, visando melhorar as relações.<br />
“Levamos aos alunos de 7ª e 8ª séries a existência de casos graves, que acarretaram doenças, mudanças de escola e<br />
até suicídio das vítimas. Assim, eles fi cam sabendo as conseqüências da prática do bullying e se conscientizam que<br />
o que parece divertido causa um grande mal ao outro”, conta a coordenadora pedagógica e educacional de 7ª e<br />
8ª séries Leylah Carvalhaes. Os estudantes do Ensino Fundamental II divulgam suas pesquisas e conclusões <strong>para</strong> as<br />
turmas de 4ª série. O projeto já acontece há cerca de três anos no Pueri Domus. “É um trabalho de base. A escola<br />
deve tocar no assunto abertamente com seus alunos e não apenas por ser um tema da moda. Todos precisamos<br />
estar de olhos bem abertos, pois muitos sofrem o bullying calados. Não dá <strong>para</strong> pintar o cenário de cor-de-rosa<br />
e dizer que não acontece”, concordam Leylah e Rose Pugliesi, coordenadora pedagógica e educacional de 5ª e 6ª<br />
séries do colégio.<br />
Segundo as coordenadoras, tem sido decisivo <strong>para</strong> o sucesso do projeto no Pueri Domus o papel do professor<br />
tutor, responsável por questões de aprendizagem e de relacionamento. O tutor avalia como a classe se comporta<br />
fora da sala, se todos têm amigos com quem almoçar, por exemplo. Outra preocupação é que os grupos de estudos<br />
não sejam fi xos, aproximando mais os alunos e evitando a criação de grupos fechados <strong>para</strong> a entrada de novos<br />
estudantes. “Fazemos um trabalho de valores preventivo. Um aluno tem direito a não ter empatia por outro mas<br />
não a desrespeitá-lo”, afi rmam.<br />
Rejeições a algum aluno em sala de aula existem em toda escola. O bullying, porém, está extrapolando os limites<br />
físicos dos colégios e entrando na rede mundial de computadores. Não são raros os casos em que as humilhações<br />
e agressões a um colega invadem páginas da internet. Cleide Fernandes Ruy, psicóloga e coordenadora pedagógica<br />
do Colégio Magno, afi rma que há dois anos a escola desenvolve projetos preventivos ao bullying. Este ano, porém, o<br />
colégio enriqueceu a discussão introduzindo a questão do chamado cyberbullying. “Ou seja, é a expressão do bullying<br />
por meio de recursos eletrônicos que, entre outras características, permite a agressão oculta sob o anonimato. É o<br />
caso das comunidades de orkuts, por exemplo, que muitas vezes servem como instrumento de perseguição”, conta.<br />
Uma das atividades elaboradas pelos alunos foi uma espécie de manual de ética dos orkuts.<br />
Mariluce Lourenço, diretora de curso de 1ª a 7ª séries do Colégio Augusto Laranja, concorda que, com a<br />
utilização da internet, o bullying está fugindo do alcance verbal e partindo <strong>para</strong> o registro escrito das agressões.<br />
“Com a internet, o bullying foge da classe e vai <strong>para</strong> o mundo. O fenômeno não é novo, só que agora temos<br />
um perfi l mais apurado de quem sofre e de quem age. O novo é divulgar esse registro pela internet e a escola<br />
não pode fi car <strong>para</strong>da, assistindo isso acontecer”, atesta. Para Mariluce, o pré-adolescente não tem noção dos<br />
problemas que causa ao “zoar” um colega, colocando apelidos ou criando uma página na internet <strong>para</strong> perpetuar<br />
as agressões. No regimento interno do colégio foi, inclusive, inserida uma cláusula que aponta, entre os deveres do<br />
aluno, “não difamar alunos, professores e demais funcionários sobre qualquer pretexto e uso de qualquer forma<br />
de comunicação”. Num artigo específi co, fi ca estabelecido que o representante legal do aluno é responsável por<br />
eventuais informações difamatórias, veiculadas por ele, por qualquer meio, inclusive internet. Seja qual for a forma<br />
de transmissão do bullying, Mariluce confi rma que a escola deve agir rápido. “Devemos mostrar aos agressores,<br />
sempre agindo de maneira educacional, que eles não têm o direito de causar sofrimento a um aluno”, fi naliza.<br />
receio de ir ao colégio, negando-se ou pedindo <strong>para</strong> serem sempre<br />
acompanhadas, e que demonstram baixa auto-estima, problemas de<br />
aprendizagem, perda freqüente de material escolar ou objetos pessoais,<br />
ou ainda que dão explicações pouco razoáveis <strong>para</strong> esses fatos, assim<br />
