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O CASTELO DA Luz - CloudMe

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A distância segura, com o tendão estourado, Nahor tremia, soluçava e orava ao seu<br />

monarca imortal. Provara o sinistro poder da magia e talvez não regressasse à consciência<br />

integral.<br />

Oh, sublime Nimrod, livre-nos desta, aberração.<br />

—Vamos partir agora! — retomou o experiente Pazuno, saltando para a charrete. —<br />

Logo estaremos na presença do Imortal.<br />

Assim que subiu em seu carro, o capitão puxou o arco, preparou uma flecha e a apontou<br />

ao meio da comitiva. Sob os olhares surpresos dos soldados, Pazuno disparou uma seta, que<br />

voou pelo ar até encontrar o coração de Nahor.<br />

— Isso é o que acontece com todo babilônico que sucumbe à feitiçaria — justificou, e<br />

os lutadores engoliram em seco.<br />

O grupo prosseguiu pela planície, afundado em macabro silêncio. O corpo do estuprador<br />

ficou ali no deserto, para mais tarde servir de alimento aos leões.<br />

Os JARDINS SUSPENSOS E o ZIGURATE DE PRATA<br />

O comboio chegou à capital três dias depois, à hora exata do sol meridiano. Babel era<br />

uma feérica mistura de maravilha e horror. Muitas vezes, em En-Dor, Shamira ouvira descrições<br />

sobre a famosa metrópole, mas os relatos estavam muito aquém da verdade.<br />

Os muros eram de ferro maciço, ligeiramente envergados para fora. No passadiço,<br />

guardas com arcos e lanças observavam o movimento, à atenta supervisão de seus comandantes<br />

nas guaritas blindadas. A capital, enorme para os padrões ancestrais, tinha um portão duplo de<br />

pedra e metal, que não se abria para fora ou para dentro, como as portas comuns, mas se<br />

recolhia para o interior das muralhas, quando puxado por vigorosos mamutes. No passado,<br />

todos tinham acesso a Babel, porque ela era também um centro comercial importante. Depois,<br />

com a ascensão de Nimrod, os babilônicos subjugaram todas as nações parceiras e passaram a<br />

roubar suas riquezas, em vez de comprá-las. Assim, não havia mais a necessidade — nem o<br />

interesse — de receber forasteiros, só escravos.<br />

Na seção externa do muro, cingindo os portões, duas gigantescas estátuas de quarenta<br />

metros retratavam a imagem de um homem com cabeça de touro, um dos símbolos principais do<br />

Estado. Shamira calculou que o "touro" fosse Cush, o pai falecido do atual soberano.<br />

— Parados! — gritou um oficial, do alto do muro, à comitiva que se aproximava. Sua<br />

voz soava muito baixa, dada a altura do passadiço. — Quem são aqueles que se aproximam dos<br />

portões de Babel?<br />

— Sou o capitão Pazuno — anunciou-se o comandante. Era lógico que eram<br />

babilônicos, mas Shamira notou um padrão ritualístico, como se sempre se apresentassem<br />

assim, não importava quantas vezes entrassem ou saíssem. — Trago ao Imortal a nossa cativa, a<br />

Feiticeira de En-Dor.<br />

O militar no cimo das muralhas silenciou, e suas sentinelas assumiram uma expressão<br />

de surpresa.<br />

— Pois então pode entrar, capitão. Nimrod o espera.<br />

Os portões se separaram com um arrastar de correntes, acompanhado do bramir de<br />

elefantes peludos, e o grupo penetrou na capital da Babilônia.<br />

Um cenário inesperado se escondia no interior das muralhas. Em contraste com a<br />

desolação do deserto, a metrópole estava apinhada de gente, uma multidão que se aglomerava<br />

nas ruas. Naquele tempo, Babel tinha cerca de cem mil cidadãos e quatrocentos mil escravos.<br />

Estes infelizes, militares e civis de nações conquistadas, caminhavam pelas avenidas sujos como<br />

mendigos, presos a grilhões que os forçavam ao movimento constante. Seguindo em fila<br />

indiana, trabalhavam sem parar na construção da torre maldita. Não raro, morriam de fome e<br />

insolação, e os corpos continuavam atrelados às gargantilhas de ferro por dias, até que um<br />

soldado decepasse o defunto ou fossem devorados pelos próprios colegas esfomeados.

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