N.º 189 | Janeiro 2008 | Mensal | 2,00 euros - Inatel
N.º 189 | Janeiro 2008 | Mensal | 2,00 euros - Inatel N.º 189 | Janeiro 2008 | Mensal | 2,00 euros - Inatel
N.º 189 | Janeiro 2008 | Mensal | 2,00 euros
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N.<strong>º</strong> <strong>189</strong> | <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> | <strong>Mensal</strong> | 2,<strong>00</strong> <strong>euros</strong>
NA CAPA<br />
Foto: José Frade<br />
9<br />
LINHARES DA BEIRA,<br />
NOVO INATEL NA SERRA<br />
Graça ao protocolo <strong>Inatel</strong>/ Câmara<br />
Municipal de Celorico da Beira, os<br />
associados do <strong>Inatel</strong> vão poder<br />
usufruir, já na Primavera, do Centro<br />
de Férias de Linhares da Beira, um<br />
novo e atractivo complexo turístico<br />
do Instituto na vertente nordeste da<br />
Serra da Estrela.<br />
4<br />
EDITORIAL<br />
8<br />
CARTAS E COLUNA<br />
DO PROVEDOR<br />
9<br />
NOTÍCIAS<br />
14<br />
Alegações de Defesa<br />
de Aristides Sousa<br />
Mendes por José<br />
Miguel Júdice<br />
16<br />
CONCURSO<br />
DE FOTOGRAFIA<br />
18<br />
ARTES E OFÍCIOS<br />
OLIMPÍADAS<br />
DO TRABALHO<br />
Sete jovens<br />
portugueses<br />
conquistaram<br />
Medalhas de Excelência<br />
no WorldSkills 2<strong>00</strong>7, o<br />
39<strong>º</strong> Campeonato<br />
Internacional das<br />
Profissões, em<br />
Shizuoka, Japão.<br />
30<br />
EFEMÉRIDE<br />
AS CORTES<br />
NO BRASIL<br />
Os 2<strong>00</strong> anos da<br />
transferência da Corte<br />
de Lisboa para o<br />
Brasil, no contexto<br />
histórico e político da<br />
invasão de Portugal<br />
pelos exércitos de<br />
Napoleão, serão tema<br />
nas edições <strong>2<strong>00</strong>8</strong> da TL<br />
34<br />
COMUNIDADES<br />
PORTUGUESAS<br />
O CLUBE DOS<br />
FOLCLORISTAS<br />
VIVOS<br />
Jovens das<br />
comunidades<br />
portuguesas<br />
asseguram o futuro<br />
do folclore português<br />
junto da emigração.<br />
36<br />
TERMAS<br />
EM PORTUGAL<br />
Monchique<br />
38<br />
OFÍCIOS<br />
Ulisses: a última<br />
Luvaria do Chiado<br />
40<br />
FAMÍLIA<br />
ESCA - Espaço para a<br />
Saúde da Criança e do<br />
Adolescente, um<br />
ginásio de afectos<br />
44<br />
VIAGENS<br />
MEDINA<br />
AZAHARA: A<br />
CIDADE DOS<br />
CALIFAS<br />
No tempo do califado<br />
de Córdova, a cidade<br />
Sumário<br />
mais sumptuosa do<br />
Al-Andaluz, na<br />
extremidade ocidental<br />
da serra Morena,<br />
chamava-se Medina<br />
Azahara.<br />
50<br />
A CASA NA ÁRVORE<br />
54<br />
PORTUGAL<br />
E A LUSOFONIA<br />
55<br />
O TEMPO<br />
E O MUNDO<br />
56<br />
VIAGENS<br />
NA HISTÓRIA<br />
57<br />
BOA VIDA<br />
74<br />
CLUBE TEMPO LIVRE<br />
Passatempos, Novos<br />
Livros e Roteiro<br />
81<br />
CHEFE SUGERE<br />
INATEL Fornos de<br />
Algodres: Sopa Seca<br />
82<br />
CRÓNICA<br />
Fernando Dacosta<br />
Revista <strong>Mensal</strong>: e-mail: tl@inatel.pt - Propriedade do INATEL (Instituto Nacional para Aproveitamento dos Tempos Livres dos Trabalhadores) Presidente: José Alarcão Troni Vice-<br />
Presidentes: Luís Ressano Garcia Lamas e Vítor Ventura Sede do INATEL: Calçada de Sant’Ana, 180, 1169-062 LISBOA, Tel. 21<strong>00</strong>27<strong>00</strong>0 Fax 21<strong>00</strong>27061, N<strong>º</strong> Pessoa Colectiva:<br />
5<strong>00</strong>122237 Director: José Alarcão Troni Editor: Eugénio Alves Grafismo: José Souto Fotografia: José Frade Coordenação: Glória Lambelho Colaboradores: Ana Santos, Carlos Barbosa<br />
de Oliveira, Carlos Blanco, Eduardo Raposo, Francisca Rigaud, Gil Montalverne, Helena Aleixo, Humberto Lopes, Joaquim Diabinho, Joaquim Durão, José Jorge Letria, Lurdes<br />
Féria, Maria Augusta Drago, Marta Martins, Paula Silva, Pedro Barrocas, Pedro Soares, Rodrigues Vaz, Sérgio Alves, Suzana Neves, Tharuga Lattas, Vítor Ribeiro Cronistas: Alice<br />
Vieira, Álvaro Belo Marques, Artur Queirós, Baptista Bastos, Duarte Ivo Cruz, Maria Alice Vila Fabião, Fernando Dacosta, João Aguiar, Luís Miguel Pereira, Pedro<br />
Cid.. Redacção: Calçada de Sant’Ana, 180 – 1169-062 LISBOA Telef. 21<strong>00</strong>27<strong>00</strong>0 Fax: 21<strong>00</strong>27061 E-Mail tl@inatel.pt Publicidade: Tel. 21<strong>00</strong>27187 Pré-impressão e<br />
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na D.G.C.S. n<strong>º</strong> 114484. Registo de Empresas Jornalísticas na D.G.C.S. n<strong>º</strong> 214483. Preço: 2,<strong>00</strong> <strong>euros</strong> Tiragem deste número: 173.9<strong>00</strong> exemplares
Editorial<br />
4 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />
Plano e Orçamento para <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />
aprovados por unanimidade<br />
OConselho Geral, na sessão de 5<br />
de Dezembro último, pelo segundo<br />
ano consecutivo, honrou-me<br />
e à Direcção, a que<br />
tenho a honra de presidir, com a aprovação,<br />
por unanimidade, do Plano de Actividades<br />
e Orçamentos de Exploração e de Investimento<br />
do <strong>Inatel</strong> para <strong>2<strong>00</strong>8</strong>, os quais foram<br />
já submetidos à aprovação tutelar de S. Exa.<br />
o Ministro do Trabalho e da Solidariedade<br />
Social.<br />
PLANO E ORÇAMENTO <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />
No contexto do combate ao deficit das contas do<br />
Estado, o último orçamento do <strong>Inatel</strong>, integrado na<br />
LOE – Lei do Orçamento de Estado – será idêntico, no<br />
plano nominal dos macrovalores, ao vigente para 2<strong>00</strong>7,<br />
bem como ambos iguais ao de 2<strong>00</strong>6.<br />
Nesta perspectiva , a receita e a despesa globais situar-se-ão<br />
nos 77 (setenta e sete) milhões de <strong>euros</strong> – 15,4<br />
milhões de contos – sendo de 69 (sessenta e nove) milhões<br />
de <strong>euros</strong> - 13,8 milhões de contos – o Orçamento<br />
de Exploração e de 8 milhões de <strong>euros</strong> – 1,6 milhões de<br />
contos – o Orçamento de Investimento. Na sequência<br />
do realizado em 2<strong>00</strong>6 e 2<strong>00</strong>7, acredito, para <strong>2<strong>00</strong>8</strong>, numa<br />
taxa de execução do Orçamento de Investimento, de<br />
novo, próxima dos 1<strong>00</strong>%.<br />
No Orçamento de Exploração, a receita será, inevitavelmente,<br />
reduzida pela inflação estimada – 2,1% - e a<br />
despesa acusará a repercussão do aumento salarial,<br />
assim como da actualização dos preços dos fornecimentos<br />
e serviços externos, normalmente superior à inflação.<br />
É o orçamento possível numa LOE – Lei do<br />
Orçamento de Estado - apostada no controlo e redução<br />
do défice e na credibilização internacional das finanças<br />
públicas de Portugal.<br />
FUNDAÇÃO INATEL<br />
A LOE – Lei do Orçamento de Estado para <strong>2<strong>00</strong>8</strong> prevê,<br />
expressamente, a externalização do <strong>Inatel</strong> da<br />
Administração Central dispondo que: “Fica o Governo<br />
JOSÉ ALARCÃO<br />
TRONI<br />
autorizado a estabelecer, por decreto-lei, as<br />
regras de transferência do orçamento<br />
atribuído pela presente Lei ao Instituto<br />
Nacional para Aproveitamento dos Tempos<br />
Livres dos Trabalhadores, IP, para a fundação<br />
de direito privado e utilidade pública<br />
que lhe suceder”.<br />
Entretanto, na sequência dos trabalhos<br />
preparatórios do aludido decreto-lei de<br />
externalização e dos anexos estatutos da<br />
Fundação <strong>Inatel</strong>, que decorreram, ao longo<br />
de 2<strong>00</strong>7, com a colaboração da Direcção a que tenho a<br />
honra de presidir, o XVII Governo Constitucional,<br />
através de S. Exa. o Ministro do Trabalho e da<br />
Solidariedade Social, desencadeou o respectivo processo<br />
legislativo, com audição das Confederações<br />
Sindicais.<br />
Pessoalmente, considero os projectos do decreto-lei,<br />
contendo o regime jurídico da externalização e os anexos<br />
estatutos da Fundação <strong>Inatel</strong>, com entrada em<br />
vigor, em princípio, previsto para o primeiro trimestre<br />
de <strong>2<strong>00</strong>8</strong>, como excelente base de trabalho na modernização<br />
e quase empresarialização do <strong>Inatel</strong>, com inteiro<br />
respeito pela cultura fundacional de setenta e dois anos<br />
e pela natureza desinteressada da missão, dos objectivos<br />
e do objecto estatutário do binómio FNAT-<strong>Inatel</strong>.<br />
PERÍODO DE TRANSIÇÃO<br />
No âmbito do Plano e Orçamentos para <strong>2<strong>00</strong>8</strong>, o<br />
Conselho Geral aprovou a estratégia de transição do<br />
<strong>Inatel</strong>–instituto para o <strong>Inatel</strong>-fundação, constante de<br />
um programa de 1<strong>00</strong> (cem) dias, abrangendo 10 (dez)<br />
acções prioritárias.<br />
São estas as dez prioridades da Direcção para os<br />
primeiros cem dias de <strong>2<strong>00</strong>8</strong>:<br />
1. Estatutos.<br />
Breves reflexões da Direcção sobre o projecto de<br />
diploma da criação da Fundação <strong>Inatel</strong>, submetendo à<br />
consideração de S. Exa. o Ministro do Trabalho e da<br />
Solidariedade Social sugestões de pormenor, tendentes
à melhoria global do projecto de externalização, com as<br />
quais se considera encerrada a audição do <strong>Inatel</strong>. O<br />
memorando, contendo as reflexões e sugestões finais<br />
da Direcção, será entregue a S. Exa. o Ministro até 31 de<br />
Dezembro, data do termo da extremamente prestigiante<br />
Presidência da União Europeia por Portugal.<br />
2. Regulamentos.<br />
Elaboração, nos primeiros cem dias de <strong>2<strong>00</strong>8</strong>, dos principais<br />
regulamentos, decorrentes dos futuros estatutos<br />
da Fundação <strong>Inatel</strong>, com óbvio destaque para a<br />
Estrutura Orgânica, Regulamento e<br />
Quadro de Pessoal – prévio do<br />
Acordo de Empresa – e Manual do<br />
Cartão <strong>Inatel</strong>, abrangendo a política<br />
associativa e o guia de serviços e<br />
benefícios, na perspectiva do aprofundamento<br />
da ligação da Fundação<br />
aos seus 4.2<strong>00</strong> CCDs – Centros de<br />
Cultura e Desporto – em Portugal, na<br />
Diáspora a na Lusofonia – e ao mais<br />
de 1 (um) milhão de beneficiários e<br />
suas famílias; os beneficiários–associados<br />
– 250 mil – e os beneficiários- convencionados, os<br />
3<strong>00</strong> mil sócios dos CCDs e os 5<strong>00</strong> mil beneficiários de<br />
uma década de Programas Seniores.<br />
3. PDE – Plano de Desenvolvimento Estratégico.<br />
Submissão do ante-projecto do PDE – Plano de<br />
Desenvolvimento Estratégico da Fundação <strong>Inatel</strong> para o<br />
primeiro triénio (<strong>2<strong>00</strong>8</strong>/2011) e para o cenário quinquenal<br />
de vigência do QREN – Quadro de Referência<br />
Estratégico Nacional (<strong>2<strong>00</strong>8</strong>/2013) à apreciação de S. Exa.<br />
o Ministro do Trabalho e da Solidariedade Social e dos<br />
demais órgãos estatutários no primeiro trimestre do<br />
novo ano.<br />
4. Equilíbrio Orçamenta.<br />
Garantia da governabilidade, equilíbrio financeiro,<br />
auto sustentabilidade, projectos de inovação e desenvolvimento<br />
e administração corrente do <strong>Inatel</strong> no<br />
Considero os projectos<br />
do decreto-lei como<br />
excelente base de<br />
trabalho na<br />
modernização e quase<br />
empresarialização do<br />
<strong>Inatel</strong>, com inteiro<br />
respeito pela cultura<br />
fundacional<br />
período de transição, com especial destaque para a formação<br />
e motivação da comunidade de trabalho.<br />
5. Carteira de Obras<br />
Manutenção e aprofundamento da carteira de obras,<br />
em curso ou prevista, privilegiando-se a inauguração, em<br />
<strong>Janeiro</strong> ou Fevereiro, da Delegação de Viana do Castelo –<br />
Casa Pedro Homem de Mello – sediada em edifício classificado<br />
do centro histórico, completamente reabilitado,<br />
após 12 (doze) anos de ruína e de abandono, com reforço<br />
do prestígio e visibilidade do <strong>Inatel</strong> no distrito limiano e<br />
termo de mais de uma década de<br />
instalação provisória da Delegação em<br />
espaço cedido pela Segurança Social.<br />
A Delegação de Viana constituirá<br />
novo “ex-libris” do património edificado<br />
da Fundação <strong>Inatel</strong>.<br />
A Delegação de Portalegre – Casa<br />
José Régio – está, igualmente, reabilitada,<br />
em edifício classificado do centro<br />
histórico – cujo estado de<br />
degradação era deplorável – dotado<br />
de extenso “campos” e vista deslumbrante<br />
sobre a Serra de São Mamede. A sua inauguração<br />
encontra-se, também, prevista para <strong>Janeiro</strong> ou Fevereiro.<br />
Paralelamente, continuarão as obras de reabilitação<br />
das Subdelegações de Ponta Delgada e Horta – ambos<br />
edifícios classificados – e a conclusão das obras nas<br />
agências – ou lojas – do <strong>Inatel</strong> em Castelo Branco e<br />
Lisboa, a primeira no Rossio – nas Arcadas do Palácio<br />
da Independência, sede da SHIP – Sociedade Histórica<br />
da Independência de Portugal – e a segunda no Estádio<br />
Primeiro de Maio. Ficam as duas agencias de Lisboa<br />
dotadas de excelentes acessibilidades, designadamente<br />
estações de metropolitano, evitando-se aos associados<br />
e beneficiários seniores a penosidade da deslocação ao<br />
Palácio dos Condes de Camarido, sede do <strong>Inatel</strong>, na<br />
Calçada de Santana, desprovida de parques de estacionamento<br />
e de rede de transportes públicos.<br />
Continuarão, também, em Lisboa, as obras de reabilitação<br />
do Palácio dos Condes de Camarido e do<br />
<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 5
Editorial<br />
Editorial<br />
Edifício da Infante Santo, destinadas à instalação dos<br />
serviços centrais e da futura Delegação de Lisboa –<br />
Casa Tomaz Ribas – assim como as obras de grande<br />
recuperação do Centro de Férias da Foz do Arelho, do<br />
Edifício Principal do Centro de Férias de Albufeira ou<br />
do Parque de Jogos da Ramalde – cujo plano director<br />
acaba de ser aprovado pelo Município do Porto – este<br />
objecto de um programa plurianual de obras de reabilitação<br />
e expansão. Espero, por fim, que a cada vez<br />
mais urgente grande reabilitação do Teatro da Trindade<br />
– no âmbito da candidatura da Baixa-Chiado a<br />
património cultural edificado da UNESCO – se possa<br />
iniciar, em <strong>2<strong>00</strong>8</strong>, com a pintura da fachada exterior e o<br />
indispensável reforço dos mecanismos de segurança<br />
do emblemático espaço cultural do <strong>Inatel</strong> em Lisboa.<br />
6. Inovação e Qualidade.<br />
Projectos de inovação e qualidade, com óbvio destaque<br />
para o Projecto <strong>Inatel</strong>-Digital – que está re-<br />
volucionando o arcaico sistema de<br />
organização informática, no desejável<br />
objectivo da “no paper administration”<br />
na Fundação <strong>Inatel</strong> e para o<br />
Projecto <strong>Inatel</strong>-Net para Todos, cofinanciado<br />
pela União Europeia,<br />
através do POSC – Programa<br />
Operacional para a Sociedade do<br />
Conhecimento – destinado à utilização<br />
da rede das delegações e centros<br />
de férias na ocupação criativa e diálogo<br />
intergeracional de seniores e<br />
crianças em idade pré-escolar, combatendo-se o analfabetismo<br />
e a info-exclusão. Saliento que o POSC considerou<br />
o Projecto <strong>Inatel</strong>-Net para Todos de grande<br />
qualidade e utilidade social, pelo que no seu êxito<br />
investiremos todo o nosso interesse e disponibilidade.<br />
Comunidade de Trabalho.<br />
O Programa <strong>Inatel</strong>-Digital desencadeará um extenso<br />
plano de formação e reciclagem da nossa comunidade<br />
de trabalho – em princípio, apoiado em nova parceria<br />
com o INA- Instituto Nacional de Administração – não<br />
esquecendo a formação específica dos colaboradores<br />
do Turismo, Cultura, Desporto e Teatro da Trindade,<br />
cujas entidades formadoras serão as Universidades,<br />
Politécnicos, Escolas Profissionais e Centros Protocolares<br />
de Turismo, Hotelaria e Restauração, bem como o<br />
Cinágua, este para as categorias profissionais do<br />
Termalismo.<br />
6 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />
Projectos de inovação<br />
e qualidade, com óbvio<br />
destaque para o<br />
Projecto <strong>Inatel</strong>-Digital<br />
– que está<br />
revolucionando o<br />
arcaico sistema de<br />
organização e<br />
informática<br />
7. Centro de Férias de Linhares da Beira.<br />
Está prevista, para 9 de <strong>Janeiro</strong>, no Município de<br />
Celorico da Beira, a assinatura do protocolo de transferência<br />
para o <strong>Inatel</strong> da gestão, a partir de <strong>2<strong>00</strong>8</strong>, da<br />
projectada Pousada da Enatur, na Aldeia Histórica de<br />
Linhares da Beira, a Pousada de Santa Eufémia, constituída<br />
por dois solares interligados – os Palacetes<br />
Brandão de Mello e Côrte Real – edifícios de grande<br />
qualidade arquitectónica, com vista deslumbrante<br />
sobre a Serra da Estrela e a Cova da Beira.<br />
O futuro décimo sexto centro de férias – Palacetes de<br />
Linhares – muito brevemente se transformará noutro<br />
ex-libris do <strong>Inatel</strong> e do Turismo Social Português, constituindo<br />
unidade turística e hoteleira topo de gama,<br />
com grande qualidade em qualquer parte do mundo.<br />
8. Polis de Albufeira.<br />
O <strong>Inatel</strong> continuará a defender – nos planos negocial,<br />
arbitral e jurisdicional – uma solução justa para a in-<br />
demnização do património imobiliário,<br />
expropriado ou intervencionado<br />
pelo Polis de Albufeira, não<br />
desistindo do direito de reabilitação<br />
do Edifício da Praia, do direito de<br />
propriedade e posse da Mata – com<br />
seu uso semi-público pela população<br />
e turistas – e da expansão da capacidade<br />
do Edifício Principal, dos edifícios<br />
periféricos e da área de construção<br />
autorizada na “Cabeça do<br />
Cão”.<br />
Como pessoa de bem, o <strong>Inatel</strong> reinvestirá no Centro<br />
de Férias de Albufeira o valor das compensações pelo<br />
património expropriado ou intervencionado, mas<br />
defenderá, em todas as instâncias, que a indemnização<br />
devida seja calculada de acordo com o preço de mercado,<br />
como é jurisprudência constante do Tribunal<br />
Constitucional.<br />
9. Parcerias e Intercâmbios.<br />
Encontram-se negociadas e em “pipeline” de<br />
aprovação e assinatura cerca de 50 (cinquenta) protocolos<br />
de cooperação com a Região Autónoma dos<br />
Açores, Municípios, Freguesias, Movimentos Sindical e<br />
Associativo, Serviços Públicos, CCDs, ONGs e empresas,<br />
tendentes à optimização dos benefícios do<br />
Cartão <strong>Inatel</strong> e à abertura da Fundação <strong>Inatel</strong> à<br />
sociedade civil em Portugal, na Diáspora e na<br />
Lusofonia.
O Plano e Orçamentos prevêem, ainda, a celebração<br />
de mais de 30 (trinta) novos protocolos de colaboração<br />
ou de intercâmbio, com entidades portuguesas ou<br />
estrangeiras, considerados estratégicos para a plena<br />
abertura da Fundação <strong>Inatel</strong> à sociedade civil portuguesa,<br />
às entidades homólogas estrangeiras e às<br />
organizações internacionais do Turismo, Cultura e<br />
Desporto, como instituição de referência da economia<br />
social de Portugal.<br />
10. Relações Internacionais<br />
O <strong>Inatel</strong> aprofundará o protagonismo nas organizações<br />
internacionais de que é membro – com a missão de<br />
valorizar o destino turístico Portugal e o prestígio e visibilidade<br />
externos da Nação Portuguesa – com destaque<br />
para a OMT – Organização Mundial do Turismo, BITS –<br />
Bureau Internacional do Turismo Social – cujos Conselho<br />
de Administração e CETS – Comissão Europeia<br />
do Turismo Social integra – CSIT – Confederation<br />
Sportive Internationale du Travail –<br />
de cujo Conselho de Administração<br />
faz parte, com o pelouro da<br />
Cooperação com África e Ásia – ISCA<br />
– International Sport and Culture<br />
Association – onde participa no<br />
Conselho Europeu – e CIOFF –<br />
Conselho Internacional das Organizações<br />
de Festivais de Folclore e<br />
Artes Tradicionais, da Unesco, presidindo<br />
ao CIOFF – Portugal.<br />
O meu Vice-presidente, Arq. Luís<br />
Lamas, foi convidado a apresentar<br />
candidatura à presidência da CSIT – Confederation<br />
Sportive Internationale du Travail. Eu próprio fui<br />
convidado a assumir, no âmbito do Conselho de<br />
Administração do BITS, a coordenação do lançamento<br />
do BITS – Ásia – Pacífico, bem como a apresentar a<br />
candidatura à vice-presidência da ESPA – European<br />
Spa Association parceiro social europeu das associações<br />
de termalismo de saúde e bem estar dos 27<br />
países da União Europeia. Destes convites foi informado<br />
o gabinete de S.Exa. o Ministro do Trabalho e<br />
da Solidariedade social, conquanto as candidaturas<br />
devam ser proteladas, atendendo, por um lado, ao<br />
período de transição para a Fundação <strong>Inatel</strong>, e, por<br />
outro, a que as eleições para orgãos de cúpula de<br />
organizações internacionais têm mais em conta as<br />
pessoas do que as instituiçãos ou até os países.<br />
O Programa Turismo<br />
para Todos/Açores<br />
constituirá<br />
importantíssimo<br />
instrumento da coesão<br />
social e territorial,<br />
inter-ilhas, de combate<br />
ao isolamento<br />
e à pobreza<br />
TURISMO PARA TODOS – AÇORES <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />
Por iniciativa de S. Exa. o Presidente do Governo<br />
Regional dos Açores, o Orçamento da Região<br />
Autónoma para <strong>2<strong>00</strong>8</strong> criou o Programa Turismo para<br />
Todos/ Açores, com gestão do <strong>Inatel</strong>, destinado a proporcionar<br />
férias, nas épocas baixa e média da hotelaria<br />
e restauração, a mil concidadãos açorianos carenciados,<br />
combatendo, também, o isolamento decorrente da<br />
dupla ou tripla insularidade.<br />
O Programa Turismo para Todos/Açores constituirá<br />
importantíssimo instrumento da coesão social<br />
e inter-ilhas, de combate ao isolamento e à pobreza e<br />
de desenvolvimento económico, ilhéu, empresarial e<br />
local. É, para o <strong>Inatel</strong>, uma honra haver merecido do<br />
Governo Regional dos Açores a confiança para este<br />
novo e estimulante desafio.<br />
Decorrem, também, negociações com o Governo<br />
Regional e os Municípios de Ponta Delgada, Angra do<br />
Heroísmo e Horta, no sentido da criação de centros de<br />
férias em S. Miguel, Terceira e Faial,<br />
assim como na Graciosa e nas Flores,<br />
ilha que a Unesco acaba de classificar<br />
como reserva natural de biodiversidade.<br />
UNIÃO EUROPEIA. PRESIDÊNCIA<br />
DE PORTUGAL.<br />
Portugal acaba de concluir, com a<br />
maior dignidade e sucesso, a sua terceira,<br />
e certamente última, Presidência<br />
da União Europeia.<br />
O Tratado de Lisboa, assinado, a 13<br />
de Dezembro, no Mosteiro dos Jerónimos, aprova a<br />
Constituição da Europa a 27, pondo termo ao impasse<br />
institucional resultante da rejeição - pela França e<br />
Holanda – do projectado Tratado Constitucional, de<br />
Valery Giscard d’Estaing.<br />
As Cimeiras da União Europeia com os denominados<br />
países BRIC – Brasil, Rússia, Índia e China deram a<br />
Portugal e à Diplomacia Portuguesa grande e merecida<br />
visibilidade.<br />
Por fim, a Cimeira União Europeia – África revelou a<br />
multissecular capacidade de diálogo de Portugal com<br />
os países africanos, esperando-se que a referida<br />
Cimeira abra novo capítulo do envolvimento da<br />
Europa no desenvolvimento de África, com o desejável<br />
protagonismo de Portugal e da Nação Portuguesa.<br />
Bom Ano de <strong>2<strong>00</strong>8</strong> para a querida Família <strong>Inatel</strong>. ■<br />
<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 7
S. Pedro do Sul<br />
A correspondência para estas secções deve ser enviada para<br />
a Redacção de “Tempo Livre”, Calçada de Sant’Ana, 180 - 1169-062<br />
Lisboa, ou por e-mail: tl@inatel.pt<br />
8 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />
Cartas<br />
É Outono!... Que beleza<br />
Sinto em S. Pedro do Sul<br />
Onde a Mãe-Natureza ufana toda de taful!<br />
O rio não corre…É um espelho<br />
ondeando levemente;<br />
nele se mira o tronco velho<br />
cheio de musgo aderente.<br />
E as árvores debruçadas<br />
num adeus de despedida<br />
lançam as folhas douradas<br />
que se animam na corrida.<br />
Tanto ouro derramado,<br />
tanta Paz, Tanta beleza<br />
eu sinto por todo o lado…<br />
Isto é o Céu, com certeza!<br />
Francisca Cruz, Portimão<br />
“Vulcão dos Capelinhos”<br />
Na revista “Tempo Livre” de Dezembro, no artigo assinado<br />
por Humberto Lopes intitulado “Vulcão dos Capelinhos”, a<br />
frase “colecção da viúva do faroleiro Tomás Pacheco”<br />
(pág.31) não corresponde à verdade. A frase correcta será:<br />
“colecção do faroleiro Tomás Pacheco, agora pertença de<br />
suas filhas”.<br />
Maria Noémia Pacheco da Rosa, Açores<br />
[ Kalidás Barreto ]<br />
COLUNA<br />
DO PROVEDOR<br />
Entramos no ano de <strong>2<strong>00</strong>8</strong> das grandes expectativas<br />
o que não é novidade num povo que<br />
vem vivendo de esperança num mundo melhor.<br />
A esperança no futuro não alimenta as barrigas<br />
do presente nem as glórias passadas,<br />
ainda que muitos nos orgulhem já pouco<br />
servem para a presente realidade, para além<br />
da experiência recolhida.<br />
A memória dos homens é curta - como é sabido<br />
e bem dizia drasticamente um amigo que de<br />
nada nos vale o passado bom se não continuamos<br />
no presente e desesperarmos com o<br />
futuro que vemos com pessimismo.<br />
Acho porém que vale a pena termos esperança<br />
desde que não cruzemos os braços. Parece, por<br />
isso, útil repetir que o esquema estatutário em<br />
que no INATEL acreditam os que como dirigentes,<br />
funcionários ou associados será brevemente<br />
implantado.<br />
A Fundação INATEL é um projecto que vale a<br />
pena e será aprovado brevemente; há que<br />
estarmos todos preparados para o tornar<br />
credível e funcional.<br />
A hora não é só dos que desejam fazer melhor,<br />
é dos que querem fazer melhor!■<br />
Tel: 21<strong>00</strong>27197 Fax: 21<strong>00</strong>27179<br />
e-mail: provedor@inatel.pt
Notícias<br />
Linhares da Beira<br />
Novo <strong>Inatel</strong> na Serra<br />
● Com o protocolo definitivo, a<br />
rubricar no próximo dia 9 de<br />
<strong>Janeiro</strong>, entre o <strong>Inatel</strong> e a Câmara<br />
Municipal de Celorico da Beira,<br />
prevê-se a abertura, na Primavera,<br />
do Centro de Férias de Linhares da<br />
Beira, um novo e atractivo<br />
complexo turístico do Instituto na<br />
vertente nordeste da Serra da<br />
Estrela, constituído pelos Solar<br />
Brandão de Melo e Solar Corte Real.<br />
O acordo, assinado por José Alarcão<br />
Troni e José Francisco Gomes<br />
Monteiro, presidente da câmara<br />
municipal de Celorico da Beira,<br />
envolve a cooperação do Instituto e<br />
da Autarquia no aproveitamento<br />
das vastas potencialidades<br />
paisagísticas, turísticas e culturais<br />
do concelho beirão.<br />
Aldeia milenar, fundada pelos<br />
nórdicos Túrdulos em 580 antes de<br />
Cristo, Linhares da Beira integrou a<br />
importante rede medieval de<br />
fortalezas defensivas na luta contra<br />
as ambições de Castela.<br />
Reconquistada aos árabes por D.<br />
Afonso Henriques, que lhe atribuiu<br />
foral em 1169, a histórica aldeia<br />
serrana conserva significativos<br />
vestígios e monumentos de<br />
sucessivas épocas, desde a Idade<br />
do Ferro até ao século XIX, com<br />
destaque para o Castelo<br />
(construído sobre as ruínas de um<br />
antigo castro pré-romano), o<br />
Fórum Romano, a Igreja da<br />
Misericórdia (período românico), a<br />
Casa Manuelina e os Solares Corte-<br />
Real e Pina d'Aragão (barrocos) e<br />
Brandão de Melo (neo-clássico).<br />
Palco do mais importante festival<br />
de parapente do País, promovido<br />
pelo <strong>Inatel</strong>, Linhares da Beira, tem<br />
uma população reduzida, menos<br />
de 4<strong>00</strong> habitantes, que vive da<br />
pastorícia e de uma agricultura de<br />
subsistência. O futuro avizinha-se,<br />
porém, mais risonho, como espaço<br />
privilegiado de lazer e turismo,<br />
graças ao projecto das Aldeias<br />
Históricas, de recuperação e<br />
desenvolvimento do património,<br />
de que o novo protocolo, assinado<br />
com o Instituto, é exemplo<br />
marcante.<br />
<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 9
Notícias<br />
Trindade festejou 140 anos<br />
● Os 140 anos do Trindade ao<br />
serviço da Cultura foram<br />
assinalados em Novembro último<br />
com o descerramento, no Salão<br />
Nobre do Teatro, de uma lápide<br />
comemorativa pelo Secretário de<br />
Estado do Emprego e Formação<br />
Profissional, Pedro Medina.<br />
A anteceder a cerimónia, teve lugar,<br />
na Sala Principal, um concerto pela<br />
Orquestra do Algarve, sob a<br />
direcção do maestro Cesário Costa<br />
e com a participação da soprano<br />
Ana Quintas e do tenor Mário<br />
Alves, que interpretaram alguns<br />
dos mais conhecidos temas de<br />
Mozart, Rossini e Donizetti.<br />
Teatro e Ópera<br />
● Ainda no âmbito do 140<strong>º</strong> aniversário do Trindade, teve<br />
lugar no Salão Nobre, uma sessão comemorativa,<br />
presidida pelo Secretário de Estado da Cultura, Mário<br />
Vieira de Carvalho, com a participação de Duarte Ivo<br />
Cruz e Serra Formigal que evocaram as grandes figuras e<br />
espectáculos de Teatro e Ópera no centenário palco do TT.<br />
Investigador de reconhecido mérito na área da<br />
musicologia, e designadamente da história da ópera em<br />
Portugal, Mário Vieira de Carvalho sublinhou a<br />
importância do Trindade, desde a sua inauguração, em<br />
1967, no panorama cultural de Lisboa como “espaço<br />
importante no desenvolvimento da ópera e do teatro”.<br />
Lembrou, a propósito, as referências literárias ao<br />
Trindade, caso entre outros, do romance de Eça de<br />
Queiroz, onde um dos episódios chave ocorre durante<br />
a representação da opereta “Barba Azul”, de Offenbach.<br />
Vieira de Carvalho acentuou, ainda, que foi pela<br />
qualidade da música e dos actores que este teatro<br />
conseguiu gerar um público que dava sustentabilidade ao<br />
teatro e, por outro lado, gerar um espaço onde os cantores<br />
portugueses se podiam profissionalizar. “Para um cantor é<br />
importante tratar o palco por tu e isso só se consegue com<br />
a experiência”, disse, para acrescentar que, actualmente,<br />
em matéria de politica europeia, há a preocupação de<br />
“optimizar as politicas culturais através da cooperação,<br />
10 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />
diálogo e interacção, acelerando e intensificando os<br />
artistas no espaço europeu e apoiando os jovens artistas”.<br />
Serra Formigal falou da importância da antiga<br />
Companhia Portuguesa de Ópera, de que foi director<br />
(1963-1975), sedeada no TT, no panorama nacional,<br />
assumindo-se como um teatro popular, criado para o<br />
povo, e propiciando o contacto com os grandes<br />
intérpretes líticos ou revelando outros, como Elsa e<br />
Zuleika Saque.<br />
Do Teatro falou Duarte Ivo Cruz, com pormenorizadas<br />
referências às grandes estreias e representações cénicas<br />
no Trindade, sem esquecer os seus mais destacados<br />
intérpretes, casos, entre muitos, de Palmira Bastos,<br />
Amélia Rey Colaço, Eunice Munoz, Rui Mendes e<br />
Cármen Dolores.<br />
A sessão terminou com um momento musical com a<br />
cantora lírica Elsa Saque, acompanha ao piano por<br />
Nuno Vieira de Almeida.
