O mutirão autogerido como procedimento inovador na ... - Habitare
O mutirão autogerido como procedimento inovador na ... - Habitare
O mutirão autogerido como procedimento inovador na ... - Habitare
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
pensar a produção de moradias por ajuda mútua e a partir de princípios autogestionários no<br />
Brasil e que foram, pouco a pouco, sendo dissemi<strong>na</strong>das pelos técnicos e cultivadas pelos<br />
movimentos sociais, num primeiro momento, para posteriormente serem admitidas de<br />
forma programática também pelo poder público. Conforme alguns depoimentos, a região<br />
nordeste parece ter sido influenciada de forma mais efetiva pelas idéias de Turner (ainda de<br />
forma muito incipiente no Projeto Taipa, de Acácio Gil Borsói, em Cajueiro Seco ou<br />
mesmo pelo grupo ThABA, com as experiências em tecnologias construtivas no CEPED,<br />
em Camaçari, <strong>na</strong> Bahia, até a presença da agência francesa GRET, em Fortaleza, através da<br />
ação de Yves Cabannes) enquanto que sul e sudeste parecem ter maior lastro <strong>na</strong> experiência<br />
uruguaia (o movimento cooperativista no Rio Grande do Sul, de forma mais genérica; e no<br />
caso de São Paulo, principalmente, enquanto resultado da atuação do engenheiro Guilherme<br />
Coelho que, a partir de uma intensa exposição de um filme ‘super 8’ das Cooperativas<br />
Uruguaias, consegue ‘contami<strong>na</strong>r’ o imaginário das periferias e de engenheiros e arquitetos<br />
paulistanos no início dos anos 80).<br />
Por outro lado, também os movimentos sociais urbanos empreenderam, desde os anos 60,<br />
diversas ações frente à necessidade de instalar-se <strong>na</strong> cidade ou simplesmente frente a<br />
conflitos que, sob certo aspecto, foram moldando o caráter de suas mobilizações.<br />
Particularmente, o Movimento de Moradia: são notórias suas primeiras manifestações,<br />
reivindicando água, luz e a posse da terra <strong>na</strong>s favelas de cidades <strong>como</strong> São Paulo, Rio de<br />
Janeiro, Belo Horizonte Salvador, Fortaleza ou Belém.<br />
Também a título de composição de uma matriz de referência e para auxiliar <strong>na</strong><br />
consolidação de um campo para a pesquisa – <strong>como</strong> veremos a seguir –, é significativa a<br />
precocidade de um movimento que se articula em Fortaleza, já em 1959, em torno do<br />
problema da moradia. Conforme depoimento, a favela Pirambu, uma das maiores do Brasil<br />
(“só perde pra Rocinha” segundo Beto Cabral, educador do CDPDH da Arquidiocese de<br />
Fortaleza), protagonizaria uma das primeiras histórias de disputa e ocupação organizada de<br />
terra urba<strong>na</strong> já entre 1958 e 1962. Mobilizados em torno da resistência a inúmeras<br />
tentativas de remoção, o assentamento permanece no mesmo local às custas de mecanismos<br />
consolidados de organização popular autônoma para a produção (horta de ervas medici<strong>na</strong>is<br />
e farmácia fitoterápica), prestação de serviços (pousada e terapias medici<strong>na</strong>is) e educação<br />
(creche, escola de teatro, atividades de complementação escolar etc.).<br />
10