15.04.2013 Views

Caderninho (PDF) - USP

Caderninho (PDF) - USP

Caderninho (PDF) - USP

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Apresentação<br />

O Bexiga, situado no sub distrito da Bela Vista é escolhido como área de intervenção por reunir<br />

possíveis elementos históricos e sociais que consti tuem motes importantes para a realização da<br />

discussão sobre a fruição e experiência possíveis na cidade contemporânea. O processo de deterioração<br />

fí sica e descaracterização pelo qual o bairro tem passado contribui para o esfacelamento das<br />

relações de vizinhança internas ao mesmo; e deste em relação aos distritos adjacentes. O estudo de<br />

suas parti cularidades, consti tuídas a parti r de uma sobreposição histórica de tempos, usos, costumes<br />

e comunidades orienta uma intervenção que enfoca tensões presentes no bairro reforçando interlocuções<br />

latentes entre alguns os disti ntos grupos sociais ali elencados. Grupos teatrais, moradores<br />

de corti ços, descendentes de italianos,donas de casa e suas respecti vas apropriações.<br />

1


Introdução<br />

A Bela Vista, um dos bairros mais anti gos e tradicionais da cidade de São Paulo, abrange hoje<br />

uma extensa área urbana situada entre o centro e a região da Avenida Paulista. É limitada no senti do<br />

leste-oeste pelos eixos das avenidas Vinte e Três de Maio e Nove de Julho.<br />

Entendidos como elementos<br />

delimitadores de diferentes<br />

configurações no tecido urbano.<br />

Tanto demarcam o perímetro do<br />

bairro quanto determinam diferentes<br />

ambiências dentro do mesmo.<br />

Obstáculos gerados entre o<br />

tecido urbano, no caso do<br />

Viaduto Jaceguai e o Viaduto<br />

Armando Puglisi,<br />

que geram descontinuidades<br />

e desarticulações morfológicas.<br />

2


A formação do TERRITÓRIO<br />

1. A formação do TERRITÓRIO<br />

1.1 Antecedentes: a cidade de São Paulo e seus caminhos.<br />

A Vila de São Paulo do Pirati ninga nasceu do alto da colina demarcada a parti r do promontório<br />

formado pelas ruas 15 de Novembro, São Bento e Direita, tendo a várzea do Tamanduateí de um lado<br />

e o Vale do Anhangabaú de outro.<br />

Consti tuída inicialmente como entreposto comercial, por permiti r a ligação entre interior e litoral,<br />

a vila caracterizava-se como núcleo colonial de arquitetura modesta, cuja aglomeração restringiase<br />

ao triangulo central.<br />

“São Paulo era então um lugarejo siliencioso: casinhas de taipa, com telhados muito salientes e irregulares se<br />

seguiam nas ruelas do triângulo central. Existi am no centro, os largos “do colégio”, “da Sé”, “da Misericórdia”, “de São Francisco”<br />

e “de São Bento”, com as respecti vas ruas que ligavam os vários largos entre si (...) Além deste núcleo compreendido<br />

entre o Tamanduateí e o Rio Anhangabaú existi am vielas como aquelas “dos Piques”, “da Liberdade” e “da Glória” (...) Enfi m,<br />

São Paulo daquela época enquadra-se no grupo de cidades que os Portugueses ti nham construído na América (...) e cujos<br />

defeitos e cujo encanto provinham do fato de os portugueses deixarem-se guiar pela Natureza do local e a seguirem”.In<br />

SALMONI, DEBENEDETTI; Anita e Emma.” Arquitetura Italiana em São Paulo”.págs 23-28.<br />

A história do bairro do Bexiga está vinculada à origem da cidade de São Paulo. Espaço favorecido<br />

e escolhido para o povoamento, devido à sua situação geográfi ca, estando próximo do espigão<br />

central confi gurador do triângulo histórico da capital. Nomes como “Piques”, “ Saracura”, o Tanque do<br />

3


Reúno forneciam referencias de um bexiga<br />

embrionário na São Paulo provinciana dos<br />

séculos XVI e XVII.<br />

O surgimento de aldeias adjacentes<br />

à Vila (Nossa Senhora do Ó, Pinheiros,<br />

Itapecerica, Ibirapuera) muda o perfi l da<br />

área urbana da Capital, que passa a ter ligação<br />

com pequenos e esparsos núcleos de<br />

povoamento. Tal fato obriga a construção de<br />

estradas e caminhos, em todas as direções:<br />

vias de acesso e abastecimento que ligavam<br />

o núcleo central ao interior e ao litoral.<br />

Da colina central a cidade se irradiou.<br />

A parti r desta ampliação surgiram elementos<br />

estruturadores da paisagem da capital.<br />

Estradas, Caminhos e pontes consolidaram a<br />

organização de forma a dar feições à cidade<br />

que resistem até a contemporaneidade.<br />

Ponto de parti da e de passagem de<br />

diversos caminhos, o bexiga deve algumas<br />

de suas feições atuais aos mesmos.Três eram<br />

as vias principais que davam acesso para os Representação esquemáti ca da cidade de São Paulo e de seus<br />

povoamentos do Sul:<br />

caminhos em 1952. arquivo pessoal.<br />

4


“Uma toma como divisor entre o Tamanduateí e o Anhangabaú, que é hoje representado pela<br />

rua da liberdade, que conti nua pela rua Vergueiro. A outra começa no fundo do Vale do Anhangabaú no<br />

ponto em que este recebe seu afl uente no Saracura (hoje Largo da Memória), procura o divisor destes<br />

riachos e é prolongada pela Brigadeiro Luís Antônio. A ulti ma das estradas que seguem para o Sul é a<br />

que demanda as aldeias e povoações que se formam às margens do Rio Pinheiros e seus afl uentes (...)<br />

principiando no mesmo ponto que a estrada anterior , alcança por uma ladeira íngreme (Ladeira do<br />

Piques) o alto do espigão que separa o Anhangabaú do Pacaembu, seguindo por ele; e é hoje reproduzida<br />

pela Rua da Consolação.” PRADO,Caio Junior – Evolução Políti ca do Brasil e outros estudos; pág<br />

132.<br />

Nos primeiros trinta anos do século XIX a área urbana – ainda que de forma tí mida – rompia os<br />

contornos do esquema inicial , de modo a estabelecer certa conti nuidade entre a zona central e alguns<br />

“bairros” que se desenvolviam para além do Anhangabaú ou do Tamanduateí, ainda que tais bairros se<br />

consti tuíssem como chácaras e roças; áreas semi – rurais.<br />

“As Chácaras que cercavam a cidade ocupavam grandes áreas, limitando a povoação por todos os lados: ao<br />

Norte, além da ponte da Consti tuição, a Chácara de Miguel Carlos, para Leste, depois do Tamanduateí, a do Ferrão e a do<br />

Osório, anti ga do Meneses (...) ao sul as Chácaras do Fagundes e do Cônego Fidelis; à Sudoeste, beirando o Anhangabaú,<br />

os Campos ao Estalajadeiro do Bexiga e mais longe o síti o do Sertório (...)”In BRUNO,ERNANI SILVA. “Historias e Tradições<br />

da Cidade de São Paulo”. pag 45.<br />

São Paulo, que nos seus três primeiros séculos de existência teve um desenvolvimento modesto<br />

devido à sua insignifi cante economia e ao isolamento em que se encontrava, passa a senti r os efeitos<br />

da riqueza gerada pelo café, enquanto as cidades do Norte se manti veram como expressões da civilização<br />

do açúcar. Nas décadas posteriores à metade do século XIX o desenvolvimento da economia<br />

Cafeeira produz um impulso na capital da província, modifi cando a economia Paulista. No qual no<br />

5


início do século se caracterizava por baixa produti vidade, reduzidos rendimentos e por uma ocupação<br />

de pequena densidade populacional. A parti r desse momento, a cidade passa a ser um considerável<br />

núcleo urbano, em decorrência da expansão e importância da lavoura cafeeira e do aparecimento das<br />

ferrovias.<br />

Através dos trilhos, São Paulo transformou-se num importante centro comercial, deixando de<br />

ser o simples entreposto de outrora; os melhoramentos realizados na comunicação entre Capital e<br />

interior facilitam a vinda e a fi xação da aristocracia Cafeeira. O incenti vo econômico recebido por São<br />

Paulo a parti r de meados do século XIX fez com que muitas chácaras existentes ao redor do núcleo<br />

primiti vo começassem a ser arruadas e loteadas. Foram poucas as chácaras que resisti ram até os últi -<br />

mos anos do século XIX ou os primeiros do século atual.<br />

Depois de 1880, novos bairros incorporam-se ao perímetro urbano, através do loteamento das<br />

Chácaras e dos novos arruamentos. No início do Século XX, a abolição da escravatura e a conseqüente<br />

substi tuição da mão de obra nas lavouras de café introduzem o Imigrante Europeu. Elemento de grande<br />

infl uência na transformação da paisagem fí sica e social da cidade nas próximas décadas.<br />