como <strong>para</strong> o aparecimento de ferimentos corporais e danos ao<br />
uniforme. “A violência escolar leva a vítima a se isolar ainda mais,<br />
sentir-se insegura e discriminada”, defi ne Maria Irene.<br />
Para o psicólogo do Colégio Santo Américo, o bullying tem como<br />
característica ser um comportamento velado, que ocorre longe do<br />
olhar do adulto, tornando-se muito difícil identifi cá-lo. “Geralmente,<br />
o aluno-alvo se inibe, ou é inibido pelo grupo, em expor sua condição<br />
e não consegue dividir seu sofrimento com um adulto”, afi rma.<br />
Trinca enumera alguns refl exos da vivência de bullying no aluno-<br />
alvo que podem ser identifi cados pelos professores: surgimento de<br />
súbitos problemas de saúde, insucesso escolar, depressão, ansiedade e<br />
distúrbios de conduta. “O aluno-alvo pode se tornar calado e retraído,<br />
apresentando falta de concentração nas atividades. Pode ainda se<br />
sentir perturbado ou afl ito antes da hora do intervalo e seus colegas<br />
não quererem se sentar perto dele”, completa.<br />
A escola deve ter muita cautela ao fazer qualquer diagnóstico,<br />
evitando julgamentos precipitados, concordam os especialistas. “O<br />
fato de o aluno apresentar tais sinais não quer dizer, necessariamente,<br />
que sofre bullying”, sustenta Trinca. Maria Irene Maluf constata que<br />
vítima e agressor precisam do apoio da escola, de suas famílias e da<br />
orientação de profi ssionais especializados. Segundo a psicopedagoga,<br />
as vítimas do bullying têm por característica pessoal a difi culdade de<br />
reagir. “Em geral, são escolhidas por seus agressores justamente por<br />
aparentar certa fragilidade, ansiedade, difi culdade de relacionamento<br />
com o grupo e termina por ter ainda maiores problemas com sua<br />
auto-estima, podendo vir a desenvolver depressão e apresentar baixo<br />
rendimento escolar”, aponta.<br />
O agressor normalmente também é alguém com problemas de<br />
insegurança, de relacionamento social, que aprendeu com adultos<br />
essa forma de resolver suas questões. “Frequentemente ele é vítima<br />
de rejeição, de pouco cuidado por parte de famílias desestruturadas,<br />
em que a agressão é o modelo usado <strong>para</strong> impor o poder. Torna-se<br />
um valentão na aparência, mas é uma criança ou jovem que precisa<br />
de assistência <strong>para</strong> conseguir se expressar e se relacionar de forma<br />
socialmente adequada”, diz a psicopedagoga.<br />
O simples fato de trocar a vítima do bullying de escola não signifi ca<br />
que ela se verá livre do problema. “Aconselhamos tanto a escola quanto<br />
os pais a capacitar a criança <strong>para</strong> que se torne assertiva, ou seja, <strong>para</strong><br />
que expresse os seus sentimentos, o que gosta ou não, como quer ser<br />
tratada pelos colegas, que trabalhe sua auto-estima e desenvolva seu<br />
processo de socialização. Se a criança não consegue se defender, ser<br />
assertiva e relacionar-se, em qualquer escola que vá, terá difi culdades”,<br />
acredita Cleo Fante.<br />
Em busca da prevenção do bullying e da resolução de confl itos que<br />
por acaso já existam na escola, é fundamental munir os professores<br />
de informações. Na opinião de Cleo, a escola deve primeiramente<br />
conscientizar seus profi ssionais <strong>para</strong> a relevância do bullying, depois<br />
capacitá-los a identifi car, diagnosticar e encaminhar os casos de forma<br />
ética-profi ssional, além de desenvolver estratégias preventivas.<br />
“O professor pode se apropriar do tema por meio de palestras,<br />
grupos de estudo e de discussão sobre o assunto, de levantamento e<br />
identifi cação de casos e de elaboração de estratégias <strong>para</strong> lidar com o<br />
problema”, enumera Alexandre Trinca. Entre as sugestões de Alexandre<br />
aos professores estão aproximar os alunos do tema bullying através<br />
de aulas, palestras e dinâmicas apropriadas, proporcionar momentos<br />
refl exivos focalizando questões de relacionamento e criar um espaço<br />
aberto <strong>para</strong> a convivência com as diferenças.<br />
PARA MAIS INFORMAÇÕES<br />
Alexandre Trinca/Colégio Santo Américo<br />
trinca@csasp.g12.br<br />
www.colegiosantoamerico.com.br<br />
Cleo Fante<br />
cleofante@hotmail.com<br />
