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TEOLOGIA E POLÍTICA O Céu e a Terra nas Eleições Presi<strong>de</strong>nciais Ainda um Tema da Atualida<strong>de</strong>.^ Heraldo Maués " Cerca <strong>de</strong> 1 ano <strong>de</strong>pois das eleições presi<strong>de</strong>nciais, esta análise que relaciona religião e eleições é atual, provocativa e nos oferece pistas para compreen<strong>de</strong>r o papel das igrejas no amadurecimento da socieda<strong>de</strong> brasileira. Trabalhando com algo além do racional e do lógico, as igrejas ocupam cada vez mais espaços nas disputas políticas." Com as eleições <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1990, <strong>de</strong>stinadas à escolha dos novos governos dos Estados, bem como à renovação do Congresso e das Assembléias Estaduais, consi<strong>de</strong>ro a<strong>de</strong>quada a divulgação mais ampla <strong>de</strong> artigo feito para uma discussão restrita <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> cientistas sociais preo- cupados com o estudos da religião. O texto começava com a pergunta insti- gante, que ainda po<strong>de</strong> ser formulada, com relação às próximas eleições. O que o céu tem a ver com a terra no caso das eleições presi<strong>de</strong>n- ciais? Certamente muito, a julgar pelo que notificou a imprensa do Brasil. Na elaboração <strong>de</strong>stas notas, examinei prin- cipalmente jornais locais (em Belém), limitando-me ao segundo turno, mas também consultei alguns do Rio e <strong>de</strong> São Paulo, assim como revistas <strong>de</strong> cir- culação nacional (**) Minha preocupação central foi a <strong>de</strong> examinar como as igrejas e seus principais representantes, os sacerdo- tes, enquanto <strong>de</strong>tentores dos bens simbólicos <strong>de</strong> salvação, intervinham no processo eleitoral <strong>de</strong> variadas manei- ras. A hipótese subjacente é que as formas <strong>de</strong> intervir se faziam, como no ritual e no mito, <strong>de</strong> acordo com a gramática própria, sendo possível, pois, ler essas formas <strong>de</strong> intervenção e o ine- vitável entrechoque resultante no cam- po religioso <strong>de</strong> tal modo a ter compre- ensão mais clara <strong>de</strong>ssas mesmas igrejas e da socieda<strong>de</strong> on<strong>de</strong> atuam. O material colhido levou-me a tomar basicamente em consi<strong>de</strong>ração a Igreja Católica e algumas igrejas pro- testantes (sobretudo pentecostais). En- contrei poucas notícias referentes a cultos <strong>de</strong> origem africana, mas, pela sua relevância, também <strong>de</strong>vo incluí-las na 40 CUÍRA análise. Começarei examinando as dife- rentes posições católicas, para <strong>de</strong>pois tratar dos protestantes; e embora não possa falar em "igreja africana" ou "a- fro-brasileira", as posições dos lí<strong>de</strong>res do candomblé e da umbanda oferecem contraponto a essas igrejas cristãs, po- <strong>de</strong>ndo nos dizer, como será colocado ao final, coisas relevantes sobre a so- cieda<strong>de</strong> brasileira surpreendida em si- tuação especial <strong>de</strong> drama. É diante <strong>de</strong>sse "drama eleito- ral" que a Igreja Católica se divi<strong>de</strong>, <strong>de</strong> acordo com a tendência já bem conhe- cida entre "conservadores", "mo<strong>de</strong>ra- dos" e "progressistas". sa 1 - Muitas notícias na impren- Na periferia <strong>de</strong> Maceió, a missa rezada com a presença <strong>de</strong> Fer- nando Collor e Frei Damião causa gran<strong>de</strong> comoção entre o povo simples. No interior do Amazonas, em São Ga- briel da Cachoeira, Lula consegue ser o segundo mais votado no primeiro tur- no entre os índios do Alto Rio Negro, em razão do apoio do CIMI. No inte- rior <strong>de</strong> Pernambuco, no município <strong>de</strong> Cortês, apesar <strong>de</strong> não haver um só co- mitê da Frente Brasil Popular, Lula consegue vencer com folga a eleição, graças ao trabalho do padre italiano Ermínio Canova, vigário local. Muitas outras situações po<strong>de</strong>riam ser relata- das, sendo que, pelo noticiário dos jor- nais, a balança das posições dos sacer- dotes católicos parecia pen<strong>de</strong>r clara- mente em favor <strong>de</strong> Lula. Não obstante, as palavras aparentemente mo<strong>de</strong>radas do Arcebispo <strong>de</strong> Belém, que claramen- te se alinha entre os conservadores, convidam à reflexão, ao referir o fato <strong>de</strong> que é insignificante o número <strong>de</strong> bispos que ficaram ao lado <strong>de</strong> Lula (O Liberal, Belém, 17/11/90). 2 - As posições <strong>de</strong> católicos e protestantes Há um paralelo que po<strong>de</strong> ser traçado entre as posições dos católicos e dos protestantes. Os apoios a Lula situaram-se mais claramente no protes- tantismo histórico, enquanto, <strong>de</strong> modo geral, os pentecostais (que congregam "Foram instalados com/fés evangélicos Pró-Lu/a em 17 estados" maior número <strong>de</strong> fiéis das classes po- pulares) ficaram com Collor. Isso per- mite uma comparação como o apoio dado a Collor pelo seguidores <strong>de</strong> Frei Damião, também pertencentes às clas- ses populares. Esta, no entanto, é uma com- paração imperfeita, pois não leva sufi- cientemente em conta o papel <strong>de</strong>sem- penhado pelos membros das Comuni- da<strong>de</strong>s Eclesiais <strong>de</strong> Base (CEBs) que, notoriamente, se engajaram na candi- datura <strong>de</strong> Lula e também pertencem, majoritariamente, às classes populares. O que fez com que católicos e protes- tantes do povo se dividissem entre as duas candidaturas no segundo turno? Sem querer respon<strong>de</strong>r cabalmente a es- sa pergunta, arriscaria dizer que pelo menos uma parte da resposta se encon- tra na forma pela qual são vivenciados o catolicismo popular tradicional e o