VARAL DO BRASIL 20 FEV 2013.pdf - coracional
VARAL DO BRASIL 20 FEV 2013.pdf - coracional
VARAL DO BRASIL 20 FEV 2013.pdf - coracional
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Literário, Literário, sem sem frescuras! frescuras!<br />
Ano Ano 4 4 -<br />
Fevereiro Fevereiro de de <strong>20</strong>13 <strong>20</strong>13—Edição<br />
<strong>20</strong>13 Edição no. no. <strong>20</strong><br />
<strong>20</strong><br />
ISSN ISSN<br />
ISSN 1664 1664-5243 1664<br />
1664-5243 1664<br />
1664 5243<br />
5243<br />
www.varaldobrasil.com 1<br />
®
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
LITERÁRIO, SEM FRESCURAS<br />
Genebra, inverno de <strong>20</strong>13<br />
No. <strong>20</strong><br />
ISSN ISSN 1664 1664-5243 1664 5243<br />
bbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbmmmmm<br />
mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmhhhhhhhhhhhhhhhh<br />
hhhhhhhhhhuyuyuytuyhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhjkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk<br />
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrffffffffffffffmanajudyebeneogguaenejuebehaddddddd<br />
ddddddddddddddddddddmnhee pam"ngnrihssssssssssssssssssnerrrrrrrrrrrrrrekkkkkkkkkkkkkkkkkkkkbbb<br />
bbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbmmmmmmm<br />
mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmhhhhhhhhhhhhhhhhhhh<br />
hhhhhhhuyuyuytuyhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhjkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk<br />
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrffffffffffffffmanajudyebeneogguaenejuebehaddddddddd<br />
ddddddddddddddddddmnhee pam"ngnrihssssssssssssssssssnerrrrrrrrrrrrrrekkkkkkkkkkkkkkkkkkkkbbbbb<br />
bbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbmmmmmmmm<br />
mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh<br />
hhhhhuyuyuytuyhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhjkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk<br />
kkkkkkkkkkkkkkkkkrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrffffffffffffffmanajudyebeneogguaenejuebehaddddddddddd<br />
ddddddddddddddddmnhee pam"ngnrihssssssssssssssssssnerrrrrrrrrrrrrrekkkkkkkkkkkkkkkkkkkkbbbbbbb<br />
bbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbmmmmmmmmmm<br />
mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh<br />
hhuyuyuytuyhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhjkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk<br />
kkkkkkkkkkkkkrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrffffffffffffffmanajudyebeneogguaenejuebehadddddddddddddd<br />
dddddddddddddmnhee pam"ngnrihssssssssssssssssssnerrrrrrrrrrrrrrekkkkkkkkkkkkkkkkkkkkbbbbbbbbbb<br />
bbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbmmmmmmmmmmm<br />
mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh<br />
huyuyuytuyhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhjkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk<br />
®<br />
www.varaldobrasil.com 3
EXPEDIENTE<br />
Revista Literária <strong>VARAL</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong><br />
ISSN 1664 1664-5243 1664 5243<br />
NO. <strong>20</strong> - Genebra - CH - ISSN 1664<br />
Copyright Vários Autores<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
O <strong>VARAL</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> é promovido, organizado e<br />
realizado por Jacqueline Aisenman<br />
Site do <strong>VARAL</strong>: www.varaldobrasil.com<br />
Blog do Varal: www.varaldobrasil.blogspot.com<br />
Textos: Vários Autores<br />
Colunas:<br />
Fabiane Ribeiro<br />
Sheila Ferreira Kuno<br />
Clara Machado<br />
Ilustrações: Vários Autores<br />
Foto capa: ©-Perrush---Fotolia.com<br />
Muitas imagens encontramos na internet sem ter<br />
o nome do autor citado. Se for uma foto ou um<br />
desenho seu, envie um e-mail aqui para a gente e<br />
teremos o maior prazer em divulgar o seu talento.<br />
Revisão parcial de cada autor<br />
Revisão geral <strong>VARAL</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong><br />
Composição e diagramação:<br />
Jacqueline Aisenman<br />
A distribuição ecológica, por e-mail, é gratuita. A<br />
revista está gratuitamente para download em<br />
seus site e blog.<br />
Se você deseja participar do <strong>VARAL</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong><br />
NO. 21 envie seus textos até 10 de fevereiro de<br />
<strong>20</strong>13 para: varaldobrasil@gmail.com O tema da<br />
edição será AMOR.<br />
Se você deseja participar do <strong>VARAL</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong><br />
NO. 22 envie seus textos até 10 de março de<br />
<strong>20</strong>13 para: varaldobrasil@gmail.com O tema da<br />
edição será livre.<br />
Informações sobre o 27o Salão Internacional do<br />
Livro e da Imprensa de Genebra e sobre o stand<br />
do <strong>VARAL</strong> <strong>DO</strong><strong>BRASIL</strong>:<br />
varaldobrasil@gmail.com<br />
SEN<strong>DO</strong> MULHER<br />
Por Jacqueline Aisenman<br />
Volta e meia era menina, de rosa<br />
e boneca e laço apertado. Volta<br />
meia era menino, rosto sujo, cara<br />
braba e vontade de brigar. Volta e<br />
tanta e meia a mais, virei mulher:<br />
em meio a tentar ser bonita e ser<br />
capaz e ser forte e... os saltos<br />
cansam, esqueço o batom e os<br />
cabelos se revoltam mais do que<br />
eu. Por isto, dentro aqui de mim<br />
ainda tem menina e menino. A<br />
menina que redescobre os brincos<br />
e brinca de ser mulher vaidosa<br />
e o menino que se joga na vida<br />
e nem quer saber que aparência<br />
tem. Mas a menina também luta<br />
feio e vigorosamente por tudo o<br />
que quer e o menino também se<br />
fantasia e permite voar entre os<br />
sonhos. Dentro de mim tem na<br />
verdade uma população inteira<br />
querendo existir e toda ela com<br />
um nome só: mulher!<br />
Imagem by Astralwind<br />
www.varaldobrasil.com 4
Sempre que fazemos uma edição temática<br />
temos muitas pessoas entusiastas que nos<br />
escrevem felizes.<br />
Mas nenhum tema até agora superou este:<br />
A MULHER!<br />
Já falamos de amor e vamos falar novamente<br />
no próximo mês; já falamos da vida<br />
e da preservação da vida (e claro que voltaremos<br />
a falar!) e de tantos outros temas.<br />
Mas falar de MULHER é diferente. É falar<br />
de nós mesmos, de nossas mães, irmãs,<br />
avós, tias, primas, amigas e inimigas, colegas.<br />
É falar das que nos inspiram, das<br />
santas e das pecadoras. Falar das sábias<br />
(que algumas vezes enlouquecem) e das<br />
loucas (que tantas vezes são sábias!).<br />
MULHER nem é mais um tema em si. MU-<br />
LHER é um UNIVERSO.<br />
Vocês verão, o número de paginas está<br />
bem maior nesta edição. Foi impossível<br />
manter as inscrições até a data que havíamos<br />
previsto. E mesmo assim, ainda tivemos<br />
a tristeza de recusar certos trabalhos<br />
(que reconduzimos para as próximas edições).<br />
Temos a participação de vários amigos do<br />
<strong>VARAL</strong> de longa data e temos também a<br />
participação de novos escritores (novos no<br />
<strong>VARAL</strong> apenas, na vida já são talentosos e<br />
reconhecidos escritores) que chegam para<br />
se unir a esta família da literatura sem<br />
frescuras.<br />
Este mês estamos lançando um concurso:<br />
o 1o PRÊMIO <strong>VARAL</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> DE LITE-<br />
RATURA que premiará originais em três<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
categorias: contos, crônicas e poemas. As<br />
inscrições já estão abertas e esperamos a<br />
sua inscrição. Os dois primeiros lugares<br />
nas três categorias receberão prêmio em<br />
espécie e estarão como convidados no livro<br />
<strong>VARAL</strong> ANTOLÓGICO 4.<br />
E por falar de <strong>VARAL</strong> ANTOLÓGICO, nosso<br />
volume 3 já está de lançamento marcado.<br />
Será dia 03 de maio durante o 27o Salão<br />
Internacional do Livro e da Imprensa de<br />
Genebra e em agosto em Florianópolis<br />
(SC), ambos os lançamentos na presença<br />
de vários autores.<br />
Se você lembra de nossa participação<br />
cheia de sucesso no Salão do Livro de Genebra<br />
no ano passado, com quatorze autores<br />
autografando e mais de cem títulos expostos,<br />
prepare-se!<br />
Estamos voltando este ano, com um stand<br />
maior, mais escritores para incríveis lançamentos<br />
e sessões de autógrafos, novos<br />
livros em exposição! E tudo isto porque o<br />
<strong>VARAL</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> e o Salão Internacional<br />
do Livro e da Imprensa de Genebra tem<br />
tudo a ver: é a maior festa da Literatura na<br />
Suíça e uma das maiores da Europa.<br />
Obrigada por continuar conosco. Leitor,<br />
escritor, você faz o <strong>VARAL</strong>!<br />
Jacqueline Aisenman<br />
Editora-Chefe<br />
<strong>VARAL</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong><br />
www.varaldobrasil.com 5
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
MULHER,<br />
Você trabalha? Você vota? Você tem amigos homens? Você fala o que<br />
pensa? Escreve o que sente? Publica livros? Vai a bares e restaurantes<br />
sozinha? Viaja sozinha? Tem a liberdade de escolher com quem quer<br />
ficar, namorar, casar? Você é livre?<br />
MULHER,<br />
Você tem sorte! Muitas mulheres antes vieram que lutaram e deram suas<br />
próprias vidas para que os seus direitos fossem respeitados e a sua<br />
liberdade preservada.<br />
Infelizmente... Este respeito e liberdade ainda não alcançaram todos os<br />
corações, lares, cidades, países.<br />
Ainda atiram pedras, estupram, matam, censuram, prendem, batem, escondem,<br />
inferiorizam; deixam-nas de fora de importantes círculos profissionais,<br />
sociais e culturais.<br />
MULHER,<br />
Você é um ser humano tal qual o HOMEM. Ambos merecem amor,<br />
respeito, solidariedade. A igualdade deveria ser sempre o padrão.<br />
UTILEZEMOS NOSSOS RECURSOS PARA QUE ISTO ACONTEÇA!<br />
Sejamos unidos,<br />
HOMENS E MULHERES!<br />
Lutemos juntos por um mundo melhor para todos.<br />
JUNTOS!<br />
www.varaldobrasil.com 6
⇒ ALCÉA ROMANO<br />
⇒ ALEXANDRA MAGALHÃES ZEINER<br />
⇒ ANA BEATRIZ CABRAL<br />
⇒ ANA ROSENROT<br />
⇒ ANA MARIA GAZZANEO<br />
⇒ ANE BRAGA<br />
⇒ ANGELA GUERRA<br />
⇒ ANGELA RAMALHO<br />
⇒ ANNA RIBEIRO<br />
⇒ ANTONIO CABRAL FILHO<br />
⇒ ANTONIO VENDRAMINI NETO<br />
⇒ BASILINA PEREIRA<br />
⇒ BERTOLINA MAFFEI<br />
⇒ BILÁ BERNARDES<br />
⇒ CARMEN DI MORAES<br />
⇒ CAROLINE B. AXELSSON<br />
⇒ CÉSAR SOARES FARIAS<br />
⇒ CHAJAFREIDAFINKELSTEIN<br />
⇒ CLARA MACHA<strong>DO</strong><br />
⇒ CRISTINA CACOSSI<br />
⇒ DEISE FORMENTIN<br />
⇒ DEUSA D’ AFRICA<br />
⇒ <strong>DO</strong>MINGOS A. R. NUVOLARI<br />
⇒ <strong>DO</strong>UGLAS SILVA<br />
⇒ EBER JOSUÉ<br />
⇒ ELIANE ACCIOLY<br />
⇒ ELISE SCHIFFER<br />
⇒ EMANUEL MEDEIROS VIEIRA<br />
⇒ ERICA GONÇALVES<br />
⇒ ESTHER ROGESSI<br />
⇒ FABIANA DE ALMEIDA<br />
⇒ FABIANE RIBEIRO<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
⇒ FÁBIO SIQUEIRA <strong>DO</strong> AMARAL<br />
⇒ FLAVIA ASSAIFE<br />
⇒ FRANCY WAGNER<br />
⇒ GALDY GALDINO<br />
⇒ GERAL<strong>DO</strong> SANT’ANNA<br />
⇒ GILBERTO NOGUEIRA DE OLIVEIRA<br />
⇒ GIL<strong>DO</strong> OLIVEIRA<br />
⇒ GLADYS GIMÉNEZ<br />
⇒ GONZAGA MEDEIROS<br />
⇒ GUACIRA MACIEL<br />
⇒ HEBE C. BOA-VIAGEM A. COSTA<br />
⇒ HERNRIETTE EFFENBERGER<br />
⇒ ISABEL C. S. VARGAS<br />
⇒ IVANE LAURETE PEROTTI<br />
⇒ JACQUELINE AISENMAN<br />
⇒ JANIA SOUZA<br />
⇒ JEANNE PAGANUCCI<br />
⇒ JOAREZ DE OLIVEIRA PRETO<br />
⇒ JOSÉ ALBERTO DE SOUZA<br />
⇒ JOSÉ CARLOS PAIVA BRUNO<br />
⇒ JOSÉ HILTON ROSA<br />
⇒ JOSÉ LUIZ PIRES<br />
⇒ JOSÉ PAULO SIUVES<br />
⇒ JOSÉ SOLHA<br />
⇒ JOSSELENE MARQUES<br />
⇒ JOYCE CAVALCCANTE<br />
⇒ JU PETEK<br />
⇒ JULIA HEIMANN<br />
⇒ JULIETA FALAVINA<br />
⇒ LARIEL FROTA<br />
⇒ LEDA MONTANARI LEME<br />
⇒ LENIVAL NUNES ANDRADE<br />
www.varaldobrasil.com 7
⇒ LEONILDA YVONNETI SPINA<br />
⇒ LÓLA PRATA<br />
⇒ LORENI FERNANDES GUTIERREZ<br />
⇒ LÚCIA AMÉLIA BRULLHARDT<br />
⇒ LY SABAS<br />
⇒ LYRSS CABRAL BUOSO<br />
⇒ MARA DE FREITAS HERMANN<br />
⇒ MÁRCIA ETELLI COELHO<br />
⇒ MARCIA TIGANI<br />
⇒ MARIA DE FÁTIMA B. MICHELS<br />
⇒ MARIA JOSÉ VITAL JUSTINIANO<br />
⇒ MARIA (NILZA) CAMPOS LEPRE<br />
⇒ MARIA SOCORRO SOUZA<br />
⇒ MARINA VALENTE<br />
⇒ MARIO REZENDE<br />
⇒ MARLY RONDAN<br />
⇒ MIGUEL GARCIA ALVES<br />
⇒ MYRTHES NEUSALI S. DE MORAES<br />
⇒ NILZA AMARAL<br />
⇒ NORÁLIA DE MELLO CASTRO<br />
⇒ NORBERTO DE MORAES ALVES<br />
⇒ ODENIR FERRO<br />
⇒ OLIVEIRA CARUSO<br />
⇒ ONÃ SILVA<br />
⇒ RAI D’ LAVOR<br />
⇒ REJANE MACHA<strong>DO</strong><br />
⇒ RENATA IACOVINO<br />
⇒ ROBERTO FERRARI<br />
⇒ ROBERTO SATURNINO BRAGA<br />
⇒ ROBSON LUIS SILVA COSTA<br />
⇒ ROSSANDRO LAURIN<strong>DO</strong><br />
⇒ SANDRA COUTO<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
⇒ SELMO VASCONCELLOS<br />
⇒ SHEILA FERREIRA KUNO<br />
⇒ SILVANA BRUGNI<br />
⇒ SILVIO PARISE<br />
⇒ SONIA NOGUEIRA<br />
⇒ SONYA PRAZERES<br />
⇒ SUZANA VILLAÇA<br />
⇒ TERESA CRISTINA C. DE SOUSA<br />
⇒ VALQUIRIA GESQUI MALAGOLI<br />
⇒ VALQUIRIA IMPERIANO<br />
⇒ VERA SALBEGO<br />
⇒ VOLPONE DE SOUZ<br />
⇒ AWADAD NAIEF KATTAR<br />
NOSSA HOMENAGEADA:<br />
JOYCE CAVALCCANTE<br />
www.varaldobrasil.com 8
Ana Maria Gazzaneo<br />
Da criação, a mulher,<br />
deveras é obra prima.<br />
Melhor é aquiescer<br />
sem ela, a vida não rima...<br />
Fábio Siqueira do Amaral<br />
A mulher – pura beleza –,<br />
de tez alva, igual à lua,<br />
no universo é a riqueza<br />
da minha alma que flutua.<br />
Henriette Effenberger<br />
À mulher foi concedido<br />
o dom da maternidade,<br />
e no filho concebido,<br />
recria a humanidade.<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
MULHER<br />
Pelos Trovadores de Bragança Paulista SP<br />
Joarez de Oliveira Preto<br />
Mulher empreendedora,<br />
mulher que não desanima,<br />
é mulher batalhadora.<br />
Bem merece nossa estima!<br />
José Solha<br />
Diz-se que em uma mulher<br />
não se bate nem com flor.<br />
Mate-a porém, se puder,<br />
com muitos beijos de amor....<br />
Leda Montanari Leme<br />
Para a mulher, só um dia?<br />
Àquela que traz no ventre,<br />
sempre com tanta alegria,<br />
dando ao futuro, a semente?<br />
(Segue)<br />
(Segue)<br />
www.varaldobrasil.com 9
Lóla Prata<br />
Jesus chamava Maria<br />
simplesmente de Mulher<br />
e o amor que nisso havia<br />
é tudo o que a gente quer!<br />
Lyrss Cabral Buoso<br />
Entre os sexos, igualdade<br />
não existe, pensem bem.<br />
O dom da maternidade<br />
somente as mulheres têm.<br />
Marina Valente<br />
A mulher traduz ternura,<br />
doação, vida e amor;<br />
colabora com doçura<br />
com a obra do Criador.<br />
Miguel Garcia Alves<br />
Para que grandes decotes?<br />
Queres que os homens te vejam?<br />
Mulher, deixa de fricotes,<br />
assim, os bons te cortejam.<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Myrthes Neusali Spina de Moraes<br />
h p://freelogoplanet.com/<br />
A mulher apaixonada,<br />
quando recebe uma flor,<br />
fica logo deslumbrada,<br />
achando que é amor.<br />
Norberto de Moraes Alves<br />
A mulher é um ser sublime,<br />
a fonte de inspiração,<br />
sopro de luz que exprime<br />
o auge da criação.<br />
Volpone de Souza<br />
Quando Deus fez a mulher,<br />
de “presente” ao homem deu.<br />
Acredite quem quiser:<br />
o homem não mereceu!<br />
Wadad Naief Kattar<br />
Englobando a criação<br />
do que Deus aqui deixou,<br />
é a mulher confirmação<br />
de quanto ele caprichou.<br />
www.varaldobrasil.com 10
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
www.varaldobrasil.com 11
Jornal The Guardian<br />
R7 No4cias<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
www.varaldobrasil.com 12<br />
Site La Croix
Correio Brazilense<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
www.varaldobrasil.com 13
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
www.varaldobrasil.com 14
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
www.varaldobrasil.com 15
The Guardian<br />
Africa-renewal<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
www.varaldobrasil.com 16
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
NOSSA HOMENAGEM ESPECIAL :<br />
JOYCE CAVALCCANTE<br />
PRESIDENTE DA REBRA (REDE DE ESCRITORAS <strong>BRASIL</strong>EIRAS)<br />
Fonte: Site da RBRA (http://www.rebra.org/index.php?pg=home.php)<br />
A escritora Joyce Cavalccante é a idealizadora e atual presidente da REBRA - Rede de Escritoras<br />
Brasileiras. É também diretora da RELAT-Red de Escritoras Latino-americanas. Embora se<br />
sinta atraída superlativamente pelo sossego de seu estúdio, onde escreve seus romances de<br />
longo curso madrugada a dentro, não consegue desconhecer as dificuldades pelas quais passa<br />
a escritora brasileira, principalmente as iniciantes, quando tentam fazer sua voz ser ouvida e seu<br />
talento reconhecido num mercado editorial cada dia mais estreito. Foi justamente para colaborar<br />
com a solução desse problema que criou a Rede de Escritoras Brasileiras, associação que pretende<br />
divulgar o trabalho literário das mulheres brasileiras de maneira global.<br />
Joyce nasceu em Fortaleza, Ceará e mora em São Paulo. É jornalista, romancista, contista, cronista<br />
e conferencista. Publicou nove livros de prosa de ficção individualmente, e participou de<br />
quatorze coletâneas de contos com outros autores. Tem obras traduzidas para o inglês, sueco,<br />
francês, italiano, espanhol e holandês. Contribui sistematicamente com a imprensa publicando<br />
contos, resenhas ou artigos, e já faz algum tempo, vem se dedicando a palestras sobre literatura<br />
feminina brasileira nas universidades do Brasil e do exterior.<br />
Nos anos de 1979 e 1980 foi premiada no Concurso de Contos eróticos promovido pela revista<br />
Status, publicação da editora Três, São Paulo, com os contos “ESTÓRIA DE UM CORPO DE<br />
MENINA e ”LUTA LIVRE” respectivamente. Prêmio APCA - Associação Paulista de Críticos de<br />
Arte - de melhor ficção de 1993, por seu romance “INIMIGAS INTIMAS”. Em <strong>20</strong>02 ganhou o Prêmio<br />
Radio France Internationale, pelo conto ”NEGUINHA”. Prêmios são pequenos incentivos para<br />
uma grande paixão, diz.<br />
Atualmente dedica-se a escrever a saga do povo brasileiro de origem nordestina entre os anos<br />
de 1954 ao ano de <strong>20</strong>04: Constrói a tetralogia chamada “O CORAÇÃO <strong>DO</strong>S OUTROS NÃO É<br />
TERRA QUE SE PISE”, iniciada com os já publicados romances “INIMIGAS ÍNTIMAS” e “O CÃO<br />
CHUPAN<strong>DO</strong> MANGA” . Tem a literatura como um privilégio, dai tanto entusiasmo.<br />
www.varaldobrasil.com 17
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Fonte: Site da RBRA (http://www.rebra.org/index.php?pg=home.php)<br />
Rede de Escritoras Brasileiras — REBRA — é uma organização não governamental,<br />
sem fins lucrativos, que pretende reunir em associação o maior número<br />
de escritoras de nosso país que tenham compromisso público com a literatura, a<br />
cultura e a justiça social, entendendo que as idéias exprimidas pela palavra escrita<br />
tem a força de modificar a sociedade humana. E é justamente esse o principal<br />
objetivo e a missão da REBRA: o aprimoramento da sociedade brasileira em particular<br />
e da humanidade em geral, por meio da divulgação da palavra da mulher.<br />
Foi fundada em 8 de março de 1999, para tentar corrigir a grande injustiça que<br />
as mulheres escritoras brasileiras, em particular, e as mulheres brasileiras, em<br />
geral, sofreram e continuam sofrendo ao serem permanentemente excluídas dos<br />
registros históricos de nossa sociedade.<br />
Trabalhamos em conjunto com a organização mundial Women's WORLD - Women's<br />
World Organization for Rights, Literature and Development, com sede nos<br />
Estados Unidos da América.<br />
No âmbito Latino-Americano, funcionamos também em parceria com a RELAT —<br />
Red De Escritoras Latino-americanas, sediada no Peru e atuante nos países da<br />
América do Sul e México.<br />
Convidamos a todos que concordam e conosco dividem esses mesmos ideais, a<br />
visitar nosso site e tomar conhecimento de nosso trabalho.<br />
www.varaldobrasil.com 18
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Desembaraço<br />
Por Valquíria Gesqui Malagoli<br />
É uma outra que ora escreve.<br />
A que há em mim sem ter brio<br />
ou qualquer pejo do cio.<br />
Sou de nós quem não se atreve.<br />
Eu disfarço, e então sorrio.<br />
Nela o disfarce não serve:<br />
nada esconde, nada deve...<br />
Discorre, qual corre um rio.<br />
É uma outra que escreve ora.<br />
Eu, se escrevo – jogo fora<br />
o que vai no coração...<br />
e então sorrio. Eu disfarço;<br />
não exponho sequer traço.<br />
Coube à outra a indiscrição.<br />
Tela de Valquiria G. Malagoli, Gênese técnica-mista 80x60<br />
www.varaldobrasil.com 19
Mulher<br />
Por Douglas Silva<br />
Linda gentileza,<br />
Nobre beleza,<br />
Curvas sensuais<br />
Traços, delicadeza.<br />
Olhar nobre,<br />
Sorriso entusiasta,<br />
Pele mais límpida,<br />
Pureza genial,<br />
Genialidade secular.<br />
Sentidos abstratos,<br />
Abstração angelical,<br />
Carisma formidável,<br />
Alimento para alma.<br />
Desejo escondido,<br />
Um beijo alienado,<br />
Alienação natural,<br />
Sexualidade afrodisíaca,<br />
União corporal.<br />
Desprendimento senil,<br />
Independência desnuda.<br />
Criação sábia,<br />
Detalhes lúdicos,<br />
Saciação humana,<br />
Natureza real,<br />
Mulher, pura raridade.<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
www.varaldobrasil.com <strong>20</strong>
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Poeminha Feminista<br />
Por Ana Beatriz Cabral<br />
O Sapo disse a Sapa<br />
Que queria muitos sapinhos.<br />
A Sapa pediu um tempo<br />
Para pensar um bocadinho.<br />
Saiu por um instante<br />
E voltou com um banquinho,<br />
Onde o Sapo espera ainda<br />
A vinda dos molequinhos.<br />
Enquanto isso, Dona Sapa<br />
Passeia pela Europa,<br />
Conhecendo outros brejinhos...<br />
E não pretende voltar tão cedo<br />
Para os braços de seu queridinho!!<br />
Esperta essa sapinha, não é??<br />
www.varaldobrasil.com 21<br />
Foto do filme A Princesa e o Sapo<br />
Disney
M U L H E R<br />
Por Alexandra Magalhães Zeiner <strong>20</strong>13<br />
Mães, avós, filhas, irmãs, tias, primas, amigas,<br />
companheiras, amantes, deusas...<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Uma só, muitas faces, universos, galáxias, planetas,<br />
estrelas, luas...<br />
Lá no fundo Uma só, parte Dela, modelo de criação<br />
e inspiração...<br />
Hoje, ontem, sempre, cada dia, cada semana, mês<br />
e ano, em processo de evolução...<br />
Em constante metamorfose, criando, mudando,<br />
melhorando, mergulhando em universos paralelos...<br />
Resposta da Criadora de todos os mundos para<br />
nosso planeta, filhas da Mãe Natureza.<br />
Ilustração: Mururu por Waldemar de<br />
Andrade e Silva<br />
www.varaldobrasil.com 22
CAROLINAS<br />
As Carolinas, também conhecidas como bombinhas<br />
ou profiteroles, tiveram origem na França.<br />
O doce é uma sobremesa muito popular na<br />
França e foi considerada uma iguaria real no<br />
século XVI. Graças a um pedido de Catarina de<br />
Médicis, soberana da França na época, um<br />
chef italiano criou a receita, que vem sendo<br />
aperfeiçoada ao longo dos tempos. O profiterole<br />
é tão popular na França quanto o brigadeiro<br />
é aqui no Brasil.<br />
Essas tentações são recheadas com um creme<br />
de baunilha e cobertas com calda de chocolate<br />
e açúcar confeiteiro (opcional).<br />
Ingredientes<br />
Massa<br />
- 250ml de água<br />
- 100g de margarina light<br />
- 150g de farinha de trigo<br />
- 2 ovos<br />
- 1 colher (sopa) de açúcar<br />
1 colher (café) rasa de sal<br />
Para o creme<br />
- 1 caixinha de pudim de baunilha<br />
- 1 1/2 xícara de leite<br />
- 1 gema<br />
- 1 colher (chá) de baunilha<br />
- 1 colher (sopa) de açúcar<br />
Calda de chocolate<br />
- 2 colheres (sopa) de chocolate em pó<br />
- 1 xícara de leite<br />
- 1 colher (sobremesa) de margarina<br />
- 1 colher (chá) de baunilha<br />
- 1 colher (sobremesa) de amido de milho<br />
- 2 colheres (sopa) de açúcar<br />
Calda de framboesa<br />
- 2 xícaras de framboesa<br />
- 1 xícara (chá) de água<br />
- 4 colheres (sopa) de açúcar<br />
Para o glacê<br />
- 1 xícara (chá) de leite em pó<br />
- 1 xícara de açúcar<br />
⇒ 1/2 xícara (chá) de leite<br />
Modo de Preparo<br />
Massa da Carolina<br />
Leve a água e a margarina para ferver. Em se-<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
guida, acrescente a farinha de trigo e mexa rapidamente.<br />
Deixe esfriar e vá acrescentando os<br />
ovos. Leve novamente ao fogo até a massa<br />
soltar da panela. Deixe esfriar. Coloque a massa<br />
num saco de confeiteiro com bico largo e<br />
faça as Carolinas. Leve ao forno médio por 25<br />
minutos. Rende 25 Carolinas pequenas.<br />
Creme<br />
Leve todos os ingredientes ao fogo mexendo<br />
sempre, até ficar um creme firme.<br />
Calda de chocolate:<br />
Leve todos os ingredientes para uma panela<br />
em fogo baixo e mexa até engrossar.<br />
Calda de framboesa:<br />
Leve todos os ingredientes para uma panela e<br />
deixe em fogo baixo mexendo sempre.<br />
Glacê<br />
Coloque numa vasilha e mexa bem, até ficar<br />
um glacê. Para o glacê de chocolate, acrescente<br />
2 colheres (sopa) de chocolate em pó.<br />
Fonte: http://gcnreceitas.wordpress.com/<br />
Fontes receitas: http://www.globo.com/maisvoce<br />
http://www.wikipedia.com<br />
http://baunilhaechocolate.com/archives/1199<br />
http://www.lifecooler.com/edicoes/lifecooler/<br />
desenvRegArtigo.asp?reg=329389<br />
www.varaldobrasil.com 23
Essência!<br />
Por José Carlos Paiva Bruno<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Casa da Ciência, talvez esteja um pouco em displicência,<br />
Talvez clamor inadimplência da clemência,<br />
Piedade da nossa demência, deixando a vida passar,<br />
Cadência que não abandono, deixar procurar...<br />
Carecemos enamorados; a felicidade mora ao lado,<br />
Crescemos quando presente traduz resultado do passado,<br />
Assim com laços e fitas, cheiro d’entregas benditas,<br />
Correndo contra o tempo, qual lenço vela de vento...<br />
Preciso estar atento, abrigado ao relento...<br />
Bem vinda em nosso tempo, viajar sentimento,<br />
Que a brisa leve e morna sopre seu rosto,<br />
Beijando muito – além d’estoica razão – é precioso sentir...<br />
Fluir vir e ir, marshmallow de corpos e almas...<br />
Chocolate, champanhe de copos e palmas... Bravo de pé!<br />
Cada segundo, minuto, hora, dia, mês, ano, década e século,<br />
Crédulo de que o melhor porvir, futuro de abrir.<br />
Então abra sua caixa, ali estão seus tesouros...<br />
Quem não é visto, não é lembrado,<br />
Nunca menos, tampouco circunstâncias amenas,<br />
Faça voar as penas, dos travesseiros apenas...<br />
Somente desta, a essência vence a ausência,<br />
Duelo da competência, destra benevolência...<br />
Aproveite seu dia, aberto em portal da energia.<br />
Alegria está no gesto, fila ética do meio-dia...<br />
Desconheço melhoria sem ajudar o semelhante em<br />
travessia...<br />
Na avenida ou em melancolia: como Lispector a direção,<br />
Importa além da velocidade, afinal devagar ou rápido,<br />
Somos um clássico mutante, melhores eternos tudo ou<br />
nada...<br />
Lembre-se da sombra jabuticaba, do quase lobo travesso,<br />
Ceia roubada; eu mereço: sorrisos em que cresço...<br />
Mútuo sorvendo apreço, contas rosário em terço,<br />
Ela sempre pode ajudar: daquele Amor maior encontrar!<br />
Reze, mesmo sem saber rezar, pois pedir e praticar...<br />
Formulando cristal semelhança, onde distância não alcança,<br />
Ligação amar por cá... Como discar para o Céu,<br />
Então creio, logo existo! Inda pisco ou despisto: nunca desisto...<br />
www.varaldobrasil.com 24
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
www.varaldobrasil.com 25
ANITA GARIBALDI<br />
HEROÍNA <strong>DO</strong>S <strong>DO</strong>IS MUN<strong>DO</strong>S<br />
Artigo: Reprodução<br />
Por Norberto Ungaretti<br />
Relata, resumidamente, a biografia da brasileira<br />
Ana Maria de Jesus Ribeiro, historicamente<br />
conhecida como Anita Garibaldi. Natural de Laguna,<br />
em Santa Catarina, Anita foi a esposa e<br />
companheira de batalhas do italiano Giuseppe<br />
Garibaldi, que no Brasil lutou junto às tropas<br />
farroupilhas pela causa republicana, tendo<br />
também se engajado em lutas libertárias no<br />
Uruguai e na Itália. Ao seu lado, Anita deu demonstrações<br />
de grande heroísmo e bravura.<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Laguna, por onde passava, no sul do Brasil, a<br />
linha demarcada pelo Tratado de Tordesilhas a<br />
dividir entre Portugal e Espanha as terras descobertas<br />
e por descobrir, teve papel de fundamental<br />
importância na conquista do continente<br />
de São Pedro do Rio Grande do Sul, pelo que<br />
raízes rio-grandenses são em boa parte raízes<br />
lagunenses. A certa altura, quase mesmo a póvoa<br />
vicentista chegou a esvaziar-se, tão intensa<br />
era a emigração lagunense para os campos<br />
do sul, a serviço del Rey ou em busca das novas<br />
oportunidades que se abriam, promissoras,<br />
no até então inexplorado "continente". Era porém,<br />
acima de tudo, uma missão de conquista,<br />
a consolidar naquelas terras o domínio português.<br />
Por isso, a velha cidade pode hoje orgulhosamente<br />
ostentar em seu brasão, concebido<br />
e composto pelo historiador Afonso Taunay,<br />
esta legenda gloriosa: Ad meridan Brasilian duxi.<br />
Na verdade, Laguna levou o Brasil para o<br />
sul.Essa identificação histórica e até mesmo<br />
afetiva entre Laguna e o Rio Grande do Sul em<br />
boa parte explica a simpatia com que os lagunenses<br />
receberam a notícia da rebelião que<br />
empolgou os gaúchos, em 1835, levando-os à<br />
proclamação da República Piratini. Tal simpatia<br />
só fez aumentar, à medida que iam chegando<br />
as notícias e a propaganda dos ideais farroupilhas,<br />
não obstante a atenção que ao as-<br />
sunto dedicou o Presidente da Província de<br />
Santa Catarina, por meio de providências de<br />
variada natureza, inclusive alertando o povo<br />
para os riscos da adesão aos ideais separatistas<br />
(e separatistas porque republicanos, mas<br />
aspirando à união nacional sob novo regime)<br />
que inspiravam o movimento sulista.<br />
Chegados à Laguna e festivamente recebidos<br />
pela população, os revolucionários ali proclamaram,<br />
com gente da terra, em 29 de julho de<br />
1839, a República Catarinense, também chamada<br />
Juliana, de efêmera duração, porém. A<br />
15 de novembro daquele mesmo ano de 1839<br />
(coincidentemente exatos cinquenta anos antes<br />
que vingasse no Brasil o sonho republicano),<br />
feriu-se a batalha naval em que foram definitivamente<br />
derrotadas, na Laguna, as forças<br />
rebeldes.<br />
Esse fato, aliás (e manda a verdade histórica<br />
que se diga), foi recebido com sentimento de<br />
alívio pela população lagunense, dado que o<br />
entusiasmo das primeiras semanas cedeu lugar<br />
à frustração e mesmo à revolta, pois as tropas<br />
irregulares estacionadas na vila, ociosas,<br />
sem poder ir à frente nem enfrentar a reação<br />
legalista, que tardava, acabaram por cometer<br />
tropelias e crimes que enlutaram Laguna e se<br />
estenderam a localidades adjacentes.<br />
Foto de Maria de Fá"ma Barreto Michels<br />
www.varaldobrasil.com 26
Naquele mesmo tempo e espaço, entretanto,<br />
surgiria, à margem do episódio militar e político,<br />
uma história de amor e heroísmo que projetou,<br />
da vida obscura na sua vila para a consagração<br />
em duas pátrias, uma singular figura de<br />
mulher.<br />
Ana Maria de Jesus Ribeiro, no verdor dos<br />
seus dezoito anos, longe estava de supor que<br />
a onda vinda do sul era a mesma que a arrastaria<br />
para aventuras jamais sonhadas e para a<br />
glória que não ambicionou nem perseguiu.<br />
Ainda muito jovem, analfabeta, provavelmente<br />
não lhe faria diferença, nem ocupava suas preocupações,<br />
viver sob regime republicano ou<br />
monárquico, embora provavelmente participasse<br />
do entusiasmo que, na euforia de ser a vila<br />
elevada à cidade capital da República Catarinense,<br />
tomou conta da maior parte da população<br />
lagunense.<br />
A paixão que despertou em Giuseppe Garibaldi<br />
e a que se entregou sem resistência, antes<br />
com o encantamento de quem parecia haver<br />
esperado desde sempre aquele amor vindo de<br />
tão longe, foi que acordou em Anita as insuspeitadas<br />
energias da mulher determinada e<br />
guerreira, capaz do heroísmo que a imortalizou.<br />
Bem o percebeu, sem demora, o futuro herói<br />
da unificação italiana. Ainda antes do embate<br />
final com as forças legalistas, Anita acompanhou<br />
Garibaldi no combate de Imbituba, travado<br />
a 4 de novembro de 1839. Em suas<br />
Memórias, ele diria, referindo-se àquele episódio,<br />
que constituíra o batismo de fogo da sua<br />
jovem companheira: Durante aquela luta, provei<br />
a mais viva e cruel emoção de minha vida.<br />
Enquanto Anita, sobre a proa do barco, com o<br />
sabre na mão, encorajava nossos marinheiros,<br />
uma bala de canhão arremessou ao chão outros<br />
dois. Dei um salto para junto dela, pensando<br />
encontrar um cadáver; ao invés, ela se levantou<br />
rapidamente, sã e salva, enquanto os<br />
dois homens caídos com ela estavam mortos.<br />
Dei-lhe ordem para descer ao interior do barco.<br />
"Sim, desço", me respondeu, "mas para trazer<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
fora os covardes que ali se esconderam"1.<br />
Na batalha naval de Laguna, que pôs fim à República<br />
Catarinense, e que custou aos dois lados<br />
dezenas de mortos e feridos, Anita deu outras<br />
demonstrações de bravura. A bordo do<br />
"Rio Pardo", acompanhava os preparativos para<br />
enfrentar o inimigo que se aproximava. Como<br />
Garibaldi subira à costa para observar o<br />
movimento das embarcações inimigas, Anita,<br />
conta seu mais autorizado biógrafo, W. L. Rau,<br />
(...) sem hesitação o substituiu no comando e<br />
disparou, ela mesma, o primeiro tiro de canhão<br />
em direção ao adversário, animando com seu<br />
destemor a tripulação, momentaneamente acéfala<br />
e deprimida2.<br />
Encerrado o episódio lagunense do movimento<br />
farroupilha, desarticulada e vencida a República<br />
Catarinense, retiraram-se os rebeldes para<br />
o Rio Grande, dirigindo-se primeiro ao planalto<br />
serrano catarinense. Com eles, ou melhor, com<br />
Giuseppe Garibaldi, Ana Maria de Jesus Ribeiro,<br />
que jamais retornaria à sua terra e à sua<br />
gente.<br />
A primeira batalha que se seguiu à derrota sofrida<br />
em Laguna travou-se em Lages. Nela,<br />
Anita não tomou parte direta, mas, à falta de<br />
médico e sendo a única presença feminina no<br />
cenário da luta, (...) foi o anjo que a todos os<br />
feridos acudia, como enfermeira meiga e carinhosa.<br />
Foto de Maria de Fá"ma Barreto Michels<br />
www.varaldobrasil.com 27
Dias depois, os rebeldes alcançam Lages, onde<br />
não só entraram sem qualquer resistência,<br />
como foram recebidos festivamente, pois entre<br />
os lageanos, tal qual sucedera entre os lagunenses,<br />
os ideais republicanos que defendiam<br />
desfrutavam de entusiástica simpatia.<br />
Os pais de Anita tinham morado em Lages. Ali<br />
lhes nasceram alguns filhos. O cenário, pois,<br />
do ponto de vista afetivo, era familiar a Anita.<br />
Ela e Garibaldi instalaram-se numa casinha,<br />
bem modesta, é verdade, mas em todo caso<br />
uma casa que até então não haviam tido para<br />
si. Na noite de Natal daquele ano de 1839, participando<br />
da Missa do Galo na igreja de Nossa<br />
Senhora dos Prazeres, talvez tivessem desejado<br />
ser como aquela gente simples, de vida<br />
tranquila, endereço e domicílio certos, ocupação<br />
estável, paz para criar os filhos, paz para<br />
viver. Sabiam, entretanto, não ser aquele o seu<br />
presente nem o seu futuro. Giuseppe Garibaldi<br />
era o destemeroso aventureiro, cavaleiro andante<br />
de ideais libertários, que a posteridade<br />
consagraria como herói da sua pátria. Anita, a<br />
mulher que aceitou o desafio de acompanhá-lo<br />
e que parecia haver sido escolhida pelo destino<br />
para dividir com ele as incertezas, os riscos, os<br />
perigos, as agruras dos longos e difíceis caminhos.<br />
Poucos dias durou, de fato, aquela sensação<br />
de calma e segurança que quase os fizera felizes,<br />
na sua casinha de Lages.<br />
Logo as tropas rebeldes puseram-se em movimento,<br />
ao encontro das forças legalistas que<br />
rondavam a região e antecipando-se, assim, ao<br />
inevitável confronto. Travou-se, então, terrível<br />
combate. Estava-se em Curitibanos, no planalto<br />
catarinense. Surpreendida pelo inimigo, Anita<br />
reage de sabre em punho. Matam-lhe, entretanto,<br />
a montaria, e furam-lhe o chapéu a bala,<br />
arrancando-lhe uma mecha de cabelos. Caída<br />
ao chão, é feita prisioneira, mas o chefe adversário,<br />
que mal podia esconder a admiração por<br />
aquela mulher solitária e brava, vestida de homem<br />
entre homens e lutando melhor que quase<br />
todos, permitiu-lhe procurar Garibaldi dentre<br />
os mortos, cujos corpos, vários já em decompo-<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
sição, encontravam-se ainda insepultos. Anita<br />
cumpre, em ânsias, aquele roteiro sinistro,<br />
compensada, afinal, pela certeza de que seu<br />
amado Giuseppe escapara ao saldo trágico do<br />
combate de Marombas, com o qual terminaria a<br />
ação bélica dos farroupilhas em terras de Santa<br />
Catarina.<br />
Anita vivia um momento decisivo. Longe de Garibaldi,<br />
com quem perdera contacto, e trazendo<br />
já no ventre o primeiro fruto do seu amor, só<br />
lhe restava fugir, para reencontrar-se com a vida.<br />
Certa noite, abandonou a clareira em que eram<br />
mantidos os prisioneiros e embrenhou-se na<br />
floresta, pois andar pela estrada seria expor-se<br />
ao reconhecimento e à captura. Foi uma fuga<br />
épica, não pelo ato de fugir em si mesmo, talvez<br />
até, quem sabe, favorecido pela deliberada<br />
invigilância de algum dos guardas, mas em razão<br />
dos perigos que haveriam de ser enfrentados:<br />
a própria mata, cerrada e selvagem, os<br />
animais, a fome, o cansaço, a tudo acrescendo<br />
o desconforto da gravidez. Chegando às margens<br />
do rio Canoas, consegue furtar o cavalo<br />
de um miliciano descuidado e com ele atravessa<br />
a água rasa que a conduz ao outro lado, de<br />
onde prossegue a fuga. Mais dois dias de viagem,<br />
e chega a Lages, indo ter à mesma casa<br />
simples onde vivera alguns dias e na qual, agora,<br />
esperou em vão encontrar Garibaldi. No dia<br />
seguinte, porém, os dois se reuniram, com<br />
grande emoção dele e admiração e surpresa<br />
dos seus homens, que mal podiam compreender<br />
como aquela pequena mulher pudera, sozinha,<br />
percorrer tão longos e difíceis caminhos. A<br />
uma pergunta de Teixeira Nunes, bravo e leal<br />
republicano, que lhe indagava como conseguira<br />
chegar até ali, Anita respondeu, quase simplória:<br />
Vim vindo, coronel...<br />
De Lages, partem para o Rio Grande. Ana Maria<br />
de Jesus Ribeiro deixava para sempre a terra<br />
barriga-verde, em que nascera. Teria a intuição<br />
do seu destino, a percepção da aventura<br />
que apenas começava e culminaria com a consumação<br />
dos seus dias em solo estrangeiro e<br />
distante?<br />
www.varaldobrasil.com 28
Foto de Maria de Fá"ma Barreto Michels<br />
Em território gaúcho, caminham os farrapos<br />
desde Vacaria até Viamão, perto de Porto Alegre,<br />
localidade entre cujos povoadores estavam<br />
muitos dos lagunenses que se lançaram à conquista<br />
do Rio Grande no séc. XVIII. Ali esteve<br />
Anita em paz, por algum tempo. Da batalha de<br />
Taquari, que se seguiu, e na qual morreram<br />
cerca de 470 combatentes, de um e outro lados,<br />
Anita não participou porque não o permitiu<br />
o comandante supremo dos revoltosos, o general<br />
Bento Gonçalves, que por isso incorreu na<br />
antipatia da companheira de Garibaldi. Não poderia<br />
ter agido de outra forma, entretanto, o<br />
chefe farroupilha. Anita estava em adiantada<br />
gravidez.<br />
Àquela batalha, por haver demonstrado o equilíbrio<br />
de forças das facções nela empenhadas,<br />
seguiram-se conversações de paz, que acabaram<br />
frustradas, mas permitiram alguma tranquilidade<br />
aos republicanos. Foi providencial a trégua,<br />
pois por esse tempo, havendo Garibaldi<br />
conseguido acomodações na casa de uma certa<br />
família Costa, já na localidade de Mostardas,<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Anita deu à luz seu primogênito, a quem chamaram<br />
Menotti. Era o dia 16 de setembro de<br />
1840.<br />
Garibaldi dirigiu-se então a Viamão, a fazer<br />
compras de coisas necessárias à mulher e ao<br />
filho, bem como participar o nascimento a seu<br />
amigo e patrício Luigi Rossetti.<br />
Enquanto estava ausente, o vilarejo foi assaltado<br />
por um esquadrão legalista. Prender Anita e<br />
a criança seria subjugar Garibaldi. Assim pensou,<br />
com lógica, o valente capitão Pedro de<br />
Abreu, futuro Barão de Jacuí. Só que não conhecia<br />
a capacidade de decisão e resistência<br />
da jovem lagunense, nem poderia supor que<br />
ela tivesse condições físicas capazes de, sobretudo<br />
na situação em que se achava, sustentar<br />
qualquer reação ao imprevisto assalto.<br />
Mas Anita, avisada a tempo, fez o que a qualquer<br />
um pareceria impossível. Tomando nos<br />
braços o filho com apenas doze dias de nascido,<br />
e afrontando todas as regras de prudência<br />
que exigiam longo e cheio de cuidados o repouso<br />
das parturientes, mergulhou nas sombras<br />
da noite, sozinha com seu tesouro. Foi<br />
nesta atitude de fuga, vivendo um momento heróico<br />
da sua recente maternidade, dividindo-se<br />
entre o governo do animal que a todo galope a<br />
transportava e a proteção ao frágil Menotti, que<br />
a imortalizaram os italianos no belo monumento<br />
erguido em sua memória no centro de Roma e<br />
onde hoje repousam seus restos mortais.<br />
Dois meses mais tarde, resolve Bento Gonçalves<br />
que se retirem os revoltosos para a serra,<br />
ao norte, dividindo-se eles em dois grandes<br />
grupos, um dos quais seguiria pelo litoral e o<br />
outro pelo interior. A este, sob o comando de<br />
Davi Canabarro, integrou-se Garibaldi.<br />
Foi uma tragédia aquele percurso. A começar<br />
pelo fato de que não havia caminhos, apenas<br />
rumos, que assim mesmo de vez em quando<br />
ficavam perdidos naquela região inóspita, sob<br />
chuvas intensas, que faziam transbordar os<br />
cursos d’água, impedindo a passagem das tropas.<br />
www.varaldobrasil.com 29
Os homens, bem assim as mulheres e crianças<br />
que os acompanhavam, molhados, cansados,<br />
famintos, iam muitos deles sucumbindo às privações<br />
e à doença. Os próprios guias se perderam,<br />
e foi esta a causa principal das desgraças<br />
que se abateram sobre aquela gente, de<br />
repente convertida como que em prisioneira do<br />
labirinto da Serra das Antas, com suas escarpas<br />
rochosas, suas curvas abruptas, suas alturas<br />
que se levantavam súbitas e desafiadoras.<br />
Muita gente morreu ao longo da sinistra travessia.<br />
Era uma carnificina mais horrível do que a<br />
de uma sanguinolenta batalha, escreveria Garibaldi<br />
em suas Memórias. A tudo resistiu outra<br />
vez Anita, inexcedível na luta para salvar o filho<br />
de três meses, que quase morre enrelegado.<br />
Terminada a marcha, depois de nove dias e<br />
nove noites de acerbo sofrimento, amadureceu<br />
no espírito de Garibaldi a resolução de deixar o<br />
Brasil.<br />
As perspectivas de vitória da causa farroupilha<br />
estavam cada vez mais distintas. A República<br />
Catarinense fôra derrotada e nenhuma esperança<br />
restava de que pudesse ser restabelecida.<br />
No Rio Grande, a causa não avançava.<br />