www.bullying.pro.br<br />
Colégio Augusto Laranja<br />
colegio@augustolaranja.com.br<br />
www.augustolaranja.com.br<br />
Colégio Magno<br />
magno@colmagno.com.br<br />
www.colmagno.com.br<br />
Colégio Pueri Domus<br />
ombuds@pueridomus.br<br />
www.pueridomus.br<br />
Colégio Santa Maria<br />
santamaria@colsantamaria.com.br<br />
www.colsantamaria.com.br<br />
Maria Irene Maluf<br />
irenemaluf@uol.com.br<br />
Direcional Escolas, agosto/06<br />
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Direcional Escolas, agosto/06<br />
44<br />
SALA DE AULA<br />
Não transformamos sucatas em objetos úteis e bonitos da noite<br />
<strong>para</strong> o dia. Para tanto, um dos pontos principais <strong>para</strong> o início desse<br />
processo é a mudança de visão a respeito da antiga tradição popular<br />
de que sucata é lixo! Assim, devemos utilizar um novo conceito,<br />
no qual a sucata representa um rico material, acessível <strong>para</strong> todos<br />
diariamente e, além de tudo, barato.<br />
Hoje, aos poucos, temos uma onda que cresce cada vez mais em<br />
relação ao uso das sucatas não só na educação como no cotidiano<br />
das pessoas. Na educação, conquista uma ampla aceitação, pois<br />
quem se permite a chance de vivenciar a experiência da criação de<br />
jogos, brinquedos, enfeites, presentes etc. desenvolvidos a partir do<br />
material de sucata, adquire um olhar mais abrangente, plantando<br />
uma semente encantada, que crescerá e dará frutos até fazer uma<br />
conexão com todo o processo educacional.<br />
O ponto de partida <strong>para</strong> a imaginação pode, assim, iniciar por<br />
meio dessa semente que floresce e toma conta de todos os nossos<br />
cantinhos e prateleiras em sala de aula, tornando útil aquilo que,<br />
antes, iria <strong>para</strong> o lixo.<br />
O encanto que nasce ao manipular as sucatas e, a partir delas,<br />
criar algo diferente, é único, pois acabamos tendo a certeza de<br />
que valeu a pena tentar. Cada pessoa encontrará uma maneira de<br />
adaptar-se a essa nova onda, que irá jorrar muita água durante o<br />
ano e, certamente, ajudará a matar a sede e a ânsia de produção<br />
criativa das crianças e, principalmente, dos adultos, que muitas<br />
vezes se negam a tentar.<br />
As sucatas como ponto de partida<br />
<strong>para</strong> a imaginação no processo educativo<br />
Essa provocação positiva ficará marcada profundamente no<br />
professor e fará desabrochar a incrível característica da boa vontade<br />
e do desafio, que sempre nos faz experimentar e, acrescente-se, terá<br />
uma repercussão intensa no trabalho com os alunos e, sobretudo, na<br />
participação desse polêmico movimento que se está desencadeando<br />
Por Érika Ratkevícius<br />
e se espalhando nas escolas, interferindo diretamente na prática do<br />
educador, com muitas chances de prosperar enquanto estímulo e<br />
incentivo <strong>para</strong> todos.<br />
O trabalho com sucatas propicia um desenvolvimento gradativo<br />
de um conceito artístico construído pela própria criança, estimulada<br />
pela nova maneira de descobrir uma mesma idéia. As sucatas serão,<br />
a partir de agora, sempre bem vindas, desde que abordem a faixa<br />
etária adequada e sejam apresentadas de forma consistente, com<br />
variedade de materiais, técnicas e uma boa dose de entusiasmo.<br />
Elas não podem tornar-se apenas objetos ornamentais; devem,<br />
sim, possibilitar percepções e sensações estéticas, sonoras, visuais,<br />
plásticas, gestuais, sentimentais e até fantasias da turma.<br />
A sucata é, acima de tudo, de natureza lúdica, assim, responsável<br />
pelo aprimoramento das experiências vividas, favorecendo o<br />
exercício sensório-motor; portanto, cabe ao educador selecioná-las<br />
de acordo com o local, idade e intenção que se pretende atingir.<br />
Para finalizar, pode-se dizer que esse trabalho e suas dimensões<br />
requerem profissionais dispostos a construir e imaginar, bem como<br />
descobrir que o mundo que vivemos tem um motor muito potente<br />
que é acelerado num processo violentamente rápido, e as formas<br />
de expressão com as sucatas, com certeza, farão parte, muito em<br />
breve, da vida dos educadores.<br />
Érika Ratkevícius é Pedagoga, educadora especializada em<br />
Educação Infantil, atuante na rede pública municipal de<br />
