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ferro e estações, a multiplicação das fábricas, a constante configuração e<br />

reconfiguração <strong>de</strong> bairros que modificaram profundamente as formas <strong>de</strong> habitação não<br />

foram pequenos <strong>de</strong>talhes sem efeito sobre a vida dos citadinos. A cida<strong>de</strong> mudava e a<br />

percepção sobre o espaço urbano se transformava igualmente.<br />

A imprevisibilida<strong>de</strong> das conseqüências <strong>de</strong> tão rápidas e profundas mudanças<br />

parece ter tido como efeito um processo <strong>de</strong> racionalização da vida 19 . A religião<br />

enquanto orientadora <strong>de</strong> um discurso <strong>de</strong> explicação dos fenômenos que operava tão<br />

bem em um mundo menos ansioso e mais previsível per<strong>de</strong>u espaço em um mundo<br />

ansioso, agitado, em constante transformação e <strong>de</strong> futuro incerto. É então neste mundo<br />

que clama por explicações racionais <strong>de</strong> certos fenômenos cotidianos que a medicina<br />

forja um lugar <strong>de</strong> enunciação legítimo.<br />

Des<strong>de</strong> o século XVIII a cida<strong>de</strong> começa a ser consi<strong>de</strong>rada um espaço patogênico,<br />

no qual a transmissão <strong>de</strong> doenças e o aparecimento <strong>de</strong> epi<strong>de</strong>mias colocam em questão<br />

a qualida<strong>de</strong> do ar, a circulação da água, a concentração <strong>de</strong> pessoas e <strong>de</strong> coisas, etc 20 .<br />

Neste processo, os médicos são interrogados sobre a saú<strong>de</strong> e higiene das cida<strong>de</strong>s.<br />

Para melhor compreen<strong>de</strong>r a ação do saber médico sobre o corpo urbano,<br />

po<strong>de</strong>ríamos analisar brevemente o caso da administração dos cemitérios. O po<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />

discurso sobre a morte que era essencialmente <strong>de</strong>tido pelos religiosos, passa a estar nas<br />

mãos dos médicos a partir do século XVIII.<br />

Os cemitérios eram espaços on<strong>de</strong>, até a primeira meta<strong>de</strong> do século XVIII,<br />

corpos eram amontoados <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada. Não havia então gran<strong>de</strong>s<br />

preocupações em relação a disseminação <strong>de</strong> doenças <strong>de</strong>vido a proximida<strong>de</strong> dos vivos e<br />

dos mortos.<br />

No entanto, a crença amplamente difundida no período <strong>de</strong> que o ar tinha uma<br />

influência direta sobre o organismo <strong>de</strong>u surporte a um pânico generalizado em relação<br />

aos cemitérios. Importantes manifestações eclodiram por volta dos anos <strong>de</strong> 1740 e<br />

1750 em Paris. A população exigia então a intervenção e controle médicos na gestão<br />

19 Op. Cit.<br />

20 FOUCAULT, Michel. O nascimento da medicina social In: Microfísica do po<strong>de</strong>r. Edições Graal. Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro, 1979. pp. 79-98.<br />

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