Idê Gomes Dantas Gurgel - Fiocruz
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<strong>Idê</strong> <strong>Gomes</strong> <strong>Dantas</strong> <strong>Gurgel</strong><br />
Repercussão dos agrotóxicos na saúde<br />
dos Agentes de Saúde Pública em Pernambuco.<br />
Dissertação de Mestrado apresentada à obtenção do grau de Mestre<br />
em Saúde Pública pelo Departamento de Saúde Coletiva –<br />
NESC/CPqAM/FIOCRUZ/MS.<br />
Orientadora: Profª. Dr.ª Lia Giarldo de S.<br />
Recife<br />
Setembro de 1998<br />
Augusto
G 979r <strong>Gurgel</strong>, <strong>Idê</strong> <strong>Gomes</strong> <strong>Dantas</strong>.<br />
Repercussão dos agrotóxicos na saúde dos Agentes de Saúde Pública<br />
em Pernambuco/ <strong>Idê</strong> <strong>Gomes</strong> <strong>Dantas</strong> <strong>Gurgel</strong>. — Recife,1998.<br />
...f.: Li, tab. , gráf.<br />
Dissertação (Mestrado em Saúde Pública). Departamento de Saúde<br />
Coletiva, CPqAM, FIOCRUZ.<br />
Inclue bibliografia e anexos.<br />
1. Saúde Ocupacional 2. Saúde Ambiental 3. Ecologia Humana.<br />
І. Título<br />
331.47 CDU (2. Ed)
Dedico aos meus filhos<br />
Bruno, Vitor e Luiza<br />
que cresceram juntos<br />
com este trabalho.
A:<br />
AGRADECIMENTOS<br />
Dr.ª Lia Giraldo da S. Augusto, pela sua orientação técnico-científica e por saber<br />
compreender os tempos e movimentos existentes na vida de mestranda, mãe,<br />
mulher;<br />
Dr. Eduardo M. Freese de Carvalho, pelas orientações nos momentos iniciais e as<br />
sugestões apontadas no momento da pré – banca desta dissertação;<br />
Wayner Vieira de Souza, pela ajuda no delineamento e sugestões de análises<br />
estatísticas;<br />
Fábio Lessa, pelas orientações no tratamento dos dados, especialmente através<br />
do uso do Epiinfo, de maneira tão prestativa e amiga;<br />
Dr.ª Annick Fontbonne Brayner, pelas contribuições durante a construção deste<br />
trabalho;<br />
Diretoria do SINDSEP – PE (Sindicato dos Servidores Públicos Federais de<br />
Pernambuco), que compreendendo a importância deste trabalho, garantiu<br />
todo o apoio operacional necessário a sua realização;<br />
NESC – PE, por batalhar pela concretização do Mestrado de Saúde Pública em<br />
Pernambuco, permitindo o acesso mais fácil a este nível de formação para os<br />
pernambucanos e demais nordestinos oriundos de estados vizinhos;<br />
Coordenação Regional da Fundação Nacional de Saúde em Pernambuco, pelo<br />
apoio;<br />
Todo o corpo de funcionários do NESC – PE pelo apoio e paciência, contribuindo<br />
para a realização deste trabalho;
Mégine Carla C. da Silva, pelas orientações técnico-metodológica quanto às<br />
referências bibliográficas<br />
Erlândia, pelo apoio com o trabalho de digitação dos dados no Epiinfo;<br />
Kátia Rejane Medeiros, amiga e companheira em todos os momentos alegres e<br />
difíceis;<br />
Todos os colegas da primeira turma do Mestrado de Saúde Pública do NESC-PE,<br />
pelo companherismo;<br />
Garibaldi <strong>Dantas</strong> <strong>Gurgel</strong> Junior, companheiro de todas as jornadas e grande<br />
incentivador para a concretização deste trabalho;<br />
Todos os Agentes de Saúde Pública da FNS, sujeitos dessa pesquisa, que<br />
participando direta ou indiretamente, contribuíram para a sua construção;<br />
Obrigado!<br />
Sem a colaboração de todos não teria sido possível a realização deste trabalho.
RESUMO<br />
A utilização dos inseticidas é um problema socioambiental historicamente<br />
condicionado ao modelo de desenvolvimento dos países. Desconsiderando a<br />
complexidade desta questão, a intervenção no controle de endemias transmissíveis<br />
por vetores apresenta estas substâncias como principal instrumento de ação. Por não<br />
terem seletividade, os inseticidas atingem os vetores e o ambiente em toda sua<br />
biodiversidade, incluindo o homem. Um indicador dos efeitos nocivos à saúde dos<br />
trabalhadores são as intoxicações percebidas através dos dados epidemiológicos,<br />
efeitos toxicológicos e clínicos. O objetivo geral deste estudo é identificar a relação<br />
entre o modelo de intervenção no controle das endemias transmitidas por vetores,<br />
desenvolvido pela FNS, e suas repercussões sobre a saúde dos Agentes de Saúde<br />
Pública (ASP) em Pernambuco. Outros objetivos são caracterizar os impactos do<br />
modelo de intervenção no controle de endemias transmitidas por vetores sobre a<br />
saúde, pela morbidade, e identificar qual a percepção que os trabalhadores têm<br />
acerca do modelo de intervenção adotado pela FNS. Para obtenção dos dados<br />
adotou-se três estratégias distintas: análise documental, observação participante,<br />
questionário semiestruturado auto-aplicado, com testes para identificação de<br />
Distúrbios Psiquiátricos Menores (SRQ-20) e de suspeitos de alcoolismo (CAGE).<br />
Entre os resultados e conclusões mais significantes podemos citar a ausência de<br />
uma política de capacitação para o exercício das atividades dos ASP; a falta de<br />
espaços participativos no sentido de reconhecimento do saber destes trabalhadores,<br />
que referem com relativa precisão danos à sua saúde, ao ecossistema e à saúde das<br />
populações humanas alvos das campanhas-programas que utilizam biocidas para o<br />
controle de vetores; que os agravos à saúde dos ASP são compatíveis com o<br />
esperado em grupos expostos a praguicidas e estão ligados intrinsecamente ao<br />
modelo químico-dependente de controle de vetores; as medidas de prevenção<br />
devem priorizar, portanto, os aspectos coletivos que incluem os processos de<br />
trabalho, a partir da crítica a esse modelo.
ABSTRACT<br />
The use of insecticides is a social and environmental problem which is historically<br />
dependent on the countries’ developing model. Without considering the<br />
complexity of the question, intervention for the control of vector-transmitted<br />
endemics presents these substances as the principal instrument of action. As they<br />
do not have selectivity, insecticides reach vectors and the environment in all its<br />
biodiversity, including man. One indicator of deleterious effects for workers’ health<br />
are the intoxications, evidenced through epidemiological data, toxic and clinical<br />
effects. The main objective of this study is to identify the relation between the<br />
intervention model for control of vector-transmitted endemics that was developed<br />
by the FNS and its consequences on the health of Public Health Agents (ASP) in<br />
the State of Pernambuco. Other objectives are to characterize the impact of this<br />
intervention model on health through morbidity study and to identify what<br />
perception the workers have of the intervention model that was adopted by the<br />
FNS. To obtain the data three distinct strategies were adopted: analysis of<br />
documents, participative observation, self-applied semi-structured questionnaire,<br />
with tests for identification of Minor Psychiatric Disturbances suspects (SRQ-20)<br />
and of Alcoholism suspects (CAGE). Among the most significant results and<br />
conclusions we can mention the absence of a capacitation policy for practising the<br />
ASP’s activities; the lack of participative space in the sense of recognizing these<br />
workers’ knowledge, who report with relative precision damages to their own<br />
health, to the ecosystem and to the health of human populations concerned by the<br />
campaigns/programs which use biocides to control vectors; that the ASP’s health<br />
problems are compatible with what is expected in groups exposed to pesticides<br />
and are intrinsically related to the chemical-dependent model of vector control;<br />
hence, preventive measures should give priority to collective aspects that would<br />
include work processes, based on the critical examination of this model.
SUMÁRIO<br />
RESUMO...............................................................................................................iv<br />
ABSTRACT.............................................................................................................v<br />
APRESENTAÃO ...............................................................................................vi<br />
1. INTRODUÃO ...........................................................................................17<br />
1.1. Histórico da Demanda...............................................................................17<br />
1.2. As Políticas de Controle de Endemias no Contexto da Construção do<br />
do Sistema de Saúde no Brasil.................................................................23<br />
1.2.1. O Controle de Endemias no Conjunto das Ações Coletivas de<br />
Saúde................................................................................................26<br />
1.2.2. A Fundação Nacional de Saúde no Rastro do SUS..........................34<br />
1.3. A Questão Ambiental.................................................................................41<br />
1.4. Ambiente e Desenvolvimento....................................................................45<br />
1.5. Homem, Natureza e Trabalho: Elementos do Ciclo da Vida......................51<br />
1.6. Trabalho e Saúde: Em Busca do Equilíbrio...............................................57<br />
1.7. A Exposição aos Inseticidas para o Controle de Vetores: Riscos<br />
e Danos....................................................................................................64<br />
1.7.1. Repercussões Sobre o Ambiente......................................................70<br />
1.7.2. Repercussões Sobre a Saúde dos Trabalhadores............................71<br />
2. OBJETIVOS ...............................................................................................80<br />
3. MÉTODO E CASUÍSTICA .......................................................................82<br />
3.1. Análise dos Resultados.............................................................................90
4. RESULTADOS ..............................................................................................91<br />
4.1. Caracterização Individual..........................................................................92<br />
4.2. Caracterização dos Agentes de Saúde Pública Conforme a Inserção<br />
no Processo de Trabalho na FNS/CR-PE.................................................94<br />
4.3. Condições de Saúde dos Agentes de Saúde Pública da FNS/CR-PE....108<br />
4.4. A Percepção dos Trabalhadores.............................................................118<br />
4.5. Normas de Segurança e Saúde..............................................................120<br />
5. DISCUSSÃO ...............................................................................................121<br />
6. CONCLUSÕES ...........................................................................................137<br />
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................142<br />
8. ANEXOS .....................................................................................................153
ÍNDICE DE TABELAS, QUADROS E FIGURAS<br />
TABELA 1: Distribuição da população estudada por Distrito Sanitário<br />
e Percentual de questionários respondidos.......................................85<br />
TABELA 2 - Distribuição dos Agentes de Saúde Pública Pela<br />
Procedência, Idade, Escolaridade e Estado Civil.............................93<br />
TABELA 3: Distribuição dos Agentes de Saúde Pública da FNS/CR-PE<br />
por faixa Etária e Nível de Escolaridade...........................................154<br />
TABELA 4: Atividades dos agentes de Saúde Pública da FNS-CR/PR<br />
segundo os Programas de Controle de Endemias no ano<br />
de 1997...............................................................................................98<br />
TABELA 5: Distribuição dos Agentes de Saúde Pública da FNS-CR/PE<br />
Pelo tempo de serviço na empresa, em 1997.....................................99<br />
TABELA 6: Distribuição dos Agentes de Saúde Pública da FNS-CR/PE<br />
segundo tempo de serviço na empresa e manipulação<br />
de inseticidas no passado e atualmente, em 1997.............................99<br />
TABELA 7:Relação dos agrotóxicos segundo o grupo toxicológico e<br />
período em que foram manipulados durante as atividades<br />
(no passado e atualmente) pelos Agentes de Saúde Pública<br />
da FNS-CR/PE, em 1997..................................................................100<br />
TABELA 8: Relação de equipamentos utilizados para aplicação dos<br />
agrotóxicos conforme o tipo de aplicação (UBV;<br />
UBV portátil; manual), em 1997.......................................................102
TABELA 9: Distribuição dos Agentes de Saúde Pública da FNS-CR/PE<br />
segundo identificação de quem faz a limpeza e manutenção,<br />
em 1997............................................................................................103<br />
TABELA 10: Distribuição dos Agentes de Saúde Pública da FNS-CR/PE<br />
segundo variáveis de avaliação da satisfação no trabalho,<br />
em 1997............................................................................................106<br />
TABELA 11: Distribuição dos trabalhadores pelos treinamentos<br />
recebidos, em 1997.....................................................................107<br />
TABELA 12: Distribuição dos trabalhadores segundo o espaço de<br />
Tempo decorrido entre a aplicação do inseticida e o<br />
aparecimento de sintomas, em 1997..............................................108<br />
TABELA 13: Distribuição dos Agentes de Saúde Pública pelo número<br />
e percentual de transtornos referidos em sistemas e<br />
aparelhos, em 1997.......................................................................111<br />
TABELA 14: Distribuição dos trabalhadores por morbidade e tempo<br />
de serviço, em 1997.......................................................................155<br />
TABELA 15: Distribuição dos Agentes de Saúde Pública pela morbidade<br />
referida e faixa etária, 1997...........................................................156<br />
TABELA 16: Distribuição dos Agentes de Saúde Pública pela morbidade<br />
referida e vencimentos, 1997........................................................157<br />
TABELA 17: Distribuição dos Agentes de Saúde Pública da FNS-CR/PE<br />
pelo tempo de serviço e suspeita de apresentar distúrbios<br />
psiquiátricos menores, em 1997...................................................112
TABELA 18: Distribuição dos Agentes de Saúde Pública da FNS-CR/PE<br />
pela idade e suspeita de apresentar distúrbios psiquiátricos<br />
menores, em 1997........................................................................112<br />
TABELA 19: Distribuição dos trabalhadores pela faixa salarial e suspeita<br />
de apresentar distúrbios psiquiátricos menores, em 1997............113<br />
TABELA 20: Distribuição dos trabalhadores pela ingestão de bebida<br />
alcoólica e suspeita de apresentar alcoolismo, em 1997............114<br />
TABELA 21: Distribuição dos Agentes de Saúde Pública da FNS-CR/PE<br />
pelo tempo de serviço e suspeita de apresentar alcoolismo,<br />
1997..............................................................................................115<br />
TABELA 22: Distribuição dos Agentes de Saúde Pública da FNS-CR/PE<br />
pela idade e suspeita de apresentar alcoolismo, em 1997..........115<br />
TABELA 23: Distribuição dos Agentes de Saúde Pública da FNS-CR/PE<br />
pela faixa salarial e suspeita de apresentar alcoolismo, 1997.....116<br />
TABELA 24: Distribuição dos trabalhadores pelo hábito de fumar, 1997...........117<br />
QUADRO 1 : Base de cálculo para aquisição de EPI’s relacionados com<br />
o tipo de tratamento por anos.......................................................158<br />
QUADRO 1 (Continuação): Base de cálculo para aquisição de EPI’s<br />
relacionados com o tipo de tratamento por anos.........................159<br />
QUADRO 2: Classificação toxicológica dos agrotóxicos segundo a DL50.........68<br />
QUADRO 3: Classe toxicológica e cor da faixa no rótulo de produto<br />
agrotóxico.......................................................................................68
FIGURA 1 – Organograma da Fundação Nacional de Saúde...............................35<br />
FIGURA 2 – Organograma da Coordenação Regional de Pernambuco................36<br />
FIGURA 3 – Estrutura hierárquica dos Agentes de Saúde Pública........................94
Apresentação
APRESENTAÃO<br />
Para uma abordagem ampla quanto a utilização de inseticidas e suas<br />
repercussões no homem e no ambiente é necessário além de uma análise<br />
médico-sanitária, envolver as questões agrícola, ecológica, econômica e política<br />
porque este é um problema social que está condicionado ao modo como se<br />
configura o desenvolvimento dos países, que determina as relações sociais e de<br />
produção, o papel do Estado, o arsenal tecnológico disponível, o grau de<br />
industrialização, a distribuição espacial da população, a cultura, questões estas<br />
que têm repercussões diretas sobre o ambiente e sobre o processo saúde-doença<br />
da população, incluindo as endemias transmitidas por vetores.<br />
No entanto, a intervenção no processo saúde-doença dessas enfermidades<br />
não compreendendo a sua complexidade, mantém um perfil simplista que,<br />
historicamente, tem se pautado nas necessidades econômicas do mercado,<br />
buscando sua erradicação através da extinção dos agentes patogênicos ou seus<br />
vetores, desconsiderando as determinações sociais, políticas, econômicas,<br />
culturais. Com este fim, tem como seu principal instrumento de ação o uso de<br />
agrotóxicos. Estas substâncias químicas são biocidas pois não são seletivas,<br />
produzindo toxidade não apenas aos vetores, mas também ao ambiente e toda a<br />
sua biodiversidade, incluindo o homem.<br />
Todavia, este modelo é aceito e proposto pelos organismos nacionais e<br />
internacionais do setor saúde como viável, com “eficiência e eficácia<br />
comprovadas”, sendo recomendado o seu uso principalmente através de<br />
campanhas de saúde pública (Brasil/Ministério da Saúde, 1982;<br />
FNS/DEOPE/CCDTV, 1995) muitas vezes pontuais e sem continuidade.<br />
No Brasil, as atividades de controle de endemias têm estado submetidas<br />
às reformas administrativas dos diferentes governos. Do início da década de vinte<br />
xii
até a década de noventa encontra-se registro de várias mudanças político-<br />
administrativas nas instituições responsáveis por tais atividades.<br />
O Departamento Nacional de Saúde Pública, criado em 1923 com a<br />
Reforma Carlos Chagas, respondeu pelo combate às endemias rurais até 1930,<br />
quando organizou-se o Departamento Nacional de Saúde, que institucionalizou as<br />
campanhas de saúde, e os Serviços de Febre Amarela e Malária criados na<br />
década de 30. Em seguida o Departamento Nacional de Endemias Rurais<br />
(DNERu) criado em 1956 passou a coordenar a política de intervenção sobre<br />
endemias, excetuando a malária, tuberculose e hanseníase, que mantiveram-se<br />
enquanto campanhas isoladas, até a centralização destas ações sob a<br />
coordenação da Superintendência de Campanhas de Saúde Pública (SUCAM),<br />
criada em 1970. Todas, organizações burocráticas, com pouca ou nenhuma<br />
flexibilidade, com centralização político-administrativa, onde predominava o<br />
distanciamento entre os que planejavam e os que executavam as tarefas.<br />
Embora a Fundação Nacional de Saúde (FNS), que hoje coordena as<br />
ações de controle de endemias, tenha sido constituída num período de maior<br />
democratização no País e aponte, em diferentes documentos institucionais, para<br />
novos mecanismos de gestão mais flexíveis, democráticos, na perspectiva da<br />
descentralização, ainda mantém a estrutura anterior fundamentalmente de perfil<br />
campanhista, com as ações centralmente planejadas e sem a participação ativa<br />
de seus servidores.<br />
Os Agentes de Saúde Pública, importantes no processo de combate aos<br />
vetores, limitam-se a reproduzir em suas atividades o modelo imposto, sem<br />
espaço para troca de informação e sem o conhecimento adequado acerca dos<br />
produtos manipulados ou das técnicas utilizadas.<br />
Como conseqüências tem-se que, por um lado o modelo de intervenção no<br />
processo saúde-doença das endemias transmitidas por vetores não tem<br />
conseguido o retorno esperado e desejado, o que pode ser constatado através da<br />
persistência, reemergência ou risco de reurbanização de enfermidades tidas<br />
como controladas ou erradicadas no país, como a doença de chagas, o dengue e<br />
a febre amarela.<br />
xiii
Isto pode estar relacionado aos seguintes aspectos do modelo de controle:<br />
(a) o uso dos inseticidas ser uma medida isolada; (b) a resistência dos vetores,<br />
em particular os insetos, decorrente do uso desses agentes químicos; e (c) a não<br />
introdução de tecnologias integradas no processo de intervenção destas doenças.<br />
De outro lado, o uso desses biocidas ao longo dos anos vem produzindo<br />
efeitos danosos sobre o ambiente e toda a sua biodiversidade, que se refletem na<br />
saúde dos trabalhadores através das intoxicações que são distinguidas em<br />
agudas e crônicas, conforme o tempo de exposição e a concentração da<br />
substância, bem como, a natureza do produto, o tipo de exposição e a<br />
susceptibilidade individual, e são percebidas através dos efeitos clínicos e<br />
toxicológicos.<br />
De um modo geral, os trabalhadores da FNS estão submetidos aos riscos<br />
e cargas presentes em cada atividade de trabalho onde estão inseridos devido ao<br />
processo e organização do trabalho existente na instituição. Os Agentes de<br />
Saúde Pública/Guardas de Endemias como exercem atividades específicas de<br />
combate aos vetores nas quais mantêm contato freqüente com os inseticidas,<br />
estão mais expostos ao risco de intoxicações por estas substâncias químicas.<br />
A partir da identificação de trabalhadores com provável intoxicação<br />
crônica por inseticidas (principalmente DDT e Malathion), no Distrito de Conceição<br />
do Araguaia na Coordenação Regional da FNS do Pará, o movimento de<br />
servidores públicos federais iniciou um processo de discussão e mobilização de<br />
caráter nacional, coordenado pela CONDSEF (Confederação Democrática dos<br />
Trabalhadores do Serviço Público Federal), levando assim a um despertar em<br />
torno das questões referentes às relações entre trabalho-saúde-doença.<br />
Um importante legado desse processo inicial desencadeado no Pará, tem<br />
sido o envolvimento destas entidades de classe, representadas pelos Sindicatos<br />
de Servidores Públicos Federais nos diferentes estados do País e pela<br />
CONDSEF, que tem trabalhado junto a categoria no sentido da tomada de<br />
consciência para a importância da saúde do trabalhador bem como, procurando a<br />
acessoria de técnicos capacitados para, conjuntamente, estabelecerem um<br />
diagnóstico da atual situação de saúde destes à nível nacional.<br />
xiv
O sindicato da categoria em Pernambuco (SINDSEP - Sindicato dos<br />
Trabalhadores do Serviço Público Federal de Pernambuco) por já ter<br />
conhecimento dos casos de intoxicações nos trabalhadores do Pará e, sentindo a<br />
necessidade de avaliar as condições de trabalho e saúde deste grupo de<br />
trabalhadores na FNS/CR/PE, aceitou o desafio de apoiar este trabalho, não<br />
somente garantindo os recursos materiais e de infra-estrutura, mas<br />
principalmente, participando ativamente do processo, seja através da realização<br />
de alguns fóruns de discussão onde esta questão foi abordada, seja pela<br />
mobilização dos trabalhadores para que participassem da pesquisa.<br />
A partir deste momento inicial, no qual foram mantidos os primeiros<br />
contatos com a realidades destes trabalhadores, uma questão tornou-se mais<br />
evidente, por ser sua principal preocupação. Estes, percebendo que a sua vida<br />
laboral quase que por inteiro esteve relacionada a manipulação com inseticidas,<br />
passou a interrogar sobre os possíveis danos à saúde decorrentes da exposição a<br />
estes produtos.<br />
Foi neste contexto que surgiram, então, as perguntas condutoras deste<br />
trabalho de investigação: quais as relações existentes entre o modelo de<br />
intervenção adotado pela Fundação Nacional de Saúde - FNS visando o controle<br />
das endemias transmitidas por vetores e a saúde dos Agentes de Saúde<br />
Pública/Guardas de Endemias lotados na Coordenação Regional de<br />
Pernambuco? Em que medida o uso de inseticidas para o combate aos vetores<br />
provoca danos à saúde neste grupo de trabalhadores?<br />
Este estudo tem como objetivos extrínsecos:<br />
1) Proporcionar informações para a reflexão acerca dos modelos até<br />
então utilizados no controle de doenças endêmicas, que, em tese não<br />
têm conseguido os retornos desejados, ao evidenciar-se a persistência<br />
de doenças como a malária, a reemergência de algumas como a<br />
dengue e o risco de reurbanização de outras como a febre amarela;<br />
2) Discutir as visões alternativas sobre esse processo de “vigilância à<br />
saúde”, no qual estão envolvidos processos de trabalho, decisões<br />
xv
políticas, conhecimentos científicos e tecnológicos e espaços políticos<br />
de participação e controle social;<br />
3) Constituir-se como um instrumento de conscientização para os<br />
próprios trabalhadores e para a sociedade em geral, na medida em que<br />
o comprometimento da saúde destes trabalhadores, se coloca como<br />
um elemento indicador da insustentabilidade do modelo atual de<br />
controle de endemias;<br />
4) Contribuir para o enriquecimento da discussão em torno da luta pela<br />
vida e saúde dos trabalhadores, com o uso de novas tecnologias<br />
adequadas a um desenvolvimento sustentável, eqüitativo e duradouro.<br />
xvi
1.Introdução
1. INTRODUÃO<br />
1.1. Histórico da Demanda<br />
O uso de substâncias químicas biocidas nos programas de erradicação<br />
de vetores transmissores de doenças é uma atividade consensual entre os<br />
organismos responsáveis pela saúde a nível internacional e rotineira nos países,<br />
principalmente aqueles do chamado Terceiro Mundo. O que não é consensual é o<br />
potencial danoso destes produtos à saúde e ao ambiente. Não é rotina, também,<br />
a avaliação e controle da saúde dos trabalhadores e da população exposta a este<br />
risco, nem tão pouco do ambiente.<br />
O Brasil tem aplicado este modelo historicamente, no entanto, não<br />
mantem um sistema de vigilância da saúde dos trabalhadores que manipulam<br />
estes agrotóxicos e, portanto, estão expostos aos riscos de intoxicação química:<br />
os Agentes de Saúde Pública/ Guardas de Endemias.<br />
Os casos de intoxicações agudas, com maior visibilidade clínica, não<br />
foram adequadamente avaliados, tratados e registrados e para as intoxicações<br />
crônicas, decorrentes de exposições prolongadas aos praguicidas, se quer foram<br />
18
percebidas que, em geral, são confundidas com outras patologias de etiologias<br />
adversas.<br />
Foi o que aconteceu com o primeiro trabalhador identificado e<br />
reconhecido pela FNS, como portador de intoxicação crônica por inseticidas<br />
organoclorados e organofosforados, vinculado ao Distrito de Conceição do<br />
Araguaia, Pará : este trabalhador relata que no início do ano de 1996, durante as<br />
suas atividades rotineiras de trabalho, começou a sentir fortes dores abdominais,<br />
acompanhadas de mal-estar geral, tonturas e fraqueza. Procurando serviço<br />
médico de urgência, em Conceição do Araguaia, foi diagnosticado como se<br />
tratando de apendicite aguda e que precisaria de ser submetido à cirurgia.<br />
Procurando a opinião de outros médicos, em Brasília, antes da realização daquele<br />
procedimento cirúrgico, foi então levantada a hipótese de intoxicação por produtos<br />
químicos e solicitados exames toxicológicos que esclarecessem o diagnóstico.<br />
Tais exames foram realizados no Centro de Atendimento Toxicológico Dr. Brasil,<br />
nesta capital, quando foi confirmado o quadro de intoxicação 1 .<br />
Mesmo tomando conhecimento deste caso índice, a FNS não procedeu a<br />
avaliação dos demais servidores. Diante desta omissão os trabalhadores<br />
denunciaram a situação existente em Conceição do Araguaia 2 durante o III<br />
Congresso do SINTSEP-PA (Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público<br />
Federal no Estado do Pará), realizado no Pará em 1996.<br />
A partir deste momento, o sindicato optou por denunciar o fato à<br />
sociedade através da imprensa local, bem como, comunicar à CONDSEF<br />
(Confederação Democrática dos Trabalhadores no Serviço Público Federal) e às<br />
demais associações da categoria no país.<br />
O serviço médico da FNS (CR-PA) iniciou então, avaliação das condições<br />
de saúde dos servidores lotados neste distrito, realizando exames toxicológicos<br />
em Brasília, haja visto, na época, não haver condições laboratoriais para este fim<br />
no estado do Pará.<br />
Em outubro do mesmo ano, a CONDSEF oficializou denúncia junto a<br />
Promotoria de Justiça em Acidentes de Trabalho no estado do Pará e resolveu<br />
1 Relato verbal deste trabalhador a autora deste trabalho, durante visita a Belém para participar de<br />
reunião com entidades sobre este tema.<br />
19
procurar assessoria técnica no assunto. Manteve contato com a autora deste<br />
trabalho no sentido da mesma participar de uma reunião ampliada sobre o<br />
problema dos trabalhadores intoxicados da FNS, sediada em Belém.<br />
Este evento contou com a participação de representantes da Central<br />
Única dos Trabalhadores do Pará (CUT- Pará), CONDSEF, FUNDACENTRO-PA,<br />
SINTSEP-PA (incluindo representantes de trabalhadores intoxicados), sindicatos<br />
da categoria em outros estados (Rondônia, Minas Gerais, Roraima, Pernambuco,<br />
Rio de Janeiro, Ceará, Piauí), além do Sindicato dos Médicos do Pará, Sindicato<br />
da Saúde do Estado do Pará e técnicos da Santa Casa do Pará.<br />
Os relatos dos trabalhadores paraenses intoxicados comoveram o público<br />
presente pela expressão de seus sofrimentos, porém o que mais chamou a<br />
atenção foram os relatos dos representante de outros estados, onde o cenário<br />
apresentado se repetia.<br />
Em outra reunião promovida no mesmo mês pelo SINTSEP-PA, também<br />
com a participação desta autora, o médico presidente da junta médica local<br />
informou que 110 trabalhadores submeteram-se a exames para detecção de<br />
pesticidas por análise de acetilcolinesterase sérica realizada com os métodos<br />
mais modernos. Segundo ele, não detectou-se nenhum caso de alteração na<br />
acetilcolinesterase, indicando, assim, ausência de intoxicação pelos praguicidas<br />
organofosforados. Para os organoclorados, foram realizadas análises sangüíneas<br />
por cromatografia gasosa e, 41% indicavam intoxicações leves, 28%<br />
intoxicações moderadas, 2% intoxicações altas e 29% foram negativas. 3<br />
Novos exames foram realizados no mesmo laboratório e alguns deles<br />
mostraram resultados de acetilcolinesterase inferiores aos valores esperados,<br />
assim como, presença de piretróides. 4<br />
O sindicato exigiu a realização de exames periódicos em todos os<br />
trabalhadores, mas a resposta da instituição foi permitir apenas análises<br />
laboratoriais toxicológicas de 100 exames por mês nos agentes de saúde pública<br />
do Pará.<br />
2 Informações colhidas dos relatórios de reuniões do SINTSEP-PA e CONDSEF.<br />
3 Informações prestadas verbalmente pelo médico Paulo Roberto Rodrigues Mello.<br />
4 Foram entregues cópias de exames de alguns trabalhadores que mostravam redução da<br />
atividade da acetilcolinesterase plasmática, além da detecção de organoclorados e piretróides.<br />
20
Toda esta mobilização levou a uma importante deliberação: ampliar a<br />
discussão para todos os trabalhadores, principalmente os agentes de saúde<br />
pública nos diversos estados, buscando envolver a categoria para organizarem-se<br />
em torno da luta pela saúde do trabalhador.<br />
Procurou-se a justiça local para denunciar processualmente a instituição,<br />
culpando-a pelos danos à saúde daqueles trabalhadores e a Secretaria de Estado<br />
da Saúde do Pará na perspectiva da organização de um serviço de saúde do<br />
trabalhador.<br />
O Ministério da Saúde para demonstrar seu interesse, encaminhou uma<br />
toxicologista a Conceição Araguaia no período de 18-22 de novembro de 1996.<br />
Em seu “Relatório de viagem” a mesma colocou que os servidores “ao verificarem<br />
resultados positivos, preocupados e sem orientação, procuram informações sobre<br />
patologias decorrentes de intoxicações por organoclorados e organofosforados.<br />
(...) Todos passam a relatar o mesmo quadro...” 5 e sugeriu a constituição de uma<br />
equipe multiprofissional para apoio aos servidores daquele distrito.<br />
Esta equipe composta por médico, assistente social, engenheiro<br />
agrônomo, psicóloga e técnico de laboratório, dirigiu-se ao Distrito de Conceição<br />
do Araguaia onde foram realizados exames clínicos, reuniões de grupos e<br />
colhidas amostras para realização de exames laboratoriais que seriam realizados<br />
pelo Instituto Adolfo Lutz em São Paulo. No entanto, alegando problemas<br />
técnicos, na época não foi possível realizá-los 6 .<br />
Muitos trabalhadores foram obrigados a retornarem a suas atividades<br />
anteriores, após a remissão temporária do quadro e outros continuaram em<br />
processo de afastamento.<br />
As medidas tomadas, então, pela coordenação da FNS no Pará frente ao<br />
quadro exposto foram: 7<br />
• Substituição do DDT por Etofenprox (Vectron) no combate ao vetor<br />
transmissor da malária;<br />
5<br />
Relatório de viagem da Dr.ª Elia Tie Kotaka, chefe do serviço de avaliação toxicológica/SVS/MS,<br />
datado de 28 de novembro de 1996<br />
6<br />
Informações prestadas pela direção do SINTSEP-PA.<br />
7<br />
Ofício CR/PA n.º 3949, de 21 de outubro de 1996.<br />
21
• Aumento do número de exames toxicológicos para os ASP;<br />
• Incrementar o acompanhamento médico e toxicológico, principalmente<br />
dos trabalhadores comprovadamente intoxicados;<br />
• Criar parceria entre a FNS, Secretaria de Saúde do Estado do Pará e<br />
Instituto Evandro Chagas, para realizar exames complementares e<br />
toxicológicos nos servidores que entram em contato com inseticidas.<br />
Neste contexto, o Sindicato dos Servidores Públicos Federais no Estado<br />
de Pernambuco (SINDSEP-PE), buscando encaminhar as propostas deliberadas<br />
no fórum em Belém, bem como, preocupados em avaliar as condições de vida e<br />