ensino, com extensão em educação ambiental e políticas<br />
educacionais (USP); desenvolve oficinas periodicamente. Site:<br />
www.caee.com.br<br />
Direcional Escolas, agosto/06<br />
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Direcional Escolas, agosto/06<br />
46<br />
ESPAÇO INTERDISCIPLINAR<br />
Histórias que<br />
Encantam Crianças<br />
A auto-estima precisa ser sempre polida <strong>para</strong> que a pessoa sinta-se<br />
capaz e consiga pequenas e grandes realizações em sua vida. A virtude é<br />
algo que aprendemos e que quando praticada nos dá uma sensação de<br />
prazer em viver. O amor, a amizade, a tolerância podem gerar paz interior.<br />
A raiva e a inveja são sentimentos humanos, que podem ser entendidos e<br />
trabalhados psicologicamente. Estes são temas abordados nesta edição,<br />
que traz a história de duas formiguinhas, uma feliz com práticas do<br />
bem, e a outra que passa por momentos de tristeza por sentir inveja e<br />
frustração no contato com as outras formigas.<br />
Vamos conhecer a história da Formiguinha Zóz.<br />
Formiguinha Zóz<br />
Era uma vez uma vila onde moravam muitas formiguinhas. Uma<br />
delas era Zóz, muito especial, inteligente e rápida. Sua mãe lhe deu<br />
uma correntinha com um pingente brilhante, e ao entregá-lo disse<br />
que era o símbolo do amor que ela tinha por ele. Toda vez que Zóz<br />
passava por algum tipo de problema, segurava por alguns instantes no<br />
pingente brilhante e sentia a presença de sua mãe, algo que a acalmava<br />
e o encorajava.<br />
Na vila todos gostavam de Zóz devido a bondade e a felicidade que<br />
transmitia. Zóz tinha um primo chamado Nóc, era muito tímido e quando<br />
alguém tentava conversar com ele, não dava atenção. Todos o achavam<br />
estranho por não querer se comunicar e compartilhar suas idéias.<br />
Como Zóz era bem quisto, Nóc sentia muita inveja e raiva, pois<br />
nunca ninguém havia dito a ele que pelo menos o achava agradável.<br />
Nóc sentia-se sozinho e triste, andava sempre com a cabeça baixa e não<br />
conseguia olhar nos olhos de alguém e dizer um belo bom dia, coisa que<br />
Zóz fazia todas as manhãs, quando passeava pelas ruas da vila.<br />
A vila tinha 379 anos, muito bonita, cheia de flores e árvores onde<br />
as formiguinhas buscavam sua alimentação. Todas trabalhavam muito,<br />
eram esforçadas e buscavam estar sempre unidas.<br />
Zóz participava de todas as aulas que eram ministradas pelo<br />
professor Bonji, um senhor que ensinava aos jovens como serem úteis<br />
aos outros. Nóc também participava das aulas, mas não acreditava que<br />
um dia poderia ajudar alguém.<br />
Numa tarde de sol brilhante, as formiguinhas da vila estavam<br />
cansadas do dia de trabalho, porém felizes, pois agora poderiam se reunir<br />
na praça e perto de uma fogueira contar histórias. Também poderiam se<br />
Por Viviane Scarpelo Comin<br />
Ilustração: Eklisleno Ximenes<br />
divertir com as piadas do Formigão, um velho engraçado que sempre se<br />
dispusera a animar a vila.<br />
Nem imaginavam que aquela tarde poderia ser fatal. Lá estavam<br />
elas, 35 formiguinhas amigas reunidas, dançando e cantando felizes,<br />
próximo à fogueira. Nóc não saía de casa quando havia festa na praça.<br />
Porém, ele não sabia que estavam festejando. Saiu e quando chegou<br />
ao centro da praça, levou um susto, pois todos estavam lá. Disse bem<br />
baixinho a si mesmo: “Não acredito! Uma festa na praça e eu estou<br />
aqui. Preciso ir embora.”<br />
Antes de partir ficou curioso e resolveu olhar o que estavam fazendo.<br />
Viu sorrisos, brincadeiras e dança. Nesse momento teve raiva de todos por<br />
não estar participando e por se sentir excluído. Pensou que a alegria delas<br />
deveria acabar rapidinho. Dizia a si mesmo, “já que não posso ser feliz, elas<br />
também não podem”. Enquanto todos dançavam, disfarçadamente se<br />
aproximou da fogueira e pegou um pouco de brasa sem ser percebido.<br />
Nóc pensou que colocando fogo na floresta chamaria a atenção das<br />
formigas, e que assim elas <strong>para</strong>riam de dançar e a festa acabaria. Nóc<br />
não contava com o vento que fez o fogo se alastrar pela floresta, indo<br />
em direção às casas. Em instantes as labaredas começaram a subir. Nóc<br />
abaixou a cabeça despedindo-se de boa parte da natureza de que tanto<br />
