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Área temática: Economia industrial, ciência, tecnologia e inovação<br />
AMBEV - ANÁLISE DA FUSÃO E OS EFEITOS SOBRE O MERCADO<br />
Keli Prezzotto<br />
UNIOESTE - keliprezzotto@hotmail.com<br />
Vanderléia Loff Lavall<br />
UNIOESTE – vanderleia4@hotmail.com<br />
Resumo: Dentre as bebi<strong>da</strong>s alcoólicas consumi<strong>da</strong>s no Brasil a preferência predominante é pela cerveja, do tipo<br />
pilsen. A indústria cervejeira é em sua maioria caracteriza<strong>da</strong>, no Brasil e no mundo, por grandes empresas<br />
dominando o <strong>mercado</strong>. Uma tendência recente global tem sido <strong>fusão</strong> entre empresas de um mesmo segmento e a<br />
formação de gigantes econômic<strong>os</strong> com grande volume de oferta. Tal ação tem como conseqüência elevação <strong>da</strong><br />
concentração de <strong>mercado</strong>. No Brasil o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), utiliza as leis<br />
antitrustes para proteger <strong>os</strong> interesses d<strong>os</strong> consumidores quando se refere a<strong>os</strong> efeit<strong>os</strong> <strong>da</strong> concentração e poder de<br />
<strong>mercado</strong>. Mediante autorização do CADE, no ano 2000 foi efetiva<strong>da</strong>, no Brasil, a <strong>fusão</strong> <strong>da</strong>s cervejarias Brahma e<br />
Antarctica Paulista que deu origem a formação <strong>da</strong> gigante econômica AmBev. Considerando um <strong>mercado</strong><br />
nacional já oligopolizado, o presente artigo busca analisar <strong>os</strong> impact<strong>os</strong> causad<strong>os</strong> pela <strong>fusão</strong> <strong>da</strong>s cervejarias<br />
Brahma e Antarctica Paulista <strong>sobre</strong> o referido <strong>mercado</strong>. No que se refere a preç<strong>os</strong> avaliou-se especificamente o<br />
<strong>mercado</strong> de Francisco Beltrão - PR. Os efeit<strong>os</strong> e impact<strong>os</strong> avaliad<strong>os</strong> para medir de que maneira a formação <strong>da</strong><br />
nova empresa AmBev influenciou o equilíbrio de <strong>mercado</strong> foram: as variações ocorri<strong>da</strong>s n<strong>os</strong> preç<strong>os</strong> praticad<strong>os</strong><br />
junto ao consumidor final pelas marcas pertencentes à cervejaria AmBev em períod<strong>os</strong> anteriores e p<strong>os</strong>teriores a<br />
<strong>fusão</strong>, bem como as variações na produção de cerveja no <strong>mercado</strong> nacional como um todo e também <strong>os</strong> reflex<strong>os</strong><br />
<strong>sobre</strong> o consumo total. A fim de verificar <strong>os</strong> efeit<strong>os</strong> mencionad<strong>os</strong> utilizou-se o Índice Hirschman-Herfin<strong>da</strong>hl<br />
para averiguar a concentração do <strong>mercado</strong> produtor e o modelo econométrico com uma variável dummy para<br />
avaliar <strong>os</strong> efeit<strong>os</strong> de presença e ausência <strong>da</strong> Ambev no <strong>mercado</strong>.<br />
Palavras-chave: Concentração, Fusão, AmBev.<br />
1. INTRODUÇÃO<br />
O <strong>mercado</strong> de bebi<strong>da</strong>s movimenta anualmente milhões de reais no Brasil, em term<strong>os</strong> de<br />
faturamento e geração de empreg<strong>os</strong> diret<strong>os</strong> e indiret<strong>os</strong>. Pode-se dividir esse <strong>mercado</strong> em<br />
alcoólic<strong>os</strong> e não alcoólic<strong>os</strong>, sendo <strong>os</strong> primeir<strong>os</strong> representad<strong>os</strong> por aguardente, destilad<strong>os</strong>,<br />
vinh<strong>os</strong> e cervejas, e <strong>os</strong> últim<strong>os</strong> por refrigerante, água mineral, leite, suc<strong>os</strong>, chá e café.<br />
Dentre as bebi<strong>da</strong>s alcoólicas, a preferência pelo consumo de cerveja predomina no<br />
<strong>mercado</strong>. Dad<strong>os</strong> do Datamark (2010) apontam para um consumo per capita no Brasil, no ano<br />
de 2005 de 49 litr<strong>os</strong>, contra 6 litr<strong>os</strong> de aguardente e 1 litro de vinho e destilad<strong>os</strong>.<br />
Pesquisas apontam que a cerveja, com tipo, aroma, textura e sabores diferenciad<strong>os</strong>,<br />
produzi<strong>da</strong> artesanalmente ou nas cervejarias, tornou-se uma rentável fonte de negóci<strong>os</strong> no<br />
<strong>mercado</strong> brasileiro, consoli<strong>da</strong>ndo-se na preferência d<strong>os</strong> consumidores e, por conseqüência<br />
liderando o <strong>mercado</strong>.
Pode-se caracterizar o <strong>mercado</strong> cervejeiro brasileiro, assim como no restante do mundo,<br />
como um <strong>mercado</strong> em expansão, devido à <strong>fusão</strong> de duas grandes empresas do ramo. Em 1º de<br />
julho de 1999, foi anuncia<strong>da</strong> a <strong>fusão</strong> <strong>da</strong> Companhia Antarctica Paulista e <strong>da</strong> Companhia<br />
Cervejaria Brahma, para criar a AmBev.<br />
No Brasil, nas últimas déca<strong>da</strong>s do século XX registrou-se um aumento significativo no<br />
número de empresas que optaram pelas fusões, alterando desta forma, cert<strong>os</strong> padrões de<br />
gestão, produção e emprego (BARROS, 2003). Apesar de haver uma forte tendência para o<br />
aumento <strong>da</strong>s fusões entre as empresas, tanto no Brasil como no mundo todo, deve-se levar em<br />
consideração a formação de concentrações de <strong>mercado</strong> e desigual<strong>da</strong>des de concorrência.<br />
Para prevenir que <strong>os</strong> oligopóli<strong>os</strong> tomem atitudes que reduzam a competição entre as<br />
firmas oligopolistas, o governo brasileiro criou o CADE – Conselho Administrativo de<br />
Defesa Econômica, que está vinculado ao Ministério <strong>da</strong> Justiça para orientar e fiscalizar<br />
p<strong>os</strong>síveis abus<strong>os</strong> de poder econômico. O CADE utiliza as leis antitrustes para proteger <strong>os</strong><br />
interesses d<strong>os</strong> consumidores assegurando a concorrência justa no <strong>mercado</strong>.<br />
Tendo como foco de estudo o <strong>mercado</strong> cervejeiro no Brasil, este trabalho visa analisar<br />
que impact<strong>os</strong> a <strong>fusão</strong> <strong>da</strong>s companhias Brahma e Antarctica Paulista ocasionaram no <strong>mercado</strong>,<br />
ou seja, busca-se averiguar se a <strong>fusão</strong> deixou a indústria cervejeira mais concentra<strong>da</strong>, e, se<br />
ocasionou aumento de preç<strong>os</strong> para <strong>os</strong> consumidores.<br />
2. MERCADO OLIGOPOLISTA<br />
Os mercad<strong>os</strong> podem ser caracterizad<strong>os</strong> como concentrad<strong>os</strong> ou não concentrad<strong>os</strong>. A<br />
estrutura de um <strong>da</strong>do <strong>mercado</strong> depende do número de empresas que o mesmo p<strong>os</strong>sui. Os<br />
tamanh<strong>os</strong> e especifici<strong>da</strong>des d<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> podem ser dividid<strong>os</strong> em: monopólio, concorrência<br />
monopolística, concorrência perfeita e oligopólio (BESANCO e BRAEUTIGAM, 2004).<br />
No Brasil, a indústria cervejeira, analisa<strong>da</strong> por Ferrari (p.31, 2008), “p<strong>os</strong>sui uma<br />
estrutura de oferta que é caracteriza<strong>da</strong> por um oligopólio altamente concentrado”.<br />
As empresas pertencentes à indústria cervejeira nacional, analisa<strong>da</strong> por R<strong>os</strong>a, C<strong>os</strong>enza,<br />
Leão (2006), podem ser caracteriza<strong>da</strong>s por firmas de grande porte, o que faz com que o<br />
<strong>mercado</strong> cervejeiro p<strong>os</strong>sua padrões de oligopólio.<br />
Seguindo as idéias de Ferrari (2008), <strong>os</strong> model<strong>os</strong> de oligopóli<strong>os</strong> mais atualizad<strong>os</strong> são <strong>os</strong><br />
que utilizam a Teoria d<strong>os</strong> Jog<strong>os</strong>, pois se aproximam mais <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de. Já <strong>os</strong> oligopóli<strong>os</strong> onde<br />
<strong>os</strong> produt<strong>os</strong> são diferenciad<strong>os</strong> as estratégias são formula<strong>da</strong>s levando em consideração o preço<br />
e a quali<strong>da</strong>de n<strong>os</strong> serviç<strong>os</strong> prestad<strong>os</strong>.<br />
2
Em mercad<strong>os</strong> oligopolistas, <strong>os</strong> produt<strong>os</strong> podem ou não ser diferenciad<strong>os</strong>. Tornando-se<br />
necessário que apenas algumas empresas sejam responsáveis pela maior parte ou por to<strong>da</strong> a<br />
parcela de produção de determinado produto (PINDYCK, 2002).<br />
A quanti<strong>da</strong>de de empresas que participam do oligopólio pode variar de duas (duopólio)<br />
para muitas. O oligopólio p<strong>os</strong>sui como característica fun<strong>da</strong>mental a interdependência <strong>da</strong>s<br />
decisões entre as firmas concorrentes (ALBUQUERQUE, 1986).<br />
Segundo LABINI (1984), existem <strong>os</strong> oligopóli<strong>os</strong> concentrad<strong>os</strong> (produt<strong>os</strong> homogêne<strong>os</strong> e<br />
rivali<strong>da</strong>de entre <strong>os</strong> vendedores, embora p<strong>os</strong>sam surgir acordo entre eles) e <strong>os</strong> diferenciad<strong>os</strong><br />