Novos Livros<br />
● Os 140 anos do Trindade foram<br />
igualmente assinalados com o<br />
lançamento das obras “A Ópera do<br />
Trindade - O papel da Companhia<br />
Portuguesa de Ópera na “politica<br />
social” do Estado Novo”, de Nuno<br />
Domingos (editado pela Lua de<br />
Papel, com o apoio do <strong>Inatel</strong>, da<br />
FCT - Fundação para a Ciência e<br />
Tecnologia e INET – Instituto de<br />
Etnomusicologia da<br />
Universidade Nova<br />
de Lisboa) e o<br />
“Manual de<br />
Produção Cultural:<br />
algumas reflexões<br />
sobre o tema”, de<br />
Conceição Mendes,<br />
edição <strong>Inatel</strong>.<br />
Alarcão Troni<br />
destacou o significado histórico e<br />
cultural do importante trabalho de<br />
Nuno Domingos, facto igualmente<br />
sublinhado por Rui Vieira Nery<br />
que considerou tratar-se de uma<br />
obra “ marcante no contexto da<br />
historia da vida musical portuguesa<br />
da segunda metade do século<br />
passado”, em que a Companhia<br />
Portuguesa de Ópera teve um<br />
papel importante na criação de<br />
alternativas culturais ao Teatro S.<br />
Carlos.<br />
O “ Manual de Produção Cultural”<br />
foi apresentado por Carlos Cabral,<br />
actor e professor da Escola Superior<br />
de Teatro e Cinema, que salientou<br />
estarmos perante uma obra<br />
“original e plurifacetada” sobre<br />
produção cultural a nível nacional.<br />
A obra aborda o papel do produtor<br />
cultural na sociedade portuguesa e<br />
a forma como este exerce as suas<br />
funções com outros profissionais<br />
da cultura e organiza e concretiza<br />
um projecto cultural ou uma<br />
produção teatral.<br />
Protocolo <strong>Inatel</strong>/Typet<br />
dá férias na Grécia<br />
● Aprofundar o mútuo<br />
conhecimento da vida social e<br />
património cultural de Portugal e<br />
da Grécia é o objectivo do<br />
protocolo assinado entre o <strong>Inatel</strong> e<br />
a Typet (associação mutualista do<br />
Banco Nacional da Grécia). O<br />
acordo assinala a importância dos<br />
períodos de lazer e férias como<br />
oportunidade de intercâmbio<br />
turístico entre as respectivas<br />
organizações e assegura a<br />
disponibilidade (excepto nos<br />
meses de Julho e Agosto), dos<br />
Centros de Férias de Oeiras e de<br />
Santa Maria da Feira, em Portugal,<br />
e de Rapsani Dionyssos, na<br />
Grécia, para o intercâmbio<br />
turístico entre os associados do<br />
<strong>Inatel</strong> e da Typet.<br />
Conselho Geral - O último Conselho Geral do <strong>Inatel</strong> enquanto Instituto<br />
público aprovou, por unanimidade, o Plano de Actividades e Orçamento para<br />
<strong>2<strong>00</strong>8</strong>, no passado dia 5 de Dezembro último.<br />
<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 11
Notícias<br />
XII Encontro Nacional de Concertina<br />
● Com a presença de tocadores de<br />
várias centenas de tocadores e<br />
cantadores de sete distritos, num<br />
total de 35 concelhos, realizou-se<br />
Homenagem a Torga<br />
O Salão Teatro do <strong>Inatel</strong>, em<br />
Coimbra, esteve repleto, no final de<br />
Novembro, para o espectáculo de<br />
homenagem a Miguel Torga. João<br />
Fernandes, Delegado do <strong>Inatel</strong>,<br />
lembrou, no início, que na origem<br />
desta homenagem esteve, para<br />
além da sua relação pessoal de<br />
amizade com Torga, o facto de o<br />
escritor ter presenteado o Instituto<br />
com a edição do livro “Coimbra<br />
Vista Por Miguel Torga”, quando se<br />
sabia ser ele o próprio editor de<br />
toda a sua obra literária.<br />
Coube a Teresa Ferreira a<br />
apresentação do espectáculo e da<br />
12 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />
em Valença, nos dias 16, 17 e 18 de<br />
Novembro, o XII Encontro<br />
Nacional de Concertina e<br />
Cantadores ao Desafio.<br />
Os Encontros têm visitado,<br />
anualmente, uma sede de<br />
concelho: Viana do Castelo (1996),<br />
Ponte da Barca (1997), Monção<br />
(1998, 2<strong>00</strong>4, 2<strong>00</strong>5), Vila Nova de<br />
Cerveira (1999), Paredes de Coura<br />
(2<strong>00</strong>0), Melgaço (2<strong>00</strong>1), Viana do<br />
Castelo (2<strong>00</strong>2), Caminha (2<strong>00</strong>3) e<br />
Ponte de Lima (2<strong>00</strong>6).<br />
obra de Miguel Torga e a Augusto<br />
França a narração e declamação<br />
dos textos e poemas do escritor.<br />
A parte musical, composta por<br />
canções inéditas dos irmãos Álvaro<br />
e Eduardo Aroso, coube ao grupo<br />
coimbrão, “Quarteto”, e ao Coral<br />
Poliphonico de Coimbra.<br />
A Sociedade<br />
Filarmónica de<br />
Cabanas de Viriato<br />
actuou no último dia<br />
da representação da<br />
peça “A desobediência”,<br />
em Novembro,<br />
no Teatro da<br />
Trindade.<br />
Novos CCD’s em Leiria<br />
● A Delegação <strong>Inatel</strong> em Leiria<br />
assinalou seu 63<strong>º</strong> Aniversário no<br />
passado dia 8 de Dezembro no<br />
Restaurante “O Braz” na vila de<br />
Alvaiázere, com a entrega de nove<br />
certificados a CCD’s (Centros de<br />
Cultura e Desporto). Foram ainda<br />
distinguidas as quatro entidades<br />
culturais e desportivas que mais<br />
destacaram na região em 2<strong>00</strong>7.<br />
A finalizar a cerimónia, teve lugar<br />
um apontamento cultural com o<br />
Rancho Folclórico dos Pussos e três<br />
fadistas amadores da região<br />
“A Fuga Real”<br />
● Na sede do Museu Nacional da<br />
Imprensa, no Porto, está patente, até<br />
6 de Junho, a exposição documental<br />
“A Fuga Real por um triz”, composta<br />
por dezenas de publicações,<br />
nomeadamente jornais e livros,<br />
sobre as Invasões Francesas, com<br />
especial destaque para a saída da<br />
Corte de D. João VI para o Brasil,<br />
em Novembro de 1807. “A Gazeta<br />
de Lisboa”, “Minerva Lusitana” e o<br />
“Novo Diário de Lisboa” são alguns<br />
dos jornais editados na época, com<br />
relatos sobre as invasões francesas e<br />
a retirada da Corte, que integram a<br />
mostra. Vários números d’ “O<br />
investigador Português em<br />
Inglaterra ou Jornal Literário<br />
Político”, de 1816, do “Semanário de<br />
Instrução e Recreio” de 1812 e da<br />
“Gazeta do Rocio”, de 1809, também<br />
figuram na exposição.
Concursos <strong>Inatel</strong><br />
Grupo da Bemposta: o Melhor CCD 2<strong>00</strong>7<br />
O Teatro da Trindade foi palco da<br />
cerimónia de entrega dos prémios<br />
do Concurso de Teatro, Artes,<br />
Vídeo e “Melhor CCD <strong>Inatel</strong>” de<br />
2<strong>00</strong>7, em Dezembro último, uma<br />
iniciativa do Departamento<br />
Cultural do Instituto.<br />
O Prémio Melhor CCD <strong>Inatel</strong> 2<strong>00</strong>7<br />
foi atribuído ao Grupo Musical e<br />
Recreativo da Bemposta. Fundado<br />
há 40 anos, este dinâmico e<br />
prestigiado grupo etnográfico do<br />
concelho de Loures, tem obtido<br />
importantes galardões, dentro e<br />
fora do País..<br />
Na categoria de Teatro - Novos Textos,<br />
Natal Sénior na Caparica<br />
Cerca novecentos associados seniores, oriundos de<br />
todo o país, participaram numa animada e divertida<br />
festa de Natal, em Dezembro último, no <strong>Inatel</strong> “Um<br />
lugar ao Sol”, na Costa de Caparica.<br />
os vencedores foram: “7(sete)”, de A.<br />
Branco (Grande Prémio de Teatro), “O<br />
Rei de Cristal”, de César Magalhães<br />
(Prémio Miguel Rovisco 2<strong>00</strong>7), e<br />
“Barcos de Fósforos”, de António<br />
Joaquim Silva (Menção Honrosa).<br />
No concurso Artes, José Granja foi o<br />
vencedor em Pintura, João Paulo<br />
Gonçalves em escultura<br />
(“Homenagem a Magrit”) e Paulo<br />
Perre Viana em Instalação (“Mundo<br />
Cão”).<br />
Os premiados na categoria Vídeo<br />
foram:Nelson Tondela<br />
(“Dominicu”), Rui Sobral (“Martina<br />
– Um Olhar sobre Lisboa”), e Filipa<br />
Lopes Bravo (Tema Livre) e “N<strong>º</strong> 30<br />
Rua das Madres”.<br />
Espanha condecora Lima de Carvalho<br />
Lima de Carvalho, director da Galeria de Arte do<br />
Casino Estoril, foi distinguido, em Dezembro último,<br />
com a Comenda da Ordem de Mérito Civil de Espanha<br />
pelo seu relevante papel no âmbito das relações<br />
culturais entre os dois Estados ibéricos. Assistiram à<br />
cerimónia,<br />
numerosos<br />
amigos de Lima<br />
de Carvalho,<br />
nomeadamente<br />
artistas e<br />
jornalistas da<br />
Imprensa<br />
estrangeira em<br />
Portugal.<br />
<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 13
Alegações de defesa de<br />
Aristides Sousa Mendes<br />
(Processo intentado pelas<br />
Autoridades Portuguesas por<br />
presumidos delitos que são<br />
enumerados no Anexo 1)<br />
Teatro da Trindade<br />
Lisboa, 2 de Outubro de 2<strong>00</strong>7<br />
JOSÉ MIGUEL JÚDICE<br />
Advogado<br />
1. Cumprimento o Tribunal. Apesar<br />
das minhas legítimas dúvidas de<br />
que tenha coragem de se guiar<br />
apenas pela sua convicção, apesar<br />
da pressão do Poder Político, espero<br />
que seja capaz de decidir com<br />
liberdade.<br />
2. A Independência do Poder<br />
Judicial é o elemento mais<br />
importante do Estado de Direito.<br />
Não quero deixar de acreditar que<br />
isso seja viável.<br />
3. Este processo é paradigmático e<br />
servirá para definir o grau em que<br />
podemos falar na existência da<br />
“Rule of Law” em Portugal.<br />
4. Cumprimento o Réu. Estas<br />
alegações irão falar muito dele.<br />
5. Por isso neste momento basta<br />
dizer que ser Advogado tem o<br />
significado etimológico de ser<br />
chamado em auxílio.<br />
6. Quanto mais difícil é a causa<br />
mais necessário é o mandato. Sem<br />
uma Advocacia livre e corajosa<br />
também não pode haver Estado de<br />
Direito. Ser escolhido para defender<br />
esta causa é uma honra, que<br />
agradeço.<br />
7. Cumprimento os Cidadãos<br />
presentes. Desde os Romanos que a<br />
14 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />
Justiça é feita em nome do Povo e o<br />
controlo da Opinião Pública sobre<br />
os decisores é outra peça essencial<br />
da Fábrica do Estado de Direito.<br />
8. Estar aqui é um acto de coragem.<br />
Mas não há Liberdade sem<br />
Cidadãos e não há Cidadania sem<br />
riscos. Para mim, Vós representais<br />
os Portugueses - os que desde o<br />
Século XII, sempre que foi preciso,<br />
tomaram o seu destino nas suas<br />
mãos.<br />
9. Quero declarar solenemente que<br />
aceito todos os factos em que a<br />
Acusação pretende basear o pedido<br />
de condenação do meu Cliente.<br />
10. É certo que alguns aspectos se<br />
não passaram exactamente como o<br />
dizem; que outras pessoas para<br />
além de Aristides e pelas mesmas<br />
razões deviam ser Réus e<br />
terminaram testemunhas de<br />
acusação; é certo que seria possível<br />
e fácil descobrir causas<br />
justificativas, atenuantes, até<br />
invocar que Aristides tivera falta de<br />
coragem para recusar apoiar os que<br />
pediam ajuda, como alguns<br />
sugeriram como linha de defesa.<br />
Mas, como veremos, tudo isso é<br />
secundário.<br />
11. Aristides Sousa Mendes<br />
desobedeceu.<br />
12. Infringiu as normas legais e<br />
regulamentares em vigor,<br />
desrespeitou as circulares e as<br />
instruções, actuou sem respeitar as<br />
praxes e as tradições da carreira<br />
diplomática.<br />
13. Fê-lo, em plena consciência e<br />
com total conhecimento.<br />
14. Aristides Sousa Mendes é um<br />
conservador, um defensor do<br />
respeito das regras administrativas,<br />
um Monárquico tradicionalista.<br />
15. Para ele a Ordem deve ser<br />
mantida e as Instituições devem ser<br />
respeitadas. Não é um<br />
Revolucionário. Não é um<br />
adversário do Regime a que<br />
chamam “Estado Novo”.<br />
16. Aristides Sousa Mendes conhece<br />
a História e a Política Internacional.<br />
Sabe que a neutralidade num<br />
conflito armado europeu é muito<br />
difícil de manter.<br />
17. Sabe que a generalidade dos<br />
Países que estavam contra o Eixo<br />
não facilitavam a entrada de<br />
emigrantes que fugiam de<br />
perseguições políticas.<br />
18. Sabe que a “realpolitik” é a<br />
ideologia das pequenas potências<br />
nas relações internacionais.<br />
19. Não desconhece que Franco<br />
deve a Hitler e Mussolini parte<br />
determinante da sua vitória.<br />
20. Sabe que se a Guerra alastrar à<br />
Península Ibérica, Portugal será<br />
palco de combates decisivos e<br />
terríveis, como fora no tempo de<br />
Napoleão.<br />
21. O meu Cliente não tem, por<br />
tudo isto, nenhumas atenuantes,<br />
nenhuma justificação para pedir<br />
compreensão, nenhuma explicação<br />
ideológica para as suas acções.<br />
Aristides Sousa Mendes é um<br />
Homem normal, que nada fizera<br />
antes em toda a sua vida que<br />
justificasse um pendor para os
iscos, para a ousadia, para o<br />
heroísmo.<br />
22. Aristides Sousa Mendes actuou<br />
no cumprimento de um dever mais<br />
forte do que a sua maneira de estar<br />
no Mundo, a sua adesão às regras<br />
da carreira diplomática, a sua<br />
ideologia, o seu passado.<br />
23. V. Exas, Srs Juizes,<br />
provavelmente irão ficar chocados:<br />
Aristides tinha o dever histórico de<br />
desobedecer. Não lhe ouvirão<br />
apesar disso uma palavra a pedir<br />
desculpa ou clemência. Resignado e<br />
com serenidade, aceitaria que o<br />
condenassem neste Tribunal.<br />
24. Este dever de desobedecer<br />
radica em que a Justiça é superior à<br />
Lei, os Direitos do Homem são<br />
superiores aos do Estado, a<br />
Salvação de Homens é superior às<br />
conveniências político-ideológicas e<br />
aos equilíbrios geopolíticos.<br />
25. Naqueles dias, em Bordéus,<br />
estava em jogo a Humanidade.<br />
Milhares de pessoas indefesas<br />
pediam auxílio. Queriam apenas<br />
fugir dos horrores da guerra e do<br />
que o “Mein Kampf lhes anunciava.<br />
Não eram terroristas, não eram<br />
guerreiros, não queriam impor<br />
nenhuma ideologia. Queriam<br />
apenas sobreviver.<br />
26. Todos os que tinham o dever de<br />
os ajudar faltaram à chamada. O<br />
Estado francês, que tinha a<br />
obrigação histórica de ser capaz de<br />
aplicar a Declaração Universal dos<br />
Direitos do Homem, mas tremia de<br />
medo. As Democracias Ocidentais,<br />
que queriam conter a barbárie, mas<br />
temiam a destabilização social que<br />
muitos milhares de emigrantes<br />
causariam provavelmente. A Igreja<br />
Católica, que era hostil ao racismo e<br />
ao anti-semitismo, mas achava que<br />
tinha de manter a sua prudência<br />
secular. A União Soviética, farol da<br />
esquerda europeia do tempo, mas<br />
que se preparava para assinar um<br />
Pacto de Não Agressão com Hitler.<br />
27. Naqueles dias em Bordéus<br />
alguém tinha de defender a<br />
Civilização contra a Barbárie, os<br />
Direitos Humanos contra a<br />
Opressão. Alguém tinha de ter<br />
coragem. Alguém tinha de ser a<br />
Humanidade.<br />
28. V. Exas não podem absolver<br />
Aristides Sousa Mendes. Ele<br />
infringiu as regras e os<br />
regulamentos, ele desobedeceu aos<br />
poderes instituídos. Ele não actuou<br />
como ao longo dos séculos o<br />
determinaram as praxes e os<br />
costumes diplomáticos.<br />
29. Mas V. Exas também não podem<br />
condenar Aristides Sousa Mendes.<br />
V. Exas não têm competência para<br />
julgar o meu Cliente. V. Exas não<br />
estavam em Bordéus naqueles dias.<br />
V. Exas não podem imaginar o que<br />
estavam a sofrer os que imploravam<br />
vistos para sair de França. V. Exas<br />
não podem perceber que nas mãos<br />
do meu Cliente estavam as decisões<br />
para salvar ou perder a<br />
Humanidade. V. Exas só conhecem<br />
o conforto dos vossos gabinetes,<br />
estão rodeados pêlos vossos Filhos,<br />
vivem habitualmente e sem<br />
tragédia o vosso dia a dia, sentemse<br />
protegidos das tragédias<br />
históricas.<br />
30. Mas V. Exas são Juizes<br />
experientes e sabem apreciar os<br />
factos que foram provados.<br />
Aristides Sousa Mendes com a sua<br />
acção, num dos momentos mais<br />
horríveis da História da Civilização,<br />
manteve acesa a Luz que Picasso<br />
pintou de forma definitiva naquele<br />
que é sem dúvida o seu melhor<br />
quadro, porque o que melhor<br />
exprime a tragédia do seu tempo.<br />
Aristides foi, nesses dias, a própria<br />
Humanidade.<br />
31. V. Exas devem, por isso,<br />
concordar que ele deve ser aceite na<br />
restrita galeria dos Heróis da<br />
Humanidade. E de o fazer<br />
declarando que os factos provados<br />
permitem concluir que o heroísmo<br />
está ao alcance de todos, desde que<br />
saibamos encarar em cada<br />
momento os deveres mais básicos e<br />
mais essenciais de cada Homem:<br />
Tudo fazer para espalhar a<br />
Liberdade. Proteger os mais<br />
desfavorecidos. Enfrentar com<br />
coragem os opressores.<br />
Muito obrigado ■<br />
<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 15
[ 1 ] Fernando<br />
Gomes, Lisboa<br />
Sócio n.<strong>º</strong> 657<br />
[ 2 ] Conde Falcão,<br />
Lisboa<br />
Sócio n.<strong>º</strong> 1299<strong>00</strong><br />
[ 3 ] José Esteves,<br />
Olival de Basto<br />
Sócio n.<strong>º</strong> 89785<br />
[ a ] Carlos Aniceto,<br />
Azambuja<br />
Sócio n.<strong>º</strong> 199105<br />
[ b ] Alfredo Oliveira,<br />
Quarteira<br />
Sócio n.<strong>º</strong> 448066<br />
[ c ] Fernando<br />
Máximo, Avis<br />
Sócio n.<strong>º</strong> 435473<br />
Menções Honrosas<br />
[ 1 ]<br />
[ a ] [ b ] [ c ]
[2]<br />
[3]<br />
REGULAMENTO<br />
1. Concurso Nacional de Fotografia da<br />
revista Tempo Livre. Periodicidade<br />
mensal. Podem participar todos os<br />
sócios do <strong>Inatel</strong>, excluindo os seus funcionários<br />
e os elementos da redacção e<br />
colaboradores da revista Tempo Livre.<br />
2. Enviar as fotos para: Revista Tempo<br />
Livre - Concurso de Fotografia, Calçada<br />
de Sant’Ana, 180 - 1169-062 Lisboa.<br />
3. A data limite para a recepção dos trabalhos<br />
é o dia 10 de cada mês.<br />
4. O tema é livre e cada concorrente<br />
pode enviar, mensalmente, um máximo<br />
de 3 fotografias de formato mínimo de<br />
10x15 cm e máximo de 18x24 cm., em<br />
papel, cor ou preto e branco, sem qualquer<br />
suporte.<br />
5. Não são aceites diapositivos e as<br />
fotos concorrentes não serão devolvidas.<br />
6. O concurso é limitado aos sócios do<br />
<strong>Inatel</strong>. Todas as fotos devem ser assinaladas<br />
no verso com o nome do autor,<br />
direcção, telefone e número de associado<br />
do <strong>Inatel</strong>.<br />
7. A Tempo Livre publicará, em cada<br />
mês, as seis melhores fotos (três premiadas<br />
e três menções honrosas), seleccionadas<br />
entre as enviadas no prazo<br />
previsto.<br />
8. Não serão seleccionadas, no mesmo<br />
ano, as fotos de um concorrente premiado<br />
nesse ano<br />
9. Prémios: cada uma das três fotos<br />
seleccionadas terá como prémio um fim<br />
de semana (duas noites) para duas pessoas<br />
num dos Centros de Férias do<br />
<strong>Inatel</strong>, durante a época baixa, em<br />
regime APA (alojamento e pequeno<br />
almoço). O premiado(a) deve contactar<br />
a redacção da «TL»<br />
10. Grande Prémio Anual: uma viagem<br />
a escolher na Brochura <strong>Inatel</strong> Turismo<br />
Social até ao montante de 1750 Euros. A<br />
este prémio, a publicar na revista<br />
Tempo Livre de Setembro de <strong>2<strong>00</strong>8</strong>, concorrem<br />
todas as fotos premiadas e publicadas<br />
nos meses em que decorre o<br />
concurso.<br />
11. O júri será composto por dois<br />
responsáveis da revista Tempo Livre e<br />
por um fotógrafo de reconhecido<br />
prestígio.
ARTES E OFÍCIOS<br />
WorldSkills<br />
Jovens portugueses brilham n<br />
Sete jovens portugueses conquistam Medalhas de Excelência no WorldSkills
2<strong>00</strong>7<br />
o campeonato das profissões<br />
2<strong>00</strong>7, o 39<strong>º</strong> Campeonato Internacional das Profissões, em Shizuoka, Japão.