as formiguinhas precisavam <strong>para</strong> viver.<br />
Na vila as formiguinhas dançavam e, de repente, Zóz percebeu uma<br />
fumaça forte. Olhou e gritou:<br />
- Fogo, fogo na floresta!<br />
Todas as formiguinhas começaram a gritar. Zóz correu <strong>para</strong> ver o que<br />
estava acontecendo de perto. O fogo já tomava conta de boa parte da<br />
mata e se alastrava em direção a vila, coisa que Nóc não havia previsto<br />
que aconteceria.<br />
Zóz pediu <strong>para</strong> que as formigas lhe ajudassem a pegar baldes de<br />
água <strong>para</strong> apagar o fogo. Enquanto isso, Nóc começou a ficar apavorado,<br />
pois o fogo estava indo em direção à sua casa. Por segundos pensou em<br />
sua vida: concluiu que não tinha amigos, que ninguém gostava dele e<br />
que a única coisa que ainda lhe restava era a sua casinha. Sentou-se<br />
próximo a mesa de jantar, abaixou a cabeça como de costume e ficou<br />
esperando o fogo chegar. Dentro de si já havia tomado a decisão de ficar<br />
na casa, mesmo que ela se incendiasse. Pouco tempo depois, o fogo já<br />
cercava a casa de Nóc.<br />
A formiguinha mais rápida da vila, Zóz, não pensou duas vezes, pulou<br />
por sobre fogo e foi retirar Nóc da casa demonstrando muita coragem<br />
e determinação. Nóc não queria sair de lá de jeito algum. Zóz, tentando<br />
convence-lo, disse que o ajudaria na construção de uma nova casa. O<br />
local ficou cada vez mais quente e o fogo já estava entrando no quarto,<br />
quando Zóz pegou Nóc a força, colocando-o nos ombros e saindo numa<br />
rapidez incrível. Nóc, ao visualizar o lado de fora, se espantou com a<br />
quantidade de formigas espalhadas ao redor da casa tentando apagar o<br />
fogo com alguns baldes de água.<br />
Em meio a todo aquele fogo, Zóz passou a mão no pescoço e não<br />
percebeu sua corrente. Procurou novamente, mas a correntinha havia<br />
se perdido, provavelmente no momento em que foi salvar Nóc. Assim,<br />
desesperado, pulou novamente por sobre o fogo que já havia avançado<br />
mais um pouco, na tentativa de encontrá-la. A fumaça cobria quase<br />
todas as partes da casa - Zóz não agüentou, desmaiando no centro<br />
da sala.<br />
Nóc, do lado de fora, se pôs a chorar, pois não acreditava que havia<br />
criado tão grande problema. A mãe de Zóz chegou e disse:<br />
- Não pode ser, Zóz está lá dentro.<br />
Nóc lembrou-se das aulas do professor Bonji e pensou que era a sua<br />
chance de ajudar alguém. Levantou a cabeça, enxugou as lágrimas que já<br />
salgavam sua boca e disse pela primeira vez em voz alta:<br />
- Vou ajudar.<br />
Bravamente Nóc correu o mais rápido que pôde, de forma que<br />
conseguisse entrar pela porta de trás da casa. Com muito esforço,<br />
rastejando pelo chão como uma forma de se livrar da fumaça, encontrou<br />
Zóz e o puxou <strong>para</strong> fora. Voltou ainda abaixado e, no meio da fumaça,<br />
encontrou a correntinha que brilhava.<br />
Saiu da casa e foi ao encontro de Zóz que já estava sendo<br />
atendido por formiguinhas médicas. Todos deram um viva à bravura<br />
e coragem de Nóc. Naquele momento, sentiu-se extremamente feliz<br />
e chorou de alegria.<br />
Além do agradecimento que recebeu das formigas, percebeu que se<br />
elas estavam do lado de fora de sua casa, tentando apagar o fogo, é<br />
porque de alguma forma ele era importante. Sentiu-se amado e querido<br />
percebendo os amigos que tinha na vila. Passado todo o problema referente<br />
àquela noite, como havia prometido, Zóz o ajudou na construção de<br />
uma nova casa, que ele dizia ter ficado linda, bem melhor que a antiga.<br />
Nóc, além de ganhar um novo lar, ganhou uma nova vida, pois passou a<br />
cumprimentar todos. Conversava, contava “causos” e procurava sempre<br />
estar disponível <strong>para</strong> ajudar e servir, mesmo que fosse apenas abrindo<br />
uma porta ou segurando uma sacola <strong>para</strong> uma formiga mais velha.<br />
Nóc nunca mais havia ficado sozinho e triste, dizia que se sentia útil<br />
e feliz naquele lugar. Percebeu que oferecendo amor também receberia.<br />
A inveja e a raiva se esvaíram mediante tantos sentimentos bons que<br />
agora estavam em seu coração. Nóc e Zóz se tornaram grandes amigos e<br />
viveram na vila felizes <strong>para</strong> sempre.<br />
Fim!<br />