(produt<strong>os</strong> diferenciad<strong>os</strong> e p<strong>os</strong>sibili<strong>da</strong>de de estratégia conjunta). O oligopólio concentrado é<br />
basicamente comp<strong>os</strong>to por setores industriais altamente concentrad<strong>os</strong>. O diferenciado ou<br />
imperfeito, é comp<strong>os</strong>to pela preferência d<strong>os</strong> consumidores para produt<strong>os</strong> diferenciad<strong>os</strong> de<br />
determina<strong>da</strong>s empresas.<br />
Existem ain<strong>da</strong> oligopóli<strong>os</strong> mist<strong>os</strong> que são oligopóli<strong>os</strong> concentrad<strong>os</strong> diferenciad<strong>os</strong><br />
utilizando com exempl<strong>os</strong> as indústrias de automóvel e de bens de consumo duráveis.<br />
Indústrias como a siderúrgica, eletrici<strong>da</strong>de e petróleo podem ser utiliza<strong>da</strong>s para caracterizar<br />
um oligopólio concentrado (ibidem).<br />
Os oligopóli<strong>os</strong> surgiram como forma de explicar o comportamento de um pequeno<br />
número de empresas que acumularam capitais e tornaram-se fortes no <strong>mercado</strong>, seja por<br />
incorporações e/ou fusões. Existem algumas situações que podem manter as empresas em<br />
p<strong>os</strong>ições de oligopólio onde se destacam as economias de escala, a lucrativi<strong>da</strong>de, as<br />
diferenciações d<strong>os</strong> produt<strong>os</strong> e <strong>os</strong> cust<strong>os</strong>.<br />
Devido à importância <strong>da</strong>s estratégias para decisões de preço, nível de produção,<br />
propagan<strong>da</strong> e investiment<strong>os</strong>, a administração do empreendimento oligopolista não é tão<br />
simples. O número reduzido de empresas faz com que, ca<strong>da</strong> uma deva se preocupar com suas<br />
ações prevendo como estas afetarão suas concorrentes e suas p<strong>os</strong>síveis reações (PINDYCK,<br />
2002).<br />
De acordo com KON (1999), a determinação do preço no oligopólio ocorre devido à<br />
liderança de uma empresa dentro de um grupo, visto que na referi<strong>da</strong> estrutura de <strong>mercado</strong> o<br />
número de empresas é reduzido, o que acarreta em uma maior concorrência dentro deste<br />
seguimento. Por ser formado por um pequeno número de vendedores que dominam a maior<br />
parte do <strong>mercado</strong>, suas decisões podem afetar <strong>os</strong> preç<strong>os</strong> desse <strong>mercado</strong>. Essa estrutura divide-<br />
se em três categorias: oligopólio conivente e organizado (formação de trustes e cartéis);<br />
oligopólio conivente e não organizado (acord<strong>os</strong> informais ou tácit<strong>os</strong>); oligopólio não<br />
conivente e não organizado (ação independente <strong>da</strong> firma).<br />
3
Quando duas empresas fabricam produt<strong>os</strong> idêntic<strong>os</strong>, as variáveis que interessaram serão<br />
<strong>os</strong> preç<strong>os</strong> que ca<strong>da</strong> uma cobrará e a quanti<strong>da</strong>de que ca<strong>da</strong> uma produzirá. Logo que uma<br />
empresa determina a quanti<strong>da</strong>de que deve produzir ela já vai avaliar quais são as escolhas de<br />
sua rival. Assim que uma empresa determina primeiramente seu preço, fica conheci<strong>da</strong> como<br />
líder de preço, e a empresa concorrente como seguidora de preç<strong>os</strong> (VARIAN, 2003).<br />
Para fixar o preço a líder deverá prever o comportamento <strong>da</strong> seguidora. No equilíbrio, a<br />
empresa concorrente sempre deverá estabelecer o preço idêntico ao <strong>da</strong> líder de preço, devido à<br />
homogenei<strong>da</strong>de de seus produt<strong>os</strong>. Tomando como foco a liderança de quanti<strong>da</strong>de, uma<br />
empresa faz a escolha antes que a outra, o que pode ser chamado de modelo de Stackelberg,<br />
que é continuamente utilizado para representar indústrias onde uma empresa domine a<br />
quanti<strong>da</strong>de produzi<strong>da</strong>, considera<strong>da</strong> também como líder natural (ibidem).<br />
O modelo de Stackelberg faz parte do modelo clássico <strong>da</strong> teoria do oligopólio. O<br />
modelo p<strong>os</strong>sui como pressup<strong>os</strong>t<strong>os</strong> básic<strong>os</strong> a existência de duas únicas firmas produtoras na<br />
indústria (duopólio); <strong>os</strong> produt<strong>os</strong> são homogêne<strong>os</strong> ou diferenciad<strong>os</strong>; não existem cust<strong>os</strong> de<br />
produção; existem dois tip<strong>os</strong> de firmas, as líderes e as seguidoras (GARÓFALO, 1995).<br />
O ponto característico do modelo de Stackelberg é o <strong>da</strong> diferenciação <strong>da</strong>s firmas entre<br />
líderes e seguidoras ou satélites, onde as mesmas podem optar pela p<strong>os</strong>ição que querem<br />
seguir, optando pela p<strong>os</strong>ição que consigam maximizar seus lucr<strong>os</strong> (ibidem).<br />
Considerando o modelo de Stackelberg, seguindo as idéias de ALBUQUERQUE<br />
(1986), no caso d<strong>os</strong> duopóli<strong>os</strong>, as firmas tomam suas decisões já sabendo <strong>da</strong> sua<br />
interdependência com a concorrente, ou seja:<br />
A firma seguidora reage de acordo com sua curva de reação, <strong>da</strong><strong>da</strong> a quanti<strong>da</strong>de produzi<strong>da</strong> pela<br />
firma líder. Já a firma líder não respeita a sua curva de reação; ela sabe que a outra empresa reagirá<br />
de acordo com a curva de reação dela e, portanto, maximiza o seu lucro incorporando, em sua<br />
função de lucro, a curva de reação <strong>da</strong> concorrente. (ALBUQUERQUE, p 250, 1986).<br />
Considerando que o número de vendedores é relativamente pequeno, ca<strong>da</strong> firma deve<br />
agir estrategicamente, pois sabem que o seu lucro depende não apenas de quanto ela produz,<br />
mas de quanto to<strong>da</strong>s as outras firmas produzem, ou seja, a variável de decisão <strong>da</strong>s firmas é a<br />
quanti<strong>da</strong>de, criando assim uma assimetria entre as empresas no <strong>mercado</strong>.<br />
Segundo ALBUQUERQUE (1986), <strong>os</strong> padrões do oligopólio prevêem a necessi<strong>da</strong>de de<br />
evitar a concorrência via preç<strong>os</strong>. Surgindo então a necessi<strong>da</strong>de de utilizar outr<strong>os</strong> métod<strong>os</strong> para<br />
potencializar a comercialização d<strong>os</strong> produt<strong>os</strong>, seja por diferenciação, serviç<strong>os</strong> ou propagan<strong>da</strong>.<br />
A partir disso a empresa oligopolista busca estratégias para se <strong>sobre</strong>ssair <strong>sobre</strong> <strong>os</strong><br />
concorrentes. De acordo com PINDYCK (2002), a empresa oligopolista analisa as estratégias<br />
4
e procediment<strong>os</strong> de sua concorrente para determinar o seu preço e produção. No <strong>mercado</strong><br />
oligopolista ca<strong>da</strong> empresa procura fazer o melhor p<strong>os</strong>sível para se <strong>sobre</strong>ssair <strong>sobre</strong> sua<br />
concorrente. Esse comportamento é conhecido como Equilíbrio de Nash. 1<br />
Segundo VARIAN (2003), o equilíbrio de Nash é constituído por um par de estratégias,<br />
onde uma é dominante, ou seja, se a escolha de “x” for ótima, <strong>da</strong><strong>da</strong> a escolha de “y” e a<br />
escolha de “y” for ótima <strong>da</strong><strong>da</strong> a escolha de “x”.<br />
Ain<strong>da</strong> segundo as idéias do mesmo autor:<br />
(...) nenhuma pessoa sabe o que a outra fará quando for obriga<strong>da</strong> a escolher sua própria estratégia.<br />
Mas ca<strong>da</strong> pessoa pode ter suas próprias expectativas a respeito de qual será a escolha <strong>da</strong> outra<br />
pessoa. O equilíbrio de Nash pode ser interpretado como um par de expectativas <strong>sobre</strong> as escolhas<br />
<strong>da</strong> outra pessoa, de modo que, quando a escolha de uma pessoa for revela<strong>da</strong>, nenhuma delas<br />
quererá mu<strong>da</strong>r seu próprio comportamento. (VARIAN, p. 545, 2003).<br />
Em várias indústrias do <strong>mercado</strong> as fusões têm se tornado bastante interessante<br />
economicamente. Uma <strong>fusão</strong> ocorre quando duas ou mais empresas deixam de existir para<br />
formação de uma terceira que p<strong>os</strong>suirá identi<strong>da</strong>de própria. Onde, do ponto de vista teórico,<br />
nenhuma <strong>da</strong>s empresas anteriores predominará nesta terceira (BARROS, 2003).<br />
No Brasil, nas últimas déca<strong>da</strong>s do século XX registrou-se um aumento significativo no<br />
número de empresas que optaram pelas fusões, alterando desta forma, cert<strong>os</strong> padrões de<br />
gestão, produção e emprego. Segundo GUARITA (2002), as fusões no Brasil começaram a<br />
aumentar após a implantação do plano real em 1994.<br />
Os impact<strong>os</strong> <strong>sobre</strong> as gestões de pessoas causa<strong>da</strong>s pelas fusões irão depender do jogo de<br />
poder entre as empresas de origem e <strong>da</strong> estratégia de integração adota<strong>da</strong>, que, por sua vez,<br />
irão determinar o novo perfil <strong>da</strong> empresa (BARROS, 2003).<br />
Para KON (1999), a tendência <strong>da</strong> economia atual é o aumento <strong>da</strong>s fusões em todo o<br />
mundo, principalmente em temp<strong>os</strong> de recessões econômicas, ou em situações de p<strong>os</strong>síveis<br />