Luigi Rossetti, o amigo e conselheiro, estava<br />
morto. E havia sobretudo o fato novo: Anita e o<br />
pequeno Menotti, a quem julgava já haver exposto<br />
demais aos riscos e privações daquela<br />
vida desassossegada e aventureira.<br />
Assim, em fins de abril de 1841, depois de comunicar<br />
a Bento Gonçalves sua intenção de<br />
partir, Garibaldi iniciou viagem para o Uruguai.<br />
Levou 900 bois, recebidos como indenização<br />
pelos serviços prestados à causa farroupilha.<br />
Cinquenta dias depois, chegavam os Garibaldi<br />
a seu destino. Nenhum dos animais sobreviveu<br />
à longa e penosa jornada. Cerca de quatrocentos<br />
tinham morrido somente na travessia do<br />
Rio Negro.<br />
Em Montevidéu, embora instalado em casa de<br />
um carbonário que generosamente o acolhera,<br />
Garibaldi tratava de organizar a nova vida.<br />
Passou a lecionar num colégio matemática,<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
caligrafia e história. Além disso, começou a trabalhar<br />
também como corretor de cargas marítimas.<br />
Graças a esse período de estabilidade,<br />
tiveram os Garibaldi sua primeira casa de morada,<br />
hoje transformada em museu.<br />
A vida de Anita em Montevidéu foi marcada por<br />
acontecimentos de grande importância no plano<br />
pessoal, sendo o principal deles o casamento,<br />
realizado a 26 de março de 1842, na<br />
Igreja de São Bernardino, com a presença da<br />
mãe dela, Maria Antonia de Jesus, que de Laguna<br />
se lançara a rever a filha e conhecer o<br />
neto. No Uruguai também nasceram os outros<br />
três filhos do casal, a saber: Rosita, que morreu<br />
criança, Terezita e o caçula Riciotti.<br />
Garibaldi pôs-se a serviço das lutas pela independência<br />
do Uruguai, contestada pelo general<br />
Oribe, com o apoio do ditador argentino, Rosas.<br />
Ligou-se, assim, ao general Frutuoso Rivera.<br />
Liderou a Legião Italiana, que se envolveu<br />
em intensa atividade bélica. Não cabe aqui<br />
detalhar tais atividades, nem as que lhe correram<br />
paralelas, com a decisiva participação de<br />
Garibaldi, até porque foi um tempo em que Anita<br />
esteve inteiramente absorvida pelas lides<br />
domésticas, a cuidar dos filhos e do lar que comandava<br />
durante as longas e frequentes ausências<br />
do marido.<br />
Depois de seis anos e meio de permanência<br />
no Uruguai, foram para a Itália, primeiro ela e<br />
os filhos, mais tarde Garibaldi, que se sentiu<br />
chamado à defesa da causa da unificação italiana.<br />
Garibaldi já era uma figura conhecida e admirada<br />
na Itália, onde ademais tinha chegado a<br />
notícia de suas andanças e seus feitos de<br />
guerreiro libertário na América Latina. Amigos<br />
e correligionários seus tinham difundido a ideia<br />
de que poderia ser ele o comandante vitorioso<br />
das lutas contra a opressão do invasor estrangeiro.<br />
(segue)<br />
www.varaldobrasil.com 30
A chegada de Anita, que os italianos igualmente<br />
admiravam, conhecendo-lhe os atos de<br />
bravura, valeu-lhe entusiástica recepção em<br />
Gênova, onde desembarcou, a 2 de março de<br />
1848, sendo recebida por cerca de três mil<br />
pessoas. Tendo aprendido o idioma italiano,<br />
na convivência com Garibaldi e seus amigos,<br />
Anita fez um discurso dirigido ao povo. Pelos<br />
registros da imprensa genovesa, pode-se verificar<br />
que sua fala foi concisa e precisa, plenamente<br />
adequada àquele momento, revelandose<br />
uma mulher inteligente e segura de si, muito<br />
diferente da jovem inexperiente e de uma<br />
simplicidade quase rude, que deixara Laguna<br />
há cerca de dez anos. Nesse aspecto, foi a<br />
longa estadia no Uruguai que a transformou.<br />
Ali viveu em permanente contacto com pessoas<br />
de bom nível cultural e social, fossem essas<br />
das relações de Garibaldi, fossem da sociedade<br />
uruguaia e dos círculos oficiais, pois<br />
Anita fez-se grande amiga da esposa do presidente<br />
Frutuoso Rivera.<br />
A 21 de junho daquele ano de 1848, Garibaldi<br />
chegava à Itália. Vinha acompanhado por 86<br />
legionários (membros da Legião Italiana, que<br />
ele liderara no Uruguai). Desembarcou em<br />
Nizza, onde recebeu várias homenagens, inclusive<br />
um banquete a que compareceu o intendente<br />
do Condado. Muitas outras reuniões<br />
se seguiram, com Garibaldi sempre pregando<br />
a unificação italiana. Por onde passava ia ganhando<br />
adeptos, reunindo, assim, um exército<br />
particular, com o que tomava a dianteira dos<br />
acontecimentos. Era um grupo de voluntários,<br />
sem organização e sem maior preparo, mas<br />
dispostos a tudo pela causa que os empolgava.<br />
O batismo de fogo de Garibaldi nesta sua nova<br />
cruzada deu-se na batalha de Luino, da<br />
qual Anita participou. Foi pesada, entretanto, a<br />
derrota sofrida, fazendo com que Garibaldi fugisse,<br />
disfarçado, para a Suíça, de onde voltou<br />
pouco depois.<br />
Chamado pelos sicilianos para auxiliá-los na<br />
sua sublevação contra a coroa de Nápoles,<br />
para lá dirigiu Garibaldi a sua legião. Ele e Ani-<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
ta cavalgavam à frente, e depois de saudados<br />
por onde passavam, entraram triunfalmente<br />
em Ravena, à noite, formando-se um longo<br />
préstito à luz de tochas.<br />
Os acontecimentos se sucediam velozmente.<br />
Em Roma, proclamara-se a República. Para lá<br />
dirigiu-se Anita, ao encontro de Garibaldi e<br />
animada a participar das lutas que pressentia<br />
seriam muitas e intensas até se consolidar a<br />
nova situação. Garibaldi fora eleito deputado<br />
constituinte. Feito general pelo governo republicano,<br />
preparou-se para lutar contra os franceses,<br />
que atacaram Roma atendendo a um<br />
apelo do Papa Pio IX. A auxiliar os franceses,<br />
vieram tropas austríacas, espanholas, napolitanas<br />
e do Vaticano. Anita, que havia deixado<br />
Roma, ao saber do agravamento da situação,<br />
voltou para junto de seu marido, apesar de estar<br />
grávida de cinco meses. A luta a atraía, sobretudo<br />
porque nela estava o homem a quem<br />
entregara sua vida.<br />
Foi uma viagem difícil e acidentada, desde<br />
Nizza, onde residia a família Garibaldi. Depois<br />
de cavalgar sozinha, sob o rigor do verão, durante<br />
três dias, fugindo à implacável vigilância<br />
de franceses e austríacos, Anita conseguiu<br />
romper o cerco de Roma e colocar-se ao lado<br />
do marido. Era o final de junho de 1849.<br />
Mas Anita já estava doente. Daí para a frente,<br />
freqüentemente indisposta e fraca, atribuía à<br />
gravidez tais sintomas. Já era, porém, o impaludismo<br />
a que sucumbiria.<br />
Roma capitulou e os chefes republicanos concordaram<br />
num armistício, mas não Garibaldi,<br />
que conclamou o povo a continuar a luta fora<br />
de Roma. A retirada de Roma, sob o comando<br />
dele, enfrentando a resistência dos exércitos<br />
inimigos (franceses, espanhóis e austríacos),<br />
foi um episódio glorioso e que ficou célebre<br />
pelas ousadias e pelos requintes estratégicos<br />
que permitiram seu êxito, nas mais adversas<br />
circunstâncias.<br />
(Segue)<br />
www.varaldobrasil.com 31
Ainda uma vez, entretanto, apesar do cansaço<br />
e da doença, Anita demonstraria a sua coragem<br />
e o seu heroísmo. Ao aproximar-se de<br />
San Marino, onde Garibaldi tentava obter asilo<br />
político, a retaguarda das suas tropas, enquanto<br />
descansava, foi atacada por homens<br />
do exército austríaco. Os legionários se dispersaram<br />
em fuga. Anita, que seguia pouco<br />
mais adiante, vendo o que se passava, concitou-os<br />
energicamente à resistência. Usou de<br />
um chicote e com ele tentava deter os fugitivos.<br />
Acabou só, porém, mas disparando sua<br />
arma e assim repelindo o pequeno grupo inimigo,<br />
que avançava. Bem mais adiante, Garibaldi<br />
assistiu à cena e veio com seus homens<br />
em socorro da mulher, travando-se, então,<br />
uma rápida batalha, homem a homem, saindo<br />
Anita ilesa e Garibaldi com um leve ferimento<br />
no peito. O historiador Adilcio Cadorin observa,<br />
a propósito do episódio: Anita saiu ilesa<br />
do pequeno confronto, mas sua oportuna e<br />
corajosa resistência impediu um massacre<br />
que os tedescos iriam fazer na retaguarda da<br />
coluna garibaldina em retirada4.<br />
A fuga prosseguia, e prosseguia também o<br />
enfraquecimento de Anita, que, entretanto,<br />
recusava-se a abandonar Garibaldi, reagindo<br />
com energia às tentativas deste de deixá-la<br />
entregue aos cuidados de famílias contactadas<br />
para isso ao longo do caminho.<br />
A 2 de agosto, Anita ditou sua última carta.<br />
Era dirigida à irmã, da qual se despedia,<br />
consciente do estado grave em que se achava.<br />
Depois de incríveis dificuldades, vencidas no<br />
mar e em terra, chega Garibaldi a Ravena,<br />
onde, invocando princípios de humanidade,<br />
encontra asilo numa casa cujos moradores<br />
rendem-se à gravidade da situação, apesar<br />
das ameaças que posam sobre quem quer<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
que auxiliasse Garibaldi e os legionários.<br />
Ali, às 19h45 do dia 4 de agosto de 1849, ante<br />
o olhar angustiado do inconsolável Garibaldi,<br />
Anita cerrava os olhos "para a vida presente",<br />
como se dizia nos antigos registros de<br />
óbito.<br />
Tinha 28 anos apenas. Fugia-lhe a vida quando<br />
esta apenas começava, mas ela ingressava<br />
na História, aureolada de heroísmo, heroísmo<br />
por amor e pelo ideal libertário a que se<br />
entregou com todas as forças do seu coração.<br />
Norberto Ungaretti é Desembargador aposentado<br />
do Tribunal de Justiça do Estado de<br />
Santa Catarina, Professor do Centro de Ciências<br />
Jurídicas da Universidade Federal de<br />
Santa Catarina e da Escola Superior da Magistratura<br />
de Santa Catarina, e Membro do<br />
Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina<br />
e da Academia Catarinense de Letras.<br />
Fonte: Portal da Justiça Federal e<br />
Site Lagunista (www.lagunista.com)<br />
www.varaldobrasil.com 32
MADALENAS<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
A origem das Madalenas (Madeleines em francês) ainda é uma incógnita. Supõe-se<br />
que ela teria uma ligação com a história de uma jovem cozinheira chamada Madaleine<br />
Paumier que teria improvisado uma receita para atender o pedido de um rei.<br />
O que podemos afirmar é que Madeleine está associada com a pequena cidade francesa<br />
de Commercy, cuja padaria, conta-se há muito tempo, pagou uma grande quantia<br />
por uma receita e vendia “bolos embalados em caixas ovais” como uma especialidade<br />
na área.<br />
Veja como elas são feitas:<br />
Receita – MADALENAS<br />
Ingredientes<br />
- 3 colheres de sopa de margarina bem cheias<br />
- 1 xícara de chá bem cheia de açúcar<br />
- 1/2 lata de creme de leite sem soro<br />
- 3/4 de xícara de farinha de trigo<br />
- 2 colheres de chá de fermento em pó<br />
- 1 colher de chá de casca de limão ralada (opcional)<br />
- 2 ovos<br />
Modo de preparo<br />
- Bata em creme o açúcar e a margarina<br />
- Acrescente os ovos, a casca de limão e o creme de leite, batendo até conseguir<br />
uma mistura homogênea.<br />
- Junte a farinha peneirada com o fermento, misture bem.<br />
- Coloque-as Madalenas em forminhas untadas a asse-as em forno aquecido a 170°<br />
C<br />
- Desenforme-as ainda quentes.<br />
Fonte: http://gcnreceitas.wordpress.com/<br />
Fontes receitas: http://www.globo.com/maisvoce<br />
http://www.wikipedia.com<br />
http://baunilhaechocolate.com/archives/1199<br />
http://www.lifecooler.com/edicoes/lifecooler/desenvRegArtigo.asp?reg=329389<br />
www.varaldobrasil.com 33
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
ANITA GARIBALDI NUNCA MORRERÁ<br />
Por Maria de Fátima Barreto Michels<br />
“Garibaldi segura a mão da mulher. São sete horas e 45 minutos da noite de 4 de agosto<br />
de 1849. Ana Maria de Jesus Ribeiro, Anita Garibaldi está morta” – (da obra ANITA GARI-<br />
BALDI - Uma Heroína Brasileira - Paulo Markun.)<br />
- Para muitos catarinenses, inclusive para mim, não importa o que pensam os estudiosos<br />
quanto à dimensão histórica do levante farroupilha.<br />
O que cultuamos por aqui é a memória da mulher que foi mais forte do que o preconceito.<br />
Anita surpreendeu as conveniências sociais e os limites do universo feminino em sua época.<br />
Wolfgang Ludwig Rau, o maior estudioso de Anita Garibaldi em sua obra “Anita Garibaldi –<br />
O Perfil de uma Heroína Brasileira” revela, pelo zelo demonstrado em sua pesquisa, que<br />
também ele apaixonou-se por Anita.<br />
Durante entrevista que concedeu à televisão (tive o prazer de assistir), foi perguntado ao<br />
professor Rau o que ele diria à Anita se pudesse falar-lhe, Wolgang respondeu prontamente:<br />
“Anita, eu te amo!”<br />
Perseverança, iniciativa, parceria, autonomia e principalmente amor e coragem, que marcaram<br />
a personalidade de Anita Garibaldi apaixonam de fato, os que a revisitam nos livros e a<br />
procuram em Laguna.<br />
Nadar, cavalgar e atirar pode se aprender. Vestir-se de soldado, fazer guerras pelo mundo<br />
ao mesmo tempo em que gerava filhos, há 150 anos, foi de uma certa singularidade.<br />
Anita partiu há 157 anos mas, para nós sulistas e para o povo italiano ela nunca morrerá.<br />
Quando deixou seu espaço físico e assumiu seu tempo cósmico, Aninha virou estrela e perpetuou<br />
seu galope em alada montaria. Inquieta, Anita não parou.<br />
Desviando-se de todo cerco e qualquer tentativa que façam de contê-la, corre célere pelos<br />
céus.<br />
Lá, na imensidão celestial, as criaturas siderais também tentam decifrá-la mas confundemse<br />
então, encantadas contentam-se em segui-la, em seu rastro de luz.<br />
Fonte: Site Lagunista http://www.lagunista.com/<br />
www.varaldobrasil.com 34
Ana Maria de Jesus Ribeiro,<br />
mais conhecida como<br />
Aninha do Bentão e posteriormente<br />
como Anita Garibaldi,<br />
nasceu em Laguna,<br />
atualmente Morrinhos –<br />
SC, em 30 de agosto de<br />
1821, vindo a morrer com<br />
apenas 28 anos em 04 de<br />
agosto de 1849.<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
TANTAS ANAS<br />
Jacqueline Aisenman<br />
(Do livro Coracional)<br />
Ana<br />
Não és a estátua<br />
Calada e altiva<br />
Que vigia as noites<br />
Da praça.<br />
Nem és tanto assim<br />
Somente<br />
A heroína contada<br />
Nas longas histórias<br />
Dos livros.<br />
Ana<br />
Te conheci vulto.<br />
Te aprendi mulher.<br />
Aninha filha,<br />
Ana aventura,<br />
Anita do Garibaldi.<br />
Fonte: Site Lagunista http://www.lagunista.com/<br />
www.varaldobrasil.com 35
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
“Mulher, um universo”<br />
Por José Hilton Rosa<br />
Brilho nos olhos que olham<br />
Sempre admirando sua beleza<br />
Natural da mulher, um universo<br />
Caminhar provocante<br />
Intriga qualquer infante<br />
Passos de mulher, um universo<br />
Faço versos e sopro-os pelo ar<br />
quando, por mim ela passar<br />
Rebelde na malicia com todos os olhos<br />
Maldosos só tenham a desconfiar<br />
À mulher, um universo a confiar<br />
A prova de mãe quer sempre deixar<br />
Mulher, um universo, quero dele aproveitar<br />
www.varaldobrasil.com 36
ROSÂNGELA<br />
Por Roberto Saturnino Braga<br />
Com a palma da mão Rosângela podia<br />
bem sentir o abaulamento do baixo ventre,<br />
quando tirava a roupa antes do banho e procedia<br />
a este exame, todo dia, com delicadeza,<br />
quase carinho. Era bem discreto o abaulamento,<br />
tanto que não se percebia pelo ver corrente,<br />
não se distinguia nenhuma linha de ressalto<br />
adicional à curva ampla e natural do ventre,<br />
não propriamente adiposo mas alargado pela<br />
gravidez que lhe trouxera a filha Ana, de dois<br />
anos. O corpo, no geral, mantinha a esbeltez<br />
da juventude, mas ficara ali a marca da maternidade,<br />
ali na cintura como nos seios, que,<br />
cheios e sugados, haviam perdido a rijeza macia<br />
de antes.<br />
Vinte e dois anos, e aquele caráter benigno<br />
de aceitação das circunstâncias da vida,<br />
que a fazia gostar ainda da sua própria figura, e<br />
desprezar o desgaste da maturidade prematura<br />
e da responsabilidade com os cuidados da filha.<br />
Mantinha as alegrias essenciais da vida, as<br />
duas graças dela: a juventude e a menina, o<br />
acordar e sentir o regozijo da manhã, o existir,<br />
e a menininha Ana, fruto dela, não do amor<br />
mas do assédio e da conformidade. As coisas.<br />
Tinha feito direitinho os oito anos escolares<br />
do primeiro grau e trabalhava desde os dezessete,<br />
naquela disciplinazinha ditada pelo<br />
pai, um rodoviário honesto, motorista, comunista<br />
e conservador. Agora, depois de uma parada<br />
de um ano, quando nasceu a filha, ela estava<br />
de atendente num supermercado em Campo<br />
Grande e morava com a família num enorme<br />
ajuntamento de casas de moradia popular chamado<br />
Cesarão, uma cidade homogênea que<br />
ficava perto de Santa Cruz, cheia de gente de<br />
vida difícil. Ela ficava com a filha no quarto do<br />
corredor que ia para a cozinha e o banheiro, e<br />
os pais no quarto que dava para a sala, com<br />
mesa, cadeiras duas poltronas e o móvel da<br />
televisão, tudo apertadinho. O dos meninos ficava<br />
em cima, fechado sobre um canto da laje<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
para onde se subia por uma escadinha externa.<br />
O resto da laje era do varal, da caixa dágua e<br />
de uma varanda aberta, que tinha perdido outro<br />
pedacinho para se fazer um novo quarto para<br />
Dorotéia, a irmã que ficava com ela no quarto<br />
de baixo antes de Ana nascer.<br />
Dorotéia era a irmã logo abaixo dela, que também<br />
trabalhava mas que era muito bonita, de<br />
pele branquinha da cor da do pai, e cabelos<br />
castanhos claros, bem sedosos, olhos iluminados<br />
e um corpo formoso e curvoso, que se<br />
mostrava através das roupas justas e decotadas<br />
que ela usava. Havia atritos com o pai por<br />
causa disso, atritos graves, ele imprecava contra<br />
a justeza das calças ou a curteza das saias,<br />
e uma vez rasgou de raiva uma blusa indecente<br />
que arrancou à força do corpo dela. Ele intuía,<br />
ele era homem e sabia, e a mãe intervinha e<br />
punha panos quentes, ela sabia também, não<br />
era nenhuma boba, mas sentia um certo aprazimento<br />
de realização através da filha bonita<br />
que vivia experiências de outra graduação. Todos<br />
sabiam que Dorotéia trabalhava, também<br />
tinha feito o colégio, trabalhava de secretária<br />
no escritório de um advogado no centro da cidade<br />
e ralava o sacrifício da viagem diária e<br />
cansativa. E que algumas vezes se atrasava<br />
muito por causa do tráfego e chegava até depois<br />
de meia-noite. Ganhava bem, por isso, claro,<br />
como se via na televisão, todos viam, todos<br />
sabiam, até os dois meninos mais novos que<br />
ainda estudavam, e o maior já trabalhava.<br />
Na primeira noite que não veio dormir em casa<br />
enfrentou a cara séria do pai no dia seguinte de<br />
manhã, a cara séria e a fala séria, de que seria<br />
melhor que ela não morasse mais com eles, já<br />
que escapava aos padrões morais da família e<br />
podia contaminar os outros. Dorotéia chorou,<br />
sinceramente chorou, e a mãe chorou com ela,<br />
e Rosângela também. O pai então calou, seco<br />
e amargo. Era a família. Eram os tempos. Difícil<br />
manter a família naqueles tempos. Mas era a<br />
família. Calou.<br />
(Segue)<br />
www.varaldobrasil.com 37
Calou para sempre, e até voltou a sorrir<br />
de vez em quando. Tomava a cerveja no bar<br />
do Caçula com os amigos de sempre, e foi descontraindo<br />
a vergonha da filha.<br />
E um dia Dorotéia falou com Rosângela,<br />
as irmãs se amavam e se falavam tudo entre<br />
si. Falou séria porque o assunto era sério; falou<br />
porque achou que devia falar, era a irmã, Dorotéia<br />
adorava a sobrinha, e sofria com a dureza<br />
da vida de Rosângela. Falou porque Doutor<br />
Célio tinha falado. Rosângela tinha ido à cidade<br />
levar a Ana para fazer um exame por causa de<br />
uma anemia e dias depois foi apanhar o resultado<br />
que não deu nada de grave. Estava feliz e<br />
passou no consultório do Doutor Célio para voltar<br />
com Dorotéia. Nunca tinha ido lá e foi apresentada<br />
ao Doutor Célio. No dia seguinte Doutor<br />
Célio falou e Dorotéia pensou, pensou, e<br />
achou que devia falar com Rosângela.<br />
Doutor Célio era um homem sério de cinquenta<br />
e poucos anos, não era um vigarista,<br />
um enganador, não vivia rindo e soltando piadas,<br />
era um homem maduro e falava sério, ia<br />
direto ao assunto, honesto. Tinha dois amigos,<br />
advogados também, mais ou menos da idade<br />
dele, sérios como ele, um deles pouquinho<br />
mais moço e meio alegrinho, mas boa gente.<br />
Eram todos casados mas tinham precisão de<br />
mulher jovem e bonita, sabe como é homem.<br />
Tinham alugado um apartamento no centro da<br />
cidade, na Avenida Beira-Mar, onde se encontravam<br />
com algumas moças direitas, como ela,<br />
Dorotéia, não queriam saber de prostitutas. E o<br />
Doutor Célio vivia insistindo para que ela, Dorotéia,<br />
fosse morar lá e cuidasse do apartamento.<br />
Ela resistia por causa da mãe, e também por<br />
causa da irmã, Rosângela. Mas estava quase<br />
decidida. E o Doutor Célio tinha gostado da<br />
Rosângela, tinha achado ela bonita e com jeito<br />
muito carinhoso, ele conhecia bem as mulheres,<br />
e tinha perguntado se ela não queria fazer<br />
parte do grupo de moças que frequentavam o<br />
apartamento. Era tudo muito sério, muito discreto<br />
e muito honesto, e as moças ganhavam<br />
bem, toda vez que passavam lá. Só a primeira<br />
vez era difícil. Rosângela podia continuar trabalhando<br />
no supermercado e ir lá de vez em<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
quando, uma vez por semana, assim, podia<br />
dormir lá com ela, Dorotéia, podia dizer em casa<br />
que estava com saudade e ia dormir com a<br />
irmã. Claro que os pais iam desconfiar e saber,<br />
mas era uma coisa tão discreta que eles não<br />
iam brigar muito, a mãe ia aprovar, o pai já estava<br />
se acostumando ao mundo.<br />
Rosângela ouviu tudo sem dizer palavra,<br />
sem mais que um rubor muito leve no rosto, de<br />
excitação ou de timidez, mas imperceptível.<br />
Não esperava por aquela fala e não tinha uma<br />
resposta preparada, tinha que elaborar, era<br />
uma revolução na vida, e um mundo desconhecido,<br />
não era um salto no escuro porque tinha o<br />
amparo da irmã, mas era outro mundo, adulto e<br />
grave, não era mais a meninice irresponsável<br />
do Bebeto que era o pai da Ana mas não era,<br />
que só queria brincar de sexo e já não tinha<br />
nenhuma graça.<br />
Tinha de pensar, era menina ainda,<br />
mesmo mãe, sendo chamada a ser mulher, a<br />
doçura não perdia, que era dela, mas perdia a<br />
inocência, tinha de pensar, olhando a vida com<br />
olhar mais medido e meditado O futuro. Pensava.<br />
www.varaldobrasil.com 38
A MULHER QUE SOU<br />
Por Basilina Pereira<br />
Descrevo a mulher que sou:<br />
versátil, fecunda, fluida...<br />
não sei bem por onde vou,<br />
mas sigo a trilha dos druidas.<br />
Falo a linguagem do amor<br />
neste terraço do mundo,<br />
se encontro miséria e dor<br />
acelero e vou mais fundo.<br />
Sempre tem dias de chuva<br />
e de assobio no escuro,<br />
mas quem tem mão salva a luva,<br />
sonho atrevido é futuro.<br />
Nado em audácia e leveza<br />
com charme de lua cheia,<br />
tem mistérios, com certeza,<br />
o que me corre nas veias.<br />
Mas como toda mulher<br />
sou força que para o vento,<br />
quem foca o alvo e o quer<br />
vai além do pensamento<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
h p://wallpaperswide.com<br />
www.varaldobrasil.com 39
M de Mulher<br />
Por Bertolina Maffei<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Mulher, é mãe!<br />
Mulher, é Maria mãe de Jesus!<br />
Mulher, é sinônimo de amor e esperança!<br />
Mulher, é vida alegria!<br />
Mulher, é desejo!<br />
Mulher, que trabalha de noite e de dia<br />
Mulher, que rompe barreiras!<br />
Mulher, apaixonada!<br />
Mulher, que faz loucuras por um amor ou uma paixão!<br />
Mulher, solteira casada, viúva ou divorciada!<br />
Mulher, pobre ou rica!<br />
Mulher, que sofre, chora, ama!<br />
Mulher, que está na sociedade machista!<br />
Mulher, que não é respeitada, no trabalho é assediada!<br />
Mulher, que reclama é mandada embora!<br />
Mulher, que é ainda é Amélia!<br />
Mulher motorista pensa na família, dificilmente uma mulher se envolve<br />
num acidente, 97 % dos acidentes em rodovias são homens, embriagados,<br />
drogados, fazendo ultrapassagem em lugares proibidos, não acabando<br />
só com sua vida mas de toda a família!<br />
Por tudo isto e muito mais, 8 de março dia internacional da mulher,<br />
parabéns! Parabéns... a todas nós.<br />
h p://www.mdwallpapers.com/<br />
www.varaldobrasil.com 40
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Você veio<br />
Por Domingos Alberto Richieri Nuvolari<br />
A vida nasce de você,<br />
O encanto de viver,<br />
A súbita esperança,<br />
De um amor vencido.<br />
Você veio de dentro da saudade,<br />
Da esperança oculta,<br />
Do amor que não existia,<br />
E que começou a existir.<br />
A vida começou a viver,<br />
Depois que o amor se infiltrou,<br />
Neste imenso sentimento,<br />
No sentimento de amar.<br />
A final o que sentimos<br />
Quando o amor nos recebe?<br />
Seria uma porta,<br />
Que depois dela encontraríamos<br />
Uma escuridão?<br />
A escuridão ardente,<br />
Na qual se a olharmos,<br />
Sentimos no coração<br />
Uma dor ardente de sentimento.<br />
É o amor!<br />
www.varaldobrasil.com 41
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Mulher de todos<br />
Por Elise Schiffer<br />
Foi...<br />
Neta mãe, chorando e sorrindo.<br />
Filha mãe, sorrindo e chorando.<br />
Irmã mãe, chorando e sorrindo.<br />
Sobrinha mãe, sorrindo e chorando.<br />
Prima mãe, chorando e sorrindo.<br />
Esposa mãe, sorrindo e chorando.<br />
Pai mãe, chorando e sorrindo.<br />
Mãe pé de boi, sorrindo e chorando.<br />
Sozinha e vazia, chorando e sorrindo.<br />
Nunca foi mulher, sorrindo e chorando.<br />
Aguardou décadas, chorando e sorrindo.<br />
Reflexos de afeto, sorrindo e chorando.<br />
Mulher de todos, chorando e amando pereceu...<br />
h p://www.abril.com.br<br />
www.varaldobrasil.com 42
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
DESIGUALDADE RACIAL<br />
Por Rai d’ Lavor<br />
Onde estão as mulheres negras na história e nos espaços de poder?<br />
A partir do questionamento acima, quero registrar<br />
a minha indignação com relação ao problema da<br />
desigualdade racial.<br />
Com vemos no dia a dia, as mulheres negras são<br />
alvos do preconceito e da discriminação por parte<br />
das sociedades, dos órgãos da administração pública<br />
e privada. E inclusive das polícias civil e militar.<br />
É muito triste ter que conviver com tantas desigualdades<br />
e diferenças de valores.<br />
Embora eu não seja negra, me coloco no lugar<br />
dessas mulheres e sinto na pele a dor do sofrimento,<br />
da falta de oportunidade no mercado de<br />
trabalho, da disputa por uma vaga nos órgãos públicos<br />
e privados. Enfim, as mulheres negras são<br />
confundidas com ladras e prostitutas e nós precisamos<br />
nos organizar e formar uma comissão destinada<br />
a combater a desigualdade racial e zelar pelos direitos de votar e ser votado para cargos<br />
políticos e órgãos públicos, como também exercer funções políticas em todos os níveis e instâncias<br />
e lutar pela igualdade jurídica, formal, social e cultual.<br />
A nossa cultura precisa ser definida em termos concretos. Temos que relacionar o passado ao<br />
presente e demonstrar a evolução histórica do negro moderno no início do descobrimento do<br />
Brasil, em que os brancos contavam com o trabalho dos negros na agricultura e que, muitos já<br />
sofriam a dor da desigualdade, pois muitos viajavam de formas desumanas em porões de navios,<br />
muitos até morriam devido às condições precárias em que viajavam.<br />
E como podemos analisar a desigualdade racial já existia no passado, mas não é justo que ainda<br />
predomine em nosso meio, nos dias atuais, mesmo porque o negro é muito importante na<br />
cultura, no teatro, no samba, enfim o negro é arte e cultura, e com base nesse contexto, é necessário<br />
lutarmos unidos num só propósito de devolver ao negro a sua valorização e relação<br />
humana junto à sociedade na vida em geral.<br />
Desta forma, iremos reduzir as desagradáveis cenas de preconceito racial as quais acontecem<br />
diariamente e mundialmente. Precisamos acabar com essa desumanidade, pois só quem já sofreu<br />
ações desse tipo, sabe o tamanho da dor da humilhação, da falta de oportunidade de ocuparem<br />
cargos mais elevados, só por serem negros. Então é preciso que além da nossa luta, os<br />
políticos também tenham consciência de que alguma coisa precisa ser feita a favor dos negros<br />
no Brasil e no mundo.<br />
Imagem: http://enegrecer.blogspot.ch/<br />
www.varaldobrasil.com 43
A MULHER E O PEREGRINO<br />
Por Emanuel Medeiros Vieira<br />
Apenas peregrino/pulsante,<br />
“é vermelha, cor do sangue” – ela diz,<br />
jogando a calcinha no tapete,<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
contemplo o matagal<br />
sal da vida<br />
úmido<br />
pelos encrespados,<br />
teus gemidos cortam a tarde, como um<br />
túnel,<br />
meu dedo em romaria no teu útero<br />
matriz de tudo<br />
“mater” minha<br />
cachorro late ao longe, ronco de um<br />
caminhão,<br />
o tempo zomba de nós,<br />
lambes – lúbrica – a língua,<br />
viva!, a Portuguesa, e esta que me arrepia<br />
agora.<br />
Bússola afetiva: decifro (?) o mapa do teu<br />
corpo<br />
(vacina de infância),<br />
minha sina, minha mina,<br />
estupidamente comovido,<br />
cumpro a jornada – esta vida.<br />
Fatigado e celebrante,<br />
vivo a vertigem – passageira.<br />
Lembro do poeta:<br />
“Nós que devemos morrer, exigimos um<br />
Milagre”. (W. H. Auden)<br />
Grito “primal” pós-coito,<br />
cheiros que se contaminam – perfume<br />
paraguaio,<br />
esperma, suor,<br />
ah, vida, urina, outros odores.<br />
Contemplo tuas axilas raspadas,<br />
teus olhos tão negros que parecem um<br />
bisturi<br />
afetivo – eles tudo enxergam,<br />
palavras não ditas – fêmea que não se<br />
revela.<br />
Sim: como Rosa disse,<br />
amar não é verbo, mas luz lembrada.<br />
Quem és tu?<br />
Quem sou eu?<br />
Quem somos nós?<br />
Nunca saberemos.<br />
Analfabetos das emoções: para sempre.<br />
Uma sinfonia neste anoitecer,<br />
quase sempre silenciosa.<br />
Serenados estamos.<br />
Mordes uma maçã, o livro entreaberto entre as<br />
coxas, lês: “Se Deus morreu tudo é permitido.”<br />
Corpos entrelaçados, estamos tão perto Dele.<br />
Dure, energia!, imploro.<br />
Ajoelho-me e oro.<br />
Lambo tua umidade, um gosto de sal (mar da<br />
infância), ris de olhos fechados, longas pernas,<br />
cabelo oxigenado,<br />
tão sincera/tão simulacro,<br />
és bela-bela,<br />
amorável mulher,<br />
Deus desaparece, depois reaparece,<br />
saciados, molhados, mortais<br />
www.varaldobrasil.com 44
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
vulcânica posse, abro mais esta fenda,<br />
puxo os teus cabelos, com rudeza e doçura<br />
(sim, sempre ambivalente),<br />
um fio branco cai no meu peito, passamos,<br />
envelhecemos, e vamos todos morrer.<br />
Extenuado, indago com Freud: “Afinal, o que<br />
querem as mulheres?”<br />
Suplicante, gemes mais baixinho,<br />
subalterna, ficas de quatro,<br />
respondes: “O mesmo que os homens.”<br />
Calcinha no ombro, cor de sangue, lépida –<br />
garça vespertina –,<br />
vais ao banheiro, olhos fechados, tudo é<br />
noite.<br />
Já posso partir, e a memória do teu corpo<br />
me inunda.<br />
E direi: “Vivi como um peregrino e, mais<br />
tarde,<br />
um surpreendente e definitivo passo darei ao<br />
morrer.”<br />
(Palavras escritas no mármore branco da<br />
minha<br />
peregrinação.)<br />
www.varaldobrasil.com 45
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Mulher<br />
Por Gladys Giménez<br />
Pantera selvagem, livre donzela,<br />
A cavalgar pradarias.<br />
Negros navios, balanço das águas,<br />
Noites profanas, usada, açoitada,<br />
Encontro co’a morte.<br />
Formosa menina,<br />
Vestida em rendas,<br />
Perfume de flores.<br />
Filhas de Gaia,<br />
Ventre esperança,<br />
Levas n’alma<br />
As cores das raças.<br />
Índia. Negra,<br />
Branca. Mulata,<br />
Latina - Guerreira<br />
De olhar malicioso,<br />
Andar requebrado.<br />
Codinome Coragem.<br />
Teu nome: Mulher.<br />
Gaia by archanN<br />
www.varaldobrasil.com 46
PEQUENAS DÚVIDAS<br />
Por Sandra Couto<br />
Mamãe, por favor,<br />
Sente aqui, vamos conversar:<br />
Tenho tantas coisas pra perguntar,<br />
Coisas que preciso saber,<br />
mas você se esqueceu de me dizer...<br />
Ô mãe, por favor me diga:<br />
Como é que se cresce,<br />
Como é que se faz<br />
pra assumir responsabilidades<br />
e atuar sobre o aqui-agora?<br />
Será que há necessidade<br />
De se jogar a meninice fora?<br />
Mãe, desculpe a insistência,<br />
Mas é que o caso é de urgência,<br />
é mais de vida que de morte,<br />
por isso espero que você não se importe...<br />
Mãe, como é isso de ser mulher,<br />
Como é que se convive com os homens,<br />
E esse negócio de lavar roupa<br />
Com o corpo cansado de<br />
Enfrentar o mundo lá fora,<br />
me responde, mãe!<br />
Me perdoe se estou<br />
sendo inconveniente,<br />
mas é que é tão difícil<br />
ser Gente!<br />
Mamãe, me ensina<br />
como ser mãe,<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
como regar um filho<br />
e amá-lo e vê-lo<br />
ir embora...<br />
deve ser duro, né, mãe?<br />
Ah, mãe: me conta também<br />
como é esse lance de envelhecer,<br />
de ver o futuro virar passado...<br />
como lidar com as rugas e as lembranças?<br />
Gostaria tanto de saber<br />
quanto duram as esperanças...<br />
Você sabe, mãe?<br />
Mãe, responde depressa,<br />
que o tempo tá voando,<br />
não demora minha filha<br />
vai estar perguntando,<br />
o que eu digo pra ela,<br />
hein, mãe?<br />
http://iphotoquotes.com/l<br />
www.varaldobrasil.com 47
CREPE SUZETTE<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
O crepe Suzette é uma sobremesa da cozinha tradicional francesa. Trata-se de uma maneira<br />
de cozinhar os crepes consistindo em barrá-los com uma manteiga perfumada com sumo e<br />
raspa de tangerina e um licor de laranja amarga, dobrá-los em quatro, regá-los depois com<br />
uma mistura de licores e servi-los em chama (flambado).<br />
Diz-se que os crepes Suzette foram pela primeira confeccionados por Auguste Escoffier, em<br />
honra do rei Eduardo VII da Inglaterra e que este teria batizado com o nome da jovem vendedora<br />
de violetas que dele se aproximou.<br />
Receita – CREPE SUZETTE<br />
Ingredientes<br />
- Casca de 1 laranja<br />
- 1 colher (sopa) de manteiga<br />
- 2 colheres (sopa) de açúcar<br />
- 30 ml de conhaque<br />
- 1 copo (tipo americano) de suco de laranja<br />
- 3 panquecas finas (receita abaixo)<br />
- 50 ml de licor<br />
Modo de preparo<br />
Numa frigideira em fogo médio coloque a casca de laranja e manteiga até que derreta (não<br />
deixe queimar). Acrescente açúcar e misture até formar um caramelo.<br />
Retire a frigideira do fogo e coloque conhaque. Adicione suco de laranja e misture bem até<br />
ficar lisinho. Junte as panquecas abertas, sempre com o lado mais claro para cima e despeje<br />
licor. Mexa bem. Coloque os crepes num prato de servir junto com uma bola de sorvete de<br />
creme.<br />
Ingredientes para as panquecas:<br />
- 1 copo (tipo americano) de farinha de trigo<br />
- 1 copo (tipo americano) de leite<br />
- 1 ovo<br />
- 1 pitada de sal<br />
Modo de preparo:<br />
Num liquidificador bata farinha de trigo, leite, ovo e sal. Numa frigideira antiaderente, coloque<br />
um pouco de manteiga e uma concha da massa (quanto mais fina melhor). Deixe dourar, vire<br />
a panqueca e doure do outro lado. Retire da frigideira e reserve.<br />
Fonte: http://gcnreceitas.wordpress.com/<br />
Fontes receitas: http://www.globo.com/maisvoce<br />
http://www.wikipedia.com<br />
http://baunilhaechocolate.com/archives/1199<br />
http://www.lifecooler.com/edicoes/lifecooler/desenvRegArtigo.asp?reg=329389<br />
www.varaldobrasil.com 48
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
<strong>BRASIL</strong> SENSUAL<br />
Por José Luiz Pires<br />
Teus recantos, tuas artes,<br />
tua sensualidade, meu destino!<br />
Imagino teus contornos, tuas fronteiras<br />
sensualmente recobertas e guarnecidas.<br />
Programo passeios e incursões,<br />
embarco em sonho por tuas belezas naturais.<br />
Meus olhos não cansam de contemplar<br />
a beleza sem par.<br />
De norte a sul<br />
viajo por todas as tuas regiões,<br />
derrapando em tuas curvas perigosas.<br />
Embrenho-me em tuas matas,<br />
exploro terras férteis no teu interior.<br />
Bebo das tuas águas cristalinas<br />
saciando minha sede.<br />
Escalo teus relevos, picos e montanhas.<br />
Aqueço-me com o teu calor,<br />
quero provar do teu mel,<br />
ver estrelas imaginando um diferente céu.<br />
Cavalgo por teus estreitos caminhos<br />
colhendo e deixando carinhos.<br />
É o poeta brasileiro<br />
redescobrindo o seu Brasil.<br />
www.varaldobrasil.com 49
Lilith<br />
Por Caroline Baptista Axelsson<br />
Lilith, sempre sendo acusada pelo sistema patriarcal<br />
de ser um demônio, a primeira esposa<br />
de Adão que, tendo sido criada pelas mãos do<br />
próprio Deus não via razão para ser submissa<br />
e exigia igualdade com o marido. Deus, cansado<br />
das queixas de Adão, tirou uma costela do<br />
rapaz, criou outra mulher e a ensinou a ser<br />
obediente já que ela tinha vindo do homem. E<br />
Lilith foi castigada sendo obrigada a viver a<br />
eternidade na escuridão, sem um companheiro<br />
e sem os gozos do paraíso. Bom, a verdadeira<br />
Lilith conhecedora de outra versão dessa estória,<br />
resolveu recentemente aterrissar seu disco<br />
voador num lugar deserto e apresentar ao nosso<br />
mundo outra imagem de si mesma. Já que a<br />
terra agora está numa época mais moderna<br />
com sistemas de satélites, Internet rápida e aviação,<br />
não há mais a necessidade de percorrer<br />
as estradas a cavalo ou em mula. Assim sendo<br />
ela alugou um helicóptero-taxi e foi para o Rio<br />
de Janeiro. Com sua beleza, charme e juventude<br />
sem idade, ela conseguiu trabalho numa rede<br />
de televisão, num programa tipo ”Coração”,<br />
e durante algumas semanas respondeu a perguntas<br />
vindas dos expectadores. Como ”O Profeta”<br />
de Kahlil Gibran, mas como mulher e com<br />
muito mais astucia, Lilith começou a expressar<br />
seu ponto de vista ao vivo.<br />
A primeira pergunta veio de Maria Auxiliadora,<br />
costureira de Volta Redonda e cheia de ilusões,<br />
pediu a Lilith que falasse sobre o amor e<br />
o casamento. ”O amor”, Lilith repetiu e fez uma<br />
careta. O objetivo da energia masculina é o de<br />
alimentar a feminina e ativar a magia da mulher.<br />
Se funcionasse assim o homem receberia<br />
como recompensa vitalidade e juventude eterna.<br />
É um intercambio que eu chamaria de ecologia<br />
humana. Mas na população desse planeta<br />
tudo funciona pelo avesso, o homem esvazia<br />
as reservas de energia da mulher, os dois envelhecem<br />
e morrem. E praticamente ninguém<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
sabe o que realmente significa a palavra<br />
”romance”. Existem aqui os que vivem pela<br />
violência, tudo o que querem tratam de conseguir<br />
através da forca. Temos também os intelectuais<br />
que dão nomes em latim a tudo. Pensam<br />
que colocando nomes e erguendo sinais<br />
são capazes de domar a natureza. Estão perdidos<br />
em palavras e sua violência está nas letras.<br />
Somente quando as pessoas aprendem a<br />
usar a linguagem dos sentimentos podem compreender<br />
o que é o romance. Romance é um<br />
caso de amor com a própria existência. Um homem<br />
de percepção sabe como descansar sua<br />
alma na magia que sai da mulher, e a mulher<br />
esclarecida sabe como utilizar a energia masculina.<br />
No meu mundo sempre vivemos apaixonados<br />
por nós mesmos já que os imortais não<br />
precisam de ninguém.<br />
(Segue)<br />
www.varaldobrasil.com 50
O convívio romântico é por escolha<br />
própria sem obrigação e sem sufoco, e sempre<br />
para beneficio mutuo. Maria Auxiliadora, meu<br />
conselho é que você esqueça o tal do “amor” e<br />
se conforme somente com o sexo porque é o<br />
único que se pode conseguir numa sociedade<br />
primitiva. Espero que todos vocês tenham melhor<br />
sorte na próxima encarnação… Quanto ao<br />
casamento, bom, nada mais selvagem do que<br />
legalizar o abuso. Mas como muitos aqui gostam<br />
de sentimentalismo, gostam de ver noivas<br />
de branco jogando flores para outras vitimas,<br />
não vou me opor a esta tradição. E para concluir<br />
temos uma pergunta de Suzana Costa,<br />
professora primária de Vitória, quer saber se eu<br />
gosto de crianças. Pois bem, gosto muito de<br />
crianças e por isso acho que vocês não deveriam<br />
ter nenhuma! As crianças recebem dos<br />
adultos superstição e medo. Raramente os jovens<br />
se tornam adultos de ideias próprias. Filho<br />
de católico vira católico, filho de hindu vira<br />
hindu. Passam a vida inteira repetindo o eco<br />
dos antepassados e suas decisões são um espelho<br />
da opinião alheia. Não é de admirar que<br />
a sociedade humana esteja encalhada, os<br />
mesmos problemas vão e vem. O que muda é<br />
só a camuflagem devido a nova tecnologia.<br />
Mas a percepção é difusa e se perpetua sombria.<br />
Vocês alimentam as crianças com mentiras<br />
e preconceitos, como podem então esperar<br />
que o mundo melhore? Enquanto a sabedoria<br />
aqui estiver travada o meu conselho é que<br />
usem anticonceptivos!<br />
Ao voltar para seu apartamento em<br />
Copacabana Lilith estava um pouco nostálgica.<br />
Sentia saudades de Zeus seu amante favorito.<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Já fazia dois mil anos que eles não se encontravam<br />
mas ela guardava boas recordações.<br />
Depois de cumprir com sua missão na terra ela<br />
iria procurar por ele para reviver as delicias do<br />
passado. “Amor antigo não enferruja” é provérbio<br />
certo.<br />
Chegou ao conhecimento de Silvio,<br />
o diretor da televisão, que duas mulheres de<br />
meia-idade tinham se suicidado deixado uma<br />
carta para ser entregue a Lilith. Na carta elas<br />
diziam ter compreendido que não valia a pena<br />
gastar dinheiro com operações plásticas e produtos<br />
de beleza já que a velhice sempre chegaria.<br />
Tudo era culpa dos homens que não sabiam<br />
fazer o amor energeticamente! Elas morreriam<br />
esperando reencarnar no planeta de Lilith<br />
onde a juventude era eterna. O diretor disse<br />
a Lilith que ela deveria no próximo programa<br />
mandar uma mensagem para as famílias das<br />
defuntas. Assim sendo, na frase de abertura<br />
Lilith franziu a testa e comentou que aparentemente<br />
duas mulheres com problemas de menopausa,<br />
tinham se suicidado esperando rejuvenescer<br />
no além…Minha mensagem para os<br />
familiares é ”Ignorância mata”! E passamos<br />
agora à pergunta de hoje. Antonio Aquino de<br />
Salvador quer saber o que eu penso sobre trabalho<br />
e dinheiro.<br />
Antes que Lilith pudesse responder a transmissão<br />
foi interrompida por uma chamada telepática<br />
muito forte, tirando o programa do ar. Era<br />
Apolo que queria conversar porque estava se<br />
sentindo muito chateado. Ele precisava encontrar<br />
uma nova Musa para seu Oráculo, mas<br />
não tinha achado ninguém com os devidos méritos.<br />
Sentia falta de Lilith já que ela era uma<br />
boa amiga e sempre tinha ótimas ideias. Ele<br />
esperaria o seu retorno e deixaria que ela escolhesse<br />
a nova profetiza.<br />
O chefe do programa um tanto irritado mandou<br />
