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?fe^5"BSo^ - Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro

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to, contrapõe o pai-<strong>de</strong>-santo. Por essa<br />

análise, Jair <strong>de</strong> Ogum conclui que a si-<br />

tuação fica melhor para Collor <strong>de</strong> Mel-<br />

lo, do PRN. O candidato colorido, se-<br />

gundo o pai-<strong>de</strong>-santo, conta com a vi-<br />

bração <strong>de</strong> Oxosse, uma entida<strong>de</strong> espiri-<br />

tual vaidosa, conquistadora, do tipo<br />

que não entra numa briga para per<strong>de</strong>r e<br />

<strong>de</strong> Ogum (...). Espiritualmente, Ogum<br />

é uma regência boa, <strong>de</strong> vibrações nego-<br />

ciadoras, sensível, cauteloso, culminan-<br />

do com uma força maliciosa" (A<br />

Província do Pará, Belém, 23/11/89).<br />

Numa socieda<strong>de</strong> como a bra-<br />

sileira, que Da Matta(7) <strong>de</strong>finiu como<br />

"relacionai", o discurso <strong>de</strong> Jair <strong>de</strong><br />

Ogum faz muito sentido, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n-<br />

temente <strong>de</strong> suas pretensões religiosas<br />

ou espirituias. O lado mo<strong>de</strong>rno e "indi-<br />

vidualista" (não relacionai) <strong>de</strong> um can-<br />

didato que age através <strong>de</strong> ações "im-<br />

pessoais" como greves, passeatas,<br />

gran<strong>de</strong>s concentrações <strong>de</strong> massa, pro-<br />

gramas elaborados e discutidos por in-<br />

tectuais, contrasta certamente com o<br />

lado tradicional do outro candidato,<br />

que é elegante, vistoso e rico, mas ao<br />

mesmo tempo cauteloso e malicioso,<br />

procurando se aproximar do lado tradi-<br />

cional do catolicismo popular, mas ao<br />

mesmo tempo não esquecendo <strong>de</strong> cul-<br />

tivar relações com as igrejas protestan-<br />

tes e com as autorida<strong>de</strong>s católicas<br />

mais conservadoras.<br />

Se a proposta do novo esteve<br />

tão perto da vitória, isso indica, certa-<br />

mente, um processo' <strong>de</strong> mudança já<br />

consi<strong>de</strong>rável na socieda<strong>de</strong> brasileira.<br />

Não obstante, a confirmação da pre-<br />

visão <strong>de</strong> Jair <strong>de</strong> Ogum também mostra<br />

como ainda pesa o tradicional, o rela-<br />

cionai e os aspectos totalizantes que<br />

<strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> lado o indivíduo, ou apenas<br />

o vêem como o "político aproveita-<br />

dor". Destarte, o argumento ultima-<br />

mente muito utilizado pelas elites, co-<br />

mo um dos instrumentos <strong>de</strong> sua domi-<br />

nação, <strong>de</strong> que o rico não vai precisar<br />

"roubar", se atingir o po<strong>de</strong>r, foi<br />

também elemento importante na vitó-<br />

ria <strong>de</strong> Collor.<br />

Espero que essa análise e as<br />

reflexões que a acompanham tenham<br />

algum valor para motivar novas análi-<br />

ses e reflexões sobre as eleições <strong>de</strong> ou-<br />

tubro <strong>de</strong> 1990. Novamente as igrejas e<br />

seus agentes se mobilizam e influem,<br />

ativamente, no processo eleitoral. A<br />

análise <strong>de</strong>sse novo drama, do ponto <strong>de</strong><br />

vista do papel <strong>de</strong>sempenhado pelas<br />

agências produtoras e controladoras <strong>de</strong><br />

"bens simbólicos <strong>de</strong> salvação" (as dife-<br />

rentes igrejas) é algo que po<strong>de</strong>rá ficar<br />

para novo artigo, que po<strong>de</strong>rá ou não<br />

confirmar as interpretações, acima co-<br />

locadas, como leituras <strong>de</strong>ssas agências<br />

e <strong>de</strong> seu papel social na realida<strong>de</strong> polí-<br />

tica brasileira.<br />

Heraldo Maués Professor Adjunto do Departamento <strong>de</strong> História<br />

e Antropologia e do Núcleo <strong>de</strong> Altos Estudos Amazónicos/NAEA<br />

da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Pará.<br />

Jornais e revistas consultados:<br />

A Província do Pará, [Belém.<br />

Oiráno do Pará, Belém<br />

Familia Cristã, São Paulo.<br />

Folha <strong>de</strong> São Paulo, São Paulo.<br />

Jornal do Brasil, Rio.<br />

O Liberal, Belém<br />

Veja, São Paulo<br />

(*) Texto originalmenfe elaborado para ser discutido no Grupo<br />

<strong>de</strong> Catolicismo do Instituto <strong>de</strong> Estudos da Religiâo/ISER, na reu<br />

mão <strong>de</strong> 30 a 31 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1990 A mesma foi adiada duas ve-<br />

zes, por causa do "confisco" do Plano Collor e só pô<strong>de</strong> reali-<br />

zar-se nos dias 6 e 7 <strong>de</strong> julho do mesmo ano Os trabalhos <strong>de</strong><br />

verão sair em número especial das Comunicações do ISÍ R Este<br />

lexto, <strong>de</strong>stinado à Revista CUÍRA da UNIPOP, sofreu algumas<br />

modificações e e adaptações para divulgação mais ampla em<br />

âmbito local<br />

(**) A pesquisa nos jornais e revistas foi realizada pelos bolsis-<br />

tas <strong>de</strong> iniciação cientifica Fernando Arthur <strong>de</strong> Freitas Neves e <strong>de</strong><br />

aperfeiçoamento Ana Negrão do Espírito Santo, que participam,<br />

sob minha orientação, do projeto "Fontes para o Estudo da<br />

História Social e Religiosa da Região do Salgado", financiado<br />

pelo CNPq<br />

,H Cf Francisco C Rolim, "Religião e Classes Populares"<br />

Potópolis Fd Vozes, 1980. e "O que e Pentecostalismo". Sáo<br />

Paulo 'd Brasiliense. 1987<br />

í?, "Uma nota sobre o voto amigo" Comunicações do ISER 1<br />

(3): 3 11, 1982.<br />

(3) "Uma 'i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> católica'?" Comunicações do ISER 5 (221:<br />

5 16, 1986<br />

14) Cf Rubem César FERNANDES. "Os Cavaleiros do Bom Je-<br />

sus: Uma introdução às religiões populares". São Paulo: Ed.<br />

Brasiliense, 1982<br />

(5) Cf Jean DELUMEAU. le Christianisme va-t il mourir?" Pa-<br />

ris: Hachetfe, 1977<br />

(6i Cf Regina R. NOVAES, "Igreja Católica, Reforma Agrária e<br />

Nova República" Religião e Socieda<strong>de</strong> 12 (31 54 62<br />

{7) "Carnavais.. Malandros e Heróis: Para uma sociologia do di-<br />

lema brasileiro" Rio <strong>de</strong> Janeiro: Zahar Editores, 1979<br />

AZ<br />

CUIRA

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