ARTES E OFÍCIOS<br />
CONHECIDO por Olimpíadas do<br />
Trabalho, este torneio bienal, um<br />
dos mais importantes certames<br />
internacionais vocacionado para<br />
jovens trabalhadores entre os 17 e<br />
22 anos, envolveu, na edição 2<strong>00</strong>7,<br />
realizada no Japão, 850 participantes<br />
de 46 países de todos os continentes<br />
num total de 47 profissões.<br />
Os dezasseis jovens portugueses,<br />
representativos de igual número de<br />
profissões, apurados num torneio<br />
promovido pelo IEFP (Instituto do<br />
Emprego e Formação Profissional),<br />
membro da WorldSkills, conquistaram<br />
sete medalhas de Excelência em<br />
Joalharia, Carpintaria de Limpos,<br />
Electromecânica de Frio, Electricidade<br />
de Instalações, Desenho Indústrial<br />
CAD, Polimecânica da Madeira<br />
e Soldadura, ou seja, uma<br />
notável e meritória prestação, que<br />
pouco eco teve na generalidade dos<br />
media nacionais.<br />
DESAFIO ALÉM FRONTEIRAS<br />
O nível da prestação dos jovens<br />
portugueses pode aferir-se pela circunstância<br />
de estarem em prova os<br />
melhores jovens de cinco continentes.<br />
A perfeição e rapidez na<br />
execução dos trabalhos era determinante<br />
para o resultado da competição<br />
o que, em boa medida,<br />
explica o facto de a Coreia e o país<br />
anfitrião terem conquistado o<br />
maior número de medalhas.<br />
Certo é que os nossos jovens,<br />
apesar dos escassos apoios empresariais<br />
obtidos, demonstraram<br />
invulgar capacidade face aos seus<br />
mais directos competidores.<br />
Filipa Oliveira, medalha de<br />
Excelência em Joalharia, adorou a<br />
experiência, fez muitos amigos estrangeiros,<br />
sobretudo na sua profissão,<br />
e sobre o torneio considerou<br />
que “ali o tempo passa muito<br />
depressa e os nervos por vezes atra-<br />
20 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />
António Caldeira, responsável no IEFP pelo Campeonato das Profissões, Luís Reis,<br />
Campo Aventura Olho de Marinho e Joaquim Fidalgo, Comunicação IEFP
António Nabais no outdoor Olho de Marinho<br />
palham, mas seria ainda pior se não<br />
fosse a preparação dada pelo IEFP”.<br />
Opinião partilhada, igualmente,<br />
pelo beirão António Nabais,<br />
Excelência em Electromecânica de<br />
Frio, que viu esta oportunidade<br />
como uma bênção não só pela possibilidade<br />
de viajar até ao Japão como<br />
pelo convívio que jamais esquecerá.<br />
Filipa Oliveira aguarda, agora, a<br />
chamada para um estágio em<br />
Joalharia “a WoldSkills promove<br />
também estágios e eu inscrevi-me<br />
para Inglaterra”, revelou. António<br />
Nabais, a trabalhar numa pequena<br />
empresa da Covilhã, sublinhou-nos<br />
o apoio da entidade patronal nas<br />
muitas ausências que teve de fazer<br />
para se preparar para a competição<br />
e espera continuar a dedicar-se à<br />
profissão em que se sente realizado.<br />
“QUALIDADE E CRIATIVIDADE”<br />
As Olimpíadas do Trabalho são<br />
encontros que fomentam a competição<br />
saudável entre jovens da<br />
mesma área profissional e visam,<br />
sobretudo, “reconhecimento das<br />
WORLDSKILLS 2<strong>00</strong>7<br />
Medalhas de Excelência<br />
● Luís Alexandre (Açores) -<br />
Carpintaria de Limpos da Esc.<br />
Profissional das Capelas;<br />
● António Nabais (Atalaia do<br />
Campo) - Electromecânica de<br />
Frio do Centro de Formação<br />
Prof.de Castelo Branco;<br />
● José Correia (Madeira) -<br />
Electricidade de Instalações da<br />
Cafistal;<br />
● Antónia Marlene Moreira<br />
(Paredes) - Desenho Industrial<br />
CAD Cenfim/Porto;<br />
● Filipa Oliveira (Vila Verde) -<br />
Joalharia do Centro de Formação<br />
Prof. da Ind. Ourivesaria e<br />
Relojoaria;<br />
● Énio Garanito (Funchal) -<br />
Polimecânica da Madeira;<br />
● João Teixeira (Fronteira) -<br />
Soldadura da Empresa<br />
Solisform;<br />
Outras participações<br />
● Joana Monteiro (Póvoa da<br />
Galega) - Cabeleireiro;<br />
● José Freitas (Feitosa) -<br />
Canalizações;<br />
● Humberto Carvalho (Torres<br />
Vedras) - Electromecânica<br />
Industrial;<br />
● Tânia Morais, (Lagoa, Açores)<br />
- Esteticismo;<br />
● Bruno Monteiro (Vialonga) -<br />
Fresagem CNC;<br />
● Fábio Branco (Caldas da<br />
Rainha) - Marcenaria;<br />
● João Raimundo (Portalegre) -<br />
Serralharia Mecânica;<br />
● Fábio Frias (Capelas, Açores) -<br />
Serviço de Mesa e Bar;<br />
● Tiago Pacheco (Ponta<br />
Delgada, Açores) - Tecnologia<br />
da Informação.<br />
<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 21
ARTES E OFÍCIOS<br />
vias profissionalizantes como alternativas<br />
de sucesso para a inserção<br />
na vida activa” e o “aperfeiçoamento<br />
de métodos e técnicas de organização<br />
e execução através do desenvolvimento<br />
dos valores da qualidade,<br />
da criatividade, da autonomia<br />
e do trabalho em equipa”.<br />
Trata-se da maior competição<br />
internacional na área da qualificação<br />
profissional para jovens com<br />
idades entre os 17 e os 22 anos. A<br />
ideia surgiu em Espanha com o<br />
campeonato de metalomecânica de<br />
1947. A primeira edição “olímpica”<br />
teve lugar, três anos depois, também<br />
em Espanha, em Madrid, já<br />
com a participação de Portugal.<br />
O sucesso da iniciativa cresceu,<br />
com a adesão dos grandes países<br />
europeus, e, ainda na década de 50,<br />
é criada a WordSkills (International<br />
Vocational Training Organisation),<br />
com sede em Amesterdão, actualmente<br />
com 48 países/membros.<br />
Em Portugal, o IEFP é o responsável<br />
pela organização e promoção<br />
dos campeonatos nacionais, selecciona<br />
e prepara os concorrentes<br />
para a competição internacional que<br />
se realiza em anos impares em países<br />
membros da WorldSkills, como<br />
aconteceu recentemente no Japão. A<br />
40ª edição das também designadas<br />
Olimpíadas do Trabalho, terá como<br />
palco Calgary, no Canadá, em 2<strong>00</strong>9.<br />
Londres acolherá a edição de 2011.<br />
SELECÇÃO E PREPARAÇÃO<br />
DOS JOVENS<br />
A competência profissional adquirida<br />
pelos jovens por via da experiência<br />
em empresas ou da formação em<br />
escolas e centro de formação profissional<br />
é avaliada por técnicos especializados,<br />
numa primeira fase, em<br />
campeonatos regionais que decorrem<br />
nas cinco áreas das Delegações<br />
Regionais do IEFP (Norte, Centro,<br />
22 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />
Filipa Oliveira na Competição no Japão<br />
Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e<br />
Algarve e nas Regiões Autónomas da<br />
Madeira e Açores). É preciso fazer<br />
bem e rápido, salienta António<br />
Caldeira, responsável no IEFP pelo<br />
desenvolvimento do Campeonato<br />
das Profissões. Só os jovens que revelem<br />
maior competência e rapidez<br />
na execução dos trabalhos nas diferentes<br />
áreas, desde a metalomecânica,<br />
electricidade, carpintaria, joalharia,<br />
cabeleireiro e outras, passam<br />
à fase nacional onde apenas um por<br />
profissão vence e adquire passaporte<br />
para a representação internacional.<br />
Mas, se seleccionar os concorrentes<br />
obedece a critérios rigorosos, a<br />
preparação para as Olimpíadas implica<br />
reforçar laços entre os concorrentes.<br />
“É necessário incutir nos<br />
jovens ferramentas capazes de os ajudar<br />
a lidar com o stress”, revela o dirigente<br />
do IEFP, adiantando que, para<br />
tanto, “há que fortalecer o espírito de<br />
equipa, estabelecendo laços de afecto<br />
fortes para no caso de existirem<br />
descompensações a nível emocional<br />
durante as provas serem capazes de a<br />
superar com o apoio da equipa”.<br />
Assim, e no âmbito da preparação<br />
para o torneio no Japão, o IEFP<br />
organizou um Outdoor no Campo<br />
de Aventura de Olho Marinho,<br />
para intensificar o espírito de<br />
equipa e ajudar os jovens a gerir as<br />
situações de stress. O campo de<br />
aventura utilizou técnicas como os<br />
low rops (actividades efectuadas ao<br />
nível do solo e que exploram a<br />
interacção do grupo) e outras<br />
essenciais à boa liderança e união<br />
do grupo, de que são exemplo o<br />
jogo da Teia, a Transferência, a Bola<br />
Cega e o Mikado gigante. ■<br />
Glória Lambelho
TERRA NOSSA<br />
Leiria<br />
de Eça ao Polis<br />
Os leirienses começaram a fazer passeios a pé, e de bicicleta<br />
também, na sua própria cidade. Isso acontece desde que o<br />
rio Lis, num percurso que vai de uma ponta à outra da<br />
cidade, viu as suas margens transformadas numa via para<br />
caminhantes e ciclistas.<br />
ESTA É UMA obra Polis, um programa<br />
de intervenção urbana que<br />
irradiou em várias direcções. Por<br />
exemplo, o antigo Rossio, uma<br />
vasta zona central hoje partilhada<br />
pelo Jardim Luís de Camões, Largo<br />
5 de Outubro e Largo Paulo VI foi<br />
redesenhado, donde resultou uma<br />
nova estética e principalmente mais<br />
espaço destinado às pessoas. Outra<br />
obra emblemática deste renovar<br />
urbano foi a recuperação do antigo<br />
Moinho de Papel. Não é um moinho<br />
qualquer, este. Gonçalo Lourenço<br />
de Gomide teve permissão de<br />
Dom João I, em 1411 para instalar<br />
“engenhos de fazer ferro, serrar<br />
madeira, pisar burel e fazer papel<br />
ou outras algumas coisas que se<br />
façam com o artifício da água (…)<br />
contando que não sejam moinhos<br />
de pão (…)”. Passados quase 6<strong>00</strong><br />
anos o moinho ainda existe e não<br />
há notícia de outro mais antigo em<br />
Portugal que tivesse manufactura-<br />
24 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />
do papel. O restauro, que recebe<br />
agora os últimos retoques, coube ao<br />
atelier de Siza Vieira, com o objectivo<br />
não só de recuperar vetustos<br />
equipamentos, mas principalmente<br />
guardar a memória de um espaço<br />
tão emblemático para a cidade e<br />
para o país.<br />
Mas o pioneirismo da cidade<br />
nesta matéria vai mais longe. Leiria<br />
disputa com Faro, Chaves e Lisboa<br />
a localização da primeira tipografia<br />
do país. Há uma Travessa da<br />
Tipografia, na antiga judiaria, onde<br />
um painel de azulejos reproduz<br />
uma frase retirada “Da Famosa Arte<br />
da Imprimição”, de Américo Cortês<br />
Pinto, que defende que foi Leiria o<br />
primeiro lugar em Portugal onde a<br />
revolucionária invenção de Gutemberg<br />
foi usada. O argumento mais<br />
importante na defesa da tese leiriense<br />
provém de uma informação<br />
do académico Pedro Afonso Vasconcelos,<br />
que, em 1590, diz que o<br />
grande matemático e cosmógrafo<br />
Pedro Nunes afirmara que “Leiria<br />
fora a primeira cidade de toda a<br />
Hespanha que tivera impressão de<br />
forma ou caracteres metálicos”.<br />
LEIRIA DE EÇA<br />
A Travessa da Tipografia tem outro<br />
motivo de interesse: a casa onde<br />
viveu Eça de Queiroz, o número 13,<br />
assinalada com uma lápide. Para os<br />
menos conhecedores do percurso<br />
do genial autor, esclarece-se que<br />
Eça foi administrador do concelho<br />
de Leiria de Julho de 1870 a Junho
TERRA NOSSA<br />
Campos de ténis<br />
do ano seguinte e durante esse ano<br />
terá usado o tempo mais para escrever<br />
do que no exercício das funções<br />
que lhe estavam confiadas. Podemos<br />
seguir o seu percurso assim<br />
como das personagens de “O Crime<br />
do Padre Amaro”, obra que como é<br />
sabido tem o seu eixo na Leira de<br />
Oitocentos.<br />
Depois da Travessa da Tipografia<br />
o melhor é ir até à Praça e em Leiria<br />
quando se menciona a Praça, já se<br />
sabe, essa é a Praça Rodrigues Lobo,<br />
o poeta, recordado numa expressiva<br />
estátua de bronze colocada<br />
numa das extremidades da Praça. A<br />
26 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />
razão de tal distinção vem da sua<br />
antiguidade e de, ao mesmo tempo,<br />
funcionar como verdadeiro centro<br />
cívico acolhendo, hoje como no<br />
passado, as mais grandiosas celebrações<br />
ou os simples encontros do<br />
dia-a-dia, o que para muito contribuem<br />
os seus cafés, acolhedores e<br />
cheios de estilo.<br />
Um dos lados da Praça é preenchido<br />
pelo edifício do Ateneu, e<br />
aqui voltamos à companhia de Eça.<br />
Quando o escritor chegou à cidade<br />
domiciliava a Assembleia Leiriense,<br />
espaço de convívio da sociedade<br />
local, que logo acolheu o novo<br />
administrador do concelho. Mas<br />
evocar a presença de Eça em Leiria<br />
obriga a contar um episódio. Para<br />
isso vamos até outra praça citadina,<br />
o Largo Cândido dos Reis, ou<br />
Terreiro, um rectângulo em forma<br />
de cunha delimitado por casarões<br />
apalaçados. O número 18 era habitado<br />
pelo Barão do Salgueiro e aí<br />
no Carnaval de 1871, num baile de<br />
máscaras onde participava a elite<br />
da cidade e onde o escritor se apresentou<br />
disfarçado de Cupido, chegando<br />
o momento das quadrilhas<br />
entrou na dança e, habilidosamente,<br />
retirou-se com uma dama para
Percurso Polis e casa de Eça de Queiroz<br />
<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 27
um compartimento vazio, só que a<br />
manobra acabou mal, pois o par foi<br />
surpreendido, e Eça desancado e<br />
posto na rua. Mais tarde, exporá o<br />
caso dizendo: “O que chocou aquela<br />
boa gente do tempo de Dom<br />
Diniz não foram os excessos da<br />
autoridade administrativa … Foi o<br />
trajo tirolês! Se me encontrassem<br />
aos abraços à senhora vestido de<br />
cónego da Sé, todos teriam achado<br />
muita graça!”<br />
Pois, a Sé. Eça, é sabido, deu-lhe<br />
grande relevo em o “O Crime do<br />
Padre Amaro” e foi muito claro<br />
quando afirmou que tinha “cantarias<br />
pesadas e jesuíticas”. Ou seja:<br />
é um edifício austero, a que não é<br />
alheio ter sido seu arquitecto<br />
Afonso Álvares, especialista em<br />
obras militares. Para lá chegarmos<br />
tomamos a rua Varão de Viamonte,<br />
ou melhor, a Rua Direita, como por<br />
todos é conhecida, apesar de já ter<br />
mudado de nome há mais de um<br />
século. Artéria comprida e delgada<br />
percorre toda a Baixa e embora<br />
tenha perdido a relevância e prestígio<br />
de outros tempos, a rua resiste e<br />
renova-se. A par de um comércio<br />
de feição mais tradicional, parado<br />
no tempo, outro lhe faz companhia:<br />
inovador, por vezes arrojado. Arrumadas<br />
nos rés-do-chãos das casas<br />
antigas, uma fiada de lojas transpiram<br />
novidade. São a nova alma da<br />
antiga Rua Direita. Vamos dar uma<br />
vista de olhos a algum desse comércio.<br />
O número 43 domicilia o Cardamomo,<br />
restaurante, o qual, como o<br />
nome sugere, nos remete para sabores<br />
da Ásia, o número 25 está ocupado<br />
pela Garagem, uma loja de<br />
roupa de vanguarda, se assim<br />
podemos dizer, e na extremidade<br />
norte fica o Grão de Café que comer-<br />
GUIA<br />
Pontes no rio Lis<br />
Página da esquerda: vista da Sé<br />
INFORMAÇÕES:<br />
Região de Turismo Leiria-Fátima,<br />
Jardim Luís de Camões,<br />
Tel.: 244 848 770<br />
www.rt-leiriafatima.pt<br />
DORMIR:<br />
● Hotel Eurosol Leiria,<br />
Rua Dom José Alves Correia da<br />
Silva, Tel: 244 849 849<br />
● Hotel Dom João III, Avenida<br />
Dom João III, Tel: 244 817 888<br />
COMER:<br />
● Tromba Rija, Rua Professor<br />
Portelas, 22, Marrazes – Leiria, Tel:<br />
244 852 277<br />
● Cardamomo, Rua Varão de<br />
Viamonte, 43, Tel: 244 832 033<br />
TERRA NOSSA<br />
cializa produtos variados, segundo<br />
o espírito do “comércio justo”.<br />
Vai terminar este roteiro no castelo.<br />
Para lá chegar temos de subir, subir<br />
sempre, até ao cimo do plinto de<br />
rocha onde assenta. Passa-se a Porta<br />
do Sol, de seguida a igreja de São<br />
Pedro, o único exemplar de arquitectura<br />
românica em Leiria, e ainda as<br />
obras da futura casa do Mimo, Museu<br />
da Imagem Em Movimento -<br />
instalado provisoriamente no Centro<br />
Cultural Mercado de Santana e onde<br />
está exposto um rico espólio nos<br />
domínios da fotografia e cinema -, e,<br />
mais uns passos, e chegamos. Parece<br />
certo que D. Afonso Henriques, no<br />
seu avanço para Sul, encontrou uma<br />
atalaia muçulmana que depois de<br />
conquistar entregou a Paio Guterres,<br />
primeiro alcaide de Leiria. Mas o que<br />
vemos hoje não tem nada a ver com<br />
essa austera fortaleza do século XII.<br />
Na última década do século XIX o<br />
castelo estava uma ruína. Até que um<br />
suíço, recém-chegado, meteu mãos à<br />
obra. Ernesto Korrodi, arquitecto,<br />
professor, arqueólogo amador, dedicou<br />
largos anos da sua vida ao castelo:<br />
estudou-o, desenhou-o, fotografou-o,<br />
idealizou-o e reconstruiu-o.<br />
O grande encanto deste castelo<br />
reside, acima de tudo, na sua loggia<br />
onde se aliam a “esbelteza gótica da<br />
ogiva, a força do suporte românico<br />
e o doadoiro árabe da alpendurada”.<br />
Aqui facilmente se evoca a<br />
figura de D. Diniz, as cantigas de<br />
amor e de amigo, o passado cortesão<br />
deste espaço. Aqui entrelaçam-se<br />
a harmonia e encanto da<br />
própria construção com a vista que<br />
este balcão debruçado sobre a cidade<br />
oferece. Como final de passeio é<br />
perfeito. ■<br />
José Luís Jorge [texto e fotos]<br />
<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 29
EFEMÉRIDE<br />
A Corte no Brasil<br />
Antecedentes históricos, consequências políticas<br />
Assinalamos, ao longo de <strong>2<strong>00</strong>8</strong>, os 2<strong>00</strong> anos da transferência<br />
da Corte de Lisboa para o Brasil, no contexto histórico e político<br />
da invasão de Portugal pelos exércitos de Napoleão.<br />
NÃO SE TRATOU, é hoje ponto<br />
assente na moderna historiografia,<br />
de uma mera e apressada fuga ao<br />
invasor, mas antes de uma opção<br />
táctica e política, de que resultou a<br />
salvaguarda da soberania e da legitimidade<br />
política e jurídica de Portugal,<br />
como era entendida na<br />
época, mas também, a definição da<br />
unidade do Estado brasileiro, a elevação<br />
da ex-colónia à dignidade de<br />
Reino Unido, e ainda a fundamentação<br />
e o desenvolvimento, económico<br />
cultural e a afirmação política,<br />
com uma diplomacia e uma<br />
estratégia interna, regional e internacional<br />
próprias.<br />
Ao longo de 11 artigos de diversos<br />
autores, vamos celebrar e recordar<br />
esta grande aventura, nas suas<br />
causas e consequências multidisciplinares.<br />
Mas há que ter bem presente<br />
a própria trajectória histórica<br />
do Brasil, antes da chegada do<br />
então Príncipe Regente D. João, da<br />
Rainha D. Maria II, da família real,<br />
do governo, e de milhares de nobres,<br />
padres, militares, funcionários<br />
superiores, que fizeram a travessia<br />
acidentada do Atlântico, e que<br />
trouxeram móveis, quadros, livros,<br />
30 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />
poucos países<br />
e poucas culturas<br />
poderão<br />
gabar-se de ter<br />
simultaneamente<br />
dado origem<br />
a uma História<br />
e a uma Literatura<br />
nacionais<br />
estes na origem da portentosa Biblioteca<br />
Nacional brasileira – mas<br />
que, sobretudo, trouxeram a capacidade<br />
de juntamente com as populações<br />
e autoridades locais, concretizar<br />
a ideia e a viabilidade de<br />
um grande país soberano. Nesse<br />
aspecto, aliás, certas correntes da<br />
moderna historiografia brasileira<br />
consideram 1815, data de criação do<br />
Reino Unidos de Portugal, Brasil e<br />
Algarves, como o momento histórico<br />
da independência do Brasil.<br />
NO INÍCIO, UMA CARTA<br />
Ora bem: poucos países e poucas<br />
culturas poderão gabar-se de ter<br />
simultaneamente dado origem a<br />
uma História e a uma Literatura<br />
nacionais. E isto porque a Carta de<br />
Pêro Vaz de Caminha, escrivão da<br />
Armada de Pedro Álvares Cabral,<br />
endereçada a D. Manuel I e datada<br />
de 1 de Maio de 15<strong>00</strong>, dando noticia<br />
do “achamento” do que é o Brasil,<br />
constitui, na objectividade rigorosa<br />
e minuciosa da narrativa, uma<br />
extraordinária obra literária, na beleza<br />
da prosa. E mais: um impressionante<br />
documento do espírito<br />
renascentista, na medida em que
abarca, nas suas descrições e considerações,<br />
a geografia, a antropologia,<br />
a fauna e a flora, a potencialidade<br />
económica, os usos e costumes,<br />
a moral e a religião, numa<br />
visão extremamente aberta no seu<br />
humanismo, compreensiva dos factos,<br />
dialéctica na comparação com<br />
as realidades europeias científica no<br />
rigor da descrição, sobretudo profética<br />
na certeza da potencialidade<br />
das novas terras descobertas: “a<br />
terra em si é de muito bons ares (...)<br />
águas são muitas infindas. E de tal<br />
maneira é graciosa, que, querendoa<br />
aproveitar, dar-se á nela tudo”... e<br />
agora, até o petróleo, coisa que Pero<br />
Vaz de Caminha não podia compreender<br />
nem adivinhar!<br />
O que mais impressiona, entretanto,<br />
é o espírito humanista com que<br />
se descrevem as populações: a dignidade<br />
que transparece nessa abordagem,<br />
a curiosidade e o respeito<br />
pela diferença e até o sentido de<br />
humor que não raro aflora: mostraram<br />
lhes um carneiro: não fizeram<br />
caso dele. Mostraram-lhe uma galinha:<br />
quas tiveram medo dela e não<br />
lhe queriam pôr a mão e depois a<br />
tomaram como espantados” (...)<br />
Não se tratou,<br />
é hoje ponto assente<br />
na moderna<br />
historiografia,<br />
de uma mera<br />
e apressada fuga<br />
ao invasor, mas antes<br />
de uma opção táctica<br />
e política,<br />
Acenava para terra e novamente as<br />
contas e para o colar do capitão,<br />
com que dariam ouro por aquilo.<br />
Isto tomavamos assim por o desejarmos”...<br />
o que não ocorreu, ou ocorreria,<br />
bem longe dali, em Minas<br />
Gerais, dois séculos passados!<br />
A CULTURA E O ESPÍRITO<br />
MISSIONÁRIO<br />
E são frequentes as descrições da<br />
abordagem cultural, tanto dos índios<br />
– “levantaram-se muitos deles<br />
e tangeram corno ou buzina e<br />
começaram a saltar e a dançar” –<br />
como dos portugueses: “Diogo Dias<br />
(...) que é homem gracioso e de prazer,<br />
e levou consigo um gaiteiro<br />
nosso com a sua gaita e meteu-se<br />
com eles a dançar tomando-os<br />
pelas mãos, e eles folgavam e riam e<br />
andavam com ele muito bem ao<br />
som da gaita (...) e além do rio<br />
andavam muitos deles dançando e<br />
folgando uns diante dos outros”<br />
A nudez de homens e (sobretudo)<br />
de mulheres, as pinturas ao<br />
longo do corpo “tinto de pintura<br />
vermelha”, a inocência e naturalidade<br />
com que se exibiam, impressiona<br />
este escrivão que não hesita<br />
em comunicar ao Rei, com pormenores<br />
e certa ironia decorrente<br />
da situação as descrições anatómicas<br />
e antropológicas do que viu.<br />
Mas o tom é respeitoso e antecede<br />
em mais de 2<strong>00</strong> anos o “bom selvagem”<br />
rousseauneano: “parecemme<br />
gente de tal inocência que se<br />
homem os entendesse e eles a nós,<br />
seriam logo cristãos porque eles<br />
não têm nem entendem em nenhuma<br />
crença, segundo parece”. Aliás,<br />
o sentido religioso é dominante: e<br />
para lá da descrição das missas,<br />
consagradas no belíssimo quadro<br />
de Pedro Alexandrino, fica o recado<br />
<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 31
EFEMÉRIDE<br />
final ao Rei: “o melhor fruto que<br />
(desta terra) se pode tirar me parece<br />
que será salvar esta gente. E esta<br />
deve ser a principal semente que<br />
Vossa Alteza nela deve lançar”.<br />
A DIALÉCTICA E O ESPÍRITO<br />
RENASCENTISTA<br />
Esta é, com efeito, a chave doutrinária<br />
da Carta, bem coerente com a linha<br />
programática de toda a doutrina da<br />
Expansão (“a fé e o império”). A<br />
descrição das missas e dos actos religiosos<br />
é extremamente relevante. E<br />
mais: “se alguém vier, não deixe logo<br />
de vir clérigo para os baptizar”.<br />
E o outro aspecto mais relevante,<br />
repetimos, será o espírito científico<br />
próprio do Renascimento, que induz<br />
o universalismo da curiosidade<br />
e dos conhecimentos, e a dialéctica<br />
da comparação. As “almadias<br />
(...) não são feitas como as que eu já<br />
vi: sómente são três traves atadas<br />
juntas; (...) um muito grande camarão<br />
muito grosso, que em nenhum<br />
tempo o vi tamanho; (...) as casas<br />
“tão compridas cada uma como<br />
esta nau capitania. Eram de madira<br />
e das ilhargas de tábuas e cobertas<br />
de palha, de razoada altura: e todas<br />
de um só espaço, sem nenhum re-<br />
32 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />
A descrição<br />
das missas e dos<br />
actos religiosos<br />
é extremamente<br />
relevante. E mais:<br />
“se alguém vier,<br />
não deixe logo de vir<br />
clérigo para<br />
os baptizar”<br />
partimento, tinham dentro muitos<br />
esteios e de esteio a esteio uma rede<br />
atada em cada esteio, altas em que<br />
dormiam. Debaixo, para se aquentarem,<br />
faziam seus fogos. E tinha<br />
cada casa duas portas pequenas<br />
uma em um cabo e outra no outro.<br />
Diziam que em cada casa se recolhiam<br />
trinta ou quarenta pessoas”.<br />
E o que comiam? “Daquela vianda<br />
que tinham, a saber muito<br />
inhame, e outras sementes que na<br />
terra há, que eles comem”. A dieta<br />
europeia não lhes agradaria “Deram-lhe<br />
ali de comer pão e pescado<br />
cozido, confeitos, farteis de mel e<br />
figos passados. Não quizeram comer<br />
daquilo quase nada, e alguma<br />
coisa se a provavam, lançavam-na<br />
logo fora. Trouxeram-lhes vinho<br />
numa taça; mal lhe puzeram a boca<br />
e não gostaram dele nada, nem o<br />
quizeram mais. Trouxeram-lhes<br />
água em uma albarrada, tomaram<br />
cada um o seu bocado e não beberam,<br />
somente lavaram as bocas e<br />
lançaram logo fora”...<br />
DA DESCRIÇÃO CRONOLÓGICA<br />
AO PEDIDO FINAL<br />
Esta Carta constitui um documento<br />
histórico, literário, científico, religioso,<br />
cultural e humanista que serve<br />
de” preparação” ao espírito que<br />
Camões sublimaria em “Os Lusíadas”,<br />
72 anos depois. A descrição é<br />