Arti culavam-se dessa forma elementos que iriam conferir à província uma feição diferente e<br />

uma posição de relevo políti co e econômico muito maior dentro do país. Dentro deste desenvolvimento<br />

acelerado, defi nem-se bairros da aristocracia do café – localizados majoritariamente nos Campos<br />

Elíseos e em um segundo momento em Higienópolis.Próximos aos trilhos das Ferrovias e das estações<br />

instalaram-se os bairros das camadas trabalhadoras onde se fi xaram as primeiras indústrias.<br />

É dentro deste primeiro surto de Urbanização da cidade de São Paulo que se inicia a trajetória<br />

da região atualmente denominada Bexiga.<br />

6


1. 1.2 2 A Chácara do Bexiga<br />

Conforme o relato de Auguste de<br />

Saint-Hilaire, no seu livro “Viagem à Província<br />

de São Paulo”, a Chácara do Bexiga pertencia<br />

em 1819 a Antonio Manuel ou Antonio<br />

Bexiga(apelido dado por ter supostamente<br />

contraído varíola) , proprietário de uma estalagem<br />

localizada no início da rua de Santo<br />

Amaro.<br />

Parte do velho Caminho que ligava<br />

São Paulo à região sul foi incorporada ao<br />

bairro na época do arruamento das terras<br />

do Barão de Limeira, localizadas ao sul da<br />

Chácara do Bexiga. Com o objeti vo de encurtar<br />

o caminho para Santo Amaro foi aberta a<br />

avenida Brigadeiro Luís Antônio na Chácara<br />

do Barão de Limeira.A rua de Santo Antônio,<br />

inicialmente chamada de Vale do Andorra,<br />

delineou-se paralela ao ribeirão do Saracura.<br />

Ao lado da sua margem direita, perto da sua<br />

confl uência com o ribeirão do Anhangabaú.<br />

Posteriormente, essa chácara passou a ser propriedade<br />

de Tomás Luís Álvares (também<br />

conhecido como Tomás Cruz), que a vendeu em<br />

1878 a Antônio José Leite Braga<br />

(o responsável pela urbanização da área no ano de<br />

1879), que fez parte da onda de loteamentos no<br />

fi nal do século XIX.<br />

Representação esquemáti ca da Chácara do Bexiga<br />

em 1952. arquivo pessoal.<br />

7


Em 1880, já abertas as principais ruas, a confi guração do bairro estava defi nida na forma em<br />

que o traçado se perpetuou ate os dias atuais. A Bela Vista atraiu o estabelecimento de muitos imigrantes<br />

recém-chegados na cidade devido à expressiva oferta de terrenos com pequena testada e<br />

grande profundidade a preços reduzidos.<br />

O valor do solo era baixo devido ao fato de a Chácara consti tuir um arrabalde (limite) da cidade<br />

de São Paulo e de ser coalhada de acidentes geográfi cos (devido a presença de diversos córregos e<br />

afl uentes do Anhangabaú)que difi cultavam a ocupação:<br />

“Quem dispusesse de um pequeno pé de meia poderia ter em pouco tempo uma moradia.Loteamento<br />

facilitado, argila a poucos passos e mão de obra prati camente gratuita. Não esqueçamos que forte porcentagem daquela<br />

população de imigrados era formada de pedreiros, serventes, marceneiros e pintores. O proverbial espírito gregário do<br />

Calabrês,Siciliano e Napolitano unidos ainda mais pela penúria e numa terra estranha fariam o resto.” In MARZOLA, .”O<br />

Bairro da Bela Vista” .São Paulo, 1979. São Paulo : Depto Patrimonio Hist, Divisão Arquivo Histórico, 1979. pag68.<br />

8


O bairro em dois momentos: antes do parcelamento das chácaras em 1948 e após o início do<br />

arruamento da chácara do bexiga, no fi m do século XIX. Grifo em laranja sinalizando os limites atuais<br />

do Bairro.<br />

Recorte do mapa Plan historia da cidade de São Paulo, de<br />

1880-1874.In LUCENA, CÉLIA TOLEDO DE.”Bexiga, Amore<br />

mio!”pag 24.<br />

A chácara, em 1890 e o parcelamento inicial. In: LUCENA,<br />

CÉLIA TOLEDO DE.”Bexiga, Amore mio!”pag 64.<br />

9


1. 1.3 3 Talhado pelo esti gma:O papel da Varíola na consti tuição de uma representação<br />

coleti va do bairro.<br />

Ilustração, homem afetado pela<br />

varíola. Fonte:www.historyofmedicine.org<br />

No século XVII, a molésti a da Varíola denominada “Bexiga”<br />

amedrontava a população da cidade de São Paulo, e era sabido<br />

que os Campos do Bexiga recebiam os doentes dela atacados.<br />

Os terrenos Varzeosos e selvagens da então Chácara do<br />

Bixiga abrigavam no decorrer do século XIX escravos fugidos, associados<br />

à doença, os “pretos Bixiguentos”. Seus esconderijos faziam<br />

com que os paulistanos evitarem passar pelo Bexiga, então arrabalde<br />

(limite) da cidade:<br />

“ O local preferido pelos pretos Bixiguentos fi cava nas proximidades<br />

do Piques e da Saracura Grande”In: LUCENA, CÉLIA TOLEDO DE.”Bexiga, Amore<br />

mio!”pag 32.<br />

Até o ano de 1830 não existi a a Vacina, de forma que a medida<br />

profi láti ca ofi cial era o isolamento obrigatório do doente. Até<br />

1752 eram obrigados a sair da cidade todos os infectos da varíola.<br />

“ É compreensível o medo que os Paulistas tem de Bexigas , ela e que<br />

mata a maior parte dos que delas são atacados(..) Quem ti nha oportunidade<br />

saía da cidade de São Paulo, muitos se instalavam em fazendas e propriedades<br />

do interior.” In: LUCENA, CÉLIA TOLEDO DE.”Bexiga, Amore mio!”pag 40<br />

10


A denominação da Chácara e posteriormente a nomeação do Bairro estão fortemente ligadas<br />

à tragédia que a varíola imprimiu aos habitantes da cidade de São Paulo. Território esti gmati zado no<br />

século XVIII, que carregou a memória da doença no nome à contra-gosto de seus futuros habitantes.<br />

Mapa de 1954 mostrando a resistência da denominação anterior,<br />

apesar da ofi cialização do nomme Bela Vista. Obti do<br />

em:mavicanet.com/dyrectory.maps<br />

Em 26 de Dezembro de 1910 foi promulgada<br />

a lei n. 1242 que criou o distrito da<br />

Bela Vista, ao qual o Bexiga passou a pertencer.<br />

Medida aprovada pelos moradores<br />

do bairro, já que Bexiga era nome pejorati<br />

vo, a ponto de os moradores apedrejarem<br />

bondes que ainda não haviam substi tuído o<br />

novo nome do bairro em sua sinalização.<br />

Apesar da ofi cialização do nome<br />

Bela Vista, a parte do bairro situada a direita<br />

do córrego Saracura conti nuou ainda<br />

conhecida como bexiga. Exti nta a geração<br />

dos Italianos que ligavam o nome a doença,<br />

o preconceito também foi se exti nguindo.<br />

Bexiga, pronunciado Bixiga com “i” transformou-se<br />

em nome carinhoso, vínculo<br />

identi tário dos moradores do bairro.<br />

11


1. 1.4 Parcelamento: O nascimento de um bairro defi nini- ti vamente popular.<br />

O Parcelamento do solo adaptou-se às condicionantes<br />

topográfi cas, de forma que a ocupação se viu subordinada aos<br />

acidentes geográfi cos localizados. A Heterodoxia quanto ao parcelamento<br />

(lotes de testada e profundidade diferenciadas e de confi<br />

guração topográfi ca irregular) gerou certa elasti cidade da ocupação,<br />

que proporcionada pela disparidade fundiária predispôs a<br />

composição de algumas ti pologias arquitetônicas marcantes Elas<br />

se valiam das encostas, desníveis como elementos geradores de<br />

uma plasti cidade peculiar.<br />

Favoreceu-se a consti tuição de casas de porões altos, acomodações<br />

freqüentemente desti nadas às moradias baratas, com<br />

um fl agrante aproveitamento dos fundos dos lotes. Isto lançou as<br />

bases para a grande densidade construída da área. A região da<br />

Grota do Bixiga, localizada na altura das Ruas Rocha, Sílvia e Almirante<br />

Marques Leão, acidentada pela presença do córrego do<br />

Saracura e da proximidade do anti go tanque do Reúno, representa<br />

outro ponto de desarti culação do reti culado,cuja ocupação se deu<br />

à reboque das condições fí sicas hosti s, e cuja urbanização consolidou-se<br />

tardiamente se comparada aos demais trechos do bairro.<br />

Densidade do construído no bairro, e<br />

o aproveitamento dos fundos de lotes.<br />

In: Spini,Sandro.”Bexiga, avio de uma<br />

pesquisa Urbana” pag 15.<br />

12


O Território, caracterizado por declives, encostas e terrenos varzeosos apresenta um trecho<br />

de maior regularidade organizado pelas vias 13 de Maio, Rui Barbosa, Conselheiro Ramalho, Maria<br />

