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Prosa - Academia Brasileira de Letras

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Perplexida<strong>de</strong> epistemológica e sedução da irracionalida<strong>de</strong><br />

A perplexida<strong>de</strong> epistemológica vigente favoreceu o fortalecimento das artes,<br />

das letras e da espiritualida<strong>de</strong>. E há quem pressinta no ar uma insinuante<br />

sedução da irracionalida<strong>de</strong>. Hoje, se multiplicam museus, eventos culturais da<br />

mais diversificada natureza, pondo em realce <strong>de</strong>signadamente as artes. E nela o<br />

classicismo foi per<strong>de</strong>ndo espaço para a ousadia <strong>de</strong> novos contornos artísticos<br />

<strong>de</strong> complexa praticagem. A mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> e a pós-mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> afiaram seus<br />

instrumentos <strong>de</strong> criação e nos oferecem emoções estéticas <strong>de</strong>senhadas em<br />

pranchetas irracionalistas. O tecido cultural ganhou em dinamismo ao se apresentar<br />

longe <strong>de</strong> exigências racionais. O homem parece haver compreendido<br />

que o rationale não impediu o advento <strong>de</strong> novas barbáries no plano político, militar,<br />

cultural, enfim.<br />

Assim como nas artes, nas religiões igualmente pen<strong>de</strong>u por gravida<strong>de</strong> o surgimento<br />

<strong>de</strong> milhões <strong>de</strong> pequenos grupos a nos aportar bens e serviços que têm<br />

mais a ver com o cotidiano simplista da manifestação espiritual do que com a<br />

sua robustez.<br />

O anelo por mais arte e o a<strong>de</strong>ntrar-se na zona cinzenta do mistério florescem<br />

hodiernamente com certo <strong>de</strong>scrédito da razão raciocinante. A anemia racional<br />

convive com o seu paroxismo, sinalizado pela presença do imperialismo<br />

que se vale da globalização como escudo <strong>de</strong> seu caráter impositivo. A vigência<br />

da globalização pressupõe a manutenção das i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s nacionais, da circulação<br />

dos valores em vigor nas nações, <strong>de</strong> que a cultura é expressão maior.<br />

O <strong>de</strong>clínio da razão configurado na diversificação <strong>de</strong> interesses humanos<br />

mais individualizados acentuou o irracionalismo, hoje francamente sedutor.<br />

Não há verda<strong>de</strong>s, não há valores duradouros. Tudo é <strong>de</strong>scartável, inclusive o<br />

homem. A vertiginosa velocida<strong>de</strong> das mudanças atesta irrefragavelmente o império<br />

do provisório, do mutável e a razão não opera na ausência <strong>de</strong> referenciais.<br />

O homem acolhe facilmente a mudança como se fora, por si só, garantia <strong>de</strong><br />

progresso. E apenas um olhar empobrecido <strong>de</strong> uma realida<strong>de</strong> complexa, a exigir,<br />

mais e mais, um retorno à razão, ou melhor, um retorno à inteligência <strong>de</strong><br />

braços com categorias da sensibilida<strong>de</strong> a moldar uma nova era, menos ambiciosa<br />

nos resultados e mais rica na pacífica convivência entre homens, institui-<br />

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