14.04.2013 Views

O CASTELO DA Luz - CloudMe

O CASTELO DA Luz - CloudMe

O CASTELO DA Luz - CloudMe

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

— Eu sou Adnari — começou a menina, ainda um pouco contida. — Lembra-se de mim?<br />

— Eu sou Shamira — apresentou-se, meio confusa. Seria aquela alguma artimanha do<br />

rei? Como a menina podia saber que a necromante viajaria ao astral?<br />

— A Feiticeira de En-Dor. Todo mundo aqui em Babel conhece você ou já ouviu<br />

alguma história a seu respeito. Eu fiquei muito contente quando o grão-servo me escolheu para<br />

servi-la. Eu gosto muito de mágica — disse, com uma linguagem um tanto simplista.<br />

— Notei — retrucou a mulher, em tom amigável. Se a garota estava projetada,<br />

certamente aprendera isso com alguém com um mínimo conhecimento do oculto.<br />

— Não fique preocupada — acrescentou Adnari, como que entendendo o receio da<br />

prisioneira. — Eu não vou contar nada a ninguém. Os buscadores me matariam se soubessem<br />

que às vezes visito o mundo sem cor.<br />

O mundo sem cor — Shamira simpatizou com o nome.<br />

— Buscadores? Quem são os buscadores? — interessou-se a feiticeira. Tinha que<br />

coletar todas as informações que pudesse, e essa era a oportunidade.<br />

— São os conselheiros do Imortal. Eles não gostam dos escravos nem dos forasteiros.<br />

Vivem mandando a gente fazer um monte de coisas erradas.<br />

O semblante de Shamira encrespou-se pela injustiça, porém Adnari a reconfortou:<br />

— Mas não tem problema. Eles nunca me descobrem. Acham que estou dormindo junto<br />

com os outros domésticos.<br />

— E com quem aprendeu a visitar o "mundo sem cor"?<br />

— A minha mãe era uma feiticeira, ou uma bruxa... — a menina se perdeu nas<br />

nomenclaturas. — Ela fazia mágicas.<br />

— E como sabia que me encontraria por aqui? — Shamira fez acompanhar um sorriso,<br />

para não assustar a garota com sua tempestade de dúvidas. A verdade, porém, era que estava<br />

desesperada por uma pista que a tirasse dali.<br />

— É a primeira coisa que fazem os necromantes, não é? Vasculhar a terra dos mortos?<br />

Foi o que disse a minha mãe. E ela me contou também que muitos necromantes são maus.<br />

— Mas nem todos. Nossa arte lida com a natureza da morte, que é uma força muito<br />

poderosa, inescapável. Com tanto poder nas mãos, alguns realmente são corrompidos pela<br />

maldade, que é o caminho mais fácil à ascensão. Mas isso não acontece só com os feiticeiros,<br />

também com os guerreiros e os monarcas. É uma fraqueza dos homens,<br />

— E também das mulheres? — inquiriu a menina, imediatamente. À narração, seus<br />

olhos se arregalaram. Era fascinada pelos assuntos fantásticos, como são todos os infantes.<br />

— Eu quis dizer isso — Shamira sorriu, complacente. Por um instante, gostaria de ser<br />

criança de novo. Insuperável é a alegria da infância, quando tudo é novo e magnífico. Mas, a<br />

despeito da deleitável conversa, era importante saber sobre o zigurate.<br />

— Você já viajou por todo o palácio, Adnarí?<br />

— Por toda a cidade — ela se gabou, em vaidade tipicamente infantil. — Eu ia muito à<br />

câmara do tesouro, mas parei. Não conseguia tocar em nada mesmo...<br />

— E o rei?<br />

— Fica sempre lá em cima, sentado no trono. Nunca sai do pináculo, nem para comer<br />

ou dormir.<br />

Mais superstições — pensou Shamira, incrédula, mas depois ponderou. Teria se<br />

enganado sobre a ignorância mágica de Nimrod? Afinal, quem era ela para desprezar as<br />

superstições? Era uma feiticeira e vivia da matéria inexplicável.<br />

— Como um homem pode não se alimentar nem descansar, e ainda por cima ser<br />

imortal? Ele é um bruxo ou mago?<br />

— Não — replicou a pequena, convicta. —A força da deusa o protege, A deusa que<br />

vive nos subterrâneos deste palácio.<br />

— Deusa? O que é essa deusa? Um espírito, um ídolo, um totem?<br />

— Não sei — admitiu Adnari, desagradada por não ter as respostas. — Eu já<br />

desci às masmorras, flutuando pelo mundo sem cor, trespassando as paredes, e nada encontrei. É<br />

como se ela não tivesse alma, como nós. Mas ela existe! Os escravos que trabalham nos andares<br />

submersos disseram que já a contemplaram.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!