José e Major Diogo que se completa com a presença das vias diagonais representadas pela Conselheiro<br />

Carrão, Fortaleza e Manuel Dutra,em que verifi ca-se uma boa acomodação das quadras ao<br />

Tabuleiro.<br />

Recorte do Mapa Sarah Brasil mostrando a densidade e homogeneidade do reti culado<br />

em tabuleiro, na imagem exibe-se o trecho estruturado pelas vias Paralelas<br />

à Treze de Maio. Fonte: Fonte: Setor de Cartas. Biblioteca - FAU <strong>USP</strong>.<br />

Representação esquemáti ca da<br />

Chácara do Bexiga em 1910. arquivo<br />

pessoal.<br />

13


Tal conformação instrumentalizou condições amplas à sedimentação de uma<br />

ti pologia dominante representada por residências, do princípio do<br />

século XX, de confi guração plásti ca que se aproxima do gosto<br />

ecléti co situadas no alinhamento da rua.<br />

Um Fator relevante à percepção de tal trecho<br />

diz respeito à homogeneidade do<br />

conjunto construído, cujos<br />

aspectos relativos<br />

A m b i ê n -<br />

cia conti da no trecho<br />

destacado reunindo elementos<br />

referentes à ti -<br />

pologia arquitetônica ali<br />

presente,patrimonio e<br />

intervenções no viário.<br />

Fotomontagem, arquivo<br />

pessoal.<br />

Fachadas do Bexiga. lustração de Marcio Jato<br />

para o caderno Cidades do Jornal A Folha de<br />

São Paulo do dia 6 de Agosto de 1987.<br />

14


Croqui de levantamento, e a percepção desta escala favorável ao deslocamento do pedrestre.<br />

ao gabarito, implantação e ti -<br />

pologia geram uma estrutura<br />

urbana singular, que dialoga<br />

com a escala do pedrestre, fazendo<br />

contraponto à escala da<br />

metrópole contemporânea.<br />

Os espaços construídos<br />

predominam sobre os<br />

espaços abertos e, como<br />

as edifi cações tem, em sua<br />

maior parte, poucos pavimentos,<br />

a relação entre a rua e os<br />

espaços construídos é harmoniosa.<br />

As casas guardam<br />

a escala humana, mesmo<br />

formando uma massa compacta,<br />

sem recuos no alinhamento,<br />

já que a pouca altura<br />

não se impõe de forma marcante<br />

sobre seus habitantes.<br />

15


1. 1.5 5 O Poder: As consequências do urbanismo Rodoviarista.<br />

Versão fi nal perímetro de irradiação, São<br />

Paulo. Obti da em: htt p://www.vitruvius.<br />

Anteprojeto segunda perimetral, Prestes<br />

Maia. Fonte: Ante-Projeto de um Sistema<br />

de Transporte Rápido Metropolitano,<br />

1956<br />

Por volta de 1940, realizam-se as primeiras grandes obras<br />

viárias, que representam um momento de renovação e de conseqüente<br />

verti calização, sobretudo na área adjacente ao Centro. Em<br />

1935 é aberta a Avenida Nove de Julho no vale sobre o leito canalizado<br />

do córrego Saracura e em 1942 são construídos os viadutos<br />

Jacareí e Dona Paulina – ambos parte do perímetro de irradiação<br />

do plano de avenidas para a cidade de São Paulo de Francisco Prestes<br />

Maia, consti tuindo o primeiro anel perimetral.<br />

Prestes Maia atende ao convite da Prefeitura e elabora em<br />

1956 o Ante-Projeto de um Sistema de Transporte Rápido Metropolitano”<br />

dando conti nuidade à seu Plano de Avenidas. Aquela seria<br />

a hora para a implantação do segundo anel perimetral. A análise<br />

da proposta de Maia mostra a ênfase na ligação Leste-Oeste e na<br />

Avenida Anhangabaú (atual Av. 23 de Maio). O primeiro anel implantado<br />

por ele para o contorno do centro não ti nha mais capacidade<br />

para suportar o deslocamento nessa direção.<br />

A expansão periférica de fábricas e habitação popular a<br />

Leste gerava seus refl exos no centro. Surgiria aqui o traçado da<br />

ligação Leste-Oeste, iniciado no Largo do Arouche passando pela<br />

Amaral Gurgel, atravessando a porção norte da Bela Viata a parti r<br />

do Viaduto Jaceguai e cortando o extremo sul do Parque D. Pedro<br />

16


II em cota elevada para Leste. A implantação da radial leste- oeste na região é questi onável, já que<br />

bairros como o Glicério, a Liberdade e a Bela Vista tem sua conformação anterior à da metrópole<br />

paulista, moldada para o transporte individual de automóveis.<br />

Estruturaram-se como bairros mistos de comércio e habitação, adaptados à circulação de<br />

pedestres e com histórico de boa acessibilidade ao transporte coleti vo. Benefi ciaram-se muito pouco<br />

das melhorias de acesso possibilitadas pela Radial Leste-Oeste; de fato, a desestruturação do tecido<br />

urbano, acelerou a deterioração da área. Assim, por exemplo, a porção do bairro mais próxima da<br />

área central fi cou dividida fí sica e funcionalmente da região conhecida ainda hoje como Bexiga, que<br />

tem como eixos estruturadores as Ruas Treze de Maio e Rui Barbosa.<br />

17


Desconti nuidades espaciais geradas: Viaduto<br />

Armando Puglisi (ou Viaduto do Bexiga) em dois<br />

momentos: Quando parte da Rua Rui Barbosa na<br />

altura da rua Fortaleza, interferindo visualmente<br />

no eixo formado entre a escadaria projetada por<br />

Ramos de Azevedo, (que liga a a Rua dos Ingleses<br />

à ao nível da Rua 13 de Maio) e quando eleva-se<br />

sobre a a Av. Brigadeiro Luis Antônio.<br />

Representação esquemáti ca da Chácara do Bexiga atual.<br />

arquivo pessoal.<br />

18


1.6 A Gente : Mapas circunstanciais, ocupações no espaço.<br />

Negros<br />

Nas baixadas do córcórrego do Saracura (atualmen-<br />

te região da Av. 9 de Julho)<br />

e no largo do Piques (atual<br />

praça da bandeira). Tal ocupação<br />

deixa marcas e apro-<br />

priações destes espaços.<br />

Samba, Candomblé e UmaUmabanda são marcos da pre-<br />

sença cultural deste grupo<br />

étnico no bairro.<br />

a partir do Séc.XIX<br />

19


presença presença no bairro:<br />

bairro:<br />

Culto Afro na Igreja N.Sra Achiropita, que celebra missas<br />

católicas com elementos do candomblé. Obti da em<br />

www.confoto.art.br/arti gos26.<br />

Festa na sede do<br />

Vai-Vai, após conquista<br />

de tí tulo do<br />

Carnaval 2008 Ob-<br />

ti da em www.g1.com.br .<br />

Núcleo de Umbanda<br />

Cacique Pena Branca.<br />

Foto pessoal.<br />

Adoniran Barbosa no<br />

Bexiga. Obti da em www.<br />

almacarioca.com<br />

20


A ocupação Italiana<br />

estruturou-se no eixo estabelecido<br />

pelas paralelas às Ruas<br />

13 de Maio e Rui Barbosa.<br />

Imigrantes vindos majoritáriamenre<br />

da Calábria formaram<br />

um estrato social a parti r do<br />

início do século XX, composto<br />

de trabalhadores Urbanos,<br />

pequenos artesãos e comerciantes.<br />

A Paisagem do Bairro<br />

ainda é fortemente marcada<br />

pelos costumes e modos de<br />

vida deste grupo humano,<br />

apesar da passagem do tempo:<br />

seja nas padarias centenárias,<br />

na arquitetura das Vilas e nos<br />

casarôes erguidos pelos Capomastri<br />

que ainda resistem.<br />

.<br />

+ Italianos<br />

a partir do Séc. XX<br />

21


Presença Presença no bairro: bairro:<br />

Festa em homenagem a Nsa. Sra Achiropita,<br />

realizada na Rua 13 de Maio no mês<br />

de agosto.<br />

Foto:arquivo pessoal.<br />

Moradoras da Vila Joaquim Antunes, descendentes<br />

dos imigrantes Italianos. Fonte:Spini,Sandro.Bexiga:<br />

Avio de uma Pesquisa Urbana.<br />

Levantamentos das<br />

fachadas na Rua Conselheiro<br />

Carrão. Fonte:<br />

Spini,Sandro.Bexiga: Avio de uma<br />

Pesquisa Urbana.<br />

22


A área abrigou nas<br />

primeiras décadas do Séc. XX<br />

estratos sociais de alta renda:<br />

Imigrantes Europeus enriquecidos<br />

e Barões do Café edifi -<br />

caram seus Palácios no Morro,<br />

que por ser freqüentado por<br />

funcionários Ingleses e escoceses<br />

da São Paulo Railway<br />

fi cou conhecido como Morro<br />

dos Ingleses.<br />

Atualmente, a ocupação<br />

do solo foi alterada pela<br />

presença das torres residenciais<br />

de alto padrão, subsisti ndo<br />

vestí gios do passado opulento<br />

na Rua dos Ingleses e Rua dos<br />

Franceses. Neste trecho mantêm-se<br />

uma ambiência que<br />

é disti nta do Bixiga,das casas<br />

“macarrônicas” de porões altos,<br />

estruturado pelas paralelas<br />

à Rua 13 de Maio<br />

+<br />

Elites<br />

a partir de meados do séc. XX<br />

23


presença presença no no bairro: bairro:<br />

Campo de Golf do São Paulo Contry Club, fundado em 1901 sobre a colina que foi nomeada de<br />