por Lilith alguns palavrões pedindo a Apolo que<br />
respeitasse as ondas de transmissão terrestres.<br />
Ela, um pouco constrangida, colocou uma<br />
cara alegre e retomou o assunto onde tinha terminado.<br />
Muito bem, Antonio Aquino, vou lhe<br />
dizer o que penso, ou melhor, vou lhe dizer o<br />
que sei. Aqui não existe trabalho, aqui existe<br />
escravidão. (Segue)<br />
www.varaldobrasil.com 51
A cronologia genética de vocês é de somente<br />
setenta ou oitenta anos, um tempo muito curto<br />
para se conseguir um trabalho. Me refiro a uma<br />
atividade que realmente enriqueça a alma, a<br />
mente e que apresente o verdadeiro conhecimento<br />
que se estende além dos cinco sentidos.<br />
Vocês todos vivem simplesmente numa forma<br />
de rotina. Assim que deixam o tempo inocente<br />
da infância são empurrados no mundo dos<br />
adultos sem ter a oportunidade de refletir. As<br />
rotinas as vezes podem até parecer positivas,<br />
mas na realidade todos são escravos das mesmas<br />
coisas. E no final das contas todos caem<br />
na rotina dos problemas e das obrigações, e<br />
por ultimo na rotina da velhice, doença e morte.<br />
No meu mundo eu realmente tenho um trabalho,<br />
sou professora de relações intergalácticas,<br />
coisa que não vou nem tentar explicar. E o meu<br />
salario não é pago em dinheiro já que a moeda<br />
universal é o conhecimento. O inferno está<br />
cheio de burros, já que a falta de cultura impede<br />
as pessoas de usufruir das descobertas e<br />
das delicias universais simplesmente por não<br />
saber que elas existem. E o sistema econômico<br />
de vocês é um outro astuto. Uns são retidos na<br />
miséria, outros são enganados a viver de empréstimos<br />
sem perceber que toda pessoa endividada<br />
perde a liberdade. E o dinheiro-papel<br />
não tem valor nenhum já que pode ser trocado,<br />
queimado e jogado no lixo. Os bancários apertam<br />
um botão do computador, sobem e baixam<br />
os juros, inventam crises econômicas somente<br />
para manter a vocês todos de cabeça baixa.<br />
Lutar pela vida toma muito tempo, um tempo<br />
que vocês não tem. O trabalho e o dinheiro aos<br />
quais você se refere são simplesmente doses<br />
de veneno que matam aos poucos. Cada espécie<br />
cria sua própria realidade e vocês mesmos<br />
criaram a ilusão do trabalho e do dinheiro. Sinto<br />
pena de vocês, mas não posso fazer nada. Seu<br />
mundo está sufocado pela própria condição social,<br />
e mesmo sem perceber todos estão em<br />
pânico. As pessoas entram em simbiose com<br />
os problemas e desistem das soluções, mesmo<br />
sabendo que as coisas poderiam ser bem melhores.<br />
Infelizmente chegamos ao término do nosso<br />
programa de hoje, mais uma vez peço descul-<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
pas pela interferência. Até a próxima semana e<br />
boa noite!<br />
Armetisa ficou sabendo que seu irmão Apolo<br />
tinha causando transtorno a Lilith interrompendo<br />
e seu programa. Foi procura-lo para lhe dar<br />
um carão.<br />
“Você Apolo não tem nenhuma consideração<br />
com ninguém. Onde já se viu deixar Lilith desconcertada<br />
diante das câmeras de televisão na<br />
terra”!<br />
”Eu estava muito preocupado, Armetisa. E Lilith<br />
é a única amiga que entende meus problemas”.<br />
”Mais uma razão para você mostrar respeito<br />
por ela. Você é mesmo artista de cabeça oca”!<br />
Artemisa resolveu naquela mesma noite ir se<br />
encontrar com Lilith através de um sonho. Queria<br />
colocar as fofocas em dia e ver como ela<br />
estava aguentando respirar o ar poluído da terra.<br />
Lilith sentiu seu espirito deixar o corpo e<br />
numa parte do espaço, entre as estrelas, ela<br />
viu Armetisa. As duas se abraçaram.<br />
“A barra é muito pesada na terra”?, perguntou<br />
Armetisa preocupada.<br />
“É pesada mas será por pouco tempo. Tem<br />
muita gente boa também, coitadas. Estou com<br />
saudades de casa. Me conta as novidades”.<br />
”Poseidon se mudou, não vive mais nas águas.<br />
Zeus criou um novo mundo não sei aonde, e o<br />
mandou para lá colonizar. Poseidon agora é<br />
dono de terras”!<br />
(Segue)<br />
www.varaldobrasil.com 52
“E Amfritite foi com ele”?<br />
“Foi sim, os dois sempre foram inseparáveis. E<br />
ela estava cansada de morar na praia. Queria<br />
uma casa de campo”.<br />
“E como vai Zeus”?<br />
“Papai? Acho que vai bem. Ele passou um<br />
tempo muito pensativo, algumas de suas criações<br />
não deram certo e ele ficou meio triste.<br />
Disse que ia tirar férias e desapareceu. Cortou<br />
todos os canais de comunicação e ninguém<br />
sabe onde ele está”.<br />
“Vou procura-lo assim que terminar meu assunto<br />
na terra”.<br />
“Procura mesmo. No passado você andava<br />
pendurada nele”…<br />
“Deixa de ser grosseira, menina! Como vai o<br />
Dionísio”?<br />
”Não vai nada bem. Sempre de cara cheia sem<br />
poder se controlar. Foi humilhado por Zeus e<br />
perdeu o titulo de deus. Está agora numa clinica<br />
de recuperação na galáxia de Andrômeda.<br />
Zeus, antes de desaparecer, disse que se Dionísio<br />
não deixar de beber, será obrigado a viver<br />
na terra como mortal. Já pensou que castigo”?<br />
”Me arrepio só em pensar”!<br />
”Pois é, o tio Hades às vezes vai visita-lo dando<br />
uma forca, mas Dionísio é cabeça dura. A<br />
última novidade é que Hades fechou o inferno.<br />
Estava muito cansado da burrice e dos lamentos<br />
dos inquilinos. Vai agora transformar o lugar<br />
numa área de lazer. Acho que ficar muito<br />
bom com todas as fontes de calor que tem por<br />
lá”.<br />
“E o que vai fazer com as almas penadas”?<br />
“Ninguém sabe. O sindicato galáctico ainda<br />
não resolveu o problema. Hades contratou<br />
uma empresa privada que provisoriamente está<br />
vigilando os espíritos zombeteiros. Você sabe<br />
que eles não podem andar soltos”.<br />
“Puxa, quanta novidade”!<br />
“É, você vive viajando e não fica a par dos<br />
acontecimentos”.<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
“Amiga, tem alguém de vocês me observando<br />
para me ajudar em caso de emergência”?<br />
“Tem sim, não se preocupe. Você sabe que<br />
nós gostamos muito de você”.<br />
“Obrigada, mas tenho que voltar para o corpo<br />
agora porque sinto que estou acordando. Nos<br />
veremos em breve, adeus”!<br />
Lilith se despertou agitada. Tanta coisa importante<br />
acontecendo no universo e ela presa na<br />
terra por vontade própria! Não sabia se seu<br />
sacrifício valeria a pena. Muitos continuavam<br />
pensando que ela era um demônio e provavelmente<br />
não mudariam de opinião. Ela gostaria<br />
pelo menos de se tornar uma inspiração para o<br />
grupo feminino. Queria lhes dizer que ela tinha<br />
sido a ultima guerreira do sistema matriarcal.<br />
Foi assassinada nas margens do rio Nilo quando<br />
os primeiros patriarcas destruíram a Era de<br />
Ouro. A Esfinge é seu tumulo, e é um monumento<br />
muitíssimo mais velho do que a arqueológica<br />
quer admitir. Os deuses que receberam<br />
seu espirito lhe deram um novo corpo. O mesmo<br />
corpo que ela usa até agora e que usará<br />
eternamente.<br />
A prefeitura da região infernal não queria dar a<br />
Hades permissão para construir o complexo de<br />
lazer com banhos térmicos. Eles achavam que<br />
o inferno era patrimônio histórico e deveria ser<br />
conservado como era.<br />
(Segue)<br />
www.varaldobrasil.com 53
Concordariam sim em transformar<br />
o local numa atração turística estilo “campo de<br />
concentração”. Uma zona de respeito e meditação<br />
e não um parque de diversões. Hades,<br />
muito indignado, foi conversar com Hermes, o<br />
deus do comercio, já que ele entendia de negócios.<br />
“Quem é o proprietário legitimo do inferno”?<br />
perguntou Hermes.<br />
“Bom, tecnicamente falando sou eu, mas preciso<br />
ter permissão para modificar a estrutura. Você<br />
sabe que o universo é organizado”.<br />
“E quem é o prefeito”?<br />
“Um deus secundário. Desconhecido, mas de<br />
todo jeito é autoridade”.<br />
“O complexo que você pretende construir vai<br />
oferecer condomínios”?<br />
“Vai sim. Unidades de luxo com ar condicionado,<br />
vista para o lago de fogo mas sem cheiro<br />
de enxofre. Vou mandar sanear tudo. Terá estacionamento<br />
amplo para todos os tipos de naves<br />
privadas e transportes coletivos”.<br />
”Bem, então acho que você deve ir falar com o<br />
prefeito e oferecer a ele um apartamento de<br />
cobertura”…<br />
“Falou e disse! Obrigado”.<br />
Através de sua secretaria, a deputada<br />
Aracely Melo do Paraná pediu a Lilith que falasse<br />
sobre politica. Politica é uma ilusão de<br />
princípios e opiniões. Os eleitores são convidados<br />
a votar sem saber que seu voto não vale<br />
nada. Todos elegem a mesma ilusão mas em<br />
diferentes disfarces, e o povo escolhe o candidato<br />
que apresenta a melhor ilusão. A retorica<br />
dos políticos faz todo mundo acreditar ter parte<br />
no poder, mas na realidade o cidadão não tem<br />
poder nenhum. Sua vida está nas mãos dos<br />
chamados “expertos”, governantes com grandes<br />
ideias e pouca moral. Politica é simplesmente<br />
um sistema para alimentar a ganancia<br />
de vampiros! O ministro da Educação me chamou<br />
pelo telefone e disse ter ficado muito preocupado<br />
ao saber que o inferno estava cheio de<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
burros, e me pediu que eu falasse sobre o sistema<br />
educacional. Pois bem, o cultivo intelectual<br />
ao qual me refiro começa no interior do individuo<br />
e não no exterior. A educação da alma<br />
não é medida pelas instituições de ensino, mas<br />
pela madureza da percepção. Não saber sentir,<br />
não saber amar, não saber respeitar, não saber<br />
considerar, não saber cuidar é ignorância completa.<br />
E não saber usar a ecologia humana entre<br />
o homem e a mulher é a morte de todos. A<br />
terra está cheia de eruditos universalmente estúpidos.<br />
A humanidade deve aprender a viver<br />
como espíritos livres de ritmo apaixonado e<br />
profundo, sabendo que a vida é uma eterna viagem<br />
de descobrimentos num universo de<br />
emoções. A forma de agir de vocês aqui na terra<br />
não é e nunca foi uma verdade matemática.<br />
É simplesmente um transtorno criado por mentes<br />
desiquilibradas. Todos querer ser salvos de<br />
maneira mágica, mas magia é simplesmente<br />
uma mudança de percepção. Cabe a vocês fazerem<br />
essa mudança. Bem, hoje temos um<br />
convidado especial, o maravilhoso Roberto<br />
Carlos aceitou visitar nosso programa, e a meu<br />
pedido vai cantar Coisa Bonita! Fiquem ligados,<br />
o tema da próxima semana será “religião”.<br />
Artemisa veio novamente através de um sonho<br />
visitar Lilith. Queria contar sobre a melhora de<br />
Dionísio.<br />
“Ele saiu da clinica”, disse Artemisa e sorriu<br />
“E deixou de beber”?<br />
“Deixou sim, mas continua produzindo vinhos<br />
divinos. Ele é mesmo o maior conhecedor das<br />
uvas. Com a ajuda de Hermes ele vai abrir uma<br />
consultoria. Você sabe que em muitas galáxias<br />
vinhos e outras bebidas ainda não são de muito<br />
boa qualidade”.<br />
“A beleza do universo é justamente essa, o nível<br />
de evolução é diferente em todas as partes”.<br />
“Antes que eu me esqueça, tenho um recado<br />
de Afrodite. Ela disse pra você ter cuidado. Um<br />
mortal vai se apaixonar por você”!<br />
“Ficou maluca”? (Segue)<br />
www.varaldobrasil.com 54
Tenha cuidado Lilith, você sabe que não pode<br />
se misturar com as vibrações dos mortais.<br />
Bem, vou embora agora. Acho que só nos veremos<br />
outra vez quando você deixar a terra”.<br />
“Certo, e obrigada pela visita”.<br />
(http://www.fatosinteressantes.com.br/)<br />
A presença de Lilith na terra tinha feito<br />
com que muitos fiéis deixassem as igrejas. Ela<br />
era prova evidente de que a origem humana<br />
não era como nós pensávamos. Certos religiosos<br />
no entanto tinham se tornado ainda mais<br />
zelosos temendo a possibilidade de que ela realmente<br />
fosse um demônio. De todas as formas<br />
Lilith agora era mundialmente conhecida, não<br />
tanto por suas palavras mas pelo fato de ser<br />
extraterrestre, linda e radiante. Silvio estava<br />
muito interessado nela. Como a maioria dos<br />
homens ele era isento de autocritica, se achava<br />
gostoso, irresistível e sem defeitos. Lilith, acostumada<br />
com a grandeza de Zeus, os músculos<br />
de Atlas e a beleza de Narciso, sentia pena dele.<br />
Coitados, os terrestres eram vitimas de uma<br />
aritmética fajuta que contava no máximo até<br />
aos cem. Tendo perdido o equilíbrio entre as<br />
energias femininas e masculinas, o DNA foi reprogramado<br />
para causar a decadência celular.<br />
Ao completar vinte anos o estresse começa.<br />
Todos querem uma carreira, conseguir trabalho<br />
e formar família. Ninguém quer nem imaginar<br />
em chegar aos trinta, e completar quarenta é<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
um pesadelo, esqueça dos cinquenta! Mas ao<br />
passar dos sessenta o comportamento muda.<br />
Muitos começam a torcer por uma morte tranquila<br />
sem muito sofrimento. Mas durante esta<br />
trajetória, certos homens usam as conquistas<br />
para fingir que são eternos. Bem, Silvio era<br />
muito atencioso e estava sendo um bom amigo<br />
durante a curta visita de Lilith no nosso planeta.<br />
Ela não queria ferir seus sentimentos mas não<br />
podia ter intimidade com mortais. Suas vibrações<br />
eram muito altas, a renovação celular<br />
muito rápida e sua radiação era muito forte.<br />
Sendo assim o terrestre que penetrasse nela<br />
iria parar no Pronto Socorro com o pinto assado!<br />
Ela tentou de maneira gentil explicar-lhe a<br />
situação mas ele não acreditou. Estava acostumado<br />
com mulheres que no começo se faziam<br />
de difíceis mas que sempre acabavam cedendo.<br />
Ele estava certo de que Lilith, antes de voltar<br />
para as estrelas, aceitaria receber suas caricias.<br />
Como anunciado anteriormente falarei hoje sobre<br />
religião, comentou Lilith com ar sério. A religião<br />
foi criada por homens brutos para homens<br />
brutos, e para manipular e oprimir a mulher.<br />
Muitos pensam que religião é sinônimo de bondade,<br />
mas o que as religiões trouxeram até<br />
agora é uma historia de violência e ignorância.<br />
Muitas ilusões foram criadas com rituais ridículos<br />
para atemorizar. E os lideres enriquecem<br />
aproveitando-se da dor e do temor dos fieis.<br />
Dizem saber definir a Deus, mas aqui ninguém<br />
sabe nem sequer definir a si mesmo. Felizmente<br />
quando uma pessoa adquire percepção perde<br />
a necessidade de ilusões. Assim sendo<br />
aconselho vocês a se livrarem do medo. A religião<br />
não é nada mais do que terror organizado.<br />
Novas seitas se formam todos os dias. Começam<br />
sempre com ar de simplicidade, passam<br />
depois a ser complicadas e no fim se tornam<br />
dogmas. Dogmas escurecem a mente e as<br />
pessoas são manipuladas. Os lideres decidem,<br />
os membros obedecem, sem nunca questionar<br />
a validade das ideias que são obrigados a aceitar.<br />
Somente porque muitos estão agarrados a<br />
certos conceitos, não significa que estes conceitos<br />
sejam verdadeiros. (Segue)<br />
www.varaldobrasil.com 55
Na realidade não existe maldade fora da intenção<br />
humana. A intenção é e sempre foi a raiz<br />
de todos os maus. E as mentiras são apresentadas<br />
em todos os idiomas. Aqui na terra vocês<br />
não vivem, vocês simplesmente sobrevivem<br />
correndo atrás de uma qualidade de vida que<br />
nunca podem alcançar. E se alcançam algo a<br />
satisfação não é completa já que quando a vida<br />
termina, todos os sonhos e conquistas morrem<br />
com ela. A palavra “esperança” me faz rir. Uma<br />
palavra que foi sabiamente criada para garantir<br />
a continuação da desinformação sem provocar<br />
revolta. “Tenham fé”, diz o padre e o pastor. E<br />
tendo fé vocês estão atolados sem entender o<br />
significado da própria existência. A morte é um<br />
crime que todos cometem uns contra os outros<br />
já que ninguém se responsabiliza pelo que ensina<br />
e nem pelo que aprende. Vocês devem<br />
investigar e descobrir suas verdadeiras origens.<br />
Um povo que não conhece o passado, não sabe<br />
viver o presente e não tem futuro. Aprendam<br />
a linguagem universal da intuição e do sextosentido,<br />
já que quando devidamente desenvolvida,<br />
é a única língua que não mente. E onde<br />
está o grupo feminino? Continua nas igrejas<br />
cantando hinos dissonantes e vivendo um dia-a<br />
-dia igualmente desafinado? O feminismo infelizmente<br />
é só um grito de socorro que não modifica<br />
quase nada. As memórias perdidas estão<br />
armazenadas no DNA da mulher. Com inteligência<br />
e coragem elas poderiam reativar sua<br />
magia, borrar o esquecimento e relembrar as<br />
glórias do passado. Seria a volta da Era de Ouro,<br />
a Idade Matriarcal onde os problemas eram<br />
somente matemáticos. A agonia de vocês pelo<br />
contrario, não é cientifica, é desesperada. E terminamos<br />
aqui nosso programa, deixo vocês<br />
com o samba de Alcione, nossa convidada especial.<br />
No Vaticano o Papa, velho, doente e cansado<br />
de escândalos estava muito irritado com<br />
aquela mulher de outro mundo, falando mal da<br />
igreja na televisão brasileira. Ele convocou uma<br />
reunião de urgência com vários Chefes de Estado<br />
para encontrar uma maneira de obrigar<br />
Lilith a abandonar o planeta. Na realidade era<br />
uma preocupação desnecessária já que ela<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
mesma estava decidida a ir embora. As energias<br />
negativas na terra tinham começado a afetar<br />
suas células e ela se sentia desconfortável. As<br />
cantadas de Silvio também contribuíam para o<br />
desconforto, e ela resolveu dar-lhe uma lição.<br />
Convidou-o a um jantar no seu apartamento.<br />
Fez uma comida gostosa, abriu uma garrafa de<br />
vinho caro, colocou um vestido elegante e sensual.<br />
Silvio, de muito bom humor, pensava que<br />
iria entrar na historia conquistando uma extraterrestre.<br />
Lilith com seu bom coração, e seguindo<br />
a lei da misericórdia, já tinha colocado um<br />
saco de gelo no congelador para jogar nos genitais<br />
de Silvio quando eles pegassem fogo. Ela<br />
tinha avisado anteriormente sobre sua radiação<br />
interior. Ele não quis acreditar pelo bem, agora<br />
iria acreditar pela dor. Depois do jantar se sentaram<br />
no sofá, e ele com grande intimidade foi<br />
tocando em tudo que queria. Mas quando por<br />
fim penetrou na parte privada deu um grito de<br />
horror. Os vizinhos pensavam que era grito de<br />
prazer e ninguém se incomodou. Lilith foi rapidamente<br />
até a cozinha, trouxe o saco de gelo e<br />
entregou a ele, para que aliviasse a queimadura<br />
de terceiro grau que por longo tempo impediria<br />
novos amores. Ela se vestiu rapidamente,<br />
chamou uma ambulância e saiu correndo do<br />
apartamento. Correu até o local onde o helicóptero-taxi<br />
estava esperando por ela para leva-la<br />
de volta a seu disco voador. Dentro de sua<br />
própria nave espacial Lilith sentiu um grande<br />
alivio. Nunca mais voltaria a se misturar com<br />
mortais. Acendeu o painel de controle e viu que<br />
alguém tinha deixado uma mensagem na<br />
answering machine. Era um recado de Zeus.<br />
www.varaldobrasil.com 56
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Para Jacqueline Aisenman,<br />
no Dia Internacional das Mulheres.<br />
P R E N D A G U E R R E I R A<br />
Por José Alberto de Souza<br />
Quantas mulheres existem tão resignadas<br />
Aí por detrás das panelas e dos fogões,<br />
Por tantos azares da vida derrotadas,<br />
Renunciando de futuras motivações.<br />
Mas há também aquelas já determinadas<br />
A não serem abatidas por frustrações,<br />
Superando essas dificuldades passadas,<br />
De inesgotável manancial nos corações.<br />
Assim olhamos para ti, prenda guerreira,<br />
E sentimos a luta por tudo que queres<br />
Transparecendo sempre na fronte altaneira.<br />
Por isso, suplicamos: enquanto puderes,<br />
Nunca desiste para que, desta maneira,<br />
Continuemos acreditando nas mulheres.<br />
www.varaldobrasil.com 57
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
PASTÉIS DE SANTA CLARA<br />
Os pastéis de Santa Clara estão entre os mais populares doces conventuais de Coimbra,<br />
estando a sua origem associada ao convento do mesmo nome. Fundado no final do XIII,<br />
o convento de Santa Clara-a-Velha gozou de especial proteção da Rainha Santa Isabel<br />
que aí passou parte da sua vida. Devido às cheias do rio, foi abandonado em 1677 e as<br />
religiosas passaram ao convento de Santa Clara-a-Nova, cuja igreja guarda ainda hoje o<br />
túmulo da Rainha Santa.<br />
Receita – Pastéis de Santa Clara<br />
Ingredientes<br />
- 250g de farinha de trigo<br />
- 100g de manteiga<br />
- 9 gemas<br />
- 1 pitada de sal<br />
- 250g de açúcar cristal<br />
- 1/2 copo de água gelada<br />
- 100g de amêndoas<br />
- Açúcar de confeiteiro para polvilhar<br />
Modo de Preparo<br />
Levar ao fogo o açúcar e a água, deixando ferver até formar uma calda espessa. Retirar<br />
do fogo, colocar as amêndoas sem pele e moídas, as gemas batidas ligeiramente, mexendo<br />
vigorosamente para não talhar. Voltar ao fogo e, sem parar de mexer, deixar engrossar<br />
até aparecer o fogo da panela. Deixar esfriar. Sobre a mesa misturar a farinha, a<br />
manteiga e 3 colheres de água (se precisar, pôr um pouco mais de água). Amassar com<br />
a mão e estender a massa bem fina. Cortar rodelas de massa, rechear com o creme de<br />
ovos e fechar como pastel (se preferir, fazer pastéis redondos com tampa em forminhas<br />
de empada untadas). Para fechar a massa, é bom umedecer a borda com um pouco de<br />
água. Levar a assar em forno médio por cerca de <strong>20</strong> minutos. Retirar do forno e polvilhar<br />
com o açúcar de confeiteiro.<br />
Fonte: http://gcnreceitas.wordpress.com/<br />
Fontes receitas: http://www.globo.com/maisvoce<br />
http://www.wikipedia.com<br />
http://baunilhaechocolate.com/archives/1199<br />
http://www.lifecooler.com/edicoes/lifecooler/desenvRegArtigo.asp?reg=329389<br />
www.varaldobrasil.com 58
Por Roberto Ferrari<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Mulher<br />
Mulher, ser maravilhoso que possui a força do amor dentro do coração.<br />
Por vezes intangível quando o que buscamos é compartilhar seus sentimentos mais<br />
profundos.<br />
Criada por Deus, em sua inspiração mais soberba, traz dentro de si a capacidade de<br />
amar e de se entregar inteiramente.<br />
Por ti removo todos os obstáculos e navego em direção ao seu amor, porto seguro<br />
aonde sei que vou me encontrar com os prazeres da paixão.<br />
Lábios quentes, olhos convidativos, corpo esculpido com as formas de uma deusa,<br />
enfim todo este conjunto não me deixa esquecer que a paixão só é vivida intensamente<br />
com você ao meu lado.<br />
Quando você está longe se instala um vazio em minha alma e procuro sempre teus<br />
braços para acalmar o fogo que queima no meu coração.<br />
Figura linda, digna das poesias mais inspiradas, te quero por todo o sempre e quando<br />
nos encontramos distantes, nasce uma dor invisível dentro do meu peito e para a qual<br />
só existe uma cura, sempre ter você ao meu lado e te amar pela eternidade.<br />
Paixão desenfreada que nasceu do encontro dos nossos sentimentos, me deixa aflito<br />
nos momentos de solidão e ansioso pelo instante de poder falar com você, de te sentir<br />
e de te fazer juras de amor infinito.<br />
Nesta loucura que me entorpece os sentidos, vislumbro sempre tuas feições que<br />
mostram o caminho que tanto procuro e em cuja trajetória vejo que a vida é mais doce<br />
e cheia do sabor da emoção.<br />
Em cada sonho tenho você como minha guia através do mundo das emoções e das<br />
sensações e tenho a certeza que nosso amor será sempre vivenciado ao extremo.<br />
www.varaldobrasil.com 59
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
LINDA MULHER<br />
Por Lenival de Andrade<br />
Seu lindo sorriso<br />
É tudo o que preciso<br />
Em seu lindo olhar<br />
Quero mirar<br />
Sua mão<br />
Quero no meu coração<br />
Por seu abraço<br />
Me despedaço<br />
Sua palavra amiga<br />
Embeleza e encanta minha vida<br />
Saiba que estou do seu lado<br />
Pro que der e vier<br />
Porque você não é pra um qualquer<br />
Pois é uma linda mulher<br />
www.varaldobrasil.com 60
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
www.varaldobrasil.com 61
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
EM <strong>20</strong>11 NÓS TIVEMOS UMA<br />
EDIÇÃO ESPECIAL SOBRE A MULHER!<br />
Cem autores, cem rosas para você, mulher!<br />
Se você ainda não leu, peça através de nosso e-mail<br />
varaldobrasil@gmail.com ou leia em nosso site<br />
www.varaldobrasil.com ou em nosso blog<br />
www.varaldobrasil.blogspot.com<br />
www.varaldobrasil.com 62
Simplesmente Mulher<br />
Por Ane Braga<br />
Já fui uma semente esperando para brotar<br />
Tão pequena e frágil diante da grandeza do<br />
desconhecido<br />
Tropecei nas pedras do chão e da vida<br />
Cresci sabendo que o caminho seria árduo<br />
Mas também seria cheio de vitórias<br />
Chorei quando estava feliz e sorri<br />
Quando estava sofrendo<br />
E em todo momento entre a dor e a ternura<br />
A força estava em mim<br />
Tive dúvidas, quis jogar tudo fora<br />
Quase perdi a esperança<br />
Quase... Pois a cada árduo momento<br />
Com cada queda que me arranhou a alma,<br />
Fiquei mais forte, mais experiente<br />
Sofrida e vivida<br />
Mas em nenhum momento<br />
Perdi-me de mim<br />
Cada cicatriz marcou minha história<br />
Tenho tudo que sonhei<br />
Muito mais do que pedi<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
E nesse meu longo caminho<br />
Que ainda não percorri totalmente<br />
Tenho muito para aprender<br />
Muito a ensinar<br />
Muito a sofrer<br />
E muito para amar<br />
Sou a mesma de ontem<br />
Com toda as esperanças do hoje e incertezas<br />
do amanhã<br />
Sou força e delicadeza espalhadas no caminho<br />
Sou destino e fim<br />
Acertos e tropeços<br />
Sou um ciclo esperando para recomeçar<br />
Sou simplesmente mulher.<br />
www.varaldobrasil.com 63
ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE A OBRA<br />
IRACEMA DE JOSÉ DE ALENCAR<br />
E AVATAR DE JAMES CAMERON<br />
Por Jeanne Cristina Barbosa Paganucci<br />
A obra Iracema de José de Alencar aborda<br />
aspectos do romance indianista, com foco naciona-<br />
lista e neocolonizador. Nessa conjuntura, há o res-<br />
quício do olhar paternalista e colonizador em que<br />
revela o outro sempre à disposição. Em Avatar, fil-<br />
me de James Cameron, observa-se o pensamento de<br />
agressividade e a representação do exótico numa<br />
perspectiva neocolonialista.<br />
As obras analisadas dialogam no contexto<br />
do pensamento colonial e abordagem das relações<br />
amorosas como construção do nacionalismo. As<br />
personagens Iracema e Zeytiri representam o femi-<br />
nino, a entrega total ao desconhecido, em contexto<br />
de crenças, rituais ou religiosas e representação do<br />
signo linguístico. Pode-se notar, no entanto, que<br />
essas personagens não representam a mulher co-<br />
mum, mas as mulheres guerreiras imbuídas de não<br />
apenas procriar, mas também conservar a história<br />
do seu povo. Em determinados momentos em que<br />
confiavam no desconhecido, as mulheres revelavam<br />
os segredos mantidos por seu povo.<br />
Em oposição às mulheres, os representan-<br />
tes masculinos, Martim e Jake Sully, são evidente-<br />
mente brancos e com propósitos delineados pelo<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
processo colonizador. Dessa maneira, esses homens<br />
imbuídos do ideal colonialista, aproximam-se das<br />
mulheres e interagem com os povos exóticos por<br />
intermédio delas.<br />
As imagens de Avatar são extravagantes,<br />
com efeitos ricos e bem elaborados, chamando a<br />
atenção para o estereótipo de outros povos, criando<br />
também um corpo destinado aos colonizadores, pes-<br />
quisadores, a adentrar o mundo diferente. A riqueza<br />
da terra é o objeto ambicionado pelos brancos, os<br />
quais não se conformam com uma preciosidade co-<br />
mo crença protegida por um povo.<br />
A literatura e o cinema retratam a violência<br />
com que a colonização foi estabelecida. A demons-<br />
tração do exótico, o nacionalismo operante e a ideia<br />
de estabilidade marcam as imagens de Avatar e as<br />
páginas de Iracema como uma reflexão acerca do<br />
Tratado descritivo e a Carta de Pero Vaz de Cami-<br />
nha.<br />
REFERÊNCIAS<br />
ALENCAR, José de. Iracema. 24. ed. São Paulo: Ática,<br />
1991.<br />
CAMERON, James. Avatar. Disponível em: http://<br />
www.adorocinema.com/filmes/filme-61282<br />
http://www.sindinoticias.com/<br />
noticias,15412,retrospectiva_<strong>20</strong>11_iracema.html (1)<br />
http://www.fanpop.com/clubs/avatar/images/11063382/title/<br />
avatar-blu-ray-dvd-promo-photo (2)<br />
www.varaldobrasil.com 64
QUARTA-FEIRA<br />
Por Deusa D’Africa<br />
Aquela velha rameira<br />
Vendeu a quarta<br />
Numa manhã cheia de ternura<br />
Pronta para parir o dia<br />
Quando foi a feira<br />
Sem anuência<br />
Nem sequer dos deuses<br />
A velha levou a quarta parte do dia<br />
Para uma feira<br />
Numa periodicidade<br />
Em que tal como a cidade, o mercado se<br />
encontrava<br />
Azafamado por monopolistas com quem<br />
negociava<br />
Em troca de míseras moedas<br />
A velha vendeu ainda esverdeada<br />
a parte quarta dos dias, como vendeu a enteada.<br />
- É verdade imperatriz<br />
Que aquela meretriz<br />
Que diz ser actriz<br />
Dos prostíbulos, na feira vendeu os dias<br />
A parte quarta dos dias<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
E os monopolistas<br />
Tomaram-na e o pior, é que para a civilizarem<br />
chamam-na por quarta-feira<br />
Como se não existisse nome melhor<br />
Sejam tomadas deliberações<br />
Antes que venda a quinta e também a sexta<br />
Parte dos dias para os mesmos<br />
E esgote os nossos dias numa feira.<br />
Pintura by Mac0ne<br />
www.varaldobrasil.com 65
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
FALO<br />
Por Joyce Cavalccante<br />
Das mulheres e dos recursos ilimitados de seus casulos. Suas receitas de magia – tradição<br />
sensual transmitida de geração para geração. Seu poder e seu tudo: o homem. Ele e<br />
seu universo pronto e acabado, mas sempre por elas transformado.<br />
Falo: deles o principal pedaço – bloco plástico que às vezes se pensa que é de aço, no<br />
entanto, fragilidade de vidro envolta em cetim brilhante. É carne, é sangue em seu estado básico,<br />
mas poderá vir a ser qualquer coisa que se vier a escolher.<br />
De forma cilíndrica e rija se pronto para favorecer ao prazer e a procriação. Em repouso, como<br />
um pássaro amigo, só suavidade entre as mãos.<br />
A vista de um belo torso nu e feminino, qualquer contorno pode vir a ter o pedacinho mais<br />
lúdico do corpo masculino.<br />
Sombras e luzes aqui, serão testemunhas das imensas possibilidades de formas, criadas pela<br />
necessidade de transcendência.<br />
A arte do desejo e de desejar ser maior do que o ser, para alimentar a fêmea que quer brincar.<br />
Se acomodar na ausência de matéria, lá dentro, bem dentro, e servir de apoio ao movimento.<br />
Esperar imóvel como uma folha sem vento, enquanto a mulher dança e se oferece, vem e<br />
desaparece.<br />
Ou simular paciência enquanto ela se aquieta e se alcança.<br />
Se multiplicar em muitos, se milhares ainda é pouco, para complementar e satisfazer a quem<br />
deva, em todos os seus orifícios de prazer.<br />
Se apresentar em forma de energia quântica, aquela que apenas passou por aqui. O ir e vir,<br />
balançado ondas de pele e sentimento.<br />
Misturar-se. Perder a própria identidade. Achar sua outra metade. Aperfeiçoar a natureza,<br />
fazendo-a mais completa. Geração de beleza.<br />
O absurdo do encontro dos corpos. A resistência, o encaixe, a coincidência, o absoluto. Mistério<br />
a ser desvendado e o quase nada se não for mistério.<br />
www.varaldobrasil.com 66
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Noite Especial*<br />
Por Ana Rosenrot<br />
Hoje a noite é minha,<br />
Deixei para trás os deveres que tinha...<br />
O celular desligado, o relógio parado,<br />
Estou em paz, e sozinha...<br />
Não quero luzes acesas,<br />
Iluminando minhas tristezas;<br />
Esquecerei as decepções,<br />
Vencerei minhas frustrações,<br />
A alma livre, sem inibições...<br />
O silêncio a dominar,<br />
Vela perfumada a queimar,<br />
Sem palavras para machucar,<br />
Sem batalhas para lutar,<br />
Minhas feridas a cicatrizar.<br />
A luz da lua pela janela,<br />
Não sou mais uma mulher a lamentar,<br />
Esqueço norma e cautela,<br />
Sou menininha a cantar,<br />
Cantigas que o silêncio me faz lembrar...<br />
Roda a roda a girar...<br />
A noite acabou,<br />
Pra realidade tenho que voltar,<br />
Estou no espelho a me maquiar, me fantasiar, me camuflar...<br />
Para esconder quem eu realmente sou,<br />
As dores do meu mundo, novamente enfrentar,<br />
Até outra noite especial chegar.<br />
*Poema premiado com Menção Honrosa no Concurso<br />
“Troféu Jacaré” <strong>20</strong>12.<br />
www.varaldobrasil.com 67
PIZZA MARGHERITA<br />
Uma das pizzas mais tradicionais, a margherita,<br />
foi feita pela primeira vez em 1889, por um<br />
pizzaiolo napolitano. A história conta que o rei<br />
Umberto I e a rainha Margherita di Savoia, em<br />
uma viagem a Nápoles, desejaram experimentar<br />
a receita que havia tornado aquela região<br />
tão famosa.<br />
Porém, membros da família real não podiam<br />
frequentar certos locais, como pizzarias. Sendo<br />
assim, o pizzaiolo, com o intuito de satisfazer<br />
seus reis, preparou a pizza e a entregou no<br />
castelo. A receita fez muito sucesso, e até hoje<br />
é conhecida por seus ingredientes, que lembram<br />
as cores da bandeira italiana: mussarela,<br />
tomate e manjericão.<br />
Receita – Pizza Margherita<br />
Ingredientes<br />
Massa<br />
- ½ kg de farinha de trigo<br />
- 1 colher (sopa) de banha<br />
- ½ ovo (coloque 1 ovo inteiro numa xícara,<br />
misture a clara e a gema e dividida em 2<br />
- 1 tablete de fermento biológico<br />
- ½ xícara (chá) de óleo<br />
- 1 pitada de açúcar<br />
- 2 xícaras (chá) de água<br />
- ½ colher (café) de sal<br />
Molho de Tomate<br />
• 5 tomates sem pele picadinhos<br />
• ½ cebola picadinha<br />
• Azeite<br />
• Sal a gosto<br />
• Açúcar a gosto<br />
• Pimenta verde<br />
• Orégano<br />
• 1 folha de louro<br />
Cobertura<br />
• 300 g de mussarela laminada<br />
• 3 tomates bem vermelhos cortados em rodelas<br />
• Folhas de manjericão grandes<br />
• Orégano e azeite<br />
Modo de Preparo<br />
Massa<br />
Misture um pouco de farinha de trigo com o fermento<br />
e um pouco de água. Faça uma pasta e<br />
deixe crescer por uns <strong>20</strong> minutos, coberta com<br />
um pano de prato úmido. Em seguida, acrescente<br />
o ovo, a banha, o óleo, o açúcar e o sal.<br />
Misture bem e vá adicionando a farinha e a<br />
água até adquirir uma consistência que permita<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
sovar a massa na pedra, ou seja, quando a<br />
massa não grudar mais na mão, está pronta<br />
para ser sovada. Sove bem e depois cubra com<br />
um pano de prato úmido e deixe crescer por <strong>20</strong><br />
minutos. Abra a massa e coloque em assadeira<br />
untada. Asse em forno pré-aquecido a 180°c,<br />
por 15 minutos. Retire do forno, monte a pizza<br />
e leve ao forno por mais <strong>20</strong> minutos.<br />
Molho<br />
Retire a pele e as sementes dos tomates frescos<br />
e pique em pequenos quadradinhos. Aqueça<br />
o azeite, adicione a cebola picadinha e doure<br />
bem. Acrescente os tomates, incluindo o caldo<br />
do tomate, o louro, o orégano e o açúcar.<br />
Deixe cozinhar por uns 40 minutos em fogo<br />
brando. Retire do fogo e tempere com sal e um<br />
pouco de pimenta verde. Descarte a folha de<br />
louro e reserve o molho.<br />
Montagem<br />
Cubra a massa com uma boa camada de molho<br />
de tomate. Disponha a mussarela laminada,<br />
as rodelas do tomate e o manjericão. Polvilhe<br />
com orégano e regue com azeite.<br />
Rendimento: 8 porções<br />
Fonte: http://gcnreceitas.wordpress.com/<br />
Fontes receitas: http://www.globo.com/<br />
maisvoce<br />
http://www.wikipedia.com<br />
http://baunilhaechocolate.com/archives/1199<br />
http://www.lifecooler.com/edicoes/lifecooler/<br />
desenvRegArtigo.asp?reg=329389<br />
www.varaldobrasil.com 68
CONVERSAN<strong>DO</strong> COM<br />
CLARA MACHA<strong>DO</strong><br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Mulher um Universo.<br />
Pensar na mulher como um universo, me faz olhar para a grande capacidade<br />
que a mulher tem de gerar um filho e do seu papel maior que é dar<br />
uma educação adequada para essa criança, pois o fato de gerar não garante<br />
a mulher a sua idoneidade na grande missão maior que é do seu papel<br />
de cuidadora desse ser que foi gerado por ela.<br />
Muitas mulheres hoje em dia emprestam seu ventre para gerar filhos para<br />
outras mães. Aí eu me pergunto: em que essa mulher esta se transformando?<br />
Em uma incubadora, se colocando nesse papel e abrindo mão do<br />
seu grande Dom que foi lhe dado por Deus é que o de gerar, amamentar e<br />
cuidar dessa criança com amor e respeito para que esse bebê venha se<br />
tornar um adulto consciente para a construção de um mundo melhor de<br />
mais respeito aos seus semelhantes e ao nosso planeta e também ao Universo.<br />
Pois se todos "somos um' vamos mulheres ser grandes operarias do Universo<br />
e vamos cuidar com muito amor , respeito e dignidade todas as crianças<br />
que você for gerar ou que ja gerou.<br />
O mundo anda muito egoísta e os homens andam com medo do próprio<br />
homem com tanta violência, desonestidade, e crueldade e nós mulheres<br />
temos o dever de ajudar a cuidar dessas criaturas que são geradas pelo<br />
nosso ventre, pois assim seremos capaz de continuar o grande projeto de<br />
cuidar do nosso universo e sermos merecedoras de um tema tão importante<br />
como esse: MULHERES UM UNIVERSO.<br />
Clara Machado.<br />
www.claramachado.com.br<br />
www.varaldobrasil.com 69
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
O terceiro volume de nossas coletâneas <strong>VARAL</strong> ANTOLÓGICO chegará<br />
em breve! Será lançado dia 03 de maio no 27o Salon International<br />
du Livre et de la Presse de Genève (Genebra/Suíça) e em agosto em<br />
Florianópolis, SC.<br />
Conheça todos os participantes do livro nas páginas de nosso site!<br />
www.varaldobrasil.com<br />
www.varaldobrasil.com 70
E a vanguarda de Chiquinha<br />
abriu alas...<br />
Por Renata Iacovino<br />
“Pois, senhor meu marido, eu não entendo<br />
a vida sem harmonia!”. E assim separou-se<br />
de um oficial da Marinha Mercante, após casamento<br />
arranjado pelos pais dela, em 1863. O<br />
pedido de escolha entre ele e a música selou o<br />
que a musicista tanto desejava...<br />
A música e a busca incessante pela liberdade<br />
deram o tom à vida de Francisca Edwiges<br />
Neves Gonzaga, nascida em 1847, no Rio de<br />
Janeiro, filha de um tenente com a mestiça Maria.<br />
Após o feito da separação e grávida do<br />
terceiro filho, o pai a considerou morta.<br />
Amiga do grande compositor e flautista<br />
Calado – principal figura do choro – passou a<br />
conviver com músicos populares, fato nada popular<br />
à época, especialmente para uma mulher.<br />
Foi enfrentando as adversidades e os preconceitos<br />
que Chiquinha Gonzaga tornou-se<br />
célebre, admirada e respeitada por seu talento<br />
e sua coragem.<br />
Enquanto maestrina foi pioneira; autora<br />
da primeira canção carnavalesca; foi também a<br />
primeira pianista de choro, introduzindo a música<br />
popular nos salões elegantes da sociedade<br />
da época.<br />
De suas mãos nasceu, além das 77 peças<br />
musicadas (quase todas encenadas) e das<br />
centenas de músicas pautadas nos mais variados<br />
gêneros – como polca, tango brasileiro,<br />
valsa, habanera, maxixe, lundu, fado, serenata,<br />
schottisch, mazurca e modinha – a iniciativa<br />
para fundação da SBAT, em 1917, sociedade<br />
pioneira na arrecadação e proteção dos direitos<br />
autorais.<br />
A intensidade que empregava em tudo o<br />
quanto acreditava era um marco de sua personalidade<br />
e não hesitava ao investir em fatos<br />
que a pudessem colocar numa situação delicada.<br />
Dedicou-se à campanha abolicionista ao<br />
lado de Quintino Bocaiúva e José do Patrocínio.<br />
Com o dinheiro obtido na venda da parti-<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
tura de sua obra Caramuru comprou, em 1888,<br />
a alforria do músico (e então escravo) Zé Flauta.<br />
Parece-nos tão longe um tempo em que<br />
uma peça teatral musicada pudesse ser vetada<br />
em razão de ter sido composta por uma mulher.<br />
Isto ocorreu em 1883, com Viagem ao<br />
Parnaso, uma parceria com Artur Azevedo.<br />
No entanto, persistente, dois anos depois,<br />
ainda compondo operetas, obteve grande sucesso<br />
com A Corte na Roça e, então, conquistou<br />
reconhecimento no meio teatral.<br />
Quando compôs a marcha de carnaval Ó<br />
Abre Alas (obra inaugural da produção carnavalesca),<br />
em 1899, por encomenda do Cordão<br />
Rosa de Ouro, Chiquinha Gonzaga já era uma<br />
artista consagrada. Ao que tudo indica, foi esta<br />
marchinha que garantiu ao Cordão o primeiro<br />
lugar no desfile daquele ano.<br />
Um dos momentos históricos na carreira da<br />
maestrina foi o sucesso do tango Gaúcho, também<br />
conhecido como Corta-jaca, e sua execução,<br />
ao piano, por Nair de Teffé, esposa do então<br />
Presidente da República, Hermes da Fonseca,<br />
em recepção oficial no Palácio do Catete,<br />
gerando escândalo político e crise ministerial.<br />
Sua precocidade fez com que estivesse à<br />
frente de seu tempo, abrindo alas a tantas conquistas<br />
posteriores, que só se tornaram factíveis<br />
devido a todo caminho anteriormente percorrido<br />
por Chiquinha.<br />
Compôs pela primeira vez, aos 11 anos, a<br />
Canção dos pastores. E foi de maneira improvisada<br />
que nasceu seu primeiro sucesso, a polca<br />
Atraente, em meio a uma festa em que se apresentava.<br />
A “madrinha de todos os valores novos”<br />
atuou na música e na política, foi detentora de<br />
sensibilidade arrebatadora e de força inesgotável;<br />
emprestou seu talento e sua inteligência a<br />
uma época que não tinha na figura da mulher<br />
alguém capaz de pensar por si só ou de realizar<br />
algo que se acreditava ser exclusivo de<br />
mentes e atitudes masculinas.<br />
Foi às vésperas da festa popular que tanto<br />
amava – o carnaval – que, em 1935, Chiquinha<br />
Gonzaga ouviu os últimos acordes em vida,<br />
transcendendo à harmonia terrena e compartilhando<br />
com outros merecedores, em outras<br />
plagas, sua genialidade.<br />
www.varaldobrasil.com 71
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
CHIQUINHA<br />
GONZAGA<br />
1847: Chiquinha Gonzaga nasce a 17 de outubro no Rio de Janeiro. - 1863: Casase<br />
com Jacinto Ribeiro do Amaral no dia 5 de novembro. - 1864: Nasce o primeiro<br />
filho do casal, João Gualberto, no dia 12 de julho. - 1866: Chiquinha e João Gualberto<br />
acompanham Jacinto no navio São Paulo durante a guerra do Paraguai. -<br />
1867/8: Abandona o marido Jacinto e os filhos Maria e Hilário. - 1877: Em fevereiro<br />
edita sua primeira composição, Atraente. - 1880: Morre, em março, seu amigo<br />
Callado. - 1885: Estreia a 17 de janeiro a primeira peça musicada pela maestrina,<br />
A Corte na Roça. - 1888:Abolição da escravatura. - 1889: Proclamação da República;<br />
compõe a primeira marcha carnavalesca, Ó Abre Alas; conhece João Batista.<br />
- 1902: Vai pela primeira vez à Europa, acompanhada por João Batista. -<br />
1912: Estreia o grande sucesso Forrobodó. -1914: Escândalo do tango Corta-<br />