falências, obrigações tributárias eleva<strong>da</strong>s, desvantagens em relação ao seu porte dentre outr<strong>os</strong><br />
aspect<strong>os</strong> que dificultam a administração <strong>da</strong> empresa. Fato que contribui para as mesmas<br />
procurarem se reorganizar dentro do <strong>mercado</strong>, o que acaba gerando o aumento <strong>da</strong> formação de<br />
oligopóli<strong>os</strong>.<br />
As fusões ocorrem, geralmente, com empresas que p<strong>os</strong>suem o mesmo tamanho.<br />
Proporcionando a troca de experiências entre as empresas que participam do processo de<br />
<strong>fusão</strong>. Seguindo as idéias de GUARITA (2002), o processo de <strong>fusão</strong> é irreversível, fazendo<br />
com que <strong>os</strong> empresári<strong>os</strong> que optarem por este mecanismo capacitem seus funcionári<strong>os</strong> e<br />
1 John Forbes Nash Jr. Matemático que trabalhou na teoria d<strong>os</strong> Jog<strong>os</strong> e na Geometria Diferencial. Recebeu o<br />
Prêmio Nobel de Economia em 1994.<br />
5
organizem suas empresas de maneira consciente com o objetivo de preparar para o <strong>mercado</strong><br />
futuro.<br />
Pode-se descrever três tip<strong>os</strong> distint<strong>os</strong> de fusões. Como consta n<strong>os</strong> informes do BNDES<br />
(1996) as fusões podem ser horizontais, verticais e conglomera<strong>da</strong>s. As horizontais<br />
caracterizam-se pela <strong>fusão</strong> de duas empresas que operam no mesmo <strong>mercado</strong> onde eram<br />
concorrentes uma <strong>da</strong> outra. As fusões verticais ocorrem quando firmas de especifici<strong>da</strong>des<br />
diferentes de produção 2 se unem com o objetivo de reduzir cust<strong>os</strong> de produção. As<br />
conglomera<strong>da</strong>s podem ser subdividi<strong>da</strong>s em puras e concêntricas. As puras são caracteriza<strong>da</strong>s<br />
pela <strong>fusão</strong> de duas empresas de mercad<strong>os</strong> distint<strong>os</strong>, por exemplo, uma indústria de aliment<strong>os</strong><br />
com uma de material de limpeza. As concêntricas são realiza<strong>da</strong>s por firmas que p<strong>os</strong>suem certa<br />
relação entre si, aumentando a linha de produt<strong>os</strong>.<br />
2.1. Medi<strong>da</strong>s de concentração de <strong>mercado</strong><br />
Seguindo as idéias de KON (1999), as empresas que estão melhores coloca<strong>da</strong>s no<br />
<strong>mercado</strong> que se fundem com outras utilizam como estratégias a p<strong>os</strong>sibili<strong>da</strong>de de aumentar seu<br />
tamanho e dominar o <strong>mercado</strong>, a diminuição <strong>da</strong> concorrência, e o aumento <strong>da</strong>s chances de um<br />
crescimento econômico mais veloz.<br />
No âmbito <strong>da</strong> teoria moderna, a concentração ou poder de <strong>mercado</strong>, <strong>da</strong>s empresas pode<br />
ser analisado como concentração global ou concentração de <strong>mercado</strong>. A concentração de<br />
<strong>mercado</strong> pode ser utiliza<strong>da</strong> para <strong>análise</strong>s tanto de maneira exata, em um período de tempo<br />
determinado, ou comparativa entre períod<strong>os</strong> de temp<strong>os</strong> distint<strong>os</strong> por meio <strong>da</strong> mensuração de<br />
concentração (ibidem).<br />
As medi<strong>da</strong>s de concentração pretendem verificar a maneira pela qual o comportamento<br />
dominante de determinado agente está inserido no <strong>mercado</strong>, considerando sua participação<br />
por meio de critéri<strong>os</strong> diferenciad<strong>os</strong> (KUPFER, 2002).<br />
A forma de concorrência atual está basea<strong>da</strong> no comportamento d<strong>os</strong> produtores<br />
individuais, ao escolherem a quanti<strong>da</strong>de oferta<strong>da</strong> e o seu preço, devido às preferências d<strong>os</strong><br />
consumidores a<strong>os</strong> produt<strong>os</strong> e ao acesso d<strong>os</strong> mesm<strong>os</strong> (ibidem).<br />
Seguindo as idéias RESENDE e BOFF, citado em KUPFER (2002), <strong>os</strong> indicadores de<br />
concentração mais utilizad<strong>os</strong> são: a razão de concentração de ordem “k” CR(K), e o índice de<br />
Hirschman-Herfin<strong>da</strong>hl (HHI). Onde, maior concentração implica em maior desigual<strong>da</strong>de.<br />
2 Pode-se citar como exemplo uma empresa que fabrica automóvel e realiza o processo de <strong>fusão</strong> com uma<br />
empresa que fabrica autopeças para aumentar sua margem de lucro e/ou reduzir cust<strong>os</strong>.<br />
6
Para realização do presente artigo, buscou-se <strong>da</strong>d<strong>os</strong> referentes a<strong>os</strong> coeficientes de<br />
concentração disponibilizad<strong>os</strong> n<strong>os</strong> relatóri<strong>os</strong> anuais específic<strong>os</strong> <strong>da</strong>s cervejarias, <strong>da</strong> Companhia<br />
AmBev, livr<strong>os</strong>, artig<strong>os</strong>, revistas e informes setoriais.<br />
Para a realização d<strong>os</strong> cálcul<strong>os</strong> de avaliação <strong>sobre</strong> a concentração de <strong>mercado</strong>, utilizou-se<br />
o Índice Hirschman – Herfin<strong>da</strong>hl (HHI)<br />
onde:<br />
O índice HHI é representado pela fórmula:<br />
n - número total de empresas;<br />
i - é a empresa em si;<br />
Si - parte correspondente do <strong>mercado</strong> <strong>da</strong> empresa i;<br />
∑ - Somatório;<br />
Segundo Kon (1999), o tamanho relativo <strong>da</strong>s firmas é visualizado pelo indicador Si,<br />
comprovando que as empresas menores contribuem men<strong>os</strong> para o valor do índice. As relações<br />
<strong>da</strong>s variações do índice são: HH >1.800, indústria com alta concentração; HH < 1.000,<br />
Indústria pouco concentra<strong>da</strong>; 1.000 < HH < 1.800, Indústria com concentração modera<strong>da</strong>.<br />
Para complementar a <strong>análise</strong> d<strong>os</strong> efeit<strong>os</strong> <strong>da</strong> <strong>fusão</strong>, elaborou-se um comparativo de<br />
preç<strong>os</strong> em períod<strong>os</strong> anteriores e p<strong>os</strong>teriores à <strong>fusão</strong>. Os preç<strong>os</strong> foram obtid<strong>os</strong> através de<br />
pesquisas n<strong>os</strong> arquiv<strong>os</strong> de bares, restaurantes e escritóri<strong>os</strong> de contabili<strong>da</strong>de no Município de<br />
Francisco Beltrão - Paraná.<br />
Os preç<strong>os</strong> médi<strong>os</strong> pesquisad<strong>os</strong> foram deflacionad<strong>os</strong> levando em consideração o IPCA 3<br />
de alimentação e bebi<strong>da</strong>s, com o deflator do IBGE 4 /SNIPC 5 disponibilizado pelo<br />
IPEADATA 6 .<br />
O Índice de Preç<strong>os</strong> ao Consumidor (IPC) é utilizado para analisar a variação ocorri<strong>da</strong>,<br />
em determinado período, n<strong>os</strong> preç<strong>os</strong> de itens de vestuári<strong>os</strong>, aliment<strong>os</strong>, bebi<strong>da</strong>s, transporte,<br />
habitação etc., para o consumidor. O IPC é medido e analisado mensalmente. O índice mede o<br />
poder de compra do consumidor (FGV, 2010).<br />
3 IPCA – Índice Nacional de Preç<strong>os</strong> ao Consumidor Amplo. É o índice utilizado pelo governo para medir as<br />
metas inflacionarias no período. Fonte: http://www.portalbrasil.net/ipca.htm<br />
4 IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Fonte: http://www.ibge.gov.br<br />
5 SNIPC - Sistema Nacional de Índices de Preç<strong>os</strong> ao Consumidor.<br />
6 IPEADATA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplica<strong>da</strong> é uma base de <strong>da</strong>d<strong>os</strong> macroeconômic<strong>os</strong>, financeir<strong>os</strong> e<br />
regionais do Brasil manti<strong>da</strong>s pelo IPEA.<br />
7
A fim de analisar <strong>os</strong> efeit<strong>os</strong> <strong>da</strong> <strong>fusão</strong> <strong>da</strong>s cervejarias Brahma e Antarctica Paulista,<br />
elaborou-se a regressão d<strong>os</strong> <strong>da</strong>d<strong>os</strong> referentes a consumo per capita, produção e <strong>os</strong> resultad<strong>os</strong><br />
calculad<strong>os</strong> pelo HHI.<br />
Para <strong>análise</strong> do modelo, foi utiliza<strong>da</strong> uma variável dummy (D) para indicar como a<br />
presença ou ausência <strong>da</strong> AmBev influenciou qualitativamente as variáveis dependentes.<br />
Atribuiu-se valor zero para a variável dummy em períod<strong>os</strong> de ausência <strong>da</strong> AmBev e<br />
valores iguais a 1 para an<strong>os</strong> de presença 7 .<br />
Modelo: Y = b0 + b1 D + e<br />
Onde:<br />
Y: variável dependente (concentração, consumo, e produção);<br />
D = 1 an<strong>os</strong> de presença <strong>da</strong> empresa.<br />
D = 0 an<strong>os</strong> de sem presença <strong>da</strong> empresa.<br />
e: err<strong>os</strong> aleatóri<strong>os</strong>.<br />
3. PRODUÇÃO E CONSUMO DE CERVEJA NO BRASIL<br />
No início <strong>da</strong> indústria cervejeira no Brasil, a bebi<strong>da</strong> era produzi<strong>da</strong> manualmente em<br />
pequenas fábricas. Na déca<strong>da</strong> de 1870, a produção anual havia atingido 66,7 milhões de litr<strong>os</strong>,<br />
fato que reduzia as importações do produto, fazendo com que o cenário nacional mu<strong>da</strong>sse,<br />