feita rigorosamente dia a dia, com o<br />
escrúpulo do escrivão da Armada,<br />
de 22 de Abril a 1 de Maio de 15<strong>00</strong>.<br />
É o início do Renascimento português<br />
em todo o seu esplendor.<br />
E para reforçar o espírito nacional,<br />
a Carta de Pêro Vaz de Caminha<br />
ao Rei D. Manuel sobre o<br />
achamento do Brasil termina com<br />
um pedido, ou uma “cunha”:<br />
“E pois que, Senhor, é certo que<br />
assim neste cargo que levo como em<br />
qualquer outra coisa que de Vosso<br />
serviço for, Vossa Alteza há-de ser<br />
de mim muito bem servida a Ela<br />
peço que por fazer singular mercê,<br />
mande vir da Ilha de São Tomé a<br />
Jorge de Osório, meu genro, o que<br />
d’Ela receberei em muita mercê.<br />
Beijo as mãos de Vossa Alteza”. O<br />
genro estava degredado! ■<br />
Duarte Ivo Cruz
COMUNIDADES PORTUGUESAS<br />
O PRIMEIRO clube de folcloristas<br />
das comunidades emigrantes foi<br />
criado informalmente em França,<br />
em 2<strong>00</strong>3, por um grupo de jovens<br />
“apaixonados por folclore” que<br />
adoptaram como lema a frase de<br />
Charles Chaplin que aponta a persistência<br />
como o caminho do êxito e<br />
assumiram como prioritária a<br />
reflexão sobre a qualidade da representação<br />
do folclore português nas<br />
comunidades.<br />
Oficializado um ano depois, o<br />
movimento alastrou ao Brasil, Venezuela,<br />
Argentina, Suíça, Bélgica,<br />
Luxemburgo, Canadá, Alemanha e<br />
Estados Unidos e deu origem a<br />
fóruns virtuais onde mais de 7<strong>00</strong><br />
elementos discutem “em francês e<br />
em espanhol” a melhor forma de<br />
assegurar o futuro do folclore português<br />
junto da emigração.<br />
Adérito Caldeira, presidente do<br />
Clube de Jovens Folcloristas das<br />
Comunidades Portuguesas de França,<br />
explica os números da adesão ao<br />
movimento folclorista com o título<br />
da canção de Zeca Afonso “Traz um<br />
amigo também”.<br />
34 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />
MOVIMENTO LANÇADO EM FRANÇA JÁ CHEGA<br />
A UMA DEZENA DE COMUNIDADES EMIGRANTES<br />
Clube dos folcloristas vivos<br />
São jovens, nasceram no estrangeiro e muitos nem sequer falam<br />
português, mas a causa do folclore juntou-os num movimento que<br />
teve o seu embrião há quatro anos nos bancos de um café parisiense.<br />
Hoje, está organizado em 10 clubes espalhados por todo mundo onde<br />
7<strong>00</strong> membros lutam diariamente para preservar fielmente<br />
o folclore português.<br />
“Uma família portuguesa entrou<br />
há bastante tempo num grupo folclórico<br />
português emigrante e os<br />
filhos, por amizade escolar, vão convidando<br />
colegas de turma... que<br />
acabam por gostar e integrar o agrupamento”,<br />
diz o responsável, lembrando<br />
que “a identificação com a<br />
nação lusa leva muitos jovens, além<br />
do futebol, a identificarem-se com a<br />
promoção de tradições portuguesas<br />
em países de acolhimento”.<br />
CONSTRUIR A MEMÓRIA<br />
DE PORTUGAL<br />
Ainda que continuem a existir muitos<br />
jovens luso-descendentes que<br />
vivem as actividades da comunidade<br />
através dos pais, a vergonha<br />
de outras gerações em relação às<br />
coisas portuguesas deu hoje lugar<br />
ao orgulho nas origens, acredita<br />
Adérito Caldeira.<br />
“Temos que compreender e defender<br />
o nosso património, a nossa<br />
identidade, até porque o desenvolvimento<br />
só coabita com uma população<br />
culturalmente evoluída, o que<br />
não pode acontecer no desconheci-<br />
mento das raízes que nos definem,<br />
no ignorar das memórias do povo<br />
que somos”, defende.<br />
Para Adérito Caldeira, é inquestionável<br />
que “um povo sem memória<br />
não existe”, por isso “há que preservar,<br />
investigando, reconstituindo<br />
essa memória patrimonial e divulgar<br />
as nossas tradições, e tornálas<br />
prioritárias”.<br />
Os mandamentos do movimento,<br />
que se insere nas políticas da<br />
UNESCO de salvaguarda do património<br />
imaterial, assumem assim<br />
como principal compromisso a<br />
divulgação fiel da etnografia e do<br />
folclore português, promovendo a<br />
reflexão sobre a qualidade da representação<br />
do folclore junto da emigração<br />
e ajudando os grupos folclóricos<br />
na defesa da correcta etnografia<br />
folclórica portuguesa.<br />
A criação de um fundo documental<br />
e audiovisual sobre o folclore<br />
regional de Portugal é outro dos<br />
objectivos do movimento, que<br />
desde a sua fundação tem promovido<br />
acções de formação para jovens<br />
responsáveis e directores técnicos
Grupo de jovens fundadores do Clube de Folcloristas das Comunidades Portuguesas<br />
de grupos folclóricos portugueses<br />
no estrangeiro.<br />
“Valorizar este património nacional<br />
para que seja reconhecido mundialmente,<br />
divulgar esta riqueza<br />
cultural e combater o uso pejorativo<br />
do ou da palavra “folclore” pelos<br />
políticos que acabam por insultar<br />
cerca de 2<strong>00</strong> mil dos seus eleitores<br />
que integram” os grupos, são para<br />
Adérito Caldeira os grandes desafios<br />
futuros do movimento.<br />
Ultrapassada a desconfiança inicial<br />
dos “veteranos” ligados aos ranchos<br />
folclóricos em relação a uma<br />
“juventude mais estudiosa” nestas<br />
matérias, o clube sente já hoje dificuldades<br />
em responder rapidamente<br />
aos pedidos para a realização<br />
de workshops e conferências sobre<br />
folclore, bem como a pedidos de<br />
informação de carácter mais técnico.<br />
Adérito Caldeira denuncia um<br />
certo “autismo” dos ranchos folclóricos<br />
em Portugal, que, segundo<br />
afirma, teimam em guardar os seus<br />
conhecimentos em segredo.<br />
MAIS DE 7<strong>00</strong> RANCHOS<br />
NO ESTRANGEIRO<br />
O movimento juntou em Agosto, no<br />
Algarve, mais de 1<strong>00</strong> pessoas no<br />
primeiro congresso de jovens folcloristas<br />
das comunidades portuguesas.<br />
Do encontro emergiu a<br />
necessidade de os ranchos folclóricos<br />
lutarem pela adequada representação<br />
da indumentária da região<br />
que representam e revelou-se imperioso<br />
dedicar crescente atenção a<br />
outras vertentes da etnografia e do<br />
folclore para além das danças e dos<br />
trajes, designadamente a oralidade.<br />
Frequentemente na génese do<br />
movimento associativo português<br />
no estrangeiro, os ranchos folclóri-<br />
cos das comunidades representam<br />
além-fronteiras quase todas as regiões<br />
de Portugal.<br />
A maioria dos grupos representam<br />
a região do Minho, na Europa<br />
em segundo lugar surgem os ribatejanos,<br />
enquanto na América Latina<br />
a Madeira é a região mais representada.<br />
“Se antigamente os ranchos<br />
de portugueses emigrantes representavam<br />
“Portugal por inteiro”,<br />
hoje assistimos a uma consciencialização<br />
de seus dirigentes associativos<br />
e técnicos em escolher uma<br />
zona etnográfica única de representação”,<br />
adianta Adérito Caldeira.<br />
Nas comunidades existem cerca<br />
de 7<strong>00</strong> agrupamentos folclóricos,<br />
450 em França e entre 30 a 50 em<br />
cada país com forte emigração portuguesa,<br />
segundo estimativas do<br />
Clube de Jovens Folcloristas. ■<br />
Cristina Fernandes Ferreira<br />
<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 35
TERMAS EM PORTUGAL [9]<br />
Caldas de Monchique<br />
outras águas algarvias<br />
A região de Monchique é exemplo de que o Algarve tem algo mais<br />
para além das praias douradas. De outras águas quentes nos fala a<br />
«vila termal» das Caldas de Monchique, um dos locais mais<br />
encantadores, com vistas deslumbrantes, um clima ameno e diversas<br />
opções de estada, cultura e gastronomia.<br />
ESTE CONJUNTO insere-se numa<br />
área verde superior a 30 hectares,<br />
na qual existem edifícios afectos às<br />
actividades termal, hoteleira e de<br />
engarrafamento, e outros que compõem<br />
a estância, como residências,<br />
capela e estabelecimentos comerciais.<br />
As Caldas de Monchique modernizaram-se<br />
recentemente, mas<br />
mantêm algumas memórias de outros<br />
tempos, nas pedras, nas casas e<br />
nos seus utentes.<br />
Durante séculos, perdurou o designado<br />
«corredor da saudade», sensivelmente<br />
no local onde se encontram<br />
as novas piscinas exteriores,<br />
construído por etapas ao longo de<br />
um tempo em que estas termas<br />
foram administradas, designadamente,<br />
pelos bispos do Algarve. Foi,<br />
no entanto, na viragem para o século<br />
XX que se construiu uma parte<br />
importante dos edifícios de alojamento<br />
e o casino. Depois, as termas<br />
foram sucessivamente geridas por<br />
médicos e comissões administrativas.<br />
Em meados do século, muitos<br />
eram os aquistas que chegavam de<br />
fora, sobretudo alentejanos em férias<br />
periódicas, como nos anos 50 as<br />
meninas Maurícias, de Montes<br />
36 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />
Velhos, que nos falam hoje, com<br />
saudade, dos bálsamos da serra, da<br />
inspiradora «Fonte dos Amores» ou<br />
dos sons das águas da ribeira do<br />
Lajeado e do chafariz do largo.<br />
Elementos que perduram, ainda.<br />
Mas há outros de que lhes restam<br />
apenas a memória, como os bailes do<br />
salão do casino, ou o sr. Ventura do<br />
balneário e o sr. Guilherme da mercearia,<br />
ambos figuras conhecidas<br />
destas termas de outros tempos, que<br />
até acabaram compadres entre si.<br />
O tempo correu. As termas<br />
acabaram por ser geridas pela<br />
ENATUR, com algumas dificuldades,<br />
mas, em 1994, por concurso<br />
público, passaram a ser exploradas<br />
por uma Sociedade detida maioritariamente<br />
pela Fundação Oriente.<br />
Foi realizado um projecto global de<br />
modernização, que incluiu as<br />
remodelações do balneário, do edifício<br />
do hospital (e sua adaptação a<br />
hotel termal), de todas as unidades<br />
hoteleiras e de restauração e das<br />
infra-estruturas urbanas.<br />
As águas destas termas são bicarbonatadas,<br />
sódicas e ricas em flúor,<br />
indicadas para afecções das vias
Vista geral das Termas das Caldas de Monchique. Em baixo, imagens do hotel termal<br />
respiratórias e afecções musculoesqueléticas.<br />
Há quem nos refira<br />
que, por estas características, as<br />
águas ao serem também utilizadas<br />
em tratamentos de bem-estar e<br />
beleza conferem à pele um estado<br />
de hidratação total. E porque as<br />
águas se passeiam depois de<br />
tomadas, pode-se andar pela serra,<br />
em caminhadas, na equitação, na<br />
observação de plantas e pássaros e<br />
nas técnicas de relaxação. Um dos<br />
trilhos mais frequentado demora<br />
cerca de 45 minutos a pé, partindo<br />
da esplanada, passando pelas<br />
fontes, capela e por um antigo<br />
moinho de água na zona mais profunda<br />
do vale. Para os mais novos,<br />
o Kids Club tem jogos, pinturas,<br />
vídeos, bem como serviço de babysitter,<br />
quando solicitado.<br />
Em Monchique, costuma-se dizer<br />
que «ao que a terra dá e que do porco<br />
se aproveita junta-se o engenho das<br />
gentes da serra». Esta é a fórmula<br />
que serve de base aos pratos tradicionais,<br />
exemplos de um hábito<br />
muito remoto que não se perdeu,<br />
como por exemplo os que levam<br />
castanhas piladas, reminiscências<br />
de uma culinária que desconhecia a<br />
batata, que foi novidade quinhentista<br />
vinda da América.<br />
Em diversos restaurantes, muita é a<br />
variedade gastronómica: a assadura,<br />
o feijão ou grão com arroz, o feijão<br />
com couve, o grão com massa, as bisnagas<br />
de porco, as papas de caldo e a<br />
couve à Monchique. Há-os em todo o<br />
concelho, por entre os bosques de castanheiros<br />
e campos de flores silvestres,<br />
com vistas sobre vales selvagens,<br />
precipícios e prados, ou na<br />
própria vila. Esta é pacata e acolhedora,<br />
onde se descobre a simpatia dos<br />
seus habitantes ou o surpreendente<br />
portal manuelino da Igreja Matriz.<br />
Como recordação para levar desta<br />
visita, sugerimos os produtos tradicionais<br />
da região, como os cestos, os<br />
artefactos de madeira e cortiça, as<br />
camisolas de lã, o mel, o medronho e<br />
os produtos biológicos. E, também, os<br />
notáveis casacos nascidos da imaginação<br />
e do tear da Zé Ventura, artista<br />
da terra, premiada a nível nacional<br />
pelos seus trabalhos de pintura e<br />
tecelagem, as suas «cores do tempo»<br />
que já há muito percorrem mundo. ■<br />
Jorge Mangorrinha<br />
Helena Gonçalves Pinto<br />
<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 37
OFÍCIOS<br />
Ulisses<br />
A última luvaria do Chiado<br />
O interior da Luvaria Ulisses, um cubículo onde não cabe meia<br />
dúzia de pessoas espremidas umas contra as outras, é uma imagem<br />
preciosa da iconografia da Lisboa do princípio do século XX.<br />
OS ESPELHOS, os lustres, os<br />
dourados, o balcão de madeira, as<br />
gavetas minúsculas onde são<br />
guardadas as luvas continuam a ser<br />
os mesmos há praticamente um<br />
século. Está tudo na mesma desde<br />
1925, quando Joaquim Rodrigues<br />
Simões, então vereador da Câmara<br />
de Lisboa, fundou a Luvaria Ulisses,<br />
a única sobrevivente das muitas<br />
luvarias que proliferaram na Baixa<br />
lisboeta no início do século passado.<br />
A originalidade desta loja minúscula,<br />
incrustada na antiga muralha<br />
do Carmo, é bem visível no rosto<br />
dos turistas estrangeiros. A meio de<br />
38 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />
uma manhã fria de Dezembro,<br />
ainda a Rua do Carmo estava quase<br />
deserta, a Ulisses, mal tinha aberto<br />
as portas, já era palco de um clássico,<br />
requintado, mas invulgar, ritual<br />
de prova de um par de luvas: após<br />
ter escolhido um modelo preto<br />
pincelado de vermelho nos dedos,<br />
uma turista japonesa olhava encantada,<br />
como se fosse a coisa mais surpreendente<br />
do mundo, para a<br />
forma como a luva era aberta com<br />
um instrumento especial em<br />
madeira e tratada com pó de talco.<br />
Concluída esta operação, a cliente<br />
foi convidada a pousar o cotovelo<br />
sobre uma pequena almofada<br />
depositada sobre o balcão para<br />
experimentar a luva. E todos estes<br />
procedimentos são efectuados as<br />
vezes necessárias até a luva assentar<br />
como uma segunda pele.<br />
Carlos Carvalho, um dos sócios<br />
da Luvaria Ulisses, não consegue<br />
deixar de esboçar um sorriso de<br />
contentamento perante a satisfação<br />
da própria cliente japonesa: “Os<br />
estrangeiros ficam surpreendidos<br />
com este ritual de preparação da<br />
luva, porque isto já não se usa em<br />
quase parte nenhuma do mundo”.<br />
A surpresa dos turistas estrangeiros,
os principais clientes nos meses de<br />
Verão, não fica por aqui: “eles ficam<br />
surpreendidos por encontrarem<br />
uma luvaria em Lisboa, numa altura<br />
em que já há muitas poucas no<br />
mundo, e ficam encantados com a<br />
elegância das nossas luvas”.<br />
Com mais de quatro décadas de<br />
existência, a Luvaria Ulisses, instalada<br />
num espaço exíguo pensado<br />
para acolher o escritório do fundador<br />
da casa Joaquim Rodrigues<br />
Simões, é a única sobrevivente das<br />
muitas luvarias que floresceram na<br />
Baixa alfacinha, até à década de 70<br />
do século XX, por uma única razão:<br />
“A qualidade é que garante a sobrevivência”,<br />
afirma Carlos Carvalho.<br />
E precisa ainda mais este argumento:<br />
“Se nós não tivéssemos qualidade,<br />
os estrangeiros não compravam<br />
as nossas luvas”. Por isso,<br />
remata, “a nossa loja tem de ter fa-<br />
brico próprio para assegurar a qualidade<br />
das luvas”.<br />
Todas as luvas expostas na Luvaria<br />
Ulisses são produzidas numa<br />
fábrica própria desta loja, instalada<br />
também na baixa alfacinha. E Carlos<br />
Carvalho é categórico sobre o método<br />
de produção: “O processo de<br />
fabrico é artesanal e precisamente<br />
igual ao que tínhamos em 1925”. E<br />
dá um exemplo dos cuidados especiais<br />
com a produção: “existem sete<br />
tamanhos para senhora e vão de 6 e<br />
1/4 até 7 e 3/4. São diferenças mínimas<br />
que são importantes numa luva<br />
de senhora”.<br />
A maioria das peles utilizadas são<br />
importadas, mas existe também<br />
matéria-prima nacional. As luvas<br />
em peccari, uma espécie de javali da<br />
América do Sul, são o topo máximo<br />
da qualidade dos artigos da Ulisses.<br />
Mas há também luvas em pelica,<br />
renda, cetim e camurça. E a paleta<br />
de cores é diversificada: preto, castanho,<br />
verde alface, azul petróleo,<br />
laranja, amarelo, brancas, roxas.<br />
Todas esta diversidade de cores é<br />
trabalhada numa fábrica própria<br />
com sete funcionários, dos quais<br />
cinco são jovens. Por isso, Carlos<br />
Carvalho está optimista sobre o<br />
futuro: “A continuidade da produção<br />
está assegurada e estamos a<br />
pensar meter mais pessoas”. E tudo<br />
pela simples razão de que o universo<br />
de clientes não pára de aumentar:<br />
“As senhoras continuam a ser os<br />
maiores clientes, mas os homens e os<br />
jovens também já procuram luvas”.<br />
A localização central, a originalidade<br />
e qualidade das luvas, e a raridade<br />
que esta luvaria já representa<br />
no mundo transformaram a Ulisses<br />
num ícone da Baixa lisboeta. E vários<br />
guias internacionais citam-na<br />
mesmo como um local a não perder<br />
durante uma visita a Lisboa. ■<br />
António Sérgio Azenha [texto e fotos]<br />
<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 39
Ginásio dos afectos<br />
Entram de sorriso nos lábios, procuram um cantinho para guardar o<br />
calçado e sentam-se no chão. Parece que vai iniciar mais uma sessão de<br />
Música e Massagem para Bebés, mas é apenas um encontro entre pais<br />
e filhos que já passaram, em alturas diferentes, pelo programa de<br />
Preparação para o Nascimento e a Parentalidade, no ESCA. Um espaço<br />
onde os ingredientes principais são o afecto e a criatividade.<br />
40 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong>
A MADALENA e a Beatriz chegam<br />
quase ao mesmo tempo. Têm ambas<br />
dois anos e já partilharam ali<br />
algumas emoções. A aguardá-las<br />
estão a Ana Rita, a Joana, a Madalena,<br />
o Tiago e o Vasco - ainda na<br />
barriga da mãe. A entrada é triunfal.<br />
É que embora não conheçam os<br />
outros bebés, de idades diferentes,<br />
aquele espaço é-lhes familiar e não<br />
escondem a alegria de voltar a pisálo.<br />
Afinal, foram as primeiras deste<br />
projecto. Pelo menos no ESCA -<br />
Espaço para a Saúde da Criança e<br />
do Adolescente, que em 2<strong>00</strong>7 celebrou<br />
o 10<strong>º</strong> aniversário.<br />
Tudo começa por volta da 22ª<br />
semana de gestação. Para promover<br />
a comunicação com o bebé, sem<br />
esquecer a preparação física, aspectos<br />
ligados à amamentação e primeiros<br />
cuidados com o recémnascido.<br />
Após o nascimento, há que<br />
fortalecer laços familiares e ajudar o<br />
‘pequeno’ com sessões de música e<br />
massagem.<br />
A ideia é da psicóloga e musicoterapeuta<br />
Eduarda Carvalho, que<br />
conta com a colaboração da enfermeira<br />
Laura Massa. Como diz,<br />
trata-se de um «espaço de promoção<br />
da criatividade, encontro e<br />
de dúvidas, onde os pais são aceites<br />
e escutados, quer nas lágrimas,<br />
quer nos risos». No fundo, «onde se<br />
pretende que surjam esses afectos<br />
de uma forma verdadeira e que,<br />
obviamente agasalhados pela música,<br />
pelas artes e pelo movimento, se<br />
tornam mais acolhedores».<br />
«Fala-se muito em ginásios, eu<br />
digo ginásio dos afectos, porque se<br />
fala de preparação física, mas a<br />
parte emocional continua a ser um<br />
grande tabu», adianta, salientando<br />
que «a música e as artes são veículos<br />
importantes para que a pessoa<br />
se deixe fluir, no sentido de facilitar<br />
FAMÍLIA<br />
a expressão, que pode não ser tão<br />
positiva, mas que quando é escoada<br />
é libertada e aceite.»<br />
MUSICAR AS EMOÇÕES<br />
Já com a Leonor em cena, os acordes<br />
de Eduarda dão o mote. A<br />
canção parece ser familiar de todos.<br />
Não por ser novidade, mas por<br />
fazer parte da banda sonora das<br />
sessões de massagens. E ninguém<br />
hesita em recordar, pequenos e<br />
graúdos, «o porquinho que foi à<br />
horta a comer uma bolota», entre<br />
outros clássicos. Lembram-se também<br />
as criações dos vários casais,<br />
pois uma das vertentes do projecto<br />
passa pela criação de uma música<br />
para o bebé, ainda durante a<br />
gravidez.<br />
«Os pais nem sempre sabem o<br />
que dizer para um bebé que ainda<br />
lhes é desconhecido», refere a também<br />
vice-presidente da Associação<br />
Portuguesa de Musicoterapia. A<br />
ideia «não é propriamente retratar<br />
o bebé, mas musicá-lo, imaginá-lo<br />
através da música». E se «há canções<br />
que suportam aspectos do passado<br />
da vida dos pais, outras focam-se<br />
na relação do casal, ou<br />
ainda nas expectativas». «É um berço<br />
que se cria.»<br />
Hoje há uma colectânea riquíssima,<br />
o que levou Eduarda a pensar<br />
em dois outros projectos: um artigo<br />
sobre as letras «e as interpretações<br />
psicológicas que se podem eventualmente<br />
tirar» e a possível gravação<br />
de um CD.<br />
«É tudo uma questão de pôr o<br />
projecto a andar, eventualmente<br />
com algum patrocínio, embora não<br />
queremos que se torne um projecto<br />
comercial.» Se a oportunidade surgir,<br />
haverá «uma harmonização<br />
mais musical, por parte de algum<br />
músico, mas sempre de cariz fami-<br />
<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 41
FAMILIA<br />
liar, pois fazemos isto de uma forma<br />
muito afectiva», adianta.<br />
CONTINUIDADE E INTEGRAÇÃO<br />
As marcas da experiência são visíveis.<br />
Segundo a maioria dos pais,<br />
são crianças muito sociáveis, atentas<br />
e musicais. «Porque foram escutadas<br />
e também querem escutar»,<br />
acrescenta Eduarda Carvalho.<br />
Quase a completar um ano, Joana<br />
«já faz muitas vocalizações», conta a<br />
mãe, Ana Marina. Se «nos primeiros<br />
meses ouvíamos muito o CD das<br />
sessões, depois passámos a ouvir<br />
outras músicas». Contudo, adianta<br />
o pai, Luís Nabais, «quando ela começar<br />
a entender vai procurar a<br />
música que criámos».<br />
Para o casal, toda esta partilha é<br />
uma «experiência muito individual<br />
e difícil de transmitir». Por outro<br />
lado, «não tem um impacto espectacular,<br />
é preciso estar atento», tal<br />
como uma psicoterapia. Algo «a<br />
nível interno», um processo «de<br />
continuidade e de integração». Por<br />
isso mesmo, alerta Luís, não deve<br />
ser conduzido por leigos. «Se vamos<br />
42 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />
mexer nas emoções e nas vivências<br />
das pessoas, é necessário um técnico<br />
que esteja preparado para tal.»<br />
Para os pais de Joana, além dos<br />
cuidados físicos que exige, a gravidez<br />
é um processo emocional. E<br />
as duas partes complementam-se. A<br />
prová-lo está Leonor, cujos pais<br />
foram orientados para o programa<br />
de Música e Massagem para Bebé<br />
pelo próprio pediatra. O motivo era<br />
um choro incessante e muitas cólicas.<br />
Os efeitos foram visíveis: «ajudou<br />
a acalmar e a integrar a Leonor»<br />
e «reduziu imenso a minha<br />
ansiedade como mãe».<br />
Com 21 meses, a Leonor já faz<br />
massagens a si própria e até aprendeu<br />
a fazer à mãe. «Claro que de<br />
uma forma diferente», diz Catarina,<br />
salientando ainda a magia da música<br />
lá em casa. É que o pai é muito<br />
musical e a pequena fica sempre em<br />
alerta quando Rui pega na guitarra.<br />
PAIS GRÁVIDOS<br />
Outra característica é a presença do<br />
pai. A gravidez é vista não como<br />
algo da mulher, mas do casal, e é<br />
frequente ouvir-se dizer «quando<br />
estávamos grávidos».<br />
«Os pais não são bem vindos, são<br />
tão vindos quanto a mãe», refere<br />
Eduarda Carvalho. «Não promovemos<br />
cursos para grávidas, podendo<br />
vir ou não com o seu acompanhante».<br />
Pelo contrário, «é um projecto<br />
para casais grávidos. O pai<br />
também engravida, ainda que de<br />
forma diferente. Há vínculos do pai<br />
para o filho que importa trabalhar,<br />
favorecer e envolver.»<br />
Por outro lado, não é uma preparação<br />
para o parto, mas para «o<br />
nascimento de uma vida que vai continuar»,<br />
diz, destacando ainda os en-
contros pós-curso. «Há casais que continuam<br />
a comunicar comigo e com<br />
outros pais.» Algo «que pode promover<br />
uma socialização precoce nas<br />
crianças, que ficam ligadas.» Por isso,<br />
decidiu reunir pais e filhos que por ali<br />
passaram em períodos diferentes.<br />
E num encontro onde a música é a<br />
grande forma de comunicação, não<br />
podia faltar a improvisação. Pais e<br />
bebés escolhem um instrumento e<br />
ao som do xilofone, das pandeiretas<br />
ou do tambor, expressam a sua<br />
emoção. Até a pequena Ana Rita,<br />
que ainda não tem três meses, mas<br />
já está habituada a estes ambientes.<br />
É a mais nova do grupo e termi-<br />
nou as sessões de massagens há<br />
duas semanas. No entanto, tudo<br />
começou uns meses antes, durante<br />
a Preparação para o Nascimento,<br />
que ajudou a reduzir ansiedades e<br />
aproximou o pai à gravidez. Já o<br />
pós-parto foi uma divertida aventura,<br />
que os uniu enquanto família.<br />
Agora, Ana Rita ainda não consegue<br />
pegar no instrumento que os<br />
pais escolheram por si, mas já se<br />
deixa embalar pelo som. E acaba<br />
por adormecer. Afinal, a música é<br />
também um bálsamo, que ajuda a<br />
acalmar. Pelo menos até ao próximo<br />
desafio. ■<br />
Cláudia Elias (texto) José Goulão (fotos)<br />
<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 43
VIAGENS<br />
Medina Azahara<br />
A Cidade dos Califas<br />
A encosta meridional da Sierra Morena, uma longa mancha de terra<br />
castanha bafejada com intensidade pelos ventos do norte<br />
e rica em nascentes, foi sempre um sítio ideal<br />
para construir residências de Verão.