saúde dos Agentes de Saúde Pública/Guardas de Endemias neste estado,<br />
aceitou a proposta de apoiar o desenvolvimento desta pesquisa que servirá como<br />
instrumento para o esclarecimento dos servidores, da instituição e da população<br />
como um todo.<br />
Como resultado inicial deste movimento, pode-se relatar a realização do<br />
1.º Encontro Nacional dos Trabalhadores da Saúde-Base CONDSEF, no período<br />
de 5-7 de dezembro de 1997, no qual foi fundado o Departamento Nacional de<br />
Saúde da CONDSEF e reafirmou as deliberações do fórum realizado em Belém.<br />
Além deste, o SINDSEP-PE tem realizado reuniões e seminários com o<br />
intuito de envolver os trabalhadores e aprofundar a discussão em torno da saúde<br />
do trabalho.<br />
É importante relatar que a partir deste processo deflagrado no estado do<br />
Pará, a instituição tomou iniciativas para a questão e acatou solicitação dos<br />
trabalhadores no sentido de organizar comissões de saúde nos locais de trabalho.<br />
Neste sentido, foi constituída a Comissão de Saúde Ocupacional da FNS, com<br />
sede em Brasília, e vem estimulando a organização de subcomissões nas demais<br />
coordenações dos estados.<br />
Em Pernambuco esta subcomissão foi constituída oficialmente com<br />
representação de trabalhadores, de técnicos da instituição e se encontra no<br />
momento em fase de organização.<br />
22
1.2. A Política de Controle de Endemias no contexto<br />
da Saúde Pública Brasileira<br />
No Brasil as questões sociais são condicionadas ao processo de<br />
desenvolvimento econômico. Caracterizado como país de capitalismo periférico,<br />
teve seu processo de industrialização tardio e acelerado, inserindo-se na lógica<br />
da divisão internacional do trabalho. Incorporou em menor escala e em curto<br />
período novas tecnologias de setores capitalistas modernos, que passaram a<br />
coexistir com formas arcaicas de organização da produção e de relações de<br />
trabalho (Cebes/Abrasco,1992).<br />
A sólida articulação entre os interesses dos setores arcaico e moderno,<br />
possibilitada pela profunda relação entre o setor industrial e a oligarquia rural,<br />
conduziu o País a um padrão de desenvolvimento excludente e concentrador,<br />
favorecendo ao Estado assumir um papel fundamental como financiador público<br />
na criação das condições de sustentação do processo de acumulação.<br />
A Saúde Pública emerge no Brasil como questão social amplamente<br />
vinculada ao desenvolvimento do capitalismo, tornando-se mais claramente<br />
configurada durante a década de 20, quando a primeira fase de acumulação<br />
capitalista atinge seu limite, com o auge da economia agroexportadora, refletindo-<br />
se numa acelerada urbanização e desenvolvimento industrial. Surge então a<br />
necessidade de controle de endemias e saneamento nos núcleos urbanos que<br />
surgiam, principalmente nas capitais e regiões portuárias, como estratégia de<br />
atração e retenção de mão-de-obra úteis a crescente indústria cafeeira (Braga &<br />
Paula,1986; Cebes/Abrasco,1992).<br />
Como as endemias são doenças que acometem a população seguindo<br />
uma determinada distribuição espacial e com temporalidade indefinida, elas<br />
apresentam uma relação intrínseca com as questões sociais e consequentemente<br />
com o modelo de desenvolvimento (Leal e col.,1992).<br />
23
No entanto, a intervenção no processo saúde-doença dessas enfermidades<br />
(de corte biologicista), historicamente tem se pautado nas necessidades<br />
econômicas do mercado. A busca da erradicação 1 dessas doença também<br />
obedeceu a esta lógica: os métodos artificiais para a extinção dos agentes<br />
patogênicos ou seus vetores, desconsidera as determinações sociais, políticas,<br />
econômicas, culturais e ambientais para o seu desenvolvimento e elege as<br />
pragas como as causas das endemias, quando sabe-se que são também<br />
conseqüências. A utilização quase exclusiva de controle químico só tem<br />
favorecido as indústrias desse ramo, que alimentam o modelo tecnológico<br />
químico-dependente, também introduzido no setor agrícola.<br />
Segundo Costa (1986), o ritmo, extensão e intensidade das ações<br />
sanitárias obedeceram a critérios predominantemente utilitários, definidos a partir<br />
dos interesses dos grupos dominantes internos ou pela expansão do capitalismo<br />
em escala internacional.<br />
Neste momento se configura um sistema de saúde calcado no<br />
desenvolvimento de campanhas sanitárias, culminando em 1923 com a Reforma<br />
Carlos Chagas, que cria o Departamento Nacional de Saúde Pública com<br />
intenção de implementar medidas de higiene e saneamento urbano e rural,<br />
ampliando o atendimento à saúde, que era financiada integralmente pelo setor<br />
público, para responder aos interesses dos grupos agro-exportadores. Este<br />
Departamento estabelecia como atribuições federais: o saneamento rural e<br />
urbano; a propaganda sanitária; a higiene infantil, industrial e profissional;<br />
atividades de supervisão e fiscalização; saúde dos portos e do Distrito Federal e<br />
o combate às endemias rurais (Braga & Paula,1986).<br />
1 Segundo Monteiro (1995), a erradicação de uma doença transmissível tem como<br />
conseqüência a impossibilidade de sua reintrodução, sendo totalmente desnecessária a<br />
manutenção de quaisquer medidas de prevenção, o que é dificilmente factível em saúde pública,<br />
sendo a erradicação da varíola a única exceção observada. No entanto existem outras propostas<br />
mais viáveis, desde que tenham regularidade e continuidade nas medidas de intervenção<br />
pertinentes e, no acompanhamento do seu comportamento e do desempenho dos serviços de<br />
saúde. São a “eliminação” e o “controle” . A eliminação de uma doença diz respeito a cessação da<br />
sua transmissibilidade, porém persistindo o risco de sua reintrodução, devido a falha nos<br />
instrumento de controle, ou por modificação no seu comportamento. Já o controle, permite a<br />
convivência com determinadas doenças, desde que em níveis considerados toleráveis.<br />
24
As campanhas sanitárias do início do século, implantadas nos países<br />
periféricos eram organizadas sob princípios de rígida disciplina, se dirigiam a<br />
problemas focais bem circunscritos no tempo e no espaço e com freqüência<br />
eram financiadas pelos interessados em minimizar os efeitos econômicos de<br />
certas doenças (Sabroza et al,1995).<br />
Se até este momento da história do país a saúde pública estava dirigida<br />
principalmente para a manutenção da mão-de-obra e na higiene das cidades-<br />
pólos do desenvolvimento nacional, a partir da década de 30 ocorrem mudanças<br />
que se refletem no setor e se torna possível identificar uma política de saúde de<br />
caráter nacional, que se organiza em dois setores: o da saúde pública,<br />
responsável pelas ações de caráter coletivo e o da medicina previdenciária,<br />
responsável pelas ações individuais (Braga & Paula,1986).<br />
25
1.2.1. O controle de endemias no conjunto<br />
das ações coletivas de saúde<br />
Em 1930 cria-se o Ministério de Educação e Saúde com dois<br />
Departamentos, um de Educação e outro de Saúde e diversos serviços nacionais<br />
de controle de doenças como a malária, a tuberculose, e a lepra, dentre outras.<br />
O Departamento Nacional de Saúde, era responsável pelas ações coletivas<br />
de saúde, tendo como eixo de atuação as campanhas e a educação sanitária e a<br />
partir de 1937, contribuiu para um relativo avanço da atenção à saúde para o<br />
interior do país. Paralelamente, cria-se os Serviços Nacionais de Febre Amarela e<br />
Malária, que representam a primeira estruturação de serviço de saúde de<br />
dimensão nacional. Em 1941 o Departamento Nacional de Saúde (DNS) passa a<br />
incorporar os demais serviços de combate e controle de endemias,<br />
institucionalizando assim as campanhas sanitárias (Braga & Paula, 1986; Sabroza<br />
et al,1995).<br />
Segundo Sabroza et al (1995), essas campanhas de permanente atuação<br />
em todo o território nacional, eram bem diferentes das anteriores. Deixaram de<br />
ser focais e dirigidas a doenças que limitavam a expansão dos negócios e<br />
passaram a expressar, por meio de novas práticas, de formas de organização dos<br />
serviços e modelos de explicação das causas das enfermidades, a estratégia de<br />
controle das doenças transmissíveis com forte organização burocrática.<br />
Este mesmo autor aponta a limitação deste modelo sobre as condições<br />
de vida dos grupos sociais e até mesmo sobre a prevalência das enfermidades,<br />
“diante da cobertura restrita, da descontinuidade do trabalho, da falta de eficácia<br />
das medidas de controle até então disponíveis e da dimensão dos problemas”.<br />
Evidencia-se um modelo de intervenção apoiado principalmente na<br />
microbiologia, com a finalidade maior de identificar os agentes patogênicos e<br />
seus vetores, para se promover ações diretas contra estes “inimigos”, pois<br />
“impunha - se o controle daqueles agentes, freqüentemente biológicos, que<br />
26
impediam a expansão do processo econômico, através de campanhas sanitárias<br />
localizadas, atuando sobre focos, espaços circunscritos” (LeaL & col.,v.1.,1992).<br />
Para vencer estes inimigos as campanhas de controle e erradicação eram<br />
planejadas de maneira semelhante a preparação para uma batalha. Os técnicos<br />
se armando com equipamentos e principalmente com produtos químicos capazes<br />
de aniquilar com os vetores desde a sua forma larvária até a forma adulta (Leal<br />
& col., 1992).<br />
Tal intervenção se baseava em modelos explicativos, os quais<br />
preconizavam que a ocorrência da doença está determinada somente pela<br />
relação entre o agente etiológico e o indivíduo, ou associada a fatores ecológico -<br />
ambientais de natureza física e biológica, deixando para um segundo plano as<br />
determinações sociais, econômicas e culturais (Moraes,1990 ).<br />
A intervenção no processo saúde-doença das endemias transmissíveis por<br />
vetores passa a usar como seu principal instrumento o uso dos inseticidas que<br />
são substâncias químicas tóxicas e não seletivas, que além dos insetos, atingem<br />
também o ambiente e toda a sua biodiversidade, incluindo o homem, produzindo<br />
efeitos danosos, identificando-se portanto, como substâncias biocidas<br />
(Regis,1996; Sandoval O.,1989).<br />
Como exemplificação temos as medidas de combate à malária do período<br />
anterior a II Guerra, que se pautavam, dentre outras, na destruição do vetor na<br />
fase adulta com “nebulização de líquidos inseticidas, gases e vapores, como tetra<br />
- cloreto de carbono, salicilato de metilina e piretro, tendo como base querosene,<br />
no interior de domicílios” (Moraes,1990). Para o controle químico larvário, se<br />
preconizava a petrolagem, que também atingia as pupas e em seguida, com a<br />
observação de que as chuvas rompiam a camada de petróleo, permitindo a<br />
sobrevivência das larvas, foi introduzido o aceto - arsenito de cobre ou verde -<br />
Paris e o larvicida do Panamá, uma mistura de fenol, resina e sabão (Moraes,<br />
1,1990).<br />
No período da II Guerra Mundial, através de convênio entre os governos<br />
brasileiro e americano, sob o patrocínio da Fundação Rockefeller, cria-se o<br />
Serviço Especial de Saúde Pública - SESP - para prestar assistência aos<br />
trabalhadores inseridos na produção da borracha na Amazônia e do manganês<br />
27
no Vale do Rio Doce, garantindo assim a manutenção da mão - de - obra nesta<br />
região (Braga & Paula,1986).<br />
Com esta mesma finalidade, foram introduzidas as novas técnicas do<br />
combate aos vetores, principalmente os mosquitos transmissores da malária,<br />
doença endêmica desde a Amazônia ao rio Grande do Sul, neste período. Se<br />
intensificaram as medidas dirigidas principalmente à fase aquática do vetor, como<br />
a petrolagem e o verde - Paris, até que a partir de 1945, se introduziu o DDT<br />
(dicloro-difenil tricloretano), com o qual se consegue reduzir drasticamente os<br />
números da doença no País.<br />
Moraes (1990), coloca que<br />
“Lamentavelmente, o poder mortífero do DDT não se<br />
afirmou no combate a todos os artrópodes responsáveis<br />
pela transmissão de doenças, bastando citar como exemplo,<br />
triatomíneos (barbeiros, moscas e mosquitos outros,<br />
inclusive algumas espécies de anofelinos transmissores da<br />
malária, que rapidamente adquiriram resistência biológica<br />
ou de comportamento ao inseticida.”<br />
Com base nestas observações, os malariologistas e químicos de então<br />
passaram a direcionar as suas atenções no sentido de se identificar outros<br />
inseticidas, clorados ou fosforados, com poder residual semelhante ao DDT<br />
(Moraes,1990), pois acreditava-se cegamente que o controle ou mesmo a<br />
erradicação destas e outras endemias transmitidas por artrópodes, seriam<br />
conseguidos com o uso exaustivo de inseticidas. Foram então desenvolvidos os<br />
organofosforados (malathion, fenitrotion, temephos); alguns carbamatos e, mais<br />
recentemente, os piretróides; todos com um grande potencial de produzir<br />
toxidade ao homem e ao ambiente.<br />
Até 64 houve uma tendência a centralização federal das ações, com<br />
diminuição de sua participação no orçamento da União. Na década de 50 o<br />
controle de doenças como as imunopreveníveis, assim como as diarréias, a raiva,<br />
as enfermidades venéreas, eram de responsabilidade dos estados, enquanto<br />
outras como a malária, a esquistossomose, a doença de Chagas, a leishmaniose,<br />
a hidatidose, a filariose, a bouba, a peste, a febre amarela, o tracoma, além da<br />
28
tuberculose e da hanseníase, continuavam objeto de campanhas verticais<br />
federais (Sabroza et al,1995).<br />
Em 1953, com a criação do Ministério da Saúde, mantém-se a estrutura<br />
do extinto DNS e há a incorporação do SESP sob forma de uma fundação, a<br />
Fundação SESP, mas o ponto máximo na centralização da saúde pública se<br />
estabelece com a criação em 1956 do Departamento Nacional de Endemias<br />
Rurais-DNERu, que centralizava os serviços de combate às enfermidades<br />
endêmicas, como forma de racionalização administrativa e atribuição de maior<br />
status burocrático às campanhas sanitárias (Braga & Paula,1986) ficando<br />
excluídas a malária, a tuberculose e a hanseníase, que continuaram com suas<br />
campanhas específicas (Sabroza et al,1995).<br />
Este grau de centralização pode ser evidenciado em Moraes (1990),<br />
quando relata que<br />
“A Lei que criou o DNERu visou precipuamente reunir na<br />
esfera federal, endemias que exigiam uma ação intensiva e<br />
extensiva, que a União tem mais capacidade, mobilidade e<br />
liberdade de ação interestadual para executá - la, sob forma<br />
de campanhas, cabendo aos Estados a tarefa de suplantá -<br />
la, sem se afastar da União”.<br />
O DNERu mantinha em sua estrutura o Serviço de Produtos Profiláticos<br />
que durante muito tempo foi o responsável pela produção dos inseticidas<br />
utilizados amplamente nas campanhas de controle e erradicação, dos quais os de<br />
maior relevância são o BHC, para o controle dos triatomíneos e o DDT em pasta,<br />
usado contra os mosquitos (Moraes,1990).<br />
Neste período, surge a discussão acerca da relação causal entre doença<br />
e pobreza, ocasionando uma maior expansão de unidades simplificadas,<br />
principalmente através da atuação do SESP e, a proposta de municipalização foi<br />
aventada, no contexto da III Conferência Nacional de Saúde (Muller Neto,1991).<br />
Porém, com a implantação do regime autoritário, o processo caminhou no sentido<br />
contrário, com centralização política e concentração de recursos no âmbito do<br />
29
governo federal, favorecendo a uma política de privatização do sistema, através<br />
da transferência de recursos públicos para o setor privado (Teixeira, 1991).<br />
A década de 70 se caracteriza por apresentar uma priorização das<br />
atividades de cunho assistenciais em detrimento das ações coletivas, no entanto<br />
aquelas referentes ao controle de endemias foram mantidas, a partir de 1970 sob<br />
a responsabilidade da SUCAM (Superintendência de Campanhas de Saúde<br />
Pública), criada por força do artigo 20, do Decreto n.º 66.623, com a fusão do<br />
DNERu, da Campanha de Erradicação da Malária e da Campanha de<br />
Erradicação da Varíola (Moraes,1990), que assumiu então, principalmente, o<br />
controle das enfermidades de transmissão vetorial, se colocando como o principal<br />
órgão a responder pelas medidas de atenção à saúde coletiva. Nesse ano, a área<br />
de atuação foi estratificada em duas: a de erradicação a curto prazo, em que as<br />
medidas tradicionais haviam surtido efeito e a transmissão estava interrompida<br />
ou estava prestes a sê-lo. E a de erradicação a longo prazo, ou melhor, em que<br />
as ações previstas não deram resultados ou não puderam ser realizadas<br />
(Sabroza et al,1995).<br />
A década de oitenta inicia com profundas mudanças no cenário político<br />
nacional decorrentes do processo de abertura democrática no país após a queda<br />
do regime militar. Com ela começa a se organizar o movimento pela Reforma<br />
Sanitária que culminou com a criação de instituições como o CEBES (Centro<br />
Brasileiro de Estudos de Saúde Coletiva), a ABRASCO (Associação Brasileira de<br />
Pós-Graduação em Saúde Coletiva) e o DIESAT (Departamento Intersindical de<br />
Estudos de Saúde do Trabalhador) que encabeçavam este movimento.<br />
Com a crise econômica que atingia o país, a saúde pública continuava<br />
sendo uma estratégia de controle social e fazia parte do rol de políticas<br />
compensatórias implementadas como saneamento da periferia das grandes<br />
cidades, a construção de sistemas de abastecimento de água, políticas<br />
habitacionais de financiamento de casas populares, a expansão da rede pública e<br />
conveniada de hospitais e outros serviços de saúde, a criação do Programa<br />
Nacional de Imunizações, programas de suplementação alimentar para crianças e<br />
gestantes, grandes campanhas nacionais contra doenças, específicas como a<br />
esquistossomose, a doença de Chagas, a raiva humana, a poliomielite, segundo<br />
30
Sabroza et al (1995), certamente trouxeram modificações nos padrões de saúde-<br />
doença de diversos grupos sociais, até então excluídos das políticas de saúde.<br />
Após um amplo processo de discussão promovido principalmente pelo<br />
CEBES e ABRASCO com participação de setores universitários e da população<br />
organizada, conseguiu-se que o governo chamasse a VIII Conferência Nacional<br />
de Saúde (CNS), realizada em 1986. Esta cumpriu papel essencial para a<br />
reorganização e repactuação do movimento em torno da consolidação da<br />
Reforma Sanitária, com vistas à Assembléia Nacional Constituinte. Consagrou<br />
uma concepção ampla de saúde, garantida pelo Estado; abriu espaço à<br />
participação popular; e, foi consenso a necessidade de criação de um sistema<br />
único de saúde, coordenado por um único ministério, devendo esta unicidade do<br />
comando ser reproduzida nos níveis estadual e municipal (Teixeira,1989; Muller<br />
Neto,1991).<br />
O sistema de saúde encontrava-se organizado sob a forma do SUDS<br />
(Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde) que representou um processo de<br />
alteração das regras do processo decisório vigente, na medida em que o INAMPS<br />
perdeu seu papel de prestador de serviços e tornou-se controlador e co-<br />
financiador do sistema de saúde. Neste momento houve a descentralização do<br />
planejamento e da prestação de serviços porém, manteve-se a dominação do<br />
setor de mercado, com a iniciativa privada usufruindo intensamente do sistema,<br />
sem alteração do modelo assistencial (Muller Neto,1991).<br />
Com a promulgação da Constituição em 1988, são consagrados alguns<br />
princípios fundamentais, aprovados na VIII Conferência de Saúde. O conceito de<br />
saúde é ampliado e esta passa a ser de relevância pública, cabendo ao Estado<br />
regulamentar e normatizar sua execução a partir de um Sistema Único de Saúde<br />
regionalizado, hierarquizado, descentralizado e com participação popular, se<br />
estabelecendo novas relações entre os setores público e privado, sendo este<br />
incorporado ao SUS de forma complementar e através de contratos de direito<br />
público.<br />
Dentre as diretrizes do SUS, a descentralização das ações e serviços de<br />
saúde se destaca por reconhecer o papel dos governos locais na provisão de<br />
serviços públicos, além de oferecer maior racionalidade e controle social.<br />
31
A municipalização da saúde pode ser entendida como um processo de<br />
descentralização territorial das decisões político-administrativas e do<br />
financiamento, com desconcentração de bens e serviços, garantindo assim, a<br />
autonomia municipal para formular suas políticas e seus planos de saúde e<br />
executá-los, conforme as diretrizes legais (Muller Neto,1991). Representa a<br />
transferência do poder dos níveis centrais do governo para os níveis periféricos<br />
(Teixeira, 1991).<br />
A Lei Orgânica da Saúde-LOS, Lei n.º 8080/90 (Brasil,1990), incorporou os<br />
principais tópicos já consagrados na Carta Magna, garantindo a autonomia<br />
municipal e a descentralização efetiva de recursos financeiros, colocando o<br />
município como ator principal na gestão do sistema. Foi aprovada com 26 vetos<br />
presidenciais, principalmente os referentes ao Controle Social, financiamento e<br />
recursos humanos, o que ocasionou mobilizações que culminaram com a Lei<br />
8142/90 (Sistema Único de Saúde, 1990) que dispõe sobre a participação<br />
popular e financiamento, garantindo a existência das Conferências e Conselhos<br />
de Saúde e a criação de Fundos de Saúde, com repasse direto aos municípios.<br />
Para a reorganização das ações assistenciais no âmbito do SUS, a<br />
Secretaria Nacional de Assistência à Saúde edita a Norma Operacional Básica do<br />
SUS em 1992, através da Portaria n.º 232 de 07 de fevereiro com o objetivo de<br />
normatizar a assistência à saúde no SUS e a forma de transferência de recursos<br />
para estas ações nos níveis ambulatorial e hospitalar, porém não houve menção<br />
às ações de caráter coletivo, como o controle de endemias, que permaneceram<br />
centralizadas no âmbito federal.<br />
Em agosto de 1992, realizou-se a IX Conferência Nacional de Saúde que<br />
manifestou-se “em defesa da vida, da ética - fora Collor”. Chegou-se a conclusão<br />
de que houvera avanços legais nos últimos quatro anos, no tocante a política de<br />
saúde brasileira, porém estes pouco se traduziram em termos de implementação<br />
prática, institucional, do texto da Constituição (IX Conferência Nacional de Saúde,<br />
1992; Saúde é qualidade de vida: contribuição do CEBES e Abrasco para os<br />
debates da IX Conferência nacional de Saúde).<br />
Em 1993 o Ministério da Saúde edita a Norma Operacional Básica do<br />
SUS (NOB-SUS 01/93) através da Portaria n.º 454, de 20 de maio, que teve<br />
como referência o documento “ Descentralização das Ações e Serviços de<br />
32
Saúde: A ousadia de cumprir e fazer cumprir a lei” , aprovado no Conselho<br />
Nacional de Saúde.<br />
Esta NOB-SUS-93 definiu mecanismos de gestão intermediários para as<br />
três esferas do governo, a caminho da descentralização (Gestão insipiente,<br />
Gestão parcial e semi-plena) e, como a NOB anterior, as formas de repasse de<br />
recursos para estados e municípios, também mantendo as ações coletivas, e<br />
dentre estas o controle de endemias, centralizadas na esfera federal.<br />
A X CNS, realizada em setembro de 1996, apresenta em seu relatório final<br />
em defesa da “plena implementação do SUS, com qualificação das ações e a<br />
adequação dos serviços à Atenção Integral à saúde que devem prestar”. Isto<br />
através de mecanismos de gestão e organização que permitam a efetivação do<br />
processo de descentralização e da municipalização.<br />
Após a X CNS, o Ministério da Saúde aprovou a NOB-SUS 01/96, “Gestão<br />
plena com responsabilidade pela saúde do cidadão”, redefinindo os papéis de<br />
cada esfera de governo, com novas formas de gestão para estados (Gestão<br />
avançada do sistema estadual e Gestão plena do sistema estadual) e municípios<br />
(Gestão plena da atenção básica e Gestão plena do sistema municipal) e, novos<br />
mecanismos de transferência de recursos, criando o Teto Financeiro de<br />
Epidemiologia e Controle de Doenças (TFECD) como forma de incentivar estados<br />
e principalmente municípios a assumirem a responsabilidade por tais atividades.<br />
Embora que do ponto de vista da legislação, o SUS tenha conseguido<br />
avanços, a sua implantação nestes últimos governos, tem sido reflexo da<br />
viabilização do projeto neoliberal que alardeia a necessidade de racionalizar e<br />
reduzir os gastos públicos e os investimentos, promovendo o sucateamento do<br />
serviço público, estimulando a privatização e a desestatização. Como resultado<br />
desta política, tem-se o colapso assistencial com degradação de equipamentos,<br />
instalações físicas e dos salários, gerando inoperância de ações e serviços.<br />
33
1.2.2. A Fundação Nacional de Saúde no<br />
rastro do SUS<br />
Historicamente as ações de saúde, no Brasil, têm sido desenvolvidas com<br />
centralização do poder no nível federal e mantendo uma dicotomia entre aquelas<br />
de cunho curativo e as de prevenção e promoção da saúde, sem garantir a<br />
integralidade da assistência.<br />
A criação do SUS deu-se com a perspectiva de acabar com esta<br />
separação entre a assistência individual/curativa e coletivo/preventiva, ao<br />
estabelecer as diretrizes da descentralização com equidade e integralidade das<br />
ações.<br />
A necessidade de reforma administrativa no interior do Ministério da<br />
Saúde advinda a partir da Constituição de 1988, como forma de racionalizar a<br />
gestão do SUS no âmbito federal, culminou com a reorganização administrativa<br />
deste ministério e criação da FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FNS através<br />
do Decreto n.º 100/91– SUS (Fundação Nacional de Saúde,1991).<br />
A nova instituição foi formada a partir da junção de vários órgãos do<br />
Ministério da Saúde, como a SUCAM (Superintendência de Campanhas de Saúde<br />
Pública), a FSESP (Fundação de Serviços Especiais de Saúde Pública), o<br />
DATAPREV (Sistema de Dados da Previdência, doravante denominado<br />
DATASUS - Sistema de Dados do SUS), a SNABS (Secretaria Nacional de Ações<br />
Básicas de Saúde), a SNPES (Secretaria Nacional de Programas Especiais de<br />
Saúde) e, Projetos específicos de Saúde do Índio, antes subordinado a FUNAI<br />
(Fundação Nacional de Saúde, 1991 ).<br />
34
A estrutura organizacional da Fundação Nacional de Saúde apresenta a<br />
seguinte configuração 2 :<br />
PROCURADORIA GERAL<br />
PLANEJAMENTO<br />
ESTRATÉGICO<br />
CENTRO<br />
NACIONAL DE<br />
EPIDEMIOLOGIA<br />
DEPARTAMENTO<br />
DE OPERAÇÕES<br />
DEPARTAMENTO<br />
DE SANEAMENTO<br />
DEPARTMENTO<br />
DE<br />
ADMINISTRAÇÃO<br />
Figura 1: Organograma da Fundação Nacional de Saúde<br />
O Departamento de Informática dos SUS – DATASUS – que integrava<br />
este organograma foi transferido para o executivo do Ministério da Saúde, a partir<br />
2 Fonte: http://www.fns.gov.br.htm<br />
PRESIDÊNCIA<br />
GABINETE<br />
CONSELHO<br />
CONSULTIVO<br />
AUDITORIA<br />
COORDENAÇÕES<br />
REGIONAIS<br />
INSTITUTO<br />
EVANDRO<br />
CHAGAS<br />
CENTRO<br />
NACIONAL DE<br />
PRIMATAS<br />
35
de janeiro de 1998, através do Decreto-lei n.º 2477/98 publicado no Diário Oficial<br />
da União em 29 de janeiro de 1998.<br />
A Coordenação Regional de Pernambuco apresenta a seguinte estrutura<br />
organizacional 3 :<br />
SERVIÇO DE<br />
ADMINISTRAÇÃO<br />
(SEADM)<br />
UNIDADE DE<br />
SANEAMENTO<br />
(USANE)<br />
SERVIÇO DE<br />
OPERAÇÕES<br />
(SEOPE)<br />
3 Fonte: http://www.fns.gov.br<br />
Figura 2: Organograma da Coordenação Regional de Pernambuco<br />
SETOR<br />
ADMINISTRATIVO<br />
(SEAD)<br />
COORDENADOR<br />
REGIONAL<br />
DISTRITO SANITÁRIO:<br />
Vitória – Caruarú<br />
Garanhuns – Salgueiro<br />
(CHEFIA)<br />
SERVIÇO DE<br />
PLANEJAMENTO<br />
(SEPLA)<br />
SERVIÇO DE<br />
EPIDEMIOLOGIA<br />
(SEEPI)<br />
ASSESSORIA<br />
JURÍDICA<br />
(ASJUR)<br />
SETOR TÉCNICO<br />
(SETEC)<br />
36
De modo semelhante ao nível da Presidência da FNS, existia no<br />
organograma da Coordenação Regional o Serviço de Informática – SEINF<br />
(DATASUS) que, após o Decreto-lei n.º 2477/98 foi transferido para a Gerência<br />
Estadual do Ministério da Saúde em Pernambuco, transformando-se em Serviço<br />
de Fomento e Cooperação Técnica em Informática de Saúde (SFCTIS).<br />
A FNS surge internalizada pela necessidade de implementar o Sistema<br />
Único de Saúde - SUS – através da promoção da descentralização de suas<br />
ações para os estados e municípios.<br />
No entanto, reproduz o modelo de assistência e reforça a dicotomia<br />
preventivo/curativo, ao promover o repasse de unidades de saúde para a<br />
responsabilidade dos gestores municipais e estadual mantendo centralizadas sob<br />
sua coordenação, as ações de controle de endemias.<br />
A descentralização das ações de combate às endemias tem sido discutida<br />
há algum tempo. Em estudo desenvolvido pelo Instituto Brasileiro de<br />
Administração Municipal (1995), encontra-se que já em 1986 a SUCAM iniciou<br />
gestões junto ao BIRD visando a viabilização de um projeto voltado para o<br />
controle das endemias no País que envolvia a participação dos estados nestas<br />
ações.<br />
Este projeto foi formalizado em 1988 através de convênio entre o Governo<br />
brasileiro e aquela instituição, com um acordo de empréstimo para o<br />
desenvolvimento do PCDEN (Projeto de Controle de Doenças Endêmicas no<br />
Nordeste) e PCMAM (Projeto de Controle da Malária na Amazônia).<br />
Os Programas, em suas estruturas iniciais, através da Coordenadoria de<br />
Projetos, buscavam o envolvimento das Secretarias Estaduais de Saúde, como<br />
estratégia de promoção da descentralização do processo decisório, o que só foi<br />
viabilizado efetivamente, a partir de 1992, com a nova instituição já constituída, a<br />
Fundação Nacional de Saúde-FNS (Fundação Nacional de<br />
Saúde/IBAM/ENSP,1995), que absorve todas as ações empreendidas pelas ex-<br />
FSESP e ex-SUCAM.<br />
O documento “Análise do Modelo Gerencial do PCDEN” (Instituto<br />
Brasileiro de Administração Municipal,1996), mostra que este Projeto, que teve<br />
37
início em dezembro de 1988, estabelecia um período de duração de cinco anos,<br />
mas foi prorrogado até junho de 1996.<br />
O PCDEN propunha o controle de Leishmaniose, Doença de Chagas e<br />
Esquistossomose, abrangendo todos os Estados do Nordeste brasileiro e Minas<br />
Gerais, bem como os Estados de Goiás, Rio Grande do Sul e Paraná, visando<br />
exclusivamente o controle de Doença de Chagas. Tinha cinco componentes:<br />
prevenção e controle da transmissão destas doenças, mobilização comunitária,<br />
pesquisa operacional, desenvolvimento institucional e prevenção e controle da<br />
AIDS.<br />
Para tanto, houve uma previsão inicial de recursos de US$ 218 milhões,<br />
sendo US$ 109 milhões provenientes do acordo de empréstimo e o restante da<br />
contrapartida nacional; no entanto, este valor foi reduzido para US$ 164 milhões,<br />
após avaliação do Banco.<br />
Estes recursos embora insuficientes para realizar o que foi proposto,<br />
garantiu minimamente a existência de atividades frente às endemias. No entanto<br />
não conseguiu a erradicação ou o controle desejados. Ao contrário, mesmo após<br />
o encerramento dos projetos, o quadro epidemiológico das endemias se<br />
apresentava preocupante com o surgimento de doenças emergentes e<br />
reemergentes como o Dengue e o risco de reurbanização da Febre Amarela.<br />
Com o aprofundamento das discussões em torno da IX Conferência<br />
Nacional de Saúde, a instituição assumiu oficialmente a descentralização de suas<br />
ações e serviços como uma “missão”, tendo inclusive produzido vasta<br />
documentação e normatizações a respeito.<br />
No entanto, limitou-se ao repasse de suas unidades de saúde, mantendo<br />
sob sua responsabilidade as ações de controle de endemias, com o domínio das<br />
técnicas e de mão-de-obra qualificada, cujo processo de descentralização tem<br />
apresentado algumas dificuldades.<br />
Dessa forma, tem sido apontada pelos mais diferentes setores da<br />
sociedade e nos diversos fóruns de discussão, enquanto uma instituição que vem<br />
dificultando ou inviabilizando a efetivação do SUS.<br />
38
A X Conferência Nacional de Saúde aponta para um processo de<br />
descentralização da Fundação Nacional de Saúde para municípios e estados de<br />
modo “responsável, gradativo e pactuado”, garantindo a continuidade das ações.<br />
Percebe-se que na década de 90 os problemas de saúde priorizados<br />
deixam de ser os de distribuição focal ou os considerados doenças de massa 4 , e<br />
passam a ser aqueles capazes de ampla disseminação entre as cidades e de<br />
produzir impacto na opinião pública (Sabroza et al,1995).<br />
A partir desta visão somada ao quadro epidemiológico das endemias no<br />
país com alta incidência de Dengue e a Febre Amarela com riscos de<br />
reurbanização, a Organização Panamericana de Saúde-OPAS propôs um plano<br />
continental visando a erradicação do Aedes aegypti.<br />
Como parte deste projeto continental, elaborou-se o Plano Diretor de<br />
Erradicação do Aedes Aegypti do Brasil em 1996 (Brasil,1996) que propunha um<br />
“novo modelo de erradicação com centralização das diretrizes e normas técnicas<br />
e descentralização da execução das ações de campo”.<br />
Este modelo, propõe contribuir com a implementação do SUS no país com<br />
o avanço da descentralização, através de três grupos de ações: 1) ações de<br />
saneamento básico, voltadas para o abastecimento de água e manejo adequado<br />
do lixo; 2) ações de divulgação de informações, comunicação social e educação<br />
que favoreçam o controle social; 3) ações específicas para o combate ao<br />
mosquito, através de meios químicos, físicos e biológicos disponíveis.<br />
ao mosquito.<br />
Até o momento o plano tem limitado-se às ações do grupo três: combate<br />
Algumas das explicações possíveis são:<br />
1) Após a municipalização o enfraquecimento das instituições federais<br />
responsáveis pela coordenação ou execução das atividades, não foi<br />
acompanhado de correspondente fortalecimento da capacidade de<br />
intervenção das organizações estaduais e municipais.<br />