“morro dos Ingleses” e cuja ambiêcia dialoga com os casarões da aristocracia que proliferavam no<br />

espigão da Av. Paulista.Imagem obti da em www.spgc.com.br/historia.asp<br />

Foto aérea de parte do trecho descrito. Fonte: Google Maps.<br />

Alto padrão construti vo<br />

no trecho,verti calização<br />

recente.<br />

A escadaria da<br />

Praça Dom Orione,<br />

marco simbólico<br />

da diferenciação<br />

de ambiências do<br />

Bairro.No nível<br />

Inferior, o Bixiga.<br />

No nível superior,<br />

a Bela Vista. Foto<br />

pessoal.<br />

24


+ a<br />

O baixo custo dos aluguéis<br />

nas casas de cômodos e<br />

corti ços, e a localização central<br />

do bairro engati lham a parir<br />

dos anos 70, uma substi tução<br />

populacional no bairro : o imigrante<br />

Europeu pelo Migrante<br />

Nacional , vindo das regiões<br />

Norte e Nordeste do País em<br />

busca de melhores oportunidades<br />

de emprego e renda.<br />

migrações internas<br />

partir da decada de 70 do seculo XX.<br />

25


presença presença no no bairro: bairro:<br />

Bar do Norte, tradicional e premiado<br />

restaurante de comida nordesti na.<br />

Ambulante nordesti na na<br />

Rua 13 de Maio. Foto pessoal.<br />

Edifi cação que anteriormente era<br />

ocupada por um corti ço, atualmente se encontra<br />

lacrada por determinação judicial.<br />

Interior de um corti ço na rua Rui<br />

Barbosa.<br />

26


1.7<br />

Panorama cultural cultural. .<br />

O Samba e as Festi vidades populares marcam o Bexiga desde o início do século XX. O sangue<br />

negro misturado à festi vidade do Calabrês proporcionou ao bairro um clima adequado para a realização<br />

do Samba de Pirapora ou de Campineira, das noites tomadas por grupos de seresteiros que<br />

se alojavam sob os lampiões à gás. A Rua 13 de Maio conserva-se como o palco das festi vidades em<br />

homenagem à Nossa senhora da Acheropita, abrilhantada por samba, pelas Congadas e pelas folias de<br />

momo.<br />

“O Bexiga tem realmente uma conotação de resistência, de uma geração à outra, a Boemia foi transmiti da. Nas<br />

décadas de trinta e quarenta, o bairro era procurado por seresteiros cantores, boêmios e arti stas. A vida noturna já ti nha<br />

requinte para atrair os que tocavam violão, os que procuravam um bom vinho ou cachaça e também para conquistas amorosas.”<br />

In LUCENA, Célia Toledo. Bexiga amoré mio, Ed. Panariz, 1983. Pág. 142<br />

Neste clima de Tradições da cultura Negra, o Saracura foi sempre o reduto do Samba. O cordão<br />

do Vai Vai torna-se Escola de Samba em 1966, situada desde então num trecho da Rua São Vicente.<br />

Sem quadra própria a escola destaca-se por agregar uma rede emaranhada de relações sociais desenvolvidas<br />

historicamente pela comunidade local, “onde o passado e o presente dialogam constantemente com a<br />

práti ca coti diana da comunidade promovendo novos vínculos e reafi rmando anti gos laços sociais.” In Magnani, J.G e Lilia<br />

de Lucca Torres (orgs.) Na Metrópole - textos de Antropologia Urbana. São Paulo: Edusp/Fapesp, 1996.pag 40.<br />

Nesse senti do, a quadra da escola reforça e promove interações entre o lugar e as pessoas,<br />

consti tuindo-se em uma forma espacial repleta de simbolismos. É importante frisar que o domínio,<br />

poder de um grupo específi co sobre determinado espaço,pode gerar confl itos:<br />

27


“Vou mudar para Santos até o fi m de fevereiro”, “Vou fugir do desrespeito, o barulho está insuportável.” (...)“Desde 2005, o<br />

publicitário protesta contra o tumulto gerado e contra o aumento da criminalidade no bairro, que afi rma estar relacionado<br />

aos ensaios do Vai- Vai”. Depoimento do publicitário Marcelo Vitt orino, vizinho da escola de Samba. Obti do em g1.globo.<br />

com/Carnaval2008/<br />

O surgimento de atrações culturais como os cinemas e teatros, bem como de associações culturais<br />

e esporti vas fi zeram parte de uma interessante paisagem sócio -cultural marcada pela miscigenação.<br />

Boa parte da história do teatro nacional foi escrita nas ruas do Bexiga. O TBC de Franco Zampari<br />

(empreendedor cultural, que também co-fundou a companhia cinematográfi ca Vera Cruz no bairro)<br />

propunha um teatro voltado para a elite, “refl eti ndo a parti cularidade de um povo, onde educação e cultura eram<br />

dirigidas para a classe dominante, refl exo de uma sociedade de padrões culturais importados.”In LUCENA, Célia Toledo. Bexiga<br />

amore mio, Ed. Panariz, 1983. Pág. 179. Fundado em 1948, foi pioneiro ao introduzir uma sistemati zação<br />

do ofí cio, ensinando técnicas e requisitos para a realização sati sfatória de um espetáculo teatral,com<br />

boa direção interpretação e cenografi a. A resposta à alienação da maioria de suas propostas em relação<br />

à aspectos críti cos e mesmo representati vos da realidade brasileira veio posteriormente, ao longo<br />

da década de 50, com o surgimento de grupos menores, experimentais, como o Ofi cina e o Arena.<br />

Assim como companhias cujos membros saíram dos palcos do TBC: Companhia Nydia Licia e Sérgio<br />

Cardoso;Tônia Carreiro, Paulo Autran, Cacilda Becker e Walmor Chagas, gravitando como novo centro<br />

de produção cultural, cuja ascensão terá vínculos com a críti ca da realidade brasileira.<br />

“É um local onde não há fábricas, um dos bairros que mais se aproxima do centro. Temos vida completamente<br />

diferente,moti vo peloqual a classe teatral se sente tão bem aqui.Haja vista que a maioria reside aqui.Não só arti stas teatrais,<br />

mas de cinema, rádio e televisão” . Maria Della Costa. Depoimento para o jornal “O Bexiga”de 1964,n 5. In: LUCENA,<br />

Célia Toledo. Bexiga amore mio, Ed. Panartz, 1983. Pág. 184<br />

O teatro Paramount, na Av. Brigadeiro Luís Antônio sediou o III Festi val de Música Popular<br />

Brasileira em 1967 e assim como o vizinho teatro Bandeirantes recebeu arti stas do calibre de Chico<br />

28


Buarque, Jair Rodrigues e Caetano Veloso transpondo o turbulento periodo da repressão militar<br />

como redutos da canção de e da tropicália.<br />

Destacam-se , no percurso do Teatro no bairro do Bexiga as estréias dos teatros Ofi cina e Ruth<br />

Escobar que traziam respecti vamente o teatro políti co de Gorki na montagem em 1963 da peça<br />

“Pequenos Burgueses”, e da “Ópera dos três Vinténs”, de Bertold Brecht, além de outros trabalhos<br />

de destaque como “Roda Viva” de Chico Buarque, com direção de José Celso Marti nez, e encenado<br />

no Teatro Ruth Escobar em 68, e “O Balcão”, considerada a produção mais elaborada e complexa<br />

do teatro paulistana década de 70 , por inovações na concepção do espaço cênico. Alguns destes<br />

locais não fi caram confi nados apenas à ação teatral, extrapolando-a, tornando-se espaços de debate<br />

políti co, cultural, profi ssional e espaços sociais de minorias,representando plataformas de lutas para<br />

a conquista de ideais democráti cos.<br />

Chico Buarque na inauguração do teatro Bandeirantes.<br />

Obti da em htt p://aprendemosbrincando.<br />

blogspot.com/2009/03<br />

Sergio Cardoso, e Ruth Escobar nos síti os que abrigariam futuramente seus teatros.<br />

in: LUCENA, Célia Toledo. Bexiga amore mio, Ed. Panariz, 1983. Págs. 164 e 167<br />