OS TEXTOS antigos falam de villas<br />
romanas e árabes de arquitectura<br />
caprichosa, floridos jardins e formosas<br />
fontes, de que hoje não<br />
restam praticamente vestígios e se<br />
conhece mal a história. No tempo<br />
do califado de Córdova, a cidade<br />
mais sumptuosa do Al-Andaluz<br />
ficava ali mesmo, na extremidade<br />
ocidental da serra. Chamava-se<br />
Medina Azahara.<br />
Os cronistas árabes descrevemna<br />
como uma cidade grande e luxuosa,<br />
onde predominavam os mais<br />
belos mármores, madeiras e pedras<br />
preciosas, os mais diversos objectos<br />
em ouro, prata, marfim, cristais, e<br />
as mais variadas plantas exóticas.<br />
Os embaixadores estrangeiros<br />
deixaram relatos fantásticos sobre<br />
as paradas militares e o aparato dos<br />
salões. Mesmo aqueles que nunca a<br />
conheceram não têm pejo nenhum<br />
em reconhecer-lhe uma beleza<br />
incomparável: tinha “todos os elementos<br />
de ornamentação que iden-<br />
tificam o Oriente e que definem o<br />
génio grego”, dizia em meados do<br />
século XIX Pedro de Madrazo, o<br />
historiador espanhol que localizou<br />
as suas ruínas.<br />
A fundação da cidade está envolvida<br />
em lendas que se confundem com<br />
a própria história. A mais conhecida<br />
diz que Abderramão III mandou<br />
construir Medina Azahara em homenagem<br />
à sua esposa favorita, Zahra,<br />
que o povo acreditava estar representada<br />
na vénus romana de mármore<br />
que decorava a entrada da<br />
porta principal, a Bal Al-Cubba.<br />
Zahra deixara em testamento que a<br />
sua fortuna devia servir para resgatar<br />
mouros cativos em terras cristãs.<br />
Como os emissários do califa não<br />
encontraram um único mouro cativo<br />
nos reinos cristãos de Espanha,<br />
Abderramão III utilizou essa fortuna<br />
para edificar uma cidade em nome<br />
da sua amada. Assim terá nascido<br />
Medina Azahara, que em árabe significa<br />
a “cidade da flor”.<br />
A realidade histórica, porém, é<br />
outra. No apogeu do reino de<br />
Córdova, depois de pacificados os<br />
territórios rebeldes e definida a<br />
fronteira com os cristãos, Abderramão<br />
III adoptou, a 16 de <strong>Janeiro</strong><br />
de 929, o título de califa do Al-<br />
Andaluz, consumando a independência<br />
dos califas abássidas de<br />
Bagdade. Com um milhão de habitantes,<br />
Córdova era uma metrópole<br />
activa, movimentada e florescente e<br />
o Alcazar era pequeno para as festas<br />
da corte. Por isso, o novo califa<br />
decidiu construir uma sede digna<br />
do seu império.<br />
As obras começaram a 19 de<br />
Novembro do ano 936 de Cristo,<br />
325 da Hégira, aos pés do monte<br />
Novia, na ponta da Sierra Morena,<br />
oito quilómetros a oeste da capital.<br />
Dez mil operários trabalharam ali<br />
durante 25 anos, até à morte de<br />
Abderramão III, utilizando os mais<br />
nobres materiais de construção.<br />
Das 4.<strong>00</strong>0 colunas de Medina<br />
<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 45
VIAGENS<br />
Azahara, 1.3<strong>00</strong> vieram de Cartago,<br />
Tunes, Esfahan, Tarragona. A maioria<br />
delas veio de pedreiras nas serras<br />
Morena e da Cabra, cujos mármores<br />
azul e rosa eram muito apreciados<br />
pelos arquitectos árabes. A<br />
pedra da região foi usada também<br />
no revestimento das paredes: 1.5<strong>00</strong><br />
mulas e 4<strong>00</strong> camelos transportavam<br />
diariamente para a obra 6.<strong>00</strong>0<br />
pedras de calcário e 4<strong>00</strong> quilos de<br />
gesso e cal. Os trabalhos eram executados<br />
por pedreiros-livres e<br />
escravos cristãos e africanos capturados<br />
nas expedições militares.<br />
Medina Azahara estava arrumada<br />
em três grandes terraços aplanados<br />
na encosta e diferenciados de<br />
acordo com o seu uso urbano. Uma<br />
dupla muralha, separada por um<br />
canal de cinco metros, bordejava<br />
todo o perímetro, excepto o lado<br />
norte, onde o monte Novia funcionava<br />
como barreira natural.<br />
Entre membros da família real,<br />
ministros, generais e outros personagens<br />
ilustres, soldados, escribas e<br />
tradutores, criados e escravos,<br />
residiam ali 20.<strong>00</strong>0 pessoas.<br />
O terraço superior era ocupado<br />
pelo Alcazar Real, que albergava as<br />
residências do califa e dos dignatários<br />
mais importantes, dos<br />
órgãos administrativos e de governo,<br />
e as dependências militares. Jardins e<br />
hortas ocupavam o vasto terraço<br />
intermédio, constituindo uma zona<br />
de respeito entre o Alcazar e a cidade<br />
propriamente dita, que ocupava o<br />
terreno mais baixo. Era aqui que<br />
estavam a mesquita, os luxuosos<br />
salões de recepção, as vivendas do<br />
pessoal de serviço e o resto dos<br />
departamentos da administração.<br />
A riqueza gasta na edificação<br />
desta cidade é hoje incalculável. O<br />
Salão de Abderramão III, onde eram<br />
proclamados e elevados os califas ao<br />
trono, tinha as paredes cobertas de<br />
46 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />
pétalas e flores esculpidas em<br />
pedra, as portas, oito em cada lado,<br />
eram formadas por arcos de marfim<br />
e ébano apoiados em colunas de<br />
jaspe e cristais-de-rocha, com<br />
grande profusão de pérolas e rubis<br />
incrustados. A meio do salão uma<br />
fonte despejava um fio de mercúrio<br />
numa concha de pórfiro. Gomez<br />
Moreno, especialista espanhol em<br />
arqueologia árabe, denominou-o de<br />
“Salão Rico” por excelência.<br />
O Salão Oriental, onde o filho de<br />
Abderramão III recebeu os embaixadores<br />
estrangeiros durante os<br />
seus catorze anos de reinado, tinha<br />
uma biblioteca com mais de 4<strong>00</strong>.<strong>00</strong>0<br />
manuscritos e uma fonte ornamentada<br />
com doze figuras de ouro e<br />
pedras preciosas incrustadas. Como
tudo o que é formoso, Medina<br />
Azahara teve uma existência<br />
efémera. Em 1010, apenas 74 anos<br />
após o início da sua construção, é<br />
arrasada pela comunidade berbere<br />
de Córdova, que se revolta contra o<br />
califado e inicia uma guerra civil<br />
que leva à sua extinção em 1031.<br />
A partir daqui seguiram-se nove<br />
séculos de pilhagens. Os almorávidas<br />
e os almóadas arrancaram tudo o que<br />
era possível para utilizar nas suas<br />
construções em Sevilha e Marraquexe.<br />
O Alcazar de Sevilha, por<br />
exemplo, contém um grande número<br />
de capitéis da cidade destruída, com<br />
as datas e os louvores dos califas de<br />
Córdova, e a sua célebre giralda tem<br />
121 capitéis provenientes das ruínas<br />
de Medina Azahara.<br />
Descoberta<br />
mesquita<br />
do século X<br />
Oito meses apenas após o<br />
recomeço das escavações<br />
arqueológicas em Medina<br />
Azahara, em Abril deste ano,<br />
os arqueólogos anunciaram,<br />
em meados de Novembro<br />
passado, uma descoberta<br />
surpreendente: as escavações<br />
numa zona nunca antes<br />
explorada, junto à muralha da<br />
antiga cidade, permitiram<br />
localizar as ruínas de uma<br />
mesquita do século X.<br />
Com uma área de 25 metros de<br />
comprimento e 18 metros de<br />
largura, a mesquita conserva o<br />
minarete, a torres de onde<br />
eram chamados os fiéis para a<br />
oração, na zona sul e não na<br />
zona norte, como acontece com<br />
as mesquitas encontradas em<br />
Córdoba.<br />
Construído com orientação<br />
para Meca, o edifício de barro<br />
contava com três naves e um<br />
pátio interior. A Junta da<br />
Andaluzia, responsável pela<br />
gestão do património de<br />
Medina Azahara, pretende<br />
incluir no futuro esta mesquita<br />
no percurso acessível aos<br />
turistas.<br />
Quando Fernando III conquistou<br />
Córdova, em 29 de Junho de 1236,<br />
não restava mais do que um monte<br />
de ruínas e a recordação de uma<br />
cidade grandiosa. Os saques continuaram<br />
até que Medina Azahara<br />
mergulhou no limbo do esquecimento.<br />
Muitos desses objectos pilhados,<br />
como cofres, materiais de<br />
cerâmica e adornos pessoais, en-<br />
<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 47
VIAGENS<br />
contram-se hoje dispersos por<br />
locais tão prestigiados como o<br />
Museu do Louvre, em Paris, e o<br />
Museu Nacional do Bargello, em<br />
Florença.<br />
Com o passar dos séculos as ruínas<br />
foram sendo soterradas e, no<br />
início do século XIX, só já eram<br />
visíveis os escombros mais altos. O<br />
renascimento do interesse pela cultura<br />
árabe, que a reconquista cristã<br />
adormecera durante quase 4<strong>00</strong><br />
anos, reavivou, entretanto, a memória<br />
sobre Medina Azahara. As<br />
descrições apaixonadas dos cronistas<br />
árabes fascinaram os eruditos<br />
da corrente ocidental-romântica,<br />
que iniciaram uma busca desenfreada<br />
de pistas para a sua localização.<br />
Em 1840, o historiador Pedro<br />
de Madrazo identifica, a partir de<br />
uma compilação de história do Al-<br />
Andaluz da autoria do historiador<br />
magrebino Al-Maqqari, a cidade<br />
dos califas com as ruínas de<br />
“Córdova-a-Velha”, que tinham<br />
sido vendidas em 1405 pela admi-<br />
48 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />
GUIA<br />
Medina Azahara localiza-se a 8<br />
Km de Córdova. O acesso mais<br />
rápido é em direcção a Palma del<br />
Río<br />
DORMIR<br />
Córdova é o local ideal para pernoitar.<br />
● Hotel Tryp Los Gallos- Av.<br />
Medina Azahara, 7, Tel.: 957 47 83<br />
76; www.trypgallos.solmelia.com<br />
● Alfaros - C/Alfaros, 18, Tel.: 957<br />
49 19 20, E-mail: alfaros@maciahoteles.com<br />
VISITAS<br />
Medina Azahara pode ser visitada<br />
entre Outubro e Abril das 10h<strong>00</strong>-<br />
14h<strong>00</strong> e das 16h<strong>00</strong>-18h30 e de<br />
Maio a Setembro das 10h<strong>00</strong>-14h<strong>00</strong><br />
e das 18h<strong>00</strong>-20h30. Entrada gratuita<br />
para os cidadãos da União<br />
Europeia. Encerra à segunda-feira.<br />
nistração cordovesa aos monges de<br />
São Jerónimo e cujas pedras foram<br />
usadas na construção do convento<br />
que domina agora a encosta meridional<br />
da Sierra Morena.<br />
As escavações arqueológicas só<br />
dariam achados dignos das descrições<br />
dos cronistas árabes em<br />
1944, com a descoberta dos restos<br />
do deslumbrante Salão de Abderramão<br />
III. As paredes originais, que<br />
estavam ainda de pé, conservavam<br />
importantes painéis de pedra decorativa<br />
e parte dos elementos de sustentação,<br />
capitéis e colunas de mármore.<br />
Tamanha beleza irá concentrar,<br />
nos anos seguintes, os trabalhos<br />
de reconstituição no Salão de<br />
Abderramão III. E hoje, no seu interior<br />
sombrio, o vermelho-vivo das<br />
pinturas murais, a diversidade de<br />
cores das colunas e a profusão de<br />
símbolos das pedras decorativas<br />
desafiam a imaginação a tentar<br />
reconstruir a beleza de outros tempos<br />
da cidade dos califas. ■<br />
António Sérgio Azenha [texto e fotos]
A CASA NA ÁRVORE | SUSANA NEVES<br />
Ginkgo Biloba<br />
A memória do mundo<br />
No ano em que se inicia a primeira fase do compromisso contra o aquecimento global,<br />
previsto pelo Tratado de Quioto, e se torna cada vez mais evidente que o desafio da<br />
Humanidade, no século XXI, é impedir a sua própria extinção, a antiquíssima Ginkgo Biloba L.<br />
(vulgarmente conhecida por Nogueira-do-Japão) surge como árvore emblemática<br />
que viu chegar a espécie humana e poderá vê-la desaparecer.<br />
Introduzida na Europa, no princípio do século<br />
XVIII, em Portugal, existe notícia da sua comercialização<br />
no Porto, pelo menos desde 1865, este<br />
“fóssil vivo” (segundo Lineu) não só é a mais<br />
antiga árvore que se conhece, apareceu há mais de 2<strong>00</strong><br />
milhões de anos, como pode ultrapassar os 3 milénios<br />
de vida.<br />
Considerada sagrada pelos monges budistas que a<br />
plantaram junto dos templos, no Sul da China, Japão e<br />
Coreia do Sul, ela representa, desde a Segunda Guerra<br />
Flora Japonica, Siebold& Zuccarini, Leiden, 1835/42<br />
50 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />
Mundial – na sequência de ter sobrevivido à Bomba<br />
Atómica de Hiroshima – a árvore de todos os combates<br />
mas não necessariamente a da nossa salvação.<br />
Introduzir Ginkgo Bilobas nos parques e jardins (em<br />
Portugal destacam-se, entre outros, dois exemplares<br />
classificados, o da Praça Paiva Couceiro, em Lisboa, e o<br />
do Jardim das Virtudes, no Porto, ou ainda o belíssimo<br />
grupo de árvores que em Dezembro tornam obrigatório<br />
o Jardim das Amoreiras) onde antes viviam outras<br />
espécies que não aguentaram o stress da poluição,
Grupo de Ginkgo Bilobas no Jardim das Amoreiras no mês de Dezembro em Lisboa<br />
Fotografias: Susana Neves<br />
como já há alguns anos tem sido feito na Inglaterra<br />
(http://www.timesonline.co.uk) poderá evitar a curto<br />
prazo o colapso de um espaço público mas destruirá o<br />
conceito de Arboretum (colecção de árvores), no qual<br />
assentam muitos dos jardins europeus, como o do<br />
Parque da Pena, em Sintra, onde também foi plantada<br />
uma frondosa Ginkgo, mas não impedirá que uma vez<br />
abertas as portas não haja quem nelas possa entrar.<br />
Uma das lições da Ginkgo Biloba prende-se<br />
justamente com a vida simples, despojada<br />
e sábia dos monges budistas que a protegeram.<br />
Enquanto, no século XVIII, os coleccionadores<br />
ocidentais disputavam jovens rebentos de<br />
Ginkgo (também conhecida por “a árvore que põe<br />
ovos”) desconhecendo a particularidade de esta árvore<br />
não ser hermafrodita mas dióica, os monges, conscientes<br />
do necessário equilíbrio de todas as coisas, há<br />
milénios juntavam a árvore macho à árvore fêmea,<br />
independentemente desta última produzir frutos<br />
malcheirosos, que de resto, são uma iguaria. É uma<br />
japonesa, Misa Suda quem o confirma: “No Japão compra-se<br />
esse fruto chamado “guin`nan” ou então apanha-se<br />
nas Avenidas onde as árvores foram plantadas.<br />
<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 51
A CASA NA ÁRVORE | SUSANA NEVES<br />
Habitualmente verde, a folha caduca da Gingko torna-se amarela no Inverno<br />
Parece um damasco amarelo, aliás, a tradução de<br />
Ginkgo (“Ichou”) é “damasco prateado”, mas não<br />
comemos senão o que está no interior da semente.<br />
Uma vez limpa, a semente é frita, partimos a casca e<br />
comemos o que está no seu interior, como se fosse uma<br />
noz”.<br />
Tal como acontece na maioria dos países ocidentais,<br />
em Portugal, apesar de haver alguns<br />
casais de Ginkgo Biloba L (por exemplo, no<br />
jardim Botânico em Lisboa e também no Porto,<br />
fazem casal o espécime feminino do Palácio de Cristal<br />
com o masculino que está perto da Biblioteca Almeida<br />
Garrett) tem-se plantado, sobretudo, machos, evitando<br />
o odor dos frutos da árvore fêmea. Uma vez mais, temse<br />
privilegiado a comodidade urbana em detrimento do<br />
equilíbrio natural.<br />
Quando entre nós é prática rotineira cortar árvores<br />
porque poderão estar a destruir um muro, impedir a<br />
construção de uma auto-estrada ou a prejudicar a<br />
canalização de um prédio imagina-se o grau de per-<br />
52 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />
plexidade que pode gerar a notícia publicada no ano<br />
passado, na rubrica “News” do site Ginkgo Biloba<br />
Pages: os residentes de Dobong, em Seul, na Coreia do<br />
Sul, em conjunto com as autoridades camarárias decidiram<br />
gastar 4,3 milhões de dólares para demolirem dois<br />
edifícios de apartamentos cujas infra-estruturas<br />
estavam a lesar as raízes de uma Ginkgo de 840 anos, a<br />
árvore mais antiga da cidade.<br />
Tendo em conta as suas qualidades medicinais, utilizadas<br />
na farmacopeia tradicional chinesa e na indústria<br />
farmacêutica contemporânea mundial, a Ginkgo<br />
Biloba corre o risco de ser o eucalipto do futuro. Uma<br />
árvore sagrada reduzida à condição de escravo para<br />
que a Humanidade prospere e não oxide, dadas as suas<br />
qualidades na preservação da memória e na melhoria<br />
da circulação sanguínea.<br />
Na Província chinesa de Henan, vive uma Ginkgo<br />
com mais de 15<strong>00</strong> anos. O tronco tem alguns pequenos<br />
buracos. São a marca de todos os dedos dos monges<br />
que nele tocaram antes de entrarem no templo de<br />
Shaolin. ■
PORTUGAL E A LUSOFONIA | PEDRO CID<br />
Cahora Bassa<br />
O projecto da barragem de Cahora Bassa foi decidido pelo Governo Português, ainda<br />
Moçambique estava sob o domínio colonial, num dos últimos Conselhos de Ministros<br />
a que presidiu o Dr. Salazar.<br />
Asua construção decorreu durante o tempo em<br />
que Marcelo Caetano foi o Presidente do<br />
Conselho do regime anterior ao 25 de Abril.<br />
É um empreendimento de dimensões surpreendentes<br />
e quem o concebeu teve uma visão do verdadeiramente<br />
ímpar, que ultrapassa regimes e ideologias.<br />
Foi construída em lugar inóspito, no Norte de<br />
Moçambique, em pleno rio Zambeze, e a sua edificação<br />
decorreu, integralmente, em zona afectada pela guerra<br />
colonial. Uma pequena pista de aviação servia a zona<br />
dos trabalhos e ainda hoje espanta como é que os materiais<br />
necessários à barragem foram transportadas por<br />
vias rodoviárias, ao tempo – entre 1969 e 1973 - quase<br />
artesanais.<br />
A sua albufeira é a segunda maior de África, com uma<br />
extensão de 250 Km em comprimento e 38 Km de afastamento<br />
entre as margens.<br />
A barragem de Cahora Bassa é o maior produtor de<br />
electricidade em Moçambique, fornecendo ainda energia<br />
à África do Sul, ao Zimbabué e, em breve, ao<br />
Malawi. É um factor de inquestionável progresso não<br />
apenas de Moçambique mas de grande parte da África<br />
Austral.<br />
Quando em 1986, o Presidente Samora Machel visitou<br />
a barragem escreveu, no Livro de Honra e pelo seu<br />
54 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />
próprio punho, uma mensagem, também ela invulgar e<br />
quase sublime: “Esta maravilhosa obra do género<br />
humano constitui um verdadeiro hino à inteligência,<br />
um promotor do progresso, um orgulho para os empreiteiros,<br />
construtores e trabalhadores desta fantástica<br />
realização. Cahora Bassa é a matriz do desenvolvimento<br />
do Moçambique independente(...) Moçambicanos e<br />
Portugueses consolidam aqui a unidade, a amizade e<br />
solidariedade cimentadas pelo aço e betão armado, que<br />
produziu Cahora Bassa (...)”<br />
Há poucas semanas, Moçambique tornou-se,<br />
de pleno, proprietária da barragem de<br />
Cahora Bassa, com a liquidação da verba<br />
acordada para cedência por parte do<br />
Governo português daquele que era o maior investimento<br />
luso no estrangeiro. Portugal passa a ter uma<br />
quota quase simbólica, menos de 19% na sociedade que<br />
gere a barragem.<br />
Os portugueses foram os criadores de um empreendimento<br />
notável como é Cahora Bassa. Com esta reversão<br />
cumpriu-se mais uma excelente etapa da lusofonia.<br />
Porque em Cahora Bassa fica a marca indelével do progresso,<br />
com uma chancela que fala a nossa língua, que<br />
é comum, em Valença do Minho ou na zona do Songo<br />
onde está implantada a barragem de Cahora Bassa. ■
O TEMPO E O MUNDO | DUARTE IVO CRUZ<br />
O sucesso da cimeira UE-África<br />
Retomamos o tema, no dia seguinte ao do encerramento da cimeira UE-Africa. Tal como<br />
referido no artigo anterior, constituiu o maior desafio da presidência portuguesa: e desde já se<br />
confirma que foi efectivamente, não hesitamos na qualificação, um grande sucesso.<br />
Em primeiro lugar, pela capacidade de<br />
definição e efectivo cumprimento de uma<br />
agenda delicada, que privilegiava à partida o<br />
grande concerto económico das Nações, mas<br />
não descurou, antes pelo contrário, os temas mais sensíveis,<br />
como designadamente os direitos humanos. E<br />
nesse aspecto, houve liberdade, coragem e frontalidade<br />
para uma abordagem específica, designadamente no<br />
que respeita ao Zimbabwe e ao Sudão, mas a que não<br />
escaparam outras referências, mesmo que menos<br />
explícitas.<br />
Aliás, a Líbia merece uma referência especifica, e não<br />
apenas pelas singularidades culturais e/ou de comportamento<br />
do respectivo “líder”, como Kadhafi é designado<br />
(tendas, reuniões, linguagem). Líder que não hesitou<br />
em considerar despiciendos os Parlamentos nacionais,<br />
mas que, a nível de membros do Governo de Tripoli, e<br />
designadamente no que respeita às negociações com<br />
as empresas portuguesas, permitiu um registo de qualidade<br />
no mínimo inesperado: quem assistiu às<br />
reuniões e conferência de imprensa e acompanhou a<br />
assinatura dos acordos pôde constatá-lo. No que diz<br />
respeito, portanto, às empresas portuguesas, os acordos<br />
bilaterais forma muito positivos.<br />
Também não foram escamoteadas as referências à boa<br />
governação e aos direitos humanos, com particular<br />
ênfase, já o dissemos, junto de Mugabe e junto de Al-<br />
Bechir, ambos com quase 30 anos de exercício do poder,<br />
e ambos visados, na comunidade internacional, por<br />
situações internas extremamente graves. Não houve<br />
contemplações, dentro da “firmeza bem - educada” que<br />
convém à diplomacia. E a repercussão internacional das<br />
posições assumidas por Portugal e pela UE servirão,<br />
espera-se, de aviso para outras situações sentadas à<br />
mesa. Algumas delas poderiam ter sido referidas.<br />
O problema relativo às negociações económicas no<br />
âmbito do Acordo de Cotonou, que foi objecto principal<br />
do artigo anterior (TL (Dezembro 2<strong>00</strong>7) não teve<br />
solução imediata - mas como poderia tê-la? Para já,<br />
trata-se de uma negociação no âmbito da Organização<br />
Mundial de Comércio - OMC. O Acordo abrange o conjunto<br />
dos chamados países ACP, pelo que não é limita-<br />
do a África. A bilateralidade impõe-se nesta área, pois as<br />
situações são extremamente diversificadas - e é de assinalar<br />
que Cabo Verde, entre poucos mais, assinou, em<br />
Dezembro, um Acordo de Partenariado com a UE. Em<br />
Lisboa, foram assinados mais 30 Acordos diversos, o<br />
que, pese embora a posição globalizadora do Presidente<br />
do Senegal e as razões que eventualmente, em parte,<br />
lhe assistem, constitui um valor acrescentado para a<br />
Cimeira de Lisboa, numa quantificação de algo como 8<br />
mil milhões de <strong>euros</strong>. As negociações prosseguem, caso<br />
a caso, no âmbito da Comissão Europeia. (Na primeira<br />
presidência portuguesa, participei na reunião UE-ACP:<br />
não é fácil...!)<br />
Mas importa referir que estes partenariados<br />
ficam ligados à boa governação e aos<br />
direitos do homem. Aliás, essa é uma das<br />
grandes áreas prioritárias definidas na<br />
Parceria EU/África aprovada na Cimeira, e no âmbito<br />
do “espírito” de Lisboa, sendo as restantes a paz e<br />
segurança, o comércio e integração regional, os objectivos<br />
para o desenvolvimento, as migrações e emprego<br />
(importante intervenção de Zapatero), a energia, a<br />
ciência e sociedade de informação e as alterações<br />
climáticas.<br />
Mas acrescente-se ainda que, pela voz autorizadíssima<br />
e insuspeita de Alpha Konaré, presidente da<br />
Comissão da União Africana, foi posto em termos justos<br />
e objectivos o problema da ultrapassagem dos complexos<br />
coloniais de parte a parte. O mesmo disse o PM de<br />
Cabo Verde: não podemos continuar a remoer situações<br />
históricas - e Portugal, que foi o ultimo a descolonizar<br />
e foi o que o fez de forma menos pacífica e mais difícil,<br />
pelas razões que se conhecem, é exemplo de excelentes<br />
relações com as ex colónias, como mais uma vez se comprovou<br />
nesta cimeira.<br />
E como quem colonizou a Líbia foi a Itália, que se<br />
retirou há dezenas de anos, as queixas intempestivas do<br />
Coronel Kadhafi não nos dizem respeito...<br />
E finalmente: a Cimeira foi um imenso sucesso de<br />
organização e de logística. Estamos todos de parabéns,<br />
a nível do País, do Governo e do MNE.■<br />
<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 55
VIAGENS NA HISTÓRIA | JOÃO AGUIAR<br />
Viagem ao vendaval<br />
Serve esta viagem na História para prestar homenagem a um homem português,<br />
pouco brilhante, mas muito injustiçado.<br />
Quanto ao vendaval de que se fala aqui,<br />
inclui várias rajadas destruidoras: a<br />
Revolução Francesa e as suas consequências<br />
em toda a Europa; a invasão de<br />
Portugal pelas tropas de Napoleão; a<br />
Revolução Liberal portuguesa; a independência do<br />
Brasil e, pelo meio, várias guerras. Foi isto o que o tal<br />
homem injustiçado teve de enfrentar —e muito mais<br />
ainda, por acréscimo.<br />
O leitor já terá percebido que<br />
estou a evocar a figura do rei D.<br />
João VI. Certas historiografias — a<br />
romântica, a marxista, entre outras<br />
— têm zurzido impiedosamente<br />
este monarca. Mas os juízos que<br />
sobre ele fazem são, no mínimo,<br />
apressados. Poucos governantes,<br />
nacionais ou estrangeiros, tiveram<br />
de enfrentar um período de tantas<br />
mutações brutais, um «salto» tão<br />
fundamental na evolução social,<br />
política, económica e ideológica<br />
como D. João VI enfrentou ao longo<br />
dos 34 anos em que chefiou o<br />
Estado, primeiro em nome da sua<br />
mãe, D. Maria I, depois como<br />
regente oficialmente investido e<br />
finalmente como rei. Note-se, também,<br />
que D. João não contava, de<br />
todo, subir ao trono: o herdeiro era o seu irmão D. José,<br />
príncipe do Brasil, ao que parece com melhor cabeça e<br />
que fora cuidadosamente preparado por Pombal, mas<br />
que viria a morrer aos vinte e sete anos.<br />
A questão é muito simples: durante o vendaval,<br />
europeu e português, a que me referi, Portugal teria<br />
necessitado de um génio e de um herói. Que pena: em<br />
vez disso, teve somente um homem sensato, honesto,<br />
bem intencionado e pacífico, ansioso por evitar conflitos<br />
e derramamentos de sangue. Ora, a esse homem, o que<br />
lhe saiu na rifa foi uma série de guerras e revoluções,<br />
uma família desunida em que se remexia uma amantíssima<br />
esposa militantemente reaccionária, um país invadido,<br />
destroçado, economicamente destruído e saquea-<br />
56 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />
do pelos invasores. Seria difícil fazer melhor do que ele<br />
fez, nas circunstâncias em que ocupou o trono de<br />
Portugal.<br />
Não é possível apresentar aqui o historial do reinado<br />
de D. João VI. O que é possível — e, atrevo-me a dizer,<br />
necessário — é fazer a seguinte advertência: não devemos<br />
iludir-nos ingenuamente com o pouco brilho e a<br />
barriga do senhor, tal como os retratos o mostram. Não<br />
era um tonto que ali estava. A<br />
retirada da família real para o<br />
Brasil foi um golpe de mestre e<br />
D. João, então ainda regente,<br />
adoptou uma política extremamente<br />
subtil, mesmo maquiavélica:<br />
arranjou as coisas de<br />
modo a que, na Europa, Portugal<br />
pudesse ser considerado<br />
como «aliado» da França (por<br />
isso deixou disposições para<br />
que não houvesse resistência);<br />
ao mesmo tempo, mantinha os<br />
portos brasileiros abertos aos<br />
navios ingleses, para jogar a cartada<br />
britânica logo que o ímpeto<br />
napoleónico fosse quebrado.<br />
Nada disto era heróico, mas ele<br />
não queria heroísmo, queria,<br />