4 Para Sabroza (1995), o conceito de doença de massa foi utilizado na década de 50 “para incluir<br />
os problemas de saúde de grupos sociais urbanos que não conseguiram ser integrados no<br />
processo de industrialização, objeto de determinadas políticas sociais, mas privados dos direitos<br />
plenos de cidadania “.p.187.<br />
39
2) Historicamente as endemias têm sido alvo de medidas de controle com<br />
o intuito principal de se garantir o desenvolvimento do País em suas<br />
diferentes regiões com crescimento econômico e a inserção no mercado<br />
internacional, bem como, a manutenção da vida da mão-de-obra na<br />
consecução deste projeto governamental.<br />
No entanto,<br />
“Atualmente, os processos endêmico - epidêmicos não são<br />
mais obstáculos para o desenvolvimento dos negócios, para<br />
a expansão da economia do circuito principal. Ao contrário,<br />
criam um promissor mercado para um conjunto diversificado<br />
de insumos produzidos com a aplicação de alta<br />
concentração de recursos tecnológicos, dominados por<br />
apenas algumas poucas empresas dos países de economia<br />
central” (Sabroza, Toledo & Osanai,1992).<br />
40
1.3. A Questão Ambiental<br />
O mundo moderno tem apresentado problemas de complexidade crescente<br />
que requerem novo arcabouço teórico-metodológico para sua análise. A questão<br />
ambiental coloca a necessidade de uma abordagem interdisciplinar que consiga<br />
perceber as interrelacões entre os diferentes processos que transpassam este<br />
campo de estudo.<br />
Os impactos ambientais ocorridos nas últimas décadas têm provocado o<br />
questionamento dos paradigmas do desenvolvimento e determinado modificações<br />
nos modelos de investigação científica, propondo a internalização do ambiente<br />
em seus processos de análise, tanto no campo das ciências naturais como no das<br />
ciências sociais, integrando-os. Dessa forma busca-se construir um novo<br />
conhecimento capaz de captar a interdependência dos processos natural e social,<br />
direcionando-o para um “desenvolvimento sustentável, eqüitativo e duradouro”<br />
(Leff, 1994).<br />
O natural e o social estão interligados não apenas no que diz respeito a<br />
internalização de tecnologias ecologicamente sustentáveis às teorias e políticas<br />
econômicas, uma vez que as questões ambientais são perpassadas pelos<br />
conflitos sociais e pela política. Portanto, a problemática ambiental tem um caráter<br />
social e está atravessada pelos processos sociais. Sendo assim, é necessário<br />
abrir o campo da sociologia para estas questões e construir uma racionalidade<br />
ambiental, que assegure condições de sustentabilidade ecológica associado ao<br />
desenvolvimento a partir da articulação entre a produtividade cultural, ecológica e<br />
tecnológica (Leff, 1994).<br />
Segundo Leff (1994), a construção do conceito de racionalidade ambiental<br />
está calcada em três teorias: a formação sócio-econômica de Marx, a<br />
racionalidade de Weber e o saber de Foucault, a partir das quais se<br />
desenvolveram três categorias: a formação econômico-socio-ambiental, a<br />
racionalidade ambiental e o saber ambiental.<br />
41
O Marxismo interpreta a realidade como uma totalidade, na qual os fatores<br />
visíveis e as representações sociais estão condicionados pelo modo de produção.<br />
Portanto é a base material que determina a consciência e a subjetividade<br />
(Minayo,1992). No entanto o avanço para a construção do conceito de Formação<br />
Econômica e Social que busca compreender as interdeterminações das<br />
superestruturas com os diferentes modos de produção, permite a elaboração de<br />
uma nova categoria de investigação e gestão ambiental que é a Formação<br />
Econômico-Sócio-Ambiental, uma vez que estabelece relações diretas com a<br />
natureza através das forças produtivas 1 .<br />
“El concepto de formación econômico-socio-ambiental<br />
(FESA) articula los procesos ecológicos, tecnológicos y<br />
culturales que operan a nivel local o regional, com los<br />
aparatos del Estado, los regímenes políticos y los procesos<br />
económicos que operan a nivel nacional, y com el orden<br />
económico mundial que genera los patrones de valorización<br />
socioambientales” (Leff,1994).<br />
A partir do conceito de racionalidade em Weber, que define três tipos de<br />
racionalidade: a teórico-formal, a instrumental e a substantiva, Leff (1994) propõe<br />
a construção do conceito de racionalidade ambiental, dominada por uma<br />
racionalidade teórica e substantiva, que inclui os valores étnico e culturais, com<br />
predominância dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos. 2<br />
1 As forças produtivas correspondem aos meios de produção e aos próprios homens, incluindo<br />
sua experiência e hábitos de trabalho; e as relações de produção, que se estabelecem no<br />
processo de produção do trabalho (Marx, ).<br />
2 Para um maior aprofundamento deste tema, ver Leff, Henrique (comp.) Ciências sociales y<br />
formación ambiental. Barcelona, Espanha: Gedisa,1994. Cap. 1, p.17-84: Socilogia Y ambiente:<br />
Formación socioeconómica, racionalidad ambiental y transformaciones del conocimiento.<br />
42
Para este autor<br />
“La racionalidad ambiental no es la expresión de una (del<br />
mercado, de la naturaleza) o de una ley ( de valor, del<br />
equilibrio ecológico); es la resultante de un conjunto de<br />
normas, intereses, valores, significaciones y acciones que no<br />
se dan fuera de las leyes de la naturaleza y de la sociedad<br />
conformada por procesos sociales que desbordan a sus<br />
actuales estructuras ” .<br />
Com base nas concepções foucaultianas sobre o saber e o conhecimento,<br />
Leff (1994), propõe a construção do saber ambiental a partir dos processos de<br />
mudanças sociais e da emergência de nova consciência e de novos valores.<br />
“El saber ambiental aparece así como el conjunto de<br />
paradigmas de conocimiento, disciplinas científicas,<br />
formaciones ideológicas, sistemas de valores, creencias y<br />
conocimientos y práticas productivas sobre los diferentes<br />
procesos y elementos -naturales e sociales- que constituyen<br />
al ambiente, sus relaciones y sus potenciales..<br />
(...) está reflejado en las teorías científicas sobre al<br />
ambiente, en el discurso político y los planes oficiales, en las<br />
expresiones de la conciencia ciudadana y en los principios<br />
de sus organizaciones y de sus programas de acción, en los<br />
ordenamientos ambientales, y en las técnicas y tecnologías<br />
para la gestión ambiental” (op. cit.).<br />
43
As categorias “racionalidade ambiental” e “saber ambiental” contribuem<br />
para a construção de uma sociologia ambiental que permite a análise das<br />
relações entre produção e conhecimento e a construção de um novo paradigma<br />
orientado para o desenvolvimento ambientalmente adequado.<br />
A partir desta perspectiva sociológica, o ambiente passa a ser uma<br />
categoria social relativa a uma racionalidade social e não apenas um meio físico<br />
que circunda as espécies e as populações biológicas.<br />
44
1.4. Ambiente e Desenvolvimento<br />
A proximidade do final do século e, ainda, o término de mais um milênio na<br />
existência humana neste planeta, parecem interferir de maneira positiva nos<br />
corações e mentes. Cresce o compromisso e a responsabilidade em se preservar<br />
a vida e o ambiente. Se multiplicam os grupos nesta defesa. Cresce o movimento<br />
ecológico. Um movimento que vem lutando incansavelmente na busca da<br />
preservação da vida neste planeta, principalmente da fauna e da flora e, que tem<br />
repercussões na vida do homem.<br />
Percebe-se uma maior ampliação da consciência ambiental. No entanto<br />
esta, segundo Martine (1993) “tem se concentrado em problemas típicos da<br />
industrialização, ou focalizado algumas questões específicas, como o<br />
desmatamento amazônico ou a desertificação, em países subdesenvolvidos”.<br />
Parece existir pouca clareza quanto à política ambiental que tem se<br />
direcionado principalmente para os países de economia dependente, bem como<br />
quanto à maneira de promover o crescimento econômico com desenvolvimento<br />
sustentável, que são, de fato, os principais problemas a serem enfrentados pela<br />
civilização no século XXI.<br />
No desenvolvimento sustentável prioriza-se a adoção de tecnologias que<br />
permitem a melhoria da qualidade de vida, garantindo o bem-estar ambiental<br />
através da preservação dos recursos naturais, causando um mínimo de<br />
desequilíbrio no ecossistema (Rattner,1995; Martine,1993).<br />
Este cenário é reflexo do modelo de desenvolvimento adotado, de cunho<br />
neoliberal, que apregoa a transnacionalização da economia de mercado com<br />
crescente integração entre os países e estímulo ao aumento da produtividade,<br />
acirrando assim a competitividade entre estes, o que caracteriza um quadro<br />
incompatível com o desenvolvimento sustentável (Martine,1993).<br />
45
A definição pelo modelo de desenvolvimento sustentável depende<br />
exclusivamente de decisão política, principalmente dos países desenvolvidos. No<br />
entanto, estes têm considerado apenas o aspecto econômico do<br />
desenvolvimento, principalmente no que tange ao ingresso dos países de<br />
economia dependentes em padrões de produção e consumo compatíveis com as<br />
sociedades industrializadas.<br />
Pode-se dizer que a discussão em torno da problemática ambiental a nível<br />
mundial teve seu início com a Conferência das Nações Unidas realizada em<br />
Estocolmo, Suécia, em 1972 que embora se colocasse como uma tentativa de<br />
encontrar soluções e definir as linhas de ação, deixa transparecer a maior<br />
preocupação governamental em definir uma estratégia de gestão ambiental<br />
dentro de um projeto liberal desenvolvimentista, que permitisse a acumulação de<br />
capital, desconsiderando sua inviabilidade com o esgotamento dos recursos<br />
naturais.<br />
Os países desenvolvidos passaram a propagar as vantagens da<br />
liberalização da economia a nível internacional, com a intensificação da<br />
concorrência e da produtividade, estimulando assim, a competitividade entre as<br />
nações e o individualismo, com conseqüências danosas sobre as organizações e<br />
as sociedades.<br />
Os primeiros passos foram dados após a II Grande Guerra Mundial,<br />
quando os países entraram num processo de ajuda mútua, principalmente a<br />
partir daqueles de economias centrais em direção aos de economia dependente.<br />
Se por um lado isto fazia parte de um processo de solidariedade internacional<br />
com a máxima intenção de se permitir a reestruturação das nações destruídas<br />
pela guerra, garantindo assim o crescimento e desenvolvimento destes, por outro<br />
era uma tentativa de inibir o avanço do ideário comunista que, à época, estava em<br />
ascensão, principalmente na União Soviética e Cuba (Testa,1992, Mendes,1988).<br />
As décadas seguintes apresentaram expansão acelerada e ininterrupta da<br />
internacionalização da economia, proporcionada principalmente por instituições<br />
internacionais, que promoveram uma integração seletiva dos países periféricos<br />
junto aos planos de expansão, com a abertura de créditos e empréstimos e,<br />
mediante uma nova divisão internacional do trabalho, implementada pelas<br />
46
empresas multinacionais. É a época dos milagres econômicos, das décadas de<br />
sessenta e setenta, característicos dos países subdesenvolvidos (Rattner,1995).<br />
O ideal seria a constituição de uma sociedade de consumo e bem-estar<br />
nos países subdesenvolvidos, como forma de superação dos problemas sociais e<br />
ambientais através de uma estratégia de desenvolvimento a partir do crescimento<br />
econômico (Carvalho,1991).<br />
Partiu-se para a política de substituição de importações que sustentava<br />
que a partir da comercialização entre países pobres e ricos e, da injeção de<br />
recursos nas nações subdesenvolvidas seriam dados estímulos suficientes ao<br />
crescimento industrial destas. Vem em oposição a idéia da existência de<br />
“vocação” entre países, que propunha aos pobres a produção de bens primários<br />
e, aos desenvolvidos a produção de bens industrializados, onde dessa relação<br />
ambos cresceriam economicamente, promovendo assim o desenvolvimento<br />
social (Uribe,1989).<br />
Mesmo com a ampliação das relações comerciais destes países com as<br />
nações de economia forte, havia uma tendência em se manter os traços de<br />
pobreza e subdesenvolvimento. A brecha econômica entre os países ricos e<br />
pobres aumentava ao invés de diminuir.<br />
Estas propostas iniciais não conseguiram responder às necessidades<br />
políticas, econômicas e sociais da época e contribuíram para o processo de crise<br />
econômica mundial que acontece concomitantemente e atinge o aparelho do<br />
estado. Esta crise se define através de uma crise fiscal, com crescente perda de<br />
crédito por parte do estado e negativação da poupança pública. Acrescenta-se a<br />
isto o esgotamento da estratégia estatizante de intervenção do estado e a<br />
superação do modelo burocratizante de administração (Brasil/MARE,1995).<br />
No início da década de oitenta, a Organização das Nações Unidas (ONU)<br />
constituiu a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento<br />
(CMMAD) com vistas a formulação de estratégias de ação para vencer a crise<br />
que se refletia sobre a sociedade e o ambiente e que culminou com o documento<br />
Nosso Futuro Comum.<br />
47
Nosso Futuro Comum apresenta pela primeira vez o conceito de<br />
desenvolvimento sustentável e os seus requerimentos básicos segundo Gutman<br />
(1994) são:<br />
a) Un sistema político que asegure la participación efectiva en la<br />
toma de decisiones.<br />
b) Un sistema económico que es capaz de generar excedentes y<br />
conocimiento tecnológico sobre bases sustentables y<br />
autocentradas (self-reliant).<br />
c) Un sistema social que prevé soluciones para las tensiones que<br />
surgen de um desarrollo no armonioso.<br />
d) Un sistema productivo que respeta la obligación de preservar las<br />
bases ecológicas del desarrollo.<br />
e) Un sistema tecnológico capaz de buscar continuamente nuevas<br />
soluiones.<br />
f) Un sistema internacional que promueve patrones comerciales y<br />
financieiros sustentables.<br />
Segundo Carvalho (1991), há um avanço em relação à Conferência de<br />
Estocolmo, pois situa a questão ambiental determinada pelas relações sociais<br />
desiguais entre os países e pelo aumento da pobreza, não restringindo o<br />
desenvolvimento ao crescimento econômico. No entanto, propõe o<br />
desenvolvimento sustentável para atender às necessidade presentes,<br />
desconsiderando os momentos futuros e alia a superação da pobreza e o<br />
respeito as bases ecológica com o crescimento econômico, mantendo assim o<br />
mesmo modelo de desenvolvimento e ignorando as relações desiguais entre os<br />
países.<br />
Apesar das críticas o documento foi fundamental para a organização da<br />
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento<br />
(CNUMAD), realizada no Rio de Janeiro em 1992, onde foi aprovada a Agenda<br />
48
21, um programa de ação voltado para a implementação de princípios<br />
estabelecidos na Declaração do Rio que preconiza que os programas de ajustes<br />
estruturais não tenham conseqüências negativas sobre o desenvolvimento social<br />
e ambiental (Ministério da Saúde,1995).<br />
A Agenda 21 se colocou então como a busca de alternativas que<br />
viabilizassem a saída da crise e da miséria e promovessem definitivamente o<br />
crescimento e desenvolvimento nos países.<br />
Ao tratar desta questão Rattner (1995) afirma que estas alternativas têm<br />
passado necessariamente pelo processo de integração da economia mundial,<br />
configurando assim um processo de globalização, que por sua vez se tornou<br />
cada vez mais viável a partir do advento de um novo paradigma de produção e<br />
organização industrial, que combina “a automação flexível com gestão e sistemas<br />
de comunicação informatizados”, intensificando assim o uso e disseminação do<br />
conhecimento e da informação, bem como, no incremento da inovação baseados<br />
na competitividade em toda a economia internacional.<br />
Para este autor, o processo de globalização é apresentado como sendo “a”<br />
alternativa para alcançar o desenvolvimento. ”Internacionalizar, abertura total,<br />
privatizar passam a ser consideradas respostas mágicas para resolver os<br />
problemas da fome, do desemprego, das favelas, da violência, enfim, ter-se-ia<br />
redescoberto a via-mestra do desenvolvimento”. No entanto este modelo,<br />
contrariamente ao que é propagado, tem promovido o acirramento da<br />
competitividade econômica entre os países e tem conseqüências drásticas sobre<br />
as questões políticas e sociais como o desemprego acentuado, a queda dos<br />
níveis salariais e o aumento do endividamento social pelos Estados, que não<br />
conseguem responder às demandas por melhor qualidade de vida, uma vez que<br />
mantém os pressupostos e fundamentos básicos do capitalismo.<br />
O autor aponta, ainda, alguns aspectos positivos e negativos do fenômeno<br />
da globalização. Se por um lado a globalização, que tem como base a<br />
liberalização da economia em escala internacional, apresenta muitas vantagens<br />
para as grandes corporações que controlam o capital, definem e decidem sobre<br />
os destinos do câmbio, da taxa de juros, dos preços das comodities, da poupança<br />
e dos investimentos; por ouro lado aponta para uma “cooperação pacífica entre os<br />
49
povos e Estados, à democratização e à universalização dos direitos humanos e à<br />
solidariedade internacional dos movimentos sociais”.<br />
A partir de uma maior integração entre os países, há a possibilidade<br />
concreta de união e solidariedade entre os povos, na busca pela superação dos<br />
conflitos advindos com o acirramento da competitividade econômica entre as<br />
nações. Além disto, facilita o processo de decisão por uma política de<br />
desenvolvimento que busque eliminar a degradação ambiental e usar tecnologias<br />
e recursos nacionais e internacionais, para a solução de problemas que<br />
transcendem as fronteiras geográficas dos países, promovendo a democratização<br />
política e um desenvolvimento de maneira sustentável (Rattner,1995).<br />
Deve-se buscar o desenvolvimento das nações através de um modelo<br />
sustentável que atenda as reais necessidade sociais, com eqüidade, justiça<br />
social, garantia dos direitos democráticos e respeito à vida com um processo<br />
contínuo de melhoria das condições de vida, com o reduzido uso dos recursos<br />
naturais e causando poucos distúrbios ou desequilíbrios no ecossistema<br />
(Rattner,1995).<br />
50
1.5. Homem, Natureza e Trabalho: Elementos do Ciclo<br />
da Vida<br />
O modelo de desenvolvimento adotado pelos países determinam a forma<br />
de distribuição espacial da população, tendo repercussões sobre os problemas<br />
ambientais, uma vez que o ambiente representa um “espaço socialmente<br />
organizado”, e portanto um espaço onde se realizam os processos econômicos e<br />
sociais (Leal & col., v. 1, 1992; Leff, 1994). Dessa maneira, “a redistribuição da<br />
população sobre o espaço obedece a evolução da localização e da reestruturação<br />
da atividade econômica” (Martine,1993), o que denota o grau de interdependência<br />
entre o desenvolvimento, o ambiente e a população.<br />
Tem se observado que o processo de redistribuição populacional obedece<br />
em grande escala à concentração espacial das atividades econômicas o que pode<br />
ser visualizado com a concentração populacional em determinadas regiões, as<br />
quais são geralmente as mais industrializadas.<br />
Neste cenário, os problemas ambientais se apresentam intrinsecamente<br />
relacionados ao grau de desenvolvimento e de redistribuição da população.<br />
Uma vez que existe uma interrelação entre desenvolvimento-população-<br />
ambiente, torna-se evidente que também há transformações nas formas de<br />
organização e nos processos de trabalho.<br />
Portanto, não se pode esquecer que concomitantemente ao desgaste e<br />
degradação ambientais, cresce também o número de trabalhadores agredidos<br />
pelo ambiente de trabalho ou muitas vezes subtraído deste ambiente, deste<br />
mundo, e que, certamente não fazem parte do rol de interesses diretos dos<br />
movimentos que lutam a favor de um ambiente mais adequado à sobrevivência<br />
das espécies neste planeta.<br />
Não que esta luta ecológica em defesa de um ambiente puro e a<br />
preservação da biodiversidade, não seja importante. Certamente que são. No<br />
51
entanto é necessário resgatar para o interior desta discussão o ambiente que<br />
muitas vezes passa despercebido, mas que polui, desgasta, adoece e mata<br />
homens e mulheres: o ambiente do trabalho.<br />
O ciclo da vida, neste planeta, é integrado por diferentes espécies que<br />
estabelecem uma interação com o ambiente, no sentido de garantir a sua<br />
sobrevivência. Nesta interação, há uma verdadeira apropriação dos recursos<br />
naturais que passam por um processo de transformação no sentido de satisfazer<br />
as necessidades destes seres vivos. No entanto, este processo interacional entre<br />
natureza e seres vivos se estabelece de maneira instintiva, para a grande maioria<br />
dos seres, sendo o homem o único capaz de agir de maneira volitiva e<br />
conscientemente.<br />
Na medida em que o homem se apodera da natureza lhe imprime um grau<br />
de transformação que por sua vez reflete também sobre si. Isto pode ser<br />
evidenciado em Marx (1986) quando ele refere que<br />
“El trabajo es, en primer término, un proceso entre la<br />
naturaleza y el hombre, proceso en que éste realiza, regula y<br />
controla mediante su propia acción su intercambio de<br />
materias com la naturaleza. En este proceso, el hombre se<br />
enfrenta como un poder natural com la materia de la<br />
naturaleza. Pone en acción las fuerzas naturales que<br />
formam su corporeidad, los brazos y las piernas, la cabeza y<br />
la mano, para de esse modo asimilarse, bajo una forma útil<br />
para su propia vida, las materias que la naturaleza le brinda.<br />
Y a la par que de esse modo actúa sobre la naturaleza<br />
exterior a él y la transforma, transforma su propia naturaleza,<br />
desarrollando las potencias que dormitam en él y<br />
sometiendo el juego de sus fuerzas a su propia disciplina”.<br />
O homem portanto difere dos demais seres, pela maneira como interage<br />
com a natureza, pois produz um trabalho que se distingue pelo grau de<br />
intencionalidade e significado que impõe. Sendo assim, o trabalho se apresenta<br />
52
enquanto uma atividade racional e não instintiva, proposital e orientado pela<br />
inteligência, portanto é “uma atividade inalienável do indivíduo humano” (Martine,<br />
1993 ).<br />
Esta capacidade de executar trabalho consciente demanda um gasto<br />
energético que é desprendido pelo organismo durante a execução do processo de<br />
trabalho e é denominada por Marx (1986), “força de trabalho”, que pode ser<br />
encontrada sob o estado de potência ou ser vendida, convertendo-se em ação.<br />
Para se concretizar esta ação volitiva e consciente da interação homem-<br />
natureza, o próprio trabalho, no sentido de se produzir produtos que satisfaçam as<br />
necessidades humanas, que tenham portanto, um determinado fim, ou seja, o<br />
objeto de trabalho, é essencial o uso de meios de trabalho. É a partir da<br />
interação entre estes três elementos que se pode identificar o processo de<br />
trabalho.<br />
O objeto de trabalho, sobre o qual recai a ação volitiva do homem, se<br />
refere a um produto que representa um “valor de uso, uma matéria disposta na<br />
natureza e adaptada às necessidades humanas mediante uma mudança na<br />
forma” (Marx,1986).<br />
Por meios de trabalho compreende-se “aquele objeto ou conjunto de<br />
objetos que o trabalhador interpõe entre ele e o objeto que trabalha e que serve<br />
para determinar sua atividade sobre este objeto” (Marx,1986), são portanto, os<br />
instrumentos utilizados na realização das ações com o intuito de produzir um<br />
determinado produto.<br />
Partindo de uma análise deste processo e levando em consideração que<br />
ele se dirige à consecução de um determinado produto, Marx define que é a partir<br />
da interação entre os meios e os objetos de trabalho que resulta os meios de<br />
produção.<br />
“Para melhor compreensão deste processo produtivo, pode-<br />
se proceder sua análise através de duas direções: a) as<br />
forças produtivas entendidas como a totalidade dos meios<br />
de produção e das forças de trabalho da sociedade, que<br />
53
expressam o modo de apropriação da natureza pelo homem<br />
e o seu grau de domínio técnico sobre a natureza; e,<br />
b) as relações de produção que expressam a relação entre<br />
os homens no processo de produção social e na distribuição<br />
dos produtos do trabalho. São as distintas formas históricas<br />
de articulação destes dois elementos (forças produtivas e<br />
relações de produção) que vão caracterizar os modos de<br />
produção das diferentes épocas econômicas ou formações<br />
sociais” (Ohlweiler,1984).<br />
A história do mundo do trabalho coincide com o a história da humanidade e<br />
está intrinsecamente relacionada à forma como ocorre o processo de apropriação<br />
dos recursos naturais no sentido de satisfação das necessidades humanas que<br />
têm se tornado cada vez mais complexas, na medida em que se dá a evolução<br />
dos tempos, de maneira que cada sociedade se estrutura diferentemente no<br />
processo histórico, a partir da apropriação dos recursos naturais e do nível de<br />
domínio sobre a natureza, bem como, das relações que se estabelecem no<br />
processo produtivo. Partindo deste assertiva, Martine (1993), afirma que o<br />
trabalho “é assim a força que criou o mundo como o conhecemos”.<br />
Dessa forma, o processo de construção da humanidade apresenta<br />
diferenças que variam conforme cada momento histórico nos quais se<br />
estabeleceram os diferentes modos de produção: o próprio da comunidade<br />
primitiva, o escravagista, o feudalista, o capitalista e o comunista (Triviños,1992).<br />
Uma vez que as sociedades vivem hoje sob a égide do capitalismo, é<br />
importante destacar alguma de seus pressupostos e fundamentos principais,<br />
como a exigência de intercâmbio de relações, mercadorias e dinheiro e tem como<br />
especificidade a compra e venda de força de trabalho (Braverman,1987).<br />
Para a garantia destas características específicas do capitalismo, segundo<br />
Braverman (1987), três condições básicas tornam-se generalizadas na sociedade.<br />
54
“Em primeiro lugar, os trabalhadores são separados dos<br />
meios com os quais a produção é realizada, e só podem ter<br />
acesso a eles vendendo sua própria força de trabalho a<br />
outros. Em segundo, os trabalhadores estão livres de<br />
constrições legais, tais como servidão ou escravidão, que os<br />
impeçam de dispor de sua força de trabalho. Em terceiro, o<br />
propósito do emprego do trabalhador torna-se a expansão<br />
de uma unidade de capital pertencente ao empregador, que<br />
está assim atuando como um capitalista”.<br />
Como os capitalistas são os detentores dos meios de produção, cabe ao<br />
trabalhador apenas a possibilidade de venda de sua força de trabalho. Os<br />
capitalistas compram a força de trabalho pagando pela sua utilização no processo<br />
produtivo sob a forma de salário, enquanto os trabalhadores compram destes os<br />
meios de consumo necessários a sua sobrevivência. Se estabelece então um<br />
acordo ou contrato de trabalho entre o trabalhador que vende e o empregador que<br />
compra a força de trabalho, dando início assim, ao processo de trabalho.<br />
As forças de trabalho passam, assim, a uma condição de mercadoria e<br />
suas utilidades são determinadas não mais com base nas necessidades<br />
humanas, mas nas necessidades dos empregadores, que buscam tão somente<br />
ampliar o volume de seu capital.<br />
O capitalismo contemporâneo tem passado por um processo de<br />
reestruturação que tem reflexos diretamente sobre o processo e a organização do<br />
trabalho. O padrão admitido a partir da Administração Científica, com o<br />
Taylorismo e o Fordismo, bem como, a existência de um Estado intervencionista e<br />
regulador, já começam a ser questionados e entra em cena um novo padrão que<br />
vem determinando a dinâmica econômica e social nas duas últimas décadas,<br />
principalmente.<br />
Este novo modelo marcado pela globalização da economia e pela<br />
flexibilidade do trabalho, mantém os pressupostos básicos do capitalismo, e<br />
introduz um novo padrão de acumulação capitalista, centrada basicamente na<br />
microeletrônica e que permeia todas as atividades do ser humano.<br />
55
“É como o nome diz: flexibilidade, propiciar que o aparelho<br />
produtivo se reestruture a partir das oscilações da demanda,<br />
o que é um ganho do capital em relação a crises anteriores.<br />
Isso exige uma mudança brutal nas relações de trabalho”<br />
(Leite & Aguiar, 1996).<br />
Há um processo de estímulo à concorrência e à produtividade que favorece<br />
às inovações tecnológicas. No entanto, ao mesmo tempo em que aumenta a<br />
produtividade, tende a reduzir a necessidade de trabalho vivo, ou seja, diminuir a<br />
quantidade do trabalho socialmente necessário para a produção de mercadorias,<br />
acarretando como conseqüência, o desemprego estrutural e o crescimento da<br />
economia informal. Pois, a tecnologia é aplicada sob a lógica do capital e não<br />
está direcionada para proporcionar incrementos necessários à melhoria das<br />
condições no processo de trabalho, ampliando assim a qualidade de vida de<br />
quem delas faz o uso direto, que são os trabalhadores.<br />
Com o advento de novas tecnologias os processos produtivos adquirem um<br />
novo padrão, com produção de mercadorias com diferentes qualidades,<br />
determinando as formas de consumo, promovendo assim um novo modelo de<br />
desenvolvimento, que por sua vez determina novos padrões de riscos para os<br />
trabalhadores e tem reflexos sobre toda a cultura, a política e a sociedade.<br />
56
1.6. Trabalho e Saúde: Em Busca do Equilíbrio<br />
Como dito anteriormente, o mundo do trabalho tem passado por grandes<br />
alterações no decorrer deste século, seja na sua forma de organização ou no<br />
próprio processo de produção, como conseqüência direta do novo padrão de<br />
desenvolvimento adotado pelos países, de cunho neoliberal e globalizante, que<br />
combina flexibilidade econômica e informatização da comunicação.<br />
Se por um lado, este novo modelo, promove uma maior integração entre<br />
as nações, no sentido de se estabelecer padrões semelhantes de produção e<br />
consumo, por outro lado facilita a transferência, principalmente para os países<br />
periféricos, de tecnologias muitas vezes ultrapassadas e não adequadas, que<br />
provocam transformações no quadro de fatores de risco para a vida e saúde dos<br />
trabalhadores.<br />
“Entretanto, essa transferência não se dá de forma<br />
mecânica, imediata ou fatalista mas, redefinida, atualizada e<br />
filtrada pelas condições sócioeconômicas, políticas e<br />
culturais de cada país receptor”. (Franco,1993).<br />
Diante disto, se evidencia que o processo de inserção de empresas<br />
multinacionais nos países de economia dependente, especificamente do Terceiro<br />
Mundo, passa pela aplicação de estratégias que levam em consideração as<br />
baixas condições de trabalho, a limitada legislação trabalhista e previdenciária,<br />
bem como, a pouca valoração das questões referentes aos problemas<br />
ambientais.<br />
Se observa que há importação de riscos decorrentes do emprego dessas<br />
tecnologias, algumas em fase experimental de análise, o que as torna perigosas<br />
57
para a saúde e vida de quem as utiliza, no ambiente interno da empresa que são<br />
os próprios trabalhadores, bem como, no ambiente externo, representado pelos<br />
recursos naturais e a população.<br />
Franco (1993), assinala que há “uma exteriorização crescente dos<br />
impactos dos processos produtivos além dos muros das fábrica”, os quais podem<br />
se apresentar de maneira aguda, facilmente perceptíveis pelos órgãos dos<br />
sentidos ou de maneira mais crônica, lenta, cumulativa e persistente e, de difícil<br />
detecção pelos sentidos ou pelos métodos de investigação científicos atuais.<br />
Ambos os processos, seja em sua forma aguda ou crônica, se apresentam<br />
das mais diferentes formas no ambiente. Ora são mais facilmente percebidos<br />
através do comprometimento dos recurso naturais, ora como um problema de<br />
saúde, não se podendo esquecer que em ambas as situações há um<br />
comprometimento da saúde da população, mesmo que este não esteja<br />
claramente identificado pelos métodos de investigação tradicionais.<br />
Uma vez que a saúde é entendida enquanto um processo cujos momentos<br />
não estão demarcados em um sentido estrito mas inter-relacionados e por sua<br />
vez envolvidas no contexto social (Rouquayrol,1988), não é possível fazer uma<br />
distinção clara no processo saúde-doença, que é<br />
“determinado por uma rede complexa e articulada de<br />
condicionantes de ordem histórica, social, biológica e<br />
psicológica que se dispõem e se organizam em diferentes<br />
níveis com estrutura e dinâmica particulares, atuando nos<br />
planos do coletivo e do individual” (Tambellini,1995).<br />
Denota-se então que existe uma determinação histórica e social que se<br />
expressa no plano do coletivo, mas que apresenta reflexos sobre a integralidade<br />
do indivíduo. Ou seja, a doença se torna concreta a nível individual e resulta das<br />
condições de vida e trabalho da população.<br />
58
A partir dessas definições Tambellini (1995), assinala que<br />
“ a saúde do trabalhador é referida a uma proposição teórica<br />
onde os indivíduos e os grupos de indivíduos são vistos em<br />
termos de classes, grupos ou extratos sociais que<br />
compartilham das mesmas condições básicas de vida e<br />
trabalho e de um dado projeto político, em termos amplos”.<br />
A partir da compreensão de que o processo saúde-doença é determinado<br />
pelas condições de vida e trabalho da população, pode-se concluir que os danos<br />
à vida e saúde dos trabalhadores não se refere apenas ao ambiente interno da<br />
empresa, onde ocorre a produção, mas também diz respeito ao ambiente para<br />