Sugestão de Atividades:<br />
Antigamente as pessoas sentavam-se em círculo <strong>para</strong> contarem histórias e com os<br />
mais diversos títulos, divertiam-se. O contador da história é quem dava emoção e vida<br />
aos personagens. Na escola, o professor pode utilizar-se desta forma, interpretando a<br />
história, garantindo a atenção dos alunos que podem ficar sentados em círculo. No<br />
término, poderá sugerir um teatrinho improvisado, com os personagens “Formiguinha<br />
Zóz e a sua prima Nóc”. Uma encenação rápida, no meio do círculo, com a parte da<br />
história em que Nóc vê a possibilidade de ajudar alguém e salva Zóz. Os demais<br />
alunos serão as formiguinhas que ajudarão apagar o fogo da casa de Nóc. Depois da<br />
encenação de todos, o professor poderá fazer perguntas ao grupo como: o que vocês<br />
acham que a formiguinha sentiu quando ajudou sua prima? O que será que Nóc sentiu<br />
ao ver que todos da vila estavam ajudando apagar o fogo de sua casa? Alguém aqui<br />
já sentiu que não era amado e depois percebeu o contrário? Quem já sentiu inveja, por<br />
que e como resolveu? O que vocês entendem sobre raiva? Como você se sente quando<br />
ajuda um amigo? Outras perguntas que o educador considere adequadas ao tema<br />
podem ser colocadas.<br />
Outra forma <strong>para</strong> trabalhar estas questões com as crianças é solicitar que as<br />
mesmas levem <strong>para</strong> a escola jornais, revistas e gibis e que façam colagens do que<br />
SENTIRAM ao ouvir a história, eliciando nas crianças a percepção de si mesmas e o<br />
auto-conhecimento. Depois, se quiserem poderão comentar sobre seus trabalhos.<br />
Dica:<br />
O professor não precisa preocupar-se com discursos <strong>para</strong> os alunos. Poderá usar<br />
poucas palavras, dando oportunidade <strong>para</strong> as crianças se expressarem, permitindo que<br />
explorem seus próprios pensamentos e sentimentos de forma clara e construtiva.<br />
Viviane Scarpelo Comin. CRP: 06/75424. Psicóloga Clínica,<br />
Hipnoterapeuta e Orientadora Vocacional. Atendimento a<br />
crianças, adolescentes, casais e famílias.<br />
Site: www.delphospsicologia.com.br<br />
E-mail: vivianecomin@portaldelphos.com.br<br />
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Direcional Escolas, agosto/06<br />
48<br />
LANÇAMENTOS<br />
Conheça alguns dos mais recentes lançamentos de literatura infanto-juvenil e<br />
de livros voltados à educação.<br />
Fotos: Divulgação<br />
Para melhorar<br />
a escola<br />
Juana Maria Sancho e Fernando Hernández são professores da<br />
Universidade de Barcelona conhecidos no Brasil devido às inúmeras<br />
participações em congressos e consultorias na formação docente.<br />
O lançamento da Artmed reúne textos da dupla e de outros autores<br />
espanhóis. A obra engloba um conjunto de saberes, ferramentas<br />
e formas de fazer que são subsídios valiosos <strong>para</strong> se repensar<br />
e melhorar o ensino, dando atenção particular ao papel das<br />
Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) na educação e sua<br />
influência na configuração da escola do amanhã.<br />
Livro: Tecnologias <strong>para</strong> Transformar<br />
a Educação<br />
Autor: Juana Maria Sancho e<br />
Fernando Hernández<br />
Editora: Artmed<br />
Preço: R$ 38,00<br />
Páginas: 200<br />
Conceitos de educação em Paulo Freire é um instrumento prático de<br />
acesso aos textos do educador. Não deixa de ser uma homenagem<br />
a Paulo Freire, mas acima de tudo é um manual baseado em<br />
conhecimentos adquiridos por ele. O livro pretende, sobretudo, ser<br />
um provocador de discussões e dar voz às supostas indagações que<br />
surgem quando Freire é lido.<br />
Discutindo<br />
Paulo Freire<br />
Livro: Conceitos de educação em Paulo<br />
Freire<br />
Autor: Maria Lucia Marcondes Carvalho<br />
Vasconcelos e Regina Helena Pires de Brito<br />
Editora: Vozes<br />
Preço: R$ 25,00<br />
Páginas: 198<br />
Orientação<br />
profissional<br />
Livro: Orientação profissional – Uma<br />
experiência psicodramática<br />
Autor: Lucila Camargo<br />
Editora: Ágora<br />
Preço: R$ 28,90<br />
Páginas: 152<br />
Lucila Camargo é jornalista, educadora, psicodramatista e especialista<br />
em orientação profissional. Ela sugere o psicodrama como proposta<br />