Cartaz da peça O Balcão, exibindo<br />

a cenografi a que abrigava a ação.<br />

Obti da em: htt p://1.bp.blogspot.<br />

com/_DxcouWlzt2w/R6K-<br />

29


“Hoje - referindo-se ao ano de 1983 - a fi sionomia não se modifi cou. O bairro conti nua atraindo<br />

boêmios, arti stas e os amantes da noite Paulista” afi rmava Célia de Toledo Lucena. De fato, a década<br />

de 80 reservava para o bairro a manutenção de certa áurea boêmia, a presença dos teatros, a proximidade<br />

com o centro e o baixo custo da área garanti am um afl uxo de estudantes, intelectuais e freqüentadores<br />

do bairro.<br />

Neste momento o bairro agluti nava uma série de equipamentos culturais que atraiam as classes<br />

de diversas rendas. Bares, cafés e casas de shows consti tuíam adições às tradicionais canti nas:<br />

“No circuito da mpb e do jazz,os freqüentadores do café do Bexiga podem se deslocar para o Bar Piu-piu(...) ” In<br />

Magnani, J.G e Lilia de Lucca Torres (orgs.) Na Metrópole - textos de Antropologia Urbana. São Paulo: Edusp/Fapesp, 1996.<br />

pag 63<br />

O circuito de Rock incluía lugares como Persona, Dama-da Noite, Café Aurora, Madame Satã e<br />

Carbono 14 – que fazia parte da cena alternati va, funcionando como território livre de criação.<br />

“Então, essa miscigenação, essa mistura é que é Fantásti ca no Bexiga(...) Você vai pros Jardins, é um pessoal bem<br />

vesti do, todo bem transado de roupa, mais esti lizado. (...)Então, veja só, é um pessoal todo, os engomadinhos, né? Você<br />

vai para a Vila Madalena, também já há uma mistura lá, porque há uma moçada mais jovem que freqüenta, há uma parte<br />

de intelectuais. Agora o Bexiga, quem vem pro Bexiga é Bexiguento, é um pessoal que curte o clima que curte a energia do<br />

Bexiga”. (Vicenti ni,34 anos ator de Teatro, morador do Bexiga). In Magnani, J.G e Lilia de Lucca Torres (orgs.) Na Metrópole<br />

- textos de Antropologia Urbana. São Paulo: Edusp/Fapesp, 1996.pag 67<br />

Entretanto, na fase em que o movimento da rua intensifi cou-se, houve um retraimento dos<br />

freqüentadores mais identi fi cados com o período anterior. (o da cultura alternati va, boêmia,).<br />

“Antes era um pessoal mais boêmio, de teatro, jornalistas. Na realidade, era uma certa elite cultural.Aí, o que<br />

aconteceu? Começa a sair no jornal, começa a fi car famoso.Então começa a invadir a praia, né? ” In Magnani, J.G e Lilia de<br />

Lucca Torres (orgs.) Na Metrópole - textos de Antropologia Urbana. São Paulo: Edusp/Fapesp, 1996. pag 65.<br />

30


Em meados da década de 80, com a expansão das opções de lazer noturno na cidade de São<br />

Paulo, o centro Velho deixou de ser um importante pólo de atração na medida em que, em vários<br />

bairros surgiram novas centralidades de lazer; o que signifi cou uma migração do consumidor cultural<br />

de classes média e alta para outros bairros. (Moema, Pinheiros, Santana,Jardins,Freguesia do Ó entre<br />

outros).<br />

Nas últi mas décadas, apesar de manter sua tradição em Teatros e Canti nas o bairro popularizou<br />

suas opções de lazer, cujo perfi l se modifi cou,refl eti ndo a própria ocupação, de caráter marcadamente<br />

popular (classes de Renda média e baixa). Outros grupos sociais vão se apropriar do espaço de diferentes<br />

formas, estabelecendo outros ti pos de evento. Pode-se citar como exemplo a transformação da<br />

cena noturna no bairro, que agrega o forró (improvisado em Galpões alugados ou nos karaokês das<br />

lanchonetes) e o Samba nos Botecos, às casas noturnas remanescentes na Treze de Maio e aos bares<br />

das adjacências da Rua Santo Antônio.<br />

31


2.ANÁLISES<br />

2.ANÁLISES<br />

Ações de preservação<br />

As ações governamentais para proteger o bairro ti veram início em 1984, culminando com o<br />

tombamento pelo CONPRESP (Conselho Municipal de preservação do patrimônio Histórico, Cultural e<br />

Ambiental da Cidade de São Paulo) em 2002.Tal ação organizou-se através da criação de áreas especiais,<br />

orientadas a parti r de um entendimento do valor que do patrimônio como conjunto construído:<br />

– na Área Especial do Bexiga concentram-se os<br />

mais anti gos testemunhos viários e arquitetônicos<br />

do bairro, como o Teatro Brasileiro de Comédia, o<br />

Teatro Ofi cina e a Casa da Dona Yayá de Mello Freire<br />

na rua Major Diogo, além de inúmeros imóveis e de<br />

outras edifi cações de interesse;<br />

– a Área Especial da Vila Itororó, na rua Marti niano<br />

de Carvalho, consti tui outro bem de grande interesse<br />

de preservação dentro do Patrimônio Cultural<br />

e Ambiental da Bela Vista. O conjunto singular de 37<br />

casas construídas na década de 1920 pelo mestrede-obras<br />

português Francisco de Castro com material<br />

de demolição reciclado, destaca-se na paisagem<br />

local tanto pela sua implantação irregular, que obedece<br />

às condicionantes da topografi a acidentada do<br />

terreno (meia encosta do Vale do Itororó), quanto<br />

pela sua organização espacial e característi cas arquitetônicas<br />

personalistas;<br />

– a Área Especial da Grota é outro elemento signifi<br />

cati vo do Patrimônio Ambiental da Bela Vista;<br />

formada pelo anti go Vale do Saracura, consti tui barreira<br />

fí sica à expansão do Centro Paulista e ponto<br />

máximo da expansão oeste da Bela Vista. A persistência<br />

de algumas encostas desocupadas e arborizadas<br />

permite a percepção e a visualização de<br />

panoramas de grande expressão paisagísti ca.<br />

32


Mapeamento: Mapeamento: Elementos Elementos programáti programáti cos cos - áreas áreas potenciais potenciais. .<br />

Um Levantamento ostensivo de<br />

usos , gabaritos e padrões construti vos,<br />

conduziu à seleção de elementos marcantes<br />

na paisagem e na dinâmica do<br />

bairro:<br />

-Escolas, núcleos culturais e associati<br />

vos e efi cios insti tuicionais, são<br />

destacados pelo potencial agluti nador<br />

entre os habitantes do proprio bairro.<br />

-Teatros, Canti nas e casas noturnas<br />

são elementos atratores de usuários<br />

advindos de outros bairros da cidade de<br />

São Paulo, cuja vinculação forte à rua, e<br />

as ligações que estabelecem entre si(o<br />

frequentador do teatro Ofi cina termina<br />

a noite em um boteco da Santo Antônio)<br />

geram possiveis percursos e redes de sociabilidade.<br />

- O Patrimônio, que se destaca<br />

como forma de ambiência construída no<br />

bairro.<br />

-As habitações coleti vas: pensões<br />

ou “casas de cômodos” e os corti<br />

ços, elementos peculiares na paisagem.<br />

Patrimônio Escolas Canti nas Casas de show e<br />

bares<br />

Corti ços Teatros Institucionais<br />

Associativos<br />

culturais<br />

33


Extroversão Extroversão das das ati ati vidades vidades > Eventos Eventos > quando quando<br />

Teatro<br />

o espaço espaço<br />

ofi cina: Baixio<br />

público público<br />

do<br />

assume assume o protago- protagonismo.<br />

nismo.<br />

Escola de samba Vai Vai<br />

Evento na rua 13<br />

de maio.<br />

Rua Santo Antônio<br />

viaduto Jaciguara.<br />

Feira de anti guidades na Praça<br />

Don Orione.<br />

Rua Rui Barbosa e<br />

13 de Maio. Espaços<br />

de festi vidades.<br />

Esquina das<br />

ruas Major Diogo e<br />

Conselheiro Carrão.<br />

Esquina de grande<br />

movimento para<br />

fi ns de lazer.<br />

34


Disputas Disputas /Territorialidades/relações /Territorialidades/relações de poder poder no no espaço. espaço.<br />