quando começaram a surgir fábricas maiores (SUZIGAN, 2000).<br />
A primeira cerveja nacional foi fabrica<strong>da</strong> em 1853 no Estado do Rio de Janeiro, apenas<br />
em 1898 recebeu o nome, de Bohemia. Marca atualmente comercializa<strong>da</strong> pela AmBev<br />
(AMBEV, 2010).<br />
Um d<strong>os</strong> fatores que instigou o aumento <strong>da</strong>s fábricas a partir de 1890 foi à grande<br />
influência de empresári<strong>os</strong> alemães. A cerveja alemã p<strong>os</strong>suía textura mais leve, mais agradável<br />
ao pala<strong>da</strong>r nacional, fator que levou a alteração <strong>da</strong> produção nacional para uma cerveja mais<br />
leve. Após a mu<strong>da</strong>nça de fabricação e devido ao aumento do número e <strong>da</strong> produção <strong>da</strong>s<br />
fábricas nacionais, as cervejas estrangeiras, principalmente as alemãs, perderam espaço no<br />
<strong>mercado</strong> brasileiro, pois as mesmas p<strong>os</strong>suíam praticamente a mesma quali<strong>da</strong>de e sabor, e o<br />
seu valor era mais acessível que as importa<strong>da</strong>s (SUZIGAN, 2000).<br />
7 Baseado no modelo utilizado pel<strong>os</strong> autores Barb<strong>os</strong>a & Torres, no trabalho intitulado Empresa Motriz e<br />
Desenvolvimento Regional: Analise d<strong>os</strong> Impact<strong>os</strong> <strong>da</strong> empresa IVECO na ci<strong>da</strong>de de Sete Lagoas - MG<br />
8
Nas estatísticas de 1907, as maiores cervejarias nacionais localizavam-se n<strong>os</strong> Estad<strong>os</strong> do<br />
Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Pará e Minas Gerais. As quinze maiores<br />
fábricas eram responsáveis por 85,5% do capital, 90,4 % <strong>da</strong> potência instala<strong>da</strong> e empregavam<br />
60,6% do total de mão de obra utiliza<strong>da</strong>. A Companhia Antarctica Paulista, a Cervejaria<br />
Brahma e a fábrica de Cerveja Paraense, dominavam mais de 50% do <strong>mercado</strong>, 61,9% do<br />
capital, 68% <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de instala<strong>da</strong>, e 47,3% <strong>da</strong> mão-de-obra em 1907. Durante a déca<strong>da</strong> de<br />
1980, a Cervejaria Brahma e a Companhia Antarctica Paulista, dominavam o <strong>mercado</strong><br />
nacional juntamente com poucas cervejarias de médio porte (ibidem).<br />
A distribuição e a produção de cerveja no Brasil são realiza<strong>da</strong>s de maneira irregular,<br />
algumas regiões consomem mais que as outras, variando inclusive, as marcas de preferência<br />
regionais. Conforme aumenta a população o consumo de cerveja aumenta, <strong>os</strong>cilando de<br />
acordo o poder aquisitivo <strong>da</strong> população.<br />
Segundo informações do BANDES 8 (2004), a indústria cervejeira no Brasil está se<br />
ajustando a um novo tipo de <strong>mercado</strong>, de uma economia desregulamenta<strong>da</strong>, sem a<br />
interferência do governo n<strong>os</strong> preç<strong>os</strong> e taxas de lucr<strong>os</strong>, por uma política de governo que<br />
prioriza a concorrência.<br />
Com o processo de globalização iniciado na déca<strong>da</strong> de 1990 e com a abertura<br />
econômica (a economia brasileira passou de uma economia fecha<strong>da</strong> para uma economia<br />
aberta) foi proporcionado a<strong>os</strong> produtores um maior acesso a matéria-prima, a máquinas mais<br />
modernas tornando mais fácil e rápi<strong>da</strong> a produção. A<strong>os</strong> consumidores a abertura econômica<br />
disponibilizou o acesso a uma maior varie<strong>da</strong>de de produt<strong>os</strong>, tendo mais liber<strong>da</strong>de de escolha,<br />
aumentando seu bem estar (MARKWALD, 2001).<br />
A abertura comercial propiciou mu<strong>da</strong>nças no cenário econômico. As empresas<br />
começaram a diagn<strong>os</strong>ticar a necessi<strong>da</strong>de de investir mais em Pesquisa e Desenvolvimento<br />
(P&D) para se manter no <strong>mercado</strong> (ibidem).<br />
Segundo FERREIRA e HASENCLEVER (2002), citado em KUPFER (2002), as<br />
empresas precisam investir em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) para perpetuar o processo<br />
de mu<strong>da</strong>nça tecnológica, diversificando as suas ativi<strong>da</strong>des por meio <strong>da</strong> inovação, invenção ou<br />
imitação de produt<strong>os</strong>. Os gast<strong>os</strong> com P&D estão ligad<strong>os</strong> a pesquisa básica, aplica<strong>da</strong> e ao<br />
desenvolvimento experimental.<br />
Como salienta KON (1999), as empresas buscam a diversificação de seus produt<strong>os</strong> ou a<br />
criação de um novo produto para manter-se no <strong>mercado</strong>, para diminuir <strong>os</strong> risc<strong>os</strong> e incertezas<br />
8 BANDES: Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo.<br />
9
ou ain<strong>da</strong> para amenizar a sazonali<strong>da</strong>de a qual o produto está suscetível no <strong>mercado</strong> em que a<br />
indústria está inseri<strong>da</strong>.<br />
Devido às incertezas do <strong>mercado</strong>, surgiram diversas alianças entre grandes empresas<br />
nacionais e internacionais. Em relação à indústria cervejeira nacional, nesse novo cenário,<br />
destacam<strong>os</strong> a <strong>fusão</strong> <strong>da</strong>s empresas Brahma e Antarctica (BANDES, 2004).<br />
Segundo FABRETTI (2005), o processo de <strong>fusão</strong> pode ser subdividido em <strong>fusão</strong> direta<br />
e <strong>fusão</strong> indireta. No processo de <strong>fusão</strong> direta duas empresas se unem para formar uma nova,<br />
extinguindo totalmente as empresas originais, iniciando uma nova ativi<strong>da</strong>de econômica.<br />
No processo de <strong>fusão</strong> indireta, as empresas se unem formando uma nova, denomina<strong>da</strong><br />
socie<strong>da</strong>de holding 9 controladora. Ou seja, as empresas fusiona<strong>da</strong>s continuam mantendo suas<br />
ativi<strong>da</strong>des econômicas individuais, porém a nova socie<strong>da</strong>de holding controla as suas ações,<br />
propondo uma linha de gestão uniforme d<strong>os</strong> negóci<strong>os</strong> <strong>da</strong>s empresas. É o caso <strong>da</strong> AmBev e <strong>da</strong><br />
maioria <strong>da</strong>s fusões atuais (ibidem).<br />
O processo produtivo <strong>da</strong> indústria cervejeira envolve a fabricação, engarrafamento e<br />
distribuição. Podendo utilizar-se de argument<strong>os</strong> como a sua localização e suas redes de<br />
distribuição como barreiras a entra<strong>da</strong>s de novas firmas. Fazendo com que as firmas menores<br />
optem pelas fusões e aquisições (ROSA, COSENZA, LEÃO, 2006).<br />
As cervejarias investem pesado em Marketing para manter seus consumidores fiéis a<br />
determina<strong>da</strong>s marcas, e para conquistar nov<strong>os</strong> consumidores no <strong>mercado</strong>. Segundo Ferrari<br />
(2008), o objetivo principal <strong>da</strong>s cervejarias é tornar sua marca líder, sendo lembra<strong>da</strong> por tod<strong>os</strong><br />
<strong>os</strong> consumidores. O papel principal do marketing no setor cervejeiro é de impedir que <strong>os</strong><br />
consumidores caracterizem as diferentes marcas do produto como sendo substitut<strong>os</strong> perfeit<strong>os</strong>.<br />
Já as embalagens, sofrem bastante influência d<strong>os</strong> canais de distribuição em sua<br />
fabricação. Ca<strong>da</strong> canal comercializa mais uma determina<strong>da</strong> embalagem, por exemplo, n<strong>os</strong><br />
bares a preferência é por garrafas, já n<strong>os</strong> supermercad<strong>os</strong> a preferência é pelas latas (BANDES,<br />
2004).<br />
Atualmente a preocupação com o meio ambiente e <strong>os</strong> problemas de estocagem, estão<br />
fazendo com que as embalagens tradicionais sejam substituí<strong>da</strong>s pelas descartáveis (ibidem).<br />
3.1. Análise do <strong>mercado</strong> de cervejas no Brasil a partir de 1990<br />
3.1.1 Mercado Consumidor<br />
9 Empresa que p<strong>os</strong>sui como ativi<strong>da</strong>de principal, participação acionária em uma ou mais empresas.<br />
10
De acordo com <strong>da</strong>d<strong>os</strong> do Sindicerv (2010), no Brasil a cerveja mais consumi<strong>da</strong> é do tipo<br />
Pilsen, que p<strong>os</strong>sui coloração mais clara, baixa fermentação e teor alcoólico. O <strong>mercado</strong><br />
nacional de consumo de cerveja pode ser caracterizado como um <strong>mercado</strong> de público jovem,<br />
devido à média de i<strong>da</strong>de d<strong>os</strong> consumidores, que p<strong>os</strong>suem baixo poder de compra. Setenta por<br />
cento do consumo total de cerveja é realizado pelas classes “C”,“D”, e “E” 10 . De acordo com<br />
R<strong>os</strong>a, C<strong>os</strong>enza e Leão (2006), mesmo com as propagan<strong>da</strong>s mais direciona<strong>da</strong>s ao público<br />
masculino, o consumo de cerveja está crescendo entre as mulheres.<br />
Tabela 01: Consumo per capita de cerveja – litr<strong>os</strong>/habitante 2002/2003<br />
País Consumo per capita<br />
Rep. Checa 158<br />
Alemanha 117,7<br />
Reino Unido 101,5<br />
Austrália 92<br />
Estad<strong>os</strong> Unid<strong>os</strong> 84<br />
Espanha 78,3<br />
Japão 56<br />
México 50<br />
