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Erico Verissimo - Olhai os Lirios do Campo.pdf - Website Prof. Assis

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N<strong>os</strong> desport<strong>os</strong>, ele revelara-se um fracasso. Fora experimenta<strong>do</strong> no<br />

primeiro team de futebol. M<strong>os</strong>trara-se um mau joga<strong>do</strong>r, sem nenhum ímpeto<br />

agressivo, preocupa<strong>do</strong> demais em não machucar, não ferir. E <strong>os</strong> outr<strong>os</strong><br />

interpretavam mal essa atitude. E classificavam logo: «Genoca é um galinha».<br />

Não andava meti<strong>do</strong> em grup<strong>os</strong>, não acompanhava o ban<strong>do</strong> que tod<strong>os</strong> <strong>os</strong><br />

dias, depois de cada refeição, se reunia atrás <strong>do</strong> pavilhão das aulas para fumar<br />

cigarr<strong>os</strong> e conversar imoralidades. Por isso tod<strong>os</strong> lhe chamavam maricas.<br />

Eugênio esforçava-se por entrar na alegria berrante das horas de recreio, d<strong>os</strong><br />

bailes que <strong>os</strong> rapazes improvisavam no grande salão de ginástica. Era inútil.<br />

Um dia gritara no meio da balbúrdia. E ficara o resto <strong>do</strong> tempo a ouvir o eco<br />

interior da própria voz, naquele grito sem graça, sem alegria, sem<br />

espontaneidade, sem juventude. Envergonhara-se de si próprio.<br />

Por outro la<strong>do</strong>, via como <strong>os</strong> rapazes <strong>do</strong> quinto ano procuravam a<br />

companhia de Margaret. Eram convidad<strong>os</strong> para chás semanais e almoç<strong>os</strong><br />

mensais em casa <strong>do</strong> diretor. Só por imaginá-l<strong>os</strong> em re<strong>do</strong>r da mesa, a pouca<br />

distância de Margaret, Eugênio sofria. Os alun<strong>os</strong> <strong>do</strong> quinto ano eram mais<br />

velh<strong>os</strong> <strong>do</strong> que ele, alguns eram rapagões bonit<strong>os</strong>, tod<strong>os</strong> sabiam conversar com<br />

uma jovem, vestiam-se com uma elegância simples e natural.<br />

Eugênio não tinha outro remédio senão procurar compensação n<strong>os</strong><br />

livr<strong>os</strong>. Estudava muito, distinguia-se na sua classe, ocupava <strong>os</strong> primeir<strong>os</strong><br />

lugares. Isso valia-lhe novas inimizades e essas inimizades empurravam-no<br />

cada vez mais para a solidão. A sua alma sensitiva registrava com exagerada<br />

precisão <strong>os</strong> assalt<strong>os</strong> <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> exterior, ressentia com aguda sensibilidade <strong>os</strong><br />

golpes que <strong>os</strong> outr<strong>os</strong>, deliberada ou inadvertidamente, lhe dirigiam. Ia fican<strong>do</strong><br />

com uma visão deformada <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong>. As humilhações a que o submetiam<br />

como que se lhe incrustavam na personalidade, aleijan<strong>do</strong>-a.<br />

Aquela corrente queimava-lhe a mão. Se, sain<strong>do</strong> da igreja naquele<br />

instante, Margaret o visse ali, com o cachorro, ele morreria de vergonha. Se <strong>os</strong><br />

rapazes o descobrissem, haviam de dar-lhe uma vaia. Por que era tão covarde?<br />

Por que não largava o animal, mandan<strong>do</strong> o inglês para o diabo?

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