além da empresa, como reflexo da reprodução social característica da vida<br />
moderna. Aspectos estes que são conseqüências diretas do modelo de<br />
desenvolvimento determinado no modo de produção capitalista atualmente<br />
hegemônico nos países.<br />
A identificação das relações que se estabelecem entre as condições de<br />
vida e trabalho com o processo saúde doença dos trabalhadores, caminha a partir<br />
da identificação dos riscos e cargas que estão envolvidos em todo o processo de<br />
trabalho.<br />
A noção de risco, analisada pelo lado da produção tem como referência<br />
uma visão mecanicista e reducionista com base na teoria monocausal e, tem<br />
como principal preocupação a<br />
“identificação e isolamento de um agente de risco específico,<br />
e na medição - normalmente pelo uso de instrumentos com<br />
tecnologias bastante sofisticadas - dos níveis de<br />
concentração ambiental - avaliação ambiental, ou no<br />
59
trabalhador - avaliação biológica, deste agente numa dada<br />
situação de trabalho” (Brito & Porto,1991).<br />
Quando analisada pela vertente epidemiológica, a idéia de risco assume<br />
um caráter matemático de probabilidade (Almeida Filho,1989; Lieber,1996) cujo<br />
uso inicial dizia respeito ao estudo de doenças crônicas, mas que tem sido<br />
ampliada ao estudo do processo saúde-doença em geral, principalmente a partir<br />
da aplicação do termo fatores de risco que<br />
“pode ser definido como um atributo de um grupo que<br />
apresenta maior incidência de uma dada patologia em<br />
comparação com outros grupos populacionais, definidos<br />
pela ausência ou baixa dosagem, de tal característica”<br />
(Almeida Filho,1989).<br />
A partir desta visão tem-se o reconhecimento de que o processo saúde-<br />
doença de uma população apresenta inúmeros determinantes que estão ligados<br />
tanto aos aspectos culturais, sociais, econômicos, políticos, acentuando-se a<br />
historicidade desses fenômenos, quanto às características físicas e biológicas dos<br />
indivíduos e do meio ambiente (Almeida Filho,1989; Lieber,1996).<br />
Brito & Porto (1991), assinalam que no âmbito da saúde do trabalhador há<br />
o reconhecimento do trabalhador enquanto sujeito histórico, portanto ator de sua<br />
própria vida, cujo direito à saúde se relaciona ao direito ao trabalho, à informação,<br />
à participação, ao lazer e a todos os que se referem ao direito de cidadania.<br />
Acrescentam ainda que para além da noção de risco, no interior da saúde<br />
do trabalhador vem crescendo o uso das idéias de cargas de trabalho, cuja<br />
origem advém da ergonomia francesa.<br />
Este novo modo de explicação dos fenômenos inerentes ao processo<br />
saúde-doença-trabalho parte do pressuposto de que no processo de trabalho se<br />
estabelece uma interação “complexa e dinâmica entre o trabalhador e sua<br />
atividade de trabalho” (Brito & Porto,1991), de maneira que na execução do<br />
60
processo de trabalho o trabalhador se defronta com várias dificuldades, para as<br />
quais gera um processo de adaptação, que se traduzem em desgaste (Laurel &<br />
Noriega,1989; Brito & Porto,1991), que é “entendido como perda da capacidade<br />
potencial e/ou efetiva corporal e psíquica” (Laurel & Noriega,1989), os quais se<br />
apresentam através dos diferentes graus de adoecimento e morte.<br />
O processo de adaptação, diferentemente de uma concepção fisiológica de<br />
retorno ao “normal”, se refere<br />
“a capacidade do corpo de responder com plasticidade<br />
diante de suas condições específicas de desenvolvimento, o<br />
que se traduz em mudanças específicas nos processos<br />
corporais, que se expressam como formas biológicas<br />
características” (Laurel & Noriega,1989).<br />
Portanto, a partir dos processos particulares de adaptação se consegue<br />
determinar a conformação do desgaste e o perfil biopsicopatológico dos<br />
trabalhadores.<br />
Dessa forma, a identificação das cargas de trabalho passa<br />
necessariamente pela análise do processo e da organização do trabalho de<br />
maneira dinâmica e abrangente.<br />
No entanto, as duas maneiras de análise do processo saúde-doença, seja<br />
através da análise de riscos ou de cargas de trabalho, não são excludentes, uma<br />
vez que os trabalhadores quotidianamente estão em relação direta com os<br />
diferentes riscos, os quais por sua vez têm implicações no padrão das cargas a<br />
que estão submetidos.<br />
“A noção de risco permite mapeamentos globais de<br />
condições que, em si, são potencialmente prejudiciais à<br />
saúde dos trabalhadores e até mesmo, da população<br />
vizinha. A noção de carga de trabalho permite o<br />
reconhecimento de condições particulares, de avaliação,<br />
61
tanto quantitativa como qualitativamente, sendo muitas delas<br />
extremamente complexas,...” (Brito & Porto,1991).<br />
Como se evidencia, ambos os conceitos são complementares no processo<br />
de análise das condições de vida, adoecimento e morte dos trabalhadores, uma<br />
vez que permitem identificar com precisão os diferentes fenômenos determinantes<br />
do processo saúde-doença, tanto nos níveis biológicos quanto psíquico e afetivo .<br />
O trabalho por si só não é algo causador de sofrimento, doenças e mortes.<br />
Se assim o fosse, a ausência de trabalho seria suficiente para que se reduzissem<br />
o número de doenças e acidentes ligadas diretamente ao trabalho.<br />
O que se observa é exatamente o oposto. A ausência de trabalho, que<br />
pode ser facilmente observada com o fenômeno do desemprego, é também<br />
gerador de profundos distúrbios na vida e saúde dos trabalhadores.<br />
Isto só vem a constatar que a discussão acerca da relação trabalho-saúde<br />
não diz respeito exclusivamente ao ambiente intrafabril. Ela envolve também o<br />
ambiente exterior ao do trabalho propriamente dito, sendo necessário<br />
compreender que os verdadeiros determinantes estão no padrão adotado para o<br />
processo de trabalho e sua organização, que em última análise é conseqüência<br />
do modo de produção.<br />
É importante destacar o caráter fundamental que representa o trabalho na<br />
vida e saúde dos homens e mulheres, uma vez que é a partir das relações que<br />
se estabelecem no processo de trabalho, que se dá o processo de socialização<br />
do indivíduo, ao mesmo tempo que se promove o desenvolvimento da<br />
humanidade.<br />
E, resgatar a fala de Dejours (1986), ao afirmar que<br />
“o equilíbrio entre saúde e trabalho é possível quando o<br />
trabalho é livremente escolhido e quando sua organização é<br />
62
astante flexível para que o trabalhador possa adaptá-la a<br />
seus desejos, às necessidades de seu corpo e às variações<br />
de seu estado de espírito”.<br />
63
1.7. A Exposição aos Agrotóxicos para o<br />
Controle de Vetores: Riscos e Danos<br />
Nos últimos anos tem-se evidenciado o aumento do uso indiscriminado e<br />
abusivo dos agrotóxicos, associado a mudanças constantes no espectro dessas<br />
substâncias, principalmente as sintéticas.<br />
Dentre os numerosos fatores que contribuem para isto, é importante<br />
mencionar as alterações no comportamento dos insetos, a resistência aos<br />
praguicidas, a economia agrícola que não mostra aumento do seu rendimento<br />
apesar dos agrotóxicos, a não seletividade com efeitos nocivos sobre o ambiente,<br />
incluindo o homem, a pouca informação quanto aos problemas ecotoxicológicos<br />
por elas acarretados.<br />
Da mesma maneira, na saúde pública começa-se a duvidar acerca dos<br />
benefícios da utilização destes produtos para o controle de vetores transmissores<br />
de enfermidades, principalmente devido aos problemas advindos a longo prazo,<br />
com o uso dos inseticidas. A persistência da malária, a reemergência do dengue e<br />
o risco de reurbanização da febre amarela são exemplos que ilustram.<br />
Também se observa um número muito elevado de intoxicações agudas<br />
provocadas pelo uso desses produtos, principalmente nos países do Terceiro<br />
Mundo onde, segundo a Organização Mundial de Saúde-OMS, se intoxica uma<br />
pessoa a cada minuto (Weir & Schapiro, 1982). Soma-se a isto o aumento na<br />
identificação de processos decorrentes de intoxicações crônicas, do tipo<br />
cancerígeno, mutagênico, teratogênico (Gallardo,1986), hipersensibilidade a<br />
múltiplos químicos (Nethercott, Davidoff & Curbow, 1993).<br />
Os agrotóxicos são um negócio grande e crescente. As 25 maiores<br />
indústrias produtoras multinacionais, venderam em 1990 em torno de vinte e três<br />
bilhões de dólares e em 1991, este número já estava em vinte e quatro bilhões,<br />
sendo que as dez maiores companhias controlam cerca de 73% deste (Dinham,<br />
1993).<br />
64
Segundo Garcia (1996), a OMS estima que o uso de agrotóxicos no mundo<br />
está em torno de 3 milhões de toneladas, ocorrendo cerca de 1 milhão de<br />
intoxicações agudas e 20 mil mortes por ano, sendo a exposição ocupacional<br />
responsável por 70% dos casos.<br />
O Brasil é o maior consumidor e exportador de pesticidas na América<br />
Latina, atraindo subsidiárias das grandes indústrias produtoras de agroquímicos.<br />
Além de oferecer infra-estrutura, generosas taxas governamentais, mão-de-obra<br />
barata e pouco exigente e uma fraca política de controle, apresenta além do<br />
consumo agrícola, um grande mercado de uso doméstico, e o uso extensivo nas<br />
campanhas de saúde pública.<br />
Segundo Augusto (1995), com a Portaria n.º 329 de 02 de setembro de<br />
1985, do Ministério da Agricultura, houve a proibição da utilização dos<br />
organoclorados em atividades agrícolas, no entanto permitindo seu uso em<br />
campanhas de saúde pública.<br />
No entanto, depois de alguns anos de muita polêmica em torno do uso<br />
indiscriminado de agrotóxicos, o Brasil aprova a regulamentação para as<br />
diferentes possibilidades de aplicações destas substâncias, com a Lei n.º 7802,<br />
de 11 de julho de 1989, que “dispões sobre a pesquisa, a experimentação, a<br />
produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a<br />
comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a importação, a<br />
exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação,<br />
o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins,<br />
e dá outras providências“ (Brasil/Ministério da Agricultura, 1989). Vale salientar<br />
que em seu artigo 20.º - Parágrafo único – trata da reavaliação dos registros de<br />
produtos agrotóxicos que têm como componentes os organoclorados.<br />
Esta Lei Federal (n.º 7802, de 11 de julho de 1989/MT) define o termo<br />
‘agrotóxico’ como sendo:<br />
“a) os produtos e os agentes de processos físicos, químicos<br />
ou biológicos, destinados ao uso nos setores de<br />
produção, no armazenamento e beneficiamento de<br />
produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de<br />
florestas, nativas ou implantadas, e de outros<br />
65
ecossistemas e também de ambientes urbanos, hídricos<br />
e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da<br />
flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa<br />
de seres vivos considerados nocivos;<br />
b) substância e produtos, empregados como desfolhantes,<br />
dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento.”<br />
A partir desta definição apreende-se que os agrotóxicos, também<br />
denominados praguicidas, pesticidas, biocidas, são substâncias químicas,<br />
naturais ou sintéticas, utilizadas para o combate às pragas que atacam a<br />
agricultura e também aos vetores que transmitem enfermidades ao homem a aos<br />
animais.<br />
Dada a grande diversidade de produtos, faz-se necessário conhecer um<br />
pouco da classificação dos agrotóxicos quanto à sua ação, ao grupo químico a<br />
que pertencem e segundo seu poder tóxico, o que também auxilia no diagnóstico<br />
do comprometimento ao ambiente e à saúde dos trabalhadores. Tais informações<br />
encontram-se de maneira clara e suscinta no Manual de Vigilância da Saúde de<br />
Populações expostas a Agrotóxicos (Brasil/Ministério da Saúde/Secretaria de<br />
Vigilância Sanitária, 1997) com também no Manual de Normas e Procedimentos<br />
Técnicos para a Vigilância da Saúde do Trabalhador (Bahia/Secretaria de Saúde<br />
do Estado da Bahia/Departamento de Vigilância da Saúde/CESAT, 1996), dos<br />
quais extraiu-se as seguintes informações:<br />
1. Inseticidas: Têm sua ação dirigida para o combate a insetos, larvas e<br />
formigas e pertencem a quatro grupos químicos distintos:<br />
• Organofosforados, são compostos orgânico derivados do ácido<br />
fosfórico, do ácido tiofosfórico ou ácido ditiofosfórico, a exemplo do<br />
Malathion;<br />
• Carbamatos, são derivados do ácido carbâmico, a exemplo do<br />
Carbaril;<br />
66
• Organoclorados, são compostos à base de carbono, com radicais de<br />
cloro, derivados do clorobenzeno, do ciclo-hexano ou do ciclodieno,<br />
a exemplo de DDT, BHC;<br />
• Piretróides, são compostos sintéticos cujas estruturas assemelham-<br />
se à piretrina existente nas flores Chrysantemum (pyrethrum)<br />
cinenariaefolium, a exemplo da cipermetrina, deltametrina; e<br />
2. Fungicidas, são compostos que combatem os fungos, a exemplo do<br />
hexaclorobenzeno;<br />
3. Herbicidas, destinados às ervas daninhas, a exemplo do pentaclorofenol,<br />
paraquat;<br />
4. Raticidas, são dicumarínicos utilizados no combate a roedores;<br />
5. Acaricidas, dirigido aos ácaros;<br />
6. Nematicidas, para o combate a nematóides;<br />
7. Molusquicidas, com ação basicamente contra o caramujo da<br />
esquistossomose;<br />
8. Fumigantes, com ação inseticida e bactericida.<br />
Para a classificação toxicológica utiliza-se como indicador a Dose Letal 50<br />
ou DL50, oral, dérmica ou respiratória tendo como referência o produto puro. Este<br />
indicador é uma estimativa estatística referente a menor dose da substância<br />
capaz de matar num período de 14 dias, a metade de uma população em estudo,<br />
quando ingerida (DL50 oral), mantida em contato com a pele (dérmica) ou inalada<br />
(respiratória) (FNS/DEOPE, 199_).<br />
Os quadros 2 e 3 (Trapé, 1994) expressam os agrotóxicos conforme a sua<br />
toxicidade medida pela DL50, comparando-a com a quantidade suficiente para<br />
matar um adulto e em seguida a indicação de cor do rótulo na embalagem,<br />
conforme determinação legal.<br />
67
QUADRO 2: Classificação toxicológica dos agrotóxicos segundo a DL50<br />
GRUPOS DL 50 Dose capaz de matar um<br />
adulto<br />
Extremamente Tóxicos 5 mg/Kg 1 pitada – alguma gotas<br />
Altamente Tóxicos ≤ 5-50 Algumas gotas – 1 colher<br />
de chá<br />
Medianamente Tóxicos 50-500 1 colher de chá –<br />
2 colheres de sopa<br />
Pouco Tóxicos 500-5000 2 colheres de sopa –<br />
1 copo<br />
Muito Pouco Tóxicos 5000 ou + 1 copo – 1 litro<br />
Fonte: Trapé (1994) .<br />
QUADRO 3: Classe toxicológica e cor da faixa no rótulo de produto agrotóxico<br />
Classe I Extremamente tóxicos Faixa vermelha<br />
Classe II Altamente tóxicos Faixa amarela<br />
Classe III Medianamente tóxicos Faixa azul<br />
Classe IV Pouco tóxicos Faixa verde<br />
Fonte: Trapé (1994).<br />
68
É de amplo conhecimento que estas substâncias químicas têm uma ação<br />
biocida, sendo portanto, potencialmente danosos para todos os organismos vivos,<br />
não apenas ao trabalhador. Trabalhos científicos têm demonstrado a<br />
contaminação do ambiente e da população em geral que se contamina através do<br />
contato, seja através do alimento que tem um percentual de inseticidas, ou da<br />
água, do tratamento doméstico contra os insetos, ou até do uso destes em<br />
campanhas de saúde pública.<br />
Uma das principais críticas está direcionada à política adotada pelos<br />
países que mantém a liberação do uso destes produtos, sem um controle rígido,<br />
não investem em pesquisas ou implementam técnicas alternativas ao uso dos<br />
inseticidas, seja na agricultura, em saúde pública ou até a nível domiciliar, menos<br />
danosas à saúde e ao ambiente, buscando o desenvolvimento sustentável.<br />
69
1.7.1. Repercussão sobre o Ambiente<br />
Os efeitos decorrentes da aplicação maciça de insumos químicos tem<br />
ocasionado vários danos ao ambiente, tais como desequilíbrio entre espécies<br />
animais e vegetais ecologicamente estáveis, dependência tecnológica de<br />
produtos químicos e sérios danos à saúde humana pelo uso dos agrotóxicos,<br />
além de interferirem na disponibilidade de água, alimentos e habitats naturais, e<br />
em toda a biodiversidade, incluindo os danos sobre os inimigos naturais das<br />
pragas e a resistência a estas substâncias.<br />
Segundo Garcia (1996), “sabe-se que há interferências dos agrotóxicos<br />
sobre a dinâmica dos ecossistemas, como nos processos de quebra da matéria<br />
orgânica e de respiração do solo, ciclo de nutrientes e eutrofização de águas”.<br />
Os praguicidas contaminam o ambiente como resultado da aplicação<br />
direta, pelos resíduos atmosféricos que caem com a chuva ou neve, pelos<br />
resíduos de plantas e animais e pela contaminação de lençóis freáticos. A partir<br />
de então, atingem o ar, a água, o solo, a fauna, a flora e consequentemente a<br />
população.<br />
Em estudo desenvolvido por Siqueira, Jacob e Canhete (1983), sobre o<br />
uso de agrotóxicos no Paraná, Brasil, encontra-se que os resíduos destas<br />
substâncias podem: 1) ser absorvidos e depositados nos tecidos animais e<br />
vegetais, onde se acumulam ou se dissolvem nos tecidos adiposos, óleos e<br />
camadas serosas, ou incorporam - se à seiva dos vegetais, onde permanecem<br />
inalterados ou transformam-se em metabólitos tóxicos; 2) permanecer nos<br />
alimentos, mesmo que estes venham a ser transformados industrialmente; 3)<br />
alterar as cadeias alimentares naturais, devido a persistência em algumas<br />
espécies ou pela ação tóxica direta, no plâncton e depois nos peixes, nas<br />
pastagens e depois no leite e gordura animal, na alimentação verde e depois nas<br />
aves e ovos, comprometendo assim, não apenas a vida silvestre mas também o<br />
homem que se encontra no fim da cadeia alimentar global recebendo os resíduos<br />
de pesticidas estáveis.<br />
70
1.7.2. Repercussões sobre a Saúde dos<br />
Trabalhadores<br />
O uso de inseticidas se refletem na saúde dos trabalhadores através das<br />
intoxicações as quais podem se apresentar nas formas agudas, subaguda e<br />
crônicas que são percebidas através dos efeitos toxicológicos e clínicos. Para a<br />
sua distinção deve-se levar em consideração as características do produto: sua<br />
natureza, sua estrutura química, sua volatilidade e solubilidade; a forma de<br />
exposição: a via de absorção, o tempo de exposição, a concentração da<br />
substância usada a dose e a freqüência; e as características do indivíduo: a<br />
susceptibilidade individual, idade, sexo, peso, condições de saúde e nutrição<br />
(Augusto,1995; Queiroz,1986;Trapé, 1995 ).<br />
As intoxicações agudas se caracterizam por aparecerem poucas horas<br />
após uma exposição excessiva, em um curto período, podendo se apresentar de<br />
forma leve, moderada e grave, com sintomas e sinais bastante nítidos e de fácil<br />
detecção. As subagudas surgem lentamente após a exposição, com sintomas<br />
pouco definidos. As crônicas aparecem tardiamente após a exposição a um ou a<br />
múltiplos produtos (Trapé, 1995).<br />
As intoxicações agudas são facilmente reconhecidas, mas as subagudas e<br />
principalmente as crônicas apresentam difícil diagnóstico uma vez que os<br />
agrotóxicos atingem o organismo em todo o seu conjunto de aparelhos e<br />
sistemas, suscitando confusão com outros diagnósticos clínicos.<br />
As informações a respeito destes efeitos crônicos são baseados<br />
principalmente em experimentos com animais de laboratório, tendo poucas<br />
evidências em humanos. Mas encontra-se relato de comprometimento orgânico<br />
(Augusto, 1995; Rosenstock,1990; Queiroz,1986; Savage et alli,1988; Jamal,<br />
1995; Ilani et col.,1988) e psico-afetivo (Levin et col.; Levin & Rodnitzky,1976)<br />
pelo uso prolongado destes produtos.<br />
71
a) Os Organoclorados<br />
a.1) Características Toxicológicas<br />
Dentre as características químicas destaca-se a baixa hidrossolubilidade e<br />
alta lipossolubilidade, tendendo a se acumular no tecido adiposo após a sua<br />
absorção. Seu impacto no meio ambiente e saúde é provocado, principalmente<br />
pela resistência à degradação e pela capacidade bioacumulativa (Klaassen,1991).<br />
A persistência no meio ambiente é definida pelo tempo que o produto leva<br />
para perder pelo menos 95% de sua atividade sob condições naturais. Dessa<br />
forma, classificam-se em: não persistentes, quando levam até 3 semanas para se<br />
degradarem; de persistência moderada, quando levam de 1-18 meses e os<br />
persistentes, quando levam 2 ou mais anos. A maioria dos organoclorados são<br />
considerados persistentes (Stoker & Seager Apud Augusto,1995). O DDT, graças<br />
a sua estabilidade química e insolubilidade pode permanecer num período de 4-<br />
30 anos no solo, com média de 10 anos; o Dieldrin, 5-25 anos com média de 8<br />
anos; Aldrin 1-6 anos com média de 3 anos (Trapé,1994).<br />
O documento “International Experts Meeting on Persistent Organic<br />
Pollutants: Toward Global Action (1995), afirma que a taxa de acumulação do<br />
DDT no organismo varia de acordo com a espécie, a duração e a concentração<br />
da exposição, bem como, com as condições ambientais e sua eliminação é<br />
estimada numa taxa de excreção de aproximadamente 1% ao dia.<br />
Este mesmo trabalho mostra que o DDT foi banido de 34 países e<br />
severamente restrito em outros 34, e é liberado apenas para campanhas de<br />
saúde pública em 16 países (Belize, Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Hungria,<br />
Índia, Israel, Kênya, México, Filipinas, Portugal, África do Sul, Tailândia, Turquia e<br />
Venezuela), isso graças a seu “baixo custo, acessibilidade e eficácia”.<br />
72
a.2) Manifestações clínicas<br />
Os sinais e sintomas de intoxicação aguda incluem parestesia da língua,<br />
lábios e rosto, apreensão, hipersensibilidade a estímulos, irritabilidade, tontura,<br />
tremores, e convulsões tônicas e clônicas. O mecanismo de ação no SNC não<br />
está completamente definido, mas observa-se que o composto é capaz de alterar<br />
o transporte de Na+ e K+ através das membranas axônicas, com conseqüente<br />
aumento do pós-potencial negativo, prolongamento dos potenciais de ação,<br />
descargas repetitivas após um único estímulo e séries espontâneas de potenciais<br />
de ação (Klaassen, 1991).<br />
No processo de intoxicação crônica os principais efeitos dos<br />
organoclorados referidos por Augusto,1995 são :<br />
a) Neurotóxicos<br />
• Anestésico do SNC pela modificação da membrana de células<br />
nervosas<br />
• Dano neurotóxico: sistema nervoso periférico (desmielinização<br />
segmentar e degeneração axonal); SNC, pela ação direta nos<br />
neurônios ou interrupção do metabólito neurotransmissor e efeitos<br />
combinados de neuropatia degenerativa central e periférica.<br />
* Principais sintomas e sinais:<br />
• alteração da inteligência (concentração, atenção, memória,<br />
abstração, demência);<br />
• descoordenação motora fina;<br />
• alterações sensoriais (visual, auditiva, parestesias, anestesias,<br />
distúrbios táteis);<br />
73
• distúrbios de personalidade (ansiedade, afeto, distúrbios<br />
psicóticos, tensão, fadiga, irritabilidade);<br />
• cefaléia, convulsões, coma, ataxia.<br />
b) Imunológicos: em animais obserou-se: alterações histológicas e<br />
ponderais de órgãos linfóides (baço, linfonodos); alterações quantitativas<br />
e funcionais de leucócitos, aumento da susceptibilidade às infecções,<br />
aumento da prevalência de doenças autoimunes, doenças alérgicas e<br />
neoplasias.<br />
c) Nefro-hepatotóxicos:<br />
No fígado: necrose centrolobular, esteatose e cirrose.<br />
No rim: câncer, glomerulonefrite e necrose tubular.<br />
d) Alterações enzimáticas: inibem a atividade da acetilcolinesterase.<br />
e) Síndrome de hipersensibilidade a múltiplos químicos.<br />
Tem se observado ainda em animais de laboratório, anormalidades<br />
reprodutivas, doenças genéticas, mutagenicidade e carcinogenicidade.<br />
74
) Os Organofosforados e Carbamatos<br />
a.1) Características Toxicológicas<br />
Os organofosforados se caracterizam por sua alta lipossolubilidade e baixa<br />
hidrossolubilidade. Quanto ao impacto no ambiente estes não apresentam<br />
grandes e sérios problemas devido a sua baixa persistência no solo, que é em<br />
média de uma a duas semanas para o malathion e entre três e seis meses para o<br />
parathion, diazinon (Metcalf & Metcalf, 1993).<br />
O mecanismo de ação no homem tem como locus principal as junções<br />
neuromusculares, onde atuam como inibidores da enzima acetilcolinesterase, que<br />
é um componente essencial na transmissão do impulso nervoso. Podem produzir<br />
potencialmente as seguintes ações: 1) estimulação das respostas dos receptores<br />
muscarínicos nos órgãos efetores autônomos; 2) estimulação, seguida de<br />
depressão ou paralisia de todos os gânglios autônomos de músculos esqueléticos<br />
(ação nicotínica); e 3) estimulação com depressão subsequente ocasional dos<br />
locais receptores colinérgicos no Sistema Nervoso Central (Taylor, 1990).<br />
Os carbamatos se assemelham muito aos organofosforados e também<br />
inibem a enzima acetilcolinesterase.<br />
b. 2) Manifestações Clínicas<br />
Em intoxicações agudas produzem efeitos muscarínicos (ou colinérgicos),<br />
nicotínicos e neurológicos.<br />
75
Os colinérgicos referem-se aos efeitos oculares (miose, dor ocular,<br />
congestão da conjuntiva, visão prejudicada, espasmo ciliar e dor no supercílio);<br />
respiratórios (rinorréia, hiperemias de vias aéreas superiores, broncoespasmo e<br />
aumento da secreção brônquica); gastrointestinais (anorexia, náusea, vômito,<br />
cólicas abdominais e diarréia); outros incluem a salivação extrema, micção e<br />
defecação involuntárias, sudorese, lacrimejamento, ereção peniana, bradicardia e<br />
hipotensão.<br />
Os nicotínicos constituem geralmente fadiga e fraqueza generalizada,<br />
contrações involuntárias, fasciculações disseminadas e paralisia muscular, cujo<br />
quadro mais grave é a paralisia dos músculos respiratórios.<br />
Os efeitos neurológicos se referem a sua ação no SNC e inclui confusão,<br />
ataxia, fala indistinta, perda dos reflexos, respiração de Cheyne-Stokes,<br />
convulsões generalizadas, coma e paralisia respiratória central; além destas<br />
observa-se ação vasomotor e em outros centros cardiovasculares no bulbo que<br />
provocam hipotensão. Este quadro pode evoluir para coma e morte.<br />
Os mecanismos de ação na intoxicação crônica pelos organofosforados<br />
ainda não estão completamente elucidados, mas percebe-se a persistência dos<br />
efeitos agudos. Clinicamente se apresentam através de ansiedade, diminuição da<br />
capacidade de alerta e déficit da memória, lapsos da atenção, perda do juízo,<br />
distúrbios visuais, alterações neurocomportamentais e da personalidade,<br />
depressão, dificuldade de concentração, confusão mental, labilidade emocional,<br />
distúrbios de linguagem, irritabilidade, alucinações e delírios, tremores, distúrbios<br />
do sono, insônia, sonambulismo, sono excessivo, reações esquizofrênicas,<br />
alterações no EEG, neuropatia periférica, parestesias, hiporreflexia, deficiência na<br />
coordenação neuro-motora (Klaassen, 1990; Ecobichon, 1996; Brasil/MS,1996).<br />
76
c) Os Piretróides<br />
Os piretróides foram inicialmente obtidos através da planta piretro<br />
Chrysanthemum cincerariaefolium. O piretro e os derivados sintéticos da piretrina<br />
são utilizados em muitos inseticidas de uso doméstico. O incremento em sua<br />
comercialização ocorreu a partir de 1980 quando já em 1982 correspondia ao<br />
percentual de 30% dos inseticidas consumidos no mundo.<br />
c.1) Características Toxicológicas<br />
Seu mecanismo de ação sobre as membranas neuronais assemelha-se ao<br />
do DDT (Narahashi, 1983 apud Klaassen, 1990), no entanto é classificado como<br />
o mais seguro dos inseticidas devido a sua baixa toxidade aos mamíferos, pela<br />
rápida biotransformação (Aaldridge, 1983 apud Klaassen, 1990). Mas, ao<br />
contrário dos mamíferos, os insetos e organismos aquáticos são extremamente<br />
sensíveis aos piretróides.<br />
c. 2) Manifestações Clínicas<br />
Os estudo dos efeitos danosos ao homem ainda são bastante recentes e<br />
os que existem baseiam-se no sintomas e sinais produzidos em animais de<br />
laboratório.<br />
77
Ecobichon (1996) descreve os sinais e sintomas presentes no processo de<br />
intoxicação da seguinte maneira: na intoxicação aguda distingue-se dois tipos de<br />
intoxicação: (a) Tipo I ou Síndrome T se caracteriza por um quadro de<br />
excitabilidade, incoordenação, prostração e paralisia, podendo apresentar<br />
também descoordenação motora exibindo sinais de boxear, comportamento<br />
agressivo, aumento da resposta aos estímulos externos e tremores. (b) Tipo II ou<br />
Síndrome CS, caracterizada por hiperatividade, incoordenação e convulsões<br />
associado a tremores e ataques clônicos, sem perda de consciência<br />
(coreoatetose) além de profusa salivação e lacrimejamento; daí o termo CS, que<br />
corresponde a coreoatetose e salivação. O Tipo I envolve primariamente uma<br />
ação do inseticida no Sistema Nervoso Central enquanto a do Tipo II acomete os<br />
nervos periféricos.<br />
Uma notável forma de toxicidade associada a este grupo de inseticidas,<br />
caracteriza-se por desencadear parestesias cutâneas que aparecem algumas<br />
horas após o contato com o produto, descritas como formigamento ou queimor na<br />
pele, que em alguns casos evolui para a sensação de pontadas ou hipoestesias.<br />
Há referência também a tontura e irritabilidade e o contato com a face e os olhos<br />
causa dor, lacrimejamento, fotofobia, congestão e edema da conjuntiva e das<br />
pálpebras (op. cit.).<br />
A ingestão do piretróide causa dor epigástrica, náusea e vômitos, cefaléia,<br />
tontura, anorexia, fadiga, opressão no peito, visão turva, parestesias, palpitações,<br />
fasciculações em grandes músculos e distúrbios da consciência ( op. cit.).<br />
Em intoxicações graves aparecem ataques convulsivos longos,<br />
acompanhados de movimentos de flexão dos membros superiores associado a<br />
extensão dos membros inferiores, com opistótono e perda da consciência ( op.<br />
cit.).<br />
Os sinais e sintomas da intoxicação aguda parecem ser reversíveis,<br />
embora não exista antídotos específicos para esta intoxicação e o tratamento seja<br />
eminentemente sintomático.<br />
O quadro de intoxicação crônica não tem sido bem evidenciado nos<br />
trabalhos científicos, até os dias atuais. Sabe-se no entanto, que suas<br />
propriedades alergênicas são mais evidentes do que em outros pesticidas, tendo<br />
78
sido relatado muitos casos de dermatite de contato e alergia respiratória<br />
(Klaassen, 1990; Ecobichon, 1996; Ministério da Saúde, 1996). Há também<br />
referência a retardo mental e dificuldades de aprendizado principalmente em<br />
crianças.<br />
Se por um lado é relativamente fácil o reconhecimento de um quadro de<br />
intoxicação aguda, não pode-se afirmar o mesmo nos casos de intoxicação<br />
crônica, pois o estabelecimento do nexo causal é um tanto difícil, uma vez que<br />
segundo Lieber (1996):<br />
1 o .) a realidade é que a vasta maioria dos produtos<br />
químicos não se conhece ou se tem poucos dados sobre<br />
sua toxidade crônica;<br />
2 o .) os quadros clínicos podem passar despercebidos nos<br />
serviços de saúde, se os médicos não conseguirem<br />
estabelecer a relação com o processo de trabalho;<br />
3 o .) as autoridades sanitárias e o Ministério da Previdência,<br />
só aceitam esta relação causal após uma forte<br />
mobilização dos trabalhadores, pois se pautam na<br />
maioria das vezes, no estabelecimento de Índices de<br />
Controle Biológico e Limites de Tolerância, como<br />
princípios. Fazem isto como se existisse o homem<br />
médio, aquele que pode se expor a um determinado<br />
Limite de Tolerância, não levando em consideração as<br />
condições sócio-sanitárias, econômicas e culturais e a<br />
superação da racionalidade instrumental, na qual as<br />
decisões não podem restringirem-se aos números.<br />
79
2. Objetivos
2. OBJETIVOS<br />
Este trabalho foi proposto com o objetivo geral de identificar a relação<br />
existente entre o modelo de controle das endemias transmitidas por vetores, sob<br />
a coordenação da FNS, e suas repercussões sobre a saúde dos Agentes de<br />
Saúde Pública/Guardas de Endemias lotados em Pernambuco.<br />
Os objetivos específicos foram:<br />
a) Caracterizar o impacto do modelo de intervenção no controle<br />
de endemias transmitidas por vetores sobre a saúde dos<br />
Agentes de Saúde Pública/Guardas de Endemias da FNS<br />
lotados na CR/PE, pela análise da morbidade referida por estes<br />
trabalhadores;<br />
b) Identificar qual a percepção destes trabalhadores acerca desse<br />
modelo;<br />
c) Definir a correspondência entre as diretrizes desse modelo e a<br />
prática vivenciada pelos trabalhadores, frente às normas<br />
existentes de segurança e saúde dos trabalhadores.<br />
81
3. Método e<br />
Casuística
3. MÉTODO E CASUÍSTICA<br />
Este trabalho trata-se de um estudo epidemiológico de corte transversal no<br />
qual a população alvo foi composta pelos Agentes de Saúde Pública/ Guardas de<br />
Endemias, lotados na Coordenação Regional de Pernambuco.<br />
A população alvo foi constituída por 985 agentes de saúde<br />
pública/guardas de endemia, em atividade, levantados a partir dos dados do<br />
Setor de Pessoal (CR-PE) 1 , e distribuídos nos quatro Distritos Sanitários (D.S.),<br />
sendo 361 no D.S. Vitória; 166 no D.S. Caruaru; 168 no D.S. Garanhuns; e 290<br />
no D.S. Salgueiro. Nesta população, só foram incluídos os trabalhadores que<br />
estavam em operação, excetuando-se os servidores que se encontravam<br />
desviados de função, exercendo atividades administrativas na sede da<br />
coordenação; os que estavam cedidos para a Prefeitura da Cidade de Recife (o<br />
que dificultava a sua localização) e as mulheres, em razão de seu pequeno<br />
número 2 .<br />
A intenção era avaliar o universo desses trabalhadores (N=985), no<br />
entanto, por razões operacionais foram considerados apenas os que<br />
voluntariamente responderam ao questionário (n=367, que corresponde a 37%<br />
de N) conforme tabela 1. A amostra final não foi randomizada, mas podemos<br />
1 Dados coletados a partir da Folha de Ponto do mês de julho de 1997.<br />
83