Moradores x Vai Vai<br />

“Os Nordesti nos não trouxeram mudanças<br />

culturais. A parte cultural fi ca para nos que já<br />

estamos no bairro.” Relato de morador do bairro.<br />

Fonte:IGEPAC/IPHAN<br />

Teatro ofi cina x Grupo Silvio Santos<br />

x<br />

35


O polêmico vazio gerado pelas demolições do grupo Silvio Santos, marca se pelo engajamento<br />

políti co e artí sti co do que é hoje o coleti vo Uzyna Uzona, não só no desgastado embate Zé Celso- Silvio<br />

Santos, como também na valorização e preservação do Bexiga enquanto lugar, em suas dimensões humana,<br />

social, cultural e econômica.<br />

A riqueza do bairro está em suas calçadas, nos pequenos comércios locais e botecos que povoam<br />

suas ruas, nos sobrados que abrem suas portas para as ruas, gerando toda uma ambiência pitoresca,<br />

peculiar. A vivência que se tem hoje em sua ruas, (por mais incômoda e suja possa parecer aos<br />

olhos dos defensores das lógicas correntes de revitalização urbana) é cultura, que certamente será<br />

muti lada quando o metro quadrado do bairro quadruplicar (ou mais do que isso) seu preço em função<br />

do shopping ou das torres residenciais e novos empreendimentos de grande porte forem surgindo no<br />

lugar das vilas, patrimônios históricos vivos reconhecidos pelos órgãos competentes.<br />

“Já vimos inúmeras casas vizinhas ao Teatro Ofi cina serem demolidas na calada da noite pelo<br />

Grupo Silvio Santos quando em processo de tombamento. A história só estará se repeti ndo.” Relato de<br />

morador.<br />

A demolição faz parte de um amplo projeto imobiliário do grupo Silvio Santos, que planeja a<br />

”reabilitação” do bairro do Bexiga. Desde 1980, o Ofi cina e o Grupo que leva o nome do empresário<br />

Silvio Santos travam uma queda de braço em relação a ocupação do terreno anexo ao teatro.<br />

36


O Primeiro defende que se erga ali um teatro de estádio, ao ar livre, com capacidade para<br />

5.000 pessoas, dando conti nuidade ao projeto de Lina Bo Bardi para o “Anhangabaú da Feliz-cidade”.<br />

”Antes de tudo, a concepção de um Teatro de Estádio na cidade de São Paulo está ligada à reinvenção<br />

de uma Arte. Seu Programa Arquitetônico Urbanísti co e sua Gestão devem ser o da realização<br />

de uma Obra de Arte, como é o atual Teatro Ofi cina de Lina Bardi e Edson Elito.” José Celso Marti nez<br />

Correa. Depoimento obti do no site do teatro Ofi cina.<br />

O grupo Sílvio Santos,dono dos terrenos adjacentes ao teatro, descartou o projeto do Shopping,<br />

divulgando recentemente a intenção de construir um conjunto de torres residenciais no terreno.<br />

Teatro Ofi cina, perspecti va de Edson Jorge Elito a parti r<br />

de concepção original de Lina Bo Bardi. Fonte: Escritório<br />

do arquiteto Edson Elito.<br />

37


3. 3. Conceitos Conceitos - Inquietações.<br />

Inquietações.<br />

A conformação dos espaços da cidade, as estruturas arquitetônicas ali presentes carregam<br />

em si um potencial de concreti zação e consti tuição de experiências. A consti tuição e consolidação<br />

das cidades contemporâneas caracteriza-se por arranjos que desconsideram os valores<br />

subjeti vos estruturadores da paisagem. Os referenciais históricos; a memória acumulada<br />

em tal espaço se perde de maneira que as possíveis relações sociais vão sendo gradati vamente<br />

apagadas.<br />

Espaços de consumo, taxados freqüentemente como novos redutos da sociabilidade<br />

contemporânea, ao oferecerem uma convivência controlada, higienizada, são os maiores benefi<br />

ciários do esvaziamento do espaço público. Em tal cultura urbana recente Seria possível retomar<br />

uma experiência baseada na afi rmação do coleti vo, na experiência do lugar?<br />

A noção da experiência individual do espectador, que “age sobre as estruturas arquitetônicas<br />

aparentemente imóveis, animando-as e mudando–lhes os signos do valor no tempo<br />

e também no espaço” (CANEVACCI,M.1993) ainda consti tui um elemento arti culador da paisagem<br />

urbana, tamanho o contexto de alienação e abstração da sociedade atual?<br />

“seria preciso retomar o corpo naquilo que lhe é mais próprio, sua dor no encontro com a exterioridade,<br />

sua condição de corpo afetado pelas forças do mundo e capaz de ser afetado por elas: sua afecti bilidade. (...) todo<br />

sujeito vivo é primeiramente um sujeito afetado, um corpo que sofre de suas afecções, de seus encontros, da alteridade<br />

que o ati nge, da multi dão de estí mulos e excitações que lhe cabe selecionar, evitar, escolher, acolher.”<br />

In PELBART, Peter Pál . VIDA CAPITAL- Ensaios de biopolíti ca. 1. ed. São Paulo: Iluminuras, 2003. v. 01.<br />

38


Um exemplo interessante de resistência a esta redução da experiência é o dos Situacionistas,<br />

que buscavam a parti r das Derivas e de refl exões Psicogeográfi cas desconstruir a experiência<br />

homogênea do espaço convencional, fragmentando-a. Novos olhares eram lançados sobre a cidade<br />

a parti r da insti tuição de percursos heterodoxos, por vezes anárquicos, que contestavam as lógicas<br />

espaciais correntes, objeti vando o encontro com espaços de contradição produti va, desestabilizando<br />

a realidade ao permiti r uma perturbação das expectati vas pessoais e culturais dos usuários.<br />

O espaço é apreendido de forma emocional, a parti r do abandono incondicional do fruidor;<br />

“(...) suscitando ou criaando algo, seja o recolhimento, alegria, a tristeza; seja a submissão (...)enfi<br />

m, o espaço é ati vo”. (LEFEBVRE, 1975).<br />

O estí mulo ao espaço labirínti co e ao “perder-se” colocado pelas derivas,são índices de uma<br />

experiência puramente espacial em uma abordagem que se distancia bastante do apagamento de<br />

signifi cados que se instaura atualmente. Porque parte da premissa de existência de graus de indeterminação<br />

do espaço, dando margem a signifi cações escondidas, subjeti vas.<br />

O potencial de re-signifi cação dos espaços que o teatro apresenta explora as possibilidades<br />

da apropriação emoti va. O espaço é uma exigência do teatro, que explora o seu potencial poéti co<br />

e consti tui ali mais uma instância da experiência, que é corpórea. O Teatro Moderno revela dimensões<br />

críti cas e sensíveis incorporadas em uma abordagem que busca maior aproximação entre encenador<br />

e espectador. Este questi onamento consti tui uma forma de potencialização dos confl itos<br />

latentes, operando a parti r de estratégias de estranhamento, de subversão de valores tomados<br />

como absolutos. O espaço da ação teatral deve então buscar conter estes signifi cados implícitos.<br />

39


“Ora, se o teatro é como a peste, não é apenas porque ele age sobre importantes coleti vidades e as transtorna<br />

no mesmo senti do.Há no Teatro,como na peste, algo de virtuoso e de vingati vo ao mesmo tempo. Sente-se que<br />

esse incêndio espontâneo que a peste provoca por onde passa não é nada além de uma imensa liquidação(...)a peste<br />

toma imagens adormecidas,uma desordem latente e as leva de repente aos gestos mais extremos; o Teatro também<br />

toma gestos e os esgota: assim como a peste, o teatro refaz o elo entre o que é e o que não é, entre a virtualidade do<br />

possível e o que existe na natureza materializada”. In Artaud, Antonin. O teatro e seu duplo. São Paulo: Marti n Fontes.<br />

Para que tal “transtorno” se processe, se faz necessária uma combinação orgânica entre<br />

o espaço cênico e a arquitetura teatral, capaz de proporcionar uma experiência renovada no que<br />

tange à relação cena e público e que, em certa medida, modifi ca a própria concepção do evento.<br />

Projeto referencial da arquiteta Lina Bo Bardi, o teatro Ofi cina consolida um modelo próprio<br />

de Teatro, que se contrapõe ao conceito palco-plateia, numa necessidade visceral de tornar ator<br />

o espectador, de incomodar, extravasar.<br />

A idéia de Rua-Corredor alimenta<br />

concepção arquitetônica do teatro, que recebe<br />

a ação teatral em toda sua extensão,<br />

dramaturgia e representação explodidas:<br />

nas arquibancadas, no corredor central,<br />

primeiro segundo e terceiro andares.<br />

Foto: Nelson Kon<br />

40


Tudo é teatro. O Espaço não se contêm, e se apropria do que esta ao seu redor:<br />