Jaca no Palácio do Catete. - 1917: Participa na fundação da Sociedade Brasileira<br />
de Autores Teatrais (SBAT). -1935: Morre em 28 de fevereiro, no Rio de Janeiro.<br />
www.varaldobrasil.com 72
FLORES PARA UM CASAL FELIZ<br />
Por Gilberto Nogueira de Oliveira<br />
Certa vez eu andava<br />
Por um caminho perfumado,<br />
Flores vermelhas de ambos os lados,<br />
Todas para mim.<br />
Eu me sentia assim;<br />
De repente o tédio e a nostalgia<br />
Tomou conta de mim.<br />
Então compreendi<br />
Que aquele lugar não existia,<br />
Pelo menos para mim.<br />
O lugar não florescia para mim.<br />
Talvez para uma mulher,<br />
Uma linda mulher.<br />
Então eu retornei<br />
E as flores brilharam.<br />
Brilharam mais ainda<br />
Comemorando a minha partida.<br />
Será que eu sou tão mau assim?<br />
Nem as flores me querem mais?<br />
De repente, como que por encanto<br />
Apareceu uma linda mulher,<br />
Tomou uma rosa vermelha entre as mãos<br />
E a rosa sorriu.<br />
E eu chorei.<br />
E a mulher sorriu com doçura<br />
E eu sofri<br />
E a mulher não me deu atenção.<br />
E a rosa murchou.<br />
Depois compreendi<br />
Que a rosa queria<br />
Era um casal feliz.<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Luiigi Diamanti<br />
www.varaldobrasil.com 73
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
MULHER<br />
Por Cristina Cacossi<br />
Mosaico multicor, multiforme, mutável<br />
Unifica e ultrapassa seus próprios<br />
Limites. Usa a liderança para lapidar o mundo<br />
Habilmente, enfrenta o lado hostil da vida<br />
Edifica e eleva os seres. Em sua<br />
Rotina, reconcilia e reescreve um novo lado da vida.<br />
h p://pt.best-wallpaper.net/<br />
www.varaldobrasil.com 74
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
SER MULHER<br />
Por Marly Rondan<br />
É saber ser bruxa e com feitiços<br />
Trazer alegria para sua vida e do<br />
Seu amor, é saber sorrir, mesmo<br />
Com o coração chorando!<br />
É saber ser fada e viver cada<br />
Paixão com a inocência primeira,<br />
Voltar a ser adolescente.<br />
Ser alegre, irresistível!<br />
Como bruxa...com magia<br />
Voltar a ser virgem,<br />
Cometer todos os erros, todos<br />
Os pecados do primeiro amor.<br />
Poder voar como um anjo,<br />
Como uma ave de rapina,<br />
Uma águia, uma indefesa pomba,<br />
Ou um ser alado qualquer...<br />
É errar muito como bruxa ou fada.<br />
Perdoar-se sempre como criança.<br />
Ser feliz, ser amada, tudo isso:<br />
É SER MULHER!<br />
h p://www.iwallfinder.com/<br />
www.varaldobrasil.com 75
FOTOPEDIA<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
A beleza de uma mulher não está somente na aparência do seu<br />
corpo. Está na sua essência e sempre estará.<br />
Independente de suas origens e de sua cultura.<br />
www.varaldobrasil.com 76
A mulher da zona rural –<br />
vida e trabalho<br />
Por Teresa Cristina Cerqueira de Sousa<br />
Qual o significado da palavra mulher para<br />
quem vive na zona rural? Que expectativas de vida,<br />
de sonhos tem uma mulher que nasce para casar e ter<br />
filhos? Não foi uma surpresa para mim quando des-<br />
cobri que me vi em cada uma delas nas localidades<br />
por onde trabalhei nesses três últimos anos.<br />
Para entender como vivem as pessoas da zo-<br />
na rural do interior do Piauí/Brasil, deve-se, antes de<br />
tudo, pensar que mulher não pode ficar sentada na<br />
sala da casa recebendo as visitas, se forem masculi-<br />
nas, se o marido se encontrar em casa. Eu tive de<br />
revisar meus conceitos de direitos iguais entre os<br />
sexos, como meio de compartilhar dessas comunida-<br />
des sem ser vista como uma intrusa ou quem quer<br />
desfazer lares.<br />
Cedo ainda, olhei o relógio marcando quatro<br />
horas da manhã, por uma semana seguida, vendo<br />
Dona Mocinha (esposa de Seu Didi) levantar para ir<br />
ao poço, distante uns duzentos metros, pegar água<br />
para abastecer os potes da casa. Ela e a filha mais<br />
velha, dezesseis anos, deixavam o restante da crian-<br />
çada dormindo e seguiam caladas com um pano de<br />
algodão na cabeça, numa tentativa de se protegerem<br />
da friagem da manhã, por um caminho estreito den-<br />
tro da mata. Apenas se ouvia um leve voar de algum<br />
pássaro que se espantava com o vento ou com o som<br />
dos passos das duas mulheres.<br />
Eu ficava quieta na minha rede, com os pen-<br />
samentos me impedindo de cochilar num momento<br />
em que o calor dava uma trégua. Algumas vezes eu<br />
ouvia o dono da casa ir para o terreiro, fumar um<br />
cigarro e depois, sabia que o som do curral tinha a<br />
presença do homem.<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Imagem: http://redeccom.blogspot.com<br />
Evidentemente que essas cenas me chama-<br />
ram a atenção. Não falei sobre isso nos primeiros<br />
dias que estive com essa família, pois como profes-<br />
sora local e agregada da casa não ficava bem tecer<br />
opiniões das tarefas familiares. Contudo, há momen-<br />
tos que o ser humano não se controla e explode em<br />
questionamentos. Do mesmo modo que há ocasiões<br />
que pedem palavras cuidadosas e planejadas. Essa<br />
última está mais presente nas conversas do interior<br />
sobre o tema direitos da mulher.<br />
Tenho 34 anos, professora. Trabalho nesta<br />
terra desde o dia em que casei com Didi. Chegamos<br />
aqui não havia a casa. Era tudo mata fechada. Eu<br />
trouxe da casa de minha mãe umas panelas de ferro<br />
e uns pratos, juntamente com umas canecas de es-<br />
malte e tive a sorte de ganhar de presente de casa-<br />
mento uma rede grande de algodão. O Didi a amar-<br />
rava no alto das árvores e dormíamos ali. Para co-<br />
zinhar eu fazia um fogo em volta de umas pedras,<br />
onde punha as panelas e comíamos de tudo que apa-<br />
recia: do porco do mato ao tatu ou passarinhos. Aos<br />
poucos fomos levantando a casa com paus de carna-<br />
úba, que ainda hoje estão aqui bem firmes. E fomos<br />
levando. Eu ajudei a plantar a primeira roça e é<br />
coisa que faço até o nono mês de gestação. Acho<br />
bom cuidar de minha casa e de meus filhos. Com<br />
esta barriga já são sete filhos, mas o Didi quer ter<br />
oito. Durante o tempo do resguardo fico cozinhando<br />
em casa e olhando as crianças, mas depois vou aju-<br />
dar meu marido na lida que isso eu aprendi desde<br />
pequena e digo isso p’ras quatro meninas.<br />
www.varaldobrasil.com 77
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Dos meninos o pai cuida. Eles gostam de ficar vendo o pai trabalhar. Ainda são pequenos, porém<br />
logo, logo vão estar nos ajudando e aí, sim, eu mais o pai deles vamos descansar um pouco (Texto com<br />
apenas as correções gramaticais, para melhor compreensão).<br />
Debruçada no peitoril da varanda da casa eu ouvi a tudo com muita atenção. Fiquei, então, olhando<br />
a mata com seu rumores de vento na folhagem. Um pássaro perdido passou procurando o ninho tão próxi-<br />
mo das meninas que brincavam no terreiro que uma delas veio até mim e disse:<br />
_ A senhora viu, professora? Era um bem-te-vi.<br />
Aproximei-me dela e lhe dei um largo sorriso.<br />
O curioso é que eu não me lembrava de que eu também tinha vivido situação semelhante. Aliás, se<br />
assim não fosse, bastava eu olhar para a pequena foto, na carteira, de meus filhos numa casa do interior.<br />
Outras perguntas sobre a vida no lugar ainda foram levantadas por mim, durante o tempo que estive<br />
lá. Mas eu sentia, ao final delas, que se você faz alguma coisa com os pés no chão, sempre tem motivos<br />
para continuar.<br />
Foto Juliana Freitas/Urbisno4cias<br />
www.varaldobrasil.com 78
Semente de Universo<br />
Por Rossandro Laurindo<br />
Um brilho interno<br />
Eterno em sentimentos<br />
Momentos os invernos<br />
Suavidade os movimentos<br />
Mover de mãos, sublimidade<br />
Coser vestes de amor<br />
O ventre farto, fertilidade<br />
Vida nascente, o fervor<br />
Um coração minúsculo do ser<br />
A criação pulsante a surgir<br />
Mãe que gera todo o viver<br />
Seres humanos à terra emergir<br />
Na inspiração, o amor<br />
Na expiração, virtudes<br />
O suportar de muita dor<br />
Superação nas atitudes<br />
Delicadeza nos gestos das pálpebras<br />
São olhares cativantes<br />
Flutuar de folhas semelhantes<br />
Das copas das árvores, às camélias<br />
Os passos tenros conduzem o corpo<br />
Esculturado pelo tempo à perfeição<br />
Moldado levemente à emoção<br />
Instrumento de construir da vida o topo<br />
A face expressa as riquezas<br />
As emoções cravadas na alma<br />
Fonte que jorra as purezas<br />
Das palavras sinceras a que ama<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Ama através de palavras<br />
Palavras amem através de si<br />
Letras sempre declaradas<br />
De canções vividas entre si<br />
Notas de orquestras são as vozes<br />
Das que elevam as sutilezas dos dizeres<br />
Cantem todos, exaltem totais seres<br />
A beleza cintilante às existentes vezes<br />
Em que brota sementes de universo<br />
Do viver de seres que geram<br />
Mundos em mundos em si mesmas<br />
Chamas de luzes internas<br />
Não vistas por olhos externos<br />
Luminárias de sentidos vários<br />
Águas fluindo de cisternas<br />
São estes os princípios<br />
Da vida feminina<br />
Feminilidade ativa<br />
Restante nos viventes, indícios<br />
Toda essência<br />
De menina<br />
De mulher<br />
Eterna fêmea<br />
www.varaldobrasil.com 79
Por Paulo Siuves<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Haja Paciência<br />
A gente sempre ouve aquele bordão da TV: – pergunta idiota, tolerância zero!!!<br />
Mas convencionemos uma coisa, pra trabalhar dentro de coletivos, dar quatro, seis,<br />
oito viagens por dia, há de se ter saco de Papai Noel pra vencer a jornada e se esforçar<br />
para não se lembrar do dia por vir.<br />
Concordo que, às vezes, não dá tempo de formular uma pergunta antes de<br />
abordar um desavisado, mas não entendo como, imediatamente após a abordagem, o<br />
interpelado responde com um irreverente, sarcástico toma-lá-dá-cá...O riso é irreprimível<br />
e totalmente desculpável, apesar de ser inconveniente, tal situação o perdoa.<br />
Por exemplo: A senhorita entra no coletivo, entre empurrões e cotoveladas consegue<br />
vencer os metros rasos entre a porta de entrada e a roleta onde o indivíduo uniformizado<br />
que recebe notas e devolve moedas fica postado. Pois bem, a distinta senhorita<br />
chega, acomoda-se na roleta como no sofá da antessala de um escritório de<br />
advocacia e, irritantemente, abre a bolsa, vasculha-a ligeiramente para encontrar a sua<br />
nécessaire, abre a dita e encontra um simpático porta-níqueis, aí vem a dramática pergunta;<br />
olhos nos olhos do sofredor, ar sério, uma multidão estacionada esperando a<br />
vez de passar pelo cobrador, ela diz:<br />
– Quanto custa o ônibus, moço?<br />
Ele do alto da cadeira – sempre altas – fecha a gaveta, olha o carro de alto a<br />
baixo, olha o fundo e o retrovisor interno, suspira e responde pacientemente:<br />
– Uns 65 ou 70 mil, o carro tá meia boca, deve rodar uns anos ainda...<br />
h p://chirupier69.xpg.uol.com.br<br />
www.varaldobrasil.com 80
Pudim Carmen Miranda<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Origem: Essa deliciosa sobremesa foi inspirada no paladar da cantora brasileira Carmen<br />
Miranda, e então criado em sua homenagem. Além de ser uma ótima opção para adocicar<br />
o paladar, ele é nutritivo e menos calórico.<br />
Ingredientes<br />
Para o pudim:<br />
6 xícaras de leite de soja<br />
1 lata de leite condensado de soja<br />
10 colheres (sopa) de maisena<br />
100 g de coco ralado<br />
Óleo para untar<br />
Para a calda:<br />
10 colheres (sopa) de açúcar<br />
2 colheres (sopa) de água<br />
7 bananas-nanicas médias, maduras e firmes<br />
Preparo<br />
Pudim:<br />
Bata no liquidificador o leite de soja, o leite condensado de soja e a maisena. Coloque<br />
em uma panela e leve ao fogo médio, mexendo sempre até engrossar. Acrescente o coco<br />
ralado e misture bem. Retire do fogo e despeje em uma forma de buraco no meio de<br />
22 cm de diâmetro untada com óleo. Deixe esfriar e leve à geladeira por 4 horas.<br />
Calda:<br />
Coloque em uma panela o açúcar, leve ao fogo médio até caramelar e acrescente aos<br />
poucos a água até obter a cor e a consistência de caramelo. Coloque as bananas cortadas<br />
em rodelas e deixe por 2 minutos. Retire do fogo, deixe esfriar e leve à geladeira até<br />
o momento de servir. Para servir, desenforme o pudim e regue com a calda caramelada<br />
de banana.<br />
Dica – Não deixe a calda escurecer muito para não ficar amarga.<br />
Rendimento: 12 porções<br />
Fonte: http://gcnreceitas.wordpress.com/<br />
Fontes receitas: http://www.globo.com/maisvoce<br />
http://www.wikipedia.com<br />
http://baunilhaechocolate.com/archives/1199<br />
http://www.lifecooler.com/edicoes/lifecooler/desenvRegArtigo.asp?reg=329389<br />
www.varaldobrasil.com 81
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Este ano o stand do <strong>VARAL</strong><br />
<strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> acolherá uma exposição<br />
de pinturas do artista<br />
RICHARD CALIL BULOS.<br />
Richard, também conhecido<br />
como Chachá, nasceu no Rio<br />
de Janeiro e radicou-se após<br />
em Laguna, SC, onde viveu<br />
até seu falecimento em <strong>20</strong>07.<br />
Filho de um libanês e de uma<br />
suíça nascida em Genebra, o<br />
artista já teve suas obras expostas<br />
por três vezes nesta<br />
cidade (duas vezes na OMC e<br />
uma vez na OMPI).<br />
Artista plástico, caricaturista,<br />
jornalista, Richard dedicou sua<br />
vida a retratar e defender os<br />
cidadãos mais simples da região<br />
de Laguna, cidade que<br />
amou e pela qual zelou com<br />
palavras, tintas e pincéis.<br />
Suas obras estão espalhadas<br />
pelos cinco continentes.<br />
www.varaldobrasil.com 82
Esperançar<br />
Por Ly Sabas<br />
Lembro como se tivesse acontecido ontem.<br />
Foi a última vez que tocamos em sua ferida.<br />
Não sei até hoje se conseguiu cicatrizá-la em<br />
definitivo ou se, simplesmente, a amorteceu.<br />
Tínhamos passado o dia falando somente amenidades.<br />
Das últimas leituras, dos filmes, de<br />
nossas filhas e até de congelados. Só ao cair<br />
da noite é que procuramos a discrição da varanda.<br />
Fomos saldadas pelo grilar insistente de<br />
um inseto.<br />
— Às vezes chego a pensar que ele acompanha<br />
meus devaneios.<br />
Disse enquanto dirigia-se, com seus gestos<br />
medidos e delicados, em direção às confortáveis<br />
cadeiras. Sempre achei fascinante seu jeito<br />
flutuante de andar, mas naquele instante me<br />
passava a impressão exata de que se movia<br />
como um pássaro ferido, procurando não despertar<br />
os sentidos de algum felino a espreita.<br />
— Sento aqui ou no beiral da calçada, e<br />
sempre tenho a companhia de seus ruídos. Ás<br />
vezes delicado, em outras irritante, é o fundo<br />
perfeito para o tumulto de meus pensamentos.<br />
Acendeu um cigarro e esticando o braço,<br />
convidou-me a sentar.<br />
— Quase que diariamente termino meus<br />
dias aqui. Mamãe fazia o mesmo, dizia que saturava<br />
a alma com o perfume das plantas –<br />
completou com nostalgia e abaixando o tom de<br />
voz segredou - Não tenho sido muito boa nisso!<br />
Deu sua risada rouca, mas não havia graça<br />
em seu olhar.<br />
— É o fantasiar... é o flutuar... é o esperançar...<br />
– disse levantando-me e me posicionando<br />
em suas costas. Essa frase tinha se tornado<br />
uma espécie de código nos últimos meses.<br />
Massageei um pouco seus ombros tensos e<br />
pesando bem as palavras continuei:<br />
— Você anda procurando com tamanho<br />
afinco um compartilhar, que já não consegue<br />
mais separar a fantasia do ponderável. - lembrei-me,<br />
meio envergonhada, que já havia usado<br />
o mesmo argumento para tentar apaziguar o<br />
coração de outro amigo. - Creio que já não pesa<br />
mais as palavras com a verdadeira importância<br />
e poder de que elas são capazes.<br />
Remexeu-se um pouco na cadeira, abriu e<br />
fechou a boca algumas vezes e, pelo arfar de<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
seu peito, avaliei o esforço que fazia para manter-se<br />
calada. Desisti de seus ombros e passei<br />
a acarinhar seus macios cabelos escuros.<br />
— Ultimamente passou a absorver cada<br />
elogio, como uma esponja. Depois embarca na<br />
ilusão que essas palavras criaram sem dar a<br />
mínima para o seu agudíssimo senso crítico.<br />
Depois de uma pequena pausa, na qual<br />
com bravura, manteve o silêncio continuei:<br />
— De todos os turbilhões pelos quais você<br />
já passou, esse parece ser o que a está deixando<br />
mais fragilizada. Talvez por querer reverter<br />
o que está fora de suas mãos, sofre como o<br />
artista que perdeu o controle das marionetes.<br />
Os birrentos bonecos tomaram conta do espetáculo<br />
e, com vida própria, dão um final diferente<br />
à sua história.<br />
Parei de acariciar seus cabelos e voltei a<br />
sentar. Ela nada disse e ficamos alguns segundos<br />
admirando o voo de uma borboleta amarela<br />
até que saiu do mutismo:<br />
— Sinto-me, às vezes, exatamente como<br />
ela, à procura de algo que não sei o quê é. -<br />
com um ligeiro suspiro, imitando minha voz tornou:<br />
- É o flutuar...<br />
Rimos. Segurei sua mão:<br />
—Sinto-me culpada por seu sofrimento -<br />
afastei com uma leve pressão dos dedos a contestação<br />
esboçada, — É como se sempre lhe<br />
desse corda. Nunca achando nada impossível,<br />
ou inaceitável... Creio mesmo que você pode<br />
tudo! Que tem o dever de lutar, seja como for,<br />
para ser feliz e o direito de escolher o seu caminho,<br />
sem pedir opiniões... É isso que passo<br />
para você e depois me culpo.<br />
(segue)<br />
www.varaldobrasil.com 83
— Não faça isso, eu é que amei tanto que<br />
sinto como se tivesse parido o próprio AMOR –<br />
falou com ênfase, contraindo meu coração – E<br />
foi um parto tão sofrido que o nascimento resultou<br />
só em dor!<br />
As lágrimas que brotaram, impedidas de<br />
correrem, ficaram boiando, aprisionadas em<br />
sua voz.<br />
— Passei anos lutando contra a solidão,<br />
tentando encontrar o equilíbrio entre o que ansiava<br />
e a satisfação com o que tinha. Mas ela<br />
nunca se deixou dominar. Sempre que uma<br />
brecha se fazia, mostrava-se de várias formas.<br />
No cigarro fumado sem o prazer do depois, no<br />
pôr-do-sol solitário, na única escova dentro do<br />
armário, nos livros lidos sem comentários, nos<br />
textos inacabados, nos jantares sem velas, na<br />
toalha molhada nunca jogada sobre a cama...<br />
Novamente o silêncio se fez presente por<br />
alguns segundos. Eu não sabia mais o que lhe<br />
dizer. Já havia esgotado todos os argumentos<br />
no auge da separação. O olho do furacão já<br />
havia passado e, agora, só estava interessada<br />
na recuperação dos destroços. Queria vê-la<br />
inteira novamente. Mesmo que isso significasse<br />
a volta à liberdade forçada.<br />
— Durou pouco minha vitória sobre ela.<br />
Mas foram meses plenos, de material farto para<br />
a cadeira de balanço. E já estou preparada<br />
para o reinício da luta. Mas não espere de mim<br />
o não esperançar!<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Mulher, tens o Universo!<br />
Por Julia Heimann<br />
Mulher, tens o Universo!<br />
Desperta tua coragem,<br />
nas linhas frágeis de um verso<br />
manda do amor a mensagem.<br />
Ela pensa e metrifica<br />
são diamantes que ela apara,<br />
toda mulher modifica<br />
pedra bruta em joia rara!<br />
www.varaldobrasil.com 84
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Copyright Photo © John Brown All Rights Reserved<br />
h p://cambodiaphotographer.photoshelter.com/<br />
Luz Que nos Deste<br />
Por Galdy Galdino<br />
Ó mulher<br />
Pariste a vida!<br />
A tua fenda que se abre<br />
Para o nascer<br />
O teu seio que nutre<br />
Com o alimento vital<br />
O teu colo que aquece<br />
E a tua doce voz a ninar<br />
Tens a vida nos braços, mulher<br />
E a vida te tem no coração!<br />
www.varaldobrasil.com 85
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
MULHER UM UNIVERSO<br />
Por EstherRogessi<br />
Dispo-me do meu gênero – poeta não tem sexo – para<br />
falar sobre o ser mais que perfeito, criação inimitável, de<br />
quem é maior que o universo.<br />
Tudo quanto Ele fez é a própria perfeição, o homem<br />
foi... Será, sempre, a sua criação maior – Adão foi criado<br />
para a Sua glória, porém, para criar Eva, o Senhor o<br />
fez dormir, para manter a fórmula em segredo.<br />
Ela, a mulher – humanamente falando, a única geratriz –<br />
é o ser mais invejado e copiado pelo próprio homem, que<br />
de todas as formas possíveis, busca encontrar a forma<br />
original, do ser que é, um universo em complexidade e,<br />
possuidora, de mistérios insondáveis – busca vã. Nesse<br />
particular, não há espionagem industrial que prospere; nenhum<br />
cientista, e/ou, ganhador de Prêmio Nobel conseguirá tal intento: a originalidade de tal<br />
invento.<br />
Aportar e, permanecer, em tal ser é como desbravar, o infinito rumo ao encontro, de outra<br />
desejada – a lua.<br />
Muito se fala, homenageia-se, escreve-se, descreve-se e poetiza-se, sobre essa, que foi, é e<br />
será... A musa, lira, verso, reverso, controverso... Ode!<br />
Mulher! Equilíbrio e loucura.<br />
Natureza, mãe terra, Gaia, oxigênio, vida, morte, desdita e sorte.<br />
Início e fim, o bom e o ruim; o fio da costura, o rasgo do saco, o arremate, o grito e o engasgo!<br />
Da navalha o fio, do faminto o desafio... MULHER!<br />
Beleza, realeza, atenção, distração, sedução... Perdição!<br />
O brilho que seduz; trilha para às trevas e, o caminho para a luz.<br />
Mulher, terra, montes, montanhas, vales, desaguar d’águas... Do encontro do côncavo com o<br />
convexo... Explosão, clímax, cataclismo... Emoção!<br />
Dele, a musa; a inspiração – do arquiteto das formas boleadas – que, hoje, flutua em outro universo<br />
– Niemeyer.<br />
Pintura de EstherRogessi, Intimidade<br />
www.varaldobrasil.com 86
O SUBLIME MISTERIO DAS ROSAS<br />
Por Gildo P. de Oliveira<br />
Falar é fácil.<br />
Falam mesmo as provas<br />
Com que o destino<br />
Nos coloca presentes no mundo<br />
Para vivenciarmos<br />
O sublime mistério das rosas!<br />
Rosas viçosas, belas, formosas,<br />
Sábias;<br />
Rosas dos mais sublimes e belos<br />
Matizes de cor e luz;<br />
Rosas eminentemente rosas!<br />
Rosas perfumadas, serenas,<br />
Rosas-mãe, rosas pródigas,<br />
Rosas que prometem, renunciam,<br />
Que se dedicam ao homem<br />
Por toda uma vida<br />
Com desprendimento e espiritualidade;<br />
Rosas que encantam com doçura e<br />
Amabalidade.<br />
Rosas abnegadas que abdicam<br />
Dos dotes da formosura em prol<br />
De uma causa nobre, uma missão<br />
No mundo; rosas noturnas...<br />
Rosas-aurora, anunciando a chegada<br />
Do Sol, senhor da vida, solenemente!<br />
Rosas angelicais expressando as mais sublimes<br />
Palavras de amor, candura!<br />
Rosas companheiras que caminham<br />
Com o homem em sua evolução<br />
Contínua no cosmo; vitalizando<br />
A marcha ascencional triunfante<br />
Da alma pelas veredas do espírito<br />
Universal; verdadeiros laços<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Fraternos são edificados no coração.<br />
Rosas que fascinam e fazem cair<br />
O homem; rosas que o levantam;<br />
Rosas altruístas, ativas, voluntárias,<br />
Irmãs; rosas que morrem com grandeza<br />
De espírito, deixando para o mundo<br />
Uma eterna lição de vida!<br />
Rosas mal cuidadas, sem trato;<br />
Esquecidas, enfraquecidas,<br />
Envelhecidas, isoladas,<br />
Desiludidas, ultrajadas,<br />
Discriminadas, violentadas,<br />
Surdas, mudas, cegas...<br />
As que não conseguem mais caminhar;<br />
As portadoras de doenças incuráveis<br />
Que sofrem na vigília e na solidão da noite.<br />
Rosas martirizadas,<br />
Que suportam com coragem<br />
Indomável provas severas!<br />
Almas elevadas, sublimadas,<br />
Iluminadas, santificadas,<br />
Rosas verdadeiramente<br />
Espiritualizadas, perenes,<br />
Para sempre lembradas!<br />
(continua na próxima página)<br />
Rose by melemel<br />
www.varaldobrasil.com 87
Rosas pioneiras, rosas modernas;<br />
Rosas obreiras, guerreiras,<br />
Incansáveis, que trabalham<br />
Sem medir esforços, sem descanso;<br />
O verdadeiro esteio da família;<br />
Rosas mensageiras do amor!<br />
Rosas de luz, que pelo dom especial,<br />
Sabem conduzir, com maestria,<br />
As primeiras palavras aos pequeninos,<br />
Frágeis, indefesos numa sala de aula...<br />
Rosas que compartilham a vida<br />
Com a comunidade inteira,<br />
Acendendo em cada mente a centelha<br />
Para o aprendizado eterno; rosas educadoras;<br />
Rosas mestras; a nossa querida<br />
Professorinha, saudade!<br />
Rosas que lavam feridas<br />
E cicatrizam chagas; que<br />
Atenuam dores e trazem consolo<br />
à alma; sabem ouvir, silenciar;<br />
E no momento oportuno dar uma<br />
Palavra amiga!<br />
Rosas que assistem os enfermos<br />
Nos leitos, consultórios, em toda parte<br />
Com uma prece nos lábios e um sorriso<br />
Largo, dourado; sempre prestativas;<br />
Rosas cuidadoras, anjos de cura!<br />
Rosas que pela iniciação<br />
Renascem com autoconsciência<br />
Trazendo para o homem o dom<br />
Da percepção dos mundos espirituais,<br />
Graças às maravilhosas flores de<br />
Lótus do corpo astral e dos fluxos<br />
E movimentos poderosos do corpo<br />
Etérico; do vibrante órgão do verbo interior<br />
No solo sagrado, o coração.<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Rosas devotadas, confiantes,<br />
Que não se intimidam diante<br />
Da solidão; e reconhecem<br />
Na clausura a grande oportunidade<br />
Para alcançar profundas vivências<br />
Espirituais...<br />
Rosas vivas dos monastérios;<br />
O dom inabalável da fé edificante<br />
Na busca ao Cristo Jesus.<br />
Rosas que despertam<br />
Espiritualmente em almas gnósticas;<br />
Estrelas desafiando órgãos sensoriais<br />
E intelecto; arte humana sublime<br />
Se revelando ao coração.<br />
A Rosa das rosas,<br />
A divina virgem Maria,<br />
A Imaculada Conceição,<br />
Nossa querida mãe,<br />
Com seu manto protetor,<br />
Amorosamente nos guia!<br />
(Continua na próxima página)<br />
www.varaldobrasil.com 88
Rosas que enfeitam a vida<br />
E também a morte;<br />
Rosas que transcendem<br />
A compreensão humana.<br />
Brilham na cruz as rosas,<br />
Esplêndidas, eternas,<br />
Espirituais, maravilhosas,<br />
Anunciando a vitória do espírito<br />
Sobre a morte; trazendo para<br />
A alma humana decaída a cura<br />
E a redenção pela graça, misericórdia<br />
E doação infinita do divino mestre,<br />
Cristo Jesus, o maior exemplo de amor<br />
Em toda a evolução da Humanidade.<br />
O destino nos coloca diante das rosas<br />
Para o fiel cumprimento das provas<br />
Pelas quais precisamos passar, antes<br />
Da missão espiritual que temos de realizar...<br />
Por isso, a rosa da nossa missão de vida<br />
Na Terra deve ser cultivada por nós,<br />
Verdadeiramente, com muito amor;<br />
Para que um dia, já com maturidade espiritual,<br />
Possamos reconhecê-la enfim, em nós mesmos<br />
Com uma extensão natural nossa...<br />
E com ela, juntos, plenos, altivos,<br />
Espirituais e justos, possamos prosseguir<br />
Durante séculos e milênios,<br />
Por toda a Eternidade,<br />
Pelas amplidões espirituais infinitas<br />
Retornando ao celeiro do Pai.<br />
Núpcias celestiais,<br />
Tesouros do Céu e da Terra,<br />
Novamente unidos<br />
à luz da perfeição,<br />
agora com autoconsciência,<br />
Alma e espírito; assim<br />
Viverá o ser humano!<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
www.varaldobrasil.com 89
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Por Fabiane Ribeiro<br />
Conto 8 – O essencial é invisível a certos olhos...<br />
Após meses em que as reuniões dos deficientes visuais aconteciam, Maria Isabel, a coordenadora<br />
do grupo, estava mais animada que nunca. Aquela seria a última reunião do ano e, mais<br />
que isso, seria uma exposição.<br />
Há algum tempo, ela havia conhecido um artista, que se propusera a ensinar uma nova forma de<br />
arte aos membros do grupo. Todos se empenharam e, enfim, chegara o dia da grande reunião.<br />
Todos estavam presentes e, inclusive, levaram seus familiares e amigos para prestigiarem o encantador<br />
evento.<br />
Ao adentrar-se no salão, um verdadeiro espetáculo resplandecia aos olhos e aos corações. As<br />
obras de arte em exposição eram divinas.<br />
Telas com pinturas em alto relevo estavam expostas em fileira. Assim, cada deficiente visual,<br />
poderia analisar uma após a outra com a palma das mãos. Sem contar que, as obras eram também<br />
um espetáculo de cores, aos olhos dos familiares e amigos presentes.<br />
Um dos membros do grupo tocava violino, enquanto os convidados chegavam. Aquela noite foi<br />
mágica, em todos os sentidos que se possa imaginar.<br />
Sobre as telas, saltavam modelos arquitetados pelos participantes do grupo, que haviam transmitido<br />
para as imagens os sonhos mais profundos que já tiveram.<br />
Sendo assim, as telas refletiam e simbolizavam... um campo de flores sem fim, com a face de<br />
um cavalo branco, e suas crinas, em alto relevo, permitindo que todos sentissem a suavidade do<br />
animal, assim como o aroma das flores, que fora impregnado na obra de arte.<br />
O mar... simbolizado em vários pinturas, como símbolo de autodescobrimento e renovação, estava<br />
presente em um dos quadros de forma mágica: areia havia sido colocada de forma graciosa<br />
na pintura, transmitindo a sensação de uma praia deserta, onde os sonhos estariam escondidos<br />
à salvo, como em um paraíso particular.<br />
Pétalas de rosa a desabrochar estavam em outra obra, mas o mais lindo se ver era que o artista<br />
ali pregara um ramo, com duas rosas surgindo de sua extremidade. Tratava-se de um dos sonhos<br />
com o qual Maria Isabel mais se emocionado, aquele que lhe ressoava ao ouvido, ainda<br />
dizendo, que qualquer jardim regado a dois é mais florido...<br />
Um céu escuro havia sido projetado sobre a rosa, estrelas recobriam a imensidão, como em um<br />
tapete de brilhos sem fim.<br />
Diversas eram as telas. A criatividade e a superação dos artistas estavam mais evidentes que<br />
nunca.<br />
Por fim, Maria Isabel reuniu todos os convidados entre os quadros expostos, ainda ao som do<br />
suave violino, e disse:<br />
“Certa vez, um conhecido autor nos deixou um precioso legado, no qual dizia que o essencial é<br />
invisível aos olhos. Eu, hoje, meus amigos, lhes digo, a essência da vida está nos sonhos, nas<br />
atitudes e nas escolhas. Nós escolhemos ver além de nossas limitações; somos livres como as<br />
ondas do mar, como uma águia no céu ou como um cavalo a galopar... Nós escolhemos ver a<br />
essência, por isso, não há nada que fuja aos nossos olhos...”.<br />
www.varaldobrasil.com 90
SAMANTAS<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Origem: Não se sabe ao certo o porquê do nome Samanta para os biscoitos, porém,<br />
para quem não conhece, a Samanta é um biscoitinho feito com massa choux – a mesma<br />
usada para se fazer bombas, éclairs e carolinas – no formato de uma rosquinha açucarada,<br />
que fica meio oca por dentro. É um tipo simples e delicioso.<br />
Ingredientes<br />
1 colher de chá de açúcar<br />
1 pitada de sal<br />
1 xícara de água<br />
4 colheres de sopa de manteiga sem sal (52g)<br />
1 xícara de farinha de trigo<br />
3 ovos<br />
açúcar cristal para polvilhar<br />
Preparo:<br />
Pré-aqueça o forno a <strong>20</strong>0°C. Junte o açúcar, a água, o sal e a manteiga e leve ao fogo<br />
até ferver. Acrescente a farinha peneirada, reduza o fogo e mexa até que a massa fique<br />
homogênea e solte da panela. Retire do fogo, trabalhe a massa até amornar e adicione<br />
os ovos, um a um, batendo bem entre cada adição. Coloque no saco de confeitar com<br />
bico pitanga e modele rosquinhas (3 a 4cm) sobre as costas de uma assadeira forrada<br />
com papel manteiga sem untar. Polvilhe com o açúcar cristal e asse no forno preaquecido,<br />
até ficarem douradas, firmes e sequinhas. Depois de frias, conserve em recipiente<br />
tampado.<br />
Rendimento: De 2 a 3 dúzias.<br />
Fonte: http://gcnreceitas.wordpress.com/<br />
Fontes receitas: http://www.globo.com/maisvoce<br />
http://www.wikipedia.com<br />
http://baunilhaechocolate.com/archives/1199<br />
http://www.lifecooler.com/edicoes/lifecooler/desenvRegArtigo.asp?reg=329389<br />
www.varaldobrasil.com 91
A SENHORA <strong>DO</strong> ENGENHO<br />
Por Geraldo Sant’Anna<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
A mulher sorria sentada em sua cadeira de balanço enquanto perscrutava o farfalhar das<br />
folhas em um redemoinho que se formara ali próximo. Balouçava displicentemente abandonada<br />
em si mesma deixando seus pensamentos rodopiarem captando cenas mortas de um passado<br />
já distante.<br />
Sem muito esforço podia ouvir as crianças brincando, conversando e correndo pelo terreiro,<br />
o grunhido dos porcos e o cacarejar das galinhas. A constante algazarra contrapondo-se ao<br />
absoluto silêncio do agora. Seu marido chegando sempre desassossegado, autoritário e de<br />
maus modos, que naquela época tanto deprimia, parece fazer falta. Fora assassinado em uma<br />
emboscada. Tinha muitos inimigos e conseguira as muitas terras usando de seus métodos<br />
agressivos, intempestivos e duros.<br />
O tempo passara mais rápido que o esperado. As crianças cresceram. Três ao todo. Helena,<br />
a mais jovem, inquieta e criativa, deixou-se envolver pelas artes. Morava em Paris e poucas<br />
notícias dava, eventualmente uma carta onde relatava em poucas linhas suas exposições, viagens<br />
e projetos. Henrique, o do meio, estava na Capital. Era advogado, um doutor. Era o orgulho<br />
do pai, mais pelo título que pela pessoa. Tinha um doutor na família. Josefina, a mais velha,<br />
casara-se com o Barão de Jaraí e vivia abastada em outras terras, fincada no sertão.<br />
Hoje restava o enorme casarão, os muitos ecos na casa, Zelinda, a criada, quase devota<br />
da senhora, e Otalvino, também criado, que buscava manter a fazenda em ordem trabalhando<br />
arduamente.<br />
Assim passavam os dias para Dona Beatriz Pimenta de Ataíde Novaes do Porto. Era ainda<br />
possível identificar sua beleza pregressa, sua elegância no trato das mínimas coisas. A vida talvez<br />
lhe tenha sido ingrata diante de sua dedicação aos filhos e esposo, mas não era de se abater<br />
e conseguia conduzir a fazenda como se fosse homem.<br />
Inácia, negra já antiga na casa e que amamentara Henrique, sempre dizia que a senhora<br />
tinha a realeza de Xangô.<br />
O olhar profundo de Dona Beatriz olhava a vastidão ao redor do casarão. Despedia-se. Em<br />
pouco tempo iria emergir em profundo e silencioso sono. O tempo não mais passaria, enquadrando<br />
em sua mente, para sempre, o que via e o que se lembrava.<br />
Zelinda acorreu afoita.<br />
Beatriz sorria em uma visão que ninguém iria compartilhar.<br />
www.varaldobrasil.com 92
E Eu Então...<br />
Dalton é um jovem programador com comportamento<br />
bizarro, além de contar tantas "estórias", que a<br />
julgar pela sua idade, seria impossível ele ter vivido<br />
todas.<br />
Ao ouvir uma pessoa contando algum fato ou fazendo<br />
algum comentário, imediatamente Dalton dizia:<br />
- E eu então...<br />
O vicio era tanto, que mesmo sendo uma auto difamação,<br />
Dalton não perdia a oportunidade de participar<br />
da conversa.<br />
Um dia, eu estava comentando com meus amigos,<br />
sobre a grande miscigenação que é minha família e<br />
contei sobre uma conversa que havia tido com meu<br />
marido (filho de japoneses) quando eu estava grávida,<br />
que ele não deveria se assustar, caso nós tivéssemos<br />
uma filha bem moreninha, pois sou descendente<br />
de suíços por parte de pai e de negros, por parte de<br />
mãe. Neste momento, Dalton comentou:<br />
- E eu então... Meu último filho quando nasceu, era<br />
muito moreno, eu e minha ex-esposa somos bem<br />
claros. Ela me dizia que o menino havia saído ao avô<br />
dela. Como eu estava apaixonado, acreditei, até o dia<br />
em que um homem muito alto, musculoso e mulato<br />
apareceu em casa reivindicando seu direito de pai.<br />
Foi aí que me separei.<br />
Até aí, parece ser uma história normal, que poderia<br />
ser verdadeira, mas não para Dalton, que carrega<br />
consigo uma lista de “estórias” como estas:<br />
- Eu sou tenente reformado da aeronáutica, pois levei<br />
um tiro na perna. Por isso tornei-me programador.<br />
(Detalhes: Ele andava perfeitamente bem e a<br />
contar pelo tempo de experiência na área de informática,<br />
era impossível ele ter sido tenente da aeronáutica.<br />
O que era reforçado pelo fato de não constar<br />
em seu currículo).<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Por Sheila Ferreira Kuno<br />
- Sou primo do governador de São Paulo, embora<br />
não tenha muito contato com ele.<br />
- Sofro de aneurisma cerebral, uma vez por ano eu<br />
tenho que fazer uma cirurgia para a retirada de bolha<br />
da minha cabeça. (Detalhe: ele mantinha o cabelo<br />
bem curto e não havia sequer, uma cicatriz)<br />
Foram muitas “estórias” contadas por ele....<br />
Agora a cena mais bizarra que presenciei foi quando<br />
Dalton saiu do banheiro, arrastando o pé, com as<br />
pernas bem juntas em direção ao nosso gerente pedindo<br />
um curativo.<br />
Como ninguém na sala tinha um e dado que ficamos<br />
preocupados, insistimos para que ele contasse o que<br />
havia acontecido. Ele então começou apontar para<br />
baixo.<br />
- Dalton, você machucou o pé?<br />
-Não.<br />
E continuou apontando para baixo.<br />
- A perna?<br />
- Não.<br />
Foi quando ele resolveu abrir o jogo, ele havia prendido<br />
sua parte íntima no zíper da calça. Como ele<br />
conseguiu? Não sabemos, mas até hoje ele é motivo<br />
de piadas.<br />
h p://no"cias.uol.com.br<br />
www.varaldobrasil.com 93
BENDITAS AS MULHERES<br />
Por Suzana Villaça<br />
Benditas as mulheres capazes de colocar no<br />
fruto da sua esperança as sementes da sua criação, o<br />
respeito à vida em todas as suas fases e ciclos existenciais.<br />
Pois nelas estão as marcas do futuro e de<br />
todas as investidas do destino.<br />
Benditas as mulheres que ensinam as orações<br />
para defender os princípios sagrados da vida e dos<br />
tempos de paz e tormentas, neste princípio formatam-se<br />
o caráter e a dignidade.<br />
Benditas as mulheres comprometidas em sinalizar<br />
as vertentes no perdão o poder generoso ao dar<br />
magia às diferenças.<br />
Benditas as mulheres estimulando o desapego<br />
para diluir o egoísmo e fazer da solidariedade uma<br />
flor sem estação para colorir os caminhos.<br />
Benditas as mulheres que conseguem proteger<br />
sem tirar a liberdade de expressão.<br />
Benditas as mulheres fortalecendo a determinação<br />
para dar verdades reais e sensíveis na busca<br />
de um objetivo construtivo, nas opções de seguir a<br />
rota do tempo.<br />
Benditas as mulheres que tentam aprender a<br />
silenciosa linguagem do<br />
aprendizado.<br />
Benditas as mulheres estimulando o riso e o<br />
pranto na medida em que são importantes na manifestação<br />
da emoção ao sentir os mistérios conscientes<br />
de estarem diluindo tudo que precisa de definição.<br />
Benditas as mulheres cujo desejo traz a promessa<br />
de valorizar os sonhos e ideais para alavancar os<br />
amanhãs da existência.<br />
Benditas as mulheres com o olhar de sabedoria<br />
vislumbrando um horizonte de conquistas por apontar<br />
a importância do servir a humanidade.<br />
Benditas as mulheres das nossas vidas as anônimas<br />
e despretensiosas em suas rotinas sempre cheias<br />
de desafios e amor..<br />
Foi com este sentimento que ao relembrar minha<br />
mãe fiquei a rever os valores destes tempos onde<br />
a sofisticação dilui os verdadeiros propósitos das<br />
mulheres comprometidas com o dom da vida.<br />
Relembrei as grandes mulheres que deixaram<br />
suas marcas nos arquétipos da civilização humana<br />
neste planeta.<br />
Como as belíssimas passagens da mãe<br />
“Maria” cujo ventre trouxe o mestre dos mestres<br />
Jesus para o cumprimento da sua missão cósmica.<br />
Assim como uma infinidade de outras mulheres<br />
com suas contribuições de espírito humanitário<br />
iluminaram os ciclos evolutivos de nossa historia<br />
humana.<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Deixo aqui espaço para que muitos possam<br />
relembrar os nomes destas bem aventuradas, mas<br />
citarei um dos maiores exemplos de compaixão e<br />
amor incondicional, madre Teresa de Calcutá para<br />
quem os mistérios da solidariedade foram um dado<br />
marcante no século passado<br />
Quando iremos comemorar o dia internacional<br />
da mulher em 8 de março façamos o supremo esforço<br />
de buscar alem das alegorias festivas o espírito<br />
das mulheres cujo papel decisivo e discreto esta<br />
cheio de ternura ao viver com esperança cada dia<br />
junto a sua família.<br />
Pois nas entranhas de cada mulher existe um<br />
principio de esperança ao doar-se e contribuir trazendo<br />
vidas há muitas existências.<br />
Conscientes deste apostolado muitos olham as<br />
mulheres como companheiras e permitem-se dividir<br />
as conquistas, um elo, assim como milhões de habitantes<br />
neste planeta fazem da sua força transmitindo<br />
fé na existência.<br />
Nesta escalada cósmica de aprendizado muitas<br />
mulheres tem levado o essencial para seus filhos se<br />
voltarem aos caminhos do coração , apesar do mundo<br />
muitas vezes escurecer este brilho.<br />
Benditas todas as mães, filhas, educadoras,<br />
amigas por compartilharem a força evolutiva a uma<br />
nova dimensão de oração e fé, amor e paz e todos os<br />
sentimentos que fazem viver com alegria os momentos<br />
da vida..<br />
Nesta busca de bem aventurança seguem<br />
apoiadas na esperança universal do nascimento de<br />
um novo mundo com justiça a toda humanidade<br />
.<br />
Andrew Gonzalez<br />
www.varaldobrasil.com 94
DEBRUÇADA NA JANELA<br />
Por Antonio Vendramini Neto<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Era uma pequena cidade do interior, daquelas que tinha somente uma<br />
rua com calçamento e as demais de terra batida. Ali funcionava o comércio,<br />
o correio e o ponto do ônibus que circulava uma vez por semana<br />
para a cidade grande.<br />
Essa rua desembocava em uma pracinha defronte a igreja, onde havia<br />
um casarão pertencente a um comerciante cuja filha era muito bonita e<br />
por isso não a deixava sair de casa, ficava na janela assistindo a tudo o<br />
que se passava.<br />
Mantinha esse mirante sempre enfeitado na esperança de que algum<br />
rapaz viesse cortejá-la.<br />
Um pouco antes de o dia clarear, a mocinha já estava toda arrumada,<br />
regando as flores que ficavam na soleira e ali recebia cumprimentos e<br />
cordiais saudações dos moradores que iam e vinham.<br />
Nesse mundo que lhe foi imposto, viu toda sua vida passar e foi escrevendo<br />
as suas ansiedades e aspirações em uma caderneta, que foi encontrada<br />
entre seus pertences, depois que partiu para outra dimensão<br />
www.varaldobrasil.com 95
Mulher sem Fronteiras<br />
Por Jania Souza<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Ser Mulher<br />
uma orgia de espasmos doridos sempre felizes<br />
Guerreira vencedora esquecida das honras<br />
sempre presente no comando da panela, da mesa, da bacia, do pente<br />
dos lençóis amassados vergonhosos de carregarem segredos<br />
Nina com carinho seu ventre rebento<br />
com oração bendita do firmamento<br />
Heroína do livro do livramento<br />
esquece magoas, lamentos e a velha inimiga de fel no fundo da boca<br />
esconde num belo sorriso seu grito libertário, libertino de onça acuada<br />
enfrenta o palco em trajes de palhaço<br />
salta o trapézio num pulo mortal<br />
e abraça o recomeço ofertado na rosa carmim de seus lábios<br />
rachados, rugados, partidos, sangrados que sabem tanto beijar<br />
Ser mulher<br />