considerá-la aleatória, na medida que não houve tratamento propositadamente<br />
diferenciado para qualquer um dos grupos que compõem a população alvo.<br />
Para alcançar o maior número possível de indivíduos da população alvo<br />
deste estudo, o SINDSEP-Pe organizou reuniões nos quatro Distritos Sanitários<br />
da FNS/ CR-PE: Vitória, Caruarú, Garanhuns e Salgueiro, com o apoio das<br />
coordenações locais da FNS. Nessa oportunidade, os questionários foram<br />
distribuídos aos trabalhadores ficando sob a responsabilidade do sindicato,<br />
através do dirigente local, ou do Setor Técnico de cada distrito, a distribuição e<br />
recolhimento. Para sensibilização dos trabalhadores, foram realizadas palestras<br />
explicativas sobre a pesquisa e especificamente sobre o questionário, permitindo<br />
assim troca de informações.<br />
Para verificar se havia diferenças entre os grupos nos quatro distritos,<br />
aplicou-se os testes de ANOVA e Kruskal-Wallis para as variáveis idade,<br />
escolaridade, tempo de atividade na FNS, manipulação de inseticidas<br />
atualmente, suspeita de apresentar distúrbios psiquiátrico menores – avaliado<br />
pela positividade no teste SRQ-20, suspeita de apresentar alcoolismo – avaliado<br />
pela positividade no teste CAGE, presença de alergias e distúrbios da visão.<br />
Observou-se que o p-valor foi maior que 0,05 em seis variáveis e apenas<br />
duas (escolaridade e tempo de serviço) apresentaram significância estatística (p<br />
< 0,05). Desta forma, para fins do estudo, a população final ficou constituída<br />
pelo conjunto de indivíduos dos quatro distritos que responderam ao<br />
questionário.<br />
2 Há registro de sete mulheres com a função de Agente de Saúde Pública e foi encontrada<br />
84
TABELA 1: Distribuição da população estudada por Distrito Sanitário e<br />
Percentual de questionários respondidos.<br />
Distrito Sanitário Agentes de Saúde<br />
Pública(N)<br />
Questionários Respondidos<br />
Total %<br />
VITÓRIA 361 179 49,6<br />
CARUARÚ 166 90 54,2<br />
GARANHUS 168 59 35,1<br />
SALGUEIRO 290 39 13,5<br />
TOTAL 985 367 37,3<br />
VARIÁVEIS/P-VALOR ANOVA KRUSKAL-WALLIS<br />
IDADE 0.700561 0.790156<br />
ESCOLARIDADE 0.053258 0.045964<br />
TEMPO DE SERVIÇO 0.000000 0.000000<br />
MANIPULAÇÀO/ INSETICIDAS 0.620536 0.492915<br />
SRQ 0.641554 0.469069<br />
CAGE 0.777459 0.722520<br />
ALERGIAS 0.475419 0.208855<br />
DISTÚTBIOS DA VISÃO 0.210657 0.255446<br />
Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram: análise<br />
documental, observação participante e questionário semiestruturado auto-<br />
aplicado.<br />
A análise documental, com objetivo de levantar dados secundários, foi<br />
realizada em documentos fornecidos pelo Ministério da Saúde e Fundação<br />
apenas uma em atividade de campo.<br />
85
Nacional de Saúde, Sindicato dos Servidores Públicos Federais do Estado de<br />
Pernambuco - SINDSEP-PE, Confederação Democrática dos Servidores<br />
Públicos Federais – CONDSEF. Os dados de interesse levantados no Ministério<br />
da Saúde foram as portarias, normatizações e orientações referentes ao<br />
Sistema Único de Saúde, ao controle de vetores, uso de inseticidas, uso de<br />
Equipamento de Proteção Individual (EPI), organograma institucional. No<br />
SINDSEP-Pe e CONDSEF buscou-se relatórios de atividades destas entidades<br />
quanto a história de mobilização em torno da luta pela saúde do trabalhador,<br />
realizadas a partir do momento inicial ocorrido no Distrito Sanitário de Conceição<br />
do Araguaia, Pará, assim como, atas assembléias, relatórios de viagens,<br />
encontros e seminários, boletins, jornais.<br />
Para a observação participante optou-se pelo tipo observador como<br />
participante 3 segundo Minayo (1992), com visitas aos Distritos Sanitários e a<br />
diferentes locais de trabalho, com a participação do sindicato (SINDSEP-Pe). Foi<br />
realizado um processo de sensibilização dos trabalhadores, para a importância<br />
desta pesquisa, tanto pela realização de análise das condições de trabalho e<br />
saúde, quanto pela possibilidade de utilização para as reivindicações da categoria<br />
por melhores condições de saúde. O objetivo deste instrumento foi permitir o<br />
melhor entendimento do processo e organização do trabalho vivenciado pelos<br />
Agentes de Saúde Pública da FNS. Um roteiro de orientação buscou: descrever<br />
as atividades dos trabalhadores; analisar a distribuição das tarefas nas diferentes<br />
fases do processo de trabalho; os turnos de trabalho, horas-extras, jornada de<br />
trabalho, folgas, pausas, ritmo de trabalho, temperatura no ambiente de trabalho,<br />
exposição a raios ultra-violeta (por exposição ao sol), deslocamento para o local<br />
de trabalho, composição das equipes, rotatividade de pessoal nas atividades,<br />
remuneração (níveis salariais, adicionais percebidos), controle de pessoal (início<br />
e fim das atividades, controle da freqüência), forma de admissão, treinamentos, o<br />
uso de equipamentos de trabalho, as substâncias manipuladas e as medidas de<br />
proteção.<br />
3 Minayo (1992), apresenta quatro situações teoricamente possíveis para a observação<br />
participante, propostas por Raymond Gold: a) participante total, na qual o pesquisador<br />
participa inteiramente, “como nativo”” , no grupo que pretende estudar; b) participantecomo-observador,<br />
com participação profunda de momentos importantes, estabelecendo<br />
relação temporária; c) observador-como-participante, que é empregada como estratégia<br />
complementar ao uso das entrevistas, nas relações com os “atores”. Suas limitações<br />
decorrem da sua aplicação num curto espaço de tempo e desenvolvimento de relação<br />
86
O questionário semiestruturado (ver anexo) objetivou descrever a<br />
população de estudo com as seguintes variáveis: 1) características individual e de<br />
condições de vida (idade, procedência, escolaridade, estado civil, renda - pelos<br />
vencimentos recebidos); 2) características do trabalho: processo, organização e<br />
formação profissional oferecida pela instituição (tempo de vínculo com a FNS,<br />
função, realização de horas-extras, pausas no trabalho, horário de trabalho,<br />
manipulação de substâncias químicas, uso de EPI, local onde dorme, local onde<br />
faz as refeições, satisfação no trabalho, treinamentos realizados, percepção<br />
acerca do modelo de intervenção da FNS); 3) queixas relacionadas à saúde:<br />
realização de exame admissional e periódico, morbidade geral referida,<br />
distúrbios psiquiátricos menores e indicadores de alcoolismo. Para estes últimos<br />
foram utilizados dois testes padronizados, o Self Report Questionnaire - SRQ - e<br />
o CAGE, respectivamente.<br />
Utilizou-se como referência Borges (1990), que avalia os “transtornos<br />
mentais entre trabalhadores de uma usina siderúrgica”, buscando adaptá-lo para<br />
este estudo e acrescentando outras questões compatíveis com os objetivos<br />
propostos.<br />
Foi realizado um piloto para teste deste instrumento, aplicado em 40<br />
trabalhadores. O teste foi precedido de explicação dos objetivos da pesquisa.<br />
Houve cerca de 50% de respostas ao questionário, neste momento.<br />
O Self Report Questionnaire (SRQ) é um instrumento para o rastreamento<br />
de distúrbios psiquiátricos menores difundido inicialmente pela Organização<br />
Mundial de Saúde para ser utilizado em serviços de atenção primária de saúde<br />
especialmente nos países subdesenvolvidos. Sua validação em português foi<br />
feita por Mari & Williams (apud Borges et alli,1997), junto à população que<br />
demandava atenção na rede básica de saúde em São Paulo, encontrando bons<br />
índices de sensibilidade (83%) e especificidade (80%), para o ponto de corte 7 e<br />
8.<br />
Segundo Borges (1997), sua versão original apresenta 24 itens, sendo 20<br />
dirigidos a sintomas neuróticos e 4 para os psicóticos, porém, estes últimos<br />
foram retirados devido a baixa detecção do que se propunha, passando então a<br />
superficial; e d) Observador-total, em que o observado omite a interação direta com os<br />
87
ser utilizado para rastreamento dos distúrbios psiquiátricos menores (distúrbios<br />
neuróticos).<br />
No Brasil este instrumento foi usado por vários autores (Pitta, 1989;<br />
Borges, 1990; FUNDACENTRO, 1991; Fernandes, 1992; Rego, 1993; Silva Filho,<br />
1993; Jardim, 1994; Ribeiro, 1995 apud Borges, 1997).<br />
informantes e estes não sabem que estão sendo observados.<br />
88
Neste trabalho seu uso está justificado para identificação de suspeitos de<br />
distúrbios psiquiátrico menores nos Agentes de Saúde Pública, uma vez que<br />
entre os efeitos esperados por exposição aos inseticidas são os distúrbios neuro-<br />
comportamentais. O ponto de corte para separar os suspeitos dos “normais” foi<br />
sete, conforme é preconizado pelo método já validado. Isto é, todos os<br />
trabalhadores que responderam afirmativamente a sete ou mais dentre as vinte<br />
questões do SRQ-20, foram considerados portadores de um quadro suspeito de<br />
distúrbio psiquiátrico menor e necessitando de investigação especializada.<br />
O CAGE é utilizado para identificar suspeitos de alcoolismo, não tem<br />
valor diagnóstico conclusivo mas apenas indicativo (Masur et alli, 1985). É um<br />
instrumento que do ponto de vista do sujeito que o responde tem um caráter<br />
pouco discriminativo e intimidativo. A importância do teste neste estudo se deve<br />
ao fato do álcool ser um potencializador dos efeitos tóxicos dos pesticidas,<br />
principalmente os relacionados ao fígado e sistema nervoso central e periférico.<br />
A sigla CAGE constitui-se de quatro questões e provêm das iniciais das<br />
palavras-chaves incluídas nelas, em inglês 4 : Cut-down, Annoyed by criticism,<br />
Guilty feeling e Eye-opener (Capriglione, Monteiro e Masur,1985). dois<br />
instrumentos<br />
Masur et alli apud Borges (1990), realizaram estudo de validação de sua<br />
versão em português, num hospital psiquiátrico da cidade de São Paulo e<br />
encontraram sensibilidade de 88% (porcentagem de alcoólatras corretamente<br />
identificados) e especificidade de 83% (porcentagem de não-alcoólatras<br />
corretamente identificados), com escore de 2 ou mais respostas positivas entre<br />
as 4 questões, achados semelhantes ao encontrado em estudo com o CAGE -<br />
versão em inglês (Borges,1990; Capriglione, Monteiro e Masur,1985; Zuardi et<br />
alli,1987). Outros autores (Ribeiro, Ramos e Martins, 1995) encontraram uma<br />
sensibilidade de 100%.<br />
4 As questões originais do CAGE são: Have you ever felt that you shoul cut down (C) on<br />
your drinking? Have people annoyed (A) you by criticizing your drinking? Have you ever felt<br />
bad or guilty (G) about your drinking? e Have you ever had a drink first thing in the morning<br />
to stead you nerves or get rid of a hangover (eye-opener) (E)?<br />
88
Para este trabalho, os Agentes de Saúde Pública que apresentaram<br />
respostas afirmativas em pelo menos duas das quatro questões do teste foram<br />
considerados como sendo positivo para este teste, portanto suspeito de<br />
apresentarem alcoolismo.<br />
A aplicação do SRQ-20 e do CAGE pode contribuir com a avaliação do<br />
comprometimento psíquico nos trabalhadores expostos, aqui investigados. São<br />
instrumentos de simples e rápida aplicação e se constituem instrumentos de<br />
padronização internacional, com validação para a população brasileira.<br />
89
3.1. Análise de Resultados<br />
Para a análise dos resultados obtidos foi utilizado o programa Epiinfo-06,<br />
com o qual se extraiu as freqüência relativas, médias e desvios-padrão, bem<br />
como, os testes estatísticos de ANOVA e Kruskal- Wallis, Qui-Quadrado e Fisher,<br />
nas situações em que se aplicavam, com nível de significância p = 0,05.<br />
Para fins de análise, consideramos as variáveis independentes:<br />
caracterização individual, de inserção no processo de trabalho, condições de<br />
saúde, e como variáveis dependentes: suspeição de apresentar intoxicação por<br />
agrotóxico, medida pela identificação da morbidade geral referida, de distúrbios<br />
psiquiátricos menores (verificado pelo SRQ-20) e suspeita de alcoolismo<br />
(verificado através do CAGE).<br />
O tempo de atividade na Fundação Nacional de Saúde e a manipulação<br />
com inseticidas foram as variáveis independentes consideradas mais importantes<br />
para a análise de associação. Como a atividade do agente de saúde pública tem<br />
como especificidade a aplicação de inseticidas, o tempo de exposição foi<br />
considerado igual ao tempo de atividade na manipulação desses produtos.<br />
Tempo passado é aquele entre o início das atividades até dezembro de 1996, e<br />
tempo presente o relativo ao ano de 1997.<br />
A identificação da percepção dos trabalhadores quanto ao modelo de<br />
intervenção no controle de endemias adotado pela FNS, através do questionário<br />
foi feita com base nas respostas a seguinte pergunta: “Em relação ao controle de<br />
vetores, qual a sua opinião sobre o programa desenvolvido pela FNS?” As<br />
respostas foram organizadas em dois grupos: o primeiro reunindo opiniões de<br />
aceitação da política institucional; e o segundo agrupando posturas críticas.<br />
90
4. Resultados
4. RESULTADOS<br />
4.1. Caracterização Individual<br />
A Tabela 2 mostra a caracterização individual dos Agentes de Saúde<br />
Pública da FNS/CR-PE, segundo a idade, procedência, escolaridade, estado civil,<br />
salários percebidos e número de pessoas que moram em sua residência. Esta<br />
tabela, evidencia que 54,4% dos entrevistados se encontram na faixa etária entre<br />
30 a 39 anos de idade e 29,4% entre 40 e 49 anos. A idade média observada foi<br />
de 41 anos e o desvio padrão de 7,78. Quanto a procedência, 90% destes<br />
trabalhadores são naturais de Pernambuco.<br />
Quanto ao nível de escolaridade, observou-se que 26,4% possuem o<br />
segundo grau completo e 18,3% incompleto; 15,3% têm ginásio completo e<br />
20,4% incompleto e ainda foi observado que 2,5% apresenta curso superior<br />
completo e 2,7% incompleto.<br />
Quanto ao estado civil, evidencia-se que 88,5% dos trabalhadores são<br />
casados ou moram junto.<br />
Quanto aos vencimentos a tabela mostra que 33,2% dos entrevistados<br />
recebem entre R$ 1001,00 a 1200,00 reais mensais, 27,9% recebem entre R$<br />
801, 00 e 1000,00 reais mensais e 21,1% recebem entre R$ 600,00 e 800,00<br />
92
eais mensais. Nestes valores estão incluídos as indenizações de campo no valor<br />
de R$ 17,40 reais/dia e o auxílio alimentação no valor de R$ 81,40 reais.<br />
Observando-se o número de pessoas que moram na mesma residência,<br />
51% destes apresentam de 1 a 4 pessoas na residência, 47% de 5 a 9 pessoas e<br />
apenas um trabalhador referiu morar sozinho.<br />
TABELA 2: Caracterização Individual dos Agentes de Saúde Pública segundo<br />
Procedência, Idade, Escolaridade e Estado Civil, no ano de 1997.<br />
Variáveis Freqüência Absoluta(n) Freqüência Relativa(%)<br />
IDADE<br />
< 30 3 1.5<br />
30 –39 111 54.4<br />
40 – 49 60 29.4<br />
50 – 59 25 12.3<br />
60 e + 5 2.5<br />
TOTAL 204 100<br />
PROCEDÊNCIA<br />
Pernambuco 188 90<br />
Outros Estados 21 10<br />
TOTAL 209 100<br />
ESCOLARIDADE<br />
Primeiro grau incompleto 15 4.1<br />
Primeiro grau completo 30 8.2<br />
Ginásio incompleto 75 20.4<br />
Ginásio completo 56 15.3<br />
2.º grau incompleto 67 18.3<br />
2.º grau completo 97 26.4<br />
Superior incompleto 10 2.7<br />
Superior completo 8 2.2<br />
Outros 9 2.5<br />
TOTAL 367 100<br />
ESTADO CIVIL<br />
Casado /Mora junto 323 88.5<br />
Solteiro 17 4.7<br />
Separado 22 6.0<br />
Viúvo 3 0.8<br />
TOTAL 365 100<br />
VENCIMENTOS (R$)<br />
< 600 23 6.9<br />
600 – 800 71 21.1<br />
801 – 1000 94 27.9<br />
1001 – 1200 112 33.2<br />
1201 – 1400 30 8.9<br />
> 1400 7 2.1<br />
TOTAL 337 100<br />
N.º PESSOA NA CASA<br />
1 –4 157 51<br />
5 – 8 143 47<br />
9 – 12 7 2<br />
TOTAL 307 100<br />
93
*OUTROS refere-se a cursos profissionalizantes.<br />
4.2. Caracterização dos Agentes de Saúde Pública<br />
conforme a inserção no processo de trabalho<br />
da FNS-CR/PE<br />
Conforme descrição feita pelos indivíduos estudados a partir do<br />
questionário, até o ano de 1997, a nível dos Distritos Sanitários, a estrutura<br />
hierárquica para os Agentes de Saúde Pública tem a seguinte apresentação:<br />
Figura 3: Estrutura hierárquica dos Agentes de Saúde Pública<br />
SETOR<br />
TÉCNICO<br />
INSPETOR GERAL<br />
INSPETOR DE ENDEMIAS<br />
CHEFE DE TURMA<br />
94
Deste organograma percebe-se que além das atividades operacionais<br />
(atividades-fins), estes trabalhadores também assumem atividades-meio: Chefe<br />
do SETEC, Inspetor Geral e Inspetor de Endemias.<br />
O Chefe do SETEC é responsável pela coordenação das diversas<br />
atividades de controle de endemias desenvolvidas pelo Distrito e supervisionar os<br />
grupos de trabalhadores.<br />
O Inspetor Geral coordena entre quatro e cinco inspetores de endemias,<br />
supervisiona suas atividades e dos demais Agentes de Saúde. Produz relatórios<br />
de atividades e os encaminha ao Distrito e aos Gerentes Técnicos de Controle de<br />
Endemias. Mantém o controle sobre a freqüência dos servidores e sobre as<br />
viaturas.<br />
O Inspetor de Endemias coordena entre quatro e cinco Chefes de Turma,<br />
supervisionando suas atividades e dos demais Agentes de Saúde. Também<br />
controla a freqüência dos servidores. É responsável pela distribuição do itinerário,<br />
dos quarteirões e do material às turmas, observa os índices de produtividade e o<br />
manuseio dos inseticidas e equipamentos.<br />
Os Chefes de Turma coordenam cerca de seis Agentes de Saúde Pública,<br />
supervisionando suas atividades. Dentre as suas atribuições estão: organização<br />
dos Pontos de Apoio – PA, e dos Pontos de Informação de Triatomínio – PIT<br />
(nos locais onde for necessário o controle de triatomínio); preparação e<br />
distribuição diária dos itinerários, procurando abranger as diversas localidades;<br />
controle de material, inseticidas e equipamentos; orienta a turma e em caso de<br />
falha corrige-as; confere a realização dos trabalhos, através dos boletins diários<br />
de cada Agente de Saúde, e prepara relatórios semanais da equipe.<br />
As supervisões são feitas pelos inspetores, SETEC e Chefe do Distrito,<br />
conforme estrutura hierárquica.<br />
AGENTES DE SAÚDE<br />
PÚBLICA/ SUPERVISORES<br />
Estas supervisões consistem em:<br />
95
1. Verificar a qualidade dos trabalhos realizados nas residências,<br />
observando se foi borrifado por completo, ou seja, se aplicou o<br />
inseticida em todos os cômodos, se foi executado com perfeição ou se<br />
há irregularidades, o grau de organização, o uso correto do<br />
equipamento, do fardamento e do EPI;<br />
2. Orientar na aplicação do inseticida, o preparo da formulação<br />
corretamente, o método correto de aplicação, corrigindo os erros;<br />
3. Verificar as condições fornecidas pelas prefeituras para a realização<br />
dos trabalhos;<br />
4. Informar e tirar as dúvidas dos Agentes de Saúde Pública, mostrar as<br />
novidades e atualizações técnicas do trabalho, fazer cumprir as normas<br />
técnicas.<br />
Os Agentes de Saúde Pública são os executores diretos das ações de<br />
controle das endemias. Dentre as suas atribuições estão: reconhecimento<br />
geográfico e confeccionamento de mapas das localidades onde serão<br />
executadas as ações, fazendo a numeração nas residências e quarteirões;<br />
realização de visitas domiciliares, onde presta orientações sobre as endemias em<br />
que está atuando, sobre medidas preventivas e sobre o seu trabalho em si;<br />
solicita a cooperação dos habitantes e das autoridades locais; faz o tratamento<br />
adequado ao controle de cada endemia; quando necessário, aplica inseticidas;<br />
divulgação das endemias nos meios de comunicação existente no município;<br />
educação em saúde, através de palestras nos bairros, escolas, instituições não-<br />
governamentais, sobre as endemias; captura e classificação dos vetores.<br />
Foi observado também que, pelo avanço do processo de municipalização,<br />
alguns Agentes de Saúde Pública da FNS passaram a coordenar grupos de<br />
Agentes Comunitários municipais, assumindo então o papel de Supervisores<br />
(atividade meio), com a responsabilidade pelos treinamentos destes, supervisão<br />
e orientação durante as suas atividades diárias, além de controlar a distribuição<br />
do itinerário, quarteirões e fazer as visitas às casas recusadas.<br />
As ações de controle de endemias feitas pela FNS fazem parte dos<br />
seguintes programas: malária, filariose, tracoma, peste, chagas, febre<br />
96
amarela/dengue, leishmaniose, esquistossomose e peste. E os Agentes de<br />
Saúde estão distribuídos, de acordo com tais programas, nos quais, além das<br />
atividades gerais (já mencionadas), desenvolvem algumas específicas<br />
A Tabela 4 mostra que no Programa de Controle da Malária há a<br />
realização de tratamento dos casos que chegam ao estado de Pernambuco, com<br />
levantamento das procedências do paciente e realiza-se a coleta de sangue e<br />
preparação de lâminas de suspeitos de contaminação.<br />
No Programa de Controle da Filariose realiza-se a coleta de sangue e<br />
prepara-se lâminas para serem enviadas ao laboratório, onde serão examinadas<br />
para detecção de casos da doença.<br />
No Programa de Controle do Tracoma realiza-se o diagnóstico, promove a<br />
orientação sobre a gravidade da doença e os cuidados especiais com o<br />
problema, e a distribuição de pomadas oftálmica para o tratamento.<br />
No Programa de Controle da Peste realiza-se a pesquisa de roedores e<br />
policídeos, através da captura de roedores, classificação e retirada das pulgas<br />
que serão enviadas para exames laboratoriais.<br />
No Programa de Controle da Doença de Chagas realiza-se o levantamento<br />
triatomínico, através da pesquisa nas residências e seus anexos, onde promove-<br />
se o desalojamento dos insetos para captura e, dependendo da espécie<br />
encontrada, faz-se a borrifação com inseticida; e, coleta de sangue para a<br />
realização de sorologia para Chagas.<br />
No Programa de Controle da Leishmaniose faz-se o inquérito canino e a<br />
coleta de sangue canino para, a realização de sorologia, e, a vacinação e<br />
eliminação destes animais.<br />
No Programa de Controle da Esquistossomose realiza-se a coproscopia, o<br />
tratamento medicamentoso e estudos de malacologia. Para a coproscopia são<br />
distribuídos recipientes à população para coleta de fezes, a partir das quais<br />
preparam-se lâminas que serão examinadas. Nos exames positivos, ou seja, com<br />
presença do parasito, promove-se o tratamento com a distribuição do<br />
medicamento adequado (oxaminiquine/Mansil®). A malacologia consiste na<br />
97
coleta de caramujos seguido de classificação destes e conforme a espécie<br />
encontrada, procede-se com o tratamento das águas.<br />
No Programa de Controle da Febre Amarela/Dengue as ações são as<br />
seguintes: pesquisa em armadilhas e pontos estratégicos para descobrir focos de<br />
mosquito Aedes aegipty, com captura de larvas e alados; eliminação de<br />
criadouros de focos do mosquito, através da aplicação de produtos inseticidas,<br />
larvicidas e adulticidas; tratamento focal e perifocal; realização de vacinação<br />
contra a febre amarela no Porto do Recife e Aeroporto dos Guararapes.<br />
TABELA 4: Atividades dos agentes de Saúde Pública da FNS-CR/PR segundo os<br />
Programas de Controle de Endemias no ano de 1997.<br />
PROGRAMA ATIVIDADES<br />
Malária • Realização de tratamento dos casos que chegam ao estado de Pernambuco;<br />
• Levantamento das procedências do paciente;<br />
• Realiza-se a coleta de sangue; e<br />
• Preparação de lâminas de suspeitos de contaminação.<br />
Filariose • Realiza-se a coleta de sangue;<br />
• Prepara-se lâminas para serem enviadas ao laboratório, onde serão examinadas<br />
para detecção de casos da doença.<br />
Tracoma • Realiza-se o diagnóstico;<br />
• Promove a orientação sobre a gravidade da doença e os cuidados especiais com<br />
o problema;<br />
• Distribuição de pomadas oftálmica para o tratamento.<br />
Peste • Realiza-se a pesquisa de roedores e policídeos, através da captura de roedores;<br />
• Classificação e retirada das pulgas que serão enviadas para exames laboratoriais.<br />
Doença de Chagas • Realiza-se o levantamento triatomínico, através da pesquisa nas residências e<br />
seus anexos, onde promove-se o desalojamento dos insetos para captura;<br />
• Dependendo da espécie encontrada, faz-se a borrifação com inseticida; e,<br />
• coleta de sangue para a realização de sorologia para Chagas.<br />
Leishmaniose • Faz-se o inquérito canino;<br />
• Coleta de sangue canino para, a realização de sorologia; e,<br />
• Vacinação e eliminação destes animais.<br />
Esquistossomose • Realiza-se a coproscopia;<br />
Febre Amarela/<br />
Dengue<br />
• Tratamento medicamentoso;<br />
• Estudos de malacologia.<br />
• Pesquisa em armadilhas e pontos estratégicos para descobrir focos de mosquito<br />
Aedes aegipty;<br />
• Captura de larvas e alados;<br />
• Eliminação de criadouros de focos do mosquito, através da aplicação de<br />
98
inseticidas (larvicidas e adulticidas);<br />
• Tratamento focal e perifocal;<br />
• Realização de vacinação contra a febre amarela no Porto do Recife e Aeroporto<br />
dos Guararapes.<br />
Fonte: Questionários, entrevistas e reuniões.<br />
Quanto ao tempo de serviço na FNS, a Tabela 5 mostra que 67% estão na<br />
instituição de 10 a 15 anos e apenas 5% têm mais de 25 anos. O tempo de<br />
serviço médio foi de 15 anos e o desvio padrão de cinco .<br />
TABELA 5: Distribuição dos Agentes de Saúde Pública da FNS-CR/PE<br />
pelo tempo de serviço na empresa, em 1997.<br />
TEMPO NÚMERO FREQÜÊNCIA (%)<br />
10-15 246 67<br />
15-20 69 19<br />
20-25 32 9<br />
25 e + 18 5<br />
TOTAL 365 100<br />
Quanto ao tempo de manipulação de inseticidas, foram feitas duas<br />
questões, uma referente ao passado (desde a inserção na FNS até 1996), e outra<br />
ao presente/atual (1997). Na Tabela 6 observa-se que 82% referiram<br />
manipulação em seu passado de trabalho e 75% referiram estar no momento,<br />
manipulando inseticida. Em todas as faixas de tempo de exposição o percentual<br />
de expostos a inseticidas, tanto no passado quanto nas atividades atuais são<br />
superiores a 60%.<br />
TABELA 6: Distribuição dos Agentes de Saúde Pública da FNS-CR/PE<br />
TEMPO DE<br />
SERVIÇO<br />
segundo tempo de serviço na empresa e manipulação de<br />
inseticidas no passado e atualmente, em 1997.<br />
PASSADO<br />
(P= 0,087601)<br />
ATUALMENTE<br />
(P= 0,0844742)<br />
99
SERVIÇO Sim % Não % Sim % Não % TOTAL<br />
10-15 176 80 44 20 165 75 55 25 220<br />
15-20 50 82 11 18 50 82 11 18 61<br />
20-25 28 93 2 7 20 67 10 33 30<br />
25 e + 15 94 1 6 10 63 6 37 16<br />
TOTAL 269 82 58 18 244 75 80 25 327<br />
Obs.: As percentagens foram calculadas em relação total por cada faixa etária.<br />
A Tabela 7 mostra os pesticidas utilizados nos diversos programas<br />
distribuídos segundo o grupo toxicológico e tempo de manipulação passado (até<br />
1996) e atual (1997). Observa-se que no passado, com exceção do<br />
organofosforado Diclorvos (NUVEM), todos os demais inseticidas foram<br />
manipulados. Tratam-se de pesticidas de diversos grupos toxicológicos:<br />
organoclorados, organofosforados, carbamatos e piretróides. Enquanto que no<br />
presente, permanecem os organofosforados e piretróides, deixando de utilizar os<br />
organoclorados e carbamatos.<br />
TABELA 7: Relação dos agrotóxicos segundo o grupo toxicológico e período em<br />
que foram manipulados durante as atividades (no passado e<br />
atualmente) pelos Agentes de Saúde Pública da FNS-CR/PE, em<br />
1997.<br />
AGROTÓXICO GRUPO TOXICOLÓGICO PASSADO ATUAL<br />
BHC Organoclorado Sim Não<br />
Carbaril Carbamato Sim Não<br />
Cipermetrina/Ripicord Piretróide Sim Sim<br />
DDT Organoclorado Sim Não<br />
Diclorvós/Nuven Organofosforado Não Sim<br />
Diazinon Organofosforado Sim Não<br />
Deltametrina/K-Othrine Piretróide Sim Sim<br />
Fenitrotion/ Sumithion/ Organofosforado Sim Sim<br />
100
Folition<br />
Ficam Piretróide Sim Não<br />
Lambdacialotrina/Icon Piretróide Sim Não<br />
Malation/Cythion/<br />
Carbofós<br />
Organofosforado Sim Sim<br />
Temefós/Abate Organofosforado Sim Sim<br />
Para 62% dos entrevistados os produtos não são armazenados em local<br />
próprio e dentre as explicações para isto, a principal é que estes são<br />
armazenados no Ponto de Apoio (PA) que é o lugar para alojamento (para<br />
alimentação, repouso, dormir) e para reuniões do grupo. Por falta de espaço, são<br />
colocados junto aos servidores, às vezes embaixo da cama do chefe de turma,<br />
ou, ao lado dos colchões. Também há referência a utilização de outros pontos de<br />
armazenamento fora do PA, como: mercadinho, funerária, posto médico,<br />
serraria, almoxarifado da prefeitura, escolas, secretaria de saúde. Nesses locais<br />
também não ficam sobre o tablado de madeira adequado. Em geral são locais<br />
sem ventilação, sem placa de advertência, próximo a residências, sujeitos às<br />
intempéries.<br />
Dentre as descrições dos locais de armazenamento, chama a atenção a<br />
referência ao depósito localizado na cidade de Agrestina como o único que está<br />
adequadamente estruturado e é modelo/padrão para o País. Outras descrições<br />
apontam os depósitos das sedes dos Distritos, por serem protegidos das<br />
intempéries, em local seco e arejado, fora do alcance de estranhos,<br />
principalmente crianças.<br />
Estas descrições apresentadas pelos trabalhadores fogem completamente<br />
às normas preconizadas pelo Ministério da saúde e apresentadas no documento<br />
“Cuidados no Armazenamento, Transporte e Aplicação de inseticidas em Saúde<br />
Pública” (anexo).<br />
Conforme respostas ao questionário, o preparo dos pesticidas para uso é<br />
feito pelos próprios trabalhadores e a diluição varia segundo a concentração do<br />
produto requerida em cada programa, levando-se em consideração o destino da<br />
101
aplicação, o tipo de instrumento de aplicação, a forma de apresentação. Como<br />
exemplo citado :<br />
• Temefós: É um larvicida cuja forma de apresentação é granulada, em<br />
sacos de 500 gramas, para aplicação diretamente nos depósitos de<br />
água, usando uma colher-medida, na dose de 5 colheres para cada<br />
1000 litros de água.<br />
A Tabela 8 mostra os equipamentos utilizados para aplicação dos<br />
inseticidas, distribuídos pelo tipo de aplicação. A aplicação espacial realizada<br />
com modelos de Ultra Baixo Volume - UBV, utiliza as máquinas LECO (fumacê)<br />
acomodadas em veículos do tipo caminhonetes, e dispersa as formulações no<br />
ambiente. Os equipamentos de UBV portátil são automáticos e utilizados para<br />
aplicações espaciais em locais de difícil acesso. As bombas manuais são usadas<br />
acomodadas nas costas do trabalhador e são utilizadas em aplicações focais e<br />
perifocais.<br />
TABELA 8: Relação de equipamentos utilizados para aplicação dos<br />
agrotóxicos conforme o tipo de aplicação (UBV; UBV portátil;<br />
manual), em 1997.<br />
UBV UBV PORTÁTIL MANUAL<br />
Leco 1800 Bomba Multspray Bomba Jacto<br />
Leco 1600 Bomba Spray Bomba Hudson<br />
Máquina Vec-Tec Bomba Dina Fog Bomba Guarany<br />
Bomba Automática<br />
Bomba Hatsuda Costal<br />
Cinqüenta por cento dos entrevistados referiram algum problema durante o<br />
manuseio destes equipamentos, e os dez principais foram:<br />
1. Vazamentos no bico ou na haste;<br />
2. Entupimentos, principalmente dos bicos;<br />
3. Falha no sistema de pressão;<br />
4. Falha no diafragma;<br />
102
5. Falha no sistema de descarga;<br />
6. Falha no cilindro;<br />
7. Falha no gatilho;<br />
8. Tamanho dificulta o trabalho no interior das residências;<br />
9. Peso nas costas;<br />
10. Falta de manutenção.<br />
A Tabela 8 mostra que 70% dos Agentes de Saúde Pública fazem eles<br />
mesmos a limpeza do equipamento. Para esta limpeza são usados água, sabão<br />
querosene ou álcool para as tubulações e lubrificação com óleo ou graxa.<br />
Quarenta e sete por cento responderam que fazem após o uso, no final do<br />
expediente. O equipamento de UBV (Ultra Baixo Volume) é lavado 2 vezes por<br />
semana.<br />
Quanto a manutenção dos equipamentos de trabalho, 46% são<br />
feitas pelo próprio Agente que o está utilizando e 54% por outro<br />
trabalhador, geralmente o mecânico de bombas. Quanto a periodicidade da<br />
manutenção, há uma grande variedade de respostas: 16% referiram que<br />
esta só é feita quando ocorre algum problema/defeito durante a utilização,<br />
17% referiram manutenção diária, durante a limpeza e outros 17%<br />
semanal, às Sextas-feiras.<br />
TABELA 9: Distribuição dos Agentes de Saúde Pública da FNS-CR/PE<br />
segundo identificação de quem faz a limpeza e manutenção<br />
dos equipamentos de trabalho, em 1997.<br />
ATIVIDADE QUEM USA OUTRO TOTAL<br />
N.º % N.º % N.º %<br />
LIMPEZA 204 70 88 30 292 100<br />
MANUTENÇÃO 111 46 128 54 239 100<br />
103
A FNS – CR/PE fornece o fardamento de trabalho que para 74% é lavado<br />
pela esposa. Para 56% dos Agentes de Saúde a troca é feita 2 vezes por semana<br />
e para 35% uma vez por semana. No entanto o fardamento não é considerado<br />
Equipamentos de Proteção Individual – EPI.<br />
Os principais EPI citados pelos trabalhadores foram:<br />
1. Macacão 5. Viseira<br />
2. Máscara 6. Capacete<br />
3. Luva 7. Protetor auricular<br />
4. Bota 8. Óculos<br />
Não houve referência ao fornecimento de calça e camisa manga longa,<br />
bem como, de avental impermeável e os cartuchos para as máscaras.<br />
Dentre os entrevistados, 82% referiram fazer uso do EPI e 70% deles<br />
fazem a sua limpeza. Esta é feita utilizando água, sabão, álcool e querosene.<br />
Quanto a periodicidade da limpeza também apresentou grande variação, sendo<br />
que 51% dos trabalhadores referiram fazê-la diária ou semanalmente.<br />
O horário de trabalho dos Agentes de Saúde é o administrativo, com<br />
quatro horas em cada turno (manhã e tarde), com pausa de 1 hora para o<br />
almoço. No entanto, em locais distantes do PA, faz-se horário corrido de 7:00 às<br />
14:00 horas. Para os que trabalham na base de UBV, o horário é de 11:00 às<br />
16:00 horas e de 16:00 às 20:00 horas, com intervalo para o almoço. Sendo que,<br />
no primeiro horário organiza-se o trabalho, providenciando o abastecimento da<br />
viatura de combustível e inseticida e define-se o intinerário. 90% negam a<br />
existência de outras pausas durante as atividades diárias.<br />