<strong>para</strong> a orientação vocacional. Lucila desenvolveu uma metodologia que<br />
valoriza a flexibilidade, a sensibilidade e o autoconhecimento. “Aliado à<br />
disposição do jovem em descobrir-se, o programa favorece o despertar<br />
dos talentos individuais”, afirma. O psicodrama surge como ferramenta<br />
<strong>para</strong> que os jovens percebam suas aptidões e identifiquem os sinais que<br />
os conduzirão a uma carreira profissional satisfatória.<br />
O mundo do tamanho<br />
da imaginação<br />
Livro: A Menina que inventou o<br />
branco-invisível<br />
Autor: José Carlos Aragão<br />
Editora: Paulinas<br />
Preço: R$19,80<br />
Páginas: 40<br />
A menina do livro tinha duas broncas: morar em apartamento<br />
e não ter um bichinho de estimação. A menina que vivia no<br />
mundinho pequeno de um apartamento criou na sua imaginação<br />
um companheiro perfeito. E assim nasceu um elefante branco-<br />
invisível, que ninguém via. A história ensina às crianças e relembra<br />
aos adultos como lidar com as limitações impostas pela vida: se não<br />
dá <strong>para</strong> vencê-las, drible-as com boas idéias, usando a imaginação.<br />
Laço duradouro<br />
Livro: Pais ocupados, filhos distantes<br />
– Investindo no relacionamento<br />
Autor: Gordon Neufeld e Gabor<br />
Mate<br />
Editora: Melhoramentos<br />
Preço: R$ 39,00<br />
Páginas: 400<br />
Gordon Neufeld, psicólogo clínico, e Gabor Mate, médico, ambos<br />
canadenses, definem que a criação dos filhos nada mais é do que<br />
fomentar um bom relacionamento. O foco principal do livro não<br />
é mostrar aos pais o que eles devem fazer <strong>para</strong> seus filhos, mas sim<br />
quem eles devem ser <strong>para</strong> eles. Os autores oferecem um programa <strong>para</strong><br />
a criação de um laço duradouro com os filhos e um auxílio visando<br />
preveni-los <strong>para</strong> que o mundo dos pares (os amigos do colégio, os<br />
colegas do bairro, os ídolos, entre outros), não os seduza.<br />
Poemas musicados<br />
Livro: Amigos do Peito<br />
Autor: Cláudio Thebas<br />
Editora: Formato<br />
Preço: R$29,90<br />
Páginas: 28<br />
Amigos do Peito chega à sua 15ª edição e traz um CD de áudio com os<br />
poemas musicados. Ilustrado por Eva Furnari, o livro de poemas conta a<br />
história de um menino e a sua rotina durante um dia inteiro, desde a hora<br />
que ele se levanta, até suas atividades na escola, brincadeiras, o almoço e<br />
o banho, com muito bom humor e criatividade. A obra recebeu o prêmio<br />
da Fundação Nacional do Livro Infanto-Juvenil (FNLIJ) de Altamente<br />
Recomendável <strong>para</strong> Crianças na categoria poesia em 1996.<br />
Educação<br />
nutricional<br />
Livro: Brincando com os alimentos<br />
Autor: Juliana de Almeida Queiróz<br />
Parra e Julliana Augusto Sanches<br />
Bonato<br />
Editora: Metha<br />
Preço: R$ 59,00<br />
Páginas: 76<br />
Festa popular<br />
Livro: O Congo vem aí!<br />
Autor: Sérgio Capparelli<br />
Editora: Global<br />
Preço: R$25,00<br />
Páginas: 24<br />
O premiado autor Sérgio Capparelli (já ganhou cinco vezes o Prêmio<br />
Jabuti) mostra, neste livro, a tradição da Congada, de origem<br />
africana, que ainda hoje sobrevive principalmente no Sul de Minas,<br />
Nordeste de São Paulo e interior de Goiás. A festa é dedicada a Nossa<br />
Senhora do Rosário e a São Benedito e esperada com ansiedade<br />
pelos moradores. Carlos Eduardo Cinelli e Warley Goulart utilizaram<br />
nas ilustrações desenhos recortados em tecidos das mais variadas<br />
cores e texturas, montagem de cena e fotografia.<br />
Revolução<br />
da educação<br />
Livro: Por uma Escola inteligente<br />
Autor: Cassiano Zeferino de<br />
Carvalho Neto<br />
Editora: IGGE<br />
Preço: R$35,00<br />
Páginas: 128<br />
O autor é defensor de uma pedagogia vivencial, onde o estudante<br />
vivencie situações, construa conhecimentos e crie novas soluções.<br />
Defende também a idéia de que o professor precisa repensar seu<br />
papel e seus métodos de ensino. A escola inteligente proposta<br />
na obra tem conotação de inovação, vivência e autoria, capaz de<br />
provocar a tão esperada revolução da Educação. O livro pode ser<br />
encomendado na Livraria Cortez: vendas@livrariacortez.com.br .<br />
O livro transmite às crianças em idade pré-escolar,<br />
com recursos lúdicos, conhecimentos básicos sobre<br />