é ser um rosário de fé<br />
crer e confiar nas promessas de esperança<br />
de que um dia tudo há de mudar na canção nova que sussurra no ar<br />
e sentir que a sensibilidade vencerá a materialidade com a lei da espiritualidade<br />
Nesses tempos difíceis<br />
muito difíceis<br />
só esse ser tão frágil e tão resistente<br />
com tamanha capacidade de amor<br />
consegue fazer enfrentamento<br />
com tanta garra, ternura e vigor.<br />
Homenagem de Jania Souza às mulheres, essas valorosas guerreiras, que escrevem as<br />
páginas da Historia Humana<br />
www.varaldobrasil.com 96
Foto: Annie Leibovitz /<br />
Revista Vogue<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
SEREIA<br />
Por Márcia Tigani<br />
Repousa no mar um'esperança<br />
na verde cor das ondas e das velas.<br />
Umas aves silenciosas e opacas<br />
desvendam mistérios da superfície<br />
das águas ,em múltiplas aquarelas.<br />
Adormecida (ou morta) está à espera<br />
de luz e do ar da primavera.<br />
Surge silenciosa e bela,<br />
na vastidão do horizonte<br />
e nas rochas calcificadas de paixão.<br />
São sinuosas as formas desta fêmea<br />
antes morta, enregelada, ou esquecida.<br />
Desperta do sonho essa quimera<br />
e se colocam lânguidos e desejosos<br />
os fartos seios da donzela.<br />
Conhecida d'outros tempos, d'outras eras<br />
num templo de beleza chamado juventude,<br />
a que passa breve, qual divino estro,<br />
no cio da tarde adormece à espera,<br />
expondo assim a dor da finitude.<br />
E ainda que meu corpo anoiteça ,<br />
cada estrofe e cada verso do poema,<br />
tira-me das águas , lava-me a areia<br />
o mar revolto dos meus velhos sonhos,<br />
e me devolve o desejo rubro de sereia.<br />
www.varaldobrasil.com 97
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
ANTOLOGIAS DA LITERARTE SERÃO LANÇADAS EM GENEBRA!<br />
A diretora da LITERARTE Izabelle Valladares esteve no ano passado em Genebra<br />
consolidando os laços culturais entre aquela Associação e o <strong>VARAL</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong>.<br />
Jacqueline Aisenman, Conselheira Internacional da LITERARTE, lançará no stand<br />
do <strong>VARAL</strong> duas antologias promovidas e organizadas por Izabelle Valladares.<br />
Vários membros da LITERARTE estarão presentes para os autógrafos durante os<br />
lançamentos no 27o Salão Internacional do Livro e da Imprensa de Genebra.<br />
www.varaldobrasil.com 98
Quando você se ama<br />
Por Silvana Brugni<br />
É bíblico: Uma das principais Leis de Deus: “Amar<br />
ao próximo como a si mesmo”, que na vida para ser<br />
colocado em prática – em toda e qualquer forma de<br />
amor, basta seguir com base em “não fazer ao próximo<br />
aquilo que não gostaríamos que fizessem a nós<br />
mesmos”.<br />
Mas aproveito esta máxima para que possamos nos<br />
perguntar: a quantas andam o amor por si mesma?<br />
Já começo pensando que quando a pessoa acha<br />
que a felicidade está condicionada ao outro (quando<br />
o “outro” me ama é quando posso ser/estar feliz) – já<br />
se está indo por um caminho ou atalho perigoso para<br />
a própria felicidade. O outro vai perceber em algum<br />
momento essa transferência de responsabilidade, e,<br />
nem todos estarão dispostos a arcar com esse peso de<br />
“fazer” uma pessoa feliz! Mas isto se dá justamente<br />
quando a pessoa “ainda” não encontrou a felicidade<br />
dentro dela mesma!<br />
Numa frase de Nando Reis ele diz: : “E O QUE ES-<br />
TAVA LONGE ESTÁ AQUI: DENTRO E TÃO<br />
PERTO, DE UM JEITO TÃO CERTO QUE SÓ<br />
CABE EM MIM!” . Vou interpretá-la (porque a interpretação<br />
ai é pessoal), como a descoberta do amor<br />
próprio.<br />
Os caminhos que levam cada pessoa às suas descobertas<br />
são diversos e muito pessoais! Quem leu o<br />
livro, ou assistiu ao filme “COMER, REZAR,<br />
AMAR” de Elizabeth Gilbert, baseada na história<br />
verídica da própria autora, viu que ela viaja pelo<br />
mundo para se redescobrir e se reconectar com sua<br />
verdadeira essência. A atriz Julia Roberts que protagonizou<br />
o filme, em entrevista disse: “Todo mundo<br />
tem a sua jornada, um momento na vida quando precisa<br />
redefinir quem você é e o que está buscando” –<br />
isso é algo Universal. Mas, você não precisa ser essa<br />
mulher moderna que – literalmente, viaja pelo mundo<br />
para se redescobrir e se reconectar com sua verdadeira<br />
essência! – Esse pode ser um processo bem<br />
mais simples, e vai depender exclusivamente de você!<br />
Os caminhos que levarão a “se amar verdadeiramente”<br />
não serão iguais de uma para outra, mas,<br />
creio que começar a aprender a “ouvir” o seu coração<br />
– é o mesmo que ouvir o seu EU interior; é bus-<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
car no autoconhecimento descobrir o quê realmente<br />
lhe faz bem! A partir de então, o amor vai se instalando<br />
em sua vida de uma forma natural, e você vai<br />
exercitando essa arte de se amar, de se permitir estar<br />
fora dos padrões, de olhar com mais carinho para si<br />
mesma, de aprender que não só “perdoar” os outros é<br />
importante na vida – mas que as vezes saber se<br />
“perdoar” é algo essencial! Olhar para os erros e<br />
pensar que eles foram necessários para seu crescimento<br />
pessoal e evolução. Olhar para si mesma com<br />
admiração, respeito e carinho, descobrir o que realmente<br />
lhe faz bem, e fazer isso sozinha e se sentir<br />
feliz. Se vendo assim e agindo assim você chegará<br />
ao ponto em que já estará se “amando” – e ai, quando<br />
você passa a se amar de verdade, doar amor se<br />
torna absolutamente natural! A partir de então, o<br />
amor vai se instalando em sua vida e o próprio exercício<br />
do Viver com amor é retroalimentado: quanto<br />
mais se coloca amor na própria vida, mais amorosa<br />
sua pessoa é, e amar é genuinamente um passo automático,<br />
pois você começará a se relacionar com o<br />
outro sem esperar que o outro “supra” de um amor –<br />
QUE VOCÊ JÁ ESTÁ SE DAN<strong>DO</strong>, pois quando<br />
nos damos AMOR genuíno é quando podemos dar<br />
amor genuíno para o outro! Então chegamos à segunda<br />
frase da Lei Divina com a qual comecei esse<br />
texto: “Amai ao próximo COMO A TI MESMO! – e<br />
então a frase dentro deste texto começa a fazer amplo<br />
sentido: estabelecer relações honestas e verdadeiras<br />
de TROCA DE AMOR, onde eu dou ao outro o<br />
que dou para mim – e o outro, idem! : nem mais,<br />
nem menos. (Silvana Brugni).<br />
“Se sou amado,<br />
quanto mais amado<br />
mais correspondo ao amor.<br />
Se sou esquecido,<br />
devo esquecer também,<br />
Pois amor é feito espelho:<br />
-tem que ter reflexo”. Pablo Neruda.<br />
www.varaldobrasil.com 99
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Mulata Brejeira<br />
Por Flávia Assaife<br />
Mulata brejeira<br />
De beleza faceira<br />
Caminha ligeiro<br />
Foge de meu beijo.<br />
Ao ver-te passar<br />
Coração a palpitar<br />
Desejo ardente<br />
Que queima meu peito como panela quente!<br />
Dona do meu pensar<br />
Olhar preso em teu caminhar<br />
Quem sabe mulata brejeira<br />
Possa eu, um dia, teu amor conquistar!<br />
www.varaldobrasil.com 100
...MEU UNIVERSO de MULHER...<br />
Por Onã Silva<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
MEU UNIVERSO-IMPRESSO: ideias,<br />
MEU UNIVERSO-COMEÇO: nenê, mamãe,<br />
inspiração, poesias, livros, artigos, resenhas,<br />
papai, parteira, irmãos, berço, interior, Posse,<br />
coletâneas, isbn, issn, layout, diagramação, ca-<br />
Goiás, infância, areia, árvores, quintal, manga,<br />
pa, ilustração, revisão, “boneca”, catalogação,<br />
casarão, varanda, fogão, lenha, brasa, pilão,<br />
citação, sumário, prefácio, posfácio, orelha, re-<br />
botija, lamparina, paralelepípedo, jabuticaba,<br />
ferências, editora, orçamento, apoio, biografia,<br />
vovó, vovô, bênção, primos, primas, parentes...<br />
troféus, prêmios, empreendedora, autora, autó-<br />
MEU UNIVERSO-TRAVESSO: menina, levada,<br />
gude, finca, pipa, queimada, escalada, arvorisgrafo,<br />
leitora, biblioteca, lançamento, brinde...<br />
mo, gesso, peraltice, machucados, dodói, mer-<br />
MEU UNIVERSO DE VERSOS: insight, poesias,<br />
poemas, mensagens, frases, pensamentos,<br />
tiolate, arnica, mamona, amarelinha, fazenda,<br />
boi, vaca, açude, rio, riacho, balanço, rede, ca-<br />
reflexões, temática, gênero, categoria, cordel,<br />
rimas, métrica, imaginação, rabiscos, papel,<br />
neca, brincadeiras, bonecas, casinha... MEU<br />
UNIVERSO-PROCESSO: bê-a-bá, alfabetiza-<br />
borrão, máquina, datilografia, computador,<br />
ção, tabuada, continha, lápis, borracha, cader-<br />
Word, arquivo, margens, fontes... MEU UNIno,<br />
caligrafia, livros, Lobato, prancheta, profes-<br />
VERSO-SUCESSO: amor, amar, casamento,<br />
aliança, gravidez, bebê, desejo, maternidade,<br />
soras, giz, lousa, uniforme, merenda, boletim,<br />
mãe, parto, cordão, filho, amamentação, fralda,<br />
ginásio, composição, grêmio, Colégio, Goiânia,<br />
cultura, colegas, vestibular, faculdade, enfer-<br />
trocador, papinha, babá, família, profissão, amimagem,<br />
estágio, livros, bolsa, biblioteca, formagos,<br />
irmãos, respeito, ética, cidadã, honestidatura,<br />
concurso, Brasília, trabalho, diplomas, Esde,<br />
amizade, paz, feliz... MEU UNIVERSOpecialização,<br />
Mestrado, Doutorado, atualiza-<br />
IMENSO tem fatos, lembranças, cores, saboções,<br />
cursos, palestras, currículo... MEU UNIres,<br />
cheiros, sons, imagens, sorrisos, lágrimas,<br />
emoções, lutas, derrotas, vitórias e muito mais<br />
VERSO-PROFESSO: Deus, amor, fé, oração,<br />
nas reticências. DEIXO FLASHS <strong>DO</strong> MEU UNIgratidão,<br />
Jesus, mandamentos, Bíblia, Igreja,<br />
VERSO-EXPRESSO: SOU UMA MULHER<br />
altar, próximo, virtudes, comunhão, Salmos,<br />
QUE AMOU, AMA E AMARÁ SEMPRE A VIprovérbios,<br />
testamentos, músicas, confissão,<br />
DA, EU CONFESSO!<br />
louvor, hinário, adoração, devocional, doação,<br />
devoção, voluntária, virtuosa, maravilhas, si-<br />
nais, milagres, amém... MEU UNIVERSO-<br />
DIVERSO: arte, educação, criatividade, teatro,<br />
cinema, multidisciplinar, crochê, bordado, via-<br />
gens, dondoca, batom, rímel, sombra, esmalte,<br />
perfume, cremes, cabelo, brincos, acessórios,<br />
roupas, sapatos, bolsas, diva, cólicas, super-<br />
mercado, trânsito, Banco, contas, pa-<br />
gamentos, contribuinte, liquidação, re-<br />
ceitas, cardápio, agenda, guerreira,<br />
princesa, sonhos, projetos, férias...<br />
www.varaldobrasil.com 101
A Pera Belle Helene<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Origem: Essa deliciosa mistura que envolve peras, calda de chocolate quente,<br />
amêndoas grelhadas e sorvete de baunilha, foi criada em 1864 em homenagem à<br />
cantora Hortense Schneider, intérprete da ópera de Offenbach La Belle Hélène.<br />
Uma deliciosa opção de sobremesa sensual que brinca com os contrastes entre<br />
quente e frio, texturas crocantes e cremosas.<br />
Ingredientes<br />
peras<br />
açúcar<br />
baunilha<br />
água<br />
chocolate amargo<br />
creme de leite<br />
sorvete de baunilha<br />
Preparo:<br />
Basta cozinhar por <strong>20</strong> minutos, as peras descascadas e inteiras em calda preparada<br />
com água, açúcar e baunilha. Em seguida, prepare a calda de chocolate com<br />
barras de chocolate amargo derretido com creme de leite.<br />
Colocar as peras em uma vasilha, cobrir com a calda e servir com sorvete de baunilha.<br />
No último momento acrescente as amêndoas grelhadas.<br />
Fonte: http://gcnreceitas.wordpress.com/<br />
Fontes: http://thecookieshop.wordpress.com<br />
www.conexaoparis.com.br<br />
www.cantinhovegetariano.com.br<br />
www.varaldobrasil.com 102
"Eu acordei bem tarde, e o primeiro e-mail que<br />
eu leio me propõe pensar “mulher, um universo”.<br />
MULHER, UM UNIVERSO<br />
Por Julieta Falavina<br />
Meu primeiro impulso é pensar porque não ser<br />
humano um universo? Depois é analisar porque<br />
continua sendo tão difícil para mim pensar<br />
mulher como um universo.<br />
Ainda me é tão difícil, eu sei por quê, eu sou<br />
mulher, eu sou ser humano. E por eu ter estudado<br />
antropologia, biologia, literatura, feminismo,<br />
política, etc, tudo isso vem carregado de<br />
tantas ideologias. Por ter viajado tanto e voluntariado<br />
mundo a fora e eu querer tanto um<br />
mundo menos desigual e ao mesmo plural.<br />
Porque eu sentir que ideologias vem muito<br />
na superfície buscar atenuar desigualdade que<br />
existe no mundo ( em escalas variadas)<br />
mas muitas vezes acabam nos roubando da<br />
pluralidade do mundo. Da beleza da diversidade.<br />
Da particularidade que todos temos por<br />
uma coisa ou outra.<br />
Quando será que o Universo feminino ficou tão<br />
duro assim? Tao politizado. Penso tudo isso<br />
mesmo antes de sair da cama, então, me vem<br />
a cabeça uma frase que eu ouvi ontem a noite<br />
de um artista, num bar em São Paulo. Um homem<br />
que eu imagino sensível. Não crendo habitar<br />
o planeta machista.<br />
Resolvo tomar um banho enquanto penso a frase.<br />
O homem me diz num bar duas frases:<br />
A primeira é uma pergunta<br />
“ Você é Balzaquiana ?”<br />
Concordo tenho 31 anos, há dois anos sou<br />
uma mulher Balzaquiana. Isso não me ofende.<br />
Ainda que eu não seja a mulher de 30 anos de<br />
Balzac isso me faz e faz a ele perceber que temos<br />
repertorio comum e que eu não sou uma<br />
“mulher qualquer”.<br />
A segunda frase é<br />
“ Você é bonita, e tem canela grossa. Se eu<br />
fosse senhor de engenho te compraria para colocar<br />
na casa grande e não no engenho. Mulheres<br />
de canela grossa são boas de cama,<br />
mas são preguiçosas”<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Sou pega de surpresa por essa frase. Nunca<br />
vou a bares desse tipo. Não moro no Brasil há<br />
tempo demais para imaginar isso acontecendo<br />
em qualquer lugar outro que ali. Não me ofende.<br />
É-me tão raro que eu tento contextualizar<br />
como eu posso. Contextualizo no intelectual.<br />
Pergunto a ele se de fato se dizia isso no passado<br />
se havia uma teoria mesmo referindo se a<br />
isso.<br />
Faço isso por curiosidade, mas também por um<br />
certo desconcerto de ser explicitamente desejada,<br />
e ter sido colocado assim em duas frases...<br />
“eu quero saber se você tem meu repertorio.<br />
No entanto, eu quero você na minha cama.”<br />
Nada disso eu coloco em palavras na hora. Eu<br />
fico no território que eu conheço: o intelectual.<br />
Não quero entrar no domínio do sexual. Como<br />
se aquilo não se referi se a mim.<br />
Como se eu ser uma mulher não fizesse alguma<br />
diferença. Como se eu ser mulher bonita e<br />
ele ser homem ali não fosse a particularidade<br />
mais presente. Que mais definisse o mundo<br />
que entravamos.<br />
Mudo de mesa e começo uma conversa com<br />
outros homens. No plano do humano.<br />
Volto para casa e acordo hoje para pensar o<br />
Universo Mulher.<br />
Saio da cama, pensando o que vou escrever.<br />
Entro no banho e me lembro que uma vez<br />
posei nua para um pintor russo na Inglaterra.<br />
Fazia mestrado na época, meus pais ficaram<br />
perplexos e eu fui por curiosidade.<br />
(Segue)<br />
www.varaldobrasil.com 103
Na época eu ainda, estava um pouco cansada<br />
do tanto que a antropologia se afastava da biologia,<br />
da neurociência, o tanto que o feminismo<br />
vivia no ideológico. Fui lá ser pintada nua. Ser<br />
nada além de uma mulher nua. E foi uma experiência<br />
muito diferente. E não consegui.<br />
Primeiro eu fiquei amiga do pintor, falei de Dostoyevski,<br />
me estabeleci como ser humano que<br />
tivesse uma particularidade. Depois eu reconhecia<br />
que estava lá porque queria e não porque<br />
fosse forcada.<br />
Tirei minha roupa confortavelmente. A princípio<br />
fiquei desconcertada. Não tanto pela nudez,<br />
por também sempre aceitá-la como humana e<br />
comum, mas me desconcertou que alguém fosse<br />
pegar o que sentia ser a minha essência e<br />
por num papel. E ali, aquela essência me era<br />
sem controle.<br />
Entendi melhor o que eu admiro do feminismo.<br />
A luta pela igualdade de direitos.<br />
Olhei a principio para baixo. Depois resolvi<br />
olhar o pintor. Como quase um ato de envolvimento<br />
.Resolvi ser parte do processo de ser<br />
pintada. Ainda que fosse em silêncio. Ainda<br />
que eu fosse objetificada, que só observasse<br />
quem o fazia, que tivesse algum poder ali naquele<br />
processo de ser apenas uma mulher nua.<br />
Ali eu senti o poder arquétipo de ser homem e<br />
mulher. A tensão que existe quando vc deixa<br />
de lado as particularidades e fica na essência<br />
do arquétipo. Eu era bela e frágil, vulnerável,<br />
ele forte, dono da situação. E ainda assim, eu<br />
ali não me senti sem poder. O poder que eu<br />
tinha vinha de não ser obrigada a estar ali,<br />
aquilo para mim era uma escolha.<br />
Foi um tempo tenso, em que tudo que eu já vi<br />
de pintura de Ingres e Delacroix, das Odaliscas,<br />
me vieram à cabeça. Seria o orientalismo<br />
que eu via ali realmente delas, ou o que eu<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
aprendi a ver quando vejo um quadro de um<br />
europeu, que retrata o Oriente por ter lido<br />
Said? Será que eu tentei vê-las? O que será<br />
que significava aquela postura, aquele silêncio?<br />
Depois de tudo isso viajei, e passei muito tempo<br />
pelo Oriente Médio e a Ásia, sempre buscando<br />
e encontrando a voz dos que não tinham.<br />
E no fundo, todos nós estamos tão calados.<br />
Nos é imposto tanto que ouvir mesmo o<br />
universo do ser humano a sua frente é difícil.<br />
Eu acabei pela Índia, e pelo caminho, encontrando<br />
versões de Tantra, o culto à Shakti, o<br />
feminino. E o que eu soube pegar disso tudo,<br />
eu voltei a resgatar o mundo mulher em mim. O<br />
mundo feminino. Que suas características não<br />
pertencem só às mulheres, mas que me parecem<br />
(depois de tanto tempo pela academia e<br />
pelo mundo) estarem mais sim em nos que temos<br />
dois cromossomos XX.<br />
Eu não quero entrar na biologia da questão. Eu<br />
não quero desmerecer a luta política por direitos<br />
iguais que o feminismo nas suas varias ondas<br />
teve. O que eu quero , ou melhor, o que eu<br />
tento , é aceitar que talvez o universo de qualquer<br />
coisa é plural.<br />
A beleza da diversidade não pode ser apagada,<br />
ela não precisa ser erradicada para que a nossa<br />
comum humanidade se encontre. Não precisamos<br />
ser iguais par ter mesmos direitos. Direitos<br />
mais adequados.<br />
Eu, hoje sei que sou mulher. É o que eu sou<br />
toda vez que eu encontro um homem que me<br />
deseja. Quando eu desejo o homem, me envolvo<br />
nesse discurso, senão, trago-o para um outro<br />
âmbito.<br />
Essa tensão, ser mulher x homem, me faz pensar<br />
como eu vivi muito tempo, e vejo muitas<br />
pessoas viverem, sua sexualidade, como se<br />
fosse uma entrega, um presente, uma distração.<br />
Em toda essa busca eu encontrei uma<br />
percepção de sexualidade como uma possibilidade<br />
de um encontro. Um encontro pleno. Um<br />
encontro com o outro, uma possibilidade de<br />
dissoluções de barreiras.<br />
No entanto, o que me parece mais problemático<br />
no “Mundo Mulher” de hoje, nas nossas sociedades,<br />
é como a sexualidade é roubada de<br />
nós mulheres. Ou para ser usada como um<br />
presente, ou como um ato de poder, ou de desmerecimento,<br />
nunca uma conversa, um diálogo<br />
consensual entre duas pessoas. Um encontro<br />
com o outro. Uma escolha principal e importante<br />
de todos os envolvidos.<br />
(Segue)<br />
www.varaldobrasil.com 104
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Quando eu encontro um velho, sou jovem. Quando eu encontro um asiático, sou do Ocidente.<br />
Todas essas categorias não são fundamentais, tampouco, tão circunstanciais assim. Elas são<br />
imploradas em varias situações, pois nós habitamos muitos mundos.<br />
Acho que as características que são atribuídas às mulheres: cuidado, delicadeza, beleza, fragilidade,<br />
são as que o mundo, que se desumaniza, tenta roubar de nós todos. Essas, eu mais do<br />
que nunca compreendo como características que por razão biológica, humana, ou sei La o que)<br />
me parecem ser a base da fundação do universo feminino. Essas são as que em nome de poder,<br />
muitas de nos mulheres (infelizmente) tentamos abandonar...<br />
Eu acredito que essas devam ser características que devem ser cultuadas mais também no arquétipo<br />
universo masculino. Por que antes de ser mulher, e ele ser homem nos somos seres humanos...<br />
numa jornada que nos não entendemos muito bem. Numa jornada que nos desumaniza<br />
mais e mais a cada segundo. Nessa jornada vamos todos tentando entender pela razão tudo,<br />
enquanto navegamos o mundo pelos nossos corpos e sentidos.<br />
O mundo mulher é só mais um mundo. Um que eu habito muito frequentemente. Um que hoje<br />
me é mais familiar. E que tenho muito ainda mais a aprender. Um que se politizou de um tanto<br />
que é difícil falar dele. E de passeá-lo.<br />
Já o mundo em que todos nos habitamos, é plural e devíamos cultivar toda essa pluralidade sem<br />
jamais perder a ideia que no final ele é também muito comum. É o mundo da experiência humana."<br />
www.varaldobrasil.com 105
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
MULHER <strong>BRASIL</strong>EIRA<br />
Por Angela Ramalho<br />
Sou filha, que partilha, sou mulher.<br />
Sou mãe, acolhedora, sou mulher.<br />
Sou amada, respeitada, sou mulher.<br />
Sou lutadora, professora, sou mulher.<br />
Sou emotiva, poetiza, sou mulher.<br />
Sou valente, onipresente, sou mulher.<br />
Sou ativa, executiva, sou mulher.<br />
Sou prendada, dedicada, sou mulher.<br />
Sou serena, Madalena, sou mulher.<br />
Sou falante, estudante, sou mulher.<br />
Sou divina, heroína, sou mulher.<br />
Sou atriz, meretriz, sou mulher.<br />
Sou preparada, advogada, sou mulher.<br />
Sou da lida, sou querida, sou mulher.<br />
Sou sarada, sou danada, sou mulher.<br />
Sou a tal, sensual, sou mulher.<br />
Sou libertária, operária, sou mulher.<br />
Sou artista, esportista, sou mulher.<br />
Sou raça, tenho graça, sou mulher.<br />
Sou negritude, atitude, sou mulher.<br />
Sou altruísta, jornalista, sou mulher.<br />
Sou decente, inteligente, sou mulher.<br />
Sou crítica, sou política, sou mulher.<br />
Sou verdade, sou vontade, sou mulher.<br />
Sou guerreira, sou inteira,<br />
Sou mulher brasileira.<br />
www.varaldobrasil.com 106
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
MATER MUNDUS ALIMENTANDUS<br />
A Jacqueline Aisenman<br />
Por Robson Luis Silva Costa<br />
Mulher<br />
colher<br />
de pau<br />
de mexer<br />
mingau<br />
e dá de comer<br />
ao mundo<br />
que parece<br />
prestes a morrer<br />
à míngua...<br />
esse Ser<br />
profundo...<br />
www.varaldobrasil.com 107
ONDE?<br />
Por chajafreidafinkelsztain<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Preciso de uma linda flor vermelha<br />
Para enviar a quem mais quero<br />
Que seja bela , perfeita e muito perfumada e... que<br />
Transmita todo o meu sentimento...<br />
Onde ... poderia encontrá-la?<br />
Preciso de um belo vestido, sensual e arrojado<br />
Quero sapatos e bolsa adequados, brincos e um<br />
Colar combinando... preciso estar muito bela para<br />
Quando encontrá-lo...<br />
Preciso olhar a folhinha e escolher dia e hora<br />
Do nosso encontro... e a partir disso ficarei planejando...<br />
Planejarei dia e noite... enquanto a insônia<br />
Não for vencida!<br />
Quero sonhos belos com flores, correndo com cenas<br />
Lindas... quero personagens ... mais belos ainda...<br />
Preciso esquecer das dores que apertam e me magoam<br />
Ah! se pudesse escolher...<br />
Optaria por outro lugar... onde ...<br />
Tanta coisa aconteceria! Os sinos repicariam sons seguidos<br />
Anunciando o encontro... os ares soprariam uma brisa tão<br />
Leve ! tão leve! l- e- v -í- s- s- i- m- a...<br />
Cada qual saindo de um ponto , se encontrariam nesse<br />
Local onde as flores emprestariam a paisagem o colorido<br />
Diversificado e marcante, e o sol seria a testemunha.<br />
A partir daqui... o destino tomaria as rédeas... e a ninguém<br />
Mais importaria a vida deles!<br />
No canto ancorado, o amor desabrocharia, sem medos e<br />
Sem culpas...<br />
No tempo marcado tudo aconteceria,<br />
Só não sei onde?<br />
www.varaldobrasil.com 108
O ano das acerolas<br />
Norália de Mello Castro<br />
Chegou dezembro. Minha filha me perguntou:<br />
- O que você quer fazer para o Natal?<br />
- Vou pensar... - respondi.<br />
Voltou a perguntar:<br />
- O que você quer fazer para o Natal?<br />
Onde quer passar?<br />
- Estou pensando! - respondi.<br />
Os dias passavam e eu não encontrava<br />
resposta. Até que veio a terceira pergunta dela:<br />
- Onde você quer passar o Natal?<br />
Nesta altura, respondi:<br />
- Ficarei em Brumas. Não quero ir para<br />
nossa casa em Beagá. Quero ficar aqui, na<br />
nossa casa de campo.<br />
- Tudo bem. - disse-me ela. - Então o<br />
que faremos? Faça a sua listinha que providenciarei<br />
tudo.<br />
Fiz a lista e dei para minha filha.<br />
Alguma coisa diferente passava comigo.<br />
Eu, uma curtidora eterna de uma Árvore de Natal,<br />
curtidora de tudo referente ao Natal, estava<br />
mudada. Algo diferente me movia: a vida mudara<br />
e eu precisava acompanhar esta mudança.<br />
Os pais já não estavam mais aqui. A casa matriz<br />
que sempre acolheu toda a família para os<br />
festejos de Natal, não mais existia. Uma tristeza<br />
estava se apossando de mim diante desta<br />
realidade. Estava correndo risco de uma baita<br />
depressão. Um vazio se entranhava. Ficaria em<br />
Brumas, mas não montaria minha Árvore de<br />
Natal, estava decidido. A tristeza rondava.<br />
Sempre tivemos Árvore de Natal. Bem<br />
jovem passei a montar a nossa árvore e a enfeitar<br />
a casa paterna, o que fiz ano após ano.<br />
Ao ter minha própria casa, montava e enfeitava<br />
as duas casas. Eu sonhava em ter uma árvore<br />
bem grande. Quando pude adquirir a árvore<br />
que tenho até hoje, foi um momento mágico na<br />
nossa vida. Quando ela chegou, peguei caixas<br />
e mais caixas de enfeites feitos por mim, para<br />
colocá-los e veio a surpresa: a árvore era tão<br />
grande que aquelas poucas dezenas de enfeites<br />
sumiram na sua extensão. Tive de sair correndo<br />
para comprar mais enfeites e não parei<br />
de comprar enfeites natalinos até ano passado.<br />
Entretanto, chegou <strong>20</strong>12 e com ele o não<br />
desejo de ir para Beagá e lá montar a árvore de<br />
natal.. Não sentia nenhuma motivação. O que<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
fazer? Não posso cair em depressão. Fiz a lista<br />
para minha filha de comes e bebes, mas nossa<br />
casa ficaria sem enfeites novos. Nenhum desejo<br />
se manifestava em mim de comemorar este<br />
Natal. Procurei ficar calma, deixar os dias passarem,<br />
sem que as tristezas tomassem conta,<br />
enfrentando naturalmente os dias que avançavam<br />
e o Natal que chegava.<br />
Minha filha trouxe as compras e entre<br />
elas estavam as castanhas portuguesas e os<br />
Bauducos, que não podiam faltar. Por conta<br />
própria, ela me presenteou com três enfeites<br />
natalinos. Meus irmãos não poderiam estar presentes,<br />
estavam espalhados conduzindo as<br />
próprias vidas. Amigos que sempre estiveram<br />
presentes não poderiam estar aqui, pois impasses<br />
naturais de vida os impediam. Quem viria<br />
até Brumas? Como seria o nosso Natal? Só minha<br />
filha e eu? Que pobreza... Recebi convites<br />
para ir para Beagá, passar o Natal lá. Neguei.<br />
Realmente eu não queria sair de minha casa,<br />
isto estava certo comigo mesma.<br />
Fiquei trabalhando e cuidando de coisas<br />
em Brumas...<br />
A cada dia que avançava em dezembro,<br />
meu pé de acerolas se enchia mais e mais de<br />
frutinhas. Estava lindo! Era sua quinta produção<br />
no ano. Nas vésperas do dia 25, ele estava magistralmente<br />
repleto de frutos maduros. Ao observá-lo<br />
depois de uma chuva intensa, quando<br />
o sol voltou a brilhar, vi meu pé de acerolas<br />
com gotinhas de chuvas, como estrelas de Natal.<br />
Esplendoroso. Brilhante. Cheio de folhas<br />
verdes e frutos vermelhos, as cores símbolo do<br />
Natal. Minha Árvore de Natal estava ali, naquele<br />
pé de acerolas.<br />
O presente que dei para os amigos que<br />
aqui estiveram foi uma sacola cheia de acerolas,<br />
colhidas por eles próprios. Felizes, enquanto<br />
colhiam, chupavam acerolas. A cada colheita<br />
era uma curtição. Dezenas de saquinhos saíram<br />
de minha casa, calculo uns 60 quilos de<br />
acerolas.<br />
.<br />
A tristeza foi embora. A depressão evaporou-se.<br />
E eu curti o meu Natal, com minha<br />
filha, um irmão e os novos amigos, regado por<br />
sucos e mais sucos deliciosos de acerola.<br />
Meu Natal <strong>20</strong>12 foi completo: uma curtição<br />
com uma Árvore de Natal, presenteada pela<br />
Mãe Natureza.<br />
www.varaldobrasil.com 109
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
QUERÊNCIAS<br />
Por Márcia Etelli Coelho<br />
Eu quero um amor com romântica vela,<br />
mas sem me anular para tê-lo comigo.<br />
Eu quero a beleza jovial e eterna,<br />
mas se eu enrugar manterei o sorriso.<br />
Eu quero riqueza, mas sem sacrifício,<br />
nem penso em vender os meus bons ideais.<br />
Eu quero talento, sucesso, prestígio,<br />
mas não vou pagar se for caro demais.<br />
Quero gente nova, aumentar minha lista,<br />
mas sem deletar os antigos amigos.<br />
Quero, no futuro, alegria e conquista,<br />
mas sem esquecer: No presente é que eu vivo.<br />
Eu quero uma casa no campo e na praia,<br />
mas não vou trocá-la pelo doce lar.<br />
Eu quero ver netos brincando na sala,<br />
mas não vou deixar de cuidar dos meus pais.<br />
Eu quero saúde completa e perfeita,<br />
não vou me entregar se a doença insistir.<br />
Eu quero o triunfo, vencer a barreira,<br />
não vou lastimar tudo o que eu já perdi.<br />
Eu quero paixões amorosas, incríveis,<br />
não sou filial, só aceito matriz.<br />
Eu quero mil coisas, nem todas possíveis,<br />
mas mesmo sem elas, eu vou ser feliz.<br />
www.varaldobrasil.com 110
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
<strong>DO</strong>CES GUERREIRAS<br />
Por Isabel C S Vargas<br />
Desejo falar sobre as mulheres de agora,<br />
Mas que carregam em si muito daquelas de outrora,<br />
Identificadas nos anseios,<br />
Nos sonhos, nas dores.<br />
Nas vitórias e nas derrotas,<br />
Nos amores e desamores,<br />
Na doação irrestrita aos filhos,<br />
Na batalha constante pela sobrevivência<br />
Para provar dia após dia,<br />
Seu valor e competência.<br />
Mulher forte, mulher guerreira<br />
Ao mesmo tempo delicada como flor.<br />
Prioriza o amor, sem ele não sabe viver<br />
Capaz de suportar maior dor ,<br />
Sempre com sorriso aberto<br />
Para cumprir sua grande missão<br />
De ser a semeadora do amor<br />
Em todas suas facetas:<br />
Amor maternal, amor filial,<br />
Amor fraternal, amor romântico<br />
Mulher de muitos amores<br />
Mulher amor – perfeito.<br />
Foto: Annie Leibovitz - Revista Vogue<br />
www.varaldobrasil.com 111
Torta Marta Rocha Original<br />
Muito se fala da torta Marta Rocha que foi criada<br />
em homenagem à Miss Brasil de 1954 ,a linda e<br />
maravilhosa baiana Martha Rocha que perdeu o<br />
titulo de Miss Universo por ter duas polegadas a<br />
mais de quadris...e ficou como Vice Miss Universo.<br />
Bem, mas a torta foi feita em sua homenagem e<br />
posso dizer que é tão maravilhosa como a Miss.<br />
Existem muitas versões, mas a tradicional leva<br />
massa de bolo claro e chocolate, creme de ovos<br />
moles, suspiro, nozes e chantilly. E não há quem<br />
resista ao incrível sabor e apesar de muitos acharem<br />
uma torta doce demais, eu acho que se for feita<br />
com medidas certas dos ingredientes fica muito suave<br />
e nem um pouco enjoativa. Fiz neste final de<br />
semana para comemorar meu aniversário... É uma<br />
das datas em que a torta Marta Rocha não pode<br />
faltar, pois, é minha favorita. Então vamos a ela<br />
mais uma vez!<br />
Ingredientes Massa Bolo Claro<br />
5 claras;<br />
5 gemas;<br />
2 xícaras de açúcar;<br />
2 xícaras de farinha de trigo;<br />
1 xícara de água quente;<br />
1 colher (sobremesa) de fermento em pó;<br />
1/2 colher (chá) essência de baunilha;<br />
Bata as gemas com o açúcar até ficar um creme<br />
fofo. Adicione a farinha, baunilha e a água quente.<br />
bata mais um pouco e misture o fermento, por último<br />
as claras em neve. Unte uma fôrma 25cm e leve<br />
para assar em forno 180 º C por +- 40/45minutos.<br />
Para o bolo de chocolate acrescente na massa uma<br />
xícara de cacau em pó ou chocolate amargo em<br />
barra ralado.<br />
Depois de assados corte cada bolo em três discos.<br />
Recheios:<br />
Ovos Moles:<br />
3 xícaras de açúcar;<br />
1 xícara de água;<br />
12 gemas passadas na peneira;<br />
1 colher (chá) de manteiga;<br />
*Misture o açúcar com a água misturando bem. Leve<br />
ao fogo e não mexa mais. Quando começar a<br />
ferver conte 5 minutos, desligue, acrescente a manteiga<br />
sem mexer a calda e deixe amornar.<br />
*Depois de passar as gemas na peneira junte2 colheres<br />
(chá) de água fria e mexa bem. Misture na<br />
calda morna e leve ao fogo até ferver, desta vez<br />
mexendo até estar um creme. Reserve.<br />
Crocante:<br />
1 xícara de nozes picadas;<br />
1 xícara de açúcar;<br />
Misture e leve ao fogo mexendo bem até ficar açu-<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
carado, tire do fogo e mexa bem até formar uma<br />
farofa.<br />
Suspiro:<br />
6 claras em neve;<br />
300gr de açúcar;<br />
2 colheres (chá) de maisena;<br />
1 colher (chá) de essência de baunilha;<br />
1 colher (chá) de Vinagre;<br />
*Bata as claras em neve mas não muito firmes. Adicione<br />
o açúcar e bata até ficar incorporado. Acrescente<br />
a maisena, vinagre e a baunilha e envolva<br />
sem bater.<br />
*Forme um disco sobre uma folha de papel vegetal<br />
e leve ao forno 150ºC (eu uso uma forma de pizza<br />
como base). Deixe no forno aproximadamente 30<br />
minutos. Desligue o forno e deixe dentro até esfriar.<br />
(Caso queira facilitar pode usar suspiro pronto).<br />
Chantilly:<br />
2 1/2 potes de nata<br />
5 colheres de açúcar;<br />
Bata bem até formar um chantilly, mas não deixe<br />
ficar muito consistente.<br />
Calda p/ Umedecer o Bolo:<br />
Eu costumo usar leite condensado misturado com<br />
leite para umedecer os discos do bolo. Porém, como<br />
o bolo leva recheios muito doces usei apenas<br />
guaraná.<br />
Montagem da Torta:<br />
disco de bolo chocolate;<br />
ovos moles (coloque só a metade para não ficar<br />
muito doce).<br />
disco de bolo claro;<br />
crocante de nozes;<br />
(passe uma camada bem fininha de nata sobre o<br />
bolo para o crocante aderir à massa)<br />
disco de bolo chocolate;<br />
suspiro;<br />
disco de bolo claro;<br />
uma camada de chantilly (deixe para cobrir a torta)<br />
para finalizar um disco de chocolate;<br />
Cubra a torta com chantilly e decore à gosto.<br />
(recomendado: fios de ovos)<br />
Fonte: http://docemomentodagula.blogspot.com/<br />
www.varaldobrasil.com 112
Introspecção<br />
Por Loreni Fernandes Gutierrez<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Protagonista de um mundo urbanizado e imprevisível<br />
debruço sobre minha introspecção em dias de incertezas<br />
e do medo de ter que deixar de sonhar e de acreditar que o bem existe.<br />
Duvidar dos olhos que me veem, mãos que me tocam e lábios que me riem.<br />
Medo de acordar e não encontrar à minha espera a manhã idealizada<br />
transformada em alguma coisa infértil e desamorada.<br />
Vejo que os abraços se escasseiam, na solidão crescente de nossa<br />
existência - desafetos camuflados em pequenas desculpas.<br />
Quase não temos tempo para abraçar os pais e mais demoradamente<br />
os filhos, como se os resgatássemos em nossos seios.<br />
Quando só, os abraços que em mim se acumulam<br />
dou-os carinhosamente em minha “poodle toy”, chamada “Mag”,<br />
que me abana a pequena cauda num chamego frequente,<br />
sempre colada em mim feito uma sombra e me buscando<br />
a todo instante com seus olhos espertos, como se fosse<br />
gente.<br />
A cada dia menos crianças subindo em árvores,<br />
pulando amarelinhas, jogando peladas.<br />
Cada vez mais cercas nos muros e casas fechadas.<br />
Ao invés dos galos, nas manhãs, buzinas e freadas.<br />
Cada vez menos contos sobre fadas e violinistas verdes<br />
que acordam, com suas músicas, as árvores<br />
encantadas.<br />
Não vemos mais estrelas e nem luas românticas e<br />
solitárias<br />
ofuscadas pelos holofotes das cidades que se<br />
agigantam,<br />
atrapalhando a passagem dos mensageiros dos ventos.<br />
Quase não há mais abelhas, nem favos de mel, nem borboletas<br />
adejando sobre os poucos jardins que ainda existem.<br />
Ainda bem que árvores frondosas e persistentes sombreiam,<br />
enfileiradas, partes das ruas acinzentadas e quentes!<br />
E nelas se urbanizam as pombas, andorinhas e pardais<br />
e pássaros sazonais - porque lhes tiraram as matas.<br />
Nos tempos atuais, em que a cada dia mais nos etiquetamos<br />
e vemos com naturalidade se instalar a corrupção e a indiferença.<br />
Num tempo onde os lobos se tornaram mais célebres que os cordeiros<br />
e que a cada dia ouvimos menos a palavra honra.<br />
Tenho medo de que esqueçamos quem somos, perdendo-nos pelos<br />
caminhos sinuosos - desse novo esquema pegajoso e corrosivo da desonra.<br />
www.varaldobrasil.com 113
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
NO STAND O <strong>VARAL</strong> <strong>DO</strong><br />
<strong>BRASIL</strong> OS AUTORES<br />
SÃO VIP!<br />
SESSÕES DE AUTÓGRAFOS,<br />
BATE-PAPO COM LEITORES<br />
E ESCRITORES!<br />
AUTORES <strong>BRASIL</strong>EIROS E<br />
PORTUGUESES!<br />
LIVROS <strong>DO</strong>S MAIS<br />
DIVERSOS GÊNEROS!<br />
ESPAÇO INFANTIL!<br />
EXPOSIÇÃO DE PINTURA!<br />
LITERATURA E MÚSICA!<br />
ISTO É <strong>VARAL</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong>!<br />
www.varaldobrasil.com 114
A BISAVÓ<br />
Por Sonya Prazeres<br />
Minha bisavó quando morreu já tinha perdido a<br />
noção da idade. A família chegou a contar até<br />
os 103 anos... Mas passou disto, nós é que<br />
perdemos a conta. Ela perdeu seus documentos,<br />
não dava mais pra saber, também não tinha<br />
mais ninguém do tempo dela pra testemunhar:<br />
o quórum comum de suposições da família<br />
ficava em torno dos 107 anos...<br />
Cento e sete anos!!!!???? Nenhum de nós, em<br />
verdade, acreditava ser possível alguém existir<br />
por 107 anos...<br />
A bisa virou lenda viva. Ela foi magrelando, uva<br />
-passando-se, os ossos madeirando.<br />
Já não envelhecia, nos últimos 10 anos, nem<br />
dores nem queixas, Ela só fazia feliz aniversário...<br />
a gente olhava, buscava, e... cadê?<br />
Nenhum novo sinal de envelhecimento, tudo<br />
exatamente igual, sempre e parecia q tudo seria<br />
sempre igual, dali para sempre - permanecia<br />
apenas uma grande verruga no meio da carapergaminho<br />
como selo de garantia<br />
E ela sempre sorrindo, às vezes gargalhando...<br />
As coisas a atravessavam, ela já não atravessava<br />
nada, nem os dias...<br />
Flutuava etérea, mas todo dia trançava seu cabelo<br />
prateado, monumento tombado, que já ia<br />
pra lá da curva de baixo da bundinha murcha<br />
Ela e seu pito, que a acompanhava, fiel amigo,<br />
o único que ainda sabia de seus humores e<br />
amores, que ela, cigana, lhe confidenciava...<br />
Fumava cachimbo! ininterruptamente...<br />
Quando me lembro dela eu penso que a velhice<br />
é um rito... de permanência: escolhemos alguns<br />
objetos, manias e trejeitos, que têm raízes<br />
no que praticamos ao longo da vida, e os carregamos,<br />
fetiches, junto conosco, como objetos<br />
de poder... de permanecer...<br />
Sempre que visitávamos a Vó Pequenininha -<br />
ela reduziu seu tamanho e carga física a um<br />
terço do q antes fora- levávamos, cada um, de<br />
presente, uma lata de goiabada cascão... era<br />
seu pedido, sua gula, sua pequena loucura,<br />
pensávamos...<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Fora a goiabada da visita, acho que ninguém a<br />
via comer nada, ninguém nem ao menos perguntava,<br />
ou se preocupava com o que ela comia.<br />
Em nosso imaginário, ela já tinha conquistado<br />
o jejum e com ele a eternidade.<br />
Fora a goiabada, ela só precisava de umas moedas<br />
de troco para a erva do pito - mais ela não<br />
aceitava...<br />
Em seu quarto modestíssimo, apenas a antiga<br />
cama e um criado mudo a mantinham a salvo<br />
de nossos duvidosos intentos de proteção e<br />
controle e de qualquer curiosidade mórbida. O<br />
quarto pequeno e nu era na casa de uma antiga<br />
parenta generosa, que já ninguém sabia se<br />
era mesmo da família, nem isso era de dar conta.<br />
No seu quarto só ela entrava, do seu quarto<br />
só ela cuidava, e estava tudo sempre limpo, a<br />
madeira dos móveis polida pelo tempo à espera<br />
das visitas que a Vó recebia sempre com<br />
alegria...<br />
Até que ela afinal se foi, quietinha, sem nenhum<br />
alarde, sem nenhum movimento. Apenas<br />
fechou os olhos e não foi a lugar nenhum, ficou<br />
-se, ela com ela, sentada consigo mesma, consignada<br />
em fiança a deus. E decerto deus sorriu<br />
ao vê-la assim sapeca, brincando de boneca,<br />
fazendo, até na morte, tudo a seu mimado<br />
jeito.<br />
E então, quando fomos todos lá testemunhar<br />
sua estatuíce crônica, foi a grande surpresa:<br />
debaixo de sua cama, limpas e empilhadas aos<br />
montes e montanhas, as latas de goiabada! Intactas!<br />
Deve ser que a Vó Pequenininha não chegou a<br />
conhecer o abridor de latas!<br />
h p://studio58cartoons.blogspot.com<br />
www.varaldobrasil.com 115
Mulher, esse ser maravilhoso<br />
Por Maria (Nilza) de Campos Lepre.<br />
Deus ao criar o universo, parou para completar<br />
sua obra dando vida ao planeta Terra. Com carinho<br />
enfeitou-o com milhares de flores, muita água<br />
e arvores de várias espécies. Para algumas deu o<br />
poder de produzir frutos comestíveis, que serviriam<br />
de alimento para as aves, e os animais de várias<br />
espécies que acabara de ali também colocar.<br />
Terminada sua obra parou para observar o<br />
resultado, e achou que faltava algo importante. Depois<br />
de refletir por alguns instantes resolveu criar o<br />
homem a sua imagem e semelhança.<br />
Ficou observando sua obra prima, mas com o<br />
passar dos dias percebeu que ele estava ficando<br />
sem brilho e nada o alegrava. Depois de refletir por<br />
alguns instantes percebeu que ele se sentia muito<br />
solitário e resolveu dar lhe uma companheira, quem<br />
sabe assim se tornasse uma pessoa com mais alegre!<br />
Ao homem havia dado um corpo robusto,<br />
musculoso, muita força vitalidade e grande agilidade.<br />
Deu lhe também deu uma inteligência, para que<br />
pudesse pensar, raciocinar, e encontrar formas de<br />
sobreviver, e se defender neste planeta que apenas<br />
estava começando a ser formado.<br />
Para resolver o problema do ser que havia<br />
criado, e que havia chamado de Adão, retirou uma<br />
de suas costelas e com ela criou a mulher que chamou<br />
de Eva.<br />
Acontece, porém, que ao programar a sua nova<br />
obra, o fez de forma bem diversa, deu a ela um<br />
corpo de aparência frágil, curvilíneo, delicado, mas<br />
de contrapeso um coração enorme onde caberia tudo<br />
que conquistasse através dos anos. Deu lhe também<br />
um poder que só a ela pertenceria, a faculdade<br />
de gerar filhos. Para contrabalançar a sua forma<br />
frágil, deu lhe uma força descomunal de amor e<br />
emoção, que a transformaria em animal bravio na<br />
defesa de sua prole e família.<br />
Como Adão, Eva também recebeu como prêmio<br />
a inteligência.<br />
Milhares de anos se passaram depois da criação<br />
do mundo, mas até hoje as mulheres continuam<br />
