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A Lisboa do Império e o Portugal dos Pequeninos ... - Análise Social

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Desde logo, aquela verificação global, assinalan<strong>do</strong> uma quase coincidência entre os valores<br />

previstos e os concretiza<strong>do</strong>s em termos de área expropriada, desaparece quan<strong>do</strong> se analisa cada<br />

um <strong>do</strong>s perío<strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>s: assim, entre 1938 e 1943, a área realmente apropriada pelo Município<br />

de <strong>Lisboa</strong> foi inferior a 15% (correspondente a cerca de 288 hectares) da que estava projectada,<br />

inverten<strong>do</strong>-se uma tal situação quan<strong>do</strong> se analisam os da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> seguinte, 1944 a<br />

1949, em que se expropriou mais de 42% (cerca de 309 hectares) <strong>do</strong> que estava previsto. De notar<br />

que, embora os valores relativos apresentem uma diferença bastante assinalável entre aqueles<br />

<strong>do</strong>is perío<strong>do</strong>s, em termos absolutos as diferenças são mínimas (cerca de 20 hectares). Só que<br />

estamos perante uma situação em que no primeiro perío<strong>do</strong> (1938-43) não se expropriou, realmente,<br />

toda a área que estava prevista e no segun<strong>do</strong> momento conjuntural (1944-49), pelo contrário,<br />

o Município de <strong>Lisboa</strong> teve de se apropriar de uma área (quantitativamente semelhante á<br />

anterior) que não constava <strong>do</strong>s seus projectos fundiários.<br />

Para sairmos <strong>do</strong> aparente para<strong>do</strong>xo é necessário regressar ao quadro n.° 4. Uma leitura<br />

mais atenta <strong>do</strong>s valores aí indica<strong>do</strong>s permite-nos, de imediato, estabelecer um «corte» em 1943,<br />

separan<strong>do</strong> assim, de um la<strong>do</strong>, o perío<strong>do</strong> em que, desde 1938, as áreas previstas de expropriação,<br />

em cada um desses anos, foram superiores a 180 hectares — com um valor máximo, precisamente<br />

em 1938, de 870 hectares de área projectada — e, <strong>do</strong> outro, o perío<strong>do</strong> que começa em<br />

1944 (terminan<strong>do</strong> em 1949), em que nenhum ano apresentou uma previsão de área a expropriar<br />

superior aos 100 hectares — curiosamente, o valor mais baixo (menos de 25 hectares) coincide<br />

com o último ano da conjuntura (1949). E mais, até àquele ano de corte (1943), o total de área a<br />

expropriar representou cerca de 84% de toda a área que o Município de <strong>Lisboa</strong> projectou adquirir<br />

até 1949!<br />

Percebe-se agora que as diferenças de valor relativo, entre os perío<strong>do</strong>s que temos vin<strong>do</strong> a<br />

considerar, «escondiam» algo que a dinâmica aquisitiva de propriedades, desencadeada logo<br />

em 1938, permite dar conta. Com efeito — e tal como já havíamos detecta<strong>do</strong> a partir da análise<br />

das expropriações realmente concretizadas (ver atrás) —•, cerca de um terço de toda a área a expropriar,<br />

desde 1938 até 1949, é projectada naquele primeiro ano de preparação das Comemorações<br />

Centenárias, de tal forma que, aquan<strong>do</strong> da Exposição <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> Português (1940), a<br />

área com projecto de expropriação já representava mais de metade (57%) da área a apropriar<br />

pelo Município até ao final da conjuntura (1949). Que aquela dinâmica aquisitiva era suficientemente<br />

importante para persistir para além de 1943 — embora mudan<strong>do</strong> qualitativamente a natureza<br />

da apropriação municipal — prova-o o facto de, no perío<strong>do</strong> seguinte, ter si<strong>do</strong> adquirida<br />

a quase totalidade de área com projecto de expropriação lança<strong>do</strong> no ano anterior!<br />

É possível, assim, «corrigir» os da<strong>do</strong>s de expropriação de propriedades, apresenta<strong>do</strong>s no<br />

quadro n.° 2. Se, no que diz respeito à reestruturação fundiária, a conjuntura em análise (1938-<br />

49) dava conta de uma clivagem a partir de 1943 — sublinhan<strong>do</strong>-se então os 70% de área efectivamente<br />

expropriada até ao final daquele ano —, as observações atrás referidas situam mais<br />

correctamente o corte que o ano de 1943 representou, pois que, no perío<strong>do</strong> seguinte, o Município<br />

se limitou a projectar somente 16% (e já não os restantes 30%) da área total a expropriar ao<br />

longo da conjuntura. Se este último perío<strong>do</strong> apresentou ainda valores aquisitivos de propriedades<br />

com algum significa<strong>do</strong> urbanístico, isso deve-se, em parte, à dinâmica fundiária desencadeada<br />

no perío<strong>do</strong> anterior, que obrigou o Município de <strong>Lisboa</strong> a vincular-se a certos compromissos<br />

cria<strong>do</strong>s até então. Por isso, temos vin<strong>do</strong> a caracterizar este último perío<strong>do</strong> (1944-49) como<br />

os anos da transição urbanística entre uma política fundiária fortemente <strong>do</strong>minada por uma<br />

vontade de municipalização <strong>do</strong>s solos e uma dimensão especulativa que, embora presente em<br />

toda a conjuntura, se irá acentuar, sobretu<strong>do</strong>, depois de 1943, assumin<strong>do</strong>-se plenamente a partir<br />

<strong>do</strong>s anos 50!<br />

Em certa medida, o quadro n.° 5 completa o «retrato em movimento» daquela política fundiária,<br />

distinguin<strong>do</strong> agora, a partir de uma «tipologia» oficial (de base administrativa), os terrenos<br />

a expropriar segun<strong>do</strong> uma suposta natureza «urbana», «rústica» ou «mista» <strong>do</strong>s solos de<br />

<strong>Lisboa</strong>. Sem questionar, neste momento, uma tal «tipologia» 16 , interessa-nos antes destacar, a<br />

partir <strong>do</strong> quadro n.° 5, a forte componente rústica <strong>do</strong>s terrenos com projecto de expropriação<br />

de 1938 a 1943 (85%), enquanto , no que se refere aos terrenos «urbanos», não se verificam diferenças<br />

significativas entre os <strong>do</strong>is perío<strong>do</strong>s conjunturais (53% e 47%, respectivamente). Por<br />

outro la<strong>do</strong>, existe um paralelismo muito níti<strong>do</strong> entre as previsões de área a expropriar ao longo<br />

daquela conjuntura e a componente «rústica» desses mesmos terrenos. Uma tal homogeneidade,<br />

em termos de intenção político-urbanística, desaparece, contu<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> introduzimos as<br />

correcções atrás referidas. A partir desta nova visão <strong>do</strong> projecto de reestruturação fundiária de<br />

<strong>Lisboa</strong>, nos anos de 1930-40, é possível entender o significa<strong>do</strong> de um valor, aparentemente ano<br />

maio, presente no quadro n.° 5: no último ano (1949) da conjuntura em análise, os terreno<br />

«urbanos» com projecto de expropriação atingem um índice muito eleva<strong>do</strong> (41%), comparati<br />

vãmente com os denomina<strong>do</strong>s terrenos «rústicos», que até então tinham um peso <strong>do</strong>minant<br />

16 Ver, pp. 714-719.

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