Brasil 47<br />
França 35,5<br />
Argentina 34<br />
China 18<br />
Fonte: Brewers apud SINDICERV (2010).<br />
A cerveja pode ser caracteriza<strong>da</strong> como um produto de consumo sazonal, que p<strong>os</strong>sui<br />
variações de deman<strong>da</strong> devido a alterações climáticas, alteração na ren<strong>da</strong> e poder de compra<br />
d<strong>os</strong> consumidores. Ou seja, p<strong>os</strong>suem uma alta elastici<strong>da</strong>de preço e elastici<strong>da</strong>de de ren<strong>da</strong>.<br />
A elastici<strong>da</strong>de preço é a variação percentual <strong>da</strong> quanti<strong>da</strong>de deman<strong>da</strong><strong>da</strong> pela variação<br />
percentual no preço. A elastici<strong>da</strong>de <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> é a variação percentual <strong>da</strong> quanti<strong>da</strong>de<br />
deman<strong>da</strong><strong>da</strong> pela variação percentual <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> (VARIAN, 2003).<br />
Conforme <strong>da</strong>d<strong>os</strong> do SINDICERV (2010), o consumo médio per capita de cerveja<br />
nacional é de 47 litr<strong>os</strong>/ano no período de 2002/2003, conforme apresentado na tabela 01,<br />
número considerado baixo, quando comparado com outras nações, onde a cultura de consumo<br />
<strong>da</strong> bebi<strong>da</strong> fermenta<strong>da</strong> é mais relevante.<br />
A variação de consumo n<strong>os</strong> últim<strong>os</strong> an<strong>os</strong> sofreu algumas alterações devido a mu<strong>da</strong>nças<br />
econômicas. No ano de 1999, a desvalorização do câmbio para a transformação de um sistema<br />
10 Segundo IBGE (2009), as classes sociais são dividi<strong>da</strong>s em: “A” recebem mais de 15 salári<strong>os</strong> mínim<strong>os</strong>; “B”<br />
recebem de 5 a 15 salári<strong>os</strong> mínim<strong>os</strong>; “C” recebem de 3 a 5 salári<strong>os</strong> mínim<strong>os</strong>; “D” recebem de 1 a 3 salári<strong>os</strong><br />
mínim<strong>os</strong> e Classe “E” recebe até 1 salário mínimo.<br />
11
com livre mobili<strong>da</strong>de cambial, fez com que o poder de compra <strong>da</strong> população diminuísse,<br />
refletindo na que<strong>da</strong> do consumo de cerveja confirmando a elastici<strong>da</strong>de ren<strong>da</strong> alta. Conforme<br />
tabela 05, verifica-se um aumento no preço <strong>da</strong> cerveja de R$ 1,32 em 1998, para R$ 1,43 em<br />
1999, fator que também pode ter contribuído, para a que<strong>da</strong> do consumo. N<strong>os</strong> an<strong>os</strong> de 2000 e<br />
2001 o consumo per capita aumentou, tendo uma leve que<strong>da</strong> em 2002, p<strong>os</strong>sivelmente devido<br />
à crise financeira internacional, conforme <strong>da</strong>d<strong>os</strong> constantes na Figura 01.<br />
Figura 01: Consumo per capita de cerveja em litr<strong>os</strong>/ano no Brasil.<br />
Fonte: SINDICERV, (2010).<br />
A cerveja é comercializa<strong>da</strong> em divers<strong>os</strong> locais com diferentes caracterizações. Os<br />
bares, lanchonetes, restaurantes, casas noturnas, são caracterizad<strong>os</strong> como pont<strong>os</strong> de ven<strong>da</strong>s de<br />
consumo local. As pa<strong>da</strong>rias e <strong>os</strong> demais locais onde <strong>os</strong> consumidores necessitem do auxílio de<br />
um vendedor são caracteriza<strong>da</strong>s como locais de comercialização tradicionais, e, <strong>os</strong> locais<br />
denominad<strong>os</strong> como auto-serviç<strong>os</strong> são caracterizad<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> supermercad<strong>os</strong> (BANDES, 2004).<br />
3.1.2. Mercado Produtor<br />
Na indústria cervejeira no Brasil, além <strong>da</strong> AmBev, existem as cervejarias Kaiser e<br />
Schincariol (que p<strong>os</strong>suem significativa parcela de <strong>mercado</strong>), e algumas fábricas menores que<br />
p<strong>os</strong>suem parcela men<strong>os</strong> significativa.<br />
As principais cervejarias nacionais são: A Companhia Antarctica Paulista cria<strong>da</strong> em<br />
1885 atuava na fabricação e comercialização de bebi<strong>da</strong>s, tendo como principal parceira a<br />
empresa Budweiser Brasil Lt<strong>da</strong> (CADE, 2000); a marca Brahma, registra<strong>da</strong> em 1888 na Junta<br />
Comercial do Rio de Janeiro pelo suíço J<strong>os</strong>eph Villiger (BRAHMA, 2010); Cervejaria<br />
Bavária foi fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em 1890 por Henrique Stupakoff & Co, em 1900 p<strong>os</strong>suía uma capaci<strong>da</strong>de<br />
de produção de 13.000 litr<strong>os</strong> diári<strong>os</strong> (SUZIGAN, 2010); a cervejaria Kaiser surgiu em 1982,<br />
foi cria<strong>da</strong> por Luiz Otávio Pôssas Gonçalves, distribuidor <strong>da</strong> Coca-Cola em Minas Gerais.<br />
12
Em 2002, a cervejaria Canadense Molson, comprou a Kaiser. A Molson já havia<br />
comprado a marca Bavária e as cinco fábricas <strong>da</strong> AmBev no ano de 2000 conforme exigência<br />
do CADE (BANDES, 2004).<br />
No ano de 1964, surgiu, na Europa, uma nova marca no <strong>mercado</strong> mundial, a Skol, que<br />
chegou ao Brasil em 1967. Em 1971 a Skol lançou a primeira cerveja em lata do país, também<br />
foi à pioneira na criação <strong>da</strong> lata de alumínio. Atualmente a marca Skol é fabrica<strong>da</strong> no Brasil<br />
pela AmBev (AMBEV, 2010).<br />
O grupo Schincariol surgiu em 1939 no Estado de São Paulo. Em 1989 lançaram a<br />
primeira marca de cerveja Pilsen do grupo que levou o mesmo nome <strong>da</strong> cervejaria, a<br />
Schincariol (BANDES, 2004).<br />
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES<br />
4.1 Mercado de Cervejas<br />
4.1.1. Market Share do Mercado Cervejeiro Brasileiro<br />
Segundo REBOUÇAS (2010), o market share 11 n<strong>os</strong> m<strong>os</strong>tra a participação de um bem<br />
ou produto em um <strong>mercado</strong> específico.<br />
Com base em <strong>da</strong>d<strong>os</strong> do SINDICERV (2010), FERRARI (2008), ROSA e LEÃO (2010),<br />
BNDES (1996) e OLIVEIRA (1996), foi elabora<strong>da</strong> a tabela 02, onde se apresenta <strong>os</strong> índices<br />
de participação do <strong>mercado</strong> <strong>da</strong>s principais empresas produtoras no período de 1989 a 2005.<br />
Tabela 02: Participação por marcas de cerveja de 1989 a 2005 e cálculo do HHI.<br />
Marca 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005<br />
Brahma 37,8 38,1 38 37,4 35,2 33,3 31,4 29 26 24 22 23 22 21,8 20,9 19,8 20,4<br />
Antartica 40,8 37,8 35 34 31,5 30,2 31,9 26 24 18 18 16 14 14,3 11,6 13 13,6<br />
Skol 12,5 12,7 13 14,1 15 16,8 15,2 19 22 24 27 30 32 32,3 32,8 31,6 32,6<br />
BoHemia - - - - - - - - - - - - - - 1,9 1,8 1,7<br />
AmBev - - - - - - - - - - - 69 68 68,4 67,2 66,2 68,3<br />
Kaiser 7,9 9,8 11 11,5 13,6 13,9 14,6 16 17 23 21 18 17 15,4 13,3 10,9 8,9<br />
Schincariol* 0,2 0,8 2 2,1 3,8 4,7 5,4 5 6 8 8 9 10 9,6 11,1 13,1 12,6<br />
Outr<strong>os</strong> 0,8 0,8 1 0,9 0,9 1,1 1,5 5 5 3 4 4 5 6,7 8,5 9,8 10,2<br />
Petropolis - - - - - - - - - - - - - - - 3,6 5,2<br />
Cintra - - - - - - - - - - - - - 1,6 1,7 1,6 1,4<br />
Outras<br />
marcas - - - - - - - - - - - - - 5,1 6,8 4,6 3,6<br />
HHI 3313 3139 2964 2891 2657 2520 2479 2184 2086 2078 2058 5182 5038 5053 4888 4769 5007<br />
Fonte: Elaboração Própria<br />
*Inclui to<strong>da</strong>s as marcas <strong>da</strong> cervejaria Schincariol.<br />
11 Participação de <strong>mercado</strong>.<br />
13
A partir d<strong>os</strong> <strong>da</strong>d<strong>os</strong> <strong>da</strong> fatia de <strong>mercado</strong> de ca<strong>da</strong> empresa do setor, foi calculado o HHI<br />
para avaliar a concentração que ca<strong>da</strong> cervejaria p<strong>os</strong>suía no período anterior e p<strong>os</strong>terior a<br />
<strong>fusão</strong>. O índice atribui peso maior para as empresas maiores, m<strong>os</strong>trando assim a importância<br />
que as mesmas p<strong>os</strong>suem no <strong>mercado</strong> em qual atuam e auxiliando-n<strong>os</strong> a avaliar <strong>os</strong> efeit<strong>os</strong><br />
dessa concentração para <strong>os</strong> consumidores.<br />
O índice HHI foi utilizado pelo CADE para a aprovação <strong>da</strong> <strong>fusão</strong> <strong>da</strong>s cervejarias que<br />
criaram a AmBev, devido a sua aplicabili<strong>da</strong>de e simplici<strong>da</strong>de. O índice permite analisar o<br />
quanto à indústria é concentra<strong>da</strong>, e quais são as variações p<strong>os</strong>síveis que mantenham um nível<br />
de concorrência entre as empresas, para evitar que o <strong>mercado</strong> torne-se um monopólio.<br />
A <strong>análise</strong> do índice apontou para uma forte concentração dentro desta ativi<strong>da</strong>de. O<br />
<strong>mercado</strong> já era concentrado, mas ficou muito mais após a criação <strong>da</strong> AmBev. A indústria<br />
cervejeira já se encontrava, desde 1989, com um HHI maior que 1.800, sinalizando<br />
preocupação em caso de <strong>fusão</strong>.<br />
No ano de 1999, a indústria cervejeira apresentava um HHI de 2.058. Nesse mesmo ano,<br />
foi iniciado o processo de <strong>fusão</strong>, concretizado no ano de 2000. Em 2000, o valor do índice de<br />
