Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
o <strong>Estado</strong><br />
MATO GROSSO DO SUL<br />
Lucia Morel<br />
Os serviços básicos no<br />
<strong>Haiti</strong>, como saú<strong>de</strong>, transporte,<br />
abastecimento e<br />
educação são precários como<br />
tantas outras áreas <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong><br />
do país. Sem um controle<br />
do governo, a população<br />
fica à mercê das próprias leis<br />
para ter acesso ao transporte<br />
coletivo, às escolas e mesmo<br />
aos hospitais. Nas ruas manda<br />
quem buzinar mais alto. Em um<br />
trânsito tumultuado e em que os<br />
semáforos servem apenas como<br />
luminárias, os carros abrem<br />
passagem ao som histérico das<br />
buzinas que produzem uma melodia<br />
peculiar que se assemelha<br />
ao <strong>de</strong>sespero.<br />
Para ir <strong>de</strong> um canto ao outro<br />
da cida<strong>de</strong>, ao invés <strong>de</strong> ônibus coletivos<br />
há os coloridos taptaps, que<br />
são pequenos veículos <strong>de</strong> carga<br />
adaptados para o transporte <strong>de</strong><br />
pessoas. O mais comum é ver<br />
uma pick-up em que o espaço<br />
<strong>de</strong> carga tem dois bancos nas<br />
laterais e cobertos com um teto,<br />
que po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira ou ferro,<br />
pintado à mão com cores alegres e<br />
divertidas. O nome do carro po<strong>de</strong><br />
ser qualquer um e a criativida<strong>de</strong><br />
toma conta das ruas: Files <strong>de</strong> Dieu<br />
(Filhos <strong>de</strong> Deus), Merci Jesus (Misericórdia<br />
Jesus) e Marie Claire<br />
são apenas alguns exemplos.<br />
Não há horário <strong>de</strong> parada,<br />
mas alguns dos pontos são<br />
marcados. Os taptaps po<strong>de</strong>m<br />
parar em qualquer via e não<br />
há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> registro do<br />
transporte no governo, assim,<br />
quem tiver uma pequena caminhonete<br />
e quiser adaptá-la, já<br />
po<strong>de</strong> começar a trabalhar transportando<br />
pessoas <strong>de</strong> um lado<br />
para o outro. O custo médio das<br />
passagens é <strong>de</strong> US$ 0,25 e conforme<br />
o estudante <strong>de</strong> contabilida<strong>de</strong><br />
da Universida<strong>de</strong> Nacional<br />
<strong>de</strong> Administração <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do<br />
<strong>Haiti</strong>, Chamir A. Jean, o Chacha,<br />
<strong>de</strong> 26 anos, “não tem transporte<br />
público no <strong>Haiti</strong>, são só os taptaps,<br />
que andam na cida<strong>de</strong> e<br />
os ônibus maiores transportam<br />
entre as cida<strong>de</strong>s”.<br />
Quando se fala em educação,<br />
a fiscalização e o controle<br />
também são inexistentes.<br />
Nessa área e também na saú<strong>de</strong>,<br />
a corrupção toma conta e, segundo<br />
o que disse o estudante,<br />
“só tem como estudar se pagar<br />
<strong>Haiti</strong><br />
CADERNO ESPECIAL - GUERREIROS PELA VIDA<br />
D5<br />
Sábado, 4 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2010<br />
Transporte, educação,<br />
trânsito, saú<strong>de</strong>, ressurreição<br />
e só é atendido no hospital<br />
quem pagar também”. Mas isso<br />
não acontece porque há apenas<br />
serviço privado <strong>de</strong> educação<br />
e saú<strong>de</strong>, pelo contrário, esses<br />
serviços são públicos e <strong>de</strong>veriam<br />
ser gratuitos, no entanto, como<br />
explica Chacha, “a universida<strong>de</strong><br />
é pública e da forma correta você<br />
não paga, mas se você precisar <strong>de</strong><br />
verda<strong>de</strong> entrar numa universida<strong>de</strong><br />
pública, você tem que conhecer uma<br />
pessoa que trabalha lá <strong>de</strong>ntro.<br />
Você dá um dinheiro para ela,<br />
que po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong> US$ 2 mil, US$<br />
3 mil dólares. Você vai pagar um<br />
pouco <strong>de</strong> dinheiro a uma pessoa<br />
e não à administração da universida<strong>de</strong>”,<br />
relata.<br />
Nas escolas e hospitais o método<br />
é o mesmo: se você conhece<br />
alguém, você po<strong>de</strong> estudar ou<br />
ser atendido. “Funciona assim:<br />
uma relação entre uma pessoa<br />
que trabalha na universida<strong>de</strong> e<br />
outra que quer entrar na universida<strong>de</strong>.<br />
Se não fosse essa<br />
pessoa não tinha como entrar.<br />
No governo do <strong>Haiti</strong> tem muita<br />
corrupção e em tudo tem corrupção.<br />
Nada é <strong>de</strong> graça no<br />
<strong>Haiti</strong>, se você me falar que uma<br />
escola é <strong>de</strong> graça não vou acreditar,<br />
porque não tem”.<br />
Com todos esses problemas, o<br />
estudante que está tendo aulas<br />
em um local adaptado porque<br />
o prédio da universida<strong>de</strong> ruiu,<br />
Divulgação BRABATT 2<br />
<strong>Haiti</strong>anos são carentes <strong>de</strong> tudo e as ruas da capital Porto Príncipe traduzem as necessida<strong>de</strong>s do povo, que fica a mercê das próprias leis para necessida<strong>de</strong>s básicas<br />
acredita e ama seu país e afirma<br />
que o <strong>Haiti</strong> precisa <strong>de</strong> “um presi<strong>de</strong>nte<br />
que tenha um coração que<br />
conheça a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma<br />
pessoa que vive numa barraca,<br />
da pessoa que não po<strong>de</strong> comer,<br />
que não po<strong>de</strong> dormir, que não<br />
tem on<strong>de</strong> morar. Precisa <strong>de</strong> um<br />
presi<strong>de</strong>nte que pense nisso”.<br />
As eleições realizadas no<br />
último domingo (28), apesar<br />
<strong>de</strong> acusadas <strong>de</strong> frau<strong>de</strong> por<br />
organismos internacionais,<br />
representavam para Chacha<br />
uma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mudança.<br />
“Tem 20 anos que não se tem<br />
um bom presi<strong>de</strong>nte para governar<br />
o país. Tem muita gente<br />
que não tem comida, que não<br />
tem on<strong>de</strong> morar e o presi<strong>de</strong>nte<br />
manipula a população para<br />
fazer outra coisa. Eu vou votar<br />
e acredito que se um bom presi<strong>de</strong>nte<br />
for eleito as coisas vão<br />
melhorar”, disse.<br />
Além <strong>de</strong> toda confiança que<br />
po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>positada em homens<br />
e governantes, o estudante não<br />
esqueceu <strong>de</strong> comentar sobre o<br />
que, ou quem, realmente acredita<br />
que po<strong>de</strong> modificar seu<br />
país e fazê-los “ressurgir”. Com<br />
muita fé e uma certeza que<br />
transparecia em seus olhos, ele<br />
afirmou que ama seu país e<br />
“muito” e que “Deus vai vir e<br />
fazer tudo pelo <strong>Haiti</strong> porque eu<br />
tenho fé”.