sim, acautelar a futura independência<br />
do seu povo e<br />
poupar-lhe, quanto possível, as misérias de uma guerra.<br />
Nos conflitos que acompanharam a instauração<br />
do constitucionalismo, o rei agiu<br />
sempre no sentido de apaziguar os ânimos,<br />
de conseguir uma evolução pacífica,<br />
de promover a concórdia. Quem sabe, se não o tivessem<br />
assassinado — como parece ter sido o caso —, talvez<br />
ainda pudesse concretizar uma parte do seu sonho, um<br />
país pacificado, um povo reconciliado consigo mesmo.<br />
Se falhou (e falhou), a culpa não foi sua. O seu grande<br />
defeito foi não ter sido um génio. Bom, mas criticar é<br />
fácil e aqueles que o têm coberto de lama também o não<br />
foram, nem são… ■
BOAVIDA<br />
CONSUMO<br />
Todos os anos,<br />
terminadas as festas<br />
e iniciado um novo<br />
ano, somos<br />
confrontados<br />
com o aumento de<br />
preços<br />
Pág. 58<br />
MÚSICAS<br />
Com “À Noite”,<br />
título genérico do seu<br />
novo CD, Carlos do<br />
Carmo protagoniza<br />
mais um<br />
acontecimento<br />
na sua exemplar<br />
carreira.<br />
Pág. 64<br />
CINECLUBE<br />
Miguel Freitas da Costa<br />
apresenta a nova<br />
coluna da Boavida com<br />
a garantia de que<br />
“todos os enigmas da<br />
vida têm resposta nos<br />
filmes”.<br />
Pág. 69<br />
INFORMÁTICA<br />
Invoca-se Pessoa,<br />
“navegar é preciso”,<br />
para melhorar o<br />
conhecimento via<br />
Internet, e não só,<br />
utilizando as novas<br />
tecnologias.<br />
Pág. 72<br />
LIVRO ABERTO<br />
“Mazagão-a Cidade<br />
que Atravessou o<br />
Atlântico” narra<br />
a epopeia da<br />
emigração para o<br />
Brasil de toda a<br />
população da antiga<br />
cidade marroquina.<br />
Pág. 60<br />
NO PALCO<br />
A origem das espécies,<br />
histórias aluadas e<br />
resistências laborais,<br />
três temas em palcos<br />
distintos de Lisboa,<br />
Sintra e Almada<br />
Pág. 66<br />
À MESA<br />
A única forma de<br />
tratamento da doença<br />
celíaca (no intestino<br />
delgado) baseia-se na<br />
ingestão de uma dieta<br />
rigorosamente sem<br />
glúten.<br />
Pág. 70<br />
AO VOLANTE<br />
O petróleo chega aos<br />
cem dólares, os<br />
combustíveis<br />
aumentam. Há que<br />
procurar novas<br />
alternativas como o<br />
etanol, a electricidade e<br />
o hidrogénio.<br />
Pág. 73<br />
ARTES<br />
Lisboa reconstruída<br />
pela memória<br />
é o tema da pintura<br />
que Manuel Amado<br />
apresenta, até 20<br />
do corrente, no Centro<br />
Cultural de Cascais.<br />
Pág. 62<br />
CINEMA EM CASA<br />
Em foco a divertida<br />
e sábia ironia dos<br />
Simpson, uma das<br />
boas propostas<br />
natalícias para todos os<br />
cinéfilos caseiros.<br />
Pág. 68<br />
SAÚDE<br />
Qualquer dos<br />
tratamentos de que<br />
dispomos para o<br />
hipertiroidismo tem de<br />
ser adaptado às<br />
características do<br />
doente.<br />
Pág. 71<br />
<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 57
BOAVIDA<br />
Consumo<br />
Taxas e aumentos sustentáveis<br />
Em nome da qualidade de vida, os consumidores devem habituar-se a encarar como normais os<br />
aumentos de determinados produtos, considerados essenciais, acima da taxa de inflação. É o preço que<br />
terão de pagar por um estilo de vida que não é consentâneo com a sustentabilidade.<br />
Carlos Barbosa de Oliveira<br />
Todos os anos, terminadas<br />
as festas e iniciado um<br />
novo ano, somos confrontados<br />
com o aumento<br />
de preços. Aumenta o seguro do<br />
automóvel, a prestação da casa, os<br />
transportes, a luz, a água, a bica e o<br />
rissol com que aconchegamos o<br />
estômago num qualquer come em<br />
pé de ocasião, a conta do condomínio<br />
e as despesas de alimentação.<br />
Tudo se passa como se estivéssemos<br />
perante uma lei inexorável<br />
que se cumpre e renova no<br />
início de cada ano. Independentemente<br />
da bolsa de cada um e dos<br />
efeitos colaterais que provocam no<br />
nosso orçamento, reagimos normalmente<br />
com a expressão “a vida<br />
está a tornar-se insustentável”. E a<br />
verdade é que está mesmo, como<br />
bem ficou demonstrado durante a<br />
Cimeira de Bali, onde delegados de<br />
180 países se reuniram, durante 10<br />
dias, para discutirem as medidas a<br />
adoptar face às alterações climáticas<br />
que ameaçam tornar a vida no<br />
nosso planeta, igualmente insustentável.<br />
Só que esta insustentabilidade<br />
não se deve ao aumento dos<br />
preços, mas antes à emissão dos<br />
gases com efeito de estufa (GEE)<br />
que não pára de aumentar.<br />
Entre a insustentabilidade provocada<br />
pelo aumento dos preços e a<br />
ameaça de a vida na terra se tornar<br />
insustentável, existe uma relação em<br />
que nem sempre pensamos e que<br />
determina que alguns aumentos<br />
58 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />
sejam não só justos, como inevitáveis.<br />
Refiro-me, concretamente,<br />
ao aumento do custo de recursos naturais<br />
que se começam a reduzir<br />
perigosamente, como é o caso da<br />
água. Prevê-se que em 2025 um terço<br />
da população mundial não tenha<br />
acesso a água potável, mas se pensarmos<br />
que em 1992 as previsões apontavam<br />
para que tal ocorresse apenas<br />
em 2050, podemos compreender<br />
melhor a gravidade do problema. O<br />
mesmo se pode dizer em relação à<br />
electricidade e ao gás. Enquanto as<br />
energias alternativas não estiverem<br />
suficientemente desenvolvidas, de<br />
modo a permitir uma redução drásti-<br />
ca do recurso aos combustíveis fósseis,<br />
é de esperar que os preços da<br />
electricidade continuem a aumentar,<br />
pois o preço do petróleo não pára de<br />
subir e a procura de aumentar<br />
No entanto, apesar de conhecerem<br />
o problema, os consumidores<br />
comportam-se como a cigarra.<br />
Gastam sem pensar na necessidade<br />
de poupar hoje para poder ter no<br />
futuro. Provavelmente, não restará<br />
aos Governos europeus outra alternativa<br />
que não seja aplicar taxas<br />
suplementares que desincentivem<br />
o consumo, como forma de cumprir<br />
as metas traçadas em Quioto ( até<br />
2012) e em Bali ( até 2020). Trata-se
de uma medida que, embora impopular,<br />
deve ser encarada como<br />
sustentável, pois visa a protecção<br />
de interesses comuns.<br />
É bem possível, porém, que ao<br />
longo do ano os consumidores se<br />
venham a confrontar com outras<br />
“taxas” e aumentos, no caso de não<br />
optarem definitivamente por um<br />
estilo de vida mais sustentável. A<br />
criação de uma “taxa ecológica”<br />
sobre os sacos de plástico, por<br />
exemplo, foi recentemente falada.<br />
Pessoalmente, considero-a justa e<br />
eficaz. O uso e abuso dos sacos de<br />
plástico é prova de falta de consciência<br />
ambiental e consumerista<br />
que não pode durar muito mais<br />
tempo, e a eficácia da aplicação de<br />
uma taxa ficou bem demonstrada<br />
quando o governo irlandês decidiu<br />
pô-la em prática: um ano depois, a<br />
redução do uso de sacos de plástico<br />
caiu 95 por cento e o Estado<br />
encaixara 13,5 milhões de <strong>euros</strong>!<br />
Além do mais é uma medida<br />
muito menos penalizadora do que<br />
algumas das que constavam de um<br />
plano elaborado em 2<strong>00</strong>1 pelo<br />
Governo para enfrentar uma eventual<br />
crise grave provocada pela<br />
escalada dos preços de petróleo e<br />
que vale a pena lembrar: restrição<br />
do uso de automóveis particulares,<br />
diminuição ou supressão de carreiras<br />
de transportes públicos, limitação<br />
de horários de iluminação,<br />
aquecimento e refrigeração de edifícios<br />
públicos e limites ao abastecimento<br />
dos veículos particulares.<br />
A maioria dos portugueses desconhece<br />
esse “plano de emergência”.<br />
É isso que explica que, apesar<br />
de o preço da gasolina não parar de<br />
subir, continuemos a assistir a engarrafamentos<br />
bi-diários, sem que se<br />
vislumbre um esforço significativo<br />
em recorrer aos transportes públicos,<br />
em detrimento do automóvel<br />
particular, ou a fazer esforços sérios<br />
para poupar energia. O melhor,<br />
porém, é estarmos preparados para<br />
ser mais parcimoniosos na utilização<br />
de veículos particulares,<br />
enfrentar o aumento de alguns bens<br />
de consumo, resultante do aumento<br />
dos transportes de mercadorias, o<br />
agravamento dos preços dos transportes<br />
públicos e das viagens aéreas,<br />
como custos que teremos de vir a<br />
pagar, no caso de persistirmos nesta<br />
atitude de deixar para os nossos filhos<br />
a resolução dos problemas. ■
BOAVIDA<br />
Livro aberto<br />
Viagem com livros de Mazagão<br />
ao humor de John Kennedy<br />
A palavra Mazagão continua a ter uma sonoridade mágica no nosso imaginário colectivo, por<br />
corresponder a um invulgar processo histórico nunca depois igualado.<br />
José Jorge Letria<br />
Em 1514, a Coroa portuguesa<br />
fundou, na costa<br />
marroquina, a cidadela<br />
de Mazagão. Em 1769,<br />
estando a cidadela cerca por mais de<br />
1<strong>00</strong> mil soldados mouros e berbéres,<br />
a mesma Coroa decide deslocar os<br />
dois mil portugueses que ali se<br />
encontravam para a Amazónia, cuja<br />
colonização começara entretanto. É<br />
assim que nasce a cidade de<br />
Mazagão e, com ela, um processo<br />
único de transferência de uma<br />
matriz civilizacional. A ida daquelas<br />
duas mil pessoas para um tão<br />
longínquo destino representou uma<br />
verdadeira epopeia logística e<br />
humana, tendo em conta os limitados<br />
meios da época. É dessa epopeia<br />
que nos dá conta o livro “Mazagão-a<br />
Cidade que Atravessou o Atlântico”<br />
(Teorema), de Laurent Vidal, mestre<br />
de conferências da Universidade de<br />
la Rochelle. Tratando-se de um<br />
ensaio histórico, lê-se com o prazer<br />
que só as grandes narrativas ficcionais<br />
são capazes de proporcionar.<br />
Da mesma editora é “Filho Único -<br />
As Confissões de François, Irmão de<br />
Jean-Jacques Rouseau”, do francês<br />
Stéphane Audeguy. O autor partiu<br />
daquilo a que pode chamar-se um<br />
verdadeiro “desarrincanço” ficcional:<br />
sendo sabido que Jean-Jacques<br />
Rousseau tinha um irmão mais<br />
velho e que dele se perdeu o rasto a<br />
partir de certo momento, Audeguy<br />
desencantou a brevíssima e fugaz<br />
60 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />
referência feita pelo filósofo a esse<br />
misterioso irmão nas suas “Confissões”,<br />
restituiu-o à vida, com perfil e<br />
comportamento de impenitente libertino,<br />
e pô-lo a assistir à trasladação<br />
do irmão para o que viria a<br />
ser o Panteão Nacional, em Paris,<br />
por iniciativa dos líderes da Revolução<br />
Francesa. O texto é de uma<br />
grande riqueza literária, sendo, ao<br />
mesmo tempo, revelador de uma<br />
capacidade de efabulação apreciável<br />
e de um profundo conhecimento da<br />
época e da obra de Rousseau, bem<br />
como dos ideais e desaires dos revolucionários<br />
que tomaram a Bastilha<br />
e criaram a guilhotina. Por tudo isto,<br />
“Filho Único”é um livro que se lê<br />
com prazer, tanto mais que lança luz<br />
sobre a vida de um filósofo cujo percurso<br />
como homem poucas vez foi<br />
consentâneo com os ideais que<br />
proclamou e expandiu, desde logo<br />
na relação com as mulheres e com os<br />
filhos.<br />
ANTONIO NEGRI é uma das figuras<br />
mais controversas e heterodoxas da<br />
esquerda europeia, bastando, para<br />
confirmar a afirmação, ter em conta<br />
o seu atribulado percurso político.<br />
“Adeus, Sr, Socialismo” é o título de<br />
um livro da Ambar que nasce de<br />
um longo diálogo de Negri com<br />
Ralf Scelsi. Ambos reflectem sobre o<br />
presente e o futuro das esquerdas<br />
mundiais, confrontadas com situações<br />
e fenómenos como a queda<br />
do Muro de Berlim, o movimento<br />
antiglobalização e as novas formas<br />
de conflitualidade e belicismo.<br />
Da mesma editora é o volume<br />
“Cadernos de la Romana”, que reúne<br />
as crónicas do grande escritor<br />
Gonzalo Torrente Ballester publicadas<br />
semanalmente sob a forma diarística,<br />
em 1973-74. Estamos, uma<br />
vez mais perante, a aguda e transgressora<br />
lucidez de um dos grandes<br />
escritores do século XX, a reflectir<br />
sobre a vida e sobre o mundo, com<br />
o seu estilo inconfundível e soberbo.<br />
Para ler sempre.<br />
EM MATÉRIA de ficção narrativa de<br />
qualidade, são múltiplas as escolhas.<br />
A saber: “A Mulher Certa”, do<br />
grande escritor húngaro Sándor<br />
Márai, autor, entre outras obras<br />
maiores, de “A Herança de Estzer”,<br />
“Next”, de Michael Crichton, “A<br />
Vida e o Tempo de Michael K”, do<br />
Nobel sul-africano J.M. Coetze, e
“Zadie Smith-Uma Questão de<br />
Beleza”, de Zadie Smith, todos com<br />
a chancela da Dom Quixote, “Rio<br />
das Flores”, segundo romance de<br />
Miguel Sousa Tavares, após o<br />
estrondoso êxito de “Equador”, da<br />
Oficina do Livro, “Escola de<br />
Validos”, ficção de estreia da jornalista<br />
Maria João Martins, já com<br />
obras publicadas no domínio do<br />
ensaio histórico, e “O Quadro”, de<br />
Bibi Perestrelo, ambos da Teorema, e<br />
ainda “Nuvens entre Estrelas”, de<br />
Victoria Clayton, com a chancela de<br />
Publicações Europa-América.<br />
POR SEU TURNO, a Casa das Letras<br />
acaba de editar o saboroso “A Sabedoria<br />
e o Humor de John F. Kennedy”,<br />
que se segue a idêntica colectânea<br />
dedicada a Winston Churchill<br />
e que reúne, em vários e bem estruturados<br />
capítulos, citações, comentários,<br />
ditos de espírito e breves<br />
reflexões daquele que foi um dos<br />
mais populares presidentes da história<br />
dos Estados Unidos. Um livro<br />
que é revelador da inteligência, da<br />
argúcia e do fino sentido de humor<br />
de um estadista que teve o trágico<br />
fim que a História registou.<br />
“SOL NASCENTE – da Cultura<br />
Republicana e Anarquista ao Neo-<br />
Realismo” (Campo das Letras), de<br />
Luís Crespo de Andrade, docente de<br />
Filosofia na Universidade Nova de<br />
Lisboa, é um estudo sério e rigoroso<br />
sobre o papel desempenhado pelo<br />
quinzenário “Sol Nascente”, publicado<br />
entre 1937 e 1940, no processo de<br />
transição da cultura de matriz republicana<br />
e anarquista para o movimento<br />
estético e político que ficou<br />
conhecido como Neo-Realismo.<br />
Da mesma editora, a<br />
antologia “Fernão Lopes<br />
- Crónicas”, organizada<br />
pelo historiador constitui<br />
um importante documento<br />
da história portuguesa,<br />
enriquecido por<br />
dezenas de desenhos e<br />
por 25 pinturas temáticas<br />
originais do pintor<br />
Rogério Ribeiro, e visa alargar a um<br />
maior número de leitores a fruição<br />
destes tesouros da cultura medieval<br />
portuguesa.<br />
«Algumas palavras de Fernão<br />
Lopes – sublinha Borges Coelho -<br />
perdem-se na noite da língua.<br />
Ganharam novas letras, perderam<br />
algumas das antigas. Aumentaram o<br />
corpo ou encolheram: o “fuão” engordou<br />
para “fulano”. A frase está<br />
próxima da fala. Mesmo presa no<br />
papel tem som. E se a dizemos, ouvimos<br />
o marulhar do tempo. Não<br />
empastela para fazer bonito. Só<br />
entoa largo na voz dos pregadores.<br />
Em frases curtas ilumina as figuras,<br />
enreda-as nas teias do amor ou do<br />
ódio, faz andar e ferver as multidões.<br />
Certos capítulos são retábulos<br />
onde lemos e ouvimos os actores na<br />
sua nua humanidade. O quotidiano<br />
entra com o seu ruído e falas nas<br />
informações históricas e jurídicas.<br />
Fernão Lopes é de algum modo,<br />
como tem sido dito, um antepassado<br />
do repórter.»<br />
LUCIANO de Samosata foi um dos<br />
mais produtivos e originais escritores<br />
gregos do século II depois de<br />
Cristo, sendo “Diálogos dos Deuses”(Publicações<br />
Europa-América)<br />
uma das suas obras mais importantes<br />
e inovadoras. Crítico implacável<br />
da sociedade do seu tempo,<br />
Samosata viria a influenciar alguns<br />
dos mais importantes escritores dos<br />
séculos seguintes, com destaque<br />
para Erasmo, Swift ou<br />
Voltaire, que, aos seus<br />
textos, foram buscar a<br />
inspiração para obras<br />
igualmente sarcásticas e<br />
demolidoras. Entretanto,<br />
a Europa América acaba<br />
de lançar uma série de<br />
novos títulos na colecção<br />
“Horrível”, a saber e destinados<br />
ao público jovem, mas sempre<br />
piscando o olho aos adultos: “Os<br />
Terríveis Egípcios”, de Terry Deary,<br />
“Lagos Monstruosos”, de Anita<br />
Ganeri, “Animais Ferozes”, de Nick<br />
Arnold, e “Medicina Sangrenta”, do<br />
mesmo autor. ■<br />
<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 61
Rodrigues Vaz<br />
BOAVIDA<br />
Artes<br />
Lisboa, reconstruída pela memória, através de praias, exteriores, arquitecturas, interiores, retratos e<br />
pinturas antigas é, apesar das aparências e intencionais ilusões, o tema-chave da exposição que<br />
Manuel Amado apresenta até dia 20 do corrente no Centro Cultural de Cascais.<br />
Intitulando-a significativamente<br />
“pintura PINTURA”, portanto<br />
assumindo-a como um<br />
regresso à chamada Grande<br />
Pintura, Manuel Amado prossegue<br />
por esta via o seu levantamento<br />
nostálgico de um passado encantatório<br />
– ele passou a sua infância<br />
no palácio que acolhe hoje o Museu<br />
da Cidade de Lisboa – que não é<br />
mais do que a evocação de um horizonte<br />
perdido que não é mais possível<br />
reencontrar.<br />
Embora tudo parecendo perfeita-<br />
62 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />
Regresso à Grande Pintura<br />
mente identificado, mas tudo, ao<br />
mesmo tempo, possuindo uma aura<br />
de irrealidade que prende hipnoticamente<br />
o olhar, como diz Luísa<br />
Soares de Oliveira, «Manuel Amado<br />
trabalha, não com a realidade visível,<br />
mas com a reconstrução operada<br />
pela memória sobre as impressões<br />
mais fortes de toda a sua vida.»<br />
ALBERTO REGUERA EM LISBOA<br />
De certo modo podemos falar igualmente<br />
de Grande Pintura para caracterizar<br />
a exposição que o artista<br />
segoviano Alberto Reguera mostra<br />
até 12 de <strong>Janeiro</strong> na Galeria António<br />
Prates, em Lisboa, sob o título “Pintura<br />
en Expansión”.<br />
Toda a obra de Alberto Reguera,<br />
criadora de melodiosas atmosferas,<br />
poderia sintetizar uma magnífica<br />
ode à serenidade onde o “abstraccionismo<br />
lírico” de que este pintor é<br />
um dos melhores representantes<br />
espanhóis, é aqui renovador de formas<br />
e estilos. Com estas “pinturas<br />
em expansão” assistimos à transposição<br />
do visível para os redutos<br />
da memória onde o misterioso e o<br />
sonho se fundem. E para lhe dar<br />
mais profundidade, usa os próprios<br />
lados dos quadros, prolongando a
mancha e envolvendo exaustivamente<br />
o espaço.<br />
Segundo Javier Rubio Nomblot<br />
escreve no catálogo, esta exposição<br />
é a mais completa que o artista<br />
dedicou ao novo ciclo de pinturas<br />
espaciais ou expandidas nos últimos<br />
dois anos. Porque esta é «Uma<br />
pintura que, cada vez mais, busca<br />
ser ela mesma mas que, neste<br />
renascimento, parece recuperar a<br />
juventude, o dinamismo e a agilidade,<br />
para se tornar imprevisível.»<br />
ERNESTO NEVES ABRE FIRST<br />
GALLERY<br />
E de Grande Pintura podemos também<br />
falar sobre a retrospectiva com<br />
que Ernesto Neves abriu no mês passado<br />
a First Gallery, um dos maiores<br />
espaços com que Lisboa passa a contar<br />
a partir de agora na Baixa.<br />
Recorrendo especialmente a linhas<br />
abertas, a arcos com perspectivas,<br />
em que o espaço é idealizado a<br />
partir de volumes mais sugeridos<br />
do que expressos, ora isoladamente<br />
ora fazendo uma sábia mistura do<br />
figurativo com o abstracto, com<br />
gestos vigorosos e nervosos, expressivos<br />
de um caudal que nunca<br />
se esgota, Ernesto Neves criou há<br />
vários anos um estilo que, no início<br />
da década de 90, apelidei de arquitectonismo,<br />
o qual marcou todo o<br />
seu percurso posterior.<br />
Na verdade, com todo o vigor e<br />
espontaneidade de que é capaz,<br />
este artista mostra cada vez mais a<br />
sua habilidade para desenhar formas<br />
sem outra ajuda do que os perfis<br />
de cor, sem outro esboço prévio<br />
que não seja o esquema mental,<br />
pelo que as suas criações fazem-nos<br />
participes da sua própria sensibilidade,<br />
do desejo de comunicar o seu<br />
universo plástico mediante certas<br />
pulsões, que vão desde a dramatização<br />
geométrica até ao sossego dos<br />
traços horizontais, largos e frios.<br />
Em cima, um<br />
acrílico de Ernesto<br />
Neves<br />
Em baixo,<br />
“Pinturas en<br />
Expansión” de<br />
Alberto Reguera.<br />
Técnica mista<br />
s/tela, 2<strong>00</strong> x 2<strong>00</strong><br />
x 20 cm<br />
Pág. da esquerda,<br />
óleo de Manuel<br />
Amado<br />
<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 63
Vítor Ribeiro<br />
BOAVIDA<br />
Músicas<br />
«À noite» com Carlos do Carmo<br />
“À Noite” é o título genérico do novo CD de Carlos do Carmo. Em abono da verdade, diga-se que o<br />
fadista acaba de protagonizar mais um acontecimento na sua exemplar carreira.<br />
Ocantor seleccionou doze<br />
fados tradicionais (Armandinho,<br />
Marceneiro,<br />
Joaquim Campos) e outros<br />
tantos textos de José Luís Tinoco,<br />
Maria do Rosário Pedreira, Júlio<br />
Pomar, Nuno Júdice, José Manuel<br />
Mendes, Fernando Pinto do Amaral<br />
e Luís Represas.<br />
Na guitarra portuguesa surge<br />
José Manuel Neto, na viola de fado<br />
Carlos Manuel Proença e no baixo<br />
acústico José Marino Freitas.<br />
A capa, a contracapa e interiores<br />
deste CD são ilustrados com dois<br />
retratos de Carlos do Carmo criados<br />
por Júlio Pomar.<br />
Cantor de voz límpida, grave e<br />
convincente, de frases rematadas<br />
com uma peculiaridade única, Carlos<br />
do Carmo atingiu uma maturidade<br />
interpretativa, como jamais alguém<br />
64 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />
terá alcançado na História do Fado.<br />
E se, ao longo de quase 50 anos de<br />
carreira, Carlos do Carmo contribuiu<br />
de forma decisiva para a renovação<br />
e revitalização de um género<br />
musical, arrogantemente considerado<br />
menor, mais importante ainda<br />
terá sido, porventura, a acção constante<br />
e empenhada do cantor pela<br />
dignificação do fado e da cultura<br />
fadista, geralmente olhados com<br />
preconceito, mesquinhez e soberba,<br />
pelos chamados “sectores dominantes”<br />
da sociedade portuguesa.<br />
Assim sendo, deve falar-se, sem<br />
exagero e em absoluto, de fado<br />
antes e depois de Carlos do Carmo.<br />
“À Noite” é excepcional porque<br />
consubstancia exemplarmente tudo<br />
o que acima ficou escrito. Com<br />
sobriedade peculiar, firmeza e serenidade,<br />
Carlos do Carmo dá-nos,<br />
mais uma vez, o melhor de si.<br />
Num texto de introdução escrito<br />
propositadamente para este CD,<br />
Rui Vieira Nery afirma: “Nesta lição<br />
de fado dada serenamente por um<br />
grande mestre, cruzam-se sete poetas<br />
que souberam partilhar deste<br />
olhar de Janus, que contempla ao<br />
mesmo tempo o passado e o futuro.<br />
À Noite, naturalmente, porque por<br />
alguma razão mais profunda do<br />
que os habituais clichés que continuam<br />
a assombrar a reflexão sobre<br />
o género, o Fado preferiu desde<br />
sempre este registo intimista de<br />
uma penumbra a envolver o canto<br />
de todas as dores”.<br />
Frequentemente, o álbum “Um<br />
Homem na Cidade” (1977) é integrado<br />
na lista dos 10 mais importantes<br />
discos da História da música<br />
ligeira portuguesa, a par de “Por<br />
Este Rio Acima”, de Fausto ou de<br />
“Cantigas de Maio”, de Zeca Afonso,<br />
entre outros.<br />
Neste outro tempo e na actual<br />
conjuntura, “À Noite” poderá colocar-se<br />
ao lado de “Um Homem na<br />
Cidade”.<br />
SURPREENDENTE<br />
“DONNA MARIA”<br />
Chamam-se “Donna Maria” e acabam<br />
de surgir no mercado discográfico<br />
com o álbum “Música para<br />
Ser Humano”. Uma bela surpresa.<br />
Surpreendente porque ali se concilia<br />
exemplarmente inovação formal<br />
com as mais tradicionais sonoridades<br />
da música popular portuguesa,<br />
surpreendente também<br />
pela qualidade dos textos, surpreendente,<br />
enfim, pela voz de Marisa<br />
Pinto.
“Música para Ser Humano” é, sobretudo,<br />
um trabalho elegante, de<br />
muito bom gosto, que nos convida a<br />
reflectir sobre o presente, embora<br />
não descure o passado. Não será<br />
por acaso que o CD encerra com<br />
uma original versão de “Pomba<br />
Branca”.<br />
Na qualidade de artistas convidados,<br />
intervêm em três temas<br />
Luís Represas e Rão Kyao, Júlio<br />
Pereira e Raquel Tavares.<br />
Para que se faça justiça, aqui ficam<br />
os nomes dos outros dois elementos<br />
do grupo, que assinam, de resto,<br />
uma excelente produção musical:<br />
Miguel Ângelo Majer (bateria, samples<br />
e voz) e Ricardo Santos (piano<br />
acústico, sintetizadores e voz).<br />
Pela amostra dada, poderá ir longe<br />
este grupo empenhado em fazer<br />
“Música para Ser Humano”. ■ Donna Maria
Maria Mesquita<br />
Sobrevivências<br />
A Origem das Espécies e a sobrevivência do mais forte durante um ensaio teatral sobre<br />
a viagem de Darwin, é a aposta do TNDM II, na sala 2 da Escola Politécnica, com a peça<br />
After Darwin, até 28 de Fevereiro.<br />
Nunca Darwin imaginou<br />
que a sua viagem a<br />
bordo do “Beagle”, e as<br />
suas conclusões científicas,<br />
provocassem, dois séculos mais<br />
tarde, uma autêntica luta pelo<br />
poder individualista durante o<br />
ensaio de uma peça teatral sobre<br />
essa mesma viagem. Recontando a<br />
história dos quatro anos e nove<br />
meses que passou a bordo da<br />
embarcação, sob o comando do<br />
Capitão Fitz-Roy, um homem<br />
colérico, profundamente religioso<br />
que não aceitava de bom grado a<br />
evolução no estudo que Darwin ia<br />
obtendo a cada paragem, dois<br />
After Darwin<br />
BOAVIDA<br />
No Palco<br />
66 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />
actores e uma encenadora acabam<br />
também eles por sofrer uma crescente<br />
tensão motivada pela lei do<br />
mais forte. A cada momento da<br />
viagem, o nervosismo entre o<br />
homem cientista e homem criacionista<br />
vai aumentado, principalmente<br />
devido à diferença de visões<br />
sobre o mundo biológico; por seu<br />
lado, a cada momento do ensaio,<br />
essa diferença biológica é transformada<br />
numa diferença sobre a<br />
forma de ver e entender o papel do<br />
teatro no mundo regido pelos<br />
Humanos, considerado a manifestação<br />
superior da cultura da nossa<br />
espécie. No final, só o mais forte irá<br />
sobreviver face à resignação dos<br />
restantes, independentemente da<br />
espécie animal a que pertençamos.<br />
O antepassado é comum a todos, e<br />
o elo genético obriga-nos mais<br />
tarde ou mais cedo a mostrar-mos<br />
como podemos sobreviver no<br />
mundo cada vez mais imprevisível.<br />
“ESTÓRIAS ALUADAS”<br />
“Estórias Aluadas”, pela Companhia<br />
TapaFuros, no mítico cenário<br />
da Quinta da Regaleira, em Sintra<br />
até 27 Abril.<br />
Sintra, conhecida também por<br />
Monte da Lua, local de mistérios,<br />
profecias, magia e adoração à Lua,<br />
essa deusa para os povos antigos da<br />
habitavam o litoral e que respeitavam<br />
a Natureza como Mãe de<br />
todas as coisas.