concentração de <strong>mercado</strong>, conforme apresentado na tabela 02, saltou para 5182. Verifica-se,<br />
portanto, que o aumento <strong>da</strong> concentração foi bastante superior a 100 pont<strong>os</strong>, fato que<br />
evidencia claramente a eleva<strong>da</strong> concentração do <strong>mercado</strong>.<br />
Conforme se pode analisar no período anterior a criação <strong>da</strong> AmBev, a maior<br />
concentração de <strong>mercado</strong> estava dividi<strong>da</strong> entre as marcas Brahma e Antarctica, com base n<strong>os</strong><br />
<strong>da</strong>d<strong>os</strong> referentes a<strong>os</strong> an<strong>os</strong> de 1989 a 1997. A partir de 1998 a marca Antarctica foi perdendo<br />
<strong>mercado</strong> para a cerveja Skol, pertencente à Cervejaria Brahma. A marca de cerveja Skol,<br />
pr<strong>os</strong>seguiu aumentando suas ven<strong>da</strong>s ultrapassando a principal marca de sua cervejaria, a<br />
Brahma. A cerveja Kaiser mantinha um mesmo patamar significativo de crescimento, seguido<br />
<strong>da</strong> marca Schincariol.<br />
Em 1995 a marca Brahma perdeu a p<strong>os</strong>ição de primeiro lugar para a Antarctica,<br />
conforme tabela 02. Segundo Oliveira (1996), foi devido ao crescimento <strong>da</strong> deman<strong>da</strong> e pela<br />
falta de capaci<strong>da</strong>de produtiva, fator que levou a cervejaria Brahma a implantar uma nova<br />
fábrica em Campo Grande no Rio de Janeiro.<br />
A partir d<strong>os</strong> <strong>da</strong>d<strong>os</strong> pode-se visualizar uma movimentação mais significativa de aumento<br />
do poder de <strong>mercado</strong> <strong>da</strong>s cervejarias menores 12 durante <strong>os</strong> an<strong>os</strong> de 1995 a 1999. Logo após a<br />
12 Caracteriza<strong>da</strong>s como “Outras” nas tabelas e gráfic<strong>os</strong>.<br />
14
<strong>fusão</strong>, as cervejarias pequenas (outras na tabela 02) expandiram ain<strong>da</strong> mais sua produção,<br />
elevando sua participação no <strong>mercado</strong>.<br />
Em função <strong>da</strong> pequena complexi<strong>da</strong>de do processo de fabricação e <strong>da</strong> p<strong>os</strong>sibili<strong>da</strong>de de<br />
comercializar em pequenas redes, é p<strong>os</strong>sível às pequenas empresas atuarem regionalmente,<br />
conquistando as parcelas de <strong>mercado</strong> próximas de sua localização, especialmente em bares de<br />
periferias (R<strong>os</strong>a, C<strong>os</strong>enza e Leão, p. 105, 2006).<br />
Mesmo com o crescimento constante <strong>da</strong> participação <strong>da</strong>s cervejarias Schincariol e<br />
Kaiser a partir de 1997, o <strong>mercado</strong> continuou concentrado pelas marcas Skol, Brahma e<br />
Antarctica, com respectivamente 22%, 26% e 24% <strong>da</strong> participação do <strong>mercado</strong>.<br />
Em 1999, se soma<strong>da</strong>s às participações <strong>da</strong>s cervejas Brahma, Antarctica e Skol, as<br />
mesmas totalizam 67% do <strong>mercado</strong> nacional, contra 33% <strong>da</strong>s demais cervejarias.<br />
No ano de 2004 ocorreu uma mu<strong>da</strong>nça na ordem participação de <strong>mercado</strong> <strong>da</strong>s empresas,<br />
quando a Kaiser passou do 2º para o 3º lugar perdendo sua colocação para a cerveja<br />
Schincariol. Segundo JIMENES e GONÇALVES (2004), essa inversão na colocação de<br />
<strong>mercado</strong>, foi origina<strong>da</strong> pelo lançamento <strong>da</strong> Nova Schin, nova marca de cerveja do grupo<br />
Schincariol. O grupo intensificou as estratégias de marketing <strong>sobre</strong> o novo produto e alterou a<br />
sua formulação.<br />
Ain<strong>da</strong> em 2004, a Schin já havia ultrapassado as marcas Antarctica e Kaiser, momento<br />
que passou a competir diretamente com as marcas Brahma e Skol. O crescimento de sua<br />
aceitação no <strong>mercado</strong> deveu-se em partes pelo slogan de sua campanha de marketing<br />
(experimenta!) que utilizou uma linguagem mais conheci<strong>da</strong> pel<strong>os</strong> consumidores, instigando o<br />
seu consumo (JIMENES E GONÇALVES, 2004).<br />
No comparativo entre <strong>os</strong> <strong>da</strong>d<strong>os</strong> de 1999 e 2005 percebe-se que após a <strong>fusão</strong> <strong>da</strong>s maiores<br />
cervejarias, o <strong>mercado</strong> cervejeiro nacional firmava sua característica de oligopólio, onde uma<br />
empresa, a AmBev, p<strong>os</strong>sui mais de 65% do poder de <strong>mercado</strong> do setor.<br />
4.2. Influência <strong>da</strong> AmBev <strong>sobre</strong> a concentração do <strong>mercado</strong>, produção e consumo de<br />
cerveja<br />
4.2.1 Influência Sobre o HHI<br />
Após <strong>análise</strong> do índice Hirschiman – Herfin<strong>da</strong>hl (HHI) e verificação <strong>da</strong> eleva<strong>da</strong><br />
concentração do <strong>mercado</strong>, elaborou-se uma regressão a fim de averiguar o quanto a presença<br />
<strong>da</strong> AmBev influenciou <strong>os</strong> resultad<strong>os</strong> obtid<strong>os</strong> na tabela 02.<br />
15
Para tanto, utilizou-se um modelo econométrico simples, com uma variável dummy (D),<br />
para indicar como a presença ou ausência <strong>da</strong> AmBev, no <strong>mercado</strong>, influenciou a variável<br />
dependente: market share <strong>da</strong>s cervejarias.<br />
Atribuiu-se valor zero para a variável dummy em períod<strong>os</strong> de ausência <strong>da</strong> AmBev<br />
(1989-1999) e valores igual a 1 para an<strong>os</strong> de presença (2000-2005).<br />
Conforme <strong>os</strong> resultad<strong>os</strong> obtid<strong>os</strong> pelo modelo (Modelo: Y = b0 + b1 D + e), observou-se<br />
que 91,39% do aumento de concentração do <strong>mercado</strong> foi devido à <strong>fusão</strong> ocorri<strong>da</strong> no ano<br />
2000. Desse modo, reafirma-se que a indústria está mais concentra<strong>da</strong> em virtude <strong>da</strong> presença<br />
<strong>da</strong> AmBev.<br />
De acordo com Ferrari (2008), as cervejarias investem em propagan<strong>da</strong> para fixarem<br />
suas marcas. Tal pode ser percebido na cervejaria AmBev, que para marcar forte presença no<br />
<strong>mercado</strong>, investe em inovações, propagan<strong>da</strong>, e diferenciações na linha de produt<strong>os</strong>.<br />
4.2.2 Influência Sobre a Produção e Consumo<br />
Os estud<strong>os</strong> de Oliveira (1996) m<strong>os</strong>tram que a produção <strong>da</strong>s cervejarias nacionais são<br />
dirigi<strong>da</strong>s basicamente ao consumo interno.<br />
Na interpretação de ROSA, COSENZA e LEÃO (2006), 70% a 75% <strong>da</strong> produção de<br />
cerveja nacional são comercializa<strong>da</strong>s pel<strong>os</strong> canais de consumo local e tradicional. Dessa<br />
perspectiva FERRARI (2008), afirma que cerca de 30% <strong>da</strong> produção de cerveja é distribuí<strong>da</strong><br />
diretamente pelas empresas produtoras. Nesse sentido é ressalta<strong>da</strong> a utilização, pelas<br />
cervejarias, de diferentes maneiras de fidelização de seus distribuidores, através d<strong>os</strong> contrat<strong>os</strong><br />
de distribuição exclusiva.<br />
Com base na tabela 03 13 são apresentad<strong>os</strong> <strong>os</strong> valores indicando a produção (em<br />
milhões hectolitr<strong>os</strong> 14 ) e consumo per capita (em litr<strong>os</strong>) de cerveja n<strong>os</strong> an<strong>os</strong> de 1985 a 2008.<br />
Tabela 03: Dad<strong>os</strong> <strong>sobre</strong> consumo e produção de cerveja entre 1985 e 2008<br />
Ano<br />
Milhões de hl Consumo per capita<br />
lt/habitante<br />
1985 30,20 22,30<br />
1986 43,80 31,60<br />
1987 47,50 33,60<br />
1988 48,00 32,40<br />
1989 52,80 35,70<br />
1990 54,50 36,10<br />
1991 58,00 39,50<br />
13<br />
Tabela elabora<strong>da</strong> com <strong>da</strong>d<strong>os</strong> do Sindicerv (2010), Ferrari (2008), Reinoldi (2010), Monteiro (2006), R<strong>os</strong>a,<br />
C<strong>os</strong>enza e Leão (2006).<br />
14<br />
Uni<strong>da</strong>de de volume equivalente a cem litr<strong>os</strong>, representado pelo símbolo hl.<br />
16
1992 47,70 32,00<br />
1993 51,00 33,60<br />
1994 65,00 41,80<br />
1995 80,00 50,00<br />
1996 80,00 49,30<br />
1997 81,00 50,90<br />
1998 84,00 50,20<br />
1999 78,00 48,00<br />
2000 82,00 49,80<br />
2001 84,50 50,30<br />
2002 84,10 48,00<br />
2003 82,20 46,80<br />
2004 85,00 47,60<br />
2005 90,20 49,00<br />
2006 97,00 51,90<br />
2007 101,40 56,00<br />
2008 106,30 57,00<br />
Fonte: Elaboração própria (2010).<br />
O consumo de cerveja varia conforme as influências econômicas e o clima suas ven<strong>da</strong>s<br />
são eleva<strong>da</strong>s entre <strong>os</strong> meses de temperatura mais eleva<strong>da</strong> (dezembro a março). Visualiza-se<br />
também, que o aumento de preç<strong>os</strong> oriund<strong>os</strong> de crises econômicas e financeiras provoca<br />
redução de seu consumo, devido ao fato <strong>da</strong> cerveja ser mais consumi<strong>da</strong> pelas classes que<br />
p<strong>os</strong>suem menor poder aquisitivo.<br />
Conforme <strong>da</strong>d<strong>os</strong> <strong>sobre</strong> consumo constantes na tabela 03, verifica-se pouca variação<br />
entre <strong>os</strong> an<strong>os</strong> de 1986 a 1993. No ano seguinte, o consumo per capita aumentou 24,40%. De<br />