104
A realização de horas-extras é pouco freqüente entre os trabalhadores.<br />
Apenas 2% referiram ter feito no mês anterior a esta pesquisa.<br />
Quanto ao local onde dormem e se alimentam, 57% (198) dos<br />
trabalhadores referem dormir no local de trabalho. Para 59% dos entrevistados,<br />
as refeições são feitas no local de trabalho (PA ou no Campo), 29% fazem em<br />
bares ou restaurantes e 10% fazem em sua residência.<br />
As condições do alojamento variam em cada localidade onde estão<br />
desenvolvendo as ações e dependem das articulações mantidas entre a FNS e a<br />
prefeitura local, da infra-estrutura do município, do número de Agentes de Saúde<br />
que constituirá o grupo de intervenção e da disponibilidade financeira destes.<br />
Encontra-se alojamentos cedidos pelas prefeituras e alugados pelo grupo,<br />
sendo mais comum a referência ao aluguel de casas.<br />
Em visita por nós realizada a diferentes alojamentos, foi possível constatar<br />
um que foi cedido pela prefeitura, nas dependências de um mercado público.<br />
As casas, geralmente alugadas, apresentam as características<br />
compatíveis com a infra-estrutura urbana dos municípios e com o poder aquisitivo<br />
do grupo, o que determina o número de cômodos, as condições do banheiro, a<br />
presença de espaço externo, como quintal ou jardim, e a ventilação ambiente.<br />
O número de Agentes de Saúde varia conforme a necessidade do<br />
município e a disponibilidade de recursos humanos do distrito sanitário.<br />
Este grupo se organiza nos alojamentos, conforme as condições<br />
apresentadas. Deste modo, o local para descansar e dormir pode ser o quarto ou<br />
a sala (quando numa casa) ou um outro ambiente comum e o número de<br />
pessoas dividindo o mesmo espaço varia. Encontra-se relatos de 5 até 15<br />
pessoas por cômodo, sendo o mais comum um número de 8 a 10, que se<br />
dispõem em redes ou colchões no chão, em contato com os produtos químicos.<br />
Em todos os relatos há referência de ausência de armários para guardar<br />
roupas e objetos pessoais, que são mantidos na bolsa de viajem enquanto<br />
limpos, e os sujos dispostos em varais, cordões ou pregos nas paredes, onde<br />
misturam-se a farda usada com demais roupas.<br />
105
A higiene e limpeza do local é feita pelos próprios servidores que adquirem<br />
com recursos próprios os produtos e materiais para fazê-la. Há alguns locais<br />
onde ninguém se dispõe a fazer a limpeza, o que torna as condições mais<br />
precárias.<br />
O Almoxarifado de Monjope onde as condições são referidas como<br />
péssimas, não dispõe de água, energia elétrica e demais condições de infra-<br />
estrutura, e o grupo tem de recorrer ao apoio da população vizinha para garantir<br />
o mínimo de água necessária para ingestão e higiene pessoal.<br />
Na avaliação da satisfação no trabalho, a Tabela 10 mostra que dentre os<br />
entrevistados 71% indicam como problema ou incômodo o fato de não poderem<br />
sugerir modificação para realizar seu trabalho, pois as ordens vêm de cima e têm<br />
que ser obedecidas rigorosamente; 68% referem o trabalho com material danoso<br />
à saúde; 63% apontam a política de promoção e carreira; e 51% referem a falta<br />
de fornecimento de transporte para deslocamento para o trabalho.<br />
TABELA 10: Distribuição dos Agentes de Saúde Pública da FNS-CR/PE<br />
segundo variáveis de avaliação da satisfação no trabalho, 1m 1997.<br />
SIM % NÃO % TOTAL %<br />
Fazer Horas – Extras 25 9 250 91 275 100<br />
Pouco Tempo para Pausa 99 34 192 66 291 100<br />
Transporte Para o Trabalho 161 51 156 49 317 100<br />
Não Poder Sugerir Modificações 231 71 93 29 324 100<br />
Política de Promoção e Carreira 194 63 115 37 309 100<br />
Problemas com Chefia 53 17 266 83 319 100<br />
Falta Cooperação entre Colegas 106 32 229 68 335<br />
Trabalho Monótono 41 13 278 87 319 100<br />
Trabalhar com Material Danoso à<br />
Saúde<br />
224 68 105 32 329 100<br />
Quanto aos treinamentos para o exercício das atividades, a Tabela 11<br />
mostra dentre os Agentes de Saúde Pública da FNS-CR/PE, 40% receberam<br />
treinamento sobre as principais endemias no Brasil e 56% sobre as principais<br />
endemias no Nordeste; 24% receberam treinamentos sobre o SUS – Sistema<br />
106
Único de Saúde – e 63% sobre a função e o papel da FNS no SUS; 62%<br />
receberam treinamento sobre as técnicas de controle de vetores e endemias e<br />
51% sobre os cuidados no manipulação com inseticidas; 49% foram informados<br />
sobre os riscos que os inseticidas causam à saúde e 52% sobre os danos destes<br />
produtos no ambiente.<br />
TABELA 11: Distribuição dos trabalhadores pelos treinamentos recebidos, em<br />
1997.<br />
SIM NÃO<br />
TREINAMENTO N.º % N.º % TOTAL<br />
Endemias no Brasil 135 40 206 60 309<br />
Endemias no Nordeste 173 56 136 44 309<br />
S.U.S. 74 24 235 76 309<br />
Função da FNS 193 63 114 37 309<br />
Técnica de controle de<br />
vetores e endemias<br />
Cuidados no manuseio<br />
dos inseticidas<br />
191 62 117 38 309<br />
156 51 153 49 309<br />
Riscos à saúde 151 49 158 51 309<br />
Danos ao ambiente 161 52 148 48 309<br />
Especificamente quanto aos riscos à saúde, os trabalhadores referem que<br />
só recentemente começaram os treinamentos. Algumas informações foram<br />
adquiridas ao longo da vida laboral, como iniciativa própria, lendo os rótulos das<br />
embalagens dos produtos.<br />
No entanto, dentre as informações assimiladas, sabe-se que os inseticidas<br />
são prejudiciais à saúde, principalmente com o uso prolongado. Podem causar:<br />
intoxicação, alergias, coceira na pele, ardência no rosto e olhos, câncer,<br />
107
impotência sexual, lesões na pele, problemas no sistema nervoso, no coração, na<br />
visão, no sistema respiratório, no fígado, asma, dor de cabeça, má digestão,<br />
vômitos, dentre outros.<br />
Estes trabalhadores afirmam conhecer a necessidade de usar o EPI para<br />
evitar o contato direto com o inseticida; não se alimentar ou fumar durante a<br />
aplicação do produto e após a manipulação, lavar-se com bastante água e tomar<br />
leite.<br />
4.3. Condições de Saúde dos Agentes de Saúde Pública<br />
da<br />
FNS CR/PE<br />
Quanto a realização de exame pré-admissional, 54% dos entrevistados<br />
responderam tê-lo feito e 46% negaram tal procedimento. Dentre os exames<br />
mencionados estão: exame de sanidade mental, eletroencefalograma, exame<br />
parasitológico de fezes, sumário de urina, glicemia, colesterol e triglicerídeos.<br />
A realização de exames periódicos foi referida por 54% dos entrevistados.<br />
Segundo relatos, a dosagem da Acetilcolinesterase Plasmática vem sendo<br />
realizada desde 1995, inicialmente com periodicidade mensal mas, a partir de<br />
1998 com a vigência do Plano Nacional de Erradicação de Aedes aegipty , e<br />
orientação do Ministério da Saúde, passou-se a fazer tal exame a cada quinze<br />
dias. Outros exames também mencionados foram: glicemia, colesterol,<br />
triglicerídeos, parasitológico de fezes, sumário de urina, ácido úrico,<br />
eletrocardiograma. Observamos que não é realizada dosagem da<br />
Acetilcolinesterase eritrocitária.<br />
Dentre os entrevistados, 45% referiram ter sentido-se mal após aplicação<br />
dos inseticidas. A Tabela 12 mostra que 62% destes trabalhadores apresentaram<br />
108
queixas de saúde na primeira hora após a aplicação e 34% poucas horas após.<br />
Quanto ao número de vezes que sentiu-se mal, 51% referiram várias vezes;<br />
24% de 1 a 3 vezes; 15% sempre que aplica; e 10% (13) entre 4 e 8 vezes.<br />
TABELA 12: Distribuição dos trabalhadores segundo o espaço de tempo<br />
decorrido entre a aplicação do inseticida e o aparecimento<br />
de sintomas, em 1997.<br />
ESPAÇO DE TEMPO Freqüência absoluta (n) Freqüência relativa ( % )<br />
ATÉ 1 HORA APÓS 80 62<br />
POUCAS HORAS APÓS 44 34<br />
24 HORAS APÓS 5 4<br />
TOTAL 130 100<br />
Quanto às respostas abertas relativas a problemas de saúde e sua relação<br />
com a aplicação de inseticidas, 49% dos indivíduos apresentaram queixas desta<br />
natureza durante o tempo em que estão trabalhando na FNS, sendo que desses,<br />
47% foram hospitalizados.<br />
e órgãos:<br />
Os problemas referidos pelos trabalhadores foram agrupados por sistemas<br />
1. Sistema cardiovascular: hipertensão, palpitação, impotência sexual;<br />
2. Sistema respiratório: asma, rinite, sinusite, epistaxe;<br />
3. Derme: ressecamento nas mãos, lesões, manchas, queimor, queda de<br />
cabelo;<br />
4. Sistema ósteo-muscular: dor na coluna vertebral, mialgia, artralgia;<br />
5. Sistema digestivo: gastrite, diarréia, azia, náusea, vômito, hepáticos,<br />
dor abdominal;<br />
6. Sistema Gênito-urinário;<br />
7. Sistema ocular: irritação nos olhos, lacrimejamento, diminuição da<br />
visão, perda da visão;<br />
109
8. Sistema neuro – psicológico: depressão, ansiedade, amnésia parcial,<br />
alteração do comportamento, diminuição da memória (esquecimento),<br />
insônia, sonolência, tontura, formigamento no corpo.<br />
9. Sistema imunológico: alergias, rinite.<br />
10. Sistema endocrinológico: diabetes;<br />
11. Sinais e sintomas mal definidos: mal-estar, desmaio, cansaço físico,<br />
edema nas pernas.<br />
A distribuição por ordem decrescente dos Agentes de Saúde Pública da<br />
FNS– CR/PE segundo registro de sinais e sintoma de acordo com lista<br />
apresentada no questionário respondido (morbidade referida) (Tabela 13)<br />
evidencia que dentre os entrevistados 47% apresentam distúrbios da visão; 38%<br />
alergias; 34% dorsalgias; 25% cefaléia freqüente; 24% infecções com mais<br />
freqüência do que as pessoas do seu convívio; 20% (71) apresentam náuseas<br />
freqüentes; 19% distúrbio do sono; 19% distúrbio da audição; 18% má digestão<br />
freqüentemente; 17% parestesias ; e 17% tremores nas mãos.<br />
A distribuição dos trabalhadores de acordo com a morbidade referida em<br />
relação ao tempo de serviço na instituição, a faixa etária e os vencimentos<br />
(Tabelas 14, 15 e 16 anexas) evidencia que para todos os quadros mórbidos<br />
apresentados, a principal faixa etária de manifestação foi entre 30 e 39 anos,<br />
sendo que a maioria trabalha na FNS de 10 a 14 anos e recebem entre R$<br />
801,00 e 1000,00 reais.<br />
110
TABELA 13: Distribuição dos Agentes de Saúde Pública pelo número e<br />
percentual de transtornos referidos em sistemas e aparelhos, em<br />
1997.<br />
SISTEMAS/APARELHOS Freqüência<br />
DERMATOLÓGICO<br />
absoluta(n)<br />
PRESENÇA AUSÊNCIA<br />
Freqüência<br />
relativa(%)<br />
Freqüência<br />
absoluta(n)<br />
Freqüência<br />
relativa(%)<br />
TOTAL<br />
Lesão de pele 46 14 287 86 333<br />
IMUNOLÓGICO<br />
Alergias 122 38 197 62 319<br />
Infecções freqüentes 76 24 248 76 318<br />
VASCULAR<br />
Edema 32 10 287 90 319<br />
RENAL<br />
Hematúria 16 5 303 95 319<br />
DIGESTIVO<br />
Icterícia 16 5 303 95 319<br />
Dor abdominal 48 15 270 85 318<br />
Má digestão 64 18 283 82 347<br />
Falta de apetite 55 16 292 84 347<br />
Náuseas 71 20 283 80 354<br />
NEUROLÓGICO<br />
Distúrbio da visão 158 47 175 53 333<br />
111
Distúrbio da audição 69 19 287 81 356<br />
Parestesia 55 17 264 83 319<br />
Cefaléia 88 25 258 75 346<br />
Tremores nas mãos 59 17 288 83 347<br />
Distúrbio do sono 67 19 280 81 347<br />
ÓSTEO – ARTICULAR<br />
Mialgia 84 26 235 74 319<br />
Dorsalgia 119 34 228 66 347<br />
A distribuição dos Agentes de Saúde Pública segundo respostas ao SRQ-<br />
20 com escore de 7, mostra que 12% deles são suspeitos de apresentar<br />
distúrbios psiquiátricos menores, conforme Tabela 17.<br />
Dentre os suspeitos (7 ou mais respostas afirmativas), 81% estão<br />
empregados na instituição por um período entre 10 e 14 anos e 12% têm entre<br />
15 e 20 anos.<br />
TABELA 17: Distribuição dos Agentes de Saúde Pública da FNS-CR/PE pelo<br />
tempo de serviço e suspeita de apresentar distúrbios<br />
psiquiátricos menores, em 1997.<br />
SUSPEITO (≥7)<br />
S R Q-20<br />
NÃO SUSPEITO(
S R Q-20<br />
SUSPEITO (≥7) NÃO SUSPEITO(
1.º) Cefaléia Freqüente 25%<br />
2.º) Assusta-se com Facilidade 23%<br />
3.º) Tristeza 23%<br />
4.º) Dorme Mal 19%<br />
5.º) Má Digestão 18%<br />
6.º) Cansa-se com Facilidade 18%<br />
7.º) Tremores nas Mãos 17%<br />
8.º) Dificuldade para Tomar Decisões 17%<br />
9.º) Falta de Apetite 16%<br />
10.º) Dificuldade de Pensar com Clareza 15%<br />
Quanto às questões relacionadas com o alcoolismo, conforme o teste<br />
CAGE (escore de pelo menos duas respostas afirmativas), podemos observar<br />
que em 8% dos trabalhadores mostraram-se positivas, caracterizando-os<br />
portanto, como suspeitos de apresentarem alcoolismo (Síndrome de dependência<br />
do álcool). No entanto, 55% dos indivíduos referiram ingestão de bebida alcoólica<br />
(Tabela 20).<br />
TABELA 20: Distribuição dos trabalhadores pela ingestão de bebida<br />
BEBIDA<br />
alcoólica e suspeita de apresentar alcoolismo, em<br />
1997.<br />
C A G E<br />
SUSPEITO(≥2) NÃO SUSPEITO(
A distribuição pelo tempo de serviço na FNS-CR/PE (Tabela 21) mostra<br />
que 54% destes trabalhadores se encontram entre 10 e 14 anos na instituição e<br />
19% entre 15 e 20 anos.<br />
TABELA 21: Distribuição dos Agentes de Saúde Pública da FNS-<br />
TEMPO<br />
DE<br />
CR/PE pelo tempo de serviço e suspeita de apresentar<br />
alcoolismo, 1997.<br />
C A G E<br />
SUSPEITO(≥2) NÃO SUSPEITO(
TABELA 22: Distribuição dos Agentes de Saúde Pública da FNS-<br />
CR/PE pela idade e suspeita de apresentar alcoolismo,<br />
em 1997.<br />
C A G E<br />
SUSPEITO(≥2) NÃO SUSPEITO(
Das quatro questões que compõem o teste CAGE, as duas que<br />
apresentaram maior freqüência foram:<br />
1.º Alguma vez sentiu que deveria diminuir a quantidade de bebida ou<br />
parar de beber 37%<br />
2.º Sente-se chateado consigo mesmo pela maneira com que costuma<br />
beber 9%<br />
Quanto ao hábito de fumar, a Tabela 24 evidencia que 27% dos<br />
entrevistados são fumantes, sendo que, 79% destes fumam 10 a 20 cigarros por<br />
dia, 12% entre 20 e 40 cigarros por dia e, 9% até 10 cigarros por dia.<br />
TABELA 24: Distribuição dos trabalhadores pelo hábito de fumar, 1997.<br />
HÁBITO DE FUMAR Freqüência Absoluta<br />
( n.º )<br />
Freqüência Relativa<br />
( % )<br />
FUMANTE 93 27<br />
NÃO FUMANTE 254 73<br />
TOTAL 347 100<br />
117
4.4. A Percepção dos Trabalhadores<br />
A identificação da percepção dos trabalhadores quanto ao modelo de<br />
intervenção no controle de endemias adotado pela FNS, evidenciou dois grupos<br />
distintos de opiniões e 30% de abstenção de respostas (112): o primeiro grupo,<br />
com 52% (190) das respostas, se encontram aqueles que reconhecem a<br />
instituição como eficiente, útil e importante, que desempenha bem o seu papel,<br />
com dedicação e respeito à vida, e que as falhas decorrem do baixo investimento<br />
em qualificação profissional e em recursos materiais.<br />
Algumas respostas que exemplificam estas opiniões são:<br />
“O programa é bem desenvolvido, mas precisa ser aperfeiçoado na área de<br />
qualificação de pessoal e cursos periódicos.”<br />
“A FNS tem bom desempenho em todas as campanhas.”<br />
118
“O trabalho da FNS é útil e importante.”<br />
“A FNS é eficiente constante e necessária para a população.”<br />
“A FNS desempenha os seus trabalhos com dedicação e respeito à vida do<br />
ser humano.”<br />
Com opiniões diferentes destas acima referidas, o segundo grupo com 18%<br />
(65) dos trabalhadores, apresentaram críticas ao modelo, apontando-o como<br />
sendo fraco, arcaico e ultrapassado, insuficiente para erradicar os vetores e que<br />
seria necessário a introdução de novas tecnologias menos danosas, a exemplo do<br />
controle biológico.<br />
Algumas das respostas que retratam tais idéias são:<br />
“O programa é insuficiente para acabar com os vetores. Precisa uma<br />
política mais séria para a FNS.”<br />
“A FNS desenvolve um modelo arcaico, ultrapassado e ineficiente.”<br />
“O serviço é desorganizado, não obedece as necessidades de cada região.”<br />
“Acho falho. Deveria usar o controle biológico. No caso da dengue, fazer<br />
controle de fronteiras e orientar os servidores e a população quanto aos riscos de<br />
intoxicação pelo uso dos inseticidas.”<br />
“É fraco. Falta material adequado.”<br />
119
4.5. Normas de Segurança e Saúde<br />
A Fundação Nacional de Saúde e o Ministério da Saúde têm produzido<br />
uma diversidade de orientações destinadas aos trabalhadores expostos a<br />
agrotóxicos, no sentido de informá-los quanto ao transporte, armazenamento e<br />
manipulação dos produtos, na perspectiva de estabelecer mecanismos de<br />
prevenção de intoxicações.<br />
O documento “Cuidados no armazenamento, transporte, e aplicação de<br />
inseticidas em saúde pública” (em anexo), produzido pela FNS, apresenta<br />
informações importantes que orientam o manuseio dos agrotóxicos nas<br />
campanhas de saúde pública.<br />
Especificamente quanto ao uso de EPI’s, o manual “Praguicidas Utilizados<br />
em Saúde Pública” (Brasil/Ministério da Saúde, 1982) apresenta esclarecimentos<br />
120
gerais, como a adequação do tipo de equipamento conforme a área do corpo a<br />
ser protegida com descrição do material básico que o compõe. Para a cabeça<br />
indica-se capacete plástico ajustável; boné ou chapéu de material impermeável;<br />
para os olhos, óculos protetores, plástico com válvulas de ventilação; para<br />
ouvidos, protetores auriculares do tipo abafadores; para as vias respiratórias,<br />
máscara semi-facial quando da manipulação de produtos granulados (a exemplo<br />
do temefhós), ou respiradores com filtros; para o corpo, macacão ou calça e<br />
camisa, com mangas longas, tecido leve e passível de transpiração, além do<br />
avental de material impermeável, indicado na manipulação de praguicidas<br />
concentrados; as extremidades devem ser protegidas com luvas à base de nitrile<br />
ou butile, e as botas, preferentemente com canos longos, de material<br />
impermeável.<br />
A distribuição destes EPI para os trabalhadores obedecem o descriminado<br />
no Quadro I, em anexo.<br />
121
5. Discussão
5. DISCUSSÃO<br />
Em todos os momentos da história da saúde pública, o modelo de<br />
intervenção no controle das endemias transmitidas por vetores tem se<br />
caracterizado pela utilização de substâncias químicas no ambiente com vistas à<br />
extinção dos vetores e erradicação destas enfermidades, através de campanhas<br />
sanitárias. Desconsidera-se, portanto, a complexidade desta questão que envolve<br />
em seu processo as determinações sociais, políticas, econômicas, culturais e<br />
ambientais.<br />
Os Agentes de Saúde Pública da FNS por suas atividades de combate aos<br />
vetores em contato freqüente com substâncias tóxicas, estão expostos a riscos<br />
químicos, que se manifestam através intoxicações conforme o tempo de<br />
exposição, a concentração da substância, a natureza do produto, o tipo de<br />
exposição e a susceptibilidade individual.<br />
Observamos que a população dos Agentes de Saúde Pública da FNS-<br />
CR/PE é constituída por adultos jovens, pois 54,4% apresentam idade entre 30 e<br />
39 anos e 29,4% entre 40 e 49 anos, o que somando-se obtêm-se 83% de<br />
trabalhadores com idade entre 30 e 49 anos. A grande maioria (90%) é<br />
procedente do estado em que trabalham, Pernambuco, e os demais (10%)<br />
provêm de estados vizinhos. É possível relacionar esta concentração de<br />
trabalhadores oriundos do próprio estado ao processo de admissão sem<br />
concurso público, comum ao período anterior a promulgação da constituição de<br />
122
1988 que passou a exigi-lo, uma vez que o último ingresso desta categoria de<br />
trabalhadores na instituição foi em 1987, conforme pudemos levantar.<br />
A distribuição por escolaridade mostra que não encontra-se analfabetismo<br />
entre os trabalhadores, com a maioria de 44,4% possuindo o segundo grau<br />
completo ou incompleto. Isto se reproduz nas faixas etárias de 30 a 39 anos, onde<br />
se encontra 46% com segundo grau completo ou incompleto e entre 40 e 49 anos<br />
com 51% com esta escolaridade. Observa-se ainda que todos os trabalhadores<br />
com curso superior apresentam idade entre 30 e 39 anos.<br />
Os salários percebidos correspondem à classe e ao padrão em que o<br />
trabalhador se encontra na escala de ascensão funcional da instituição, os quais<br />
levam em consideração o tempo de serviço que, nesta população, a maioria<br />
(67%) está empregada entre 10 e 15 anos na instituição. Observa-se que 33,2%<br />
recebem entre R$ 1001,00 e R$ 1200,00.<br />
É importante destacar que nos valores declarados estão incluídas<br />
indenizações de campo no valor de R$ 17, 40 reais conforme artigo 16 da Lei n.º<br />
8116/91, além do auxílio alimentação no valor de R$ 81,40 reais; valores que não<br />
são incorporados ao salário do trabalhador e um dos motivos para a recusa ao<br />
afastamento do trabalho, mesmo em condições de acidentes ou de outros<br />
agravos à da saúde.<br />
Uma vez que o Agente de Saúde Pública trabalha durante os cinco dias da<br />
semana, a indenização de campo leva ao acréscimo de cerca de R$ 348,00<br />
mensais no salário destes trabalhadores.<br />
A estrutura organizacional da Fundação Nacional de Saúde apresenta-se<br />
bastante verticalizada. A nível dos distritos sanitários, que são os responsáveis<br />
diretos pela execução dos serviços de controle de vetores, por herança da<br />
estrutura da ex-SUCAM, mantém no organograma hierarquia entre os Agentes de<br />
Saúde Pública que respondem pelas atividades-meio, ao assumirem cargos de<br />
chefe do setor técnico-SETEC, inspetores gerais, inspetores de endemias, chefe<br />
de turma e, pelas atividades-fim, onde transcorre a operacionalização do trabalho<br />
e a exposição direta a praguicidas.<br />
123
Embora não tenha sido observado no estudo a percepção pelo trabalhador<br />
quanto a sentir-se controlado ou vigiado nas atividades, para avaliar a pressão<br />
exercida sobre eles, uma vez que um reduzido número de indivíduos respondeu a<br />
tal questão, com tal organograma, é possível inferir que há um importante grau de<br />
pressão e controle sobre estes trabalhadores.<br />
Um elemento agregador a estas observações está na avaliação do grau de<br />
satisfação no trabalho, verifica-se que 71% dos trabalhadores apontam como<br />
problema ou incômodo o fato de não poderem sugerir modificações para realizar<br />
as tarefas, porque conforme relatos no questionário, “as ordens vêm de cima e<br />
têm que ser obedecidas rigorosamente”.<br />
Ao descreverem sobre as atividades de supervisão, os trabalhadores<br />
colocam o controle da freqüência através da folha de ponto, e o papel do<br />
supervisor em observar a qualidade dos trabalhos executados, verificar as falhas<br />
e corrigi-las.<br />
O tempo de trabalho na Fundação Nacional de Saúde expressa o período<br />
de exposição a pesticidas da população estudada pela característica de sua<br />
atividade envolver sempre manuseio desses produtos. Os Agentes de Saúde<br />
Pública estão formalmente inseridos na FNS por um período superior a 10 anos.<br />
Desta forma, ficou difícil verificar diferenças no grupo, como foi analisado, trata-se<br />
de um grupo bastante homogêneo do ponto de vista desta variável.<br />
Quanto a manipulação de inseticidas, mais de 80% dos indivíduos<br />
referiram trabalhar diretamente com os venenos na sua carreira de funcionário da<br />
FNS até 1996, sendo que no ano de 1997, verificamos que esta proporção foi de<br />
75%. Este resultado mostra que a exposição química é direta para a maioria,<br />
constituindo-se num grupo homogêneo de risco, podendo por esta razão receber<br />
um programa específico de controle de riscos e de vigilância à saúde. E que não<br />
teria sido necessária toda uma mobilização para reivindicar estes cuidados, já<br />
que do ponto de vista epidemiológico está muito claro tratar-se de um grupo<br />
vulnerável às intoxicações químicas e a literatura reúne informações<br />
toxicológicas sobre estes produtos há mais de meio século.<br />
Estes trabalhadores são exclusivos da FNS e trabalham, em geral,<br />
fazendo horário administrativo de dois turnos diários. No entanto, nas atividades<br />
124
em locais de difícil acesso pela distância, não há pausa para alimentação. Na<br />
forma de aplicação espacial por Ultra Baixo Volume - UBV, mantém-se as oito<br />
horas diárias de atividade, porém iniciando-se às 11:00 horas da manhã e<br />
prolongando-se até às 20:00 horas. Para esta modalidade e a primeira é<br />
garantido pausa de uma hora para o almoço. 90% dos trabalhadores negam a<br />
existência de outras pausas no decorrer do dia de trabalho. As horas-extras não<br />
são freqüentes e apenas foram referidas por 2% deles. Neste sentido, há<br />
necessidade de uma adequação na organização do trabalho que permita pausas<br />
para o almoço e outras para descanso, em local que pudessem fazer higiene<br />
pessoal e evitar a aproximação com os venenos.<br />
Os alojamentos são mantidos principalmente pelos trabalhadores, que<br />
devido à necessidade de contenção de gastos para utilizarem a maior parte dos<br />
recursos como complementação da renda familiar, submetem-se a precárias<br />
condições, sem adequada infra-estrutura, dividindo os espaços com um número<br />
grande de colegas, encontramos relatos de coabitarem 8 a 10 pessoas por<br />
cômodo, dispondo colchões no chão ou dormindo em redes.<br />
Estas más condições de alojamento são agravadas pela ausência de<br />
depósitos especiais para os praguicidas. Foram relatados que, em geral, estes<br />
são guardados no local de dormir e onde, para 59% dos relatos, se faz também a<br />
refeição. Embora, não seja de difícil solução, consideramos este um importante<br />
problema existente que colabora para aumentar o grau de exposição às<br />
substâncias tóxicas e ampliar o risco de intoxicação.<br />
Durante a sua vida laboral, o Agente de Saúde Pública não fica restrito a<br />
um programa de controle de endemias. Suas atividades são exercidas conforme<br />
as prioridades institucionais, que são definidas sem a participação destes.<br />
Geralmente nos programas com necessidade de maior volume de mão-de-obra e,<br />
em alguns casos, podem ser direcionadas para o controle de mais de uma<br />
endemia.<br />
Como o controle das diferentes endemias tem especificidades que levam<br />
ao uso de diferentes produtos, conforme o vetor alvo da erradicação, isto leva o<br />
trabalhador a manter-se em contato com uma grande diversidade de<br />
125
substâncias, com diferentes concentrações, formulações, grupos toxicológicos de<br />
distintos graus de toxidade. No passado, essa diversidade de produtos era maior<br />
(organoclorados, organofosforados, carbamatos e piretróides) e atualmente, os<br />
mais utilizados são os organofosforados e os piretróides.<br />
Estando claro e evidente o risco de exposição e intoxicação na atividade de<br />
agentes de saúde pública, observamos que, em relação ao saber do sentido de<br />
seu trabalho, apenas 40% dos trabalhadores receberam treinamento sobre a<br />
principais endemias no Brasil e 56% sobre as principais endemias no Nordeste;<br />
24% receberam treinamentos sobre o SUS-Sistema Único de Saúde- e 63%<br />
sobre a função e o papel da FNS no SUS; 62% receberam treinamento sobre as<br />
técnicas de controle de vetores e endemias; 51% sobre os cuidados no<br />
manipulação com inseticidas; 49% foram informados sobre os riscos que os<br />
inseticidas causam à saúde e 52% sobre os danos destes produtos no ambiente.<br />
Se por um lado denota o acesso de número considerável de trabalhadores<br />
às informações, por outro lado evidencia uma parcela grande de Agentes de<br />
Saúde Pública que não recebeu nenhum tipo de treinamento, ficando à margem<br />
do processo de formação profissional fornecido pela instituição, principalmente<br />
sobre o Sistema Único de Saúde, cuidados na manipulação dos inseticidas, riscos<br />
à saúde e danos ao ambiente, nos quais cerca de metade ou mais destes<br />
indivíduos não teve acesso.<br />
No que se refere ao Sistema Único de Saúde um importante número de<br />
trabalhadores (76%) não teve acesso a treinamentos que abordem este tema.<br />
Esta desinformação sobre o modelo assistencial proposto para País, pode<br />
explicar em parte, a existência de movimentos internos da instituição no sentido<br />
do fortalecimento da mesma e as críticas ao processo de descentralização das<br />
ações de controle de endemias, principalmente para os municípios.<br />
Outros agravantes são os números de trabalhadores que receberam<br />
treinamentos sobre os cuidados durante a manipulação dos inseticidas, bem<br />
como, sobre os riscos provocados pelos inseticidas na saúde e no ambiente,<br />
correspondente respectivamente a 51%, 49% e 52%.<br />
Este quadro evidencia que cerca da metade dos trabalhadores<br />
desconhecem estes danos, apesar de estarem empregados há mais de dez anos<br />
126
na instituição e exerçam suas atividades laborais, manipulando constantemente<br />
estas substâncias.<br />
Estes resultados indicam mais uma vez a ausência de uma política de<br />
qualificação profissional na FNS que traz como conseqüência riscos de<br />
intoxicação para os trabalhadores e falta de compreensão da finalidade de sua<br />
função, enquanto agente de saúde pública, mostrando um processo real de<br />
alienação do trabalho.<br />
A FNS só passou a fazer um controle sistemático sobre os efeitos nocivos<br />
dos produtos manipulados após a detecção de casos de intoxicações<br />
denunciados de Agentes de Saúde Pública no distrito de Conceição do Araguaia,<br />
estado do Pará, e a partir da implantação do Plano Nacional de Erradicação do<br />
Aedes aegipty - PEAe.<br />
Embora 54% dos casos tenham realizado exames pré-admissionais na<br />
instituição, não há menção de terem sido realizadas análises toxicológicas, esta<br />
é uma medida importante para se conhecer o valor de referência individual que<br />
possibilitasse comparações posteriores. É relevante o número de indivíduos<br />
(46%) que não realizou nenhum exame e foi admitido sem qualquer tipo de<br />
avaliação prévia.<br />
Da mesma maneira que os exames pré-admissionais, a realização de<br />
exames periódicos foi referida por 54% dos entrevistados, no entanto, os relatos<br />
dos trabalhadores são de que o único exame feito rotineiramente é a dosagem da<br />
enzima acetilcolinesterase plasmática, para identificar intoxicações agudas para<br />
organofosforados, que teve início em 1995, quando da implantação do programa<br />
de erradicação da dengue o qual intensificou-se a partir de 1998, após a<br />
implantação do PEAe, aumentando o risco de exposição para esta categoria de<br />
praguicida.<br />
Os Agentes de Saúde Pública, têm no seu processo de trabalho diversas<br />
cargas que geram diferentes formas de desgaste e se conformam em danos à<br />
saúde. O contato com produtos tóxicos, biocidas, que caracterizam essa<br />
atividade de trabalho, merecem um destaque especial por apresentarem risco<br />
para o desenvolvimento de graves doenças e que, como vimos acima, muitos<br />
127
desses fatores nocivos ligados a organização e condições de trabalho, poderiam<br />
ser facilmente saneados.<br />
A repercussão dessas cargas sobre a saúde pode ser inferida<br />
inicialmente pelo número de trabalhadores que referiram problemas de saúde no<br />
decurso da sua história laboral na FNS. Evidencia-se que 49% referiram<br />
diferentes queixas clínicas, sendo que 28% referiram ter necessitado<br />
hospitalização, o que aponta para quadros mais graves de comprometimento da<br />
saúde.<br />
As principais queixas relacionadas pelos trabalhadores foram:<br />
1. Problemas cardiovasculares: hipertensão, palpitação, impotência<br />
sexual;<br />
2. Problemas respiratórios: asma, rinite, sinusite, epistaxe;<br />
3. Problemas dermatológicos: ressecamento nas mãos, lesões, manchas,<br />
queimor, queda de cabelo;<br />
4. Problemas reumatológicos: coluna, mialgia, artralgia;<br />
5. Problemas no sistema digestivo: gastrite, diarréia, azia, náusea, vômito,<br />
hepáticos, dor abdominal;<br />
6. Problemas renais;<br />
7. Problemas oculares: irritação nos olhos, lacrimejamento, diminuição da<br />
visão, perda da visão;<br />
8. Problemas neuro – psicológicos: depressão, ansiedade, amnésia<br />
parcial, alteração do comportamento, diminuição da memória<br />
(esquecimento), insônia, sonolência, formigamento no corpo.<br />
9. Problemas alérgicos:<br />
10. Diabetes<br />
11. Sinais e sintomas mal definidos: tontura, mal-estar, desmaio, cansaço<br />
físico, edema nas pernas.<br />
Todos estes problemas mencionados são passíveis de relação com as<br />
atividades de trabalho, e em particular com o contato freqüente e prolongado<br />
128
com inseticidas. 45% dos trabalhadores que sentiram-se mal após a aplicação<br />
dos inseticidas podem ser considerados sintomáticos de manifestações de<br />
intoxicações agudas. Dentre estes, observou-se que 62% apresentaram os<br />
sintomas na primeira hora após a aplicação, 34% poucas horas após e 4%<br />
referiram sintomas durante aplicação do produto, sendo que todos referiram mais<br />
de um episódio. Estes dados são de grande relevância para a vigilância em<br />
saúde dos trabalhadores expostos e devem ser considerados sintomas sentinelas<br />
para a investigação de intoxicações agudas.<br />
A distribuição dos Agentes de Saúde Pública da FNS– CR/PE segundo a<br />
morbidade referida evidencia dentre os entrevistados um quadro de distúrbios<br />
orgânicos e psico-afetivos estão compatíveis com os descritos pela literatura<br />
(Augusto, 1995; Rosenstock,1990; Queiroz,1986; Savage et alli,1988; Jamal,<br />
1995; Ilani et col.,1988; Levin et col.; Levin & Rodnitzky,1976; Ecobichon, 1996;<br />
Ministério da Saúde, 1997) podendo ser considerados evidências de quadro de<br />
intoxicação crônica devido a exposição prolongada aos pesticidas. A referência<br />
epidemiológica desse quadro sindrômico na população estudada é importante<br />
também para a investigação clínica dos casos que manifestam estas queixas,<br />
tendo em vista que muitas delas são manifestações inespecíficas comuns a<br />
outras patologias tornando pouco preciso o nexo causal.<br />
Ao partirmos do pressuposto que o tempo de serviço é exatamente igual<br />
ao período de exposição aos inseticidas e após a observação de que a<br />
população estudada apresenta um longo período de exposição, todos superior a<br />
10 anos, podemos afirmas que este é um dado de relevância para valorizar as<br />
queixas já referidas e estabelecer o nexo causal ligado a ocupação. Queremos<br />
assim mostrar que nestas situações de risco, principalmente de exposições<br />