com o mesmo dom, o de gerar seus filhos, não como<br />
antigamente, pois a ciência evoluiu muito, mas,<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
continuam sendo o esteio de suas famílias; se bem<br />
que hoje em dia, este termo já não é muito usado. A<br />
forma familiar se modificou através do tempo, mas<br />
o sentimento materno continua o mesmo. Tente<br />
agredir o filho de uma delas, e a verá transformarse<br />
de uma hora a outra, em uma verdadeira leoa na<br />
defesa de sua prole.<br />
Hoje em dia elas são verdadeiras guerreiras,<br />
pois além de dar a luz, cuidar de seus filhos, de sua<br />
casa, a maioria ainda trabalha fora. Muitas delas<br />
sustentam a casa, e os filhos, sozinha, sem um companheiro<br />
ao seu lado para ajudar nesta árdua tarefa.<br />
Cada dia mais elas crescem, ocupando cargos<br />
nas empresas, que antigamente, somente homens<br />
podiam ocupar.<br />
As universidades estão repletas delas estudando<br />
para entrarem no mundo dos negócios com a<br />
mesma formação dos homens, não há área de trabalho<br />
onde elas não são encontradas. A suposta fragilidade<br />
de seus corpos é superada com muita garra,<br />
estudo e inteligência e abdicação.<br />
Nos cargos que ocupam geralmente exercem<br />
com capacidade e maestria, e fazem tudo para que<br />
o trabalho flua com rapidez e eficiência.<br />
Claro que sempre há exceções a regra, mas é<br />
coisa que não é muito comum nos dias de hoje, a<br />
maioria exerce bem sua profissão com competência<br />
e honestidade.<br />
Adoro os homens, vivi com um por quarenta<br />
e cinco anos e, há dez partiu para outra dimensão,<br />
mas continua até hoje sendo o grande amor de minha<br />
vida.<br />
Preocupo-me com o futuro dos jovens de hoje.<br />
Cuidem-se rapazes, até para a procriação elas<br />
não precisam mais ter um parceiro, hoje existe a<br />
inseminação artificial.<br />
Coloquem as suas barbas de molho. Fiquem<br />
de bem olhos bem abertos.<br />
Amo os homens, mas adoro mais, ter nascido<br />
MULHER.<br />
www.varaldobrasil.com 116
Se na noite, um estranho<br />
Por Nilza Amaral<br />
... forçando a porta de entrada penetrasse<br />
em meu apartamento, e diabólico e cruel,<br />
explorasse com seus passos macios e pre-<br />
meditados a minha intimidade, devassasse a<br />
corrente dos meus pensamentos, extraindo<br />
dos cantos do meu cérebro as palavras não<br />
ditas, apenas pensadas, se invadisse os<br />
meus aposentos, revirasse as minhas gave-<br />
tas, à cata do quê? joias, se não as tenho,<br />
dinheiro escondido, muito menos, fetiches?<br />
tão ocultos jamais expostos, como aquela<br />
roupa íntima vermelha usada nos momen-<br />
tos do sexo mais pervertido, ou aquele pé de<br />
coelho que um dia me ofertaram com a pro-<br />
messa de que ele amaciaria os caminhos,<br />
se esse estranho embaralhasse a minha vi-<br />
da, violentasse o meu pudor sem a minha<br />
concordância, penetrasse a minha cozinha<br />
em busca de alimento, encontrasse aquela<br />
sobremesa especial que fiz com carinho, e<br />
com um bah de desprezo, atirasse tudo ao<br />
cachorro, não sem antes lhe dar um pontapé<br />
no traseiro, em seguida sem aviso, alcan-<br />
çasse a faca afiada e com ela me ameaças-<br />
se, se entregue ou eu te furo, e me atirasse<br />
ao chão e me possuísse sob gritos de meu<br />
protesto irado, se esse estranho me humi-<br />
lhasse de todas as maneiras, penetrando<br />
violentamente todos os orifícios de meu cor-<br />
po em busca do prazer insaciável, achando<br />
que o meu dever era aceitar resignada a sua<br />
condição de macho de cetro impiedoso, e a<br />
minha de fêmea sempre pronta, pernas<br />
abertas, e se depois da posse, estirado ain-<br />
da no ladrilho frio da cozinha, acendesse um<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
cigarro e me olhasse com os olhos semicer-<br />
rados, feliz com a sua conquista e vanglori-<br />
ando-se de ser bom amante, o querido de<br />
todas as mulheres do bairro, se esse estra-<br />
nho depois do ato do sexo, percorrendo com<br />
uma faca todos os contornos de meu corpo,<br />
parando em meus mamilos duros de prazer,<br />
penetrando a minha vagina ainda quente,<br />
riscando a minha pele eriçada, então se le-<br />
vantasse e ordenasse, faça um café, mulher,<br />
abra uma cerveja, se mexa, me agrade, que<br />
eu mereço pois afinal entrei na tua vida para<br />
te fazer feliz, ah, se ainda esse estranho<br />
resolvesse aportar na minha casa, e dela<br />
tomar posse, com promessas de mudança e<br />
de carinhos, se chegasse todos as noites<br />
depois de passar em meia dúzia de bares,<br />
embora para que ele não voltasse, eu rezas-<br />
se todo os terços, que ele me arrancava<br />
das mãos pisava sobre as contas, gritando<br />
eu sou teu único Deus, e, se como senhor<br />
e dono me exigisse, me possuísse pele ené-<br />
sima vez, gritando, nenhum deus te dará<br />
mais aleluias do que eu, e depois de todas<br />
as vontades satisfeitas, deitasse na minha<br />
cama e dormisse a sono solto, até a manhã<br />
seguinte, e se assim fossem todos os dias, a<br />
relação de dois estranhos sob o mesmo teto,<br />
e se eu mais uma vez rogasse aos santos,<br />
sobre meus joelhos sangrando, para acon-<br />
tecer algum fato, mesmo que fosse uma<br />
desgraça, que interrompesse essa corrente,<br />
ou que a minha vontade predominasse por<br />
alguns instantes, o tempo suficiente para<br />
expulsá-lo de minha vida, eu agradeceria<br />
pelo resto da vida, mas se a fraqueza, o me-<br />
do, o amor, o ódio ou o prazer, impedissem<br />
o cumprimento dessa vontade, e eu insensa-<br />
ta o matasse (segue)<br />
www.varaldobrasil.com 117
com mil facadas perfurantes que lhe alcan-<br />
çassem a alma de coisa ruim, talvez seu es-<br />
pírito retornasse mais feroz do que o anteri-<br />
or desencarnado, e mais me torturasse, me<br />
penetrando, me violentando, me satisfazen-<br />
do. Se esse estranho a cada dia se fizesse<br />
mais odioso e mais desejado, se minasse<br />
em meu íntimo dia a dia, minuto a minuto, a<br />
volição da vida, se arraigasse o desejo in-<br />
sensato de liquidá-lo na hora do orgasmo, a<br />
hora da distração e do alheamento, se des-<br />
pertasse em mim o lobo interior que leva à<br />
crueldade em vez da gazela que bale, se<br />
esse estranho me asfixiasse com seu suor,<br />
e num momento de fúria eu o estrangulasse<br />
ou o aleijasse cortando seus testículos re-<br />
cheados, e o banisse da minha vida escravi-<br />
zada, então talvez eu descansasse e abris-<br />
se as portas para a solidão se alojar. Se<br />
esse estranho não tivesse o riso cínico de<br />
superioridade estampado na face, a lubrici-<br />
dade sempre pronta, se não soubesse o po-<br />
der de sua dominação, da força da perdição<br />
que impele à morte, a certeza do seu abso-<br />
lutismo, se esse estranho que invadiu a mi-<br />
nha noite não tivesse consciência do quanto<br />
se tornou imprescindível, se desaparecesse<br />
assim como apareceu, com seus passos<br />
mansos e sua fala macia, com suas preten-<br />
sas promessas de felicidade, se esse estra-<br />
nho que comigo hoje habita se fosse, desis-<br />
tisse de mim, então talvez eu me desespe-<br />
rasse.<br />
Se numa noite, um estranho<br />
tentasse entrar em minha vida para se insta-<br />
lar, eu o teria impedido, teria trancado com<br />
todas as chaves a porta de entrada da mi-<br />
nha casa, e mais as entradas de meus sen-<br />
timentos, fechado o caminho do labirinto do<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
meu corpo, ou gritado por auxílio, e se ele<br />
superando a minha força física e as minhas<br />
intenções, conseguisse o seu intuito, e me<br />
submetesse ao seu sexo, então eu o assas-<br />
sinaria, e seria em legítima defesa. E se ele<br />
implorasse, em nome do passado, do amor,<br />
da luxúria, eu recusaria para que ele fosse<br />
nada mais, apenas um estranho na noite<br />
tentando forçar a minha porta de entrada.<br />
Se na noite, um estranho tocasse a porta da<br />
minha alma e do meu destino,<br />
Stranger in a Strange<br />
Landby ~SecondGoddess<br />
www.varaldobrasil.com 118
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
O vestido verde<br />
Por Josselene Marques<br />
Pietro e Elena moravam na mesma cidade, há vários anos,<br />
mas nunca haviam se encontrado. Por uma artimanha do destino,<br />
eles se conheceram. Viram-se, pela primeira vez, em uma<br />
linda manhã ensolarada. A empatia entre eles foi instantânea e<br />
recíproca a admiração. Tornaram-se amigos. Ambos conservavam<br />
parte do frescor da juventude, pois não aparentavam sua<br />
idade cronológica. Ele costumava vestir-se elegantemente – o<br />
que realçava o seu belo porte. Para trabalhar e/ou estudar, ela<br />
tinha preferência por jeans com túnicas coloridas – que a tornavam,<br />
aparentemente, ainda mais jovem, mas não revelavam<br />
a beleza de seu corpo.<br />
Com o passar do tempo, a afinidade e a intimidade foram aumentando.<br />
Todavia, comportavam-se como dois excelentes amigos – isto até o belo dia em que<br />
Elena o surpreendeu e tudo mudou. Pela primeira vez, Pietro percebeu o quanto sua amiga<br />
era, ingenuamente, sedutora. Apesar de conhecê-la de perto, não reparara, com interesse, em<br />
seu físico. A princípio, ela não se encaixava no seu perfil de mulher ideal.<br />
Embora estivesse no período chuvoso, naquele dia, em especial, o sol renascera esplendorosamente.<br />
Cansada das roupas pesadas, que fora obrigada a usar em virtude do frio, Elena<br />
escolhera um lindo vestido verde para usar por ocasião de seu compromisso matinal. Tinha<br />
uma reunião de trabalho. Normalmente, ela só usava seus vestidos para ir à missa e às raras<br />
festas, em família, das quais participava. Ao olhar-se no espelho, previu que, no mínimo, os<br />
seus colegas professores iriam estranhar seu traje. Chegando ao seu destino, confirmou suas<br />
previsões. Todos repararam nela e a elogiaram. Alguns até sugeriram que ela deveria usar somente<br />
vestidos – não há nada mais feminino do que eles -, pois os mesmos lhe caíam muito<br />
bem. Depois de alguns minutos, seu melhor amigo entrou no recinto e a observou com indisfarçável<br />
expressão de espanto. Não resistiu e aproximou-se. Durante o cumprimento, segredoulhe<br />
um elogio que a fez arrepiar-se. A partir daquele momento, a amizade dera lugar a algo<br />
bem mais forte. Sentiram-se, irremediavelmente, atraídos. Pietro passara a enxergar a mulher e<br />
não apenas a amiga solícita. Elena que já o escolhera para amar – e não o avisara -, interiormente,<br />
vibrou de alegria por, finalmente, haver sido notada como desejava.<br />
As horas voaram e eles lamentaram o fato de terem que se afastar, pois precisavam retornar<br />
aos seus lares. Despediram-se. O último olhar de Pietro estava repleto de promessas.<br />
Já era adiantado da hora noturna quando Elena recebeu uma chamada telefônica. Do<br />
outro lado da linha, Pietro lhe confessou o seu sentimento. Ela o imitou. Juraram amor eterno e<br />
combinaram o seu primeiro encontro a sós.<br />
www.varaldobrasil.com 119
VAIDADE DE FEMININA<br />
(Do livro Panela d'água )<br />
Por Lariel Frota<br />
Colocou água numa panela para o cozimento<br />
do brócolis. Depois da festa há duas semanas,<br />
resolveu que é hora de começar um regime<br />
para perder medidas e ver se melhora um<br />
pouco a pele, as unhas quebradiças, talvez<br />
recuperar o viço dos cabelos, detonados por<br />
anos a fio de alisamentos com produtos químicos<br />
fortíssimos. Preparou-se tanto para a tal<br />
festa, saiu sentindo-se derrotada.<br />
Ainda não completou cinquenta anos e<br />
repentinamente percebe-se bem no meio do<br />
furacão....tudo acontecendo a sua volta, todos<br />
vivendo sem notá-la. Ela parece não existir.<br />
Ninguém perde um segundo sequer para pensar<br />
que talvez aquela panela com água seja<br />
para fazer algo pra ela. Ao contrário, parece<br />
que a panela é mais importante, e ela apenas<br />
uma extensão do utensílio de alumínio.<br />
-Corre Luiza, traga logo água limpa e jogue<br />
nas violetas. Coloquei o fertilizante errado. Não<br />
sei se suas flores vão suportar a troca.<br />
-Mãe, essa é a água filtrada pra enxaguar o<br />
meu cabelo? Coloque mais, é muito pouco.<br />
-Filha você já esquentou a água para o chá do<br />
seu pai. Rápido menina, o velho hoje tá mais<br />
ranzinza que nunca.<br />
-Dona Luiza, que bom que está providenciando<br />
o cozimento dos ovos pro seu Mauricio. Estou<br />
atrasada, coloque um prá mim também. Acho<br />
que vou seguir o regime do patrão ele está tão<br />
bem!<br />
-Legal mãe, é só por essa água e bater dois<br />
minutos. O suplemento em pó e a proteína, já<br />
estão no liquidificador.<br />
- Mãe, onde está a água pra enxaguar meu cabelo,<br />
a senhora quer me ver careca?<br />
-Onde já se viu tanta bobagem, água filtrada<br />
pro cabelo. Filha, você ainda não esquentou a<br />
água pro meu chá?<br />
-Luiza rápido... a água limpa, antes que o fertilizante<br />
queime as violetas, depois não quero<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
reclamações.<br />
-Ué dona Luiza, ainda não colocou os ovos pra<br />
cozinhar?<br />
(...)<br />
Uma pequena aglomeração se forma<br />
em frente ao sobrado. Afoitos se acotovelam<br />
tentando enxergar algo que justifique a movimentação.<br />
O carro da polícia militar, as ambulâncias,<br />
uma com o rapaz ferido na cabeça, outra<br />
com a mulher sedada, abrem espaço fazendo<br />
soar a sirene.<br />
O burburinho dos vizinhos é grande.<br />
Atônitos ninguém entende o que aconteceu.<br />
(...)<br />
-Alguém da família explicou como começou<br />
a confusão? A Luiza é tão calma, paciente.<br />
Até o policial parece perplexo com tanta<br />
informação confusa.<br />
-Verdade ela é tranquila, sempre cuidando<br />
de todos. Olhe o jardim, veja o canteiro<br />
de violetas que lindo. É amada pela família:<br />
solícita, atuante, presente em tudo.<br />
-Segundo o Mauricio parece que estava<br />
tudo normal: ele colocando fertilizantes nas<br />
plantas, a filha no chuveiro, o filho saindo pra<br />
academia, a empregada tinha chegado da feira<br />
e o casal de velhos na rotina de sempre.<br />
-Porque será que ela jogou pela janela<br />
a panela com água? Ainda bem que o pobre<br />
carteiro além do susto, parece que só teve<br />
um profundo corte na testa.<br />
-Pois é. O que mais surpreendeu foi a<br />
crise nervosa que teve a seguir. Você ouviu a<br />
gritaria, pensei que tivesse morrido alguém<br />
credo!?<br />
- Coisa estranha, um surto de repente<br />
carregando uma panela com um pouco d’água!?<br />
-Será que não foi esse negócio de macumba?<br />
- da guarda, ascender um incenso e ler o<br />
salmo 91.<br />
-Isso é bom pra quê?<br />
(segue)<br />
www.varaldobrasil.com 1<strong>20</strong>
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
-Sei lá, pra proteção ué!. Vai que seja algum trabalho feito pra eles e acabou saindo de controle.<br />
Não viu o pobre carteiro? Não tinha nada a ver com a história e saiu com o braço queimado e<br />
um bom corte na cabeça.<br />
-Quer saber, você está certa. Vou até o mercadinho comprar um maço velas, e ver se encontro<br />
algum incenso de proteção. Qual é mesmo o salmo que você disse?<br />
-Salmo 91.<br />
-Tomara que meu nenê não tenha rasgado justamente essa página. Ele costuma brincar<br />
com a bíblia, outro dia arrancou um monte de páginas e picou em pedacinhos.<br />
Se você deseja ajudar os ani-<br />
mais que todos os dias são<br />
abandonados, atropelados, mal-<br />
tratados e não sabe como, vai<br />
aqui uma dica:<br />
Procure uma associação de pro-<br />
teção aos animais, um refúgio,<br />
uma organização ou mesmo<br />
uma pessoa responsável em sua<br />
cidade ou estado. As colabora-<br />
ções podem ser feitas através de<br />
tempo, dedicação, ajudas finan-<br />
ceiras, divulgação.<br />
Há pessoas por todos os cantos<br />
ajudando aqueles que não sa-<br />
bem como ajudar a si mesmos.<br />
Seja mais um, faça destes bichi-<br />
nhos a sua causa!!<br />
AJUDE A AJUDAR,<br />
SEJA HUMANO!<br />
www.varaldobrasil.com 121
MULHER - UM UNIVERSO<br />
Por Odenir Ferro<br />
- A Mulher, não compõe-se apenas de um corpo;<br />
cuja paixão por sua estética e pelas performances<br />
que se desnudam pela vida afora - momento a momento<br />
- instantâneo a instantâneo - Flaaaassssssscccccccccchhhhhhhh!!!!!<br />
Todos estes movimentos vitalícios, fazem com que a<br />
mulher não componha-se, e nem muito menos comporte-se,<br />
- por dentro e por fora, - articulando-se<br />
apenas num corpo. Cuja paixão pela estética, a faz<br />
com que ela se submeta a todos os caprichos, impostos<br />
pela moda: e muitos mais, e mais outros e outros,<br />
e outros, segmentos a mais.<br />
- Ela também tem - algumas, até, em muita profundidade:<br />
um universo!<br />
Num universo interior, que lhe permite, dentro das<br />
suas atitudes, um : iiillllllliiiiimitttttttttttaaaaaaarrrrrrrrrr-se!<br />
Dentro de si mesma. Sendo estas atitudes,<br />
pequenas ou grandes. Agindo, através dos seus<br />
desempenhos, muitas vezes, demonstrando uma postura<br />
ativista - ao invés daquelas submissões antigas,<br />
que presenciávamos - dentro dos padrões de ações<br />
das nossas avós.<br />
A mulher, - na atualidade - comparada com a mulher<br />
de antigamente, - deixou de ser submissa a tudo e a<br />
todos. A mulher moderna desempenha muitas funções<br />
sociais - além de atuar em vários setores do<br />
mercado de trabalho. Trabalho que antes, - e isto não<br />
faz muito tempo, - era, para ela, impossível; até podemos<br />
dizer: inimaginável fosse, a sua atuação. Como<br />
por exemplo: a mulher astronauta. Ou, a mulher<br />
piloto ou copiloto de voos aéreos. A bordo de aviões<br />
comerciais de grande porte. Nacionais ou internacionais!<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
A mulher da atualidade, está provocando, e olha<br />
que: ela está provando que sim! Ela pode exercer e<br />
desempenhar as mais variadas funções: que lhe exijam<br />
concentração, atenção, e força. E isto até, atuando<br />
nas atividades de muitos ou de poucos esforços<br />
físicos.<br />
A mulher é paciente. A mulher é perseverante; é... a<br />
mulher, ela é! Ela atua nos textos e nos contextos<br />
dos dramas, dos psicodramas, dos melodramas, das<br />
tramas e das tramoias da vida, de forma exemplar.<br />
Ela é! Ela atua constantemente sobre, e em torno<br />
dela mesma! Sem contar que ela é super, muito,<br />
pouco, mais ou menos... Muitíssimo agitada! Com<br />
os filhos - às vezes, ou sempre, ela se torna: me-lodra-máááááá-ti-caaaaaaaaaaaa!!!!<br />
A mulher não sabe quem ela ama: se é a família, se é<br />
o seu passado, se é os seus planos mais secretos, ou<br />
são os seus filhos! Ou, se é: tudo-ao-mesmoteempooooo!!!!<br />
Numas oras, ela é idealista; sendo que em questão de<br />
segundos, ela passa a ser realista. Ou, vice-e-versa!<br />
A mulher é: empreendedora! Ela concentra dentro de<br />
si, as habilidades para dividir-se. Em muitas, em algumas,<br />
em outras, ou, em múltiplas: dentro das funções<br />
que lhe vão indo, atuando dentro do seu próprio,<br />
único e ímpar e próprio ser: exercendo as múltiplas<br />
funções que lhe vão desde as mais simples tarefas<br />
domésticas, até as que - porventura, - lhes exijam<br />
os mais e os maiores esforços para a resolução<br />
de uma determinada função.<br />
Ainda, na atualidade, - cabe mais, a mulher - os desempenhos<br />
de educar e de acompanhar a formação<br />
dos seus filhos. Como ela tem a dor e o amor - no<br />
dom de parir, e amamentar - ela guarda e resguarda<br />
dentro de si, as noções mais primitivas do amor, do<br />
ódio, e do desamor!<br />
Pois ela guarda dentro de si, todos os instintos mais<br />
primitivos que se agem e reagem, dentro da concepção<br />
e da proteção maternal.<br />
Cada mulher, contêm dentro de si, um inesgotável<br />
universo de bem-aventurança: no qual, e através do<br />
qual, elas adquirem e têm os plenos poderes para<br />
convergir em benefícios próprio; ou da sua família,<br />
ou até: de toda uma sociedade. E, consequentemente,<br />
do planeta inteiro!<br />
- É notável que as mulheres, competem e muito,<br />
muitíssimo mesmo: entre si mesma e entre todas as<br />
outras mulheres: que são tão notáveis, quanto elas<br />
mesmas.<br />
(Segue)<br />
www.varaldobrasil.com 122
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Dentro do meu conceito pessoal, uma das minhas fãs, Carmem Miranda, foi um puro exemplo de megalomania:<br />
- Eu acredito que ela foi uma mulher apaixonadíííííísssssima: por ela mesma!<br />
É notável que as mulheres se competem entre elas. Elas prezam muito pelas estéticas. Sejam elas: faciais,<br />
corporais, indumentárias,... e, pelas estéticas indiscriminadas pelo culto ao corpo. São vaidosas: algumas,<br />
obsessivas até!<br />
- Dentro dos padrões estéticos de comportamentos, ou seja lá o que for...<br />
- A mulher, contempla tudo o que é belo! Tudo o que contêm, dentro das belezas, naturalmente residentes<br />
dentro delas mesmas. Ou, dentro daquilo que elas sentem, pressentem, ouvem, intuem, realizam, ou vêem...<br />
Pois a mulher, é constantemente apaixonada pela vida. E, consequentemente, pelos ambientes socioculturais,<br />
em que ela passeia, vivendo.<br />
As fêmeas no sentido geral - tanto no aspecto humano como nos demais aspectos dos reinos animais - contêm<br />
dentro de si, - os instintos de preservação que se unificam a continuidade geral e natural da vida!<br />
A mulher, é um ser distinto do ser mãe - muito embora, ambas se complementam, se completam! E isto é<br />
exemplar, sociocultural, além de ser: Divino!<br />
A mulher, está para ela mesma, quando: dentro do seu intuitivo instinto materno, ela figura-se inerente ao<br />
seu contexto geral. Sendo que a sua natureza feminina, como sendo uma mulher-guerreira, se abre ou resguarda-se<br />
dentro deste seu universo misterioso. Um universo, que carrega dentro de si, como se fosse uma<br />
importante missão - num referencial espontaneamente exposto à natureza da criação e da procriação - que<br />
ela mesmo, às vezes, desconhece: pois ela age, muitas vezes, instintivamente - atuando dentro deste sentido.<br />
Cabe ao Criador do Universo - O Conhecimento de como se procede e se prossegue a perpetuidade das<br />
espécies.<br />
- Às Mulheres, apenas cumpre-lhes desempenharem o seu magnífico papel, dentro da sua natureza: o de ir<br />
agindo com a plenitude da sabedoria da procriação da vida!<br />
www.varaldobrasil.com 123
Receita de Mulher<br />
Vinicius de Moraes<br />
As muito feias que me<br />
perdoem<br />
Mas beleza é fundamental.<br />
É preciso que haja qualquer<br />
coisa de flor em tudo isso<br />
Qualquer coisa de dança,<br />
qualquer coisa de haute<br />
couture<br />
Em tudo isso (ou então Que a mulher se socialize<br />
elegantemente em azul,<br />
como na República Popular Chinesa).<br />
Não há meio-termo possível. É preciso<br />
Que tudo isso seja belo. É preciso que súbito<br />
Tenha-se a impressão de ver uma garça apenas<br />
pousada e que um rosto<br />
Adquira de vez em quando essa cor só encontrável<br />
no terceiro minuto da aurora.<br />
É preciso que tudo isso seja sem ser, mas que se<br />
reflita e desabroche<br />
No olhar dos homens. É preciso, é absolutamente<br />
preciso<br />
Que seja tudo belo e inesperado. É preciso que umas<br />
pálpebras cerradas<br />
Lembrem um verso de Éluard e que se acaricie nuns<br />
braços<br />
Alguma coisa além da carne: que se os toque<br />
Como no âmbar de uma tarde. Ah, deixai-me dizervos<br />
Que é preciso que a mulher que ali está como a<br />
corola ante o pássaro<br />
Seja bela ou tenha pelo menos um rosto que lembre<br />
um templo e<br />
Seja leve como um resto de nuvem: mas que seja<br />
uma nuvem<br />
Com olhos e nádegas. Nádegas é importantíssimo.<br />
Olhos então<br />
Nem se fala, que olhe com certa maldade inocente.<br />
Uma boca<br />
Fresca (nunca úmida!) é também de extrema<br />
pertinência.<br />
É preciso que as extremidades sejam magras; que<br />
uns ossos<br />
Despontem, sobretudo a rótula no cruzar das pernas,<br />
e as pontas pélvicas<br />
No enlaçar de uma cintura semovente.<br />
Gravíssimo é porém o problema das saboneteiras:<br />
uma mulher sem saboneteiras<br />
É como um rio sem pontes. Indispensável.<br />
Que haja uma hipótese de barriguinha, e em seguida<br />
A mulher se alteie em cálice, e que seus seios<br />
Sejam uma expressão greco-romana, mas que gótica<br />
ou barroca<br />
E possam iluminar o escuro com uma capacidade<br />
mínima de cinco velas.<br />
Sobremodo pertinaz é estarem a caveira e a coluna<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
vertebral<br />
Levemente à mostra; e que exista um grande<br />
latifúndio dorsal!<br />
Os membros que terminem como hastes, mas que<br />
haja um certo volume de coxas<br />
E que elas sejam lisas, lisas como a pétala e<br />
cobertas de suavíssima penugem<br />
No entanto, sensível à carícia em sentido<br />
contrário.<br />
É aconselhável na axila uma doce relva com<br />
aroma próprio<br />
Apenas sensível (um mínimo de produtos farmacêuticos!).<br />
Preferíveis sem dúvida os pescoços longos<br />
De forma que a cabeça dê por vezes a impressão<br />
De nada ter a ver com o corpo, e a mulher não lembre<br />
Flores sem mistério. Pés e mãos devem conter elementos<br />
góticos<br />
Discretos. A pele deve ser frescas nas mãos, nos<br />
braços, no dorso, e na face<br />
Mas que as concavidades e reentrâncias tenham uma<br />
temperatura nunca inferior<br />
A 37 graus centígrados, podendo eventualmente<br />
provocar queimaduras<br />
Do primeiro grau. Os olhos, que sejam de<br />
preferencia grandes<br />
E de rotação pelo menos tão lenta quanto a da Terra;<br />
e<br />
Que se coloquem sempre para lá de um invisível<br />
muro de paixão<br />
Que é preciso ultrapassar. Que a mulher seja em<br />
princípio alta<br />
Ou, caso baixa, que tenha a atitude mental dos altos<br />
píncaros.<br />
Ah, que a mulher de sempre a impressão de que se<br />
fechar os olhos<br />
Ao abri-los ela não estará mais presente<br />
Com seu sorriso e suas tramas. Que ela surja, não<br />
venha; parta, não vá<br />
E que possua uma certa capacidade de emudecer<br />
subitamente e nos fazer beber<br />
O fel da dúvida. Oh, sobretudo<br />
Que ela não perca nunca, não importa em que<br />
mundo<br />
Não importa em que circunstâncias, a sua infinita<br />
volubilidade<br />
De pássaro; e que acariciada no fundo de si mesma<br />
Transforme-se em fera sem perder sua graça de ave;<br />
e que exale sempre<br />
O impossível perfume; e destile sempre<br />
O embriagante mel; e cante sempre o inaudível<br />
canto<br />
Da sua combustão; e não deixe de ser nunca a eterna<br />
dançarina<br />
Do efêmero; e em sua incalculável imperfeição<br />
Constitua a coisa mais bela e mais perfeita de toda a<br />
criação inumerável.<br />
www.varaldobrasil.com 124
MULHER<br />
Por Alcéa Romano<br />
Duas, dez, dúzias,<br />
para ser uma só.<br />
Sozinha, somente,<br />
mulher, inteligente.<br />
Nem sempre basta<br />
ser capaz, congruente,<br />
eloquente, exuberante.<br />
Às vezes, é preciso ser<br />
irreverente, contundente,<br />
instigante, interessante.<br />
Imperativo ser<br />
ternamente paciente,<br />
carinhosamente persistente,<br />
amorosamente tolerante.<br />
Quem sabe aprender<br />
Ou aprender simplesmente<br />
a tornar-se semelhante,<br />
contemplar o semblante,<br />
se sentir bem inteira,<br />
a melhor companheira.<br />
Ter viço<br />
Ser viço<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Ser vista<br />
Re-vista<br />
Insistir em ser isto e aquilo.<br />
Sem pressa, com charme.<br />
Calmamente, integralmente,<br />
Mulher.<br />
Ilustração do livro Poesia de Vi-<br />
ver de Alcéa Romano<br />
www.varaldobrasil.com 125
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
MARIA BONITA SOLIDÃO<br />
Por Lúcia Amélia Brüllhardt<br />
No vazio de uma mente entre flores e sementes<br />
Nascem passagens e dores de um ser ausente<br />
Que sente o presente<br />
Que chora a vida indiferente<br />
Que sente a sede indecente<br />
Num universo de homens valentes<br />
Existirá sempre uma mulher presente<br />
Em um universo transparente<br />
Que fala a mesma língua da gente<br />
Ser vivente sobrevivente<br />
Entre cobras e serpentes<br />
Rainha do cangaço<br />
Que somente desejou o teu abraço.<br />
www.varaldobrasil.com 126
Por César Soares Farias<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Aquele Vitelo...<br />
A noite encaminhava-se para um final feliz, com todas as escalas do romantismo sendo<br />
rigorosamente percorridas e executadas com uma precisão quase científica. As flores, a caixa<br />
de bombons, o passeio de carro à beira do Guaíba, as citações de Fernando Pessoa murmuradas<br />
caprichosamente ao pé do ouvido... Agora Jean Carlo estacionava o Vectra escarlate em<br />
frente ao “Degusta”, restaurante do bairro São Geraldo frequentado por 8 entre 10 casais de<br />
namorados da classe média porto-alegrense.<br />
Vera, ou Verinha como era chamada na Faculdade de Veterinária da Universidade Federal<br />
do Rio Grande do Sul, devota de São Francisco, era uma galega pequenina mas de contornos<br />
bem delineados, acabando por atrair os olhares e desejos de Jean, o galanteador conceituadíssimo<br />
entre as ninfas da Faculdade.<br />
Tão certo como as uvas colhidas em vinhedos de Bento Gonçalves, após destiladas,<br />
vão para as garrafas, as mulheres que embarcavam naquele Vectra para um jantar no “Degusta”<br />
acabavam todas, sem exceção, no apartamento nº <strong>20</strong>3 do edifício 2704, Rua Fernandes Vieira,<br />
bairro Bom Fim, mais precisamente no leito do acadêmico de Odontologia.<br />
Após degustar a Carne de Vitelo ao Molho Branco, sugerida com grande entusiasmo e<br />
brilho no olhar pelo rapaz, Vera sentiu curiosidade sobre aquele prato tão delicioso que<br />
acabara de experimentar na companhia excitante daquele moreno de olhos verdes que acariciava<br />
suavemente, sem pressa, as suas mãozinhas. O vinho deixava-a descontraída.<br />
Estavam em uma mesa privilegiada, junto à janela, de onde avistava-se a lua derramando<br />
emanações prateadas a refletirem-se no pequeno lago artificial do luxuoso restaurante. Um quarteto<br />
de cordas, composto por músicos da Orquestra de Câmara da Ulbra, num brinde aos devaneios<br />
amorosos, executava a irresistível “La Barca”. Quando o garçom aproximou-se novamente<br />
para encher-lhes as taças ela finalmente indagou:<br />
-- Ai moço, como é que se prepara esse tal de Vitelo? ... Adorei.<br />
-- Bom faz assim, quando nasce um bezerro tem que desmamá ele da vaca assim que começá a<br />
caminhá... Aí começa a dá só água pra ele, até fica anêmico, porque assim a carne fica bem<br />
branquinha e macia... Depois é só matá o filhote...<br />
-- PLAFT!<br />
A bofetada da galeguinha acertou a face direita de Jean, que corou ao notar, já sozinho,<br />
que nas mesas ao redor todos o miravam com sarcasmo.<br />
www.varaldobrasil.com 127
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Mulher<br />
Por Vera Salbego<br />
Mulher, quem és tu.<br />
Sei que é guerreira<br />
Luta por tua causa<br />
Tens tantas tarefas<br />
Trabalha fora e ainda tem o serviço de casa.<br />
Mulher, tu és uma Vitoriosa.<br />
Levanta cedo<br />
E vai para o trabalho<br />
Cuida dos teus filhos<br />
Os educa, ama e orienta.<br />
Mulher és uma Diva<br />
Tem teu charme<br />
Passa batom e com teu jeito firme<br />
Conquista teu espaço.<br />
www.varaldobrasil.com 128
QUEM É VOCÊ, MULHER?<br />
Por Jacqueline Aisenman<br />
Eu não saberia dizer quem sou eu. Um anjo<br />
me concebeu, levou o amor de um homem ao<br />
ventre de uma mulher. Nasci deste ventre e<br />
posso dizer, não sei se ela, a quem chamei<br />
mãe, também saberia responder.<br />
Sei que antes dela anjos bendisseram outros<br />
amores e preencheram ventres e tantas de nós<br />
nascemos. Dizem que viemos de uma primeira,<br />
criada e concebida pelo amor eterno.<br />
Aprendi a caminhar com as mãos e os pés e<br />
caminhei pela vida e pelos anos levando e trazendo<br />
de mim e de muitos. Pisei chão firme e<br />
areias movediças; muitas vezes levantei sozinha,<br />
algumas vezes fui erguida por mãos humanas,<br />
outras ainda, por mãos divinas. Trilhei<br />
estradas que me levaram a lugares onde fiquei<br />
por um tempo; peguei atalhos que me privaram<br />
das verdadeiras paisagens. Conheci rotas longas<br />
e curtas, cheias de pedra e de flores. Encontrei<br />
de tudo.<br />
Minhas primeiras palavras fizeram ecoar sorrisos<br />
ao meu redor. Mas na sequência da vida<br />
nem sempre foi assim. Falei coisas das quais<br />
me arrependi, guardei palavras em silêncios<br />
sem sentido. Ouvi o que queria e o que não<br />
queria. Pedi para que houvesse mais e mais<br />
som. Supliquei pela paz do silêncio. Me pediram<br />
sigilo e me disseram para cantar. Vozes<br />
existiram fora e dentro de mim.<br />
No princípio todo o meu desejo era fundir com<br />
a mulher que me deixara sair de dentro dela.<br />
Queria estar sempre o mais perto possível,<br />
dentro, bem dentro, ainda mais se possível fosse.<br />
Depois, aos poucos, fui me afastando. Cheguei<br />
ao ponto de desejar nunca mais ver o cordão<br />
invisível que me puxava. Mas com o tempo<br />
o cordão foi tornando-se visível, forte e em tantos<br />
momentos da minha vida foi a única coisa<br />
que me segurou e não permitiu a queda em<br />
precipícios e penhascos. Também aos poucos<br />
fui voltando, me aconchegando, querendo novamente<br />
o colo que me neguei.<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Senti medo do escuro em algumas ocasiões e<br />
em outras apaguei eu mesma as luzes. Corri<br />
de lobos em florestas desertas, mas também<br />
cacei lobos em florestas superpovoadas. Senti<br />
a força dos meus braços e pernas e toda a fraqueza<br />
que os mesmos membros podem ter em<br />
certos momentos. Fui o estandarte de algumas<br />
batalhas e noutras simplesmente me escondi<br />
atrás de cortinas.<br />
Lutei muito. Lutei contra os moinhos e contra<br />
monstros. Enfrentei heróis e vilãos. Combati<br />
sentimentos e pensamentos. Disputei espaços.<br />
Certas vezes venci e acordei depois. Noutras,<br />
perdi e não tive como acordar. A realidade e os<br />
sonhos me pregaram muitas peças!<br />
Brinquei com nuvens e viajei com o vento.<br />
Chorei lágrimas de chuva e embraveci com os<br />
trovões. Fui calor de verão e suas tempestades.<br />
Gelei como o mais frio inverno e deixei<br />
cair de mim as folhas de outono esperando a<br />
renovação.<br />
Escrevi poemas cheios de emoção e sem poesia<br />
e fiz poesias com olhares que não pediam<br />
palavras. Li mais linhas do que podia, folhei a<br />
vida, tentei entender, busquei soluções, encontrei<br />
contradições, fui ao fundo de questões que<br />
me trouxeram cada vez mais indagações.<br />
Encontrei quem me apontasse o dedo e dissesse:<br />
Ei, você, mulher! E eu, surpresa de ainda<br />
ser a menina de um dia, busquei em mim<br />
mesma as formas e as experiências que me<br />
dessem a certeza, o orgulho ou a resposta de<br />
ser quem foi chamada.<br />
Ouvi tantos chamados! Respondi alguns, me<br />
fiz de surda para tantos outros.<br />
Não me fechei em opiniões, não tranquei meus<br />
olhos na obviedade. Busquei sempre o que pudesse<br />
haver por trás do reflexo no espelho.<br />
Tantos caminhos e dias, tantas gentes e situações<br />
depois de minha concepção, ainda não fui<br />
capaz de te responder. Não sei quem sou. Sei<br />
apenas que vivo nascendo e morrendo, dando<br />
e tirando vida, tudo isto porque escolhi viver.<br />
Talvez para responder por enquanto tua pergunta<br />
eu responda: sou uma tela em branco ou<br />
notas musicais soltas ou barro no chão. Espero<br />
que o artista em ti desabroche e venha até mim<br />
para que eu também possa despertar.<br />
E você, quem é você, homem?<br />
www.varaldobrasil.com 129
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Obra de ourives<br />
Por Oliveira Caruso<br />
Qual ourives a ti esculpiu,<br />
linda e una amada de meu ser?<br />
Laborou ele decerto a valer!<br />
Natureza à beldeza um dia pariu...<br />
Tu cresceste, aumentando o valor<br />
que já tinhas no ouro decerto só teu.<br />
Mais quilates teu corpo viçoso me deu;<br />
incremento me trouxe ele em furor!<br />
O tempo de fato a ti desbastou,<br />
nada tirando de tua ternura!<br />
Moça criança então te tornou.<br />
Árduo, porém, pra mim é mensurar<br />
todo o valor que tu propicias<br />
à vida em casal do nosso levar.<br />
www.varaldobrasil.com 130
Somos mulheres<br />
Por Ju Petek<br />
Somos mulheres<br />
de todas as cores<br />
de todos amores<br />
de todas as flores<br />
somos ardores<br />
espalhamos sabores<br />
sorrisos encantadores<br />
inundamos prazeres<br />
despertamos calores<br />
explodimos esplendores<br />
rubores<br />
Somos mulheres de todos amores<br />
de todos sonhadores<br />
esbanjamos essa fantasia<br />
em enfeitar<br />
enfeitiçar<br />
brilhos espalhar.<br />
Criamos esse amar<br />
incondicional amar<br />
em transformar<br />
no ato de doar<br />
o voar<br />
a alma elevar<br />
à linha do céu azul.<br />
Somos mulheres<br />
de embalar numa canção<br />
o doce ninar,<br />
e um filho<br />
acalentar.<br />
Somos mulheres<br />
de lutas e conquistas<br />
de lágrimas e bravatas<br />
de amor e comiseração<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
seguindo no coração<br />
no caminho no viver<br />
a ternura<br />
a fortaleza<br />
de ser<br />
mulher ..<br />
www.varaldobrasil.com 131
Esmeralda<br />
Por Guacira Maciel<br />
__ Minha fia, o que ocê tá fazendo<br />
aqui nesse lugar essas hora? Vai pra casa...aqui<br />
num é lugar pra moça como ocê.<br />
__ Num posso. Tô percurando uns "baguio" pra<br />
comprá de comer pra nois...<br />
__ Aqui?? Se sobra arguma coisinha de nada<br />
qui serve, eles carrega, fia.<br />
__ Mais eu vou "dissaroiar" mais um poquinho,<br />
quem sabe num dô sorte?<br />
__ Num sobra nada qui preste, fia! tô dizeno?<br />
eu cunheço isso aqui como a parma das minha<br />
mão...<br />
__ Mas a sinhora num tá cum a fome qui eu<br />
tô...eu e mãe...<br />
__ Oia, eu sei o qui é fome braba...vamo lá im<br />
casa, que eu te dou arguma coisa...<br />
__Brigada, mais num carece. E amanhã?<br />
__ Prendi qui o qui conta é matar a fome hoje,<br />
no outro dia nois vê depois... Cuma ocê se<br />
chama?<br />
__ Ismerarda<br />
__ Nome bonito... vamo qui nois cunvesa cum<br />
carma.<br />
__ Tá bom, hoje eu vou...<br />
Dona Tonha levou Esmeralda rapidamente,<br />
era importante sair logo dali...Quando chegaram<br />
em sua casa, a senhora fez a moça entrar,<br />
sentar-se à mesa e serviu-lhe um jantar caprichado.<br />
Esmeralda não abriu a boca para outra<br />
coisa que não fosse para enfiar a colher lotada<br />
daquela deliciosa e quente comidinha. [Meu<br />
Deus, pensou...faz quanto tempo qui num sinto<br />
esse gostim de cumida de verdade? eu nem<br />
se lembrava mais].<br />
De repente deu-se conta que nem olhara para<br />
aquela “dona tão boazinha” e parou, largando a<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
colher sobre a mesa:<br />
__ A dona me discurpe, eu fiz qui nem bicho<br />
quando vi a cumida.<br />
__ Num carece se discurpá, fia. Eu intendo, já<br />
fui qui nem ocê...<br />
__ E foi? Mas tem essa casa boa...<br />
__ É...eu sei quanto mi custô...<br />
Esmeralda olhou-a intrigada; não entendeu,<br />
mas não quis perguntar, com receio de parecer<br />
curiosa; em seu meio as perguntas não eram<br />
bem vindas. Terminou de comer, levantou-se<br />
educadamente de cabeça baixa, agradeceu e<br />
saiu.<br />
__Se cuida, fia! E se puder, vá pra bem longe<br />
daqui.<br />
Não conseguiu dormir, pensando naquela moça.<br />
Levantou-se pela madrugada e, como de<br />
costume, foi pitar seu cachimbo acocorada à<br />
porta de casa, olhando ao longe, absorta.<br />
[Hum... aquela minina não demora pura...é muito<br />
bonita e muito pobre]. Mal acabara de pensar<br />
nela, observou uma poeira ao longe [hum...<br />
dessa vez foi mais rapidim ainda].<br />
__Dia, Dona Tonha!<br />
Falou Cosme, seu conhecido, com o chapéu<br />
numa das mãos.<br />
__Dia. O que traz vosmicê aqui essas hora?<br />
__Cadê a moça? O Seu Hermano qué qui a<br />
sinhora leve ela lá.<br />
__ Vô não, tô muito veia. O qui ocês qué cum<br />
ela? num chega? ela é muito nova prá ir pra<br />
“Serra”, sô!<br />
__A sinhora sabe, né? Quanto mais nova mió...<br />
A “Serra” é como se referem simplificadamente<br />
às minas de onde se extrai , de forma quase<br />
improvisada, a esmeralda na região da Serra<br />
da Carnaíba, no Estado da Bahia, que tem as<br />
maiores reservas da preciosa pedra no Brasil<br />
(segue)<br />
www.varaldobrasil.com 132
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Ali, como em todos esse lugares, a prostituição de mulheres quase crianças é uma barbárie;<br />
além de riquezas, também se “extrai” a inocência, a beleza e a pureza dessas meninas, para<br />
satisfazer os instintos mais brutais, muitas vezes com a conivência de autoridades e até das próprias<br />
famílias, que vivem numa miséria tão absoluta, que entregam suas filhas em troca de comida,<br />
de uma fugaz melhora de vida, para não morrerem todos de fome. Entretanto, em pouco<br />
tempo essas mulheres-crianças caem no desagrado e vão aumentar as multidões de pequenos<br />
e magros fantasmas a perambular sem rumo e sem esperança no entorno dos restos da<br />
garimpagem , em busca de um "dente de jegue" que lhe possa mitigar a fome por algumas horas.<br />
Esmeralda subiu a “Serra”, com os olhos cheios de esperança...<br />
__Cumigo vai sê diferente! Eu juro, mãe!<br />
__Minha fia, Deus te proteja...<br />
__ Ei, ocê ai....o que fais nesse lugá, essas hora? Vai pra<br />
casa, anda!<br />
Esmeralda virou-se, os olhos baços contornados por um círculo vermelho fitaram dona Tonha<br />
febrilmente. Amarrado ao pescoço trazia um cordãozinho barato de onde pendia, solitário, sem<br />
brilho e sem verdor, como a própria dona, um “dente de jegue”, trocado, enganadoramente, por<br />
sua juventude e inocência.<br />
Baguio = restos de lavra, cascalho imprestável, descartável<br />
Disaroiar = procurar, buscar<br />
www.varaldobrasil.com 133
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
www.varaldobrasil.com 134
Mulher no...<br />
Exílio<br />
Por Mara de Freitas Hermann<br />
Desde terras distantes recordo meu pai, minha<br />
mãe, meus amigos, familiares, a minha história<br />
Desde terras tão distantes vou sentindo o coração<br />
se apertar e um amortecer de vida<br />
Desde terras distantes vou sentindo a vida em<br />
mim diferente<br />
A lua aqui é ao contrário<br />
O sol de brincadeira é frio... lá fora<br />
As pessoas não conhecem mandioca, que dirá<br />
aipim<br />
Nunca ouviram falar de paçoquinha, pé de moleque<br />
Nunca escutaram os sábias... corriolas...<br />
Nem ouviram os ruídos dos coqueirais quando<br />
estão assanhadinhos pelo vento... E aquele<br />
marzão ? ohhhhhhhh... é muito lindo arrepia<br />
tudo...<br />
Caldo de cana ? nem pensar... Pastel...<br />
Forró, Pagode, Vanerão ... isso não tem por<br />
aqui não<br />
Aqui tudo é : „meu nome é trabalho<br />
Tem hora prá tudo, até...<br />
Tem gente que quer explicar tudo, e entender a<br />
árvore genealógica de tudo<br />
Improviso, passou rápido e sumiu...<br />
Risada, só sob controle<br />
é... tudo isso, e mais um pouco<br />
Eu comecei então a me perguntar que vim fazer<br />
aqui<br />
Carma? vai com carma com o carma...sô...<br />
Sinto o cheiro do feijão, que de repente chega<br />
e diz,<br />
bommmmm<br />
A couve só mineira, é claro. Oh! meu Deus, ai<br />
vem o pão de quei... essa palavra até nem dá<br />
pra completar, pois a baba escorre solta<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Pular fogueira, comer pipoca... festa de São<br />
João<br />
Eles tem aqui uma grande quermesse... com<br />
roda gigante e<br />
tudo<br />
mais umas coisa meio estranha<br />