acordo com SAORIN (2010), a evolução do consumo deveu-se, p<strong>os</strong>sivelmente, pel<strong>os</strong> efeit<strong>os</strong><br />
<strong>da</strong> implantação do plano real, que contribuiu para o crescimento de poder de compra <strong>da</strong><br />
população, que passou a consumir mais cerveja.<br />
De 1995 a 2006 o consumo manteve-se constante, aumentando consideravelmente a<br />
partir de 2007 e 2008 (9,82% em 2008 em relação a 2006).<br />
Em relação a produção de cerveja, verifica-se crescimento lento entre <strong>os</strong> an<strong>os</strong> de 1985 a<br />
1994, <strong>da</strong>ndo um salto significativo a partir de 1995 com a produção de 80 milhões de<br />
hectolitr<strong>os</strong> contra 65 milhões em 1994. Este crescimento continua até 2008, conforme<br />
visualizado na tabela 03.<br />
Observa-se, com base na utilização do modelo econométrico (tabela 04), que a presença<br />
<strong>da</strong> AmBev no <strong>mercado</strong> cervejeiro foi mais significativo para a produção do que para o<br />
consumo per capita , pois 52,76% <strong>da</strong>s variações na produção e apenas 38,75% <strong>da</strong>s variações<br />
no consumo de cerveja no Brasil, no período analisado, foram explicad<strong>os</strong> pela <strong>fusão</strong> <strong>da</strong>s<br />
empresas Antártica e Brahma.<br />
A média do consumo per capita ate 2000 era de 39,13 litr<strong>os</strong>. Essa média aumentou para<br />
50,71 litr<strong>os</strong> após a <strong>fusão</strong> e surgimento <strong>da</strong> AmBev, ou seja, ocorreu um incremento médio de<br />
17
11,58 litr<strong>os</strong> por habitante. Essa elevação de consumo pode ser resultado d<strong>os</strong> investiment<strong>os</strong> em<br />
propagan<strong>da</strong> pela nova empresa no <strong>mercado</strong>.<br />
Tabela 04: Modelo Econométrico relacionando o consumo e a produção de cerveja de 1985 a<br />
2008 em função <strong>da</strong> presença <strong>da</strong> AmBev (Dummy)<br />
Estatística de regressão<br />
Produção Consumo<br />
R-Quadrado 52,76% 38,75%<br />
R-quadrado ajustado 50,61% 35,96%<br />
Média até 1999 60,1 39,13<br />
Média incremental após AmBev 30,2 11,58<br />
Fonte: Elaboração própria, com base n<strong>os</strong> <strong>da</strong>d<strong>os</strong> <strong>da</strong> tabela 03.<br />
O aumento <strong>da</strong> produção deve-se em partes pelo aumento de fábricas cervejeiras<br />
nacionais, e também devido ao processo de <strong>fusão</strong> no ano de 2000, onde a AmBev aumentou<br />
significativamente sua produção.<br />
4.3. Análise d<strong>os</strong> preç<strong>os</strong> <strong>da</strong> indústria cervejeira<br />
A partir de conceit<strong>os</strong> universais <strong>sobre</strong> a formulação d<strong>os</strong> preç<strong>os</strong>, dizem<strong>os</strong> que eles são<br />
obtid<strong>os</strong> a partir de <strong>análise</strong>s de custo e <strong>da</strong> lucrativi<strong>da</strong>de espera<strong>da</strong> de certo produto. O preço<br />
atribuído ao bem não pode ser maior de seu beneficio para o consumidor e nem ser menor que<br />
o custo de produção e distribuição (PALDA, 1976).<br />
(ibidem).<br />
A fixação inicial d<strong>os</strong> preç<strong>os</strong> é mais complexa e arrisca<strong>da</strong> do que sua alteração p<strong>os</strong>terior<br />
Como descrito no trabalho de COSTA (2010):<br />
Preço é informação que deve ser considera<strong>da</strong> em função d<strong>os</strong> objetiv<strong>os</strong> a serem atendid<strong>os</strong>. Preço de<br />
custo, de ven<strong>da</strong>, preço de produção, preço de serviço e preço de <strong>mercado</strong>. Preço quando a<br />
capaci<strong>da</strong>de está satura<strong>da</strong> e quando a capaci<strong>da</strong>de está oci<strong>os</strong>a. Preço para penetrar em mercad<strong>os</strong> e<br />
preç<strong>os</strong> de produt<strong>os</strong> diferenciad<strong>os</strong>; preç<strong>os</strong> públic<strong>os</strong>, preç<strong>os</strong> de importação, etc.; são muit<strong>os</strong> <strong>os</strong><br />
sentid<strong>os</strong> e isto vale também de forma crítica, pois o preço pode ser entendido como epifenômeno<br />
que encobre relações de produção, desigual<strong>da</strong>des sociais, e também imperfeições do sistema de<br />
concorrência. (C<strong>os</strong>ta, 2010, p. 01)<br />
Existem inúmer<strong>os</strong> métod<strong>os</strong> e fórmulas para a fixação de preç<strong>os</strong>, porém é necessário<br />
sempre levar em consideração <strong>os</strong> cust<strong>os</strong>, a capaci<strong>da</strong>de e tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> fatores de produção <strong>da</strong><br />
empresa (COSTA, 2010).<br />
Seguindo as idéias de FERRARI (2008), <strong>os</strong> consumidores analisam as cervejas Brahma,<br />
Skol, Antarctica e Bohemia como produt<strong>os</strong> de primeira linha e que p<strong>os</strong>suem características e<br />
preç<strong>os</strong> semelhantes. Já as cervejas Kaiser e Schincariol, considera<strong>da</strong>s como segun<strong>da</strong> linha<br />
tendem a praticar preç<strong>os</strong> menores.<br />
18
Esta característica de líderes (cervejas de primeira linha) e seguidoras (cervejas de<br />
segun<strong>da</strong> linha) na formulação de preç<strong>os</strong>, n<strong>os</strong> remete ao modelo de Stackelberg, na teoria do<br />
oligopólio (ibidem).<br />
A fim de averiguar <strong>os</strong> efeit<strong>os</strong> <strong>sobre</strong> <strong>os</strong> preç<strong>os</strong> repassad<strong>os</strong> ao consumidor final, causad<strong>os</strong><br />
pela <strong>fusão</strong> no <strong>mercado</strong> cervejeiro nacional, foi elabora<strong>da</strong> pesquisa de preç<strong>os</strong> médi<strong>os</strong> <strong>da</strong>s<br />
cervejas Bhrama, Antarctica e Skol no período de 1995 a 2009. A base d<strong>os</strong> valores referentes<br />
a<strong>os</strong> preç<strong>os</strong> foram <strong>os</strong> canais de distribuição – bares e restaurantes de Francisco Beltrão – PR.<br />
De acordo com <strong>os</strong> valores de ven<strong>da</strong> obtid<strong>os</strong>, aplicou-se uma média aritmética simples para<br />
ca<strong>da</strong> ano, utilizando-se, portanto, <strong>da</strong> média d<strong>os</strong> valores <strong>da</strong>s cervejas Brahma, Antarctica e<br />
Skol, embalagens de 600 ml, para a realização <strong>da</strong> <strong>análise</strong>.<br />
Os preç<strong>os</strong> médi<strong>os</strong> pesquisad<strong>os</strong> foram deflacionad<strong>os</strong> utilizando-se o IPCA de<br />
alimentação e bebi<strong>da</strong>s disponibilizado pelo IPEADATA, para averiguar as variações n<strong>os</strong><br />
preç<strong>os</strong> reais, retirando a inflação do período.<br />
A partir d<strong>os</strong> <strong>da</strong>d<strong>os</strong> obtid<strong>os</strong> formulou-se a tabela 05, para <strong>análise</strong> d<strong>os</strong> impact<strong>os</strong> <strong>da</strong> <strong>fusão</strong><br />
para <strong>os</strong> consumidores, levando em consideração o preço médio <strong>da</strong> cerveja no período.<br />
Tabela 05: Análise <strong>da</strong> variação d<strong>os</strong> preç<strong>os</strong> médi<strong>os</strong> de ven<strong>da</strong> <strong>da</strong>s cervejas Antarctica, Brahma e Skol no período<br />
de 1995 a 2009.<br />
Ano Preço Médio* Deflator**<br />
Preço<br />
Deflacionado***<br />
Índice de Base<br />
Móvel<br />
Variação do Preço <strong>da</strong><br />
Cerveja em relação a<br />
1995<br />
1995 R$ 1,05 100 R$ 1,05 R$ 100 100<br />
1996 R$ 1,06 101,73 R$ 1,04 R$ 99,24 99,235605<br />
1997 R$ 1,16 101,22 R$ 1,15 R$ 109,99 109,144626<br />
1998 R$ 1,35 101,97 R$ 1,32 R$ 115,52 126,087505<br />
1999 R$ 1,54 107,92 R$ 1,43 R$ 107,78 135,903138<br />
2000 R$ 1,73 103,20 R$ 1,68 R$ 117,48 159,653008<br />
2001 R$ 1,87 109,24 R$ 1,71 R$ 102,12 163,031159<br />
2002 R$ 1,93 118,11 R$ 1,63 R$ 95,46 155,625708<br />
2003 R$ 2,00 107,27 R$ 1,86 R$ 114,10 177,567065<br />
2004 R$ 2,06 103,81 R$ 1,98 R$ 106,43 188,989959<br />
2005 R$ 2,40 101,99 R$ 2,35 R$ 118,58 224,111608<br />
2006 R$ 2,64 101,24 R$ 2,61 R$ 110,81 248,349043<br />
2007 R$ 2,74 110,29 R$ 2,48 R$ 95,27 236,605659<br />
2008 R$ 2,92 110,62 R$ 2,64 R$ 106,25 251,396889<br />
2009 R$ 3,26 103,13 R$ 3,16 R$ 119,75 301,053225<br />
Fonte: Elaboração própria (2010).<br />
* Valores médi<strong>os</strong> obtid<strong>os</strong> <strong>da</strong>s cervejas pertencentes à AmBev (Brahma, Skol e Antarctica), garrafa de 600 ml.<br />
** Deflator do IBGE/SNIPC, disponibilizado pelo IPEADATA.<br />
*** Preço Real considerado.<br />
Tomando como base a tabela 05, observa<strong>da</strong> a base no ano de 1995, verifica-se um<br />
aumento, até 1999, de 7,92% no nível geral de preç<strong>os</strong>, entretanto o preço <strong>da</strong> cerveja obteve<br />
um salto muito maior, elevando-se 35,90% no mesmo período. Considerando a elastici<strong>da</strong>de<br />
19
preço <strong>da</strong> deman<strong>da</strong>, verifica-se que este aumento n<strong>os</strong> preç<strong>os</strong> poder estar diretamente<br />
relacionado à variação <strong>da</strong> produção, que passou de 84 milhões para 78 milhões hectolitr<strong>os</strong> em<br />
1999, considerando o consumo per capita crescente.<br />