químicas de longo período, o raciocínio médico-sanitário deve ser sempre clínico-<br />
epidemiológico.<br />
Conhecer o perfil epidemiológico das doenças e agravos à saúde de<br />
populações de risco é um excelente auxiliar não só para as medidas de<br />
prevenção, mas também para o diagnóstico precoce, orientando o tratamento e<br />
evitando assim, a introdução de esquemas terapêuticos inadequados.<br />
Freqüentemente expostos a praguicidas, manifestam quadros psíquicos e passam<br />
por tratamentos equivocados com drogas que podem interagir com as<br />
129
substâncias tóxicas, potencializando os efeitos neurotóxicos freqüentes nas<br />
intoxicações crônicas, comuns aos agrotóxicos dos grupos farmacológicos<br />
organoclorados, organofosforados, carbamatos e piretróides utilizados na FNS<br />
(Augusto, 1995; Levin et col.; Levin & Rodnitzky,1976; Klaassen,1996;<br />
Ecobichon, 1996; Ministério da Saúde, 1997). Neste sentido a identificação de<br />
12% dos Agentes de Saúde Pública com suspeita de apresentar distúrbios<br />
psiquiátricos menores, através do teste SRQ – 20, evidencia a necessidade de se<br />
investigar estes casos do ponto de vista neuro-psiquiátrico. Devemos ressaltar<br />
que este valor é menor do que os encontrados em outros estudos citados abaixo.<br />
Borges (1990) estudando os transtornos mentais em trabalhadores de uma<br />
usina siderúrgica de São Paulo, a COSIPA-Companhia Siderúrgica Paulista,<br />
encontrou uma prevalência de 19,4% de suspeitos de apresentarem distúrbios<br />
psiquiátricos menores medidos pelo SRQ-20. A população estudada tinha como<br />
características ser composta por homens, adultos jovens, com bom nível de<br />
escolaridade e com vencimentos semelhantes a este estudo na FNS.<br />
Este mesmo autor refere os trabalhos de Santana (1990) e Pitta (1989). O<br />
primeiro estudando as Doenças Mentais no bairro de Amaralina, Salvador, BA,<br />
encontrou a prevalência de 17% em homens. Pitta, estudando os trabalhadores<br />
de hospital encontrou uma prevalência de 13% entre os homens, o que se<br />
aproxima da prevalência observada nos trabalhadores da FNS.<br />
A referência de ingestão de bebida alcoólica e suspeita de alcoolismo,<br />
mostra que 55% dos indivíduos de nosso estudo assinalaram a ingestão de<br />
bebidas alcoólicas enquanto 45% negaram. Este valor é superior ao encontrado<br />
por Borges (op. cit.) em seu estudo com trabalhadores siderúrgicos, no qual<br />
apenas 18,4% de trabalhadores não acusaram fazer uso de bebida alcoólica,<br />
mas é semelhante ao observado por Delucia (apud Borges, 1990) que encontrou<br />
52,1% de trabalhadores do setor secundário de Cubatão, SP, que não referiram<br />
fazer uso de bebida alcoólica.<br />
Os indivíduos suspeitos de apresentarem alcoolismo (Síndrome de<br />
dependência do álcool), detectados pelo CAGE, corresponderam a 8% dos<br />
trabalhadores. Esta prevalência foi superior a encontrada por Borges (op. cit.),<br />
que foi de 6% para o sexo masculino.<br />
130
Tanto a morbidade referida, como os resultados dos testes SRQ-20 e<br />
CAGE mostraram maior freqüência na faixa etária de 30 a 49 anos (84%), por<br />
tempo de trabalho na FNS de 10 a 14 anos (67%) e com salário que varia entre<br />
R$ 801,00 e 1200,00 mensais (61%). O adicional denominado indenização de<br />
campo constitui-se numa espécie de monetização do risco, isto é, de um lado a<br />
FNS paga e se sente desobrigada de cuidar das condições de trabalho, em<br />
especial dos alojamentos, transferindo para o trabalhador a responsabilidade com<br />
o seu “bem-estar”; por outro lado os trabalhadores sempre premidos<br />
financeiramente incorporam este adicional no processo de reprodução social<br />
privando-se do seu próprio “bem-estar” em favor do simples “estar” de sua<br />
família. Segundo Lieber (1996), o estar é uma necessidade de todas as espécies<br />
enquanto o bem-estar é uma necessidade dos seres humanos que são<br />
caracterizados como a espécie do reino animal que pensa, cria, sonha e trabalha<br />
(Marx,1986).<br />
O hábito de fumar é um elemento que agrega-se aos riscos à saúde, não<br />
apenas devido às propriedades danosas dos produtos inerentes ao fumo, mas<br />
também por facilitar o contato oral do inseticida, principalmente se o indivíduo<br />
fuma concomitantemente às atividades laborais. 27% dos indivíduos estudados<br />
são fumantes, sendo que 79% destes fumam entre 10 e 20 cigarros por dia.<br />
Considerando que o hábito de fumar também está condicionado aos<br />
aspectos psico-sociais, tanto pela motivação como pela dependência, a<br />
valorização do hábito de fumar entre expostos se deve não só a dimensão<br />
toxicológica da interação de substâncias e do aumento do risco de contato mas,<br />
também, como um indicador de maior necessidade de fumar por indução<br />
decorrente do efeito neuro-psiquiátrico dos inseticidas utilizados no trabalho.<br />
Ao analisar-se a percepção dos Agentes de Saúde Pública quanto ao<br />
modelo de intervenção no controle de vetores adotado pela Fundação Nacional<br />
de Saúde constatou-se dois grupos de opiniões distintos. Um favorável (52%) e<br />
outro crítico (18%) e 30% sem resposta. O primeiro mostra como características<br />
positivas da instituição o seu “bom desempenho” e ser “necessária à<br />
população”. O segundo aponta a “baixa eficiência” e “alto custo do modelo” e que<br />
“é insuficiente para acabar com os vetores”, além de ser “arcaico, ultrapassado”.<br />
131
Podemos aqui supor que algumas questões podem estar influenciando a<br />
opinião dos Agentes de Saúde Pública. Em primeiro lugar, o momento que estão<br />
vivendo de reforma administrativa do estado brasileiro, onde se fala em<br />
descentralização da FNS, sua extinção, fusão com outros órgãos, que causam<br />
insegurança pois, documentos do Ministério da Administração e Reforma do<br />
Estado-MARE colocam a perspectiva de demissão de servidores públicos. Esta<br />
situação gera um movimento implícito e explícito de defesa corporativa da<br />
instituição, apesar das más condições de trabalho e queda de poder aquisitivo.<br />
Há, também, uma carência de informação sobre as propostas de reestruturação<br />
das atividades de controle de vetores e de endemias no arcabouço jurídico-<br />
institucional do Sistema Único de Saúde-SUS, agravando o quadro de<br />
insegurança profissional.<br />
Se por um lado há este reconhecimento do papel da FNS para a saúde<br />
pública, por outro lado observa-se certa resistência à introdução de novas<br />
tecnologias, novos modelos de abordagem do problema endemias. O modelo<br />
campanhista de erradicação das endemias, através da extinção dos agentes<br />
patogênicos ou de seus vetores continua bastante arraigado dentre os servidores,<br />
o que é fortalecido tanto pelo processo de capacitação profissional da FNS,<br />
quanto pela organização do trabalho que até bem pouco tempo atrás não permitia<br />
qualquer intervenção ou crítica dos trabalhadores, devido ao seu perfil<br />
centralizador e pouco afeto a participação dos servidores e usuários; cultura esta<br />
marcada pela história da saúde pública no País e da própria instituição.<br />
Embora o momento histórico que a instituição vem passando agora seja<br />
delicado do ponto de vista de sua existência, o que conforme já mencionado,<br />
fortalece o corporativismo entre os seus servidores na busca de garantia do<br />
emprego, o outro grupo, constituído de 18%, ao criticar o modelo e apontar<br />
alternativas com a introdução de novas tecnologias precisa ser valorizado pois<br />
podem se constituir num núcleo que ajude a repensar o papel e os métodos da<br />
FNS. Talvez, pela primeira vez, ao debaterem suas condições de saúde possam<br />
vislumbrar as demais questões que estão interligadas com o seu processo de<br />
saúde-doença e participarem efetivamente das discussões, não apenas referentes<br />
à melhoria de suas condições de trabalho, mas para que estas estejam<br />
integradas a um modelo de vigilância à saúde realmente capaz de enfrentar as<br />
endemias no sentido do desenvolvimento sustentável, eqüitativo e duradouro.<br />
132
Apesar de existir normatização para os procedimentos de controle de<br />
vetores com manipulação de agrotóxicos, ainda acontecem situações que podem<br />
ser caracterizadas como condições inseguras de trabalho. Na atividade de<br />
trabalho, o contato com os pesticidas inicia-se com o preparo das formulações<br />
para a aplicação que é feita pelos próprios trabalhadores que as aplicam. Durante<br />
a aplicação dos produtos, os freqüentes problemas com as bombas devido a<br />
vazamentos, entupimentos, falha no sistema de pressão, aumentam a<br />
possibilidade de contato. Outro fator de risco de exposição é o momento da<br />
manutenção e limpeza dos equipamentos, que são feitos pelos próprios agentes..<br />
Esta situação indicam a ausência de uma política de saúde no trabalho.<br />
Embora, 82% tenham referido fazer uso do Equipamento de Proteção<br />
Individual-EPI, a preocupação da instituição com o fornecimento deste<br />
instrumento de proteção é algo recente e mesmo assim, foge às normas<br />
preconizadas quanto ao número, tipo e freqüência de fornecimento, o que pode<br />
ser evidenciado com o exemplo da distribuição da farda (calça e camisa) que<br />
deve ser em número de cinco por ano e, a instituição o faz entregando apenas<br />
duas.<br />
Este fato é preocupante principalmente diante da seguinte afirmação<br />
contida no documento “Toxicologia de Produtos Inseticidas” (FNS/DEOPE,[s.d.]:<br />
“A toxidade crônica afeta mais os consumidores de produtos<br />
agrícolas, contaminados com resíduos acima dos tolerados<br />
legalmente, ou por formuladores e aplicadores que por desleixo não<br />
observam as regras básicas de autoproteção” (grifo da autora).<br />
Esta proteção do trabalhador limitado aos EPI's tem servido para simplificar<br />
as medidas de segurança, no sentido de desobrigar o empregador a adotar<br />
medidas coletivas de prevenção, e quando muito reduzindo-se aos aspectos<br />
comportais do trabalhador, apontando-o como o único responsável por sua<br />
própria segurança.<br />
Os EPI’s são apontados como os instrumentos principais na prevenção<br />
dos danos à saúde dos trabalhadores expostos a produtos químicos devido a<br />
crença de sua eficácia como barreira às principais vias de absorção no<br />
organismo ( dérmica, respiratória e digestiva).<br />
133
Percebe-se uma priorização nas ações sobre o indivíduo sujeito ao risco<br />
em detrimento daquelas de caráter coletivo, quando deveria ocorrer o inverso. A<br />
própria legislação do trabalho em vigor indica o uso de EPI’s quando “as medidas<br />
de proteção coletiva forem tecnicamente inviáveis ou não oferecerem completa<br />
proteção contra os riscos; enquanto as medidas de proteção coletiva estiverem<br />
sendo implantadas; e, para atender as situações de emergência” (NR-<br />
6/Ministério do Trabalho, 1978).<br />
Porém, mesmo nestas situações os EPI’s ainda apresentam baixa eficácia,<br />
deixando apenas uma falsa sensação de segurança. Isto ocorre primeiramente,<br />
porque na sua produção não são levadas em consideração as características<br />
individuais do trabalhador, bem como às condições atmosféricas as quais estará<br />
submetido.<br />
Em sua maioria de fabricação estrangeira ou baseada em padrões médios<br />
de trabalhadores de outros países, provocam enorme transtorno ao trabalhador<br />
devido ao desconforto ou até desordens orgânicas provocados principalmente<br />
pelo calor, mas também pelas dificuldades que geram, no processo de trabalho,<br />
sejam quanto a mobilidade, visualização do ambiente e do objeto de trabalho, a<br />
sensibilidade, determinando uma baixa aceitação do seu uso pelos trabalhadores.<br />
Outras condições como o contato com múltiplas substâncias, de maneira<br />
freqüente e durante um longo período de sua vida laboral, bem como, pelas<br />
dificuldades para descontaminar a indumentária usada durante o processo de<br />
trabalho, contribuem para que haja dúvidas quanto a eficácia dos EPI’s.<br />
Gostaríamos de ao finalizar esta discussão, apontar para a importância de<br />
se rever velhos conceitos que hoje ainda permanecem no pensamento da<br />
maioria dos servidores da FNS. Um conceito importante é o de erradicação de<br />
uma doença que, segundo Monteiro (1995), tem como conseqüência<br />
impossibilitar sua reintrodução e tornar desnecessária a manutenção de<br />
quaisquer medidas de prevenção, por esta razão é dificilmente factível em saúde<br />
pública. No entanto, a FNS utiliza este termo em seus programas criando uma<br />
ilusão e tratando de forma simplista esta questão em suas intervenções<br />
campanhistas que não são programas, apesar de algumas serem duradouras.<br />
Este mesmo autor, como vimos na introdução deste trabalho, aponta a<br />
eliminação (cessação da transmissibilidade) e o controle (convivência com níveis<br />
134
considerados toleráveis) de uma doença como mais viável, desde que<br />
apresentem regularidade e continuidade nas medidas de intervenção pertinentes<br />
e, no acompanhamento do seu comportamento e do desempenho dos serviço de<br />
saúde.<br />
A crítica à busca da erradicação das doenças pelo uso exclusivo de<br />
biocidas é feita por diversos autores devido à estratégia utilizada com o<br />
desenvolvimento de campanhas de saúde pública que desde a sua introdução no<br />
Brasil, no início do século (Braga & Paula, 1986), são caracterizadas por serem<br />
organizadas sob os princípios disciplinares rígidos, centralizadas, verticais e com<br />
supervisão rigorosa; dirigidas a problemas focais, com garantia de cobertura total<br />
das áreas infestadas, dentro dos cronogramas dos programas; financiadas por<br />
recursos externos e internos suficientes para pagamento de pessoal,<br />
equipamento e aquisição de inseticidas (Sabroza,1986; Morais,1997); e<br />
principalmente pela baixa cobertura atingida, a descontinuidade dos trabalhos, a<br />
falta de eficácia, a dimensão dos problemas vista apenas pelo lado da biologia,<br />
com caráter disciplinar unidimensional, que identifica como “inimigos” os agentes<br />
biológicos e seus vetores, que devem ser erradicados através dos biocidas<br />
(Sabroza, 1986; Leal, 1992 ; Moraes, 1990).<br />
O modelo de controle de endemias dominante na FNS apresenta o uso de<br />
praguicidas como o eixo central do combate aos vetores e como uma medida<br />
isolada, provocando a resistência dos vetores, em particular dos insetos,<br />
decorrente do uso desses agentes químicos, encarecendo os custos operacionais<br />
e impedindo a introdução de tecnologias integradas que reconheçam a<br />
complexidade do processo saúde-doença e que compreendam os aspectos bio-<br />
sócio-ambientais presentes em sua determinação.<br />
Os próprios Agentes de Saúde Pública-ASP, como o nome indica deveriam<br />
ser alçados da velha condição de “mata-mosquitos” para de fato se constituírem<br />
em agentes promotores da saúde pública. A percepção dos ASP de indicadores<br />
de nocividade para o ambiente e para a saúde humana devido ao uso de<br />
praguicidas, nunca é levado em consideração, mesmo quando relatam, com<br />
precisão, a morte de pequenos animais e outros insetos fundamentais para os<br />
ecossistemas, e as queixas de saúde das comunidades alvo após aplicação de<br />
veneno.<br />
135
As populações são tratadas como agregados humanos homogêneos, não<br />
se considerando a presença de crianças, velhos e outros grupos mais<br />
susceptíveis, como por exemplo as gestantes, os asmáticos e os<br />
imunodeprimidos, que podem piorar o seu quadro clínico com a exposição<br />
compulsória a estes produtos. Como vimos, uma das maiores queixas de saúde<br />
dos ASP são as alergias, constituindo-se em 38%, só perdendo para as queixas<br />
de distúrbios na visão (47%).<br />
Todas estas questões necessitam ser refletidas e, juntamente ao custo<br />
sócio-ambiental deste modelo químico-dependente, devem ser internalizadas no<br />
planejamento dos programas de controle de endemias, pois certamente mostrarão<br />
o seu absurdo, que é testemunhado pela reemergência e emergência de<br />
endemias.<br />
136
6. Conclusões
6. CONCLUSÕES<br />
Os Agentes de Saúde Pública (ASP) da Fundação Nacional de Saúde<br />
(FNS) estão, na sua maioria, na faixa etária de 30-49 anos (83%), todos<br />
trabalhando há mais de dez anos na instituição e na mesma função. Isto<br />
evidencia que há uma baixa rotatividade destes servidores em sua função e que<br />
estes ainda têm muitos anos de trabalho a cumprir até sua aposentadoria, uma<br />
vez que observou-se a idade média de 41 anos. Constituindo portanto uma massa<br />
de trabalhadores ativos importantes na organização da FNS.<br />
Em razão da escolaridade relativamente elevada da maioria, que apresenta<br />
26,4 % com segundo grau completo e 18,3% com segundo grau incompleto,<br />
somando 44,7% neste nível, isto aponta para um capital humano passível de<br />
melhor aproveitamento para exercer de fato a função de agente promotores de<br />
saúde pública, para além do reduzido papel de “matadores de mosquito” .<br />
A indenização de campo percebida pelos ASP não é incorporada para<br />
garantir boas condições de alojamento, sendo integralizada a renda, para as<br />
necessidades básicas da família.<br />
Sendo a maioria de casados (88,5%), o fato de que a natureza do trabalho<br />
exige, para muitos, deslocamentos e permanência em alojamentos por dias<br />
seguidos, é importante levar-se em consideração as cargas que advém desta<br />
situação e que se somam no desgaste sofrido por estes trabalhadores.<br />
138
As atividades dos ASP estão inseridas numa forte estrutura hierárquica<br />
verticalizada, cujo nível inferior da cadeia são aqueles que operam a atividade<br />
fim e os níveis intermediários e superiores são os que supervisionam e chefiam.<br />
Quanto a satisfação no trabalho ressaltamos que 71% reclamam de receberem as<br />
ordens para serem cumpridas e não poderem participar de sua formulação.<br />
Os ASP cumprem sempre oito horas, não fazem oficialmente horas<br />
extras, mas há situações em que pausas não são planejadas e usufruídas.<br />
Há uma rotatividade do trabalho em função dos vários programas, os quais<br />
são definidos por doenças endêmicas específicas tais como: malária,<br />
esquistossomose, chagas, filariose, febre amarela/dengue, leishmaniose.<br />
Para cada doença endêmica específica há um conjunto de medidas e de<br />
praguicidas a serem manuseados, de tal forma que, durante a vida laboral os ASP<br />
expuseram-se a todos os tipos de substâncias biocidas utilizados no controle de<br />
vetores dessas endemias.<br />
A única diferença entre o passado e o presente, relativo aos tipos de<br />
produtos manuseados pelos ASP, é a não utilização atual de Organoclorados e<br />
Carbamatos, em Pernambuco.<br />
A ausência de um local próprio para o armazenamento dos praguicidas faz<br />
com que os ASP os guarde junto aos alojamentos onde dormem e se alimentam.<br />
Em muitos alojamentos há carência de água que dificulta a lavagem dos<br />
equipamentos, higienizarão pessoal e lavagem de roupas.<br />
Os principais problemas com equipamentos de aplicação são vazamentos,<br />
entupimentos e falhas nos mecanismos de pressão que fazem os produtos<br />
entrarem em contato com o corpo do aplicador.<br />
A cobertura dos treinamentos deixa muito a desejar. Verificamos que cerca<br />
de 50% dos ASP ficam à margem dos treinamentos, constituindo-se numa forte<br />
queixa dos servidores. É interessante observar que os treinamentos relacionados<br />
ao objetivo da função (controle de vetores/controle de endemias) alcançam cerca<br />
de 60% dos ASP, enquanto os relativos a segurança/saúde e riscos ao ambiente<br />
deixam sem treinamento cerca de 50% deles.<br />
139
Podemos sintetizar estas conclusões dizendo que a FNS não tem uma<br />
política de qualificação pessoal, que expõe seus funcionários a riscos, muitos dos<br />
quais poderiam ser minimizados por medidas de segurança, de proteção<br />
individual e coletiva, além de treinamentos continuados.<br />
Quanto às queixas de saúde decorrentes da nocividade do trabalho<br />
desenvolvido pelos ASP, observamos que por ordem decrescente de freqüência<br />
as principais foram: distúrbios da visão (47%); alergias (38%); dorsalgias (34%);<br />
cefaléia freqüente (25%); infeções freqüentes (24%); náuseas (20%); distúrbio<br />
do sono (19%); distúrbio da audição (19%); má digestão (18%); parestesias<br />
(17%) e tremores nas mãos (17%). Este quadro é esperado em pessoas expostas<br />
aos praguicidas e que manifestam quadro de intoxicações agudas e crônicas.<br />
Este quadro compõe um perfil epidemiológico importante para a vigilância em<br />
saúde e para a atenção médica destes trabalhadores. Podemos considerar como<br />
distúrbios sentinelas de intoxicações que precisam de investigação clínica e<br />
epidemiológica.<br />
Para os distúrbios psiquiátricos menores medidos pelo teste SRQ-20,<br />
escore 7, foi encontrado 12% de suspeitos deste quadro, não diferindo dos<br />
achados de outro estudo brasileiro realizado em população geral. No entanto,<br />
como se trata de um teste de screening aplicado neste estudo pelo fato dos<br />
agrotóxicos comprometerem o sistema neuro-psiquico e, considerando ainda, a<br />
pouca experiência acumulada de utilização deste teste, podemos recomendar a<br />
sua utilização em populações de risco, até que outros métodos diagnósticos mais<br />
precisos venham a ser desenvolvidos e aplicados.<br />
Para a identificação de casos de alcoolismo, verificamos que 8% da<br />
população estudada apresentou quadro suspeito pelo teste CAGE (escore 2).<br />
Isto tem grande significância tendo em vista o efeito potencializador que o álcool<br />
provoca nos praguicidas neurotóxicos e hepatotóxicos.<br />
A FNS até há pouco tempo não fazia exames periódicos de controle da<br />
saúde dos trabalhadores e que nos exames pré-admissionais não se preocupava<br />
com análises toxicológicas que pudessem servir de medidas de comparação, por<br />
se tratar de trabalhadores que se expõem a produtos tóxicos. Ressaltamos que<br />
somente após a denúncia feita pelos ASP e sindicatos da categoria é que está<br />
sendo introduzido o controle laboratorial para este grupo. Também, faz-se<br />
140
necessário informar que a análise de acetilcolinesterase não pode ser reduzida a<br />
sua dosagem plasmática. Por conta do risco de intoxicação crônica, estas<br />
análises devem ser realizadas também nos eritrócitos e associadas a outros<br />
exames clínicos, pois estas provas são consideradas pouco sensíveis e sua<br />
normalidade não exclui a possibilidade de haver um quadro de intoxicação<br />
crônica. A investigação dos casos não devem, portanto, se restringir às análises<br />
laboratoriais. Muito importante é o raciocínio clínico-epidemiológico na elucidação<br />
de intoxicações pela exposição aos praguicidas.<br />
Os ASP estudados passaram a apresentar estes distúrbios na saúde<br />
após terem iniciado suas atividades na FNS e que sintomas agudos geralmente<br />
se manifestam na primeira hora após a aplicação de praguicidas.<br />
Além de todas os riscos que conformam um quadro de insalubridade na<br />
atividade, acrescentamos o problema do fumo. Cerca de 27% dos ASP têm este<br />
hábito e isto é um fator a mais a ser considerado no tipo de exposição.<br />
Cerca de 52% dos ASP são favoráveis ao modelo de controle de<br />
vetores/endemias utilizados pela FNS, ressaltando a importância destas ações<br />
para a população. Sendo que, os que a criticam (18%) referem a sua baixa<br />
eficiência. Devemos observar que 30% não responderam a esta questão.<br />
A FNS não segue suas próprias normas e apenas fornece duas mudas de<br />
fardamento (uniforme) ao ano, o que impede a lavagem e imediata troca de<br />
vestuário após o uso, na aplicação de venenos.<br />
Para os Equipamentos de Proteção Individual há também uma<br />
inadequação seja nos tipos, quantidade, manutenção e freqüência de<br />
troca/reposição.<br />
Concluímos assim que há um conjunto de elementos abrangendo aspectos<br />
bio-sócio-ambientais na atividade dos ASP que determinam as cargas de<br />
nocividade responsáveis por danos à saúde dos trabalhadores, entre as quais<br />
ressaltamos aquelas ligadas ao modelo oficial de controle de endemias/vetores.<br />
As mudanças necessárias neste modelo devem incorporar a participação dos<br />
Agentes de Saúde Pública, pois são detentores de conhecimento do processo<br />
de trabalho que inclui a percepção do fazer, da eficácia e das conseqüências<br />
141
dos programas de controle de endemias e que devem ser internalizadas no seu<br />
planejamento.<br />
142
7. Referências<br />
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OMS/OPS, 1995. p. 25-42. (Série Informes Técnicos, n.49).<br />
TAYLOR, P. Agentes Anticolinérgicos. In: GOODMAN & GILMAN. As Bases<br />
Farmacológicas da Terapêutica. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,<br />
1991. p. 85-97.<br />
TEIXEIRA, C. F. Municipalização da Saúde: os caminhos do labirinto. Saúde em<br />
Debate. Londrina, n. 35, p. 4 - 10, jul. 1992.<br />
TEIXEIRA. S. M. F (Org.). Reforma Sanitária: em busca de uma teoria. Rio de<br />
Janeiro: Vozes/ABRASCO, 1989. 192p.<br />
TESTA, M. Pensar em Saúde. Porto Alegre: Artes Médicas/ABRASCO, 1992.<br />
p.89-128: Tendências em Planejamento.<br />
TRAPÉ, A. Z. O caso dos agrotóxicos. In: ROCHA, L. E. et al. (Orgs). Isto é<br />
Trabalho de Gente? Vida, doença e trabalho no Brasil. Petrópoles: Vozes,<br />
1994. p. 569-593.<br />
TRAPÉ, A. Z. Doenças Relacionadas a Agrotóxicos: Um problema de saúde<br />
Pública. Campinas, 1995. Tese (Doutorado em Saúde Coletiva) Faculdade de<br />
Ciências Médicas, Unicamp.<br />
TRIVIÑOS, A. N.S. Introdução a Pesquisa em Ciências Sociais: a pesquisa<br />
Qualitativa em Educação - O Positivismo, a Fenomenologia , o Marxismo. 3.<br />
ed. São Paulo: Atlas, 1992. Cap. 2: Três enfoques na pesquisa em Ciências<br />
sociais: o Positivismo, a Fenomenologia e o Marxismo.<br />
151
URIBE, R. F. J. Planejamento e Programação em Saúde: um enfoque<br />
estratégico. São Paulo: Cortez/ABRASCO, 1989. 222 p.<br />
WEIR, D. & SCHAPIRO. Círculo de Veneno: los plaguicidas y el hombre en un<br />
mundo hambriento. San Francisco, México: Terra Nova, 1982. Cap. 2: Una<br />
víctima por minuto.<br />
ZUARDI, A. W. et al. Valor do questionário “CAGE” na detecção precoce dos<br />
pacientes com risco para o desenvolvimento de síndrome de abstinência do<br />
álcool, num hospital geral. Rev. ABP-APAL, [s.l.], v. 9, n. 4, p. 157-160,1987.<br />
152
8. Anexos
TABELA 3: Distribuição dos Agentes de Saúde Pública da FNS-CR-PE por faixa<br />
Etária e Nível de Escolaridade.<br />
FAIXA ETÁRIA<br />
ESCOLARIDADE
TABELA 14: Distribuição dos trabalhadores por morbidade e tempo de serviço, em 1997.<br />
SISTEMAS/<br />
TEMPO DE SERVIÇO NA FNS/CR-PE<br />
APARELHOS 10-14 15-20 21-25 > 25 S TOTAL<br />
DERMATOLÓGICO<br />
Lesão de pele (P) 38(76%) 4(8%) 4(8%) 4(8%) 50<br />
IMUNOLÓGICO<br />
(A) 203(66%) 64(21%) 28(9%) 13(4%) 308<br />
Alergias (P) 86(69%) 18(15%) 13(11%) 7(6%) 124<br />
(A) 128(65%) 45(23%) 14(7%) 9(5%) 196<br />
Infecções/repetição (P) 53(65%) 12(15%) 9(11%) 7(8%) 81<br />
VASCULAR<br />
(A) 162(68%) 50(21%) 18(8%) 9(4%) 239<br />
Edema (P) 23(68%) 4(12%) 2(6%) 5(15%) 34<br />
RENAL<br />
(A) 189(67%) 59(21%) 24(9%) 11(4%) 283<br />
Hematúria (P) 16(84%) 1(5%) 1(5%) 1(5%) 19<br />
DIGESTIVO<br />
(A) 223(66%) 67(20%) 31(9%) 17(5%) 338<br />
Icterícia (P) 13(75%) 1(6%) 1(6%) 2(12%) 17<br />
(A) 225(67%) 67(20%) 30(9%) 15(5%) 337<br />
Dor abdominal (P) 39(74%) 7(13%) 5(9%) 2(4%) 53<br />
(A) 184(66%) 57(21%) 24(9%) 12(4%) 277<br />
Má digestão (P) 43(71%) 11(18%) 6(10%) 1(2%) 61<br />
(A) 191(67%) 55(19%) 24(8%) 16(6%) 286<br />
Falta de apetite (P) 37(70%) 10(19%) 2(4%) 4(8%) 53<br />
(A) 195(67%) 55(20%) 28(10%) 13(5%) 291<br />
Náuseas (P) 47(76%) 9(15%) 5(8%) 1(2%) 62<br />
NEUROLÓGICO<br />
(A) 168(65%) 55(21%) 24(9%) 13(5%) 260<br />
Distúrbio da visão (P) 103(61%) 30(18%) 21(13%) 14(8%) 168<br />
(A) 135(73%) 36(20%) 11(6%) 3(2%) 185<br />
Distúrbio da audição(P) 40(64%) 8(13%) 9(14%) 6(10%) 63<br />
(A) 175(68%) 56(22%) 20(8%) 8(3%) 259<br />
Parestesia (P) 43(68%) 9(14%) 7(11%) 4(6%) 63<br />
(A) 187(67%) 57(20%) 24(9%) 13(5%) 281<br />
Cefaléia (P) 62(71%) 12(14%) 7(8%) 6(7%) 87<br />
(A) 171(66%) 55(21%) 23(9%) 11(4%) 260<br />
Tremores nas mãos (P) 38(73%) 7(14%) 5(10%) 2(4%) 52<br />
(A) 177(66%) 57(19%) 24(9%) 12(4%) 270<br />
Distúrbio do sono (P) 44(69%) 14(22%) 3(5%) 3(5%) 64<br />
(A) 188(67%) 51(18%) 27(10%) 14(5%) 280<br />
MOTOR<br />
Mialgia (P) 64(70%) 12(13%) 6(7%) 10(11%) 92<br />
(A) 172(66%) 55(21%) 25(10%) 7(3%) 259<br />
Dorsalgia (P) 89(74%) 13(11%) 10(8%) 8(7%) 120<br />
(A) 145(63%) 54(24%) 21(9%) 9(4%) 229<br />
155
P= presença A= ausência<br />
TABELA 15: Distribuição dos Agentes de Saúde Pública pela morbidade referida e faixa etária, 1997.<br />
SISTEMAS/<br />
FAIXA ETÁRIA<br />
APARELHOS < 30 30-39 40-49 50-59 60 e+ TOTAL<br />
DERMATOLÓGICO<br />
Lesão de pele (P) 2(4%) 22(44%) 15(30%) 9(18%) 2(4%) 50<br />
IMUNOLÓGICO<br />
(A) 7(2%) 166(46%) 93(26%) 34(10%) 50(14%) 359<br />
Alergias (P) 2(2%) 66(53%) 32(26%) 21(17%) 3(2%) 124<br />
(A) 3(2%) 105(54%) 64(33%) 19(10%) 5(3%) 196<br />
Infecções/repetição (P) 1(2%) 42(52%0 21(24%) 15(19%) 2(3%) 81<br />
VASCULAR<br />
(A) 4(2%) 130(54%) 75(31%) 24(10%) 6(3%) 239<br />
Edema (P) 1(3%) 14(41%) 10(29%) 7(21%) 2(6%) 34<br />
RENAL<br />
(A) 4(2%) 156(55%) 85(30%) 32(11%) 6(2%) 283<br />
Hematúria (P) 0 11(58%) 4(21%) 3(16%) 1(5%) 19<br />
DIGESTIVO<br />
(A) 9(3%) 176(52%) 103(31%) 40(`12%) 10(3%) 338<br />
Icterícia (P) 1(6%) 5(29%) 8(47%) 3(18%) 0 17<br />
(A) 8(2%) 182(54%) 98(29%) 39(12%) 10(3%) 337<br />
Dor abdominal (P) 1(2%) 23(43%) 21(40%) 8(15%) 0 53<br />
(A) 7(3%) 150(54%) 79(29%) 32(12%) 9(3%) 277<br />
Má digestão (P) 1(2%) 36(59%) 19(31%) 4(7%) 1(2%) 61<br />
(A) 8(3%) 149(52%) 83(29%) 37(13%) 9(3%) 286<br />
Falta de apetite (P) 1(2%) 27(51%) 16(30%) 9(17%) 0 53<br />
(A) 8(3%) 158(54%) 83(29%) 32(11%) 10(3%) 291<br />
Náuseas (P) 0 33(53%) 21(34%) 7(11%) 1(2%) 62<br />
NEUROLÓGICO<br />
(A) 8(3%) 136(52%) 76(29%) 32(12%) 8(3%) 260<br />
Distúrbio da visão (P) 7(4%) 64(38%) 62(37%) 28(17%) 8(5%) 169<br />
(A) 2(2%) 122(66%) 44(24%) 14(8%) 32(%) 185<br />
Distúrbio da audição(P) 2(3%) 29(42%) 21(30%) 15(22%) 2(3%) 69<br />
(A) 6(2%) 156(56%) 82(29%) 27(10%) 9(3%) 280<br />
Parestesia (P) 0 29(45%) 20(31%) 13(20%) 2(3%) 64<br />
(A) 8(3%) 154(55%) 81(29%) 29(10%) 9(3%) 281<br />
Cefaléia (P) 3(3%) 44(51%) 26(30%) 14(16%) 0 87<br />
(A) 6(2%) 140(54%) 77(30%) 27(10%) 10(4%) 260<br />
Tremores nas mãos (P) 2(4%) 34(65%) 8(15%) 7(14%) 1(2%) 52<br />
(A) 6(2%) 135(50%) 89(56%) 32(12%) 8(3%) 270<br />
Distúrbio do sono (P) 1(2%) 33(52%) 21(33%) 7(11%) 2(3%) 64<br />
(A) 8(3%) 152(54%) 78(28%) 34(22%) 8(3%) 280<br />
MOTOR<br />
Mialgia (P) 0 44(48%) 27(29%) 17(19%) 4(4%) 92<br />
(A) 90(35%) 142(55%) 77(30%) 25(10%) 6(2%) 259<br />
Dorsalgia (P) 2(2%) 67(56%) 33(28%) 13(11%) 5 120<br />
(A) 7(3%) 118(56%) 71(31%) 28(12%) 5 229<br />
156
(P)=Presença (A)= Ausência<br />
TABELA 16: Distribuição dos Agentes de Saúde Pública pela morbidade referida e vencimentos, 1997.<br />
APARELHOS/<br />
FAIXA SALARIAL (R$)<br />
SISTEMAS < 600 601-800 801-1000 1001- 1201-<br />
DERMATOLÓGICO<br />
1200 1400<br />
> 1400 TOTAL<br />
Lesão de pele (P) 5(9%) 10(18%) 7(13%) 12(22%) 8(15%) 1(1%) 55<br />
IMUNOLÓGICO<br />
(A) 18(6%) 60(21%) 86(30%) 98(34%) 21(7%) 6(5%) 289<br />
Alergias (P) 8(7%) 31(27%) 31(27%) 31(27%) 11(10%) 3(3%) 115<br />
(A) 11(5%) 34(19%) 52(36%) 66(37%) 17(9%) 2(1%) 182<br />
Infecções/repetição (P) 8(10%) 14(19%) 25(26%) 19(26%) 8(11%) 0 74<br />
VASCULAR<br />
(A) 11(5%) 51(26%) 58(35%) 78(35%) 20(9%) 5(2%) 223<br />
Edema (P) 5(16%) 4(13%) 10(32%) 9(29%) 3(10%) 0 31<br />
RENAL<br />
(A) 14(5%) 60(23%) 71(27%) 88(34%) 25(10%) 5(2%) 263<br />
Hematúria (P) 0 5(29%) 8(47%) 1(6%) 2(12%) 1(6%) 17<br />
DIGESTIVO<br />
(A) 23(7%) 65(21%) 81(26%) 110(35%) 28(9%) 6(2%) 313<br />
Icterícia (P) 3(21%) 2(14%) 6(43%) 3(21%) 0 0 14<br />
(A) 20(6%) 67(21%) 82(25%) 107(33%) 30(9%) 7(2%0 303<br />
Dor abdominal (P) 6(11%) 14(26%) 18(34%) 11(21%) 2(4%) 2(4%) 53<br />
(A) 17(6%) 56(20%) 72(26%) 99(36%) 27(10%) 5(2%) 276<br />
Má digestão (P) 3(5%) 13(21%) 19(31%) 18(30%) 4(7%) 2(3%) 61<br />
(A) 20(7%) 55(19%) 67(24%) 91(32%) 25(9%) 5(2%) 285<br />
Falta de apetite (P) 4(8%) 10(19%) 15(29%) 16(31%) 5(10%) 2(4%) 52<br />
(A) 19(7%) 57(21%) 70(26%) 93(35%) 24(9%) 5(2%) 268<br />
Náuseas (P) 5(8%) 14(23%) 25(40%) 15(24%) 1(2%) 2(3%) 62<br />
NEUROLÓGICO<br />
(A) 18(5%) 54(21%) 62(24%) 92(36%) 29(11%) 4(2%) 259<br />
Distúrbio da visão (P) 8(5%) 33(21%) 48(30%) 48(30%) 17(11%) 4(3%) 158<br />
(A) 15(9%) 37(22%) 44(26%) 59(35%) 12(7%) 2(1%) 169<br />
Distúrbio da audição(P) 4(6%) 13(20%) 24(38%) 15(23%) 6(9%) 2(3%) 64<br />
(A) 1997%) 56(22%) 66(26%) 91(35%) 23(9%) 3(1%) 258<br />
Parestesia (P) 6(10%) 12(20%) 23(39%( 13(22%) 2(3%) 3(5%) 59<br />
(A) 14(5%) 57(22%) 67(26%) 93(36%) 27(10%) 2(1%) 260<br />
Cefaléia (P) 7(9%) 15(19%) 27(34%) 21(27%) 7(9%) 2(3%) 79<br />
(A) 16(7%) 53(22%) 59(24%) 87(36%) 22(9%) 5(2%) 242<br />
Tremores nas mãos (P) 5(10%) 7(14%) 21(40%) 14(27%) 4(8%) 1(2%) 52<br />
(A) 18(7%) 7(3%) 21(8%) 93(35%) 26(10%) 5(2%) 269<br />
Distúrbio do sono (P) 1(2%) 12(20%) 17(28%) 23(38%) 5(8%) 2(3%) 60<br />
(A) 22(9%) 55(21%) 68(26%) 86(33%) 24(9%) 5(2%) 260<br />
MOTOR<br />
Mialgia (P) 9(11%) 22(26%) 21(25%) 22(26%) 7(8%) 3(4%) 84<br />
(A) 14(6%) 47(20%) 65(27%) 88(37%) 22(9%) 4(2%) 240<br />
Dorsalgia (P) 10(9%) 27(25%) 31(28%) 33(30%) 7(6%) 2(2%) 110<br />
(A) 13(6%) 41(19%) 55(26%) 77(36%) 22(10%) 5(2%) 213<br />
157
(P)=Presença (A)= Ausência<br />
158
QUADRO I : BASE DE CÁLCULO PARA AQUISIÇÃO DE EPI’s RELACIONADOS COM O TIPO DE TRATAMENTO POR ANOS.<br />
TIPO DE<br />
TRATAMENTO<br />
TRATAMENTO<br />
RESIDUAL<br />
MOLUSCICIDA<br />
ULTRA BAIXO<br />
VOLUME<br />
158<br />
PROGRAMA PARES DE CAMISA CALÇA CAPACETE ÓCULOS VISEIRA MÁSCARA SEMI<br />
BOTA<br />
FACIAL<br />
MALÁRIA 2 5 5 1 1 4 -<br />
DENGUE 2 5 5 1 1 4 -<br />
CHAGAS 2 5 5 1 1 4 -<br />
CALAZAR 2 5 5 1 1 4 -<br />
PESTE 2 5 5 1 1 4 -<br />
DENGUE 2 5 5 - - - 15<br />
MALARIA 2 5 5 - - - 15<br />
FILARIOSE 2 5 5 - - - 15<br />
ESQUISTOSSOMOSE 4 5 5 1 1 4 -<br />
DENGUE 2 5 5 1 - - -<br />
CALAZAR 2 5 5 1 - - -<br />
MALÁRIA 2 5 5 1 - - -<br />
ENTOMOLOGIA COLETA DE GOTAS 2 5 5 1 - - -<br />
FONTE: Manual de Praguicidas Utilizados em Saúde Pública, Ministério da Saúde, 1982.