chamam a festa da cerveja<br />
todo mundo de porre<br />
meio bobo, viu<br />
Mas...<br />
entre um pensar e outro<br />
eu me deleito com a mãe natureza<br />
que no seu esplendor se apresenta em várias<br />
cores<br />
em suas fases multicores, linda<br />
Tudo arrumadinho<br />
Ninguém<br />
eu fico procurando às crianças à jogar futebol,<br />
a correr, a sorrir<br />
de repente percebo que estou aqui<br />
longe<br />
tão perto do meu coração<br />
Brasil.<br />
Foto de Canallucio Adriano<br />
www.varaldobrasil.com 135
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
De Amazona a babá...<br />
Por Angela Guerra<br />
MULHER – 6 letrinhas, apenas –<br />
um cosmos a explorar...<br />
Amazona destemida,<br />
pelas aleias da vida,<br />
cavalga pronta<br />
para o que der e vier,<br />
ciente de seus encantos<br />
e de seu poder,<br />
imbuída de uma força,<br />
que brota do âmago do seu ser<br />
e a faz triunfar, indômita,<br />
temperando a fortaleza da fórmula,<br />
com dose certa de doçura,<br />
sedução, amor, ternura,<br />
em seus múltiplos papéis,<br />
de mãe, filha,<br />
irmã, companheira,<br />
amiga, dona de casa,<br />
profissional competente,<br />
babá de neto...<br />
e o que mais se fizer mister...<br />
www.varaldobrasil.com 136
O livro <strong>VARAL</strong> ANTOLÓGICO 3,<br />
terceira coletânea da revista <strong>VARAL</strong> <strong>DO</strong><br />
<strong>BRASIL</strong>, chega às mãos dos leitores em<br />
maio de <strong>20</strong>13.<br />
São participantes e coautores no livro:<br />
ValdiValdi - Capa<br />
Valdeck Almeida de Jesus - Prefácio<br />
Rita de Cássia A. Andrade - Poema de<br />
abertura<br />
Maria de Fátima Barreto Michels -<br />
Fotos interiores<br />
Isabel C. S. Vargas e César Soares<br />
Farias - Orelhas<br />
Editora: Selo Varal do Brasil com Design<br />
Editora<br />
Organização de Jacqueline Aisenman<br />
São os coautores no livro:<br />
ARLETE TRENTINI <strong>DO</strong>S SANTOS<br />
AUDELINA MACIEIRA<br />
CAROLINE AXELSSON<br />
CINTIA MEDEIROS<br />
CLAUDIO DE ALMEIDA HERMINIO<br />
CLEVANE PESSOA<br />
DIVA MENDES<br />
EDIANE SOUZA 5<br />
EMANUEL MEDEIROS VIEIRA<br />
FLAVIA ASSAIFE<br />
FLÁVIO GOULART BARRETO<br />
GUSTAVO GOTTFRIED BARRETO<br />
HEBE C. BOA-VIAGEM A. COSTA<br />
HERNANDES LEÃO<br />
JACQUELINE AISENMAN<br />
JANIA SOUZA<br />
JERONYMO ARTHUR<br />
JOANA ROLIM 3<br />
JOSE ALBERTO DE SOUZA<br />
JOSÉ CAMBINDA DALA<br />
J C BRI<strong>DO</strong>N<br />
LENIVAL NUNES DE ANDRADE<br />
LUCIA AMÉLIA BRULLHARDT<br />
LUIZ CARLOS AMORIM<br />
MARIA DE FÁTIMA B. MICHEL<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
MARLY RONDAN<br />
MARIA NILZA DE CAMPOS LEPRE<br />
NORALIA DE MELLO CASTRO<br />
PEDRO ANTÔNIO CORRÊA<br />
RAIMUN<strong>DO</strong> CANDI<strong>DO</strong> T. FILHO<br />
RENATA IACOVINO<br />
RITA DE OLIVEIRA MEDEIRO<br />
ROBERTO FERRARI<br />
ROSELIS BATISTA R<br />
SANDRA NASCIMENTO<br />
VALQUIRIA MALAGOLI<br />
VICENCIA JAGUARIBE<br />
VO FIA<br />
WALNÉLIA C. PEDERNEIRAS<br />
LANÇAMENTOS:<br />
Em 3 de maio de <strong>20</strong>13 no 27o Salão<br />
Internacional do Livro de Genebra<br />
Em agosto de <strong>20</strong>13 em Florianópolis,<br />
SC.<br />
www.varaldobrasil.com 137
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
MULHERES DE MINAS<br />
Por Gonzaga Medeiros<br />
Mulheres existem muitas,<br />
tantas quantas são as saias do mundo.<br />
Só é, porém, uma grande mulher,<br />
a que se veste com a saia do amor<br />
conjugado no tempo<br />
mais-que-profundo.<br />
Ah! Mulheres existem tantas<br />
quantos são os lábios do beijo doce.<br />
Será, porém, uma grande mulher,<br />
aquela que sorrindo puder<br />
beijar também com o sorriso,<br />
como se este um doce beijo fosse.<br />
Vós, mulheres de minas,<br />
lavadeiras, artesãs e rezadeiras,<br />
professoras, operárias lavradoras,<br />
parteiras, parideiras de outras mais,<br />
sois todas heroínas,<br />
porque escreveis com suor<br />
a própria história,<br />
defendendo a pátria da vida<br />
no peito, na dividida,<br />
numa luta nem sempre de glória.<br />
Ah! Se todas fossem iguais a vós,<br />
mulheres de Minas ...<br />
www.varaldobrasil.com 138
MULHER MODERNA<br />
Sheila Ferreira Kuno<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Acorda de manhã, se arruma, beija as crianças e sai.<br />
Vai pro trabalho com o marido e durante o percurso, pega seu “tablet” e escreve,<br />
as vezes lê ou estuda.<br />
No trabalho se desdobra sem nunca se esquecer de ligar para os filhos.<br />
Pergunta se fizeram a lição, se tem dúvidas.<br />
Consola quando necessário.<br />
Dá bronca quando é preciso.<br />
Resolve todos os problemas domésticos que surgem, sem perder o comprometimento<br />
e profissionalismo necessários a um bom profissional.<br />
Fim do dia, no percurso de volta, ainda tenta escrever, ler já é impossível.<br />
Dorme um pouco.<br />
Em casa, ajuda os filhos nas atividades escolares.<br />
Verifica as agendas, mochilas e uniformes.<br />
Lê historias para as crianças.<br />
Beija o marido quando ele passa.<br />
Põe as crianças na cama e tentar correr na esteira.<br />
Toma um banho demorado e recebe seu marido na cama, com a disposição de quem acaba de<br />
acordar.<br />
h p://www.einstein.br/<br />
www.varaldobrasil.com 139
<strong>BRASIL</strong>-REPÚBLICA<br />
AS MULHERES RESGATAN<strong>DO</strong> SEUS<br />
DIREITOS<br />
Por Hebe C. Boa-Viagem A. Costa<br />
Eis um rápido esboço:<br />
1.891 - A primeira Constituição da República do<br />
Brasil decepcionou as mulheres. Apesar de<br />
assegurar que todos são iguais perante as<br />
leis, mantiveram a mulher na condição de me-<br />
noridade com todas as limitações inerentes a<br />
essa situação.<br />
1897 – Fundada a Academia Brasileira de Le-<br />
tras com um estatuto que impedia que as mu-<br />
lheres a ela pertencessem. Foram barradas<br />
Julia Lopes de Almeida e Amélia Bevilacqua.<br />
1905 – Embora as mulheres pudessem fre-<br />
quentar cursos superiores (1987) só nesse<br />
ano, graças a advogada Mirthes Campos, a<br />
OAB, então IAB , permitiu que elas se filias-<br />
sem.<br />
1916 – O Código Civil trouxe as seguintes<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
“preciosidades”:<br />
A chefia da sociedade conjugal cabe ao ho-<br />
mem competindo o direito de fixar ou de<br />
mudar de domicilio; de conceder ou reti-<br />
rar a autorização para que a mulher<br />
exerça profissão;<br />
À mulher cabe a função de auxiliar e só<br />
poderá exercer uma profissão se o ma-<br />
rido autorizar.<br />
1918 - Desencantadas as mulheres resolveram<br />
agir não mais isoladamente. Estrangeiras que<br />
aqui viviam e brasileiras que conheceram ou-<br />
tras terras adotaram estratégia já existente em<br />
diversos países. Bertha Lutz, que vivera na Eu-<br />
ropa, se dispôs a criar uma organização sufra-<br />
gista . De inicio, mulheres da elite se associa-<br />
ram e depois, o movimento se estendeu às tra-<br />
balhadoras orientando-as na criação de sindi-<br />
catos.<br />
Década de Vinte<br />
Em1922 Bertha Lutz criou a Federação Brasi-<br />
leira para Progresso Feminino .<br />
(segue)<br />
www.varaldobrasil.com 140
• Foi uma década de muitas tentativas da Fe-<br />
deração para conseguir o direito de voto. As<br />
associadas frequentavam assiduamente a Câ-<br />
mara e o Senado para que um projeto que<br />
tratava do assunto fosse votado mas ele aca-<br />
bou sendo engavetado. Todavia as mulheres se<br />
faziam notar.<br />
• Na Semana da Arte Moderna Tarsila Ama-<br />
ral, Anita Mafatti, Guiomar Novaes e tantas ou-<br />
tras mostraram, com sucesso, suas especiali-<br />
dades.<br />
• No Rio, é fundada a Escola de Enfermagem<br />
Ana Nery que alarga, e muito, o espaço das<br />
mulheres. Elas viajaram para o exterior onde se<br />
aperfeiçoariam para dar continuidade a difusão<br />
do sistema de enfermagem Nightingale no Bra-<br />
sil Entre outras, Edith Magalhães Fraenkel, Ra-<br />
chel Haddock Lobo, Lais Netto Reys...<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Anesia Pinheiro Machado e Theresa de Marzo<br />
tornam-se pioneiras na aviação. Essa atividade<br />
era olhada com certa reserva até mesmo pelos<br />
homens. Mais tarde Ada Rogato completaria<br />
esse trio ousado.<br />
Década de Trinta<br />
• O Segundo Congresso Internacional Femi-<br />
nista contou com uma representante do gover-<br />
no brasileiro, Bertha Lutz As conclusões desse<br />
encontro foram encaminhadas ao Presidente<br />
Getulio Vargas.<br />
Maria Lenk foi a primeira mulher sul-americana<br />
a disputar uma Olimpíada – Los Angeles, USA<br />
1932<br />
www.varaldobrasil.com 141
• É publicado o Código Eleitoral ( decreto<br />
21.076) concedendo o direito de voto a mu-<br />
lher. Entretanto esse direito ainda sofria restri-<br />
ções: as casadas; para poderem votar, preci-<br />
savam do consentimento do marido (!!! As sol-<br />
teiras e viúvas, só podiam ser eleitoras se<br />
comprovassem ter renda.(!!!) Embora não fos-<br />
se a reposta desejada, grande parte das mu-<br />
lheres poderiam votar e ser votadas.<br />
• Nesse mesmo ano deu-se o Manifesto pela<br />
Educação Nova redigido por Fernando de<br />
Azevedo. Ao lado de homens três mulheres<br />
foram signatárias desse documento: Noemy da<br />
Silveira Rudolfer, Cecilia Meireles e Armanda<br />
Alvaro<br />
• Na Revolução de 32 as mulheres mostra-<br />
ram ter coragem, criatividade, capacidade de<br />
trabalho em equipe e solidariedade . Foram<br />
exemplos Carlota Pereira de Queiroz, Perola<br />
Byington, Olivia Guedes Penteado e tantas ou-<br />
tras<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
• Em 1934 Carlota Pereira de Queiroz foi<br />
eleita a primeira deputada federal do Brasil.e<br />
foi a única mulher a assinar a Constituição de<br />
1934<br />
• .É fundada a Universidade de São Paulo e<br />
foram convidados muitos professores estran-<br />
geiros que viam como natural e necessária a<br />
emancipação da mulher. Mesmo nessa conjun-<br />
tura a mulher continuava a ser definida como<br />
relativamente incapaz!<br />
• 1936 – Bertha Lutz assumiu o cargo de de-<br />
putada federal com a morte de Candido Perei-<br />
ra e passou a defender mudanças na legisla-<br />
ção ao trabalho da mulher e dos menores de<br />
idade.. Propôs a igualdade salarial, a licença<br />
de três meses para as gestantes e a redução<br />
da jornada de trabalho. Seu trabalho foi inter-<br />
rompido com o Golpe getulista do Estado Novo<br />
(1937).<br />
Na Era Vargas uma nova Constituição foi outorgada<br />
e nela não mais consta “ sem distinção<br />
de sexo” Novamente a mulher se sente<br />
espoliada.<br />
www.varaldobrasil.com 142
Década de quarenta<br />
Quando da entrada do Brasil na II Guerra Mun-<br />
dial as nossas Forças Armadas não tinham um<br />
corpo de enfermagem e precisaram contar<br />
com a Cruz Vermelha e com a Escola de En-<br />
fermagem Ana Nery que formara um pessoal<br />
altamente especializado, entre elas Izaura Bar-<br />
bosa Lima.<br />
• Mudanças ocorridas no âmbito internacio-<br />
nal passaram a influenciar o dia a dia brasilei-<br />
ro, especialmente as aspirações femininas. A<br />
ONU desde sua criação se consagrou plena-<br />
mente ao principio de igualdade entre o ho-<br />
mem e a mulher: Carta das Nações Unidas<br />
(1945) e Declaração dos Direitos Humanos<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
(1946)<br />
Com o fim da Era Vargas o Novo Código Eleitoral<br />
devolveu à mulher o direito do voto sem<br />
as restrições anteriores.<br />
Década de cinquenta<br />
• Em 1950 a advogada Romy Martins Medei-<br />
ros apresentou um anteprojeto para alterar a<br />
posição da mulher casada perante a lei vigen-<br />
te. Todavia ele permaneceu engavetado nada<br />
menos do que 12 anos!<br />
A expansão das redes de ensino em diversos<br />
níveis mostrou a necessidade de aumentar o<br />
número de professores devidamente habilitados<br />
e as mulheres acorreram às Universidades.<br />
Década de sessenta<br />
• Inauguração da nova capital da República<br />
com a promessa de “crescer 50 anos em cin-<br />
co”. O Brasil levando o progresso para o interi-<br />
or deixava de só “arranhar a costa brasileira”.<br />
• 1962 – O anteprojeto de Romy M. Medeiros<br />
serviu de base para o Estatuto da Mulher Ca-<br />
sada (Lei 4121/62) Foi retirado do Código Civil<br />
a ” incapacidade relativa da mulher” e deu-lhe<br />
a função de colaboradora do marido na chefia-<br />
da sociedade conjugal, de partilhar do direito<br />
de fixar ou mudar o domicilio da família ( res-<br />
salvando a possibilidade de recorrer ao juiz no<br />
caso de deliberação que a prejudique); garantir<br />
o direito de exercer profissão’ sem necessitar<br />
da autorização marital ou ser surpreendida<br />
com a cassação arbitraria desse direito ..<br />
1967 – A ONU na Assembleia Geral adotou a<br />
“Declaração sobre a Eliminação de Discriminação<br />
contra as Mulheres”<br />
www.varaldobrasil.com 143
Década de setenta<br />
• Diversas vezes a ONU se pronunciou a res-<br />
peito da importância da “contribuição da mu-<br />
lher para que se alcancem as metas e os obje-<br />
tivos fundamentais das Nações Unidas, a sa-<br />
ber, a manutenção da paz e a melhoria das<br />
condições de vida para todos”<br />
• Em 1975 a Academia Brasileira de Letras<br />
admitiu a primeira “imortal”, Rachel de Queiroz!<br />
• As mulheres brasileiras, em 1975, criaram<br />
um Movimento Feminino pela Anistia e partici-<br />
param de campanhas que clamavam pelo retor-<br />
no do pais à democracia Fundaram jornais<br />
combativos e participaram do movimento Dire-<br />
tas já.<br />
Esther Figueiredo Ferraz é a primeira mulher<br />
brasileira a ocupar um Ministério no governo<br />
federal<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Década de oitenta<br />
• Foi cheia de novidades. O Brasil volta a ser<br />
democracia. As mulheres alargaram seu espa-<br />
ço candidatando-se a cargos eletivos munici-<br />
pais, estaduais e federais. Pressionam o gover-<br />
no a criar o Conselho Nacional dos Direitos da<br />
Mulher que em 1987 lançou a campanha: “A<br />
Constituinte para valer tem que ter a palavra da<br />
mulher”. E foi o que aconteceu!<br />
• Em São Paulo surgiu o movimento SOS Mu-<br />
lher com o objetivo de combater a violência<br />
contra a mulher. Foram criadas as primeiras<br />
Delegacias Especializadas no Atendimento de<br />
Mulheres Vitimas de Violência. Em diversos es-<br />
tados brasileiros.<br />
Com a criação de Universidades muitas mulheres<br />
passaram a fazer parte do corpo docente. E<br />
tornam-se especialistas em diversas áreas.<br />
Década de Noventa<br />
As mulheres cada vez mais ocupam cargos de<br />
relevância. O célebre “teto de vidro” que impedia<br />
as mulheres galgarem postos mais altos<br />
parece estar menos frequente. Há, ainda, certa<br />
discrepância entre os salários dos homens e<br />
das mulheres.<br />
(segue)<br />
www.varaldobrasil.com 144
• Depois de 107 anos a Escola Politécnica da<br />
USP tem uma mulher como professora titular,<br />
Maria Cândida Reginato Facciotti<br />
Nelida Piñon foi eleita presidente da Academia<br />
Brasileira de Letras no ano que se comemorava<br />
o centenário dessa entidade.<br />
Terceiro Milenio<br />
Finalmente o Novo Código Civil (<strong>20</strong>03) proclama<br />
a igualdade total entre o homem e a mulher:<br />
Art.1511 – O casamento estabelece<br />
comunhão plena de vida, com ba-<br />
se na igualdade de direitos e deve-<br />
res dos cônjuges.<br />
Art. 1565 - Pelo casamento, homem e<br />
mulher assumem mutuamente a<br />
condição de consortes, compa-<br />
nheiros e responsáveis pelos en-<br />
cargos da família.<br />
Art. 1567 – A direção da sociedade<br />
conjugal será exercida , em cola-<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
borsção, pelo marido e pela mu-<br />
lher, sempre no interesse do casal<br />
e dos filhos.<br />
Pela primeira vez uma mulher assume a presidência<br />
do Supremo Tribunal Federal, Ellen<br />
Graice Northfleet (<strong>20</strong>06/<strong>20</strong>08)<br />
Lei Maria da Penha (11.340/<strong>20</strong>06) diz na sua<br />
Introdução;<br />
Cria mecanismos para coibir a violência domés-<br />
tica e familiar contra a mulher, nos termos do<br />
art. 226 da Constituição Federal, da Conven-<br />
ção sobre a Eliminação de Todas as Formas<br />
de Discriminação contra as Mulheres e da Con-<br />
venção Interamericana para Prevenir, Punir e<br />
Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe<br />
sobre a criação dos Juizados de Violência Do-<br />
méstica e Familiar contra a Mulher; altera o Có-<br />
digo de Processo Penal, o Código Penal e a<br />
Lei de Execução Penal; e dá outras providên-<br />
cias.<br />
www.varaldobrasil.com 145
Pela primeira vez o Brasil tem uma mulher na<br />
presidência, Dilma Rousseff<br />
Ao longo do século XX a mulher ganhou es-<br />
paço na luta por seus direitos. Não foram dádi-<br />
vas e sim conquistas. Elas provaram que podi-<br />
am. Todavia, entre a teoria e a prática há uma<br />
considerável distancia. Com hábitos tão arrai-<br />
gados não se incorpora facilmente as mudan-<br />
ças que a lei determina. Até entre os juízes há<br />
os que questionam a lei Maria da Penha. E a<br />
violência contra a mulher ainda continua.. A lu-<br />
ta, portanto, deve continuar até que toda e<br />
qualquer discriminação deixe de existir!<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
www.varaldobrasil.com 146
A complexidade do sujeito feminino<br />
Por Fabiana de Almeida<br />
O contexto que exprime os mais íntimos sentimentos<br />
e sentidos da alma feminina está mais<br />
do que explícito na obra clariceana. A profundidade<br />
da condição humana é a linguagem e a<br />
figura central estabelecida por Clarice Lispector,<br />
descrevendo a descoberta da identidade<br />
feminina e a consciência desta.<br />
O autoconhecimento é descrito como um processo<br />
de autolibertação. A partir do momento<br />
da epifania, o feminino desperta para um novo<br />
eu, descobrindo um mundo muito maior do que<br />
até então visto e programado. Esse é o processo<br />
do “recomeçar”. Recomeçar como indivíduo<br />
no mundo, estabelecendo suas próprias regras,<br />
reconhecendo-se como ser pensante, que possui<br />
ideias e ideais próprios e íntimos, através<br />
da percepção sensorial.<br />
Clarice transgrediu vários parâmetros dos modelos<br />
pré-estabelecidos em sua geração, pois<br />
remonta em sua escrita fluxos de consciência<br />
que acarretam profundas inovações críticas e<br />
inúmeras inovações formais. A metáfora está<br />
presente em quase todos os seus textos, implicitando<br />
na linguagem literária a propagação da<br />
autoconsciência de suas personagens, num<br />
momento sempre solitário.<br />
A partir dos anos 80, houve uma projeção nos<br />
estudos da problemática feminina e da mulher<br />
na literatura. Clarice chegou a ser comparada<br />
com o estilo de Virginia Wolf e Katherine Mansfield,<br />
caracterizadas pelo desmanche, em suas<br />
narrativas, da submissão feminina na sociedade<br />
vigente.<br />
Perto do Coração Selvagem é um exemplo claro<br />
desses estudos e das subversões que Clarice<br />
aborda em sua obra.<br />
É um romance de estreia, diferente dos modelos<br />
estabelecidos para a época. Os anos 30 re-<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
zava uma literatura regionalista, cheia de descrições<br />
de ambientes e cenas dos costumes<br />
locais, preconizando as condições sociais vigentes,<br />
e que até hoje, século XXI, não tiveram<br />
mudanças. Haja vista o romance de Graciliano<br />
Ramos, Vidas Secas, que aborda a trajetória<br />
de nordestinos com visíveis dificuldades linguísticas<br />
e sem nenhuma perspectiva, em busca<br />
de sobrevivência. O zoomorfismo está impregnado<br />
na escrita de Graciliano, traduzindo<br />
seus personagens como animalescos, preferindo<br />
os animais aos seres humanos.<br />
Na obra de Clarice o animal também é divulgado,<br />
só não com o mesmo sentido, como veremos<br />
mais adiante.<br />
Um romance tido como introspectivo, Perto do<br />
Coração Selvagem trata da libertação de Joana,<br />
sua personagem principal, não só dos modelos<br />
matrimoniais da época como a libertação<br />
de si mesma. Descrita como introspectiva, sonhadora<br />
e contemplativa, ficou órfã muito cedo,<br />
acentuando ainda mais suas diferenças com o<br />
mundo. Mora com os tios e se torna um estorvo.<br />
Sua tendência para o mal aparece no momento<br />
em que rouba um livro para afrontar a<br />
tia, que a manda para um colégio interno. Livre<br />
do colégio, casa-se com Otávio, tão sonhador<br />
quanto ela, porém sem nenhuma ideia de como<br />
se portar no casamento. É no casamento que<br />
Joana descobre ainda mais sua introspecção.<br />
Reflete sobre seus questionamentos, sobre a<br />
vida, as coisas ao seu redor, e descobre um<br />
relacionamento extraconjugal do marido com<br />
Lídia, sua ex-noiva, que engravida. Sua reação<br />
é diferente de todas as previstas: reage passionalmente,<br />
sem escândalos. Descobre outro tipo<br />
de relacionamento ao separar-se de Otávio – o<br />
erótico, apenas sexual – aparecendo novas divagações.<br />
Quando este outro homem – cujo<br />
nome nem quis saber – desaparece, é o momento<br />
da epifania, o momento do resgate de si<br />
mesma. O livro é repleto dos fluxos de consciência<br />
de Joana frente aos acontecimentos e às<br />
próprias alusões de cada faixa etária de sua<br />
vida.<br />
_________________________________________<br />
1. LIMA, Luciano Rodrigues. Clarice Lispector Comparada.<br />
Ed. Bahia: EDUFBA. <strong>20</strong>08, P. 56-57<br />
2.Ibidem, p. 58<br />
3. ROSEMBAUM, Yudith. op. cit., p. 35<br />
4. LISPECTOR, Clarice. Perto do Coração Selvagem.<br />
São Paulo. Ed. Círculo do Livro, 1980.<br />
5. ROSEMBAUM, Yudith. op. cit., p. 36 (segue)<br />
www.varaldobrasil.com 147
Jardim Botânico acontece a epifania: a percepção<br />
da natureza e a suposta absorção de energia<br />
atribuída a ela, faz com que Ana volte para<br />
casa sob outra vertente. O caos, o desassossego<br />
agora fazem parte do cotidiano de Ana.<br />
“A estética de Clarice constrói-se na intensidade<br />
dramática, no conflito subjetivo, na queda do<br />
indivíduo, na sua perdição, no sentido da descoberta<br />
irreversível do socavões da alma humana<br />
e na busca da redenção, ou reequilíbrio”.<br />
O tempo em que passa no Jardim Botânico é<br />
um marco para sua reabilitação como ser humano,<br />
como reconhecimento de si mesma e da<br />
vida que construiu para si e para sua família.<br />
Uma vida cheia de rotinas e sem nenhuma novidade<br />
fez com que a personagem se aproximasse<br />
de uma figura que pode-se dizer desprezível<br />
ou até mesmo, no sentido mais peculiar,<br />
“diferente”, modificando sua maneira de<br />
pensar, que após o choque inicial da visão do<br />
cego, foi se aproximando de uma preocupação<br />
permanente de que nada acontecesse de mau<br />
com sua família, passando a ser até mais carinhosa<br />
com o marido, “não quero que lhe aconteça<br />
nada, nunca!”, e penteia os cabelos em<br />
sua penteadeira “sem nenhum mundo no coração”.<br />
A narrativa aponta uma busca angustiante de<br />
decifrar o verdadeiro eu, que insiste em se<br />
mostrar a partir do estremecimento da rotina de<br />
pensamento. É profundamente conflitante o encontro<br />
com o verdadeiro “eu”, como cita Herman<br />
Hesse: “Não há caminho mais obscuro para<br />
o homem do que aquele que o leva para si<br />
mesmo”.<br />
No conto Feliz Aniversário, onde relata uma<br />
reunião familiar em torno do aniversário de oitenta<br />
e nove anos da matriarca, também é uma<br />
boa forma de expressar a desilusão de uma<br />
anciã perante uma família que não sonhara em<br />
construir, não gostava do que ela havia se<br />
transformado. Ela prefere se manter imóvel,<br />
muda. Com exceção do filho morto, com quem<br />
sempre se identificou, o restante não trazia nada<br />
que a acrescentasse. Nem mesmo a filha<br />
Zilda, com quem morava e cuidava dela, sentia<br />
aproximação.<br />
Zilda vela-se em cuidados para que a família se<br />
reúna, pelo menos uma vez no ano, preocupada<br />
se a mãe morresse, a família se esvaneceria.<br />
Esses cuidados são fortemente apresentados<br />
na preparação da festa de aniversário da<br />
mãe.<br />
As cadeiras dispostas em redor da mesa onde<br />
o bolo e os petiscos da festa estariam disponibilizados,<br />
a confecção de todas as iguarias para<br />
melhor servir e os convidados terem ao menos<br />
a impressão de que existia fartura. Ainda<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
existe o desconforto de a filha Zilda se sentir<br />
“sobrecarregada”, pois somente ela é quem<br />
disponibiliza parcos recursos para o sustento<br />
dela e da mãe.<br />
Voltando à matrona, seu rosto era incerto. Não<br />
se podia mais ser interpretado. Havia desde<br />
duas horas da tarde que estava sentada na<br />
mesa onde estava o bolo açucarado de aniversário,<br />
imóvel. E assim ficou até a hora de cortar<br />
o bolo. Todos estavam alertas e apreensivos<br />
quanto ao que faria a “mãe”. De súbito pegou a<br />
faca e cortou o bolo. Imediatamente distribuíam<br />
-se pratinhos por todos os lados. E todos não<br />
viam a hora de que tudo isso se acabasse para<br />
se irem embora.<br />
Esse conto retrata uma família típica, descrevendo<br />
os pensamentos de cada personagem,<br />
seus medos e agonias, suas apreensões e dissabores.<br />
Cada qual em seu mundo dentro de<br />
uma casa onde acontecia (ou era para ter<br />
acontecido) uma festa de aniversário para uma<br />
mulher de oitenta e nove anos, mãe de todas<br />
aquelas pessoas, direta ou indiretamente. O<br />
respeito, ao menos, era explícito. Embora ninguém<br />
quisesse estar ali, o fazia por respeito.<br />
Apenas a aniversariante não exprime respeito<br />
por ninguém. Para ela eram pessoas desconhecidas<br />
e ao mesmo tempo conhecidas até<br />
demais, não lhe eram caros. Uma vida inteira<br />
de cuidados e orientações para que os filhos se<br />
saíssem como saíram.”Oh o desprezo pela vida<br />
que falhava. Como?! Como tendo sido tão forte<br />
pudesse dar à luz aqueles seres opacos, com<br />
braços moles e rostos ansiosos?”, “...dera<br />
aqueles azedos e infelizes frutos, sem capacidade<br />
sequer para uma boa alegria. Como pudera<br />
ela dar à luz aqueles seres risonhos, fracos,<br />
sem austeridade?”<br />
O sentimento de fracasso atribuído à própria<br />
vida é o primeiro dos abordados no seu interior.<br />
Os filhos... Tendo tido uma vida regrada, independente,<br />
honesta, tudo a seu tempo, ter uma<br />
família com a qual pudesse se orgulhar era o<br />
mínimo que a vida poderia ter lhe oferecido.<br />
Agora era só esperar pela morte.<br />
_________________________________<br />
6. LIMA, Luciano Rodrigues. op. cit. , p. 42<br />
7.Ibidem, p. 46<br />
8. LISPECTOR, Clarice. Amor. In: LISPECTOR,<br />
Clarice. Laços de Família. Rio de Janeiro. Ed. Rocco,<br />
1998<br />
9. LISPECTOR, Clarice. Feliz Aniversário. In: LISPEC-<br />
TOR, Clarice. Laços de Família. Rio de Janeiro. Ed. Rocco,<br />
1998. p. 60. (Segue)<br />
www.varaldobrasil.com 148
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Na despedida, todos estavam apreensivos de que o ano que vem não houvesse o que comemorar,<br />
“- Até o ano que vem! (...) Além de alguns pensarem que felizmente havia mais do que uma<br />
brincadeira na indireta e que só no próximo ano seriam obrigados a se encontrar diante do bolo<br />
aceso; enquanto que outros, já mais no escuro da rua, pensavam se a velha resistiria mais um<br />
ano (...)”.<br />
O sentido da morte vinculada ao conto, se dá sobremaneira pelas impressões e desilusões da<br />
matrona ao se deparar com seu maior fracasso: a família. A angústia e o terror de ter que enfrentá-los<br />
(ou ao contrário) é o ápice de sua vontade de não completar os noventa anos e ter<br />
que reencontrá-los no ano seguinte. Mas essa vontade se vai, aparentemente, quando todos<br />
vão embora e ela fica só consigo mesma: “Enquanto isso, lá em cima, sobre escadas e contingências,<br />
estava a aniversariante sentada à cabeceira da mesa, erecta, definitiva, maior do que<br />
ela mesma. Será que hoje não vai ter jantar, meditava ela. A morte era o seu mistério”.<br />
Este texto faz parte de um estudo maior, intitulado “Indizível Clarice Lispector”, que será<br />
publicado até o final de <strong>20</strong>13.<br />
_______________________________<br />
10. Ibidem, p. 67<br />
MULHER<br />
Por Selmo Vasconcellos<br />
Mulher dividida:<br />
meio loba,<br />
meio panda.<br />
www.varaldobrasil.com 149
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
www.varaldobrasil.com 150
MULHER DE ONTEM,<br />
VIVEN<strong>DO</strong> O HOJE<br />
E SONHAN<strong>DO</strong> COM O AMANHÃ<br />
Por Erica Gonçalves<br />
Mulher de ontem.<br />
Muitas vezes já ouvimos falar que, não<br />
se fazem mulheres como antigamente. Claro,<br />
visto pelos olhos daqueles que não evoluíram<br />
com o passar do tempo. Mesmo vivendo no<br />
presente, pensam e agem como se vivessem<br />
ainda no passado. “Retrógrados”. Ela, a mulher<br />
de verdade para estes, é a eterna Amélia.<br />
A mulher de ontem, na sua maioria, tra-<br />
balhava muito e tinha o mínimo de conforto. Ela<br />
levantava cedo, ia para a cozinha, colocava<br />
água para o café e ás pressas arrumava a rou-<br />
pa para o marido trabalhar. Tudo a sua mão.<br />
Meias, estas ela calçava em seus pés. Então<br />
voltava a cozinha fazia o café e servia o<br />
“provedor”. Só então ele iria para o trabalho,<br />
não antes de ela lhe dar seu chapéu e bengala.<br />
A mulher ficava em casa, mas, trabalha-<br />
va muito, lutava o dia inteiro. Sem o conforto da<br />
modernidade de hoje, ao findar o labor do dia<br />
ela estava exausta.<br />
Quando o chefe da família e “provedor”<br />
chegava em casa a noite, tudo estava pronto e<br />
ele era servido. Ela ficava a seu lado, em pé,<br />
servindo-lhe como uma serviçal e não como<br />
companheira que era.<br />
Entretanto, algumas destas mulheres,<br />
resolveram olhar para fora das suas senzalas,<br />
pois até então, elas tentavam se moldar ao<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
gosto e vontade do marido. Começaram a tirar<br />
as vendas dos olhos e enxergar o mundo lá fo-<br />
ra e a ver como sua vida e seu mundo era res-<br />
trito e vazio.<br />
As mulheres, aquelas de mais personali-<br />
dade, passaram a assumir novas posturas.<br />
Muitas delas enfrentaram grandes dificuldades<br />
e preconceitos em suas lutas por mais liberda-<br />
des e por direito de igualdade. O preconceito se<br />
via, ate mesmo, por parte de outras mulheres,<br />
que submissas se conformavam com aquela<br />
vida a qual eram submetidas.<br />
Porem, muitas delas, através da luta,<br />
emergiram daquela submissão a que viviam.<br />
Mas, elas queriam mais,<br />
sonhavam com o futuro!<br />
O hoje.<br />
Mulher de hoje.<br />
A mulher de hoje,<br />
trabalha fora, estuda, as-<br />
sume a vida com mais<br />
liberdade, senta-se ao<br />
lado do marido como sua<br />
companheira e não co-<br />
mo uma serviçal. Ela<br />
participa das decisões<br />
com sua opinião própria. Hoje ela já dirige, tem<br />
sua participação na vida publica. No lar, ela di-<br />
vide as tarefas e responsabilidades como um<br />
todo e briga de igual para igual pelo seu espa-<br />
ço, no lar, na sociedade e no trabalho. Mas,<br />
elas, as mulheres querem mais! Mais, indepen-<br />
dência, mais reconhecimento de seu valor, de<br />
sua capacidade de luta pelos seus direitos.<br />
(Segue)<br />
www.varaldobrasil.com 151
Hoje a mulher conquistou alguns direi-<br />
tos, já garantidos pela constituição. Mas, como<br />
em outras leis de direitos, muitas vezes não<br />
são respeitadas. Há muito ainda á conquistar<br />
pela mulher de hoje. Entretanto, em matéria de<br />
educação e escolaridade elas não devem em<br />
nada aos homens. A mulher, mesmo tendo que<br />
encarar dupla jornada de trabalho, como profis-<br />
sional e de dona de casa, tem mais disposição<br />
e se organiza melhor que os homens.<br />
A violência doméstica é outra grande re-<br />
alidade negativa na vida de mulheres, de mui-<br />
tas delas é claro. Mas, hoje, elas têm apoio,<br />
ainda que ineficiente. Esse é mais um dos direi-<br />
tos que aos poucos vão conquistando.<br />
Ser mulher de hoje, é ser mais ativa,<br />
participativa em todos os seguimentos da soci-<br />
edade, nas ações do dia-a-dia, seja na vida<br />
pessoal, profissional ou educacional.<br />
No entanto, depois de sonhar com o re-<br />
conhecimento dos valores femininos e muitas<br />
delas terem conquistado esses direitos, a vida<br />
feminina, para muitas, é ser mãe, ser esposa,<br />
ser filha e profissional. Ela cobra de si, mais do<br />
que é de direito em perfeição, Sobrecarregando<br />
sua vida, só com trabalho e responsabilidades.<br />
Com tudo, ser mulher não é só isso: Ser<br />
mulher é tirar um tempo entre tudo para olhar<br />
para si mesmo. Cuidar se seu corpo físico e<br />
mental e também cuidar de sua alma. Só assim<br />
ela estará bem para viver uma vida alegre e<br />
comunitária.<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Quando o interesse não for mútuo e deve ser<br />
respeitada por isso.<br />
O amanhã.<br />
Mais, a mulher de hoje quer muito mais!<br />
Mulher do amanhã.<br />
A mulher do amanhã terá forças para<br />
levantar a bandeira de seus direitos. Lutar por<br />
seus interesses, seus ideais. Por seu direito de<br />
igualdade de condições e de decisões, ao lado<br />
dos homens, sendo remuneradas igualmente<br />
pelo mesmo trabalho.<br />
A mulher do amanhã terá orgulho das<br />
suas conquistas, ela será mais versátil, mais<br />
bem preparada para disputar no âmbito profis-<br />
sional e social seu espaço, com condições de<br />
igualdade e terem estes direitos reconhecidos e<br />
garantidos por leis e serem respeitadas por<br />
ção vivida por estas mulheres, alimenta a esta-<br />
A mulher de hoje, deve fazer atividades<br />
tística desta violência, que é mais comum do<br />
prazerosas, se relacionar, ter lazer. Ter direito<br />
que se supõe. Ela é camuflada pela vergonha<br />
ao descanso, a privacidade. Ela tem direito de<br />
que elas sentem de serem assim tratadas. Pe-<br />
escolha.<br />
las varias formas de violência. (Segue)<br />
A mulher de hoje, já pode dizer não.<br />
elas.<br />
As mulheres do amanhã, dirão não a<br />
submissão. Não a violência. Não a exploração.<br />
Elas terão direitos de igualdade no poder de<br />
decisão e de igual modo de responsabilidade.<br />
Elas terão direito a amar e ser amada. Serem<br />
compreendidas e respeitadas. A mulher terá<br />
direito a relaxar para escutar seu próprio cora-<br />
ção, suas emoções, seus anseios e desejos.<br />
Mas, as grandes lutas das mulheres, são<br />
contra a violência conjugal. “A chamada violên-<br />
cia domestica”. Ainda existe um grande tabu e<br />
preconceitos na chamada “Sociedade”. A coa-<br />
www.varaldobrasil.com 152
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Muitas destas mulheres se revoltam e acabam por se separarem. E assim começa um no-<br />
vo drama. Uma nova violência, tão assustadora quanto. Elas viviam confinadas, exclusivamente<br />
para ser dona de casa, ser mãe, Etc. Etc. e para servir seu provedor. Assustadas, elas não estão<br />
preparadas para lutar pela sobrevivência, num mundo tão carrasco quanto o seu cativeiro. Mas,<br />
apesar disso, elas se libertam. As que continuam, sendo submetidas a submissão, escondem<br />
por anos a violência sofridas por eles. E esta humilhação, leva a perda da alta estima e isso leva<br />
a degradação do “Ser Mulher”. Por anos de violência sofrida por elas. Sua dignidade? Já não<br />
existe! E ela ainda sente-se culpada por não ser boa o suficiente para ele, O provedor. Achando<br />
que por ele prover o sustento, tem o direito de agredi-la e violenta-la, sempre que tiver um mau<br />
dia no trabalho, ou ser contrariado por qualquer motivo. Alguns homens sentem necessidade de<br />
exercer o ritual da violência, apenas para se afirmarem como machos. Assim como os cães mar-<br />
cam seu território.<br />
Estas mulheres já se encontram com sua alta estima lá embaixo e não se sentem merece-<br />
doras da miséria de vida à que são submetidas. A esta altura, não sabem mais o que é dignida-<br />
de. Não há mais esperança de uma vida melhor. Seus desejos, suas aspirações, seus sonhos,<br />
foram se perdendo pelo caminho, de uma dura e sofrida vida.<br />
Muitas das mulheres de ontem, não souberam, outras de hoje, infelizmente, não sabem. E<br />
algumas do amanhã jamais saberão o que é a felicidade.<br />
Haverá esperança com certeza para as mulheres do amanhã?!!<br />
www.varaldobrasil.com 153
EM UM ÚNICO UNIVERSO<br />
Por Ivane Laurete Perotti<br />
Pequeno,<br />
foi assim que chegou.<br />
Sem medo do mundo<br />
Pois eu estava aqui<br />
Pequeno,<br />
Eu esperava você,<br />
Pequeno menino,<br />
Meu mundo é seu,<br />
Queria você para amar<br />
Para cantar<br />
Para dizer<br />
Para mostrar<br />
Para ensinar<br />
Pequeno menino,<br />
meu mundo é seu,<br />
vou crescer junto<br />
para ser igual a você<br />
pequeno menino,<br />
venha correr pelos sonhos<br />
eu os dou a você<br />
construí um castelo de cartas<br />
só para você soprar,<br />
venha menino<br />
pequeno menino<br />
eu esperava você.<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Foto de Ivane Laurete PeroL<br />
www.varaldobrasil.com 154
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
MULHER UM UNIVERSO<br />
Por Maria SocorroSousa<br />
Mulher<br />
Dona do seu próprio “EU”<br />
Guerreira bela e serena<br />
Forte e absolutamente preciosa<br />
Poderosa... Conquista seu espaço<br />
Imponente... Fértil de geração a geração<br />
Sexy ousada e determinada<br />
Singela... Encanta quando ama<br />
Mulher sempre feminina em grande estilo<br />
Coco Channel conduziu a moda as passarelas<br />
Mulher... Sempre um universo<br />
Ganhou o prêmio Nobel da Paz - Jane Addams<br />
Governa uma nação – Dilma Rousself<br />
Mulheres que amam que brilham<br />
Da rainha do Egito - Cleópatra<br />
A poetisa brasileira Cora Coralina<br />
Raquel de Queirós – mulher que me fascina<br />
Mulher de coração puro que admiro<br />
Maria - mãe de Jesus o Salvador do mundo<br />
Amou sem questionar<br />
Tornou-se mãe da humanidade<br />
Mulher... Um universo<br />
Da mais alta elegância a mais simples e formosa<br />
Tornam-se estrelas marco na história.<br />
www.varaldobrasil.com 155
MULHER<br />
Por Deise Formentin<br />
Mãe dedicada,<br />
Filha educada,<br />
Irmã companheira,<br />
Amiga certeira,<br />
Estudante determinada,<br />
Profissional respeitada,<br />
Esposa amável,<br />
Enfim mulher,<br />
Que dedica cada um de seus dias a fazer<br />
desses,<br />
Dias melhores para todos que estão a sua<br />
volta,<br />
Seja com a família morando com os pais e<br />
irmãos,<br />
Seja em seu próprio lar,<br />
Dedicando-se intensamente ao marido e aos<br />
filhos,<br />
Depois aos netos e bisnetos,<br />
Ou no trabalho com o tempo sempre<br />
expirando rápido demais,<br />
Enfim desdobrando-se em suas tarefas diárias<br />
Que sempre parecem multiplicar-se,<br />
E ainda encontrar tempo para estar sempre<br />
linda<br />
E buscar a realização de cada um de seus<br />
sonhos,<br />
São educadas, guerreiras, companheiras,<br />
Amáveis, corajosas, destemidas,<br />
Sensíveis, românticas, espiritualizadas,<br />
Sempre buscando um equilíbrio entre a razão<br />
e o coração,<br />
Entre o querer e o poder,<br />
Querendo resolver os problemas do mundo,<br />
Quando muitas vezes não conseguem resolver<br />
Seus próprios problemas deixando-os de lado,<br />
Sempre dispostas a ouvir, a dar carinho,<br />
atenção,<br />
Acalentar dores da alma e do coração,<br />
Assim são as mulheres,<br />
Repletas de garra e vontade,<br />
De sonhos, de medos e ansiedades,<br />
Mas completamente transbordantes de<br />
qualidades,<br />
Mesmo que muitas vezes desconhecidas,<br />
Esquecidas e não valorizadas pelos homens,<br />
Por isso há ainda tanta violência,<br />
Preconceito, injustiça e agressões contra<br />
muitas de nós,<br />
Mas as amarras que nos prendiam ao<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
passado,<br />
Assim como as grades das prisões<br />
Foram eliminadas de alguma forma<br />
Mulher-Maravilha você encontra em cada<br />
esquina<br />
Disfarçadas de estudantes, donas de casa,<br />
mãe e profissionais<br />
Cada uma com personalidade, beleza e brilho<br />
próprio<br />
Não precisamos ser iguais a ninguém<br />
Basta que sejamos nós mesmas sempre<br />
E tudo será perfeito<br />
E nós completamente felizes.<br />
www.varaldobrasil.com 156
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Por Antonio Cabral Filho<br />
Se da pedra nasce flor,<br />
apesar do controverso,<br />
a mulher plena de amor<br />
é essência do universo.<br />
www.varaldobrasil.com 157
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
SER... SÓ EU... APENAS EU...<br />
Por Carmen Di Moraes<br />
Hoje eu quero... ser...<br />
Só eu... apenas eu...<br />
Caminhar na chuva...<br />
Com os pés descalços...<br />
Deixar a chuva beijar o meu rosto,<br />
E acariciar todo o meu corpo...<br />
Como se fosse me amar...<br />
Quero ser a menina que acreditava...<br />
A mulher que sonhava...<br />
Quero cantar as canções que não cantei;<br />
Amar os amores que eu não amei;<br />
E ter os sonhos que não sonhei...<br />
Ser eu mesma... com meus erros e acertos...<br />
Sem passado... nem futuro...<br />
Só momentos...<br />
Apenas o hoje... e ser, só eu, apenas eu...<br />
Quero caminhar na chuva... sem destino....<br />
Não quero deixar... nem as marcas<br />
Dos meus pés, na areia...<br />
Pois sob a chuva nada fica... creia...<br />
Mas, hoje... eu não quero,<br />
Nem uma saudade...<br />
Só os beijos da chuva...<br />
Com sensualidade...<br />
...Como se fosse me amar...<br />
E ser, só eu... apenas eu...<br />
Do livro Ousei Escrever 1000 Poesias – pag. 121<br />
www.varaldobrasil.com 158
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
MATER MATIS ET REGINA ET CAPUT<br />
(mãe, rainha e líder)<br />
Por Mario Rezende<br />
Pela manhã é sol<br />
e à noite é lua.<br />
Às vezes operária,<br />
outras tantas é rainha.<br />
Para os seus se despe de toda a vaidade,<br />
das vestes que lhe impõe a sociedade.<br />
Alicerce emocional na estrutura familiar,<br />
enquanto mãe é manancial para o sustento,<br />
uma fêmea como qualquer outro animal.<br />
Realiza-se no prazer de conceber que o homem não tem,<br />
no seu colo aconchegante choram a dor e o sofrimento.<br />
Tem que ser mãe, esposa e profissional a cada momento,<br />
mas o beijo carinhoso dos seus é bônus reconfortante.<br />
Apesar das resistências construiu sua identidade<br />
e tem hoje novos anseios e desejos,<br />
tentando buscar o seu espaço<br />
de reconhecimento e de afeto,<br />
de descoberta e de criação,<br />
de respeito e acolhimento,<br />
para atingir a plenitude.<br />
www.varaldobrasil.com 159
A PERSONAGEM FEMININA EM<br />
MACHA<strong>DO</strong> DE ASSIS<br />
(Tentativa de ensaio)<br />
Por Rejane Machado<br />
Enquanto que José de Alencar é francamente<br />
moralista (em sua ficção, claro!) Machado de<br />
Assis não parece ter maiores preocupações com a<br />
moral de suas personagens femininas.<br />
No contexto machadiano “elas” parecem<br />
sentir-se à vontade no terreno da infração. Enganando<br />
e traindo, dissimulando intenções, libertárias por<br />
natureza e graça, tais figuras deixam sua marca de<br />
independência, pairando acima de convenções e de<br />
toda espécie de condicionamento mesológico. São<br />
retratos de mulheres, em certo sentido diabólicas,<br />
que “fazem” o destino dos homens do seu círculo,<br />
dominando-os e mantendo-os em franca dependência<br />
de seus caprichos mais extravagantes. Na maioria<br />
das vezes procedem consoante uma grande necessidade<br />