A Companhia Teatral TapaFuros<br />
convidou assim cinco autores sintrenses<br />
com o objectivo de escreverem,<br />
cada um deles, estórias relacionadas<br />
com o magnífico cenário<br />
natural que só a Serra de Sintra<br />
pode proporcionar. Estórias de<br />
fadas, de pirilampos, de grutas e<br />
caminhos rodeados de floresta luxuriante<br />
e verde, que só a Lua pode<br />
contar, porque é sábia e muito antiga,<br />
e sempre esteve presente em<br />
todas as alturas, desde os dias mais<br />
quentes de Verão, quando a Serra<br />
oferece sombra e frescura, aos dias<br />
que começam a ficar mais pequenos,<br />
e mesmo quando a bruma começa a<br />
espreitar pelos montes, castelos, palácios<br />
e quintas, nos dias mais frios.<br />
Assim, os autores escrevem sobre a<br />
natureza e sobre a forma que se<br />
deve respeitá-la, proporcionando,<br />
ao longo de uma viagem pela Quinta<br />
da Regaleira (local de eleição para<br />
as encenações da TapaFuros), um<br />
ensinamento pedagógico sobre ecosistemas<br />
e valorização do património<br />
natural do planeta Terra.<br />
Esta peça teatral tem como principal<br />
objectivo alertar as consciências<br />
dos mais novos, sendo que o espectáculo,<br />
embora aberto a qualquer<br />
faixa etária, seja dedicado a escolas<br />
ou a famílias, onde o contributo de<br />
pais e educadores é essencial para<br />
uma melhor compreensão do tema<br />
Natureza.<br />
FICHAS TÉCNICAS<br />
AFTER DARWIN<br />
De Timberlake Wertenbaker;<br />
Produção: TNDM II; Encenação: Carlos<br />
António; Cenografia | figurinos: Daniela<br />
Roxo; Desenho de luz: Carlos Arroja;<br />
Com: André Levy, Manuel Coelho<br />
e Rita Calçada Bastos<br />
“A Fábrica do Nada”<br />
RESISTIR<br />
Na Sala Principal do Teatro Municipal<br />
de Almada, de 16 a 20 <strong>Janeiro</strong>, “A<br />
Fábrica do Nada”, pelos Artistas Unidos,<br />
é uma peça que conta a história<br />
da vida dos trabalhadores de uma<br />
fábrica, após o seu encerramento.<br />
Após o encerramento da fábrica<br />
de cinzeiros onde trabalhavam,<br />
vários operários resolvem dedicarse<br />
a um novo tipo de produção fabril:<br />
a produção de “nada”. Estranho?<br />
Nem por isso. Em vez de se<br />
revoltarem, irem para a porta da<br />
fábrica, reivindicarem direitos perdidos,<br />
aparecerem na televisão e,<br />
consequentemente irem para casa<br />
com a perspectiva de terem falhado<br />
na vida, estes trabalhadores ocu-<br />
“A FÁBRICA DO NADA”<br />
Encenação: Jorge Silva Melo; Intérpretes:<br />
Américo Silva, António Filipe, António Simão,<br />
Carla Galvão, Hugo Samora, João Meireles,<br />
João Miguel Rodrigues, Miguel Telmo, Mílton<br />
Lopes, Paulo Pinto, Pedro Carraca, Pedro Gil,<br />
Sérgio Grilo, Vítor Correia; Músicos: Gonçalo<br />
Lopes, João Madeira, Miguel Fevereiro, Paulo<br />
Curado, Rini Luyks, Rui Faustino<br />
pam-se em organizarem tarefas,<br />
entre as quais, escolherem novos<br />
gerentes para a fábrica, furtos dos<br />
produtos e tribunais. Em vez de se<br />
agarrarem ao desalento que o nada,<br />
o vazio trazem, estes homens<br />
retomam as rédeas das suas vidas,<br />
contando a história depois da<br />
história. O que sobra quando já não<br />
sobra nada para quem tinha ao que<br />
se agarrar?<br />
Tudo isto, eles vão cantando sob<br />
um espaço onde o som se propaga<br />
em excelente acústica e os músicos<br />
os vão acompanhando. “Não precisamos<br />
de mais nada do que estarmos<br />
uns com os outros porque<br />
força como esta só existe outra, que<br />
também temos: a música.”■<br />
“ESTÓRIAS ALUADAS”,<br />
Encenação: Rui Mário;<br />
Textos: José António Guille, George Till,<br />
Luísa Barreto, Maria Almira Medina, Rui<br />
Mário; Música original: Pedro Hilário;<br />
Interpretação: José Redondo, Rute Lizardo,<br />
Samuel Saraiva.<br />
<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 67
BOAVIDA<br />
Cinema em casa<br />
Sérgio Alves<br />
Num tempo de progressiva sensibilização para<br />
as questões ambientais, o leitor poderá rever,<br />
este mês, ainda que de forma parcelar e em<br />
películas tão distintas - “Blade Runner” (versão<br />
original), “Still Life -Natureza Morta” (premiado em<br />
SIMPSONS, O FILME<br />
Baseado numa série de<br />
sucesso, Simpsons chega<br />
finalmente ao cinema depois<br />
de duas décadas de emissão<br />
na televisão. Em<br />
tempo de preocupaçõesambientais,<br />
Homer<br />
vê-se obrigado a<br />
reparar os danos<br />
de uma catástrofe ecológica<br />
em Springfield, que ele<br />
próprio provocou. Uma multidão<br />
sedenta de vingança<br />
aproxima-se da casa dos<br />
Simpson. A família consegue<br />
escapar, mas divide-se em<br />
torno do conflito. Enquanto<br />
o destino de Springfield e do<br />
mundo está por definir,<br />
Homer embarca numa odisseia<br />
de redenção – procurando<br />
o perdão da Marge, a<br />
reunião da família dividida e<br />
a salvação da cidade.<br />
TÍTULO ORIGINAL: The<br />
Simpsons Movie; REALIZAÇÃO:<br />
David Silverman; VOZES: Dan<br />
Castellaneta, Julie Kavner,<br />
Nancy Cartwright, Yeardley<br />
Smith, Harry Shearer;<br />
EUA, 87m, cor, 2<strong>00</strong>7<br />
EDIÇÃO: Castello Lopes<br />
BLADE RUNNER<br />
– PERIGO IMINENTE<br />
Eis-nos perante a reedição,<br />
68 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />
No planeta azul<br />
25 anos depois, de um<br />
profético e clássico filme de<br />
ficção científica. Visualmente<br />
espectacular e repleto de<br />
acção, Blade Runner regressa<br />
na versão original e definitiva<br />
do realizador, Ridley<br />
Scott, com a inclusão de<br />
cenas mais longas e efeitos<br />
especiais, eliminados na versão<br />
do produtor.<br />
Um solitário e aposentado<br />
detective do século XXI, Rick<br />
Deckard (Harrison Ford) é<br />
intimado a regressar à actividade<br />
(2019) para dar caça a<br />
fugitivos<br />
andróides<br />
assassinos.<br />
Baseado na<br />
obra de Philip<br />
K. Dick, “Do<br />
Androids<br />
Dream of Electric Sheep?”, o<br />
filme conduz-nos a um<br />
mundo afectado por catástrofes<br />
ambientais, cidades<br />
destruídas e fuga para colónias<br />
espaciais. A banda sonora<br />
de Vangelis e o inesperado<br />
e tenso romance de Deckard<br />
com Raquel dão o suporte<br />
adequado a um notável e<br />
revelador filme de culto.<br />
TÍTULO ORIGINAL: Blade<br />
Runner; Realização: Ridley<br />
Scot; COM: Harrison Ford,<br />
Rutger Hauer, Sean Young,<br />
Veneza) e a inédita longa metragem dos Simpsons – ,<br />
diferentes e criativas abordagens a um tema vital para a<br />
sobrevivência do planeta. Destaque ainda para uma<br />
nova e premiada versão (francesa) de “Lady Chatterley”,<br />
baseada no célebre romance de D.H. Lawrence.<br />
Edward James Olmos; EUA,<br />
117m, cor, 1982<br />
EDIÇÃO: Castello Lopes<br />
LADY CHATTERLEY<br />
No castelo dos Chatterley,<br />
Constance vive dias<br />
monótonos, junto de um<br />
marido inválido. O dever de<br />
fidelidade é, entretanto, abalado<br />
por intensos e apaixonados<br />
encontros<br />
amorosos com<br />
Oliver, o guarda<br />
de caça da<br />
propriedade. O<br />
filme, baseado<br />
no romance homónimo de<br />
D.H. Lawrence, duramente<br />
hostilizado, e considerado<br />
pornográfico, aquando da<br />
sua publicação (1928), é a<br />
história, sensível e magnificamente<br />
interpretada, do reencontro,<br />
humano e vital, de<br />
uma mulher que reavivou a<br />
adormecida sensualidade. Os<br />
cinco Césares (galardão máximo<br />
do cinema francês),<br />
atribuídos em 2<strong>00</strong>7, justificam<br />
plenamente a nossa escolha.<br />
TÍTULO ORIGINAL: Lady<br />
Chatterley; REALIZAÇÃO:<br />
Pascale Ferran; COM: Marina<br />
Hands, Jean-Louis Coulloc’h,<br />
Hippolyte Girardot; França,<br />
158m, Cor, 2<strong>00</strong>6<br />
EDIÇÃO: Atalanta Filmes<br />
STILL LIFE<br />
– NATUREZA MORTA<br />
A construção da gigantesca<br />
barragem das Três Gargantas<br />
no rio Yangtse vai submergir<br />
a velha cidade de Fengjie. O<br />
mineiro Han Saming viaja<br />
para Fengjie. Quer reencontrar<br />
a filha e a ex-mulher, que<br />
não vê há 16 anos. Um reencontro<br />
feliz… Han e Missy<br />
voltam a casar. Final diferente<br />
para Shen Hong, uma<br />
enfermeira que viaja para<br />
Fengjie à procura do seu<br />
marido, ausente há dois<br />
anos. Abraçam-se e<br />
dançam junto à<br />
barragem. Mas o<br />
marido tem outra<br />
mulher, dona da<br />
empresa de<br />
demolições da cidade. O<br />
reencontro termina em<br />
divórcio. Retrato impressivo<br />
das vertiginosas mudanças<br />
económicas, sociais e ambientais<br />
do imenso país asiático,<br />
“Sanxia Haoren” teve a<br />
máxima consagração no<br />
Festival de Veneza 2<strong>00</strong>6.<br />
TÍTULO ORIGINAL: Sanxia<br />
Haoren; REALIZAÇÃO: Jia Zhang-<br />
Ke; COM: Zhao Tao, Han<br />
Sanming, Li Zhubin, Hong Wei<br />
Wang, Haiyu Xiang, Zhou Lin;<br />
China, 108m, cor, 2<strong>00</strong>6<br />
EDIÇÃO: Atalanta Filmes
Carta de intenção<br />
BOAVIDA<br />
Cineclube<br />
Não foram os “cineclubes” que me iniciaram no cinema. Comecei a ir ao cinema muito cedo<br />
e as primeiras vezes precederam até a actividade moralizadora e pedagógica<br />
da “classificação dos espectáculos”.<br />
Miguel Freitas da Costa<br />
Não fui ver especialmente<br />
filmes “para crianças”,<br />
que não eram muitos<br />
(estreavam-se e reestreavam-se<br />
as primeiras longas-metragens<br />
de desenhos animados de Walt<br />
Disney, a começar pela Branca de<br />
Neve e os Sete Anões, de 1937, que<br />
vi numa das suas reposições, além<br />
do Bambi, 1953, etc., que ainda hoje<br />
circulam e não perdem, até ganham,<br />
na comparação com muitas<br />
das produções mais recentes e mais<br />
preguiçosas). Os primeiros filmes<br />
que me lembro de ver, no São Luiz e<br />
no Monumental, foram o Cyrano de<br />
Bergerac, numa excelente versão<br />
americana, com o grande actor José<br />
Ferrer, As Minas de Salomão e O<br />
Facho e a Flecha, todos de 1950 e<br />
todos com muito que se lhes poderia<br />
dizer. Ainda tenho os “programas”.<br />
Mas foi na incipiente actividade<br />
cineclubísta do Colégio S. João<br />
de Brito que pela primeira vez vi<br />
publicado um texto meu de “crítica<br />
de cinema”. Tinha quinze anos – e<br />
ganhei o primeiro e último<br />
“prémio” da minha vida no cinema<br />
(o filme era o Moby Dick, de John<br />
Huston). Depois, houve muitos outros<br />
filmes e outros cineclubes.<br />
Numa das melhores e mais sucintas<br />
definições que encontrei, um<br />
“cineclube” é uma “associação que<br />
reúne apreciadores de cinema para<br />
fins de estudo e debates e para<br />
exibição de filmes seleccionados<br />
(Dicionário Houaiss de Língua<br />
Portuguesa). Diz tudo, na sua generalidade.<br />
Na Enciclopédia Verbo,<br />
Fernando Garcia escreve que um<br />
“cineclube” é uma “associação constituída<br />
para proporcionar aos seus<br />
membros espectáculos de cinema<br />
seleccionados. Os C. apareceram em<br />
1920, em consequência da acção dos<br />
primeiros teóricos da expressão cinematográfica<br />
e dos primeiros estudos<br />
de estética de cinema, em especial<br />
devidos a Louis Delluc e Canudo...“<br />
e assim por diante. A<br />
citação serve principalmente para<br />
lembrar e prestar homenagem a um<br />
importante e por demais esquecido<br />
cinéfilo e cineasta português, autor<br />
deste verbete e de muitos outros na<br />
rubrica de cinema da Verbo. Mas ao<br />
ser mais extenso e “histórico” do<br />
que a concisa definição dos dicionários,<br />
o artigo não é tão indiscutível.<br />
Há certos aspectos práticos, culturais<br />
e políticos que mereciam mais<br />
desenvolvimento, em particular<br />
quanto a Portugal, em que muitos<br />
dos “cineclubes”, na sua “idade de<br />
ouro”, foram palco privilegiado do<br />
“combate cultural” e um dos principais<br />
portos de abrigo e rampas de<br />
lançamento da crítica marxista, uma<br />
história que não vi ainda contada, a<br />
não ser na perspectiva oca e pouco<br />
esclarecedora da “luta antifascista”.<br />
Há muitos tipos de “cineclube”,<br />
de diferentes importâncias e modelos<br />
e muito diferentes meios (nem<br />
todos podem publicar uma luxuosa<br />
revista de cinema como a “Film<br />
Society” - outro nome para “cineclube”<br />
- do Lincoln Center de Nova<br />
Iorque, que edita a Film Comment).<br />
Há “cineclubes” na Internet. Este<br />
modesto CINECLUBE, que não<br />
projecta filmes, vai dedicar-se, na<br />
medida das suas possibilidades, a<br />
tentar situar, comentar e relacionar<br />
entre si e com outras áreas da vida<br />
a programação cinematográfica<br />
que está ao alcance da maioria das<br />
pessoas, na televisão, no cinema<br />
(quando seja caso disso) e na vasta<br />
cinemateca que hoje se pode levar<br />
para casa. Tendo sempre presente<br />
que o cinema abre todas as portas:<br />
o realizador francês François<br />
Truffaut escreveu que pertencia a<br />
uma geração que tinha conhecido<br />
Shakespeare graças aos filmes de<br />
Orson Welles. Mais recentemente,<br />
um personagem do filme Grand<br />
Canyon dizia a outro: “Um dos<br />
teus problemas é que não vais<br />
muito ao cinema. Todos os enigmas<br />
da vida têm resposta nos filmes”.<br />
Verão que sim. ■<br />
<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 69
Pedro Soares<br />
BOAVIDA<br />
À mesa<br />
Boa alimentação à mesa<br />
do doente Celíaco<br />
Estima-se que sejam cerca de 1<strong>00</strong> mil os portugueses afectados pela doença celíaca.<br />
A doença celíaca é uma doença auto-imune que afecta o intestino delgado de crianças e adultos<br />
que já estão geneticamente predispostos.<br />
Os sintomas podem<br />
incluir diarreia, dificuldades<br />
no desenvolvimento<br />
das crianças,<br />
perda de peso e fadiga. Em adultos,<br />
o quadro clínico mais comum é a<br />
anemia podendo, o aparecimento<br />
da intolerância ao glúten, estar relacionada<br />
com uma forte alteração<br />
emocional como uma mudança de<br />
emprego ou a morte de um familiar.<br />
O aparecimento da doença é precipitado<br />
pela ingestão de alimentos<br />
que contêm glúten como o trigo,<br />
centeio, cevada e aveia. A doença<br />
causa atrofia de algumas regiões do<br />
intestino prejudicando a absorção<br />
de nutrientes como vitaminas, sais<br />
minerais e água.<br />
A única forma de tratamento da<br />
doença celíaca baseia-se na ingestão<br />
de uma dieta rigorosamente sem<br />
glúten. Esta situação<br />
obriga a um conhecimento<br />
profundo da<br />
composição dos alimentos<br />
por parte da<br />
família e dos doentes, a<br />
determinadas regras na<br />
confecção culinária e a<br />
um grande auto-controlo.<br />
Como se percebe,<br />
esta não é uma doença fácil, em especial<br />
para crianças e adolescentes.<br />
Obriga as famílias a se unirem e a<br />
aprenderem em conjunto. O objectivo<br />
passa por transmitir ao doente<br />
70 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />
Uma das<br />
primeiras<br />
coisas a fazer<br />
é perceber<br />
quais os<br />
alimentos<br />
que contêm<br />
glúten<br />
uma série de regras para que progressivamente<br />
vá ficando mais<br />
autónomo. Para uma criança tornase<br />
muito importante que mantenha<br />
a sua actividade escolar normal.<br />
Deve-se indicar à escola e aos<br />
responsáveis escolares toda a informação<br />
necessária para que a criança<br />
cumpra a dieta de forma natural sem<br />
se sentir descriminada, cabendo aos<br />
pais uma intervenção firme mas ao<br />
mesmo tempo possibilitando o convívio,<br />
as saídas e toda a vida social de<br />
um jovem nesta idade.<br />
Nestas situações, uma das primeiras<br />
coisas a fazer é perceber quais<br />
os alimentos que contêm glúten.<br />
Entre estes podemos indicar o pão,<br />
bolos, pasteis, massas e biscoitos.<br />
Existem também outro tipo de alimentos<br />
para os quais é necessária<br />
vigilância acrescida. São os alimentos<br />
que podem conter glúten ou não,<br />
dependendo se a estes são adicionadas<br />
farinhas de<br />
trigo, centeio, cevada ou<br />
aveia. Como exemplos<br />
podemos indicar os<br />
enchidos, gelados, queijos<br />
fundidos, conservas e<br />
patés e sucedâneos de<br />
café ou chocolate. A leitura<br />
de rótulos é muito<br />
importante nestes casos e<br />
quando existirem dúvidas devem ser<br />
consultados os pediatras e nutricionistas<br />
que acompanham as crianças.<br />
Atenção especial deve ser<br />
dada aos espessantes, aos extractos<br />
de levedura e a certos aditivos derivados<br />
de amidos modificados como o E<br />
1404, E 1410, E 1412, E 1413, E 1414, E<br />
1420 e E 1440. Existem listas actualizadas<br />
de alimentos sem glúten e<br />
uma Associação dos Doentes com<br />
Intolerância ao Glúten. Existe ainda<br />
um símbolo internacional que identifica<br />
os alimentos “sem glúten” garantindo<br />
uma maior segurança aos consumidores.<br />
Este tipo de simbologia é<br />
muito importante porque alguns alimentos<br />
da mesma marca podem ter<br />
diferentes composições em países<br />
diferentes. O que obriga a cuidados<br />
redobrados quando se viaja para o<br />
estrangeiro ou quando as listas são<br />
internacionais.<br />
Colocados os cuidados e restrições<br />
convém relembrar que a vida de um<br />
doente celíaco pode e deve ser recheada<br />
de alimentos e receitas bem<br />
saborosas. As farinhas sem glúten<br />
(de arroz, de pau, milho, araruta) a<br />
fécula de batata e o amido de trigo<br />
sem glúten permitem uma culinária<br />
inventiva e saborosa. Com pequenas<br />
adaptações pode compensar-se a<br />
menor elasticidade destas massas,<br />
utilizando um pouco mais de fermento,<br />
gordura, frutos secos ou<br />
ovos. Os alimentos sem glúten como<br />
o leite e iogurtes, as carnes e peixes,<br />
os ovos, as hortaliças, leguminosas,<br />
arroz, milho e tapioca, frutas frescas<br />
e secas, o mel, açúcar, azeite e vinho<br />
não contém glúten e permitem uma<br />
vida saudável, saborosa e duradoura<br />
a estas pessoas. Ainda bem. ■
Quando a tiróide<br />
adoece<br />
A dona M.J. é uma senhora de sessenta e poucos anos. É modista,<br />
mas já não trabalha “para fora”. Vive com uma sobrinha que ajudou<br />
a criar e que é como se fosse sua filha. Foi sempre uma senhora<br />
saudável, embora de aspecto frágil. Esconde lá dentro de si uma<br />
enorme força de vontade com que enfrenta as adversidades da vida.<br />
M.Augusta Drago<br />
Q<br />
uando a conheci há<br />
cerca de dois anos,<br />
tinha um ar ainda<br />
mais frágil do que<br />
hoje. Disse que se sentia irritável,<br />
inquieta, ao mesmo tempo que lhe<br />
tremiam as mãos. O coração andava<br />
num alvoroço, batia muito rapidamente<br />
e este desassossego não a<br />
deixava dormir. Acordava frequentemente<br />
durante a noite e também<br />
lhe parecia que o comer não lhe<br />
aproveitava: comia como dantes ou<br />
mais e sentia-se emagrecer.<br />
Na sua aparência havia um aspecto<br />
que não mencionara mas que<br />
me chamou desde logo a atenção –<br />
os olhos estavam muito abertos e<br />
um pouco salientes.<br />
Este é o quadro clínico duma do-<br />
ença chamada hipertiroidismo. A<br />
maioria dos doentes com esta patologia<br />
apresenta-se nas consultas<br />
com estas queixas e ainda outras,<br />
como a pele seca, perda de cabelo<br />
(cabelo frágil e quebradiço) e múltiplas<br />
dejecções por dia. É frequente<br />
o aumento de volume da tiróide e<br />
as pessoas nestas circunstâncias<br />
queixam-se de dificuldade em engolir<br />
ou referem o aumento de volume<br />
do pescoço.<br />
A tiróide é uma glândula endócrina<br />
localizada na base do pescoço e produz<br />
duas substâncias (hormonas): a<br />
tiroxina (T4) e a tri-iodotironina (T3).<br />
Estas substâncias, em quantidades<br />
equilibradas, ajudam a regular o<br />
metabolismo do corpo. Estas hormonas,<br />
ao circularem através do<br />
sangue por todo o corpo, ajudam-no<br />
a manter a sua temperatura, regulam<br />
BOAVIDA<br />
Saúde<br />
o consumo de calorias e auxiliam na<br />
recuperação dos músculos.<br />
Se a tiróide libertar grande quantidade<br />
de hormonas, então o metabolismo<br />
corporal acelera e dizemos<br />
que o doente sofre de hipertiroidismo,<br />
como a dona M.J..<br />
A situação inversa é quando a<br />
tiróide liberta poucas quantidades<br />
de T3 e T4. O doente nestas condições<br />
sofre de hipotiroidismo e as<br />
suas queixas são, ao contrário do<br />
hipertiroidismo, sensação de falta<br />
de energia, lentidão, cansaço, por<br />
vezes dormita. Refere ainda perda<br />
de memória e obstipação. Estes sintomas<br />
no idoso podem levar a pensar<br />
que se trata do próprio processo<br />
de envelhecimento e a não actuar.<br />
É por isso que é mandatório a<br />
partir de uma certa idade fazer um<br />
estudo da função tiroideia, porque<br />
no caso de serem detectadas alterações,<br />
estas poderem ser medicamente<br />
corrigidas.<br />
O hipotiroidismo pode ser tratado<br />
com uma hormona sintética, a levotiroxina,<br />
e na maior parte dos doentes<br />
a sintomatologia regride rapidamente.<br />
Depois de se ter acertado a<br />
dose de medicamento necessária<br />
para manter os níveis normais das<br />
hormonas, a vigilância é feita com<br />
análises e exame clínico anual.<br />
Em relação ao hipertiroidismo, o<br />
tratamento é feito com fármacos<br />
antitiroideus para reduzirem o excesso<br />
de hormona produzida. Os<br />
medicamentos podem no entanto<br />
causar reacções adversas para as<br />
quais o seu médico de família lhe<br />
chamará a atenção. A cirurgia para<br />
remoção de parte da tiróide pode<br />
ainda estar indicada em raros casos.<br />
Qualquer dos tratamentos de que<br />
dispomos tem de ser adaptado às<br />
características do doente e depende<br />
da idade, se sofre de outras doenças,<br />
se deseja engravidar, etc… ■<br />
medicofamília@clix.pt<br />
<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 71
BOAVIDA<br />
Tempo informático<br />
Fernando Pessoa utilizou esta frase que nasceu da mente privilegiada de Petrarca, para quem o<br />
termo “preciso”, ao contrário, como se julga, de algo que é necessário,<br />
está associado a técnica exacta.<br />
Gil Montalverne<br />
Aqui aplicamos os dois significados.<br />
Para melhorar<br />
o conhecimento “navegar<br />
é preciso”. Naveguemos<br />
pois na Internet e não só,<br />
utilizando as novas tecnologias.<br />
Para melhor navegar quando<br />
transportamos o nosso portátil, a<br />
Logitech lançou o Nano, um minirato<br />
sem fios que usa um nanoreceptor,<br />
tão pequeno que depois de<br />
ligado à porta USB apenas fica a<br />
descoberto cerca de 6 mm. Liga-se<br />
apenas uma vez e podemos esquecê-lo,<br />
pois não prejudica a arrumação<br />
do portátil na mala e o Nano<br />
estará sempre pronto a usar. A sua<br />
tecnologia laser proporciona um<br />
controlo do cursor mais suave em<br />
quase todas as superfícies e com ele<br />
se pode navegar por documentos<br />
longos a uma velocidade hiper-elevada.<br />
Navega-se melhor na estrada ou<br />
na cidade com um GPS. E o novo<br />
O receptor está<br />
colocado na<br />
parte inferior<br />
do rato<br />
72 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />
Navegar é preciso<br />
modelo do Via-Michelin lançado<br />
pela NET-BIT permite melhor navegação,<br />
mais segurança e mais prazer<br />
e conforto, incluindo um leitor de<br />
MP3. Com as várias versões, entre o<br />
X960 para Portugal/Espanha (169<br />
Euros) e o X980T para a toda a<br />
Europa (349 E), este com Bluetooth,<br />
mãos livres e ecrã panorâmico, existem<br />
outros 3 para todas as bolsas ou<br />
exigências. Permitem definir etapas<br />
intermédias, avisar sobre Curvas<br />
Perigosas, aproximação de Escolas,<br />
Radares Fixos, etc. tudo com actualizações<br />
regulares. O nome Michelin<br />
é garantia de precisão nas informações<br />
e os célebres Guias Vermelho<br />
(restauração e<br />
hotéis) e Verde (os<br />
mais importantes<br />
pontos turísticos<br />
com 30.<strong>00</strong>0 fotografias)<br />
e a informação<br />
da previsão<br />
do tempo para os<br />
próximos cinco dias, garantem<br />
de facto uma navegação<br />
precisa. Além de tudo<br />
isto, se desejar planear a<br />
sua viagem no site da<br />
Michelin, pode depois sincronizar<br />
para o seu GPS o<br />
trajecto escolhido.<br />
Mas há outros processos<br />
de navegar para entrar noutro<br />
mundo. O mundo do conhecimento<br />
é o que enche a famosa<br />
Enciclopédia Britannica,<br />
agora na edição de <strong>2<strong>00</strong>8</strong> que<br />
acaba de nos chegar às mãos.<br />
Continua a ser a mais completa<br />
enciclopédia em língua Inglesa. Um<br />
DVD que inclui os notáveis 47 volumes<br />
da edição impressa, com<br />
mais de 1<strong>00</strong>.<strong>00</strong>0 artigos, obras completas,<br />
clipes de<br />
Audio e vídeo, mapas<br />
mundiais actualizados.<br />
Incluindo a ciência,<br />
a política, o<br />
desporto, tem a<br />
vantagem de<br />
poder ser consultada<br />
em três modos<br />
diferentes, para adultos,<br />
estudantes dos 10 aos 14 ou crianças<br />
dos 6 aos 10. Credível, eficiente<br />
e sempre actualizável, ficamos<br />
a conhecer os artigos do ano<br />
escritos por intelectuais, prémios<br />
Nobel e os melhores especialistas<br />
mas diversas matérias. Adquirida<br />
pela Internet, navegar nela… é preciso.<br />
■<br />
ajuda@gil.com.pt
Carlos Blanco<br />
ETANOL: o Etanol, que<br />
serve de base aos bioetanol<br />
e ao biodiesel, pode<br />
ser usado em várias<br />
proporções: a 85/15 de etanol/gasolina,<br />
é chamado E85 bioetanol; se<br />
a mistura for 5/95, de etanol/diesel,<br />
é o chamado B5 biodiesel. O Brasil<br />
é o principal produtor de etanol do<br />
mundo. Sintra foi município pioneiro<br />
em Portugal na instalação de<br />
um posto de abastecimento de<br />
biodiesel, há dois anos, usado sobretudo<br />
por transportes públicos.<br />
Do lado das vantagens contabilizase<br />
o facto de se poder reciclar óleos<br />
usados ou cultivar a matéria-prima<br />
vegetal e não serem necessárias<br />
grandes alterações tecnológicas aos<br />
actuais motores. Mas o biodiesel<br />
tem emissões poluentes de Nox,<br />
não serve para motores anteriores a<br />
1992 e o cultivo intensivo prejudica<br />
os campos.<br />
ELECTRICIDADE: poder<br />
carregar a bateria do<br />
carro como o telemóvel<br />
pode ser uma alternativa<br />
a curto prazo. Mas antes de haver<br />
um veículo totalmente eléctrico<br />
(plug-in), a solução irá passar por<br />
uma fase de upgrade dos actuais<br />
híbridos. Ou seja, ter baterias eléctricas<br />
com mais potência que o<br />
motor tradicional. Um carro totalmente<br />
eléctrico permite a erradicação<br />
das emissões poluentes. O<br />
problema é o armazenamento da<br />
energia: para serem pequenas e<br />
leves, as baterias de níquel têm<br />
pouca capacidade (a autonomia<br />
média anda nos 60 quilómetros),<br />
tornam-se caras e não são eternas.<br />
As de lítio, preferidas pelos construtores,<br />
são sensíveis ao calor e<br />
precisam de ventilação. E carregar<br />
uma bateria não é como meter<br />
gasolina: são precisas várias horas.<br />
HIDROGÉNIO: é a solução<br />
que mais problemas<br />
técnicos levanta e que<br />
mais dinheiro tem consumido<br />
aos departamentos de investigação.<br />
O hidrogénio (pilha de<br />
combustível) pode ser usado no<br />
estado líquido ou gasoso. A grande<br />
BOAVIDA<br />
Ao Volante<br />
Combustíveis alternativos<br />
face ao aumento do petróleo<br />
O petróleo chega aos cem dólares, os combustíveis aumentam. Há, pois, que procurar novas<br />
alternativas: o etanol, a electricidade e o hidrogénio são disso exemplo.<br />
vantagem é o facto de ter emissões<br />
não poluentes – apenas vapor de<br />
água. Por outro lado, é muito caro<br />
produzir hidrogénio, é difícil de<br />
armazenar e distribuir no estado<br />
gasoso. E no estado líquido tem que<br />
ser mantido a 253 graus negativos,<br />
o que torna impossível de usar nos<br />
automóveis. Há quem defenda que<br />
não é solução a médio prazo, mas<br />
construtores como a General Motors,<br />
Toyota, Honda e BMW têm<br />
feito experiências ultimamente. Até<br />
aqui, não passam de concept-cars.<br />
A entrada nas linhas de produção<br />
deverá levar pelo menos 15 anos.<br />
Assim os automóveis híbridos<br />
representam, para já, a melhor hipótese<br />
de diminuir as emissões de<br />
CO2 para atmosfera. ■<br />
<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 73
1<br />
2<br />
3<br />
4<br />
5<br />
6<br />
7<br />
8<br />
9<br />
10<br />
11<br />
12<br />
13<br />
CLUBE TEMPO LIVRE PASSATEMPOS<br />
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15<br />
SOLUÇÕES<br />
1-GOIS; GERES; GAIO. 2-OBRAIS; O; ANIMAR. 3-IESIM; M S; ABATE:<br />
4-IR; S; PARIS; A; EM. 5-AOS; CALAMOS; USO. 6. S; OVOS; M; NUAS;<br />
S. 7-CRISTO; TEMIAS. 8-S; ILEO; M; TEAR; F. 9-IBA; URSINOS; ALA.<br />
10-NU; P; AUTOS; A; EM. 11- TRAIA; ARA; AMIGO. 12-REGALO; A;<br />
BRIDAS. 13-ALAR; SALVA; RARO.<br />
Xadrez > por Joaquim Durão<br />
Henri Rinck (1870-1952), engenheiro<br />
químico francês e xadrezista amador<br />
dedicado à composição de problemas e<br />
sobretudo de finais artísticos, foi sem<br />
dúvida um dos mais destacados do<br />
século passado. Em 1924 cometeu a<br />
proeza de num mesmo concurso,<br />
arrebatar os três primeiros prémios. Além<br />
da famosa obra “As Surpresas da Teoria”<br />
(da composição), deixou colectânea de<br />
referência: 150 Finais (1907) 3<strong>00</strong> (1919),<br />
7<strong>00</strong> (1927) e 1414 (1951). Harmonia e<br />
simplicidade – com a sua dificuldade,<br />
obviamente – são três características das<br />
suas obras, como a de hoje, uma pequena<br />
obra-prima.<br />
AS BRANCAS JOGAM E GANHAM<br />
Continuando com a beleza, relembramos<br />
a Partida Imortal – a primeira baptizada<br />
com a designação. Extraordinária<br />
combinação final para 1851 – a época<br />
romântica do xadrez, pelo alemão Adolf<br />
Anderssen (Breslau, 06.08.1818 –<br />
09.03.1878) que, com brancas derrota o<br />
russo Kieseritsky (01.01.1806 –<br />
18.05.1853), natural da Livonia – antiga<br />
74 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />
Palavras Cruzadas > por Tharuga Lattas<br />
Horizontais:<br />
1-Sede de concelho do distrito de Coimbra; Crias; Esperto. 2-<br />
Fabricais; Alentar. 3-Veio de madeira; Espaço de tempo; Humilha.<br />
4-Caminhar; Capital europeia; Sobre. 5-Ós; Cortamos; Trejo. 6-<br />
Origens; Despidas. 7-Redentor; Receavas. 9-Elemento de construção<br />
de palavras que traduz a ideia de “intestino”; Maquinismo<br />
para tecer. 9-Nome pessoal masculino; Ursídeos; Enfiada.10-Sem<br />
roupa; Actos; Entre. 11-Atraiçoe; Pedra de altar; Afeiçoado. 12-<br />
Prazer; Conjunto das rédeas, freio e cabeçada. 13-Erguer; Ovação;<br />
Invulgar.<br />
Verticais:<br />
1-Gigante filisteu morto por David; Sede de concelho dos arredores<br />
de Lisboa. 2-Agravo; Pano grosseiro de Ia. 3-”Imposto sobre o<br />
Rendimento das Pessoas Singulares” (Sigla). Nome pessoal feminino;<br />
Nome da oitava letra do alfabeto português. 4-Desapareces;<br />
Miserável; Dar pios. 5-Pref. de “negação”; Costurou; Ao. 6-Símbolo<br />
da “Unidade electromagnética”; Pegureira; Elos. 7-Achaque;<br />
Transpira. 8-Rataram; Que tem forma de mitra. 9-Afirmativa; Hora<br />
canónica. 10-Sua; Sátiras; Ama-seca. 11-”Sódio” (s.q.); Fazes desaparecer;<br />
Viração. 12-Corcova; Ama; Emir. 13-Estalajadeira;<br />
Utilizara; Nome pessoal feminino. 14-Barcos de recreio; Deixar. 15-<br />
Rezemos; Brilhante.<br />
província russa, agora dividida entre a<br />
Estónia e a Letónia, mas residente em<br />
Paris desde 1839.<br />
Londres, 1851. Gambito de Rei Aceite. 1,<br />
e4 e5 2. f4 exf4 3.Bc4 Dh4+ 4.Rf1 b5?! (3.<br />
Bc4 também Fischer jogou mais tarde,<br />
mas este lance, fraco, tem que ser<br />
entendido nas mãos de um mestre, com a<br />
época romântica a que pertence a<br />
partida. Pretende-se, a troco de um peão,<br />
situar pior o Bc4 e deixar livre “b7” para o<br />
B. Tudo pelo ataque e ganhos de<br />
“tempos”. A partir daqui tudo é mais<br />
lógico, apesar da complexidade da<br />
combinação final. 5.Bxb5 Cf6 6.Cf3 Dh6<br />
7.d3 Ch5 8.Ch4! Dg5 9.Cf5 c6 10.g4! Cf6<br />
11. Tg1! (Sacrifica-se o B para ganhar<br />
tempos e perseguir a dama preta) cxb5<br />
12. h4 Dg6 13. h5 Dg5 14. Df3 Cg8 15.<br />
Bxf4 Df6 16. Cc3 Bc5 17. Cd5! Dxb2<br />
18.Bd6!! (Nascendo o chamado “sacrifício<br />
imortal das duas torres”) Bxg1 19. e5!! (O<br />
grande detalhe: corta a diagonal à dama,<br />
negando-lhe a defesa do mate) Dxa1+<br />
20. Re2 Ca6 (salva um mate, mas há<br />
outro) 21. Cxg7+ Rd8 22. Df6+!! Cxf6 23.<br />
Be7++.<br />
SOLUÇÕES<br />
1. Bd5+ Rxd5 (Óbvio. se R joga diferentemente 2.<br />
Bxa8 e o final é fácil para as brancas, com a figura<br />
de vantagem) 2. dxe7 g2 (Forçado. Se qualquer<br />
outra, 3. d8=D e esta dama evitará a coroação do<br />
peão “g” preto) 3. d8=C! (se 3.d8=D, g1=D 4.<br />
Dxa8+ Re6 e as brancas não têm mais que o<br />
empate) g1=D ou qualquer outra figura, ou ainda<br />
se joga o peão “d” inevitavelmente 4. c4 mate. A<br />
promoção a C é um detalhe de grande efeito<br />
estético.