159<br />
QUADRO II: BASE DE CÁLCULO PARA AQUISIÇÃO DE EPI’s RELACIONADOS COM O TIPO DE TRATAMENTO POR ANOS.<br />
TIPO DE<br />
TRATAMENTO<br />
TRATAMENTO<br />
RESIDUAL<br />
MOLUSCICIDA<br />
ULTRA BAIXO<br />
VOLUME<br />
ENTOMOLOGIA<br />
PROGRAMA PEÇA<br />
RESPIRADORA<br />
SEMI FACIAL<br />
(CONTINUAÇÃO)<br />
PEÇA<br />
RESPIR.<br />
FACIAL<br />
COMPLETA<br />
CARTUCHO<br />
COMBINADO<br />
LUVA AVENTAL<br />
IMPERMEÁVEL<br />
PROTETOR<br />
AURICULAR<br />
KIT TESTE<br />
DE<br />
VEDAÇÃO<br />
MALÁRIA 1 - 6 12 2 - 0.05<br />
DENGUE 1 - 6 12 2 - 0.05<br />
CHAGAS 1 - 6 12 2 - 0.05<br />
CALAZAR 1 - 6 12 2 - 0.05<br />
PESTE 1 - 6 12 2 - 0.05<br />
DENGUE - - - 12 1 - 0.05<br />
MALARIA - - - 12 1 - 0.05<br />
FILARIOSE - - - 12 1 - 0.05<br />
ESQUISTOSSOMOSE - - 6 12 2 - 0.05<br />
DENGUE - 1 12 24 4 4 0.05<br />
CALAZAR - 1 12 24 4 4 0.05<br />
MALÁRIA - 1 12 24 4 4 0.05<br />
COLETA DE GOTAS - 1 6 12 2 2 0.05<br />
FONTE: Manual de Praguicidas Utilizados em Saúde Pública, Ministério da Saúde, 1982.
LEVANTAMENTO DAS CONDIÇÕES DE TRABALHO E SAÚDE NOS<br />
GUARDAS DE ENDEMIAS/AGENTES DE SAÚDE PÚBLICA DA FUNDAÇÃO<br />
NACIONAL DE SAÚDE, EM PERNAMBUCO<br />
NÚCLEO NÚCLEO DE DE ESTUDOS ESTUDOS DE DE SAÚDE SAÚDE COLETIVA COLETIVA - NESC/CPqAM/FIOCRUZ<br />
NESC/CPqAM/FIOCRUZ<br />
FUNDAÇÃO FUNDAÇÃO NACIONAL NACIONAL DE DE SAÚDE SAÚDE - FNS/CR/PE<br />
FNS/CR/PE<br />
SINDICATO SINDICATO DOS DOS SERVIDORES SERVIDORES SERVIDORES PÚBLICOS PÚBLICOS FEDERAIS FEDERAIS DE DE PERNAMBUCO PERNAMBUCO<br />
- SINDSEPE<br />
LOCAL ONDE MORA( CIDADE/ESTADO):<br />
______________________________________________<br />
DATA:____________________ DISTRITO A QUE<br />
PERTENCE:____________________________<br />
I I - DADOS PESSOAIS E CO CONDIÇÕES CO<br />
NDIÇÕES GERAIS GERAIS DE VIDA:<br />
1. IDADE:___________ANOS<br />
2. ONDE O SR. NASCEU?_________________________________________________<br />
3. (SE PROCEDENTE DE OUTRAS REGIÕES) HÁ QUANTO TEMPO O SR. MORA EM<br />
PERNAMBUCO?________<br />
4. QUAL A SUA ESCOLARIDADE?(ATÉ QUE ANO O SR. ESTUDOU?)<br />
( ) ANALFABETO<br />
( ) PRIMÁRIO COMPLETO ( ) PRIMÁRIO INCOMPLETO<br />
( ) GINÁSIO COMPLETO ( ) GINÁSIO INCOMPLETO<br />
( ) SEGUNDO GRAU COMPLETO ( ) SEGUNDO GRAU INCOMPLETO<br />
( ) SUPERIOR COMPLETO ( ) SUPERIOR INCOMPLETO<br />
( ) OUTROS(CURSOS PROFISSIONALIZANTES)<br />
ESPECIFICAR:____________________________________________________<br />
5. QUAL O SEU ESTADO CIVIL?<br />
( )CASADO<br />
( ) SOLTEIRO<br />
( ) MORA JUNTO<br />
( ) SEPARADO/DESQUITADO/DIVORCIADO<br />
( ) VIÚVO<br />
6. ÚLTIMO SALÁRIO RECEBIDO(LÍQUIDO) R$_______________________MÊS:_________<br />
7. O SR. TEM ALGUMA OUTRA ATIVIDADE REMUNERADA, ALÉM DA FNS? ( ) SIM ( ) NÃO<br />
160
8. QUANTAS PESSOAS MORAM EM SUA CASA? ______________<br />
9. QUAL A RENDA FAMILIAR TOTAL, INCLUINDO O RENDIMENTO DOS OUTROS? ____________<br />
II II - OCUPAÇÃO E CONDIÇÕES DE TRABALHO<br />
10. QUAL É SUA FUNÇÃO?_________________________________________________<br />
11. QUAL É O SEU PADRÃO?_______________________________________________<br />
12. EXPLIQUE COMO É O SEU TRABALHO( DESCREVA TODAS AS TAREFAS EXECUTADAS<br />
DIARIAMENTE):______________________________________________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
_<br />
13. O SENHOR MANIPULA ALGUMA SUBSTÂNCIA QUÍMICA ATUALMENTE? ( )SIM ( )NÃO<br />
14. SE SIM, QUAIS SUBSTÂNCIAS O SENHOR<br />
MANIPULA?___________________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
15. COMO É FEITO O PREPARO DESTAS SUBSTÂNCIAS PARA A APLICAÇÃO?<br />
_________________________________________________________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
16. NO PASSADO, EM SUAS ATIVIDADES DE TRABALHO, O SENHOR JÁ MANIPULOU ALGUMA<br />
SUBSTÂNCIA QUÍMICA? ( )SIM ( )NÀO<br />
17. SE SIM, QUANTO TEMPO FAZ E QUAIS SUBSTÂNCIAS FORAM<br />
MANIPULADAS?_____________________________________________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
_<br />
18. QUAIS AS MÁQUINAS/FERRAMENTAS/EQUIPAMENTOS UTILIZADOS PARA A PLICAÇÃO DOS<br />
PRODUTOS?________________________________________________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
19. TEM TIDO PROBLEMAS NA SUA OPERAÇÃO/MANUSEIO? ( )SIM ( )NÃO<br />
161
20. SE SIM, QUE PROBLEMAS?_____________________________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
21. QUEM FAZ A LIMPEZA DESTE<br />
MATERIAL?___________________________________________<br />
22. COMO É FEITA A LIMPEZA(QUE MATEIRAL USA; QUAL A FREQUÊNCIA DESTA<br />
LIMPEZA)?_________________________________________________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
23. QUEM FAZ A MANUTENÇÃO DESTAS<br />
MÁQUINAS/EQUIPAMENTOS?__________________________<br />
24. QUAL É A FREQUÊNCIA COM QUE SE É FEITA ESTA<br />
MANUTENÇÃO?__________________________<br />
25. O SENHOR USA A FARDA/UNIFORME DE TRABALHO? ( )SIM ( )NÃO<br />
26. QUEM FORNECE?__________________________________________________________<br />
27. QUAL A FREQUÊNCIA DESTE FORNECIMENTO DE NOVA<br />
FARDA?____________________________<br />
28. QUAL A FREQUÊNCIA DA MUDA PARA A LAVAGEM DA<br />
FARDA?_____________________________<br />
29. QUEM FAZ A LAVAGEM DA FARDA<br />
USADA?__________________________________________<br />
30. FAZ USO DE EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUA (EPI)? ( ) SIM ( ) NÃO<br />
31. SE SIM, QUAIS OS EPI’s E HÁ QUANTO TEMPO OS<br />
USA?_________________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
32. QUEM FAZ A LIMPEZA DOS<br />
EPI’s?_______________________________________________<br />
33. COMO É FEITA ESTA LIMPEZA (QUE MATERIAL USA; QUAL A FREQUÊNCIA DA LIMPEZA)?<br />
_________________________________________________________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
34. OS PRODUTOS QUÍMICOS SÃO ARMAZENADOS EM LOCAL PRÓPRIO? ( )SIM ( )NÃO<br />
35. SE SIM, DESCREVA AS CONDIÇÕES DO ARMAZENAMENTO(LOCAL, COMO É FEITO O<br />
ARMAZENAMENTO,ETC.):_______________________________________________________<br />
162
_________________________________________________________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
_<br />
36. SE NÃO, EXPLIQUE O POR<br />
QUÊ:_________________________________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
37. RECEBEU TREINAMENTO SOBRE AS PRINCIPAIS ENDEMIAS NO BRASIL? ( )SIM (<br />
)NÃO<br />
38. RECEBEU TREINAMENTO SOBRE AS PRINCIPAIS ENDEMIAS NA REGIÃO NORDESTE? ( )SIM (<br />
)NÃO<br />
39. RECEBEU TREINAMENTO SOBRE AS TÉCNICAS DE CONTROLE DE ENDEMIAS E VETORES? ( )SIM (<br />
)NÃO<br />
40. RECEBEU TREINAMENTO SOBRE O PAPEL/FUNÇÃO DA FNS? ( )SIM ( )NÃO<br />
41. RECEBEU TREINAMENTO SOBRE O SUS-SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE? ( )SIM ( )NÃO<br />
42. RECEBEU TRAINAMENTO SOBRE OS CUIDADOS COM O MANUSEIO DE PRODUTOS QUÍMICOS<br />
(RISCOS,USO DE EPI, EFEITOS SOBRE A SAÚDE, EFEITOS SOBRE O MEIO AMBIENTE,<br />
CONTROLE DA SAÚDE)? ( ) SIM ( )NÃO<br />
43. QUANDO FOI O ÚLTIMO<br />
TREINAMENTO?___________________________________________<br />
44. EM QUE CONSISTE/CONSISTIU OS TREINAMENTOS QUE VOCÊ<br />
RECEBEU?______________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
_____________________________________________________ ___________________<br />
45. O SENHOR RECEBEU INFORMAÇÃO SOBRE OS RISCOS QUE OS PRODUTOS QUÍMICOS UTILIZADOS<br />
TRAZEM PARA A SAÚDE? ( )SIM ( )NÃO<br />
46. EXPLIQUE:_______________________________________________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
47. O SENHOR RECEBEU INFORMAÇÃO ACERCA DOS EFEITOS DESTES PRODUTOS QUÍMICOS<br />
UTILIZADOS SOBRE O MEIO AMBIENTE(CONTAMINAÇÃO DE ÁGUA, MORTE DE ANIMAIS, MORTE DE<br />
OUTROS INSETOS COMO BORBOLETAS,BESOUROS,ETC.)? ( )SIM ( )NÃO<br />
48. QUEM FAZ A SUPERVISÃO NO<br />
TRABALHO?__________________________________________<br />
163
49. EM QUE CONSISTE ESTA SUPERVISÃO?<br />
____________________________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
50. HÁ QUANTO TEMPO TRABALHA NA FNS?__________ANOS<br />
51. FEZ EXAMES PARA CONTROLE DA SAÚDE, NA ADMISSÃO PARA ESTA FUNÇÃO? ( ) SIM ( )<br />
NÃO<br />
52. SE SIM,<br />
QUAIS?____________________________________________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
53. FAZ EXAMES PERIÓDICOS(PARA CONTROLE DE INTOXICAÇÃO)? ( ) SIM ( ) NÃO<br />
54. SE SIM, QUAL A FREQUÊNCIA DE REALIZAÇÃO DESTES<br />
EXAMES?___________________________<br />
55. QUAIS OS EXAMES QUE SÃO<br />
FEITOS?_____________________________________________<br />
56. HÁ QUANTO TEMPO O SENHOR TRABALHA NESTA FUNÇÃO<br />
ATUAL?________________________<br />
57. JÁ TRABALHOU EM ALGUMA OUTRA ATIVIDADE, NA FNS, ANTERIORMENTE? ( ) SIM ( ) NÃO<br />
58. SE SIM, QUAL? __________________________________________________________<br />
59. QUANTO TEMPO FICOU NESTA<br />
ATIVIDADE?________________________________________<br />
60. QUANTO TEMPO GASTA PARA IR DE SUA CASA AO LOCAL DE TRABALHO, EM<br />
MÉDIA?______________<br />
61. QUAL O MEIO DE TRANSPORTE QUE<br />
UTILIZA?________________________________________<br />
62. A FNS FORNECE O TRANSPORTE? ( )SIM ( )NÃO<br />
63. SENTE - SE PRESSIONADO OU VIGIADO NO TRABALHO? ( ) SIM ( ) NÃO<br />
64. QUAL O SEU HORÁRIO DE<br />
TRABALHO?____________________________________________<br />
65. SE EM TURNOS, ESPECIFIQUE (DIAS TRABALHADOS E DIAS DE<br />
FOLGA):______________________<br />
________________________________________________________________________<br />
66. QUAL É A DURAÇÀO DAS PAUSAS PARA AS<br />
REFEIÇÕES?_________________________________<br />
164
67. HÁ OUTRAS PAUSAS? ( )SIM ( )NÃO<br />
68. EXPLIQUE:_______________________________________________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
69. ONDE FAZ AS REFEIÇÕES?<br />
____________________________________________________<br />
70. DORME NO LOCAL DE TRABALHO? ( ) SIM ( ) NÃO<br />
71. SE SIM, DESCREVA O LOCAL ESPECIFICANDO: (O NÚMERO DE PESSOAS QUE DIVIDE O MESMO<br />
ESPAÇO, SE TEM VENTILAÇÃO ADEQUADA, SE HÁ CONTATO COM PRODUTOS QUÍMICOS NO<br />
QUARTO, SE HÁ ARMÁRIOS PARA GUARDAR SUA ROUPAS E OBJETOS ÍNTIMOS, ONDE É<br />
COLOCADA A ROUPA SUJA, QUAIS AS CONDIÇÕES DO BANHEIRO, COMO É FEITA A LIMPEZA E<br />
HIGIENE DO LOCAL, INCLUINDO A TROCA E LAVAGEM DA ROUPA DE<br />
CAMA__________________________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
72. FREQUENTE FAZER HORAS - EXTRAS? ( ) SIM ( ) NÃO<br />
73. NESTE ÚLTIMO MÊS FEZ HORAS - EXTRAS? ( )SIM ( ) NÃO<br />
74. SE SIM, QUANTAS?_________________________________________________________<br />
75. QUEM CONTROLA A QUANTIDADE DE HORAS -<br />
EXTRAS?_________________________________<br />
76. FALTOU AO SERVIÇO NO ÚLTIMO MÊS? ( ) SIM ( ) NÃO<br />
77. SE SIM, QUANTAS<br />
VEZES?_____________________________________________________<br />
78. POR QUAL MOTIVO?________________________________________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
III III III - SATISFAÇÃO NO TRABALHO<br />
TRABALHO<br />
79. CITE ALGUMAS COISAS QUE LHE AGRADAM NO<br />
TRABALHO_______________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
________________________________________________________________________<br />
165
80. CITE ALGUMAS COISAS QUE LHE DESAGRADAM NO TRABALHO:<br />
____________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
DENTRE DENTRE ESTAS ESTAS SITUAÇÕES, SITUAÇÕES, DIGA DIGA SE SE ELAS ELAS SÃO SÃO UM UM PROBLEMA PROBLEMA OU OU SE SE INCOMODAM<br />
INCOMODAM<br />
81. FAZER HORAS - EXTRAS ( ) SIM ( ) NÃO<br />
82. POUCO TEMPO PARA PAUSAS ( ) SIM ( )<br />
NÃO<br />
83. TRANSPORTE PARA O TRABALHO ( ) SIM ( ) NÃO<br />
84. NÃO PODER SUGERIR MODIFICAÇÕES PARA REALIZAR SEU TRABALHO<br />
NÃO<br />
AS ÓRDENS VÊM DE CIMA E TÊM QUE SER OBEDECIDAS RIGOROSAMENTE ( ) SIM ( )<br />
85. A POLÍTICA DE PROMOÇÃO E CARREIRA ( ) SIM ( )<br />
NÃO<br />
86. PROBLEMAS COM CHEFIA (DISCRIMINAÇÃO, PERSEGUIÇÃO, DISCUSSÃO,<br />
NÃO<br />
CONTROLE EXCESSIVO, AUTORITARISMO, ETC.) ( ) SIM ( )<br />
87. FALTA DE COOPERAÇÃO ENTRE OS COLEGAS ( ) SIM ( ) NÃO<br />
88. TRABALHO MONÓTONO E DESINTERESSANTE ( ) SIM ( ) NÃO<br />
89. TRABALHAR COM MATERIAL DANOSO À SAÚDE ( ) SIM ( )<br />
NÃO<br />
IV IV - CONDIÇÕES DE SAÚDE<br />
90. DESDE QUE O SR. COMEÇOU A TRABALHAR COM O CONTROLE DE VETORES, O SR. TEM<br />
APRESENTADO ALGUM PROBLEMA DE SAÚDE? ( )SIM<br />
( )NÃO<br />
91. QUAIS?_________________________________________________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
92. ALGUMA VEZ O SENHOR PRECISOU SER HOSPITALIZADO? ( )SIM (<br />
)NÃO<br />
166
93. SE SIM,<br />
QUANDO?__________________________________________________________<br />
94. POR QUE?_______________________________________________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
95. A QUE O SENHOR ATRIBUI OS SEUS PROBEMAS DE SAÚDE? POR QUE FICA DOENTE?_____<br />
_________________________________________________________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
96. O SENHOR ACHA QUE O SEU TRABALHO PODE LHE TRAZER PROBLEMAS DE SAÚDE?<br />
( )SIM ( )NÃO<br />
97. EXPLIQUE:_______________________________________________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
98. EM ALGUMA OCASIÃO O SENHOR SENTIU-SE MAL APÓS A APLICAÇÃO DOS INSETICIDAS?<br />
( )SIM ( )NÃO<br />
99. SE SIM, QUANTO TEMPO APÓS A<br />
APLICAÇÃO?________________________________________<br />
100. QUANTAS VEZESSENTIU-SE MAL?-<br />
_______________________________________________<br />
101. A ÚLTIMA VEZ FOI HÁ QUANTO<br />
TEMPO?__________________________________________<br />
102. TEVE ATENDIMENTO MÉDICO? ( )SIM ( )NÃO<br />
103. FEZ EXAMES PARA SABER SE ESTAVA INTOXICADO? ( ) SIM ( ) NÃO<br />
104. QUE EXAMES?_____________________________________________________ ______<br />
_________________________________________________________________________<br />
105. O RESULTADO LHE FOI ENTREGUE? ( )SIM ( )NÃO<br />
106. DEU ALTERADO? ( )SIM ( )NÃO<br />
107. EM CASO DE ALTERAÇÃO, QUAL FOI O ENCAMINHAMENTO:<br />
( ) REPETIR O EXAME<br />
( ) ENCAMINHADO AO MÉDICO PARA AVALIAÇÃO CLÍNICA<br />
( ) FOI AFASTADO DAS ATIVIDADES - ESPECIFIQUE POR QUANTO<br />
TEMPO:_____________________<br />
( ) MUDOU DE ATIVIDADE - ESPECIFIQUE POR QUANTO<br />
TEMPO:___________________________<br />
RESPONDA RESPONDA AS AS PERGUNTAS PERGUNTAS QUE QUE SEGUEM, SEGUEM, MARCANDO MARCANDO APENAS APENAS SIM SIM OU OU NÃO<br />
NÃO<br />
167
108. TEM ALGUMA LESÃO NA PELE? ( ) SIM ( ) NÃO<br />
109. TEM ALGUMA ALTERAÇÃO NA VISÃO? ( ) SIM ( )<br />
NÃO<br />
110. SENTE ALGUMA ALTERAÇÃO NA AUDIÇÃO? ( ) SIM ( ) NÃ0<br />
111. SENTE DORMÊNCIA EM ALGUMA REGIÃO DO CORPO, COM FREQUÊNCIA?<br />
TEM ALGUM REGIÃO DO SEU CORPO ONDE O SR. NÃO TEM SENSIBILIDADE? ( ) SIM ( ) NÃO<br />
112. QUE SE ENCONTRA COMO SE ESTIVESSE ANESTESIADO? ( ) SIM ( ) NÃ0<br />
113. PECEBE SE VEM APRESENTANDO EPISÓDIOS DE INFECÇÕES(EM PELE,<br />
)NÀO<br />
GARGANTA, APARELHO RESPIRATÓRIO,ETC), COM MAIOR FREQUÊNCIA<br />
DO QUE AS OUTRAS PESSOAS COM QUEM CONVIVE NORMALMENTE? ( )SIM (<br />
114. . TEM APRESENTADO ALERGIAS, PRINCIPALMENTE A PRODUTOS QUÍMICOS? ( ) SIM ( ) NÀO<br />
115. TEM APRESENTADO INCHAÇO(EDEMA) NOS PÉS, PERNAS,COXAS, ABDOME,MÃOS? ( ) SIM (<br />
) N!AO<br />
116. APRESENTOU OU AINDA APRESENTA EPISÓDIOS DE SANGUE NA URINA? ( ) SIM ( )<br />
NÃO<br />
117. APRESENTOU OU ESTÁ NO MOMENTO COM OS OLHOS AMARELOS( ICTERÍCIA)? ( ) SIM (<br />
) NÃO<br />
118. SENTE DORES MUSCULARES FREQUENTES? ( ) SIM ( ) NÃO<br />
119. SENTE DORES DE BARRIGA FREQUENTES? ( ) SIM ( ) NÃO<br />
120. SENTE DORES NAS COSTAS FREQUENTES? ( ) SIM ( ) NÃO<br />
121. TEM DORES DE CABEÇA FREQUENTES? ( ) SIM ( )NÃO<br />
122. TEM MÁ DIGESTÃO? ( ) SIM ( )<br />
NÃO<br />
123. SENTE FALTA DE APETITE? ( ) SIM ( ) NÃO<br />
124. DORME MAL? ( ) SIM ( ) NÀO<br />
125. ASSUSTA -SE COM FACILIDADE? ( ) SIM ( ) NÃO<br />
126. TEM TREMORES NAS MÃOS? ( ) SIM ( )<br />
NÃO<br />
127. TEM DIFICULDADE DE PENSAR COM CLAREZA ( ) SIM ( )<br />
NÃO<br />
128. TEM SE SENTIDO TRISTE ULTIMAMENTE? ( ) SIM ( ) NÃO<br />
129. TEM CHORADO MAIS DO QUE DE COSTUME? ( ) SIM ( ) NÃO<br />
130. ENCONTRA DIFICULDADES PARA REALIZAR COM SATISFAÇÃO SUA<br />
168
ATIVIDADES DIÁRIAS? ( ) SIM ( ) NÃO<br />
131. TEM DIFICULDADE PARA TOMAR DECISÕES? ( ) SIM ( ) NÃO<br />
132. TEM DIFICULDADES NO SERVIÇO(SEU TRABALHO É PENOSO,<br />
)NÃO<br />
CAUSA -LHE SOFRIMENTO? ( ) SIM (<br />
133. .SENTE -SE INCAPAZ DE DESEMPENHAR UM PAPEL ÚTIL EM SUA VIDA? ( ) SIM ( )<br />
NÃO<br />
134. .TEM PERDIDO O INTERESSE PELAS COISAS? ( ) SIM ( ) NÃO<br />
135. VOCÊ SE SENTE UMA PESSOA INÚTIL, SEM PRÉSTIMOS? ( ) SIM ( )<br />
NÃO<br />
136. TEM TIDO A IDÉIA DE ACABAR COM A VIDA? ( ) SIM ( ) NÃO<br />
137. TENTOU SUICÍDIO ALGUMA VEZ? ( ) SIM ( ) NÃO<br />
138. SENTE -SE CANSADO O TEMPO TODO? ( ) SIM ( )<br />
NÃO<br />
139. TEM SENSAÇÕES DESAGRADÁVEIS NO ESTÔMAGO( NÁUSEAS)? ( ) SIM ( )<br />
NÃO<br />
140. .VOCÊ SE CANSA COM FACILIDADE? ( ) SIM ( ) NÃO<br />
141. INGERE ALGUMA BEBIDA ALCOÓLICA? ( ) SIM ( )<br />
NÃO<br />
142. SENTE - SE CHATEADO CONSIGO MESMO PELA MANEIRA COM QUE<br />
COSTUMA BEBER? ( ) SIM ( ) NÃO<br />
144. COSTUMA BEBER PELA MANHÃ PARA DIMINUIR O NERVOSISMO OU<br />
A RESSACA? ( ) SIM ( ) NÃO<br />
145. AS PESSOAS O ABORRECEM PORQUE CRITICAM O SEU MODO DE BEBER? ( ) SIM (<br />
)NÃO<br />
146. ALGUMA VEZ SENTIU QUE DEVERIA DIMINUIR A QUANTIDADE DE BEBIDA<br />
OU PARAR DE BEBER? ( ) SIM ( ) NÃO<br />
147. TOMA ATUALMENTE OU JÁ TOMOU ALGUM CALMANTE?<br />
( ) NÃO<br />
( ) SIM, MAS NÃO TOMO MAIS ATUALMENTE.<br />
QUAL?___________________________________<br />
( ) SIM, ATUALMENTE ESTOU TOMANDO.<br />
QUAL?_____________________________________<br />
148.JÁ SE HOSPITALIZOU PARA TRATAMENTO DE PROBLEMAS DOS NERVOS?<br />
( ) NÃO<br />
169
( ) SIM. QUANDO?_________________________ONDE?____________________<br />
POR QUANTO TEMPO?_____________________________________________<br />
149. CONSUMO ALCOÓLICO:<br />
( ) NÃO TOMA BEBIDA ALCÓLICA ( ) TOMA BEBIDA ALCOÓLICA<br />
( ) T0MA BEBIDA ALCOÓLICA NAS REFEIÇÕES ( ) TOMA BEBIDA ALCOÓLICA ANTES DO<br />
TRABALHO<br />
( ) TOMA BEBIDA ALCOÓLICA DEPOIS DO TRABALHO ( ) TOMA BEBIDA ALCOÓLICA NAS FOLGAS<br />
( ) “ENCHE A CARA” PELO MENOS UMA VZ POR MÊS ( ) “ENCHE A CARA” PELO MENOS UMA VEZ<br />
POR<br />
SEMANA<br />
150. FAZ USO DE OUTRAS DROGAS? ( )SIM ( )NÃO<br />
151. SE SIM,<br />
QUAIS?___________________________________________________________<br />
152. COM QUE<br />
FREQUÊNCIA?_____________________________________________________<br />
153. É FUMANTE? ( )SIM ( )NÃO<br />
154. SE SIM, QUANTOS CIGARROS O SENHOR FUMA POR<br />
DIA?_______________________________<br />
V. V. SOBRE A POLÍTICA POLÍTICA DE DE CONTROLE DE ENDEMIAS<br />
155. EM RELAÇÃO AO CONTROLE DE VETORES, QUAL A SUA OPINIÃO SOBRE O PROGRAMA<br />
DESENVOLVIDO PELA<br />
FNS?_________________________________________________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
156. QUAL A FREQUÊNCIA DE APLICAÇÕES NUMA MESMA<br />
ÁREA?______________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
157. TEM OBSERVADO A CONTAMINAÇÃO DE ÁGUA, PEIXES, VEGETAÇÃO, ETC? ( )SIM<br />
( )NÃO<br />
158. TEM INFORMAÇÃO DE QUE MORADORES DA ÁREA ALVO DAS APLICAÇÕES DO INSETICIDAS<br />
TENHAM RECLAMADO DE PROBLEMAS DE SAÚDE APÓS TAIS APLICAÇÕES? ( )SIM<br />
( )NÃO<br />
170
159. SE SIM, ESPECIFIQUE AS QUEIXAS MAIS FREQUENTES:<br />
________________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
160. TEM CONHECIMENTO ACERCA DE NORMAS DE CONTROLE DE VETORES? ( ) SIM<br />
( ) NÃO<br />
161. A FNS DISPÕE DE NORMAS E/OU ROTINAS PARA O CONTROLE DE ENDEMIAS E DE VETORES?<br />
( ) SIM ( ) NÃO<br />
162. APÓS A CRIAÇÃO DA FNS, HOUVE ALGUMA MUDANÇA NAS NORMAS E ROTINAS PARA<br />
CONTROLE DE VETORES E DE ENDEMIAS? ( )SIM<br />
( )NÃ0<br />
163. SE SIM, QUAIS?___________________________________________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
164. HOUVE TREINAMENTO PARA ADAPTAÇÃO A ESTAS MUDANÇAS? ( )SIM ( )NÃO<br />
165. QUE TIPO DE<br />
TREINAMENTO?__________________________________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
166. TEM INFORMAÇÕES SOBRE CASOS DE INTOXICAÇÃO POR INSETICIDAS EM TRABALHADORES DA<br />
FNS EM OUTROS ESTADOS? ( )SIM (<br />
)NÃO<br />
167. QUAL A SUA<br />
OPINIÃO?_______________________________________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
168. APONTE ALGUMAS SUGESTÕES PARA MELHORIA NAS CONDIÇÕES DE TRABALHO E SAÚDE DOS<br />
SERVIDORES PRINCIPALMENTE OS GUARDAS DE<br />
ENDEMIAS__________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
_________________________________________________________________________<br />
171