A ação teatral extravasa do espaço do edifí cio, tomando os baixios do viaduto Jaceguai, o<br />

terreno adjacente na Rua da Abolição, áreas de infl uência, cujo teatro fez gravitar ao redor de sua<br />

atuação. O Ofi cina como teatro, arquitetura e intervenção se consti tui como grande exemplo do<br />

potencial simbólico que o lugar (arquitetura+usuários+memória) pode ati ngir.<br />

“O edifí cio então, (referindo-se ao teatro Ofi cina) deixa de ser apenas um invólucro, um abrigo para as pessoas<br />

e torna-se, efeti vamente, um espaço promotor de encontros. Seja encontro com os outros indivíduos ou encontro<br />

do ator com a personagem(...) A rua é o espaço onde é possível encontrar o ‘Outro’ e este encontro é essencial<br />

para a construção do sujeito, do ‘eu’. Somente no diálogo dinâmico entre o ‘eu’ e o ‘Outro’ é possível realizar-se como<br />

sujeito. Se esta existência dá-se no diálogo, ela não pode ser considerada estáti ca, pois é um processo que amadurece<br />

na medida em que se estabelecem mais diálogos.”In Rodrigues, Cristi ano Cezarino. Cogitar a Arquitetura Teatral. Obti<br />

do em htt p://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp500.asp<br />

E quando este teatro se desloca para a rua aumentam as possibilidades de relacionamento<br />

com a cidade. Desta forma, ao apropriar-se do espaço público, o teatro relê o signifi cado tradicional<br />

do lugar como ponto de encontro, choques e negociações.<br />

Este trabalho enxerga o espaço do bairro do Bexiga como contenedor de diversos ti pos de<br />

fruição, justamente por seu caráter múlti plo: polaridade de consumo cultural na metrópole, enclave<br />

incrustado entre diversas centralidades possuidor de uma complexidade social e fí sica que<br />

resiste a processos predatórios de transformação da cidade.<br />

41


O acúmulo de diversas memórias - o preconceito ligado à sua geratriz negra, escrava;<br />

a repulsa dos tempos da varíola, a convivência de diferentes estratos étnicos sociais, manifestação<br />

do poder público nas “obras de arte” da engenharia do século XX - delineam um bairro<br />

complexo fí sica e funcionalmente, que ao longo dos séculos transformou em identi dade seus<br />

dramas.<br />

O teatro eleva tal potencial, não somente como equipamento, mas em como forma de<br />

concepção espacial. Buscar tal conformação dinâmica, não usual e por vezes até incômoda, gera<br />

uma forma possível de estabelecimento de novas experiências e fruições do urbano.<br />

42


Trecho em tabuleiro<br />

que tem como<br />

organizadores as vias<br />

paralelas a 13 de<br />

Maio.<br />

Área escolhida<br />

por reunir elementos<br />

e apresentar uma<br />

ambiência favorável a<br />

deslocamentos de pedestres<br />

mantendo as<br />

principais caracteristi -<br />

cas originais do bairro,<br />

referentes ao parcelamento<br />

e ao estoque<br />

construído.<br />

4. 4. Recorte Recorte da intervenção:<br />

intervenção:<br />

43


RuaManoel Dutra<br />

Rua Rui Barbosa<br />

Rua Cons Carrão<br />

Rua Treze de Maio<br />

RuaCons Ramalho<br />

Rua Maria José<br />

Rua Major Diogo<br />

Rua Fortaleza<br />

Rua Humaitá<br />

As estruturação das quadras guarda um conjunto construído que dialoga com a escala do pedestre.Alguns<br />

elementos do conjunto construido atraem a atenção:<br />

1. O conjunto edifi cado estruturado a parti r do encontro das Ruas Maria José e Fortaleza, em<br />

uma conformação triangular que agrupa uma serie de edifi cios construidos no início do século XX.<br />

2. o grupo escolar situado à Rua Humaitá.<br />

3.A área circundante do Teatro Ofi cina, que engloba os baixios do Viaduto Jaceguai.<br />

44


Fotomontagens ilustrati vas das diferentes ambiências conti das<br />

nos Fragmentos selecionados.<br />

Trecho 1: consti<br />

tuído a parti r<br />

do encontro das<br />

Ruas Fortaleza e<br />

Maria José.<br />

Trecho 4:Teatro Ofi cina e sua àrea de Infl uencia,<br />

consti tuída pelos baixios do Viaduto Jaceguai, e pelo<br />

terreno de disputa com o grupo Sílvio Santos.<br />

Trecho 2;Terreno de uma Unidade Básica<br />

de Saúde desati vada, situada a Rua Humaitá.<br />

Trecho 3: EMEI Angelo<br />

45


Síntese das Intervenções pensadas:<br />

Busca-se estabelecer uma<br />

maior “porosidade” no bairror, a<br />

parti r da criação de áreas livres<br />

permeáveis, cujas dimensões e<br />

qualifi cações dêem novas possibilidades<br />

de uso ou que potencializem<br />

as já existentes:<br />

o futebol, o forró na praça,<br />

a capoeira na rua, os rituais do<br />

candomblé, o samba e a apropriação<br />

pelo teatro.<br />

Ati vidades que se entrecruzam e<br />

podem gerar novos nós de sociabilidade<br />

e apropriação.<br />

Para tanto, estabelecemse<br />

diretrizes favoráveis ias desejadas,<br />

em trechos do bairro que<br />

conjuguem um percurso.<br />

46


1<br />

2<br />

trecho 4_Diretriz: Manutenção dos<br />

Usos Existentes, instalação de elementos<br />

de suporte à atuação do Teatro<br />

Ofi cina.<br />

trecho 1: proposta projetual<br />

a ser desenvolvida neste<br />

trabalho.<br />

trecho 3 : EMEI Angelo_<br />

melhora de sua comunicação<br />

com o espaço<br />

público.(Alargamento<br />

e terraceamento da<br />

calçada).<br />

trecho 2(diretriz: praça<br />

no miolo da quadra)<br />

47


Trecho Trecho 1: Encontro Encontro das das ruas ruas Fortaleza Fortaleza e Maria Maria José. José.<br />

Proposta Proposta projetual. projetual.<br />

Situação:<br />

1.Garagem de transportadora entre as ruas Maria<br />

José, Cons. Carrão.<br />

1<br />

2.Intersti cio, miolo de quadra entre a rua<br />

Maria José e a Rua Major Diogo.<br />

2<br />

48


A Mancha estruturada a partir da rua Maria José guarda as principais características do<br />

bairro, caracterizando-se pela concentração de imóveis ocupados por uma população de baixa<br />

renda. Formada por imóveis que sintetizam algumas das mais representativas tipologias dos diversos<br />

momentos do bairro, onde a convivência de casas populares do início do século, portas e janelas voltadas<br />

para a rua grandes residências do século XIX, edifícios das décadas de 60 e 70 e construções<br />

recentes compõem uma disparidade que evidencia os momentos mais ricos do bairro.<br />