Este cupão só é válido na compra<br />
de 1 livro constante da nossa secção<br />
“ Novos livros ”, onde está incluído<br />
o preço de venda ao público<br />
(PVP) e respectiva Editora<br />
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NOTA: os cupões para aquisição de Livros são válidos até ao final do ano de 2<strong>00</strong>7<br />
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Remeter para<br />
Clube Tempo Livre –<br />
LIVROS, Calçada de<br />
Sant’Ana n<strong>º</strong> 180 –<br />
1169-062 Lisboa, o<br />
seguinte:<br />
● Pedido, referenciando<br />
a editora e o título<br />
da obra pretendida;<br />
● Cheque ou Vale dos<br />
Correios, correspondente<br />
ao valor (PVP)<br />
do livro, deduzindo<br />
2,74 <strong>euros</strong> de desconto<br />
do cupão.<br />
● Portes dos Correios<br />
referente ao envio da<br />
encomenda, com<br />
excepção do<br />
estrangeiro, serão<br />
suportados pelo Clube<br />
Tempo Livre. Em caso<br />
de devolução da<br />
encomenda, os custos<br />
de reenvio deverão ser<br />
suportados pelo<br />
associado.
CLUBE TEMPO LIVRE NOVOS LIVROS<br />
CAMPO DAS LETRAS<br />
MEU PRIMEIRO LAROUSSE<br />
O NOSSO PLANETA<br />
Vários Autores<br />
ISBN: 978-989-625-151-2<br />
156 pg. | 15,12 (PVP)<br />
Um livro para<br />
compreender melhor a<br />
nossa Terra. Por que é ela<br />
tão bela e tão frágil?<br />
Como é que se formou?<br />
Por que é que houve<br />
dinossauros e homens préhistóricos.<br />
Por que é que<br />
há vulcões e tremores de<br />
terra? Que podemos fazer<br />
para preservar o ar, a<br />
água, as florestas, os<br />
animais?<br />
ESPOSA DE ASSUÃO<br />
Rula Jebreal<br />
ISBN: 978-989-625-237-3<br />
252 pg. | 14,70 (PVP)<br />
Relato de uma vida<br />
dramaticamente<br />
entrelaçada com quase um<br />
século de história do Médio<br />
Oriente, este romance de<br />
tom biográfico e histórico, é<br />
também uma apaixonante<br />
história de amor, ódio e<br />
guerra.<br />
Odiada, ofendida,<br />
perseguida: no início do<br />
século XX, a família de<br />
Mazen Qupti, comerciante<br />
de Assuão, vive na própria<br />
pele a tragédia dos cristãos<br />
coptas no Egipto, suspeitos<br />
de colaboracionismo com o<br />
protectorado inglês pela<br />
maioria muçulmana.<br />
FERNÃO LOPES -<br />
CRÓNICAS (DE D. PEDRO I,<br />
D. FERNANDO E D. JOÃO<br />
I)<br />
Fernão Lopes<br />
ISBN: 978-989-625-238-0<br />
456 pg. | 70 (PVP)<br />
Em frases curtas ilumina as<br />
figuras, enreda-as nas teias<br />
do amor ou do ódio, faz<br />
andar e ferver as multidões.<br />
76 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />
Certos capítulos são<br />
retábulos onde lemos e<br />
ouvimos os actores na sua<br />
nua humanidade.<br />
O quotidiano entra com o<br />
seu ruído e falas nas<br />
informações históricas e<br />
jurídicas.<br />
Uma antologia de António<br />
Borges Coelho sobre Fernão<br />
Lopes, considerado um dos<br />
antepassados do repórter.<br />
MEU GRANDE LAROUSSE<br />
DE MONSTROS E<br />
DRAGÕES<br />
Benoît Delalandre<br />
ISBN: 978-989-625-153-6<br />
144 pg. | 16,80 (PVP)<br />
O Badilisco, a<br />
Mandrágora,/a Fénix, os<br />
Trolls…/Vivem nas nossas<br />
lendas/e desde sempre<br />
fazem parte/do nosso<br />
mundo.<br />
Rosnam, cospem fogo/e<br />
veneno. São enormes/ou<br />
minúsculos, magníficos/ou<br />
muito feios.<br />
Metem muito medo,/mas<br />
escondem por vezes/um<br />
coração terno.<br />
Aí estão os Monstros!<br />
TERCEIRO ANJO - JOSÉ<br />
RODRIGUES - ANJOS EM<br />
DESCONSTRUÇÃO<br />
Nuno Higino<br />
ISBN: 978-989-625-215-1<br />
120 pg. | 24, 99 (PVP)<br />
Toda a obra de José<br />
Rodrigues (Luanda, 1936)<br />
está povoada de anjos. Os<br />
Anjos pintados,<br />
desenhados ou esculpidos<br />
são a sua voz, o efeito do<br />
seu gesto: neles se aloja um<br />
mundo (vários mundos) que<br />
há muito tempo deixou<br />
morrer os anjos.<br />
São anjos em retirada [como<br />
os deuses, segundo<br />
Hölderlin e Heidegger que,<br />
na sua fuga, ainda<br />
desenham um rasto de<br />
promessa.<br />
O CERCO<br />
Helen Dunmore<br />
ISBN: 978-989-625-212-0<br />
392 pg. | 19,95 (PVP)<br />
No Inverno de 1941, os<br />
tanques alemães cercam<br />
Leninegrado. Isolada do<br />
mundo, a cidade definha,<br />
martirizada. Nas ruas, nos<br />
parques, nas casas, as<br />
pessoas vão morrendo de<br />
fome e de frio.<br />
A autora contrapõe o amor<br />
e o ódio, a barbárie e a<br />
amizade, a vida e a morte,<br />
para construir uma obra<br />
impressionante, onde a<br />
guerra é vista no seu lado<br />
mais humano.<br />
DITORIAL PRESENÇA<br />
O ESPIÃO FIEL<br />
Alex Berenson<br />
ISBN: 978-972-23-3850-9<br />
324 pg. | 18 (PVP<br />
Um thriller de espionagem<br />
absolutamente soberbo.<br />
John Wells, o protagonista,<br />
é o único agente da CIA a<br />
conseguir infiltrar-se com<br />
sucesso nas mais altas<br />
esferas da al-Qaeda. Mas é<br />
um homem só, suspeito de<br />
traição pelos seus<br />
superiores da CIA e de<br />
espionagem por parte dos<br />
seus irmãos muçulmanos.<br />
Como teste decisivo à sua<br />
lealdade, um dos cérebros<br />
maquiavélicos da al-Qaeda<br />
incumbe-o de regressar aos<br />
EUA para uma importante<br />
missão – participar no mais<br />
devastador ataque<br />
terrorista da história.<br />
RICARDO CORAÇÃO DE<br />
LEÃO<br />
José-Augusto França<br />
ISBN: 978-972-23-3863-9<br />
179 pg. |15 (PVP)<br />
Este livro não é «um<br />
romance histórico» como o<br />
seu título pode fazer<br />
supor: as amigas do herói<br />
assim lhe chamavam por<br />
gosto e proveito, mas,<br />
universitário e jornalista,<br />
Ricardo viveu em Portugal,<br />
crises dos anos 60 e 70 e,<br />
em França, o Maio de<br />
1968. Depois, entre<br />
amores e desamores,<br />
incógnita e<br />
ocasionalmente cruzados,<br />
instalou-se numa quinta<br />
que fora dos Templários, a<br />
escrever, mais ou menos,<br />
a história da família.<br />
EUROPA-AMÉRICA<br />
A RÁDIO DA CIDADE<br />
PERDIDA<br />
Daniel Alarcón<br />
ISBN: 978-972-1-05858-3<br />
288 pg. | 20,51 (PVP)<br />
Num país perdido da<br />
América Latina grassa uma<br />
violenta guerra civil entre<br />
as forças do governo e as<br />
facções guerrilheiras<br />
reunidas sob o comando da<br />
Legião Ilegítima.<br />
No rescaldo do conflito,<br />
milhões de pessoas estão<br />
desaparecidas e famílias<br />
separadas, e a única réstia<br />
de esperança parece ser a<br />
Rádio da Cidade Perdida<br />
que divulga listas de<br />
desaparecidos e recebe<br />
chamadas em directo de<br />
pessoas que pretendem<br />
conhecer o destino de entes<br />
queridos.<br />
LISBOA A DAKAR<br />
Charley Boorman<br />
ISBN: 978-972-1-05847-7<br />
288 pg. | 24,90 (PVP)<br />
Na presente obra, o autor<br />
que em 2<strong>00</strong>4 terminou a<br />
volta ao mundo de mota<br />
narra as suas<br />
extraordinárias aventuras e<br />
revela a história do rali.<br />
Também acompanha as<br />
experiências dos outros<br />
participantes. De Portugal
ao Senegal, passando por<br />
Marrocos, pelo Sahara<br />
ocidental, pela Mauritânia,<br />
pelo Mali e pela Guiné,<br />
Lisboa a Dakar é o relato<br />
fascinante de um rali que<br />
conquistou a imaginação de<br />
milhões de pessoas.<br />
O KAMA SUTRA DOS<br />
NEGÓCIOS<br />
Nury Vittachi<br />
ISBN: 978-972-1-05859-0<br />
216 pg. | 19,51 (PVP)<br />
A Índia é uma fonte de<br />
pérolas de sabedoria e um<br />
país visitado por todos<br />
aqueles que procuram o<br />
sentido profundo da vida.<br />
Os segredos do poder<br />
espiritual estão contidos<br />
nos textos milenares<br />
indianos cuja essência<br />
este livro desvenda num<br />
estilo apelativo e<br />
divertido.<br />
Com técnicas para alcançar<br />
o sucesso nos negócios e na<br />
política, a obra é um<br />
autêntico elixir destilado a<br />
partir das fontes mais<br />
antigas.<br />
A ARTE DA PAZ<br />
Scott Ritter<br />
ISBN: 978-972-1-05860-6<br />
184 pg. | 18,90 (PVP)<br />
A obra é uma verdadeira<br />
Arte da Guerra para todos<br />
os que se comprometem a<br />
lutar pela Paz.<br />
O autor, um dos líderes dos<br />
inspectores de armamento<br />
da ONU no Iraque entre<br />
1991 e 1998 que serviu<br />
como oficial nos Marines e<br />
como conselheiro do<br />
general Schwarzkopf na<br />
primeira guerra do Golfo,<br />
propõe que o movimento<br />
antiguerra procure a<br />
orientação de que carece<br />
em fontes que normalmente<br />
rejeitaria: as filosofias<br />
daqueles que dominaram a<br />
arte do conflito, de César a<br />
Napoleão, de Sun Tzu a<br />
Clausewitz.<br />
ESTADO CRÍTICO<br />
Robin Cook<br />
ISBN: 978-972-1-05848-4<br />
432 pg. | 25,50 (PVP)<br />
Uma médica de 37 anos, a<br />
quem tudo corre bem na<br />
vida, funda a Angels<br />
Healthcare, com<br />
participações em três<br />
concorridos hospitais de<br />
Nova Iorque.<br />
Porém, uma infecção<br />
resistente nos três hospitais<br />
provoca várias vítimas e<br />
pode colocar em causa tudo<br />
o que levou anos a<br />
construir. As fortes<br />
suspeitas recaem sobre os<br />
seus investidores, a<br />
proveniência do dinheiro e<br />
a súbita necessidade de<br />
fundos torna a situação<br />
desesperante.<br />
O autor é um prestigiado<br />
médico norte-americano,<br />
reconhecido como o<br />
fundador do género literário<br />
“thriller médico”.<br />
ROMA EDITORES<br />
GRUPOS CORAIS E<br />
INSTRUMENTAIS DE<br />
PORTUGAL<br />
Lauro Portugal<br />
ISBN: 978-989-8063-19-9<br />
234 pg. | 40 (PVP)<br />
Uma mostra de Grupos<br />
Corais, Vocais e<br />
Instrumentais, Orfeões e<br />
Tunas, a nível nacional –<br />
contactos, reportórios,<br />
instrumentos, actuações,<br />
prémios e demais<br />
pormenores de interesse –<br />
com a sua música clássica,<br />
tradicional, erudita ou<br />
popular, o que,<br />
acreditamos,<br />
inegavelmente contribuirá<br />
para a sempre tão<br />
interessante e<br />
encantadora antropologia<br />
cultural.<br />
ARTE DE BEM MORRER<br />
Casimiro de Brito<br />
ISBN: 978-989-8063-17-5<br />
136 pg. | 13 (PVP)<br />
Uma obra prenhe de<br />
palavras “artisticamente<br />
vivas”, ricas de sentido,<br />
fortes, intensas e ao mesmo<br />
tempo tão leves, tão<br />
naturais, que se lêem como<br />
a água cai do cimo da rocha<br />
para o rio e, depois da<br />
agitação da queda, pouco a<br />
pouco se acalma. E cá<br />
estamos: sempre as<br />
“Quedas”, no poema de<br />
Casimiro de Brito – de que<br />
este é o segundo volume –<br />
“em que trabalharei no<br />
resto dos meus dias” –<br />
confidencia.<br />
CONTROLO DE TRÁFEGO<br />
AÉREO<br />
José João Martins<br />
Sampaio<br />
ISBN: 978-989-8063-18-2<br />
320 pg. | 15 (PVP)<br />
Um ensaio de cariz<br />
sociológico que revela um<br />
forte contributo para<br />
cimentar a ideia – polémica,<br />
talvez – de que a inexorável<br />
utilização de processos<br />
tecnológicos não reduz a<br />
prestação humana, de cuja<br />
acção complementar não<br />
pode dissociar-se para<br />
conseguir os resultados-alvo.<br />
O autor é membro do IET –<br />
Centro de Investigação em<br />
Inovação Empresarial e do<br />
Trabalho da Faculdade de<br />
Ciências e Economia da<br />
UNL e docente de<br />
Sociologia das Novas<br />
Ciências da Informação e foi<br />
controlador de tráfego aéreo<br />
durante mais de 30 anos.
CLUBE TEMPO LIVRE ROTEIRO<br />
BRAGA<br />
Cultura<br />
REIS: dia 6 às 15h – Os Palhaços<br />
Artur e Carlitos na Escola EB1<br />
da Qta da Veiga e Jardim de<br />
Infância em S. Vicente.<br />
Cinema: Filme “O Mistério” - dia<br />
11 às 21h no Centro Recreativo<br />
e Cultural de Moreira de<br />
Cónegos; dia 12 às 21h no<br />
Centro Recreativo e Cultural de<br />
Campelos; dia 18 às 21h no CCD<br />
da Associação Recreativa e<br />
Cultural de Valdozende; dia 19<br />
às 21h na Casa do Povo de<br />
Apúlia.<br />
Desporto<br />
ORIENTAÇÃO: dia 26 – Desporto<br />
Aventura, informações na<br />
Delegação<br />
FUTEBOL: Sábados e Domingos<br />
– Jornadas do C.D. Futebol<br />
ANDEBOL: dias 4 e 25 –<br />
Campeonato Distrital e Torneio<br />
de Inverno em Braga<br />
DAMAS: dia 19 - Torneios do C. P.<br />
Lousado em Vila Nova de<br />
Famalicão; dia 23 – Campeonato<br />
Distrital Individual em Braga.<br />
TÉNIS DE MESA: dia 7 –<br />
Campeonato Distrital Individual<br />
– Veteranos em Braga<br />
XADREZ: dia 9 e 16 –<br />
Campeonato Distrital em Braga.<br />
BRAGANÇA<br />
Cultura<br />
JANEIRAS: dia 6 às 21h -<br />
Cantares dos Reis no Auditório<br />
Municipal de Vila Flor<br />
TEATRO: Dia 17 às 21h -<br />
Comemorações do Centenário<br />
de Miguel Torga, peça o<br />
“Poemato” pela Companhia de<br />
Teatro de Vila Real no Teatro<br />
Municipal de Bragança<br />
FESTA: dia 25 às 21h - Festa das<br />
Claras (de São Sebastião) no<br />
Salão Paroquial de Ifanes<br />
COIMBRA<br />
Cultura<br />
MÚSICA: dia 15 às 21h30 -<br />
78 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />
Dixie Gringos Jazz Band no<br />
aniversário da Sociedade<br />
União Tavaredense em<br />
Tavarede; dia 12 às 21h30 -<br />
“Oratória Fátima – Sinal de<br />
Esperança para a<br />
Humanidade”, Coro misto de<br />
288 vozes, na Igreja da Sé<br />
Nova, Coimbra; dia 25 às<br />
21h30 - Ciclo Schubert – “A<br />
viagem de Inverno” na Casa<br />
Municipal da Cultura de<br />
Coimbra<br />
JANEIRAS: dia 5 às 21h30 –<br />
Cantares de Janeiras no<br />
Convento de Semide em<br />
Miranda do Corvo.<br />
Desporto<br />
ATLETISMO: dia 12 – 3<strong>º</strong><br />
Torneio <strong>Mensal</strong><br />
Lançamento/Cluve no Estádio<br />
Universitário de Coimbra; dia<br />
13 – Campeonato Distrital de<br />
Corta Mato na Vila de<br />
Cordinha; dia 27 –<br />
Campeonato Distrital de<br />
Estrada de Vila da Lousã.<br />
FUTEBOL: dias 6, 13, 20 e 27 -<br />
jornadas do Camp. Distrital,<br />
informações na Delegação<br />
FARO<br />
Cultura<br />
JANEIRAS: dia 5 às 16h30 -<br />
Cantares as Janeiras de Porta<br />
em Porta em Cortelha, Salir e<br />
Querença; dia 6 às 10h -<br />
Charola de Quelfes, pelo<br />
Grupo Etnográfico de Quelfes,<br />
no Mercado Municipal de<br />
Olhão<br />
CONCERTO: dia 5 às 16h30 -<br />
Concerto de Reis pelo Grupo<br />
Coral Ossónoba, na sala da<br />
Alcaidaria do Castelo de<br />
Loulé, às 15h - Grupo Coral<br />
Henriquinas no Centro<br />
Cultural da Vila do Bispo<br />
GUARDA<br />
<br />
Roteiro <strong>Inatel</strong> de actividades culturais e desportivas<br />
Cultura<br />
CONCERTOS: dia 5 às 21h30 -<br />
Orfeão de Seia em S. Miguel e<br />
Orfeão da Guarda em Vila<br />
Nova de Foz Côa; dia 6 às 16h<br />
- Grupo de Cantares<br />
Mensagem na Casa da Cultura<br />
de Meda, Grupo Ronda do<br />
Jarmelo no Centro Cultural do<br />
Reboleiro e Orfeão de<br />
Nespereira em Almeida;<br />
Desporto<br />
ATLETISMO: dia 6 às 10h30 - 9<strong>º</strong><br />
Corta Mato dos Reis no Ski<br />
Parque, Sameiro; dia 27 às<br />
10h30 – Grande Prémio Juvenil<br />
e 9ª Tripla-Légua de Almeida,<br />
em Almeida.<br />
BTT: dia 13 às 9h - Passeio ao<br />
Vale de Estrela, com partida e<br />
chegada em Vale de Estrela.<br />
DAMAS: dia 12 às14h30 - 7<strong>º</strong><br />
Torneio no Clube Camões em<br />
Gouveia; dia 26 às 14h30 -<br />
Campeonato Distrital de<br />
Equipas na Guarda.<br />
PEDESTRIANISMO: dia 6 e 27 -<br />
Marcha pedestres na Guarda<br />
TÉNIS DE MESA: dia 5 às 14h –<br />
Torneio em Paranhos da Beira.<br />
TIRO AO ALVO: dia 12 às 14h30<br />
- Torneio do Chaveiral,<br />
Paranhos da Beira.<br />
LISBOA<br />
TEATRO DA TRINDADE<br />
Sala Principal<br />
CONCERTO: dia 4 às 21h30 –<br />
Concerto de Ano Novo<br />
Teatro-Bar<br />
A partir do dia 24 até 23 de<br />
Fevereiro às 23h - MADE IN<br />
BRAZIL<br />
SETUBAL<br />
Desporto<br />
FUTEBOL: dias 6,13,20 e 27 às<br />
15h - Campeonato Distrital de<br />
Futebol 11<br />
FUTSAL: dias 20 e 22 às 20h -<br />
Campeonato Distrital<br />
TIRO: dia 19 às 9h - Torneio<br />
Regularidade no Bons Amigos<br />
em Montijo.<br />
ATLETISMO: dia 27 às 10h –G<br />
Prémio do Alto do Moinho,<br />
Seixal<br />
VIANA DO CASTELO<br />
Cultura<br />
JANEIRAS: Dia 26 às 21h30 -<br />
“Cantar as Janeiras” pelo<br />
Rancho Folclórico da Casa do<br />
Povo de Barbeita.<br />
Desporto<br />
PEDESTRIANISMO: dia 19 às 9h -<br />
percurso pedestre “Ecológico<br />
/Paisagístico” em Sistelo; dia 26<br />
às 9h - Passeio “Românico do<br />
Alto Minho” em Monção.<br />
ATLETISMO: dia 27 às 10h -<br />
Campeonato Distrital de<br />
Estrada em Vila de Punhe.<br />
TÉNIS DE MESA: dia 19 às 14h30<br />
- Distrital Individual na Casa do<br />
Povo de Barroselas.<br />
FUTEBOL: dia 6, 13, 20 e 27 às<br />
15h - Final da Supertaça e várias<br />
jornadas do Camp. Distrital.<br />
VISEU<br />
Cultura<br />
JANEIRAS: Encontros de<br />
Janeiras e Reis - dia 4 às 21h<br />
na Associação de Vila Chã de<br />
Sá; dia 5 às 20h30 no Centro<br />
Social de Orgens, na<br />
Associação Dalvares, em Santo<br />
André, na Assoc. Mesquitela<br />
em Mangualde e no Largo de<br />
S. Pedro Gumirães; dia 6 às 17h<br />
na Praça D. Duarte em Viseu,<br />
na Capela N. Senhora dos<br />
Milagres em Pindelo dos<br />
Milagres, na Associação Bairro<br />
Santo António em Nelas, na<br />
Assoc. Social de Ferminhão, na<br />
Sé Catedral em Lamego (às<br />
15h), em Castelo de Penedono<br />
em Sincelo, na Igreja de<br />
Loumão e na Igreja de S.<br />
Romão em Travassos de<br />
Orgens; dia 20 às 14h30 -<br />
Encontro Geral Encerramento<br />
no Pavilhão do <strong>Inatel</strong> de Viseu.<br />
Desporto<br />
TÉNIS DE MESA: dia 12 às 15h30<br />
– Campeonato Distrital no<br />
Pavilhão Gimnodesportivo<br />
CORTA-MATO: dia 13 às 9h -<br />
Campeonato Distrital em São<br />
João Monte
A CHEFE SUGERE<br />
MARIA EMÍLIA MARTINS| INATEL FORNOS DE ALGODRES<br />
Sopa seca<br />
Da gastronomia de Linhares, mais concretamente de<br />
Celorico da Beira, para além dos bons vinhos, vale a<br />
pena procurar a sopa seca feita com legumes, carne<br />
de porco e/ou vitela, pão de centeio e ervas<br />
aromáticas. Esta especialidade local reúne alguns dos<br />
alimentos mais tradicionais da região, desde o pão<br />
aos produtos hortícolas. Possuir uma pequena horta<br />
para a produção caseira de batata, leguminosas e<br />
hortícolas variados é uma tradição em Linhares, bem<br />
como a produção de pão, cozido no antigo forno de<br />
lenha.<br />
Aqui fica uma sugestão gastronómica<br />
“aconchegante” para os dias frios, que é<br />
nutricionalmente interessante por reunir alimentos<br />
dos diferentes grupos, sem se tornar demasiado<br />
calórica.<br />
INGREDIENTES PARA 4 PESSOAS:<br />
2 batatas, um pedaço de carne de porco (um osso<br />
com carne ou pedaço de presunto), couve, pão tipo<br />
saloio (pode ser antigo), massa grossa, azeite q.b.,<br />
colorau, sal qb., piri-piri.<br />
PREPARA-SE ASSIM: Coze-se a batata em água com<br />
o pedaço de carne e um pequeno fio de azeite. Lava-<br />
se e parte-se a couve em pedaços grandes. Passa-se a<br />
batata e põem-se as couves a ferver no caldo.<br />
Quando a couve está meia cozida, junta-se a massa<br />
grossa. À parte, aquece-se azeite (1 colher de sopa)<br />
com uma colher de colorau, piri-piri e sal a gosto, e<br />
junta-se na sopa.<br />
Corta-se o pão em fatias ou bocados, deita-se na<br />
panela e deixa-se ferver durante alguns minutos.<br />
Retira-se do lume e deixa-se repousar.<br />
Serve-se quente, com o pão embebido no caldo.<br />
Pode optar-se pelo uso de pão torrado.<br />
COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL POR PESSOA:<br />
• 22,9 g de proteínas; • 2,3 g de gordura; • 45 g de<br />
hidratos de carbono; • 17,9 g de fibra; • 283,4 kcal<br />
INFORMAÇÕES E RESERVAS:<br />
INATEL Fornos de Algodres<br />
Fornos de Algodres, 6370-401 Vila Ruiva<br />
Tel.: 271 776 016/17 - Fax: 271 776 034<br />
E.mail: cffalgodres@inatel.pt<br />
<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 81
Música de cangalheiros<br />
Ela tinha 78 anos. Solteira e só, vivia de um confortável<br />
pé-de-meia (reforma, acções, apartamento)<br />
entre viagens, bisbilhotices, inocências<br />
e novenas. Crente, fez doação dos bens à sua<br />
igreja para ter, no final da existência, um lar confortável,<br />
e passou procuração ao pároco dela, a fim de<br />
garantir gestor de benzida confiança. Depois, deixou a<br />
vida correr, reconfortada e segura.<br />
A sua saúde inabalável e o seu afã consumista (roupas,<br />
excursões, antiguidades) impacientaram, porém, a<br />
resignação dos herdeiros.<br />
Ao saberem do testamento que os ignorava, eles passaram<br />
subitamente a empanturrá-la com jantares apaparicados<br />
de piedosas doses (apenas para a atordoar)<br />
de veneno brandinho.<br />
Tempos depois, a até aí rija anciã via-se, compungidamente,<br />
internada numa clínica de amigos.<br />
Em afã crescente, os parentes entraram de insinuar<br />
que ela estava mentalmente perturbada devendo<br />
inviabilizar-lhe (substituir-lhe) as disposições legais<br />
que fizera. Médicos e notários foram envolvidos no<br />
caso, todos testemunhando, decretando a incapacidade<br />
da visada.<br />
Transferida e retida contra vontade num lar por si<br />
desconhecido (sem o quarto, o conforto, o tratamento<br />
prometidos e pagos aos religiosos), entrou rapidamente,<br />
encharcada de comprimidos, em estado de dormência.<br />
A casa foi-lhe vendida, as contas bancárias levan-<br />
82 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />
CRÓNICA |FERNANDO DACOSTA<br />
A matança dos velhos é hoje<br />
corriqueira. Tornamo-nos, aliás, de<br />
uma avareza afectiva terrível para<br />
com eles. Estamos a desenvolver<br />
comportamentos fóbicos aos seus<br />
contactos físicos, a perder o seu<br />
calor, os seus sentimentos, as suas<br />
sabedorias, as suas reminiscências<br />
tadas, os papeis transaccionados. Três meses passados<br />
expirava, de madrugada, após rezas em catadupa. Uma<br />
funerária que trabalhava para o grupo vestiu-a, veloua,<br />
enterrou-a.<br />
Histórias destas acontecem todos os dias à<br />
nossa volta. Os idosos com recursos<br />
tornaram-se, com efeito, alvos fáceis (pela<br />
sua desprotecção) e fartos (pelo seu número)<br />
de instituições, de pessoas que encontram neles<br />
lucros e discrições inesgotáveis. As famílias são frequentemente<br />
(livram-se dos seus fardos e beneficiam<br />
dos seus pecúlios) colaboradoras activas.<br />
Certas casas de repouso para a terceira idade são<br />
câmaras de morte para ela. Os remédios que ministram,<br />
por exemplo, exterminam sem suspeita, sem rasto,<br />
impunemente os mais incómodos ou compensadores.<br />
A matança dos velhos é hoje corriqueira. Tornamonos,<br />
aliás, de uma avareza afectiva terrível para com<br />
eles. Estamos a desenvolver comportamentos fóbicos<br />
aos seus contactos físicos, a perder o seu calor, os seus<br />
sentimentos, as suas sabedorias, as suas reminiscências.<br />
Com frequência abandonamo-los em centros comerciais,<br />
em bancos de jardins, em enfermarias de hospícios,<br />
em gares de metro, em parques de diversões.<br />
«Uma agência de Sacavém cobrou-me 250 contos<br />
pelo funeral da minha tia», relata-me um conhecido.<br />
«Ofereceu-se, depois, para tratar da cobrança do dinheiro<br />
junto da Caixa de Aposentações, e devolver-mo.<br />
Vim a saber que debitou ao Estado 450 mil escudos, ou<br />
seja o dobro. Participei. Até agora, e já lá vão cinco<br />
anos, não aconteceu nada: nem eu fui reembolsado<br />
nem a funerária investigada. Continua a actuar, a<br />
vigarizar calmamente».<br />
A hipocrisia, o oportunismo, a corrupção a maldade,<br />
a cupidez, a covardia fizeram-se músicas contínuas à<br />
volta dos que entram na última fase da vida, tocadas<br />
por cangalheiros de toda a espécie e desvergonha —<br />
num país que, alienado ao mito da juventude, envelhece<br />
desamparadamente, pateticamente. ■