de serem admiradas.<br />
Da imensa galeria de tipos femininos, romanescos,<br />
se poderia estabelecer, em princípio, uma<br />
divisão entre mulheres decentes e mulheres menos<br />
decentes, com base num comportamento mais<br />
“descontraído” de algumas , em oposição às Carmo,<br />
às Fidélia, às manas Rita e Sabina, por exemplo.<br />
Alencar por seu lado, parece entender o<br />
mundo feminino como sendo composto de criaturas<br />
nem sempre dóceis e acomodadas: é a frágil e diáfana<br />
Ceci, mantendo Peri como seu escravo, apesar da<br />
repugnância que lhe causa o selvagem, a vibrar com<br />
a visão do abandono da mãe e da própria tribo em<br />
troca de servi-la, à Senhora, à Iara; é Aurélia, proprietária<br />
de um homem, do qual compra, com dinheiro,<br />
a honra; é Lucíola, que se enquadraria aparentemente<br />
na segunda classificação, mas a moralidade alencariana<br />
logo dará ciência ao leitor da razão dos seus caminhos<br />
: é pura, no íntimo, tão pura quanto as outras,<br />
ou até mais; em realidade assume o papel de cortesã<br />
por razões sociais. A renúncia vai situá-la, inteiramente,<br />
no grupo das mulheres decentes, honestas, de<br />
comportamento ilibado, dando-lhe destaque pelo<br />
dramático da situação de extrema crueldade com que<br />
é condenada pelo grupo que a marginaliza.<br />
O adultério não é claramente enfocado na<br />
ficção de Alencar. A mulher pouco decente é aquela<br />
que choca os padrões da sociedade, mas a “ménage à<br />
trois”, os triângulos, não são comuns na normalidade<br />
da sua escritura.<br />
Tal não acontece em Machado de Assis.<br />
Muitas de suas personagens não primam pelo que se<br />
poderia classificar “procedimento digno”, mas as<br />
reações de grupo são dessemelhantes às de Alencar.<br />
Ao passo que as “marcelas” são franca e assumidamente<br />
depravadas, tendo uma vida da qual a sociedade<br />
é ciente, vicejando à margem, como um mal ne-<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
cessário a que os pais fecham os olhos,- as Virgílias,<br />
Sofias, e Capitus têm toda cobertura da sociedade<br />
para suas ações limitadas pelas aparências exteriores:<br />
são damas da melhor importância, com direito à consideração<br />
das pessoas de bem.<br />
http://tensaintensa.blogspot.com/<br />
Mas cada uma delas é diferente desta classificação<br />
apressada e homogênea com que as rotulam<br />
alguns críticos- resultado da análise em profundidade<br />
praticada pelo olho agudo do romancista que lhes<br />
desnuda o interior e lhes perscruta razões. Criaturas,<br />
na maioria, frívolas e frias, o adultério é-lhes, talvez,<br />
uma segunda natureza, ou uma necessidade de afirmação<br />
da personalidade, e nele estão muito bem,<br />
sem se deterem sobre as consequências, sem problemas<br />
de consciência, sem demonstrar nenhuma crise<br />
moral, escrúpulos ou remorsos. Esta é Virgília, que,<br />
destinada a Brás Cubas, casa-se por interesse com<br />
aquele outro que lhe dará maior brilho social – talvez<br />
até a faça “marquesa”. Sem o menor sentimento de<br />
culpa, concretizará o amor antigo, reatando as relações<br />
interrompidas e as aprofundará, muito naturalmente,<br />
no seu duplo papel, resguardadas as aparências<br />
(não tanto que a coisa não transpire, brevemente),<br />
e forçando a honestidade de berço de dona Plácida,<br />
a fará aceitar a situação indesejada de alcoviteira<br />
de seus amores, pela situação de miséria e penúria<br />
em que a agregada vive. Dona Plácida defende a duras<br />
penas a sua dignidade ferida, - ela que é, de conformidade<br />
com o seu nome, pacífica por natureza;<br />
aprende a acomodar, ou mesmo calar, os seus escrúpulos,<br />
passando por cima de suas próprias convicções.<br />
E o autor justifica sua função “ o vício é muitas<br />
vezes o estrume da virtude. O que não impede que a<br />
virtude seja uma flor cheirosa e sã. Ela que possui a<br />
sua honradez (apesar da origem), que não compactua<br />
com uniões ilegais, e por isso mesmo, só se entrega<br />
pelo casamento estabelecido, não experimenta traumas<br />
com a união espúria, porque não analisa o fato<br />
em profundidade,- (SEGUE)<br />
www.varaldobrasil.com 160
,- é sua defesa interior- e aceita, assim, o<br />
papel que lhe destinaram, sem questionar a moralidade<br />
implícita.<br />
Sofia é calculista, dissimulada, como também<br />
o é Capitu (com os seus olhos de cigana oblíqua);<br />
sua marca é a esperteza, a sagacidade, a malícia.<br />
Diferentemente porém, daquela, destaca-se pela<br />
vulgaridade. Se Virgília é levada ao adultério pelo<br />
amor impulsivo ao antigo noivo; se Capitu chega à<br />
situação esquiva movida por uma espécie de<br />
“imperativo categórico” (algo que não poderia ser de<br />
outro modo ), algo que estava nela embrionariamente<br />
incutido pela natureza do seu caráter, pela firmeza<br />
do seu espírito altivo, Sofia o faz como fuga a uma<br />
vida vazia de qualquer conteúdo espiritual ou moral.<br />
O cinismo é o seu terreno, e a amoralidade é parte da<br />
sua personalidade; deixa-se levar pelos acontecimentos,<br />
cultivando e incentivando o galanteio masculino,<br />
necessitada de uma corte de admiradores. Completamente<br />
desprovida de qualquer sentimento mais<br />
“piedoso”, ela pisa corações, só lhe interessando subir<br />
na vida, não importa a quantas duras penas, a que<br />
concessões. Tem dois pesos e duas medidas para julgar<br />
e/ou conter ou estimular a investida masculina:<br />
de um, conta ao marido o atrevimento, de outro<br />
guarda para si, encantada, o segredo do amor revelado:<br />
Rubião e Carlos Maia, respectivamente.<br />
Capitu 4 é o personagem mais complexo de<br />
quantos criados por Machado de Assis. O que nela<br />
mais impressiona é a firmeza de sua resolução, a certeza<br />
do caminho que traçou, com todos aqueles objetivos<br />
a alcançar, dele não se afastando por nenhuma<br />
razão, não admitindo nenhum insucesso, mulher superior<br />
que faz o seu destino, que dispõe da sua vida e<br />
daquelas vidas que estão ao seu redor. Não é um títere,<br />
movida por impulsos, como as outras, nem por<br />
sentimentos banais. Ao contrário, toda ela é certeza,<br />
é cálculo, e é sucesso. A observação de José Dias<br />
sobre os seus olhos de cigana oblíqua e dissimulada<br />
cai como uma luva para realçar a sua maior característica.<br />
Maquiavélica, ela prepara o seu futuro, onde<br />
tudo deverá acontecer como arquitetou. E é tal a força<br />
de verdade da personagem, que o leitor a elege<br />
em simpatia, solidário com a posição cruel em que<br />
as consequências dos seus atos de raciocínio a colocaram,<br />
em detrimento da figura nula do marido, que<br />
a retira de sua vida muito discretamente, de maneira<br />
“oblíqua”.<br />
Para tal autor tão fortemente pessimista,<br />
que de maneira alguma “acredita” na sinceridade dos<br />
sentimentos femininos, que parece adotar a filosofia<br />
do Duque de Mântua 5 : “La donna é móbile/qual piuma<br />
al vento/ mutta d’acento e di pensiero”..- causará<br />
espécie a contradição do enfoque das figuras femininas<br />
do Memorial de Aires.”, a um leitor menos avisado.<br />
É preciso pensar na obra “globalizante” do<br />
autor de Dom Casmurro: aquelas figuras tão santas<br />
, tão “normais” (dentro do conceito familiar judaico-cristão)<br />
têm que ser compreendidas em seu<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
sentido próprio e nunca, em oposição às Capitus, às<br />
Virgílias, Sofias, etc. Sendo um romance que encerra<br />
um ciclo de vida e de filosofia, vai desmentir a<br />
carranca que colocaram sob a face do narrador de<br />
tantas infidelidades femininas – ele não é um inimigo<br />
declarado das mulheres, não é um descrente das<br />
suas virtudes. Não! O Memorial....”é, pelo contrário,<br />
a confissão da sua crença no casamento como<br />
instituição social. É possível a felicidade conjugal. O<br />
casamento pode ser uma fonte de alegrias, de companheirismo,<br />
de realizações e enriquecimento espiritual.<br />
A gente Aguiar o ilustra à saciedade. Passados<br />
os primeiros anos de ajustamento de personalidades,<br />
chega um tempo em que, verdadeiramente, o homem<br />
e a mulher se complementam. Ali estão aqueles dois<br />
“velhos”( e nem o seriam tanto!) a desfrutar de uma<br />
paz absoluta que lhes vem da certeza do sentimento<br />
recíproco, da fé e da verdade da sua união (o ideal de<br />
Rosemonde Gérard 6 realizado! “Quando tu fores velho<br />
e eu também for velha/ E estes louros anéis forem<br />
brancos e escassos,/ Em maio, no jardim, do sol<br />
à luz vermelha/ Iremos aquecer os nossos membros<br />
lassos”.). E o que haverá de autobiográfico nesta cena?<br />
Dizem seus biógrafos que ele encontrou a felicidade<br />
no casamento. E se não bastasse a colaboração<br />
mútua, aí ficaram os versos que ele recitou no túmulo<br />
de sua amada Carolina, um dos mais belos sonetos<br />
da língua portuguesa, a dizer da profundidade dessa<br />
união.<br />
Dona Carmo, diz o narrador, tem o sentido<br />
da medida, É calma, discreta, suave e santa mulher .<br />
Fidélia corresponde ao nome: não está nunca traindo<br />
o seu defunto; e seu casamento com Tristão há de<br />
dar certo, porque realizado sob o signo de uma reflexão<br />
amadurecida – esta, a grande tese de Machado:<br />
- ao contrário das uniões apressadas e efetuadas sem<br />
o necessário discernimento, sem as indispensáveis<br />
bases morais e espirituais, sujeitas, por isso, à queda<br />
nas tentações.<br />
Um outro aspecto que escapa sempre aos<br />
julgadores da implacabilidade de Machado de Assis<br />
com relação às suas heroínas é a falta “de olhos” para<br />
enxergar a outra face da medalha. Machado apresenta<br />
somente mulheres demoníacas, ou apenas lhes<br />
destaca como fundo e silhueta esta característica,<br />
(SEGUE)<br />
www.varaldobrasil.com 161
que é realçada pela qualidade moral baixíssima<br />
de certos homens que as acompanham? Hem?<br />
Daquele severo julgamento não podem estar excluídos<br />
os personagens masculinos, “donos” de tais criaturas...<br />
Em geral, eles são, de alguma maneira,<br />
cúmplices da subversão dos costumes, da desonestidade<br />
de suas mulheres. Lobo Neves sabe que é uma<br />
das pontas do triângulo, mas não sente nenhuma repugnância<br />
em oferecer charutos (e mais: até uma<br />
Secretaria...) a Brás Cubas, cuja presença é-lhe oportuna<br />
e bem-vinda, pois não o dispensa como conselheiro<br />
e secretário; não dará importância à carta anônima<br />
que recebe, revelando um fato do qual talvez já<br />
tenha conhecimento, comentado e sabido por toda<br />
sociedade fluminense; bom para a esposa, nunca a<br />
censurou, merecendo-lhe ao morrer, lágrimas sinceras,<br />
daquela mesma sinceridade que era “o estofo da<br />
traição”; Palha é uma figura completamente abjeta.<br />
Justifica que alguns dos “raios” dos olhares de sua<br />
bela esposa iluminassem e aquecessem outros corações;<br />
fá-la exibir as formas “magníficas”, como as<br />
nomeia o narrador; orgulha-se de que a esposa seja a<br />
“primeira figura do salão”, apreciando-a valsar, cingida<br />
por braços vários e variados, e justifica, sem se<br />
escandalizar, que alguns homens notáveis pela posição<br />
social ou fortuna- se ocupassem dela por tanto<br />
tempo...<br />
Como condenar inteiramente essas mulheres<br />
vazias, sem conteúdo moral, sem finalidade mais<br />
alta na existência do que o brilho social e o sucesso<br />
nos salões, preocupadas apenas em subir socialmente<br />
?<br />
No caso de Capitu também se poderia atribuir<br />
a Bentinho a sua parcela, grande, de culpa, dado<br />
o seu caráter apagado, neutro, sempre conduzido<br />
pelos outros, incapaz de defender o seu lar, não reco-<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
nhecendo evidências nem ameaças na figura calculista<br />
de Ezequiel; e, mais grave, conformado com a<br />
sua desgraçada sorte, não lutando para preservar o<br />
seu mundo, não aproveitando a lição da experiência<br />
em tentar recuperar aquele magnífico potencial, ao<br />
invés de afastá-lo de si para sempre e condená-la, a<br />
Capitu, ao exílio e à morte ?!<br />
Em fazendo um retrato tão amargo das heroínas<br />
romanescas, não quererá ele destacar esse aspecto?<br />
Essa realidade, por detrás das aparências<br />
vãs?<br />
NOTAS<br />
____________________________________<br />
Cf. MACHA<strong>DO</strong> de ASSIS. Memorial de Aires. São Paulo,Cultrix,l960.Org.<br />
de Massaud Moisés.<br />
Cf. ----------------------------Memórias póstumas de Brás<br />
Cubas, idem, idem.<br />
Cf. Idem, idem, cap.LXV1,p. 134<br />
4 Cf. personagem de Dom Casmurro<br />
5 Cf. personagem da ópera Rigoletto, de G. Verdi<br />
6 Cf. GÉRARD, ROSEMOND. A eterna canção, poesia.Tradução:<br />
Ana Amélia de Queiroz Carneiro de Mendonça.<br />
In:TELLES ALVES,A. Antologia de poetas estrangeirosª.<br />
São Paulo, Logos,1960,3 ed.<br />
AMIGOS LEITORES E AUTORES!<br />
POR UM PERÍO<strong>DO</strong> DE ALGUNS<br />
MESES A REVISTA <strong>VARAL</strong> <strong>DO</strong><br />
<strong>BRASIL</strong> TERÁ SUAS EDIÇÕES<br />
REALIZADAS MENSALMENTE.<br />
REVISTA DE MARÇO (Inscrições<br />
até dez de fevereiro) Tema: AMOR<br />
REVISTA DE ABRIL (Inscrições<br />
até dez de março) Tema: LIVRE<br />
Para se inscrever peça o formulário<br />
através de nosso e-mail:<br />
varaldobrasil@gmail.com<br />
www.varaldobrasil.com 162
Terra e Tear<br />
Por Eliane Accioly<br />
Reunidas no tear<br />
mulheres tecem<br />
fios e ciclos<br />
de um tempo lunar<br />
Contam laçadas<br />
e pontos, cantam<br />
baladas e lendas<br />
entre risos e marés<br />
Navegando<br />
arcaica memória,<br />
turvo lago,<br />
era imemorial,<br />
riscam e sulcam<br />
essas águas<br />
sem deixar marca<br />
ou pegada<br />
(Os quatro rostos de Eva:<br />
a menina e a virgem,<br />
a plácida grávida,<br />
e a anciã, teia de vida)<br />
Passeando toda noite<br />
no branco esquecimento<br />
que cuida tudo apagar<br />
mulheres e tecelãs<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
recordam o tempo lunar:<br />
mulher botão, verde fruto,<br />
fruto dando semente<br />
e a velha, terra gretada<br />
Ciclos correm em seus corpos<br />
tecendo rios e leitos<br />
onde deitam com seus homens<br />
onde partejam crianças<br />
Cardando e enovelando<br />
mãos calejadas e nuas<br />
mulheres tramam e urdem<br />
as mortalhas e a vida<br />
entre risos e marés<br />
(Mulher tem muitas sementes:<br />
na menina, a anciã,<br />
e das gretas de uma velha<br />
brota tímida, a menina)<br />
Imagem: Eliane Accioly<br />
www.varaldobrasil.com 163
Mulher um Universo<br />
Por Sonia Nogueira<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Sobre o sono de Adão nasceu a mulher osso do seu osso e carne da sua carne e<br />
serão dois numa mesma carne. Pela desobediência estarás debaixo do poder do teu mari-<br />
do, e, ele te dominará. (Gênesis, cap.14 v 16).<br />
Viveu a mulher escrava e submissa por longos e tenebrosos anos, parindo, cuidan-<br />
do da casa e filhos. As regras podaram-lhe o direito do saber, a liberdade da palavra, o<br />
direito sagrado de pensar.<br />
Os ventos, submissos ao tempo, rolaram lentos até que o sopro da liberdade roçou<br />
ora num pensar, ora num querer, e surge a nova mulher do século: A maior percentagem<br />
nos estudos, minimizou a prole, trocou o fogão pela caneta, alçou voo nas mais variadas<br />
profissões, pensa, discute, age, cria, escolhe o companheiro, grita a liberdade.<br />
Não citarei as mazelas que ainda enfrenta, as barreiras e pontes que ultrapassa<br />
com aranhões e espinhos lhe perfurando corpo e alma, para não apagar o brilho da con-<br />
quista. Falo, porém, dos inúmeros degraus que pisou com ou sem salto, caminhando to-<br />
das com o mesmo objetivo: arregaçar as mangas, mexer no barro, montar tijolo a tijolo e<br />
construir com suor e coragem a nova missão, liberdade, igualdade e liderança.<br />
Neste universo de disputas braço a braço, saber por saber, e culturas diferentes,<br />
tem a mulher se inteirado da força que a domina, ultrapassa fronteiras, sobe em palan-<br />
ques, discute decisões, sujeita e ganhar ou perder, mas, muitos troféus e vitórias lhe che-<br />
gam às mãos.<br />
Sem deixar de lado a maior das missões, ser mãe, e profissional em tempo e sin-<br />
gularidade, no abraço, no sorriso e feminilidade destacável. Falo da mulher que faz da<br />
vida estrada de conquistas e do amor direito natural e intransferível.<br />
www.varaldobrasil.com 164
A rosa que é você<br />
Por Silvio Parise<br />
Como a rosa que se vê<br />
de um perfume saboroso e marcada<br />
com espinhos por todos os lados...<br />
Assim mesmo é você nesse talo<br />
de vida que Deus te deu<br />
Essa rosa de aroma que falo<br />
doce demais para se descrever<br />
é a essência de um puro ser<br />
cujas pétalas me exprimem e exaltam<br />
a paixão que vem do Alto, e que se faz saber...<br />
Este amor que parte de você<br />
como a rosa toda bela e meiga<br />
esta ternura singela que estonteia<br />
ao mais puro e verdadeiro ser<br />
Quem pode te entender?<br />
Acho que nem você se entende...<br />
Porque esta maneira de ser<br />
Não vem de nenhuma flor que se conhece...<br />
Complexa e meiga como a rosa<br />
tu tens perfume, mas também espinhos...<br />
Pois são partes distintas desta personalidade<br />
que, quando se traga, nos embebeda como o<br />
vinho<br />
Esse ser misterioso e rebelde<br />
meigo demais para qualquer malícia...<br />
Mas que, como a rosa, que é sempre formosa e<br />
artística<br />
tu, da mesma maneira, também és...<br />
Este labirinto de desenhos fabulosos<br />
cheio de relevos, curvas e perfume<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
esta marca registrada cujo aroma<br />
me encanta e me deixa quase nas nuvens...<br />
Pra te cheirar, beijar e amar<br />
esse amor de rosa que é você<br />
e juntos podermos plantar<br />
esta semente para sempre eu poder ter<br />
Pois não quero vê-la partir<br />
e esperar um novo amanhecer<br />
para então te ver assim crescer<br />
colorir-se, florir e me perfumar...<br />
Com o perfume que só você pode dar<br />
rosa do meu amor perene<br />
que me lembra, e sempre faz me lembrar de ti<br />
e como a rosa que é tão sublime<br />
assim é o amor que exprimes<br />
porque é isso mesmo que você é<br />
Essa rosa delicada e sonsa<br />
mas de uma exuberância estrondosa...<br />
Que faz fluir em qualquer esfera<br />
o perfume e flor do amor que jorra<br />
de ti, ó rosa bela, para sempre tão formosa.<br />
www.varaldobrasil.com 165
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
NÃO COMPRE<br />
ANIMAIS<br />
SILVESTRES!<br />
DENUNCIE QUAN<strong>DO</strong><br />
VER ACONTECEN<strong>DO</strong><br />
COMPRA E VENDA<br />
DESTES ANIMAIS!<br />
ELES MERECEM A<br />
NATUREZA E A<br />
NATUREZA PRECISA<br />
DELES!<br />
www.varaldobrasil.com 166
ELA<br />
Por Francy Wagner<br />
Mulher, feminino, fêmea, criadora e procriadora,<br />
amor e doação, companheirismo e amizade.<br />
Estou aqui diante dela e não consigo parar de<br />
olhar. Fico vasculhando sua figura: os olhos, a<br />
boca, os cabelos, o colo, o corpo inteiro e ela<br />
sorri! Esta ficando encabulada com o meu<br />
olhar? Acho que não. Ela sabe o que estou fazendo.<br />
Ela sabe o que estou procurando e gentilmente<br />
esconde para que eu continue a procurar.<br />
Ela, que no inicio me trouxe tantas dores de<br />
cabeça! Ela, que no inicio era motivo da minha<br />
raiva! Eu não tolerava seu jeito seguro de ser,<br />
colocando tudo em ordem na minha desordem,<br />
o que para mim significava exatamente o contrario.<br />
Então, com minha forca, meu imperialismo<br />
masculino, virava tudo pelo avesso! Ela ficava<br />
com raiva também e brigávamos. E como<br />
brigávamos!...<br />
Nunca nos agredimos fisicamente, claro. Eu<br />
não bateria nela! Mas procurava alcançar seu<br />
ponto fraco... e nunca consegui! Eu não o<br />
achei.<br />
Ela achou o meu!<br />
No final, não houve perdedor. Nós nos ganhamos.<br />
Eu não recuei, ela recuou e venceu. Venceu<br />
meus argumentos, cansou as minhas forças e<br />
quando menos percebi, ela ja morava no meu<br />
coração.<br />
Para os conceitos atuais de beleza, ela não é<br />
uma modelo fotográfica! Ainda bem. Ela é uma<br />
mulher normal, se é que existem mulheres normais.<br />
Nem sempre esta com o cabelo arrumadinho,<br />
ja achei até alguns fios brancos e nada falei;<br />
ela os encontrou e pintou o cabelo, trocou a<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
cor. Depois cortou, e eu não notei... dois dedos!<br />
Eu achei que foram dois centímetros, daqueles<br />
bem pequenos! Nem sempre esta na moda,<br />
mas adora bolsas e sapatos... tantos que os<br />
meus ficaram relegados a uma das cinco prateleiras.<br />
Vitrines? Ah, minha tortura, sair com ela<br />
para as compras... e ja desisti de tomar café<br />
com as suas amigas... fico com dor de cabeça:<br />
falam demais e não sei como se entendem- todas<br />
ao mesmo tempo. E como tem assunto!...<br />
Sabem de tudo!<br />
Tem uma barriguinha que acho linda, um corpinho<br />
que se encaixa direitinho no meu!<br />
Ela consegue me enlouquecer de todas as maneiras.<br />
Em primeiro lugar não consigo entender como<br />
ela consegue ver tudo!<br />
Em casa vê o que ela acha que está sujo, as<br />
tarefas das crianças, a dispensa, o lixo para<br />
levar para fora,... uma canseira. Se tivesse um<br />
batalhão de pessoas ao seu comando, tenho<br />
certeza que ninguém conseguia ficar parado!<br />
Não sei como ela consegue fazer tudo e, pasmem(!),<br />
ao mesmo tempo!<br />
Lembro que fiquei um dia desses sentado, fingindo<br />
ler um livro, e observando sua movimentação,<br />
normal e diária, em um dia comum da<br />
semana, quando todos estávamos em casa. Eu<br />
cansei!<br />
E quando ela ficou doente e teve que ser internada<br />
durante alguns dias no hospital! Eu quase<br />
enlouqueci. Esquecia de tudo. Compras, casa,<br />
crianças, trabalho, e ela... no hospital. Tudo me<br />
faltava. Ela me faltava!<br />
Isso! Ela! Ela me faltando eu não sou eu inteiro.<br />
Eu sou menos de trinta por cento, pois ela<br />
constrói o universo onde habito.<br />
Seu humor, de variações escandalosas, deixa<br />
meus dias... digamos, agitados! Ou ela esta<br />
muito bem, sorrindo, colorindo minhas arvores,<br />
meu céu, meu caminho, meu trabalho, ou ela<br />
esta com TPM e provoca uma revolução, um<br />
terremoto, vai tirando tudo do lugar, para colocar<br />
novamente daqui há alguns dias... e os meses<br />
vão se passando. Os anos foram se passando.<br />
Perdi minha paz? Não, ela é minha paz!<br />
Perdi a minha “monotonidade”. Perdi minha<br />
unidade, minha individualidade? Nada disso:<br />
com ela eu sou uno, sou um individuo melhor:<br />
minha companheira é a melhor mulher do mundo!<br />
... apesar de tudo.<br />
(segue)<br />
www.varaldobrasil.com 167
Meu mundo deixou de ser preto e branco. Tudo<br />
ali, certinho. Camisas de colarinho bem passado,<br />
esqueça: ela detesta passar roupa- existe<br />
lavanderia para isso! Meus sapatos ao pé do<br />
sofá, prontos para o dia seguinte – esqueça:<br />
tem sapateira na entrada para isso! E onde esta<br />
aquele calção do domingo? Aquela porcaria?<br />
Joguei fora! Não prestava para nada. Nada?!<br />
Era meu calção predileto, macio, velhinho, não<br />
incomodava.... eu podia ate...bem, deixa pra la.<br />
Ela jogou fora! E assim também foram para o<br />
lixo meu velho e querido tênis ( cheirava mal e<br />
estava rasgado!), minha meia de inverno<br />
( aquela porcaria furada, nem pensar!), ela chegou<br />
na minha mesa de trabalho. Não!!!! Aqui<br />
você não arrume! Ela ficou triste. Fiquei triste<br />
alguns dias. Ela me presenteou com outro calção,<br />
bem diferente... mas que deixei jogado no<br />
chão, ao pé da cama. Ela coloriu meu mundo!<br />
Ela se queixa. É incompreendida! Mãe de dois<br />
filhos lindos, vive numa casa de homens! Então<br />
lembrei a musica do Erasmo Carlos: somos todos<br />
dependentes e carentes de sua força! Ela<br />
consegue por ordem nesse pardieiro, como disse<br />
uma vez, quando ficamos os três em casa e<br />
ela chegou... meia hora antes! Nós não a compreendemos,<br />
pois é impossível: quando se<br />
pensa que ela vai explodir, ela sorri e tranquiliza<br />
nossos corações. Quando penso que ela vai<br />
sorrir, ela diz: não sei... quando penso... deixei<br />
de pensar. Deixar de prever. Ela é imprevisível.<br />
Aceitei essa qualidade.<br />
E a profissional? Eu ate pensei que iriamos<br />
continuar trabalhando juntos, mas ela trocou de<br />
profissão! Eu nunca conseguiria fazer isso com<br />
tanta facilidade. Foi só engravidar, ela decidiu:<br />
Vou mudar tudo! Vou reorganizar minha vida!<br />
Vou precisar de mais tempo para o bebe, mesmo<br />
depois, e... decidido: vou fazer algo que encaixe<br />
na minha vida de mãe também.<br />
Gelei! Será que vai trocar de marido também?<br />
Cheguei ate a perguntar. Ela sorriu. Não gargalhou<br />
na minha cara assim, na maior tranquilidade!<br />
Ela sabe o poder que tem. E ainda diz que<br />
é insegura? Inseguro sou eu! Ela trocou tudo<br />
quando foi mãe, e me mudou totalmente para<br />
casarmos... Inseguro sou eu!<br />
Gritou um dia que não queria ser minha dependente!<br />
Eu iria cuidar das crianças (mais ainda?!)<br />
pois ela precisava da promoção! Ei, quem<br />
é o dependente aqui? Quem é que não sabe<br />
mais nem onde anda suas cuecas? Você troca<br />
tudo de lugar! Quem enlouquece quem?<br />
Passamos por tempos difíceis. Pensei em ir<br />
embora. Fui.<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Encontrei o vazio. O vazio de mim mesmo.<br />
Senti sua falta. A falta do colorido, do quente,<br />
do frio. Minha vida ficou morna. Voltei!<br />
Hoje ela esta magicamente ali, sentada a minha<br />
frente, brincando de videogame com o caçula,<br />
e percebe meu olhar. Sabe que escrevo<br />
sobre ela. Sabe que não consigo ver tudo, mas<br />
sei o tudo que ela significa para mim.<br />
Ela sorri. Não esta encabulada. Esta segura<br />
dos nossos laços. Esta segura de nossa vida.<br />
Nosso amor nos segurou ate hoje.<br />
Mulher, meu amor, meu rumo, minha direção.<br />
Mulher, magia e feitiço.<br />
Mulher, feminino, magia, criação e procriação,<br />
ordem e desordem, guerra e paz, decadência e<br />
triunfo. Nela tudo existe! Nela tudo se encontra.<br />
Ela é meu complemento e sem ela nada sou<br />
além de um triste homem vagando no vácuo.<br />
www.varaldobrasil.com 168
ESSA MULHER<br />
Por Eber Josué<br />
Ela chegou e, sem querer, roubou a cena.<br />
Sonhou, brincou, amou...<br />
Era serena.<br />
Trouxe risos e cores<br />
Envoltos em versos e prosas.<br />
Docemente dizia:<br />
“Não quero rosas, desde que haja rosas”.<br />
Ela chegou e, sem querer, tomou o palco.<br />
Cantou, dançou, sorriu...<br />
Sobre o seu salto.<br />
Trouxe cor e calor,<br />
Contagiando a massa.<br />
Somente se ouvia:<br />
“Meu Deus, eu quero a mulher que passa”.<br />
Acreditou sinceramente nas pessoas.<br />
Parou, ouviu, sentiu...<br />
Julgou-as boas.<br />
Viu-se despedaçar<br />
Todo o carinho<br />
Ao concluir:<br />
“Tinha uma pedra no meio do caminho”.<br />
Ela provou de uma moeda os vários lados.<br />
Sorriu, sofreu, chorou...<br />
Tempo nublado.<br />
Tentou lutar,<br />
Travando íntima peleja,<br />
Quando provou:<br />
“A mão que afaga é a mesma que apedreja”.<br />
Ela seguiu e decidiu fazer-se forte.<br />
Sentiu, ouviu... Curvar?<br />
Nem mesmo à morte!<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Sorriu e o sol<br />
Radiante retornou.<br />
E concluiu:<br />
“Mulher é desdobrável. Eu sou”.<br />
www.varaldobrasil.com 169
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
www.varaldobrasil.com 170
REGULAMENTO <strong>DO</strong> CONCURSO CULTU-<br />
RAL "1º PRÊMIO <strong>VARAL</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> DE<br />
LITERATURA - <strong>20</strong>13", PROMOVI<strong>DO</strong><br />
PELA REVISTA <strong>VARAL</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong><br />
A finalidade do presente concurso é a divulgação<br />
da Língua Portuguesa e da arte<br />
literária mediante premiação das melhores<br />
obras literárias dentro do proposto no regulamento<br />
a seguir:<br />
1. Poderão participar do concurso<br />
pessoas maiores de 18 anos que<br />
sejam brasileiras ou estrangeiras e<br />
que escrevam na Língua Portuguesa.<br />
2. Serão consideradas três categorias:<br />
contos, crônicas e poemas.<br />
3. Os originais deverão ser inéditos e<br />
escritos em Língua Portuguesa. Os<br />
contos, crônicas e poemas não poderão<br />
ser traduções de originais de<br />
outros idiomas e não poderão ter<br />
sido publicados anteriormente em<br />
nenhum meio de comunicação, impresso<br />
ou virtual, e poderá ser chamado<br />
às vistas da lei.<br />
4. O conteúdo dos originais seguirá o<br />
critério seguinte: o tema é LIVRE,<br />
ou seja, o autor poderá escrever sobre<br />
o assunto de sua escolha. Os<br />
textos não deverão trazer temática<br />
partidária, seja ela política, religiosa,<br />
racial ou outra. Textos que possuam<br />
conteúdo partidário político,<br />
religioso, racial ou outro e textos<br />
que contenham pornografia de<br />
qualquer espécie serão desclassificados<br />
deste concurso sem mais.<br />
5. Cada candidato poderá concorrer<br />
nas três categorias com um trabalho<br />
em cada uma delas no máximo.<br />
Para cada categoria o candidato deverá<br />
fazer uma inscrição separada<br />
e enviar também separadamente, o<br />
material a ser avaliado no concurso.<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
6. A inscrição dos originas deverá ser<br />
realizada no período entre 1º de fevereiro<br />
e 30 de abril de <strong>20</strong>13, mediante<br />
o pagamento de uma taxa de<br />
inscrição e do envio dos originais a<br />
serem avaliados para o e-mail<br />
varaldobrasil@gmail.com nas condições<br />
abaixo discriminadas.<br />
7. O valor da taxa de inscrição fica<br />
estabelecido em: CHF 25,00 (vinte<br />
e cinco francos suíços) para a Suíça;<br />
BRL 45,00 (quarenta e cinco<br />
reais) para o Brasil e EUR <strong>20</strong>,00<br />
(vinte euros) para todos os demais<br />
países. O valor deverá chegar ao<br />
<strong>VARAL</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> isento do pagamento<br />
da taxa de transferência<br />
bancária ou depósito bancário.<br />
8. As coordenadas bancárias para o<br />
pagamento da taxa de inscrição deverão<br />
ser solicitadas através do email<br />
varaldobrasil@gmail.com<br />
9. Os interessados preencherão a ficha<br />
de inscrição que será enviada<br />
junto do texto (folha separada) e<br />
comprovante de pagamento da taxa<br />
de inscrição. Uma foto de rosto deverá<br />
ser enviada junto ao restante<br />
do material solicitado.<br />
10. As inscrições serão realizadas apenas<br />
online, por intermédio do email<br />
varaldobrasil@gmail.com<br />
11. As crônicas e os contos deverão ser<br />
enviados em formato A4, letra Arial<br />
12. Os contos deverão ter no máximo<br />
duas páginas e as crônicas no<br />
máximo uma página.<br />
12. Os poemas deverão ser enviados<br />
obedecendo às mesmas condições<br />
dos itens 10 e 11, mas contendo no<br />
máximo 1 página.<br />
13. Não serão considerados válidos textos<br />
que vieram colados no corpo do<br />
e-mail nem textos que vierem sem<br />
o comprovante de pagamento da<br />
taxa de inscrição.<br />
www.varaldobrasil.com 171
14. Não serão considerados válidos textos<br />
que vieram colados no corpo do e-mail<br />
nem textos que vierem sem o comprovante<br />
de pagamento da taxa de inscrição.<br />
15. Para seleção das melhores obras o<br />
<strong>VARAL</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> formará uma Comissão<br />
Julgadora que estará apta a<br />
avaliar os originais enviados de acordo<br />
com os critérios editoriais, criatividade<br />
e estilo para desta forma escolher os<br />
vencedores do presente Prêmio.<br />
16. Toda e qualquer decisão tomada pela<br />
Comissão Julgadora será irrevogável.<br />
E para a decisão não cabe nenhum tipo<br />
de recurso ou medida judicial. A<br />
inscrição no concurso implica na aceitação<br />
de todos os itens deste regulamento.<br />
17. A escolha das melhores obras literárias<br />
será publicada no mês de junho<br />
de <strong>20</strong>13 no site e blog do <strong>VARAL</strong> <strong>DO</strong><br />
<strong>BRASIL</strong> (www.varaldobrasil.com e<br />
www.varaldobrasi.blogspot.com) e divulgada<br />
amplamente.<br />
18. Os vencedores em cada categoria receberão<br />
certificado do I PRÊMIO VA-<br />
RAL <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> DE LITERATURA,<br />
além da quantia de CHF 500,00<br />
(quinhentos francos suíços) e a participação<br />
como convidados no livro VA-<br />
RAL ANTOLÓGICO 4 a ser editado em<br />
<strong>20</strong>14.<br />
19. Os detentores do segundo lugar em<br />
cada categoria receberão Menção Honrosa,<br />
mais a quantia de CHF 300,00<br />
(trezentos francos suíços) e a participação<br />
como convidados no livro VA-<br />
RAL ANTOLÓGICO 4 a ser editado em<br />
<strong>20</strong>14.<br />
<strong>20</strong>. Do terceiro ao décimo lugar: Menção<br />
Honrosa e possibilidade de participar<br />
do livro <strong>VARAL</strong> ANTOLÓGICO 4<br />
(mediante pagamento de inscrição com<br />
valor privilegiado).<br />
21. A nominação e comunicação dos premiados<br />
será feita por e-mail.<br />
22. Fica autorizada a publicação pelo VA-<br />
RAL <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> na revista <strong>VARAL</strong> <strong>DO</strong><br />
<strong>BRASIL</strong>, no livro <strong>VARAL</strong> ANTOLÓGICO<br />
4 e nos blog e site do <strong>VARAL</strong> <strong>DO</strong> BRA-<br />
SIL de todos os textos inscritos, sejam<br />
eles selecionados ou não. Os candidatos<br />
autorizam o uso e a veiculação do<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
seu nome pelo <strong>VARAL</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> ou<br />
por terceiros por ele autorizados, inclusive<br />
para fins comerciais.<br />
23. A apresentação dos originais para<br />
concorrer ao I PRÊMIO <strong>VARAL</strong> <strong>DO</strong><br />
<strong>BRASIL</strong> DE LITERATURA implica expresso<br />
acordo às normas apresentadas<br />
no presente Regulamento.<br />
24. Os prêmios são pessoais e intransferíveis<br />
e não poderão ser trocados por<br />
quaisquer outros produtos ou serviços.<br />
25 Todos os casos não previstos nas normas<br />
deste Regulamento serão resolvidos<br />
diretamente pelo <strong>VARAL</strong> <strong>DO</strong> BRA-<br />
SIL.<br />
26. A organização do <strong>VARAL</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong><br />
se reserva o direito de recusar qualquer<br />
candidatura que acredite não<br />
respeitar as normas deste Regulamento<br />
ou por outros motivos que a organização<br />
do I PRÊMIO <strong>VARAL</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong><br />
DE LITERATURA achar pertinente.<br />
Em Genebra, 24 de janeiro de <strong>20</strong>13<br />
Jacqueline Aisenman<br />
Editora-Chefe do <strong>VARAL</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong><br />
Coordenadora do<br />
I PRÊMIO <strong>VARAL</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> DE<br />
LITERATURA<br />
www.varaldobrasil.com 172
MULHER-POEMA<br />
Por Leonilda Yvonneti Spina<br />
“Mulher-maravilha”<br />
que brilha na passarela!<br />
- Que mulher é aquela?<br />
Mulher de cama, mesa e fogão.<br />
Com a sutileza de quem ama<br />
arruma a casa, esfrega o chão...<br />
- Que mulher é então, que esconde<br />
as queixas sob as madeixas?<br />
Lavra a terra, aquece a marmita,<br />
engrossa a fila dos operários.<br />
Faz passeata, em coro grita<br />
pela melhora de seus salários.<br />
Mulher bonita, politizada,<br />
cara pintada... Mulher guerreira,<br />
porta-bandeira,<br />
bandeira branca na negra anca.<br />
Mulher sem medo! Conhece cedo<br />
o dissabor da competição:<br />
- Mestra, arquiteta, jurista, esteta,<br />
“anjo da guarda” do hospital!<br />
Do quadro-negro à régua e ao traço,<br />
ao bisturi, é o direito braço<br />
dos que a temem como rival.<br />
Mulher escrava? - Não! Nunca mais!<br />
Brava mulher possui idéias,<br />
forma colmeias de puro mel.<br />
Rosa-mulher... Cheios de espinhos<br />
são seus caminhos. Camélia...<br />
É Amélia a quem bem a quer,<br />
ou “margarida”,<br />
àquele que passa a vida<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
brincando de malmequer...<br />
- Que mulher é essa tão destemida,<br />
que traz no ventre o poder da vida<br />
e enfrenta o mundo sempre adverso?<br />
É Mulher-Poema... Com rima e verso!<br />
h p://fr.all-free-download.com/<br />
www.varaldobrasil.com 173
M DE MULHER<br />
Por Valquíria Imperiano<br />
Mulher<br />
Maga Magna<br />
Milagrosa,<br />
Mistura de aMor Mesurado<br />
Mulher é Metáfora<br />
Meteoro Micante<br />
Metamorfose Majestosa<br />
Magnânima Mãe<br />
Mágica Mistura Maleável<br />
Maravilhosa Mão que Manuseia<br />
Misterioso Manto Maternal<br />
Meramente Mentora<br />
Memorável Militante<br />
Medula Milenar<br />
Mestra Mão do mundo<br />
Mirífica Missionária Modelo<br />
Mítica Mulher<br />
Módulo Monumento huMano<br />
Vocabulário<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Micante : brilhante, luminoso resplandecente<br />
Mentora : guia, conselheira<br />
Mítica : fantástica, fabulosa<br />
Mirífica :Admirável, extraordinária<br />
Módulo : suave, melodioso, harmonioso<br />
Escultura e foto de<br />
Valquiria Imperiano<br />
www.varaldobrasil.com 174
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
A MULHER E A LÍNGUA PORTUGUESA<br />
Por Maria José Vital Justiniano<br />
Tenho inveja da mulher que...<br />
É sábia.<br />
Canta como sabiá<br />
Faz diferença entre o sábio e não sábio, todavia,<br />
sábia como é, defende seus direitos entre os sábios homens<br />
Busca a promoção no meio dos cidadãos<br />
Busca nas palavras a realização de<br />
poesias<br />
E tenta fazer trocadilhos como:<br />
A sábia mulher<br />
Não sabia<br />
Que há homens que gostam de mulheres<br />
S antas, sensíveis<br />
A rrogantes<br />
B obas<br />
I gnorantes<br />
A morosas<br />
S ensuais<br />
Mesmo sendo loiras, morenas, negras, brancas, afinal, de qualquer cor.<br />
Pobre mulher sábia!<br />
Esqueceu-se que a natureza masculina reclama e...<br />
Não se preocupa nem com a língua portuguesa que separou<br />
Errado a palavra arrogante<br />
O homem é maravilhoso macho ou fêmea<br />
Sábio ou não Sábio.<br />
Que importa?<br />
Sempre haverá poesia<br />
O homem não assassina a poesia<br />
Ele gosta de Mulher<br />
A mulher<br />
É POESIA<br />
www.r".com<br />
www.varaldobrasil.com 175
Marias e Marias<br />
Por Anna Ribeiro<br />
Já falei de Maria?<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Maria.<br />
Neste mundo de meu Deus<br />
São tantas as Marias<br />
Ou<br />
Simplesmente Maria<br />
Maria das Dores<br />
Maria Paixão!<br />
Maria dos Amores<br />
Maria Mãe<br />
Maria apenas mulher<br />
Maria sofrida<br />
Maria que ninguém quer<br />
Maria que todos querem<br />
Maria de casa<br />
Oh' Dona Maria!<br />
Mas tu Maria, só tu és minha Maria<br />
Maria minha amada Mulher<br />
h p://www.v3wall.com/<br />
www.varaldobrasil.com 176
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Santas seríamos, santas somos<br />
Por Jacqueline Aisenman<br />
Na verdade eu seria santa<br />
se não tivesse sido tantas antes<br />
tantas outras coisas.<br />
E também se não tivesse tantas vontades<br />
as tantas de depois<br />
de ser depois<br />
e ter depois<br />
e nem sei antes ou depois do que.<br />
Seria santa como são todas as mulheres<br />
as que nasceram antes e depois.<br />
Porque as virtudes da santidade não estão no depois de tudo,<br />
mas exatamente no antes de qualquer coisa.<br />
E se eu fosse então santa e todas as outras também seriam<br />
seríamos todas.<br />
Partilharíamos com a vida nossos martírios pessoais e mundanos<br />
e escolheríamos a cor do altar<br />
(combinando com nossos olhos ou com o salto alto).<br />
Nós, mulheres, somos as tais santas que não se venera.<br />
Usamos batom, saias que voam e baldes na cabeça.<br />
Também cuidamos para que o decote seja tão vasto<br />
quanto é nosso coração (de vez em quando nos fechamos em golas altas).<br />
As cores dos vestidos fazem coro com os sentimentos<br />
e por isto somos floridas, coloridas ou no luto nos escondemos.<br />
Não temos tempo de ser mãe de um só filho, somos mães mesmo sem filhos,<br />
nossos filhos estão pelo mundo, espalhados e não nos chamam de mãe.<br />
Devotas esposas de homens que muitas vezes nem sabem que com eles casamos.<br />
Impiedosas amantes de homens que muitas vezes nem sabem que são eles que amamos.<br />
Agarramos com as unhas o que queremos, arranhamos com as mesmas unhas o que nos<br />
violenta.<br />
Somos as santas profissionais da casa, da vida, do amor, do sexo, dos sonhos, da crueldade.<br />
Somos as santas que o povo ama e tripudia.<br />
Alcançamos a graça simplesmente por ter nascido mulher.<br />
www.varaldobrasil.com 177
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
www.varaldobrasil.com 178
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
www.varaldobrasil.com 179
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
www.varaldobrasil.com 180
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
www.varaldobrasil.com 181
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
www.varaldobrasil.com 182
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
O DIREITO AUTORAL DEVE SER RESPEITA<strong>DO</strong><br />
PORQUE RESPEITÁ-LO RESPEITÁ LO É RESPEITAR O TALENTO<br />
E A CRIATIVIDADE DAQUELE QUE CRIOU UMA<br />
OBRA. AS PESSOAS QUE COPIAM E MODIFICAM<br />
OS TEXTOS DE OUTRAS E/OU PASSAM ADIANTE<br />
ESTES TEXTOS SEM DAR AOS AUTORES <strong>DO</strong>S<br />
MESMOS OS RESPECTIVOS CRÉDITOS ESTÃO<br />
COMETEN<strong>DO</strong> CRIME!<br />
APRECIE, MAS RESPEITE O AUTOR!<br />
Imagem: poemasaflordapele1.blogspot.com<br />
www.varaldobrasil.com 183
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
www.varaldobrasil.com 184
Revista Varal do Brasil<br />
A revista Varal do Brasil é uma revista bimensal<br />
independente, realizada por Jacqueline<br />
Aisenman.<br />
Todos os textos publicados no Varal do Brasil<br />
receberam a aprovação dos autores, aos<br />
quais agradecemos a participação.<br />
Se você é o autor de uma das imagens que<br />
encontramos na internet sem créditos, façanos<br />
saber para que divulguemos o seu talento!<br />
Licença Creative Commons. Distribuição eletrônica<br />
e gratuita. Os textos aqui publicados<br />
podem ser reproduzidos em quaisquer mídias,<br />
desde que seja preservado o nome de<br />
seus respectivos autores e não seja para<br />
utilização com fins lucrativos.<br />
Os textos aqui publicados são de inteira responsabilidade<br />
de seus respectivos autores.<br />
A revista está disponível para download no<br />
site www.varaldobrasil.com e no blog<br />
www.varaldobrasil.blogspot.com<br />
Contatos com o Varal?<br />
varaldobrasil@gmail.com<br />
Para participar da revista, envie um e-mail<br />
para a revista e enviaremos o formulário.<br />
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Leia todas as nossas edições gratuitamente<br />
em nosso blog ou em nosso site!<br />
www.varaldobrasil.com<br />
www.varaldobrasil.blogspot.com<br />
CONSULA<strong>DO</strong>-GERAL <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> EM<br />
ZURIQUE<br />
Stampfenbachstrasse 138<br />
8006 Zürich-ZH<br />
Fax: 044 <strong>20</strong>6 90 21<br />
www.consuladobrasil.ch<br />
www.varaldobrasil.com 185
Varal do Brasil fevereiro de <strong>20</strong>13<br />
Voltaremos em março com<br />
o no. 21!<br />
Venha participar conosco!<br />
www.varaldobrasil.com<br />
www.varaldobrasil.blogspot.com<br />
E-mail: varaldobrasil@gmail.com<br />
www.varaldobrasil.com 186