No ano de 1999, quando foi anuncia<strong>da</strong> a <strong>fusão</strong> <strong>da</strong>s cervejarias, o preço médio real de<br />
ven<strong>da</strong> <strong>da</strong> cerveja era R$ 1,43. No ano seguinte (2000), com a aprovação <strong>da</strong> <strong>fusão</strong> o preço<br />
saltou para R$ 1,68, aumentando 17,48% em relação ao ano anterior, e, 59,65% em relação a<br />
1995. Demonstrando assim, <strong>os</strong> impact<strong>os</strong> iniciais <strong>da</strong> presença <strong>da</strong> AmBev no <strong>mercado</strong>.<br />
Em 2002, ocorreu a redução do consumo per capita e d<strong>os</strong> preç<strong>os</strong>, conforme visualizado<br />
nas tabelas 03 e 05. P<strong>os</strong>sivelmente devido a<strong>os</strong> efeit<strong>os</strong> <strong>da</strong>s diversas crises econômicas e<br />
financeiras ocorri<strong>da</strong>s no período que faz com que as pessoas reduzam seu consumo. Com a<br />
diminuição do consumo, as cervejarias (como as demais indústrias) acabam aumentando seus<br />
preç<strong>os</strong> para não terem prejuíz<strong>os</strong> maiores.<br />
Verifica-se, portanto que para o consumidor final, a <strong>fusão</strong> <strong>da</strong>s cervejarias não foi<br />
benéfica, pois <strong>os</strong> aument<strong>os</strong> ocorrid<strong>os</strong> n<strong>os</strong> preç<strong>os</strong> reais <strong>da</strong> cerveja foram em níveis muito<br />
maiores que a inflação do período.<br />
Analisa-se também que a maior quanti<strong>da</strong>de de bebi<strong>da</strong> oferta<strong>da</strong> no <strong>mercado</strong>,<br />
p<strong>os</strong>sivelmente seja resp<strong>os</strong>ta a elevação do consumo per capita. Este por sua vez pode ter sido<br />
ocasionado pelo aumento <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> d<strong>os</strong> consumidores, ou por períod<strong>os</strong> de verão mais<br />
prolongad<strong>os</strong>, carnaval mais cedo, mu<strong>da</strong>nça de preferência d<strong>os</strong> consumidores, etc. Já a<br />
elevação d<strong>os</strong> preç<strong>os</strong> pode ser considera<strong>da</strong> uma resp<strong>os</strong>ta p<strong>os</strong>itiva ao crescimento <strong>da</strong> deman<strong>da</strong> e<br />
também ao poder de <strong>mercado</strong> <strong>da</strong> empresa dominante.<br />
5. CONCLUSÃO<br />
Através de estud<strong>os</strong> realizad<strong>os</strong> para a elaboração deste trabalho, verifica-se o aumento do<br />
número de fusões e aquisições em tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> a nível mundial, considerando-se<br />
alternativas diferentes <strong>da</strong>s empresas se manterem num ambiente ca<strong>da</strong> dia mais competitivo.<br />
Com o crescimento <strong>da</strong>s fusões e aquisições, nota-se o aumento <strong>da</strong> concentração de <strong>mercado</strong>,<br />
transformando alguns setores numa estrutura oligopoliza<strong>da</strong>.<br />
Como tal exemplo, cita-se a indústria cervejeira, que devido a<strong>os</strong> elevad<strong>os</strong> investiment<strong>os</strong><br />
em marketing, inovações constantes em seus produt<strong>os</strong> e embalagens, número reduzido de<br />
firmas que atuam no setor, alta concentração de <strong>mercado</strong> que as mesmas p<strong>os</strong>suem e a<br />
dominação de <strong>mercado</strong> exerci<strong>da</strong> pela AmBev, apresenta-se como uma estrutura com<br />
características de oligopólio.<br />
20
Dentre <strong>os</strong> oligopóli<strong>os</strong> nacionais, analisou-se a indústria cervejeira, em especial, a <strong>fusão</strong><br />
ocorri<strong>da</strong> entre as Cervejarias Brahma e Antarctica Paulista anuncia<strong>da</strong> em mead<strong>os</strong> de 1999.<br />
No ano de 2000, o CADE aprovou a <strong>fusão</strong> <strong>da</strong>s cervejarias, porém, para concretizar o<br />
processo de <strong>fusão</strong> <strong>da</strong>s empresas, o CADE fez algumas restrições a serem cumpri<strong>da</strong>s pela<br />
AmBev, dentre elas: a ven<strong>da</strong> <strong>da</strong> marca Bavária no prazo de oito meses após a <strong>fusão</strong>, onde o<br />
comprador não poderia ter mais de 5% de participação na indústria cervejeira nacional; ven<strong>da</strong><br />
de cinco fábricas <strong>da</strong> Antarctica, localiza<strong>da</strong>s em Getúlio Vargas (RS), Ribeirão Preto (SP),<br />
Cuiabá (MT), Salvador (BA), Manaus (AM); compartilhamento <strong>da</strong> rede de distribuição <strong>da</strong><br />
AmBev com cinco pequenas empresas, por quatro an<strong>os</strong>; pelo mesmo período de quatro an<strong>os</strong> a<br />
cervejaria ficaria proibi<strong>da</strong> de desativar fábricas.<br />
As restrições imp<strong>os</strong>tas pelo CADE foram cumpri<strong>da</strong>s. A Marca Bavária e as cinco<br />
fábricas foram vendi<strong>da</strong>s para a cervejaria Molson; a AmBev não desativou nenhuma fábrica<br />
no período estipulado.<br />
Levando em consideração que este trabalho teve por objetivo analisar a variação <strong>da</strong><br />
concentração do <strong>mercado</strong> cervejeiro antes e após a <strong>fusão</strong> <strong>da</strong>s Cervejarias Brahma e Antarctica<br />
Paulista, e também verificar as variações do consumo e as alterações ocorri<strong>da</strong>s no preço <strong>da</strong><br />
cerveja neste período, conclui-se que em relação à concentração de <strong>mercado</strong>, com base nas<br />
<strong>análise</strong>s realiza<strong>da</strong>s através do cálculo do índice Hirschman – Herfin<strong>da</strong>hl (HHI), a indústria<br />
cervejeira nacional que já era domina<strong>da</strong> pelas marcas Brahma, Antarctica e Skol. Após a<br />
<strong>fusão</strong>, <strong>os</strong> índices de concentração elevaram-se significativamente, já que a AmBev passou a<br />
dominar mais de 65% <strong>da</strong> produção do setor.<br />
O consumo per capita manteve-se na média de 48 litr<strong>os</strong>/ano/habitante no período de<br />
1994 a 2004, sendo influenciado por alterações econômicas e climáticas. Cabe ressaltar que o<br />
clima tropical brasileiro, pode ser um d<strong>os</strong> fatores que causou elevação no consumo de cerveja.<br />
Para averiguar a alteração ocasiona<strong>da</strong> em relação à concentração, produção e consumo,<br />
devido à presença ou ausência <strong>da</strong> AmBev no <strong>mercado</strong>, utilizou-se um modelo econométrico<br />
simples, com uma variável dummy (D).<br />
Pela <strong>análise</strong> do modelo, e com base nas variações ocorri<strong>da</strong>s na oferta e deman<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />
bebi<strong>da</strong>, observou-se, que a presença <strong>da</strong> AmBev no <strong>mercado</strong> cervejeiro foi mais significativa<br />
para a produção do que para o consumo, pois 52,76% <strong>da</strong>s variações na produção e apenas<br />
38,75% <strong>da</strong>s variações no consumo de cerveja no Brasil foram relaciona<strong>da</strong>s à presença <strong>da</strong><br />
AmBev no <strong>mercado</strong>. Em relação à concentração de <strong>mercado</strong>, observou-se que 91,39% do<br />
aumento foi devido à <strong>fusão</strong> ocorri<strong>da</strong> no ano 2000.<br />
21
O consumo de cerveja é bastante sensível às variações na ren<strong>da</strong> d<strong>os</strong> consumidores,<br />
portanto pode-se considerar que o fator importante que influência o consumo por cerveja, são<br />
<strong>os</strong> preç<strong>os</strong>. No período analisado, verificou-se que a AmBev influenciou fortemente a elevação<br />
d<strong>os</strong> mesm<strong>os</strong>.<br />
Pode-se concluir que o consumo não tenha se reduzido, pelo resultado <strong>da</strong> forte<br />
campanha publicitária <strong>da</strong> indústria, que acaba induzindo <strong>os</strong> consumidores a consumir o<br />
produto, quando poderia beber outras quali<strong>da</strong>des de bebi<strong>da</strong>. No período p<strong>os</strong>terior a <strong>fusão</strong><br />
percebe-se uma elevação de 59,65% em comparação com 1995. No Ano de 2000 o preço<br />
médio real <strong>da</strong> cerveja em Francisco Beltrão era de R$ 1,68 e passou para R$ 3,16 em 2009,<br />
demonstrando, portanto, a forte influência exerci<strong>da</strong> pela AmBev no <strong>mercado</strong> cervejeiro<br />
nacional.<br />
Constatou-se certa dificul<strong>da</strong>de para a realização deste trabalho, no que se refere ao<br />
levantamento de preç<strong>os</strong> <strong>da</strong>s cervejas, <strong>os</strong> quais não foram conseguid<strong>os</strong> através de pesquisas em<br />
notas fiscais forneci<strong>da</strong>s por proprietári<strong>os</strong> de bares e restaurantes, e por contadores do<br />
município.<br />
Com base n<strong>os</strong> <strong>da</strong>d<strong>os</strong> obtid<strong>os</strong> no trabalho, torna-se p<strong>os</strong>sível <strong>da</strong>r seqüência as pesquisas<br />
mais recentes <strong>sobre</strong> o consumo, produção, concentração e preç<strong>os</strong>, e também, avaliar o<br />
investimento que a AmBev realiza com capacitação de seus colaboradores, e o<br />
aprofun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong>s estratégias de marketing <strong>da</strong> cervejaria.<br />
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