Vamos ubuntar? Um convite para cultivar a paz; Coleção abrindo ...
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<strong>Vamos</strong> Ubuntar?<br />
Mudar o foco da violação da norma <strong>para</strong> colocá-lo nas conseqüências da violação de pessoas e<br />
relacionamentos, na expectativa não mais da punição, mas de um plano de compensação dos danos e<br />
de adequação de comportamentos futuros, é uma virada que reinventa o lugar da vítima e da<br />
comunidade no equacionamento dos conflitos, possibilitando um compartilhamento responsável do<br />
problema e das alternativas <strong>para</strong> sua solução por todo o entorno. Para tanto, a metodologia dos encontros<br />
ou círculos restaurativos abre um espaço <strong>para</strong> que cada qual fale do fato a partir de suas próprias<br />
perspectivas, expressando seus sentimentos e necessidades. O exercício da palavra, como ensina a<br />
psicanálise, é por si só tranqüilizador. Ao contrário, onde falta a palavra, a violência ocupa o seu lugar. Por<br />
isso, na Justiça Restaurativa, cada qual – e não as autoridades a quem a solução foi delegada –, fala<br />
por si, num exercício de autonomia, diálogo e horizontalidade no qual a autoridade emerge do coletivo<br />
sob a forma de valores como respeito, sinceridade, honestidade, compreensão e tolerância.<br />
Ao contrário do modelo tradicional, que, ao se basear na imposição do sofrimento como<br />
estratégia pedagógica <strong>para</strong> a adequação de comportamentos acaba por promover sentimentos e valores<br />
negativos como perseguição, submissão, humilhação, hostilidade, antagonismo, revolta e vingança, as<br />
práticas restaurativas permitem a transformação do conflito numa oportunidade de aprendizagem<br />
vivencial de valores positivos. Ao superar o conflito mediante estratégias que permitem reverter essas<br />
negatividades em seus opostos, os círculos restaurativos também transformam os conflitos em<br />
oportunidades de aprendizado de valores – sobretudo do valor justiça. <strong>Um</strong>a justiça fundada não na<br />
submissão à autoridade da norma, mas no respeito ao valor dos sujeitos em relação. “A justiça como um<br />
direito à palavra”, na expressão do filósofo francês Emmanuel Levinas.<br />
A introdução das práticas restaurativas em Porto Alegre segue um roteiro sistêmico, com início<br />
no Juizado da Infância e da Juventude, onde é aplicada nos atos infracionais (crimes e contravenções<br />
praticados por adolescentes). A partir daí ocorre um processo de difusão e aprendizagem interinstitucional<br />
envolvendo profissionais da Fundação de Atendimento Sócio-Educativo (Fase) – antiga<br />
Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor (Febem) –, da Fundação de Assistência Social e Cidadania<br />
do Município (Fasc) – que mantém o Programa Municipal de Execução de Medidas Socioeducativas em<br />
Meio Aberto (PEMSE), cujo objetivo é atender adolescentes em conflito com a lei cumprindo medidas<br />
de meio aberto – e das Secretarias de Educação do Estado e do Município. Hoje, essas práticas são<br />
adotadas em unidades da Fase, regionais do Pemse, escolas públicas e particulares e ONGs.<br />
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