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Dom da Invisibilidade

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hour, em seu bar predileto, e puxando as fral<strong>da</strong>s de sua camisa diz ter visto um fantasma<br />

chamando-o logo adiante, que tipo de resposta a ela <strong>da</strong>rá?<br />

Vamos chamar a esta criança, porque parece conveniente, de Enei<strong>da</strong>. Agora o prezado leitor,<br />

ou a estima<strong>da</strong> leitora, que tão gentilmente parece ter consentido em se colocar no texto à guisa<br />

de usuário do bar, é chamado (e é chama<strong>da</strong>) a ganhar distância de sua enfadonha hora feliz<br />

solitária e observar Enei<strong>da</strong> em seus sete ou oito anos: ela acaba de saltar do carro que parou à<br />

frente e, em dois pulinhos despreocupados, alcança o lance de esca<strong>da</strong>s. Como venta,<br />

prenunciando a anuncia<strong>da</strong> tempestade que há de varrer o mormaço do fim de tarde, seus<br />

cachos se desfral<strong>da</strong>m em to<strong>da</strong>s as direções. Enei<strong>da</strong> é negra, mas, pelas artes <strong>da</strong> mistura e<br />

experiência <strong>da</strong>s gerações que a precederam, tem os cabelos em longos cachos leves que por<br />

vezes caem-lhe sobre os olhos para ela, com prazer, soprá-los para cima – inutilmente, é<br />

ver<strong>da</strong>de, mas o que conta é o prazer. Enei<strong>da</strong> agora já ganhou o platô, acima <strong>da</strong> esca<strong>da</strong>, onde as<br />

mesas do bar esperam os fregueses. Ela segue para a direita com os olhos belamente escuros e<br />

muito abertos que sem dúvi<strong>da</strong> na<strong>da</strong> vêem deste universo de cadeiras e mesas em que todos<br />

estamos envoltos: apesar de atento, seu olhar estende-se a horizontes mais imprecisos,<br />

escondidos entre o sonho <strong>da</strong> infância e as brumas do calor que sequer o vento agora forte<br />

consegue dissipar.<br />

Enei<strong>da</strong> prossegue em seu passinho galopante até que, ao passar diante do amplo balcão atrás<br />

do qual nenhum garçom espera ordens, ela estaca e, em um único movimento cheio de graça,<br />

vira o corpo para a esquer<strong>da</strong>, eleva uma mãozinha até a altura dos ombros e a balança com<br />

rapidez <strong>da</strong> direita para a esquer<strong>da</strong> e <strong>da</strong> esquer<strong>da</strong> para a direita repeti<strong>da</strong>s vezes, ao mesmo<br />

tempo em que sua boca abre-se em um sorriso encantador de dentes brancos e seus olhos<br />

voltam a discernir o mundo exterior, tal qual o vemos. Que faz ela? Sem dúvi<strong>da</strong> cumprimenta<br />

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