alimentação. Através da educação nutricional, as<br />
autoras buscam despertar na criança o prazer de se<br />
alimentar e a consciência de que uma boa alimentação<br />
pode proporcionar benefícios presentes e futuros.<br />
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AGENDA<br />
II WORKSHOP - A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA<br />
EMBASADA NA TEORIA SISTÊMICA<br />
Data: 26 de Agosto de 2006.<br />
Realização: ABPP– Associação Brasileira de Psicopedagogia<br />
Informações: (11) 3085-2716<br />
www.abpp.com.br<br />
psicoped@uol.com.br<br />
VII BIENAL INTERNACIONAL DO LIVRO<br />
DO CEARÁ<br />
Data: 18 a 27/08/2006<br />
Local: Centro de Convenções – Fortaleza – CE<br />
Realização: RPS Feiras<br />
Informações: (11) 3333-7878<br />
www.rpsfeiras.com.br<br />
X CONGRESSO E FEIRA DE EDUCAÇÃO<br />
SABER 2006<br />
Data: 01 a 03 de Setembro de 2006<br />
Local: ITM EXPO – SP. Av Eng Roberto Zuccolo, 555<br />
Realização: SIEEESP<br />
Informações: (11) 5583 5500<br />
www.feirasaber.com.br<br />
comercial@sieeesp.org.br<br />
CONGRESSO CONHECER 2006 ES<br />
Data: 01 a 03 de Setembro de 2006.<br />
Local: SESC Praia Formosa - Aracruz – ES.<br />
Realização: Máxima Eventos<br />
Contato: (27) 3339-5984<br />
www.maxima.art.br<br />
FENALBA 2006 - V FEIRA NACIONAL DO LIVRO DA<br />
BAIXADA SANTISTA<br />
CONECTAINTELIGÊNCIA – CONGRESSO<br />
INTERNACIONAL DE ENSINO E APRENDIZAGEM<br />
SALÃO DA EDUCAÇÃO DA BAIXADA SANTISTA<br />
DATA: 5 a 8 de Outubro de 2006<br />
LOCAL: Mendes Convention Center – Santos – SP.<br />
REALIZAÇÃO: Grupo Promofair<br />
INFORMAÇÕES: www.promofair.com.br<br />
VII CONGRESSO DE PSICOPEDAGOGIA<br />
III CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO DE PSICOPEDAGOGIA<br />
I CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO DE PSICOPEDAGOGIA<br />
X ENCONTRO BRASILEIRO DE PSICOPEDAGOGOS<br />
II EXPO PSICOPED<br />
Data: 12 a 15 de Outubro de 2006.<br />
Local: Universidade São Judas Tadeu – Mooca – SP.<br />
Realização: ABPP – Associação Brasileira de Psicopedagogia<br />
Contato: (11) 3361-3056<br />
www.abpp.com.br<br />
II CONGRESSO DE EDUCAÇÃO INFANTIL -<br />
SEDIN / 2006<br />
Educadores da Infância: Cientistas da Prática rumo à<br />
Profissionalização<br />
DATA: 25 a 27 de Outubro de 2006.<br />
Local: Anhembi - São Paulo<br />
Realização: SEDIN - Sindicato dos Trab. em Estab. de<br />
Educação Infantil<br />
Informações: (11) 3258 3878<br />
www.sedin.com.br<br />
sedin@sedin.com.br<br />
II LITERAMERICA – FEIRA SUL-AMERICANA<br />
DO LIVRO<br />
Data: 16 a 24/09/2006<br />
Local: Centro de Eventos do Pantanal – Cuaiabá – MT<br />
Realização: Governo do Estado do Mato Grosso<br />
Contato: (65) 3613-9211<br />
www.literamericana.com.br<br />
X FEIRA PAN-AMAZÔNICA DO LIVRO<br />
Data: 15 a 24/09/2006<br />
Local: Centro de Convenções Júlio César – Belém – PA<br />
Realização: RPS Feiras<br />
Contato: (11) 3333-7878<br />
www.rpsfeiras.com.br<br />
CURSOS<br />
COMO TRANSFORMAR MATERIAIS ECOLÓGICOS EM MATERIAL<br />
PEDAGÓGICO<br />
Profissional: Laedir Aparecido Antonio<br />
Data: 12/08/2006 das 09 às 15 horas<br />
Público Alvo: Professores de Educação Infantil e Fundamental e demais<br />
interessados<br />
REALIZAÇÃO: CAEE – Centro de Atendimento a Empresas e Escolas<br />
INFORMAÇÕES: (11) 5532-1512 - FAX (11) 5049-3317<br />
www.caee.com.br<br />
caee@caee.com.br<br />
CONFECÇÃO DE INSTRUMENTOS MUSICAIS COM SUCATA E<br />
BANDINHA RÍTMICA<br />
Profissional – Leila Maria Grillo<br />
Data: 19/08/2006 das 09 às 15 horas<br />
Público Alvo: Professores de educação infantil e fundamental I, professores<br />
de educação artística, pedagogos alunos de pedagogia e recreacionistas.<br />
REALIZAÇÃO: CAEE – Centro de Atendimento a Empresas e Escolas<br />
INFORMAÇÕES: (11) 5532-1512 - FAX (11) 5049-3317<br />
www.caee.com.br<br />
caee@caee.com.br<br />
COMO ENSINAR CIÊNCIAS UTILIZANDO SUCATA<br />
Profissional - Hernani Facundo Leite<br />
Data: 26/08/2006 das 09 às 15 horas<br />
Público Alvo: Professores de ensino fundamental I, ensino fundamental II,<br />
coordenadores pedagógicos, orientadores<br />
REALIZAÇÃO: CAEE – Centro de Atendimento a Empresas e Escolas<br />
INFORMAÇÕES: (11) 5532-1512 - FAX (11) 5049-3317<br />
www.caee.com.br<br />
caee@caee.com.br
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