Garagem de Onibus<br />

foto panoramica do conjunto.<br />

Casarios da Rua Maria José.<br />

49


1Ruas Fortaleza e Maria José<br />

O terreno situado entre as ruas conselheiro Carrão e Maria José,<br />

espaço que abriga atualmente uma garagem de ônibus.<br />

A distribuição programáti ca se orienta a parti r de ati vidades ligadas<br />

ao corpo e expressão corporal. A capoeira, a dança e o circo assumem<br />

o protagonismo neste local. O grupo de galpões situado do outro lado<br />

de terreno abrigaria ateliês de produção e expressão artí sti ca. A quadra<br />

é ocupada por um conjunto de casarios do inicio do século XX, pertencentes<br />

ao perímetro de Tombamento da Bela Vista.<br />

“Moro na Bela Vista, pelo menos a 25 anos. Adoro<br />

isso aqui, apesar do grande abandono que hoje vivenciamos.<br />

Veja, por exemplo, a Rua Maria José, que virou páti o<br />

de “transportadoras” com caminhões estacionados dos dois<br />

lados da rua, fazendo mudanças e transferindo móveis a céu<br />

aberto, como se fossem o dono do quarteirão”. depoimento<br />

de morador da area, obti do em: htt p://www.ajorb.com.<br />

br/ipe/ipe-forum_01.htm<br />

Situação Atual<br />

50


Sequência mostrando a Intenção de estabelecer<br />

um gradiente , releti ndo a ação proposta, que migra dos<br />

edifi cios para o espaço da praça a ser gerada.<br />

Situação pretendida<br />

A distribuição programáti ca se orienta a parti r de<br />

ati vidades ligadas ao corpo e expressão corporal. A capoeira,<br />

a dança e o circo assumem o protagonismo neste local. O<br />

grupo de galpões situado do outro lado de terreno abrigaria<br />

ateliês de produção e expressão artí sti ca.<br />

51


A praça é um objeto que em si possibilita a fruição<br />

através de um percurso que congrega interior e exterior,<br />

edifi cio e espaço público.<br />

Pensada como praça -evento, nasce de uma necessidade<br />

de atravessamento do síti o, estruturado a<br />

parti r de uma talvegue central.O que se evidencia pela<br />

colocação de passarelas perpendicularmente ao senti<br />

do do percurso principal. Tal atravessamento surge arquibancada-ponte,<br />

e na passarela que se transforma em<br />

mobiliário.<br />

Os demais espaços gravitam em torno desta linha-guia,<br />

possibilitando ora o deslocamento no senti do<br />

da empena, ora no senti do do conjunto de casarios, que<br />

acumulam ati vidades mais programadas.<br />

Pode-se falar na existência de um gradiente determinação<br />

dos usos na praça: A parte voltada para o<br />

conjunto de casarios agrega uma gama de usos determinados<br />

_ pensados a parte de programas envolveriam<br />

questors relati vas à uma facilitação dos acesso do população.<br />

Pensado como agregador de uma série de programas<br />

culturais e abertos à população, aumentando o grau<br />

de coleti vização e apropriação pública destes espaços.<br />

52


planta escala 1:500<br />

decks<br />

Arena<br />

53


corte BB escala 1/500.<br />

corte AA escala 1/500.<br />

54


Perspecti vas: arquibancada -ponte, que<br />

atravessa o desnivel , e relação do mobiliário com<br />

a biblioteca.<br />

55


Diller eScofi dio: Projeto para a<br />

Highline, Nova York.<br />

Relação entre a vegetação e os Decks.<br />

56


Vocabulário de Equipamentos Urbanos:<br />

Luminárias Lampelunas e Macayo. Fonte:<br />

www.lighti ng design.<br />

Cadeira giratoria. Parque<br />

La Villett e,Paris, França<br />

Foto pessoal,<br />

playground de idosos. obti das em :playfi t.com.<br />

57


2<br />

Trecho entre as Ruas Maria José e Major Diogo<br />

Fachadas dos edifi cios que fazem o limite na rua Maria José.<br />

Busca-se trabalhar O ATRAVESSAMENTO do trecho<br />

intersti cial. A travessia, como experiência fí sica de um espaço<br />

que trabalha ora com dilatações, ora com distensões,<br />

entrecortado por grandes empenas cegas que fazem um<br />

contraponto aos casarios do trecho.<br />

As linhas de Construção dos terrenos fornecem possíveis<br />

quebras e infl exões na forma fi nal da travessia. Os edifí cios<br />

propostos são descolados das empenas, para que se deixe<br />

claro o caráter de uma intervenção que “pousa” no síti o de<br />

implantação.<br />

As salas geradas são pensadas como salas de ensino,<br />

estudo e produção musical. Existe a idéia de musica como<br />

afl oramento, musica que é escutada pelos passantes na estrutura<br />

proposta e nas ruas adjacentes.<br />

58


edifí cio a ser demolido<br />

Casarios<br />

Esquema de implantação<br />

RUA MARIA JOSÉ<br />

APOIO TEATRO<br />

RUA MAJOR DIOGO.<br />

ENSINO MUSICAL<br />

59


RUA MARIA JOSÉ<br />

planta nível inferior com elementos programáticos inseridos.<br />

Escala 1/500<br />

RUA MAJOR DIOGO.<br />

60


RUA MARIA JOSÉ<br />

planta nível superior com elementos programáticos inseridos<br />

Escala 1/500<br />

RUA MAJOR DIOGO.<br />

61


O potencial cênico (fachadas<br />

dos edifí cios a serem trabalhadas<br />

como grandes empenas) suas dilatações<br />

e estreitamentos, fornece um<br />

espaço que abrigaria todo o empirismo<br />

da produção teatral. A escadaria e<br />

o percurso se prestariam como palcos<br />

da ação teatral. Espaços de leitura e<br />

dramati zação se consti tuem no nível<br />

inferior do palco central, cujas plateias<br />

ati ngem as empenas cegas, apoiandose<br />

sobre estrutura própria.<br />

existe o desejo de trabalhar a<br />

parti r de afl oramento em relação ao<br />

nível inferior existente (cinco metros<br />

abaixo da cota da Rua Maria José) que<br />

é feita a parti r de passarelas que<br />

serpenteiam por entre os edifí cios.<br />

corte escala 1/500.<br />

62


Relações entre passarelase<br />

edifí cios.<br />

corte esquemáti co, mostrando a relação entre<br />

dos edifi cios impliantados e as passarelas<br />

estabelecidas.<br />

63


Trecho Trecho 2: Unidade Unidade básica básica de saúde saúde desati desati vada. vada.<br />

Edifi cio na rua Humaitá a ser demolido, abrindo a quadra.<br />

Entorno do Edifi cio.<br />

Diretriz: Demolição do<br />

Edifi cio e abertura da quadra.<br />

64


DIRETRIZES<br />

Trecho Trecho 3: EMEI EMEI Angelo. Angelo.<br />

Situação Pretendida:<br />

Alargamento da calçada e terraceamento, como franqueamento do espaço.<br />

65


Trecho Trecho 4: 4: área área de de infl infl uência uência do do Teatro Teatro<br />

Ofi Ofi cina. cina.<br />

Diretrizes:<br />

Implantação de projeto que qualifi que<br />

os baixos do Viaduto para uma ação<br />

expandida do teatro Ofi cina, como no<br />

Projeto Ágora Ofi cina de Paulo Mendes<br />

da Rocha, que o qualifi ca como<br />

espaço de suporte do teatro.Tal projeto<br />

dialoga com a concepção de Lina<br />

Bo Bardi para o terreno adjacente ao<br />

teatro.<br />

projeto ágora, de Paulo Mendes da Rocha.<br />

66


A Intenção Final é de<br />

Integrar o trecho às demais<br />

potências localizadas<br />

no bairro, gerando<br />

um ponto a mais de<br />

reverberação.<br />

O trecho projetado desencadeia<br />

um percurso<br />

a mais nos circuitos já<br />

existentes no bairro.<br />

67


Bibliografi Bibliografi a:<br />

>JACQUES, Paola Berenstein. Estéti ca da Ginga: a arquitetura das favelas através da obra de<br />

Hélio Oiti cica. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2003, 2ªed<br />

>Paes, Célia da Rocha. Bexiga e seus Territórios.Dissertação de Mestrado. São Paulo, 1999.<br />

Spini, Sandro. Bixiga : avio de uma pesquisa urbana. São Paulo : Museu da Imagem e do Som, 1983.<br />

>Lucena, Célia Toledo. “Bixiga Amore Mio”. Ed Pannartz. São Paulo, 1983.<br />

>Lucena, Célia Toledo. “Bixiga, A sobrevivência cultural” . Editora Brasiliense. São Paulo, 1984.<br />

>Marzola, Nadia.O Bairro da Bela Vista .São Paulo, 1979. São Paulo : Depto Patrimonio Histórico,<br />

Divisão Arquivo Histórico, 1979.<br />

>CANEVACCI, Massimo. A cidade polifônica – Ensaio sobre a antropologia da comunicação urbana.<br />

São Paulo, Studio Nobel, 1993<br />

>AGOSTINI, Flávio, CAJADO, Luciana Miglio, TEIXEIRA, Carlos M. Projeto Baixios de Viadutos da<br />

Via Expressa Leste-Oeste. Arquitextos. Revista Eletronica Vitruvius, set. 2006. Disponível em htt p://<br />

www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq076/arq076_01.asp. Acesso em 29 set. 2009.<br />

68


ROCHA, Paulo A. Mendes da. Parque da Grôta. Reurbanização da sub-região da grota do bairro<br />

da Bela Vista. Revista Módulo: São Paulo, n.42, p.53-9, mar.-abr.-maio 1976.<br />

>SÃO PAULO (Estado), Secretaria de Economia e Planejamento. GEGRAN - Sistema Cartográfi co<br />

Metropolitano da Grande São Paulo, set. 1974. Local<br />

>SÃO PAULO (Estado), Secretaria de Estado dos Transportes Metropolitanos (STM). PITU 2020.<br />

São Paulo: STM, 1999.<br />

>VILLAÇA, Flávio. Espaço intra-urbano no Brasil São Paulo: Studio Nobel, 1998.<br />

Revista Process, no.3 1977.<br />

>D´ALAMBERT, Clara Côrrea; FERNANDES, Paulo C.G.. Bela Vista: preservação e o desafi o da<br />

renovação de um bairro paulistano. Revista do Arquivo Histório Municipal de São Paulo. São Paulo,<br />

DPH/SMC/PMSP, v.204, 2006.<br />

>LAGONEGRO, Marco Aurélio. Metrópole sem metrô : transporte público, rodoviarismo e populismo<br />

em São Paulo (1955-1965). São Paulo: FAU-<strong>USP</strong>, 2003. Tese de Doutorado.<br />

69

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!